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NO IMPÉRIO PORTUGUÊS
Arlindo Manuel Caldeira
ESCRAVOS E TRAFICANTES
NO IMPÉRIO PORTUGUÊS
O comércio negreiro português no Atlântico
durante os séculos xv a XIX
Capa: Compafíia
Imagens da capa: Biblioteca Nacional, Santa Casa da Misericórdia do Porto,
Akg-Images Atlântico Press
Mapas: José Matos
Introdução
Tráfico e tráficos .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1. Os navios negreiros não param de passar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2. A componente africana do tráfico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3. Os tráficos orientais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
4. O tráfico transatlântico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
5. As boas consciências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
PARTE I
O tráfico portu guês de escravos: do início da atlantização ao final
do século XVIII.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
CAPÍTULO 1
Principais áreas de resgate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
1.1. Nas origens do tráfico atlântico: Arguim . . . . . . . . . . . . . . 51
1.2. Os rios da Guiné e o arquipélago de Cabo Verde . . . . . . . . . . . . . . . . 54
1.3. Entrada no golfo da Guiné . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
1.4. A originalidade de São Jorge da Mina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
1.5. As ilhas do golfo da Guiné . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
1.6. A baía de Benim e os rios dos escravos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
1.7. O reino do Congo: apogeu e decadência . . . . . . . . . . . . . . 79
1.8. O reino do Ndongo a que os portugueses chamaram Angola . . . . . 91
CAPÍTULO 2
A difícil travessia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
2.1. Do interior para a costa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
2.2. Antes do embarque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
2.3. Batismos em terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
2.4. O momento da partida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
2.5. Os navios do tráfico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . 116
2.6. As tripulações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . 119
2.7. A sobrecarga dos navios: legislação e prática . . . . . . .
. . . . . . . . . 121
2.8. As condições a bordo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . 127
2.9. O problema da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
2.10. A alimentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
2.11. Sexualidade no inferno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
2.12. Com o padre Dionigi num navio negreiro. . . . . . . . 138
2.13. Higiene e mortalidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
2.14. Resistência e revoltas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
CAPÍTULO 3
Lucros e perdas do tráfico de escravos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
3.1. Algumas ideias feitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
3.2. O Estado português e o tráfico . . . . . . . . . . . . . . 158
3.3. Mercadores, armadores e contratadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164
3.3.1. Manuel Caldeira, um negreiro cristão-novo . . . . 174
3.3.2. Francesco Carleni, um florentino no tráfico de escravos . . . . . 176
3.3.3. Gaspar Álvares, o «menino-diabo» . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180
3.3.4. António Fernandes de Elvas e a tentativa de monopolização
do tráfico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
3.3.5. Um mercador de escravos nas malhas da Inquisição . . . . . . . . 189
3.3.6. Negociar na Guiné, enriquecer no Peru. . . . . . . . . . . . . . . . 197
3.3.7. Os jesuítas traficantes de escravos? . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203
3.3.8. Governadores de Angola: os políticos no tráfico . . . . . . . . . . 211
3.3.9. Um escravo traficante de escravos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
3.3.10. Os sócios do marquês de Pombal. . . . . . . . . . . . . . . . . 219
PARTE II
O último século do tráfico de escravos em Portugal e no Brasil 227
CAPÍTULO 1
O lento processo do abolicionismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229
1.1. Portugal pioneiro?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229
1.2. Interesses económicos e mudança de atitudes . . . . . . . . . . . . . . . . 232
1.3. A pressão britânica sobre Portugal e a legislação para inglês ver . . . 235
1.4. A hora do Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 244
CAPITULO 2
O tráfico que resiste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
2.1. Contas de somar: os números do tráfico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
2.2. Da África para as Américas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255
2.3. Os últimos negreiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262
2.3.1. Francisco Félix de Sousa: africano branco, traficante de escravos 269
2.3.2. Conde de Ferreira: o negreiro filantropo . . . . . . . . . . . . . . . 274
2.3.3. A lendária D. Ana Joaquina. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 278
2.3.4. D. Maria Correia: uma «princesa» no tráfico . . . . . . . . 284
2.3.5. D. Ana Francisca Ubertali: de escrava a grande senhora . . . . . 287
2.3.6. Ângelo Lisboa: de Alfama ao Chiado, passando por Pernam-
buco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 288
2.3.7. Arsénio de Carpo: o traficante progressista . . . . . . . . . . . . . 293
2.3.8. Azevedinho e a formação da «Companhia de Pernambuco» . . . 300
2.3.9. José Bernardino de Sá, o visconde negreiro. . . . . . . . . . . . . . 305
2.3.10. Os irmãos Fonseca: traficantes e banqueiros. . . . . . . . . . . . 307
2.3.11. O barão de Água-Izé: fama e proveito. . . . . . . . . . . . . . . . 311
2.3.12. Um dos últimos dos últimos: Francisco António Flores . . . . . 314
Notas . . . . . . 329
Ilustrações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 371
Oh trato desumano, em que a mercancia são homens!
Padre António Vieira, Sermão 27. ºdo Rosário
INTRODUÇÃO
TRÁFICO E TRÁFICOS
Escravo, s. m. - aquele que é propriedade de outra pessoa,
que exerce sobre ele um poder ilimitado.
«Sois vós, vós os brancos, quem trouxe o mal para o meio de nós.
Será que, se vocês não tivessem vindo ter connosco como compradores,
18 ESCRAVOS E TRAFICANTES N O IMPÉRIO PORTUGUÊS
nós nos teríamos vendido uns aos outros? A avidez com que procura
mos as vossas mercadorias sedutoras, o gosto que temos pela vossa
aguardente, faz com que um irmão não possa ter confiança no seu
irmão, um amigo no seu amigo, e às vezes nem mesmo um pai possa ter
confiança no seu filho. Nós tínhamos aprendido com os nossos pais que
só os malfeitores que tivessem cometido três assassínios eram lapidados
ou afogados, mas a punição para os delitos ordinários era que o faltoso
devia trazer, durante um, dois ou três dias seguidos, um grande molho
de lenha a casa do ofendido e pedir-lhe perdão de joelhos.
Quando era jovem, vários milhares de pessoas habitavam por aqui,
à beira do mar, e agora dificilmente chegarão a cem indivíduos. O pior é
que vocês, os brancos, se tornaram um mal necessário entre nós. Se um
dia partirem, os negros do interior não nos deixarão viver mais de seis
meses, virão matar-nos e às nossas mulheres e aos nossos filhos, tal é o
ódio que nos têm, por vossa causa.
Outrora, quando sucedia alguma coisa importante, pedíamos con
selho ao nosso "feiticeiro " , seguíamos o seu conselho e sentíamo-nos
bem com isso. »3
3. Os tráficos orientais
mesmo nos nossos dias, não faltando quem afirme que chamar a aten
ção para outras rotas é uma forma de desviar a atenção do comércio
transatlântico, como se não fosse possível tratar todas as formas de
tráfico com o mesmo esforço de isenção ou com a mesma indignação.
Os chamados «tráficos orientais » iniciaram-se no século vn, com a
formação do Império Árabe. A lei islâmica não permitia a escravidão
de muçulmanos, mas aceitava a dos infiéis, o que levou a que se esta
belecesse uma rede de abastecimento que incluía a população negra
da África subsariana mas também as populações brancas dos países
eslavos e do Cáucaso e de outras regiões fronteiriças do Império, como
os reinos cristãos do Al-Andalus (Península Ibérica).
Muhammad Ibn Hawqa, um geógrafo muçulmano de origem turca
que viajou no século x pelo Ocidente, registou nos seus cadernos que o
artigo de exportação mais conhecido do Al-Andalus eram os escravos,
rapazes e raparigas trazidos de França (condados catalães) e da Galiza
(reino de Leão) que eram vendidos em leilões públicos em mercados
especializados (ma'rid), do tipo dos existentes nas principais cidades
do Império Muçulmano12•
Nesses pontos de venda de escravos iriam surgir, com uma frequên
cia cada vez maior, indivíduos negros, ditos genericamente «do Sudão » .
Era o resultado d o tráfico transariano, desenvolvido pelos muçulmanos
após o domínio político de todo o Norte de África e que lhes dava
acesso a mercados africanos que iam, na África Ocidental, até ao Norte
da atual Nigéria, e, na Oriental, até à Tanzânia.
A travessia do deserto, que podia demorar cerca de três meses,
através da complexa rede de rotas caravaneiras que foram sendo cria
das, era, como se calcula, dura e perigosa, sobretudo para grandes
grupos, exigindo experiência e cálculos rigorosos sobre a duração das
etapas, para aproveitar os raros pontos de água existentes nos vários
percursos. Ainda assim, a mortalidade era muito elevada, chegando
a ultrapassar os valores que se vão registar na fatídica travessia do
Atlântico. Pelas arriscadas pistas que cruzavam o Sara, os comer
ciantes não traziam apenas escravos mas também ouro, « pimenta
da Guiné» e marfim. O destino eram os principais mercados medi
terrânicos do Norte de África: para leste, as cidades egípcias, como
Alexandria e o Cairo; mais para ocidente, Gadamés, Caimão, Tunes,
Marráquexe ou Fez.
26 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUtS
OCEANO
ATLÂNTICO
PACIFICO
ATLÂNTICO
LEGENDA
Número de escravos
000
()()()
()()() ()()()
Menos de 100 DOO
4. O tráfico transatlântico
QUADRO 1
1601-16SO 469 100 33 700 1800 127 800 33 600 800 1100 667 900
16S1-1700 542 000 394 600 36 600 18 500 186 400 3300 26 300 1 207 700
1701-17SO 1 011 100 964 600 380 000 156 900 37 300 10 600 2 S60 soo
17S1-1800 1 201 900 1 580 700 759 000 10 700 173 100 152 000 56 700 3 934 100
1801-18SO 2 460 600 284 000 203 900 568 800 3000 111 400 16 300 3 648 000
Totais s 848 200 3 2S9 soo 1 381 400 1 061 soo SS4 400 30S 300 111 000 12 S21 300
Fonte: The Trans-Atlantic Slave Trade Database (20 de março de 2012). Números
arredondados à centena.
QUADRO 2
1601-1650 55 600 2 500 9600 36 500 563 400 300 667 900
1651-1700 87 300 106 200 260 200 149 900 571 400 32 700 1 207 700
1701-1750 166 200 460 600 734 900 248 900 888 200 61 900 2 560 600
1751-1800 399 000 553 900 549 700 655 700 1 477 000 298 600 3 934 000
1801-1850 282 700 86 100 410 800 495 200 1 919 900 453 300 3 648 000
Totais 1 144 300 1 209 300 1 999 000 1 594 600 5 694 600 879 500 12 521 300
Fonte: The Trans-Atlantic S/ave Trade Database (20 de março de 2012). Números
estimados arredondados à centena.
