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DIREITO CIVIL - PARTE GERAL II

Resumo da Prova 2
1) ​Nulidade x Anulabilidade
-> Nulidade e Anulabilidade são as duas formas de invalidade do negócio jurídico
presentes no ordenamento jurídico pátrio.

a) ​Nulidade

-> A nulidade, regida principalmente pelo artigo 166 e seguintes do Código Civil de 2002,
é matéria de ordem pública, visto que visa regular valores que são de interesse não só
dos particulares, mas sim de toda a sociedade. Exatamente por isso que ela pode ser
reconhecida de ofício pelo juiz, sem precisar ser alegada pelas partes. Diz o código:

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

Quando a pessoa que celebrou o contrato tiver menos de 16 anos.

II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

Por exemplo, o contrato feito para que uma pessoa mate outra.

III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;

É o caso do aluguel de um apartamento simplesmente para que sirva como boca de


tráfico.

IV - não revestir a forma prescrita em lei;

O negócio jurídico possui um requisito de validade "forma prescrita ou não defesa em


lei" - assim, ele pode ser celebrado, quanto a seu aspecto formal, ou na forma que a lei
determinar e, quando a lei for omissa, da forma que as partes preferirem.

V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;

Ainda no critério formal, quando for esquecida alguma solenidade que a lei considere
essencial.
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;

Tiver por objetivo fraudar a lei, como pode ser o caso da simulação.

VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

Quando a lei taxativamente declarar nulo o negócio jurídico. É o caso do artigo 426 do
Código Civil, que determina a nulidade do negócio jurídico cujo objeto seja a herança de
pessoa viva (​pacta coervina​)

-> A nulidade pode ser alegada pelas partes, pelo Ministério Público ou pelo Juiz, de
ofício (art. 168 do Código Civil).
-> O negócio jurídico nulo nunca produziu efeitos no mundo do direito. Ele é nulo desde
sua celebração e a partir do momento em que a nulidade é declarada, as partes
retornarão ao ​status quo ante​ (art. 182 do Código Civil)
-> Não há possibilidade de convalidação do negócio jurídico nulo (art. 169 do Código
Civil).

b) ​Anulabilidade

-> A anulabilidade trata de prejuízos que ocorrem a particulares, não possuindo o


caráter de ordem pública da nulidade, e é regida principalmente pelo artigo 171 e
seguintes do Código Civil de 2002. Diz o código:

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente;

Quando o agente que celebrou o negócio jurídico tinha, na data da celebração, entre 16
e 18 anos.

II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra
credores.

Casos dos vícios de consentimento, descritos posteriormente neste mesmo resumo.

-> A anulabilidade só pode ser alegada pelos interessados, não sendo de competência
do Ministério Público e não podendo ser alegada de ofício pelo juiz (art. 177 do Código
Civil).
-> A anulabilidade depende de decisão judicial (art. 177 do Código Civil), não possuindo
efeitos antes da sentença que a declara. A partir do momento de sua declaração, as
partes restituir-se-ão ao estado em que antes se achavam (art. 182 do Código Civil).
-> O ato anulável pode convalescer por três meios: a confirmação (art. 175 do Código
Civil), a posterior autorização (art. 176 do Còdigo Civil) e o decurso do tempo (art. 178
do Código Civil).
Confirmação​: Pode se dar de maneira expressa ou tácita. O negócio celebrado por
relativamente incapaz, por exemplo, tem ​status de anulável segundo o Código Civil,
conforme já visto. Caso a parte celebre o negócio jurídico com 17 anos, poderá
confirmá-lo posteriormente quando tiver 18, podendo se dar essa confirmação de
maneira expressa ou de maneira tácia, com o cumprimento da obrigação.
Posterior Autorização​: Se dá nos casos em que o negócio jurídico depende da
autorização de terceiro. Por exemplo, se tenho um imóvel e sou casado no regime de
comunhão universal de bens, precisarei da autorização do meu cônjuge para aliená-lo.
Dessa forma, caso eu celebre uma compra e venda sem a autorização, ela poderá ser
dada posteriormente, investindo o negócio jurídico de plena validade.
Decurso do Tempo​: ​Prazo de 4 anos​, de natureza decadencial, para ajuizamento da ação
visando a decretação da nulidade do negócio jurídico (art. 178),

2) ​Simulação
-> “Simulação é uma declaração falsa, enganosa, da vontade, visando aparentar negócio
diverso do efetivamente desejado” – Carlos Roberto Gonçalves.
-> Negócio simulado é aquele que tem aparência contrária à realidade, produto do
conluio entre os contratantes, visando obter efeito diverso daquele que o negócio
aparenta conferir.
-> Não é vício de consentimento, mas ​vício social​​. Não atinge a vontade em sua
formação. Trata-se de desconformidade consciente da declaração, realizada de comum
acordo com a pessoa a quem se destina, com o objetivo de enganar terceiros ou fraudar
a lei.
-> É causa de ​nulidade​​.
-> A simulação tem quatro características principais: a) ​É, em regra, negócio jurídico
bilateral​; b) ​É sempre acordada com a outra parte, ou com as pessoas a quem ela se
destina;​ c) ​É uma declaração deliberadamente desconforme com a intenção;​ d) ​É
realizada com o intuito de enganar terceiros ou fraudar a lei​.
-> A doutrina traz duas espécies de simulação: a ​simulação absoluta e a ​simulação
relativa​​.
a) ​Simulação Absoluta​​: Na simulação absoluta, as partes na verdade não realizam
nenhum negócio, apenas fingem, para criar uma aparência, que ele foi realizado. Diz-se
absoluta porque a declaração de vontade se destina a não produzir resultado, ou seja,
ela deveria produzir um resultado, mas o agente não pretende resultado algum.
Exemplo:​ Emissão de títulos de crédito em favor de amigos e posterior dação em
pagamento dos bens, por marido que pretende se separar da esposa e subtrair da
partilha tais bens; a falsa confissão de dívida perante amigo, com concessão de garantia
real, para esquivar-se da execução de credores quirografários.
b) ​Simulação Relativa​​: Na simulação relativa, as partes pretendem realizar determinado
negócio, prejudicial a terceiro ou em fraude à lei. Para escondê-lo, realizam outro
negócio. Assim, compõe-se de dois negócios: um é o ​simulado​, aparente, destinado a
enganar; o outro é o ​dissimulado​, oculto, verdadeiramente desejado.
Exemplo​: O homem casado que, para contornar a proibição de fazer doação à
concubina, simula venda a um terceiro, que transferirá o bem àquela. Também
acontece quando, para pagar imposto menor, as partes passam a escritura por preço
inferior ao real.
-> Reza o Código Civil, em seu artigo 167, que “É nulo o negócio jurídico simulado, mas
subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e forma”. Assim, nos casos de
simulação relativa, teremos a nulidade do negócio jurídico aparente, aquele que é
destinado a enganar, mas ​subsistirá o negócio dissimulado, se válido na substância e na
forma.

