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ANDRÉ LUÍS VEDOVATO AMATO - Nº. USP.

07983431 – FDRP/USP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSO – MESTRADO EM DIREITO


ORIENTADOR: PROF. DR. RUBENS BEÇAK

TÍTULO: Pós-Globalização, Administração e Racionalidade Econômica – A Síndrome


do Avestruz
AUTOR: Omar Aktouf. Trad. Maria Helena C. V. Trylinski. Rev. Tec. Roberto Costa
Fachin
EDITORA: Atlas SA EDIÇÃO: 1. ANO: 2004

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA (ABNT):

AKTOUF, Omar. Pós-Globalização, Administração e Racionalidade


Econômica: A Síndrome do Avestruz. São Paulo: Editora Atlas Sa, 2004. 297 p. Trad.
Maria Helena C. V. Trylinski; Rev. tec. Roberto Costa Fachin.

PALAVRAS CHAVES:

Administração internacional. Economia gerencial. Globalização. Expectativas


racionais (Teoria Econômica). Integração Econômica Internacional.

RESUMO E CONTEÚDO DE INTERESSE:

A obra constituída de 297 páginas, subdivide-se em sete capítulos, além de


prefácio, notas introdutórias, prólogo, conclusão, posfácio, anexos e bibliografia. São
nomeados, respectivamente e em ordem de apresentação, O economicismo moderno,
entre argumentos autoritários e evasivas; uma história herética do pensamento
econômico dominante, ou como se passou de Aristóteles a Michael Porter; Sobre a
economia tradicional, o souk e o regateio e a pseudonatureza do homo aeconomicus;
Pequena História da mais-valia e da administração; A administração como casuística
e a concretização da traição crematistica; Onde as leis econômicas expostas por Marx
juntam-se às da ciências físicas e à termodinâmica; A economia-administração em
face do humanismo: entre o empregado-recurso e o empregado-parceiro; Rumo a
outra análise da crise mundial e da pós-mundialização: sobre a cidadania das
empresas e as escolas de gestão; A nova economia-administração do professor Omar
Aktouf; e, por fim, Comentário do físico Jairo Roldan.
A partir do pensamento atual a respeito dos vínculos existentes entre economia,
administração e sociedade o autor pretende apresentar um projeto de reflexão crítica,
do tipo ensaísta, o que se extrai da crítica indicada por seu prefaciador Frederico Mayor
Zaragoza ao afirmar que “(...) aspectos de sua exposição mereceriam, alguns, um
pouco mais de rigor, de demonstrações devidamente comprovadas, de indicações de
fontes, de dados; outros aspectos, um pouco menos de tomadas de posição pessoais. ”
Neste sentido, o prefaciador toma por preceito que a ideia de ordem mundial,
de democracia, de desenvolvimento e de paz, está em risco a medida que há um
crescimento e um recrudescimento da direita e da extrema direita no campo político à
medida que pretendem reservar para si porção injusta da riqueza mundial, sob o véu da
ignorância, da exclusão e da miséria. Indicando, que o autor desbrava um novo campo
caracterizado como a ponte teórica entro o campo da economia e o campo da gestão,
apresentando uma releitura da economia-administração por meio de um fio condutor
que vai de Aristóteles à mecânica quântica e a termodinâmica, passando por Karl Marx,
afirmando a tese que “o discurso das chamadas ciências da gestão e da economia está
TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES E CULTURA BRASILEIRA
PROF. DR. JOÃO LUIZ PASSADOR
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DE RIBEIRÃO PRETO
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enclausurado em uma forma de autoprodução – reprodução que, porém, se tornou


estéril”.
Tal opção metodológica, torna-se justificável pois a seu ver “a ciência
econômica dominante contém em si muito mais contradições, enigmas, dogmas, ideias
preconcebidas, ideologias, empréstimos epistemológicos injustificados e divagação
abstraída do que respostas aceitáveis e cientificamente fundamentadas”. É do seu
entender que a obra tem um caráter enciclopédico de reflexão aprofundada sobre o frio
social e econômico que se vive, com apresentação de propostas de soluções realistas e
bem fundamentadas decorrentes da lógica das análises e raciocínios apresentados
durante a obra visando “conceber uma nova e mais justa globalização até formulações,
práticas de gestão e ensinamentos em gestão para o futuro”. Entretanto, identifica que
as soluções devem ocorrer “fora da obstinada e cômoda concepção neoliberal que faz
do mercado o supremo formulador e ordenador das coisas”, posição está
frequentemente questionada, a partir das algumas questões elaboradas a respeito das
soluções:

“(...) o que, antes de mais nada, nós chamamos de


soluções? Em que quadro de pensamento se situa essa
problemática? Em que tipo de concepção de ordem
econômica mundial? Da concepção econômica, sem que
mais nada seja considerado? E, continuando, entre as
soluções contempladas, sejam elas soluções já existentes
(como as diversas soluções sobressalentes do modelo
financeiro à americana), ou soluções visualizadas com
certa razoabilidade, que teriam a felicidade de serem
aceitas pelas potências que dominam o jogo econômico e
gerencial mundial? ”

