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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES


CURSO DE BACHARELADO EM TEOLOGIA

ALESSANDRO DA SILVA LADEIRA

FAMÍLIAS EM SEGUNDA UNIÃO: PERSPECTIVAS PASTORAIS PARA OS


CASAIS CATÓLICOS DIVORCIADOS QUE VOLTARAM A SE CASAR

LONDRINA
2018
ALESSANDRO DA SILVA LADEIRA

FAMÍLIAS EM SEGUNDA UNIÃO: PERSPECTIVAS PASTORAIS PARA OS


CASAIS CATÓLICOS DIVORCIADOS QUE VOLTARAM A SE CASAR

Artigo de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Bacharelado em
Teologia da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, como requisito parcial
à obtenção do título de bacharel em
Teologia.

Orientador: Prof. Ms. Sueli Almeida de


Oliveira.

LONDRINA
2018
ALESSANDRO DA SILVA LADEIRA

FAMÍLIAS EM SEGUNDA UNIÃO: PERSPECTIVAS PASTORAIS PARA OS FIÉIS


CASAIS CATÓLICOS DIVORCIADOS QUE VOLTARAM A SE CASAR

Artigo de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Bacharelado em
Teologia da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, como requisito parcial
à obtenção do título de bacharel em
Teologia.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________
Professor Ms. Sueli Almeida de Oliveira
PUC-PR

_____________________________________
Professor 2
PUC-PR

_____________________________________
Professor 3
PUC-PR

Londrina, 08 de outubro de 2018.


FAMÍLIAS EM SEGUNDA UNIÃO: PERSPECTIVAS PASTORAIS PARA OS
CASAIS CATÓLICOS DIVORCIADOS QUE VOLTARAM A SE CASAR

FAMILIAS EN SEGUNDA UNIÓN: PERSPECTIVAS PASTORALES PARA LAS


PAREJAS CATOLICOS DIVORCIADOS QUE VOLVERAN A CASARSE

Autor: Alessandro da Silva Ladeira1


Orientador: Prof. Ms. Sueli Almeida de Oliveira2

RESUMO

Este artigo trabalha, sobre as famílias em segunda união e as perspectivas pastorais


para os casais católicos divorciados que voltaram a se casar. Nessa perspectiva, o
artigo procura ressaltar a acolhida pastoral que a Igreja Católica tem para os casais
católicos que vivem uma segunda união. Aprofunda o conhecimento sobre o
sacramento do matrimônio e a sua indissolubilidade, abordando a realidade das
famílias em segunda união e o modo como os ministros ordenados lidam frente a
essa realidade das famílias em segunda união. Para tanto, a metodologia utilizada
através de pesquisas bibliográficas, e tendo como fim de buscar um conhecimento
maior do tema proposto. O estudo evidenciou as situações vividas pelos casais
católicos divorciados que vivem uma nova união e sabem que sua situação é
considerada irregular perante a Igreja, mas eles não são casais excluídos da
comunidade e não são privados de experimentar o amor de Deus e de se sentirem
membros do povo de Deus, que é a Igreja. Os ministros ordenados tem o
compromisso de amor à verdade, e o bom entendimento para dicernir às situações.

Palavras-chave: Perspectivas Pastorais. Famílias. Segunda União. Matrimônio.

RESUMEN

Este artículo trabaja, sobre las famílias en segunda unión y las perspectivas
pastorales para las parejas católicas divorciadas que volvieran a casarse. En esta
perspectiva, el artículo procura resaltar la acogida pastoral que la Iglesia Católica
tiene para las parejas católicas que viven una segunda unión. Profuniza el

1
Graduando do Curso de Bacharelado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
2
Graduada em Direito pela UEL, com especialização em Direito Civil e Processo Civil pela Unopar,
especialização em Filosofia do Direito pela UEL. Mestre em Direito Canônico pela Pontifícia
Universidade Gregoriana de Roma. Doutoranda em Direito Canônico pela Universidade Católica da
Argentina (UCA). É professora das disciplinas de Direito Canônico da PUCPR (Campus Londrina).
4

conocimiento sobre el sacramento del matrimonio y su indisolubilidad, abordando la


realidad de las famílias en segunda unión. Para ello, la metodología utilizada a
través de investigaciones bibliográficas, y teniendo como fin de buscar un
conocimiento mayor del tema propuesto. El estúdio evidenció las situaciones vividas
por las parejas católicas divorciadas que viven una nueva unión e saben que su
situación es considerada irregular ente la Iglesia, pero no son casadas excluidas de
la comunidad y no están privadas de experimentar el amor de Dios y de sentirse
miembros del pueblo de Dios, que es la Iglesia. Los ministros ordenados tienen el
compromiso de amor a la verdad, y el buen entendimiento para discernir las
situaciones.

Palabras-Llave: Perspectivas Pastorales. Familias. La Segunda Unión. Matrimonio.

INTRODUÇÃO

O presente artigo pretende estabelecer um parecer, ponderado,


especialmente em relação com a Igreja Católica, acerca dos divorciados e em
segunda união. A metodologia, empregada na pesquisa, incide no estudo
bibliográfico e analítico-sintético, avaliando os referenciais teóricos, em decorrências
de análises conceituais.
A partir dos textos fundamentais da fé cristã, pretende-se realizar uma
interpretação acerca do tema, com vistas ao aprofundamento dos estudos,
referentes aos conceitos do matrimônio; à aceitabilidade do divórcio civil; à
conceituação de casais em segunda união; e às orientações ao acesso dos mesmos
à eucaristia em perspectiva ecumênica, notadamente por parte da Igreja Católica
Romana e algumas orientações pastorais.
O primeiro capítulo analisa a compreensão eclesial do matrimônio na Igreja
Católica Apostólica Romana e a compreensão do casamento civil.
A primeira parte analisa a noção bíblica de matrimônio, ao afirmar que, entre
fiéis católicos, o matrimônio válido é sacramento, instituído por Deus, em Jesus
Cristo, que o santificou e elevou à dignidade de sacramento (Ef 5,21-33). Verifica
alguns aspectos históricos do matrimônio, sendo que o mesmo, para os cristãos,
adquiriu valor santo e que houve a proibição de casamentos clandestinos, aqueles
realizados somente com o consentimento dos cônjuges.
No Concílio Vaticano II, descrever-se a sua fase preparatória e, por
conseguinte, a concepção do sacramento do matrimônio, deslocar-se da visão
5

institucional-jurídica para a concepção personalista. No distinto concílio, analisa-se a


Constituição Pastoral Gaudium et Spes.
A Exortação Apostólica Familiaris Consortio de João Paulo II reflete sobre a
missão da família cristã no mundo de hoje e direige-se às famílias de modo a
chamar a atenção para as ciladas da modernidade, que busca destruir e
desestruturar a família.
Ao tratar especificamente da questão do matrimônio, o Papa o situa em:
“Neste sacrifício, descobre-se inteiramente aquele desígnio que Deus imprimiu na
humanidade do homem e da mulher, desde a sua criação; o matrimônio dos
batizados torna-se, assim, o símbolo real da Nova e Eterna Aliança, decretada no
Sangue de Cristo.”
A Familiaris Consortio declara que “a Igreja tem solenemente ensinado e
ensina que o matrimônio dos batizados é um dos sete sacramentos da Nova
Aliança.”
Alude também a indissolubilidade do matrimônio como representação real do
sinal sacramental na relação de Cristo com a Igreja: “Em virtude da
sacramentalidade do seu matrimônio, os esposos estão vinculados um ao outro de
maneira indissolúvel. A sua pertença recíproca é a representação real, através do
sinal sacramental, da mesma relação de Cristo com a Igreja”. A Familiaris Consortio
nº 84 alude à situação irregular dos casais católicos divorciados e em segunda união
e demonstra a compaixão e a misericórdia da Igreja para com os fiéis.
O Código de Direito Canônico – Catecismo da Igreja Católica, legislação
jurídica eclesial da Igreja Católica, reflete a sacramentalidade do matrimônio e indica
que, “entre batizados, não pode haver contrato matrimonial válido que não seja, ao
mesmo tempo, sacramento”. Trata do consentimento matrimonial, que “é o ato da
vontade pelo qual o homem e a mulher, por pacto irrevogável, se entregam e
recebem mutuamente, a fim de constituírem o matrimônio”. Aponta as propriedades
do matrimônio: unidade e indissolubilidade e breves denominações legais.

