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Brasília, 16 a 20 de junho de 1997 - Nº 76

Data(páginas internas): 25 de junho de 1997.

Este Informativo, elaborado a partir de


notas tomadas nas sessões de julgamento das
Turmas e do Plenário, contém resumos não-
oficiais de decisões proferidas pelo Tribunal. A
fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo
das decisões, embora seja uma das metas
perseguidas neste trabalho, somente poderá
ser aferida após a sua publicação no Diário da
Justiça.

ÍNDICE DE ASSUNTOS
Anulação Parcial do Júri: Validade
Associação e Lei de Entorpecentes
Lei do Colarinho Branco
Falsificação de Documento e Justiça Federal
Guerra Fiscal
Habeas Corpus e Competência do STF
ICMS e Correção Monetária - UFESP
Justiça Estadual e Tráfico Internacional
Ministério Público e Suspensão do Processo
Opção por Nova Carreira e Concurso Público
Reclamação: Descabimento
Reforma Agrária e Decreto Presidencial Nulo
Regime Jurídico Único do Magistério
Transporte Aéreo e Concessão

PLENÁRIO
Habeas Corpus e Competência do STF
Iniciado o julgamento de habeas corpus em que se
discute a competência do STF para julgar o pedido, já que a
autoridade coatora é o Tribunal de Justiça de São Paulo.
Votou o relator, Min. Marco Aurélio, no sentido de que
compete ao STJ o julgamento da ordem, considerando que os
desembargadores estão submetidos à sua jurisdição direta,
nos crimes comuns e de responsabilidade (CF, art. 105, I, a),
o que firma sua competência à vista do que dispõe a alínea
c do mencionado dispositivo para também processar e julgar
habeas corpus quando a autoridade coatora for
desembargador. O Supremo seria competente para o
julgamento do pedido quando o coator fosse tribunal
superior. Propõe, assim, a alteração da jurisprudência do
STF. Após o voto do relator, pediu vista dos autos o Min.
Moreira Alves. Precedentes citados: HC 67.263-SP (RTJ
129/244) e RCL 314 (DJU de 20.6.97). HC 74.969-SP, rel.
Min. Marco Aurélio, 18.6.97 .

Reforma Agrária e Decreto Presidencial Nulo


Julgando mandado de segurança impetrado contra ato do
Presidente da República que declarara de interesse social
para fins de reforma agrária imóvel rural do impetrante, o
Tribunal concedeu a segurança ao argumento de que o
imóvel reconhecido pelo INCRA como produtivo só se
tornara improdutivo após sua invasão por trabalhadores
“sem-terra”. Entendeu o STF, invocando o disposto no § 7º
do art. 6º da Lei 8.629/93 (“Não perderá a qualificação de
propriedade produtiva o imóvel que, por razões de força
maior, caso fortuito ou de renovação de pastagens
tecnicamente conduzida, devidamente comprovados pelo
órgão competente, deixar de apresentar, no ano respectivo,
os graus de eficiência na exploração, exigidos para a
espécie.”), que se trata de acontecimento alheio à vontade do
impetrante, e a ele não imputável. Precedente citado: MS
22.193 (DJU de 29.11.96). MS 22.666, rel. Min. Ilmar
Galvão, 18.6.97 .

Ministério Público e Suspensão do Processo


Iniciado o julgamento de habeas corpus em que se
discute a iniciativa exclusiva do Ministério Público para
propor a suspensão condicional do processo prevista no art.
89 da Lei 9.099/95 (“Nos crimes em que a pena mínima
cominada for igual ou inferior a um ano, abrangida ou não
por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,
poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro
anos, desde que ...”). Votaram os Ministros Octavio Gallotti,
relator, e Nelson Jobim, no sentido do indeferimento do
pedido ao argumento de que não cabe ao magistrado, ante
recusa fundamentada do Ministério Público a requerimento
de suspensão condicional do processo, o exercício de tal
faculdade, visto que não se trata de direito subjetivo do réu,
mas de competência do parquet. O julgamento foi suspenso
em virtude do pedido de vista do Min. Marco Aurélio. HC
75.343-MG, rel. Min. Octavio Gallotti, 18.6.97 .

Reclamação: Descabimento
Julgando reclamação ajuizada pelo Governo da
República do Peru, requerente de extradição deferida pelo
STF (Extradição nº 662 e 673, v. Informativo 55), contra
decisão do Presidente da Corte que concedera liminar em
habeas corpus para condicionar a entrega dos extraditandos
ao trânsito em julgado do acórdão do processo de extradição,
o Tribunal, sem decidir sobre o cabimento de reclamação
contra ato de seu Presidente, não conheceu do pedido, tendo
em vista que o ato impugnado acabou sendo encampado pelo
Plenário no julgamento definitivo do referido habeas corpus
(HC 74.959-DF, v. Informativo 63). Reclamação 647-RJ, rel.
Min. Néri da Silveira, 19.6.97.

Guerra Fiscal
Deferida medida cautelar em ação direta de
inconstitucionalidade requerida pelo Governador do Distrito
Federal para suspender a eficácia da Lei 1.320 do Distrito
Federal que fixara em 12% a alíquota de ICMS nas
operações com carnes frescas, congeladas e resfriadas,
miúdos, sebo, couro, pêlo, casco, chifre, crina e bílis,
decorrentes do abate, “com outorga de crédito presumido, de
forma a assegurar que a alíquota efetiva, nas saídas, seja de
7%”. O Tribunal entendeu relevante a fundamentação
jurídica do pedido por aparente contrariedade ao art. 155, §
2º, XII, g, da CF que só admite a concessão de isenções,
incentivos e benefícios fiscais por deliberação dos Estados e
do Distrito Federal mediante lei complementar. Precedentes
citados: ADInMC 1.247-PA (DJU de 8.9.95, v. Informativo
1); ADInMC 1.522-RJ (acórdão pendente de publicação, v.
Informativo 64). ADInMC 1.587-DF, rel. Min. Octavio
Gallotti, 19.6.97.

