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Brasília, 13 a 17 de outubro de 1997 - Nº 88

Data (páginas internas): 22 de outubro de


1997.

Este Informativo, elaborado a partir de


notas tomadas nas sessões de julgamento das
Turmas e do Plenário, contém resumos não-
oficiais de decisões proferidas pelo Tribunal. A
fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo
das decisões, embora seja uma das metas
perseguidas neste trabalho, somente poderá
ser aferida após a sua publicação no Diário da
Justiça.

ÍNDICE DE ASSUNTOS
Advogado Dativo e Defensor Público
Art. 366 do CPP e Lei 9.271/96
Contribuição Devida ao IAA
Embargos de Declaração e Mandado de Prisão
Farmácia e Livre Concorrência
Gratificação de Assiduidade e Súmula 339
Habeas Corpus e Extradição
Imposto de Renda e IPC e BTNF
Inquérito: Arquivamento
Procuradoria-Geral da República e Vista
Protesto por Novo Júri e Excesso de Prazo
Sindicato e Substituição Processual
Substituição de Testemunhas
Usucapião Especial: Art. 183 da CF

PLENÁRIO
Contribuição Devida ao IAA
Julgando recurso extraordinário interposto por
usina de açúcar e álcool contra a cobrança da contribuição e
adicional devidos ao Instituto do Açúcar e do Álcool - IAA,
o Tribunal, por maioria de votos, considerou que esta
contribuição, criada pelo Decreto-Lei 308/67, alterado pelos
DL 1.712/79 e DL 1.952/82, foi recepcionada pela
Constituição Federal de 1988. À vista do princípio geral de
que não há inconstitucionalidade formal superveniente,
afastou-se a alegada ofensa ao art. 149, da CF/88, que exige
lei complementar para a instituição de contribuições de
intervenção no domínio econômico. Por outro lado,
assentou-se que a referida contribuição é compatível com o
sistema tributário nacional, não violando, portanto, o § 5º, do
art. 34, do ADCT (“Vigente o novo sistema tributário
nacional, fica assegurada a aplicação da legislação
anterior, no que não seja incompatível com ele...”), não se
admitindo apenas a alteração da alíquota por ato exclusivo
do poder executivo, conforme prescrevia o art. 3º, do
referido DL 1.712/79 (“Mediante proposta do Ministro da
Indústria e do Comércio, o Conselho Monetário Nacional
estabelecerá os percentuais das contribuições de que trata
este Decreto-Lei,...”). Vencidos o Min. Carlos Velloso,
relator, que conhecia do recurso e lhe dava provimento em
parte e o Min. Marco Aurélio, que lhe dava provimento
integralmente. RE 214.206-AL, rel. originário Min. Carlos
Velloso, rel. p/ o acórdão Min. Nelson Jobim, 15.10.97.

Inquérito: Arquivamento
Tratando-se de inquérito contra parlamentar em
que o ato descrito na peça acusatória é manifestamente
amparado por sua imunidade material (CF, art. 53: “Os
Deputados e Senadores são invioláveis por suas opiniões,
palavras e votos.”), não se há de sequer solicitar a licença
prévia da respectiva Casa Legislativa (CF, art. 53, § 1º:
“Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso
Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de
crime inafiançável, nem processados criminalmente sem
prévia licença de sua Casa.”), podendo-se determinar de
imediato o seu arquivamento. Com esse entendimento, o
Tribunal, em questão de ordem proposta pelo Min. Nelson
Jobim, relator, determinou o arquivamento de queixa-crime
apresentada pelo Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais
da Receita Federal, contra deputado federal que, criticando o
projeto de iniciativa do Poder Executivo de criação de um
conselho de controle de atividades financeiras, afirmara que
o mencionado conselho poderia se transformar numa
“sinistra central de extorsão” e que há denúncias de
“extorsão em larga escala por parte de fiscais da receita
federal”. Inquérito (QO) 1.328-DF, rel. Min. Nelson Jobim,
15.10.97.

Sindicato e Substituição Processual


Iniciado o julgamento conjunto de recursos
extraordinários afetados ao Plenário pela 2ª Turma (v.
Informativo 84) nos quais se discute o âmbito de incidência
do art. 8º, III, da CF (“ao sindicato cabe a defesa dos
direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria,
inclusive em questões judiciais ou administrativas;”). Após o
voto do Min. Carlos Velloso, relator, que conhecia dos
recurso e dava-lhes provimento por entender legítima a
substituição processual dos empregados pelo sindicato de
classe, o julgamento foi adiado em virtude do pedido de vista
do Min. Nelson Jobim. RE 210.029-RS, 193503-SP, 193579-
SP, 208983-SC, 211.152-DF, 211.874-RS, rel. Min. Carlos
Velloso, 16.9.97.

Procuradoria-Geral da República e Vista


Ao ser retomado o julgamento de recurso
extraordinário em que se discute sobre a constitucionalidade
do art. 3º, inciso I, da Lei 8.200/91 (com a redação dada pela
Lei nº 8.682/93), o Procurador-Geral da República pediu a
palavra, que lhe foi concedida, e proferiu seu parecer
oralmente, restando prejudicada a questão de ordem sobre o
pedido de adiamento do julgamento para que apresentasse o
seu próprio parecer sobre a causa (v. Informativo 87). RE
201.465-MG, rel. Min. Marco Aurélio, 15.10.97.