1 O MATRIMÔNIO, FUNDAMENTO DA FAMÍLIA E SUA INDISSOLUBILIDADE

O valor do matrimônio é algo fundamental para a família. “A família tem o seu


fundamento na livre vontade dos cônjuges de se unirem em matrimônio, no respeito
6

dos significados e dos valores próprios deste instituto.” 3 Não depende somente do
homem e da mulher, mas também do próprio Deus.
No Matrimônio, o amor e o respeito é algo fundamental, não podendo deixar
de lado a consumação que se dá no ato da sua relação sexual. O cônjuge é o
agente no desenvolvimento do matrimônio com a criação e o aumento da prole. “O
próprio Deus é o autor do matrimônio, o qual possui diversos bens e fins.” 4 O
matrimônio e o amor dos cônjuges, estão ligados e ordenadamente unidos para a
procriação e educação da prole. “O instituto do matrimônio na íntima comunhão de
amor conjugal que o Criador fundou e dotou com Suas leis.” 5 “Tal empenho comporta
que as relações entre os membros da família sejam caracterizadas pelo sentido da
justiça e, portanto, pelo respeito aos direitos e deveres recíprocos.” 6
“O matrimônio tem como traços característicos: a totalidade, em força da qual
os cônjuges se doam reciprocamente em todos os componentes da pessoa, físicos e
espirituais.”7 Em sua caminhada conjugal, o homem e a mulher que se doam um ao
outro formando uma aliança conjugal, “o homem se unirá à sua mulher e os dois
serão uma só carne (Mt 19, 6).”8
“O matrimônio, porém, não foi instituído unicamente em vista da procriação: o
seu carácter indissolúvel e o seu valor de comunhão permanecem mesmo quando
os filhos, ainda que vivamente desejados, não chegam a completar a vida conjugal.” 9
Dentro do matrimônio, os cônjuges assumem uma missão importante na vida
conjugal: “Neste caso, os esposos “podem mostrar a sua generosidade adotando
crianças desamparadas ou prestando relevantes serviços em favor do próximo.” 10
O matrimônio é uma comunhão indissolúvel. O matrimônio é uma união íntima
entre o homem e a mulher, uma doação pessoal. Deus concede a indissolubilidade
do matrimônio como sinal e fruto de seu amor.

3
PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”. Compêndio da doutrina social da Igreja. São
Paulo: Paulinas, 2005.p. 132.
4
CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n.48. 5. ed. São
Paulo: Paulinas, 2007.p. 64-65.
5
PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”. Compêndio da doutrina social da Igreja. São
Paulo: Paulinas, 2005. (N. 215). p. 132.
6
Ibidem. (N. 215)., p. 133.
7
Ibidem. (N. 217)., p.133.
8
BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2012. p. 1738.
9
PONTÍFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”. Compêndio da doutrina social da Igreja. São
Paulo: Paulinas, 2005. (N. 218). p.133-134.
10
Ibidem. (N. 218)., p.134.
7

1.1 CONCEITO DO SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

O Código de Direito Canônico oferece um conceito de matrimônio muito


simples e útil para nós:

A aliança matrimonial pela qual o homem e a mulher constituem entre si


“uma comunhão para a vida toda é ordenada por sua índole natural ao bem
dos cônjuges e à geração e educação da prole, e foi elevada, entre os
batizados, à dignidade de sacramento”. Essa oportuna e significativa
referência à índole natural das finalidades do matrimônio exige que nos
detenhamos nas suas raízes naturais.11

O Código de Direito Canônico de 1917 não oferecia um conceito doutrinário


do matrimônio. Daí que a canonística recorresse às definições dos juristas romanos
clássicos. Entre elas, costuma-se citar a de MODESTINO: “Nuptiae sunt coniunctio
maris et foeminae, consortium omnis vitae, divini et humani iuris communicatio.” 12 O
Papa Pio XI cita esta definição textualmente na Encíclica Casti Connubii: “O
matrimônio é a união do homem e da mulher e o consórcio da toda a vida,
comunicação do direito divino e humano.” 13
O Concílio Vaticano II tratou explicitamente do matrimônio e da família no
capítulo I da segunda parte da Constituição Pastoral Gaudium et Spes.14 Pela sua
própria natureza, pastoral não dogmática, esse documento também não está
preocupado com definições de caráter científico. No número 48, oferece-nos alguns
elementos para a elaboração de uma definição do matrimônio, dos seus fins e das
suas propriedades:

A íntima comunidade da vida e do amor conjugal, fundada pelo Criador e


dotada de leis próprias, é instituída por meio da aliança matrimonial, ou seja
pelo irrevogável consentimento pessoal. Deste modo, por meio do ato
humano com o qual os cônjuges mutuamente se dão e recebem um ao
outro, nasce uma instituição à face da sociedade, confirmada pela lei divina.
Em vista do bem tanto dos esposos e da prole como da sociedade, este
sagrado vínculo não está ao arbítrio da vontade humana. O próprio Deus é
o autor do matrimônio, o qual possui diversos bens e fins, todos eles da
máxima importância, quer para a programação do gênero humano, quer
para o proveito pessoal e sorte eterna de cada um dos membros da família,

11
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretório da Pastoral Familiar, 79. 7.ed.
São Paulo: CNBB, Paulinas, 2011. p. 55-56.
12
HORTAL, Jesús. “O que Deus uniu”: lições de direito matrimonial canônico. 7. ed. São Paulo:
Loyola, 1979. p. 11.
13
PAPA PIO XI, Carta Encíclica Casti Connubii, de 31 de dezembro de 1930, trad. Portuguesa. ed.
Vozes. Petrópolis, N.87.
14
HORTAL, Jesús. “O que Deus uniu”: lições de direito matrimonial canônico. 7. ed. São Paulo:
Loyola, 1979. p. 12.
8

quer mesmo, finalmente, para a dignidade, estabilidade, paz e prosperidade


de toda a família humana. Por sua própria índole, a instituição matrimonial e
o amor conjugal estão ordenados para a procriação e educação da prole,
que constituem como que a sua coroa. O homem e a mulher, que, pela
aliança conjugal “já não são dois, mas uma só carne” (Mt 19, 6), prestam-se
recíproca ajuda e serviço com a íntima união das suas pessoas e
atividades, tomam consciência da própria unidade e cada vez mais a
realizam. Esta união íntima, já que é o dom recíproco de duas pessoas,
exige, do mesmo modo que o bem dos filhos, a inteira fidelidade dos
cônjuges e a indissolubilidade da sua união.15