3) ​Representação
-> É a atuação jurídica em nome de outrem.
-> Quem pratica o ato é o representante, enquanto a pessoa em nome de quem ele atua é o
representado.
-> O representado fica vinculado ao Negócio Jurídico, não o representante.
-> A representação é a ​verdadeira legitimação ​para agir por conta de outrem, nascendo ela de
lei ou contrato.

a) ​Espécies de Representação
Art. 115 do Código Civil: "Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo
interessado".

-> Representação Legal


É conferida por lei. A Rep. Legal é uma atividade obrigatória, um encargo/obrigação. Fica o
representante investido de autêntico poder pela necessidade de atribuir a alguém a função de
cuidar dos interesses das pessoas incapazes.
É também possível haver representação legal de pessoas capazes. Ela acontece, por exemplo, no
caso dos sindicatos, para a celebração de acordos coletivos; ao síndico dos condomínios; ao
administrador da massa falida; ao inventariante; etc.
Por exemplo, ela é conferida aos pais, tutores, curadores, síndicos, administradores, etc.
A representação legal tem ​caráter personalíssimo ​e ​supre a falta de capacidade do
representado​​.
-> Representação Convencional / Voluntária
Permite o auxílio de uma pessoa na defesa ou administração de interesses alheios, com o
propósito de cooperação jurídica.
No caso concreto, mediante acordo de vontades, intervém na conclusão de u negócio outra
pessoa que não o interessado direto.
É um ato autonomia privada mediante outorga de procuração (CC, art. 653) pelo qual uma
pessoa investe em outra o poder de atuar em seu nome.
Pode se revogada a qualquer tempo pelo representado (diferentemente da representaçã o
legal).
O representado fica vinculado à todas as obrigações contraídas em seu nome, ainda que o
representante tenha atuado de maneira diversa àquela instruída. Nesse caso, poderá o
representado ajuizar ação pelas perdas e danos resultantes da inobservância das instruções (art.
679).
Representante tem obrigação de provas às pessoas a qualidade e extensão de seus poderes, sob
pena de responder aos atos que a este excederm (art 118 CC).

b) ​Espécies de Representantes

-> Legal: Aquele a quem a lei confere poderes para administrar bens e interesses alheios, como
pais, em relaçãos aos filhos menores.
-> Judicial: Nomeado pelo juiz para exercer poderes de representação no processo, como o
inventariante, síndico da falência, etc.
-> Convencional: Mandato outorgado pelo credor, expresso ou tácito, verbal ou escrito.

c) ​Regras de Representação

Art. 116 do CC: ​A manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes,
produz efeitos em relação ao representado.

O representante deve agir em conformidade com seus poderes. De outra forma, haverá excesso
de poder, podendo ser responsabilizado (art 118 CC). Enquanto o representado não ratificar os
atos praticados, será considerado mero gestor de negócios (CC, art. 665).

-> Conflito de Interesses: Art. 119 do CC: ​É anulável o negócio concluído pelo representante em
conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem
com aquele tratou.
Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da
incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo.
Prazo ​decadencial ​de 180 dias. O terceiro beneficiado deve ter conhecimento do conflito de
interesses entre representado e representante, sendo que, caso aja de boa-fé, o terceiro nunca
pode ser prejudicado por ato danoso do representante. Neste caso, o representado pode
valer-se o art. 118 para ressarcir danos eventualmente sofridos.
O conflito de interesses normalmente ocorre por ​abuso de direito ​ou ​excesso de poder​​. O
primeiro ocorre quando o representante atua com falta de poderes, configurando falsa
procuração. Também acontece quando o representante atua de forma diversa de sua
destinação: a defesa dos interesses do representado. Excesso de poder é quando o
representante ultrapassa os limites da atividade representativa.
Em ambos os casos, o negócio é celebrado sem poder de representação, podendo ser anulado
pelo representado, se o conflito de itneresses era ou devia ser do conhecimento de quem com
ele tratou.

*Procuração: ​Ato jurídico unilateral constituído por uma única parte: o procurador.
[Não confundir com mandato, pois o mandato trata-se de um contrato].

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4) ​Condição, Termo e Encargo


A) ​Condição

-> ​É o acontecimento futuro e incerto de que depende a eficácia do negócio jurídico.