Imposto de Renda e IPC e BTNF


Prosseguindo no julgamento do mérito do recurso
acima mencionado, o Min. Marco Aurélio, relator,
entendendo que as pessoas jurídicas contribuintes do
imposto de renda tinham direito a que a correção monetária
de suas demonstrações financeiras no período-base de 1990
fosse feita com base no IPC e, concluindo, por via de
conseqüência, que a Lei 8.200/91, ao determinar que a
parcela da correção monetária relativa ao período-base de
1990, correspondente à diferença entre a variação do Índice
de Preços ao Consumidor - IPC e a variação do BTN Fiscal
“poderá ser reduzida na determinação do lucro real, em seis
anos-calendário, a partir de 1993, à razão de 25% em 1993
e de 15% ao ano, de 1994 a 1998, quando se tratar de saldo
devedor” (Lei 8.200/91, art. 3º, I) estaria, na verdade,
estabelecendo um empréstimo compulsório dado que a
União havendo cobrado mais imposto que o devido, por
força da correção parcial das demonstrações financeiras das
empresas, estaria obrigada a devolvê-lo de uma só vez votou
no sentido de declarar a inconstitucionalidade do
mencionado inciso I, do art. 3º, da Lei 8.200/91, restaurado
por força do art. 11 da lei 8.682/93, atingindo, ainda, o § 1º
do art. 40 do decreto 332/91, que regulamentou a referida lei
8.200/91. Em seguida, o julgamento foi adiado em virtude do
pedido de vista do Min. Nelson Jobim. RE 201.465-MG, rel.
Min. Marco Aurélio, 15.10.97.

Habeas Corpus e Extradição


Após o julgamento do pedido extradicional, o STF
não pode mais figurar como autoridade coatora em habeas
corpus. Deste modo, o Tribunal decidiu, em preliminar, que,
no caso, eventual coação seria atribuível ao relator dos
Embargos de Declaração na Extradição 662 - República do
Peru, Min. Octavio Gallotti, que proferiu no julgamento da
extradição o primeiro voto preponderante na formação do
voto médio (v. Informativo 55). O pedido originalmente
interposto contra o STF foi, assim, conhecido. Precedentes
citados: HHCC 73.782-DF (DJU de 7.3.97) e 73.783-DF
(DJU de 31.5.96, v. Informativo 32). No mérito, o Tribunal,
vencido o Ministro Marco Aurélio, indeferiu o writ, em que
se invoca fato novo impeditivo da execução da decisão do
STF: ocorrência de prescrição superveniente do delito de
concussão. Prevaleceu o entendimento do relator segundo o
qual a alegada prescrição só ocorrerá, de acordo com a
legislação peruana, em 11.9.98. Precedentes citados: HHCC
45.970 (RTJ 51/468), 50.761 (RTJ 69/44) e 59.977 (RTJ
102/619). HC 75.845-DF, rel. Min. Ilmar Galvão, 16.10.97 .

PRIMEIRA TURMA
Advogado Dativo e Defensor Público
Ao advogado dativo, ainda que nomeado para a
defesa gratuita de réu pobre, não se aplica o disposto no art.
5o, § 5o da Lei 1.060/50, com a redação dada pela Lei
7.871/89 (“Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja
organizada e por eles mantida, o defensor público, ou quem
exerça cargo equivalente, será intimado pessoalmente de
todos os atos do processo, em ambas as instâncias,
contando-se-lhes em dobro todos os prazos.”), já que não é
defensor público nem ocupa cargo equivalente (p. ex.:
integrante do serviço organizado de assistência judiciária). A
Turma, com esse entendimento, indeferiu pedido de habeas
corpus contra decisão do Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo. HC 75.416-SP, rel. Min. Sydney Sanches,
14.10.97 .

Art. 366 do CPP e Lei 9.271/96


O disposto no art. 366 do CPP, com a redação dada
pela Lei 9.271/96 (“Se o acusado, citado por edital, não
comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o
processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz
determinar a produção antecipada das provas consideradas
urgentes ...”), não deve ser aplicado às infrações penais
cometidas antes da vigência da nova lei, visto que
compreende norma processual mais benéfica — suspensão
do processo contra o revel — e regra de direito penal mais
gravosa — suspensão do prazo prescricional. Não opera,
deste modo, o princípio da retroatividade da lei mais
benéfica (CF, art.5o, XL), nem se admite a criação de um
terceiro sistema, tal como pretende o impetrante: suspender o
processo sem que se suspenda o curso do prazo prescricional.
Com esse fundamento, a Turma indeferiu o pedido de
habeas corpus. Concedeu-o, entretanto, de ofício para que,
cassado o acórdão, o Tribunal de Alçada Criminal de São
Paulo julgue a apelação do Ministério Público. Precedente
citado: HC 74.695 (DJU de 9.5.97, v. Informativo 63). HC
75.284-SP, rel. Min. Moreira Alves, 14.10.97 .

Farmácia e Livre Concorrência


Considerando que o disposto no art. 30, I da CF
(“Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de
interesse local.”) não autoriza o ente municipal a impor no
exercício de sua competência de ordenar física e socialmente
a ocupação do solo restrições à livre concorrência (CF, art.
170, IV), nem à garantia do livre exercício de qualquer
trabalho, ofício ou profissão (CF, art. 5 o, XIII), a Turma não
conheceu de recurso extraordinário interposto pelo
Município de Joinville contra acórdão do Tribunal de Justiça
do Estado de Santa Catarina que afastara a aplicação da Lei
Municipal 2.072/85, proibidora do estabelecimento de nova
farmácia a menos de quinhentos metros de distância de casa
do ramo já em funcionamento. RE 203.909-SC, rel. Min.
Ilmar Galvão, 14.10.97 .

