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AULA 5 - O REINO DE

DEUS
TBNT – Professor Marcos Paulo

1
■Aula baseada no obra
de KÜMMEL, 2003,
p. 45-83.

2
A importância de João Batista para os
Evangelhos
■ Os evangelhos foram escritos com a finalidade de
testemunharem sobre a vida, a atuação, a morte e a
ressurreição de Jesus Cristo. Não obstante, todos são
unânimes em principiar seu relato com João Batista;
■ O Evangelho de Marcos cita João como cumprimento
profético (Ml 3,1; Is 40,3). Ele é quem prepara o
caminho para o Messias:

3
A importância de João Batista para os
Evangelhos
■ "Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
(Aconteceu) conforme está escrito na profecia de
Isaías: Eis aí envio diante da tua face o meu
mensageiro, o qual preparará o teu caminho. (Soa)
uma voz do que clama no deserto: Preparai o caminho
do Senhor, endireitai as suas veredas. Apareceu João
Batista no deserto, pregando o batismo de
arrependimento para a remissão dos pecados" (Mc 1.1-
4).
4
A historicidade do João Batista
■ Fora dos Evangelhos, a única
referência histórica a João Batista
está nos escritos do historiador
judeu, Flávio Josefo:
– História dos Hebreus, CPAD ,
Rio de Janeiro, 1992, pp.
420ss.

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Características da pregação de João
Batista
■ O iminente juízo de Deus:
– "Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não
produz bom fruto, é cortada e lançada ao fogo" (Mt 3,10 par.).
■ João incluiu a todos no juízo divino (Mt 3,10,7 par.) e destruiu a
enganosa esperança de que Deus julgará um judeu com menos
rigor, pelo simples fato de ser ele um descendente do pai
Abraão:
– Não comeceis a dizer entre vós mesmos: ‘Temos por pai Abraão’;
porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a
Abraão" (Mt 3,9 par.).

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Características da pregação de João
Batista
■ Assim, a pregação de juízo de João Batista não só
se dirige a cada pessoa com a mesma urgência,
mas fundamentalmente também demonstra que a
relação do homem com Deus somente é
determinada por sua condição de ser humano e
não mais pelo fato de pertencer ao povo judeu ou
a qualquer outra raça humana.
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A "Meia-volta" e o Batismo
■ João Batista, porém, não foi apenas um pregador de juízo. Ele
também soube apontar para um caminho de salvação, ao
proclamar o batismo da "meia-volta" para o perdão dos pecados:
– "Produzi, pois, fruto digno do arrependimento" (Mt 3,8 par.);
■ A palavra aramaica que no português é reproduzida erroneamente
como "arrependimento", designa na verdade uma mudança de
rumo, o abandono do caminho falso e um trilhar decidido no
caminho certo;
■ João vê, na decidida mudança em direção à vontade de Deus, o
caminho da salvação diante do juízo que já está iniciando. Somente
o que produz frutos a partir dessa mudança estará demonstrando
que deu “meia-volta”.
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A vinda do "Mais Poderoso"
■ De acordo com a pregação de João Batista, o juízo
final estará nas mãos de alguém mais poderoso
que ele:
– "Após mim vem aquele que é mais poderoso que eu,
do qual não sou digno de, curvando-me, desatar-lhe as
correias das sandálias. Eu vos tenho batizado com
água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo. A
sua pá ele tem na mão para limpar completamente a
sua eira e recolher o trigo no seu celeiro; porém
queimará a palha em fogo inextinguível" (Mc 1,7 par.;
Lc 3,17 par...)
9
A inexplicabilidade do batismo “no
Espírito Santo”
■ Mateus e Lucas falam que esse batismo acontecerá com o
Espírito Santo “e com fogo”. A linguagem figurada do
"mergulhar no fogo", como indicação à provação do fogo
por ocasião do juízo final, é perfeitamente compreensível.
"Mergulhar no Espírito Santo", porém, é uma figura
inconcebível;
■ É provável que a menção ao batismo no Espírito Santo seja
fruto de um acréscimo nas palavras originais de João
Batista efetivado pela tradição cristã, pelo fato de, para os
cristãos, o batismo estar relacionado com a dádiva do
Espírito Santo.
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O Batismo de Jesus
■ Dois eventos ligados a João Batista são de especial
relevância para o estudo da obra e pregação de Jesus:
– O recebimento do Espírito Santo por ocasião do batismo
de Jesus no Jordão;
– A continuidade da pregação de João Batista por Jesus.
■ Os evangelistas relatam bem a pregação de João
Batista, justamente porque essa pregação será a base
da pregação de Jesus.

