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SEFE VI

TEMA 2

FUNDAÇÕES PROFUNDAS 1

PROVAS DE CARGA EM ESTACAS PODEM DIZER MUITO MAIS DO QUE TÊM DITO.

Luciano Décourt
Engº. Consultor - Prof. Universitário
decourt@decourt.com.br

_______________________________________________________________________________________

1 – INTRODUÇÃO

Na engenharia geotécnica, assim como em qualquer área do conhecimento humano, qualquer que
seja o assunto, há muito mais controvérsias do que consenso. Especificamente na engenharia de fundações
não há consenso sobre praticamente nada. Entretanto, há consenso absoluto de que a melhor e mais confiável
maneira de se avaliar a capacidade de carga de qualquer fundação é através de provas de carga. Não obstante,
são inúmeras as indefinições existentes nessas provas de carga. As informações que, via de regra, se obtém
desses ensaios são pífias. Muito mais poder se ia e dever se ia obter. Torna-se, pois, oportuno que se faça
uma ampla análise crítica do problema. É esse o objetivo maior dessa palestra.

2 – CAPACIDADE DE CARGA; PREVISÕES x VERIFICAÇÕES.

Quando se fala em capacidade de carga de uma fundação, imagina-se determinar-se, de alguma maneira,
a capacidade de carga, ou a carga última, do sistema fundação-solo.

Na prática da engenharia de fundações, procura-se, inicialmente, obter-se, através de métodos e/ou


processos, teóricos, semi-empíricos ou empíricos, qual seria essa carga última.

A maioria das teorias existentes, parte da proposta básica de Terzaghi (1943) que utiliza a teoria da
plasticidade, originalmente aplicada a metais.

Essa teoria procura obter uma “carga de ruptura” sem se importar com as respectivas deformações.

Já a maneira mais correta, ou mesmo a única, de se conferir essas previsões é através das já
mencionadas provas de carga.

Porém, provas de carga apresentam apenas pares de valores carga-recalque, não definindo, na imensa
maioria das vezes, nada sequer parecido com uma carga de ruptura.

Fica, pois, extremamente problemático tentar comparar-se resultados de previsões teóricas (que
pretendem prever valores de “ruptura”) com resultados de provas de carga, que simplesmente apresentam
pares de valores carga-recalque.

3 – CONCEITO DE RUPTURA

De Beer (1988) ao analisar o comportamento de estacas, distingue dois tipos de ruptura; ruptura física e
ruptura convencional. A ruptura física é definida por: ∆ sp/∆Q = oo.

A ruptura convencional é definida como sendo a carga para uma deformação da ponta da estaca de 10%
de seu diâmetro. Décourt (1996) à luz do conceito de rigidez, define a ruptura física como sendo o ponto de
rigidez nula. Ora, rigidez nula, pressupõe deformação infinita, o que conduz a conclusão de que em nenhuma
prova de carga executada no mundo, a ruptura física foi atingida.

No caso de estacas rígidas (curtas), a deformação da ponta pode ser confundida com a deformação do
topo, sem que grandes erros sejam, cometidos. Já no caso de estacas flexíveis (longas), como por exemplo,
as estacas de Dubai, relatadas por Poulos (2007), com 40,0m de comprimento e 0,90m de diâmetro, as
deformações elásticas representam quase que a totalidade dos recalques medidos. Nessas circunstâncias, não
tem sentido algum definir-se a ruptura convencional como sendo a carga correspondente a uma deformação
medida no topo, de 10% do diâmetro da estaca. Haveria necessidade de se obter as deformações da ponta da
estaca.

Não há no momento nenhum critério que defina de forma direta, qual seria a deformação do topo que
corresponderia a uma deformação na ponta de 10% de diâmetro da estaca. Uma possibilidade seria através
do cálculo das deformações elásticas e do processo de aproximações sucessivas. Uma outra possibilidade,
essa muito melhor, seria a colocação de um “tell-tale” junto a ponta da estaca.

De qualquer forma, para o cálculo das deformações elásticas, haveria necessidade do estabelecimento de
equações matemáticas, tanto para a definição do atrito lateral quanto da ponta. No exemplo da estaca de
Dubai, fica claro, tanto pela instrumentação quanto pela interpretação através do Método da Rigidez, que as
cargas praticamente não atingiram a ponta da estaca, impedindo pois sua avaliação, ainda que precária. Os
recalques elásticos calculados (somente atrito) foram da ordem de 1,26mm/MN.

4 – FUNDAÇÕES QUE ROMPEM E FUNDAÇÕES QUE NÃO ROMPEM

O advento do Gráfico de Rigidez, Décourt (1996), trouxe importantes esclarecimentos sobre esse tema.

Ficou claro, à luz desse conceito de rigidez que, em algumas provas de carga bem projetadas e
executadas, é possível definir, com razoável precisão, tanto a ruptura física quanto a convencional. São
exemplos desses casos, provas de carga em estacas de deslocamento e o atrito lateral estaca-solo, para
estacas em geral.

Na figura 1 é apresentado um caso de uma prova de carga em uma estaca pré-moldada de concreto
armado.

Observe-se que nesses casos as diferenças entre rupturas físicas e convencionais são relativamente
pequenas, tipicamente da ordem de 20%.

30
ST IFFN ESS R (M N /mm x100)

25 E S O P T ll
P R E C AS T C O N C R E T E P IL E
20
or (tf/mm)

15 Q u C = 1 0 5. 0 3
Q u u = 1 24 . 65
10
R = 2 6 .6 6 9 - 0 .2 1 4 Q
5

0
0 20 40 60 80 100 120 140

L O AD , Q (M N x1 00) o r (tf)

Figura 1. Gráfico de Rigidez. Estaca pré-moldada de concreto armado. Apud Décourt (1999).
Já as demais fundações, tais como, sapatas, bases de tubulões e de estacas escavadas, não rompem.

À medida que as cargas vão aumentando na prova de carga ocorre a óbvia redução da rigidez, mas não
de forma linear como no caso anterior. À medida que a rigidez vai se reduzindo, a carga vai evidentemente
aumentando ou vice-versa, mas de forma não linear. Há uma nítida tendência da procura de uma assíntota
sub- horizontal. A ruptura física somente seria aproximada para deformações da ordem de grandeza de várias
vezes a largura da sapata, isto é, nenhum interesse prático.