Dela depende o nascimento ou a extinção de um direito.
-> É necessário que a cláusula seja ​voluntária​, que o acontecimento seja ​futuro e​ que
também seja ​incerto​. A morte, por exemplo, não pode ser condição. Ela é sempre certa,
apesar de ser futura.
-> A incerteza da condição deve ser ​objetiva​​. Ou seja, ela não pode ser incerta só para o
declarante, mas também para todos.
-> Condição voluntária é aquela estabelecida pelas partes como requisito de eficácia do
NJ. A condição legal é a estabelecida pela lei. Pode ser lembrada, como condição legal, a
necessidade de casamento subsequente para eficácia do pacto antenupcial (CC, art.
1653).
-> Existem negócios jurídicos que não admitem condição. Normalmente a condição é
imposta em negócios de natureza patrimonial, mas ela não pode integrar os de caráter
patrimonial pessoal, como os direitos de família puros e os direitos personalíssimos.
Assim sendo, não comportam condição o casamento, o reconhecimento de filho, a
adoção, a emancipação, etc. Denominam-se ​atos puros ​os atos que não admitem
condição. São eles:
a) Os NJs que, por sua função, não admitem incerteza;
b) Os AJs em sentido estrito;
c) Os AJs de família, onde não atua o princípio da autonomia privada, pelo fundamento
ético social existente;
d) Os atos referentes ao exercício dos direitos personalíssimos.
*​​Classificação das Condições*

a) ​Quanto à licitude - O art 122 do CC diz: ​São lícitas todas as condições não contrárias à
lei, à ordem pública ou aos bons costumes.​ Serão ilícitas todas que postularem de forma
contrária a esse pressupostos. É ilícita, por exemplo, a cláusula que obriga alguém a
trocar de religião - contraria um princípio fundamental da constituição. São ​ilícitas
aquelas que contrariam a liberdade ​absoluta ​da pessoa. Exemplo disso é uma cláusula
que proíbe alguém de se casar - esta seria proibida. Não se proibiria, entretanto, uma
cláusula que impeça a pessoa de se casar com determinada pessoa.
Ainda, reputam os artigos 122 e 123 do CC:

[Art. 122. ​São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública
ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo
efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.]​
[Art. 123.​ Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:
I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias​.]

b) ​Quanto à fonte de onde promanam - ​casuais, potestativas (puramente e


simplesmente) e mistas.
*Casuais são as que dependem do acaso, de evento fortuito. "Darei-te dez mil reais se
chover amanhã". Também se dá o nome de casual à condição que depende da vontade
exclusiva de terceiro.
*Potestativa é aquela em que a condição se subordina à vontade de uma das partes.
Existem duas: a ​puramente potestativa ​e a ​simplesmente potestativa​​. A primeira é
ilícita, pois coloca uma das partes sob o arbítrio da outra (fere o art. 122 do cc). A
segunda é lícita, uma vez que não depende somente da vontade da parte. Exemplo
dessa, lícita, é "darei-te 10 mil reais se fores aos Jogos Jurídicos", uma vez que isso
depende também de tempo e dinheiro disponíveis pela parte.
*Mistas são as condições que dependem simultâneamente da vontade das partes e da
vontade de terceiro. Exemplo seria "dar-te-ei 100 mil reais se casares com a Fragas".
Dependerá isso da tua vontade e da vontade da Fragas.

c) ​Quanto ao modo de atuação​ - ​suspensivas e resolutivas


*A condição suspensiva impede que o ato produza efeitos até a realização de
determinado evento futuro e incerto. Exemplo: "darei-te dez milhões de reais se o José
Roberto passar na seleção do estágio".
*A condição resolutiva é a que extingue, resolve o direito transferido pelo negócio,
ocorrido o evento futuro e incerto. Exemplo: "Dar-te-ei mil reais por dia até que a
Juliana Blanco se recupere da ressaca dos Jogos Jurídicos". Depois do fim dessa ressaca
que parece ser infinita, o benefício financeiro cessa.

B) ​Termo

-> É o dia ou momento em que começa o use extingue a eficácia do negócio jurídico,
podendo ter como unidade de medida a hora, o dia, o mês ou o ano. Temo é a cláusula
contratual que subordina a eficácia do negócio a evento futuro e certo.
Dispõe o artigo 131 do CC:

[ Art. 131. O​ termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.​ ]

-> O termo não suspende a aquisição do direito pois apesar de tratar-se de evento
futuro, é evento ​certo.​ Essa é a grande diferença do termo para a condição, uma vez que
a condição suspende o direito por se tratar de evento ​incerto.​
-> Determinados NJs não admitem termo, tais quais a aceitação/renúncia da herança, a
adoção, a emancipação, o casamento, o reconhecimento de filho; etc.

*​​Classificação dos Termos*


a) Termo Inicial e Termo Final
*Termo Inicial é aquele que tem data certa para começar. Ele suspende o exercício do
direito, mas nunca a aquisição deste. Exemplo é um contrato firmado no dia 20/06 para
que os efeitos comecem apenas no dia 01/07. O dia primeiro de julho será o termo
inicial.
*O Termo Final é aquele que destaca a última data ou momento quando aquele direito
terá exercício. Por exemplo: A Juliana utilizará o guarda-roupa de ​certas pessoas a​ té dia
03/07, quando acaba o semestre. Depois daquilo, ela poderá voltar a usar seu próprio
guarda-roupa.

b) Termo Certo e Incerto


*O termo ​sempre ​será certo quanto ao acontecimento. O que pode ser incerto,
entretanto, é quando aquele evento tomará lugar. Exemplo claro é a morte. Ela é certa,
apesar de não sabermos quando ela acontecerá.

