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Projeto FAO TCP/BRA 3001

FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL DA SECRETARIA


ESPECIAL DE AQÜICULTURA E PESCA - SEAP/PR

REVISÃO DO MARCO INSTITUCIONAL, DA ESTRUTURA


INSTITUCIONAL E ORGANIZACIONAL DA SEAP/PR

Anna Karina Boszczowski


Consultora Nacional - Desenvolvimento Institucional/Estruturas

José Roberto Borghetti


Consultor Nacional Principal de Aqüicultura e Pesca - FAO Brasil

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS


PARA A AGRICULTURA E ALIMENTAÇÃO
BRASIL, MARÇO 2006

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Projeto FAO TCP/BRA 3001

PREFÁCIO

O presente relatório técnico é uma contribuição técnica do assessoramento ao


Governo do Brasil prevista no plano de trabalho do Projeto FAO TCP/BRA 3001
Fortalecimento Institucional da Secretaria de Aqüicultura e Pesca - SEAP/PR. As conclusões
e recomendações formuladas no relatório são as que se consideraram adequadas no
momento de sua preparação, entretanto podem ser modificadas com a chegada de novas
informações e conhecimentos adquiridos.
As denominações empregadas neste documento não implicam por parte das
Nações Unidas ou da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
juízo algum sobre a condição jurídica de países, territórios, cidades ou zonas, ou de suas
autoridades, nem a respeito da delimitação de suas fronteiras ou limites.
A preparação deste Relatório contou com a orientação, comentários e
contribuições brindados pelos membros do grupo de apoio técnico do projeto: Angel Gumy -
Development Planning Service (FIPP), Francisco Pereira - Regional Office for Latin America
and the Caribbean (RLCI), Gertjan DeGraaf - Program Coordination Unit (FIPD), Richard
Grainger - Fishery Information,Data and Statistics Unit (FIDI), Maria Lalaguna - Development
Law Service (LEGN), Jorge Csirke - Marine Resources Service (FIRM) e Doris Soto - Inland
Water Resources and Aquaculture Service (FIRI), dos consultores da FAO ao projeto, Dante
Capezzani, José Juste e Ana Silvia Silvino e do Senhor José Rodolfo Rangel, Coordenador
Nacional do Projeto (SEAP/PR).

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Projeto FAO TCP/BRA 3001

RESUMO

Os recursos pesqueiros, como patrimônio ou bem comum de uma sociedade, são objeto de
norma regulamentadora conforme, previsto constitucionalmente. Nos últimos 50 anos, a
gestão dos recursos pesqueiros passou a merecer atenção especial do Estado em
decorrência, sobretudo, do crescimento da sua importância socioeconômica. A estrutura
institucional adotada pelo Estado para gestão da atividade pesqueira ao longo desse
período foi bastante variada. Essa sucessão pode ser dividida em três momentos bem
distintos, cada qual pela sua atuação, em maior ou menos escala dos organismos em suas
competências e atribuições. É característica comum a essas entidades o desempenho de
papéis de normatização, fiscalização, fomento e gestão do segmento aquícola e pesqueiro.
Em janeiro de 2003 é criada a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca - SEAP/PR. A
divisão de competências entre o Ministério do Meio Ambiente - MMA, o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e Departamento de Pesca e
Aqüicultura do Ministério da Agricultura e Abastecimento - DPA/MAA foi mantida, apenas
substituindo-se o DPA/MAA pela nova Secretaria. Consequentemente, a competências dos
órgãos nas questões de ordenamento permanecem divididas.
Este documento contextualiza a situação atual do setor no Brasil, caracterizando sua
singularidade no contexto mundial, tanto devido ao grande potencial socioeconômico da
atividade produtiva, quanto ao marco institucional e suas implicações com relação às
competências, ordenamento, fomento e fiscalização. Nessa perspectiva, apresentam-se os
critérios técnicos e tendências mundiais em matéria organizacional de aqüicultura e pesca,
de maneira a brindar o assessoramento solicitado pelo Senhor Ministro de Aqüicultura e
Pesca (SEAP/PR) sobre opções institucionais para o Brasil.
Uma administração da pesca e da aqüicultura moderna requer uma estrutura institucional e
processos de tomada de decisão adequados. Os principais critérios técnicos a serem
considerados são as características especiais da aqüicultura e da pesca; a internacionalização
da atividade; a vinculação entre ordenamento e desenvolvimento sustentável; e a inter-relação
da atividade aquícola e pesqueira. Discutem-se também as tendências mundiais nessa matéria
e uma análise das diversas instituições mundiais responsáveis pelo tema. Com base nessa
análise, são apresentados os atributos necessários à modernização de uma administração
aquícola e pesqueira. Um importante aspecto visualizado nos modelos mundiais é a necessidade
de uma Instituição única responsável e capaz de instituir e formular uma Política Aquícola e
Pesqueira Nacional. Essa necessidade expõe uma questão a ser discutida e alinhada de modo a
promover o ordenamento e o fomento à atividade produtiva de forma sustentável e ambien-
talmente correta em se tratando da sua enorme potencialidade sócio-econômica.
Ao se analisar os pontos de questionamento com relação à situação atual e também sua
necessidade de modernização conforme os atributos apresentados, conclui-se que a

5
estrutura institucional vigente não está em consonância com a tendência mundial
apresentada. Além disso, verifica-se que a internacionalização da atividade também exige
uma adequação da estrutura institucional vigente. Ela deve estar desenhada de forma que
esteja apta a representar seu país em fóruns internacionais, assim como deve estar inserida
no governo com hierarquia suficiente para exercer a coordenação dos diversos organismos
relacionados à atividade aquícola e pesqueira, brindando com o apoio técnico necessário às
instituições relacionadas ao atendimento dos acordos internacionais estabelecidos e
vigentes. Soma-se a esse cenário a estrutura organizacional vigente da SEAP/PR.
Conclui-se que a continuidade dessa situação, tanto em aspectos estruturais como em sua
forma de organização, manteria e, provavelmente, aprofundaria as deficiências existentes e
relacionadas a uma adequada administração das atividades aquícolas e pesqueiras do país. A
manutenção da situação jurídica em que a SEAP/PR hoje se encontra não apresenta viabilidade
na sua continuidade. Da mesma forma, não há uma forte justificativa para melhorá-la em seus
aspectos organizacionais. Colocamos-nos diante da situação, a qual o Brasil necessita de uma
estrutura capaz de suplantar a visão histórica e dar continuidade a gestão dos recursos
aquícolas e pesqueiros em consonância com a sua importância ambiental e potencialidade
socioeconômica. Entretanto, essa nova visão implica em iniciar uma reforma institucional. Uma
reforma que esteja vinculada aos resultados dos trabalhos que as instituições vêm realizando.
Que esteja de acordo com os interesses nacionais e com as modernas práticas de gestão que
consideram a interação da atividade com o meio ambiente.
A partir dessa constatação, foram delineadas três alternativas distintas para a organização
de sua estrutura, sempre adotando como premissa um rol de funções e competências que
deverão estar vinculadas em consonância com as modernas práticas adotadas mundialmente e
os princípios do Código de Conduta para Pesca Responsável da FAO. As três alternativas
apresentadas são: a atribuição dessa autoridade à administração direta da União, um órgão
público do Poder Executivo Federal, ou seja, a denominação de Ministério da Aqüicultura e
da Pesca; a atribuição desta autoridade à administração indireta da União uma Autarquia
Federal Administrativa, ou seja, a criação de um Instituto; e por fim a atribuição dessa
autoridade à administração indireta da União, uma Autarquia Federal Reguladora e
Executiva, ou seja, a criação de uma Agência. Recomenda-se na adoção de qualquer uma
opções ser importante a revisão e adequação do marco jurídico na avaliação das propostas,
visando a sua correta implementação.
A atividade aquícola e pesqueira é de suma importância para o desenvolvimento do Brasil,
seja por considerar aspectos estratégicos, como defesa de fronteiras e integração nacional,
ou por avaliar seu potencial para sociedade como geradora de divisas, emprego e renda.
Assim, deve adotar uma estrutura institucional moderna, instituir o ordenamento e fomento à
atividade produtiva de forma sustentável e ambientalmente correta, assim como promover
sua potencialidade socioeconômica.

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Projeto FAO TCP/BRA 3001

ABSTRACT

The fishery resources, as a heritage or common asset of a society, are subject to


government regulation as prescribed in the constitution. In the last 50 years the management
of fishery resources has begun to receive special attention from the State as a result, above
all, of its increasing socio-economic importance on the national scene. The institutional
structure adopted by the State for the management of fishery activity throughout this period
has been quite varied. This succession can be divided into three moments; each well
differentiated by the actions, and to a greater or lesser extent, to the variations in the areas of
competence and attributes of the state organizations. It is a common characteristic of these
entities to perform functions of regulation, oversight, promotion and management of the
aquiculture and fishery sector. These tendencies led to the creation, in January, 2003, of the
Secretaría Especial de Aqüicultura e Pesca SEAP/PR (Special Secretariat of Aquiculture and
Fishing). The historical division of responsibilities between the MMA, the IBAMA, and the
DPA/MAA was maintained, merely involving the replacement of the DPA/MAA by the new
Secretariat, with which the attributes of the organisms regarding their respective areas of
competence remain divided.
This paper presents the current situation of the fishery sector in Brazil, characterising a
unique situation in the global context, both due to the great socio-economical potential of the
productive activity as to its institutional framework and its implications in relation to the areas
of competence, regulation, promotion and oversight. From this viewpoint, we present the
world-wide technical criteria and trends in the organization of aquiculture and fishing in order
to provide the counsel requested by His Excellency, the Minister of Aquiculture and Fishing
(SEAP/PR) concerning the institutional options for Brazil.
A modern administration of fishing and aquiculture requires adequate institutional structure
and decision making processes. The principal technical criteria to be considered are the
special features of aquiculture and fishing; the globalization of the activity; the linkage
between regulation and sustainable development; and the interrelationship between the
aquiculture and fishing activities. There is also discussion of the global trends in this matter
and an analysis of the various global institutions responsible for the subject. On the basis of
this analysis, a presentation is made of the necessary attributes for the modernization of an
aquiculture and fishery administration. An important aspect visualized in the world models is
the need for a single Institution responsible for, and capable of, instituting and formulating a
National Policy on Aquiculture and Fishery. This brings up a question to be discussed and
aligned in order to promote the productive activity in a sustainable and environmentally
correct manner, in view of its enormous socio-economic potential.
Upon analysing the points in question relative to the current situation and also its need for
modernization in accordance with the attributes presented, the conclusion is reached that the

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institutional structure in effect does not match the world trend presented. In addition to this, it can
be verified that the internationalization of the activity also demands the improvement of the
institutional structure in force. It must be designed in such manner as to be capable of
representing its country at international forums, at the same time as it should be inserted into the
government with sufficient hierarchy to be able to exercise the coordination of the various
organizations related to the aquiculture and fishing activity, providing the necessary technical
support to all the institutions involved in addressing the established international agreements that
are in force. To this scenario is added the current organizational structure of the SEAP/PR.
It is concluded that the continuation of this situation both in the structural aspects and in its
form of organization, would maintain and probably aggravate the existing deficiencies
regarding an adequate administration of the aquiculture and fishing activities of the country.
The maintenance of the legal situation in which the SEAP/PR is placed today, fails to present
feasibility of continuance. For the same reason, there is a strong justification to improve its
organizational aspects. We are faced by a situation in which Brazil needs a structure capable
of superseding the historical vision and providing continuity to the management of the
aquiculture and fishery resources in harmony with its environmental importance and socio-
economical potential for the country. However, this new vision entails initiating an institutional
reform; a reform that is linked to the results of the work being executed by the institutions;
that harmonises with the national interests and with the modern management practices that
take into account the interaction between the activity and the environment.
On the basis of this verification, three different alternatives were outlined for the organization
of the future structure, always adopting as a premise a role of functions and areas of
competence that must be linked to the modern practices adopted throughout the world and
the principles of the Code of Conduct for Responsible Fishing issued by the FAO. The three
alternatives are: the attribution of this Authority to the direct administration by the State, a
public organ of the Federal Executive Power, that is, the designation of the Ministry of
Aquiculture and Fishing; the attribution of this Authority to the indirect administration by the
State as an Autonomous Federal Administration, that is, the creation of an Institute; and
finally, the attribution of this Authority to the indirect administration by the State as an
Autonomous Federal Regulatory and Executive Entity, that is, the creation of an Agency. It is
recommended that in the adoption of any of these options it is important to consider the
revision and upgrading of the legal framework as a part of the evaluation of the proposals,
with a view to their correct implementation.
The aquiculture and fishery activity is of extreme importance for the development of Brazil,
both on account of strategic aspects, such as the defence of frontiers and national
integration, as also to evaluate its potential for society as a generator of foreign exchange,
employment and income. Thus, it must adopt a modern institutional structure, incorporating
the regulation and promotion of productive activity in a sustainable and environmentally
correct form, as well as promote its socio-economic potential.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO E ANTECEDENTES ................................................................................ 11


1.1 Estratégia Metodológica................................................................................................. 13
2 ANÁLISE DO MARCO INSTITUCIONAL DO SETOR PESQUEIRO NO BRASIL .......... 14
2.1 Evolução Histórica.......................................................................................................... 14
2.2 Criação da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca e o Projeto
Político Estrutural ........................................................................................................... 21
2.3 Divisão de Competências Institucionais em Relação ao Setor Pesqueiro................... 23
2.3.1 Competências da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca - SEAP/PR............... 24
2.3.2 Competências de outros organismos relacionadas à gestão da aqüicultura
e da pesca ................................................................................................................... 26
2.4 Conclusões ..................................................................................................................... 31
3 CRITÉRIOS E TENDÊNCIAS PARA UMA ADMINISTRAÇÃO MODERNA DOS
RECURSOS PESQUEIROS ............................................................................................. 32
3.1 As Características Especiais da Aqüicultura e Pesca ................................................... 32
3.2 Ordenamento Pesqueiro e o Desenvolvimento Sustentável ......................................... 37
3.3 A Importância e Contribuição da Atividade para o Brasil .............................................. 42
3.4 Evolução Recente do Marco Normativo Mundial e Atributos Institucionais
para a Gestão dos Recursos Aquícolas e Pesqueiros .................................................. 47
3.4.1 Questões Relacionadas com a Atividade Pesqueira e seu Meio Ambiente ................. 49
3.5 Tendências Mundiais e Estruturas Institucionais Aplicadas à Administração da
Aqüicultura e da Pesca .................................................................................................. 52
3.5.1 Tendências Mundiais .................................................................................................. 53
3.5.2 Modelos de Estruturas Institucionais Mundiais........................................................... 54
3.6 Atributos para Modernização do Setor Público Pesqueiro ............................................ 57
3.7 Conclusões ..................................................................................................................... 59
4 OPÇÕES PARA DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL: PROPOSIÇÕES E
ASPECTOS ORGANIZACIONAIS .................................................................................... 61
4.1 Identificação e Seleção de Opções................................................................................ 61
4.1.1 Áreas e Funções Relacionadas à Gestão da Aqüicultura e da Pesca no
Contexto Brasileiro ...................................................................................................... 62
4.2 Opções de Modelos Institucionais ................................................................................. 66
4.2.1 Propostas Institucionais para o Setor Público Aquícola e Pesqueiro no Brasil ......... 67

9
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES........................................................................... 77
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 81
ANEXOS.................................................................................................................................. 87
ANEXO 1 - FORMULÁRIO.................................................................................................... 89
ANEXO 2 - ENTREVISTAS REALIZADAS ........................................................................... 90
ANEXO 3 - INSTITUIÇÕES VINCULADAS AO CONAPE.................................................... 94
ANEXO 4 - MARCO HISTÓRICO ......................................................................................... 96
ANEXO 5 - DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ATUAL ............................................................ 98
ANEXO 6 - POTENCIAL DA AQÜICULTURA E PESCA BRASILEIRA ............................... 110
ANEXO 7 - EXEMPLOS DA CRESCENTE INTERNACIONALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO
E COMÉRCIO DOS PRODUTOS AQUÍCOLAS E PESQUEIROS E SUA
INTERAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE E AÇÕES DE PRESERVAÇÃO ....... 120
ANEXO 8 - CONSIDERAÇÕES SOBRE SERVIÇOS RELACIONADOS À GESTÃO
DOS RECURSOS AQUÍCOLAS E PESQUEIROS EM NÍVEL MUNDIAL ........ 123
ANEXO 9 - PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES E ORGANISMOS COMPETENTES
POR PAÍSES ...................................................................................................... 126
ANEXO 10 - TENDÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DA AQÜICULTURA E PESCA NA
AMÉRICA LATINA E CARIBE............................................................................ 128
ANEXO 11 - ASPECTOS DE ADEQUAÇÃO INSTITUCIONAL E ESTRATÉGICA
PARA ESTRUTURAÇÃO DA AUTORIDADE AQUÍCOLA E PESQUEIRA
NO BRASIL......................................................................................................... 132
ANEXO 12 - TENDÊNCIAS DE MODERNIZAÇÃO ADMINISTRATIVA ................................ 135
ANEXO 13 - IMPLICAÇÕES JURÍDICAS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA
E INDIRETA........................................................................................................ 137

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1 INTRODUÇÃO E ANTECEDENTES

O presente documento é uma contribuição técnica do assessoramento ao


Governo do Brasil prevista no plano de trabalho do Projeto FAO TCP/BRA 3001 Fortale-
cimento Institucional da Secretaria de Aqüicultura e Pesca - SEAP/PR.
No início de 2003, o Governo do Brasil considerou imediato e urgente iniciar a
execução de um programa para fortalecer alguns dos pilares básicos para que a SEAP/PR
estivesse em condições de desempenhar, sob qualquer circunstância, o papel que se havia
proposto na execução dos objetivos da política aquícola e pesqueira.
Tais pilares básicos teriam relação com sua situação como Secretaria Especial
com status de Ministério, ligado diretamente à Presidência da República; sua possível
evolução para uma estrutura executiva com caráter de Ministério ou outro tipo de organismo,
em um futuro ainda não definido naquele momento; e a necessidade de estabelecer as
competências técnicas, legais e institucionais indispensáveis para sustentar o programa de
estruturação da SEAP/PR estabelecido no Plano Estrutural.
Para apoiar a execução do mencionado Programa, o Governo solicitou à FAO
assistência técnica por meio do Programa de Cooperação Técnica (PCT). A FAO concordou
em atender a assistência solicitada no dia 7 de maio de 2003 aprovando o Projeto de
Fortalecimento Institucional da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP) -
TCP/BRA/3001.

O Governo identificou determinados pilares básicos, reconhecendo-os como


imprescindíveis de atendimento. Esse atendimento se daria com o apoio da assistência
técnica internacional, em curto prazo de tempo como um pré-requisito para o processo de
Fortalecimento Institucional. Os pilares referem se aos aspectos de legislação pesqueira; ao
desenvolvimento da estrutura da SEAP/PR; à estatística e informação pesqueira para a
pesquisa; à análise e tomada de decisões tanto para o setor público como para os usuários,
e à urgente melhoria das capacidades de gestão da SEAP/PR no mais promissor dos setores
em matéria de produção pesqueira: a aqüicultura.
Em sua solicitação de assistência e com referência ao componente de
desenvolvimento da estrutura da SEAP/PR, o Governo considerou que a estrutura inicial
evoluiria em relação a dois importantes aspectos:

11
a) as propostas emergentes de processo de aprimoramento do Plano Estratégico
de Desenvolvimento Sustentável da Pesca e da Aqüicultura;
b) a forma Jurídica e Institucional que a SEAP/PR assumiria no final de seu
processo de transição como Secretaria Especial da Presidência da República.
Os resultados esperados pelo Governo com relação à atividade de assistência
técnica da FAO e as atividades que deveriam conduzir a sua obtenção encontram-se no
quadro 1.

QUADRO 1 - RESULTADO 1 DO PROJETO TCP/BRA/3001, FAO/BR - MAIO 2003

Resultado 1

Proposta de estrutura para a SEAP/PR, levando em consideração os possíveis cenários de seu futuro desenvolvimento
orgânico, em consonância com sua competência legal, suas funções próprias e aquelas de outras institucionai,s no âmbito
federal ou estadua,l ligadas ao setor e prestando devida atenção ao plano estratégico de desenvolvimento sustentável da
aqüicultura e da pesca.

Atividade 1.1

Elaboração de uma metodologia integral para apoiar o processo de implantação dos núcleos estaduais de aqüicultura e
pesca da SEAP/PR e dos comitês regionais de gesta,o previstos no documento de “Projeto Político Estrutural”.

Atividade 1.2

Preparação de uma proposta de estrutura institucional para a SEAP/PR, que preveja em sua formulação opções para seu
desenvolvimento orgânico em médio prazo, em função dos objetivos para os quais foi criada.

Atividade 1.3

Organização de um programa de seminários de familiarização do pessoal técnico e gerencial da SEAP/PR, em nível central e
regional, com a natureza legal, orgânica e operativa da instituição e com a missão, os objetivos e os métodos de gestão.

FONTE: Projeto de Fortalecimento Institucional da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP) - TCP/BRA/3001

Durante uma recente visita de uma Missão da FAO de apoio técnico ao Projeto,
que ocorreu em 7 de dezembro de 2005, o Secretario Especial de Aqüicultura e Pesca
Ministro José Fritsch solicitou que o assessoramento previsto pelo projeto em matéria
institucional levasse em consideração alguns aspectos que considerava de singular
importância. O Sr. Fritsch apontou que as opções institucionais a serem identificadas
deveriam, partindo da consideração da situação atual, constituir propostas que superassem
o presente, visando a uma modernização do setor público pesqueiro do Brasil, de acordo
com os desafios mais atuais, nacionais e internacionais, apresentados para a atividade de
aqüicultura e pesca responsável. A incorporação de tais opções deveria considerar uma
estrutura institucional que reconhecesse a necessidade de reunir as principais funções e
competências de ordenamento e fomento em uma única instituição, mencionando a
possibilidade de criação de um Ministério sem descartar outras opções possíveis, tais como
a figura de um Instituto ou de uma Agência.

12 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

Assim, levando em consideração esses apontamentos, o presente documento


descreve a história recente e a situação atual do marco institucional da pesca e da
aqüicultura no Brasil. Logo, examina os possíveis requerimentos que deveriam satisfazer
uma gestão e fomento à pesca e da aqüicultura com objetivos de desenvolvimento
sustentável, considerando suas características técnicas, exigências normativas e tendências
internacionais e regionais e sua relação com a situação atual no Brasil. Por último, o
relatório explora as possíveis opções institucionais para a gestão e o fomento à pesca e da
aqüicultura no Brasil, com a visão de superar o contexto atual, solicitada pelo Governo.

1.1 Estratégia Metodológica

Com vistas a atender os objetivos do fortalecimento institucional, a estratégia adotada


considerou a formatação de um histórico do marco institucional, o diagnóstico da situação atual
da SEAP/PR e as suas relações interinstitucionais, a análise das melhores práticas internacionais
relacionadas à administração pesqueira, além de estudo e avaliação de conceitos técnicos
relacionados. Foram contemplados os aspectos estruturais e organizacionais, de forma a
subsidiar a formulação de propostas para o fortalecimento institucional, utilizando como
premissas os elementos mencionados no Termo de Referência, conforme descritos acima.
Para tanto, foi desenvolvida uma extensa pesquisa bibliográfica para a formatação
do marco institucional, além de entrevistas com atores do processo de institucionalização da
atividade no Brasil, a citar atores relacionados à antiga SUDEPE, GESPE, DPA, IBAMA e a
própria Secretaria.
Na elaboração do diagnóstico da situação atual, utilizaram-se ferramentas de
diagnóstico organizacional, aplicadas em processos de melhoria operacional de programas
de qualidade total. Foi elaborado um formulário, apresentado no Anexo 1, com questões
genéricas e norteadoras sobre o funcionamento e a estrutura do órgão público. Para
aplicação, foram escolhidas pessoas de nível técnico e diretivo da Secretaria e promovidas
entrevistas focadas nos aspectos qualitativos, apresentados no Anexo 2, para o que se
utilizaram questões de acordo com a especificidade de cada área de atuação. Para que o
setor também pudesse fornecer contribuições sobre a necessidade e demanda de uma
estrutura, todas as instituições e organismos representados no Conape receberam o
formulário. A lista com os organismos que compõe o Conape apresenta-se no Anexo 3.
Cabe citar que, durante o desenvolvimento de todo o trabalho, houve um
assessoramento constante e de caráter multidisciplinar de especialistas do Departamento de
Pesca da FAO.

13
2 ANÁLISE DO MARCO INSTITUCIONAL DO SETOR PESQUEIRO1
NO BRASIL

2.1 Evolução Histórica

Os recursos pesqueiros, como patrimônio ou bem comum de uma sociedade, são


objeto de norma regulamentadora, conforme previsto constitucionalmente. A gestão dos
seus usos está a cargo dos Estados-Nação e, em todos, implementada pelo Poder
Executivo. Nos últimos 50 anos, a gestão dos recursos pesqueiros passou a merecer
atenção especial do Estado em decorrência, sobretudo, do crescimento da sua importância
socioeconômica no cenário nacional.
A estrutura institucional adotada pelo Estado para gestão da atividade pesqueira,
ao longo desse período foi bastante variada. Desde 1955 várias entidades federais
responsabilizaram-se de forma seqüencial ou sobreposta pelos assuntos dos recursos
pesqueiros no país: o Serviço da Patrulha Costeira, o Serviço de Caça e Pesca e a Caixa de
Crédito da Pesca ambos do Ministério da Agricultura, a Superintendência do
Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais (IBAMA), o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Departamento de Pesca e
Aqüicultura (DPA) do Ministério da Agricultura e a Secretaria Especial de Aqüicultura e
Pesca (SEAP), vinculada à Presidência da República.
É característica comum a essas entidades o desempenho de papéis de normati-
zação, fiscalização, fomento e gestão do segmento aquícola e pesqueiro. Essa sucessão
institucional pode ser dividida em três momentos bem distintos a partir de 1950,2
caracterizados cada qual pela atuação, em maior ou menor escala dos organismos em suas
competências e atribuições.

 1955 - 1989: Ênfase no Fomento à Atividade Aquícola e Pesqueira

O primeiro momento, no período 1955 - 1989, foi caracterizado pela atuação da


SUDEPE - Superintendência do Desenvolvimento da Pesca, autarquia vinculada ao

Ministério da Agricultura - MA. A SUDEPE originou-se da fusão de três órgãos heterogêneos:

1
Entende-se por setor pesqueiro as atividades de aqüicultura e pesca.
2
Cabe ainda ressaltar a importância do período anterior a 1950, que nos remete à formação do Estado nacional
e do estabelecimento da Marinha de Guerra Brasileira, organismo intimamente ligado ao desenvolvimento da
atividade pesqueira no Brasil. (Anexo 4).

14 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

a parte de pesca da Divisão de Caça e Pesca procedente do Ministério da Agricultura; a


Caixa de Crédito da Pesca, entidade autárquica do mesmo ministério, e o Conselho de
Desenvolvimento da Pesca, de natureza parestatal (TIMM, 1975, citado por DIAS, 2001).3 O
novo órgão ficou vinculado à pasta da Agricultura.
A criação da SUDEPE institucionalizou a pesca como setor autônomo no âmbito
da área de agricultura e abastecimento. Esse período se caracterizou por uma política de
incentivos fiscais e fortes investimentos no setor. A destinação de recursos para a criação e
reprodução de uma estrutura industrial para o setor pesqueiro, incentivos fiscais para
compra de barcos e equipamentos e para implantação de unidades de beneficiamento do
pescado, entre outras ações, combinavam com o momento e o modelo econômico adotado
pelo país. A premissa de transformação do setor pesqueiro de pesca artesanal em pesca
moderna, tendo por base a industrialização (DIEGUES, 1983).4
A SUDEPE foi instituída e desenvolveu atividades para o setor em meio a
importantes períodos da economia brasileira. O início da década de 60 se caracteriza pela
ocorrência da primeira grande crise econômica do Brasil, em sua fase industrial, que
culmina no golpe de 1964 para reforma política e econômica do Estado e o posterior
“milagre econômico” da década de 1970, já com o poder nas mãos do regime militar. Assim
como a atividade pesqueira, diversos setores produtivos intimamente relacionados ao poder
regulador do Estado sofreram conseqüências das reformas e mudanças ocorridas na
estrutura governamental, especialmente no que concerne a seus aspectos institucionais.
Em 1962, com a criação da SUDEPE se deu o primeiro passo para profissio-
nalização do setor. Passa a vigorar o Código de Pesca que até hoje serve de instrumento
regulamentador da atividade, (Decreto Lei 221, 28/02/1967). Este tinha claro o objetivo de
estimular a pesca, com facilidades e incentivos fiscais. O uso desse modelo significou um
avanço produtivo e econômico, mantendo-se vigente até o início dos anos 80, quando o país
superou pela primeira vez a barreira de produção de um milhão de toneladas em 1985
(REVISTA AQUA, 2005).
Em meio ao processo de reforma institucional do Estado, a SUDEPE elabora seus
primeiros Planos Nacionais de Desenvolvimento da Pesca (PNDPs), em 1963 e 1969. A

3
DIAS-NETO, J. Gestão do uso dos recursos pesqueiros marinhos no Brasil. Brasília: Edições Ibama.
2003. 242p.
4
DIEGUES, A. C. S. Pescadores, camponeses e trabalhadores do mar. São Paulo: Ática, 1993. 287p.

15
dificuldade de implantação, devida, em parte, ao período político econômico nacional, foi
agravada pela falta de estrutura operacional, alocação de meios e instabilidade
administrativa vivida pela instituição na época.
No início da década de 70 o Brasil vive o período de crescimento acelerado, o
chamado “milagre econômico”, segundo o qual crescer era importante e exportar era a
solução. Essa diretriz comprometeu os dois últimos PNDPs aprovados pela SUDEPE em
1974 e 1980. Entretanto, a falta de fundamentação técnica, aliada ao conturbado momento
político que gerava uma forte dificuldade na gestão da instituição, foi o fator responsável por
alguns dos fracassos atribuídos aos Planos.
Além disso, a autarquia passou a enfrentar uma série de denúncias de uso
inadequado de recursos públicos, culminando com a adoção de diversos projetos de
investimentos para o setor, economicamente inviáveis (DIAS NETO, 1996).5 A crise institucional
da SUDEPE pode ser em grande parte relacionada à crise do Estado, que ditada pelos impasses
econômicos, pelo sucateamento da sua infra-estrutura física e humana e pela dificuldade de
gestão adequada contribuiu fortemente para a crise institucional do Setor.
Em que se pese o entorno, durante a vigência da SUDEPE aumentou-se
consideravelmente a produção pesqueira no Brasil, além disso, modernizou-se a frota
pesqueira e a indústria de processamento de pescado. Também é notável a implantação
das bases da pesquisa pesqueira com o apoio da FAO e de investimentos no setor via
Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID.
Entretanto, a principal questão que pode resumir o aspecto institucional e fornecer
subsídios para a configuração de uma nova estrutura para o setor é, conforme cita Dias
(2003), o fato de a SUDEPE atravessar uma série de gestões e governos sem incorporar
uma cultura institucional única, o que a tornou carente de um conjunto de valores próprios
que conformasse um perfil, uma auto-imagem infundida e negociada com o ambiente.
A adoção de planos econômicos diversos, a necessidade de retomada do
crescimento frente a uma crise mundial e o forte autoritarismo, que permeou grande parte
do período de atuação da SUDEPE, são fatores considerados em sua análise institucional.
Esses fatores relativos ao momento nacional extraíram de grande parte das instituições
governamentais de apoio ao setor produtivo os instrumentos de política econômica e social,
sendo essas instituições apenas responsáveis pela sua implementação.

5
DIAS NETO, J. Diagnóstico da pesca marítima no Brasil. Brasília: IBAMA, 1996. 165p.

16 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

O quadro político estrutural apresentado permitiu a evolução do processo que levou a


um descrédito institucional, o que certamente contribuiu para a extinção da Superintendência
em 1989. Como destaca Egler (1998), citado por Dias (2001),2 a conjugação de fatores
ocorridos a partir da segunda metade dos anos 1980, como: (i) a instalação da Nova República;
(ii) a redemocratização do país; (iii) o comprometimento de importantes espaços e recursos
ambientais; e (iv) o avanço dos desmatamentos e das queimadas, especialmente na Amazônia,
que provocou uma pressão internacional, levou o governo a adotar uma série de medidas
dentro do Programa Nossa Natureza, como a eliminação dos incentivos fiscais para projetos de
agricultura e a criação, pela Lei 7.735 de 22 de fevereiro de 1989 do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Renováveis - IBAMA, vinculado ao Ministério do Interior, assumindo as
atividades de fomento e o ordenamento da pesca.

 1989 - 1998: Ênfase no Ordenamento Ambiental da Atividade


Aquícola e Pesqueira

Este segundo momento vivido pela atividade passa a gestão dos recursos
pesqueiros, o patrimônio, os recursos orçamentários e financeiros, a competência legal, as
atribuições e o pessoal, a cargo do IBAMA. O Instituto incorpora a SUDEPE, além da
Secretaria Especial de meio Ambiente - SEMA, a Superintendência do Desenvolvimento da
Borracha - SUDVHEA e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal - IBDF.
Cabe ao novo órgão, por meio de suas instâncias competentes, o papel de
coordenar, regulamentar, orientar e fiscalizar a execução das ações e atividades relacionadas à
gestão dos recursos pesqueiros. Além da realização das estatísticas pesqueiras, o IBAMA passa
a atuar como órgão de pesquisa, regulamentação e fiscalização do setor, focalizando suas
ações e políticas na necessidade de manutenção da biodiversidade aquática e costeira.
A característica da administração dos recursos pesqueiros desse período tem um
enfoque singular. Isso é devido tanto porque as funções e atribuições que eram setoriais se
disseminaram em uma estrutura funcional, como pela natureza de âmbito institucional
imediato, um organismo responsável pelo meio ambiente que concentrava as competências
de ordenamento e fomento à Aqüicultura e Pesca (GUMY, 1998)6.

6
GUMY, Angel. Relatório da Missão do Departamento de Pesca da FAO de apoio ao Departamento de Pesca e
Aqüicultura do Ministério da Agricultura e Abastecimento. 28 set.-9 out. 1998.

17
A gestão da atividade pesqueira pelo IBAMA teve em sua vigência uma
administração da atividade baseada, principalmente, na conservação e preservação dos
recursos pesqueiros, com poucas ações de incentivo ao desenvolvimento e fomento à
atividade (RELATÓRIO PNUD, 2003)7.
Em 1991 é editada a Lei da Política Agrícola, que vem a reforçar o disposto na
Constituição de 1988, considerando a atividade pesqueira como parte integrante da
atividade agrícola, marcando o período também por uma luta do setor no cumprimento
dessa normativa. Nesse sentido foi encaminhado ao Congresso Nacional pelo então
Presidente Itamar Franco, a Medida Provisória n.o 309/92 propondo, em sua primeira versão,
transferir para o âmbito do Ministério da Agricultura a competência sobre a aqüicultura e a
pesca, atribuída ao IBAMA.
A estruturação política do período também estava articulada à criação do
Ministério do Meio Ambiente8. Assim, promoveu um acordo entre o governo e as lideranças
do setor, de forma que seria omitido da lei de aprovação da Medida Provisória o dispositivo
sobre a definição da competência ministerial referente à pesca; mas em contrapartida, se
obrigaria o Executivo a encaminhar projeto de Lei no prazo de noventa dias, dispondo sobre
essa matéria. Assim foi sancionada a Lei 8.490/92 com essa atribuição.
Apenas em 1994, foi constituído um Grupo de Trabalho Interministerial pela
Portaria 02/94 no sentido de resgatar a invocação da Lei 8490/92. O trabalho desenvolvido
por esse Grupo, entre outras diversas questões, considerou que:

[...] os setores de Aqüicultura e Pesca deveriam ser tratados no âmbito do


governo federal por um órgão autônomo, preferencialmente no nível de
Secretaria Nacional, com competência e estrutura adequada para o
planejamento, o controle, a administração e a coordenação nacional das
atividades de pesquisa e de promoção do desenvolvimento; devendo
permanecer no âmbito do órgão responsável pelo setor ambiental a
fiscalização pesqueira e o gerenciamento dos recursos naturais renováveis
(mamíferos e répteis aquáticos). Aos Estados e Municípios (co-responsáveis
pela Constituição Federal com a gestão ambiental e à administração dos
recursos naturais renováveis) ficaria atribuída a execução de programas,
projetos e atividades, inclusive a normatização sobre a exploração de

7
VASCONCELLOS, M.; DIEGUES, A. C.; SALES, R. R. Relatório PNUD integrado: diagnóstico da pesca
artesanal no Brasil como subsídio para o fortalecimento institucional da Secretaria Especial de Aqüicultura e
Pesca, SEAP/PR 2004.
8
Em 1990 o Ministério do Interior foi extinto e o IBAMA passa a estar vinculado a Secretaria de Meio Ambiente
diretamente ligada a presidência da República. Em 1992 esta Secretaria é elevada a status de Ministério e em
1996 é criado efetivamente o Ministério do Meio Ambiente.