Regime Jurídico Único do Magistério


Julgada medida cautelar em ação direta de
inconstitucionalidade requerida pelo Partido dos
Trabalhadores - PT contra o art. 54, caput, da Lei 9.394/96
(Lei Darcy Ribeiro), que determina: “As universidades
mantidas pelo Poder Público gozarão, na forma da lei, de
estatuto jurídico especial para atender às peculiaridades de
sua estrutura, organização e financiamento pelo Poder
Público, assim como dos seus planos de carreira e do
regime jurídico do seu pessoal”. O Tribunal, considerando a
alegação de ofensa ao art. 39, da CF que prevê o regime
jurídico único para os servidores da administração pública
direta, das autarquias e das fundações públicas , deferiu em
parte o pedido de suspensão cautelar para, sem redução do
texto, restringir a menção da parte final do caput do art. 54,
às peculiaridades “do regime jurídico do seu pessoal” ao
regime jurídico único do magistério, resultante do art. 206,
V, da CF, (“O ensino será ministrado com base nos seguintes
princípios: ... V - valorização dos profissionais do ensino,
garantido, na forma da lei, plano de carreira para o
magistério público, ... assegurado o regime jurídico único
para todas as instituições mantidas pela União;”). ADInMC
1.620-UF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 19.6.97.

ICMS e Correção Monetária - UFESP


Retomado o julgamento de recurso extraordinário
em que se discute a validade do Decreto 32.951/91, do
Estado de São Paulo, que adotou, como fator de correção
monetária dos débitos tributários para com a fazenda
estadual, índice de preços apurado por instituição local
(Índice de Preços ao Consumidor - IPC, calculado pela
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da
Universidade de São Paulo - FIPE). O Min. Maurício Corrêa,
divergindo do relator Min. Ilmar Galvão (v. Informativo 59)
, proferiu voto-vista no sentido de não conhecer do recurso
do contribuinte sob o entendimento de que o Estado se
limitara a exercer sua competência concorrente para legislar
sobre direito financeiro (CF, art. 24, I). Após, o julgamento
foi adiado em virtude do pedido de vista do Min. Nelson
Jobim. RE 183.907-SP, rel. Min. Ilmar Galvão, 19.6.97.

Opção por Nova Carreira e Concurso Público


Por maioria de votos, o Tribunal deferiu medida
cautelar em ação direta de inconstitucionalidade requerida
pelo Partido dos Trabalhadores - PT para suspender a
eficácia de dispositivos da LC 10.933/97 do Estado do Rio
Grande do Sul que ao criar a carreira de agente fiscal do
Tesouro do Estado, nela consolidando as atribuições das
carreiras de auditor de finanças públicas e de fiscal de
tributos estaduais as quais entram em extinção concedera
aos servidores destes cargos o direito de optarem pelo
enquadramento nos cargos da nova carreira ou de
permanecerem no exercício de suas respectivas funções. O
Tribunal entendeu presentes o periculum in mora e a
plausibilidade jurídica da tese de inconstitucionalidade por
ofensa à exigência de concurso público para o provimento de
cargos (CF, art. 37, II), vencidos os Ministros Octavio
Gallotti, relator, Nelson Jobim, Ilmar Galvão, Carlos Velloso
e Sepúlveda Pertence, que, reconhecendo a afinidade de
atribuições das carreiras consolidadas, não viam
impedimento à opção assegurada pela norma impugnada,
indeferiam a liminar. ADInMC 1.591-RS, rel. Min. Octavio
Gallotti, 19.6.97.

PRIMEIRA TURMA
Anulação Parcial do Júri: Validade
Tratando-se de concurso material de crimes, é válida a
anulação parcial do julgamento do tribunal do júri em
relação a apenas um dos crimes imputados ao réu. Com base
nesse entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus em
favor de réu que, condenado pela prática dos crimes de
homicídio, atentado violento ao pudor e ocultação de
cadáver, pretendia ver declarada a nulidade de acórdão que,
determinando a submissão do réu a novo júri apenas em
relação ao crime de homicídio — por entender que a decisão
fora manifestamente contrária à prova dos autos —,
mantivera a condenação dos crimes restantes. Precedentes
citados: HC 68.069-SP (RTJ 133/711) e HC 68.073-SP (RTJ
132/1223). HC 75.029-RS, rel. Min. Octavio Gallotti,
17.6.97.

Associação e Lei de Entorpecentes


Iniciado julgamento de habeas corpus em que se
discute se, para a incidência da causa de aumento prevista no
art. 18, III, da Lei 6.368/76 [“As penas dos crimes definidos
nesta Lei serão aumentadas de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
terços): ... III - se qualquer deles decorrer de
associação ...”], é necessária, ou não, a permanência ou
estabilidade da associação. Após o voto do Min. Sepúlveda
Pertence, relator, deferindo a ordem sob o fundamento de
que o vocábulo “associação” não pode ser reduzido à co-
autoria eventual, sendo necessário configurar-se o caráter
permanente ainda que para a prática de um único delito, o
julgamento foi suspenso por pedido de vista do Min. Moreira
Alves. O acórdão impugnado afastara o crime do art. 14 da
mesma Lei (“Associarem-se duas ou mais pessoas para o
fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes
previstos nos arts. 12 ou 13 desta Lei.”), sob o entendimento
de que não estaria suficientemente provada a estabilidade da
associação entre a paciente e os co-réus. HC 75.233-SP, rel.
Min. Sepúlveda Pertence, 17.6.97.