5. As boas consciências
«E não é boa escusa dizer que eles se vendem uns aos outros, pois
não deixa de ter culpa quem compra o mal vendido e as leis humanas
desta terra e doutras o condenam, porque, se não houvesse comprado
res, não haveria maus vendedores, nem os ladrões furtariam para ven
der. Assim, somos nós que lhes damos ocasião para se enganarem uns a
outros e se roubarem, e forçarem, e venderem, pois os vamos comprar. »
[o cativeiro] , não somos nós j uízes disso, nem Deus nos fez verdugos
da sua ira, mas manda que preguemos a sua fé com caridade e modés
tia. De tão injusto cativeiro como este, diz São João no Apocalipse:
Quem cativar será ele também cativo. [ . . . ] E dos escravos diz Jeremias:
Os escravos nos senhoriaram, e não havia quem nos resgatasse de seu
poder. »27
Fernando de Oliveira é uma voz clamando no deserto. Não há de ter
sido só por isso, mas também por isso, que o padre, três meses após a
publicação da Arte da Guerra do Mar, onde, ao longo de todo um capí
tulo, fazia as denúncias de que acabámos de dar exemplos, foi parar, pela
segunda vez, aos cárceres da Inquisição, onde amargará um par de anos.
O pensamento oficial, quer em Portugal e Espanha como no resto
da Europa, aceitava com condescendência cúmplice a escravatura e o
tráfico de escravos. A Igreja, mãe ideológica da forma dominante de
pensar, não só não contestou como forneceu alguns dos argumentos
que legitimaram, entre os séculos xv e xvm, o comércio e a exploração
de milhões de africanos.
Verdade seja dita que a escravatura fazia parte, desde sempre, da
realidade social e da tradição cultural do mundo ocidental, para falar
mos apenas deste, e que, ao longo dos séculos, se tinha ido cimentando
um corpo de argumentos, quer de caráter filosófico, quer de caráter
religioso, que era aceite de forma quase consensual.
Aristóteles, que viveu a maior parte da sua vida numa cidade, Ate
nas, em que quase metade da população não era livre e em que ele
próprio era proprietário de escravos, defendera a ideia da desigualdade
natural dos seres humanos: havia um grupo destinado a comandar e
outro, vocacionado para a servidão, que devia sustentar o Estado e os
seus governantes. O filósofo disponibilizaria, assim, para uso teórico, o
conceito de «escravidão natural» , que irá ser esgrimido durante muitos
séculos pelos defensores dessa forma de exploração.
Mas, mais ainda do que no discurso filosófico, a prática social do
mundo greco-romano considerara sempre necessária e aceitara como
normal, mesmo do ponto de vista ético, a existência da escravatura.
Em Roma, a questão era completamente pacífica. No seu apogeu, o
Império Romano deve ter disposto de mais de 3 milhões de escravos de
todas as cores de pele, e das mais diversas origens geográficas, corres
pondendo a uma percentagem significativa de toda a população.
40 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGU�S
Não contente com isso, o rei D. Pedro II, no final de 1 686, consul
tou sobre a legitimidade do tráfico a Mesa da Consciência e Ordens,
o tribunal criado por D. João III para a resolução das matérias que
tocassem a «obrigação de sua consciência » . Não se conhece a decisão
do tribunal, mas chegou até nós o parecer de um religioso, talvez per
tencente à Mesa, que não hesita em sossegar os problemas de consciên
cia do monarca, considerando legítimo o «resgate dos negros pela costa
de África » , desde que estes fossem «justamente cativos >>33• Os critérios
que se considerava j ustificarem os cativeiros eram os mesmos que eram
defendidos pela maioria dos moralistas e teólogos dos séculos XVI e
xvn e que tinham sido fixados sobretudo pelos teojuristas Tomás de
Mercado e Luís de Molina.
Tomás de Mercado, um frade dominicano espanhol, economista da
Escola de Salamanca e que crescera no México, publicou em 1571 o
tratado Summa de tratos y contratos, que contém o capítulo « Dei trato
de los negros de Cabo Verde» . Nesse texto, considera lícito o tráfico de
não-cristãos, desde que tenham sido feitos escravos em três situações
específicas: em resultado de guerras justas; como castigo imposto pelos
reis por delitos públicos; vendidos pelos pais em caso de necessidade,
para bem dos filhos. Mas não deixa de reconhecer ser «pública voz y
fama que en resgatar, sacar y traer los negros de su tierra para Índias
o para acá [para Espanha] hay dos mil enganos y se hacen mil rabos y
se cometen mil fuerzas » .
O jesuíta espanhol Luís d e Molina, que foi professor em Coimbra
e Évora de 1563 a 1 5 8 3, desenvolveu, no seu livro De justitia et jure
(primeira edição publicada, em Cuenca, entre 1593 e 1 609), uma teoria
geral do Direito, tendo em atenção os problemas jurídico-económicos
do seu tempo. Nesse sentido, não lhe escapa a questão da escravatura,
que, também ele, admite ser justificável em certas circunstâncias que
não diferem muito das de Mercado: prisioneiros em guerra justa; pena
por delito grave; venda de si mesmo por um adulto consciente e livre;
por nascimento.
Em contrapartida, considera que o tráfico de escravos ( de que se
informara bem em Portugal quando por cá andara) era injusto e ilícito
e que aqueles que se dedicavam ao dito negócio, vendedores e com
pradores, estavam em pecado mortal, sujeitos, por isso, à condenação
eterna.
44 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGU�S
Se, como se vê, o próprio tráfico acaba por ser justificado por figuras
respeitáveis da Igreja Católica, a instituição da escravatura, essa não é
praticamente beliscada.
Entre as raras vozes que se atreveram a pô-la em causa de forma
explícita, além do já referido padre Fernando de Oliveira, mas cujo dis
curso radical também se dirigia sobretudo contra o tráfico, destacam-se
frei Bartolomé de las Casas (em fase adiantada da vida) ou Bartolomé
de Albornoz, um jurista que chegou a professor da Universidade do
México, autor do livrinho Arte de los contratos (Valência, 1 573 ), que
não tardou a ser arrolado no Index, em que se recusava a aceitar as
razões com que, desde Aristóteles, se j ustificava a escravatura.
TRÁFICO E TRÁFICOS 45
não tinha remédio nesta província e que de todo é inútil nela e que
fazia dano nela com as suas opiniões tão escrupulosas ( . . . ), sem querer
ceder na sua opinião » , tendo sido determinado, com parecer de todos
os outros padres, enviá-lo à sua província. E Miguel Garcia lá seguiu
para Sevilha e daí para Toledo, afastado do terreno em que a sua voz
era mais perturbadora35•
Quanto ao padre Gonçalo Leite, considerado « inquieto» pelas suas
posições incómodas sobre o mesmo assunto, foi obrigado a regressar
a Portugal em 1 5 86. Já na casa de São Roque, em Lisboa, escreveu ao
geral da Companhia, dizendo: « Bem se podem persuadir os nossos
padres que vão ao Brasil que não vão a salvar almas mas a condenar
as suas. Sabe Deus com quanta dor do coração isto escrevo, porque
vejo os nossos padres confessar homicidas e roubadores da liberdade,
fazenda e suor alheio, sem restituição do passado, nem remédio dos
males futuros, que da mesma forma cada dia se cometem. » 36
Outras vozes incomodadas com a escravatura surgem noutros pon
tos do império. Cerca de 1 600, o padre carmelita e bispo de Cabo
Verde, D. frei Pedro Brandão, escrevia ao rei D. Filipe II, defendendo
que fosse concedida liberdade imediata a todos os escravos que se con
vertessem à fé cristã. Baseava-se, para isso, entre outros argumentos,
na ilicitude dos cativeiros:
ao Estado, que dele fizera uma importante fonte fiscal. Toda a socie
dade, na Europa ou nos territórios coloniais, adequara os seus quadros
mentais à nova realidade socioeconómica e tanto o « infame comércio»
como a exploração do trabalho forçado eram vistos como a realidade
natural das coisas desde o princípio do mundo. E as elites intelectuais,
nomeadamente a Igreja, garante da ideologia dominante, ao mesmo
tempo que não desprezavam participar nos benefícios económicos do
negócio negreiro, produziam a argumentação que o justificava e lhe
garantia continuidade.
O sofrimento pessoal e a injustiça social inerentes à escravatura não
deixavam de ser considerados, por muitos, como factos lamentáveis,
mas esse juízo acabava por ser secundarizado por aquilo que se julgava
ser uma necessidade social irrefragável.
Mesmo os que podiam ter dúvidas da sua legitimidade, pelo conhe
cimento direto que possuíam das atividades negreiras, não expressavam
mais do que algumas reservas prudentes. Um bom exemplo pode ser
o do bispo de Cabo Verde D. frei Vitoriano Portuense, que, em 1 700,
recordando as posições radicais de D. frei Pedro Brandão, seu anteces
sor no cargo cem anos antes, manifestava as suas eventuais reticências
desta forma cautelosa: «Ü meu escrúpulo não é tamanho que condene
totalmente este negócio, pois o toleram tantos homens letrados, que
permita Deus que acertem. »38
PARTE 1
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Mapa 2. Costa Ocidental de África. Em fundo, mapa político atual.
CAPÍTU LO I
relato deste episódio foi lido e transcrito vezes sem conta. Mas
O isso não lhe retira o dramatismo. Embora o autor tenha morrido
há mais de cinco séculos, a sua descrição não perdeu nada da frescura
descritiva, da capacidade de evocação e de um sentido de humanidade
tão profundo que as suas palavras ainda hoje nos comovem.
Gomes Eanes de Zurara, cronista da .corte de D. Afonso V, contou
de forma exemplar a chegada a Lagos do primeiro grande contingente
de escravos africanos. E também se comoveu: «Se as brutas animá
lias, com seu bestial sentir, por um natural instinto conhecem os danos
de suas semelhantes, que queres que faça esta minha humanal natu
reza, vendo assim ante os meus olhos aquesta miserável companha,
lembrando-me de que são da geração dos filhos de Adão ! »
Estava-se no ano d e 1444, n a manhãzinha já quente d e u m dia dos
princípios de agosto. A notícia do próximo desembarque correra de
boca em boca nos campos e nas aldeias em redor de Lagos e não foram
poucos os hortelãos e os lavradores que não hesitaram em perder um
dia de trabalho por espetáculo tão inusitado, mesmo que a muitos deles
tenha arrancado lágrimas e lamentos. O próprio infante D. Henrique,
somando o interesse financeiro na partilha (cabia-lhe um quinto) à
curiosidade pessoal, veio lá da Raposeira, num «poderoso cavalo » ,
52 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUtS
infante. Desde, pelo menos, 1441 que, uma ou duas vezes por ano, saíam
do Algarve navios em direção às costas da Mauritânia sob o comando
de jovens da pequena nobreza, desejosos de obterem honra e proveito.
Os métodos usados eram os tradicionais do corso mediterrânico e os
raids de saque eram interpretados como operações militares, mesmo
quando tinham por alvo aldeias indefesas ou caravanas de comércio.
O início do tráfico português de escravos africanos, esse pode ser
datado de 14442• Vale a pena, seguindo Zurara, contar as circunstân
cias em que se estabeleceram as primeiras relações comerciais. Nesse
ano ou no anterior, o escudeiro João Fernandes, exemplo acabado de
aventureiro, que já tinha estado prisioneiro dos muçulmanos em Mar
rocos e aí aprendera árabe, ofereceu-se para ficar sozinho na costa
sariana e recolher informações entre as populações locais sobre os cir
cuitos de comércio. Por lá ficou sete meses e parece não se ter dado
mal com os azenegues, pois, no seu regresso, alguns vieram despedir-se
dele, comovidos. À tripulação do navio que o recolheu, que se dedi
cava às habituais ações de pilhagem, passou a informação de que um
chefe local, Ahude Maimon, estava interessado em comerciar escravos
«guinéus» com os portugueses. Reunidas as mercadorias disponíveis
a bordo, que não eram muitas, e garantida a segurança da operação
mediante uma troca de reféns, uma delegação, encabeçada pelo próprio
comandante da expedição, Antão Gonçalves, foi negociar com o chefe
azenegue, que lhes vendeu, por bom preço, nove escravos negros.