18 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

estoques disponíveis nos limites de cada Estado. Ao setor privado seriam


assegurados os mecanismos institucionais de estímulo à produção, ao
beneficiamento e à comercialização do pescado, circunscritos à política de
preservação ambiental desses recursos naturais renováveis.

A proposta de criação de uma Secretaria Nacional acabou não sendo levada à


efetivação em 1994, sendo sua discussão retomada no início do primeiro governo do
Presidente Fernando Henrique Cardoso, marcado pela adoção de práticas neoliberais, a
contínua preocupação de revisão do papel do Estado na economia, além da preocupação
em estimular os agentes produtivos privados.
Nesse sentido, foi criado pelo Decreto no 1.697, de 13 de novembro de 1995 o
Grupo Executivo do Setor Pesqueiro - GESPE, tendo como missão conciliar a política do
governo aos anseios do setor. Seu propósito era promover o desenvolvimento do setor em
cargo de propor à Câmara de Políticas dos Recursos Naturais a Política Nacional de
Aqüicultura e Pesca e coordenar, em nível nacional, a implementação de suas ações. Além
disso, propor a atualização da legislação do setor de aqüicultura e da pesca e implementar
as diretrizes estabelecidas pela Câmara de Políticas dos Recursos Naturais relacionadas
com o setor pesqueiro.
A atuação do GESPE foi relevante para o setor e sua atuação. Em 1997, com a
estruturação da Medida Provisória 1549-35 que transferiu as funções de desenvolvimento e
fomento dos recursos pesqueiros do IBAMA para o Ministério da Agricultura e do Abaste-
cimento, atendendo a demanda de grande parte do setor pesqueiro nacional.

 A partir de 1997: Divisão de Competências de Ordenamento Ambiental e

Fomento a Atividade Produtiva

Inicia-se então um terceiro momento para a atividade, o qual se caracteriza pela


divisão de competências relacionadas às atividades pesqueiras entre Ministério de Meio
Ambiente - MMA/IBAMA e Ministério da Agricultura e Abastecimento - MAA.
No início do segundo mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso a
Medida Provisória supracitada foi transformada em Lei n.º 9.649 de 27 de maio de 1998,
permanecendo a competência, de produção e fomento à atividade pesqueira no Ministério
da Agricultura, mantendo no Ministério do Meio Ambiente e IBAMA aquelas relacionadas
com a política de preservação, conservação e uso sustentável dos recursos naturais.

19
Logo em seguida é estruturado o Departamento Pesca e Aqüicultura (DPA) no
Ministério da Agricultura, com competências semelhantes às do Departamento de Pesca e
Aqüicultura - DEPAQ do IBAMA, visando também ao fomento e desenvolvimento da atividade.
A instalação do DPA não foi acompanhada de adequada estruturação ou
rebatimento funcional nas Delegacias Federais da Agricultura nos estados. Em Brasília, o
quadro foi parcialmente preenchido com funcionários do IBAMA. Ainda assim a alocação de
recursos humanos não foi suficiente para executar todas as suas atribuições, necessitando
preencher quadros com pessoal de outros organismos comissionados ou terceirizados.
A divisão de competências entre o IBAMA e o DPA/MAA continuou durante os dois
anos do referido Governo. Cabe ressaltar que na análise institucional o DPA foi um ponto de
partida para antigas reivindicações do setor pesqueiro e, em conjunto com outras
instituições competentes, levando-se em consideração as políticas de descentralização do
Poder Público e à adoção de critérios responsáveis de aqüicultura e pesca, contribuiu para
uma considerável melhoria dessa atividade no Brasil. Foi, inclusive, o responsável pela
edição do Decreto 2.869/1998, que regulamentou a cessão de águas públicas para
exploração da aqüicultura.
Diante da importância dessa atividade para o desenvolvimento do País, a partir de
2003 criou-se uma estrutura mais definitiva e focada na temática socioeconômica adotada
pelo atual governo. Com a eleição do atual governo do Presidente Luis Inácio Lula da Silva,
foi criada pela edição da Medida Provisória 1039 de 28 de maio de 2003, a Secretaria
Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP/PR), ligada à Presidência da República. Relevante,
no contexto, é o fato de essa Lei, em seu art. 23, estabelecer que a pesca deve ser
desenvolvida com respeito à legislação ambiental, mantendo a divisão de competências
estabelecida historicamente.
No que concerne ao seu aspecto histórico-institucional, a SEAP/PR herdou
funções e atribuições do extinto DPA - Departamento de Pesca e Aqüicultura, Ministério da
Agricultura e Abastecimento - MAA, além de novas atribuições com respeito à legislação
ambiental, conforme citado. As suas áreas de competência foram definidas pelo Decreto
4.670 de 10 de abril de 2003. A divisão de competências que havia entre o MMA, o IBAMA e
o DPA/MAA foi mantida, apenas substituindo-se o DPA/MAA pela SEAP/PR.
A aqüicultura e a pesca envolvem diretamente diferentes temas e interesses, os
quais atualmente são de competência de diferentes pastas públicas federais. Além do

9
Posteriormente transformada na Lei n.º 10.683.

20 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

IBAMA e Ministério do Meio Ambiente, outros organismos atuam com relevância neste setor,

a citar o Ministério Desenvolvimento Agrário, o Ministério da Integração Nacional, a Marinha


e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, entre outros.
A postura de órgãos públicos das três esferas do poder frente ao setor pesqueiro
é historicamente pautada por uma mescla de autoritarismo e assistencialismo. Nesse
sentido, a edição de instrumentos legais, a abertura de linhas de crédito, o apoio técnico às
etapas produtivas e comerciais e o fomento à organização da produção nem sempre
consideraram as demandas do setor.
Ao mesmo tempo em que se estabelece um conjunto de ações empreendidas ou
demandadas pelo setor público e pela sociedade para seu fomento, considera-se o processo de
gestão da atividade aquícola e pesqueira no âmbito do meio ambiente em que vivem, ou seja,
visando à sua utilização e conservação. Dessa forma, o processo de ordenamento não pode
deixar de considerar todas as variáveis envolvidas, uma vez que se trata de atividades
produtivas as quais envolvem múltiplos aspectos sociais, ambientais e econômicos.
Considerando que a histórica divisão de competências entre o MMA, o IBAMA e o
DPA/MAA foi mantida apenas substituindo-se o DPA/MAA pela nova Secretaria segundo a
10
CISET, a atribuição dos órgãos nas questões de ordenamento permanece dividida. Essa
situação é singular no contexto mundial.

2.2 Criação da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca e o Projeto


Político Estrutural

Tal como foi citado anteriormente, em 1.º de janeiro de 2003 o Governo do Brasil
criou, com base na Medida Provisória n.º 103, posteriormente transformada na Lei 10.683/03, a
Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca - SEAP. Atendeu, assim, ao primeiro ponto da Carta
de Compromisso aos Pescadores apresentada em Agosto de 2002.11

10
De acordo com o Relatório de Auditoria Operacional da Secretaria de Controle Interno da Casa Civil
o
Presidência da Republica - CISET n. 1100008 de 14/01/2005;
11
O referido documento se compromete a criar o órgão. A citar: “Criar uma Secretaria Nacional de Pesca e
Aqüicultura, visando integrar os diversos Ministérios, que possuem relação com o setor pesqueiro de maneira
a compatibilizar as diversas ações relativas à pesca no País”.

21
A Secretaria Especial foi criada como um organismo no qual o status do
Secretário Especial é de Ministro de Estado, vinculado diretamente à Presidência da
República. No artigo 23 da mencionada Medida Provisória estabelece que à SEAP/PR.

Compete assessorar direta e imediatamente o Presidente da República na


formulação de políticas e diretrizes para o desenvolvimento e o fomento à
produção aquícola e pesqueira […].

Durante o mês de janeiro de 2003 a SEAP/PR apresenta o documento “Projeto


Político-Estrutural” que foi aprovado em julho de 2003 pela 1.ª Conferência Nacional de
Aqüicultura e Pesca, a qual estabeleceu os conteúdos centrais que deverão constituir um Plano
Estratégico de Desenvolvimento Sustentável. Contém um diagnóstico que inclui os principais
componentes do setor e define o papel do Estado. Inclui ainda o denominado Plano
Emergencial de Suporte, que compreende os objetivos e o programa de ações imediatas da
SEAP/PR, no qual se faz referência direta à estruturação da instituição, como citado no quadro 2.

Conforme se observará posteriormente, na descrição de responsabilidades não se


implementaram os pontos e) e f) do Programa de Ações Imediatas.

QUADRO 2 - PROJETO POLÍTICO – ESTRUTURAL, SEAP/PR - JULHO 2003

PROJETO POLÍTICO - ESTRUTURAL - PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA


SECRETARIA ESPECIAL DE AQÜICULTURA E PESCA
(Julho de 2003)

1 Objetivos

1.2 Estruturar a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República – SEAP, transferindo
para esta o patrimônio da União cuja atividade esteja relacionada às suas atribuições e que se encontrem sob a
responsabilidade de outros órgãos federais, dotar a Secretaria de recursos humanos necessários para o
desempenho de suas funções, e centralizar todas as políticas de fomento para o setor, acabando com os
sombreamentos existentes.

2 Programa de ações imediatas

2.1 Estruturação da SEAP

a) Dotar a Secretaria de um quadro funcional, em Brasília e nos estados, compatível com suas atribuições.
b) Transferir imediatamente a estrutura do Departamento de Aqüicultura e Pesca para a Secretaria.
c) Constituir um quadro funcional, nas regiões e estados.
d) Estruturar escritórios da SEAP nas regiões e estados, a partir das unidades de aqüicultura e pesca existentes
nas delegacias regionais de agricultura.
e) Transferir à SEAP todo o patrimônio da União, que esteja sob a responsabilidade de outros órgãos, cujas
atividades estejam relacionadas com as atribuições da Secretaria.
f) Transferência para a SEAP das atribuições de gestão de recursos pesqueiros do Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama.

FONTE: SEAP/PR (2005)

22 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

Atualmente a SEAP/PR está estruturada em Brasília e nos estados de forma a


atender a Lei 10.683, supracitada. Entretanto, com relação aos seus aspectos organi-
zacionais, encontra algumas dificuldades referentes ao seu processo de gestão.
A SEAP/PR foi criada como um órgão de assessoramento da Presidência da
República e está, portanto, vinculada à Casa Civil. Em conseqüência, tem um orçamento
limitado e uma grande exposição. De certa forma, essa posição também dificulta as ações
de caráter executivas, típicas de organismo de fomento, uma vez que não apresenta
flexibilidade administrativa e agilidade necessária para cumprir adequadamente o papel de
órgão centralizador das competências da aqüicultura e da pesca no Brasil. Além disso, não
possui um quadro funcional próprio.
A estrutura formalmente aprovada para a SEAP/PR funciona de forma adaptada as
suas reais necessidades. De acordo com as entrevistas realizadas e informações coletadas,
fica evidente a diferença entre a estrutura aprovada e a informal vigente.
A capilaridade das ações da SEAP/PR em nível nacional não tem atingido o
público alvo, uma vez que os escritórios estaduais e as gerências regionais contam com um
reduzido quadro de servidores e carecem de corpo especialista nas áreas de Aqüicultura e
Pesca para atender demandas crescentes. Tal deficiência vem a sobrecarregar as
estruturas técnicas e administrativas da Sede em Brasília/DF, além de prolongar o rito
processual dos inúmeros projetos a serem analisados.
Em suma, os principais entraves operacionais da SEAP/PR, tanto em Brasília
quanto nos escritórios estaduais, têm como foco central a deficiência de infra-estrutura
(física e de pessoal) e a divisão de competências entre diversas instituições, uma questão
não compatível com a demanda requerida pelo setor de aqüicultura e pesca. O
detalhamento do diagnóstico organizacional está apresentado no Anexo 5.

2.3 Divisão de Competências Institucionais em Relação ao


Setor Pesqueiro

A gestão da atividade da aqüicultura e da pesca envolve direta e indiretamente


diferentes temas e interesses, os quais atualmente são de competência de diferentes pastas
públicas federais. Aqueles relacionados à organização da cadeia produtiva, atividades de fomento,
pesquisa, ordenamento e normatização, assim como a fiscalização e monitoramento, estão entre
as questões mais importantes para assegurar o desenvolvimento sustentável da atividade.

23
2.3.1 Competências da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca - SEAP/PR

O desenvolvimento e o fomento à atividade de aqüicultura e pesca é uma


competência claramente atribuída a SEAP/PR, definida pela Lei no 10.683, de 28 de maio
de 2003 no seu artigo 23 conforme descrito a seguir:

À Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca compete assessorar direta e


imediatamente o Presidente da República na formulação de políticas e
diretrizes para o desenvolvimento e o fomento à produção aquícola e
pesqueira e, especialmente, promover a execução e a avaliação de
medidas, programas e projetos de apoio ao desenvolvimento da pesca
artesanal e industrial, bem como de ações voltadas à implantação de infra-
estrutura de apoio à produção e comercialização do pescado e de fomento à
aqüicultura e a pesca, organizar e manter o Registro Geral da Pesca previsto
o
no art. 93 do Decreto-Lei n 221, de 28 de fevereiro de 1967, normatizar e
estabelecer, respeitada a legislação ambiental, medidas que permitam o
aproveitamento sustentável dos recursos pesqueiros altamente
migratórios e dos que estejam subexplotados ou inexplotados, bem como
supervisionar, coordenar e orientar as atividades referentes às infra-estruturas
de apoio à produção e circulação do pescado e das estações e postos de
aqüicultura e manter, em articulação com o Distrito Federal, Estados e
Municípios, programas racionais de exploração da aqüicultura em águas
públicas e privadas, tendo como estrutura básica o Gabinete, o Conselho
Nacional de Aqüicultura e Pesca e até duas Subsecretarias.

A SEAP/PR herdou funções relacionadas ao fomento à atividade do extinto


Departamento de Pesca e Aqüicultura do MAA. Ainda a Lei 10.683/2003 determina que, no
exercício das suas competências, caberá à Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca:

I conceder licenças, permissões e autorizações para o exercício da pesca


comercial e artesanal e da aqüicultura nas áreas de pesca do território
nacional, compreendendo as águas continentais e interiores e o mar
territorial da Plataforma Continental, da Zona Econômica Exclusiva,
áreas adjacentes e águas internacionais, para a captura de:
a) espécies altamente migratórias, conforme Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos do Mar, excetuando-se os mamíferos marinhos;
b) espécies subexplotadas ou inexplotadas;
c) espécies sobreexplotadas ou ameaçadas de sobreexplotação, obser-
vado o disposto no § 6o do art. 27;
II autorizar o arrendamento de embarcações estrangeiras de pesca para
operar na captura das espécies de que tratam as alíneas a e b do inciso
I, exceto nas águas interiores e no mar territorial;
III autorizar a operação de embarcações estrangeiras de pesca, nos casos
previstos em acordos internacionais de pesca firmados pelo Brasil, a
exercer suas atividades nas condições e nos limites estabelecidos nos
respectivos pactos;

24 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

IV fornecer ao Ministério do Meio Ambiente os dados do Registro Geral da


Pesca relativos às licenças, permissões e autorizações concedidas para
aqüicultura e pesca, para fins de registro automático dos beneficiários
no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e
Utilizadoras de Recursos Ambientais;
V repassar ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA, cinqüenta por cento das receitas das
taxas ou dos serviços cobrados em decorrência das atividades
relacionadas no inciso I, que serão destinados ao custeio das atividades
de fiscalização da pesca e da aqüicultura;
VI subsidiar, assessorar e participar, em interação com o Ministério das
Relações Exteriores, de negociações e eventos que envolvam o compro-
metimento de direitos e a interferência em interesses nacionais sobre a
pesca, a produção e comercialização do pescado e interesses do setor
neste particular;
VII operacionalizar a concessão da subvenção econômica ao preço do óleo
diesel instituída pela Lei n.º 9.445, de 14 de março de 1997.

A gestão da atividade, organização e coordenação da cadeia produtiva – que


envolve a concessão de todas as licenças, permissões e autorizações para o exercício da
pesca comercial, artesanal e aquícola – especifica ainda a área de atuação e as espécies a
serem capturadas e está a cargo da SEAP/PR, assim como a gestão do uso dos recursos
pesqueiros desde que respeitado o limite imposto pela Lei.
Organizar e manter o Registro Geral da Pesca - RGP previsto no art. 93 do
Decreto-Lei n..º 221 de 28 de fevereiro de 1967 é também de competência da SEAP/PR e faz
parte da gestão e normatização da cadeia produtiva, assim como fornecer ao Ministério do
Meio Ambiente os dados relativos às licenças, permissões e autorizações concedidas para
aqüicultura e pesca, para fins de registro automático dos beneficiários no Cadastro Técnico
Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e Utilizadores de Recursos Ambientais.12
Com relação ao ordenamento da atividade, todo o ordenamento da aqüicultura
está sob a competência da Secretaria. Entretanto, no caso da pesca a SEAP/PR tem uma
competência restrita para normatizar a atividade produtiva. Conforme descrito pela Lei
10.683, pode apenas normatizar os recursos altamente migratórios e os que estejam
subexplotados e inexplotados.

12
Isto determina que o indivíduo interessado não possui a obrigatoriedade de comparecer aos 2 órgãos para
executar ambos os registros. Na prática, conforme citado nas entrevistas, o sistema não está implementado e
o atual sistema informatizado não atende à demanda e não contempla todas as categorias de registros.

25
[...] normatizar e estabelecer, respeitada a legislação ambiental, medidas
que permitam o aproveitamento sustentável dos recursos pesqueiros
altamente migratórios e dos que estejam subexplotados ou inexplotados [...].

2.3.2 Competências de outros organismos relacionadas à gestão da aqüicultura


e da pesca

Uma das características peculiares do setor pesqueiro é que sua gestão e


fomento convocam a participação de um importante número de organismos públicos de
naturezas diversas. Os principais organismos com sua linha de atuação podem ser
relacionados conforme segue:

 IBAMA: relacionado à conservação dos recursos naturais, fiscalização e áreas


protegidas;
 Ministério do Meio Ambiente - MMA: recursos naturais, ordenamento e geren-
ciamento costeiro;
 Marinha: navegação e atividades portuárias;
 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA: programas de
defesa sanitária da produção, de abastecimento, fomento ao associativismo e
ao cooperativismo;
 Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA: programas de extencionismo;
 Ministério do Trabalho e Emprego - MTE: salários desemprego e formação
profissional;
 Ministério da Previdência Social - MPS: benefícios sociais, como aposentadorias;
 Ministério da Integração Nacional - MI: programas de desenvolvimento regional;
 IBGE: estatísticas.

Devido a essa grande diversidade de instituições relacionadas à atividade no


Brasil e à grande complexidade institucional, uma série de questões afetam diretamente as
atividades de aqüicultura e pesca no âmbito de gestão da atual Secretaria e são
determinantes para o desenvolvimento sustentável do setor. São elas: (a) as questões de
ordenamento e fomento e, em menor escala, (b) as questões sanitárias.

 Questões de ordenamento e fomento

A atividade da aqüicultura e pesca envolve diretamente diferentes temas e


interesses, os quais atualmente são de competência de diferentes pastas públicas federais.

26 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

Especificamente com relação aos aspectos ambientais, as atribuições dos órgãos


ambientais sobre a pesca estão designadas de forma complementar, entre a Secretaria de
Biodiversidade e Florestas do MMA e a Coordenação Geral dos Recursos Pesqueiros da
Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros do IBAMA. Cabe à primeira a proposição de
políticas, normas e estratégias e a implementação de programas relacionados ao uso
sustentável da ictiofauna e dos recursos pesqueiros (Decreto 2.972/1999). À segunda
compete coordenar, supervisionar, regulamentar e orientar a execução e implementação
das ações e atividades relacionadas à gestão dos recursos pesqueiros, além de gerenciar
as demandas inerentes aos dispositivos dos acordos nacionais e internacionais, relativos a
recursos pesqueiros, dos quais o país é signatário (RELATÓRIO PNUD, 2003).13
Conforme apresentado anteriormente, o IBAMA tem sido o principal responsável
durante os últimos quatorze anos pelo ordenamento do setor pesqueiro nacional (1989 a 2003),
substituindo nessa tarefa a extinta Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE) e
dividindo esta competência com o DPA/MAA a partir de 1997. Ainda é legalmente responsável
pela gestão de parte dos recursos pesqueiros, excluindo-se os altamente migratórios e sub-
explotados, e pela fiscalização das atividades de captura de pescado.
Com a manutenção da divisão histórica de competências sobre o ordenamento, já
citada anteriormente no histórico do marco institucional, criaram-se denominadas “áreas
cinzentas” com a sobreposição de atribuições e competências entre a SEAP/PR e os
organismos ambientais. Desta forma, os principais pontos de convergência, assim como as
divergências sobre a forma de atuação em relação a atividade produtiva têm se dado entre o
IBAMA e a SEAP/PR. Com relação às atribuições vinculadas ao IBAMA, citamos o Relatório

de Auditoria Operacional da CISET, de 20/01/2005:

Com relação aos conflitos de competência, o gestor identifica que os


mesmos estão em grande parte centrados no compartilhamento e
superposição de atribuições com o IBAMA e em menor escala com outros
órgãos governamentais, sendo de opinião que a SEAP/PR deveria ter o
mesmo grau de autonomia para normatizar as atividades de aqüicultura e
pesca da mesma forma que o MAPA, em relação às agropecuárias.

13
VASCONCELLOS, M.; DIEGUES, A. C.; SALES, R. R. Relatório integrado: diagnóstico da pesca artesanal no
Brasil como subsídio para o fortalecimento institucional da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, 2004.

27
A competência para fiscalização14 da aqüicultura e da pesca é claramente definida
na lei sendo competência do IBAMA. A SEAP/PR tem a competência do desenvolvimento e
fomento à atividade enquanto o IBAMA tem a competência sobre a sua fiscalização.
No entanto, a principal questão nessa situação de divisão de competências sobre
a pesca entre os órgãos ambientais e a SEAP, se refere ao ordenamento15 e leva em
consideração as práticas institucionais utilizadas internacionalmente nesta matéria.
Existe também, no que tange aos aspectos ambientais, uma lacuna na questão da
gestão da pesca amadora e da pesca científica, apesar de não haver legislação de
hierarquia superior que especifique a competência sobre essa questão. Na prática, a
competência é do Ministério do Meio Ambiente, sendo executada pelo IBAMA. Outra questão
que relaciona a SEAP/PR ao MMA atribui a ação conjunta do Ministério com a Secretaria em
assuntos relacionados ao organismo de Relações Exteriores.
O quadro 3 resume, de forma simplificada, a divisão de competências entre os
dois órgãos.

14
A Fiscalização é um conceito amplo e considerado um componente do Ordenamento. Dentro de seu contexto
engloba o chamado de SCV, que se refere ao controle das operações pesqueiras. O monitoramento, controle
e vigilância (SCV) da pesca é um componente essencial e integrante do ordenamento pesqueiro. A finalidade
do SCV é garantir que as medidas de ordenamento, uma vez acordadas e adotadas pela autoridade
competente, se apliquem plena e rapidamente. Para que os programas de SCV sejam eficazes é
imprescindível que os Estados desejem e sejam capazes de exercer um controle efetivo sobre seus barcos e
que, no caso da pesca internacional, o Estado adote medidas para garantir que seus barcos cumpram
plenamente as disposições pertinentes de direito internacional e os acordos sobre ordenamento em una
determinada pescaria. Fonte: http://www.fao.org/docrep/meeting/W3861S.htm
15
Segundo a FAO (1997), a definição adotada para ordenamento seria "O processo integrado de coleta de
informação, análise, planejamento, consulta, adoção de decisões, designação de recursos e formulação e
execução, assim como a imposição quando seja necessária de regulamentos ou normas que rejam as
atividades pesqueiras para assegurar a produtividade dos recursos e a realização de outros objetivos”. Fonte::
FAO Fishery Resources Division and Fishery Policy and Planning Division. Fisheries management. FAO
Technical Guidelines for Responsible Fisheries. No. 4. Rome, FAO. 1997. 82p.

28 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

QUADRO 3 - DIVISÃO DE COMPETÊNCIAS SOBRE O SETOR DE AQÜICULTURA E PESCA, ATRIBUÍDOS A SEAP/PR


E AO IBAMA CONFORME PREVISTO NA LEGISLAÇÃO VIGENTE

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO


SECRETARIA ESPECIAL DE
COMPETÊNCIAS AMBIENTE E DOS RECURSOS
AQÜICULTURA E PESCA - SEAP/PR
NATURAIS RENOVÁVEIS - IBAMA

 Normatizar e estabelecer, respeitada a  Elaboração e estabelecimento de critérios,


legislação ambiental, medidas que permitam padrões e proposição de normas ambientais
o aproveitamento sustentável dos recursos para a gestão do uso dos recursos pesqueiros,
pesqueiros(2) altamente migratórios e dos que respeitando as atribuições da SEAP/PR.
estejam subexplotados ou inexplotados.  Fixar as normas, critérios e padrões de uso para
Especificamente: as espécies sobreexplotadas ou ameaçadas de
- Conceder licenças, permissões e sobreexplotação, assim definidas com base nos
autorizações para a captura dos recursos melhores dados científicos e existentes,
excetuando-se as atribuições da SEAP.
citados;
 Geração do conhecimento para a gestão do uso
- Autorizar o arrendamento de embarcações
dos recursos pesqueiros e de metodologias e
estrangeiras de pesca para operar na tecnologias de gestão ambiental.
captura das espécies de que tratam a Lei;  Elaboração do sistema de informação para a
- Autorizar a operação de embarcações gestão do uso dos recursos pesqueiros
estrangeiras de pesca;  Promover, supervisionar e avaliar as ações de
ATUAÇÃO NO fiscalização referentes ao cumprimento das
- Organizar e manter o Registro Geral da
ORDENAMENTO(1) normas sobre qualidade ambiental, bem como
Pesca;
sobre a preservação dos recursos da pesca.
 As atribuições estão relacionadas a incentivar a
pesquisa com a promoção e difusão de novas
tecnologias e informações dos setores de
aqüicultura e pesca, além de promover a
realização de pesquisas relacionadas a
espécies relacionadas no item ordenamento.(3)
 Repassar ao Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA cinqüenta por cento das
receitas das taxas ou dos serviços cobrados
em decorrência das atividades relacionadas,
que serão destinados ao custeio das
atividades de fiscalização da pesca e da
aqüicultura.

 Formulação de políticas e diretrizes para o  Não tem atribuições


ATUAÇÃO NO
desenvolvimento e o fomento à produção
FOMENTO À
aquícola e pesqueira.
ATIVIDADE  Operacionalizar a concessão da subvenção
PRODUTIVA econômica ao preço do óleo diesel instituída
pela Lei no 9.445, de 14 de março de 1997.

FONTE: Elaborado com base na Lei 10.683 de 28 de maio de 2003, Decreto n.º 4.756, de 20 de junho de 2003 e Decreto
n.º 5.583, de 16 de novembro de 2005(4)
(1) Conforme a definição adotada nesse documento e para fins metodológicos, consideramos as atividades de pesquisa e
geração do conhecimento, assim como fiscalização e controle, como parte integrante do ordenamento
(2) A lei 10.683 é omissa em relação à pesquisa.
(3) A normatização da aqüicultura está omissa na Lei.
(4) O Decreto n.º 5.583, de 16 de novembro de 2005, instituiu ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA a competência para estabelecer normas para a gestão do uso sustentável dos recursos
pesqueiros de que trata o § 6.º do art. 27 da Lei n.º 10.683, de 28 de maio de 2003.

29
O setor produtivo da aqüicultura e pesca nacional se relaciona diretamente a duas
instituições responsáveis pela gestão da atividade. Estas apresentam distintas naturezas o
que gera, de certa forma, uma dificuldade na formulação e aplicação de normativas, assim
como no desenvolvimento de políticas para o setor, já que os usuários não identificam uma
única instituição responsável por toda a atividade no Brasil.
A questão mais importante de ser considerada nesse aspecto é que cada instituição
aqui citada tem suas atribuições e funções definidas por Lei, conforme quadro 3. Estas estão
bem claras, entretanto não existe, em nível institucional um único ente responsável pela
elaboração e formulação de uma Política Aquícola e Pesqueira brasileira, tal como é definida
pela FAO:16 “uma linha de ação adotada por aqueles com responsabilidade de uma determinada
área e expressada como declarações ou posições formais”.
Na prática há uma instância de consulta ao setor e à sociedade que condiz com a
formulação de um Projeto Político Estrutural pela SEAP/PR, entretanto este é documento de
planejamento. A Política Aquícola e Pesqueira brasileira, conforme definição, é uma questão
mais abrangente. Levando em consideração hoje as competências atribuídas do ponto de vista
institucional, não se pode designar apenas uma única instituição para fazê-lo. Nesse sentido, ela
é debatida por um grupo interministerial determinado por Decreto do poder executivo.

 Questão Sanitária e Outras Atribuições Relacionadas

O MAPA tem as competências necessárias ao controle sanitário da atividade e é auxi-


liado pela Secretaria, que atua em conjunto nessa questão. A SEAP/PR também tem uma forte
dependência do MAPA, onde está fisicamente adaptado, tanto em Brasília quanto nos escritórios
regionais (salvo algumas exceções que contam com estrutura física de outro organismo).
Além disso, segundo o Decreto 4930 de 29/12/2003 fica atribuída ao MAPA a
responsabilidade pela execução das atividades de administração de pessoal, material,
patrimônio, serviços gerais e de orçamento e finanças, relativas à manutenção da SEAP/PR.
Assim, o MAPA é ordenador de despesas. Com relação às publicações oficiais, todas são
realizadas pela agência contratada pelo Ministério após a supervisão da Casa Civil.

16
FAO/SIFAR. A feasibility study for a programme of strengthening fisheries management in ACP countries: a
sectoral approach. Rome: FAO, 2003.

30 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

2.4 Conclusões

Em suma, os recursos pesqueiros, como patrimônio ou bem comum de uma


sociedade, são objeto de norma regulamentadora, conforme previsto constitucionalmente. A
gestão dos seus usos está a cargo dos Estados-Nação e, em todos, implementada pelo
Poder Executivo. Nos últimos 50 anos, a estrutura institucional adotada pelo Estado
brasileiro para gestão da atividade pesqueira foi bastante variada. É característica comum o
desempenho de papéis de normatização, fiscalização, fomento e gestão do segmento
aquícola e pesqueiro. Essa sucessão institucional pode ser dividida em três momentos bem
distintos a partir de 1950, caracterizados cada qual pela atuação, em maior ou menor escala
dos organismos em suas competências e atribuições.
Considerando que a divisão de competências entre o MMA, o IBAMA e o DPA/MAA foi
mantida com a criação da SEAP/PR, apenas substituindo-se o DPA/MAA pela nova Secretaria, a
atribuição dos órgãos sobre a questão de competências no ordenamento permanecem
divididas. Essa situação é singular no contexto mundial.
Não se entrará em pormenores do debate instalado desde 1989 sobre quem deveria
regir os destinos da pesca e da aqüicultura no Brasil. Nesse relatório apenas se descreve a
situação atual, a qual logo se contrasta com critérios técnicos e tendências em matéria
organizacional de aqüicultura e pesca de maneira a brindar o assessoramento solicitado pelo
Senhor Ministro de Aqüicultura e Pesca (SEAP/PR) sobre opções institucionais para o Brasil.

31
3 CRITÉRIOS E TENDÊNCIAS PARA UMA ADMINISTRAÇÃO
MODERNA DOS RECURSOS PESQUEIROS

Em função da solicitação feita pelo governo brasileiro à FAO, o que justifica a ação
deste Projeto, e considerando a situação atual em que se encontra a estrutura institucional
responsável pela administração dos recursos aquícolas e pesqueiros no Brasil, o objetivo
desse capítulo é identificar critérios e tendências que possam caracterizar essa
administração. Para tanto, faz-se necessário levar em consideração os diversos fatores que
determinam esses caracteres, uma vez que são relevantes na definição de modelos
estruturais aplicáveis à realidade nacional.
A identificação de critérios e tendências modernas tem a principal função de nos
indicar quais aspectos devem ser considerados para identificar possíveis campos de
melhoria na questão institucional da aqüicultura e da pesca no Brasil.
Na continuidade se buscará identificar, com base na experiência internacional, os
atributos necessários que a experiência internacional indicaria como importantes de serem
considerados na adoção de uma gestão responsável da aqüicultura e da pesca e também
na adoção de uma moderna e eficaz gestão operacional. Para tanto, será avaliado o padrão
mundial, suas autoridades competentes, estruturas institucionais e relações estabelecidas.
Ao final, o panorama mundial será contrastado com a situação atual brasileira
para, a partir dessa avaliação, elaborar propostas de melhoria para a estrutura institucional
responsável pela administração aquícola e pesqueira no Brasil.

3.1 As Características Especiais da Aqüicultura e Pesca

Pesca17

A pesca é uma atividade produtiva que apresenta características especiais. São


essas características que as diferenciam de outras atividades econômicas e que influem de
forma determinante no funcionamento do sistema pesqueiro. Os recursos pesqueiros
localizam suas atividades produtivas principalmente no primeiro segmento da cadeia
produtiva, o nível da produção primária, influenciando a produção secundária e também o
subsistema de comercialização.

17
FAO. Relatório preparado para o Governo do Brasil sobre a estrutura do setor pesqueiro: sugestões para seu
fortalecimento no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) FIMLAP -
Informe de Campo 91/7. 1992. p.33.

