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NA SALA DE AULA
Gra
tuit
DESAFIOS DA MAGISTRATURA
o!
O JUIZ BRASILEIRO
E O SEU PAPEL NA SOCIEDADE
DO SÉCULO XXI:
PESOS E CONTRAPESOS
KONRAD SARAIVA MOTA
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FASCÍCULO
Copyright © 2018 by Fundação Demócrito Rocha
C984
Curso Justiça na Sala de Aula: ferramentas pedagógicas para difusão e promoção de temas e
conteúdos sobre o papel da justiça no ambiente escolar / Gerência pedagógica: Viviane Pereira;
coordenação de conteúdo: Gustavo Brígido; ilustrações: Rafael Limaverde. – Fortaleza: Fundação
Demócrito Rocha/Universidade Aberta do Nordeste, 2018.
192 p. : il. color.
Dividido em 12 fascículos.
ISBN 978-85-7529-869-5
1- Introdução............................................................................................................................................ 52
2- Do sonho à preparação: em busca do equilíbrio entre as perdas
e os ganhos ......................................................................................................................................... 52
3- A carreira: expectativas e desapontamentos .................................................................. 54
4- Modelos de juiz................................................................................................................................. 56
5- Judiciário oligárquico: existe uma caixa preta a ser aberta? .................................. 58
6- Justiça e legitimidade: qual deve ser o papel do juiz brasileiro na
sociedade do século XXI .............................................................................................................. 59
Referências ............................................................................................................................................. 62
Síntese do Fascículo .......................................................................................................................... 63
Perfil do Autor ....................................................................................................................................... 63
OBJETIVO DO FASCÍCULO
Refletir sobre a realidade da magistratura no Brasil, incursionando no processo
de acesso à carreira, nos possíveis modelos de juiz, na organização do Poder
Judiciário e na forma de legitimação democrática da judicatura.
1
INTRODUÇÃO
2
VOCÊ SABIA? Compreender o papel do juiz bra-
sileiro na sociedade do século XXI
Você sabia que o candidato exige uma séria ponderação sobre o
ao cargo de juiz precisa processo de ingresso na magistratu-
abdicar de convívios sociais ra, o modo de estruturação do Poder
e familiares para obter Judiciário brasileiro e como o magis- DO SONHO À
aprovação no concurso trado pode atrair assentimento so-
público? cial para sua atuação. Talvez nunca PREPARAÇÃO:
em tempo algum tenha se falado
tanto no Poder Judiciário. Nas rodas
EM BUSCA DO
de conversas entre amigos e familia-
res, usualmente vem à tona uma co-
EQUILÍBRIO ENTRE
locação ou opiniões sobre a postura AS PERDAS E OS
dos juízes, sobretudo no combate a
corrupção. Juízes que, a um só pas- GANHOS
so, são tachados de privilegiados e,
ao mesmo tempo, aclamados como Quando, em sala de aula, um es-
combativos e responsáveis pela in- tudante dos primeiros semestres do
tegridade de todo um sistema de curso de bacharelado em Direito foi
Poder. Magistrados que não podem indagado sobre o que pretendia fa-
errar, mas cujos erros são eviden- zer após o término do curso, “encheu
ciados o tempo todo, sem que a boca” e respondeu: “eu quero ser
haja uma avaliação sensata de juiz”. O astuto professor, o mesmo
suas reais condições de traba- que fez a indagação inicial, comple-
lho e independência funcio- menta o questionamento, pergun-
nal. O presente artigo tem tando: “por que você quer ser juiz?”.
por objetivo refletir sobre a O aluno, ainda no prelúdio de sua
realidade da magistratura formação jurídica, titubeia, mas res-
no Brasil, incursionando no ponde: “porque este é meu sonho!”.
processo de acesso à car- Muitos, tal como o aluno acima
reira, nos possíveis modelos mencionado, alimentam em seus
de juiz, na organização do sonhos profissionais o desejo de in-
Poder Judiciário e na forma gressarem em uma carreira públi-
de legitimação democrática ca. Contudo, talvez dentre todos os
da judicatura. Ao final, o que se inúmeros e prestigiados assentos no
deseja é instigar um debate em serviço público, o de juiz seja aque-
torno dos pesos e contrapesos le sobre o qual se fomenta a maior
que verdadeiramente interessam idolatria. Se, como diria Mario Quin-
à consolidação de uma magistratura tana, “sonhar é acordarse para den-
comprometida com a importância tro”, o sonho de ingressar na magis-
de suas atribuições. tratura não raro se introspecta de
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de magistrado nem que, direta ou indiretamente, co-
sempre reserva ao novo bram pelo resultado, o que termina
juiz condições de trabalho por pressionar ainda mais o já fragili-
adequadas e compatíveis zado candidato.