O começo das trocas comerciais não significou, de imediato, o fim
das incursões armadas, que tinham, aliás, a preferência dos jovens
escudeiros e cavaleiros, de mentalidade ainda muito medieval. Não
tardará, porém, a perceber-se que o tráfico era mais vantajoso do que o
corso, e o próprio infante D. Henrique ordenará o termo das incursões
de pilhagem, cada vez, aliás, menos compensadoras e mais perigosas,
pois as populações ou abandonavam a zona litorânea ou preparavam
-se para a defesa ativa dos seus bens e das suas pessoas. Por outro lado,
tinha-se descoberto que havia na costa de África um comércio orga
nizado de venda de mão de obra escrava, que era possível aproveitar
pelos europeus. Era o primeiro cruzamento das rotas das caravelas com
as das caravanas do tráfico transariano.
Na zona do litoral africano que corresponde à atual Mauritânia, a
base do comércio português será a pequena ilha de Arguim, no extremo
54 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS
parte, chegaram até aos nossos dias e que evocam as mercadorias que
com maior facilidade se podiam negociar na região respetiva. A pri
meira a ser batizada foi a Costa da Malagueta (entre a mata de Santa
Maria e o cabo das Palmas, correspondendo, aproximadamente, ao
litoral da atual Libéria), onde era possível comprar uma especiaria de
sabor pungente (Aframomum melegueta), também chamada pimenta
-da-guiné ou pimenta-de-são-tomé, que os mercadores italianos ven
diam com o nome de grani dei Paradiso, pelos seus supostos efeitos
afrodisíacos. Diga-se de passagem que esta malagueta nada tem a ver
com o fruto que em Portugal designamos pelo mesmo nome, e também
por gindungo ou piripiri, que é um pimento de origem americana.
Depois do cabo das Palmas ( atual Cape Palmas) os mercadores
puderam comprar quantidades razoáveis de presas de elefantes. Por
isso chamaram ao segmento de litoral que vai até ao cabo das Três Pon
tas (Cape Three Points) Costa do Marfim, nome que ainda conserva o
país que aí se situa (Côte d'Ivoire).
Ultrapassado o cabo das Três Pontas, famoso por haver perto dele,
a menos de 200 metros da praia, uma fonte de água doce, entra-se no
golfo da Guiné. A primeira parte do litoral (pertencente hoje à Repú
blica do Gana), do referido cabo até ao rio da Volta, vai receber a desig
nação genérica de Costa do Ouro ou Costa da Mina. Aí os navegadores
ao serviço de Fernão Gomes tinham podido, finalmente, concretizar
uma das expectativas que alimentava a exploração da costa africana
desde o início: cqmerciar ouro em relativa abundância, aproveitando
os fluxos que do interior desciam para o litoral.
Seguiram-se, a acreditar no Esmeralda de Situ Orbis, longas milhas
de uma zona comercialmente desinteressante. Não é impossível que a
progressão tenha sido então mais lenta, mas, de qualquer forma, ainda
antes de 1 475, os navios de Fernão Gomes, talvez com os mesmos
capitães que tinham chegado à Mina 13, atingiram a embocadura do rio
Formoso, isto é, alcançaram a costa do reino do Benim. Aí hão de ter
tido conhecimento da existência, para o interior, de um Estado centra
lizado e poderoso, o que, além de despertar a campainha da hipótese
de se tratar do reino do Preste João, significava a possibilidade, como
de facto aconteceu, de relações comerciais estáveis, nomeadamente do
resgate de escravos em número elevado, isto é, com a garantia, sempre
aguardada, de se poder fazer carregamentos completos num só local.
62 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS
Outro caso: a partir do início de agosto de 1 526 e até uma data que
desconhecemos, o navio São João, saído da ilha de São Tomé, esteve
no porto de Ugató (reino do Benim), para comprar escravos e outras
mercadorias. Para isso, uma parte da tripulação, sob direção do piloto
Francisco Fernandes, instalou-se em terra, tendo alugado na povoação
uma casa onde faziam os negócios e talvez alguns pernoitassem.
De acordo com a tradição local, começaram por presentear o aba,
cujas boas graças eram, aliás, fundamentais, pois o comércio de escra
vos era monopólio régio. Não sabemos se deslocando-se diretamente à
corte, na cidade do Benim, ou se através de intermediários, entregaram
-lhe, primeiro, uma «peça de holanda» (tecido fino de linho) e, depois,
um sombreiro de damasco com guarnição de fio de ouro e sete canadas
(ou cestos) de « grão muito fino » (será grã, a substância tintureira ? ) .
Esse tipo d e ofertas era uma prática obrigatória. Um navio que
foi ao mesmo destino em 1 5 1 5 levou << muitas cousas ricas para dádi
vas a el-rei de Benim e ao seu vedor que bem poderiam valer 50 ou
60 peças de escravos» (a documentação da época designa por « peça »
ou «cabeça » cada um dos indivíduos de um lote de escravos) .
O s resultados não s e fizeram esperar: o rei, agradado com as ofertas,
mandou abrir « feira de machos e fêmeas quantos quisessem» , além
de muito marfim e de « outras cousas » . Entretanto, a um outro navio
menos prevenido que entretanto chegara ao porto, o vedor do rei do
Benim mandou chamar o capitão para o avisar que « não fosse lá nunca
mais com as mãos vazias» 30•
Voltemos, porém, ao navio São João. Logo que o navio ancorou, vie
ram a bordo três funcionários do rei e os mesmos, ou outros, acompa
nharam em permanência as transações, havendo um deles expressamente
encarregado do despacho dos escravos. Foram também gratificados,
terminado o embarque, com várias dádivas por parte dos portugueses.
Para os seus negócios, os tripulantes do São João tinham levado,
em abundância, manilhas de cobre e de latão, das que vinham da Flan
dres, igos e pano de linho e, em pequena quantidade mas precioso,
algum pano vermelho. Os igos (também chamados cauris ou «búzios
da Índia» ) eram «conchas moeda » (cypraea maneta), trazidas do oce
ano Índico, que eram usadas no comércio entre São Tomé e o litoral do
Benim. lgo ou igoo era, na língua Edo, o termo genérico para moeda,
cedo adotado também pelos portugueses.
78 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS
O reino do Congo deve ter sido formado nos finais do século XIV.
Os mitos fundadores referem a conquista do território por um grupo
de estrangeiros vindos, por motivos obscuros, da margem direita do rio
Zaire e que, chefiados por Nimi-a-Lukeni, teriam dominado, pela força
das armas, as aldeias da região onde se irá erguer a cidade de Mbanza
-Kongo (mais tarde chamada São Salvador e que recuperou o nome
original após a independência de Angola).
A partir da conquista de Nimi-a-Lukeni, ter-se-ia iniciado o pro
cesso de expansão que culminou no grande reino do Congo, o qual,
no seu apogeu, no início do século XVI, era o maior Estado da África
Centro-Ocidental. Compreendia, guiando-nos pela geografia política
dos nossos dias, não só o Norte de Angola como parte das repúblicas
do Congo (Kinshasa e Brazaville) e atingia o Gabão, correspondendo
grosso modo à mancha atual dos falantes de Kikongo, e prolongava-se
ainda para sul pela área linguística do Kimbundu.
Não se tratava, no entanto, de um reino estritamente centralizado
em que o rei (que se intitulava mwenekongo ou ntotela) controlasse,
por meio da sua máquina administrativa, todo o território e todos
80 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS
Por outro lado, nessa data, São Tomé já tinha o exclusivo do res
gate de escravos com destino a São Jorge da Mina e começava a ser
um dos principais fornecedores de escravos para as Antilhas e para
outros portos das Índias Espanholas, nomeadamente para Cartagena
e Vera Cruz.
Não admira que os armadores negreiros são-tomenses surgissem a
frequentar e a pressionar mais intensamente os mercados abastecedores
do Congo.
Como se fazia esse comércio? Além de outras informações, chegou
até nós o « livro de armação» de alguns dos navios que, entre 1 525 e
1535, foram comprar escravos ao porto de Mpinda39•
A duração da viagem São Tomé-Mpinda era infinitamente mais
longa do que a viagem de regresso, devido aos alísios e às correntes que
tornavam difícil a navegação costeira para sul e facilitavam o percurso
contrário. Assim, os navios referidos demoraram entre 34 e 89 dias
à ida e um mínimo de 7 a um máximo de 2 1 dias na volta. Cerca de
1583, o carmelita frei Diogo do Santíssimo Sacramento considerava
quase milagrosa a diferença entre a duração da ida e a da vinda: « Cosa
maravillosa fué lo que sucedia, que camino que a la venida siendo en
tres meses, porque los vientos y aguas son contrarias, lo andubimos
en quatro dias a la buelta, cosa que desde que se anda aquella navega
ción, decian que no avia sucedido. » 40
Todas as instruções dadas aos capitães e mestres dos navios eram
para que a estadia no porto de Mpinda, enquanto se procedia à carga,
demorasse o menos possível, pelo que isso acarretava de despesas,
tanto em ordenados e soldos como em mantimentos, em que a região
não abundava. A espera era, no entanto, inevitável, pois a maioria dos
escravos eram concentrados em Mbanza-Kongo, de onde os comercian
tes residentes os traziam, depois de avisados por mensageiros oficiais.
O senhor do Nsoyo (o manisoyo), representante do «rei » do Congo na
região, tinha ordens para não permitir a nenhum homem branco dos
navios de trato ir do porto à capital, exceto, e só em condições parti
culares, o capitão, o piloto ou o escrivão41 •
Dessa forma, nos casos que conhecemos melhor, a média d e demora
no porto parece ser de um mês, sendo o recorde de eficácia de 1 7 dias,
e a estadia mais prolongada de 50. Neste último caso, o do navio Con
ceição em 1 525-1 526, acabou-se mesmo o mantimento para a gente do
84 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUtS
A DIFÍCIL TRAVESSIA
Dos pumbos até aos portos do litoral mediava, por vezes, um longo
percurso, a somar ao que as caravanas de escravizados já tinham cum
prido até aí, podendo perfazer, no seu conjunto, várias centenas de qui
lómetros. Quando não era possível usar a via fluvial, e dificilmente o era
na totalidade, tratava-se de uma marcha muito penosa, ao sol e à chuva,
com longas etapas e paragens mínimas, com alimentação e fornecimento
de água mais que deficientes e caminhando os escravos, sobretudo os
homens, presos uns aos outros por correntes de ferro, os libambos3,
ou forquilhas de madeira unidas umas às outras, formando cordões
humanos de 30 a 1 00 ou mais indivíduos. A maior parte, ou mesmo a
totalidade, não tinha qualquer vestuário que os cobrisse, sendo levados
«completamente nus, tal como nasceram, tanto os machos como as
fêmeas, como se fossem um rebanho de gado»4• O padre Gonçalo de
Sousa resumiu em poucas palavras a saga desses escravizados: «E como
os trazem de tão longe, em cadeias, com falta do necessário, morrem
neste caminho muitos. »5
Luís António de Oliveira Mendes, numa memória do final do sé
culo xvm, contou com mais pormenor esse longo percurso de pesadelo.
