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SUBLIMAÇÃO – COMPILAÇÃO

05 - Sexo e evolução - Walter Barcelos - pág. 273

21. ABSTINÊNCIA SEXUAL E APERFEIÇOAMENTO

"Indubitavelmente, os que consigam abster-se da comunhão


afetiva, embora possuindo em ordem todos os recursos
instrumentais para se aterem ao conforto de uma existência a
dois, com o fim de se fazerem mais úteis ao próximo, decerto
que traçam a si mesmos escaladas mais rápidas aos cimos do
aperfeiçoamento."

— Emmanuel (17.23)

O sexo é criação divina em todas as pessoas e em todos os seres,


para que tudo participe e coopere no processo maravilhoso e
profundo da Vida e da EVOLUÇÃO. Deus não criaria alguma coisa,
para que Ele mesmo, depois, proibisse a sua utilização. O sexo foi
criado para manifestar-se no corpo e no Espírito, dentro da Lei
de Evolução, o que indica estar num processo constante de
aperfeiçoamento, dentro das experiências nos séculos. A
sexualidade, portanto, que se manifesta no Espírito imortal, visa
ao seu engrandecimento para a Eternidade.

21.1 — Causas básicas da abstinência sexual e celibato

A abstinência sexual e a vida celibatária não são requisitos


absolutos para todos os Espíritos, mas somente para uma
determinada fração de criaturas, atendendo suas necessidades
particulares de serviço, resgate e burilamento. São duas as
causas básicas que provocam a abstenção sexual e a vida de
solidão afetiva na experiência humana. O Espírito Emmanuel
esclarece-as:
"Abstinência, em matéria de sexo e celibato, na vida de relação
pressupõe experiências da criatura em duas faixas essenciais — a
daqueles Espíritos que escolhem semelhantes posições
voluntariamente para burilamento ou serviço, no curso de
determinada reencarnação, e daqueles outros que se vêem
forçados a adotá-las, por força de inibições diversas.

Uma parte de Espíritos escolhe a vida celibatária, a fim de terem


condições e tempo suficiente para o cumprimento integral de
determinada tarefa em auxilio à Humanidade, outros para
educar melhor os seus sentimentos e outros, ainda, não
alcançam a união matrimonial, na Terra, em virtude de inibições
psicológicas e físicas nascidas da consciência culpada, torturada
por erros e crimes da afeição mal dirigida, em vidas pretéritas.

21.2 — Pessoas celibatárias sofrem incompreensões. Celibato:


período para educação dos próprios impulsos

As criaturas com vida celibatária na Terra muito dificilmente são


compreendidas e normalmente sofrem críticas e acusações, por
parte de familiares e amigos, de possuírem indiferença, frieza,
preguiça, irresponsabilidade ou de serem afeitos à vida fácil,
porque não se casaram, fugindo das obrigações sagradas do
matrimônio. São acusações que não retraíam a realidade
espiritual destas criaturas, na maioria dos casos. Não podemos
taxar as pessoas que vivem solidão afetiva, sejam homens ou
mulheres, servindo a uma ordem religiosa qualquer ou
participando da vida em sociedade, como criaturas sem
necessidades afetivas, assexuais e sem anseios do coração.

Salvo as exceções de causa já mencionadas, são portadoras de


equipamentos genésicos perfeitos, anseios afetivos intensos, que
obedecem a um programa elevado de serviço e burilamento,
quando almas superiores; ou a um processo expiatório, quando
menos elevadas, tolhidas por inibições diversas.

Tais Espíritos devem passar por estas experiências de caráter


transitório, ou seja, não eterna, pois nenhum Espírito está
destinado a uma vida solitária, indefinidamente, através das
reencarnações. Ninguém foi criado para viver só. Em futuras
reencarnações, estes mesmos Espíritos retomarão a experiência
da união conjugal, a qual por certo saberão muito honrar,
valorizar, executando os seus sagrados deveres.

Emmanuel no livro "Vida e Sexo", observa: "Abstinência e


celibato, seja por decisão súbita do homem ou da mulher,
interessados em educação dos próprios impulsos, no curso da
reencarnação, ou seja por deliberação assumida, antes do
renascimento na esfera física, em obediência a fins específicos,
não contam indiferença e nem anestesia do sentimento."

21.3 — Canalização das energias sexuais para objetivos


espirituais

Uma pequena parte dos Espíritos em vida celibatária, seja em


atividades nas diversas ordens religiosas do mundo ou fora dela,
em outras realizações nobres, são almas já com respeitáveis
conquistas evolutivas de sabedoria e amor, que buscam
aproveitar o máximo de suas vidas no serviço à Humanidade.
Estes fazem de suas existências um serviço constante de amor e
abnegação, embora não deixem também de sofrer duras e
difíceis carências para testar e ratificar seus valores espirituais.
Suas energias sexuais não estão paralisadas, pois, sendo elas
energias da própria vida, estão sendo aplicadas em
manifestações elevadas de ordem espiritual, no exercício da fé,
da caridade, da assistência fraternal, da instrução, da arte, da
educação e da ciência.

