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FERNANDO A.

NOVAIS

Portugal e Brasil
na Crise do Antigo Sistema Colonial
(1777 -1808)

Quinta edição

EDITORA HUClTEC
São Paulo, 1989
lEl Direitos autorais 1979 de Fernando A. Novais. Direitos de publicação reservados pela Editora
de Humanismo, Ciência eTccnologi2 ""ucitcc" I.tda.., Rua Geórgia, SI -04559 São Paulo, Brasil.
Telefone, (011)241-0858.

ISBN 85-271-0126-2
Foi feito o depósito legal.

I' edição: 1979 Para


2" edição: 1981 HORIETA,
I" reimpressã.o: 1983
3" edição: 1985 LUÍS FERNANDO
4' edição: 1986 e
5' edição: 1989 ANA LÚCIA
PREFAcIO

Este livro é, com alguns acréscimos, correções e revisões, a tese


com que obtivemos o doutoramento na Universidade de São Pau/o.
em 1973. De então para cá/oi se tornando cada vez mais difícil pre-
parar o texto para li edição, em que pesassem as solicitações de cole-
gas e amigos. Não tendo preparado a edição logo após a defesa, 011-
tro.s afazeres foram ocupando nossas atividades, leituras de vária or-
dem colocavam novos problemas, e as dificuldades cresciam. Tendo
publicado em separado, o segundo caPítulo (Cadernos CEBRAP, n.
17), a análise ali proposta logrou boa acolhida entre os estudiosos, e
mesmo provocou debates. Novos trabalhos iam saindo, em que se
abordavam, sejam questões particulares, sejam os problemas mais
gerais aqui tratados, o que dificultava sobremaneira situar-se em fa-
ce da produção corrente nesses domínios. Resolvendo-nos agora a
dar O trabalho li luz da puhlicldade não escondem~ uma certa insa-
tisfação com a forma que assumiu, mas consolamo-nos com o fato de
que tal sentimento deve ser comum entre os autores, e mesmo neces-
sário, no sentido de que é próprio das tarefas intelectuais. Tal insa-
tisfação não significa, é claro, que não estejamos convencidos das
idéias e interpretações aqui veiculadas; poderiam, sim, ter sido me-
lhor expostas, talvez mais seguramente defendidas - mas isso senil
um nunca acabar.,.
Revendo agora o texto no conjunto, não nos podemos furtar 'de
transcrever a «nota de agradecimentos» que então redigimos:
«Foram tantas as pessoas que de uma ou outra forma nos estimula-
ram e ajudaram a realizar este trabalho, que nosso temor ao redigir
esta nota de agradecimentos é de avolumar ainda mais este já espesso
tomo, ou de cometer omissões imperdoáveis,
Nosso primeiro agradecimento vai naturalmente para o Professor
Eduardo d'Oliveira França, catedrático de História Moderna e Con-

IX
temporânea da Universidade de São Paulo, de quem continuamos Nos anos decomdos, a roda da história não parou: Francisco FaI-
assistentes, orientador desta tese, ~ rião só pelo apoio e estímulo con, José Jobson, Arnaldo Contier ultimaram e apresentaram suas
constantes, como também pelo exercício do terrível espírito crítico pesquisas, agora também em fase de publicação; o término da dita-
com que nos obrigou a repensar a cada passo nossas idéias, e, ainda, dura em Portugal permitiu enfim que os Barradas regressassem à pá-
pela inesgotável paciência com que tolerou nosso atraso de longos tria. Joaquim Bamulas de Carvalho terminou também seu alentado
anos. Igualmente aos nossos colegas da cadeira, mas dentre eles nos estudo sobre a especificidade do Renascimento português, tão lon-
acompanhou mais de perto o Professor José Jobson de Andrade Ar- gamente trabalhado. Ampliamos nossas expenencias em contactos
ruda, sobretudo depois que se pôs a trabalhar, digo melhor, a bata- com as universIdades amencanas, pudemos voltar à Europa, e rever
lhar fun'osamente com as balanças de comércio do final do século Portugal, transfigurado pela revolução.
XVIII. Ao rol dos agradecimentos, cumpre ainda acrescentar nosso reco-
Ao contrán'o de muitos que vivem reclamando de btbliotecas e ar- nhecimento à banca examinadora (professores Franctsco Iglésias,
quivos, fomos sempre muito bem recebidos nessas instituições, on- Juarez Brandão Lopes, Luiz Pereira, Sônia Siqueira, Eduardo d'Oli-
de nunca nos faltou apoio, pelo que agradecemos a diretores e fun- veira França) pela atenção dispensada ao nosso trabalho, e pelas críti-
cionán'os; mas queremos destacar, no Museu Paulista, nossa colega ~as feitas; na medida do possível procuramos incorporar suas suges-
Maria José Elias. Especial gratidão devemos ao pro! Antonio Galvão tões. Na revisão final, pudemos contar com o exemplar, densamente
Novais, da Escola Poft'técnica, que não só pôs a nosso serviço sua má- anotado, de Juarez, o que foi uma expenenCla gratifiCante.
gica régua-de-cálculo, como nos sugen'u tabelas e gráficos, que au- A tarefa de revisão e preparo da edição definitiva, contudo, não
mentavam depois o seu trabalho para nos ajudar; de nossa parte, lía- pode enveredar por todas as sendas abertas pelos comentános, críti-
mos os seus escn'tos na área da dramaturgia, o que era muito agnldá- cas, ou pelas novas publicações. O segundo caPítulo, sobretudo,
ve/. abre um leque tão grande de questões, que toma impossível seu de-
Nossos agradecimentos se estendem para CamPinas, aos nossos senvolvimento sem desequtlibrar o livro; reservamo-nos, por isso,
colegas da Unicamp, especialmente os economistas João Manuel para retomar a temática em outros trabalhos. As razoes de termo-nos
Cardoso de Mello e Luis Gonzaga de Mello Belluzzo; para o R,'o de decidido a uma análise global do sistema de colonização mercanttlis-
Janeiro, a Francisco Falcon, que também se debate com o século ta ficam explicitadas na introdução e no corpo geral do trabalho. As-
XVIII e o mercanttlismo; até para Paris, onde estão, ainda temerosos sim, com leves retoques, mantivemos o texto; se indicamos em nota
que não chegássemos ao cabo da tarefa, Marganda e Joaquim Barra- os trabalhos de Ciro Flamanon Cardoso, sobre o escravismo, não foi
das de Carvalho. Nunca esqueceremos que foi graças a este trabalho possível discutir, aqut; o trabalho mais recente de Jacob Gorender.
que descobrimos, em Lisboa, a amizade de Joel Sem/o. Igualmente vai indicado, mais para informação do leitor, o livro al-
Como atrasamos muito, os amigos se inquietavam com os prazos, tamente sugestivo de I. Wallerstein, mas prefen'mos não discutir as
e aumentava o número dos que tentavam ajudar; nem todos tiveram posições de P. Anderson sobre o absolutismo, igualmente dignas de
chance, mas lhes somos igualmente gratos. Nossos familiares nos cer- um exame em profundIdade. Não mencionamos, também, traba-
cavam com calorosa expectativa. Somos particularmente sensíveis à lhos de colegas nossos que já vinham trabalhando contemporanea-
ajuda que, no calor da hora final, recebemos de nosso colega Arnal- mente conosco, e que ultimaram depois suas pesquisas, tendo já ci-
do Contier. A biblt'otecána Hermima Muzanek cometeu a proeza, tado nossa obra em exemplar mimeografado: tais os trabalhos de
aparentemente impossível, de datilografar todas essas páginas num Francisco Falcon (politica econômica e mercamilismo ilustrado, a
prazo mcrívelmente curto. Finalmente, but not ihe least, minha época pombalina, 1975), IstvánJancsã (Comradições, tensões, con-
mulher Hon'eta acompanhou todos os passos dessa caminhada. flito: a inconfidência baiana de 1798, 1975) e de João Manuel Car-
Todos contribuiram para as eventuais qualIdades que este traba- doso de Mello (O Capitalismo tardio, contribuição à revisio crítica
lho possa ter; pelas deficiências que certamente terá, o Autor é o da formação e desenvolvimento da economia brasileira, 1975) ~ to-
único responsável. São Paulo, 29 de Dezembro de 1972.» dos em curso de publIcação. No mais, procuramos, até onde iam
x Xl
nossas forças, atualizar a pesquisa até as t:ltimas publicações; mas é
claro que sempre será possivel identificar omissões, pois se a arte é
longa, como diziam os antigos, a vicia é breve.
Omissões também de muitas pessoas (amigos, parentes, colegas,
alunos), que, de tantos, fica difictl enumerar; mas que nos estimula-
ram permanentemente a ultimar o trabalho - sua solicitude, às ve- SUMÁRIO
zes, nos pesava como responsabilIdade de co"esponder à expectati-
va. Agora, uma sensação de alívio nos envolve ao nos hberiarmos INTRODUÇÃO. 3
desse compromisso, para enveredar por outros caminhos. Pela longa Capítulo I - POÚTICA DE NEUTRALIDADE. 17
demora, tudo quanto podemos apresentar, à guisa de justificativa, é
relembrar a frase de lI. Borges, no final do prefácio da sua incrível 1. Portugal nas relações internacionaIs na Época Moderna. 17
Historia Universal de la infamia: «Leer, por lo pronto, es una activi- 2. Concorrência colonial e teosões internacionaIs. 32
dad posterior a la de escribir:más resignada, más ci1,tI, más intelec- 3 . Tensões e crise 43
tual». Capítulo IJ- A CRISE DO ANTIGO SISTEMA COLONIAL.

São Paulo, 23/11/1978. 1. Estrutura e Dinâmica do Sistema. 57


a) A Colonização como Sistema. 57
FERNANDO A. NOVAIS b) O «exclusivo» metropolitano. . ....................... . 72
c) Escravidão e tráfico negreiro ............. . 92
2. A crise do coIonialismo mercantilista. 106

CapítuloIlI - OS PROBLEMAS DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA. 117

1. Manifestações da crise ............................ . 117


2. Defesa do paaimôruo . 136
3. Preservação do «exclusivo•............ 174
4. ASSImilação dos estímulos. 198

Capítulo IV - POÚTICA COIDNIAL. . .. 213

1. Formulação 213
2. Execução ........... . 239
a) diretrizes da política comerCIal. 240
b) incentivo à produção. . .................. 254
c) teares e forjas 268
3. Resultados. 28'
a) êxitos. 287
b) frustrações. 294

CONCLUSÕES. . ..... 299


TABELAS E GRÁfICOS. 30'
FONTES E BIBLIOGRAFIA. 393

XII
XIII
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.

Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.

FERNANDO PESSOA - ,Mar Português>.


INTRODUÇÃO

Nos quadros da civilização ocidental, o fim do século XVIII e o


início do XIX aparecem como um desses momentos tormentosos e
fecundos em que se acelera significativamente o tempo histórico: o
movimento revolucionário promove a demolição progressiva do An-
tigo Regime e a construção das novas instituições do Estado da época
contemporânea. Anunciado, sob certos .aspectos, pelas revoluções
inglesas do século XVII, o grande ciclo das revoluções liberais se abre
com a independência das colônias britânicas e constituição dos Esta-
dos Unidos da América (1776), manifesta-se com maior ou menor
intensidade na Grã-Bretanha e Irlanda (1780), nos Cantões Suíços
(1782), nas. Províncias Unidas (1783), nos Países Baixos Austríacos
(1787), para atingir na Revolução Francesa (1789) a sua mais completa
configuração. Todos esses dramáticos acontecimentos se prendem ao
mesmo processo estrutural de ruptura do absolutismo, como pene-
trantemente acentuaram Palmer e Godechot(1), em trabalhos recen-
tes; mas foi indiscutivelmente a França revolucionária que se trans-
formou no centro de expansão do movimento, por ali se ter o confli-
to social radicalizado mais fundo, levando-se a luta às últimas conse-
qüências. Da França, o vendaval se expande para toda a Europa e
para o Novo Mundo(2), com os avanços e recuos t1picos das mudan-
ças verdadeiramente decisivas, e se prolonga até os meados do século

(I)Cf a comunicação de R. Palmer eJ. Godechot ao X Congresso Internacional de


CiênCIas Históricas, nas Relaziom (Florença, 1955). vaI. V. pp. 173-239, especial-
mente pp. 219 segs. R. Palmer - The Age of Democratic Revolution, Princeton,
1959. J. Godechot - ÚJ Gnmde Natzon, l'Expamion Revolutionnmre de la France
dans le Monde. Paris, 1956,2 vs.
"'As «formas de expansão» e de internaCIonalização do pWlesso revolucionário
constituem justamente o tema fundamental de Jacques Godechot em ÚJ Grande

3
XIX. O processo varia grandemente no tempo e no =spaço, mas DO . E de fato, a ~nálise da política colonial portuguesa relativa ao Bra-
conjunto todo o arcabouço do velho regime político e social é revol- sil n~ suas últunas ~t~pas permite situarmo-nos numa posição ver-
vido, e a pouco e pouco se transfigura a paisagem do mundo ociden- dade1!am.ente ~Strateglca(5) para repensar aqueles diferentes aspec-
tal: é efetivamente uma nova fase da história que se inaugura. tos e tentar artIcular as conexões entre os diversos níveis da realidade
Eruuturalmente vinculado às antigas formas de organização palí·, nAaquele m0rr.tento histórico. Concretamente, a política relativa à co-
tica e de exploração econômica, parte integrante e indissolúvel do loma se manifesta como resposta aos problemas efetivos que a ma-
Antigo Regime, o sistema colonial do mercantilismo(3) não poderia nutenç~o e a exploração do ultramar apresentavam à Metrópole.
escapar a esta subversão generalizada que tudo transformava. Foi Or~,. taIS problem~ são na realidade a manifestação, no plano da
aliás na periferia do sistema que o primeiro elo se rompeu; a revolu- pratICa, d~ mecanIsmos estruturais profundos que atuavam no con-
ção que independizou a Nova Inglaterra da Velha Metrópole é o pri- Junto ~o S1St.ema e promoviam, nessa fase, reajustamentos funda-
meiro abalo na estrutura aparentemente tão sólida do colonialismo mentaIS. Assim, o exame desses problemas nos conduz à análise es-
moderno, e dá o exemplo da criação das novas instituições políticas. tru~ral, o que nos obriga a reportarmo-nos ao processo geral acima
Envolta a própria Europa no processo revolucionário, em meio a refeCldo. Por outro lado, é necessariamente no aparato mental da
inextricáveis contradições sociais e nacionais, afrouxam-se os laços de é~ que ~ dirigentes metropolitanos se vão inspirar, para, aperce-
vinculação que prendiam as colônias ultramarinas às metrópoles eu- bIdos com IOstrumentos de análise da realidade, elaborarem os es-
ropéias; e finalmente corisuma-se a separação, as colônias tornam-se qu~as de ~ão que se co~riftcam nas normas efetivas levadas à
independentes, e o Antigo Sistema Colonial se dissove<4). Eno qua- pranca. E. mat.S uma .ve~ amplta-se nosso quadro de referências, ago-
dro desse processo global que o Brasil emerge no mundo como nação ra no UnIverso das ldélas que exprimem a tomada de consciência
soberana, e é em conexão com todos os seus aspectos que poderemos ~ossível. do rnoviIpento mais geral das transformações do fun do an-
compreender essa' etapa fundamental da nossa história. ugo r~gune. Auavés de dois caminhos, fKmanto, estabelecem-se ne-
E daro que o panorama acima descrito indica sàmente as linhas cess~fl~ente as conexões entre o fenômeno particular objeto da in-
mestras do processo no seu conjunto, e que para pensarmos a última vesngaçao e o processo geral de que é pane inseparável.
fase do período colonial do Brasil temos de levar em conta a peculia- Se, porém, a perspectiva em que nos colocamos leva-nos a estabe-
ridade da posição e da situação de Portugal e do mundo colonial lecer relações mais amplas a partir do objeto que temos em mira, não
português, é necessário descobrir e analisar todos os elementos que se tor?a menos n~cessár!a a delimitação precisa do tema e do campo
medeiam entre esta situação concreta e específica e o processo geral e propnamenr: .de IOvest1~ão emp~ica. Esta diz respeito especifica-
mais profundo do movimento histórico. Foi contudo inspirados por men~e à polt~lca ultramarIna e maIS particularmente à política eco-
estas preocupações que procuramos definir e circunscrever o nosso nômica colontal.da meuópole portuguesa, relativa ao Brasil, no pe-
objeto de investigação. ríodo que medeIa e?tre o consulad.o pombalino e a abertura dos por-
ros (1777/1808). Situamo-nos, poIS, na área da história da politica
Na/ion (d. t. 1, pp. 42 segs.); é claro que a revolução só se expande aonde encontra econômica, e talvez não seja excessivo lembrar, com Heckscher<6),
condições de receptividade. que um. estudo desta natureza não tcm em vista o desenvolvimento
(lJA posição do sistema de colonização no quadro do capitalismo comercial e da
pol1tica mercantilista será analisada maiS adiame. econômIco como .t~, embora não possa deixar de reportar-se a ele a
i 41Não queremos, evidentemente, com ISSO dizer que, com o advemo da emanci· cad~ .passo. An~lt1camente, é legítimo destacar este segmento - a
pação política, tenha desaparccido o caráter dependeme (.colonial:.) da vida úonô. pohtlca econôfilca - do processo global, para focalizá-lo mais de
mica das amigas colônias: ele assume, porém, novas formaS. Veja·se a análisr das
..fases e formas dr dominação extrrna.. , em Florestan Frrnandes . Capi/gJúmo de· (jJ., ••• toda política cconômica governamental, considrrada tanto em nível ideoló.
pendente e c/asJes sociais na AméncalAtma. Rio de Janeiro, 197 J. pp. H·20. Taro· gico como p~tico, pode ser encarada como manifestação particularmente privilegia_
bém Hccto[ Malavé Mota ·.«Reflexões sobre o Modo de Produção colonial lalino· da das relaçoes enue Estado e Economia_. Octavio Ianni . Estado e Planejamento
americano.. , in Aménca Colomai: EnsaIOS, org. por Theo A. Santiago. Rio deJaneJ· Econômico, Rio de Janeiro, 1971, p. 3.
10,1975, pp. 144-148. (6)Eli F. Heckscher . lA éPoca mercantüúta, trad. esp. México, 194 J , p. J e s~gs.

4
5
a literatura histórica da colonização européia do período fmal do mer- Celso Furtado), como no recente empreendimento coletivo de His-
cantilismo está aí pressuposta, e é evidente que os riscos de não conse- tótja Gerai. da Civiliztlfão Brasileira(14). O período que temos em
guir abarcá-Ia toda são inevitáveis. Todas estas dificuldades, de que mu:a~ rel~tlvamente pouco estudado nos seus aspectos econômicos e
somos conscientes, não nos dissuadiram porém de tentar a empresa, SOCIaIS, situa-se portant~ entre ?ois momentos assaz trabalhados pe-
convencidos que estamos da relevância do assunto e da riqueza do pe- lo esforço de reconstruçao e de mterpretação histórica. Assim, conta-
ríodo sobre o qual dirigimos o nosso esforço de interpretação. ~os com amplo quadro de ref~~ laterais, e talvez nos seja pos_
Efetivamente, as datas com que balizamos o nosso estudo delimi- SIVel repensar problemas e redtscutlf esquemas interpretativos cor-
tam um momento sobremaneira fénil para a investigação e reflexão rentes na historiografia luso-brasileira.
históricas. De um lado, 1777 marca o término da administração do . M~ nâ? é apenas esse inter~e, diríamos acadêmico, que torna
marquês de Pombal, com as mudanças de rumo conseqüentes do Significativo o momento·esco1htdo e o tema focalizado. É nas suas ca-
ftm do ..consulado.; no outro extremo, a abertura dos portos do racterísticas internas, no alcance de suas experiências nos vários cam-
Brasil (1808) que se seguiu imediatamente ã vinda da corte para a pos de atividade, nos problemas enfrentados e nas soluções alvitra-
América, e a ruptura do pacto colonial aí implícita. Entre um e ou- das ou tentadas que se encontra a relevância do período em questão.
trO marco, o reinado de D. Maria I e pane da regência do Príncipe Na historiografia portuguesa, o reinado de D. Maria I se tem consi-
D. João, período complexo e não muito estudado nas historiogra- derado muitas vezes como uma etapa tipicamente retrógrada, em
ftas portuguesa e brasileira. De fato, as atenções dos estudiosos se que se anulam as conquistas econômicas, sociais e políticas de Pom-
têm voltado preferentemente, seja pal'd. a época pombalina, seja para bal; é pois o caráter anti-pombalino do reinado que se destaca como
o reinado americano do D. João VI(IO). Para marcar a persistência sua marca essencial, e neste sentido parece que as cenas da ..viradei-
dessa orientação bastaria lembrar, em Portugal, os trabalhos mais re- ra. impressionaram demais as gerações subseqüentes e Os historiado-
centes de Jorge de Macedo sobre a economia portuguesa no tempo res não se conseguiram libertar desses espectros. Esta perspectiva,
de Pombal ou o belo livro de José-Augusto França sobre a lisboa que vem da historiografia liberal, tende a enfatizar o conteúdo emo-
pombalina(ll) e, entre nós, os trabalhos dos professores L. Ramos de demo. e ilustrado do governo pombalino, no sentido da centraliza-
Carvalho e M. Nunes Dias(12). D. João VI sempre foi muito querido ção do poder e da modernização das estruturas ponuguesas(l5). A
entre os brasileiros, como já notava Oliveira Lima na abertura do seu corrente oposta, de uma historiografia que nesse sentido se poderia
clássico D. João VI no Brasii<13), e a nossa historiografta reflete bem chamar conservadora, vê pelo contrário neste ftm de século XVIII o
essa atitude; esta etapa de nossa formação é destacada tanto nos tra- período por excelência da restauração da antiga monarquia, na sua
balhos de história econômica (Roberto Simonsen, Caio Prado Jr., especificidade lusitana, com o respeito às leis fundamentais e tradi-
cionais do reino, recolocando a vida nacional nos seus verdadeiros
{IOJCedemos à tentação de aproximar o belo trecho de Paul Hazard: ..... nous nous trilhos, de onde a desviara o ..despotismo.. e o «absolutismo.. do vigo-
sommes engagés dans des [erres mal connues. On étudiai[ beaucoup le dix- roso marquês(I6). O que importa fixar dessas duas perspectivas anta-
septiême si&:le, autrefois; on étudie beaucoup le dix.huitieme siecle, ajourd'hui. 14
1 1Cf. História Geral da Civilização Brasileira, dir. por Sérgio Buarque de Holan-
A leurs confins s'étend une zone incertaine, malaiseé, ou 1'on peut espérer enrore
découvenes et aventures ...• lA Cnse de la Conscience Européenne (1680-1715). Pa- da, São Pa~lo, 1960, t. 11, vol. 1(1962), PP, 9-135,Sobre a abertura dos portos: Pin_
ris, 1935, p. V. to de Aguiar - A Abertura dos Portos do Brasil. Salvador, 1960, e Wanderley Pi_
(l1JCf. Jorge de Macedo - A Situação Econômica no Tempo de Pombal, Pano.
nho - A Abertura dos Portos, Salvador, 1961.
1
1. )1:'- matri~ desta perspcctjv~ é sem dúvida a luminosa História de Portugal de
1951. José Augusto França. Une Ville des Lumier(!J; la lisbonne de Pombal, Paris,
1965. Ed. porruguêsa: Lisboa Pombalina e o IIuminismo.lisboa, 1965. C?!JvC1fa Maruns (cf ed. 19S1, Lisboa), t. 11, pp. 229 segs. Na mesma Iinha,].M. la_
(12)Cf. L. Ramos de Carvalho - As reformas pomba/inas da Instruçilo Pública, São
tino Coelho· História Política e Militar de Portugal, 2~ ed., Lisboa, 1916, 3 vs. O
Paulo. 1952. M. Nunes Dias· A Companhia Geral do Grilo-Pará e Maranhilo historiador por excelência do Constitucionalismo em Portugal _Luz Soriano _escre-
(1755-1778), São Paulo, 1971. veu também a história do reinado de D. José I e da administração do Marquês de
Pombal.
(l3)M. de Oliveira lima - D.]oiJo VI no Bra.JiI (1808-1821), 2L ed., Rio deJaneiro,
1945, t. I, p. 17, 116lExemplo: FortunalO de Almeida, Hútóna de Portugal (Coimbra, 1922,6 vs.),
t. IV (1927). Cf. igualmente a HIstória Breve de Portugal (Lisboa, 1960) de Caetano

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gônicas é que o conteúdo essen~ do reinado. é para ambas o mesmo, tentam-se as soluções intermediárias inspiradas pelo reformismo
variando apenas a valoração positiva ou negattva que se empresta a es- ilustrado do fim do absolutismo. Sob este aspecto, o reinado de D.
se mesmo conteúdo. Ora, precisamente a caracterização é que se nos Maria I apresenta-se, pois, mais bafejado pelas Luzes do que o perío-
aflgura discutível; nem é difícil de perceber o caráter enviesado de do anterior. Ê todo,um difuso programa de reforma que se preconi.
ambas as posições acima referidas. Enviesamento desde logo não de za, um esforço mais ou menos dramático de reajustamento às ten-
todo destituído de vantagens, pois alguns desvãos mais reronditos da dências dominantes, com vistas à dinamização da economia e vitali-
realidade somente assim se desvendam. Mas indiscutivelmente o que zação da sociedade, sem contudo atingir as suas estruturas funda-
se impõe é wna superação dessas imagens até certo ponto distorcidas, mentais: reformismo típico e de resto ineflcaz. Nem o projeto pôde
numa tentativa de compreender este momento da vida histórica com efeito amadurecer plenamente e objetivar-se em profundidade.
luso-brasileira(17). Alguma contribuição para esta ultrapassagem de alcançado o país pelas hostes napoleônicas, produtos elas próprias
perspectivas já antiquadas pode talvez oferecer a análise da pol1tica dós desdobramentos da revolução liberal em curso. Do consulado
colonial da época, pois nela se refletem substancialmente os proble- pombalino à vinda do Príncipe Regente para a América transita-se
mas mais profundos da economia e da sociedade portuguesa. nas águas revoltas da crise geral do Antigo Regime e do sistema de
Nos domínios da historiografia brasileira, por sua vez, o reinado colonização mercantilista.
de D. Maria I é, via de regra, encarado, sob o impacto do alvará proi- Transição, já se disse com alguma propriedade, é tudo em histó-
bitório das manufaturas têxteis e de repressão da Inconfidência das ria, a ponto de a própria história poder definir-se como o estudo da
Minas, de forma muito desfavorávçl. Mas às vezes não se levam em transição a.Ortega y Gasset). Se, de fato. se quer indicar a inexis-
conta os demais atos da política colonial deste peródo, e quase sem- tência de limites radicais, o inexorável e'ntrelaçar-se dos aconteci-
pre se deixam de procurar as relações com a situação efetiva de Por- mentos no curso da história, a permanente coexistência de formas
tuga' sua posição no conjunto do sistema de exploração colonial da transatas com antecipações ainda não concretamente definidas, a
economia européia, e ainda mais a ameaça de ruptura do Antigo Re- afirmação ganha sentido e exprime um dos traços essenciais da reali-
gime que ronda todo este período. O consulado pombalino, cremos. dade histórica. E no entanto, para certas épocas mais do que para
pode ser encarado como o mais sério esforço levado a efeito pela me- outras, a própria sensibilidade e a tradição do pensamento historio-
trópole portuguesa para pôr em funcionamento a exploração econô- gráfico vem revelando não ser desapropriado falar em uansição e cri-
mica do ultramar e o concomitante desenvolvimento da economia se. É que, não obstante aquela inextricável interpenetração acima re-
metropolitana, em moldes mercantilistas clássicos. No extremo ferida, o desenrolar da história é periodizado por estruturas globais e
oposto, a abertura dos portos do Brasil - por mais que circunstân- profundas. geradas na inevitável' relacionação dos homens entre si na
cias momentâneas tenham pesado na determinação. a medida foi ir- prática de sua vida histórica. e que passam a configurar o quadro de
reversível e é isso o que importa - marca, como já contemporanea- possibilidades em que se desenvolve a própria história; tais estrutu-
mente assinalava JOSé da Silva lisboa, a suspensão do Sistema Colo- ras não cedem lugar a novas formas de convivência senão auavés de
nial(I8). Do pleno funcionamento à ruptura inicial do sistema. um processo de ruptura de suas uaves básicas, o que imprime inexo-
ravelmente maior ou menor aceleração no ritmo do tempo histórico.
Beirão. Já o livro de maior romo desse meSmo autor (D. Maria I, 4~ ed., Lisboa, Tais acelerações, como indicou M. Dobb. são as revoluções verdadei-
1944), apesar de elaborado nesta mesma perspectiva, apresenta contribUIções positi-
ramente significativas da história(I9). A esses momentos que me-
vas que procuraremos destacar.
(I ')Yisão equilibrada, para além das limitações aóma referidas, só deparamos nas ções estrangeiras, e a repentina extinção do SIstema ColoOlal. _~ Memória JlJbre os
rápidas considerações de Antônio Sérgio sôbre o perJOdo, na estimulante Húfória meios de melhorara indústria porlugueza, Lisboa, 1820, p,p. 5-6. Em 1839. Hora-
de Portugal (Barcelona, 1929), pp. 159-161. Também na mais recente síntese de A. ce Say: .Ce denet si simple, si oacurel. conteoait à lui seul toute une révolutioo:
H. de Oliveira Marques _ História de PorlugalLisboa, 1972,2 vs.Yol I, p. ')13 segs. c'était pour le Brêsil la fio du régime colonial exdusif•. HÚ/Olre des rela/lOm com-
(181osé da Silva Lisboa _ Memória sobre os beneficios políticos do governo de FI mercwes entre la France ti le BrésiJ, Paris. 1839, p. IR.
Rey Nosso Senhor Dom Joiio VI, Rio de Janeiro, 1818, p. 66. No mesmo sentido, (l9)Cf. Maurice Dobb - Studin In lhe Developmenl of Capitalirm. 6" ed., lon-
em Portugal, José Acúrsio das Neves: •... a 1.benura do oommercio do Brasil às na- dres, 1954, pp. li segs.

10 11
deiam entre as últimas manifestações das estruturas internas em seu até 1834; é na legislação de Mousinho da SilveIra que se situa o seu
pleno funcionamento e a precipitação das transformações que indica passo decisivo(22). O período de transição situa-se, pois, repetimos,
a substituição do quadro estrutural, quando é possível demarcã-los na fase que antecede a etapa propriamente revolucionária; nele se
ainda que com a relatividade de toda periodização em história, tentam soluções até ceno ponto novas, numa alternativa pouco cons-
parece-nos legítimo chamar épocas de uansição(20). Dessas é. tanto ciente às ruptwas violentas, abandonando a orientação integrada e
quanto fomos capazes de apreender seu sentido, a época que va· ortodoxa das etapas anteriores em que o processo ainda não está sen-
mos estudar. sivelmente afetado pela crise de estrutura. Daí o caráter hesitante e
Não se passa, entretanto, da análise dos mecanismos estruturais à mesmo contraditório dos homens desse penodo e da história que
dos eventos - que é onde se acelera o tempo histórico - direta e eles fazem, contrastando com a coerência sistemãtica do peflOdo
imediatamente; isto importaria numa necessária deformação da rea- anterior. Reformismo ilustrado e rupturas revolucionárias, assim,
lidade reconstruída. Torna-se imprescindível identificar e escalonar encaradas em conjunto, aparecem como alternativas possíveis do
as múltiplas e variãveis mediações através das quais os movimentos processo mais geral de mudanças estruturais; historicamente, essas al-
de estrutura emergem na superfície dos acontecimentos(21). Esta é ternativas se manifestaram com extraordinária variedade no tempo e
precisamente a tarefa do historiador, naquilo que tem de mais fasci- no espaço, aqui conseguindo o movimento de reformas maior persis-
nante e dif1cil. De fato, a comunicação entre os v~ios níveis da reali- tência e mais êxíto, ali nem sequer iniciando as transformações; re-
dade se faz de maneira progressivamente complexa e ampliando as formas executadas são às.vezes suprimidas, voltando-se à estaca zero,
possibilidaaes de variações na medida que se aproxima da conduta e assim por diante. Por isso. a própria possibilidade de delimitar
efetiva dos homens na torrente dos acontecimentos; por outro lado, uma etapa reformista de transição é maior ou menor segundo os paí-
cada manifestação concreta estabelece novos elementos, redefmindo ses que se têm em vista. De qualquer forma, a todas essas numerosas
o conjunto. Assim, torna-se extremamente difícil acompanhar todos e variáveis manifestações históricas dã sentido o persistente mecanis-
os movimentos e estabelecer todos os passos da análise. Tentaremos, mo básico de transformação da estrutura fundante do Antigo Regi-
contudo, nesta perspectiva, caracterizar o conjunto das medidas que me e do capitalismo comercial, e a emancipação das colônias é pane
configuram a política colonial do fim do século XVIII e in1cio do desse todo.
XIX em Portugal, relativamente ao Brasil, como elemento de um Crise do sistema colonial é, ponanto, aqui entendida como o con-
contexto muito mais amplo; da1 a necessidade de insistirmos nestes junto de tendências políticas e econômicas que forcejavam no senti-
esclarecimentos introdutórios. Se, portanto, com o que levamos dito do de distender ou mesmo desatar os laços de subordinação que vin-
se vai caracterizando a transição inerente ao período em estudo. d" culavam as colônias ultramarinas às metrópoles européias. Elas se
vemos acrescentar que o período propriamente revolucionário, em manifestam no bojo da crise do Antigo Regime, variando e
Portugal, se inicia com a convulsão das invasões francesas, mas só se reajustando-se ao ritmo daquela transformação. Isto significa, desde
manifesta plenamente na revolução liberal de 1820, prolongando-se logo, que tal crise pode perfeitamente coexistir com uma etapa de
(2°>Num sentido muito próximo. Tocquevillc: «Cc n'est pas en a1lant de mal en
franca expansão da produção e do comércio colonial, como é o caso
pis que I'on tombe cn révolution. 11 arrive Ic plus souvent qu'un peuple qui avait
do sistema colonial português desta época. Na perspectiva mais ge-
supponé sans se plaindre, ct comme s'il ne les sentait pas, les lois les plus accablan· ral, o antigo regime - mais rígido ou mais flexível de país para país
tes, les rcjcue violenmént dês que Ie pois s'en allege. te régime qu'une révolution representava o quadro institucional que permitiu a formação e cris-
détruit, vaut prcsque toujoues mieux que celui qui I 'avait immédiatement précedé, talização da etapa mercantil do capitalismo (capitalismo comercial);
et I'cxperience apprend que le moment le plus dangereux pour um mauvais gou- a dirrãmica própria do desenvolvimento capitalista, por seu turno,
vernement est d' ordinairc celui ou il commence à se réformeu. L 'Anelen Régime el
ao ampliar as áreas de ação, intensificar o ritmo de crescimento eco-
/a Rél'oIulion, Paris, 1952, p. 223 (Tomo li das OeUl'Tn Complites de Alexis Toc-
queville, ed. por). P. Mayer).
(22JCf. Alexmdre Herculano - «Mousinho da Silveira ou la Révolution PorrugaJse..
(21J a.)can Paul SaUre _ Questão de Método. Trad. porto S. Paulo, 19~6, pp. 34
scgs. (1856), Opúsculos, t. lI, pp. 167-216.).P. de Oliveira Martins - Portugal Contem-
porâneo, (ed. de 1953), Lsboa. t. lI, pp. 151·194.
12 13
nômico, tende a promover constantes reajustamentos. Antigo regi- sistema. Em 1776 publica-se, também, significativamente, a Rique-
me, política mercantilista, sistema colonial monopolista são portan- za das Nações de Adam Smith, pedra angular da nova economia po-
to elementos da mesma estrutura global típica da Época Moderna, lítica. Na Espanha, 1778 é o ano da decretação da ordenança do co-
dinâmica no seu funcionamento que se reajusta passo a passo. & te- mércio livre, reformulação da política comercial do sistema de colo-
voluções inglesas do século XVII foram, como procuraremos indicar nização espanhola. Toda essa convergência marca a vinculação co-
adiante, um momento decisivo desses reajustamentos, colocando mum ao mesmo substrato de mudança de estruturas, e nOssa tarefa
bases para a Inglaterra se avantajãt na competição com as demais po- fundamental será tentar esclarecer a maneira pela qual a metrópole
tências; conquistando um corpo institucional mais flexível - mas, portuguesa e o Brasil colônia são envolvidos nas malhas desse 'movi-
quanto a n6s, ainda dentro dos quadros de possibilidades do antigo mento geral de crise. Em suma: Portugal e Brasil na crise do antigo
regime, - a Grã-Bretanha se equipa nesta fase para acionar mais vi- sistema colonial.
gorosamente seu desenvolvimento, e gradualmente vencer as com· Para situá-los neste contexto, nossa.análise terá que se desenvolver
petidoras. Tal processo de desenvolvimento adquire, no entanto, em dois níveis - no universo mais geral dos mecanismos estruturais
um ritmo substancialmente mais rápido com as transformações da que afetam todo o sistema e no plano mais particular e concreto
segunda metade do século XVIII inglês, que deram lugar à consti- quando focalizarmos a política colonial praticada pela metrópole
tuição do capitalismo industrial: a concorrência econômica e as rela- portuguesa na colônia brasileira. Nesta linha, procederemos inicial-
ções internacionais passam a configurar um quadro de agudas ten- mente a uma caracterização da posição que Portugal, e com ele o ul-
sões a exigir adaptações mais profundas. tramar português, vai assumindo no quadro das relações internacio-
Ê de extrema importância acentuar, neste passo, que Portugal não nais do século XVIII, para configurarmos os caminhos de penetração
está de forma alguma no centro desse processo. Pelo contrário, dos movimentos de fundo no sistema de colonização portuguesa.
apresenta-se grandemente defasado em relação aos demais núcleos Esforçar-nos-emos, em seguida, em empreender a análise do antigo
da economia européia. Isto, porém, não o exime de englobar-se no sistema·colonial do mercantilismo, para desvendar os mecanismos de
curso dos movimentos gerais, que, dos centros de difusão se expan- seu funcionamento básico, o sentido que lhe dá a sua posição fun-
dem para as demais áreas; mas sem dúvida a crise, projetando-se de cional na tecitura do capitalismo mercantil em desenvolvimento na
fora para dentro, assume aqui, nas suas manifestações, no seu enca- Europa, e as tensões que no seu conjunto imprime a eclosão do indus-
minhamento e mesmo no desfecho [mal, forma peculiar que importa trialismo moderno, O passo seguinte será acompanhar o movimento
explicitar. Tanto no nível econômico quanto no plano das relações desse processo nas suas manifestações concretas: no nível da concor-
políticas internacionais, Portugal e o ultramar português, interde- rência econômica colonial e da competição no jogo das relações inter-
pendentes e inseridos, pelo comércio, nos mecanismos centrais do· nacionais; estabelecida essa base, cumprirá estudar a tomada de
desenvolvimento econômico, e integrando o sistema político do consciência desses problemas pela meu6pole, o esforço de equacio-
equilíbrio europeu, não podem escapar a este movimento de longo namento que se expressa na política colonial concretizada nas nor-
curso e grande profundidade. Se a proclamação da independência mas positivas da legislação referente à colônia, para finalmente des-
dos Estados Unidos da América (julho 1776) pode considerar-se co- crever e explicar o encaminhamento geral do processo. Situado Por-
mo o marco da abertura do longo processo de desintegração do Anti- tugal fora dos centros propulsores dessas grandes transformações, a
go Regime e de superação do Antigo Sistema ColoniaJ(23), em Por- maior dificuldade estará sem dúvida na apresentação das metamor-
tugal o início do reinado de D, Maria I (fevereiro 1777) e a subse- foses que inevitavelmente sofrem esses processos ao 'atingir estas
qüente queda do Marquês de Pombal assinalam por sua vez nova áreas limites do sistema; porisso, como já indicamos, localizar a posi-
etapa, que se vai desenrolar em meio à conjuntura de crise geral do ção de Portugal no quadro das relações internacionais da época é ne-
cessariamente o nosso ponto de partida.
(HlRaynal, com~mando a ~mancipaçâo: d.es colonies ~raitent ~n droir d~ se sépa.
rer de leur métropole.» "Le nouve! hemisphére doit se déracher un Jour de I'an·
cieo ... » Histoire ... deJ deux Indes. ed. de Genebra, 1780, iV. pp .."->0 e -Í.'i.'.

14 15
CAPÍTULO I

POLÍTICA DE NEUTRALIDADE
1) Portugal nas relações internacionais da Época Moderna

À primeira vista, afigura-se paradoxal que Portugal e Espanha te·


nham conseguido preservar seus extensos domínios ultramarinos
depois da perda da hegemonia ibérica e ascensão das novas potências
preponderantes no quadro europeu e do desenvolvimento da compe-
tição colonial. Efetivamente, tendo realizado com precedência etapas
decisivas da unificação nacional e da centralização política da monar-
quia absolutista, os países ibéricos - sobretudo Portugal - puderam
marchar na vanguarda da expansão marítima que redefiniu a geogra-
fia econômica do mundo e marcou a abertura dos Tempos Moder-
nos( I); tal empreendimento permitiu-lhes situar-se vantajosamente no
contexto internacional desta fase, abrindo caminho para a preJXlode-
rância espanhola que se inaugura com a Paz de Cateau-Cambrésis
(15'.>9) e se consolida com a União peninsular de 1580, Supremacia,
aliás, que é posta em xeque pela emergência das novas potências
(Inglaterra, França), que, na medida em que se organizam interna-
mente como monarquias unitárias, entram a competir na Europa e no
ultramar com o Império Espanhol; e sobretudo pela insurreição dos

(11«0 descobrimento da Am~rica e das passagens para as indias Oril'ntais pelo Ca-
bo da Boa Espl'rança são os dois maiorc:s e mais importantl's aconteciml'ntos dI' quI'
SI' rl'corda a história da humanidadl''', escrevl'u Adam Smith (Weaith of NaúonJ,
ed. Cannan, p. ~90), quI' SI' inspirou I'm Raynal: «Não houvl' aconteciml'nw tão in-
teressante para a c:sp~cil' humana I'm geral, I' para os povos da Europa em panicu-
lar. quanto o descobrimento do novo mundo I' da passagem para as Indias pdo Ca-
bo da Boa Esperança~_ (Cf. HiJloire ... dn Deux InJeJ. ed. de Genebra. 1780, t. I.
pp. 1-2).

17
Países Baixos que se constituem em potência concorrente ao mes- XVIII: apoiando-se"nas duas maiores potências em permanente riva-
mo tempo Importando numa secessão terruonal dos domínios hah" lidade e conflito ao longo de Setecentos, sobreviveram os impérios
burgos(2). A poslçãp l!f:,gemôni"a cio Impé-no Espanh?l. manteve-se, coloniais ibéricos. Tal equilrbcio pôde persistir enquanto durou o ca-
contudo, até os meado" do "énllo XVII (tratado dos Pumeus, 1659), pitalismo comercial como forma dominante da vida econômica; só a
mas a desagregação Inlerna. marcada pela constelação de revoluções Revolução Industrial exigiria reajustamentos políticos mais prúfun·
que se desenrolaram por volta de 1640 (res.tauração portugue~a, dos(').
guerra da Catalunha, rebelião de Nápoles, conjuração da AndalUZIa) No que diz respeito mais panicularmente a Portugal, nosso foco de
comprometeu definitivamente a supremacia pol1tica da Espanha(3). interesse, releva notar que, nessa transição, desloca-se o eixo dinâmi-
A partir de então, se a influência da civilização hispânica ainda se co de sua economia imperial, reorganizando~se o seu quadro geo-
prolonga, ~o que diz respeito à preponderância política e à vida eco- econômico, que, de base predominantemente oriental, passa:;l defi-
nômica está aberta a rota da decadência. O equilíbrio das relações po- nitivamente atlântico(5). E foi essa concentração de esforços num se-
l1ticas internacionais se organizava em tomo de outros centros, F:an- tor, com recuó no antigo centro de atividades, que permitiu Íl pe-
ça e Inglaterra; as novas potências assumiam definitivamente a dlan- quena metrópole manter e mesmo expandir a área de sua ação colo-
teita no desenvolvimento econômico e no movimento das idéias, pas- nizadora_ Por outro lado, a diplomacia portuguesa, diante das difi-
sando as monarquias ibéricas a potências de segunda ordem. A deca- culdades sem conta com que se defrontava depois da Restauração,
dência da Espanha na segunda metade do século XVII é melancólica procurou constantemente ceder no terreno das concessões comerciais
e desemboca na guerra de Sucessão. a fim ele manter a integridade territorial das colônias ultramarinas,
E não obstante, salvam-se os domínios coloniais, pelo menos na sobretudo dos dorrímios da América. Assim, as vantagens advindas
sua maior extensão. Para compreendê-lo, o próprio processo de de- da exploração colonial passam a se constituir em moeda no jogo das
sintegração política do Império Espanhol, na Europa, já nos indica o relações internacionais de Portugal. Destane, pela sua inserção no
caminho: resultou da interação de pressões externas (o fortalecimen- sistema das alianças européias, explorando frequentemente com
to das outras potências) com as seccessões endógenas. Destas insu- muita habilidade os' conflitos entre as grandes potências, através de
bordinações ao jugo de Castela, algumas se frustraram (Catalunha, cedência de privilégios comerciais, na metrópole e no ultramar, de
Andaluzia), outras se concretizaram (independência dos Países Bai- um lado, e de outro, reorganizando o espaço de sua ação pol1tica e
xos, restauração portuguesa); daí rearticular-se o sistema de alianças econômica, pôdq..portugal superar uma fase particularmente difícil
na pol1tica internacioC!.aL Na medida em que se enfraquecia o pode- de sua história, mantendo a independência e preservando a maior e
rio espanhol, Ponugal restaurado encontrava apoio nas potências melhor porção de seus domínios ultramarinos - e é nessas condições
que disputavam a supremacia. A pouco e pouco, e na medida sobre- que se abre o século XVIII para a nossa história. Em suma, persistên-
tudo em que as potências em ascensão (Holanda, França, Inglaterra) cia da aliança inglesa e economia atlântica são os elementos defini-
competiam também umas com as outras, ia se caracterizando o siste- dores da nova situação.
ma que se consolidou no término da guerra de Sucessão espanhola A aliança inglesa tinha raizes antigas em Portugal, remontando
(1713): Portugal cada vez mais se prende à aliança inglesa, a Espa- mesmo à pdmeira dinastia(6). Com a ascensão dos Aviz, o tratado de
nha se apoia na proteção da França, selada com a instalação da dinas- (4J O. Caío Prado Jr. - História EconômIca do Brasd, 3 a ed., S. Paulo, 1953, pp.
tia bourbônica no trono espanhol. E este sistema de alianças que 125-128.
permite a Portugal e Espanha resguardar os respectivos domínios no OJcf. Frédtric Mauro - Le Portugal etl'Atlamique. au XVIl Siecle, Paris, 1960,
Ultramar, marcos da antiga hegemonia, durante todo o século pp. 1-8.
(6)0. José de Almada - A Aliança ingleJa. 5ubJÍdios para o Jeu estlido, Lisboa,
(2JCf. H. Hauser _ La préPondérance espagnole (1559-1660), 5A ed., Paris, 1948, 1946 2v. A. M. Guedes - A Aliança Inglesa, notllJ de história diplomática, usboa,
pp. 114-182. 1938. Síntese mais recente do aSsunto, in «As relações de Portugal çam a
OlCf. E. d 'Oliveira Fntl.\~ _ POrIu.;,J.. na Época da Restauração, S. Paulo, 1951, p_ Inglaterra., verbete de A. Âlvaro Dória no Dicionário de História de Portugal, dir.
12. porJoel Senão, vol. 11, pp. 544-549.

18 19
Windsor (1386) consolidou as boas relações. prevendo favores co- Espanha, intervinham CIrCunstânCias desfavoráveis ao bom anda-
merciais recíprocos e dispondo sobre a mútua defesa{7l. Mas é sobre- mento das. alianças. É sabido como a França, sob Richelieu e depois
tudo no quadro de tensões que se seguem à Restauração de 1640, sob MazarlOo, e~ meio à última fase da guerra dos 30 anos contra os
Hab~burgos ?e .Ausuia e de Espanha, procurou e conseguiu tirar
com a prolong~da guerra para manter a independência recobrada,
paru~o da Ctlse IOterna do Império Espanhol( 11): nessas condiçôes, a
que a presença mglesa assume a forma característica que domina no
século seguinte: a troca de aliança e mesmo proteção política por rebe~lão da Catalunha e a secessão portuguesa são estimuladas pe-
vantagens comerciais crescentes. Em ambas as crises nacionais - la diplomacia de Paris. Os enrcndimcnws franco-portuguêses de-o
138.3,.1640 -'o em que a aut~nomia lusitana em face da Espanha senrolaram-se em meio a este jogo complexo de interesse, e cami-
penclttava, a altança mglesa fOi procurada para montar o dispositivo nhavam com dificuldade; a liga formal, desejada pelo governo da
diplomático e militar de apoio externo. Porém, as diferenças entre os Restauração, não chegou a consolidar-se, e Portugal ficou à margem
d~is momentos críticos são mais significativas que as semelhanças. A
das conversações oficiais de Münster e Osnabcück, e pois, dos trata-
cnse de 1383 não se resolveu apenas pela ascensão de nova dinastia, dos de Westfália(l2). Entre 1648 e 1659, isto é, entre o congresso de
antes implicou numa revolução social profunda, configurando um Westfália e a Paz dos Pirineus, enquanto prosseguia a guerra da Res-
paint !ouman! decisivo na história de Portugal(8): é então que se tauração Portuguesa de um lado e de outro se consolidava a prepon-
criam os pré-requisitos sociais e políticos da expansão ultramarina. O derância. francesa na Europa, as relaçôes entre Portugal e França não
mov.imento. restaurador de 1640 não teve nem de longe' o mesmo conseguiram alcançar nível superior ao d0 período antecedente; e
senudo sOCIal, nem repercussões tão fundamentais. Foi obra da no- destarte Portugal ficava mais uma vez alijado das negociações de
breza desencantada da monarquia dual(9). As condições interiores se paz(13). Com as Províncias Unidas dos Países Baixos, tentou igual-
juntam, pois, à situação internacional; e nesse quadro, torna-se mente o go~erno da Restauração uma aliança anti-espanhola; aqui,
compreensível que a diplomacia de Portugal restaurado procurasse a porém, as difIculdades eram ainda maiores, dada a ocupação holan-
todo o custo alianças junto às novas potências que disputavam vito- desa do Nordeste brasileiro. Era o ônus da União ibérica a pesar so-
riosamente à Espanha a posição de centro dominante da vida política bre o Portugal Restaurado, e o mais que se conseguiu no tratado de
européia. As Províncias Unidas dos Países Baixos, a França e a Ingla- 1641 foi um decênio de tréguas no ultramar, além de promessas de
terra são, assim, os alvos principais da diplomacia da Restauração, ao ajuda na guerra européia contra a Espanha, tudo isso acompanhado
lado da Santa Sé(lO). de concessões comerciais nas possessões ultramarinas portuguesas.
Laboriosas negociações são desde logo entabuladas, mas é com a Com extremo oportunismo, valeram-se os holandeses dos prazos es-
antiga alia4a que as vinculações se consolidam. O que, aliás, não de- tipulados para ratificação e vigoramento do tratado para atacar e
ve causar estranheza, pois, com as outras duas potências inimigas de ocupar o Maranhão, Luanda e S. Tomé(14). Tão crítica se tornara a si-
tuação, que nas negociações seqüentes, D. João IV, atendendo ao
("ICr. Hntóna de Portugal, dir. por DamIão Peres, t. 11, pp. 378 segs., e Oxford assessoramento do Pe. Antônio Vieira que também serviu de nego-
Hutory ofEngliJ.'id, vol. V - The Fourteenfh Century, 1307·1399, por M. McKisack, ciador em Háia, chegou a propor a venda, às Províncias Unidas, dos
p. 464. H. V. Llvermore . A New HlJtory ofPortugal, Cambridge at the Umversity
Press, 1966, p. 103. E. Prestage - • The Anglo-Ponuguese aliance.. , TranJ(J(;tions of (1IIer. G. ZdJer _ LeJ TemPi ModerneJ, 1" pane, I. II da Hátoire des Relatiom
the Royal HtJtonCiJl Soúety, série quarta, vol. XVII, 1934, pp. 69-100. Internatlonalei, dir. por P. Renouvin, Paus, 1953, pp. 255 e segs.
(~)A crise de 1383-1385 vem sendo discutida e rediscutIda na historiografia pOrtU- (l!lCf. Ângelo Ribeiro _ «A atividade diplomática da Restauração» e «De Momijo à
guesa contemporânea. Os trabalhos fundamentais são os de Amônio Sérgio,]aime morte de D.João IV», in HlstlÍna de Portugal, dir. por Damião Peres, t. VI, pp. 23-
Cortesão, ]01'1 Serrão, Salvador DIas Arnault e A. Borges Coelho. 40, 60-76.
('!ler. o já ,itado Portugal na Época da ReJ/auração, de Eduardo D'Oliveira Fran· r Iller. Hntória de Portugal, dir. por Damião Peres. t. VI, pp. 86-87.
ça. em qu~ se procura uma análise compreensiva do fenômeno. À p. 82: «O homem (1~lef. F. A. de Varnhagen - HIstória Geral do Bnwl, 3' ed., T. 11, p. 363, e Há-
de 1(40) E o fidalgo português». tóri4 das Lutas com OJ HoliJndeuJ no Braszl, ed. de Salvador, 1')55, p. 254. C. R.
IIO)Cf. E. PreSlage _ As relações diplomáticas de Portugal com a França, a Inglater. Boxer - Os Holandeses no Brast!, 1624-1654, trad. port., São Paulo, 1%1. pp. 149-
ra e J Holanda de 1640 a 1668. Trad pore, Coimbra, 1928, passim. 153,224-225.

20 21
territórios ocupados pela Companhia Holandesa das Índias Ociden- mava e ampliava, acertando o enviado português, conde da Ponte, o
tais(15). Ao primeiro monarca Bragança, no juizo severo de Lúcio de casamento da infanta Catarina, filha de D. João IV. com Carlos 11; o
Azevedo, «nenhum sacrifício era sobejo» para se manter no rei da Ingl~terra «traria no coração» as conveniências de Portugal,
trono(16). Mas não podia ser, por certo, esta precária aliança a que defende-la-la com forças de terra e mar; em compensação, aceitava
consolidaria a Restauração. como dote da consorte a praça de Tanger, a ilha de Bombaim e mais
Ê pois para a Inglaterra que se voltam as esperanças de apoio e sus- dois .milhões de cruzados. Talo pesado custo da aliança inglesa e da
tentação. Tal a necessidade desse apoio, que a monarquia portugue- medlação com a Espanha, pondo termo à longa guerra da Restaura-
sa se viu obrigada a ajustar-se às vicissitudes políticas da Inglaterra ~'ão( 18).
nesse período. Ao primeiro tratado de aliança, firmado com Carlos I Assim, redefinia-se a aliança inglesa, configurando uma tutela de
Stuart (1642), seguiu-se o de 1654 com o Lorde Protetor da Repúbli- fato. No conjunto, percebe-se a permuta de enormes vantagens co-
ca Inglesa, para enfim reafirmar-se com Carlos li, em 1661, a aliança merciais aos ingleses, por proteção política. O alcance de tais conces-
política e os acordos comerciai.$, tudo selado com o casamento de Ca- sôes torna-se claro quando nos lembramos que entrementes se tran-
tarina de Bragança com o rei Stuart.(17) De qualquer forma, a alian- sita de uma situação de quase monopólio da exploração colonial pe-
ça se consolidou. Já em 1642, amplas regalias foram concedidas aos los países ibéricos para um quadro de intensa concorrência na utili-
comerciantes ingleses, inclusive no.campo religioso, contrariando-se zação econômica do ultramar. A instalação de economias competiti-
o parecer de uma comissão de religiosos consultada sobre o proble- vas, sobretudo nas Antilhas, a partir da segunda metade do século
ma; concedeu-se mesmo, no que tange às possessões ultramarinas, à XVII, veio deprimir a economia portuguesa, obrigando os estadistas
Inglaterra, a condição de «nação mais favorecida:t, com o que os mer- lusitanos a programarem ajustamentos extremamente difíceis a fim
cadores ingleses passavam a ter acesso ao comércio colonial pono- de enfrentar o novo quadro da economia internacional{l9). Com ex-
guês, pois igual concessão já se tinha feito à Holanda. No tratado trema habilidade e não menores riscos procurou, contudo, o governo
imposto por Cromwell, alarga-se a brecha explicitando-se a permis- português contornar os tratados, procurando permanentemehte difi-
são aos ingleses de negociarem, por conta própria, de Portugal para cultar para finalmente impedir o comércio direto de estrangeiros
o Brasil e vice-versa (exceção feita do azeite, vinho. farinha e baca- com as suas colônias(20). Dai compreender·se que a diplomacia por-
lhau e pau-brasil); ampliavam-se as isenções dos ingleses, que passa- tuguesa se tenha orientado, a partir de então, no sentido de manter
vam a gozar em Portugal de foro privativo, com seu juiz conserva- a neutra/tdade nos conflitos europeus, preservar os domínios que so-
dor: por tudo isso, pôde-se dizer mais tarde que o tratado de 1654 ti- breviviam à quadra tormentosa (e graças às alianças o maior quinhão
nha sido a «Magna Carta» dos ingleses em PortugaL Bem é <:erto que - o Brasil- fôra salvo), intensificando a sua exploração. Rompida
D. João IV tergiversou quanto pôde antes de referendar o tratado, a União Ibérica, que o comprometia necessariamente nas pendências
pretendendo curiosamente consultar a Santa Sé; mas não teve alter- internacionais, Portugal encontrava-se definüivamente voltado para
nativa diante da esquadra inglesa. Em 1661, na regência de Luisa de
Gusmão e já restaurados os Stuarts na Grã-Bretanha, tudo se confir- 11~)Cf. Alan K. Manchester - BritlJh Preemmem:e in Brasil. Chapel Hill, 1933,
pp . .l-) segs. O tratado de 1661, in English H1Jtoncal Documents, vai. VIII, p. 857".
{P1Cr. Sandro Sideri . Comércio e Poder. Colonialismo informal nas relações
(l~lCf. Pe. Antômo Vieira· «Papel a favor da enuega de Pernambuw aos holan· <Jnglo-porluguesas, nado pore, Lisboa, 1978, pp. 38·55. Cr. Vitorino Magalhães-
deses (1648):0 in Obras Esculhidas. ed. de Antônio Sérgio e Hernam Cidade (Lis. Cadinho . ~Poflugal, as frotas do açúcar e as frotas do ouro». Revista de Históna,
boa, 1951), vaI. III, pp. 29·107. J. Lúcio de Azevedo· História de Antônio Vieira. S,io Paulo. nO 15, 1953, pp. 69·88. Celso Furtado· FOrm4fão Econômica doBras;/.
2" ed., Lisboa, 1':>31, t. I, Py. 129-160. C. Boxer, op.cit. pp. 248-249, 269·271 RlO de Janeiro. 1959, pp. 25 srgs.
(16J. Lúrio de Azevedo· EpocllJ de Portugal Econômico.)' ed., Lsboa, 1947, p. I21) Cf. Lúcio de Azevedo· Épocas de Portugal Econômico, p. 389 segs. Arthur Ce·
I
38~.
zar Ferreira Reis· ",O comércio colomal e as companhias privilegiadas~, in História.
(17)Cf. H Livermon."· A new History of Portugal, 1<.1(,(,. pp. 182·183. G.H, Tre· Geral da Civilização Brastleira, dir. por Sérgio Buarque de Holanda, t. I, vaI. 11, pp.
velyan - História da Inglate"a, trad. port.. Lisboa, 1946. yoL 11, p. 64. Os textos 313 segs. Ainda: B. N. L Rrservados, Fundo Geral, cód. 10.513, .Exposição dos
dos tratados eSlão em José de Almada· A Altança inglna. cil., vai. I. fundamentos por que e1·Rei de Portugal se acha hoje desobrigado ...•

22 23
o Atlântico. Agora conseguia permanecer neutro nas guerras euro- terra elizabethana - tudo tendia a configurar um novo equilíbrio
péias da segunda metade de Seiscentos, ligadas à ascensão e declínio Internacional, o que não escapou ao arguto aventureiro Sherley. A
da preponderância francesa, sob Luís XIV. Mas à última delas, já no manmenção do statu·quo de preponderância implicava assim no
início do século XVIII, não logrou escapar: é que os conflitos em tor- fortalecimento do poder habsburgo na Europa Central; ora, o esfor-
no da hegemonia da França generalizavam-se na guerra de Sucessão ço neste sentido acabou por desaguar na Guerra dos Trinta Anos, em
da Espanha. A diplomacia portuguesa tentou, é certo, manter-se à meio à qual a crise de 1640, já mencionada, se insere. Assim, por
margeJ?; aproximou-se, depois, de uma aliança francesa, num esfor- etapas, retrocedia a pouco e pouco a ascendência política do Império
ço de hbertar-se da dependência britânica, mas acabou por ceder aos espanhol. No continente europeu, vai despontando a nova potência
imperativos da situação, apertando-se ainda mais os liames com a hegemônica: a França, cuja política internacional, dirigida com
Inglaterra. Os tratados de Methuen consolidaram afinal esta si- maestria por Richelieu e depois por Mazarino, tem o definido escopo
tuação(2I). - de abater o poder dos Áustrias. Na paz de Westfália, 1648, ficou de-
Paralelamente, redefiniu-se a posição da Espanha no quadro das finitivamente afastada a possibilidade de o Santo Império constituir-
relações internacionais dessa mesma época. A trajetória espanhola da se numa monarquia centralizada, removendo-se destarte uma das
segunda metade do século XVII é a da decadência e perda da hege- bases da proponderância espanhola. A Espanha ainda resistiu, apro-
~onia. Já em 1622, aquele admirável balanço da situação interna- veitando a crise interna francesa (Frondas), mas foi finalmente bati-
CIonal que é. o Peso político de todo el Mundo de Anthony da, e o tratado dos Pirineus (1659) abre de vez o caminho à prepon-
Sherley(22) deIxava transparecer o recuo do poderio ibérico. derância francesa(24).
Efetivamente, a primazia política espanhola fundava-se em dois Concomitantemente, o ataque ao mundo ultramarino, até entãQ
pil~res básicos: domín~o do ultr~mar, isto é, exclusividade da explo- quase que totalmente dominado pela Ibéria, altera substancialm.:n-
r_açao ~o mundo colomal, e a umdade da política dos Habsburgos de te as condições da exploração colonial. Na medida em que as novas
Austfla e Espanha. A posse do Milanês, do Franco Condado e dos potências (França, Inglaterra, Províncias Unidas dos Países Baixos)
Países Baixos garantia a ·posição preponderante da Espanha. A partir organizavam-se como estados de tipo moderno, lançavam-se às em-
de Cateau-Cambrésis ~ a Paz Católica - a supremacia se desenvol- presas coloniais de modo sistemático. No Oriente, as companhias de
ve, enquanto as guerras de religião na França chegam a ameaçar o comércio inglesa e holandesa, desde o início de Seiscentos iniciam a
poder absoluto da realeza. As vitórias no Mediterrâneo (Lepanto, competição com o monopólio lusitano, passando logo à dianteira. A
1571), contendo a expansão otomana, e a absorção de Portugal com- Inglaterra dos Stuans inicia a colonização na América do Norte. As
pletando a União Ibérica (1580) marcaram o ponto mais alto da as- Províncias Unidas dos Países B~os, através da Companhia das Ín-
censão política da Espanha; o fracasso da Invencível Armada, em dias Ocidentais, ocupavam, a partil de 1630, o Nordeste açucareiro
1588, marca um primeiro recuo(23). A separação e a independência do Brasil; posteriormente, empreendiam a dominação de Angola.
das Províncias Unidas dos Países Baixos, que se vai consolidando pa- Mas é sobretudo nas Antilhas - as Índias Ocidentais por excelência
ra os fins do século XVI obrigando a Espanha a fazer concessões na - que a competição se intensifica. Em torno do meado do século
parte que consegue preservar, bem como o término das Guerras de XVII, Inglaterra, França e Províncias Unidas conseguem alí estabele-
Religião na França e o surto de reorganização política que se lhe se- cer uma economia de plantação concorrencial à produção açucareira
gue sob Henrique IV, e o crescimento do poderio marítimo da Ingla- do Brasil, ao mesmo tempo em que as novas potências firmavam-se
numa posição estratégica para futuros avanços em direção à América
1211Cf Lúcio de Azevedo, op.cit., pp. 396 segs. Alan K. Mançhester, op. cit., pp. espanhola(2») .
18 segs. Vltormo Magalhãe,·Godinho art. cito E. Prestage, art. cito
(22JCf. XavIer A. Flores _ Le "Peso polztico de todo el Mundo> d'Anthony 5herley (24JCf. H. Hauser - La prépondérance erpagnole (1559·1660), 3" ed., Paris, 1948,
ou un aventunér anglms au service de I'Espagne, Pans, 1963. p. 394. Ph. Sagnac e A. St. Leger - LopréPondérancefranfIJlSc (1661-1715), Paris,
12jJR. B. Merriman - The RlSe of 5panish Emp/re. N. York, 1936, t. VI, pp. 123 ' 1935, pp. 1 segs.
segs . espeC!almeflle 399-403, 671 segs. (l~JCf. René Sédillot - HlSlona de las colonizaciones, trad. esp., Barcelona, 1961,

24 25
Por trás de toda essa reviravo,lta espetacular, que reequilibra a po- derante ainda, mas já em declínio. no continente europeu; a rivali-
sição econômica e política das potências modernas européias. opera- dade das duas, que arrave~u todo o século, subjacente e amorteci-
vam os mecanismos da «revolução dos preçosb e seus efeitos sobre a da pela entente até 1740. explícita e agressiva na segunda metade da
economia espanhola: efeitos depressivos que estão na base da deca- centueia - é que permitiu a sobrevivência dos aliados menores (Por-
dência da Espanha, problema amplo e complexo que entretanto tugal e Espanha, respectivamente), e o resguardo de seus impérios
não cabe aqui analisar(26J. Fixemos apenas que essa decadênria. coloniais. A Holanda ajustava-se, também à condição de estrela de
acentuava-se gravemente na segunda metade do século XVII, du- segunda grandezaOO). No sistema de alianças assim consolidadas, a
rante sobretudo o reinado sombrio de Carlos Il, o último Habsburgo posição de Portugal se cristalizava na dependência do apoio inglês.
de Espanha. A população espanhola regride, de oito milhões na Efetivamente, os acordos anglo-portugueses do início do século
época dos Reis Católicos, para seis milhões no fim do século XVIII, que tornariam célebre o· nome de seu negociador britânico
XVII(27). Pela mesma época, é praticamente com manufaturas fran- John Methuen, reafIrmaram a aliança política e aprofundam as vin-
cesas, holandesas e inglesas que a Espanha abastece suas colônias culações comeróais(3l). A crise dinástica que se avizinhava na Espa-
americanasf2B) . nha no fim de Seiscentos, derivada da ausência de herdeiro da coroa
Essa gravíssima crise econômica e política de Espanha desembo- de Carlos lI, e preparando-se as potências para a contenda sucessó-
cou finalmente na Guerra de Sucessão (1701-1713), quando o dra- ria, levou a numerosas negociações diplomáticas, chegando-se mes-
ma espanhol provocou um conflito europeu. Inglaterra e Províncias mo a acordos sobre a partilha da outrora hegemônica monarquia
Unidas, as já chamadas «potências marítimas», aliaram-se à Âusrria hispânica pelas grandes potências européias. Isto impedia Ponugal
para garantir a sucessão habsburguesa no trono de Espanha e impe- de insistir numa política de neutralidade, levando-o a engolfar-se no
dir que se consolidasse a candidatura do neto de Luís XIV. Portugal torvelinho dos arranjos que beiravam ao conflito armado. Sem reca-
acabou por se alin.har desse lado. Terminada a longa e dura refrega, pitularmos o elenco das tortuosas negociações e projetos de
definem-se as posIções: é reconhecido Filipe V Bourbon no trono es- panilha(32), lembremos apenas que a diplomacia portuguesa, ao
pan?ol- e dessa forma consolidada a aliança hispano-francesa, que mesmo tempo que intentou tirar partido da situação obtendo vanta-
haVIa de durar até ~ Revolução - , mas as vantagens comerciais per- gens territoriais, procurou uma certa equidistância entre os partidos,
tencem à Inglaterra, que nos tratados de Urrecht se reserva o tlsiento o que lhe valeria porventura escapar em parte da tutela inglesa. Na
para abastecer em escravos as Índias de Castela(29): Esp~nha, como Espanha, porém, à medida em que a situação se agravava de manei-
Portugal, era pois obrigada a mercadejar com as vantagens da explo- ra alarmante, a preocupação de impedir a partilha acabou por dar
ração de seu ultramar, para garantir a independência da metrópole e primazia ao «partido francês»: entendia-se que o Rei Sol tinha mais
preservar o Império. condições de preservar a unidade espanhola, e dessa forma o último
O século XVIII abre-se, portanto, com a situação internacional testamento do infeliz Carlos 11 legou a Filipe de Anjou a totalidade
claramente definida. Duas grandes potências, Inglaterra e França, a dos clominios da coroa de Espanha. Pouco depois, morria o último
primeira com vantagens no mundo ultramarino, a segunda prepon- habsbuego espanhol, e a sucessão se transformava num conflito eu-
ropeu. Na expressão de D. Luís da Cunha. ficavam «as duas monar-
pp. 268 segs.Jean Gnu - o:E1 Nuevo Mundo y oro espanõ]., Hislóna dei Comériio,
dir. ~r la.cour-Gayet, nad. esp., t. III, pp. 99-141.
12(, Cf. E. HamiJwn - «The decline ofSpaim. in EJSays in Economu; HislOry, dir. OO)Cf. C. H. Wilson - ~The economic decline of the Ne[herlands:>, in &says m
por E. N. Carus-Wilson, LondJes, 1958, pp. 215-226. Economic HislOry, dir. por E. Grus-Wilson, pp. 254-270. H. N. Boon - «De<:adên-
(nJCr. J. Vicens-Vives - Manual de Historia Economica de Espana, 3' d., Barce- cia y despertar •• in B. Landheer - La Nación Holandesa, trad. esp., México, 1945.
lona, 1964, pp. 376 segs. pp.67-78.
(2SJCf. H. Sée - As on"gens do Capitalismo Moderno, nado port.. Rio de Janeiro. OI)Cf. A.D. Francis - The Methuens and Portugal (1691-1708), Cambridge,
1959. pp. 68..69. 1966. Sandro Sideri - Comércio e Poder, nado pon., pp. 63-86.
(2'!)Cr. G. Scetle - La Iralte négriere aux lndes de Cas/iJle, Paris, 1906, L 11, p. (32)(:f. Dámião Peres _ A Diplomacia portuguesa e a Sucessão de &panha (1700-
')23. 1704), Barcelos, 1931, pasim.

26 27
quias de França e Espanha confinantes ,e P?ssuída; P?f um av~ a~mbi­ Carlos da Ãustria na sua reivindicação do trono espanhol, e se con-
cioso e um neto resignado»(33), Em taiS ClfcunstanClas, a poslçao de certavam as condições de cooperação militar na luta que se ia travar.
Portugal se tornava crítica. O diplomata José da Cunha Brochado, Em 27 de dezembro do mesmo ano, assinava-se o tratado comercial
ministro português em Paris, aconselhava a sua corte a manter a ex- luso-inglês, também negociado por Methuen, e que tanta controvér-
pectativa, armando-se para o pior. 0, equilíbrio era extremament,e sia havia de provocar pelo tempo afora(6)_
difícil, pois envolvia a mantença da Itgação com a Inglaterra e pOlS Neste passo, o que nos importa é confrontar a situação de Portu-
uma aproximação com as potências marítimas, sem provocar descon- gal nesta crise do início do século XVIII e o encaminhamento da sua
fiança francesa ... (34), A pressão france'5a porém ~ão se fez esper~r, e posição internacional, com o que ocorre à época da crise do Antigo
o embaixador Rouillé conseguia aprovação de, Lisboa a um projeto Regime, isto é, durante as guerras da Revolução e do Império_ É de-
de aliança, comprometendo-se Portugal de ~echar seus portos aoS ad- veras impressionante o paralelismo que ressalta da comparação. O
versários de Luís XIV. Cunha Brochado discordava, apontando os mesmo dilema: Inglaterra ou França, salvaguardar os domínios ul-
perigos de semelhante posição; o ministro português. e~ Haia, F!an- tramarinos pondo em risco a sobrevivência da metrópole européia,
cisco de Sousa Pacheco, por sua vez, lembrava expliCItamente a se- ou abandonar as colônias, aderindo à 'aliança continental para pre-
cretaria de Estado lisboeta o enorme risco que corria o mundo colo- servar PortugaL A mesma hesitação, a procura da neutralidade; o
nial português em virtude. de aç~o ~ostil ..à Inglaterra e à mesmo desesperado esforço, ao cabo inútil, para contrabalançar as
Holanda(3~). A situação defima-se, pOIS, com mudez: dar cob.ert~lfa influências das grandes potências, anulando a tutela_ A mesma solu-
à Inglaterra, garantindo-lhe cabeças-de-ponte na penín~ula, slgmfi- ção final, refúgio no apoio britânico(37). Guerra de Sucessão na Es-
cava enfrentar a França e a Espanha, e pois, colocar em nsco Portugal panha, Guerra Peninsular, o mesmo drama português: mas a histó-
metropolitano; aderir à causa francesa importava em abandonar as ria não se repete ... A identidade impressionante se esgota no nível
colônias à ação das potências marítimas mais poderos~, Inglaterra e das reJações internacionais. Na crise do fim do século XVIII e início
Províncias Unidas. Como se vê, não podia ser pior a Situação portu- do XIX, não se trata apenas, como na Sucessão de Espanha, de sim-
guesa; dividiam-se as opini?es, formavam~se «partidos». D. Luís d.a ples disputa das potências pela hegemonia européia e ocidental; sen-
Cunha, de Londres, preconizava a neutralidade, com o que, acre~l­ do também isso, a grande crise de que a guerra peninsular é apenas
tava havia de satisfazer-s.e a Inglaterra. Cunha Brochado, em Haia, uma parte, envolve todo um processo revolucionário que: põe em
conduzia-se com desenvoltura, insinuando que talvez Portugal não causa a estrutura do Antigo Regime. Por isso, embora o encaminha-
cumprisse os acordos com Luís XIV. O gove~no de D. Pedr<;, 1.1 se de- mento diplomático tenha sido basicamente o mesmo, os resultados
batia em contradições, enquanto os aconteCimentos se pre.Clpu avam . foram fundamentálmente diversos: não se salvaram as colônias, nem
Procurava garantias na França, tentava .mant~r a neutralidade, mas o absolutismo sobreviveu em Portugal.
acabou por ceder inevitavelmente à aliança mglesa. O tralado de Não obstante, convém refletir sobre o paralelismo acima aponta-
aliança ofensiva e defensiva, negociado por John Met~uen, e firma- do. Ele revela, em primeiro lugar, a persistência do sistema de alian-
do em 16 de maio de 1703, estabelecendo o compromiSSO, renOvava ças montado no início do século XVIII; evidencia o funcionamento
todos os tratados anteriores; Portugal aderia à causa do arquiduque do esquema que permitiu às nações ibéricas salvaguardar seus exten-
sos domínios ultramarinos, apesar de reduzidas ao segundo plano
(3»ApudDamião Peres, op. cito p. 3~. _ . enquanto potências européias.
(l4)"Pro fessar amizade com Inglaterra e Holanda, e ao mesmo tempo nao dar a (3(,) Cf. A.D. Francis - The Methuem and Portugal, Cambridge, 1966 e N. Wer-
França a mínima desconfiança nem aos Espanhóis o ~als leve pretexto. De s:orte que
n~~~jSo?ré - O Tratado de Methum., Rio deJ~aneiro: 19H. Sandro ~ideri" op. clt.
devemos ser amigos de todos, mas com grande política, de Inglaterra com slncenda- _ Vejam-se, entre OUtros: A. Fugler - La Rellolutl0n FranfalSe el I Emp/re Napo-
de, e de França, com grande estudo•. Cf. Cartas de José da Cunha Brochado', sele- leomen (t .-'1 daHuJOIre des ReJallOm IntemationaJes, dir. por Pierre Renouvin), Pa-
ção, prefácIO e notas de A. ÂJvaro Dória (Lisboa, 1944), p. 113. Cana de 29 de no- flS, 195~, P?. 73-75, 209~21O, 243 segs. A. Vianna - IntrodufJoaos Apontamentos
vembro de 1700. para a. Hzstona DIplomátIca Contemporânea (1789-1815), Lsboa, 1907 ,passim. M.
(3'» Cf. Damião Peres, op. cit. p. 46. de Oliveira Lima - D.joJo VI no Bra!1/, 2" ed., Rio deJaneiro, 1945, t. L pp. 53·89.

28 29
E de fato, Portugal conseguiu atravessar incólume os conflitos de que os mais ousados estadistas do Setecentos em Portugal não ten-
Setecentos. Somente por um momento, no meado do século, duran- tassem soluções de política externa que pusessem o país a salvo da
te a Guerra dos Sete Anos, a crise originada pelo «pacto de fa- tutela inglesa. Tal foi o caso de Alexandre de Gusmão, que na quar-
mília», e o confronto generalizado entre Inglaterra e França, en- ta década do século, em meio à crise platina, esboçou todo um plano
volveria de novo Portugal. A m:esma diretúz salvoll-o novamente: a - a chamada Grande Instruçiio - de reaproximação com a
pertinaz procura da neutralidade, a hesitação diante das opções, e fi- Fran.ça(39). A margem de manobra dentro da qual se movia a diRlo-
nalmente a mantença da aliança inglesa. Evitando, pois, envolver-se maCIa portuguesa era porém assaz estreita para que tais tentativas
nos conflitos europeus, mesmo quando as questões coloniais come- pudessem ser levadas adiant~. Nos círculos oficiais, a aliança inglesa
çavam a pesar cada vez mais no equilíbrio do Velho Mundo, ia assumindo. a feição de dogma, sendo encarada como a única tábua
voltando-se d"txididamente para o Atlântico, a metrópole do Brasil de salvação,'a ponto de o mesmo arrojado Gusmão desabafar de cer-
ia se apegando cada vez mais à política de neutralidade. A Espanha ta feita para D. Luís da Cunha: . «Desencadernaram-se as negocia-
foi menos feliz nesse desiderato, mas no fundamental preservou seu ções, e se baralharam com a superstição e a ignorância arrogante,
imenso império. É que a posição da Espanha' diferia até cena pontO fechando-se a decisão com o ridículo adágio de - Guerra com todo
da de Portugal; aliada à Fránça, ficou mais vinculada à política con- o Mundo e paz com a Inglaterra»(40).
tinental. Por outro lado, no equilíbrio estabelecido em Utrecht, a Pela mesma época, durante a guerra de Sucessão da Áustria, dis-
aliànça francesa foi contrabalançada com favores comerciais à Ingla- pomos de curioso testemunho sobre as relações internacionais e a po-
terra. É indispensável ter essas concessões em conta para se entender sição de Portugal: trata-se do texto que sob a forma de carta a um
a vantagem crescente que a Inglaterra, ao longo do século XVIII, foi amigo «assistente no Estado do Brasil», publicou Custódio Jasão
adquirindo na contenda com a França. Barata, ou antes, quem se escondia sob tal pseudônimo(41). Defen-
A posição portuguesa era mais niudamente definida. Daí a alian- de a eleição' do Grão Duque Francisco Estevão na Dieta de Frank-
ça inglesa converter-se num quase axioma da diplomacia portuguesa furt, impugnando os argumentos do partido francês, e acrescenta
do século XVIII. O mesmo Pombal, embora forcejando por reduzir que «a Coroa da Grã~Bretanha sempre traz nos seus manifesTOS o
as vantagens econômicas inglesas em Portugal, nunca perdeu de vis- equilíbrio da Europa, estes são os empenhos que nos faz públicos».
ta a necessidade incontornável de manter a proteção política da In- Não deixa porém de notar que a melhor posição é a «neutra!», pelo
glaterra(3B). menos enquanto possível de sustentar.
Esta vinculação política à Inglaterra, que persistiu ao longo de to- NeSsa mesma linha, o próprio D. Luís da Cunha, que foi sem dú-
do o século, imp.unha-se em termos de necessidade; não significa vida o mais lúcido obserVador da vida política européia e dos proble-
mas portugueses que Portugal produziu na primeira metade do sé-
(.lHlcr Lúcio de Azevedo _ O Marquês de Pombal e sua Época. 2' ed., Rio deJa- culo XVIII, chancela com a sua autoridade a linha tradicional da
nelfO, 1922, pp. 21~ segs. A idéia de uma diretriz de política internacional anti- aliança inglesa. No seu notável Testamento Polítú:o, dirigido ao
mglesa de Pombal deriva da atribuiçao errônea, perfilhada por tantos auwres, da príncipe herdeiro D. José às vésperas de tornar-se rei, lembrando a
autoria do famoso Discurso político sôbre as vantagens que o Reino de Portugal po· necessidade da permanente vigilância em face das inevitáveis preten-
de IIrar da sua desgraça, ao ministro de D José I (Cf. Cartas e outras obras se/ectas
do Marques de Pombal. Lisboa, 1861, vaI. 11, pp. 97-187. Manuscriws; A. R. C. L.
Ms. 1.(,i08a. A. H U., cód 1.227). Efetivamente, todo o diswn;o visa demonstrar f Alexandre de Gusmão - «Grande Instrução .» (1736). lO Alexandre de
\.'W)C.
que os males de Portugal (bem como o progresso da Inglaterra) advêm de entender- Gusmão e o Tratado de Madnd, deJaim\ Cortesão. parte III, Amecedente.r do rrJ
se mevitável a aliança' inglêsa (p. 108); ora, «quando Portugal sacudiu o jugo caste- lado, L L (Rio de Janelio, 1951). pp. 420-454.
lhano podia ter razões para se pôr debaIXO da proteçao da Inglaterra, mas estas ra- (~O)Cf. Alexandre de Gusmão - Obras (Cartas - PoeSIa - Teatro) 2' ed., São PolU-
zões não existem hoje» (p. 126). Porém, já em 1904 G. C. Wheeler demonstrara lo, 1945, p. 68. Carta de \O de fevereiro de 1748.
que o texto, editado primeiramente em francês, na Haia, em 17~5, é de autoria do (·1I)Cf. Custódio Jasão BaratOl - Carta de Hum Amigo Amstenle na Corte de Ln
publicista Ange Goo.dar (Cf. c.c;.. Wheller _«The dúmuTS politique attributed to boa a outro Assistente no Estado do BraSIl, 1745. Segundo InocênCIO, trata-st" de
Pombal», Eng/lSh Histonca/ Review, vol. XIX, 1904, pp. 128-131). pseudônuno de João Batista de Castro.

30 31
sôes castelhanas, preconiza a reafirmação da velha aiJança(42J. Sem potências - vai adquirindo importância crescente, para assumir en-
descurar, é claro, dos preparativos militares internos, da auto-defesa, ftm -?? século XVIII o papel de elemento primordial deflagrador das
pois são estas forças que «nos darão tempo para resistirmos aos pri- hostlhdades e consagrador das preponderâncias. Tal, na verdade a
meiros insultos dos inimigos, e para esperarmos os socorros que ti- função :ssencial que desempenha a exploração ultramarina na vida
yermos estipulado com os nossos aliados». Daí ser necessário «refor- econômICa das nações européias do período mercantilista.
mar o tratado de perpétua aliança defensiva, que fizemos com a rai- Ora, no co~junt.o, a exploração do Ultramar organizada nos qua-
nha Ana de Inglaterra». Jorge 11, acresce, inreressar-se·ia em vincu· drAos do Antlgo Sistema Colonial, permite distinguir nitidamente
lar a Holanda, pois «a uma e outras potência convém a conservação t~es elementos básicos: áreas já densamente povoadas quando do iní-
de Portugal». E à mesma França, apesar dos seus liames com a Espa- c~o d~ expansão mar~tLma européia, portadoras de civilizações tradi-
nha, não conviria que esta anéxasse Portugal, pois, «senhora da pra- CIonaIS, onde a domInação política permitia o comércio vantajoso de
ta e do ouro, e mais produtos de Portugal e da América, daria a lei a alguns produt.os de alto valor unitário no mercado europeu como as
todas as potências da Europa»; com o que, finalizando. conclui: «e f~osas especiarias do mundo indiano; zonas de povoamento e colo-
esta razão de Estado é o nosso melhor garante, em que contudo nào ntz~çã~ européia, onde se estruturam economias complementares ao
devemos pôr toda a nossa confiança». capl~al~smo mercantil europeu, fornecedoras sobretudo de produtos
Tal, na palavra do mais arguto diplomata português de Setecen- trOplC:m e metal no?re (a América é por excelência o teatro da ação
tos, a linha da política internacional lusitana; ela foi estritamente se- colomzado!a~uropétadurante o primeiro sistema colonial); e, final-
guida até a época da crise do Antigo Regime e do Sistema colonial. ment~, a ;'-fnca for~ecedora da força de trabalho escravizada que
A propósito dessa linha de conduta da diplomacia portuguesa no permIte por .em .funClonamentd a produção colonial do segundo se-
século XVIll, e sobretudo da sua persistência, atestada no paralelis- t?r(43). A pnmelra categoria configura o que os teóricos do colonia-
mo acima ressaltado, nas duas crises, com que se abre e se encerra o IJSmo c?~aram, um tanto impropriamente quanto a nós, «colônias
século, convém ainda referir outras implicações. E que a insistência com~rCl~~ (as Han~els.l~.olonien. de Roscher); na América, é possí-
na diretriz deixa entrever uma certa opção polltica, qual seja a de sal- vel dISCnmmar as colonIas propnamente de «exploração» das colônias
var a integridade do Ultramar a todo custo; na atitude aparentemen- de «pov?amenw.(44). A Europa, ou antes a economia capitalista
te desconcertante do regente D. João, emigrando para o Brasil, esta merc~nul eur<.>péia, é o centro dinâmico de todo o sistema, gerador
opção é levada ao limite. Para apreendermos o significado mais pro- da açao colOnIzadora e naturalmente beneficiário dela(45)
fundo dessa política necessitamos de elementos explicativos que só . ~ E~ropa, porém, não é uma unidade política, é uma u~idade ci-
no decurso deste trabalho têm o seu lugar. De qualquer forma, esta vI!~zaclon~. Se, pois, no conjunto e no essencial, a economia euro-
conStatação já nos conduz a examinar agora mais em particular o pela funCIonava como o centro do sistema de exploração ultramari-
mundo ultramarino no quadro das relações internacionais do século na, para lá convergindo os influxos estimuladores do desenvolvi-
XVIII. mento econômico - na prática desse processo as várias nações da
(4')çf. .Azeredo Coutinho; .~of[ugal tel!! duas sortes de estabelecimentos nas
2) ConcOTTência colonial e tensões internacionais duas Indlas: e na Costa ~a Afnca. Os das Indias Orientais e da costa da Ãfrica só
~em por objeto o comérCiO e os da América tem por objeto a cultura e o comércio
Juntame~te ... ~. Ensato &?nômieo sobre o Comércio de Portugal e suas Co/ônlas
Efetivamente, na longa série de conflitos que caracterizam as rela.
(1794). In ObraJ EeonomteaJ de jI da Cunha Azeredo Coutinho (São Paulo
ções internacionais da Êpoca Moderna, a disputa pela exploração co- 1966). p. 138. '
lonial- e, pois, a posição das colônias no quadro do equilíbrio das (44)Sobre
. a t-p) . d )'. d
1 0_ ogLa as c~ omas: Fernan o A. Novais· «Colonização e Sistema
Cot~nLaI: dlscu$sao doe conceLtO$ e p~rspectiva histórica». In Anaú do IV Simpôsio
N~f~fnal dOJ Professores UmverslllÍnos de HzslóTIQ. (São Paulo. 1(9). pp. 24}-268.
(411Cf. Testamento Po!ítu:o de D. Luis da Cunha (cirea 1749). prefácio t notas de Cf. M. Dobb - Studies in lhe Developmenl ofCaptta/um. Londres. 1954. pp.
Manuel Mendes. Lisboa. 1943, pp. 43.44. 204 segs.

32
33
Europa moderna se disputavam agressivamente a preeminência do panhia Holandesa das Indias Orientais foi um momento dos mais
desfrute do sistema colonial. Assim, preponderância européia e he- significativos nessa transição; tal empresa organizou-se com uma for-
gemonia ultramarina vão se entrelaçando cada vez mais, e se condi- ma ~ajs moderna e racional, apontando já para a sociedade de ações
cionando reciprocamente. (soCleda?e anôn~ma, em que muito cedo se transformaria), e esta
A chamada preponderância espanhola, ou antes ibérica, corres- moderOldade fOI certamente o fator preponderante do seu êxito na
pondeu, de fato, ao período da montagem primeira do sistema de tarefa de substituir os ibéricos no comércio rendosíssimo das Indias.
colonização, em que PonugaJ e Espanha foram, como se sabe, pio- Menos de dez anos da sua incorporação, os holandeses já senhoria-
neiros. A comercialização dos valiosos produtos orientais, o tráfico vam numerosos entrepostos, competiam vantajosamente, e ocupa-
negreiro, a produção colonial do açúcar, a mineração dos metais no- vamJava e Sumatra(49). Em 1621, seguindo o modelo tão eficiente
bres organizaram-se ao longo dos séculos XV e XVI pelos coloniza- da primeira, fundava-se a Companhia Holandesa das Indias Ociden-
dores portugueses e espanhóis; nas primeiras décadas do século XVI, tais, que promoveu a tentativa frustrada de fixar-se na Bahia açuca-
o sistema está praticamente constituido e o que se segue não é mais teira do Brasil em 1624, tendo êxito afinal em 1630, em Pernambu-
que desenvolvimento e desdobramento do mesmo. Nesta fase, que co()O). Da primeira para a segunda companhia transitava-se para a
vai até meados do século XVII, grana-modo, as demais potências concorrência propriamente colonial, isto é, procurando uma potên-
procuravam participar atravt:s do ataque direto ao sistema montado cia não ibérica, adversária da Espanha, apossar-se de uma região pro-
pelos países ibéricos: a pirataria e o corso(46) dão o tom a esta primei- dutora de mercadorias tropicais, e fixar-se nela.
ra fase da concorrência ultramarina. Os nomes de Hawkins, Drake, Mas não eram apenas as Províncias Unidas que promoviam a con-
Frobisher, Gilberr, Raleigh, corsários ingleses da época de Elisabeth corrência colonial. Neste mesmo período, Inglaterra e França entram
I, enchem este período com suas façanhas. A atividade francesa pa- ~istematicamente na liça peJo ultramar. A Companhia Inglesa das
rece ter sido de não menor tomo:,atividades de Binot Paumier de Indias Orientais (1600) abriu à Inglaterra os caminh0s do
Gonneville, Ango, etc.<47). Oriente(5!). A princípio aliados dos holandeses na disputa com os
Numa segunda etapa e numa segunda frente de competição, a portugueses, logo (a partir da década de vinte do século XVII) com-
concorrência se torna propriamente comercial, e se orienta sobretudo petidores entre si, tal não impediu a flxação britânica nos entrepos-
para os entrepostos do Mundo Indiano e do Extremo Oriente. Tal tos orientais. Em 1621 já podia Thomas Mun, teórico do mercantilis-
movimento se liga, diretamente, à constituição, na Europa, das Pro- mo inglês, e aliás diretor da companhia, proclamar o êxito da em-
víncias Unidas dos Pa1<;eS Baixos como unidade política independen- presa, comparando as vantagens do comércio direto, com o que ou-
te separada da coroa espanhola; a luta político-religiosa da autono- trora se fazia quando se traziam (as especiairias) da Turquia e de Lis-
mização das Províncias Setentrionais dos Pa~ses Baixos, boa()2). Este primeiro Discurso de Mun, aliás, entusiástica proclama-
desdobrando-se em concorrência econômica, tornou, com o tempo, ção de êxitos e vitórias crescentes, faz curioso contraponto com os
cada vez mais difícil àquelas regiões prosseguirem nas suas fainas contemporâneos Discursos sobre los comercias de !as dos [ndias
de carrying trade, e as estimulou à procura de contactoS com as fon-
tes diretas do comércio .orienta1(48). A constituição (1602) da Com- I·,')'CI". S. B. Clough e Ch. w. Cole· },·conomrc History olEurape, 3' ed. Boston,
!'.>~2, pp 163 segs. Bernard H. M. Vlekke - «Las Indias Orientalts Holandesas~ In
(46)Cr. H. Linden (' Ch. Lannoy _ L 'Expansion Coloniale deI Peuples Européem Nación Holandesa. dir. por B. Landheer, trad. esp. México 1945 pp. 340s~g,
La1';111 f ., ' , ,
(Bruxelas, 1907), t. I. Hútoria dei Comemo, dir. por Lacour-Gayet, trad. esp., t. C . VIO e~ Barbour - Capllalnm In Amsf?rdan in lhe 17th eentury, Balümore,
m, pp. 99·141. PhiJip Gosse - HiJtoire de la Piraterie, trad. fr., Paris, 1933, pp. 1'»)0. H. Wãtjen - O domínw colomal holandês nu Brasil, trad. port., São Paulo,
131-144, 177-217. 1'.>38. C. Hoxer - Os Holandeses no Brasil, pp. 1-93.
(47)Cf. História Geral da CtVilização BraSIleira, dir. por Sérgio Buarque de Holan- '';I,Cf. E. Lipsun. Economic Hislory ofEngland, 5' ed., Lundres, 1948, t. lJ, pp.
da, São Paulo, 1960, t. m, vol. I, pp. 147 segs. 269 segs.
(48)Cr. G. Luzzatto - 5toria Economica del/'etJ Moderna e Contemporanea. 4' ')'IC'·
- . .,.,ornas Mun . D!Jeurso acerca dei Comercio de Inglaterra cun las lndiaJ
ed. Padua, 19)). t. I, pp. 22) segs .. Onent,dn(1621). trad. esp., MéxlCu. 19')4. p. 197.

34 35
(1622) de Duarte Gomes 50.tis, que analisam os percalços do comér- em ilhas de menor porte, agindo persistentl!mente nos desvãos da-
cio português no mundo onentaj('>3). quele labirinto marítimo, toda uma maha de aventureiros de vária
Desde 1608, por outro lado, iniciava-se a coloni2ação inglesa na procedênCIa se vai autonomamente estabelecendo nas Caraíbas. O
América do Norte com a fundação da Virgínia. A famosa viagem do sentimento de independência era forte naqueles homens desvincula-
Mayflower em 1620 dava início ao settlement na Nova Inglaterra, dos dos troncos europeus e lançados ao «inferno» tropical; chegaram
e a partir desses dois focos foi se desdobrando no decorrer de Seiscen- mesmo a constituir uma curiosa sociedade com suas regras próprias
ros a ocupação inglesa ao longo da fachada atlântica da América Se- de comportamento, aliás extremamente rigorosas. Acabaram porém
tentrional. Mais para o Sul, na região já anteriormente ocupada pe- por se transformar em cabeças-de-ponte para o ataque sistemático por
los holandeses (Nova Amsterdam), defrontavam-se novamente, co- parte das novas potências coloniais ao monopólio ibérico. A sua viru-
mo no mundo indiano, os dois movimentos expansionistas; mas lência decresceu na medida mesma em que se encetava a colonização
1664, já no terceiro quartel do século, marcava a consolidação do do- sistemática das ilhas por parte de franceses, ingleses e holandeses. A
mínio britânico nesta área (a Nova York dos ingleses)<54J. época de seu maior florescimento foi a segunda metade de Seiscen-
Foi na América do Norte, também, que tiveram seus primeiros tos, coincidindo, como agudamente nota Jean Gagé, com uma épo-
êxitos duradouros os franceses em seus empreendimentos coloniza- ca de consolidação de governos rígidos na França (absolutismo de
dores. Antes de se fixar no Canadá, já tinham também tentado in- Luís XIV) e na Inglaterra (restauração Stuan) e de crise política nas
frutiferamente no Brasil (França Antártica), donde os expulsaram os Províncias Unidas (conflito entre o Stathouderato e o Pensionárlo),
portugueses, e na Flórida, donde os espanhóis os desalojaram. Foi a situações políticas tendentes a expulsar os inconformados. No século
partir do empreendimento de SamueI Champlain, 1608, que, com a XVIII vão rapidamente minguando os flibusteiros e bucaneiros; é
fundação de Quebec, a colonização francesa se desenvolveu de for- propriamente a concorrência colonial que se instaura no mundo an-
ma irreversível, apesar das inúmeras vicissitudes, no vale do São lou- tilhano(s7).
renço (já visitado por Cartier em 1534)C''j). Foi neste contexto que Inglaterra, França e Holanda estabelece-
Mas foi sobretudo no mundo antilhano - esse «mediterrâneo ram suas colônias nas Antilhas. A partir dos estabelecimentos fli-
americano» - que a competição colonial se engajou mais fundo, busteiros se processa a formação dos primeiros núcleos de povoa-
ponto de encontro e de fricção que foi esta área dos vários movimen- mento, donde parte a conquista às ilhas espanholas. A pequena São
tos colonizadores europeus, dadas as suas excepcionais condições Cristóvão (a St. Kitts dos ingleses) parece ter sido o núcleo inicial de
geográficas e geo-políticas. Para aquele formidável arquipélago de fixação francesa e inglesa. Já em 1625 os ingleses se expandem para
pequeQas e grandes ilhas, charneira das rotas das Índias de Castela Nevis, Antigua, Barbados; os franceses para Guadalupe, Martinica
por onde transitavam os galeões e as frotas abarrotadas de prata e ou- (1635), para depois, em 1640, empreenderem a ocupação de S ..Do-
ro, convergiram desde cedo as ações da pirataria e do corso - aun" mingos, nas Grandes Antilhas. Os ingleses, por seu turno, em 1655,
sacra fomes. A pouco e pouco, transitava-se nessa região, da pirataria à época cromwelliana, apoderam-se de Jamáica. Desde 1634, es ho-
e do corso, isto é, do assalto e abordagem das naus ibéricas no mar, landeses dominam Curaçao. Indicamos, como é natural, apenas os
para uma atividade mais estável sob certo ponto e certamente mais pOntOS mais salientes desse movimento expansionista. Tratava-se,
aventureira também e de qualquer forma mais independente dos nessa fase, de ocupação com fins políticos e comerciais indiretamen-
centros metropolitanos: a flibustaria e a bucanaria(56}. Fixando-se
("i!JCf.]ean Gagé . Curso mimeografado sobre L 'Expamion C%niale Bntamque.
(HJCf. Duarte Gomes Solis - DiscursOJ sobre los Comercias de las dos IndiaJ 1942 (Biblioteca do Departamento de Históna da FalUldade de Filosofia, Letras e
(1622), ed. de M. B. Arnzalak, Lisboa, 1943. Ciências Humanas da U. S. P.). Um deS5es aventureiros· Exquemelin. delxou uma
()4JCf. S. E. Morison e H. S. Commager - The Growfh ofthe Amcnc.m Republic, notável narrativa desses aconteCJmentos; o livro, publicado em 1678, em Amster-
4 a ed., N. York, 1960, pp. 37-92. dam, fOJ rapidamente traduzido em várias línguas, e teve notávd difusão. Veja.se a
O~)Cf. Georges Hardy - Ristoire de /o Colonisation Française, 3 a ed., Paris, 1938. edição moderna de The Buu:al1eers o/ Amenca de John Esquemehng, Londres,
(%)cr c. Haring - Los Bucancros de las lndtos Onentales en cf sigla XVII. [fado
1951.
esp., Paris, 1939.

36 37
te, isto é, visava-se à fixação em pontos estratégicos para organizar sabe a estratégia de Salvador de Sá que coordenou a retomada do en-
eficientemente a apreensão dos navios espanhóis, e quiçá preparar o treposto africano com a luta pda expulsão dos batavos da América
futuro assalto ao Império EspanhoL Assim, fomentava-se o povoa- poftuguesa(63). A fixação de holandeses, franceses e ingleses nas An-
mento na base de pequenas propriedades para fixar colonos à terra, tilhas alterou este quadro. O tráfico negreiro ganhou novo impul
e esses domínios iam assumindo nesta curta fase inicial a forma de soeM); instaurou-se, assim, conforme assinalou Celso Furtado, a con-
colônias de povoamento(58). corrência de uma economia exportadora com base na grande proprie-
A introdução da lavoura açucareira - a plantation inglesa - es- dade escravista - a plantation - , que se organizava primeiramente
cravista alterou substancialmeme esta situação. Tal fato se ligou à ex- na Virgínia para o cultivo em larga escala do tabaco, e a produção
pulsão dos holandeses do Nordeste Brasileiro; portadores de amplos mais restrita das colônias de povoamento antilhanas. O confronto em
recursos de capitais e senhores de um sistema de comercialização su- termos de interesse econômico para as metrópoles resultou natúral-
periormente organizado, a estada dominadora na colônia açucareira mente desfavorável às segundas(65). A expulsão dos holandeses do
portuguesa permitiu aos holandeses um contacto direto com o setor Brasil abriu, pois, o caminho, como vimos, para a montagem da eco-
produtivo dessa mercadoria decrescente mercado na Europa, assimi- nomia açucareira escravista nas ilhas do Caribe. Assim, se transforma-
lando assim as técnicas de produção: dispunham a panir de então de ram as primitivas colônias em colônias de exploração, produtoras de
todos os elementos para a montagem de uma economia concorren- açúcar para o mercado europeu em grandes empresas à base do traba-
cial à da área de onde tinham sido rechaçados pelas armas. Iniciou-se lho escravo. O tráfico negreiro passava, assim, a ser o nervo da concor-
então a implantação sistemática da economia açucareira nas Anti- rência colonial. Na Inglaterra, organizava-se a Royal Mrincan Com-
lhas, à base do trabalho escravo(59). pany, em 1663, reorganizada em 1672(66).
Efetivamente, também este último setor da exploração ultramari- Desta forma, acompanhando o recuo da preponderância espanho-
na, o tráfico negreiro, outrora monopólio português, passava a ser la, os três setores fundamentais da exploração ultramarina, que indi-
objeto da concorrência internacional. Já em 1613 o.~ holandeses se fi- camos no início do capítulo, passaram para uma etapa de intensa
xavam em entrepostos na Guiné( 6U). Perfunctoriamente, os ingleses concorrência entre as potências européias. Comércio dos produtos
participam do tráfico desde o século XVI (expedição de John Haw- orientais, produção colonial, tráfico negreiro - são de aí por diante
kins em 1562), com grandes lucros(61). Esporádicas e assistemáticas objeto de afanosa competição por parte dos ingleses, franceses, ho-
foram também as primeiras tentativas francesas no setor(62). Nesta landeses, além dos precursores ibéricos. A concorrência colonial se
primeira fase ao que se visava sobretudo era contrabandear escravos pa- entrelaçava com as questões européias e esse entrelaçamento foi se
ra a América Espanhola, carente deles. Quando, porém, a concor- acentuando no cotrer da segunda metade do século XVII, engen-
rência se ampliou para o campo da produção colonial, com a ocupação drando tensões que se generalizaram nos conflitos da guerra de Su-
de áreas ultramarinas pelas novas potências concorrentes, a situação cessão da Espanha. Ã associação hispano-francesa, opunha a Ingla-
alterou-se notavelmente. Durante o seu domínio no Nordeste Brasi- terra a aliança com as Províncias Unidas e a casa austríaca de Habs-
leiro, os holandeses ocuparam Angola por algum tempo; foi como se

("iH1Cf. Celso Furtado - Formação Econômica do BrrJ.J1l, Rio de Janeiro, 195'), pp. ((,.lICf. C. R. Boxer - 5a/vadorde Sá and the 5truggle for Braul ,2nd Angola (1602-
30 segs. 1686). Londres, 1952.
(W1Cf. Alice P. Canabrava - .A mfluênÇla do Brasil nas técnicas do fabrico do açú. «(,~jNo capítulo seguinte, discutiremos mais a fundo a natureza da escravidão co;o-
car nas Antilhas francesas e mglesas no meado do sé(Ulo XVlh in AnutÍrto da Facul- nial e do tráfico negreiro; aqui só estamos preo(Upados em acompanhar as etapas da
dade de CiênclOS Econômicas e Administrativar da U. 5. P., São Paulo, 1947. instauração da concorrênóa colonial.
(601Cf. S. B. Clough e Ch. W. Cole, op. cit., p. 165. (6)lCf. Celso Furtado _ Formação Econômica do Brasil, Rio de Janeiro, 1959, pp.
(61 1Cf. E. Williams - CaPitalism & 5lavery, 2' ed .• N. York, 1961, p. 30. 36 segs.
(62 1Cf. Gaston Manjn - Histoire de I'erclavage dans leI colonles françaises, Paris, (M)Cf. E. Williams _ Capitalism & 5lavery, 2' ed., N. York, 1961, p. 31. K. G.
1948, pp. 3-10. Davies - The RoyaJ African Company, Londres, 19%.

38 39
burgo. Portugal, já o vimos, acabou por aderir à causa inglesa - de pria regulamentação dinástica já iam prevalecendo os princípios in-
que lhe resultou a incursão das armadas francesas de Du Clere (1710) gleses vitoriosos desde a gloriosa revolução de 1688, e alterando-se o
e Duguay-Trouin (1711) no Rio deJaneiro, sem maiores conseqüên- direiro público; as renúncias impostas implicitamente estabeleciam
cias{ 67 l, O conflito, originariamente uma questão dinástica espanho- que as suceSSões dinásticas não dependiam mais apenas de direitos
la, deu lugar, portanto, a um confronto global entre as potências. .hereditários mas eram limitadas por convenções internacionais. Bem
Ademais, o engajamento da França na pugna contra a Inglaterra en- o sentiria Carlos VI de Áustria, exatamente o antigo pretendente ao
fraquecia na Europa de Nordeste a posição da Suécia, aliada da Fran~, trono espanhol, que para sua própria sucessão viu-se na contingência
ça, permitindo a vitória russa (Pedro, o Grande) sobre Carlos de submeter à aquiescência das potências a «Pragmática Sanção>>(71).
XIJ(68), No quadro~ europeu. a questão propriamente dinástica A integridade territorial da França era mantida, mas os Países Bai-
alterou-se substancialmente com a morte deJosé I da Âustria (1711); xos de Espanha passavam à Áustria - chamando-se a partir de então
o arquiduque Carlos, pretendente ao trono espanhol apoiado pelos Países Baixos Austríacos - ; ficavam na realidade sob a tutela da Ho-
aliados (Inglaterra, Holanda, Portugal) era também o herdeiro do landa, erigindo-se destarte em autêntica barreira. Na Alemanha re-
Santo Império, e sua ascensão ao trono de Espanha reconstituiria cuava o poder imperial, criando-se mais um eleitorado (Hanover),
pràticameme o Império de Carlos V. Isto, evidentemente, fez recua- enquanto a casa de Brandenburgo dava mais um passo decisivo na
rem as potênctas marítimas no seu apoio à causa austríaca, propi- sua ascensão: o eleitor passava a chamar-se «rei da Prússia». Bem o
ciando as negociações. compreendeu Luís XIV que viu nos acordos de Utrecht o fim da velha
Os tratados de Utrecht, ultimados em Rastadt e Bade, inimizade com os Habsburgos, e recomendou no fim de seu reinado
constituiram-se numa definição do novo equilíbrio de forças(69). uma mudança na linha política exterior francesa, aproximando-se da
Reconhecia-se a ascensão da dinastia bourbônica ao trono espanhol, Áustria para enfrentar a Inglaterra ascendente.
e dessa torma se consolidava a aliança hispano-francesa, mas Filipe V A casa d' Áustria ficava enfim recompensada com Nápoles, o Mila-
(Filipe de Anjou, neto de Luís XIV) renunciava a seus direitos à co- nês, a Sardenha (que passou depois à casa de Sabóia), os «presídios»
roa de França. O objetivo do Rei Sol era alcançado, mas na realidade da Toscana e os já mencionados Países Baixos. O duque de Sabóia,
a Espanha pagava as compensações aos aliados. Do ponto de vista da além do condado de Nice e oucras compensações menores, recebeu a
pülítica exterior tradicional da França, de que Richelieu tinha sido o Sicilia (que posteriormente (1720) passaria à Áustria, em troca da
formulador mais explícito, esta solução significava o ponto terminal Sardenha).
da luta contra a casa d' Áustria, desalojada agora do trono Portugal colhia as vantagens da aliança inglesa. Na região platina
espanhol(70). Mas a guerra de Sucessão da Espanha fôra bem mais do recobrava a colônia do Sacramento; no norte do Brasil, fixava-se o
que isso, uma confrontação pela hegemonia européia e ocidental; e Oiapoc como limite com a Guiana francesa, abandonando a França
a Inglaterra, que liderou a aliança anti-francesa e enfim dirigiu as suas pretensões de navegação no Amazonas(72). Os tratados de Por-
negociações de paz, visava na contenda, antes de tudo, as possessões tugal com a França e com a Espanha se fizeram sob a égide da Ingla-
mediterrâneas espanholas e as colônias ultramarinas. Assim, na pró- terra, e receberam sua garantia. Efetivamente, preferia a Grã.
Bretanha que Portugal retivesse a Amazônia impedindo assim que a
ainda poderosa rival, a França, viesse a expandir nesta área a sua co-
Ib;ISobre os eventos dos lllllques frllnceses llO Rio deJllneiro, vide Pedro Calmon. lonização. Igualmente, era o Prata a entrada ideal para o contraban-
Histónado BraJiI, 2" ed., Rio de Jllneiro, 1963, t. m, pp. 986·1002. do para o império espanhol. Como observa Jaime Cortesão, os há-
(('~)Cr Ph Sllgnllc e A. St. leger . La prépondérance jrançaúe (]661. ]715), Pllris, beis diplomatas negociadores dos tratados (o conde de Tarouca e D.
1935.
(6'))Cr )llime Cortesão· Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madnd, pllrtt' !, t.
I. (Rio de)aneiro, 1952), pp. 19 segs. I· I Icr Pierre Muret . La prépondérance anglane (] 715-1763) > .:,. ed., PllflS. 1949.
I-UJG. Zellee· Ler TempJ Modemes, t. lI! dll Hisloire des Relatlons Internaliona- pp. ll-lO; 145·150.
les, dito por R. Renouvin (Pllris, 1963). pp. 96 segs. 1"2!Cf.)alme Cortesão, oI'. cit., p. 21.