Figura 2. Gráfico de Rigidez. Sapata. Apud Décourt (1999)

É evidente que o conceito de carga de ruptura convencional continua aplicável, porém, nesses casos a
diferença entre essa carga e a da eventual ruptura física, passa a ser imensa.

5 – PROVAS DE CARGA.

As provas de carga devem, evidentemente, ser conduzidas em observância às Normas Brasileiras, no


caso específico a NBR 12.131, recentemente revisada.

Proceder-se como determina a Norma, é pois uma obrigação. Porém, há de se reconhecer que uma prova
de carga assim conduzida e interpretada da forma usual, irá conduzir a um nível de informações medíocre.
Muito mais poder-se-ia e dever-se-ia obter a partir desses ensaios, que por suas características específicas são
caros e demorados.

A seguir, apresentam-se algumas das críticas mais óbvias ao que é feito na rotina profissional.

OBJETIVOS DA PROVA DE CARGA

Quase sempre procura-se ensaiar a fundação até cargas 1,5 ou 2 vezes superiores a sua “carga
admissível”, prevista ou determinada pelo projetista das fundações.

Mas, o que surgiu primeiro, a galinha ou o ovo?

A prova de carga deveria apenas confirmar a carga admissível admitida pelo projetista ou, o que seria
muito mais lógico e inteligente, ser utilizada para definir qual seria essa carga?

A 2ª. hipótese parece mais sensata. Entretanto é a 1ª. que é adotada na imensa maioria dos casos.
O objetivo que está se propondo é, não a determinação de uma carga admissível, mas sim a da curva
carga-recalque como um todo, desde seu início até, a carga de ruptura convencional. Além disso,
especialmente no caso de estacas escavadas, é de extrema importância poder separar-se o atrito lateral (Qs)
da reação de ponta (Qp). Procedimentos expedidos e confiáveis para a obtenção desses objetivos irão ser
propostos mais adiante.

NÚMERO DE ESTÁGIOS

De acordo com a Norma, seriam suficientes poucos estágios de carga, cada um da ordem de 20% da
carga admissível prevista. Ora, se o objetivo for à determinação da curva carga-recalque como um todo, esse
número de estágios é, nitidamente, insuficiente. De uma maneira geral a curva carga-recalque é composta
por diversos trechos diferentes, função de cimentações, pré-adensamentos e/ou pré-carregamentos,
transferência basicamente por atrito-lateral, transferência basicamente por ponta e etc.

É, pois, evidente, que qualquer que venha a ser o método utilizado, haveria necessidade de se ter pelo
menos 4 a 5 estágios para cada uma daqueles trechos, o que na prática, iria exigir no total pelo menos 15 a 20
estágios de carregamento.

VELOCIDADE DE CARREGAMENTO

Aparentemente, até mesmo com respaldo da Norma, existe a opção de se utilizar carregamentos lentos
e/ou rápidos. E ainda, a de se misturar as duas condições em um mesmo ensaio.

Não obstante constituir-se em prática, hoje em dia bastante comum, trata-se de procedimento
condenável. De fato, como na maioria dos casos não se chegará nem nas proximidades da ruptura, todo e
qualquer raciocínio que vier a ser feito, o será em função das relações carga (tensão) recalque. Um
carregamento rápido irá indicar recalques menores do que os correspondentes a um carregamento lento e
portanto, a uma avaliação contra a segurança da carga de ruptura convencional.

Essa prática de carregar uma fundação inicialmente de forma lenta e depois de forma rápida é
incompatível com a metodologia que irá ser apresentada e com a definição de ruptura convencional. Trata-se
de procedimento que, evidentemente, conduz a resultados contra a segurança. (figura 3).

CARGA - Q (kN)
0 500 1000 1500 2000 2500
0
Carregamentos lentos

50 Carregamentos rápidos
RECALQUE - s (mm)

100

150
log Q = 2,3075 + 0,4212 log "s"
R2 = 0,9974
Quc = 1.412,21 (kN)
200 q uc = 1.412,21 (kPa)

250

Figura 3. Prova de carga em bloco quadrado de fundação (1,0 x 1,0m) Apud Décourt (2001).
CARGA MÁXIMA

As provas de carga devem ser conduzidas até a carga máxima possível e não apenas até um valor
previamente estipulado, função de uma carga admissível, previamente admitida pelo projetista. Ainda muito
recentemente, houve um caso de uma dessas provas de carga com a EXPANCELL ser concluída apenas
porque já havia sido atingida a carga máxima prevista pelo projetista, embora o fuste tivesse se deslocado
apenas 1,5mm, o que, obviamente, dificultou a interpretação da mesma. A célula de carga tinha capacidade
para atingir cargas muito maiores, o que poderia produzir um volume absurdamente maior de informações,
sem aumento de custos. Mas o projetista se contentou com o mínimo de informação que lhe foi dado.
Quantas informações importantes foram ignoradas!

A única restrição quanto ao valor da carga deveria ser aquele que poderia provocar um dano estrutural a
fundação, no caso de a prova de carga ser realizada em uma estaca da obra.

TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS. IMPRECISÕES E ERROS.

Todo e qualquer ensaio está sujeito a erros e as provas de carga, obviamente, não são exceção. Esses
erros podem ser tanto humanos, como provocados por causas diversas, tais como: ventos, temperatura, falta
de rigidez do sistema e etc. Assim, a medida que se dá um tratamento estatístico aos dados, obtêm-se uma
relação matemática que conduz a resultados mais confiáveis do que os próprios valores medidos diretamente.
É claro que para a obtenção de bons resultados, faz-se mister que se disponha de modelos adequados. Por
exemplo: a curva carga (Q)-recalque (s) de uma sapata e/ou base de estaca escavada é muito bem
representada por correlação linear entre “log Q” e “log s”.

PROVA DE CARGA INSTRUMENTADA x PROVA DE CARGA CONVENCIONAL.

A maioria dos pesquisadores admite que a instrumentação conduz sempre a resultados corretos,
enquanto que qualquer outro método que pretenda obter informações sobre essa transferência de carga, sem
a utilização de instrumentação, estaria “sub-judice”. Entretanto, a realidade é que todo e qualquer método,
inclusive aqueles que fazem uso de instrumentação, “strain-gauges” e/ou “tell-talles”, devem também ser
considerados como estando “sub-judice”. Não existe isso de um processo com base em instrumentação dar
sistematicamente resultados inquestionáveis, enquanto todos os outros indicarem resultados questionáveis.