Os libambos apertavam vigorosamente o pulso direito de cada um
dos escravos e, nos casos considerados mais perigosos, prendiam-lhes
o pescoço ou mesmo o pulso e o pescoço. Homens e mulheres cami
nhavam em libambos separados e só as crianças, as chamadas «crias »,
marchavam soltas, j unto às mães. Cada adulto carregava às costas o
carapeta/, um saco com os alimentos que o pumbeiro ou funidor des
tinara para a viagem.
O melhor é dar a palavra ao autor do texto:
« Esta jornada dura meses. Nela não bebem água, senão quando
vencem a distância dos charcos e lagoas. Acampam onde lhes destina o
funidor. A sua cama é o chão; o teto da casa o céu; as folhas das árvo
res nem cobrem a todos. A cacimba [o forte orvalho noturno] destila e
chove sobre eles. O seu travesseiro é o tronco das árvores e os corpos
dos outros. Assentado o arraial, e postos os escravos em círculo, se
acende no centro uma fogueira para dar calor a todos: a qual lhes serve
de luz e dura até amanhecer; tempo em que prosseguem a jornada.
Passam as noites numa quase modorra e vigília, porque, mesmo nas
horas destinadas para o sono, continuadamente estão sendo acorda-
A DIFÍCIL TRAVESSIA 1 03
Angola e dos mais portos dos domínios d a Costa d e África passam para
esse Estado [do Brasil], declarando com toda a individuação os palmos
cúbicos que arbitram os peritos a cada tonelada quer do porão quer
das pontes e cobertas dos referidos navios» . Além disso, devia informar
sobre o número de escravos que comportava cada tonelada nas diversas
partes do navio, de modo a transportá-los sem opressão e sem perigo,
«de sorte que tenham o espaço necessário para se moverem sem aperto
e o ar preciso para respirarem com a liberdade e o desafogo que são
indispensavelmente necessários para a conservação da vida humana » 31 •
Ouvidos os oficiais da Ribeira das Naus que costumavam fazer
as arqueações dos navios de transporte de escravos, disseram estar a
cumprir-se o determinado na lei de 1 8 de maio de 1 6 84. Assim, no con
vés, tombadilho e câmara « são arqueados três escravos por tonelada » ,
«que são sete palmos cúbicos e m quadra pelo chão» . Nas cobertas,
tendo portinhola para ventilação, arqueavam-se sete escravos por cada
duas toneladas, e cinco se não houvesse essas portinholas. Os porões
deviam poder levar 28 pipas de água para cada cem escravos, ficando
livres os paióis da popa e da proa para os mantimentos de farinha,
carne e feijão para o sustento dos mesmos escravos32• Infelizmente, a
realidade vivida era, em geral, bastante mais incómoda do que a que
era descrita nos relatórios oficiais.
2.6. As tripulações
[de Luanda] sem levar, para cada cem "peças", vinte e cinco pipas de
água, bem acondicionadas e arqueadas»67• A cumprir-se a lei, significa
ria uma dotação individual, independentemente do destino, de cerca de
125 litros, o que numa viagem para a Baía rondaria os três litros diários
e para Vera Cruz ou Cartagena os dois litros, quantitativos perfeitamente
razoáveis, mesmo tendo em conta que alguma dessa água teria de ser
desviada para outros fins, nomeadamente para a confeção dos alimentos.
Não parece, no entanto, que a lei tenha sido cumprida pela maioria
dos armadores.
No « regimento» de 1 684 volta a insistir-se na questão da água, obri
gando os mestres dos navios de transporte de escravos a « levar água
que abunde para lhes darem de beber em cada um dia uma canada,
infalivelmente » 68, sendo que uma canada, que comportava quatro
quartilhos, andava próxima dos dois litros. Para o cômputo global da
aguada, calculava-se a viagem de Angola para Pernambuco em 35 dias,
para a Baía em 40 e para o Rio em 5069, o que daria entre 12 e 17 pipas
por cem escravos (se calcularmos 300 canadas por pipa) ou entre 14 e
20 (se convencionarmos 250) .
Não temos elementos concretos para sabermos d e que forma foram
cumpridas as disposições do « regimento » , mas o certo é que, mesmo
depois da sua promulgação, continuaram as queixas contra a escassez
de água a bordo. Cerca de 1 690, uma fragata a caminho de Pernam
buco que, oficialmente, devia transportar 270 «cabeças» mas que, na
realidade, levava muitas mais, viu acabar-se a água, o que provocou
a morte a muitos dos escravos embarcados70• Numa outra fragata da
mesma época, também sobrecarregada, esta dirigida ao Rio de Janeiro
e sob o comando do capitão Sebastião Vaz Domingues, morreu-lhe no
mar «grande número de peças por falta de água » 7 1 •
A forma como era distribuída a água a bordo chega-nos por poucos
testemunhos. No final do séc. XVI, mais exatamente em 1 5 94, o mer
cador florentino Francesco Carletti levou uma partida de escravos de
Cabo Verde para Cartagena das Índias. Nesse navio, davam de beber
aos escravos apenas uma vez por dia, depois da refeição do meio-dia,
a refeição principal: cada um mergulhava a cabeça numa selha e bebia
tanto quanto podia de uma vez só72• No navio em que, em 1 668, via
jou o padre Carli cada escravo recebia uma escudela de água, mas não
sabemos se apenas uma vez por dia73•
A DIFÍCIL TRAVESSIA 133
2. 10. A alimentação
2 . 1 1 . Sexualidade n o inferno
Como isso não tinha sido tido em conta, vai haver sérias dificuldades,
pois o despenseiro tinha multiplicado o número de pessoas por trinta
dias, sem contar com os atrasos por falta de viração.
Uma manhã, o capitão, lívido e com as lágrimas no rosto, subiu ao
castelo de popa, com cara de defunto. Tendo-lhe Carli perguntado o
que se passava, respondeu: «Padre, estamos perdidos, estamos todos
mortos, não há remédio. »
O padre, que se encontrava com a febre habitual e com uma bacia
do seu sangue diante de si, respondeu: «Quanto a mim, com certeza,
estou no limite da minha vida, tal o sangue que tenho perdido. » Mas
o capitão nem o ouviu: «Padre, acabou-se toda a matalotagem, isto é,
foram distribuídos todos os víveres, dito de outra forma, já não temos
que comer. O despenseiro deu tudo sem medida, sem contar que somos
muitos, dando de comer três vezes ao dia. E o pior é que não se vê terra,
que estamos no meio do oceano. »
O padre deu-lhe uma chave e disse-lhe que visse n a casa d e popa,
pois, quando partira, os senhores de Luanda tinham-lhe dado muitas
coisas «que poderiam servir para manter vivos os brancos; se os negros
morrerem haverá que ter paciência » . E perguntou se havia ainda água,
tendo o capitão respondido que sim, 40 barricas cheias. Então o padre
acrescentou: «Üs negros poderão viver dois dias só a água, por ser o
clima quentíssimo, e, entretanto, Deus bendito nos ajudará, se confiar
mos nele e não desesperarmos. »
E o missionário conta como passou à ação. « Esquecendo-me dos
meus males para só ter em conta aquele que se adivinhava, saí da cama
e desci do castelo da popa. Chegado ao convés, pedi silêncio, pois que
ria dizer algumas palavras e queria que estivessem atentos, pois a morte
estava bem próxima. Fiquei à espera do silêncio mas em vão, pois a
notícia da falta de mantimentos chegara aos negros e primeiro foram
os "moleques" de cima a gritar "Misericórdia", depois as mulheres da
segunda coberta que fizeram o mesmo, por fim os homens fechados
no fundo do navio, que se enfureceram de tal maneira que, bramindo
como feras, deram um gemido tão doloroso e tão terrível que teria
aterrorizado o mais animoso. »
« Quando finalmente s e aquietaram [os tripulantes] , exortei-os,
falando em português, pois o italiano e a língua latina não me serviram
para nada, a confiar na misericórdia de Deus que não abandona nunca
142 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGU�S
qualquer outra pessoa deste navio. Se a minha morte puder vos ajudar,
disponho-me a isso de boa vontade . » E comentará no seu texto: « Se eu
aí não tivesse estado, por certo que teriam levado adiante os seus pro
pósitos. »
Haviam sido postos vigias permanentes n o alto dos mastros, para
ver se descobriam terra por algum lado, mas a boa notícia tardava em
chegar e o desespero crescia.
Como consequência, os incidentes começavam a multiplicar-se.
De manhã, o padre ouviu um grande barulho do lado da proa e, levan
tando-se, viu alguém correndo na sua direção: « Padre, confissão!
O piloto feriu um marinheiro. »
Carli desceu tão depressa quanto pôde e foi encontrar o ferido
estendido no chão, com um golpe que não sangrava mas tinha bem
quatro dedos de profundidade. Enquanto prestava assistência ao
ferido, pediu ao piloto que se afastasse. Este, que estava bêbado, ainda
tentou responder-lhe com insolência mas o capitão deu-lhe um tal
empurrão que o teria estendido no navio se não fosse a gente que o
rodeava. Não estivesse o sacerdote presente, ele teria sido feito em
pedaços e lançado ao mar, tão raivosos estavam os marinheiros, soli
dários com o seu companheiro ferido. No entanto, o facto de não
haver terra à vista nem ninguém mais capaz do que ele para dirigir o
navio salvou-lhe a vida. Ainda que todos estivessem apreensivos por
serem conduzidos por caminhos desconhecidos por alguém obnubi
lado pelo álcool, era preciso suportá-lo pacientemente e até mostrar
-lhe respeito, pois todos tinham a morte diante dos olhos. Por isso,
cresciam as desordens entre a tripulação e, diz o missionário, « se a
fome os não consumisse, eles próprios a ferro se trucidariam » . Pelos
cantos do navio, os mais devotos, considerando o desenlace iminente,
rezavam o rosário, outros a coroa, e pediam a Deus que os livrasse do
perigo em que se encontravam.
Finalmente, depois de dois dias de forçado jej um, ao terceiro, pelas
10 horas da noite, os vigias anunciaram que estava à vista a terra tão
desejada. Para os escravos e para parte da tripulação, tinham sido três
dias sem ingerir qualquer alimento e apenas bebendo água. Felizmente
os 40 barris de reserva tinham sido suficientes. Agora ouviam-se os
clamores e os gritos de alegria e ao desespero sucedia o incontido
júbilo.
144 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS
2 . 1 3 . Higiene e mortalidade
QUADRO 3
Mortalidade a bordo dos navios que desembarcaram escravos
nos portos brasileiros: 1601-1 800
Fonte: The Trans-Atlantic Slave Trade Database (20 de março de 2012). Percentagem
média.
porão) e, muitas vezes, presos uns aos outros com grilhões. Por isso,
durante a noite, todas as escotilhas de comunicação eram trancadas a
cadeado.
Uma das formas mais comuns de os escravos mostrarem o seu deses
pero era lançarem-se ao mar. A documentação regista, com frequência
perturbadora, em todos os trajetos atlânticos, escravos a atirarem-se à
água do alto dos navios, o que significava, quase sempre, morte certa.