Transporte Aéreo e Concessão


Entendendo tratar-se a Transbrasil S/A de empresa
concessionária de serviço público, a Turma não conheceu de
recurso extraordinário interposto pela União Federal em que
se pretendia ver reconhecida a condição de permissionária da
referida empresa aérea para efeito de afastar decisão que —
com base no art. 167, II, da CF/67 (“A lei disporá sobre o
regime das empresas concessionárias de serviços públicos
federais, estaduais e municipais, estabelecendo: ... II -
tarifas que permitam a justa remuneração do capital, o
melhoramento e a expansão dos serviços e assegurem o
equilíbrio econômico e financeiro do contrato;”) — julgara
procedente a ação de indenização pela quebra do equilíbrio
econômico e financeiro do contrato pela defasagem do valor
das tarifas de transporte aéreo na vigência do DL 2.284/86
(Plano Cruzado). RE 183.180-DF, rel. Min. Octavio Gallotti,
17.6.97.

SEGUNDA TURMA
Lei do Colarinho Branco.
Adiado, em virtude de pedido de vista do Min. Carlos
Velloso, o julgamento de habeas corpus em que se discute a
natureza comissiva ou omissiva do tipo penal descrito no
artigo 20 da Lei 7.492/86 (“Aplicar, em finalidade diversa
da prevista em lei ou contrato, recursos provenientes de
financiamento concedido por instituição financeira ou por
instituição credenciada para repassá-la.”). Sustenta-se que
a omissão não aplicação dos recursos tomados da instituição
financeira não constitui crime, à vista do princípio da
reserva legal (CF, art. 5º, XXXIX). Até o momento foram
proferidos três votos: o do Ministros Marco Aurélio, relator,
que nega provimento ao recurso, ao entendimento de que a
configuração do crime previsto no citado artigo dispensa a
demonstração da finalidade diversa em que teriam sido
aplicados os recursos provenientes do financiamento, e os
dos Ministros Nelson Jobim e Maurício Corrêa, que
conhecem e dão provimento ao recurso para trancar a ação
penal sob o fundamento de inépcia da denúncia por não ter o
Ministério Público narrado a conduta comissiva prevista no
art. 20 da Lei dos Crimes contra o Sistema Financeiro
Nacional. RHC 75.375, rel. Min. Marco Aurélio, 17.6.97 .

Justiça Estadual e Tráfico Internacional


Não sendo o município sede de vara da Justiça Federal,
compete à justiça comum processar e julgar os crimes de
tráfico internacional de entorpecentes. É o que dispõe o art.
27 da Lei 6.368/76 (“O processo e o julgamento do crime de
tráfico com o exterior caberão à justiça estadual com
interveniência do Ministério Público respectivo, se o lugar
em que tiver sido praticado for município que não seja sede
de vara da Justiça Federal ...”), recepcionado pela CF/88
[HC 69.509-SP (RTJ 144/853) e HC 70.043 (RTJ 148/235)].
Com esse entendimento, a Turma indeferiu pedido de habeas
corpus. Precedentes citados: HC 70.627- (RTJ 158/147) e
HC 67.735- (RTJ 131/1.131). HC 75.173, rel. Min. Maurício
Corrêa, 17.6.97 .

Falsificação de Documento e Justiça Federal


Tendo em vista o dever da União Federal de fiscalizar a
efetividade, a idoneidade e a integridade na prestação do
ensino superior, compete à Justiça Federal julgar delito de
falsificação de guias e históricos escolares visando à
transferência de alunos entre estabelecimentos particulares
de ensino superior. Com esse entendimento, a Turma
conheceu do extraordinário, por ofensa ao art. 109, IV da CF
que atribui competência à Justiça Federal para processar e
julgar os crimes praticados em detrimento de interesse e
serviço da União , e resolveu o conflito negativo de
jurisdição apontando o juízo suscitado como competente.
Precedentes citados: ADIn 51-RJ (RTJ 148/ ) e RE 193.941-
DF (DJU de 29.3.96). RE 193.940-DF, rel. Min. Néri da
Silveira, 17.6.97

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos

Pleno 18.6.97 19.6.97 13


1ª Turma 17.6.97 --------- 66
2ª Turma 17.6.97 --------- 17

CLIPPING DO DJ
20 de junho de 1997

AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA N. 476-4 - questão de ordem


RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Ação proposta por autarquia federal com
Procuradoria Regional situada na capital do Estado réu, versando
questão fundiária.
À falta de caracterização de conflito federativo, declina-se da
competência para o Juízo Federal de primeiro grau.

ADIN N. 490-5
RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Inconstitucionalidade, perante a Carta Federal, do
art. 199 da Constituição da Amazonas, na parte em que determina a
realização de eleições para os cargos de direção dos
estabelecimentos de ensino público.
Não se confunde a qualificação de democrática da gestão do
ensino público (art. 206, VI, da Constituição) com modalidade de
investidura, que há de coadunar-se com o princípio da livre escolha
dos cargos em comissão do Executivo pelo Chefe desse Poder
(artigos 37, II, in fine e 84, II e XXV, ambos da Constituição da
República).
* Noticiado no Informativo 59

