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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG

ESCOLA DE ENGENHARIA
CURSO DE GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA CIVIL

SOLUÇÃO ANALÍTICA E COMPUTACIONAL DE PLACAS FINAS


RETANGULARES ELÁSTICO-LINEARES PELO MÉTODO DOS
ELEMENTOS FINITOS

Caroline Dapieve Aquino

Rio Grande
2018
Caroline Dapieve Aquino

SOLUÇÃO ANALÍTICA E COMPUTACIONAL DE PLACAS FINAS


RETANGULARES ELÁSTICO-LINEARES PELO MÉTODO DOS
ELEMENTOS FINITOS

Monografia defendida na Escola de Engenharia


como requisito parcial para conclusão do curso de
Engenharia Civil, na Universidade Federal do Rio
Grande – FURG.

Orientador: Prof. Ernesto Luiz Gomes Alquati.

Rio Grande
2018
“Se você tem conhecimento,
deixe os outros acenderem as suas velas nele.”

(Margaret Fuller)
RESUMO

Este trabalho constitui monografia de conclusão do curso de graduação em engenharia civil na


Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande. O objetivo geral do trabalho foi
tratar da solução de placas finas retangulares de comportamento elástico-linear e comparar soluções
analíticas fechadas com soluções computacionais aproximadas obtidas pelo método dos elementos
finitos. Todas as soluções computacionais foram obtidas com o emprego do programa ANSYS.
Inicialmente foi apresentada a clássica teoria da elasticidade que dá sustentação fundamental ao
estudo da flexão de placas. A seguir, é apresentada a teoria da flexão de placas, com forte ênfase
na denominada teoria de Kirchhoff para placas finas com pequenos deslocamentos. Segue a
apresentação daquilo que é básico no método dos elementos finitos. São descritas e apresentadas
soluções analíticas e computacionais para três exemplos de placas finas. São eles, o caso de placa
de bordos simplesmente apoiados sob carga uniforme, de bordos engastados sob carga uniforme e
de bordos simplesmente apoiados sob carga hidrostática. Finalmente, são apresentadas algumas
observações sobre divergências sobre o que é placa fina e sobre limites para o problema ser tratado
como de pequenos deslocamentos. São apresentadas as conclusões com foco na convergência das
soluções computacionais aproximadas obtidas onde é relatado a obtenção de muito boa
convergência em deslocamentos e em tensões para os casos tratados. Algumas sugestões para
continuidade deste trabalho foram feitas.
ABSTRACT

This work constitutes conclusion monography of the undergraduate course in civil engineering at
the Engineering School of the Federal University of Rio Grande. The general objective of the work
was to deal with the solution of rectangular thin plates of elastic-linear behavior and compare exact
analytic solutions with approximate computational solutions obtained by the finite element method.
All computational solutions were obtained using the ANSYS program. Initially, the classical theory
of elasticity was presented, which gives fundamental support to the study of plate bending. Next,
the plate bending theory is presented, with a strong emphasis on the so-called Kirchhoff’s Plate
Theory for thin plates with small displacements. It follows the presentation of what is basic in the
finite element method. Analytical and computational solutions are described and presented for
three examples of thin plates. They are, the case of simply supported plate under uniform load,
clamped plate under uniform load and simply supported plate under hydrostatic load. Finally, it is
presented some observations about the differences between the thin plate and the limits for the
problem to be treated as small displacements. The conclusions are presented focusing on the
convergence of the approximate computational solutions obtained where it is reported to obtain
very good convergence in displacements and tensions for the treated cases. Some suggestions for
continuity of this work have been made.
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Corpo sujeito a um sistema de forças equilíbrio ........................................................ 18


Figura 2.2 - Estado geral de tensões em um ponto ........................................................................ 20
Figura 2.3 - Equilíbrio de rotação em torno do eixo x’ ................................................................. 21
Figura 2.4 - Plano oblíquo passando por p .................................................................................... 22
Figura 2.5 - Componentes de tensão em um plano oblíquo .......................................................... 23
Figura 2.6 - Componentes normais e tangenciais da tensão no plano inclinado ........................... 24
Figura 2.7 - Tensões em um plano inclinado................................................................................. 28
Figura 2.8 - Componentes de tensão em um paralelepípedo elementar ........................................ 32
Figura 2.9 - (a) deslocamento longitudinal na direção x (b) deslocamento longitudinal na direção y
(c) deslocamento longitudinal das deformações angulares no plano xy ....................................... 33
Figura 2.10 - Deslocamento de um ponto p de um corpo sólido antes e após a deformação ........ 35
Figura 2.11 - Deformação de um segmento de reta interno a um sólido ....................................... 36
Figura 2.12 - Deformação angular no interior de um sólido ......................................................... 38
Figura 2.13 - Mudança de sistema de referência ........................................................................... 41
Figura 2.14 - Transformação do sistema (x,y) para (x’,y’) ........................................................... 43
Figura 2.15 - Interpretação física da compatibilidade de deformações ......................................... 50
Figura 2.16 - Sólido em equilíbrio................................................................................................. 61
Figura 3.1 - Placa retangular sujeita a carregamento transversal .................................................. 65
Figura 3.2 - Forças internas e externas atuantes em paralelepípedo elementar ............................. 66
Figura 3.3 - Forças internas e externas atuantes no plano central ................................................. 67
Figura 3.4 - Trecho infinitesimal deformado e indeformado no plano xz ..................................... 70
Figura 3.5 - Distorção angular no plano xy ................................................................................... 71
Figura 3.6 - Condições de apoio de uma placa retangular qualquer.............................................. 76
Figura 3.7 - Forças de canto na placa ............................................................................................ 78
Figura 4.1 - Graus de liberdade (incógnitas) associadas a um nó i ............................................... 87
Figura 4.2 - Relações entre a numeração nodal global e local de um elemento m ....................... 88
Figura 4.3 - Relação entre a numeração dos graus de liberdade (incógnitas) global e local de um
elemento m .................................................................................................................................... 88
Figura 4.4 - Elemento triangular linear ......................................................................................... 90
Figura 4.5 - Elemento quadrilateral linear ..................................................................................... 93
Figura 4.6 - Funções lineares unidimensionais ............................................................................. 94
Figura 4.7 - Triângulo de pascal .................................................................................................... 97
Figura 5.1 - Dados do exemplo 1 ................................................................................................ 100
Figura 5.2 - Elementos utilizados ................................................................................................ 102
Figura 5.3 - Variação da flecha máxima...................................................................................... 106
Figura 5.4 - Erro relativo da flecha máxima................................................................................ 106
Figura 5.5 - Variação da tensão máxima ..................................................................................... 107
Figura 5.6 - Erro relativo da tensão máxima ............................................................................... 107
Figura 5.7 - Placa no plano xy ..................................................................................................... 108
Figura 5.8 - Deformada da menor direção da placa para elementos quadriláteros ..................... 109
Figura 5.9 - Deformada da menor direção da placa para elementos triangulares ....................... 109
Figura 5.10 - Deformada da maior direção da placa para elementos quadriláteros .................... 110
Figura 5.11 - Deformada da maior direção da placa para elementos triangulares ...................... 111
Figura 5.12 - Dados do exemplo 2 .............................................................................................. 112
Figura 5.13 - Variação da flecha máxima.................................................................................... 119
Figura 5.14 - Erro relativo da flecha máxima.............................................................................. 119
Figura 5.15 - Variação da tensão no centro da placa ................................................................... 120
Figura 5.16 - Erro relativo da tensão no centro da placa ............................................................. 120
Figura 5.17 - Variação da tensão máxima no bordo .................................................................... 121
Figura 5.18 - Erro relativo da tensão máxima no bordo .............................................................. 121
Figura 5.19 - Deformada da linha média da placa para elementos quadriláteros ........................ 122
Figura 5.20 - Deformada da linha média da placa para elementos triangulares .......................... 122
Figura 5.21 - Dados do exemplo 3 .............................................................................................. 123
Figura 5.22 - Variação da flecha no centro ................................................................................. 128
Figura 5.23 - Erro relativo da flecha no centro ........................................................................... 129
Figura 5.24 - Variação da flecha máxima.................................................................................... 129
Figura 5.25 - Erro relativo da flecha máxima.............................................................................. 130
Figura 5.26 - Variação da tensão máxima ................................................................................... 130
Figura 5.27 - Erro relativo da tensão máxima ............................................................................. 131
Figura 5.28 - Placa no plano xy ................................................................................................... 131
Figura 5.29 - Deformada da linha média da placa para elementos quadriláteros ........................ 132
Figura 5.30 - Deformada da linha média da placa para elementos triangulares .......................... 133
LISTA DE TABELAS

Tabela 5.1 - Malha de elementos quadriláteros ........................................................................... 103


Tabela 5.2 - Malhas de elementos triangulares ........................................................................... 104
Tabela 5.3 - Resultados para elementos quadriláteros ................................................................ 105
Tabela 5.4 - Resultados para elementos triangulares .................................................................. 105
Tabela 5.5 - Malhas de elementos quadriláteros ......................................................................... 115
Tabela 5.6 - Malhas de elementos triangulares ........................................................................... 116
Tabela 5.7 - Resultados da flecha para elementos quadriláteros ................................................. 117
Tabela 5.8 - Resultados da flecha para elementos triangulares ................................................... 117
Tabela 5.9 - Resultados de tensão para elementos quadriláteros ................................................ 118
Tabela 5.10 - Resultados de tensão para elementos triangulares ................................................ 118
Tabela 5.11 - Resultados da flecha para elementos quadriláteros ............................................... 126
Tabela 5.12 - Resultados da flecha para elementos triangulares ................................................. 127
Tabela 5.13 - Resultados de tensão para elementos quadriláteros .............................................. 127
Tabela 5.14 - Resultados de tensão para elementos triangulares ................................................ 128
LISTA DE SÍMBOLOS

𝜎𝑖𝑖 Componente de tensão normal


𝜎𝑖𝑗 Componente de tensão tangencial
𝑙1, 𝑙2, 𝑙3
𝑚1 , 𝑚2 , 𝑚3 Cossenos diretores
𝑛1 , 𝑛2 , 𝑛3
𝐼1 , 𝐼2 , 𝐼3 Invariantes do tensor de tensões e do tensor de deformações
𝜆 Multiplicador de Lagrange
𝑏𝑥 , 𝑏𝑦 , 𝑏𝑧 Forças de volume
𝑝𝑥 , 𝑝𝑦 , 𝑝𝑧 Forças de superfície
𝜀𝑖𝑖 Componentes de deformação específica linear
𝜀𝑖𝑗 Componentes de deformação específica angular
𝑢, 𝑣, 𝑤 Componentes de deslocamento
𝜃𝑖𝑗 Distorção angular
𝛾𝑖𝑗 Variação angular
𝑇 Matriz de transformação
𝐸 Módulo de elasticidade longitudinal
𝜈 Coeficiente de Poisson
𝐺 Módulo de elasticidade transversal
𝑈 Trabalho interno de deformação
𝑊 Trabalho externo de deformação
𝛱𝑝 Energia potencial total
𝜺 Vetor de deformações
𝝈 Tensor de tensões
𝒖 Vetor dos campos de deslocamentos
𝒃 Vetor das forças de volume
𝒑 Vetor das forças de superfície
𝛿𝑈 Trabalho virtual interno
𝛿𝑊 Trabalho virtual externo
h Espessura da placa
𝑀𝑖 Momento de flexão
𝑀𝑖𝑗 Momento de torção
𝑄𝑖 Força tangencial
𝑚𝑖 Momento de flexão por unidade de comprimento
𝑚𝑖𝑗 Momento de torção por unidade de comprimento
𝑞𝑖 Forças tangenciais
𝑝𝑧 Carga externa atuante
𝜗𝑖 Ângulo de rotação de placas
𝑖𝑖 Declividade das deflexões de placas
𝑘𝑖 Curvatura do plano central de placas
𝜒 Empenamento da seção de placas
𝐷 Rigidez por flexão de placas
𝐿 Operador
𝑁𝑖 (𝑥) Funções de interpolação
𝑢𝑎 (𝑥) Função aproximadora
𝑑𝑖 Deslocamentos nodais
𝑅(𝑥) Função resíduo
𝑊𝑖 (𝑥) Funções de ponderação
𝒖𝑚 Campo de deslocamento no elemento
𝑵𝑚 Matriz de interpolação
𝒅𝑚 Deslocamentos nodais no elemento
𝜺𝑚 Campo de deformações no interior do elemento
𝑩𝑚 Matriz das relações deformações-deslocamentos
𝝈𝑚 Campo de tensões no interior do elemento
𝑲𝑚 Matriz de rigidez do elemento
𝒇𝑚 Vetor de cargas nodais equivalentes
𝑲𝑔 Matriz de rigidez global
𝒇𝑔 Vetor global de cargas nodais
𝒅𝑔 Deslocamentos globais
𝐶 Matriz elástica
∅(𝑥, 𝑦) Função aproximadora do campo de deslocamentos de elemento
𝜃𝑖 Rotações
𝑎 Comprimento da placa
𝑏 Largura da placa
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 14
1.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................... 15
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 15
1.3 DESCRIÇÃO DO TRABALHO ................................................................................ 16
2 TEORIA DA ELASTICIDADE ..................................................................... 17
2.1 ANÁLISE DE TENSÕES .......................................................................................... 18
2.1.1 Estado de Tensões em um ponto..................................................................... 18
2.1.2 Componentes de tensão em um plano arbitrário ............................................. 22
2.1.3 Tensões principais, invariantes do tensor de tensões e tensões tangenciais
máximas ........................................................................................................................ 26
2.1.4 Equações de equilíbrio .................................................................................... 31
2.2 ANÁLISE DE DEFORMAÇÕES .............................................................................. 33
2.2.1 Estado de deformações em um ponto ............................................................. 33
2.2.2 Componentes de deformação em uma direção arbitrária ................................ 41
2.2.3 Deformações principais, invariantes do tensor de deformações e deformações
angulares máximas ................................................................................................................ 45
2.2.4 Equações de compatibilidade.......................................................................... 49
2.3 LEI CONSTITUTIVA: RELAÇÕES TENSÕES – DEFORMAÇÕES..................... 52
2.4 CONDIÇÕES DE CONTORNO ................................................................................ 56
2.5 TRABALHO DE DEFORMAÇÃO: TEOREMAS E PRINCÍPIOS ......................... 58
2.5.1 Trabalho de deformação ................................................................................. 58
2.5.2 Energia potencial total .................................................................................... 59
2.5.3 Princípio do trabalho virtual ........................................................................... 60
3 TEORIA DA FLEXÃO DE PLACAS FINAS .............................................. 63
3.1 EQUAÇÃO DA PLACA NO SISTEMA DE COORDENADAS CARTESIANAS . 64
3.1.1 Relações entre tensões, deformações e deslocamento .................................... 69
3.1.2 Equação da placa em função do deslocamento w ........................................... 74
3.2 CONDIÇÕES DE CONTORNO ................................................................................ 75
4 MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS ................................................... 79
4.1 MÉTODO DE RAYLEIGH-RITZ ............................................................................. 80
4.2 MÉTODO DOS RESÍDUOS PONDERADOS DE GALERKIN .............................. 80
4.3 FORMULAÇÃO DO MEF ........................................................................................ 82
4.4 FUNÇÕES DE FORMA PARA ELEMENTOS FINITOS LINEARES ................... 89
4.4.1 Elementos triangulares de três nós.................................................................. 89
4.4.2 Elementos quadriláteros de quatro nós ........................................................... 93
4.5 CRITÉRIOS DE CONVERGÊNCIA ......................................................................... 96
5 SOLUÇÕES NUMÉRICO-COMPUTACIONAIS ...................................... 99
5.1 SOFTWARE ANSYS................................................................................................. 99
5.1.1 Elemento shell 181........................................................................................ 100
5.2 EXEMPLO 1 ............................................................................................................ 100
5.2.1 Solução fechada ............................................................................................ 101
5.2.2 Solução computacional ................................................................................. 102
5.3 EXEMPLO 2 ............................................................................................................ 111
5.3.1 Solução fechada ............................................................................................ 112
5.3.2 Solução computacional ................................................................................. 114
5.4 EXEMPLO 3 ............................................................................................................ 123
5.4.1 Solução fechada ............................................................................................ 123
5.4.2 Solução computacional ................................................................................. 126
6 CONCLUSÕES ............................................................................................. 134
14

1 INTRODUÇÃO

Placas são estruturas planas cuja espessura é muito menor que as outras dimensões.
Aparecem, em sua maior parte, em formato retangular ou circular, mas podem adquirir qualquer
aspecto geométrico plano, respeitando os limites da espessura frente às outras dimensões.

A placa, sendo originalmente plana, desenvolve forças de cisalhamento, momentos de


flexão e momentos de torção para resistir às cargas transversais. Por serem estruturas finas e
apresentarem significativa rigidez a torção e flexão, combinam leveza a uma eficiente capacidade
de carga, gerando vantagens econômicas e tecnológicas. Devido às características apresentadas,
placas são amplamente utilizadas em todos os campos da engenharia. São usadas em estruturas
arquitetônicas, pontes, estruturas hidráulicas, pavimentos, contêineres, aviões, mísseis, navios,
instrumentos, peças de máquinas, etc. Exemplos típicos em estruturas de engenharia civil são as
lajes, sejam elas de pontes, fundação, edifícios ou residências.

As propriedades de flexão de placas dependem, essencialmente, da espessura da mesma.


Desta forma, para meios de racionalização da análise dessas estruturas, se divide o estudo de flexão
de placas em categorias em função da sua geometria. Este trabalho trata da análise de placas finas,
isto é, quando sua espessura é ao menos dez vezes menor que as outras dimensões. Uma
simplificação importante na análise de placas finas é a desconsideração da deformação por forças
de cisalhamento.

Existem problemas no âmbito da engenharia que são governados por equações


diferenciais e/ou equações integrais. Essas têm como característica difícil ou, até mesmo,
impossível manipulação matemática. O problema da flexão de placas finas é um exemplo dessa
situação, a equação que rege o comportamento dessas é uma equação diferencial de quarta ordem,
a qual apresenta grandes dificuldades em seu tratamento analítico.

O método dos elementos finitos consiste em uma ferramenta computacional para


transpor as dificuldades dos problemas explanados acima. É um método numérico computacional
cuja soluções são aproximações da resposta exata do problema. Apresenta, na maioria dos casos,
boa convergência para os valores “exatos”.
15

Nesse contexto, o presente trabalho confronta, através do emprego do software ANSYS


para resolução de exemplos com diferentes condições de bordo e carregamentos, a solução do
problema de flexão de placas finas pelo método dos elementos finitos com as soluções analíticas
conhecidas e divulgadas na bibliografia do tema.

1.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste trabalho foi apresentar todo substrato teórico para se ter
compreensão correta da situação estrutural que envolve a solução de placas finas retangulares
elástico-lineares sob carregamento transversal e comparar as soluções analíticas existentes para os
casos abordados com soluções aproximadas obtidas computacionalmente pelo método dos
elementos finitos.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Os objetivos específicos deste trabalho foram:

a) Estudar de forma autodidata os temas teóricos necessários para entendimento correto e


pleno do problema da solução de placas finas retangulares elástico-lineares. Tais temas, em
geral, vão além dos limites curriculares de cursos de graduação em engenharia civil. São
eles a teoria da elasticidade, a teoria de flexão de placas finas e o método dos elementos
finitos.
b) Realizar a produção textual pertinente ao trabalho incluindo a prática do emprego de
normas técnicas para elaboração de trabalhos científicos.
c) Adquirir habilidades na utilização do programa ANSYS de solução geral de problemas por
elementos finitos e em especial o tocante a solução de placas.
d) Processar os exemplos selecionados envolvendo definição do domínio, discretização em
elementos finitos de dois tipos diferentes, lançamento do carregamento na forma de forças
nodais equivalentes, definição das corretas condições de contorno, soluções aproximadas e
pós-processamento em deslocamentos e tensões.
16

e) Desenvolver análise crítica no cotejamento entre soluções “exatas” e soluções aproximadas,


no sentido de adquirir a percepção do significado do que é resolver um problema de forma
aproximada pelo método dos elementos finitos.

1.3 DESCRIÇÃO DO TRABALHO

O capítulo 1 apresenta o contexto geral da utilização de placas na engenharia, o objetivo


geral, os objetivos específicos e uma descrição sucinta do trabalho.

O capítulo 2 apresenta uma revisão da teoria da elasticidade, pois esta constitui a


fundamentação teórica para o estudo da flexão de placas. São deduzidas e apresentadas as equações
gerais da teoria, constituídas pelas equações diferenciais de equilíbrio, pelas relações deformações-
deslocamentos e pelas relações constitutivas. Também são apresentados outros temas pertinentes
ao desenvolvimento do trabalho, como, por exemplo, os teoremas de energia.

O capítulo 3 apresenta a teoria de flexão de placas finas. Aqui, é apresentada a dedução


da equação que rege o comportamento de placas finas elástico-lineares para pequenos
deslocamentos.

O capítulo 4 apresenta de forma sucinta o método dos elementos finitos, seu


desenvolvimento, formulação, critérios de convergência e peculiaridades do método no que diz
respeito a análise de placas finas.

O capitulo 5 apresenta os exemplos selecionados. São mostradas as soluções


computacionais pelo método dos elementos finitos com auxílio do software ANSYS e a
comparação dos resultados obtidos com as soluções analíticas “fechadas” já publicadas na
bibliografia do tema.

O capítulo 6 apresenta a análise e discussão dos resultados obtidos, conclusões e


considerações pertinentes ao trabalho.

Por fim, seguem as referências bibliográficas.


17

2 TEORIA DA ELASTICIDADE

A Teoria da Elasticidade constitui a fundamentação teórica para o estudo da flexão de


placas. Neste capítulo são deduzidas e apresentadas as equações gerais da Teoria da Elasticidade,
constituídas pelas equações diferenciais de equilíbrio, pelas relações deformações-deslocamentos
e pelas relações constitutivas, bem como outros temas correlatos.

Será admitido, neste trabalho, que todo corpo sólido é constituído por material que
atende determinadas hipóteses básicas (TIMOSHENKO e GOODIER, 1980, p.1). Tais hipóteses
são as que seguem.

1. O material é contínuo, isso significa estar definido em todos os seus pontos.

2. O material é homogêneo, ou seja, apresenta a mesma constituição em toda a sua


extensão.

3. O material é isotrópico, em outras palavras, suas propriedades elásticas são idênticas


em qualquer direção.

4. O material é elástico-linear, ou seja, o sólido se deforma pela ação de forças e


retoma sua forma original não-deformada quando cessar a ação dessas forças. As
relações entre deformações e forças são lineares.

Além disso, as deformações elástico-lineares são admitidas muito pequenas podendo


ser tratadas como infinitesimais.

Por fim, os processos de deformação elástica aqui tratados são admitidos conservativos,
ou seja, não há dissipação de energia durante a deformação. Deste modo todo trabalho de
deformação realizado pelas forças externas é integralmente acumulado na forma de energia
potencial elástica. Essa energia elástica será completamente consumida caso as forças externas
deixem de atuar, levando o corpo sólido a sua forma original.
18

2.1 ANÁLISE DE TENSÕES

2.1.1 Estado de Tensões em um ponto

O conceito de tensão, no âmbito da mecânica dos sólidos, é definido como a intensidade


de forças internas distribuídas em uma dada área de um sólido.

As forças externas que atuam sobre um sólido são as forças exercidas por agentes
exteriores, podendo ser de volume ou superfície. As forças de superfície são as forças que atuam
sobre a superfície do sólido, como por exemplo a ação do vento sobre uma estrutura, já as forças
de volume são distribuídas pelo volume do sólido, como por exemplo as forças gravitacionais. As
forças internas, por sua vez, são as forças exercidas por uma parte do sólido sobre outra parte deste
mesmo sólido.

Com o propósito de tratar a interação entre duas partes de um sólido, é conveniente


estudar o estado de tensão em um ponto. Seja um sólido sujeito a um sistema de forças externas
em equilíbrio, mostrado na Figura 2.1. Passando um plano qualquer pelo ponto P, o sólido ficará
dividido entre as partes A e B. Para analisar a ação mútua entre essas duas partes, se analisa o
equilíbrio da parte A e de imediato se pode concluir que nos pontos da seção interna obtida do
seccionamento devem atuar forças que garantam o equilíbrio da parte A. Assim, no ponto P se pode
admitir a ação interna ∆𝐹.

Figura 2.1 - Corpo sujeito a um sistema de forças equilíbrio

Fonte: AWRUCH e MORSCH, 2009


19

Se define tensão no ponto P como apresentado abaixo.

∆F
σ = lim (2.1)
∆𝐴→0 ∆𝐴

A força ∆𝐹 pode ser decomposta em duas componentes. Uma normal ao plano da


seção, ∆𝐹𝑁 , e a outra no plano da seção, ∆𝐹𝑇 . Da definição expressa por (2.1) se obtém as
componentes de tensão normal 𝜎𝑁 e tangencial 𝜎𝑇 no ponto P.

∆𝐹𝑁
𝜎𝑁 = lim (2.2)
∆𝐴→0 ∆𝐴

∆𝐹𝑇
𝜎𝑇 = lim (2.3)
∆𝐴→0 ∆𝐴

Cabe ressaltar que os valores das tensões definidas acima valem somente no plano
considerado. Um plano diferente passando pelo mesmo ponto P terá uma distribuição diferente de
forças internas e, consequentemente, de tensões. Como um número infinito de planos pode ser
definido passando por um ponto, se tem um infinito número de componentes de tensões
correspondentes a cada um desses planos.

O estado de tensões em um ponto fica completamente determinado se as componentes


de tensão atuantes em três planos mutuamente ortogonais são conhecidas (AWRUCH e MORSCH,
2009, p.15). Isso ocorre, pois a partir desses valores é possível definir a componente de tensão de
qualquer outro plano arbitrário ao ponto. As componentes de tensão, definidas a partir de três
planos mutuamente ortogonais, são mostradas na Figura 2.2.

As componentes 𝜎𝑥𝑥 , 𝜎𝑦𝑦 e 𝜎𝑧𝑧 são tensões normais e as componentes 𝜎𝑥𝑦 , 𝜎𝑦𝑥 , 𝜎𝑥𝑧 ,
𝜎𝑧𝑥 , 𝜎𝑦𝑧 e 𝜎𝑧𝑦 são as tensões tangenciais ou de cisalhamento.
20

Figura 2.2 - Estado geral de tensões em um ponto

Fonte: adaptada de AWRUCH e MORSCH, 2009

O estado de tensão em um ponto pode ser representado matricialmente como mostrado


na expressão (2.4). Essa representação coincide com a de um tensor cartesiano de segunda ordem.
Portanto, esse tensor é conhecido como tensor de tensões ou tensor de Cauchy (SADD, 2009, p.60).

