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Vinicius Calderoni
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os arqueólogos
Vinicius Calderoni
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Carta para o futuro
Silvia Gomez
Caro arqueólogo,
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Por isso, esta carta sobre uma peça. Esperamos que seja lida,
mas quem pode garantir que vai ser encontrada? Bom, não
importa. Escrevemos mesmo assim.
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de um cometa”, ele diz. Ou tão rara quanto esse entendimento
da grandeza do ínfimo que é estar vivo e, por que não, tentar
conciliar-se com isso.
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OS ARQUEÓLOGOS
(Este é um texto para dois atores e duas cadeiras)
Albuquerque Sim, Navarro, um lindo dia e algo me diz que veremos aqui
lances de grande plasticidade e alta voltagem emocional.
Navarro Cada um dos participantes faz ali o seu próprio ritual enquanto
aguarda o momento decisivo. Vemos ali um que masca chicletes, outro
que escuta música nos fones de ouvido, outra ainda que...
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Albuquerque LUZ AMARELA!
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Navarro Esse salsichinha é genioso, vou te contar. Olha ele ali, que
danado, latindo para um senhor que atravessa na direção contrária.
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Navarro Vamos aos números?
Navarro Mas eles não arredam pé. Ficam ali, frente a frente, um
olhando para o outro, trocando algumas palavras.
Maria Paula Você queria o quê? Que eu fique ouvindo você botar um
monte de palavras na minha boca sem reclamar.
Maria Paula Eu não acredito que você teve a coragem de dizer isso.
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Maria Paula Tá foda, Du. Tá muito foda...
Navarro Você acha que a luta ficou mais calma para eles se
recuperarem do desgaste, Albuquerque?
Navarro Vamos ver como ele vai se recompor depois desse golpe.
Maria Paula Por quê? Sentado você vai parar de ser escroto?
Eduardo Vem.
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Navarro Exato. O Eduardo tem 32 anos e ostenta um cartel respeitável
de quatro namoros, dois casamentos, um divórcio, 23 vinte e três rolos e
15 desilusões, sendo oito delas por nocaute.
Eduardo É a besteira que eu quero dizer! (...) Mas parece que não tem
nada que eu diga que te tire desse lugar, da torre de aço desse castelo
em que você se enfiou. Sabe o que tá parecendo? Que alguma coisa se
quebrou dentro de você, e você não deixa ninguém te ajudar a recolher
os cacos. (...)
Maria Paula Talvez seja isso. Talvez seja só isso. Talvez eu só precise
recolher esses cacos, sozinha.
Maria Paula Mas como você pode ter tanta certeza? Porque é
completamente abstrato. Quando você diz amor, ou quando eu digo
amor: como você pode ter certeza de que estamos falando da mesma
coisa? (...)
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Navarro Vamos aproveitar este momento de desaceleração para dar
uma passadinha em outros eventos, porque aqui você não perde nada.
Navarro Opa, olha lá, pegou mais um! Logo adiante está começando
mais uma apresentação de malabarismo no sinal vermelho: o jovem
vai manobrando com cuidado as quatro bolas de tênis na sua mão, vai
tentar pousar uma bola na nuca... ah, uma pena, mas ele prossegue sua
apresentação, mais uma boa manobra... e o encerramento. Ele faz agora
sua reverência. Uma apresentação quase perfeita, hein Albuquerque?
Albuquerque Sem dúvida uma pena, Navarro, ele vinha bem até a
metade da apresentação, mas acabou falhando ali num pequeno
detalhe, na terminação do movimento do antebraço. Mas é um jovem,
ainda tá no início da sua trajetória, e certamente ainda vai se aperfeiçoar
muito.
Filho Você.
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Filho Ah, várias coisas.
Pai Tipo?
Filho Não.
Filho Assim?
Filho Aham.
Pai Cada vez que você achar uma coisa legal nessa praça é só
enquadrar e clicar.
Pai Bom, pra isso você teria que estar bem longe e de um lugar bem
alto, tipo o topo de um prédio. E não ia dar pra ver muitos detalhes,
como o rosto das pessoas. Quanto mais próximo você estiver, mais
detalhes vai conseguir pegar, entendeu?
Filho Aham.
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Filho Aham.
Pai Apertou?
Filho Aham.
Filho Ah é, tinha esquecido. Mas como eu vou saber se a foto ficou legal?
Pai Larga de ser bobo. Você não percebe que é muito mais legal assim?