40 41
Luís da Cunha) «tlveram a ajudá-los no seu jogo a carta decisiva das c~mpetlção francesa no mercado espanhol e prinClpalmente no
ambições britânicas»( ~ 'I). hls~ano-americano. Por outro lado, o segundo tratado de Methuen,
A Inglaterra, naturalmente, levava a parte do leão. N~ Antilhas, abnndo o mercado português aos tecidos ingleses criava também a
rn-ebeu da Françd. a ilha de São Cristóvão, ponco estratégico; na possibilidade de a indústria inglesa, através de Portugal, alcançar o
Amérita do Norte, a baía de Hudson, base do comércio de peles, a mercado da América portuguesa(761.
Acádia e a Terra Nova, zonas de pesca; no tratado de comércio rede- Desta forma, no novo equilíbrio assentado em Utrecht, o mundo
finiu as tarifas alfandegárias dos dois países. Da Espanha, além da colonial ultramarino pesava significativamente como elemento es-
mantença da ocupação de Gibraltar, recebeu o asiento, isto é, a con- sencial do equilíbrio das forças européias; os problemas dinásticos ou
cessão exclusiva do tráfico negreiro para as Índias de Castela, por territoriais europeus ligavam-se assim inextricavelmente com as ten-
trinta anos, e o «navio de permissão», ou seja, um navio de 300 tone- sões do ultramar. Utrecht, como todo acordo internacional, repre-
ladas que podia comerciar em Porto Belo por ocasião das feiras(74). sentava um ponto de parada, uma etapa no jogo das potências. As
Em síntese, no início do século XVIII redefinia-se o equilíbrio eu- flutuações do desenvolvimento político e econômico interno das na-
ropeu e colonial sob a égide da Inglaterra. Se a França conseguiu en- ções na etapa subseqüente havia de acrescentar novos lances na luta
fim a presença da família Bourbon no trono espanhol, foi à custa de p~la hegemonia, mas a posição de Portugal e de seu mundo colo-
pesados sacrifícios coloniais e comerciais em favor da Inglaterra. No nial, contudo, estava definida: a aliança inglesa era uma garantia de
contmente, por outro lado, a hegemonia francesa saia comprometi- sobrevivência do pequeno reino ibérico como nação colonizadora.
da; ficava excluída, pelos tratados, a hipótese de uma união efetiva Esta a posição com a qual atravessou, basicamente, ileso, a rivalidade
de Espanha e França sob o mesmo monarca, enquanto Inglaterra e colonial anglo-francesa, que dominou todo o século XVIII.
Holanda garanciam a «barreira» dos Países Baixos. Na Alemanha, li-
berta definitivamente da tutela austríaca, começava a despontar a
3) Tensões e cme
potência prussiana, futuro núcleo da unificação no século XIX; e na
Itália, igualmente, iniciava a casa de Sabóia a carreira, que a condu-
Examinemos, pois, ainda que sucintamente, as tensões geradas
ziria à posição de pólo da unidade italiana. No Oriente europeu,
pela competição colonial entre a paz de Utrecht e a eclosão da Revo-
contemporaneamente, começava a levantar-se, com o abatimento de
lução Francesa, com vistas a marcarmos mais nitidamente a posição
Carlos XII, o estado moscovita como potência européia(7».
de Portugal e Brasil neste contexto.
Era pois toda uma nova configuração que se despontava no qua-
O período que vai da Paz de Utrecht até o meado do século foi de
dro das relações internacionais, e nesse contexto é que se consolidam
relativa paz, marcada pela entente anglo-ftancesa; Dubois e depois o
as alianças de Portugal com a Inglaterra e da Espanha com a França.
cardeal F1eury, de um lado, do outro Stanhope e depois Walpole e o
Em troca de vantagens comerciais ultramarinas, os reinos ibéricos
partido whig comandavam essa orientação, no fundo, um compasso
conseguiam conservar a posse de seus domínios coloniais. Enquanto,
de espera para novos confrontos(77). A sucessão da Áustria, em 1740
porém, a França conseguia colocar no trono espanhol um príncipe
reabriu a crise européia, e por conexão a colonial. Durante o período
francês, a Inglaterra levava vantagens nítidas no plano econômico.
de paz, intensificara-se a concorrência colonial. Em termos de exten-
Os tratados comerciais com a Espanha, ao lhe assegurarem o as/emo
são dos domínios ultramarinos, os países ibéricos mantinham ainda
e o navio de permissão, garantiam-lhe outrossim a condição de «na-
os maiores quinhões. Portugal possuia o Brasil, ilhas oceânicas, en-
ção mais favorecida», pelo que a Inglaterra se resguardava de uma
trepostos numerosos na Ãfrica e residuais no Oriente. A Espanha
conservava a maior parte da América do Sul, a América Central e vá-
l-\) Idem. p_ 22.
1'·lIG ScelJe - La Ira/te négnáe aux Indes de Cajti/le_ Pafls. )')06, l 11 pp_ 523·
'iH) 1:6JCf. E. Lpson - Emnom/c hw0'Y ofEngland, t. 111, p. 112.
1-\ICf. G_ Zeller· op. at_ p. 132-13). P_ Murel, op. C/I .• p_ 277 (-7)Cf. P_ Murel - op. cit., pp, 6)-213.

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rias das grandes Antilhas, como Cuba e Pôno Rico; México e a Flón- demissã? de Dupleix e o tratado que seu sucessor Godeheu assinou
da, na América do Norte; as Canárias no Atlânuco, as Filipinas no ~om. <:5 IOgleses (17)4) não impediram que o confronto se tornasse
Pacw.co. A Holanda contava, sobretudo no Oriente, com as ilhas de lOevttavel(78).
Sonda, Ceilãoe a colônia do Cabo; na América, a Guiana e Curaçao. . Nas Antilhas, finalmente, a competição se propunha em torno da
Na costa leste da América do Norte, extendiam-se as treze colônias produ~ão açucareira e ~o tráfico africano. Nesta área, contudo, o jo-
inglesas; mais ao norte, Terra Nova e as terras da baía de Hudson; go de Interesses comphcava-se sobremaneira: a proximidade das co-
no Caribe ,Jamáica e várias pequenas Amilhas; no Oriente, os entre- lônias da fachada atlântica da América do Norte, sobretudo da Nova
postos da companhia das Índias Orientais. A França colonizava o Ca- Inglaterra, levava inevitavelmente à relacionação comercial entre as
nadá, atingia o Mississipi abrindo caminho para a Luisiânia, na planta~õ~s escravistas antilhanas, de produção especializada, e aque-
América Setentrional; nas Antilhas, possuia S. Domingos e ouuas las coloOlas de povoamento do hemisfério norte. Assim, os interesses
ilha menores; no contineme negro, entrepostos no Senegal, e no dos colonos da Nova Inglaterra se ligavam ao mercado do Caribe
mundo indiano as ilhas Bourbon e Ilha de França, além de ent[(~pos­ fosse das il?as inglesas, francesas, espanholas ou holandesas. Igual~
tos. ment~, os lOtere~s do tráfico, no qual a Inglaterra se ia situando
No quadro da concorrência, que então se intensificava, vantajosamente, vlOculavam-se aos mercados consumidores de escra-
apresentavam-se três zonas principais de tensões: na América do V?s, qualque~ que fosse a na~jonalidade dos compradores. Como po-
Norte, onde a colonização era predominantemente de povoamento, re~ as metrol?oles ~ompetlam na produção e comercialização do
a competição anglo-francesa se orientava em termos de ocupação de açucar:, o conflJto de lOtereSSes se complicava de forma inextricável, e
maiores áreas. A interligação, pelo Mississipi, do Canadá com a Lui- as vánas fó.rmulas do comércio triangular agravavam estas contradi-
siânia, praticamente barrava a expansão inglesa para o oeste america- ções no bOJO do sistema colonial(79).
no, ficando a colonização britânica limitada pelos Alleghanys. Por As guerras dos meados de setecentos (Sucessão da Áustria, 1740-
outro lado, a posse de Terra Nova pelos ingleses envolvia um tampão 1748; Sete Anos, 1756-1763), implicaram, como dissemos, em um
na embocadura do São Lourenço. A fricção tendia a se exasperar nes- novo confr~nto de hegemonias entre as potências rivais. A historio-
te período, sobretudo a propósito da posse do vale do Ohio: a partir grafia ~litlca européia pôs sempre em relevo, nessas guerras, acha-
de 17)3 abriam-se as hostilidades, que provocaram, na Europa, a ge- m~da ~JOversã~ do sistema de alian5as», isto é, o fato de a França, no
neralização dos conflitos, na gUerra dos Sete Anos (1756-1763, pnmeuo COnflIto ter combatido a Austria, aliando-se a ela no segun-
No mundo indiano, inicialmente, a concorrência se definia em do conftonto(80). O que porém importa destacar é que em ambas as
termos de domínio das principais rotas wmerciais, que punham essa gue:ras Franç~ e Inglaterra colocaram-se em campos opostos, e isso
imensa região em contauo com o mercado europeu. Dos entn:postos deVIdo essenCIalmente à concorrência colonial. De fato, a política
de Madras e Calcutá, os ingleses, das feitorias de Pondichéry e Chan- ~ra~c~sa, dur~nte a regência de Filipe de Orleans não dá seqüência
dernagor, os franceses, - os dois grandes rivais procuravam açam- as ultll1]as o~lentações d.e Luís XIV, que preconizavam aproximação
barcar o rico veio do comércio oriental. A decadência do poderio po- com a Auswa, e entrevIam na Inglaterra o grande adversário(81). A
lítico do Grão Mogol, a progressiva autonomização dos pequenos es- polític~ regencial, pelo contrário, conduzida por Dubois, levou a
tados indianos, as lutas constantes entre estas pequenas entidades uma ahança com a Inglarerra, que persistiu até 1740. É que proble-
políticas, propiciavam, naturalmente aos europeus oportunidades
de se imiscuirem em tais contendas, a fim de garantir seus esta bale- (78JCf. P. M~ret - op. cit., p. 488. C. Oavies - «Rivalries in India», New Cambrid-
clmemos e mesmo alargar suas posições, reservando-se áreas de in- g(7~odem Hmory, Cambridge, _1957, v.?L ,vII, p. 562.
fluência; o passo era pequeno para que se projetasse enfim uma au- Cf. Celso Furtado - Formaçao Economu;a do BraJiJ p 41. E. Williams _Capi-
ta/ism & Skwery, pp. 51 segs. ' .
têntica dominação política, e Dupleix, ao tempo dirigente supremo
(!IO)Cf: G. Zeller - op. cito (t. III da Histoire dei reJatiom intemaJionoln, dir. P.
da companhia francesa, não hesitou em ultrapassar esse limite. A Renouvm), pp. 222 segs.
reação inglesa não se fez esperar, agravando-se os antagonismos. A (Bl>(:f. Ph. Sagnac - A. St. Leger _ La préPondérance franfoise, p. 513.

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mas dinásticos permaneciam pendentes, depois de Utrecht. Na lando então o desenvolvimento militar e político desta última para
França, o regente entrevia a possibilidade de cingir a coroa, pois era enfrentar a penetração inglesa no seu mundo ultramarino.
delicada a saúde do herdeiro (o futuro Luís XV); isso levava a um es- A abertura da crise da sucessão austríaca (1740) pôs em xeque a
friamento das relações com a Espanha, pois Filipe V de Bourbon cer- política de Fleury; o partido anti-austríaco, que revivia -a política tra-
tamente reivindicaria o trono francês apesar da renúncia que lhe ti- dicional francesa, superava as resistências do velho cardeal, e a Fran-
nha sido imposta. Na Grã-Bretanha, George, o pnmeiro Hannover, ça, aliando-se à Prússia de Frederico 11, encabeçava a coligação contra
enfrentava a oposição do partido jacobita. Ao rei da Inglaterra e ao Maria Teresa. Sabe-se como esta resistiu tenazmente, apoiada pela
regente da França interessava, portanto, a consolidação dos acordos Inglaterra. O conflito se generalizou, atingindo o mundo colonial:
de Utrecht e pois das renúncias que eles estipulavam. A Filipe V de na América, os ingleses tomaram Loui.sbourg, posto avançado francês
Espanha, pelo contrário, interessava sua alteração, pois não se con- na embocadura do S. Lourenço; na índia, Dupleix levava a melhor
formara com a perda pela Espanha das possessões italianas, passadas em Madtas. Na paz de Aix-Ia-Chapelle (1748) porém, França e In-
em Utrecht às casas de Áustria e de Sabóia. Enquanto a Espanha, cu- glaterra devolveram mutuamente as conquistas coloniais, e a situa-
ja política era dirigida por Alberoni, tendia a apoiar o partido jacobi- ção voltou ao statu quo anteCS4 ). A paz de Aix-Ia-Chapelle, na reali-
ta, a França encaminhava-se, sob a regência, para a aliança dade, não foi mais que uma trégua, e o peródo de 1748 a 17)6,
inglesa(82). A intervenção armada espanhola na Sicília (julho 1718), quando se abriu a guerra dos Sete Anos, foi uma autêntica paz-
induziu o imperador (Carlos VI, que se não conformava com a perda armada, e as competições coloniais, foram então levadas ao climax.
da coroa espanhola) a aproximar-se da aliança franco-inglesa (à qual Na nova guerra, a França aliava-se à Âustria contra a Prússia; era a
a Holanda também aderira); a frota inglesa aniquilou as forças espa- famosa «inversão de alianças», urdida pelo chanceler austríaco Kau-
nholas.no Mediterrâneo, o que levou à queda de Alberoni. A Sicília nitz. A Inglaterra, naturalmente, colocava-se no campo oposto, e o
passava para o Império, recebendo o duque de Sãbóia, em consola- confronto no mundo colonial, gênese aliás do conflito (atritos no va-
ção, a Sardenha (1720), e a sucessão de Parma e Toscana recairia so- le do Ohio, pOnto de fricção entre as colonizações francesa e inglesa
bre o filho do segundo casamento de Filipe V, com Elisabeth Farné- na América do Norte) atingia proporções decisivas. Para enfrentar a
sio. O rei de Espanha entabulou, então, negociações diretas com Superioridade naval inglesa, o ministro francês Choiseul conseguiu a
Viena, que chegaram a bom termo em 172'): em troca do reconheci- aliança espanhola, estabelecendo-se, em decorrência, o Pacto de Fa-
mento da «Pragmática Sanção», a Áustria entregaria os domínios do mília (agosto de 1761).
sul da Itália a D. Carlos (filho de Filipe V da Espanha e Elisabeth Só então Portugal foi envolvido no conflito. Efetivamente, a polí-
Farnésio, o futuro Carlos 1II), o qual, abandonaria, então, a Tosca- tica exterior de D. João V vinha conseguindo manter a neutralidade
na. A pouco e pouco, por meio de negociações laboriosas que envol- ao longo de todas as crises da primeira metade de Setecentos. Em
veriam problemas de equilíbrio em várias partes da Europa, as po- 1719, resi.stiu à pressão britânica eximindo-se de entrar para a Quá-
tências acabaram por sancionar este ajuste nos Tratados de Viena drupla Aliança (Inglaterra, França, Holanda e Império) contra as
(1738)(83). pretensões de Filipe V na Itália; em 1733, igualmente, ficava à mar-
Entrementes, com o término da regência na França, o cardeal gem dos debates e conflitos em torno da sucessão polon.esa; final-
Fleury passava a comandar a governação. Hábilmente, sem romper a mente, co9-seguira manter a neutralidade em face da guerra de Su-
política de aliança com Inglaterra (conservada, também, por Walpo- cessão da Austria, que já era um conflito europeu e envolvia mais de
le, que contemporaneamente sucedera a Stanhope), a diplomacia perto os problemas coloniais(8S). No reinado de D. JOSé I, o consula-
francesa consolidava a aliança bouroonica com a Espanha, estimu- do pombalino prosseguiu na mesma linha política, conseguindo
{~4)Cf. G Zeller,op at., p 221 M. Thomson - «The warof Ausuian succeSlon»,
IH2ICf.). O LlIldsay .• International rclations». In New Cambndge Modem Hn· [fiNew eambridge Modem HlJtory, vol. VII, p. 437.
10'1, vol VII. p. 1')4 P. Murer. op. cito pp. (,5 segs. (R\)Cf. G. Zeller, op cit., p 229segs.J. H. Parry e F. ThisdetwaÍle· ~Rivalries in
IH\ICf G. Zelter _ 0/1 C/t • pp. liO seg_. America~, in New Cambndge Modem Hl.ftory, vol. VII, pp. 514 segs.

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eximir·se do confronto generalizado que foi a guerra dos Sete Anos, Tinha êxito, pois, ainda uma vez a linha adotada por Portugal
até a formação do Pacto de Famllia. Contando continuar a política desde a Restauração, e consolidada na crise da sucessão espanhola. À
de neutralidade, não se acautelou militarmente o Marquês de Pom- permanente ameaça espanhola, com vistas à recomposição da unida~
pai, diante do agravamento do conflito, que acabaria por envolver de ibérica, agravada na medida em que se solidificava a aliança
Portugal - e nisso não seguiu os ditames do testamento de D. Luís da his~ano-f~ancesa, tinha; como contrapartida, por parte de Portugal,
Cunha(86). De fato, comprometendo-se a Espanha a guerrear o Rei- a ahança mglesa. Tal aliança envolvia favores de narureza sobretudo
no Unido, não tardou a intimação franco-espanhola, exigindo per- comercial em troca de proteção política nas relações internacionais, e
missão para que tropas dos Bourbons pudessem instalar -se nos por- a preservação dos domínios ultramarinos. A diplomacia portuguesa
tos lusitanos a fim de obstar um possível desembarque inglês. Os procurou constantemente minimizar o ônus que a aliança envolvia;
preparativos portugueses se fizeram à pressa para a defesa diante da para tanto, jogou por várias vezes com a alternativa de uma aproxi-
invasão espanhola i iminente, contratando·se os serviços militares do mação francesa para comedir a tutela britânica(89), mas nos momen-
príncipe de lippe, e contando com um auxilio britânico: armas e sete tos críticos reforçava com habilidade os laços com a Inglaterra. O im-
regimentos. Tal a gravidade da situação que se cogitou, chegando-se perativo da preservação do ultramar, por seu turno, inspirava a na-
mesmo a preparar, a mudança da corte para o Brasil(87). ção por uma política de neutralidade, observada em todo o período
Na península, as hostilidades, iniciadas em abril de 1762 não pas- e só abandonada in extremis; assim, dependia-se menos da Inglater-
saram, na realidade, de escaramuças que duratam até novembro, ra, e esta menos podia exigir pela proteção. Nos confrontos globais,
quando as negociações de paz entre a Inglaterra e as nações do Pacto porém, era pela solução inglesa que se optava, pois só esta - dada a
de Família chegaram a um armistício. Em fevereiro de 1763 firmava· crescente superioridade marítima da Inglaterra(90) - podia garantir
se em Paris o Tratado que pôs fim à Guerra dos Sete Anos. A pacifi- a preservação das colônias.
cação consagrava a vitória inglesa em toda linha, e Portugal, aliado à Assim a pequena monarquia peninsular atravessou sem perder os
potência vencedora, saia indene do conflito, logrando preservar ile· seus domínios ultramarinos a fase de mais aguda tensão da época
sas suas colônias. moderna, até a crise final do Antigo Regime. No Oriente, depois do
Efetivamente os britânicos recebiam o Canadá, o vale do Ohio e a naufrágio da dominação portuguesa devido à competição das novas
margem esquerda do Mississipi, na América do None; na Índia, a potências durante o período filipino, foi possível pelo menos manter
França renunciava a toda e qualquer pretensão política - abrindo- os últimos entrepostos (Goa, Diu, Macau, etc.) ao longo do século
se, então, o caminho à expansão inglesa - guardando apenas cinco XVIII.
entrepostos. Tendo a Espanha perdido para a Inglaterra, no curso da No Brasil, em compensação, ampliava-se a área de dominação efe-
luta, a sua colônia na Flõrida, recebia como compensação a Luisiânia tiva; já durante a união ibérica o movimento de devassamento conti-
francesa, última colônia da França na Am~ica Setentrional. A pre- nental ultrapassava de muito o meridiano fixado de jure em Tordesi-
ponderância inglesa consolidava-se de forma irreversível(88). lhas. A expansão prosseguiu após a restauração de 1640 em todas as
direções(91). Enquanto a expulsão dos holandeses de Angola (1648)
e de Pernambuco (1654) restaurava a posição portuguesa no Atlânti-
co Sul, a expansão territorial levava, em 1680, ao estabelecimento da
,(~6)Cf.J_ Lúcio de Azevedo _ O Marquês de Pombal e sua t.poca, p. 236. Manter
forças armadas em preparo, que .nO$ darão tempo para resistirmos aos primeiros in- Colônia do Sacramento frente a Buenos Aires, na embocadura do
sultos d~s mimigos, e para esperarmos os socorros que tivermos estipulado com o Prata, entrada para a América espanhola, ponto inicial de uma rota
nossos ahados» é o que recomendava D. LuÍ5 da Cunha, no famoso Testamento po-
lillcf! (ed. cit., p. 43). (84JCf. nota 37, as sugestões de Alexandre de Gusmão.
(~;)Cf. Pedro Calmon - História do Brasil,2".ed, Rio de Janeiro , 7
}l'6' t IV p
('JO)Cf. Cambndge History of lhe BntlSh Empire, dir. por). H. Rose, A. P. New·
1185. :'>,.,_
ton e E. A. Benians (Cambridge, 1960), t. I, pp. 507 segs.
(88)Cf. Ph. Sagnac _La fin de "Anczrn Régime et la Rêvo/ution Amencaine (1763- ('J11Cf. Basílio de Magalhães - ExpansJo Geográfica do Brasil Co/amai, 3' ed., Rio
1789),3' ed., Paris, 1952, pp. 4 segs-. deJaneiro, 1944,pamm.

48 49
de acesso ao metal nobre das regiões andinas(92). O contrabando cia, esses pontos de encontro vão se transformando em zonas de ten-
português no rio da Prata vinha de longa data, e durante a união sdo. SobH:tudo na fronteira sul, a rígor a única fromeira «viva.,
ibérica tivera o seu ponto alto. O estabelecimento da Colônia reabria os conflitos se complicaram e agravaram por todo este período,
a questão(93). arrastando-se para a época de crise do sistema colonial, prolon-
Assim, o século XVIII foi o momento decisivo de definição das gando-se m~smo para depois da Independência(96). De qual-
fronteiras entre a América portuguesa e as Índias de Castela«J4). O quer forma, Já desde 1737, a ação do brigadeiro José da Silva Pais-
grande movimento de penetração impulsionado no século anterior ocupação e colonização do «continente. do Rio Grande<97) - já es-
vai assumindo ao longo de Setecentos as feições de uma política de- boçava a perspectiva que havia de ser clara e brilhantemente formu-
finida de arredondamento territorial: o domínio do vale amazônico, lada por Alexandre de Gusmão e concretizada no Tratado de Ma-
a margem setentrional do Prata, a posse dos planaltos centrais. Nos drid(98): a cessão da colônia em troca das missões jesuíticas, arredon-
tratados de Utrecht, grande vitória diplomática de D. Luís da Cunha dando o território, impedindo as soluções de contigüidade. A com-
e do conde dt' Tarouca. -::'0 se fixar o statu quo ante ~el/um, já se la petição colonial era porém de tal ordem, que uma tal solução, que
engendrando o princípio da posse definitiva{9''i); ao norte, cedendo a hoje se nos afigura tão obviamente a mais racional, não teve condi-
França às reivindicações portugueSas, fixava-se o Iimüe no Oiapo- ções de ser implementada efetivamente, e os problemas se arrasta-
que, e no sul se impunha a devolução da Colônia do Sacramento, ram, permanecendo a zona de tensão.
bastião português isolado nas margens do Prata, em frente a Buenos Assim, ao lado das zonas de tensão entre as potencias dominantes
Aires. Ao longo do século, e acompanhando as vicissitudes da políti- em luta pela hegemonia, França e Inglaterra (nas Antilhas, na Amé-
ca portuguesa de neutralidade e dos confrontos entre França e Ingla- rica do Norte, no Oriente), entre os países coloniais ibérícos se vão
terra, os ajustes vão se realizando no norte, no oeste e no sul do Bra- formando ao mesmo tempo outras zonas de tensão (sobretudo a re-
sil; na medida em que os problemas coloniais crescem em importân- gião platina). Os dois tipos de conflitos correm paralelos, e se inter-
relacionam continuamehte até a crise do sistema colonial.
O período que se segue ao Tratado de Paris (1763), até a Revolu-
ção Francesa e crise do Antigo Regime, em todos os seus aspectos,
marca o apogeu da preponderância inglesa, na Época Moderna. Efe-
('!2)Cf. Sé rglo
. Buarque de HoIan d a - ~A colonla•. de Sacramento e a expansão no tivamente, o término da Guerra dos Sete Anos, consagrando a su-
extremo sul», in Hútória Geral da CiviJizaçiio Brasileira, dir. por S. B. Holanda,"t. premacia marítima e comercial da Grã-Bretanha. com o esvasiamen-
J, vol. I (São Paulo, 1969), pp. 322-364. to do mundo colonial francês, colocava o Reino Unido numa posição'
1')\)Cf. Alice Canabrava - O comércio português no Rio da Prata, São Paulo, 1944. de ascendência nas relações internacionais(99). Tal situação era o tér-
Jaime Cortesão. «O território da Colônia do Sacramento e a formação dos estados
platinos~, Revista de Hútóna, São Paulo, n. 17, 1954. pp.135-165.
mino de um processo ascendente que remontava ao século XVII e ao
('J4)N-ao ca be aquI,. natura Imente, um estu do exaustivo da fixação das fronteIras e período cromwelliano. Com o declínio da preponderância espanho-
da formação territorial do Brasil colÔma. Vejam-se: F. A Varnhage,n· Histón'a Ge-
rai do ~rasiJ, 3.' ed:, t. IV, p.a,rsim. J. Capistrano de Abreu - Capítulos de Histónd
Col?mfJ!, 4~ ed., RIO de Janelfo, 1954, pp. 283- 304. Jaime Cortesão - "A imegra~ào (%lPara a história atribulada da Colônia do Sacramento vide Jônathas da Costa
termona! do Brasil. in Histón'a de Portugal, dir. por Damião Peres, t. VI (Barcelos, Rêgo Monteiro - A Colônia do Sacramento (l688-1777), Porto Alegre 1937, 2 vs.
1934), pp. 673-741.Jaime Cortesào - Alexandre de Gusmiiu e () Tratado de Madnd. Dauril Alden - Royal Govemment in Colonid Brazil, Berkeley, 1968, pp. ')9 segs.
Rio deJaneiro, 19')2,9 v. Pedro Calmon - História do BraJl/, 2" ed., Rio deJaneiro, (?7)Cf. Pedro Calmon - op. át., p. 1133.
1963, t. IV. Arthur Cézar Ferreira Reis - •.Tratado de Limites» in Hátóna Geral da ('JIIl(:r. Jaime Cortesão _ Alexandre de Gusmiio e o Tratado de Madrid, I parte, t.
CiviJizaçiio Brasileira, dir. por Sérgio Buarque de Holanda, t. I. vol. I (São Paulo, lI, p. 83-179.
1960), pp. 36')-379. José Carlos de Macedo Soares - Fronteiras do Brastl no Regime ('J~)Cf. M. S. Anderson _ cEuropean diplomatic relations 1763-1790., New Ca-
Colomal, Rio de Janeiro, 1939. bridge Modem History, vol. VIII, pp. 252·277. Ph. Sagnac - ÚJ fin de I'Anáen
('J~)Cf. Pedro Calmon - Histón'a do Brasil, v. IV, p. 1134. Régime et la Révolution Américaine, Paris, 1952, pp. 4 segs.

50 5]
la, o cetro hegemônico passara, na Europa, para a França de Lu~ de seu sistema colonial(l02). A França, vencida, depois de 1763, pas-
XIV, enquanto no Ultramar o poderío holandês atingia o seu ápice. sou a desenvolver uma política de isolacionismo nos problemas da
Ora, no quadro das guerras de Luís XIV, a Inglaterra conseguiu de- Europa continental, com vistas a um reforçamento interno, na es-
salojar a posição das Províncias Unidas; hostilizando-as de início preita de uma ocasião para a revonche; tal política, wnduzida sobre-
(guerra anglo-holandesa), defendendo-as depois e~ face do expan- tudo por Vergennes, levou a uma agudização das tensões na Europa
sionismo francês na Europa, a Inglaterra conseguiu rebaixar a Holan- oriental, com o recuo do Império Otomano e enfraquecimento da
da a potência de segunda grandeza, que passava, desde então a girar Polônia, antigos aliados da França; em contrapartida, crescia o pode-
na sua órbita de influência. O grande conflito da sucessão de Espa- rio da Prússia, da Rússia e da Ãustria, aliadas depois da crise do mea-
nha veio a consolidar também esta situação. do do século. Isto permitiu a primeira partilha da Polônia,
agravando-se as tensões num crescendo até a eclosão da Revolução
Ao longo do século XVIII, excluida a Holanda, a pugna pela he- Francesa(103).
gemonia política e comercial desenrolou-se entre a I~glaterra e a No Ultramar, comemporaneamente, a posição dominadora da In-
França; os tratados de Utrecht já configuravam uma posição vantajo-
glaterra começava a esbarrar na resistência de suas próprias colônias
sa para os ingleses, e os confrontos do meado do século consolidaram americanas, que resisti~ à pressão metropolitana para enquadrá-l~
sua hegemonia. Através dos Tratados com Portugal (Methuen), da' nos limites estreitos do Pacto Colonial(l04). Isto agravava ainda mais
obtenção do asiento esponhol, e sobretudo através do intenso con- a tensão nas Antilhas, dado que o esquema inglês importava numa
trabando - o comércio inter/ope como era então chamado - a In- contenção do comércio triangular(105). A tensão antilhana era ainda
glaterra penetrou fundo nos mercados coloniais ibéricos(lOO). estimulada pela França, que nesta área ainda oferecia resistência ao
Completava-se, assim, a tutela britânica. domínio inglês; é a época de máximo desenvolvimento de S. Do-
É de notar-se que nessa longa competição das potências européias mingos. No climax desse processo, a resistência das colônias inglesas
pela. hegemonia mundial, o contrôle do mundo ultramarino repre- da América do Norte rompeu enfim as amarras do sistema e fêz eelo-
sentou papel fundamental. O contrôle sobretudo, dos mercados co- dir a guerra de Independência (1776). Era o momento aguardado
loniais americanos estava no cerne do equilíbrio que se ia alterando; pela França, que apoiou os insurretos, car~eando a Espanha na mes-
assim, é possível estabelecer o paralelismo en~e prepo?~erânci~ e ma aliança anti-inglesa; o reconhecimento dos Estados Unidos inde-
domínio do tráfico negreiro, nervo das economlas COloOlatS amenca- pendentes e os Tratados de Versalhes (1783) apresentaram-se, assim,
nas. O asiento espanhol, controlado pelos cristãos-novos portugueses como revonche aos tratados humilhantes de 1763.
durante a união ibérica, passou à órbita do capitalismo holandês em A realidade, porém, transcendia a essas aparências manifestas no
seguida, para ser, por um período, dominado pela companhia fran- nível das relações internacionais. Nem a independência dos Estados
cesa da Guiné;finalmente, são os ingleses que o controlam até 1750, Un'idos era um simples. episódio na longa pugna pela hegemonia en-
mas o término do conflito não diminuiu o surto do tráfico inglês. tre as potências européias, nem a Inglaterra fôra barrada no seu de-
Assim, a competiçâo colonial estava no próprio centro da luta pela s~nvolvimento ascendente pela separação da Nova Inglaterra. Defa-
hegemonia, e refletiu a sucessâo das preponderâncias européias(lOl). to, a secular ascensão inglesa no domínio do comércio ultramarino,
Na posição de hegemonia, a Inglaterra pôde levar ao limite a ex- associada a processos sócio-econômicos internos nó Reino Unido,
ploração do mercado ultramarino, o que levou a um enrijecimento
1101)Cr. H. E. Egerton • A short History o/ lhe Bntish Colonial Poliey, Londrés.
(IOOJa. Olga Pantaleão . A penetrllfâo comercial do Inglate"a na América espa-
1<)50. pp. 147 segs. H. U. Faulkner· Amenean Economie ljistory. 81 ed., N. York,
nhola de 1713 a 1783, São Paulo, 1946, A. K. Manchester - Bn"tish Preeminenee in pp. 107 segs.
Brazil, Chapel Hill, 1933. (JII\)Cr. M. S. Anderson· op. cil. Ph. Sagnac· op. cit.
(IOIJa. G. &elle. La Traite Négtiereaux Indes de C(JJtille, Paris, 1906, t. I. pp
(104)CL H. Faulkner . op. cito S. E. Morison e H. S. Commager - The growth o/
317 segs. Rozendo Sampaio Garcia - Contnbuiçiio ao efludo do aprovisionamento lhe Amenám Republie, N. York, 1960, t. L pp. 128 segs.
de escravos negros na América espanhola, São Paulo, 1962. (In~)Cr. E. Williams· Capitalism and 5/avery. pp. 98 segs.

52 53
a~n~m enfim a rota irreversível da economia inglesa para o indus- naturalmente, a da neutralidade; a proteção política da Inglaterra
mahsmo. Na década de 60 dQ século XVIII, quando atingia o ápice era l?aga com vantagens comerciais que alcançavam o mercado ultra-
a preponderância britânica, a mecanização da produção industrial manno, ~ de quanto menos proteção necessitasse menor o custo da
inglesa dava seus primeiros e decisivos passos(106( Era a Revolução tutela. Assim, no plano político internacional, a preservação do ui-
Industrial em marcha. Por outro lado, a independência dos Estados tram~ português se torna c~ndição. mesma da existência metropoli-
Unidos - uma colônia que se separa da metrópole não por ter sido tana; e sua mo~d~ de garantIa. Por ISSO, nas crises mais graves de que
caplUrada por outra potência, mas para constituir uma nova nação -se não pôde ~Iml~, a metrópole lusitàna optou sempre, ao fim e ao
sober~na - transcendia os limites do antigo sistema colonial, abrin- cabo, pela alIança mgl.esa que lhe defendia as colônias, inclusive pa-
do asSIm o caminho para a crise do Antigo Regime. Ê pois neste qua- ra explorá-las em seguida - talo círculo vicioso infernal da competi-
dro de hegemonia da Inglaterra industrial e de crise em processo do ção das potências. Naquelas crises em que Espanha se envolveu em
Antigo Regime que devemos situar a posição do Brasil e de Portugal; razão de sua aliança francesa nos problemas europeus, tornando-se
pequena metrópole aliada à Inglaterra para preservar seus extensos um perigo iminente pela tendência de refazer a união peninsular,
domínios ultramarinos. Portugal é obrigado a poiar-se no poderio inglês. Assim na luta de
sucessão da Espanha, assim na Guerra dos Sete Anos quando já se
cogita e mesmo prepara a mudança da Corte para o Brasil, assim na
crise final do Antigo Regime que se manifesta, no nível das relações
Retomemos, agora, as principais considerações deste capítulo, pa- internacionais, nas guerras da Revolução e do Império napoleônico,
ra fixarmos melhor aqueles elementos conclusivos que importam pa- quando esta solução extrema é enfim levada à prática.
ra a análise de nosso tema. A sucessão de preponderâncias - espa- No plano das relações internaciqnais, que é o de que tratamos
nhola, francesa, inglesa - que caracteriza as relaçôes internacionais aqui, a explicitação da posição dos países ibéricos, e mais particular-
entre o Renascimento e a Revolução Francesa, dimana do próprio mente de Portugal e seu Ultramar, no curso de alianças, é já um pri-
processo de formação dos estados modernos que foi a metamorfose meiro elemento da mIe do Antigo Sútema Colonial: a defasagem
política básica desse período. Profundamente vinculada à formação entre a posiçãO política e econômica das metrópoles ibéricas no qua-
dos ~st~dos modernos europeus, a expansão ultramarina e dro do equilíbrio europeu e a extensão e importância comercial de
colo~lallOsere-se como elemento decisivo no jogo político das hege- seus domínios ultramarinos só se pôde manter até o fim do século
monias. XVIII graças à rivalidade entre as potências ascendentes, Inglaterra e
Os países ibéricos, perdida a posição de vanguarda e mesmo de França. Tal situação, até certo ponto artificial, foi possível enquanto
prep<;mderância, reduzidos a estrelas de segunda grandeza e em de- os conflitos se desenvolveram dentro dos quadros de possibilidades
termlOados momentos envolvidos em perigosas depressôes, conse- do Antigo Regime e do Sistema Colonial mercantilista; quando, a
guem não obstante preservar sua autonomia eurqpéia e manter seus partir da independência das colônias inglesas, é o própno sistema
extensos domínios ultramarinos - ainda os mais extensos até o final que entra em crise, a situação não mais se sustenta. De qualquer for-
d,o s~culo XVIII -. exatamente por causa da competição entre as po_ ma, a simples preservação daquela defasagem até o final do século
tenC1~ que asc:ndlam econômica e polidcamente, Inglaterra e Fran- XVIII, implica evidentemente num fator de desajuste e desequilí-
ça. VlOculado a Inglaterra, que enfim sai vencedora da longa dispu- brio, e pois num elemento de crise.
ta, Portugal pôde mais que Espanha, aliada da França, atravessar a Esta observação é tanto mais importante quanto nos leva a consi-
longa ~ucessão de tensões preservando seus domínios, entre os quais derar que é este primeiro elemento - a situação de Portugal e seus
o Brasil é o núcleo essencial. Firmado nesta posição, sua política, era domínios ultramarinos no contexto das relações de forças econômicas
e políticas do fim de Setecentos - que nos permitirá compreender a
(1U6JCf. E. Hobsbawm - En torno a losorígenes de la revolución induslnal. trad. maneira peculiar e específica de manifestar-se aí a crise final do pri-
esp .• 2' ed., Buenos Aires, 1972. pp. 89·114, espeçialmente pp. 104 segs. meiro colonialismo europeu. Temos pois que fixar este ponto de
54
55
partida de nosso estudo; mas é apenas o ponto de partida, e se qui-
sermos compreender a última etapa do Antigo Regime e do Sistema
Colonial Mercantilista, para eStudar lucidamente a política ultrama-
rina portuguesa na sua colônia americana nesta quadra crítica, deve-
mos agora transcender o nível agitado das relações internacionais pa-
ra nos aprofundarmos nos fenômenos estruturais de longa duração.

CAPÍTULOJI

A CRISE DO ANTIGO SISTEMA COLONIAL


Se, na realidade, a posição relativa de Ponugal e do Brasil no qua-
dro das relações internacionais do fim do século XVIII, permite-nos
começar a perceber o modo específico de como são envolvidos pela
crise do Sistema Colonial e do Antigo Regime, é claro que precisa-
mos agora explicitar a natureza e os mecanismos dessa crise em si
mesma. Ê do estudo do próprio sistema de colonização que temos de
partir, pois a crise, que então se manifesta, expressa mecanismos
profundos, que só se apreendem nessa análise global e generalizado-
ra. Do contrário, ficaríamos na constatação de manifestações da crise
em vários setores da vida pol1tica e econômica da época, sem entre-
tanto compreender as relações que as vinculam umas às outras, e lhes
dão sentido. Sistema colonial, efetivamente, constitui-se no compo-
nente básico da colonização da época mercantilista, o elo que permi-
te estabelecer as mediações essenciais entre os diversos níveis da reali-
dade histórica. Importa, portanto, distinguir os mecanismos de seu
funcionamento, para apreender as contradições que lhe era:n ima-
nentes, e enfim explicitar a crise em que afinal desaguou. E o que
tentaremos nesse capítulo.
1) Estrutura e Dinâmica do Sistema
a) A colonização como sistema
Numa primeira aproximação, o sistema colonial apresenta-se-nos
como o conjunto das relações entre as metrópoles e suas respe~tivas
colônias, num dado período da história da colonização; na Epoca
Moderna, entre o Renascimento e a Revolução Francesa, parece-nos
conveniente chamar essas relações, seguindo a tradição de vários his-
toriadores (Beer, Schuyler, Lipson), Antigo Sistema Colonial da era
56 57
mercantilista. E já esta primeira abordagem, ainda puramente des- ros nos portos do Brasú:,,(4), a legislação colonial colbertiana(~), os re-
critiva, permite-nos estabelecer para logo uma primeira distinção d,e gulamentos das companhias de coméróo(6), etc., são exemplos'sig-
não somenos importância. Nem toda colonização se processa. efeu- nificativos no imenso corpo da legislação ultramarina da Europa dos
vamente, dentro dos quadros do sistema colonial; fenômeno mais Tempos Modernos, para se apreenderem os denominadores comuns
geral, de alargamento da área de expansão humana no globo, pela a que nos referimos. Paralela e contemporaneamente, enquanto se
ocupação, povoamento e valorização de novas regiões -- em suma, a desenrola o processo concreto da colonização, os corifeus da econo-
orgaOlzação do ecúmeno, no dizer do geógrafo Max. Sorre(1) - , a mia mercantilista teorizam a p'osição e função das colônias no qua-
colonização se dá nas mais diversas situações históricas. Nos Tempos dro da vida econômica dos Estados europeus; fixam, assim, num
Modernos, contudo, tal movimento se processa travejado por um sis- plano mais abstrato, os fins e objetivos visados nos empreendimen-
tema específico de relações, assumindo assim a forma mercantilista tos coloniais, e a legislação não faz na realidade mais que tentar levar
de colonização, e esta dimensão torna-se para logo essencial no coo- à prática os princípios formulados pela teoria mercantilista.
junto da expansão colonizadora européia. Noutras palavras, é o sis- Se quisermos, portamo, orientarmo-nos segurameme no quadro
tema colonial do mercantilismo que dá sentido à colonização euro- enorme da história colonial européia, nesta tentativa inicial de carac-
péia entre os Descobrimentos Marítimos e a Revolução Industrial(2). terização, parece conveniente panit do modelo típico das relações e
Tanto isso é exato que não é impossível distinguir, na extrema va- do funcionamemo do pacto colonial da política econômica dos esta-
riedade que assumem as relações metrópole-colônia ao longo dos sé- dos colonizadores, tal como o formularam os teóricos da política
culos XVI, XVII e XVIII, variando ainda de metrópole para metró- mercantilista. Formulou-o, entre tamos outros, antes e depois, com
pole e de uma colônia para Qutra, certos denominadores comuns que meridiana clareza, Posdethwayt em 1747: «As colônias ... devem:
acabam por prevalecer, persistências do essencial a ~e preservarem na primeiro, dar à metrópole um maior mercado para seus produtos;
complexa variedade das circunstâncias históricas. As relações colo- segundo, dar ocupação a um maior número dos seus (da metrópole)
niais podem, na realidade, ser apreendidas em dois níveis: primeiro, manufatureiros, artesãos, e marinheiros; terceiro, fornecer-lhe uma
na extensa legislação ultramarina das várias potências colonizadoras maior quantidade dos artigos de que precisa»m. Noutros termos, e
(Portugal, Espanha, Holanda, França, Inglaterra); ségundo, no mo- em linguagem moderna, as colônias se deviam constituir em fator
vimento concreto de circulação de umas para outras, isto é, no co- essencial do desenvolvimento econômico da metrópole. Isto, em teo-
mércio que faziam entre si, e nas vinculações político-adminis- ria. A história real porém se desenrola mais no plano do atípico e do
trativas que envolviam. A legislação colonial, na realidade, o
que procura é disciplinar as relações concretas, políticas e sobretudo (!)ColleçJo das Leys e Ordens que prohibem_os NaVIOS Estrangnros. assim os de
econômicas. Para o que temos em vista, contudo, n~ste momento de Guerra, como os Mercantes, nos Portos do Brazl/. A. H. U. (Lisboa), cód. I. 193 e
nossa análise, que é o primeiro passo para definir o sentido da colo- B.N. (Rio de Janeiro) Ms. 7, 1,6 ..
nização européia no Antigo Regime, sobreleva a importância das PICf. H. Deschamps - Les Méthodes et les Doctnnes C%niale; de la France
normas legais, pois nelas se cristalizam os objetivos da empresa colo- (XVIe. siê-de à no~ Juours). Paris. ]')5j, pp. 34-44.
((,ICf. E. L. J. Coornaert - ~The Chartered Companies» - Cambndge Economic
nizadora, aquilo que se visava com a colonização. Assim, m Atos de History ofEurope, dir. E. Rich, vo!. IV (Cambridge, 1%7), pp. 223-275.
Navegação da Inglaterra(3), as «leis que proibem os navios cstrangei- (~IBn"tain 'i Commercud Interer! Explamed, 1747. ApudHenri Sée· Asongens do
Capitalismo Moderno. Trad pOrt., Rio deJaneiro, 1959, p. 136. Expressivo exem-
(l)Cf. Maximilien Sorre - Les migra/ions deI pcuples, Paris, 19~5, pp. 11-16 e plo da concepção mercantilista na pena do Marquês de Pombal (dirigindo-se. em
segs. '1776, ao embaixador francês): «as colônias ultramarinas, havendo sido estabelecidas
(ZlCf. Fernando A. Novais _«Colonização e Sistema Colonial: discussão de conlei· com o preciro objeto da utilidade da metrópole a que eram pertencentes, daí se de-
toS e perspectiva histórica» _ Anair do IV Simpósio Naúonal dos Professcres Univer nvavam leis infalíveIS e universalmente observadas na prática de todas as Nações ... ~
ri/ários de Hirtõria, S. Paulo, 1969, pp. 24}-269. (grifo nosso) Cf. nota apensa ao bilhete do Marquês de Pombal. de.H de janeiro
(3lCf. Ch. M. AndrC"W5 - «The ACt ofTrade~ in Cambridge Hir/ory o/ theBnJ/Jh de 1776, para o marquês de Blosset», in Santarém - Quadro elementar dJS rcúções
EmPire, dir. J. Holland Rose, vol. 1 (Cambridge, 1960), pp. 268-299. políticas e dIplomátIcas de Portugal. Pans, 1842, v. VIIl, pp. 151-155.

58 59
P('\ aha! do que no quadro dos modelos; e a coloOlzação européia na da teoria econômica, numa crescente generalização dos conceitos,
é~'a modelna oferece toda uma gama de situações, que se afastam corresponde expressivamente a momentos diversos da evolução polí-
ou 'ie aproximam daquele esquema, v:ariando nü tempo e no espaço, tica e econômica do Ocidente europeu,
-comphcando inexoravc:hnente a realídade. Seria, contudü. desco- Aqui nos interessa, contudo, marcar apenas as linhas mestras da
nhecei 05 .meçanismüs 'profund05 do processo. e ficar na superfície doutrina, para situar nela o papel do colonialismo mercantilista. As-
dos..eventos, ignorar aquele projeto básico, que por vános séculos in- sim, a concepção de riqueza identificada com os metais amoedáveis,
formou a política ultramarina d~ nações européias. e que faz por- pOSto que no desenvolvimento da teoria tenha sido matizada pelos
ranto parte dessa mesma e complexa realidade. Encarada em conjun- pensadores que aperfeiçoaram o mercantilismo, nada obstante per-
to, e polarizando de Ull). lado as economias centrais européias, e as mapeceu a idéia básica metalista como orientadora da política eco-
colonia5 perifenca5 de outro, é megável que a história da colonização nômica. Ela envolvia uma conceituação primária da natureza dos
moderna 'ie proçessou segundü aquele desiderato fundamental. Daí, bens econômicos, e a suposição de que os lucros se geram no proces-
seu interesse pàra a análise. so de circulação das mercadorias, isto é, configuram vantagens em
M;l..Ís ainda, tal concepção não era um elemento isolado no pano- detrimento do parceiro. Assim, o receituário mercantilista enca-
rama da mentalidade política e econômica dos teóricos e dos estadis- minha-se diretamente para a formulação da doutrina da balança
tas dos Te.mpos Modernos; pelo contrário, articulava-se organica- favorável; balança dos contratos na formulação mais tosca, no nível
mente com o corpo da doutrina de econümia e política econômica dos mercadores particulares, balança do comércio no plano do inter-
que se 'desenvolvia e predominava na Europa entre os Descobrimen- câmbio internacional. Era a maneira de promover a entrada líquida
toS e a Revolução Industrial: o Mercantilismo(8), Tentemos ftxar-Ihe do bullión, termômetro da riqueza nacional. Daí, a política prote-
os Itneamentos essenciais. O ponto de partida é, como se sabe, a cionista: tarifária em primeiro lugar; ligada a esta, fomentista da
idéia metalista, .ou seja a identificação de nível de riquez,?- .com o produção nacional daqueles produtos que concorram vantajosamen-
montante de metal nobre existente dentro de cada nação. E unpor- te no mercado entre as nações. Defesa da saída das matérias primas,
[ante "destacar, desde já, e a partir dessa formulação básica, que a estímulo às exportações de manufaturas; inversamente, estímulo ã
doutrina mercantilista tem o imediato objetivü de formular normas entrada dos produtos primários, dificuldade ou mesmo proibição da
da política econômica, parte dessa problemática, e só para justificar importação de manufaturados. Para tanto, a produção interna deve
.o seu receituário é que se alça à formulação duma teüria explicativa ter baixo custo, ainda que para isto se restrinja o consumo interno -
da vida econômica como tal. Não parte de conceitos puros e de uma a fim de concorrer no exterior. O mercantilismo não é, efetivamen-
sistemática explicação da economia para deduzir normas de inter- te, uma política econômica que vise ao bem-estar social, como se diria
venção nesta realidade, senão que percorre quase o caminho inverso; hoje; visa ao desenvolvimento nacional a todo custo, Toda forma de
paralelamente, as preocupações de seus doutri!1adores não ultrapas- estímulos é legitimada, a intervenção do estado deve criar todas as
sam as fronteiras das suas respectivas nações. E como a «riqueza da condições de lucratividade para as empresas poderem exportar exce-
Inglaterra» que se preocupava Thomas Mun, será com a «riqueza das dentes ao máximo. Daí se propugnar uma política de fomento de-
nações» que se preocupará Adam Smith: esse alargamento do hori- mográfico., meio de ampliar a força de trabalno nacional, e impedir
zonte intelectual, que marca etapa decisiva na constituição científica a elevação dos salários, por exemplo.
Neste contexto, vê-se bem o significado e a posição das colônias.
IH1Sobre Mercantilismo; J. W. Horrocks - A short hlSIOry of mercantili.rm (I ')25), J Elas se devem constituir em retaguarda econômica da metrópole,
Morini-Comby _ MercantiJisme et protectio11lsme (19:;0), E. F. Heckscher - Mercan- Pois que a política mercantilista ia sendo praticada pelos vários esta-
ti/um (trad. inglesa 1955, edição original, 1931), P. Deyon - Le mercantilzsme
dos modernos em desenfreada cümpetição, necessário se fazia a re-
(1%9). D. C. Coleman - RevlJlons in MercanliJism (1969). Entre as histórias das
doutrinas (lU do pensamento econômico, dão destaque ao mercantilismo, entre ou- serva de cenas áreas .onde se pudessem pür definição aplicar as nür-
tras. as obras de Gonnard, Hugon, Denis, Heiman, Stark, Roll, Schumpeter. Fun· mas mercantilistas; as colônias garantiriam a auto-suficiência metro-
damental é Philip W. Buck. Tht: Polities oi Memm/llÚm. New York, ]')42. politana, meta fundamental da política mercantilista, permitindo

60 61
assIm ao Estado coloOlzadOl vantajosamente compeuJ com o~ de- maIs dIretamente na CIrculação das mercadonas que anima toda a Vl-
maIS wnwrrentes (9). da econômica. Estado absolutista, com extrema centralização do po-
O projeto colonizador tinha, portamo, sóhda urdIdura c_om. a der real, que de certa forma unifica e disciplina uma sociedade orga
mentalidade da época absolurista. Tal objetivo, porém, se conStItUIU nizada em ~rdens», e executa uma política mercantilista de fomem,
ao mesmo tempo em que se processava concreramente a colonização do desenvolVImento da ewn.omia de mercado, interna e externa-
do Ultramar, onde nem tudo se operava !,i.e acordo com as normas mente - n.o plano externo pela exploraS-ão ultramarina, taIS sã.o as pe-
em elaboração A política colonial das potências vipva por isso en- ças d.o todo, que convém articular. O· seu simples enunCiado já nos
quadrar a expansão colonizadora nos trilhos d~ por~tica merca.ntilis- abre caminho neste sentido. De fato, entre a monarquia unitária e
ta; fazer com que as relações entre os dOIS polos do ~1Stema centralizada, ou antes entre o process.o de centralização e unificação,
(metrópole-colônia) se éomportassem consoante o esq~em.a tido c~­ e a política mercantilista, são claras as relações, pois, segundo a f.or-
mo desejável. Podemos, pois, particularifando esta pnmelr~ descn- mulação definitiva de Heckschec{lll, o mercantilismo foi um instru-
ção do sistema colonial dizer que ele se apresenta como um opa pa~­ mento de unificação, ao mesmo tempo aliás que pressupunha um
ticular de relações políticas, com dois elementos: um centro de deo- cena grau de integração do estado nacional para que se pudesse exe-
são (metrópole) e outro (colônia) subordinado. relações através das cutar. Suas.relações são, pois, reversivas, o que nos conduz a conside-
quais se 'estabelece o quadro institucional para que a ~i~a econômica rar que ambos promanam de um mesmo processo, qual seja a fase
da metrópole seja dinamizada pelas atividades col~Olals.t.lO) crítica de ultrapassagem da estrutura feudal. Da mesma forma, a ex-
Esta primeira aproximação entretanto é ainda msufi~ler,t~ para pansão ultramarina permite romper os limites estreitos em que se
compreendermos a natureza e o funcionamento do AntIgo Sistema movia a economia mercantil até o fim da Idade Média(12)
Colonial. Se quisermos penetrar mais a fundo neste fenômeno" de Seria Impraticável, no~ limites que nos propomos, tentar aquI
longa duração, havemos de procurar suas conexões com o processo uma análise da crise do feudalismo Digamos apenas, acompanhan-
mesmo da colonização moderna, e com os demais componentes que d.o as análises de M. Dobb, que, no conjunto, ela deriva não pro-
dão a conformação característica da Época Moderna Tais conexões, priamente do renascimento do comércio em si mesm.o, mas da ma-
contudo, precisam estabelecer-se não.só como e cnquamo relações neira pela qual a estrutura feudal reage ao impacto da economia de
funcionais com as outras panes do todo, mas há que tentar mercado(I3}. O revivesClmento do comércio (isto é, a instauração de
apreendê-la in fien; isto é, de modo a apreender-se não apenas a po- um setor mercantil na economia e o desenvolvimento de um setor ur-
sição no conjunto senão ainda como se constituiu hlslofl(-ameme es· bano na sociedade) pôde promover, de um lado, a lenta dissolução
ta totalidade, e nela o sistema colonial. dos laços servis, e de outro lado o enrijecimento da servidão. Nas
A expansão ultramarina e a colonização do Novo Mundo t:onstl áreas próximas às grandes rotas comerciais, onde a presença do mer-
tuem de fato um dos traços marcantes da história dos séculos XVI a cador é mais constante, é o primeiro processo que se faz notar; nas
XVIII. Contemporaneamente, assiste-se ao predomímo das formas outras áreas, .onqe o contacto com o mercado se dá apenas nas cama-
políticas do absolutismo, no plano político, e, no social, a persistên. das superiores da ordem feudal, é o segundo (reforço da servidão)
cia da sociedade estamental, fundada nos privilégios jurídicos, como que se processa. Assim, o desenvolvimento da economia mercantil
elemento diferenciador. No universo da vida econômica, entre a dis-
solução paulatina da estrutura feudal e a eclosão da pr?dução capita- (1llef E Heckscher - ÚI.Épooi Mercanltlula. Tf'dd. bp .• MéxICO. 1943. pp. 17-
lIsta, com persistências da primeira e elemenws peculiares da segun- 29.
da, configura-se a etapa intermediária que já se vai tornando usual (12)Cf Ch Verlmden Ln OngmeJ de la C/v/lisa/lOn Allant/que Neuchatel.
chamar-se capitalismo mercanttf, pois é o capital comercial, gerado 1966, esp«lalmeme pp. 129 segs. G. LllZZatto, S/oria Econom/ca deItE/á Moderna
e COTltemporanea Pádua, 1955, [ lI, pp. 37-47 HiJtona deI ComercIO, dir.
('!ler Ph. BllCk· The PolzllO oi Meml1'111lum, pp. 58-6), 117-119. Lacour·Gayet, uad esp .. Barcelona, 1958, t. m, pp. 16 segs.
110, _F. Rees . ~Colonial System., Encyclopedia ofSacia! 5ciences. v. 111, pp. 651- 1)JICt -M Dobb itudt(!J in lhe Development ofúpitalum. Londres, 19')4, pp.
6')3. 'p segs

62 61
(com os processos correlatos de divisão social do trabalho e especial~­ timul: .a expansão ultramarina encaminhando a superação da crise
zação da produção) na medida em que se expand~, agrava as condI- nos vanos setores .
ções da servidão - e no limite promove as insurreIções camponesas. . A abertura de n~vas frentes de exploração mercantil, de fato, sig-
Por outra parte, o próprio alargamento do mercado, a longa distân- nIficava o est~belec1II1ento de novas rotas pelo oceano desconhecido,
cia, estimula a diferenciação dentro da sociedade urbana; o ~rodutor envolvendo lflsuportável margem de risco, e exigindo sobretudo
°
direto, perdendo domínio do mercado, tende a se proletaflzar - ° uma acumulação prévia de capital que as formas de organização em-
que leva às insurreições urbanas{l4). Nos dois setores abre-se pois a presarial da Idade Média estavam longe de prover. O montante de
crise social. recursos'a serem mobi1izados, a problemática lucratividade, a longa
A longa e persistente recorrência dessas crises sociais tendeu, {?or maturação da empresa - tudo isso tornava inviável às formas de as.
seu turno, na medida em que se desorganizava a produção, a rest~m­ sociações mercantis medievaís acometer o empreendimento. Só o es-
gir o ritmo de desenvolvimento do próprio c.omércio(I.5). Isto, ah~, tado centralizado pode funcionar como centro organizador da supe-
era ainda agravado pela depressão monetáCla(I6), poIS a economia ração da crise ou das crises, catalizando recursos em escala nacional e
européia tinha de c:pntar com linhas externas de abastecimento do internacional, avalizando os resultados. Nem é por outro motivo
metal nobre. Tal situação levou a um endurecimento da competição que um pequeno estado do ocidente europeu, precocemente cen-
entre os vários centros de comércio, com a tendência a se fecharem e tralizado, - Ponugal- pôde iniciar a arrancada pelas novas rotas,
dominar as principais rotas. O principal setor comercial, o comércio abrindo caminho para a superação da crise da economia e sociedade
de produtos orientais, fica dominado pelos mercadores italianos (so- européias. Assim se compreende também a forma que assume o ca-
bretudo de Veneza e Gênova); os demais centros mercantis (flamen- pitalismo mercantil em Portugal nesta sua primeira fase moderna,
gos, ingleses, franceses, ibéricos) esforçam-se, assim, cada vez mais, empresa do estado monárquico absolutista(18). Torna-se outrossim
pela abertura de novas rotas( 17). explícita a concordância que já indicamos no capítulo anterior, entre
No quadro geral dessas rensões e em função delas é que se proc~s­ formação dos estados nacionais e expansão ultramarina. Portugal,
sou a formação dos estados nacionais. A formação das monarqUias Espanha, Províncias Unidas, Inglaterra e França lançam-se na con-
absolutistas (unificação territorial, centralização política) foi de fato corrê?cia comercial e colonial na medida mesma em que se organi-
uma resposta à crise; ou melhor, foi o encaminhament? político das zam Internamente como estados unitários e centralizados.
tensões de toda ordem. Efetivamente, o estado centrahzado, de um
Foi um processo assincrônico nos vários países a formação do esta-
lado, promove a estabilização da ordem social interna (num novo
do centralizado e unitário; variou no tempo e no espaço a fórmula
equilíbrio das forças sociais, agora subordinadas ao rei), de outro es-
encontrada, e cada nova forma se constituía em uma nova peça no
jogo das relações internacionais. No conjunto e no essencial, porém,
(i4JCf. H. Pirenne - LeJ Anúennes Démocraties des Pays·BaJ. Paris. 1910. pamm. esse processo político emergia das tensões do feudalismo que acima
Historia Eeonomiea e SoeÚJJ da Idade Média, nad. port., S. Paulo, 1')63, pp. 208- indicamos; a nivelação de todos como súditos ao poder real, quecen-
214.
(I~}cr M. Pustan _« Trade in Medieval Europe: The North~, In Cambndge &0'10·
rralizava o p04er e o delegava, permitiu disciplinar as tensões e os
mie History o/Europe, vol. 11 (1952), pp. 191 segs. e R. Lopez - «Trade In Medieval conflitos sociais, ao mesmo tempo em que a política enconômica
Europe: The South~, op. út., pp. 338 segs. mercantilista executada atacava simultaneamente todas as frentes de
(16)cr Marc 810ch _ «Le probleme de ror au Moyen-Âge», Ann.Hist.Econ.Soc. retenção do desenvolvimento da economia de mercado. A retomada
1933, pp. 1-34. F. Braudel - "Moedas e civilizações. Do ouro do Sudão ã prata da da expansão econômica por sua vez aliviava as tensões sociais.
Amériça. - Revista de História (S.P.), n. 13, 1953, pp. 67-83. Pierre Vilar - Oro y
Moneda en la Hisloria (1450-1920). Ifad. esp., Barcelona, 1969, pp. 33-42, 73-80. E de fato, o estado moderno pôs em execução com maior ou me-
(17JO. V. Magalhães.Godinho _ «Création et dynamlsfi.1e économique du monde nor intensidade variando no tempo e no espaço, com êxitos ou frus-
atlamique~. Ann. (Econ.Soc.Ctv.), 1950, pp. 32 segs. L 'Economle de I'Empire Por·
tugals aux XV el XV/e. sihleJ, Paris, 1969, Introdução. A expansão quatror;entuta (IElCf. M. Nunes Dias - O Capitalismo Monárquico Português, Coimbra, 1963,
portuguesa, Lisboa, 1')45, pp. 19-51. 2 vs.

64 65
trações ao longo de sua existência, a política ~c.?nômica merca~tilis­ - as economias coloniais - para fomentar a acumulação, e no nível
ta, que preconizava simultaneamente a abobç~o das ad,uanas Inter- político a centralização do poder para unificar õ m-ercado nacional e
nas e conseqüente integração do mercado naCional, tanfas exter:.nas mobilizar recursos para o desenvolvimento (22). Neste sentido, o An-
rigidamente protecionistas para promover ~;na b~a-,!ça favoravel tigo Regime Político - essa estranha e aparente projeção do poder
do comércio e conseqüente ingresso do bulfton! colonIas para ~o~­ para fora da sociedade - representou a fórmula de a burguesia mer-
plementar e autonomizar a economia metrop.oh~ana. A cons~nanCla cantil assegurar-se das condições para garantir sua própria ascensão e
dessa política econômica com a fase do capitalIsmo comerCial 9ue criar o quadro institucional do desenvolvimento do capitalismo co-
lhe é subjacente era pois perfeita; igualmente, f! esta~o .absolutlsta merciai. Tratava-se, em última instância, de subordinar todos ao rei,
ao praticá-la se fortalecia pela aplicação do fisc~l,sI?o reglo, comple- e orientar a política da realeza no sentido do progresso burguês, até
tando a rede das inter-relações. Tal consonancla: destacada p~r quc:, a panir da Revolução Francesa e pelo século XIX afora, a bur-
Stark(19), reduz em grande parte a validez das crít~cas que a te.ona guesia pudesse tornar-se, como diria CJ:tarles Mozaré, «conquistado-
econômica lhe formulou a partir dos clássicos, apOIada ~uma,SlS}~­ ra. e modelar a sociedade à sua imagem, de acordo com os seus inte-
mática c0nceicual a que escapava em grande parte o senudo hlston- resses e segundo os seus valores. Estratégia nem sempre explícita no
co da doucrina(20). . nível da consciência individual, e sempre inçada de dificuldades sem
Absolutismo, sociedade estamental, capitalismo comercial, políu- conta; a história concreta desse processo é sobremaneira tortuosa, e
ca mercantilista, expansão ultramarina e colonial são, portanto, par- F. Braudel pôde falar nas «traições. da burguesia (23). Em meio às
tes de um todo, inter-agem reversivament~ ~este co~plexo. qUils)e contradições em que se desenvolve. a expansão capitalista e a ascen-
poderia chamar, mantendo um termo da tr~d,çao, Anttgo Regime< . são burguesa, perspassa aquele mecanismo de fundo, subjacente a
São no conjunto processos correlatos e I~terdepe.?dentes, pr?du- todo o processo.
toS todos das tenSões sociais geradas na desIntegraçao d,? fe~dahsmo É neste contexto e inseparavelmente dele que se pode focalizar a
em curso, para a constituição do modo de produçã~ capItahsta: Nes- expansão ultramarina européia e a criação das colônias do Novo
ta fase intermediária, em que a expansão das rela~oes merca~tlS pro- Mundo. A colonização européia moderna aparece, assim, em pri-
movia a superação da economia dominial e a transição do regime ser- meiro lugar como um desdobramento da expansão puramente co-
vil para o assalariado, o capital. comercial. comandou as tr~sforma­ merciai. Foi no curso da abertura de novos mercados para o capitalis-
ções econômicas mas a burgueSia mercanol encontr~v~ obstaculos de mo mercantil europeu que se descobriram as terras americanas, e a
toda ordem para manter o ritmo .de expansã? das auvlda~es e ascen- primeira atividade aqui desenvolvida, importou no escambo, com os
são social; daí, no plano econômlCo,a necessIdade de apoIos externos aborígenes, dos produtos naturais; o povoamento decorreu iniciai-
mente da necessidade de garantir a posse em face da disputa pela
(W)Cf. W. Stark _Historia de la Economia en JN Relación con eI DeJarollo Social, panilha do novo continente; complementar a produção para o mer-
trad. esp., México, 1961, pp. 20-26. cado europeu foi a forma de tornar rentáveis esses novoS domínios.
(20)Mesmo a um Heckscner terão porventura passado despercebidas certas cone· Transitava-se assim como que imperceptivelmente do comércio para
xões que não escaparam a Lord Keynes, quando fez notar que, numa época ~m que
eram mínimas as possibilidades de manipulação governamental da taxa d~ Jur05,.a
a colonização, mas esse desdobramento envolvia de fato uma nova
abundância do numerário era o expediente mais acertado de mantê-la baIXa e poIS forma de atividade. Não escapou isto aos mais atilados obsérvadores
incentivar os investimentos ptodutivos. Cf. Teoria Geral do Emprégo, do Juro e do coevos (24) .
Dinheiro. Trad. pon. Rio de Janeiro, 1964, pp. 319-3')0. . , . .
(21lSem entrar na análise exaustiva do problema da tranSição feudal-cap!t~!Jsta, {22la. M. Dobb _ StllmeJ in lhe Dellelopment ofCapilalism, Londres. 19')4, pp.
que extravasaria as dimensões do capítulo, indicamos cont~do no ~ex~[~ as articula- 176-220, especialmente 202-209.
ções mais importantes entre os vários níveis e setores da realidade hlstonca d~ É~ca {23la. F. Braudel _ Lo Métiiten-onée et Ie Monde Méditerranien à I'ipoque de
Moderna. No atual estágio da questão. esta parece-nos deva ser a preocupaç~o pnn- PhilippelI. Paris, 1949, p. 619,
cipaL Neste sentido, são altamente sugestivas as formulações de J.Wallerstem - The (24JExemplo: ..Isso é maior indício de iua riqueza (do Brasil), porque os homens
Modem-World System, New York, 1974. .das Índias, quando de la vêm para o Reino, trazem consigo todas quanta fazenda ti·

66 67
Efetivamente, ao se transitar do comercIo para a colonização, se um setor da sociedade que passa a dedICar-se exclusivamente à Cli-
passava-se da comercialização de bens prod~zidos por sociedades já culação dos bem econômicos, acumulando capital nesta atividade.
estabelecidas para a produção de mercadonas e montagem de uma Logo, em função desse ·processo, pouco a pouco, se vai produzindo
sociedade fiova. Engajava-se, assim, a ocupação, povoamento e valo- para a troca, e pois a produção se vai especializando. Portanto, acu-
rização de novas áreas, e sua integração nas linhas da economia euro- mulação de capital comercial, divisão do trabalho, mercantiJização
péia. A exploração ultrapassava dessa forma o âmbito da circulação dos bens econômicos, especiaJiza~ão da produção são processos cor-
de mercadorias, para promover a implantação de economias comple- relatos. que envolvem um de~envoJvimento do nível etonômico ge-
mentares extra-européias, isto é, atingia propriamente a órbita da ral Acumulação de capital comercial e formação da burguesia mer.
produção. E não obstante tais diferenças fun'damentais, e as dimen- cantil são pois os dois lados do mesmo processo. Teoricamente, a
sões novas que assumia a atividade colonizadora ao transcender a ex- transformação se auto-estimula sem limites.
ploração do comércio ultramarino, a colonização guardou na sua es- ~istoricamente, porém, tal processo se instaura a partÍl de um3.
sência o sentido de empreendimento comercial donde proveio; a reahdade concreta - o sistema dominial feudal. Daí as tensões SQ-
não-existência de produtos comercializáveis levou à sua produção, e ciais que se desencadeiam a: partir da formação e expansão de um se-
disto resultou a ação colonizadora. Assim se ajustavam as novas áreas lOr mercantil no quadro da economia feudal; daí també'm os contí-
aos quadros'das necessidades de crescimento da economia européia. nuos reajustamentos políticos que encaminham aquelas tensões. O
Acolonizafãomodernaporranto, como o indicou incisivamente Caio final da Idade Média é um momento crítico dessas tensões.e ajusta-
Prado ]r., tem uma natureza essencialmente comercial: produzir pa- mentos. Já vimos os processos desencadeados na superação dessa cri-
ra o mercado externo, fornecer produtos tropicais e metais nobres à se: estado unitário centralizado execulOr da política mercantilista,
economia européia - eis, no fundo, o «sentido da colonização» (2') expansão ultramarina e colonial, criação em suma de alavancas para
Se combinarmos, agora, esta formulação - o caráter comercial acelerar o desenvolvimento da economia de mercadO, incentivandc, d
dos empreendimentos coloniais da Época Moderna - com as consi- acumulação capi~ista.
derações anteriormente feitas sobre o Antigo Regime - etapa inter- Paralelamente, a pouco e pouco, o capilal penetra na produção.-
mediária entre a desintegração do feudalismo e a constituição do ca- Do artesanato para a manufatura-onde já estão dissociados capital e
pitalismo industrial- a idéia de um «sentido. da colonização atin- trabalho, e desta para O sislema fabril, desenrola-se o processo de
girá seu pleno desenvolvimento. formação do capitalismo, que cobre todo o período do fim da Idade
Efetivamente, a expansão da economia de mercado, com os pro- Média até a Revolução Industrial, quando se completa.
cessos correlatos de divisão social do trabalho e especialização da pro- Enquanto, porém, o último passo não era alcançado, a economia
dução e consequente elevação do nível geral de produtjvidade, so- capitalista comercial, e pois a burguesia mercantil á'iCendeme não
mente a partir da mecanização da produção industrial adquiriu uma p~uía ainda suficiente capacidade de crescimemo endógeno, a capi-
força de auto-desenvolvimento. Processo que se inicia pela mercanti- talIzação resultante do puro e simples jôgo do mercado não permitia
lização ocasional de excedentes da produção regional pré-mercantil. a ultrapassagem do componente decisivo - a mecanização da. pro.
Na medida em que a comercialização se torna permanente, destaca- d.ução. Daí a necessidade de pontos de apoio fora do sistema, indu-
zlOdo uma acumulação que, por se gerar fora do sistema, Marx cha-
nham, porque não há nenhum que tenha lá bens de raiz, e se os têm são de pouca
consideraçio. e corno todo o seu cabedal está empregado em cousas manuais
mou de originária ou pn"mitiva (26). Daí as tensões sociais e políticas
embarcam-nos consigo. e do preço porque os vendem no Reino compram essas ren- pro~ocadas pela montagem de todo um complexo sistema de estí-
das e fazem essas casas. Mas os moradores do Brasil toda a sua fazenda têm metidas
em bens de raiz, que não é possível serem levados para o Reino, e quando algum (2(,!Cf. Karl Marx· Capltal.l p. 801, espeCIalmente pp. 840·851 Cj[am~~ pela
para lá vai os deixa na própria terra ... i> Diálogos das grandezas do Brasil (1618), ed. tradu~ão espanhola de Wencesbo Roces, editada pela Fondo de Cultura. Mtxico.
de J. A. Gonçalves de Mello, Recife, 1%6, p. 79. )')46. Não cabe nos limites deste capílUlo urna discussão aprofundada sobre a acu-
(25)0. Caio Prado Jr - Formtlfiio do Bnnll Contemporâneo. 4- edição, pp. ')-26, mulação primitiva. a ser retomada à hdse da5 «formações ecunôrru(as pré-
113-123. capitalistas•.

68 69
mulas. O mercantilismo foi, na essência,·a montagem de tal sistema Na realidade, nem toda a colonização se desenrola dentro das tra-
(27t e o sistema colonial mercantilista sua peça fundamental, a prin- vas do sistema colonial. Os sistemas nunca se apresentam, historica-
cipal alavanca na gestação do capitalismo moderno. Ao contrárío do mente, em estado puro. Apesar de coeva, a -colonização da Nova In-
_que pensava Max Weber, a exploração colonial foi elemento decisivo glaterra se deu fora dos mecanismos definidores do sistema colonial
na criação dos pré-requisitos do capitalismo industrial(28). mercamilista,( 301, e já indicamos,noutro passo ,os fatores específicos
De fato, a ultrapassagem do último e decisivo passo na instaura- - as crises político-religiosas da Inglaterra, no processo de formação
ção da ordem capitalista pressupunha, de um lado, ampla acumula- do estado moderno inglês- que deram origem a essa forma de ex-
ção de capital por parte da camada empresária, e de outro, expansão pansão ultramarina: colônilZJ de povoamento, na terminologia con-
crescente do mercado consumidor de produtos manufaturados. Am- sagrada por Leroy-Beaulieu, cuja produção se processa mais em
bos estes pré-requisitos geram-se no processo mesmo de.des~nvolvi­ função do próprio consumo interno da colônia, e onde predomina a
menta da economia de mercado, pois a dissolução das antigas for- pequena propriedade. A categoria de colônias que se lhe contrapõe,
mas de organização econômica, ao envolver e acentuar a divisão so- as colôntas de exploraçiio(3 I), têm uma economia toda voltada para o
cial do trabalho e especialização da produção, cria ao mesmo tempo mercado ext.erno, meuopolitano, e a produção se organiza na gran-
mercado e: acumula capital; já vimos porém que este mecanismo na de ·propriedade escravúta, como no Brasil, por exemplo.No anda-
sua pureza esbarraem.obstáculos -intiansponíveis,em cuja superação mento de nossa exposição, essas categorias assumem nova dimensão,
se mobilizam a política mercantilista e o sistema colonial. wmo é fácil de perceber: de exploração são as colônias mais ajusta-
Examinada, pois, nesse contexto, a colonização do Novo Mundo das aos quadros do sistema cólonial, de povoamento as que ficam re-
na Época Moderna apresenta-se como peça de um ,sistema, instru- lativamente à margem do sistema. Mas, a ser verdadeiro o esquema
mento da acumulação primt"tifl4 da época do capitalismo mercantil. explicativo que vamo~ construindo, e gerando-se ambos os tipos de
Aquilo que, no inicio dessas reflexões, afigurava-se como u?I !~­ colônias no bojo do mesmo processo colonizador, é a partir do siste-
pies pmjeto, apresenta-se agora. co?soante com ~rocesso hlstonco ma e portanto da exploração colonial que se pode entender o con-
concreto de constituição do capttahsmo e da SOCiedade burguesa. junto e pois também as colônias de povoamento, e não o contrário.
Completa-se, entrementes, a conotação do sentido profun.do?a co- Da mesma forma, se o Braszl-colônia se enquadra como colônia de
lonização: comercial e capitalista, isto é, elemento COnstItutIVO' no exploração nas grandes linhas do Antigo Sistema Colonial, não quer
processo de formação do capitafismo moderno. isso dizer que todas as manifestações da colonização da América Por-
. Podemos, enfim, compreender, nas suas múltiplas conexões, o tuguesa expressem diretamente aquele mecanismo; mas, mais uma
sistema colonial, esse conjunto de mecanismos - normas de ~olítica vez, os mecanismos do sistema colonial mercantilista constituem o
econômica e relações econômicas efetivas ' - que integra e artICula a elemento básico do conjunto, a partir do qual deve pois ser analisa-
colonização com as economias centrais européi~, realidade s~bja­ ,do. Neste momento de nossa análise estamos tentando explicitar a
cente e imanente no processo concreto da colomzação; que a ajusta categoria básica (sistema colonial) para compreendermos em seguida
continuamente ao seu .-sentido». Não se trata pois de simples deno- seus mecanismos e sua crise no nível estrutural; teremos, natural-
minador comum presente em todas as manifestações concretas do
tm e perspectiva hIstórica» - Anais di, IV Simpósio Naoona/ dw-Projúsores Univer-
processo histórico, mas do determinante e~trutural, com.ponen~e a
JlldnOJ de Histón'a, 1969. "
partir do qual é possível compreender o conjunto d~ ~anifestaçoes, I '1I1~O,nível de desenvolvimento ak.l.lu,-ado por alguma~ regll>es exua-eUrOpela5 se

tomando-as inteligíveis, o elementb. enfirq que exphclta e define os deveu J. que. nelas, justamente. a estrutura do subde~em(>lvimento não pode
demais, e não se define por eles (29). 'mplantar.,e» Brunu Passarelli _ Co/ama/ismo y acumulao,)n caplta/lSta en la Euro-
pa Moderna. Buenos Aires. 1973. p. 28. .
I1I Icr P. Leroy.Be-dulieu . De la CoitJ71mition chez leJ Peuples Modemu, ParIS,
(27JcC. M. Dobb . Sludies in lhe Development 01 Capita/ism, pp. 200·210. 1874, pp. 5-.:>.') segs. Na 5' ed Paris, 1902, t. 11, pp. 563 seg5. Baseou·se na.classifi-
(28JCC. Max Weber· Wimchaftgesr;hichte, 3· edi~o, Berlim, 1958, pp. 2%-259. cação de Roscher. Cf. W Roscher e R. )annasch . K%nien, KolomalpolzJlk "".d
(29JcE. Fernando A. Novais _«Colonização e sistema Colonial: discussão de concei· AUJw,mdenmg. 3' ed, Leipzig, 1885, pp, 2·32 A j ' ed. é de 1848, Mclvm

70 71
apesar de todas as variações que sofreram au longo dos séculos XVI
mente, que retomar mais adiante alguns elementos já' aqui adianta-
dos, para recompormos a posição de Portugal metropolitano e da co- ~Vll e ~V~II as relações c~ercia~ das m~trópo~es com suas respec:
uvas colonIas, aq~ele regime fOI a matflz básICa dessas relações,
lônia Brasil no conjunto do sistema, e pois a maneira como a crise ge-
entenden.do-se as situações que se afastam desse procedimento típico
rai afeta as relações Portugal-Brasil. Assim, pensamos, nossa análise como varIações decorrentes de fatores especiais ou circunstanciais.
irá se concretizando cada vez mais_ Desdobramento. da expansão comercial e marítima dos Tempos
b) O «exclusivo» metropolitano Modernos, a .colonIzação, como já indicamos, significava a produção
d~ ~ercadoClas par.a a ~uropa, naquelas áreas descobertas em que as
Examinemos, pois, os mecanismos de funcionamento do Antigo a~I~ldades economl~as dos povos cprimitiv?s» não ofereciam a possi-
Sistema coloÍlial do mercantilismo. É no regime do comércio entre bilIdade de se engajarem relações mercantIS vantajosas aos caminhos
metrópoles e colônias que se situa o elemento essencial desse meca- do desenvol~i~ento capitalista europeu. Assim. passava-se, da sim-
nismo (32). Reservando-se a exclusividade do comércio com o Ultra- p~es comerclahzação de produtos já encontrados em produção orga-
mar, as metrópoles européias na realidade organizavam um quadro filzada, para a produção de mercadorias para o comércio; a vincula-
institucional de relações tendentes a promover necessariamente um ção.~o.m o processo m~is.simples - a pura comercialização - contu-
estímulo à acumulação primitiva de capital na economia metropoli- do Ja ~nsena a comerctahzação dos produtos coloniais no regime mo-
tana a expensas das economias periféricas coloniais. O chamado nopohsta característico da fase anterior, Foi efetivamente exclusivista
«monopólio colonial», ou mais corretamente e usando um termo da Q comércio que se montou com a abertura das novas rotas oceânicas
própria época, o regime do cexclusivo» metropolitano constituia-se no início da Época Moderna, Durante toda a expansão quatrocentis-
pois no mecanismo por excelência do sistema, através do qual se pro- ta portuguesa, a exploração do comércio da costa atlântica africana
cessava o ajustamento da expansão colonizadora aos processos da foi ap~ágio d~ rei, isto é. do estado monárquico absolutista (33); es-
economia e da sociedade européias em transição para o capitalismo te podia delega-lo a outros órgãos. à Ordem de Cristo na pessoa de
integraL seu ~rão Mestre o Infante I? Henrique, arrendá-lo a empresário's
O comércio foi de fato o nervo da colonização do Antigo Regime, paruc_ulares. mesmo estrangelCos (H), que o princípio básico do regi-
isto é, para incrementar as atividades mercantis processava-se a ocu- me ~ao se alterava, nem os mecanismos fundamentais deixavam de
pação, povoamento e valorização das novas áreas. E allui ressalta de funCIonar,
novo o sentido que indicamos antes da colonização da epoca Moder- Realizado ~~ !497 o périplo africano. descortinava-se aos portu-
na; indo em curso na Europa a expansão da economia de mercado, g~~~s a po~~ilb~hdade de explorar o comércio das costas africana e
com a mercantilização crescente dos vários setores produtivos antes à a51:a~lca do ,lndl~o, Montou-se en}ão todo um arcabouço político-
margem da circulação de mercadorias - a produção colonial, isto é, militar: o vlce-reu~o ~rtuguês da ~ndia. para excluir os muçulmanos
a produção dos núcleos criados na periferia dos centros dinâmicos e atraves deles os Itahanos de partIciparem nas atividades mercantis'
euro')eus para estimulá-los, era uma produção mercantil, ligada às noueras palavras, organizou-se um aparelho de força para garahtir ~
gran ies linhas do tráfico internacional. Só isso já indicaria o sentido
da colonização como peça estimuladora do capitalismo mercantil, .llll«Ã peine n~, le commerce (Olomal forme au Ponugall'objet d'un monopole •.
mas o comércio colonial era para mais o comércio exclusivo da me- Linden-Lannoy _ L 'Expal1Jion coloniale deI peupleJ européens(Bruxelas. 1907), p.
trópole, gerador de super-lucros. o que completa aquela caracteriza- 136. Logo após a ultrapassagem do cabo Bojaoor - marco decisivo na hist6r1a da ex-
ção. E de fato, como procuraremos indicar· sinteticamente agora, ~ansâo . já o rei proibe embarcações navegatem para as terras descobertas sem auto-
mação do Infame D. Henrique. Cf. Carta Régia de 22 de outubro de 1443. In·
Documento.' .Iôb.'e a expa11Jão portuguesa, organização e notas de V. Magalhães.
Knigbt . «Colomes., Encyc/opedUl ofSocuzI SaenceJ, v 11. pp 653·663. F. A. No· Godinho vol. I (Lisboa, 1943), p. 142. .
vaiS' cColomzação e Sistema Colomal. dI Ll~)Para o estudo global dos mecanismos do coméruo na expansão portuguesa. Cf.
(12)C( E .1 Hamilton.« Tht role of monopoly JIl tht· ()'~f'l'J.' c""pJJ,'" ,n J'\U ",i· M. !'.unes Dias _ O CaPltalumo MOl1ãrquico Português (Coimbra. 1%3), t I, pp.
" .. ti 1I ... !t ui EUJ<>pc bdurc 1HlXb. Am.Ewn.Re1J., vol. 38, 1948, pp. 33-53.

73
72
,exclusivo e pois a alta lucratividade da rota do Cabo (35). Procurava- O recuo português facilitou a penetração holandesa no início do
se, efetivamente. bloquear as entradas do Mar Vermelho e do Golfo século XVII. Apesar da guerra de independência (1579, união de
Pérsico. O comércio se organizava pois como monopólio régio; o rei Utrecht) e da união ibérica (IS80), continuou ainda a participação
<!e Portugal era como que o único empresário. Através da empresa decisiva da Flandres no comércio oriental através de Lisboa. Em
estatal. mobii;zavam·se os recursos para a comercialização dos pro- 1585, porém, ano da tomada de Antuérpia pelos espanhóis,. ,!avios
dutos do Oriente~ a debilidade, porém. da acumulação capitalista holandeses são apreendidos na capital portuguesa (38). Sob FIlIpe 11,
prévia em Ponugal, como rapidamente indicamos noutro passo. le- contudo, procurou-se ainda evitar a ruptura das relações comerciais,
vou a Coroa portuguesa a r~correr aos capitais estr~n~eiros. -sobr~t~. tal era o grau de vinculação e a importância dos ~ntrepostos da Flan-
do da Flandres. e a transfenr, para a praça de Antuerpla a comeCClah. dres para a comercalização dos produtos do Onente. Em 1598 en-
zação dos produtos orientais nos mercados europeus. Isto dava a es- fim todo o comércio com Holanda é proibido decretando-se os se-
ses grupos empresariais o controle mais .direto dos preços e~r~peus, e qüestros - «edito bárbaro», como o chamou Grodus (39). Nessa con-
a manipulação dos preços colocava-os cada vez maiS na poslçao de fi- juntura, ia-se articulando na Holanda o projeto de relações co--:ner-
nanciadores e credores do empreendimento régio, que acabava por ciais diretas com o Oriente. Mobilizaram-se recursos, e em abnl de
assumir apenas os riscos não pequenos do transporte: Acresça-se que 1595 realizou-se a primeira viagem de resultados pouco compensa-
os rendimentos que ficavam de posse da Coroa, a? tntegrare.m coJ!! dores:a rota da Índia porém. para os holandeses, estava aberta (40(
as gemais fontes o erário régio, não eram necessariamente remvestJ· Ora, a posição dos Países Baixos no contexto da economia e.tlCo-
dos nos negócios do Oriente,passando muitas vezes a atender outros péia era muito peculiar. Desde a Idade Média, essa regiã? se vmha
canais de dispêndio do estado português. Assim, o esque~a m~)fita­ destacando como um dos mais ativos centros de desenvolvimento da
do do «capitalismo monárquico:. acabava por frustrar a raClonahdade economia de mercado na Europa; Bruges, na baixa Idade Média,
da empresa de comercialização dos produtos orientais, en~raquecen­ Antuérpia a partir do século XVI (41), ~ram c~nt~os de cir~ação
do sobremaneira a posiçãO portuguesa no conjunto. termmando por econômico-financeira a rivalizar com as Cidades Italianas. A nqueza
provocar quebras e falêncjas(36). .
Observe-se. porém, que tais distorções se deram no nível da dIStri- gem mundial de 1517 .. 1524 e o impéri~ português., 0;. cit., pp, 152·153; «Fluru~·
buição dos lucros gerados no comércio monopolista. O esse~cial era ções econômicas e devll estrutural dQ seculo XV ao seculo XVII., op., cll., pp. 177
que não houvesse uma concorrêncja de compradores no Onente. o segs. Fréderic Mauro - Lc Portugal et I'Atlanúque a,JI XVllllcc/e (Pafls, 1960), pp.
que reduziria os lucros à sua expressão nor~al n~ transa~es comer- 6-7. Ch. R. Boxer - The PortugueJe'Jeaborne Emplre. N. York, 1969, p. 12M segs.
ciais; o monopólio régio português garantia, assIm, condições favo- O recuo português em funçãO da penetração das novas potências não. f~i brusc~,
mas lemo e paulatino, como mostrou Joel Serrão, «Em torno das condlçoes econo'
ráveis à economia européia em geral. promovendo a aceleração da micas de 1640». Separata de Vértice. Coimbra. 1952 .
acumulação de capitais mercantis: na engrenagem do sistema contu- (38)Cf. G. Luzzatto . 5toria Economica deU'eIP Moderna e Contemporanea. 4
a

do as maiores vantagens se transferiram para fora do reino. Com is- ed. Pidua. 1955. t. l, pp. 225-226. H. A. Enno van GeIder - Histoire der POYJ!3tIJ,
to, ~ntretanto, acabou por enfraquecer-se a dominação lusitana no Paris, 1936, p. 34. H. Wãtjen - O domínio colonial Holandér no Bnni!, trad. port.,
Índico, recuando o volume das atividades comerciais (37~. S. Paulo, 1938, pp. 65-66.
(39)Cf. S. Buarque de Holanda e Olga Pantaleão - .Franceses, Holandeses e Ingle-
H~ segs Vi,ente Almeida Eça - N017R4S Erol1ôm/CIlJ da colo11lzaçJQ portuguesa ses no Brasil quinhentista., in História Geral da Civilização BraJileira. ,1960. t. I, I
(Coimbra, 1931) pp. 56 segs, • vol., pp.165-166, H. van Gelder, op. cito p. 34. Ch. R. Boxer. op. Clf., pp. 108·
1<~lCf V Magalhães-Godinho. L 'Economu do! I'Emplre pOTluxa/J aux XV e1 109.
XVluideJ (Paris. 1%9), pp, %5·574 (40)U. G. Luzzatto. op. cit., t. 1. p. 226. V. Vásquez de Prada - Historia Econo·
(6)Cf Nunes Dias, op. ál., r. li, pp 3'j'j segs. Magalhães-Godinho, op.cit., pp mica Mundial, Madrid, 1961, 1. p. 315. B.M. Vlekke - ",Las Indias Orientales Ho-
829 segs. , landesas_, in Lo Nación HoIandeJIJ, dit. por Bartholomew Landheer, trad. esp., Mé-
()1)Recuo português no Oriente: J. LúCIO de Azevedo· EpoCl1J de Portugal EcOI1Ô' xico, 1945, p. 340. G. Masselman - ",Dutch colonial policy in the XVIlth century_.
mICo. la ed., Lsboa, 1974, pp. 136 segs_ V. Magalhães-Godinho - ~A evolução dos j.&011.Hist., 21,196.1, pp. 455-456.. , . _. _
complexos his[óriw·geográficos., EmaloJ. vol. II (Lsboa, 19(8), pp, 20·21; ~A via- (41).0 progresso malS notável que fez esta CIdade (Antuerpta) [ao nca e tan famosa

74 75
flamenga advinha pois de sua posição de entreposto, centro de trans- tramaríno revela-se ineficaz para as necessidades do capitalismo mero
ferência dos produtos e redistribuição das várias áreas econômicas cantil' europe* carente de estímulos externos; o fracasso da tentativa
européias (42), em suma o carrying frade. Daí a sua pol1tica econôm}- leva, na prátiCa, à adoção do esquema monopolista .
.ca pautada sempre num grande liberalismo, exatamente para atralC, FOI, portanto, nesse contexto de exploração ultramarina monopo-
_as mercadorias de todas as áreas, redistribuindo-as em seguida. Des- lista que se in'iciou a produção colonial, e a comercialização dos pro-
tarte, e fundados nessa tradição, os holandeses a partir do fim do sé- dutos gerados nas economias montadas no Novo Murido lflseria-se
culo XVI, organizaram várias empresas autônomas para tentar o co- como que natutalmente neste regime. O primeiro ensai.o de coloni-
mércio direto com o Oriente: entre_ 1595 (primeira viagem) a 1602 zação propriamente foi, como se sabe, o das ilhas atlânticas, e parti-o
formaram-se cerca de uma dezena de companhias, armando 65 na- cularmente da Madeira. A introdução do cultivo da cana e a produ-
vios. Poucas tiveram êxito. Para a maioria os resultados foram desas- ção do açúcar nessas ilhas, numa fase em que os recursos do pequeno
trosos. É que elas acabavam por competir ná compra dos produtos reino empreendedor se concentravam no alargamento do périplo
orientais, o que para mais era agtavado pelas condições desse comér- africano, contou desde cedo com a participação de estrangeiros com
cio '\ longa distância e, no Indico, dependente das monçõe seus recursos e capitais; sobretudo os genoveses, parece, estiveram li-
Neste quadro é que se começava a tomar consciência da necessida- gados à montagem dessa economia, através da qual se rompia o mo-
de de alterar a orientação da pol1tica econômica relativa ao Oriente. nopólio da oferta do produto até então dominada pelos venezianos.
A companhia de Amsterdam, que conseguia manter-se em boas Assim, destruindo o monopólio veneziano, expandia-se o consuQ1o
condições, solicitou aos Estados Gerais que se lhe concedesse mono- do produto, em cuja comercialização entravam os flamengos; no úl-
pólio neste setor do comércio holandês. A petição foi denegada, o timo quartel do século chegava-se nitidamente a uma situação de su-
que deflagrou discussões e polêmicas, impondo-se enflIl! a orienta- perprodução, acarretando medidas restritivas por parte de D. Ma-
ção monopolista com a constituição da Companhia das Indias Ori- nuel I (fixou em 1498 a produção em 120 mil arrobas anuais, das
entais (Carta de 20 de março de 1602), à qual se garantia a exclUsi- quais 40 mil iam para a Flandres(44l. Já em 1482, porém, nas cortes
vidade das operações mercantis no Oriente (entre o cabo da Boa Es- de Evora, em meio a numerosas reclamações contra as atividades eco-
perança e o estreito de Magalhães), com direitos de firmar tratados, nômicas de «estantes estrangeiros, assim como ingleses, florentinos,
nomear funcionários, etc. (43). castelhanos e genoveses» no reino, que fazem «grande dano aos po-
É pois essa experiência holandesa altamente significativa para a vos de vossos reinos (del rei)>>, o que «traz muito prejuizo a vossos di-
explicitação do mecanismo que estamos analisando. Oferece, efe.ti- reitos», criticava-se seriamente a situação das Ilhas'. Lembrando que
vamente, como que a sua contra-prova: tentado, o comércio livre ul- o Infante D.Henrique,«inventor.delas,não consentia a presença dos
começou por volta do ano de I~03 e 1504, quando os portugueses, tendo pouco an-
estrangeiros, com o que as mercadorias vinham para o reino, paga-
tes, com uma navegação maravilhosa e çstupenda ocupado CaHicut e· feito acordo vam os direitos e davam fretes aos navios nacionais, sendo depois
com o rei do país, começaram a conduzir especiarias e drogas das Índias para Ponu- embarcadas para fora, incriminavam as concessões posteriores que,
gal, e de lá às feiras desta cidade ...• escreveu ludovico Gukciardini nas Discrittioni permitindo a residência de estrangeiros nas ilhas atlânticas,resulta-
di Ifllle PaeJiBasJi (1567). Apud H. Hauser - A. Renaudet - Les Débllls de I'âge vam em que as mercadorias eram diretamente levadas para fora do
Moderne. 4" ed. (Paris, 1956), pp. 61-62. Ginoluzzatto - op. cit., pp. 42-43. S. B.
Clough - Ch W. Cole - Economic HiJlory ofEng/gnd(Boston, 1952), p. 1~9.
reino (no ano de 1480 vinte navios castelhanos e 40 ou 50 de outras
(42)Cf. H. Sée - Ai Ongens do Capitalismo Moderno, trad. porto Rio deJan~iro, nações), com perda dos reais direitos «assim de trazida e entrada co-
1959, p. 87. R. Mousnier - Os séclllos XVI e XVII. Trad. porto São Paulo, 1957, p. rno de levada» e grande dano dos povos;. pelo que se solicitava«deter-
260. Ch. Verlinden - Introdllclion j} I'Hisloire Economique. Coimbra, 1948, pp. mine Vossa Senhoria e defenda que estrangeiros não sejam consenti-
",~-,\f) Ciive D~-.~ flm,in',; dei Comnáo, trad. esp., ~'[f)(lm. 1')41, P 99. S. B dos por estantes nas ditas Ilhas nem carreguem navios lá para fora do
Clough - Ch. Cole, ap. cit., p. 164.
(43)Cf. George Masselman _ .. Outch Colonial Policy in the XVIlth Century •. J.
Ecan. Risl.. vol. 21, 1961, pp. 455-468. I. van Klaveren - The Dfllch Colonial (44ICf. Lúcio de Azevedo - Épocas de Portugal Econômico, 2· ed pp 221-222.
Syslem in lhe &sI Indies. Roueroam, 1953. pp. 37.45. Celso Furtado· FomulflÍO EcOnÔmlf,) do Brasil. Rio de JaneIro, 1959. p 19,

76 77
remo e todos os açúcares e outras mercadorias venham a Lisboa ou a ci? do produto fo~ r~lati~amente livre; há notícias de licenças conce-
outrbs portos de vossos Reinos onde façam escápula e daíascarreguem dl~as para o co~erclO due.to a ponos estrangeiros (49). Expande-se,
quem lhes aprouver e para onde quiser pagando da levada», o que asSim, a economia açucare1fa, que entre 1)60 e 1570 já contava se
«ser~ grande acrescentamento de vossas rendas e grande proveito do
gundo R. Simonsen, com 60 engenhos, que produziam cerca de'18~
be~ comum», do contrário as «perde a carregação» de Lisboa e cou- mil arrobas (isto é, 3.000 arrobas anuais por engenho, o que marca
tros1lugares de Portugal. (4~). Não pode ser mais clara, nestes recla- elevada .prod~tividade das novas terras (50). A fase porém do grande
mos, a formulação dos interesses da burguesia mercantil do Reino; 0, suno fOI o últlmo quartel do século e primeiro decênio de Seiscentos
(51). Em 1610, calcula-se já existirem cerca de 250 engenhos, corres-
que,se propõe, de fato, é o enquadramento da colonização das ilhas
atlânticas nos mecanismos da exploração ultramarina monopolista, pondendo, nesta quadra, o surtO da produção com acentuado movi-
Proibiu-se, em conseqüência dessas 'reivindicações, a estada dos mento ascendente dos preços (52). A curva dos preços do açúcar em
es~rangeiros nas j~has colonizadas. dando-se prazo de um ano para
Lisboa apresenta notável elevação,mas,como nota F. Mauro, no Bra-
sarr os que lá estivessem. Percebe-se pois a política seguida astuta- sil os preços permanecem quase estáveis (53). É que, já em 1571, isto
mente pela Coroa portuguesa: liberdade de comércio na fase inicial, é na abertura da fase de grande prosperidade, decretava D. Sebas-
par~ estimul~r a vinda de recursos e capitais para a instalação da pro- tião (3 de ~evereiro de 1571) a exclusividade dos navios portugueses
duçao colOnial; enquadramento no sistema exclusivista quando a no comércto da florescente colônia ()4). Note-se a coincidência entre
ecoq.omia periférica' entrava em funcionamento. o decreto e a fase ascencional da economia açucarem no Brasil; era,
Na implantação da -economia açucareira no Brasil repetiu-se de na essência, o enquadramento da nova economia periférica nas li-
ceno modo o processo. No primeiro contacto econômico, puramente .(4'!Jcr. Anhur ~zar Ferreira ~e.is: . ~O com~r[io colonial e as c?mpanhias privile-
pre~atório, não se ia além da comercialização dos produtos naturais: giadas;. In HIS/ona Geral da ClVlttZaç/iO BrasileIra, dI(. por SérgiO Buarque de Ho·
o esctambo do pau-brasil com os aborígenes. Tal comércio foi desde landa, t. I, vol. II ($. Paulo, 1960), pp. 311 segs.
lo~o~ considerado «estanco. da Coroa, que o arrendou. ao empresário (j01CE. Roberto Simonsen . História EconômicadoBrtml. 3' ed. São Paulo, 1957,
pp. 114·11),(tabela).
cClStao-novo Fernando de Loronha ou Noronha (46). E pois um sim- (51) A - 101
r' . I . • . quartel do século, durante
• expa~sao panlCu armeme mtensa nO ultimo
ples desdobramento para a América do regime já aplicado no comér- o qual d~çUphcou ~a produção de açúcar)>>. Celso Furtado - Formação EconômlCiJ do
cio africano e indiano. Na transição para a colonização, isto é, na im- Brasil. RIO de Janeiro, 1959, p. 57 .•0 cido do açúcar foi particularmente fone en-
plan(ação do cultivo da cana e preparo do açúcar, rec~reu-se aos re- tre 1570 e 165~. M. Buescu e V. Tapajós· Históna do desenvolvimento econômico
CUCS?S ~articulares, atraves das-concessões das capitanias, em cujos do Brllfll. Rio de)aneiro, 1969, p. 33.
foralS altás se preservavam os estancos régios (47) . Sabe-se que poucos (HJPara um tratamento quantitativo do crescimento da agro·mdústria açucareira
no período, vejam·se: J. Lúcio de Azevedo· Épocas de Portugal Econômico. 2 a ed.,
donatárioslograram,como Duarte Coelho em Pernambuco, êxito na p. 244. R Simonsen. História Econômica do Brasil. 3" ed., pp. 114·115. M. Buescu
difícil empresa de montar a custosa agro-indústria na América por· -História Econômica do Brasil, pesquisa e análises. Rio de Janeiro, 1970, pp. 65·67.
tuguesa; nem é de desprezar a hipótese de Celso Furtado de que Frédéric Mauro· Le Portugal et I'Atlantique au XVII siifcle. Paris, 1%0, pp. 233-257.
nessa fase árdua se tivesse que recorrer ao capitral exter;no, sobretudo P. Chaunu _.Place et rôle du Brésil dans les systeme de communications et dans les
flamengo, já francamente envolvido nos negócios do açúcar na Euro. m&anismes de croissance de J'économie du XVIe. siede •. Rev.Hist.Econ.Soc. vol
XLVIII, 1970, pp. 460·482. A afllmação geral, acima enunciada, não se afeta ~J~
pa, embora os estugos monográficos ainda não tenham comprovado pe?uenas divergências de avaliações quantitativas deste~ vários autores.
esta afirmação(48). E contudo ceno que nessa primeira fase o tomér- ( 3)Como se pode ver na tabela geral elaborada por F. Mauro (Cf. Le Portugal et
(4~JCr. Visçonde de Santarém . Memórias e alguns documentos !Jllrllll históna e I'Atlantique au XVII siec/e, p. 256) o preço do açúcar no Brasil, entre 1570 e 1610
Teona das Cortes Gera!S ... Lisboa, 1924,
pp.6)·(,(, 222·224 ' se mantém em 800 réis a arrôba, em Lisboa flutua, no mesmo período de 1400 a
f~(J .
r~~JCf. A. M.archant . From furter to S/avery. Balrimore, 1942, p, 69. 2020 réis. Em 1614 ambos os preços se aproximam (1.000 réis) para novamente se
Cf. Hutona da ColOnização Portuguêsa do BriJ.ul, dir. pot Carlos Malheiro afastarem; em 1650 é 700 réis no Brasil e 3.800 em Lsboa.
(54 lLei de 1571: Cf. Vicente de Almeida Eça . Normas econômicas da c%nizaçJa
D!1~; vol. 111 (Porto, 1924), pp. !59 se~, ,
, ~E.. Celso Furtado" rormaçao EconomlCa do BTtm/, p. 20. Em sentido çomrá. portuguê-s11 até 1808. Coimbra, 1921, p. 127. Anhur Cezar Ferreira Reis. op. cit.,
[lO, Luclo de Azevedo· Epocas de Portugal EconômICO, pp. 243.245. p. 312.

78 79
nhas estruturais do sistema coloniaPS). Note-se tam,bém que n~ste suas pretensões ao Conselho da Índia, cujo presidente assinaria pas-
fim de século recrudesce a re~res~ão ao comémo esuangelCo, saporte no caso de concessão (59). Já a 18 de março do mesmo ano
multiplicando-se as apreensões ( 6). E bem verdade que aumento,U (1605) novas restrições: nenhum navio estrangeiro ,qualquer que fos-
também contemporaneamente a pressão externa e-que a monarqUla se a nacionalidade, poderia ir ao Brasil, Índia, Guiné e ilhas, nem a
ibérica se debatia em dificuldades financeiras enormes, o que levou quaisquer outras terras descobertas ou por descobrir, abrindo-se ex-
o rei de Espanha,e Portugal, apesar das ~vas proibi~~s (por exem- ceçôes apenas para Madeira e Açores; os estrangeiros no ultramar
plo, em 9/2/1591 e>7), à concessão de hcenças,espeoatS. o que che- português deviam mudar-se para Ponugal no prazo de um ano, com
gou a ponto de permitir um tráfico regular direto com Hamburgo penas severas de morte e confisco das propriedades para os transgres-
que movimentou 19 navios entre 1590 e 1602; n~ data: segun~o sores (60). Se esta legislação por si só era naturalmente impotente pa-
todas as probabilidades, parece que cessaram ~ viagens dIretas (5 >. ra manter o exclusivo português que dependia na realidade de con-
Frisem9s para logo. entretanto, que essas l~c~nças.em 0<1:da alte- dições militares para enfrentar a pressão holandesa, nem por isso fica
ram o mecanismo fundamental que vamosexphcuando. Efetivamen- menos patente a montagem do regime comercial exclusivista. Tais
te:, como já frisamos noutro passo, r~eri~do-nos ao comércio,portu- ptincípios incorporam-se às Ordentlfões Filipinos, livro V. títulos
guês na Mrica, tais concessões não unphcavam ~o es~belecnnento CVII e CVIII<61). O contrabando certamente não cessou, mas a
de uma competição entre compradores. O que e legltuno aftrmar, própria decisão dos Países Baixos de montarem uma companhia es-
comprovado pela documentaç~ dos pr~ços, ~ 9ue com a fase de pecial para as Índias Ocidentais(62), e organizarem a ocupação mili-
grande crescimento da econotnla a~care.tra ~tlmos ao seu enqua- tar do nordeste açucareiro mostra que o contrabando não era sufi-
dramento nas Enhas de força do sIStema colomal; os preços sobem ciente para atender as forças de expansão da economia neerlandesa.
pouco na colônia, a elevação é acentuada na metrópole, isto é, A Restauração (1640) marca uma fase de recuo do exclusivismo
geram-se lucros excedentes -lucros monopolistas - que se acumu- ponuguês no Ultrarnar<"63). As condições políticas do governo restau-
lam entre os empresários metropolitanos. rador, a posição de Portugal no quadro das relações internacionais,
E claro que o agravamento dos embates da guerra da Esp~ha com explicam as concessões feitas à Holanda e àJnglaterra em troca de
a Holanda repercutiram 00 comércio com o Brasil, então mtegrado aliança na luta contra a Espanha. Exatamente porque a colonização
na União Ibérica. As proibições se sucedem a atestar a ~re~ente pres- ponuguesa no Brasil está já a esta altura montada dentro das linhas
são do contrabando. Assim, em janeiro de 1605 restrmg.tram-se no- de funcionamento do sistema colonial, porque o comércio colonial
vamente as licenças para a vinda de estrangeiros ao Brasil, ou antes, se desenvolve segundo os mecanismos do sistema, é que as conces-
o envio de urcas ou navios, obrigando os solicitadores a submeterem sões de participação a estrangeiros se podem tornar a moeda fone
com que Ponugal metropolitano joga no seu esquema de alianças
ml«Começava a esboçar-se o Sistema Colonial, que atingiu a perfeição no S&ulo anti-espanholas. O que se concede nos tratados com Inglaterra
XVIlI.,' diz AJmeida Eça. op. át., p. 127.
()6)Em 1579, por exemplo, segundo Varnhagen, foram apreendidos e incendiados
em nossos ponos onze navios de Dieppe e do Havre. Cf. História Geral do Brasil. 4 a
ed. integral. t. I, p. 436. Referências a naus inglesu na Bahia e em SantOS, .no go- (59J(:f. Anhur Cezar Ferreira Reis, p. 312.
vêrno interino de Cosme Rangel, Varnhagen, op. át., p. 439. Em 1584, seIS qaus (6°ltei de 18 de março de 1605, Cf. J J. de Andrade e Silva - CoUecfJo chronologi·
francesas apreendidas na Paraíba. Op. cit., p. 454. Pouco depois, 1587, os ingleses C(Jda LegiJ/ilfito Portuguba. Lsboa, 1584. vol. I, pp. 108-109.
Withrington e ÜSter tentam uma sonida na Bahia. Varnhagen, t. lI, p. 78. Em (611Cf. Codigo Philipino, ou "Ordenações e Leis do Reino de Portugal... (1603),
1591, Cavendish vem tentar forruna nos nossos pon6s. Lancaster, em 1595, saqueia ed. de Cândido Mendes de Almeida (Rio deJaneiro, 1870), pp. 1253-1259.
Redfe. Na Paraíba, e 1597, treze navios franceses. Op. cit., t. lI, pp. 50·5l, (62 lE. Cordova-Bello - Compafú4s hol.mdeJaJ de navegación, agentes de k colont~
(H>cf. Anhur Cezar Ferreira Reis, op. át., p. 312. zación neerlandesa. Scvilla, 1964, Cf. H. Waten . O Domínio Colonial Ho/andb
(}8>cf. Sérgio Buarque de Holanda e Olga Panaleão . «Franceses, holandeses e in· noBrasi/. Trad. pon. Rio deJaneiro, 1938, pp. 72 segs. S. Clough e Ch. Cole - &0-
gleses no Brasil Quinhentista.., in Hutória Geral da Civilizllfilo Brasileira, t. I, 10 nomiç Hulo" ofEMrope, p. 164
vol, p. 164. . (63)Cf. Anhur CEzar Ferreira Reis, op. cit., pp. 312·313.