C) ​Encargo ou Modo

-> Encargo é uma determinação que, imposta pelo autor da liberalidade, a esta adere,
restringindo-a. Trata-se de uma cláusula imposta às liberalidades (doação, testamento)
em que se impõe uma obrigação ao beneficiário. É admissível, também, em declarações
unilaterais de vontade, como a promessa de recompensa. Não pode ser imposta em
título oneroso.
-> Função de dar relevância ou eficácia jurídica a motivos ou interesses particulares de
autores das liberalidades. Constitui-se em obrigação de dar (fazer doação anual aos
pobres), de fazer (construir uma creche) ou de não fazer (demolir uma capela).
-> A características mais marcante é sua ​obrigatoriedade​, podendo seu cumprimento ser
exigido por meio de ​ação cominatória​​. Entretanto, não se confunde com ônus, pois é
incoercitível, apesar de necessário para a validade do ato pretendido.
Dispõe o art. 136 do CC:

[ Art. 136. ​O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando
expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição
suspensiva.​ ¹ ]

Por isso, se o beneficiário morrer antes de cumprí-lo, a liberalidade prevalece. Tal


consequência não aconteceria se fosse uma condição.
EXEMPLO: Caso se tratasse de um testamento, o domínio dos bens seria transferido ao
herdeiro caso ele cumprisse o encargo. Se não for cumprido, a liberalidade pode ser
revogada.
¹Interessante lembrar que o encargo ​pode ​ser colocado como condição suspensiva,
desde que expressamente imposto no contrato.
O artigo 553 do CC dispõe:

[ Art. 553. ​O donatário é obrigado a cumprir os encargos da doação, caso forem a


benefício do doador³, de terceiro², ou do interesse geral¹.
Parágrafo único. Se desta última espécie for o encargo, o Ministério Público poderá
exigir sua execução, depois da morte do doador, se este não tiver feito.​ ]

¹Ou seja, caso os encargos forem de interesse geral, o MP pode ajuizar ação de execução
contra o beneficiário, caso o doador já tenha falecido.
²No caso de terceiro, ele pode exigir o cumprimento do encargo (ação cominatória), mas
não pode ajuizar ação revocatória.
³Pode propor ação revocatória. Caso venha a falecer no meio do processo, os herdeiros
podem apenas continuar a ação. O instituidor também pode reclamar o cumprimento
do encargo (ação cominatória).

Por fim, dispõe o artigo 137:

[ Art. 137. ​Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o
motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico​. ]

Caso o encargo seja ilícito ou impossível, ele é considerado automaticamente


inexistente, a não ser que constitua motivo determinante da liberalidade. Ainda, nesse
último caso, ele provocará a nulidade do negócio jurídico. Isso acontece por que o
encargo não pode suspender a aquisição ou exercício do direito. É uma cláusula
acessória de restrição da liberalidade.

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4) ​Defeitos do Negócio Jurídico


-> Os defeitos do negócio jurídico são as imperfeições que nele podem surgir,
decorrentes de anomalias na formação da vontade ou na sua declaração. Lembro,
ainda, que a declaração de vontade é requisito de existência do NJ.
-> Trata-se de erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo e fraude contra credores.
Todos eles causam ensejam a ​anulabilidade ​do NJ (artigo 178 do CC).
-> Todos os defeitos acima relatados, ​exceto a fraude contra credores​​, tratam-se de
vícios de consentimento​, pois provocam uma manifestação de vontade não
correspondente com o íntimo e verdadeiro querer do agente.
-> A fraude contra credores é tratada como um ​vício social​, pois é exteriorizada com a
intenção de prejudicar terceiros. Aqui também entra a ​simulação​​, pois objetiva iludir
terceiros ou violar a lei. O CC de 2002 trouxe uma inovação quanto à simulação: o
negócio jurídico simulado não é anulável, e sim NULO. O dissimulado, entretanto,
subsiste. A simulação é tratada, no novo código, no capítulo da invalidade do NJ.

A) ​Erro

-> O erro consiste em uma falsa representação da realidade. Nessa modalidade, o


agente engana-se sozinho. Quando é induzido a erro, já trata-se de ​dolo​​, não de erro.
-> Erro ​substancial e Erro ​acidental​​. Não é qualquer espécie de erro que torna anulável
o NJ. O erro deve ser​ substancial​​, ​escusável ​e ​real​​.
*O erro substancial ou essencial é o que recai sobre circunstâncias e aspectos relevantes
do NJ. Há de ser a causa determinante, ou seja, se conhecida a realidade o negócio não
teria sido celebrado.
Dispõe o artigo 139 do CC:

[ Art. 139. ​O erro é substancial quando:


I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das
qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a
declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou
principal do negócio jurídico.​ ]

a) ​Erro sobre a natureza do negócio​: Quando uma das partes manifesta sua vontade
pretendendo e supondo realizar um tipo de negócio e acaba realizando outro (quer
alugar e​ escreve ​vender)​ . O autor pretende praticar um ato e acaba praticando outro.
Exemplo clássico: pessoa que empresta uma coisa e a outra entende que houve doação.

b) ​Erro sobre o objeto principal da declaração​: É o que incide sobre a identidade do


objeto. A manifestação de vontade recai sobre objeto diverso daquele que o agente
tinha em mente. Exemplo clássico: pessoa adquire o quadro um aprendiz, acreditando
que se trata de um quadro de um mestre pintor.

c) ​Erro sobre alguma das qualidades essenciais do objeto​: Ocorre quando o motivo
determinante do negócio é a suposição de que o objeto possui determinada
característica que, posteriormente, se verifica não existir. Exemplo clássico: Pessoa que
compra um relógio dourado, acreditando ser de ouro.

d) ​Erro quanto à identidade ou à qualidade da pessoa a quem se refere a declaração de


vontade​: Erro de quando, por exemplo, alguém faz uma doação ou uma deixa
testamentária a alguém que supõe, equivocadamente, ser seu filho natural. No entanto,
esse erro só vicia o NJ quando ​não se pode ​determinar a coisa ou pessoa cogitada. Se
fosse dessa forma, se trataria de erro acidental ou sanável.

e) ​Erro de Direito​: É o falso conhecimento, ignorância ou interpretação errônea da


norma jurídica aplicável à situação concreta. É quando alguém manifesta sua vontade
acreditando que está seguindo o preceito legal, mas não está.

*O erro acidental é que se refere a circunstâncias menos importantes e que não


acarretam efetivo prejuízo. Se conhecida a realidade, mesmo assim o negócio teria sido
celebrado.