O Código de Direito Canônico de 1983, embora oblíquo, dá uma verdadeira


definição do matrimônio no cânon n. 1055, 1. De acordo, pois, com esse texto legal,
podemos dizer que o matrimônio é um “pacto (ou uma aliança; no latim, foedus),
mediante o qual, um homem e uma mulher constituem entre si um consórcio da vida
toda, ordenado por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação
da prole.”16
Como pode ver-se nessa definição ou descrição, apenas se dão os elementos
essenciais do matrimônio, colocando o acento sobre o consórcio (no texto latino, diz
exatamente consortium) ou comunhão de vida. Suprimiu-se, porém, a palavra
íntima, que qualificava essa comunhão no projeto, por considerar que não
acrescentava nada, já que se diz que ela é “de toda vida”. O mais característico do
matrimônio é, portanto, que não se refere apenas a um campo parcial da existência,
mas que abrange toda: duas pessoas unem suas vidas sob todos os aspectos.
Por outro lado, ao afirmar que o matrimônio se ordena, pela sua índole
natural, ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, a Comissão não
quis estabelecer nenhuma hierarquia de fins. Os dois aqui enumerados parecem fluir
direta e indiretamente desse ser íntimo do matrimônio: a comunhão de toda a vida.

1.2 DEFINIÇÃO DE UNIDADE E INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMÔNIO

O amor dos esposos exige, por sua própria natureza, a unidade e a


indissolubilidade da comunidade de pessoas que engloba toda a sua vida: “De modo
que já não são dois, mas uma só carne (Mt 19,6).” 17 A comunhão conjugal não é
apenas caracterizada pela sua unidade matrimonial, mas também pela
15
CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição Pastoral Gaudium et Spes. 5. ed. São
Paulo: Paulinas, 2007. p. 64-65.
16
SAMPEL, Edson Luiz. Questões de Direito Canônico. São Paulo: Paulinas, 2010. p. 41-42.
17
BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. p. 1738.
9

indissolubilidade. “Os cônjuges são chamados a crescer continuamente nesta


comunhão por meio da fidelidade cotidiana a promessa matrimonial do dom total
recíproco.”18
A Igreja demonstra o valor fundamental da doutrina da indissolubilidade do
matrimônio e o seu valor para com o ligamento a outra pessoa por toda a vida
conjugal. “Esta comunhão humana é confirmada, purificada e aperfeiçoada pela
comunhão em Jesus Cristo, concedida pelo sacramento do matrimônio. É
aprofundada pela vida da fé comum e pela Eucaristia recebida pelos dois.” 19
O matrimônio mantem o valor de sua comunhão e fidelidade em sua
totalidade, proporcionando o seu valor de unidade e de indissolubilidade. A unidade
do matrimônio é de igual dignidade para os cônjuges, mediante o amor de Deus e
reconhecida no amor mutuo do casal.

1.3 A INDISSOLUBILIDADE COMO FUNDAMENTO DO SACRAMENTO DO


MATRIMÔNIO

A indissolubilidade é fundamental para o sacramento do matrimônio. O amor


verdadeiro e autêntico, é algo definitivo e indissolúvel, é uma verdadeira aliança de
amor. No sacramento do matrimônio, a fidelidade e a estabilidade são puramente
defendidos pela sua ordem jurídica da indissolubilidade. Tendo o homem e a mulher
contraído o matrimônio, eles passam a estabelecer entre si um vínculo conjugal de
caráter permanente.
A fidelidade como grande componente do projeto de vida dos cônjuges.
Santos sinalisa que a fidelidade passa por um processo de aprofundamento na vida
conjugal bem como seus desafios em relação no modo de conceber o amor e a
sexualidade no mundo hodierno:

Finalmente, o matrimônio como projeto de vida ajuda a compreender mais


profundamente seu caráter indissolúvel. A indissolubilidade envolve uma
confiança no outro, sobretudo na sua palavra. Em última análise, confiar é
apostar no outro, na sua história, na sua palavra, nas suas atitudes. 20

18
JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Familiaris Consortio. Sobre a missão da família cristã
no mundo de hoje. 7.ed. São Paulo: Paulinas, 1988. p. 35-36.
19
CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000. n. 1644. p.449-450.
20
SANTOS, Benedito Beni dos (Dom). Reflexões sobre a Exortação Apostólica Pós-Sinodal
Amoris Laetitia. Brasília, Edições CNBB. 2017. p. 27.
10

A indissolubilidade do matrimônio sacramental é algo que envolve a totalidade


da doação entre os cônjuges. A indissolubilidade garante também a grandeza e a
beleza na procriação dos filhos, o serviço e a doação como um exercício de
generosidade nos gestos e nas atitudes.
Leclercq aponta para a indissolubilidade do matrimônio, ressaltando que ela é
paralela à da unidade:

A necessidade da indissolubilidade decorre dos mesmos princípios e suscita


dificuldades análogas. O bem da instituição familiar exige que o homem e a
mulher se dêem [sic] um ao outro sem reservas, para se consagrarem
juntos à obra familiar. A família resulta da união dos dois e pressupõe essa
união. A família continua-se nos filhos, e so filhos devem ser os herdeiros de
uma tradição, tradição una, que encontram nos pais unidos. 21

A doação dos cônjuges, sem reservas um ao outro, constitui uma família –


constituída com os filhos – e assim a grandeza e a beleza do sacramento do
matrimônio se manifesta na unidade e na continuidade. Com a vinda dos filhos e
assim a grandeza e a beleza do sacramento do matrimônio se manifestam na
unidade e na continuidade da família.
A doação dos cônjuges, o amor verdadeiro – com o desejo de fazer o outro
feliz – e o aumento da prole formando a unidade do matrimônio. Um amor que não
é expresso de forma verdadeira, isso não é amor. Amar é unir-se ao outro por
completo, em um todo: é fundir-se na saúde e na doença, nas alegrias e tristezas,
amando-se e respeitando-se até a morte os separar.
A indissolubilidade do matrimônio na Exortação Apostólica Familiaris
Consortio trata-se:

O valor inestimável da indissolubilidade e da fidelidade matrimonial é uma


das tarefas mais preciosas e mais urgentes dos casais cristãos do nosso
tempo. Por isso, juntamente com todos os Irmãos que participaram no
Sínodo dos Bispos, louvo e encorajo os numerosos casais que, embora
encontrando não pequenas dificuldades, conservam e desenvolvem o dom
da indissolubilidade: cumprem desta maneira, de um modo humilde e
corajoso, o dever que lhes foi confiado de ser no mundo um “sinal” –
pequeno e precioso sinal, submetido também às vezes à tentação, mas
sempre renovado – da fidelidade infatigável com que Deus e Jesus Cristo
amam todos os homens e cada homem.22

21
LECLERCQ, Jacques, A família. Tradução de Emérico da Gama. Editora Quadrante Ltda. São
Paulo, 1968. p. 85.
22
JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Familiaris Consortio. Sobre a missão da família cristã
no mundo de hoje. 7. ed. São Paulo: Paulinas, 1988. p. 38.
11

O valor importante da indissolubilidade do matrimônio através da unidade e


fidelidade matrimonial é um sinal precioso. É também, um valor autêntico dos
cônjuges no seu testemunho de fidelidade, de que é indispensável no mundo atual.
Os cônjuges que foram abandonados pelo consorte e, com fé e esperança
cristã, não contraíram uma nova união, dão o seu testemunho e fidelidade. Eles
devem ser encorajados e orientados pelos ministros ordenados e pelos fiéis da
Igreja. “A voz do Magistério da Igreja que tem como fio condutor sobre a
indissolubilidade do sacramento do matrimônio se fundamenta no princípio
evangélico da verdade.”23
A indissolubilidade é uma qualidade essecial do matrimônio e representa,
entre os cônjuges, dentro de sua origem, alicerce e fim, uma aliança e o amor fiel e
absoluto ao Deus Criador.
Através de uma nova união dos cônjuges, rompendo a indissolubilidade,
separa-se essa aliança, pois o parceiro já não seria o mesmo do sacramento do
matrimônio. O Papa ensina na Familiaris Consortio no número 84, que “O estado e
as condições de vida, ou seja, a nova união vai contra objetivamente aquela união
indissolúvel de amor entre Cristo e a Igreja, significada e atuada na Eucaristia.” 24
Uma aliança indissolúvel do sacramento do matrimônio, é formada através de
uma nova união dos cônjuges, rompendo a indissolubilidade, separa essa aliança,
pois o parceiro já não seria o mesmo do sacramento do matrimônio.