𝜎𝑥𝑥 𝜎𝑥𝑦 𝜎𝑥𝑧


𝜎𝑖𝑗 = 𝝈 = [𝜎𝑦𝑧 𝜎𝑦𝑦 𝜎𝑦𝑧 ] (2.4)
𝜎𝑧𝑥 𝜎𝑧𝑦 𝜎𝑧𝑧

O tensor de tensões 𝜎𝑖𝑗 é um tensor cartesiano simétrico. Essa propriedade é


demonstrada no que segue.
21

Figura 2.3 - Equilíbrio de rotação em torno do eixo x’

Fonte: SILVA, 2006

Tratando do equilíbrio à rotação das forças internas referentes ao estado de tensões


mostrado na Figura 2.2, em torno de um eixo 𝑥’ como mostrado na Figura 2.3, se pode escrever

𝑑𝑦 𝑑𝑦
2 (𝜎𝑦𝑧 𝑑𝑥 𝑑𝑧 ) − 2 (𝜎𝑧𝑦 𝑑𝑥 𝑑𝑧 )=0
2 2

do que resulta

𝜎𝑦𝑧 = 𝜎𝑧𝑦 (2.5)

Analogamente, fazendo o equilíbrio a rotação em torno de 𝑦′ e 𝑧′, resulta

𝜎𝑥𝑦 = 𝜎𝑦𝑥 (2.6)

𝜎𝑧𝑥 = 𝜎𝑥𝑧 (2.7)

As expressões (2.5), (2.6) e (2.7) representam o princípio da reciprocidade para tensões


tangenciais em planos perpendiculares. Estas expressões são independentes das orientações dos
planos das tensões.
22

“[…] considering two perpendicular facets, the components of the shearing stresses which
are perpendicular to the common edge of the two facets have the same magnitude and
either both point to that edge or both diverge from it.” (SILVA, 2006, p.12)

2.1.2 Componentes de tensão em um plano arbitrário

Na seção anterior foi afirmado que as componentes de tensão atuantes em três planos
mutuamente ortogonais permitem a determinação das componentes de tensão atuantes em qualquer
plano passando nesse ponto. Para demonstrar tal afirmação, se admite um plano oblíquo ABC
passando pelo ponto P, como mostrado na Figura 2.4. A normal 𝑛 a esse plano forma ângulos 𝛼,
𝛽 e 𝛾 em relação aos eixos coordenados (𝑥, 𝑦, 𝑧). Seus cossenos diretores serão denominados,
respectivamente, por 𝑙1 = cos 𝛼, 𝑙2 = cos 𝛽 e 𝑙3 = cos 𝛾. Assim sendo, se pode afirmar que se a
área 𝐴𝐴𝐵𝐶 = ∆𝐴, então a área 𝐴𝑂𝐵𝐶 = ∆𝐴 × 𝑙1 , a área 𝐴𝑂𝐴𝐶 = ∆𝐴 × 𝑙2 e, finalmente, a área
𝐴𝑂𝐵𝐴 = ∆𝐴 × 𝑙3.

Figura 2.4 - Plano oblíquo passando por P

Fonte: AWRUCH e MORSCH, 2009

Na Figura 2.5 estão indicadas as componentes atuantes nos quatro planos do tetraedro.
As componentes 𝜎𝑥𝑥 , 𝜎𝑥𝑦 e 𝜎𝑥𝑧 atuam no plano OBC, as componentes 𝜎𝑦𝑦 , 𝜎𝑦𝑥 e 𝜎𝑦𝑧 atuam no
plano OAC e as componentes 𝜎𝑧𝑧 , 𝜎𝑧𝑥 e 𝜎𝑧𝑦 atuam no plano OAB. As componentes 𝜎𝑛𝑥 , 𝜎𝑛𝑦 e 𝜎𝑛𝑧
atuam no plano ABC.
23

Figura 2.5 - Componentes de tensão em um plano oblíquo

Fonte: AWRUCH e MORSCH, 2009

Fazendo equilíbrio de forças na direção 𝑥 se tem

−𝜎𝑛𝑥 ∆𝐴 + 𝜎𝑥𝑥 ∆𝐴 𝑙1 + 𝜎𝑦𝑥 ∆𝐴 𝑙2 + 𝜎𝑧𝑥 ∆𝐴 𝑙3 = 0

𝜎𝑛𝑥 = 𝜎𝑥𝑥 𝑙1 + 𝜎𝑦𝑥 𝑙2 + 𝜎𝑧𝑥 𝑙3 (2.8)

De forma análoga, fazendo o equilíbrio de forças nas direções 𝑦 e 𝑧, se obtém,


respectivamente, as expressões

𝜎𝑛𝑦 = 𝜎𝑥𝑦 𝑙1 + 𝜎𝑦𝑦 𝑙2 + 𝜎𝑧𝑦 𝑙3 (2.9)

𝜎𝑛𝑧 = 𝜎𝑥𝑧 𝑙1 + 𝜎𝑦𝑧 𝑙2 + 𝜎𝑧𝑧 𝑙3 (2.10)

As expressões (2.8), (2.9) e (2.10) podem ser escritas em forma matricial como

𝜎𝑛𝑥 𝜎𝑥𝑥 𝜎𝑥𝑦 𝜎𝑥𝑧 𝑙1


[𝜎𝑛𝑦 ] = [𝜎𝑦𝑧 𝜎𝑦𝑦 𝜎𝑦𝑧 ] [𝑙2 ] (2.11)
𝜎𝑛𝑧 𝜎𝑧𝑥 𝜎𝑧𝑦 𝜎𝑧𝑧 𝑙3
24

Com o intuito de determinar as componentes normais e tangenciais associadas ao plano


inclinado, se considera um sistema de eixos (𝑥′, 𝑦′, 𝑧′) passando em P de tal forma que 𝑥′ coincida
com o vetor normal n, conforme mostra a Figura 2.6. Os cossenos diretores formados pelos eixos
𝑥′, 𝑦′ e 𝑧′ com os eixos coordenados 𝑥, 𝑦 e 𝑧 valem, respectivamente, 𝑙1, 𝑙2 , 𝑙3 , 𝑚1 , 𝑚2 , 𝑚3 , 𝑛1 , 𝑛2
e 𝑛3 .

Figura 2.6 - Componentes normais e tangenciais da tensão no plano inclinado

Fonte: AWRUCH e MORSCH, 2009

A projeção das componentes 𝜎𝑛𝑥 , 𝜎𝑛𝑦 e 𝜎𝑛𝑧 na direção dos eixos 𝑥′, 𝑦′ e 𝑧′ são

𝜎𝑥′𝑥′ = 𝜎𝑛𝑥 𝑙1 + 𝜎𝑛𝑦 𝑙2 + 𝜎𝑛𝑧 𝑙3 (2.12)

𝜎𝑥′𝑦′ = 𝜎𝑛𝑥 𝑚1 + 𝜎𝑛𝑦 𝑚2 + 𝜎𝑛𝑧 𝑚3 (2.13)

𝜎𝑥′𝑧′ = 𝜎𝑛𝑥 𝑛1 + 𝜎𝑛𝑦 𝑛2 + 𝜎𝑛𝑧 𝑛3 (2.14)

Finalmente, utilizando as expressões (2.8), (2.9) e (2.10), se obtém

𝜎𝑥 ′ 𝑥 ′ = 𝜎𝑥𝑥 𝑙12 + 𝜎𝑦𝑦 𝑙22 + 𝜎𝑧𝑧 𝑙32 + 2 𝜎𝑥𝑦 𝑙1 𝑙2 + 2 𝜎𝑦𝑧 𝑙2 𝑙3 + 2 𝜎𝑧𝑥 𝑙3 𝑙1 (2.15)
25

𝜎𝑥 ′ 𝑦 ′ = 𝜎𝑥𝑥 𝑙1 𝑚1 + 𝜎𝑦𝑦 𝑙2 𝑚2 + 𝜎𝑧𝑧 𝑙3 𝑚3 + 𝜎𝑥𝑦 (𝑙2 𝑚1 + 𝑙1 𝑚2 ) +


(2.16)
+ 𝜎𝑦𝑧 (𝑙3 𝑚2 + 𝑙2 𝑚3 ) + 𝜎𝑥𝑧 (𝑙3 𝑚1 + 𝑙1 𝑚3 )

𝜎𝑥 ′ 𝑧 ′ = 𝜎𝑥𝑥 𝑙1 𝑛1 + 𝜎𝑦𝑦 𝑙2 𝑛2 + 𝜎𝑧𝑧 𝑙3 𝑛3 + 𝜎𝑥𝑦 (𝑙2 𝑛1 + 𝑙1 𝑛2 ) +


(2.17)
+ 𝜎𝑦𝑧 (𝑙3 𝑛2 + 𝑙2 𝑛3 ) + 𝜎𝑥𝑧 (𝑙3 𝑛1 + 𝑙1 𝑛3 )

e estendendo para as direções y’ e z’ se obtém

𝜎𝑦 ′ 𝑦 ′ = 𝜎𝑥𝑥 𝑚12 + 𝜎𝑦𝑦 𝑚22 + 𝜎𝑧𝑧 𝑚32 + 2 𝜎𝑥𝑦 𝑚1 𝑚2 + 2 𝜎𝑦𝑧 𝑚2 𝑚3 +


(2.18)
+2 𝜎𝑧𝑥 𝑚3 𝑚1

𝜎𝑦 ′ 𝑥 ′ = 𝜎𝑥𝑥 𝑙1 𝑚1 + 𝜎𝑦𝑦 𝑙2 𝑚2 + 𝜎𝑧𝑧 𝑙3 𝑚3 + 𝜎𝑥𝑦 (𝑙2 𝑚1 + 𝑙1 𝑚2 ) +


(2.19)
+ 𝜎𝑦𝑧 (𝑙3 𝑚2 + 𝑙2 𝑚3 ) + 𝜎𝑥𝑧 (𝑙3 𝑚1 + 𝑙1 𝑚3 )

𝜎𝑦 ′ 𝑧 ′ = 𝜎𝑥𝑥 𝑚1 𝑛1 + 𝜎𝑦𝑦 𝑚2 𝑛2 + 𝜎𝑧𝑧 𝑚3 𝑛3 + 𝜎𝑥𝑦 (𝑚1 𝑛2 + 𝑚2 𝑛1 ) +


(2.20)
+ 𝜎𝑦𝑧 (𝑚2 𝑛3 + 𝑚3 𝑛2 ) + 𝜎𝑥𝑧 (𝑚3 𝑛1 + 𝑚1 𝑛3 )

𝜎𝑧 ′ 𝑧 ′ = 𝜎𝑥𝑥 𝑛12 + 𝜎𝑦𝑦 𝑛22 + 𝜎𝑧𝑧 𝑛32 + 2 𝜎𝑥𝑦 𝑛1 𝑛2 + 2 𝜎𝑦𝑧 𝑛2 𝑛3 +


(2.21)
+2 𝜎𝑧𝑥 𝑛3 𝑛1

𝜎𝑧 ′ 𝑦 ′ = 𝜎𝑥𝑥 𝑚1 𝑛1 + 𝜎𝑦𝑦 𝑚2 𝑛2 + 𝜎𝑧𝑧 𝑚3 𝑛3 + 𝜎𝑥𝑦 (𝑚1 𝑛2 + 𝑚2 𝑛1 ) +


(2.22)
+ 𝜎𝑦𝑧 (𝑚2 𝑛3 + 𝑚3 𝑛2 ) + 𝜎𝑥𝑧 (𝑚3 𝑛1 + 𝑚1 𝑛3 )

𝜎𝑧 ′ 𝑥 ′ = 𝜎𝑥𝑥 𝑙1 𝑛1 + 𝜎𝑦𝑦 𝑙2 𝑛2 + 𝜎𝑧𝑧 𝑙3 𝑛3 + 𝜎𝑥𝑦 (𝑙2 𝑛1 + 𝑙1 𝑛2 ) +


(2.23)
+ 𝜎𝑦𝑧 (𝑙3 𝑛2 + 𝑙2 𝑛3 ) + 𝜎𝑥𝑧 (𝑙3 𝑛1 + 𝑙1 𝑛3 )

As expressões (2.15) a (2.23) representam a transformação de um estado geral de


tensões (SADD, 2009, p.60). Sua representação na forma matricial é mostrada abaixo.
26

𝜎𝑥′𝑥′ 𝜎𝑥′𝑦′ 𝜎𝑥′𝑧′ 𝑙1 𝑙2 𝑙3 𝜎𝑥𝑥 𝜎𝑥𝑦 𝜎𝑥𝑧 𝑙1 𝑚1 𝑛1


[𝜎𝑦′𝑧′ 𝜎𝑦′𝑦′ 𝜎𝑦′𝑧′ ] = [𝑚1 𝑚2 𝑚3 ] [𝜎𝑦𝑧 𝜎𝑦𝑦 𝜎𝑦𝑧 ] [𝑙2 𝑚2 𝑛2 ]
𝜎𝑧′𝑥′ 𝜎𝑧′𝑦′ 𝜎𝑧′𝑧′ 𝑛1 𝑛2 𝑛3 𝜎𝑧𝑥 𝜎𝑧𝑦 𝜎𝑧𝑧 𝑙3 𝑚3 𝑛3
(2.24)

2.1.3 Tensões principais, invariantes do tensor de tensões e tensões tangenciais máximas

Na seção anterior, foi mostrado que as componentes de tensão normal e tangencial


podem ser determinadas para qualquer plano arbitrário, para isso, foi discutido a dependência da
inclinação das componentes de tensão com os eixos coordenados adotados como referência. Dentro
da infinidade de possibilidades de planos passando por um determinado ponto, existe uma
configuração em particular que as componentes do tensor de tensões adquirem valores máximos e
mínimos.
Mediante uma rotação adequada de eixos e utilizando a expressão (2.24), é possível
encontrar um sistema de referência para o qual as tensões normais são máximas. Nesta
configuração, as componentes de tensões tangenciais tomam valores nulos. Os planos cujas
normais coincidem com os eixos das tensões normais máximas são chamados de planos principais
e as componentes são chamadas de tensões principais. O tensor que contém as componentes
principais adquire a forma mostrada na expressão (2.25), onde 𝜎1 , 𝜎2 e 𝜎3 são as componentes de
tensões principais, onde é admitido a seguinte convenção 𝜎1 ≥ 𝜎2 ≥ 𝜎3 .

𝜎1 0 0
𝜎𝑖𝑗 = 𝝈 = [ 0 𝜎2 0] (2.25)
0 0 𝜎3

Considera-se, então, um plano principal onde a única tensão que atua sobre ele é a
tensão normal (𝜎). Substituindo o tensor apresentado em (2.25) na expressão (2.11), resulta as
expressões dadas em (2.26), em que 𝜎 representa as tensões principais 𝜎1 , 𝜎2 e 𝜎3 .

𝜎𝑛𝑥 = 𝜎𝑙1
𝜎𝑛𝑦 = 𝜎𝑙2 (2.26)
𝜎𝑛𝑧 = 𝜎𝑙3
27

Inserindo os valores de 𝜎𝑛𝑥 , 𝜎𝑛𝑦 e 𝜎𝑛𝑧 , dados pelas expressões (2.8), (2.9) e (2.10),
respectivamente, nas expressões dadas em (2.26), se obtém o sistema linear de equações

(𝜎𝑥𝑥 − 𝜎)𝑙1 + 𝜎𝑦𝑥 𝑙2 + 𝜎𝑧𝑥 𝑙3 = 0


{ 𝜎𝑥𝑦 𝑙1 + (𝜎𝑦𝑦 − 𝜎) 𝑙2 + 𝜎𝑧𝑦 𝑙3 = 0 (2.27)
𝜎𝑥𝑧 𝑙1 + 𝜎𝑦𝑧 𝑙2 + (𝜎𝑧𝑧 − 𝜎) 𝑙3 = 0

ou em formato matricial

𝜎𝑥𝑥 − 𝜎 𝜎𝑥𝑦 𝜎𝑥𝑧 𝑙1 0


[ 𝜎𝑦𝑧 𝜎𝑦𝑦 − 𝜎 𝜎𝑦𝑧 ] [𝑙2 ] = [0] (2.28)
𝜎𝑧𝑥 𝜎𝑧𝑦 𝜎𝑧𝑧 − 𝜎 𝑙3 0

De imediato, se pode observar que esse sistema de equações possui a solução trivial
𝑙1 = 𝑙2 = 𝑙3 = 0, porém, os cossenos diretores, 𝑙1 , 𝑙2 e 𝑙3 , não podem ser zero simultaneamente
por se tratarem das componentes de um vetor unitário, ou seja, devem obedecer a condição de Euler
𝑙12 + 𝑙22 + 𝑙32 = 1. Então, se parte para a segunda possibilidade de solução em que o determinante
da matriz que contém as componentes de tensão deve ser zero, isto é, se faz necessário satisfazer a
condição

𝜎𝑥𝑥 − 𝜎 𝜎𝑥𝑦 𝜎𝑥𝑧


| 𝜎𝑦𝑧 𝜎𝑦𝑦 − 𝜎 𝜎𝑦𝑧 | = 0 (2.29)
𝜎𝑧𝑥 𝜎𝑧𝑦 𝜎𝑧𝑧 − 𝜎

isto é

(𝜎𝑥𝑥 − 𝜎)(𝜎𝑦𝑦 − 𝜎)(𝜎𝑧𝑧 − 𝜎) + 𝜎𝑥𝑦 𝜎𝑦𝑧 𝜎𝑧𝑥 + 𝜎𝑥𝑧 𝜎𝑦𝑧 𝜎𝑧𝑦 −


(2.30)
−𝜎𝑥𝑧 𝜎𝑦𝑧 (𝜎𝑦𝑦 − 𝜎) − 𝜎𝑧𝑦 𝜎𝑦𝑧 (𝜎𝑥𝑥 − 𝜎) − 𝜎𝑦𝑧 𝜎𝑥𝑦 (𝜎𝑧𝑧 − 𝜎) = 0

Rearranjando a equação acima e inserindo as quantidades 𝐼1 , 𝐼2 e 𝐼3 de valores


28

𝐼1 = 𝜎𝑥𝑥 + 𝜎𝑦𝑦 + 𝜎𝑧𝑧


𝐼2 = 𝜎𝑥𝑥 𝜎𝑦𝑦 + 𝜎𝑦𝑦 𝜎𝑧𝑧 + 𝜎𝑧𝑧 𝜎𝑥𝑥 − 𝜎𝑥𝑦 2 − 𝜎𝑦𝑧 2 − 𝜎𝑧𝑥 2 (2.31)
𝐼3 = 𝜎𝑥𝑥 𝜎𝑦𝑦 𝜎𝑧𝑧 − 𝜎𝑥𝑥 𝜎𝑦𝑧 2 − 𝜎𝑦𝑦 𝜎𝑧𝑥 2 − 𝜎𝑧𝑧 𝜎𝑥𝑦 2 + 2 𝜎𝑥𝑦 𝜎𝑦𝑧 𝜎𝑧𝑥

se pode escrever (2.30) na forma

𝜎 3 − 𝐼1 𝜎 2 + 𝐼2 𝜎 − 𝐼3 = 0 (2.32)

As raízes da equação (2.32) são reais e representam as denominadas tensões principais


𝜎1 , 𝜎2 e 𝜎3 , onde 𝜎1 ≥ 𝜎2 ≥ 𝜎3 . Tal equação é denominada equação característica do tensor de
tensões. As tensões principais 𝜎1 , 𝜎2 e 𝜎3 são independentes do sistema de referência, visto que os
coeficientes 𝐼1 , 𝐼2 e 𝐼3 , denominados invariantes do tensor de tensões, tem valores constantes. Os
cossenos diretores das direções principais podem ser obtidos substituindo as raízes da equação
(2.32) na expressão (2.28) e considerando a condição 𝑙12 + 𝑙22 + 𝑙32 = 1.

Por outro lado, se pode determinar os valores máximos para as componentes das
tensões tangenciais. Para tanto, se toma um plano ABC de versor normal 𝑛, como mostrado na
Figura 2.6 (a), admitindo que os eixos (𝑥, 𝑦, 𝑧) coincidam com os eixos principais de tensões. A
componente 𝜎𝑅 no plano ABC é decomposta nas componentes 𝜎𝑛𝑥 , 𝜎𝑛𝑦 e 𝜎𝑛𝑧 . As componentes de
𝜎𝑅 nas direções normal e tangencial ao plano ABC, mostradas na Figura 2.6 (b), são 𝜎𝑁 e 𝜎𝑇 ,
respectivamente.

Figura 2.7 - Tensões em um plano inclinado

Fonte: AWRUCH e MORSCH, 2009


29

Haja vista, que os eixos (𝑥, 𝑦, 𝑧) são eixos principais, se pode escrever

𝜎𝑛𝑥 = 𝜎1 𝑙1
𝜎𝑛𝑦 = 𝜎2 𝑙2 (2.33)
𝜎𝑛𝑧 = 𝜎3 𝑙3

Desta forma, a tensão resultante é dada por

𝜎𝑅2 = 𝜎𝑛𝑥
2 2
+ 𝜎𝑛𝑦 2
+ 𝜎𝑛𝑧 = 𝜎12 𝑙12 + 𝜎22 𝑙22 + 𝜎32 𝑙32 (2.34)

Sua componente da direção normal 𝜎𝑁 é

𝜎𝑁 = 𝜎𝑛𝑥 𝑙1 + 𝜎𝑛𝑦 𝑙2 + 𝜎𝑛𝑧 𝑙3 = 𝜎1 𝑙12 + 𝜎2 𝑙22 + 𝜎3 𝑙32 (2.35)

Sua componente na direção tangencial 𝜎𝑇 vem de

𝜎𝑅2 = 𝜎𝑁2 + 𝜎𝑇2 (2.36)

Então

𝜎𝑇2 = 𝜎12 𝑙12 + 𝜎22 𝑙22 + 𝜎32 𝑙32 − (𝜎1 𝑙12 + 𝜎2 𝑙22 + 𝜎3 𝑙32 )2 (2.37)

A fim de determinar os máximos e mínimos da tensão tangencial se pode utilizar o


método dos multiplicadores de Lagrange, isto é, maximiza-se a função 𝜎𝑇2 sujeita à restrição 𝑙12 +
𝑙22 + 𝑙32 = 1. Para isso, se considera a função dada pela expressão (2.38),

𝑓 = 𝜎𝑇2 + 𝜆2 ( 𝑙12 + 𝑙22 + 𝑙32 ) (2.38)

e se determina os máximos e mínimos em relação a 𝑙1, 𝑙2 , e 𝑙3 , derivando a função dada em (2.33)


em relação aos cossenos diretores e igualando os resultados obtidos a zero. Isso é mostrado abaixo
30

𝜕𝑓 𝜕𝑓 𝜕𝑓
= = =0 (2.39)
𝜕𝑙1 𝜕𝑙2 𝜕𝑙3

onde

𝜕𝑓
= 𝜎12 𝑙1 − (𝜎1 𝑙12 + 𝜎2 𝑙22 + 𝜎3 𝑙32 )(2𝜎1 𝑙1 ) + 𝜆2 𝑙1 = 0
𝜕𝑙1
𝜕𝑓
= 𝜎22 𝑙2 − (𝜎1 𝑙12 + 𝜎2 𝑙22 + 𝜎3 𝑙32 )(2𝜎2 𝑙2 ) + 𝜆2 𝑙2 = 0 (2.40)
𝜕𝑙2
𝜕𝑓
= 𝜎32 𝑙3 − (𝜎1 𝑙12 + 𝜎2 𝑙22 + 𝜎3 𝑙32 )(2𝜎3 𝑙3 ) + 𝜆2 𝑙3 = 0
𝜕𝑙3

Essas expressões correspondem às condições necessárias e suficientes para que a


função 𝑓 tenha um valor extremo. Para se obter uma solução não trivial do sistema de equações
dado em (2.40), se considera 𝑙1 = 0, 𝑙2 ≠ 0, 𝑙3 ≠ 0, o que leva a

(𝑙32 − 𝑙22 )(𝜎2 + 𝜎3 )2 = 0 (2.41)

Essa equação implica 𝑙2 = 𝑙3 , e sabendo que 𝑙22 + 𝑙32 = 1, se obtém então que

𝑙1 = 0; 𝑙2 = ±1/√2; 𝑙3 = ±1/√2 (2.42)

Analogamente, fazendo 𝑙1 ≠ 0, 𝑙2 = 0, 𝑙3 ≠ 0, se tem

𝑙1 = ±1/√2; 𝑙2 = 0; 𝑙3 = ±1/√2 (2.43)

E, finalmente, fazendo e 𝑙1 ≠ 0, 𝑙2 ≠ 0, 𝑙3 = 0, se chega a

𝑙1 = ±1/√2; 𝑙2 = ±1/√2; 𝑙3 = 0 (2.44)

Substituindo os valores dados em (2.42), (2.43) e (2.44) na expressão (2.37), se obtém


os valores máximos tangenciais.
31

𝜎2 − 𝜎3
(𝜎𝑇 𝑚𝑎𝑥 )1 = ±
2
𝜎3 − 𝜎1
(𝜎𝑇 𝑚𝑎𝑥 )2 = ±
2 (2.45)
𝜎1 − 𝜎2
(𝜎𝑇 𝑚𝑎𝑥 )3 = ±
2

Se pode ainda inferir que os planos que correspondem às tensões tangencias máximas
fazem ângulos de 45º com os planos principais. As tensões normais associadas às tensões
tangenciais máxima podem ser obtidas levando as expressões (2.42), (2.43) e (2.44) em (2.35).
Disso, resulta

𝜎2 + 𝜎3
𝜎𝑁2 = ±
2
𝜎3 + 𝜎1
𝜎𝑁3 =± (2.46)
2
𝜎1 + 𝜎2
𝜎𝑁1 =±
2

2.1.4 Equações de equilíbrio

Aqui se está lidando com sólidos em equilíbrio, as tensões no interior do sólido e as


forças externas aplicadas devem satisfazer as equações de equilíbrio. Se um sólido está em
equilíbrio, então, qualquer parte desse estará em equilíbrio.
32

Figura 2.8 - Componentes de tensão em um paralelepípedo elementar

Fonte: AWRUCH e MORSCH, 2009

As componentes de tensões são mostradas nas faces do elemento da Figura 2.8. Ali
também são mostradas componentes a distâncias 𝑑𝑥, 𝑑𝑦 e 𝑑𝑧 do ponto, expandidas em série de
Taylor.
A condição de equilíbrio de forças na direção 𝑥 leva à expressão

𝜕𝜎𝑥𝑥 𝜕𝜎𝑦𝑥 𝜕𝜎𝑧𝑥


( 𝑑𝑥) 𝑑𝑦𝑑𝑧 + ( 𝑑𝑦) 𝑑𝑧𝑑𝑥 + ( 𝑑𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦 + 𝑏𝑥 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 0
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥

que simplificando, resulta

𝜕𝜎𝑥𝑥 𝜕𝜎𝑦𝑥 𝜕𝜎𝑧𝑥


+ + + 𝑏𝑥 = 0 (2.47)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Analogamente, nas direções 𝑦 e 𝑧, resulta

𝜕𝜎𝑥𝑦 𝜕𝜎𝑦𝑦 𝜕𝜎𝑧𝑦


+ + + 𝑏𝑦 = 0 (2.48)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
33

𝜕𝜎𝑥𝑧 𝜕𝜎𝑦𝑧 𝜕𝜎𝑧𝑧


+ + + 𝑏𝑧 = 0 (2.49)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

As expressões dadas em (2.47), (2.48) e (2.49) são conhecidas como as equações


diferenciais de equilíbrio da elasticidade.