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A pregação de Jesus
■ Marcos 1,14s par., que fala que Jesus apareceu “pregando o
evangelho de Deus dizendo: ‘o tempo está cumprido e o reino
de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho’”;
■ A exemplo de João Batista, também Jesus anunciou um juízo
iminente;
– "No dia do juízo haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós
outros" (Mt 11,22 par.);
– "Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela
darão conta no dia do juízo" (Mt 12,36; compare Lc 17,34s par.).
■ Destaque também para a ameaça do juízo por sobre "esta
geração" (Mt 12,41s par.) e a referência à repentina vinda do
Filho do homem para o juízo (Mt 24,43s par.; Mc 8.38 par.)
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A pregação de Jesus
■ Jesus foi ainda além na questão do iminente aparecimento do Reino
de Deus ao afirmar aos seus ouvintes que:
– “[...]dos que aqui se encontram, alguns há que de maneira
nenhuma passarão pela morte até que vejam ter chegado com
poder o reino de Deus" (Mc 9,1 par.);
■ No tocante ao juízo escatológico de Deus, os especialistas afirmam
que o centro da pregação de Jesus era proximidade do reino, não
necessariamente seguido de um iminente juízo. A ênfase na
iminência do juízo parece mais presente em João Batista;
■ No início de suas exposições da proclamação de Jesus, os
evangelistas não colocaram a anunciação da iminência do juízo,
porém, esta mensagem: "O reino de Deus está próximo" (Mc 1,15
par.).
13
A Proximidade do Reino de Deus
■ Alguns textos atribuídos a Jesus sobre a proximidade do
reino de Deus causam mais questões do que as
respondem. Por um lado parece claro que Jesus
esperava que o reino de Deus ocorresse ainda em seu
tempo:
– "Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça" (Mc
13,30 par.);
– "Em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as
cidades de Israel até que venha o Filho do homem" (Mt
10,23 par.).
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A Proximidade do Reino de Deus
■ Por outro lado, outros textos sugerem que Jesus deixou
aberta a questão de quando chegaria o reino de Deus e o
juízo sobre os homens, fazendo crer que nem mesmo ele
sabia:
– "Ficai apercebidos; porque à hora em que não cuidais, o Filho
do homem virá" (Mt 24,44 par.);
– "A respeito daquele dia ou hora ninguém sabe: nem os anjos
no céu, nem o Filho, senão somente o Pai" (Mc 13,32; cf. tb.
Lc 17,20s);
– "Jamais beberei do fruto da videira, até aquele dia em que o
hei de beber, novo, no reino de Deus" (Mc 14,25 par.).
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O reino de Deus e a esperança judaica
■ Que pretende Jesus dizer ao anunciar a iminente vinda do reino
de Deus? A esperança de Israel desde a época do exílio
babilônico consistia em que, no futuro, Deus edificaria o seu
senhorio na condição de rei sobre o seu povo de Israel de uma
maneira tal que seria visível a todos os povos do mundo. O
judeu piedoso da época de Jesus orava diariamente o seguinte
"Tu somente, Senhor, sejas rei sobre nós!".
■ Naturalmente o judeu também estava ciente de que já agora
Deus é rei, contudo, esse reinado permanece oculto no
presente e, por isso, se espera pela iminente manifestação;
■ Ao falar da iminente vinda do reinado de Deus, Jesus toma
como base a própria esperança de salvação do povo judeu.
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A descrição do reino de Deus
■ Não é possível formarmos uma imagem completa e clara a
respeito do reino de Deus. A informação do próprio Jesus é que
com a ressurreição, tudo deverá ser diferente do que estamos
acostumados a ver num ambiente terreno (Mc 12,25 par.);
■ Não obstante, porém, Jesus descreve superficialmente algumas
coisas que irromperão com o reino de Deus:
– Haverá ressurreição dos mortos, virá o Filho do homem e
procederá ao juízo (Mt 12,41s par.; Mc 8,38 par.);
– Os justos afluirão do Oriente e do Ocidente, a fim de participarem
da ceia messiânica (Mt 8,11 par.);
– Satanás e os demônios serão despojados do seu poder (Mt 12,28
par.; cf. também Mt 25,41).