2 FAMÍLIAS EM SEGUNDA UNIÃO

A instituição família passa por diversas transformações. A família, desde sua


origem, sofre alterações dentro da Igreja Católica, não só mudanças religiosas, bem
como, mudanças econômicas e socioculturais. São mudanças que trazem, na
sociedade nos últimos tempos, consequências relevantes em sua estrutura e
dinamicidade.
Estruturas bastante diversificada, que das muitas vezes geram dúvidas e
confusões. Mudanças que nos levam a tentar entender a realidade difícil de muitas
famílias irregulares, principalmente os separados ou divorciados, que contraíram
uma nova união civil.
23
SCAMPINI, Luciano. Casais em segunda união: uma experiência de encontro com a Divina
Misericórdia. 3. ed. Aparecida, SP: Santuário, 2009. p. 49.
24
Ibidem., p. 50.
12

Para uma boa compreensão de famílias em segunda união ou “casal em


segunda união”, segundo Oliveira e Oliveira, consideram-se:

“Casal em segunda união” aquele casal em que ambos os componentes, ou


então um deles, receberam o Sacramento do Matrimônio e, depois,
passaram por uma separação ou divórcio, tendo se unido posteriormente a
outra pessoa, adentrando o caminho de uma segunda união estável. Este
fato compreende uma atitude da procura humana de não se viver
solitariamente, fazendo dessa nova união uma postura de vida comum,
séria, responsável e perseverante, no intuito de formação de uma nova
família.25

Dentro dessa realidade os casais em segunda união, apenas um dos


cônjuges tenha recebido anteriormente o Sacramento do Matrimônio, separando do
casamento religioso e depois tendo unindo-se com outra pessoa. Uma pessoa
solteira tendo-se unida a uma pessoa separada ou divorciada do Sacramento do
Matrimônio vive em família de segunda união.
As famílias em segunda união vivem os seus desafios na sociedade.
Experimentam suas alegrias e tristezas, amarguras e frustações, realizações e
esperanças. Segundo a visão de Porreca, as famílias em segunda união, são
formadas por estruturas e dinâmica diferentes e mais complexas:

Por se constituírem após um divórcio de um casamento anterior e por darem


origem a grupos domésticos, cujos membros têm diferentes expectativas,
concepções de vida e padrões de comportamento que as de primeira união.
Como a história não se apaga ou não se esquece, mas se ressignifica,
nunca a família em segunda união será como uma família de primeira união,
pois traz a formação e vivência de dois núcleos distintos e integrados. A
experiência e constituição da primeira família não se apagam na formação e
vivência de uma segunda união. 26

As famílias em segunda união assim chamada nessa nova configuração têm


uma vivência maior nos seus desafios e relacionamentos. As famílias em segunda
união têm os seus desafios no novo lar reconstruído. O que faz muitas vezes abalar
a estrutura dos casais e dos filhos é de não vivenciar a estrutura de uma família em
primeira união. As famílias em segunda união impõem-se desafios: “nunca será um

25
OLIVEIRA, João Bosco; OLIVEIRA, Aparecida de Fátima Fonseca. Casais em segunda união –
Uma visão pastoral. São Paulo: Paulus, 2011. p. 16.
26
PORRECA, Wladimir. Famílias em segunda união – Questões pastorais. 1. ed. São Paulo:
Paulinas, 2010. p. 88-89.
13

relacionamento a partir de um nada vivido, mas terá sempre a experiência e os


membros familiares da primeira união.”27
Para as famílias em segunda união, o importe para elas não é olhar para o
que se foi e para o que se viveu de tristezas, amarguras, discussões, mas como os
casais em nova união dão sentido o que já experimentaram no aqui e agora da sua
experiência.
O desejo de fazer uma nova experiência matrimonial, mesmo com as
dificuldades pelos sofrimentos que tenham enfrentado no primeiro casamento e com
a experiência da separação, o desejo de suprir o fracasso do primeiro casamento é
que se torne possível o desejo de dar início a um novo relacionamento. A
oportunidade de recomeçar de novo.
A Igreja tem o olhar voltado para as famílias chamadas irregulares, bem
como, para os matrimônios civis.

2.1 FAMÍLIAS IRREGULARES

Famílias “irregulares” “são aquelas que contraíram matrimônio civil, que são
divorciadas novamente casadas, ou que simplesmente convivem.” 28 Outra definição
para famílias “irregulares”:

Constituem situações irregulares aquelas famílias vividas pelos casais que


se encontram em discordância com as normas ou leis vigentes, tanto do
ponto de vista religioso como civil: amasiados; casados só no civil;
divorciados não recasados; casais em segunda união. Nos três primeiros
casos, o casal rompeu o vínculo de comunhão com a Igreja e não pode
receber os sacramentos nem pode ser padrinho ou madrina, mas poderá
participar das pastorais sociais. Uma pessoa divorciada não recasada, caso
não tenha sido a culpada da separação, poderá receber os sacramentos,
ser padrinho ou madrinha e exercer qualquer ministério eclesial. 29

A Igreja tem a missão de integrar a todos, ajudando a cada um a encontrar o


seu melhor modo de participar da comunidade paroquial, as famílias “irregulares”

27
PORRECA, Wladimir. Famílias em segunda união – Questões pastorais. 1. ed. São Paulo:
Paulinas, 2010. p. 89-90.
28
FRANCISCO. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia. Sobre o amor na família. São
Paulo: Paulinas, 2016. p. 247.
29
CASOS ESPECIAIS: Famílias irregulares. Disponível em:<
http://diocesevaladares.com.br/noticiasdiocese/a-pastoral-familiar-e-o-setor-casos-especiais/.>
Acesso em: 25 jul. 2018.
14

são merecedoras da misericórdia de Deus. “Ninguém pode ser condenado para


sempre, porque esta não é a lógica do Evangelhol.” 30
Casais que vivem em situações irregulares no matrimônio, cônjuges que não
se casam na Igreja, mesmo não tendo impedimento algum para contrair o
casamento no religioso.
A Igreja reconhece a existência de situações “irregulares”, mas entende que é
“uma nova união que vem de um divórcio recente, com todas as consequências de
sofrimento e confusão, não é o ideal que o Evangelho propõe para o matrimônio e a
família.”31
Casais que não se sentem preparados para assumir uma grande
responsabilidade perante o valor sacramental ou que acham que é muito caro para
pagar. É preferível viverem amasiados, morando apenas juntos sem tamanho
compromisso sacramental.

