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C AD E R N O D E

DESENHOS
E OUTROS TEXTOS EM PROSA E VERSO

PRIMEIRO CONCURSO CÂMPUS LITERÁRIO


IF SUDESTE MG – CÂMPUS BARBACENA
CADERNO DE
DESENHOS
E OUTROS TEXTOS EM PROSA E VERSO

GUILHERME COPATI
LUÍZA LAMAS
ROSELI BARROSO
VALÉRIA BERGAMINI
(Orgs.)

PRIMEIRO CONCURSO CÂMPUS LITERÁRIO


IF SUDESTE MG – CÂMPUS BARBACENA

2014
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO SUDESTE DE
MINAS GERAIS
CÂMPUS BARBACENA

Reitor: Paulo Rogério Araujo Guimarães


Pró-reitor de Extensão: José Roberto Ribeiro Lima
Diretor Geral do Câmpus Barbacena: José Alexandrino Filho
Diretora de Ensino do Câmpus Barbacena: Roseli Auxiliadora Barroso
Diretor de Extensão do Câmpus Barbacena: Valdir José da Silva
Comissão Organizadora: Guilherme Copati
Luíza Lamas
Roseli Barroso
Valéria Bergamini
Comissão Julgadora: Prof. Bernard Martoni Mansur Corrêa da Costa (IF
SUDESTE MG – CÂMPUS BARBACENA)
Profa. Maria Inês Resende (ESCOLA MUNICIPAL
CRISPIM BIAS FORTES – BARBACENA)
Profa. Joseli Ferreira Lira Valente (IF SUDESTE MG –
CÂMPUS BARBACENA)
Prof. Ricardo Madureira Rodrigues (IF SUDESTE MG –
CÂMPUS BARBACENA)
Prof. Richard Bertolin de Oliveira (COLÉGIO IMACULADA
CONCEIÇÃO – BARBACENA)
Capa: IF Sudeste MG – Barbacena
Aquarela – 22x21
Hemerson Alves de Faria
(Mineiro 123)
Editoração eletrônica, impressão e acabamento: Coordenação de Comunicação, Cerimonial e Eventos
IF Sudeste MG – Câmpus Barbacena
Guilherme Copati
Gráfica???
Revisão: Guilherme Copati
Luíza Lamas
Divulgação: Coordenação de Comunicação, Cerimonial e Eventos
IF Sudeste MG – Câmpus Barbacena

Copati, Guilherme et. al. (Orgs.).


Caderno de desenhos / Guilherme Copati et. al. (Orgs.); Deborah Walter de
Moura Castro et. al. Local: Gráfica, 2014.
64 p. ; 21cm.
ISSN:
1. Literatura brasileira – prosa e verso; I. Copati, Guilherme. II. Castro,
Deborah Walter de Moura.
Concurso Câmpus Literário do IF SUDESTE MG – Câmpus Barbacena
APRESENTAÇÃO

O Primeiro Concurso Câmpus Literário do IF Sudeste MG – Câmpus Barbacena

resulta da experiência de docentes, alunos e pedagogos no contato com a literatura e

com outras artes no contexto acadêmico que se revela a nós no cenário contemporâneo.

Divididos entre a paixão e a estranheza, a curiosidade infinita pela leitura e a rejeição

ocasional de obras desde as clássicas às mais populares, estudantes e professores

veem-se na contingência da leitura e da produção escrita dentro e fora de sala de aula,

local em que nem sempre há oportunidades suficientes para a revelação dos talentos

literários e dos textos que habitam as gavetas de nossos estudantes. Parecia-nos

sintomático de uma sede pela escrita o fato de muitos alunos de nosso Câmpus

manterem blogs e postagens de seus trabalhos em redes sociais, o que nos levou a

perseguir o sonho de reunir alguns trabalhos em um livro – volume físico, papel na mão,

emoção em ver um nome para sempre impresso e marcado no branco da página.

A ideia de um concurso literário foi articulada a partir da necessidade que sentimos

em dar espaço e vazão à produção artística da comunidade acadêmica do Câmpus, sem,

contudo, restringirmo-nos a nosso espaço de conforto. Ao abrirmos as inscrições também

para a comunidade externa de Barbacena e região, tivemos em mente o intuito de

estreitar as ligações entre a comunidade acadêmica e a civil, cumprindo, assim, com uma

importante função das instituições de pesquisa e ensino tecnológico e superior: o

desenvolvimento da extensão universitária, sustentáculo fundamental da educação no

país.

O projeto contou com o apoio inestimável da Diretoria Geral, da Diretoria de Ensino

e da Diretoria de Extensão, bem como da Coordenação de Comunicação, Cerimonial e

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Eventos do Câmpus Barbacena, setores sem os quais a idealização e divulgação desse

trabalho teriam sido inviáveis. Não podemos deixar de acrescentar um agradecimento

especial aos professores que se dispuseram a ler e avaliar os textos recebidos. E, é claro,

a todos aqueles que colocaram em nossas mãos seus mais preciosos escritos e

desenhos. Sem vocês, esse livro continuaria sendo um sonho, apenas. Somos muito

gratos a todos por terem-no tornado uma realidade!

A Comissão Organizadora.

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PREFÁCIO

CADERNO DE DESPEJO

Vamos abrir, juntos, um caderno de desenhos. Antes, um caderno de desejos. Sim,

porque estas páginas impregnadas de tonalidades despejam desejos que mancham

voluptuosamente a pureza sânscrita da folha. Como a menina Suzana, protagonista do

conto que dá título a este volume, escritores diferentes pintam, aqui, quadros dos mais

singelos aos mais brutais, e nos oferecem figuras móveis e cambiantes, sentidos

encontrados e perdidos, palavras exatas e inexatas que desfilam diante de nossos olhos

jamais impassíveis e nos convidam a sorver as cores dos sentimentos.

Misturam-se os tons acinzentados da psique em crise às tintas variadas que pintam

os conflitos de um coração adolescente. As mãos que colhem e matam o vermelho vivo

das rosas são as mesmas que derramam tintas mórbidas e obscuras sobre o caixão de

uma professora, em cores que escorrem do céu de uma cidade interiorana que presencia

um violento assassinato. O vestido branco da noiva que cavalga noite adentro é, quem

sabe, do mesmo pano de que se fez o coração dilacerado da mulher que desenha o céu

de dentro do quarto enclausurado – clausura do corpo e da mente, clausura do dever

histórico, da restrição social, da rebeldia sufocada. Neste livro, os abraços passeiam de

página a página, mas desencontrados e inertes, automáticos e azuis – inefável cor que

escapa da tela fria dos computadores que dominam mundos apocalípticos e pós-

apocalípticos em que não há contato. Seríamos os últimos seres humanos a caminhar

sobre a terra? Que cores escapam dessa solidão mortificada?

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O contato efêmero com o corpo do outro, metaforizado no abraço nunca

consumado e no toque que desnuda sem jamais revelar, desmancha-se na fumaça do

cigarro que impregna de cores tóxicas as visões oníricas e fragmentadas da cidade. Os

sinos dobram em cores arfantes e os sons pintam o céu e as galáxias, ora correndo,

apressados, ora vagos, ora alienados. As queixas de solidão e desamor surgem

amalgamadas às dúvidas e anseios que não encontram resposta no despertar insosso do

escritor. Sanidades questionadas, busca-se despir da roupa, da pele, da cor, até que se

chegue ao branco descarnado do osso, indício paradoxal da efemeridade. Em meio ao

caos e à observação lúdica das imagens escritas, resta-nos a reflexão metamórfica sobre

a palavra poética – cinzel preciso, plural oração.

As cores deste caderno são camadas de corpos que se vão arrancando. Fulguram

e gritam de dor e desejo. Despejam-se sobre nós como banho de tinta fervente que

dificilmente será apagada.

Guilherme Copati

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ÍNDICE

TEXTOS PREMIADOS
Primeiro lugar
Des(p)ejo PÁGINA 10
Autora: Deborah Walter de Moura Castro
Pseudônimo: Ma. Ira

Segundo lugar
Mulher PÁGINA 11
Autora: Tailinier Maria Mística Pereira
Pseudônimo: Mary Wollstonecraft

Terceiro lugar
NINHO – fragmentos PÁGINA 12
Autor: Luciano de Carvalho
Pseudônimo: Pássaro Livre