2.2 ANÁLISE DE DEFORMAÇÕES

2.2.1 Estado de deformações em um ponto

Deformação decorre da variação da distância entre dois pontos quaisquer no interior de


um sólido entre a configuração inicial e final após a ação de um agente externo sobre ele. Na
maioria dos casos, a deformação é consequência da ação de forças externas atuantes sobre sólido,
mas, outras causas poderão provocar deformações, como, por exemplo, variação de temperatura.

Existem dois tipos de deformação, a deformação longitudinal, que expressa variação


de comprimento, e a deformação angular, que expressa variação de forma. A Figura 2.9 ilustra
estes dois casos de deformação no caso bidimensional, onde a forma original do sólido está
representada por linhas contínuas, e a deformada por linhas tracejadas.

Figura 2.9 - (a) Deslocamento longitudinal na direção x (b) Deslocamento longitudinal


na direção y (c) Deslocamento longitudinal das deformações angulares no plano xy

Fonte: SRINATH, 2009


34

Define-se a deformação específica longitudinal (𝜀) de um corpo como a variação no


comprimento pelo comprimento original. Então, tendo como base as Figuras 2.9(a) e 2.9(b), se tem

∆𝑢𝑥
𝜀𝑥 = (2.50)
∆𝑥

∆𝑢𝑦
𝜀𝑦 = (2.51)
∆𝑦

Já a deformação angular é definida como a variação no ângulo reto inicial entre dois
segmentos de linha originalmente paralelos aos eixos coordenados. A partir da Figura 2.9 (c), se
pode observar que a variação total no ângulo é dada por 𝜃1 + 𝜃2 . Partindo do pressuposto que 𝜃1 e
𝜃2 são muito pequenos, é possível afirmar que 𝜃1 e 𝜃2 em radianos são iguais a, respectivamente,
tan 𝜃1 e tan 𝜃2 . Desta forma, sendo

∆𝑢𝑦
tan 𝜃1 = (2.52)
∆𝑥

∆𝑢𝑥
tan 𝜃2 = (2.53)
∆𝑦
se tem

∆𝑢𝑦 ∆𝑢𝑥
𝜀𝑥𝑦 = 𝜃1 + 𝜃2 = + (2.54)
∆𝑥 ∆𝑦

Com o propósito de definir completamente as deformações de um sólido, estende-se as


definições da seção anterior para o caso tridimensional, onde 𝜀𝑥𝑥 , 𝜀𝑦𝑦 e 𝜀𝑧𝑧 simbolizam as
deformações lineares específicas de um ponto nas direções 𝑥, 𝑦 e 𝑧, e 𝜀𝑥𝑦 , 𝜀𝑦𝑧 e 𝜀𝑥𝑧 representam
as deformações angulares no planos 𝑥𝑦, 𝑦𝑧 e 𝑥𝑧.

Analogamente ao estado de tensões, será mostrado a seguir que conhecendo essas seis
componentes de deformação, ou seja, o estado de deformações em um ponto, se pode determinar
a deformação linear de um ponto em qualquer direção arbitrária.
35

Para estabelecer matematicamente tais afirmações, se compara as posições de um


ponto, no interior de um sólido, antes e após a deformação. Tal situação é mostrada na Figura 2.10
tendo como referência o sistema cartesiano de eixos (𝑥, 𝑦, 𝑧).

Figura 2.10 - Deslocamento de um ponto P de um corpo sólido antes e após a


deformação

Fonte: SILVA, 2006

A posição inicial do ponto P é descrita pelas coordenadas (𝑥, 𝑦, 𝑧) e o seu deslocamento

é definido pelo vetor ⃗⃗⃗⃗⃗⃗


𝑃𝑃′ de posição (𝑢, 𝑣, 𝑤). Dessa forma, a posição do ponto P após a
deformação é dado por (𝑥 + 𝑢, 𝑦 + 𝑣, 𝑧 + 𝑤).

A Figura 2.11 mostra um segmento de reta de comprimento infinitesimal 𝑑𝑥, definida


pelos pontos 𝑃0 (𝑥0 , 𝑦0 , 𝑧0 ) e 𝑃1 (𝑥0 + 𝑑𝑥, 𝑦0 , 𝑧0 ), paralela ao eixo 𝑥 na configuração
indeformada do corpo. Após a deformação, esses pontos passarão a ocupar as posições definidas
por 𝑃′ 0 (𝑥0 + 𝑢0 , 𝑦0 + 𝑣0 , 𝑧0 + 𝑤0 ) e 𝑃′1 (𝑥0 + 𝑑𝑥 + 𝑢1 , 𝑦0 + 𝑣1 , 𝑧0 + 𝑤1 ), onde (𝑢0 , 𝑣0 , 𝑤0 )
representa o deslocamento de 𝑃0 e (𝑢1 , 𝑣1 , 𝑤1 ) representa o deslocamento de 𝑃1 . Também se pode
observar que 𝑢1 = 𝑢0 + 𝑑𝑢, 𝑣1 = 𝑣0 + 𝑑𝑣 𝑒 𝑤1 = 𝑤0 + 𝑑𝑤.
36

Figura 2.11 - Deformação de um segmento de reta interno a um sólido

Fonte: SILVA, 2006

Na configuração indeformada, a distância entre 𝑃0 e 𝑃1 se dá unicamente na direção 𝑥,


de modo que, a coordenada 𝑥 sofre um incremento infinitesimal por aproximação de primeira
ordem por série de Taylor, dado por

𝜕𝑢
𝑑𝑢 = 𝑑𝑥
𝜕𝑥
𝜕𝑣
𝑑𝑣 = 𝑑𝑥 (2.55)
𝜕𝑥
𝜕𝑤
𝑑𝑤 = 𝑑𝑥
𝜕𝑥

𝑃0 𝑃1 no segmento ̅̅̅̅̅̅̅̅
A deformação transforma o segmento de reta ̅̅̅̅̅̅ 𝑃′0 𝑃′1 , o qual sofre
um alongamento e deixa de ser paralelo ao eixo 𝑥, a projeção de ̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑃′0 𝑃′1 nas direções dos eixos
coordenados são

𝜕𝑢 𝜕𝑢
(𝑥0 + 𝑑𝑥 + 𝑢0 + 𝑑𝑥) − (𝑥0 + 𝑢0 ) = (1 + )
𝜕𝑥 𝜕𝑥
(2.56)
𝜕𝑣 𝜕𝑣
(𝑦0 + 𝑣0 + 𝑑𝑥) − (𝑦0 + 𝑣0 ) = 𝑑𝑥
𝜕𝑥 𝜕𝑥
37

𝜕𝑤 𝜕𝑤
(𝑧0 + 𝑤0 + 𝑑𝑥) − (𝑧0 + 𝑤0 ) = 𝑑𝑥
𝜕𝑥 𝜕𝑥

Utilizando a definição anterior de deformação longitudinal, alongamento na direção 𝑥


será

̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑃′ 0 𝑃′1 − ̅̅̅̅̅̅
𝑃0 𝑃1
𝜀𝑥𝑥 = (2.57)
̅̅̅̅̅̅
𝑃0 𝑃1

̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑃′0 𝑃′1 = (1 + 𝜀𝑥𝑥 ) 𝑑𝑥 (2.58)

Considerando o teorema de Pitágoras, o comprimento ̅̅̅̅̅̅̅̅


𝑃′0 𝑃′1 pode ser determinado
utilizando as projeções nos eixos coordenados, obtidas em (2.56), logo, se tem

̅̅̅̅̅̅̅̅ 2 𝜕𝑢 2 𝜕𝑣 2 𝜕𝑤 2
(𝑃′0 𝑃′1 ) = (1 + 𝜀𝑥𝑥 ) 𝑑𝑥 = [(1 + ) + ( ) + ( ) ] 𝑑𝑥 2
2 2
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥

𝜀𝑥𝑥 2 𝜕𝑢 1 𝜕𝑢 2 𝜕𝑣 2 𝜕𝑤 2
𝜀𝑥𝑥 + = + [( ) + ( ) + ( ) ] (2.59)
2 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥

De forma similar, se pode obter as expressões para deformação longitudinal nas


direções 𝑦 e 𝑧, originando as seguintes expressões

𝜀𝑦𝑦 2 𝜕𝑣 1 𝜕𝑢 2 𝜕𝑣 2 𝜕𝑤 2
𝜀𝑦𝑦 + = + [( ) + ( ) + ( ) ] (2.60)
2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑦

𝜀𝑧𝑧 2 𝜕𝑤 1 𝜕𝑢 2 𝜕𝑣 2 𝜕𝑤 2
𝜀𝑧𝑧 + = + [( ) + ( ) + ( ) ] (2.61)
2 𝜕𝑧 2 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑧

Com o intuito de se determinar as componentes das deformações angulares, se


considera duas linhas retas de comprimento infinitesimal, 𝑑𝑥 e 𝑑𝑦, que na situação indeformada
38

são paralelas aos eixos coordenados 𝑥 e 𝑦, e são definidas pelos pontos 𝑃0 , 𝑃1 e 𝑃2 , como mostra
a Figura 2.12.

Figura 2.12 - Deformação angular no interior de um sólido

Fonte: SILVA, 2006

Após a deformação, as retas ̅̅̅̅̅̅ 𝑃0 𝑃2 se tornam ̅̅̅̅̅̅̅̅


𝑃0 𝑃1 e ̅̅̅̅̅̅ 𝑃′0 𝑃′1 e ̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑃′0 𝑃′2 ,
respectivamente. De modo similar a situação anterior, a projeção de ̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑃′0 𝑃′1 nas direções dos
𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕𝑤 𝜕𝑢 𝜕𝑣
eixos coordenados são (1 + 𝜕𝑥 ) 𝑑𝑥, 𝜕𝑥 𝑑𝑥 e 𝑑𝑥. Para ̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑃′0 𝑃′2 , 𝜕𝑦 𝑑𝑦, (1 + 𝜕𝑦) 𝑑𝑦 e
𝜕𝑥
𝜕𝑤
𝑑𝑦.
𝜕𝑦

Para se determinar o ângulo 𝜃𝑥𝑦 , medida da deformação angular, se utiliza do produto

escalar dos vetores ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗


𝑃′0 𝑃′1 e ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝑃′0 𝑃′2 . Com base na definição de deformação longitudinal dada pela
expressão (2.52), o comprimento das retas ̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑃′0 𝑃′1 e ̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑃′0 𝑃′2 são, respectivamente, (1 + 𝜀𝑥𝑥 ) 𝑑𝑥 e
(1 + 𝜀𝑦𝑦 ) 𝑑𝑦, desta forma se tem

𝜋 𝜕𝑢 𝜕𝑢
[(1 + 𝜀𝑥𝑥 ) 𝑑𝑥] [(1 + 𝜀𝑦𝑦 ) 𝑑𝑦] [cos ( − 𝜃𝑥𝑦 )] = [(1 + ) 𝑑𝑥] [ 𝑑𝑦] +
2 𝜕𝑥 𝜕𝑦
𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝜕𝑤 𝜕𝑤
+[ 𝑑𝑥] [(1 + ) 𝑑𝑦] + [ 𝑑𝑥] [ 𝑑𝑦] (2.62)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦
39

Rearranjando a expressão acima, se chega a

𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝜕𝑤 𝜕𝑤
+ + + +
𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 (2.63)
sen 𝜃𝑥𝑦 =
(1 + 𝜀𝑥𝑥 )(1 + 𝜀𝑦𝑦 )

O ângulo 𝜃𝑥𝑦 representa a distorção das direções 𝑥 e 𝑦 depois da deformação. De forma


semelhante, pode-se determinar as distorções 𝜃𝑥𝑧 e 𝜃𝑦𝑧 como

𝜕𝑢 𝜕𝑤 𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝜕𝑤 𝜕𝑤
+ + + +
sen 𝜃𝑥𝑧 = 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑧 (2.64)
(1 + 𝜀𝑥𝑥 )(1 + 𝜀𝑧𝑧 )

𝜕𝑣 𝜕𝑤 𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝜕𝑤 𝜕𝑤
+ + + +
𝜕𝑧 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦 𝜕𝑧 (2.65)
sen 𝜃𝑦𝑧 =
(1 + 𝜀𝑦𝑦 )(1 + 𝜀𝑧𝑧 )

As quantidades 𝜀𝑥𝑥 , 𝜀𝑦𝑦 , 𝜀𝑧𝑧 , 𝜃𝑥𝑦 , 𝜃𝑥𝑧 𝑒 𝜃𝑦𝑧 determinam completamente o estado de
deformação no entorno do ponto 𝑃0 , uma vez que elas são suficientes para definir a forma e as
dimensões do corpo após a deformação. Tendo em vista que as deformações são muito pequenas,
se pode simplificar as expressões (2.59) a (2.61) e (2.63) a (2.65) desprezando os infinitésimos de
ordem superior em relação aos infinitésimos de ordem mais baixa e em relação a unidade. Tal fato
leva às expressões (2.66) a (2.71).

𝜕𝑢
𝜀𝑥𝑥 = (2.66)
𝜕𝑥

𝜕𝑣
𝜀𝑦𝑦 = (2.67)
𝜕𝑦

𝜕𝑤
𝜀𝑧𝑧 = (2.68)
𝜕𝑧
40

𝜕𝑢 𝜕𝑣
𝜃𝑥𝑦 = 𝛾𝑥𝑦 = + (2.69)
𝜕𝑦 𝜕𝑥

𝜕𝑢 𝜕𝑤
𝜃𝑥𝑧 = 𝛾𝑥𝑧 = + (2.70)
𝜕𝑧 𝜕𝑥

𝜕𝑣 𝜕𝑤
𝜃𝑦𝑧 = 𝛾𝑦𝑧 = + (2.71)
𝜕𝑧 𝜕𝑦

As quantidades expressas por (2.69), (2.70) e (2.71) definem a variação angular


causada pela deformação angular. Na literatura, é comum o aparecimento dessas expressões na
forma dada a seguir. Esta alteração é conveniente para o tratamento matemático em algumas
situações.

𝛾𝑥𝑦 1 𝜕𝑢 𝜕𝑣
= 𝜀𝑥𝑦 = [ + ] (2.72)
2 2 𝜕𝑦 𝜕𝑥

𝛾𝑦𝑧 1 𝜕𝑢 𝜕𝑤
= 𝜀𝑦𝑧 = [ + ] (2.73)
2 2 𝜕𝑧 𝜕𝑥

𝛾𝑧𝑥 1 𝜕𝑣 𝜕𝑤
= 𝜀𝑧𝑥 = [ + ] (2.74)
2 2 𝜕𝑧 𝜕𝑦

As expressões (2.66) a (2.68) e (2.72) a (2.74) são conhecidas como as relações


deformações-deslocamentos na teoria da elasticidade.

O estado de deformação em um ponto, a exemplo das tensões, também é representado


por um tensor cartesiano de segunda ordem, cujas componentes são nove valores de deformações,
seis delas mostradas nas expressões acima e as outras três decorrem do princípio da reciprocidade,
𝜀𝑥𝑦 = 𝜀𝑦𝑥 , 𝜀𝑥𝑧 = 𝜀𝑧𝑥 e 𝜀𝑦𝑧 = 𝜀𝑧𝑦 . Desta forma,
41

𝜀𝑥𝑥 𝜀𝑥𝑦 𝜀𝑥𝑧


𝜀𝑖𝑗 = 𝜺 = [𝜀𝑦𝑧 𝜀𝑦𝑦 𝜀𝑦𝑧 ] (2.75)
𝜀𝑧𝑥 𝜀𝑧𝑦 𝜀𝑧𝑧

2.2.2 Componentes de deformação em uma direção arbitrária

As equações de transformação de deformações são análogas àquelas deduzidas na


seção 2.2.2 válidas para transformação de tensões, pois assim como o estado de tensão, o estado de
deformação também constitui um tensor de segunda ordem, e desta forma, segue a mesma lei de
transformação.

Com a finalidade de corroborar tal afirmação, se considera um ponto P, do qual são


conhecidas suas seis componentes de deformação específica, 𝜀𝑥𝑥 , 𝜀𝑦𝑦 , 𝜀𝑧𝑧 , 𝜀𝑥𝑦 , 𝜀𝑥𝑧 𝑒 𝜀𝑦𝑧 , referidas
ao sistema de coordenadas (𝑥, 𝑦, 𝑧), e se deseja expressá-las em relação ao sistema (𝑥′, 𝑦′, 𝑧′).

Convém, aqui, demonstrar a lei de transformação de coordenadas no plano cartesiano,


a Figura 2.13 representa dois sistemas de referência, (𝑥, 𝑦, 𝑧) e (𝑥′, 𝑦′, 𝑧′), com seus respectivos
vetores unitários (𝑒1 , 𝑒2 , 𝑒3 ) e (𝑒′1 , 𝑒′2 , 𝑒′3 ).

Figura 2.13 - Mudança de sistema de referência

Fonte: SADD, 2009


42

Os cossenos diretores formados pelo eixo 𝑥 ′ com os eixos coordenados 𝑥, 𝑦 e 𝑧 são,


respectivamente, 𝑙1, 𝑙2 , 𝑙3 . Os eixos 𝑦′ e 𝑧′ têm como cossenos diretores 𝑚1 , 𝑚2 , 𝑚3 e 𝑛1 , 𝑛2 e 𝑛3 ,
respectivamente. Então se pode expressar os vetores (𝑒′1 , 𝑒′2 , 𝑒′3 ) em termos de (𝑒1 , 𝑒2 , 𝑒3 ) e de
seus respectivos cossenos diretores por

𝑒′1 = 𝑒1 𝑙1 + 𝑒2 𝑙2 + 𝑒3 𝑙3
𝑒′2 = 𝑒1 𝑚1 + 𝑒2 𝑚2 + 𝑒3 𝑚3 (2.76)
𝑒′3 = 𝑒1 𝑛1 + 𝑒2 𝑛2 + 𝑒3 𝑛3

onde as expressões dadas em (2.76) podem ser representadas em formato matricial por

𝑒′1 𝑙1 𝑙2 𝑙3 𝑒1
𝑚
[𝑒′2 ] = [ 1 𝑚2 𝑚3 ] [𝑒2 ] (2.77)
𝑒′3 𝑛1 𝑛2 𝑛3 𝑒3

Agora um vetor arbitrário 𝑣 pode ser expresso em ambos os sistemas de coordenas


como

𝑣 = 𝑣1 𝑒1 + 𝑣2 𝑒2 + 𝑣3 𝑒3 = 𝑣′1 𝑒′1 + 𝑣′2 𝑒′2 + 𝑣′3 𝑒′3 (2.78)

Este vetor pode ser transformado de um sistema de coordenadas para o outro usando a
matriz de transformação 𝑻 dada por

𝑙1 𝑙2 𝑙3
𝑻 = [𝑚1 𝑚2 𝑚3 ] (2.79)
𝑛1 𝑛2 𝑛3

Então, utilizando essa matriz se pode transformar o vetor de componentes do


deslocamento 𝒖(𝑢, 𝑣, 𝑤) de um sistema para outro através da expressão

𝒖′ = 𝑻𝒖 (2.80)
43

Considerando a expressão (2.66), se pode escrever

𝜕𝑢′ 𝜕𝑢′ 𝜕𝑥 𝜕𝑢′ 𝜕𝑦 𝜕𝑢′ 𝜕𝑧


𝜀𝑥′𝑥′ = = + + (2.81)
𝜕𝑥′ 𝜕𝑥 𝜕𝑥′ 𝜕𝑦 𝜕𝑥′ 𝜕𝑧 𝜕𝑥′

𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Sabendo que 𝜕𝑥′ = 𝑙1 , 𝜕𝑥′ = 𝑙2 e 𝜕𝑥′ = 𝑙3 , onde essas relações estão demonstradas para

o caso bidimensional na Figura 2.14, se pode escrever a expressão (2.81) como

𝜕𝑢′ 𝜕𝑢′ 𝜕𝑢′


𝜀𝑥′𝑥′ = 𝑙1 + 𝑙2 + 𝑙 (2.82)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 2

Figura 2.14 - Transformação do sistema (x,y) para (x’,y’)

Fonte: AWRUCH e MORSCH, 2009

A partir da expressão (2.80) se tem que

𝑢′ = 𝑢 𝑙1 + 𝑣 𝑙2 + 𝑤 𝑙3 (2.83)

Inserindo a expressão (2.83) em (2.82), e utilizando as relações deformações-


deslocamentos se chega a

𝜀𝑥 ′ 𝑥 ′ = 𝜀𝑥𝑥 𝑙12 + 𝜀𝑦𝑦 𝑙22 + 𝜀𝑧𝑧 𝑙32 + 2 𝜀𝑥𝑦 𝑙1 𝑙2 + 2 𝜀𝑦𝑧 𝑙2 𝑙3 + 2 𝜀𝑧𝑥 𝑙3 𝑙1 (2.84)
44

De forma similar ao feito na expressão (2.81) e considerando a expressão (2.72), se


pode escrever que

1 𝜕𝑢′ 𝜕𝑣 ′
𝜀𝑥 ′ 𝑦 ′ = [ ′ + ′ ]
2 𝜕𝑦 𝜕𝑥
1 𝜕𝑢′ 𝜕𝑥 𝜕𝑢′ 𝜕𝑦 𝜕𝑢′ 𝜕𝑧 𝜕𝑣′ 𝜕𝑥 𝜕𝑣′ 𝜕𝑦 𝜕𝑣′ 𝜕𝑧
𝜀𝑥 ′ 𝑦 ′ = [ + + + + + ] (2.85)
2 𝜕𝑥 𝜕𝑦′ 𝜕𝑦 𝜕𝑦′ 𝜕𝑧 𝜕𝑦′ 𝜕𝑥 𝜕𝑥′ 𝜕𝑦 𝜕𝑥′ 𝜕𝑧 𝜕𝑥′

𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Sabendo que 𝜕𝑥′ = 𝑙1 , 𝜕𝑥′ = 𝑙2 , 𝜕𝑥′ = 𝑙3 , = 𝑚1 , 𝜕𝑦′ = 𝑚2 e = 𝑚3 , a expressão
𝜕𝑦′ 𝜕𝑦′

acima toma forma

1 𝜕𝑢′ 𝜕𝑢′ 𝜕𝑢′ 𝜕𝑣′ 𝜕𝑣′ 𝜕𝑣′


𝜀𝑥′𝑦′ = [ 𝑚1 + 𝑚2 + 𝑚3 + 𝑙1 + 𝑙2 + 𝑙 ] (2.86)
2 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 3

A partir da expressão (2.80) se tem que

𝑣 ′ = 𝑢 𝑚1 + 𝑣 𝑚2 + 𝑤 𝑚3 (2.87)

Inserindo a expressão (2.81) em (2.80), e utilizando as definições de deformações dadas


de (2.64) a (2.69), se chega a

𝜀𝑥 ′ 𝑦 ′ = 𝜀𝑥𝑥 𝑙1 𝑚1 + 𝜀𝑦𝑦 𝑙2 𝑚2 + 𝜀𝑧𝑧 𝑙3 𝑚3 + 𝜀𝑥𝑦 (𝑙2 𝑚1 + 𝑙1 𝑚2 ) +


(2.86)
+ 𝜀𝑦𝑧 (𝑙3 𝑚2 + 𝑙2 𝑚3 ) + 𝜀𝑥𝑧 (𝑙3 𝑚1 + 𝑙1 𝑚3 )

Pode-se observar perfeita analogia com a expressão de transformação de tensões dada


em (2.24). Analogamente às expressões definidas em (2.84) e (2.86), se pode obter as componentes
𝜀𝑦′𝑧′ , 𝜀𝑦′𝑦′ , 𝜀𝑦 ′ 𝑧 ′ , 𝜀𝑧′𝑥′ , 𝜀𝑧′𝑦′ e 𝜀𝑧′𝑧′. A lei de transformação completa do estado de deformações é
dada em formato matricial pela expressão (2.87).
45

𝜀𝑥′𝑥′ 𝜀𝑥′𝑦′ 𝜀𝑥′𝑧′ 𝑙1 𝑙2 𝑙3 𝜀𝑥𝑥 𝜀𝑥𝑦 𝜀𝑥𝑧 𝑙1 𝑚1 𝑛1


𝜀
[ 𝑦′𝑥′ 𝜀𝑦′𝑦′ 𝜀𝑦′𝑧′ ] = [𝑚1 𝑚2 𝑚3 ] [𝜀𝑦𝑥 𝜀𝑦𝑦 𝜀𝑦𝑧 ] [𝑙2 𝑚2 𝑛2 ] (2.87)
𝜀𝑧′𝑥′ 𝜀𝑧′𝑦′ 𝜀𝑧′𝑧′ 𝑛1 𝑛2 𝑛3 𝜀𝑧𝑥 𝜀𝑧𝑦 𝜀𝑧𝑧 𝑙3 𝑚3 𝑛3

2.2.3 Deformações principais, invariantes do tensor de deformações e deformações


angulares máximas

Da mesma maneira que foi demonstrado na seção 2.1.3 a existência de planos


principais cujas componentes de tensão normal adquirem seus valores máximos e as componentes
de tensão tangenciais são nulas, há planos para os quais as deformações longitudinais adquirem
seus valores máximos e as deformações angulares são nulas, os eixos normais a esses planos são
denominados de direções principais.