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(1654, 1661) e Holanda (1641) é no fundo a participação desses paí- ralmente recebida e constantemente praticada entre todas as nações,
ses no usufruto da exploração. do sistema colonial português. que da Capital, ou Metrópole Dominante, he que se deve fazer o
Por outro lado, paralelamente, o governo lusitano procurou orga- C:Ommercio, e Navegação para as colonias, e nãos as colonias entre
nizar mais eficientemente seu sistema de exploração ultramarina, SI. .. l>.
através sobretudo da criação do Conselho Ultramarino(64), que pas- Se examinarmos, agora, ainda que sucintamente, o regime das re-
sava a superintender toda a atividade colonial. Assim, procurava-se lações econômicas que se estabeleceu no processo da colonização es-
ao mesmo tempo controlar ao máximo as concessões feitas. Na mes- panhola na América, dettontamo-nos com os mesmos prinôpios e os
ma linha, a instituição da Companhia Geral do Comércio para o mesmos mecanismos. A empresa indiana de Castela apresentava-se
Brasil, em 1649(6';). A partir de então, em meio à concorrência colo- inicialmente como neg6cio exclusivo da Coroa, associada a Cristovão
nial que se" acentuava entre as potências, forcejou tenazmente a Co- Colomlx,(70). O alargamento da empresa reduz necessariamente a
roa portuguesa para minimizar as brechas abertas ao seu exclusivo posição do descobridor audaz para uma posição insignificante, con-
colonial. Numa representação de 1672(66), os mercadores portugue- solida o monopólio régio, que naturalmente abarca os s6ditos (caste-
ses reclamavam providências, pois já encontravam os mercados brasi- lhanos). Na realidade, a partir de 1503, com a instituição da Casa de
leiros abastecidos quando lá chegavam seus navios; o alvará de 27 de Contratação de Sevilha, todo o comércio com a América hispânica
novembro de 1684 proibÍa aos navios par'tidos das costas brasileiras passa a fazer-se legalmente pelo pono andaluz: é o regime de porto
encaminharem-se para quaisquer portos que não os portugueses(67). único, só alterado no fim do século XVIII sob o despotismo ilustrado
A ordem régia de 8 de fevereiro de 1711, na mesma linha, estabele- dos ministros de Carlos I1I(71). O importante órgão sevilhano, apesar
cia que os navios estrangeiros (permitidos nos tratados) só pudessem de subordinado a partir de 1524 ao Conselho Real e Supremo das In-
vir nas frotas oficiais ou em caso de arribada forçada, prescrevendo dias, superintende todo o tráfico colonial espanhol, velando pelo
rigorosas penas aos infratores(68). As medidas se sucedeQl, anulando monopólio. A pressão externa, a ação intensa da pirataria e do corso
paulatinamente'as concessões, reduzindo a presença legal de estran- desencadeada pelas potências rivais que já na primeira metade do sé-
geiros aos casos de arribada forçada(69); culminando nos alvarás de culo XVI despontavam e se aparelhavam para a concorrência ultra-
19/6/1772 e 12/12/1772 que, derrogando concessões de 1765 e .marina, determinou o enrijecimento do regime: a navegação espa-
1766, proíbem o comércio inter-colonial, por ser chuma maxima ge- nhola, em 1543, passou a ter periodicidade obrigatória, e entre 1564
e 1566 consolidou-se, enfim, o regime de frotas e galeões. A navega-
(64iCf. Marcello Caetano· O Come/ho Ullramanno. &bôço da lua Hislóroz. Rio ção se faz em comboios - rllotas. ou «galeones. - em épocas preci-
dejaneiro, 1969, pp. }9 segs. sas, com rotas pré-determinadas, e visando apenas portos privilegia-
( Slcr Gustavo de Freilas • A Companhia Geral do Comércio do BraJiI (1649· dos do mundo americano, de onde se procedia à redistribuição dos
1720). São Paulo, 19~1.
(66)Cf. Arrhur Cezar Ferreira Reis - ..O comércio colonial e as companhias privile- produtos vindos da metrópole. Vera Cruz, na Nova Espanha, Carta-
giadas:.. In Hmórw Geral da Gviliz.afJo Brasileira, dir. Sérgio Buarque de Holan- gena, na Tierra Firme, Panamá e Pono Bello no Istmo, eram os cen-
da, t. I, 2° vol • p. 313. tros privilegiados(72). Resultava, por exemplo, que o abastecimento
(ü7)Alvará de 27 de novembro de 1684. Cf. J. J de Andrade e Silva· Co1!ecfJo de Buenos Aires e da região platina se tinha de fazer exclusivamente
chronologica de LegiJlaçJo por/lIgueIa, vol. X. pp. 2~.26.
(6!1lcf. CollecfJo Chronologica de LeiJ Exlravdganles, poslenoreJ ii nOlla mmpila-
fJo da.r OrdenlJÇôes do Reino. Coimbra, 1819, I. lI. pp 376-378.
(6<!JCf. CollecfJo das Leyi, e Ordens, que prohibem os navIOs &JrJlngemJl, IImm
(70)SãO as famosas .CapilUlaciones de Santa Fé:.. Cf. D. Ramos Perez· HiJloTÚJ de
OJ de Glleml, como OI Mercantes. nos portos do Brasil. A.H.U.(usboal, Códice
la ColonÍZación espanola en América. Madri, 1947. pp. 34 segs.
1.193.B. N, (Rio de Janeiro), Ms. 7, 1,6. Sucedem-se os Alvarás Can::S-Régias. (711Cf. Clarence Haring . Comercio, Navegación entre &paiia y laJ lnditzs. Trad.
·LeIS, Ordens, Provisões: 8/2/1711, 7/2 fÜ14, 2917 f 1715, "5/10/171 ~. 27/111717,
esp., México, 1939, pamm. E. Arcila Farias· Fi Sigla I1wlrado en América. Cara-
812/1717, 8f4í1718, 14flfl719, 161211719.201211719, 16/4IJ71'). 26/4/1719.
cas, 19n. M. Nunes Dias - O Comérr:io livre entre Havana e os porJos de &panha
(1778-1789). São Paulo. 196~.
12IJI1724. 20/5/1736. 16/2/1740, 415/1757, 3016/1757. 1914/1761.
14110/1761 (72)Cf, C. Haring, op. cit., pp. 251 segs,

82 83
pela via do Pacífico:)3),. O resultado do monopólio dos mercadores gens desse sistema. Tanto é assim, que a política colonial dessas mesA,
de Sevilha ou de seus associados foi, na formulação sintética do pro- mas potências (Holanda, França, Inglaterra) não diverge, na sua as-
fessor Céspedes dei Castillo, cum regime de grandes lucros, que de- sência,. daquela que se cristalizara na primeira fase da expansão uI-
terminará nas Indias o aparecimento de um regime de altos tramarma.
preços:t(74). De fato, a competição ultramarina, iniciada desde cedo no nível
É claro que tal regime de uma inflexibilidade única provocava de puramente comercial, desdobrou-se, como vimos, em concorrência
imediato o desafio das potências rivais, que desde logo incentivaram propriamente colonial a partir da instalação das colônias inglesas,
o contrabando para a América espanhola. A partir do próprio Brasil- francesas e holandesas. Já tratamos, postO que sumariamente, da ex-
colônia se desenvolvia enormemente o comércio ilegal para a região periência neerlandesa: no empenho de estabelecer linhas diretas. do
platina~ sobretudo no período da União Ibérica(75). Ingleses, france- comércio com o Oriente, a experiência desse esforço levou à organi-
ses e holandeses não deram tréguas ao exclusivo castelhano, até que zaçãO de uma companhia monopolista de comércio. A dominação
no século XVII fixaram-se nas Antilhas, montando economias con- holandesa no Oriente, não tardou a transcender a ação puramente
correntes, e ao mesmo tempo firmando enuepostos para incentivar o mercantil; a ocupação de grandes ilhas, como Java e Sumatra, deu lu-
tráfico de contrabando para as Indias de Castela. O sistema espanhol gar a uma ação colonizadora, passando-se à produção de especiarias.
oferecia de fato flancos consideráv~is; o mais importante certamente Tudo se processou, entretanto, nos qU!ldros do monopólio da pode-
foi o tráfico negreiro para as colônias hispano-americanas. As dificul- rosa Companhia ds Indias Orientais(78). O esquema expansionista
dades em fIXar-se em enuepostos africanos levaram a coroa espanho- para o Ocidente - para as Indias Oci~entais - não foi diverso;
la a conuatar com mercadores estrangeiros o aprovisionamento de processou-se através da Companhia das Indias Ocidentais, símile dai
suas colônias(76). Foi particularmente violenta a concorrência neste primeira. Sob seu impulso e controle, além da dominação temporá-
setor altamente lucrativo do uáfico uluamarino. Ponugueses, ho- ria no Nordeste brasileiro, promoveu-se a ocupação e exploração de
landeses, franceses conuolaram sucessivamente o casiento:t, enfim Surinam e Curaçao(79).
negociado para a Inglaterra no tratado de Utrecht(77). A expansãO marítima da Inglaterra, por seu lado, corre paralela
De qualquer forma, não pode haver dúvida de que a colonização com a formulação dos princípios mercantilistas. lá mencionamos
espanhola se organizou, também ela, nas linhas do sistema colonial Thomas Mun, defensor da Companhia Inglesa das Indias Orientais;
mercantilista, tendente a criar mecanismos acderadores da primitiva com ele se abre toda uma dinastia de teóricos Uosiah Child, Gee,
acumuJação capitalista. ·Que a Espanha não tenha conseguido assi- Postlethwayt, para indicar apenas os mais representativos), que leva-
milar essas vantagens, que elas ao fim e ao cabo se transferissem para ram a doutrina mercantilista ao mais altO grau de refinamento, e, no
as potências rivais, decorre de condiçôes particulares da situação me- co1J>? do mercantilismo, a teorização do sistema colonial(80~. A colo-
tropolitana. Por OuITO lado, convém lembrar que o contrabando não
exclui a realidade do sistema colonial: o que os empresários rivais,
das outras potências. visavam era exatamente do usufruto das vanta- (7S)Cf. E. Coornaen • «The Chanered Companies~, Cambridge Economic Hulory
o/ENrope, vol. IV (1967), pp. 223·275. E. Córdova-Bello -. Companias holandeJtI.f
de napegacron, agentu de /o conizgçj{jn needandeJa. Sevilla, 1964, pp. 24 segs.
'"\Icr Alice P. Canabrava - O comércio português no Rio da PraIa (1580.1640) Georges Masselman _ «Dutch rolonial policy in me seventeenth cenmry~.
São Paulo, 1944. pp. 26 segs. ].Econ.Hut., vol. XXI. 1%1, pp. 445-~8. •. _
(74Jcf. G, Céspedes dei Castillo - «La sociedad colonial americana en los siglas XVI (7'))Cf, H. Wat;en _ O fÃ?mínio Colonial Holandu no BrOJiI. .Trad. po~. Sao .pau.
y XVII:.. In HÚlona Social y Económica de &P01ll1 y Aménca, dir. por). Vjcens- lo, 1938, pp. 78 segs, MáriO Neme _A Holanda e a Companhw dtu lndllJ,J Ociden-
Vives, (Barcelona, 1957), I. m, p. 479. taiJ no tempo do Domínw HoIandêuo BrOJil. São Paulo, 1968, pp. 121 segs. Sepa-
m)Cf. Alice p, Canabrava _ op. cit .• pOJJÍm. rua do t. XXII dos AnaiJ do Museu POIIlulo.
I '6Jcr George Scelle _ La Traite Negrilre t11tX Indu de CiJItille. Paris, 1906. t. I, (SOU, E. lipson ~ Economi& Hirtory ofEngland. 5- ed,. I.ond~es, 1955. t. I1I.' p.
pp. 97 segs. 13 segs.). E. Rees - «Mercantilism in tbe rolonies~, Camb:z"dge Hutory ofthe Bntis/J
17"IG Scelle of cit .. [ I, P 481, t. 11, pp. 455 segs. Empire. dit. por J. H. Rose, A. P. Newton e E. A. BematlS, vaI. 1(1960), pp. 561

84 85
nização inglesa, de fato, apresentou os mais variados mati~es. ass~­
mindo formas, às vezes discrepantes; não obstante, fOI a Gra- do colonial ultramarino (produtos da América, Asia e Âfrica) e de-
Bretanha que levou de vencida a concorrência colo.?-i~ d~rant~ o an- terminações sobre o comércio da Inglaterra com as outras potências
tigo Regime, para se tornar, no século XIX, a poteOCla unpenal por européias; indicativo sem dúvida da coerência da política mercanti-
excelência. Na primeira fase, como Holanda e F(ança.lançou-s~, no lista, de que o sistema colonial é parte{83 .
século XVI, a uma atividade parasitária: o coeso sobre o comérCIO ~o­ O ato de 1660, já sob a Restauração, indica a persistência da polí-
loniaI espanhol. O início do século XVII mar50u a expansão propna- tica mercantilista inglesa depois da queda de Cromwell. Definia na-
mente colonial em várias direções: para o Indico, através de uma vio inglês como aquele cujo mestre e 3J4 da tripulação eram ingle-
companhia monopolista (a East India Company); para a América Se- ses; particularizava que oS" produtos das colônias inglesas só podiam
tentrional procurou-se canalizar os grupos dissiden,tes que s~ forma- ser transportados nesses navios, reafirmando a anterior determina-
ram ao longo das crises po11ticas e religiosas em me~o às q.uaJS se pro- ção. Estabelecia, enfim, os «artigos enumerados» que das colônias
cessou a formação do estado moderno inglês. Deu 1St~.ongem aAu~ britânicas só pndiam sair para a Ingl:\t~((a ou out.ras colôni~
colonização peculiar nos quadros da expansão europela, as colomas inglesas'- e eram os produtos fundamental~ do coJ?érclo ultr~arl­
de povoamentd81l. Finalmente, no meado do século XVII, no: açúcar, indigo, tabaco, algodão, madeua. 0015 anos. depOIS, o
instalaram.se asplantations antilhanas (82), , . Staple Act (1663) proibia às colôni.as importarem em ~avios. que
É com os famosos Atos de Navegação que se artlcula o SIStema co· não tocassem em portos ingleses, abnndo exceção para o vlfiho tnsu-
lonial inglês, o Old Colonial System, O d~ 1651 1 sob Cromwell., já lano, sal francês, cavalos da Escócia e Irlanda. Novo ato, em 1673,
estabelecia que os produtos da América, Asia e Mrica só pod~nam taxava os artigos enumerados que circulassem de uma para outra co-
ser levados para a Inglaterra em navios ingleses ou das colônias l?gle- lônia. O sistema foi reafirmado em 1696, no ato destinado a «preve-
sas; os produtos europeus, em navios ingleses ou do país de ongem nir fraudes e regular abusos no comércio colonial. (plantation
dos produtos, com o que se excluia o intermediário - carryi,!g ~ade
tcade)(84~ . . , .
holandês; estabeleciam~e algumas exceções, como as sedas ltahanas Também em França, a pnmelra fase da expansão marmma se ca-
que poderiam ser recebidas a panir dos panos flamengos.. ou os ~ro­ racterizou, como na Inglaterra e Províncias Unidas, p~la pirataria e
dutos das colônias espanholas e portuguesas que podenam ser lID- pelo corso. Entrementes, realizaram-se algumas tentatIvas m.al su~e­
portados a partir dos ponos ibéricos. Note-se que a exceção es~á a didas de fixação e povoamento no Ultramar(85). Com Richeheu
indicar as vinculações de interesses com Ponugal e Espanha; efe(lv~­ (1624/1642) a expansão adquiriu novo impulso e deu os primeiros
mente, tinha a Inglaterra interesse nessas importaç?es: que permI- frutos. Para o comércio e colonização ultramarinos, incorporavam-se
tiam em contrapartida as manufaturas britânicas atlOguem. os mer- companhias monopolistas: tais as companhias da Nova França
cados da América Latina, através das metrópoles. A outra VIa de ~e­ (1627), das Ilhas da América (1635), da Se~egâmbia (1641), do
netração era o contrabando. Digno ainda de no~a no ~to cromwelha- Oriente (16421 86); os resultados não foram bnlhantes, mas ficavam
no é a integração num mesmo contexto de medIdas VISando ao mun-
(1I3)Cf. Ch. M. Andrews - «The acts of Trade», in Cambndge History of Bn"tish
segs. Ch. M. Andr~ . The Colonial Period of American History. New Haven, Empire, Cambridge, I, 268·299. E. üpson. Economic Hislory olEngland. t. m,
1948, t. IV, pp. 50 segs. pp. 121-140. H.V. Faulkner· Amen"can Economt"c Histo", pp. 108·112. R. Robert-
(81)Cf. A. P. Newton· «The great emigration, 1618·1648•. Cambridge History 01 son -Historio tia Economia Amen"cana, trad. esp. Rio de Janeiro, 1967, 1. J. pp. 70·
Bn"tish EmPire, t. I. pp. 136·182. S. E. Morison e H. S. Commager. The Growth of 71.
American Republic. N. York, 1960, t. I. pp. 57-91. H. V. Faulkner - American (H4 lCf. S. B. C10ugh e Ch W. Cole· Economic Hutory of EUTOpe, Boston, 1952,
Economic History, 8' ed., N. York, 1954, pp. 48·54. Celso Furtado· FormaçiJo p. 347. Ch. M. Andrews., op. cit., p. 285.
Econômica do Brasil. Rio deJaneiro, 1959, pp. 31·35. !
IH~JCf. R. Sédillot· Historio de las coloni=iones, pp. 258 segs. G. Hardy - His-
1~2lCf. ).A. Williamson . «The beginnings of an imperial policy» Cambridge 10lTe de la colonisation française. Paris, 1938, pp. 21 segs. Celso Funado, op. cit.,
History ofBn"tish Empire, t. I. pp. 207·23i3:. R. Sédillot ·Historio de las Colonizacio· . pp. 30-355.
nes. Trad. esp. Barcelona, 1961, pp. 278 segs. Celso Funado, op. clI., pp. 36·44. (II(,JCf. Hemi Hauser - ÚJ pemée et I'action économique du Cardinal Richelieu.
Paris, 1944, pp. 120·142. G. Hardy, op. cito p. 39. Lacour-Gayet . Historio dei co-
mercio. Trad. esp. 1. m, pp. 242·251.
86
87
lançadas as primeiras bases. Com Colbert o mercantilismo francês- nismo fundamental, gerador de lucros excedentes, lucros coloniais;
colbectismo. como ficou chamado - estruturou-se em amplo plano. através dele. a economia central metropolitana incorporava o sobre-
onde eram simultaneamente atacados todos os setores da economia produto das economias coloniais ancilares. Efetivamente, detendo a
nacional; o colbertismo foi ,efetivamente, o exemplo mais completo exclusividade da compra dos produtos coloniais. os mercadores da
de aplicação simultânea da política mercantilista(87J. A expansão ul- mãe-pátria podiam deprimir na colônia seus preços até ao nível abai-
tramarina e colonial organizou-se pois enquadrada no esquema mo- xo do qual seria impossível a continuação do processo produtivo, isto
nopolista: Colben retomou a política de Richelieu, reorganizando as é, tendencialmente ao nível dos custos de produção; a revenda na
companhias privilegiadas, dando-lhes novo e decisivo impulso. As- metrópole, onde dispunham da exclusividade da oferta, garantia-
sim, as companhias das Índias Orientais, das índias Ocidentais, do lhes sobre-lucros por dois lados - na compra e na venda. Promovia-
Senegal, da Guiné. detinham o exclusivo das várias áreas do comér- se, assim, de um lado, uma transferência de renda real da colônia
cio ultramarino francês (comércio dos produtos orientais, dos produ- para a metrópole. bem como a concentração desses capitais na cama-
tos coloniais, tráfico negreiro, etc), e é nesse contexto que se fuma a da empresária ligada ao comércio ultr~arino. Reversivamente, de-
colonização francesa(88). tentores da exclusividade da oferta dos produtos europeus nos mer-
Quando atingimos pois a segunda metade do século XVII, isto é, cados coloniais, os mercadores metropolitanos. adquirindo-os a pre-
quando se cristaliza e define a situação da concorrência colonial en- ço de mercado na Europa, podiam revendê-los nas colônias no mais
tre as potêcias européias, está por seu turno organizada a exploração alto preço acima do qual o consumo se tornaria impraticável;
ultramarina num regime comercial que, apesar de variações e flutua- repetia-se pois aqui o mesmo mecanismo de incentivo da acumula-
ções menores, apresentava no fundo o mesmo mecanismo funda- ção primitiva de capital pelos empresários da mãe-pátria. Para com-
mentaI. As tensões da concorrência, a luta das potências, o contra- preendermos em todas as suas dimensões esse processo de acu~ula­
bando, eram processos que operavam dentro do mesmo sistema bá- ção originária, precisamos ainda de elementos que serão ana.Lisa.dos
sico, não negavam o sistema. Se visualizarmos em conjunto, de um adiante, no seu devido lugar: adiantemos porém, desde já, que é a
lado o capitalismo mercantil europeu em fase de grande expansão, estrutura sócio-econômica que se organiza nas colônias, a produção
de outro as economias coloniais periféricas, constatamos na essência escravista e a decorrente concentração da renda nas camadas domi-
o sistema de exploração destas por aquele; os conflitos se davam exa- nantes, que possibilita o funcionamento do sistema.
tamente em torno do usufruto de suas vantagens, na redistribuição Panicularizemos ainda o mecanismo cuja essência deftnimos aci-
dos lucros comerciais e coloniais, ultramarinos em suma, entre as vá- ma. O exclusivo metropolitano, bem como a subordinação da colô-
rias nações do Velho Mundo. . nia. pode ter várias gradações, complicando-se o esquema de diver-
Fixemos· portanto, o mais nitidamente possível, o mecanismo bá- sas maneiras. De fato, o «exclusivo~ da transação ultramarina, no seu
sico do regime comercial, eixo do sistema da colonização da época limite, pode pertencer a um empresário único; é o caso. por exem-
mercantilista(89). O "exclusivo .. metropolitano do comércio colonial plo, dos monopólios régios. os est,lOcoS, ou a situação da coroa por-
consiste em suma na reserva do mercado das colônias para a metró- tuguesa na primeira fase do comércio orientaL Neste caso. o empre-
pole, isto é, para a burguesia comercial metropolitana. Este o meca- sário único detém a exclusividade da compra dos produtos externos,
isto é, da procura desses produtos no mercado externo (trata-se al,
87 em termos técnicos, de um «monopsônio»); detém, também, natu-
( lcf. S. B. Clough e Ch. W. Cole - Economic Hutory ofEurope. Boston, 1952,
pp. 318-343. J. Morini-Comby - MercantiJisme el protectionÍJme. Paris, 1930, pp. ralmente, a exclusividade da ofena dos produtos no mercado da eco-
60segs.
nomia central '(<<monopólio», tecnicamente f$odo). O mais comUJ:?
(88)a. Georges Harcly - ap. cit., pp. 48-70. H. Deschamps ! Méthodes el doctri-
nescolonia!eJtie la France. Paris, 1953, pp. 34-72. Gaston Manio - Hir/oire de l'eJ- é a exclusividade do comércio colonial pertencer à classe empresária
clavage
(89) dans les colonies
. 4 anf:"'res.
J "y- 1"'/8 pp. 10-24.
Paris ,;.o"', mercantil da metrópole. Neste caso, trata-se do privilégio de um
Cf. E. J. Hamilton - «The role of monopoly in the overseas expansion and colo- grupo de empresários, os m.e~cadores da metrópole. Na colônia, ~~
nial nade ofEurope before 180().. Am.&on.RCfJ., vaI. XXXVIlI, 1948, pp. 33-')3. grupo detém então a excluslVldade da compra dos produtos COIOOlalS
88 89
(isto é, coligopsônio»), bem como da venda dos produtos europeus De fato, tais licenças e concessões pressupõem o mecanismo de ex-
no mercado colonial (quer dizer, «oligopólio»): a situação típica do ploração colonial gerador de super-lucros. Do contrário, o que se es-
sistema colonial, se quisessemos classificá-la tecnicamente, seria pois taria na realidade concedendo? Se um monarca, carente de recursos
a do coligopsônio-oligopólio» ou «oligopólio bi-lateral.(90). Interme- financeiros, vende eventualmente licenças a mercadores estrangei-
diariamente, entre o agente único e o «exclusivo. simples, isto é, de ros, ou se um estado metropolitano, por injunções políticas (como
toda a classe dos mercadores metropolitanos, pode a «exclusividade.. Ponugal, logo após a Restauração), permite, através de tratados, a
ficar restrita a um determinado grupo de empresários metropolita- mercadores de outras nações comerciarem nas suas colônias - na
nos, como no caso do sistema espanhol de pono único, que privile- realidade, está ocorrendo uma transferência das vantagens, dos estí-
giava os mercadores ligados ao comércio sevilhano. As companhias mulos econômicos, do sistema colonial. Não se estabelece, assim,
de comércio colonial situam-se também nesta posição intermediária: uma autêntica concorrência. É, aliás, a possibilidade de um comér-
na realidade, privilegiavam uma fração dos mercadores metropolita- cio mais altamente lucrativo que tornavam tais licenças e concessões
nos. Nos mercados metropolitanos, por sua vez, a situação podia va- tão amplamente desejáveis, a ponto de se moverem guerras pela sua
riar: se o grupo ligado ao comércio ultramarino vendia os produtos obtenção.
coloniais em condições de monopólio ou oligopólio, a preços natu- O contrabando envolve uma situação efetivamente mais comple-
ralmente altos, promovia-se uma transferência de renda da popula- xa, mas, quanto a nós, confirmadora ainda assim, da análise que
ção global da mãe-pátria para os empresários ligados ao comércio co- apresentamos. É de todo óbvio que o contrabando envolvia sempre
lonial; se revendiam os produtos noutra nação nas mesmas condi- sérios riscos: prisão, confisco das mercadorias e navios, etc. Ora, o
ções, a transferência se fazia de fora das fronteiras nacionais para que podia não obstante mover os mercadores a correr tais riscos e se
dentro, concentrando-se sempre na mesma camada empresária privi- empenharem no comércio ilegal - senão a perspectiva dos super-
legiada; se, porém, tem de fazê-lo em condições de concorrência lucros coloniais? O contrabando, portanto, também pressupõe o
com outras nações, esse canal da acumulação declina ou pode mecanismo básico em vez de negá-lo. É ceno que o contrabandista
transferir-se para outras nações. Igualmente, a compra dos produtos devia, para encontrar campo para suas atividades, oferecer preços
europeus para aprovisionamento da colônia se podia fazer em condi- um tanto melhores pelos produtos coloniais, bem como oferecer
ções mais ou menos favoráveis; é para notar-se, porém, que se os produtos europeus a preços mais baixos do que os mercadores metro-
produtos de abastecimento da colônia eram adquiridos fora da me- politanos. Mas nunca num nível que significasse uma pedeita con·
trópole, ou em outros termos, quando a metrópole não produz o corrência comercial, pois docontrário,o que os compensaria dos altos
abastecimento das colônias, este canal da acumulação naturalmente riscos? Os capitais se canalizariam para outros setores de igual lucra-
tende a se bloquear. tividade e menor risco. Assim parece ceno que o contrabando envol-
Algumas objeções, entretanto, se podem fazer a esta linha de in- vesse um abrandamento do sistema, mas não sua supressão. O meca-
teJYretação. Elas se ligam a mecanismos operantes ao longo de toda nismo básico persiste sempre como o elemento explicativo de todo
a Epoca Moderna, e que, segundo alguns autores(9 1), contrariariam esse movimento.
o funcionamento do sistema: tratados concedendo vantagens comer- Em suma, licenças, concessões, contrabando, parecem-nos fenô-
ciais no ultramar a outras potências, licenças a mercadores estrangei- menos que se situam mais na área da disputa entre as várias metró-
ros, e enfun o contrabando. A nosso ver, contudo, tais ocorrências poles européias para se apropriarem das vantagens da exploração co-
não desmentem, antes confrrmam, nossa anãlise. lonial - que funciona no conjunto do sistema, isto é, nas relações
da economia central européia com as economias coloniais periféricas.
(90JSobre regimes de mercado, d.Jean Marchai - Le mécllnume de; Prix. 2a 00.
Não atingem, portanto, a essência do sistema de exploração colo-
Paris, 1961, pp. 257 segs. G. Stigler - La teoria de IOI preciOI. Trad. esp. Madri, nial.
1953, pp.23,) seS, São variações em torno do elemento fundamental do sistema: em
(91JPor exelUplo. o já citado F. Mauro _ Nova Hutória e NOllo Mundo. pp. 61-64. última instância, o regime do comércio colonial- isto é, o exclusivis:
90 9]
mo metropolitano do comércio colonial - constituiu-se, ao longo mente, metais nobres, para que a expansão da economia de mercado
dos séculos XVI, XVII e XVIII, no mecanismo através do qual se pro- se não travasse por escassez de numerário.
cessava a apropriação, por parte dos mercadores das metrópoles, dos O primeiro ensaio colonizador, nas ilhas atlânticas, começou mui-
lucros excedentes gerados nas economias coloniais; assim, pois, o sis- to ced~92), so~ o ~stímulo direto do Infante D. Henrique, que para
tema colonial em funcionamento, configurava uma peça da acumu- lá envIOu os pnmeuos povoadores. A idéia inicial parece ter sido a de
lação pn'mitiva de capitais nos quadros do desenvolvimento do capi- povoar para manter a posse das estratégicas ilhas, ao mesmo tempo
talismo mercantil europeu. Com tal mecanismo, o sistema colonial em que se procurava guardar segredo das rotas e dos descobrimen-
ajustava, pois, a colonização ao seu sentido na história da economia e tos. Org~iza~a-se assim uma economia mais voltada para o consu-
da sociedade modernas. mo dos plonelfos, poSto que com pequena exportação de cereais pa-
:a a ,?etrópole, já carente deles. Não tardou porém que a economia
c) Escravidão e tráfico negreiro se.
msulma voltasse para o mercado externo, visando a Portugal e 10-
Ç"0 a se~1f ao mercado europeu em geral; a introdução da agro-
A análise que vimos esboçando do Antigo Sistema Colonial não se ,~dústrla do ~çúcar nas ilhas, especialmente'na Madeira, sua rápida
completa sem o estudo, sumário embora, do tipo de economia que difusão(93), ajustaram a pouco e pouco as atividades produtivas às li-
se organiza nas colônias. Já vimos que a indicação das grandes linhas nh~ comerciais da economia européia em expansão. Com o desen-
da estrutura sócio-econômica colonial é indispensável para se com- volv~mento da economia açucareira no Brasil, foi a viticultura que, a
preenderem inclusive os mecanismos da exploração ultramarina; ve- partu do fim do século XVI, passou a dominar a produção da Madei-
remos adiante que somente depois dessa análise poderemos tentar ra.
caracterizar globalmente a dinâmica do sistema colonial. _ No Brasil, igualment~, a colonização propriamente dita (ocupa-
O ponto de partida para a caracterização da economia colonial é o çao, povoamento, valonzação) obedeceu de início a preocupações
sentido mais profundo da colonização e o mecanismo de- base das antes de tudo políticas: visava-se. através do povoamento, preservar
relações metrópole-colônia. Efetivamente, é em funçãu Jaquele sen- a posse já então disputada pelos corsários holandeses, ingleses e fcan-
tido básico que se processa a expansão européia, (' se organizam as ceses(94). As s1;lgestões nesse sentido feitas a el-Rei D. João III (entre
atividades produtivas no Novo Mundo. Ocupação, povoamento e ouuos, por ~10~ de Gouveia) já apontam contudo para o exemplo
valorização econômica das novas áreas se desrnvolvem nos quadros das Ilhas Atlânncas(95). Quando enfim se enceta a colonização, é a
do capitalismo comercial do Antigo Regime, em função dos meca- agri~ul~ra que visivelmente se tem em mira nas Cartas de doação das
nismos e ajustamentos dessa fase da formação do capitalismo moder- capitanias, onde o donatário recebe privilégio de fabricar e possuir
no; no fundo e no essencial, a expansão européia, mercantil e colo- engenhos d'água e moendas(96). Destarte, a colonização da América
nial, processava-se segundo um impulso fundamental, gerado nas Ponuguesa organizava-se desde o início em função da produção açu-
tensões oriundas na transição para o capitalismo industrial: acelerar a careira, para o mercado europeu, e assim desenvolveu-se ao longo do
primitiva acumulação capitalista é pois o sentido do movimento, não século XVI.
presente em todas as suas manifestações, mas imanente em todo o
processo. ('J2Jcf. JoeJ Senão - cNa alvorada do mundo atlântico•. in O Siculo dos Descom·.
Neste sentido, a produção colonial orienta-se necessariamente pa- menlos. São Paulo, 1961, pp. 141-157.
ra aqueles produtos que possam preencher a função do sistema de {'mCf. V. Magalhães.Godinho . A &onomw dos Descommenlos Hennquinos.
Lisboa, 1962, pp. 165-176.
colonização no contexto do capitalismo mercantil; mercadorias co-
(\I4)Cf. Cd~ Furrado· Fo",!aç40 Econômica do Brasil, pp. 14-15.
mercializáveis na economia central, com ptocura manifesta ou laten- (9~lcf. LÚCIO de Azevedo . Epocas de Portugal Econômico, 2 a edição pp. 233.235.
te na sociedade européia. São,sobretudo, os produtos tropicais: açú- Vide a carta de João de Melo Câmara, in Histôria da Colonização Portuguêsa do
car, tabaco, algodão, cacau, anil; matérias primas, como peles para Brasil, t. IU, pp. 83-9L
as vestimentas de luxo, madeiras tintoriais, etc. Para além, natural- (%)Ci. Lúcio de Azevedo, ap. cit .. p. 240. R. Simonsen, ap. cit., p. 83.

92 93
metr0Jl.Olitana foi um dos fatores; outros serão examinados adiante,
Quando as nações ibéricas perdem sua posição privilegiada no Ul- no devldo lugar. No fim do século porém, a expansão do consumo
tramar e a concorrência colonial se generaliza, assistimos ao mesmo europ~u. ~o tabaco abriu para as colônias inglesas ao sul do Delaware
ajustamento da expansão colonial às linhas de funcionamento do sis- a possIblhdad~ de se entrosarem nas linhas do comércio europeu; so--
tema. O assalto holandês, inglês e francês às Antilhas de Castela, já bretudo. n~ VIrgínia, processou-se rapidamente a transformação de
o vimos, visou de início ao estabelecimento de cabeças de ponte para uma ~oloOla de povoamento, orga~iza~a à base da pequena e média
melhor atuar sobre o sistema colonial de Espanha. O meado do sécu- propnedade com uma produção dIversificada, para uma colônia de
lo porém marca alí também a mudança de rumo; com a introdução e~ploração organizada em grandes propriedades escravistas produ-
da economia açucareira, as ilhas do «mediterrâneo americano. zlOd~ pa~a o mercado extecno(99). Somente naquelas áreas mais se-
organizavam-se em produtoras dos mercados europeus(97). tentn~natS, esp~cialmente na Nova Inglaterra, situadas em zona
Os espanhóis, por seu turno, defrontaram, nas áreas do Novo geográfica de cl1!Da temperado, onde a possibilidade de montagem
Mundo, que lhes ficaram reservadas pelas prioridades dos descobri- de uma economia complementar ficava muito reduzida pelo quadro
mentos e pelos ajustes pontifícios, com populações mais densamente natural O? mesmo impossibilitada, persistiam as antigas estruturas
concentradas e de nível cultural mais elevado. A acumulação prévia das COlôOlas de povoamento. A constituição ao sul no Continente e
de riqueza bem como as dificuldades de entabular-se uma explora- nas Ilhas antil?anas,de plantações especializadas e~ produtos de ex-
ção puramente comercial, levou ali a uma terceira alternativa: a con- portação e poiS carentes de produtos alimentares e manufaturados
quista, isto é, o saque das riquezas acumuladas e a dominação dos abria para essas colônias setentrionais a possibilidade de um mercad~
abortgenes, com desmantelamento direto de suas estruturas políticas extern~ p:ua madeiras, cereais, manufaturas, etc. A proximidade
tradicionais. A conquista· espanhola põe a nu as linhas de força da dos d~lS tipos. de colônias, estruturalmente divergentes, criava pois
colonização moderna. Passada esta fase, a colonização se organizava u?I a Situação mteiramente nova, panicularmente favorável às colô-
em torno da mineração da prata e do ouro, que é o seu eixo central, mas de povoamento do Hemisfério None. Por estas interessava-se
em torno do qual, tudo o mais girava(98): também neste caso, por- ~e~os a metrópole, pois elas não podiam fornecer senão produtos
tanto, é.a produção para o mercado europeu que domina o processo slmIl.ares ao~ europeus, e portanto não se podiam configurar em eco-
colonizador. nomias ancdares. A economia diversificada de subsistência voltada
Na América Setentrional, finalmente, assistimos ainda uma vez para o c~n~umo interno, que caracterizava essas colônias ti~ha pou-
ao mesmo movimento. Colonizadas a partir de 1607 (settlement cas condlçoes de desenvolver um alto nível de produtividade e de
da Virgínia), a emigração para essas áreas tem conotação diferente. renda, até que se lhes abrissem mercados externos; o que é funda-
Embora estejam presentes os impulsos mais fundamentais da expan- mental destacar, porém, é que esses mercados, quando se abrem,
são e'uropéia, na sua versâo inglesa, outros componentes interferiam, são de natureza essencialmente diversa do mercado externo comum
matizando os resultados. A emigração para várias colônias america- às demais colônias. O mercado externo das colônias no sistema colo-
nas organizou-se mediante companhias, que engajavam trabalhado- nial, é o merc~do metropolitano; a vinculação se di através do regi-
res para a exploração da América none-atlântica, visando a lucros co- me do «exclUSIVO» que promove uma exploração da colônia pela me-
loniais; outras vezes, tratava-se da emigração espontânea de grupos trópole. Aqui, no caso da Nova Inglaterra, o mercado externo eram
perseguidos pelas reviravoltas políticas e religiosas da Inglaterra, na o':l.tCas colônias, inglesas, francesas, holandes~, espanholas. Quer
fase de organização do estado moderno. O sistema das companhias duer, a relação que se estabeleceu não se firmava nos mecanismos do
funcionou via de regra mal; financeiramente, quase todas fracassa- sistema; assim, as rendas geradas nessa relação não se carreavam (co-
ram. As dificuldades de organizar uma produção complementar à mo era regra na relação metrópole-colônia) para fora mas concentra-
(~7)Cf. Celso Funado, ap. cit., pp. 37-44. (<)<))Cf. E• Kirkland - H-li/Onll. =onomlca
lO"_ - • J I
Y8 ue lO! Estado! Unidos, trad. esp. Mbi-
( >Cf; Céspedes dei Castillo . «La sociedade colonial americana en los siglos XVI y co, pp. 70 segs.
XVII., fi Hislorla socjgj y economica de Erpana y América, du.). Vicens·Vives, t.
m, p. 470.
95
94
vam-se na economia exportadora. Este o ponto fundamental para se Vistas pois em conjunto, as economias coloniais periféricas confi-
emender o desenvolvimemo posterior dessas colônias, de todo em guram setores especializados na produção de determinadas mercado-
todo surpreendente nos quadros do sistema colonial(IOO) Formam rias para o mercado europeu. Produção mercantIl, portanto, e aqui
uma exceção, são «colônias» apenas no estatuto político nominal, reaparece o elo profundo que liga a expansão colonial com o desen-
não são a rigor, estruturalmente, colônias. Mas, veja-se bem, é a par- volvimento econômico europeu na fase do capitalismo comercial: a
tir do sistema colonial que se podem entender, inclusive na sua ati- expansão ultramarina resultou, como antes procuramos explicar, do
picidade. esforço de superação dos obstáculos que a economia mercantil euro-
No conjunto, portanto, é possível divisar o mo~imento geral que péia encontrava para manter seu ritmo de crescimento. As econo-
caracteriza a montagem da colonização moderna dentro dos meca- mias coloniais, em que resulta afinal a expansão ultramarina, aca-
nismos do sistema colonial: povoamento inicial, com produção para bam por configurar, encaradas globalmente no contexto da econo-
o consumo local; em seguida, entrosamento nas linhas do comércio mia mundial, setores produtivos especializados, enquadrados nas
europeu, e pois nos mecanismos da economia reprodutiva européia. g!andes rotas c~merci~is,. e pois me.rcados consumidores em expan-
Ao passarem a produzir para o mercado externo, articulavam-se no sao. Neste sentido, Significa amplzação da economia de mercado,
sistema pois o regime desse comércio é como já vimos o nervo do sis- respondendo assim às necessidades do capitalismo em formação.
tema. Destarte, ajusta-se a colonização ao sentido do sistema colo- Mais ainda, toda a estruturação das atividades econômic~ colo.
nial do capitalismo mercantil: através da exploração das áreas ultra- niais, bem como a formação social a que servem de base, definem-se
marinas promovia-se a originária acumulação capitalista na econo- nas linhas de força do sistema colonial mercantilista, isto é, nas suas
mia européia. conexões com o capitalismo comerciaJ. E de fato, não só a concentra-
E não só a produção, mas o n"trno dela teve também de ajustar-se ção dos fatores produtivos no fabrico das mercadorias-chave nem
ao sistema; é em última instância o mercado europeu, a flutuação da apenas o volume e o ritmo em que eram produzidas, mas também o
procura européia dos produtos ultramarinos (KoloniaJwaren) que próprio modo de sua produção define-se nos mecanismos do sistema
define a maior ou menor extensão da produção colonial. E claro que colonial. E aqui tocamos no ponto nevrálgico; a colonização, segun-
ao lado dessa produção essencial para o mercado europeu, do a anáJise que estamos tentando, organiza-se no sentido de pro-
organizava-se nas colônias todo um setor; dependente do primeiro, mover a primitiva acumulação capitalista nos quadros da economia
da produção que visava a suprir a subsistência interna, daquilo que européia, ~u noutro~ termos,_estimular o progresso burguês nos qua-
não podia ser aprovisionado pela metrópole(lOI). Mas, ainda aqui, dros da SOCiedade OCidentaL E esse sentido profundo que anicula to-
são os mecanismos do sistema c<;>lonial que definem o conjunto e im- das as peças do sistema: assim em primeiro lugar, o regime do co-
primem o ritmo em que se movimenta a produção. Nos períodos em mércio se desenvolve nos quadros do exclusivo metropolitano; daí, a
que a procura externa se retraia, isto é, quandQ baixavam os preç~s 11!ndução colonial orientar-se para aqueles produtos indispensáveis
europeus dos produtos coloniais, as unidades produtoras na colônIa ou ~omplementares às e~~nomias ~entrais; enfim, a produção se ar.
tendiam a deslocar fatôres para a produção de subsistência, pois di- ganlza de molde a permitir o funcIOnamemo global do sistema. Em
minuía sua capacidade de importar, quando, ao contrário, outras palavras: não bastava produzir os produtos com procura cres-
ampliava-se a procura externa, as unidades produtivas coloniais ten- cente nos mercados europeus. era indispensável produzí-Ios de mo-
diam a mobilizar todos os fatores na produção exportadora; abria-se, do a que a sua comer~ialização~ promovesse estímulos à acumulação
então, à economia colonial de subsistência a possibilidade de b.urguesa nas eco~omlas europelas. Não se tratava apenas de produ-
desenvolver-se autonomamente. Era pois o setor de exportação que ZIr para o comérCIO. mas para uma forma especial de comércio _ o
comandava o processo produtivo no seu conjunto. comércio colon!al;, ~, mais u~a vez, o sentido último (aceleração da
acum~lação pnmJ~lva de :apltal), que comanda todo o processo da
(WOlcr Celso Funado· Op. àt., pp. 37·44.
(101)Cr. Caio Prado Júnior - Formação do Brasil contemporâneo. 4' ed., São Pau· colo01zação. Ora, lsto.o.bngava ~ economias coloniais a se organiza-
10,1953, p. 1)·26, 114·123, 151·153. rem de molde a permitir o funCIonamento do sistema'de exploração

96 97
colonial, o que impunha a adoção deformas de trabalho compulsó-
no ou na sua forma limite, o escravlSmo. pru\aria que o~ europeus ou que ~\ metrópole~ européla~ n:io dISpu-
E assim a Europa pôde contemplar o espetáculo deveras edificante nham de contingentes de'.!l0gráflcos para pOvoaf a América. e que
do renascimento da escravidão, quando a civilização ocidental dava ~apelaram» então para a Africa ... Nada explica. nesse argumento.
exatamente os passos decisivos para a supress-ão do trabalho compul- que o tal «apelo» envolvesse nada menos que a escravização dos ne-
sório, e para a difusão do trabalho «livre», isto é, assalariado. Assim, gros· o que se tem de explicar, de faro. é o regime escra~lSta de tra-
enquanto na Europa dos séculos XVI, XVIl e XVIlI transitava-se da balho.
servidão feudal para o trabalho assalariado, que passou a dominar as Tratava-se, porém, essencialmente, de povoar? Nos quadros do
rdações de produção a partir da revolução industrial, no Ultramar, SIStema colonial, reatava-se, na essênCia, de explorar as novas áreas
isto é, no cenário da europeização do mundo, o monstro da escravi- de modo a promover a pnmitiva acumulação capitalista nas metró-
dão mais crua reaparecia com uma intensidade e desenvolvimento poles: isto. envolvia naturalmente montagem de um aparato produ-
inéditos. Bem é certo que a perplexidade criada por tal situação na tIvo, e POiS ocupação e povoamento, mas o essencial era a explora-
consc.i~cia cristã deu lugar, de urp. lado, a uma vigorosa linhagem de ção. Daí a ocupação, isto é, a expansão geográfica visar a certas áreas
publJClstas que sem contemplação denunciaram os horrores do escra- (o Intertrópico) preferentemente, e o povoamento se org:JOizar area-
v~smo .moderno, e. de -OUtro, a ~otáveis contorções mentais para ra- vés do engajamento de trabalhadores (europeus, aborígenes ou afri-
Cionalizar a escravidão, compaglOando-a à moral cristã(102). Bem é canos. conforme o caso) por pane dos colonos difigemes da empresa
verdade, também, que Marx dizia que as colônias acabam por reve- colonial. O regime de trabalho - as várias formas de trabalho com-
lar o segredo da sociedade capitalista ... pulsório - enuetamo fica ainda por explicar
Vejamos pois de mais perto esse ponto, fundamental para a com- Ora, a produção colonial era. baSICamente-. como já VimOS, produ-
preensão do conjunto do sistema que vimos analisando. A escravi- ção para o mercado metropolitano. isto é, produção mercantil. Na
diio foi o regime de trabalho preponderante na colonização do Novo e-conomia de mercado, contudo, é o salanato o regime mais re-mávcl;
Mundo; o tráfico negretro que a alimentou, um dos setores mais ren- a~ formas ~e trabalho compulsório, por seu lado, vinculam-se (escra-
táveis do·comércio colonial. Se à escravidão afncana acrescermos as vI~mo antigo. e sobretudo a servidão fe-udal) a economias pré-
várias formas de trabalho compulsório, servil e semi-..ervil, - «enco- mercantis (a economia dominial fechada da Idade Média): exata-
mienda», «mita», «indentured», etc. - resulta que estreitíssima era a mente, a emergênna da economia menantil (o desenvolvimento do
faixa que restava, no conjunto do mundo colonial, ao trabalho livre. ~-omércio) tende a promover o desatamento dos laços servis, criando
A colonização do Antigo Regime foi, pois, o universo paradisíaco do lentamente condições para a expansão do trabalho «livre» -- era o
trabalho não·livre, o ddorado enriquecedor da Europa. A explicação processo em curso na EUfopa da Epoca Moderna. Neste sentido. o re-
desse fato tem tocado à-revezes o pitoresco. Assim, argumentava-se, gime de trabalho prevalescente no mundo ultramarino do Amigo
por exemplo, que os europeus haviam «recorrido» ao trabalho africa- Reg me se aI?resenta como um (()ntra-~enso. E de fato. como já pro-
no porque eScasseava população na mãe-pátria com que povoar o LUram;)~ mdICar, a mercantilil,lI,lO da produção só podc generalizar-
o

Novo Mundo. A afirmação refere-se naturalmente a situações como se. dommando as relações SOCIaiS, quando a força produnva do traba-
a que se configurava entre o Brasil e Portugal; se invertermos as si- lho se (Orf'.1 ('"la própria flH"fladoria. ISto é, quando a economia mer-
tuações. por exemplo, a metrópole francesa em face das ilhas anti- ,a.\til ~e Integra em.capualtsta Nessa estrutura, o processo produti-
lhanas, o argumento não faz sentido, aliás iniciou-se uma colonização vu ~t' lIu.L1a lom uma Inversão de capital (esse quantum de valor) ria
de povoamento, que depois deu lugar ao escravismo. Por outro lado, sua ollgmal fO"lla dinhelto. que, investindo-se, se transforma em
em determinadas áreas prevaleceu o povoamento. Ademais, isso só fatore" de prodIJl,d!' íUpital produtivo); a Inter-ação dos fatores ela-
bora mer, adofla~. nova forma do capital (capital-mercadorias), que
feal!iada:, (vendidas) no mercado restitui ao capllal sua forma di-
111I~ICf DaVid Brion DavlS . The hob/em of51avery in Western CU/lUTe Itha(a
New York. j')70. e~penalmente pp. 108-111. ' , nb"elto ImglOal. a(fe~cida da valoriza~'ão (mals-vaha), que remu-
nera aS~lm U~ fatore~ (juros. lucros. rendas. ~alários) e permite a rein-
98
yy
\fersão num nível mais elevado. Assim se amplia a produção capita- move a expansão da forma assalariada do regime de trabalho: pro-
lista, auto-estimulando-se-. Cada vez que o capital volta a sua primi- cesso que pressupõe de um lado a libertação do trabalhador de todas
tiva forma, permitindo a reinversão alargada, completa-se uma rota- as prestações servis, mas de outro lado, ao mesmo tempo, dissociação
ção. Ora, é evidente que só o trabalho assalariado permite tal funcio- entr: o produtor e seus instrumentos produtivos, ficando privado de
namento; se escravista o regime, trava-se a rotação, pois o pagamen- quaisquer fatores de produção que não a força de seu trabalho(105).
to do fator trabalho se tem de adiantar em parte (compra do escravo) No seu processo histórico, portanto, o desenvolvimento do trabalho
enquanto no salariado só depois de consumida a mercadoria traba- divre», isto é, assalariado, envolveu de uma parte, a superação dos
lho ela é remunerada no próprio processo produtivo, e noutra parte laços servis (prestações, banalidades, etc.), de outra, a separação en-
a manutenção da mercadoria-escravo distende a cotação (o tempo de tr~ os produtores-diretos e todos os demais fatores de produção (di-
vida do escravo), emperrando o sistema. Ademais, toda a extraordi- reltos que os camponeses-servos linham sobre as terras, instru-
nária flexibilidade da economia capitalista fica bloqueada: a produ- mentos com que produziam sua subsistência, ou a dissolução da pro-
ção não se pode ajustar às flutuações da procura, pois é impossível dução artesanal de produtores independentes). Não cabe aqui, na-
dispensar o fator trabalho engajado de uma vez por todas(103l. É turalmente, estudar esse longo processo histórico de formação do re-
pois menos rentável o trabalho escravo para a produção mercantil, gime assalariado de trabalho(l06l. Através dele contudo é que a força
trabalho oneroso, e como tal absurda instituição foi o escravismo do trabalho emerge na sua pureza, compelida a trocar-se no merca-
considerado por Adam Smith(l04), fruto do orgulho e do amor à do- do; se ligada a outros meios de produção, ao invés de alugar seu tra-
minação dos senhores de escravos. balho, o produtor utilizaria esses fatores, vendendo mercadorias co-
E no entanto o escravismo (ou as outras formas de trabalho com- mo produtor autônomo, e o capitalista não teria lugar ao sol: isolada
pulsório) é que dominou o panorama da economia colonial do mer- dos demais componentes do processo produtivo, a força de trabalho
cantilismo. Não terá naturalmente isto ocorrido por estupidez dos transforma-se em mercadoria, com o que se integra o modo capita.
empresários coloniais, nem por suas taras dominadoras. É que a aná- lista de produção. Como se sabe, é somente a partir da·Revolução In-
lise do problema não se pode limitar àquele plano lógico-formal. dustrial que esse processo de constituição do capitalismo adquire
Examinado em si mesmo, o funcionamento da produção mercantil uma irreversível força de autopromoção. Na consciência burguésa, é
torna naturalmente impossível o emprego de escravos na produção claro, o que se viu nesse longo processo histórico de formação do as-
para o mercado. Karl Marx, porém, que analisou a sociedade bur- salariado foi a «iibertação» do trabalho das injunções servis, barbaris-
guesa numa perspectiva ao mesmo tempo lógica e histórica, isto é, mo antigo, exatamente porque na economia capitalista as relações
explicando simultaneamente a mecânica do seu funcionamento e as mercantis do regime de trabalho velavam a nova forma de explora-
condições de sua instauração, não perde de vista que a formação do ção (valorização através da gestação da mais-valia). O mesmo Marx,
capitalismo se fez desintegrando a estrutura feudal-servil e arú!sanal porém, implacável analista do mundo burguês, precisamente por ter
(de produtores independentes) pré-existente; e pois, o desenvolvi- levado sua análise para além de todas mistificações da realidade, pô-
mento das relações mercantis ao desorganizar a antiga estrutura, de constatar com nitidez que nas colônias eram desfavoráveis as con-
aprofu~dando a divisão social do trabalho e a especialização da pro- dições de constituição do regime de trabalho «livre», sempre haven-
dução, la criando mercado e portanto petmitindo o impulsionamen- do a possibilidade de o produtor-direto assalariado, apropriando-se
to do processo. No passo mais decisivo, de constituição do capitalis- de uma gleba de terra despovoada, transformar-se em produtor in-
mo propriamente dito, a dissolução dos laços sociais tradicionais pro- dependente. Assim, enquanto na Europa moderna o desenvolvi-
mento capitalista «libertava» os produtores diretos da servidão me-
°
(103)Sobre as contradições da produção escravista para mercado, Cf. Fernando
dieval e integrava-os como assalariados na nova estrutura de produ-
Henrique Cardoso - CapiJalismo e Escravidão no BraSIl Meridiona/, São Paulo,
1962, pp. 186 segs. Octávio lanni . As metamorfoses do EJeravo, São Paulo, 1962, ção que destarte camuflava a exploração do trabalho, as economias
pp. 80 segs. E. Gcnovesc . The Po/iJical Economy ofS/avery New Y~rk 1967 pp
41·106. ' ". (lUsJKarl Marx· Capita/(trad. esp. México, 1')46), vol. I. FP- 184·188,801 segs.
(104lCC. Adam Smith . The Wea/th 0/ NatlonJ. Ed. Cannan, pp. 364·366. (loúJCf Marx· Capital, vol. I, pp_ 801 segs.

100 101
coloniais periféricas, montadas exatamente como alavancas do cresci- mal. e pois a função da colonização no desenvolvllnento do rapltali\-
mento do capitalismo e integradas nas suas linhas de força, punham mo europeu (os saláriOS dos produtores diretos tinham de ser de tal
a nu essa mesma exploração na sua crueza mais negra ... As colônias nível que compensassem a alternativa de eles se tornarem produtores
timbravam em revelar as entranhas da Europa. autônomos de sua subsistência evadindo-se do salanato: ramo pode-
Eric Williams(I07), que retoma as análises marxistas para estudar a riam, então, funcionar os mecanismos do «exclUSIVO» comerCIa]?).
gênese do moderno escravismo, nota com muita razão que a implan- Por outrO lado, a produção colonial exportadora, no volume e nu
tação do escravismo coloniàl, longe de (er sido uma opção (salariato, ritmo definido pelos mercados europeus, atendendo pois às necessi-
escravismo), foi uma imposição das condições histórico-econômicas. dades do desenvolvimento capitalista, só se. podia ajustar ao sistema
E aqui nos reencontramos com o sentido profundo da colonização e colonial organizando-se como produção em larga escala, o que pres-
os mecanismos do Antigo Sistema Colonial, tocando agora no pontO supunha amplos investimentos iniciais; com isto ficava também ex-
essencial de sua compreensão. Efetivamente, nas condições históricas cluída a possibilidade de uma produção organizada à base de peque~
em que se processa a colonização da América, a implantação de for- nos proprietários autônomos, que produzissem sua subsi.<.tênria. ex-
mas compu/sónas de trabalho decorria fundamentalmente da neces- portando o pequeno excedente. Se podemos. contudo. examinar
sária adequação da empresa colonizadora aos mecamsmos do AntIgo analiticamente a impossibilidaoe dessas alternativas, aos homens do
Sistema Colonial, tendente a promover a primitiva acumulação capi- início dos Tempos Modernos. que montaram a colonização capitalis-
talista na economia européia; do contrário, dada a abundância de um ta, a produ\ão escravista (ou para-escravista) devia apresentar-se, co-
fator de produção (a terra), o resultado seria a constituição no Ultra- mo ob~en ou E. Williams, quase como «natural», talo condicionalis-
mar de núcleos europeus de povoamento, desenvolvendo uma eco- mo hi~-lUflco-econômico em que se movia a expansão européia.
nomia de subsistência voltada para o seu próprio consumo, sem vin- Assim, desrnvolveu-se a colonização do Novo Mundo (entrada na
culação econômica efetiva com os centros dinâmicos metropolitanos. produção de mercadorias-chaves destin,ldas ao mer('ado europeu,
Isto, entretanto, ficava fora dos impulsos expansionistas do capitalis- produção assente sobre formas várias de wmpulsão do uabalho -
mo mercantil europeu, não respondia às suas necessidades. Em tese, no limite, o escravismo; e a exploração colonial significava, em sua
pois, não ficaria vedada a possibilidade de uma colonização no seu última instância, exploração do trabalho escravo. Assim também os
sentido mais lato de ocupação, povoamento e valorização de novas tOlonos metamorfosearam-se em senhores de escravos, assumindo a
regiões. Tratava-se, porém, naquele momento da história do Oci- personagem que lhes destinara o grande teatro do mundo; nem é
°
dente, de colonizar para capitalismo, isto é, segundo os mecanis- para admirar que desenvolvessem aquela volúpia pela dominação de
mos do sistema colonial, e isto impunha o trabalho compulsório. A outros homens - era apenas a miséria da condição humana prêsa às
colonização da época mercantilista conforma-se ao sentido p.rofundo malhas do sistema.
inscrito nos impulsos da expansão, ou seja, é o elemento «mercanti- Efetivamente, a escravização do negro remonta ao início mesmo
lista» - quer dizer, mercantil-escravista - que comanda todo o mo- da expansão ultramarina; e Zurara dcscreveu em página notável a
vimento colonizador. Produzir para o mercado europeu nos quadros chegada dos primeiros escravos à Europa cristã( lOB). As primelfas le-
do comércio colonial tendentes a promover a acumulação primitiva vas da mercadoria-escravo destinavam-se ao. «consumo)} na própria
de capital nas economias européias exigia formas compulsórias de Europa, numa fase de expansão comercial, pré-colonizadora. Não
trabalho, pois do contrário, ou não se produziria para o mercado eu- teve grande extensão essa inserção do trabalho esrravo em meio a
ropeu (os colonos povoadores desenvolveriam uma economia voltada uma economia capitalista-mercantil em expansão; é no mundo colo-
para o próprio consumo), ou se se imaginasse uma produção expor- mal ultramarino que encontrará, pelos condICionamentos já aponta-
tadora organizada .por empresários que assalariassem trabalho, os dos, o seu campo de desenvolvimento, Nas ilhas atlântICas, primeiro
custos da produção seriam tais que impediriam a exploração colo-
,11I~JCf Gume, Eallt"~ clt" Zurara - Crônzca dm /tIl"" d" G"U,nf. <Jp XXIV ed A
(107)Cf. Eric Williams _ Capitalúm & Siavery. 2' ed., N. York, 1961, pp. 3-7. ) DIJ'> 1)1[l1~. L1SboJ. )<)..jl). pr. 122-12.'\

102 /(i :;
ensaio colonizador moderno, na medida mesma em que o povoa- em questões teológicas. O que nos parece porém indiscutível é que
mento inicial de economia diversificada mais consumiva se transfor- os indígenas foram também utilizados em determinados momentos,
mava em produção especializada para o mercado metropolitano, en- e sobretudo na fase inicial; nem se podia colocar problema nenhum
rijecia o regime de trabalho; no passo seguinte. introduziu-se a es- de maior ou melhor «aptidão» ao trabalho escravo, que disso é que se
cravidão africana: «estendeu-se a cultura a um mundo novo; prospe- tratava. O que talvez tenha importado é a rarefação demográfica dos
rou, e entretanto era a África despojada de seus filhos selvagens, pa- aborígenes, e as dificuldades de seu apresamemo, transporte, etc.
ra que tivessem os civilizados um barato jantar_(109). Mas na «preferência» pelo africano(l15) revela-se, cremos, mais uma
Transplantada a agro-indústria para o Brasil, numa fase em que o vez, a engrenagem do sistema mercantilista de colonização; esta se
consumo se disseminava em ampla escala e os preços voltavam a su- processa, repitamo-lo tantas vezes quantas necessário, num sistema
bir(1lO), na fase da implantação compeliu-se o indígena ao árduo de relações tendemes a promover a acumulação primitiva na metró-
trabalho do cultivo da cana e fabrico do açúcar. A expansão da pro- pole; ora, o tráfico negreiro, isto é, o abastecimento das colônias com
dução, consumindo cada vez mais a força de trabal~o escravizada, escravos, abria um novo e importante setor do comércio c%nial, en-
deu lugar ao tráfico negreiro para o Novo Mundo. «E indubüável», quanto o apresamento dos indígenas era um negócio interno da co-
diz Lúcio de Azevedo, «que ao açúcar se deve o desenvolvimento da lônia. Assim, os ganhos comerciais resultantes da preação dos aborí-
escravatura no seio da civilização moderna»( 111) ~ o que é talvez um genes mantinham-se na colônia, com os colonos empenhados nesse
modo exageradamente sintético de dizer as coisas; toda a complexa «gênero de vida»; a acumulação gerada no comércio de africanos, en-
urdidura do sistema colonial fica conotada na palavra «açúcar». So- tretanto, fluia para a metrópole, realizavam-na os mercadores me-
bre essa base escravista desenvolveu-se pois a colonização da América tropolítanos, engajados no abastecimento dessa «mercadoria». Esse
portuguesa, e a sociedade colonial foi sendo moldada sobre essa ba· talvez seja o segredo da melhor «adaptação» do negro à lavoura ... es-
se( 112). Já o pe. Manuel da Nóbrega notava, nos primórdios da colo- cravista. Paradoxalmente, é a partir do tráfico negreiro que se pode
nização(1l31, que «os homens que para aqui vêm não acham outro entender a escravtdão afncana colonial, e não o contrário.
modo senão viver do trabalho dos escravoS:t. A introdução do escravo Nas Índias de Castela, nas colônias inglesas, francesas ou holan-
africano tem sido explicada de um lado. curiosamente, pela «ina- desas, variam regionalmente as incidências do fenômeno (não ca-
daptação. do índio à lavoura, de outro, pela oposição jesuítica à es- be aqui uma análise pormenorizada de rodas as suas manifesta-
cravização do aborígene. Não resta dúvida que a pregação inaciana çôes(1l6), mas o pano de fundo se mantém: formas várias de tra-
terá pesado na defesa dos indígenas, embora seja de notar, de passa-
gem, que não conseguiu salvaguardá-los de todo: sempre que escas- (11'1lS egun do ~ estimativ~ de Maurício Goulan, teriam sido introduúdos no Bra-
sil, até o fim do século XVIII, cêrca de 2.200.000 africanos. O. A EscraVIdão Africa·
seavam os africanos (dificuldade de navegação no Atlântico, pela
na no Brasil. São Paulo, 1950, p. 217.
concorrência colonial, por exemplo) recorreu-se inapelavelm'ente à (116 lCf. para a América Espanhola: Céspedes dei C~tillo - «Las Indi~ en d Reina-
compulsão dos naturais(114); também é verdade que os negros não do de los Reyes Católicos~, História 50cial y Economica de Espana y América, dir. J.
contaram com a mesma defesa, e os argumentos justificadores de tal Vicens-Vives, t. 11, pp. 549-547 e ~La Sociedad Colonial Americana en los Siglos
discrepância eram deveras edificantes, mas não nos cabe aqui entrar XVI y XVII:.. Dp. Clt., t. I1I, pp. }.M. Ots Capdequi _ Fi &tado &pafiol en las
lndias. 2~ ed. México, 1946, pp: 34-47.
Para a América inglesa: Cf. H.V. Faulkner . Amen"can Economic History (N. York.
(IO'l>tÚCIO de Azevedo _ Épocas de Portugal Econômico. p. 22S. 1960), p. 70-78. F.A. Shannon· America's Economlc Growth (N. York, 1(58). p.
(110.)Cf. viso Furtado - Formação econômIca do Brastl. pp. [!:l-21. 14-20. E. Kirldand . Historia Economica de Los Estados Umdos, nado esp. (Méxi-
(l1l1Lúcio de Azevedo - Dp. cit .. p. 228. co, 1(47), p. 35-39, 70-78. R. Robenson . HIStória da Economia Americana. Trad.
(11lJc:f. Eugene D. Genovese _ The World lhe 51olleho/den MiJde. N. York. 1969. porto (Rio de Janeiro, 1(7). p. 65-68. Para a América Francesa: Gaston-Manin-
sobretudo pp. 118 segs. Histoire de I'Esdavage dans les C%mes Françaises, Paris, 1948. L 'Ere de! Négn"ers.
(lI3)Cf. Carlas }eJuiticas. Ed. da Academia Brasileira (Rio de Janeiro, 1')31), vol. Paris, 1931. Para o conjunto: E. Williams - CapitaJism & 5/avery, 1961. D.A. Farnie
I, p. 110. - «The commercial empires of the Atlantic, 1607-1783 •. Econ. HlSf. Rev., XV,
(I (4)Cf. Roberto Simonsen _ Hútóna Econômica do BTfm/, pp. 209.222. 1962,205-218.

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balho compulsório, servis ou semi-servis, escravismo em sua maior ex- propriedades, ou noutros casos, incorpora o regime escravista. Mas a
tensâo, dominam a produção ultramarina da época mercantilista, e ar- dinâmica global depende sempre do influxo externo, o centro dinâmi-
ticulam a estrutura da sociedade colonial. co último é o capitalismo europeu: trata-se de uma economUJ, em todo
o sentido do termo, dependente. O setor pnoClpal depende direta-
2) A Cnse do colomalismo mercanttlista
mente, o secundário, indiretamente.
Tais as peças do sistema, e os mecanismos de seu funcionamento; Em segundo lugar, no nível das relações sócio-econômicas, a es-
dispomos agora dos elementos com que podemos analisar a sua crise. trutura escravista determina um alto grau de concentração da renda
Pois que se pensamos em crise do sistema, é do seu próprio funcio- nas mãos dos senhores de escravos, que são ao mesmo temJXl pro-
namento que ela tem que provir, e nâo de fatores exógenos. Noutros prietários das empresas produtoras de mercadorias para o comércio
termos, ao se desenvolver, o sistema colonial do Amigo Regime pro- colonial. O produtor direto reduzido a condição de simples instru-
move ao mesmo tempo os fatores de sua superação(l17). mento de trabalho - instrumentum vocale - isto é, o homem
E de fato: nos quadros do Amigo Sistema Colonial, a colonização coisificado em escravo, não possui, por definição, renda própria; a
da época mercantilista se desenvolveu nas suas grandes linhas pro- renda concentra-se, pois, na camada senhorial(120). E aqui reencon-
movendo a acumulação primitiva de capitais nas economias centrais tramos o elemento que nos faltava para compreender os mecanismos
c.uropéias; para tanto, porém, isto é, para que a exploração colonial do sistema: é exatamente essa concentração da renda necessária na
.se. possa processar, ia se engendrando no mundo ultramarino o uni- sociedade colonial, que permite seu funcionamento, articulando en-
verso da sociedade senhorial escravista(l18}, cujas inter-relações e va- fim as várias peças da engrenagem. Atente-se bem: a renda global
Iares se antepõe cada vez mais aos da sociedade burguesa em ascen- gerada nas economias periféricas só se realiza em última instância
são na Europa. Detenhamo-nos, portanto, ainda por um momento, nos mercados da economia central, européia; assim, a sua maior par-
nas implicações cio escravismo para a economia e sociedade coloniais. te se transfere, através dos mecanismos do comércio colonial já anali-
Em primeiro lugar, no piado da produção, distinguem-se imediata- sados antes, para as metrópoles, ou antes, para os grupos burgueses
mente dOIS setores básicos(l19}: um, de exportação organizado em ligados às transações ultramarinas; mas é o fato de a parcela (menor)
grandes unidades funcionando à base do trabalho escravo, centrado na que permanece na colônia se concentrar na pequena camada senho-
produção de mercadorias para o consumo europeu, é o setor primor- rial qye permite o contínuo funcionamento da exploração colonial.
dial, que re~pul)de à razâo mesma da colonização capitalista; outro, su- De fato, é essa concentração de renda que faz com que, apesar de os
bordinado e nependente do primeiro, de subsistência, para atender ao mecanismos do regime de comércio transferirem o maior quinhão pa-
consumo local naquilo que se não importa da metrópole, no qual cabe ra a burguesia européia, os colonos-senhores possam manter a conti-
a pequena propriedade e o trabalho independente, que se organiza nuidade do processo produtivo, e mesmo levar uma vida faustosa;
para permitir o funcionamento do primeiro. A dinâmica dó conjunto da mesma forma, e ainda dentro da mecânica do sistema, têm os
da economia colonial é definida pelo setor exportador; em certas cir- mesmos colonos recursos para importar os produtos da economia eu-
cunstâncias e áreas determinadas, o setor subsistência pode adquirir ropéia. A renda na sua parte mais significativa cria-se nas exporta-
certo vulto, como no caso da pecuária, e então se organiza em grandes ções e se consome nas importações, transações que se fazem no regi-
me colonial de comércio, o qual transfere para a metrópole os lucros
I11 'lO desenvolvimento contraditóno parece inerente à5 várias etapas de explora- do exclusivo. Assim, a produção colonial promove a acumulação pri-
ção (Olunial do capitalismo. Vejam-se, para o século XIX, as análises de Marx .)Obre mitiva na economia européia. Encarada em conjunto, a sociedade
a dommação britânica na Índia. Cf. K. Marx e F. Engels _ Sobre el colonialiJmo, colonial é expoliada pela burguesia metropolitana, mas nessa mesma
Córdoba. 1<)73, C"udemos de Pasado y presente. nO 37.
IIIHICf. a análise de E Genovese - The World lhe Slaverholders Made. N. York,
1969. pp. 118 segs.
(11'IICt". Caio PradoJúmor - Formarão do BraSIl Contemporâneo. 4' ed. pp. 13-
26. 1l.H23. 1'>1·153 (120Jcr Celso Furtado _ Fo1'lllOfiio Econômica do Brasil, p. 58.

/()ú 107
sociedade colonial a camada de colonos-senhores situa-se numa posi- tividade. Decorrência: ela cresce, como o notou Celso Fuhado(I23),
ção privilegiada, o que p~rmite a articulação das várias peças do sis- extensivamente, isto é, por agregação de novas unidades com a mes-
tema. E o escravismo, que é o revorso da medalha, reaparece como ma composição dos fatores. Mais ainda, como não reinveste em esca-
seu elemento essencial: mais uma vez, agora sob novo ângulo, ex- la crescente, mas apenas repõe e agrega, - dilapida a natureza. A
ploração colonial significava exploração do trabalho escravo. economia colonial, escravista-mercantil, é uma economia predatória.
Não terminam porém aqui as implicações do modo que assume a E reencontramos de novo o sentido primário da colonização: desdo·
produçào colomaAI1I),Produção para o mercado europeu à base do bramento da expansão comercial européia, a colonização do Novo
trabalho escravo, produção a um tempo mercanttl·escravlStd l12 ), ela Mundo começou por uma atividade de pura exploração dos produtos
se processa em meio a condições de escassez de capital (ligada à ex- naturais (pau-brasil, peles); ao se instaurar a produção colonial o sis:
ploração da Colônia pela Metrópole) e abundância do fator terra (já tema adquire extraordinária complexidade, mas mantém o sentido
vimos as conexões estruturais entre disponibilidade de terras e ins- originário de depredação da paisagem natural. Neste sentido, pois, a
tauração da escravidão). Por outro lado, a própria estrutura escravista expansão colonial tinha limites naturais: o esgotamento dos recursos
bloquearia a possibilidade de inversões tecnológicas; o escravo, por dilapidados pelo modo colonial de produção. Como entretanto esse
isso mesmo que escravo, há que manter-se em níveis culturais infra- processo se desenvolve num contexto mais amplo, e não só pura-
.humanos, para que não se desperte a sua condição humana - isto é mente econômico em sentido estrito, muito antes de atingidos aque·
parte indispensável da dominação escravista. Logo, não é apto a assi- les limites já se desencadeiam tensões de roda ordem. Com isso, en-
milar processos tecnológicos mais adiantados. Em certas situações os tretanto, começamos a penetrar nas contradições do sistema.
colonos-senhores chegaram à maravilha de opor-se à catequese dos E efetivam~nte, a estrutura escravista da economia e da socie-
negros (que enfim era o argumento com o qual se justificava a sua dade colonial implicava ainda, indiretamente, numa limitaçã.o
vinda da África) pois já isto era perigoso: aprendiam uma língua co- ao crescimento da economia de mercado, A contradição repon-
mum, podiam comunicar-se os vários grupos africanos. Lembre-se ta pois na natureza mesma da produção colonial: mercantil e ~scr.a­
de passagem que é uma ilusão supor-se, como às vezes se faz, estável vista a um tempo, isto é, produção de mercadonas para o capl(~hs­
a sociedade escravista; muito ao contrário, foram freqüentes as fugas mo europeu através do trabalho escravo, esses dois componentes de-
e rebeliões, e os troncos não eram nem de longe objetos decorativos. finidores da economia colonial convivem dificilmente no mesmo
Não nos afastemos porém em demasia de nossas reflexões: nem ha- contexto, provocando tensões. De um lado, o escra~ismo determina
via capitais disponíveis, nem a estrutura escravista era favorável ao um baixo grau de produtividade e pois de rentabibdade na pr?du-
progresso técnico. Resultado: a economia colonial é de baixa produ- ção das colônias, como já vimos. Ora, como não houvesse condições
para minimizar os custos através do progresso técnico, a can:ada
senhorial-empresária tinha necessariamente que procurar ~eduzlf ao
(121) Para o encaminhamento da análise da crise do sistema colonial, escopo deste mínimo o custo da manutenção da força de trabalho escravIzada. Pa-
capítulo, nao nos parece indispensável entrar a fundo nas discussões sobre o «modo ra tanto, procurava fazer com que os escravos produzissem pelo m~­
de produção coloniaI:., embora fique implícita uma posição diante do tema. Os tra· nos uma parcela subscancial de sua subsi~tência, den~ro da pr?pna
balhos de Ciro F. S. Cardoso são claramente aqueles que mais longe levaram esta
conceituação (Cf.• Severo Martinez Pelaez y el Cafaner del régimen coloniaI:., .So· unidade produtora para exportação. E assim se Insena, no bOJO de
bre los modos de produccióncolonialesde América~ c ~El modo de producción escla- uma economia basicamente mercantil, toda uma faixa de produção
vista colonial cn América., in Modos de Producúón en América Latina, intr. de J. de subsistência cujo processo se desenrola à margem do mercado.
C. Garavaglia, Cuadcrnos de Pasado y Presente, nO 40, Córdova, 1973: os dois últi· Mais ainda: esta era a única forma de defender-se a economia colo-
mos estudos também pub1icados, in Aménca Colonial: ensaios, org. Theo A. San- nial das flutuações do mercado consumidor europeu sobre o qual
tiago. Rio de Janeiro, 1975). Como é natural, dada a complexidade do problema,
não COIncidimos mteiramcnte com as suas formulações. quase nenhuma ação pod).ria ter. Nas épocas de expansão da procu-
(lnJCf. E. Genovese· The Politlcal Economy ofSlavery. N. York, 1967, pp. 43
segs. II!iICf. Cehu Furtado· Formação t"ronôm/ca do Br<1st!. pp. (,6·(,').

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ra, mobilizavam-se todos os fatores dentro das unidades produtivas desenrola à margem das transações mercantis. Expansão da economi~
de exportação para produzir para o mercado externo; abria-se, en- de mercado, sim, mas trazendo no seu bojo limitações estruturais.
tão, uma faixa para a produ\;ão colonial de subsistência autônoma As decorrências disso eram de suma importância. Na economia colo
(quer dizer, fora dos domíniôs da lavoura de exportação) vender a.o nial típica (escravista-mercantil), ou mais precisamente, na soucda
setor exportador os seus excedentes. Em condições porém de estabih- de colonial (124)., o universo das relações mercantis atingiu apenas a
dade, ou depressão, nas grandes unidades produtivas exportadoras se camada social superior dos colonos senhores de escravos; eles impor-
deslocavam fatores da produção mercantil para a de subsistência; as- tavam· das economias centrais mercadorias de vária espécie para o seu
sim se preservava a estrutura, num nível baixíss.imo de produtividade. consumo próprio: produtos alimentares ou manufaturados p~ra seu
Acresça-se, por outro lado, que no contexto do sistema colonial e da consumo pessoal, implementos para consumo produtivo. E claro
economia mercantil-escravista, pane do pagamento do fator trabalho que a realidade é um tanto mais complexa, pois a colonização envol-
no processo produtivo era feito fora do parque produtor (referimo-nos ve outras atividades (adminisrracivas, militares, religiosas), o que
ao pagamento do preço dos escravos aos seus mercadores); a outra parte amplia de certo modo a faIxa 'da sociedade colonial ligada à econo-
(ou seja, manutenção do escravo) processava-se através da produção de mia mercantil; por outro lado, o próprio funcionamento da produ-
subsistência, não dando pois lugar a operações mercantis, pelo menos çao colonial, exigia outras categorias sociais além do binômio senhor-
em larga escala. Logo, nenhuma das duas parcelas em que, na econo- escravo. Na agro-indúst~ia do açúcar, por exemplo, toda uma gama
mia colonial, se dividia a remuneração do trabalho se constituia em de operadores, funcionários, etc. (12~); o comércio impunha interme-
procura interna, que estimulasse autônomameme o desenvolvimento diários, instalações. Tudo resultava, na colônia, na formação dos pri-
econômico. Em suma: a economia c.olonial mercantil escravista tem meiros aglomerados urbanos, e mais uma vez ampliava-se a faixa da
necessariameme um mercado interno reduúdíssimo. economia de mercado, complicando o esquema. Atente-se porém
Isto significava, no conjunto do sistema, que a economia colonial fi- que todos estes c9mponentes da sociedade colonial que estamos ago-
cava ainda mais dependente da economia metropolitana. Dada a es- ra apontando (funcionários, administradores, clérigos, militares) são.
treiteza do mercado interno, não tinha condições de auto est.imular-se, no fundo categorias secundárias da sociedade colon'ial, na medidal
ficando ao sabor dos .impulsos do centro dinâmico dominante, isto é, em que a sua presença no mundo ultramarino decorria da economia
do capitalismo comercial europeu. Neste sentido, o fenômeno se ajus- escravista e da produção para o capitalismo europeu; - era para pro-
tava ao sistema e não havia contradições ... Porém, examinemo-lo sob duzir para a metrópole que se colonizava, mas a colonização acabava
outro ângulo.)ã sabemos que na base de todo o processo de expansão por envolver outros ingredientes. Logo, as outras categorias sociais
moderna estão,·em última instância, as tensões geradas no desenvolvi- dependem do binômio matriz, senhor-escravo, da mesma maneira
mento do capitalismo comercial; a expansão européia significou. no que o setor subsistência da produção colonial depende do setor ex·
fundo, uma expansão comercial, abertura de novos mercados vantajo- portador. No fundo portanto, e em última análise, no âmbito da co-
sos, colonização. A colonização significava, como já vimos, também lônia, tudo depende da camada senhorial,. e a economia mercantil se
uma extensão da economia de mercado. Ora, bem encaradas as eco- expande em função dela.
nomias coloniais penféncas em conjunto e as suas relações com a eco-
nomia euroPéia, como apêndice dela, a expansão colonial apresentava-
se como expansão da economia de mercado; quer dizer, montavam-se ( 124 lA extraordinária complexidade da «economia colonial. engendrada nas deter-
núcleos que produziam para os mercados europeus. A colonização foi minações do Antigo Sistema Colonial liga-se a peculiaridade da formação social a
de fato um desdobramento da expansão comercial. Examinadas inter· qu~ serve de suporte. Vejam-se as reflexões de Florestan Fernandes para uma carac-
terizaçao da formaçao SCM:ial brasileira. O. Sociedade de Classes e Subdesenvolvi-
namente, entretanto, na sua estrutura, as economias coloniais configu-. mento. 2" ed .. Rio de Janeiro, 1972. pp. 9-90.
ram um modo de produção escravista-mercantil, o que limita a consti- (lnNeja_se o estudo de Stuan Scp.wanz sobre os lavradores de cana na Bahia:
tuição de seu mercado interno; há toda uma substancial camada da .«Free labor in a Slave Economy: the lavradores de cana of colonial Bahia•. in CoIo-
população (os produtores diretos) cujo consumo em grande parte se nialRoots ofModern Brazil, org. Dauril Alden, Berkeley, 1973, pp. 147-197.

110 111
o mecanismo fundamental portanto mantém-se. O universo das no sistema, as possibilidades de um desenvolvimento manufatureiro
rela~'ões mercantis é função dos senhores e, digamos, agregados. A eram substancialmente reduzidas; nas colônias de povoamento, ao
massa de produtores diretos (escravos) vive fora das relações merran- contrário, como a Nova Inglaterra, tais condições eram favoráveis:
tis, e isso trava a constitui~ão de um mercado interno. No conjunto. mas a Nova Inglaterra no pensamento mercantilista, era considerada
tal configuração do mundo colonial responde ao funcionamento do «the most prejudicial plantation of this -kingdom» Uosiah Child).
sistema, enquanto as economias centrais se desenvolvem apenas no (126). Desta forma, também, o êxito da política proibitória teve mais
nível da arumulação primitiva de capitais, e a produção se expande ou menos sucesso conforme incidiu sobre colônias mais ou menos
no nível artesanal, ou mesmo manufatureiro. Quando porém essa ajustadas ao sistema. As colônias de povoamento constÍmitam-se
etapa é ultrapassada, e a mecanização da produção com a Revolução exatamente na zona temperada do Novo Mundo, regiões não visadas
Industrial, potenClando a produtividade de uma forma rápida e in- pela colonização européia moderna na sua primeira fase, exatamente
tensa, leva a um crescimento da produção capitalista num volume e por não se poder organizar alí uma produção que satisfizesse aos re-
ritmo que passam a exigir no ultramar mais amplas faixas de consu- clamos do mercado europeu. Assim, no século XVII, é para essas re-
mo, comumo não só de camadas superiores da sociedade, mas agora giões que se encaminham os emigrantes ingleses fugüivos de tensões
da sociedade como um [Odo, o que se torna imprescindível é a gene- políticas e religiosas da mãe-pátria, na tentativa de refazerem seu
ralização das relações mercãmis. Então o sistema se compromete, e modo de vida no Novo Mundo. Formam-se pois as colônias de po-
entra em cnse. voamenco à margem do sistema, e é exatamente o esforço por
Ora, promovendo a primitiva arumulação capitalista nas economias enquadrá-las nele, que deflagra no fim do século XVIII a luta de in-
centrais européias, o funcionamentro do sistema colonial se comporta, dependência e a constituição dos ESCados Unidos, tom Ó que se abre
como já vimos, como um instrumento fundamental (embora não o a crise no Antigo Regime.
único, evidentemente: há que considerar fatores internos do desenvol- De qualquer forma, no conjunto, predomina a situação em que a
vimento capitalista na Europa) a promover à ultrap~sagem para o ca- política proibilória encontra fraca resistência, dada a falta de condi-
pitalismo industrial. ções econômicas para um surto manufatureuo no mundo colonial;
De fato, organizando-se nos quadros do sistema colonial, as eco- destarte, a expansão da empresa colonizadota ultramarina envolveu
nomias periféricas desenvolviam a sua produção numa linha tenden- efetivamente um alargamemo crescente do mercado consumIdor de
te a complementar a economia central, fornecendo aqueles produtos produtos manufaturados.
de que ela carecia e provendo matérias primas para sua produção in- Assim, em vários sencidos, as colônias do Antigo Regime comple-
dustrial manu e depois maquinofaturelra; configuram-se assim em mentam as economias nacionais européias, na fase de formação do
autênticas economias complementares, tendentes a dar às metrópo- capitalismo. Na I1)edida em que pre~nchem as lacunas da economia
les condições de autonomização econômica frente as demais potên- . metropolitana, dão-lhe maior grau de autonomização e, pois, me-
cias mercantilistas. E note-se a importância deste mecanismo, numa lhor posição competitiva nos mercados internacionais; assim, indire-
época em que as práticas da política mercantilista se generalizavam tamente, favorecem mais uma vez o desenvolvimento econômico
entre os vários estados europeus. Os mercados coloniais eram exata- que nessa fase do capitalismo mercancil tem por elemento essencial a
mente aqueles onde, por definição, as normas do mercantilismo se acumulação originária indispensável à transição para o capitalismo
podiam exercitar: daí, as disputas verdadeiramente furiosas pela industrial.
conquista desses metcados excepcionais. Em suma, os elementos a(é aqui analisados, isto é os mecanismos
Nesta linha, desenvolveu-se a política colonial das metrópoles no de funcionamento do sistema colonial, permitem-nos explicitar ago-
sentido de impedir a produção manufatureira nas colônias. Visava- ra sua posição no quadro do desenvolvimento ou antes da formação
se, assim, a preservar o mercado colonial para as manufaturas da
mãe-pátria. Aliás, dada a estrutura social e econômica que se organi- {ll(,)A new dlJ"coune ofTrade, 1669. ApudViçror Clark - H/s/of] ofManufaaures
zava nas colônias típicas, isto é, naquelaS'-perfeitamente integradas in íhe United States. New York, 1\>49, v.l, p. 4

112 113
do capitalismo. A colonização do Novo Mundo na Época Moderna, antes que se atingissem os limites da exploração colonial, já as ten-
ou antes a exploração colonial ultramarina organizada nas linhas do sões geradas por esses mecanismos de fundo impõem reacomoda-
antigo sistema colonial, configura um poderoso instrumento de ace- ções, alterações, mudanças que vão comprometendo o sistema colo-
leração da acumulação primitiva no contexto do capitalismo mercan- nial. Noutras palavras, não foi preciso que o capitalismo industrial
til europeu; envolve, efetivamente, um processo de transferência de atingiss~ seus mais altos graus de desenvolvimento e expansão para
renda das colônias para as metrópoles, ou mais exatamente das eco- que o SIstema colonial - colonialismo-escravista - entrasse em cri-
nomias periféricas para os centros dinâmicos da economia européia, se; bastou o primeiro arr"anque. Foram suficientes os primeiros pas-
renda que tende a se concentrar na camada empresarial ligada ao co- sos da revolução industrial.
mércio colonial. Num plano mais geral, constituindo-se em econo- A~sim, e~a da própria lógica do sistema de exploração colonial do
mias complementares, respaldo econômico das metrópoles, a coloni- Antigo RegIme que as potências mercantilistas competissem furiosa-
zação do antigo sistema colonial contribuiu poderosamente para o mente na órbita do ultramar; tal competição só se resolvia, enfim,
desenvolvimento das economias nacionais européias, desenvolvi- com a hegemonia de uma delas. Nem é pura coincidência que a In-
mento nessa época que consiste em expansão do capitalismo mercan- glate"a seja ao mesmo tempo a potência que levava de vencida a
til, e pois, envolve também uma acentuação da acumulação capita- concorrência colonial e a nação que dá os primeiros passos no indus-
lista. trialismo moderno: sem se desprezar os fatores internos de seu cresci-
Se recordarmos, agora, o que indicamos antes a propósito do capi- mento econômico na rota da industrialização, a supremacia colonial
talismo comercial como fase intermediária entre a desintegração do permitiu-lhe carrear para dentro de suas fronteiras, mais que as ou-
feudalismo e a Revolução Industrial, o sistema colonial mercantilista tras potências, os estímulos advindos do sistema colonial. Em torno
apresenta-se-nos atuando sobre os dois pré-requisitos.básicos da pas- da ~éc~d~ de 60 de Setecentos convergem a consolidação da prepon-
sagem para o caPitalismo industria/l. 127 ): efetivamente, a exploração derancIa mglesa e a abertura da Revolução Industrial.
colonial ultramarina promove, por um lado, a primitiva acumulação Mas já então os problemas se colocam agudamente, neste período
capitalista por parte da camada empre~arial; por outro lado, amplia crítico que medeia entre 1763 (término da guerra dos Sete anos) e
o mercado consumidor de produtos·mamlfa~urados. Atua, pois, si- 1776 (independência do Estados Unidos). Superada a rivalidade
multaneamente, de um lado, criando a 'possibilidade do surto ma- com a França, pôde a Grã Bretanha, de um lado, reforçar seu pró-
quinofatureiro (acumulação capitalista), por outro lado a sua neces- prio exclusivo metropolitano (tentativa de enquadramento das colô-
sidade (expansão da procura dos produtos manufaturados). Criam- nias da Nova Inglaterra nas linhas da política mercantilista), domra
se, assim, os pré-requisitos para a Revolução Industrial - processo parte, acentuar a penetração comercial nas colônias ibéricas, seja via
histórico de emergência do capitalismo (128). Assim, pois, chegamos metrópoles, seja pelo contrabando. Tudo isso era decorrência da su-
ao núcleo da dinâmica do sistema: ao funcionar plenamente, vai premacia política e do desenvolVimento industrial. Ao funcionar
mando ao mesmo tempo as condições de sua crise e superaçào. plenamente, portanto, o sistema engendra tensões de toda ordem.
Este o mecanismo básico da crise, na sua dimensão estrutural. An- Quanto mais se avançava neste processo, menos a potência hegemô-
tes, porém, que se esgotassem as possibilidades do sistema, isto é, nica podia suportar o comércio «independente» de suas colônias
americanas; e cada vez mais o conttabando com as colônias ibéricas
(127)0. B. Passarellj - CoIonidismo y acumulación capitalista en la EuropaModer- vai se tornando insuficiente para o escoamento de sua produção fa-
na, Buenos Aires, 1973, pp. 33-~7. bril. Ainda mais, as prerrogativas que as «plantations» inglesas das
(l2~)E extensíssima a bibliografia sobre a Revolução Industrial desde o dássico Antilhas detinham no mercado métropolitano inglês (era a outra fa-
Paul Mantoux (The InduSlrUzI Revolution in lhe Elghthennth Century, trad. ingl.
nova ed. Londres, 1961; ed. francesa original, 1905) até Phyllis Deane - A Rel/olu-
ce.do Pacto) vão se tornando mais e mais onerosas para a meuópole:
.[fio ln.dustrial, trad. pon. Rio de Janeiro, 1969, passando pelas obras de, Ashron, era como que a inversão do pacto colonial( 129) .
Beales, Heaton, Clapham, David Landes, Castronuovo, C. Fohlen, entre os mais
significativos. (i29)Cf. Eric Williams _ Capitalism &" 5lavery, p. 126.

114 115
Neste quadro de agudas tensões, neste complexo emaranhado de
múhir ~os interesses, o equilíbrio se torna evidentemente precário, e
se rompe com a independência dos Estados Unidos. A constituição
da nova República tinha com efeito implicações que de muito trans-
cendiam o simples evento político. Era a primeira vez que uma colô-
nia se tornava independente. Crises, tensões, competição, suprema-
cia de uma potência que se apropria de colônias de outras metrópo-
les haviam sido ajustamentos dentro do sistema. O que este eviden-
temente não comportava era a ruptura do pacto. Na medida mesma CAPÍTULO III
em que as tensões estruturais se agravavam, que os interesses diver-
gentes vinham à tona, o mundo colonial passava a viver em ten- OS PROBLEMAS DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA
são; a crítica do Antigo Regime atingia" as colônias, onde encon-
trava ambiente altamente receptivo. Com a independência dos Esta- 1) Mamfestações da cnse
dos Unidos porém o que era uma possibilidade passou- a ser uma rea-
lidade. As inovações políticas envolvidas na forma republicana que Procuremos agora situar Portugal e Brasil no contexto dessa crise
assumia o novo estado ainda mais acentuavam o seu significado, geral que afeta o Antigo Regime como um todo. Para os estadistas
marcando o início da cme não só do sistema colonial mas de todo o do final do século XVIII português, a crise apresenta-se primaria-
Antigo Regime. É pois um período de crise que se abre a partir de mente como um conjunto de problemas que a monarquia absolutis-
1776; e temos agora de indicar a posição de Portugal e Brasil nesse ta tinha de enfrentar e resolver, alguns antigos que se agravavam na
processo, isto é, como esses mecanismos mais profundos atingiram o nova conjuntura, Outros novos que emergem em face das recentes
sistema colonial português, para analisarmos a política metropolita- condições internacionais. Assim os via D. Rodrigo de Souza Couti-
na que intentou enfrentar esses problemas. nho (1), o mais notável dentre aqueles estadistas; ministro da Mari-
nha e Ultramar a panir de 1796, reuniu logo no ano seguinte uma
junta de ministros e «pessoas conspícuas pelos seus empregos e talen-
tos» à qual fez presente uma Memória sobre o Melhoramento dos
Domínios na América (2): no conjunto, vasto e articulado plano de
fomento da exploração econômica do Brasil, «sem dúvida, a primei-
ra possessão de quantas os Europeus estabeleceram fora do seu conti-
nente, não pelo que é, atualmente, mas pelo que pode ser, tirando

{')Sobre D. Rodrigo d~ Sousa Coutinho, cf. O Conde de linhares, pelo Marquês


de Fun,hal, usboa, 1908.
(2)Manuscritos: A.H.U. (usboa). Documentos avulsos. Rio de Janeiro. Caixa de
1797 (com o titulo de «Memorias de D. Rodrigo de Sousa Coutinho sobre os melho-
ramentos dos Domínios de sua Majestade na Améri,v), e B.N .R.J., Colesão unha-
res, 1-29-13·16 (com o dtulo de «Discurso pronunóado perante ajunta de Ministros
e outras pessoas.).
Publi,ações: In Br4silia (Coimbra), vol. IV, 1949, pp. 332-422, com introdução de
Américo Pires de Lima (texto do Arquivo Histórico Ultramarino de usboa)e in Mar-
cos Carneiro de Mendonça - O Intendente Câ1"lJlJT4, S. Paulo, 1958, pp. 277-299
(texto da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro).

116 117
da sua extensão, situação e fertilidade todos os partidos que a natu- desses trabalhos aliás insere-se no quadro da política de desenvolvi-
reza nos oferece ... » (3). Tratava-se, em suma, de remover os obstácu- mento econômico da brilhante equipe (Aranda, Floridablanca,
los ao pleno funcionamento do sistema colonial, na nova conjuntu- Campomanes, Gálvez) que orienta em Espanha o reinado de Carlos
ra; tanto assim que o trabalho visa desde logo definir um «sistema» 1Il (8).
de relações entre Portugal e domínios com mútuas vanta- São esses exemplos marcos de uma preocupação geral nos países
gens, tornando o «enlace dos domínios ultramarinos portugueses ibéricos por reorganizar sua exploração ultramarina. Tal tendência,
com a sua Metropole ... tão natural quanto pouco o era o de outras outrossim, poderia igualmente ser documentada nas demais potên-
colônias que se separaram da sua mãe-pátria»(4). Teremos natural- cias colonizadoraS européias, Em França, por exemplo, segundo
mente de voltar com mais detença à análise desse «enlace tão natu- Georges Hardy (9), o reinado de Luís XVI marca nitidamente uma
ral», desse «nexo feliz» que unia metrópole européia e colônia ameri- nova orientação, informada por um novo espírito; um dos membros
cana; agora só nos importa assinalar a presença da nova situação , ain- desse governo, e dos mais proeminentes, Turgot, já abordara em
da que de modo um tanto indireto, na pena do futuro conde de U- suas obras o problema colonial, e com grande audácia (10).
nhares. É que, na medida mesma em que os mecanismos estruturais que
Tal enfoque dos problemas coloniais já vinha aliás na linha de analisamos no capítulo anterior, operando na base do sistema do
pensamento expressa pouco ames (1794) no famoso Ensaio Econô- Antigo Regime como um todo, desencadeavam tensões provocado-
mico sobre o Comércio de Portugal e suas Colônias, de D. José Joa- ras de desequilíbrios que por sua vez iam exigindo constantes reajus-
quim da Cunha de Azeredo Coutinho; também o bispo ilustrado o tamentos, a exploração colonial européia no mundo ultramarino ia
que visa é mostrar como «Portugal, pela situação "dos seus estah(:leci- se constituindo cada vez mais em tema de indagações para o pensa-
mentos nas três partes do mundo, pode fazer relativamente o comér- mento da época das Luzes. Essa tendência da vida espiritual de Sete-
cio mais ativo e mais vantajoso de (Odas as nações da Europa»(5). centos atinge seu ponto máximo na obra entre todas famosa do aba-
Contemporaneamente (1789), na Espanha publicava-se o livro em de Raynal, a Histoire phzlosophique et politique des étab/issements
que, desde 1743, D.José dei Campillo y Cosio esforçava-se por defi- et du commerce des européens dans les deux lndes: nela, efetiva-
nir «un nuevo sistema de gobierno económico para là América», cri- mente, se cristaliza todo o esforço do pensamento ilustrado respei-
ticando «los males y danos que le causa eI que hoy tiene de los que tante ao sistema colonial, passando-se em revista, e julgando-se ao
participa copiosamente Espana» e intentando indicar «remedios uni- mesmo tempo pelo crivo da Razão, toda a atividade ultramarina dos
versales para que la primera tenga considerables ventajas, y la segun~
da mayores intereses» (6). De 1797 são as Memórias históricas sobre la (Blef. F. Soldevilla _Historia dc Espana, trad. esp. Barcelona, 1964, t. VI, pp. 10-
legislación y gobierno de los Espanoles con sus colonias en las lndias, 14 e pp. 60 segs. Juan Mercader Riba- "La época dei despotismo ilustrado., in Hir-
de Antunes y Acevedo. Multiplicam-se as «sociedades econômicas de tôria Social y Econômica dc Espana y América, dir. por J. Vicens-Vives, Barcelona,
amigos» do país, com suas coleções de «memórias»(7). A publicação 19~8, t. IV, vol. I, pp. 162 segs. Luis Sanchez Agesta - Fi Pensamiento EconômICo
deI Despotirmo Ilustrado. Madri, 1953. M. Nunes Dias - O Comércio Livre cntrc
(3JRodrigo de Sousa Coutinho . Memôn4r sôbre os melhoramentos, Ed. A. Pires Havana c os Portos de Espanha (1778-1789), S. Paulo, 196~.
de Lma, p. 406. In Marcos Carneiro de Mendonça, op. cit., p. 279. {<)lCf. G. Hardy -Hirtoire dc la C%niration Françaisc, 3 a ed., Paris, 1938, pp. 96
(4 lRodrigo de Sousa Coutinho, op. cit., p. 406.
segs.
(SlCf. J. J. da Cunha de Azeredo Coutinho· Ensaio economico sobrc comercio° (lOla. H. Deschamps _Méthodcs ef doctrincs c%niales de la France, Paris, 1953,
de Portugal c suas c%ntas. Lisboa, 1794. In Obras cconômicas de].). da Cunha de p. 81. A. Gobert - "Hacia el liberalismo., in Historia dei Comcrcio, dir. por J.
Azeredo Coutinho, introd. de Sérgio Buarque de Holanda. S. Paulo, p. 138. Lacour-Gayet, Barcelona, 1958, t. m, pp. 305 segs. Jean Tarrade - .L' Administra-
{<SiD. Joseph dei Campillo y Cosio - Nuevo Sútema dc Gobierno Economuo para tion coloniale en France à la fin de I'Ancien Régime: projens de réforme., Revuc
la América ... Madrid, 1789. Cf. Marcelo Bitar Letayf. Economistas espanolcs dei Hútoriquc, v. CCXXlX, 1963, pp. 103-122. Piem Legendre - .Réactionnaires et
sigla XVllI, suszdcas sobrc la Itbcrtad dcl comcrcio con Indias, Madrid, 1968, pp. politiques devant la crise coloniale., Revfle Hutonque, v. CCXXXI, 1964, pp. 357-
114-118. 376. David LowenthaJ - «Colonial experiments m French Guiana, 1760-1800, Hú-
{7 iCf.J. Sarrailh - L 'Espagne éc/atrée de la seconde moitié du XVllIe. siecle, Paris,
panic Amcrican Historica/ Rcvicw, v. XXXII, nO 1, 1952, pp. 22-43.
19'>4, pp. 247·287.

118 119
europeus (11). Publicada anonimamente em 1770 em Amsterdam, que se deve aquilatar a importância e o sentido da independência
até a morte do auror (1796) a obra, posto que de enormes propor- dos Estados Unidos da América; é que, como incisivamente mostra
ções, teve três edições, cerca de trinta reimpressões e algumas contra- Eeic Williams, a revolução americana fez explodir as falácias do siste-
facções(12). Isto sem contar as inúmeras adaptaÇões, 'abregés(13), ma colonial (I?). Este se baseava na idéia de que o desenvolvimento
tradu~'Ões. A omissão do nome do autor na primeira edição era um das manufamras da metrópole (no caso, a Inglaterra) dependia do
segredo de polichinelo; assim, a terceira edição (Genebra, 1780) traz exclusivo do mercado das colônias, que por sua vez tinham priorida-
o nome e mesmo um retrato de Raynal, o que lhe custou um exílio de no mercado metropolitano. A nova situação engendrada entre
de quatro anos (14), fato aliás indicativo do profundo interesse políti- 1776 e 1783 «(Catado de Versalhes) impunha porém reajustamentos
co do tema tratado e da audácia das idéias expendidas. globais. Efetivamente, ao longo do século XVIII, o desenvolvi-
Se, porém, no plano das idéias, a Htstoire des deux lndes marca mento da indúsrria inglesa e da hegemonia política e econômica
este ponto de inflexão da história colonial, é que ela se sima e elabo- da Grã Bretanha firmaram-se na exploração de suas próprias colônias
ra contemporaneamente ao evento que realiza na prática a abertura e na peneeração dos sistemas coloniais de Portugal e Espanha (Hl). A
da crise do sistema: a revolução que independizou a Nova Inglaterra ascendência de uma potência européia sobre as demais metrópoles
da velha metrópole, levando à pratica política o que até então era do Velho Mundo já ia exigindo alterações no funcionamento do sis-
apenas uma das possibilidades de ruptura do Antigo Regime. Bem o tema colonial; cristalizava-se, contudo, num novo equilíbrio, ainda
. viu o próprio Raynal, a quem a insurreição americana daria 0púrtu- compatível com o sistema: a supremacia ing1e~a se insinua através de
nidade a sérias reflexões sobre o destino das colônias: «o novo hemis- Cádiz e Lisboa (1'), preservando-se destarte as relações metrópole-
fério deve um dia separar-se do antigo ... mdo se encaminha para es- colônia dos paÍSes ibéricos. É bem verdade que o comércio ilícito ex-
sa cisão, os progressos do mal num mundo e os progressos do bem no travasa esta situação, sem entratanto negá-la, antes mesmo
ouero» (15). . confirmando-a. Como já indicamos, é o próprio estatuto colonial
que tornava tão atrativo o·comércio de contrabando. Quando, po-
De fato, não é ape~as pelas suas «enormes conseqüências» a curto rém, apoiado nessas poderosas alavancas, o ritmo de desenvolvimen-
ou longo prazo (16), ISto é, pelas suas repercussões e «influências», o
to manufatureiro atinge na Inglaterra nível da mecanização do
processo produtivo, inaugurando-se a era da maquinofatura, as ten-
(11)Cf. Michde Duchet - Anthropologle et HislO1re au Slede dn Lumieres. Paris, sões encaminham-se lenta mas seguramente para a situação limite.
1971, pp. 125-136, 170-177.).M.Goulemont e M. Lunay - Le Sii!cle des Lumilrn, Os acréscimos de produtividade eram agora de uma ordem inteira-
Pans, 1968, pp. 199-206. F. Valjavec - Hislona de la I1uslraclon en Occidente, trad. mente nova, e ao mesmo tempo em que promoviam na Inglaterra o
esp., Madrid, 1964, pp. 282 segs. R. KoseJleck - Cniica illuminista e c1'isi delh so-
declínio ou mesmo a supressão das antigas formas de organização da
Clelà bo1'ghne, trad. itaL Bolonha, 1972, pp. 219 segs.
112Ja. Hans Wolpe - Raynal el Ja machine de GueFTe, /'1-;;JIOl1'e des deux Indn el
ses perfectionnemenlJ, Stanford, 1957. L 'Anlicalonla/isme au XVIIIe. ilede: I'His- (I!)Eric WilJiams - Ca"l'talnm IX S/avery. 2' ed. N. York 1961 p. p. 120-125
(IM) r . ."
Cf. Cambndge Hnlory.ofthe Bnlnh Empi1'e, du. por H. Rose, A. P. Newton.
1001'e phllosophlque el polltlque ... pa1'l'Abbé Raynal. Introduçao, escolha de textos
e notas por Gabriel Esquer. Paris. 1951. E, ~, Benms. VaI. 1. Cambridge, 1960, pp. 207·237 (<<Beginnings of an Imperial
(I'JExe.mplo: Esprà de Guillaume ThomilS Raynal, recueil égalemenl nécesJai1'e li poh(y~ por). A. WiJliamson), e pp. 300-329 (<<Rivalry for Colomal Power 1660-
ceux qUI commandent et ti ceux qUI obéissenl. Londres, 1782, 2 vol. 1713» porW. F. Reddaway). E. Lipson _ Economic History ofEngland. 5' ed. lon-
114)G. Esquer - L 'Antz·colonialtsme au XVIII Jlêde ... Introduçao, p. 6 dres, 1948, t. m, pp. 111-112. A. Manchester - Bntish preeminence in Brazzl: às n-
II»)R aynaI - H'lslO11'e
. pm~oJopmque
L:/ L /.
el pontlque des élabilissemenls el du com- se and decline. Chapel Hill, 1933, pp. 4-25. Olga Pamaleao _ A penetração comer-
men:e deJ EuroPéens dans leJ Deux Indes. Genebra, 1780, t. IV, p. 453. Servimo- CIai da Inglaterra na América espanhola de 1713 a 1783. S. Paulo 1946, paJiim. P.
nos preferentemente desta terceira ediç~ da famosa obra de Raynal, considerada a Muret . La préPondérance anglaise (1715-1763). 3' ed. Paris, 1949, especialmente
melhor (Cf. G. Esquer, op, cll.p. 42). As vezes aptoveitaremos variantes de OUtras pp. 298-403.
('(lições. (l9)Cf. A. Christelow - «Great Britain and the trade from Cadiz and Lsbon to
IIÚJph. Sagnac _ La fin de /'Ancien Régime el la Révolullon Améni:aine (1763. Spanish America and Brazil, 17S9-1783p. H.A.H.R., vol. XXVII, nO 1, Fev. 1947,
1789). 3' ed. Paris, 1952, p. 379. pp, 1-29.

120 121
produção industrial, iriam impor profundos reajust<;'s no comércio dos interesses ingleses. Como muito bem mostrou AlIan Christelow
internacional (20). Agudizam-se, de um lado, as Oposlções dentro da (24), o esquema que se cristalizara na primeira metade de setecentos,
própria economia imperial inglesa; os novos interesses ind~stcialistas isto é, como já indicamos acima, a supremacia inglesa via meuó-
conflitam com os dos grupos ligados à exploração monopolIsta do ul- pole, enrra em rerrocesso com a política desenvolvimentista (fomen-
tramar (21). Paéa as novas forças sociais propulsoras do industrialismo to indusrrial)de recuperação econômica posta em andamento vigoro-
nascente, as relações econômicas do antigo sistema colonial eram an- samente pelo marquês de Pombal e pelos ministros de Carlos III; na
tes um entrave: a força excepcional da nova produção maquinofatu- medida em que os efeitos dessa nova política iam paulatinamente se
ceira prescindia do monopólio para dominar os mercados ultramari- fazendo sentir, desorganizava-se o esquema anterior"mente monta-
nos; e as prioridades que as colônias detinham no mercado metropo- do. Nesta linha é que se insere a criação das companhias monopolis-
litano passavam a se constituir num ônus. Instaurava-se, assim, u~a tas ibéricas para o comércio ultramarino; as fricções crescentes dos
autêntica e paradoxal inversão do sistema: as colônias eram pela pn- governos ilustrados de Portugal e Espanha com a diplomacia inglesa
meira vez desvantajosas à metrópole (22). A transformação profunda (25), as constantes reclamações do governo britânico e'a pertinaz de-
que envolvia a nova conjuntura econômka tinha porém necessaria- fesa da nova linha de política dos dirigentes portugueses e espa-
mente de passar pelo nível do poder, isto é, na esfera da vida políti- nhóis, estão a atestar o sentido da nova conjuntura. Isto levou, natu-
ca, e aí as resistências-dos interesses tradicionais ~ os chamados inte- ralmente, a que a pressão da economia inglesa sobre os mercados ul-
resses «antilhanos» - , encastelados no parlamento, foi tenaz, e mes- tramarinos portugueses e castelhanos se voltasse cada vez mais para.
mo prevaleceu até 1783. Nesta linha é que se mantém o antigo siste- o contrabando.
ma, e mesmo enrijece; a partir de 1763 (término da Guerra dos Sete Assim, na segunda metade do século XVIII, convergem duas ten-
Anos), afastada definitivamente a competição francesa à hegemo- dências no comércio internacional e colonial, e essa convergência era
nia, a política colonial ingles~.intenta a imposição (<<enforcement») de molde a pôr cada vez mais em xeque o sistema colonial como um
do exclusivo às treze colônias da América do Norte, até então tolera- todo. De um lado, o desenvolvimento irreversível da revolução in~
das como um caso mais ou menos à parte (23). A reação dessas colô- dustrial inglesa exigia cada vez mais a abenura dos mercados ultra-
nias de povoamento, cuja estrutura sócio-econômica (exceção das do marinos consumidores de produtos manufaturados; por outro lado,
sul) de fato as diferenciava das demais enquadradas no sistema colo- a política de autonomização e desenvolvimento econômico dos paí-
nial, e cujo florescimento assentava no comércio triangular, é que ses ibéricos ia cada vez mais dificultando a penetração dos-produtos
iria desencadear a crise geral. ingleses nos mercados do ultramar pelas vias metropolitanas. O re-
Por outro lado, e contemporaneamente-, nos países ibéricos sultado dessa coincidência de tendências divergent~s tinha necessa-
desenvolve-se na segunda metade do século XVIII todo um esforço riamente de fazer com que os interesses do industrialismo inglês se
de recuperação econômica (Pombal, os ministros ilustrados de Carlos orientassem no sentido da ruptura do pacto colonial, removendo-se
!li), que necessariamente envolvia um recuo da presença dominante o intermediário das metrópoles. E note-se, retomando agora o que
acima deixamos exposto, que no interior mesmQ do sistema colonial
(10JCf. Clive Day· Historia dei Comercio. Irad. esp. México, 1941, t. I, pp. 273 inglês as tensões desencadeadas pelo surto industrialista abalavam o
segs.
(21)Cf. Eric Williams - Copitalism & Slaflery, pp. 126-169, ã pág. 142: «The colo-
nial system was rhe spinal cord of the commercial capitalism of the mercantile
epoch. In the era of the frec rrade the industrial capitalists wamed no colonies ar (l;JA.Christelow· Op. cit., pp. 9-13. Cf. K. MaxwelJ . «Pombal and tht' nationali-
aIl_. Ver também: E. üpson - The Growth ofEnglish Society. 4' t'd. Londres, 1959, zanon of the Luso-Bra.zilian economp. Separata de H.A. H.R., vol. XLVIII, nO 4,
pp. 171,306. Nov. 1968, pp. 608-631.
(2.lJEric WiIliams _ Op. cit., pp. 126 segs. (~j)a.J. Lúcio de Azt'Vedo - O MarquêJ de Pombal e sua época. 2" ed. Rio deJa-
(13JCf. A. Andrews - The colonial background oflhe American reIJolution. N. neuo, 1922, p. 215. Olga Pantaleão· ApenetraçJo comercial da Inglaterra nIl Amé-
Haven, 1963, pp. 124 segs. Cf. S. E. Morison e N. S. Commager - The Grow(h of nca Espanhola, pp. 211-267. Ver também: B. N. (usboa), Reservados, Coleção
the American Republic. 4" ed. N. York, 1960, t. I, pp. 128 st'gs. Pombalina, c6dice 638 (reclamações da Inglaterra).

