"Indubitavelmente, os que consigam abster-se da comunhão
afetiva, embora possuindo em ordem todos os recursos instrumentais para se aterem ao conforto de uma existência a dois, com o fim de se fazerem mais úteis ao próximo, decerto que traçam a si mesmos escaladas mais rápidas aos cimos do aperfeiçoamento."
— Emmanuel (17.23)
O sexo é criação divina em todas as pessoas e em todos os seres,
para que tudo participe e coopere no processo maravilhoso e profundo da Vida e da EVOLUÇÃO. Deus não criaria alguma coisa, para que Ele mesmo, depois, proibisse a sua utilização. O sexo foi criado para manifestar-se no corpo e no Espírito, dentro da Lei de Evolução, o que indica estar num processo constante de aperfeiçoamento, dentro das experiências nos séculos. A sexualidade, portanto, que se manifesta no Espírito imortal, visa ao seu engrandecimento para a Eternidade.
21.1 — Causas básicas da abstinência sexual e celibato
A abstinência sexual e a vida celibatária não são requisitos
absolutos para todos os Espíritos, mas somente para uma determinada fração de criaturas, atendendo suas necessidades particulares de serviço, resgate e burilamento. São duas as causas básicas que provocam a abstenção sexual e a vida de solidão afetiva na experiência humana. O Espírito Emmanuel esclarece-as: "Abstinência, em matéria de sexo e celibato, na vida de relação pressupõe experiências da criatura em duas faixas essenciais — a daqueles Espíritos que escolhem semelhantes posições voluntariamente para burilamento ou serviço, no curso de determinada reencarnação, e daqueles outros que se vêem forçados a adotá-las, por força de inibições diversas.
Uma parte de Espíritos escolhe a vida celibatária, a fim de terem
condições e tempo suficiente para o cumprimento integral de determinada tarefa em auxilio à Humanidade, outros para educar melhor os seus sentimentos e outros, ainda, não alcançam a união matrimonial, na Terra, em virtude de inibições psicológicas e físicas nascidas da consciência culpada, torturada por erros e crimes da afeição mal dirigida, em vidas pretéritas.
21.2 — Pessoas celibatárias sofrem incompreensões. Celibato:
período para educação dos próprios impulsos
As criaturas com vida celibatária na Terra muito dificilmente são
compreendidas e normalmente sofrem críticas e acusações, por parte de familiares e amigos, de possuírem indiferença, frieza, preguiça, irresponsabilidade ou de serem afeitos à vida fácil, porque não se casaram, fugindo das obrigações sagradas do matrimônio. São acusações que não retraíam a realidade espiritual destas criaturas, na maioria dos casos. Não podemos taxar as pessoas que vivem solidão afetiva, sejam homens ou mulheres, servindo a uma ordem religiosa qualquer ou participando da vida em sociedade, como criaturas sem necessidades afetivas, assexuais e sem anseios do coração.
Salvo as exceções de causa já mencionadas, são portadoras de
equipamentos genésicos perfeitos, anseios afetivos intensos, que obedecem a um programa elevado de serviço e burilamento, quando almas superiores; ou a um processo expiatório, quando menos elevadas, tolhidas por inibições diversas.
Tais Espíritos devem passar por estas experiências de caráter
transitório, ou seja, não eterna, pois nenhum Espírito está destinado a uma vida solitária, indefinidamente, através das reencarnações. Ninguém foi criado para viver só. Em futuras reencarnações, estes mesmos Espíritos retomarão a experiência da união conjugal, a qual por certo saberão muito honrar, valorizar, executando os seus sagrados deveres.
Emmanuel no livro "Vida e Sexo", observa: "Abstinência e
celibato, seja por decisão súbita do homem ou da mulher, interessados em educação dos próprios impulsos, no curso da reencarnação, ou seja por deliberação assumida, antes do renascimento na esfera física, em obediência a fins específicos, não contam indiferença e nem anestesia do sentimento."
21.3 — Canalização das energias sexuais para objetivos
espirituais
Uma pequena parte dos Espíritos em vida celibatária, seja em
atividades nas diversas ordens religiosas do mundo ou fora dela, em outras realizações nobres, são almas já com respeitáveis conquistas evolutivas de sabedoria e amor, que buscam aproveitar o máximo de suas vidas no serviço à Humanidade. Estes fazem de suas existências um serviço constante de amor e abnegação, embora não deixem também de sofrer duras e difíceis carências para testar e ratificar seus valores espirituais. Suas energias sexuais não estão paralisadas, pois, sendo elas energias da própria vida, estão sendo aplicadas em manifestações elevadas de ordem espiritual, no exercício da fé, da caridade, da assistência fraternal, da instrução, da arte, da educação e da ciência.