De maneira análoga à expressão (2.25), o tensor que contém as componentes principais


de deformação adquire a forma mostrada na expressão (2.88), onde 𝜀1 , 𝜀2 e 𝜀3 são as componentes
de deformações principais.

𝜀1 0 0
𝜺 = [0 𝜀2 0] (2.88)
0 0 𝜀3

Na seção anterior foi mostrado que se pode obter a deformação específica de um ponto
em uma determinada direção arbitrária se o estado de deformação no mesmo for conhecido.
Tomando a expressão de transformação de deformação para 𝜀𝑥′𝑥′ dada em (2.84) como referência,
conforme os valores de 𝑙1, 𝑙2 e 𝑙3 mudam, os resultados para a deformação longitudinal específica
na direção 𝑥′ variam. Então, se busca a direção (𝑙1, 𝑙2 , 𝑙3 ) para qual a deformação assume seu valor
máximo. Considera-se que o sistema (𝑥 ′ , 𝑦 ′ , 𝑧 ′ ) coincide com as direções principais e que o sistema
de referência utilizado seja (𝑥, 𝑦, 𝑧).

Para se obter os máximos ou mínimos da função 𝜀𝑥′𝑥′ , é necessário igualar


𝜕𝜀𝑥′𝑥′ 𝜕𝜀𝑥′𝑥′ 𝜕𝜀𝑥′𝑥′
, 𝑒 a zero, porém para isso 𝑙1, 𝑙2 e 𝑙3 devem ser independentes, de tal forma que
𝜕𝑙1 𝜕𝑙2 𝜕𝑙3

𝑙1, 𝑙2 e 𝑙3 devem estar relacionados pela condição de Euler 𝑙12 + 𝑙22 + 𝑙32 = 1.
46

Então, se toma 𝑙1 e 𝑙2 como independentes e através de diferenciação da condição de


Euler em relação a 𝑙1 e 𝑙2 , se obtém

𝜕𝑙3
2𝑙1 + 2𝑙3 =0
𝜕𝑙1
𝜕𝑙3 (2.89)
2𝑙2 + 2𝑙3 =0
𝜕𝑙2

Derivando 𝜀𝑥′𝑥′ em relação a 𝑙1 e 𝑙2 , respectivamente, e igualando as mesmas a zero


para obtenção dos extremos, se chega a

𝜕𝑙3
0 = 2𝑙1 𝜀𝑥𝑥 + 𝛾𝑥𝑦 𝑙2 + 𝛾𝑧𝑥 𝑙3 + (𝛾 𝑙 + 𝛾𝑦𝑧 𝑙2 + 2𝑙3 𝜀𝑧𝑧 ) (2.90)
𝜕𝑙1 𝑧𝑥 1

𝜕𝑙3
0 = 2𝑙2 𝜀𝑦𝑦 + 𝛾𝑥𝑦 𝑙1 + 𝛾𝑦𝑧 𝑙3 + (𝛾 𝑙 + 𝛾𝑦𝑧 𝑙2 + 2𝑙3 𝜀𝑧𝑧 ) (2.91)
𝜕𝑙2 𝑧𝑥 1

𝜕𝑙3 𝜕𝑙
Substituindo os valores e 𝜕𝑙3 obtidos em (2.89) nas expressões (2.90) e (2.91), se
𝜕𝑙1 2

obtém que

2𝑙1 𝜀𝑥𝑥 + 𝛾𝑥𝑦 𝑙2 + 𝛾𝑧𝑥 𝑙3 𝛾𝑧𝑥 𝑙1 + 𝛾𝑦𝑧 𝑙2 + 2𝑙3 𝜀𝑧𝑧


= (2.92)
𝑙1 𝑙3

2𝑙2 𝜀𝑦𝑦 + 𝛾𝑥𝑦 𝑙1 + 𝛾𝑦𝑧 𝑙3 𝛾𝑧𝑥 𝑙1 + 𝛾𝑦𝑧 𝑙2 + 2𝑙3 𝜀𝑧𝑧


= (2.93)
𝑙2 𝑙3

Admitindo que as deformações angulares são nulas para as direções principais, se pode
igualar as expressões acima a 2𝜀, onde 𝜀 representa as deformações principais 𝜀1 , 𝜀2 e 𝜀3 .
Rearranjando as mesmas se chega a

2𝑙1 𝜀𝑥𝑥 + 𝛾𝑥𝑦 𝑙2 + 𝛾𝑧𝑥 𝑙3 − 2𝜀𝑙1 = 0


(2.94)
2𝑙2 𝜀𝑦𝑦 + 𝛾𝑥𝑦 𝑙1 + 𝛾𝑦𝑧 𝑙3 − 2𝜀𝑙2 = 0
47

𝛾𝑧𝑥 𝑙1 + 𝛾𝑦𝑧 𝑙2 + 2𝑙3 𝜀𝑧𝑧 − 2𝜀𝑙3 = 0

Resolvendo o sistema de equações dado em (2.94), se obtém os valores dos cossenos


diretores 𝑙1, 𝑙2 e 𝑙3 , os quais determinam a direção ao longo da qual a deformação específica é
máxima. Multiplicando a primeira equação por 𝑙1, a segunda por 𝑙2 e a terceira por 𝑙3 , se obtém

2(𝜀𝑥𝑥 𝑙12 + 𝜀𝑦𝑦 𝑙22 + 𝜀𝑧𝑧 𝑙32 + 2 𝜀𝑥𝑦 𝑙1 𝑙2 + 2 𝜀𝑦𝑧 𝑙2 𝑙3 + 2 𝜀𝑧𝑥 𝑙3 𝑙1 )


(2.95)
= 2𝜀( 𝑙12 + 𝑙22 + 𝑙32 )

Pode-se observar que a parcela entre parênteses no primeiro membro na expressão


anterior é idêntica à expressão (2.84) para deformação longitudinal na direção 𝑥′. Logo se pode
inferir que 𝜀𝑥 ′ 𝑥 ′ = 𝜀, o que ratifica que os valores de 𝑙1, 𝑙2 e 𝑙3 obtidos a direção ao longo da qual
a deformação longitudinal é máxima e que 𝜀 é igual a este valor extremo.

As equações dadas em (2.94) podem ser reescritas na forma

(𝜀𝑥𝑥 − 𝜀)𝑙1 + 𝜀𝑦𝑥 𝑙2 + 𝜀𝑧𝑥 𝑙3 = 0


{ 𝜀𝑥𝑦 𝑙1 + (𝜀𝑦𝑦 − 𝜀) 𝑙2 + 𝜀𝑧𝑦 𝑙3 = 0 (2.96)
𝜀𝑥𝑧 𝑙1 + 𝜀𝑦𝑧 𝑙2 + (𝜀𝑧𝑧 − 𝜀) 𝑙3 = 0

Ou em forma matricial

𝜀𝑥𝑥 − 𝜀 𝜀𝑥𝑦 𝜀𝑥𝑧 𝑙1 0


[ 𝜀𝑦𝑧 𝜀𝑦𝑦 − 𝜀 𝜀𝑦𝑧 ] [𝑙2 ] = [0] (2.97)
𝜀𝑧𝑥 𝜀𝑧𝑦 𝜀𝑧𝑧 − 𝜀 𝑙3 0

Pode ser observado aqui que o sistema de equações dado em (2.96) é matematicamente
idêntico ao dado em (2.2)7 para tensões principais. E assim como o apresentado na seção 2.1.3, a
solução desse sistema de equações, desprezada a solução trivial, é da forma

det(𝜀𝑖𝑗 − 𝑰𝜺) = 0
48

cuja solução leva a uma nova equação característica dada por

−𝜀 3 + 𝐼1 𝜀 2 − 𝐼2 𝜀 + 𝐼3 = 0 (2.98)

na qual

𝐼1 = 𝜀𝑥𝑥 + 𝜀𝑦𝑦 + 𝜀𝑧𝑧


𝐼2 = 𝜀𝑥𝑥 𝜀𝑦𝑦 + 𝜀𝑦𝑦 𝜀𝑧𝑧 + 𝜀𝑧𝑧 𝜀𝑥𝑥 − 𝜀𝑥𝑦 2 − 𝜀𝑦𝑧 2 − 𝜀𝑧𝑥 2 (2.99)
𝐼3 = 𝜀𝑥𝑥 𝜀𝑦𝑦 𝜀𝑧𝑧 − 𝜀𝑥𝑥 𝜀𝑦𝑧 2 − 𝜀𝑦𝑦 𝜀𝑧𝑥 2 − 𝜀𝑧𝑧 𝜀𝑥𝑦 2 + 2 𝜀𝑥𝑦 𝜀𝑦𝑧 𝜀𝑧𝑥

As quantidades 𝐼1 , 𝐼2 e 𝐼3 são os invariantes do tensor de deformações.

Finalmente, se pode determinar os valores das deformações angulares máximas e os


cossenos diretores das normais aos planos onde atuam por processo análogo ao utilizado para as
tensões tangencias máximas na seção 2.1.3.

Então, as componentes de deformações tangenciais máximas são

(𝛾𝑇 𝑚𝑎𝑥 )1 = ±(𝜀1 − 𝜀2 )


(𝛾𝑇 𝑚𝑎𝑥 )2 = ±(𝜀2 − 𝜀3 ) (2.100)
(𝛾𝑇 𝑚𝑎𝑥 )3 = ±(𝜀3 − 𝜀1 )

As componentes das deformações específicas normais são

𝛾𝑁1 = ±(𝜀1 + 𝜀2 )
𝛾𝑁2 = ±(𝜀2 + 𝜀3 ) (2.101)
𝛾𝑁3 = ±(𝜀3 + 𝜀1 )

Por fim, os cossenos diretores das normais aos planos onde atuam as deformações
angulares máximas, medidos a partir das direções principais, estão dados a seguir
49

𝑙1 = 0; 𝑙2 = ±1/√2; 𝑙3 = ±1/√2
𝑚1 = ±1/√2; 𝑚2 = 0; 𝑚3 = ±1/√2 (2.102)

𝑛1 = ±1/√2; 𝑛2 = ±1/√2; 𝑛3 = 0

2.2.4 Equações de compatibilidade

Foi mostrado, através das relações deformações-deslocamentos, que conhecidas os


deslocamentos 𝑢, 𝑣 e 𝑤, se pode determinar as correspondentes deformações específicas de um
ponto no interior de um sólido. A necessidade da compatibilidade de deformações surge quando se
busca fazer o caminho inverso, isto é, conhecendo as seis componentes de deformação, 𝜀𝑥𝑥 ,
𝜀𝑦𝑦 , 𝜀𝑧𝑧 , 𝜀𝑥𝑦 , 𝜀𝑥𝑧 𝑒 𝜀𝑦𝑧 , se busca encontrar valor único para as componentes de deslocamentos. Essa
tarefa se torna complicada pois existem seis equações de deformação e apenas três incógnitas de
deslocamento envolvidas.
Como foi afirmado na seção 2.1 deste capítulo, o material aqui analisado é contínuo.
Portanto, se o material é contínuo antes da deformação, ele deverá permanecer contínuo depois da
deformação. Visto que as coordenadas do material depois da deformação são dadas por 𝑥 ′ = 𝑥 +
𝑢, 𝑦 ′ = 𝑦 + 𝑣 e 𝑧 ′ = 𝑧 + 𝑤, a continuidade será satisfeita se as funções que representam as
componentes de deslocamento 𝑢, 𝑣 e 𝑤 forem contínuas. Para garantir a continuidade das
componentes de deslocamento, deverão existir certas inter-relações entre as seis componentes de
deformação específicas.

A existência dessas inter-relações pode ser entendida por meio de considerações


geométricas. Um exemplo bidimensional está mostrado na Figura 2.15, onde um sólido elástico é
primeiramente dividido em uma série de elementos no caso apresentado em (a), a fim de simplificar
a visualização, foram considerados somente quatro desses elementos. Na configuração anterior a
deformação, mostrada em (b), esses quatro elementos se encaixam perfeitamente juntos. Então, se
arbitra uma deformação específica para cada um dos elementos e se tenta reconstruir o sólido. Em
(c), os elementos foram cuidadosamente deformados, levando em consideração os elementos da
vizinhança para que o sistema se mantenha contínuo. No entanto, em (d), os elementos foram
deformados sem preocupação com os elementos vizinhos, neste caso, pode ser observado que o
50

sistema não se encaixa mais após a deformação, isto é, possui vazios. Esta última situação
caracteriza uma descontinuidade nos deslocamentos.

Figura 2.15 - Interpretação física da compatibilidade de deformações

Fonte: SADD, 2009

Com base na ilustração mostrada na Figura 2.15, se pode concluir novamente que as
componentes de deformação precisam estar de alguma forma relacionadas para se ter continuidade.
Busca-se, então, essas relações.

O procedimento, para se obter as condições de compatibilidade, consiste em eliminar


os deslocamentos 𝑢, 𝑣 e 𝑤 das relações deformações-deslocamentos.

Para isso, se começa diferenciando as expressões de deformação específica, tomando


como exemplo as deformações no plano 𝑥𝑦, se deriva a expressão (2.66) duas vezes em relação a
51

𝑦, a expressão (2.67) duas vezes em relação a 𝑥 e a expressão (2.68) uma vez em relação a 𝑥 e
outra em relação a 𝑦, e combinando as mesmas, se chega a relação

𝜕 2 𝜀𝑥𝑥 𝜕 2 𝜀𝑦𝑦 𝜕 3 𝛾𝑥𝑦


+ = (2.103)
𝜕𝑦 2 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥𝜕𝑦

O mesmo procedimento pode ser aplicado para as deformações dos planos 𝑥𝑧 e 𝑦𝑧,
obtendo as expressões similares

𝜕 2 𝜀𝑥𝑥 𝜕 2 𝜀𝑧𝑧 𝜕 3 𝛾𝑥𝑧


+ = (2.104)
𝜕𝑧 2 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥𝜕𝑧

𝜕 2 𝜀𝑦𝑦 𝜕 2 𝜀𝑧𝑧 𝜕 3 𝛾𝑦𝑧


+ = (2.105)
𝜕𝑧 2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑦𝜕𝑧

Outras relações podem ser obtidas derivando as expressões (2.72) em relação a 𝑧, (2.68)
em relação a 𝑦 e (2.69) em relação a 𝑥, e combinando as mesmas se chega a

𝜕 𝜕𝛾𝑦𝑧 𝜕𝛾𝑧𝑥 𝜕𝛾𝑥𝑦 𝜕 2 𝜀𝑥𝑥


(− + + )=2 (2.106)
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦𝜕𝑧

𝜕 𝜕𝛾𝑦𝑧 𝜕𝛾𝑧𝑥 𝜕𝛾𝑥𝑦 𝜕 2 𝜀𝑥𝑥


(− + + )=2 (2.107)
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦𝜕𝑧

𝜕 𝜕𝛾𝑦𝑧 𝜕𝛾𝑧𝑥 𝜕𝛾𝑥𝑦 𝜕 2 𝜀𝑥𝑥


(− + + )=2 (2.108)
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦𝜕𝑧

As expressões (2.103) a (2.108) são conhecidas com as equações de compatibilidade


de Saint-Venant (SADD, 2009, p.43).
52

2.3 LEI CONSTITUTIVA: RELAÇÕES TENSÕES – DEFORMAÇÕES

Nas seções anteriores foram definidos os conceitos de tensão, deformação e


deslocamento de um ponto de um sólido com base na Teoria da Elasticidade, bem como as
equações que definem e relacionam tais quantidades. Elas são as equações diferenciais de equilíbrio
dadas pelas expressões (2.47), (2.48) e (2.49) e as relações deformações-deslocamentos dadas pelas
expressões (2.66) a (2.71) juntamente com as correspondentes equações de compatibilidade dadas
pelas expressões (2.103) a (2.108).

Assim sendo, em um problema geral tridimensional de elasticidade linear se busca


determinar as seis componentes de tensão, 𝜎𝑥𝑥 , 𝜎𝑦𝑦 , 𝜎𝑧𝑧 , 𝜎𝑥𝑦 , 𝜎𝑥𝑧 𝑒 𝜎𝑦𝑧 , as seis componentes de
deformação específica, 𝜀𝑥𝑥 , 𝜀𝑦𝑦 , 𝜀𝑧𝑧 , 𝜀𝑥𝑦 , 𝜀𝑥𝑧 𝑒 𝜀𝑦𝑧 , e as três componentes de deslocamento, 𝑢, 𝑣 e
𝑤, num total de quinze incógnitas. Contudo, até o presente momento, foram deduzidas nove
equações, as de equilíbrio e as relações deformações-deslocamentos. Assim, estão faltando seis
equações de modo a ser possível a solução desse sistema.

Essas equações adicionais necessárias são conhecidas como as equações constitutivas,


essas descrevem matematicamente a dependência do processo de deformação em relação às
propriedades mecânicas dos materiais.

Baseado em observações experimentais, é sabido que no regime elástico a tensão 𝜎 é


proporcional a deformação axial 𝜀 até um limite, denominado limite de proporcionalidade. A
constante de proporcionalidade é denominada módulo de Young (𝐸), também conhecido como
módulo de elasticidade longitudinal (TIMOSHENKO e GOODIER, 1980, p.7). Exemplificando
para a direção 𝑥, se tem a seguinte expressão.

𝜎𝑥𝑥 = 𝐸 𝜀𝑥𝑥 (2.109)

Se sabe, também, que apesar de tensão numa única direção ocorrerão deformações em
três direções ortogonais. Isso decorre do efeito Poisson, que é normalmente representado pelo
coeficiente de Poisson 𝜈 (TIMOSHENKO e GOODIER, 1980, p.7).
53

𝜀𝑦𝑦 = 𝜀𝑧𝑧 = −𝜈 𝜀𝑥𝑥 (2.110)

O módulo de elasticidade longitudinal 𝐸 e o coeficiente de Poisson 𝜈 são propriedades


mecânicas de cada material.

Estendendo essas definições a fim de relacionar as seis componentes de tensão com as


seis componentes de deformação em um ponto, se admite que cada uma das componentes de
deformação pode ser expressa por uma função linear das componentes de tensão. Essa hipótese,
numa situação geral é traduzida na forma de seis equações deformações-tensões apresentadas em
(2.108) (VILLAÇA e GARCIA, 1998, p.43).

𝜀𝑥𝑥 = 𝑎11 𝜎𝑥𝑥 + 𝑎12 𝜎𝑦𝑦 + 𝑎13 𝜎𝑧𝑧 + 𝑎14 𝜎𝑥𝑦 + 𝑎15 𝜎𝑥𝑧 + 𝑎16 𝜎𝑦𝑧
𝜀𝑦𝑦 = 𝑎21 𝜎𝑥𝑥 + 𝑎22 𝜎𝑦𝑦 + 𝑎23 𝜎𝑧𝑧 + 𝑎24 𝜎𝑥𝑦 + 𝑎25 𝜎𝑥𝑧 + 𝑎26 𝜎𝑦𝑧
𝜀𝑧𝑧 = 𝑎31 𝜎𝑥𝑥 + 𝑎32 𝜎𝑦𝑦 + 𝑎33 𝜎𝑧𝑧 + 𝑎34 𝜎𝑥𝑦 + 𝑎35 𝜎𝑥𝑧 + 𝑎36 𝜎𝑦𝑧
(2.111)
𝛾𝑥𝑦 = 𝑎41 𝜎𝑥𝑥 + 𝑎42 𝜎𝑦𝑦 + 𝑎43 𝜎𝑧𝑧 + 𝑎44 𝜎𝑥𝑦 + 𝑎45 𝜎𝑥𝑧 + 𝑎46 𝜎𝑦𝑧
𝛾𝑥𝑧 = 𝑎51 𝜎𝑥𝑥 + 𝑎52 𝜎𝑦𝑦 + 𝑎53 𝜎𝑧𝑧 + 𝑎54 𝜎𝑥𝑦 + 𝑎55 𝜎𝑥𝑧 + 𝑎56 𝜎𝑦𝑧
𝛾𝑦𝑧 = 𝑎61 𝜎𝑥𝑥 + 𝑎62 𝜎𝑦𝑦 + 𝑎63 𝜎𝑧𝑧 + 𝑎64 𝜎𝑥𝑦 + 𝑎65 𝜎𝑥𝑧 + 𝑎66 𝜎𝑦𝑧

Onde os termos 𝑎𝑖𝑗 são constantes dos parâmetros do material e as expressões dadas
em (2.108) são conhecidas como a lei de Hooke generalizada (SADD, 2009, p.79).

É hipótese básica desse trabalho que no processo de deformação não há dissipação de


energia, ou seja, o sistema é conservativo. Assim, é permitido admitir como válido o teorema de
Betti, de modo que 𝑎𝑖𝑗 = 𝑎𝑗𝑖 (SRINATH, 2009, p.148).

Como aqui os materiais são admitidos isotrópicos, o número de constantes


independentes pode ser reduzido a duas, de modo que, mediante análise de uma série de situações
particulares se pode estabelecer algumas relações entre os coeficientes, essas relações estão dadas
nas expressões (2.112).
54

𝑎11 = 𝑎22 = 𝑎33


𝑎13 = 𝑎23 = 𝑎12
𝑎44 = 𝑎55 = 𝑎66 = 2(𝑎11 − 𝑎12 ) (2.112)
𝑎14 = 𝑎15 = 𝑎16 = 𝑎24 = 𝑎25 = 𝑎26 = 𝑎34 = 𝑎35 = 𝑎36 = 𝑎45 =
= 𝑎46 = 𝑎56 = 0

Então, com essas reduções, as relações deformação-tensão se tornam

𝜀𝑥𝑥 = 𝑎11 𝜎𝑥𝑥 + 𝑎12 (𝜎𝑦𝑦 + 𝜎𝑧𝑧 )


𝜀𝑦𝑦 = 𝑎11 𝜎𝑦𝑦 + 𝑎12 (𝜎𝑥𝑥 + 𝜎𝑧𝑧 )
𝜀𝑧𝑧 = 𝑎11 𝜎𝑧𝑧 + 𝑎12 (𝜎𝑥𝑥 + 𝜎𝑦𝑦 )
(2.113)
𝛾𝑥𝑦 = 2(𝑎11 − 𝑎12 )𝜎𝑥𝑦
𝛾𝑥𝑧 = 2(𝑎11 − 𝑎12 )𝜎𝑥𝑧
𝛾𝑦𝑧 = 2(𝑎11 − 𝑎12 )𝜎𝑦𝑧

Neste momento, é adequado exprimir as constantes 𝑎11 e 𝑎12 em função do módulo de


elasticidade longitudinal e do coeficiente de Poisson, que podem ser calculadas através do ensaio
de tração simples, onde, para a direção 𝑥 se considera que 𝜎𝑦𝑦 = 𝜎𝑧𝑧 = 0. Através dessa
consideração e utilizando as expressões (2.109), (2.110) e (2.13), resulta

𝜎𝑥𝑥
𝜀𝑥𝑥 = = 𝑎11 𝜎𝑥𝑥
𝐸
(2.114)
1
𝑎11 =
𝐸

𝜎𝑥𝑥
𝜀𝑦𝑦 = 𝜀𝑧𝑧 = −𝜈 = 𝑎12 𝜎𝑥𝑥
𝐸
(2.115)
𝜈
𝑎12 =−
𝐸

Os materiais também apresentam um segundo módulo, denominado módulo de


elasticidade transversal 𝐺 que relaciona deformações angulares com tensões tangenciais. Esta
55

propriedade mecânica está relacionada com o módulo de elasticidade longitudinal E pela expressão
(2.114) (SILVA, 2006, p.77).

1 𝐸
𝐺= = (2.116)
2 (𝑎11 − 𝑎12 ) 2 (1 + 𝜈)

Então, utilizando as expressões (2.114) e (2.115), se pode escrever a Lei de Hooke na


forma

𝜎𝑥𝑥 𝜈
𝜀𝑥𝑥 = − (𝜎𝑦𝑦 + 𝜎𝑧𝑧 )
𝐸 𝐸
𝜎𝑦𝑦 𝜈
𝜀𝑦𝑦 = − (𝜎𝑥𝑥 + 𝜎𝑧𝑧 )
𝐸 𝐸
𝜎𝑧𝑧 𝜈
𝜀𝑧𝑧 = − (𝜎𝑥𝑥 + 𝜎𝑦𝑦 )
𝐸 𝐸
(2.117)
𝜎𝑥𝑦
𝛾𝑥𝑦 =
𝐺
𝜎𝑥𝑧
𝛾𝑥𝑧 =
𝐺
𝜎𝑦𝑧
𝛾𝑦𝑧 =
𝐺

Utilizando a expressão (2.116), pode-se expressar a Lei de Hooke em formato


matricial, isto é

𝜀𝑥𝑥 1 −𝜈 −𝜈 0 0 0 𝜎𝑥𝑥
𝜀𝑦𝑦 −𝜈 1 −𝜈 0 0 0 𝜎𝑦𝑦
𝜀𝑧𝑧 −𝜈 −𝜈 1 0 0 0 𝜎𝑧𝑧
𝛾𝑥𝑦 = 0 0 0 2(1 + 𝜈) 0 0 𝜎 𝑥𝑦
(2.118)
𝛾𝑥𝑧 0 0 0 0 2(1 + 𝜈) 0 𝜎𝑥𝑧
{ 𝛾𝑦𝑧 } [ 0 0 0 0 0 2(1 + 𝜈)] { 𝜎𝑦𝑧 }
56

2.4 CONDIÇÕES DE CONTORNO

Nas seções anteriores foram deduzidas e apresentadas as quinze equações que


constituem o sistema de equações da elasticidade linear para sólidos homogêneos, contínuos e
isotrópicos e incluem as equações de equilíbrio

𝜕𝜎𝑥𝑥 𝜕𝜎𝑦𝑥 𝜕𝜎𝑧𝑥


+ + + 𝑏𝑥 = 0
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝜕𝜎𝑥𝑦 𝜕𝜎𝑦𝑦 𝜕𝜎𝑧𝑦
+ + + 𝑏𝑦 = 0 (2.119)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝜕𝜎𝑥𝑧 𝜕𝜎𝑦𝑧 𝜕𝜎𝑧𝑧
+ + + 𝑏𝑧 = 0
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

as relações constitutivas tensões-deformações

𝜎𝑥𝑥 𝜈
𝜀𝑥𝑥 = − (𝜎𝑦𝑦 + 𝜎𝑧𝑧 )
𝐸 𝐸
𝜎𝑦𝑦 𝜈
𝜀𝑦𝑦 = − (𝜎𝑥𝑥 + 𝜎𝑧𝑧 )
𝐸 𝐸
𝜎𝑧𝑧 𝜈
𝜀𝑧𝑧 = − (𝜎𝑥𝑥 + 𝜎𝑦𝑦 )
𝐸 𝐸
(2.120)
𝜎𝑥𝑦
𝛾𝑥𝑦 =
𝐺
𝜎𝑥𝑧
𝛾𝑥𝑧 =
𝐺
𝜎𝑦𝑧
𝛾𝑦𝑧 =
𝐺

e as relações deformações-deslocamentos
57

𝜕𝑢
𝜀𝑥𝑥 =
𝜕𝑥
𝜕𝑣
𝜀𝑦𝑦 =
𝜕𝑦
𝜕𝑤
𝜀𝑧𝑧 =
𝜕𝑧
(2.121)
𝜕𝑢 𝜕𝑣
𝛾𝑥𝑦 = +
𝜕𝑦 𝜕𝑥
𝜕𝑢 𝜕𝑤
𝛾𝑥𝑧 = +
𝜕𝑧 𝜕𝑥
𝜕𝑣 𝜕𝑤
𝛾𝑦𝑧 = +
𝜕𝑧 𝜕𝑦

Este sistema de equações apresenta quinze incógnitas, constituídas por três


deslocamentos, seis tensões e seis deformações. Quando não se usa explicitamente o campo de
deslocamentos deve ser assegurado que as seis condições de compatibilidade definidas em (2.103)
a (2.108) sejam satisfeitas.