TEXTOS SELECIONADOS

Caderno de desenhos PÁGINA 14


Autora: Juliana Matozinhos
Pseudônimo: Margaret Delumeau
Contato PÁGINA 16
Autor: Herculano Tiago da Silva
Pseudônimo: Leandro de Freitas
Poema PÁGINA 18
Autor: Vinicius Mahier
Pseudônimo: Mahier
Suas mãos PÁGINA 19
Autora: Simone Magalhães de Andrade
Pseudônimo: Rosa Negra
Dúvida PÁGINA 20
Autor: Rubens Rodrigo de Lima
Pseudônimo: Erre-poé
Rosa Última de Copas PÁGINA 21
Autor: Wagner Ferraz Coelho da Silva
Pseudônimo: Sophie Claremont
Metalinguístico – oração PÁGINA 27
Autor: Pedro Augusto de Souza Carbogim
Pseudônimo: Ínfimo
Desamor ao próximo PÁGINA 29
Autor: Deiver Vinícius de Melo
Pseudônimo: D. R.
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Nem sei dessa pressa toda PÁGINA 31
Autora: Telma Glória Trindade de Moura
Pseudônimo: T. M. Takai
Poema ex(corrido) PÁGINA 32
Autora: Ana Bárbara Gomes Pereira
Pseudônimo: Regina Fróes
Efêmero PÁGINA 33
Autor: Fernando Domith de Paula Oliveira
Pseudônimo: Eduardo Koschek
Psique PÁGINA 35
Autor: Carlos Marcelo de Assis Batalha
Pseudônimo: Lardoff
Ser poeta! PÁGINA 36
Autor: Pablo Garcia de Oliveira
Pseudônimo: Oliveira Garcia
Quero meu mundo de volta PÁGINA 37
Autora: Silvia Lilita Rodrigues Pereira Monteiro
Pseudônimo: Mariana Freitas
Correndo... PÁGINA 39
Autora: Millena Stéfani Fagundes Nascimentos
Pseudônimo: Marina Poulain
Ermitão Descobre O Segredo PÁGINA 40
Autor: Arquimedes Bento Dias Neto
Pseudônimo: Juca Fonseca
Despertar PÁGINA 42
Autor: Polyanna Riná Santos
Pseudônimo: Lótus
Coração de tinta PÁGINA 43
Autor: Vinícius Ribeiro Alves
Pseudônimo: Cisco
Plural é melhor PÁGINA 44
Autora: Ana Carolina Dias Campos
Pseudônimo: Sophia Caráx
Nightmare PÁGINA 46
Autora: Lidia Oliveira
Pseudônimo: Flor-de-lis
A lenda do contador de histórias PÁGINA 47
Autor: André Geraldo de Sá
Pseudônimo: Alves de Oliveira
Abraçar-te PÁGINA 51
Autora: Kátia Angélica de Souza
Pseudônimo: Kakau Souza
Anseios PÁGINA 52
Autor: Deivide Almeida de Ávila
Pseudônimo: De-lírico
Amizade PÁGINA 53
Autora: Diana de Oliveira da Silva
Pseudônimo: Ever Padalecki Winchester
Dia do abraço PÁGINA 54
Autora: Simone Mara da Rocha Oliveira
Pseudônimo: Mare Moanis
Momento... PÁGINA 55
8
Autora: Mary Mendes Camilo
Pseudônimo: Gaivota
Pátria minha pátria PÁGINA 57
Autora: Dulcinéia Beatriz Oliveira
Pseudônimo: Dubeoliver
Hospitais psiquiátricos PÁGINA 58
Autora: Valéria Bergamini

*Os textos selecionados foram organizados segundo uma ordenação aleatória.

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Des(p)ejo

Deborah Walter de Moura Castro


(Ma. Ira)

Hoje a nuvem acordou pesada.


O dia não quis nascer.
Chorávamos dormindo.
E o tempo esqueceu de correr.
Dos olhos cerrados
escorria a vida de manto em sangue.
Enrugada penumbra que descia em chumbo.
Os corpos secando na escuridão.
O silêncio definhou num último ruído.
Uma estrela engoliu a noite em lentidão.

Foi assim que a vimos pular.


Atirar no coração.
Se enforcar de solidão.
Balançando os pés ao vácuo,
debruçávamos sobre nossa própria margem.

Sem solo, em sombra, sem som.

Fora uma vez a esperança.


Fora-se de vez numa nuança.

Fim sem nota, sem ponto, sem rodapé.


Sem funeral, sem gente, sem ritual.

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Mulher

Tailinier Maria Mística Pereira


(Mary Wollstonecraft)

Com teus dedos suaves, desenhas o céu


No imenso universo de um quarto vazio
Nas palavras amargas de um passado sombrio
Apagas as lágrimas de um destino cruel.

Grita de forma suave, feminino pudor


Calando direitos, vivendo deveres
Sufocando eternos dizeres
Mastigando silêncio, salgadas cantigas de dor.

Escalas as praças, suspende teu medo


Propaga a vida com amor imortal
Se perde na noite, a chaga do mal
Descobre a força de um peito em segredo.

Levanta a bandeira, decide a batalha


De uma guerra infinda, tão pouco vencida
Tu és mulher, criatura querida
Semente que o vento germina e espalha.

E se já tão cansada, de própria mão


Escreves a sina desgostosa da morte
Perde o mundo singela sorte
Trilha o caminho da solidão.

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NINHO – fragmentos

Luciano de Carvalho
(Pássaro Livre)

São João del-Rei,


do eu rei, aldeão.
Acalanto, lembranças,
cândido penhor, herança
do ninho do eu pintainho.

Blim-blém, blim-blém
Conversam,dobram os sinos,
soantes, sibilinos
pelo lépido menino
pelo sofrido, padecido
por Jesus, pela cruz que conduz
pela morte, pela sorte,
pelo santo, pelo sagrado manto.

Igrejas, anjos, sinos


ecoam cânticos, hinos.
E eu menino, filho da aldeia,
Pulsando na veia
o desejo terno,
atávico, balsâmico
de crer no Eterno.

De volta ao ninho
do então pintainho,
contemplo a aldeia.
Ao soar dos sinos,
O eu rei,citadino,
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não mais menino,
penitente, reverente,
em alma me inclino.

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Caderno de desenhos

Juliana Matozinhos
(Margaret Delumeau)

Era uma vez Suzana.


Suzana era diferente.
Não. Ela não era estranha. Nem do tipo que anda na rua de preto e ouve metal no
ultimo volume trancada no quarto. Nem era comunista, ou inconformada com o sistema.
Não era ateia, revoltada, alienada, bitolada, descontrolada ou confusa. Não... Nesse
sentido, até que era bem normal. Ela gostava de literatura. E história.
Nenhuma outra garota de 14 anos – ou mesmo de qualquer outra idade – conferia
tamanho poder à formidável dupla de papel e caneta: Suzana tinha o dom da construção.
Quem via uma garota miúda de cabelos ruivos com um caderno de desenho a tiracolo
não lhe dava muito valor, e, assim, ela seguia preenchendo o espaço em branco com a
caligrafia firme de quem sabe o que está fazendo – ora bolas, o seu maior desenho era a
prosa.
Tinha um apreço especial por dias ensolarados: sempre que podia, encontrava um
canto que disponibilizasse vitamina D, tirava a caneta do bolso e não havia céu ou inferno
que a fizessem parar. Começava assim, tímida, pensativa, seleta nas palavras. E, então,
sentia-se em casa ao ver que cada linha ocupava uma porção do espaço à sua volta,
perpassando pelo chão e transformando-o na grama mais verde e macia que se pode
desejar, e ela simpatizava com a ideia de estar deitada em um dos galhos de uma árvore,
como expectadora ativa de todo aquele mundo caligrafado.
Não inclinada a romantismos, preferia dedicar os seus esforços a cenas de ação.
Em dias mais agitados, ela escreveria dois cavaleiros. Ou dois exércitos, dependendo do
humor. E, então, a grama e as árvores davam lugar a algum monte rochoso com visão
privilegiada para a planície, ao som do retinir de aço versus aço.
Em dias frios, o máximo que produziria seria algum texto morno sobre a paisagem,
mas ela nunca parava. Mergulhava de cabeça na Londres do século XX, na Alemanha
nazista, no sertão nordestino, nos gigantescos castelos medievais, em investigações
policiais. Não se abstinha do sentimento bucólico, ou sonhador e utópico, e quem sabe de

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uma pitada de conservadorismo. Não raro, aparecia com livros dos quais ninguém nunca
ouvira falar, simpatizando com os 1000 tópicos sobre qualquer coisa, livros da história que
não aparece nos livros didáticos, noções de medicina para iniciantes, técnicas de
combate ou o metabolismo das abelhas – sim, isso aconteceu.
Não obstante, o que Suzana realmente apreciava era criar personagens.
Via mágica em cada um deles, na possibilidade de esculpir minuciosa e
carinhosamente cada uma de suas personalidades, cada uma de suas aparências, e,
quando estava sozinha, escrevia também uma conversa. Tomava-os como amigos
imaginários tardios, e, muitas vezes, deixava um escrito ao seu lado para fazer
companhia enquanto encontrava alguma história para ele.
Lembro-me uma vez de ter-lhe perguntado por que escrevia tanto: respondeu
simplesmente que gostava da companhia das letras, embora também desfrutasse das
pessoas. E, então, me ofereceu uma história para ler, tão maravilhosamente bem
imaginada e escrita que nunca mais li outro texto com os mesmos olhos.
Não convivi muito tempo com ela; em pouco tempo, mudou de cidade – talvez
procurando novos ambientes para preencher com suas histórias. Vez ou outra, tive
notícias suas.
Mas eu contentava-me em me lembrar de assisti-la submergir em seu caderno de
desenhos e escrever furiosamente até que o sol baixasse, e só então parar para assisti-lo.
Depois saía andando, cantarolando qualquer coisa e balançando o caderno. Dizia sempre
que gostava de tê-lo por perto, para poder fugir quando sentisse que o mundo estivesse
um pouco cinza.
Por algumas tardes, eu me sentei debaixo de uma árvore com um papel e uma
caneta, na esperança de que o sol também me ajudasse a escrever algum parágrafo que
fosse; nada consegui de tão fantástico – privilégio é de poucos – e eu só ficava ali
sentado, vendo o céu.
Ah, e antes que eu me esqueça: Suzana também gostava do céu.

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Contato

Herculano Tiago da Silva


(Leandro de Freitas)

Tato. Contato
Contando nos corpos
Fissuras, refrescos.
Pedaços molhados
A sentir digitais
Sem malha. Afresco.

Toca. Retoca
Sente o caminho
Caminha nas curvas
Nas formas das uvas
A raposa dos vinhos.

Entra. Penetra
No inconsciente vazio
Da forma inexata
Da maneira insensata
De tanto senso, estio.

Toca. Provoca
Amacia o nervo
Mata a razão
Anima a ação

De corpo em acervo.

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Instiga. Castiga
A carne perversa
Mostra-me os dentes
Da pureza aparente
Que o pecado alicerça.

Cerra. Encerra
O ato. A crença
A densa presença
A avença imensa
O vício dispensa
Um cigarro.
É hora de acabar.

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Poema
Vinícius Mahier
(Mahier)

Não, nem em mim.

E não há nenhuma sensação,


Apesar da angústia,
Que inventei quando a vergonha se teorizou.

Há também a fraqueza, mas esta me fora emprestada


Por circunstâncias de fé. Não é minha.
Não sou fraco. Penso todos os sonhos do mundo
E sou alguma coisa. Eis o meu rascunho.
Sou, fora de mim, alguma coisa.
Ainda alguma coisa, por mais que a fome do mundo
Se encerre na primeira estrofe.