Gratificação de Assiduidade e Súmula 339


A Turma, invocando o disposto na Súmula 339
(“Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função
legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos
sob o fundamento de isonomia.”), deu provimento ao recurso
extraordinário interposto pelo Estado do Espírito Santo
contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado que
concedera mandado de segurança, impetrado por
serventuário da justiça aposentado, contra ato do Tribunal de
Contas Estadual que negara registro ao ato da aposentadoria
que incluíra o benefício da gratificação de assiduidade.
Precedentes citados: RREE 193.952-ES (DJU de 19.9.97) e
204.689-ES (DJU de 19.9.97). RE 211.567-ES, rel. Min.
Octavio Gallotti, 14.10.97.

Usucapião Especial: Art. 183 da CF


O prazo de usucapião estabelecido no art. 183 da
CF (“Aquele que possuir como sua área urbana de até
duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos,
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde
que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.”)
tem termo inicial na data da entrada em vigor da CF/88: 5 de
outubro. Não se considera, pois, o tempo de posse anterior à
promulgação da Carta de 1988. Com esse fundamento, a
Turma não conheceu de recurso extraordinário interposto
contra decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo. Precedente citado: RE 145.004-MT (DJU de 12.12.96,
v. Informativo 32). RE 206.659-SP, rel. Min. Ilmar Galvão,
14.10.97 .

SEGUNDA TURMA
Embargos de Declaração e Mandado de Prisão
A simples alegação de que serão interpostos
embargos de declaração quando for publicado o acórdão que
confirmou, por unanimidade, a sentença condenatória do réu,
não impede a imediata expedição do mandado de prisão
contra o condenado. Com base nesse entendimento, e
considerando que apenas excepcionalmente os embargos de
declaração podem ter efeito modificativo do julgado,
possibilidade essa que não foi demonstrada pelo impetrante,
a Turma, por maioria, indeferiu o habeas corpus, vencido o
Min. Marco Aurélio, que concedia a ordem a fim de que o
mandado de prisão fosse executado após a publicação do
acórdão condenatório. Precedentes citados: HC 69.039-PE
(RTJ 139/231); HC 69.964-RJ (RTJ 147/243). HC 75.835-
SP, rel. Min. Carlos Velloso, 14.10.97.

Substituição de Testemunhas
Tendo em conta que o momento processual para
arrolar testemunhas é o da defesa prévia (CPP, art. 395), não
configura cerceamento de defesa o indeferimento do pedido
de substituição de testemunhas quando não enquadrado na
hipótese prevista no art. 397, do CPP (“Se não for
encontrada qualquer das testemunhas, o juiz poderá deferir
o pedido de substituição, se esse pedido não tiver por fim
frustrar o disposto nos artigos 41, in fine, e 395.”). Com
base nesse entendimento, a Turma, por maioria, indeferiu
habeas corpus em que se alegava que o princípio da ampla
defesa e o art. 397 do CPP permitiriam a substituição de
testemunhas por conveniência exclusiva da defesa. Vencido
o Min. Nelson Jobim que, dando interpretação liberal ao
referido artigo, concedia a ordem. Precedentes citados: HC
73.075-SP (DJU de 3.5.96). HC 75.605-RJ, rel. Min.
Maurício Corrêa, 14.10.97.

Protesto por Novo Júri e Excesso de Prazo


Deferido o protesto por novo júri (CPP, art. 607),
não cabe argüir excesso de prazo da prisão preventiva do réu
tendo em vista que esta passou a ser decorrente de sentença
condenatória definitiva. Com base nesse entendimento, a
Turma, por unanimidade, indeferiu habeas corpus em que se
pretendia a liberdade provisória do paciente, observando,
ainda, que, enquanto não realizado o novo julgamento pelo
tribunal do júri, o réu tem o tratamento próprio a quem foi
condenado por decisão judicial. HC 75.479-DF, rel. Min.
Néri da Silveira, 14.10.97.

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos

Pleno 15.10.97 16.10.97 15


1ª Turma 14.10.97 --------- 299
2ª Turma 14.10.97 13.10.97 332

CLIPPING DO DJ
17 de outubro de 1997

ADIn N. 1.500
RELATOR : MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: CONSTITUCIONAL.
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO:
ADMISSÃO. CONTRATO ADMINISTRATIVO:
INCONSTITUCIONALIDADE. C.F., art. 37, II e IX.
Lei 4.957, de 1994, do Estado do Espírito Santo, artigo
4º.
I. - A investidura em cargo ou emprego público
depende de aprovação em concurso público de provas
ou de provas e títulos: C.F., art. 37, II. O art. 4º da Lei
4.957, de 1994, do Espírito Santo, autoriza o
provimento de cargos públicos mediante "contrato
administrativo", sem concurso público, figura estranha
de admissão no serviço público, que não se ajusta à
hipótese excepcional de contração "por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de
excepcional interesse público". C.F., art. 37, IX.
II. - Suspensão cautelar da eficácia do art. 4º da Lei
4.957, de 1994, do Estado do Espírito Santo.
* noticiado no Informativo 84

HC N. 73.250
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
(...) PROVA - ESCUTA TELEFÔNICA -
VIABILIDADE. A teor do disposto no inciso XII do
artigo 5.º da Constituição Federal, de regra, o sigilo
das comunicações telefônicas é inviolável. A exceção
corre à conta de hipóteses e forma previstas em lei e
mediante ordem judicial, visando à investigação
criminal ou instrução processual penal. Ausência de
regulamentação, à época do afastamento da
inviolabilidade. Insubsistência de ter-se a ordem
judicial como harmônica com a Carta Política da
República. Precedente: habeas-corpus n.º 69.912,
relatado perante o Pleno pelo Ministro Sepúlveda
Pertence, com acórdão publicado no Diário da Justiça
de 25 de março de 1994.