com a relevância de suas Como se não bastasse, o preten-
atribuições. so magistrado ainda precisa cons-
truir ao longo de, pelo menos, três
A CARREIRA:
anos, a chamada “atividade jurídica”,
exigência inserida na Constituição
EXPECTATIVAS E
Federal pela Emenda Constitucio- DESAPONTAMENTOS
nal nº 45 de 2004, que, de acordo
com a Resolução nº 75 de 2009 do Em sua obra, Niklas Luhmann
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), (1983, p. 42-93), um renomado so-
comprova-se pelo exercício da advo- ciólogo alemão, siste-matizou uma
cacia, de cargos, empregos ou fun- sofisticada teoria das expectativas.
ções que exijam o conhecimento ju- Para o autor, o mundo apresenta
rídico, além do exercício das funções ao homem uma multiplicidade de
de conciliador, mediador ou árbitro experiências, que se contrapõem ao
(BRASIL, 2009). seu limitado potencial. Neste am-
Alie-se a tudo isso o fato de que, biente, o indivíduo desenvolve uma
durante a preparação, o candidato série de expectativas comporta-
deverá manter-se “na linha” em ter- mentais, voltadas a minimizar seus
mos de integridade e moralidade, desapontamentos.
pois, durante o concurso, terá sua Existiriam dois tipos de expectati-
vida pregressa e social submetida vas: as normativas e as cognitivas. As
à sindicância, devendo desfrutar expectativas normativas, que não são
de plena saúde física e mental, sob passíveis de adaptação, precisam de
pena de ser eliminado do certame, um direcionamento que as tornem
conforme artigo 5º, inciso III, da Re- bem sucedidas, sob pena de pro-
solução nº 75 de 2009 do Conselho fundos desapontamentos. Já as ex-
Nacional de Justiça. pectativas cognitivas, que admitem
De fato, a consolidação do sonho adaptações, podem ser moldadas à
de ser juiz perpassa por uma dura realidade, modificando-se no tempo
realidade, cuja tênue barreira entre o e no espaço e, com isso, igualmente
foco e a resignação, entre o “insistir” eliminando os desapontamentos.
e o “desistir”, constrói diariamente as Ao fim e ao cabo, o que Luh-
fronteiras daquilo que se convencio- mann deseja sustentar é que o ser
nou denominar de perseverança. humano, na complexa teia social,
tendo como órgão de cúpula o Su- gos são geralmente escolhidos como
premo Tribunal Federal (STF), posi- dirigentes. Note-se que os juízes de
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cionado acima dos Tribunais Supe- primeira instância não elegem sua
riores e estes acima dos Tribunais de cúpula, apenas se submetem ao
Base, aos quais se vinculam os juízos comando funcional dos escolhidos
monocráticos. A Emenda Constitu- pelo próprio Tribunal.
cional nº 45 de 2004, a propósito de Essa estrutura hierarquizada pre-
instituir a “Reforma do Judiciário”, sente nos Tribunais brasileiros, sem
JUDICIÁRIO criou o Conselho Nacional de Justi- a participação dos juízes de primeira
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Para além das questões inter-
na corporis, outra crítica que se faz
ao Judiciário brasileiro reside na
pouca ou quase nenhuma in-
terferência da sociedade no
seu funcionamento. Alega-
-se que o Poder Judiciário
JUSTIÇA E
no Brasil é fechado, uma LEGITIMIDADE:
verdadeira “caixa preta”.
Nagibe de Melo Jorge QUAL DEVE SER
Neto, juiz federal e dou-
tor em direito, propôs- O PAPEL DO JUIZ
-se a escrever sobre o
tema. Segundo o au-
BRASILEIRO NA
tor, seriam inúmeros SOCIEDADE DO
os componentes que
estariam por dentro SÉCULO XXI?
dessa “caixa preta”, indo
desde a formação e in- Vivemos em uma sociedade
gresso dos juízes, pas- cuja satisfação imediata e a super-
sando pela composição fluidade de interesses desconstrói
e forma de atuação dos aos poucos os laços de longevida-
Tribunais, a relação do Ju- de. Consumo, globalização, novas
diciário com os demais po- tecnologias são, dentre outros fa-
deres e a política, até o gra- tores, os grandes responsáveis pelo
ve problema gerencial das que Zygmun Bauman denominou
cortes e a corrupção endêmi- de “modernidade líquida”. Para o
ca, que assola o país e não anseia sociólogo polonês (2001, p. 16), a
por uma Justiça verdadeiramente sociedade do século XXI, dita pós-
atuante (JORGE NETO, 2016). -moderna, é mole, fluida, flexível.
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