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Adelina Matsolo

Augusto Madalena Muianga


Shirla José Muianga

Licenciatura em Ensino de Língua Portuguesa

Cadeira de Sintaxe, Semântica e Pragmática do Português (SSPPII)

3o Ano – Laboral

Construções de subordinação do PM, com variação relativamente ao PE : o que simples


complementador, o preenchimento do especificador de SCOMP com material lexical de
conteúdo semântico

Universidade Pedagógica de Maputo


Faculdade de ciências da Linguagem, Comunicação e Artes
Departamento de Ciências da Linguagem
Maputo
2022
Adelina Matsolo
Augusto Madalena Muianga
Shirla José Muianga

Licenciatura em Ensino de Língua Portuguesa

Cadeira de Sintaxe, Semântica e Pragmática do Português (SSPPII)

3o Ano – Laboral

Construções de subordinação do PM, com variação relativamente ao PE: o que


simples complementador, o preenchimento do especificador de SCOMP com material
lexical de conteúdo semântico

Trabalho da Cadeira de SSPP-I a ser apresentado a


Faculdade de Ciências da Linguagem Comunicação
e Artes, curso do Ensino de Português 3º Ano.
Elaborado sob orientação do Dr. Carlos Mutondo

Universidade Pedagógica de Maputo

Faculdade de ciências da Linguagem, Comunicação e Artes


Departamento de Ciências da Linguagem
Maputo
2022
Índice
Introdução..................................................................................................................................................4
Objectivos....................................................................................................................................................4
1.5.1. Objectivo Geral..................................................................................................................5
1.5.2. Objectivos Específicos:.............................................................................................................5
2. Construções de subordinação do PM, com variação relativamente ao PE.............................5
2.1 Fases das Construções de subordinação do PM....................................................................5
( 7) a. Hipótese (a).......................................................................................................................5
b. Hipótese (b)..............................................................................................................................7
(10) Hipótese ( c).........................................................................................................................8
3. Conclusão.....................................................................................................................................11
4.Referências bibliográficas...........................................................................................................12
Introdução

Em Moçambique ocorre frequentemente a produção de construções de subordinação, excluídas


pela norma padrão (PE), pois evidenciam mudanças a nível do introdutor das orações
subordinadas, o sintagma do complementador SCOMP. Sendo assim, nas orações subordinadas,
as posições em SCOMP de especificador (ESP) e COMP, ou estão vazias ou estão preenchidas
por material lexical com conteúdo semântico, tal como advérbios, preposições e conjunções
(GONÇALVES , 2008).

Neste âmbito o presente trabalho inserido na cadeira de SSPPII versa sobre Construções de
subordinação do PM, com variação relativamente ao PE : o que simples complementador, o
preenchimento do especificador de SCOMP com material lexical de conteúdo semântico. Para a
realização deste trabalho foi adoptado a pesquisa exploratória, feita a partir do levantamento de
referências teóricas já analisadas e publicadas Gil (2008).

Objectivos

Os objectivos deste trabalho são os seguintes:

1.5.1. Objectivo Geral

 Compreender as Construções de subordinação do PM, com variação relativamente ao PE.


1.5.2. Objectivos Específicos:
 Trazer as hipóteses das Construções de subordinação do PM: o que simples
complementador, o preenchimento do especificador de SCOMP com material lexical de
conteúdo semântico;
 Comparar Construções de subordinação do PM, com variação relativamente ao PE: o que
simples complementador, o preenchimento do especificador de SCOMP com material lexical
de conteúdo semântico;
 Arrolar os argumentos que provocam as mudanças ( elisão ou substituição) a nível do
introdutor das orações subordinadas, o sintagma do complementador SCOMP no PM.
2. Construções de subordinação do PM, com variação relativamente ao PE.

2.1 Fases das Construções de subordinação do PM

1a Fase: A posição do ESP não é ocupada por material do conteúdo fonético, e consideram-se
candidatos à posição de COMP itens de diferentes categorias: complementadores, entre os quais
sobressai o que ( hipótese (a) ) e ( algumas) preposições ( hipótese (b)).