-> O erro deve ser ​escusável​​. Ou seja, ele deve ser justificável, desculpável. Adota-se o
critério de comparar a conduta do autor com a da média das pessoas. Por exemplo, o
juiz pode considerar escusável a alegação de erro quanto à natureza do negócio feita
por pessoa rústica e analfabeta, e, por outro lado, considerá-la inescusável quando feita
por um advogado. Depende do caso concreto.

-> O erro deve ser ​real​​. Isto é, efetivo causador de prejuízo par ao interessado. Precisa
ser tangível, palpável, importando efetivo prejuízo para o interessado. Exemplo é o ano
de fabricação do veículo. É substancial e real, pois se o adquirente tivesse conhecimento
da realidade, não o teria comprado.
No entanto, se o erro dissesse respeito apenas à cor do veículo, seria acidental, porque
irrelevante para a definição de preço. Esse negócio não seria anulável.

-> O motivo do negócio não precisa ser mencionado pelas partes. E o motivo não pode
viciar o negócio, a não ser que seja expresso e determinante, integrando o NJ em si.

-> O erro convalesce caso a pessoa para a qual a manifestação de vontade é endereçada
se ofereça para repará-lo, executando-a na conformidade da vontade real do
manifestante.

B) ​Dolo

-> Dolo é o artifício ou expediente astucioso, empregado para induzir alguém á prática
de um ato que o prejudic, e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro.
-> Dolo difere do erro por ser provocado de forma intencional. Difere da simulação pois
na simulação a vítima se prejudica sem fazer parte do NJ, quando no dolo ela faz parte
do NJ diretamente. Difere da fraude pois a fraude se consuma sema participação
pessoal do lesado no NJ. A coação também é mais grave que o dolo.
-> É indenizável.
-> Dolo ​principal ​e dolo ​acidental.
Dispõe o artigo 145 do CC:

[ Art. 145. São ​os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.​ ]

Somente o dolo ​principal​​, como causa determinante da declaração de vontade, vicia o


NJ. Configura-se quando o negócio foi realizado somente pois houve induzimento
malicioso de uma das partes.
É ​acidental ​o dolo, segundo o CC, quando:

[ Art. 146. ​O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental
quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.​ ]

Diz respeito às condições do negócio. O dolo acidental não vicia o NJ, tornando-o
anulável. Ele apenas obriga à satisfação de perdas e danos, uma vez que, não fosse o
dolo, o NJ teria sido realizado de outra maneira (porém teria sido realizado de qualquer
jeito).

-> Existe dolo tolerável? SIM. O ​Dolus bonus​. Exemplo é aquele dolo praticado pelos
comerciantes, ao exagerar a qualidade de seus produtos. Esse NJ não seria anulável,
pelo menos não para pessoas médias.

C) ​Coação

-> Coação é toda ameaça ou pressão injusta exercida sobre um indivíduo para forçá-lo,
contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negócio. É o defeito mais grave e
profundo que pode incidir no NJ.
-> Caracteriza-se pelo emprego da violência psicológica para viciar a vontade. A coação
em si não é o vício de vontade, mas sim o temor que ela gera, tornando defeituosa a
manifestação do querer do agente.
-> Coação pode ser ​absoluta/física ​ou ​relativa/moral.
*Na coação absoluta, não existe nenhum consentimento ou manifestação de vontade. A
vantagem pretendida é obtida através de força física. Exemplo clássico é alguém
forçando o braço da vítima para adquirir sua impressão digital. Nesse caso, o negócio é
considerado ​nulo​​. Trata-se, no caso, de INEXISTÊNCIA do NJ, por ausência de seu
principal requisito: a declaração de vontade.
*A coação relativa ou moral, sim, é motivo de anulabilidade do NJ. NEsta, deixa-se uma
opção ou escolha à vítima: praticar o ato exigido pelo coator ou correr o risco de sofrer
as consequências de sua ameaça psicológica. É o que ocorre quando um assaltante
aponta a arma para uma pessoa e diz: "a bolsa ou a vida".
-> Coação principal e Coação acidental. Mesma explicação do dolo - em uma, o negócio
não ocorreria se não fosse a coação. Nesse caso, anulabilidade. Na outra, o negócio
ocorreria, mas em circunstâncias desfavoráveis à vítima. Nesse caso, cabe ressarcimento
de perdas e danos.
-> ​Requisitos da Coação.
Dispõe o artigo 151 do CC:

[ Art. 151. ​A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao
paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou
aos seus bens.
Parágrafo único. ​Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o
juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. ​]

Retira-se do dispostivo que a coação deve ser: a) a causa determinante do ato; b) grave;
c) injusta; d) dizer respeito a dano atual ou iminente; e) constituir ameaça de prejuízo à
pessoa ou a bens da vítima ou a pessoa de sua família.
a) Causa determinante do ato - tem que haver ​relação de causalidade ​entre a coação e
o ato extorquido, ou seja, o negócio deve ter sido realizado somente por ter havido
grave ameaça ou violência. Sem isso, o ato não teria se concretizado. A parte que sofreu
a coação e pretende a anulação do negócio deve provar o nexo de causa e efeito entre a
violência e a anuência.
b) Grave - A coação deve realmente causar um fundado temor psicológico de dano a
bem que considera relevante. Esse dano pode ser moral ou patrimonial. Para avaliar
esse ponto, deve-se levar em conta as condições particulares da vítima, ou seja, avaliar
o caso concreto. Dispõe os artigos 152 e 153 do CC:

[ Art. 152. ​No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde,
o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na
gravidade dela​. ]
[ Art. 153. ​Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o
simples temor reverencial.​ ]

Ou seja, não basta o temor de "desgostar" os pais ou de desagradar o empregador, aqui


(art 153 - temor reverencial).