Todos devem ser considerados como não mais que estimativas de grandezas, que, na realidade,
jamais serão efetivamente conhecidas.

PROVA DE CARGA ESTÁTICA x PROVA DE CARGA DINÂMICA


Essas denominações causam uma certa confusão. A rigor, o nome prova de carga deve ser reservado
apenas aos ensaios processados da forma convencional, isto é, através de carregamentos “estáticos”. O outro
ensaio deve ser designado por ensaio de carregamento dinâmico.
Esse ensaio (dinâmico) pode oferecer avaliações satisfatórias de capacidade de cargas no caso de estacas
de deslocamento.
No caso de estacas escavadas, entretanto, conduz a resultados falsos, não devendo por isso ser utilizado.
A pseudo capacidade de carga indicada é sempre função da energia aplicada à estaca. Assim, pode-se obter
praticamente o valor de capacidade que se deseje. Essa opinião não é apenas nossa, Fellenius et al. (2007)
afirmam o que segue: “The CAPWAP calculated capacity for Pile C2 is very close to the capacity
determined in the static loading test on Pile C1. In contrast, neither of the two bored piles show a distinct
capacity value for the static loading tests. The CAPWAP-calculated capacities are close to the maximum
load applied. However, the calculated movements are quite different from the measured values and indicate
much stiffer response to the applied load than do the static loading test”.

Observe-se aqui que as mencionadas estacas “C” eram pré-moldadas de concreto armado.
Conclui-se que no caso de estacas de não deslocamento, os valores obtidos são aleatórios e contra
segurança, pois indicam resposta muito mais rígida do que a real.
6 – ESTACAS SEM PONTA
Décourt (2006-2008) demonstra, de forma inquestionável, que os resultados de provas de carga em
estacas de atrito apresentam, no gráfico de rigidez, relação linear entre carga e rigidez, figuras 4 e 5.
Essa constatação se constitui em uma das bases do método que será a seguir proposto.

3000 100
(Qs)u = 2.325,96kN
2500 pontos considerados na regressão (1050-2100) 80
pontos não considerados na regressão Q = 2.325,96 - 5,93RIG (Qs)c = 2.165,45kN
2000

s F (mm)
60
Q = 2.325,96 - 5,93RIG R2 = 0,998
1500
40 (Qs)10 / (Qs)c = 0,67kN
1000 R2 = 0,998
500 20 (Qs)10 = 1.460,11kN
(Qs)u = 2.325,96kN
0 0
0 500 1000 1500 2000 2500 0 500 1000 1500 2000 2500
QF (kN) QF (kN)

Figuras 4
Gráfico de Rigidez e Curva Qs x s em estacas sem ponta. Apud Décourt (2006).

1200 70
(Qs)u = 845,51kN
1000 pontos considerados na regressão 60
(Qs)c = 833,70kN
RIG (kN/mm)

50
800 pontos não considerados na regressão Q = 845,51 - 0,85RIG
s (mm)

40 R2 = 0,996
600 (Qs)10 / (Qs)c = 0,93kN
30
400 (Qs)u = 845,51kN
Q= 845,51 - 0,85RIG 20
(Qs)10 = 779,27kN
200 2
R = 0,996 10

0 0
0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800 1000
Q (kN) Q (kN)

Figuras 5
Gráfico de Rigidez e Curva Qs x s em estacas sem ponta. Apud Décourt (2006).

7 – ESTACAS USUAIS

7.1 – METODOLOGIA PROPOSTA

O gráfico de rigidez será utilizado para a interpretação dos resultados das provas de carga em estacas.

Se o carregamento for conduzido até grandes deformações, dois domínios serão facilmente
identificados: o domínio da ponta e o domínio do atrito lateral. No trecho onde a transferência por ponta é
preponderante, a relação entre Q e RIG é uma curva, tornando-se linear em um gráfico log x log. Já no trecho
onde o atrito lateral é dominante, essa relação é, nitidamente, linear.

Serão utilizados, a título de exemplos, os casos das estacas T-1 e E-9, Fellenius et al. (2007), figuras
6 a 13.

Inicialmente colocam-se os pares de valores “Q” e “s” em ordem decrescente. Admitindo-se que a ponta
tenha sido, pelo menos, parcialmente mobilizada, são estabelecidas correlações lineares entre log Q e log s,
começando-se pelos pontos de carga mais elevada e determinados os coeficientes de correlação R². A melhor
correlação seria aquela interessando o maior número de pontos e o maior valor de R².
DOMÍNIO DA PONTA

Nos exemplos, estacas T-1 e E-9, observa-se que o melhor ajuste se dá considerando-se os 4 pontos de
maior carga, ou seja, as correlações usando os pontos de 1 a 4 são as que melhor representam a transferência
da carga basicamente por ponta, figuras 10 e 12. É importante frisar que essa transferência estaria se dando
basicamente por ponta, mas não exclusivamente por ponta. Estar-se-ia então se obtendo um limite superior
(“upper bound”) para a carga de ponta e, conseqüentemente, um limite inferior (“lower bound”) para o atrito
lateral.

TRANSIÇÃO

A partir do ponto 5, a ponta deixa de preponderar, o que pode se constatar pela nítida redução de R².
Entra-se então na transição para o domínio do atrito lateral.

DOMÍNIO DO ATRITO LATERAL

Para a obtenção da “reta” que representa o domínio do atrito lateral, alguns limites precisam ser
reconhecidos. Por um lado, constatou-se serem as deformações mínimas, da ordem de grandeza dos
recalques elásticos, calculados admitindo atrito lateral constante e transferência de carga exclusivamente por
atrito lateral. Já as deformações máximas são aquelas próximas à transição.

Esses trechos representam o domínio do atrito lateral, o que não significa a exclusividade da
transferência de carga por atrito lateral. Assim, os valores de Qs assim obtidos serão limites superiores.