Apenas dois exemplos: em 10 de julho de 1 522, estando no porto de
Oere o navio Santa Maria da Conceição, no regresso a São Tomé,
precipitaram-se para o mar três escravas, das quais a tripulação, por
muito que se esforçasse, só conseguiu recuperar uma98• Por sua vez,
em 23 de setembro de 1 535, uma embarcação quase homónima da
anterior, o navio Conceição, saiu do porto de Mpinda, na foz do rio
Congo. A 26, aproveitando a escuridão da noite, «lançaram-se ao mar
duas peças » . No dia seguinte, o escrivão contabiliza outra baixa. Dois
dias depois, « Se deitou um escravo ao mar por sua vontade» e, a 1 de
outubro, mais dois fazem o mesmo. Entretanto o navio começou a
meter água e, em risco de ir ao fundo, transferiu « metade da armação»
para uma embarcação com que se cruzou. No meio da confusão, uma
dezena de escravizados atirou-se ao mar99•
Em 1 636, o padre jesuíta Jerónimo Lobo viajou de Luanda para
Cartagena das Índias numa nau que levava a bordo mais de 800 escra
vos. Estes, « metidos no fundo do navio como presos facinorosos » ,
entraram «em tanta desesperação que alguns, impacientes com o calor,
aperto do lugar, mau cheiro, [mau] comer e multidão tão notável em
lugar tão pequeno, não os deixando sair a tomar ar mais do que uma
vez no dia por pouco tempo, quando podiam escapar das mãos de
tanto rigor se arremessavam ao mar e se afogavam» . E o padre acres
centa ter testemunhado, durante a viagem, seis dessas ocorrências100•
Em muitas das situações deste tipo, não é provável que os seus pro
tagonistas pensassem salvar-se a nado, pois grande parte de tais aconte
cimentos tinha lugar longe da costa ( aliás, como já se disse, os mestres
dos navios tinham por norma aprisionar os escravos do sexo masculino
e não os trazer ao convés, enquanto à vista de terra) . O suicídio no
mar, além de ser o produto do desespero, resultava, eventualmente, de
crenças mais profundas, nomeadamente da convicção de que, por esse
meio, era possível voltar para j unto do seu povo e da sua terra natal.
A DIFÍCIL TRAVESSIA 149
Escolha de escravos.
Dois traficantes
discutem, numa doca,
o preço de uma negra
e do seu filho.
(Gravura americana do
final do século XVIII.
Gerry lmages)
Navio negreiro em carga junto à costa é abordado por uma lancha da Royal Navy.
(Aguarela sobre papel. Inglaterra, século XIX. Bridgeman Art Gallery/AIC)
Grilheta de mãos.
(Ferro. Séculos XVlll-XIX.
Bridgeman Art Gallery/AIC)
À direita: Joaquim, um dos três irmãos Pinto da Fonseca traficantes de escravos, tornou-se
em Portugal um importante banqueiro.
(Primeira página do jornal Charivari, 1 9 de Junho de 1 897)
Fachada do edifício do « Grémio Literário» ( Rua !vens, Lisboa). O palacete foi construído,
para sua residência, pelo negreiro Ângelo Francisco Carneiro Lisboa, depois conde de Loures.
(Fotografia de Adérito Tavares)
LUCROS E PERDAS DO TRÁFICO DE ESCRAVOS 161
Casa Real, era cunhado de Manuel Caldeira, que casara com a sua irmã
Guiomar.
Além de cunhados, eram sócios e aparecem, por volta de 1 555, numa
«companhia » , de que também fazia parte Diogo de Castro, armador
cristão-novo. Os três arrendaram, não sabemos por quantos anos, o
contrato dos direitos régios de Cabo Verde e de São Tomé, o que lhes
dava o monopólio das exportações dos dois arquipélagos, nomeada
mente do tráfico de escravos.
É, com certeza, em articulação com isso que, em 1 556, Manuel
Caldeira vai a Bruxelas e Amberes, onde nessa altura se encontrava
o recém-empossado rei de Espanha Filipe II, e, nesta última cidade,
consegue que o soberano lhe conceda o asiento que o autorizava a
introduzir dois mil escravos africanos nas Índias de Castela, a partir da
Península Ibérica, de Cabo Verde, de São Tomé ou de qualquer outra
parte. Em troca, devia pagar à Coroa castelhana 1 8 mil ducados, em
quatro prestações. Embora a licença fosse passada apenas em nome
de Manuel Caldeira, pressupunha-se a existência de outros sócios no
negócio, nomeadamente dos seus companheiros do contrato de Cabo
Verde e São Tomé, Bento Rodrigues e Diogo de Castro.
A influência de Manuel Caldeira j unto da corte espanhola iria em
crescendo, sobretudo depois do empréstimo que ele concedera a Filipe II
em 1 556, na altura da negociação da concessão do asiento. Tratou-se
de uma importância avultada (55 mil ducados) e Caldeira ingressava
assim na lista de banqueiros credores da Coroa castelhana, que incluía
também nomes como os Függer ou os Affaitadi.
O prestígio adquirido dessa forma e as transações que protagoniza
hão de ter sido as razões principais para que, em 1 559, o rei de Portugal
o nomeasse seu feitor em Castela, esperando, por meio dele, conse
guir financiamentos junto dos grandes mercadores e poder negociar e
rebater letras de câmbio nas feiras mais importantes. Manteve-se nesse
cargo até, pelo menos, 1568.
Como recompensa dos serviços prestados à Coroa portuguesa,
se é que não lhe fez também algum empréstimo, será nobilitado, em
data que desconhecemos, sendo-lhe atribuídos os graus de cavaleiro e
comendador da Ordem de Cristo, com direito a usar o título de cava
leiro fidalgo da Casa Real. Além disso, o lugar de feitor facilitou-lhe o
contacto não só com os grandes mercadores castelhanos mas também
1 76 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS
disse foi que «O colégio era o herdeiro, fê-lo seu procurador bastante
e [que] lhe havia por entregue toda a fazenda e que continuasse como
dantes»31, isto é, que o Colégio passava a ser responsável, a partir daí,
pela empresa negreira que Antunes representava. Não sendo propria
mente uma novidade, era uma importante mudança de escala na ati
tude do colégio jesuíta luandense em relação não apenas à posse de
escravos como ao próprio tráfico32• Trataremos desses aspetos noutra
secção deste livro.
gravemente afetado por esta situação, provocada por gente que que
ria apenas desprestigiá-lo. E que se se provasse que tinha dívidas do
asiento se comprometia a pagá-las de imediato e a pronto. Em carta
em que recorre para a corte de Madrid puxa dos galões familiares: « os
meus pais, os meus avós e eu tivemos muitos contratos em Castela e em
Portugal. . . e sempre havemos cumprido» .
A s autoridades espanholas não aceitaram, no entanto, o s argumen
tos de defesa e iniciaram, de imediato, o processo de abertura para a
licitação de um novo contrato, que viria a ser entregue a Manuel Rodri
gues Lamego, outro próspero e notório cristão-novo.
Já, nessa altura, acamado e muito doente, Fernandes de Elvas não
conseguiu resistir à pressão a que foi sujeito e à ameaça que isso signifi
cava para a sua respeitabilidade individual e a sua solvência comercial.
Faleceu em Lisboa em agosto de 1 622. Mas não há de ter sido só a
depressão que o fulminou. Os médicos que o assistiram (Jorge Rodri
gues da Costa e Cosme Damião) atestaram que estava atacado por
« uma espécie de lepra e chagas que tinha por todo o corpo» .
A mulher e os filhos de Manuel Fernandes d e Elvas continuaram a luta
pelo bom-nome do marido e pai e para que fosse levantado o embargo
que pesava sobre os rendimentos pertencentes ao contrato e sobre os
imóveis do falecido, incluindo as suas casas em Lisboa. Foram particu
larmente veementes os protestos da viúva, D. Helena Rodrigues Sólis,
que chegou a propor ser ela a ficar, por oito anos, com o asiento que ia
ser posto a licitação. Tanto o Conselho da Fazenda como o Conselho
das Índias consideraram que ela tinha solvência e considerável crédito
(esqueceram-se de falar na coragem . . . ) mas rejeitaram-lhe a proposta34•
Receando, pelas notícias que lhe chegavam de gente que tinha sido
interrogada pelo inquisidor, que pudesse ser mandado prender, Gonçalo
entregou ao amigo Sisto de Almeida as melhores peças de ouro que
possuía e uma lata com um maço de «conhecimentos» (documentos
assinados por devedores sobre as dívidas respetivas) . O objetivo era
fazer chegar esses valores à família: ao irmão de Lisboa, a quem, ao que
parece, estava a dever dinheiro, e a uma filha natural, chamada Cata
rina, para que tivesse bens para constituir o dote com que, em devido
tempo, casasse. À custa de querer ocultar da Inquisição que tinha em seu
poder esses valores, que sabia seriam confiscados, Sisto acabou por ser
também preso, embora não tenha chegado a ser remetido para Lisboa.
Quem era a filha a quem Gonçalo queria fazer chegar a melhor
parte do seu património? O negociante não chegara a casar mas tinha
dois filhos que reconhecera como tal ( uma menina e um rapaz mais
pequeno), ambos nascidos de relações com escravas suas.
Em sua casa tinha, de portas adentro, onze escravos: sete do sexo
feminino (cinco entre os 1 8 e os 30 anos; uma de 40; e Luzia, uma
menina de 1 0 anos, a quem deu carta de alforria) e quatro do sexo
masculino: dois moleques e dois adultos, um deles um «escravo velho
barbado » . Duas das escravas eram provavelmente as mães dos filhos
de Gonçalo, mas nunca são referidas como tal. E não é de excluir que
tivesse relações íntimas, esporádicas ou regulares, com outra ou outras
das escravas, como era, aliás, habitual no seu tempo. Um poeta anó
nimo do século xvn, autor de uma << Descrição da cidade de Luanda e
LUCROS E PERDAS DO TRÁFICO DE ESCRAVOS 1 95
irá, porém, muito longe, pois João Coutinho foi vitimado pela malária,
em julho de 1 603, quando reagrupava as suas forças no Songo.
O governador seguinte, Manuel Cerveira Pereira ( 1 603-1 606), ao
mesmo tempo que continuava as operações militares do seu antecessor,
esteve também envolvido no comércio de escravos para o Brasil e para
a América Espanhola, não hesitando em recorrer, de forma mais ou
menos despudorada, ao contrabando, com grave prejuízo dos direitos
régios71 • O que não impediu que, em 1 6 1 5- 1 6 1 7, voltasse a Angola
para um segundo mandato como governador.
Ainda mais exemplar, pela inesperada transparência, é o caso de
D. Manuel Pereira Forjaz ( 1 607- 1 6 1 1 ), fidalgo do Conselho do Rei.
Antes de partir para o seu posto africano, fez um acordo escrito com o
cristão-novo João de Argomedo, comerciante residente em Lisboa que
já tinha sido escrivão do contrato de Angola ( 1 5 94- 1 600), e sabia
muito bem o que estava em causa72• Nesse acordo, Argomedo aceitava
disponibilizar o capital inicial para o negócio de escravos a desenvol
ver em parceria, enviando para Luanda vinho das Canárias e outras
fazendas. Por sua vez, o governador enviaria escravos para o Brasil e
Índias Espanholas, sendo os lucros remetidos para o Reino em letras ou
em mercadorias. Para o bom andamento do negócio foi montada um
extensa rede de feitores que se espalhava por Cartagena, Nova Espa
nha, Baía, Pernambuco, Sevilha, Porto e Viana73•
O governador morreu em 1 6 1 1 , deixando uma boa fortuna pessoal
e muitas dívidas ao Estado, em direitos para o Brasil e para as Índias.
