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PARTÍCULA ‘SE’ E SEUS USOS

(29/08/2019)

A partícula ‘se’ pode assumir diferentes funções dependendo da construção da oração. Às vezes, é até
possível que ela seja usada apenas como recurso estilístico ou como forma fixada pelo uso. Basicamente,
os usos podem ser resumidos em:

1. Pronome reflexivo ou reflexivo-recíproco


2. Partícula integrante do verbo
3. Pronome apassivador
4. Índice de indeterminação do sujeito
5. Partícula expletiva (de realce ou ênfase)
6. Conjunção subordinada condicional ou integrante
7. Como substantivo ou advérbio (usos menos comuns)

Vejamos cada um deles:

1. ‘SE’ como pronome reflexivo ou reflexivo-recíproco: no caso dos reflexivos, é usado para indicar
que o sujeito que pratica a ação também a recebe. Já no segundo, indica que a ação é feita e recebida
mutuamente pelos sujeitos.

Exemplos:

▪ A criança machucou-se (reflexivo)


▪ Minha mãe se penteou para sair (reflexivo)
▪ Eles se cumprimentaram (reflexivo-recíproco)
▪ Até quando vocês vão se enganar? (reflexivo-recíproco)

Em se tratando do plural, pode ser difícil distinguir o pronome ‘se’ enquanto reflexivo ou reflexivo-
recíproco. Para isso, basta prestar atenção ao sentido da frase e à quantidade de sujeitos envolvidos.

2. ‘SE’ como partícula integrante do verbo: descreve um uso já fossilizado da língua, em que o verbo
é utilizado com a partícula ‘se’ por força do hábito e não tanto por um acréscimo de sentido.
Normalmente são verbos pronominais que denotam sentimentos ou atitudes, como queixar-se,
arrepender-se, vangloriar-se, submeter-se, etc. São facilmente confundidos com reflexivos.

Exemplos:

▪ A menina suicidou-se (apesar de só ser possível “suicidar a si mesmo”, o verbo ficou


convencionado como ‘suicidar-se’)
▪ Eles se arrependeram de terem sido tão cruéis com a própria mãe (embora o verbo pareça
reflexivo, como explicar que eles praticaram e receberam o arrependimento?)

3. ‘SE’ como pronome apassivador: utilizado na construção da voz passiva sintética. Essa construção
exige um verbo transitivo direto ou bitransitivo na 3ª pessoa (singular ou plural). Para verificar se
a oração está na passiva sintética, basta transformá-la em passiva analítica. ATENÇÃO PARA A
CONCORDÂNCIA, POIS A VOZ PASSIVA POSSUI SUJEITO E O VERBO DEVE CONCORDAR COM ELE!
Exemplos:

▪ Aprovou-se o candidato > O candidato foi aprovado.


▪ Entregou-se o pacote ao destinatário > O pacote foi entregue ao destinatário.
▪ Vendem-se casas > Casas são vendidas.
▪ Construíram-se novas escolas públicas > Novas escolas públicas foram construídas.

4. ‘SE’ como índice de indeterminação do sujeito: difere-se da voz passiva sintética pelo fato de que
NÃO há como determinar o sujeito. A partícula ‘se’ funciona como forma de “esconder” o sujeito, que
se torna alguém. O sujeito indeterminado aparece em verbos intransitivos, transitivos indiretos ou
de ligação SEMPRE na 3ª pessoa do singular, isto é, não concorda com o sujeito, uma vez que não há
como determinar o sujeito.

Exemplos:

▪ Vivia-se melhor na época dos meus pais (intransitivo)


▪ Necessita-se de médicos urgentemente! (transitivo indireto)
▪ Sempre se fica ansioso antes de provas (verbo de ligação)

5. ‘SE’ como partícula expletiva (de realce ou ênfase): trata-se apenas de um recurso estilístico que
enfatiza a ação, mas sem o qual a oração ainda seria compreensível. Não possui função sintática.

Exemplos:

▪ Os alunos riram-se.
▪ Foi-se embora minha última esperança.
▪ Passavam-se os meses sem que ele visse mudança na situação.

6. ‘SE’ como conjunção condicional ou integrante: não possui função sintática. Seu papel é o de
ligar a oração principal à oração subordinada.

Exemplos:

▪ Não sei se ele virá à festa (integrante)


▪ Não tenho certeza se esta é a melhor escolha... (integrante)
▪ Se ele me disser a verdade, eu perdoarei tudo o que aconteceu (condicional)
▪ Só irei se for diretamente convidado (condicional)

7. ‘SE’ como substantivo ou advérbio: trata-se de um uso menos comum, porém possível.