HC N. 74.212
RELATOR : MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: "Habeas corpus".
- Dispõe o § 5º do artigo 5º da Lei 1.060/50, acrescido
por força da Lei 7.871/89, que "nos Estados onde a
assistência judiciária seja organizada e por eles
mantida, o defensor público, ou quem exerça cargo
equivalente, será intimado pessoalmente de todos os
atos do processo, em ambas as instâncias, contando-se-
lhes em dobro todos os prazos". No caso, como se
verifica do exame dos autos, não foi a defensoria
pública intimada pessoalmente do julgamento do
recurso em sentido estrito, razão por que esse
julgamento é nulo.
"Habeas corpus" deferido, para, anulando o
julgamento em causa, determinar que outro se realize,
pessoalmente intimada a defensoria pública.

HC N. 75.386
RELATOR : MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: "Habeas corpus".
- Acréscimo de pena-base e de denegação do "sursis"
suficientemente justificados por falta de
preenchimento dos requisitos subjetivos do artigo 77,
II, do Código Penal.
- A mesma fundamentação também serve para
demonstrar a inviabilidade das medidas previstas nos
artigos 76 e 89 da Lei 9.099/95. Ademais, a transação
não se aplica aos delitos com rito próprio.
"Habeas corpus" indeferido.
* noticiado no Informativo 74

HC N. 75.779
RELATOR : MIN. NÉRI DA SILVEIRA
EMENTA: - Habeas Corpus. 2. Não cabe
habeas corpus contra despacho do Relator, no STF, que
nega seguimento a pedido de habeas corpus,
notadamente, quando se cuida de inépcia da inicial. 3.
Não cabe, também, habeas corpus, quando o paciente
está condenado, tão-só, a pena de multa, inexistindo
ameaça à liberdade de ir e vir. 4. Não é de admitir-se,
por igual, habeas corpus para discutir condenação,
devidamente fundamentada, que se baseia no exame de
fatos e provas, inclusive no que concerne à
caracterização do dolo. 5. Não é de dar-se curso a
habeas corpus, se se trata de mera reiteração de pedido
anterior já decidido. 6. Habeas Corpus não conhecido.

HC N. 75.853
RELATOR : MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
EMENTA: Mandado de segurança do MP contra
decisão judicial penal: litisconsórcio passivo
necessário do réu beneficiado.
A admitir-se mandado de segurança do Ministério
Público contra decisão favorável à defesa, no processo
penal, o réu é litisconsorte passivo e não mero
assistente litisconsorcial, impondo-se sua citação, pena
de nulidade; de qualquer modo, a sua audiência, no
processo do mandado de segurança tendente a afetar
posição favorável que lhe decorrera da decisão
impugnada resultaria das garantias do contraditório e
da ampla defesa: conseqüente nulidade do processo de
mandado de segurança deferido ao MP para conferir
efeito suspensivo a recurso contra o deferimento ao
condenado de progressão do regime de execução
penal.
* noticiado no Informativo 83

AG (AgRg) N. 190.804
RELATOR : MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: - CONSTITUCIONAL.
ADMINISTRATIVO. JUSTIÇA DO TRABALHO:
COMPETÊNCIA.
I. - Servidores distritais: reclamação trabalhista por
estes promovida pleiteando direitos oriundos do
Contrato de Trabalho anteriormente mantido com o
ente estatal: competência da Justiça do Trabalho,
mesmo que o direito reinvindicado decorra de norma
distrital.
II. - Agravo não provido.

AG (AgRg) N. 195.193
RELATOR : MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Agravo regimental.
- Compatibilidade do artigo 859 da C.L.T. com os
artigos 8º, I e III, e 114 da atual Constituição.
Agravo a que se nega provimento.

AG (AgRg) N. 197.625
RELATOR : MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Agravo regimental.
- Não tem razão o agravante.
A súmula 565 desta Corte diz respeito à natureza
administrativa da pena que se consubstancia na multa
fiscal moratória e está em vigor em face da atual
Constituição, porque esta não alterou essa natureza.
Agravo a que se nega provimento.

RE (AgRg) N. 210.894
RELATOR : MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. INCRA. REPRESENTAÇÃO
DA UNIÃO FEDERAL NAS CAUSAS DE
NATUREZA FISCAL. DELEGAÇÃO PELA
PROCURADORIA GERAL DA FAZENDA.
1. O art. 29, § 5º do ADCT-CF/88 estabeleceu a
possibilidade de a Procuradoria Geral da Fazenda
Nacional delegar poderes de representação judicial da
União nas causas de natureza fiscal. Legitimidade da
delegação de poderes ao INCRA para promover ação
de cobrança do ITR.
2. Agravo regimental não provido.

ADIn (Edcl) N. 1.593


RELATOR : MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
CUJO PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR FOI
DEFERIDO PARA SUSPENDER A EXECUÇÃO E
APLICABILIDADE DE EXPRESSÕES
CONSTANTES DE DISPOSITIVO DE LEI
ESTADUAL. ALEGADA OMISSÃO PORQUE O
TRIBUNAL NÃO SE PRONUNCIOU SOBRE A
POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO.
1. A possibilidade jurídica do pedido formulado na
inicial da Ação Direta de Inconstitucionalidade
constitui pressuposto superado em face do
conhecimento da ação.
2. A declaração de inconstitucionalidade parcial,
mediante suspensão de determinadas expressões, assim
agindo o Judiciário como legislador negativo, sem
mudar o sentido e o alcance da norma impugnada, que
permanece válida no que remanesce como
constitucional, não enseja embargos de declaração a
pretexto de omissão quanto à possibilidade jurídica do
pedido.
3. Embargos de Declaração rejeitados.