32 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

No componente da produção primária se encontram as características


especiais inerentes à natureza dos recursos pesqueiros e que, de forma associada,
determinam todo o processo de investimentos e revelam a necessidade de se regular o
esforço de pesca. As principais características são:
a) A propriedade comum dos recursos. A grande diferença da pesca em relação
aos clássicos fatores de produção terra e capital é que estes são suscetíveis
de serem adquiridos como bens pela iniciativa privada. Os recursos
pesqueiros, por outro lado, são considerados de livre acesso, um bem público
e em razão do atual estado da tecnologia, são fonte de uma atividade
produtiva que poderia ser qualificada, de certa forma, como simples
extrativismo. As mudanças no regime jurídico dos mares, a Lei do Mar,
transformou de propriedade comum internacional a propriedade comum
nacional dos recursos pesqueiros dentro das Zonas Econômicas Exclusivas -
ZEE dos países costeiros. Esse processo beneficiou as possibilidades de

ordenamento e regulação da exploração de tais recursos. Por outro lado,


enquanto na análise econômica convencional a terra é considerada como um
fator de produção fixo, os recursos pesqueiros, auto-renováveis e vivos, são
considerados mais um recurso natural que um recurso fixo. O esforço de
pesca é o insumo proporcionado pelo homem a ser combinado com o recurso
natural. A relação captura x esforço de pesca apresenta-se de forma muito
mais complexa que a relação entre terra, trabalho e capital. O ambiente
marinho e de águas continentais apresenta maior complexidade. Assim, com
relação à atividade humana sobre sua exploração, o recurso natural pesca é
considerado menos controlável e mais independente que outros fatores de
produção, propenso ao livre aproveitamento.
b) Os rendimentos limitados dos recursos pesqueiros. Os recursos pesqueiros
são auto-renováveis, entretanto finitos. Se o esforço pesqueiro exercido
exceder a capacidade de sustentabilidade do recurso, esse pode ser afetado,
e em alguns casos irreversivelmente.
c) O comportamento do investimento. Em virtude das características apresen-
tadas anteriormente, o comportamento dos investimentos nesse setor adquirem
também características especiais. Em uma situação de livre acesso aos
recursos, o comportamento dos operadores é muito peculiar. Ao não se

33
possuir a propriedade do recurso, apenas do produto capturado, a ação dos
usuários sobre esse recurso é de extrema competitividade. Capital e mão-de-
obra são constantemente atraídos pelo setor, situação esta que pode levar à
sobreexploração do recurso. Esse fato ocorre porque, passado o ponto de
máximo rendimento sustentável em termos de esforço pesqueiro, a percepção
individual dos operadores é que sucessivos incrementos de esforço às
capturas poderiam seguir aumentando, ainda que a taxas menores que no
princípio da operação. Não obstante, ao continuar operando nesse nível, tais
incrementos não poderiam se sustentar a longo prazo, e, em conjunto,
certamente levaria à sobrepesca. O processo de investimentos em um regime
de livre acesso continua até se dissiparem os benefícios econômicos em
virtude dos rendimentos decrescentes por unidade de esforço de pesca.
Sendo o recurso pesqueiro auto-renovável, no entanto finito, pode-se chegar a
situações de esgotamento. Outro aspecto importante do comportamento dos
investimentos na atividade de pesca é que em uma pesca de livre acesso ou
fracamente regulada é mais fácil para os usuários entrarem do que saírem
dela. Alcançado um nível crítico de exploração, no qual enormes volumes de
capital e trabalho haviam sido aplicados no esforço produtivo, a saída do
recursos não só implicaria em um forte custo social como também econômico,
se levarmos em consideração a escassa mobilidade dos bens de capital
utilizados na atividade pesqueira. A esse contexto devem agregar-se os
investimentos no componente de transformação (plantas processadoras), que
apresenta grandes perdas pelas dificuldades de se garantir a constância na
produção primária dentro da cadeia produtiva.
d) Os investimentos em infra-estrutura. A atividade primária, tanto a industrial
quanto a artesanal, requer investimentos em infra-estrutura e serviços que
dificilmente poderão ser realizados com viabilidade econômica, sem alguma
forma de intervenção ou apoio do Estado.
e) A oferta e demanda de produtos pesqueiros. A inteiração da oferta e da demanda
de produtos aquícolas e pesqueiros é influenciada por importantes questões:
- A descontinuidade da produção é mais importante na pesca do que na
agricultura. O fator climático, a sazonalidade de muitas espécies e as
grandes flutuações de estoques (independentemente de sua sazonalidade
natural) é ainda dificilmente previsível.

34 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

- Apesar do desenvolvimento tecnológico alcançado, o caráter perecível dos


produtos pesqueiros, sua potencial desvalorização espontânea, condicionam o
funcionamento do sistema pesqueiro e afetam sua eficiência.
Para um adequado processo de ordenamento e desenvolvimento da pesca é
necessário que as características especiais da atividade sejam consideradas na formatação
de estruturas institucionais e nos métodos que se adotam para a administração do setor.
Nesse contexto, a pesquisa e investigação pesqueira multidisciplinar se constituem em um
dos importantes pilares de apoio fundamentais ao processo de tomada de decisões.

Aqüicultura

A aqüicultura reúne, em sua concepção mais moderna como atividade produtiva,


características especiais que se referem principalmente, ao seu vínculo com dois setores tão
diferentes em sua natureza, como são a agricultura e a pesca de captura.
Sua relação com a agricultura é tradicionalmente conhecida. Por um lado existem
analogias como sistema de produção por definição.18 Por outro, muitos dos recursos ou
fatores de produção utilizados na aqüicultura, tais como água, terra, sementes e
ingredientes alimentícios, são também usualmente utilizados na agricultura e são
crescentemente escassos. Isso gera também uma competição entre a aqüicultura e a
agricultura pelos ditos insumos, determinando pequenos conflitos entre grupos de
produtores o que estabelece a necessidade de ordenamento e gestão de tais recursos19.
A princípio, a aqüicultura e a pesca interagem de varias e diferentes formas,
conforme suas respectivas implicações,20 a citar:

18
Aqüicultura é o cultivo de organismos aquáticos incluindo peixes, moluscos, crustáceos e plantas aquáticas,
com algum tipo de intervenção no processo de criação para aumentar a produção, tais como atividades
habituais de semeadura de juvenis, alimentação, proteção da ação dos predadores etc. O cultivo também
implica a propriedade corporativa ou individual da população de peixes submetida ao cultivo. (FAO, 1997):
Aquaculture development. (FAO Technical Guidelines for Responsible Fisheries, 5: 40 p.)
19
BARG, U.C. 1992. Guidelines for the promotion of environmental management of coastal aquaculture
development. Fish. Tech. Pap. 328. Rome: FAO. ISBN 92-5-103264-5. 122p.
20
ARNASON R. Aquaculture and fisheries interactions: implications for the global supply of fish (first rough draft)
A paper presented at the EAAE 95th Seminar The Economics of Aquaculture with respect to Fisheries”
Civitavecchia. Italy, December 9-10 2005.

35
 Interação com relação aos insumos. Muitos tipos de aqüicultura requerem
como insumos, principalmente com propósitos de alimentação, produtos
pesqueiros. Esse tipo de interação entre a pesca e a aqüicultura poderia ter
implicações para a oferta global de produtos pesqueiros no futuro. Na medida
em que os produtos da aqüicultura são de demanda crescente, o setor, por
sua vez, demanda da mesma forma produtos para a alimentação, como
farinha de pescado (que utiliza como insumo pescado capturado). Essa
expansão em cadeia poderia exercer pressão sobre os preços desses
insumos, re-estabelecer por sua vez, o crescimento do esforço de pesca e ter
um impacto na dinâmica das populações de espécies demandadas com
propósitos de alimentação e, também, no equilíbrio do ecossistema
respectivo, afetando definitivamente a oferta de produtos de pesca de captura.
 Interação com relação à oferta e aos mercados. Produtos pesqueiros
provenientes da aqüicultura e da pesca de captura competem nos mercados,
com conseqüências tanto para a indústria da aqüicultura como para a da
pesca de captura e também para os consumidores.
 Interação com relação aos impactos no meio ambiente. Ainda que a
informação disponível sobre os impactos ambientais esperados ou potenciais
seja deficiente ou incompleta, sabe-se que a aqüicultura gera vários tipos de
agentes contaminantes que podem afetar as populações silvestres de peixes
e seu meio ambiente.
 Interação com relação à gestão efetiva da pesca e da aqüicultura. A
aqüicultura é crescentemente um competidor com a pesca de captura por
espaços do ambiente aquático e um componente cada vez mais freqüente dos
esforços de ordenamento em zonas ribeirinhas, fluviais e marítimas. O
denominado “acesso aberto” tem sido por séculos uma prática habitual nas
pescarias. Aceita-se agora amplamente que a limitação e o controle estrito da
captura de populações silvestres são essenciais para a sustentabilidade. De
forma similar, para a aqüicultura se está produzindo uma mudança a respeito
de um ordenamento mais localizado e delimitado geograficamente,
especialmente no que se refere à gestão da água e controle das doenças
(sanidade). Isso significa que um ordenamento efetivo e com base em um
enfoque de ecossistemas da pesca e da aqüicultura é essencial para alcançar
os objetivos de longo prazo de desenvolvimento sustentável.

36 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

No que se refere à interação da aqüicultura com a pesca deve se mencionar que


esta interação está se acentuando na medida em que o desenvolvimento da fronteira
tecnológica e as forças do mercado estão transformando esse setor em abastecedor
protagonista da oferta mundial de pescado. A natureza da interação da aqüicultura com a
pesca de captura constitui uma característica especial do setor, que requer enfoques
especiais, os quais o associam estreitamente no plano institucional de políticas e de gestão
a pesca de captura. A experiência mundial recente indica que a gestão e o fomento à
aqüicultura estão relacionados e se desenvolvendo institucionalmente em associação com a
pesca de captura.

3.2 Ordenamento Pesqueiro e o Desenvolvimento Sustentável21

A gestão do setor deve compreender em seu marco jurídico e institucional que a


pesca e a aqüicultura desempenhem a função que o conjunto da sociedade considera
adequado. A gestão deve estabelecer as normas que garantiriam uma competência eficiente
dentro do setor e um acesso eqüitativo aos recursos (FAO/SOFIA, 2004). Um dos objetivos
mais importantes da gestão é, dessa forma, melhorar a contribuição do setor para a
economia nacional, dentro de um marco de desenvolvimento sustentável baseado em
práticas responsáveis de aqüicultura e pesca.
O Comitê de Pesca da FAO (COFI) utiliza o seguinte conceito de desenvolvimento
sustentável no seu 26.º período de sessões:

o desenvolvimento sustentável é o manejo e a conservação da base de


recursos naturais e a orientação das mudanças tecnológicas e institucionais, de
tal maneira que se assegure a continuada satisfação das necessidades
humanas para as gerações presentes e futuras. Este desenvolvimento viável
(nos setores agrícolas, florestais e pesqueiros) conserva a terra, a água e os
recursos genéticos vegetais e animais; não degrada o meio ambiente e é
tecnicamente apropriado, economicamente viável e socialmente aceitável.

Esta definição é em geral válida para abordar os problemas da pesca, uma vez
que implica um crescimento dos benefícios derivados dos recursos aquáticos para a
sociedade sem aumentar a taxa de exploração ou de uso desses recursos além do nível

21
Extraído de: GUMY, et al. A estrutura do setor pesqueiro: sugestões para seu fortalecimento no Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Informe Preparado para o Governo do
Brasil. Informe de Campo 91/7 Programa FAO GCP/INT/466/NOR. Roma, 1992. GUMY, A. Modernização do
setor publico pesqueiro. Frente Maritimico, Montevidéu, v.19, Junho, 2003.

37
ótimo ou sustentável. Incorpora-se a esse contexto o fator ambiental como uma das
condicionantes da exploração.
Por outro lado, os limites do conceito de pesca responsável se encontram na
Declaração de Cancún: "A necessidade vital de que a pesca continue e se desenvolva
dentro de um sistema integral e equilibrado sob o conceito de "pesca responsável"; que esse
conceito abranja a utilização sustentável dos recursos pesqueiros de maneira harmônica
com o meio ambiente; que o uso de práticas de captura e aqüicultura não provoquem danos
aos ecossistemas, aos recursos ou a sua qualidade; que a incorporação do valor agregado
a esses produtos se dê mediante um processamento o qual satisfaça as normas sanitárias
requeridas; que o uso de práticas comerciais de maneira que o consumidor tenha acesso a
produtos de boa qualidade.
Ambos os conceitos, o de desenvolvimento sustentável e o da pesca responsável,
apontam que:
 papel do Estado é necessário à atividade pesqueira, no mínimo como último
responsável da sustentabilidade dos recursos (ordenamento) e como promotor
de condições técnicas, econômicas e sociais para uma exploração com tais
objetivos. Assim é de importância fundamental o estabelecimento de
mecanismos adequados para compatibilizar a capacidade de pesca com os
recursos pesqueiros disponíveis.
 um enfoque de desenvolvimento sustentável da atividade aquícola e
pesqueira considerando questões de viabilidade tecnológica, econômica,
social e ambiental que resultam em critérios sob os quais o Estado e em
particular a administração pesqueira deveriam executar seu papel.
A atividade pesqueira constitui um sistema que estabelece uma cadeia produtiva.
Segundo o conceito de pesca responsável, tal sistema deveria desenvolver-se de forma
integral e equilibrada para dentro e fora desse sistema. A administração pesqueira deveria
ser executada sob um enfoque que abranja o conjunto do sistema, incluídas as suas
relações com o meio que, nesse caso são fortemente internacionalizadas.
O conceito de sustentabilidade tem estado sempre incorporado ao de
ordenamento pesqueiro. Inclui a sustentabilidade dos recursos biológicos, seu valor
econômico e os benefícios sociais derivados da pesca.
Com freqüência os recursos pesqueiros são explorados de maneira não
sustentável, apesar dos marcos jurídicos vigentes e dos mecanismos institucionais
estabelecidos. A intervenção adequada do Estado no ordenamento pesqueiro é necessária

38 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

para garantir a sustentabilidade e evitar o desperdício de recursos econômicos, produto da


sobrepesca. Novos enfoques de acesso aos recursos poderiam contribuir no aperfei-
çoamento dos sistemas de ordenamento.
Fatores econômicos, tais como o crescimento contínuo do preço real do pescado
em razão da forte demanda e a inelasticidade da oferta contribuem para impulsionar a taxa
de exploração. Os sistemas de ordenamento devem incluir mecanismos econômicos que
contribuam na redução das pressões por um incremento do esforço de pescarias além dos
níveis de sustentabilidade.
A regulação do esforço da pesca é, em muitos casos, insuficiente para assegurar
uma utilização sustentável dos recursos. O volume de uma população pesqueira vem
também sendo afetado pelos impactos de outras atividades econômicas, como a agricultura
e a indústria. Um dos principais problemas para atuar com efetividade nessa questão é que
por vezes as responsabilidades estão dispersas entre numerosas instituições nacionais,
com competências em diversos aspectos, relacionadas com a utilização dos recursos e do
meio ambiente.
Em se considerando a perspectiva do desenvolvimento de novas pescarias, em
particular em habitat e meio aquáticos ainda não degradados, é imprescindível um enfoque
preventivo do ordenamento. Dessa forma, o processo será menos oneroso que a
reabilitação dos recursos já afetados pela sobrepesca.
O ordenamento pesqueiro exige conhecimentos especializados multidisciplinares
sobre uma grande variedade de temas, como a avaliação dos recursos pesqueiros, a
tecnologia pesqueira, o mercado, os métodos de acompanhamento, controle, vigilância e da
legislação pesqueira. Para um ordenamento adequado também exige-se uma estrutura
institucional capaz de desenvolver um enfoque científico e integrado da atividade.
Um dos objetivos mais importantes de toda a gestão dos recursos da aqüicultura e da
pesca é melhorar a contribuição do setor para a economia nacional, dentro de um marco de
desenvolvimento sustentável, tendo como base as práticas responsáveis de aqüicultura e
pesca. Vale dizer que implica em um crescimento dos benefícios para a sociedade derivado dos
recursos aquáticos, sem que a taxa de exploração exceda o nível de sustentabilidade,
incorporando o fator ambiental como uma das condicionantes da exploração.
O conceito de desenvolvimento sustentável e de pesca responsável, aplicados a
um recurso de propriedade comum, implica, ainda que sob os as teorias das escolas
econômicas que prevalecem no contexto neoliberal, o Estado é, em último caso, o

39
responsável pela sustentabilidade dos recursos e, dessa forma, o promotor das condições
técnicas econômicas e sociais para uma exploração sustentável dos recursos.
A utilização do enfoque de desenvolvimento sustentável da atividade aquícola e
pesqueira leva em consideração a viabilidade tecnológica, econômica, social e ambiental. A
administração dos recursos aquícolas e pesqueiros deve estar dotado de uma capacidade
técnica interdisciplinar que permita abordar adequadamente todas as dimensões apontadas.
O conceito de pesca responsável considera que a administração pesqueira deve
possuir, por meio de uma estrutura adequada, uma capacidade de visão que corresponda
de capacidade regulatória e envolva todo conjunto da cadeia produtiva, desde a produção
primária até a segurança do consumidor final. Uma estrutura institucional responsável
deveria levar em consideração o enfoque do conjunto, incluídas suas relações com meio
ambiente e sua forte relação internacional.
Assim, com base nessa exposição, é possível extrair algumas questões e
atribuições pertinentes a uma estrutura institucional adequada para realizar a gestão dos
recursos de aqüicultura e pesca de forma responsável e cumprir os objetivos definidos pelo
governo e a sociedade em geral. São elas:
A pesca constitui um sistema de relações complexo e com atores de diferente
natureza. Por outro lado o conceito de desenvolvimento sustentável abrange não somente
nos aspectos biológicos, mas também econômicos e sociais e, como conseqüência, engloba
o conjunto do sistema. Assim, uma estrutura institucional deve considerar todas as etapas
da cadeia produtiva.
O enfoque sistêmico não implica apenas no tratamento dos componentes internos do
sistema aquícola e pesqueiro. A sua gestão deve refletir em sua estrutura a união com os
componentes externos, ou seja, o marco normativo e especialmente, a política de meio ambiente.
O enfoque sistêmico sugerido não implica em um grau de intervenção direta igual
sobre cada um dos componentes do sistema produtivo pelo organismo gestor, mas, sim, em
uma articulação que leve em consideração a política econômica, social, setorial e ambiental
e também as diversas instituições que assumem responsabilidades relacionadas ao setor de
aqüicultura e pesca. Uma política de desenvolvimento sustentável adequada e com
viabilidade de ser aplicada implica que o Estado deve assumir responsabilidades condi-
zentes com o conjunto do sistema.

40 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

O planejamento pesqueiro22 é um instrumento útil para o desenvolvimento


sustentável da atividade, desde que seja entendido como a formulação racional, flexível e
realista de estratégias políticas, programas e projetos que tendem a alcançar objetivos em
função dos meios disponíveis e remover entraves que dificultam o melhor aproveitamento
sustentável, preservando o meio ambiente e os recursos pesqueiros.
Dadas as interações entre a aqüicultura e a pesca, assim como para atender as
normas descritas pelo Código de Conduta para Pesca Responsável, o processo de
ordenamento deve considerar estas duas atividades em conjunto.
Se analisarmos do ponto de vista institucional, a sua administração deve ocupar-se
do conjunto e estar localizada dentro de uma mesma instituição. Isto porque, como já foi citado,
a aqüicultura é crescentemente um competidor com a pesca de captura por espaços do
ambiente aquático e um componente cada vez mais freqüente dos esforços de ordenamento em
zonas ribeirinhas, fluviais e marítimas. Da mesma forma, produz-se uma mudança a respeito de
um ordenamento mais localizado e delimitado geograficamente, especialmente no que se refere
à gestão da água e controle das doenças (sanidade). Isto significa que um ordenamento efetivo
e baseado em um enfoque de ecossistemas da pesca e da aqüicultura é essencial para
alcançar os objetivos de longo prazo de desenvolvimento sustentável.
As tendências mundiais demonstram que os países tendem a tratar desse
assunto em conjunto e a considerá-los dessa mesma forma no momento em que se
estabelecem suas políticas de ordenamento e fomento. Em suma, para um efetivo processo
de ordenamento vinculado ao desenvolvimento sustentável a atividade de aqüicultura deve
ser considerada em conjunto com a atividade pesqueira.

22
O conceito de planejamento pesqueiro considera as duas funções principais de uma estrutura institucional
para gestão de recursos: o ordenamento pesqueiro e a promoção de seu desenvolvimento (fomento). Ambas
as funções mantêm uma estreita relação, ainda que seu peso relativo seja diferente dependendo da situação.
A função de ordenamento, entendida como uma tarefa de manejo dos recursos e em geral como uma
regulação do esforço de pesca, incorporou recentemente a consideração dos aspectos econômicos, sociais e
comerciais. Em pescarias sobreexplotadas aponta para a preservação do recurso e para a reversão do quadro
de exploração. Em pescarias subexplotadas assume um caráter preventivo com o objetivo de evitar processo
de investimento que tende a afetar a sustentabilidade do recurso. A função de desenvolvimento aponta para a
promoção de um melhor aproveitamento dos potenciais pesqueiros e aquícolas, já que se trata daqueles em
explotação, subexplotados ou ainda não-explotados. Contém sempre implícita a função de ordenamento que
assume, como já mencionado, o caráter preventivo.

41
3.3 A Importância e Contribuição da Atividade para o Brasil

A atividade de aqüicultura e pesca é muito importante frente ao contexto


socioeconômico brasileiro. Diversos aspectos demonstram esta afirmação e justificam a
necessidade de uma estrutura institucional forte e singular que atenda suas demandas e
atue em suas deficiências, promovendo seu desenvolvimento de forma sustentável e
ambientalmente correto. Conforme segue, apresentam-se alguns aspectos, sem pretensão
de esgotar o assunto. Uma análise detalhada do potencial econômico pode ser encontrada
no Anexo 6.

Potencial para Desenvolvimento Econômico da Aqüicultura e da Pesca

A produção da aqüicultura brasileira tem crescido acima da média mundial nos


últimos cinco anos. Há, portanto, uma revolução em curso no setor aquícola do país. Por
outro lado, o setor primário de pescados representa quase 0,4% do PIB, sendo que a
contribuição econômica dos pescados tem mudado ultimamente mais em função da
qualidade do que da quantidade produzida. Estamos produzindo maior quantidade de peixes
nobres, camarão de cultivo e peixes de alto mar. Todo agronegócio de pescados, entretanto,
que inclui a cadeia produtiva completa, englobando desde a produção de ração, transporte,
processamento, treinamento, entre outras etapas, perfaz cerca de 2% do PIB (SEAP, 2005).
A produção brasileira de pescado do ano de 2004 alcançou um volume de
1.015.914,0 toneladas e apresentou um acréscimo de 2,6% quando comparado a 2003.
Deve-se ressaltar que a aqüicultura participa na produção total de pescado do Brasil com
26,5%, com uma produção de 269.697,50 t, (IBAMA, 2005).
Atualmente o Brasil está classificado em 17.º lugar no ranking mundial de
produção aquícola e 11.º em termos de valores. Em 1994, era o 28.º em produção aquícola
e o 24.º em termos de valores. É o segundo em importância na América do Sul. O
crescimento da atividade representou cerca de 30% ao ano em 2003, muito superior à
média mundial de 12%. Comparada com outras atividades nacionais, a aqüicultura
apresenta resultados superiores aos da pesca extrativa e também se sobressai com relação
à produção de aves, suínos e bovinos, que nos últimos anos apresentaram taxas de
crescimento dificilmente superiores a 5% ao ano (AQUA, 2005).
Apesar de apresentar alguns gargalos, geralmente relacionados às características
técnicas, de profissionalização e estruturais do setor produtivo, o Brasil apresenta

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excelentes condições naturais para o desenvolvimento da aqüicultura. Porém, necessita de


um fortalecimento na base organizacional de todos os elos de sua cadeia produtiva por meio
de um maior profissionalismo e estrutura organizacional. É importante citar a necessidade
de uma instituição que atue de maneira a promover a necessária formulação de uma
aqüicultura ambientalmente sustentável.
Além do potencial para a produção, o Brasil possui também um grande potencial
de mercado para os produtos aquícolas. Apesar desse potencial, historicamente, o país tem
participado no cenário mundial da atividade de forma tímida para quem detém 12% da água
doce do planeta, 3,5 milhões de km2 de Zona Econômica Exclusiva, 5,5 milhões de ha de
águas em represas, 8.400km de costa, além de clima, diversidade de espécies aquáticas,
mercados com demanda insatisfeita interna e externamente, disponibilidade de infra-
estrutura de apoio e outras condições extremamente favoráveis (BERNARDINO, 2001).
Um aspecto interessante da atividade é a contínua renovação desde a década de
1940. As estatísticas no Brasil ainda são muito imprecisas, mas estima-se que existam pelo
menos trinta milhões de pessoas que utilizam a pesca como passatempo, ou seja, a pesca
esportiva, gerando uma receita bruta da ordem de 3 bilhões de Reais por ano, números
evidentemente acanhados frente ao grande potencial natural brasileiro (OSTRENSKY e
BORGHETTI, 2006 - no prelo).

Importância Social da Pesca nas Comunidades Costeiras e Ribeirinhas

A pesca no Brasil envolve uma parcela importante da população litorânea, não só


pelo resultado direto da explotação do recurso, mas também, indiretamente, por meio dos
serviços derivados do processamento e comercialização do pescado. O conhecimento da
magnitude dessas interações socioeconômicas é precário, embora seja fundamental para a
avaliação dos impactos gerados pelas flutuações naturais dos recursos e da implementação
de medidas de ordenamento, tais como período de defeso, etc.
Adicionalmente, a literatura especializada vem afirmando que a atividade
pesqueira gera, aproximadamente, 800 mil empregos diretos, perfazendo um contingente de
cerca de 4 milhões de pessoas que dependem direta ou indiretamente do setor (MMA,
1997); sem falar no fato de que o parque industrial é composto por cerca de 300 empresas
relacionadas à captura e ao processamento (GEOBRASIL, 2002). A aqüicultura é uma
atividade que envolve 98.557 produtores instalados numa área de 78.552 hectares, o que

43
perfaz uma área média de 0,80 hectares/propriedades. A produção média é de 1,46
toneladas/ha. (BERNARDINO, 2001).23
Um exemplo do potencial que a atividade representa é o caso do mexilhão. Essa
cadeia produtiva gerou 5.000 postos de trabalho diretos e 10.000 indiretos na década
passada. Cerca de 90% destes aquicultores eram pescadores artesanais que descobriram
na maricultura uma nova fonte de emprego e renda. (APEC PROJECT, 2005).24
Ao se considerar o aspecto da geração de empregos e fonte de alimentos para o
contingente de brasileiros que vivem no litoral do país e áreas ribeirinhas, pode-se verificar a
real importância dessa atividade. A pesca nacional é uma das poucas atividades que
absorve mão de obra de pouca ou nenhuma qualificação, quer seja de origem urbana ou
rural, sendo em alguns casos a única oportunidade de emprego para certos grupos de
indivíduos, principalmente para a população excluída. Esses fatos demonstram que a pesca
brasileira é um componente fundamental para a socioeconomia brasileira.
A pesca situa-se entre as quatro maiores fontes de proteína animal para consumo
humano no país. Os recursos pesqueiros de suas águas marinhas e doces constituem uma
importante fonte protéica e um potencial para produção de alimentos. Por recomendação da
FAO, os produtos pesqueiros, graças a suas qualidades nutricionais, devem ter um consumo
mínimo de 12 kg/hab/ano. Entretanto, no Brasil o consumo ainda é inferior a esta média.
Nesse sentido a atividade demonstra um forte potencial. Durante o ano de 2003
se lançaram muitas campanhas de comercialização, centradas nos mercados nacionais e
internacionais. Para estimular o consumo de produtos do mar, incluíram-se nos programas
de alimentação de escolas públicas produtos gerados por meio da aqüicultura, com a
expectativa de que o consumidor da próxima geração comerá pescados regularmente. Em
se tratando do tamanho da população brasileira, o Brasil apresenta um grande mercado
interno para o consumo de parte de sua produção nacional dos próximos anos.
Entretanto, é importante verificar que a questão de segurança alimentar deve ser
considerada na implementação de políticas públicas. Por exemplo, existe o problema de
peixes mal preparados. A Organização Mundial da Saúde (CECARELLI e FIGUEIRA, 1999)25

23
BERNARDINO, G. Desenvolvimento da aqüicultura e meio ambiente. Belém: CEPENOR/IBAMA, 2001.
(mimeo).
24
NORAMBUENA, C. R.; GONZÁLES, P. E. (2005) A Feassibility Study on the Establishment of na Inter-
Governamental Mechanism for the Development Management of na Aquaculture Network in the Américas.
APEC FWG 2004/01 PROJECT.
25
CECARRELLI, P.C.; FIQUEIRA, L. B. Possíveis problemas de saúde devido ao uso de excretas na
aqüicultura. Panorama da Aqüicultura, jan-fev, 1999. p.22-23.

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estimou a existência de 39 milhões de pessoas em todo o mundo infectadas com parasitas,


transmitidos pela ingestão de peixes e crustáceos de água doce, crus ou mal cozidos. Esses
autores ponderam que, embora a utilização de excremento de animais na criação de peixes
tenha sofrido avanços tecnológicos e contribua significativamente na produção mundial de
pescado, é preciso nunca esquecer que os excrementos contém uma variedade de
patógenos, que podem ser transmitidos para o homem pela água ou organismos aquáticos,
representando possivelmente um grande perigo para à saúde pública.

Instrumento estratégico para integração nacional e aproveitamento da Zona


Econômica Exclusiva - ZEE

A atividade pode ser considerada como um Instrumento estratégico para o


Governo em termos de integração nacional, diante do tamanho da costa brasileira e de suas
vias fluviais. Da mesma forma se considerarmos que a forte atuação do setor produtivo na
ZEE representa um instrumento de defesa territorial e melhora o aproveitamento da ZEE.

As condições ambientais do mar que banha a costa brasileira são determinadas,


basicamente, pela ocorrência de três correntes. A Corrente Costa Norte do Brasil, que flui
para o Nordeste; a Corrente do Brasil, que flui em direção ao sul, ambas resultantes da
Corrente Sul-Equatorial que vem da costa da África e, ao se encontrar com o continente
brasileiro na altura de João Pessoa, bifurca-se nas duas direções mencionadas; e a
Corrente das Malvinas.
O Brasil possui uma costa marítima de 8,5 mil km de extensão, abrangendo uma
Zona Econômica Exclusiva de mais de 3,5 milhões de km2, que corresponde à metade de
seu território. Além de seu clima que apresenta aspectos favoráveis, possui cerca de 12%
do total de reserva de água doce do planeta.
A produção extrativa marítima tem se mantido constante ao longo da última
década. Entretanto, apesar de não ter crescido substancialmente em quantidade, tem
evoluído em qualidade, uma vez que mais peixes nobres passaram a ser capturados, tais
como atuns, albacoras, espadarte, merluza, peixe sapo, dentre outros.
O Brasil tem possibilidade de melhorar seu desempenho na captura de potencial
sustentável de biomassa na área marinha, Zona Econômica Exclusiva - ZEE, sob a sua
jurisdição. Isso implicaria em aumentar a oferta de pescado, geração de renda e empregos

45
para classe economicamente ativa. Da mesma forma, uma atuação mais ativa de
embarcações brasileiras nos limites costeiros do país fortalece o processo de defesa dos
interesses marítimos nacionais.
A despeito da constatação da limitada produtividade da ZEE brasileira, há indícios da
presença de novos recursos que, mesmo com prováveis rendimentos restritos, poderão abrir
novas frentes de trabalho para a diversificação do esforço de pesca (MMA/IBAMA, 2001).

Necessidade do Crescimento Sustentado da Atividade

O ordenamento da cadeia produtiva num esforço conjunto de governo, centros de


pesquisa e setor privado é de fundamental importância para a viabilidade técnica,
econômica e ambiental da aqüicultura sustentável. Os atores da atividade produtiva são os
principais beneficiados do processo de adoção de ações socioambientais.
O Brasil possui um enorme potencial a ser explorado que, no entanto, deve ser
contrastado com a necessidade de sua preservação. O grande valor comercial das espécies
produzidas pode ser canalizado de forma a auxiliar no processo de geração de emprego e
renda, tão necessário o desenvolvimento da sociedade brasileira.
O crescimento da aqüicultura sustentável deve ser encarado com otimismo
considerando-se as potencialidades técnicas e econômicas da atividade. Assim como os
pescadores comerciais (industriais ou artesanais) e todos os atores envolvidos na produção
primária, no processamento e na organização da cadeia produtiva podem, potencialmente,
beneficiar-se da aplicação de um modelo de gestão com foco no desenvolvimento
sustentável. Por exemplo:
 Aumentar a eficiência da produção ou da pescaria controlando o estoque de
uma maneira que maximize seu rendimento biológico em um planejamento de
longo prazo.
 Reduzir a competição entre produtores por meio de fixação de normativas e
da organização do setor, buscando redução de custos e um retorno
econômico maior. Por exemplo, alocar limites individuais de determinadas
espécies (com um sistema de cotas individuais) ou limitar entradas (com os
limites no número e no tamanho das embarcações) e criar oportunidades para
exploração de novas espécies de alto valor econômico por meio de
prospecção de novos estoques pesqueiros e de novos mercados.
 Redução das perdas e melhoria na conservação do pescado a bordo.

46 USO RESTRITO
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O desenvolvimento econômico sustentável de atividades produtivas, com foco na


riqueza potencial do país, assim como na inclusão social e fortalecimento das cadeias
produtivas é um dos focos de atuação do governo brasileiro em consonância com a
tendência mundial apresentada por diversos países em desenvolvimento. A atividade
produtiva de aqüicultura e pesca apresenta uma série de peculiaridades já citadas, dessa
forma necessita de uma administração singular e difere do modelo de fomento utilizado no
contexto do agronegócio.
Entretanto, seus benefícios socioeconômicos são equivalentes, senão superiores,
àqueles encontrados em diversas cadeias produtivas estabelecidas no contexto nacional e
que hoje despontam como importantes geradoras de divisas, emprego e renda para o país.
Assim, uma estrutura institucional adequada deve considerar e utilizar o potencial da
atividade para o país, visando a geração de emprego e renda, sem, entretanto, deixar de
atuar de acordo com as suas características peculiares que exigem uma atuação específica
e singular frente às suas ações de fomento. Ou seja, um correto planejamento que envolva
as ações de fomento, junto as ações de ordenamento. Respeitando sempre questões
ambientais e de ordem internacional.

3.4 Evolução Recente do Marco Normativo Mundial e Atributos


Institucionais para a Gestão dos Recursos Aquícolas e Pesqueiros

O marco normativo internacional indica a importância de se considerar o desenvol-


vimento sustentável da atividade para que ela possa exercer seu papel socioeconômico no
ambiente nacional. Entretanto, para que ele seja alcançado, um adequado processo de
ordenamento deve ser instituído.
O ordenamento da pesca com objetivos de desenvolvimento sustentável
representa na atualidade, uma complexa e difícil tarefa que requer sistemas de organização
e processos de administração com certo grau de especificidade. Essa especificidade é
determinada pelas características especiais dos recursos pesqueiros, pela situação atual do
setor26, pela influência da política macroeconômica e pela unanimidade da comunidade
pesqueira internacional, para que a atividade se desenvolva de forma sustentável dentro de
práticas responsáveis.

26
Produto do desenvolvimento histórico da pesca como atividade econômica dentro de um marco de
desenvolvimento tecnológico e crescimento populacional.

47
Nesse sentido, adotou-se em nível internacional um conjunto de instrumentos
legais especialmente a partir da Conferencia de Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CNUMAD) de 1992, em que se expressou formalmente e com caráter global uma decisão
sobre a sustentabilidade do setor pesqueiro e se adotou um programa de ação (Agenda 21).
A CNUMAD foi responsável para que a conservação dos recursos pesqueiros e
seu meio ambiente incorporassem plenamente a perspectiva ambiental. Muitas das
questões que são atualmente objeto de debate, além das negociações internacionais sobre
o tema da pesca estão hoje relacionadas aos aspectos ambientais.
Em seguida à realização da CNUMAD, adotaram-se ainda que pendentes de
ratificação, o Acordo de Nova York sobre Populações de Peixes (1995) e o Acordo de
Cumprimento (1994). Em 1995 se adotou o Código de Conduta da FAO para a Pesca
Responsável (CCRP).27
O CCRP constitui um instrumento internacional que serve como um guia em matéria
de desenvolvimento sustentável da aqüicultura e da pesca, e sua aplicação se desenvolveu
posteriormente por meio de estabelecimento de vários acordos internacionais no âmbito da FAO.
Trata-se dos planos de ação internacionais (PAIs), que são instrumentos de aplicação voluntária
elaborados de acordo com o marco do código de conduta para a pesca responsável. Aplica-se a
todos os estados e instituições, assim como aos pescadores.
A Autoridade Nacional de Aqüicultura e Pesca Nacional deve considerar em aspecto
organizacional uma estrutura adequada e preparada para lidar com todas as questões de
âmbito internacional, inclusive com a responsabilidade de garantir o cumprimento dos acordos
estabelecidos.
Em um ambiente globalizado, e em especial para a atividade de aqüicultura e pesca,
seus principais requerimentos serão: um ordenamento confiável empregando técnicas
modernas e respeitando o Código de Conduta para pesca responsável; um forte componente de
pesquisa e estatística propiciando o conhecimento necessário ao tomador de decisão; e um
corpo técnico envolvido nas principais discussões internacionais, instruído com informações de
relevância de forma a assegurar os interesses nacionais e demonstrar que este estará
realizando suas atividades com procedimentos adequados ao desenvolvimento sustentável,
considerando, no entanto o estímulo à atividade produtiva de acordo com sua potencialidade
social e econômica.

27
Partindo da Convenção Nacional de Direito do Mar de 1982 (CNDM), na qual pela primeira vez ficaram
delimitadas a ZEE sobre a qual os estados exercem soberania, desde então o Brasil tem-se incorporado de
forma progressiva a fóruns internacionais de integração regional tais como COPACO, COPESCAL,
MERCOSUL. Todos estes com objetivos comuns, racionalizar processos de produção, otimizar as capturas e
adequar-se ao Código de Conduta para a Pesca Responsável de 1995, o que põe de manifesto a implicação
do estado brasileiro na promoção da pesca responsável.

