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Florística em um Remanescente de Mata Ciliar na Bacia do Rio Gurguéia Sul do

Piauí
Leovandes Soares da Silva(1); Allyson Rocha Alves(2); Andréia da Rocha Martins(3); Tatiano
Ribeiro dos Santos (4); Aluska Kelly Alves Nunes (5)
(1)
Graduando do curso de Engenharia Florestal, Universidade Federal do Piauí-UFPI, Campus Professora
Cinobelina Elvas-CPCE (leovandessoares@bol.com.br); (2) Professor do curso de Engenharia Florestal da
Universidade Federal Rural do Semiárido-UFERSA, allyson@ufersa.edu.br. (3) Graduanda do curso de
Engenharia Florestal, Universidade Federal do Piauí-UFPI, Campus Professora Cinobelina Elvas-CPCE,
andreiaceleste16@hotmail.com; (4) Pós-graduando em Engenharia Agronômica Universidade Federal do Piauí-
UFPI, Campus Professora Cinobelina Elvas-CPCE, viverbom@hotmail.com; (5) Graduanda do curso de
Biologia, Universidade Estadual do Rio Grande do Norte - UERN, aluskakelly_jp@hotmail.com.

RESUMO

A mata ciliar exerce função protetora nos recursos naturais, ao longo da historia do Brasil foram se
desenvolvendo desmatamentos levando a degradação desses ambientes. Em decorrência do processo
de colonização e mesmo sendo área de preservação permanente e de grande importância, às matas
ciliares tem sido alvo de exploração. Este trabalho teve como objetivo, avaliar as condições que se
encontra um remanescente de mata ciliar, na bacia do rio Gurgueia no sul do Piauí, com a realização
de um levantamento florístico para servir como base para projetos de restauração florestal. Este estudo
foi realizado em uma área de transição cerrado-caatinga, localizada no município de Bom Jesus/PI.
Na amostragem do componente arbustivo-arbóreo foram implantadas cinco faixas de 1200 m2 (20m
x 60m) dividido em três unidades de 20 x 20m e 20 metros entre as faixas totalizando 15 unidades
amostrais. Foram amostrados todos os indivíduos arbóreos vivos com circunferência à altura do peito
(CAP) ≥ 6 cm. Para os indivíduos amostrados foram feitas as seguintes avaliações: nome vulgar,
medição da circunferência altura do peito (CAP) 1,30 m. Foram amostrados 2.067 indivíduos vivos,
com área basal de 14,06 m2, 29 famílias botânicas, 59 gêneros e 70 espécies. As famílias mais
representativas foram: Moraceae com 524, seguida de Caesalpiniaceae 304 e Fabaceae 170
indivíduos, os gêneros mais representativos são: Brosimum 399; Chamaecrista 192; e Combretum
168 indivíduos. A florística forneceu uma importante base, visando à manutenção e restauração desse
e de outros fragmentos que ainda existem com características semelhantes.

Palavras-chave: Fragmentação, Restauração e Ecótono.

INTRODUÇÃO

A colonização no Brasil historicamente se iniciou com a falta de planejamento, estimulando o