Na formulação de um problema elástico (VILLAÇA e GARCIA, 1998, p.48) além da


satisfação deste sistema de equações, outras condições também devem ser satisfeitas na superfície
de contorno do sólido sob análise.

Tais condições são conhecidas como condições de contorno. Se poderá ter


deslocamentos prescritos (conhecidos) em uma dada região Su do contorno e/ou forças prescritas
(conhecidas) numa região Sf do contorno.

Para deslocamentos prescritos se pode escrever

𝑢 = 𝑢̅, 𝑣 = 𝑣̅ , 𝑤 = 𝑤
̅, 𝑒𝑚 𝑆𝑢 (2.122)

Aqui os valores com barra significam os valores de deslocamentos prescritos.


Para forças prescritas se pode escrever a partir do equilíbrio que
58

𝑝𝑥 = 𝜎𝑥𝑥 𝑙1 + 𝜎𝑦𝑥 𝑙2 + 𝜎𝑧𝑥 𝑙3


𝑝𝑦 = 𝜎𝑥𝑦 𝑙1 + 𝜎𝑦𝑦 𝑙2 + 𝜎𝑧𝑦 𝑙3 (2.123)
𝑝𝑧 = 𝜎𝑥𝑧 𝑙1 + 𝜎𝑦𝑧 𝑙2 + 𝜎𝑧𝑧 𝑙3

sendo 𝑝𝑥 , 𝑝𝑦 e 𝑝𝑧 as forças prescritas agindo no contorno sob análise.

2.5 TRABALHO DE DEFORMAÇÃO: TEOREMAS E PRINCÍPIOS

A partir da definição de trabalho de deformação, no âmbito da elasticidade foram


deduzidos e criados alguns teoremas e princípios. Esses se tornaram extremamente relevantes, pois,
a partir deles, foram idealizados os mais importantes métodos de solução dos problemas da
elasticidade.

2.5.1 Trabalho de deformação

Um sólido sofre deformação quando forças externas agem sobre ele. Os pontos de
aplicação das forças externas sofrem deslocamentos e assim realizam trabalho. Este trabalho é
conhecido como trabalho externo de deformação. O princípio da conservação de energia, admitido
no início desse trabalho como válido, implica que este trabalho externo de deformação será
armazenado integralmente na forma de energia potencial elástica. Essa será dissipada quando as
forças externas deixarem de atuar, de modo que o sólido voltará a sua forma original. Essa energia
potencial elástica também é conhecida como trabalho interno de deformação.

Assim, não havendo dissipação de energia no processo de deformação, pode-se


determinar o trabalho de deformação como função das forças externas ou como função das forças
internas.

O trabalho interno de deformação é dado pela expressão (Zienkiewicz e Taylor, 2005,


p.33)
59

1
𝑈= ∫ 𝜺𝑇 𝝈 𝑑𝑉 (2.124)
2
𝑉

O trabalho externo de deformação é, em geral, admitido negativo quando o corpo


retorna a sua configuração original indeformada e dado por (Zienkiewicz e Taylor, 2005, p.33)

1
𝑊 = − [∫ 𝒖𝑇 𝒃 𝑑𝑉 + ∫ 𝒖𝑇 𝒑 𝑑𝑆] (2.125)
2 𝑉 𝑆

Nestas expressões, 𝜺 é o vetor de deformações, 𝝈 é o tensor de tensões, no sistema


cartesiano. Os vetores 𝒖, 𝒃 e 𝒑 correspondem respectivamente aos campos de deslocamentos,
forças de volume e forças de superfície.

2.5.2 Energia potencial total

Na mecânica, quando uma força se move ao longo de sua linha de ação, produz trabalho
e ao mesmo tempo, perde energia potencial. Esta energia fisicamente representa a capacidade da
força realizar trabalho.
No caso da força estar aplicada a um sólido elástico, não é fácil definir o valor daquele
deslocamento. De modo que, o valor da energia potencial total de uma força não pode ser
facilmente calculado.
No âmbito da aplicação desta noção à mecânica estrutural, o valor absoluto desta
energia não é importante, mas o modo como varia ao longo do processo de deformação é. Por essa
razão, a definição relativa de energia potencial total de uma força pode ser usada, isto tem a
vantagem de envolver tanto a energia potencial das forças externas como a energia potencial das
forças internas. Assim, se define energia potencial total de um sólido sob a ação de forças pela
expressão

𝛱𝑝 = −𝑊 + 𝑈 (2.126)
60

O sinal menos no primeiro termo do segundo membro dessa expressão indica que a
energia potencial de uma força aumenta quando ela sofre um deslocamento no sentido contrário,
isto é, no descarregamento.

2.5.3 Princípio do trabalho virtual

O princípio dos trabalhos virtuais pode ser expresso em deslocamentos virtuais ou em


forças virtuais. Esse princípio pode ser enunciado na forma

“[...] trabalho virtual é definido como o trabalho realizado por forças reais que se movem
através de deslocamentos virtuais, ou como o trabalho realizado por forças virtuais que se
movem através de deslocamentos reais.” (AWRUCH e MORSCH, 2009, p.131)

O deslocamento virtual de um ponto de um sólido é um deslocamento imaginário. O


trabalho realizado pelas forças reais que atuam no sólido durante a imposição de um deslocamento
virtual é chamado trabalho virtual. O sólido está em equilíbrio, de modo que quando a ele for
imposto um deslocamento virtual compatível, o trabalho virtual será nulo, visto que a resultante
das forças é nula. Dessa forma, sendo o trabalho virtual nulo, há equilíbrio nesse ponto.

A fim de se definir a expressão para o trabalho virtual com base em deslocamentos


virtuais, se considera um sólido em equilíbrio, mostrado na Figura 2.16. Há restrições a
deslocamentos em parte de sua superfície, denominada 𝑆𝑢 . O sólido está sob ação de forças externas
de superfície, 𝑝𝑥 , 𝑝𝑦 e 𝑝𝑧 em 𝑆𝑡 e está sujeito a forças externas de volume, 𝑏𝑥 , 𝑏𝑦 e 𝑏𝑧 . Se admite
que o sólido sofre um deslocamento virtual cinematicamente compatível, representado por 𝛿𝑢𝑖 =
{𝛿𝑢, 𝛿𝑣, 𝛿𝑤}.
61

Figura 2.16 - Sólido em equilíbrio

Fonte: SADD, 2009

O trabalho virtual externo 𝛿𝑊 é dado pela expressão abaixo (Zienkiewicz e Taylor,


2005, p.34)

𝛿𝑊 = − [∫ 𝜹𝒖𝑇 𝒃 𝑑𝑉 + ∫ 𝜹𝒖𝑇 𝒑 𝑑𝑆] (2.127)


𝑉 𝑆

Na expressão acima e noutras que seguem, o símbolo representa 𝛿 algo muito pequeno.

Na integração do segundo membro da expressão (2.127) deverão ser consideradas as


restrições aos deslocamentos em 𝑆𝑢 e o equilíbrio em 𝑆𝑡 .

Por outro lado, o trabalho virtual interno 𝛿𝑈 é dado pela expressão abaixo (Zienkiewicz
e Taylor, 2005, p.34)

𝑈 = ∫ 𝜹𝜺𝑇 𝝈 𝑑𝑉 (2.128)
𝑉

Por fim, é importante relatar que a hipótese de sistema conservativo também é válida
para trabalho virtual, assim

𝛿𝑊 = 𝛿𝑈 (2.129)
62

Essa conclusão permite enunciar que se um sólido deformável, sujeito à ação de um


campo de forças estaticamente compatível e a um campo de deslocamentos virtuais
cinematicamente compatível, o trabalho virtual externo é igual ao trabalho virtual interno. Isto
garante que as condições de equilíbrio e suas condições de contorno correspondentes sejam
satisfeitas.

No caso do princípio das forças virtuais, é avaliado o trabalho realizado por um campo
forças virtuais, que devem satisfazer as condições de equilíbrio.

De forma análoga ao trabalho virtual para deslocamentos virtuais, se chega a mesma


conclusão dada pela expressão (2.126) (AWRUCH e MORSCH, 2009, p.136).

Os princípios apresentados acima são de extrema relevância para a mecânica dos


sólidos pois servem de base para a solução numérica de inúmeros problemas.
63

3 TEORIA DA FLEXÃO DE PLACAS FINAS

Placas são estruturas formadas por duas superfícies planas separadas uma da outra por
uma distância denominada espessura. Como o modo de flexão de uma placa depende, em grande
parte, de quão espessa a placa é comparada às suas outras dimensões, distingue-se as mesmas por
categorias definidas conforme suas propriedades geométricas. Timoshenko e Woinowsky-Krieger
(1959, p.1) adotam a seguinte distinção: (1) Placas finas com pequenas deformações; (2) Placas
finas com grandes deformações; e (3) Placas espessas.

A divisão das placas nas categorias acima é feita em função da racionalização da análise
das mesmas, uma vez que uma análise rigorosa implicaria na consideração da placa como um meio
contínuo tridimensional acarretando dificuldades matemáticas bastante complexas.

A solução de cada uma destas categorias apresenta distintos comportamentos


estruturais, e são governados por diferentes equações diferenciais.

Este trabalho é dedicado exclusivamente ao estudo da flexão de placas finas com


pequenas deformações. Para este tipo de placas, desenvolve-se uma aproximação extremamente
satisfatória da Teoria da Flexão de Placas considerando as seguintes hipóteses (SZILARD, 2004,
p.23):

1. As dimensões laterais da placa são, ao menos, dez vezes maiores que a


espessura h.

2. Não há deformações no plano central da placa, isto é, não há tensões atuantes


neste plano durante a flexão. Esta hipótese é equivalente a linha neutra na teoria
elementar de vigas.

3. Seções normais ao plano central permanecem normais a esse plano após a


deformação.

4. As declividades do plano central da placa são pequenas comparadas à unidade.


64

5. As componentes de tensão normal na direção transversal à placa podem ser


desprezadas.

6. A placa resiste seus carregamentos exclusivamente por flexão, ou seja,


despreza-se o efeito da tensão tangencial na deformação.

A partir das suposições acima, todas as componentes de tensão podem ser expressas
pelos deslocamentos w da placa. Essa função precisa satisfazer uma equação diferencial linear
parcial de quarta ordem, a qual, juntamente com as condições de contorno, define completamente
w. A solução desta equação fornece todas as informações necessárias para a determinação das
tensões em qualquer ponto da placa (TIMOSHENKO e WOINOWSKY-KRIEGER, 1959, p.1).

O objetivo deste capítulo é descrever a obtenção da equação de placas finas em


coordenadas cartesianas para pequenas deformações obtida por Lagrange em 1811 com base nas
hipóteses idealizadas por Kirchhoff e com contribuições significativas de Bernoulli, Navier, Saint-
Venant, entre outros.

3.1 EQUAÇÃO DA PLACA NO SISTEMA DE COORDENADAS CARTESIANAS

As hipóteses definidas anteriormente, bem como as equações da Teoria da Elasticidade


deduzidas no capítulo 2, dão sustentação à Teoria Clássica de Flexão de Placas Finas de Kirchhoff.
Baseando-se nessas hipóteses, pode-se resolver o problema das placas, originalmente
tridimensional, no âmbito bidimensional sem perda significativa de precisão.

O modo de resistir ao carregamento de uma placa é similar, até certo modo, a vigas ou
cabos. Desta forma, placas podem ser aproximadas por uma grelha formada por um número infinito
de vigas, dependendo da rigidez destes elementos estruturais (VENTSEL e KRAUTHAMMER,
2001, p. 1).

O estudo se concentrará em placas finas retangulares, para as quais o sistema de


coordenadas cartesianas é o mais indicado. A Figura 3.1 apresenta uma placa retangular biapoiada
sujeita a carregamento perpendicular a sua face no sistema de referência adotado.
65

Figura 3.1 - Placa retangular sujeita a carregamento transversal

Fonte: adaptado de SZILARD, 2004

Para a análise do equilíbrio na placa, um elemento paralelepípedo é isolado da Figura


3.1, este é mostrado na Figura 3.2. Atribui-se os momentos e forças positivas para as duas faces
frontais, perpendiculares ao plano de atuação da carga 𝑃𝑧 , mostradas na Figura 3.2. O subscrito das
forças internas refere-se à direção da componente normal do plano que atuam. Já para os momentos
de torção e de flexão, os subscritos referem-se às tensões que produzem. Desta forma, por exemplo,
o momento de flexão 𝑀𝑥 , produz uma tensão normal 𝜎𝑥 e rotaciona o elemento em torno do eixo
Y.
66

Figura 3.2 - Forças internas e externas atuantes em paralelepípedo elementar

Fonte: adaptado de SZILARD, 2004

Como as faces frontais estão distanciadas por 𝑑𝑥 e 𝑑𝑦 das faces posteriores, as


componentes de força e momento nas faces frontais sofrem um acréscimo, tomando como exemplo
a componente de momento 𝑀𝑥 atuante na face posterior, a mesma é dada por 𝑀𝑥 + ∆𝑀𝑥 para a
componente atuante na face frontal. Expandindo 𝑀𝑥 + ∆𝑀𝑥 em série de Taylor, em torno de 𝑀𝑥 ,
𝜕𝑀𝑥
até termos de primeira ordem, se obtém que ∆𝑀𝑥 = 𝑑𝑥. Por procedimento análogo, se obtém
𝜕𝑥

os demais incrementos das componentes de força e momento.

Faz-se o equilíbrio de forças e momentos atuantes na placa com o intuito de se


determinar a equação diferencial que governa o comportamento da mesma. Presumindo que a placa
está sujeita somente a forças perpendiculares a seu plano, das seis equações de equilíbrio
disponíveis, utiliza-se apenas as equações dadas em (3.1).

∑ 𝑀𝑥 = 0

∑ 𝑀𝑦 = 0 (3.1)

∑ 𝑃𝑧 = 0
67

No tratamento de placas, é habitual tomar os momentos e forças internas por unidade


de comprimento no plano médio. Na Figura 3.3 é mostrada esta abordagem, onde foi introduzido
as notações 𝑞𝑥 , 𝑞𝑦 , 𝑚𝑥 , 𝑚𝑦 , 𝑚𝑥𝑦 e 𝑚𝑦𝑥 para se distinguir da notação adotada na Figura 3.2. Os
termos representados por (...) são os incrementos das componentes de momento e forças internas,
expressas de forma análoga ao mostrado para a Figura 3.2.

Figura 3.3 - Forças internas e externas atuantes no plano central

Fonte: SZILARD, 2004

Aplicando as equações dadas em (3.1) para o sistema de forças e momentos mostrados


na Figura 3.3, se obtém

a) Equilíbrio de momentos em torno do eixo x

𝜕𝑚𝑦 𝜕𝑚𝑥𝑦
(𝑚𝑦 + 𝑑𝑦) 𝑑𝑥 − 𝑚𝑦 𝑑𝑥 + (𝑚𝑥𝑦 + 𝑑𝑥) 𝑑𝑦 − 𝑚𝑥𝑦 𝑑𝑦
𝜕𝑦 𝜕𝑥
𝜕𝑞𝑦 𝑑𝑦 𝑑𝑦
− (𝑞𝑦 + 𝑑𝑦) 𝑑𝑥 − 𝑞𝑦 𝑑𝑥 =0
𝜕𝑦 2 2

1 𝜕𝑞𝑦
Simplificando a equação acima e desprezando o termo 𝑑𝑦²𝑑𝑥, por se tratar de
2 𝜕𝑦

quantidade infinitesimal elevada de terceira ordem, se obtém


68

𝜕𝑚𝑦 𝜕𝑚𝑥𝑦
𝑑𝑦𝑑𝑥 + 𝑑𝑥𝑑𝑦 − 𝑞𝑦 𝑑𝑥𝑑𝑦 = 0
𝜕𝑦 𝜕𝑥

Dividindo toda equação por 𝑑𝑥𝑑𝑦, finalmente, se chega a

𝜕𝑚𝑦 𝜕𝑚𝑥𝑦
+ = 𝑞𝑦 (3.2)
𝜕𝑦 𝜕𝑥

b) Equilíbrio de momentos em torno do eixo y

Por procedimento análogo, se obtém

𝜕𝑚𝑥 𝜕𝑚𝑦𝑥
+ = 𝑞𝑥 (3.3)
𝜕𝑥 𝜕𝑦

c) Equilíbrio de forças na direção z

𝜕𝑞𝑥 𝜕𝑞𝑦
𝑑𝑥𝑑𝑦 + 𝑑𝑥𝑑𝑦 + 𝑝𝑧 𝑑𝑥𝑑𝑦 = 0
𝜕𝑥 𝜕𝑦

Dividindo toda equação por 𝑑𝑥𝑑𝑦, se obtém

𝜕𝑞𝑥 𝜕𝑞𝑦
+ = −𝑝𝑧 (3.4)
𝜕𝑥 𝜕𝑦

Substituindo as equações (3.2) e (3.3) em (3.4), e observando que 𝑚𝑥𝑦 = 𝑚𝑦𝑥 devido
a reciprocidade das tensões tangenciais em planos perpendiculares, se chega a

𝜕 2 𝑚𝑥 𝜕 2 𝑚𝑥𝑦 𝜕 2 𝑚𝑦
+2 + = −𝑝𝑧 (𝑥, 𝑦) (3.5)
𝜕𝑥² 𝜕𝑥𝜕𝑦 𝜕𝑦 ²
69

3.1.1 Relações entre tensões, deformações e deslocamento

Como os momentos de flexão e de torção dados na equação (3.5) dependem das


deformações, e as deformações são funções das componentes dos deslocamentos (𝑢, 𝑣, 𝑤), é
conveniente reescrever a equação (3.5) em função dessas componentes de deslocamento. Para isso,
se utiliza das relações tensões-deformações da teoria da elasticidade dadas em (2.120).

No entanto, devido a simplificação do problema para uma análise bidimensional, as


relações (2.120) se reduzem às apresentadas em (3.6).

𝜎𝑥𝑥 𝜈
𝜀𝑥𝑥 = − 𝜎𝑦𝑦
𝐸 𝐸
𝜎𝑦𝑦 𝜈
𝜀𝑦𝑦 = − 𝜎𝑥𝑥 (3.6)
𝐸 𝐸
𝜎𝑥𝑦 2(1 + 𝜈)
𝛾𝑥𝑦 = = 𝜎𝑥𝑦
𝐺 𝐸

que podem ser reescritas na forma

𝜎𝑥𝑥 = 𝐸𝜀𝑥𝑥 + 𝜈𝜎𝑦𝑦


(3.7)
𝜎𝑦𝑦 = 𝐸𝜀𝑦𝑦 + 𝜈𝜎𝑥𝑥

ou ainda

𝐸
𝜎𝑥𝑥 = (𝜀 + 𝜈𝜀𝑦𝑦 )
1 − 𝜈 2 𝑥𝑥
(3.8)
𝐸
𝜎𝑦𝑦 = (𝜀 + 𝜈𝜀𝑥𝑥 )
1 − 𝜈 2 𝑦𝑦

Os momentos de torção produzem tensões tangenciais 𝜎𝑥𝑦 . A Lei de Hooke vale

𝐸
𝜎𝑥𝑦 = 𝐺𝛾𝑥𝑦 = 𝛾 (3.9)
2(1 + 𝜈) 𝑥𝑦
70

A fim de expressar as componentes de deformação da placa em função das


componentes de deslocamento, toma-se um trecho de comprimento infinitesimal 𝑑𝑥 no plano XZ
para comparação das situações indeformada e deformada. Isto é mostrado na Figura 3.4.

Figura 3.4 - Trecho infinitesimal deformado e indeformado no plano XZ

Fonte: adaptado de SZILARD, 2004

Com base na Figura 3.4 e utilizando das hipóteses 4 e 5 destacadas no início deste
capítulo, pode se expressar o ângulo de rotação das linhas I-I e II-II por, respectivamente

𝜕𝑤
𝜃𝑥 = − (3.10)
𝜕𝑥

𝜕𝜃𝑥
𝜃𝑥 + ∆𝜃𝑥 = 𝜃𝑥 + 𝑑𝑥 (3.11)
𝜕𝑥

Depois da deformação, o segmento de reta ̅̅̅̅


𝐴𝐵 , localizada a uma distância 𝑧 do plano
médio da placa, se torna ̅̅̅̅̅̅
𝐴′𝐵′. Utiliza-se da definição de deformação longitudinal dada na seção
2.2.1 e se obtém
71

̅̅̅̅̅̅
𝐴′𝐵′ − 𝐴𝐵 ̅̅̅̅ [𝑑𝑥 + 𝑧(𝜕𝜃⁄𝜕𝑥)𝑑𝑥] − 𝑑𝑥 𝜕𝜃
𝜀𝑥𝑥 = = =𝑧 (3.12)
̅̅̅̅
𝐴𝐵 𝑑𝑥 𝜕𝑥

Inserindo (3.10) em (3.12) se chega a

𝜕²𝑤
𝜀𝑥𝑥 = −𝑧 (3.13)
𝜕𝑥²

De forma análoga, para um trecho infinitesimal de comprimento 𝑑𝑦 no plano YZ a uma


distância z do plano médio e comparando a situação indeformada e deformada, se tem

𝜕²𝑤
𝜀𝑦𝑦 = −𝑧 (3.14)
𝜕𝑦²

Finalmente, com o intuito de se determinar a distorção angular se considera um trecho


infinitesimal no plano XY a uma distância z do plano médio para comparação da situação
indeformada e deformada. Isto é mostrado na Figura 3.5.

Figura 3.5 - Distorção angular no plano XY

Fonte: SZILARD, 2004


72

A situação apresentada na Figura 3.5 é análoga ao da Figura 2.11 no processo de


determinação da expressão para deformação angular, onde se chegou a expressão (2.69) para 𝛾𝑥𝑦 .

O deslocamento 𝑢, dado pela equação (3.14), é obtido com base no mostrado na Figura
3.4. Admitindo que o ângulo de distorção é muito pequeno, tem-se que sen(𝜗) ≈ 𝜗.

𝜕𝑤
𝑢 = 𝑧𝜃𝑥 = −𝑧 (3.15)
𝜕𝑥

Analogamente, no plano se tem

𝜕𝑤
𝑣 = 𝑧𝜃𝑦 = −𝑧 (3.16)
𝜕𝑦

Desta forma, inserindo (3.15) e (3.16) em (2.69), se obtém

𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕²𝑤
𝛾𝑥𝑦 = 𝛾 ′ + 𝛾 ′′ = + = −2𝑧 (3.17)
𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑥𝜕𝑦

Durante a flexão, os pontos da seção da placa que estavam localizados em um plano


fixo XY sofrem pequenos deslocamentos de translação na direção Z, como mostrado na Figura 3.4.
Estes deslocamentos 𝑤 são conhecidos como deflexões ou flechas da placa. A declividade dessas
deflexões, admitindo que tan(𝜃) ≈ 𝜃, é dada por

𝜕𝑤
𝑖𝑥 = (3.18)
𝜕𝑥

𝜕𝑤
𝑖𝑦 = (3.19)
𝜕𝑦

Segundo Szilard (2004, p.33), as segundas derivadas da deflexão, as quais aparecem


nas equações (3.13) e (3.14) possuem certo significado geométrico. Admitindo que as declividades
do plano central da placa sejam muito pequenas e que o quadrado do ângulo de rotação possa ser
73

desprezado, a curvatura do plano central, na seção no plano XZ ao longo do eixo X, pode ser
definida, aproximadamente, como a segunda derivada da deflexão, mostrada pela equação (3.20).

𝜕²𝑤
𝑘𝑥 = − (3.20)
𝜕𝑥²

De maneira análoga, se obtém a curvatura de um plano paralelo a YZ, dada pela


equação (3.18).

𝜕²𝑤
𝑘𝑦 = − (3.21)
𝜕𝑦²

O sinal negativo nas expressões (3.20) e (3.21) é dado puramente por convenção.
Considera-se uma curvatura positiva se o lado convexo da mesma aponta na direção positiva do
eixo Z. Como, por exemplo, na Figura 3.4, o lado convexo da declividade aponta para baixo, sua
𝜕²𝑤
segunda derivada é negativa.
𝜕𝑥²

A curvatura também pode ser expressa como a taxa de variação do ângulo de rotação
𝜕𝑤
𝜃𝑥 = − 𝜕𝑥 na direção X ao longo dessa curva. No entanto, esse ângulo pode variar também na

direção Y. A variação do ângulo de rotação 𝜃𝑥 na direção Y é dado pela expressão (3.22) e é


conhecido como o empenamento da seção da placa.