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Descrições paralelas ao Reino de Deus
■ Vida Eterna:
– Jesus fala sobre o Reino de Deus e em associação fala
frequentemente sobre a vida eterna;
– Assim, "entrar no reino de Deus" equivale a "entrar na vida"
(Mc 9,43,45,47 par.).
– Tal como fala de herdar o reino de Deus, igualmente
menciona a "herança da vida" (Mt 25,34; Mc 10,17 par.);
– Além disso, "entrar na vida" corresponde ao "entrar no gozo"
(Mt 25,21,23), à "participação na glória“ (Mc 10,37) e à
"participação na luz" (Lc 16,8);
■ Todas essas figuras descrevem a mesma realidade:
aquele que entra na vida eterna, entra também no reino
de Deus e será recebido na casa paterna (Lc 15,24,31)
18
Nem todos herdarão o Reino de Deus
■ A maioria das palavras de Jesus sobre o reino de Deus trazem
consigo a referência ao perigo de herdar a morte, as trevas, o
inferno (Mc 9,43,45,47 par.; Mt 25,41; 7,13; 25,30; 8,12). O
Reino de Deus, ao fim das contas, caberá a um "pequenino
rebanho", a quem o Pai decidiu dar (Lc 12,32);
■ Por mais que Jesus tenha prometido aos homens a participação
no reino de Deus, também é verdade que tal promessa de
salvação não é válida para qualquer pessoa, mas está vinculada
a determinadas condições:
– “Estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são
poucos os que acertam com ela” (Mt 7,14).

19
A inauguração do Reino de Deus
■ Não está claro nos Evangelhos e também em todo o NT o
que marca o início do Reino de Deus na terra;
■ Alguns teólogos sugerem que a ressurreição de Jesus é o
marco desse tempo, tendo em vista que ela era o
principal sinal na apocalíptica da chegada da era
vindoura;
■ Outros teólogos associam o início do Reino de Deus ao
nascimento da igreja e quase equivalem o Reino de Deus
à igreja. Nesse sentido, o início do Reino de Deus seria o
Pentecostes.
20
A inauguração do Reino de Deus
■ Mas a resposta que Jesus deu a João Batista sobre a
chegada do reino sugere que o próprio Jesus já via no
seu ministério e pregação, o início do Reino de Deus;
– "Es tu aquele que estava para vir, ou havemos de esperar
outro?" E Jesus, respondendo, disse-lhes: "Ide, e anunciai
a João o que estais ouvindo e vendo: Os cegos veem, os
coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos
ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está
sendo pregada a boa nova. E bem-aventurado é aquele
que não achar em mim motivo de tropeço" (Mt 11,3-6
par.).
21
A inauguração do Reino de Deus