Exemplos:

▪ Ele sempre tem um se antes de qualquer resposta! (substantivo)


▪ - Você quer o último pedaço? – Se quero! (advérbio enfatizando o desejo)
EXERCÍCIOS

1. Relacione as colunas quanto às funções de “se”:

I – Conjunção subordinativa integrante.


II – Partícula apassivadora.
III – Partícula expletiva.
IV – Pronome reflexivo.
V – Conjunção subordinativa condicional.

a) ( ) Ele me perguntou se eu havia feito as compras


b) ( ) A menina feriu-se com o caco de vidro.
c) ( ) Ensina-se violão nesta escola.
d) ( ) Você será aprovada se estudar bastante.
e) ( ) Meus convidados foram-se embora assim que terminaram de comer.

2. Assinale a única alternativa em que “se” é uma conjunção subordinativa condicional:

a) ( ) Os convidados olharam-se, surpresos, depois que viram a noiva entrar.

b) ( ) Bebe-se muito durante o carnaval.

c) ( ) Ela deixou-se convencer pelas desculpas do namorado.

d) ( ) Todos poderão entrar se possuírem convites.


e) ( ) Quero saber se você chegará no horário marcado.

3. (FGV-2014) “Os avanços nos sistemas de comunicação tornaram possível que pessoas de diferentes
lugares passassem a se falar e a estar em contato o tempo todo. As pessoas começaram a viajar mais
e, com isso, alteraram o seu modo de ver o mundo e de se relacionar”.

As duas ocorrências do pronome “se” sublinhadas indicam, respectivamente,

a) ( ) sujeito indeterminado e sujeito indeterminado.

b) ( ) voz passiva e pronome reflexivo.

c) ( ) pronome reflexivo e pronome recíproco.

d) ( ) pronome recíproco e pronome recíproco.

e) ( ) pronome recíproco e sujeito indeterminado.

4. (Fapec-2016) Assinale a alternativa em que a palavra “se” é um pronome reflexivo.

a) ( ) Não se é responsável da noite para o dia!


b) ( ) Os policiais feriram-se no confronto.
c) ( ) Vendem-se carros usados.
d) ( ) Procura-se secretária naquela nova loja.

5. Assinale a opção em que “se” funciona como índice de indeterminação do sujeito:

A) Se Tereza não for à festa, também não irei.


B) A criança machucou-se na bicicleta.
C) Trata-se do primeiro e último fundo no Brasil (Revista Veja)
D) Ele impôs-se uma disciplina rigorosa.
E) “Ergueu-se, passou a toalha no rosto” (Lygia Fagundes Teles)

6. Classifique as funções da palavra “se” nas frases a seguir, numerando, convenientemente, os


parênteses:

1. Partícula apassivadora.
2. Índice de indeterminação do sujeito.
3. Partícula de realce.
4. Partícula integrante do verbo.
5. Conjunção subordinativa.

( ) “Ela quer saber se eu me sinto realizado”. (Drummond)


( ) “Acabou-se a confiança no próximo”. (Drummond)
( ) Suicidou-se, pulando no fim da tarde de um prédio de 10 andares.
( ) Precisa-se de operários.
( ) “Sentia-se o cheiro da panela no fogo, chiando de toucinho no braseiro”. (José Lins do Rego)

8. Assinale a opção onde “se” exerce a função de índice de indeterminação do sujeito:

A) Gosta-se muito de doces por aqui.


B) Comprou-se um novo prédio para a loja.
C) Emprestou-se o dinheiro ao professor.
D) Deixou-se sentar na soleira da porta.
E) As roupas, os varais, tudo isso se foi, levado pela correnteza.

9. Em todas as orações abaixo, a palavra “se” aparece como pronome reflexivo, exceto em:

A) Os namorados beijavam-se calorosamente.

B) Mãe e filha queriam-se muito.


C) Alimentou-se no restaurante.
D) Era-se feliz na fazenda.
E) Cortou-se a pobre menina nos arames farpados.

10. (SANTA CASA) A palavra "se" é conjunção integrante (por introduzir oração subordinada
substantiva objetiva direta) em qual das orações seguintes?

a) Ele se mordia de ciúmes pelo patrão.


b) A Federação arroga-se o direito de cancelar o jogo.
c) O aluno fez-se passar por doutor.
d) Precisa-se de operários.
e) Não sei se o vinho está bom.

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