ADIN N. 975-3
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: CONSTITUCIONAL. MEDIDAS CAUTELARES E
LIMINARES: SUSPENSÃO. Medida Provisória nº 375, de
23.11.93.
I. - Suspensão dos efeitos e da eficácia da Medida Provisória nº 375,
de 23.11.93, que, a pretexto de regular a concessão de medidas
cautelares inominadas (CPC, art. 798) e de liminares em mandado
de segurança (Lei 1.533/51, art. 7º, II) e em ações civis públicas (Lei
7.347/85, art. 12), acaba por vedar a concessão de tais medidas, além
de obstruir o serviço da Justiça, criando obstáculos à obtenção da
prestação jurisdicional e atentando contra a separação dos poderes,
porque sujeita o Judiciário ao Poder Executivo.
II - Cautelar deferida, integralmente, pelo Relator.
III - Cautelar deferida, em parte, pelo Plenário.
ADIN N. 1399-8
RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
ENSINO DE EDUCAÇÃO ARTÍSTICA NAS ESCOLAS
PÚBLICAS ESTADUAIS. FORMAÇÃO MÍNIMA PARA O
EXERCÍCIO DO MAGISTÉRIO. LEI Nº 9.164, DE 17 DE MAIO
DE 1995, DO ESTADO DE SÃO PAULO.
1. São aptos para o ensino de primeiro grau, inclusive para a cadeira
artística, todos os professores com habilitação específica de segundo
grau, conforme Lei Federal nº 5.692/71, que fixa diretrizes e bases
para o ensino de 1º e 2º graus, alterada pela Lei nº 7.044/82 e
recepcionada pelo vigente texto constitucional.
2. A Lei nº 9.164, de 17 de maio de 1995, do Estado de São Paulo,
ao dispor no § 1º do art. 1º que o ensino de Educação Artística, nas
aulas de primeiro grau, deverá ser ministrado por professor com
formação específica, afrontou as diretrizes gerais e básicas do ensino
fundamental que não exige tal especialidade (Lei Federal
nº5.692/71).
3. Pedido de liminar deferido, em parte, para suspender, até a
decisão final da ação, a vigência do § 1º do art. 1º e do adjetivo
"especialista", constante no § 2º do mesmo art. 1º, da Lei nº 9.164,
de 17.05.95, do Estado de São Paulo.
* Noticiado no Informativo 23

ADIN N. 1557-5
RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - 1. Ação direta oposta, mediante invocação dos artigos
67, § 1º, II, c, e 132 da Constituição, à criação da Procuradoria Geral
da Câmara Legislativa, com funções destacadas das atribuídas à
Procuradoria Geral do Distrito Federal.
2. Reconhecimento, pela jurisprudência do Supremo Tribunal, da
constitucionalidade da manutenção de assessoria jurídica própria,
por Poder autônomo (mesmo não personalizado), bem como de
capacidade processual das Casas Legislativas (ADI 175, RTJ
154/14, Pet. 409-AgRg, RTJ 132/645 e ADI 825, DJ de 2-4-93).
3. Restrita, porém, essa representação judicial, às hipóteses em que
compareça a Câmara a Juízo em nome próprio, não se estendendo às
demandas em que deva ser parte a pessoa jurídica Distrito Federal,
como, por exemplo, a cobrança de multas, mesmo porventura
ligadas à atividade do Legislativo distrital.
4. Inconstitucionalidade formal não evidenciada em juízo cautelar.
* Noticiado no Informativo 64

ADIN N. 1568-1
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: CONSTITUCIONAL. PROCESSO LEGISLATIVO.
INICIATIVA LEGISLATIVA. LEI COMPLEMENTAR Nº 66, DE
01.XI.95, DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. TAXA DE
INSCRIÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO: VINCULAÇÃO AO
SALÁRIO MÍNIMO: INCONSTITUCIONALIDADE.
I. - As regras do processo legislativo federal, especialmente as que
dizem respeito à iniciativa reservada, são normas de observância
obrigatória pelos Estados-membros. Precedentes do STF.
II. - Vinculação de taxa de inscrição em concurso público ao salário
mínimo: inconstitucionalidade. C.F., art. 7º, IV.
III. - Cautelar deferida.
* Noticiado no Informativo 73

ADIN N. 1593-1
RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
LETRAS FINANCEIRAS DO TESOURO DO ESTADO DE
PERNAMBUCO. ARTIGO 4º DA LEI Nº 11.334, DE 24.04.96, DO
ESTADO DE PERNAMBUCO. PAGAMENTO DE
PRECATÓRIOS JUDICIAIS.
1. O art. 4º da Lei nº 11.334, de 24 de abril de 1996, originária do
Estado de Pernambuco, contém expressões em antinomia com o
preceituada no art. 33 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, dado que concedem ao Poder Executivo certo grau de
discricionariedade que o legislador constituinte não autorizou.
2. Como resulta da norma constitucional, os recursos obtidos através
da emissão de títulos se destinam exclusivamente ao pagamento de
precatórios pendentes de liquidação na data da promulgação da
Constituição, e não podem ser computados para o limite global do
endividamento do Estado. Dessa forma, as expressões
prioritariamente e mesmo que de exercício anteriores contrastam
com o parágrafo único do artigo 33 do ADCT, porque ensejam a
utilização desses recursos em prazos e em outras finalidades, que
não aquelas previstas na Constituição da República.
3. Pedido de medida liminar deferido, para suspender, com eficácia
ex nunc, até a decisão final da ação, a execução e a aplicabilidade da
expressões "prioritariamente" e "mesmo que de exercícios
anteriores", constantes do art. 4º da Lei nº 11.334, de 24.04.96, do
Estado de Pernambuco.
* Noticiado no Informativo 71