chamado desenvolvimento desordenado. Sem se preocupar com as condições ambientais no futuro,
consequentemente boa parte dos recursos naturais foram e continuam se perdendo, particularmente
das florestas e especialmente da vegetação ciliar. Devido à proximidade com a água as pessoas que
aqui chegaram se apossavam das terras, casas, fazendas às margens de rios, córregos e riachos, com
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isso, foram se desenvolvendo desmatamentos das áreas ciliares, em consequência, ao longo da
história do país, a cobertura vegetal nativa representada pelos diferentes biomas, foi sendo
fragmentada, cedendo espaços para culturas agrícolas, pastagens e as cidades (MARTINS, 2007).
As margens do Rio Gurguéia no município de Bom Jesus Sul do Piauí, esta inserido em uma área
de transição entre os biomas cerrado e caatinga, possui áreas ciliares desmatadas, para a implantação
principalmente de agricultura familiar e pastagens por se tratar de terras férteis, e água disponível.
Estas formações continuam sendo alteradas, principalmente pelas atividades antrópicas, que estão
relacionadas às atividades agropecuárias associadas ao uso de queimadas para a exploração de
atividades como, culturas anuais e pastagens, que são apontadas como as principais causas da
fragmentação florestal e degradação dos ecossistemas associados às bacias hidrográficas dessa região
(CORBACCHO et al. 2003).
A consequência desses fatores degradativos é a erosão, assoreamento, perda dos recursos
faunísticos e florísticos, mudança no microclima, alterações da dinâmica fluvial dentre outros Paine
& Ribic (2002).
As APP’s (áreas de preservação permanente) são áreas protegidas por lei, várias áreas ciliares vêm
sofrendo processos de perturbações. Além dos problemas citados anteriormente a fiscalização é
ineficiente para minimizar os impactos causados a esses locais. Nesse contexto, é de vital importância
que ocorram intervenções nestas áreas degradadas, com técnicas de manejo, visando aumentar o
processo de regeneração e restauração das espécies, permitirem que ocorra sucessão, e dessa forma
evitar a perda total da biodiversidade.

Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo, avaliar as condições em que se encontra um
remanescente de mata ciliar, na bacia do rio Gurgueia no sul do Piauí, realizando um levantamento
florístico das espécies arbóreas, e classifica-las quanto aos seus grupos ecológicos, essas informações
servirão de base para futuros trabalhos de pesquisa e projetos de restauração florestal.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido no municipio de Bom Jesus localizado ao Sul do Estado do Piauí em
uma área de mata ciliar, numa propriedade particular denominada comunidade Lagoa do Barro,
distanciando 8 km da cidade de Bom Jesus, com as coordenadas (9º7’33” S e 44º21’11” W), este
fragmento possui uma área territorial de 17,8 ha. Para amostragem do componente arbustivo-arbóreo
foram implantadas cinco faixas de 1200 m2 (20m x 60m). As mesmas foram subdivididas em três unidades
de 20 x 20m, totalizando 15 unidades amostrais. As distribuições das unidades amostrais foram de forma
sistemática, sendo, o início da faixa partindo da beira do rio adentrando a vegetação.

A partir da primeira faixa foi estabelecida uma distância de 20 metros entre as faixas, alguns reajustes
foram feitos em determinadas situações em decorrência das condições topográficas da área. Nas unidades
amostrais distribuídas dentro das faixas foram amostrados todos os indivíduos arbóreos vivos com
circunferência à altura do peito (CAP) ≥ 6 cm, segundo protocolo rede de Manejo Florestal da Caatinga
(2005). Foram feitas as seguintes avaliações da vegetação lenhosa para cada indivíduo: nome vulgar ou
regional, medição da(s) circunferências(s) a altura do peito (CAP) 1,30 m. Para a análise florística foi
utilizado o índice de diversidade de Shannon-Wiener (MULLER- DOMBOIS & ELLEMBERG, 1974).

Para o levantamento florístico, a identificação das espécies arbóreas foi feito em nível de nome vulgar
no campo com auxilio de um mateiro local, sendo coletado material botânico para posterior identificação
taxionômica, por meio de especialistas botânicos presentes no campus de Bom Jesus/PI, em que foi usado
o sistema Angiosperm Phylogeny Group II (APG II, 2003).