O Espírito Emmanuel explica a canalização das energias sexuais:


"Agindo assim, por amor, doando o corpo a seviço dos
semelhantes e, por esse modo, amparando os irmãos da
Humanidade, através de variadas maneiras, convertem a
existência, sem ligações sexuais, em caminho de acesso à
sublimação, ambientando-se em climas diferentes de
criatividade, porquanto a energia sexual neles não estancou o
próprio fluxo; essa energia simplesmente se canaliza para outros
objetívos — os de natureza espiritual."

21.4 — Vida de sacerdote: lutas e sofrimentos

Para aquilatarmos um pouco das grandes lutas experimentadas


pelo Espírito em vida celibatária, vejamos alguns detalhes da vida
religiosa do Padre Damiano, personagem do livro "Renúncia", o
qual é o próprio autor espiritual, Emmanuel, e que soube
aproveitar muito bem essa experiência, em mais de uma vez,
para a sublimação das energias sexuais dentro da disciplina, do
amor e da abnegação:

"Que fora a sua vida de sacerdote senão aquele rigoroso


programa esboçado pela jovem Alcíone? Recordava os tempos
difíceis, as horas de tentações mais ásperas, os sacrifícios longos,
as dores que pareciam sem termo. (...)"

Ninguém conseguirá valores espirituais respeitáveis sem esforço,


persistência, desprendimento e humildade.

21.5 — Celibato voluntário sem aproveitamento espiritual

Entre os Espíritos que se encontram em vida celibatária servindo


às diversas ordens religiosas do mundo, somente uma minoria é
que já educou e sublimou realmente os seus impulsos sexuais,
pois a maioria tem, nesta experiência difícil de silêncio afetivo,
uma grande oportunidade a fim de educar suas emoções e
desejos para a vida espiritual superior.

Os hábitos exteriores da convivência regulada, da disciplina


planejada, do regime afetivo e da vida de ascetismo não
determinam, por si só, as conquistas dos valores espirituais.
Pode-se viver em pleno egoísmo e muito distante das virtudes
cristãs. É o que vemos na pergunta de "O Livro dos Espíritos", na
Questão 698: "O celibato voluntário representa um estado de
perfeição meritório aos olhos de Deus?

"Não, e os que assim vivem por egoísmo, desagradam a Deus e


enganam o mundo." Vida monástica, por si só, não é sinônimo
de evolução espiritual. Podemos passar uma vida toda com
disciplinas rígidas e não aproveitá-las para o aprimoramento dos
sentimentos.

Num regime de abstenção sexual, sem desenvolver os valores do


coração, através do serviço de amor desinteressado aos
semelhantes, a alma continuará estacionária e sem sublimação
das energias sexuais. O Espírito Emmanuel aprofunda esta
análise sobre celibato e aperfeiçoamento espiritual:

"A criatura que abraça encargos dessa ordem está procurando


ou aceitando para si mesma aguilhões regeneradores ou
educativos, de vez que ordenações e providências de caráter
externo não transfiguram milagrosamente o mundo íntimo. As
realizações da fé, por isso mesmo, se concretizam à base de
porfiadas lutas da alma, de si para consigo."

21.6 — Causas mais comuns do celibato: inibições irreversíveis e


processos de inversão
A esmagadora maioria dos Espíritos em vida celibatária, nas
ordens religiosas ou fora dela, são criaturas menos elevadas em
grandes lutas expiatórias para educar seus impulsos genésicos,
que em vidas passadas foram muito mal aplicados. Agora voltam
em abstinência sexual, não simplesmente por uma aceitação
voluntária, mas, sim, impulsionados por duas forças poderosas
de contenção sexual: inibições irreversíveis e processos de
inversão, que são os complexos psicológicos profundos e o
fenôasmeno da homossexualidade, seja no homem ou na
mulher. As causas espirituais são básicas na maioria das
experiências celibatárias, como nos diz Emmanuel:

"(...) encontramos aqueles outros, os que já renasceram no


corpo físico induzidos ou obrigados à abstinência sexual,
atendendo a inibições irreversíveis ou a processos de inversão
pelos quais sanam erros do pretérito ou se recolhem a pesadas
disciplinas que lhes facilitem a desincumbência de compromissos
determinados, em assuntos do Espírito".

Podemos considerar os Espíritos, nestes casos acima, como


submetidos ao regime de abstinência sexual involuntária, pois
uma força mais poderosa do que a própria vontade ou aptidão,
determinou este tipo de experiência para disciplinar e educar as
suas energias desordenadas e muitas vezes confusas.

21.7 — Eunucos que se castraram pelo Reino dos Céus

O Evangelho nos fala dos "eunucos que se castraram a si mesmos


por causa do Reino dos Céus". Os eunucos serão, em nosso
entendimento, aqueles que, com abstinência sexual e vida
celibatária, entregaram a vida a benefício da Humanidade ou de
si mesmos, em duas situações:
1ª) a dos Espíritos Superiores que vêm com missão definida em
atividades religiosas para impulsionar as criaturas humanas ao
progresso espiritual e que aceitaram voluntariamente, vivendo
num clima de amor, renúncia e humildade a bem dos
semelhantes;

2ª) a daqueles Espíritos que se encontram com necessidades


expiatórias e aceitaram involuntariamente, ou seja, sem a
aprovação de um desejo íntimo. Trazem ainda muitos problemas
morais por resolverem, através de um trabalho árduo e penoso
de reeducação dos sentimentos, em busca do Amor Universal.