AÇÃO RESCISÓRIA N. 1274-7


RELATOR: MIN. SYDNEY SANCHES
EMENTA: - Ação Rescisória de acórdão do S.T.F.: limites de sua
competência para o julgamento.
Alegações de ofensa ao § 3° do art. 153 da E.C. n° 1/69, e aos
artigos 836, 896, 460, 461 e 492 da Consolidação das Leis do
Trabalho.
1. Embora não conhecendo do R.E., o acórdão do S.T.F. apreciou
as questões constitucionais que lhe foram submetidas, considerando
não caracterizada ofensa aos §§ 3° e 4° do art. 153 da E.C. n° 1/69.
2. Compete-lhe, pois, originariamente, processar e julgar a Ação
Rescisória de seu aresto (art. 102, I, "j", da C.F. de 1988): Súmula
249.
3. "Sendo o S.T.F. competente para julgar um dos aspectos da
rescisória, sua competência se prorroga àqueles que por ele não
foram examinados anteriormente" (A.R. n° 1.006, MOREIRA
ALVES, 8.9.1977).
4. Deve, pois, o Tribunal, no caso, examinar se houve, ou não,
violação à coisa julgada e se foram, ou não, ofendidos os artigos
836, 460, 461 e 492 da C.L.T.
5. Em se tratando de julgamento de ação cautelar de atentado, não
há formação de coisa julgada material, muito menos impeditiva do
julgamento do mérito da ação principal, sendo certo, ademais, que a
jurisprudência do S.T.F. não admite, em R.E., alegação de ofensa
indireta à Constituição Federal, por má interpretação de normas
processuais, infraconstitucionais, inclusive sobre coisa julgada (art.
153, § 3°, da E.C. n° 1/69 e art. 836 da C.L.T.).
6. Havendo o acórdão do T.S.T., extraordinariamente impugnado
perante o S.T.F., considerado inadmissível o Recurso de Revista para
reexame de fatos e provas, deu cumprimento ao art. 896 da C.L.T.,
sem apreciar as questões de mérito, relacionadas com os artigos 460,
461 e 492, razão pela qual também não as violou.
7. Ação Rescisória julgada improcedente.
Votação unânime.

HC N. 73424-3
REL. P/ O ACÓRDÃO: MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME ELEITORAL. ART. 11,
III, DA LEI Nº 6.091, DE 15.08.74, COMBINADO COM OS
ARTS. 8º E 10º DA MESMA LEI E COM O ART. 302 DO
CÓDIGO ELEITORAL.
Figura delituosa que não se perfaz tão-somente com o elemento
—— "fornecimento de transporte" —— exigindo, por igual, "a
promoção de concentração de eleitores, para o fim de impedir,
embaraçar ou fraudar o exercício do voto", aspecto que constitui
elementar do ilícito descrito no art. 302 do Código Eleitoral, ao qual
faz remissão o referido art. 11 da Lei nº 6.091/74.
Decisão que se afastou dessa orientação.
Habeas corpus deferido.
* Noticiado no Informativo 31

HC N. 74318-8
RELATOR: MIN. FRANCISCO REZEK
EMENTA: HABEAS CORPUS. MINISTÉRIO PÚBLICO.
DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA.
Não pode ter curso ação penal contra membro do MP pelo crime de
denunciação caluniosa senão quando evidente a temeridade ou o
abuso de poder. Se a investigação policial leva à suspeita
consistente, o MP deve agir na conformidade de seu dever
constitucional, não quedando intimidado pela perspectiva da
acusação de denunciação caluniosa sempre que resultar provada a
inocência do suspeito.
Hipótese de trancamento da ação penal, por atipicidade.
* Noticiado no Informativo 58

HC N. 74775-2
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
(...) NOTIFICAÇÃO - NATUREZA - LEI DE IMPRENSA. A
notificação prevista no artigo 25 da Lei 5.250/67 encerra faculdade,
e não ônus processual, para chegar-se à queixa-crime. Precedente:
recurso ordinário em habeas-corpus nº 63.582/PR relatado pelo
Ministro Octavio Gallotti perante a Primeira Turma, com acórdão
publicado no Diário da Justiça de 21 de fevereiro de 1996.
SURSIS - CONDIÇÕES. Cumpre observar, no exame do sursis,
a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade
do agente, bem como os motivos e as circunstâncias relativas ao
crime. Uma vez revelado o caráter negativo de tais aspectos, descabe
o deferimento do benefício.
* Noticiado no Informativo 61

RECLAMAÇÃO N. 314-1
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: - Habeas corpus". Competência do Supremo
Tribunal Federal.
- Já se firmou, nesta Corte, a orientação de que, em face da atual
Constituição, é ela competente para processar e julgar
originariamente "habeas corpus" cujo coator seja qualquer Tribunal
do país, excluída a hipótese de ser o "writ" substitutivo de recurso
ordinário para o Superior Tribunal de Justiça.
Reclamação que se julga procedente.

RECLAMAÇÃO N. 536-4
RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Reclamação julgada procedente para ajustar a
quantidade da pena decorrente da condenação do reclamante, por
duas vezes dosada, pela Justiça estadual, em desconformidade com o
critério definido pelo Supremo Tribunal no julgamento de habeas
corpus e reafirmado em anterior reclamação.
* Noticiado no Informativo 65

AG N. 169927-2 (AgRg)
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Agravo regimental.
- Se esta Corte entendeu que o sistema adotado pelo Estado de São
Paulo era constitucional em face do artigo 100, § 1º, da Carta
Magna, é evidente que tendo o Tribunal de Justiça do Estado do
Paraná adotado a mesma sistemática esta, em si mesmo, não pode
ser inconstitucional em face do citado dispositivo constitucional. A
necessidade, ou não, de lei estadual que adote esse sistema é questão
que não é atacável por meio de alegação de ofensa ao referido artigo
100, § 1º, da Carta Magna, que não diz respeito a esse aspecto, mas
sim por meio, se cabível, de alegação de infringência ao princípio da
reserva legal (artigo 5º, II, da Constituição Federal). A transcrição de
passagem do Informativo STF sobre o acórdão da Segunda Turma
não permite que se saiba se foi alegada, nesse caso, a ofensa ao
aludido princípio da reserva legal, que pelo menos está subjacente
nesse aresto.
Agravo a que se nega provimento.