O Espírito Emmanuel explica a canalização das energias sexuais:
"Agindo assim, por amor, doando o corpo a seviço dos semelhantes e, por esse modo, amparando os irmãos da Humanidade, através de variadas maneiras, convertem a existência, sem ligações sexuais, em caminho de acesso à sublimação, ambientando-se em climas diferentes de criatividade, porquanto a energia sexual neles não estancou o próprio fluxo; essa energia simplesmente se canaliza para outros objetívos — os de natureza espiritual."
21.4 — Vida de sacerdote: lutas e sofrimentos
Para aquilatarmos um pouco das grandes lutas experimentadas
pelo Espírito em vida celibatária, vejamos alguns detalhes da vida religiosa do Padre Damiano, personagem do livro "Renúncia", o qual é o próprio autor espiritual, Emmanuel, e que soube aproveitar muito bem essa experiência, em mais de uma vez, para a sublimação das energias sexuais dentro da disciplina, do amor e da abnegação:
"Que fora a sua vida de sacerdote senão aquele rigoroso
programa esboçado pela jovem Alcíone? Recordava os tempos difíceis, as horas de tentações mais ásperas, os sacrifícios longos, as dores que pareciam sem termo. (...)"
Ninguém conseguirá valores espirituais respeitáveis sem esforço,
persistência, desprendimento e humildade.
21.5 — Celibato voluntário sem aproveitamento espiritual
Entre os Espíritos que se encontram em vida celibatária servindo
às diversas ordens religiosas do mundo, somente uma minoria é que já educou e sublimou realmente os seus impulsos sexuais, pois a maioria tem, nesta experiência difícil de silêncio afetivo, uma grande oportunidade a fim de educar suas emoções e desejos para a vida espiritual superior.
Os hábitos exteriores da convivência regulada, da disciplina
planejada, do regime afetivo e da vida de ascetismo não determinam, por si só, as conquistas dos valores espirituais. Pode-se viver em pleno egoísmo e muito distante das virtudes cristãs. É o que vemos na pergunta de "O Livro dos Espíritos", na Questão 698: "O celibato voluntário representa um estado de perfeição meritório aos olhos de Deus?
"Não, e os que assim vivem por egoísmo, desagradam a Deus e
enganam o mundo." Vida monástica, por si só, não é sinônimo de evolução espiritual. Podemos passar uma vida toda com disciplinas rígidas e não aproveitá-las para o aprimoramento dos sentimentos.
Num regime de abstenção sexual, sem desenvolver os valores do
coração, através do serviço de amor desinteressado aos semelhantes, a alma continuará estacionária e sem sublimação das energias sexuais. O Espírito Emmanuel aprofunda esta análise sobre celibato e aperfeiçoamento espiritual:
"A criatura que abraça encargos dessa ordem está procurando
ou aceitando para si mesma aguilhões regeneradores ou educativos, de vez que ordenações e providências de caráter externo não transfiguram milagrosamente o mundo íntimo. As realizações da fé, por isso mesmo, se concretizam à base de porfiadas lutas da alma, de si para consigo."
21.6 — Causas mais comuns do celibato: inibições irreversíveis e
processos de inversão A esmagadora maioria dos Espíritos em vida celibatária, nas ordens religiosas ou fora dela, são criaturas menos elevadas em grandes lutas expiatórias para educar seus impulsos genésicos, que em vidas passadas foram muito mal aplicados. Agora voltam em abstinência sexual, não simplesmente por uma aceitação voluntária, mas, sim, impulsionados por duas forças poderosas de contenção sexual: inibições irreversíveis e processos de inversão, que são os complexos psicológicos profundos e o fenôasmeno da homossexualidade, seja no homem ou na mulher. As causas espirituais são básicas na maioria das experiências celibatárias, como nos diz Emmanuel:
"(...) encontramos aqueles outros, os que já renasceram no
corpo físico induzidos ou obrigados à abstinência sexual, atendendo a inibições irreversíveis ou a processos de inversão pelos quais sanam erros do pretérito ou se recolhem a pesadas disciplinas que lhes facilitem a desincumbência de compromissos determinados, em assuntos do Espírito".
Podemos considerar os Espíritos, nestes casos acima, como
submetidos ao regime de abstinência sexual involuntária, pois uma força mais poderosa do que a própria vontade ou aptidão, determinou este tipo de experiência para disciplinar e educar as suas energias desordenadas e muitas vezes confusas.
21.7 — Eunucos que se castraram pelo Reino dos Céus
O Evangelho nos fala dos "eunucos que se castraram a si mesmos
por causa do Reino dos Céus". Os eunucos serão, em nosso entendimento, aqueles que, com abstinência sexual e vida celibatária, entregaram a vida a benefício da Humanidade ou de si mesmos, em duas situações: 1ª) a dos Espíritos Superiores que vêm com missão definida em atividades religiosas para impulsionar as criaturas humanas ao progresso espiritual e que aceitaram voluntariamente, vivendo num clima de amor, renúncia e humildade a bem dos semelhantes;
2ª) a daqueles Espíritos que se encontram com necessidades
expiatórias e aceitaram involuntariamente, ou seja, sem a aprovação de um desejo íntimo. Trazem ainda muitos problemas morais por resolverem, através de um trabalho árduo e penoso de reeducação dos sentimentos, em busca do Amor Universal.