48 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

A continuidade, se fará uma referência aos aspectos relacionados com a pesca e


o meio ambiente e também aos planos de ação como instrumento de implementação do
CCPR. Nesse contexto se apresentará uma indicação dos requerimentos estruturais e
técnicos que a evolução do marco normativo internacional requer em relação às instituições
responsáveis pela administração da aqüicultura e da pesca no Brasil.

3.4.1 Questões Relacionadas com a Atividade Pesqueira e seu Meio Ambiente

A partir do processo iniciado pela CNUMAD, algumas questões importantes


constituíram temas de negociação em diversos fóruns e aparecem em evidência no âmbito
internacional. Por sua vez, essas questões se relacionam fortemente à problemática do
setor em escala nacional e seu tratamento de forma inadequada pode se transformar em um
obstáculo para o desenvolvimento sustentável da atividade.
Em função da geração de uma capacidade de pesca em excesso, originada
pela ampla tendência à capitalização e sobrepesca, e sob o seu acesso em aberto ou
escassamente controlado, foi estabelecida a necessidade de ordenar e normatizar a
capacidade de pesca em escala nacional e internacional.
A capacidade global de pesca em excesso é também um fator contribuinte
para o crescente e sério problema de Pesca Ilegal, Não Regulada e Não Reportada
(INDNR). A expansão do comércio mundial de pescado, em ausência de uma melhoria no
ordenamento pesqueiro, poderia conduzir a um aumento na capacidade de pesca e no
esforço pesqueiro, além de agregar a degradação adicional aos recursos pesqueiros de alto
valor comercial e aumentar a pressão sobre aqueles menos explorados e de menor valor
comercial. Um ordenamento pesqueiro adequado poderia incrementar os benefícios a serem
obtidos no comércio de pescados e produtos pesqueiros em que pesem o seu retorno
econômico e conservação dos recursos naturais, habitat e biodiversidade.
Os subsídios para a pesca, outro importante tema a ser debatido, pode ser
considerado como um fator contribuinte para a sobrecapitalização dessa atividade, assim
como pode também ser considerado uma distorção no comércio internacional. Existe um
grande interesse dos países membros da FAO para se ter um melhor entendimento sobre
como os subsídios afetam a sustentabilidade da pesca e do comércio de pescado. Existe
também grande interesse em avaliar o papel potencial que o sistema ecoetiquetado poderia
ter na criação de vínculos mais próximos entre o comércio e os objetivos da
sustentabilidade. Para maiores exemplos da internacionalização da atividade que são
relacionados ao quadro normativo internacional consultar Anexo 7.

49
Os Planos de Ação Internacionais e a Estratégia Global de Informação foram
acordados em consenso pelos países membros da FAO até esta data. Na continuidade
serão expostos alguns aspectos importantes de tais instrumentos, assim como as
implicações de seus requerimentos técnicos, de estrutura e de recursos humanos para as
instituições responsáveis pela administração dos recursos aquícolas e pesqueiros nacionais.
Os principais PAIs importantes28 para a questão institucional no Brasil são:
 Plano de ação nacional para o ordenamento da capacidade pesqueira (PAN-
CAPACIDAD): O PAN-Capacidad estabelece que os Estados devam apresentar

informe a FAO sobre os progressos realizados na avaliação, elaboração e


aplicação de seus Planos para o ordenamento da capacidade pesqueira,
como parte de sua apresentação bienal de informes coordenados com o
Código de Conduta para a Pesca Responsável. A formulação de um PAN-
Capacidad é uma tarefa central inovadora para a melhoria dos processos de
ordenamento e desenvolvimento pesqueiro.
 Plano de ação nacional para prevenir, diminuir ou eliminar a pesca ilegal,29 não
declarada30 e não regulamentada31 (PAN-INDNR): O objetivo deste PAN é prevenir,
diminuir ou eliminar a pesca INDNR proporcionando aos Estados medidas

28
Os outros planos são o PAN-TIBURONES que tem por objetivo assegurar a conservação e ordenamento dos
tubarões e seu aproveitamento sustentável a longo prazo e o PAN-AVES MARINAS que tem por objetivo
reduzir a captura acidental de aves marinhas na pesca de palangre.
29
O PAI-Tiburón estabelece em seu artigo 3.1 o seguinte: “Por pesca ilegal se entende as atividades
pesqueiras: 3.1.1 realizadas por embarcações nacionais ou estrangeiras em águas sob a jurisdição de um
Estado, sem a permissão deste, ou contrariando seus leis e regulamentos; 3.1.2 realizadas por embarcações
nacionais que são partes de uma organização regional de ordenamento pesqueiro competente, mas o fazem
contrariando as medidas de conservação e ordenamento adotadas e em virtude das quais os Estados estão
obrigados por tratados internacionais aplicáveis; e 3.1.3 violando as leis nacionais ou obrigações
internacionais, inclusive as contraídas pelos Estados com respeito a uma organização regional de
ordenamento pesqueiro competente”.
30
O PAI Tiburón estabelece em seu artigo 3.2 o seguinte “Por pesca não declarada se entende as atividades
pesqueiras: 3.2.1 que não são declaradas, ou são declaradas de modo inexato a autoridade nacional
competente, em contravenção de leis e regulamentos nacionais; e 3.2.2 realizadas em zona de competência
de una organização regional de ordenamento pesqueiro competente, que não foram declaradas ou foram
declaradas de modo inexato, em contravenção aos procedimentos da declaração da referida instituição”.
31
O PAI Tiburón estabelece em seu artigo 3.3 o seguinte “Por pesca não regulamentada se entende as
atividades pesqueiras: 3.3.1 na zona de regulação de uma instituição regional de ordenamento pesqueiro
competente, realizadas por embarcações sem nacionalidade, ou por embarcações que têm o distintivo de um
Estado que não é parte desta instituição, ou por una entidade pesqueira que não esteja em consonância com
as medidas de conservação e ordenamento da referida instituição, ou que as contradiga; 3.3.2 em zonas de
populações de peixes aos quais não se aplicam medidas de conservação ou ordenamento e naquelas em que
se realizam as ditas atividades pesqueiras de forma a transgredir as responsabilidades relativas a
conservação dos recursos marinhos vivos estas incumbidas ao Estado, em virtude de tratados internacionais.

50 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

eficazes e transparentes de amplo alcance para que atuem inclusive por meio de
suas organizações regionais de ordenamento pesqueiro pertinentes, estabelecidas
conforme o direito internacional. Os Estados e as organizações regionais de
ordenamento pesqueiro deveriam apresentar a FAO relatórios sobre o andamento
da elaboração e execução de seus Planos para impedir, diminuir e eliminar a
pesca INDNR, como parte de sua apresentação bienal de relatórios a FAO
coordenada com o Código de Conduta.
 A Estratégia Global de Informação foi estabelecida para melhorar a situação
das tendências da pesca de captura. É um instrumento voluntário que se
aplica aos Estados e entidades. Seu objetivo principal é oferecer um marco,
uma estratégia e um Plano para melhorar os conhecimentos e a compreensão
da situação e as tendências da pesca como base para a formulação de
políticas e o ordenamento pesqueiro a favor da conservação e da utilização
sustentável dos recursos pesqueiros em seus ecossistemas. Essa estratégia
representa o compromisso dos países em melhorar e se adequar aos novos
desafios sobre o ordenamento e desenvolvimento sustentável da pesca em
seus sistemas de informação e estatísticas pesqueiras nacionais, com o
propósito adicional de contribuir para o monitoramento internacional do estado
dos ecossistemas.
Pode-se analisar que a internacionalização exige determinados requerimentos de
coordenação da Autoridade Aquícola e Pesqueira nacional. É importante que a instituição
responsável esteja em sintonia com as questões tratadas nos fóruns mundiais, além de
estar organizada de forma a atender os requisitos estabelecidos e acordados nos mesmos.
A internacionalização do comércio traz uma série de responsabilidades e
assuntos que devem ser cada vez mais debatidas. Quanto maior a presença brasileira nos
mercados mundiais, maior será a exigência por uma ação forte junto aos organismos
reguladores. Da mesma forma, as exigências comerciais trazem embutidas todas as
questões ambientais debatidas até aqui, pois elas estão intrinsecamente vinculadas ao
desenvolvimento da atividade produtiva.
Outro aspecto a ser observado é a necessidade de um forte preparo para
participação em rodadas internacionais de negociação visando ao bem estar do país, desde
o ponto de vista ambiental, os impactos na cadeia produtiva geradores de emprego e renda
até os interesses marítimos e de relações estratégicas.

51
Em suma, uma autoridade aquícola e pesqueira deve ter uma papel
determinante de forma a representar seu país e estar inserida no governo com hierarquia
suficiente para exercer a coordenação com os diversos organismos relacionados à
atividade, e da mesma forma brindar com apoio técnico necessário todas as instituições no
atendimento aos acordos internacionais estabelecidos.
Para tanto exige que a instituição tenha uma equipe fortemente capacitada e
dinâmica, em sintonia como os principais acontecimentos e tendências mundiais, além de
ser capaz de representar o país e defender seus interesses estratégicos junto a outros
órgãos de controle e regulação internacionais, assim como atender atributos e
requerimentos acordados em fóruns internacionais.

3.5 Tendências Mundiais e Estruturas Institucionais Aplicadas à


Administração da Aqüicultura e da Pesca

Em geral a estrutura institucional responsável pela administração da atividade


produtiva aquícola e pesqueira está envolvida, em processos relacionados tanto à
exploração de recursos naturais, quanto ao uso adequado de fundos públicos que vão
fornecer base para sustentação dos serviços de gestão da aqüicultura e da pesca com foco
no seu desenvolvimento sustentável.
É um consenso que o governo deve intervir para assegurar o desenvolvimento
sustentável do setor. De acordo com a FAO (1997),32 é do Estado a responsabilidade de
assegurar a correta articulação de medidas de modo a garantir o efetivo desenvolvimento
sustentável da atividade.
A intervenção do governo, na gestão dos recursos aquícolas e pesqueiros, é
geralmente necessária para impedir a exploração irracional dos recursos, processo que
resulta freqüentemente do acesso aberto aos recursos naturais. Sem um processo de
gestão adequado, todos os atores envolvidos no processo tendem a saírem prejudicados.
As questões de ordenamento e desenvolvimento sustentável têm sido
extensamente reconhecidas por governos de todo o mundo, assim como a necessidade de
assegurar o desenvolvimento sustentável da atividade aquícola e pesqueira. Dessa forma,
constituem uma forte tendência que norteia a adequação das instituições responsáveis pela

32
FAO (Food and Agriculture Organization) 1997, Fisheries Management, FAO. Technical Guidelines for
Responsible Fisheries n.4. Rome.

52 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

atividade. Esforços consideráveis foram feitos, ao longo das últimas décadas, para melhorar
sua administração e as estruturas institucionais relacionadas33 em diversos países.
Assim, na medida em que a formulação dos objetivos nacionais, em matéria aquícola
e pesqueira, devem levar em consideração o contexto internacional de notável influência, os
critérios de administração pesqueira moderna também devem evoluir nas suas formas de
ordenamento técnico e operativo, visando a garantir a sustentabilidade de recursos com
características especiais que, como tal, exigem uma administração singular e adequada.
Nesse sentido, esse tópico tem como objetivo apresentar as tendências
relacionadas à administração da aqüicultura e da pesca assim como modelos institucionais
implementados no mundo e que poderiam ser aplicáveis ou servir de componente norteador
na discussão da melhor estrutura institucional para o Brasil.

3.5.1 Tendências Mundiais

A internacionalização de algumas importantes questões de política pesqueira,


como referida no item 3.3, tem colocado o problema de modernização com o objetivo de
permitir abordar, com maior eficácia, aspectos técnicos, econômicos, sociais e ambientais
envolvidos na adoção de práticas responsáveis de aqüicultura e pesca para um
desenvolvimento sustentável tanto nas pescarias nacionais como nas de alto mar. Observa-
se em escala mundial que as tendências relacionadas aos processos de modernização em
curso tendem a privilegiar os seguintes aspectos34:
Fortalecimento da capacidade de pesquisa e análise com ênfase interdisciplinar
para apoiar adequadamente o processo de decisões que envolvem as negociações
internacionais e também as questões relativas aos atos normativos nacionais.
Um aperfeiçoamento das competências legais e dos mecanismos institucionais a
serviço dos organismos responsáveis pelo processo de gestão dos serviços aquícolas e
pesqueiros, buscando a melhoria no processo de ordenamento, especialmente no que
concerne ao controle da capacidade pesqueira e da supervisão direta ou indireta de
processos produtivos.

33
Verificar: FAO, (1997) Fisheries Management, FAO Technical Guidelines for Responsible Fisheries, n.4, Rome
e OECD (2000), Transition to Responsible Fisheries: Economic and Policy Implications, Paris.
34
GUMY, A. Modernização do setor público pesqueiro. Frente Maritimico, Montevidéu, v. 19, junho, 2003.

53
Reforço ao processo de comércio da pesca, da aqüicultura e seus produtos, com
objetivo de promover a otimização dos benefícios econômicos, ambientais e sociais para o
setor produtivo.
Uma relação mais próxima entre o organismo responsável pela administração
aquícola e pesqueira e as questões de meio ambiente vinculadas à atividade. Melhoramento
da coordenação da cadeia produtiva e articulação com a formulação de estratégias,
políticas, programas de ordenamento e desenvolvimento aquícola e pesqueiro.
Uma percepção mais realista, à luz da experiência mais recente, na avaliação dos
potenciais econômicos, ambientais e sociais da aqüicultura e a conseqüente revisão das
estratégias globais para o seu desenvolvimento.
Atenção ao processo de conhecimento da política pesqueira internacional em
seus diversos aspectos e uma participação mais freqüente nas discussões a este respeito
que são celebradas nos foros internacionais mais representativos.

3.5.2 Modelos de Estruturas Institucionais Mundiais

À luz dos conceitos mundiais e das tendências apresentadas, é possível afirmar


que os níveis de recursos destinados à gestão da atividade aquícola e pesqueira por um
país sugerem que os recursos e seus beneficiários são importantes para o governo.
Assegurando o uso sustentável dos recursos pesqueiros, a instituição responsável tem
potencial de criar benefícios para a sociedade (consumidores) e para grupos dentro da
sociedade, como os pescadores comerciais (artesanais e industriais), aquicultores,
pescadores recreacionais (esportivos), entre outros. Esses beneficiários são descritos como
os “clientes-cidadãos” e recebem da instituição responsável pela administração da
aqüicultura e da pesca uma série de “serviços”, os quais nada mais representam que os
papéis dessa instituição para com a sociedade. O Anexo 8 apresenta um detalhamento
sobre os serviços e papéis desempenhados pelas instituições em um esquema genérico de
estrutura institucional.
Dessa forma, a governabilidade do setor aquícola e pesqueiro compreende o seu
marco jurídico e institucional. Esses dois devem estar articulados e atuar de forma
complementar para garantir que a atividade produtiva desempenhe a função que o conjunto
da sociedade considere adequada. Assim, a governabilidade, que envolve a formulação das
Políticas públicas, a normatização das atividades e o ordenamento, deve garantir uma
competência eficiente dentro do setor e um acesso eqüitativo aos recursos.

54 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

Os países têm adaptado suas estruturas institucionais levando em consideração


diversos aspectos, desde a preocupação com questões de distribuição eqüitativa do
recurso, a integração do fator ambiental com o fator econômico até questões que envolvem
o custo daquelas estruturas para o Estado.
A grande diferença apresentada pelos países na gestão de seus recursos
pesqueiros está no tipo de organização responsável como ente formulador de políticas
públicas e normatizador das atividades. É importante caracterizar que nem sempre o órgão
que formula a política e determina as normas é o mesmo que as programa e executa. Por
outro lado, em geral eles estão interligados hierarquicamente. O mesmo ocorre com as
atividades de fiscalização e controle. Por exemplo, uma Secretaria Nacional, que é o órgão
formulador de políticas públicas e normatizador das atividades, com uma direção
responsável pela implementação e um departamento responsável pela fiscalização, como é
o caso do Chile. Um esquema que resume as diversas estruturas mundiais e seus principais
organismos executivos pode ser visualizado no Anexo 9.
Ao se estudar os modelos de estrutura institucionais e suas dependências
hierárquicas, pode-se definir três cenários que expressam de certa forma as estruturas
encontradas em nível mundial.35 São eles:
 O primeiro se refere ao estabelecimento de uma estrutura com o organismo
formulador de políticas em nível ministerial ou uma instituição como um vice-
ministério que tenha uma relação direta com o mais alto nível decisório do
País e uma grande autonomia política, financeira e de gestão, aspectos em
geral considerados como requisitos necessários para uma gestão de recursos
aquícolas e pesqueiros de excelência. Países como Canadá, Noruega e
Islândia adotam esse modelo. Além de considerarmos que a atividade é uma
das mais importantes para suas economias, para a sociedade ou para o meio
ambiente, também se registra a seguinte caracterização: (a) um forte papel do
Estado como agente de desenvolvimento da atividade produtiva, (b) a
consideração do setor pesqueiro como estratégico com relação ao seu
potencial econômico e ambiental para a sociedade e (c) uma dotação de

35
PEREIRA, F. JUSTE, J. Aspectos Técnico-Institucionais do Setor Pesqueiro Uruguaio. PROGRAMA DE
COOPERAÇÃO TECNICA FAO TCP/URU/2802. Abril, 2003.

55
recursos aquícolas e pesqueiros de importância tanto em volume quanto em
valor econômico, ou ainda em razão dos seus interesses marítimos.
 segundo se refere a um cenário institucional em que a gestão dos recursos
aquícolas e pesqueiros tem seu organismo formulador de Políticas e norma-
tizador estruturado dentro de uma estrutura hierárquica estabelecida, em geral,
dentro de um Ministério, muito comumente o da Agricultura. Envolve uma grande
dependência do Ministério e pode resultar como conseqüência, uma atuação
como órgão normatizador e gestor, que não implica em uma consideração
especial das características peculiares de necessidades específicas do setor
pesqueiro. Uma grande parte dos países da América Latina se encontra nesse
modelo. As diferenças hierárquicas e de gestão dentro dos Ministérios vinculados
são bastante diversas, desde simples Divisões ou Departamentos até Vice
Ministérios ou Secretarias Nacionais. Pode-se considerar essa caracterização
hierárquica como resultado combinado da prioridade estabelecida pelo governo
para o setor e da importância socioeconômica do setor na estrutura econômica
política de cada um dos países.
 Um terceiro cenário, que de certa forma expressa o grau de evolução das
Instituições pesqueiras mundiais e em especial na América Latina, refere-se
ao tipo de gestão na qual, apesar do organismo formulador de Políticas, e
normatizador, estar estruturado dentro de uma estrutura hierárquica de um
Ministério, este não é estritamente relacionado, como é o caso da Agricultura.
Além disso, possui um alto grau de competência jurídica, capacidade de
decisão, autonomia administrativa e financeira, e forte especialização técnica
que faz dessa instituição um excelente organismo para administrar
adequadamente os recursos do setor. Essa opção institucional expressa um
aumento da influência dos produtores do setor e também um aumento da
consciência da sociedade sobre a importância do mesmo. A influência
crescente de ambos os fatores gera uma decisão política que conduz ao
estabelecimento de instituições que atendem as exigências burocráticas
estatais e ao mesmo tempo respondem às necessidades específicas do setor.
Este figura jurídica institucional, em prática em alguns países como Uruguai e
Argentina, é normalmente um Instituto ou uma Comissão Nacional vinculada a
algum Ministério, mas com autonomia administrativa e financeira.

56 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

Em suma, em qualquer um dos cenários apresentados, uma questão recorrente é


que a integração do desenvolvimento sustentável e da pesca responsável e seus
requerimentos de interdisciplinaridade técnica e enfoque sistêmico do setor determinam
respectivamente, que a sua estrutura institucional responsável reúna alguns aspectos
básicos: 1) Nível hierárquico de sua inserção no aparelho estatal coordenado com a
importância do setor em termos socioeconômicos e ambientais; 2) Capacidade jurídica,
financeira, de gestão, negociação e coordenação com autonomia em grau necessário para
tomada de decisões; 3) Um serviço de pesquisa eficaz e confiável que atende os tomadores
de decisões e 4) Uma estrutura adequada tanto do ponto de vista das funções a serem
desempenhadas como da especialização do corpo técnicas nas áreas requeridas.
O caso do Brasil na América Latina é único. A característica da administração dos
recursos pesqueiros tem um enfoque singular. Essa singularidade se dá tanto pelo caráter
histórico, no qual, as funções e atribuições da atividade que eram setoriais se disseminaram
em uma estrutura funcional de proteção meio ambiental, como pela estrutura institucional
adotada que se encontra em vigência no país.
No que se concerne à descentralização de funções, a experiência internacional
demonstra, em vários países, que a fragmentação da execução das tarefas de gestão em
várias instituições, na ausência de fortes e eficientes mecanismos de coordenação
interinstitucional, não tem apresentado bons resultados. Para maiores informações sobre a
administração na América Latina e Caribe consultar Anexo 10.

3.6 Atributos para Modernização do Setor Público Pesqueiro

Diante dos critérios apresentados e da análise das tendências mundiais, alguns


atributos podem ser apresentados visando à modernização do setor público aquícola e
pesqueiro nacional.
A palavra modernização deve ser entendida no sentido de adequar aos enfoques
de gestão setorial para desenvolver com eficácia tal tarefa, levando em consideração os
princípios estabelecidos no Código de Conduta para Pesca Responsável em um ambiente
complexo como o descrito anteriormente. Nesse sentido, considera-se que o desenho de
uma administração pesqueira que pode dar uma resposta efetiva na aplicação dos princípios
do Código deveria fazê-la com um enfoque, respeitando os princípios gerais de organização
vigentes, incluindo os requerimentos específicos do setor nessa questão. A seguir se

57
mencionam alguns atributos que a experiência internacional indicaria para ser levados em
consideração na adoção de uma gestão responsável da pesca.
 A gestão e o fomento à aqüicultura e pesca devem integrar adequadamente
em seus aspectos institucionais e de estrutura, metodológicos e práticos as
dimensões sociais, econômicas e ambientais do desenvolvimento sustentável.
Com relação a este último, a instituição responsável deve considerar o
aspecto ambiental da atividade e estar estruturada de forma a considerar essa
questão em sua missão institucional, fator fundamental associado ao
desenvolvimento sustentável.
 Um marco legal adequado e atualizado favorecendo em especial à criação de
leis de aqüicultura e pesca, além do estabelecimento de um forte sistema
regulatório e normativo.
 Aspectos do organismo de gestão:
- Hierarquia institucional suficiente, de tal forma que permita autonomia
administrativa, financeira e de gestão do setor de aqüicultura e pesca,
necessária para poder atuar na tomada de decisões, com a rapidez requerida
pelo setor na aplicação dos princípios do Código para a Pesca Responsável.
- Capacidade suficiente de contratação pública e privada, de negociação
interinstitucional e de participação no âmbito internacional.
- Alto nível técnico de análise e multidisciplinariedade nos enfoques e
métodos de trabalho.
- Estrutura especializada que permita um enfoque na cadeia produtiva, como
um todo, na problemática do conjunto do sistema setorial e de cada um de
seus subsistemas.
- Adequada descentralização de funções.
 Competências suficientes para liderar a coordenação com outras instituições
que tenham relações com a atividade.
 Pesquisa aquícola e pesqueira. Trata-se de um elemento principal para apoiar a
tomada de decisões para a pesca e a aqüicultura responsáveis e deve contar
com autonomia de ação e os meios necessários para produzir os resultados
requeridos pelo organismo gestor em tempo e qualidade adequados. Deve-se
incorporar enfoques modernos, no sentido ambiental, tal como a integração da
pesca e a aqüicultura no ordenamento da zona costeira e a adoção de enfoque
de ordenamento pesqueiro com base nos ecossistemas.

58 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

 Controle e vigilância (SCV). Trata-se de uma função muito importante com


relação à aplicação do Código e deve contar com os meios técnicos, ambientais e
econômicos necessários para o cumprimento dos objetivos propostos.
 Formulação da política aquícola e pesqueira. A política pesqueira, para
aumentar sua efetividade e sua operacionalização, deveria estar plenamente
integrada com a política de interesses marítimos nacionais e ser levada em
consideração pela política macroeconômica. O processo de formulação da
política pesqueira e em particular dos planos estratégicos deveria incluir
mecanismos de participação aos níveis necessários de todas as partes
envolvidas, públicas e privadas.
 Mecanismos de consulta e participação. Tal como está previsto no Código de
Conduta, trata-se de um elemento imprescindível na gestão moderna da
pesca e da aqüicultura e deve estar presente em todos os níveis decisivos das
tarefas de ordenamento e desenvolvimento.
 Requer informação quantitativa e analítica completa e atualizada do setor,
uma área na administração pesqueira dedicada à tarefa de formulação e
análise técnica e recursos humanos com um treinamento específico em
metodologias de cálculo da capacidade de pesca.
 Recursos humanos preparados em assuntos técnicos e legais específicos. Um
tratamento especial em parceria com outras instituições responsáveis pelas
tarefas de vigilância da costa torna-se imprescindível para a manutenção e
aplicação de propostas deste âmbito.
Os atributos citados correspondem de forma harmônica com os resultados das
entrevistas, realizadas com os níveis diretivos e técnicos da SEAP/PR e também com as
consultas as ao setor produtivo e institucional, em praticamente todos os aspectos. Um
sumário com os principais pontos levantados encontra-se no Anexo 11.

3.7 Conclusões

Uma administração da pesca e da aqüicultura moderna requer uma estrutura


institucional e processos de tomada de decisão adequados. Além disso, devem levar em
consideração todos os aspectos antes mencionados, as características especiais da aqüicultura
e da pesca; a internacionalização da atividade; as tendências mundiais; a vinculação entre

59
ordenamento e desenvolvimento sustentável; inter-relação da atividade aquícola e pesqueira e
ainda analisar as diversas instituições mundiais responsáveis pelo tema.
A estrutura institucional adequada para a realidade brasileira deve considerar
todos esses aspectos e em grande parte está relacionada nos atributos citados no item 3.6
como necessários à modernização da administração aquícola e pesqueira. Não se pode
deixar de considerar nessa realidade a questão orçamentária derivada de políticas
macroeconômicas dos países em desenvolvimento. Contudo, desse ponto de vista, o
financiamento das atividades da administração pesqueira, um dos pontos mais fracos na
atualidade, poderia considerar desenhos alternativos aos usuais, que se sustentariam em
enfoques institucionais inovadores.
Além disso, tendo em vista as tendências mundiais, a apropriada execução das
funções por parte de uma estrutura institucional responsável pela gestão da aqüicultura e da
pesca requer: (a) multidisciplinariedade em seus processos de trabalho; (b) flexibilidade nos
mecanismos de formulação de estratégias, políticas, programas e projetos; (c) mecanismos
de consulta e participação dos operadores em níveis de formulação, execução, avaliação e
controle de suas atividades; (d) forte mecanismo de coordenação interinstitucional; (e)
rápida capacidade de tomada de decisão e adequada dotação orçamentária.
Diante dessas considerações, um importante aspecto visualizado nos modelos
mundiais, e considerado determinante para o desenvolvimento sustentável do setor, é a
necessidade de uma Instituição única e responsável, capaz de instituir e formular uma
Política Aquícola e Pesqueira Nacional. Expõe-se assim, uma questão a ser discutida e
alinhada de modo a promover o ordenamento e o fomento à atividade produtiva de forma
sustentável e ambientalmente correta diante da sua enorme potencialidade socioeconômica.
Em suma, com base na análise da situação atual apresentada no capítulo 2 e
todas as questões relacionadas neste capítulo, as quais, em sua totalidade, refletem as
principais tendências mundiais, fica evidente a necessidade de modernização e adequação
do marco institucional do setor público pesqueiro brasileiro, considerando, em especial, sua
potencialidade social e econômica, já discutida anteriormente.

60 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

4 OPÇÕES PARA DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:


PROPOSIÇÕES E ASPECTOS ORGANIZACIONAIS

4.1 Identificação e Seleção de Opções

Conforme foi citado anteriormente, há uma tendência mundial em orientar a


gestão dos recursos aquícolas e pesqueiros de modo a promover o desenvolvimento
sustentável da atividade, considerando as práticas responsáveis preconizadas para tanto.
Além disso, há necessidade de uma estrutura institucional de elevado nível técnico,
multidisciplinar em seus enfoques e métodos de trabalho, assim como com assegurada
flexibilidade administrativa, com autonomia para tomada de decisão e uma visão global, ou
seja, além de considerar toda cadeia produtiva desde a produção primária até o consumo,
considerar seus desdobramentos frente às questões internacionais relacionadas.
Para fins metodológicos foi considerado que a estrutura institucional para a gestão
engloba todos os organismos ou instituições que prestam serviços ou desempenham
funções para a atividade produtiva, sejam esses serviços relacionados à organização
(fomento), à normatização (ordenamento), à pesquisa aplicada, estatísticas ou à fiscalização
e monitoramento.
Ao se levar em consideração o exposto até aqui e a experiência mundial, pode-se
afirmar que a avaliação de cenários e identificação de opções de arranjos institucionais
estará vinculada diretamente às funções que esta estrutura deverá desempenhar e a
quantos e quais serão os organismos responsáveis pelo desempenho destas funções.
Em vários países do mundo o desempenho de tais funções está unificado em uma
única instituição, sendo dessa forma, considerada a única responsável por toda Autoridade
aquícola e pesqueira nacional. Em outros casos, como no Brasil, essas funções estão
dispersas por várias instituições. É lógico afirmar que cada país elege sua estrutura
institucional em função das necessidades nacionais e de questões como o potencial
socioeconômico da atividade, além da prioridade estabelecida pelo governo.
Entretanto, é necessário citar que uma Autoridade Aquícola e Pesqueira Nacional,
centralizada em uma só instituição ou descentralizada, deve contemplar em sua estrutura
todas as competências necessárias para uma adequada gestão do setor. Deve, em outras
palavras, garantir a eficiência na busca dos objetivos os quais o Estado determina como

61
imprescindíveis para o setor. Entre eles deve estar contemplada a exploração sustentável,
em consonância com as premissas do Código de Conduta para a Pesca Responsável, além
daqueles relacionados com a segurança alimentar, a geração de emprego e renda e a
diminuição da pobreza, entre outros.

4.1.1 Áreas e Funções Relacionadas à Gestão da Aqüicultura e da Pesca no


Contexto Brasileiro

Esta seção apresenta algumas considerações sobre as áreas e funções que a


Autoridade Pesqueira Nacional deveria considerar no processo de adequação institucional
da SEAP/PR no contexto brasileiro.
As áreas, classificadas nesse documento por funções, deveriam ser contempladas na
estrutura organizacional de uma Autoridade Nacional, em consonância com modernas práticas
de gestão dos recursos da aqüicultura e da pesca. São elas: Pesquisa Aplicada e Estatística;
Políticas Públicas de Desenvolvimento (Fomento); Ordenamento Pesqueiro; Controle e
Fiscalização da atividade; Aqüicultura; Comercialização da Aqüicultura e da Pesca; Controle
Sanitário da Produção Aquícola e Pesqueira; Apoio Administrativo Financeiro e de Serviços;
Assuntos Internacionais; Informática; Difusão, Extensão e Cooperativismo; e Assessoria Legal.36
Para que a Autoridade Nacional responsável pela aqüicultura e pesca possa
desempenhar, de forma eficaz, dentro do contexto brasileiro, as funções e competências35
acima mencionadas, algumas questões devem ser consideradas:
I Organismo com competência e nível hierárquico suficiente para estabelecer
uma Política Aquícola e Pesqueira para o setor produtivo nacional.
II Capacidade de coordenação para liderar todas as instituições relacionadas à
atividade no Brasil. Promover sua interação interinstitucional – o centro de
toda administração deveria ser a Autoridade Aquícola e Pesqueira.
III. A formulação de políticas e planos de ordenamento, estruturados com base
em uma análise setorial confiável e permanente, é uma tarefa indelegável da
Autoridade Aquícola e Pesqueira Nacional. Deve ser desenvolvida com a
participação de um núcleo de profissionais especializados e capacitados.
Também ser considerada em consonância com as o Código de Práticas para

36
PEREIRA, F. JUSTE, J. Aspectos técnico-institucionais do setor pesqueiro uruguaio. PROGRAMA DE
COOPERAÇÃO TECNICA FAO TCP/URU/2802. Abril, 2003.

62 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

uma Pescaria Responsável e uma forte relação com o setor privado, industrial
e artesanal, disponibilizando um mecanismo adequado de consulta e
participação dos setores interessados para requerer suas opiniões e informar-
lhes sobre as decisões que se estejam formulando ou implementando.
IV É importante considerar que se tenha adequada autonomia para tomada de
decisões, especialmente nas questões relacionadas ao ordenamento e
normatização. Sobre esse aspecto também há necessidade de um organismo
único centralizador de todo o ordenamento. Segundo Gumy (1998) citando
Sassay (1992), a luz das controvérsias relativas às competências sobre a
aqüicultura e a pesca, a missão da FAO de assistência ao IBAMA em matéria
institucional verificou que tecnicamente era conveniente conservar as
competências de ordenamento integradas em apenas uma instituição. E por
sua vez propor que a instituição mesma se constitua num contexto técnico,
político e administrativo adequado, tanto para o fomento quanto para o
ordenamento da aqüicultura e da pesca.
Ainda citando Gumy (1998), é possível que no contexto da Lei 8171 da
Política Agropecuária se coloque um conflito de competências sobre a origem
das iniciativas da política nacional aquícola e pesqueira. É possível também
que para tanto se proponham soluções que dividam as responsabilidades do
setor público federal relacionado à questão pesqueira entre várias entidades.
Entretanto, o adequado é que o conjunto de atividades públicas em nível
federal em matéria aquícola e pesqueira deve permanecer centralizado em
um único organismo. A atividade pesqueira é complexa, tanto pela
diversidade de produtos que a envolve, quanto pelos impactos ambientais
que produz e, sobretudo pelos impactos ambientais que recebe.37
V A pesquisa aquícola para contínua e permanente avaliação dos estoques dos
principais recursos pesqueiros e aqueles cuja exploração se queira implementar
deve ser incorporado no processo de ordenamento e é de extrema importância
para garantir o desenvolvimento sustentável dos mesmos.
VI Outra questão importante é considerar a necessidade de estatísticas
atualizadas, não apenas das capturas, mas também de outras variáveis

37
FAO, 1992 - Relatório preparado para o Governo do Brasil sobre a Estrutura do Setor Pesqueiro: Sugestões
para seu Fortalecimento no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)
FIMLAP – Informe de Campo 91/7. p.33.