A globalização, ainda que um fenômeno superado ou em vias de superação,


reproduzido por meio do discurso do livre comercio e da adaptação, gerou apenas
quebra em cadeias empresariais e falência de estados inteiros, devido a uma confusão
(e superposição de discurso) do administrativo ao político. Isto ocorreu devido a
“concepções deformadas das virtudes dos “mercados livres”, da competitividade, da
privatização dos serviços públicos, da diminuição das despesas do Estado e do
imposto”, em suma da ordem econômica nacional e internacional.
Afirmar sua crítica ao funcionamento desta ordem, que a seu ver, só funciona
por meio de “contabilidades criativas” e que em verdade, seu meio é o empobrecimento
e a superexploração exponencial dos mais pobres e da natureza, representado por um
incremento dos comportamentos policiais e antidemocráticos. Fundamenta a
explicação, portanto, na fala de “raciocínio absurdo” de Joshep Stglitz, e busca sua
superação, pois: a evolução do capitalismo financeiro está liquidando o que resta de
solvência e de demanda efetiva de forma que os princípios regulatórios desta ordem
não são mais exequíveis uma vez que a globalização implicou em um processo
concentração de capital no qual cerca 80% do comércio mundial é feito entre
multinacionais e filiais de multinacionais, ou seja, organizações “sem fábricas”,
totalmente livres para a transferência desenfreada e desregulamentada (chamada
flexibilização) das atividades de produção para outras localidades, o aumento
exploração de mão de obra caracterizado pela superação da organização de produção
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de serviços e utilidades da economia real para a posição de holding financeira, cujo o


único objetivo é multiplicar, o dinheiro pelo dinheiro.
Para o autor, tal fato, se operacionaliza por meio da financeirização da
economia, e daquilo que denomina administração à americana, considerada sua
segunda problemática, caracterizada pela superposição da análise, financeira e
administrativo centrada nos negócios está saturando as visões de negócios humanos.
A penetração do discurso do busness economics reducionista, pois, financista e
matematizante a partir da lógica de rentabilidade, nas esferas, políticas, sociais e
econômica, que em sua essência despreza a cultura geral e as humanidades, pois tudo
reduz-se a uma mercadoria está levando a sociedade a um desvio suicida ao querer
conduzir o mundo segundo a lógica de administração da empresa privada.
Encontra-se, por exemplo, o reflexo deste discurso nos estados, em seu aspecto
mais perniciosos provocado por um escorregar contínuo em direção ao neo-
monetarismo e `economia libertário do tipo de Escola de Chicago, como um paradigma
dogmático que embasa a ideia de perseguição de imperativos de competitividade,
de vantagens competitivas, avaliados em termos de ganho sobre o capital
investido. Denominado neoliberalismo, ou para o autor, a Ditadura do Mercado,
embasada metodologicamente por recursos de matematizarão e simulação e apoiados
quase exclusivamente em modelagens matemáticas da realidade, sem conexão com a
realidade.
Dá leitura do prólogo da obra, é possível extrair a fundamentação, a
metodologia aplicada e outros aspectos que nortearão a obra. Para o autor “essa onda
neoliberal e gerencial que pretende que a salvação só pode vir da perseguição, por
parte de cada um, do enriquecimento infinito nessa arena que é o mercado
autorregulado, onde ocorre uma luta sem piedade de todos contra todos, essa onda
não percebe o perigo que, no limite, representa a concentração das riquezas
provocada pela busca do enriquecimento sem limites.
A proposta de solução dada pelo autor, percorre uma evolução de conceitos e
conhecimentos das ciências econômicas, perpassando pelo conceito de excesso de
poupança desenvolvido por John Hobson, que entende que a “busca sem trégua da
acumulação individual, privada e infinita de riqueza (...) constituía (...) uma forma de
imobilização de dinheiro estéril e nociva para a economia real, porque o dinheiro não
é, nesse caso, nem consumido nem investido e decididamente não desagua em nenhuma
demanda – sem a qual a oferta torna-se vã”. Como consequência disto, entende o autor
o sistema funcionar em uma “espiral infernal da conjunção de
superprodução/subconsumo/recessão que passa a ser conjunção estrutural (...) quanto
mais o capital se concentra, mais a capacidade física de encontrar vendas solventes
para a produção econômica se reduz”.
Neste sentido, entende que a ausência de uma demanda global solvente para
absorver os novos produtos e serviços, implicam em um gigantismo das empresas e a
concentração de capital, tornando-se mais difícil a redistribuição de riquezas e a
capacidade real e global de produzir e consumir. Desta forma, propõe, como solução,
com base em Karl Marx e John Maynard Keynes uma alteração do eixo dominante das
políticas econômicas centrado na oferta, como proposto pelos neoliberais, para um eixo
de política econômica centrado na demanda a partir de organizações de produção de
massa, diretamente vinculada a organização do consumo de massa, garantindo a
continuidade da atividade econômica global, por meio de uma demanda global efetiva
vinculada diretamente em função da renda global.
TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES E CULTURA BRASILEIRA
PROF. DR. JOÃO LUIZ PASSADOR
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A superação daquilo que chama de tríplice cinismo aterrorizante, a parte da