Nessa altura era, pelo menos, dono de um patacho e de uma nau <<nova
e muito fermosa 74•
»
pelo menos, um navio « que ele mandava para o Brasil com carga de
escravos » 85• Não há de ter sido por acaso que nomeou seu secretário
António Coelho Guerreiro, ativo comerciante em Luanda e proprietá
rio de vários navios86•
Um outro governador, Luís César de Menezes ( 1 697- 1 70 1 ), que
sabemos movimentar nos seus negócios capitais «emprestados» por
conhecidos mercadores de Lisboa87, é também um exemplo dos gover
nadores que participam direta e abertamente no tráfico de escravos.
Não se trata, porém, de casos isolados, mas de exemplos daquilo
que era a prática corrente no topo da administração de Angola. Sobre
tudo a partir de 1 650, os governadores tinham-se tornado os principais
exportadores de escravos pois, aproveitando as facilidades que o cargo
lhes oferecia, podiam assegurar as compras no interior colocando nas
fortalezas ( «presídios» ) pessoas da sua confiança, bem relacionadas na
região, a quem faziam chegar as mercadorias, de origem europeia ou
brasileira, necessárias ao tráfico88•
Essas práticas monopolísticas provocavam naturalmente protestos
dos mercadores de Luanda, representados sobretudo pelo executivo
camarário, queixas que, por várias vezes, foram objeto de debate
no Conselho Ultramarino, em Lisboa. Entre 1 6 8 8 e 1 692, chegou a
considerar-se a hipótese de aumentar os ordenados dos governadores,
entregando-lhes 10 mil cruzados de soldo, com a condição de se coi
birem de toda a atividade comercial. A medida, apoiada pelos homens
de negócio e oficiais de Luanda, não teve então seguimento, pela difi
culdade na obtenção daquela verba «sem vexação dos moradores» 89•
Os protestos foram, no entanto, subindo de tom. Segundo alguns
historiadores, terá sido mesmo a participação direta dos governadores
no tráfico de escravos, demasiado constrangedora para outros interve
nientes, que terá levado, a partir de 1 680, um número cada vez maior
de mercadores a ir fixar-se em Benguela, procurando aí oportunidades
de negócio que tinham dificuldade em conseguir em Luanda. Isso terá
enfraquecido definitivamente o movimento neste porto90•
Alertada periodicamente para a situação, a Coroa portuguesa
decidiu-se finalmente, no início da década de 1 720, a mediar o conflito.
Por alvará de 29 de agosto de 1 720 ficava proibido aos governadores e
a outros altos funcionários participarem nas atividades negreiras e em
qualquer forma de comércio. Em compensação, por decreto de 17 de
LUCROS E PERDAS DO TRÁFICO DE ESCRAVOS 217
O LENTO PROCESSO
DO ABOLICIONISMO
1 . 1 . Portugal pioneiro ?
que estava nos termos e circunstâncias da " lei novíssima" que deter
minava a liberdade de todos os escravos desembarcados em Portugal» .
Só que o seu senhor viu-se livre das malhas d a Inquisição mais depressa
do que se previa e vai procurar reavê-lo, para regressar com ele a São
Tomé. Aparentemente sem dificuldade. Levada a questão ao Conse
lho Ultramarino, o despacho foi que « visto o que alega o suplicante,
na forma da lei e reais ordens de Sua Majestade, se restitua o mesmo
escravo à sua escravidão» 1 •
A legislação de 1 7 6 1 não se aplicava inicialmente aos Açores e
à Madeira, mas alargou-se-lhes cerca de uma década depois. Mais
tarde, num texto de confronto diplomático com a Inglaterra, o vis
conde de Sá da Bandeira precisou apenas de transformar em colónias a
Madeira e os Açores, para sacar de um poderoso argumento histórico:
«Examinando-se o que se tem passado, achar-se-á que Portugal foi a
primeira grande potência da Cristandade que, em colónias suas, aboliu
o tráfico da escravatura e a própria escravidão dos negros: o que foi
decretado por El-Rei D. José, em 1 773, quanto às ilhas da Madeira e
dos Açores. »2
Além da extensão aos arquipélagos norte-atlânticos da proibição
de entrada de novos escravos, é também de 1 773 (alvará de 16 de
janeiro) a legislação que considera homens livres, no Portugal europeu,
os escravos cuja condição cativa recuasse às respetivas bisavós e todos
os que nascessem posteriormente à data de publicação do diploma.
Só se mantinham na escravidão aqueles cujo estatuto servil compro
vado remontasse apenas às suas avós.
Parece ocioso discutir aqui, embora continue a ser uma batida ques
tão historiográfica3, se as motivações das medidas pombalinas sobre a
situação dos escravos resultam mais do pragmatismo económico ou da
influência prática da ideia de liberdade contida nas teorias iluministas
partilhadas pelo ministro de D. José 1.
É óbvio o caráter económico dessas medidas e a deliberada proteção
das necessidades materiais do Império, como estava, aliás, explícito na
própria fundamentação do alvará de 1 76 1 . Mas não houve também
motivações económicas, mais ou menos inconfessáveis, em pratica
mente todas as medidas abolicionistas decretadas noutros países?
Isso não autoriza a que se considerem os responsáveis políticos
portugueses do fim do século xvm e inícios do século XIX como os
232 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS
QUADRO 4
Número de escravos embarcados para os principais portos do Brasil,
em navios de todas as nacionalidades: 1 5 5 1 - 1 866
1601-1650 136 000 144 200 94 900 2500 377 600 7600
1 701-1750 473 600 202 300 320 200 1 6 000 1 0 12 100 20 200
1 75 1-1 800 431 500 1 56 800 525 700 84 700 1 198 700 24 000
1 801-1 850 457 900 296 600 1 492 000 120 800 2 367 300 47 300
Totais 1 736 300 960 500 2 608 400 226 500 5 531 700 1 7 600
Fonte: The Trans-Atlantic Slave Trade Database (20 de março de 20 12). Cifras esti
madas arredondadas à centena.
Um outro viajante que passou por Angola quinze anos depois, o por
tuguês Carlos José Caldeira, é bastante mais tolerante na sua apreciação:
Nos últimos anos de vida veio para Portugal, talvez para casa da
filha, tendo morrido em 1 859.
Entre as pessoas que frequentavam a casa de D . Ana Joaquina
em Luanda estava um outro grande traficante, um dos três maiores,
Augusto Guedes Coutinho Garrido. Pertencente a uma família da aris
tocracia de província do Centro de Portugal, filho de José Guedes de
Carvalho Coutinho Garrido de Meireles, desempenhou vários cargos
na administração de Angola mas será no comércio de escravos que fará
a sua fortuna. Isso não o impediu, suprema ironia, de participar como
secretário na comissão mista luso-britânica para a supressão do tráfico
de escravos. Da sua convivência com a « baronesa de Luanda»27 resul
tou a combinação do casamento de Teresa Luísa de Jesus, filha única de
D. Ana, com um irmão mais novo de Augusto Garrido, Elísio Guedes
Coutinho Garrido, nascido, em 1 808, na Quinta da Bouça (Penela ), de
que o pai era morgado.
Não sabemos onde teve lugar o casamento, mas era mutuamente van
tajoso, juntando, de acordo com as normas deste tipo de compromissos,
284 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUtS
tão divididos nas suas opiniões que chamavam a isto a «guerra arsé
nica» , a qual tomara « as proporções de negócio de Estado» . Embora o
viajante de passagem não seja propriamente favorável ao acusado, não
deixa de reconhecer que na origem de tudo tinham estado, primeiro
as eleições para a câmara municipal, depois as eleições para deputa
dos. Fora na sequência disso que outro negociante, tido por seu amigo,
apresentou letras que até aí tinha retido, o que terá levado à falência de
Carpo, verdadeira ou fraudulenta, e arrastado tudo o resto40•
Arsénio Pompílio acabou por ser condenado a dez anos de degredo
para São Tomé e à perda de todos os títulos honoríficos. Tendo recor
rido para o Supremo Tribunal de Justiça, veio preso para Lisboa e, em
dezembro de 1 852, deu entrada, mais uma vez, na prisão do Castelo de
São Jorge. É certo que, em 1 853, o Supremo voltava a declarar nulo o
processo que lhe fora levantado, mas a sua estrela tinha definitivamente
esmorecido.
Regressou quase de imediato a Luanda e tentou refazer a vida, apa
rentemente por meio do comércio lícito. Conseguiu, além disso, ser
nomeado governador do presídio de Ambaca, no sertão angolano,
o que foi visto pelos políticos locais e de Lisboa com ironia ou com
indignação, pois lhes parecia que era meter a raposa na capoeira, uma
vez que se tratava de uma das zonas tradicionais de compra e venda
de escravos. Seja como for, estava em Ambaca quando por lá passou,
em maio de 1 854, o explorador David Livingstone, em quem causou
impressão muito positiva.
Quando Arsénio de Carpo regressou a Luanda, em 1 856, a sua
situação económica era muito precária. Vivia modestamente da repre
sentação em Angola de uma casa comercial de Lisboa e da memória das
suas antigas ostentação e grandeza, que eram já uma longínqua nuvem
de fumo. A megalomania de outros tempos, que era parte integrante
da sua personalidade, ainda ressurgia de vez em quando em projetos de
investimento para a criação de infraestruturas em Angola (por exem
plo, caminhos de ferro), mas as intenções modernizadoras eram rapi
damente travadas por falta de capitalistas ou obstáculos burocráticos.
A sua tradicional generosidade também não desaparecera e vemo-lo a
encabeçar ainda várias campanhas de solidariedade.
No fim da vida, dedica-se ao comércio com o interior de Angola,
mas agora definitivamente de mercadorias permitidas, nomeadamente
300 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS
de marfim. Apesar dos seus 70 anos, terá sido ele em pessoa a dirigir
algumas das caravanas com numerosos carregadores que, a partir de
Malanje, por caminhos de pé posto, se internavam na África profunda,
abrindo-a ao comércio internacional. Conta-se que, em 1 864, entrou
na feira de Cassange, a cavalo, à frente de uma caravana de mil carre
gadores songos, transportando as mais variadas mercadorias. Veio a
morrer em 1 869, depois de uma vida cheia.
Um dos seus biógrafos, João Pedro Marques, vê Arsénio de Carpo
como « um homem entre dois mundos que, à sua maneira, ajudara a
criar. Participara nos últimos anos do "odioso comércio", lucrando e
perdendo, subindo e caindo com ele; participara também na esperada
reconversão da África nos primeiros momentos de abertura do conti
nente negro aos sonhos de filantropistas e de quiméricos»41•
José Francisco de Azevedo Lisboa, que iria ficar conhecido nos meios
do negócio brasileiros por Azevedinho, nasceu na capital portuguesa,
de que recebeu o sobrenome, por volta de 1 795. O apelido Lisboa,
mais do que nome de família, talvez fosse simplesmente uma alusão à
sua origem geográfica: morava, em 1 825, na Travessa do Boqueirão
da Ribeira Nova (freguesia de São Paulo), onde é possível que tivesse
também nascido. De qualquer forma, parece certo não existirem laços
familiares entre ele e um outro Lisboa, também comerciante no Brasil,
de que, mais atrás, procurámos levantar a biografia: Ângelo Francisco
Carneiro Lisboa.