122 123
próprio pacto da Inglaterra com suas colônias(26). É neste contexto
que se gera, como demonstrou Eric Williams, a campanha inglesa
contra o tráfico negreiro, que era a forma indireta de atacar o antigo
sistema colonial no seu cerne; o que entra em crise é, pois, o próprio ''')f'::' , , ~ ~ ~ -, '" ",;,;
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sistema colonial como um todo.
Esta a crise real no seu sentido mais profundo, e que se manifesta
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no nível dos eventos como problemas que a administração metropo- I

litana tinha que enfrentar e resolver, ou pelo menos encamiI}har so-


luções, para manter o funcionamento do sistema colonial. Cumpre-
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nos analisar como esses problemas se manifestavam no sistema de re-
1710 I
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lações Portugal-Brasil, para estudarmos em seguida a política colo-
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nial que os enfrentou, as soluções que se puseram em andamento. I
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Para tanto, detenhamo-nos ainda por um momento na posição da
metrópole portuguesa no concerto econômico do Ocidente.
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de Gino Luzzatto(28), a população européia evolui de 95 milhões de

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almas em 1600 para 120.000,000 em 1700, enquanto que em 1800
já ascende a 187 ou 188.000.000; tais cálculos globais, previne o histo-
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riador italiano, são necessáriamente precários, quando muito hipó- I
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teses. sugestivas. Mas indicam uma ordem de grandeza, e como tais I
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devemos utilizá-los para comparações. Assim, esses dados, ainda no I
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que imprecisos, bastam para evidenciar que o ritmo de crescimento I
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cende a ')4% no século seguinte. A taxa média anual, por sua vez, II ,I I : \ \I \ I
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sobe de 0,23% no século XVII para 0,43% no século seguinte. Na l' i•
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época da revolução vital, portanto, tomando como base as estimati.
vas globais de Luzzatto, a população européia cresceu com um incre- "'I ! ,II
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mento médio anual de 0,43 por cento. Ora, os dados disponíveis so- ~~j;r§.w~ I !
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bre a população nestes mesmos séculos permitem mostrar como Por- ;p ~ "- "
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(2G)Eric Williams - ap. Clt., pp. 135 segs.
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(2~)K. F. Helleiner _ «The population of Europe from tthe black death to the vital w I
revolutÍon». In The Economy of Expanding Europe In the 16th and 17th Century.
Vol. IV da Cambndge Economic History of Europe, 1967, pp. 1-94. I õ , , . , ~ ~
" '
, , , .
(2H)Gino Luzzatto _ S/oria economlca deU'etií moderna e contempoT"anea. 3a ed.
Pádua, 1955. t. lI, p. 23.

]24 125
(Ugal acompanhou o movimento demográfico europeu: de
2.143.368 em 1732, a população lusitana evolui para 2.321.447 em
1767, e em 1801 atinge 2.931.393(29). Em 69 anos, de 1732 a 1801,
POPULAÇÀO EUROPÉIA NO SÉCULO XVIll portanto, cresceu 37%, com uma taxa média anual de 0,45%, prati-
EUROPA: popu,lok-ào taxa de crescimento taxa média anlla!
camente idêntica à média geral européia. Na tabela e gráfico
1600 95.000.000 I600II700~26% 0,23% anexos(30) pode-se confrontar a posição de Portugal em face do mo-
1700 120.000.000 170011800~54% 0,43% vimento geral da população européia, e com vários outros países em
1800 187J1OO.O()() (IDO anos)
particular, tomados como exemplos(3I).
PORTUGAL: Otimista, o autor das estatísticas demográficas portuguesas de
1732 2.143.()OO ln2ll801- .H% 0,45')'0 1801 lembrava. na introdução de seu precioso trabalho, que a «po-
1801 2.931.{JOO (69 anos)
voação se deve olhar como prova da prosperidade e força de uma na-
SuECIA: ção quando ela tem por causas a agricultura e a indúStria», - fórmu-
1721 (1.461.000) 175011800~32% 0,55% la um tanto ambígua de enfocar o problema; mas acrescentava ainda
1735 (1.703.000) (50 anos)
1750 1.7RI.()O() a proposição do inglês Clarke para quem «agricultura e povoação de
1775 2.021.0()O qualquer país são sempre recíprocas causas e efeiros urna da outra»
18()0 2.347.0{)O para concluir que a «prosperidade e riqueza de Portugal vão em au-
ESPANHA:
memo»(3 2). No que não errava, aliás, o judicioso funcionárioeB);
1723 ( 6.100.0(0)
1747 7.380.000 172311787-70% 0,84% (29)Combinamos aqui os dados e considerações de Adrien Balbi (Essai Jlatuh'que
1756 8.000.000 (64 anos)
sur le Royaume de Portugal el d'Algarve. Paris, 1822, t. 1, pp. 184 segs), de).].
1768 9.310.000
10.410.000 Soares de Barros (Memória sobre as cauZlls da differente popu/afiio de Portugal nos
1787
diversos tempos da Monarquia, in MemoriaJ Economicas da Academia Real das
FRANÇA: Sciencias de lisboa, v. 1, 1789, p. 123 segs) e das Taboas Topográficas e Estatísticas
1715 18.0()O.OOO de Todas aJ Comarcas de Portugal ... ( 1801), de que o Instituto Nacional d(' EstatÍS-
1710 24.000.000 1713/178'!)-44% 0,50% tica de Lisboa fez edição fac-simile, formando o vol. II dos Subsídios para a História
1789 26.000.000 (74 anos) da Estatística em Portugal, Lisboa, 1948. Os estudos mais recentes são: José Gentil da
Silva - Au Portugal: Jt1'1lclure démographiqueet dévelopmenl économique,separata
INGLA TERRA: de 5tudi in onore do Aminlore Fanfoni, vol. 11, Milão, 1962, e Maria de Lourdes
1700 5.200.008
Akola Neto - ~Demografia&, in Dicionáno de História de Portugal, dir. por)oel Se-
1750 6.500.000 1700/1800-85% 0,61%
9.600.000 (100 anos) rão, vol. I (Lisboa '1%3), pp. 795 segs. Veja-se também: A. Silbert - Le Porlugal
1800
médil"erranéen ii la fin de I'Ancien Régime. Paris, 1966, t. I, pp. 10') segs.]oel Se-
ESTADOS DO PAPA: rão - Fontes da Demografo portuguesa, Lisboa, 197:), pp. 67-90. Há divergências
1701 1.969.000 170111782- 0,24% quanto a essas cifras, dado que'as fontes são muitas vezes imprecisas. Sobretudo em
1736 2.064.000 (81 anos) relação a 1732: um cálculo coevo estimou em 1.743.000 a população portuguesa de
1769 2.204.000 então; e em nossos dias, Helleiner (op. cit.) acolheu esse dado. Entretanto, já Soares
17!l2 2.400.000 de Barros e Balbi haviam·no criticado convincentemente.
FONTES: (30)Vide Tabela e Gráfico «População européia no século XVIII», pp. 125-126.
EUROPA: Gino Luzzatto. (31 )rambém no Brasil a população crescIa significativamente na segunda metade
PORTUGAL: J. Gentil da Silva. do século XVIII; mas é claro que em função da imigração metropolitana e do trãfico
SUÉCIA, ESPANHA, FRANÇA, INGLATERRA, EST. DO PAPA: K. Hdlcinl'r.
, negreiro, além do crescimento vegetativo. Vide: Dauril Alden - "The population of
Brazil in the Eighteenth century: a preliminary surveyp. H.A.H.R., vol. XLIII, nO
2, maio, 1963, pp. 173-206.
(.\2)Cf. Taboas Topograficas e EstlllÍJticas ... (1801). Introdução
(33)reata-se de Manuel Travaços ~a Costa Araújo, oficial-major da Secretaria de

126
127
apenas cumpre observar que o importante no caso não é o progresso momentos (Colbert, Pedro o Grande, Frederico 11) foram efetiva-
em termos absolutos, mas em confronto com o ritmo do mesmo fe- mente criando núcleos que se transformavam em outros tantos polos
nômeno - desenvolvimento econômico - das demais potências à de desenvolvimento industrial autônomo. Em Portugal, tal processo
mesma época. Nem é exata, já se vê, a relação automática do inglês não chega ~ se engajar solidamente, a não ser com muito retraso já
Clarke entre população e agricultura. no fim da Epoca Moderna(38). Ao contrário, como indicam as mais
Ora, nesta perspectiva, ressalta para logo o retraso dos países ibéri- recentes pesquisas nesse campo(39), o que caracteriza a indústria por-
cos em rela5ão às grandes potências econômicas européias da segun- tuguesa ainda no século XVIII de maneira impressionante é a pe-
da fase da Epoca Moderna, isto é, quando se começaram efetivamen- quena unidade artesanal pré-capitalista, de produtor independente
te a criar as pré-condições da Revolução Industrial. A análise defini- que visa o mercado local. Basta comparar os estudos citados de Jorge
tiva desse fenômeno, em termos quantitativos, só poderia ser feita de Macedo com os trabalhos de John U. Nef sobre a Inglaterra e a
através de estudos comparativos de crescimento da renda nacional; França(40) para notar a diferença fundamental: nada há em Portugal
não dispomos de tais trabalhos, e mesmo talvez eles sejam imprati- que se compare ao surto das manufawras organizadas em moldes já'
cáveis para o período em questão(34). Contudo,· por outras vias se capitalistas, característico das grandes potências. Também não se as-
pode constatar a disparidade econômica de Portugal (aliás também siste, o que talvez seja ainda mais importante, ao florescimento da-
da Espanha) na Época Moderna - a começar pelo falO de que o país quelas importantíssimas formas de transição - putting-out system
atinge os meados do século XX com índices econômicos que o en- - que Mantoux analisou magistralmente para a Inglaterra(41). Não
quadram entre os países subdesenvolvidos do nosso tempo(35). Efeti- se formaram, efetivamente, em Portugal, no período intermediário,
vamente, o confronto é de certa maneira feito, ainda que em linhas isto é, precisamente na época mercantilista, os pré-requisitos da in-
mais amplas, nas histórias gerais da economia européia, ao traçarem dustrialização moderna.
a geografia do primeiro surto de industrialização que marginaliza os Constatar a disparidade, no momento, é quanto nos importa; dis-
países ibéricos(36). Os estudos comparativos de Koulischer(37) mos- cutir e tentar explicar o fenômeno extravasaria nosso objetivo, pelo
tram como, q.os países da Europa continental, a política protecionis- menos nesse passo. Cumpre, entretanto, lembrar, porque é de suma
ta posta em prática com maior ou menor ênfase em determinados importância, que ele não passou despercebido aos observadores coe-
vos. Os doutrinadores mercantilistas portugueses do século XVII, e
Estado dos Negócios da Fazenda. Cf. Subsídios para a história da &tatirtiea em Por· entre eles sobretudo Duarte Ribeiro de Macedo(42), com a insistência
tugal, anexo lI, p. :). ~--:-C-:.-

(34lCf. José Gentil da Silva - cCálculs rétrospenifs du Produit •. Separata da Revue (3H)As vicissitudes da política industrialista em Portugal, na Época Moderna,
Suisse d'His/oire, vol. XV, 1965. O autor dá um balanço crítico dos progressos fei- tquauonadas em função das crises e flutuações dos mercados ultramarinos, formam
tos nesse campo de estudos, e mostra as dificuldades talvez insuperáveis para esses o tema de V. Magalhães·Godinho - «POrtugal, as frotas do açúcar e as frotas do ou·
cálculos no período pré· industrial, sejam de ordem empírica (ausência de dados em ro, 1670·1770", Remta de Históna, São Paulo, n. 15,195:), pp. 69-88.
série), sejam de natureza conceitual (impossibilidade de contabilizar a renda de amo (3())Cf. Jorge de Macedo - ProblemaI da História da IndÚJtria Portuguêla no Jéeulo
pios setores de economia de subsistência, cuja produção não entra nas rdações de XVIII. Lisboa, 196:).
mercado). Vide também as considerações de E. Labrousse, in Histuire économlquf (40 lCf. J. U. Nef· .The progress of technology and the growth of large scaJe in·
et soeiole de la France. t. 11, Paris, 1970, pp. 325·29. dumy in Great Britain, 1540·1640. c «Prices and industrial capitalism in France and
{}:>lCf. Yves LacostC . Geografia do subdnenvolvimento. Trad. pOrto S. Paulo, England, 1540·1640., in EssayJ in Economic History, dic. por E.M. Carus·Wilson.
1966, p. 20. Londres, 1958, pp. 88·1:)5. E. Lipson. Economie Hislory ofEngland, 5a ed. Lon·
( 36 lVeja·se, por exemplo, H. Sée . As origens do capitalismo moderno, trad. dres, 1948, r. 11, Introdução. p.UX. H. Sée· Histoire Eeonomique de la France.
porto Rio deJaneiro, 1959, pp. 173 segs., especialmente p. 183. A. Birnie· História Paris, 1948, t. I. pp. 263 segs. Do mesmo).U. Nef. «Comparación dei desarrolo in·
económica de Europa, 1760-1833, trad. esp. México, 1944, pp. 15-16. H. Heaton- duStrial en Francia e Inglaterra desde 1540 hasta 1640., in L1 conquista dei Mundo
«Industrial Revolutiom. in Eneyclopoedio of the Social ScieneeJ. N. York, 1942. Materiol, trad. esp., Buenos Aires, 1969, pp. 153·216.
vol. VIII, pp. 3·13. (llICf. P. Mantoux - The Industrial Revolulion in lhe Eighleenth Cenlury, trad.
(.l7lCf. S. Koulischer - ",La grande induscrie aux XVII et XVIII siêdes: France, Ale· inBL.Londres, 1961, pp:47·91.
magne, Russie •. Ann.Hist.Econ.50e., vol. 1Il, 1931, pp. 11 segs. ~!)Vejam.se os textos fundamentais de Luís Mendes de Vasconcelos (1608), Ma·

128 129
de reformadores ousados,clamaram contra o atraso que a ausência de ve~e,n~e restauru;l~ e rica es~ ,gran Mon~quia»(48) propunha o ce-
manufaturas manifestava. No seu famoso discurso de 167'), celtUaflO mercantilISta de pohuca monetãna; não se esquecendo de
inquietava-se Ribeiro de Macedo de tal modo com o déficit da ba- preconizar a vinda de artífices esuangeiros para fomentar as manufa-
turas(49),
lança comercial, que escrevia: «Mal é este que pede remédio pronto,
porque, se continua, se perderão as Conquistas e o Reino»(43). Ra- De Gomes ~~is a Ribeiro Ade Macedo se forma a escola do pensa-
zões: «não temos drogas, frutos nem fazendas com que comutar esta mento mercantilista porruguês(50): o ponto de partida de suas inda-
pcodigiosaconsump~ão que fazemos no Reino e nas conquistas»(44), is· gações era sempre o retcaso de P0r.tUgal ou mesmo da Ibéria em rela-
to é, não se produzlam manufaturas que dispensassem as importa- ção aos centros mais dinâmicos da economia européia. Na primeira
ções, ou que, exportadas, equilibrassem a balança. Remédio: «o úni- metade do século XVIII, entre outros, Alexandre de Gusmão(51) e o
co meio que há para evitar este dano, e impedir que o dinheiro saia famoso D. Lu1s da Cunha(52) voltaram ao tema, e com grande pene-
do Reino, é introduzir nele as anes»(45). «Introduzir», atente-se, dá a tração; e o mesmo cardeal da Mota no seu parecer de 1734(55)assi-
impressão de que se devia partir do marco zero; o que evidentemen- natava que cSÓ eotre nós parece ser mais do que mero descuido e ne-
te era um exagero, não obstante significativo do estado de espírito gligência, máxima assentada o não haver no Reino fábricas», o
de então. Em tudo isto, aliás, - diagnóstico, terapêutica ~ seguia que ~(a sobremaneira grave, pois, já antes fizera notar que os estados
na esteira de Sancho de Moncada, o grande mercantilista espa- são ncos ou pobres segundo têm ou não manufaturas.
nhol(46). E todavia, se não se pode dizer que essas voze~ tenham clamado
no deseno (até porque algumas delas eram de estadistas nas mais al-
Já desde 1621, o espetáculo do recuo português no Oriente e atra-
tas funções governamentais), o fato é que uma política verdadeira-
so metropolitano levava Duarte Gomes Solis a pôr sua experiência de mente protecionista e ihdustrialista não se articula em caráter persis-
mercador ultramarino a serviço ou à disposição del-Rei: os resultados
tente a~tes de p69-1770, isto é, na cterceira fase» da governação
foram a Memória de 1621, os Discursos de 1622 e a AJegación de
pombalina(54). E que a política de desenvolvimento manufatureiro
1628(47)todos de indigesto estilo e grande interesse para a história
em Ponugal na Época Moderna foi descontínua, elaborando-se antes
do mercantilismo ibérico. Impressionava-o à «pobreza y falta en que
como expediente para enfrentar ou contornar crises dos mercados co-
veo este Reyno por yrse perdiendo la contratación», e para ver «bre-
loniais e destarte reequilibrar a balança comeróal, atenuando-se ou
nuel Severim de Faria (16)5) e Duarte Ribeiro de Macedo (1675), in Antologia dOJ (48lDuan~. Gomes· DisamoJ sobre lo! comercio! de Im dOJ IndiaJ (1622), ed. M.
EconQmúfas Portugueses, seleção, prefácio e notas de Antônio Sérgio Lisboa Arnzalak, Lisboa, 1943, p. 3.
1924. ' , (49l 0p. cit., p. 130.
(
43
lDuane Ribeiro de Macedo - Dúcurso sobre a introdução da.s arteI no Reino (jOlCf. M. Amzalak - Do eJludo e das dmlfTinIIJ económicaJ em Portugal, Lisboa,
(1675). in Ant%gia do! Econommas PortugueJeI. p. 243. 1928, pp. 2) segs. R. Gonnard . La conquéte Portugaise: DecouvreurJ el Économl.J'
(44lDuarte Ribeiro de Macedo - ap. cit., p. 256. te!, Paris, 1947. pp. 83 segs.J.c. Magalhães História do penJamenlo econômico em
(4jlldem. ibidem, p. 270. Portugal, Coimbra, 1967, pp. 153 e segs.
(46 1f;Achei un tratado espanhol intitulado Restauración política de &Panha. com- (HlCf. Alexandre de Gusmão _ Cá/culo Jobre a perda do dinheiro do Reino
posto por Dom Sancho de Moncada, catedrático d~ Escritura em Toledo oferecido (1749). In Jaime Cortesão - Alexandre de Gu!miio e o Tratado de Madri (1750),
no ano de 1619, a Filipe IlI ... » Duarte Ribeiro de Macedo· Obras inédit~s Lisboa parte lI, t. I: ObfllJ váriO! de Alexandre de GUJmiio, Rio deJaneiro, 19)0, pp. 194·
1817, p. 20. Sobre Sancho de Moncada, cf). Larraz - La Época dei Merca~tiIúm~ 199.
en Castilla (1580-1700), 2~ edição, Madrid, 1943, pp. 196 segs. M. Comeiro -Histo- ('i 2lCf. D. Luis da Cunha· lmtTUfões a Marco Antonio de Azevedo Coutinho (c.
nale /a e~onomlapolífú;a en Espana, 2~ ed., Madrid, 1965, v. lI, pp. 623 segs. 1738), (Om introdução de A. Baião. Coimbra, 1930, e Testamento PolítICO (c.
( dReedltados por Moses Amzalak: Discursos sobre los comercias de las do! [n- 1748), (Om prefácio e notas d~ M. Mendes, Lisboa, 1943.
diaJ,_Lsboa, 1943, e a Alegación en follor de la Compania de la India Onental, in (HlCf. Jorge de Mac~do - cO pensamento econômico do Cardeal da Mota. Contri-
AnaIJ do Imt. Supenorde ClenClaS Economicase FinanceirilJ, vol. XX111, 1955, t. l_ buição para o seu estudo•. In Revista da Fautldade de Letras de LiJboa, 3a série,
I" lI. A Memona de 1621 permaneceu inédita e foi publicada por Léon Bourdon m n04, 1960.
Anan do ISCEFvol. XXlll, t. I. Cf.). C. Magalhães _ Hirtória do pemamento eco- HlCf. Jorge d~ Macedo· A Situaf40 econômica no tempo de Pombal: alguns as-
nômico em Portu!Ial. Coimbra, 1')67, pp. 196·197_ pecto!. Pono, 1951, pp. 242 segs.

130 131
mesmo anulando-se uma vez superadas as dificuldades(55). Assim à observou J~9t I\CÚrSlO das Neves, que, como se sabe, participou de
~poca do conde de Ericeira, vedor da fazenda no fun do século XVII, todo esse processo: «As nossas fábricas ainda não tiveram senão duas
assim, ainda uma vez, à época do marquês de Pombal, ou pelo me- épocas, a do ~enhor Rei D, Pedro 11, e a do senhor Rei D.José I; mas
nos até a fase industrialista. Efetivamente, os estudos de Jorge de a pnmeJra fOI de tão curta duração, que o mesmo Soberano, e o mes-
Macedo mostraram, em primeiro lugar, a necessidade de periodizar mo Ministro, que a começaram, a virão acabar; a segunda, como
o consulado pombalino que não deve ser visto como um todo homo- fundada em alicerces mais sólidos, duraria ainda, a não serem as des-
gêneo, o industrialismo caracterizando apenas a sua última fase(56); graças, que tiveram princípio na invasão dos franceses, e pode dizer-
em segundo lugar, que a política de incentivo às manufaturas se ela- se que dura, porque ainda temos muitos restos, para reparar o edifí-
bora como resposta à crise dos mercados coloniais que se acentua de- cio»(60).
pois da Guerra dos Sete Anos; era pois, segundo este modo de ver, De qualquer modo, fosse uma política empiricamente conduzida,
circunstancial-, nem pretendia uma renovação na estrutura industrial ou um esforço planejado de recuperação(61) como nos parece mais
do país(57), no que é mais difícil de acompanhar o historiador portu- correto, o fato é que o fomento industrialista é sobremaneira tardio
guês. De fato, encarada em articulação com outros aspectos do «con- em Portugal na Epoca Moderna. Destarte, a metrópole do Brasil
sulado» (montagem das companhias, extinção da discriminação en- atingia o último quartel do século XVIIl com uma enorme defasa-
tre cristão-novo e cristão-velho, supressão da escravatura, etc.) a polí- gem em relação aos pa1ses na vanguarda do desenvolvimemo econô-
tica manufarureira de Pombal revelou-se, a nosso ver, coerente e sis- mico. Assim é que, ainda nesta última, tumultuosa, e sob tantos as-
temática. Sua permanência e desdobramentos no período posterior pectos brilhante, etapa do Antigo Regime, 9 pensamento econômi-
parecem indicar no mesmo sentido, Encarado deste outro ângulo, is- co ponuguês, apesar de informado já por outras linhas de idéias e
to é, pelos seus efeitos, o surto manufatureiro significava efetiva- bafejado pelo otimismo tão característico da Ilusuação(62), mantém
mente um esforço em prol da «nacionalização da economia luso- muito vivo no centro de suas reflexões o ptoblema herdado dos mer-
brasileira», como mais recentemente demonstrou K. Maxwell(58) cantilistas: o atraso, a decadência. Exemplo típico, o Discurso políti-
que para tanto relaciona a política industrialista com todo o esforço co sobre as causas da pobreza de Portugal, que pelos fins do século
de modernização, isto é, de racionalização administrativa em busca XVIII José Manuel Ribeiro enviava à Academia Real das Ciências, e
da eficiência da ação goverl1amental e consolidação imperial - «pa- que entretanto ficou inédito(63). Ali se afIrma que apesar «das vistas
ra manter sua influência num mundo competitivo»(59l. políticas do governo» o país se mantém no «mesmo errado sistema»:
Mais ainda, o fomento poSto em andamento pelo ministro de D. pois apesar dos «preciosos frutos», dos «excelentes portos.. , «faltam-
José, ao contrário das tentativas anteriores, teve persistência e desdo-
(6(l~. ACÚrslO das Neves· :I1emóna wbre OJ mnOJ de melhora,,, mdt/Jl174 porta
bramentos para além da administração do marquês de Pombal,
gueza, Lisboa. 1820. p, 4~
prosseguindo em atuação até a crise final do Antigo Regime. Bem o li, I 1Há, efellvamente, dlvergénna de pontos de vi~ta enue Jorge de Macedo que
vê no fomento mdustrlal pombalino um e~forço empín(O, não plane1ado quase
(SSly. M3galhães-Godinho _ «Portugal,as frota~ do açúcar e as frotas do ouro, que apen~ um expedIente l'Ircunstanc-ial ' e os historiadores anglo·,axônltOS A
1670-1770». Revuta de Histõna, São Paulo, nJS, 1953, pp. 69·8'). Chnste!owe K MaxweU, que nesse caso nos parecem mais c-onV!nlente<; Ct 1- Fa~­
()6~orge de Macedo - qPonugal e a economia pombalina: temas e hipóteses». Re- con e F. Noval!i' arllgo Citado MaiS recentemente, Sandro Slden -(.ométttl e p",
visl4 de Histõri4, São Paulo, n. 19, 19'i4. pp. 84·8'). der, Colomalumo mformai nm relaçóeJ 4nglo-PQrtugueJ{Ij. Ira.:! purt Llsooa,
071Cf. Jorge de Macedo· A 5ituação eçonomlCIl no tempo de Pombal, pp. 210 1')78
segs. (62l Cf P_ Hazard <1_ la lurnlcre de leur ralson dlssiperan les grande!> masse!i
(S81Cf. Kenneth Maxwell _ «Pombal and the nationalization of the luso-brazilian d'ombre dont la terre étlut couverte. d~ rctrouveralent k plan de la nature et n'au-
economy», H,A.H.R., vol. XLVII1, n. 4, novo 1968. [aient qu 'a Ie suivre pout retrouvet le bonhem perdu Alors le Cle! descendralt sur
(s<!lK_ Maxwell . OI'. cito p. 609. Francisco C. Fakon e Fernando A. Novais - «A la terre~. La pcméc curopéene 4U XVIII flec/e Paris, 196), p 8
extinção da escravatura africana em Portugal no quadro da política eçanômica pom- 163 lAcadcmia das CiênCias de usboa, Ms 186, série V O cdlSCurso» não está dara·
balina». Separata dos Anais do VI Simpósio Nacional dos Professores Univep;itários do, mas refere, a certa altura, que cPorlUgal he Remo soberano na Europa h3 ~f''' -"
de História, São Paul", 1973, V. I, pp. 406-431. culos e meio:>. o que permite situá-lo nos fins do século XVIII

132 133
nos as Anes, e a Agricultura, em que as nações bem entendidas da
Europa tem estabelecido o seu sistema, como também nos faltam as ~ostra a ne~essidad~ de a estudarmos, porque a substância da "Na-
estradas, pontes e vaus, para o mesmo comércio interior ser mais fá- çao, e sua nqueza V1ffiOS por largo tempo passar aos estranhos e
cil aos nacionaisl'. ~roc.? d.e gêneros. que ou de si cre~c~am em nossas terras, ou pou~
Não menos explícito, Francisco Antônio Ribeiro de Paiva, na sua Indusrna se preruava para naturallza-los»(65). E foi, segundo Sérgio
memória acadêmica da mesma época(64l, caracteriza com notável ~uarque de Holan.da, para conhecer «de que modo chegar à opulên-
precisão o caráter do comércio externo português: «Nós lhes estamos Cia e..: no c~ p~rt1cular de Portugal, de que modo reconquistar a si-
vendendo algumas matérias primeiras, de que temos abundância, tuaçao E"nvileglada, que os. erros dos antigos tinham posto a
por exemplo as lãs, e depois de trabalhadas pelo fabricante estran- pe~der,( ) que Azeredo Couttnho escreveu o famoso Ensa-io Econô-
geiro, lhe compramos os panos, e as baetasl'; e o transporte feito na mIco de 1794.
maior parte em navios estrangeiros: «Se as mercadorias, que nos vem Em. meio a. tais vicissitu~es, .Portugal chegava, ponanto, à época
de fora, se trouxessem em navios mercantes da nossa Nação, e os gê- da CCise do sIstema colomal, 15tO é, ao último quartel do século
neros se trabalhassem nas nossas fábricas e pelas mãos'dos naturais, XVIII,. com uma larga margem de atraso econômico em relação às
ficaria o lucro da indústria aos nossos obreiros, e não sairiam tantas potên.Clas m~ de~nvolvidas do Ocidente europeu. Tal constatação
somas fora do pá1S». Como isso não era feito na escala necessária, re- perm~t:-nos vlsu~hzar, agora, com alguma clareza, sua posição e pois
sultava «a necessidade perpétua de pagar um tributo oneroso a todas a pOSlçaO?O ~rasd, no 9uadro das tensões de toda ordem geradas pe-
as nações industriosas». Não ignorava o memorialista os progressos la eme!genCla paulatIna mas segura do capitalismo industrial:
feitos nos últimos tempos, nem desconhecia Ser superavitária à época competição pol1tica e concorrência comercial exacerbadas, pressio.
a balança comercial; considerava porém insuficientes esses avanços: nando ~bre o exclusivo colonial; crise geral de mentalidade, que na
«Esta mesma falta de indústria. é a causa da decadência do nosso co- sua ~~tlca não deixava escapar o próprio sistema de colonização met-
mércio, cuja balança em geral nos não é tão vantajosa comQ podia cantlhsta; afloramento, nas colônias, de inquietações _ contágio
ser». -Exemplos a seguir são a Inglaterra, que é, «sem contradição, na talve~ daquele ~exemplo tão pernicioso», que devia «interessar até os
nossa Europa, a que tem feito maiores progressos na agricultura», e PtínClpes mais indrterentes»(67).
que é «nos nossos tempos cinco vezes mais rica do que no princípio _Pequena metrópole de extensos domínios ultramarinos, Ponugal
do século passado», e a Holanda que «nos prova ainda que só a in- nao :u:ompanhara, na época da acumulação originária, o ritmo de
dústria e a opulência de uma nação a pode fazer respeitável, e· não a cre.sc1ffiento econômico das grandes potências colonizadoras. euro_
vasta extensão das suas províncias». pélas.~ Enorme colônia dessa peculiar mãe-pátria, o Brasil ainda
Esses excenos dão-nos uma amostra do calibre dos teóricos do mantem, nas suas estruturas básicas, no arcabouço de sua economia
pensar ilustrado em Portugal ao mesmo tempo em que atestam a exponad?ra e nas feições de sua sociedade escravista, os traços fun-
persistência do tema da decadência e do atraso nas suas investigações. d~~nta.!s de vasta zona periférica de exploração das economias di-
Aliás, no próprio discurso de abertura das famosas Memórias Econô- namlcas do Velho Mundo. Essas as posições inter-dependentes, esse
micas, por entre as manifestações de crença irrestrita no poder da Ra- o COntexto, em que um e outro alcançam a encruzilhada decisiva da
zão e das Luzes promoverem a prosperidade nacional, o abade Cor- época de crise, quando os mecanismos de estrutura profunda ama-
reia da Serra lembrava que «a triste experiência do passado assaz nos durecem para transformações essenciais, agudizando suas contradi.

(64)Cf. FranCISco AntôniO Ribeiro de Paiva - Memóna IObre a neceSSIdade de fo- (65)C!. D.iscUTIO Preliminar, vai. r das Memórias Econômicas da Academia Real
das SctenCUJI de lisboa" Lisboa, 1789 p VIII
mentar a agncultura, e as Artes, cauzas da sua decadencia, e OI meios de as fazer (66) ~ . . . ,
florear em Portugal. A.C.L Ms. 143, série V. Embora o texto não esteja datado, SergIO Buarque de Holanda - Introdução a Obras Econômicas de J. J. da Cu-
nha de Azeredo Coutinho S. Paulo 1966 p 32
refere-se à "RÚSSia, com quem nossa Augusta Soberana acaba há pouco de concluir (67)' . . ' " • .
um tratado de comércio». O «tratado de amizade. navegação e comércio~ entre Ma- _ Edital ~r~lbmdo a entrada nos portos do Reino e seus Domínios às embarca_
na I de Portugal e Catarina 11 da RÚSSia é de 1787 e foi renovado em 1798. çoes da:' Co~omas Inglêsas - 5-julho-1776. Cf. Antônio Delgado da Silva _ CoUecfão
da Legulaçl10 PortugueZll, vai. 1775-1790, Lisboa, 1828, p. 99.
Jj4
135
~ões e trazendo à tona tensões em todos os níveis. E a partir desse Gomes Machado(70), é que se deve entender a transferência da capi-
quadro que poderemos delinear os problemas propostoS, seu equa- tal do Estado do Brasil para o Rio de Janeiro e a da sede do governo
cionamento, as soluç6es tentadas, enfim o encaminhamento do pro- do Estado do Maranhão para Belém do Pará: tratava-se de uma «ubi-
cesso. cação racional da sede do poder». Com vistas a uma presença mais
ativa do poder do estado, definiam-se dois eixos, um «horizontal e
acompanhando o grande rio, no Estado do Maranhão»; outro «oblí-
2) Defesa do Patnmônio qüo e seguindo a costa marítima, no Estado do Brasil» .. Ao mesmo
tempo que 3e intensificavam as campanhas em defesa do extremo
Dentro dessas coordenadas, o primeiro problema que natural- Sul(71), no Norte, através da ação da Companhia Geral do Grão-
mente se apresentava era o que podemos denominar defesa cfo patri- Pará. e Maranhão(72), empreendeu-se a instalação de toda uma ousa-
mônio (pois que como «patrimônio» eram vistos os domÍOlos colo- da linha de fortificaçôes.
niais), isto é, a simples preservação das colônias. De expa.t?-são.não s.e A intensificação da competição colonial, que como vimos se ins-
podia evidentemente cogitar, a não ser em casos exce~clona.ts (ex~­ creve nas próprias linhas de funcionamento do sistema global da co-
gências de estratégia militar), que o Portugal metropohtano não u- lonização européia da era mercantilista, tendia naturalmente a am-
nha com que conservar tão extensos domínios, ou, como às vezes pliar as dificuldades; na época da crise, no último quartel d~ ~écul9
eram chamados, «conquistas»(68). XVIII e início do XIX, a questão se agrava 'de forma defImuva. E
A defesa do patrimônio, isto é, a preservação das colônias, é, evi- pois sob a forma de um agravamento de tensões que, sob esse ângu-
dentemente, na ordem lógica, a primeira tarefa que enfrenta sem- lo, manifesta-se a crise colonial no plano da colonização portuguesa
pre uma metrópole colonizadora. O que, no caso portu~ês,. e em do Brasil. Isto transparece na persistente preocupação militar que
especial em telação ao Brasil, tornava essa manutenção termonal um acompanha as instruçôes de vice-reis e governadores. Aliás, já no Re-
problema, era, de um lado, a defasagem que acima assinalamos no gimento do Governo Geral, que data, como se sabe, de 1677(73),
ritmo de desenvolvimento econômico da metrópole em relação às depois 'das formalidades da posse do cargo, ordenava-se perempto-
principais potências européias; de outro lado, a desproporção entre a riamente: «logo que lhe for entregue o Governo irá pessoalmente ver
imensidão dos domínios e a pequenez da metrópole. Assim, duran- as Fortalezas da Cidade, armazens, e Tercenas, ordenando que se fa-
te o consulado pombalino, que é quando se estrutura de forma mais ça inventário pelo Escrivão da minha Fazenda de todas as coisas que
sistemática a política mercantilista lusitana(69), ao mesmo tempo a ela pertencem, Navios, Artilharia que houver, o calibre dela, para
que todo um esquema de ação política de índole ilustrada, se poder enviar deste Reino a bateria necessária conforme ao dito ca-
lançaram-se as grandes linhas da definição territorial e preserva.ção libre, e plantas das ditas Fortalezas, de tudo o dito Governador me
das fronteiras. Neste sentido, como muito bem observou Lounval enviará cópia remetida ao meu conselho Ultramarino, para me ser
(68 l... As exigêncJas da expansão marítima excediam, porém, as nossas possibilida- presente tudo o que há naquela Praça; e o mesmo mandará fa~er em
des neSta matéria», lembra A. Gonçalves Pereira, referindo_se ao fim do século XVI, todas as do seu Governo, com a distinção, e clareza necessána»(74).
e a 5Ítuação não se alterara, antes se agravara, ao longo da Época Moderna (Cf. «As
conseqüênCias econômicas dos descobrimentos e das conquistas», in HiJtória da Ex- (70)<=f. Lounval Gomes Machado _ «Política e administração sob os últimos Vice-
pansão Portuguésa no Mundo, Co III (1940), p. 71). «Assim, pelos meados do século Reisn, in História Geral da ClV1lizaçiio BrasileIra, dir. por SérgIO Buarque de Holan-
XVIII, o Brasil tinha atingido o máximo de sua expansão territorial, apresentando, da, t. I, 2° vol. (São Paulo. 1960), pp. 356·358.
até certo ponto, a sua linha de fronteiras, consolidada mais tarde pela diplomacia». (71)Cf.). Caplsuano de Abreu - Capítulos de História Colonial, 4' ed., Rio deJa·
Demósthenes de Oliveira Dias - Formação temtorioJ do Brasil, Rio de Janeiro, 1956, neiro. 1954, pp. 295 segs.
0·33. . . (72)Cf. M. Nunes Dias - A CompanhUl Gerai do Grão Pará e Maranhão, São Pau-
(ú'I)Cf. Francisco C. Falcon e Fernando A. NovaIS - «A extinção da escravatura afri- lo, 1971, pp. 439 segs. À págg. 463, mapa das fortificações.
cana em Portugal no quadro da polític~ econômica pombalina». Comunicação ao VI (73)Cf. Regimento dos Governadores GeriJls do Estado do BriJJII (1677), in Docu-
Simpósio Nacional dos Professôres Universitários de História, 1971. Anaa, S. P., mentos Históncos, vol. VI (1928) e VII (1929).
1973, vol. I, pp. 406-431. (74)Regimento ... D.H., vol. VI, p. 315.

136 137
Este longo e minuclOso regimento permaneceu em vigor pratica- das InsIT1lfõef..81) que Luís de Vasconcelos e Souza, seu sucessor, tra-
mente até o fim da época colonial; só em 1796 uma provisão do zia de lisboa; ali se estabelecia enfaticamente a necessidade de se
Conselho Ultramarino solicitava ao vice-rei observações atualizado- atentar para a «conservação das tropas na América, panicularmente
ras, medida a nosso ver significava do agravamento das tensões, na no Rio de Janeiro», pois que .t: demonstrativamente ceno que, sem
quadra da crise do sistema colonial. A recomendação foi reforçada Brasil, Portugal é uma insignificante potência; e que o Brasil sem
em 1804, e conhecemos, em cumprimento dessas ordens, as anOla- forças, é um preciosíssimo tesouro abandonado a quem o quiser ocu-
ções de D. Fernando José de Portugal e Castro, marquês de par»(82). Mais adiante, insistiam ainda neste ponto as instruções me-
Aguiar(75). Dos 60 capítulos do diploma, nada menos que 16 tratam tropolitanas de 1779, assinadas por Maninho de Melo e Castro, se-
de assuntOS atinentes à defesa(76). Isto mostra aliás o caráter funda- cretário da Marinha e Ultramar: o que tornava essencial essa diretriz
mentalmente militar do cargo de governador ou vice-rei, apontado é «que o pequeno continente de Ponugal, tendo braços muito ex-
.pclos estudiosos que mais em profundidade analisaram a adminis- tensos, muito distantes, e muito separados uns dos outros, quais são
tração da colônia(77). os seus domínios ultramarinos nas quatro panes do mundo, não po-
Anotando o antigo Regimento, e no mesmo espírito, acrescentava de ter meios, nem forças, com que se defenda a si próprio, e com
em 1805 o vice-rei marquês de Aguiar que, de fato, «o Governador que acuda ao mesmo tempo com grande socorro à preservação, e se-
logo que tomar posse do Governo deve visitar pessoalmente as Forta- gurança dos mesmos domínios». O aproveitamento dos colonos na
lezas da cidade, armazens e rercenas pertencentes a Sua Alteza, por defesa do patrimônio metropolitano parecia aliás ao ministro portu-
ser o objeto mais importante a defesa da Capitania,)78); lembrando guês algo de inerente ao próprio sistema de exploração colonial: «ne-
apenas, para se alterar no novo regimento que por aí se vê que se nhuma potência, por mais formidável que seja, pode, nem intentou
projetava, alterações de caráter burocrático. A defesa do patrimônio até o presente, defender as suas colônias com as únicas forças do país
ia pois assumindo importância crescente. dominante ou do seu próprio continente». Tanto era assim que «o
Assim, no Relatório (1779) do Marquês de Lavradio, documento mais, que até agora se tem descoberto, e praticado para ocorrer a esta
sob tantas aspectos notável(79) dirigido ao seu sucessor no vice- impossibilidade, foi de fazer servir as mesmas colônias phla a !Jrú--
reinado, logo após a indicação dos limites da Capitania, passa-se pria e natural defesa delas». Com o que se concluia que «nesta certe-
imediatamente a descrever a situação das tropas e as condições de de- za, as principais forças, que hão de defender o Brasil ,são as:ao mes-
fesa(80): «o estado militar com que se devia defender esta capital, e mo Brasil». lembrava, fmalmente, que «com elas foram os hplande--
igualmente socorrer outras províncias dependentes deste Govêrno». ses lançados fora de Pernambuco, com elas se defendeu a :Bahia dos
Descrita a situação com que se deparara, passa Lavradio a dissertar mesmos holandeses; com elas foram os franceses obrigados a 's~r pre-
longamente sobre qual o «sistema» que adotou para «por na possível cipitadamente do Rio de Janeiro, e com elas enfun, em tempàs mais
defesa esta capital», e depois minuciosamente a Capitania e as fron- felizes que os nossos, destruiram os paulistas as missões do Uruguai e
teiras do Sul. Tais indicações do grande vice-rei iam aliás na linha Paraguai,(83).
Se atentarmos para estas normas fIXadas nas instru~ do vice-rei
(7~)Idem, p. 312.
Luís de Vasconcelos, tornam-se visíveis as várias dimenSõts" da defesa
(76)São os capítulos 3°, llo, 12°, 13°, 14°, 15°, 16°, Ir, 18°, 19°,22°,23°.
31°,40°,41° e HO. do patrimônio na última fase do Antigo Sistema colonial, tal como
{771cr Caio Prado)I. - Fomulfão do BrllSiI Contemporâneo, 4' ed. (São Paulo, se manifestavam na relação Portugal-Brasil, e que indicamos na pri-
19')3), p. 304. Dauril Alden - Royal Government in Colonial Brazil. Berkeley, meira parte deste capitulo. Em primeiro lugar, o problema da defesa
1968, passim, especialmente pp. 43 segs.
PB)cr as observações de D. Fernando José de Portugal ao Regimento de Roque da
Costa Barrem. D.R., vol. VI, p. 315. (81)Cf. Instruções de Martinho de Mello e Castro a Luís de Vasconcellos e Sousa
(79)Cf. Caio Prado)I. _ Op. cit., p. 323. Oauril Alden . Op. út. pp. 474 segs. acerca do Govêrno do Brasil (1779), R./.H.G.B., t. XXV, 1862, pp. 479-483.
(H01Cf. Relatório do Marquês do Lavradio (1779). R.l.H. G.B., t. IV (2' ed., (82)ldem, p. 480.
1863), p. 415-4l7. (83)Instruções ... p. 481.

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era inerente ao próprio sistema colonial do mercantilismo, essencial- de, e todos os que as governam são vassalos seus», salientava-se que
mente competitivo; o que uansparece na referência à ação das outras «entre as muitas, e muito úteis disposições que el-rei nosso senhor
metrópoles. Num segundo plano, a relação Portugal-Brasil era espe- tem mandado estabelecer nos seus domínios ultramarinos, uma das
cífica, agravando as dificuldades: à pequenez da mãe-pátria se con- mais importantes é a que tem por objeto a defensa, conservação e se-
trapunha a extensão da colônia, o que estimulava a ação c~nc?rr~nte gurança de todos, e cada um deles». Em 1788, às vésperas da Incon-
das potências. E note-se a ênfase com que este aspect~ é dlscnmma-. fidência, instruindo o visconde de Barbacena para o governo da mes-
do nas diretrizes metropolitanas; não apenas se assmala a defasa- ma capitania central, mais explícito se tornava o governo metropoli-
gem, mas se define uma efetiva inter-dependência. Finalme~.1te,. a tano: «Acha-se a dita capitania no centro daqueles domínios; e con-
época era peculiar, pois se faz referência a períodos menos d1fíceIs. finando ao mesmo tempo com as capitanias de Pernambuco, Bahia,
Tanto assim que, como vimos, se promovia um pouco mais adiante a Rio de Janeiro e São Paulo, podem estas receber dela, particular-
reformulação do próprio regimento do governo colonial. O que indi- mente a do Rio de Janeiro, os socorros e assistências que lhes são in-
ca que se ia tomando consciência dos problemas emergentes com a dispensavelmente necessários nos diversos acidentes a que se acham
crise geral do sistema. expostas todas as colônias que tem portos de mar; principalmente
De Luís de Vasconcelos ao Marquês de Aguiar, portanto, a preo- em tempo de guerra»(87).
cupação com a segurança do patrimônio permanece pomo básico da Mas não eram apenas os perigos exteriores, a ameça das outras po-
política ultramarina; nas instruções a este último(84), aliás, insistia-se tências que importava precaver., Assim, já numa consulta do Conse-
no «estabelecimento de um bom, e bem discutido sistema para a de- lho Ultramarino, de 1732, depois de se chamar a atenção para a co-
fesa externa» e a «criação de Junta militar para formar, e discernir os biça que a América portuguesa suscitava nas outras nações pelas suas
Planos para a defesa da mesma capitania, e para a ereção e conserva- riquezas, acrest:entava-se que «a dois gêneros de perigos estão sujei-
ção das Fortalezas». A correspondência oficial dos vice-reis reflete, tos todos os estados, uns externos, outros internos: os externos são os
como era de esperar, essas mesmas preocupações; boa pane dela é da força e violência que poderão fazer as outras nações; os internos
ocupada' com assuntos atinentes à organização militar, para a defesa são os que poderão causar os naturais do país, e os mesmos vassalos».
do patrimônio(85). Aduzindo-se enfim que o pior era «quando a força externa se une
E não somente às capitanias litorâneas, ou às que confinavam com com a vontade, e força interna dos mesmos vassalos e naturais»(88).
os domh1ios das Índias de Castela, impunham-se essas determina- Este documento, de uma transparência notável, nos conduz por-
ções; de tal maneira a defesa do patrimônio emergia como um pro- tanto ao outro aspecto do mesmo problema da defesa do patn'mô-
blema fundamental da colonização na fase de crise do sistema, que nio, por assim dizer à sua face interna; qual seja, a emergência de
as próprias capitanias centrais se deviam enquadrar no esquema de- tendências inconformistas ou mesmo autonomistas, de qualquer
fensivo. Assim, já em 1775, nas instruções de Maninho de Melo e forma revolucionárias, que começavam a forcejar dentro da própria
-Castro a D. Antonio de Noronha, governador das Minas Gerais(86), colônia. (89) Ê aqui que a crise se manifestava de forma decisiva e
lembrando-se que «todas as colônias portuguesas são de Sua Majesta- (SilCf. InJtruçao para o Visconde de Barhacena LuÍJ Antônio Furtado de Mendon-
ça, governador e capitão general da capitania de MinaJ Gerais (29 de janeiro de
1788). R.I.H.G.B., tomo VI (2~ ed. 1865), p. 3 Cf. também Anuáno do Museu da
i84lCf. InJtruçõei para D. Fernando Jose de Portugal, nomeado Vice Rei e Capitão
Inconfidência, ano lI, 1953, pp. 115 segs. No mesmo sentido a InJtruçiio militar pa-
Geral de Mar e Terra do Estado do Brasil (1800). A.H.V., (ôd. 575, ff. 94-111, es-
ra Martm Lopes Loho de Saldanha, de 14 de janeiro de 1775 (R.I.H.G.B., t IV,2"
pecialmente ff. 98-99. ed. 1863, pp. 350-362) ordenava que se organizassem forças na Capitania de São
(S~)Cf. Ofícios dOJ Vice-Reli do 8rau/. Indice da Correspondência dirigida à Corte
Paulo, para auxiliar na defesa da fronteira meridional.
de Portugal de 1763 a 1808, vaI. 2° das PuhlicaçõeJ do Arquivo NacIOnal do Rio de .(RS)Cr. Consulta do Conselho Ultramarino a S.M., no ano de 1732, feita pelo
Janeiro,;P ed., Rio de Janeiro, 1971, pp. 75 segs. Conselheiro Antônio Rodrigues da Costa. R.I.H.G.E., t. VII (2" ed., 1866), p.
(86)Cf. InJtruçiio a D. Antômo de Noronha, governador e capitão general de Mi·
498.
naJ Geraú, 24 de janeiro de 1775. Biblioteca Nacional de Lisboa, Col. Pombalina, {8?)A organização da força armada, na colônia, tinha que se adaptar à nova situa-
Cód 643, r. 125. ção. Cf. Heloisa R. Fernandes - Política e Segurança, São Paulo, 1974, pp. 35-57.

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Brasil a procurá-las; e ainda que por uma lei se quiz dar providência a
profunda, pois atingia o próprio núcleo do sistema colonial mercan- esta deserção, por mil modos se vê frustrado o effeuo d'ella, e
tilista. Embora repontassem esporadicamente já em fases anteriores, passam para aquelle listado muitas pessoas, assim do reino como das
como a própria consulta citada está a indicar, é no último quartel do ilhas, fazendo esta passagem, ou ocrultamente negociando este tran-
século XVIII que as tendências emancipancionistas se manifestam de sito com os mandantes dos navios e seus officiais, assim nos de guer-
forma recorrente e significativa. ra, como nos mercantes, além das fraudes que se fazem à lei, pro-
Também aqui, nos aspectos internos da defesa do patrimônio, é curando passaportes com pretextos e carregaçães falsas e por este
possível discernir os vários níveis que o problema comportava. Não modo se despovoará o reino, e em poucos annos virá a ter o Brasil
era possível explorar a colônia sem, de certo modo. desenvolvê-la; tantos vassallos brancos como tem o mesmo reino; e bem se deixa ver
ainda que esse'ldesenvolvimento»se fizesse nas linhas de uma econo- que posto em uma balança o Brasil, e na outra o reino, há de pesar
mia dependente, não podia deixar de envolver um aumento neces- com grande excesso mais aquella que esta;e asim, a maior pane e a
sário de população na colônia, e uma complexidade crescente da so- mais rica não soffrerá ser dominada pela menor, mais pobre; nem a
ciedade colonial - o que começava a abrir a possibilidade de a pouco este inconveniente se lhe poderá achar fácil remedio»{93). O texto é
e pouco se manifestar oposição de interesses entre os colonos e a me- de clareza tão meridiana que dispensa comentários: de um lado, a.
trópole. Neste sentido, o perigo secessionista é inerente ao processo metrópole pequena e pobre; de outro, a colônia, grande e cheia de·
de colonização, e com ele se defrontaram todas as metrópoles. Mas, riquezas: se a balança demográfica pendesse para o domínio ultra-'
num segundo plano, e dadas as peculiaridades de relação colônia- marino, romper-se-ia o equilíbrio, e desorganizar-se-ia o sistema.
metrópole, no caso Brasil-Portugal, o simples crescimento demográ- Do inicio para o fim do século XVIII, entretanto, acentuam-se e
fico da colônia já se apresentava como algo ameaçador: quando a des- se aprofundam as contradições, agora induzidas por mecanismos es-
coberta dos metais nobres e o início da mineração provocaram truturais que acabam por configurar a crise: os colonos começam a
um forte movimento populacional para as Minas Gerais, (Ornar consciência das oposições de interesse, a assimilar idéias revo-
atemorizam-se os dirigentes metropolitanos. Já em 1711 Antonil no- lucionárias que conduzem a atitudes não só de «inovação» mas até
tava que «a sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem abertamente de contestação (94). Era aquele «enlace tão natural»,
suas terras, e a meterem-se por caminhos tão ásperos, como são os aquele «feliz nexo», em que acreditava D. Rodrigo de Sousa Couti-
das Minas, que dificultosamente se poderá dar conta do número de nho (9'», que se ia inapelavelmente rompendo. Então, esta face in-
pessoas que atualmente lá estão» (90), avaliando-as não obstante em terna da defesa do patrimônio se apresentava na sua terceira dimen-
cerca de trinta mil almas. Mas a tendência era para crescer o movi- são, característica da fase crítica do final do Antigo Regime.
mento migratório: .cada ano vem nas frotas quantidade de portu-
gueses e estrangeiros, para passarem às minas» (9 1). Assim sendo, de Efetivamente, os mecanismos de fundo, através dos quais funcio-
uma política de incentivo ao povoamento, passou o governo portu- nava o· Antigo Sistema colonial, desencadearam pelo seu próprio de-
guês rapidamente para uma politica de restrições ao deslocamento senvolvimento, a crise do colonialismo mercantilista: como analisa~
de populações para a colônia(92). E na consulta de 1732, já acima ci- mos no capitulo anterior, ao funcionar plenamente, o sistema de co-
tada, explicitam-se claramente os motivos: «Estas mesmas riquezas,
(~3lCf. Consulta do Conselho Uluamarino ... 1732. R.I.H.C.E. t. VII, p. 506.
que naturalmente fazem aqueles homens soberbos, inquietos, mal Raynal: Portugal ... _abarcou uma extensão de terras que nenhuma nação da Euro-
sofridos e desobedientes, e este damno é inevitável. A fama d'estas pa poderia conservar sem se enfraqueceu. HiItoire .. .deI Deux Indie!, ed. 1780, I,
mesmas tiquezas convida os vassallos do reino a se passarem para o p. 147.
(94)Cf. Carlos Guilherme Mota - Atitude! de Inovação no Brasil, 1789-1801, Lis.-
(90)Cf. Cultura e Opulência do Brasil por IuaI Drogas e MinaI (1711), III parte, boa, 1970.
capo V, Ed. A. Marnuy, p. 366. (9S lCf. D. Rodrigo de Sousa Cominho - Memóna Iobre o melhoramento ... in Bra-
(91)Ibirkm. JÍlia, vol. IV, p. 406.
(92)a. Mafalda Zemella _ O abastecimento da Capitania daI Minas GeraiI no Iê-
cu/o XV/lI. São Paulo, 1951, pp. H-48.
143
142
Ionização da época mercantilista promove a acumulação originária rizada por. Paul Hazard(97) s~ difund~m, ao longo de Setecentos,
que, aliada a outras linhas de acutl]ulação, desencadeiam a passa- em duas l~nhas: uma reformista, maIS acadêmica, clara, e direta
gem para o capitalismo industrial. E este o processo básico de mu- (~on~e~quteu, Voltaire, etc.), outra propriamente revolucionária,
dança que passa a imprimir, uma vez engajado, ainda que apenas hbertana (Rousseau, Mably) (98). As linhas de divisão é evidente
em uma das metrópoles, tensões de toda ordem no conjunto do An- nem sempre são nítidas, e as duas .correntes às vezes c~nvergem n~
tigo Regime. O Antigo Sistema colonial, na realidade, como já indi- mesmo autor, se não na mesma obra (99). Igualmente, neste último
camos, era pane de um todo, que se explica nas suas correlações com período do Antigo Regime, desenrolam-se simultaneamente as Re-
esse todo: o Antigo Regime (absolutismo, sociedade estamental, ca- formas Ilustradas (o chamado «despotismo esclarecido:t) e o movi-
pitalismo comercial). Os mecanismos de base atuam no conjunto,.e men~o revolucionário (a constelação das revoluções liberais). E na
uma vez rompido o primeiro elo - a independênCia das colônias in- medIda em que o pr<:,cesso revolucionário ganha força e se aprofun-
glesas da América Setentrional - todo o arcabouço do Antigo Regi- da, sobretu~o a partI! da Revolução Francesa, vai se configurando
me entra em crise. É neste sentido que os movimentos sediciosos ou uma outra hoha de pensamento político, este já não ilustrado, - o
mesmo de emancipação das colônias participam do mesmo quadro pensamento contra-revolucionário (100).
das revoluções «atlânticas», cora0 formulou Godechot (%). Por isso, Ora, .no quadro da vida espiritual da Ilustração européia, co-
e do ângulo que estamos examinando o problema, a defesa do patri- mo multo bem indicou recentemente Y. Beoot(101), o anti-co-
mônio colonial significava, também, a sustentação do Absolutismo lania/isma configurou uma das dimensões mais acentuadamente
na metrópole. revolucionárias. Em meio às difíceis «condições históricas da batalha
das luzes» (102), isto é, frente à r.epressão do Antigo Regime, vai
pouco a i?ouco se elaborando a críuca contundente do Antigo Siste-
A tomada de consciência desse processo estrutural manifesta-se
ma colomal montado p.ela política mercantilista. A elaboração é len-
concomitantemente na filosofia crítica da Ilustração, que,na medida
ta e pe.nosa, da~as as d.ifi~uldades de expressão do pensamento críti~
em que se formula e se desenvolve, passa a se constituir em pane in- co; asSim, o anu-colomaltsmo se expressa muitas vezes de forma am-
tegrante e atuante do próprio processo de mudança. N; «luzes» da
razão e da crítica, a panir da «cri~e de consciência», tão bem caracte-
(97lCf. Paul Hazard -Lo Cme de la Conscienc6 EuroPéennc, Paris, 193~.
(9~Para um~ visão gera! da Ilustração européia, Cr.· F. Valjavec -Huforia"de la IJUJ-
(%)Cf.J. GOdechot -Les Révo/utions. Paris, 1963. L 'EuropeetI'Amén"queJl'épo- muron c~, DCCldcn,IC, trad. esp. Madrid, 1%4. J.M. Goulemot e M. LIunay _Le 5ilde
que napoléonienne, Paris, 1967. A partir do enfoque esboçado no texto, parecem- des Lumreres, ParIS, ~ 1968. L. Getshoy - From f?espotism.to Revolution (1763-1789),
nos mal equacionadas as discussões em torno do caráter, revolucionário ou não, da ?
N. Y?rk. 1944. L. ~chez Agem - Pensamtenlo PoI'tltco de/ Despotismo I/ustrado
independência dos Estados Unidos(a.J. Godechot - Les Révo/utions, pp. 98 segs.). Madnd, 1953. E. Areila Farias -FJ Stgio Ilustrado cn América, Caracas. i9~~.
O debate se tem voltado para indagações a respeito do caráter mais ou menos «social. ('J9)Sobre reformismo e ruptura revolucionária no pensamento das Luzes, d. E.
do movimento, sobre a ocorrência de transferência de propriedade, etc., ou se a ma- Hobsbawm - The Age otRevo/ution, Londres, 1964, pp. 234-252. Roland Desné Os
nutenção do escravl5mo nào anula o caráter revolucionário da emancipação. Estas matcritJis.t~s ft:mceses de 1750 a 1800, trad. pon., Lisboa, 1969, pp. 9- ~7. R. Kosel-
questões nào são evidentemente irrelevantes, pelo contrário, são decisivas para se leck - Cnttca tlluminisla e cmi de/a sOCtelJ borghese, trad. ital. Bolonha, 1972, pp.
compreender o desenvolvimento norte-americano depois da independência. Encara- 171 segs., Alben Soboul - .Classes populaires et rousseaunisme» e «]ean-Jacques
do porém o Antigo Regime como um todo interdependente, e o sistema colonial co- Rousseau et le jacobinisme,., in Paysans, Sans-culottes el jacobins, Paris, 1966, pp.
mo parte inserida e interdependente desse todo - o caráter revolucionário do movi- 203-222, 256-279. Soboul acentua as metamofoses das teorias, ao impacto da luta
memo de independência se manifesta porque, ao envolver a ruptura de uma peça do pol1tica.
sistema mais amplo, compromete o conjunto. Em suma: a independência dos (100)Cf. J. Godechot - Lo Contre-Répo/ution, doctn'ne el action (1789-1804), Paris,
EE.UU. foi revolucionária na medida mesma em que significou a primeira ruptura 1961.
nos quadros estruturais do Antigo Regime. Cf. também W. Nelson - «Ihe revolutio- . (101)Cf. Yves Benot - Diderot, de I'alhéismeàl'anticolonialisme, Paris, 1970, pas-
nary character of American revolution_, Am.Hisl.Rev., vol. LXX, 1965, pp. 998- sim.
1015.·The Amen"can Revo/ution: two çentunes ofinterpretation, olg. E. Morgan,
(102Jcf. Y. Benot - Dp. cit., pp. 51-66. É um dos mais sugestivos trechos do livro,
N. York, 1965.
este em que o au.tor estuda as condições político-sociais por onde se exprimia o pen-
samento revolUCIonário, definindo o caráter militante da filosofia iluminista.
144
14)
bígua e contraditória. Na Encyclopédie (103), por exemplo, o verbete
sobre «colônias. é ainda tipicamente mercantilista: «tendo se estabe- entre reforma e revolução (109).
lecido para a utilidade da metrópole, segue-se que, 10 devem estar No conjunto, porém, o movimento ilustrado promoveu uma críti-
~b sua deper:dê,ncia imediata e ~r conseqüência sob sua proteção; ca contundente do colonialismo mercantilista (110). A começar pela
2 que o comerCiO deve ser excluSIVO dos fundadores •. E mais:c uma condenação dos abusos: Voltaire, Montesquieu, Marmomel põem
colônia preenche melhor seu objetivo à medida em que faz au- novamente em pauta as descrições das violências contra os indígenas.
me~ltar o produto das terras da metrópole, que faz subsistir um «Tendo os povos da Europa exterminado os da América, tiveram que
maIOr número de seus homens, e contribui ao ganho de comércio escravizar os da África, a fim de utizá-Ios no desbravamento de tan-
com as outras nações•. Para isso, «os produtos da colônia não devem tas terras», diz Montesquieu (111), que entretanto se mostra extrema-
jamai~ ser de natureza a entrar em concorrência com os da metrópo- mente preconceituoso em relação aos negros. Se de um lado, procura
le•. FIOa1men~e, o comércio que a colônia fizer com estrangeiros será empiricamente, explicar a existência da escravidão, em princípio,
«um roubo feno à metrópole. (104), Dificilmente a onodoxia mer- entretanto, a condena: «A escravidão, por sua natureza, não é boa;
cantilista encontraria melhor defensor. Porém, o verbete sobre «es- não é útil nem ao senhor nem ao escravo; a este porque nada pode
cravidão» (105) configura uma autêntica denúncia do escravismo: fazer de forma virtuosa; àquele, porque contrai com seus escravos toda
«vamos provar que ela (a escravidão) fere a liberdade do homem a sorte de maus hábitos». Enfim, «cumpre que as leis civis procurem de-
que é contrária ao direito natural e civil, que choca as melhores for: la extirpar, de um lado, os abusos, e de outro, os perigo~(1l2). Na In-
mas de governo, e enBm é inútil». Ora, sendo o escravismo uma das glaterra, Burke ataca os defeitos da administração colonial.
peças e.ss~J?ciais do sistem~ colonial, a sua condenação significava a Tais críticas ficavam ainda num plano reformista. Mas alguns pu-
unposslbtlldade do funCIonamento da exploração das colônias. blieistas logo o ultrapassam, e, como nota Mareei Mede (113), atin-
N~ verbete «negros»(l06), o enciclopedista precisou tomar mais gem o próprio princípio da colonização. Mably insiste sobre o perigo
cUld~do: «tenta-s~ justificar (<<on tache de Justifie!'»-) o que este co- das conquistas para o conquistador. E Rousseau as explica como um
méwo tem de odiOSO e de contrário ao direito natural ... », e seguem meio de aumentar no interior do estado expansionista o poder dos
os argumentos conhecidos. «Monopólio» (I07) é o «tráfico ilícito e chefes (1l4). Raynal finalmente discutirá o direito de colonizar. Por
odioso que faz o que se torna único dono de um tipo de mercadoria
para s:r o único vendedor... », que era a situação dos mercadores me:
t~o~h~anos nas colônias. Assi~, por entre hesitações e às vezes por (109 lCf . F. A• V.a. • .
r..a.L .. er - «Les EncydopedlStes et la Terreuh. Refi. d·Hist. Mod. et.
via IOdtreta, o pensamento crítico e revolucionário se ia expressando
(108) . O s propnos
" Cont .. vol. XIV, 1967, pp. 284-295. Sôbre a posição de Raynal no curso da Revolu_
pensadores e escntores
'. tiveram enfim que optar ção, Cf. G. Esquer - «Introdução a L 'Anticolianisme ali XVIII !icc!e. L 'HiJtoire phi-
IOJophique el Po!itique .... Imrodu~ão, escolha de textos e notas de G. Esquer, Paris,
(103)E ',h- J '
. neye OyeUle, 011
D"lelfonnatre
. TIlusoné
. .
des Sctenees, des Arts el des Métiers ... 19~1, pp. 7-9. Sôbre Nalgeon, Gflffim, Meisrer, vide Benot, op. cit., pp. 261 segs.
ParlS,1751-1772. VeJam.-se também os estudos de J. Hyppolite - «La signification de la Revolution
(W4)En do -di
. ey pe e ... t.. 111 ,pp. 648-651. O verbete parece inspirado em Montes- frança.rse dans la 'Phenomenologie' de Hegel., Eflldes sur .Matl:" el Hege/' Paris,
qUleu - Espínto das Leis, Livro XXI. capo 21. 19."5, pp. 45-81, e de L. Goldmann. «Goerhe er la Revolutionfranç,üse., Recherches
( 105 lEneyc!opédie, tomo V, pp. 934-943. D1iueetlqlles, Paris, 1959, pp. 211-228.
(106)Encyc!opédie, tomo XI, pp. 79-83. (llOla. Mareei Merle· L'Antieolonialisme européen de !..as CaJas ii Matx, Paris,
(107)Encyelopédie, tomo X, p. 668. 1,969, pp. 11-22. Michel Deveze - L 'Europe et le monde ii la /in dll XVIII JÍcc!e. Pa-
(108)N d' - d b .
• . as con ~çoes o «c?m ate das Luzes:>, os enCiclopedistas se viam na contin- flS, 1970, pp. 595 segs.
genCla de combmar audáCia com precaução; às vezes, as proposições mais audaciosas (::~lErPín'IO das Leis, li~ro XV, capo 5. Trad. port. S. Paulo, 1962, p. 270.
aparece~ nos ~erbetes menos esperados. Sôbre as dificuldades, as lutas, e a «tática. ( lIdem, p. 267. MaIS contundente o protesto de Voltaire. Cf. Textos em R
d~s ~nclc~pedistas, veja-se A. Soboul - «L 'Encyclopédie et le mouvement encyclo- Pomeau - Politique de Vollaire, Paris, 1963, pp. 214 segs. .
pedISte:>: m Textes ehoms de I'Eneyc!oPédie, introdução e notas por A. Soboul, 2' (1I3)Cf. M. Mede - Dp. cit., pp. 14.16.
ed., PariS, 1962, pp. 7-24. (114Yrrechos de Mably e Rousseau, in Anticolonialisme ellropéen ... Textos escolhi.
dos e apresentados por M. Mede. Paris, 1969, pp. 106-112.
146
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outro lado, os economistas (os «fisiocratas» na França, os «clássicos» mefCIantes da metrópole e das colônias, e diminui o das colônias e
na Inglaterra) procuram demonstrar a inutilidade das colônias: além da sua metrópole»( 119).
de despovoarem a mãe-pátria, só enriquecem uma pequena camada Esta era, aliás, a linha de argumentação retomada por A. Smith:
de beneficiários privilegiados. Já Cantillon pusera reparos, em certos no livro IV da Riqueza das Nações (1776) o problema é longamente
casos, ao comércio colonial, cuja permanente vantagem lhe parecia ilu- analisado, demonstrando-se que o regime de exclusivo disrorce a
sória( 11». Para os fisiocratas e A. Smith porém o monopólio leva sem- melhor alocação dos fatores produtivos seja na colônia, seja na me-
pre a uma má alocação dos filtOreS e pois trava o crescimento da riqueza, trópole; compromete-se destarte a função do comércio que seria exa-
que o comércio livre promove. Raynal recolhe esses argumentos. tamente a de promover aquele melhor aproveitamento e pois desen-
Quesnay só mcidentalmente tratou de assuntOS coloniais; mas lan- volver a riqueza geral, ao mesmo tempo em que se critica a doutrina
ça dúvidas sobre as vantagens da colonização: «Pergunta-se se as co- da balança favorável como falaciosa (120). Na realidade, no sistema
lônias não despovoam o reino que as promove; seria antes de per- colonial, mostra Smith, os interesses particulares dos mercadores se
guntar se elas não diminuem a riqueza dele pelas despesas e guerras sobrepunham aos interesses gerais da nação(l21), o que evidente-
que provocam» (116). Noutro passo, comentando Montesquieu, nega mente era de se condenar.
as vantagens do pacto, pois ele engendra lucros abusivos que se con- A análise dos economistas-fisiocratas, clássicos - ficava quase
centram apenas nas mãos dos intermediários: «Poder-se-ia objetar a sempre num plano teórico e formal, apesar das digressões históricas
Montesquieu que, supondo-se que a extensão do comércio foi o úni- que alongam suas páginas, sobretudo no criador da ~co~omia cl~~si­
co objetivo do estabelecimenw das colônias, este seria um péssimo ca. Duas observações se impõem naturalmente: pnmeuo, a cnuca
meio de atingir este fim - dar o privilégio exclusivo do comércio das que enfatiza que o exclusivo favorecia apena.:' ~~a parcela da popl!la-
colônias a um mrpo qualquer de mercadores de um país, ainda que ção metropolitana e. não o. todo, quando dlflg1?a c~n:r~ os teoncos
aos nacionais. Resulta desse privilégio exclusivo que as colônias se- do «sistema mercano!», deIXa de lado a perspectiva hlstonca. Embora
riam menos bem e mais caramente abastecidas das coisas de que ne- não muito explicitamente, não só o sistema colonial mas toda a polí-
cessitam e que venderiam menos vantajosamente as produções de tica mercantilista visava no fundo promover a acumulação de capital
seu território»(1l7).Sem contar o trecho do Tableau économiqutf,.118) pela camada empresária da época, isto é, a burguesia mercantil; não
em que afirma: «o pecúlio destes comerciantes circula também entre se trata pois de erro dos mercantilistas, pois os fins - sob a roupa-
a metrópole e suas colônias, ordinariamente sem acrescer as riquezas gem do poder da nação em face das outras - eram estes mesmos.
duma ou das outras; algumas vezes mesmo diminuindo-as muito, Apenas Smith num passo parece ter pressentido o fenômeno: «a
sobretudo quando é excluída a concorrência dos outros comerciantes maior parte dos regulamentos sobre o comércio colonial, deve-se ob-
dos outros países. Neste caso, o monopólio acresce o pecúlio dos co- servar, foi a aconselhada pelos mercadores que faziam este comércio.
Não é para admirar, pois, se, na maior parte deles, seus interesses te-
(115)a. R. Cantillon - Ensayo sobre la natur4feza deI comercio en general (1755), çôes, cf. H. Higgs - Los FisiocrataJ, trad. esp., México, 1944, pp. 55-57, e Quesnay 'I
Trad. esp., México, 1950, pp. 149 segs. Os reparos dizem respeito, especificamente, Tableau üOl1omique, ed. por R. Meek e Marguerite KuczynsJ:.i, Londres, 1972.
ao comércio oriental. (119)Cf. F. Quesnay - Quadro econômico, análise daI variaçôes do rendimento de
(11(,) < (117)Cf. Textos de Quesnay (de 17)8 a 1766, respectivamente) in M. Mede _ uma nl1fão, trad. port., Tnu. de B. Murteira, Lisbo~, 1969, p. 265. Tabl<!au é.cono-
Dp. Clt., pp. 137-142. Contudo, os princípios fundamentais da Fisiocracia levavam mlque deI !Jhyúoaates, mtl. de M. Lutfalla, Pam, 1969, p. 247. MaIS adl~nte,
implkita a uítica do sIstema culumal: refuta~ãü da teona da balança, preconizaçàu Quesnay faz notar que «estas observações são, é verdade, pouco conformes à opLnlão
do comércio inteiramente livre. Cf. Ch. Gide e Ch. Rist - Histoire des doe/fines éco· do vulgo sobre o volume total de moeda de uma nação .• Cf. Trad. pon. p. 267. Ed.
nomiqueI. 7' ed. Paris, 1959, pp. 29 segs. Daí a oposição que os mercadores ligados francesa, p. 248.
aos monopólios fizeram à Escola Cf. G. Weu!erssc _Le Mouvemel1t Ph)'slOaatique, (120)«121)0. Adam Smith - Wealth ofNationJ (1776). Livro IV, Ed. Cannan, pp.
Pans, 1~)J0. t. lI, pp. 415 segs. 397segs., especialmente pp. 416, 557-559, 565-575. Para uma análise mais detalha-
(118)Esta passagem é de 1766, pOIS está na nota 10 da «Analyse de la formule arith- da, O. Donald Winch - Classical Politzca/ Economy and C%mú, Londres, 1965,
métique du Tableau économlque.; sobre as várias partes do Tableau, e suas publica- pp. 6-24.
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nham sido mais considerados do que os das colônias ou os da mãe- Limousin era bom profeta; estas palavras se escreveram em 1770.
pátrla»( 122). Note-se que Smlth não tem a visão da colonização se Convergiam, portanto, como muito bem notou Mareei Merle( 127 l,
engendrado como um processo, mas como algo aconselhado pelos na segunda metade do século XVIII L os argumentos «idealistas» e os
mercadores; em suma, embora tenha apontado com argút:ia o jogo argumentos «utilitários» para configurar o anticolonialismo das Lu-
de interesses, não podia chegar a ver a política colonial do mercantI- zes. Na Academia de Madrid, por exemplo, Antillon sustentava,
lismo e as próprias teorias mercantiilstas como expressão, ainda que numa «memória», que a libertação dos escravos na América não afe-
indireta, da perspectiva de uma classe social em ascensão. Da mesma taria a prosperidade das colônias(l 28l. É em Raynal que se conden-
forma que não podia perceber - {' aqui tocamos em nossa segunda sam e cristalizam todas essas linhas do pensamento ilustrado sobre o
observação - que a nova teorização, de que de próprio era a expres- sistema colonial. Já nos referimos à importância, vicissitudes e enor-
são mais avançada, wrrespondia a um novo estágio do desenvolvi- me difusão de sua famosa obra(J29l. Como tantas outras grandes
memo capitalista, em pleno curso, a revolução industrial. Sintetica- obras do encidopedismo, a famosa Histoire des Deux Indes foi na
mente, da mesma forma que ao capitalismo comercial eram indis- realidade obra coletiva: Valadier, Deleyre, Pechméja, Sr. Lambert e
pensáveis as formas compulsórias de acumulação originária, estas Diderot nela amplamente colaboraram. Para maior complicação, o
mesmas formas iam-se tornando obsoletas com a emergência do ca- trabalho foi remanejado de edição para edição, de modo que o pro-
pitalismo pleno (123)_ blema de fixar a autoria de cada passo é quase insolúvel(l30). De im-
De qualquer forma, a análise fisiocrática ou clássica envolvia uma portância decisiva parece ter sido a contribuição de Diderot, que ra-
crícica contundente do antigo sistema colonial. E note-se que os eco- dicalizou as posições anticolonialistas de RaynaJ{ 131 l. Assim, não se
nomistas, de um modo geral, constituiam um setor assaz moderado pode estranhar que 0_ resultado se apresente ambíguo e até certo
do movimento da Ilustração. Fisiocrata muito hetetodoxo, Turgot, ponto contraditório. E que «as contrandições dos filósofos», como
além de condenar a escravidão nas Réflexions sur la formatwn el la agudamente notou Michêle Duchet, «eram em última análise as do
distn"bution des nchesses (124), avança afirmações audaciosas sobre o próprio sistema colonial»(i32). Y. Benot, contudo, que estudou a
futuro das colônias: elas «são como os frutos que pertencem à árvore fundo, investigando mesmo manuscritos originais do grande enci-
até que tenham recebido uma alimentação suficiente; depois se se- clopedista só recentemente revelados, delimita três linh?-S de pensa-
param» (125)_ E noutro passo: «Vejo com alegria, como cidadão do mento que percorrem todo o corpo da Histoire philosophique et poli-
mundo, aproximar-se um evento (refere-se à revolução americana) tique, ou para usar suas palavras, três «vozes»(133l: uma primeira, na
que, mais que todos os livros dos filósofos, dIssipará o fantasma do base, historia as conquistas e a colonização, fazendo reparos e pro-
ciume do comércio» (126). Não resta dúvida de que o intendente do
(127)Cf. M. MerIe - L 'AnticoloniaJirme européen de Los Casas ii Mi11X, pp_ 11-22_
(!22)A. Smith, ed. Cann:m, p. 550. (128l(:f.). Sarrailh _L 'Erpagne éc/airée de la ieconde moitié du XVIII siccle, Paris,
(121)Cf. E. Roll - Húlory ofEcono7lJlI: Thouxht. Londres, 1956. pp. 61.(,8.138- 1954, p_ 508.
142 Bernard Semmel - The Rue ofFree Trade lmpenal/Jm. Cambridge. 1970, pp. (U9)Sobre Raynal na Espanha, cf.). Sarrai1h - L '&pagne éelairé ... p. 108.
27- 30, que retoma e desenvolve as formulações de). Gallagher e R. Robinson _« The (13O)Cf. H. Wolpe _ Raynm et ia machine de gue"e, Stanford, 195.1. G. Esq~er
imperialism offree trade». Econ.Hist.Rev., 2" série, volll, 1953, pp. 1-15. -L 'AnlÚoloniaJisme au XVIII s/ceie, Paris, 1951. Miçhele Duchet anahsa a <fabnca-
(1:4)Cf. Turgot - Réflexions iurlaformatton et la dútnbullOn des nçheHeJ (1766), ção. do livro e seu significado. Anthropologie ef Ristoire, pp_ 170-177, 411-413,
in Ecnts économiquesde Turgot, prefácio de B. Cales, Paris. 1970. pp. 121-188; ã 478.
pág. 135 referência ao «abominável costume de escravidão» e ao ~bringandage» do (13 1)Cf. Y. Benot _ Dtderot, de I'athéúme à l'anticoloniaJisme, Paris, 1970. M_
tráfico que creina ainda com todo seu horror nas costas da Guiné». Transcreve-se Deveze refere a anedota do diálogo Diderot-Raynal. Oiderot: c:)e dis, mais, mon
tamb~m a versão dada por Ou Pom de Namours na primeira edição da obra, nas ta- ami, qui sera a5sel osé pour publieret pour avouer cela? Raynal: <Moi, moi ...• Cf.
mosas.EphémendeJ, onde o editor alterou e aumentou o trecho, açentuando o anti- L 'Europe et le monde ii la fin du XVIII siiele, p. 596_ .•Reler Ray~al p~a encontrar
eSftavIsmo. Sobre a poSIção de Turgot em face dos fisiouatas. Cf. G. Weulersse . Le Dideroh. aconselha Benot (ap. cit., p_ 163), que localizou a conmbUlçao do grande
mouvement physiocrafique en France, t. I, pp. 138 segs. enciclopedista na Ristoire dei Deux Indes.
. e (l26)Ap u
(12)) dH . D esç h amps - M'h ~ ef Docfnnes. / / de la France.
ef oues CmOnlaleS (I32)M. Duchet _ Anthropologie et Hirtoire au Siéele des Iumiirei, p. 135.
ParIS. 1953, p. 81. (lBlCf. Y. Benot - ap. cit., pp. 180-181.

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pondo mdhnras, inclusive propugnando uma melhor redistribuição go e a água, o pão e o sal, ter-se-ão preenchido as obrigações para co-
em fav<:;. ~a Fra~ça; comporta descrições geográficas e considerações migo. Se eu exijo mais, torno-me ladrão e assassino»(1.37). Se há es-
sobre a pSICologIa dos povos; propõe reformas na administração das paço, isto é, se a região é parcialmente desabitada, é legítimo tomar
colônias. Um segundo estrato introduz reflexões filosóficas e mani- posse - mas pelo trabalho apenas. O colonizador só pode estender
festa a .corrente humanüária a respeito dos «selvagens». Finalmente, seu domínio até os confins do domínio já pré-existente. Do contrá-
a terceua «voz» apresenta discursos inflamados que envolvem enfim rio, os autóctoneS têm o direito, pelas leis da humanidade e da justi-
a conden~ção do sistema, atingindo em certos passos apelos à revolta ça, de expulsar e mesmo exterminar o invasor. Com tais princípios,
dos colonizados. Grono modo, corresponderiam ao quadro geral de vê-se· bem, quando muito a colonização de povoamenco encomraria
Raynal, à contribuição de Pechmé;a e à participação de Diderot. Re- justificativa ...
~etindo pois as hesitações e as ambigüidades do próprio movimento Era entretanto evidente que a colonização se processara por outras
II~strado, a obra de Raynal expressa ao mesmo tempo crítica, refor- vias, muito distantes desses «princípios», cuja formulação marcava, isto
mIsmo e ação revolucionária. sim, menos que um ptograma, a tomada de consciência da crise do sis-
Já desde as primeiras páginas, problematiza-se o fenômeno colo- tema. O problema fundamental seria em que medida uma política re-
nização. Depois de insistir sobre a importância e as repercussões da formista ilustrada, poderia trazer o carro da história para os trilhos da
expansão européia(34 ), Raynal se pergunta: «Mas as revoluções que Razão. De fato, contornando o problema, Raynal se pergunta se acolo-
se passaram e as que se seguirão, foram, serão úteis à narureza hu- nização se tivesse promovido efetivamente por homens civilizados e vir-
~ana? O homem lhes ficará um dia credor de tranquilidade, de feli- ruosos - se o resultado teria sido diverso(138). E se põe a meditar sobre
cIdade e de prazer?»( 1.35). A colonizaçao estava pois posta em julga- este «fenômeno tão estranho»: a «metamorfose do europeu expatria-
mento. ~um outro Atr~cho{136), admitindo que «a razão e a eqüida- do»( 130 ). Longe dos freios das leis e da civilidade, parece-lhe (fica a su-
d:» perf!1Item as co.l~ntas, acrescenta Raynal, «os princípios dos quais gestão numa interrogativa) que emergiam furiosamente a ambição e a
na~ devI.a ser permitIdo afastar-se na sua fundação». O estudo desses vlolên~ia; o qUe de resto parece contrariar as idéias rousseaunianas so-
«pnncíplOs», nesta parte do livro, foi introduzido na edição de Ge- bre a bondade natural.
nebra, 1780: «Um ~úmero de hom.ens, qualquer que seja, aparta Mas enfim, para além desses quase devaneios sobre o que poderia
numa terra estrangeIra e desconheCIda, deve ser considerado como ter sido, havia a realidade tangível das colônias, tal como se apresen-
um só homem. A força cresce com a multidão, mas o direito perma- tavam. «Estimamos muito a produção das colônias?», pergunta·se o
nece o mesmo. Se ~em ou duzentos homens podem dizer 'este país enCIclopedista. Parece-lhe isso fora de dúvida. «Por que então temos
nos p~rtence> I;lm só homem o pode dizer». Trata-se pois de uma tão pouco interesse na sua (das colônias) prosperidade e na conserva-
questao de duelto e não de força. Ora: «ou o país é deserto, ou em ção dos colonos?».o descasados interesses dos colonos se aproxima ao
parte dese~~ em parte habitado, ou totalmente povoado». «Se é po- cabo com «nossa conduta com os camponeses» (140), curiosa aproxi-
voado, legitImamente só Se pode pretender a hospitalidade e os so- mação. E mais: como era possível que «esta inconsequência dos po-
corros que o homem deve ao homem. Se me deixam morrer de fome vos fosse também o vício dos governos?» Aqui hesita o autor, e en-
ou ~rio à margem: usarei minha arma e pela força tomarei o que ne- fim se resolve (j..! I): há mais de competição (<<;alousie») que verdadei-
cessltar, e matareI quem se opuser. Mas quando se me der asilo, o fo- ro interesse em torno das colônias; sentiriam menos que o mar as
inundasse que se caissem sob o domínio de uma potência rival. Daí
(134)(:f. Raynal- Hisloire phllOJophique et polztique deI établirumentI et du com.
(l37lRaynal _ His/oire deI Deux IndeI, t. 11, pp. 250segs.
merce deI EuroPéem dom leI Deux IndeI, ed. 1780, L I, pp. 1-2: ... Começou então (t 38) ~
()3'»)Raynal _ap. cit., t. m, p. 1. Noutro trecho: ... Ultrapassado o Equador, o
uma revolução no com~n:io, no poderio das nações, nos costumes, Tla indústria e no homem nào é nem inglês, nem holandês, nem francês, nem espanhol, nem portU-
govçmo de todos os povos. Tudo mudou e ainda deve mudafi.
guês. 56 conserva de sua pátria os princípios e os preconceitos que autorizam ou des-
(InlRaynal - Hirtoire deI Deux IndeI, ed. 1780, t. L p. 2.
(l36JRaynal - Dp. cit., t. lI, p. 249. culpam sua conduta». Cf. t. 11, p. 357.
(l40)~(l41)Raynal, t. m, p. 437.

152 153
não admirar que «os governos, fundadores de colônias, tivessem Arrancai-as ... » Não importa que o trecho apareça no capítulo que
querido que os súditos que para lá se transportassem não consumis- discute os privilégIos da companhia inglesa na Índia; a sua formula-
sem senão as mercadorias fornecidas pela metrópole, nem pudessem ção podia perfeitamente ser transposta pelo leitor, que há muitas b-
vender as produções de suas terras senão à metrópole». Depois de turas de um mesmo texto. Nem mesmo importa que, como que ate-
discutir, problematizar a colonização em geral, era portanto agora o morizado pela violênt'Ía do apelo às armas, o autor (Diderot, no ca-
próprio nervo do sistema - o exclusivo metropolitano do comércio so) modere em seguida o tom: «Mas os cidadãos hone~tos, se ai~da
colonial - que começava a ser posto em xeque. Tal sistema parecera resta algum, enfim se levantado. Ver-se-á que o espínco de mono-
desde o início «natural», mas pergunta, «no estado geral das coisas, é pólio é pequeno e cruel. .. » (145), A alternativa daquele «se» ficava
praticável?» (142). Novas hesitações para cada caso em especial, mas bailando no ar..
sempre qwe se alça a considerações gerais, vem a condenação: «Que é Se o exclusivo metropolitano do comércio colonial recebia esse (ta-
pois o monopólio? É o privilégioo exclusivo de um cidadão sobre to- ramenCO nas páginas de Raynal, bem se pode esperar que a condena-
dos os outros de comprar e vender. A essa definição todo homem ção da escravidão africana e do tráfico negreiro sejaaindamaiscontun-.
sensato para e diz: Entre cidadãos Iguais, todos servindo à sociedade, dente(l46). E de fato, um a um, vão sendo refutados os argumentos
contribuindo a seus encargos na proporção de seus meios, como po- correntes para justificar o escravismo. Dizer, por exe~plo, qo~aescra­
de um ter direito do qual o outro fique legitimamente privado? Que vidão é fenômt'no de todos os tempos e lugares, não Impressiona ab-
é pois essa coisa tão sagrada pela sua natureza, que um homem, solutamente Raynal: «É ao uso do tempo ou à consciência que se de-
qualquer que seja, não possa adquirir, se lhe falta, ou se desfazer, se ve apelar? Deve-se escutar o interesse, a cegueira, a barbárie, ou a
lhe pertence?» (W,). Ê de se ver o impacto que tais reflexões deviam Razão e a justiça? Se a universalidade de uma prátICa provasse sua
causar entre os colonos na quadra de crise, depois do exemplo das inocência, estaria acabada a apologia das usurpações, conquistas,
ex-colônias inglesas. Não eram «coisas», e sim um sisteQla - o an- opressões de toda sorte». Se se argumentàSSe que a escravidão mo-
tigo sistema wlonial - , e sua sacralidade não podia provir de ne- derna diferia da antiga, pois ao concráflO dos antigos que sç criam se-
nhuma natureza, mas da história. Mas, na história, já dissera RaynaJ nhores da vida dos escravos, agora só se assenhoram de sua liberdade
noutro passo, «tout a changé et doit changer encore» ... _ Raynal não se deixava embair por tão grotescas racionalizações:
Em determinados trechos um realismo mais pedestre permeia o «esta lei teve alguma força? A América não está povoada por cvlonos
texto de Raynal. Como quando, depois de fixar máxImas «verdadei- atrozes que, usurpando insolentemente os direitos soberano.', fazem
ras, sólidas, úteis» - a liberdade do comércio, que, na linha da nova expiar a ferro e fogo as infortunadas vítimas de sua avareza?». E,
economia polítIca, promoveria a prosperidade geral - observa que quando não fosse, esse argumento de fato: «Que é a existência para
«todos os governos trabalham para não depender da indústria es- aquele que não tem propriedade dela?» Para os que, ~ais despudo-
trangeira». Daí: «quanto mais perderem nos mercados externos, tan- rados, ainda acreditavam que os negros «são uma espéue de homens
to menos quererão consentir na concorrência dos que lhes restam» nascidos para a escravidão», pois são «limitados, patifes, maus», :- a
(144). Logo, manteriam as colônias fechadas. Equacionava-se o wn- resposta vinha a talhe: «Os negros são limitados porque a escraVidão
flito inevitável. No limúe, em determinados momentos, ergue-se a
«terceira voz», e a fala ganha contornos revolucionários: «Não, não; é (l4~)Raynal, L I, p. '')8_
preciso que a justiça se faça, cedo ou tarde. Se acontecesse doutra (14(».Como a maior parte dos ph:lowpheJ de sua época, Ray.n~1 pensava que a _e~­
forma,eu me dltigiria à população. Dir-lhe-ia: Povos, cujos rugidos cravidão era contrária à natureza, e portanto universalmente mJusta~. DaVid Bnon
fizeram tremer tantas vezes os senhores, que esperais? Para que mo- Davis _ The prob/em ofSlavery in Western Cu/ture, Ithaca, New York 1970, p 14.
E, noutrO passo: .Para muitos europeus, tão diferentes entre SI como John Wesl:y e o
mento reservais as tochas, e as pedras que pavimentam as ruas? abade Raynal, o africano era uma crianÇ!. Inocente da natureza, cuJ~ csc_rav.,dao na
114!!Raynal, L m, p. 485. América traía a verdadeira imagem do Novo M'lInrtO como ~ t"fr~_ da lfiocefiCla nalu-
i I41JRaynal, L I, pp. 690 segs. ral e nova esperança para a Humanidade~. DaVId Brion Davls - The problem o) S/a·
il44 JRaynal, L m, p. 604. very in lhe Age ofRevo/u/ion, Ithaca, New York, 197), p 48.

154 155
destrói todas as energias da alma. São malvados, mas não o bastante crítica a própria instituição, cuja origem e desenvolvimento se expli-
com os senhores (<<Ils som méchams, pas assez avec vaus»). São ve- ca pela ambição (149), tornavam-se quase pálidos os outros passos em
lhacos, porque aos tiranos não se deve a verdade». Se se pretendesse que Raynal apresentava os meios de amenizar a condição dos cativos
que eram os g.overnos que vendiam os "~.cravos, o publicista indaga- (150), ou preconizava a supressão paulatina do escravismo (151).
va «de onde vem ao estado esse dueüo?· Se se afirmasse que eram os Aliás, as medidas reformistas se apresentavam explicitamente como
próprios escravos que se vendiam, RaynaJ contra-aftrmava peremp- alternativa em face da dificuldade da extinção pura e simples (152),
toriamente que «o homem não t-em (" direito de se vender». Para os pois, «na verdade, o direito de escravizar é o de cometer toda sone
que pretendiam que os escravos rinham sido aprisionados em guer- de crimes» (153). E mais uma vez, no limite, é o apelo revolucionário
ra, Raynal lhes lançava à face as perguntas: «sem vós haveria tais que se ergue, contundente: «Europa, escutai-me ainda. Vossos es-
combates? As dissenções desses povos não são obra vossa?» Se se pre- cravos não têm necessidade nem de vossa generosidade, nem de vos-
tendesse que os negros escravizados eram criminosos dignos de puni- sos conselhos, para romper o jugo sacrílego que os oprime. A natu-
ção: «Sois os carrascos dos povos da África? Quem os julgou? Ignorais reza fala mais alto que a filosofia e o interesse. Já foram estabelecidas
que num Estado despóüef) S0 há um culpado, o déspota?» Para os duas colônias de negros fugitivos ... Estes clarões anunciam o raio pa-
que sustentavam que os negros eram mais. feliz~s na América q~e na ra os conduzir à vingança e à carnificina•. Dirigindo~se aos escravos:
Afeita: «Por que então· esses escravos susplfam Incessantemente pela «Onde está este grande homem que a natureza deve a esses filhos ve-
sua pátria? Por que sempre que podem retomam sua liberdade? Por xados, oprimidos, atormentados? Não duvidemos que ele aparecerá,
que preferem o deserto e o convívio com os animais ferozes a um es- mostrar-se-á, levantará o estandane sagrado da liberdade» (1'54). Era
tado que vos parece tão doce? Por que suas mulheres provocam tan- Toussaint-Louverture que desponrava nas páginas de Raynal-
tas vezes o abono, para que seus filhos não partilhem seu triste des- Diderot ... (155)
rino?» Enfim, último argumento, a famosa justificação: a escravidão Dominação política da metrópole, exclusivo comercial, escravismo
era o único meio de cristianizar os africanos. Aqui, a tesposta era um e tráfico, todos os pilares do Antigo Sistema colonial da época mer~
brado de indignação: «Bondoso Jesus, se tivésseis previsto que se fa- cantilista: era a própria colonização européia que se punha em xe-
ria vossas doces máximas servir à justificação de tantos horrores! Se a
religião cristã autorizasse assim a avareza dos impérios, era preciso cravatura africana em Portugal; os negros escravos que fossem para a metrópole fica-
proscrever para sempre os dogmas sanguinários dela». O que levava a riam livres - eSe animavam aqueles a persuadir.se a que também se entendia com
um apelo ao c1eto: «Que ela (a religião cristã) volte ao nada, ou que eles a mesma Real Graça, de sorte que entre si tratavam este errado pensamento com
tal eficicia que faziam extrair grande número de cópias do Exemplar desta Ley •. In-
em face do universo desaurarize as atrocidades que se fazem em seu dica fmalmente o governador que mandara proceder a algumas prisões. A. H. U. (lis-
nome (<<dom elle a la charge»). Que seus ministros não temam mos- boa), Pernambuco, caixa 59 (Este documento foi-nos comunicado pelo Prof.José Ri-
trar demasiado entusiasmo em tal assunto. Quanto mais sua alma se beiro Junior). Sobre a legislação portuguesa suprimindo a escravidão U. Francisco
inflamar, melhor servirão à sua causa. Manter-se calmo seria crime, o C. Falcon e Fernando A. Novais - eA extinção da escravatura africana em Ponugai no
transporte será sabedoria» (147). quadro da política econômica pombalinn. Comunicação ao VI Simpósio Nacional
dos Professores Universitários de História. AnaiJ, São Paulo, 19B. vol.l, pp. 406-
-Do ponto de vista do impacto político, pode imaginar-se a força 4}1.
desse texto. Nem é de se descartar que, nos seus desdobramentos, (149lU. Raynal, ed. 1780, t. IlI, p. 193.
atingisse os próprios escravos (148). Sob esse aspecto, atingindo na (l~O)Raynal, t. m, pp. 181 segs.
(lHlRaynal, t. m, p. 202.
1l 47)Raynal. ed. 1780, t. III, pp. 91-204, especialmente .195-201.. . (1 52 lRaynal, t. m, p. 186.
(148)Cf. G. Manin _ Hirtoire de I'esclaflage dam les colomes franfalSes, Paus, 1948, {153 lRaynal, t. m, p. 196.
pp. 166 segs .. p. 227. Veja-se, por exemplo, no Brasil, a cana do governador Cunha (1~4lRaynal, t. III, p. 204.
Menezes a Maninho de Melo e CastrO (15/11/177}), em que relata que os mulatos e (In) Não se trata de força de expressão. Efetivamente, numaplantation de Saint-
os negros da Paraíba, «chegando a seu poder a lei de 16 de janeir? do cor~ente ano~­ Domingue. o escravo Toussaint Bréda - o futuro T oussaint L' Ouvenure - lera e relera
trata-se da lei que, dando seqüênoa à legislação anterior, consohda a extinção da es, as páginas candentes de Raynal. Cf. C.1.R. James - The BlackJacobins, TOlmaint

15ó 157
que; o pensamento ilustrado, nos seus vários matizes, nada deixava lista, e pois revolucionária(l60). A contradição do real manifesta-se
de lado, tudo vasculhava.com a sua crítica. A América voltava a pene- assim, no discurso que o exprime. A crise, de qualquer modo, era
tr~r no horizonte intelectual da Europa, c?mo nos tempos dos desco- geral, e punha em xeque tanto o sistema mercantilista de coloniza-
bnmentos, e a perturbar a tranqüilidade da consciência européia. E is- ção como o absolutismo da metrópole(161).
to numa dimensão de maior profundidade, desempenhando, como Que as proibições inquisitoriais, a censura do absolutismo (162)
assinalou A. Whitaker, um papel não só passivo (objeto de reflexões) não conseguiam impedir que as obras européias chegassem à colô-
mas sobretudo ativo, elemento de tomada de consciência(156). Os je- nia, evidenciam-no as sondagens, ainda poucas, feitas nas bibliote-
suítas proscritos - por exemplo, Clavigero - escrevendo no exílio e cas coloniais.(163) No interior das Minas, as bibliotecas de João Re-
saudosos das terras americanas, foram, como mostrou Picon_Salas(157), zende da Costa e Batista Caetano de Almeida, estudadas por Brad-
um dos mais importantes fatores dessa emergência da América como ford-Burns (164), ostentavam uma rica coleção do pensamento das
problema nos quadros do pensamento ilustrado; a tal ponto que é to- Luzes: ao lado de obras sobre agricultura, botânica, química, hIstó-
da uma longa polêmica que se delineia - a disputa a respeito do Novo ria, viagens, e sem a presença de livros da escolástica tradicional, lá
Mundo(158). estão Montesquieu, Diderot, Rousseau, Beccaria, Mably, Condor-
cet, Raynal... «Surpreendentemente grande o número de livros so-
Se retomarmos, agora, as considerações precedentes sobre as ten-
bre os Estados Unidos» (165), nota o historiador americano; mas não
sões de conjunto que emergem neste período final do século XVIII e
é de surpreender, quando se pensa no impacto que a independência
início do XIX, engendradas pela passagem lenta mas persistente ao
americana por certo causou na mente desses colonos, para quem não
capitalismo industrial - temos o quadro de receptividade da ideolo-
gia anti-colonialista da Ilustração. Será, grosso modo, a face refor-
mista das Luzes que incidirá mais sobre a metrópole; na colônia, a
face revolucionária. Esta a ambiguidade fundamental do pensar ilus- 160
( lCf. Ives Benot - Diderot, de /'athéirme ti /'antic%nialirme, Paris, 1970, pp.
trado, ao mesmo tempo reformista e revolucionário, dependendo da 51-65, 138-155, 162 segs.
situação em que se processe a sua leitura. Por onde se pode com- (161l() aprofundamento do processo revolucionário em França traria necessaria-
mente à tona, no plano da prática política, o «dilema colonial,. de uma metrópole
preender a divergência, ainda hoje, na interpretação de seu signifi-
transfigurada pela revolução. Cf. David Brion Dav15 - The p"roblem 015lavery m the
cado: uma das análises mais profundas, a de Michéle Duchet(159) in- Age olRevolution, Ithaca, New York, 1975, pp. 137-148.). Godechot _ La PenIée
siste nas limitações ideológicas das Luzes; o mundo extra-europeu, o révolUllonngire em France et en Europe. ] 780- ]799, textos selecionados e apresenta-
indígena, o escravo, eram na realidade sempre objeto, nunca sujei- dos por j. Godechot, Paris, 1964, pp. 148 segs.
161
to, do discurso iluminista, uma maneira de a sociedade européia se ( lEm Portugal, com as reformas pombalinas, o controle passaria para a Mesa
compreender a si mesma. Yves Benot, entretanto, que vimos acompa- Censória. Veja-se Maria Adelaide S. Marques - A Real Mesa Censória e a cultura na-
cional, Coimbra, 1963, com o .catálogo dos livros defesos no Reino, de 1768 a
nhando nessas páginas, procura acentuar sua dimensão anti-colonia- 1814•. Para a Espanha: M. Defourneaux - L 'InquiJition eIPagnole et leI livres fran-
çaiJ au XVIII siide, Paris, 1963, com catálogo 1747-1807. No Brasil colonial, como
se sabe, não permitiu a metrópole a instalação da imprensa. A iniciativa de Antonio
L 'Ouverture and 5an Domingo Revolution. 2a ed., N. York, 1963, pp. 24·26, 90- Isidoro da Fonseca, Impressor conceituado em Lsboa, transferindo para o Rio de ja-
93. neiro, em l746, sua oficina, sob a proteção de Gomes Freire de Andrade, foi logo
(l'i6lCf. A.P. Whitaker _.The dual rôleofLatÍn America in the Enlightenment, in (1747) proibida pelo governo metropolitano. Só com D.joão VI começaria no Brasil
lAtm America and the Enlightenment, New York, 1942, pp. 3-21. a indústria do livro. Cf. Nelson Werneck-Sodré - Hirtória da Imprensa no Brasil, Rio
(l)7lCf. M. Picon-Salas _ De la conquIsta a la indepemúncia. Tres sigloJ de hirtoria de janeiro, 1966, pp. 11-33.
cultural hirpano americana, MéXICO, 1944, pp. 166 segs. (163lCf. Clado Ribeiro de Lessa - 4As bibliotecas brasileiras dos tempos coloniais,.,
(1~8lCf. A. Gerbi -lA dirputa deI nuevo mundo. Hirtória de unapolémica, 1750- R.].H.G.B., CXCI, 1946, pp. 339-345.
]900, Trad. esp., México, 1960. Sobre os jesuítas na «disputa., pp. 168 segs. l64
( lCf. E. Bradford Burns . •The englightement in two colonial Brazilian
(I wlCf. Michele Duchet _ Anthropo/ogle et Hirtoire au siüle deI Lumiires, Paris,
libraries•. ].HiJt.Ideas, vol. XXV, 1964, pp. 430-439.
197.1, pp. 9-21, 37-177, 477-481. (16Wdem, p. 434.

158 159
era «da .. menores desgraças, o viver em colônias» (16ó). Ruptura revo- quarta coluna da estante da parte direita, quarenta tomos; na quinta
lucionária do pacto colonial, a independência norte-americana não da mesma, quarenta e quatro tomos de livros; quarta coluna da es-
podia deixar de imprimir ampla repercussão l.as colônias que contI- tante da parte esquerda, quarenta e nove livros, na mesma estante
nuavam presas ao sistema; nova forma política de república eletiva, da quinta coluna quarenta e seis» (173). Entre os bens de Inácio José
envolvia funda ruptura com o absolutismo, e porisso repercutiu tam- de Alvarenga Peixoto, foram avaliadas «as obras de Volterio (sic) em
bém densamente na Europat 1(7). Sistema colonial e Antigo Regime sete tomos» (174). O coronel José de Rezende Costa, cuja biblioteca
formavam um todo indissolúvel. pôde depois ser recomposta por Bradford-Burns a panir de outras
A biblioteca do cônego Luís Vieira da Silva, famoso inconfidente fontes, teve sequestradas, entre outras, obras de Voltaire, Marmon-
(168) não era menos inquietante. O «diabo», como diria Edu<l.rdo tel, Fendon, Genovesi (175). O padre Carlos Correia possuía a ~lógi­
Frieiro (169) _ isto é, as obras contestadoras do sistema -lá estava ca de Verney», um volume (176).
multo bem representado: na ampla coleção, ao lado de dicionátios Nos sequestras ordenados em 1794, no Rio de Janeiro, pelo Con-
(mas alguns eram «históricos» e «críticos»), de obras de teologia (tam- de de Rezende, entre os livras de Mariano José Pereira da Fonseca (o
bém heréticas, como a de Febronius, espécie de jansenista alemão), futuro marquês de Maricá), arrolaram-se uma «colecção completa
dos Padres e Doutores da Igreja, obras de geografia e história (entre das obras de Voltaire em francês tomo quinto, décimo, décimo ter-
as quais a obra radicalíssima de Gianonne~170), os clássicos da litera- ceiro, décimo sexto, décimo nono,.vigésimo segundo, em oitavo., e
tura portuguesa e francesa - lá estão as expressões máximas do re- a «Estoria phiJosophica e politica dos estabelecimentos do comercio
formismo ilustrado dos países ibéricos, Feijóo e Verney; ao lado disso dos Europeus nas duas Indias», por RainaJdo (sic), tomo quarto,
tudo, os corifeus do enciclopedismo, a começar por dois tomos da quinto e nono, em oitavo Frances» (177). E Francisco Antônio de Oli-
própria EncycloPédie, e mais cinco volumes de Es/m', de /'Encyclo- veira Lopes, depondo no longo e doloroso inquérito da Inconfidên-
Pédie, edição resumida da mesma obra; Montesquieu, Bielfcld, cia das Minas confessou que seu primo Domingos Vidal Barbosa «lhe
Réal, Mably ... O cônego, de fato «respitou a plenos pulmões os me- contou muitas causas de que tratava um livro do Abade Reinald
lhores ares do espírito do tempo» (171), nem admira que se tivesse (sic), tanto assim que sabia de-cor algumas passagens do mesmo li-
envolvido na famosa e frustrada conjuração. vro» (178). Quais passagens não consta da devassa; mas aqui sur-
Infelizmente, as listas de sequestras das livrarias de outras inconfi- preendemos o texto de Raynal como motor da ação revolucionária
dentes não é tão explícita; avaliando-se os bens de Tomás Antônio (179).
Gonzaga, referem-se os autos a «quarenta e três livros de aU(ores Na Conjuração baiana, de 1i98, mais popular, foram apreendi-
Franceses, Portugueses e Latinos, sete ditos de meia folha da mesma dos menos livros (180); a sua anotação, porém, ocorre nos autos tal-
qualidade, trima e três de quarto dos mesmos» (17~), sem maiores es-
pecificações. A biblioteca de Cláudio, mais espeCIficada, era predo-
minantemente de obras de literatura e direito; mas o texto refere «na (I73JA.D.I.M., vai. V. p. 265.
(174JA.D.l.M., vol. V, p. 370.
(m)A.D.I.M.• vol. V, p. 491.
{I(,(,)Luís dos Santos Vilhena - Recopifaçâo de Hoticios JoteropolitaHaJ e braJ/(iCJJ (I76JA.D.I.M., vaI. I, p. 400.
(1802), ed. Braz do Amaral, Salvador, 1921, p. 289. c.G. Mota . "Mentalidade Ilus-
(I77J c Sequesrro feilO em
1794 nos bens que foram achados do Bacharel Mariano]0-
trada na colonização portuguesa". Rev. de Hist., S.P .• 1967, pp. 405-406.
116~)Cf. J. Godechot - Les Révoiulions, pp. 103-105.
sé Pereira da Fons«v, R.I.H.G.B., t. LXIII (1901) pp. 14-18.
(178JA.D.l.M., vol. 11, p. 59.
Ilü~)Cf. Aulos de DevaJSa da Inconfidência Mmelra, Rio de Janeiro, 1936. vaI. I,
(179J Assim, numa das reuniões preparatórias da Inconfidência, em casa de Francis-
pp. 446-465; vaI. V. pp. 283·291.
(16'))Cf. Eduardo Frieiro _ O Diabo na Livraria do Cônego, Belo Horizonte, 1957. co de Paula Freire de Andrade, concordavam os conjurados em que o abade Raynal
(17°)Sôbre Gianonne, Cf. P. Hazard - In pensée euroPéene au XVIII sicele, Paris. ctinha sido um escrilOr de grandes visões porque prognosticou o levantamento da
1963, pp. 56-59. América Setentrional.. .• a. A.D.I.M.• vol. IV, p. 207.
(171)Eduardo Frieiro, Op. cit., p. 21. (180)Cf. «A Inconfidência da Bahia em 1798. devassas e sequesuos~. Ana,ir da Bt·
Wl)Cf. A.D.I.M .• vol. V. p. 311. bliotecaNaclonm, RiodeJaneiro,XLIlI-XLIV, pp.186-187, 198-199.