O mundo não me comporta. A vida


Não me digere.
Passo por ela e faço um estrago quase irreversível.
No centro da sombra, que é minha,
Permaneço imóvel.
Famintas
Alusões às minhas alusões, possíveis forças,
Mas me canso
Diante do horizonte do poema.

Hoje é já, outro dia?

Não ligo!
Chego à porta e sorrio, dono
Nem do meu fumo.

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Suas mãos

Simone Magalhães de Andrade


(Rosa Negra)

Por suas mãos hei de morrer!


Em poeira e pó vou me tornar,
E quando a chuva então descer
Suco de mim vou fazer
Para o jardim poder regar.
Terei odor e forma de flor.
Quando, então, você passar,
Altiva, vou me oferecer,
E, de novo,
Por suas mãos hei de morrer!

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Dúvida

Rubens Rodrigo de Lima


(Erre-poé)

Aquele abraço profundo e forte


Veio trazer vida, ânsia, esperança, morte?
Abraço de descrença ou de sorte,
Que, aos meus braços tão cansados,
Veio trazer um rumo, um norte?
Longo abraço de sentidos,
De raiva e de dor desprovido!
Que trouxe?
Doçura, calma?
Que deixou o corpo cansado,
Mas louco de sentidos,
A boca seca e a alma quase morta!

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Rosa última de copas

Wagner Ferraz Coelho da Silva


(Sophie Claremont)

23 de junho de 1959

A pele da jovem era alva de uma tonalidade angelical. O pó de arroz encobria os


arranhões do episódio que chocara toda a cidade de Alto do Xopotó. As velas tremulavam
ao sopro do minuano entrando pela porta e frestas das janelas. Um Jesus crucificado
pendia de uma das paredes desbotadas da sala. O caixão era de dar vergonha aos
velhos Ulrichs de tão rústico, mas era o que o escasso dinheiro podia por ora comprar.
A noite prometia ser longa. Um jovem, largado sobre a cadeira, mirava o esquife ao
passo que o Dr. Assis dizia-lhe meia dúzia de palavras de consolo. De quando em
quando, alguém chegava e prestava suas condolências. Duas senhoras a um canto
falavam baixinho:
– Ainda não me conformo... Como pode ter acontecido isso a Luzia...
– Outro dia assistimos à missa sentadas no mesmo banco. Que barbaridade!
– Andam falando que é coisa do prefeito. Não duvido. Aquele velho é capaz de
tudo... – disse, com ar indignado.
– Fale baixo – interpelou-a. – Ninguém prova nada.
– Mas o Porfírio disse que viu um dos capangas do prefeito, o Zé Gambela,
encilhando o cavalo em frente à prefeitura. O Chico também viu.
– Porfírio é um bêbado. O Chico está caducando... Ninguém prova nada.
– De qualquer maneira, viram.
No quarto, a alguns passos de onde se velava a jovem, a mãe e a irmã jaziam num
choro abafado, estendidas na cama, agarradas a um travesseiro. O pai, agachado no
chão com as mãos envoltas nos joelhos e a cabeça recostada à parede, olhava com ar
patético para a porta. Advertira diversas vezes a filha a não se intrometer nos assuntos
políticos. Mas qual, quando Luzia colocava alguma coisa na cabeça, não havia santo que
a fizesse tirar a ideia. Por que não se contentara em ministrar aulas no colégio municipal?
Para a família, o inverno de 1959 deixaria marcas mais profundas que as geadas nos
pastos.
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O Prefeito adentrou a sala com alguns vereadores e o secretário geral. Olhou por
uns instantes para o cadáver e perguntou ao Dr. Assis onde estava a família.
– No quarto. Logo ali – disse, apontando para uma porta.
Sem palavra, a pequena comitiva dirigiu-se ao local indicado.
Embaraçados diante da cena, permaneceram em silêncio por alguns instantes. O
prefeito tomou frente:
– Viemos, em nome da prefeitura e do partido, desejar nossos pêsames à família.
Foi um episódio horrendo... Mas isso não fica assim, D. Ana. Os policiais estão
procurando o bandido. Isso não fica assim...
As duas mulheres desataram num choro abafado pelos travesseiros. O Pai, Alberto
Ulrich, agora olhava para a cara redonda e gorda do prefeito. Patife! O verdadeiro bandido
era ele. Covarde! Mandara matar uma pobre e indefesa moça. Mas só pensava, não tinha
coragem de falar nada. Ninguém tinha. Aquela corja ainda tivera a audácia de “desejar
nossos pêsames”. Cínicos... Hipócritas...
A noite ia ser longa. A negrinha tentava acalmar as mulheres com chá de folhas de
laranjeira. Mas era só alguém chegar e dizer as palavras de praxe que as coitadas
desatavam no choro. Não havia expressão ou pessoa capaz de consolar a família.

19 de junho de 1959

Os esteios e vigas estavam carunchados. Algumas vidraças quebradas e a


maçaneta da porta nem mais existia. As paredes descascavam e no chão ficava uma
camada fina de areia e pó. À menor ameaça de chuva, todos os alunos tinham de sair das
salas de aula e ir para o refeitório, pois o telhado vazava água.
Todo o corpo docente se reunira para discutir a situação com o prefeito, na
esperança de que ele pudesse reformar o colégio. Ao final da reunião, após ter escutado
as reclamações das professoras, deu seu veredicto:
– Os tempos estão difíceis. A prefeitura não tem um cruzeiro sequer para
disponibilizar. O máximo que podemos fazer é consertar as vidraças e as maçanetas.
Um silêncio de assentimento tomou conta. Passados alguns segundos, uma voz de
protesto surgiu do fundo da sala.

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– Senhor Prefeito, que andas fazendo com a verba pública esses anos todos além
de pintar a fachada da prefeitura e de outros prédios públicos? – disse Luzia – Não
acredito que a tinta custe tão caro...
A professorinha. Novamente se metendo onde não é chamada e me expondo ao
ridículo, pensava o prefeito. Ainda na semana passada tivera a audácia de invadir seu
gabinete e acusar-lhe de ímprobo. Estava indo longe demais.
– Professora, como já lhe expliquei em outra oportunidade, a prefeitura alimenta os
necessitados do Morro da Pedra e presta assistência às famílias carentes.
– Senhor Prefeito – disse, levantando-se –, ainda assim a verba pública daria e
sobraria para reformar esse velho colégio.
– Pois não dá – sobressaltou-se.
As outras professoras olhavam assustadas. Algumas faziam sinais para que Luzia
se sentasse.
– Não dá porque não quer. Sua família está no poder há gerações e nunca fez
nada. Embolsam descaradamente o dinheiro que nos pertence.
– Ora, professorinha...
– Ora digo eu, Sr. Prefeito. Já cansei de baixar cabeça pros seus caprichos. Só
estou dizendo o que todos pensam, mas não têm coragem de falar.
– Seu pai é homem de bem, professora. Quando souber disso, ficará muito
aborrecido. Peça-me desculpas e fingimos que isso nunca aconteceu.
– Isso é hipocrisia! – exaltou-se – O senhor é quem tem de pedir desculpas ao
povo de Alto do Xopotó por impedir a chegada do progresso.
O prefeito bateu forte na mesa, fazendo com que uma pequena nuvem de pó se
lançasse das laterais.
– Pois agora é que não mando verba nem pras maçanetas. – Dirigiu-se às outras
professoras – Os justos pagam pelos pecadores. Peçam dinheiro a Srta. Luzia, ela deve
ter de sobra.
– Não existe pecado maior que o vosso.
O prefeito apenas despediu-se e avançou para a saída. Um silêncio mórbido
abarcou o colégio.

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24 de junho de 1959

O cortejo seguia ladeira acima em direção ao cemitério. As beatas conduziam as


orações.
Ave Maria... O céu estava azul e límpido como nunca, o dia parecia não se importar
com a tragédia. Cheia de graça... O primo da jovem, Luiz Fernando, caminhava pensativo,
olhando para a rosa a qual segurava, ao passo que se recordava do exato momento em
que saía de casa e pessoas corriam em direção à praça escura. O Senhor é convosco...
Uma mulher gritava: “Deus do céu! Esfaquearam a filha do Alberto Ulrich!”. Bendita sois
vós... Luiz Fernando precipitou-se para a praça temendo o pior. Entre as mulheres...
Caída na sarjeta estava ela, Luzia, com o vestido manchado de vermelho e o sangue a
escorrer em meio à água enlodada. E bendito é o fruto... Um círculo de pessoas se
formou ao redor. Do vosso ventre... A polícia acabava de chegar. Jesus... Luiz Fernando
abriu espaço por entre as pessoas e ajoelhou-se frente ao corpo. Santa Maria... Segurou-
lhe a mão, mas nenhum sinal de vida. Mãe de Deus... Verificou-lhe o pulso, mas nada.
Rogai por nós... “Foi o capanga do prefeito”, disse uma voz. “Cala a boca”, disse outra.
Pecadores... Desesperou-se, começou a chacoalhar o corpo inerte. Agora e na hora de
nossa morte... Um guarda puxou-lhe para longe. Amém.
Desceram o esquife vagarosamente para o interior da lápide. Antes que fosse
fechada, Luiz Fernando deixou cair a rosa vermelha que trazia. A última rosa... E a lápide
se fechou. Para sempre. D. Ana desmaiou. A filha correu a ampará-la. Alberto
permaneceu imóvel, estático.

20 de junho de 1959

Noite de sexta-feira. Café Central. Habitual jogo de cartas com os amigos. Risadas,
chopp, homens falando alto.
– Sua vez, Hernandez – disse o Prefeito.
O outro jogou a carta.
– Ora, Hernandez, assim me complicas a vida... – riu-se.
– Falando nisso, fiquei sabendo que a professorinha continua lhe afrontando.