c) Injusta - Deve ser entendida como ilícita, contrária ao direito, abusiva. Diz o começo
do artigo 153 que não é coação a ameaça à exercício normal do direito. Isso quer dizer
que a ameaça do credor de executar um título de crédito ou a ameaça de uma mulher
de entrar com um pedido de teste de paternidade não constituem coação, pois são
exercícios regulares de seus direitos.
Entretanto, constitui coação aquele que se utiliza dos meios legais para obter vantagem
indevida. Exemplo seria o credor de título hipotecário que que ameaça executar o título
caso a devedora não se case com ele.

d) Dizer respeito a dano atual ou iminente - A ameaça direcionada a um dano remoto,


impossível ou evitável não constitui coação. A ameaça não precisa ser imediata, mas
deve provocar desde logo um temor de intensidade suficiente na vítima para obter sua
anuência.

e) Constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou a bens da vítima ou a pessoas de sua


família - O intimidado pode sentir-se coagido por ameaça à seus bens, à sua vida, à sua
integridade física, à pessoas de sua família.

-> Coação exercida por terceiro.


Dispõe os Arts. 154 e 155 do CC:

[ Art. 154​. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou
devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente
com aquele por perdas e danos​. ]
[ Art. 155. ​Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte
a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação
responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. ]​

A coação exercida por terceiro só vicia o negócio e permite sua anulação pelo lesado se
a outra parte, que se beneficiou, dela teve ou devesse ter conhecimento.
D) ​O Estado de Perigo

-> Constitui o Estado de Perigo a situação de extrema necessidade que conduz uma
pessoa a celebrar um NJ em que assume obrigação desproporcional ou excessiva.
-> Previsto no Artigo 156 do CC. Dispõe:

[ Art. 156. ​Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de


salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume
obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. ​Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz
decidirá segundo as circunstâncias.​ ]

-> Exemplo clássico: Fragas na praia, tranquila, quando sua mãe começa a se afogar no
mar. Ela corre até José Roberto, desesperada, oferecendo um milhão de reais caso ele a
salve. José Roberto pula no mar e, heroicamente, salva a mãe da Fragas.
Posteriormente, a Fragas pode anular esse negócio jurídico, uma vez que ela estava em
Estado de Perigo.
Entretanto, caso fosse o José Roberto se afogando e a Fragas pedisse para o Alexandre
salvá-lo, não caberia anulabilidade automaticamente. Deverá então o Juiz decidir,
segundo as circunstâncias, se era caso de Estado de Perigo ou não.

E) ​Lesão

-> Lesão é o prejuízo resultante da enorme desproporção existente entre as prestações


de um contrato, no momento de sua celebração, determinada pela premente
necessidade ou inexperiência de uma das partes. Há de ser uma desproporção
manifesta. Dispõe o Artigo 157 do Código Civil:

[ ​Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência,
se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi
celebrado o negócio jurídico.

§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a


parte favorecida concordar com a redução do proveito. ]​

-> O exemplo clássico é o seguinte caso: tenho uma propriedade de imóvel rural avaliada em 10
milhões. Eu, todavia, tenho que pagar débitos imediatamente ou vou à falência. Em duas
semanas, preciso de 3 milhões de reais ou minha vida financeira acaba. O único bem que tenho
é a fazenda. Não queria vender, mas nas atuais circunstâncias, não tenho escolha. O Alexandre
faz uma oferta e eu vendo por 4 milhões, muito abaixo do valor de mercado.
-> A Lesão necessita de dois pressupostos: o ​objetivo ​e o ​subjetivo.​
a) Pressuposto Objetivo: ​Uma obrigação manifestamente desproporcional. No caso descrito,
estou vendendo uma propriedade de 10 milhões de reais por apenas 4 milhões de reais. A
decisão de se é ou não é manifestamente desproporcional varia de caso a caso. Não existe
tarifação no Código Civil acerca da lesão.
b) Pressuposto Subjetivo: ​Premente necessidade ou inexperiência da parte prejudicada. A
premente necessidade é entendida como uma necessidade contratual de sentido econômico,
como é a do caso acima. Preciso de dinheiro para quitar meus débitos. Também pode funcionar
num sentido moral - exemplo de uma mãe que precisa pagar um aluguel ou dormirá embaixo da
ponte com seus filhos.

-> A Lesão Consumerista já predispõe que o consumidor é a parte fragilizada, precisando apenas
do pressuposto objetivo para se concretizar.

-> A consequência da lesão é a anulabilidade do Negócio Jurídico. Entretanto, existe uma


exceção, descrita no parágrafo 2º do artigo 157: "​Não se decretará a anulação do negócio, se for
oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito​".
Dessa forma, contemple o seguinte caso: vendi meu imóvel pro Alexandre por 4 milhões, sendo
que valia 10. Eu, então, ajuízo ação para anular o negócio. O Alexandre então reconhece que, de
fato, houve lesão. Oferece a complementação para poder ficar com o imóvel. É possível que isso
aconteça - ele me deposita 6 milhões e fica com a compra.
A doutrina vai além: o enunciado 291 da jornada de direito civil. Esse enunciado diz que "​em
razão o principio da conservação do NJ, a parte prejudicada na lesão, se quiser, não precisa
requerer a anulação. Ela pode, se preferir assim, exigir do juiz que ele reestabeleça, que faça
uma revisão do contrato"​ . ​A anulação não é necessária. ​Eventualmente o juiz pode reequilibrar
essas prestações, ao invés de anular o negócio.