2.2 IMPEDIMENTO MATRIMONIAL E VÍCIOS DO CONSENTIMENTO

“Dá-se o nome de impedimento aos fatos ou circunstâncias que tornam uma


pessoa incapaz de casar-se.”32 O Código de Direito Canônico apresenta vários
impedimentos matrimoniais:

Por Idade (cân. 1083), Impotência (cân. 1084), Vínculo anterior (cân. 1085),
Disparidade de culto (cân. 1086; 1071; 1125-1126), Ordem Sacra (cân.
1087), Voto (cân. 1088), Rapto (cân. 1089), Crime (cân. 1090),
Consanguinidade (cân. 1091), Afinidade (cân. 1092), Pública honestidade
(cân. 1093) e de Parentesco legal (cân. 1094).33

Esses cânones são os quais dão como impedimentos matrimoniais. Vejamos


o que se entende por impedimentos matrimoniais:

O direito a casar-se não é absoluto e ilimitado. Compete à Igreja, no


exercício da missão de tutelar a instituição matrimonial e familiar, regulá-lo
estabelecendo impedimentos fixados pelo direito natural ou ainda por leis
positivas, os quais inabilitam as partes para a prestação válida do
consentimento matrimonial. Por impedimento dirimente, entende-se a
disposição legal que torna a pessoa inábil para contrair validamente o
30
FRANCISCO. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia. Sobre o amor na família.
São Paulo: Paulinas, 2016. p. 246.
31
Ibidem., p. 248.
32
CAPPARELLI, Julio César. Manual sobre o matrimônio no direito canônico. São Paulo:
Paulinas, 1999. p. 53.
33
CÓDIGO de direito canônico. 14. ed. São Paulo: Loyola, 2015. p. 275-279.
15

matrimônio. Portanto, trate-se de situações pessoais de caráter objetivo que


afetam a validade mesma do anto, caso este venha a ser celebrado em sua
presença, sem que antes intervenha (onde é possível a intervenção), a
autoridade eclesial competente para a concessão de sua dispensa. A
legislação canônica vigente conhece um elenco de doze impedimentos
considerados “dirimentes”. 34

A legislação canônica conhece o elenco de doze impedimentos considerados


“dirimentes” em geral acima já citados, bem como, os impedimentos “dirimentes” em
especial.
O Código de Direito Canônico fornece-nos um conceito de consentimento.
Segundo o cânon número 1057, § 2, “O consentimento matrimonial é o ato de
vontade pelo qual o homem e a mulher, por aliança irrevogável, se entregam e se
recebem mutuamente para constituir matrimônio.” 35
O Código de Direito Canônico no cânon número 1095 sobre o consentimento
matrimonial apresenta que são incapazes de contrair matrimônio:

1° os que não têm suficiente uso da razão; 2° os que têm grave falta de
discrição de juízo a respeito dos direitos e obrigações essenciais do
matrimônio, que se devem mutuamente dar e receber; 3° os que não são
capazes de assumir as obrigações essenciais do matrimônio, por causas de
natureza psíquica.36

“Os vícios de consentimento matrimonial, entendem as imperfeições


decorrentes de anomalias na formação da vontade.” 37 Na vigente legislação
canônica os vícios do consentimento matrimonial são os seguintes: “A Ignorância
(cân. 1096, §§ 1-2), O erro (cân. 1097, §§ 1-2), O dolo (cân. 1098), A simulação
(cân. 1101, §§ 1-2), A violência ou medo grave (cân. 1103), O consentimento
condicionado (cân. 1102).”38 No campo matrimonial, são apresentados como defeitos
do negócio jurídico perante um desiquilíbrio de atuação que se entende por volitiva à
sua declaração, estabelecem entre si divergência entre vontade real e a vontade que
é manifestada externamente, não permitindo a formação da vontade real.

34
ALMEIDA, José Aparecido Gonçalves de (Dom). Vade – Mécum do Motu Próprio Mitis Ludex
Dominus Iesus. Brasília, Edições CNBB. 2017. p. 32.
35
CAPPARELLI, Julio César. Manual sobre o matrimônio no direito canônico. São Paulo:
Paulinas, 1999. p. 89.
36
CÓDIGO de direito canônico. 14. ed. São Paulo: Loyola, 2015. p. 279.
37
ALMEIDA, José Aparecido Gonçalves de (Dom). Vade – Mécum do Motu Próprio Mitis Ludex
Dominus Iesus. Brasília, Edições CNBB. 2017. p. 37.
38
CÓDIGO de direito canônico. 14. ed. São Paulo: Loyola, 2015. p. 280-281.
16

2.3 ENTRAR COM O PROCESSO DE NULIDADE DE MATRIMÔNIO PERANTE UM


TRIBUNAL

A Igreja, não tem o poder para dissolver um casamento válido. “Ao tribunal
eclesiástico, diante de um casamento concreto, competirá à tarefa de dizer se o ato
jurídico celebrado foi válido ou inválido.” 39
“O Código de Direto Canônico no cânon número 1.674 prescreve que para
impugnar o matrimônio são hábeis as seguintes pessoas: os cônjuges e o promotor
de justiça.”40
Sampel enfatiza que na impugnação do matrimônio os cônjuges e o promotor
de justiça sendo hábeis para impugnar o matrimônio, ele sinalizam:

O matrimônio arguido de nulidade é um ato: actus quo ou in fieri. Desse


modo, o processo de nulidade versará relativamente à validade ou a
invalidade de um ato bem determinado, qual seja: a celebração do
Matrimônio. É mister aferir se no exato momento da celebração estavam ou
não presentes os pressupostos de validez. Não é fácil determinar isso num
processo judicial. Contudo, os tribunais eclesiásticos trabalham
indefessamente com tais problemas.41

O processo de nulidade segue as normas gerais de todo o processo


matrimonial. “O libelo, com o pedido expresso de nulidade. Seria a petição inicial do
processo civil. Em seguida, aceito o libelo pelo juiz-presidente, procede-se à citação
da parte contrária.”42Na maioria das vezes, a parte intitulada ou entendida como
demandada, não se apresenta em juízo, dificultando na produção de provas.
Dentro de um processo canônico de nulidade, as testemunhas são de suma
importância. Testemunhas dentro desse processo, e de maneira geral em todos os
processos canônicos. As testemunhas são pessoas que presenciaram os fatos da
elucidação da demanda judicial, tanto por testemunha ocular, quanto pela
testemunha auricular. São pessoas que acompanharam e conviveram com os
cônjuges e estão aptas a testemunhar sobre a vida do casal principalmente no inicio
do matrimônio.
Depois de colhida as provas para o processo canônico de nulidade, vem a
elaboração do laudo que se chama laudo técnico preparado por um psicólogo,

39
SAMPEL, Edson Luiz. Questões de Direito Canônico. São Paulo: Paulinas, 2010. p. 68.
40
CÓDIGO de direito canônico. 14. ed. São Paulo: Loyola, 2015. p. 397-398.
41
SAMPEL, Edson Luiz. Questões de Direito Canônico. São Paulo: Paulinas, 2010. p. 68.
42
Ibidem., p. 69.
17

dando início a fase decisória. O defensor do vínculo é a pessoa responsável de


cuidar pela fase decisória. “O denfensos do vínculo cabe a ele verificar se o
processo transcorreu com a observância da lei adjetiva (lei processual) e, também,
expor tudo o que razoavelmente possa ser aduzido contra a tese da nulidade do
matrimônio.”43
O defensor do vínculo tem a finalidade de proteger a instituição do
matrimônio, tendo a responsabilidade de agir em cada caso concreto com total
liberdade e independência.
“Por conseguinte, o legislador houve por bem estabelecer o reexame
obrigatório da sentença que decreta a nulidade, a fim de que outra corte canônica,
de grau superior, conforme esta decisão.” 44 O sacramento do matrimônio é um
tesouro para o povo de Deus.