RE N. 124.702
RELATOR : MIN. NÉRI DA SILVEIRA
EMENTA: - Recurso extraordinário. 2. Ação
de reintegração de posse de herdeiros de companheiro
falecido contra a ex-companheira julgada procedente.
3. Embargos de retenção de benfeitorias: acórdão local
que os teve como descabidos, na espécie. 4. Alegação
de ofensa aos arts. 5º, II, e 226, § 3º, da Constituição.
5. Aresto referente à ação de reintegração de posse que
transitou em julgado a 23.3.1987. 6. Nos limites do
julgado anterior, não há como reconhecer, no aresto
ora recorrido, ofensa aos dispositivos constitucionais
invocados. 7. À época do trânsito em julgado da
decisão na demanda reintegratória de posse, não
existia ainda a norma do art. 226, § 3º, da Constituição
de 1988, havendo o acórdão ora recorrido ressalvado à
recorrente pleitear, em ação própria, eventual direito
dimanante desse dispositivo. 8. Recurso extraordinário
não conhecido.

RE N. 169.765
RELATOR : MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
E M E N T A: FINSOCIAL: RE, a, contra
acórdão que declarou a validade dos arts. 9º da L.
7689/88, 28 da L. 7738/89 e 7º da L. 7787/89.
Sem que se saiba se a recorrente é empresa
comercial ou prestadora de serviços - distinção que o
acórdão recorrido não fez, mas que foi adotada pelo
STF nos RREE 150.764 (M. Aurélio, RTJ 147/1024) e
150.755 (Pertence, RTJ 149/259) -, é impossível dizer
do acerto ou desacerto da decisão impugnada.
* noticiado no Informativo 81

RE N. 207.440
RELATOR : MIN. SYDNEY SANCHES
EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL.
POLICIAIS MILITARES DO DISTRITO FEDERAL.
VENCIMENTOS: LEGISLAÇÃO FEDERAL (ART.
21, INC. XIV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL).
DIREITO ADQUIRIDO.
Reajuste de vencimentos do mês de fevereiro de 1989,
segundo a variação da U.R.P. (Unidade de Referência
de Preços) (Índice de 26,05%) (Decreto-lei nº 2.335,
de 12.06.1987).
Arts. 5º, §§ 1º, e 6º da Lei nº 7.730, de 31.01.1989.
Medida Provisória nº 32, de 15.01.1989.
Portaria Ministerial nº 354, de 01.12.1988 (D.O.
02.12.1988).
Reajuste de vencimentos, pelo índice de 26,06%,
relativo ao IPC de junho de 1987 (Decreto-lei nº
2.302, de 21.11.1986).
Sua revogação pelo Decreto-lei nº 2.335, de
12.06.1987).
Lei nº 7.830, de 28.09.1989.
Art. 1º, "caput", do Decreto-lei nº 2.425, de
07.04.1988.
1. Os Policiais Militares do Distrito Federal têm seus
vencimentos regulados por lei federal, em face do que
dispõe o art. 21, inc. XIV, da Constituição Federal.
2. É firme a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, no Plenário e nas Turmas, no sentido de que
não há direito adquirido ao reajuste de 26,05%,
referente à U.R.P. de fevereiro de 1989.
3. Quanto ao I.P.C. de junho de 1987 a outubro de
1989, o mesmo Plenário tem decidido, no sentido de
que não há direito adquirido ao reajuste de 26,06%.
4. Com relação ao reajuste de 84,32% (I.P.C. de
março, com resíduo de fevereiro de 1990, Lei nº 7.830,
de 28.09.1989), o Plenário decidiu, também, não se
caracterizar hipótese de direito adquirido.
5. E, quanto à U.R.P. de abril/maio de 1988, o
Plenário e as Turmas têm decidido que os servidores
fazem jus, tão-somente, ao valor correspondente a 7/30
(sete trinta avos) de 16,19% sobre os vencimentos de
abril e maio de 1988, não cumulativamente, mas
corrigidos monetariamente, desde a data em que eram
devidos, até seu efetivo pagamento.
6. Observados os precedentes, o R.E. é conhecido em
parte e, nessa parte, provido, para denegação dos
reajustes de 26,05%, 26,06% e 84,32% e, quanto ao de
16,19%, para reduzi-lo a 7/30 (sete trinta avos) (desse
percentual) sobre os vencimentos de abril e maio de
1988, na forma referida no item anterior.
* noticiado no Informativo 81

Acórdãos publicados: 410

T R A N S C R I Ç Õ E
S

Com a finalidade de proporcionar aos leitores


do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de modo
especial o interesse da comunidade jurídica.