F) Fraude Contra Credores

-> Trata-se não de vício de consentimento, mas vício social. A simulação, que também constitui
vício social, foi mudada para o capítulo da invalidade do negócio jurídico - causa de nulidade
absoluta.
-> No caso da fraude, a vontade manifestada corresponde exatamente ao desejo do agente, não
havendo descompasso entre seu querer e sua declaração. O problema é que ela é exteriorizada
com a intenção de prejudicar terceiros, ou seja, os credores. Por isso é vício social.
-> O patrimônio do devedor responde por suas obrigações - princípio sobre o qual a fraude
contra credores se assenta. O patrimônio constitui a garantia geral dos credores.
-> A ​fraude contra credores ​é todo ato suscetível de diminuir ou onerar seu patrimônio,
reduzindo ou eliminando a garantia que este representa para pagamento de suas dívidas,
praticado por devedor insolvente, ou por ele reduzido à insolvência.
-> Dois elementos compõe o conceito de fraude contra credores: o ​objetivo (eventus damni) ​e o
subjetivo (consilium fraudis)​.
a) Elemento Objetivo: ​A própria insolvência, que constitui o ato prejudicial ao credor. O autor
da ação pauliana precisa provar.
b) Elemento Subjetivo: O credor somente poderá invalidar o negócio se provar a má-fé do
terceiro adquirente, ou seja, a ciência deste da situação de insolvência do alienante.
ENTRETANTO, não se exige que o adquirente esteja em conluio com o alienante - só basta que
prove que ele sabia a insolvência. O artigo 159 do Código Civil dispõe:
[ ​Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a
insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.​ ]

-> A fraude contra credores pode aparecer em quatro hipóteses:


a) Atos de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida
Atos como doações, renúncia de herança, promessa de doação, deixa testamentária e qualquer
direito já adquirido que, por esse fato, vá beneficiar determinada pessoa.
Remissão ou perdão de dívida também trata-se de liberalidade que reduz o patrimônio do
devedor.
b) Atos de transmissão onerosa
A insolvência é notória principalmente quando o devedor tem muitos títulos protestados ou é
réu em ações de cobrança ou execuções cambiais. É presumida quando as circunstâncias,
normalmente o preço vil e o parentesco próximo entre as partes, indicam que o adquirente
conhecia o estado de insolvência do alienante. Ocorrerá a anulabilidade dos contratos onerosos,
mesmo que haja que contraprestação.
c) Pagamento antecipado de dívida
Se o credor começa a pagar suas dívidas ainda não vencidas, comportando-se de maneira
anormal, presume-se o intuito fraudulento. Dispõe o Art. 162 do Código:
[ Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida
ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar
o concurso de credores, aquilo que recebeu​. ]
d) Concessão fraudulenta de garantias
Dispõe o Art. 163 do Código:
[ ​Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas
que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.​ ]
Aqui tratamos das garantias reais, como um penhor ou hipoteca. Isso coloca os credores em
concurso em posição de desigualdade, ensejando então a anulação da garantia, dessa
preferência dada a um dos credores. Continua como credor, mas apenas quirografário.

-> A ação a ser ajuizada pelo prejudicado pela fraude é a ​ação pauliana ou revocatória. Possui
caráter desconstitutivo do negócio (questão de anulabilidade) - julgando-se procedente,
anula-se o negócio fraudulento lesivo aos credores, determinando-se o retorno do bem,
alienado de má-fé, ao patrimônio do devedor.
Possuem ​legitimidade ativa ​para ajuizar a ação pauliana:
a) Credores Quirografários: ​Decorre do fato de não possuírem garantia especial do recebimento
de seus créditos. O patrimônio do devedor constitui a única garantia que possuem de receber o
que lhes é devido. Somente credores quirografários podem ajuizar a ação pois os outros já
possuem garantia especial de seus créditos, sobre as quais incidirá a execução.
b) Só os credores que já o eram ao tempo da alienação fraudulenta: ​Os que se tornaram
credores depois da alienação já encontraram desfalcado o patrimônio do devedor e mesmo
assim negociaram com ele. Assim, não podem reclamar.
Dispõe o §1º do Art. 158:
[ ​§ 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente​. ]
Assim, também podem ajuizar ação pauliana aqueles credores cujos créditos e garantias sejam
insuficientes. "Tem-se entendido que mesmo contra o devedor que ofereceu garantia real é
possível o ajuizamento de ação pauliana, na hipótese dos bens dados em garantia serem
insuficientes".

-> A ação pauliana deve ser ajuizada contra o devedor insolvente e também contra a pessoa
com quem ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, bem como, se o bem alienado
pelo devedor já houver sido transmitido a outrem, contra os terceiros adquirentes que tenham
procedido de má-fé.