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O prefeito sorveu um gole de chopp e disse:
– Isso não é papel de mulher fazer. A rapariga anda me desmoralizando na cidade.
Ah, se fosse minha filha, já teria lhe passado o cinto há muito tempo.
– Alberto Ulrich é frouxo. Não é à toa que perdeu gado, terras e as propriedades
dos velhos Ulrichs. Estão falidos.
– “Essazinha” está fazendo com que as pessoas percam o respeito por mim,
autoridade máxima desta cidade – pigarreou – Ontem, depois que estive no colégio,
enlamearam todo o meu carro. Outro dia jogaram ovos no capô!
– Muito atrevimento...
– Pra mim já foi a gota d’água. – Sorveu mais gole de chopp. – Isso não fica assim.
Não fica...
Levantou-se e depositou, virada, sua última carta sobre a mesa.
– Passar bem, cavalheiros. – Foi-se.
Hernandez desvirou a carta: Dama de Copas.

25 de junho de 1959

Já não era mais aquela tristeza chorosa. Agora era o silêncio penoso de olhar para
a cara dos parentes e querer sair do clima pesado do casarão. Ninguém tocava no
assunto. Nem sequer falava-se um simples “bom dia” ou “olá”. Os Ulrichs se calaram
como nunca se haviam calado antes.
Ali, sozinho, debaixo da velha copaíba do quintal, Luiz Fernando pensava nos
acontecimentos dos últimos dias. Era difícil acreditar. Parecia que tudo fazia parte de um
pesadelo o qual se findaria ao despertar de um novo dia. Mas qual, vira com seus
próprios olhos o corpo de Luzia estendido na sarjeta, o sangue a escorrer-lhe pelo corpo e
percorrer o mesmo caminho das imundícies da rua. Tocara-o e sentira-o inerte, sem vida.
Recostado ao tronco, cabeça inclinada e braços largados, via-se submetido a uma
resignada aceitação. Parecia um ser sem sentimentos, oco. Não tinha forças, ou
coragem, de chorar e expurgar de uma só vez aquilo tudo que vinha sentindo, nem de se
levantar e continuar a vida.

25
Em pensar que Luzia voltava do Morro da Pedra onde estava fazendo caridade,
levando roupas e mantimentos pros miseráveis. E o que recebera em troca? Aquilo... A
polícia, naturalmente, não faria grandes esforços para resolver o caso. Em alguns meses,
as pessoas parariam de comentar o assunto e o episódio, aos poucos, seria esquecido.
Para sempre. Logo, também, a figura de Luzia seria esquecida. A mulher, a única com
audácia e bravura de lutar pelo que acreditava em uma terra de submissão e medo. Uma
voz de esperança calada brutalmente. Mas não haveria de ser em vão. Só seria em vão
se sua memória fosse enterrada junto a seu corpo. Alguém teria de dar continuidade ao
novo caminho iniciado por ela. Sim, inspirar seus anseios e lutar com o mesmo alento.
Luiz Fernando levantou-se. Uma lágrima escorreu-lhe pelo rosto. Olhou para o céu,
sorriu.

26
Metalinguístico – oração

Pedro Augusto de Souza Carbogim


(Ínfimo)

Gostaria de lhe dizer as mais belas palavras de todas as línguas – até as não inventadas
Substantivos comuns, próprios, abstratos, concretos, primitivos, derivados, compostos e
[coletivos que fossem capazes de a nomear.
Junções de grafias eruditas que exprimissem o furacão etimológico das minhas ternuras
Vocábulos encabulados que gritassem meus anseios por verbos de presente e de futuro
Adjetivos incomuns que caracterizassem todos os micro-detalhes das suas exceções
Artigos precisos que determinassem nada, porém as mais sinceras intenções
Conjunções conjuntas que nos conectassem como dois termos de mesma função
[sintática.
Preposições versáteis que me fizessem, com graça, ser regido pela regente
Numerais exponenciais que não fossem os partitivos ou fracionários, apenas os que nos
[multiplicassem.
Marcas gráficas perenes que nos acentuassem apenas em ditongos bem abertos
Advérbios sem ressentimentos que modificassem os verbos do passado para passarem
[mais ligeiros.
Apostos hiperbólicos que nos explicassem e nos desenvolvessem, entretanto jamais nos
[resumissem.
Predicados bitransitivos que complementassem todos os meus verbos, pois, sem ti,
[tenho sentido incompleto.
Separações silábicas não tão separativas que sempre nos separassem em ditongos e
[nunca em hiatos, excluindo os tritongos.
Períodos compostos que compusessem diversos momentos de completo desfrutamento
[entre nós.
Concordâncias sensatas que sempre concordassem o substantivo “teu nome” com o
[verbo “possuir”.
Fundamentos sintéticos da análise sintática que apenas se preocupassem em nos
[analisar como os únicos sujeitos da oração

27
Estudos atenciosos da fonética que comprovassem que meu “eu” consonantal necessita
[do teu “eu” vogal para emitir os sons da boa-ventura
A única salvação gramatical que me resta para reconquistá-la são meus vocativos
[desesperados que suplicam pelo seu retorno:
– Lindinha, venha cá!
– Florzinha, volta pra mim!

28
Desamor ao próximo

Deiver Vinícius de Melo


(D. R.)

Hoje se faz ausente


O encanto que antes era nosso
Talvez, em meio a tanta gente,
Se perdeu e encontrá-lo já não posso.

As pessoas não se valorizam


E não se respeitam mais
É triste pensar que com cem reais
Compra-se a bela companhia
De uma moça ou de um rapaz.

O respeito hoje não aparece


A alegria, sim, desaparece
Tomem as dores do mundo,
Que hoje é triste e imundo!
Apodreçam na sarjeta e não chorem!
Porque isso buscaram com as mãos
Podres e sem o pudor de irmãos.

Não escondam a tristeza num copo


Cheio de cerveja ou bebida destilada
O que antes era tudo, hoje não é nada
A inteligência é agora menosprezada
E o sonho do futuro se acabou
Quando, de longe, alguém gritou:
“Os valores se acabaram por agora!
E nos venderemos sem amor!”.

29
De fato o amor, assim como os discos de vinil,
Assim como as serenatas embaixo da janela,
Aqui, hoje e agora, simplesmente sumiu
E devemos sentir luto por sumir coisa tão bela.

30
Nem sei dessa pressa toda

Telma Glória Trindade de Moura


(T. M. Takai)

Te escrevo sorrateiramente com desdém


Te ameaço
E me faço refém
Do teu ódio - refém
Com versos vazios
Preencho a vida
De alguém
Assino o chão que tu pisas
Mergulho a cara na coragem
E de lá tiro
O medo
Te amarro a barca do alto do inferno
Debaixo do negro céu que encerra
Meus dias amargos
Ah, mundo moderno
Do eterno lamentar
Da dor de amar
Ao dom de andar
De mãos vazias
Por aí.

31
Poema ex(corrido)

Ana Bárbara Gomes Pereira


(Regina Fróes)

Desculpem,
Não tinha reparado, na verdade não tenho parado
É o preço que tenho pago por te deixar tão de lado.

Sabe o que é?!


São essas ideias insistentes.

Sabe o que é?!


São essas tendências tolas e meras convenções,
que, aliás, andam me entediando.

E eu vou deixando tudo picado,


meios versos de lado
um rascunho amassado
um suicídio sem ver.

Me esquecendo
Abafando ou ignorando aquilo que acho belo.

Isso só não é maior que meus delírios amenos,


aquilo que me ensinaram a chamar de sonhos,
que ainda estão em branco e preto.

32
Efêmero

Fernando Domith de Paula Oliveira


(Eduardo Koschek)

Bernardo passava a maior parte de seu tempo lendo nas sombras calmas de uma
grande árvore profundamente enraizada, a alguns metros do Campus de sua
universidade, mas não havia sempre sido assim. Houve uma época na qual não se
interessava muito por palavras, conceitos ou ideias. Apenas vivia aventura após aventura
mergulhado em álcool e mulheres de índole duvidosa. Se alguém perguntasse, ele não
saberia dizer porque havia mudado. Porque, subitamente, livros de filosofia passaram a
interessá-lo, porque pensar nas coisas havia passado a fazer sentido. Ele havia
abandonado tudo, as festas, as bebidas, a diversão e, ele gostaria de dizer, a leviandade.
Mas, depois de apenas alguns meses, ele havia percebido que não havia real diferença
entre o que fazia antes e o que fazia agora, pois, no fim de tudo, quando retiramos o pano
enfeitado com rendas, quando retiramos as cores, quando rasgamos a pele e a carne,
quando enfrentamos o medo ou ele simplesmente nos abre os olhos com um tapa na
cara, tudo o que vemos são ossos. Brancos, lisos perfeitos.
E este não é o fim.
Os ossos também desaparecem, sua existência é tão efêmera quanto uma bolha de
sabão. O que sobra no final é apenas pó. Palavras, conceitos, filosofia, orgias, beijos,
amor, ódio, roupas, casas, bandeiras, ideologias, patriotismo. Tudo um gigantesco
amontoado de pó, encerrado no âmago dos seres humanos, e Bernardo tentava
compreender, de todo coração, o medo das pessoas do vento que eventualmente viria
para levar tudo isso embora.
Para que tantos alicerces? Para que tantas convicções? Para que a alma? Como
alguém pode passar uma vida inteira tentando preencher algo inexistente? Como alguém
pode afirmar tê-lo feito? Como tolos podem acreditar? Como um simples homem pode
criar um rebanho de milhões sob um pedaço de pano chamado bandeira? Como um
homem pode enriquecer até vomitar notas sujas em um carpete de veludo apenas sob a
crença em uma entidade muda, invisível e ausente?
Sua namorada, Débora, subia a pequena colina em sua direção. Sim, ele possuía
uma namorada, e ela sempre sabia como encontrá-lo. O vento de fim de tarde balançava
33
de maneira preguiçosa as folhas e seus longos cabelos loiros, e Bernardo se sentia
especialmente chateado sobre os pensamentos que cruzavam sua mente enquanto a
olhava sorrir de longe. Ele imaginava o que havia por baixo, mas não da maneira como a
maioria dos homens imaginaria. Sim, ele retirava suas roupas com a imaginação, mas
isso não era o fim. Retirava sua pele, retirava seus músculos, até ver apenas os ossos.
Imaginava o crânio por debaixo dos olhos azuis, dos lábios meio abertos, de suas
bochechas rosadas. Imaginava tudo aquilo virar pó e ser varrido, e a noção de tempo
abarcava sua mente num abraço indesejado. Não havia beleza no efêmero, não havia
beleza em lugar algum, pois nada era eterno.
Bernardo olhou seus pequenos sapatos rosa amassando a grama e um sentimento
de nostalgia irrompeu em seu cérebro. Ele não fez esforço para rechaçá-lo, pelo contrário,
saudou-o como um substituto aceitável para todo aquele alvoroço em sua mente.
Bernardo olhou uma última vez. Ele tinha pena de Débora, tinha pena de seus sapatos
rosa e seus cabelos loiros. Bernardo tinha pena de si e de todo o resto. Apenas pó
esperando para ser varrido pelo vento vazio da ausência de sentido.
- Olá, Bernardo - disse Débora, um pouco ofegante devido à subida.
- Olá, Débora - respondeu Bernardo, com seu sorriso honesto e encantador.
- Vamos para casa?
- Por que não se senta um pouco, meu amor?
Débora sorriu.
- Você não pretende me ensinar sobre esses livros estranhos que lê, certo?
Bernardo sentiu-se realmente feliz pela pergunta, sem saber muito bem por quê.
- Não, Débora, quero apenas sentir o vento e seu corpo contra o meu nesse
momento tão belo, para que eu possa me recordar disso daqui a anos, quando talvez a
vida não seja tão agradável quanto agora.
Débora deu uma risadinha muito graciosa.
- Você é estranho às vezes, Bernardo.
- Nunca se sabe, querida. Nunca se sabe quando veremos outro céu como este.