(1) a. Encontrou o leão [ -[ queria lhe comer ]].

(2) Disse [ para [ que eu ficasse de pé ]].

( 7) a. Hipótese (a)

O principal candidato à posição de COMP é o complementador universal universal que.

complementador que
[SCOMP- [ COMP [COMP ]]

ou

SCOMP

COMP′

COMP SFLEX

que

(3) O Cucu disse [ que [ façamos um postal]].

(4) Perguntou [que [ lhes conhecia o nome dela]]. PM

Perguntou [se [ lhes conhecia o nome dela]]. PE


Nos exemplos (3) e (4) a posição de COMP é preenchida pelo complementador universal que ,
em contextos onde, segundo a norma padrão ( PE), ou não é requerido nenhum introdutor de
subordinação ( exemplo (3)), ou exido o outro complementador ( se no exemplo (4)).

Comparações entre as construções do PM vs PE


Na perspectiva de Brito (1991: 191), o morfema < que> é usado de uma forma generalizada e
preferencial como introdutor de frases subordinadas, ocupando basicamente a posição de núcleo
de SCOMP. Esta parece ser a descrição gramatical apropriada das estruturas de subordinação
do PM.
Em (3) o complementador que apresenta o traço [ -Q], ou seja, funciona como um
complementador declarativo ( oração declarativa de ordem). De acordo com a norma padrão, o
que leva a excluir esta frase é a ausência de operações de encaixe dos marcadores de tempo e
pessoa, encontrando-se a flexão no presente, [ I/ sing] ( e não no imperfeito, [ III/sing]).
Também se pode verificar, no exemplo (4), o complementador que a ser usado como introdutor
como introdutor de uma oração interrogativa indirecta global, em lugar do complemetador se,
como exigiria a norma padrão. Esta oração é selecionada pelo verbo perguntar , indicando que,
no PM, ele pode apresentar o traço [ + Q] isto é, trata-se de um complementador interrogativo
( e não apenas declarativo como acontece na norma padrão PE).
(5) a. Só preparam no tempo [ que[ não há chuva]].

b. O meu amigo [que [ todos os dias comprava pão com ele]].

Comparações entre as construções do PM vs PE


As frases em (5) contêm orações relativas que exibem chamadas estratégias cortadora e
resumptiva, e em ambos casos o pronome relativo que não é regido por preposição, como
prediz a norma padrão, considerando-se o introdutor destas frases complemetador, tornando-se
uma espécie de ˝ arqui-morfemaˮ e ocorrendo o processo de recategorização do pronome relativo
como complementador.
A estratégia cortadora ocorre mais frequentemente comcomplementos adjuntos, temporais (5.a) e
locativos( Ex5: A escola [que [ estudei]… (= em que/ onde).
b. Hipótese (b)

A posição do COMP pode ser preenchida por preposições e advérbios.

preposição
[SCOMP- [ COMP [COMP ]]

SCOMP

COMP′

COMP SFLEX

Prep/ Adv

(6) a. Descansaram [ até [ chegou um leão ]]. P M

Descansaram [ até [ chegar um leão ]]. PE

b. [Para [ dançamos marambenta ]] é preciso material. P M

[Para que [ dancemos marambenta ]] é preciso material. PE

Em (6) tem-se orações adverbias ( temporal e final ), verifica-se que as preposições até e para
seleccionam uma flexão finita, tal como os complementadores, podendo por essa razão
considerar-se que ocupam a posição de COMP.