Conclui-se, pois, que nos exemplos citados, os pontos de 1 a 4 definem o domínio da ponta, o ponto 5 a
transição e os pontos 6 a 8, o domínio do atrito lateral, caso da estaca T-1 e pontos 6 a 9, caso da estaca E-9.

Conhecidos os limites inferiores e superiores de Qs para os exemplos considerados, pode-se escrever

ESTACA T-1 ESTACA E-9

0,854 ≤ Qs ≤ 0,847 0,691 ≤ Qs ≤ 0,810


_
Qs (MN) = 0,85 Qs (MN) = 0,75 ± 0,060 = 0,75 ± 8%

Os valores exatos do atrito lateral jamais serão conhecidos, sabendo-se, porém, que os mesmos terão
que, obrigatoriamente, situar-se entre esses dois limites.

A seguir será detalhado como se chegou às melhores correlações, caso da estaca T-1.

Inicialmente foi considerado o trecho correspondente ao domínio da ponta. Foram pesquisadas diversas
correlações, interessando os pontos 1 e 2; 1 a 3; 1 a 4; 1 a 5; 1 a 6 e 1 a 7. A de 1 a 4, é a de melhor ajuste.

Na figura 10 são apresentados os resultados obtidos, tendo sido explicitados os valores de Quc e R2. Para
auxiliar a interpretação, está também indicada a reta que melhor representa o domínio do atrito lateral.

A seguir repete-se o processo, agora objetivando a determinação da correlação que melhor representa o
domínio do atrito lateral, figura 11. Foram considerados os pontos; 4 a 6; 5 a 6; 5 a 7; 5 a 8; 6 a 8 e 6 a 9.
Duas correlações aparentam ser bastante boas. A dos pontos 4 a 6 e a dos pontos 6 a 8.

A escolha da que melhor apresenta o domínio do atrito lateral foi feita levando-se em conta os valores
de recalque envolvidos. Por esse critério, a correlação estabelecida entre os pontos 6 e 8 é a que melhor
representa o domínio do atrito lateral. A outra correlação, pontos 4 a 6, representa, efetivamente, a transição
entre os domínios da ponta e do atrito lateral.

Analogamente ao que foi feito para a estaca T-1, nas figuras 12 e 13 são representadas as análises
efetuadas para a estaca E-9.
ESTACA T-1
Q (MN) 1,2 log Q = -0,194 – 0,138 log RIG
0,000 0,200 0,400 0,600 0,800 1,000 1,200 1,400 R2 = 0,9968
0 1

Rigidez (MN/mm)
9 QUC = 1,110 MN
20 0,8

40
L = 6,0 m 0,6 8 Q(MN) = 0,862 – 1,095 RIG
R2 = 0,9976
s(mm)

d = 600,0 mm 7
60 0,4
seL = 0,42 mm/MN 6
5
80 0,2 Qsc = 0,847 MN
QSL = 0,854 MN 4
Qsu = 0,862 MN 3 2 1
100 QUC = 1,10 MN 0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4
120 Q (MN)

Q (MN) Qs (MN)
0,000 0,500 1,000 1,500
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
0
0

20
20

40
40
s(mm)

s(mm)
60
60

80
80 Outros pontos
s (mm) Q (MN)
100
100 10 0,777
Q SL  Q SU 0,855  0,847 60 0,847
120   0,85MN
2 2 120 100 0,853

Figura 6. Relações carga-recalque e gráfico de rigidez. Estaca T-1

FELLENIUS - PORTO
T-1
900
Qmax(anterior) Qmax(anterior)
800 =60kN = 600kN
Qmax(anterior)
Qmax(anterior)
700 = 900kN
= 300kN
600
RIG (kN/mm)

2º Carregamento

500 3º Carregamento

Q (kN) = 862,39 – 1,095 RIG 4º Carregamento


400 R2 = 0,9976 5º Carregamento

300

200 Log Q = 3,22 – 0,138 log RIG


R2 = 0,9968
100

0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Q (kN)

TRANSIÇÃO

ATRITO PONTA

Figura 7. Gráfico de rigidez. Cinco carregamentos.


ESTACA E-9
Q (MN)
1,2 log Q = -0,786 – 0,445 log RIG
0,000 0,500 1,000 1,500 R2 = 0,9998
0 1
QUC = 1,008 MN

Rigidez (MN/mm)
20
0,8 11
40
60 0,6 10 Q(MN) = 0,830 – 1,473 RIG
L = 6,0 m
s(mm)

80 R2 = 0,9831
9
100 d = 600,0 mm 0,4
8
120
s eL = 0,42 mm/MN 0,2
7
4 3
140 Qsc = 0,810 MN 6
5 2 1
160 Q SL = 0,691 MN 0 Qsu = 0,830 MN
180 Q UC = 1,008 MN 0 0,5 Q (MN) 1 1,5

0,000 0,500 Q (MN) 1,000 1,500 Qsu (MN)


0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
0
0

20
20

40
40
s(mm)

s(mm)
60
60

80 Outros pontos
80
s (mm) Q (MN)
100
10 0,724
100 60 0,810
Q SL  Q SU 0,69  0,81
  0,75MN 100 0,818
120 2 2 120

Figura 8. Relação carga-recalque e gráfico de rigidez. Estaca E-9.

FELLENIUS - PORTO
E9
700
Q m ax(anterior) = 60kN Q m ax(anterior) = 600kN
600
Q max(anterior) = 300kN Q m ax(anterior) = 900kN

500 RIG = 562,52 (kN/mm)


2º Carregamento
RIG (kN/mm)

Q = 830,92 - 1,48RIG
400 3º Carregamento
R2 =
R21= 0,9931
4º Carregamento
300 5º Carregamento

200
logQ = 3,55 - 0,44logRIG
100 R 2 = 0,999

0
0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.600
Q (kN)

Q (kN)

TRANSIÇÃO
ATRITO PONTA
ATRITO

300 750

Figura 9. Gráfico de rigidez. Cinco carregamentos


ESTACA T-1
CÁLCULO DE Quc
1,2
1,2

Pontos 1 a 2 1
1 Pontos 1 a 3

Rigidez (MN/mm)
Rigidez (MN/mm)

Quc = 1,091 (MN) 9


9
0,8 Quc = 1,110 (MN)
0,8
R2 = 1,0
8 R2 = 0,9807
8 0,6
0,6
7 7
0,4 0,4
6
6 5
5 0,2 4
0,2 4
3 3 2 1
2 1
0 0

