Você está na página 1de 3

RESENHA_DOCUMENTÁRIO

O “Veneno está na mesa 1 e 2”, são documentários do cineasta Silvio Tendler, que trazem além
de dados científicos, depoimentos, entrevistas e reportagens de TV, sobre um assunto que
interessa a todos: os alimentos, produção e consumo.
A Revolução verde e os transgênicos, surgiram como uma promessa de desenvolvimento,
aumento da produção agrícola, comida farta e de boa qualidade, saúde e prosperidade. No
entanto o que se vê são contradições geradas por esse modelo de produção. As culturas
geneticamente modificadas, utilizam cada vez mais grandes quantidades de agrotóxicos e
fertilizantes, a distribuição desigual da terra e a fome não reduziram, a produção dos alimentos
e a utilização dos solos estão destinados a monocultura de exportação, e os agricultores
perderam o direito sobre o que era deles, suas terras e suas sementes, e agora são obrigados a
desprezar todo o conhecimento sobre a agricultura tradicional que trazem desde a muito tempo,
e não poucos abandonam também o campo, uma vez que os bancos não financiam a agricultura
limpa.
Denunciando o uso indiscriminado de agrotóxicos no pais e a ação gananciosa e opressora das
empresas que produzem e comercializam não só os venenos como também as sementes
adaptadas a eles, o documentário chama a atenção para o atual modelo agrícola, retratando as
consequências políticas, sociais e econômicas devastadoras que cresce a cada dia em torno
deste. Infelizmente, o uso de venenos abolidos por outros países, continuam sendo utilizados
em larga escala nas terras do agronegócio brasileiro, e contribuem para a insegurança alimentar
e nutricional do pais, colocando em risco nossa economia e soberania alimentar.
O documentário também busca conscientizar para a questão da contaminação do solo, águas e
o ar, apresentando a ação dos agrotóxicos na saúde e vida das pessoas e como estes afetam
trabalhadores, moradores do entorno das fábricas e fazendas, além de todos nós, que
consumimos todo tipo de alimentos contaminados, sejam in natura ou industrializados. Sem
apavorar as pessoas com o que pode acontecer, e sim, com o objetivo de advertir e incomodar
para o que está acontecendo, mostra os danos irreversíveis provocados ao homem, tais como:
danos ao sistema nervoso central, à memória e ao sistema reprodutivo, redução da mobilidade,
desregulação hormonal, infertilidade, complicações e má formação fetal e cânceres.
Não basta saber que o agronegócio tem mercantilizado e manipulado políticos e políticas em
nome da economia, controlado produtores, provocado um grave problema de saúde pública,
alterado a biodiversidade, e causado mudanças climáticas e uma série de consequências
ambientais e sociais. São necessárias mudanças, e as denúncias são feitas no filme em forma de
documentário, com a clara intenção de informar e esclarecer a sociedade sobre o uso, consumo,
perigos e impacto dos agrotóxicos na qualidade dos nossos alimentos, a fim de gerar um
despertar coletivo para a gravidade do tema.
o cineasta apresenta possibilidades viáveis de mudança e defende a transição dos modelos atuais
de agricultura convencional para o desenvolvimento de agriculturas sustentáveis, levando em
consideração as formas de acesso e controle das terras, os quais refletiram também na natureza
e na sua utilização econômica.
Silvio Tendler, diante de todo o exposto, não apenas aponta o problema, mas ressalta
experiências e vivências de diversos agricultores e mostrar que existe outro modelo, existe uma
opção para fazer frente ao agronegócio, ao apresentar casos reais de agricultores que como
resposta e alternativa à cultura dos agrotóxicos, iniciaram o processo de transição do modelo
de produção agroquímico para a produção agrícola que incorpora princípios e tecnologias de
base ecológica e afirmam já existir desenvolvimento e produção em escala com a agroecologia,
onde não há dificuldades técnicas em produzir orgânicos para alimentar a população, sem
precisar do veneno do agronegócio.
O documentário retrata de forma realista, mas não apelativa, a urgência de se iniciar uma
discussão sobre a conscientização que garantirá as mudanças necessárias para o fim da
agricultura unicamente capitalista e de todas as formas de opressão, em defesa da agroecologia
e da vida, evidenciando que se adotado como opção este outro modelo de produção – o da
autonomia e da soberania alimentar, do consumo para o bem-estar de todos em harmonia com
a natureza, da sustentabilidade e do desenvolvimento econômico equitativo, é possível
restabelecer o relacionamento do homem com a terra, garantindo segurança nutricional e
preservação da biodiversidade, pois em primeiro lugar está a vida, depois o lucro.
A constatação de que o uso de defensivos agrícolas tem um alto custo em vidas humanas, em
saúde pública, e está matando a terra, associado a responsabilidade de cada indivíduo como
agente de mudança frente essa dura realidade é o foco principal do documentário.
O alerta foi feito, qual a nossa posição? De que lado estamos? O que escolhemos?
São dois modelos completamente opostos, um puramente econômico, totalmente concentrado,
conservador, autoritário, industrial, e com uma enorme carga venenosa de resíduos deixados na
terra, na água e na ar, que contamina e destrói, e outro sustentável, comunitário, cooperativo,
diversificado, onde agricultores trabalham para produzir, produzir qualidade de vida e não só
comida, com respeito a natureza e em defesa dos bens inegociáveis do nosso pais.
Voltado para o público em geral, o documentário O veneno está na mesa 1 e 2 aborda um tema
interessantíssimo e abre oportunidade de proveitosos debates.
Ter a informação não é suficiente, temos que pensar acima de tudo nas consequências de nossos
atos, somos todos protagonistas, a solução está nas atitudes que tomamos.
O que você pode fazer para mudar?
O veneno chega pelo ar, pela terra, pelas águas, mata de todas as formas.
O veneno está na mesa!

Você também pode gostar