teoria do neoliberalismo, da aplicação preconizada no campo da produção e a sua
justificação ideológica dependeria da absorção e pacificação dos interesses
contraditórios presentes na sociedade, por meio de uma organização onde haveria
cidadania interna, exercida em seu interior e também no interior das fronteiras
nacionais, responsável não apenas perante seus acionistas e seus comitentes, mas
também perante o conjunto de fatores que permitem que ela funcione, fatores que
conformam o meio no qual essa empresa vive e prospera: sociedade, comunidades
locais, regionais, nacionais e natureza.
Para tento referiria “ um Estado mais intervencionista e mais forças de tipo
sindical para obrigar a empresa, como nos países de economia social de mercado, a se
comportar de outro modo que não como máquina para gerar lucro unilateral, em
detrimento da natureza e dos seres humanos mais frágeis. Isso só pode acontecer com
um mercado regulamentado, com um Estado e uma parceria social mais voluntarista
que nunca.

PRESSUPOSTOS, SUBENTENDIDOS E VIESES IDENTIFICADOS:

Em suas Notas Introdutórias (p. 17 – 28) a partir da identificação da


problemática que pretende perseguir em sua análise, apresenta suas premissas e fatos,
além de dar o tom da crítica que será efetuada. O viés crítico é evidenciado pelo
excessivo uso de adjetivos negativos para a narrativa adotada.
Referida análise pode ser entendida por meio da aplicação de um raciocínio
metodológico histórico-evolutivo, operacionalizado em um materialismo dialético, por
meio de desconstruções pouco convencionais de ideias preconcebidas no domínio da
economia-administração, fazendo uso de expedientes argumentativos como o bell-
hooker, caracterizada por justificativas apelativas ao absurdo e as emoções, conforme
é extraído do texto: “Os simples acontecimentos de todos os dias, por toda a parte no
mundo de hoje, bastam para mostrar, por si sós, a que ponto o estrago é grande e os
danos cada vez mais intoleráveis”.
Dentro deste contexto fático e teórico, afirma seu objetivo de “compreender,
de uma perspectiva atenta e crítica, os vínculos conceituais e empíricos entre o
pensamento econômico dominante, com seu séquito – a ideologia única globalizada e
a administração – e analisar as consequências dessa relação, em termos da realidade
social e material a que estamos sujeitos nos dias de hoje e em termos da realidade que
nos está reservada no futuro”.
Há “mistificações às quais recorrem os políticos e seus economistas para
convencer o cidadão de que a grande corrida ávida por lucros atual é necessária para
o bem de todos”. Logo, pode extrair, que a corrida por lucro não é algo necessário e
que nem sempre o bem-estar da cidade, da comunidade são os objetivos da organização,
as vezes podendo ser até seus inimigos.

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CONSIDERAÇÕES PESSOAIS (OPINIÃO E CRÍTICA)

Deve-se ressalvar que o texto escrito em 2002, apresenta limitações de análises fáticas,
tal qual as consequências da crise de 2008, por lógica impossibilidade temporal. Obras
como o Miniaturo Global de Varoufakis e o Tempo Comprado de Wolfgang Streek,
permitem uma compreensão do assunto tratado, em um viés complementar a obra.
Em relação aos vínculos sociais e aos objetivos das Organizações, entre elas o Estado,
cabe comparação com a obra A Física da Política – Hobbes contra Aristóteles, de Yara
Frateschi.
Fica a dúvida quanto à possibilidade da aplicação da crítica Habermasiana, a respeito
da sobreposição do discurso estratégico sobre o discurso deliberativo, em Direito e
Democracia.
Ainda que o autor faça crítica que as empresas devam garantir responsabilidade
socioambiental nos Estados Unidos, devemos nos recordar da diferença entre as
naturezas dos sistemas jurídicos existentes e que no Brasil, a função social da empresa
é garantida no texto constitucional, a partir de uma interpretação sistemática dos
princípios que regem a ordem econômica exposta no artigo 170 da CF. Ver, Eros Grau,
A Ordem Econômica na Constituição de 1988, e Superior Tribunal de Justiça divulgou
julgamento onde apontou que na aplicação da Lei de Recuperação Empresarial o
aplicador do Direito deve estar focado no cumprimento dos princípios da Lei
11.101/2005, uma vez que eles orientaram a elaboração e a edição do diploma legal e
objetivam garantir o atendimento dos escopos maiores do instituto da recuperação das
empresas em dificuldades, tais como “a manutenção do ente no sistema de produção e
circulação de bens e serviços, o resguardo do direito dos credores e a preservação das
relações de trabalho envolvidas, direta ou indiretamente, na atividade”. STJ, 3ª Turma,
REsp 1.630.702/RJ, Relatora: Ministra Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em
2/2/2017, DJe 10/2/2017. Informativo 598, 29/3/2017

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