0 0,5 1 1,5 0 0,5 1 1,5


Q (MN)
Q (MN)

1,2
1,2
Pontos 1 a 4 Pontos 1 a 5
1 1
Rigidez (MN/mm)

Rigidez (MN/mm)

Quc = 1,110 (MN) Quc = 1,111 (MN)


9 9
0,8 0,8
R2 = 0,9968 R2 = 0,9746
0,6 8 0,6 8
7 7
0,4 0,4
6 6
5
0,2 4 0,2 5
3 2 1 4
3 2
1
0
0
0 0,5 1 1,5
Q (MN) 0 0,5 1 1,5
Q (MN)

1,2
1,2

Pontos 1 a 6 1 Pontos 1 a 7
1
Rigidez (MN/mm)

Quc = 1,117 (MN) Quc = 1,132 (MN)


Rigidez (MN/mm)

9 9
0,8 0,8
R2 = 0,9376 R2 = 0,9020
8
0,6 8 0,6

7 7
0,4 0,4
6 6
0,2 5 5
4 0,2 4
3 2 1 3 21
0 0
0 0,5 1 1,5 0 0,5 1 1,5
Q (MN) Q (MN)

Figura 10. Estaca T-1: Análise das diversas correlações para representar o domínio da ponta.
ESTACA T-1
CÁLCULO DE Qs (UPPER BOUND)

1,2
1,2
Pontos 4 a 6 Pontos 5 a 6
Rigidez (MN/mm)

Rigidez (MN/mm)
9 1
(Q su)u = 1,054 (MN) 9 (Q su)u = 1,029 (MN)
0,8
0,8
0,6
8 R2 = 0,998 8 R2 = 1,0
0,6
7 7
0,4 6 0,4
5 6
0,2 4 5
3 2 1 0,2 4
3 2 1
0 0
0 0,5 1 1,5 0 0,5 1 1,5
Q (MN) Q (MN)

1,2
1,2
1 Pontos 5 a 7 Pontos 5 a 8
Rigidez (MN/mm)

1
Rigidez (MN/mm)

9 (Q su)u = 0,963 (MN) (Q su)u = 0,922 (MN)


0,8 9
0,8
0,6 8 R2 = 0,988 R2 = 0,986
0,6 8
7
0,4 7
6 0,4
6
0,2 5
4 0,2 5
3 2 1
4 3 21
0
0
0 0,5 1 1,5
Q (MN) 0 0,5 1 1,5
Q (MN)

1,2
1,2

Pontos 6 a 8 1
1 Pontos 6 a 9
Rigidez (MN/mm)
Rigidez (MN/mm)

9
(Q su)u = 0,862(MN) 9 (Q su)u = 0,764 (MN)
0,8 0,8

R2 = 0,998 0,6 R2 = 0,964


0,6 8 8
7 7
0,4 0,4
6 6
0,2 5 0,2 5
4 4 3 2
3 2 1 1
0 0
0 0,5 1 1,5 0 0,5 1 1,5
Q (MN) Q (MN)

Figura 11. Estaca T-1: Análise das diversas correlações para representar o domínio do atrito lateral.
ESTACA E-9
CÁLCULO DE Quc

1,2 1,2
Pontos 1 a 3
Pontos 1 a 2
Rigidez (MN/mm)

Rigidez (MN/mm)
1 1 Quc = 1,007 (MN)
Quc = 1,012(MN)
0,8 11 0,8 11 R2 = 0,9997
R2 = 1,0
0,6 10 0,6 10
9
9
0,4 0,4
8 8
7
0,2 7
6 0,2 6
5 4 3 2 1 5 4 3 2 1
0 0
0 0,5 Q (MN) 1 1,5 0 0,5 1 1,5
Q (MN)

1,2
1,2
Pontos 1 a 4 1 Pontos 1 a 5
Rigidez (MN/mm)
1
Rigidez (MN/mm)

Quc = 1,008 (MN) Quc = 1,012 (MN)


11 11
0,8 0,8
R2 = 0,9998 R2 = 0,9981
0,6 10 0,6 10

9 9
0,4 8 0,4
8
7 7
0,2 6 0,2 6
5 4 3 2 1 5 4 3 2 1
0 0
0 0,5 1 1,5 0 0,5 1 1,5
Q (MN) Q (MN)

1,2 1,2
Pontos 1 a 7
Rigidez (MN/mm)

1 1
Rigidez (MN/mm)

Pontos 1 a 6 Quc = 1,040 (MN)


0,8 11
Quc = 1,036 (MN) 0,8
11
R2 = 0,9600
0,6
10 R2 = 0,9460 0,6
10

9 9
0,4 0,4 8
8
7 7
0,2 6 0,2 6
5 4 3 2 1 5 4 3 2 1
0 0
0 0,5 1 1,5 0 0,5 1 1,5
Q (MN) Q (MN)

Figura 12. Estaca E-9. Análise das diversas correlações para representar o domínio da ponta.
ESTACA E-9
CÁLCULO DE Qs (UPPER BOUND)
1,2
1,2

Rigidez MN/mm)
1
Rigidez (MN/mm)

1
Pontos 6 a 8 0,8 11 Pontos 6 a 9
11
0,8 Quc = 0,857 (MN) Quc = 0,830 (MN)
0,6 10
0,6 10
R2 = 0,9797 9 R2 = 0,9831
9 0,4
0,4 8
8
7
7
0,2 6
0,2 6 5 4 3 2 1
5 4 3 2 1
0 0

0 0,5 Q (MN) 1 1,5 0 0,5 Q (MN) 1 1,5

1,2
1,2
Pontos 6 a 10 1
Rigidez (MN/mm)
Pontos 6 a 11
Rigidez (MN/mm)

1
Quc = 0,776 (MN) 11
Quc = 0,739 (MN)
11 0,8
0,8
R2 = 0,9592 10 R2 = 0,9477
0,6 10 0,6
9 9
0,4 0,4 8
8
7 7
0,2 6 0,2 6
5 4 3 2 1 5 4 3 2 1
0 0
0 0,5 1 1,5 0 0,5 1 1,5
Q (MN)
Q (MN)

1,2 1,2
Rigidez (MN/mm)