63
econômicas e sociais. É de extrema importância para a análise setorial e uma
tomada de decisão eficaz a atualização permanente dos dados.
VII Para garantir o cumprimento das normas de ordenamento e outras questões
legais aquícolas e pesqueiras é de extrema importância um adequado
sistema de monitoramento, controle e vigilância. Essa função, contrapartida
necessária da regulação, deve ser cumprida pelo organismo que implementa
e estabelece as normas, quando relacionadas diretamente à atividade, e deve
considerar o envolvimento da Guarda Nacional e da Marinha em defesa da
soberania e fronteiras nacionais.
VIII Considerar a necessidade de um núcleo de profissionais capacitados e
preparados para atuar com as questões internacionais, conforme citado
anteriormente.
IX Com relação às questões sanitárias que afetam a atividade, em virtude das
leis e estruturas estabelecidas no País, devem ser mantidas sua regulação e
fiscalização no órgão da agricultura.
X A aqüicultura no cenário brasileiro é uma prioridade e deve ser considerada
como tal por qualquer estrutura institucional responsável pela gestão dos
recursos aquícolas e pesqueiros. Esse setor tem um grande potencial de
expansão e deve contribuir em maior escala com a economia nacional. Essa
razão justifica uma área específica que tenha um corpo técnico especializado
e qualificado, assim como um orçamento adequado necessário para
implementação de Políticas e Programas, sempre relacionados a um
processo de planejamento estratégico do setor.
XI A comercialização da produção aquícola e pesqueira, assim como a
elaboração de produtos de maior valor agregado é um dos fatores que
condicionam e determinam o desenvolvimento do setor. Para agregar valor à
produção, se faz necessário estudar as possibilidades, ou seja, instituir áreas
de desenvolvimento tecnológico junto ao setor de pesquisa. Da mesma forma,
coordenar e avaliar esses estudos com as demandas do mercado mundial e
com a cooperação do setor privado. Não se pode dizer que a Autoridade
Aquícola e Pesqueira deva intervir na produção ou comercialização, salvo as
políticas públicas de fomento e sociais. Mas deve estudar e analisar seu
desenvolvimento para aconselhar da melhor maneira a atividade privada,
especialmente produtores artesanais de pequena escala, buscando envolvê-

64 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

los em processos de cooperativismo e extencionismo. Essa atividade pode


estar agrupada com a área de pesquisa como um todo.
XII Deveria contar com um orçamento suficiente e adequado. Essa dotação
orçamentária deve ser repartida entre o Estado – como ente responsável pela
adequada e sustentável utilização dos recursos aquícolas e pesqueiros –, e
os próprios produtores e atuantes na atividade – como contrapartida pelo
direito de usufruir da utilização de um recurso natural que, em princípio, é de
propriedade comum, mas que é autorizado a usuários específicos que o
exploram de acordo com as autorizações obtidas da própria Autoridade
Aquícola e Pesqueira Nacional. Em suma, os beneficiários de licenças,
permissões ou autorizações da aqüicultura e da pesca devem ressarcir o
Estado pela exploração desse recurso comum. Para tanto deve ser paga uma
taxa de modo a contribuir com a sustentabilidade da estrutura institucional da
Autoridade, a fim de que se cumpram as funções necessárias, já citadas
anteriormente.
XIII Essas funções, ou competências, deverão ser agrupadas de acordo com as
necessidades da Instituição em sua estrutura organizacional. Deve-se,
portanto, considerar as similaridades das funções, sem que esses
agrupamentos resultem em uma organização vertical com departamentos
estáticos. A organização mais adequada deve privilegiar o trabalho
interdisciplinar, a flexibilidade, a inovação e o planejamento estratégico, de
forma que as tarefas atendam a missão e os objetivos propostos pelo Estado,
em conjunto com o setor produtivo e a comunidade.
XIV Criar condições para que se possa aplicar o princípio constitucional que
estabelece a descentralização das atividades do Governo Central para os
Estados. A descentralização deve ser um aspecto considerado a longo prazo,
para facilitar o trabalho da Instituição e promover uma ação junto às pontas. A
Estrutura deve considerar, em sua constituição, a capacidade estrutural
necessária para fazê-la, assim como considerar uma grande capacidade de
coordenação e articulação, papéis clássicos de organismos centrais da
administração direta do governo.
XV Considerar um mecanismo de consulta e acompanhamento das ações
governamentais, tanto pelos setores interessados – produtivo, institucional e

65
acadêmico - quanto pela sociedade em geral. Da mesma forma, um
mecanismo de consulta para a instituição de políticas de acordo com a
realidade nacional.
XVI Finalmente, com relação à capacidade administrativa e jurídica do órgão, esta
deve ser compatível com a sua necessidade de solucionar aspectos
financeiros e burocráticos. Também seria importante caracterizá-la hierarqui-
camente segundo seu papel e importância dentro da esfera governamental e
dotá-la de pessoal qualificado, corpo técnico próprio e orçamento compatível
com suas funções.

4.2 Opções de Modelos Institucionais

A determinação de uma estrutura de gestão pelo Estado revela não apenas o


grau de importância hierárquica que o setor representa para o país, mas também resulta em
um instrumento apto em maior ou menor escala para perseguir o seu desenvolvimento
sustentável. Uma Instituição que se ocupe do fomento e do ordenamento da atividade deve
estar em posição hierárquica dentro de uma burocracia governamental para exercê-los
Além disso, o reconhecimento da importância para o desenvolvimento sustentável
da atividade deve ter implicações na implementação de novos modelos de gestão
organizacional e, conseqüentemente, em como os processos de tomada de decisão
governamentais serão realizados. Da mesma forma, a formulação dos objetivos nacionais
em matéria aquícola e pesqueira, devem considerar o contexto internacional, de notável
influência. Para tanto, os critérios de administração pesqueira devem também evoluir nas
suas formas de ordenamento técnico e operativo de um ambiente mais complexo.
A Instituição deve atuar alinhada com os princípios estabelecidos pelo Código de
Conduta para Pesca Responsável que se refiram à utilização dos recursos aquícolas e
pesqueiros. Dessa forma, a Instituição se apresentará adequada para lidar com as questões
de sustentabilidade ambiental. Esse processo envolve tanto a autonomia administrativa e
financeira como a flexibilidade em seus processos de gestão. Os recursos aquícolas e
pesqueiros são especiais e únicos, portanto devem ser administrados como tal. Daí vem a
importância de uma estrutura específica e adequada para fornecer essa gestão.
O processo de adequação dos instrumentos de gestão e suas estruturas
institucionais, assim como a dinâmica do processo gerencial devem considerar também os
aspectos de descentralização de funções. Uma forte base centralizada e com capacidade de

66 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

delegar funções administrativas aos Estados, fortalecendo as pontas e favorecendo o apoio


ao produtor.
Logicamente devem-se levar em consideração os aspectos de custos da
gerência, em especial para países em desenvolvimento com restrições orçamentárias,
advindas de políticas macroeconômicas, implementadas nos últimos anos. Ajustes
impróprios na gestão da atividade podem trazer graves conseqüências para o setor,
considerando seus aspectos econômicos, sociais e ambientais. Questões como desenvol-
vimento sustentável, transparência e viabilidade econômica e social tornaram-se cada vez
mais premissas para proposições e mudanças na gestão da atividade.
Um aspecto importante a ser considerado e avaliado é a superposição de órgãos
e de funções. Essa é uma questão recorrente em reformas administrativas de todo o mundo
e relevante na análise de um novo modelo institucional. A proposta deve ser elaborada de
forma a se adequar ao marco normativo nacional e internacional, além de considerar
aspectos do contexto institucional vigente.
Com relação aos requisitos da Administração Pública, uma discussão sobre as
tendências para sua modernização apresenta-se no Anexo 12. Esse aspecto também foi
considerado na avaliação de modelos institucionais, tendo em vista que as propostas estão
obrigatoriamente vinculadas ao no âmbito do setor público Federal.

4.2.1 Propostas Institucionais para o Setor Público Aquícola e Pesqueiro no Brasil

Este documento foi estruturado de forma a apresentar a situação atual do setor no


Brasil, suas implicações com relação às competências, ordenamento, fomento e
fiscalização; apresentação de critérios para administração da aqüicultura e da pesca,
tendências e modelos mundiais; uma análise dos pontos de questionamento com relação à
situação atual e atributos para a estruturação de uma administração moderna. Em seguida,
foi desenhado um rol de funções e competências que deverão estar vinculadas à Autoridade
Aquícola e Pesqueira no país, em consonância com as modernas práticas adotadas
mundialmente e os princípios do Código de Conduta para Pesca Responsável da FAO.
Os itens anteriores sugerem um esquema, que pode ser usado como referência
para analisar alternativas institucionais, levando em consideração o marco institucional, legal
e histórico do setor de aqüicultura e pesca no Brasil, além das metas vinculadas ao
desenvolvimento sustentável da atividade.

67
A continuidade da situação atual em sua forma de organização manteria e
provavelmente aprofundaria as deficiências existentes e relacionadas a uma adequada
administração das atividades aquícolas e pesqueiras. As já mencionadas38 “áreas cinzentas”
em matéria de tomada de decisão manteriam as grandes dificuldades para se estabelecer
uma coordenação eficaz das diferentes atividades que, em conjunto, constituem o rol de
responsabilidades públicas do setor de aqüicultura e pesca.
Da mesma forma, ao analisarmos a tendência mundial em relação às questões de
ordenamento pesqueiro, com foco no desenvolvimento sustentável e práticas responsáveis de
gestão, vimos que o caso do Brasil é considerado singular.39 Existem outras opções adotadas
por diversos países, com sucesso, no sentido de garantir que o fomento à atividade seja
realizado de forma responsável sem que comprometa o desenvolvimento sustentável e
possibilite a atividade produtiva cumprir seu papel socioeconômico para o país.
Ainda assim, além de todas essas questões, ao se considerar uma revisão nos
aspectos de ordem organizacional, mencionados no diagnóstico apresentado no Anexo 3,
extrai-se algumas considerações. A princípio pela própria denominação da instituição. A
SEAP/PR foi criada como um órgão de assessoramento da Presidência da República. Está,

portanto, vinculada à Casa Civil. Conseqüentemente, tem um orçamento limitado, não tem
corpo técnico próprio e uma grande exposição. De certa forma, essa posição também
dificulta as ações de caráter executivas, típicas de organismo de fomento, pois não tem
flexibilidade administrativa e agilidade necessária para cumprir, adequadamente, o papel de
órgão centralizador das competências da aqüicultura e da pesca no Brasil. Outra questão é
a dificuldade de manutenção de adequado corpo técnico, pois não possui um quadro
funcional próprio.
A capilaridade das ações da SEAP/PR, em nível nacional, não tem atingido o
público-alvo uma vez que os escritórios estaduais e as gerências regionais contam com um
reduzido quadro de servidores, e carecem de corpo especialista nas áreas de aqüicultura e
pesca para atender demandas crescentes. Tal deficiência vem sobrecarregar as estruturas
técnicas e administrativas da Sede em Brasília/DF, além de prolongar o rito processual dos
inúmeros projetos a serem analisados.
Analisando um cenário no qual o Poder Público opte por extinguir as Secretarias
Especiais vinculadas à Presidência, isso pode representar para a SEAP/PR um retorno ao órgão

38
Relatório CISET, verificar item 1.3.2 em aspectos de ordenamento.
39
Verificar item 3.5 para modelos e tendências da gestão dos recursos aquicolas e pesqueiros mundiais.

68 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

de origem, no caso o Ministério da Agricultura, como uma Secretaria Nacional ou um


Departamento em um nível hierárquico mais baixo, o que envolveria uma grande dependência
deste. Como conseqüência, tem-se uma atuação como órgão normatizador e gestor que não
implica uma consideração especial das características peculiares de necessidades específicas
do setor aquícola e pesqueiro. Essa situação poderia resultar em completo descrédito da
atividade junto à Administração Pública, visto que dificultaria ainda mais a adoção de um
processo de gestão adequado para o seu pleno desenvolvimento sustentável.
Sendo assim, avalia-se que a manutenção da situação jurídica à qual a SEAP/PR
está hoje inserida não apresenta viabilidade na sua continuidade. Da mesma forma, não há
uma forte justificativa para melhorá-la em seus aspectos organizacionais.
Colocamo-nos diante da situação, na qual o Brasil necessita de uma estrutura capaz
de suplantar a visão histórica e dar continuidade à gestão dos recursos aquícolas e pesqueiros
em consonância com a sua importância ambiental e potencialidade socioeconômica para o país.
Dessa forma, a visão adotada é que a situação atual deveria ser superada para que o Brasil
possa evoluir e inovar. De forma alguma isso invalida o importante trabalho que atualmente é
conduzido pelas instituições responsáveis no Brasil. Ao contrário, é importante citar o alto nível
técnico dos trabalhos e a preocupação com questões de desenvolvimento sustentável da
atividade que os recursos humanos envolvidos realizam.
Entretanto, essa nova visão implica iniciar uma reforma institucional. Uma reforma
que esteja vinculada aos resultados dos trabalhos que as instituições vêm realizando. Que
esteja de acordo com os interesses nacionais e com as modernas práticas de gestão que
consideram a interação da atividade com o meio ambiente. Esta é a única forma de
promover seu desenvolvimento sustentável, possibilitando seu crescimento para que ela
possa cumprir seu importante papel econômico e social para o País.
Assim, entende-se que a situação atual deva evoluir para, em um cenário futuro,
considerando que a Autoridade Aquícola e Pesqueira deva ser responsabilidade de uma
instituição de administração pública federal, em que pesem três alternativas distintas para a
organização de sua estrutura. São elas:
 A primeira alternativa seria a atribuição dessa Autoridade à administração
direta da União, um órgão público do Poder Executivo Federal, ou seja, a
denominação de Ministério da Aqüicultura e da Pesca, com autonomia

69
administrativa, orçamento e corpo técnico próprio. Trazendo para sua
competência todo o ordenamento da atividade, assim como o papel de
fiscalizador e responsável pela realização de toda pesquisa, com a
necessidade de incorporação de patrimônio da União, relacionado aos centros
de pesquisa públicos e aos outros órgãos que atuam no setor da aqüicultura e
da pesca no Brasil conforme necessidade. Essa opção tem como premissa
que o Ministério seria o responsável pelo desenvolvimento da Política
Aquícola e Pesqueira nacional, assim como a executaria.
 Uma segunda alternativa seria a atribuição dessa Autoridade à administração
indireta da União, uma Autarquia Federal Administrativa, ou seja, a criação de
um Instituto. Essa opção considera sua vinculação a um Ministério, mas com
autonomia administrativa, orçamento e corpo técnico próprio. Também
considera a unificação do ordenamento da atividade, assim como incorpora o
papel de fiscalizador e responsável pela pesquisa. Um Instituto deverá estar
obrigatoriamente vinculado a um Ministério e terá como papel assessorar e
executar a Política Aquícola e Pesqueira. Da mesma forma seu orçamento é
definido pela Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, votada anualmente pelo
Congresso Nacional. Seus dirigentes são determinados pelo Poder Executivo.
 Uma terceira alternativa seria a atribuição dessa Autoridade à administração
indireta da União uma Autarquia Federal Reguladora e Executiva, ou seja, a
criação de uma Agência. Esta opção também considera sua vinculação a um
Ministério, mas com autonomia administrativa, orçamento e corpo técnico
próprio. Também considera a unificação do ordenamento da atividade, assim
como incorpora o papel de fiscalizador e ser responsável pela pesquisa. Uma
Agência deverá estar obrigatoriamente vinculada a um Ministério com o papel
de assessorar e executar Política Aquícola e Pesqueira. Seu orçamento,
definido pela Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, votada anualmente pelo
Congresso Nacional tem como peculiaridade um contrato de gestão com o
Ministério a que está vinculada. Seus dirigentes são determinados pelo Poder
Executivo com sabatina e aprovação pela instituição parlamentar e têm
mandato por período estabelecido.
O quadro 4 resume as três alternativas, incluindo seus aspectos jurídicos
relacionados.

70 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

QUADRO 4 - ALTERNATIVAS PARA ORGANIZAÇÃO DA ESTRUTURA INSTITUCIONAL PARA O SETOR DE AQÜICULTURA E PESCA NO BRASIL

POLÍTICA NOMEAÇÃO DOS


NATUREZA MODELO EXEMPLO DE
CARACTERIZAÇÃO AQUÍCOLA E ORÇAMENTO ESPECIFICIDADES CONTROLE CARGOS DE
JURÍDICA INSTITUCIONAL ORGANIZAÇÕES
PESQUEIRA DIREÇÃO
Administração Ministério Órgão de Formulação e Estabelecido Privilégios políticos e Controle Interno - Poder Executivo via Ministério da
Federal Direta da administração direta execução por Lei administrativos Corregedoria Geral da Presidente da Agricultura, Pecuária
União - Órgão para definição das Orçamentária União Republica. e Abastecimento -
Público do Poder leis e políticas aprovada pelo Controle Externo - Cargo de confiança. MAPA; Ministério do
Executivo Federal(1) públicas do ponto de Congresso Tribunal de Contas da Meio Ambiente -
vista da organização nacional União. MMA.
administrativa.
Administração Autarquias Ente administrativo Assessorar a Estabelecido Privilégios Supervisão do Ministro Poder Executivo via Instituto Brasileiro do
Federal Indireta da Administrativas - autônomo, criados formulação e a por Lei administrativos cuja Pasta esteja Presidente da Meio Ambiente e dos
União - Autarquia Instituto por lei específica, execução Orçamentária vinculada, que exercerá o Republica. Recursos Naturais
Federal(2) com personalidade aprovada pelo controle auxiliado pelos Cargo de confiança. Renováveis - IBAMA;
jurídica de Direito Congresso órgãos superiores ao do INMETRO - Instituto
Público interno, nacional Ministério. Nacional de
patrimônio próprio e Não são subordinadas, Metrologia,
atribuições estatais mas apenas controladas. Normalização e
especificas. Qualidade Industrial
Autarquias de Ente administrativo Assessorar a Estabelecido Privilégios Supervisão do Ministro Poder Executivo, Agência nacional das
controle - Agência autônomo, criados formulação e a por Lei administrativos. cuja Pasta esteja mediante sabatina e Águas - ANA;
Reguladora e por lei específica, execução Orçamentária Obrigatoriedade de vinculada, que exercerá o aprovação da Agência Nacional de
Executiva com personalidade aprovada pelo celebrar contrato de controle auxiliado pelos instância Vigilância Sanitária -
jurídica de Direito Congresso gestão com Ministério órgãos superiores ao do parlamentar. ANVISA
Público interno, nacional supervisor. Ministério. Não são Mandato por período
patrimônio próprio e subordinadas, mas determinado.
atribuições estatais apenas controladas.
especificas.

FONTE: Os autores
(1) O art. 48, inciso XI da Constituição Federal dispõe que a criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública cabem ao Congresso Nacional, com sanção do Presidente da República, ou seja, exige a
participação do Poder Executivo. Corroborando com o mencionado artigo encontra-se o art. 61 § 1.º, alínea “e” que dispõe que criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública é iniciativa privativa do
Presidente da República, ou seja, a discussão legislativa depende de iniciativa do Presidente da República.
(2) A Emenda Constitucional 19, de 1988, estabeleceu que somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação,
cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação. Entidades Autárquicas - são Pessoas Jurídicas estatais autônomas, criadas por lei e exclusivamente administrativas, ou seja, são
entes descentralizados com funções administrativas ou de gestão de serviços públicos específicos. Assim, em relação às autarquias, a Constituição Federal exige a edição de lei ordinária específica para sua
criação, dependendo de iniciativa do Presidente da República.
71
Alternativa 1: Estabelecimento da Autoridade Aquícola e Pesqueira Nacional

como um Ministério, Centralizando todas as Competências Relacionadas à

Atividade no País

A criação de um Ministério ou órgão de administração pública direta sem dúvida


demonstra a importância atribuída à atividade pelo Governo. Ao se estabelecer uma estrutura
dessa natureza como organismo formulador de políticas que tenha uma relação direta com o
mais alto nível decisório do País e uma grande autonomia política, financeira e de gestão, em
geral procura-se atender os requisitos necessários para uma gestão de recursos aquícolas e
pesqueiros de excelência. Assim considera em suas funções a centralização de todas as
funções atribuídas a uma Autoridade Aquícola e Pesqueira Nacional.
Entretanto, existem algumas questões que devem ser avaliadas quando se
posiciona essa opção no contexto brasileiro. Países como Canadá, Noruega e Islândia, que
empregam este tipo de opção também registram que a atividade é estratégica para o país
em algum sentido, seja econômico, social, ambiental ou por interesses marítimos. Além
disso, são Estados com um forte papel como agente de desenvolvimento da atividade
produtiva, ou seja, com amplos recursos para implementação de subsídios.
Outra questão é que não seria efetivo promover a criação de uma Autoridade
Aquícola e Pesqueira Nacional, em nível de Ministério, se não considerarmos a dotação
orçamentária e o planejamento adequado. O Estado brasileiro passa por um imenso
processo de redução de gastos públicos e emagrecimento de estruturas governamentais,
considerando redução de pessoal e orçamento. Como o Estado não dispõe de recursos
adicionais para custear novas estruturas, os recursos, que já são escassos para atender
funções preexistentes, passam também a custear as novas estruturas administrativas. A
rotina passa a ser a escassez crescente de fundos para todos, que faz com que nem as
estruturas novas, nem as preexistentes tenham condições reais de solucionar os problemas
e atender adequadamente as demandas da atividade produtiva.
A questão de superposição de órgãos também deve ser considerada. Para que
esta alternativa seja adotada com sucesso, deve haver uma profunda revisão das
competências de todos os órgãos públicos que têm suas funções relacionadas com a
atividade de aqüicultura e pesca, de forma a centralizar as competências e extingui-las de
seus órgãos de origem. Logicamente, essa proposta deve ser elaborada de forma a se
adequar ao marco normativo nacional e internacional, além de considerar aspectos do
contexto institucional vigente.

72 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

Também é relevante considerar no contexto nacional, a Lei de Política Agrícola


conforme já citada e as questões de tratados internacionais que o Brasil é signatário.
Ao final sugere-se que as funções e competências diretas sejam centralizadas,
excetuando-se apenas a questão sanitária, conforme já discutido no item 4.1.1.

Alternativa 2: Estabelecimento da Autoridade Aquícola e Pesqueira Nacional

como uma Autarquia Administrativa, ou um Instituto, Centralizando todas as

Competências Relacionadas à Atividade no País

Essa alternativa de gestão tem demonstrado ser uma boa escolha na


implementação de políticas e serviços em setores da esfera do Poder Público, as quais
necessitam de maior autonomia administrativa e flexibilidade de gestão. Apesar do
organismo formulador de Políticas ser obrigatoriamente um órgão da administração pública
direta, este não precisa necessariamente interferir na tomada de decisão dos gestores.
Assim o é porque se considera, nessa opção, a autonomia administrativa,
orçamento e corpo técnico próprio. Seria criado por Lei especifica (Emenda Constitucional n.
19, de 1998) com personalidade jurídica de Direito Público, Patrimônio Próprio, Capacidade
de auto-administração, sob o controle estatal atuando no desempenho de atribuições
públicas típicas.
O Instituto presta-se à realização de quaisquer serviços públicos típicos, próprios do
Estado, mas é indicado especificamente para aqueles que requeiram maior especialização ou
imposição estatal e que, conseqüentemente exijam organização adequada, autonomia de
gestão e pessoal especializado, liberto da burocracia comum das repartições centralizadas40.
Entretanto, este Instituto teria como responsabilidades assessorar e executar a
Política Aquícola e Pesqueira Nacional. Na prática, poderia participar de sua formulação,
mas necessariamente continuaria vinculada a um órgão da Administração Direta, no caso
um Ministério.
Uma questão a ser considerada é que a nomeação do corpo diretivo estará vinculada
diretamente ao Poder Executivo, sendo estabelecidos cargos de confiança sem um período de
tempo definido. Por outro lado, pode optar por uma estrutura mais leve e dinâmica, estabelecer

40
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1998.

73
uma alta competência jurídica, forte capacidade de decisão, autonomia administrativa e
financeira, e adequada especialização técnica. Desde que se atenda aos requisitos jurídicos
para contratação de pessoal público por meio de concurso público.
A mesma ponderação a respeito de superposição de atributos e funções na opção
por um Ministério deve ser considerada. Para que esta alternativa seja adotada com
sucesso, deve haver uma profunda revisão das competências de todos os órgãos públicos
que têm suas funções relacionadas com a atividade de aqüicultura e pesca, de forma a
centralizar as competências e extingui-las de seus órgãos de origem. Logicamente, essa
proposta deve ser feita de forma a se adequar ao marco normativo nacional e internacional,
além de considerar aspectos do contexto institucional vigente.
Com relação às suas funções e competências, deveria considerar a centralização
de todas as funções discutidas no item 4.1.1 excetuando a questão sanitária, que deveria
continuar relacionada à pasta da agricultura, entretanto com forte vinculação.
Outra questão analisada no contexto mundial é o sucesso de instituições dessa
natureza, relacionadas a um Ministério que não seja o da Agricultura. Notadamente, as
instituições estão vinculadas ao Ministério da Economia, ou Indústria e Comércio Exterior.

Alternativa 3: Estabelecimento da Autoridade Aquícola e Pesqueira Nacional

como uma Autarquia Reguladora e Executiva Centralizando todas as

Competências Relacionadas à Atividade no País

Essa alternativa de gestão tem grande similaridade com a alternativa anterior.


Apesar do organismo formulador de Políticas e normatizador ser um Ministério, este, da
mesma forma, não precisa necessariamente interferir na tomada de decisão dos gestores.
Entretanto, a idéia de uma Agência Reguladora e executiva para o setor aquícola e
pesqueiro é um enfoque singular nas administrações de todo o mundo. As agências foram
criadas com a função primordial de exercer controle sobre as entidades que prestam
serviços públicos, entretanto como podem exercer o caráter executivo poderiam servir como
Autoridade Aquícola e Pesqueira.
Da mesma forma que o Instituto, esta Agência teria como responsabilidades
assessorar e executar a Política Aquícola e Pesqueira Nacional. Na prática, poderia
participar de sua formulação, mas necessariamente continuaria vinculada a um órgão da
Administração Direta, no caso um Ministério.

74 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

Considera autonomia administrativa, orçamento e corpo técnico próprio. São


criadas por Lei específica (Emenda Constitucional n.º 19, de 1998) com personalidade
jurídica de Direito Público, patrimônio próprio, capacidade de auto-administração sob o
controle estatal, atuando no desempenho de atribuições públicas típicas.40 Como tem corpo
técnico próprio, também pode optar por uma estrutura mais leve e dinâmica, estabelecer
uma alta competência jurídica, forte capacidade de decisão, autonomia administrativa e
financeira, e adequada especialização técnica. Desde que atenda aos requisitos jurídicos
para contratação de pessoal público por meio de concurso público.
A Agência, assim como o Instituto, pode prestar-se à realização de quaisquer
serviços públicos típicos, próprios do Estado. É indicada também para aqueles que
requeiram maior especialização ou imposição estatal e que, conseqüentemente, exijam
organização adequada, autonomia de gestão e pessoal especializado, liberto da burocracia
comum das repartições centralizadas.
Uma questão a ser considerada é que a nomeação do corpo diretivo estará
vinculada diretamente ao Poder Executivo, mas deverá ser submetido à sabatina e
aprovação da instância parlamentar. Assim seus mandatos têm um período de tempo
definido. Esta é uma questão que pode ser encarada de forma positiva ou negativa,
dependendo da posição do governo e do desempenho administrativo de sua direção.
Entretanto, segundo determina a lei n.º 9.649, de 27 de maio de 1998, artigos. 51
e 52 e parágrafos, o Poder Executivo só poderá qualificar como Agência Executiva
autarquias ou fundações que tenham cumprido os requisitos de possuir plano estratégico de
reestruturação e de desenvolvimento institucional em andamento, além da celebração de
Contrato de Gestão com o respectivo Ministério supervisor. Ou seja, a autonomia concedida
estará subordinada à assinatura do Contrato de Gestão com o Ministério supervisor, no qual
serão firmados, de comum acordo, compromissos de resultados. Os princípios fundamentais
que devem pautar as relações a respeito de pessoal: a) eficiência; b) intangibilidade política;
e c) flexibilidade dos quadros de pessoal.
Souto (2000) conclui que "Agência Executiva" seria um título legalmente atribuído
a um órgão ou entidade dependente de adesão voluntária, com metas negociadas,
compatíveis com os recursos e que se subordinaria às etapas de protocolo de intenções,
portaria interministerial definindo responsabilidades, plano de ações com definição de
prazos e recursos, elaboração e revisão de planejamento estratégico e, finalmente, plano
operacional de reestruturação de processos de trabalho. Presentes no setor de atividades

75
exclusivas do Estado, as prerrogativas de fiscalização, regulação, arrecadação e polícia
seriam desempenhadas pelas agências autônomas com novos instrumentos de controle.
A mesma ponderação a respeito de superposição de atributos e funções na opção
por um Ministério deve ser considerada. Para que esta alternativa seja adotada com
sucesso, deve haver uma profunda revisão das competências de todos os órgãos públicos
que têm suas funções relacionadas com a atividade de aqüicultura e pesca, de forma a
centralizar as competências e extingui-las de seus órgãos de origem. Logicamente, essa
proposta deve ser feita de forma a se adequar ao marco normativo nacional e internacional,
além de considerar aspectos do contexto institucional vigente.
Com relação as suas funções e competências, deveria considerar a centralização
de todas as funções discutidas no item 4.1.1, excetuando a questão sanitária que deveria
continuar relacionada à pasta da agricultura, entretanto com forte vinculação. Outra questão
analisada no contexto mundial é o sucesso de instituições dessa natureza relacionadas a
um Ministério que não seja o da Agricultura. Notadamente, as instituições estão vinculadas
ao Ministério da Economia, ou Indústria e Comércio Exterior.
Por fim, a opção jurídica que considera os aspectos relacionados no Anexo 13, e
é, sabidamente, uma decisão que envolve os meios políticos. Deve, entretanto, ser feita com
cuidado e com base em uma premissa estratégica, que é o atendimento e a promoção do
desenvolvimento sustentável da atividade, empregando práticas responsáveis de gestão.
Para tanto, deve procurar unificar todas as competências de ordenamento, fiscalização e
fomento, inclusive considerando que o fomento deve ser direcionado conforme a avaliação
de um diagnóstico setorial, o qual deve contar com estatísticas confiáveis e um processo de
pesquisa adequado e em consonância com o mercado. Além de considerar, em última
instância, as implicações ambientais, sociais e econômicas decorrentes.

76 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Os recursos pesqueiros, como patrimônio ou bem comum de uma sociedade, são


objeto de norma regulamentadora, conforme previsto constitucionalmente. A gestão dos
seus usos está a cargo dos Estados-Nação e, em todos, implementada pelo Poder
Executivo. Nos últimos 50, anos a gestão dos recursos pesqueiros passou a merecer
atenção especial do Estado, em decorrência, sobretudo, do crescimento da sua importância
socioeconômica no cenário nacional. A estrutura institucional adotada pelo Estado para
gestão da atividade pesqueira ao longo desse período, foi bastante variada. Desde 1955,
diversas entidades federais responsabilizaram-se de forma seqüencial ou sobreposta pelos
assuntos dos recursos pesqueiros.
É característica comum a essas entidades o desempenho de papéis de
normatização, fiscalização, fomento e gestão do segmento aquícola e pesqueiro. Esse
documento apresentou a situação atual do setor no Brasil, caracterizando sua situação
singular no contexto mundial, tanto devido ao grande potencial socioeconômico da atividade
produtiva quanto ao marco institucional e suas implicações com relação às competências,
ordenamento, fomento e fiscalização.
Utilizando a situação atual como ponto da partida e analisando os critérios
apresentados para a moderna administração da aqüicultura e da pesca, algumas
conclusões são apresentadas. A princípio se considera importante que os já citados
critérios, quando ainda não implementados, sejam considerados no planejamento e na
gestão da atividade no Brasil.
Da mesma forma, ao se analisar os pontos de questionamento com relação à
situação atual e também sua necessidade de modernização conforme os atributos
apresentados anteriormente, conclui-se que a estrutura institucional vigente não está em
consonância com a tendência mundial apresentada. Os modelos mundiais estudados e as
tendências apresentadas demonstram um importante aspecto, considerado determinante
para o desenvolvimento sustentável do setor, que é a necessidade de uma Instituição única
responsável e capaz de instituir e formular uma Política Aquícola e Pesqueira Nacional. As
já mencionadas “áreas cinzentas” em matéria de tomada de decisão manteriam as grandes
dificuldades para se estabelecer uma coordenação eficaz das diferentes atividades que em
conjunto, constituem o rol de responsabilidades públicas do setor de aqüicultura e pesca.

77
Da mesma forma, ao analisarmos a tendência mundial em relação às questões de
ordenamento pesqueiro, com foco no desenvolvimento sustentável e práticas responsáveis de
gestão, verificamos que o caso do Brasil é considerado singular. Existem outras opções
adotadas por diversos países, com sucesso, no sentido de garantir que o fomento à atividade
seja realizado de forma responsável, sem que comprometa o desenvolvimento sustentável e
possibilite a atividade produtiva cumprir seu papel socioeconômico para o país.
Ainda com relação às tendências mundiais, verifica-se que a internacionalização
da atividade também exige uma adequação da estrutura institucional vigente. Ela deve estar
desenhada de forma que esteja apta a representar seu país em fóruns internacionais, assim
como deve estar inserida no governo com hierarquia suficiente para exercer a coordenação
dos diversos organismos relacionados à atividade aquícola e pesqueira, brindando com o
apoio técnico necessário todas as instituições relacionadas ao atendimento dos acordos
internacionais estabelecidos e vigentes.
Soma-se a esse cenário a estrutura organizacional vigente da Secretaria Especial de
Aqüicultura e Pesca - SEAP/PR. A Secretaria foi criada como um órgão de assessoramento da
Presidência da República e está, portanto, vinculada à Casa Civil. Em conseqüência tem um
orçamento limitado e uma grande exposição. De certa forma, essa posição também dificulta as
ações de caráter executivo, típicas de organismo de fomento, pois não tem flexibilidade
administrativa e agilidade necessária para cumprir adequadamente o papel de órgão
centralizador das competências da aqüicultura e da pesca no Brasil. Além disso, não possui um
quadro funcional próprio.
A estrutura formalmente aprovada para a SEAP/PR funciona de forma adaptada as
suas reais necessidades. É evidente a diferença entre a estrutura aprovada e a informal
vigente. A capilaridade das ações da SEAP/PR em nível nacional também não tem atingido o
público alvo uma vez que os escritórios estaduais e as gerências regionais contam com um
reduzido quadro de servidores e carecem de corpo especialista nas áreas de Aqüicultura e
Pesca para atender demandas crescentes. Tal deficiência vem a sobrecarregar as
estruturas técnicas e administrativas da Sede em Brasília/DF, além de prolongar o rito
processual dos inúmeros projetos a serem analisados.
Conclui-se que a continuidade dessa situação tanto em aspectos estruturais como
em sua forma de organização, manteria e provavelmente, aprofundaria as deficiências
existentes e relacionadas à uma adequada administração das atividades aquícolas e
pesqueiras do país. Sendo assim, avalia-se que a manutenção da situação jurídica em que
a SEAP/PR hoje se encontra não apresenta viabilidade na sua continuidade. Da mesma
forma, não há uma forte justificativa para melhorá-la em seus aspectos organizacionais.

78 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

Colocamos-nos diante da situação, segundo a qual o Brasil necessita de uma


estrutura capaz de suplantar a visão histórica e dar continuidade à gestão dos recursos
aquícolas e pesqueiros em consonância com a sua importância ambiental e potencialidade
socioeconômica para o país. Desta forma, a visão adotada é que a situação atual deveria
ser superada para que o Brasil possa evoluir e inovar. De forma alguma esse propósito
invalida o importante trabalho que atualmente é conduzido pelas instituições responsáveis
no Brasil. Ao contrário, é importante citar o alto nível técnico dos trabalhos e a preocupação
com questões de desenvolvimento sustentável da atividade que os recursos humanos
envolvidos realizam.
Entretanto, essa nova visão implica em iniciar uma reforma institucional. Uma
reforma que esteja vinculada aos resultados dos trabalhos que as instituições vêm
realizando. Que esteja de acordo com os interesses nacionais e com as modernas práticas
de gestão que consideram a interação da atividade com o meio ambiente. Essa é a única
forma de promover seu desenvolvimento sustentável, possibilitando seu crescimento para
que ela possa cumprir seu importante papel econômico e social para o País.
A partir dessa constatação, considerando que a situação atual deva evoluir para
em um cenário futuro, em que a Autoridade Aquícola e Pesqueira deva ser responsabilidade
de uma instituição de administração pública federal, foram delineadas três alternativas
distintas para a organização de sua estrutura, sempre adotando como premissa um rol de
funções e competências que deverão estar vinculadas em consonância com as modernas
práticas adotadas mundialmente e os princípios do Código de Conduta para Pesca
Responsável da FAO.
As três alternativas apresentadas são:
 A atribuição dessa Autoridade à administração direta da União, um órgão público
do Poder executivo Federal, ou seja, a denominação de Ministério da Aqüicultura
e da Pesca, com autonomia administrativa, orçamento e corpo técnico próprio.
Trazendo para sua competência todo o ordenamento da atividade, assim como o
papel de fiscalizador e responsável pela realização de toda pesquisa, com a
necessidade de incorporação de patrimônio da União, relacionado aos centros de
pesquisa públicos e aos outros órgãos que atuam no setor da aqüicultura e da
pesca no Brasil conforme necessidade. Essa opção tem como premissa que o
Ministério seria o responsável pelo desenvolvimento da Política Aquícola e
Pesqueira nacional, assim como a executaria.