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As espécies identificadas foram classificadas em categorias sucessionais (pioneiras, secundária inicial,
secundária tardia e clímax), seguindo os critérios adotados em classificações realizadas em outros
trabalhos com vegetação semelhante.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No levantamento da vegetação foram amostrados 2.067 indivíduos vivos, totalizando uma área
basal de 14,06 m2, com 29 famílias botânicas, 59 gêneros e 70 espécies foram amostrados no
componente arbustivo-arbóreo.
Após o levantamento as dez espécies que se apresentaram com maior valor de importância na área
foram: Brosimum lanciferum Ducke, Chamaecrista eitenorum (H.S. Irwin & Barneby) H. S. Irwin &
Barneby, Zygia cauliflora (Willd.) Killip, Maclura tinctoria (L.) D. Don ex Steud. Hymenaea
courbaril L., Combretum leprosum Mart., Agonandra brasiliensis Miers ex Benth. & Hook. F.,
Dalbergia cearensis Ducke, Machaerium acutifolium Vogel e Combretum anfractuosum Mart.
As famílias com maiores representatividades, em número de indivíduos, foram: Moraceae com
524, seguida de Caesalpiniaceae 304 e Fabaceae 170 indivíduos. Esse estudo aponta muitas
informações como espécies exclusivas tanto do bioma cerrado quanto do bioma caatinga e espécies
presentes em ambos os biomas o que caracteriza ser uma área de transição. Das 70 espécies
amostradas e identificadas no remanescente, 40 tem o hábito de vida arbóreo e 30 arbustivos, ambas
apresentam importância, social e ambiental para esta região. A importância social está ligada a
utilização dessas espécies para uso medicinal, artesanatos, frutos, sementes. Já a importância
ambiental está ligada aos benefícios que elas exercem ao ambiente ciliar, que envolve tanto a proteção
do rio como a manutenção da fauna.
Os gêneros mais representativos em relação ao número de indivíduos estão assim distribuídos:
Brosimum 399, Chamaecrista 192, Combretum 168, Agonandra 125 e Maclura 124 indivíduos. As 5
famílias com maior representatividade em número de espécies foram: Fabaceae 16, Annonaceae 5, e
Caesalpiniaceae 5 espécies (Figura 1).

Figura 1 - Número de espécies por família amostradas em um fragmento de mata ciliar do rio Gurguéia, no município de Bom Jesus Sul do Piauí.

Nessa região que é uma área de transição entre os biomas cerrado e caatinga, pode-se notar uma
rica variabilidade no número de espécies e famílias botânicas, pertencentes aos dois biomas
mencionados anteriormente, do total de 70 espécies amostradas 16, espécies são típicas do cerrado,
38 da caatinga e 16 se fazem presentes tanto no cerrado quanto na caatinga (Figura 2b).

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A B

Figura 2. Classificação das espécies arbóreas amostradas em um remanescente de mata ciliar do rio Gurguéia Sul do Piauí: (A) Grupo ecológico: P
– Pioneira; Si – Secundária inicial; St – Secundária tardia; Sc – Sem caracterização. (B) Distribuição das espécies por bioma: Ca – Caatinga; Ce –
Cerrado; Ce/Ca – Cerrado Caatinga.

Referindo-se ao grupo ecológico das espécies amostradas, 11 foram classificadas como pioneiras,
23 como secundárias iniciais, 31 como secundárias tardias e 7 sem caracterização.
Na área estudada, a maior porcentagem de espécie está relacionada ao grupo ecológico das
secundárias tardias, seguidas de secundárias iniciais, pioneiras e sem caracterização. Mesmo sendo
uma área protegida, ocorre um grande número de espécies pioneiras e secundárias iniciais
compreendendo certo grau de perturbação (Figura 2a). Quando somadas as espécies secundárias
iniciais e pioneiras juntas compõem a maioria das espécies encontradas, isso caracteriza uma floresta
em estágio inicial ou em desenvolvimento sucessional.
A presença de espécies pioneiras como é o caso de Mimosa tenuiflora (Willd) Poir. e
Aspidosperma pyrifolium Mart., ambas são espécies arbóreas, dentre outras, são encontradas
principalmente em ambientes que sofreram algum tipo de degradação. Neste caso, induzido pelo
homem, tais espécies são responsáveis por prepararem o ambiente para o desenvolvimento de outras
espécies como é o caso da Caesalpinia pyramidalis Tul.
Além da importância ambiental, algumas espécies são usadas pelos ribeirinhos como plantas
medicinais, como é o caso de Ximenia americana L. Kielmeyera variabilis Mart. & Zucc., Copaifera
langsdorffii Desf, Caesalpinia pyramidalis Tul. e Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, o que
necessita de estudos mais detalhados dessas espécies.
Para esse estudo realizado na Mata Ciliar do rio Gurguéia, o índice de diversidade de Shannon-
Weaner (H’) encontrado foi de 3,32 nats.ind-1 indicando uma boa diversidade florística na área. Nesse
contexto, pode-se afirmar que os valores do índice de diversidade encontrado nessa área apontam
uma grande heterogeneidade nas condições ecológicas, com variedades de espécies que justifica a
necessidade da preservação deste fragmento, pois sua manutenção é de vital importância para servir
de base para projetos de restauração de matas ciliares nessa região.
Além de sua devida importância para o leito do rio como proteção das margens contra processos
erosivos, corredor ecológico, manutenção e dispersão da fauna e flora dentre outros, é de vital
importância à preservação e recuperação desse ambiente, pois, o rio Gurguéia é único rio dessa região,
uma vez que, vem sendo notado ano após ano a diminuição da quantidade de água, consequentemente
das espécies aquáticas, haja vista, que, os proprietários de terras nessa região desmatam para
utilização de culturas anuais e pastagens. Portanto é necessário uma fiscalização mais atuante, evitar
perda total da diversidade de espécies da fauna e flora.