𝜕²𝑤
𝜒=− (3.22)
𝜕𝑥𝜕𝑦

Pode-se reescrever as expressões (3.13), (3.14) e (3.17), utilizando os termos


encontrados para curvatura e empenamento em (3.20), (3.21) e (3.22), na forma apresentada em
(3.23).

𝜀𝑥𝑥 = 𝑧𝑘𝑥
(3.23)
𝜀𝑦𝑦 = 𝑧𝑘𝑦
74

𝛾𝑥𝑦 = 2𝑧𝜒

3.1.2 Equação da placa em função do deslocamento w

Para obtenção dos momentos de flexão, é suficiente integrar a componentes de tensão


normal ao longo de sua espessura

+(ℎ⁄2)

𝑚𝑥 = ∫ 𝜎𝑥𝑥 𝑧 𝑑𝑧 (3.24)
−(ℎ⁄2)

+(ℎ⁄2)

𝑚𝑦 = ∫ 𝜎𝑦𝑦 𝑧 𝑑𝑧 (3.25)
−(ℎ⁄2)

De forma análoga, os momentos de torção são obtidos através da integração das tensões
tangenciais

+(ℎ⁄2)

𝑚𝑥𝑦 = ∫ 𝜎𝑥𝑦 𝑧 𝑑𝑧 (3.26)


−(ℎ⁄2)

Substituindo as expressões encontradas em (3.13), (3.14), nas relações deformação-


tensão dadas em (3.6) e rearranjando, se obtém

𝐸𝑧 𝜕²𝑤 𝜕²𝑤
𝜎𝑥𝑥 = − ( +𝜈 ) (3.27)
1 − 𝜈² 𝜕𝑥² 𝜕𝑦²

𝐸𝑧 𝜕²𝑤 𝜕²𝑤
𝜎𝑦𝑦 = − ( +𝜈 ) (3.28)
1 − 𝜈² 𝜕𝑦² 𝜕𝑥²
75

𝐸 𝜕²𝑤
𝜎𝑥𝑦 = − 2𝑧 (3.29)
2(1 − 𝜈) 𝜕𝑥𝜕𝑦

Levando (3.27), (3.28) e (3.29) em (3.24), (3.25) e (3.26), respectivamente, e


integrando, se obtém

𝐸ℎ3 𝜕 2𝑤 𝜕 2𝑤 𝜕 2𝑤 𝜕 2𝑤
𝑚𝑥 = − ( + 𝜈 ) = −𝐷 ( + 𝜈 ) (3.30)
12(1 − 𝜈 2 ) 𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2

𝐸ℎ3 𝜕 2𝑤 𝜕 2𝑤 𝜕 2𝑤 𝜕 2𝑤
𝑚𝑦 = − ( + 𝜈 ) = −𝐷 ( + 𝜈 ) (3.31)
12(1 − 𝜈 2 ) 𝜕𝑦 2 𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑥 2

𝐸ℎ3 (1 − 𝜈) 𝜕²𝑤 𝜕²𝑤


𝑚𝑥𝑦 = 2
= −(1 − 𝜈) 𝐷 (3.32)
12(1 − 𝜈 ) 𝜕𝑥𝜕𝑦 𝜕𝑥𝜕𝑦

Aqui D representa a rigidez por flexão da placa e é dado por

𝐸ℎ3
𝐷= (3.33)
12(1 − 𝜈 2 )

Substituindo as equações (3.30), (3.31) e (3.32) em (3.5) se chega a Equação


Diferencial para Placas Finas com pequenos deslocamentos

𝜕 4𝑤 𝜕 4𝑤 𝜕 4 𝑤 𝑝𝑧 (𝑥, 𝑦)
+2 + 4 = (3.34)
𝜕𝑥 4 𝜕𝑥²𝜕𝑦² 𝜕𝑦 𝐷

3.2 CONDIÇÕES DE CONTORNO

A solução da equação (3.34) deve satisfazer simultaneamente esta equação diferencial


e suas condições de contorno. Como a equação (3.34) é uma equação diferencial de quarta ordem,
são necessárias duas condições de contorno em cada bordo da placa, as quais dependem do modo
76

de suporte da mesma. Essas condições de contorno podem ser a flecha e a declividade, ou força e
momento, ou ainda alguma combinação entre essas quantidades.

Figura 3.6 - Condições de apoio de uma placa retangular qualquer

Fonte: adaptado de VENTSEL e KRAUTHAMMER, 2001

Para demonstrar os casos de condições de contorno mais recorrentes na análise de


placas, se toma uma placa retangular sujeita a modos de apoio diferentes, mostrada pela Figura 3.6.
O bordo para 𝑦 = 0 está engastado, o bordo para 𝑥 = 𝑎 está simplesmente apoiado e o bordo para
𝑦 = 𝑏 está livre.

De cada um desses modos de apoio, se pode inferir as seguintes condições de contorno.

a) Bordo engastado, 𝑦 = 0
Na borda engastada, a flecha e a declividade da mesma possuem valor nulo, isto é

𝑤 = 0|𝑦=0 (3.35)

𝜕𝑤
𝜃𝑦 ≡ = 0| (3.36)
𝜕𝑦 𝑦=0

b) Bordo simplesmente apoiado, 𝑥 = 𝑎

Em bordos simplesmente apoiados a flecha e o momento fletor 𝑀𝑥 são nulos, ou seja


77

𝑤 = 0|𝑥=𝑎 (3.37)

𝜕 2𝑤 𝜕 2𝑤
𝑀𝑥 = −𝐷 ( 2 + 𝜈 2 ) = 0| (3.38)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝑥=𝑎

A expressão (3.37) indica que ao longo do bordo 𝑥 = 𝑎 todas as derivadas de 𝑤 em


𝜕𝑤 𝜕²𝑤
relação a 𝑦 são nulas. Desta forma, se 𝑥 = 𝑎 e 𝑤 = 0, então = = 0.
𝜕𝑦 𝜕𝑦²

c) Bordo livre, 𝑦 = 𝑏
Admite-se que o bordo para 𝑦 = 𝑏 é perfeitamente livre e, desde que não haja tensões
agindo neste bordo, pode-se igualar todas as componentes de tensão atuantes em pontos de 𝑦 = 𝑏
a zero.

𝑀𝑦 = 0|𝑦=𝑏 (3.39)

𝑄𝑦 = 0|𝑦=𝑏 (3.40)

𝑀𝑥𝑦 = 0|𝑦=𝑏 (3.41)

No entanto, a equação diferencial (3.34) não é capaz de acomodar as três condições de


contorno dadas pelas equações (3.39), (3.40) e (3.41). Para superar essa dificuldade, Kirchhoff
mostrou que, para o caso particular da Teoria de Placas Finas com pequenas deformações, as
condições impostas para o momento de torção e a força cortante não são independentes e podem
ser reduzidas a somente uma (VENTSEL e KRAUTHAMMER, 2001, p. 28).

Desta forma, as condições de contorno para bordo livre são as que seguem

𝑀𝑦 = 0|𝑦=𝑏 (3.42)
78

𝑉𝑦 = 0|𝑦=𝑏 (3.43)

onde

𝜕𝑀𝑥𝑦
𝑉𝑦 = 𝑄𝑦 + (3.44)
𝜕𝑥

Ainda no âmbito das condições de contorno, no canto da placa, os momentos de torção


aplicados se somam ao invés de se cancelarem, isso ocorre porque 𝑚𝑥𝑦 = 𝑚𝑦𝑥 . Esse fato ocasiona
a produção de uma força adicional nos cantos da placa, dada por

𝑅0 = 2𝑚𝑥𝑦 (3.45)

Figura 3.7 - Forças de canto na placa

Fonte: adaptado de SZILARD, 2004

Como essa condição normalmente não é desejada, se pode prender os cantos de placas
simplesmente apoiadas evitando, assim, seu levantamento.
79

4 MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

O método dos elementos finitos é uma ferramenta de grande aplicabilidade no âmbito


da engenharia. Consiste em um método numérico computacional cujas soluções são aproximações
da resposta exata do problema, apresentando, na maioria dos casos, boa convergência para os
valores “exatos”. Costuma ser utilizado para problemas governados por equações diferenciais e/ou
equações integrais, por esses serem caracterizados por difícil ou impossível manipulação
matemática.

Zienkiewicz (2005, p.2) define o método dos elementos finitos como um método de
aproximação de problemas no meio contínuo. Para tal, o meio contínuo é dividido em um número
finito de partes (elementos), sendo o comportamento de cada parte especificado por um número
finito de parâmetros. A discretização do meio contínuo é conhecida como malha de elementos. As
soluções são fornecidas em pontos discretos no domínio sob análise, isto é, as incógnitas do
problema são aproximadas nos nós desses elementos. Através de funções de interpolação se pode
determinar os deslocamentos no interior do elemento em função dos deslocamentos nodais. É um
método estritamente computacional, pois é impossível sua resolução manual devido ao grande
número de incógnitas.

Segundo Vaz (2011, p.1) o método dos elementos finitos foi um desenvolvimento
natural da formulação em deslocamentos da análise matricial de estruturas de barras impulsionado
pelo crescimento no uso de computadores. Os métodos se assemelham no uso comum dos conceitos
da matriz de rigidez de elemento, montagem da matriz de rigidez da estrutura a partir da
contribuição das matrizes de rigidez dos elementos e do conceito de forças nodais equivalentes. A
formulação do método pode ser feita, dentre várias possibilidades, a partir do princípio dos
deslocamentos virtuais, do princípio da mínima energia potencial total, do método dos resíduos
ponderados, entre outros.

O método básico em deslocamentos consiste em sintetizar todas as informações


disponíveis sobre o problema analisado em equações de equilíbrio da teoria da elasticidade com
deslocamentos livres como incógnitas. Resolve-se o problema em função dos deslocamentos e,
80

com auxílio das equações básicas da teoria elasticidade, se pode determinar os esforços na estrutura
analisada. Através de conceitos como estados auxiliares, superposição de efeitos e análise matricial
de estruturas de barras, foi possível sistematizar o método dos deslocamentos para qualquer tipo
de estrutura.

O caminho que levou o método básico dos deslocamentos ao MEF foi essencialmente
dado pelo Método de Castigliano, pois esse mostrou um novo caminho para formulação de métodos
para a análise de estruturas baseado em teoremas de energia (VAZ, 2011, p.42). Dessa forma, a
partir do desenvolvimento dos conceitos de energia de deformação, trabalho externo,
deslocamentos virtuais e do princípio da mínima energia potencial total se deu o surgimento do
método dos elementos finitos.

Duas grandes contribuições para a formulação do MEF foram o método de Rayleigh-


Ritz e o método dos resíduos ponderados de Galerkin.

4.1 MÉTODO DE RAYLEIGH-RITZ

Para se resolver um problema de análise estrutural pelo princípio da mínima energia


potencial total é necessário se obter a expressão para a energia de deformação da estrutura
analisada. Em problemas de domínio contínuo, essa expressão é função da função que descreve a
deformação da estrutura analisada. Uma função de função é denominada um funcional. Desta
forma, o problema trata da minimização de um funcional que representa a elástica da estrutura. O
método de Rayleigh-Ritz permite resolver essa situação utilizando uma função aproximadora para
a elástica da estrutura. A solução é dada encontrando as funções polinomiais ou trigonométricas
que satisfaçam às condições de contorno do problema. A grande contribuição desse método foi a
ideia de função aproximadora.

4.2 MÉTODO DOS RESÍDUOS PONDERADOS DE GALERKIN

No método anterior, a ideia de utilizar funções polinomiais aproximadoras estavam


atreladas a existência de um funcional e um correspondente princípio mínimo associado ao
funcional. De forma alternativa a essa situação, é possível estabelecer as equações do MEF
81

diretamente a partir do sistema de equações diferenciais do problema, ou seja, de forma


independente da existência de um funcional e um mínimo associado.

O método de Galerkin implica em admitir uma função aproximadora de modo a


resolver o problema.

Vaz (2011, p.67) explica o método da seguinte forma. Seja esse problema governado
pela equação 𝑢(𝑥), onde 𝑢(𝑥) é função incógnita no domínio do problema e L um operador linear,

𝐿(𝒖(𝑥)) = 0 (4.1)

As correspondentes condições de contorno são dadas por

𝐶(𝒖(𝑥)) = 0 (4.2)

Se a função aproximadora apresentar a forma geral

𝒖𝑎 (𝑥) = ∑ 𝑵𝒊 (𝑥)𝒅𝑖 (4.3)


𝑖=1

onde 𝑁𝑖 (𝑥) são as funções de interpolação das variáveis nodais 𝑑𝑖 que passam a ser incógnitas do
problema.

Obviamente, a utilização da função aproximadora 𝒖𝑎 (𝑥) não satisfaz o problema em


todos os pontos do domínio. Disso resulta uma função resíduo 𝑅(𝑥) da solução.

𝐿(𝒖𝑎 (𝑥)) = 𝑅(𝑥) ≠ 0 (4.4)

Os melhores valores de 𝑑𝑖 são aqueles que reduzem a função resíduo 𝑅(𝑥) de uma
forma integral no domínio do problema. Devido a existência de 𝑛 incógnitas 𝑑𝑖 para o problema,
se necessita de 𝑛 equações para obtê-las. Esse problema é solucionado através das funções de
ponderação 𝑊𝑖 (𝑥), se obtém 𝑛 funções ponderação e, consequentemente, 𝑛 funções da forma
82

∫ 𝑊𝑖 (𝑥)𝑅(𝑥)𝑑𝑥 = 0 (4.5)
𝑣

A expressão acima é a equação fundamental do método dos resíduos ponderados. No


método de Galerkin, as funções de ponderação 𝑊𝑖 (𝑥) são iguais às funções de interpolação 𝑁𝑖 (𝑥).

4.3 FORMULAÇÃO DO MEF

Para aplicação do método dos elementos finitos, se idealiza que o contínuo é formado
por um conjunto de elementos podendo tomar diferentes formas geométricas, como, por exemplo,
triângulos ou quadriláteros. Esses elementos são interligados por nós situados no contorno dos
mesmos, a quantidade de nós é variável e depende da formulação do elemento. Esses são ditos
elementos finitos, podendo ser de uma, duas ou três dimensões.

Na mecânica dos sólidos a formulação do método se dá em deslocamentos, visto que


essa formulação permite a interpolação em um único tipo de variáveis dependentes. A resolução
do método dos elementos finitos se dá nos nós dos elementos, desta forma, obtendo os
deslocamentos nodais do elemento 𝒅𝑚 , se obtém os campos de deslocamento 𝒖𝑚 através das
matrizes de interpolação 𝑵𝑚 . Aqui o subíndice 𝑚 refere-se ao elemento 𝑚, onde 𝑚 varia de 1 até
𝑛, sendo 𝑛 o número total de elementos. A expressão que permite a determinação do campo dos
deslocamentos de cada elemento é dada a seguir.

𝒖𝑚 = 𝑵𝑚 𝒅𝑚 (4.6)

O campo de deformações no interior dos elementos, 𝜺𝑚 , pode ser obtido por derivação
dos campos de deslocamentos 𝒖𝑚 em relação às coordenadas do sistema gerando a expressão

𝜺𝑚 = 𝑩𝑚 𝒅𝑚 (4.7)

onde a matriz 𝑩𝑚 é uma matriz de operadores diferenciais obtida através das relações deformações-
deslocamentos.
83

O campo de tensões no interior dos elementos, 𝝈𝑚 , por sua vez, é obtido a partir das
deformações através das relações constitutivas da teoria da elasticidade. Para um corpo homogêneo
e um material de comportamento linear elástico, é possível definir apenas uma matriz constitutiva
que relaciona as deformações e as tensões no elemento através da expressão

𝝈𝑚 = 𝑪 𝜺𝑚 (4.8)

onde, para materiais isotrópicos, os termos da matriz elástica C dependem apenas de duas
propriedades mecânicas do material, do módulo de elasticidade longitudinal E e do coeficiente de
Poisson ν.

Se define uma matriz de rigidez de 𝑲𝑚 e um vetor de cargas nodais equivalentes 𝒇𝑚


para cada elemento. Esses podem ser obtidos a partir das matrizes geradas 𝑵𝑚 , 𝑩𝑚 e 𝑪.
Combinando as matrizes de rigidez e as cargas nodais equivalentes de cada elemento de forma
adequada, se pode montar a matriz de rigidez global 𝑲𝑔 e o vetor global de cargas nodais 𝒇𝑔 da
estrutura. Os deslocamentos globais são calculados da equação de equilíbrio global da estrutura
dada a seguir.

𝑲𝑔 𝒅𝑔 = 𝒇𝑔 (4.9)

Os deslocamentos nodais de cada elemento 𝒅𝑚 podem ser determinados a partir dos


deslocamentos globais 𝒅𝑔 do domínio.

Fazendo uso das equações apresentadas aqui, se pode determinar as tensões e


deformações em qualquer ponto da estrutura.

A expressão da matriz de rigidez para um elemento finito pode ser obtida por meio da
expressão do princípio dos deslocamentos virtuais generalizado, dada a seguir.

𝑛 𝑉𝑚
∑ ∫ 𝝈𝑇𝑚 𝛿𝜺𝑚 𝑑𝑉𝑚 = 𝒇𝑇 𝛿𝑑 (4.10)
𝑚 =1 0
84

onde

𝝈𝑚 é o vetor referente ao campo de tensões no elemento m,


𝜺𝑚 é o vetor relativo ao campo de deformações no elemento m,
𝛿𝑑 é o vetor de deslocamentos nodais virtuais no domínio,
𝒇𝑇 é o vetor de forças atuantes.

A expressão (4.10) é uma generalização do princípio de conservação de energia, isto é,


𝛿𝑈 = 𝛿𝑊, para o caso em que há várias componentes de tensão e deformação atuando em um
elemento infinitesimal 𝑚 de uma estrutura com 𝑛 elementos. Considerando os vetores das forças
volumétricas 𝒃, superficiais 𝒑 e das forças nodais 𝒇, a expressão (4.10) toma a forma para o
elemento m = 1.

𝑉1 𝑉1 Г1
∫ 𝛿𝜺1𝑇 𝝈1 𝑑𝑉1 = ∫ 𝛿𝒖1𝑇 𝒒𝟏 𝑑𝑉1 + ∫ 𝛿𝒖𝑻𝟏 𝒑1 𝑑Г1 + 𝛿𝒅1𝑇 𝑓1 (4.11)
0 0 0

As integrais em 𝑉1 e Г1 significam, respectivamente, integrais no domínio e no contorno


do elemento 1.

Analogamente às expressões (4.6) e (4.7), se define as seguintes expressões para


deslocamentos virtuais

𝛿𝒖𝑚 = 𝑵 𝛿𝒅𝑚 (4.12)

𝛿𝜺𝑚 = 𝑩 𝛿𝒅𝑚 (4.13)

Para as grandezas reais, as expressões são dadas por

𝒖𝑚 = 𝑵 𝒅𝑚 (4.14)

𝜺𝑚 = 𝑩 𝒅𝑚 (4.15)
85

𝝈𝑚 = 𝑪 𝜺𝑚 = 𝑪 𝑩 𝒅𝑚 (4.16)

Substituindo as expressões de (4.12) a (4.16) na expressão (4.11) se chega a expressão


dada em (4.17). O índice 1 adotado na expressão (4.11) se refere ao único elemento considerado
na análise, aqui será desprezado por questão de generalização.

𝑉 𝑉 Г
𝛿𝒅𝑇 ∫ 𝑩𝑻 𝑪 𝑩 𝑑𝑉 𝒅 = 𝛿𝒅𝑇 (∫ 𝑵𝑇 𝒒 𝑑𝑉 + ∫ 𝑵𝑇 𝒑 𝑑Г + 𝒇𝑚 ) (4.17)
0 0 0

O vetor de deslocamentos virtuais nodais transposto 𝛿𝒅𝑇 que aparece nos dois lados
da expressão acima pode ser removido da equação, resultando

𝑲𝑚 𝒅𝑚 = 𝒇𝑞,𝑚 + 𝒇𝑝,𝑚 + 𝒇𝑚 , (4.18)

onde 𝑲𝑚 é a matriz de rigidez do elemento, 𝒇𝑞,𝑚 o vetor das forças nodais equivalentes para as
cargas de volume, 𝒇𝑝,𝑚 o vetor das forças nodais equivalentes para as cargas de superfície e,
finalmente, 𝒇𝑚 o vetor das forças nodais. Essas grandezas estão definidas pelas expressões a
seguir.

𝑉
𝑲𝑚 = ∫ 𝑩𝑇 𝑪 𝑩 𝑑𝑉 (4.19)
0

𝑉
𝒇𝑞,𝑚 = ∫ 𝑵𝑇 𝒒 𝑑𝑉 (4.20)
0

Г
𝒇𝑝,𝑚 = ∫ 𝑵𝑇 𝒑 𝑑Г (4.21)
0
86

A formulação apresentada foi desenvolvida a partir da condição de estacionariedade do


funcional da energia potencial total, que equivale ao princípio dos deslocamentos virtuais
(SORIANO, 2009, p.168).

O MEF herdou da análise matricial de estruturas de barras, a técnica de montagem da


matriz de rigidez global da estrutura. Esta técnica de montagem consiste em acumular em posições
determinadas da matriz global as contribuições das matrizes de rigidez de cada elemento da malha.
Tanto no método de elementos finitos, quanto na análise matricial de estruturas, a estrutura é
representada por elementos conectados entre si por meio de nós.

Na análise matricial de estruturas, os elementos são barras com um nó em cada


extremidade. No método dos elementos finitos, eles são polígonos ou poliedros e os nós estão, em
geral, no contorno (normalmente nos vértices) dos elementos. As palavras polígono, poliedro e
vértice são usadas aqui de forma livre, uma vez que alguns elementos podem ter lados curvos ou
superfícies laterais curvas. Há também a possibilidade de haver nós no interior do elemento em
alguns elementos finitos, mas esse caso também se adapta bem à técnica de montagem relatada.

Segundo VAZ (2011, p. 76) são duas as ideias básicas utilizadas para a montagem da
matriz de rigidez global.

A primeira ideia impõe associar a cada nó da estrutura graus de liberdade que


dependem do número do nó.

A Figura 4.1 mostra os graus de liberdade (incógnitas) associados a um nó i para um


elemento triangular no plano e para um elemento tetraédrico no espaço.
87

Figura 4.1 - Graus de liberdade (incógnitas) associadas a um nó i

Fonte: VAZ, 2011

A segunda ideia impõe associar a numeração local dos nós em cada elemento à
numeração global dos nós a nível global, ou seja, da estrutura. Isto pode ser feito de forma simples
por aquilo comumente chamado de matriz de incidência. Esta, nada mais é, do que a associação da
numeração dos nós de um elemento com sua numeração global.

A Figura 4.2 mostra a relação entre as numerações local e global dos nós para um
elemento triangular.
88

Figura 4.2 - Relações entre a numeração nodal global e local de um elemento m

Fonte: VAZ, 2011

A união destas duas ideias é mostrada na Figura 4.3.

Figura 4.3 - Relação entre a numeração dos graus de liberdade (incógnitas) global e
local de um elemento m

Fonte: VAZ, 2011


89

Analogamente a forma de montagem da matriz de rigidez global da estrutura, se pode


montar o vetor global de cargas nodais equivalentes 𝒇𝑔 deve ser acumulado com as contribuições
dos vetores das cargas equivalentes nodais que atuam no elemento 𝒇𝑚 respeitando as duas ideias
anteriormente descritas.

A aplicação do método dos elementos finitos para solução de placas finas segue a
formulação em deslocamentos. No capítulo 3 foi deduzida a equação que rege o comportamento
de placas finas com pequenos deslocamentos. Essa equação envolve uma única variável, o
deslocamento de translação normal ao plano da placa.

No entanto, na análise pelo MEF outros dois deslocamentos são considerados como
incógnitas. Os deslocamentos angulares em dois planos ortogonais entre si e ortogonais ao plano
da placa.

No restante deste item são apresentadas as formulações e peculiaridades para os


elementos quadriláteros e triangulares, de quatro e três nós, respectivamente. Esses dois tipos de
elemento foram os utilizados nas soluções computacionais deste trabalho, dados no próximo
capítulo.

4.4 FUNÇÕES DE FORMA PARA ELEMENTOS FINITOS LINEARES

Nas seções anteriores foi apresentada a formulação geral do MEF. Naquele momento
se falou muito das funções de forma ou de interpolação. Assim, nas seções que seguem, essas
funções de forma serão descritas para os elementos triangulares de três nós e quadriláteros de quatro
nós, de uso geral na solução de problemas pelo MEF. Aqui, não é importante o número e o tipo de
incógnitas por nó, mas as ideias gerais de como se dá a formulação de tais funções.

4.4.1 Elementos triangulares de três nós

O elemento triangular linear é considerado o mais simples no âmbito da elasticidade


bidimensional, no entanto, como será constatado no próximo capítulo, requer grande refinamento
de malha para apresentar boa convergência.
90

Esse elemento está mostrado na figura a seguir, onde foi considerado apenas dois
deslocamentos nodais por ponto nodal, isto é, translação 𝑢 na direção 𝑥 e translação 𝑣 na direção
𝑦.

Figura 4.4 - Elemento triangular linear

Fonte: SORIANO, 2009

Como o elemento possui três deslocamentos nodais 𝑢1 , 𝑢2 e 𝑢3 na direção 𝑥 e três


deslocamentos nodais 𝑣1 , 𝑣2 e 𝑣3 na direção 𝑦, arbitra-se as seguintes soluções propositivas
polinomiais com três parâmetros generalizados (SORIANO, 2009, p.170).