79
 A atribuição dessa Autoridade à administração indireta da União, uma
Autarquia Federal Administrativa, ou seja, a criação de um Instituto. Essa
opção considera sua vinculação a um Ministério, mas com autonomia
administrativa, orçamento e corpo técnico próprio. Também considera a
unificação do ordenamento da atividade, assim como incorpora o papel de
fiscalizador e responsável pela pesquisa. Um Instituto deverá estar
obrigatoriamente vinculado a um Ministério e terá como papel assessorar e
executar a Política Aquícola e Pesqueira. Da mesma forma, seu orçamento é
definido pela Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, votada anualmente pelo
Congresso Nacional. Seus dirigentes são determinados pelo Poder Executivo.
 A atribuição dessa Autoridade à administração indireta da União, uma
Autarquia Federal Reguladora e Executiva, ou seja, a criação de uma
Agência. Essa opção também considera sua vinculação a um Ministério, mas
com autonomia administrativa, orçamento e corpo técnico próprio. Também
considera a unificação do ordenamento da atividade, assim como incorpora o
papel de fiscalizador e ser responsável pela pesquisa. Uma Agência deverá
estar obrigatoriamente vinculada a um Ministério com o papel de assessorar e
executar Política Aquícola e Pesqueira. Seu orçamento deverá ser definido
pela Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, votada anualmente pelo
Congresso Nacional e como peculiaridade deve ter um contrato de gestão
com o Ministério a que está vinculada. Seus dirigentes são determinados pelo
Poder Executivo com sabatina e aprovação pela instituição parlamentar. O
mandato tem período estabelecido.
Por fim, recomenda-se que, na adoção de qualquer uma das opções é importante
considerar a revisão e adequação do marco jurídico na avaliação das propostas, visando a
sua correta implementação.
A atividade aquícola e pesqueira é de suma importância para o desenvolvimento
do Brasil, seja por considerar aspectos estratégicos, como defesa de fronteiras e integração
nacional, ou por avaliar seu potencial para sociedade como geradora de divisas, emprego e
renda. Assim, deve adotar uma estrutura institucional moderna, instituir o ordenamento e
fomento à atividade produtiva de forma sustentável e ambientalmente correta, assim como
promover sua potencialidade socioeconômica.

80 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

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85
Projeto FAO TCP/BRA 3001

ANEXOS

87
Projeto FAO TCP/BRA 3001

ANEXO 1 - FORMULÁRIO

 Quais são as atribuições e competências da Secretaria /Unidade ou Departamento?


 Quais funções ela exerce?
 Na prática, como se dá o exercício dessas funções?
 Quem são os clientes? (pescadores artesanais, industriais, aquicultores...)
 Como é feito o atendimento?
 Existem queixas e reclamações sobre o processo?
 Os procedimentos adotados pela unidade estão documentados? Existe um
acompanhamento formal das ações? O que está proposto pelo regimento é realizado?
 Se sim, com que nível de eficácia? Se não, por quê?
 As atividades desta Secretaria / Unidade /Departamento poderiam ser desenvolvidas nos
escritórios regionais ou estaduais da SEAP/PR?
 Qual, na sua opinião, deveria ser o papel desses escritórios?
 Quais seriam os pontos fortes dessa Secretaria / Unidade ou Departamento?
 E os fracos?
 que está faltando? (Considerando desde a infra-estrutura até a oportunidade de
capacitação e treinamento).
 Como, ao seu modo de ver, seria a estrutura ideal para que essa Secretaria / Unidade
ou Departamento funcionasse com eficácia para atender o cliente?
 Qual é a sua relação com as outras entidades nacionais relacionadas ao setor?
 E com entidades estaduais?
 Além destas, você citaria mais alguma entidade de relevância?
 As experiências relacionadas com relações interinstitucionais são boas? Por quê?
 Na sua visão, como essa relação poderia ser melhorada?
 No seu modo ver o que falta para que o pleno desenvolvimento da atividade aquícola e
pesqueira no Brasil seja efeitivo?

89
ANEXO 2 - ENTREVISTAS REALIZADAS

1 Metodologia

Durante o período foram realizadas 35 entrevistas com o corpo técnico e diretivo


da SEAP/PR-PR em conjunto com os consultores da FAO, conforme abaixo discriminado na
relação de pessoas entrevistadas.
 Entrevistadores: Anna Karina, Consultora Estruturas do Projeto FAO; José
Roberto Borghetti Consultor Nacional Principal FAO e Rodolfo Rangel,
Coordenador Nacional do Projeto TCP BRA 3001 /SEAP/PR.
 Orientação: As entrevistas foram realizadas considerando um prazo em torno
de 40 minutos, salvo algumas exceções.
 Temas Abordados: Situação atual, gargalos e soluções no contexto do projeto
político estrutural da SEAP/PR, relacionando-os com as atividades desem-
penhadas e experiências vividas, visão futura sobre a entidade e variáveis do
contexto organizacional.
As entrevistas representaram 25,35 % de todos os funcionários da SEAP/PR de
Brasília. Foram realizadas, inclusive, entrevistas com antigos funcionários indicado pelo
ministro Fristch.
Durante a semana das reuniões de chefes e gerentes regionais, foram
entrevistadas 6 representações das chefias estaduais (AP, CE, PE, MT RJ, RS) as quais
foram indicadas pelo Secretario Executivo Senhor Cerutti, o que representou 18,75 % do
somatório das chefias estaduais e gerências regionais, além de encaminhamento aos 54
representantes do CONAPE. Além das entrevistas formais, alguns atores do setor
institucional e produtivo foram consultados.

90 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

Relação de Pessoas Entrevistadas e Respectivos Cargos no Período

José Fritsch
Ministro Especial de Aqüicultura e Pesca - SEAP/PR

José Claudenor Vermohlen


Chefia de Gabinete do Ministro - SEAP/PR

Cezer Luiz Cerutti


Secretaria Adjunta - SEAP/PR

Altemir Gregolin
Subsecretaria de Desenvolvimento de Aqüicultura e Pesca - SEAP/PR

Cleberson Zavazki
Subsecretaria de Planejamento de Aqüicultura e Pesca - SEAP/PR

Ronaldo Lamelas Imperial


Coordenação de Gestão Interna - SEAP/PR

Leinad Ayer de Oliveira


Secretária Executiva CONAPE (CONSELHO NACIONAL DE AQÜICULTURA E PESCA)

Marcio Castro de Souza


Assessoria Internacional - SEAP/PR

Sheila Maria Assis de Oliveira


Coordenação Geral de Relações Públicas - SEAP/PR

Odmir Andrade Aguiar


Diretoria de Logística, Infra-estrutura e Comercialização

Aldemar Antonio da Silva


Diretoria de Gestão Estratégica e Articulação Institucional - SEAP/PR

João Scorvo
Diretoria de Desenvolvimento da Aqüicultura - SEAP/PR

Chico Machado
Diretoria de Ordenamento, Controle e Estatística - SEAP/PR

91
Karim Bacha
Diretoria de Desenvolvimento da Pesca - SEAP/PR

Marcelo Sampaio, Carlos Eduardo e Rodrigo


Coordenação de Aqüicultura Continental - SEAP/PR

Guilherme Crispim Hundley


Coordenação de Promoção Comercial - SEAP/PR

Felipe Matias
Gerencia de Cooperativismo Assoc Aqüicultura Pesqueiro - SEAP/PR

Eric Arthur Bastos Routledge


Coordenação Geral de Incentivo à Pesquisa de Geração de Novas Tecnologias -
SEAP/PR

Felipe Suplicy
Coordenação de Maricultura - SEAP/PR

Mauro S. Moura
Coordenação de Ordenamento, Registro, Cadastro e Licenças - SEAP/PR

Ivanilson de Souza Maia e equipe


Coordenação da Pesca Artesanal - SEAP/PR

Manoel Viana e Kelly


Coordenação Orçamento - SEAP/PR

Hilton César Falcone


Coordenação Geral de Logística, Infra-estrutura e Comercialização - SEAP/PR

Marcelo Pires
Coordenação de Crédito - SEAP/PR

Romeu Daros
Gerente Geral do Projeto Bijupirá-Brasil

Reinaldo K Yokoyama
Membro do Conape representante Banco do Brasil

Dalton Skajko Sales


Consultor de Turismo de Pesca - Departamento de Estruturação, Articulação e
Ordenamento Turístico Ministério do Turismo

92 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

Kowalsky Pescados
Setor Empresarial

Uilians Ruivo
Empaf / Netuno - Itajaí - SC

Wagner Camis
Presidente da ABRACOA

Pe. Barturen
Gerente Executivo da FUNDIPESCA

José Ubirajara Timm


Consultor

93
ANEXO 3 - INSTITUIÇÕES VINCULADAS AO CONAPE

O CONAPE, em sua constituição envolve os diversos atores nacionais e regionais


relacionados à atividade aquícola e pesqueira no cenário nacional. Eles se apresentam na
seguinte composição:
1. Ministérios e Secretarias Especiais:
 Casa Civil da Presidência da República;
 do Meio Ambiente;
 do Desenvolvimento Agrário;
 de Minas e Energia;
 da Integração Nacional;
 do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;
 da Defesa;
 do Turismo;
 da Ciência e Tecnologia;
 das Relações Exteriores;
 do Trabalho e Emprego;
 do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
 da Previdência Social;
 do Planejamento, Orçamento e Gestão;
 da Educação;
 da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;
 da Aqüicultura e Pesca que o presidirá;
 de Políticas para as Mulheres;
 de Políticas de Promoção da Igualdade Racial;
 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social

2. Entidades:
 Banco do Brasil S.A.;
 Caixa Econômica Federal - CEF;
 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES;
 Banco do Nordeste do Brasil S.A. - BNB;
 Banco da Amazônia S.A. - BASA;
 Petróleo Brasileiro S. A. - PETROBRÁS; e
 Agência Nacional de Águas - ANA.

94 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

3. Entidades da sociedade civil organizada:


a) Entidades e organizações dos movimentos sociais e dos trabalhadores da
aqüicultura e pesca:
- Confederação Nacional dos Pescadores;
- Movimento Nacional dos Pescadores;
- Conselho Pastoral dos Pescadores;
- Organização das Cooperativas Brasileiras;
- Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aqüaviários
e Aéreos na Pesca e nos Portos;
- Federação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aqüaviários e
Afins;
- Federação das Associações dos Engenheiros de Pesca do Brasil.
b) Entidades da área empresarial:
- Associação Brasileira dos Criadores de Camarão;
- Associação Brasileira dos Criadores de Organismos Aquáticos;
- Conselho Nacional de aqüicultura e pesca;
- Associação Brasileira de Aqüicultura;
- Confederação Nacional da Agricultura;
- Confederação Nacional da Indústria;
- Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas;
- Associação Brasileira dos Supermercadistas;
- Serviço Social da Indústria.
c) Entidades da área acadêmica e de pesquisa:
- Sociedade Brasileira para o progresso da Ciência;
- Associação Brasileira de Biologia Aquática.

95
ANEXO 4 - MARCO HISTÓRICO

Antecedentes a 1955

Em 19 de maio de 1846, é promulgada a Lei 447, que divide os pescadores em


“Distritos de Pesca” e atribui à Marinha a responsabilidade administrativa pela pesca,
determinando a obrigatoriedade da matrícula para os pescadores profissionais. Os Distritos
de Pesca são considerados os embriões das futuras Colônias de Pescadores. Em 1897, por
meio da Lei 478, determina-se a total nacionalização da pesca.
Apenas em 1912, iniciaram-se os primeiros atos legais de institucionalização da
atividade, do ponto de vista governamental. A responsabilidade administrativa da pesca é
transferida para o Ministério da Agricultura, com a criação da Inspetoria de Pesca, por meio
do Decreto 9672 e Lei 2544, vinculando a pesca ao Ministério e normalizando a atividade.
A responsabilidade administrativa de pesca volta ao Ministério da Marinha em
1920 com o Decreto 14086, determinando que os serviços relacionados à pesca
retornassem ao Ministério da Marinha. Nesse mesmo ano foi criada a Confederação dos
Pescadores do Brasil. Até então, as relações instituídas entre pescadores e Estado se
caracterizavam pelo paternalismo e pelo assistencialismo. No processo de “conquista” da
confiança dos pescadores, o Estado prestou serviços gratuitos em embarcações, doou
redes, ofereceu serviços de saúde, além de ter criado algumas escolas para os filhos dos
pescadores, denominadas de Escoteiros do Mar, com finalidade de militarização e
treinamento para os jovens, além do cultivo ao civismo (SOUZA, 2003).
Dá-se também a primeira tentativa de organização da pesca artesanal, o processo
de descentralização e ordenamento do setor, com o cruzador José Bonifácio sob o comando
do capitão-de-corveta Frederico Villar. A tríplice missão era de Nacionalização da Pesca,
Organização dos Serviços de Pesquisas Oceanográficas e Saneamento do Litoral. A missão
organiza, durante quatro anos, cerca de oitocentas colônias cooperativas, funda cerca de mil
escolas, matricula cerca de cem mil pescadores. As colônias eram definidas como
agrupamento de pescadores ou agregados associativos. Para poder desenvolver a atividade
pesqueira, os pescadores eram obrigados a se matricular nas colônias (MORAIS, 2001). O
objetivo dessas colônias, segundo seus idealizadores, era criar pontos de fiscalização da
pesca, vigilância da costa e de defesa nacional de fácil mobilização.

96 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

Em 10 de janeiro de 1923, o Ministério dos Negócios da Marinha aprova, por meio


de Aviso n.º 194, os Estatutos das Colônias de Pescadores e cria os Serviços de Pesca e
Saneamento do Litoral (GUMY, 1998). Em 1924, é criado, pelo Ministério da Marinha, o
Entreposto Federal da Pesca no Rio de Janeiro; nesse mesmo período é instalada a
Confederação Geral dos Pescadores do Brasil.
Com a instituição do Estado Novo, na era Vargas, a organização da atividade
pesqueira no Brasil passou por algumas mudanças. Essa fase considerou a atividade
pesqueira como prioridade nacional, com uma política de nacionalização da pesca;
investimento em infra-estrutura (entrepostos e postos de recepção de pescado), em
assistência social, em escolas de pesca e inclusive um banco exclusivo para pesca (Grupo
Interministerial, 1994).
Em 1932, é extinto o Serviço da Pesca e Saneamento Básico do Litoral da
Diretoria de Portos e Costas do Ministério da Marinha e criada, no Ministério da Agricultura,
por meio do decreto n.º 23.134/33, a Divisão de Caça e Pesca, cujo objetivo seria gerenciar
a pesca no país. Cria-se em 1938 o Código da Pesca por meio do Decreto-Lei n.º 794. Logo
em seguida, em 1940, é instalado o Serviço de Caça e Pesca no Ministério da Agricultura.
Em 15 de outubro de 1942, através do Decreto-Lei n.º 4.830, as Colônias de
Pescadores passam para a jurisdição do Ministério da Marinha, subordinadas aos Comandos
Navais e às Capitanias dos Portos, para os assuntos de vigilância e defesa das águas
territoriais, permanecendo o fomento e a orientação técnica a cargo do Ministério da Agricultura.
Em 28 de maio de 1943, é criada a Comissão Executiva da Pesca, com o objetivo
de organizar cooperativamente a pesca no País. São extintos o Conselho Nacional de
Pesca, as Federações Estaduais de Pescadores e a Confederação Geral dos Pescadores
do Brasil (GRAÇA LOPES, 2001).
Em 1950, são aprovados pela Portaria 478 do Ministério da Agricultura, os
Estatutos para Confederação Geral dos Pescadores do Brasil, para as Federações
Estaduais de Pescadores e para as Colônias de Pescadores.
Em 28 de junho de 1961, por meio do Decreto-Lei n.º 50.872, é criado o Conselho
de Desenvolvimento da Pesca - CONDEPE, com objetivo de elaborar uma política nacional
para o setor, passando a Divisão de Caça e Pesca a ser executora das recomendações
daquele Conselho.

97
ANEXO 5 - DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ATUAL

A SEAP/PR foi criada como um órgão de assessoramento da Presidência da


República e está, portanto, vinculada à Casa Civil. Em conseqüência tem um orçamento
limitado e uma grande exposição. De certa forma, essa posição também dificulta as ações
de caráter executivo, típicas de organismo de fomento, uma vez que não apresenta
flexibilidade administrativa e agilidade necessária para cumprir adequadamente o papel de
órgão centralizador das competências da aqüicultura e da pesca no Brasil.
A estrutura organizacional básica da Secretaria foi estabelecida pelo já citado
Decreto 4.670/2003 e o organograma oficial teve sua regulamentação aprovada pela
Portaria Ministerial n.o 178 em 28/08/2003 em seu artigo 2.º Na sua estruturação foram
consideradas duas unidades administrativas, uma subsecretaria de planejamento e uma de
desenvolvimento, além do gabinete, uma rede de 5 gerências regionais e 27 escritórios
descentralizados estaduais e um conselho consultivo, o CONAPE.
Essa estrutura de base funcional é típica de órgãos de assessoria e considera
uma departamentalização partindo da concepção da divisão de trabalho. Exige um esforço
integrador muito intenso e um corpo técnico muito capacitado e sintonizado, para que a
formulação de estratégias e o planejamento de programas e projetos sejam levados ao setor
como ações efetivas.
Cabe citar a caracterização da Secretaria como uma organização estatal e
tipicamente burocrática, ligada por normas e regulamentos previamente estabelecidos, com
uma sistemática divisão de trabalho e pelo estabelecimento de cargos segundo o princípio
da hierarquia. Não possui um quadro funcional próprio, é formada por um contingente de
372 servidores em cargos comissionados ou terceirizados, sendo 142 em Brasília e 225 nos
Estados. Utiliza a estrutura física, tanto em nível central, como na maioria dos Estados do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA.

Estrutura Organizacional

A estrutura básica da SEAP/PR foi estabelecida no Art. 2.º do Decreto 4.670, de


10/04/2003, conforme se segue:
I órgão de assistência direta e imediata ao Secretário Especial: Gabinete;
II órgãos específicos singulares:

98 USO RESTRITO
Projeto FAO TCP/BRA 3001

a) Subsecretaria de Planejamento de Aqüicultura e Pesca; e


b) Subsecretaria de Desenvolvimento de Aqüicultura e Pesca;
III órgão colegiado: Conselho Nacional de Aqüicultura e Pesca.

Secretaria Especial de Pesca e Aqüicultura –


SEAP/PR

I - Órgão de Assistência direta


Gabinete do Ministro
e imediata

III - Órgão Colegiado CONAPE

II – Órgãos Específicos e
Singulares

Subsecretaria de Planejamento de Subsecretaria de Desenvolvimento de


Aqüicultura e Pesca Aqüicultura e Pesca

FIGURA 1 - ESQUEMA REPRESENTATIVO DA ESTRUTURA BÁSICA SEAP/PR

Os órgãos de assistência direta e imediata constituem um nível de administração


estratégica dentro da estrutura. Já os órgãos específicos e singulares constituem um nível
de administração setorial, com suas respectivas sub-divisões em nível de administração
funcional. Vem da concepção como órgão de assessoramento a criação de uma sub-
secretaria de planejamento e uma de desenvolvimento, excluindo da alta administração o
papel formulador do planejamento estratégico do órgão.
O organograma oficial da Secretaria, tal como foi citado anteriormente, teve
sua regulamentação aprovada pela Portaria Ministerial n.o 178, em 28/08/2003, e em seu
artigo 2.º determina a seguinte estrutura organizacional:
I órgão de assistência direta e imediata ao Secretario Especial:
a) Gabinete:
1 Secretaria Especial Adjunta - SEA
1.1 Chefe de Gabinete - CG;
1.2 Coordenação de Gabinete - CORG;
1.3 Assessoria Especial do Secretário Especial - AESE;

99
1.4 Assessoria de Gabinete - AG;
1.5 Assessoria Especial de Relações Sociais e Políticas - ARSP:
1.6 Coordenação-Geral de Relações Públicas - COGERP:
1.7 Coordenação-Geral de Gestão Interna - COGIN:
1.8 Assessoria Jurídica - AJUR;
1.9 Assessoria Internacional - AIN;
b) Unidades Descentralizadas:
1 Gerências Executivas Regionais - GER (05);e
1.1 Escritórios Estaduais - EE (27);

SEAP/PR

Unidades Descentralizadas
Gabinete

Secretaria Especial Adjunta - SEA Gerências Executivas


Regionais - GER

Escritórios Estaduais - EE
Chefe de Gabinete - CG

Coordenação de Gabinete - CORG

Coordenação-Geral de Relações
Públicas - COGERP

Coordenação-Geral de Gestão Interna


- COGIN

Assessoria Especial de Relações


Assessoria Internacional - AIN Sociais e Políticas – ARSP

Assessoria Especial do Secretário


Assessoria Jurídica - AJUR Especial - AESE

Assessoria de Gabinete - AG

FIGURA 2 - ESQUEMA REPRESENTATIVO DA ESTRUTURA BÁSICA GABINETE E UNIDADES DESCENTRALIZADAS


DA SEAP/PR

100 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

II órgãos específicos singulares:


a) Subsecretaria de Planejamento Aqüicultura e Pesca - SUPLAP:
1 Diretoria de Gestão Estratégica e Articulação Institucional - DIGEAI;
1.1 Coordenação-Geral de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação
- COGPA; e
1.2 Coordenação-Geral de Cooperação, Articulação Institucional e
Promoção do Cooperativismo - COGCOP;
2 Diretoria de Logística, Infra-Estrutura e Comercialização - DILIC;
2.1 Coordenação-Geral de Logística, Infra-Estrutura e Promoção à
Comercialização e à Exportação - COGLIC; e
2.2 Coordenação-Geral de Incentivo à Pesquisa de Geração de Novas
Tecnologias - COGENT;
3 Diretoria de Ordenamento, Controle e Estatística da Aqüicultura e Pesca -
DICAP.
3.1 Coordenação-Geral de Estatística e Informações - COGESI; e
3.2 Coordenação-Geral de Ordenamento, Registro, Cadastro e Licenças
- COREG.

Subsecretaria de Planejamento Aqüicultura e


Pesca - SUPLAP

Diretoria de Gestão Diretoria de Logística, Diretoria de Ordenamento,


Estratégica e Articulação Infra-Estrutura e Controle e Estatística da
Institucional - DIGEAI Comercialização - DILIC Aqüicultura e Pesca - DICAP

Coordenação-Geral de Coordenação-Geral de
Planejamento, Logística, Infra- Coordenação-Geral de
Acompanhamento e Estrutura e Promoção à Estatística e
Avaliação - COGPA Comercialização e à Informações - COGESI;
Exportação - COGLIC

Coordenação-Geral de
Cooperação,
Articulação Institucional Coordenação-Geral de
Coordenação-Geral de
e Promoção do Incentivo à Pesquisa de
Ordenamento, Registro,
Cooperativismo - Geração de Novas
Cadastro e Licenças -
COGCOP Tecnologias - COGENT
COREG

FIGURA 3 - ESQUEMA REPRESENTATIVO DA ESTRUTURA BÁSICA DA SUBSECRETARIA DE PLANEJAMENTO


AQÜICULTURA E PESCA - SUPLAP

101
b) Subsecretaria de Desenvolvimento de Aqüicultura e Pesca - SUDAP:
1 Diretoria de Desenvolvimento da Aqüicultura - DIDAQ;
1.1 Coordenação-Geral de Maricultura - COGMAR; e
1.2 Coordenação-Geral de Aqüicultura Continental - COGEAC;
2 Diretoria de Desenvolvimento da Pesca - DIDEP;
2.1 Coordenação-Geral da Pesca Artesanal - COGPAR; e
2.2 Coordenação-Geral da Pesca Industria - COGPIN.

Subsecretaria de Desenvolvimento de
Aqüicultura e Pesca - SUDAP

Diretoria de Diretoria de
Desenvolvimento da Desenvolvimento da Pesca
Aqüicultura - DIDAQ - DIDEP

Coordenação-Geral da
Coordenação-Geral de
Pesca Artesanal -
Maricultura - COGMAR
COGPAR

Coordenação-Geral de Coordenação-Geral da
Aqüicultura Continental - Pesca Industria -
COGEAC COGPIN

FIGURA 4 - ESQUEMA REPRESENTATIVO DA ESTRUTURA BÁSICA DA SUBSECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO


DE AQÜICULTURA E PESCA - SUDAP

A estrutura formalmente aprovada para a SEAP/PR funciona de forma adaptada


as suas reais necessidades. De acordo com as entrevistas realizadas e informações
coletadas, fica evidente a diferença entre a estrutura aprovada e a informal vigente.
Essa questão é recorrente e foi evidenciada no Relatório da CISET – Secretaria de
Controle Interno/CC/PR, que cita o Ofício n.o 165/2004 de 04/01/2004, apresentando os
seguintes esclarecimentos para as alterações estruturais existentes:

O aumento de responsabilidade nos obrigou a fazer um novo desenho da


estrutura de funcionamento. Seguem algumas dessas novas responsabilidades:
I Estabelecimento de novas condições de concessão do seguro
desemprego para o pescador artesanal no período de defeso, por meio da
Lei 10.779/2003.

102 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

II Criação de política para demarcação de parques aquícolas e a regulamen-


o
tação do uso das águas públicas da União por meio do Decreto n.
o
4.895/2003 e a Instrução Normativa Interministerial n. 8/2003.
o
III Criação do Profrota Pesqueira por meio da Lei n. 10.849/2004.
IV Nova regulamentação da subvenção ao óleo diesel por meio do
o
Decreto n. 4.969/2004.
V Fixação de novas regras para o arrendamento de embarcações
o
estrangeiras das pesca através da Instrução Normativa n 4/2003.
VI Estabelecimento de novas regras de operacionalização do Registro
o
Geral de Pesca, por meio da Instrução Normativa n. 03/2004.
VII Construção de política para implantação e gestão de terminais
pesqueiros públicos e,
VIII Criação de linhas específicas de crédito para o setor.

A estrutura organizacional informal vigente está, na prática, adaptada a sua


necessidade de melhoria da infra-estrutura física e aumento do quadro de recursos
humanos. Além disto, a orientação prática de uma ou mais unidades para uma estrutura
informal paralela à oficial, que atenda suas necessidades de trabalho, pode ser explicada
por um fator de cultura organizacional.41
As principais alterações da estrutura formal para a informal vigente podem ser
relacionadas conforme segue:
I A Secretaria Adjunta - SEA é o principal órgão executor da Secretaria. A ela
estão vinculadas todas as áreas com atividades meio, a citar: Diretoria de
Gestão Estratégica e Articulação Institucional - DIGEAI e a Coordenação Geral
de Gestão Interna - COGIN.
II A COGIN tem áreas internas informais: administrativa, recursos humanos e
informática. Não são divisões oficiais. É ligada a Secretaria Adjunta, mas
responde informalmente à DIGEAI.
III A DIGEAI está deslocada da Subsecretaria de Planejamento Aqüicultura e Pesca
- SUPLAP para a SEA, respondendo diretamente ao gabinete do Ministro.

41
Uma instituição pode ser entendida como um sistema de relações interorganizacionais, ou seja, relações entre
vários setores ou departamentos. Estes são afetados não apenas por questões técnicas e econômicas, mas,
também, por fatores normativos de interpretação e culturais. Esses fatores determinam as lógicas de ação ou
a forma como a instituição encontra para desempenhar melhor seu próprio trabalho. Uma vez
institucionalizadas, são estes fatores informais que orientam a ação de indivíduos no sentido de atender aos
interesses e aos objetivos difundidos pela diretoria e nos grupos de trabalho.

103
IV A Subsecretaria de Planejamento Aqüicultura e Pesca – SUPLAP foi a unidade
que mais sofreu alterações, seja por um processo de acomodação de função ou
por não desenvolver o papel para o qual foi planejada. Essa questão não envolve
um déficit de competências e sim uma extrapolação de funções, precisando
assumir diversas atividades além das que haviam sido planejadas.
V A SUPLAP tem apenas uma Diretoria restante, a Diretoria de Logística, Infra-
Estrutura e Comercialização - DILIC, na qual se mantém a estrutura original
com duas coordenações, uma relacionada à infra-estrutura e outra
relacionada à pesquisa.
VI A Assessoria internacional está deslocada de sua vinculação à Secretaria
Adjunta. Funciona, na prática, vinculada à SUPLAP. Esta cuidaria da parte
econômica e de questões de negociações internacionais. Assessoria com
pouco reconhecimento no organismo e de grande importância.
VII Na SUPLAP foram criadas duas coordenações independentes: Coordenação de
Promoção ao Crédito e a Coordenação de Promoção Comercial. Funcionam
vinculadas à DILIC como gerências exclusivas, não têm coordenadoria.
VIII A Subsecretaria de Desenvolvimento de Aqüicultura e Pesca - SUDAP foi a
unidade que teve maior expansão da estrutura.
IX A Diretoria de Ordenamento, Controle e Estatística da Aqüicultura e Pesca –
DICAP, assim como suas coordenações, a Coordenação-Geral de Estatística

e Informações - COGESI e a Coordenação-Geral de Ordenamento, Registro,


Cadastro e Licenças - COREG, foram deslocadas para SUDAP.
X A Coordenação-Geral de Cooperação, Articulação Institucional e Promoção do
Cooperativismo - COGCOP foi deslocada da DIGEAI para a Diretoria de
Desenvolvimento da Pesca - DIDEP, atuando fortemente no aspecto exten-
cionista e muito pouco com a questão cooperativa.
XI Com relação aos escritórios estaduais, apesar de formalmente relacionados
às Gerências Regionais, eles respondem diretamente ao Secretario Adjunto.

104 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

SEAP/PR
Gabinete do Ministro

Assessorias, Relações Públicas,


Secretaria Adjunta
Imprensa, CONAPE

Gerências Regionais e
Escritórios Estaduais
Administração - DIGEAI

COGIN

Subsecretaria de Desenvolvimento Subsecretaria de Desenvolvimento


- SUDAP - SUPLAP

Assessoria
Internacional

Diretoria Diretoria Diretoria Diretoria Infra


Ordenamento - Aqüicultura - Pesca – Estrutura -
DICAP DIDAQ DIPEP DILIC
Coordenação
Infra Estrutura
Pesca Artesanal Comercialização
Registro e
Maricultura
Licenciamento
Pesquisa Coordenação
Crédito
Estatística Aqüicultura Pesca Industrial
Continental

Extensão e
Cooperativismo

FIGURA 5 - ESQUEMA REPRESENTATIVO DA ESTRUTURA INFORMAL VIGENTE DA SECRETARIA ESPECIAL DE


AQÜICULTURA E PESCA - SEAP/PR

Apesar de uma estrutura formal aprovada por Decreto, a SEAP/PR tem atuado com
uma estrutura informal, buscando desempenhar e executar, da melhor forma possível, as
funções e competências próprias de um organismo para a atividade aquícola e pesqueira.

Aspectos Organizacionais

 Gestão Pública
De forma geral, a administração pública enfrenta diversos problemas em seu
processo organizacional. Normalmente esses estão relacionados ao modelo burocrático
adotado pelo Estado na administração do Poder Público, apresentando disfunções
operativas, sistemas de informações ineficazes, deficiente avaliação de quadro funcional,
falhas no gerenciamento da organização, falta de motivação e baixa remuneração.

105
Nas entrevistas realizadas na SEAP/PR, a maiorias dessas questões foram
levantadas e debatidas. A necessidade de melhoria operacional nos organismos públicos
está, de certa forma, vinculada à Reforma Administrativa do aparelho estatal. Essa
discussão envolve aspectos relacionados à Reforma Administrativa do Poder Público
Nacional e vinculados ao Plano de Gestão Pública para um Brasil para Todos do atual
governo, buscando a melhoria e estruturação da administração pública federal. Essa política
de Estado adotada para gestão pública prevê a redução do déficit institucional, que é a
ausência do Estado e a sua incapacidade de assegurar direitos civis e sociais (fazer o que
deve ser feito); o fortalecimento da governança, que significa promover a capacidade de
formulação e implementação de políticas públicas; aumento da eficiência, otimizando
recursos (fazer mais e melhor com menos); transparência e participação, assegurando,
desta forma, o comprometimento da sociedade e a legitimação do processo.
Esse tema transcende as competências da SEAP/PR, apesar de estar relacionado à
estrutura organizacional e, conseqüentemente, incorporar em sua missão os critérios
levantados pelo governo. A gestão pública e seus movimentos reformistas decorrentes devem
estar alinhados com o contexto mais geral em que se insere o país e a sociedade em questão,
com o tipo de desenvolvimento pretendido, com o modelo de Estado que se quer (papéis e
funções a desempenhar) e com as estratégias e planos a implementar.

 Recursos Humanos
Atualmente o quadro funcional da SEAP/PR é formado por funcionários oriundos
de outros órgãos, absorvendo alguns funcionários da estrutura do antigo DPA, IBAMA e
recentemente INCRA, em cargos comissionados e contratos terceirizados. Os cargos em
comissão, que podem ser ocupados indistintamente por funcionários e não-funcionários
geram um quadro de extrema rotatividade, evidenciada por algumas distorções
apresentadas pelos entrevistados que culmina em um processo de baixo comprometimento
com a missão institucional.
Por não possuir um quadro funcional próprio, herdou um quadro de outras
instituições com modelos de gestão típicos de organismos executivos, o que auxiliou, diante
da forte demanda do setor, a transformação da instituição em um organismo de fomento,
assim como promoveu a continuidade de políticas já adotadas.
Outra questão é com relação às gratificações e vantagens salariais derivadas do
exercício de funções de chefia ou confiança. Estas são consideradas muito importantes na
formação da remuneração total dos funcionários, o que estimula a criação de diversas

106 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

pequenas unidades administrativas, de modo a se justificarem cargos, dificultando assim a


manutenção de uma estrutura organizacional enxuta.
É importante citar que a estrutura atual da SEAP/PR em termos de recursos humanos
apresenta-se bastante enxuta. Os problemas apresentados estão relacionados, principalmente,
à falta de um quadro funcional próprio e uma política recursos humanos, definida e
implementada. Diversos setores entrevistados levantaram a necessidade de aumento do quadro
de funcionários, com a criação, inclusive, de um quadro próprio para a Instituição.
Outro aspecto crucial a se considerar nesse contexto é a importância relativamente
desproporcional dos papéis hierárquicos, representados por cargos de chefia, comando e
assessoramento, o que torna a instituição vulnerável a pressões políticas. A organização
apresenta um clima de confiança baixo, (evidenciado nas entrevistas) em decorrência dos
diversos períodos de instabilidade política vivenciados pela administração pública, no decorrer
de 2005. Questão que reafirma a necessidade do fortalecimento institucional para a Secretaria,
de forma a assegurar sua manutenção como órgão representativo do Setor, apesar de questões
políticas e burocráticas.
As formas terceirizadas e outras modalidades apresentam sua utilização relacionada
com demandas focais, quantitativas e qualitativas. O traço comum apresentado durante as
entrevistas relaciona-se com as dificuldades de gestão e avaliação de desempenho, que
incluem alta rotatividade, superposição (acumulação) indevida, temporalidade dos contratos,
interferência política (clientelismo), entre outros fatores. Embora seja a via preferencial para
contratação em casos específicos (como necessidades temporárias e especializadas), essas
modalidades não representam a via desejada, explicitando novamente a necessidade de um
quadro funcional próprio e capacitado.

 Infra-estrutura
Em suma, os entraves operacionais da SEAP/PR têm como foco central a infra-
estrutura e a estrutura institucionais não compatíveis com a demanda requerida pelo setor
de aqüicultura e pesca. Além disso, tem um forte vínculo de dependência com o MAPA em
relação a aspectos estruturais e de competências conforme analisado no item 3.1.2.
Na mesma linha, a capilaridade das ações da SEAP/PR, em nível nacional não
tem atingido o público alvo, uma vez que os escritórios estaduais e as gerências regionais
contam com um reduzido quadro de servidores e carecem de corpo especialista nas áreas
de aqüicultura e pesca para atender demandas crescentes. Tal deficiência vem a

107
sobrecarregar as estruturas técnicas e administrativas da Sede em Brasília/DF, além de
prolongar o rito processual dos inúmeros projetos a serem analisados.
Com relação às gerências regionais e escritórios estaduais, cabe citar a avaliação
feita pelo Relatório da CISET:

A operacionalização das atividades de competência das Gerências


Regionais foi impactada pela indefinição de estrutura organizacional
adequada às reais necessidades de atendimento das demandas regionais
dos setores aquícola e pesqueiro.

Em geral, os escritórios regionais limitam suas ações apenas a concessões,


permissões e registros para a atividade pesqueira, devido à carência de
servidores nessas unidades e à dificuldade operacional decorrente da falta
de equipamentos adequados e materiais de serviços, como também pela
morosidade de definição de espaço físico apropriado junto às Delegacias
Federais de Agricultura - DFA’s, dos estados. Tais limitações impedem as
necessárias ações de controle da atividade.