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CONCLUSÕES

Baseado nos dados obtidos nesse estudo, conclui que o fragmento de mata ciliar estudado se
encontra em bom estado de conservação, apresentando um grande número de indivíduos e uma alta
diversidade de espécies, distribuídas em todos os grupos ecológicos, essas informações servirão como
base para futuros projetos de restauração florestal em áreas de mata ciliar degradada na bacia do Rio
Gurguéia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APG II. Na update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of
flowering plants. London: Botanical Journal of the Linnaean Society, 2003. V. 141, n. 4, p. 399-436.

CORBACHO, C.; SANCHEZ, J. M.; COSTILLO, E. Patterns of structural complexity and human
disturbance of riparian vegetation in agricultural landscapes of a Mediterranean area. Agriculture
Ecosystem sand Environment, n. 95, p. 495-507, 2003.

MARTINS, S. V. Recuperação de matas ciliares. 2. ed. Viçosa: Editora Centro de Produções


Técnicas, p.255, 2007.

MÜLLER-DOMBOIS, D.; ELLEMBERG, H. Aims and methods of vegetation ecology. New


York : John Wiley e Sons, 1974. 547 p.

PAINE, L. K.; RIBIC, C. A. Comparison of riparian plant communities under four land management
systems in southwestern Wisconsin. Agriculture Ecosystems Environment, n. 92, p. 93-105, 2002.

REDE DE MANEJO FLORESTAL DA CAATINGA. Protocolo de Medições de Parcelas


Permanentes. Recife: Associação de Plantas do Nordeste; Brasília: MMA, PNF, PNE. 2005.

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Germinação da Copernicia prunifera (Mill) H. E. Moore: curva de embebição e
efeito da pré-embebição
Luan Henrique Barbosa de Araújo (1); Rodrigo Ferreira de Sousa (2); Eduarda Ximenes
Dantas (3); Richeliel Albert Rodrigues Silva (4); Fábio de Almeida Vieira (5)
(1)
Estudante de graduação em engenharia florestal; UFRN/Universidade Federal do Rio Grande do Norte;
luan_henriqueba@hotmail.com; (2) Estudante de Pós-graduação em Ciências Florestais; UFRN/Universidade
Federal do Rio Grande do Norte; rodrigofsousa72@yahoo.com.br; (3) Estudante de graduação em engenharia
florestal; UFRN/Universidade Federal do Rio Grande do Norte; eduardaximenes@live.com; (4) Estudante de
graduação em engenharia florestal; UFRN/Universidade Federal do Rio Grande do Norte;
richeliel@yahoo.com.br; (5) Professor, UFRN/Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
vieirafa@yahoo.com.br.