𝛼1
𝒖 = [1 𝑥 𝑦] {𝛼2 } (4.22)
𝛼3

𝛼4
𝒗 = [1 𝑥 𝑦] {𝛼5 } (4.23)
𝛼6

Particularizando a situação dada em (4.22) aos pontos nodais de coordenadas (𝑥𝑖 , 𝑦𝑖 )


em que 𝑖 = 1, 2 e 3, se tem
91

𝑢1 1 𝑥1 𝑦1 𝛼1
{𝑢2 } = [1 𝑥2 𝑦2 ] {𝛼2 } (4.24)
𝑢3 1 𝑥3 𝑦3 𝛼3

rearranjando

𝛼1 1 𝑥1 𝑦1 −1 𝑢1
{𝛼2 } = [1 𝑥2 𝑦2 ] {𝑢2 } (4.25)
𝛼3 1 𝑥3 𝑦3 𝑢3

Entrando com (4.25) em (4.22) se chega a

1 𝑥1 𝑦1 −1 𝑢1
𝒖 = [1 𝑥 𝑦] [1 𝑥2 𝑦2 ] {𝑢2 } (4.26)
1 𝑥3 𝑦3 𝑢3

resolvendo

𝑥1 𝑦2 − 𝑦1 𝑥2 𝑢1
1 𝑥2 𝑦3 − 𝑦2 𝑥3 −𝑥1 𝑦3 + 𝑦1 𝑥3
𝒖 = [1 𝑥 𝑦] [ 𝑦2 − 𝑦3 −𝑦1 + 𝑦3 𝑦1 − 𝑦2 ] {𝑢2 } (4.27)
2𝐴𝑚 −𝑥 + 𝑥 𝑥1 − 𝑥3 −𝑥1 + 𝑥2 𝑢3
2 3

onde 𝐴𝑚 é a área do elemento expressa por

1 1 𝑥1 𝑦1
𝐴𝑚 = |1 𝑥2 𝑦2 | (4.28)
2 1 𝑥3 𝑦3

Desta forma, a expressão (4.27) pode ser reescrita de forma mais compacta

𝑢1
𝒖 = [𝑁1 𝑁2 𝑢
𝑁3 ] { 2 } (4.29)
𝑢3
92

onde 𝑁1 , 𝑁2 e 𝑁3 são as funções de interpolação na forma

1
𝑁𝑖 = (𝑎 + 𝑏𝑖 𝑥 + 𝑐𝑖 𝑦) (4.29)
2𝐴𝑒 𝑖
sendo

𝑎1 = 𝑥2 𝑦3 − 𝑦2 𝑥3 𝑎2 = −𝑥1 𝑦3 + 𝑦1 𝑥3 𝑎3 = 𝑥1 𝑦2 − 𝑦1 𝑥2
{ 𝑏1 = 𝑦2 − 𝑦3 , { 𝑏2 = −𝑦1 + 𝑦3 𝑒 { 𝑏3 = 𝑦1 − 𝑦2
𝑐1 = −𝑥2 + 𝑥3 𝑐2 = −𝑥1 − 𝑥3 𝑐3 = −𝑥1 + 𝑥2

Essas funções têm as propriedades do delta ou símbolo de Kronecker (SORIANO,


2009, p. 171).

𝑁𝑖 (𝑥𝑗 , 𝑦𝑗 ) = 𝛿𝑖𝑗
𝑝=3 𝑝=3 𝑝=3
(4.30)
∑ 𝑁𝑖 = 1 , ∑ 𝑁𝑖,𝑥 = 0 , ∑ 𝑁𝑖,𝑦 = 0
{ 𝑖=1 𝑖=1 𝑖=1

Por procedimento análogo, pode-se obter

𝑣1
𝒗 = [𝑁1 𝑁2 𝑣
𝑁3 ] { 2 } (4.31)
𝑣3

Aqui continuam válidas as funções de interpolação dadas (4.29) e (4.30).


A partir do vetor de deslocamentos nodais do elemento 𝒅𝑚 =
[𝑢1 𝑣1 𝑢2 𝑣2 𝑢3 𝑣3 ] se pode escrever o campo de deslocamentos do elemento, como
segue
93

𝑢1
𝑣1
𝑢 𝑁 0 𝑁2 0 𝑁3 0 𝑢2
𝒖𝑚 = { } [ 1 ] = 𝑵𝑚 𝒅𝑚 (4.32)
𝑣 0 𝑁1 0 𝑁2 0 𝑁3 𝑣2
𝑢3
{𝑣3 }

observa-se que essa expressão é idêntica à apresentada em (4.6).

4.4.2 Elementos quadriláteros de quatro nós

O procedimento de obtenção de função de interpolação para elementos triangulares


lineares de três nós se estende a elementos de formas variadas e de ordens mais elevadas, no
entanto, esse procedimento se torna extremamente elaborado nesses casos. Desta forma, é mais
prático construir diretamente as funções de interpolação. Essa abordagem é utilizada no
desenvolvimento do elemento quadrilátero de quatro nós, o qual está mostrado a seguir.

Figura 4.5 - Elemento quadrilateral linear

Fonte: SORIANO, 2009

Primeiramente, são determinadas as funções de interpolação do elemento de quatro


pontos nodais, chamado elemento mestre, esse é mostrado na parte esquerda da Figura 4.5. Esse
elemento possui coordenadas locais normalizadas ortogonais (𝜉, 𝜂), em que (−1 ≤ 𝜉 ≤ +1) e
(−1 ≤ 𝜂 ≤ +1). Como essas funções devem, assim como as funções de interpolação do elemento
triangular, atender à propriedade do delta de Kronecker (4.30), elas podem ser obtidas através da
94

multiplicação de funções lineares na coordenada 𝜉 por funções lineares na coordenada 𝜂. Essas


funções lineares estão dadas em (4.33) e representadas a seguir.

Figura 4.6 - Funções lineares unidimensionais

Fonte: SORIANO, 2009

𝑁1 = 𝑁1 (𝜉)𝑁1 (𝜂)
𝑁2 = 𝑁2 (𝜉)𝑁2 (𝜂)
(4.33)
𝑁3 = 𝑁3 (𝜉)𝑁3 (𝜂)
{𝑁4 = 𝑁4 (𝜉)𝑁4 (𝜂)

isto é

𝑁1 = (1 + 𝜉)(1 + 𝜂)/4
𝑁2 = (1 − 𝜉)(1 + 𝜂)/4
(4.34)
𝑁3 = (1 − 𝜉)(1 − 𝜂)/4
{𝑁4 = (1 + 𝜉)(1 − 𝜂)/4

As funções apresentadas acima são as funções do elemento mestre e têm as


propriedades expressas por (4.30) para 𝑝 = 4. Essas funções têm como característica serem
quadráticas no interior do elemento e lineares em seu contorno.
Com as notações (𝜉𝑖 , 𝜂𝑖 ) para as coordenadas normalizadas do i-ésimo ponto nodal do
elemento mestre, se pode escrever (4.34) de forma compacta da forma que segue
95

1
𝑁𝑖 = (1 + 𝜉𝜉𝑖 )(1 + 𝜂𝜂𝑖 ) (4.35)
4

com 𝑖 = 1, 2, 3 e 4.
Desta forma, escreve-se o campo de deslocamentos do elemento sob a forma

𝑢1

𝑢 𝑵 0 𝑢𝑝
{ }=[ ] (4.36)
𝑣 0 𝑵 𝑣1

𝑣
{ 𝑝}
ou, de forma compacta

𝑝
𝑢 𝑢𝑖
{ } = ∑ {𝑣 } (4.37)
𝑣 𝑖
𝑖=1

Por fim, para obtenção do elemento quadrilátero dado na parte direita da Figura 4.5,
mapeia-se o elemento mestre no sistema 𝜉𝜂 com referencial 𝑥𝑦, através da interpolação das
coordenadas cartesianas (𝑥𝑖 , 𝑦𝑖 ) dos pontos nodais, isto é

𝑥1

𝑥 𝑵 0 𝑥 𝑝 𝑵 0 𝑥𝑚
{𝑦} = [ ] 𝑦 =[ ]{ } (4.38)
0 𝑵 1 0 𝑵 𝑦𝑚

{𝑦𝑝 }
ou, de forma compacta

𝑝
𝑥 𝑥𝑖
{𝑦} = ∑ {𝑦 } (4.39)
𝑖
𝑖=1

De acordo com Soriano (2009, p. 180), as expressões e considerações apresentadas


acima caracterizam a definição isoparamétrica da geometria.
96

No entanto, tem-se ainda um problema adicional. Como as deformações são definidas


através das derivadas dos deslocamentos em relação às coordenadas cartesianas 𝑥𝑦, e as funções
de interpolação obtidas são dadas em função das coordenadas normalizadas 𝜉𝜂, é necessário obter
aquelas derivadas a partir de derivadas em relação a essas coordenadas. Esse problema é facilmente
contornado fazendo uso da matriz Jacobiana dada por

𝑝
𝑁𝑖,𝜉 𝑥𝑖 𝑁𝑖,𝜉 𝑦𝑖
𝑱 = ∑[ ] (4.40)
𝑁𝑖,𝜂 𝑥𝑖 𝑁𝑖,𝜂 𝑦𝑖
𝑖=1

Essa matriz tem o determinante denominado Jacobiano, que relaciona o elemento


infinitesimal de área no sistema coordenadas 𝑥𝑦 para o sistema de coordenadas 𝜉𝜂. A partir do
inverso desse Jacobiano, pode-se determinar as derivadas necessárias à definição das deformações,
tal expressão está dada a seguir (SORIANO, 2009, p. 181).

𝑁𝑖,𝑥 𝑁𝑖,𝜉
{ } = 𝐽−1 { } (4.41)
𝑁𝑖,𝑦 𝑁𝑖,𝜂

4.5 CRITÉRIOS DE CONVERGÊNCIA

No MEF, resultados mais precisos são esperados quando se usa uma malha mais
refinada de elementos. Não podemos esquecer, todavia, que as soluções são aproximadas.

Uma estrutura modelada por elementos finitos é uma estrutura, em geral, mais rígida
que a estrutura real porque as funções aproximadoras usadas para representar o campo de
deslocamentos, na maioria das vezes, não conseguem reproduzir o campo real de deslocamentos
(VAZ, 2011, p.75).

Assim, elas impõem restrições à livre deformação da estrutura de modo que ela possa
minimizar sua energia potencial total. Para garantir que as soluções convirjam para a solução
“exata” no MEF alguns critérios devem ser satisfeitos na sua escolha.

Antes de apresentar os critérios de convergência a serem satisfeitos para que a solução


aproximada via MEF convirja para a solução “exata”, é conveniente falar de completude de um
97

polinômio aproximador. Um polinômio f(x,y) no espaço bidimensional será utilizado para


esclarecer o conceito de completude de um polinômio. O triângulo de Pascal mostrado na Figura
4.7 ilustra os termos de um polinômio completo até o terceiro grau.

Figura 4.7 - Triângulo de pascal

Fonte: ZIENKIEWICZ e TAYLOR, 2005

Como exemplo o polinômio dado a seguir é um polinômio incompleto do terceiro grau,

𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝛼1 + 𝛼2 𝑥 + 𝛼3 𝑦 + 𝛼4 𝑥 2 + 𝛼5 𝑥𝑦 + 𝛼6 𝑦 2 + 𝛼7 𝑥 3 + 𝛼8 𝑦 3 (4.22)

pois não possui todos os termos do polinômio completo, não apresenta os termos em 𝑥 2 𝑦 e em
𝑥𝑦 2 .

Seja ∅(𝑥, 𝑦) uma função aproximadora que descreve o campo de deslocamentos de um


elemento e seja 𝑷(∅(𝑥, 𝑦)) a energia potencial total de uma estrutura modelada com elementos
formulados com essas funções. Suponha que  (∅(𝑥, 𝑦)) contenha derivadas de ordem m de
98

∅(𝑥, 𝑦). Para que a solução se aproxime da solução exata quando se refina a malha com esses
elementos, alguns critérios precisam ser satisfeitos. São denominados critérios de convergência,
dados a seguir:

a) Dentro de cada elemento, a função aproximadora ∅(𝑥, 𝑦) necessita conter um


polinômio completo de grau m.
b) Na fronteira entre elementos, deve haver continuidade em ∅(𝑥, 𝑦) 𝑒 𝑑𝑒 suas
derivadas até a ordem m – 1.
c) As funções de deslocamento devem garantir que as deformações na interface entre
os elementos sejam finitas, mesmo que sejam descontínuas.
Por fim, cabe salientar que elementos incompatíveis (nonconforming elements) devem
se tornar compatíveis com o refinamento da malha. Muitos elementos bem-sucedidos para o
tratamento de flexão de placas são incompatíveis com relação às rotações na fronteira para malhas
pouco refinadas, mas tornam-se compatíveis com o refinamento da malha.
99

5 SOLUÇÕES NUMÉRICO-COMPUTACIONAIS

Este capítulo apresenta os exemplos estudados, bem como as soluções


computacionais pelo método dos elementos finitos com auxílio do software ANSYS e a
comparação dos resultados obtidos com as soluções analíticas “fechadas” já publicadas na
bibliografia pertinente ao tema.

Foram analisados três casos, a saber: placa retangular apoiada nos bordos sujeita a
carga distribuída uniforme, placa quadrada engastada nos bordos sujeita a carga distribuída
uniforme e placa retangular apoiada em todos os bordos sujeita a carga distribuída linear.

Para cada uma dessas situações foram geradas cinco malhas de diferentes
densidades de elementos triangulares e cinco malhas de diferentes densidades de elementos
quadriláteros.

5.1 SOFTWARE ANSYS

O software ANSYS Workbench é um programa computacional comercial


implementado com base no método dos elementos finitos. A empresa disponibiliza em seu site
download gratuito do software para fins acadêmicos. Sua limitação frente a versão comercial se
refere ao número de nós na geração de malhas, podendo resolver problemas com malhas de até 32
mil nós.
O programa possui uma interface gráfica para definição do problema, bem como
geometria a ser analisada, propriedades dos materiais, carregamento, condições de contorno,
definição do elemento, geração da malha, etc. Os resultados são mostrados graficamente na tela
permitindo, por exemplo, identificação visual da geometria, sua deformada e distribuição das
tensões para o caso sob análise.
100

5.1.1 Elemento shell 181

O software permite ao usuário a escolha do elemento a ser utilizado na análise,


disponibilizando um número grande de opções de diferentes características. Para a análise de
placas, a opção escolhida foi o elemento shell 181, elemento genérico para a análise de placas e
cascas, podendo tomar a forma de quadrilátero de quatro nós ou de triângulo de três nós.
O elemento apresenta até seis incógnitas por nó, a saber: três deslocamentos 𝑢, 𝑣 e
𝑤 nas direções 𝑥, 𝑦 e 𝑧, respectivamente, e três rotações 𝜃𝑥 , 𝜃𝑦 e 𝜃𝑧 em torno dos eixos 𝑥, 𝑦 e 𝑧,
respectivamente. No problema de flexão de placas finas retangulares, apenas o deslocamento 𝑤 e
as rotações 𝜃𝑥 e 𝜃𝑦 são de interesse, se admite a placa no plano 𝑥𝑦, desta forma as demais incógnitas
do elemento são desprezadas pelo programa na solução.

5.2 EXEMPLO 1

O primeiro exemplo analisado foi o caso de uma placa retangular apoiada em todos
os bordos. Sua geometria consiste em comprimento 𝑎 de valor igual a 2 𝑚, largura 𝑏 de 1 𝑚 e
espessura de 6,3 𝑚𝑚, como ilustra a Figura 5.1. O material escolhido foi o aço, de modo que suas
propriedades mecânicas de interesse são, módulo de elasticidade 𝐸 e coeficiente de Poisson ν,
valendo respectivamente, 200 𝐺𝑃𝑎 e 0,3. A placa está sujeita a carga uniformemente distribuída
𝑝 de 1kN/m² por toda sua extensão.

Figura 5.1 - Dados do exemplo 1

Fonte: autoral
101

5.2.1 Solução fechada

Solução fechada é o termo utilizado para definir a solução analítica exata de uma
equação diferencial. O problema da flexão de placas finas, como mostrado no capítulo 3, é
governado por uma equação diferencial de quarta ordem. Essa equação é função dos deslocamentos
na direção perpendicular ao plano da placa, bem como das propriedades mecânicas do material
constituinte, das propriedades geométricas da mesma e do carregamento aplicado sobre ela. A
resolução dessa equação permite a determinação dos deslocamentos em qualquer ponto do domínio
da estrutura. A partir das equações básicas da teoria da elasticidade, apresentadas no capítulo 2, se
pode, com base nos deslocamentos, se determinar as componentes de tensão e deformação em
qualquer ponto da placa.

Na bibliografia do tema, há inúmeras publicações que apresentam a solução


analítica desse problema. Young e Budynas (2002, p.502) publicam expressões que permitem a
determinação da tensão máxima e da flecha máxima para placas finas retangulares simplesmente
apoiadas para material com coeficiente de Poisson ν de 0,3. As expressões são as que seguem

𝛽𝑝𝑏 2
𝜎𝑚á𝑥 = (5.1)
ℎ2

−𝛼𝑝𝑏 4
𝑤𝑚á𝑥 = (5.2)
𝐸ℎ3

onde 𝛽 e 𝛼 são coeficientes que variam conforme a razão entre o comprimento 𝑎 e a largura 𝑏 da
placa. Para o exemplo estudado em que 𝑎/𝑏 = 2, tomam os valores 𝛽 = 0,6102 e 𝛼 = 0,1110.
Substituindo esses coeficientes em (5.1) e (5.2) e uniformizando as unidades em Newton (N) e
milímetros (mm), se chega a

0,6102 × (0,001) × (1000)2


𝜎𝑚á𝑥 =
(6,3)2

𝜎𝑚á𝑥 = 15,37 𝑁/𝑚𝑚² = 15,37 𝑀𝑃𝑎


102

−0,1110 × (0,001) × (1000)4


𝑤𝑚á𝑥 =
(200 × 103 ) × (6,3)3

𝑤𝑚á𝑥 = −2,22 𝑚𝑚

onde 𝜎𝑚á𝑥 = 15,37 𝑀𝑃𝑎 e 𝑤𝑚á𝑥 = −2,22 𝑚𝑚 são os valores da tensão máxima e da flecha
máxima, respectivamente, e ambos ocorrem no centro da placa. As expressões dadas em (5.1) e
(5.2) por Young e Budynas tem como referência a obra de Timoshenko e Krieger (1959).

5.2.2 Solução computacional

Foram geradas cinco malhas estruturas de elementos quadriláteros e cinco malhas


de elementos triangulares. O elemento quadrilátero e o elemento triangular estão mostrados na
Figura 5.2. Cada nó apresenta três incógnitas, são elas o deslocamento 𝑤 que ocorre na direção
perpendicular ao plano do elemento, e as rotações 𝜃𝑥 e 𝜃𝑦 que ocorrem em torno dos eixos 𝑥 e 𝑦,
respectivamente, admitindo que a placa se encontra no plano 𝑥𝑦.

Figura 5.2 - Elementos utilizados

Fonte: autoral

As propriedades de cada malha, como número de elementos, número de nós e sua


representação gráfica, são apresentadas nas Tabelas 5.1 e 5.2.
103

Tabela 5.1 - Malha de elementos quadriláteros


Elementos Nós

Malha 1 8 15

Malha 2 32 45

Malha 3 128 153

Malha 4 512 561

Malha 5 2048 2145

Fonte: autoral
104

Tabela 5.2 - Malhas de elementos triangulares


Elementos Nós

Malha 1 16 15

Malha 2 64 45

Malha 3 256 153

Malha 4 1024 561

Malha 5 4096 2145

Fonte: autoral

Nas tabelas apresentadas a seguir, estão publicados os valores encontrados para


flecha máxima e para a tensão máxima através da análise no software ANSYS.

Estão publicados também os valores exatos que permitem a comparação com os


resultados pelo método dos elementos finitos.
105

Tabela 5.3 - Resultados para elementos quadriláteros


Flecha - MEF Flecha - Solução Tensão - MEF Tensão - Solução
(mm) Fechada (mm) (MPa) Fechada (MPa)
Malha 1 -1,68 8,46
Malha 2 -2,09 13,8
Malha 3 -2,19 -2,22 14,99 15,37
Malha 4 -2,21 15,28
Malha 5 -2,21 15,35
Fonte: autoral

Tabela 5.4 - Resultados para elementos triangulares


Flecha - MEF Flecha - Solução Tensão - MEF Tensão - Solução
(mm) Fechada (mm) (MPa) Fechada (MPa)
Malha 1 -0,02 0,48
Malha 2 -0,31 1,91
Malha 3 -1,52 -2,22 10,63 15,37
Malha 4 -2,14 14,84
Malha 5 -2,20 15,32
Fonte: autoral

A Figuras 5.3 mostra a variação da flecha máxima conforme o número nós e tipos
de elementos, tal como a aproximação desses valores da solução dita exata. A Figura 5.4 apresenta
o erro relativo da análise do método dos elementos finitos em relação a solução exata para a flecha
máxima. As Figuras 5.5 e 5.6 são análogas à 5.3 e 5.4 para tensões.
106

Figura 5.3 - Variação da flecha máxima

2,5

2
Flecha (mm)

Flecha - elementos
1,5
quadriláteros
1 Flecha - elementos
triangulares
0,5 Flecha exata
0
15 45 153 561 2145
Número de nós

Fonte: autoral

Figura 5.4 - Erro relativo da flecha máxima


100%

75%
Erro |Relativo (%)

50%
elementos quadriláteros
25% elementos triangulares

0%
15 45 153 561 2145
Número de nós

Fonte: autoral
107

Figura 5.5 - Variação da tensão máxima

15
12,5
Tensão (MPa)

10 Tensão - elementos
quadriláteros
7,5
Tensão - elementos
5 triangulares
2,5 Tensão exata
0
15 45 153 561 2145
Número de nós

Fonte: autoral

Figura 5.6 - Erro relativo da tensão máxima


100%

75%
Erro |Relativo (%)

50%
elementos quadriláteros
25% elementos triangulares

0%
15 45 153 561 2145
Número de nós

Fonte: autoral

Szilard (2004, p.72) apresenta a solução analítica para placas finas retangulares de
largura 𝑎 e comprimento 2𝑎 de bordos apoiados sob carga constante. Tal solução analítica seguiu
a abordagem de Navier por dupla série trigonométrica.

A expressão da curva elástica publicada é


108

∞ ∞
16𝑝𝑏 4 sen(𝑚𝜋𝑥/𝑎) sen(𝑛𝜋𝑦/2𝑎)
𝑤(𝑥,𝑦) = 6
∑∑ (5.3)
𝐷𝜋 𝑚𝑛[𝑚2 + (𝑛2 /4)]²
𝑚=1 𝑛=1

onde

𝐸ℎ3
𝐷= (5.4)
12(1 − 𝜈 2 )

que permite determinar o valor do deslocamento em qualquer ponto da placa de coordenadas (𝑥, 𝑦).

Aqui é de interesse apresentar as deformações obtidas para a curva elástica da placa


ao longo das linhas médias.

Admitindo a placa no plano 𝑥𝑦 mostrado na Figura 5.7,

Figura 5.7 - Placa no plano xy

Fonte: autoral

para o primeiro caso, ao longo da linha média menor, se tem 𝑥 = 𝑎 e 0 ≤ 𝑦 ≤ 𝑎. Deste modo, a
expressão (5.3) toma a forma

∞ ∞
16𝑝𝑏 4 sen(𝑚𝜋) sen(𝑛𝜋𝑦/2𝑎)
𝑤(𝑥,𝑦) = 6
∑∑ (5.5)
𝐷𝜋 𝑚𝑛[𝑚2 + (𝑛2 /4)]²
𝑚=1 𝑛=1
109

Deste modo, apenas os termos da série dada por (5.5) não são nulos para valores
ímpares de 𝑚, 𝑛 = 1, 3, 5, …

As Figura 5.8 e 5.9 mostram a deformada obtida pela expressão (5.5) para valores
de 𝑚, 𝑛 ≤ 20 e os valores dos deslocamentos ao longo da linha média menor obtidas pelas soluções
aproximadas via ANSYS para elementos quadriláteros e triangulares, respectivamente.

Figura 5.8 - Deformada da menor direção da placa para elementos quadriláteros

-0,250,00 0,50 1,00

Malha 1
-0,75 Malha 2
Flecha (mm)

Malha 3
-1,25
Malha 4
Malha 5
-1,75
Solução Fechada
-2,25
Comprimento da placa (m)
Fonte: autoral

Figura 5.9 - Deformada da menor direção da placa para elementos triangulares

-0,250,00 0,50 1,00

Malha 1
-0,75 Malha 2
Flecha (mm)

Malha 3
-1,25
Malha 4
Malha 5
-1,75
Solução Fechada
-2,25
Comprimento da placa (m)
Fonte: autoral
110

A curva elástica ao longo da linha média maior também foi tratada. Neste caso,
𝑦 = 𝑎/2 e 0 ≤ 𝑥 ≤ 2𝑎.

Isto faz a expressão (5.3) tomar a forma

∞ ∞
16𝑝𝑏 4 sen(𝑚𝜋𝑥/𝑎) sen(𝑛𝜋/4)
𝑤(𝑥,𝑦) = 6
∑∑ (5.6)
𝐷𝜋 𝑚𝑛[𝑚2 + (𝑛2 /4)]²
𝑚=1 𝑛=1

para 𝑚, 𝑛 = 1, 3, 5, …

As Figura 5.10 e 5.11 mostram a deformada obtida pela expressão (5.6) (𝑚, 𝑛 =
1, … , 20) e os valores dos deslocamentos ao longo da linha média maior obtidas das soluções
aproximadas pelos ANSYS para elementos quadriláteros e triangulares, respectivamente.

Figura 5.10 - Deformada da maior direção da placa para elementos quadriláteros

-0,250,00 0,50 1,00 1,50 2,00


Malha 1
Malha 2
-0,75
Flecha (mm)

Malha 3
-1,25 Malha 4
Malha 5
-1,75
Solução fechada

-2,25
Comprimento da placa (m)

Fonte: autoral
111

Figura 5.11 - Deformada da maior direção da placa para elementos triangulares

-0,250,00 0,50 1,00 1,50 2,00

Malha 1
-0,75
Malha 2
Flecha (mm)

Malha 3
-1,25
Malha 4
Malha 5
-1,75
Solução fechada

-2,25
Comprimento da placa (m)
Fonte: autoral

5.3 EXEMPLO 2

O segundo exemplo analisado foi o caso de uma placa quadrada engastada em todos
os bordos. Sua geometria consiste em comprimento 𝑎 e largura 𝑏 de 2 𝑚, como ilustra a Figura
5.12. A espessura da mesma foi admitida como 8 𝑚𝑚. O material escolhido foi o aço, de forma
que suas propriedades mecânicas, módulo de elasticidade 𝐸 e coeficiente de Poisson ν, valem
respectivamente, 200 𝐺𝑃𝑎 e 0,3. A placa está sujeita a carga uniformemente distribuída 𝑝 de 2
kN/m² por toda sua área.
112

Figura 5.12 - Dados do exemplo 2

Fonte: autoral

5.3.1 Solução fechada

As expressões que permitem a determinação da tensão máxima no centro do bordo


da placa, da tensão no centro e da flecha máxima para placas finas retangulares engastadas em
todos os bordos estão apresentadas a seguir. Sabendo que essas expressões valem somente para
material com coeficiente de Poisson ν de 0,3 (YOUNG e BUDYNAS, 2002, p.508).