Depois de uma primeira e breve estadia, regressou ao Brasil em 1 825,
tendo-se fixado em Pernambuco, onde cedo aparece associado ao tráfico
de escravos e a conhecidos traficantes, como Joaquim Ribeiro de Brito.
Mantinha também relações de amizade com o cônsul português
Joaquim Batista Moreira, ele próprio com cumplicidades várias com
o « infame comércio» , o qual lhe pagou esse bom relacionamento em
1 832, ao defender Azevedinho da embrulhada que o levara à prisão,
acusado de ter participado no movimento revoltoso pernambucano
que ficou conhecido pelo nome de Abrilada. No movimento estiveram,
aliás, implicados outros grandes comerciantes portugueses sedeados no
O TRÁFICO QUE RESISTE 301
Santos Silva (mais novo e com melhor formação académica mas que
fora também grande comerciante no Brasil, aparentemente sem liga
ções ao tráfico de escravos) e com Francisco Isidoro Viana, este com
interesses no tráfico e, além disso, sogro de António Pinto da Fonseca
e genro de José Nunes da Silveira, negociante-armador da praça de
Lisboa, envolvido no comércio de escravos da costa oriental africana.
Segundo a escritura de constituição, de 27 de maio de 1 86 1 , a nova
casa bancária « irá dedicar-se a transações comerciais compreendidas
nas classes de banco, fundos, comissões e conta própria » . Nascia assim
a casa Fonsecas, Santos & Viana que, pela solidez das suas reservas,
terá um importante papel no financiamento das instituições públicas.
Será, aliás, mercê de um volumoso empréstimo ao Estado, sobre hipo
teca da indústria dos tabacos, que o banco se virá a tornar, na última
década do século XIX, o maior acionista da Companhia dos Tabacos
de Portugal.
O banco Fonsecas, Santos & Viana (ou casa Fonsecas, como ficará
conhecido) dará origem, em 1 967, mais de um século depois da sua
fundação, ao Banco Fonsecas & Burnay que, por sua vez, será com
prado, em 1991, pelo Banco Português de Investimento ( BPI}49•
vatura.
1 823 Abolição da escravidão no Chile.
-
vatura.
1 8 3 1 França: nova lei sobre a repressão do tráfico de escravos.
-
de escravos.
1 836 Abolição do tráfico de escravos em todos os territórios sob soberania
-
nas colónias.
1 8 39 Condenação do tráfico de escravos pelo papa Gregório XVI.
-
CRONOLOGIA GERAL SOBRE O TRÁFICO ATLÂNTICO E O ABOLICIONISMO 325
INTRODUÇÃO
Tráfico e tráficos
PARTE 1 - CAPITULO 1
sessment of the Slave Trade to the Spanish Americas in the Sixteenth and
Seventeenth Centuries » , in Eltis, D. e Richardson, D . (ed.), Extending the
332 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUtS
-Mewuda, São Jorge da Mina: 1 482-1 637. La vie d'un comptoir portugais
en Afrique Occidentale, 2 vais., Lisboa/Paris, CNCDP/Fundação Calouste
Gulbenkian, 1 993; John L. Vogt, Portuguese Rufe on the Gold Coast,
1 469-1 682, Athens, The University of Georgia Press, 1 9 79; Christopher R.
DeCorse, An Archaeology of E/mina: Africans and Europeans on the Gold
Coast, 1 400-1 900, Washington, D. C., Smithsonian Press, 200 1 .
1 9 Luís Viana Filho, O Negro na Baía, Rio d e Janeiro, Livraria José Olím
pio, 1 946, pp. 29-30.
2° Charles-Martiel de Witte, La correspondance des premiers nonces per
manents au Portugal. 1 532-1 553, Lisboa, Academia Portuguesa da Histó
ria, 1 980-1986, vol. II, p. 1 56.
21 J. H. Galloway, The Sugar Cane Industry: An Historical Geography
from Its Origins to 1 91 4, Cambridge [UK] , Cambridge University Press,
1 9 89, p. 5 1 .
22 Th. Monod, A. Teixeira da Mota e R. Mauny, Description de la Côte
Occidentale d'Afrique par Valentim Fernandes, Bissau, Centro de Estudos
da Guiné Portuguesa, 1 95 1 , p. 120.
23 António de Almeida Mendes, «Les réseaux de la traite ibérique dans
l'Atlantique nord. Aux origines de la traite atlantique ( 1440- 1 640) » , Les
Annales. Histoire, Sciences Sociales, n.º 4, 2008, pp. 739-768.
24 Sobre Ano Bom, ver Arlindo M. Caldeira, « Uma ilha quase desco
nhecida » , Studia Africana - Revista Interuniversitària d'Estudis Africans,
n.º 1 7, Barcelona, Out. 2006, pp. 9 9 - 1 09; Id., « Ürganizing Freedom.
De facto Independence on the Island of Ano Bom (Annobón) during the
Eighteenth and Nineteenth Centuries » , Afro-Hispanic Review, volume 28,
n.º 2, Nashville, 2009, pp. 293-3 1 0.
25 John Thornton, Á frica e os Africanos . . . , p. 409.
26 Carta do ouvidor Caetano Castro de Mesquita para o secretário de
Estado da Marinha e Ultramar, 15 de fevereiro de 1 77 1 , in Carlos Agostinho
das Neves, São Tomé e Príncipe na 2.ª Metade do Século X VIII, Funchal/
/Lisboa, Secretaria Geral do Turismo/Instituto de História de Além-Mar,
1 989, p. 327.
2 7 Ver Duarte Pacheco Pereira, Esmera/do, pp. 1 32-146.
28 Rui de Pina, Crónica d'El-Rei D. João II. . . , p. 74.
334 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUtS
p. 62). Ora a maioria são apenas designados como «peças», de onde não
podemos inferir o sexo.
32 Torre do Tombo, Lisboa [daqui em diante, TT], Chancelaria de
D. Manuel I, livro 4 1 , fls. 9-9v, Carta de quitação a Fernão de Melo, 9 de
dezembro de 1 5 10.
33 Eustache de la Fosse, Crónica de uma Viagem à Costa da Mina no Ano
de 1 480, Lisboa, Vega, 1 9 92, p. 94.
34 Duarte Pacheco Pereira, Esmera/do . ., p. 1 34.
.
54 Alvará de el-rei D. João III, 1 5 5 3 ( ? ) , (MMA, vol. II, pp. 323 -324) .
António Brásio situa este alvará, n ã o datado, e m 1 553, mas, d e acordo com
a carta supracitada do padre Cornélio Gomes, deve ser alguns anos anterior,
sendo a data mais provável a de 1 548.
55 David Birmingham, A Conquista Portuguesa de Angola, Porto,
A Regra do Jogo, 1 974, pp. 1 2- 1 3 .
56 lbid., p. 475.
57 Beatrix Heintze, « Ü Estado do Ndongo no século XVI » , in Angola nos
Séculos XVI e X VII, Luanda, Kilombelombe, 2007, p. 1 76.
58 Alfredo de Albuquerque Felner, Angola: Apontamentos sobre a ocu
pação e início do estabelecimento dos portugueses no Congo, Angola e Ben
guela extraídos de documentos históricos, Coimbra, Imprensa da Universi
dade, 1 933, pp. 93-97.
59 A. A. Felner, Angola . . . , p. 1 02 .
60 Beatrix Heintze, «Ü Estado do Ndongo . . . », p. 1 8 8 .
61 Apontamentos sobre Paulo Dias d e Novais ( 1 560- 1 5 6 1 ), MMA, vol. II,
p. 465.
62 lbid., p. 467.
63 O padre, de seu nome Francisco de Gouveia, acabou mesmo por
ser impedido de sair e por lá ficou até à morte, em 1 575 (Manuel Nunes
Gabriel, Os Jesuítas na Primeira Evangelização de Angola, Lisboa, Secreta
riado Nacional das Comemorações dos 5 Séculos, 1 993, pp. 25-28).
64 « História da Residência dos Padres da Companhia de Jesus em
Angola » , 1 5 94 (MMA, vol. IV, p. 554).
6 5 Beatrix Heintze, « Ü comércio de "peças" em Angola » , in Angola nos
Séculos X VI e X VII . , p. 484.
. .
CAPÍTULO 2
A difícil travessia
1 TI, Códice 1 1 16, pp. 620 e ss., ap. Edmundo Correia Lopes, A Escra
vatura. Subsídios para a sua história, Lisboa, Agência Geral das Colónias,
1 944, p. 1 72.
2 António de Oliveira de Cadornega, História Geral das Guerras Angola
nas, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1 972, vol. 1, pp. 1 43-144.
3 A palavra deriva do Kimbundu lubambu, corrente de ferro.
4 Viagens de um Piloto Português do Século XVI à Costa de Á frica e a
São Tomé, Introdução, tradução e notas de Arlindo Manuel Caldeira, Lis
boa, 2000, p. 96.
5 Carta do padre Gonçalo de Sousa, ibid.
6 Luís António de Oliveira Mendes, Memória a respeito dos escravos
e tráfico da escravatura entre a Costa d'Á frica e o Brazil [ 1 793), Lisboa,
Escorpião, 1 977, pp. 43-46.
7 Alonso de Sandoval, Naturaleza, policia sagrada i profana . . . , fls. 67v.
e 68.
338 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUf.S
4 9 Jbid.
5 0 AHU, Conselho Ultramarino, Angola, caixa 1 0, doe. 40, Receita e
despesa referente aos anos de 1 667, 1 668, 1 669, 1 6 70 e 1 6 7 1 .
51 AHU, Conselho Ultramarino, Angola, caixa 14, doe. 2 0 , «Treslado da
devassa . . . » .
52 Jbid., Portaria d e 2 9 d e outubro d e 1 6 89.
53 Edmundo Lopes, Escravatura ... , p. 1 77.
54 S. Lara, Legislação sobre Escravos Africanos . . . , p. 303.
55 Jean Boudriot, « Le navire négrier au xvme. siecle » , in Serge Daget,
De la traite à l'esclavage: actes du Colloque lnternational sur la Traite des
Noirs, Nantes/Société Française d'Histoire d'Outre-mer, 1988, p. 159.
5 6 José Rodrigues Abreu, Luz de Cirurgiões Embarcadiços, Lisboa, Ofi
cina de António Pedroso Galram, 1 71 1 , p. 35.
NOTAS 341
57 Cavazzi, Descrição Histórica . . . , vol. I , livro IV, n.º 149, p. 426 [ed.
italiana: pp. 526-527] .
58 Cap. VI do « Regimento . . . » , 1 8 de março de 1 684.
59 O. Dapper, Description de l'Afrique, contenant les noms, la situation
& les confins de toutes ses parties. . . , Amsterdão, 1 686, p. 367.
60 L. Jadin, Pero Tavares . . . , cit., p. 3 8 7.
6 1 Livro da armação e regimento do navio Urbano, 30 de abril de 1 53 5
(MMA, vol. xv, p p . 1 1 5 e ss. ) .