É misterioso. A foto pode ter parecido legal, mas de repente, pode ter
cruzado um pássaro bem na frente da lente no momento que você foi
apertar o botão e então...
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Filho E como faz pra aprender a clicar sempre na hora certa?
Pai Você tem que treinar muito, pra deixar o seu olhar muito rápido. Não
só o olhar, o reflexo também.
Pai Ih, nem esquenta a cabeça que você vai errar muitas vezes. Todo
mundo erra, até os melhores. Daí é só tentar de novo.
Pai Quantas você quiser. Quer dizer, nessa máquina aí que tá na sua
mão você tem só 36.
Filho Quero.
Pai De quê?
Pai Outra foto minha? Mas com tanta coisa legal pra fotografar?
Filho Mas agora eu queria que fosse só a sua cara, bem de pertinho,
fazendo uma careta.
Pai Ah, uma foto conceitual, gostei de ver. Então vai, mexe na lente pra
enquadrar meu rosto bem de perto e avisa quando puder pra eu fazer a
minha melhor careta.
(...)
Filho Pronto!
(careta. foto.)
Pai Conseguiu!
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Pai Sabe o que é mais legal?
Filho O quê?
Pai Que toda vez que você bate uma fotografia você para um pedacinho
do tempo. Então enquanto eu tô aqui conversando com você com a
minha cara normal, tem uma parte de mim que vai ficar pra sempre
fazendo aquela careta.
Pai É mais ou menos isso! Então, cada vez que você tira uma foto você tá
registrando uma coisa tão rara quanto a passagem de um cometa, um
momento que nunca mais vai se repetir.
Filho Mas e se amanhã eu vier aqui com você e você tiver com a mesma
roupa e você ficar no mesmo lugar e eu tirar a mesma foto que eu tirei
agora de você?
Pai Ah, mas as pessoas passando atrás de mim não vão ser as mesmas.
Talvez esteja chovendo, mas, mesmo que faça sol, a luz do dia não vai
ser a mesma. Eu posso estar até com a mesma roupa, mas o meu
humor vai ser diferente e eu vou estar pensando em outras coisas.
Filho Louco.
Filho Quando as pessoas aparecem nas fotos elas tão sempre pensando
em alguma coisa que a gente não sabe o que é.
Pai Isso é verdade... Bom, a gente não sabe, mas a gente pode brincar
de adivinhar. Porque alguém que tá pensando pra onde vai nas férias faz
uma cara bem diferente de quem tá com raiva porque pisou num cocô
de cachorro.
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Filho Então eu posso fotografar aquela moça ali encostada no poste?
Pai Você pode fotografar o que quiser. Só tem que tomar um cuidado.
Filho Qual?
Pai Tem dois jeitos: você pode perguntar pra ela se pode tirar uma foto
ou...
Filho Ouuuuuuu?
Filho Escondido!
Navarro Mas você acha que o fato de o garoto não ter pedido autorização
configura uma posição de impedimento?
Laura Dellaqua Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito: foi.
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Um, dois: foi.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze:
foi. Puxa, esse foi ótimo.
Laura Dellaqua Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete: foi.
Navarro Mais uma vez ali, com seus olhos atentos, nesta tarde
ensolarada, dando outra demonstração de sua técnica perfeita.
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Laura Dellaqua Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove e...
dez?, nove?
Albuquerque Esse é um lance que vale ser visto pelo nosso tira-teima
em câmera lenta.
Navarro Ele vai seguindo com o sorriso, quatro, cinco segundos, procura
alguma coisa no bolso, seis, sete segundos, ainda o sorriso inteiro, oito,
nove segundos, aí: congela a imagem!
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ou pra um choro abortado pela convenção social de não demonstrar
sentimentos muito derramados em público.
Pároco Não, não, ele ficou bem quieto, sentadinho. Ele parecia estar
tomado de uma grande paz interior.
Filósofa: Além do evidente fato de que, sim, a porta estava aberta, não
é?, é importante pensar na abrangência do conceito de divindade. A
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mesma iluminação que o homem comum sente perante a ideia de Deus
é aquela que o cachorro sente perante seu dono, que aos seus olhos
passa a ser uma espécie de Deus, não é? Então minha hipótese é a de
que, talvez, contagiado por esse sentimento humano de adoração ao
divino, não é?, esse cãozinho adentrou a catedral para se conectar com
um possível Deus de seu deus, compreende?