3 AS PERSPECTIVAS PASTORAIS DA IGREJA CATÓLICA E AS PROPOSTAS


PARA AS FAMÍLIAS EM SEGUNDA UNIÃO

Os documentos da Igreja Católica que tratam sobre o matrimônio em especial


os casos de segunda união, em especial a Exortação Apostólica Familiaris Consortio
e a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laeticia, ambas apontam caminhos de
propostas pastorais para as famílias que vivem uma segunda união.
A Familiaris Consortio no número 84, de João Paulo II aponta que “a
experiência cotidiana mostra infelizmente, que quem recorreu ao divórcio tem
normalmente em vista a passagem a uma nova união, obviamente não com o rito
religioso católico.”45
A Igreja tem por sua missão conduzir à salvação todos os homens e pessoas
batizadas, por sua vez “não podendo abandonar aqueles que unidos pelo vínculo
matrimonial sacramental procuraram passar a novas núpcias.” 46 O esforço da Igreja
em oferecer-lhes os meios de salvação.

43
SAMPEL, Edson Luiz. Questões de Direito Canônico. São Paulo: Paulinas, 2010. p. 69-70.
44
Ibidem., p. 70-71.
45
JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Familiaris Consortio. Sobre a missão da família cristã
no mundo de hoje. 7. ed. São Paulo: Paulinas, 1988. p. 147.
46
Ibidem., p.147.
18

Os pastores tem o compromisso de amor à verdade, e ter entendimento para


dicernir às situações. “O caminho da Igreja, desde o Concílio de Jerusalém em
diante, é sempre o de Jesus: o caminho da misericórdia e da integração.” 47
O caminho da Igreja é o de acolher e não de condenar a ninguém,
derramando com abundancia a grande misericórdia de Deus sobre as pessoas que
pedem humildemente com o coração sincero.
Atenção, acolhida, caridade verdadeira são importantes atitudes que deve
levar como propostas de integração para as famílias em segunda união.

3.1 ATENDIMENTOS PASTORAIS DOS SACERDOTES AOS DIVORCIADOS EM


SEGUNDA UNIÃO

O Papa Francisco na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia,


orienta que os sacerdotes “devem no contexto de um discernimento pastoral cheio
de amor midericordioso, que sempre se inclina para compreender, perdoar,
acompanhar, esperar e, sobretudo integrar.” 48
A lógica que deve prevalecer e fortalecer na Igreja é de fazer a experiência de
abrir o coração para àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais. O
Papa Francisco vem reforçando tando para os fiéis aproximar com confiança junto
aos ministros ordenados.
Os pastores da Igreja tem uma missão importante segundo a fala do Papa
Francisco na Amoris Laetitia:

Os casais nem sempre encontrarão frente aos ministros ordenados uma


confirmação das próprias ideias ou desejos, mas seguramente receberão
uma luz que lhes permita compreender melhor o que está acontecendo e
poderão descobrir um caminho de amadurecimento pessoal. E convido os
pastores a escutar, com carinho e serenidade, com o desejo sincero de
entrar no coração do drama das pessoas e compreender o seu ponto de
vista, para ajuda-las a viver melhor e reconhecer o seu lugar na Igreja. 49

47
FRANCISCO. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia. Sobre o amor na família.
São Paulo: Paulinas, 2016. p. 246.
48
FRANCISCO. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia. Sobre o amor na família.
São Paulo: Paulinas, 2016. p. 263.
49
FRANCISCO. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia. Sobre o amor na família.
São Paulo: Paulinas, 2016. p. 264.
19

Os ministros ordenados tem a missão de incentivar e orientar as famílias em


segunda união, para que eles se sintam acolhidos e orientados de modo especial
pelos ministros ordenados bem como a pastoral matrimonial.
Os ministros ordenados, diante das cituações dos casais em segunda união,
têm a responsabilidade e total delicadeza no atendimento pastoral. Os sacerdotes
enfrentam dificuldades, às vezes, situações de dor, conflitos interior, porque o
desafio é grande e não podendo deixar o amor e à fidelidade à Igreja, e muito menos
deixar de escutar e compreender os irmãos que recorem a eles.
Gropelli enfatiza que os sacerdotes se vêem às voltas com um impasse que
pode apresentar três momentos diferentes:

a) a doutrina da Igreja; b) o sentimento pessoal de dó e de solidariedade


para com os fiéis; c) a incompreensão de alguns recasados que fazem uma
injusta pressão ou até agridem os sacerdotes. Muitos pastores parecem
ignorar toda a problemática dos recasados ou têm medo de enfrentá-la. Mas
não faltam os que se dediquem com coragem a buscar uma solução que
não signifique traição do Evangelho.50

A Igreja católica frente à realidade dos casais em segunda união apresenta


caminhos para os sacerdotes na hora em que os casais solicitam um direcionamento
uma ajuda:

Os pastores são chamados a fazer sentir a caridade de Cristo e a materna


proximidade da Igreja; saibam eles acolhê-los com amor, exortando-os a
confiar na misericórdia de Deus, e sugerindo-lhes com prudência e respeito
caminhos concretos de conversão e de participação na vida da comunidade
eclesial.51

Os sacerdotes, frente a essa realidade, vonvivem com situações assim e na


sua caminhada carregam com eles vários casais em segunda união em constante
busca de apoio e de compreensão. A amizade, respeito, carinho e compreesão são
instrumentos de apoio por parte dos sacerdotes. O projeto e a vivência de Jesus
também foram assim. Por amizade e ministério, os sacerdotes choram com muitos
casais que, com sinceridade vivem melhores a segunda união do que a primeira.
O drama dos casais que vivem em segunda união torna-se um grande desafio
com muita dor para os sacerdotes. Uma dor porque além de não poderem dar a
absolvição, os sacerdotes também não devem marcar com nenhum gesto religioso o

50
GROPELLI, Vitor. A cruz dos recasados. 3. ed. São Paulo: Ave-Maria, 2001. p. 44-45.
51
Ibidem., p. 45.
20

rito civil ou o ato com que os desquitados passaram a se considerar marido e mulher
antes de conseguir a declaração de nulidade do casamento anterior.
Gropelli apresenta a resposta da Igreja em relação aos presbíteros que só
podem transmitir estas palavras do papa:

O respeito devido quer ao sacramento do matrimônio quer aos próprios


cônjuges e aos seus familiares, quer ainda à comunidade dos fiéis proíbe os
pastores, por qualquer motivo ou pretexto mesmo pastoral, de fazer em
favor dos divorciados que contraem uma nova união, cerimônias de
qualquer gênero. Estas dariam a impressão de celebração de novas núpcias
sacramentais válidas, e consequentemente induziriam em erro sobre a
indissolubilidade do matrimônio contraído validamente. Agindo de tal
maneira, a Igreja professa a própria fidelidade a Cristo e à sua verdade; ao
mesmo tempo comporta-se com espirito materno para com estes seus
filhos, especialmente para com aqueles que, sem culpa, foram
abandonados pelo legítimo cônjuge.52

As palavras da Igreja são fortes tanto para com os casais em segunda união,
quanto também para os sacerdotes aos quais devem explicar com clareza e
delicadeza aos fiéis, as razões dessa disciplina, com termos de fácil entendimento e
que sejam apropriados e convincentes.
Os sacerdotes não podem perder a sintonia com a doutrina do magistério da
Igreja do qual são guias espirituais, porta-vozes. Os sacerdotes tem o dever de
orientar os casais, mas não tem o direito de falar publicamente ou de induzir o fiel a
pensar que lhes é permitido fazer o contrário do que a Igreja manda. Dizer sim, a
verdade com a devida caridade.