Pontos 7 a 9 1 Pontos 7 a 10
Rigidez (MN/mm)

1
11
Quc = 0,815 (MN) 11
Quc = 0,727 (MN)
0,8 0,8
10 R2 = 0,9600 10 R2 = 0,9494
0,6 0,6
9 9
0,4 0,4 8
8 7
7
0,2 6 0,2 6 5 4 3 2 1
5 4 3 2 1
0 0
0 0,5 Q (MN) 1 1,5 0 0,5 1 1,5
Q (MN)

Figura 13. Estaca E-9. Análise das diversas correlações para representar o domínio do atrito lateral.
7.2 - OUTROS EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

Por limitações de tempo e de espaço, serão considerados apenas mais quatro casos; a estaca metálica do
Souza, (estaca prensada e portanto, de deslocamento) a estaca escavada de grande comprimento de Dubai, a
estaca barrete do campo experimental de fundações ABEF/EPUSP e a estaca barrete da Av. Paulista.

Todas elas eram estacas instrumentadas. Quanto a esse aspecto, destaca-se a estaca metálica, relatada por
Souza e Massad (2002), visto que a carga de ponta foi medida através de uma célula de carga ocupando toda
a seção da estaca, o que torna excepcionalmente confiáveis os valores medidos. A estaca de Dubai, relatada
por Poulos (2007), destaca-se por seu elevado comprimento, 40,0m.

Serão sempre apresentadas 4 figuras; a curva carga (Q) recalque (s), o gráfico de rigidez, a curva Q x s
gerada pelas equações de regressão obtidas a partir do gráfico de rigidez e a curva do desenvolvimento do
limite superior do atrito lateral com a deformação.

METÁLICA - SOUZA
Q (MN) 0,2
16
0,000 0,050 0,100 0,150 0,18
0 0,16 Pontos 1 a 7
Rigidez (MN/mm)

15 Q(MN) = 0,138 – 2,83 RIG


0,14
10 R2 = 0,9787
0,12 QUC = 0,104 MN
L = 6,98 m 14
20 0,1 QUU = 0,138 MN
13
d = 88,9 mm
s(mm)

0,08 12
30
seL = 2,68 mm/MN 0,06
Pontos 10 a 13
11
10
0,04 Q(MN) = 0,089 – 0,419 RIG 9
40
QSL = 0,0605 MN 8
R 2 = 0,9986 7 65 4
0,02 3 2
QSC = 0,085 MN QSU = 0,089 1
50 QUC = 0,1056 MN 0
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14 0,16
60
Q (MN)

Q (MN) Qs (MN)
0,000 0,020 0,040 0,060 0,080 0,100 0,120 0,140 0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1
0 0
5
20
10
15 40
20
s(mm)
s(mm)

25 60

30 Outros pontos
80
35 s (mm) Q (MN)
8,89 0,085
40 100 10 0,085
Q SL  Q SU 0,061  0,085
45   0,073MN 100 0,088
2 2 120
50

Figura 14. Método aplicado a estaca metálica do Souza.


POULOS
Q (MN)
0,000 10,000 20,000 30,000 40,000 50,000 1,2 Pontos 2 a 4
0 Q(MN) = 72,816 – 69,22 RIG
1
4

Rigidez (MN/mm)
20 R2 = 0,9960
0,8 3
40 2
L = 40,0 m 1
0,6
s(mm)

60
d = 900,0 mm
0,4
80 seL =1,26 mm/MN
100 0,2

120 0
0 20 40 60 80
140 Q (MN)

Q (MN)
Qs (MN)
0,000 5,000 10,000 15,000 20,000 25,000 30,000 35,000 0 10 20 30 40 50
0 0

20
10
40
20

s(mm)
60
s(mm)

30 Outros pontos
80
s (mm) Q (MN)
40 18,024 15,043
100
31,656 22,850
43,506 28,103
120 50,135 30,586
50 QS ≥ 30,0 MN
120 46,179
140
60

Figura 15. Método aplicado a estaca escavada de Dubai.

BARRETE – ABEF / EPUSP


Q (MN) 1,2 Pontos 1 a 3
0,000 1,000 2,000 3,000 4,000 5,000 log Q = -0,414 – 0,668 log RIG
0 1
R2 = 1,0
Rigidez (MN/mm)

20 0,8 QUC = 3,452 MN


40 L = 7,50 m 0,6 Q(MN) = 1,774 – 2,555 RIG
deq= 916,70 mm R2 = 1,0
s(mm)

60 0,4 5
(0,40 x 1,65m)
Pontos 4 a 5
4
80 seL = 0,23 mm/MN 0,2
Qsc =1,726 MN 3
2 1
Qsu =1,774 MN
100 QSL = 1,501 MN 0
0 1 2 3 4
120 QUC = 3,452 MN Q (MN)

Q (MN) Qs (MN)
0,000 0,500 1,000 1,500 2,000 2,500 3,000 3,500 0 0,5 1 1,5 2
0 0

10
20

20
40
s(mm)

30
s(mm)

60
40
Outros pontos
80
50 s (mm) Q (MN)
10 1,413
60 100
64,54 1,707
Q SL  Q SU 1,501  1,726 91,67 1,726
70   1,61MN 120
2 2

Figura 16. Método aplicado a estaca Barrete ABEF/EPUSP.


AV. PAULISTA - BARRETE
Q (MN)
8 Pontos 1 a 3
0,000 2,000 4,000 6,000 8,000 10,000 12,000 14,000 16,000 9 log Q = -0,856 – 0,297 log RIG
0 7
R2 = 0,9934

Rigidez (MN/mm)
20 6
8 QUC = 13,50 MN
5
40 L = 16,60 m 7
4
deq= 1,128 mm 6 Q(MN) = 8,588 – 1,461 RIG
s(mm)

60 5
(0,40 x 2,50 m) 3 R2 = 0,9977
4
80 seL = 0,33 mm/MN 2 Pontos 3 a 7 3
Qsc = 8,478 MN 2
100
QSL = 6,07 MN 1 1
Qsu = 8,588 MN
120 0
QUC = 13,510 MN
0 5 10 15
140
Q (MN)

Q (MN) Qs (MN)

0,000 2,000 4,000 6,000 8,000 10,000 0 2 4 6 8 10

0 0

20
2
40
4
60

s(mm)
s(mm)

6 80
Outros pontos
8 100
s (mm) Q (MN)
120 10 7,493
10 11,84 7,644
140 100 8,464
12 112,8 8,478
Q SL  Q SU 6,07  8,48 160
  7,28MN
14 2 2

Figura 17. Método aplicado a Av. Paulista-Barrete.