RESUMO

Apesar da importância econômica da carnaúba, pouco se sabe sobre a propagação sexuada. Com este
estudo, objetivou-se determinar o grau de umidade das sementes, a curva de embebição e o efeito da
pré-embebição no percentual de germinação das sementes. A determinação do grau de umidade foi
realizada a partir da mensuração da massa fresca das sementes, seguida da secagem e nova pesagem.
Para a caracterização da curva de embebição, foram realizadas as pesagens das sementes submersas
em água, nos intervalos de 0, 2, 4, 12 horas e posteriormente a cada 48 h, totalizando 576 h. Para os
testes de germinação avaliaram-se os seguintes tratamentos: 1) sementes escarificadas e embebidas
em água destilada, 2) não-escarificadas e embebidas em água destilada, e 3) não-escarificadas e
embebidas em água natural (não destilada), visando a extensão dos resultados às comunidades
extrativistas da carnaúba. As sementes de carnaúba tem grau de umidade médio de 35,93%, indicando
que permanecem com alta umidade após serem liberadas da planta-mãe. A curva de embebição
apresentou um crescimento lento entre os intervalos de 0 e 12 h (9% em relação à massa fresca) e
maiores taxas de absorção de água (38,8% após 336 h). Houve diferença significativa entre os
tratamentos 1 e 2 e entre 1 e 3, indicando efeito positivo da escarificação; e ausência de diferença
significativa entre os tratamentos 2 e 3, evidenciando que o tipo de água não influencia nas taxas de
germinação.

Palavras-chave: carnaúba, propagação, sementes florestais.

INTRODUÇÃO

O estabelecimento de metodologias para análise de sementes florestais desempenha papel


fundamental na pesquisa científica e em outras atividades. O conhecimento dos principais processos
envolvidos na germinação de sementes de espécies nativas é de vital importância para a preservação
e multiplicação das espécies e em programas de reflorestamento (SMIDERLE & SOUSA, 2003).
Apesar do aumento considerável de dados de análise de sementes de espécies florestais, muitas ainda
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carecem de informações básicas sobre a germinação, cultivo e potencialidade, visando sua utilização
para os mais diversos fins (ALVES et al., 2004).
Informações básicas sobre a germinação, o cultivo e a potencialidade das espécies nativas, visando
sua utilização para vários fins são rotineiramente demandadas. Portanto, métodos que auxiliem em
um manejo mais racional e econômico se tornam necessários (VIEIRA & GUSMÃO, 2008). O teor
de água é um fator importante para a propagação florestal, já que a umidade está associada à
deterioração das sementes. Determinações periódicas do grau de umidade, entre a colheita e a
utilização nos plantios, possibilitam melhor aproveitamento das sementes no processo de germinação
(VIEIRA & GUSMÃO, 2008).
Entre os diversos fatores ambientais que influenciam o processo germinativo, a qualidade inicial
das sementes e a disponibilidade de água constituem fatores essenciais, influenciando direta ou
indiretamente em todas as demais etapas do metabolismo, na ativação do ciclo celular e
consequentemente crescimento (VIEIRA & GUSMÃO, 2006). Segundo Silva et al. (2009) as
sementes da carnaúba devem permanecer imersas em água até a protrusão do pecíolo cotiledonar.
Reis et al. (2010) observaram 85% de protrusão do pecíolo cotiledonar de sementes de carnaúba
embebidas em água na temperatura de 25 ºC, entre 12 e 18 dias do início do experimento.
O objetivo deste trabalho foi determinar o grau de umidade das sementes da palmeira carnaúba
(Coperncia prunifera), assim como a curva de embebição e o efeito da pré-embebição no percentual
de germinação das sementes.