−𝛽1 𝑝𝑏 2
𝜎𝑚á𝑥 = (5.7)
ℎ2

𝛽2 𝑝𝑏 2
𝜎𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜 = (5.8)
ℎ2

−𝛼𝑝𝑏 4
𝑤𝑚á𝑥 = (5.8)
𝐸ℎ3
113

onde 𝛽1, 𝛽2 e 𝛼 são coeficientes que variam conforme a razão entre a largura b e o comprimento a
da placa. Como este exemplo trata de placa quadrada, a relação 𝑎/𝑏 = 1, de forma que os
coeficientes adquirem os valores 𝛽1 = 0,3078, 𝛽2 = 0,1386 e 𝛼 = 0,0138. Substituindo esses
coeficientes em (5.5), (5.6) e (5.7) e uniformizando as unidades em Newton (N) e milímetros (mm),
se chega a

−0,3078 × (0,002) × (2000)2


𝜎𝑚á𝑥 =
(8,0)2

𝜎𝑚á𝑥 = −38,47 𝑁/𝑚𝑚² = −38,47 𝑀𝑃𝑎

0,1386 × (0,002) × (2000)2


𝜎𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜 =
(8,0)2

𝜎𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜 = 17,32 𝑁/𝑚𝑚² = 17,32 𝑀𝑃𝑎

−0,0138 × (0,002) × (2000)4


𝑤𝑚á𝑥 =
(200 × 103 ) × (8,00)3

𝑤𝑚á𝑥 = −4,31 𝑚𝑚

onde 𝜎𝑚á𝑥 = −38,47 𝑀𝑃𝑎, 𝜎𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜 = 17,32 𝑀𝑃𝑎 e 𝑤𝑚á𝑥 = −4,31 𝑚𝑚 são os valores da tensão
máxima que ocorre no ponto central do bordo, da tensão no centro da placa e da flecha máxima
que ocorre no centro da placa.

Reddy (2007, p.291) afirma que a solução exata para a flecha máxima é a publicada
por Timoshenko e Woinowsky-Krieger (1959, p.202) e é dada pela expressão 𝑤 =
0,00126(𝑝𝑎4 /𝐷). Substituindo 𝐷 = 𝐸ℎ3 /12(1 − 𝜈 2 ) para 𝜈 = 0,3 e rearranjando se chega a
mesma expressão publicada por Young e Budynas dada em (5.9).
114

5.3.2 Solução computacional

O problema foi resolvido através do software ANSYS. Foram geradas cinco malhas
de elementos quadriláteros de 4 nós e cinco malhas de elementos triangulares de 3 nós. As Tabelas
5.5 e 5.6 apresentam as propriedades de cada malha, como número de elementos, número de nós e
sua representação gráfica, obtida através do software ANSYS.
115

Tabela 5.5 - Malhas de elementos quadriláteros


Elementos Nós

Malha 1 16 25

Malha 2 64 81

Malha 3 256 289

Malha 4 1024 1089

Malha 5 4096 4225

Fonte: autoral
116

Tabela 5.6 - Malhas de elementos triangulares


Elementos Nós

Malha 1 32 25

Malha 2 128 81

Malha 3 512 289

Malha 4 2048 1089

Malha 5 8192 4225

Fonte: autoral
117

Nas Tabelas 5.7, 5.8, 5.9 e 5.10 estão publicados os valores encontrados para flecha
máxima, tensão máxima e tensão no centro da placa. Estão publicados também os valores exatos
para comparação com a análise pelo método dos elementos finitos.

Tabela 5.7 - Resultados da flecha para elementos quadriláteros


Flecha - MEF Flecha - Solução
(mm) Fechada (mm)
Malha 1 -8,90
Malha 2 -4,32
Malha 3 -4,32 -4,31
Malha 4 -4,32
Malha 5 -4,31
Fonte: autoral

Tabela 5.8 - Resultados da flecha para elementos triangulares


Flecha - MEF Flecha - Solução
(mm) Fechada (mm)
Malha 1 -0,04
Malha 2 -0,63
Malha 3 -3,08 -4,31
Malha 4 -4,19
Malha 5 -4,30
Fonte: autoral
118

Tabela 5.9 - Resultados de tensão para elementos quadriláteros


Tensão no Tensão no centro - Tensão Tensão máxima -
centro - MEF Solução Fechada máxima - Solução Fechada
(MPa) (MPa) MEF (MPa) (MPa)
Malha 1 24,03 -16,63
Malha 2 16,66 -21,84
Malha 3 17,05 17,32 -29,28 -38,47
Malha 4 17,15 -33,62
Malha 5 17,17 -35,99
Fonte: autoral

Tabela 5.10 - Resultados de tensão para elementos triangulares


Tensão no Tensão no centro - Tensão Tensão máxima -
centro - MEF Solução Fechada máxima - Solução Fechada
(MPa) (MPa) MEF (MPa) (MPa)
Malha 1 0,13 -0,08
Malha 2 3,46 -2,56
Malha 3 12,89 17,32 -19,94 -38,47
Malha 4 16,70 -32,64
Malha 5 17,13 -35,91
Fonte: autoral

As Figuras 5.13, 5.15 e 5.17 mostram a variação da flecha máxima e das tensões
conforme o número nós e tipos de elementos, tal como a aproximação desses valores da solução
fechada. As Figuras 5.14, 5.16 e 5.18 apresentam o erro relativo das respectivas análises do método
dos elementos finitos em relação a solução exata.
119

Figura 5.13 - Variação da flecha máxima

10,00

7,50
Flecha (mm)

Flecha - elementos
5,00 quadriláteros
Flecha - elementos
2,50 triangulares
Flecha exata
0,00
25 81 289 1089 4225
Número de nós

Fonte: autoral

Figura 5.14 - Erro relativo da flecha máxima


125%
100%
Erro |Relativo (%)

75%
50% elementos quadriláteros
elementos triangulares
25%
0%
25 81 289 1089 4225
Número de nós

Fonte: autoral
120

Figura 5.15 - Variação da tensão no centro da placa

25,00

20,00
Tensão (MPa)

Tensão - elementos
15,00
quadriláteros
10,00 Tensão - elementos
triangulares
5,00 Tensão exata
0,00
25 81 289 1089 4225
Número de nós

Fonte: autoral

Figura 5.16 - Erro relativo da tensão no centro da placa


100%

75%
Erro |Relativo (%)

50%
elementos quadriláteros
25% elementos triangulares

0%
25 81 289 1089 4225
Número de nós

Fonte: autoral
121

Figura 5.17 - Variação da tensão máxima no bordo

40
35
30
Tensão (MPa)

25 Tensão - elementos
quadriláteros
20
15 Tensão - elementos
triangulares
10
Tensão exata
5
0
25 81 289 1089 4225
Número de nós

Fonte: autoral

Figura 5.18 - Erro relativo da tensão máxima no bordo


100%

75%
Erro |Relativo (%)

50%
elementos quadriláteros
25% elementos triangulares

0%
25 81 289 1089 4225
Número de nós

Fonte: autoral

As Figuras 5.19 e 5.20 publicam as deformadas da linha média da placa obtidas


através do software ANSYS para elementos quadriláteros e triangulares. A expressão para a
deformada exata não foi encontrada na bibliografia, isto é justificado por Reddy (2007, p.291), o
qual afirma que os métodos de Navier ou Lévy não podem ser utilizados para a solução de placas
com todos os bordos engastados.
122

Figura 5.19 - Deformada da linha média da placa para elementos quadriláteros

0,00
-1,000,00 0,50 1,00 1,50 2,00
-2,00
-3,00 Malha 1
-4,00 Malha 2
Flecha (mm)

-5,00
Malha 3
-6,00
-7,00 Malha 4
-8,00 Malha 5
-9,00
-10,00
Comprimento da placa (m)
Fonte: autoral

Figura 5.20 - Deformada da linha média da placa para elementos triangulares

0,00
-0,500,00 0,50 1,00 1,50 2,00
-1,00
-1,50 Malha 1
-2,00 Malha 2
Flecha (mm)

-2,50 Malha 3
-3,00 Malha 4
-3,50 Malha 5
-4,00
-4,50
Comprimento da placa (m)
Fonte: autoral
123

5.4 EXEMPLO 3

Por fim, o terceiro exemplo analisado foi o de uma placa quadrada apoiada em todos
os bordos. Sua geometria consiste em comprimento 𝑎 e largura 𝑏 de 2 𝑚, como ilustra a Figura
5.21. A espessura da mesma foi admitida como 9,5 𝑚𝑚. O material escolhido foi o aço, de forma
que suas propriedades mecânicas, módulo de elasticidade 𝐸 e coeficiente de Poisson ν, valem
respectivamente, 200 𝐺𝑃𝑎 e 0,3. A placa está sujeita a carga distribuída linear de valor máximo
igual a 2 kN/m².

Figura 5.21 - Dados do exemplo 3

Fonte: autoral

5.4.1 Solução fechada

Szilard (2004, p.74) apresenta a solução analítica para placa fina retangular de
largura 𝑎 e comprimento 𝑏 de bordos apoiados sob carga linear. A expressão da curva elástica
publicada é
124

∞ ∞
8𝑝 (−1)𝑚+1 sen(𝑚𝜋𝑥/𝑎) sen(𝑛𝜋𝑦/𝑏)
𝑤(𝑥,𝑦) =− 6 ∑ ∑ (5.10)
𝐷𝜋 𝑚𝑛[(𝑚2 /𝑎²) + (𝑛2 /𝑏 2 )]²
𝑚=1,2,3,… 𝑛=1,2,3,…

Resolvendo a expressão (5.10) para o caso 𝑎 = 𝑏, e fazendo 𝑥 = 𝑦 = 𝑎/2, se chega


a expressão para a flecha no centro da placa, dada por (5.10). Esta mesma expressão é encontrada
por Timoshenko e Woinowsky-Krieger (1959, p.125).

𝑝𝑎4
𝑤𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜 = − 0,00203 (5.10)
𝐷

Substituindo as informações do problema na expressão acima e uniformizando as unidades em


Newton (N) e milímetros (mm), se chega a

(0,002) × (2000)4
𝑤𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜 = − 0,00203
(200 × 103 ) × (9,5)3
12(1 − 0,32 )

𝑤𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜 = − 4,14 mm

Young e Budynas (2002, p.503) publicam ainda expressões que permitem a


determinação da flecha máxima e da tensão máxima para placas finas retangulares apoiadas em
todos os bordos sujeitas a carga linear, estas estão apresentadas a seguir. Ressaltando que essas
expressões valem somente para material com coeficiente de Poisson ν de 0,3.

−𝛼𝑝𝑏 4
𝑤𝑚á𝑥 = (5.11)
𝐸ℎ3

𝛽𝑝𝑏 2
𝜎𝑚á𝑥 = (5.12)
ℎ2
125

onde 𝛼 e 𝛽 são coeficientes que variam conforme a razão entre a largura b e o comprimento a da
placa. Como este exemplo trata de placa quadrada, a relação 𝑎/𝑏 = 1, de forma que os coeficientes
adquirem os valores 𝛼 = 0,022 e 𝛽 = 0,16 Substituindo esses coeficientes em (5.11) e (5.12) e
uniformizando as unidades em Newton (N) e milímetros (mm), se chega a

−0,022 × (0,002) × (2000)4


𝑤𝑚á𝑥 =
(200 × 103 ) × (9,5)3

𝑤𝑚á𝑥 = −4,11 𝑚𝑚

0,16 × (0,002) × (2000)2


𝜎𝑚á𝑥 =
(9,5)2

𝜎𝑚á𝑥 = 14,18 𝑁/𝑚𝑚² = 14,18 𝑀𝑃𝑎

onde 𝑤𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜 = −4,14 𝑚𝑚, 𝑤𝑚á𝑥 = −4,11 𝑚𝑚 e 𝜎𝑚á𝑥 = 14,18 𝑀𝑃𝑎 são os valores da flecha no
centro da placa, da flecha máxima e da tensão máxima na placa.

No entanto, observando que o valor encontrado para a flecha central é maior que a
flecha máxima, se procurou investigar esta incoerência em outras referências bibliográficas.
Ventsel e Krauthammer (2001, p. 78) publicam a mesma expressão dada em (5.10) para a flecha
central e apresentam a seguinte expressão para flecha máxima

𝑝𝑎4
𝑤𝑚á𝑥 = − 0,00206 (5.13)
𝐷

Tal expressão é idêntica a publicada por Szilard (2001, p.75) e Timoshenko e Krieger (1959,
p.125). Substituindo os valores do problema nas unidades Newton (N) e milímetros (mm), se chega
a
126

(0,002) × (2000)4
𝑤𝑚á𝑥 = − 0,00206
(200 × 103 ) × (9,5)3
12(1 − 0,32 )

𝑤𝑚á𝑥 = − 4,18 mm

desta forma, o valor 𝑤𝑚á𝑥 = − 4,18 𝑚𝑚 será tomado como referência para flecha máxima.

5.4.2 Solução computacional

O problema foi resolvido através do software ANSYS. De forma que a placa possui
as mesmas dimensões no plano da placa do exemplo 2, foram utilizadas as mesmas malhas e
elementos desse. As propriedades dessas malhas, como número de elementos, número de nós e sua
representação gráfica foram apresentadas nas Tabelas 5.5 e 5.6.

Nas Tabelas 5.11, 5.12, 5.13 e 5.14 estão publicados os valores encontrados para
flecha no centro da placa, flecha máxima e tensão máxima para elementos quadriláteros e
elementos triangulares. Estão publicados também os valores exatos para comparação com a análise
pelo método dos elementos finitos.

Tabela 5.11 - Resultados da flecha para elementos quadriláteros


Flecha no Flecha no centro - Flecha Flecha máxima -
centro - MEF Solução Fechada máxima - Solução Fechada
(mm) (mm) MEF (mm) (mm)
Malha 1 -4,15 -4,15
Malha 2 -4,14 -4,14
Malha 3 -4,14 -4,14 -4,18 -4,18
Malha 4 -4,14 -4,18
Malha 5 -4,14 -4,19
Fonte: autoral
127

Tabela 5.12 - Resultados da flecha para elementos triangulares


Flecha no Flecha no centro - Flecha Flecha máxima -
centro - MEF Solução Fechada máxima - Solução Fechada
(mm) (mm) MEF (mm) (mm)
Malha 1 -0,81 -0,81
Malha 2 -1,80 -1,80
Malha 3 -3,65 -4,14 -3,68 -4,18
Malha 4 -4,09 -4,14
Malha 5 -4,14 -4,18
Fonte: autoral

Tabela 5.13 - Resultados de tensão para elementos quadriláteros


Tensão Tensão máxima -
máxima - Solução Fechada
MEF (MPa) (MPa)
Malha 1 11,12
Malha 2 13,68
Malha 3 12,94 14,18
Malha 4 14,32
Malha 5 14,36
Fonte: autoral.
128

Tabela 5.14 - Resultados de tensão para elementos triangulares


Tensão Tensão máxima -
máxima - Solução Fechada
MEF (MPa) (MPa)
Malha 1 4,09
Malha 2 6,99
Malha 3 11,59 14,18
Malha 4 12,90
Malha 5 14,34
Fonte: autoral

As Figuras 5.22, 5.24 e 5.26 mostram a variação da flecha no centro da placa, da


flecha máxima e da tensão máxima conforme o número nós e tipos de elementos, tal como a
aproximação desses valores da solução fechada. As Figuras 5.23, 5.25 e 5.27 apresentam o erro
relativo das respectivas análises do método dos elementos finitos em relação a solução exata. A
curva para os elementos quadriláteros para a flecha central na Figura 5.22 e para a flecha máxima
na Figura 5.24 não aparecem pois estão coincidindo com a flecha exata. Isto é ratificado pelas
Figuras 5.23 e 5.25, onde a curva do erro relativo das respectivas soluções é uma reta em 0%.

Figura 5.22 - Variação da flecha no centro

5,00

4,00
Flecha (mm)

Flecha - elementos
3,00
quadriláteros
2,00 Flecha - elementos
triangulares
1,00 Flecha exata
0,00
25 81 289 1089 4225
Número de nós

Fonte: autoral
129

Figura 5.23 - Erro relativo da flecha no centro

100%

75%
Erro |Relativo (%)

50%
elementos quadriláteros

25% elementos triangulares

0%
25 81 289 1089 4225
Número de nós

Fonte: autoral

Figura 5.24 - Variação da flecha máxima

5,00

4,00
Flecha (mm)

Flecha - elementos
3,00
quadriláteros
2,00 Flecha - elementos
triangulares
1,00 Flecha exata
0,00
25 81 289 1089 4225
Número de nós

Fonte: autoral
130

Figura 5.25 - Erro relativo da flecha máxima


100%

75%
Erro |Relativo (%)

50%
elementos quadriláteros
25% elementos triangulares

0%
25 81 289 1089 4225
Número de nós

Fonte: autoral

Figura 5.26 - Variação da tensão máxima

15
Tensão (MPa)

10 Tensão - elementos
quadriláteros
Tensão - elementos
5 triangulares
Tensão exata
0
25 81 289 1089 4225
Número de nós

Fonte: autoral
131

Figura 5.27 - Erro relativo da tensão máxima


100%

75%
Erro |Relativo (%)

50%
elementos quadriláteros
25% elementos triangulares

0%
25 81 289 1089 4225
Número de nós

Fonte: autoral

Aqui é de interesse apresentar as deformações obtidas para a curva elástica da placa


ao longo da linha média na direção da variação do carregamento. Isto é indicado pela direção do
eixo 𝑥 na Figura 5.20, admitindo a placa no plano 𝑥𝑦.

Figura 5.28 - Placa no plano xy

Fonte: autoral
132

Tomando a expressão da curva elástica dada em (5.10) e rearranjando para o caso


𝑎 = 𝑏, 𝑦 = 𝑎/2 e 0 ≤ 𝑥 ≤ 𝑎, a expressão toma a forma

∞ ∞
8𝑝 (−1)𝑚+1 sen(𝑚𝜋𝑥/𝑎) sen(𝑛𝜋/2)
𝑤(𝑥,𝑦) =− 6 ∑ ∑ (5.14)
𝐷𝜋 𝑚5 𝑛5 /𝑎4
𝑚=1,2,3,… 𝑛=1,2,3,…

As Figuras 5.29 e 5.30 mostram a deformada obtida pela expressão (5.14) para
valores de 𝑚, 𝑛 ≤ 20 e os valores dos deslocamentos ao longo da linha média obtidos pelas
soluções aproximadas via ANSYS para elementos quadriláteros e triangulares, respectivamente.

Figura 5.29 - Deformada da linha média da placa para elementos quadriláteros

0,00
-0,500,00 0,50 1,00 1,50 2,00
-1,00
-1,50 Malha 1
Flecha (mm)

-2,00 Malha 2
-2,50 Malha 3
-3,00 Malha 4
-3,50 Malha 5
-4,00 Solução fechada
-4,50
-5,00
Comprimento da placa (m)

Fonte: autoral
133

Figura 5.30 - Deformada da linha média da placa para elementos triangulares

0,00
-0,500,00 0,50 1,00 1,50 2,00

-1,00
Malha 1
-1,50
Malha 2
-2,00
Flecha (mm)

Malha 3
-2,50
Malha 4
-3,00
Malha 5
-3,50
Solução fechada
-4,00
-4,50
Comprimento da placa (m)
Fonte: autoral
134

6 CONCLUSÕES

Neste trabalho, foi apresentada uma comparação de soluções analíticas de placas


finas com pequenas deformações com as soluções numérico-computacionais aproximadas obtida
pelo método dos elementos finitos.

O objetivo da teoria de placas finas é reduzir um problema tridimensional a um


problema bidimensional aproximado. Esta pode ser desenvolvida para pequenos ou grandes
deslocamentos. O presente trabalho se propôs à análise do primeiro caso. No entanto, há
divergência na literatura a respeito da relação entre espessura e flecha máxima da placa para a
consideração de pequenos deslocamentos. Szilard (2004, p.23) afirma que o limite da teoria de
pequenos deslocamentos é que a flecha não pode ultrapassar o valor de um décimo da espessura,
isto é 𝑤 ≤ 0,1ℎ. Timoshenko e Krieger (1959, p.1) não definem relação entre a espessura e a
flecha, apenas constatam que se os deslocamentos da placa forem pequenos em relação à espessura
se pode desenvolver uma aproximação muito satisfatória da teoria de flexão de placas. Ventsel e
Krauthammer (2001, p. 224) indicam que a teoria de Kirchhoff para placas finas só é válida para
deslocamentos menores ou iguais a um quinto da espessura da placa, ou seja, 𝑤 ≤ 0,2ℎ. Ocorre
que, se os deslocamentos aumentam até certo nível, surge tração no plano central da placa,
passando a se comportar como membrana.

No primeiro exemplo deste trabalho, a relação entre a espessura e a flecha máxima


ficou em 𝑤 = 0,35ℎ, no segundo 𝑤 = 0,54ℎ e no terceiro 𝑤 = 0,44ℎ. Nota-se que as relações
ficaram maiores que as indicadas pela literatura, no entanto, como pode ser observado no capítulo
anterior, as soluções computacionais apresentaram muito boa aproximação em deslocamentos.

Existe na literatura também, diretrizes a respeito da geometria da placa para a


mesma ser considerada fina. Szilard (2004, p.5) afirma que a relação entre o lado e a espessura
deve estar entre 10 e 50, para casos em que essa relação é maior do que 50 a placa se comportaria
como uma membrana. Reddy (2007, p.121) estabelece que essa relação deve ser maior que 30, no
entanto, não faz referência ao limite em que a placa começa a atuar como membrana. Ventsel e
Krauthammer (2001, p. 14) indicam que a placa é considerada fina para relações entre lado e
135

espessura variando entre, aproximadamente, 10 e 100. Para relações maiores que 100 afirma que a
placa apresenta comportamento de membrana. As relações obtidas nos exemplos deste trabalho
são, para o primeiro, 320, para o segundo, 250 e, para o terceiro, 210. Placas que são referidas
como membranas não possuem rigidez a flexão, desta forma, não resistem a seus carregamentos
por flexão e sim por tração axial, conhecidas como forças de membrana. Ocorre que, na análise
computacional, verificou-se o aparecimento de tensões de flexão na placa, e as mesmas obtiveram
boa convergência aos valores apresentados na bibliografia da teoria de placas finas. Assim,
questiona-se se o limite entre a teoria de membrana e de placas finas não deveria ser dado em
função de mais variáveis, como intensidade do carregamento e material da estrutura, e não somente
da relação entre lado e espessura.

Pode-se observar, através da comparação da análise computacional pelo método dos


elementos finitos com o valor da solução fechada publicada na literatura, que com o aumento da
densidade das malhas, os resultados convergiram para a resposta “exata”. Isto é esperado dado que
é uma característica intrínseca do método dos elementos finitos. Como as soluções são dadas nos
nós dos elementos utilizados para discretizar o meio contínuo, quanto maior o número de nós,
melhor a aproximação da resposta exata.

Verificou-se, também, que os elementos quadriláteros obtiveram uma aproximação


melhor do que os triangulares. Isso é salientado por Soriano (2009, p.31), que afirma que na análise
de placas, os elementos quadriláteros costumam ter melhor comportamento do que os triangulares.

Além disso, constatou-se que as deformações convergiram para a resposta exata


com um menor número de nós do que as tensões. Isso pode ser explicado pelo fato de que os
elementos utilizados na análise foram lineares, isto é, possuem pontos nodais apenas em seus
vértices. Para elementos lineares, o campo de deslocamentos no elemento é dado por funções de
interpolação de primeira ordem. Soriano (2009, p.214) explica que nas soluções obtidas em
deslocamentos, as tensões são obtidas através da lei constitutiva. Por outro lado, da teoria da
elasticidade, se sabe que as componentes de deformação são função das primeiras derivadas dos
deslocamentos. Para elementos triangulares e quadriláteros lineares, o campo de deslocamentos
descrito possui grau um, de modo que os correspondentes campos de deformação e tensão no
interior do elemento são constantes. Isso caracteriza a possibilidade de descontinuidade na fronteira
136

dos elementos. Apesar desses fatos, os elementos lineares utilizados apresentaram boa
convergência para os valores exatos de tensões.

Optou-se pela utilização de elementos lineares pois os mesmos apresentaram boa


convergência para a solução exata sem a necessidade de um número muito grande de elementos ou
nós. Como o interesse do trabalho se deu na utilização do método dos elementos finitos para a
solução de placas finas e não em uma investigação teórica sobre os elementos, não se viu
necessidade da implementação dos elementos quadráticos.

Diante do exposto, este trabalho abordou temas relevantes no âmbito da mecânica


estrutural que normalmente são tratados em cursos de pós-graduação de engenharia civil. Desta
forma, o estudo dos elementos principais da teoria da elasticidade, da teoria de flexão de placas
finas e do método dos elementos finitos alcançou patamares de estudo além daqueles esperados na
graduação, o que agrega aprendizado significativo. Além do que, a utilização do software ANSYS
para obtenção das soluções numérico-computacionais permitiu o contato com este tipo de análise,
a qual é comumente utilizada na concepção de projetos na prática da engenharia civil.

Se sugere que este trabalho de graduação tenha continuidade dentro do tema de


obtenção de soluções aproximadas para placas, venham a abordar a análise de placas finas
circulares, elementos finitos de ordem quadrática e placas espessas pela teoria de Reissner-Mindlin.
137

REFERÊNCIAS

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Mecânica Estrutural. 1. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.

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Dinâmica das Estruturas. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda., 2009.

SRINATH, L. S. Advanced Mechanics of Solids. 3 ed. New Delhi: Tata McGraw-Hill Publishing
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138

VENTSEL, Eduard. KRAUTHAMMER, Theodor. Thin Plates and Shells: Theory, Analysis,
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VILLAÇA, Sergio Fernandes; GARCIA, Luiz Fernando Taborda. Introdução à Teoria da


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YOUNG, W. C.; BUDYNAS, R. G. Roark's Formulas of Stress and Strain. 7ed. New York:
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ZIENKIEWICZ, O.C., TAYLOR, R.L.; ZHU, J.Z. The Finite Element Method: Its Basis and
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