RE N. 163568-1
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Limite de idade para inscrição em concurso para cargo
burocrático.
- O Plenário desta Corte, ao julgar os recursos em mandado de
segurança 21.033 e 21.046, firmou o entendimento de que, salvo nos
casos em que a limitação de idade possa ser justificada pela natureza
das atribuições do cargo a ser preenchido, não pode a lei, em face do
disposto nos artigos 7º, XXX, e 39, § 2º, da Constituição Federal,
impor limite de idade para a inscrição em concurso público.
No caso, tratando-se, como salienta o acórdão recorrido, de concurso
para cargo burocrático - técnico do Tesouro Nacional -, a limitação
de idade não se justifica pela natureza das atribuições desse cargo,
razão por que esse limite se apresenta como discriminatório, e,
portanto, vedado pelos citados dispositivos constitucionais.
Recurso extraordinário não conhecido.

RE N. 176369-8
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Concurso Público. Magistério. Limite de idade para a
inscrição.
O Plenário desta corte, ao julgar os recursos em mandado de
segurança 21.033 e 21.046, firmou o entendimento de que, salvo nos
casos em que a limitação de idade possa ser justificada pela natureza
das atribuições do cargo a ser preenchido, não pode a lei, em face do
disposto nos artigos 7°, XXX, e 39, § 2°, da Constituição Federal,
impor limite de idade para a inscrição em concurso público.
Essas decisões se aplicam, evidentemente, a editais que imponham
limite de idade para a participação em concurso de admissão a cargo
público, pois, se nem a lei pode fazê-lo, se a limitação não for
razoável, com maior razão não o poderá o edital.
No caso, tratando-se de concurso para o provimento de cargo de
professor do quadro de carreira do magistério público do Estado do
Rio Grande do Sul, a limitação de idade não se justifica pela
natureza das atribuições desse cargo que não exigem, para o normal
desempenho delas durante todo o período de permanência em
atividade do servidor, condições física e mental especiais.
Recurso extraordinário não conhecido.
* Noticiado no Informativo 49
RE N. 191648-6
RELATOR: MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: ICMS. IPI. ART. 155, § 2º, XI, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. ART. 24, § 1º, Nº 4, DA LEI PAULISTA Nº 6.374/89.
VENDA DE PRODUTOS IMPORTADOS, PARA
INDUSTRIALIZAÇÃO OU COMERCIALIZAÇÃO. EXCLUSÃO
DO VALOR CORRESPONDENTE AO ÚLTIMO TRIBUTO DA
BASE DE CÁLCULO DO PRIMEIRO.
Configurando-se, no caso, fato gerador de ambos os tributos, incide
a norma constitucional em referência, que não distingue contribuinte
industrial de contribuinte equiparado a industrial.
A Lei nº 6.374/89, do Estado de São Paulo, ao estabelecer em
sentido contrário, no dispositivo acima indicado, ofende o apontado
texto da Carta da República.
Recurso conhecido e provido, com declaração da
inconstitucionalidade do texto estadual sob enfoque.

RE N. 194036-1
RELATOR: MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: MUNICÍPIO DE SANTO ANDRÉ. TRIBUTÁRIO.
ARTIGOS 2° E 3º DA LEI Nº 6.747, DE 21.12.90. IPTU
CALCULADO COM BASE EM ALÍQUOTA PROGRESSIVA, EM
RAZÃO DA ÁREA DO TERRENO E DO VALOR VENAL DO
IMÓVEL E DAS EDIFICAÇÕES.
Ilegitimidade da exigência, nos moldes explicitados, por ofensa ao
art. 182, § 4º, II, da Constituição Federal, que limita a faculdade
contida no art. 156, § 1º, à observância do disposto em lei federal e à
utilização do fator tempo para a graduação do tributo.
Recurso conhecido e provido, declarando-se a inconstitucionalidade
dos arts. 2º e 3º da Lei Municipal nº 6.747, de 1990.
* Noticiado no Informativo 68

RHC N. 74807-4
RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: RECURSO DE HABEAS CORPUS. CRIMES
SOCIETÁRIOS. SONEGAÇÃO FISCAL. PROVA ILÍCITA:
VIOLAÇÃO DE SIGILO BANCÁRIO. COEXISTÊNCIA DE
PROVA LÍCITA E AUTÔNOMA. INÉPCIA DA DENÚNCIA:
AUSÊNCIA DE CARACTERIZAÇÃO.
1. A prova ilícita, caracterizada pela violação de sigilo bancário sem
autorização judicial, não sendo a única mencionada na denúncia, não
compromete a validade das demais provas que, por ela não
contaminadas e delas não decorrentes, integram o conjunto
probatório.
2. Cuidando-se de diligência acerca de emissão de "notas frias", não
se pode vedar à Receita Federal o exercício da fiscalização através
do exame dos livros contábeis e fiscais da empresa que as emitiu,
cabendo ao juiz natural do processo formar a sua convicção sobre se
a hipótese comporta ou não conluio entre os titulares das empresas
contratante e contratada, em detrimento do erário.
3. Não estando a denúncia respaldada exclusivamente em provas
obtidas por meios ilícitos, que devem ser desentranhadas dos autos,
não há porque declarar-se a sua inépcia porquanto remanesce prova
lícita e autônoma, não contaminada pelo vício de
inconstitucionalidade.
Acórdãos publicados: 412

T R A N S C R I Ç Õ E
S

Com a finalidade de proporcionar aos leitores


do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de modo
especial o interesse da comunidade jurídica.

Conflito Federativo: Inexistência


PET 1.286 (AgRg) *
Ministro Ilmar Galvão (relator)

Relatório: Reproduzo o inteiro teor do despacho de fls. 247 pelo


qual neguei seguimento a esta ação cautelar.