Aposentadoria e Tribunal de Contas da União


MS 22.658-RJ*

Ministro Sepúlveda Pertence (relator)


Relatório: Juiz classista da Justiça do Trabalho impetra mandado de
segurança contra decisão do Tribunal de Contas da União que julgou
ilegal e recusou registro à sua aposentadoria, porque, no cálculo dos
proventos, considerou-se, na parcela dos “anuênios”, o tempo de
advocacia do impetrante.
Funda-se a impetração na
garantia da coisa julgada.
Explica a inicial (f. 3):
“Ato do Presidente do Tribunal Regional do
Trabalho da 1ª Região, excluiu, para fins de anuênios, o
seu tempo de serviço correspondente ao exercício da
advocacia.
Irresignado, impetrou mandado de segurança
(processo TRT-MS-338/92). Segurança concedida, à
unanimidade, tendo sido o respectivo acórdão publicado
no Diário Oficial, de 16.4.93, fl. 186 (doc. 4). Em
conseqüência, restaurou-se o citado tempo de serviço e
para os fins pretendidos.
Nada obstante, a Primeira Câmara do TCU
considerou ilegal a alteração que resultou do referido
mandado de segurança (Decisão 232/94), tendo desta
decisão recorrido o ora impetrante, sem sucesso (Decisão
053/96).
Foram opostos embargos de declaração (doc.
5). Argumentou-se que havendo, como havia, decisão
judicial, transitada em julgado, garantindo a contagem do
tempo de que se trata e para os fins pretendidos, não
poderia a Corte de Contas negar provimento ao recurso,
pois a tanto corresponderia violação à coisa julgada.
Os embargos foram rejeitados sob a alegação
de que a questão relativa ao mandado de segurança não
foi suscitada no julgamento do recurso, além de que seria
aplicável, in casu, a Súmula nº 123 da Corte, segundo a
qual a “decisão proferida em mandado de segurança
impetrado contra autoridade administrativa estranha ao
Tribunal de Contas da União, a este não obriga,
mormente se não favorecida a mencionada autoridade
pela prerrogativa de foro conferida no art. 119, I, alínea
“i” da Constituição”.”

As informações, antes de trazer


à baila a referida Súmula 123/TCU, e
enfrentar o mérito da pretensão do
impetrante, anotam os antecedentes da
decisão impugnada (f. 30):

“Ressaltamos que o ato inicial de


aposentadoria do impetrante foi julgado legal por esta
Corte na Sessão de 28/04/92, da 1ª Câmara, tendo o
mesmo se inativado no cargo de juiz classista do Tribunal
Regional do Trabalho da 1ª Região, a partir de 16/06/91,
com fundamento nos arts. 84, inc. XVI; 93, inc. VI e 115,
parágrafo único, da Constituição Federal de 1988, c/c art.
74, parágrafo único da Lei Complementar nº 35/79 e com
a Lei nº 6.903/81.
Porém, o julgamento pela legalidade do ato
inicial somente se deu após o cumprimento, pelo Tribunal
Regional do Trabalho da 1ª Região, de diligência
saneadora deste Tribunal de Contas, no sentido de ser
excluído o tempo de advocacia, para fins de gratificação
adicional por tempo de serviço.
Irresignado, o inativo impetrou Mandado de
Segurança TRT-MS-338/92, junto ao Tribunal Regional do
Trabalho da 1ª Região, contra o ato do Exmº Sr. Juiz
Presidente do TRT que, atendendo à diligência deste
Tribunal de Contas, excluiu o tempo de serviço do inativo.
Tendo obtido trânsito em julgado favorável
naquele TRT, em 26/04/93, foi enviado a esta Corte de
Contas ato de alteração de aposentadoria, incluindo o
tempo de advocacia para fins de gratificação adicional
por tempo de serviço, que não logrou êxito, tendo sido
considerado ilegal e negado registro, o que gerou a
celeuma que deu ensejo ao presente Mandado de
Segurança.”

No mérito, sustenta
a autoridade coatora que o art. 65, VIII, da
LC 35/79 (LOMAN) não se aplica aos
juízes classistas e o seu art. 74, parág.
único, prescreve que “lei ordinária disporá
sobre a aposentadoria dos juízes
temporários de qualquer instância”, do que
resultou a L. 6.903/81; nela,
particularmente dos arts. 5º e 10, resulta
“que aos juízes classistas aplica-se o
Regime Jurídico dos Servidores Públicos
Civis da União. Tanto a Lei nº 1.711/52,
quanto a Lei nº 8.112/90, vigente
atualmente, instituem a Gratificação
Adicional por Tempo de Serviço (art. 62, da
Lei nº 8.112/90), porém não dão guarida à
contagem do tempo de advocacia para fins
de anuênios. Logo, os juízes classistas estão
regidos pelo art. 62, da Lei nº 8.112/90,
fazendo jus a anuênios (1% por ano de
efetivo exercício), e não a qüinqüênios,
como instituído no art. 65, inc. VIII, da Lei
Complementar nº 35/79”; esse, enfatiza, é o
entendimento do Supremo Tribunal (Rp
1490, RTJ 128/43; MS 21361, 18.8.94,
Pertence, RTJ 156/58; MS 21466, Celso de
Mello, RTJ 153/151).
A Procuradoria-
Geral da República, com parecer da Dra.
Anadyr Rodrigues, é pela denegação da
segurança, uma vez que, estranho o TCU à
relação processual do mandado de
segurança impetrado contra ato de
Presidente do TRT, tem respaldo jurídico a
aplicação de súmula de que se serviu a
decisão impugnada.
É o relatório.