7.3 – COMPARAÇÃO ENTRE VALORES DE Qsc.

Na tabela I são apresentados os valores medidos e calculados de Qsc.

TABELA I
VALORES MEDIDOS E CALCULADOS DE Qsc.

Qsc ((MN) Qsc (MN) CALCULADO


ESTACA
VALOR MEDIDO (1)
INTERVALOS DE
VARIAÇÃO
VALOR
CENTRAL (2)
½
T-1 ≤ 0,7 0,85 0,85 ≤0,82

E-9 0,73 0,69 ≤ Qs ≤ 0,81 0,75 0,97


7,414 ( s = 11,84 mm )
Barrete Av. Paulista 8,22 (valor extrapolado 6,07 ≤ Qs ≤ 8,48 7,28 1,13
para s = 112,8mm)

Barrete ABEF / EPUSP 1,61 1,501 ≤ Qs ≤ 1,73 1,61 1,0

Metálica - Souza 0,078 0,061 ≤ Qs ≤ 0,085 0,073 1,07

Dubai - Poulos ≈ 30,0 ___ ≈ 30,0 1,0


7.4 – DETERMINAÇÃO DA CARGA RESIDUAL

É sabido que a aplicação de sucessivos carregamentos a uma dada estaca provoca o surgimento de
cargas residuais na mesma. Essas cargas residuais, Qr, afetam a aparente repartição da carga entre o atrito
lateral, Qs e a ponta, Qp.

Para obtenção do atrito lateral real Qs, do valor medido Q’s deve ser subtraído o valor de Qr. Já o valor
real da ponta, Qp será o valor de ponta medido, Q’p acrescido de Qr.

Fica pois evidenciada a importância de se conhecer, com a maior precisão possível, o valor de Qr.

Será apresentado a seguir, um processo que vem sendo por nós utilizado nos últimos 20 anos. A título
de exemplo continuarão a ser usadas as estacas, E-9 e T-1.

Foram 5 os carregamentos aplicados às estacas. Inicialmente as cinco curvas Q x s são desenhadas,


zerando-se os recalques.

Zerar os recalques significa subtrair dos valores medidos o recalque residual do carregamento anterior.
Por limitações de tempo e de espaço, somente será ilustrado o caso do último estágio de carregamento das
estacas E-9 e T-1, Figuras 17 e 18.

FELLENIUS - PORTO
E9 4º Carregamento
Q (kN)
Q (kN) s (mm)
0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.600 0 0,00
0,00 60 0,00
Q = 1.080,26kN 150 0,23
s = 37,71mm 300 0,58
450 1,08
50,00 log Q (MN)= -0,202 + 0,156 log “s” 600 1,87
R 2 = 0,9940
s (mm)

750 10,91
900 37,71
4º Carregamento
 Qr = 180,26kN 750 37,56
100,00
5º Carregamento 600 36,62
Para “s” = 37,71mm
Q = 1,106 MN 450 35,64
∆Qr = 1,106 -0,90 = 0,206 MN 300 35,93
150,00 150 35,27
0 34,92

Figura 17. Cálculo da carga residual, carregamentos 4º. e 5º. 5º Carregamento


TABELA II Q (kN) s (mm)
CÁLCULO DA CARGA RESIDUAL, Qr 0 0,00
150 0,98
Carregamento Qr (MN) 300 1,32
450 1,35
2º - 1º 0,010 600 2,29
3º - 2º 0,047 750 2,95
4º - 3º 0,044 900 10,10
975 16,95
5º - 4º 0,206 1.052 32,46
Qr (MN) 0,307 1.202 69,01
1.350 118,61
4º Carregamento
FELLENIUS - PORTO Q (kN) s (mm)
PT1
T-1 0 0,00
Q (kN)
150 0,10
0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 300 0,40
0,00 450 0,71
Q = 971,04kN
s = 9,79mm
600 1,76
20,00 Para “s” = 9,79mm 750 3,83
Q = 0,971 MN 900 9,79
∆Qr = 0,971 -0,900 = 0,071 MN 750 9,37
40,00
600 8,97
s (mm)

 Qr = 71,04kN
450 8,55
60,00 300 8,34
4º Carregamento 150 7,71
80,00 5º Carregamento 0 7,91

100,00 5º Carregamento
logQ' = 2,91 +
Q (kN) s (mm)
0 0,00
Figura 18. Cálculo da carga residual, carregamentos 4º. e 5º. 150 0,21
300 0,63
450 1,24
TABELA III
600 1,45
CÁLCULO DA CARGA RESIDUAL, Qr
750 1,87
900 3,52
Carregamento Qr (MN) 1.050 28,22
1.126 63,61
2º - 1º - 0,023 ou zero 1.180 86,68
3º - 2º 0,053
4º - 3º 0,050
5º Carregamento
5º - 4º 0,071 log Q log s
Qr (MN) 0,151 ou 0,174
2,954465 0,547065
3,021189 1,450483

A carga residual total será a soma das cargas residuais geradas nos diversos carregamentos. Nas tabelas
II e III são apresentados, para as estacas T-1 e E-9, os valores parciais e os valores globais das cargas
residuais.

Comparando-se esses valores com os determinados por Fellenius, et al. (2007) e Viana da Fonseca
et al. (2007), observa-se o que segue:

No caso da Estaca E-9, o valor obtido, Qr = 0,307MN, é idêntico ao obtido por Fellenius et al. (2007) e
o dobro do valor indicado por Viana da Fonseca et al. (2007).

No caso da estaca T-1, o valor obtido de 0,151MN (ou 0,174MN) é cerca de 50% do valor indicado por
Fellenius et al. (2007) e da mesma ordem de grandeza do valor indicado por Viana da Fonseca et al. (2007).

As razões para essas concordâncias e/ou discrepâncias fogem do escopo do presente trabalho, mas
servem para ilustrar quão complexo e polêmico esse assunto é.
8 – RESUMO E CONCLUSÕES

Foi feita uma análise crítica de como as provas de carga são rotineiramente realizadas e interpretadas.