160 161
mente estropiados, que sua identificação demandou para ohistoria- uma cena desconfiança CLt relação aos estrangeiros (185). Na medida
dor todo um paciente trabalho de recomposição (181). Nas bibliote- em que a revolução se Je.s>:nvolvia em França, as precauções aumenta-
cas de Cipriano Barata e Hermógenes de Aguiar Pantoja, apreendi- vam em Portugal (186) e a elite ilustrada e reformista ia tendo que se
das, ao lado de obras científicas, de medicina (Cipriano era médico), definir. Entre 1794 e 179-/, o governo de Iisooa mantém uma espé-
matemática, reaparecem os reformadores ilustrados como Genove- cie de correspondência secreta com o <I!Ilonarchien~ Mallet du Pan
si, e obras de Voltaire, Condillac, Vertot, e uma Histotre des trou- para melhor se informar do andamento da revolução e da contra re-
bles de l'Amérique anglaise, título assaz significativo de uma obra volução na Europa (187). Em 1779, já Costigan (ou quem se ocultava
entretanto difícil de identificar. Como nota a Profa. Kátia Manoso, sob pseudônimo. de qualquer forma um oficial estrangeiro de servi-
várias dessas obras encontravam-se também entre as leituras dos in- ço em Portugal), sentia o peso da censura, considerando o governo
confidentes mineiros. O que, ~ntretanto, é de destacar-se no movi- português «o mais despótico de todos os que dirigem os reinos da
mento baiano são as cópias manuscritas de textos revolucionários Europa. (188). No fim do século, o francês Carrêre anotava que «o no-
(182): O Orador dos Estados Gerais de 1789 e a Fala de Boissy d'An- me de Pina Manique inspira um terror geral~; «a prevenção fá-lo tu-
glas e o Aviso de Petersburgo. São textos pol1ticos diretos, definindo do ver sob uma cor sinistra: se se guarda silêncio, tramanHe miste-
posições; serviram de base para os «pasquins sediciosos» da audaciosa riosamente perigosos projetos; se se fala, semeiam-se propósitos se-
e infeliz tentativa de 1798. diciosos; se se vive recluso, é porque se preparam meios de por em
Da literatura acadêmica ãs discussões filosóficas, do reformismo execução algum projeto; se se circula nas sociedades, trata-se de fazer
ilustrado aos apelos subversivos, era pois toda a cultura do Ocidente prosélitos~ (189). Exageros ã pane, o texto de Carrêre pinta o clima
nas suas várias facetas que penetrava no horizonte intelectual dos co- do fim do século XVIII na metrópole. «Repeli sempre todos os clu-
lonos luso-americanos; ou, noutros termos, era a colônia que se en- bes e sociedades, assim particulares como públicos, que não tivessem
volvia nas correntes da vida espiritual da civilização européia (183), o selo da aprovação do governo ... ~. dizia o implacável intendente; e
de uma forma ativa e não apenas receptora, e num momento crítico acrescentava: «A ordem e a sociedade dos pedreiros livres me mere-
de sua história. Do ponto de vista metropolitano, era o funciona- ceu sempre muita contemplação., isto é, atenção. Não obstante, a
mento do sistema colonial que ameaçava entrar em colapso, e que maçonar~a ainda assim expandia-se (190), mesmo em direção à colô-
importava defender. Daí o governo se pôr vigilante «contra os princí- ma.
pios jacobinos» e as «idéias francesas».
Em Iisboa, o intendente Pina Manique mobilizava o arsenal da (18'lCf. État préJent du Royaume du Portugal... Lausanne, 1775, p. 113.
repressão (184): policiamento da entrada de livros, vigilância de reu- (IUlCf.). P. Oliveira Martins - HiJtóriode Portugal, lI, pp. 255-258. Oquede res-
niões, observação atenta aos estrangeiros, recepção de denúncias, to não se dava sem contradições; os círculos ilustrados, inclusive do governo, mostra-
vam interesse e admiração pelas deformas. que se iam implantando em França - p~
prisões, expulsões, condenações. Já Dumouriez notava, em 177'), grande escândalo do historiador Caetano Hemo, que mostra como os órgios OfICiO-
sos _Gazeta de Lisboa,Jomal EncicloPédico - noticiaram ampla e favoravelmente os
eventos da Revolução, pelo menos na sua primeira fase. Cf. D. Mori4 I, 1777-1792,
(Illllprocedeu a esse criterioso trabalho a Profa. Kátia M. de Queiroz Mattoso - 4" ed., Lisboa, 1944, pp. 368-398. . .
Presença francesa no movimento democrático baiano de 1798, Salvador, 1969. (1871Cf.). de Pins - «La correspondence de Mallet du Pan avec laCQwdeLisbonne.,
{182 lKátia Mattoso (Dp. cit. pp. 34 segs.) identifica esses textoS, apresenta as ver- Ann.HiJl.de la Rev. françaiJe, '101. XXXVI, 1964, pp. 469-477. ~e.Mal~e~ ~u Pan
sões francesas originais e transcreve as traduções que corriam manuscritas na Bahia traduziu-se para o português pelo menos alguns números de Men;uno Bnlanu:o, ou
em 1798. Notícias HiJtóricl» e CritiCI» (1798). .
(183)...0 movimento arcádico significou, no Brasil, a incorporaçãe da atividade in- IlsslA. W. Costigan _Cartas de Portugal (1778·1779). Irad. pore., Lisboa, 1946,
telectual aos padrões europeus tradicionais, ou seja, a um sistema expressivo, segun- vol. 11, pp. 128-129. .
óo o qual se havia forjado a literatura no Ocidente•. Antômo Cândido - Formação da (1891CC. Voyage en Portugal, etparticuliermentàLisbonne .. Paris, 1798,pp. 114-
Literatura Brasileira, São Paulo, 19~9, lI, p. 9. 119. .
(l84)Cf. Fortunaw de Almeida _ Hirtõrio de Portugal, t. V. (Coimbra, 1927) pp. (i901Cf. M. Borges Grainha - Histório da Mllçonario em Portugal (1735-1912). lis-
225 segs. F. A. O. Martins - Pina M4nzque, o político. Lisboa, 1948, pp. 266 segs. boa, 1912, pp. 4~ segs. Sobre a maçonaria no Brasil, Cf. Célia de Barros Barreto - cA

162 163
Para a colônia, todo o cuidado era pouco. Ao governador da Ba- meus fiéis vassalos. para a garantia da «ceai soberania e cetro». E pas-
hia, em 1798, advertia-se constar que «as principais pessoas dessa ci- sando de princípios gerais para normas concretas: havia de pôr em
dade, por uma loucura inrompreensível, e por não entenderem os prática as «reais e santas ordens», «a respeito de todos aqueles indiví.
seus interesses, se acham infectas dos abomlOáveis princípios france- duos que ou por palavras, ou por conciliábulos paniculares, e espe-
ses, e com grande afeição à absurda pretendida constituição france- cialmente pela manifestação dos falsos e duvidosos princípios que
sa», mandando que tudo devassasse, para fazer «julgar com a maior tem infestado toda a Europa» pudessem por em risco o sossego, '(ran-'
severidade das leis» os possíveIs culpados, «para que o castigo de tais quilidade, a segurança ... (195). logo, os princípios revolucionários
réus seja verdadClramente exemplar, e contenha semelhantes crimi- europeus chegavam à colônia, e animavam atitudes de contestação.
nosos», pois «prêmio e castlgo são os dois pólos sobre que estriba to- Era, para o governo de S. M., evidente que t~ria «muito mais sentid2
da a máquina política», e mais «no momento presente toda a vigI- prevenir tão graves ruInas, afastando da sociedade aqueles que as
lância ronera os maus é indispensável e absolutamente necessária» podem produzir, do que tolerando-os a princípio, e expando-se de-
(191). Atendendo-se à data, não eram infundaGos os temores do go- pois a proceder contra eles com os mais rigorosos e sevef(, castigos»
verno d<l merrópole. (196). Quanto à função que cabia à religiao desempenhar ne~,a profi-
Já o marquês de Lavradio, no seu famoso relatório, refere-se a co- laxia contra-tevolucionária, as instruções metropolitanas efá.... de
lonos que «tiveram uma má criação,> (no caso, os habitantes dos cam- uma cla.:-eza que excluia qualquer mistificação: «a religião, dada fJOr
pos dos Goitacazes): «aparecendo lá um espírito inquieto, que Deus ao homem para a sua consolação, é sem dúvida o melhor ou
falando-lhes uma linguagem que seja a eles mais agradável, mais seguro meio para conservar a tranquilidade e a subordinação
convidando-os para alguma insolência, eles prontamente se esque- necessária para os povos» (197).
cem do que devem, e seguem as bandeiras daquele» (In). Isto, em Mas, precisamente, os ministros da religião começavam a mostrar-
1779. Ora, na medida em que se avançava para o final do século, se cada vez mais «sensíveis ao século» (198) e inquietos com a marcha
aptofundando-se os mecanismos de crise, aquela atItude de recepti- dos tempos. Como, por exemplo, no Rio de Janeiro, aquele vigário
vidade tendia a se generalizar, e os espíritos inquietos a multiplicar- «o mais inquieto, e sempre pronto para tudo o que é falta de subor-
se. dinação» (199). Ou aquele clérigo que, segundo um den.unciante de
«Foi meu sistema», diria ainda o criterioso Lavradio, «assentar que 1794, «começou a soltar discursos a favôr da França» (200), isto é, da
tudo o que podia contribuir para felicidade, sossego, defesa e con- Revolução. Ou, mais ainda, aqueles padres inconfidentes que «es-
servação destes povos e deste Estado ... a mim me pertencia»(l9J). De quecidos das suas obrigações de vassalos, e de católicos», pois que
fato, «conservar os povos em sossego» era um prlOcípio da adminis- «pelo seu ministério de 'sacerdotes» teriam a «mais rigorosa obrigação»
tração colonial, como se pode observar em Teixeira Coelho (194) A «não só de se instruirem nas leis do Evangelho que ordena a sujeição
Dom Fernando José de Portugal, quando do governo da Bahia foi e fidelidade que todos devem aos princípes soberanos, mas até de
transferido para o vice-reinado no Rio de Janeiro (1800), instruía-se instruirem os povos neste preceito, ao invés disso «conspiraram con-
que devia adotar «tudo que mais eficientemente possa roncorrer pa-
ra a seguran~'a, prosperidade e maior aumento da capitania, de cujas sêgo ... ,. ).). Teixeira Coelho - bUlruçiio para o govêrno da Capitania de Minas Ge-
bases dependem a tranquilidade, riqueza e felicidade dos mesmos rais (1780). R.l.H.C.B., t. XV (2" ed. 1888) p. 256.
(W»lnstruçôes para D. Fernando José de Portugal, vu;e·rei e capifiio General de
a~ã() das sonedades secretas_, flWónJ Gera! da Cn'zltzaçJo BraJ'lletra, dir. por Sérgio Mare TerTa do btado do Srasú (817/1800), A.H.U. (Lisboa), cód. 575 f. 96-98.
Buarquc de Holanda, t. 11, vol. pp. 191-206. (l%lIdem, f. 98~ -
\ 1<)1 ICarla dc O . Rod·
figo d e 5ouza Coutinho,
. 4 de OUtubro de 1798. R.I.H.G.S" (1 97 1Idem, f. 96. .
I. LIX, 1896, p. 406-407. (IW1Cf. Carlos Guilherme Mota - Atitudes de InovaçJo no Brl1.fil. pp. 44-45.
(l'l!lRelatóno do MarquêJ do Lnvradio (1779). R.I.H.C.S., t. IV. p. 423. (l99)Cf. A. D. I. M., vol. VI, p. 423.
;::;.~;Re!atóno do MarquêJ do úllradto, R.I.H.G.S., t. IV, p. 455. (2001Cf. DevaHa ordenada pelo Vice-Rei Conde de Rezende (1794). A.B.N. (R.
~Fmalmente, todos sabem que um governadot deve conservar os povos em 50S- j.), vol. LXI. 1939, p. 253.

]64 165
tra o Estado~, cerigindo-se em cabeças de rebelião~ (201). Ou, final- Atentemos, por um momento, na significação desta passagem e
mente, na Bahia, aquele frade - frei José de Bolonha, missionário na gravidade do episodio que relata. Aqui defrontamos com a reli-
capuchinho - que seguia cuma opinião, a respeito da escravidão, a gião, na prática efetiva, promovendo a inquietação das consciências,
qual, se se propagasse, e abraçasse, inquietaria as consciências dos ao invés de manter o sossego dos povos; e atingindo exatamente um
habitantes desta cidade. e traria consigo para o futuro conseqüências' dos pilares básicos do sistema de colonização, qual seja"a escravidão e
funestas a conservação e subsistência desta colônia» (202). No que ti- tráfico, dal implicar verdadeiramente, se prevalescente, na qestrui-
nha inteira razão o governador que tais preocupações expressava ao ção do sistema colonial. E tudo isto de uma maneira que punha em
ministro do Ultramar; pois o dito religioso, </:depois de viv~r n'este xeque todo o conjunto de pressupostos da ordem vigente. De fato, o
pau: ha perco de quatorze annos com procedimento exemplar, cum- colono era colocado diante de um dilema: ou se abstinha da prática
prindo com as obrigações do s.eo ministerio, apezar de algumas im- da religião (a confissão), ou passava a indagar sobre a validade do
prudencias e extravagancias em que rompia, e de que se abstinha, tráfico de escravos. Ao mesmo tempo, contesta-se a autoridade do
quando d'ellas advertido pelos seos superiores, merecendo o concei- príncipe, que chancelara o comércio negreiro; logo, a autoridade ré-
to de homem virtuozo, e zelozo pelo serviço de Deos, se persuadia gia não podia mais legitimamente substituir a consciência indivi-
ou o persuadiram de que a escravidão era iIIegitima e contraria á reli- dual, e a unidade Estado-Igreja, fundamental no absolutismo, se
gião. ou ao menos, que sendo esta umas vezes legitima, outras ille- rompia. Invertiam-se pois as posições: de sustentáculo do regime,
gitima, se devia fazer a distinção e diferença de escravos tomados em passava a religião a elemento de sua contestação. E notável como,
guerra justa ou injusta. chegando a tal ponto a sua persuasão que, para denunciar o ocorrido, teve a autoridade de ir fundo na descrição
confessando pela festa do Espirito Santo a varias pessoas, poz em dos fundamentos do Antigo Regime: a autoridade régia acima das
pratica esta doutrina, obrigando-as a que entrasem na indagação consciências; e o escravo apresentado como pura mercadoria, aban-
d'esta materia tão dificultoza, por não dizer impossivel de se averi- donadas todas as mistificações justificativas com que se costumava
guar, afim de se dar a liberdade a aqueles escravos que ou dourar a coisificação do homem escravizado.
fossem furcados, ou reduzidos a uma escravidão injusta, sem refletir Outro aspecto a destacar nesse notável documento, que na rotina
que quem compra escravos, os compra regularmente a pessoas auto- de uma correspondência oficial está a revelar toda a profundidade
rizadas para os venderem, debaixo dos olhos e consentimento do da crise, é que ele deixa surpreender não só a situação de crise, mas a
Principe, e que seria inaudito. e contra a tranquilidade da socieda- emergência dessa situação: depois de viver mais de um decênio na
de, exigir de um particular quando compra qualquer mercadoria a colônia sem provocar qualquer problema de maior gravidade, o bom
pessoa estabelecida para a vender, que primeiramente se informasse do frade «se persuadiu ou o persuadiram» daquelas idéias malsãs.
donde ella provém por averiguações, além de inuteis, capazes sem Logo, tais idéias iam penetrando e se difundindo cada vez mais.
duvida de aniquillar toda e qualquer especie de comercio» (203) Mais adiante, acrescenta D. FernandoJosé de Portugal: «Examinada
a origem d'esta opinião, que este padre por tanto tempo não segui-
ra, se veio ao conhecimento de que algumas praticas que tivera com
(201)São expressões da sentença condenatória dos inconfidentes edesiásticos. a. os padres italianos da missão de Gôa, transportados em a náu Belém
Autos crimes contra os Réus edesiósttcos da conjuração formada em Minas Gerais surta n' este porto, e hospedados no hospicio da Palma, deram cauza
(1791), Anuân'o do Museu da Inconfidência, vol. 1, 1952, p. 94. Sobre os padn=s in- a que este religiozo se capacitasse d'esta doutrina, não tanto por
confidentes vide D. Duane Leopoldo Silva - O Clero e a Independência. Rio deJa- malicia e dólo, como por falta de maiores talentos e conhecimentos
neira, 1923, pp. 53-64. theologicos, e em razão de uma consciência summamente escrupulo-
(202)Cf. Canas de D. Fernando José de Ponuw.J, governador da Bahia
za» '(204). Dçmde se poderia inferir que o sistema tinha balisas muitn
(18f6f1794). R.I.H.G.B., t. LX. 1897, pp. 155-157. Referência ao ccapuchinho
abolicionista> in Fr. Fidelis de Primerio - Capuchinhos em TemJS de 5anta Cruz, São estreitas para as consciências escrupulosas. ou noutros termos,. nele
Paulo, 1942, p. 166.
(203)R.I.H.G.B., t. LX, pp. 155-156. \204)R.I.H.G.B.. t. LX, p. 156.

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só os menos escrupulosos se sentiam à vontade - o que não deixa v?lta; b~t.ou o enc~:)fltro desses intelectuais ilustrados com a presença
de denotar uma situação fundamentalmente crítica. A menos que se viva e ativista de Tiradentes para se passar das idéias à ação (209). Co-
descresse da consciência humana. mo observa Emília Viotti da Costa, «as críticas feitas na Europa pelo
Da longínqua Goa, portanto, segundo a averiguação do governa- pensamento ilustrado ao absolutismo ... assumem, no Brasil, o sentido
dor da Bahia, vinham para a América Portuguesa idéias de inquie- de críticas ao sistema colonial» (21O). E que no próprio corpo teórico
tação. Que padres seriam esses da missão de Goa? Quando teriam do pensamento das Luzes germinavam contradições que podiam le-
vindo para a Bahia? (205). Teriam talvez participado ou assistido a es- var a uma leitura revo/ucionán"a; lidos esses textos em situação colo-
sa obscura e pouco referida «conjuração de Goa», de 1788, pratica- nial, dificilmente deixariam de estimular a tomada de consciência
mente contemporânea à das Minas? Latino Coelho, dos poucos a tra- das contradições do sistema (211).
tar do assunto, ainda que de relance (206), faz notar terem sido «ecle- Passava-se, efetivamente, nesta quadra de crise do Antigo Regime
siásticos alguns de seus mais ardentes promotores»; o objetivo era e de seu Sistema Colonial, das indagações teóricas sobre a legitimi-
«subtrair o estado da India ao domínio português e inaugurar a forma dade do regime para a prática política de sua superação(212). Em
republicana». dois momentos pelo menos, em Minas em 1789 e na Bahia em 1798,
Não eram diferentes os objetivos da Inconfidência Mineira, cujos transcendeu-se a tomada de coIJ.sciência da situação colonial, e se
infelizes promotores parece não desconheciam os acontecimentos da projetou a mudança, intentando-se a tomada do poder. Se no Rio de
distante colônia indiana(207). A notícia do levante, hoje difícil de Janeiro em 1794 não se foi além de conlúios e aspirações logo abona-
rastrear na bibliografia, parece que corria célere naqueles tempos dos ~213) e se em 1801 em Pernambuco cudo fiéou no plano das
agitados. idéias (214), a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana podem
Quando, pois, em 1794, o vice-rei conde de Rezende mandava
devassar os colóquios aparentemente acadêmicos dos membros da (209)0 papel catalizador de Tiradentes é sempre posro em destaque pelos estudio-
sos da Inconfidência. Cf. Maxwell - Conflicts and ConsPiracles, p. 117-119. Nícia
antiga Sociedade Literária, para «indagar se os sobreditos indivíduos Villela Luz - dnquietação revolucionária no Sul: conjuração mineira~, História Geral
se limitavam e continham só nos referidos sacrílegos e revoltosos dis- da Civilização Brasileira, dir. Sérgio Buarque de Holanda, t. I, v. 11, p. 397. A. Mar-
cursos, ou se passando adiante haviam formado alguma idéia ou pla- (hant -«Tiradentes lU the conspiracy ofMinas», HispanicAmenCan HistoricalReview,
no de sedição»(208), tinha lá suas razões. Em colóquios dessa nature- v. XXI, pp. 239-257. P. Pereira dos Reis - O colomalismo portuguése a conjuração
za, em Vila Rica, também se formara o ambiente propício para a re- mineira. São Paulo, 1964, pp. 103 segs.
\ 2101Cf. E. Viotti da Costa - «Introdução ao estudo da emancipação política», in
Brasil em perspectiva, org. C. G. Mota, São Paulo, 1968, p. 84.
(2lI JVeja_se a aguda observação de RaynaI: cOn se servait contre la métropole de
(20'lNão conseguimos localizar referências precisas nos trabalhos de História ecle- ses propres Lumiêres». Histoire des Deux Indes, ed. 1780, IV, p. 390. A leitura de
siástica. Cf. Florêncio da Silveira Camargo - História eclesiástica do Brasil, Petrópo- Raynal, aliás, é extremamente indicativa do fenômeno que estamos tentando apon-
lis, 1955, e AméricoJacobina Lacombe - "A Igreja no Brasil Colonial., História Geral tar: os passos de sua obra sobre Ponugal e Brasil são extremamente moderados e re-
da Civilização Brasilúra, dir. por Sérgio Huarque de Holanda, t. I. vol. H, pp. 51-57. formIstas (cf. ed. 1780,11, pp. 452·465; ed. 1775, li, pp. 181 segs); mas o que inte-
Fidelis Primem (Op. cit., p. 168), apenas informa que se trarava de padres lazaris- ressava. na colônJa, eram os trechos em que fazia a apologia da independência dos
Estados Unidos (cf. ed. de 1780, lI, pp. 376 segs.) e mesmo do direito de rebelião (p.
'"{l 06 1Cf. J. M. Latino Coelho - História politica e militar de Portugal desde os fins 395).
do XVIII século até ]8] 4, t. II (Lisboa, 1885), p. 189. Caetano Beirão (D. Maria I, 4" (212JCf. F. Maxwell - Conflicts and conspiracies.: Braúl and Portugal, 1750-1808,
ed., Lisboa, 1944, p. 352) reproduz as Informações de Latino Coelho. Cambridge Uno Press, 1973, pp. 61 segs.
(10710epondo nos inquéritos da Inconfidência, Francisco Antônio de Oliveira Lo- (2L\JCf. A.Jacobina Lacombe - «A conjuração do Rio deJanelro». Históna Geral da
pe~ lOlltOU que o padre Carlos Correia de Toledo Piza (outrO conjurado) lhe dera a CIVIlização Brasileira, dir. Sérgio Buarque de Holanda, t I, vol. li, pp. 406-410.
notícia de que "Pedro Assa e o Brigadeiro Francisco Antônio da Veiga se tinham le· (1l4 1Cf. Devassa de 1801, Pernambuco, Documentos Hzstóricos, vol. ex (Rio de
vantado com a Índia•. A.D.J.M., vol. Il, p. 39. Janeiro, 1955). Na introdução, deJosé Honório Rodrigues: " ... não passou do plano
(2081DevllSsa ordenada pelo Vice·Ret Conde de Rezende, A.H.N. vol. LXI, 1939. das idéias, não se concretizando em atos de rebeldia. A delação atalhou o movimen-
p.249. to ideológico. fui um pensamentO sem ação, e como tal penence à história das idéias

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legitimamente considerar-se movimentos precursores da emancipa- ria acompanha os insurretos baianos de 1798, que, para além d6.
ção política (21 5) . Formam um crescendo de tomada de consciência emancipação, chegaram a visar «uma inteira revolução, .. , de que re-
que, pelo menos para o Nordeste, não se conteve com a vinda da sultaria uma nova ordem «sem diferença de cor branca, preta e par-
Corte e as mudanças que implicou, eclodindo enfim em 1817 (216). da .. (220). O movimento revolucionário acompanha, pois, na Améri-
Os inconfidentes mineiros, segundo o depoimento de Tiradentes, ca portuguesa, o ritmo e o aprofundamento da revolução ocidentaJ
almejavam «a independência, que este país podia ter»; que «se fizese (221). Que tenham sido debeladas as tentativas, que os inconfidentes
uma República, e ficasse livre dos governos que só vem cá ensopar-se e conjurados, os revolucionários enfim, não tenham conseguido ou
em riquezas» (217). O objetivo dos conjurados baianos era o estabde- não tenham podido mobilizar forças suficientes para a consecução
cimento de «um governo democrático, livre e independente», pois dos objetivos colimados {222), nada disso anula o significado profun-
«convinha que todos se fizessem franceses, para viverem em igualda- do desses eventos: eles atestam a situação pré-revolucionária que se
de e abundância» (218). Emancipacionistas, ambos os movimentos vivia na colônia.
refletem, no plano político, o agravamento das tensões derivadas do
próprio funcionamento do sistema colonial, e por aí se inserem no As possíveis queixas que POrtugal pudesse ter de sua insaciável aliada não podiam so-
quadro geral da rt'volução do Ocidente. O exemplo seccessionista da brelevar as determinações básicas do sistema. E o cônego ilusuadofoi degredado para
América inglesa esteve permanentemente vivo em todo o processo África. Cf. SentenÇol in Anuário do Museu da Inconfidência, vaI. I, 1952, pp. 94-
da rebelião mineira(219); o espectro libertário da França revolucioná- 101.
(220)Cf. A Inconfidênciada&hia, devilSsase sequestros. A.B.N., vaI. XliII-XliV,
p. 88. Sobre o radicalismo dos conjurados de 1798, vide Afonso Ruy - A Pn'meira Re-
formadoras da consciência nacional~ (pp. 3 à 14). Vide também Manuel Correia de volução Social Brasileira. P ed. Rio de)aneiro, 1970, pp. 67 segs. Para uma r«ons-
Andrade - Movimentos Na/ivistas em Pernambuco, Reófe, 1971, pp. 15-20. ttução mais segura e documentada dos eventos, vide luis Henrique Dias Tavares -
(2l'i)Cf. Nícia Vilela Luz - .:Inquietação revolucionária no sul: a conjuração Minei- História da sedição intentada na &hia em 1798, São Paulo, 1975.
ra». História Geral da Civilização Brasileira, dir. S. B. Holanda, t. I, vol. 11, pp. 394- (221)Sobre as influências ideológicas nas inconfidências, Cf. c.G. Mata - Atitudes
405. À pág. 405: .:pode-se, portamo, considerá-la, sem hesitação, um movimento de Inollação no Brasil, 1789-1801, pp. 124-125. O contacto tão comentado, de )00-
precursor da Independência do Brasil •. Arthur Cézar Ferreira Reis -.:A InconfidênCIa quim)osé da Maia com Thomas)efferson, na França, foi, pois, apenas um episódio,
baiana., op. cit., t. I, 11, pp. 410-417. À pág. 417: «ligava-se a todo um processo aJiás sem resultados práticos, no quadro dessas vinculaçiX's mais gerais e profundas
que unificava, de certo modo as Américas espanhola e portuguesa nos mesmos an- entre as inconfidências brasileiras e a revolução ocidental. Depondo na devassa, Do-
seios de liberdade». Vide, também. T. Halperin Donghi - Histona contemporanea mingos Vidal Barbosa afirmou que o estudante brasileiro de Montpellier voltou ..-mal
de Amen'ca Latina, 3" ed., Madrid, 1972, pp. 74-134. satisfeito» da entrevista com o Embaixador americano, que .julgava pouco dele pela
(216Jpara uma análise desse aprofundamento da mentalidade revolucIonária, Cf. Ca5(V, pois ..-tomara em pouca conta a sua representação, e o desprezara •.
Carlos Guilherme Mata - Nordeste, 1817: estruturas e argumentos. São Paulo, 1972. (A.D.I.M., vol. li, p. 88). Em carta para)ohn)ay, de4 de março de 1787, relata)ef-
Sierra y Mariscal já notava, em 1823, que «a revolução retrocedeu pela passagem de ferson os contact09 epistolares e a entrevista com)oaquim)osé da Maia, a quem fizera
Sua Majestade Fidelíssima para o Brasil~. ldéiaJ Gerais sobre a Revoluçiio do Brtml sentir que .não estamos em condiçiX's de comprometer a nação em uma guerrv. Em
(1823). A.B.N., vaI. XliII, 1920, p. 59. outra missiva, de 12 de março de 1789, insinua a possibilidade de se pressionar a Cor-
(2I7JU. A. D.i. M., vaI. IV, p. 47. te de Lsboa para permitir o comércio dos nane-americanos no Brasil: ..-Eu penso que
(21~)Cf. A inconfidência da &hia em 1798, devaSJilS e sequestros. A.B.N .. vai. é do interesse dos ponugueses desviar todas as tentaçiX's que poderíamos sentir de
XLIII-XliV, p. 87. cooperar para a emancipação de suas colônias•. (Cf. .:Extratos da correspondência de
(ny)O entusiasmo pela independência dos americanos do norte percorre pratica- Thomas)efferson». R.I.H. C.R., t. III, 1841, pp. 208-216). Tudo isto, aliás, se indica
mente todos os depoimentos dos inconfidentes. O Cônego Luís Vieira'da Silva chega realismo e pragmatismo político, não é muito abonador do idealismo liberal do aUlor
a se justificar, dizendo ser «esse fato muito próprio em sujeitos, que têm alguma apli· da D«laração de Independência americana. Cf. tambem Raul d'Eça - .Colonial Bta-
cação, e versados em História~, persuadindo-se que «nisso não comeria delito algum. lil as an element in the early diplimatic negotiations betwen the United States ane
(A.D.I.M., vaI. 11, p. 123). Noutro depoimento, "nem julgava delito contra Portu- Portugal, 1776-1808•. In Colonial Hispanic America, dir. por. A. Cunis Wilgus.
galo gostar ele tespondente, que os americanos ingleses tivessem dado aquele coque Washington, pp. 551-559. Lawrence Hill- Diploma/ic Relations betwen lhe United
à Inglaterra•. (A.D.I.M., voI. IV. p. 308). O pOntO de vista do sistema colonial, re- States and Brazil, Durham, 1932, pp. 4-5. Walter Spalding . ~efferson e o Brasil..
presentado pelos juízes. entretanto, não podia evidentemente admitir que colonos Rell.Hist. (S.P.), n. 24, 1955, pp. 355-386.
admirassem a independência de uma colônia, isto implicando em negar o sistema. \m)Com muita pr«isão r,>,.~rteriza Célia Nunes Galvão Quirino dos Santos as li-

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Não admira, pois, que os governantes, as autoridades mantenedo- versivelmente, «tomou-se consciência, aqui, de que a Europa estava
ras da ordem, se sentissem quase como que em areia movediça. «A 'chupando toda a substância' das colônias; tomou-se consiciência
desordem nesta terra está já tão arraigada», escrevia para a corte em que o Rei era 'como qua~quer de nós'; começou~s~ a achar .~ue. 'isso
1799 Azeredo Coutinho então no governo de Pernambuco, «que até de religião é peta' ... Tmha-se sobretudo, a traglca conSClenCla de
parece ser necessário deixá-la continuar no mesmo estado, assim co- que se podiam 'levantar os povos do Brasil'»(226). ~ .
mo a um enfêrmo já muito arruinado, quanto mais remédios se lhe A CrIse do sistema mamfestava-se, portanto, no Olvel das mentalI-
aplicam, tanto' maior perigo corre a sua vida»(223); são tempos em dades, de forma iniludível, atraveS da emergência de um estilo de
que «a libertinagem se desenfreia ao menor impulso, para dar os pensamento que se contrapunha à ideologia do sistema, com? qual
mais temíveis abalos à paz e sossego público»(224). Os colonos, por não mais podia dialogar(227). A religião, s~porte da ord~m e m~tru­
sua vez, através das câmaras, afogavam o Conselho Ultramarino com menta de sossêgo dos povos, começa a ser vIsta como roteIro d.e hber-
requerimentos e reclamações contra as autoridades (22'». ração, pois «a Sagrada Escritura, assim como dá poder aos relS, para
As tensões engendradas nos mecanismos globais de funcionamen· castigar os vassalos, o dá aos vassalos, para c~tigar os Reis»(228); ?U,
to do sistema começavam cada vez mais a expressar-se, em uma to- no limite, a fé tradicional se apresenta como dusão enganador~ (<<ISto
mada de consciência da situação colonial. Pouco a pouco, mas irre- de religião é peta»). E a autoridade régia, que do ponto de vista do
sistema tinha que ser absoluta e intangível, fonte de todo poder e
mltações da ação política do~ inconfidenes: «A leitura dos auto~ nos defronta com um governação, ficava despida de suas prerrogativas divinas: pois «os ho-
grupo de opinião capaz de fixar argumentos justificativos de uma posição básica de
inconformismo e de alisimilar, reinterpretando·a, a experiência histórica de sua mens são livres e podem em todo o tempo reclamar a sua
época» .• Desvanecido o clima revolucionário e frustrado o levante, os inconfidentes liberdade»(229j, e «devemos todos ser humanos, iguais e livres de su-
se encontram à mercê da justiça reinol como indivíduos e fia0 como representantes de bordinação»(230); e, no limite, o rei é «como qualquer de nós». De
uma organização:.. A Inconfidência Mineira, São Paulo, 1966, pp. 159 a 177. Sep. mãe-pátria protetora, fonte de civilização, a metrópole se met~mor­
dos Anaú do Museu Paulista, vol. XX.
foseia em traste dispensável, pois «os mazombos também vaham e
(213)Cana deJ.J. da Cunha de Azeredo Coutinho, 23 de março de 1799. A.H.V.
(Lisboa). Does. de Pernambuco, 1799, Maço 17. sabiam governar»(231) este país, que «podia ser ~m império»(23 2); o
(224)Ofício de um fuflcionário a TomásJosé de Melo, governador. Março 1798 vínculo metrópole-colônia, que para o sistema unha de parecer na-
A.H.U. (Lisboa). Ooes. de Pernambuco, 1798, Maço 16. No mesmo sentido, para a tural e derivado da própria colonização, rompia-se, pois «um prínci-
América Espanhola: «Por lo que que a mi toca desde que ad se tuvieran nOtlcias de pe europeu não podia ter nada com a América, que era .um ~aís li-
lali coflSpirariofles que en Europase tramabon por la naClón seduetora y por sus prosé· vre»(233). E, no limite, a ligação com a metrópole, não só Ilegítima. é
litos, he vivido slempre como una sentinela, observando com recato todo gênero de
pasos y movimientos ... ~ D. Nicolãs de Arredondo· «Memoria a su sucesor D. Pedro
de Melo de Portugal y Villena~ (Buenos Aires, 16 de março de 1795) . Memórias de
105 Virreyn dei Rio de la Plata, Buenos Aires, 194'), p. 375. 12'6JCf. Carlos GUilherme Mota· AtItudes de Inovação no Brasil, 1789·1801, pp.
(22\lExemplos: A carta de Amador PatríciO de Maia ao ministro Maninho de Melo e 35·36, onde estão referidali as fontes.
Calitro (1')/2/1794). A.H. U. (Lisboa). Does. Rio deJaneiro Caixa 1793·1794; protes· (227JNoção de «estilo de penS:l.mento~, in Karl Mannheim - Ideologia e Utopia,
toS da Câmara de Minas Gerais em 1794. A.H.V. (Lisboa). cód. 311, f. 74·80: ofí. Trad. port., Porto Alegre, 19')6, pp. ')1·55; Essay! on SOClology and Social Psycho·
cios da Câmara do Rio de Janeiro, 2/') 1179') (cód. 921, f. 1190): requerimento de logy, 2" ed., Londres, 1959, pp. 74-77.
João Gonçalves conera JUIZ de Fora da Bahia, 2') 18/1798 (cód. 922, f. 1070); queixali (22l1)Cf. Devassa ordenada pelo Vice-Rei Conde de Rezende (1794). A.B.N., vol.
sobre ali câmarali do Braliil, aviso de Rodrigo de Souza Coutinho, 16/9/1799, cód. 10, LXI, 1939, p. 2')0.
f. 122): representações dali câmarali da Capitania da Paraíba, aviso de 319/1789 (cód. (2Z'i)DevaiJa ordenada pelo Vice· Rei Conde de Rezende (1794). A.B.N., vol. LXI.
10, f. 36 segs.): representação da câmara de Jaçobina, aviso de 19/1/1799 (cód. 10, f. 1939, p. 250. . . .
690); representação contra os ministros da Relação da Bahia, aviso de 1/11/1798 (Z301cr Autos de Devassa do Levantamento e Sedição mtentadas na Bahia em
(cód. 10, f. 51); representação da câmara de Santa Catharina, 1798 (cód. 9, f. 128): 1798. AnaiS do Arquivo Público da Bahia, vol. XXXV, 1959, p. 10').
dos moradores da Vila de Cachoeira, 1796 (cód. 9, f. 128): reclamações contra o go· (2JI)A.D.l.M., voU, p. 95.
verno de Goiá~. 1794 (cód 9, f. 17): queixas da Câmara de Taubaté, S. Paulo, 1799 (2)2)A,D.J.M., vol. r. p. 1')4.
(cód. 30'), f. 46), e os casos se muluplicavam. (2BJA.D.l.M., voL L p. 103

172 173
vista como dominação, exploração: rica de recursos, a colônia vive como um problema, dada a desproporção entre o centro dominante
«na maior miséria., porque «a ·Europa, como esponja., lhe explora e a área de dominaçãol. 236 ).
dada a substância..{234). A natureza era cheia de riqueza, os habi- A. medida que se manifestava a defasagem econômica de Portugal
tantes capazes; só a condição de colônia podia explicar a pobreza e a em relação aos centros mais desenvolvidos da economia européia, a
miséria. Entre essas duas visões dos mesmos fenômenos, entre esses. questão tendia naturalmente a se agravar. Já em 1676. discutindo
dois modos de sentir os mesmos eventos, entre essas duas maneiras concessões ao comércio estrangeiro no Brasil, uma consulta do Con-
antagônicas de situar-se no sistema, nenhuma comunicação era, selho Ultramarino chamava a atenção para que «se houvesse de per-
pois, possível. Configurava-se, como dissemos, uma situação pré- mitir que os navios estrangeiros vão fazer negócio aos pOrtoS das nos-
revolucionária, na qual os parâmetros e!;tcuturais, que dão o quadro sas conquistas, sem nenhuma dúvida se acabaria o pouco comércio
de possibilidades dos processos, não oferecem outra alternativa além que tinhamos porque nem lá haviam de ter nenhuma conta os nossos
do confronto. Em suma, a crise. gêneros, nem aqui haviam de ter saída os nossos açúcares e tudo se
perderia e o pior era que as mesmas conquistas se haviam de vir a
3) Preservação do «exclusivo» perder porque a sua fertilidade havia de despertar a ambição das na-
ções e a fraqueza dos nossos presídios ha de facilitar o seu atrevimen-
Em meio à crise que se avolumava. contudo, a política de neutra- to ... »( 237 l. logo, a mantença do exclusivo era vital; mas, atente-se
lidade combinada com a aliança inglesa nas relações internacionais, bem a que não se afirma que o desatamento do laço exclusivista im-
de um lado, e de ·outro, as devassas e repressões às inconfidên- plicasse na dissolução da colônia como tal, mas sim que tal enfraque-
cias, iam defendendo o patrimônio colonial. Para sobreviver como cimento prejudicaria a economia da metrópole, e no pior dos casos a
metrópole, dentro dos quadros do Antigo Regime, porém, havia colônia transitaria para outra metrópole, isto é, passaria a ser colônia
ainda que preserv3 r o exclusivo do comércio da colônia. Nem era pa- de outra potência. Por onde se confirma a análise que sustentamos
ra que outras potências usufruissem as vantagens que se envldavam no capítulo anterior: concessões, licenças, e o mesmo contrabando,
esforços .para manter a colônia nas traves do sistema. são fenômenos que operam no âmbito da concorrência inter-
Aqui. mais uma vez, é possível discernir os vários níveis do pro- mecropolitana no afã de se apropriarem dos estímulos do sistema co-
blema, como antes fizemos em relação à defesa do patrimônio. A lonial, e que portanto pressupõem e não negam o sistema global,
concorrência colonial, isto é, a competição pela supremacia do co- subjacente ao conjunto das relações entre economias centrais e peri-
mércio dos produtos coloniais, era inerente ao sistema mercantilista féricas.
de colonização(235). Piratas, corsários, entrelopes, contrabandistas Áquela altura, isto é, na segunda metade do século XVII, debatia-
são personagens que acompanham desde o início a história da ex- se a economia portuguesa em grave depressão, aliás geral na Europa
pansão européia na Época Moderna. No caso lusO-brasileiro, entren- (238); o que os assessores da realeza de fato discutiam eram os tratos
tanto, isto é, no que respeita às relações Ponugal-Brasil, nos quadros
do Antigo Sistema colonial, tal competição se apresenta desde cedo
12.>6J Cf. LÚCIO de Azevedo - Épocas de Portugal Econômico, 2~ ed .• Lisboa, 1947,
p. 422: «O problema econômico de Portugal não era o das indústrias; sim OUtrO mais
complexo, e com raizes no próprio ser da nacionalidade: administração ineficieme;
(2)4JA.D.l.M., vol. IV. p. 14l. um império colonial desproporcionado, pela extensão, aos meios possíveIS de o po-
{HSJCf. E. Hamilton - .The role of monopoly in the overseas expansion and colo- voar, explorar e defendeI».
nial trade of Europe before 1800~. Am.Econ.Refl., vol. XXXVII, 1948. pp. 33-')3. (l.\7JConsulta do Conselho Ultramarino, 29/9/1676. DocumentOI Históncos, vol.
W. A. Cole - .Trends in Eighteenth Century smugling~. Econ.Hist.Refl., 2" série, LXXXVIII, 1950, pp. 109-115.
vol. X, 1958, pp. 395-410. G. D. Ramsay - cThesmuggler's trade: aneglened aspen {23~)Cf. V. Magalhães-Godinho _«Portugal. as frotas do açúcar e as frotas do ouro...
ofEnglish commercial developmenh. Transactúm oflhe Roya! Hisloncal SOCielY, 5 a Rel/. de Historia, São Paulo, 1953, n 15, pp.69-88. R. Mousnier - Os séculos XVI e
série, vol 11. 1\)52, 131·158. P. Leroy-8eaulieu . De la colonisallon .hez les peuples XVII, t IV da História Geral das Cl/Illizafões, dir. por M. erouzet, trad. porL, São
modernes. 1874, p. 35.
Paulo. 1957, pp. 159·165.

174
175
qu~ a Restauração fora obrigada a ~azer para defe~der-se da Espan~Ia, quer negOCIações. O criterioso vice-rei parece ter seguido à risca as de-
com concessões no mundo colonIal, sobretudo a Inglaterra. A Im- terminações, e sua correspondência constantememe acompanha os
portância da preservação do exclusivo era porém .de tal ~rdem, que a «autoS de exame» feitos em navios esrrangeiros(242). No fim de seu
audácia dos conselheiros chega a tanger a heresIa: havIa por toda a mandato, ainda lembrava à Corre «estarem se estragando os coiros
forma que descumprir os acordos, pois «conservar a saúde das repú- apreendidos ao navio espanhol S_ Francisco Xavier, que se encon-
blicas é lei dos príncipes, que precede a todas as h~manas. porque tram nos armazéns do Rio de Janeiro aguardando resolução»; acres-
com prejuizo da própria conservação nenhum preceIto obnga nem centando que já não valiam o frete para o Reino(243). A Luís de Vas-
ainda os de Deus (!), e seria imprudência e ainda escrúpulo, que pe- concelos e Sousa, primeiro vice-rei do período post-pombalino e su-
la observância de um capítulo de paz ou de um contrato, que é o cessot de Lavradio, lembrava-se que «os comrabandos e descaminhos
mesmo, houvéssemos de pôr a evidente ruína nossa conservação e o são, não só a ruina dos úteis vassalos, mas os que diminuem o real
nosso remédio ... » pelo que «pareceu ao Conselho que Vossa Alteza patrimônio destinado à causa pública»; havia que combatê-los pela
deve ser servido mandar proibir o comércio aos navios estrangeiros «exata observância das leis promulgadas contra essas transgressões»,
que forem aos portos do Brasil, e que quiserem comerciar ainda a reconhecendo o governo metropolitano, comudo, que tais medidas
troco de dinheiro e pagando todos os direitos pertencentes à Fazenda «poderão dominuir muito o mal, ainda que não o extingam de
Reai»(239l. A colônia, era, pois, a «conservação» e o «remédio» de todo»(244). E as instruções dos vice-reis e governadores repetem insis-
Portugal, que se arruinaria sem ela. . , tentemente tais determinações·( 245 l.
O esforço pela preservação do exclusivo mecropo[uano portug~es Chegava-se, portamo, ao último quartel do s€culo XVIII que é
se acentua ao longo do século XVIII, e vai num crescendo para ann- quando se abre, com a independência das colônias inglesas, a crise
gir o clímax no período da adminIstração pombalina(24Ü). Assim,. nas do Amigo Sistema colonial, com uma posição claramente tomada
cartas instrutivas dirigidas ao marquês de Lavradio, quando de sua pela Coroa: a legislação(246) e as instruções, que forcejavam por
designação para o vice-reinado, insiste-se em que eta primordial implememá-la, procuravam por todos os modos barrar a penetração
«preservar os portos do Brasil do pestilenciaJ contágio dos contraban- mercamil externa na colônia. Por outro lado, o rápido surto de de-
dos»(241) em que estariam mancomunados os ingleses e os confiden-
tes dos jesuítas. Contra esses dois «inimigos» havia de se defender
com a política e, se preciso, com a força. Só podiam aportar barcos 12421A.H.U. (Lisboa), docs. Riu de Janeiro. Caixa 1777-177!l. Um levantamento ri-
estrangeiros em caso de arribada forçada; e então, todo um minucio- gurosu de todus os «Autos de Exame», difidhmo por se encontrarem tais documentu,
so mérodo de averiguação e exame se ordenava, para evitar quais- dispersos na documentação avulsa (caIXas e maços) seria a única maneira de ter esti-
mativas quamificadas do contrabando.
l24lJA.H.U. (Lisboa), Docs. Rio deJaneiro. Caixa 1777-177!l. Sobre o combate ao
wmrabando pelo Marquês de Lavradio: Oauril Alden - Royal Governmenl In colo·
(2.\'))Consulta do Comelho Ultramarino, 1676, loc. Clt. 7IIal Brazil. Berkeley, 196!l, pp. 389-417
INOJCf. Coleção das Leyes e Ordens, que prohibem ()J navIOS estrangeiros aSHffl ()j (14411nstruções a Luís de VaJ'concelos e Sousa acerca do governo do Bra.u/ (1779).
de guerra, como os mercantes, nos portos do Brasil. A.H.U. (Lisboa), cúd I 193. R.l.H.G.B., t. XXV, 1862, p. 481 Ver também ... Minutas de Instrução» (1779).
B.N. (R.).), 7 1.6. Comemando o Regimento dos Governadores Gerais anotava em A.H.U. (Lisboa). Does. Riode)anwo. Caixa 17!l1-1782
1!l04. o marquês de Aguiar, D. Fernandojosé de Portugal que das «Leis e Ordem 114~JCf. Instrução do Vice-Rei e Capitão Genm!1 de Mar e Terra do Brasd. D. José
que proibem o comércio dos estrangeiros nos porros do Brasil~ «~e remerem uma Co- Luís de Castro, conde de Rezende (6/3/1790). A.H.U. (Lisboa), cód. 573, ff. 15 a
leção ao Vice-Rei, e maiS governadores ultramannos, com a prOVisão de 1Üde janeiro !lO. Instruções ao Vice-Ret e CapitJo General de More Terra do Brasil, D. Fernando
de 18ÜO»(Cf. Documentos Histón"cos, vol. VI, 1928, pp. 443-444). Os códices do Ar- jOJé de Portugal (81711800). A.H. U. (Lisboa), cód 575, ff. 95-111.
qUIvo Ultramarino de Lisboa e da Biblioteca Nacional do Rio de janeiro são com cer- (l4('1á em 1776 novas medidas são tomadas: edital 5/7/1776, proibindo embarca-
teza exemplare<; dessas coleções enviadas pela metrópole aos seus governadores nas ções das colônias inglesas. Cf. A. Delgado e Silva - Coleção de LegúlaçJo portuguesa,
col@nias. 1775-1790 (Lisboa, 1828), p. 99. Alvará 4/!l/1776, proibindo descaminho nas (apl-
(WICf. Cartas inslruMasao Marquês de Lavradio, 1796. A.H.U. (Lisboa)cód. 567 tamas do Norte. Aragão Morato - Coleção de Ley,lSlação Impressa e mamlJcnÚJ (t1ibl.
(sem numeração de folha~). Acad. das Ciências, Lisboa), vul. XXII, doe. 29.

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crescente do comércio ilícito no fim do século XVIII. A freqüência
senvolvimento econômico europeu dessa·fase(247), e particularmente das arribadas forçadas, que era um dos caminhos de burlar a fiscali-
da Inglaterra onde se engaja a Revolução Industrial(248), iam tornan- zação, indica no mesmo sentido(253).
do cada vez mais difícil para ser finalmente impossível a preservação ·Nesses casos, às vezes se constatava a necessidade urgente da apor-
do exclusivo português. tagem; noutras, desconfiava-se das intenções, como no caso de Gas-
De fato, os avanços em direção ao capitalismo industrial, especial- par Guerra (devia chamar-se Krieg), de nação alemã, que vindo da
mente na Inglaterra(249), na medida em que se desenvolvem, ten- Bahia, desejava seguir para Montevideu, «que poderia andar obser-
diam a impossibilitar a manutenção dos esquemas mercantilistas de vando o que se passa por estas conquistas» e que por isso foi remeti-
comércio colonial. Em conseqüência, acentua-se a competição, pois do a Portugal em 1779(254). Outras vezes, era toda uma esquadra que
as demais potências, pressionadas pela emergência:I0 ind~st~ialismo arribava, como em 1782, nada menos que 27 navios ingleses da Com-
inglês, respondem tentando cada uma delas p~atJc.ar mais Intensa- panhia das Índias Orientais, o que pareceu ao vice-rei «participar a V.
mente o comércio clandestino(2)0). Os países Ibéncos, por seu la- Exna. para evitar confusão)255). Inglesa também a nau «SCptro»,
do, empenhados em recuperar-se ~a defasagem econômica, di- cujo comandante Graves insistiu «em não cumprir a.slcis» o que obri-
ligenciavam em preservar o exclusIvo(2'H): Agra~ava-se:. portan- gou a autoridade a «usar de meios, apesar da aliança entre as cortes>.>
to, o problema, nesta última quadra do Anugo RegIme, e e sob este
aspecto que se manifesta nas relações Portugal-Brasil, a crise do siste-
ma colonial. 1953, pp. 228-229. Heitor Ferreira Lima - História político económica e indwtrUU do
Brasil, São Paulo, 1970, pp. 64-66. Djacir Menezes _ O BrflJiI econômico, Rio de)a-
Neste contexto, não será porventura temerário supor que o contra-
fi(~iro, 1944, pp. 30 segs. Vicente Almeida Eça - A abertura dOi portOJ do BrtlJil, Lis-
bando avolumou-se nas costas do Brasil neste período ünal da colô- boa, 1908. Wanderley Pinho - A abertura doi POrtOI, Salvador, 1961. A. Manchester
nia. Difícil, com~ nenhum OU((O, dada a própria natureza fugidia -Bn·tish preeminence in Brazil, Chapel Hill, 1933, pp. 38 segs. H.E.S. Fisher - The
da documentação, o tema tem sido abordado por vários autores~252?, Portugal trade. A Jtudyof Anglo-PortugueJe commerce, 1700-1770, Londres, 1971,
e o material que vai se acumulando parece confirmar a tendenoa A.Christelow _ «Great Britain and the trades from Cadiz and Lisbon to Spanish
America and Brazih, Hisp.Am.Hist.Rev., vol. XXVII, 1947, p. 2-29.
(2\.\JPara amostra, uma sondagem evidentemente não exaustiva, no periodo de
(2~nCf. V. Vásquez de Prada _História economll;a mundial. Madrid, 1964, t. II ,PP: Luís de Vasconcelos, no kio de Janeiro: «Autos de Exames_ de navios em arribada:
25 segs. Cf. The mduJtrial revolutwm and after, vol. VI da Cambndge EconomlC em 7/10/1779, navio espanhol N.S. do Rosário; 18110/1779, navio holandês Dia-
History ofEurope, dir. por M. Postan e H. Habakkuk, 1966. . . na; 41211780, navio inglês Kingston; 28/8/1780, seis navios ingleses; 25/6/1781,
(24H)Para uma cronologia de processo de industrialização e precedênc~a mglesa, ~f. navio francês Astorlay 29/10/1781, navio francês Duas Helenas; 14/4/1783, navio
W. Rostow _ EtapaJ do deJenvolvimento económlco. Irad. port., Rio de Janeiro, inglês Europa; 28/5/1783, navio espanhol Santo Antônio; 28/10/1783, navio espa-
1961, p. 10. nhol S. Pedro; 41911783, navio espanhol S.)ost; 28/8/1783, navio francês Amiza-
(24\1)éf. R. M. Hartwell- «Economic change in England and Europe, 1780-1830~, de·; 17/8/1784, navio espanhol S. José:,J0/91 1784, navio espanhol Santa Paula;
New Cambridge Modem Hitory, vol. IX, 1965, pp. 31-59. 29/41l785, navio espanhol Santa Barbara, 9/5/1785, navio espanhol São JoãO;
mOla. Henri xc _HiJtoire économlque de la Fra".ce. Paris, 1948, pp. 328-32? 15/7/1785, navio espanhol S. Pedro; 8111/178), navio inglês Carnden; 28/1/1786,
(2500 que não excluia, sempre que possível, a prática do contrabando er.n alh~las navio espanhol Boa Viagem; 71911786, navio espanhol, Jesus-Maria-Jost:
colônias. Cf. Cartas de Rodrigo de Sousa Cominho ao Conde de Rezende, VICe-reI do 30/5/1786, navio alemão Conde de BeIgioso; 25/10/1787, navio ingI~s Amizade d~
Bf25i1 (23/10/1799) enfaüzando as ~vantagens, de mananciais. de riquezas, que re- Londres; 12/61 1788, navio inglês Asuéia; 13/9/1788, navio espanhol N. S. ConceI-
sultariam a todas as praças de comérlÍo destes reinos.e domíniOS e o quanto se au- ção; 14/10/1788, navio ingl~s Príncipe de Gales; 19/10/1788, navios holandes~
mentaria à Real Fazenda, se por meios indiretos e táCItoS, se procurasse promover e Vredenburg e Her Copand; 5/11/1788, navio inglês Borrendale; 28/7/1789, navIO
fazer mais ativo o nosso comércio com as colônias espanholas do Rio da Prata». espanhol S,José Batista. A.H.U. (Lisboa). Docs. Rio de janeiro. Caixas 1779, 1780,
A.H.U. (Lisboa), cód. 574, f. 193v. Sobre essecontraban~o para o Rio da Prata no 1781-82,1780-81,1782-83,1784-85,1786-87, 1788-89, 1789-80. .
século XVIII, estimulado pela metrópole, Cf. José Anton!o Soares de Souza - «As- (2HJOfióo de Luís de Vasconcelos, 21/10/1779. A.H.U. (Lisboa). Does. RiodeJa-
pectos do comércio do Brasil e de Portugal no fim do seculo XVIII e começo do neiro, CaIxa 1779.
XIX". R.I.H.G.B., vol. 289 (Rio de Janeiro, 1971), p. 88 segs. (1~')Ofício de Luís de Vasconcelos, 21/5/1782. A.H.U. (Lisboa). Does. Rio de )a-
(2~2)Cf. R. Simonscn _História económica do BraJiI, 3" e,d., SãoaPaulo, ~957, pp. I neiro. Caixa 1782-83.
351 segs. Caio Prado Jr. - FormlJfiio do BraJil contemporaneo, 4 ed., Sao Paulo,
179
178
(2')(,). A corveta «São Pedro de Alcantara»,vmha de Montevj(lcu, e se chaiupa inglesa «Hind», flagrada em pleno contrabando, e apreen-
dirigia a Cádiz; motivo para dificuldades no Rio de )aneiro(2,)- I. DOIS dida; mas Sua Majestade, «atendendo a algumas JUStas considerações
franceses, que por sinal vinham em navio protugue~ para vender na do real serviço» mandava pôr em liberdade os ingleses (265). Ou
da menos que 139 escravos, tiveram a «mercadoria» apreendida{2,)};i. quando Sua Majestade Fidelíssima resolvia atender ao Rei Cristlanís-
Da colônia partiam denúncias, como a do vereador ele Cabo Frio simo, que intercedia por dois navios de Brest, comandados por M.D.
que em 1796 avisava do contrabando do pau-brasil(259). O conde de Entrecasteaux(266). O mesmo patrocínio não teve Mme. d'Entre-
Rezende se preocupava com isso(260). Denúncia curiosa de um «in- meuse, com as peripécias de seu navio «Boa Viagem», comandado
glês», comerciante desta praça (Lisboa), que prevenia o intendente aliás por um português, Eleuterio Tavares(267). Nau apreendida, ela
Pina Manique, em 1784, de seis navios saídos de Londres e Falm- acabaria prêsa em Lisboa(268).
mouth, «para a costa do Brasil, carregados de fazendas)), «apon(ando~ As ilhas atlânticas eram poiltos de contrabando, chamava a aten-
com miudeza todas as circunstâncias,,(261). E, 1798, queixavam-se os ção uma carta de 1802(269). E na capitania de São Paulo, a corres-
negociantes de Lisboa contra o «abuso e prevarica~ões do contraban- pondência dos governadores com as autoridades subalternas atesta
do de produtos estrangeiros no Rio de)aneiro, com prejUlzo da Real °
também a constante preocupação com contrabando. Para as câma-
Fazenda e ruina do comércio naciona1»(262). E sua Majestade «admi- ras de Paranaguá e S. Sebastião, por exemplo, lembrava Franca e
rava muito que ainda venham à Sua Real presença semelhances quei- Horta que o comércio exterior se deve fazer «em direitura para Por-
xas depois das severas e estritas ordens dadas». tugah, «direto com as Praças do Reino», e não para outros portos da
As autoridades coloniais, como era de esperar, nem sempre eram colônia(270). Para a câmara de S. Luís do Paraitinga, insistia o mesmo
zelosas. Como por exemplo aquele governador de Mo~ambique 00- governador que «um comércio direto de seus portos, para os do Rei-
sé de Vasconcelos e Almeida) que, de passagem pelo Rio de)anelfo no, é sem contradição o mais útil que podia imaginar-se para levan-
em viagem para África, se recusava a mudar de embar(a~ão, sem ra- tar do abatimento e pobreza em que geme há rantos anos» a capita-
zões plausíveis; é que transportava gêneros para comerciar por sua nia(27 1). A insistência parece aliás indicar que os cofonos não esta-
conca(26.:)). As «residências», depois, eram severas(264) .)á os funCioná- riam muito convencidos dessas verdades sem contradição. Para Uba-
rios mais dedicados às vezes encontravam dificuldades, dadas as tuba, mandava dizer que o anil devia ir para Santos, donde seguiria
pressões das potências sobre o governo de Lisboa. Como no caso da para Lisboa, em vez de ser descaminhado para o Rio de Janeiro(l72).
O comércio inter-colonial era assim visto como contrabando.
Na Bahia, uma carta régia já de 1707 lembrava ao governador que
{1~610fício. 22/4fl782 Docs. Rio deJanelro. Caixa 1782-1783. pelos tratados os britânicos podiam fixar quatro famílias na capital
{2S7IOfíClO de 19/3/1783, Idem. da colônia (isto é, em Salvador então); mas'que «sem faltardes à
P"i8)OfícIO de M. Melo e Castro a Ayres de Sá e Melu. 17/8/1784, transmitindo in- obrigação do tratado, procurareis com destreza fazer-lhes tão pouco
formações do Riu de Janeiro. A.H.U. Maços do Remo. 123. agasalho e favor que eles se desgostem de ir comerciar às conquistas,
12W)A.H.U .. cód 458, f. 81v-83v.
1260JOfíclO, 1798. A.H.V. Docs. R.J. CaIxa 1796. Em 1800 eram feitas apreensões
no Cabo Frio. Consulta 20/311800. A.H.U Cód. 28. fr 12-20. (2iJ~JCana de M. Melo e Castro a Luís de Vasconcel05, 3011011781. A.H.U. cód.
{261 lü fício de Pina Mamque a M Melo e Camo. 611011784 A.H.U. Does. R.J. )72, r 106.
Caixa 1781-85 (26óJ üfíClO 23/9/179l. A.H.V. Cód. 573, r 118.
(2ú2 lü fíclO de Rodrigo de Sousa Coutinho ao Conde de Rezende. 2811/179S. (WJCf. consulta 28/6/1799. A.H.V. cód. 235, r 69, carta de 4/1111799, cód.
A.H.V. Cód. 574, r 81 251, f. 110, consulta 16/12)1799, cód. 71, r 247.
':""OfíU05 de Luís de Vascoi1ldo'. de 61')1 177i.) t" 211101177'). A H U. Do(';. (2iJSlcr Olivetra Martins - HiJtóna de Portugal, t. 11, p. 256.
Rio de Janeiro. Caixa 1779. Id"!IA.HU lód 589. r 217.
(I64 IDevassa nas ilhas de S. Tomé e Príncipe. A. H U. Cód. 922, frI91-197v. De- {!70Icr Documentos lnlereSlanter, vol. LV, 1937, pp. 174 e 181.
va~sa de residênua do desembargador da Bahia (1777). lnventánó de E. Camo e Al- Irllcr D.l., vo!. LV, p. 203.
meida, vo!. 11 p. 3S2. Ir2)Cf. D.I., vol. LV, pp. 210-211.

180 181
porque será mui útil ~ue se v~o c?merciair a elas os .nossos procedem.(279) Uma outra denúncia, do ano seguinte, e dinglda
vassalos»(273). Isto é, deVIa ser hospItaleIrO de modo que os VISItantes também a Martinho de Melo e Castro, referia ainda mais minuciosa-
se retirassem. A sugestão parece que foi seguida, pois não consta a fi- mente o contrabando inglês; demonstrando a ineficácia dos meios
xação dos britânicos. Em 1770, porém, o provedor da Alfândega ad- de controle: «Logo que o navio estrangeiro entra é conduzido pelo
vertia para a corte, que através do comércio de escra~os com a ,i0s.ta patrão mor ao ancoradouro que lhe está destinado, cujo é atrás da
d' África se contrabandeavam produtos holandeses e mgleses(27 ), 1S- ilha das Cobras pela face que está para o Norte, cujo ancoradouro é
to é, os contrabandistas agora eram os colonos. . um esconderijo para descarregarem mais facilmente tudo que quise-
Para o governador da Bahia, ainda, prevenia o vice-rei LavradlO, rem, porque da cidade não se vê»(280). Sendo pois necessário «usar
em 1778, da vinda de diversas embarcações inglesas que, pretextan· outros meios com estes estrangeiros», «corja de contrabandistas,), a
do pesca da baleia, o que visavam era o contrabando(275). Pela mes- fim de evitar «prejuízo hortoroso aos negociantes de boa fé».
ma época o governador entendia assegurar a defesa dos navios mer- Tudo isso indica, evidentemente, um volume considerável do co-
cantes, comboiando-os, contra corsários~276). Vilhena, na virada do, mércio ilícito do ponto de vista metropolitano. O testemunho de
século volta a referir o contrabando africano, que entretanto su- observadores estrangeiros vem confirmar essa impressão. Dumouriez
põe ~enor que antes{277l. Mas Silva Lisboa, na cana a Vandelli referia, em 1766, que «os portugueses e o rei não detém a metade do
(18/10 11 781), refere que «daquela safra de tabaco, a metade do me- comércio do Brasil, que está nas mãos dos ingleses, a quem perten-
lhor vai para Portugal, o resto se divide em rolos de três arrobas, que cem os melhores entrepostos (<<facrories»), sob nomes portugueses,
vai para África para 0_ negócio de escravos, muito grande pane em os negociantes portugueses, em pequenos números, os capitalistas e
contrabando vai para Asia, reduzido a pó, com dano do conITato da os colonos sendo apenas testas-de-ferro e corretores»<281). Parece
Rainha»(178). referir -se mais ao domínio inglês via metrópole. Carrere, no fim do
Se já nessa época se mostrava circunspecto o futuro Cairu, não as- século, já se refere ao contrabando: 182 ). Em 1787, o consul da Rússia
sim o seu irmão Baltazar da Silva Lisboa que do Rio de Janeiro infor- em Lisboa informava para S. Petersburgo que «pelas últimas notícias
mava em 1793 o ministro do Ultramar sobre a «copiosa entrada de do Brasil, o governo foi informado do prejuizo irreparável que expe-
contrabandos nesta cidade, tendo entrado neste pOrtO no ano passa- rimentava o comércio desde a paz, sobretudo nos últimos três anos,
do, trinta e dois navios estrangeiros, quase todos ingleses, e neste por causa do contrabando aberto que se faz, nas costas, pelos france-
ano sete embarcações inglesas, as quais têm introduzido um jamais ses no Rio Amazonas, e pelos ingleses e americanos, só podendo
visto giro dos ditos contrabandos» e «os oficiais da alfândega» são «in- opor-se fracamente»; aliás «os habitantes dessas vastas solidões
teiramente inábeis nos ofícios que ocupam, não só pela falta de in- eram os primeiros interessados em favorecer os contrabandistas»(283).
teligência das fazendas, como pela infidelidade com que Testemunho assaz interessante o deste texto, que nos permite entre-
ver como éramos vistos por um diplomata do Czar (aliás czarina, Ca-
tarina 11) no fim do século XVIII (<<Ies habitants des ces vastes solitu-
(27.llCf Pinto dt" Aguiar _Ensaios de Histónae Economia, Salvador, 1960, vol.l, p. des»), o que afinal não é tão grave; mas sobretudo por indicar a pre-
19.
(2:' 4 1Cf. Pinto de Aguiar - ap. Clt .. , p. 48.
(2;"j)Ofício de 15 1111778. lnventáno, de E. de CastrO e Almeida, vol. 11 p. 394. (27'llCarta de 1014/1793. R.I.H. G.B., LXV, 1901, pp. 264-265.
(l-61Inventáno, vol. lI, p. 393. (280 1Carta de 15/2/1794 do Amador'Pacrkio de Maia. R.I.H.G.B., t, LXV, 1902,
Ir-)«Ê hoje menor o contrabando, de que vmham bem providas nossas embarca- pp. 268-273 As cartas de Baltazar S. Lisboa e Amador da Maia estão referidas em
ções». L Santos Vilhena _Recopdoçiio ... (1802). Ed. Braz do Amaral, 1921, p. B. CaiO Prado Jr. . Formação do BroJif Contemporâneo, pp. 228-229.
Mas, noutro passo, alude às vendeiras negras que saem com «caixinhas chelas?e fa- (2Nl)État présenl du Royaume du Portugal, Lausane, 1775, p. 90.
Lendas. a maior pane de contrabandos, tirados por alto, ou comprado5 em navIos es- (282)Cf. Voyoge ou Portugal. et particuliifremenl ii LlJbonne, Paris, 1798, p. 61.
trangeiros que aqUi apontam e saem carregados de dinheiro•. Recopdaçiio, p. 132 (2~.l)Carta·ofkio do Consul da Rússia, 27/2/17'd7 Biblioteca da Ajuda. Lisboa,
"'"':\.B.N .. vol. XXXII, 1910, p. 503. 51·Yl-44, f. 116v.

182 183
,ença do contrabando americano. Sobre este ponto importante, in- quando se suspendeu em Portugal a interdição ao comércio dos re-
formava ainda que os ditos americanos faziam a pesca da baleia à vis- beldes e s<; reconheceu a independência da nova nação(288), se esfor-
ta dos pequenos portos do litoral brasileiro, sem cuidar da sua fraca çasse pemstentemente por obter a formalização de um (Tatado de
artilharia{ 284)" comércio; as negociações, porém, não tiveram êxito porque os norte-
E de fato, os estudos monográficos sobre este ramo da indústria e americanos insistiam em obter licença para comerciar diretamente
do comércio coloniais, documentam amplamente a penetração dos nos pOrtos do Brasil(289). O que mostra que os Estados Unidos
ianques, a partir da segunda metade de Setecentos, nas águas do recém-independentes também se constituiam em elemento de pres-
Atlântico Sul e mesmo no litoral brasileiro, com uma intensida- são para ruptura do pacto colonial português. Se ligarmos, agora, es-
de que conduúu à decadência das atividades baleeiras luso- ses dados com o que ficou acima dito sobre a pesca da baleia nas cos-
brasileiras(285). No período que se seguiu à Independência, a tas brasileiras, não será demais presumir que os americanos do norte
economia americana enfrentava dificuldades advindas das restrições e.ram a~ivos no contra~ando no Brasil, no fim da época colonial. Mal
impostas pelo governo inglês aos mercadores da ex-colônia; daí se es- tinha vlO.do ~ corte lusitana para a América, já o negociante america-
forçarem na abertura de novas frentes de comércio, e a isso parece es- no Henn Hdl era para cá enviado como consul, a fim de orientar
tar ligado o avanço para o Adântico meridional(286). Na mesma li- seus confrades sobre as possibilidades comerciais que se abriam(290).
nha, devem interpretar-se os rápidos progressos das relações mercan- A pressão do contrabando era, portanto, grande, e tendia a se
ris dos Estados Unidos com Portugal no fim do século XVIII, atesta- avolumar nesta última e movimentada erapa da era colonial. Ingle-
dos na balança de comércio; de fato, a participação narre-americana ses à frente, mas também americanos(29 1), franceses, até suecos e di-
no intercâmbio internacional português, entre 17%"/1811 (vide grá- namarqueses, iam cada vez mais rompendo as malhas do exclusivo
fico e tabela 22), não é de forma alguma despicienda: em 7" o lugar, me~ropolitano p~)f(uguês em terras brasileiras(292). Em Portugal, os
acima da Prússia, Barbárie, Dinamarca, Rússia e Suécia(287)" Não efeitos eram reglstrados na balança de comércio; o criterioso conta-
admira, assim, que a diplomacia americana, logo após 1783, que é ~or Maurício José Teixeira de Morais, organizador das balanças, nas
lOtroduções em que comentava anualmente o movimento comercial
(2S4J ldem, ibidem. d.a metrópole, clamava contra os efeitos depressivos 40 comércio ilí-
(2~~JCf. Myriam Ellis - A balela no BTaszl colomal, S. Paulo, 1969, pp. 167 segs. Cito: em 1800, quando mais claramente começa a se manifestar o su-
(2~(,)Cf. F. Shannon _ Aménea's economicgrowth, 3 a ed. N. York, 19')1, pp. 86- peravit. da colônia (vide gráficos 3 e 4, e tabelas 3 e 4), lembrava que
88, 167-179. R. Robertson - História da economia americana, trad. pOrt., Rio de Ja- «esta diferença (o déficit) procede da introdução das fazendas ingle-
neiro, 1967, t. I, pp. 268 segs_ No ofício de ~ de Janeiro de 1785, dirigido ao Vice-rei,
o ministro .do Ultramar Maninho de Melo e Castro notava que «as províncias unidas
americanas, que de uma nação sujeita passaram a uma potêncIa livre e soberana, ten- (288JCf A. Delgado da Silva" ColeçJo de legISlação Portuguha_ Vol. de 177~"
do grande quantidade de embaraços durante a guerra, que viviam do corso, também 1790. pp. 332-333.
as veremos, quando menos o esperamos, infestarem os pOrtOS e costas do mesmo Bra- (2W)Ja. Raul Eça - «Colonial Brazil as an e1ement in the early diplomatic negotla-
sil, principalmente não lhes sendo desconhecidos, mas antes tendo sem mterrupção tions betwen the United States an Portugal, 1776-1808», In Colomal HIJPamC Ame
freqüentado aquêles mares, onde faziam e fazem a pesca das baleias». R.l.H. G.B., t. n'ca, dir. por A. Curtis Wilgus, Washington, 1936, pp. 551-5~9_
X (2 a ed., 1870), p. 214. (!'!O)Cf. Henri Hill- A View oflhe Commerce ofBraztl (1808), ed. bilíngue, Salva"
(2M7JSe acompanharmos, nas tabelas de importação e exportação das balanças de co- dor, 1964. Entre as mercadorias que Hill aconselhava seus conterrâneos enviarem pa-
mércio dos anos de 1796 a 1807 (Cf. Balança Geral do Commercio do Reyno de Por- ra o Brasil figurava, por exemplo. velas de espermacete, e OUtrOS produtos baleeiros.
tugal com os seus Domimós e Nações EstrangeirtlS, dos anos 1796 a 1807, Biblioteca (2'!l)Sobre a pressãu diplomática e econômica norte-americana, cf Antônia Fernan-
do Instituto Nacional de Estatística, Lisboa, A.H.M.O.P., Lisboa, B.N.R).) a posi- da Pacea de Almeida Wright - Desafio amencano li preponderância bnlômca no Bm
ção dos Estados Unidos, constatamos que, nas importações (para Portugal) eles co- sil, Rio de Janetro, 1972, pp. 117 segs.
meçam na 11' colocação (1796, 1797, 1798), ascendendo em 1799 à 9", em 1801 à (292 )Vide o trabalho, atrás citado, de José Antonio Soares de Sousa (<<Aspectos do
3 a , seu pomo máximo, depois se mantém entre a 7" e 5". Como consumidores das comercio do Brasil e de Portugal no fim do século XVIII e comêço do XIX»,
exportações ponuguêsas os Estados Unidos se mantém nesse mesmo periodo na 7 a R.l.HG.B., vol. 289, pp. 3-111), que enriquece, como novos dãdos, o estudo do
colocação, ascendendo em 1799 para a 5". contrabando nesse período.

184 185
sas no Rio de Janeiro em navios da mesma nação, e que fizeram es- Em 1805, infatigável: «o muito contrabando» rem «entrada quase
tagnar nossas manufaturas»(293). Dois anos depois volta a insisitir: a que franqueada, naqueles portos, com o mais escandaloso
diminuição nas exportações das manufaturas portuguesas (<<gêneros abuso»t 299 1, sendo necessárias «eficaze~ providências, além daquelas
das fábricas do reino») decrescera em função «do comércio clandesti- que anualmente se dão». Indefesso, em 1806: «o ruinoso princípio
no de nossa América, onde se faz sumamente necessária a inalterável da introdução clandestina das mercadorias proibidas» é fruto da «fal-
observância das leis, que proibem absolutamente a entrada de ma- t ( de p;<triotlsmo de alguns negociantes que esquecidos das leis que
nufaturas estrangeiras naqueles portos, não se permitindo por moti- .!uS regem procuram somente os seus interesses. por esse ilícito e rui-
vo algum, como tem sucedido nos anos passados, com grave prejuizo noso t'omércio»(300); para finalmente concluir ,em 1807, que «o con-
para nossas fábricas, da Real Fazenda, e do Público». E prognostica- trabando é o mal que tem grassado em toda a América».(3ol). De-
va: «Mais virão a decair. a não se lhes darem enérgicas providências. pois, será a «grande perda, pela abertura do comércio às Nações, em
que pedem semelhames estabelecimentos que tanto têm custado a toda a extensão das capitanias do Brasi1»(302).
criar»(294). Por onde se vê que a pressão da potência indusuialista Significaliva, por vários motivos, essa impressionante seqüência
levara, na virada do século, a concessões no plano colonial, per- de observações contundentes e melancólicas, de um testemunho
mitindo-se a navegação direta para o Brasil; e o término das li- muito bem situado em face do problema. Em primeiro lugar, ela
cenças não fazia diminuir o impacto, que crescia pelo contrabando. dOS deixa a nítida impressão, que os outroS dados recolhidos corro-
Ou, como nota Soares de Souza(295) com muita plausibilidade, as horam, de que o contrabando vai num crescendo até arrombar as
concessões teriam animado o contrabando inglês. A destacar-se, portas em 1808. Por outro lado, cumpre pôr em destaque a peniná-
também, no trecho de Mauricio Teixeira de Morais, a conexão que se ('<I inamovível do funcionário; é que ela afigura-se-nos como expres-

estabelece entre o surto manufatureiro em Portugal e o mercado são da própria posição específica da metrópole, que não podia abrir
consumidor da colônia. mão do sistema._E, finalmente, a constatação de que os colonos, ou
O ano de 1802, aliás, tinha marcado uma certa retração do inter- pelu menos alguns deles, aderiam ao contrabando, propiciando sua
câmbio metrópole-colônia (vide gráfico e tabela 3), o que igualmen- ("'pansão
te é atribuído aos «descaminhos»(296). Em 1803, incansável, retoma- Este último ponto aliás é de suma importância, e nos conduz à ou-
va o contador suas considerações: «nossa exportação vai diminuindo [ta face do mesmo.problema. Com efeito, também aqui, no que diz
gradualmente desde o ano de 1800; e decaindo consideravelmente respeitu à pre::;ervação do exclusivo comercial, é possível discriminar
no artigo das produções das fábricas do Reino», dado «o comércio uma face interna(303)~ e só a consideração conjunta dos dois aspectos
clandestino da nossa América» onde a transgressão das leis «tem sido é que nos pelmidrá enfim caracterizá-lo na sua manifestação crítica,
escandalosa de alguns anos a esta parte»(297). No ano seguinte: «a fa- istu é, na etapa de crise do sistema. Uma certa resistência, por parte
zenda de contrabando que com escandaloso excesso se tem introdu- dos colonos, à prática do exclusivo metropolitano do comércio, vai
zido nesta capitania, tem dado causa à ruina do comércio lícitú»(298). efetivamente se engendrando com o próprio desenvolvimento da co-
lonização.
IN1,(f. Balança Geral de Commercio do Reyno de Portugal com os seus Dominios
!\.Ia sua forma mais rígida, os estancos, que configuravam um es-
no anno de 1800. Introdução.
(2'I4)(f. Balança Geral de Commerczo do Reyno de Portugal com os seUJ DommzOJ
trito monopólio, o exclusivo mercantil provocou na colônia uma gri-
fi!) dnno de 1802. Inuodu~ão_ ta quase permanente. O regime, como era de esperar, promovia in-
(2'I'j~ A. Soares de Sousa· Artigo citado, p. 87.
2
(2%J«Tanto a importação como a exporração diminuiram consideravelmente êste t 'I'!JBalança Geral do Commerczo .. 1805. Introdução.
ano, a respeito dos passados, talvez provenha de grande contrabando e descaminho Il{)I)I&lança Geral do Commercio .. 1806. Introdução_
que se d!z haver naquele continente». Balança Geral do Commercio ... 1802. Inuo· IWllBalança Geral do Commemo .. 1807. Introdução.
dução. '\<l21&/,
ança Ger",_U
"o CommerclO. .. 1810. Infro duçao.
-
(c"FiBaIança Geral do Commercio . . 1803. Introdução_ '<"'Cf Emília Viom da (o~ra «Introdução do estudo da emamipa~ãu políTlCa._
1·"}~JBalaflça Geral do Commerclo . . 1804. Imroduão 8TJJd UI; l-'eTlj>ectll·J. São Paulo. [968. p 82·86.

1í!ú 187
crível alta dos preços e escassez das mercadorias estancadas; mais ain- à empresa(3lO). A tal ponto, que o próprio governador geral conde
da, criava condições para o florescimento de uma sinistra casta de de Atouguia acabou por endossar representação da câmara do Rio de
atravessadores, que além do mais promoviam altas artificiais. Contra Janeiro, enviando procurador a Lisboa, que .acabou por obter que
tais «monopolistas» muitas vezes manifestavam-se as câmaras(304), e nas Cones se representasse contra a companhIa(3 11 ). Também a Câ-
os próprios governadores se sentiam na contingência de lhes dar mara da Bahia empenhou-se nos protestos(12). Da Companhia do
combate, talo clamor dos povos. Mais que nenhum outro, o estanco Maranhão, basta lembrar que o descontentamento por ela provoca-
do sal (dada a primeira necessidade do produto), excitava protestos do foi dos motivos primordiais que levaram à rebelião de Beckman
quase contínuos, chegando mesmo a provocar conflitos e (1684), da qual resultou o término do monopólio da emprêsa, além,
motins(305). Também o sabão, durante algum tempo, foi objeto de é claro, da punição dos principais responsáveis pelo !evante(313).
estrito monopólio(306). No fim do século, Vilhena criticava o regime As companhias pombalinas, por seu turno, apesar do rígido auto-
dos contratos e arrematações, insistindo na necessidade de um celei- ritarismo da governação do Conde de Oeiras(314), que desanimava
ro público, uma praça do pescado, um mercado para as carnes, etc., no nascedouro qualquer manifestação de desagrado, não deixaram
a fim de impedir os atravessadores(307). O sal e o azeite, gêneros di- de provocar protestos veementes na colônia, e aliás também na me-
retamente ligados aos estancos, eram escassos e caríssimos, o que lhe trópole(315). Fundadas, no quadro do esforço do governo de Pombal
parecia «contra as leis da eqüidade e sistema político»(308). O regime para recuperar o atraso econômico português, visando «racionalizar a
havia enfim de ser criticado pelos teóricos do mercantilismo ilustrado estrutura empresarial em favor dos mercadores nacionais»(316), elas
dessa última quadra do sistema colonial{309}. atuam, por um lado no sentido de autonomização comerCIal em face
Num segundo plano, as companhias de comércio, que configura- da tutela inglesa, e de outro lado no sentido de dinamizar o comér-
vam, como vimos, um ponto intermediário no regime exclusivista, cio colonial lusitano. Integradas, assim, no esquema geral do mer-
foram por sua vez objeto de permanentes críticas. Já a Companhia cantil1smo pombalino como uma de suas peças fundamentais, a
Geral do Comércio do Brasil, incorporada logo após a Restauração e atuação das companhias do terceiro quartel do século XVIII promo-
que operou até 1720, acumulou os clamores dos colonos: provocara a veu indiscutivelmente a expansão das atividades produtivas coloniais
falta dos gêneros, as frotas não eram regulares, preços exorbitantes
dos produtos metropolitanos, e desvalorização dos coloniais, etc.;
queixas que foram criando um ambiente de generalizada hostilidade (llOlCf. Gustavo de Freitas - A Companhia Geral do Comércio- do Brasil (1649·
1720), S. Paulo, 1951, pp. 42 segs., com d9cumentação em apêndice.
011JCf. Manuel DiéguesJr. _..As Companhias privilegiadas no comércio colonial».
(31l4JCf. Ch. Boxer - Portuguese soúety in lhe tropu;s, the muniúpal õOunals o) ·Rev.Hist. (S.P.), nO 3, 1950, p. 318.
Goa, Macao, Bahia, and Luanda, 1500-1800, Madison, 1965, pp. 102-103. (3121Cf. Ch. Boxer - Portuguese soclet) In lhe tropics, pp. 83 segs.
(lO~JCf. MyriamEllis - O monopólio dosalno Estado doBraSlI (1631-1801), S. Pau- (ll.lIVeja_sc Anhur Cezar Ferreira Reis, in Hut6na Geral da CIvilização Brastletra,
lo, 1955, pp. 139-157, (Om ampla dowmemação. No século XVIII, os preços do sal dir. ~or S. Buarque de Holanda, t. I, 2° vol. pp. 326-327, 380-386.
çonfiguram, segundo a autora, uma ~crise aguda de carestia» (p. 149). (31 Jcr Lúcro de Azevedo - O Marquês de Pombal e sua éPoca, 2a ed., Rio deJa-
(306)0. P. Perel~adosReis - Ocolonialismo português, São Paulo, 1%4, p. 62. Sa- nelIO, 1922, pp. 87 scgs.Jorge de Macedo - A situação econômica no tempo de Pom-
muel de Paula .. Aspectos negativos da colonização portuguesa, Rio deJaneiro, 1971, bal, Pono, 1951, pp. 37-46.
p. 92. Nestas obras naturalmente se arrolam as medidas restritivas da metrópole em (3l)JCf. M. Nunes Dias - A companhIa Geral do Grão-Pará e Mpranhão (1755·
relação à colônia. 1775), São Paulo, 1971, pp. 539-560. José RibeiroJúnlof - Colonização e Monopólio
(3oi)Recopilaçiio ... (1802), pp. 124 segs. no Nordeste BraJileiro. A Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba (1759-1780),
(308 JRecopilação ... pp. 133-134. São Paulo, 1976, pp. 74-82, 171-180. António Carreira - Arcompanhiaspombalinas
(\O')JCE. Azeredo Coutinho - Ensaio económico sobre o comércIO de Portugal e suar de navegação, comércio e tráfico de escravos, entre a Costa africana e o Nordeste bra·
colônias, 1794. In Obras econômIcas de].]. da Cunha Azeredo Coutinho, S. Paulo, sileiro, Porro, 1969. Similarmente, para a América Espanhola: R.D. Hussey - The
1966, pp. 76 segs. José Bonifácio de Andrada e Silva - Memória sobre a pesca das ba- Caracas Company, 1728-1784, Cambridge (Massachussets), 1934, pp. 90-121.
leias, e extração do seu azeite. In Memórias econômicas da Academia Real das 5ciên· (116JKenneth Maxwell _ «Pombal and the modernizaTÍon of Luso-Brazilian eco-
cias de úsboa, vol. n. Lisboa, 1790, pp. 388-412. nomp. Separata da Hisp.Am.Hist.Rev., vol. Xl.VIlI, 1968, p. 623. -

188 189
nas áreas de sua jurisdiçãd 317 ). Ao longo de sua atuação porém fo- área colonizada (as companhias finalluavam essa expansão); por ou-
ram a pouco e pouco fazendo-se sentir os efeitos inevitáveis, que re- trO lado, o exclusivo mais estrito fazia funCionar mais rigidamente o
pontavam nas reclamações, logo reprimidas pelo governo metropoli- mecanismo de transferência de renda da colônia para a metrópole
tano: escassez do abastecimento, alros preços aos produtos euro- (compressão dos preços dos produtos coloniais, elevação dos pre.ços
peus, baixos preços dos produtos coloniais(318). A queda do marquês das mercadorias européias); 'finalmente, os mercadores metropolIta-
de Pombal permitiu vir à tona uma avalanche de reclamações(319). nos não acionistas ficavam fora deste giro mercantil. Assim se com·
Do pOnto de vista dos colonos fez-se porta-voz finalmente o gover- preende que essas empresas fossem alvo de clamores tanto na metró-
nador de Pernambuco José Cesar de Menezes que, numa carta de pole como na colônia, e que os colonos, apesar da expans;J.f) da agn·
1778(320), sintetiza as críticas e aprofunda a análise da situação, refu- cultura e do comércio, não participando dessa elevação do nível geral
tando os argumentos da Junta adminIstrativa que defendia a atua- de renda, clamassem miséria, pois se endividavam necessal lamente
ção da empresa. com a empresa monopolista (a «miséria destes povos pelos vexames
De faro, pela sua forma de mobilizar recursos através das ações e das companhias», como dizem insistentemente as representações).
configurando um grau mais fechado de exclusivismo (o exclusivo
De qualquer forma, o que importa destacar, do ângu~o qu:. esta·
«normal» no sistema reservava o mercado das colônias aos mercado-
mos examinando o problema, é que neste momento de lOflexao em
rt:~ d~ metrópole; as companhias, a uma parte deles, isto é, a seus que se abre a crise do Antigo Sistema colonial e que coincide em
aCIOfltstas), as companhias de comércio colonial promoviam uma
Portugal com ú término do «consulado» pombalino, exasperam-se
maior concentração de capital, e pois maiores possibilidades de rein-
no Brasil os agravos contra as companhias. Isto é de suma importán.
vestimento, o que explica a expansão das atividades produtivas na cia por dois motivos. Primeiro, p()rque ~endo o monopólio das com·
panhias de comércio apenas um grau I),ais rígido d~ntro do exclusivo
r, I 'Neste sen(Jdo. paren~ te; sldu maior o êxito da Companhia do Grão-Pará que o
da de Pernambuco. O que abas se compn~ende: A Companhia do Norte atuou sobre metropolitano, a oposição a ela~ Lom o tempo tc:n.d1a naturalmente ,a
uma área de economia m(Jpu~nte. partindo quase que do marcu zero; a do nordeste se transformar, por parte do~ colonos, numa cemca e mesmo opoSto
inCIdIU sobre uma zona já densammte colOnizada. Cf. Anhur César Fetelra Rels _A ção ao próprio pacto colonial; e isto numa época em que o sistema
po/íllca de Portugal no Vaie Amazômw. Belém. 1940. pp 94 segs. M. Nunes Dias. entrava em crise, e se acentuava o contrabando. Segundo, porque na
op. Clt .. pp. 475-516.)05é R,bmo)r _oi'. C/t. pp.132-164.
resistência ao exclusivo das companhias começa a sê descortinar uma
IlJH1E
xemp Ios d('ssas fec Iamaço('s:
- Carta de LUIS: Dlogo Lobo da Silva
. (3013/ 1761).
A.H. U. Oocs. Pernambuco, caixa 50. Sobre carênCia no abasteCimento de fazendas. fissura entre os interesses dos próprios mercadores estabelecidos na
Do mesmo. carta de 1814/ 1761, falta de gêneros e atraso da frota. Requerimento dos colônia e os interesses mais estritos da metrópole. A isto estaria liga.
m~radores de PernambulO. J 770. Sobrt· o .vexame» que sofreu da Companhia (caixa da a atitude de governadores das capitanias, apoiando· reinvindica·
55 J. ções contra a política metropolitana das companhias de comércio.
r,h)JCf
. . ~a ron~~ Ita de 41 91 1779 do Conselho UJrramanno, sobre as reclamações.
A.H. U. cod. 26 i, ff 132-135. Igualmente. consulta de 2/811780, cód. 921, f. 18v. Estas considerações, por sua vez, nos levam ao último aspecto do
C~~sulta ,de ~9/ 1111777. Sobre reclamações de Cabo Verde COntra a Companhia do problema: as formas que iam assumindo ~ resistências coloniais ao
Grao-Para, cud. 1237. f. ') Idem, cód. 180 .. f. 4v .Abalxo assinado dos homens de exclusivo metropolitano, mesmo na sua dImensão maIS geral, qual
[]~góuu da Praça do Pará (1791)>>. B.N .RJ. m5. 1-29, 13. 35 ~DiSlursos sobre a deca-
denna em que se acha a nossa América», relativos a seus estabdeomentos comerciais seja a reserva do comércio da colônia aos mercadores da metrópole.
( ! - --? l· B. N.R.) Ms. 1-28·25, 1i Representação dos vassalos do Grão Pará e Mara- Estudando a instalação da Companhia de Pernambuco e Paraíba,Jo·
nhàu (1177), In Amônio CaneHa. Op. Clt., pp. 413-430. sé Ribeiro Junior pôde reconstituir, apoiado nos recentes trabalhos
I 'cOI(arta de ReCIfe. 15/7 f 1778. A.H.U Docs. Pernambuco. Caixa 67. (Devemos de Pierre Verger (para a Bahia) e em fontes diretas (para Pernambu-
o (onheCimento desse texro ao Prof.José Ribeiro Jr.). Vide também, do mesmo go_ w), todo um conjunto de propostas que remontam ao fim do século
vernador. a cafta de 24/51177') (A .C. de Lisboa, cód. 29v., dO(. 13) que se refere à
.!n!en~}f. "oflde eflrr.!va nào só os prejuízos que IJnham relehido estes povo< mas XVII e se manifestam até a época do governo de Pombal, panidas de
tdmb('m a Real Falend~ •. E comu que a justificar a sua poslç;lo: sem ponder~ cô- mercadores coloniais, de criação de companhias, especialmente para
modo lrlleresse destes puvos, basta olhar pata o lnteressc da R'.·al Fa~enJa". o tráfico de escravos, que teriam sede nas praças coloniais, com pre·

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dominância dos interesses desse grupo de comerciantes(321). Tais menta da mineração: a posse do metal nobre amoedável, de fato, in-
projetos ~e cont;apu~h~m a.outros, sugeridos pela metrópole. Des- dependizava os coloniais (produtores, mercadores) da vend~ de se~s
tarte, sctla pOSSlvel dlstmgulf «dOIS grupos de mercadores: um liga- produtos para a aquisição dos produtos de fora; daí uma maIOr fleXI-
do à metrópole e pela realeza protegido, OUtro ligado à colônia, con- bilidade nas suas transações, um maior desembaraço, uma mais efe-
tando eventualmente com a ajuda do governadoc»(322). Em Pemam. tiva possibilidade de resistência ao exclusivo( 26 ). Por .ond.e se r~ve­
~uco, às vésperas da criaçao da ~ompanhia pombalina, e em resposta Iam as contradições do sistema: ele naturalmente tendia a iOcentlVar
as sondagens do Conde ~e Ocuas, a Mesa da Inspecção de Recife, a procura e exploração das minas; mas ao faze,lo começava a criar
prop.unha uma companhIa que abrangesse o Rio de Janeiro, Bahia e condições para os colonos começarem a se desprender dos laços de
o Remo, mas (')ffi sede na Bahia, «onde se somariam os lucros e re- dependência(27). Para justame~lte impe~ir os descaminho~ do me-
partiriam pela:. ações proporcionalmente». O alvitre, endossado pelo tal. a metrópole via-se na necessidade de Impor rotas excluslvas para
g~ver?ador, parece que nem obteve resposta; o que se concretizou o escoamento; mas assim concentrava por sua vez os efeitos solapado,
f01_a mst~alação de ~ma colT!.panhia nos moldes da já formada do rcs, para o sistema, da produção do metal nobre.
Grao Para e Maranhao(323l. A mesma época (17)7), na Bahia, uma O exemplo da Bahia é ainda mais típico: desde o século XVII, vi-
proposta em moldes semelhantes, da Mesa do Bem Comum dos nha se desenvolvendo e se avolumando o tráfico direto com a Costa
rI?erca~ores locais, levou à sua extinçJ,io e a uma severa repreensão ao da Mina, do qual ficavam praticamente excluidos os mercadores me~
VIce-reI conde dos Arcos(324l. lfopolitanos; o que se devia, segundo Verger, que estudou eXaUStIVk
Por Outro lado, numa passagem infelizmente muito rápida, Lúcio mente esse tema(328), ao fato de que os negociantes da Bahia encon-
de Azevedo ~hama a atenção para o fato de que teria sido projeto de travam na Costa da Mina mercado para o tabaco de terceira qualida-
Pombal ~ mação de uma terceira companhia, seguindo o figurino de (o «refugo»), proibido em Portugal, e do qual detinham pratica'
das ~ntenores do Grão Pará e Pernambuco, para o Rio de Janeiro e mente a produção; os holandeses, domllladürcs na tegião africana, ti'
BahIa; e baseando-se num documento consular inglês explica a frus. nham excluído os portugueses e só davam entrada aos ofertantes do
tração do projeto pela dificuldade de arregimentação de capitais e tabaco que permitia o tráfico negreiro; e finalmente, Portugal inter-
sobretudo pela oposição britânica{32'j). Com o que fica dito acima, ditara esse tráfico aos negociantes do Rio de Janeiro que operavam
entretanto, não será desarrazoado supor que uma resistência mais com intermediação da Roya! African inglesa e que, não dispondo
acentuada dos mercadores estabelecidos nessas duas maiores cidades do produto de escambo, acabavam por promover a saída do
do Brasil-colônia tenha ~ontado para o abandono da idéia. Ê que
ambas essas praças mantInham relações comerciais que de certo mo- IJ2(,) Analisando as implicações do desenvolvimento da mmeração na relação dos co-
~o extrapolavam as traves do pacto colonial: a Bahia, com a COsta da °
lonos com a metrópole, Virgílio Noya Pinto esclarece, com muita preósão, fenôme-
no: «Na economia aurífera, as posições se invertem: quem detém o dinheiro, no caso
Afric~, o Rio deJaneiro, com o Rio da Prata. O que lhes daria maior o ouro, é colono, enquanto que os mercadores, representados pelas frotas, sào os de-
c.apaCldade de resistência ao enquadramento nos esquemas metropo- (entores das mer("ad0nas. E,ta mversãu determinuu uma série de m()dificaçõe~ no co-
lltanos. mércio atlântico. Assim, os detentores do ouro impõem os seus gostos e as suas neces-
No cas? do. Rio de Janeiro, uma relativa autonomização parece es- sidades aus comerciantes». Cf. O ouro brasilúro e o comércIO anglo-português. Con-
tnbU/ção ao estudo da economia atlântica no século XVIII. São Paulo, 1972, p. 237
tar tambem ligada ao fato de ser esse pOrto a principal via de escoa-
(exemplar mimeografado).
(.\2~)Sylvio de Vasconcellos, que já em 1968 apontara para o mesmo fenômeno (ou
(J2I)cr José Ribeiro JR., Colontzação e Monopólio, pp. 74-83, pp. 87-91. Piem
seja, o fato de a exploração aurífera tender a independizar o colono), rela.clona'o a
Verger - Flux et Ref/ux de la Traite des negreJ entre le Golfe de Bénin ef &hia de To. uutras peculiaridades da economia e da sociedade mineira em face da litorânea (me-
dos 2~s Santos du XVII au XIX s/ec/e, Paris, 1968, pp. 67-115. nor concentraçào da renda; mobilidade social mais acentuada, etc.) para explicar a
(3 ijoséRibelroJr. -op. cit.,p. 74.
persIstente rebeldia e insubordinação desses colonos, atestada nas constantes recla-
013U.José Ribeiro Juníor - op. cit., pp. 76-79. mações dos governadores. Nem é por acaso que a inconfidência eclodiria nas Minas.
024JO. Pierre Verger - op. Clt, pp. 110-11 5. Cf. Mineiridade. Ensaio caracterização, Belo Horizonte, 1968, pp. 19,28.
. d e A zeve d 0- E
(32:iJCf. L'uno '.J ' .
POCaJ ue PortuGal economtco, pp. 438-439. (\2H1Cf. Flux et réf/ux ... , pp. 27,60 .