Voto: Assinala com razão a Procuradoria-Geral que não está em


causa o mérito da decisão questionada do Tribunal de Contas, que
negou registro ao ato administrativo da Presidência do TRT que -
cumprindo mandado de segurança - alterara in melius, o título
inicial da aposentadoria do impetrante.
A impetração, com efeito, não
dedica uma só palavra à sustentação do
direito do juiz classista da Justiça do
Trabalho ao cômputo do tempo de exercício
da advocacia para o cálculo de adicionais.
Reduz-se a causa petendi à
invocação da coisa julgada, como explícito
na petição inicial (f. 5):

“Protegido pela coisa julgada (“possuindo a


seu favor mandado de segurança transitado em julgado”
como diz o impetrado), líquido e certo é, portanto, o
direito do impetrante de ter computado para fins de
anuênio seu tempo de serviço correspondente ao exercício
da advocacia. A decisão administrativa do Eg. TCU que,
invocando sua Súmula 123, recusa reconhecer esse
direito, viola o art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal,
assegurador da intangibilidade da coisa julgada,
rendendo ensejo à retificação pela via do mandado de
segurança, nos termos do inciso LXIX, do mesmo artigo.
De notar, finalmente, que nem a Súmula
invocada autoriza o TCU a descumprir a res judicata, que
só comporta controle via de ação rescisória, logo,
judicial. Jamais o controle administrativo, ainda que
respaldado no prestígio da Colenda Corte de Contas.”
Sendo assim, vale recordar em
síntese o que sucedeu no caso.
A aposentadoria do impetrante
fora inicialmente decretada pelo Presidente
ao TRT com a vantagem pretendida:
consideração, na parcela dos uniênios, do
tempo de advocacia.
No entanto, o Tribunal de
Contas, ao apreciar a legalidade da
concessão (CF, art. 71, III), devolveu o
processo ao TRT para refazer o cálculo,
dele subtraindo o correspondente ao
referido exercício profissional.
Assim refeito o título da
aposentadoria pela administração do TRT,
o TCU - em decisão de 28.4.92 (a data é
relevante) - julgou-o legal e deferiu-lhe o
registro.
Sucede que, posteriormente, em
25.3.93, o TRT da 1ª Região julgou
mandado de segurança requerido pelo
impetrante “contra ato do Exmº Sr. Juiz
Presidente do Tribunal (f. 13), no qual
acolhendo entendimento da Inspetoria
Geral do Egrégio Tribunal de Contas da
União e diligência por ela solicitada,
excluiu do tempo de serviço do Requerente,
aquele correspondente à advocacia para
efeito dos anuênios (Lei nº 8.112)”.
A segurança foi deferida (f. 13).
E a decisão transitou em julgado (f. 19).
Em conseqüência, a então
autoridade impetrada emitiu novo ato,
restabelecendo a vantagem e novamente o
submeteu ao Tribunal de Contas, que,
então, lhe negou registro (f. 8); negativa
que se manteve em grau de recurso (f. 10) e
de embargos de declaração opostos pelo
aposentado (f. 11).
Nesse quadro, estou em que o
impetrante não tem razão.
Não está em causa a validade
formal do acórdão do TRT que deferiu
mandado de segurança para determinar ao
seu Presidente que refizesse o ato de
aposentadoria, desfazendo o que emitira em
atenção à “diligência” do TCU e voltando
aos termos da concessão inicial.
O ponto está em saber se a força
da res judicata, que cobriu a concessão da
segurança, é oponível ao Tribunal de
Contas de modo a compelí-lo, de sua vez, a
desconstituir a decisão que julgara legal e
registrara o segundo ato de aposentadoria,
a fim de registrar o terceiro; entendo que
não.
Parto da Súmula 6 da
jurisprudência do Supremo Tribunal:

“A revogação ou anulação, pelo Poder


Executivo, de aposentadoria ou qualquer ato aprovado
pelo Tribunal de Contas, não produz efeitos antes de
aprovada por aquele Tribunal, ressalvada a competência
revisora do Judiciário.”

Dos julgados que alicerçam a


Súmula 6, o primeiro e o mais completo é o
do RMS 8.657, de 6.9.61, da lavra do
saudoso Victor Nunes Leal, que, dando
cabo à confessada hesitação a respeito em
um seu trabalho doutrinário anterior (Valor
das Decisões do Tribunal de Contas, RDA
12/418 e Problema de Direito Público,
1960, p. 223), conclui “pela possibilidade
da revisão, por motivo de ilegalidade,
contanto que o ato corretivo logre o
assentimento do Tribunal de Contas (...);
caso contrário, a via própria, mesmo para
a administração, há de ser o judiciário”
(RTJ 20/69,70).
E - depois de recordar a decisão
do Tribunal no RMS 7.753, 12.6.61, no qual
o mesmo entendimento acabara acolhido
por Castro Nunes (RDA 7/212) - prosseguiu
Victor Nunes (RTJ 20/70):

“Seabra Fagundes, a cuja lição eu recorrera,


ensina (R.D.A. 3-9): “Em alguns casos, o poder de
revogar ou anular se extingue para a autoridade inferior
logo que praticado o ato. Tal sucede, por exemplo, se ele
depende de autorização ou aprovação do Superior
hierárquico. A autorização, uma vez utilizada, impede o
desfazimento da medida sem reexame do caso pelo agente
que a autorizou. A aprovação converte o ato em
procedimento da autoridade que o outorga, fazendo
extinguir-se a competência do autor originário”.
As considerações anteriores, especialmente a
análise do referido precedente do Supremo Tribunal,
levaram-me a não aceitar todas as conseqüências da
premissa do consagrado especialista. S. Exª impugnava,
ao Tribunal de Contas, “o poder de revogamento ou
anulação”, o que seria, no seu autorizado modo de ver,
“negar a própria missão daquele órgão”. Pareceu-me
razoável, como já disse, admitir a possibilidade da
anulação com o assentimento do Tribunal de Contas.”