3.2 COMO ACOLHER E DISCERNIR SITUAÇÕES

Os casais em que vivem em segunda união sabem que sua situação é


considerada irregular perante a Igreja, mas eles não são casais que devem ser
isolados da comunidade, sendo eles, mais ou menos inferiores do que os demais
casais que vivem em primeira união.
Os casais em segunda união devem experimentar o amor de Deus e se
sentirem membros do povo de Deus, que é a Igreja. Todos os batizados têm os seus
direitos dentro de uma comunidade eclesial e devem ser respeitados. A regra é clara
para todos, solteiros, casados, divorciados ou não.
Os direitos dos casais em segunda união são segundo Gropelli:
52
GROPELLI, Vitor. A cruz dos recasados. 3. ed. São Paulo: Ave-Maria, 2001. p. 46-47.
21

1.Ser considerados e sentir-se filhos amados da Igreja; 2. ser acolhidos


com carinho por ocasião dos sacramentos dos filhos; 3. contar com o
apoio da Igreja na educação dos filhos; 4. ter acesso ao Tribunal
Eclesiástico para o processo de declaração de nulidade do casamento
anterior; 5. receber a visita dos padres e de líderes da comunidade; 6.
trabalhar em alguns setores da pastoral.53

Dentre os direitos dos casais em segunda união citado acima por Gropelli, os
casais em segunda união, devem sentir-se filhos amados pela Igreja que devem
guiar os seus passos, para sentirem no pensamento discípulos de Jesus. A
Igreja não admite o segundo casamento de um seu membro, mas não exclui e nem
excomunga os casais em segunda união. A Igreja defende com vigor a
indissolubilidade do sacramento do matrimônio, éla também incentiva o respeito e o
amor daqueles que vivem em situações de segunda união.
Portanto, a Igreja tem a responsabilidade de tratar bem e acolher de braços
abertos às pessoas que vivem um drama tão delicado e dolorido. O compromisso
dos pastores é de ir atrás, acolhê-las, apresentar, e transmitir o carinho e amor de
Cristo Jesus.
A Igreja também tem a missão de acolher bem os filhos dos casais em
segunda união. Os filhos devem ser acolhidos com muito amor e carinho e abertura
espiritual. Os casais em segunda união esperam da Igreja a acolhida dos filhos para
receberem uma formação cristã e o engajamento na catequese da paróquia.
Os catequistas precisam ter um bom discernimento para com a formação e
acolhida dos filhos dos casais. Sabedoria e discernimento para não usarem palavras
que possam ferir os filhos em relação às situações dos pais.
Os casais em segunda união esperam receber a visita do sacerdote e dos
responsáveis de pastorais e movimentos da comunidade. A visita às famílias em
segunda união é de suma importância. A acolhida por parte dos sacerdotes e
lideranças das pastorais e movimentos da comunidade visa em proporcionar alegria
e entusiasmo aos casais e fazer com que os casais percebam que são amados e
que não estão isolados pela comunidade. Uma acolhida fraternal e com o espírito de
caridade causa alegria e não escândalo. Antigamente éra escândaloso a visita de
um sacerdote aos casais em segunda união. Hoje não é mais. Hoje é algo que deve
ser abolido se não já é.

53
GROPELLI, Vitor. A cruz dos recasados. 3. ed. São Paulo: Ave-Maria, 2001. p. 29.
22

Portanto, a Pastoral Famíliar junto com o sacerdote, tem a missão de ir ao


encontro das famílias em segunda união, para assim poder através das visitas
semear a esperança e descobrir sinais de um novo jardim no seu reflorescer em
meio às famílias em segunda união.

3.3 A COMUNHÃO ESPIRITUAL PARA OS CASAIS EM SEGUNDA UNIÃO

A Igreja referente à recepção da Eucaristia exige do fiel católico uma


participação ativa, o recebimento à Eucaristia deve ser feito com muito respeito e
devoção por parte de quem a recebe. Para recebê-la com devoção, o fiel católico
deve estar livre de pecado grave.
Os casais em segunda união têm a privação na comunhão eucarística. Eles
são privados da comunhão, devido o pecado grave objetivo, situação indigna.
O Código de Direito Canônico no cânon número 915 apresenta três situações
que limitam o acesso dos fiéis ao recebimento da Eucaristia: “Não sejam admitidos à
sagrada comunhão os excomungados e os interditados, depois da imposição ou
declaração da pena, e outros que obstinadamente persistem no pecado grave
manifesto.”54
O Papa São João Paulo II escreveu na Exortação Apostólica Familiaris
Consortio de 1981, no número 84:

A Igreja, contudo, reafirma a sua práxis, fundada na Sagrada Escritura, de


não admitir à comunhão eucarística os divorciados que contraíram nova
união. Não podem ser admitidos, do momento em que o seu estado e
condições de vida contradizem objetivamente aquela união de amor entre
Cristo e a Igreja, significada e atuada na Eucaristia. Há, além disso, um
outro peculiar motivo pastoral: se se admitissem estas pessoas à Eucaristia,
os fiéis seriam induzidos em erros e confusão acerca da doutrina da Igreja
sobre a indissolubilidade do matrimônio.55

A Igreja tem a sua missão de reafirmar com vigor o que é apresentado no


Código de Direito Canônico, bem como no documento do Papa São João Paulo II
Familiaris Consortio no número 84. Não admitir à comunhão eucarística aos
divorciados que contraíram nova união.

54
CÓDIGO de direito canônico. 14. ed. São Paulo: Loyola, 2015. p. 240.
55
JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Familiaris Consortio. Sobre a missão da família cristã
no mundo de hoje. 7. ed. São Paulo: Paulinas, 1988. p. 148.
23

Existe a comunhão espiritual para os casais em segunda união, obedecendo


ao Magistério da Igreja, os casais não podem ter o contato físico com a comunhão
eucarística.
A comunhão espiritual é crer em Deus, na sua palavra divina, na confiança
que jamais tardará. “Deus os convida a abrirem-se ao seu dom – “Quem não receber
como criança o Reino de Deus, nunca entrará nele” (Mc 10,15) -, “Deve orar e
esperar, pois quem reza ao Pai Celeste fica seguro de tudo obter (Lc 11,9-13).” 56
Os casais em segunda união, frente à sua condição, vivem ao menos a
disposição, e proporcionados à segurança e a alegria da possibilidade do acesso ao
trono da Graça de Deus. Eles, com atitudes humildes e confiantes, esperam a
resposta de Deus e da Igreja que não tarda. Os casais em segunda união devem se
colocar nessa atitude humilde, e confiante, na obediência à não recepção da
Eucaristia como um valor que os faz transformarem-se em instrumentos de defesa e
de valoração do Sacramento.
Um grande caminho que eles encontram na participação no Sacrifício de
Jesus: através da Comunhão Espiritual.
A comunhão espiritual, o encontro pessoal com Jesus atualiza a graça
recebida, cada vez mais conciente no seu amor infinito. A Comunhão Espiritual é o
amor envolvente do casal que gera a recepção de Cristo Jesus em espírito, verdade
e vida. A definição de Comunhão Espiritual segundo a tradição cristã “é o ardente
desejo da alma de uma íntima união com Jesus, a qual se realiza pela força da fé e
sob a ação do Espírito Santo.”57
O desejo de unir-se na intimidade com Deus através da Comunhão Espiritual,
o desejo de unir-se com fidelidade e ternura, unir a Cristo com igual amor conjugal. A
disposição de fazer a experiência de uma intimidade profunda de amor e união ao
Deus Salvador.
Para ter uma proximidade de unir-se intimamente a Deus tem alguns
requisitos, que Scampini apresenta:

