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31/12/2022 11:55 Castrato – Wikipédia, a enciclopédia livre

Castrato
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Castrato (em italiano: Castrato, plural castrati,


em português: "castrado") é um cantor cuja Castrato
extensão vocal corresponde em pleno à das vozes
femininas, seja de soprano, mezzo-soprano, ou
contralto. Isto ocorre porque o cantor, quando
criança, foi submetido à castração para preservar
sua voz aguda.

A castração antes da puberdade (ou na sua fase


inicial) impede então a libertação para a corrente
sanguínea dos hormônios sexuais produzidos
pelos testículos, os quais provocariam o
crescimento normal da laringe masculina (para o
dobro do comprimento) entre outras
características sexuais secundárias, como o
crescimento da barba.

Quando o jovem castrato chega à idade adulta, o Alessandro Moreschi (1858-1922)


seu corpo desenvolve-se normalmente em termos o último castrato.[1]
de capacidade pulmonar e força muscular, mas a
sua laringe não. A sua voz adquire assim uma tessitura única, com um poder e uma flexibilidade
muito diferentes, tanto da voz da mulher adulta, como da voz mais aguda do homem não castrado
(contratenor). Por outro lado, a maturidade e a crescente experiência musical do castrato
tornavam a sua voz marcadamente diferente da de um jovem.

O termo castrato designa não só o cantor, mas também o próprio registro da sua voz.

Os castrati na história
A prática de castração de jovens cantores (ou castratismo) existia desde o início do Império
Bizantino, em Constantinopla, em torno de 400 d.C. A imperatriz bizantina, Élia Eudóxia, tinha
um coro cujo mestre era um eunuco, que pode ter estabelecido o uso de castrati em coros
bizantinos. Por volta do século IX, cantores eunucos eram bem conhecidos (pelo menos em
Basílica de Santa Sofia), e permaneceu assim até o saque de Constantinopla pelas forças ocidentais
da Quarta Cruzada em 1204. A partir de então, a prática de cantores eunucos desapareceu.

Somente no século XVI, na península Itálica, os castrati reapareceram, devido à necessidade de


vozes agudas nos coros das igrejas. No fim da década de 1550, o duque de Ferrara tinha castrati no
coro da sua capela. Está documentada a sua existência no coro da igreja de Munique a partir de
1574 e no coro da Capela Sistina a partir de 1599. Na bula papal Cum pro nostri temporali munere
de 1589, o papa Sisto V aprovou formalmente o recrutamento de castrati para o coro da Basílica de
S. Pedro.

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Na ópera, esta prática atingiu o seu auge nos séculos XVII e XVIII. O papel do herói era muitas
vezes escrito para castrati, como por exemplo nas óperas de Handel. Nos dias de hoje, esses papéis
são frequentemente desempenhados por cantoras ou por contratenores. Todavia, a parte composta
para castrati de algumas óperas barrocas é de execução tão complexa e difícil que é quase
impossível cantá-la.

Muitos rapazes alvo da castração eram crianças órfãs ou abandonadas. Algumas famílias pobres,
incapazes de criar a sua prole numerosa, entregavam um filho para ser castrado. Em Nápoles,
recebiam a sua instrução em conservatórios pertencentes à Igreja, onde lecionavam músicos de
renome. Algumas fontes referem que muitas barbearias napolitanas tinham à entrada um dístico
com a indicação Qui si castrano ragazzi (Aqui castram-se rapazes).

Em 1870, a prática de castração destinada a este fim foi proibida na Itália, o último país onde ainda
era efetuada. Em 1902, o Leão XIII proibiu definitivamente a utilização de castrati nos coros das
igrejas. O último castrato a abandonar o coro da Capela Sistina foi Alessandro Moreschi, em 1913.