“Cuida-se de ação cautelar


inominada, com pedido de liminar, movida
pelo Estado de Santa Catarina contra o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA,
autarquia federal, com vistas a suspender o
embargo, pela segunda vez realizado sobre
área objeto de implantação do Complexo
Penitenciário, por ‘supressão de vegetação,
desmonte de morro com aterramento de
área alagadiça, em desacordo com a
legislação vigente, causando degradação
ambiental (descumprimento do embargo nº
137.612-A, de 05.03.97)’
.
Alude à competência do Supremo
Tribunal Federal para julgar a cautelar,
com base no art. 102, inc. I, letra f, da
Constituição Federal, sob alegação de se
estar em causa litígio entre Estado e órgão
integrante da administração indireta da
União.

A competência do Supremo
Tribunal Federal, em sede originária,
decorre da Constituição, que restringe,
tão-somente, ao processo e julgamento de
causas e conflitos entre a União e os
Estados, a União e o Distrito Federal, ou
entre uns e outros, inclusive as respectivas
entidades da administração indireta (art.
102, I, f).
Apesar de o requerente invocar a
referida regra, na linha da jurisprudência
da Corte, reafirmada no julgamento da
Questão de Ordem na ACOr. 417, Relator
Ministro Sepúlveda Pertence (DJU de
07.12.90), tem-se, no caso, excluída a
competência do Supremo Tribunal Federal,
ante a inexistência de conflito federativo
nas causas entre Estado e entidade da
administração indireta, quando a segunda
tenha sede ou estrutura regional de
representação no território estadual
respectivo.

Bem demonstra o requerente


estarem ausentes fatores determinantes da
competência originária do Supremo
Tribunal Federal para processar e julgar a
presente ação, dirigida que fora contra a
autarquia federal, “na pessoa do
Superintendente Estadual do IBAMA em
Santa Catarina”.

Assim, declaro incompetente o


Supremo Tribunal Federal para apreciar a
causa e determino o arquivamento dos
presentes autos.”

A essa decisão opõe o Estado de


Santa Catarina agravo regimental em que
sustenta estar configurada a competência
desta Corte, em face de a lide instaurada ser
entre Estado-membro e autarquia federal,
sendo irrelevante a circunstância de a
entidade federal em questão - IBAMA - ter
estrutura regional de representação no
território estadual.

Critica o despacho agravado, sob


alegação de que se baseara em
jurisprudência de 1990, quando em outra
mais recente – ACOr 477, Relator Ministro
Moreira Alves (DJ 24.11.95) – esta Corte
reconhecera a existência de conflito
federativo entre o Estado de Tocantins e o
INCRA.

Alude que no precedente invocado


a controvérsia centrou-se na questão
atinente à propriedade das terras devolutas
situadas no Estado de Tocantins, enquanto
que, no litígio em espécie, se questiona
especialmente o “impedimento de execução
de política pública de segurança por
usurpação de competência garantida por lei
vigente em matéria ambiental”, temas que,
segundo entendimento do agravante,
“afetam diretamente a livre disposição das
terras estaduais na consecução de finalidade
pública constitucional.”.
Conclui, alegando (fls. 261/262):

“Em suma, o ato do IBAMA,


usurpador da competência para emitir
licenças sobre áreas de vegetação
secundária de mata atlântica, cria os
seguintes problemas:
- conflito entre Estado-membro e
entidade autárquica, quanto à competência
concorrente do artigo 24, VI, da CF/88, já
definida em norma federal (matéria
constitucional);
- impede o Estado-membro de
dispor dos seus bens na consecução de seus
fins mais elementares - a segurança
pública;
- causa desequilíbrio federativo
face à intervenção odiosa da União
(através da sua extensão que é a
autarquia), nas competências e políticas do
Estado-membro;
-provocou e provocará ainda mais
prejuízos financeiros ao Estado-membro,
pois que a este foi negado o segundo
repasse de verba pela União. Além disso,
aquilo que já foi gasto na terraplanagem e
preparação das respectivas terras será
perdido, visto que intempéries alteraram o
estado ideal do solo para iniciar a
fundação da obra;
- por fim, provocará, também
prejuízos decorrentes da rescisão contratual
inevitável com a empresa vencedora da
licitação.”

Daí requerer, ao final, seja acolhida


a competência originária desta Suprema
Corte para processar e julgar a presente ação
cautelar, por se justificar o foro privilegiado,
estando presentes os pressupostos
constitucionais de conflito federativo.

Para julgamento do agravo


regimental, trago os autos à consideração do
eg. Plenário.

É o relatório.

Voto: No
precedente invocado pelo agravante –
ACOr 477 – se encontrava em causa litígio
entre autarquia federal - INCRA - e Estado-
membro - Tocantins - sobre propriedade de
terras devolutas (Decreto nº 1.164/71)
situadas no território do Estado, daí o
reconhecimento de conflito federativo. É
aliás o que está dito no voto do Relator
Min. Moreira Alves:

“Trata-se, como se viu do


relatório, de ação de nulidade e
cancelamento de registro que envolve litígio
sobre propriedade de terras devolutas entre
Autarquia Federal, que sustenta que a área
em causa é terra devoluta da União federal,
e o Estado de Tocantins, que, com os
litisconsortes passivos, alega que essa área
era terra devoluta do referido Estado-
membro.

Assim, sendo, tenho por acertada a


manifestação da Procuradoria-Geral da
República quando salienta que litígio dessa
natureza envolve questão que diz respeito
diretamente ao equilíbrio federativo, sendo,
portanto, causa que inequivocamente é da
competência originária desta Corte na
posição de Tribunal da Federação que lhe
outorga o artigo 102, I, f, da Constituição
Federal.”

Nesta ação o Estado de Santa


Catarina sustenta, verbis:

“Na escolha da área para a


implantação do Complexo Penitenciário, o
Estado de Santa Catarina levou em conta
aspectos como localização, tamanho,
integração, não lesividade ao meio
ambiente e ausência de desapropriação. Na
intenção de atender a todos esses aspectos
é que a Administração estadual escolheu a
área situada no município de São Pedro de
Alcântara, de propriedade do Estado de
Santa Catarina, desde 1976 (doc. 5).