Deu-se ênfase ao fato de algumas fundações poderem “romper” enquanto que outras jamais se
aproximarão da situação de ruptura física, fazendo com que todo e qualquer raciocínio tenha que ser feito
com base apenas em deformações. Ficou também evidenciada a enorme importância de se utilizar o gráfico
de rigidez para a interpretação dos dados das provas de carga.

Conhecidos os dados de uma prova de carga convencional (não instrumentada), o método aqui
apresentado, permite obter:

 A curva completa carga-recalque, até a carga de ruptura convencional, Quc.


 A separação aproximada da carga total, entre carga de ponta, Op e de atrito lateral, Qs.
 A ordem de grandeza das cargas residuais (quando há carregamentos sucessivos).

A obtenção das parcelas de carga transferidas ao solo por ponta e atrito é tarefa sempre muito difícil,
mesmo quando se dispõe de provas de carga instrumentadas.

Propõe-se então que sejam determinados os limites, superior (“upper bound”) e inferior (“lower bound”)
dessas parcelas.

Através do processo aqui apresentado, esses limites são obtidos com rapidez, facilidade e acurácia.

Procurou-se apresentar o processo da forma mais simples possível, de modo a permitir que se atinja os
objetivos sem ter que se recorrer a nenhuma formulação matemática mais complexa.

O programa desenvolvido permite também ao usuário chegar aos objetivos finais, sem, praticamente,
nenhuma intervenção sua. Mas, é bom que se diga, não ser esse o objetivo primordial do programa.

O que se espera do usuário, e o programa está preparado para isso, é que o mesmo interaja com o
programa, estabelecendo quais são as suas decisões em relação as atitudes a serem tomadas.

O programa foi feito para facilitar a vida do usuário e jamais para substituí-lo.

Mesmo sendo desconhecidos os valores exatos de Qs, o conhecimento de seus intervalos de variação, se
constitui em aproximação, mais que suficiente, para a solução da imensa maioria das situações encontradas
na prática.

Os coeficientes de segurança normalmente adotados cobrem amplamente às margens de incerteza


inerentes a aplicação do método. Além disso, o método pode também vir a ser utilizado para a verificação da
razoabilidade dos valores de Qs derivados de instrumentação. Por exemplo, conclui-se que no caso da estaca
T-1, o valor de Qs obtido através da instrumentação é inferior ao “lower bound”, o que se constitui numa
evidência clara de que algum problema ocorreu com a instrumentação e/ou com sua interpretação.

Quanto às cargas residuais, a idéia foi a de propor uma maneira expedita de avaliá-las.

Esse tema é complexo e foge do escopo do presente trabalho, procurar elucidá-lo de forma definitiva.
Sugere-se que o processo aqui apresentado, e que vem sendo por nós utilizado nos últimos 20 anos, seja
considerado apenas como um processo, ou então, como uma sugestão de como se avaliar as cargas residuais.
Se é plenamente válido ou não, caberá a especialidade decidir.

Conclui-se, pois, que com uma interpretação mais elaborada, as provas de carga em estacas,
sejam elas convencionais ou instrumentadas, podem dizer muito mais do que têm dito.
9 – AGRADECIMENTOS

Aos colegas, professores Bengt H. Fellenius, Harry G. Poulos e Faiçal Massad, pelo fornecimento de
alguns dos dados que foram utilizados nessas análises. Ainda ao Prof. Faiçal Massad pelas proveitosas
discussões sobre esse tema, mantidas ao longo desses últimos meses.
Ao meu filho, Roberto Frota Décourt, doutor em administração de empresas, pelo desenvolvimento do
programa de cálculo que permitiu a análise rápida e precisa dos resultados das provas de carga que serviram
de base ao desenvolvimento do método proposto.

“Last but not least” um agradecimento também à minha secretária, Elaine Favero, por sua paciência,
perseverança e dedicação, que viabilizaram a síntese das pesquisas, aqui apresentada.

10 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Terzaghi, K (1943) “Theoretical Soil Mechanics”. Wiley and Sons, New York.

[2] De Beer, E.E. (1988). “Different Behavior of Bored and Driven Piles”. Proc. of 1st Intl. Geoth. Seminar
on Deep Foundation on Bored and Auger Piles, pp. 47-78, Ghent.

[3] Poulos, H. G. (2007) Comunicação Pessoal.


[4] Décourt, L. (1996) “A Ruptura de Fundações Avaliada com Base no Conceito de Rigidez.” SEFE III,
Vol. I, pp. 215-224, São Paulo.

[5] Décourt, L. (1999) “Behavior of Foundations under Working Load Conditions”. Proc. of XI Panamerican
Conference on Soil Mechanics and Geotechnical Engineering, vol. 4, pp. 453-488, Foz do Iguaçu.

[6] Décourt, L. (2001) “Fundações em solos lateríticos”. Hospital da Beneficência Portuguesa. Relatório de
apreciação geral e anexos.

[7] Fellenius, B.H.; Santos A. J.; Viana da Fonseca, A.; (2007) “Analysis of Piles in a Residual Soil – The
ISC’2 Prediction”. Canadian Geotechnical Journal 44 (2) pp. 201-220.

[8] Décourt, L. (2006) “Desenvolvimento do atrito lateral estaca-solo, a partir de provas de carga utilizando
células expansivas hidrodinâmicas”. XIII COBRAMSEG, Curitiba.

[9] Décourt, L. (2008) “Load Tests: Interpretation and Prediction of their Results”. From Research to
Practice in Geotechnical Engineering. ASCE, GSP nº. 180, pp. 452-470.

[10] Souza, A. e Massad, F. (2002) “Estudo da Transferência de Carga de Estacas solicitadas à compressão
axial, utilizando uma estaca piloto instrumentada”. XII COBRAMSEG, pp. 1591-1605.

[11] Viana da Fonseca, A., Santos J. A., Esteves, E.C, Massad, F. (2007) “Analysis of Piles in Residual Soil
from Granite Considering Residual Loads”, Soils & Rocks, Volume 30, Nº. 1.

[12] Saes J. L. et al. (1989) “ABEF Research on Foundation Engineering”.

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