■ Deduz-se dessa resposta que, em sua ação e


pregação, Jesus viu cumprirem-se as promessas
do livro de Isaías (Is 35,5s; 61,1):
– O fato de ser anunciada a boa nova da ação de Deus
no fim dos tempos aos "pobres", deve servir de sinal
para João Batista, para que reconheça o
cumprimento da promessa de salvação do fim dos
tempos.
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A inauguração do Reino de Deus
■ A suposição de que o Reino de Deus principia em Jesus
ainda é testemunhada em diversas outras passagens. Ele
diz aos seus discípulos:
– "Bem-aventurados, porém, os vossos olhos, porque veem, e os
vossos ouvidos, por que ouvem. Pois em verdade vos digo que
muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não
viram; e ouvir o que ouvis e não ouviram" (Mt 13,16s par.);
■ Através dessa expressão, Jesus dá a entender aos seus
discípulos que eles estão experimentando o que foi
prometido para o fim dos tempos.
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A derrocada de Satanás e o Reino de Deus
■ Em determinada situação Jesus se defendeu contra a acusação
de que o seu poder sobre os demônios era proveniente de um
pacto travado com o príncipe dos demônios:
– "Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem
primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa" (Mc 3,27 par.).
■ De acordo com a esperança dos judeus, o príncipe dos demônios
somente poderá ser aprisionado por aquele que trouxer a
salvação escatológica. É provavelmente por isso que Jesus afirma
que:
– "Se, porém, eu expulso demônios pelo dedo de Deus, certamente é
chegado o reino de Deus sobre vós" (Lc 11,20 par.).

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O Reino de Deus no presente e a era
de salvação
■ Assim sendo, com a declaração da vitória sobre
Satanás, Jesus dá a entender que, através de sua
ação, a salvação esperada para o fim dos tempos já
está se concretizando no presente;
■ Portanto, a boa nova de Jesus tem por conteúdo o fato
de que, em sua pregação, já agora Deus estabelece o
seu reino e que, por essa razão, já é possível participar
da ação salvífica de Deus, aderindo com fé ao seu
apelo.
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O juiz do Reino de Deus
■ Jesus relaciona a esperança do vindouro reino de Deus
com a expectativa do juízo. Consequentemente Jesus
também fala que Deus há de julgar:
– "Não julgueis para que não sejais julgados; e com a mesma
medida com que tiverdes medido vos medirão também" (Mt
7,1s, par.);
– "De toda palavra frívola que proferirem os homens, dela
darão conta no dia do juízo; porque pelas tuas palavras
serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado"
(Mt 12,36s; compare também Mt 11,22,24 par.).

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O juiz do Reino de Deus
■ Jesus apresenta Deus como juiz através de uma parábola
em que um senhor acerta as contas com seus servos (Mt
25,14ss par.). Mateus também aponta para o poder
de Deus como juiz e adverte:
– "Temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a
alma como o corpo" (Mt 10,28 par.);
■ Por esta razão não resta a mínima dúvida de que Jesus,
tal qual o judaísmo do seu tempo, acreditava que Deus
era o juiz da era vindoura.
27
A designação de Deus como
“Abba”
■ Não era muito frequente, mas tanto Jesus como o judaísmo
antigo se dirigiam a Deus como “Pai”. Chamar a Deus,
porém, de “Meu Pai”, no singular nunca se ouvia. No plural
era admissível: "vosso Pai" (Lc 6,36; 12,30) e "vosso Pai
celestial" (Mc 11,25 par.; Mt 23,9).
■ Ninguém se atrevia a usar de um linguajar de tamanha
intimidade para se referir a Deus;
■ Mas a maneira peculiar de Jesus se dirigir a Deus era com o
uso da expressão “Abba”;
28
A designação de Deus como “Abba”
■ Este uso é especialmente presente em Marcos e na
liturgia das comunidades paulinas (Mc 14,36; Rm 8,15;
Gl 4,6).
■ No judaísmo, a expressão "abba" nunca tinha sido
utilizada como maneira de se dirigir a Deus ou de
denominá-lo;
■ Ao fazer uso dela, Jesus transformou uma palavra do
linguajar infantil, que era a maneira de tratar o pai na
família, na própria forma de designar a pessoa de Deus.
29
A designação de Deus como “Abba”
■ Desse modo, Jesus deu a entender já pela forma
linguística que não pretendia falar de Deus nos termos
tradicionais, mas proclamar que Deus deseja vir ao
encontro do homem em amor paternal;
■ Na perspectiva de Jesus, portanto, o Reino de Deus é
marcado pela presença de Deus como rei e juiz, mas a
presença mais marcante é de Deus como Pai, o
“paizinho amoroso” da intimidade do interior da casa.
Essa apresentação de Jesus foi um escândalo para seu
tempo.

