Você está na página 1de 5

O tesouro perdido da Cueva de Los Tayos

Estima-se que no Equador existam mil e duzentas cavernas. Algumas delas, conhecidas
como Cueva (caverna) de Los Tayos, estão localizadas na Província de Morona
Santiago, naquele país. A maior de todas possui características singulares: está a 520m
de altitude, a extensão conhecida e já percorrida é de 5Km, profundidade 186m, idade
aproximada de formação 200 milhões de anos. A Cueva de Los Tayos está localizada
dentro do território da nação indígena Shuar (pronuncia-se ‘suar’), uma tribo amazônica
equatoriana. Os shuaras ou shuares são conhecidos como encolhedores de cabeças e
guardam as tzantza (cabeças encolhidas) como troféus de guerra.
Tayo é um pássaro que habita as cavernas e que deu seu nome a elas. Possui hábitos
noturnos, permanecendo na escuridão das cavernas durante o dia, saindo para se
alimentar à noite. Uma vez ao ano, os guerreiros shuaras podem caçar as aves, que lhes
fornecem carne nutritiva e penas para adornos.
Nesta edição, porém, pretendo falar um pouco sobre o tesouro que foi encontrado na
Cueva de Los Tayos e que desapareceu quase que totalmente.
Em 21 de julho de 1.969, Juan Moricz, húngaro naturalizado argentino (Janos Moricz),
depositou no Cartório da cidade de Cuenca uma escritura na qual declarou na presença
de várias testemunhas que confirmaram suas alegações, ter encontrado um grande
tesouro nas cavernas de Los Tayos. Assim consta na escritura: “Na região oriental,
província de Morona-Santiago, dentro dos limites da República do Equador, descobri
preciosos objetos de grande valor cultural e histórico para a humanidade; contêm,
provavelmente, o resumo da história de uma civilização desaparecida da qual, até essa
data, não tínhamos o menor indício. Os objetos consistem principalmente de lâminas
metálicas gravadas com signos e escrituras ideográficas, verdadeira biblioteca metálica
que contém a relação cronológica da história da humanidade. Tais objetos se encontram
espalhados dentro das diversas cavernas e são de natureza variada.”
Juan Moricz havia sido levado à entrada da caverna por índios Shuar, graças à amizade
que mantinha com eles. Juan acreditava que esta civilização perdida vivera no interior
destas cavernas, nessa rede de túneis subterrâneos que se espalham sob a América
Latina inteira, ligando todo o continente, com diversas entradas ocultas. Essa crença, da
qual partilhou Juan, existe na maioria das culturas indígenas do continente americano.
Os índios do Equador, como os Shuaras e Coangos, acreditam que esses túneis
subterrâneos eram usados normalmente num passado longínquo por esta civilização de
seus antepassados que lá vivia, o que permitiu o contato entre povos de terras distantes.
Quando esse povo saiu das cavernas e passou a viver sobre a terra, o conhecimento das
entradas ocultas se perdeu.
Aliás, no Brasil existe uma história parecida que foi muito comentada há cerca de
quinze anos, durante a mini-série “Filhos do Sol”, da extinta TV Manchete. Falava-se
da existência de uma passagem secreta nas cavernas de São Thomé das Letras, em
Minas Gerais, cujo túnel subterrâneo levaria quem o atravessasse diretamente ao Peru,
próximo a Machu Pichu.
Voltando à caverna de Los Tayos, esta mesma civilização antiga teria esculpido o
interior da caverna, criando câmaras e monólitos, pois existem verdadeiros salões de
pedras com ângulos retos, nos quais a pedra parece ter sido polida por mãos humanas,
devido à sua textura lisa. Dentro de uma dessas câmaras subterrâneas, Juan teria
encontrado diversos blocos de pedras incrustados com pedras preciosas e lâminas de
ouro de tamanhos que variam de 96cm a 1,30m de comprimento e 26 a 48cm de largura,
com alguns milímetros de espessura. Nessas peças foram gravados símbolos incomuns,
que teriam sido deixados por este povo antigo, supostamente tão avançado ou mais do
que nós.