34
Psique

Carlos Marcelo de Assis Batalha


(Lardoff)

Minha alma é invadida por uma profunda inquietação, uma angústia, destas que
não tem um porquê, uma razão.
São estas e aquelas que nos tiram o sono, roubam a paz!... Fragmentos do
passado, fantasmas do presente ou até bem mais.
A escuridão como um véu na madrugada, um frio constante em incessantes e
delicadas rajadas de vento, acaricia meu rosto, em face da solidão do momento... Solidão
eterna em horas... Perpétua em segundos...
Tudo está em seu lugar, mas há uma desorganização severa no compasso das
coisas. Mensagens que gritam em um silêncio absurdo da razão, do que não pode ser
entendido pela expressão humana. É o vazio que transpassa a mente, é o coração que
arde em brasas de incertezas.
É certo que nada vem da pureza, é sabido que não tem nada a ver com sonhos
materializados em sono profundo. É só um sussurro perto do ouvido, da forma e jeito
como se compartilham segredos.
Esta voz que não vem de dentro do meu ser, não fala de amor ou prazer, sugere
traição. Impõe em minhas narinas o cheiro da morte.
É perverso o inconsciente que te conta historinhas em reflexo da verdade. Mesmo
pelo mal entendido, avisado é. É o dedo na ferida, é um espinho no pé!

35
Ser poeta!

Pablo Garcia de Oliveira


(Oliveira Garcia)

Ser poeta não é apenas escrever ou rimar,


Ser poeta é saber usar as palavras para os mais puros sentimentos expressar!
Ser poeta não é apenas se declarar a fim de sua amada conquistar,
Ser poeta é fazer da poesia a maneira de sua tristeza confessar!

Ser poeta é viver intensamente!


É esquecer que houve passado, que haverá futuro e se dedicar somente ao presente!
É fazer com que os mais puros versos fiquem marcados eternamente,
Na memória de quem o amou realmente!

Ser poeta não é apenas fazer juras de amor,


Pois as palavras que um dia dizem eu te amo podem amanhã te trazer a dor.
Ser poeta é acreditar que por mais que perca um dia será vencedor.

Ser poeta é fazer da fantasia verdade!


Ser poeta é fazer da poesia a mais digna realidade!
Ser poeta é fazer da pária falsidade a mais bela sinceridade!

36
Quero meu mundo de volta

Silvia Lilita Rodrigues Pereira Monteiro


(Mariana Freitas)

Ah! Se aqui hoje minha avó voltasse a viver


Um susto para novamente morrer
Ela com certeza levaria
E outra vez para o outro mundo partiria.

- O quê? Acho que estou em outro planeta sim


Não reconheço este lugar, não deixei isso assim
Parece que nunca estive aqui
Não é este o mundo em que vivi

Como conversar com alguém tão distante?


Não precisa mais ir até ao amigo importante
A telinha mostra tudo, para vê-lo é só clicar.
Carinho só de longe, não podem se tocar.

Telefone não tem mais fio.


Fora de casa, no ar, no rio. . .
Os correios não entregam mais cartas
O e-mail chegou. O amor em versos acabou.

Ninguém mais se encontra frente a frente


Que solidão! Solidão diferente.
Tem-se milhares de amigos no Face
Mas na face ninguém te olha.

Uma coleção de amigos, duzentos a mais de mil


O coração sem nenhum, continua vazio

37
As mãos não têm a quem se unir, abraço frio
O sorriso é somente para poses, para fazer um selfie.

Brasil inteiro. Itália. Portugal. Tudo ao alcance


Tudo sem fronteiras, sem barreiras
Só há barreiras no interior humano
Onde a tecnologia ainda não pôde atuar.

Para mim, o amor é sem limites


Os amigos verdadeiros são irmãos
O contato é direto, é face a face
Cumprimento é com aperto de mãos.

Vivem num mundo virtual


Não sentem o calor do laço, do abraço
Por isso, sem temer, sem hesitar
Quero para o meu mundo voltar.

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Correndo...

Millena Stéfani Fagundes Nascimentos


(Marina Poulain)

Correndo sozinha no escuro para tentar entender


Tentando só aproveitar o tempo, ao invés de o perder.
E o perdendo cada segundo mais,
E errando o dobro de vezes, mas tanto faz.

Viajando em um universo paralelo


Tentando me desprender do passado
Mas não conseguindo desatar o elo,
Para tentar consertar o errado.

O tempo passa e é preciso aceitar


Que, às vezes, a vida corre, sem nem ao menos se notar.
Afogando as lembranças... Apagando a memória,
Só para tentar mudar o rumo dessa minha maldita história.

Sempre correndo, não se pode parar.


Mas se paro, me desvio. Não consigo voltar.
O suor escorre em minha face, e o choro cessa.
Paro de pensar, me prendo aos instintos.
Saio da estrada, ignoro essa pressa.
Se estou silenciada, não me interessa;
Só às vezes me incomoda você não puxar conversa.
Mas tanto faz; o rumo das coisas já se tornou até banal.
Engolir você, e vomitar a parte sentimental.

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Ermitão descobre O Segredo

Arquimedes Bento Dias Neto


(Juca Fonseca)

A humanidade progrediu. Veio o motor de combustão interna, as armas nucleares,


químicas e biológicas. Veio a conquista do espaço. O homem foi à lua e voltou. Enviou suas
crias computadorizadas para todo o sistema solar. Sondas orbitaram os planetas e satélites, a
fim de estudá-los. Até que a humanidade partiu para fora da Terra.
Henrique Leopoldo nascera na Terra no ano de 2.538 D.C. e alistara-se no Exército de
Expansão da humanidade aos 20 anos. Ele participou da conquista dos primeiros exoplanetas
habitados. Foram tempos sangrentos, pois as tropas do E.E.Human., munidas de armas de
última geração, contavam ainda com legislações autorizando a eliminação de qualquer forma
de vida inferior para promover o progresso da humanidade.
Após várias chacinas que usaram desde bombas de nêutrons até os simples lasers
carregados por todos os soldados, a humanidade conquistou uma série de planetas. Henrique
Leopoldo liderou muitas delas, matando os diversos seres encontrados apenas para cumprir
ordens.
Ele pediu dispensa do exército, após servir por trinta anos terrestres, para voltar para
casa, pois sentia que algo estava errado. Mas sua casa estava abandonada há dez anos, pois
os humanos a destruíram e não mais se importavam com ela. Eles agora habitavam Marte,
Mercúrio, a Lua e vários exoplanetas. A Terra, depois de usada até a degradação, fora
deixada de lado, tornando-se um deserto.
A chegada à Terra foi possível através de uma carona numa enorme nave cargueira,
que vagava pelos domínios da humanidade coletando e vendendo todo tipo de sucata
encontrada no caminho, pois já não existiam mais transportes coletivos para a Terra.
Ninguém ia para lá.
Já na Terra, Henrique Leopoldo, ex-capitão do E.E. Human., tornou-se o Ermitão. No
deserto que se tornara o terceiro planeta do sistema solar, ele buscou e encontrou muitos
livros de papel esquecidos, pois os livros atuais só eram lidos através dos computadores e
dispositivos eletrônicos. Ele leu durante anos a fio. Chegou a conclusões a que todo ser
humano que não estivesse tomado pela ganância do progresso poderia chegar. O Ermitão
encontrou O Segredo há muito esquecido pelos seus semelhantes.