30
O poder da humildade
■ A humildade, junto com o perdão e o exercício da justiça, é um dos
principais ensinamentos de Jesus no seu Sermão do Monte;
■ A parábola do filho pródigo é uma demonstração do poder da
humildade e do arrependimento. A disposição de humildade e
arrependimento diante do pecado é que anula a força do juiz
divino no ato do juízo;
■ Jesus ousou proclamar que Deus não se alegra com o justo que
se gloria diante de Deus por causa de sua justiça, mas que se
alegra com o pecador que, humilde e arrependido, assume diante
de Deus a sua condição de perdido (Lc 18,9-14).

31
A exigência da "Meia-volta"
■ Jesus falou sobre um juízo futuro que aguarda a todos
antes da entrada no Reino de Deus. Mas as sombras
desse juízo já se refletem no presente, na medida em
que Jesus, assim como o Batista, conclama a todos que
se arrependam;
■ Em outras palavras, Jesus mencionou explicitamente o
arrependimento como condição para a entrada no reino
de Deus (Mt 11,21s par.; Lc 16,29s);

32
A exigência da "Meia-volta"
■ Portanto, todas as pessoas necessitam dar "meia-
volta“ (metanóia - ). Por esta razão os
discípulos são enviados com a tarefa de pregar a
necessidade de dar "meia-volta" (Mc 6,12);
■ O presente está relacionado de uma maneira
singular com o iminente futuro da soberania de
Deus por meio da exigência da “meia volta”
anunciada por Jesus.
33
A “meia volta” ou “arrependimento”
seguido do batismo
■ Os cristãos da comunidade primitiva viram a pregação de João
Batista como a preparação para a manifestação do Messias,
principalmente pela reivindicação do arrependimento e pela
obrigatoriedade do batismo para a remissão dos pecados;
■ Os chamados frutos dignos de arrependimentos eram ações
concretas que indicavam que o penitente realmente se
arrependeu das práticas do pecado. As classes que se
apresentavam buscando mudança de vida eram os
tecnicamente impuros ou rejeitados sociais:
– publicanos, soldados, etc

34
Os frutos de arrependimentos: atos
de penitência
■ A palavra grega usada por João para se referir ao fruto
é karpós. Ela aparece 66 vezes no NT e sua primeira
aparição está em Mateus 3,8.
– “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento”;
■ Nessa passagem João Batista está falando sobre as
ações concretas que revelam o legítimo desejo de
alguém encontrar-se Jesus e mudar de vida.

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Os frutos de arrependimentos: atos de
penitência
■ No texto paralelo de Lucas 3,1-9, o Batista explica que frutos de
arrependimento são esses:
– Para as multidões significava exercer misericórdia para com quem
precisava:
■ Dividir roupas, comidas, etc.
– Para os cobradores de impostos significava para de roubar:
■ Não cobrar além do devido.
– Para os soldados foram várias as recomendações:
■ Não maltratar as pessoas;
■ Não aceitar falso testemunho;
■ Não ficar reclamando do salário.

36
Os frutos de arrependimentos: atos
de penitência
■ Por meio dessa descrição de karpós, vemos que
fruto significa ações concretas, externas e visíveis.
Se isso é verdade, então, aquele que costuma dizer
que Deus não olha a aparência, mas o coração das
pessoas, para justificar atos escandalosos, está
completamente equivocado.

37
O Pai que Age no Presente
■ Já temos dito que no Reino Vindouro prevalecerá a
condição de Deus como Pai. Mas, é possível falarmos
realmente da previdência de Deus pelos homens no
presente, quando, na realidade, Deus ainda nem exerce
o seu reinado, quando, pelo contrário, constatamos que
os demônios ainda perambulam pelo mundo a fim
de se apossarem dos homens (Mt 12,43-45 par.) e
Satanás, sendo um poder íntegro, não permite ser
dividido (Mc 3,23-26 par.)?