Auxiliar de obras Ah, bicho, né? Bicho tem medo e gosta de lugar
escuro, né? Pra esconder.
Pablo Mas você não acha que ele sabia o que tava fazendo?
Auxiliar de obras Lógico que sabia, é esperto. Entrou pra não pegar
friagem e ninguém bulir com ele.
Pablo Seja lá como for, a história teve final feliz: o pároco da igreja
Matriz já anunciou que vai adotar o cãozinho que, por enquanto, não tem
nome e não quis se pronunciar até o final dessa reportagem. Agora nós
vamos falar direto com Sam Gutierrez que está conosco ao vivo!
Sam Olá, Pablo, muito obrigada. Estamos ao vivo sim, numa praça no centro
da cidade, onde algumas crianças resolveram inovar na brincadeira. Eu não
tô falando de jogos eletrônicos no celular, nem videogame, computador
ou batalhas de RPG. Na verdade, eles voltaram a brincar de um jogo que
existia desde o tempo dos seus avós: a caça ao tesouro Eu tô aqui com o
João Pedro, que vai explicar pra gente como é o jogo.
Sam Mas por que é tão legal, conta pra gente. (...) Hein, João Pedro?!
João Pedro Ah, é legal porque dá pra juntar vários amigos, daí alguém
esconde um tesouro e dá algumas pistas, tipo charada ou coisas assim.
Daí a gente vai lendo as pistas e cada pista vai levando a gente pra outra
até a gente achar.
João Pedro Eu não sei porque a gente ainda não encontrou, mas a gente
já achou três pistas, o Victor achou duas e eu achei uma agora ali atrás
daquela árvore.
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Sam Você acha que essa brincadeira é um jeito divertido de aprender?
Navarro A equipe médica veste seu uniforme, também vemos ali o trio,
com o obstetra, o pediatra e o anestesista trazendo o kit cirúrgico, eles
adentram a sala e ESTÁ VALENDO!
Navarro A emoção está à flor da pele, o pai das crianças tenta se conter
e faz seguidas vezes o sinal da cruz.
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Navarro Nessas horas vale tudo pras coisas correrem bem,
Albuquerque. O obstetra tá reunido ali com o anestesista e com o
pediatra discutindo as possíveis táticas para a realização do parto.
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Navarro Momento de enorme tensão na sala de cirurgia. Toda nossa
torcida para a equipe, para a mãe e para o Fernando: agora somos todos
um só coração!
Vladimir A gente fez tudo certo. Como é que isso pode ter acontecido?
Vladimir (...) Eram dois. Um pra cada braço. Eu passei todos esses
meses me preparando e sentindo a presença deles, como se eles já
estivessem. Como é que ele pode simplesmente não existir mais?
(...)
Heitor Sua avó perdeu dois filhos antes de eu nascer. O primeiro foi um
aborto no meio da gravidez. O segundo era uma menina que nasceu
muito frágil, chegou a viver um, dois meses, e não aguentou. Sandra. Só
depois é que eu nasci e depois seus tios. Esse foi sempre um assunto
proibido na minha casa: não se podia falar. Eu só soube disso com uns
quinze anos, através de uma tia avó, que deixou escapar um dia que
visitou nossa casa, assim, por besteira, jogando conversa fora, tomando
chá. Na hora eu fiquei passado e essa minha tia, tia Raquel, mais ainda,
que ela achou que eu soubesse. Só quando eu tinha quase 30 anos, eu
tive coragem de perguntar pra minha mãe sobre o que tinha acontecido.
Sobre como ela tinha conseguido sobreviver a essa perda.
Vladimir E ela?
Heitor Ela disse que não sobreviveu. Que foi como se ela tivesse morrido
ali. Mas alguma parte, de algum jeito, ficou. Alguma parte que ficou,
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de alguma maneira, pra preservar a memória dessa filha, que veio,
passou e foi embora, depressa demais. Alguma coisa que dizia que
ela só ia poder manter essa filha viva se ela mesma estivesse viva. E
que depois eu cheguei: e que ela passou a ter uma alegria no meio da
dor, e que pouco a pouco foram chegando outras alegrias, sempre em
torno daquela dor, que ficou lá, pra sempre. E ela me disse tudo isso e
começou a lacrimejar, e a dizer uma coisa muito parecida com o que
você acabou de me dizer.