Lâminas de ouro encontradas na Cueva de Los Tayos

Em 1972 o escritor suíço Erik von Däniken visitou as cavernas com Juan Moricz e
escreveu um livro intitulado “O Ouro dos Deuses”, no qual descreveu achados
maravilhosos dentro do complexo de cavernas, inclusive a própria biblioteca metálica e
de blocos de pedra. A obra era composta por inúmeras fotografias tanto do interior da
caverna, como dos tesouros ali encontrados.
Infelizmente, os relatos de Däniken não correspondem à verdade. Estudiosos
comprovaram que Däniken sequer esteve nas cavernas e afirmam que as fotografias por
ele usadas em seu livro, tanto das cavernas, como dos tesouros, foram cedidas por
Moricz. Däniken vendeu milhões de cópias de seu livro e jamais deu um centavo a
Moricz.
Em agosto de 1.976, o escocês Stanley Hall, obtendo o apoio do governo inglês,
realizou uma expedição à Cueva de Los Tayos, da qual participaram alguns
equatorianos e cerca de 150 militares britânicos. Jaime Rodriguez, conhecido estudioso
de temas ufológicos, parapsicológicos e arqueológicos, apresentador e produtor de
programas de televisão sobre estes temas no Equador e no Chile, revelou que nesta
expedição, os britânicos prepararam no meio da selva um campo de aterrissagem para
helicóptero, e que ao final da expedição, embarcaram cerca de sete caixas de madeira
lacradas. Das diversas filmagens que realizaram no interior das cavernas, Jaime
Rodriguez questionou pessoalmente Stanley Hall, que lhe respondeu que os militares
britânicos não autorizaram a entrega dos filmes aos equatorianos e que prefeririam
destruí-los a entregá-los. Jaime Rodriguez acredita que grande parte do tesouro foi
levada pela expedição de Stanley e que deve estar espalhada entre alguns
colecionadores e museus da Europa e Estados Unidos.
A coleção do Padre Crespi

Padre Carlos Crespi Croci, nascido na Itália em 1.891, morou em Cuenca até 1.982.
Tornou-se amigo dos índios shuaras, aprendendo seu difícil idioma. Era um homem
muito inteligente, humilde, caridoso, preocupado com as crianças e os pobres. Por isso,
era muito querido por todos.
Padre Crespi ganhou dos índios diversas peças oriundas da Cueva de Los Tayos. A
coleção do padre Crespi era composta por cinco mil objetos, dos quais cerca de três mil
eram de ouro puro com incrustações de pedras preciosas.
Em agosto de 2.010, a televisão equatoriana Teleamazonas exibiu um documentário que
envolveu uma expedição às cavernas de Los Tayos, composta pelos técnicos do Instituto
Geográfico Militar do Equador e pela equipe da TV, entrevistas com diversos
estudiosos e especialistas no tema e com os índios shuaras.
Um desses especialistas, o lingüista equatoriano Manuel Palacio, vinha estudando os
ideogramas existentes nestas lâminas há alguns anos. Seus estudos se baseavam em
maioria apenas em fotografias das peças e visava observar e comparar a escrita e os
símbolos contidos nas lâminas e blocos com as línguas antigas de diversos povos. Uma
figura, em particular, chamou-lhe a atenção: tratava-se de uma pessoa trajando
vestimenta semelhante ao sári, usado pelas indianas, ou poderia ser até mesmo as roupas
usadas pelos sumérios. Atrás de si, na altura da cabeça, havia asas como as da águia, o
sol e outros símbolos que lembravam o próprio brasão da bandeira do Equador.
Perguntou-se, então, o que uma peça como aquela faria ali. Como não acredita que tais
povos possam ter chegado àquela região em um passado remoto, chegou à conclusão de
que provavelmente existem peças que devem ter sido trazidas por algum estrangeiro,
pois em nada se parecem com a cultura local, pelo contrário, lembram muito os povos
do Oriente. Salienta-se que sobre as lâminas ou blocos, até onde se sabe, não houve
qualquer procedimento para determinar a originalidade e a idade.
Em julho de 1.980, dois anos antes de Crespi falecer, o museu do Banco Central de
Cuenca comprou sua coleção. O padre Pedro I. Porras Garcés, arqueólogo e amigo do
padre Crespi, fez uma triagem prévia das peças que seriam vendidas e verificou que
muitas eram falsificações. Estas ficaram em poder da comunidade salesiana, à qual
Crespi pertencera. Seria o tesouro de Cueva de Los Tayos uma fraude?
Foi Jaime Rodriguez quem lançou luz sobre essa questão. Ele conheceu o padre Crespi
e teve a oportunidade de ver pessoalmente sua coleção. Grande parte da biblioteca
metálica era mesmo de ouro e lhe foi entregue pelos índios por tê-los ajudado.
Infelizmente, o padre Crespi, apesar de seu interesse por arqueologia, não era muito
materialista, e guardava sua coleção em um local pouco seguro, permitindo que pessoas
se infiltrassem no local, tirassem fotografias e depois substituíssem as peças verdadeiras
por imitações grotescas feitas de latão com uma fina camada de ouro barato por cima.
Outros objetos, como estatuetas, foram simplesmente roubados.
Jaime afirma que havia, sim, um tesouro magnífico em Cueva de Los Tayos, até a
expedição inglesa chegar e levar muitas coisas embora. Mas ele acredita que os índios,
alertados sobre a expedição estrangeira, esconderam o que conseguiram em outro lugar.
Do que restou do tesouro, parte foi entregue ao padre Crespi, mas provavelmente, ainda
existem peças valiosas escondidas em alguma caverna inexplorada.
Não obstante todo esse interesse pela biblioteca metálica, o tesouro da Cueva de Los
Tayos é composto também por muitos objetos de cerâmica, hoje pertencentes ao acervo
do museu Weilbauer da Universidade Católica de Quito. O Dr. Patricio Moncayo,
diretor do museu, explicou que essas peças de artesanato foram datadas através do
carbono 14 por um museu alemão, e são de 1.500 a.C. Baseado nesta datação e nas
peças em si, assim como no local dentro da caverna onde foram encontradas, concluiu
que a caverna foi usada como tumba de um importante chefe tribal, que foi enterrado
no fundo da caverna com muita cerâmica, como vasos e adornos bem trabalhados para a
época, o que demonstra seu poder e riqueza.
Durante esta última expedição oficial de 2.010, ficou demonstrado que toda a parte
interna das cavernas de Los Tayos foi formada pela água, ao longo de milhões de anos,
ou seja, são formações totalmente naturais. A expedição andou 5km dentro da caverna
principal de Los Tayos mas não atingiu seu fim e é provável que ninguém venha a
descobrir exatamente quantos metros de extensão as cavernas de Los Tayos alcançam.