Na segunda metade do século XVIII, a chegada do verismo na ópera fez com que a popularidade
dos castrati entrasse em declínio. Por alguns anos, ainda existiram desses cantores na Itália. Com
o tempo, porém, esses papéis foram transferidos aos contratenores e, algumas vezes, às contraltos
ou às sopranos.

O filme Farinelli - Il Castrato


O mais famoso castrato do século XVIII terá sido Carlo Broschi,
conhecido por Farinelli,[1] tendo sido realizado um filme sobre a sua
vida, Farinelli - Il Castrato.

O filme de Gérard Corbiau (1994) focaliza a vida do mítico cantor


italiano Carlo Broschi (1705-1782), que iniciou sua carreira ao lado
do irmão, o compositor Riccardo Broschi. Fora aluno de Nicola
Porpora e ganhou muito prestígio em toda a Europa. Aparece como
um galã de olhar triste e solitário, e encerrou carreira como cantor
exclusivo do rei Felipe V da Espanha, que o contratou porque seu
canto era a única coisa que o tirava da depressão.

No longa-metragem, Farinelli vive um embate com o compositor


Haendel, que quase vai à falência quando o astro rouba o público de
seu teatro para o do concorrente. Caricatura do ano 1724,
representando Farinelli em
Na época dos castrati, a estrela era o cantor; a música, portanto, trajes femininos.
deveria estar a serviço dele. E o filme toca nesse assunto quando
Haendel descarrega em Farinelli todo seu ódio. De ambas as partes,
era uma relação alimentada por admiração e raiva.

Farinelli alcançava 3.4 oitavas, do Lá2 até o Ré6, com sua voz e, dizem, tinha a capacidade de
sustentar 150 notas em um só fôlego. Para fazer o filme, foi necessário juntar a interpretação de
dois cantores, um contratenor Derek Lee Ragin e uma soprano Ewa Małas-Godlewska.

Como não há gravações, ninguém sabe dizer ao certo como era a voz de Farinelli e de seus
contemporâneos.

Há apenas alguns registros do último castrato, Alessandro Moreschi (1858-1922),[1] que serviu na
Capela Sistina e, entre 1902 e 1904, gravou dez discos.

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?  "Hostias
Et Preces" Gravação: registro da voz de Alessandro Moreschi, cantando Hostias et
preces de Eugenio Terziani.

Tessitura usual: Lá3 ao Fá5.

Papéis operísticos
Tanto na ópera quanto na música sacra é inegável o importância de papéis masculinos
desempenhados por castrati, tais como:[2]

Orlando, em Orlando Furioso de Vivaldi;


Giulio Cesar, em Giulio Cesare de Haendel;
Alessandro, em Alessandro de Haendel;
Adão, em Il primo Omicidio de Alessandro Scarlatti ;
Orfeu, na versão vienense de Orphée et Eurydice de Gluck;

O livro "Cry to Heaven"


"Cry to Heaven" é uma obra de Anne Rice de 1982, que descreve a vida dos castrati italianos na
sociedade do século XVIII. Cantores de ópera que foram adulados por multidões, como hoje o são
os ídolos de música pop, objetos de paixões por homens e mulheres, mas que, no entanto, não
deixavam de ser considerados apenas como meio-homens (ou meio-humanos).

Ver também
Caffarelli
Senesino
Sun Yaoting
Voz de tiple

Referências
1. BBC Brasil (12 de julho de 2006). «Farinelli, o maior dos 'castrati', é exumado na Itália» (http
s://www.bbc.com/portuguese/cultura/story/2006/07/printable/060712_farinelli_exuma).
Consultado em 20 de março de 2022
2. Augusto, Paulo Roberto Peloso (2013). «Corpos Masculinos Com Vozes Femininas: A
Presença dos Castrati Na Ópera» (https://revistas.ufrj.br/index.php/interfaces/article/view/2986
4). interFACES (1): 124–132. ISSN 1516-0033 (https://www.worldcat.org/issn/1516-0033).
Consultado em 2 de novembro de 2022

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