Os Espíritos do segundo caso não superaram ainda dificuldades e


defeitos do sentimento e se encontram protegidos por uma
determinada disciplina externa, à feição de um braseiro
encoberto por pequena camada de cinzas, mas que, ao leve
sopro das tentações e testes, voltam à tona das emoções e dos
hábitos menos felizes, trazendo angústias, frustrações e
desencanto. (..)

JORNADA DE SUBLIMAÇÃO DA ENERGIA SEXUAL

Para ampliarmos melhor a nossa compreensão quanto à


evolução do instinto sexual,como faculdade criadora que
devemos desenvolver na direção do Amor Universal, vejamos
uma escala de evolução do instinto sexual inscrita no livro "No
Mundo Maior", pelo espírito André Luiz: "Da espontânea
manifestação brutal dos sentidos menos elevados a alma transita
para gloriosa iniciação. Desejo, posse, simpatia, carinho,
devotamento, renúncia, sacrifício constituem aspectos dessa
jornada sublimadora".

Esta gradação de valores da afeição caberá a cada Espírito


conquistar gradualmente, nas reencarnações sucessivas, com o
esforço individual no amor, no trabalho e na educação, em
direção à Luz Divina. O período de permanência de uma fase
para outra superior é diferente para cada Espírito, pois o
aproveitamento espiritual fica por conta do livre-arbítrio de cada
um. Podem-se passar muitos séculos numa fase, sem avançar
quase nada em valores do Espírito: André Luiz anota o tempo de
transparência dessas fases: "Por vezes, a criatura demora-se
anos, séculos, existências diversas de uma estação a outra".

LEMBRETE:

1° - Sublimação é um dos processos da psicanálise de Freud.


Consiste num mecanismo inconsciente que desvia a energia do
impulso sexual chamado líbido para manifestações de natureza
não sexual. Essas novas formas mascaram o instinto grosseiro
em representações nobres, altruístas e socialmente úteis e,
portanto, aceitas pela sociedade. Estão nesta linha as vocações,
os impulsos, os ideais religiosos, artísticos, filosóficos, e mesmo
científicos. Equivale figurativamente a uma purificação. A pessoa
julga-se movida por um ideal nobre. No entanto, está apenas
metamorfoseando, ou sublimando, algum apetite instintivo de
ordem inferior em outro de natureza superior.

No caso em tela da luta de classes, a sublimação se processaria,


segundo nossa tese, pelo desvio do instinto de agressão e de luta
manifesto pela sua natureza material sócio-econômica para uma
exteriorização de ordem sócio-espiritual. Mas, no sentido da
progressiva purificação e espiritualização, e não como
mascaramento de impulsos instintivos de ordem primária (tese
freudiana) (...) A Codificação Espírita também indica (..) essa
sublimação dos instintos em escala ascendente até o amor: "Em
sua origem, o homem só tem instintos, quando mais avançado e
(ainda) corrompido, só tem sensações; quando instruído e
depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é
o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol
interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as
aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei do
amor(...) extingue as misérias sociais. Ney Lobo

2° - (...) O caminho do equilíbrio é representado pela senda


estreita de um mecanismo psicodinâmico denominado
sublimação. É um processo extremamente difícil, pois implica
processos dolorosos de renúncia, de repressão equilibrada e de
investimento da energia libidinal em objetivos mais elevados.
Sublimação difere em gênero, número e grau de repressão,
racionalização, intelectualização, identificação, deslocamento,
projeção, formação reativa, isolamento, etc... Pessoas puritanas,
rígidas, formalísticas tendem a ser intolerantes, susceptíveis,
rancorosas, ciumentas e invejosas, enfim, neurótica, bloqueando
o próprio desenvolvimento espiritual. Leopoldo Balduino

3° - A definição concisa de sublimação, segundo o Dicionário de


Filosofias e Ciências Culturais, Editora Maltese é: Chama-se
sublimação ao desvio das energias sexuais para fins não sexuais.
Desta forma, as manifestações estéticas do homem são
sublimações das energias da libido, desviadas para fins não
sexuais. Esta conceituação está de acordo com os
esclarecimentos dos Espíritos porque a energia sexual é a
energia da própria vida e não existe somente para ser aplicada
nas relações sexuais de caráter fisiológico (...)

Sendo patrimônio do Espírito imortal, ela não está anulada e


extinta nem mesmo nas criaturas em vida celibatária severa, pois
esta energia manifesta-se no corpo físico mas não está limitada
às expressões simplesmente fisiológicas (...) O caminho da
sublimação das energias sexuais é o caminho do amor, da
caridade, do trabalho pelo progresso da Humanidade,
materializado em nossos hábitos enobrecidos e ações edificantes
(...) Walter Barcelos

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