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Usou uma velha tela de comunicação, esquecida anos antes na Terra. Quando gravou e
enviou sua mensagem em vídeo para todos os seus irmãos, somente uma mensagem
automática lhe respondeu:
– Se você vê esta mensagem, saiba que estamos passando por uma situação urgente.
Os alienígenas encontrados no quinquagésimo exoplaneta, denominados Dragões, estão
vencendo a guerra conosco. Nossa raça bate em retirada para o sistema solar, nossa terra
natal. Precisamos de cada braço nesta nova luta travada pela vida de nossa espécie.
O Ermitão percebeu que a mensagem era repetida infinitas vezes há pelo menos cinco
anos. Então, ele soube, em seu âmago, que todos os seus semelhantes estavam mortos.
Soube que ele era o último de sua espécie. Mas lamentou apenas que não tivesse tido tempo
de falar para todos sobre O Segredo que descobrira. O Ermitão havia descoberto novamente
o amor, o respeito por outras formas de vida. Ele encontrou tudo nos livros e sonhou que a
humanidade pudesse ser como os índios um dia foram: amantes de todas as formas de vida e
capazes de viver em harmonia com elas, sem obliterá-las.
Uma escolha seria tomada pelo Ermitão. Seus olhos fundos, cingidos por uma pele
cinza e enrugada, brilharam com a possibilidade de ele ser considerado um Deus algum dia.
Para isso, ele só teria que programar uma Máquina de Produção da Vida com seu material
genético para que fossem criados seus clones. Essas máquinas estavam espalhadas aos
milhares pela Terra, e elas funcionavam por bateria. Não deveria ser difícil achar alguma
funcionando. Elas eram capazes de produzir clones com qualquer idade desejada, e, para
proliferar a humanidade novamente, só bastaria produzir clones fêmeas recorrendo ao banco
de dados da Máquina.
O Ermitão pensou muito e chegou a uma conclusão. Concluiu que sua espécie era
portadora de uma mácula terrível: a ganância. Ele decidiu findar isso. Porém, eliminar a
mácula deveria ser algo feito de uma forma poética, e O Ermitão partiu para uma busca. E
encontrou o que buscava numa velha farmácia.
O Ermitão, amante de livros, levou a substância letal à boca, deitou-se no chão frio,
fechou os olhos e pensou:
– Como em Romeu e Julieta... – E partiu para um eterno sono profundo, sonhando com
formas de vida realmente inteligentes que talvez existissem. Formas de vida que entendem e
respeitam outros seres.

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Despertar

Polyanna Riná Santos


(Lótus)

De repente, eu estava aqui


Meio assustada, meio sem rumo
Atordoada em brigas de ego sem fim.

Despertei-me de vidas passadas,


Costumes antigos e vestes puídas
Que o tempo não levou.
Encontrei-me pela primeira vez
E como foi difícil...
Sofri. Caí. Renasci.

Por esse primeiro suspiro de vida,


Eu quis viver,
Quis mudar tudo...
Então, caminhei bastante.

Descobri o valor de coisas simples


Encantei-me com o significado real do amor
Escolhi ser o melhor que posso ser
E não mais, o que posso ter.
Foi assim que me percebi feliz!

42
Coração de tinta

Vinícius Ribeiro Alves


(Cisco)

Risco...
E em um traço certeiro, torno-me forte!
Cubro-me de tintas, colores, tantas coloro-te.
Rabisca-me suas ofensas...
Apago-as.
Pinto de branco suas palavras...
E faço heróico seu silêncio!
Louvável silêncio...
Oro.
E na fina tela arrasto meus cabelos,
Tingidos de velho... Apenas tingidos...
Assopro, assombro, acolho.
No preto há quem me veja,
E no claro há quem se esconda.
Beijo o breu, o vinho e a sujeira... Que também é minha!
Suo em sua sala...
Exponho-me à observação.
Risco nua sua aparência;
Agita os instintos!
Seus lábios confundo...
Seus ombros construo.
Seu corpo assumo!
Levanto escravos pincéis,
Desmancha a mim, todo e qualquer resto!
Perco-me nas cores, e também nelas me acho!
Confuso e trágico coração de tinta!

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Plural é melhor

Ana Carolina Dias Campos


(Sophia Caráx)

Sorriso é melhor. Abraço é melhor. Plural é melhor...

Tem certas coisas que me arrancam um sorriso


E até me fazem caminhar mais devagar
Os meus vizinhos olhando na janela
Esperando cada um passar.

Tem certas coisas que me assustam hoje em dia...


Com tanta pressa e compromisso de chegar
Ainda há gente que acena e diz: – “Bom dia!”
(Talvez) esperando seu amor passar.

Eu olho tudo – e em tudo vejo que há vida


Eu vejo todos – e todos parecem dizer:
“Eu preciso de um minuto, de um abraço
De um carinho... Eu preciso de você!”

E pela rua, um cachorrinho me seguindo!


Com aquela cara “eu preciso de carinho”
E as crianças que olham à sua volta
À procura de alguém, de um herói para seguir.
(Quem é herói pra se seguir?)

O meu herói? Já nem sei mais onde se encontra –


Se nos meus sonhos ou num dia tão normal.
Eu o procuro em cada face das pessoas
(Aquelas que passam, mesmo sem falar coisa alguma).

44
Rever amigos que há muito andam sumidos
E elogiar (sinceramente!) faz tão bem
São coisas simples que arrancam um sorriso
Daquela pessoa que te quer tão bem.

Eu olho tudo – e em tudo vejo que há vida


Eu vejo todos – e todos parecem dizer:
“Eu preciso de um minuto, de um abraço
De um carinho... Eu preciso de você!”

E pela rua, um cachorrinho me seguindo!


Com aquela cara “eu preciso de carinho” (e eu também!)
E as crianças que olham à sua volta
À procura de alguém, de um herói para seguir.
(Quem é herói pra se seguir?)

Sorriso é melhor. Abraço é melhor. Plural é melhor...

45
Nightmare

Lidia Oliveira
(Flor-de-lis)

Recuo no espaço.
Gelado canto do quarto
animal ameaçado.
Recuo do medo que me pressiona
contra a parede.
Faço força,
contrária à saída da porta
estagnada pelos ponteiros.
Correria do frio constante
não me fossem as pálpebras escuras.
E se o medo é uma pressa
que vem de todos os lados,
Rosa não me pode salvar.
As pétalas me tocam os pés
com secura e sem perfume.
De onde vêm as mãos
que me sufocam o crânio?
Buscando a explosão
desse grito abafado.
Não me posso salvar, ruído.
Carcaças mentais aflorando
nas paredes.

Já posso acordar.

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A lenda do contador de histórias

André Geraldo de Sá
(Alves de Oliveira)

Há pessoas nas Minas Gerais de extremo talento oratório, que são capazes de
criar exímias histórias. Durante a minha estada na fazenda Recanto do Luar, pude
conhecer Seu Gregório e suas surpreendentes e aterrorizantes histórias. Era quando a
noite caía, e nos reuníamos em volta da fogueira, que Seu Gregório tomava a voz do
ambiente para si; e nós  eu, moradores e empregados da fazenda  lhe emprestávamos
os ouvidos. Éramos todos a plateia daquele homem, que com sua narração, nos
transportava para diversos lugares dentro da sua cabeça, como em uma viagem de trem.
Foi em uma noite de lua cheia que presenciei a mais pavorosa história que jamais ouvi.
Sim, digo presenciei pelo fato de que coisas sobrenaturais aconteceram enquanto eu
ouvia mais uma história de Seu Gregório. Lembro-me ainda daquela história e dos
sentimentos que despertara dentro de mim; assim ela me foi contada:
Clara era uma jovem mulher que sonhava com um marido. Como morava na
fazenda, distante da cidade e de outras fazendas da região, ela sentia necessidade de
cavalgar pelos campos à procura de amizades e amor. O Coronel Antenor é que não
gostava de ver a filha cavalgando por terras que ela não conhecia. Tinha medo de que ela
encontrasse, pelo caminho, malfeitores, que dela poderiam se aproveitar. Foi quando
Coronel Antenor descobriu que Clara havia conhecido Seu Rafael, e com ele se
encontrava todas as tardes. Desse modo, resolveu proibir a filha de cavalgar para longe
da fazenda.
 Mas, pai, que mal há em cavalgar com Seu Rafael?
 É que esse moço é filho de Quirino, e esse homem já aprontou tanto que só tem
o meu rancor e meu ódio. E, sabendo Quirino que o filho cavalga com minha filha por aí, é
capaz de querer fazer alguma maldade só para me aborrecer. Então, trata de não
encontrar nunca mais esse Seu Rafael. E, se faço isso, é porque quero o seu bem.
Até esse momento, prestava eu atenção à história com certa curiosidade. As
pessoas à minha volta não faziam um ruído sequer, pois sabiam que uma história
memorável começara a se desenvolver junto ao calor do fogo. Nosso narrador continuou

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a contar:
Clara, por se sentir injustiçada pelo castigo imposto, devido à desavença do pai e
de Quirino, um dia mandou um menino da fazenda entregar uma carta a Seu Rafael. Na
carta, estava combinado um lugar próximo à fazenda para um encontro na manhã
seguinte. Clara se aprontou logo, e tão bela se pôs a cavalgar para o campo, a oeste da
fazenda. Eu estava tão imerso na história de Seu Gregório que, no exato momento, ouvi
os cascos do cavalo de Clara castigando o chão em seu galope. Porém, ela não
encontrou Seu Rafael nesse dia, e nem nos próximos dois meses. Clara vivia agora
trancada no quarto; estava tão magra e pálida, parecendo muito doente, como se já
esperasse a morte chegar. Coronel Antenor se compadeceu, e resolveu dar uma festa na
fazenda para a filha, que faria aniversário na próxima semana. Matou um porco, chamou
os violeiros e sanfoneiros, deixou um cartaz na cidade; queria a fazenda cheia, em festa,
para ver de volta a alegria da filha. E, então, uma festa como um baile de máscaras
aconteceu; porque Clara se julgava tão feia, que somente aceitou a festa sob condição de
que pudesse esconder o rosto. Eu mesmo ouvia as músicas em meus pensamentos.
A festa se estendeu por toda a noite, e, ainda de madrugada, Clara não parecia
feliz. Comera pouco e recusava os convites para dançar. Somente havia dançado com o
pai aquela noite, algumas músicas, ficando sentada no banco encostado à parede na
maior parte da festa. Coronel Antenor foi tomado pela tristeza da filha e imaginou que
Clara jamais teria um sentimento de felicidade. Eu, ouvindo a história, já sentia pena da
jovem mulher. Nesse momento, percebi alguém sentado num banco mais distante.
Parecia uma moça e estava sozinha no escuro. Somente via o branco do vestido a
balançar na fresca brisa da noite. A esta altura da história, Clara foi convidada por um
estranho mascarado para uma dança. Algum sentimento adormecido dentro dela
despertou, e nos braços daquele homem ela se envolveu numa dança graciosa. A dança
era imitada pela mulher de vestido branco que nos acompanhava de longe. Parecia se
divertir com a história, e agora incorporava a personagem Clara dançando solitária.
Coronel Antenor foi tomado de súbita alegria, e a verdadeira festa começou. Todos
dançavam e cantavam, e comiam, e riam, e conversavam, e bebiam, e beijavam, e caíam.
Enquanto a festa continuava, o casal se retirou para fora da casa em busca de
privacidade e caminhavam de mãos dadas enquanto trocavam conversas diversas. Nem