 Cultura Organizacional
Quando se relacionam as questões sobre a cultura organizacional com itens como
a colaboração e o trabalho em equipe, percebe-se que os funcionários estão comprometidos
com seu trabalho de forma idealista. Entretanto, falta uma preocupação global com a
instituição. Grande parte das entrevistas evidenciou o fato de que áreas correlatas têm
dificuldade de desenvolver trabalhos em conjunto com equipes multi-setoriais e
multidisciplinares, seja pelo excesso de demandas para um corpo técnico reduzido, seja por
falta de processos adequados de gestão.
Grande parte das respostas relacionadas à qualificação técnica e educação foram
categorizadas como existentes parcialmente na organização. Esse comportamento pode ser
explicado, pois o órgão utiliza algumas estratégias para manutenção de recursos humanos
qualificados e procura contribuir com a educação e capacitação dos colaboradores. Admite-
se que a estratégia da Direção seja a de absorver tecnologia e repassá-la. Importante citar a
iniciativa da Administração em promover treinamentos e capacitação do corpo técnico para
os processos inerentes à administração pública.
Com relação ao acesso às informações e o seu próprio fluxo interno, pode-se
considerar que o processo é deficiente, atingindo apenas determinados níveis ou os setores
relacionados com a questão vigente. Analisando o sistema de disseminação de informações
podemos concluir que o fluxo de informações internas é horizontal, a organização é
hierarquizada. Falta a consolidação de uma cultura da informação. A necessidade da
visibilidade é uma premissa do compartilhamento das informações, e também incluída no

108 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

contexto da gestão do conhecimento. Porém é preciso analisar que o compartilhamento, via


rede eletrônica, por si só não é suficiente para gerar esta interatividade.
Não há sistematização do processo para uso da informação na gestão estratégica
como um todo. As informações chegam à Secretaria em grande quantidade, mas não há
uma analise sistematizada com poucos registros. Não há uma organização para extrair dos
funcionários informações trazidas do meio externo. Essas informações continuam sendo
disponibilizadas de maneira informal pelo “networking” pessoal. Dessa forma, com a questão
da rotatividade de pessoal, perdem-se muitas informações ou dificulta-se o acesso na troca
da pessoa especializada.

109
ANEXO 6 - POTENCIAL DA AQÜICULTURA E PESCA BRASILEIRA

1 Introdução

A produção aquícola e pesqueira brasileira gerou aproximadamente US$ 1,5


bilhão, sendo que a aqüicultura foi responsável por aproximadamente U$ 390 milhões em
2003 (IBAMA, 2005).
A produção da aqüicultura brasileira tem crescido acima da média mundial nos
últimos cinco anos. Há, portanto, uma revolução em curso no setor aquícola do país. Por
outro lado, o setor primário de pescados representa quase 0,4% do PIB, sendo que a
contribuição econômica dos pescados tem mudado ultimamente mais em função da
qualidade do que da quantidade produzida. Estamos produzindo maior quantidade de peixes
nobres, camarão de cultivo e peixes de alto mar. Todo agronegócio de pescados, entretanto,
que inclui a cadeia produtiva completa, englobando desde a produção de ração, transporte,
processamento, treinamento, entre outros, perfaz cerca de 2% do PIB (SEAP, 2005).

2 Tendências da Produção da Pesca e da Aqüicultura

Atualmente o Brasil está classificado em 17.º lugar no ranking mundial de


produção aquícola e 11.º em termos de valores. Em 1994, era o 28.º em produção aquícola
e o 24.º em termos de valores. É o segundo em importância na América do Sul. O
crescimento da atividade representou cerca de 30% ao ano em 2003, muito superior à
média mundial de 12%. Comparada com outras atividades nacionais, a aqüicultura
apresenta resultados superiores aos da pesca extrativa e também se sobressai com relação
à produção de aves, suínos e bovinos, que nos últimos anos apresentaram taxas de
crescimento dificilmente superiores a 5% ao ano (AQUA, 2005).

2.1 Produção total (pesca de captura e aqüicultura)

A importância do setor tem aumentado, tendendo a ter papel cada vez mais
relevante no futuro. A produção pesqueira total foi de 994.000 toneladas em 2003 e de
1.015.914 em 2004. A produção pesqueira (aqüicultura e pesca nacional) estimadas em
2004 atingiu cerca de 1 milhão de toneladas, um crescimento na ordem de 2,6% em relação
ao ano anterior (2003) que foi de 950 mil toneladas (IBAMA e SEAP/PR, 2005).

110 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

TABELA 1 - EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DA PESCA E DA AQÜICULTURA


NO BRASIL
(Em milhões de t)
PESCA DE
ANO AQÜICULTURA PRODUÇÃO TOTAL
CAPTURA
1985 956 10 966
1986 945 11 956
1987 934 13 947
1988 814 16 830
1989 831 18,4 849,4
1990 780 20,8 800,8
1991 765 23,1 788,1
1992 740 30,2 770,2
1993 716 30,2 746,2
1994 739 31,2 770,2
1995 716 46,4 762,4
1996 715 77,5 792,5
1997 744 87,2 831,2
1998 706 104,3 810,3
1999 703 140,5 843,5
2000 766 172,4 938,4
2001 830 203,8 1.033,8
2002 855 242,7 1.097,7
2003 808 277 1.085,00
2004 746 270 1.016,00
FONTE: FAOSTAT - Fishery Data (2006)

(Em milhões de t)

1250

1000

750

500

250

0
1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003

Pesca de captura Aquicultura Produção Total

FIGURA 1 - EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO TOTAL, PESCA DE CAPTURA E AQÜICULTURA NO BRASIL


FONTE: FAOSTAT - Fishery Data (2006)

111
2.2 Produção da Pesca de Captura (marinha e continental)

A tendência principal é que a pesca oceânica, a pesca continental e princi-


palmente a aqüicultura crescerão mais rapidamente do que a pesca costeira. Como já vem
acontecendo recentemente.

TABELA 2 - EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DA PESCA DE CAPTURA


(MARINHA E CONTINENTAL) NO BRASIL
(Em milhões t)

PESCA PESCA PRODUÇÃO


ANO
CONTINENTAL MARÍTIMA TOTAL

1985 201 755 956


1986 213 732 945
1987 220 714 934
1988 191 623 814
1989 193 638 831
1990 191 589 780
1991 193 572 765
1992 182 558 740
1993 187 529 716
1994 191 548 739
1995 193 523 716
1996 193 522 715
1997 179 565 744
1998 174 532 706
1999 185 518 703
2000 199 567 766
2001 220 610 830
2002 239 616 855
2003 227 581 808
2004 246 500 746

FONTE: FAOSTAT - Fishery Data (2006)

112 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

(Em milhões de t)

100 0

90 0

80 0

70 0

60 0

50 0

40 0

30 0

20 0

10 0

0
1985 1986 1 987 1988 1989 1990 19 91 1 992 1993 1994 1995 1 996 1997 1998 1999 20 00 2 001 2002 2003 2004

C ontinental Marítima Produção Total

FIGURA 2 - EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO TOTAL DA PESCA DE CAPTURA (MARÍTIMA E CONTINENTAL) NO BRASIL


FONTE: FAOSTAT - Fishery Data (2006)

Analisando a tabela 2, verifica-se que com relação à importância do crescimento


da pesca extrativa continental com uma produção de 246.100,5 toneladas representa 24,2%
da produção total de pescado do Brasil e apresentou um crescimento de 8,2% em 2004. Em
2004, a região Norte produziu 140.962,5 t de pescado. Detém a maior produção da pesca
extrativa continental do Brasil e registrou um crescimento de 5,7% quando comparado ao
ano de 2003 (IBAMA, 2005).
Destaca-se o crescimento da pesca extrativa marinha e continental que
apresentou um crescimento de 3,2% e 8,2% respectivamente. A aqüicultura continental
apresentou um crescimento de 2%, enquanto a maricultura apresentou um decréscimo de
11,9% em 2004 quando comparado com os dados de 2003.
A produção extrativa marítima, apesar de não ter crescido substancialmente em
quantidade, tem evoluído em qualidade, cada vez que mais peixes nobres passaram a ser
capturados, tais como atuns, albacoras, espadarte, merluza, peixe sapo, entre outros.

2.3 Evolução da Produção Aqüícola

A aqüicultura brasileira que representou aproximadamente 28% de toda a


produção pesqueira nacional em 2003, representava apenas 4% em 1994. A produção
aquícola brasileira passou de 20,5 mil toneladas em 1990 para, cerca de, 278 mil toneladas
em 2003. Estimativas preliminares indicam uma produção de cerca de 270 mil toneladas
para a aqüicultura brasileira no ano de 2004 (FAO FISHDAT, 2006),

113
TABELA 3 - EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO TOTAL DA AQÜICULTURA
NO BRASIL
(Em milhões de t)

PRODUÇÃO
ANO ÁGUA DOCE MARICULTURA
TOTAL

1985 10 0 10
1986 10 1 11
1987 12 1 13
1988 15 1 16
1989 17 1.4 18.4
1990 19 1.8 20.8
1991 21 2.1 23.1
1992 28 2.2 30.2
1993 28 2.2 30.2
1994 29 2.2 31.2
1995 41 5.4 46.4
1996 69 8.5 77.5
1997 77 10.2 87.2
1998 89 15.3 104.3
1999 114 26.5 140.5
2000 134 38.4 172.4
2001 151 52.8 203.8
2002 171 71.7 242.7
2003 168 109 277
2004 181 89 270
FONTE: FAOSTAT - Fishery Data (2006)

(Em milhões t)

300

250

200

150

100

50

0
1985 198 6 1 987 1988 1989 19 90 1991 1992 199 3 1 994 1995 1996 1997 1 998 1999 2000 200 1 2002 2003 2004

Á gua D oce Maricultura P rodução Total

FIGURA 3 - EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO TOTAL DA AQÜICULTURA NO BRASIL


FONTE: FAOSTAT - Fishery Data (2006)

114 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

3 CONTRIBUIÇÃO DO SETOR NA OFERTA ALIMENTAR,


EVOLUÇÃO DA OFERTA DE PROTEÍNA DE ORIGEM
NACIONAL E IMPORTAÇÕES EM VOLUME

Os recursos pesqueiros de suas águas marinhas e doces constituem uma


importante fonte protéica e um potencial para produção de alimentos. Por recomendação da
FAO, os produtos pesqueiros, graças a suas qualidades nutricionais, devem ter um consumo

mínimo de 12 kg/hab/ano. Entretanto, no Brasil o consumo ainda é inferior a esta média.

TABELA 4 - VARIAÇÃO DA PRODUÇÃO, BALANÇA COMERCIAL, ESTOQUES E DISPONIBILIDADE DE PESCADO


PARA CONSUMO INTERNO NO PAÍS

VOLUME PARA DISPONIBILIDADE


VOLUME VOLUME VARIAÇÃO NOS
ANO PRODUÇÃO FINS NÃO PARA CONSUMO
IMPORTADO EXPORTADO ESTOQUES
ALIMENTARES INTERNO

1985 966.860 69.700 79.068 80.100 0 896.128


1986 956.627 90.200 186.206 65.326 0 987.307
1987 947.155 75.000 163.777 64.214 0 971.717
1988 829.390 60.000 117.222 67.572 0 819.039
1989 849.280 60.000 241.614 68.101 -250 963.043
1990 800.890 50.027 275.378 51.164 -317 975.394
1991 788.883 50.004 224.890 67.863 -550 896.456
1992 770.390 60.006 145.729 68.858 533 786.722
1993 746.730 50.007 265.453 74.441 583 887.151
1994 770.266 90.007 297.041 61.183 0 916.117
1995 752.626 70.001 409.122 40.305 0 1.051.442
1996 792.887 100.047 568.696 34.460 -57.125 1.284.201
1997 831.952 100,031 437.968 39.057 0 1.130.832
1998 810.463 75.008 392.282 38.779 0 1.088.958
1999 844.335 50.005 296.179 48.213 57.138 985.158
2000 939.072 58.535 332.351 77.879 0 1.135.009
2001 1.033.865 73.365 288.192 102.797 0 1.145.895
FONTE: FAO FISHSTAT (2006)

115
(Em 1.000 t)

1,400

1,200

1,000

800

600

400

200

0
1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

OFERTA NACIONAL IMPORTAÇÕES

FIGURA 4 - EVOLUÇÃO DA OFERTA NACIONAL DE PROTEÍNA DE PEIXE EM RELAÇÃO ÀS IMPORTAÇÕES


FONTE: FAO FISHSTAT (2006)

4 Contribuição do Setor na Balança Comercial

Em 1998, o Brasil exportou US$ 124,7 milhões em pescados (FAO, 2006). Já em


2004 essas exportações saltaram para US$ 436 milhões (IBAMA, 2005). O crescimento dos
cultivos de camarão marinho foi o principal responsável por esse extraordinário aumento nas
exportações. O camarão de cultivo, juntamente com o da pesca, responderam, em valor, por
cerca de 60 % das exportações pesqueiras do país em 2003 (US$ 245 milhões) e em 2004
por cerca de 50% (US$ 218 milhões) (IBAMA, 2005).
O comportamento geral da balança comercial de pescados é ilustrado na Figura 5
apresentada na página seguinte. O saldo da balança comercial de pescados no ano de 2001
foi de US$ 16,5 milhões. Nesse mesmo ano, o Brasil exportou US$ 287,0 milhões. O ano de
2002 fechou com um superávit de 121,7 milhões, com aumento no saldo comercial em mais
de US$ 100 milhões em relação a 2001. As exportações somaram em 2002 US$ 346,8
milhões, e as importações em US$ 225,1 milhões. No ano de 2003, o superávit foi de US$
206,6 milhões (FAO FISHDAT, 2005).
Os números da balança comercial brasileira de pescado mostram que a década
de 90 foi bastante desfavorável ao país. Em apenas um único ano, 1992, o país exportou
mais do que importou. Nos primeiros anos da década de 2000, a tendência se inverteu e o
Brasil passou a ter superávit em sua balança comercial. O saldo da balança comercial, as
diferentes fases do setor e os marcos institucionais no período de 1984-204 encontram-se
na tabela 6.

116 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

Ressalte-se que a participação brasileira no mercado internacional de pescados é


ainda muito baixa em relação ao seu potencial. As exportações mundiais de pescados
representaram cerca de US$ 61,4 bilhões anuais em 2001, sendo o maior mercado
internacional dentre os produtos do agronegócio, representando cerca de 11% deste total.
O preço médio do pescado nacional exportado não tem se depreciado ao longo
do tempo em dólares. O pescado é uma commodite superior e que apresenta alta
elasticidade-renda da demanda. Assim, na medida em que as nações se tornam mais ricas,
elas tendem a demandar mais pescados, o que representa vantagens comparativas
dinâmicas no comércio internacional para o país que escolher investir fortemente no setor.
Some-se a isso o fato de termos uma aqüicultura tecnicamente bastante desenvolvida e
altamente produtiva, haja vista a grande abundância de água, terra e grãos no país.
Todo esse quadro justifica um planejamento estratégico para o fortalecimento da
aqüicultura brasileira e uma alocação prioritária de recursos oficiais para esse setor, ainda
mais que a aqüicultura é um setor intensivo em mão-de-obra, com forte potencial gerador de
empregos diretos e indiretos.

TABELA 5 - BALANÇA COMERCIAL DOS PRODUTOS DA AQÜICULTURA


E DA PESCA, EXPORTAÇÕES, IMPORTAÇÕES E SALDO EM
MILHÕES DE US$ DE 1984 A 2003

ANO EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES SALDO

1984 179,3 40,7 138,6


1985 174,3 47,8 126,5
1986 153,3 130,5 22,8
1987 180,1 128,6 51,5
1988 187,7 82,2 105,5
1989 130,2 186,2 -56,1
1990 141,0 195,2 -54,1
1991 158,7 193,5 -34,8
1992 172,3 133,9 38,4
1993 193,4 201,1 -7,7
1994 180,5 263,1 -82,6
1995 161,6 400,5 -238,8
1996 135,7 481,8 -346,1
1997 128,1 488,1 -360,0
1998 124,7 458,5 -333,8
1999 140,4 293,1 -152,8
2000 242,0 328,1 -86,1
2001 287,0 270,5 16,5
2002 346,8 225,1 121,7
2003 423,4 216,8 206,6
2004 436 252,5 189
FONTE: FAOSTAT - Fishery Data (2006)

117
(Em milhões de US$ )

500

400

300

200

100

0
1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
-100

-200

-300

-400

-500

Exportações Importações Saldo

FIGURA 5 - EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL DE PRODUTOS DA AQÜICULTURA E DA PESCA


FONTE: FAOSTAT - Fishery Data (2006)

118 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

TABELA 6 - BALANÇA COMERCIAL DE PRODUTOS PESQUEIROS NO BRASIL, AS FASES DO SETOR E O MARCO INSTITUCIONAL - 1984-2004
(Em milhões US$)

FASES DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SETOR AQUÍCOLA E PESQUEIRO

ÊNFASE NO FOMENTO DA ATIVIDADE ÊNFASE NO ORDENAMENTO AMBIENTAL DA ATIVIDADE DIVISÃO DE COMPETÊNCIAS DE ORDENAMENTO E FOMENTO

BALANÇA MARCO INSTITUCIONAL

COMERCIAL
IBAMA
SUDEPE IBAMA
DPA/MAA SEAP/PR

1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991(1) 1992 1993 1994 1995(2) 1996(2) 1997(2) 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Exportações 179.316 174.275 153.333 180.099 187.671 130.167 141.037 158.683 172.289 193.402 180.465 161.633 135.726 128.096 124.741 140.351 242.035 287.046 346.831 423.403 436.328

Importações 40.699 47.790 130.528 128.636 82.171 186.228 195.154 193.452 133.873 201.136 263.092 400.461 481.824 488.074 458.491 293.108 328.132 270.522 225.135 216.779 252.454

Saldo 136.617 126.485 22.805 51.463 105.500 -56.061 -54.117 -34.769 38.416 -7.734 -82.627 -238.828 -346.098 -359.978 -333.750 -152.757 -86.097 16.524 121.696 206.624 183.874

FONTE: IBAMA, SEAP/PR, FAOSTAT - Fishery Data (2006)

(1) Lei da Política Agrícola (1991).

(2) Grupo Executivo do Setor Pesqueiro (GESPE).


119
ANEXO 7 - EXEMPLOS DA CRESCENTE INTERNACIONALIZAÇÃO
DA PRODUÇÃO E COMÉRCIO DOS PRODUTOS
AQUÍCOLAS E PESQUEIROS E SUA INTERAÇÃO COM
O MEIO AMBIENTE E AÇÕES DE PRESERVAÇÃO42

I Ordenamento da capacidade pesqueira. A questão do ordenamento da


capacidade de pesca é considerada como de extrema importância, espe-
cialmente, com relação à crescente preocupação com o fenômeno do excesso de
insumos para a pesca e a sobrecapitalização das pescarias mundiais. A
existência de um excesso na capacidade de pesca é um fator amplamente
responsável pela degradação dos recursos pesqueiros, assim como pela perda
dos potenciais alimentícios e um significativo desperdício econômico. A origem do
excesso de capacidade de pesca parte principalmente da tendência generalizada
da capitalização e sobrepesca sob condições de livre acesso ou recursos
escassamente controlados. O Código de Conduta para a Pesca Responsável
recomenda no artigo 6.3: “Os Estados deveriam prevenir a sobrepesca e o
excesso de capacidade de pesca e deveriam implementar medidas de
ordenamento para garantir que o esforço de pesca seja compatível com a
capacidade produtiva dos recursos pesqueiros e sua utilização sustentável”. O
Comitê de Pesca da FAO aprovou em fevereiro de 1999, um Plano de Ação
Internacional para o Ordenamento da Capacidade de Pesca de caráter voluntário.
II Impacto dos incentivos econômicos governamentais no comércio de produtos
pesqueiros e a sustentabilidade dos recursos. A influência dos subsídios sobre
o comércio de pescado, os produtos pesqueiros e a sustentabilidade dos
recursos está recebendo crescente atenção nos vários fóruns internacionais.
Os subsídios da pesca estão sendo considerados como possíveis distorções
do comércio e, por outro lado, como um fator que pode contribuir e acelerar os
processos de capitalização e de sobrepesca, na ausência de um controle
adequado sobre o esforço produtivo. O tema é tratado tecnicamente em vários
fóruns internacionais (FAO, OECD, UNEP, OMC). Na OMC estão se conduzindo
negociações para regular o uso dos subsídios.

42
GUMY, A. Modernização do setor publico pesqueiro. Frente Maritimico, Montevidéu, v.19, junho, 2003.

120 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

III Pesca ilegal, não regulada e não registrada. O conceito de Pesca Ilegal, Não
Regulada e Não Reportada (INDNR) exclui um número importante de práticas:
por exemplo: pesca não regulada e não registrada realizada por grandes
embarcações, utilizando bandeiras de conveniência que exploram populações
de alto mar sujeitas ao ordenamento e acordos de Organismos Regionais, e
que não respeitam tais acordos. Durante a Reunião Ministerial sobre a
aplicação do Código de Conduta para a Pesca Responsável (Roma, 10 e 11
de Março de 1999), os Ministros e seus Representantes emitiram uma
declaração em que pontuaram que seria desenvolvido um Plano de Ação
Global para tratar efetivamente de todas as formas - não regulada e não
registrada. Recentemente esse Plano foi aprovado no âmbito da FAO, visando
à eliminação do pesca ilegal, não regulada e não registrada.
IV Ecoetiquetagem de produtos pesqueiros (Ecolabelling). A idéia proposta por meio
dessa questão, tão nova como polêmica, é a de que se deveriam etiquetar (selo
de origem e garantia) os produtos pesqueiros, tal como sucede em outras
categorias alimentícias. As etiquetas deveriam certificar que o pescado vendido
foi capturado em pescarias sustentáveis, ou seja, pescarias conduzidas com
devido respeito às espécies capturadas e para ao meio ambiente. Do ponto de
vista teórico se trata de um mecanismo que facilitaria a criação de vínculos mais
estreitos entre o comércio e os objetivos da sustentabilidade. A sustentação
dessa proposta está na crescente preocupação de setores da população de
países ricos com a preservação do meio ambiente e no interesse dos grandes
empórios comerciais e produtores de alimentos de todo mundo em não perder
essa fatia do mercado. Considerando, entretanto, as questões operacionais,
existe uma série de questões não bem clarificadas, como, por exemplo, quem
seria o ente certificador. As objeções principais para o estabelecimento do
ecoetiquetagem provêem da preocupação de muitos países quanto a sua
implementação e de que esse procedimento poderia se constituir como mais uma
barreira adicional ao comércio. A questão tem tido um grande avanço em suas
negociações. Recentemente, durante a Vigésima Sexta reunião do Comitê
de Pesca da FAO, aprovaram-se as Diretrizes para a Ecoetiquetagem de
Produtos Pesqueiros.
V Biodiversidade, a pesca de captura e aqüicultura. A biodiversidade significa a

121
variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, entre
outros, os ecossistemas terrestres, os aquáticos e os complexos ecológicos de
que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies,
entre espécies e de ecossistemas.43 A biodiversidade das populações naturais
provê a base dos recursos para a pesca comercial e os meios para se adaptar
as mudanças ambientais e a pressão da sobrepesca. A diversidade do
pescado cultivado também permite o contínuo melhoramento das espécies
para satisfazer demandas de produção e de um mercado em constante
mudança. Em Junho de 1999, o Conselho da FAO aprovou dois Planos
Internacionais de Ação, com o propósito de proteger a biodiversidade. Um
deles aponta a ordenar e conservar os tubarões, o outro tem como propósito
reduzir a captura acidental de aves marinhas na pesca de arrasto.
VI Utilização de organismos geneticamente modificados na aqüicultura. Uma
forma relativamente nova de modificação genética implica o traslado de genes
entre espécies, produzindo em conseqüência “transgênicos”. Projetos
experimentais e pilotos têm demonstrado que essa técnica pode melhorar
comercialmente importantes aspectos da produção. Até o momento nenhum
produtor comercial está comercializando espécies aquícolas transgênicas para
consumo humano. Os principais problemas que impedem seu comércio são: a
resistência do consumidor a estes produtos e também as questões relativas à
proteção da propriedade intelectual. Por outro lado existe uma grande
preocupação de que as tecnologias transgênicas poderiam criar riscos para o
meio ambiente e para a saúde humana.

43
Artigo 2 da Convenção sobre Diversidade Biológica, MMA, 2005.

122 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

ANEXO 8 - CONSIDERAÇÕES SOBRE SERVIÇOS RELACIONADOS


À GESTÃO DOS RECURSOS AQUÍCOLAS E
PESQUEIROS EM NÍVEL MUNDIAL

Como é natural, existe no mundo uma grande diversidade em relação às


estruturas adotadas para a administração aquícola e pesqueira. Em geral, as estruturas
institucionais adotadas pelos países tendem a seguir o esquema genérico apresentado na
figura 6.

Organismos e Foros Internacionais de


Discussão

Recomendações sobre desenvolvimento


sustentável, acordos comerciais e cotas de captura
para estoques internacionais.

Instituto Nacional
de Pesca e Burocracia Governamental para
Aqüicultura planejamento das políticas da pesca e
aqüicultura
Provê as pesquisas e
informações sobre o setor Cria as políticas, normas e
produtivo. Conselho de instrumentos de gestão.
consulta e
articulação.
Diretoria ou Secretaria da Pesca e
Aqüicultura
Atores do Setor governamental e
institucional
Administra o setor e executa
as leis e normas e políticas

Organismo Organismo de defesa


Fiscalizador Atores do Setor produtivo nacional

Fiscalização e monitoramento Fiscalização e monitoramento para


para atendimento das atendimento das normativas e
normativas segurança nacional

FIGURA 6 - ESQUEMA GENÉRICO REPRESENTATIVO PARA GESTÃO DOS SERVIÇOS DA AQÜICULTURA E


PESCA
FONTE: Adaptado de OECD (2004)

Os países têm organizado suas estruturas institucionais de forma a atender essas

123
premissas e dispor da melhor forma possível os serviços relacionados à atividade, assim
como seus incentivos. Dentro de uma estrutura institucional, diversos organismos podem
estar relacionados a esses serviços, sejam eles do setor público, do setor privado ou de
organizações não-governamentais.
O termo “serviços relacionados à gestão dos recursos aquícolas e pesqueiros” se
refere à combinação de três componentes: organização e normatização (ordenamento), a
pesquisa aplicada e a fiscalização e monitoramento. Os custos implícitos consideram
aqueles associados às atividades que suportam sua gestão, desta forma então, relacionada
a esses três componentes. Além disso, há que se considerar os instrumentos de fomento do
governo aplicados à atividade. Transferências de recursos feitas ao setor produtivo e
institucional, incluindo pagamentos, investimentos diretos, subsídios, infra-estrutura, e
mecanismos de sustentação de mercado, ente outros, são os objetivos principais para
melhorar o desempenho econômico e social do setor produtivo.
Os serviços da organização e normatização podem ser entendidos como “normas
e procedimentos” para a atividade produtiva. Compreendem geralmente três funções:
ajustar a estrutura organizacional dentro de um modelo de gestão existente; recomendar
emendas ou melhorias ao modelo de gestão existente; e a administrar o modelo,
propriamente. Isso envolve todo o processo de planejamento estratégico do setor, além da
fixação de normas, expedição de licenças e permissões, registro de pesca e embarcações,
e entre outros serviços. Normalmente este papel é cumprido pelo governo dentro de um
modelo de gestão para o setor, visando ao fortalecimento deste.
Os serviços da pesquisa são usados como base para tomada de decisões do
núcleo estratégico de gestão da atividade e também para a criação de novos modelos de
gestão e suas normativas. O termo pesquisa está sendo empregado neste documento no
seu sentido amplo, considerando todas as atividades de levantamento de dados, pesquisa
de campo aplicada e sua análise, tanto para fins científicos como estatísticos. Exemplos
comuns de atividades da pesquisa incluem a análise de dados estatísticos, a avaliação de
estoque para fixação de cotas e o levantamento de perfil socioeconômico e ambiental do
setor, além daqueles aplicados no campo dos cultivos aquícolas. As atividades da pesquisa
são determinadas normalmente pelas necessidades de informação dos responsáveis pelas
tomadas de decisões e que estão implementando novas regras para o setor, além do setor
privado, que necessita de novas tecnologias para o aumento sustentável da produtividade.
Dentro de uma perspectiva econômica, os tomadores de decisão estão
preocupados se uma mudança na gestão da atividade irá trazer retornos econômicos,
sociais e ambientais para o setor produtivo e para a sociedade em geral. A pesquisa é de

124 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

extrema importância subsidiando este papel.


Os serviços de fiscalização e monitoramento envolvem tipicamente a vigilância e
o monitoramento do setor no atendimento às normativas definidas e sua legislação aplicada.
Também pode cumprir o papel de executor do processo punitivo. Esse serviço destina-se
tanto às atividades em águas (marinhas e continentais), quanto às terrestres, envolvendo
toda cadeia produtiva. Freqüentemente trabalha em cooperação com o organismo
responsável pela proteção nacional da costa, como a Marinha, e o órgão responsável pela
fiscalização sanitária, o Ministério da Agricultura (MAPA).
A estrutura institucional adotada vai influenciar na disponibilização desses
serviços para a sociedade de diversas formas. Tipicamente, essa estrutura envolve uma
burocracia do governo central, encarregada de criar novos serviços de administração
(normas, procedimentos e instrumentos legais) e aprimorar os instrumentos preexistentes
com um corpo técnico especializado, responsável por executar e implementar os planos da
cúpula estratégica. A estrutura da gerência da burocracia governamental deverá ser
influenciada ou seguirá tendências recomendadas pelos foros e organismos de gerência
internacionais de Aqüicultura e Pesca a que o país pode pertencer.
Um Instituto Nacional de Recursos Aquícolas e Pesqueiros poderá fornecer os
serviços da pesquisa, enquanto os serviços de fiscalização podem ser suplantados por um
organismo protetor de costa e responsável pela saúde pública (segurança alimentar). Os
atores do setor produtivo deverão ser organizados, coordenados e instruídos, em como a
informação necessária ao setor será gerada, em como as decisões e normas serão
definidas e a fiscalização será efetuada. A questão da transparência organizacional44 é
essencial em uma estrutura institucional que atue num paralelo entre o setor produtivo que
demanda atividades de fomento e a necessidade de regulação ambiental visando o
desenvolvimento sustentável da atividade.
Finalmente, a responsabilidade fiscal e a ética são os componentes que comple-
mentam uma estrutura institucional eficaz e que terão um grande impacto na gestão do
setor. Os mecanismos de responsabilidade fiscal são instrumentos importantes no processo
de gestão governamental de forma a assegurar a eficácia das políticas e programas para o
fomento à atividade produtiva. Um pré-requisito para poder avaliar a capacidade institucional
é identificar e esclarecer os benefícios e os custos de cada programa implementado na
gestão da atividade produtiva.

44
A transparência diz respeito às ações e decisões de suas agências públicas, assim como as leis e diretrizes
que governam aquelas ações e normatizam o setor. O grau de transparência é influenciado também pela
extensão e pelo tipo de participação do usuário no processo de tomada de decisão. É importante salientar que
a transparência relaciona-se não somente às decisões sobre o uso de recursos públicos, mas também ao
controle público sobre estes recursos.

125
ANEXO 9 - PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES E ORGANISMOS
COMPETENTES POR PAÍSES

RESPONSÁVEL PELOS RESPONSÁVEL PELA


RESPONSÁVEL PELA
FORMULADOR DE POLÍTICAS SERVIÇOS DE PESQUISA E EXECUÇÃO DAS
PAÍS FISCALIZAÇÃO E
PÚBLICAS E NORMATIZADOR LEVANTAMENTO DE POLÍTICAS E
DEFESA NACIONAL
INFORMAÇÕES PROGRAMAS

Argentina Consejo Federal Pesqueiro Instituto de Investigação e Secretaría de Agricultura, O DNPA, a Prefectura
(Formado por representantes de Desarrollo Pesqueiro Ganadería, Pesca e Nacional Argentina
províncias com litoral, o (INIDEP) Alimentação (SAGPeA) por (PNA,) a Polícia
Secretario de Agricultura, Gado, intermédio da Direção Marítima y de Frontera
Pesca e Alimentação; Ministério Nacional de Pesca e Fluvial, a Armada
de Relações Exteriores; Acuicultura (DNPA) Nacional (ARA) e o
Secretaria de Recursos Naturais Servicio Nacional de
e Poder Executivo Nacional) Sanidad Animal e
Cualidade
Agroalimentar
Austrália Governo Central - Minister for Fisheries Research and Australian Fisheries Australian Fisheries
Agriculture, Fisheries and Development Corporation Management Authorite Management Authorite
Forestre com assessoria da (agência de pesquisa) (AFMA) (AFMA)
Australian Fisheries
Management Authorite (AFMA)
Bolívia Ministerio de la Agricultura e Dependente de estudos em Ministerio de la Agricultura y Ministerio de la
Asuntos Rurais e Ministério de lo universidades e pelo Centro Asuntos Rurais através da Agricultura y Asuntos
Desarollo Sustenible de Investigação e Desarollo Unidade de Pesca e Rurais através da
Acuícola Boliviana - CIDAB Agricultura do Ministério da Unidade de Pesca e
vinculado ao Ministerio de la Defesa Nacional através da Agricultura do
Agricultura Unidade de Pesca Ministério da Defesa
Oceânica Nacional através da
Unidade de Pesca
Oceânica
Brasil Secretaria Especial da IBAMA e SEAP/PR com Secretaria Especial da Marinha, IBAMA e
Aqüicultura e Pesca e Ministério parcerias descentralizando a Aqüicultura e Pesca Ministério da
do Meio Ambiente - MMA pesquisa para universidades SEAP/PR Agricultura Pecuária a
/Instituto Brasileiro de Meio e centros científicos Abastecimento (Defesa
Ambiente - IBAMA sanitária)
Canadá Governo Central - Minister of Laboratórios do governo e Department of Fisheries and Department of
Fisheries and Oceans com universidades direcionados Oceans (DFO) Fisheries and Oceans
assessorial do Department of pelo Fisheries and Oceans (DFO) é o principal,
Fisheries and Oceans (DFO) e Science Advisore Council porém alguns serviços
Fisheries Research (FRCC) e pelo Fisheries portuários são feitos
Conservation Council (FRCC) Conservation Councils em cooperação com a
guarda nacional
Chile Ministerio de Economía, com Instituicion de Fomento Servicio Nacional de Pesca Servicio Nacional de
assessoria da Subsecretaría de Pesqueiro e Servicio Nacional - SerNaPesca e Ministerio Pesca - SerNaPesca e
Pesca - SubPesca e da de Pesca - SerNaPesca de Defensa Nacional para Direção General del
Secretaría Ejecutiva del Fondo (estatística) concessão do uso de águas Territorio Marítimo y de
de Fomento de la Pesca públicas Marina Mercante
Artesanal
Equador Ministerio de Comercio Exterior, Instituto Nacional de Pesca e Subsecretaría de Recursos Direção General de
Indústrias, Pesca y a Direção General de Pesca Pesqueiros do Ministerio Pesca e o Ministerio de
Competitividad com assessoria pela Direção Geral de Defensa
do Consejo Nacional de Pesca seu órgão executivo
Desarrollo Pesqueiro.