Comparações entre as construções do PM vs PE


No PE, a flexão finita de uma oração subordinativa adverbial é permitida pela presença de um
complementador com realização fonética, assim sendo as preposições ocupam a posição de
COMP, mas se deve operar uma recategorização de algumas preposições do português. De
acordo com Dusnisky e Williams (1995), este fenómeno de recategorização das preposições não
é estranho nas línguas naturais (PM), havendo a restrição relacionada com a dificuldade em lidar
com a flexão verbal no modo conjuntivo ( 6.b) ou em saber que, segundo a Gramática Moderna
da Língua Portuguesa ( 2015), a partícula prepositiva seleciona o verbo no infinitivo, no caso da
oração subordinativa adverbial infinita (Ver correção de 6.a-b).
Ainda se observámos que recategorização das preposições evidencia a dificuldade em atribuir
uma descrição estrutural a esta orações, mas também a tendência de considerar as preposições
que aparecem associadas as orações subordinadas como parte integrante do SCOMP. É possível
que esta dificuldade tenha sua origem na gramática das LB′s, as suas L1′s, em que os SCOMP′s
não são preenchidos com este tipo de itens lexicais ( nas orações infinitivas, as preposições
subcaraterizam SFLEX) (GONÇALVES,1996a).

2a Fase: Restringe-se o leque das categorias lexicais que podem preencher esta posição sintática
aos complemenatdores, deixando as preposições de poder ocupar o núcleo do SCOMP. Como
consequência desta mudança na gramática dos falantes do PM, sempre que a posição de COMP
é ocupada pelo complementador que, esvazia-se sintaticamente o conteúdo do SCOMP, uma vez
que este, ao contrario do que acontecia com a preposição, apenas indica o início de uma oração
subordinada finita.

(10) Hipótese ( c)

Quando a posição do COMP é ocupada pelo complementador que, a posição ESP pode ser
preenchida por material lexical com conteúdo semântico:

Prep/ Adv que


[SCOMP [ COMP complementador ]].

ou

SCOMP

ESP COMP′

COMP SFLEX

Prep / Adv que


de que
(8) a. Viram [SCOMP [ COMP [ afinal o coelho é mais esperto ]]].

para que
b. Combinou como meu pai [SCOMP [ COMP [ eu fosse à escola ]]].

Nos exemplos (8), orações completivas são regidas pelas preposições de e para , conforme o
verbo está no modo indicativo ou conjuntivo . De acordo com a interpretação aqui definida ,
estas preposições permitem processar o conteúdo das orações que introduzem quanto ao valor de
factualidade.

Comparações entre as construções do PM vs PE


As alterações registadas relativamente ao preenchimento da posição de ESP de SCOMP, no PM,
emergem devido ao formato do input, nomeadamente no que se refere às orações adverbiais do
PE introduzidas por [ Prep / Adv que] ( ainda que; para que), por exemplo:
Ex1: Para que possa ir à escola, compra óculos.
Ex2: Ainda que fosse tarde, ele poderia ter esperado.
Confrontando-se os exemplos supracitados com os de ( 8), pode-se concluir que na gramática do
PM as preposições e os advérbios não selecionam o um SCOMP como complemento, são
tomados com parte de SCOMP.
No PM a ocupação de ESP do SCOMP pela preposição( e não implicando uma mudança das
propriedades de seleção dos verbos superiores) relaciona-se com o facto de estas só ocorrerem
em construções com complementos frásicos, e não quando com complementos nominais. Isto
significa que não ocorrem estruturas do tipo[ V + SP] ( Ex3: combinar para viajar ), em vez do
que se verifica no PE, (Ex 4: combinar uma viajar ) [ V + SN]. Parece assim legitimo
estabelecer que os verbos que subcategorizam estas orações mantêm a propriedade de c- selecção
[ -SCOMP], e que a presença das preposições de e para, não indica que houve alteração das
suas propriedades lexicais, no sentido c-seleccionarem [ -SP] ( em que SP  PSCOMP).
Ainda se invoca o facto do uso das preposições estar sistematicamente associado à flexão do
verbo na oração completiva: a preposição de ocorre com o modo indicativo e a preposição de
para com o modo conjuntivo. A presença destas preposições é uma estratégia adotada para
distinguir o conteúdo da oração completiva quanto ao seu valor modal de factualidade. Assim, a
preposição de ocorre nos verbos declarativos e de asserção mental. A preposição para é usada
quando existe uma relação de posterioridade da oração completiva relativamente à frase
superior, não havendo certeza sobre o valor de verdade da predicação.