Conclusão

Até hoje, nenhum dos especialistas que estudaram ou que estudam a biblioteca metálica
chegou a alguma conclusão. Sem a datação das lâminas e blocos, fica difícil dizer se o
povo que criou a biblioteca metálica foi o mesmo que deixou nas cavernas artefatos de
cerâmica, e em que período as lâminas e blocos teriam sido criados.
Juan Moricz morreu em 27 de fevereiro de 1.991, em um hotel em Guayaquil, onde
morava, e talvez tenha levado consigo o verdadeiro segredo do tesouro da Cueva de Los
Tayos.
Para saber mais sobre a Cueva de Los Tayos, assista o programa completo (em
espanhol) da TV Teleamazonas através dos links abaixo (partes 1, 2 e 3
respectivamente):
http://www.youtube.com/watch?v=qRPcJCGN5ac&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=VofbUIFIzL4&NR=1
http://www.youtube.com/watch?v=9z4lfdsrux8&NR=1

Lendas do povo Shuar

Seguem algumas lendas contadas pelos índios shuaras à equipe da TV Teleamazonas.


O chefe Shuar explicou à equipe que eles acreditam viver no fundo da caverna uma
grande serpente, chamada El Panki, que se alimenta de seres humanos. Ela ataca os
desavisados visitantes e exploradores das cavernas, abocanhando a pessoa pela cabeça,
cravando suas presas no pescoço e nuca, absorvendo todo o sangue e energia. Esse
processo dura dois dias. Depois, volta para o fundo da caverna. Com essa energia, a
serpente vive seis meses. É por isso que os shuaras não se aventuram em grandes
profundidades nas cavernas e é preciso saber a época certa para entrar, quando a
serpente ainda está em seu sono profundo. Outra preocupação ao adentrar as cavernas é
não molestar os ancestrais que ali habitam, pois podem se enraivecer e querer se vingar.
A índia Susana contou à equipe uma lenda Shuar que fala de uma grande inundação no
passado. “Sunki, o rei das águas, vivia em um grande lago no interior de uma caverna.
Mandou sua filha à superfície para que se relacionasse com os homens. Na terra, foi
maltratada e queimada por uma índia Shuar. A mulher da água voltou para o fundo da
terra e contou a seu pai o sucedido. Sunki, furioso, enviou um grande castigo para a
humanidade, enchendo a terra de água, causando uma enorme inundação. Desde então,
a relação do homem com os seres da água se perdeu para sempre.”
Os avôs de Susana diziam que na antiguidade, os primeiros shuaras viviam em
cavernas. Eram seres que caminhavam sobre quatro patas. Então, começaram a
desenvolver habilidades; de um arbusto que se chama kashpa, tiraram a fibra e fizeram
vestimentas para se protegerem. Pouco a pouco, começaram a caminhar eretos sobre os
pés.
Antes da expedição partir rumo às cavernas, Susana cantou uma antiga canção para
avisar os pássaros tayos sobre a chegada de uma expedição, pedindo-lhes proteção aos
membros da equipe e que levassem o recado aos espíritos ancestrais que habitam as
cavernas, para que não fizessem mal aos visitantes.

A Deusa que há em mim saúda a Deusa ou o Deus que há em você!

Lady Mirian Black

Você também pode gostar