Heitor Você não tem escolha: agora você e a sua mulher têm uma
criança que depende totalmente de vocês; um filhote de mamífero
que chegou pra estraçalhar a paz que vocês tinham com a beleza e a
urgência e a fúria inadiável da vida, antes de vocês poderem pensar em
qualquer outra coisa. É uma vida nova no mundo, que até ontem não
tava aqui e agora tá. Uma pessoa completamente inédita que depende
de você e que não vai te perguntar se você tá bem: só vai chorar de
fome, ou de sono, ou de fralda suja, ou de “tô incomodado com alguma
coisa, mas não sei o que é”, e são vocês que vão ter que descobrir, por
tentativa e erro. E, sim, tem uma vida que se foi, mas que vai restar em
você, como restou na sua avó.
Vladimir Eu não quero que reste em mim: eu só queria que ele tivesse
aqui...
Heitor Só que ele não está. (...) Mas o Miguel tá. (...) Cadê aqueles fogos
de artifício?
Vladimir O quê?
Heitor Você acha que o Miguel vai gostar de saber que no dia em que ele
nasceu o pai dele desistiu de festejar soltando fogos?
Vladimir Pai...
Albuquerque Sim, Navarro. É pra isso que estamos aqui. Pra não deixar
nada passar.
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Navarro A cada faísca.
Maria Paula Quem é que tá soltando fogos uma hora dessas, meu Deus?
Eduardo Ah, isso é uma surpresa que eu preparei pra hora que a gente
fizesse as pazes.
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Navarro E atraindo mais uma legião de curiosos.
Albuquerque A gente pode reparar que até mesmo ela, Laura Dellaqua,
está abduzida pela queima de fogos.
Laura Dellaqua Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete explosões.
Uma, duas três, quatro, cinco explosões. Uma, duas, três, quatro, cinco,
seis explosões.
Albuquerque Mas parece que toda regra tem uma exceção, Navarro, e
nós já temos as imagens de um grupo de meninos ali que não tá nem aí
pra queima de fogos.
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(Dois arqueólogos num futuro indeterminado)
Pausa.
Arqueólogo jovem (sem jeito) Não. Na verdade são três, contando essa.
Arqueólogo velho Três com essa. Muito bom. (pausa) Você quer mais
alguma explicação antes de nós começarmos?
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Arqueólogo jovem Quem dera. Não sou tão novo assim.
Um instante.
Mais um instante.
Arqueólogo jovem (Um pouco intimidado) Não sei, estar aqui há tanto
tempo, lidar todos os dias com esse material incrível... Absorver a
energia de cada uma dessas coisas...
Arqueólogo velho (um instante) Eu sinto muito por esvaziar sua ideia tão
bonita, mas essa carga energética não existe.
Arqueólogo velho A energia que você sente vindo desses objetos é sua:
é o seu próprio entusiasmo projetado, que bate e volta para você. Na
antiguidade, na idade do céu aberto, alguns relatos dão conta de que
certas vezes um raio de sol refletido numa superfície espelhada gerava
um feixe de luz fino como um fio. Dependendo de como você movia o
objeto onde a luz incidia, era possível controlar a direção desse raio. (Faz
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o gestual de alguém que direciona um raio de luz) Pra cima, pra baixo...
Parecia mágica, mas era só um truque ótico. A luz não vinha do objeto,
ela vinha do sol, entende?
Arqueólogo jovem (sem jeito) Talvez discordar tenha sido uma palavra
um pouco forte, eu não quis ser rude, na verdade eu...
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a energia do arremesso e da sede de destruição tá impregnada nela.
Muitos anos depois, esta pedra pedra, que também é pedra ódio, parada
no chão é recolhida por uma criança pequena, que passeia no campo
com sua mãe. A criança pergunta à mãe se pode ficar com a pedra, e a
mãe diz que sim, desde que ele prometa tomar cuidado e não jogar em
ninguém, porque pode machucar, é perigoso. O menino concorda com
a condição, segura a pedra na mão com todo cuidado como se levasse
um pássaro vivo, e, desde este dia, a pedra passa a ser o amuleto desse
garoto, por toda a vida, na adolescência, na idade adulta, na velhice...
Ela que já foi uma pedra pedra e uma pedra ódio, também passa a ser
uma pedra... afeto? remanso? E assim por diante: alguma coisa foi feita
da pedra depois que esse homem morreu, e ela ganhou novas camadas
sobre as camadas já existentes. É mais ou menos nisso que eu acredito.