Ciente das exigências previstas na


legislação ambiental, e, sobretudo, pelo
exemplo que deve dar como Poder Público,
o Estado, através da Secretaria de Estado
de Justiça e Cidadania, antes de iniciar as
obras na área escolhida, providenciou sua
regularização ambiental. Inicialmente,
contratou profissionais capacitados para a
elaboração de um Inventário Florestal e de
um Laudo Geológico da área destinada à
construção (doc. 6). Após a confirmação do
laudo de que se tratava de área com
vegetação secundária (já degradada por
ação antrópica), de regeneração inicial de
Floresta de Mata Atlântica, solicitou ao
órgão ambiental competente (conforme
Decreto Federal 750/93 e Resolução
Conjunta IBAMA/ESTADO-SC 01/95), a
Fundação Estadual do Meio Ambiente -
FATMA, as licenças necessárias para a
implantação inicial do projeto. Assim,
foram expedidos alvarás pela Prefeitura
Municipal de São Pedro de Alcântara e três
licenças ambientais pela FATMA: Alvará de
Construção, Certidão de Compatibilidade
com as Normas de Uso de Parcelamento do
Solo Urbano (Município), Licença
Ambiental Prévia, Licença Ambiental de
Instalação, bem como Autorização para
Corte de Vegetação (FATMA) (doc. 07).

Face à regularidade ambiental do


projeto, a “Construtora Espaço Aberto
Ltda.” iniciou, através de uma
subempreiteira regularmente contratada, os
serviços de melhoramento da estrada de
acesso: drenagem e terraplenagem da área
em questão.

Em data de cinco de março último,


porém, o Chefe do Departamento de
Controle de Fiscalização - DICOF, do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, de
Florianópolis, esteve pessoalmente no local
onde a subempreiteira da construtora
contratada pelo Estado estava
desenvolvendo as atividades e embargou
preventivamente a área, objeto de
implantação do Complexo Penitenciário,
até que fosse apresentada a documentação
(licenças ambientais) necessária para a
liberação da obra (doc. 08).

Apresentadas as licenças
ambientais à Autarquia Federal, como
determinado, foram retomadas as
atividades no local. Em 25 de março,
porém, novo Termo de Embargo/Interdição
foi expedido pelo IBAMA. Com base no art.
1º, único, da Lei 4.771/65 combinado com o
art. 14, item I-IV, parágrafo 1º, da lei
6.938/81, o Sr. Paulo Roberto Coelho,
Agente de Defesa de Floresta do IBAMA,
interditou a obra, e procedeu o Embargo nº
137.224, contra o Estado de Santa
Catarina, sob o entendimento de que “fica
proibida (sic) a supressão de vegetação na
área do Complexo Penitenciário da Grande
Florianópolis” (doc. 09).

Ao mesmo tempo exarou o auto de


infração 159.752, multando o Estado de
Santa Catarina no valor de R$ 4.960,00
(quatro mil, novecentos e sessenta reais),
porquanto segundo descreve, estaria o Ente
Público a “suprimir vegetação, desmonte
de morro com aterramento de área
alagadiça, em desacordo com a legislação
vigente, causando degradação ambiental
(descumprimento do embargo nº 137.612-A,
de 05.03.97)” (doc. 10).
Com a devida vênia o Termo de
Embargo/Interdição e o auto de Infração
citados não podem prevalecer. São nulos de
pleno direito e seus efeitos devem ser
sustados...”

A competência do Supremo
Tribunal Federal, inscrita no art. 102, I, f,
da Carta Federal, é para as questões que,
por sua importância, ou pela importância
do interesses em debate, pode por em risco
a harmonia federativa.

No caso, todavia, o agravante


mesmo alegou, no pedido inicial, que a
ação estava sendo proposta contra o
IBAMA na pessoa de Superintendente
Estadual em Santa Catarina, o que, sem
dúvida, faz aplicável a jurisprudência desta
Suprema Corte, oriunda da Constituição
anterior, que foi reafirmada frente à Carta
vigente em acórdão proferido no
julgamento da ACOr. 417-6, Relator Min.
Sepúlveda Pertence (RTJ 133/1.059), no
sentido de que:

“STF. Competência originária


(inexistência): causa de autarquia
previdenciária federal contra Estado-
membro.
A firme jurisprudência do STF
mediante redução, teleológica e sistemática
da alcance literal do art. 102, I, f, in fine,
da Constituição, exclui da sua competência
causas entre autarquias federais e Estados-
membros, quando as primeiras, a exemplo
dos institutos nacionais da previdência,
tenham sede ou estrutura regional de
representação no território estadual
respectivo. Precedentes.”

Essa orientação, ao contrário do


sustentado pelo agravante, não está superada
por julgado mais recente, visto que naquele
caso (ACOr 477) o fator decisivo
considerado foi a existência de litígio sobre
terras devolutas, indiscutivelmente de
interesse da União. Na espécie, contudo,
cuida-se de mera impugnação a termo de
embargo e auto de infração lançados pelo
IBAMA, autarquia federal, que possui
estrutura administrativa nos Estados -
superintendências regionais.

Ademais, o próprio conteúdo da


controvérsia deixa evidente que não se
colocou em risco o equilíbrio do sistema
federativo brasileiro, interesse maior
preservado no art. 102, I, f, da Constituição.

Em face do exposto, nego provimento ao agravo


regimental.

* acórdão ainda não publicado

Assessores responsáveis pelo Informativo


Maria Ângela Santa Cruz Oliveira
Márcio Pereira Pinto Garcia
informativo@stf.gov.br

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