Como que
(9) a. [SCOMP [ COMP [ o povo é vigilante ]]], viu logo que era ladrão.

embora que
b. Estou a tentar ser música [SCOMP [ COMP [ não sou conhecida ]]].

Quanto aos exemplos (9), eles ilustram uma estrutura sintática em que os introdutores de
subordinação não ˝canónicosˮ , como e embora, ocorrem combinados com o complementador
que , havendo, tal como nas frases (8), dois itens lexicais a introduzir as orações subordinadas. É
de salientar que as preposições (de e para) e as conjunções adverbias (como e embora)
ocupam a posição de ESP e o complementadaor que ocupa a posição de COMP.

Comparações entre as construções do PM vs PE


Quanto aos exemplos (9), em que os subordinadores do PE, como e embora, estão combinados
com o cmoplementador que, não correspondem as construções do PM. Por outras palvaras, a
hipótese (c) parece corresponder a um nível posterior às hipóteses (a) e (b). De acordo com as
evidências disponíveis sobre a gramática do PM, esta hipótese não chegará a ser erradicada,
acabando por tornar-se parte da competência dos adultos.

Gonçalves (1990), apresenta os principais factores que intervêm no desencadeamento do


conjunto alterações na área da subordinação que se verificam no PM , nomeadamente:

(i) introdução de orações relativas resumptivas e cortadoras pelo morfema que;

(ii) uso das preposições de e para com complementador que em estruturas de


complementação verbal;

(iii) introdução das orações adverbiais pela sequências [ Prep / Adv que] ( seja ela permitida ou
não norma padrão <ainda que> e < para que> e <embora que> ou <mal que>).

3. Conclusão
Após realização do trabalho de pesquisa concluímos que o desenvolvimento do SCOMP passa
por duas fases. Na primeira fase, consideram-se candidatos à posição de COMP
complementadores: universal que e (algumas) preposições. Na fase subsequente, restringe-se o
arsenal das categorias lexicais que podem ocupar esta posição sintática aos complentadores,
deixando as preposições de poder ocupar COMP. Na sequência da mudança operada, sempre
que a posição de COMP é ocupada pelo complementador que, esvazia-se semanticamente o
conteúdo do SCOMP, cabendo à posição de ESP de SCOMP o papel de participar na
descodificação do conteúdo da oração subordinada. Neste âmbito, observámos que a transição
duma fase para outra não é absuluta a nível das estruturas ( hipóteses (a-b). Assim as preposições
podem no na primeira fase ( hipóteses (a) e (b), ocupara a posição de COMP, e também a
posição de ESP de SCOMP.

Os principais factores que intervêm no desencadeamento do conjunto alterações na área da


subordinação que se verificam no PM são: (i) introdução de orações relativas resumptivas e
cortadoras pelo morfema que; (ii) uso das preposições de e para com complementador que em
estruturas de complementação verbal e (iii) introdução das orações adverbiais pela sequências [
Prep / Adv que] ( seja ela permitida ou não norma padrão <ainda que> e < para que> e
<embora que> ou <mal que>). Ainda se pode arrolar os seguintes: a restrição relacionada com a
dificuldade em lidar com a flexão verbal no modo conjuntivo ou em saber que a partícula
prepositiva seleciona o verbo no infinitivo, no caso da oração subordinativa adverbial infinita.

4.Referências bibliográficas
•BRITO, A. (1990). A Sintaxe das Orações Relativas em Português. Porto: Instituto Nacional de
Investigação Científica e Centro de Linguística da Universidade de Porto;

•Dubinski, S & WILLIAMS, K. (1991). Recategorization of Prepositions as Complenentizers:


The Case of Temporal Prepositions. Linguist Inquiry, 26:1, 125-137;

•GONÇALVES, P. (1996a). Português de Moçambique: Uma variedade em Formação.


Maputo: Livraria Universitária e Faculdade de Letras da UEM, pp. 30-56;

•Gramática Moderna da Língua Portuguesa, 3ͣ edição. Escolar Editora, 2015, pp.244-248.

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