62 Livro da armação e regimento do navio Conceição, 21 de j ulho de
1 535 (MMA, vol. xv, pp. 1 24 e ss. ) .
63 Cavazzi, Descrição Histórica . . . , vol. I, p p . 1 60-1 6 1 . Cadornega tam
bém conta este processo de abastecimento, chamando pitorescamente aos
navios «embarcações alagadas » , e completa a informação dizendo que a
água se destinava « às aguadas dos navios de escravos que vão mar em fora»
(A. O. de Cadornega, História Geral das Guerras Angolanas: 1 680, Lisboa,
Agência Geral do Ultramar, 1 972, vol. I I I , pp. 32-3 3 ) .
64 Elias Correia, História d e Angola . . . , p. 1 44.
65 Elias Correia, História de Angola . . . , p. 145.
66 AHU, Conselho Ultramarino, Angola, caixa 8, doe. 35, Consulta do
Conselho Ultramarino de 1 2 de agosto de 1 664.
67 Provisão de 23 de setembro de 1 664, cit.
68 Cap. VII do « Regimento . . . », 18 de março de 1 684.
69 Cap. VIII, ibid.
70 AHU, Conselho Ultramarino, Angola, caixa 14, doe. 20, «Treslado da
devassa ... ».
94 La mission au Kongo . . . , p. 1 5 3 .
9 5 ] . Cuvelier, Relations . . . , p. 283.
96 Giuseppe Monari, Viaggio ai Congo [ 1 723), publicada por Evaristo
Gatti, Sul/e Terre e sui Mari, Cavalieri di S. Francesco, Parma, Oficina Gra
fica Fresching, 1 9 3 1 , p. 248.
97 Apud A. Carreira, Companhias . . . , p. 246.
98 TI, Corpo Cronológico, 11-1 02-20, Livro da armação do navio Santa
Maria da Conceição, 1 522.
99 Livro da armação e regimento do navio Conceição, 211711535 (MMA,
vol. xv, pp. 1 24 e ss.).
100 Jerónimo Lobo, Itinerário e Outros Escritos Inéditos, ed. crítica de
M. Gonçalves da Costa, Lisboa, Livraria Civilização, 1 97 1 , p. 639.
101 Robert W. Slenes, Malungu, ngoma vem! África encoberta e desco
berta no Brasil, Museu Nacional da Escravatura, I.N.P.C., Ministério da
Cultura, Luanda, 1 995, pp. 1 0- 1 1 .
102 II Moro trasportato . . . , p. 90.
103 Cavazzi, Descrição Histórica . . . , vol. 1 , livro 1, n.º 329, p. 1 60.
104 Requerimento de Cristóvão Pais a D . Filipe I, 11 de fevereiro de 1 59 1 ,
i n Boletim do Arquivo Histórico Colonial, vol. 1 , 1 950, pp. 273-275 .
1 º5 A. C. de C. M. Saunders, História Social dos Escravos e Libertos . . . ,
p. 35.
106 TI, Corpo Cronológico, 11- 1 8 1 -78, Inquirição de 21 de fevereiro de
1 533; Ibid., Chancelaria de D. João III, livro 1 9, fol. 1 0 7v., Carta régia
de 23 de abril de 1 533.
1 07 Cabo das Esteiras ( Cap Esterias) , no Gabão, a norte de Libreville, no
limite meridional da baía do Corisco.
108 TT, Corpo Cronológico, 11- 1 8 7-50, Inquirição de 27 de janeiro de
1 534.
109 AHU, Conselho Ultramarino, São Tomé, caixa 1 8, doe. 4, Carta de
8 de fevereiro de 1 780.
11º AHU, Conselho Ultramarino, Angola, caixa 65, doe. 64, Relatório de
1 5 de agosto de 1 782, ap. Jaime Rodrigues, De Costa a Costa, São Paulo,
Companhia das Letras, 2005, pp. 223-226.
1 1 1 Agostinho Araújo, «A pintura popular votiva no séc. xvm: algumas
reflexões a partir da colecção de Matosinhos» , Revista de História, n.º 2,
Porto, 1 979, p. 3 1 .
344 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUtS
CAPÍTULO 3
Lucros e perdas do tráfico de escravos
system: The Portuguese southern Atlantic slave trade in the eighteenth cen
tury>>, in Barbara L. Solow (ed.), Slavery and the Rise of the Atlantic System,
Cambridge, Cambridge University Press, pp. 1 20-150 (trad. port.: «Ü tráfico
português de escravos no Atlântico Sul no século xvm: uma instituição margi
nal nas margens do sistema atlântico » , Fontes e Estudos, Revista do Arquivo
Histórico Nacional, n.º 3, Luanda, novembro de 1 996, pp. 1 47-1 87).
2 Id., ibid.
3 Herbert Klein, O Tráfico de Escravos no Atlântico, Ribeirão Preto, SP,
Funpec, 2004, pp. 1 00-1 02.
4 Guillaume Daudin, « Comment calculer les profits de la traite ? » , Outre
-Mer: Revue d'Histoire, n.0 336-337, 2.º semestre de 2002, pp. 43-62.
5 Olivier Pétré-Grenouilleau, Les traites négrieres, Paris, Gallimard,
2004, pp. 3 8 5-386.
6 Francesco Carletti, Ragionamenti dei mio viaggio intorno ai mondo, ed.
de Paolo Collo, Turim, Einaudi, 1 9 89, pp. 1 5-2 1 .
7 Virgínia Rau, O «Livro de Rezão» de António Coelho Guerreiro, Lis
boa, Companhia de Diamantes de Angola, 1 956, p. 46.
8 AHU, Conselho Ultramarino, Angola, caixa 4, doe. 1 7, Consulta do
Conselho Ultramarino de 8 de janeiro de 1 643.
9 A. C. Saunders, História Social dos Escravos e Libertos ... , pp. 40-52.
1 0 Sobre Cabo Verde: José Gonçalves Salvador, Os Magnatas do Tráfico
Negreiro, São Paulo, Pioneira, 1 98 1 , pp. 20-29; Maria Manuel Ferraz Tor
rão, « Ü comércio [de Cabo Verde] . . . » , pp. 84-1 1 9 .
1 1 Carta de Bernardo Segura a El-Rei, 1 5/3/1 5 1 7 (MMA, vol. 1, p. 378).
1 2 A. A. Felner, Angola . . . , doe. 54, p. 487.
o Comércio . . . , passim.
23 Vila Vilar, Hispano-America, p. 26.
24 Vila Vilar, Hispano-America, pp. 1 04-1 1 4; Germán Peralta Rivera,
E/ comercio negrero en América Latina (1 595- 1 640), Lima, Editorial Uni
versitaria, 2005, pp. 44- 1 24.
25 Maria Manuel F. Torrão, « Ü comércio [de Cabo Verde] . . p. 1 1 6 .
. >>,
do Século XVII, Estugarda, Franz Steiner Verlag Wiesbaden, 1 988, vol. II,
p. 1 50.
30 Para a biografia de Gaspar Alvares utilizámos a seguinte bibliografia
e fontes: A. A. Felner, Angola. . . , pp. 214-2 1 5 e doe. 42 (pp. 462-467); Pro
cissam: relação das festas que a Residencia de Amgolla fez na beatificação
do beato padre Francisco de Xauier da Companhia de Jesus, transe. e anot.
de Adriano Parreira, Lisboa, Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro,
1 994; Relação do padre Mateus Cardoso, 1 623 (MMA, vol. VII, pp. 1 80-
- 1 89); Informação do padre reitor de Angola, 1 624 (MMA, vol. VII, pp. 279-
-284); Carta régia ao governador de Angola, 1 5/1 1/1 625 (MMA, vol. VII,
pp. 3 94-3 9 5 ) ; Relação da Companhia de Jesus, 20 de outubro de 1 623
(MMA, vol. xv, pp. 508-529); Biblioteca da Ajuda (Lisboa ), Códs. 5 1 -IX
-20 e 5 1 -IX-2 1 .
31 Informação d o padre reitor d e Angola, 1 624 (MMA, vol. VII, pp. 279-
-28 3 ) .
32 Sobre este assunto, ver o nosso artigo « Üs jesuítas e m Angola nos
séculos XVI e XVI I : tráfico de escravos e "escrúpulos de consciência " » , in
Trabalho Forçado Africano - Articulações com o Poder Político, Centro
de Estudos Africanos da Universidade do Porto (coord.), Porto, Campo das
Letras, 2007, pp. 47-82.
33 E. Vila Vilar, Hispano-America y el comercio de esclavos . . . , p. 1 62.
34 Para esta história da vida de António Fernandes de Elvas tudo o que
se refere ao asiento baseia-se em G. Peralta Rivera, El comercio negrero . . . ,
pp. 96-1 1 8 e E. Vila Vilar, Hispano-America y el comercio de esclavos . . . ,
pp. 49-50, 84-85, 1 1 1 - 1 1 3 e 1 62-163. O resto aproveita as informações de
José G. Salvador, Os Magnatas . . . , passim; Ana Hutz, Os cristãos-novos por
tugueses e o tráfico de escravos para a América Espanhola (1 580- 1 640), tese
de mestrado em História Económica, Campinas, Unicamp, 2008, pp. 77-8 1;
e A. A. Marques de Almeida (dir.), Dicionário dos Sefarditas Portugueses:
Mercadores e Gente de Trato, Lisboa, Campo da Comunicação, 20 10.
35 Relação de António Dinis, 1 622 (MMA, vol. V I I , p. 71).
36 Carta de Fernão de Sousa ao inquisidor-geral, 18 de setembro de
1 626, in Beatrix Heintze (ed.), Fontes para a História de Angola . . . , vol. II,
pp. 1 67-1 6 8 .
3 7 TI, Tribunal d o Santo Ofício, Inquisição d e Lisboa, proc. 9609. A par
tir daqui, salvo indicação em contrário, é essa a nossa fonte.
3 8 TI, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de É vora, proc. 1 1 644.
NOTAS 347
XVII. . . , p. 297.
83 AHU, Conselho Ultramarino, Angola, caixa 14, doe. 67, 16 de junho
de 1691, «Auto de queixas do cabido. . . » .
8 4 Ibid., «Conclusões d o inquérito . . . » .
8 5 AHU, Conselho Ultramarino, Angola, caixa 1 4 , doe. 7 1 , 28 d e setem-
bro de 1 6 9 1 , Carta do governador Gonçalo de Menezes.
86 Rau, Livro de Rezão . . . , p. 44, nota 1 .
8 7 Ferreira, «Transforming Adantic slaving . . . » , pp. 25-27.
88 Miller, Death . . . , p. 256.
350 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGut.s
PARTE II - CAPÍTULO 1
O lento processo do abolicionismo
2º
R. E. Conrad, Tumbeiros . . . , pp. 1 3 9-1 70, e Luís Dias Tavares, Comér-
cio Proibido . . . , passim.
21 Apud L. F. de Alencastro, « Le versant brésilien . . . p. 379.
»,
CAPÍTULO 2
O tráfico que resiste
passim.
34 TI, Registo Geral de Mercês, D . Maria II, Cartas de 25/6/ 1 8 5 1 e
1 7/8/1 8 52, liv. 36, fls. 1 1 1 v- 1 1 2v e liv. 39, fl. 1 34-1 34v.
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368 ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS
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QUADROS