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ouro(32'.)). Assim, as próprias necessidades da colonização levavam à promoveria a acumulação de capital na metrópole. Mas o próprio
formação de linhas de comércio que navegavam fora do sistema. desenvolvimento da colonização ia invertendo as posições. De um
Não era possível incrementar a exploração da colônia sem abasteci- lado, havia a concorrência das metrópoles na costa da África, onde
mento de escravos para a produção colonial; o que levava a incenti- de início tinham sido absolutos os portugueses; de outro, «havendo
var a cultura do tabaco, que acabava por privilegiar a posição dos ne- na Bahia e Pernambuco o tabaco, a gerebita ou cachaça, o açúcar e
gociantes da Bahia, que se iam independizando dos seus confrades alguns outros gêneros de alguma importância próprios para o comér-
do Reino(330). cio da Costa da África, e não os havendo em Portugal, com eles pas-
O tráfico baiano de escravos dava naturalmente lugar a amplo saram os americanos àquela Costa, nas suas próprias embarcações, e
contrabando com ingleses, holandeses e franceses na Costa da Áfri- lhes foi muito fácil estabelecer ali o seu negócio, excluindo inteira-
ca(33I). O governo de Lisboa tentou em vão impedir o descaminho, mente dc;le os negociantes das Praças deste Reino». E pior: em vez de
vincular. o tráfico à metrópole. Ao marquês de Valença, instruía em os colonos do Brasil «negociar tão sômente com os naturais do País»,
1779 Martinho de Melo e Castro no sentido de atentar para o «artigo «entravam igualmente a fazer negócio com ingleses, franceses e ho-
do tabaco», com o qual se praticavam as maiores desordens; pois ten- landeses», «recebendo das ditas nações fazendas da Europa a trôco
do em ",nosso poder o único gênero capital, que é o tabaco do Brasil, do tabaco do Brasil»(333). De sorte que quase todo o comércio da Ba-
sem o qual se não pode fazer resgate de negros, nem outra alguma hia ia se dirigindo para África, Jazendo dele um rigoroso monopó-
negociação na Costa da Mina», era de esperar que «dentro em breve lio» (!), o que obrigou a intervenção da Coroa tentando disciplinar a
tempo florescia este importante ramo de comércio nacional portu- situação; mas continuaram as ",desordens e prevaricações». Em Per-
guês., - o que tudo era obstado pelas ",prevaricações» de «mais per- nambuco, diz o ministro, a Companhia Geral «foi o meio eficaz com
niciosas conseqüências». O erro vinha de «deixarmos o comércio da que ficou cessando o dito contrabando»(334), por onde se vê um dos
Costa da África entregue nas mãos dos americanos» (isto é, dos colo- motivos reais de sua criação: recuperar para o comércio lusitano o
nos), sem «acordar ao mesmo tempo aos negociantes das praças deste tráfico de escravos para a colônia. Para a Bahia, entretanto, seria difí-
Reino (isto é, metropolitanos) alguns privilégios, graças e isenções, cil tal solução, sem comprometer a cultura do gênero de resgate. E a
para que na concorrência com os ditos americanos nos referidos por- Mêsa de Inspecção, que devia disciplinar o intercâmbio dentro de
tos da África tivessem os portugueses a preferência, da mesma sorte um volume razoável (e sem contacto com os estrangeiros), acabava
que a capital e os seus habitantes, a devem sempre ter em toda parte por se conluiar com os indisciplinados colonos. Situação que, a con-
sobre as colônias e habitantes delas»(33 2). tinuar, «seria o mesmo que acordar-se aos ingleses, franceses e holan-
O texto é claro como definição do tráfico de escravos no quadro do deses um comércio franco pelos portos da África entre aquelas na-
colonialismo mercantilista; ele devia formar um ramo do comércio ções e os domínios portuguêses do Brasil, sem intervenção alguma
colonial, isto é, dos mercadores metropolitanos, através do qual se do Reino de Portugal, contra a regra fundamental, geralmente esta-
belecida entre todas as nações que têm colônias»(33'i}.
(32'ilTambém em Angola se fazia sentir o comércio direto com o Brasa, e os esforços
da metrópole para impedi-lo. Cf. Carlos Como· «O Pacto colonial e a interferência
Esta «regra fundamenta!», já se vê, era o exclusivo metropolitano
brasileira no domínio das relações econômicas entre Angola e o ·Reino no século do comércio colonial; apenas não era «estabelecida entre as Nações»,
XVIII •. EstudoI HútÓncOJ. Manfia, n. 10, 1971, pp. 21-32. mas um elemento inerente ao sistema; as nações, estas, tinham a for-
i.llO)Ve/a_se). R. do Amaral Lapa· O labaw br(IJilelTO no século XVIn (Anotações fiori, de competir furiosamente pelas vantagens e estímulos que o
aos estudos sobre o tabaco de Joaquim de Amorim Castro). separata de 5tudia, n" mesmo sistema engendrava. E aí começavam as contradições.
29, 1970, pp. 57-144. Incluído também in Economia colonial. São Paulo, 1973, pp.
Pois que os colonos iam. gradualmente, tomando consciência da
141-229.
(31)Cf. P. Verger, op. cit., pp. ll6-1I7, 151-152,207.
(331) Instrução para o Marquês de Valenço, governador e capitão general da CapIta- l'j'JInstruçào para o Marquês de Va/ença pp 391-392
nia da BahUl (10/9/1779). In F.A. Varnhagen - Hútól'..p Geral do BraJiI. 3" ed., t. 13HJlnslruçJo piJro o MorquêI de Valença pp 392-393
IV, pp. 376-395, referências, pp . .389, 390, 391 il3'>IInstruçào poro o MarquêJ de Vaiença P 394

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navegam para a Mina, Angola, Benguela - o que dava lugar a
sua oposição de interesses Lom o comércio metropolitano, e contes-
tando o regime do «exclusivo»: «primeiro, os estancas, depois as intenso contrabando com os estrangeiros. E associa a mudança aos
companhias; finalmente, o «exclusivo» em si mesmo. AssIm, nas progressos da constcução naval na colônia, coisa de que a metrópole
Cartas Econômico-políttcas de). Rodrigues de Brito, ao se analisa· não podia prescindir, dada a riqueza das madeiras coloniais, e sua
rem os obstácul,oS ao desenvolvimento da colônia, como que insensi- escassez na metrópole(342). Mais uma vez, o próprio desenvolvimen-
veh!Ieo:e se vaI apro~ndando a crítica: primeiro se questionam as to da colonização ia pois engendrando contradições no sistema.
obngaçoes de se cultIvarem produtos de subsistência ao lado da la- Mesmo na sua forma mais genérica, ponanto, isto é, na reserva
VOu,ta de exportação; depois as exigências de exames de qualidade, dos mercados coloniais ao conjunto dos mercadores da metrópole, o
o.bngações de local e época, etc. Mas, desde o início, já preconizava a exclusivo metropolitano ia sendo contestado: de um lado pela pre-
lIberdade de o lavrador preferir «quaisquer compradores que melhor sença crescente, que antes documentamos, dos mercadores estran-
I~os pagassem:). Para, finalmente, (Ontestar os «falsos princípios do geiros; e por outro lado, pelo estabelecimento de linhas de mercân-
sl~t.eI?a excluslVo:l336 ). Apesar de certa obscuridade, pois o texto se cia a partir dos ponos.da. colônia.
dmgla ao governador, em resposta a uma consulta de 1807, deixa O desenvolvimento do industrialismo na Inglaterra levava a po-
transparecer as idéias subjacentes e o ânimo dos colonos da Bahia. tência hegemônica, cada vez mais, a forcejar (seja pelo contrabando,
Que as medidas de controle não surtiam efeito vê-se pelas entra- pela ameaça, pela diplomacia) a abertura dos mercados coloniais dos
das de escravos da Costa da Min,l na Bahia, que estão crescendo nas países ibéricos(343). E'é essa convergência de pressões internas e ex-
últimas décadas do século XVIll\·B~), Na sua cana de 1781, José da ternas, num volume inapelavelmente crescente, que caracteriza, a
Silva Lsboa descreve como um negócio próspero o resgate de escravos nosso ver, a etapa de crise no esforço metropolitano pela preservação
pelos baianos(3.38), i~dicando ~inda q~e, promovendo a imponação do exclusivo. Ao anotar o antigo regimento do governo geral em
de fazendas estrangeiras, «dafllfica multo o comércio de fazendas que 1804, tratando _esta matéria de suma importância», o vice-rei lem-
vem de Portugal». No ofício de 178') refere-se Martinho de Melo e brava as dificuldades na execução das reaLS ordem(344) quanto à ave-
Castro aos «nocivos canais da costa da África», onde sofremos, da riguação das arribadas. Era, de-fato, difícil conter as ondas que a
parte dos holandeses, ingleses e franceses, «um jugo tão intolerável e premiam de dentro e de fora.
tão injurioso»(3.39). A aportagem, freqüentemente na Bahia, dos Ainda que os interesses de mercadores coloniais às vezes pudessem
navios da carreira da Índia. dava também lugar a descaminhos e colidir, do ponto de vista do sistema ambâs forcejavam no sentido da
contrabandos{.340). E nas instruções ao vice-rei Conde de Rezende ruptura do pacto. Quando «o corpo de comércio da Bahia», por
(1790), a autoridade metropolitana chama a atenção para o fato de exemplo, em 1800, pedia ao Príncipe Regente «que os estrangei.
que a n~vegação brasi~eira «tem mudado de figura»(341). Antes, ros se não estabeleçam com casas de negócios nos domínios do
er~ navIos dos comerciantes das praças do Reino; agora os proprie-
Brasi].(345), parece claro que estão defendendo o seu comércio c:om a
táIlOS são negociantes da Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, que LO~( .. d' África, através do qual traziam eles mesmos as manufaturas.
l:n~ '- Outros, porém -- mercadores baianos ou estrangeiros - esta-
(316)C(. Joao- Rod ngues
. d e B·
mo - Car/iJJ economlco-políticas
- sobre aagni:ultura e "'.-1!I, ~Ap.("" mdu as linhas do exclusivo metropolitano. No mais das
comércio da &hia(1821), Salvador, 1924, pp, 28 segs., espeoalmellte p. 72.
u ncr MaurícIO Goulart . A escravIdão africana no Brastl, 2' ed., S. Paulo, 1950,
pp.214-215. '~Úbft- o' est.l.lt'lro t' "'lI~rruçues na Babl<l. >,Iclt' J-R. dt'- Am.tral bp.l Up
<lI .. Pro )1-8~
1l\81Cana de 18/10/1781 A,B.N., vol. XXXII, 1910, pp. 504-505.
1.l3'IJ Ofíoo de 5/1/1785). R.l. H. G. B. , t. X (2' ed. 1870), p. 215.
r ;'()cr N. Werneck SuJré _ As razôes da mdependêncIQ, Rio deJanelro. 1965, pp.
1340ICr) R.doAmaraILapa.A&hlQeaCarretradaÍndia São Paulo 1960 pp 78-81.
2.31segs ' ,.' ','~~IC~. Doculruntvs Históncos, vol. VI. 1928. pp. <i22 o!4'L -1)6·--Iy;-
., "Cf. Repre~t"nt~\ãv que ti. l ,'o 1800 u ",rp,'
do ( "llll'fU(l d.1 HJbla, pedindo ao
I.\~ I t:f Instrução do VKe-Rei e Capitão General de Mar t Terra do Brasil D José
Príncipe Regente que os estrangeiro., se não esrabele<,<l'-:1.:um tJsas de oe,góoos nos
LUIS ~e Castru, Conde de Rezende (6/3/1790). A,H.U, (Lisboa), cód, 573, ff. 15-80
r
espeualmente, 47v. ' domímos Jo Brasil, para não os prejudKar. B N .RJ J - ~ 1 28. 2(,

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vezes entretanto os interesses convergiam. No ofino dt' I "'flS, que
encaminhava medidas repressivas, o ministro do Ultramar assinala formação do capitalistamo, atingindo-se destarte sua configuração
que os contrabandistas estrangeiros tinham «encontros ajustados plena. na Revolução Industrial(3~O); para as nações que se tinham re-
com os nacionais», que dão «auxílio e cooperação»(346). Numa de- trasado nesse processo, a pressão concorrencial do se(Or industrializa-
núncia de 1799, narra-se a prosperidade do contrabando inglês; na do iria tornar-se necessariamente cada vez mais irresistível(3~ I), a me-
Inglaterra, onde estivera o denunciante, havia até casas especializa- nos que recuperassem a defasagem para competir em condições pelo
das no ramo; os navios «vão em direitura aos portos do Brasil, on- menos suportáveis. Impunha-se portanto remover os óbices inter-
de já têm correspondentês», e portugueses chegavam «ao hor- nos que até então tivessem operado no sentido de travar seu desenvol-
rendo excesso de andarem por comissários em semelhantes navios, vimento industrial, isto é, canalizar as vantagens da exploração colo-
do Brasil para Londres e Liverpool a tratarem de comissões e remes- nial no sentido de superar a acumulação primitiva e desencadear um
sas de fazendas com tanta franqueza e liberdade como se as fizessem processo de desenvolvimento manufarureiro. Noutros termos, nessas
com os seus próprios nacionais»(347). Tais figuras deviam provavel- condições, a própria assimilação, pela metrópole, dos estímulos, en-
mente ser comerciantes estabelecidos em praças brasileiras; as ma- gendrados na exploração das colônias, se constiruía num problema.
lhas do sistema iam-se distendendo, e o interesse sobrelevava as ami- Tal era o caso das monarquias ibéricas, e especialmente de Portugal.
gas fiddidades. Da!, nesses casos, a relação metrópole-colônia. quer dizer
Já em 1784, aliás, o consul geral da Grã-Bretanha apresentara à Portugal-Brasil, ir assumindo ao longo do século XVIII a forma que
corte de Lisboa ofício realmente incrível, no qual, entre outras coi- já entrevimos em certos trechos das instruções a vice-reis e governa-
sas, informa que partira do Brasil proposta para uma sociedade de dores: a colônia cada vez mais se tornando vital para a sustentação da
comércio direto Brasil-Inglaterra; que as gazetas inglesas anuncia- metrópole. Nos meados do século, é D. Lu~ da Cunha quem define
vam formalmente navios de partida para a colônia portuguesa; que os a situação até com alguma brutalidade: Que.é Porrugal? «Uma oure-
brasileiros não queriam, em pagamento dos açúcares, senão moeda la de terra, que divide em três panes, de que a primeira não é, ainda
corrente, pois de fazendas européias tinham cheios os armazéns(348). que o poderia ser, bem cultivada, que a segunda pertence às Ordens
Deveras incuriais as notícias do fleumático consul; o ministro as consi- eclesiásticas, compreendendo as monásticas, e que a terceira produz
derava «dignas da mais circuspecta reflexão»(349). Era o exclusivo nau· um pouco de grão que todavia não basta para a subsistência, sem
fragando, o pacto colonial se rompendo, o sistema entrando em crise. que lhe venha de fora». Donde se segue que «para poder conservar
Portugal necessita (o príncipe) totalmente das riquezas do Brasil, e
4) Assimilação dos estímulos de nenhuma maneira das de Porrugal, que não tem para sustenrar o
Brasil.(3S2) .
Defender o patrimônio, is(O é, manter a colônia sob o domínio I ;)I"U M. Dobb _ SludlfJ In ri,,· Jt'vduprn,'nl (JJ <dpttoJ/urn. Lunáre~. I(J~<j pp
político da metrópole; preservar o exclusivo de seu comércio, isto é, 2.i~segs. E Williams- Capitahsm&5/averyN. York.I9ó1 p~. 135-1~3 _
mantê·lo reservado aos mercadores metropolitanos: em condições (nl lSobn· o comércio exterior da Grã· Bretanha na época da primeIra revoluçao 10-

normais do Antigo Regime e do capitalismo comercial, tanto basta- dustrial Cf. J. H. Clapham . An EcOnOmlC History of Modem Bntazn. Cambridg~,
ria para o funcionamento do sistema. Não assim na época da crise. 1950. vai. I. pp. 237·250. Impacto sobre a economia mundial: R.M. Hartwell· _Eco·
nomic rnange in England and Eutope, 1780·1830_, New Cambndge Modem HIJ·
Agor3" em certas regiões da economia européia (nomeadamente na /07], vol. IX, 1965, pp. 40·46. David Landes· The unboundPrometheUJ, techn%·
Inglaterra) ultrapassava·se qualitativamente a etapa intermediária da g1(;al change and induJtruJ deve/opment, Cambndge, 1972.
1NJlnstruções inédzlaJ de D. Luis da. Cunha a Marco AntÔniO de Azevedo Cvull·
Il~6JOfício5/111785. R.I.H.G.B., t. X, pp 214 e 215. n60 (1738). Ed. P. de Azevedo e A. Balão. COImbra, 1930, pp. 212 e 2.18. Segumd?
I 147)Carta
de Francisco José de Lima a D. Rodngo de Sousa Cuuunno, 19/9/1799 o radocímo, não hesita D. Luís da Cunha aconselhar que sefla «maIs comodu e maIs
R.I.H.G.B .. t. LXV, 1902, pp. 298·300. seguro estar onde se tem o que sobeja, que onde se espera .o de que carele~. ISIO~.
(HMJCf. R.l.H. G.E., t. X (2' ed. 1870), p. 228. que a Cone se devia transportar para o Brasil. No auge da crise. sena enfim a soluça0
(1~'I)R.I.H.G.B., L X, p. 216.
adotada

198 199
Sem tomar ao pé da letra estas proporções e descontados os exage- deixam de mencionar a desgraça da dominação espanhola. logo
ros, o texto de D. Lul$ da Cunha nos r~onduz para o problema por- após a Restauração, um parecer do Pe. Antônio Vieira descreve ao
tuguês do atraso e da decadência na Epoca Moderna. Já vimos, na primeiro Bragança o «miserável estado do Reino»: «as conquistas es-
primeira parte deste capítulo, como é este um tema recorrente na tão reduzidas a tal estado que nada melhoram esta esperança». E
tradição do pensamento econômico em Ponugal, dos mercan~ilistas mais: «Por falta de comércio se reduziu a grandeza e opulência de
aos teóricos da Academia. Para caracterizarmos, agora, com alguma Portugal ao miserável estado em que Vossa Majestade o achou,(3')7),
clareza, o problema da assimilação dos estímulos econômicos colo- Duarte Ribeiro de Macedo, sem mencionar explicitamente a domi-
niais, - ou, noutros termos, a assimilação desses estímulos como nação castelhana, nota que foi a «perda do comércio da Índia» que
problema - não podemos nos eximir de voltar ao assunto, tentar tornou desfavorável a balança portuguesa(3:/8); ora isto se deu no pe-
pelo menos reequacionã-lo, já que não se pode pensar, aqUI, em ríodo dos Filipes. Referindo-se à ausência de descendência direta de
resolvê-lo. D. Sebastião, de que resultaria em 1580 a união das coroas, lembra
Constatada a disparidade, a que se arribuia ela? D.1u1$ da Cunha as «funestas conseqüências de que ainda hoje, de-
Os testemunhos coevos, que viveram esse processo, refletindo so- pois de dois séculos, Portugal se ressente»(359). No fim do século
bre suas causas, foram apresentando várias linhas de explicação, que XVIII, entre os memorialistas da Academia, Soares de Barros lembra
por sua vez marcaram profundamente a historiografia que se lhes se- que o período espanhol foi negativo para a população(360), enquan-
guiu, a partir do liberalismo até os nossos dias.W>3) A primeira de- to Lacerda lobo afirma que «a nossa marinha. que antes da sujeição
las, a mais simplista, consiste em atribuir à dominação espanhola da Espanha. fazia espanto a todas as nações da Europa, por efeito
(1580-1640) a responsabilidade por todos os males e desgraças nacio- das vistas políticas de Filipe 11, III e IV, foi tendo uma progressi-
nais. Tal visão se engendra a partir da «literatura autonomista.(354) va decadência e abatimento, assim como também nossas pes-
pela qual se manifesta, em Portugal, a resistência à dominação ftlipi- carias»(361) .
na. A poesia, como a historiografia do período, exaltaram o passado Mas é sobretudo em José Manuel Ribeiro que o problema se coloca
nacional, e tal glorificação tinha um sentido político, pois o confron- de modo mais convincente; interessado em perquirir as «causas da
to se faria espontaneamente com o presente lutuoso; e o messianismo pobreza do Reino», ao lado de outros fatores, aborda a dominação
sebastianista(355J, utóp~co, lançava para o futuro a redenção. Passada espanhola: «depois desse funesto acontecimento (Alcacer -Quibir) en-
a União Ibérica, e continuando as dificuldades, a ilação era quase traram os três Filipes de Castela com cujo poderoso governo, fui a
~ecessária: o período espanhol implicara no declínio da grandeza lu- mesma Castela, e nós, caminhando para a ruina, mas deixando as
sitana. causas pertencentes àquela, e falando só das nossas, cuidaram muito
Esta visão do fenômeno decadência ganha tal força de convicção, em reduzir este reino a Provincia de sua vasta monarquia, e por isso
que passa a se incorporar a quase todos os autores que abordam o te-
ma(3'>6). Mesmo quando se esforçam por indagar outros fatores, não (3}7JCf. Pe. Antofilo
' . V'lelfa·
. 'a El·Rel
«Proposta feita . Dom João IV em que lhe re.
presenta o miserável estado do Reino» (1643). in Obrt1.f Escolhidas, prefácio e nOtaS
(\\ I)Em Páginas admiravelmente lúcidas, analisaJoe! Serrão a presença avassalado. de(n8)Antonio Sérgio .e Hernani
.
Cidade, Lisboa
. " . '
1951 vol. IV pp . 1-26 ,
ra da ideologia decademista não só na hislOriografia como em IOda a mentalidade Cf. Duarte RIbeiro de Maçooo· Ducurso sobre a mtrodufiio das artes no Reino.
portuguesa moderna. Cf. «Essa palavra deçãdência .• Temas de Cultura Portuj;ue. (1675), in Antologill dos Economistas portugueses, de Antonio Sérgio. Lisboa, 1924.
sa, Lisboa. 1965. v. n, pp. 27-40 pp. 265-266,
13Hl(:f. Hernam Cidade - A litera/Ufa autonomuta sob os Ftlzpes, Lisboa. 1948. (.lW)D. Luís da Cunha - Testamento político (1748), Lisboa, 194), p. }2.
ImJCf. E. d'Oliveira França - Portugal na época da Restaurafão, São Paulo, 1951, 1360JCf.JoséJoaquim Soares de Bartos· Memória sobre as causas da diferente popu·
pp. 230·2}9. Lúóo de Azevedo - A Evolufào do Sebastianismo Lisboa 1947 laçào de Portugal em diversos tempos da monarquill. in Memórias Económicas da
(3%JA'--'~' , . . , " Academia Real das Sciêncills de Lisboa, vol. I (1789), pp. 1}3.1}4.
Iut:la e mesmo assimilada peJos estrangeiros. Exemplos: Raynal _Hirtoire der
Deux lndes, 1780, p. 386. Leroy·Beaulieu . De la colonisation chez lu peuples mo- (.l61)Cf. Constantino Botelho de Lacerda Lobo • Memórias sobre a decadência das
demes. 1874, p. 56. Ch. R. Boxer· The portuguese seabome Empzre N York pescarias de Portugal, in Memórias Econômicas da Acodemia Real das 5ciências de
1969, pp. 106-109. .. . Lisboa, vol. IV (1812), p. HO,

200 201
não só não aumentaram as anes, e a agricultura, mas mandaram nhol., posto que de alguma importância, não se pode considerar co-
muitos teares de seda de Tras-os-Montes para Valência e Segóvia, e mo o elemento explicativo básico da decadência portuguesa. Até
muitos oleiros de Lisboa e de outras panes do Reino para Málaga e porque, como muito bem o viu José Manu~1 Rfbeiro, isto seria
Talavera de la Reina; e o que mais é para sentir em cima de muitos transferir e não resolver o problema: o essenCIal e que a Espanha
outros danos foi o perdermos por sua culpa as nossas praças e feito- também se retrasou, e pois ficaria por explicar a decadência da Espa-
rias do Oriente.(362). nha.
Para além dos efeitos gerais e depressivos da dominação política, o Outra linha de explicação, esta engendrada durante o «consulado»
acadêmico ilustrado aponta, ponanto, três aspectos; primeiro, a per- pombalino, e com visíveis intenções políticas, atribui o atraso e a de-
da das feitorias do Oriente, envolvidas nas lutas da preponderância cadência de Portugal a ação expoliativa da Inglaterra; reponta esse
espanhola; segundo, dá exemplos concretos (um dos raros autores modo de ver em numerosos textos do período a começar pela famosa
que o faz) de descapitalização de Ponugal pelos espanhóis; e tercei- Relação dos Gravamel.)65), elaborada por Sebastião José de Carva-
ro, mais imponante, a Lusitânia teria sido arrastada na decadência lho e Melo quando ainda embaixador em Londres. Esta é aliás a li-
das Espanhas. Ora, sobre os efeitos negativos da perda da soberania, nha de argumentação do famigerado discurso «sobre as vantagens
é bom lembrar que o .domínio espanhol», como sempre gostam de que o Reino de Portugal pode tirar da sua desgraça.(366), cuja atri-
dizer os ponugueses, foi na realidade uma monarquia dual, buição a Pombal já vimos ser errônea. A «desgraça» a que se refere é
preservando-se a individualidade institucional portuguesa. Exata- o terremoto; ela ofereceria oponunidade para uma reorganização,
mente, por se manterem separadas as respectivas colônias, a dificul- através da qual viriam as «vantagens», isto é, a independização da
tação oficial ao comércio português no Prata, foi um dos motivos de tutela inglesa, que impedia o progresso. O caminho a seguir seria a
«decepção» da burguesia portuguesa perante a união dinástica{3é.l) aplicação rigorosa d~ uma politica .mer~antilista, quer ~izer, p~'Ote­
Com relação à perda dos entrepostos orientais, pode-se legitima- Clonista. Nesse sentIdo, o texto Vai multo bem com a Ideologia do
mente duvidar que Ponugal mesmo sem a anexação à Espanha, pu- pombalismo(367). A essa mesma ideologia, doutra parte, se liga uma
desse resistir à pre'5são crescente das novas potências (Inglaterra, Ho- outra idéia-força de suma importância: consiste em ver o atraso sobre-
landa, França); mas de qualquer forma, a União Ibérica sem dúvida tudo sob o ângulo do isolamento, marginalização freme à Europa, .e
deu o pretexto para o assalto. Note-se, contudo, que o período de isso devido ao obscurantismo jesuitico que, justamente com a loqul-
1580 a 1640, se foi de recuo no Oriente, foi de expansão portuguesa
na América, o que não era pequena compensação(64). Difícil, no (MJCf. Lúcio de Azevedo _O Marquês de Pombal e sua época, 2~ ed., Rio deJa-
atual estado dos estudos, aquilatar o volume de transferência para a neiro, 1922, pp. 29-33. B.N.L. Reservados - Col. Pombalina. Cód. 635. Veja:se .tam-
Espanha de forças econômicas como as indicadas pelo memorialista; bém: «Sumário em que se contém a substância dos Gravames que ao comercIO de
elas devem certamente ter tido algum papel no atraso subseqüente Ponugal tem inflingido pelo Parlamento e Vassalos da Inglate[[~. A.H.U:, Does.
de Portugal. De qualquer forma, o assim chamado .domínio espa- Reino. Maço 214 .•Ensaio político sobre os crimes que a Inglaterra tem cometido con-
tra Portugal•. A.C.L. Ms. 167v.
(,\(,i,jer Discurso poli#co sobre as flantagens que o Reino de Portugalpode tirar de
';1,2~osé Manuel Ribt"iro - Dm;urJO político sobre as caulas da pobreza de Portugal. suadesgraça(1775). A. C. L., Ms. 1908. A.H.V. Cód. 1227. Cartas e outras obras se-
A.C LMs. 18óv. Ainda em 1830. analisando a situação da economia portuguesa.lo- leIas do MnrqUêI de Pombal Lisboa, 1861, vol. 11. pp. 97-187. .'
,é ,'H úrs!o das Neves notava que «os males da pátrja. foram «tempestades passagei- (367jA discrepância aparecia porque o discurso, elaborado em França sob a. mspl~a­
r,,'~. com duas exceções: o Domínio Espanhol e a Revolução. a. Comideraçõespolí- ção de portugueses fram:ófilos (a. artigo já citadO de G. Wheder - Enghsh HlSt.
tu:.JS t: UJI?'J('rcUlIS sobre 01 descobn'mentos e possessõeJ dos portugUeJeJ. Lsboa. Refi., XIX, 19{)4), usava a argumentação eCQnômic~ [a~ ao governo do Con~e de
1830. p. 4. Oeiras para preconizar algo que não estava em suas dlretr.1Zes: o abandono. ~a aliança
1.lúl)er E. Oliveira França _ Op. cit .. pp. 343 segs. mglesa pela francesa. A posição de Pombal, contudo. fOI de extrema habJ!ldad::.ao
1.11'~)a. Astrogildo Rodrigues de Melo e Antônia Fernanda P. de Almeida -«O Bra- mesmo rempo em que empreendia uma política econômi[~ de r«uperação ~ poIS !~­
sil no pf'ríodo dos Filipes». In Hú/óna Geral da CivzliZi1fiJO Brasileira. dir. por Sérgio dependização em face da Inglaterra, conseguia manter a ahança no plano dlplomau-
BU'uc,\J(' dt" Holanda. r I. vol. pp. 176-189. co, pois era a garantia de preservação do Ultramar .

.:'(IJ 203
sição, teria impedido a modernização(3 68 l. Esse pomo de vista, que Mas há ainda uma última )inha interpretativa, oriunda t~bém
de resto tem muito de verdade, foi enfatizado pelos setores mais críti- dos róprios pensadores da Epoca Moderna em Portugal, cUJa ex-
cos do pensamento português, bastando lembtar que está expresso na ~ remonta à 4:fala do Velho do Restelo.(71 ) e que se formula
conferência famosa de Antero e nos ensaios de Antônio Sérgio(369 l. pressao
em .
termos mais claros nos doutnnadores. d ' 1o. XVII(372) : a I.·d'·
o secu ela
Entretanto, é bom lembrar que a predominância inglesa não se te- de que, p:lfadoxalmente, seriam as própnas conqulS~as ultram.armas,
ria podido ftrmar se não encontrasse, já, uma economia frágil e, no I desmesurado de sua extensão, que provocarIam a ruma de
plano social, pontos de apoio dentro de Portugal(3 70l. Assim, não pe o 1(373).
portuga Elas as, conquistas
' seriam responsáveis pela falta . de
pode evidememente ser tomada como linha de interpretação, posto t pelo atraso da agricultura. enfim pelo não desenvolvunento
que seus efeitos não sejam de desprezar-se. A marginalização cultu- ~:n~fatureiro. Nos teóricos da Academia,. no fim d~ século XVIII,
ral, fruto da 4:Contra-Reforma». por seu turno, embora seja por certo sob a atuante influência das idéias fisiocráucas, essa VISão do pro~~-.
um fenômeno prenhe de significações, tem, quando tomado como ainda mais se acentua. Ela se expressa em Soares de Barros(. .'
ponto de partida para interpretação da história moderna de Portu- pm Vanel\.
ma d 11"375) , em Ãlvares da Silva(376). Para José Manuel
. d Ribel- '.
gal, um greve defeito; é que, assim, jesuitismo, inquisição, etc, pas- '.J, «preocupados dessa idéia (conquista) fomos conqUlstan o a Mia
sam a ser tomados como dados, quando precisam ser vistos como e despovoando a Europa, remetendo sem atenção aos ~o~os nas
problemas. Por que, efetivamente, pôde a inquisição inserir-se com :onquistas, milhares de pessoas ~odos os anos para. as cülomas, sem
tal profundidade no quadro institucional da nação? uidarmos em ressarcir esta perda de gente.(377). Ftados nos ganhos
Todos esses esforços de explicação na realidade analisam aspectos ~ltramarinos, estiolava-se a econ0!Dia metropolitana dos portugue-
significativos do problema, tornando-se passíveis de crítica no mo- ses: 4:a imaginária riqueza das mlOas, convenendo-a em um ...n;tal,
mento em que isolam uma dimensão do conjunto, fazendo girar em vindo-nos junto com ela o luxo, a soberba e . outros .ViCIOS,
torno dela a interpretação global. Assim, o enquadramento na abandonando-se as artes e a agricultura como metOS .d~ flq.?e~a
União ibérica teve provavelmente alguns efeitos econômicos negati- reah(378). Firmado nesta tradição, modernamente Antomo SérgiO
vos; saindo, em 1640, debilitado, o Reino de Portugal teve de fazer
concessões á principal aliada (Inglaterra), o que de certo modo abriu (371)OS Lufíotlas. canto IV, estâncias 94-104.
caminho à penetração. No plano cultural, também não pode ficar (372)Cf Luis Mendes de Vasconcelos - Diálogosdo Sítio de LiJboa(I600), in Anto-
dúvida quanto ao efeito de remora que o relativo isolamento impri- logia do; EconomÍJtaJ PortugueJeJ. Se1elião, prefácio e notas de A. Sérgio (Lisboa,
miu ao andamento do país em relação aos cemros mais dinâmicos da 1924), pp. 3-169. Manuel Severim de Faria _ Dos remédzos para afoita "! gente
(1655) OI'. cit .• pp. 173-240. Duarte Ribeiro de Macedo - DiJcurso sobre a mtrodu-
Europa. São pois aspectos correlatos em torno do mesmo fenômeno; çdo das artes no Reino (1675) - oI'. cit., pp. 244- 325. ._
este, entretanto, não parece resultar de uma somatória desses vários (73)«A primeira causa da falta de gente que se pad.~e este Re~no sao as nossas co~­
aspectos. Antes, fica a impressão que todos eles se reportam a um quistas: porque estas. ainda que foram de grande utd~dade, assun para a propagaç~
mesmo fundo comum de atraso, que importa tentar identificar. do Evangelho como para o comércio do mu?do, toda~Ja defr~udaram multo este ReJ-
no da gente que lhe era necessária.. Sevenm de Fatia. op.c«., p. 188. _
(368)0 texto principal aqui é sem dúvida a Deduçiio Chronologica (1768) Veja.se a (374)Cf.J.J. Soares de Barros - Memória Jobre aJ CallSaJ da.dzferente populaç«J ... In
análise em Laerte Ramos de Carvalho - Ar reformas pombalinas da ÍnstT1lçJo pública, MemóriaJ EconômicaJ da Academia Real das SciéncÚIJ de Lisboa. vol. I, pp. 132-134.
São Paulo. 1952, pp. 25-26. omcr Domingos Vandelli _ Memória Jobre a agricultura deste reino e suas con-
(M)Cf. Antero de Quental - «Causas da decadência dos povos peninsulares nos úl_ quÍJtOJ. In Mem.Econ.AcadReal Sc.wboa, v. I, p. 171.
timos três séculos~ (1871), in Prosas, vol. lI, pp. 92-141. Antonio Sérgio - «O Reino (376)Cf. José Veríssimo Âlvares da Silva - Memória hÍJtórica sobre a agricllltu.ra por-
Cadaverosoou o problema da cultura em Ponugai», Ensaios, vol. 11. 2a ed., pp. 41- tugueJa. In MemErio.r Econ.Acad.Real Sc. Lisboa. vaI. V, pp. 19<\ segs. Refenndo-se
84, e HÍJtória de Portugal, Barcelona. 1929, pp. 121 segs. E, em nossos dias,Joa- à época de D. Manuel: «Em tal abundância, quem poderá ver, começamos a ser po-
quim Barradas de Carvalho - Rumos de Portugal, Lisboa, 1974, pp. 70-75. bre». OI'. cit., p. 228.
(37o)Cf. A. Manchester - British Preeminence in Brazil, Chapel Hill. 1933. pp. 18 (377Jcf. José Manuel Ribeiro _ [Àrcurso político sobre as callsaJ da PObreZll de Por·
segs. V. Magalhães_Godinho - «Ponugal, as frotas de açúcar ~ as frotas do ouro~. Rev. tugal. A. C. L. Ms., 186v. . .
de RÍJt., S. P, n. 5, 1953. pp. 69-88. Il78lCf.José Manuel Ribeiro - idem; Ibidem

204 205
alinhou suas aliciantes idéias sobre a predominância, ao longo da ção permanece intactal»(382). No Port~gal mediterrâneo, onde aliás
hisr6ria moderna de Ponugal, da epoHtica de Transponel» (comér- domina a grande exploração e mator abertura para os mercad<?s,
pre d' , . .,. d '
cio) em detrimento de uma epoHtica de Fixaçãol» (produção) _ que constatou Silbert por sua vez a extraor mana reslstenCJa as var.las
teria sido a causa primordial do atraso(379). formas de «coleti"o-ismo agrário»(383), Estudando, por outr<? lado, a I?-
Detenhamo-nos, por um momento ao menos, nesta última linha dústria portuguesa Setecentista,]orge de Macedo caract~nza umaso-
de interpretação, pois ela nos abre caminho para um equacionamen- lida base de atividades artesanais, do pequeno produtor I.?depend:n-
to mais compreensivo e abrangente do problema. Em primeiro lu- I (' ligado ao mercado local, que resiste admiravelmente as fluruaçoes

gar, não se deve exagerar a edespopulação:t da metrópole em função dos mercados externos e d a po I,Itlca
. govername nra 1(j8-l)·
do Ultramar; entre 1417 e 1527, a população metropolitana man- HaVIa, portanto, no Portugal da Êpo~a. Moderna, uma_SÓlida base
tém um pequeno incremento, de 1.008.280 habitantes, para camponesa e oficinal, de extrema estabIlIdade, que se nao alt~r~ ao
1.124.000(380). O crescimento seria por certo maior não foram as con- ritmo das aventuras ultramarinas, A visão dramática (transmmda,
quistas, mas não se pode falar'em diminuição. No século XVIII, con- por exemplo, por Oliveira Martins) da peq~ena nação ~ue embarca
rudo, há uma recuperação; o gráfico que elaboramos (pp. 125-126) para o Oriente ou se transporta para o BrasIl., ~arece poIS de ~~da­
mostra como a taxa de crescimento demográfico português acompa- menta. E é exatamente essa sólida ba<;e tradlclOnal que permitiu os
nha, nesse século, o movimento populacional na Europa. O que sim sucessivos ajustamentos aos váci?~ 4:complexos ~istór.ico-~C?gráficos.,
devia estar se passando era a visível hipertrofia do setor terciário isto é, aos reajustamentos espaCiaIS da economia do Impeno, caracte-
(comércio, burocracia, clero), com conseqüente desfalque de produ- rizados por V. Magalhães-Godinho(385~. Portant~, apesar?o grande
tores diretos (agricultura, artes)(381), Isto ligando-se, de um lado, à raio de expansão para o Ultramar, da Intensa fama c~lofllzadora, a
dilatada expansão colonial, de outro à precoce centralização política. estrutura interna de base era pouco afetada, e se mantinha razoavel:
Em segundo lugar, quanto à produção agrícola e manufatureira, ou- mente estável(86 ). É contra esse fenômeno que clamavam os doutn-
trossim, o atraso tão enfatizado deve entender-se como um atraso re- nadores mercantilistas do século XVII, para superá-lo os memorialis-
lativo (isto é, em relação às áreas mais dinâmicas da economia euro- tas para-fisiocratas da Academia derramavam suas luzes; e é o. mes-
péia); o que parece ter efetivamente ocorrido foi um não-desenvolvi- mo que se expressa no discurso de Sérgio em prol de uma política de
mento, uma fixação nas formas tradicionais de exploração agrícola e «fixação».
produção artesanal. De fato, como revelara!U as magníficas análises Po'líticas de «fixação» e de «transporte», na realidade, .expressam
de Orlando Ribeiro, é notável, ao longo da Epoca Moderna e mesmo de fotma um tanto imprecisa, porque for~uladas ~eneflc~e~te e
pela Contemporânea, a fixidez da estrutura camponesa tradicional d~sarticuladas do seu quadro histórico (Antigo RegIme, capltallsm?
na terra lusitana: «por importantes que apareçam, no quando da eco- comercial), tipos diferentes de política econômica, como as <.ara~ten­
nomia nacional, as fainas do mar, elas não deixam de ser limitadas, zou Heckscher. «Política de en.t:reposto (sfaple )>>, reflete a atitude
fragmentárias, intermitentes, em confronto com o labutar perma-
(3~2)Orlando Ribeiro - Portugal, o MediteTTáneo e o Atlântico, 2a 00., Lisboa,
nente dos campos." Apesar de o português se afeiçoar ao trabalho 1963, pp. 38 e 143. . _.
noutros climas e ao convívio de outras gentes, a estrutura rural da na- (\H\ICf. A. Silben . ú Portugal Méditemznéen à lafi.n de l'A,!cze". R.egl~e, .l. I,
pp. 371- 396. t. 11, pp. 959-1022: Em plena R~oluçã? l~beral, ta1~ reslStenClas amda
~t manifestavam em algumas peTições enViadas a Comlssao d~ Agn~~ltura das 0r~~s.
(37'JJcf. Antônio Sérgio - .As duas políticas Nacionais., Emaios, vol. lI, 2' ed., pp. Cf. A. Silben - Le Problême agraire portugais au temps des premteres Cortes libero-
85-122. Vide também Ensaios, vol. IH, pp. 297 segs. In, Paris, 1968, pp. 34-36. . _
(380Jcf. José Gentil da Silva - .Au Ponugal: srructure démographique el dévdop_ (384 JCf.}orge de Mac~do - Problemas de História da Indústna Portuguesll noseeuto
pement économique., separata de Studi in onOfe de Amimore Fllnfani (Milão, XVIII, Lsboa, 1%3. h.. <C:
1%2), vol. 11, p. 509. I\B~la. V. Magalhã~s-Godinho - .. A evolução dos compl~xos Istónco-geoglall-
(3~1)Cf. A. Silbett - Le POrl.ugal médiJeTTanéen à la fin de "Aneien Régime. Paris, CQSp, Emaios, vol. 11 (Lisboa, 1968), pp. 13-23.
1966, t. I, p. 122, (.\~(')«Com razão ou sem ela, a fala do velho do Restelo foi entendida obscurament~

206 207
do «medo de mercadorias~, e dá lugar ao comerclO carreteiro milar os valores aristoccáticos(393). A estrutura que assim se confor-
(carryng frade), que visava precipuamente promover a entrada do ma - o Antigo Regime português - mantinha pois uma forre pree-
bullión; "política de abastecimento:.. expressa o ponto de visra do minência da nobreza (ainda que fosse nova nobreza) na estruturação
consumidor (dome de mercadorias:..); e finalmente "política prote- da sociedade e na governação do Est~do. Aqui ~a:ece pois residir o
cionista., que exprime o ponto de vista dos produtores, sobretudo nervo da questão. E claro que nesta lmha de analIse, somente estu-
manufatureiros(387( A política mercantilista só se integra quando se dos aprofundados da sociedade do Portugal moderno, e~ suas cone-
atinge a terceira forma, que promove a passagem do capital. ~ome.r­ xões com a economia colonial, poderão esclarecer definmvamente o
cial para o industrial, e imcia a corrosão das estruturas tradICionaiS. problema. As tentativas que nesse sentido começam a ser feitas, con-
Parece pois que o Portugal da Época Moderna se teria esclerosado na tudo, parecem apontar para essa mesma direção. Em sintese
staple poliey, que corresponde à "política de transporte~, de Antô- recente(39 4), Vitorino Magalhães-Godinho começa por colocar com a
nio Sérgio. Pelo menos até a época pombalina, quando efetivamen- máxima clareza o problema: «A sociedade de Antigo Regime, que
te se articula todo o arsenal da política mercantilista(3 S8), mas, in- na esfera política corresponde à monarquia absoluta, nasce com as
contestavelmente, com muito atraso. viagens de descobrimentos e fixação além mar e entra em convulsão,
Por que, ocorre imediatamente perguntar, se teria dado seme- para em boa parte morrer, no final do século XVIII e nas revoluções
lhante frenação? Ela parece tanto mais estranha em face da precoci- liberais do primeiro têrço do século XIX». Ora, se na aben:ura do
dade portuguesa, seja na centralização política(389), seja na ~pansã? processo os povos peninsulares estão na ~anguarda do movimento
ultramarinal390). Mas, exatamente, como observou com multa luCl- que engendrou o capitalismo moderno, atlO~em o se~ final «enr:~a­
dez Alben-A1ain Bourdon, "precocidade implica muitas vezes em dos nas estruturas, agora arcaizantes, que t1n~am feiro a sua gIona,
história, fixidez e conservação do passado.(391l, referindo-se precisa- mas estavam inteiramente desajustadas» (395). E pois na configuração
mente a Portugal. À precedência na centralização liga-se a priorida- peculiar que assumiu em Portugal (e de resto, n~ Espanha t~bém)
de na expansão (os dois processos se auto-.estimulam), mas isto deu a formação social do Antigo Regime (esta comblOação d~ ~Cledade
lugar a essa primeira forma de capitalismo comercial, dependente do estamental com poder centralizado, tendo na base o capItalismo co-
Estadd 392 ); daí essa também precoce burguesia mercantil que não mercial) que se devem buscar os motivos ~e escleros.ament? Ela con·
desenvolve uma típicã mentalidade empresarial. antes tende a assi- figura «estado mercador, nobreza mercantIl: como tipO SOCIal caracte-
rístico, o fidalgo-negociante, o alto funcionário-mercador enobreci-
pela massa rural•. Orlando Ribeiro, ap. cit. ,p. 143. Para uma análise rigorosa dessas do». Nela «impera o mercantilismo (a economia dominada pela fun-
conexões estruturais entre a extremaflutuaçio da economia mercantil e a permanên- ção de mercado), mas sem mentalidade burguesa»; ou noutros ter-
cia da base uadicional, ver José Gentil da Silva - L 'AutoçonJomf1Ufion au Portugal mos, a sociedade assume «esse caráter ambíguo que lhe empresta uma
(XIV-XX siide) , Ann.Econ.Soç;.Cill., 24 0 ano, nO 2, 1969, pp. 250-288. ordem nobiliárquico-eclesiástica assente numa economia mercantilis-
(387lcC. E. F. Heckscher - 14 Epoca Mercantilista. Trad. esp., México, 1943, pp.
ta até a medula», nem é de estranhar que a «burguesia não tenha con-
499-506.
(388)0 Marquês de Pombal ... «onsiderou a interdependência dos problemas eco- seguido vingar e formar uma sociedade moldada pelo seu sistema de
nômicos, quando procurou resOlvê-los e, deste modo, a sua ação fez-se sentir simul- valores». Bloqueiam-na, por um lado, «essa peculiar estrutura em
taneamente em todas as fontes da riqm"?a nacional•. Francisco Antônio Correia _ que há uma incrível intumescência das classes não-produtoras~, por
Históri4 econômica de Portugal, Lisbo~, [·;)0, t. Il, p. 68. outro lado as "formas de mentalidade (conexas dessa estrutura), que
(389lCf. Eduardo d 'Oliveira França - a por/erreal em Portugal e (JJ odgem r/oahso-
lutimro, Sio Paulo, 1946. permaneciam demasiado voltadas para o passadoJ396).
o90lCf.José Honório Rodrigues - .U. Henrique e a abertura da fronteira mundial•.
in História e Historiografia, Petrópolis, 1970. pp. 1-20. (393)CE. Sérgio Buarque de Holanda-Raizes do Bnnil, 3" ed .. Rio deJaneiro, 1956,
( 391 lAlbert_Alain Hourdon - Ristoire du Portugal, Paris. 1970. p. 7
pp.24-30.
(394)Cf. Vitorino Magalhães-Godinho _A estrutura da antiga JOcierlade portugue-
(J91)CE. M. Nunes Dias - O copitalismo monárquico português (141)-1)49),
Coimbra. 1963, sa, Lisboa, 1971.
(39)~(396)V. Magalhães-Godinho, Op. cit., pp. 55·56, 75, 90, 91, 93, Simetiza-

208
209
É nesse quadro, como já anteriormente notara Antônio José Sarai- de alguma maneira a natureza dos óbices. a serem removidos por
va, que se pode emender a inserção institucional e o volume de ação uma política econômica que procurasse efettvamente pro,mover a as.-
do Santo Oficio; agindo sobre a _gente da nação., categoria que se similação dos estímulos engendrados na exploração coloOlal. Tal aw-
confundia quase com a de «homens de negócio», a Inquisição fun- mzJaçiio Implicava nada menos que mudanças profundas, na própna
cionava como um meio de preservação da ordem social e de tcavação estrutura da jormaçiio Joctal da metrópole. _
da mudança(397). Os efeitos economicamente negativos não se expli- Assim, os vários «problemas» acabavam por se ligar uns aos outros.
citarão apenas com o cálculo da descapitalização provocada pela fuga O contrabando de mercadorias na colônia envolvia também a pene-
dos perseguidos; há que pensar no «impacto negativo dessa jurispru- tração de idéias corrosivas do sistema; o que estimulava a tensão pela
dência (a dos sequestros) sobre a segurança das uansações de comér- ruptura do domínio político da metrópole. Pina Manique, que era
cio com os cristãos novos», pois «uma vez sequestrados preventiva- ao mesmo tempo intendente da polícia e dos contrabandos, preve-
mente os bens, estavam eles praticamente perdidos»(398 ). O efeito nia, por exemplo, sobre o navio francês «Dois Irmãos»: nele viajava o
era naturalmente que os ameaçados pela espada de Dâmocles «pro- impressor Diogo Borel que já se houvera na metrópole com a r~pre~­
curassem por a salvo no exterior seu patrimônio móvel, alentando são(40~\e que, informava o truculento intendente, mandara impn-
um fluxo de capitais para fora do ReinoJ399). Veja-se bem, procura- mir doze mil(!) volumes da constituição francesa em português, e
vam manter a riqueza móvel, isto é, reinvestir no comércio: assim se mais ainda outros tantos da «Folhinha do Pai Gerardo», cujo autor
bloqueava exatamente a transição essencial da acumulação mercantil era «um famoso incendiário de doutrinas errôneas e sediciosas»; e
para o setor produtivo, elemento fundamental na mudança da e:;- mais viajava um certo Tomas Secuen, natural de Paris, negociante
trutura. Foi este pois um dos mecanismos fundamentais (não o úni- em Lisboa, que queria «sustentar as conversações, sempre abonando
co, por certo) a travar, em Portugal «a penetração do capital comercial as assembléias e suas operações, e declamando contra o poder dos
na produção artesanal»; outros, apontados por Armando Castro(400) principes soberanos,(403). Entre os inconfidentes, era nítida a aspi-
(absorção por encargos do Estado, desvios para consumo suntuário, ração pelo comércio livre(404) e estabelecimento de manufaturas nas
transferência para fora), ligam-se todos ao cabo à fotmação social an- colônias( 405). .
tes descrita. O Portugal da éPoca moderna parece, pois, configurar a Por outro lado, Portugal se envolvia no movimento das idéias re-
situação de cristalização do capital comercia/, que Marx referiu de novadoras da Ilustração; tais influxos podiam pois fluir da própria
passagem(401). Enfim, a análise do problema, se centrada no social, metrópole para a colônia. Raynal, por exempfo, aparece citado como
permite articular as manifestações do fenômeno descritas por Antô- aucoridade na própria correspondência oficial(406). ..
nio Sérgio como a persistência do «transporteI> e o ensimesmamento Mais ainda, para os estadistas metropolitanos, a moblhz~çãO do
·do «reino cadaveroso». pensamento renovador e crítico e~a fund~mental para se. projetarem
Ê óbvio que ~stas reflexões não pretendem ser resolução de um pro- reformas, indispensáveis ao própno funCionamento do slStem~ col~­
blema dessa envergadura; visam apenas, reequacionando-o, clare~ nial As fromeiras entre a face reformista e a incidência revolUCIOnárIa
.do pensamento das Luzes não er'!-ffi fáceis de demarcar. Em ~eio à
mos, procurando mantermo-nos fiéis ao ~nsamento do autor; todo o capítulo (pp. crise, era difícil, senão impossível, descobrir e manter a poslção de
55-94) é essencial. equilíbrio,
(397)Cf. Antônio José Saraiva - InquiJifiJo e CrntiJos-NoflOJ. Lisboa, 1969, pp. 27-
1·lOl)Cf. N. Wemeck-Sodré - História da Imprensa, Rio de Janeiro, 1966, p. 16.
74, 185-208.
(398) ~ (3991Cf. Sônia A. Siqueira _ A lnquisifão portuguesa e os confiscos. Separata (·103)Ofício de 7/8/1792. A.H.U. Does. RJ. Caixa de 1792.
(~04)< 140'i)CE. A.D.l.M.. vol. I, pp. 109, 135, vaI. 11, p. 365. Osrebeldes baianos
da ReI'. de História (S.P.), nO 82, 1970, pp, 330-331, 337-338.
(4001cC. Armando Castro _ Ensaios de história econômico-social Lisboa, 1967, pp. de 1798 projetavam _que este pono seria franco a todas as nações estrangeiras para
nele virem negociar... Sem precisão de Portugal~. Cf. A lnconfidéncia da Bahia,
112-113. Todo o ensaio ..Obstáculos ao progresso na história econômica ponuguesa~
(pp. 97-136) é importante.
/798, devtlJstlJ e sequestros. Anais da Biblioteca Nacional, vaI. XlIlI-XUV, p. 92.
140(i)CE. Carta de Bernardo José de Lorena a Martinho de Melo e Castro, 2/8/1788.
(4011CE. Marx _ Capital. vaI. lII. pp. 396-397, 400-401.
Documentos IntereSJanJes, vai. XLV, 1924. pp. 10-11.

210 211
CAPÍTULO IV

POLÍTICA COLONIAL

1) Formulação

Ê este o contexto no qual se desenrola a política colonial portu-


guesa relativa ao Brasil na última fase do Sistema Colonial do Amigo
Regime. Ê a partir deste quadro - a crise no seu nível estrutural,
suas manifestações concretas na relação metrópole-colônia, Por-
tugal-Brasil - "que podemos compreender as reflexoes dos teóri-
cos e a ação dos estadistas do último quartel do sét'ulo XVIII luso-
brasíleiro. Referindo-se ao período entre o término da guerra dos Se-
te Anos (1763) e a abertura da Guerra da Independência dos Estados
Unidos (1776), período em que se agravam as fricções entre a Ingla-
terra e as treze colônias, observa Charles M. Andrews que tem sido
muito eSlUdado como parte da história americana, o que lhe parece
natural e correto; mas acrescenta que seria preciso também apreciá-
\0 como parte da história da colonização britânica e interpretá-lo sob
esta luz(J). Similarmente, para termos uma visão global dest'J. etapa
derradeira do Brasil colônia, convém focalizar a política da metrópo-
le e seus efeitos, não apenas do ângulo de suas implit"ações econômi-
cas e políticas para a emergência da futuca nação (como se tem geral-
mente feito, e não é incorreto), senão ainda como parte integrante
da história colonial portuguesa, na sua fase crítica.
Em que medida, pois, no Portugal dessa última fase do Amigo
Regime e do Sistema colonial mercantilista, se tornou consciência da
situação de cri...e? Até que ponto, apercebidos com o aparato concei-
tual da Ilustração européia, (oram capazes de equacionar os ptoble-

(\lcr Charles M. Andrews - The ClJloni31 bl1t"k.ground O/lhe AmenÚltl Revolution,


New Havell, 1963, p. 121.

213
mas enquanto emergentes de uma nova situação, e formular uma tempo, eorganização sisremática do saber: talo escopo da gigantesca
política colonial condizente com o momento histórico que viviam? empresa. (4) A vida intelecrual do século XVIII se desenvolve portan-
A primeira observação para abordar este problema, é constatar a to nos quadros do racionalismo triunfante; nio que as tendências
adesão da intelligent.fw portuguesa aos esquemas mentais do Ilu- opostas, do pensamento escoláStico tradicional, houvessem ensari-
minismo.E de fato, o movimento da Ilustração, cujas repercussões re- lhado armas - mas tinham passado nitidamente para a defensiva. E
volucionárias na colônia já apreciamos, atuava poderosamente na vi- não só nos domímos da illte/àgentSla, entre os espíritos de escol; era a
da intelectual da metr60poJe, e é a partir de seus esquemas mentais própria <"opinião» - esse novo poder que os governantes começavam
que se formulou todo um programa reformista. Importa-nos, portan- a sentir - que propendia decisivamente para o lado das Luzes.
to, neste passo, demarcar nitida poSto que sumariamente tal esque- Toda uma imensa camada de publicistas, polemistas e vulgariza-
ma, ou, para usa: a expressão de Cassirer<2) a «forma de pensamento:. dores,empenha-se em estabelecer continuamente a comunicação eo-
carac.terística da Bpoca das Luzes. tre as aquisições das experiênCIas científicas e as reflexões das grandes
obras filosóficas, e a mentalidade social, conformando-a às novas
Esta d7no~inação - .Século das Luzes - que a si mesmo o perío- idéias. Simplificando, vulgarizando, deformando até - esses plu-
do se ambulU e que a hIStória consagrou, já nos dá a primeira apro- mitivos vão ao longo do século tornando acessíveis as luzes da Razão.
ximação. Efetivamente, os homens de Setecentos estavam pro- É um amplíssimo movimento de i.déias, que vaí nurocrescendo; tradu-
fundamente conscientes de uma enorme transformação mental ções, livros de polêmicas que se cruzam, panfletos, jornais de debates
de que eram os atores. As luzes (Lumiêres), o Iluminismo (En- que circulam por roda a pane, formando a oplOião; lojas maçonicas,
lightenment), o Esclarecimento (AufkJiirung) andavam conti- aca.demias, salões literários e elegantes, que se difundem: asso-
nuamente no pensamento das mentes mais daras, dos espíritos mais ciações todas de belos espíritos, dos espíritos fortes - cidadãos da
inclagativos, e mesmo na boca ou na pena dos menos dotados. Era «república das letras:\>, nome bonito que é como então se chamava a
como se a RaZão (sempre com maiúscula) enfIm se estivesse encarna- intefligent.fia, Nesta ambiência é que Daniel Momet identificou as
do, depois de longas vicissitudes, nos homens da Europa ocidental, origens intelectuais da revolução francesa (5), analisando-a detida-
que já agora não tinham senão que aplicá-la para dominar a nature- mente.
za e regenerar a sociedade. Não tardaria poís a idade de ouro(3). Racionalismo, sim, mas na sua vaúanre inglesa, quer dizer empi-
Núcleo central de toda essa mentalidade é, como vemos, o prima- nsmo cientificista, é o que triunfa por toda a Europa, empolgando
do da Razão, e como que a crença na aptidão do método científico os espíritos. Se quisermos agora fixar o momento decisivo da vira-
para conhecer o mundo das coisas e dos homens, e resolver-Lhes os gem, isto é, quando o pensamento tradici.onal passou para a reta-
problemas. Racionalismo, pois, e ciencificismo, estão na base da guarda, é para o período que medeia entre o ftm da centúria anterior
mentalidade ilustIada, e tiveram sua expressão típica e máxima na e início de Setecentos que nos devemos voltar. Paul Hazard, que es-
Ency.clopédie, ou dictionnaire raúonné des rciences, des art! et des tudou essa transição num livro dássico(6), demarcou-a entre 1680 e
métters, que I!m grupo d.e intelectuais ( ..une société des gens de let- 1715; aí se situa o que ele chamou com muito goSto e acerto a «crise
tres~), sob a dueção de Dlderot e D' Alembert, começou a publicar a
(4JVeja_se o DirCOUf! préliminaire: coomme Encyclopédie, iI doir exposer aurant
parur de 17) I, com a complacência do censor Malesherbes, de mes-
qu·il est possible, I'ardre ct J'encbainement des oonnalssances humaines; oomme
mo um «filósofo:t. Inventário crítico do conhecimento, demolindo tu- Dictionnaire raisonné des sciences. des ares et des métiets, il doit contenir sue chaque
do que a razão refuga e consagrando os valores modernos; ao mesmo sclencc et sur chaque art, soit líbéral. soir m&al1ique. des pril1cipes géneráux qui en
SOnt à la base, ct les détails les plusessentidsqui eo fone le corps et la substan(e~. Cf.
4 (2)Cf. Ernst Cassirer - Fi/O!ofo de la JIu.Jlrgdón, trad. esp., México, 1950, pI>. 17- D'Alamben - DiJcour! préHminaire de l'Encyc/opédie (1751), Paris, 1965. p. 18.
3. (j)Cf. Daniel Momet - Ln origines inlei/ecJuel/n de la rélloJution franfaiJe (1715-
(3J..üs philo!oPheJ desuuiram a Cidade Celeste de Santo Agostinho apenas para 1787), Paris, 1954. Mais recentemente, Norman Hampson - O l/uminirmo, trad.
recooruuí-Iaoom materiais mais mode.mos,.. <::ar! Betker - Lo ciudad de Dios dei Jiglo port., Lisboa. 1973, pp. 127·144.
XVIII, rrad: esp., México, 1942, p. 41. cr
{6J Paul Hazard - La crire de la comcience euroPéenne. Paris, 1935, pp. 3-1 to.

214 215
da consciência européia», cujos contornos intelectuais definiu com toda experiência; pelo contrário, a aquisição contínua dessas verda-
clareza sem entretanto preocupar-se em buscar-lhe a impulsão nos des, aplicando-se à observação, confrontação, experimemação(8).
movlm~ntos estruturais mais profundos da sociedade. O conhecimento vai pois se acumulando, na medida em que a Ra-
Foi, na verdade, numa profunda mudança nos quadros mentais, zão ilumina o mundo; e não apenas o mundo das coisas, mas o mun-
com o abandono de antigos por novos valores, que se consubstan- do dos homens(9) - as formas de governo, as sociedades. A era da
ciou a vitória do pensamento moderno na sua contenda com a tradi- felicidade não podia pois tardar. Essa «idéia da felicidade» foi, efeti-
ção; e foi nessa fase crítica da história e~pir~tl~al da Europa .q.ue se vamente, uma das mais poderosas constantes da vida mental da épo-
cristalizaram essas «grandes mudanças pSlCologlcas»: da estabihdade ca enciclopedista. Abundam as «reflexões», «ensaios», «discursos» so-
ao movimento, do «antigo» ao «moderno», do «sul» para o «norte» bre a vida feliz, que se sentia agora bem próxima, palpável. Era, na
(isto é, para Inglaterra, tomada agora como modelo). expressão de Robert Mauzi, que lhe dedicou um livro capita1(lO),
No quadro dessas mudanças é que se pode equaciona~ o tn'un- «uma das idéias-forças, que animam toda a época e se expande em
/0 do racionalismo moderno, cujas expressões fundamentais remon- todas as direções»; nos domínios da reflexão, na trama das vidas,. no
tavam ao Renascimento e se desenvolveram no século XVII. A difu- universo mesmo da ficção e do sonho. E mais: a felicidade, como a
são das novas maneiras de pensar e sentir era como que o respaldo entende a época das Luzes, não é um dom, mas uma conquista; não
social do pensamento moderno em confronto com a tradição. Bem se localiza no além, nem no futuro: é terrena e contemporânea, aqui
se entende, também, nesse contexto, que havia de ser a forma por e agora. Condicionaria um estilo de vida, provocaria constantes aspi-
assim dizer inglesa do racionalismo que levasse a p~lma, apesar de rações.
ser a França o seu centro efervescente de difusão(7). E, de fato, uma Pode-se, evidentemente, rastrear no passado as fontes dessa posi-
perspectiva empiricista, cientificista, que enforma todo o ~ndame~­ ção de espírito. Como nota ainda Mauzi, a ruptura como um passa-
to do pensar ilustrado do século XVIII. Com a habltualluCl- do recente envolvia o retorno a uma tradição mais pretérita, que re-
dez. definiu-o claramente Cassirer ao contrapor o século XVII, que monta à filosofia antiga e ao movimento humanisra do Renascimen-
«considerou como missão própria do conhecimento filosófico a. to. A vinculação do problema moral ao problema da felicidade está
construção de sistemas», ao XVIII que, renunciando a essa aspiração, presente nessa linha de pensamento, e os Filósofos de Setecentos
«buscou oUtrO conceito da verdade e da filosofia». Para essa tarefa, ampliaram o âmbito para o problema político. O cristianismo, de fa-
não recorreram os pensadores da Ilustração ao passado filosófico, to, velava esta passagem, na medida em que a procura da «salvação»
mas inspiraram-se no modelo que lhes oferecia a ciência natural de deixava na sombra a aspiração da «felicidade»(1I).
seu tempo; o problema central do método se resolvia, assim, não pe- Mas, exatamente, o próprio cristianismo era agora posto em causa.
lo discurso cartesiano, mas pela «regulae philosophandi» de Newton. As Luzes da Razão permitem tudo devassar, apontando erros na tra-
Segundo elas, o caminho do conhecimento não é a pura dedução, dição, denunciando a autoridade como um abuso. Tradição, autori-
mas a análise; não se panem de princípios gerais para chegar ao par- dade: os pilares da religião revelada. Não que se acreditasse de saída
ticular, mas avança-se no sentido oposto: o particular, os fenôme- em uma oposição entre o cristianismo e as Luzes; mas era preciso
nos, são o dado (datum), e os princípios, o que se procura (quae- despojar a religião cristã das deformações que ao longo dos séculos
situm). Ora, isto envolvia uma nova concepção da Razão: não mais, lhe agregaram os vendilhões do templo, os fariseus. Restaurá-la na
como para os grandes sistemas do século XVII, a região das verdades
eternas, comuns ao espírito humano e ao divino; para o pensamen- (S)E. Cassirer - FllosoÍlIJ de la I1u straúón, pp. 21-23.
to ilustrado, ao contrário, a Razão se apresenta como uma energia, (9)Precisamente, como mostra amda Cassirer, o pensamento ilusuado recusa a dis·
uma força que só se manifesta na ação: não é um «ser», mas um «fa- tinçào pascaliana entre esprit de géometne e esprit de /inesse, generalizando a apli·
zer». Não mais aquele nome coletivo das idéias inatas e anteriores a cação do espnt géomelnque. Cf. Cassirer. Op. ctl., pp. 30-38.
(IO)Robert Mauzi - L 'Idée du Bonheurdam te Littérature ef la Pemée FranfPlJe au
XVIll Jzecle. Paris. 1965.
(lJCf. LoUiS Réau - L'Europe française nu siecle des Lumleres. Paris. 1971 (1Ilef. R. Mauzi - Op. ctl., pp. 14-19.

216
217
sua pUI.eza. hatmonizando·a com a Razão, vindicando pois a nature- Oriental e MeridionaJ(14). Tal enfoque ajuda-nos a compreender
za humana(l2). A fé é absurda, na medida em que faz acreditar não que a f·rança. onde aquelas controvérsias não se tinham resolvido
no que parece verdadeiro mas no que parece falso. Perigoso cami- completamente (nem o protestantismo conseguiu empalmar o esta-
nho. que conduziu no melhor dos casos ao deiJmo, isto é, uma reli.
gião natural e racional que prescinde da igreja visível, e a revezes de-
°
do, nem este conse~iu extinguir protestantismo) tenha vindo a
ser no século XVIll o centro de difusão do movimento das Luzes, e o
saguou no ateísmo sem ambages. ponto onde os debates tenham ido mais longe.
O materialismo, porém, bem corno o anti-colonialismo, configu- Mesmo na França, contudo, ao lado da resistência tradicionalista e
ravam por assim dizer o limite de tadicalização do movimento ilus.- do desafio contundente da linha mais avançada do encidopedismo,
trado( 3); encarado em con;unco, ele se mantinha nas fronteiras de os estudos mais recentes começam,a apontar para uma terceira linha
um reformismo onde a moderação dava a tonalidade. O pedagogis- de força, intermediária entre aqueles cxtremos(l'). A panir dessas
mo, que lhe é inerente, implicava em política numa perSpectlva re- formulações, os uabalhos altamente inovadores de B, Plongeton(16)
formista. pois se a tarefa fundamental era o derramamento das Luzes, vão cada vez mais delineando os contornos, no conjunto do movi-
caberia necessariamente ao governe ilustrado, de homens esclarecidos mento cultural setecentista, dessa Aufkliirung católica: assimilação
que iluminariam o soberano, prover a legislação sábia, racional e da ciência moderna pelo pensamento tradicionaL, modemização sem
moderna, que removeria tOdos os obstáculos ao progtesso, e instau- romper com a ortodoxia. Já Cabral de Mancada, aliás, chamara a
raria o reino da felicidade. Daí a admiração um tanto ingênua dos fi- atenção para essa versão peculiar do Iluminismo nos países da Retor-
lósofos enciclopedistas pelos «déspotas» que se propunham como es- ma Católica(17). São essas considerações importantes e mesmo fun-
clarecidos, Frederico 11, José 11. Catarina 11. O que de resto lhes pro- damentais para situarmos Portugal no contexto da hisrória espititual
pOlciooaria (aos filósofos) ;unargas decepções. da Época das Luzes.
Tod? :ss~ vasto movimento da meo.talidade européia não teve,
como~ e. facil ~compree,?der, o mesmo rttmo nas SWlS manifestações Situado no finisterra ocidental da Europa, Portugal não estava
nos variaS palSes do oCidente. Quer dizer, variando de país para país apenas geograficamente mas também espiritualmente excêntrico aos
e de um para OUtro momento, o movimento das idéias e o impulso
grandes movimentos de idéias que percorriam a civilização do Anti-
~e~ormador ~nconcra. maior ou menor resistêncLa, consegue maiores go Regime europeu. Pelo menos era o que pretendia a barragem in-
eXItOs .ou re~1Stra matores.frustrações; igualmente, o desenvolvimen- quísitorial, com o fim de guardar o Reino nos cânones da mais estrita
to. ~a1S radlcal das.premIssas da crítica da ordem antiga, o ateismo
ortodoxia.
mIlitante e as manifestações de anticolonialismo, somente na Fran.
ça, ce~tro mais vivo dos grandes debates do século, atinge as linhas
de malor tensão. Procurando reconstruir o movimento ilustrado no (14)0. Fritz Valjave< - Hi.5toria de la I1uslración en Occidente, uad. esp., Madri,
1964, pp. 24-29.
seu conjunto, F. Valjavec começa por circunscrever seus limitescrono- (l'il(:f. E. Appolis - .A travers le XVlll siScle catholiques. Entre Jansénistes ct
lógicos e ge?gráficos; ob~e~a, então, que o seu núcleo de gestação Constitutionnaircs: un TieIs parti•. AnnrJIes (Economies-Sociétés-Civilisations), vaI.
foram os palSes onde ma.15 lOcandescentes tinham sido as controvér- VI. 1951, pp. 1')4_171.
sias religiosas que marcaram o início dos Tempos Modernos e se ar- (16l(:f. Bcrnard Plongeron - dechcrches sur «I' Aufklaruog. eatholíque en EUfape
~ast~am pelo século ~1I: Fr~nça, Inglaterra e Países Baixos. De lá Ocddeotale., Refi. d'Hirt. Modeme el COfllempoTaine, vaI. XVI, 1969. pp. 555-
60').
madlou para as demats regIões da Europa Ocidental, Central, (I 7)Yide o ensaio sobre «Id..lia e POrtugal no SetCCentos» in Esludos de Histón"a dó
Direito, 'o'o\. U (Coirnbta, 195-0). pp. 1')3-187. Sobre a Ilustração Espanhola: Jean
Sarrailh - L 'Espagne éc/airée de la seconde moitié dll XVIII úéde, Paris. 1954. R. Herr-
:~~;a. P. HaZard -~ Pensée europ~enne au XV/lI slule, Paris, 196:\, pp. ')1 segs. The Eighleemlh Cenlury Repo/u/ion in Spa;n, princeton, 19'>8. L Saochez Agesta -
. O. Roland Desne - Os materilllutas franceses de 1750 a 1800 rrad pon lis- EI pensamienlo polilico deI despotismo ilustrado. Madri, 1953. G. Anes - &0710-
boa, 1969, pp. 9-57, especialmente pp. 48-')4. ' . ,
mia e rlus/raúó" en la Espana deI liglo XVllI. Barcelona. 1%9·

218
219
Guardado, fechado, entretanto, não podia permanecer de modo lizados pela diplomacia do «magnânimo» D. João V: José da Cunha
absoluto. Por um motivo ou outro (o comércio, a diplomacia) os ho- Btochado, os condes de Tarouca, Galveias, Ribeira Grande, o vis-
mens circulam para fora da Península, e com os homens as idéias. É conde de Vila Nova da Cerveira. Criticavam todos instituições tidas e
pois de fora para dentro que se manifesta o primeiro movimento da havidas por sagradas - o absolutismo arbitrário, os privilégios de
llu~tração portugu,csa, dando lugar a um fen~meno tírico da sua his- casta, o fanatismo da inquisição, o domínio do ensino pelos jesuítas,
tóna cultural no secula XVIII ~ os estrangclraclos(18 . O famoso ca- o atraso enfim de Portugal em relação à cultura científica européia.
valeiro de Oliveira (Francisco Xavier de Oliveira) representa a situa- Sua influência entretanto, como era de esperar, caminhava lenta-
ção limite, isto é, a daquele que se perdeu além fronteiras, assimi- mente, fortíssimas resistências se lhes opunham. Em Lisboa exclama-
lando de tal arte a cultura exótica (tornou-se protestante) que rom- va descoroçoado Alexandre de Gusmão, imbuído das mesmas idéias:
peu contacto com a casa paterna que não mais recebe o filho pródi- «a fradaria absorve-nos, arruina-nos». E noutro passo, numa carta:
go. Em vão tentará ele, perambulando de um para Outro pomo da «Não se esqueça V.S. dos amigos que aqui deixou lutando com .as. o~­
Europa, restabelecer a ligação; em vão escreverá as Sllas diatribes trá- das do mar da superstição e da ignorância, e agradeça aos seus lfllml-
gicas ou jocosas, que não conseguiam influenciar os concidadãos. gos o mimo de que atualmente goza. Eu também havia de descompor
Tudo quanto conseguirá, definhando no seu tugúrio de Kentish os meus, se tivesse a certeza de merecer-lhes semelhante destêrro»(20).
Town, é ser queimado em efígie no último auto-de-fé da inquisição Este trecho de Alexandre de Gusmão está aliás a indicar-nos os
lisboeta, o mesmo em que - ainda menos afortunado - ardeu mecanismos de pressões na corte joanina; a resistência conservadora
também (mas não em efígie) o jusuíta Gabriel Malagrida(19). conseguia «exilar» os espíritos inquietos. Com o que se revela tam-
Mas este é, como dissemos, um caso limite. Os estrangeirados que bém um lado da argúcia política de D. João V, que fazia, como vi-
de fato interessam para a história cultural do setecentismo português mos, diplomatas essas mentalidades de escol; preserva-se, assim,
foram os que não perderam contacto e exerceram influência. Mesmo porventura de uma situação assaz tensa, sem dispensar de todo sua
quando, como D. Luís da Cunha, saindo para missões diplomáticas contribuição: de longe, continuavam influindo, suas idéias iam sen-
(Londres, Madri, Paris), não mais retornaram. Quarenta anos de au- do filtradas e moderadas, adaptadas enfim às circunstâncias. Efeti·
sência fiteram dele um estrangeirado típico; mas nem por isso dei- vamente, não foi D. João V apenas beato e freirático, mas também
xou de ser português, a experiência estrangeira servindo fundamen- estadista, que as duas coisas necessariamente não se excluem.
talmente para aguçar o espírito crítico, alargar confrontos, propor so- Foi mais longe ainda nessa linha o rei magnânimo, chegando a es-
luções. Enorme foi assim a sua influência, exercida através da corres- timular a saída de cabeças bem dotadas a fim de se ilustrarem além
pondência diplomática, cristalizada enfim no famoso Testamento Pirineus, para depois «iluminarem» a nação. E isto nos permite falar
político, em que entre outras coisas faz indicação de Sebastião José do mais importante dentre todos os estrangeirados. Também ele,
de Carvalho e Melo para o ministério. Como ele, outros muitos espí- Luís Amônia Verney, partindo em 1736 para a Itália, não mais re-
ritos abertos às inovações da cultura européia foram largamente uti- gressaria a Portugal. Em Roma irá redigindo aquele notável Verda·
deiro Método de Estudar (1746)(21), no qual, segundo a expressão
I Wlcr Oscar Lopes e Antômo José SaraIva· Históna da Literatura portugueJa, 4.' de Fidelino de Figueiredo(22), «varejará toda a vida mental de
ed., POrtO, sld., pp. 54!l·j61 )o.,é Sebastião da Silva Dias· Portugal e {l cultura CII·
ropéia (Século.r XVI a XVIll), COImbra, 1953, pp. 1 J!l·136. Maria dei Carmen Ruvi· então». Ciências, artes, letras, filosofia, ensino, tudo passa pelo es-
ra . EdéctifOJ porluguCJc1 dei Siglo XVIn y algunas dc JU1' influencias en Amén'ca,
Méxl(O, I')')!l, pp 11·31 (lOlCaIta de 16f2f1750 d. Alexandre de Gusmão· Obras (Cartl1.f. Pocsias,
'l'!ISobre o «CavaleIro de Oliveira», Cf Introdução de Aquilino Ribeiro à Reaea· Teatro), 2~ ed., São Paulo, 1945,66·77-
e
çJo pcnodica (17'j 1j, do Cavaleiro de Olivwa, prefáCIO tradu~ão de Aquilino Ri. (lllCr Luís Antônio Verney· Verdadeiro Método de Ertudar(J746), d. organiza·
beiro, usboa, 1922,2 vs. CartaJ do Cavalriro de Oliveira. Sdeção, prefácio e notas da por Antônio Salgado)únior, Lisboa, 1')4'), '5 v. Vide a «Introdução» dt Amônlo
de Aquilino RibeIro, Lisboa, 1')42. OpúsculoJ contra o Santo Oficio, prefácio e no. Salgado )únior, vol. L
tas de A. Gonçalves RodrJgues. Coimbra, 1942. Sobre o padre Malagnda, Cf LÚClO 1221Fidelino de FJgu("lfdô . ú'teratuTiJ Portuguesa. }.' ed, Rio de Janeiro, 1')5'j, p.
de Azevedo· O Marquês dc Pombal e ma época 2~ ed. 1922, pp. 17 segs. 221.

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calpelo do poderoso crítico, consubstanciando assim um panoclmico de «ilustrados» brasileiros; na segunda metade de Setecentos, quan-
balanço da cultura ponuguesa, e ao mesmo tempo um vasto progra- do o processo ia mais avançad?, um segundo -grufo de brasileiros
ma de sua reforma(23). Só tem paralelo 00 Teatro critico universal participará ativamente do movimento das Luzes(27 .
(1726) do espanhol Benito Feijóo. Tornou-se por isso na pedra angu- Entre uns e outros, passara-se do movimento das idéias para o re-
lar do pensamento ilusuado lusitano, e as polêmicas que desenca- formismo político: um dos primeiros países na Europa (mais uma
deou marcam o ponto de inflexão na assimilação da nova mentalida- vez a precocidade), Portugal inicia, com a governação po~balina, a
de<24). era do despotismo esclarecido. Imposto de cima para baIXO, o pro-
Em Portugal, dentro dos próprios quadros eclesiásticos, as novas cesso de mudança tinha que começar por um reforço do poder do Es-
idéias encontravam acolhida na Congregação do Oratório de São Fi- tado; daí o confronto com as forças que obstavam a essa ce~1tfaljzação
lipe de Nery(25). Verney estudara com os oratorianos, que depois eo- extrema: a nobreza, os jesuítas. Firmado no poder absolutISta da rea-
traram em liça para defender sua obra, atacada pelos jesuítas. A oc- leza, o governo pombalino procedeu à remoção dos óbices i~stitui­
dem, criada em Roma em 1550, fôra introduzida em Portugal pelo cionais à modernização do país: a inquisição passou a subordlOar-se
Pe. Bartolomeu de Quental, pregador da capela real. em 1668. diretamente ao poder régio. suprimiu-se a distinção entre cristãos-
Pcestigiou-a largamente D. João V, dotando-a de recursos e velhos e novos, empreendeu-se a modernização do ensino. Ao mes-
encarregando-a de cursos públicos de teologia, moral, filosofia, retó- mo tempo, uma maior racionalização se impunha na adm~nistração
rica, gramática. Abria-se assim a concorrência com a Companhia de . através do Erário-Régio(28). Paralelamente, a ação econômICa do Es-
Jesus até então dominadora inconteste do ensino. Enquanto os ina- tado se fazia sentir em todas as direções: mobilização e concentração
cianos defendiam o tradicionalismo escolástico, empenhavam-se os de capitais. recuperação dos mercados ultramarinos, promoção do
néris por difundir o racionalismo moderno, por aclimar as Luzes em surto manufatureiro patrocinado pelo estado(29~ .. Na esfera ec~n.ô­
Portugal. Ao Oratório, juntavam-se a Academia Real de História mica, a linha de ação pautou-se pelo mercanullSmo: monopoho,
(1720) e a Arcádia (1756) no movimento de renovação cultural. companhias, exclusivo, estatismo. .. ~ . A'

Neste qu~dro, destaquemos fmalmente o que Jaime COrtesão cha- Essa manutenção do esquema mercanuhsta de pohuca eco-?omlca
mou, com muita acuidade, o «grupo social dps luso-brasileiros.: Ale- no consulado pombalino, combinado com um poderoso movlment~
xandre de Gusmão e seu irmão Bartolomeu, Matias Aires Ramos da reformador de cunho ilustrado. só aparentemente é uma conuadl-
Silva Eça e sua irmã Teresa Margarida da Silva Orta, Antônio José da °
ção: era a própria situação de atraso que impunha. Se importava
Silva (<<o judeu») e outros mais. Trata-se de um estrangeirismo parti- mobilizar as novas correntes de idéias para executar as reformas, não
cular, de luso-brasileiros que se desencantavam na metrópole; pro- era menos imprescindível selecionar no conjunto da nova mentalida-
duzem uma literatura de inconformismo e desencanto, onde o histo- de aqueles setores que mais se adaptav~ à situação portugues~;
riador acima referido desconina «uma consciência alvorescente de ora, no plano econômico, o pensamento ilustrado tendIa, como. VI-
pátria, que analisa, compara e se elabora.(26). Era a primeira geração mos, para uma redução do intervencionismo estatal, o que era lm-

tias Aires nas suas ReflexoeJ sobre a vaIdade dos homens (l752), ed. com introdução
(2.I)CL Luís Cabral de- Moncada . Um «iJumini.rta~ português _do século XVIII: de Alceu Amoroso Lima, São Paulo, 1')52, p. 69.
LutJ Antomo Verney, S. Paulo, 1941. (r)Cf. Mana Odila da Silva Dias _ ASpeclOJ da IIustraçJo no Rmid, Rio deJanel'
(l4lSobre a polêmica do Verdadeiro Método de Estudar, Cf. Hernani Cidade _li- ro, 1969. Separata da R.I.H G.R., vaI. 278. J.Ferreira CanatO (IgreJa" IIUmmI~mO
ções de Cultura e Literatura Portuguesas, Coimbra, 1959, t. 11, pp. l21-147. Maria e Escolas Mmeiras ColomaIS, São Paulo, 1968, pp. 178 segs.) refere-se as «geraçoes.
dei Carmen Rovira, Op. cit, pp. 106 - 130.
de estudantes mineiros na metrópole. ..
(n)Cf. Hernani Cidade, Op. cit., pp. 149 segs. J-Seb'astião da Silva Dias _ (lH)Cf. K. Maxwell- ~Pambal and the n:!tionalization ofLuso·Brastllan economy».
Pog:rl e ~ Cultura ~uropéia, Coimbra, 1953, pp. 136 segs. Separata da H.A.H.R., voL XLVIIl, 1968.
Cf. Jaime Corcesao· Alexandre de GusmJo e o Tratado de Marind, pane I, to. \2'I)Cf. Francisco Antônio Correia _ Históna económlca de Portugal, t. 11, pp. 68
mo I (Rio deJaneiro, 1952), pp. 107-109. ~Olhamos para o tempo passado com sau- segs. F.C. Falcon e F. A. Novais· «A ex:inção da esuavatura afticana em Portugal no
dade, para o presente com desprezo, e para o futuro com esperança., escreveu Ma quadro da política econômica pombahna., Clt.

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possível nas condições de defasagem. Semelhante era a posição dos processa; o pressuposto cientificista e pragmático percorre todo o es-
países germânicos da Europa Central, que desenvolveram contem- forço: «para o adiant~ento da agri~ultura, das artes, e da indústria
porâneamente, essa'forma nova de mercantilismo que foi o camera- em Portugal e suas conquistas» é que se elaboravam as Memórias
!ismo(30). Pelo .meno~ nes~a primeira etapa das reformas a seleção se Econômicas. Já no «Discurso preliminar» se lembrava que «dar provi-
Impunha, e fOI seguida ngorosamente. Daí o reformismo ilustrado dências, remover obstáculos, extirpar abusos, compete somente aos
assumir nesse período característica tão marcadamente autoritária Ministros do poder soberano; influir com grandes exemplos, inten-
que distinguia a governação do Conde de Oeiras(31). O desenvolvi~ tar grandes estabelecimentos, cabe só nas forças dos ricos proprietá-
me~to d~ processo de mudanças, entretanto, na fase seguinte, colo- rios; propagar as Luzes, que para este fIm lhe subminisua a natureza
can~ ~o ~Ilema que já. in?i<."amos: a difícil manutenção do ponto de dos seus estudos, he tudo quanto podem, e devem fazer as corpo-
eqUlhbno entre a assimIlação do pensamento crítico das Luzes, e a rações Iitterarias»(H), por onde se vê o entrosamento que se visava
contenção de seus efeitos contestatórios do absolutismo e do sistema entre a produçãO intelectual e o movimento reformista. «O primeiro
colonial. passo de uma Nação», continuava o Discurso,«é conhecer as terras
Bem vistas as coisas, portamo, o período que se segue ao «consula- que habita, o que em si encerram, o que de si produzem, e o de que
do» pombalino aparece-nos muito mais como seu desdobramento ~ão capazes»(34).
que sua negação. Da fase autoritária de criação dos pré-requisitos ou' Procedeu-se, assim, a todo um levantamento das condições natu-
melhor das condições das reformas, passa-se, a partir de 1777, para rais e econômicas do Reino e do Ultramar. Nas memórias regionais:
~ma etapa de maiores aberturas para o pensamento ilustrado, mas sobre o Alentejo (Henriques da Silveira - Memórias Econômicas, I,
ISS? era um desdobramento do processo de reformas. De um lado, o pp. 41-122), Alto Douro (Rebelo da Fonseca, M.E.)II, pp. 3.6-72),
esforço de recuperação econômica empreendido pelo marquês de Cabo Verde(SilvaFeijó,M.E, V, pp. 172-193), Madeua(Anôntmo-
Pombal começava a dar os seus frutos(32): doutro lado, com a inde- Reflexões sobre a decadência da Ilha da Madeira e modo de an-eme-
pendê':lcia dos E.st~dos Unidos e. a abertura da éra das revoluções, os diar. A.CL., Ms. 32 v.), Moçambique (Lemos Pinto - Memória
mecamsmos de cme geral do Sistema começavam a vir à tona. As acerca do Estado de decadência de Moçambique, A.CL. Ms. 847a),
mudanças se impunham, nas alternativas de reforma ou re\'olução. São Tomé (Batista da Silva - Observações sobre a agncultura de São
Neste sentido, a chamada «viradeira» tem muito reduzida sua im- Tomé, A.CL., Ms. 17, n. 16), Extremadura (Bacelar Chichorro-
portância efedva; houve sim uma viragem significativa mas no sen- Memôna econômzco"polítzca da Província da Extremadura,1795)(35),
tido de uma maior integração nas linhas do reformism~ ilustrado. Trás-os-Montes (Ribeiro de Castro - Descrição do estado atual da
Foi, efetivamente, no período de D. Maria I e do Príncipe Regen- Província de Trás-os-Montes, 1796, A.CL., Ms, 652), Minha (Bal-
te Dom João que Portugal se abriu mais largamente aos influxos da semão - Notícias sobre o estado da agricultura da Província do Mi-
Ilustração européia. A Academia Real das Ciências foi por excelência nha, A.C.L., Ms. 351 e Custódio José Gomes de Vilas Boas - P/a-
o ce.ntro de assimilação ~essas novas correntes, e de sua adequação à no para a descnção geográfica e econômica da Província do Minho,
realidade portuguesa. Dueta ou indiretamente inspirado ou estimu- 1799)(36), Coimbra (Dias Batista - M.E., I, pp. 254-298), Chaves
lado pela Academia, é todo um vasto movimento intelectual que se (Inácio da Costa - M.E., I, pp. 351-400), Moncorvo (M.E., m, pp.
253-290), Setubal (T.A. Vila Nova Portugal, M.E., IIl, pp. 298-
(lO)Sobre o Camerali~mo, Cf. leo Gershoy . From deJpotum to revolution. N.
York, 1944, pp. 52-'i8, e Luuise- Sommer. «Cameralism». Encyc/opedia of Social 1.'.ilCorreia da Serra _ Dú:urso preliminar (1789). Memórias Econômicas da Aca·
5âenceJ, v. !li. pp. 158·1(,1 demla Real daJ 5ciênaas de Lisboa, vaI. I. p. VII.
~JIICf.lu(IO de Azevedo· O marques de Pombal e sua época. 2~ edição. Rio deJa- h 4 lIdem, p. VIil.
nmo, 1n2, p. 87-98. I ;j)Ed. por M Amzalak, Lisboa, 1943.

I i:'lv,ro n~da tem a ver com a discussão efi torno de o EráriO estar vaúo ou regur. I J(lICf. Geografia e EconomIa da ProvínCIa do Minha nos fins do século XVI11.
g;lallte ao tern:mo da governação pombalina (CI. Caetano Beirão - D. Mana I. pp. Plano e subsídios de Custódio José Gomes de Vilas Boas, recolhidos e anotados por
I) ~egs.); refeflffio-nO<; ao !llerernento geral da economia do país. Antônio Cruz, Porto, 1970.

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305), Marinha Grande (Balsemão - M.E., V, pp. 257-277), Serra obstáculos à agricultura, A.C.L.,·Ms. 374, n. 12); passando por estu-
do Marão (Bernardo da Silva - Viagem, A.C.L., Ms. 376), Serra da dos setoriais (D. VandeJli - oliveiras, M.E., I, pp. 8-10; Loreiro-
Estrela Oosé de Miranda - Relação da viagem, 1789, A.C.l., Ms. algodão, M,E., I, pp. 32-40; Lacerda Lobo - vinhas, M,E, lI, pp. 16-
378), Ilhéus (Ferreira da Camara - M.E., I, pp. 304-350; B. Silva 134; Fragoso de Siqueira - castanheiras, M.E. 11, pp. 295-354; azi-
lisboa - Memória topográfica e econômica da Comarca de Ilhéus nheiras, sobreiros e carvalhos, M.E. 11, pp. 355-382) até a discussão de
- M.A.R. C. L, T. IX), Mato Grosso (Lacerda de Almeida - Diáno problemas como o dos baldios (T .A. Vila Nova Portugal- sobre a cul-
de viagem 1790, A.C.L.. Ms. 998), Pará (Manuel de Braun - Des- tura dos terrenos baldios, M,E., lI, pp. 413-430; Alvares da Silva-
cnção ... 1789, A.C.l., Ms. 485), Rio Grande do Sul (Gouveia de Al- projeto de uma companhia para reduzir os baldios de cultura, A.CL.,
meida - Memória sobre a Capitania ... 1806, A.C.l., Ms. 648), Mi- Ms. 375, n. 4) das terras abenas, da transumância, técnicas de produ-
nas Gerais (Vieira Couto - Memória sobre a Capitania de Minas ção, etc ..
GeraIS, 1799, R. I. H. G. 8., v. XI, pp. 289 segs.;J. da Rocha- A mineração era outrO tema decisivo para os ilustrados luso-
Mem.- R.A.P.M., v. lI, pp. 425-517;]. Eloi Ottoni - Memória so- brasileiros: Rodrigo de Souza Coutinho (sobre a verdadeira influên-
bre o estado atual da Capitania de Minas Gerais, 1798, A.B.N, v. cia das Minas de metais predosos na indústria das nações, M.E., I,
XXX, pp. 301-319), Mato Grosso a.
Ferreira e R. Serra - Reflexões pp. 237-243), J. J. Azeredo Coutinho - Discurso sobre o estado
sobre a Capitania de Mato Grosso, R. 1. H. G. B., vol. XII, pp. 377- atual das minas do Brasil, 1804 (R.IH. G,B" vol. XCVII, pp. 5-
400), São Paulo (M. Pereira Clero - Dissertação ... 1782, A.B.N., 37), Pontes Leme - Memória sobre a utilidade pública de se extrair
vai. XXI, pp. 193-255), Bahia ( Discurso preliminar .. . A.B.N., vol. ouro das Minas (R. A. P. M., v. I, pp. 417-426). Mas a indústria não
XXVII, pp. 281-349), e a lista poderia se alongar. Em 1783, iniciava estava, de forma alguma ausente de suas preocupações; procedem-se
Alexandre Rodrigues Ferreira a sua longa «viagem filosófica» pela levantamentos sobre matérias primas, por exemplo, madeiras (B.
Amazônia, que se prolongaria até 1792 e de que resultariam tantas Silva Lisboa - Memóna sobre os cortes de árvores no Brasil, A. C.
memórias e estudos(37). L., Ms. 17;José Bonifácio de Andrada e Silva - Sobre a necessidade
Nesses trabalhos, normalmente, procedia-se a um levantamento e utilidade do plantio de bosques, A. C. L., Ms. 1776) ou sobre pro-
das condições naturais (<<descrição física») e econômicas. A agricultu- duções naturais deste reino das quais se poderia tirar utilidade (Van-
ra domina as atenções - incidência do pensamento fi.c iocrático.<38) delli, M.E., I, pp. 176-186). A indústria do sal, do anil, da tintura-
Desde análises globais (O. Vandelli - Memória sobre a agncultura ria são objetos de estudos monográficos (Lacerda Lobo - Análise do
do Reino e suas conquistas, M.E. I, pp. 164-175: Memória sobre a pre- Sal, ME, IV, pp. 233-252; Preparação do peixe, pp. 252-312; De-
forência 1ue em Portugal se deve dar à agncultura, M.E., pp. cadência das pescarias, pp. 312-384; Silva Feijó - Sobre a fábrica
244-2)3; 4Jvares da Silva - Memória histónca sobre a agncultura real de anil, M.E, , I, pp. 407-421). A siderurgia dá lugar aos traba-
portuguesa, M.E .. V. pp. 194-256; Ribeiro de Paiva - Memóndsobre lhos de Eschwege (sobre as dificuldades das fundições e refinações
a necessidade de fomentar a agncultura e as artes, A. CL., Ms. nas fábricas de ferro, M.E., IV, pp. 120-128; Ferreira da Câmara -
143v; Dissertaçãr :obre a agricultura e comercio por um anônimo, sobre o carvão, M.E., 11, pp. 285-295).
A.CI.. Ms. 37,. t. 3: Tosé Antônio de Sá - Memória sobre alguns
Essa exemplificação, que se poderia facilmente multiplicar, é con-
i 17)Cf. A. V. Sacramemo Blake - DicionJno BibliogrJfico Brasúetró, vol I ,pp. tudo suficiente para dar uma idéia do clima do movimento ilustrado
41-49. Alexandre Rodngues FefTeira:catJlogo de monuscntos e Bibliografia, Biblio- luso-brasileiro do último período do Antigo Regime. Para os nossos
teca NaCIonal. R.} .. 19'i2. Di.Jno da VlOgem Filosófica, R.l.H.G.B .. tomos XlVIII - objetivos importa sobretudo destacar e fixar certas dominantes teón"-
Ll. cas que perpassam todo o movimento, e que permitem equacionar a
Il~ICf. Albert Silbert - Le Portugal médtlefTanéen ti la fin de I'AnClen Réglme,
Paris, 1966 (2 vs.), I, pp. 1'i3-1 'i4. Le Prob/eme agralre portllgals au temps de! pre-
política econômica que se levou à prática na colônia, em coordena-
mleres Cortes /ibérales, Paris, 1968, pp 21·25, M Amzalak ~ O fi"nocralirmo. As ção aliás com a que se aplicava na metrópole. Já destacamos o pressu-
memóno1.1 et:()f/omlcas da Academia e seus culabofJdores. Lisboa, 1922. posto cienti:ficista e pragmático subjacente a toda mentalidade ilus-

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tracla, e que informa todo o movimemo{3Y). Fixemos, agora, no pla- tugueses. Em Vandelli encontramos mesmo formulada e justificada
no das idéias econômicas, a perspectiva que domina os ilustrados esta posição de espírito: «sendo certo, que rodos os ramos da econo-
luso-brasileiros. Em primeiro lugar, cumpre ressaltar o abandono da mia civil, para que esta seja útil ao Reino. devem ser regulados por
ortodoxia mercantilista. Criticando a memória de Pontes Leme so- princípios deduzidos de uma boa Aritmética política, assim não se
bre as minas, o censor acadêmico (Visconde da Lapa) diz que em cef- devem seguir sistemas. sem antes examiná-los, e confrontá-los com
tos passos «o autor parece possuído inteiramente do espírito do siste- as atuais circunstâncias da Nação».(44). Trecho realmente notável,
ma mercantil, e desconhecer que a riqueza é o trabalho exigível, e o pois define como nenhum outro o clima mental dos teóricos luso-
trabalho supérfluo da natureza a causa de todos os melhora- brasileiros da Ilustração. Por ele se vêem as teorias assimiladas em fun-
memos»(40). Por onde se vê que se aderia, um tanto promiscuamen- ~ão da silUação concreta; ao mesmo tempo, pois, aÚlUde de abertura
te, ao mesmo tempo à idéia smithiana do trabalho engendrador de em face dos novos ventos, e de tentativas de adequação às condições
valores e - traço fisiocrático - da natureza criadora dos excedentes. especíticas: o pragmatismo cientiticista lastreava o ecletismo.
Quanto ao fundamento metodológico: «a experiência foi quem de- Referindo-se à política de Pombal, afirma Vandelli que se «seguiu o
senganou a respeito deste sistema»(41). 'l[Experiência~, no caso, era o 'sistema de Colben (isto é, o mercantilismo) subministrando somas
exame da história. cCom a descoberta das terras do Oriente, e da consideráveis aos fabricantes: não deixando porém no mesmo tempo
América, cresceram em Portugal as riquezas de convenção, porém as perder de vista a agricultura», o que lhe parece justificado pelo «esta-
reais diminuiram», diz Alvares da Silva(42), que acrescenta, «o ouro do no qual se achava o Reino, necessitado de uma total reforma»;
e a prata são sinais, e preço das cousas, e assim como os demais gêne- aos vindouros ficava a tarefa de «aperfeiçoar, e aproveitar esses gran-
ros, na abundância tem menos valor, e maior na raridade. Os Estados des impulsos, que hão um dia fazer a felicidade da nação»(45).
porém são felizes não pelo aumento do preço das cousas, mas sim pela Note-se, aqui, como o memonalista via a política desse período co-
abundância das mesmas». mo desdobramento quase natural do pombalismo; mas o que sobre-
A preocupação prevalecente com a agricultura, e trechos como este tudo chama a atenção é, evidentemente, o pragmatismo e o ecleti-
último, poderiam fazer pensar numa adesão sistemática à fisiocra- cismo do autor. característico de todo Iluminismo em Ponugal e no
cia. Na realidade, porém, o pensamento fisiocrático era mobilizado Brasil. Os dois maiores economistas do período, cuja formação inte-
para servir a uma política econômica reformista. Noutros autores, o lectual se processou nesse clima das Luzes, exemplicam bem, apesar
que reponta é uma clara influência da economia clássica inglesa: das nalUrais diferenças de matizes, esse ecletismo: o brasileiro José
veja-se, por exemplo em Bacelar Chichorro a afirmação explícita de da Silva L~boa e o poftuguêsJosé Acúrsio das Neves(46).
que «a terra, posto que frutífera de sua natureza, e capaz de repro- O termo «economia civil» do texto de Vandelli, por outro lado,
dução, não é por si só bastante a formar a felicidade e riqueza pú- aponta para um autor - Antonio Genovesi - de larga influência
blica»; «a indústria do homem é somente quem forma a força, a
grandeza, a felicidade, e a riqueza de uma nação»(43). Era pois para I HICf. D. Yandelli _ MemórÚI Jobre a preferineia que em Por/ugai se deve dar ii

um ecletismo que tendia a postura merodológica dos ílusuados por- agncullura. Mem. Econ. A. R. Se. L., vol. I, p. 244.
(4~IOp. cit., p. 244.
(j'J)Cientificismo e pragmatismo sâo pOStOS em destaque por Maria Odila da Silva (46lSobre Silva Lisboa: L. Nogueira de Paula, in EI Pemamien/o econ6mico la/ino-
Dias - Arpeclos da ilustração no Brasil, cit., a maIs segura visão de cof1junto do mo- americano. México, 1945, pp. 74-78. Alceu Amoroso lima - .Época, vida e obra de
vimemu Jlll';trado no Brasil. \ Cairu., in Prineípiru de Economia Política, de José da Silva Lisboa, (1804), ed. co-
( 40 lO .• Censura à memória sobre a utilidade ...• A.C.1. Ms. 373. . mentada por Nogueira de Paula. Rio deJaneiro, 1956. Sobre Acúrsio das neves: Fer-
(~llJdem Ibidem nando Pinto Loureiro - Vida e Idéias econômicas de José Acursio das Neues. Lsboa,
(42)Cf. J~sé Ve(lS~imo Alvares da Silva - Memóna Hufónca jôbre a agncultura 1957, separara da Remia do Centro de ru/udos Economicos, n. 16 e 17. Vide tam-
portuguêsa (1782). Memorias Economicm da Academia Reai das Sciencias de LiJboa, bém H. Ferreira lima - Hu/ória do pensamento econômico no Brasil, São Paulo.
vol. V, p. 232. 1976, pp. 52·53, 77-78. Déa Fenelon traça elucidativo paralelo entre Silva Lsboa e
(43)Cf. José de Abreu BaceHar Chichorro - MemótuJ er;onômir;o-po/ítica da Provín. Alexander Hamihon ( Cairu e Hamil/on: eJ/udo comparali1lo, Belo Horizonte, 1973,
cia da F.xfremadura (1795). Ed. M. Azmalak, Lisboa. 1943. p. 35. (exemplar mimeografado).

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em toda essa constelação intelectual; ora, o .Genuense» rantas vezes cios e socorros necessários para a defesa e segurança das suas vidas e
citado nas memórias, autor das Lições de comercio ou economla ci- dos seus bens, mamendo-se em uma sossegada posse e fruição dessas
vil (1765), o primeiro a reger uma cátedra de economia (Universida- mesmas vidas e desses bens»(5I). O traço ideológico reponta clara-
de de Nápoles), pode considerar-se um mercantilista moderado(47). mente na formulação: «Bons ofícios» para a «defesa e segurança» da
Rejeitando um rnetalismo estreito (<<é claro que as riquezas de um colônia enquanto colônia;na fase de crise, quando os mecanismos da
país se acham sempre em razão direta com a soma de trabalhos»). estrutura começavam a criar condições para o desatamento dos vín-
entende que «nada tem tanta eficácia como o cométcio, regulador culos de dominação colonial, isto necessariamente significava «defe-
dos interesses humanos»; donde se segue que «quando uma nação sa e segurança» da metrópole, enquanto potência colonial. Mais ain·
não tem comércio é coisa manifesta que, por excelentes e boas que da, dados os mecanismos do sistema que se defende, «posse e frui·
sejam as demais disposições acerca das artes e manufaturas, hão de çãü» significam assimilação, pela mecrópole, dos estímulos da explo-
ser inúteis», pois o «comércio é o espírito que aviva o engenho" dá ração colonial. «Estes benefícios», prossegue o bispo economista,
movimento às artes e ressuscita a indústria»; é enfim o comércio «a «pedem iguais recompensas e, ainda, alguns justos sacrifícios; e, por
mola principal de todas as forças do corpo político, e produz e atrai isso, é necessário que as colônias também, por sua parte, sofram: 1)
todas as riquezas ao Estado»(48). Era sobre essa base que se cruzavam as que só possam comerciar diretamente com a metrópole, excluída to·
influências inglesas (clãssicos) e francesas (fisiocratas) para conformar da e qualquer outra nação. ainda que lhes faça umcomércÍo mais van-
a mentalidade econômica dos ilustrados portugueses: o resultado foi tajúso; 2) que não possam as colônias ter fábricas, principalmente de
um mercantilismo bafejado pelas Luzes, o mercantilismo ilustrado. algodão, linho, lã e seda, e que sejam obr~adas a vestir·se das manu-
Assim é que, entre as fontes de riqueza de uma nação, uma me- faturas'e da indústria da metrópole»()2). Aqui defrontamos o colo-
mória anônima da Academia enumerava, entre a agricultura, manu- nialismo mercantilista na sua formulação mais ortoduxa. Como os
faturas, a pesca, etc, as cofõniaJ.49). Era a persistência da visão mer- referidos «benefícios» eram na realidade vantagens efetivas da me-
cantilista em meio da mentalidade ilustrada. Tal persistência lastreia trópole, vê-se bem que a reciprocidade do pretenso pano era grossei-
também toda a obra do tcórico por excelência do colonialismo ilustra- ra racionalização.
do em Portugal: o bispo Azeredo CoutinhoPO). «A metrópole, por A visão mercantilista da colonização mantém-se. pois, na base das
isso que é mãe, deve prestar às colônias suas'filhas todos os bons ofi- reflexões dos ilustrados luso· brasileiros do fim da época cúl!)ni~!. Este
trecho de Azeredo Coutinho lembra quase ipm filiem as formula-
(47)As LezlOni foram traduzidas para o eSpanhol em 178). Sobre GenoveSI, Ct. R, ções dos primitivos teóricos da expansão, formulações que se mami·
Gonnard - Histón'a de las Doctnnas Econômicas, trad. esp. Madri. 1968, p. 143. veram pelo século XVIII, na pena de Montesquieu()3) e no verbete
Franco Venturi - «Economisti e Reformatori spagnoli e italiam dei 700», RIV. Storica
lia/., vol. LXXIV, 1962, pp. 632·561. da Encyciopédief..54). Tal persistência, ali~, mostra bem a importância
(4~)Cf. A Genovesl in Antologia dei Pemamiento Económico·Soc/pl. de J. Silva da exploração colonial como instrumento de desenvolvimento das
Herzog, vol. I, México, 1963, p. 237-238. economias centrais na fase de transição para o capitalismo industrial.
I~')ICf. Verdadeiro dircurso sóbre o comércio do Reino de Portugal. A. C. L,. Ms .. Somente o desenvolvimento deste (a partir da segunda metade do
2<)v.
I~OISobre Azeredo Coutinho, vide: Luis Nogueira de Paula - in EI pemamiento
económlco IlItlno-amencano. México, 194), pp. lI-74. Myriam Ellis - «Um dotu- lenual de sua época~, In Conflito e Contlnllldade na soàedJde brasileira, dir. por
mento anônimo dos fins do século XVIII. Sobre relações comerciais entre o Brasil e H. Keith e S,F. Edwards. Trad. port., Rio de Janeiro, 1970, pp. 86-123.
Portugah, Rev. Hútón'a, São Paulo, n.o }8, 19)9, pp. 383-418; N. Werneck Sodré- ('i 'ryosé Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho - EnJaio econõmlco sobre o comér-
A ideologia do colonimúmo, seus reflexos no pensamento brasileIro, Rio de Janeiro, cio de Porlugm e SUaJ colônias (1794), in Obras Econômica.r de JJ. da Cunha de
1961, pp. 13·57; Sônia A. Siqueira - «A escravidão negra ntl pensamento do bispo: Azeredo Coutl11ho, introduçâo de S. Buarque de Holanda, S. Paulo, 1966, pp. 154·
Azeredo Coutinho. Contribuiçâo ao estudo da mentalidade do último inquisidor~, 155.
São Paulo, 1964, separata da Rev. Hirt., n,a, 56 e 57; E. Bf'J.dford Burns - «The role (5 l )Azeredo Coutinho - ap. cit., p. 155.
of Azeredo Coutinho lr1 the Enlightenment of Brazil~, Hirp. Am. Hút. Rev., vol. ()3)Espín"to das Leú, livro XXI, capo 2l.
XLiV, 1<;64, pp. 145-161; Manoel Cardozo -«Azeredo Coutinho e o fermento inte- ('i41Vide suPra, p. 146.

230 231
século, na Inglaterra) permitiria (para a potência industrializada, ou de A. Smith sobre o valor da moeda. e não nas teorias fisiocráticas
em processo de industrialização) prescindir das compulsões institu- sobre a agricult~ra), nã? deixa de chamar a atençã~ para a.ne~essida­
cionais do sistema, e praticar o que B. Semmel chamou, com muito de de melhona téCOlca para recuperar as famas mmenas do
acerto, o «imperialismo do comércio livre»(Y5). Para os países do Con- Brasil(60). Há. enfIm, uma difusa idéia de que. dada a posição de
tinente, em graus vários de defasagem em relação à Inglaterra, o di- ponugal no comércio mundial, seria possível articular os interesses
lema era precisamente este: a remoção da defasagem implicava, no recíprocos da metrópole e da colônia. sem romper o pacto(61).
plano teórico, na crítica do Antigo Regime como um todo, e pois Este último ponto é aliás essencial na definição da forma que assu-
também do próprio sistema colonial, indispensável para manter o me entre os teóricos do mercantilismo ilustrado português a ideolo-
ritmo de acumulação. sem a qual o atraso não se superava. A impos- gia da colonização. E sobretudo em Dom Rodrigo de Sousa Cout~­
sibilidade teónca de ultrapassar esse dilema sem negar o sistema co- nho. a um tempo teórico e estadista, que ela toma contornos mm
mo um todo imprimia um iniludível caráter ideológico às formula- nítidos: «a feliz posição de PonugaI na Europa, que serve de centro
ções reformistas; a impossibilidade prátIca de ultrapassar as contradi- ao comércio do none e meio-dia do mesmo continente, e de melhor
ções levava, por seu lado, às rupturas revolucionárias, e nelas, a colo- entreposto para o comércio da Europa com as outras três panes do
cação explícita do dilema: assim, nas assembléias revolucionárias da mundo. faz que este enlace dos domínios ultramarinos ponugueses
França, a dura opção entre os «princípios» e as «colônias., assim os com a sua metrópole seja tão natural, quão pouco o era o de outras
vimistas portugueses tendo que combinar liberalismo com recoloni- colônias, que se separaram da mãe-pátria; e tal~ez se~ o feliz nex~,
zação do Brasil. que une os nossos estabelecimentos. ou eles não pode~lam conse~Ulr
Entre a emergência das tensões estruturais e as rupturas revolucioná- o grau de prosperidade .a que a nossa situação os ~convJda. ou se~la~
rias, isto é, nos períodos de crise, defro,ntavam-se pois os teóricos com a obrigados a renovar anifia~ente os mesmos vmcul~s que hOJe li-
tarefa de conciliaras extremos, e os estadistas de implementar as refor- gam felizmente a monarqUIa e que nos chamam a ma.1~res desunos;
mas. Assim é que nesse mesmo Azeredo Coutinho, apesar daquela tirando deste sistema todas as suas naturais conseqüênaas»(62). AqUI
formulação básica certamente mercantilista, encontramos a crítica dos tocamos realmente o núcleo do problema. Observe-se, em primeiro
estancos e a recomendação de sua supressão('J6). a preceituação do estí- lugar, que a crise do sistema ronda por assim dizer este te;t~: a preo-
mulo à construção naval e as pescarias nas colôniasO 7), bem como a da cupação de descanar a semelhança de s~tuação com as colo01as :Jue se
liberdade de produção agrícola colonial, pois «ainda que nas colônias independizaram, isto é, os Estados ~OJdos. Nestas, o enlace nao era~
se cultive com abundância este ou aquele gênero que se cultiva na me- natural, por isso rompeu-se; não assun no caso de Ponugal. Por que.
trópole, como, por exemplo, o trigo, e que aquela abundância faça A posição de Portugal - sua situação geográfica de entreposto -
baixar de preço o gênero na metrópole, esta, contudo, nunca se poderá torna (Jaz») natural o v1nrulo, integrando os interesses e a :odos
dizer prejudicada, nem ainda algum lavrador dela considerado como convidando a grandes destinos. Mas não é apenas un:ta qu~t~o de
em particular»(58). Num outrO estudo, preconiza a não taxação geografia; já pouco antes dissera que «Por~tu~, reduzJdo a SI so, se-
do preço do açúcar, em plena fase de alta. para que negociantes ria dentro de um breve período uma provmcla de Espanha, enquan-
e produtores possam aproveitar a fase favorável da conjuntura(59). to servindo de ponto de reunião e de assento da monarquia ... é sem
No discurso sobre a mineração, por entre o panegírico da agri-
cultura e a crítica do metalismo (crítica fundada, aliás, na análise (6O)U. Azeredo Coutinho _ Disr;urro Jobre o eJ~aáo atual das minas do Brasil
(1804), in Obras ewnômÍCOJ ... , pp. 187-229, ~speclalmente pp. 198-201, 206 segs.
I»IU. Bernard Semmd _ The riu o//ree trade imperialiJm, Cambridge, 1970, No mesmo sentido. J. Vieira Couto - Memôna sobre a Capltama de Mmas GenllJ
pp. 14-48, 130 segs. (1799). R.I.H.G.B.,-vol. Xl, pp. 289 segs.
()6) e (nCr. Azeredo Coutinho - Emaio econômico ... pp. 76-80,92_100, 126. (61)U. Azeredo Coutinho - EmaW er;onômiw ... , p. 138. _
(58)Azere.do Coutinho -EnNio &onômiro ...• p. 152. (62)D. Rodrigo de Sousa Coutinho _ Memória l.obre o ~e/ho,?ment~ dOJ dorm·
(wl(:f. Azeredo Coutinho - Memória 10m o preço do /lfúcar (1791), in Obras nioJ na Amén"ca (1797), (om introduçãO de A. Pifes de Lima. m Brasílta. vol. IV,
econômicaJ ... , pp. 173-185. Coimbra, 1949, p. 406.

232 233
contradição uma das potências que tem dentro de si rodos os meios conta de que a argumentação, tão engenhosamente elaborada, po-
de figurar conspícua e brilhantemente entre as primeiras»(63l. Logo, a dia apresentar o reverso da medalha; a metrópole, devedora, pelo
pequenez e fraqueza da metrópole, aliada à sua posição na encruzi- seu próprio argumento, devia querer arruinar a colônia, credora ...
lhada das rotas, torna cnatural» o que tinha sido produto da história, não seria então mãe e sim madrasta. Mas não havia decerto perigo
isto é, a vinculação de Portugal com suas colônias. Daí decorrem os de ela, a metrópole, cprocurar ocasião de fugir» da colônia; o que ha-
princípios «luminosos»: «este inviolável e sacrossanto princípio da via, concretamente, eram as teosões internas do sistema engrendan-
unidade»; e sua cconsequência natural»: «as relações de cada domí- do as tendências das colônias em direção à autonomização. Para
nio uluamarino devem em recíproca vantagem ser mais ativas e mais prevení-Ia, exatamente, impunha-se, na época da crise, afrouxar os
animadas com a metrópole do que entre si». Tudo isso, aliás, diz res- laços até o limite em que se mantivesse o «enlace», isto é, o sistema
peito mais «particularmente» caos mais essenciais dos nossos domí- colonial.
nios ultramarinos que são sem contradição as províncias da América, Nessa perspectiva, entendem-se as aberturas preconizadas por
que se denominam com o genérico nome de Brasil»( 64 l. Assim, ape- Azeredo Coutinho e acima referidas; e nesse sentido, é agora Dom
culiafidade, real, da situação de Portugal e suas colônias no contexto Rodrigo quem avança até as fronteiras do sistema: teoricamente,
do Antigo Sistema de colonização, torna-se uma ideologia: a despro- «não seria contrário ao sistema de Províncias com que luminosamen-
porção entre a metrópole e seus extensos domínios, agravada pela te se consideram os Domínios ultramarinos, o permitir que neles -se
defasagem econômica em face das potências mais desenvolvidas, que estabelecessem manufaturas»; para recuar em seguida, pois, concre-
era uma ameaça de ruptura do sistema, passa a ser vista como ele- tamente, «a agricultura deve ~da por muitos séculor ser-lhes mais
me',lto que supera as contradições do pacto, e harmoniza as peças do proveitosa do que as artes, que devem animar-se na metrópole para
conjunto. segurar e estreitar o comum nexo»(66). Logo, esse projeto de desen-
Tal concepção, que marcava o ponto limite a que podia chegar a volvimenro integrado o que visava era uma inter-dependência que
tomada de consciência metropolitana, encontra mais uma vez em preservasse o sistema.
Azeredo Coutinho, quando passamos dos princípios gerais para as Efetivamente, na perspectiva em qu~ se colocavam, os ideólogos
norr,nas de política econômica efetiva, a sua formulação mais explíci- da Ilustração portuguesa <:.ram naturalmente levados a integrar a
ta: Invertendo a ortodoxia mercantilista, tira as conclusões últimas análise dos problemas metropolitanos e coloniais. Já vimos os memo-
daquela «posição peculiar» da metrópole portuguesa; e formula a di- rialistas explicando a decadência de Portugal pelo excessivo da expan-
retnz segundo a qual a metrópole pode e mesmo deve ter um comér- são ultramarina; mas não ficavam apenas nas afirmações tradicio-
cio deficitán'o com a colônia, para tê-lo superavitán'o com as de- nais: em alguns textos mais penetrantes de fato, ultrapassa-se a colo-
mais potências. «Numa palavra, quanto os interesses e as utilidades cação antiga para procurar as vinculações entre expansão e deca-
da pátria-mãe se enlaçarem mais com os das colônias suas filhas, tan- dência. Numa dissertação anônima de 1780, por exemplo, afirmava-
to ela será mais rica; e quanto ela dever mais às colônias, tanto ela se- se que «os abusos introduzidos na nossa agricultura, e o descuido de
rá mais feliz e viverá mais seguramente. O credor sempre olha para o se obviarem, transladaram no presente século (já esta corrupção vi-
seu devedor como para a sua fazenda; ele concorre para o seu au- nha do passado) para as Nações do Norte e Levante, os grandes re-
mento e não o quer jamais arruinar, nem perder de vista; o devedor, souros, desentranhados pela indústria dos portugueses na Ãfrica,
porém, não quer nem ver o seu credor, e quanto ele se faz menos so- América»(67). Note-se que para o autor a decadência não se dá por
~úvel, tanto mais procura a ocasião de lhe fugir»(65). E a distorção não terem sabido os ponugueses explorar suas colônias, mas apesar de
ldeológ:ica reponta ainda uma vez: o prelado reformador não se dava
(66 1Rodrigo de Sousa Coutinho - Memória !Obre o melhoramento ... (1797) p.
(6})!dem. Ibidem. 411.
(M)Mem. p. 407. «(,7)Cr. Dúsertaçiio sobre a agricultura e o mmércio que à Real Academia das
(65)Cr. Azeredo Coutinho _ Ensato EconômIf;o .. (1794). p. 1'5'5. Sciencias offerece um Anônimo em 1780. A.CL. Ms. 374. n? 3 (grifos nossos).

234 235
terem-nas explorado (isto é, tirado tesouro~ da Afeica e América). O procurou delinear os contornos da geração reformista (<<generation of
fato de a metrópole não se desenvolver paralelamente (no caso, não 1790'S») que se forma mentalmente no iluminismo europeu, e poli-
cuidar da agricultura) é que criou condições para o tcansladamen.to ticamente se define em face dos rumos que a alternativa revolucioná-
dos tesouros. Em outras palavras: os esdmu!os da exploração colo01al ria ia tomando, no Brasil e no mundo; o fracasso do republicanismo
portuguesa iam sendo asimilados por outras potências. Esse fenôme- (inconfidr-ncias) e o aprofundamento das tensões - sobretudo a
no da não-assimilação dos estímulos é também notado por Soares de ameaça ao tráfico e à escravidão que a «via revolucionária. trazia
Barros ao referir-se às <<nossas próprias riquezas, adquiridas quase (0- no seu bojo - dissociam os interesses da camada dominante colo-
das por conquistas. sem reflexos com o corpo da nação e os trabalhos nial, abrindo caminho para a «iniciativa metropolitana» e à «acomo-
da cultura»(68). Esboçava-se destarte um autêntico círculo vicioso: dação»(72). Daí a força que adquire a perspectiva reformista, que
por não se desenvolver, a metrópole não conseguia assimilar os estÍ. tem em Dom Rodrigo sua expressão mais conspícua, e que enfim se
mulos da colonização; mas não podia prescindir desses estímulos pa- firma na diretriz de uma política econômica integrada e que no pla-
ra desenvolver -se. no político equaciona o estabelecimento da Corte no Brasil (a «idea
A D. Rodrigo de Sousa Coutinho não terão escapado essas cone- of luzo-Brazilian empire:t)(73). A análise altamente sugestiva de
xões, pois na sua memória sobre a influência das m!nas(69), con~~­ Maxwell nos permite pois surpreender os inter-condicionamentos
tanto banalidades correntes que condenavam sem mais exame a attvl- das alternativas de reforma e revolução no processo da crise; aclara-
dade mineradora, demonstrava em 1789 depender a utilidade da la- nos, por outro lado, o fortalecimento da posição reformista a partir
vra de minas do grau de desenvolvimento da metrópole e sobretudo do fim da década de 1790.
da sua produção manufatureira; a ausência das manufaturas é que Ela já vinha de antes, contudo, e se desenvolve paralelamente com
tornara perniciosas as minas, incidindo sobre uma economia mais as manifestações revolucionárias. É preciso, pois, buscar os condicio-
adiantada elas seriam altamente benéficas, Assim, o desenvolvimen- namentos mais gerais e profundos, na crise do sistema de coloniza-
to da metrópole passava a ser visto como condição para a assimilação ção e do próprio Antigo Regime como um todo. A cnse, de fato, tal
das vantagens da exploração colonial, ao mesmo tempo que a pressu- como a vimos definindo e caracterizando ao longo de todo esse tra-
punha. balho - isto é, aquela situação em que as tensões estruturais supe-
É dentro desse quadro de condicionament?s, ~ somentel:c!c, ,que ram as condições de equilíbrio do sistema - impunha mudanças,
se pode emender a formulação de uma polítICa ~lustrada ret~rmlsta, abrindo-se as alternativas para encaminhá-las aos homens que vi-
que visava imegrar o desenvolvimemo metropohtano e coloma! (~m viam o atribulado processo. K. Maxwell apanha um dos momentos,
romper o sistema); é por aí que podemos compreendc:r nesta ,:!loma por sinal dos mais significativos, dessa difícil procura de equilíbrio.
etapa da colônia, o caráter de abrandamento do exclusI.vo e de Incen- A tensão entre as duas «vias» entretanto percorre todo o processo, é
tivo da produção colonial, combinado com uma po!ítlca manufat';!: mesmo inerente a todo o movimento das luzes(74).
reira e de reformas na metrópole - política reformista em suma, Ja A perspectiva reformista integrava, portanto, a economia colonial
entrevista num ensaio de M. Pinto de Aguiar(70), que entretanto na metropolitana num OlVel razoavelmente profundo da análise.
não lhe analisou o conteúdo ideológico, nem a referiu ao quadro Conseguia, com alguma clareza, identificar a peculiaridade da situa-
condicionante da crise. Kenneth Maxwell, em trabalho recente(7I), ção Brasil-Portugal, a interdependência acentuada pela crise; a dis-
(6N~ J. Soares de Barros - Memónu sobre JS causll.J da dIferente POPUIa,fiio de POT-
tugal (1789), in .Hem. Econ. da Acad. R. 5c. Lisboa, vol. I, p. 1.}4.(gnfos nossos). Brazilian Empire» in Colonial Roat; 01 Modem Brazii, org. por Dauril Alden, Ber-
(6<I)U. Rodrigo de Sousa Coutinho - DisCUTIO JObre a verdodeiTa influência dtn kdey, 1973, pp. 107-144.
mimn de metaú pTeciosOJ na indiístna daJ nações, in Mem. Econ. Acad. Real d4J (71) e (73)K. Maxwell- pp. 130segs. Veja-se, em N. Werneck-Sodré - IdeologIa do
5ciênciaI de lisboa, vaI. I, pp. 237-243. colonialismo, pp. 24 segs., Azeredo Coutinho como intérprete das posições da ca-
(iol(:f. M. Pinto de Aguiar - EnJa1o; de HiJtória e Economia. Salvador, 1960, voI. mada senhorial brasileira.
I. pp. 67-71. n)U. Franco Venturi - Utopia e RlJoNltll nell'I1luminúmo, Turim, 1970, pp. 9-
(~l)Cf. Kenneth Maxwell _ «The generation of the 1790's and the idea of Luso- 27, 90 segs.