Os Espíritos do segundo caso não superaram ainda dificuldades e
defeitos do sentimento e se encontram protegidos por uma determinada disciplina externa, à feição de um braseiro encoberto por pequena camada de cinzas, mas que, ao leve sopro das tentações e testes, voltam à tona das emoções e dos hábitos menos felizes, trazendo angústias, frustrações e desencanto. (..)
JORNADA DE SUBLIMAÇÃO DA ENERGIA SEXUAL
Para ampliarmos melhor a nossa compreensão quanto à
evolução do instinto sexual,como faculdade criadora que devemos desenvolver na direção do Amor Universal, vejamos uma escala de evolução do instinto sexual inscrita no livro "No Mundo Maior", pelo espírito André Luiz: "Da espontânea manifestação brutal dos sentidos menos elevados a alma transita para gloriosa iniciação. Desejo, posse, simpatia, carinho, devotamento, renúncia, sacrifício constituem aspectos dessa jornada sublimadora".
Esta gradação de valores da afeição caberá a cada Espírito
conquistar gradualmente, nas reencarnações sucessivas, com o esforço individual no amor, no trabalho e na educação, em direção à Luz Divina. O período de permanência de uma fase para outra superior é diferente para cada Espírito, pois o aproveitamento espiritual fica por conta do livre-arbítrio de cada um. Podem-se passar muitos séculos numa fase, sem avançar quase nada em valores do Espírito: André Luiz anota o tempo de transparência dessas fases: "Por vezes, a criatura demora-se anos, séculos, existências diversas de uma estação a outra".
LEMBRETE:
1° - Sublimação é um dos processos da psicanálise de Freud.
Consiste num mecanismo inconsciente que desvia a energia do impulso sexual chamado líbido para manifestações de natureza não sexual. Essas novas formas mascaram o instinto grosseiro em representações nobres, altruístas e socialmente úteis e, portanto, aceitas pela sociedade. Estão nesta linha as vocações, os impulsos, os ideais religiosos, artísticos, filosóficos, e mesmo científicos. Equivale figurativamente a uma purificação. A pessoa julga-se movida por um ideal nobre. No entanto, está apenas metamorfoseando, ou sublimando, algum apetite instintivo de ordem inferior em outro de natureza superior.
No caso em tela da luta de classes, a sublimação se processaria,
segundo nossa tese, pelo desvio do instinto de agressão e de luta manifesto pela sua natureza material sócio-econômica para uma exteriorização de ordem sócio-espiritual. Mas, no sentido da progressiva purificação e espiritualização, e não como mascaramento de impulsos instintivos de ordem primária (tese freudiana) (...) A Codificação Espírita também indica (..) essa sublimação dos instintos em escala ascendente até o amor: "Em sua origem, o homem só tem instintos, quando mais avançado e (ainda) corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei do amor(...) extingue as misérias sociais. Ney Lobo
2° - (...) O caminho do equilíbrio é representado pela senda
estreita de um mecanismo psicodinâmico denominado sublimação. É um processo extremamente difícil, pois implica processos dolorosos de renúncia, de repressão equilibrada e de investimento da energia libidinal em objetivos mais elevados. Sublimação difere em gênero, número e grau de repressão, racionalização, intelectualização, identificação, deslocamento, projeção, formação reativa, isolamento, etc... Pessoas puritanas, rígidas, formalísticas tendem a ser intolerantes, susceptíveis, rancorosas, ciumentas e invejosas, enfim, neurótica, bloqueando o próprio desenvolvimento espiritual. Leopoldo Balduino
3° - A definição concisa de sublimação, segundo o Dicionário de
Filosofias e Ciências Culturais, Editora Maltese é: Chama-se sublimação ao desvio das energias sexuais para fins não sexuais. Desta forma, as manifestações estéticas do homem são sublimações das energias da libido, desviadas para fins não sexuais. Esta conceituação está de acordo com os esclarecimentos dos Espíritos porque a energia sexual é a energia da própria vida e não existe somente para ser aplicada nas relações sexuais de caráter fisiológico (...)
Sendo patrimônio do Espírito imortal, ela não está anulada e
extinta nem mesmo nas criaturas em vida celibatária severa, pois esta energia manifesta-se no corpo físico mas não está limitada às expressões simplesmente fisiológicas (...) O caminho da sublimação das energias sexuais é o caminho do amor, da caridade, do trabalho pelo progresso da Humanidade, materializado em nossos hábitos enobrecidos e ações edificantes (...) Walter Barcelos