126 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

RESPONSÁVEL PELOS RESPONSÁVEL PELA


RESPONSÁVEL PELA
FORMULADOR DE POLÍTICAS SERVIÇOS DE PESQUISA E EXECUÇÃO DAS
PAÍS FISCALIZAÇÃO E
PÚBLICAS E NORMATIZADOR LEVANTAMENTO DE POLÍTICAS E
DEFESA NACIONAL
INFORMAÇÕES PROGRAMAS

Estados Magnuson-Stevens Fishere National Marine Fisheries National Marine Fisheries National Marine
Unidos Conservation and Management Service (NMFS), Centros Service (NMFS) Fisheries Service
Act implemen-tado pelos Científicos, universidades e (NMFS) para serviços
Regional Fisheries Management pelos RFMCs portuários e US Coast
Councils (RFMC) Guard para defesa
nacional
Islândia Ministério da Pesca Marine Research Institute; Ministério da Pesca Directorate of Fisheries
(Ministre of Fisheries) Directorate of Fisheries (para (Ministre of Fisheries) e e Iceland Coast Guard
estatística) Directorate of Fisheries
(Secretaria Executiva)
Japão Fisheries Agence ligada ao Fisheries Research Agence, Fisheries Agence por meio Fisheries Agence por
Ministre of Agriculture, Forestre organismo independente do de agências regionais meio de agências
and Fisheries. Ministério, mas vinculado ao denominadas Fisheries regionais denominadas
Governo central. Coordination Offices Fisheries Coordination
Offices
Korea Ministre of Maritime Affaire and MOMAF por meio do National MOMAF por meio dos MOMAF por meio do
Fisheries (MOMAF) Fisheries Research and Fisheries Administration Fisheries Resource
Development Institute Bureau and Fisheries Bureau; Fishing
Resource Bureau Vessels mana-gement
Office e a National
Marine Police Agence
México Secretaria de Agricultura, Instituto Nacional de la Pesca Secretaria de Agricultura, SAGARPA,Comisión
Ganderia, Desarollo rural, Pesca - INP Ganderia, Desarollo Rural, Nacional de
e Alimentação (SAGARPA) Pesca e Alimentação Acuacultura e Pesca,
(SAGARPA) CONAPESCA e
Guarda Nacional
Noruega Ministério da Pesca Institute of Marine Research; Ministério da Pesca Directorate of Fisheries
(Ministre of Fisheries) Norwegian Institute of Marine (Ministre of Fisheries) e (Secretaria Executiva);
and Aquaculture Research Directorate of Fisheries Coast Guard
(Secretaria Executiva)
Nova Ministério da Pesca O Ministério da Pesca O Ministério da Pesca Ministério da Pesca
Zelândia (Ministre of Fisheries) contrata organismos de possui departamentos (Ministre of Fisheries)
pesquisa para coleta de responsáveis e também
informações pesquisa de subcontrata alguns
dados científicos serviços, como o registro da
pesca
Peru Ministerio de la Produção - Instituto del Mar del Perú - Vice Ministerio de Ministerio de la
PRODUCE pelo Vice Ministerio IMARPE, Instituto Pesqueria e vinculados: Produção - PRODUCE
de Pesqueria Tecnológico Pesqueiro - ITP, Fondo de Desarrollo e pela Direción de
Instituto de Investigaciones Pesqueiro - FONDEPES e Capitanías y
de la Amazonía - IIAP todos Direcciones Regionales de Guardacostas
vinculados ao PRODUCE Producion
Uruguai Ministerio de Ganadería, Direção Nacional de Direção Nacional de Direção Nacional de
Agricultura e Pesca por Recursos Acuáticos - Recursos Acuáticos - Recursos Acuáticos -
intermédio da Direção Nacional DINARA DINARA DINARA
de Recursos Acuáticos -
DINARA
Venezuela Ministerio de la Produção e el Institutos e pesquisa, SARPA SARPA e Servicio de
Comercio assessorado pelo universidades e Fondo Guardería de Pesca de
Servicio Autónomo de los Nacional de Investigaciones la Guardia Nacional de
Recursos Pesqueiros e Agropecuarias (FONAIAP) Venezuela
Acuícolas - SARPA

127
ANEXO 10 - TENDÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DA AQÜICULTURA
E PESCA NA AMÉRICA LATINA E CARIBE45

O desenvolvimento recente do marco institucional da aqüicultura e pesca na


região da América Latina e Caribe esteve influenciado por vários aspectos de ordem
internacional e nacional. Tal desenvolvimento aconteceu em um contexto internacional, no
qual, os recursos pesqueiros, especialmente aqueles considerados básicos (camarão,
lagosta, espécies de alto valor comercial, etc.) têm sido objeto de uma forte pressão
adicional do esforço de pesca a partir do ritmo crescente da demanda e do conseqüente do
aumento dos preços internacionais. Também de caráter internacional foram os debates e os
conseqüentes instrumentos internacionais que apontam a estabelecer um desenvolvimento
sustentável da aqüicultura e da pesca que, em conseqüência, requerem da administração
pesqueira nacional enfoques integrais e interdisciplinares adequados.
Outra questão relacionada à administração da aqüicultura e pesca em países em
desenvolvimento, em especial na América Latina e Caribe, diz respeito à política
macroeconômica adotada pelos governos atuais, em geral encaminhada de forma a reduzir os
gastos públicos e a participação do Estado em atividades econômicas e de serviços. As
instituições públicas responsáveis técnica e administrativamente por aplicar as políticas
governamentais e em especial garantir a exploração sustentável da atividade de aqüicultura e
pesca em aspectos econômicos, sociais, ambientais e biológicos, deverão reduzir drasticamente
seu orçamento e tamanho, em geral com redução de seu corpo técnico e cientifico.
O desenvolvimento recente das instituições pesqueiras da região pode ser
descrito em três etapas:
I De 1973 a 1990, período que foi caracterizado pela influência do CONVEMAR e
das fases técnicas e políticas da Conferência Mundial de Pesca da FAO de
1984. A luz dos recentes direitos adquiridos para a exploração dos recursos
pesqueiros em suas respectivas Zonas Econômicas Exclusivas (ZEE) dos
países da região, se estabeleceu como objetivo de melhorar o aproveitamento
desses recursos, do ponto de vista econômico e social. Para alcançar tal
objetivo, se considerou que era imprescindível a obtenção de auto-suficiência
nacional em matéria de ordenamento e desenvolvimento pesqueiros e, em

45
GUMY, A. Modernização do setor publico pesqueiro. Frente Maritimico, Montevidéu, v.19, junho, 2003.

128 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

conseqüência se iniciaram planos de fortalecimento institucional que culmi-


naram na hierarquização da administração pesqueira e no melhoramento do
marco legal respectivo. Como resposta às expectativas geradas, as políticas
pesqueiras estabeleceram em muitos países regimes de estímulo aos
investimentos e às exportações. As atividades de desenvolvimento, em torno
das quais, se concentram as varias funções da atividade pesqueira tiveram um
lugar predominante. Nesse contexto expansivo se estabeleceu em vários
países, os alicerces da infra-estrutura e recursos humanos necessários para a
pesquisa pesqueira. Pode-se dizer que o tipo de administração pesqueira que
se construiu neste período era coerente não apenas com as expectativas de
crescimento do setor pesqueiro, mas também com as políticas
macroeconômicas vigentes que assumiam um papel importante do Estado na
promoção do desenvolvimento. Com o tempo, essa administração pesqueira
passou a padecer dos problemas da administração em geral, com uma
questão adicional: a ineficácia no controle do esforço de pesca e o escasso
aproveitamento das possibilidades de assessoramento que a pesquisa e
investigação pesqueira poderiam brindar no momento em que seu papel
começava a ser extremadamente necessário.
II Desde 1990 até 1995, na maior parte dos países, as políticas macroeconômicas
encaminhadas a reduzir o gasto público e a participação do Estado nas atividades
econômicas e de serviços do setor têm repercussões nas administrações
pesqueiras da região, com variantes segundo as particularidades de cada pais.
Os organismos públicos técnicos e administrativamente responsáveis de aplicar
as políticas governamentais, em especial de garantir uma exploração sustentável
da aqüicultura e da pesca em seus aspectos biológicos, econômicos, sociais e
ambientais deverão reduzir drasticamente seus orçamentos e seu tamanho, em
geral por deficiência de suas capacidades técnicas administrativas. Em virtude
das políticas de redução da participação do Estado nas atividades produtivas se
eliminaram quase todos os instrumentos econômicos relacionados com a
promoção do setor. Com relação ao apoio econômico do setor pesqueiro por
parte do Estado, tudo indica que a maior parte dos países dessa região está,
provavelmente, entre aqueles que recebem menos apoio (subsídios) de tal tipo e
origem no mundo. Naqueles países onde o Estado intervém diretamente na

129
produção, a propriedade das instalações foi transferida ao setor privado. Como
conseqüência da reestruturação, se reduziu no mínimo as administrações
pesqueiras, as quais têm dificuldade para desempenhar suas funções
relacionadas com o ordenamento e desenvolvimento da pesca e da aqüicultura.
Dentro desse contexto levou-se adiante, sem nenhum sucesso até o momento,
experiências que poderiam qualificar-se de inéditas em nível mundial. Por
exemplo, o de se delegar a administração do setor a um organismo ambiental ou
de separar em dois diferentes organismos (meio ambiente e agricultura) as
funções de determinar o Máximo Rendimento Sustentável por espécie, o
ordenamento e a concessão de licenças, respectivamente. É importante
mencionar que não seria apropriado atribuir às políticas de ajuste aplicadas pelo
Estado o aumento das dificuldades dos governos no cumprimento de suas
funções indelegáveis, tais como a preservação e a conservação dos recursos da
pesca e da aqüicultura. Em todo caso, se trata de uma inadequada aplicação de
tais políticas ao não levar em consideração a especificidade técnica, econômica,
ambiental e social de alguns setores da produção nem dos princípios emergentes
da Conferência de Rio (RIO-92) e de outros instrumentos internacionais.
Atualmente está tratando de se recompor em alguns países a situação com o
auxilio de programas específicos de fortalecimento institucional, que, em alguns
casos, introduzem também inovações de caráter na questão de ordenamento dos
recursos pesqueiros.
III Desde 1995 até a data atual. Em 1995 foi aprovado o Código de Conduta para
a Pesca Responsável. As tendências de hierarquizar e melhorar a
administração pesqueira, ainda que tardias, são muito oportunas. Parado-
xalmente ao enfraquecimento das instituições em muitos governos, se
enfrenta uma necessidade nacional e uma pressão internacional crescente
para garantir a utilização sustentável dos recursos pesqueiros aplicando
critérios de pesca responsável; a proteção do meio ambiente aquático e a
adoção de outras medidas de caráter obrigatório ou voluntário, segundo
correspondam, cuja adoção é promovida pela comunidade internacional para o
qual necessitam imperiosamente melhorar suas capacidades de pesquisa,
planejamento estratégico, ordenamento, controle e vigilância. Em geral a
tendência de reforçar as instituições responsáveis pela administração
pesqueira na região tem recebido também o impulso de sua consideração

130 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

prioritária desde o ponto de vista político, econômico até o ambiental. Uma


forma organizativa atrativa para muitos países da região tem sido a de uma
instituição de administração da pesca e da aqüicultura com adequada
autonomia técnica, administrativa e financeira com capacidade legal para
assessorar ao organismo gestor na formulação da política pesqueira e para
executá-la ou coordenar sua execução. Uma figura que pode reunir essas
características é a de um Instituto Nacional de aqüicultura e pesca vinculado
ao Ministério ou um Ministério específico de fomento à aqüicultura e pesca.

131
ANEXO 11 - ASPECTOS DE ADEQUAÇÃO INSTITUCIONAL E
ESTRATÉGICA PARA ESTRUTURAÇÃO DA
AUTORIDADE AQUÍCOLA E PESQUEIRA NO BRASIL

Os principais pontos de questionamento com relação à estrutura institucional,


levantados durante a pesquisa realizada junto a SEAP/PR e outras entidades representativas do
setor de aqüicultura e pesca no Brasil, demonstram uma coincidência com as orientações
internacionais citadas nesse Relatório. É importante estabelecer esse paralelo, de forma a
adequar essas ponderações com as melhores práticas de gestão estabelecidas para a
atividade. Assim podemos citar:
a) Ordenamento
 As questões de ordenamento deveriam estar centralizadas em um único
organismo.
 O suporte técnico para o ordenamento deveria vir de um organismo de
pesquisa científica, de geração de conhecimento, para dar suporte à
tomada de decisão.
 Considerar um órgão regulador para não perder seu caráter ambiental e de
desenvolvimento sustentável.
 Para sua gestão poderia ser proposto um comitê científico com um corpo
técnico ad hoc para validar as decisões tomadas. Uma assessoria técnica
para respaldar a decisão do gestor.
 Forte relação da política de ordenamento com a política de
desenvolvimento. As ações de fomento devem ser planejadas, levando em
consideração as de ordenamento para que o organismo atue de forma
ambiental e socialmente responsável.
b) Pesquisa e Desenvolvimento
 Difusão tecnológica - Publicações e material técnico-pedagógico sobre a
atividade, que sejam de acesso público e apresentem validação cientifica.
Geração de material de assistência, experiência do setor com cartilhas
sobre a produção de diversas espécies, explicação de como se começa
uma atividade produtiva, e das condições necessárias para instalações de
cultivos e empreendimentos.

132 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

 Os Centros de pesquisa da área de aqüicultura e pesca devem ser


vinculados à Instituição responsável pela administração da aqüicultura e da
pesca nacional. A pesquisa precisa ser incorporada à estrutura da nova
Instituição com a respectiva transferência de seu patrimônio.
 Para que a Instituição responsável pela gestão da aqüicultura e da pesca
seja responsável pelo ordenamento da atividade é necessária uma forte
estrutura de pesquisa a ela atrelada e o aumento da confiabilidade do setor
nos dados.
 Considerar a realização de estudos de mercado. A comercialização deve
atuar vinculada à área de pesquisa em análise de mercados, promoção
comercial, inteligência comercial (prospecção nacional e internacional) e
levantamento de informações econômicas em parceria com a unidade de
estatística.
 Melhorar a sistematização e disseminação de informações técnicas sobre as
atividades do órgão, visando aumentar a transparência, dessas atividades.
c) Questão Ambiental
 Revisar e adequar a legislação ambiental vinculada aos setores de
aqüicultura e pesca.
 Articular-se com órgãos ambientais visando à simplificação da documentação
exigida dos aquicultores.
 Unificar procedimentos de licenciamento ambiental em nível estadual.
 Estruturar adequadamente o processo de cessão de águas da União.
Unificar procedimentos e aumentar a articulação com órgãos estaduais.
d) Fiscalização
 Atrelar o processo de fiscalização ao órgão que normatiza a atividade.
e) Questão Sanitária
 Fortalecer a questão sanitária relacionada aos recursos pesqueiros, junto à
pasta da Agricultura.
 Fortalecer as ações de vigilância sanitária e defesa sanitária, controle de
doenças, visando aumentar a credibilidade internacional.
f) Incentivos
 Investir no desenvolvimento da cadeia produtiva em novas fronteiras
aquícolas (piscicultura marinha e piscicultura de espécies nativas, por

133
exemplo); tecnologia; infra-estrutura básica, desburocratização, agilização
da obtenção de cessão d’água para fins aquícolas, linhas de crédito e
comercialização.
 Desenvolver a pesca de novas modalidades e novas espécies (pesca de
profundidade, pesca em águas internacionais, estoques existentes e não
explorados).
g) Planejamento Estratégico
 A Instituição responsável pela gestão da aqüicultura e da pesca deve ter
como principal papel organizar o setor.
 Organizar um grupo de planejamento estratégico para fazer levantamento
da cadeia produtiva e elaborar cenários futuros para o setor.
 Promover processos de planejamento regional e garantir que as ações
sejam conduzidas e realizadas pelos escritórios estaduais.
h) Capacitação
 Avaliar, apoiar a elaboração de políticas, programas, planos e projetos para
capacitação.
 Incentivar a profissionalização dos pescadores e aquicultores.
 Viabilizar a formação e qualificação dos pescadores e aquicultores.
i) Políticas Sociais
 Implantar uma coordenação de aqüicultura familiar.
 Implementar o conceito de aqüicultura familiar, harmonizar e estabelecer
suas normas.
 Desenvolver a Pesca Artesanal Sustentável centrada no aumento da
qualidade de vida das populações que dela sobrevivem (questões de IDH,
dívida social, trabalho, renda e participação na economia nacional).
 Incentivar a organização dos pequenos e médios empreendimentos de
aqüicultura, centrado na desburocratização de licenças e no acesso ao crédito.
 Aumentar parcerias e articulação com outros Ministérios para efetivação
dos programas de promoção e inclusão social.
 Fomentar o cooperativismo relacionado à pesca artesanal, produção em
conjunto, economia de escala com agregação de valor.
 Fortalecer áreas de extensão para o pequeno produtor (forte demanda).

134 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

ANEXO 12 - TENDÊNCIAS DE MODERNIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

A história do funcionamento das burocracias públicas no mundo inteiro é marcada


pela sistemática desmoralização dessa mitificação burocrática: o que se observou, em todos
os lugares, sem exceção, foi o crescimento das máquinas administrativas com grandes
movimentos de reforma administrativa identificados pela fusão, extinção e criação de
órgãos. Essas mudanças, ao longo das últimas décadas no Brasil, revelaram uma grande
instabilidade no organograma governamental. Além disso, não evitaram a manutenção de
estruturas pesadas e hierarquizadas, pouco dinâmicas, sobretudo devido à tendência à
centralização e à superposição de órgãos e de funções (JOBIM CASTOR, 2000).
Além disso, a prática administrativa cotidiana da gestão pública não pode se limitar
apenas a estruturas institucionais, é oportuno destacar que, a Administração Pública tem como
objetivo maior atender às necessidades públicas, no que diz respeito aos direitos e interesses
legalmente protegidos dos cidadãos. Os seus órgãos e agentes administrativos estão
subordinados à Constituição e à lei e devem atuar, no exercício das suas funções, com respeito
pelos princípios da igualdade, da proporcionalidade, da justiça, da imparcialidade e da boa fé.
Enquanto órgão superior da Administração Pública compete ao Governo dirigir os
serviços e a atividade da administração direta do Estado. Consideram-se como domínios da
administração direta do Estado as atribuições que são exercidas sob a gestão imediata dos
órgãos e serviços integrados na sua estrutura. Além dessas atribuições existem outras que
a lei incumbe às entidades de direito público que são distintas do Estado. Trata-se de
entidades criadas para permitir uma gestão mais ágil e eficiente, como, por exemplo, as
autarquias federais.
A análise da evolução das estruturas de governo no período compreendido entre os
anos de 1992 e 2003 demonstra que houve uma expansão no quantitativo de organizações que
compõem a estrutura do Governo Federal. Grande parte desse aumento se deu, principalmente,
no quantitativo de autarquias, possivelmente pela necessidade de adoção de um modelo
institucional descentralizado.
Para a formulação de um processo de reforma institucional, tendo um foco específico
em uma autarquia governamental, algumas tendências de modernização administrativa devem
ser levadas em consideração:

135
 Abordagem do novo organismo focado no atendimento às necessidades do
“cidadão-cliente” ou o usuário final do serviço público.
 Horizontalização das estruturas, com ênfase em ações matriciais.
 Controle e melhoria nos processos de trabalho.
 Descentralização e desconcentração de atribuições, com a cobrança de
responsabilidade das chefias.
 Participação dos servidores e da sociedade interessada no planejamento
estratégico das ações de fomento ao setor.
 Capacitação dos servidores para gestão pública.
 Adoção de modernas tecnologias de informação.
Qualquer mudança proposta na Estrutura Organizacional da burocracia gover-
namental, responsável pela gestão e administração do setor, deve visar, por meio de uma nova
distribuição de responsabilidades, a agilizar a prestação de serviços internos e externos e
atender de forma adequada a demanda do setor produtivo, levando em consideração seu papel
normatizador, de forma a garantir o desenvolvimento sustentável da atividade.

136 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

ANEXO 13 - IMPLICAÇÕES JURÍDICAS DE ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA DIRETA E INDIRETA46

A Administração Federal compreende: (I) A Administração Direta, que se constitui


dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da República e dos
Ministérios; e (II) A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de
entidades, dotadas de personalidade jurídica própria:
a) Autarquias.
b) Empresas Públicas.
c) Sociedades de Economia Mista.
d) Fundações públicas.
Salienta-se que as entidades compreendidas na Administração Indireta vinculam-
se ao Ministério em cuja área de competência estiver enquadrada sua principal atividade. As
atividades da Administração Federal obedecerão aos seguintes princípios fundamentais:
Planejamento; Coordenação; Descentralização; Delegação de Competência e Controle.
Ressalta-se que, a ação administrativa do Poder Executivo obedecerá a programas gerais,
setoriais e regionais de duração plurianual, elaborados por meio dos órgãos de
planejamento, sob a orientação e a coordenação superiores do Presidente da República.
Nesse contexto, cabe a cada Ministro de Estado orientar e dirigir a elaboração do
programa setorial e regional correspondente a seu Ministério; e ao Ministro de Estado,
Chefe da Secretaria de Planejamento, auxiliar diretamente o Presidente da República na
coordenação, revisão e consolidação dos programas setoriais e regionais e na elaboração
da programação geral do Governo.
Acrescenta-se que, a Constituição Federal de 1988 inseriu na esfera de
atribuições do Executivo, o poder de elaborar e de encaminhar ao Legislativo o projeto de lei
referente ao orçamento anual, função esta que deverá observar somente as limitações da
própria Carta Magna, da lei de diretrizes orçamentárias e do plano plurianual.
Assim, o Poder Executivo tem a atribuição de elaborar e apresentar a proposta
orçamentária, possibilitando o fornecimento de maiores elementos ao legislador, para
análise e decisão sobre a peça orçamentária.

46
Texto preparado pela consultora Ana Silvia Costa Silvino Consultora Nacional em Legislação Pesqueira
Projeto FAO TCP/BRA/3001.

137
Assim, a Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios disciplinará
a aplicação de recursos orçamentários provenientes da economia com despesas correntes em
cada órgão, autarquia e fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de qualidade
e produtividade, treinamento e desenvolvimento, modernização, re-aparelhamento e racionali-
zação do serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade.
Salienta-se que compete privativamente ao Presidente da República a
organização e funcionamento da administração federal (quando não implicar aumento de
despesas nem criação ou extinção de órgãos públicos) e extinção de funções ou cargos
públicos, quando vagos. Assim, o Presidente da República, mediante decreto, estabelecerá
a organização e o funcionamento dos Ministérios e das Autarquias.
A investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em
concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvada as nomeações
para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.
Dessa forma, a regra de concurso público consiste em pressuposto de validade
da admissão de pessoal, tanto para as autarquias como para os ministérios.

II DOS MINISTÉRIOS

Os Ministérios são órgãos autônomos da cúpula da Administração Federal Direta


da União, situados logo abaixo da Presidência da República. Neles integram os serviços da
Administração direta e a eles se vinculam as entidades da Administração indireta cujas
atividades se enquadrem nas respectivas áreas de competência, ressalvadas, obviamente,
as que a própria lei integra na Presidência da República ou a ela vincula.
Cada Ministério é chefiado por um Ministro de Estado que, por força da
Constituição, são auxiliares imediatos do Presidente da República, cabendo-lhes, entre
outras atribuições estabelecidas na Constituição e nas leis, o seguinte:
 Orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da Administração
Federal compreendidos nas áreas de competência de seus Ministérios;
 A referenda dos atos e decretos presidenciais;
 A expedição de instruções para a execução de leis, decretos e regulamentos;
 A elaboração de relatório anual sobre as atividades de suas pastas;
 A prática dos atos pertinentes às atribuições outorgadas ou delegadas pelo
Chefe de Governo (art. 85 da CF).

138 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

III DAS AUTARQUIAS

A autarquia é forma de descentralização administrativa, por meio da


personificação de um serviço retirado da Administração centralizada, estando sujeita ao
controle da entidade estatal a que pertence. Sendo, então, pessoa jurídica de Direito
Público, com função pública própria e típica, outorgada pelo Estado.

a) Conceitos
Autarquias são entes administrativos autônomos, criados por lei específica,
com personalidade jurídica de Direito Público interno, patrimônio próprio e
atribuições estatais específicas. (HELY LOPES MEIRELLES).

Autarquia é o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica,


patrimônio e receita próprios para executar atividades típicas da Administração
Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa
e financeira descentralizada. (Art. 5.º, I, do Decreto 200/67).

A autarquia é um segmento da atividade estatal que rompe com os vínculos da


hierarquia, pois ela não integra a Administração desconcentrada, passando a
exercer as prerrogativas indispensáveis para o atingimento das suas
finalidades, os mesmos fins estatais, com autonomia financeira, administrativa,
disciplinar, menos, evidentemente, econômica, uma vez que, ao subministrar
recursos a essas entidades, o destino econômico último delas prende-se a
uma previsão de fundos por parte do Estado. (CELSO RIBEIRO BASTOS).

b) Características:
 Criada por Lei específica (Emenda Constitucional n. 19, de 1998);
 Personalidade jurídica de Direito Público;
 Patrimônio Próprio;
 Capacidade de auto-administração sob o controle estatal;
 Desempenho de atribuições públicas típicas.

É ainda, necessário acrescentar que as autarquias não são totalmente autônomas,


pois não editam as próprias normas sob as quais se sujeitam. Não possuem capacidade para
criá-las, pois tais normas são ditadas heteronomamente pelas pessoas com capacidade política
(não possuem capacidade política).

139
As autarquias prestam-se à realização de quaisquer serviços públicos típicos,
próprios do Estado, mas são indicadas especificamente para aqueles que requeiram maior
especialização ou imposição estatal e que, conseqüentemente, exijam organização
adequada, autonomia de gestão e pessoal especializado, liberto da burocracia comum das
repartições centralizadas. (Hely Lopes Meirelles)
É das autarquias que os Poderes Públicos devem valer-se quando pretendem
transferir o exercício de atos que impliquem na prática de prerrogativas de autoridade.
(Celso Ribeiro Bastos)

c) Criação
As autarquias deverão ser criadas por meio de lei específica (inciso XIX, do art.
37 da CF), mas sua organização se opera por decreto, que aprova o
regulamento ou estatuto da entidade.

d) Patrimônio Inicial
É formado com a transferência dos bens imóveis da entidade-matriz, os quais se
incorporam ao ativo da nova pessoa jurídica. A transferência de imóveis ou é feita
pela própria lei instituidora, caso em que dispensa o registro, ou a lei apenas
autoriza a incorporação, a qual se efetivará por termo administrativo ou por
escritura pública, para necessária transcrição no registro imobiliário competente.

e) Bens e Rendas
São considerados patrimônio público, mas com destinação especial e
administração própria da entidade a que foram incorporados, para realização
dos objetivos legais e estatutários.

f) Orçamento
O orçamento das autarquias é formalmente idêntico ao das entidades estatais,
com as peculiaridades indicadas nos arts. 107 a 110 da Lei 4320, de 1964 e
adequação ao disposto no § 5.º do art. 165 da CF.

Nesse sentido, apresentam-se abaixo algumas peculiaridades:


1. As entidades autárquicas ou paraestatais, inclusive de previdência social ou
investidas de delegação para arrecadação de contribuições parafiscais da
União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal terão seus
orçamentos aprovados por decreto do Poder Executivo, salvo se disposição
legal expressa determinar que o sejam pelo Poder Legislativo.

140 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

2. Os orçamentos das entidades autárquicas vincular-se-ão ao orçamento da


União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, pela inclusão:
I como receita, salvo disposição legal em contrário, de saldo positivo previsto
entre os totais das receitas e despesas;
II como subvenção econômica, na receita do orçamento da beneficiária, salvo
disposição legal em contrário, do saldo negativo previsto entre os totais das
receitas e despesas.
3. Os orçamentos e balanços das entidades autárquicas serão publicados como
complemento dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos
Municípios e do Distrito Federal a que estejam vinculados.

g) Dirigentes
Os dirigentes na forma da lei ou a que o estatuto obedecer, mas o STF vem
decidindo que é inconstitucional a aprovação prévia de seus nomes pela
Assembléia Legislativa do Estado, por afrontar à independência dos Poderes.

h) Atos dos Dirigentes


Equiparam-se aos atos administrativos e, por isso, devem observar os mesmos
requisitos para sua expedição, com atendimento específico das normas
regulamentares e estatutárias da instituição, sujeitando-se aos controles internos
e ao exame da legalidade pelo judiciário, pelas vias comuns (ações ordinárias) ou
especiais (mandado de segurança e ação popular).

i) Contratos
Estão sujeitos à licitação por expressa determinação do art. 1.º, parágrafo
único, da Lei 8.666, de 1993 e do art. 37 da CF, sendo nulos quando não
realizarem ou fraudarem o procedimento licitatório.

j) Pessoal
Está sujeito ao regime jurídico único da entidade-matriz, como dispõe o art. 39,
caput, da CF.

l) Privilégios
As autarquias nascem com privilégios administrativos (não políticos) da
entidade estatal que as institui, auferindo também as vantagens tributárias e

141
as prerrogativas processuais da Fazenda Pública, além dos que lhes forem
outorgados por lei especial, como necessários ao bom desempenho das
atribuições da instituição.

Nesse sentido, apresenta-se abaixo alguns privilégios das autarquias:


 Imunidade de impostos sobre o seu patrimônio, renda e serviços vinculados
às suas finalidades essenciais ou delas decorrentes;
 Prescrição qüinqüenal de suas dívidas passivas;
 Execução fiscal de seus créditos inscritos;
 Ação regressiva contra seus servidores culpados por danos a terceiros;
 Impenhorabilidade de seus bens imóveis;
 Recurso de ofício nas sentenças que julgarem improcedentes a execução de
seus créditos fiscais;
 Prazo em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer;
 Juízo privativo da entidade estatal a que pertence; etc.

m) Quanto ao Objeto das Autarquias


Dentro das atividades típicas do Estado, a que estão preordenadas, as
autarquias podem ter diferentes objetivos, classificando-se em:
 Autarquias assistências: aquelas que visam a dispensar auxílio a regiões
menos desenvolvidas ou a categorias sociais específicas, para o fim de
minorar as desigualdades regionais e sociais. Ex. ADENE - Agencia de
Desenvolvimento do Nordeste e a ADA - Agência de Desenvolvimento da
Amazônia; o INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
 Autarquias previdenciárias: voltadas para a atividade de previdência social
oficial. Ex. INSS - Instituto Nacional de Seguro Social.
 Autarquias culturais: dirigidas à educação e ao ensino. Ex. UFRJ -
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
 Autarquias profissionais: incumbidas da inscrição de certos profissionais e
de fiscalizar sua atividade. Ex. OAB - Ordem dos Advogados do Brasil.
 Autarquias administrativas: que forma a categoria residual, ou seja,
daquelas entidades que se destinam às varias atividades administrativas,
inclusive de fiscalização, quando essa atribuição for pessoa federativa a
que estejam vinculadas. Ex. INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia,

142 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

Normalização e Qualidade Industrial; IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio


Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
 Autarquias de controle: enquadram-se nessa categoria as recém criadas
agências reguladoras, inseridas no conceito genérico de agências
autárquicas, cuja função primordial consiste em exercer controle sobre as
entidades que prestam serviços públicos (descentralização por delegação),
como é o caso da ANEEL - Agencia Nacional de Energia Elétrica, da ANATEL -
Agência Nacional de Telecomunicações, etc. enquadra-se na categoria.
Em decorrência da especificidade, passaremos a abordar e discorrer sobre as
autarquias de controle. Vejamos:

Agências Autárquicas Reguladoras e Executivas

O Objetivo institucional das Agências consiste na função de controle de pessoas


privadas incumbidas da prestação de serviços públicos, em regra sob a forma de concessão
ou permissão, e também na de intervenção estatal no domínio econômico, quando
necessário, para evitar abusos nesse campo, perpetrados por pessoas da iniciativa privada.
Em função dessa diversidade de objetivos, classificam-se, didaticamente, as
agências em duas categorias: (I) as reguladoras, com função básica de controle e
fiscalização, adequadas para o regime de desestatização; e (II) as executivas, mais
apropriadas para a execução efetiva de certas atividades administrativas típicas do Estado.
As agências executivas se distinguem das agências reguladoras pela circunstância
de não terem, como função precípua, a de exercer o controle sobre particulares prestadores de
serviços públicos. Tais entidades, ao revés, destinam-se a exercer atividade estatal.
Desse modo, a base da atuação das agências executivas é a operacionalidade, ou
seja, visa à efetiva execução e implementação da atividade descentralizada, diversamente da
função de controle, esta o alvo primordial das agências reguladoras. Com isso, não se quer
dizer que possam ter, entre suas funções, a de fiscalização de pessoas e atividades, mas sim
que tal função não constituirá decerto o ponto fundamental de seus objetivos.
Essa categoria de autarquia poderá ser qualificada como agência, quando:
 tenham plano estratégico de reestruturação e de desenvolvimento institucional
em andamento;
 tenham celebrado contrato de gestão com o Ministério supervisor.

143
Salienta-se que a tais agências a lei assegura autonomia de gestão e a
disponibilidade de recursos orçamentários e financeiros para que possam cumprir suas
metas e seus objetivos institucionais.
Como visto, as agências são entes dotados de autonomia, sendo sua criação
realizada por lei específica, que lhe confere personalidade jurídica de direito público interno,
patrimônio próprio e competências especificadas em sua lei instituidora.
O instrumento legislativo criador das agências tem condições de limitar, de forma
detalhada e abrangente, toda a competência delegada pelo legislador a essa entidade.
Acrescenta-se que, a lei instituidora da agência deverá mencionar sua
configuração, delineando não só sua competência e estrutura, mas também sua relação
com os demais órgãos integrantes do Estado. É necessário que a lei defina com clareza e
precisão a estrutura e a competência da entidade, para que possa a agência ver-se capaz
de realizar uma atuação independente, uma vez que, sem essa delimitação, de acordo com
o que prevê o princípio da legalidade, não se aperfeiçoará a criação do ente regulador.
Por fim, necessário se faz informar que os “postos-chave” de um órgão desse
perfil deve pautar por critérios técnicos, e a indicação desses agentes não pode ser ato
exclusivo do chefe do executivo, mas deve envolver inclusive o Legislativo, mediante
sabatina e aprovação dos nomes pela instância parlamentar (Marques Neto, 2005).
Ocorre que esta sistemática tem ensejado polêmicas em função da prescrição
constitucional que remete ao Chefe do Executivo a competência para prover os cargos de
direção da Administração. Em que pese ter o Supremo Tribunal Federal se manifestado,
reiterada vezes, no sentido de que não pode a lei introduzir outra sistemática de provimento
desses cargos que prescinda da vontade do Chefe do Executivo, Floriano de Azevedo
Marques, acredita que isso não torna ilegal a previsão legal de que a indicação do
presidente, governador ou prefeito terá de ser referendada pelo Parlamento. Isso porque,
nesse caso, não se está manietando ou vinculando a vontade do governante eleito, mas
criando um procedimento complexo do qual este participa de forma determinante.

144 USO RESTRITO


Projeto FAO TCP/BRA 3001

MODELO
CONCEITO CRIAÇÃO CONTROLE PESSOAL RECURSOS FINANCEIROS CARACTERÍSTICAS
INSTITUCIONAL

São pessoas jurídicas Somente podem - Supervisão do Concurso público, - Autonomia financeira - Autarquias têm personalidade
estatais autônomas, ser criadas por Ministro (a cuja ressalvadas as - Recursos podem ser oriundos de Direito Público, por isso
criadas por lei e Lei (art. 37, XIX, Pasta esteja nomeações para cargo de trespasse estatal ou hauridos podem ser titulares de
exclusivamente da CF). vinculada), o qual em comissão como produto da atividade que interesses públicos;
administrativas, ou seja, exercerá o controle declaradas em lei de lhes seja afeta. - gozam de liberdade
são entes descentralizados auxiliado pelos livre nomeação e - No que tange às relações administrativa nos limites da lei
com funções órgãos superiores ao exoneração. internas das autarquias, seus que as criou;
administrativas ou de do Ministério. - O regime de pessoal procedimentos financeiros - não são subordinadas a órgão
AUTARQUIAS
gestão de serviços públicos é o mesmo dos obedecem às mesmas regras algum, mas apenas
(INSTITUIÇÃO)
específicos. Servidores da de contabilidade pública controladas.
- Figuras da Administração Administração direta aplicáveis à Adminis-tração
indireta. (lei 8.112, de 1990). direta do Estado, ou seja, estão
sujeitos às normas gerais do
Direito financeiro e conseqüen-
temente, à Leis de
Responsabilidade Fiscal.
- Orçamento: Lei orçamentárias.

Unidade atuante integrante Somente pode Controle Interno - Concurso público, - Autonomia financeira
da estrutura da ser criada por Corregedoria Geral da ressalvadas as - Seus procedimentos financeiros
Administração direta. Lei. União; nomeações para cargo estão sujeitos às normas gerais
Controle Externo - em comis-são do Direito financeiro e
MINISTÉRIO Tribunal de Contas da declaradas em lei de conseqüentemente, à Lei de
União. livre nomeação e Responsabilidade Fiscal.
exoneração. - Orçamento: estabelecido por
- O regime de pessoal Leis orçamentárias.
- 8.112, de 1990.
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