MATERIAL E MÉTODOS

Amostragem dos frutos


O estudo foi realizado no Laboratório de Genética e Melhoramento Florestal (LABGEM) da
Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias (UAECA), Macaíba, RN. Foram coletadas
aleatoriamente amostras de frutos de Copernicia prunifera oriundos de duas populações: 1)
população natural remanescente, no município de Macaíba, nas coordenadas 5°53'57"S, 35°22'59"W
e 2) população plantada na orla costeira da Praia de Cotovelo, no município de Parnamirim, RN,
coordenadas 5°57’59,14”S e 35°08’34”W. Os frutos coletados estavam em estágios finais de
maturação os quais foram acondicionados em sacos plásticos e conduzidos ao laboratório da UEACA.
Logo após a coleta, os frutos foram despolpados manualmente com o auxílio de estilete até promover
a fissura do endocarpo e retirada das sementes. Logo após foram desinfetadas com hipoclorito de
sódio (NaClO) a 2%, por dez minutos, seguida de lavagem com água destilada.

Determinação do grau de umidade


Foi realizada em delineamento inteiramente casualizado (DIC) com quatro repetições de 15
sementes. Inicialmente as sementes foram colocadas em placas de Petri, mensuradas a massa fresca
em balança semianalítica e, em seguida, colocadas em estufa de secagem a 105 °C por 24 h, método
oficial de determinação da umidade (BRASIL, 1992). Após as 24 h, as sementes foram retiradas, e
novamente pesadas, do qual foram obtidos os resultados do teor de água.

Curva de embebição das sementes


Foram selecionadas visualmente 100 sementes, obtendo-se as variáveis biométricas de comprimento
e diâmetro da semente antes e depois da embebição, além das taxas de germinação ou emissão da
radícula. Utilizou-se o delineamento DIC, com cinco repetições e 20 sementes por parcela em Becker
de 200 mL, contendo água destilada. As sementes ficaram totalmente submersas ao longo do
experimento. Foram realizadas as pesagens das sementes nos intervalos de 0, 2, 4, 12 horas e
posteriormente a cada 48 h, totalizando 576 h.

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Experimento de germinação
O experimento foi conduzido em condições de laboratório (25 ± 2 °C e 65 ± 3% de UR do ar). Os
frutos amostrados apresentavam coloração escura, indicando o estágio final de maturação, oriundos
da população de “Praia de Cotovelo”, Parnamirim/RN. Após seleção e beneficiamento das sementes
no LABGEM, instalou-se o experimento em delineamento DIC, com cinco repetições de dez
sementes. Testaram-se os seguintes tratamentos: 1) sementes escarificadas e embebidas em água
destilada, 2) não-escarificadas e embebidas em água destilada, e 3) não-escarificadas e embebidas em
água natural (não destilada). As sementes foram embebidas em beckers de vidro contendo 200 mL
de água.

Análise dos dados


A variável dependente avaliada foi a protrusão da raiz primária, durante 18 dias de experimento.
Utilizou-se o programa estatístico BIOESTAT 5.3 (AYRES et al., 2007), sendo realizado o teste de
normalidade Shapiro-Wilk, a análise de variância Kruskal-Wallis e o teste de média de Dunn (α =
0,05), para dados não-paramétricos (ZAR, 1999).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Grau de umidade das sementes


As sementes de carnaúba tem grau de umidade médio de 35,93%, indicando que permanecem com
alta umidade após serem liberadas da planta-mãe. As espécies com sementes recalcitrantes tem, em
geral, origem em locais mais úmidos e, portanto, adequados ao processo germinativo (VIEIRA &
GUSMÃO, 2006). Portanto, sugere-se que as sementes da Copernicia prunifera devem ser semeadas
logo em seguida à dispersão dos frutos. Entretanto, há necessidades de estudos sobre a capacidade de
armazenamento das sementes e, paralelamente, sobre os procedimentos adequados de colheita, de
beneficiamento e de secagem das sementes de carnaúba para preservar sua qualidade física,
fisiológica e sanitária. Esses fatores são relevantes para reduzir, ao máximo, a velocidade e a
intensidade do processo de deterioração (VIEIRA & GUSMÃO, 2008).