Arqueólogo jovem (feliz, mas tímido) Enfim, são umas coisas que eu
pensei depois que li uma passagem do Galois em que ele falava de
“vestígio vivo”.
Arqueólogo velho Isso não se faz com um homem que não pode mais se
defender. O que o Galois propôs não tem nada a ver com isso que você
disse, essas suas pedras cantantes cheias de cargas energéticas.
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Arqueólogo jovem Sim, mas como é possível reconstruir um contexto
sem criar hipóteses, sem imaginar histórias possíveis para cada objeto?
Arqueólogo velho Você não está pra fabricar histórias, você está aqui pra
reconstruir realidades. Eu não devia ter que lembrar a você que você é
um cientista, e que o rigor infinito é a única estrada possível sobre a qual
você vai poder caminhar. Se eu cobrasse para cada vez que eu dei esse
aviso a iniciantes iguais a você, acho que a essa altura eu já estaria rico.
Você está fazendo ciência, não ficção, de uma vez por todas.
Arqueólogo velho (Pausa.) O que você não entende, meu rapaz, é que
está se falando de um exercício de análise para compreensão do outro
e não um exercício de narrativa para a sua autossatisfação de criar
histórias curiosas.
Arqueólogo jovem Desculpa, mas acho que nós não estamos falando da
mesma coisa...
Arqueólogo velho Você disse que sabe com o funciona, não sabe?
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vestígio e uma menção ao contexto conhecido. Nada de pedras cantoras,
nem amuletos de crianças, combinado?
Arqueólogo jovem É.
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Arqueólogo jovem Item dois: uma fotografia de um homem de
aproximadamente 40 anos, um humano de meia idade da época,
vestindo tecidos leves, com uma expressão de contentamento. Ao fundo,
uma escultura de onde jorra água.
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Arqueólogo jovem Item 4: um poema manuscrito que diz:
Daqui,
Do centro de todas as faltas:
Das palavras certas
Das certezas fartas
Das medidas justas
Mágicas poções
Daqui,
Do mote de todos os medos:
Dos sinais fechados
Dos vitrais rompidos
Dos silêncios longos,
Desilusões
Daqui,
Do mesmo ponto exato de onde tudo falha,
De onde tudo falta,
De onde tudo fim,
Eu vim
Com um grito de amor incontido
De timbre rasgado
E nunca serzido
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realidade. Além disso, há essa crença no convencimento pelas palavras,
também bastante comum... (percebe que o colega está com um ar
estranho) Você está bem?
Arqueólogo velho Tem certeza de que não quer que eu chame ajuda?
Pausa.
O arqueólogo jovem pega mais um item, mas não consegue dizer nada.
Arqueólogo jovem Você acha que esse lugar onde essas fotografias
foram tiradas ainda existe?
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Arqueólogo velho Você está louco? Você sabe que é completamente
impossível, que ninguém pode sobreviver acima das...
Arqueólogo velho Rapaz, você está aqui para trabalhar, não para delirar,
está lembrado?
Arqueólogo velho Se você sair dessa sala não precisa mais voltar,
ouviu?
Arqueólogo velho O que você está fazendo? Você sabe que eu isso é
contra o regulamento?
Arqueólogo velho O que é que você está fazendo, rapaz? O que é que
você está fazendo...
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Navarro O que é que ele está fazendo, Albuquerque?
Navarro Dá pra ver que este abraço tem uma arquitetura bem projetada,
e eles formam ali uma só figura, com bastante solidez.
Navarro Muito bem observado, Albuquerque. E você acha que eles ainda
vão se demorar muito nesse gesto?
FIM
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Centro Cultural São Paulo | Direção Geral Pena Schmidt Divisão de
Curadoria e Programação Luciana Schwinden e equipe Divisão de
Acervo, Documentação e Conservação Eduardo Navarro Niero Filho
e equipe Divisão de Bibliotecas Juliana Lazarim e equipe Divisão de
Produção e Apoio a Eventos Luciana Mantovani e equipe Divisão de
Informação e Comunicação Marcio Yonamine e equipe Divisão de
Ação Cultural e Educativa Adalgisa Campos e equipe Coordenação
Administrativa Everton Alves de Souza e equipe Coordenação Técnica de
Projetos Priscilla Maranhão e equipe
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WWW.CENTROCULTURAL.SP.GOV.BR
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