237
torção ideológica estava em ver nessa peculiaridade a harmonização
conforme a ::iéia e o gênio de cada um:PH). ,o.
co?-fromo ?esse pro-
de reformas ilusuadas com as relVlodlcações as Cones
dos componentes do sistema, e pois a superação das suas contradi- gra ma . dd . I
ções. Dar esse passo, porém, implicava em negar-se como metropoli- liberais(7t) mostra claramente como oS,teoncos o, espot1s~O es~ a-
recido em Portugal projetav,am encaml~har.' por via refor~l1Jsta, iStO
tanos e colonizadores, e IpSO focto assumir uma perspectiva revolu-
cionária. Pode-se pois dizer que os ilustrados do fim do século
é a partir do estado absolutista porém tlummado, o que $O a revolu-
XVI1I, em meio às contradições em que se debatiam, levaram comu- ção liberal conseguiria realiz.ar<80). " '
Para prot:eder a essas análIses e proJetar essas re~ormas, un~am os
do até ao limite a sua análise da situação, na tentativa de dominar o
teóricos e estadistas que mobilizar os esqu~mas mterpre~atl.vos da
processo em curso. O seu esforço· atingia enfim a consciência possível
mentalidade das Luzes; deviam porém mante-Ias naquele lunIte que
na posição em que se situavam.
não extrapolasse para além da perspectiva reformista. Igua~mente,.as
lncen~ivar a produção colonial, mesmo com aberturas no âmbito do
aberturas na política colonial deviam se manter ~~.fromeltas do SIS-
sistema e, ao mesmo tempo proceder a reformas na metrópole para
rema. Talo quadro de determinações e de posslbthdades no qual ~e
assimilar os estímulos econômicos do ultramar, ~ tal a diretriz que
desenrolava a teoria e a prática da Ilustração em Portugal e no BrasIl.
decorria da' tomada de consciência do processo em andamento. Se
acompanharmos, nas memórias sobre a agricultura portuguesa, a
minuciosa detecção dos entraves ao seu desenvolvimento, ressalta co- 2) ExecuçãO
mo focam longe na denúncia dos festas do feudalismo sobre que as-
sentav<l a sociedade metropolitana do Antigo Regime. Ao lado de A tomada de consciência da situação, pelos ilustrados do fim do
entraves circunstanciais ou setoriais, e da análise das condições natu- século XVIII e início do XIX, não se restringiu, ponanto, a uma
rais, lá ficam apontados com veemência os «baldios», as «reservas de análise interpretativa dos problemas; deu lugar a uma. tomada .de
caça., <lS «comendas», o sistema de cultivo com terras abertas, a tran- posição, ao delineamento de todo um esquema de política col~ntal,
sumância, o peso dos foros ... (75) Referindo-se aos baldios, dizia]osé em suma diretrizes de ação. No Ponugal da época de D. Mana 1 e
Inácio da Co,sta serem «estes campos, uma das causas que obra mais do Príncipe Regente, por outro lado, estavam intimamente vincula-
eficazmente no abatimento da agricultura desse páís» e que «são em das as atividades intelectuais do grupo ilustrado e a ação do govêrno,
algumas povoações quase tão extensas, como as terras que se cuhi· que patrocinava a Academia das Ciências. Muit~s dos memorialist~
vam»(76). A Academia, aliás, propunha como «programa», indagar eram como vimos - a exemplo de Dom Rodrtgo de Sousa Cout!-
«quais as causas físicas e morais da pout:a mltura das terras em Ponu- nho ~, ao mesmo tempo homens de Esrado. Até certo po~tO, pare-
gal, e quais os meios mais fáceis e eficazes para promover o adianta- ce posSlVel ver, no movimento intelectual, o esforço do Esrado me·
mento desse importantíssimo ramo da indústria e subsistência n:tCio- tropolitano(81) para equacionar suas soluções. Chegava-~ ~esmo a
nal»(77). Entte as respostas, indicava-se, entre as causas morais, «a ti- solicitar a colaboração dos colonos nessa rarefa; exemplo UplCO e bas-
rania dos donatários», que «puseram leis aos colonos a seu arbítrio,
Il~ICf Demonstração das principais causas .. , A.C,L. Ms. 17, dO( 21.
I NICf A Silben _ Le Pro6/eme agriJlre portugau au lemps des premiires CorteI
p'J)cr D. YandelJi _ Memóna sobre a agnculturu deste reino e suas eonquut(lJ.
mem. Econ. A. R. Se. Lisboa, vai. I, pp. 164,17,); Mtmória" sôbre a preferência que Ltbéralej Patis, 1968_
l~tllCf J P Oliveira Martins Portugal Contemporâneo, (ed. 11)53), t. lI. pp.
em Portllgm se deve darà ugmultura, op. ClJ., pp. 244-253; Jose Inácio da Costa- 1') 1.1<)4 )osf Ca\atan~ . OJ Vmll11as e li regenerilção ec~n{lm;cil de Portug~. Salva.
MemóriaagrônQmica relativa ao Concelho de Chaves, op. eil., pp. 351-400; Francis- dor, 1951} Julião Soares de A~eved? Cundlf'ueJ eCVnOmle(lJ da Re/lolllfao por/~,
co Antônio Ribeiro de Paiva - Memóna sobre a necessidade de fomentar Illlgrieu/JfI'
guesa de 1820. Lisboa, 1944 F PiteIra SantOS - GeogrJjlJ e ECOnOmlil da Rellolllçdo
ra e aJ IlTles, CiJ1lJQJ de sua dl!Cadênáa, e os meios de {1i jgzer florescer em Por/lIgm,
A.C.i. Ms. 143 v. DUJerJgçâo sobre augnel/ltura e comércio. Anônimo, A.C.L Ms. de 1820.' Lisboa. 1962 . ' . f ..
(HI)A ~o do ES[;l.do metropolitano na execução da política reformlSla ficaria aCll,l-
374, n? 3, a~il .. 'db=
6J tada pela ~reaç:io cenualiz.ado(b e pelas caracteüst!cas que la assumm o a uroc la.
(7 cr José Inácio da Costa· Memória agronômIca, pp. 393-394.
na colônia_ Ct. R horo _ Os DonoJ do poder, Porto Alegre, 1958, pp. 110-121.
(77)A.C.L Ms. 373, CoJ. de Mem. físicas e econômicas.

239
238
tante conhecido é o oficio do conde da Ponte(82J, governaJor da Ba- elementos de continuidade com o período anterior: ela se manifesta
hia, que em 1807 pedia à Câmara de Salvador opinasse sobre a exis- no prosseguimento do combate ao contrabando. Nem podia ser de
tência de «alguma causa opressiva contra a lavoura», para aquilatar se outra forma, duma vez que o esquema teórico subjacente, como
ca mesma lavoura tem recebido progressivo aumento»; bem como procuramos definí-Io, configurava variações dentro do sistema, no
indagava «se o comércIo sofre algum vexame». O texto aliás n'io está fundo era uma «ilustração» do mercantilismo para ajustá-lo à situa-
isento de ambiguidades, pois deixa entn;ver que, em última instân- ção de crise. A preservação do exclusivo era pois um pressuposto da
cia, o que preocupa a autoridade metropolilana é o comércio: o inte- política que se empreendia, as medidas de combate ao comércio es-
resse pelo progresso da lavoura, deriva de que dele «depende a pros- trangeiro na colônia significavam exatamente a tentativa de conten-
peridade do comércio». Sendo pelo comércio que se estabelece o vín- ção do processo dentro dos limites do sistema.
culo metrópole-colônia, isto marcava o parâmetro do movimento re- Assim, já em 1778 uma cana régia dava novas providências contra
formista. A notoriedade do ofício advém de que sua resposra, pelo o comércio il1cito(83), reforçando a legislação anterior. Um decreto
desembargador Rodrigues de Bruo, lOn~rituiu-s(' nas famosas Cartas de 1780(84) proibe no ponos do Reino e Domínios os corsários das
econômico-políticas. nações beligerantes. Uma carta de 1781, informava o vice-rei Luís de
Destarte, não pode causar nenhuma estranheza que a legislação Vasconcelos de penas impoStas a contrabandistas(8~). A Real Junta
relativa ao Brasil, entre o térmInO da governação pombalina e a vin- do Comércio, em 8/5/17~1 procurava dar normas mais seguras à na-
da da Corte, expresse de maneira altamente significauva um esforço vegação(86). Em 1783, um alvará procura ordenar o comércio feito
de levar à prática aquelas idéias. Leis, decretos, cartas régias, alvarás, pelos navios da carreira da India(87).
provisões, abundantes nesse período, dão assim a passagem entre a Mas a peça fundamental da legislação anti-contrabando do peno-
tomada de consciência e a intervenção na realidade Através da legis- do é sem dúvida do Alvará de ') de janeiro de 1785(88). Da mesma
lação, podemos, pois, analisar a política executada. data do alvará proibitório das manufaturas no Brasil, as mesmas ins-
Para nos situarmos, contudo, no volumoso conjunto dessa legisla- truções acompanham os dois atos, o que indica a conexão entre as
ção, em busca d~ suas direwzes básicas, convém discriminá-Ia em duas medidas(89). Retomando e reforçando disposições anteriores,
várias linhas de ação, procurando sempre entretanto mostrar a sua manda estender «a:- disposições, e penas neles cominadas contra os
articulação interna. Efetivamente, apesar de algumas inevitáveis dis- culpados~; e «para que os delinqüentes dos referidos crimes possam
crepâncias numa época tão conturbada, a impressão do conjunto ser perseguidos, e presos, em toda a pane onde pretenderam
deixa entrever, nas sua!> conexões, o substrato comum que refere as refugiar-se~, ficava «cumulativa a autoridade e jurisdição do vice-rei,
manifestações particulares da atividade.governativa ao esquema po- governadores e juizes de umas capitanias, nos territórios das outras;
lítico delineado pelos teóncüs ilustrados do fim dó Antigo Regime. de sorte qu:e uns possam mandar perseguir e prender os ditos crimi-

IMlJC. R. de 20/1/1778 . Publir;açoes do Arquivo.Nacional (Rio deJaneiro), vol. I,


a) DtretnzeJ da PolítIca Comerctal
p.731.
(M)Decreto de 30/8/1870. F. M. Trigoso de Aragão Morato . Coleçilo de legISla.
Em se tratando de uma política econômICa que visava atuar ao' ç40 imprema e manuscrita, voI. XXIII, doc. 77. BibL da A.C.L.
mesmo tempo na metrópole e na colônia, atuando sobre uma situa- (HS'Canas 1/3/1781. A. H. U., cód. 572, f. 87.
ção na qual o peso do setor colonial era delÍslvo, era inevitável que a 1~6)lnstruções. B. N. L Cole~o Pombalina, cód. 466 (Coleção de Leis) f. 218.
I~-)A!vará 8/1/178.,. B. N. L. Co!. Pombo cód. 461, f. 189.
política propriamente comercial adquirisse importância básica, pois
I M~)Alvará de 5li 117M">. A. Delgado da Silva - Coleção de legislaçilo portuguêJa,
era através do comércio que se articulavam as peças do sistema. vol lI! (177')·1790), p. 371. DocumenlOJmlereJJanteJ (S.P.), vol. XXV, pp. 94·
Comecemos, na análise das duetrizes mercantis, por demarcar os %. PublicaçõeJ do Arf/I/lvo NlICiona/, vol. I, 733. Ms. A. H. U., cód. 311, f. 20-23.
IH'!JCf Fernal do A Novais _ «A proibição das manufatura5 no Bra5il e a política
1~:lQfí(lO de 12·malo-180- m J Rodflgue~ de Bm., Carla.! ewnômlCO políllcaJ
etonôml(a ponugut:~~ do fim do século XVIII., Rev. Hút. (S.P.), n.O 67, 1966, p.
wbre aagncultura e wmúClú da Bahia (1824) 2' ed 1')24 P 26 ';4

24f! 241
[tOSOS nos dlstriros dos outros, e fazer corporaJ apreensão em rudo o nexão com os aspectos políticos da crise, isto é. estimulando as ten.
que lhes for achado», todos os particulares podiam doravame 1'proce- dências de autononllzação das colônias. O resultado era que, pela
der nas mesmas diligências, e lançar mão dos referidos reus»(90), primeira vez, a penetração do comércio estrangeiro poderia levar não
A severid~de das normas era o contragolpe do avanço da penetra- só à perda da colônia para outra metrópole (isto é, ruptura do pacto
ção mercantIl fora das traves do sistema; o ofício que acompanha o de uma metrópole com a sua colônia), mas a própria dissolução do
alvará documenta o volume do comércio ilícito, daí seguirem cópias sistema, com a independência da colônia. Pela primeira vez isso po"
das instruções a todos os governadores, para que «conhecendo a deli- dia interessar à potência concocrente,(93). Assim, um mesmo fenô~
cada situação a que,tem chegado, e em que se acham esses domínios, meno - o contrabando - quando se insere numa nova situação (a
empre,guem todo o' seu cuidado e vigilância em os preservar da últi- situação de crise) adquire novas funções.
ma ruiOa que os ar.neaça»(~l). Tratava-se, na realidade, de um duro Daí se compreende que o combate ao comércio ilegal se mantives-
combate, RUis o s.o~ntrabando começava efetivamente a assumir um se e mesmo fortalecesse em plena época das aberturas reformistas. A
c~ráter novo na época da ~rise: contemporâneo da Revolução lndus-
partir de 1785, as medidas de caráter repressivo se sucedem, num
mal e mesmo produto do Impacto que ela provocava no comércio in- combate inglório, até o fim do período. A II de março do mesmo
ter~acional, o contrabando tendia a assumir, no fim do período co- ano Antonio Joaquim Pina Manique (irmão do famoso intendente) é
lontal, uma força que ultrapassava o nível compatlvel com a preser- nomeado para devassar contrabandoS(94). A 27 de junho, proibe-se a
vação do pacto. A percepção dessa nova s.ituação reponta no referido introdução de vinagre estrangeiro, pois estava dando lugar a contra_
ofício, quando o ministro metropolitano confessa que «é bem certo bando do vínho(95). Na metrópole. editai de 1787 tenta impedir a en_
que elas .(as atividades do comércio ilícito) não se podem evitar na rrada de fitas, galões de seda e lã(96). Em 1789, dois avisos àJunta do
sua totahd~de», tudo quanto se pode é torná-las «mais difíceis, cus- comércio reforçam os cuidados e insistem na execução das medidas<97).
tosas e pengosas» «à força de cuidados e vigilância»(92). Neste mesmo ano, devassa-se a alfândega do Maranhão para atalhar o
Fixemos este ponto, porque de fundamental importância na comércio estràngeiro(98). A cana régia de 10 de março de 1791 volta a
nossa análise, A competição comercial era inerente à colonização insistir no combate<99), referindo-se a material apreendido na cidade
~ercantilist~, e o contrab~ndo a que dava lugar faz parte dos meca-
do Porto. Em 1792, providência sobre contrabando do tabaco e
nIsmos do sistema; o máximo a que pódia levar - vimo-lo comen- sabão{lOO), reforçada por provisão de 28/9/1802(101). No ano anterior
tando u~a c~)llsulta do século XVII - era à perda de uma colônia Cana Régia de 2/9/1801, ao vice-rei reiterava as proibições gerais(l02) ~
O combate ao contrabando, que percorre todo o período, sigrufi.
qu~ transttana para ,outra met~ópole,. ficando na essência preservado
o S1Stema. Nas condições de cnse do Sistema, porém, no fim do sécu-
lo XVIII, a emergência da Revolução Industrial dava ao fenômeno
outra conotação: as novas condições de produção davam à potência (93lCf. E. Hobsbawm -lndustry and Emp&e (Ed. Penguin, 1972), pp. 140 segs.,
es~crlalmente pp, 146-147. B. Semmel - The rire of free frade imperialism, Cam.
concorrente (a Inglaterra) uma posição competitiva de outra nature-
bfld~e, 1970, pp. 14 segs.
za, dado o barateamento dos custos da produção advindos da mu- :,~~;Decrero 3113/178~. A.H.V., rod. 386, f. 32.
danç~ tecnológica. Daí ampliar-se enormemente o apoio interno (a Decreto .27f6/1785. Morato _ Coleção de legulaçiio ... , vol. XXIV, doc. 90.
face IOterna do problema, como indicamos anteriormente), isto é, Coleçiio de Lm, Decretos e Alvarás (Museu Paulista), voL D. Maria I, 1777-1788, f
M3. .
dos c~lonos, às atividades do comércio fora do pacto. Por ourro.lado,
(:)~)Edital6/5fl787. Morato, vol. xxl'v, doc. 15l.
tudo ISSO operava nào só contemporaneamente, mas em estreita co-
::8;0. Delgado da Silva, vol. de 1775·1790, p. 538; Morato, vol.
I Deneto 16f9/1789. A.H.V., cód. 387, f. 142.
XXV. doc. 60

(~'I)Delgado da Silva vol. de 1791-1801 p 8.


Il(X)) , , •
1')01(f.Delgado da Silva· Op. cit., pp 371-372 101 Dcrreto ~417 11792. ?elgado da Silva, vol. 1791-1801, p. 77,
l'IIIQfíClOde Martmho de Melo e Castro, R.1.H.G.B .. c X, pp. 2l"-2U!. : 102t«bI~(;iJÇ~es do Arq~ NrlCicmlill, vai. I, p. 757.
['12IOfíno de Maninho de Melo e Camo, R.f.H.G,B .. t X. p 220 PubltcafOeJ do ArquIVO Náâona/, vol. I, p. 745.

242 243
cava, de fat~, a tentativa de manter o processo de mudanças exigidas de companhias em geral, Já nos referimos às queixas e reclamações
pela situação de crise, dentro das fronteiras do sistema. Essa legisla- contra as companhias de comércio para a colônia(106); deve-se notar,
ção não deve ser vista isoladamente, mas em conjunto com os demais além disso, que tais reclamos se manifestam também contra as com-
elementos da política mercantil da época ilustrada. As mesmas ten- panhias metropolitanas. e em especial con~r~ a ~as vinhas do Alto
sões críticas, que tornavam indispensãveis as medidas para impedir o Douro(107). A cessação das empresas colomals foi acompanhada de
extravasamento das balisas do sistema exigiam uma polltica de aber- restrições aoS privilégios dessa última(108): permite-se a introdução
turas; no esquema de mercantilismo ilustrado que informa a polltica nos ponos do Brasil e mais domínios dos vinhos da Extremadura e
da última fase da época colonial, tais aberturas se deviam promover mais terras do Reino e Ilhas Adjacentes, suprimindo-se neste ponto
portanto dentro do sistema. o antigo privilégio da Compàhhia do Douro, argumentando-se não
E, de fa,to, examinando agora sob esse ângulo, o perlodo se abre ser «o fim principal da instituição o comércio do Brasil, nem
com a extinção das companhias de comércio. A resolução de estancar-lhe os diferentes portos dele para o consumo de seus gêne-
j 11/177g( 103) ordenava «que se não embaracem os negociantes que ros, com prejuízo dos habitantes das respectivas capitanias; onde o
quiserem mandar quaisquer gêneros ou fazendas aos Estados do Pa- comércio deles, e a liberdade do comércio, pedem que em uns e ou-
rá e Maranhão, visto achar-se acabado o tempo, que se concedeu à tros portos haja de todas as qualidades destes gêneros em maior, e
Companhia do Pará e' Maranhão para negociar exclusivamente na- menor preço, para cada um se servir deles conforme sua possibilida-
queles Estados~. Por sua vez, ajunta: Administrativa da Companhia de e livre arbltrio»(109). Sobre a companhia de vinhos, aliás, uma
de'Pernambuco e Paralba comunicava, em cana de 21/4/1780 à Rai- memória dirigida à Academia em 1782, sustentava que «suposto que
nha, a finalização do prazo de seu comércio exclusivo naquelas capi- a produção dos vinhos se tenha aumentado grandemente. isto não se
tanias(I04). Em 8 de maio do mesmo ano, repetindo os mesmo ter- deve aos cuidados diretos da Companhia»; e passando a uma argu-
mos da que encerrava os privilégios da Companhia do Grão-Pará, mentação mais genérica: 4:estes privilégios exclusivos são sem dúvida
mandava liberar o comércio aos mercadores metropolitanos em ge- prisões da liberdade do comércio; e sendo evidentemente a maior li-
ral(l05). o exclusivo metropolitano voltava assim a sua expressão ml-
nima, «normal», isto é, a ser privilégio da burguesia mercantil me- I JI)()ICf. Representação que fazem os homens de negócio da Praça de Lisboa reque-
tropolitana em conjunto. rendo a abolição das companhias gerais do Grão-Pará e Maranhão e Pernambuco e
Por mais que neSsas decisões tenham pesado as circunstâncias da Paraíba. B.N.R.)., Ms. 1-32, 22, 2 n.o 6.
mudança de ~verho (a «viradeira» que sobreveio com a morte de D. (Hr:')Nas «Queixas contra as Companhias.: «Das minhas expressôe5, e de tudo o
que foi dilO nesta cana, conjenuraráos meus sentimentos a respeilO da Companhia,
José I) não se pode deixar de considerar que o encerramento dos mo- deste informe monstro, concebido pelo engano, e sustentado ou pela pertinácia ou
nopólios das companhias de comércio coincide com o pOnto de infle. pelo interesse. Colligirá não menos, quaJ seja a minha resposta. Esta, que inteira-
x~o que marca a abertura da crise do sistema colonial do Antigo Re- mente sujeito ao diswfso de V .Mf~·, e de rodos os que tem mais inteligênóa do que
gime. Para além da controvérsia específica entre «detratores:t e «apo- eu, consiste em que a Companhia não he util, 1.° por que são fallazes os motivos da
logistas», que diziam respeito à ação de determinadas empresas, vai sua utilidade: 2.° por que limita a agricultura aos vinhos, e a sua extracção: 3.° por
que oprime o seu commerciQ exterior, e desttoe o interior: 4.° por que he hum mo-
se formando e se fortalecendo um pOnto de vista contrário à política nopoJio horroroso; 5.0 por que não pode subsistir sem prejuízo do público: 6.° por
que supoStO o mal, he remedio peor, que o mesmo mal: 7.° por que sua natureza
não pode deixar de ocasionar opressões, robos, violencias, e injustiças. Fundado nes·
tas razões me adianto a dizer que bem fóta de ser necessária e Ulil a existenóa e con-
servação da ComP(l1Jnia Geral da Agricultura daJ Vinntn do Alto Douro, esta por
(]{)\ICf. A. Delgado da Silva _ CoIeçào da legISlação portugueIa. vol. 1775-1790, desnecessária e nociva deve set totalmente extinta_o 817/1777. A.C.L Ms. 35.
p. 158. (lU 8 ICf. Caetano Beirão - D. Mana J. Subsídios pa1'(l a revirJo da Hútória do seu
IIMIA,H.U. Lsboa, Pernambuco, caixa 71, remado, 4:' ed., Lisboa, 1944, pp. 131-132.
11O)IColeçào de Leir, DecretOJ e Alvarás (Museu Paulista), voI. IV, 2." parte (1792- (109)Alvará de 91$11777. Delgado da Siiva - Coleção -de legirlaçào portuguesa,
1794), f. 440. vol. 1775-1790, pp. 151-154. Aragão MoralO, voI. XXII, doc. 72.

244 245
berdade possível do comércio o único meio de conciliar o interesse
particular dos comerciantes com o interesse comum dos proprietários leiro(l12). José Bonifácio de Andrada e Silva, por sua vez, na
e do Estado, é certo que os privilégios exclusivos devem necessaria- Memória sobre fi pesca àa.r iJaI'CiaI,1l3), não se limita à análise.
mente produzir um ruinoso conflito entre o interesse particular e o dos problemas técnicos; critica Vivamente o reg~me de contrato ex-
geral, que em lugar de se auxiliarem mutuamente, tarde ou cedo se clusivo, a que atribui em grande pane os defeitos da exploração,
hão de destruir»(1lO). pois «o aumento e perfeição desta pesca necessita do aguilhão da
A crítica alçava-se portanto da constatação de efeitos localizados emulação e concorrência: repanida pelos particulares, cada um tem
para proposições teóricas contrárias à política exclusivista. Assim interêsse em aumentá-la, e não se conserva em tão fatal imper-
noutra memória acadêmica - o Discurso contra as companhias pri- feição .• Funda-se tal proposição nos princípios da Economia po-
vadas< 111), procurava-se demonstrar que «ainda as que parecem justas lítica: «quando o preço da mercância, por mais barato que seja. pa-
e necessárias, não convêm; porque nunca cuidam mais que do seu ga a despeza do vendedor. utiliza a todos,.; ca abundincia e bom
próprio interesse, o que tem mostrado a experiência, não só em Por- preço de qualquer mercadoria contribui necessariamente para a có-
tugal, mas em todos os estados da Europa•. Pois «o nervo do comér- pia e barateza das demais,.(114). Eram os novos esquemas de teoria
cio é a liberdade; as companhias privam-no, absorvendo a sÍ todo, e econômica penetrando na análise dos problemas da ·economia colo-
fazendo um rigoroso monopólio ... EnfIm: «não servem de utilidade nial. No caso, aliás, a concorrência vinha mesmo espicaçada de fora.
senão aos poucos que as compõem à custa da nação inteira». No pe- pois a penetração dos baleeiros estrangeiros já estava levando a deca-
ríodo que se abre com a inflexão para a crise geral do sistema colo- dência dessa indústria portuguêsa(115).
nial, portanto, o pensamento econômico ilustrado passa vigorosa- Neste quadro, o governo da metrópole promoveu consulta às Câ-
mente a rejeitar a política de companhias privilegiadas, como con- maras da colônia, que naturalmente optavam pela liberação(1l6). li-
trária às regras de uma sã economia política; paralelamente, ao lon- gado a estas consultas parece estar o of1cio (28/4/1798) do vice-rei
go do período reformista, é o abandono da política das companhias conde de Rezende, no qual informa a D. Rodrigo de Souza Couti-
que importa destacar como um de seus traços mais significativos. nho já ter anteriormente tratado do aviso da metrópole «que me co-
Na mesma linha, e fundado nos mesmos -pressupostos teóricos, a municava as medidas que Sua Majestade se dignava tomar, em be-
política comercial da ilustração mercantilista procedeu à supressão nefício desse vastíssimo estado. e suas colônias, persuadida de que os
do estanco do sal e do contTrlto da pesca das baleias. Êsses monopó- seus atrasos não tiveram outra origem do ttue o concurso de pesados
lios, cujos efeitos provocavam constantes clamores na colônia, como monopólios exercidos na série de dilatados anos. assim o do sal, dos
já referimos, encontraram nos acadêmicos ilustrados críticos de pri-
meiro calibre; assim foi se formando junto ao próprio governo me- (112)Cf. Emaio econômico Jobre o comércio de Portugal e JUfJJ colônias (1794), in
tropolitano opinião contrária a essa forma de exclusivismo, e a pouco ObrllJ econômicas, pp. 76 ~gs. Note-~ que tais idéias já vinham expressas no ma-
e pouco esse setor da política comercial foi se ajustando às linhas ge- nuscritO Epitome da.r vantagenJ que Portugal po.de tirar de JUl/J colônias do BrllJi/ e
pela liberdade de comércio do JaI (Biblioteal. de Evoca, cópia no InstitutO Histórico e
rais da nova política colonial. Azeredo Coutinho, sobretudo, no fa- Çeográfico Brasileiro), de autoria do mesmo Azeredo Coutinho, conforme estabele-
moso Ensaio esforçou-se por demonstrar os efeitos negativos do es- ceu Myriam Ellis (Cf. ..Um documento anônimo dos fins do século XVIII sobre as re-
tanco sobre a economia não só da colônia, mas do conjunto luso-brasi- lações comerciais entre o Brasil e Portugal,.. RevÍJta de HútórÍa, São Paulo, n.O 38,
1959, pp. 383-418, com tranSCrição do texto do documento). A autora confronta os
dois textos _ do EnJaio e da Epilome, ficando claro que este ~rviu de base para a ela-
boração daquele.
. (11O)Memóntt Jobre o n/ado da agrà;lIltura e do comérr;io do Alto Douro (1782), (11'lcf. Memórias EconômicflJ da Academia Real daJ Sciencias de LiJboa. vol. lI,
InMef1U)riaJ EconomictIJ da AcademiD Real da.r Sciencias de lisboa, vol. III, pp. 81- PP·388-412.
82. (114)0. op. cu, p.394.
(llllA.C.L. Ms.932 v. Vejam-se 19ualmente os DiscurJoJ Jobre a decadência em (il~>Cf. Myriam Ellis - A BaleÍII no BrflJi/ colonkJI. S. Paulo, 1969, pp. 167 ~gs.
que]e acha nOSIa Aménea (1777). B.N.R.}. Ms. L 18-25, 11. (1161Cf. Myriam ElIis - O monopólio do Sal no &tado do BraJi/. São Paulo. 1955,
pp. 175-176.
246
247
direitos do ferro, o da introdução dos escravos, e outras restrições fis- ciar por todos os meios possíveis os Meus Fieis Vassallos dos DomtnlOs
cais não menos prejudiciais ao interesse comumJl(117). As câmaras, Ultramarinos, promovendo o adiantamento da Agricultura, e facili_
informa o vice-rei, aplaudiam o «incomparável benefícioJl das novas tando os progressos da Mineração do Ouro, de que tirão a sua suhsis-
abenur~ prometidas. Resistências, entretanto, de interesses podero- tência, e de que lhes resultão as maiores utilidades; Hei por bem
sos, devIam opor-se às medidas liberalizantes, pois só em 1801 as me- conceder-lhes a Graça não só de isentar de Direitos todo o Ferro
didas-CO.llcretas definitivas foram tomadas. No caso especial da pesca que das Minas de Angola se expona para os Põnos do Brazil; m~
da baleia, já em 1798 começam as abenuras: o alvará de 18/5/1798 mandar crear hum Estabelecimento para a -excavação das Minas de 50-,
ordenava que «possam todos os negociantes portugueses, cada um rocaba na Capitanía de S. Paulo; e animar todos os Descobrimentos,
de per si, ou reunidos em sociedade, preparar, e armar navios desti- que em outras quaesquer panes se possão fazer deste Metal; e mo_
nados a pescar as Baleias, e preparar o seu azeite no Alto Mar, em to- tambem permitir se estabeleção Fabricas Reaes, para com o Salitre do-
da e qualquer pane desde as costas destes reinos até as do Brasil, e Paiz se fabricar Polvora por conta de Minha Real Fazenda.(122).
'nas de Moçambique, podendo depois vender o azeite, e barbas de- Por onde se vê a aniculação dos vários setores que eram visados pe-
baixo das mesmas condições que os atuais contratadores, ou seja nos las medidas governamentais; ao memo tempo, incentivando a ex-
meus domínios ou exportá-los para fora do Reino.(118). ploração do ferro se favoreciam a agricultura e mineração, que USa-
A mudança ~e rumo completa-se com o alvará do Príncipe Regen- vam instrumentos de metal; e estimulando a entrada de ferro de
te de 24 de abnl de 1801 (119), com o qual se abolem definitivamente Angola, incentivava-se o comércio intercolonial. Também a supres-
os ~tancos do sal e da pesca da baleia, e se dão providências para or- são do estanco do sal tinha idênticos objetivos; visava a criar condições
ganlZar a nova forma de exploração. A justificativa invoca a prática para um maior desenvolvimento da indústria do charque no Rio
das «nawes mais industriosas da Ewopa» e se consideram as «grandes Grande do Sul, que enfrentava dificuldade pelo escasso abasteci-
vantagens. que podem resultar à minha Real Fazenda, e aos povos., mento do sal(123}. Ligava-se à indústria das carnes sulinas intenso co-
o dar·se a liberdade a todos de «empregarem-se nestes dois interes- mércio de cabotagem entre as capitanias, que seria estimulado com
santé~ ramos de comércio nacion~~_ E especificando: «e pelo que as novas diretrizes.
respelta ao Conuato do Sal, permltmdo-se também a sua livre Im- Efetivamente, se em alguns casos (como nos exemplos que demos
portação, e a sua Venda em todos os Ponos da América, virá a resul- anteriormente, na capitania de São Paulo) procurava-se promover o
tar não só o benefício da maior Exuà.ção, e Consumo de hum gêne- comércio direto de cada capitania com a metrópole, no conjunto a
ro, de que tanto abunda este Reino; mas conseguir-se-hão vantajosos política comercial da época ilustrada visava antes estimular o comér~
progressos na maior Cultura, e Manufactura das ricas Produções da cio inter-colonial. O alvará de 8 de janeiro de 1783 estabelecia que
América, e hum attendive1 augmento na Marinha Mercante.(120)_ O «todos os gêneros, e efeitos, e Fazendas Nacionais, ou Estrangeiras,
rnesm? .diploma, alé.~ d~ dar pr?vidênci~ sobre a nova organização que se despacharem, e embarcarem no Porto de Lisboa em Navios
das atlV1dades (121), vai alOda mats longe: VlSa a promover a implanta- de Viagem da Carreira da Índia, ou em outras quaisquer Embarca-
ção da indústria do ferro na colÔnia. «E querendo finalmente benefi- ções Ponuguesas, que, como êles, dirigirem a sua navegação, com
Carga redonda, para o referido Pono de Goa, e que nele descarrega-
(ll7)Ofício 28!41l798 - A.H.U. Lsboa. Does. RJ. caixa 1798.
rem os ditos Gêneros, Efeitos e Fazendas, pagando os Direitos alí es-
(118)AJvarli de 18!S! 1798. A. Delgado da SilV1l - Coleção de LegiJlação ... vol. de tabelecidos, ou sejam as ditas Fazendas, para consumo da Terra ou
1791-1&(1, pp. 491-492. para depois se exponarem para fora pela via do Mar, ou do Co~ti­
(119)Alvará de 24!S! 1801. A. Delgado da Silva - Coleção de Legulaç40 vol. 1791- nente: e fazendo, ou querendo fazer os ditos Navios, e Embarcações
1801, pp. 694-700.
(l20)AIV1lfá de 24!5/1801. A Delgado da Silva - Coleção de LegisÚfão... , voL
1791-1801. p. 694. (l22lAlvará 24!5/I801. A. Delgado da Silva - Coleção de LegiJlação .. vol. 1791-
(1211(:f. Myriam Ellis - O MQnopóliodo Sal no EItado do BraJiI. São Paulo. 1955, 1801. p. 69S.
pp. 175 segs. (lB1(:f. Myriam Ellis _ O monop6lio do sal, pp. 189-198.

248 249
Escala pelas ilhas dos Açores da Madeira, ou pelos ponos do Brasil; e nhias. até o e~clusivo mais geral do comércio da colônia pela burgue-
embarcando nelas, ou nêles vinhos, águas-ardentes, aç6cares, ou ou- sia da metrópole. Em qualquer dos níveis, operavam os mecanismos
trOS quaisquer gêneros da produção tão somente das mesmas Ilhas, e de transferência de renda das economias periféricas para as centrais.
Brasil, exceto o tab~, para serem da mesma sorre transportados ao mas em graus de maior ou menor exploração. A opção pelo exclusivo
sobredito Pono de Goa, não paguem nas Alfândegas de Lisboa, na sua expressão mais geral pelos estadistas do fim do século XVIII e
Ilhas e Brasil mais que quatro por cento de baldeação.(124). Tais de- início do XIX manifesta uma linha polftica de abrandamento em fa-
terminações e isenções eram depois reforçadas em 27 de maio de ce das condições da crise, em suma uma perspectiva reformista. Se
1789<125), 17 de agôsro de 1795(126); o alvará de 25 de novembro de diminuia o ganho unitário nas operaÇões, aumentava cenamente o
1800. contudo, reestabeleda alguns impostos, visando defender as volume dos negócios e no conjunto se tentaria obter ainda maiores
manufatwas metropolitanas<127). De qualquer forma ficava estimu- vantagens incentivando a exponação, para outras nações, dos produ-
lado o comércio direto de produtos brasileiros para a Ãsia. toS coloniais. A política de aberturas dentro do sistema se articula,
Por outro lado, uma provisão de 17 de março de 1791 dava ao Rio assim, segundo a teorização de Azeredo Coutinho, com um esforço
de Janeiro permissão para que os gêneros produzidos no continente em busca de uma expansão das exportações metropolitanas, em bus-
pudessem girar t livres de direitos, de um para outro po.no(128). Uma ca de novos mercados.
carta régia ao governador de Angola proibia que se taxasse a entrada Em que medida este segundo aspecto da política comercial se rea-
de clicores fones do Brasil» e «tabacos da Bahiu(129). Aos «homens lizou efetivamente pode ser observado no crescimento das expona-
do mar, que navegam para os dommios ultramarinos» se permitia ções ponuguesas no peclOdo de 1796 a 1807 (ver gráfico e tabela 7),
carregar cenas gêneros, «cumulativamente com os homens de negó- e na variedade dos países para os quais se dirigia o intercâmbio (ver
cio»(130). Isentava-se de direitos a exponação de escravos de Angola gráfico e tabela 22). A diplomacia se movimentava ativamente neste
para o Pará(13I). Algumas restrições entretanto, mantinham-se, co- sentido, visando negociar tratados que permitissem a abenura de
mo a da entrada de vinho dos Açores na ilha da Madeira(l32). novos mercados; assim o ftrmado com a Rússia(133), elogiado por Jo-
Abandono da polftica de companhias de comércio colonial, aboli-o sé Bonifãcio que via nele uma extensão do comércio de vinhos e dos
ção de estancas, aberturas para o comércio intercolonial conftguram produtos coloniais(134). Os cônsules, correlativarnente, eram instruí-
a lifiha típica da polítrica comercial do mercantilismo ilustrado: dos no sentido de «promover com a sua diligência, crédito, e conse-
tratava-se de reduzir o exclusivo colonil1l à SU/J expressão míni11Ul nas lho tudo o que reconhecerem mais próprio para se conseguirem estes
fronteiras do sistem;t; era assumir uma posição intermediária entre o importantes objetos; assim no estabelecimento e conservação das ca-
mercantilismo tradicional e as novas teorias econômicas. O exclusivo sas de negócios de vassalos ponugueses, na introdução dos gêneros
,metropolitano, como vimos, era o limite defInidor do sistema no destes reinos, e das suas colônias, e na liberdade de navegJlção, como
-plano comercial, mas ao longo do período mercantilista apresentava na observância dos privilégios, direitos e isenções, que pelos trata-
várias gradações, desde o mono~lio estrito, passando pelas compa- dos, convenções e tarifas, estiverem acordados entre a Coroa de Por-
tugal, e o Príncipe. ou República, em cujos panos residirem», pois'
(124)cf. A. Delgado da Silva - Coleção de IcgisÚfão, vol. 1775"-1790, p. 326. «o principal motivo da instituição e nomeação dos consules» eram ca
(125)cf. A. Delgado da Silva. op. cit., p. 350. vantagem, aumento e segurança do comércio da Nação». Para bem
(126)cf. A. Delgado da Silva· CoICflW de Iegis/açicJ, vol. 1791-1801, p. 240. preencher aquelas funções deviam eles «ter uma sucessiva correspon-
(127)cf. A. Delgado da Silva _ Op. cit., p. 657.
(128lcf. PubÚ&i1fõe! do Arqllwo Nacional (R.J.), vol. I, p. 736. dência com a Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas, e Na-
(129)cana Régia de 113/1784. Aragão Morato, vol. XXIV, doc. 43.
(130)Alvari 6/11/1785. CoI~ão de Leis, Decretos e Alvarás (Museu Paulista), vol. (l33>C:f. Tratado de Amizade, Navegação e Comércio, de 1789, renovado em
III (1668-1793), f. 456. 1798. Aragão Morato, val. XXV, doe; 11, vol. XXVIII, doc. 70. Coleção de leis.
( B1 loecrero 19/1011798.
Delgado da Silva, vol. de 1791-1801, p. 508. Derretos e Alvarb (Museu Paulista), vol. m, f. 397.
(i32)Alvari 2/6/1801. Col. Leis, Decretos e Alvarás (Museu Paulista), vol. 1560- 034josé Bonifácio de Andrada e Silva· FJogio lJCoáêmico tk D. Maria I, oplld
1801, f. 303. Alvará 2217/1801. Delgado da SilV2, vol. 1791-1801, p. 721. Caetano Beirão· D. Mana I, pp. 132·133.

250 251
secar é'enrolar.; mas confessava encontrar .poucas pessoas com espí·
desta segunda classe» dão aos capitais acumulados no comércio colo- rito pátrio para promover negócios dessa qualidade»(I44). No seu Re·
nial: .buscam ordjnari~mente empregá·los em procurar a honra e .Iat6rio(1779), al~. discrimina ~uci~ente ~ ~us esforços no
proveito de entrar no número dos da primeira classe» - o que é sem sentido de dinanuzar a econonua colorual: o comeroo para Europa
dúvida um elemento explicativo importantíssimo para compreender. não se devia resumir. segundo ele, aos gêneros tradicionais, como
mos a fJXação do capital comercial, que não se metamorfoseia em até então; mas se deviam explorar as amplas possibilidades da agri.
industrial- que é, como já indicamos, o mecanismo básico da defa· cultura colonial, para abrir noyas frentes de mercado(145). Já ensaia·
sagem econômICa. va uma politica de diversificar a produção, que foi uma das caracte·
O resultado era, segundo o nosso anônimo epistológrafo, que tais flSticas da pol1tica do fim do Antigo Regime. Foi, nesse sentido,
empresários «acostumados a ter grandes lucros com pouco trabalho enorme o esforço que empreendeu, nem sempre com resultados
nos monopólios e contratos, e no comércio das nossas colônias; não compensadores(I46): as cu1wras de arroz,linho, cochonilha, amorei·
querem arriscar seus capitais em outra espécie de comércio, que não ta e mesmo trigo foram objetos de permanentes cuidados.
conhecem, e no qual por conseqüência o lucro é p~ eles Nas instruções de Luis de Vasconcelos, seu sucessor, mandava-se
inceno~(I40). O que mostra como se tomava consciência dos blo· atentar para a «cultura das terras, navegação e comércio», «três ~i~
queios ao desenvolvimento que operavam na sociedade portuguesa gos relativos e dependentes uns dos outrOSJJ, lembrando em especl~
do fim do Antigo Regime. O missivista desce ao detalhe na análise as culturas do arroz. anil e cochonilha{l47). Ao passar o governo. por
do comportamento dos mercadores portugueses, e recomenda medi· sua vez, era o mesmo Luis de Vasconcelos que dava conta de seus es-
das práticas para superar as dificuldades. O governo, segundo ele, forços, as diftculdades de continuar o incremento da cultura do anil,
precisava «lutar com pessoas cheias de Luzes, de exper~ência, e de da cochonilha, linho cânhamo, as providências para «acomodação
atividade»(141); _era preciso estudar .detalhadamente ~ sItuação ~o· dos casais das ilhas», e os problemas que isto envolvia para o equiH-
nômica de cada estado italiano. Criar uma companhIa para abnr o brio das fmanças públicas(l48). Tais problemas - os financeiros-
comércio do Mediterrâneo não lhe parece boa solução: .companhia -parece que ficaram pendentes, pois as instruções do Conde de Re-
exclusiva julgo ruinosa para POrtugal e para nossas colônias»(l42). O 'zende dedicam-se quase que inteiramente a providenciar a sua reso-
alto preço dos fretes e dos seguros era outro fator a enfraquecer a po. 'lução, numa linha aliás discrepante da proposta por Luís de Vascon-
sição concorrencial dos portugueses. Impunha-se além ?-is~ ~perfei­ celos(149). Para equilibrar o orçamento, aconselhava-se, além de me-
çoar a qualidade dos produtos para enfrentar a concorrencla mterna· didas fiscais, o aumento da produção; como entretanto um dos mo-
cional(143). Esta última observação deste notável documento nos tivos do desequilíbrio eram os gastos com o patroónio dos novos pro-
conduz portanto ao segundo aspecto da política econômica e colo- dutos, entrava-se num beco sem saída. Ao marquês de Aguiar. ao
nial do mercantilismo ilustrado. mesmo tempo que se aconselhava o incentivo e aperfeiçoamento do
cultivo dos antigos P!O<iUtOS, determinava-se que informasse sobre
b) incentivo à produção
(144)Qf'lCio 23/5/1778. A.H.U. Does. RJ. Caixa de 1778.
A preocupação com o aumento da quantidade e a melhora d.a (14~)Relatório do Marquês do úwraáio (1779). R.l.H.G.B., t. IV, pp. 454·455.
qualidade da produção colonial foi efetivamente ~onstante na poliu. (146)cf. Dauril A1den. Royq/g01Jtmlment in coloni.d BrflZu. wilh speciq/ ref~nce
ca econômica do período. Já o marquês do Lavradlo, para melhorar o to lhe Marquis ofLwntdio, Vkeroy, 1763·1779. Berkeley, 1%8, pp. 353·388.
cultivo do tabaco fazia vir q::alguns homens, qJle tinham sido lavrado· (147)Cf. Instrll;Jo a Luís de Vasconcelos (1779). R.I.H.G.B., t. XXV, pp. 482·
res dessa planta na Bahia. para vários distritos do seu governo e do 483.
(l48lcf. Ofício de Luís de Vasconcelos ao seu sucessor (1789). R.l.H.G,B., t. IV.
de São Paulo, «para ensinarem o modo de plantar, e colher, e de o pp. 3 segs.
(I49)Cf.lnstrução do vicNei conde de Rezende (1790). A.H.U., cód. 573. ff. 15
{1-,OICana de 21/4/1800. A.CL. Ms. 1.700. doc. 1. ff. 57·59. segs.
(HII.II.121 e {lHlldem. ff. 64.6';.
255
254
as possibilidades de iniciar a cultura de novos, sugerindo-se a criação vemador do Rjo Negro, ~m 1790, determinava-se que «pelo que
de umJardim Botânico(I50). penence ao and, o comér~1O deste gênero fique inteiramente livre, e
As instruções aos governadores também insistiam na mesma linha que cada um possa negociar com ele e embarcâ-lo para Lisboa sem o
política. Nas «reflexões:. oferecidas aJoão de Albuquerque de Melo menor obstáculo e sem pagar direito algum.(159), O arroz recebia
Cãceres, que tomou posse do governo de Mato Grosso em 1789, -uatamento semelhante, retomando-se os esforços do Marquês de la-
lembrava-se que para criar condições à produção da capitania era vradiop60), O alvará de 24/7/1781 proibia no Reino ca entrada de
preciso dar-lhe escoamento «pela via do Parát,(15I); várias providên- todo arroz que não seja da produção de seus domínios.; isto para
.das seriam tomadas nesse st:ntido(152). Ainda em 1809, ao passar o «animar este ramo da indústria e comérdo, não só em beneficio co-
governo de Goiás a Freire de Castilho. D. Francisco de Assis Masca- mum dos povos daquele continente (Brasil), mas também em utili-
renhas voltava ao mesmo assunto(153). Nas insuuções de 1797 ao go- dade pública dos vassalos destes Reinos.(161). Em 1783, prorrogava-
verno da Paraíba, estabelecia-se que o .principal objeto de cuidado:. se por dez anos a isenção de direitos de entrada do arroz dos domf-
devia ser cânimar e promover as culturas já existentes, e introduzir as nios, em vista da «grande utilidade que tem resultado aos seus vassa-
que possam ser novas, e venham concorrer p~ enriquecer esta capi- l~s o aumento em que no Brasil se acham plantações, cuja abundân-
tania»(154). Ao marquês de Barbacena, quando foi governar as Mi·- ela não somente todo o que é necessário para o consumo destes Rei-
nas, aconselhava-se promover «por todos os meios possfveis os habi- nos, mas também facilita a considerável extração que do mesmo gê_
tantes ao trabalho e exploração das mesmas minas, e igualmente ao da nero se faz para diferentes ponos estrangeiros.( 162). A Cana régia de
cultura das terras, facilitando-lhes ao mesmo tempo a permutação dos 3/9/1801 estimulava «a maior exponação possfvel do arroz, para o
seus frutos e produções, por meio de um comércio lícito e permitido, consumo de Ponugal e para aproveitamento do exército e
interior e externo.(1Y5), marinha.(163). O alvará de 6/11/1788 enumerava os anigos do Bra-
A legislação metropolitana, contemporânea dessas instruções, sil que «05 homens do mar. podiam carregar(l64), entre eles anil, co-
orientava-se pelas mesmas diretrizes_o Os decretos de 23/1 e chonilha, arroz, ipecacuanha. Em 1790 estabelecia-se abatimento de
519 de 1781 isentavam, por cinco anos, a entrada do anil nas al- uma libra de tara' para a entrada no Reino de sacas de cacau, café e
fândegas do Reino e DomínioS<156), A cana régia de 12/2/1783 arroz(165),
ao vice-rei dava conta dessas medidas, com maiores espeófi- A polftica tarifária ajustava-se, portanto, ao esforço por dina-
caçõeS<157), O ofício de 22/10/1783 mandava devolver direitos já mizar e diversificar a produçào c%ni41. O alvará de 27/511803
pagos na Casa da lndia pela entrada de referido ptoduto(158), Ao go- isentava, por seis anos, todos os produtos que do Ceará se ex-
ponassem para o Reino, ou que de lá se importassem, «de meta-
(l~0Jcf, Instruções do vice-rei D. Fernando José de Portugal (1800). A.H.V., cód. de dos direitos, que sem esta graça deveriam pagar nas alfân-
575, ff. 95 segs. ·degas.(166); isto com vistas à «necessidade de animar a agricul-
(mlCf. Reflexões sobre a Capitania de Mato Grosso. R.l.H.G.B., t. XII, pp. 377
"".
1l~2lCf. por exemplo a Carta Régia de 1215/1798 ao governador do Estado do Pa- (l:i 9lCarta de 29/4/1790, Á.H.U., cód 536, f. 45 v.
(l60lCf. Dauril A1den - "Manuel Luis Vieira: un enterpreneur in Rio de janeiro
rá, R,/.H.G.R, t. IV, p. 232. Na mesma data, do governador do Maranhão.
R.l.H.G.B., t. V, p. 81. during Brazil's Eighteenth century Agricultura! Rennaisanc~. Hispanic American
(153l(:arta de D. Francisco de Assis Mascarenhas. R./.H.G.B., t. V, pp. 58 segs. Historiai Review, vol. XXXIX, n.a 4, 1959, pp. 521-538.
61
(1) 4lef. Instrução do governo para Francisco Delgado Freire de Castilho, governa- (1 1Cf. Delgado da Silva - Coleção de LegiJlação, vaI. 1775-1790, p. 300,

dor da Paraíba (1797). R.I.H.G.B., t. VI, pp. 444 segs. {! 62 1Cf. Decreto 1/8/1783. Delgado da Silva, op. cit., p. 341,
163
(1551Instrução para o Visconde de Barbacena (1788). R.l.H.G.B., t. VI, pp. 3 ( 1Public/lfões do Arquivo Nacional, voI. I, p. 746.
l64
( lCf. Aragão Morato - Coleção de legislação impressa e mtmwcrtta. Vol. XXV,
"".(n6Jcf. Decreto
519/1781,
23/1/78. B.N.L col. Pombalina,- cód. 461,
A.H.U., cód. 4, f. 142v.
f. 356. Decreto doc. 50.
(l6:iJcoIe1;ão de Leis, Decretos, Alvarás (Museu Paulisto), D, Maria 1 voI. VII, f.
(lH}A.H.V., cód. 231, f. Sv. 141. Delgado da Silva - Op. ci/., p.624.
(158lA.H.,U., cód 834, f. 193. (!66lAlvará de 27/5/1803. Cf. Delgado da Silva - Coleção de LegiJlação, voI.

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tllra da capitania do Ceará Grand~. O estabelecimento dos correios e descrição da árvo~e da quina, recomendando diligênciasC173).
mar1timos em 20/1/1798(167) visava também ~ais útil comunica- A preocupação de lOcentivar os produtos tradicionais e descobrir
ção de todas aquelas capitanias, de que tão grande benef1cio há de i~trod~zir e implan~ar a cultura de novos, era acompanhada de me:
resultar às praças de comércio de todos os meus domloios~. O decre- dtdas VISando a qu.ahdade da produção. Entre os papéis de D. Rodri~
to de 9/4/1806, por sua vez, isentava de meios direitos a imponação go de Sousa Couunho há uma «lista dos livros de agricultura ingle.
do azeite(168). se.s, nos qu~ se acham idéias mais de aproveita1>(174)- O mesmo mi-
O estímulo à produção dava lugar, ás vezes, a medidas mais dire- nlStrO, em ofício de 3/4/1798 comunicava ao conde de Rezende a re-
tas, como a Cana Régia de 16/8/1799, ao Conde de Rezende, que ,messa de cem exemplares de um livro sobre o açúcar para ser vendi-
mandava abrir empréstimo para o fomento da cultura do linho, co- do por meio das mesas de inspeções. câmaras, ou
«pessoas que pare-
chonilha e caneleiras(169). Aliás, tais medidas se enquadram no es- cer; indicando que remessas tinham se efetuado para Bahia, Per-o
forço por introduzir e desenvolver no Brasil a produção das drogas do nambuco, Pará, Maranhão e São Paulo:.{l75}. Mesmo para a 10nglo-
oriente. Remontava ao século XVII essa pol1tica, que visava recu- qua Capitania de Goiás, enviavam-se insrruções e se tomavam medi-
perar a perda do monopólio do comércio do Indico; .entretanto, os das para promover o desenvolvimento agrícola(176).- A essas preocu-
resultados tinham sido mediocres. No fIm do século XVIII, no qua- pações. parecem, aliás, ligar-se as atividades da Oficina literária do,
dro do incentivo geral à produção da colÔnia, retomam os esfor- Arco do Cego, em Lisboa, dirigida por Frei Mariano da Conceição
çoS<170). A aclimação da anileira tinha sido estimulada pelo Marquês Veloso; criada em 1792. incorporou-se em 1802 à Impressão Régia,
do Lavradio, e a produção do anil se desenvolve nas últimas décadas tendo publicado e feito divulgar numerosas obras sobre
do século, declinando a partir de 1800(171). Os car,!llelitas de Salva- agricultura(I77), sobretudo OS) volumes do Fazendeiro do Brasil. A
dor empenharam-se na introdução da pimenta da India. Uma carta cliteratura sobre o açúcar:. ganhá significativo impulso neste peclO-
do período, citada por Amaral Lapa, mostra que se esperava pro~o­ do, enquadrando-se no esforço de promoção das fainas agr1colas na:
ver um «gênero principal do Brasil em que podia dar queda à da In- colônia{I 78).
dia». Também o governador da Bahia, Rodrigo José de Menezes, A pcil1tíca de incentivo se desenvolvia, portanto, ao lado de todo
empenhou-se na aclimação da pimenteira, no que foi seguido pelo um movimento de estudos dos problemas técnicos da produção colo·
sucessor Fernando José de Portugal. Este último, aliás, também pro- nial e metropolitana. Os estudos de Amorim Castro sobre o,
curou aclimar as caneleiras, recebendo em 1798 vários exemplares de tabaco(l79), José Vieira Couto sobre mineração(IBO), Manoel d~ Ar-
uma memória sobre a cultura da canela. Pelo menos alguns homens
de negócio da Bahia chegaram a se animar com as novas perspecti-
vas(172). Da mesma forma, procuravam-se descobrir novas plantas (173lCaria de 4/'5/1798. A.H.U. Does. R. J. Caixa de 1798.
utilizáveis; em carta de 1798, por exemplo, D. Rodrigo de Sousa (174}B.N.RJ., Ms. r - 29, 16, 3'5.
Coutinho informava ter enviado para Bahia e Pernambuco desenho (lnU. Oftcio 3/4/1798. A.H.U. Cód. '574, f. 1'5 v.
(176Jcf. Luis Palacio - GoiáJ, 1772-1882: eJlru/Unl e conjuntura nll11Ul capiklnia
1802-1810, p. 224. O texto refere-se aos Decretos de 19/10/1798 e 16/111799 que, de mimM, Goiânia, 1972, pp. 148-1')2.
t'ara Pará também favorecera as exponações para o Reino. . (177)Sobre as atividades de Frei Mariano da Conceição Velloso, «compondo e tra-
(167)Alvarã 20/1/1798. Delgado da Silva, op. cit., vol. 1791-1801, p. 479-482. duúndo obras para fomentar o progresso, principalmente da indústria agéJCola do
(I68U. Coleção de Leis, Decretos, Âlvarãs (Museu Paulista), Prmcipe Regente D. Brasil•. Cf. F.A. Varnhagen - RiJtórig Geral do BnniJ, ed. integral, t. V, pp. 8-10.
João, vol. IV, f. 331. Também). Hooório Rodrigues - Brasil: período colonial, México, 19'53, p. 1'5'5 scgs.
coo
(1 69 lA.H.U., '575, f. 1S4. (178)(;f. José Honório Rodrigues - cA liteCll.tuCll. brasileira sobre o açúcar no século
(nUla. J.R. do Arnarallapa - O Brrnit e aJ J?'ogllJ do. Oriente. ~arll~, 1966: XVIII., lI!- BrllJit Afllcareiro, vol. XX, 1942. pp. 6-2'5.
(17I lCf. Dawil Alden • cThe Growth and decline ofIodlgo productlon m colonial (179U. ).R. Amaral Lapa - a iabiUO braJiteiro no século XVIII (anolllfÕes aos es-
Brazil: a swdy in comparative economlç History., }oumaI 01 Economic Ris/o", tlldru sobre o tabllCO de }04quim Amonm Castro). Lisboa, 1970. Separata de SlIl-
vol. XXV, 0.° 1, Março 1965, pp. 35-60. dia, 029.
18o
(172Jcf. Amaral Lapa - ap. cit., pp. 27 segs. ( la. José Vieira Couto - M!mórig sobre a Capitania de Mina:r Gerais (1799).

258 259
ruda Câmara sobre algodão(I81), são marcos significativos desse mo- cisco Jos~ de Portu.gal(186), bem como de uma nova máquma de
vimento. Descendo a um plano mais prático, solicitavam-se informes ~oer «feita por ~OIS franceses que se tem ofere.cido à fazenda por
tircunstanciados sobre a situação da agricultura e demais setores das VInte e quatro mIl cruzados», tendo-se promovido subscrição entre
atividades econômicas coloniais(182). Enviavam-se peritos para escla- os senhores de engenho para a aquisição do aparelho(187). Em 1798
recer sobre os melhores métodos( 183). São numerosas as providências uma carta de um certo Jerônimo Vieira de Abreu dirigida a D. Ro.
das mesas de inspecção para mamer a qualidade dos produtos(l84). drigo de Sousa Coutinho apresenta e descreve «inventos úteis ao Es-
Em ofício de 1798, Rodrigo de Sousa Coutinho dirigia-se à Mesa de tado e ao bem público sobre açúcar, anil, arroz, algodão e mineralo-
Inspecção do Rio deJaneito, para lembrar o desejo de S.M. de epro- gia»(188). E o mesmo Dom Rodrigo nas intruções a Manuel Ferreira
mover por todos os meios a felicidade dos seus vassalos, que depende da Câmara, que então partia para o Brasil, apela para as «suas gran.
em grande parte da abundância das produções do próprio país, a des luzes e conhecido zelo», epara tudo o que pudesse ser útil ao real
qual só pode conseguir pelo aumemo da agricultura, ou seja, intro- serviço»; pedindo-lhe que opinasse sobre os melhoramentos que se
duzindo novos artigos de cultura, ou aperfeiçoando os antigos méto- possam introduzir a benefício das culturas da capitania, ou por meio
dos de cultivar o terreno, e recolher e preparar suas produções»; para °
de melhores métodos de trabalho e adubar terreno, ou por meio
o que solicita a remessa de descrição dos «métodos, que atualmente de melhoramentos introduzidos nas máquinas e nos fornos com que
se praticam para a cultura e manipulação dos gêneros, que se expor- se prepara o açúcar e assim dos mais gêneros»(189). Sabe-se da ação
tam das colônias assim como das máquinas de que se servem para renovadora do grande mineralogista no engenho da Poma(1l}()).
descascar o algodão e café, e particularmente de tudo o que diz res- A essa diretriz de melhora da agricultura liga-se, também as pro-
peito ao açúcar, fornalhas, engenho e depuração do mesmo» vidências do mesmo ministro, que em carta a D. Fernando José de
( 1.'15). Portugal, lembrava um elenco de determinações para superar entra-
No quadro das preocupações com melhorias técnicas de produção ves ao progresso agrícola: o bom provimento da mão-de-obra escrava
parecem situar-se esforços no sentido de melhorar a produção do impedindo o «extravio de negros para Montevideu», e estimulando a
açúcar, a fim de pô-Ia ao corrente dos melhores métodos, que se tra- exportação de «cachaça para os ponos da África», ao mesmo tempo
duziu na tentativa da introdução, nos engenhos do Recôncavo da desestimulando o seu consumo no Brasil, através de diminuição do
Bahia, de um novo tipo de maquinácia que reduziria em dois terços imposto de exponação, ao mesmo tempo que taxando fortemente o
a energia utilizada; tratava-se do emprego do bagaço da cana como consumo local. Combater o hábito das câmaras proibirem a saída
combustível nos engenhos, atestada numa carta do governador Fran· dos gêneros «com o pretexto de que se não venha a experimentar fal·
ta na terra», pois ea inteira e livre circulação de todos os gêneros e a
segurança de um mercado, onde os preços só dependem da concor-
J<./.H. G. B .. t. Xl, pp. 2119 segs. Consideranç6es sobre as duas clasJes de povoadores
"'.lU Importantes da Capitania de Minas Gerais. R.I.H G.R., t. XXV, p. 421.
II.~ IICf. Manuel de Arruda Câmara - Memória sobre a cultura doJ algodoeiros, us-
M61
bua, 17119. (l U. Alice Canabrava - ..Um capítulo na história das técnicas do Brasil., sepa-
Il~.')Vide, por exemplo, ofício de 28/4/1798, em que a mesa de inspecçôe5 do Rio rata da Revirla da Univemdade de Silo Pau/o, n." 1, 1950.
de Janeiro remete descrição sobre agricultura, solici[ada por ordens régias. A. H. U., (IH7lCf. Pinto de Aguiar - EnsaioJ ... , pp. 70-71.
Does. R.). Caixa 1798. A carra de 30/1/1801 ao governador do Pará lembra que o (lHHJCarra de 19/1/1798. A.H.U. Does. R.J. Caixa 1798. Jerônimo Vieira de
antcxessor enviara COnta sobre estado da agricultura e concita a seguir o ..luminoso Abreu era irmâo e sócio de Manuel Luís Vieira que envidava esforços para desenvol-
exemplo•. A.H.V., cód. 589, f. 58. ver, na Capitania do Rio deJaneiro, a culmra do arroz e do anil. Foi membro da Mt-
(1~I)Em 1790 oficiava-se da metrópole comunicando o embarque de dois lavrado- sa de lnspcxçõcs. U. Dauril AIelen - .Manuel Luis Vieira: an entrepreneur in Rio de
res experimentados, na cultura do linho cânhamo. Ofício de 6/3/1790. A.H.U. Janeiro during Brazil's eighteenth century agriculture rennaissance_. Hirp. Am.
cód. 573, f. 121. fI/J/. Rev. vo!. XXXIX, 1959, pp. 521-538.
(IHlISobre a ação das Mesas de lnspecção, Cf. M. Pinto de Aguiar. Ema/o de Hir- IIMIInstruç6es, In Marcos Carneiro de Mendonça - O Intendente Câmara - São
tÓrnJ e Economia, vol. I, pp. 70-71. Paulo, 1958, p. 91.
(l~jlA.H.U. Does. R.). Caixa de 17<)::( II<J!JJCf. Pinto de Aguiar. Op. cit., p. 71.

260 261
rência, são os melhores meios de procurar uma segura abundância».
Lembrando também que «as sesmarias devem perder-se logo que se velmente procederá falta de atividade que se observa no fogo do
não ponham em cultura, e se devem transmitir a mãos mais hábeis e bagaço; quando os lavradores não puderem extender as suas der-
que tenham cabedais.(19 1)._ _ rubadas e forem constrangidos a beneficiar as terras velhas e já
No mesmo ano, ofício do vice-rei Conde de Rezende dava conta cansadas; e quando finalmente se lhes faça sumamente onerosa a
'de cumprimento às determinações metropolitanas, pois «poderei dar compra dos escravos pelo excesso do preço pelo que se vão reputan-
o possível impulso à recomendação da Mesma Senhora (Rainha), a do cada vez mais, então a necessidade os fará industriosos, e porão
-fun de persuadir aos agricultores desta capitania o uso de bois, e ara- em uso aqueles mesmos recursos que hoje lhes parecem impra-
dos, para cultivar as terras, e o método de queimar nas fornalhas dos ticáveis:t{l95). Curiosa situação essa, característica aliás da épo-
engenhos de açúcar as canas já moídas•. O que mostra que as tenta- ca ilustrada: a metrópole (o vice-rei) tentando modernizar a econo-
tivas de introdução do bagaço de cana como combustível rião se res- mia da colônia, frente à resistência conservadora dos colonos. «Não
tringiram à Bahia. O esforço de melhoria técnica encontrava, diga-se deixo contudo de fazer novos esforços inspirando em algumas pessoas
de passagem, resistência dos colonos, apegados às antigas práticas e o gosto de se aplicarem às tentativas sobre os mesmos objetos, e sem-
desacostumados de investimentos no setor técnico. As câmaras, a pre na esperança de que eles ainda poderão a vir ser de uma utilida-
quem o vice-rei solicitara providências (<<prêmios.), respondiam dan- de aos fins propostos:t(I96), insistia, justificando-se, o vice-rei.
do as «tazões gerais em que se fundam os lavradores para se não apli- Os incentivos não se dirigiam apenas à lavoura de exponação. A
carem aos usos acima indicados sendo a primeira a necessidade que cultura da mandioca era objeto de cuidados do vice-rei, que em carta
eles tem de escolherem os terrenos montuosos para a plantação das de 1793 dava conta de todo um plano para desenvolver esse cultivo,
mandiocas, e a segunda a precisão de fazerem novas e anuais derri-, em que se obrigaria os senhores de engenho e cultivadores de arroz a
badas de matos virgens onde tiram grandes madeiros, cepos e rabes, plantar mandioca, «gênero de primeira ordem.; e mais, a área culti-
que embaração a passagem do arado.(192). Nisto que diz respeito aos vada setia proporcional ao número de escravos; mas mesmo peque-
esforços pela introdução do arado na lavoura colonial, já tentativas nas propriedades seriam obrigadas ao plantio; especificando as auto-
anteriores, em São Paulo, no governo do morgado de Matem, leva- ridades que deveriam fazer cumprir as determinações, e a época do
vam a semelhantes dificuldadeS<193). cultivo(l97). Entendem-se tais medidas em face da escassez da fari-
A introdução do bagaço como combustível esbarrava em dificulda- nha de mandioca referida em várias memórias da época, como em
des técnicas. 40S que trabalham em fábricas de açúcar interitàm per-, José Eloi Ottoni e Marce1ino Pereira Cleto(I98). A própria cultura do
suadir que o fogo das canas moldas, ou do bagaço, não tem a inten- trigo, que se desenvolveu nessa época no Rio Grande do Sul{l99),
sidade necessária para a depuração do mesmo açúcar como alguns se- chegou a ser estimulada, como se vê por um ofício de 1789
gundo dizem já o experimentaram.(I94). A diretriz metropolitana' (200); posteriormente, crescendo a exponação para a metrópole, pro-
em prol das melhorias técnicas, contudo, era de tal modo incisiva, testaram os agricultores ponugueses, e «afinal se resolveu que não
que não descoroçoava o vice-rei: «Eu creio que quando se consiga dar convinha a introdução do dito gênero neste Reino:t(201), nota Azere-
às forn~!tas ou~ra forma diferente da atual de cujos defeitos prova-
(l'J~)e (196) Ofício citado.
(1'i 7
1Carta do Conde de Rezende de 281211793. A.H.U. Does. RJ. Caixa de
(1<)I)OflCio de 11 lOi 1798. B.N.R.)., Ms 11- 32, 22, 26. 1798.
(192}Qfício de 12/11/1798, A.H.U. Dos. R.). Caixa 1798. Ofício da Câmar-a de' (I'JM1Cf.joséEloi Ottom· Memóriosôbie o estado atual do capitania de Minas Ge-
S.Jos~ da BarIa ao Vice-Rei. A.H.U. Does. R.). 1798. rais (1798) A.B.N. vol. XXX (1908). pp. 301 segs. M. Pereira Cleto - Dissert{1fão a
(i93)Cf. Sérgio Buarque de Holanda - Cominhos e fronteiras, Rio de janeiro, m/Jfito da CapItania de São Paulo (1782). A.RN., vol. XXI. 1899, p. ~97 ...
1957, p. 246. 11 j'))cr Fernando Hennque Cardoso - Capualllmo e escraflúião no Brasil mendto-
(l94)Cf. Ofício de 12111/1798. A.H.V. Does R.]. Caixa de 1798. Na Bahia os nal. São Paulo, 1962, pp. 48 segs.
mesmos óbices dificultaram a introdução da nova técnica. Cf. Alice P. Canabrava, (2°O)Ofício de 18/8/1789. A.H.U. cód. 573, r 9 v.
ortigo citado. \20Iry.j. da Cunha de Azeredo Coutinho _Ensaio econômico sobre o comércio de
Portugal e suas colônias (1794). in Obras econômicas ... , pp. 152-15).
262
263
do Coutinho, que aliás critica vivamente a proibição, preconizando a que impedia os investimentos necessários; assim não podiam adqui-
liberdade de se produzir na colônia os mesmos gêneros agrícolas da rir os escravos necessários, dado seu alto preço; e ainda volta ao .mau
metrópole, que, se abundantes, podiam ser reexportados. método de minerar:.(208).
Note-se. contudo, que os esforços da política metropolitana incen- As preferências da política metropolitana iam de qualquer forma
tivando as culturas de subsistência, e assim diversificando a produ- para a grande lavoura de exportação; embora não de modo exclusi-
'ç2ü, encontrava, Ílão raramente, resistência da camada superior dos. vo, como já indicamos. Assim, estendem-se aos senhores de engenho
colonos ligados ã lavoura de exportação. A melhor expressão conhe. da Capitania de São Paulo os privilégios antes concedidos aos do Rio
cida dessa resistência são por certo as críticas de J. Rodrigues de de Janeiro e Bahia de não poderem ter seus engenhos
Brito(202) a esse tipo de medidas; efetivamente. respondendo. em sequestcados(209). A lavoura do açúcar em São Paulo de resto é um
1807, a consulta sobre causas opressivas da lavoura. a primeira que exemplo. de êxito da política de fomento: prosperou sobretudo ao
lhe ocorre são as derivadas da «falta de liberdade., começando pela de influxo da pol1tica de Bernardo José de lorena(210). O endividamen-
se plantar «quaisquer gêneros que bem lhes parecesse:t. Opõe-se as. to dos lavradores para com os comerciantes vinha de longe, e pode-se
sim às medidas que «obrigam o lavrador a se ocupar com a mesqui- dizer que era um produto do próprio funcionamento do sistema co-
nha plantação de mandioca•. lonial; no fim do século XVIII atesta-o o autor anônimo do Discurso
No que diz respeito à mineração, os estudiosos da época ilustrada preliminar da comarclÍ da cidade da Bahia (21 J), em que mostra «o
insistiram em que o decréscimo da produção devia-se basicamente à empenho em que a lavra do açúcar ... está para o comércio»; preco-
precariedade das técnicas, que se tomavam cada vez mais inadequa- nizando a criação de uma companhia de agricultores para encami-
das à medida em que se .aprofundavam os veios: assim Vieira nhar a resolução do problema. A política metropolitana não esteve
Couto(203), Eloi Ottoni(204), posteriormente Eschwege<20~). De um alheia ao problema, e no quadro de uma política financeira que se
modo geral, a lavra das minas, no Brasil colonial, esteve tecnicamen- esforçou por organizar a circulação monetária, na qual se destacou
te num nível inferior ao alc~do na América Espanhola, especial- ainda uma vez D. Rodrigo de Sousa Coutinho(212), chegou a tent~
mente no México e no Peru(2 ). Mas aqui a metrópole parece que se
aferrou à idéia·de que o diminuendo dos quinros se devia aos desca- 1208)CI.).J. Teixeira Coelho - lnslruflio para o govêrno da capitania de Mmaj
(1780), R.l.H.G.B., t. XV, p. 374 segs. .
minhoS<207). Téixeira Coelho, porém, já notava que .é fácil o atri- (2(~))Cf. Delgado da Silva - CoIefiio de Legirlafiio portuguêia, vol. 1802-1810, pp.
buir somente aos extravios a falta do ouro do quinto, pondo de má 445-447.
fé na real presença de S.M. os habitantes das Minas". E ia além: a (21O)Cr. Maria Thereza Scholer Petrone . A lavoura canaviúra em S. Paulo (1765·
primeira causa da decadência, para de, era a .pobreza dos mineiros, 1851). São Paulo, 1968, pp. 14-23, 144 segs.
" I I 'Cf DIJfUrJo preliminar, hutónw, Introdutlvo, com natureza de descnfiio
ecumim/ía da comarca da cidade da Bahia. A.B.N., vol. XXVII, 1905, pp. 283-348,
eS(Jtl lalmeme PP 2')5 segs. Reedição, com introdução de Pinto Aguiar. Aspect01 da
{2021G. J. Rodrigues de Brito - Cartas econômico-políhcas (1821), Salvador, 1924,
pp.28-30. f:."W7II1Iltlil C%nlal. Salvador, 1957.

(20'JG. J. Vieira Couto - MemóT"ÍfllObre a Capitania de Minas Gerais (1799). 1!12IVeja_se em Marquês de Funchal- O Conde de Linhares (Lisboa, 1908) os pla-
R.I.H.G.B.,vol. Xl, pp. 295 segs. nu.,> e _projetu~ de política monetária de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, pp. 147·
204 17') E. por outro lado. abundante a legislação sôhre a matéria neste período, em
( lG. José Eloi Ottoni - Memória lObre o ntado atuai da Capitania de Minas
Gerai1 (1798). A.B.N. vol. XXX, 1908, p. 304. pane l·IKamtnhando as idéias expressas naqueles documentos e visando um sanea·
(205lG. G. Eschwege - Extrato de uma memóT"Ífl jôbre a decadência das MinaJ mento da nrrulação: Alvará 20/10/1785. impedmdo Cllwlação de moeda esuan-
( 18 13), in Memórias da Academia Reai das ScienâaJ de Li1boa, vol. TV, IJ pane, pp. gClfa (Aragão Morato. vul. XXIV, doc. jOO); Alvará 16/1/1793, disciplinando o
219 segs. funCIonamento das 1t:uas de câmbiu (Aragão MOlato, vol XXVI. doc. 120); Alvará
206
{ lG. Ch. R. Boxer - The Co/den Age o[BraziJ, 1695-1750, Berkdey, 1962, p.
8111 1795, nova proibição da moeda esrrangeua (Delgado da Silva, vol. de 1791·
1801, p. 187); Decreto 24/1/1800, estabelecendo Caixa de DeSCOntos do papel
3,9. Modesto Bargall6 - La Mineria e la Metalurgia en la América E1paiio/a durante la
Epocacolonial, México, 1955. moeda (Delgado da Silva. vol. ]"7()\·1801. p. 'H); alvará 24/111803, criando bilhe·
de
(207lG. ·lni/ruflio para o Virciiiide Barbacena (1738) R.I.H.G.B., t. VI, p. 20. te, de crédito (Coleção de Leis, Dnretos. Alvarás. Príncipe Regente D. José. vol
111). São as prin{ipals.

264 265
a organização de uma caixa de crédito na colônia. Em carta de vendo maIS longe, e tentando conciliar os interesses e chocando-se
10/5/1799, dirigida a D. FernandoJosé de ponugal, então governa- com esses mesmos interesses. No caso da resistência dos colonos em
dor da Bahia, se dizia que o governo de S.M. ctendo sempre em vista assimilar técnicas agrícolas mais avançadas, eram os produtores que
promover a felicidade dos seus vassalos, e querendo por isso facilitar travavam as reformas; aqui são os comerciantes. Esta situação é aliás
aos proprietários dessa capitania um meio oponuno de estabelecer típica dos momentos em que atua uma perspectiva política de cunho
fundos, com que possam cultivar, e aumentar seus rerrenos, manda eminentemente reformista, como era o caso da política colonial da
remeçer a V.S. o plano incluso, para que, convidando os negocian- época das Luzes.
tes, e outros capitalistas, e fazendo-lhes ver as utilidades, que se de- A importância e o significado do plano são de fato tão relevantes,
vem esperar do estabelecimento das Caixas de Crédito, procure con- que Pinto de Aguiar se pergunta se idêntica medida não teria sido
seguir que eles voluntariamente adotem o plano, que se lhes pro- proposta para o Rio de Janeiro. E, realmente, não desanimou o ope-
põe; devendo, porém, V.S. acautelar que a Sociedade, que houver roso ministro; nas instruções ao mesmo D. Fernando, depois mar-
de formar-se, só avance fundos sobre Bens de raiz, seguros e sobre quês de Aguiar, quando no ano seguinte foi nomeado vice-rei(216),
fianças idôneas, ou finalmente sobre letras de câmbio bem acredita- mais uma veZ volta-se a insistir na criação de uma caixa de f",ndos
das, que desconte.(213). Em anexo seguia minucioso plano. Todavia, para crédito aos agricultores, como meio de «aumentar as culturas,
respondendo em 9 de maio de 1800, informava o governador que produções, e comércio de exportação»; mas, talvez em face da expe-
ehá uma dificuldade por falta de numerãrio, e de capitalistas, em riência baiana, manda examinar «se por este sistema, e fazendo tam-
achar número suficiente de negociantes e acionistas cujas ações sejam bém acionista a Minha Real Fazenda, se pode auxiliar, e procurar o
capazes de fazer um fundo público»; acrescentando que se deve ere- estabelecimento de caixas de crédito e de circulação, que tem por
fletir que cada um dos comerciantes desta praça em particular é uma objeto: avançar dinheiros sobre hipotecas, seguros aos cultivadores,
caixa ou fundo de cada. um dos lavradores; por consistir o comércio que empreendem as culturas muito vantajosas, ou totalmente novas;
da Bahia em suprir aos do tabaco e açúcar geralmente em todos os descontar lettas de câmbio das boas firmas e endossadas por duas
gêneros, dinheiros, fazendas e escravos, recebendo em seu pagamen- abonadas casas ele comércio; avançar fundos sobre os gêneros que se
to as colheitas e trabalhos dos mesmos lavradores, havendo comer- exportem; emitir para tais fms bilhetes pagáveis nesta caixa, logo
ciantes que assistem a trezentos e quatrocentos lavradores e a doze, que aproveitados; e ultimamente poder tomar dinheiro a juros para
quinze, vinte e mais senhores de engenho»(214). aumentar e segurar a circulação dos bilhetes»(217). Era pois um au-
Fracassava, pois, a tentativa, por causa exatamente das distorções a têntico banco emissor que pretendia estabelecer na capital da colô-
que pretendia remediar. A finalidade da caixa, de resolver o proble- nia o audacioso estadista D. Rodrigo de Sousa Coutinho. Não pude-
ma do endividamento dos produtores, fica clara na carta e no plano mos rastrear na documentação as vicissitudes da nova tentativa; mas
que encaminha. Discutindo as razões do naufrágio da notávdinicia- parece certo que não se concretizou, devendo ter esbarrado em idên-
tiva, M. Pinto de Aguiar lembra, em primeiro lugar, a ignorância da ticas resistências. Também o esforço por incentivar a exploração ma-
população da colônia em práticas desse tipo, e a desconfiança em fa- deireira na Bahia, através da reorganização das Reais Cones em 1798.
ce do papel moeda, em face dos títulos oficiais em crônico atraso; em esbarrou na resistência dos colonos(218).
segundo, a razão que parece ser de fato a preponderante e claramen- Tais projetos, se, por frustrados, imponam pouco para o estudo
te exposta na cana do governador: o interesse dos mercadores em da economia brasileira do período, são entretanto de grande impor-
continua.! senhores do mercado, tendo sob sua sujeição os produto- tância para caracterizar a política econômica, e indicam o seu alcan-
res(21 'j). E realmente digna de nota essa situação: o governo ilustrado
<21"ler In5trUçô("~ ao Vic("-Rel (" Capitão G("neral d(" Mar (" T("rra do BraSIl. D.
(21 I) e (214)A Cana de 10ISII 799 e o Plano que a acompanha, bem como a res- (-("mando José d(" Portugal (H17 /18(0). A.H.U .. (00. ')7'). ff. 95 a \1\
posta do governador da Bahia, estão publicados in M. Pinto de Aguiar _ Bancos do 121-1Insuuções. f. 101
BraJi/ colonlO!. Salvador, 1960, pp. 39 segs 121~lef. F.W.O. Monon _ «Th(" Royal Timb("f In late rolonJal Bahia». Hnpl1nJc
(mlcf. Pinto de Aguiar, 0p. cit., pp. 33-34. Amencan HlJloncal ReVlef4i, vol. ,8, n t, Fevereiro de I'J78. pp. 41-61.

266 267
ce. Marcam mesmo um dos pontoS mais altos do programa de desen- tradicional(22:;), mas, examinado detidamente no seu texto, revela
volvimento em que se empenharam os estadistas da época ilustrada. antes as contradições e dilemas da política colonial da Ilustração por-
Da mesma forma que seu fracasso, as resistências que provocou, tuguesa.
apontam para as contradi~ões de interesses que operavam no siste-
ma_ o andamento do texto legal segue um esquema comum nesse gê-
No quadro dessa política que tentava (X)r em prática a visão dos nero de documentos: principia-se pela constatação de que «de al-
teóricos, que como vimos se empenhavam em superar oposições guns anos a esta parte se tem difundido em diferentes capitanias do
reais e concretas, harmonizando (X)los que o movimento de crise Brasil» «grande número de fábricas e manufaturas» apontando-se o
tendia a distanciar, ficavam ainda bafejados por isenções tarifárias os «grave prejuízo da cuhura e da lavoura, e da exploração das terras mi-
produtos que servissem de matéria-prima às manufaturas metropoli- nerais» decorrente daquela difusão das atividades manufatureiras,
t.mas. Efetivamente, muitos produtos brasileiros constimiam maté- «porque havendo nele (no Brasil) uma grande e conhecida faha de
ria de base às manufaturas do reino(219) e a legislação do período população, é evidente que quanto mais se multiplicar o número de
procura abrir a entrada para essas matérias-primasl. 220). Em 1785, re- fabricantes mais diminuirá o de cultivadores; e menos braços haverá
tomando determinações de 1773, isenta-se por 15 anos a entrada de que se possam empregar no descobrimento e rompimento de uma
matérias-primas para consumo das fábricas(221). Em 1791, novas grande parte daqueles extensos domínios, que ainda se acha inculta
isenções: para as matérias-primas da fábrica de arcos de ferro da e desconhecida; nem as sesmarias, que formam outra considerável
companhia de vinhos(222). A resolução de 27/2/1802 prorrogava as pane dos mesmos domínios poderão prosperar, nem florescer por
isenções gerais às matérias-primas(223). falta do benefício da cuhura, não obstante ser essa a essencialíssima
condição com que foram dadas aos proprietários delas; e até nas
c) Teares e forjas mesmas terras minerais ficará cessando de todo, como já tem coosi-
O mesmo esquema de política econômica que estimulava a pro- deravdmente diminuido a extração do ouro e diamantes». Logo, pa-
dução das matérias-primas coloniais e sua comercialização para a me- ra o legislador metropolitano, o florescimento das manufaturas na
trópole levaria à proibição das manufaturas no Brasil. O ato proibitó- colônia, provoca o declínio da lavoura, da mineração, e da ocupação
rio - alvará de 5 de janeiro de 1785(224) - tem sido considerado ma- de novas áreas, .cudo procedido (insiste-se) da falta de braços, que
nifestação clara da persistência de uma política mercantilista de tipo devendo empregar-se nestes úteis e vantajosos trabalhos, ao contrário
os deixam, e abandonam. ocupando-se em outros totalmente dife-
'-'I"I(]" J. Jobson de Andradt" Arruda - O Bruul1'/O ComércIO Col01'/lu/l 17')(,·
rentes, como são as referidas fábricas e manufaturas». Portanto, de
lHOS). S. Paulo. 1972, pp. ~47-~)O (t"xemplar mimeografado).
'.""lICf. Deçretu lH/" 17S.'>: exdUl a~ "matC:na.,> primas~ das fãbnca~ nauon;w, da um lado há trabalhos «úteis e vantajosos», e são a lavoura e a minera-
nova pauta da alfândega. di'étlmm.wdu baiXOS trJbutu~ Cf. Aragão MOfato . CIJ/,- ção; de outro, trabalhos «totalmente diferentes». as manufaturas.
foi/) de le};l.Il.lçdu ImprnJ.J t' mll1'/USCntll, vo) XXIV. dor 10. Ocorre, continua o alvará. que a «verdadeira e sólida riqueza» são
,-'.'1 'Alvará 1')I')117H) Cole~ãode leIS. Delfews. Alvar:i, (Museu Paulista). vu!
«os fruros e produções da terra, as quais somente se conseguem por
111 I -i4!l.
,- --', 'De, reto 161 HI 1~') 1 DdgaJu da Silva - (""Iefdo de leg/J/uçJo . .vol. de 1~') 1-
meio de colonos e cultivadores, e não de artistas e fabricantes», o que
IkO!. p. 16. de si justificaria conter aquela distorção das atividades econômicas.
-', 'Culeção de leI'. De, rew~ e Alvara~ (Mu,{'u Pau!l,tôl) - Prímlpe RegeOle. vul Mas, além disso. nota que as «produções do Brasil», «fazem todo o
11. d ,·1') fundo, e base, não só das permutações mercantis, mas da Navegação
"'l) lt'lW) dt",te famu'>U J,,,"umento (t"ffi "d" mUlla, vezt"s reproduZIdo' V/dI'
----,-,,----,------,-------
A Ddgado da SIlva - Co/t'roio d,' 1t'f!.IJI.Jt".Ju p",IuXJleJ.J. vo! 1~~':i-1~'){). p. '>~O, "( t Lemo,l{rn', I', . nl", d,'!J.Jrtld.J /J.lf.J.J hnf,;n.J tyumúlIII.J do HrJJd. 2'
R.I H.("B .. t X (1' ed. anIl. pp. 21H·150. t-efllando A. :-..Iuvals - «A prOlblçãu eJ . :,;jD Paulo. 1')1'1 k '"ll"mtll - flnlún.J,'um';mll.J d(J lirJ.,d. "ed . Sào Pau-
da.' manufatura, no Brasi! e a polí(Jla ("wnómJ{a pOflugue,a do fim du shulo l" 1'J'j- P :11). CaIu Pr.,d" JlJlll<H f·{Jrm.J(oio ,lo BrJJzI wnt",,,porJ'It''' . .i' {·d.
XVIIl. Rev.Hlfl rS.P ). n 6~. 1'166. pr. 1(1).1(,(, R("wmamos aquI. a anãli,t e~bo­ :-i:w Paul" 1'1)". rI' 22~ ~.'" II h'rrnra LIma f-iJrnMfão mdu,'n,,1 dI) Hr.lll/. RIO
çada ]lt",.',t" pnmt"It<' t"-rudo (kJa!lnrD. l'Xd. pp 1(,--1-0

268
que se -deslocam para as manufaturas. Lembremos de passagem que
e do comércio entre os meus leais vassalos ~estes ~einos e daqueles no fun do século XVIII, como já foi dito, assiste-se no Brasil a um
domínios., ,comércio que é dever do Pémclpe carumar! e sustentar autêntico revivescimento da agricultura, o que colide com a aftrma-
em comum benefício de uns e outros, removendo. na ongem os obs- ção do alvará, e ralvez explique aquela sutil diferença.
tácuios, que lhes são prejudiciais, e nocivos». Motivos todos esses _pa- Quanto à difusão das atividades manufatureiras na colônia, ocorre
ra ordenar que ctodas as Fábticas, Manufaturas e Teares de G:il0es, lembrar que o fato foi indicado no relat6rio do marquês do Lavra·
de Tecidos, ou de Bordados de Ouro, e Ptata:.de Veludos, Bnlhan- dio(227), mas referindo-se apenas à Capitania de Minas, e não a todo
tes, Setins, Tafetás, ou de outra qualquer qualidade de seda: de ~l­ o país~ de qualquer forma, o vice-rei alarmava-se com as conseqüên-
butes Chitas, Bombazinas, Fustões, ou de outra qualquer qualida- cias que o prescindirem os colonos dos produtOs europeus podiam
de da' Fazenda de Algodão, ou de Linho, branca, ou de co~es: E de provocar em cuns povos compostos de tão más gen'tes, em um país tão
Panos Baetas, Droquetes, Saetas, ou de o~rra qualquet q.?alidade ~e extenso»; <fazendo-se independenres, era muito arriscado poderem
Tecidos de Lã, os ditos Tecidos sej~ fabncados de um so dos refen- algum dia dar trabalho de maior conseqüência.(228). E acrescenta que
dos Gêneros, ou misturados, e tendos uns com os outros: excetuan- tanto insistiu com os governadores das Minas que «algumas fábricas
do tão somente aqueles dos ditos Teares e Manufaturas, em que se que -se iam fazendo mais públicas, como eram as do Pamplona e ou-
tecem, ou manufaturam Fazendas grossas de Algodão, que servem tras, se suprimiram; porém as particulares que há em cada uma das fa-
para o uso, e vestuâtio dos Negros, para enfardar, e empat;0rru: Fazen- 'zendas, ainda a maior pane delas se conservam:t. De qualquer forma,
das, e para outros Ministétios semelhantes; todas as maiS sejam ex- os ctrabalhos de maior conseqüênciaJo vieram dez anos depois; e entre
tintas, e abolidas em qualquer pane onde ~ acharem nos Meus Do- as aspirações dos inconfidentes estava exatamente o estabelecimento
mínios do Brasil, debaixo da Pena do perdimento, em tresdobro, do de manufaturas(229). O que indica que a sua ausência era sentida co-
valor de cada uma das ditas Manufacturas, ou Tea:es, e das en - F:u: moumpe50.
das, que nelas ou neles houver, e que ~e acharem.exlStentes, d~1S me- No oficio que acompanha o alvará, aftrma Maninho de Melo e
ses depois da publicação deste; repanmdo-se a dita Condenaçao me- Castro que amostras de tecidos feitos na colônia tem chegado à me-
tade a favor do Denunciante, se o houver; e á outra met~de pelos tr6pole(230). Mas o argumento decisivo, do qual se deduz o desen-
Oficiais, que fizerem a diligênc~a; e não havendo DenunCiante, tu- ,-:olvimento da manufatura na colônia parece ser, no mesmo OfiCio, a
do penencerá aos mesmos Oft51~». A ' •• , •• 'diminuição das exponações de tecidos ponugueses para o Brasil, re-
São pois darament~ demar~ave~ tre~ panes no alvara prOlbltono. gistrado na alfândega; mas isso, segundo ainda as mesmas instruções,
constatação de uma Sltuação, Justificaçao das normas a ~ adot~e~, devia-se também aos contrabandos()31), e provavelmente muito
e determinações positivas. Analisemos c_ada uma d~ per SI. A prunel- mais a eles. Razão pela qual o outro alvará da mesma data, de com-
ra envolve a afirmação de que se difundem no Bras~ as manufaturas, bate ao contrabando (que já comentamos noutro ítem deste capítu-
e os efeitos desse fato. Note-se que há uma cena difere~ça n~ o~ser: lo) segue acompanhado pelas mesmas instruções. Por onde se vê a
vação desses efeitoS: um deles, ~ di(I1inuição_. da pro~uç:w I?~nelfa e conexão entre contrabando, manufaturas coloniais, e o esforço de de-
afirmado como já existente, e 15SO decorrena das dlmmulçoes dos senvolvimento manufatureiro da metr6pole.
quinros(226); os outros ficam como que deduzidos da falta de braços,
menro. a. Eschwege, Op. ci/., t. lI, p. 176, eJoaquim Fdício dos Santos _ Memó-
rias do Dislnto Diamonlino, 2~ ed., Rio de Janeiro, 1924, p. 254. Vejam-se tarn:
(2261Scgundo Eschwege a arrecadação.do quinto atingiu o máximo em 1754, de- ,bém as estadsucas em Ch. Boxer - The GoIden Age o/Brazil, Berkeley, 1962, pp.
caindo em seguida (a. Plu/o BnnilienJÍs (1833), nado port. s. ~a~~o, 1944,~. I, 220-225, 333-335.
pp. 366-368). As avaliações mais recentes, do estudo do Prof. VUgJ!1O Noya.Plflto (227) ~ (228)a. Relatório do Marqllês de Lavr<Hiio (1779). R.l.H. G.B. t. IV, pp.
indicam o período de 1750-54 como de máxima produção de ~~ro no Brasil;, em 457-459.
Minas Gerais a produção máxima foi atingida em 1735-39; em Gotas ~ P?Dto maJS ~I-' {229U. Au/os da Devassa da Inconfidência Mineira, vol. I, p. 109.
to se situa em 1750.54, em Mato Grosso em 1735-39 (Cf. O ouro brllStletrO e o comer- (23()Ofício 5/Ii1785. R.I.H.G.B., t. X, pp. 213 segs.
cio portllguês, São Paulo, 1972, exemplar mimeografado). Note-se, ~rém, que ~. (231)Idem, ihidem.
produção dos diamantes não estava em declínio na época do alvará, e Sim em crescl-
271
270
A terceira pane apresenta menor interesse, a não ser destacar, do persuadido de que cos teares que nelas podem existir são próprios
além da minúcia enumerativa para não deixar dúvidas, o fato de que para as (manufatwas) permitidas e toleradas.(233).
o que se proibe são especificamente as manufaturas têxteis, e não to- Para as demais capitanias seguiram idênticas instruções, mas é le-
do gênero de indúsuia. Os dados de que dispomos sobre a aplicação gítimo presumir que os resultados não tenham sido diferentes. Não
do alvará sugerem indubitavelmente que pouca coisa se encontrou ,conhet.:emos as apreensões realizadas em Minas Gerais. Nos seques-
para apreender. Na capital da então Colônia, que era, juntamente tros da Inconfidência figuram apenas: cum tear preparado em
com Salvador, das maiores aglomerações urbanas da América portu- tudo., três crodas de pau de fiar_, uma cfieira de ferro. e um cbando
guesa na época(2:m, e pois onde melhores condições havia para as grande com roda de puxar fieira.(234). É preciosa todavia a ob~rva­
atividades manufacureiras, - o vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa ção de José Vieira Couto, sempre bem informado a respeito de sua ca-
tratou de executar as ordens régias com as devidas cautelas recomen- pitania natal, em que afuma que cnunca em Minas se fabricara se-
dadas nas instruções. Diga-se de passagem, não se deu muita pressa não teçume próprio para os escravos e gente miúda.(235).
nessa tarefa; o ofício em que dá conta do cumprimento das determi- Também o governador da capitania de São Paulo recebeu a ordem
nações metropolitanas data de 12 de julho de 1788. Isto aliás exem- proibitória e as instruçõe,s(236), sendo o oficio com que se encami-
plifica bem a morosidade da administração colonial. Realizadas as nharam os documentos legais datado de 3 de fevereiro de 1788. Mais
buscas e feitas as apreensões, o resultado foi visivelmente decepcio- uma vez, aqui, o combate ao contrabando aparece ligado à supressão
nante: reuniram-se ao todo para remeter à metrópole 13 teares de das manufatwas. Feitas as averiguações, oficiava Bernardo José de
tecidos de ouro e prata. E note-se que a sua distribuição mostra o ca- Lorena em 16 de outubro de 1788 ao ministro Maninho de Melo e
ráter artesanal das ati,,;ciades: Jacob Munier possuia 5 teares, dos Castro para esclarecer não possuir cnotícias de fábricas de qualidade
quais um desarmado; José Antônio lisboa, 3 teares: Sebastião Mar- alguma das proibidas., concluindo, como para encerrar o assunto,
ques, 3 teares; sendo que um desarmado; Miguel Xavier de Morais, que, ccom este ofício tenho respondido as todos que de V.Excia. te-
1 tear; José Maria Xavier, 1 tear, A rigor, não se pode pois falar em nho até agora recebido.(237). O que não excluia, evidentemente, a
fábricas ou manufaturas empresarialmente organizadas. Talvez so- existência de produção têxtil do tipo permitido.
mente no primeiro caso, e com algum esforço, possa admitir-se a clas- As palavras do vice-rei Luis de Vasconcelos bem como as expres-
sificação, e é sintomático o nome estrangeiro do empreendedor. De sões do governador Bernardo de Lorena são muito esclarecedoras, e
teares de lã, linha, ou algodão há referências vagas não quantifica- comprovam o que antes dissemos: as condições da economia colonial
das: de João Monteiro Celli afirma-se que possui «teares de grosseiras escravista, com seu estreito mercado interno, se eram desfavoráveis
de algodão fino, e panos grossos ou bastões do mesmo algodão»; de ao desenvolvimento de atividades propriamente manufatureiras
José Luís, José Francisco, Antônio José, Antônio de Oliveira do competitivas com as imponações européias, eram por outro lado al-
Amaral, Maria da Esperança, Francisco de São José, Custódio José, tamente estimulantes para o florescimento de uma produção têxtil
Manuel de Morais, Maria Antonia, Ana Maria, diz-se que têm «tea- ao nível artesanal e doméstico, visando sobretudo o consumo dos es-
res da mesma qualidade da grosseria de algodão. nos quais algumas cravos. Essas atividades podiam mesmo adquirir um ceno volume,
vezes fabricavam toalhas de mesas e guardanapos». E foi tudo quan- sobretudo nos momentos em que - como no f1m do século XVIII
to se encontrou. Remetendo para Lisboa estas informações, acrescen- - as condições do setor exponador eram prósperas, e dentro das
tava o vice-rei ter transmitido as ordens da Rainha aos governadores unidades produtivas ligadas ao mercado externo todos o~ fatores se
das capitanias subalternas do Rio Grande e de Santa Catarina, bem
como ao ouvidor da comarca dos Campos de Goitacazes para que se 033lR.I.H.G.B., t. X, pp. 230-240.
(234 lA.D.I.M., vol. V, pp. 238,455,482; vol. VI, pp. 84, 89.
tomassem as necessárias providências; mas já adiantava estar contu- (235)Co,mderaçõeJ lObre 4J dUOJ cl4JleJ 11UÍs importantel de povoUorel de CIIpi-
taniaJ de Mina! Gerai!. R.I.H.G.B., t. XV, pp. 421-429.
{l36lCf. Documental IntereJJantel, vol. XXV, pp. 70 S('gs,
i' ') I (237)Cf. Documental InteremJntes, vol. XlV, p. 18.

273
mobilizavam na produção das mercadorias exponáveis. Às áreas de Mas é sobretudo a segunda parte que importa analisar: entre a
economia de subsistência, abria~se.·.então
.", .. , a possibilidade de uma constatação dos fatos e as regras impostas, entre a tomada de cons-
produção que transcendia o consumo' local, abastecendo o setor ex- ciência dos problemas e a determinação de intervir na realidade, e
ponador; assim se estabelecia uma circulação interna dos tecidos estabelecendo I.:onexão entre uma e outra, desenvolve-se o arrazoa-
grosseiros. De fato, as pesquisas e reflexões de Sérgio Buarque de Ho- mento justificativo. O raciocínio desdobra-se como segue: primeiro,
landa, relativas às antigas técnicas de produção no Brasil(238) permi- o aumento do número de fábricas e manufaturas no Brasil se faz em
tiram reconsuuir o quadro da antiga produção artesanal e doméstica detrimento da lavoura e da mineração, dada a escassez da população
de tecidos na capitania de São Paulo, e suas pulsações ao longo do colonial; segundo, a verdadera riqueza são os frutos e produções da
tempo. Como fica amplamente documentado no referido trabalho, terra; terceiro, os produtos coloniais formam a base do comércio en-
remontam ao século XVI essas atividades; intensificaram-se no sé- tre a metrópole e a colônia. Estes os três pontos essenciais. Entre o
culo seguinte, acompanhando a difusão dos algodoais e dos reba- primeiro e o segundo passos, salienta-se a necessidade de povoamen-
nhos'de ovelhas, destinando-se os produtos sobretudo a vestir escravos to e ocupação do vasto território da América portuguesa, também
e índios administrados; no fim do sfculo XVII e começo do XVIII es- prejudicado pelo desvio para atividades fabris. Observe-se que a ar-
ses tecidos já eram vendidos em outras ár(:as. A emigração para as gumentação se faz inicialmente no plano prático (prejuizo da lavou-
minas, e sobretudo, no fim do século, a integração da capitania de ra e mineração), e se encerra no mesmo plano (danos para o comér-
São Paulo na economia exponadora através da produção açucareira, cio); a formulação teórica intermediária parece pois estabelecer o
fez diminuir os braços para aquelas atividades tradicionais. Ê sobre contacto, assegurar a passagem entre um e outro momento da argu-
esta situação que incide o alvará de 1785, e a sua atuação não podia mentação, dando-lhe consistência. E isto é tanto mais importante,
deixar de ser restrita. quanto o primeiro argumento refere-se mais especificamente à colô-
, Todas essas considerações reduzem em grande parte a visão, que nia, relacionando-se o terceiro mais diretamente com a metrópole. A
tantos aurores apresentam, dos efeitos das medidas proibitivas ema- produção manufatureira colonial, disputando mão-de-obra às ativi-
nadas da cone ponuguesa. É mesmo de se considerar que os estadis- dades primárias, faz decrescer a sua agricultura e mineração; isto
tas da metrópole andavam porventura pouco informados das condi- reflete-se negativamente no comércio metropolitano cujo volume se
ções da economia colonial, ao baixarem as proibições; porém não se restringe. Ora, sendo a verdadeira riqueza as produções da terra,
pode, como já indicamos acima. separar os dois alvarás (manufaturas justifica-se a proibição das manufaturas e restabelece·se a harmonia
e contrabandos) - ambos visavam a resguardar copdições para o in- que se ia rompendo.
cremento da Índústria metropolitana ponuguesa. Na realidade. esta O princípio teórico de inspiração fisiocrática - as produções da-
achava-se muito mais ameaçada pela penetração das economias euro- terra constituem a verdadeira riqueza(239) - formulado em senti-
péias mais avançadas de que Pelas posSibilidades de desenvolvimen- do excessivamente lato, e habilmente aplicado, permitiu pois ao
to manufatureiro da colônia. A proibição das manufaturas no Brasil legislador português articular o seu discurso com um mínimo de
era uma medida que tinha a seu favor as tendências estruturais ainda consonância, pelo mep.os aparente. Não é difícil porém desvendar-
persistentes na economia colonial brasileira. A contenção do comér- lhe as mistificações, pois 'J mesmo princípio se inverte ao incidir na
cio de contrabando. pelo contrário, enfrentava os impulsos mais vi- colônia ou na metrópole. Se quisermos prosseguir na análise, verifi-
gorosos do capitalismo industrial nascente, e por isso incapaz de caremos que o próprio enunciado se prestou a manipulações. Efeti-
-concretizar o seu desiderato. O comércio ilegítimo prossegue cres- vamente, a identificação dos produtos agrícolas com a verdadeira ri·
cente para o fim do século, rompendo enfim as barreiras com a aber-
tura dos ponos. 1:i"lIVeja·se, emJosé lnáno da Costa, o ~axJOmab segundo o qual se afirma que
"scm a cultura da tena as Artes nao podem florescer, e que sem as Artes, e a cultura,
o comér(lo não pode subsistir: por consequência que a agricultura é a primeira das
(238)U. Sérgio Buarque de Holanda CllminhOJ e Fronteiras, Rio de Janeiro, Artes, e a base fundamtntal das riquezas naóonais~. Memória agronômica relativa
1957, p. 251. ao concelho de Chavei (M.E.A.R.CL., voL 1,1789), p. 352.

274 275
queza não tem, na ftsiocracia. o sentido excludente dos demais setores Além do mais, como já indicamos, o principio teórico
que aqui se lhe empresta. O conteúdo do princípio, no contexto da metamorfoseia-se quando aplicado num ou noutro polo do pacto
doutrina, situa-se no n1vel teórico e não no prático. A ele chegaram colonial, pois o comércio de POrtugal para o Brasil que se quer incre-
os fisiocratas na procura da origem do excedente econômico (produzi metar compunha-se em parte de manufaturas. E a distinção, curiosa,
net), problema que os mercantilistas descanavam na medida em que entre trabalhos .úteis e vantajosos» e «diferentes» também aplica-se
suas análises situavam-se preferentemente no n1vel da circulação. de forma diversa quando incide sobre a metrópole (onde são úteis
Nestç plano, e considerando o comércio transação de valores desi- [anto a agricultura e a mineração quanto a indústria) ou sobre a colô-
guais (o comércio é uma forma de guerra entre as nações, dizia CoI- nia, onde só as fainas agr1colas e as lavras mineiras devem operar. E,
ben), a teoria mercantil simplificava o problema; o lucro, manifesta- teoricamente, é claro que a expansão manufatureira promove a pro-
ção exterior do excedente, advém das transações comerciais, da circu- cura de matérias-primas, legítimos frutos e produções da terra. Tais
lação portanto, atraves de vantagens concretas obtidas em detrimen- contradições acabam na realidade por dissolver aquilo que o texto
to do parceiro(240). Deslocando a análise pata o sistema produtivo, e quer preservar: <lO bem comum dos vassalos»; mas que acaba por re-
dando destane um passo decisivo no equacionamento do problema, velar: «destes Reinos e daqueles Dom1nio~. Há, portanto o .Reino»
a fisiocracia não podia deixar de se perguntar como é possível rema- e os «Dom1nios», e não se trata apenas de palavras(243), pois os prin-
nescer,do processo produtor dos bens econômicos, um excedente lí- cipios econômicos funcionam diferentemente num e noutros.
quido, pois que a produção não é em última instância senão consumo De qualquer forma, entretanto, é significativo o esforço em preser-
de riqueza que se transfi~ra reaparecendo sob forma nova. Apro- var a idéia de ~ma certa unidade de interesses, que só se salvaria pela
fundando embora o exame da questão, os ftsiocratas foram contudo complementandade; o que indica a presença, já em 1785, das idéias
incapazes de ultrapassar o universo material das operações produti- que depois seriam teorizadas com clareza por Azeredo Coutinho e
V3;S, não projetando por isso a gênese do excedente na trama das re- D. Rodrigo. Teoria. e prática do mercantilismo ilustrado corriam pa-
lações sociais(241); encaminharam-se deste modo necessariamente ralelas e se auto-estImulavam em meio a contradições e dilemas inso.
para a única solução que se lhes apresentava: apenas um setor da lúveis. Igualmente a presença incisiva do pensamento ftsiocrático in-
produção - as .produções da ter~ - pode gerar, graças à fenilida- sere o texto no corpo da teoria, eclética e contraditória como toda
de da natureza, esse"incremento I1quido da riqueza que é o exceden- postura reformista, do mercantilismo ilustrado. As contcadiões do
te econômico. Esta só categoria das atividades econômicas merece o texto são as contradiç?es inerentes à pol1tica colonial da Ilustração
nome de «produtiva», todas as demais são .improdutivas». Im- portuguesa, e ele porlSSO é uma expressão muito viva dessa mesma
produtivas, convém imediatamente acrescentar, mas não des- política. Parte desse todo, a proibição das manufaturas têxteis no
piciendas(242); importantes, porque úteis, as atividades comer- Brasil se articula com a política de desenvolvimento manufatureiro
ciais e industriais não perdem mérito aos olhos do pensamento ftsio- da metrópole que como vimos era pedra angular no esforço de recu-
crático. Este, em linhas gerais, o significado originário da preemi- peração, sem o qual seria impossível assimilar as próprias vantagens
nência da agricultura na teoria ftsiocrática, e não é preciso mais para do comércio colonial.
se convencer de que o alvará de 1785 lhe forçou o sentido. Efetivamente, nas condições de competição engedradas peja Revo-
lução Industrial, a preservação do mercado da colônia se tornava con-
dição indispensável para alicerçar a política manufatureira portu·
(24())U. Paul Hugon • Hutóri4 daJ doutrinas econômicas, 6 a ed., São Paulo.
19~9. p. 103.
guesa. Assim, um of1cio de 1797 ao vice-rei Conde de Rezende orde-
(241l(:f. Karl Marx - Huzoria critica de la teoria de la pluwaiitJ, trad. esp., México, nava que se procurasse «aumentar nessa_capitania, quanto puder, o
,1945, v, I, pp. 101-103. E. Roll - Hutory ofEconomic Thought, Londres, 1956, uso, e consumo de todas as produções naturais, e manufaturadas des-
1955, pp. 128-130.
{242Jcf. ch. Gide e Ch. Rist - HiJtoire des doctrines économiques, 7." ed., ParIS, II.J3JQ 1eltor tera> nota d
o,ia> I' . -.
laS, que o termo .(0 oma» ocorre em vanos textos da
1959. t. I, pp. 12 segs. época, que temos ótado ao longo deste trabalho.