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foi preciso o homem retirar a máscara para Clara saber que se tratava de Seu Rafael.
Amaram-se durante aquela noite e as outras seguintes, com o consentimento do Coronel
Antenor, que não mais se opunha à felicidade da filha. O casamento foi marcado para o
mês seguinte, e Clara já havia recuperado todo o vigor.
Chegado o dia do casamento, a capela de Nosso Senhor Jesus do Bonfim se
encontrava cheia de gente, de toda a cidade e da roça. O noivo, ansioso, esperava no
altar a sua noiva, que estava atrasada, como acontecia com noivas em tantos outros
casórios. Depois de quase uma hora de atraso, a carruagem da noiva para próxima à
porta da capela, e dela desce Clara exuberante em um longo vestido branco. Coronel
Antenor, tomado pela emoção, acompanhou a filha e a entregou ao genro. Foi quando o
casal se preparava para trocar as alianças que entrou na capela o Quirino, acompanhado
de muitos capangas. Neste momento, a fogueira bruxuleava como se apavorasse e, presa
às toras e o carvão, tentasse escapar. Os estalos estridentes eram como gritos de
lamento e clemência.
 Meu filho não vai se casar com essa vagabunda.
E sacou um revólver, disparando contra a jovem Clara. Dois dos disparos atingiram
no peito, enquanto os capangas chacinavam os convidados, que assistiam ao casamento.
Somente o padre e Seu Rafael foram poupados, mas não poupado dos açoites do chicote
de Quirino este último.
 Vem pra casa, moleque desobediente.
E foi arrastando Seu Rafael pela capela até que as luzes se apagaram e a porta se
trancou. Do altar, Clara se levantou, e agora, era ela a luz. Uma rajada de vento partiu
dela empurrando tudo e todos contra a parede. Nenhum disparo, e nem as orações do
padre foram capazes de enfrentar a fúria daquela mulher. De sua boca saíram as
palavras:
 Devolva-me aqui o meu marido, pois quero cavalgar com ele pelos campos.
E, contra a própria vontade, Seu Rafael foi de encontro à sinistra e branca mulher,
que se recusou a morrer. Clara apanhou um cavalo fora da capela e se pôs a cavalgar
com o marido para os campos, enquanto os moradores da cidade fugiam da frente do
cavalo daquela mulher apaixonada. E, nessa hora, um cavaleiro interrompeu a história,
invadindo o pátio de fora da fazenda e parando ao lado da mulher de branco. Ela subiu no
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cavalo, e partiram em cavalgada, através da noite de lua cheia. Eu mal pude compreender
se aquela história era real, ou se teria escapado da mente de Seu Gregório. Nosso
narrador jogou água na fogueira e nos chamou para dentro da casa:
 Vamos nos deitar, não traz bom agouro interromper o amor destes dois.
Deixemos que cavalguem alegremente pelos campos; e, se outra vez os encontrarem,
deem a eles os devidos cumprimentos e desejos de felicidade.

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Abraçar-te

Kátia Angélica de Souza


(Kakau Souza)

Na minha normal inconstância


No meu desejo de te ouvir de perto
Na certeza de talvez falhar no certo
Viajaria pra onde pudesse te encontrar.
Aqui, de onde a onda bate longe do mar
O desejo fica perto dos olhos
Quando te ouço parece que te encontro em sonho
Amar tua voz, teu ritmo, tua rima
É a essa sina que me proponho.

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Anseios

Deivide Almeida de Ávila


(De-lírico)

Tu és o refúgio que acalanta,


A sombra que acalma,
Quimera que abrilhanta,
Rumor de minh’alma.

Brisa no mais quente ardor,


Flor do mais belo jardim
Por toda a vida, meu Amor,
Hei de tê-lo só para mim.

Ter você é amar perdidamente,


Encontrar anseios vitalícios,
Agradecer eternamente.

Que importam os alheios?


Que importa o amanhã?
Você é toda minha existência!

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Amizade

Diana de Oliveira da Silva


(Ever Padalecki Winchester)

A amizade é como uma flor


Que nasce de uma semente
Quanto mais cuidada a flor
Mais raiz cria na gente
Pra quem acolhe amizade
Que vive desamparado
Ilumina o caminho, está sempre ao seu lado.
A amizade é uma torre que eu construí
Dentro dela tenho a idade,
Dos sonhos que vivi
A pessoa, quando é amiga
Não deve ser rigorosa
Pois aos espinhos não liga
Quem valoriza uma rosa.

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Dia do abraço

Simone Mara da Rocha Oliveira


(Mare Moanis)

Aos meus amigos


De perto e de longe
Reais ou virtuais
De longas conversas ou de breves “ois”
Aos amigos que já me ouviram
E comigo
Riram e choraram
Ouviram e falaram
Sonharam e realizaram
Aos amigos
De sangue e de alma
Da amizade que acolhe e acalma
A todos vocês
Um abraço sempre
Um muito especial hoje
De braços ou mesmo de intenção
Com cheiro de arco-íris
Nas batidas do coração
Com cor de felicidade
No gostinho de quero mais!
Se você quer um abraço
Não se faça de rogado
Dê cá um bem apertado!

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Momento...

Mary Mendes Camilo


(Gaivota)
Momento...
Momentos...
A inquietude e a turbulência do dia se apossam de mim.
Pensamentos e momentos difíceis, mas necessários e sábios.
Instantes solitários e inegavelmente inigualáveis,
Mas perturbadores.

Então, esses pensamentos, eu os paro,


Instantaneamente, como em um túnel do tempo.
Eu os substituo por lembranças da infância e da minha vida.
E, como em uma levitação, esses momentos me envolvem.
Fico embriagada em prazeres, como se eu os estivesse vivendo em meu agora.
As sensações do riso espontâneo, do frio na barriga em um salto proibido de um muro...
Os sonhos de criança, as alegrias em família, os amigos!
As frutas da casa da Avó sendo apanhadas e a correria no quintal...

O túnel do tempo, delicadamente, transporta-me pra épocas diferentes.


As conquistas de sonhos e mais sonhos, mais lembranças.

A cachoeira e o banho delicioso!


É como sentir a água em meu rosto, a lavar o incômodo, a dificuldade, a preocupação e
tudo o mais. Mostrando-me que tudo passa, assim como os momentos passam.
Mas o tempo amigo também mostra,
Que os momentos passam.
Mas as emoções ficam para sempre!
Da mesma forma que me inspiram,
E permitem que as sensações dos momentos vividos fiquem,
Mostram-me que todos os momentos vividos, ruins ou bons, são momentos.

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São momentos que sustentam quem sou e me revigoro.

Assim como o corpo renasce em um mergulho, em um banho.


A alma renasce depois de momentos, emoções.
Como em um salto, volto ao presente.
Diferente, revigorada.
E extasiada em emoções concluo:
Os momentos..., sim.
Fazem o meu Momento!

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Pátria Minha Pátria

Dulcinéia Beatriz Oliveira


(Dubeoliver)

Minha Pátria tão querida,


É o berço da nação.
Tanta gente aborrecida
Com tamanha situação.

Na verdade dessa vida,


O que importa meu irmão.
É lutar de cabeça erguida,
pro futuro da nação.

Em momento tão histórico,


é verídica a lamentação.
Muita gente indo às ruas
pra tamanha manifestação.

Minha Pátria tão querida.


Que tristeza no coração,
Tantos filhos minha amada,
Perdendo a vida nessa jornada.

Minha amada tão querida,


É hora de lutar,
Pra saúde, educação;
Que é o futuro da nação.