38
O Pai que Age no Presente
■ Vimos anteriormente que, ao expulsar demônios, Jesus viu
iniciar-se o reino escatológico de Deus. Portanto, Jesus não
negou que os demônios ainda estivessem agindo sob a
liderança de Satanás, mas na sua própria atuação poderosa,
Jesus concretizou o reinado escatológico de Deus e, com isso,
superou o reino de Satanás no presente;
■ Deus, o Pai, através da ação de Jesus, transforma a época
presente em tempo de salvação;
■ Jesus pregou que a ação salvífica e paternal de Deus, no futuro,
se caracteriza, sobretudo, por oferecer o perdão dos pecados.
No entanto, Jesus não só prometeu este perdão, mas nele o
perdão se tornou realidade.
39
Reino de Deus X Religiosidade Judaica
■ Os adversários de Jesus denominaram-no de "amigo dos
publicanos e pecadores" (Mt 11,19 par.). Tal acusação
não deixa de caracterizar acertadamente a atitude de
Jesus:
– Ele de fato manteve comunhão de mesa com os
publicanos e pecadores (Mc 2,15s par.);
– Um publicano tornou-se discípulo de Jesus (Mc 2,14 par.);
– Jesus entrou na casa de um publicano (Lc 19,1ss);
– Jesus chegou a permitir que uma "pecadora" lhe lavasse
os pés (Lc 7,36ss).

40
Reino de Deus X Religiosidade Judaica
■ Jesus justificou abertamente um tal comportamento,
inadmissível para um judeu, com estas palavras:
– "Os sãos não precisam de médico, e, sim, os doentes; não vim chamar
os justos, e sim, os pecadores" (Mc 2,17 par.);
■ Correspondentemente declarou aos seus adversários:
– "Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no
reino de Deus" (Mt 21,31);
■ Jesus, portanto, levou a sério em suas atitudes a vontade de
Deus de receber o pecador e perdoá-lo. Já através disso trouxe
para o presente o perdão escatológico reservado para o fim dos
tempos.
41
A salvação presente do Reino
futuro
■ Apesar de o reino de Deus ainda permanecer uma
grandeza futura, aquele que vê em Jesus a ação salvífica
de Deus, já tem a dádiva de salvação reservada para o
fim dos tempos;
■ Somente depois de compreendermos a exigência de
Deus anunciada na pregação de Jesus, e entendermos a
reivindicação divina da “meia volta”, é que o significado
definitivo da ação salvífica do fim dos tempos, que se
tornou realidade através de Jesus, poderão ser
plenamente descobertos.
42
■FIM DA
PRIMEIRA
PARTE!
43
As condições para entrar no Reino de
Deus
■ Jesus associou a entrada no Reino de Deus a necessidade da “meia
volta”. Mas não falou isso de forma geral. Alguns textos apontam para
algumas condições:
■ "Se a vossa justiça não exceder em muito a dos fariseus e escribas,
jamais entrareis no reino dos céus" (Mt 5,20);
■ “Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o, e atira-o
para longe de ti; melhor te é entrar na vida coxo, ou aleijado, do que,
tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno”(Mt 18.8);
■ "Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma
criança, de maneira nenhuma entrará nele" (Mc 10,15 par.).
44
As condições para entrar no Reino de
Deus
■ Com as parábolas do tesouro oculto e da pérola (Mt
13,44-46) Jesus ilustra, por isso, a necessidade de
empregar tudo o que se tem, na obtenção do reino de
Deus;
■ Também, aquele que começa a caminhada e a larga
pelo caminho não é digno do Reino de Deus:
– "Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha
para trás, é apto para o reino de Deus" (Lc 9,62).”