276 277
te Reino, e que V. Excia. use todos os meios (exceto os da violência)
novo a entrada de manufaturas francesas, que estavam proibidas,
para conseguir este tão útil como desejado fim, distinguindo e favo-
mas determmava-se que se calculassem os devidos direitos(252). A ex-
recendo mui particularmente os que introduzirem e consumirem~
tais produtos, 4:recomendando-os na real presença de S.M. a fim de portação de chapéus grossos das fábricas nacionais era, por outro la-
que os mesmos recebam graças e favores~; em contrapanida, devia do, estimulada com isenções(253); as louças tinham isenção de direi-
toS nas alfândegas do Ultramar<254). Assim, todos os aspectos da polí-
também «promover para o Reino a maior exportação possível de todos
os gêneros e produções desta capitania, a fim de que da mútua troca tica tarifária protecionista eram aplicados.
dos gêneros e produções resulte maior riqueza e felicidade de todos os Sucedem-se as concessões de privilégios e vantagens de vários tipos
para incrementar as indústrias: alvará de 13/11/1780 isenta de direi-
ditosos v~alos de S.M. q~e ?esejava estender sem diferença alguma
lO~ para importar peles e concede privilégio exclusivo por dez anos
a suas beneficas ~ pate.mals VIStas a todos os seus vassalos, pelos quais
tem o meSmo e Igual tntercssCl>. Na mesma conformidade se oficia- para fábrica de Ana Gertrudes Paula(255); em 11/12 do mesmo ano
va a todos os governadores. Todos os anos deviam 4:dar conta do que ampliam-se concessões às fábricas de vidros de Marinha Grande(256);
houverem praticado para executar esta real ordem»(244). em 1783, o alvará de 13/11 dá privilégios à fábrica de estamparia de
Torres Novas(257); o decreto de 24/4/1784 amplia privilégios já con-
A polU.ica de industrializoção, iniciada pelo marquês de Pombal,
cedidos às fábricas de pentes de marflm, caixas e verniz(258); em
ptossegula, portanto, no período seguinte. Já nos referimos às isen-
ções à entrada de matérias-primas. A saída de matérias-primas por- 1788, são as fábricas de lanifícios <terigidos ou por erigir,. que rece·
tuguesas, pelo contrário, era dificultada{245}. Por outro lado bem graças, privilégios e isenções(259); em 8/1/1791, a fábrica de sê-
erguiam-se barreiras tarifárias à importação das manufaturas estran~
da estabelecida na Guarda recebe as vantagens de que gozam as de-
mais(260); em 1792 as agraciadas são pescarias e salinas da Madeira,
geiras: o alvará de 13/7/1778 taxava a entrada de pólvora estrangei-
incorporadas em companhia proposta por T. Eduardo Watts(261) em
ra, com o fim explí~t?, de favorecer a fábrica de pólvora(246); o de
20/12/1793 a fábrica de louças do Porto tem seus privilégios prorro-
1~/1~/1783 s6 per?l1t1a a entrada de louça, enquanto as fábricas na-
gados ~r 10 anos(262); as de vidro têm mesma prorrogação em
CIO~~ não.produzlssem à se':Ilelhança(247); a resolução de 27/7/1785
prOIbia a unportação de vlflagres estrangeiros(248J; o decreto de 1794(2 3); a fiação e tecelagem de algodão eram protegidas em
1797(264); as fábricas de vidro voltavam a ser agraciadas em
14/2/178G inibia a entrada de todas as meias de seda de qualquer
1799(265); em 1802 legislava-se para fomentar a metalurgia de To-
cor, com exceção das pretas(249); em 2/8/1786 impedia-se a entrada
de fitas de qualquer qualidade(250); em 6/5/1787 ordenava-se a (!)!JDecreto 12/12/1801. Delgado da Silva, vol. 1791-1801, p. 766.
~preensã? das manufaturas estrangeiras que se tentassem (lS)JAlvará 517/1793. Delgado da Silva, vol. 1791-1801, p. 148.
lfltroduzu()51); em 12/12/1801, em razão da paz restabelecida (2H)Alvará 15/2111792. Delgado da Silva. vol. 1791-1801, p. 164.
(tratado de Badajoz) e provavelmente sob pressão, permitia-se de (2~})Aragão Morato, vol. XXIII, doc. 82.
(2%JA1vará 11/12/1780. Delgado da Silva. vol. 1775-1790, p. 289.
(244JOfício de 2417/1797. A.H.U. çód. 573, f. 244v. (2}7JDelgado da Silva, vol. 1775-1790, p. 345.
(.24~)Alvará 22/10/1788: proibindo a saída e isentando a exponação dos marro- (l58)Delgado da Silva. vol. 1775-1790, p. 357.
qUlnos e wrdonés das fábriCas nacionais. (2~9)Alvará 30/6/1788. Coleçio de Leis, DecretoS e Alvarás (Museu Paulista), D.
(246JAlvará 13/7/1778. Delgado da Silva - Coleção de legislação, vol. 1775-1794. Maria I, 1777:1788. f. 396. Também alvará de 3/7/1788, privilégios e isenções às
p. 168. fábricas de Cascais, Covilhã e Celoriw. Delgado da Silva, vol. 1775-1790, p. 524.
(l4:')Alvará 10/12/1783. Arag;lo MoralO - Coleção de legISlação impres.ra e miJ"uJ- (260)Alvará 8/1/1791. Delgado da Silva. vol. 1791-1801, p. 1.
crila, vol. XXIV. doe. 31. (26\JAlvará 20/11/1792. Delgado da Silva, vol. 1791-1801. p. 86.
(l4l!iColeçaõ de Leis, Decretos e Alvarás (Museu Paulista), D. Mari<j. I. vol. de (262JDelgado da Silva, vol. 1791-1801, p. 160.
1777-1788, f. 243. (263)Decreto 7/5/1794. Delgado da Silva, vol. 1791-1801, p. 178.
(24'J)Cf. Delgado, vol. de 1775-1790, p. 392. (2"64)Alvará 7/4/1797. Coleção de Leis, Decretos e Alvarás (Museu Pau.li.sta),. D.
(2:;O)Decreto 218/1787. Delgado, vol. 1775·1790, p. 404. Maria I, 1782-1792, ff. 440 segs.
(2:>I)Edital6/5/1787. Arag;lo Morato, vol. XXIV. doc. 151. (MJAlvará 7/10/1799. Aragão Moraw, vol. XXVIII, doc. 110. Delgado, 1791-
1801, p. 586.
278
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mar Figueiró(2661; no mesmo ano se davam condições para estabele- mulada a instalação das fábricas de ferro. Esta posição do governo
cimento de fábrica de pape1(267l; em 1805, estabelecimento de no- metropolitano parece ligar-se à necessidade de desenvolver a siderur-
vas fábricas de fiação de linho, algodão e lã(268). gia para poder estimular a mineração; especialmente, foi de grande
A política de fomento manufatureiro não se faz sentir apenas no relevo a ação de Manuel Ferreira da Câmara Bittencoun e Sá - o fu-
setor tarifário e nas concessões de graça e privilégios. O alvará de turo intendente - junto a Dom Rodrigo de Sousa Coutinho no sen-
5/10/1792 inibia, a penhora de teares e instrumentos do fabrico de tido de se promover na colônia essa indústria(275).
sêda(269); a provisão de 12/10/1790 estimulava a comercialização, Os estudiosos da mineração, no quadro do movimento ilustrado,
criando fundos para mercadorias(270); e a política de saneamento fi- tinham insistido em apontar o atraso da técnica como um dos fatores
nanceiro já referida também funcionava na ampliação do crédito. A do declínio do ouro, e a escassez do ferro era um dos motivos de tra-
intervenção do estado, às vezes era mais direta(271); mas a orientação vação do desenvolvimento das técnicas de lavrar as minas(276). Ape-
mais constante do período parece ter sido no sentido da privatização: sar de o governo manter a desconfiança de que aos descaminhos se
um epareceb, guardado na Biblioteca da Academia de Ciências(272), devia a redução dos quintos, a pouco 'e pouco se encaminhou tam-
discute cO destino a ser dado a diversas fábricas estabelecidas no Rei- bém para uma política que procurasse dotar as atividades mineiras
no», e preconiza claramente a sua passagem aos paniculares. J. Rat- de uma lastro de manufaturas de ferro. Já Dom RodrigoJose de Me-
ton, empresário que acompanhou todo o esforço manufatureiro des- nezes, que governou as Minas de 17BO a 1783, numa «exposição» de
de a época de Pombal, lembra que as fábricas instaladas pelo estado, 1780 dirigida ao ministro Maninho de Melo e Castro, propunha «um
«depois continuaram sem os socorros pecuniários dos cofres novo estabelecimento que à primeira vista parece oposto ao espírito e
públicos»(273). São, de fato, numerosas no per1odo de D. Maria I e sistema da administração desta capitania, mas que bem examinado se
do Príncipe Regente as passagens de industrias do estado para os conhece pelas razões, quanto a mim, as mais sólidas, e convincentes
panicularef274) . de sua utilidade»(277). Tratava-se do estabelecimento de uma fábrica
É no quadro desta política econômica que se proibiam no Brasil as de ferro, pois «se em toda a pane do mundo é este metal necessário,
manufaturas de tecidos. No entanto, foi nesse mesmo período esti- em nenhuma o é mais que nestas minas»(278). Ede destacar-se nesse
texto que o próprio governador reconhece que, dentro da mais estrita
(l66lAlvará 301111802. Col. Leis, Decretos e Alvarás. Regente O. João, vaI. 11, ff. política colonial, a norma seria não se estimular na colônia tais indús-
2941312. trias; mas as circunstâncias impunham-na. «Pela primeira vez», diz
(267)Alvará 2/8/1802. Aragão Moraro, vol. XXIX, doc. 213. Col. Leis. Alvarás,
PltnCipe D. João. vol. lI, f. 40~. Calógeras, referindo-se à exposição do governador das Minas(279),
{26111Alvuá 18/9/1805. Col. Leis, Dtttetos, Alvarás, Príncipe Regente vol. IV, f. «advoga um representante de Portugal a criação desta indústria nova
310. com argumentos econômicos e políticos».
(269)Iklgado da Silw. voI. 1791-1801, p. 83.
(270)odgado da Silva, 1775-1790, p. 623.
(271 lExelnplo: Alvuá 5/1/1781 mandando a junta das fãbriC2S adminisuar as de
Ianif'JCios. 12-'ílCf Marcos Carneiro de Mendonça _ O Intendente Câmara, São I'aulo, 1958,
(2721A.C.L. Ms. 310. pp. 52 . ')4, 67 - 70.
(m~ácome Ratton -Recort/4ções... (1747-181O), 2~ ed., Coimbra. 1920, p. 97. {276Jcr as memórias citadas de José Viena Couro. Elol OtronJ, Pontes Leme,
Correspondência de Ratton, in N.O. Alcochete, BrJ/etm MS él1lMs poTtllgllises, Esçhwege.
XV, 1964. {r7lExposlção dt 4/8/1780. In M. Carneiro de Mendonça - O Intendente Câma-
(274Jos exemplos abundam nalegislaçio: alvará 29/3/1783, passa a paniculares ra, pp. 72-73. e H. Ferreira Lima - Formação indu.Jtrial do Braúf (período colonial),
os lanif'tdos de Ponalegre (coI. LO.A., voI. m, f. 417); 29/3/1788 renovam-se as RIO deJanmo, 1961,.ip. 132-134.
mesmas entregas, por 12 anos (Aragão Morato - CoIefão de legisf,,;ão, vol. XXV, (2~HJExposição 178010 M. Carneiro de Mendonça - O J';tendente Câmara, pp. 72-
doc. 13); a 3/6/1788 os l~ de Covilb e Fundão passam a uma companhia de 73.
negociantes (Delgado da SiJ.vi - CoIe;40 de ugisÚfio Portuguesa, vai. 1775-1790, (27~Jcr P. Calógeras _ AJ minaJ do Bra.ril e ma legiJlação, Rio de Janeiro, 190). r,
p. HO), etc. lI, p. 52,

280 281
Do mesmo ano são as Instruções que, para o governo da capitania chumbo na região do rio Pisco(284). No ano seguinte apareceria no
de Minas Gerais, redigiu o desembargador). J. Teixeira Coelho(280); segundo tomo o estudo de Arruda Câmara sobre a exploração do car-
ali se insiste na pobreza dos mineiros, na dispersão das empresas, nas vão de pedra(285) e o de José Martins da Cunha Pessoa sobre as fábri-
técnicas deficientes como sendo os motivos principais do estado de cas de ferro de Figueiró(286), e Vandelli estudava «o modo de apro-
decadência. Não parece despropositado supor que o governador te- veitar o carvão de pedra e os paus betuminosos deste Reino:.(287). No
nha tomado conhecimento das idéias de Teixeira Coelho, e da medi- fim do século, solicitam-se os estudos de José Vieira Couto sobre as
tação em busca de soluções resultou o alvitre de se desenvolver a si- Minas do Brasil(288). Os estudos sobre mineração e os incentivos para
derwgia. Não eram porém, novas as idéias a respeito da exploração desenvolver a exploração mineira estavam pois dentro das vistas do
do ferro na colônia; desde o século XVI tentativas tinham sido feitas. movimento da ilustração porruguesa; estes estudos e estes estímulos
os resultados porém nunca tinham sido compensadores(281). envolveram uma política de incentivar também as fábricas de feero
No quadro do movimento ilustrado, desenvolvem-se os estudos em Portugal e no Brasil.
mineralógicos Oosé Bonifácio, Manuel Ferreira da Câmara, José Viei- Daí a receptividade que acabaram por encontrar os esforços de
ra Couto, etc.) com vista a dinamizar as explorações na metrópole e Manuel Ferreira da Câmara.)á em 179; expediam-se instruções aos
U1tramar.)á no primeiro volume da Memórias econômicas do Aca- governadores das capitanias do Brasil, onde se estabelecia que «5. M.
demia (1789), D. Rodrigo de Sousa Coutinho discutia os aspectos tem observado com desgosto que umas colônias tão extensas e fér-
propriamente econômicos da mineração, e mostrando em que con- teis, como são as do Brasil, não tenham prosperado peoporcionalmen-
dições as minas podem ser úteis a um estado; a idéia principal era a de em, povoação, agricultura, indústria», atribuindo tal fato a «alguns
que para poder aproveitar os efeitos positivos da mineração necessita- defeitos políticos, e restrições fIscais se tem oposto até agora aos pro-
va o país de industcializar-se(282). Ou noutros termos, os efeitos da gressos». Tais seriam «O monopólio do sal, os grandes direitos impos-
exploração mineira eram danosos quando incidiam em país desprovi- tos sobre o fereo, e outros não menos gravosos sobre a introdução dos
do de manufaturas. Essas idéias de Dom Rodrigo, expressas já em escravos». Encaminhavam-se resoluções: «que o monopólio do sal
1789, parecem decisivas para se entender a aparente contradição da haja de cessar em todo o Brasil, logo que se extinguir o contrato, e
política colonial que ao mesmo tempo proibia as manufaturas de teci- que este comércio fique livre para todos os colonos, e francas as sali-
dos e incentivava as fábricas de ferro. No próprio quadro da política nas que se puderem estabelecer neste continente», medidas que co-
industcialista metropolitana, abriram-se, segundo as vistas do futuro mo sabemos só se concretizaram defInitivamente em 1801. Por outro
conde de Lnhares, condições para tornar vantajosos os efeitos da mi-
neração; logo, na medida em que se processava o surto manufatureiro São Miguel. MemóTÚIJ Econômicas do Academia Real dtJs Sciencias de úsboa, vaI.
português, cabia incentivar a mineração do ouro na colônia; e para is- I, pp. 2')9·2.3.3.
\2H~ICr João Bo(elho Almeida Belrrão _ Memória sobre a mina de chumbo do R10
so, era indispensável incrementar a siderurgia no Reino e nos Do- PISCO. Memónas ECOnÔmlCJl da Academia Real das SnenClllJ de LIsboa. vol. !, pp.
mínios. 401·406.
Ainda em 1789, no primeiro volume das memórias, estudava-se a \!H'j)Cf, Manuel Fe(relfa da Câmara· ObservllÇóes feitaJ llCenu do caroiio de pe·
fábrica de pedra hume da ilha de São Miguel(283) e a exploração do dra. MemónJJ EconômlcaJ da Academia Real das Snennl1J de LISboa, vol. 11, pp.
28')·294.
12HI'lcr José Marrlns da Cunha Pessoa· Memrínd sobre JS fábnraJ de ferro de FI·
(2l«I'cr) -J . Teixeira Coelho -lmt17lçóes para () governo da capltama de Minas Ge· guelró. MemónaJ Ecun(mll((Ij da AcademlJ ReJI dllJ SerenCMJ de Lisboa, voI. 11, pp.
rms (1780). R.l.H.G.B., L XV, pp. 373 segs. 383·3iU.
\2HI ISôbre a~ explorações do ferro em São Paulo nos ~(Ulos XVI e XVII, cr Sér. !2~-ICf, D Vanclelll' J1anóna jobre o modo de aprovnt<lr" carvJo de pedru.
glo Buarque de Holanda· CamlnhoJ e Frvntemu, São Paulo, 1957, pp. 186 segs. M.E.A R. Se. L, vol 11. pp. 434·4,,6.
12H2Jcr Rodrigo de Sousa Coutinho - Memóna sobre a verdádC/ra influêncUJ das !2HHI«Fol·me estimado em nome de Vossa Majestade .. que desse uma exata rela·
Minas de metais preciosos na indústria das naçôeJ que flspossuem. M.E.A.R. Se. L., ção dos metais desta romar('a, e dos Interesses régiOS que das mesmas se poderiam
vaI. I, pp. 2-'7·244.
eSptrah.}. Vieira CoUIO • ,'l-femÓTIJ.' sobr" oi capitama de MlnaJ Gerais (1799).
!2~\ICf. João Antonio }ud(c{' . Memória sobre a fábnca de pedra hume da Ilha de R.l.H.G.B., t. XI (1848). p. 289.

282 283
lado, &tem Sua Majestade resolvido, em segundo lugar, que em todo nérica de todo e qualquer tipo de indústria; subordinava, pelo con-
. o continente do Brasil se possam abrir minas de fC!ro, se possam ma- trário, proibições ou incentivos, ao plano mais geral de desenvolvi·
nufaturar todos e quaisquer instrumentos deste gênero, mas que pa- mento em que julgava possível integrar, superando as contradições
ra suprir o desfalque que uma semelhante liberdade possa ocasionar inerentes ao Antigo Sistema colonial, o progresso da metrópole e da
nos reais direitos, é a mesma Senhora outrossim servida ordenar que, colônia. A postura reformista era aliás a resposta à crise: esta se ma-
ouvindo V.S. as câmaras desta capitania, haja de assentar com elas nifestava no agravamento das teOSÕes do sistema em todos os níveis,
em uma tarifa moderada dos direitos que um semelhante gênero de- e na emergência do antagonismo. A política da Ilustração, por seu
verá pagar nas fábricas do pâís,logo que alí se pwer em venda, tanto turno, entendia ser possível preservar o sistema reformando-o até o
pelo que respeita ao ferro bruto, como daquele que se vendet já ma- limite máximo de suas fronteiras, e pois postulava a harmonia do in-
nufatruado para instrumento de agricultrua, e outros utens1lios do- teresse das partes.
mésticps.(289). Passava-se, pois, claramente, para o incentivo. No que respeita particularmente ao setor das manufaturas, e em
Neste sentido, a cana régia de 1918/1799, tratava com o conde de especial da exploração e industrialização do ferro, era este ramo visto
Rezende sobre o estabelecimento de uma fábrica para «fundir e coar como essencial no processo de industrialização da metrópole, que
ferro.(290). Ao governador da -Bahia, idênticas sugestões em dele carecia, não dispondo de produção suficiente para auto-
12/7/179<)(291). Em 1803, D. Rodrigo de Sousa Coutinho estimula- abastecer-se(2%); assim, sobre as fábricas de ferro, podia.se fazer o
va o governador de São Paulo e recuperar a fábrica de ferro de Ipane- mesmo raciocínio de Azeredo Coutinho sobre o trigo: a produção co-
ma_ Os resultados porém não fotam anitnadores(292). Nomeado Fer- lonial independizaria a metrópole das importações contribuindo pa-
reira da Câmara em 1800 intendente das Minas, as instruções que- ra o objetivo mais geral do programa do mercantilismo ilustrado, a
trazia, assinadas por Dom Rodrigo de Sousa Coutinho, indicavam posição favorável no comércio internacional em face das OUtras na-
que já na Bahia devia «visitar todos oS distritos onde possa haver mi- ções. Note-se que, no caso do trigo, a diretriz não se conseguia im-
nas de oruo, prata, cobre ou ferro.(293) _ A correspondência posterior por dada a resistência dos agricultores metropolitanos, pois as searas
atesta os esforços do grande mineralogista(294): somente em 1807, formavam o centro da agricultura portuguesa; a siderurgia, incipien-
porém, é que tomaria posse no cargo. Assim, somente depois da vin- te e de menor peso no conjunto da economia metropolitana, depen-
da da Cone é que se encetaram medidas concretas para o estabeleci- dia do patrocínio do Estado: aqui impôs-se a diretriz da política eco-
mento de uma siderurgia de real significado econômico(29~). nômica que dominava nos meios governamentais.
De qualquer forma, no plano da política econômica, fica claro Tais as linhas gerais do pensamento e da ação da pol1tica econômi·
que a orientação do governo metropolitano se orientou no fun do sé- ca colonial da época ilustrada luso-brasileira; tentemos, agora, ava-
culo XVIII no sentido de incentivar a fabricação do ferro no Brasil. A liar os efeitos de sua formulação e aplicação.
política colonial da época ilustrada não visava, pois, a proibição ge-
3) Resultados
( 289)instruçõesde Luis pinto de Souza Coutinho aos governadores das capitanias
do Brasil. 27/5/1795. In Documentos Interess4ntes, v. XXV, pp. 133·135. a.). P.
Ca16geras, op. cito 11. pp. 5~·56. Marcos Carneiro de Mendonça. op. rit., pp. 174· Para faze-lo, não podemos. evidentemente, nos limites de um es-
17~. Heitor Ferreira Lima, op. rit .. p. 13~-136. tudo cujo tema central é a política e não a evolução econômica, pro·
(290JA.H.U., cód. 202. f. 12. ceder a uma análise exaustiva da economia ponuguesa e brasileira no
291
( lCanaRégia 121711799. R.I.H.G.B., t. IV, p. 403. fim da era colonial. Contudo, dispomos, pelo menos para a última
(292lCf. Emanuel S. Veiga Garda· .. A real fábrica de SàoJoão de Ipanema., Reli. etapa do período, que é quando a política que vinha sendo executa-
de Hist. (S.P.) n. lI, 1952, p. ~7.
(m)lnstruções (1800), in M. Carneiro de Mendonça - Op. cit., pp. 87-91. da podia já apresentar seus frutos, de um indicador seguro de movi-
(294)a. M. Carneiro de Mendonça. op. cit., pp. 91 segs.
(295la. Francisco de Assis Barbosa - D. João VI e a Jtdef"llrgia no Brasil, R. de)., (2%lCf. A. Balbi _EsJai statistique Jur te Royaume de Portugal et I"Algarve, I, pp.
1958, pp. 42-54. 132·133.

284 285
mento no conjunto: as balanças de comércio(297), através das quajs '?
comparações. Assim, 1796 torna-se o ponto ~e panida. o~tro ~ar­
podemos analisar os fluxos mercantis entre colônia e metrópole e co, que indica nitidamente um ponto de lO~exão, é. lO?ISCUtIVel-
desta com os países estrangeiros. Note·se que era.p~ra o entrel~a~a­ mente 1808. Avançamos_ até 1811 para enfatizar o SIgnificado de
mento e interdependência que se voltavam os obJetIVOs da polttl~a 1808 (abertura dos portos). Cumpre notar que evidentemente este
econômica do mercantilismo ilustrado em Portugal; portanto, nao marco cronológico tem sentido diverso para o Brasil e Portugal, mas
estamos apenas diante de um indicador entre outroS, mas dispomos para ambos é significativo: o comércio brasileiro se orienta em novas
de um prisma altamente estratégico para aquilatar os resul~ados da bases, em contacto direto com a Inglaterra sobretudo; para o comér-
política dos Ilustrados .no encam~h~ento da ~~)fiOmla luso- cio português, este ponto implicou um enorme rebaIxamento das
brasileira na época da (me do colomahsmo I?er~antll~ta .. atividades. Portanto, o período 1796/1808 possui de fato cena uni-
Algumas observações. contudo, se tornam md1SpensavelS a ftm de dade: é a última etapa do comércio brasileiro dentro dos quadros do
se esclarecer as limitações dessa documentação e do tratamento ana- Antigo Sistema Colonial. Justifica·se, assim, a análise mais aprofun-
lítico a que a submetemos. De ~ato, nem todas as ativida~es mercan- dada desse conjunto.
tis conStam das balanças. ObViamente, elas apenas regIStram o co-
mércio lícito, ficando fora da sua contabilidade, pela sua própria na- a) Êxitos
tureza o extenso contrabando que nessa fase se avoluma nos portos
brasileiros. Por outro lado, também o tráfico negreiro, por se realizar I - Atentemos, em primeiro lugar, para o movimento de im-
diretamente entre África e Brasil, não entra nos seus cômputos. En- portação e exportação de Portugal com as colônias (gráficos e ta-
fim, não procedemos a um levantamento exaustivo dos dados ofere- belas 1, 2, 3) e de POrtugal com as nações estrangeiras (gráficos e t~­
cidos por esse riquíssimo núcleo documental; trabalhamos ~penas belas 7, 8); examinados em conjunto, indicam claramente um mOVI-
com os balanços globais de cada ano, isto é, c~~ as tabelas de lmp?r- mento ascendente, apesar de cenas flutuações momentâneas. No co.
tação e exportação de Portugal com os «domlfllos:, e com as «naç~es mércio de Ponugal com suas colônias (tabela I, 2, 3), as importações
estrangeiras.. Essas limitações entretanto não impedem que as sér~es crescem entre 1797 e 1807, a 6% ao ano; as exportações de Portugal
de dados estatísticos permitam uma análise que indique as tendênCIas para as colônias crescem de 20% ao ano entre 1797 e~ l~OO; decres:
dominantes do comércio luso-brasileiro do período de 1796 a 1808, cem depois, até 1806, a 6,5% ao ano: no cômputo medIo, a curva e
isto é, a última etapa da sua fase colonial. As balanças d~, 1?76, ascendente, pois cresce a 1,6% ao ano. Logo, a tendência geral era
1777 e 1778 não são tão completas, sobretudo as duas pnmeuas, para o crescimento das transações, mas o fluxo da colônia para a me-
dando a impressão que as balanças foram se aperfeiçoando ao longo trópole foi mais regular que o da metrópole para a colônia. Observe.
dos anos(298 ). Ficando fora da série contínua, excluímo-Ias de po~s se também, que há um período de flutuações até 1800, quando se
gráficos e tabelas, deixando os seus dados para ponto de referencla e fixam as tendências ascendente das importações (colônia-metrópole)
e descendente das exportações (metrópole-colônia). No conjunto,
(297 l&Jança geral do commercio do Reyno de Portugal com.o.J S!US Dominio.s UI- porém, configura.se claramente uma conjuntura de prosperidade do
IramllTinos e nações estrangeiros no anno ... elabo~das so~ ~ direç~o de Mau(~lo Jo- intercâmbio colonias-metrópole, no período.
sé Teixeira de Morais, que redige os comentários mtrodutonos. EXIStem coleçoe~ ~m Se observarmos, agora, as relações Portugal-nações estrangeiras
várias bibliotecas e arquivos (Vide Bibliograíta). Combinando os aç~rv?S de.var~as
inslÍtuições. pode-se recompor a série completa. Cremos que A. Balbl fOI o pnmerro (gráficos 6, 7, 8) as características antes apontadas (tendência cres-
a usas essas estatisticas no seu famosoESJi~i Slatisliqlle SrtT te Royau.me de .p'ortugal ct cente das transações) são ainda mais marcantes: também há .uma
d'A/garoe, Paris, 1822. Auavb de Balbi?u diretam~_nte nos çÕl.hçes. utlhzaram es- fase de flutuaÇ.Ões até mais ou menos 1800, sucede uma fase maIS es-
sas fontes, entre outros, Viçente de Almeuia Eça,Juhao Soares de Azevedo, Fernan- tável até a brusca flutuação de 1808. Entre 1796 e 1806, as importa-
do Piteira Santos, Jorge Borges de Maçedo. ções portugueses cresceram à média de 2,2 por .cento ao ano, e no
(2'J
H
1or ge de Maçedo mençjona também a balança de 1789, ó. O bloqueio conti- mesmo período as exportações cresceram à médIa de 6,2%. Fora~
nental, economia e glleml peninsular, Lisboa, 1962. pois mais estáveis as relações entre a metrópole e as nações eStrangeI-

286 287
ras que entre metrópole e colôni~ o q~e é .evidentemente digno de 9). O período de estabilização, 1800-1807, define uma situação na
atenção. Também. portanto, no mtercamblO entre Ponugal e as na- qual a curva de exportação está sempre acima da de importação, isto
ções estrangeiras configura-se o período como uma conjuntura prós- é. o período de estabilidade defmiu-se pela tendência superavitária
pera. . . do comércio português com as nações estrangeiras. Isto fica claro nos
Fixemos. portanto, as constatações maiS Imponantes do exame gráficos e tabelas 9 e 10 que marcam primeiramente déficits e supe-
das tabelas e gráficos gerais das imponações e exponações entre Por~ rávits anuais e depois (gráfico 10) acumulam esses resultados. Logo,
tugal e suas Colônias e as Nações Estrangeiras: em primeiro lugar, o no conjunto, foi para o superávit·a tendência global do comércio
movimento conjunto, expresso nas curvas, marca nitidamente uma porruguês com as nações estrangeiras na última fase da época colo-
conjuntura de prospen·dade, pois a tendência ascendente é clara. Em nial. Retomando as observações feitas até aqui, podemos portanto
segundo lugar, foram mais estáveis as relações entre a Metrópole e as afirmar: num quadro geral de expansão das relações mercantis, Por-
Nações Estrangeiras que entre ela e suas colônias. Noutros termos, o tugal tendia a ter comércio deficitário com as colônias e superavitário
comércio internacional de Ponugal teve mais regularidade que o seu com as demais nações; o movimento comercial com as nações estran-
comércio colonial, o que é de ceno modo surpreendente. Em tercei- geiras teve maior estabilidade do que o comércio colonial; no côm-
ro lugar, o exame das várias curvas indica, no período, uma fase de puto geral, contudo (gráficos e tabelas 42 e 43) as vantagens do co-
flutuações, seguida por uma relativa defmição de tendências. mércio ~externo. superavam as perdas do comércio <l:coloniak, e a
tendência geral era superavitária. Por OUtro lado. se consultarmos as
11 - Analisados os movimentos gerais, detenhamo-nos agora balanças de 1776 e 1777, isto é, do fun do período pombalino. e a
mais de peno no exame do comércio da metrópole com suas co/ô- de 1787, o que se constata é uma situação inteiramente diversa. Em
nias. A tabela e gráfico 3 mostram o cruzamento das curvas de un- 1776, PPrtu~l era superavitário no seu comércio com as colônias
ponação e exportação. Fica claro que a? peclOdo de flutuações .cor- (saldo de 1.177 .159$491), e deficitário em relação às nações estran-
responde a uma indefinição de tendênCia, a que se segue, .a panlI de geiras (déficit de 1.795.390$386), sendo pois a balanç~ global leve-
1800 um permanente superávit das colônias sobre a metrópole. lo- mente deficitária. Em 1777 a situação mantém-se: supéravit de
go, o período de estabilidade coincidia com a te!1~ência deficitária 545.329$256 em relação às colônias, déficit de 1.492.427$195 em re-
do comércio metropolitano em relação às sllas colomas. Noutros ter- lação às nações estrangeiras; o resultado .final, aqui, fortemente
mos, flutuações significaram variação entre déficits e superávits; esta- desfavorável. Ainda em 1787 a posição de Portugal é deficitária em
bilidade significou vantagens às colônias. Tais obser:vações se t.?r!lam relação às nações estrangeiras (não localizamos o balanço dêste ano
nítidas no gráfico e tabela 4 onde se apontam déficltS ~ s~perav~ts, ~ com as colônias). Pode-se, pois, inferir que a inversão nas tendências
no gráfico e tabela 5 onde eles são acumulados; nesse U~(1~O a tecn~­ fundamentais na balança de comércio portuguêsa deu-se no período
ca de acumulação revela na curva, claramente, a tendencla a panrr que medeia entre 1787 e 17%.
de 1800. No período final do Antigo Regime, ponanto,
dGSenvolveu-se uma acentuada tendência de o comércio de Portugal
ser deficitário com suas colônias: esta a constatação mais imponante IV - Retomemos, pela segunda vez, o comércio de Portugal com
do exame do intercâmbio comercial entre Portug.al e o conjunto de as colônias; fixemo-nos nos gráficos e tabelas 11, 12, 13, 14, 15, 16 e
suas colônias. 17: êles nos permitirão situar a posição do Brastl neste conjunto. O
gráfico e tabela 11 indicam a curva total de importações das colônias
para a metrópole, a curva das importações do Brasil (para Portugal), e
III - Voltemos agora ao comércio de Portugal com as nações es: finalmente as demais colônias. Fica, óbviamente, .ressaltada a posição
trangeiras. O gráfico 8 mostra o cruzamento das curvas de importa- preeminente do Brasil dentro do con'junto. O gráfico e tabela 12 dão
ção e exportação. Também aqui o período de flutuações (até 1800) os valôres percentuais dessas importações; os produtos brasileiros for-
coincide com momentos de déficits e superávits (vide gráfico e tabela mam entre 1796 e 1807,83,7% das importações portuguêsas vindas

288 289
das colônias. O gráfico e tabe.la 13 apr~e~1tarn as curvas de eXp?r~ação v - A exemplo do que fizemos com relação ao comércio de Por-
(da metrópole para as coJôOlas) descnmmando o to~al,.a poslçao do tugal com suas colônias, retomemos agora a análise do comércio de
Brasil, e das demais colônias. O gclfico e tabela 14 m~h~am ,?S v.al~­ Portugal com as nações esuangeiras, para demarcar, neste caso, a po-
res percentua~s das impon:ações portuguesas para as COlo.Olas diSCcum- sição da Inglaterra. Ela fica indicada nos gráficos e tabelas 23, 24,
nando a posição do Brasd: entre 1796 e 1807, o BrliSd. rece~el! em 25, 26, 27 e 28. No que diz respeito às imponações portuguesas a
média 78,4% das exportações portuguêsas. Logo ~ Brasil partlClpava posição da Inglaterra vem indicada nas curvas do gráfico 23; com re-
com 83,7% das importações portuguêsas e recebia 78,4% .das suas lação as exportações portuguesas a posição da Inglaterra vem indica-
exportações com as colônias. A primeira constatação é, po~, que o da no gráfico vinte e quatro. Em ambos OS casos percebe-se clara-
pêso do Brasil no intercâmbio de Portugal com suas co/amas era d~ mente a posi~ dê destaque dessa nação no quadro do comércio in-
tal ordem que tornava quase que inexpressiva a posição das demaIS ternacional ponugues; o gráfico 22 indica que este comércio se de-
colônias portuguesas. Se examinarmos agora o gráfico e tabela 15, senvolve com 12 nações. Atendendo a isto vê-se bem a importância
onde está indicado o cruzamento das curvas de importação e expor- do comércio anglo-português; e o gráfico e tabela 25 indicam-na da
tação do Brasil com Portugal, a tendência superavitiíria desta colônia maneira mais concreta: de fato, Portugal importa da Inglaterra em
em relaçao li metropole, fica cl~ente expressa. Os ~ráficos e tabe- tôrno de 40% do conjunto de suas importações, e exporta para ela
las 16 e 17, que indicam pontos de déficits e superáv.lts e ~eus resu~­ numa porcentagem ainda mais alta. Entre 1796-1807 a posião da In-
tados acumulados do comércio entre POrtugal e Brasil, deIXam maIS glaterra nas importações portuguesas oscilou de um mínimo (excep-
clara esta constatação. Os gráficos e tabelas 18, 19 e 20 analisam im- cional) de 14,5% a um máximo de 45,2%; no mesmo peélOdo a In-
portação e exportação de Portugal com as demais colônias, isto é, glaterra consumiu exponaçôes portuguesas numa proporção em rela-
com exclusão do Brasil. O nível baixo das curvas no gráfico 18 ex- ção ao total que oscilou mtre 30,5% e 51,3 por cento. Em média pa-
pressa a pouca significação dess;c comércio no cômputo g~ral. Mas o ra o período de 1796 a 1807 a Inglaterra participa com 34·% nas im-
mais importante a destacar aqUi é que neste gráfico (dezoito) a curva portações e para ela se dirigiram no mesmo período 39% das exporta-
de exportação (da metrópole para as colônias) permanece qua;se sem- ções de Portugal. Note-se (vide tabela 25) que houve uma maior es-
pre acima da de importação (das. colônias para a metrópol~). E o con- tabilidade nas exportações de Portugal para a Inglaterra do que nas
trário do que se dá com o comérCIO de Portugal com o BrasIl. Os ~ráfi­ importações (da Inglaterra para Portugal), isto é, PortUgal conseguiu
cos e tabelas 19 e 20, indicando déficits e superávits do comémo de manter o nível de suas exportações para a Inglaterra numa cena esta-
Portugal com as demais colônias, e acumulando-os, deixam ~em clara bilidade enquanto que este país flutuou nas suas exportações para
a tendência superavitária (observe-se o gráfico 20) do comércIo de Por- POrtugal. A Inghte"1I teve, de qualquer maneira, uma posifiio de
tugal com as demais colônias, isto é, excl~1do o Brasil; ~go, a ten- destoque no comércio internacional português, do mesmo modo
dência do comércio entre Portugal e BrasIl, de superavlts para esse (mas não da mesma proporção) que o Brasil a teve no seu comér-
último, coincide com a tendência geral do comércio colonial portU- cio colonial. Por outro lado, se examinannos as tabelas e gráficos 26.
guês. Em sentido contrário, o comércio de Portugal com as o~tras co- 27 e 28 fica indicado o caráter superllvitário do comércio português
lônias, de tendência superavitária para a metrópole, contrarIa as ca- com 11 Inglaterra: no gráfico 26, a curva de exportação corre mais alta
racterJSticas gerais do comércio colonial lusitano. Noutros termos: é o que a de importação, a partir de 1798; o gráfico 27 indica os pontos
comércio com o Brasil que define a tendêncill geral. Esta conclusão de dfftcits e superávits, e o gráfico 28 acumula esses resultados mos-
expressa-se nitidamente no gráfico e tabela 21: as curvas de .déficits e trando as vantagens que Portugal conseguiu no comércio com a In-
superávits acumulados do comércio de Portugal com o Brasil e as de- glaterra nesse perlOdo. Logo, a tendência do comércio português
mais colônias têm tendência totalmente divergentes~ como porém o com a Inglaterra (para o superávit) acompanha a tendência geral do
peso percentual do Brasil sobreleva de longe as demais colônias, o re- comércio de POrtlJgal com as naôes estrangeiras (vide gráfico e tabela
sultado médio (linha contínua) acompanha de um modo geral a 10). No conjunto, o comércio externo português era superavitário
conformação da curva relativa ao Brasil.

290 291
com a Inglaterra, Hamburgo, Itália, França, Castela e Dinamarca, e~tre 1796 e 1807 os produtos do Brasilformam 60,6% das exporta-
como se pode observar no gráfico a tabela 22. Neste mesmo gráfico çoes portuguesas, os produtos do reino 27,5%, os produtos reexpor-
fica clara a tendência de Portugal ter um comércio superavitário com ta~os ?%. os produto~ de outras colô.nias 2,9%, o que se expressa na
as nações com as quais tinha um maior volume de intercâmbio, e de- pnmelfa ~oluna do gráfico. As demaiS colunas revela..-rI. a radical alte-
ficitário com aq1,1e~as de menor volume: do que resultava, evidente- ração advll?d~ com a abertura dos portos ..Era, pois, graças aos pro-
mente, a tendência superavitária geral. Entre os países do primeiro dutos brasd~lf~s que o P?:r~gal meu?pohtano conseguia desenvol-_
grupo sobreleva de muito a posição da Inglaterra, que define a ten- v~r um comercIO !Uperavltarlo ne~ta ~lCagem do século XVIII para o
dência. Logo. sem ter uma posição tão marcadamente preponderan- s~ulo XiX. O gráfico e tabe1a 411~~ca as relações entre as importa-
te como a do Brasil. a Inglaterra ocupa. neste quadro de intercâmbio çoes portu~esas de produtos brasdelCOS (do Brasil para POrtugal) e
que eStamos analisando. uma posição similar, mas de sentido con- as exportaçoes portuguesas (de Portugal para as nações estrangeiras).
trário. Isto é. a Inglaterra tem no comércio externo português impor- ficando c!ara a correlação. Podemos, agora, finalmente, compreen-
tância semelhante à que tem o Brasil no seu comércio colonial; mas der os gráficos e tabelas 42 e 43: no 42 se discriminam os déficits e
de sentido contrário: Portugal é deficitário no comércio com as colô- superávits gerais ?O .comércio português. isto é, o balanço entre as
nias em função da posição do Brasil, e é superavitário no comércio per~as com as C?IOOlas (ou melhor com o Brasil) e os ganhos com as
exterior pelo menos em grande pane graças ao seu intercâmbio com naçoes estrange~as. O ac~mulado desses déficits e superávits globais
a Inglaterra. expre~a-se na hn~a co~tl~ua (<<resultado global.) do gráfico quaren-
ta e tres:... E~te g~~O IOdlca os acumulados de déficits portugueses
VI - Finalmente, os gráficos e tabelas 34,35,36,37.38,39,40, erI?- relaçao.as colomas,.e seus superávits em relação às nações estcan-
41,42 e 43 permitem-nos articular os vários pontos até aqui estabe- gelCas, e aI~da o refert:I0 resultado g:lobal. Vê-se que o superávit
lecidos. e assim encaminhar conclusões para a discussão dos proble- c~m as naçoes estrangelCas. sendo maior que o déficit com as colô-
mas que inicialmente colocamos. O gráfico e tabela 34 discrimina a Olas, o resultado global era superavitário. Ora, como são sobretudo
posição relativa dos produtoJ do Brasil, das outras colônias, do reino os produtos coloniais (60% produtos brasileiros) que Portugal ex-
(isto é, de Portugal), e das reexportações, no movimento geral das POrt~v~~ segue-se qu~ eram os mecanismos do sistema colonial que
exportações portuguesas no período. Observe-se, em primeiro lugar pOSSibilitavam o fu.rlClonamento do esquema: o superávit português
a preeminência dos produtos brasileiros nas exportações portugue- e~pressava um efetivo ganho de monopólio, pois fundava-se sobre a
sas, evidente no gráfi0. Aliás a curva dos produtos do Brasil acom- dIferença dos preços (~aix~s) dêsses produtos nas colônias e (altos)
panha a conformação da curva das exportações totais; as outras cur- nos mercados lOternaclonals: Temos agora a conexão efetiva que se
vas (produtos do reino·, outras colônias, reexportações) discrepam da expressa nessas curvas. RepItamo-lo: no período analisado, é em
curva geral. Logo, são os produtos brasileiros que comandam as flu- função da exportação dOJ produtos braJileiros que o comércio inter-
tuações dã curva das exportações portuguesas. Observe-se, em se- nacional português consegue ser superavitánó; noutros termos, é
gundo lugar, a insignificância da posição dos produtos das OUtras co- porq~e ~ comérci? ~~/onial português é deficitánó que seu comércio
lônias. Destaca-se que a curva do Brasil fica bem acima da curva dos extenor e superavltano. Ao cabo desta longa análise. portanto, reen-
produtos do reino. Todas essas observações ficam mais claras nos grá- con,tr.amos, a~r~ realiza~o concretamente, o princípio teórico de
ficos e tabelas seguintes: a posição dos produtos do Brasil é destacada poltuca· et.:0noffi1Ca coloOlal, formulado por Azeredo Coutinho. E
no gráfico 35; essa mesma posição expressa-se porcentualmente no neSte sentido, ?ev~mos con~l~ir que ~as suas linhas gerais, e apesar
gráfico 36. O valor médio dos produtos do Brasil nas exportações por- de todas as hesltaçoes, a polltlca coloOlal do mercantilismo ilustrado
tuguesas mantém-se em torno de 60%; o gráfico 37 dáa porcentagem português foi efetivamente levada à prática, e com relativo êxito.
dos produtos do reino em relação ao total; o gráfico 38 dá a porcen- Se considerarmos, agora, que toda essa recuperação do comércio
tagem das reexportações; o gráfico 39 a porcentagem dos produtos exterf.1~ português se fêz c0!ll produtos coloniais brasileiros, o que
das outras colônias. O gráfico e tabela 40 dá-nos a visão de conjunto: perm1t1u entre 1787 e 1796 IOVerter a tendência tradicional nas rela-

292 293
ções mercantis portuguesas com as demais na~õ~s. fica indic:do que a lembrar que não é pequeno mérito de uma política econômica saber
produção se dinamizou amplamente na coloma neste penado. Por aproveitar-se de uma conjuntura favorável(302), para não desmerecer
outro lado, se lembrarmos que esta etapa é contemporânea ao declí- a ação dos estadistas ilustrados.
nio inexorável da mineração do ouro e anterior à ascensão do café, Mas a verdade é que a política do mercantilismo ilustrado não
segue-se que esta recuperação da pro~ução colonial deu-se atr~vés de conseguiu, de um lado, levar até o limite a implementação de suas
uma diversificação dos setores produtivos, o que se revela na lista dos proposições, e de outro, mesmo em alguns setores em que mais
produtos exportados, que se eleva a 126(quanclo anteriormente gira- atuou, acabaria por frustar~e. O caso mais típico, aqui, é o do esfôr-
va em torno de 30)<299). , - ço em promover o surro manufatweiro na metrópole. Jã vimos que o
Recuperação e diversificação das atividades produtivas na objetivo central era, ao mesmo tempo, fomentar a produção colonial
colónia(300), reequilíbrio e mesmo inversão da tendência (passando e desenvolver a metrópole assimilando as vantagens da exploração da
de deficitária para superavitária) no'seu intercâmbio com as demais colônia, isto é, da comercialiação de seus produtos. Desenvolver a
nações: tais são os êxitos mais evidentes do período em que atuaram metrópole significava promover uma sólida base de produção indus-
os estadistas da Ilustração portuguesa. trial para reduzir a desfasagem que a apmava dos centros mais desen-
volvidos da Europa.
b) Frustrações E, efetivamente, a política de promoção às manufatwas que, ani-
E entretanto, as vitórias alternaram-se com as derrotas. E ceno que culada no período pombalino, foi firmemente seguida no peclOdo
a política econômica até aqui anal~ada teve aAva.t?-tagem de atuar nu- seguinte onde se mostram os seus desdobramentos, conseguiu recu-
ma conjuntura geral de prospendade. econor~lca nos quadros d? perar esse setor da economia metropolitana, que manifesta um pro-
Ocidente<301); se essa mesma prospendade, ligada ao desenvolVI- gresso substancial na segunda metade do século XVIII(303). No grá-
mento da Revolução Industrial, dadas as mudanças estruturais que fico e tabela 29 estã indicada a exponação dos produtos manufatwa-
implicava, promovia tensõ~ no sistema coloni~ - no .rlan~ c~njun­ dos ponugueses para as colônias, ao mesmo tempo que apresenta as
tural, abria condições vantajOsas nos mercados lOternaClonalS. E bom curvas do valor total das exponações e a curva de ctecidoSJ>, que ex-
pressa as exportações portuguesas para as colônias de tecidos impor-
tados de fora de Portugal. No grãfico e tabela 30 põem-se em desta-
(2<Nla. José Jobson de Andrade Arruda· O Braut no comerr;to colonial, 17%· que o confronto das duas curvas: de manufaruras portuguesas e de
1808, Contribuição ao estudo quantitativo da economia colomd, São Paulo, 1972 tecidos estrangeiros indo, via metrópole, para o ultramar em porcen-
(mimeografado), pp. 506·532. _ tagens. Vãrias observações se impõem: primeiro, as manufaturas
(.l(X1JObserva Celso Furtado que, no fim da era colonial, a tendência na América
Portuguesa era para a integração cronômica, enquanto nas Indias de Castda, ao ponuguesas conseguem ser uma porcentagem bem significativa do
contrário, tendia·se para a regionalização da economia (Cf. Formação Econômica da total (vide tabela 30); segundo, o componamento da curva mostra,
América Ln/ina, 2.a ed., Rio de Janeiro, 1970, pp. 38-41), o que não será de pouca entretanto, que tais exponações cresceram até 1801, declinando de-
monta para se compreender o curso que tomad a emanópaçâo política num e nou· pois, inexoravelmente: em valores absolutos, o ponto mais alto estã
tro caso. Richard Graham (Independence in LnÚn Amen'ca: comparatire approach. em 1799, em termos percentuais em 1798; de qualquer forma, a
New York, 1972) caracteriza as diferenças do processo político de emancipação no
Brasil e nas demais regiàcs da América Hispânica.
curva tem tendência média crescente até 1801, e decrescente em se-
(l(lllSobre a conjuntura favorável da segunda metade do século XVIll e míoo do guida. Em confronto com o envio para as colônias de produtos im-
XIX: F. Simiand . Recherches anCtennes el nourel/a surle mouvement général des portados, 1801 destaca-se ainda como o ano em que as manufaturas
prix du XVle. au X/Xe. stêcle. Paris. 1932, pp. 552·627. E. Labrousse· Flutuacio·
nes econômicas e historia soetd. Trad. esp .. Madri, 1962, pp. 171·175 Para POrtu· (302)Bom exemplo dessa capacidade de auscultar a oponunidade é exatamente a
gal: V. Magalhães·Godinho. Pnxet monnaiesau Portugal. 1750·1850. Paus, \955, Memória sobre o preço do açúcar (1791) de Azeredo Coutinho - In OblrlJ econômi·
pp. 139 segs. Para o Brasil: Frédéric Mauro· ",A conjuntura atlâmica e a Indepen- cas, ~p. 173·185.
dência do Brasil~, in 1822: Dimens6es, dir. por C. G. Mora, São Paulo, 1972, pp. (3 3lCf. Jorge de Macedo· Problemas de história da imiNstria portuguesa no sécu-
38·47. lo XVIII, Lisboa, 1%3, p_ 185 segs.

294 295
portuguesas superaram as estrangeiras, depois de 1798. Mais clara- problema com as observações e informações, já citadas(07) de Mau·
mente: as duas curvas alternam-se entre 1796 e 1798; as manufam- ricio Teixeira de Morais, parece claro que o principal fator de recuo
cas estcangeir:as se avantajam depois, para ceder ante a recuperação das manufaturas portuguesas no Brasil foi a pressão irresistível da in-
d~ metropolItanas em 1801; a partir daí, voltam os tecidos estran- dústria inglesa. Nest~ ~ntid<.>, par~e mais correto afirmar que, ape·
geIros a predominar, e a distância se alarga (anto em têrmos absolu- sar ~o esf~rço, a ,po~luca de mcenuvo não conseguiu conter a pene-
tos como percentuais até o fIm do peclOdo, isto é, 1807. traça0 do mdustnahsmo nascente e consolidar as suas conquistas na
Se atentarmos, agora, para os gráficos e tabelas 31 e 32, constata- recuperação da defasagem econômica.
mos que a imponação de têxteis estrangeiros para Portugal declina Por outro lado. mas em conexão com o que fica dito, as reformas
em todo o período. em termos absolutos e percentuais. O gráfico 33 não se aprofun~aram em P<.>nugal: apesar de toda ,a campanha em
fmalmente (e respectiva tabela) contrapõem a imponação de tecidos prol da ~odermzação da agncultura e regeneração da sociedade, a re-
dos países estrangeiros com a exponação deles para as colônias: e por volução hb~ral é que iria enf~entar decisivamente os pontos nevrálgi-
ele se vê que enquanto declina a importação dos têxteis estrangeiros cos do arCalsmo. Apenas dOIS atos de legislação verdadeiramente si·
em Portugal, aumenta sua exportação para a colônia. logo, a metró- ginificati~s - a supressão da justiça se,nhorial e abolição do tributo
RO~e c~:)Qseguia de certo modo preservar o mercado interno para suas do maneJo(308) - , embora audaciosos,' não chegam a configurar
propnas manufaturas, mas não consçguia fazer o mesmo com o mero uma mudança substancial. A política de companhias, se abandona-
cado da colônia. da para a colônia, manteve·se poSto que abrandada, na
'o declínio das exportações de manufaturados para a colônia, en· metrópole(309). Mesmo no setor colonial, que, juntamente com o es-
tretanto, marca um significativo ponto de inflexão no surto indus· forço manufatureiro,. foi ~os mais incisivamente abordados pela ação
trialista de Portugal, iniciando-se a sua fase negativa( 04 ); a explica. funda~a nas nov~ drretrJzes - avanços e recuos marcaram a política
ção desse fenômeno tem dado lugar a divergências entre os historia- reformista. Abohdos os contratos do sal e da pesca da baleia, mais ri-
dores portugueses. Jorge de Macedo, neste debate, propende a di· gidos, mantiveram·se os do tabaco e do pau-brasil. Um alvará de
minuir a importância do mercado colonial brasileiro para a indústria .180.2 marcava recuo ~as aberturas ao comércio imer·colonial(31O). Já
portuguesa do século XVIII, duma vez que o recuo começou efetiva· mdlcamos os bloqueiOs no caso do comércio do trigo e da tentativa
mente antes da abertura dos portos(30~). Entretanto, é preciso não das caixas de crédito coloniais.
esquecer que o fato de o ponto de inflexão situar-~e antes de 1808 Na própria perspectiva das Luzes, portanto, compreender.se.ia a
não diminui a imponância do mercado colonial, aliás sentida viva- fraqueza com que a metrópole havia de enfrentar os momentos mais
mente pelos coevos(306). O problema consiste em saber se diminui· agudos. da. crise. Se a associação de muitos brasileiros ao projeto das
ram as exportaões de tecidos e outras manufaturas para as colônias Luzes Significou de certo modo uma vitória sobre a ação revolucioná-
porque s~ reteve o SUrtO industrialista, ou se o surto se reteve por·
OU7)S·
ao -'
os comentanos ~-'antro duçõcs às Balanças de Comércio
""
que declmaram as exportações para a colônia. Ora, se ligarmos esse
_ (308)Abolição ~o maneio: Alvará de 17/12/1789. Coleção de Lei;, Denetose Ava-
ras (Museu PaulISta), D. Maria I, v. VII (1782-1792) f. 42. Biblioteca Nacional de
{3Q4lCf ] d - , LIsboa, Coleção Pombalina, cód. 463, f. 73. Caetano Beirão _ D Maria I Lisboa
_ . orge e Macedo - op. Clt., pp. 237 segs. V. Magalhães Godinho _ op
-,wm_ ' 1944, p. 402. Alvará de 4/4/1795. Delgado da Silva· Coleção' de legÚação, v:
{30~)l.oc. cito .179.1-1801, . ~11. Aragão. Morato, v. XXVII, doc. 9. Sobre a supressão definitiva da
.(306)
. •... per d'd
J o o m.erca d o exclusIVO
' das produções da nossa indústria, que era ju.stlça senhonal, cf. A. Sllben -l.e POr/ugal méditerrllnéen J 111 fin de I'Anàen Ré-
p"rmClpalmente 110 Brasli, e não ~del1do ela sustentar mesmo em Ponugal a concor. gl1r~~~tarls, 196?, t. I, pp. 148 segs. Caetano Beirão, Op. àt., pp. 401·402.
ren,cla. das manufaturas est~angeJras, vimos .quase aniquiladas nossas fãbricas •. José Companhias das vmhas do Alto Douro e das Pescas do Algarve. Cf. Miriam
_~CurslO das Neves" Memona sobre os meios de melhorll1' a induslria pOr/UgUeJlI, Halpern Pereira -livre câmbio e Desenvolvimento econômico. POrluga/11I1 ugunda
Lisbo.a, 1~20, p. 6. Cf~ O.mapa das fábricas em 1814, in VllriedadeS sobre objetos (310) do século XIX, Lisboa
metllde . ' 1971 ,pp . '5'-'54 .
relatlVOJ as artes, comercIo e manufllturas, Lisboa, 1814.]. Ratton " RecordaçõeJ 138. Cf. A. Delgado da Silva - Coleção de legiJlafão por/ugueJa. vol. V, pp. 13~·
(1747"1810), p. 96.

296 297
ria. isto não quer dizer que. na colônia. as tensões ~iais tenham se
aliviado~ Por outro lado. a timidez das reformas SOCl~ em Portugal.
tornavam-no vulnerável à onda revolucionária; e a ISSO se som!lva a
indispensável proteção inglesa que de um lado colocava em xeque o
esforço de autonomizaão econômica, e de outro colocava Ponugál
em posição de hostilidade e~ f~ce da França, centro de uma revo-
iução já agora na fase expanslomsra.
Esse feixe inmricável de contradições explode enfim em 1807-
1808, e a vinda da Cone para o Brasil, marca a primeira ru~tura de-
finitiva do Antigo sistema. A aberrura dos ponos do Brasil 311); im-
CONCLUSÕES
posta pelas circunstâncias e decretada como provisóri.a, seria na reali-
dade irreversível(312). E assim se configurava a nossa «lDversão do pac- Retomemos as principais reflexôes com que vimos caminhando ao
to_, fenômeno característico da crise do sistema colonial. No caso da longo dessas páginas. A polírica colonial portuguesa relativa ao Bra-
Inglaterra, centro da revolução industrial, as colônias se tornam one- sil na última etapa do Antigo Regime anicula-se de forma sistemári-
rosas para a metrópole, que pode contudo romper unilateralmente o ca com a política econômica executada na metrópole, e configuram
pacto e ainda manter o domínio pol1tico sobre elas. Aqui, ao contrá- ambas uma manifestação muito clara da Época das Luzes. Na manei-
rio, é a colônia que se transforma em sede do governo. Dal a forma ra de focalizar os problemas, na reorização que lastreia o seu esque-
peculiar que assumiria. de um lado, nosso ptocesso de independên- ma de ação. nas próprias hesitações com que foi levada à prática
cia política, de outro, o advento do liberalismo em Portugal. revelam-se as marcas características das incidências da Ilustração.
Visava-se fundamentalmente a aberturas dentro do sistema - o sis-
(ema colonial mercantilista - e isto se manifesta na tendência para
reduzir o exclusivo metropolitano à sua expressão mais geral, no fo-
mento à produção da colônia, na própria proibição das manufaturas;
buscava-se, ainda, uma integração das economias colonial e metro-
politana, numa tentativa de harmonizar os interesses dos dois polos
do sistema, de que resultaria a prosperidade comum. Tal esquema
derivava de uma tomada de consciência da situação, elaborada nos
trabalhos do movimento iluminista luso-brasileiro. que, nas suas ex-
pressões mais lúcidas, penetrou fundo na compreensão da realida-
(311)Carta régia de 28/1/1808. CoUeção drM Leir do Brasil (Rio de Janeiro, 1891), de que pretendia regenerar, mas que esbarrou em limitações advin-
W· 1- 2 . . .. . das da posição dos seus mentores na estrutura em que atuavam; e es-
(312).. As leis coloniais foram revogadas logo no princípIO da resld~n(1a do Rei no
Brasil. e isto ocorreu para a melhoria do país. pois que quand? os ool0'.loo descobri- sas barreiras intransponíveis imprimiram um inevitável componente
ram que seus interesses não mais seriam sacrificados ao excluSlvo proveito de Ponu- ideológico nas suas formulações, levando-as a dilemas sem alternati-
gal, puseram-se a cultivar suas (erras com energia e perseverança, ~rnecendo-Ihes o va. Da mesma forma, a política efetiva que derivava daquela~ teori-
suÇ(;~sso esperanças novas e estimulos •. J. Luccock _NO/In JObre o RIO deJanerro e par· zações se movimentaria em meio a contradições impossíveis de su-
les meridionair,tfo Brlnil (1808-1818), trad. port., P ed., São Paulo, 19~ I, p. 372. perar.
_Portugal nâo pode esperar que. mesmo no caso de a sede do ~~erno se transportar
para a EUrQpa, possa recuperar o monopólio do Brasil. Os br~~;Jlelros. tomaram goSto Tal manifestação de reformismo na política colonial só se torna in-
pela liberdade do comércio. Ela foi para eles uma fonte de f1queza lmensa ... ~ ~.F. teligível quando referido à crise geral do sistema de colonização mer-
Tollenare - Noles domin;aúes prises pendtmlun f10yage en Portugal el1l1l BreSil m cantilista, que percorre todo o período, e na sua forma de
18~6, 1817. 18/8. Ed. comentada por L Bourdon, Paris, 1971, v. I, p. 65. manifestar-se nas relações Brasil-Ponugal. Era diante dos problemas
298 299
propostOS pela crise que tomavam posição teóricos e estadistas; ~ra
para. solucioná·los que elaboravam seus esquemas de expli~ãO e in- bavam por transferirem-se para outra: e esse foi o caso dos países ibé-
tervenção na realidade. Tais problemas, contudo. por maIS longe ricos, sobretudo a partir do século XVII. Igualmente, no processo de
que tenham avançado na sua análise, não os podiam ver como .mani. superação do sistema, os mecanismos de fundo manifestavam-se di-
festação de uma crise advinda do próprio funcionamento do S1St~ma ferentemente conforme incidiam sobre tal ou qual colônia e metró-
_ e esta era fundamentalmente a limitação em que se debatiam; pole; ou noutros termos, colônias e metrópoles situavam-se diferen-
para tanto, seria preciso negá-lo. e pois abandonar a sua posição me- temente no processo de crise e superação do sistema colonial mercan-
tilista.
tropolitana dentro dele. Dar os dilemas teóricos e as hesitações na
prática de sua pol1tica econômica e colonial; daí, enfim, a frustração Para a Inglaterra, teatro da Revolução industrial e centro da crise,
geral da tentativa: no fun do processo, a colônia se independiza, e o processo de superação apresentou-se como a 4:llversão do pacto~. e
rui o absolutismo na metrópole. foi int~irameme comandado pela metrópole, que vai suprimindo o
É que a crise era geral e promanava da própria estrutura e ~ncio­ «exclUSIVO., o tráfico. a escravidão, e se pode ainda dar ao luxo, no
namento do sistema. e a política econômica ponuguesa relauva ao mais das vezes, de manter a dominação pol1tica para organizar o no-
Brasil atuava apenas sobre um segmento dele. vo império; daí uma cena continuidade que a transformação preser-
Efetivamente, organizado como um vasto mecanismo de acelera· va no caso da Gran-Bretanha. Para Ponugal, os mecanismos de crise
ção da acumualação primitiva, o Antigo Sistema Colonial, na medi- apresentavam-se como que de fora para dentro; o que já contribuia
da em que funcionava, ia se constituindO' cada vez mais em fator da para a distorção ideol6gica com que se pretendeu dar conta da situa-
passagem para o capitalismo industrial; o que por sua vez significava ção. Mas a «peculiaridade. não era capaz de isolar a relação Ponugal-
a emergência de condições que se não compatibilizam com a perma- Brasil das malhas do sistema. Na medida em que se avança no pro-
nência desse mesmo sistema de colonização mercantilista: exclusivo, cesso, as contradições se agravam: no plano das relações internacio-
escravismo, de fatores de acumulação, tornam-se 6bices do desenvol- nais. Ponugal precisava da colônia, por que esta era a sua moeda
vimento . Tal mecanismo básico operava no nível da estrutura fun- para obter proteção; mas assim ela seria menQs «colônia» para a me-
dante do sistema. subjacente a todo processo de colonização da épo. tr6pole, que transferia as vantagens para a aliada protetora. Em face
ca moderna. Neste sentido, no nível estrutural, pode dizer-se que. desse dilema, o máximo que se conseguia era preconizar a neutrali-
com o florescimento da Revolução Industrial, o Antigo Sistema colo- dade, e no limite a aliança inglesa. No plano econômico. para conse-
nial estava condenado. guir aproveitar os estímulos da exploração de sua grande colônia,
Esse mecanismo estrutural de desenvolvimento e crise, por isso Ponugal precisava desenvolver-se; mas a exploração da colônia era
mesmo que estrutural, operava no conjunto do sistema: no conjun- condição para seu desenvolvimento. Imaginar uma 4:integração. era
to, as economias coloniais periféricas promoviam acumulação de ca- quanto se conseguia propor para superar esse dilema insolúveL Mes-
pital nas economias centrais européias; no conjunto. a exploração mo assim, para conseguir 4:integrar•• tinha de modernizar-se; mas.
das colônias na Epoca Moderna foi um dos fatores da passagem para agora no nível político interno, isso levava a um novo dilema: mobi-
o moderno industrialismo; no conjunto, o Antigo Sistema colonial lizar o pensamento crítico para empreender as reformas. e comê-lo
irá sendo afetado, alterado e enftm destruído pelo capitalismo in- para que não revelasse a sua face revolucionãria. O ecletismo teórico
dustrial. que organiza a sua forma pr6pria de exploração das ãreas e o reformismo prático não conseguiam, pois, superar as agudas con-
periféricas. É daro. contudo, que, desenvolvendo-se a colonização tradições por onde se manifestava a crise.
por meio de estados nacionais altamente competitivos, os mecanis-
mos de base, que operavam no conjunto, apresentavam-se diferente- E mesmo, entre a teoria e a prática do mercantilismo ilustrado.
abria-se uma cena distância. preenchida pelas resistências que as re-
mente nas suas vãrias manifestações particulares. Disputavam as po-
formas encontravam; mas, se aos olhos dos corifeus das Luzes, as
tências entre si o desfrute da: exploração colonial; e dessa competi-
ção. muitas vezes, os estímulos da colonização de uma potência aca- frustrações da tentativa se explicariam por essa defasagem, de- um
pOnto de vista crítico o fracasso era inerente à própria tentativa, na
300
301
medida em que a perspectiva assumida não podia. nem prática nem ~in~os que ~u~ria a .revolução liberal na meuópole. Indepen-
teõricamente, dar conta da situação. dencla do Brasil e liberalIsmo em Portugal reportam-se pois ao fun-
Nem por isso a experiência deixa de tet enorme significado e subs- do comum da experiência ilustrada. Com isso entretanto vamos
tancial interesse. Como todo governo reformista, o dos ilustrados do transitando co~ que insensivelmente do terren~ das conclu~es pa-
fim do Antigo Regime tendia. de certo modo, a afastar-se dos gru- ra o da ~roposlção de novos problemas. Colocar problemas, porém,
pos e classes, ou pelo menos procurava evitar uma identificação mui- talvez ~eJa uma maneira fecunda de concluir.
tO direta com urna única camada social. Vimos exemplos dessa postura
cequidistante». É claro que há sempre uma dimensão ideológica nes-
ses governos que se pretendem expressão do cbem comum», e que
no limite acabam por se empenhar em preservar o status quo. Não se
trata de confundir ideologia e realidade, mas é evidente que há
graus de identificação entre estado e camada dominante, e os mo-
mentos reformistas são exatamente aqueles em que esta relação se
torna mais complexa: o estado, nessas situações, tende a ver além
dos interesses da camada dominante. com vistas à própria preserva-
ção da estrutura de dominação.
Parece ser bem essa a situação que nos apresenta o estado metro-
politano português da época ilustrada: daí essa ênfase permanente
no «bem 'comum» dos cvassalos destes Reinos e daqueles Dom1nios».
Para preservar o sistema, a perspectiva reformista avançou corajosa-
mente até as suas fromeiras, e mesmo forçou-as; não hesitou, ainda
para salvar o sistema, em sacrificar temporariamente a metrópole, e a
Corte embarcou para o Brasil. Veja-se bem: a colônia era essencial
para a preservação da metrópole não só enquanto metrópole mas en-
quanto estado soberano; em 1807 torna-se impossível manter as
duas, e os estadistas têm que optar: ora, seria mais fácil recuperar a
pequena metrópole do que a grande colônia, que se independizaria
- e a sede da monarquia transferiu-se para a América. Assim aca-
bou por se configurar, também na relação Portugal-Brasil, a cinver-
são do pacto.: aqui, porém, é a colônia que comanda a mudança e
acaba por assimilar a metrópole.
Somente essa compreensão da teoria e da prática do reformismo,
ilustrado permite-nos, pois, equacionar a forma que assumiu entre
nós a passagem, as dimensões e manifestações da crise do Antigo Sis-
tema colonial sobre o laço Brasil-Portugal. Somente a partir da análi-
se da perspectiva reformista e da frustração da sua aplicação pode-
mos entender os avanços que foi seguindo a idéia da permanência da
corte no Brasil; ela se desdobra daquela perspectiva. Em contraparti-
da, somente a partir da análise da frustração da tentativa ilustrada, e
dos seus desdobramentos. poder-se-ia focalizar os caminhos e desca-

302 303
GRÁFICOS E TABELAS
TABELA 1 GRÁFICO I
MOVIMENTO COMERCIAL _ '7%-1.'1
Movimento comercial 1796-1811. POK1UGAL _ COWNIA" IMPORTAÇÃO
IDAS <':ULONIAS PARA ~ METRÚPOLE)
Portugal- Colônias: importação (das colônias para a metrópole)

ano imporlaçào
1796 13.413.265$038
1797 5.519.870$608
1798 12.802.090$872
1799 15.169.305$719
r
1800
1801
14.850.936$376
17.527.723$934
,,
1802 12.966.553$680
1803 14.193.353$435
1804 13.579.874$717
1805 15.843.481$445
1806 16.103.966$250
1807 16.968.810$061
1808 614.857$782
1809 5.857.754$930
1810 3.949.320$962
1811 5.304.266$468 11% 1191 1798 '799 1800 lil(i' IB02, IBOJ' 180( 180\ l80G 1807 18IiIl J8(Y) 1",0, 18"-

306
TABELA 2 GltÁHÇo Z
MOVIMENTO COMERCiAl _ 17%-18Jl
Movimento comercial 1796-1811. PORlUGAl - =lONlAS, EXPORT AÇÁO
lOA METRÓPOlE PARA AS COLONJAS)
Portugal- Colônias: eX(Xlrtação (da metrópole para as colônias).

ano exportação
1796 7.527.648$713
1797 9.651.734$406
1798 12.418.654$675
1799 20.458.608$483
1800 13.521.110$817
1801 13.133.542$148
1802 12.800.3131175
1803 12.741.308$922
1804 14.905.960$519
1805 12.245.019$147
1806 11.313.313$554
1807 10.348.602$741
1808 1.694.187$512
1809 3.911.194$516
1810 3.811.220$063
1811 3.479.940$500 ],<)6 1797 1798 17!19 l!1OO lS01 180l lSOj 18lJó 1801 IR(IO\ lS07 1808- 180<} -l~IQ 1811

308
GRÁfiCO J
MOVIMENTO COMilCIA( _ 17%-1811
TABELA 3 l'ORlUGAL _ CQLONI .... S, IMPORTAÇilO E ~_XPORTAÇ~O
Movimento comercial 1796-1811.
Portugal ~ Colônias: importação e exportação.
.11} .•
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ana importação exportação . ,
13.414.265$038 ,: ''
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1797 5.519.870$608 9.651.734$406 ,
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1798
1799
12.802.090$872
15.169.305S719
12.418.654$675
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"1800 14.850.936$376 13.521.110$817 3
1801 17.527.723$934 13.133.542$148 "c
1802 12.966.553$680 12.800.313$175 e
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1803 14.193.353$435 12.741.308S922 "
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1804 13.579.874$717 14.905.960$519 <
1805 15.843.481$445 12.245.019$147 ,
1806 16.103.966$250 11.313.313S554
1807 16.968.81OS061 10.348.6021741
1808 614.857$782 1.694.187$n2
1809 5.857.754$930 3.911.194$516
3.949.320S962 Jl% ])91 17?B 179') 1800 1801 lSOl 1803, lW4 1801 1801 HIOlli 1809 1810 Jsi\
1810 3.811.220S063 'J3O(,

1811 5.304.266$468 3.4 79. 940$ 500

310
GItÁRco 4
MOVIMENID ÇOMERClM. - 17%·IBll
TABELA 4 PORTUGAL _ çmONIAS DEACIT5 I SUPEltà VITS
Movimento comercial 1796-1811
Ponugal- Colônias: déficits e superávits.
"
ano + superóvits -déjzcits
1796 5.885.616$325
1797 +4.131.863$798
1798 383.436$197
1799 + 5.289.302$764
1800 1.329.825$559
1801 4.394.181$786
1802 166.240$505 í,
1803 1.452.044$513 o

1804
1805
+ 1.326.085$802
3.598.462$298 ,"
~

1806 4.789.652$696 "


1807 6.620.207$320 ~
1808 + 1.079.329$730.
1809 1.946.560$414
,
1810 138.100$899
1811 1.824.325$968

"

312
TABELA 7
GRÁHco 7
Movimento comercial 1796-1811. MQVIMENTO COMERC1A1_ "''';_181'
PORTUGAL _ NAÇÕES FSTRANGEIRA;, EXPORTAÇÃO
Portugal- Nações estrangeiras: exportação (Di PORTIJGAL PARA AS NAÇÕfS ESTRAr>;GElRA.\)
(de Portugal para as nações estrangeiras).

exportação
1796 16.013.356$598
1797 11.822.970$024
1798 15.053.960$930
1799
1800
17.688.107$851 '"
20.684.802$298
1801 25.10.1.7851190
1802 21Ji05.349$072
1803 21.528.379$563
1804 21.060.962$501
1805 22.654.204$293
1806 23.255,505$241
1807 20.999.506$331
1808 5.811.0381620
1809 9.858.222$739
1810 12.521.960$437
1811 6.913.9241928

1796 1197 1m 179? Ulro ISOl HI01 18(1) 18(14 100) "806 1807 1001< J8Il\> 1810 1811

318
GKÁFlco S
TABELA 5 MOVIMEm'Q COMERCIAL _ 17%-1811
PORTUGAL _ COLONlASo
Movimento comercial 1796-1811. DEFlClTS E SUPERÁVJTS - ACUMULADO
Portugal- Colônias: déficits e superávits - acumulado.
n"

'00 + superávits - déficits


1796 5.885.616$325
1797 1.753.752$527 .,
1798 2.137.188$724
1799 + 3.152.114$040
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1801
+ 1.822,288$481
2.571.893$305
2.738.133$810
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1810 18.877.746$418
1811 20.702.072$386

314
GRÁFIco 6
TABELA 6 MOVIMENTO COMEJlCML _ 17<)(,_\811
PORTl.X,fll _ NA<,:OES ESTRANGEIRAS IMPORTAÇÃO
Movimento comercial 1796-1811. (DAS :-JAÇÕES ESTRANGEIRAS PARA PORTIlGAL)
Portugal- Nações estrangeiras: importação
(das nações estranh't'iras para Portugal).
,"
ana importaçào
1,
1796 12.652.771$691 ,,
1797 14.498.399$597
1798 11.729.238$360 "
1799 19.755.284$401
1800 20.031.Yf7$325
18(H 19.33'7.425$ SOi!
1802 17.942.240$592
1803 15.068.304$59tj
1804 17.841.034$672
1805 19.656.685$570
1806 16.440.921$781
1807 13.896.318$253
1808 2.7/10.598$802
1809 8.833.965$232 " L=-c;;;-;;;;;-;;;;;-=-o;;;;;-;;;;;-;;;;;-"",,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,",,,
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1810 17.051.885$239
1811 38.704.283$725

316
GRÁfIco 8
TABELA 8 MOVIMENTO COMERCIAL _ 17%.1811
PORTUGAL ,_ NAçOES E5Tl\ANGElRAS,
Movimento comercial 1796- 1811. IMPORTAcXO E EXPORTAÇAO
Portugal - Nações estrangeiras: importa(;ào e exportação.

impurtaçào expurlaçàu
í'
,,
I:XPORTAÇAO
1796 12.652.771$691 16.013.356$598
1797 14.498.399$597 11.822.970$024 I
1798 l/i.729.238$360 15.0'53.960$930
1799 19.7'55.284$401 17 .Ml8.1 07$851
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1806 16.VI(l921$781 232;5;05$141
1807 13.8%.318$2).3 20.999.'506$331
1808 2.740.598$802 5.811.038$620
1809 8.833.%5$232 9.858.222$7.19
uno 17.051.HH5$239 12.521.960$/137
1811 38.701i.283$72'5 6.913.924$928 ,
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320
GItÁRCO 9
MOVIMENTO COMERCIAI. _ 1;>96.1811
TABELA 9 PORTIlGAl _ NAÇOES E;""JRANGElRAS,
Movimento comercial 1796-1811. vrrs
DEFlCITS E SUl'ERA

Portugal - Nações estrangeiras: déficits e superávits.

+ superávits - déficits
1796 + 3.360.584$907
1797 2.675.429$573 w
1798 + 324.722$570
1799 2.067.176$550
1800 + 653.454$973
1801 + 5.766.359$686
1802 + 3.463.108$480
1803 +6.460.07 ... $969
1804 + 3.219.927$829
1805
1806
+2.997.518$723
+ 6.814.56.1$360
"'r-~~~êl~C7~C=~~~~~=CC=~=-~~*'~~~>
1809\ ISto 1811

1807
1808
1809
+7.103.188$078
+ 3.070.439$818
+ 1.024.257$507
"
>
1810 4.529.924$802
1811 31.790.358$797

322
GRÁHco lO
TABELA lO MOVIMENTO COMERCIAI. _ 17%-18\1
l'ORTlIG~l
- NAÇÕES ESTl\ANGEIRAS:
Movimento comercial 1796-1811. DEAOTS E SUPERAVITS _ ACUMULADO

Portugal - Nações estrangeiras: déficits e superávits - acumulado.

ano +wperávits - déficits


1796 + 3.360.584$907 ,,
1797 + óRS.155S334- " ,
1798 + 1.009.877$904 •
1799 1.057.298$646
1800 403.843$673
1801 + ).362.516$013
1802 + 8.825.624$493
180.3 + 15.285.699$462
1804 + 18.505.627$291
1805 + 21. 503.14ÚS014 "
1806 + 28.317.729$374
1807 + 35.420.917$452
1808 + 38.491.357$270
1809 + 39.515.6141777
1810 + 34.985.6891975
1811 + 3.195 ..131$178

.,

1796 1797 1m '7)'9 1800 '''Ol IBOl 1&13 1$)4 1St)';' l!lO6 1807 lBOl! 1W9 1810 lall)

-.,
v

324
GIt~H,O ti
TABELA 11 .'10\ L'II'N10 L()MER(I~L _ ]"%·'&1]
i\1ovilTlC'Ilto comercial 1796·18 11, I'ORfI C,"l (()W:-;L',S 'MPORTA<,,\(\
ID,'< Ú1LU."A' P,\K,\.~ .'1HROPULEl
P,Jrtll g,d - COlônias: importação (das colônias para J ITlctrópole). pOIlçAo Dl' bR.bl! fM RIoUÇAO AO Hn,T ,A, 'li'Tf\.~; CULO"','\
Posi!,:ào do Brasil em rda(,:ào ao total c às outras çolôn1J~.

dnD BTlIJi! uutms colônias Totd/


1796- 11. 174863$931 1.938.11015107 13.413.265$038
1797- /1 258.R:::3S470 1.2ú1.047$U8 S 519.870$608
179~ 10.816,5615028 1.985.52958-'14 12.802,090$872
1799- 12.584.505$139 2.584.ROOSS80 15.169.305$719
1800 -- 12.528.091 S '5 S(, 2.322.844$820 14.850.936)37(,
ISO, 1 '1.776,706$349 2.751.017S385 17.527 723$93-1
1802 10.353.2/1459.31 2.613.3085749 12.96ú.553$(J80
lH03 - 11.332.2905.6(19 2.861.062S7ú6 14.193 35,3$~135
18U4- 11 199,922$8'58 2.379,9'5H859 1.,.579.87/15717
180)- 15.948.658SúOl 1.894.822$844 15.843/1Sl$'H5
1806 ~~

1~1153.761S891 1.950.20~IS359 16.103,9M$250


1807- 13.9:27.79%3% 3.0410H]S725 1(,.968.81 O$(]Ú 1 UlTRAI COW~I.\;

IS08- 5/j6,9:WS970 Cl7.92()S811 6148')7$782


lR(j9 .- 11.819.373S394 10383HlSSYl 58577545930
,/
181()- 3683331$085 ~~

2(,5.98%811 3.949.320$%2 _", ,-," .<!l' ",>


"'" 180:
1.'111 ,),ÚY3.586S588 - 1670,(J79$880 5.30/1 2MJ 5/j68

326
GaÁflcou
TABELA 12 MOVlMENlO COMERClM. _ 17%·1811
PORTIJGAL _ COWNIAS: IMPORTAÇAo
Movimento comercial 1796-1811. (DAS COLONlAS PARA A ME.1RÚPOLE)
PORCENTAGEM EM llEL\.çAQ AO TOTAL
Portugal- Colônias: importação (das colônias para a metrópole).
Porcentagens em relação ao total.

ano Brasil outras colônias t


OlJlllAS COI..ONlAS

1796
1797
85,5%
77,3%
14,5%
22,7%
4-~-<.::.:' -:.:.--:;C"07'- - ' ( -, - -
,=,
,- - - - - - - ,-

1798 84,7% 15,3% MtOIO

1799 83,0% 17,0%


1800 84,4% 15,6%
1801 84,0% 16,0%
1802 79,9% 20,1%
1803 80,1% 19,9%
1804 82,6% 17,4%
1805 88,0% 12,0%
1806 88,3% 11,7%
1807 82,2% 17,8%
del796
a 1807 83,7% 16,3% """ 1797 17'!8 17'19 1800 1801 18l}l 11101 1804 18(11 IWG 1807 18O.'l 1809 '811f 181

1808 89,0% 11,0%


1809 82,2% 17,8%
1810 93,3% 6,7%
1811 68,5% 31.5%
de 1808
a 1811 80,5% 19,5%

de 1796
a 1811 83,3% 16,7%

328
GRÁfICU H
TABELA 13 MOVIME':-JTO COMhJlUAL _ 179(,·]",]
PORTCCM caLUNIAS EXPORTAÇI.O
Movimento comercial 1796-1811. {DA METROI'ÜLE PARA A, (OlONIAS)
POSlçAO DO SMSle EM REL\(,-ÃO AO TOTAL E As DEMAIS CUlU~IAS
Portugal - Colônias: exportac,:ào (da metrópole para as colônias).
Posição do Brasil em relação ao total e às demais colônias.

ano Brasif outras colônias total


1796 6.98235ó$248 545.292$465 7.527.648$713
1797 - 8.525.780$093 1 125.954$.~13 9JI51.734$40ó
1798- 10.668.177$385 1.750.477$290 12,418.654 $675
1799 15 .SUO. 9 38$ 555 - 4.657.ú69$928 -~
20.458.608$483
1800 - 9.!í32.156%24 4.088.954$193 13.521.110$817
1801- 10.680.059$775 2.453.482$373 13.133.5421148
1802 10.151.660$235 2.548.ú52$940 L2.800 ..~1.3$175 1:"

1803 - 9.928.5WI$H52 2.812.804$070 12.741.308$922


1804 -- 11.383279$024 3.522.ó81$495 14.905.9úO$519
1805 _. 9.505.25559% 2.7.19. 7(d$l 51 12.245.019$H7
180ú-
1807 -
1808-
8.42ó.097$H99
6.952.957$454
1.511.188$078
2888.2151655
3.395.645$287
182.999$/1311
11.314.313$554
10.348.602$741
Ló94.1S7S512
,, ,
~', OU1RAS COI0NIAS

1809- 3.'137.735$091 473.4591425 3.911.194$516


1810 2.932.5271927 878.ó92$1.16 . 3.811.220$063
1811- 2.792.7ú5$820 687.171$680 3/179.940$500

no
GllÁRco [4
TABELA 14 MOVIMENlO COMERCIAL _ 17<16-1811
Movimento comercial 179& 1811. PORTUGAL - COLONIAS' EXPORTAÇÃO
(DA Mf;fRÚPOLE PARA AS ÇQLONIAS)
Ponugal- Colônias: exponação (da metrópole para as colônias). PORCENTAGENS EM RELAçÃO AO TOT Ai

Porcentagens em relação ao totaL

t
OlJI'RAS COLONIAS
ano Brasil outras colônias
1796 92,7% 7,3% - - - --y--.?-
1797 88,4% 11,6%
1798 85,9% 14,1 %
1799 77,2% 22,8%
1800· 69,7% 30,3%
1801 81,3% 18,7% BRASIL
1802 79,4% 20,6%
1803 78,0% 22,0%
1804 76,3% 23,7%
1805 77,6% 22,4%
1806 74,4% 25,6%
1807 67,2% 32,8%
de 1796 "L~~~~~~~~~~~~
17% 17?7 17911 799 1801) HIOI 100' HIOj I 18()'; 1 1801 1SOB 1809 1810 lall
a 1807 78,4% 21,6%

1808 89,3% 10,7%


1809 87,9% 12,1 %
1810 76,9% 23,1%
1811 80,2% 19,8%
de 1808
a 1811 82,8% 17,2.%

de 1796
a 1811 79,8% 20,2%

332
GAAflCO I~
TABELA 15 MOVIMENTO COMERCIAL - 17%·1811
Movimento comercial 1796-1811_ PORTUGA1_ l.IRASJl IMPORTAÇÃO E EXI'ClRTA(.ÃO

Ponu)\al - Brasil: imponaçào e exportação.

ano importação exportaçdo '"


(do Brasil pl Portugal) (dt' Ponugal pl o Brasil)
1796 11.474.863$931 6.982.356$248
1797
1798
4.258.823$470
10.816.561$028
8.525.780$093
IO.668.177$3R5
'" '•. .
,,
,, , ,
1799 12.584.505$139 15.800.938$555 ,,
1800 12.52F!.091$556 9.432.1)(,$624
lHOl 14.776.706$549 10.6RO.059$775
1802 10.353.244$931 10.151.660.235
"
~ ..... ,,
1803 11.332.290$669 9.928.504$852
1804 11.199.922$858 11.383.279$024 EXPÓRTAÇ.i:O ....; \
1805 1.~.9/IH.658$60 I 9.505.2551996
1806 H.I5.1.761$891 8.426.0971899 •,
1807 13.927.799$336 6.952.957$454
1808 '546.9305970 1.511.1881078
1809 4.819.37.~S394 3.437.7351091 17% IN- ':<J8 I,'Y! HIOO I~OI I~O' HIO) 1~04 180\ IW6 180' 1S(ijl 18(t') 1810 IHI
1810 3.6H3.331 SOH5 2.932.5271927
1811 3.633. 5H6$ 588 2.792.7()5$820

334
GllÁRCO 16
TABELA 16 MOVIMENIO COMEROAL - 17%·L811
POR1lJGAL _ BIlIo.SJL; DEOFlTS E SUPERAVITS
Movimento comerciaL 1796- 1 fi 11.
Portugal - Brasil: deficits e superávits.

ano + slIPerul'its - déficits


1796 - 4.492. 'j()7S683
1797 +4.266.956S623
1798 148.383$643
1799 + 3.216.433~416
1800 - 3.095.934$932 "
CI~··
\

1801 - 4.096.646$774
1802 - 201.584$696
1803 - 1.403.785$817
1804 + 183.356$166 .,
1805 - 4.443.4025605
1806 - 5.727.663$992
1807 - 6.974.841$882
1808 + 964.257$108
1809 - 1.381,638$303
1810 750.803$158
1811 840.8205768

336
GIlÁFICO 17
TABELA 17 MOVIMENTO COMERClAl- !7~1811
PORlUGAL _ BRASlL DEFlClTS E SUPERÁVlTS _ ACUMUL\DO
MovimentocomerdaI1796·1811.
Portugal - Brasil: déficits e superávits - acumulado.

'"o acumulado
"
1796 4.492.5075683
1797 225.551$060
1798 373.934$703
1799 + 2.842.4985713
1800 253.436$219
1801 4-350.082$993
1802 4.551.667$689
1803 5.955.4535506
.,
1804 5.772.097$340
1805 ~ 10.215.499$945
1806 ~ 15.943.1635937
·1807 ~ 22.918.005$819
1808 ~ 21.953.748$711
1809 ~ 23.335.387$014
1810 ~ 24.086.190$172 __ 1\
1811 ~ 24.927.010$940

338
GRÁFICo 18
TABELA 18 MOVIMENTO COMEAaAl _ 11%-1811
Movimento comercial 1796-1811. PORTIlGAl _ OtmtAS COWNL'.S IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO

Ponugal - outras Colônias: importação e exportação.

ano importação exportlJfão


(das colônias pl Portugal) (de Portugal pI as colônias)
1796 1.938.4011107 545.2921465
1797 1.261.047$138 1.l25.954B13
1798 1.985.529$844 1.750.4771290
1799 2.584.800$580 4.657."6691928
1800 2.322.844$820 4.088.954$193
1801 2.751.017$385 2.453.4825373
1802 2.613.3085749 2.648.6525940
1803 2.861.062$766 2.812.8041070
EXPORTAÇAÚ
1804 2.379.9515859 3.522.6811495
1805 1.894.8225844 2.739.763$151
1806 1.950.2045359 2.888.2155655
1807 3.041.0101725 3.395.6455287
17% 1797 1m 1199 1800 1801 J80l 180l IBM l8(lj ,"oI(, 1807 1808 1809 In'" la11
1808 67.9265812 182.999$434
1809 1.038.381$536 473.4595425
1810 265.9891877 878.6925136
1811 1.670.6791880 657.1745680

340
GRÁHCO l'
TABELA 19 MOVIMENTO COMIRUAL _ '7%_'811
PORTUGAL __ OUTRAS COW~lAS _ DEFlCITS E ,UPFRÁVITS
Movimento comercial 1796-1811.
Portugal- outras Colônias: déficits e superávits.

ana + superávits - déficits


1796 - 1.393.108$642
1797 I35.092$825
1798 235.052$554
1799 + 2.072.869$348.
1800 + 1.766.109$373
1801 297.535$012
1802 + 35.344$191
1803 48.258$696
1804 + 1.142.729$636
1805 + 844.940$307 17% 1797 I7'!S 1799 '"'" HlOl 'BOI '~Ol lW4 ,"O) 180<5 180' 1808 ]809 '"'O '""

1806 + 938.011$296 /'


1807 + 354.634$562
1808 + 115.072$622
1809 564.922$111
1810 + 612.702$259
1811 983.505$200

_H>

342
GRÁFICO 20
TABELA 20 MOVIMFNTO COMERCI .... L - 17%·lSII
Movimento comercial 1796-1811. PORTIlGAL _" OUTRAS COLON1AS:
DEFJOTS E SUPERÁvrrs _ ACUMULADO
Portugal- outras Colônias: déficits e superávits - acumulado.

ana acumulado
1796 - 1.393.108$642
1797 - 1.528.201$467
1798 - 1.763.254$021
1799 + 309.615$327
1800 + 2.075.724$700
1801 . + 1.778.1895688
1802 + 1.813.5335879
1803 + 1.765.275$183
1804 + 2.908.004$819 11~171'1 IMO 1>101 HIOI IS03 IBc'" l!<O\ !8{)(i lS07 180S l~ns 1810 IBI!
1805 + 3.752.945$126
1806 + 4.690.956$422
1807 + 5.045590$984
1808 + 5.160.663$606
1809 + 4595.741$495
1810 + 5.208.443$754
1811 + 4.224.938$554

344
GKÁflco 21
TABELA 21 MOVIMENTO COMERrJAl_ 1)%.1811
PORnlG ... L _ IIllASll_ OUfRAS COWNIAS
Movimento comercial 1796-1811. DEFICITS f SUPERÁVIT> ACUMULADO
Portugal- Brasil- outras Colônias: déficits e superávits - acumula:do.
'"
ano Portugal-Brasil Porlugal-outros colônias
acumulado acumulado
EM RELAÇÀD AS
1796 4.492.507$683 - 1.393.108$642 OUTRAS COWNIAS ~ ;

1797 f "
225.551$060 - 1.528.201$467 ~.""
1798 .'
373.934$703 - 1.763.254$021
1799 + 2.842.498$713 + 309.615$327
1800 253.436$219 + 2.075.724$700
1801 4.350.082$993 + 1.778.189$6M
1802 4.551.667$689 + 1.813.533$879
1803 5.955.453$506 + 1.765.275$183
1804 5.772.097$340 + 2.908.004$819
1805 - 10.215.499$945 + 3.752.945$126 ,
,
1806 - 15.943.163$937 + 4.690.956$422 ,,
1807
1808
- 22.918.005$819
- 21.953.748$711
+ 5.045.590$984
+ 5.160.663$606
,
1809 - 23.335.387$014
\ RESULTADO
+ 4.595.741$495 / GlOBAL
1810 - 24.086.190$172 + 5.208.443$754
1811 - 24.927.010$940 + 4.224.948$554 ,
EM RELAçÃO \
J\
AO BllAS!L
,
,

346
TABELA 22 MOVIMENTO
GR,üICO II
COM~RCIAl L-%·,"07
Movimento comercial 1796-1807 PORrU<..,Al 1'AÇ(')~.\ E;TRANGElRAS IMPORTAÇAo E ~XPORTA\..Ã()
PO,T(ÃO RHAllVA DAS NAÇOES
Portugal - Nações estrangeiras: importação e exportação lOTAl DE lMI'ORHÇO~S TOTAL Df EXPORTAÇOE5
Posição relativa das nações. LO." ~~r;OES PARA POFTI.'(".Al) ';%·'8' L {DE PORTlIGM. PAItA AS NAÇÕE5) 1786·,""

e
o i
NaçôeJ exportafÕeJ importafdo
l.'-.GIAfT,KRA
(de Porto pIas Nações) (das n:u;ões p/Port.)
Inglaterra 92.593.818$815 68.760.120$496
Hamburgo 45.648.635$163 20.301.026$668 HA.'IBI;RGO Hamburgo

Itália 34.315.449$906 15.975.5261909


França 24.968.105$134 11.779.600$510 [r.'lIA ],l.lL.
Casrela 13.179.906$434 10.093.5171694
Holanda 7.249.059$579 12.430.723$169
I-KA"(A Fr""l'
Estados Unidos 5.888.239$037 10.202.011$352
Prussia 3.281.936$209 8.429.029$091
Barbárie 2.793.174$357 5.356.6071884 C.~O[FU C"",I>.
Dinamarca 2.620.6051969 1.202.839$301
Russia 2.341.524$079 22.313.611$669 HOL'.NDA &~.
Suecia 2.132.175$360 8.921.491$510

FST ADOS L::--;IDOS E",do> Unido<

PRI;"IA

BARBARIF
-
~"'"

DINAMARCA D;~

Rl'SSIA
Rü"i.

SUEr.l~ ...

348
GRÁFlco U
TABELA 23 MOViMENlO COMERCIAI. _ 17%.1811
Movimento comercial 1796-1811 PORIUGAL _ NAÇ,ÜES f5TRANGElRAS IMPORTAÇÃO
POSIÇÃO Dh iNGLATERRA
Ponugal - Nações estrangeiras: importação
Posição da Inglaterra.
8
7
8 ,,-
ano importação lmportação total "o
da Ingl. p/Port.) (das nações p/Porr.) !<
1796 4.951.737$334 12.652.771$691
~
! ,r
1797 4.627.613$455 14.498.399$597
,
,,
TOTAl.DE IMPORTAÇÃO
1798 6.661.419$574 14.729.238$360 '" ,;
1799 8.835.649$603 í9.755.284$401
1800 2.911.061$642 20.031.347$325
,
,,
1801 4.879.357$324 19.337.425$504
1802 6.693.774$311 17.942.240$592
1803 5.587.493$136 15.068.304$594 I
1804 5.764.885$6% 17.841.034$672
1805 5.837.705$848 19.656.68')$570
1806 6.587.150$292
1807 5.422.272$321
16.440.921$ 781
13.896.318$253
,f
I
1808 1.966.375$040 2.740.598$802 /
,, I
1809
1810
4.531.952$809
9.564.761$528
8.833.965$232
17.051.885$239 ----/
,
,
,
''''',
'----r --.- ., , !
I

, ,,
iMPORTAÇÃO OA
18ll 21.559.960$503 38.704.287$728 v' INGLATERRA -

v
1196 17?' 17,," 17W 1800 1801 180l lOOJ 1801 1801 1_ IB07 18Qll 180'! 1810 '"11

350
GRÁfIco 14
TABELA 24 , MOVIMENTO lOMEJlc-JAl_ 17%-1811
I'OR1UGAL - NAÇqE5 E;TRANGEIRAS, EXPORTAÇAO
Movimento comercial1796-1811 POS1ÇAO DA INGLATERRA
Ponugal - Nações estrangeiras: exportação.
Posição da Inglaterra.

ano exportação exportação total


(de Port. pl IngL) (de Port. pl Nações)
1796 4.887.076$129 16.013.356$598 TOTAL DE EXPORTAÇÃO
1797 3.979.976$884 11.822.970$024
1798 6.828.261$088 15.053.960$930
1799 9.058.217$010 17.688.107$851
1800 6.702.836$204 20.684.802$298
1801 9.651.014$710 25.103.785$190 "
1802 8.472.170$155 21.405.349$072
1803 10.514.250$356 21.528.379$563
1804 7.462.492$501 21.060.962$501
1805 8.865.210$950 22.654.204$293 '" ,. ,
1806 8.201.116$990 23.255.505$141
,, ,i '
1807 7.971.196$005 20.999.506$331 i
1808 802.980$620 5.811.038$620 ,, ,,
1809 7.342.270$330 9.858.222$739
12.521.960$437
1810
1811
10.219.063$660
4.323.864$845 6.913.924$928 ,
1796
"
"'--;,~~~~~~~'==~
1797 1791l 17'1') 1Il00 laOI )801 180) 1 'SOl 1~'Jó 1007 15O\! ]8O\l 1810 1811 )

352
GRÁfIco ~s
TABELA 25 MOVIMENTOCOMERCML _ 17%-1811
PORTIJGAl_ NAÇCFf ESTII:ANGElRAS, IMPORTAÇÀO E EXPORTAçAO
Movimento comercial 1-796-1811. POSIÇI\O PERCENTUAl. DA INGLA TElRA
Portugal - Nações estrangeiras: importação e exportação.
Posição percentual da Inglaterra. '00

ano importação em exportação em


relação ao total relação ao total
1796 39,1% 30,5% ,
1797 31,9% 33,6% ,,, ''
1798
1799
45,2%
44,7%
45,4%
51.3% EXPORTAÇÃO
--_o
1800 145% 32,4%
38,5%
, ,;
1801 25,2%
1802 37,2% 39,6%
49,0%
,
1803 37,1% \
1804 32,3% 35,4% , '
1805 29,7% 39,1% v'
1806 40,0% 35,3%
1807 39,0% 37,9%
11% 17')1 lI9\! 1799 1800 1801 1802 180J I 1805 1 180 1808 l8O'J 1810 18 I.
1808 71,8% 13,8%
1809 51,4% 74,4%
1810 )6,1% 81,6%
1811 55,7% 62,5%

354
GllÁflCo ól6
TABELA 26 MOVIMENTO COMERCIAL _ 17%.181 I
I'ORTIJGA1_ !NGU,URRAo IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO
Movim~nto comercial 1796-1811.
Portugal - Inglaterra: importação e exportação.

importação exportilfão
",,
ano
(da Ingl. pl Pon.) (de Porto pl Ingl.)
17%
1797
4.951.737$334
4.627.613$455
4.887.076$129
3.979.976$884 EXPORTAÇÁO
,,
1798
1799
6.661.419$574
8.835.649$603
2.9ll.061$642
6.828.261S088
9.058.217$010
6.702.836$204

1800
1801
1802
4.879.357$324
6.693.774$3ll
9.651.014$710
8.472.170$155 ---......,
1803 5.587.493$136 10.514.250$356
1804 5.764.885$656 77 .462 .492$334
1805 5.837.705$848 8.865.210$950
1806 6.587.150$292 8.201.116$990 "~~~~~~~~~~--~~
17')6 1191 11'JOl 119') 1800 1801 18Ul IJlO 1 1110) 18 1807 lH08 llJOOJ 1810 1811)

1807 5.422.272$321 7.971.196$OO5


1808 1.966.375$040 802.980$620
1809 4.531.952$809 7.342.270$330
1810 9.564.761$528 10,219.063$660
1811 2l.559.960$503 4.3i3.8'A$845

356
TABELA 27 GMRa> u
Movimento comercial 1796-1811. MOVIMENTO COMERClAl. _ 1791).1'11
POJ.TUGM. -1NGUr.1liD.A, DI!fIClTS E SUlfi.Avrrs
Portugal - Inglatera: defidts e superavits.·

ano + superlwils -rJefoils


~
8 lO

1796 395.338$795 ~
1797
1798
1799
1800
+ 166.841$514
+ 222567$407
+ 3.791. 774$562
647.636$m
!
1801 + 4.771.657$386
1802 + 1. 778.395$844
1803 +4.926.157$220
1804 :,. 1.697.606$678
1805 + 3.027.'05$102
1806 + 1. 611. 966$69B
1807 + 2548.923$684
1808 1.163.394$420
1809 + 2.810.317$521
1810 + 654.302$132
1811 17.236.095$658
"

358
TABELA 28
Movimento comerda11796-1811.
Ponugal - Inglaterra: deficits e superavits - acumulado

••0 l1Cumulado
1796 395.338$795
1797 - 1.042.975$366
1798 876.135$852
1799 653.566$445
1800 + 3.138.208$117
1801 + 7.909.865$503
1802 + 9.688.261$347
1803 + 14.615.018$567
1804 + 16.312.625$245
1805 + 19.340.130$347
1806 + 20.954.097$045
1807
1808
+ 23.503.020$729 "
+ 22.339.626$309
1809 + 25.149.943$830
1810
1811
+ 25.804.245$962
+ 8.568.150$304
..

360
TABELA 29
Movimento comercial 1796-1811.
Portugal- Colônias: exportação (de Portugal para as colônias).
Posiçio dos tecidos em relação ao total.

~
z
_o T'exteU (eltr.) To""
,
ProJ. "'" Fibri= o
u
1796 1. 753.670$407 2.334.3}4$O27 7.~27.64SS713 •o
1797 2.864.346$262 2.760.412$788 9.6~1. 734$406
12.418.6~4$675
;
1798 4.131.634$004 3.}86.91SS~}2 <
1799 ~.632.347$141 8.346.771$473 20.4~8.608$48J ~
~.713.146$379 13.nl.110$817
1800 3.842.~09$~63 "
1801
1802
4.012.321$709
3.470.647$2~6
3.712.3~3$733
4.4'9.'~748
13.1H.~42$148
12.800.313$175
,
2.774.644$761 ~.26O.677$~83 12.741.308$922 /
180'
1804
180'
3.379.716$308
2.}24.7~7$96}
}.878.2}9$261
4. 784. 77~$834
14.90~.96O$H9
12.24~.OI9$147
.. /"
,i "
,
,
1806
1807
1.919. 76~$767
1.174.636$990
4.131.154$920
4.8H.8~8$492
II.JI4.313$~}4
10.348.602$741
/
J
,/ .... ,l'IlODUIOSlECfEIS

1808 227:2~}$}~0 680.841$264 1.694.187$~12


I ' \to ~ ... -.~ ......... ~ -.
1809 4}1.66}$H} 1.~21.173$O70 J. 911.194$~16 " .. ' "'~-'~~~-, i
1810
1811
431.863$677
389.602$~6~
1.474.32~$~90
1.4~7 .08~$740
3.811.220$~90
3.479.940$~OO
""0""" DAS fÁllRlCAS

.." , ..-------
"\\,,'

o -.,~""_,~"""". .,._~_.~"".I~
L 1797 17911 ." 1799 1800 IIKII 11.02 1 1 I I . .~~'i'-=mw=OOi~
lHIl )

362
TABELA 31
Movimento comercia11796-1811
Portugal - Naç&s estrangeiras: importação.
Posição donecidos.

ano importação de ;",p-


tecidos 10""
1796 6.638.681$003 12.652.771$691
.1797 6.041.074$804 14.498.399$'97
1798
1799
6.389.687$531
8.666.238$668
14.729.238$360
19.15'.284$401
/
1800 8.002.9'0$ 177 20.031.347$'"
1801 '.178.462$0'1 19.337.425$'04
1802 7.479.162$86' 17.942.240$592
1803 '.916.447$773 1'.068.304$'94
1804 4.627.640$204 17 .841.034$672
1805 '.'53.016$618 19.6'6.68'$510
1806 '.773.521$220 16.440.921$781
1807 002.4'1$'0' 13 .896. 318$253
1808 569.667$660 2.740.'98$802
1809 2.051.018$350 8.833.96'$232
1810 '.71'.643$337 17.0'1.88'$239
1811 9.390.998$533 38.704.283$72'

366
TABELA 32
Movimenro comercial 1796-1811
Portugal - Nações esuangeiras: importação.
Posição porcentual dos tecidos.

.no % do! tecidos em relação


ao lotai das imporfllçÕCJ
1796 52,5%
1797 41.6%
1798 43,3%
1799 43,9%
1800 39,9%
1801 26,8%
1802 41,7% -'"
1803 39,3%
1804 25,9% ", /
,
'-------
1805 /
28,2% 'v \
1806 35,1%
1807 31,0%
1808 20,8%
1809 23,3%
1810 33,5%-
,
1811 24,3%

368
TABElA 33 GRÁHCU 4;
Movimento comercia11796-1811. HALI~ÇO
MUVIMFNTO lOM~Rr:IAL _ 1)')(,_,", L
GERAL- PORTUGAL _ (0I.()~r.\5 __ NIlÇCJE' FSTRANGhlRAS
Ponugal- Colonias - Nações ~uangeiras. DEFICITS t >L'PERAVITS ACUMULADO

Posição dos tecid~.

•• 0 imporlllfão de lecidOJ -exporlaftio de feridos


de paises esmmgeiros para IH CoIõnitn
1796 6.638.681$003 2.334.354$027
1797 6.041.074$894 2.760.412$788
1798 6.389.687$531 3.586.918$552
1799 8.666.238$668 8.346.771$473
1800 8.002.950$177 5.713.146$379
lSOl 5.178.462$051 3.712.353$733
1802 7.479:162$865 4.439.354$748
1803 5.916.447$773 5:260.677$583
lS04 4.627.640$204 5.878.259$261
180.5 5.553.016$618 4.784.773$261
1806 5.773.521$220 4.131.154$920
lS07 4.302.451$505 4.853.858$492
1808 569.667$660 680.841$264
1809 2.057.018$350 1.521.173$070
18tO' 5.715.643$337 1.474.325$590
1811 9.390.998$533 1.457.085$740

/",..._.'::/

'f:.' f: ~
".
'\
,
\
'-_.-......
""-._._~''''''''''
EM RHAÇAo
AS COLUNIAS

370
FONTES E BlBIlOGRAFIA

I ~ FONTES
A ~ FonlCS Manuscritas
L ArquIVo Hutónco Ultramarino. Lisboa (A.H.V.).

Consultas. Instruções. correspondência, ofícios (1777-1808).


Códiccs: 9, lO, 68, 69, 70, 71, 101, 107, 202, 231, 235, 251, 255, 267, 296,
305,386,387,458,465, 534, 536, 567, 568, 572, 573, 574, 575, 588, 589,
834,920,921,922.937.938,939.962, ll55. 1103. 1227, 1237, 1908.
Documentos avulsos: Maços do Reino, Caixas e maços do Rio de Janeiro, Per-
nambuco e Bahia (1777-1808). As caixas e os maços são numerados ou se iden-
tificam pelas datas.
2. Academia dos Ciênclo.r de lisboa (A.C.L.).
Memórias manuscritas: coleção de manuscritos:
Série A: 17, 28. 272, 310.351, 373, 374, 375. 376, 377. 378. 389. 485. 488,
648.652,847,998, 1098, 1126. 1700, 1776, 1908.
Série V: 25, 29. 31, 32, 35, 124, 143, 167, 186,238,902,932.
Nas notas indicamos os títulos das memórias e seus autores.
3. B,blioteca Nacional de lisboa (B.N.L.)
Seção de Reservados: Fundo Geral:
Códices: 235, 254, 598, 610, 4530.
Coleção Pombalina: códices: 461, 462, 46J, 464, 465, 466, 467, 468, 472, 473,
495,626, 6J5, 638, 642, 643. 651.
4. Biblioteca da Ajuda, Lisboa.
Correspondência diplomática: 51-VI-44, 52-IX-14.
5. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (B.N.R).).
Seção de manuscritos: 11 - 33, 22, 26; 7,4,57 n? I; 11 - B, 32, 54; 1-28, 25, lI;
I-J2.22.
Coleção Linhares: I - 29, 13, 4; I - 29,14,30; I - 29, 14.41; I - 29. 13;1- 29.13,
16; I - 29, 13, 19; I - 29, 13.22; I - 29, 13, 35.

BalançaJ do ComércIO
Balança Geral do Comércio do Reyno de Porrugal com os seus domínios Ultra-
marinos e nações esuangeiras no ano .. (Elaboradas sob a direção de Maurício
José Teixeira de Morais).

393
ANTONIL, André Joao - Cultura e Opulência do Brasi/ por suas drogas e Minas
Instituto Nacional de Estatística (tisboa): 1796, 1797, 1799, 1800, 1801, 1802, (1711). Texto da edição de 1711, tradução francesa e comentários criticos
180.3, 1804, 1805, 1806, 1807, 1809, 1810, 181l. por Andrée Mansuy, Paris. 1968. Ed. com introdução e vocabulário por
Arquivo Histórico do Ministério de Obra5 Públicas (tisboa): 1776, 1777, 1798, Alice P. Canabrava, São Paulo, 1967 ..
1808. ARAÚJO, Manuel Travaços da Costa· Taboas Topográfoas e &tatís~as (1801), in
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Lisboa), 1799, 1800. 1802. 1803. 1804. S~bsidiOJ para a Históri4 da Estatísti&a em Portugal, vaI. II (Lisboa, 1948,
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, seção de manuscritos: 1777, 1787. 1796, Instituto Nacional de Estat1suca.
1797. 1798,1799,18OO,1801.1802,IS05, ARREDONDO, Nicolis de . Memorias iIII sucesor D. Pedro de Melo de Portugal y
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (R.J.): 1796, 1808, 1810, 1811, 1812. Vil/ena (1795) inMemoriar de Los Vm-cyes deI Rio de ÚJ Plata. Introdução
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CoIIer;fikJ ChronnJogica de leu extravagantes, posteriares à nova compilação das Públito da Bahia, vaI. XXXV (1959) e vai. XXXVI Ú%I).
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Soisa, J .R.M. de Campos Coelho de e ,Systema, ou collecção de regimentos 1822, 2 vs.
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reais, lisboa. 1783, 6 vs.
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Silva, José Justiniano de Andrade e • CoIefikJ cronológica de Legulação Portu· Andrade, seç20 de obras raras, São Paulo).
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boa, 1825,9 vs. Academia Real das Ciências de lisboa, vaI. I, 1789.
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305,386,387,458,465, 534, 536, 567, 568, 572, 573, ~74, 5n, 588, 589,
834,920,921,922,937,938,939, %2,1155,1103,1227,1237,1908.
Documentos avulsos: Maços do Reino, Caixas e maços do Rio de janeiro, Per-
nambuco e Bahia (1777-1808). As caixas e os maços são numerados ou se iden-
tificam pelas datas.
2. Aca.:kmio"s Ciências de Lisboa (A.C.L.).

Mem6rias manuscritas: coleção de manuscritos:


Série A: 17, 28, 272,310.351, 373, 374. 375, 376, 377, 378, 389, 485, 488.
648,652,847,998,1098, 1126, 1700, 1776, 1908.
Série V: 25, 29, 31, 32, 35, 124, 143, 167, 186,238,902,932.
Nas notas indicamos os títulos das memórias e seus autores.
3. Biblioteca Nacional de lisboa (B.N.L.)
Seção de Reservados: Fundo Geral:
Códices: 235, 254, 598,610,4530.
Coleção Pombalina: códices: 461, 462, 463, 464, 465, 466, 467,468,472,473,
495, 626, 635, 638, 642, 643, 651.
4. BtbliotCCd da Ajuda, Lisboa.
Correspondência diplomática: 51-VI-44, 52-IX-14.
5. BiblioleCd N6Ciona!, Rio de janeiro (B.N.R.].).
Seção de manuscritos: 11 - 33, 22, 26; 7,4,57 n? I; 11 - 33, 32, 54; 1-28, 25, li;
1- 32, 22.
Coleçãoünhares: 1-29, 13,4;1-29, 14,30;1-29, 14,41;1-29, 13; r -29,13,
16; I - 29, 13, 19; I - 29, 13, 22; I - 29, 13, 35.

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