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5) ​Prescrição e Decadência
A) PRESCRIÇÃO
-> A Prescrição trata-se de um limite temporal para ajuizar uma ação de um direito ao qual se
tem pretensão.
-> ​A prescrição atinge a pretensão, não o direito. ​Violado o direito, surge a pretensão à
reparação deste. A pretensão é o direito de exigir ação ou omissão do devedor.
-> Os prazos estão fixados nos artigos 205 e 206 do Código Civil. Eles não podem ser mudados
pelas partes em contrato (art. 192 do Código).
-> A prescrição ​não atinge a ação. ​A ação é entendida como um direito subjetivo público, de
forma que sempre se pode exigir que o judiciário aprecie determinado litígio. Não se pode
perder o direito de acionar o judiciário.
-> Com a prescrição, se extingue a ​pretensão, não o direito​​. Sendo assim, se o meu prazo de
pedir meus 100 mil reais de volta para a Fragas prescreve, eu não posso mais ajuizar ação de
cobrança. Entretanto, caso ela me devolva sem lembrar que o prazo estava prescrito, ela não
pode pedir o dinheiro de volta. Nem mesmo o direito de propriedade violado prescreve.
*Enunciado 14:
1) O início do prazo prescricional ocorre com o surgimento da pretensão, que decorre da
exigibilidade do direito subjetivo.
2) O artigo 189 diz respeito a casos em que a pretensão nasce imediatamente após a violação do
direito absoluto ou da obrigação de não-fazer.
*Exemplo da loja de brinquedos: Vendo minha loja de brinquedos para a Juliana, e há uma
cláusula de não-concorrência no contrato. Depois de 1 ano, abro outra loja de brinquedos.
partir do momento que eu abro essa loja, começa a correr o prazo prescricional (violação de
uma obrigação de não-fazer).
-> Usucapião - Prescrição Aquisitiva. Aqui, depois de um prazo prescricional, a pessoa adquire
uma propriedade, ao invés de perdê-la. Entretanto, alguém perde também, de qualquer jeito
(pessoa que perdeu o bem por não exercer a pretensão que havia sobre ele).
-> Conhecimento de Ofício (NCPC, art. 487, II)
Prezando pela celeridade processual, acorda-se que o juiz pode declarar, de ofício, a prescrição
(antigamente somente a parte poderia alegar).
*NCPC, art. 332, §1º - Improcedência Liminar. Juiz extingue a ação por prescrição antes mesmo
de citar o demandado.
-> Renúncia à Prescrição
Na contestação, o demandado pode renunciar à prescrição. Isso acontece em casos de um
comerciante que prefere provar que não deve à ficar mal falado na praça.
O art. 191 do Código Civil dispõe que a renúncia pode ser expressa (expressamente declarada ou
escrita) ou tácita (ação de uma das partes que é incompatível com a prescrição - como dar uma
jóia em penhor para o devedor, como garantia de que pagará a dívida).
A renúncia somente pode ser ​posterior ​à consumação da prescrição. Não pode ser colocado em
contrato, por exemplo.
*Enunciado 295 - Mesmo com o conhecimento de ofício da prescrição, é possível a renúncia.
Não há incompatibilidade.
-> Excessão (Art. 190 do Código).
A excessão prescreve no mesmo prazo da pretensão. Trata-se de uma "defesa", como a
compensação (Devo 100 mil reais para a Fragas, e ela me deve 100 mil. Quando ela me cobra,
eu quito os 100 mil com ela. Entretanto, se deixo o prazo prescricional da dívida dela passar, não
possa mais compensar).
-> Consumação da Prescrição
Ocorre com a inação (inércia da parte) + Transcurso do Tempo (Conforme prazo prescricional
estabelecido).
Não precisa mais ser alegada, juiz pode conhecer de ofício - inclusive liminarmente.
-> Prazo
O prazo geral é de 10 anos (art. 205).
Os prazos específicos estão no art. 206, e serão sempre inferiores a 10 anos. O da
responsabilidade civil, por exemplo, é de 3 anos.
*Caso DPVAT. Muitos casos de ações sendo ajuizadas depois dos três anos. Adveio, então, a
súmula 405 do STJ, determinando que o prazo para ajuizar ação contra o DPVAT é realmente de
3 anos.
-> Suspensão ou Impedimento da Prescrição.
1) Suspensão
*Na suspensão, o prazo é interrompido. Quando ele retorna, retorna somente com o "resto" (Se
já havia transcorrido 3 anos, só serão mais 2 anos quando a suspensão terminar se o prazo for
de 5 anos).
*Art. 197: Entre cônjuge, entre ascendente e descendente, entre tutelado e curatelado, etc.
Enunciado 198: Também conta para união estável.
*Art. 198: Absolutamente incapazes, ausentes em serviço público, contra pessoas servindo as
forças armadas.
*Art. 199:
a) Pendendo condição suspensiva (condição de passar na OAB - prazo só começa no dia em que
passar).
b) Não estando vencido o prazo (Se preciso pagar até o dia 01/03/2025, somente a partir daí se
conta o prazo)
c) Pendendo ação de evicção (Pessoa vende casa que não é dela. Só depois do trânsito em
julgado da 1ª ação - do verdadeiro proprietário contra a pessoa que vendeu a casa - que corre o
prazo para que o terceiro adquirente ajuize ação).
*Art. 200: Se a ação estiver sendo apurada em âmbito criminal. Só corre prazo depois do
trânsito em julgado da sentença penal.
2) Interrupção
*Prazo recomeça do zero depois de acabada a interrupção.
*Por despacho que promova a citação; Por protesto; Por ato judicial que constitua em mora; por
reconhecimento do direito pelo devedor.
*Art. 240 do NCPC: Se o judiciário demora para promover a citação, a interrupção retroage até a
demanda, não importando o momento da citação. Prazo só volta a correr com a extinção do
processo.
*Enunciado 416 das Jornadas: Ação revisional ajuizada pelo devedor interrompe a prescrição. O
devedor não pode alegar prescrição numa demanda posterior, como a de cobrança pelo credor.
* Art. 202
A prescrição só pode ser interrompida UMA VEZ.
Doutrina faz leitura restritiva: limitação só se aplica para atos não-judiciais, com o protesto. Em
caso de ação judicial, a interrupção pode acontecer por mais de uma vez.

B) DECADÊNCIA
-> A decadência extingue o ​direito potestativo​​.
-> Direito potestativo é o direito de constituir, modificar ou extinguir uma relação jurídica da
qual participe uma outra pessoa. Trata-se de direito sem contestação - prerrogativa jurídica de
impor a outrem, unilateralmente, a sujeição a seu exercício. Se dá no plano abstrato, não
acontece nada na realidade fática. Exemplos são o divórcio, a ação renovatória e a demissão.
-> A decadência sempre foi reconhecida de ofício pelo juiz, exceto aquela determinada pelas
partes no contrato (decadência convencional).
-> Art. 207 do Código Civil:
*Não se aplica decadência às normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.
*Decadência não tem suspensão/interrupção, exceto em dois casos:
1) CDC - Comprei algo com defeito. O prazo decadencial não corre caso seja feita a reclamação.
2) Contra os absolutamente incapazes (art. 208) - essa é a única exceção existente no Código
Civil.
-> Tradicionalmente, se afirma que o prazo decadencial não se prorroga. Entretanto, hoje em
dia, os tribunais decidem pela prorrogação do prazo decadencial para o próximo dia útil.

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