45
As condições para entrar no Reino de
Deus
■ Em analogia, Jesus promete recompensa aos que se
prontificam a negar-se a si mesmos e a confessá-lo
destemidamente, e punição aos egoístas e aos que negam o
seu nome:
– "Quem quiser, pois, salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem
der a sua vida por causa de mim ... salvá-la-á (Mc 8,35
par.);
– "Todo aquele que me confessar diante dos homens,
também o Filho do homem o confessará diante dos anjos
de Deus; mas o que me negar diante dos homens, será
negado diante dos anjos de Deus", (Lc 12,8s par.).
46
As condições para entrar no Reino de
Deus
■ Aquelas pessoas que dão esmolas, oram ou jejuam com a
finalidade de serem vistas pelos outros "já receberam sua
recompensa" (Mt 6,2,5,16);
■ Quem, por causa de Jesus, for odiado ou difamado, deverá
alegrar-se "porque grande é o vosso galardão no céu" (Lc 6,23
par.; compare também Mc 9,41 par.). Tal galardão é denominado
"tesouro no céu", o qual deve ser por nós adquirido (Mt 6,20 par.);
■ A uma pessoa rica que está presa a seus bens, Jesus diz:
– "Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá aos
pobres, e terás um tesouro no céu; então vem, e segue-me"
(Mc 10,21 par.)
47
O ser humano conquista ou recebe o
Reino de Deus?
■ A pregação de Jesus indicou duas situações muito claras no
tocante a relação do homem frente a iminente chegada do Reino
de Deus:
– A 1ª - Deus vem ao encontro dos homens com mandamentos
que devem ser cumpridos. O cumprimento ou não-
cumprimento desses mandamentos é uma questão decisiva
para o destino do homem diante de Deus;
– 2ª - Jesus relacionou a promessa da participação no reino de
Deus com a ação do homem, através da concepção de
recompensa e castigo.
48
O ser humano conquista ou recebe o
Reino de Deus?
■ Desse modo, porém, surge o problema de que a
participação no reino de Deus deixe de ser uma dádiva
exclusiva de Deus, e passe a ser algo que o homem
possa
conquistar através de suas obras;
■ Se a entrada no Reino de Deus é algo que o homem
conquista pela sua própria energia, em que medida
Jesus pôde qualificar de boa-nova a proclamação do
vindouro reino de Deus?
49
O Reino de Deus e o Cumprimento da
Vontade Divina
■ Se Jesus relacionou a iminente vinda do reino de Deus
com ao cumprimento da vontade divina, isso não
significa que Jesus aderiu ao ponto de vista judaico de
que, através do cumprimento da lei, os judeus pudessem
acelerar a vinda do reino de Deus;
■ Jesus parece sugerir que a época da vinda do reino de
Deus depende única e exclusivamente da vontade de
Deus e que o reino de Deus virá sem qualquer
cooperação por parte dos homens (Mt 24,44,50 par.; Mc
13,32 par.; 4,26ss).
50
A ética do Reino de Deus
■ O padrão moral e o perfil do cidadão do Reino de Deus é
especialmente expresso por Jesus em seu grande sermão do
Monte: abnegação, simplicidade, perdão, renúncia, boas
obras, etc, estão no centro dessa ética:
■ Atitude frente à violência humana:
– "Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem,
para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste [...]" (Mt
5,44s).
■ Jesus intima a imitarem Deus:
– "Sede misericordiosos, como também é misericordioso
vosso Pai" (Lc 6.36).
51
A ética do Reino de Deus
■ Ao lado do amor de Deus, que deve servir de exemplo para o
comportamento humano, Jesus ainda fala da honra de
Deus, que deve ser acentuada pelos homens:
– "Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens,
para que vejam as vossas obras e glorifiquem vosso Pai
que está nos céus" (Mt 5,16).
■ As vezes Jesus também apontou para si próprio como
exemplo:
– "Pois qual é o maior? quem está à mesa ou quem serve?
Porventura não é o que está à mesa? Pois, no meio de
vós, eu sou como quem serve" (Lc 22,27).
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A ética do Reino de Deus
■ A ética de Jesus pode ser entendida como uma "ética do
tempo da graça" ou “ética da Nova Aliança”. A validade e
o poder compromissivo da reivindicação de Jesus não se
limita ao cumprimento de regras e mandamentos, mas
está relacionada ao reconhecimento fiel da ação
salvífica de Deus no presente, à fé em sua pessoa e à
espera de sua realização plena no futuro.

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