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Hospitais psiquiátricos

Valéria Bergamini

Aqueles corredores pareciam intermináveis, demasiadamente frios e


irredutivelmente sem sentido. Perambulando por eles, vi as mais diversificadas feições,
carregadas da mesma imparcialidade que lhes dotavam.
Eu vi muitos pacientes em seus quartos comunitários, e não percebi pertences, a
não ser o cobertor que lhes escondia a face da luz complacente, de que fugiam, talvez por
vontade de que lhes fosse apagada para sempre.
Outros estavam sentados na ardósia congelante, em postura de feto, e choravam a
falta de perspectivas, as grades que lhes redimensionavam o céu, ao som de chaves que
lhes fechavam horizontes.
Eu vi, também, uma senhora a cantarolar, na esperança de afastar todo o medo.
Ela sorria, sofrivelmente, mas sorria e cantava, em tom elevado, ora para abafar os gritos
desesperados de socorro, ora para afugentar o silêncio incômodo das paredes.
Todos que ali estavam queriam sair. Contavam os dias. Porém, a única
perspectiva, a cada entrevista, era negada. Eram condenados a sobreviverem
trancafiados, por serem rotulados como loucos.
A cena que me foi mais impactante remete a uma senhora, com roupas coloridas,
um gorrinho cor de rosa e brinco imitando rosas, a carregar nos braços três bonequinhos,
representando a infância dilacerada e a maternidade inatingível que lhe fora roubada.
Há mais de cinquenta anos, vive por aqueles corredores, tal como criminosa em
regime perpétuo. Foi internada quando os pais morreram e os irmãos lhe tomaram posse
dos bens que detinha. Hoje, tudo que almeja é a liberdade. Não faz questão de bens
materiais, somente de rever a família.
Nos espaços destinados ao lazer, eu vi uma imitação sombria do que a fiscalização
se vangloria como recurso inefável ao ócio, mas cujo aspecto de desleixo certamente os
inutiliza. Assim, vi espaços vazios, tal como um campo cimentado, sem gol, sem bola,
sem jogadores, sem alegria.
Nas fotos que tentam nos ludibriar quanto às formas regulares de tratamento, vi
pessoas desconhecidas, que se encontraram por força de um cruel destino em comum,
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destino que as obrigou, sem motivo, a celebrar o natal, a páscoa, o dia de pais ou das
mães, sem ter ao lado nem sequer um ente.
Mas não estavam completamente sós. Procuravam por alguns enfermeiros e
voluntários que lhes ofereciam momentos de verdadeira acolhida, cuja presença e estima
lhes eram os mais eficientes métodos terapêuticos e os mais caros presentes.
Procuravam o aconchego de um abraço, a doçura de algumas palavras, o respeito à sua
camuflada loucura.
Não esperavam pelos medicamentos, não. Desses corriam de medo, considerando
que, na maioria das vezes, serviam tão somente para dopar, com o intuito de minimizar a
revolta mediante a clausura que a vida lhes designou.
E mais uma vez me pergunto: que fazem aqui? Por que minhas loucuras não me
reservaram o mesmo destino? O que fazer para abrir os portões de concreto para que a
sociedade entenda que compartilham conosco das mesmas alegrias e problemas?
Problemas? Ah, como somos impertinentes. Temos a liberdade nas mãos, um
mundo a descobrir. Eles? Esperam a morte, exceto nos raros momentos em que
voluntários, como anjos, não os deixam esquecer que ainda há dignidade no coração
humano, pronto a incondicionalmente ofertar o amor.

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Os autores

Deborah Walter de Moura Castro é professora de Tailinier Pereira é discente no IF Sudeste MG –


inglês e literatura, e atualmente doutoranda em Câmpus Barbacena, cursando o 1° período do
Estudos Literários pela UFMG, cuja pesquisa foca Curso Superior de Licenciatura em Ciências
em literatura e outras artes e estudos sobre a Biológicas.
melancolia e o silêncio.
Luciano de Carvalho é Engenheiro Civil pela Juliana Matozinhos é estudante do 3º ano no IF -
Universidade Federal de Juiz de Fora, Mestre em Campus Barbacena, e pretende estudar Relações
Educação pela Universidade Estácio de Sá – RJ e Internacionais. Sonha em viajar o mundo, conhecer
professor do Câmpus Juiz de Fora do IF Sudeste outras culturas, estudar seis idiomas e ter um livro
MG. de autoria própria.
Herculano Silva é estudante do curso de letras da Vinícius Mahier, natural de Campo Belo, MG, é
Universidade Federal de São João del-Rei e graduando em Letras pela Universidade Federal de
desenvolve uma pesquisa sobre escrita e São João del-Rei.
performance.
Simone Magalhães de Andrade é formada em Rubens Rodrigo de Lima é formado em canto
Direito pela UNIPAC – Barbacena, trabalhando lírico pelo Conservatório Estadual de Música Padre
atualmente no Núcleo de Barbacena de Combate ao José Maria Xavier.
Câncer do Hospital Mario Penna.
Wagner Ferraz é graduando em Administração pelo Pedro Carbogim é formado no Colégio Militar de
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Juiz de Fora e cursava Direito na Faculdade Federal
do Sudeste de Minas Gerais e em Ciências de Juiz de Fora, mas trancou o curso, pois quer
Contábeis pela Universidade Estácio de Sá. cursar Letras e estudar poesia.
Deiver de Melo é estudante do Curso Técnico Telma Glória Trindade de Moura é estudante do
Integrado em Química no IF Sudeste MG - Campus curso de letras da Universidade Federal de São
Barbacena e poeta nas horas vagas. João del-Rei, dedica-se ao estudo da Poesia do
Cotidiano e escreve no blog Poesia Inerente.
Ana Bárbara Gomes Pereira cursa o último ano do Fernando Domith tem 24 anos, é natural de
ensino médio no IF - Campus Barbacena. Tem Barbacena e estuda Psicologia
afeição pelas ciências sociais. É blogueira nas na Universidade Federal de São João del-Rei.
horas vagas, e tem um apreço imenso por MPB,
dança de salão e poesia, claro.
Carlos Marcelo de Assis Batalha possui o Ensino Pablo Garcia de Oliveira é estudante do curso
Médio completo e é escritor. superior de Agronomia do IF Sudeste MG – Câmpus
Barbacena.
Sílvia Lilita Rodrigues Pereira Monteiro é Millena Fagundes é estudante no IF Sudeste Minas
formada em Letras (Português/Inglês) pela Gerais – Campus Barbacena, e cursa o Técnico em
Universidade Presidente Antônio Carlos de Química Integrado ao Ensino Médio.
Barbacena e Pós – Graduada. É professora de
Língua Portuguesa. Mora em Ibertioga – MG.

Arquimedes Dias cursa o 7º período do curso de Polyanna Riná Santos é formada em Direito pelo
licenciatura em química no IF Sudeste MG – Instituto de Ensino Superior: “Presidente Tancredo
Câmpus Barbacena. Grande fã de Ficção Científica de Almeida Neves” e é estudante do primeiro
e Fantasia, aprecia muito a obra de autores como período de Licenciatura em Letras (Português e
George R. R. Martin e Douglas Adams. Espanhol) do IF Sudeste MG - Câmpus São João
del-Rei.

Vinícius Ribeiro Alves é aluno do 3º ano do ensino Ana Carolina Dias é estudante de Letras pela
médio da Escola Estadual Joaquim Afonso Universidade Estácio de Sá, professora de Língua
Rodrigues em Carmo da Mata - MG. Além de Inglesa na escola CNA Barbacena, Técnica em
escrever poesias, é artista plástico. Secretariado pelo IF Sudeste MG – Câmpus
Barbacena, cantora e compositora.

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Lídia Oliveira é graduanda em Letras pela André de Sá tem 24 anos e está se graduando em
Universidade Federal de São João del-Rei. História pela Universidade Federal de São João del-
Rei.
Kakau Souza é formada no curso Técnico em Deivide Almeida Ávila é formado em Música pela
produção de eventos pelo Hotel SENAC Grogotó Universidade Federal de São João del-Rei e aluno
MG. Aluna na escola de teatro Rotunda Cia Elas por do primeiro período de Licenciatura em Letras
Elas. (Português e Espanhol) no IF Sudeste MG –
Câmpus São João del-Rei.

Diana de Oliveira cursa o 3º ano do ensino médio Simone Mara da Rocha Oliveira é formada em
na Escola Estadual Amilcar Savassi. Letras pela Universidade Presidente Antônio Carlos
de Barbacena e atua como Gerente Administrativo
da Câmara de Dirigentes Lojistas de Barbacena há
15 anos.
Mary Mendes Camilo é graduanda em Ciências Dulcineia Beatriz Oliveira é formada curso Normal
Biológicas pelo IF Sudeste MG – Campus Superior pela UNIPAC- Barbacena, com
Barbacena e é Técnica em Ecologia e Meio especialização em Psicopedagogia - FIJI e aluna
Ambiente e Segurança do Trabalho. curso Técnico em Agropecuária do IF Sudeste MG –
Câmpus Barbacena.
Bruno José Rufino é estudante do curso de Hemerson Alves de Faria é formado em
Administração do IF sudeste MG - Campus Licenciatura em Ciências Agrícolas pela
Barbacena e diretor de Marketing da empresa Ello Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro -
Consultoria Jr. UFRRJ, Mestre em Melhoramento Animal pela
Universidade Federal de Lavras – UFLA e
Professor de Zootecnia e Genética no IF Sudeste
MG – Câmpus Barbacena.

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Os avaliadores

Bernard Martoni atua como professor de Língua


Portuguesa e Literatura no IF Sudeste MG -
Câmpus Barbacena. É formado pela Universidade
Federal de Juiz de Fora e participa do programa de
mestrado em Literatura na mesma universidade.
Inês

Joseli Ferreira Lira Valente é mestre e doutoranda


do Programa de Pós-graduação em Linguística da
Faculdade de Letras da UFMG. Atualmente, é
professora de Língua Portuguesa no IF Sudeste MG
- Câmpus Barbacena.
Ricardo Madureira Rodrigues é mestre em
Linguística pela Universidade Federal de
Uberlândia; ex-professor na Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Ouro Preto MG, e
atualmente, professor no IF Sudeste MG - Câmpus
Barbacena.
Richard Bertolin é formado em Letras pela
Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ),
mestrando em Letras pela mesma instituição e
professor de Língua Espanhola no Colégio
Imaculada Conceição - Barbacena.

Os organizadores

Guilherme Copati é mestre em Letras pela


Universidade Federal de São João del-Rei e
professor do núcleo de Línguas do IF Sudeste MG –
Câmpus Barbacena.
Luíza Lamas cursa o 2° ano do ensino médio
integrado ao curso técnico em hospedagem no
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Sudeste de Minas Gerais - Câmpus Barbacena.
Roseli Auxiliadora Barroso é barbacenense.
Licenciada em Letras pela então Fundação
Presidente Antônio Carlos - FUPAC, atua como
professora de Língua Portuguesa do IF Sudeste MG
- Câmpus Barbacena. Tem especial interesse pelos
contos nacionais, narrativas que se, por vezes, são
curtas; por outro lado, são sempre intensas e
permanentes.
Valéria Bergamini é mestre em Extensão Rural
pela UFV e técnica em assuntos educacionais do IF
Sudeste MG – Câmpus Barbacena.

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63
Impressão e acabamanto
Gráfica ......
Endereço e contato

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“As cores deste caderno são camadas

de corpos que se vão arrancando.

Fulguram e gritam de dor e desejo.

Despejam-se sobre nós como banho de

tinta fervente que dificilmente será

apagada.”

Guilherme Copati

Imagem: Fim de tarde no IF


Bruno José Rufino
(Michael McCaslin)

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