Mostra Victor
Nunes que no mesmo sentido parecia ter
decidido o Supremo em outros casos, um de
Hungria, apud RTJ 275/25 e o outro de
Hahnemann (RMS 4404, 22.11.57, RFor
191/96).
E prossegue:

“Assentado o princípio, acima enunciado,


segue-se que o ato anulatório, originário da autoridade
fiscalizada (no caso, o Sr. Governador do Estado),
constitui apenas a primeira fase do processus de
anulação, que só se completa com a aprovação do órgão
de controle.
Neste ponto, havemos de distinguir, para
exame das conseqüências, entre a decisão do Tribunal de
Contas, que julga legal a aposentação e, por isso, a
aprova, e a decisão posterior, do mesmo Tribunal, que
aprova o ato anulatório da aposentadoria.
No primeiro caso, o ato é da competência da
autoridade administrativa que o pratica, depois de
consumado, é submetido à chancela do Tribunal, para que
possa ter execução definitiva. A aprovação do Tribunal
não integra o ato mesmo; em relação a ele, é um plus, de
natureza declaratória quanto à sua legitimidade em face
da lei. Não é a validade mas a executoriedade, em caráter
definitivo, do ato que fica a depender do julgamento de
controle do Tribunal de Contas.
Este é o ensinamento, entre nós, de Francisco
Campos, que analisou o problema com aguda visão.
Observou ele que a eficácia de certos atos
administrativos, em razão do interesse público, fica
suspensa, até que outro órgão o aprove, mas este “nada
acrescenta ao ato: declara-lhe, apenas, a conformidade
com a lei”, e dessa declaração “decorre, para o ato em
foco, uma força nova, a saber a aptidão a gerar efeitos”.
Tal é a natureza da função de controle, que não integra,
nem completa o ato, já anteriormente acabado e perfeito,
diversamente da função de aprovação, pela qual “a
autoridade, a quem é cometida a aprovação do ato,
colabora com a sua vontade no acabamento ou
aperfeiçoamento do mesmo”. A função de controle,
portanto, não sendo integrativa do ato, constitui “apenas
condição de sua executoriedade” (Direito Constitucional,
II-140). Em muitos casos, aliás, observamos nós, a
execução se faz condicionalmente, antes da chancela do
órgão de controle.
Por tais razões é que o julgamento favorável
da aposentadoria, pelo Tribunal de Contas, tem efeito ex
tunc. O ato de aposentadoria, mesmo antes de julgado
pelo Tribunal de Contas, produz efeitos condicionados
àquele julgamento; o principal deles é a vacância do
cargo, que pode ser imediatamente provido com outro
titular.
Muito diversa é a situação, quando se trata de
anular aposentadoria, já sancionada pelo Tribunal de
Contas. “A aprovação - como diz Seabra Fagundes -
converte o ato em procedimento da autoridade que o
outorga”. Sendo o ato, em tal caso, do Tribunal de
Contas, e não mais da autoridade administrativa, a
competência para torná-lo sem efeito se desloca desta
para aquele. Por isso, nessa hipótese, não pode ter
qualquer efeito executório, nem mesmo condicionalmente,
o ato anulatório emanado da autoridade administrativa, o
qual representa apenas, como há pouco notamos, a
primeira etapa do processus de anulação.
Não se nega, com isso, que a administração
possa, por motivo de ilegalidade, anular os próprios atos.
O que ela não pode é anular os atos do Tribunal de
Contas. O contrasenso seria imperdoável, se o fiscalizado
converter-se em fiscal do seu próprio fiscal. É, pois, em tal
caso, inoperante, para qualquer efeito, o ato de anulação,
antes de confirmado pelo Tribunal de Contas.”

O que há de novo, na espécie, é


que o último ato administrativo favorável
ao impetrante decorreu de decisão
concessiva de mandado de segurança, que
transitou em julgado. E, não obstante,
recusou-lhe o registro o Tribunal de Contas.
A circunstância, entretanto, não
me parece decisiva.
O ato administrativo praticado
em cumprimento de um mandado de
segurança, deferido ao interessado não
muda, com isso, a sua natureza, nem os
limites da eficácia que teria tido, se
praticado pela autoridade,
independentemente da sentença que o
determinou.
Já registrada pelo Tribunal de
Contas a concessão anterior da
aposentadoria, admite-se - na linha da
doutrina subjacente à Súmula 6, há pouco
recordada - que, não obstante, o revisse a
autoridade administrativa, de ofício ou
mediante provocação, quando convencida
da sua ilegalidade: mas - como também
expresso no leading case da jurisprudência
sumulada - esse ato administrativo de
revisão seria inoperante, até que,
assentindo nos seus motivos, de sua vez o
registrasse o Tribunal de Contas,
desfazendo o registro anterior.
Nada se altera substancialmente,
porque o novo ato administrativo haja
traduzido cumprimento de mandado de
segurança impetrado contra ato em sentido
contrário da autoridade administrativa:
esgotou-se a eficácia da sentença com a
prática do ato reclamado, da competência
da autoridade coatora, sem que daí decorra
que o deva registrar o Tribunal de Contas.
A falta de jurisdição do TRT
sobre atos do Tribunal de Contas é apenas
um argumento adicional para reforço da
conclusão, que, independentemente dela -
assim, por exemplo, se cuidasse de
mandado de segurança deferido pelo STF
contra ato administrativo do seu Presidente
- subsistiria incólume pelas considerações
já expendidas.
Com esse único reparo, é
correta, pois, a Súmula 123 do Tribunal de
Contas, de que derivou a decisão
questionada.
Desse modo, indefiro a
segurança: é o meu voto.

* acórdão ainda não publicado

Assessores responsáveis pelo Informativo


Maria Ângela Santa Cruz Oliveira
Márcio Pereira Pinto Garcia

informativo@stf.gov.br

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