Curva de embebição das sementes


Inicialmente a curva de embebição das sementes (Figura 1) apresentou um crescimento lento entre
os intervalos de 0 e 12 h (9% em relação à massa fresca). A partir deste momento foram observadas
maiores taxas de absorção de água (38,8% após 336 h), e em seguida estabilizada até o final do
experimento, com absorção máxima de água após 480 h (40,7%). As sementes embebidas tiveram
um incremento de diâmetro e comprimento, respectivamente, de 9,6% (1,5 mm) e 6,8% (1,3 mm).
Observou-se uma relação direta entre a embebição de água pelas sementes e a emergência da raiz
primária, com taxa média de germinação de 91%, provavelmente associada a mudanças metabólicas
do processo de germinação.

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Figura 1. Curva de embebição em sementes de Copernicia prunifera durante 576 horas.

A absorção de água pelas sementes obedece a um padrão trifásico. A fase I, denominada embebição,
é consequência do potencial matricial e, portanto, trata-se de um processo físico, ocorrendo
independentemente da viabilidade ou dormência das sementes, desde que não seja uma dormência
tegumentar causando impedimento de entrada de água. Já a fase II, denominada de estacionária,
ocorre em função do balanço entre o potencial osmótico e o potencial de pressão. Nessa fase, a
semente absorve água lentamente e o eixo embrionário ainda não consegue crescer. Por último, a fase
III caracteriza-se pela retomada de absorção de água, culminando com a emissão da raiz primária
(BEWLEY & BLACK, 1994). Assim, para as sementes da carnaúba, conforme Figura 1, identifica-
se como sendo a fase I as primeiras 4 horas de embebição, a fase II entre 4 e 24 horas de embebição,
e a fase III a partir das 48 horas de embebição. Portanto, recomenda-se a embebição das sementes por
pelo menos 12 dias, já que as sementes apresentam embebição estabilizada a partir das 288 horas (12
dias), e porcentagem elevada de protrusão da raiz primária.

Germinação das sementes


O percentual de germinação nos tratamentos 1, 2 e 3 foram de 96%, 64% e 80%, respectivamente.
A análise de variância foi significativa (H = 10,001; P = 0,007), com diferença entre os tratamentos
1 e 2 (P = 0,02) e entre os tratamentos 1 e 3 (P = 0,05), indicando efeito positivo da escarificação das
sementes na germinação. Não houve diferença significativa entre os tratamentos 2 e 3 (P = 0,22),
sugerindo que o tipo de água (destilada ou não destilada) não influencia nas taxas de germinação.
Esse resultado pode ser importante para os projetos de recuperação e produção de mudas da carnaúba
em comunidades extrativistas, que não dispõem de equipamento para destilar água. Os resultados irão
contribuir para a consolidação das metodologias de germinação da espécie, otimizando a
porcentagem, velocidade e uniformidade na obtenção das mudas (Figura 2).

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Figura 2. Emergência da radícula das sementes de Copernicia prunifera, após oito dias de
experimento (A), semente de carnaúba escarificada (B) e mudas em casa de vegetação (C e D).

CONCLUSÕES

As sementes de Copernicia prunifera possuem alto teor de água (35,93%) após a liberação da planta
mãe. A curva de embebição das sementes indica um comportamento trifásico, com embebição
estabilizada após 12 dias (288 horas), sendo este o período sugerido para obter maior porcentagem
da protrusão da raiz primária.
Por último, conclui-se que há efeito positivo da escarificação das sementes na germinação.
Entretanto, as condições da água (destilada ou não destilada) não influência na germinação das
sementes da carnaúba.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, A.U.; DORNELAS, C.S.M.; BRUNO, R.L.A.; ANDRADE, L.A.; ALVES, E.U. Superação
da dormência em sementes de Bauhinia divaricata L. Acta Botânica Brasilica, v.18, p.871-879.
2004.

AYRES, M. et al. BioEstat 5.3. Sociedade Civil Mamirauá, 2007. 324 p.

BEWLEY, J. D. & BLACK, M. Seeds: Physiology of development and germination. 2ª ed. New
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AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo auxílio financeiro


concedido, processo de nº 562828/2010-9.

IV CONEFLOR – III SEEFLOR/ Vitória da Conquista (BA), 25 a 28 de Novembro de 2013.


- Resumo Expandido - [737] ISSN: 2318-6631

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