O primeiro requisito é uma fé viva na íntima união de Cristo com a alma,


pela Comunhão espiritual. É a condição necessária para que a Comunhão
espiritual possa ser verdadeira, real e íntima união da alma com Cristo.
Quem não tem fé na íntima presença de Jesus na Comunhão espiritual, a
56
OLIVEIRA, João Bosco; OLIVEIRA, Aparecida de Fátima Fonseca. Casais em segunda união:
uma visão pastoral. São Paulo: Paulus, 2011. p. 50.
57
SCAMPINI, Luciano. Casais em segunda união: uma experiência de encontro com a Divina
Misericórdia. 3. ed. Aparecida, SP: Santuário, 2009. p. 85.
24

mesma torna-se inútil e sem valor algum. O segundo requisito é uma fé


sustentada e alimentada pelo nosso grande amor por Cristo, que se une
intimamente à nossa alama pela Comunhão espiritual. Quem não tem esse
amor por Jesus, a Comunhão espiritual torna-se vã e inútil. O terceiro
requisito necessário para que a Comunhão espiritual possa ser uma
verdadeira e íntima união da alma com Cristo é a fé no verdadeiro amor de
Cristo para com a alma que procura unir-se intimamente a Ele.58

Diante dos requisitos apresentados por Scampini, sobre a Comunhão


espiritual, os casais em segunda união vivenciam um amor pessoal com Deus na
íntima união com Ele. Acreditar na Sagrada Escritura é demonstrar um enorme amor
pessoal de Deus para com aqueles que procuram unir-se intimamente com Ele. A
participação na Santa Missa é necessária, fundamental, significativa e frutuosa para
os casais em segunda união.
Os casais em segunda união, encorajados e incentivados no desejo de ter a
alma com uma íntima união com Cristo, pela força e fé no Deus criador, e pela força
do Espírito Santo através da Comunhão espiritual, os casais tem a sua confiança na
infinita Misericórdia de Deus que jamais os abandona.
Portanto, a Comunhão espiritual para o casal em segunda união, é uma
grande experiência de íntimo amor humano com o divino, na Divina Misericórdia do
Deus Criador e Redentor.

4.4 OS CASAIS EM SEGUNDA UNIÃO, ESTÃO PREPARADOS PARA O


SACRAMENTO DA PENITÊNCIA OU EUCARISTIA?

A disciplina é severa frente a essa realidade dos casais que vivem uma
segunda união. A absolvição mediante ao sacramento da penitência não pode ser
dada a quem pretende perceverar na segunda união.
Na Exortação Apostólica Familiaris Consortio no número 84, o Papa João
Paulo II tinha dado esta orientação:

A reconciliação pelo sacramento da penitência – que abriria o caminho ao


sacramento eucarístico – pode ser concedida só àqueles que, arrependidos
de ter violado o sinal da Aliança e da fidelidade a Cristo, estão sinceramente
dispostos a uma forma de vida não mais em contradição com a
indissolubilidade do matrimônio. Isto tem comoconseqüencia,
concretamente, que, quando o homem e a mulher, por motivos sérios –
quais, por exemplo, a educação dos filhos – não se podem separar,

58
SCAMPINI, Luciano. Casais em segunda união: uma experiência de encontro com a Divina
Misericórdia. 3. ed. Aparecida, SP: Santuário, 2009. p. 87-88.
25

“assumem a obrigação de viver em plena continência, isto é, de abster-se


dos atos próprios dos cônjuges.”59

Os casais em segunda união diante do itinerário eclesial tem uma maior


percepção do Sacramento da Penitência como uma mudança interior, e de
mentalidade, uma renovação de atitudes. Os casais de segunda união fazem,
através de Comunhão Espiritual um encontro com o Cristo Salvador e Redentor.
A missão dos casais em segunda união frente ao Sacramento da Penitência é
árdua, pois, sabem que a condição para eles poderem ser absolvidos é o retorno à
fidelidade prometida no primeiro e único matrimônio. Enquanto os cônjuges
estiverem vivenciando o matrimônio como marido e mulher, não é possível
receberem a absolvição. O matrimônio é indissolúvel é algo divino quem ninguém
tem autoridade para modificar.
Os casais também fazem a experiência de vislumbrar o valor e significado do
Sacramento da Eucaristia. A Eucaristia é o banquete de Cristo, presença real na
fração do pão. “Os casais em segunda união olham para o alto e visualizam em
verdade esses sinais do Reino de Deus: os Sacramentos da Penitência e da
Eucaristia.”60 Os casais em segunda união sentem uma grande ausência em suas
vidas desses Sacramentos, mas o valor dos Sacramentos é perene para avida
deles.
Os casais em segunda união rompe a aliança fiel e indissolúvel. Portanto a
Igreja reconhece essa situação como “irregular”. Aqui mostra que eles são
impedidos de participarem do Sacramento da Penitência e da Eucaristia. Os
pastores tem a incumbência de ajudar os casais em situações “irregulares” a dicernir
espiritualmente a sua caminhada cultivando a sua vida de cristão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desse trabalho foi de apresentar as perspectivas pastorais que a


Igreja Católica tem para os casais católicos divorciados que contraíram uma
segunda união.

59
JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Familiaris Consortio. Sobre a missão da família cristã
no mundo de hoje. 7. ed. São Paulo: Paulinas, 1988. p. 148-149.
60
OLIVEIRA, João Bosco; OLIVEIRA, Aparecida de Fátima Fonseca. Casais em segunda união:
uma visão pastoral. São Paulo: Paulus, 2011. p. 45.
26

Apesar dos problemas vividos no primeiro casamento, da dor e do sofrimento


com a separação, das dificuldades que enfrentam com a nova união, sobretudo
pelas advertências e supressões que sofrem pela postura da Igreja, os casais
pelejam para sobrepujar esses problemas e para sustentar a vida matrimonial.
Nesse sentido, se há o rompimento conjugal e fim do exercício da
nupcialidade religiosa, a postura dos fiéis em defesa da vida matrimonial, indica que
a vida a dois, ou melhor, a vida familiar continua a ser valorizada. Ao mesmo tempo,
se um arquétipo de casamento, no plano legal e/ou religioso, é pouco apreciado, a
união consensual estabelece substituto para esse modelo e para unir parceiros,
estabelecendo novos tipos de arranjos matrimoniais.
A segunda união é avaliada como probabilidade de remanejar a vida familiar,
ainda que ocasione consternação pela discriminação de se perceberem afastados
da comunidade católica, por serem considerados em situação irregular, de acordo
com as normas eclesiais.

REFERÊNCIAS

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