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Inclui bibliogra…a.
ISBN 978-85-907153-1-3
CDD-620.105
Índices para catálogo sistemático:
1. O Método de Elementos Finitos aplicado à
Mecânica dos Sólidos: Engenharia civil 620.1
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, por
qualquer processo, sem a permissão expressa dos editores. É proibida a reprodução por xerox.
1a edição - 2019
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Sobre os autores
O prof. Paulo de Tarso possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade de Brasília
(1980), mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Santa Catarina (1983) e
doutorado em Engenharia Mecânica no Departamento de Engenharia Aeroespacial da Universidade
de Minnesota (1995). No período de 2012/2013 realizou atividades de pesquisa no Laboratoire de
Mechanique et Technologie da École Normale Superieure de Cachan, França, na área de estimativa
a-posteriori de erros em modelos numéricos. Desde 1984 trabalha na Universidade Federal de Santa
Catarina, Departamento de Engenharia Mecânica, onde atualmente é Professor Titular. Concentra
suas atividades na área de Mecânica dos Sólidos Computacional, atuando principalmente nos seguintes
temas: desenvolvimento do método de elementos …nitos, com ênfase em elementos …nitos generalizados,
modelagem do comportamento de componentes mecânicos de materiais compostos e estimativa de erros
de modelagem e de modelo.
O Prof. Eduardo A. Fancello possui graduação em Ingeniería Mecánica Electricista pela Univer-
sidad Nacional de Córdoba (1987), mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (1989) e doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (1993). No período de 2004/2005 realizou atividades de pesquisa na Universidade de Liège,
Bélgica, na área de modelagem constitutiva. Atualmente é Professor Titular no Departamento de En-
genharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Mecânica dos
Sólidos Computacional, concentra suas pesquisas em: a) desenvolvimento de modelos constitutivos e
ensaios experimentais aplicados preferencialmente a polímeros termoplásticos e tecidos biológicos; b)
aplicações em Biomecânica; c) otimização topológica em Mecânica dos Sólidos.
Sumário
Prefácio xvii
Lista de símbolos xx
Prefácio xvii
Lista de símbolos xx
Bibliogra…a 679
Ao …nal de cada capítulo, uma lista de exercícios é proposta como forma de …xar os conteúdos
e desenvolver a autocon…ança. A maioria dos exemplos pode ser resolvida usando um software
comercial como o Ansys R ou o Abaqus R dentre outros, além de manipuladores simbólicos como
o Mathematica R ou Maple R . Adicionalmente, diversos problemas são propostos para o estudante
adquir destreza em programação dos algorítmos. O trabalho do engenheiro no projeto e análise de
estruturas através de elementos …nitos é sempre feito baseado em um programa já disponível, quer
seja um código próprio ou um código comercial de grande porte. Os códigos comerciais possuem
a vantagem de permitir análise de diversos tipos de fenômenos e, principalmente, possuem inter-
faceamento grá…co para manipulação de dados de geração de dados e visualização de resultados. É
uma característica marcante do método a de necessitar quantidades muito grandes desses dados,
de forma que os programas de elementos …nitos possuem uma vasta quantidade de procedimentos
e comandos que permitam sua operação. Essa quantidade de procedimentos implica sempre numa
maior ou menor complexidade em sua operação e tempo de aprendizagem. Assim, o engenheiro que
deseja quali…car-se como analista estrutural enfrenta múltiplas exigências em seu aprendizado: ele
deve adquirir conhecimento teórico sobre o método, através de cursos como o descrito no presente
texto, e simultaneamente, deve adquirir destreza na operação de um ou mais programas comerciais.
Finalmente, no âmbito de pesquisa, é necessária a capacidade de programação.
Origens históricas do método de elementos …nitos
A origem do método de elementos …nitos pode se tornar di…cil de identi…car, pois alguns tra-
balhos matemáticos, espalhados desde o século 18 até meados do 20, podem ser vistos como ap-
resentando algumas das ideias do método. Existem diversas tentativas de escrever a história do
método e, curiosamente, sob certos aspectos, elas apresentam diferenças no que são considerados os
pontos mais importantes. Alguns artigos de levantamento históricos são os de Oden, 1990 [78] e o
de Clough e Wilson, 2010 [24] que traça uma história até o início os anos 1970.
Em geral, a comunidade de engenharia e de matemática costuma marcar dois trabalhos como
a origem “o…cial” do método. O primeiro é um artigo de Courant, de 1943 [27] (e similarmente o
de Polya em 1952 [84]), em cujo apêndice ele descreve uma aproximação por funções lineares por
partes para um problema de Dirichlet usando triângulos. É interessante observar que o primeiro
computador eletrônico, digital e programavel, de uso público, o ENIAC, foi colocado em operação
dois anos depois, em …nal de 1945, na Universidade da Pensilvânia. Os primeiros dois computadores
da história, a bomba de Turing e o Colossus, haviam sido desenvolvido e construidos na Inglaterra
durante a segunda guerra, porém foram construidos sob secredo de guerra, sendo o primeiro desmon-
tado logo em seguida.
O segundo trabalho chave é o célebre artigo de Turner, Clough, Martin e Topp, de 1956, [103]
em que uma aproximação local foi obtida de maneira consistente para as equações de elastoestática,
já com o uso de algumas estratégias essenciais ao MEF. Esse trabalho ainda obtinha as equações
elementares sem o uso de princípio variacional. O próprio nome, métodos de elementos …nitos, foi
cunhado apenas em 1960 pelo próprio Clough [23]. A década passou a ser ocupada por aplicações do
método a todos os problemas com princípio variacional conhecido. Nesse período era considerado
que o método era limitado apenas a problemas auto adjuntos (baseados em operadores simétricos).
Já no …nal dos anos 1960 tornou-se aparente que o método podia também ser aplicado a proble-
mas com operadores não simétricos e com diversos tipos de não linearidade, sem nenhuma di…culdade
formal. Assim, problemas de mecânica dos ‡úidos comecaram a ser tratados pelo método, a partir
das equações completas de Navier-Stokes [80][79]. Também na década de 1970 os desenvolvimentos
matemáticos das décadas anteriores sobre equações diferenciais comecaram a ser dirigidos ao MEF,
e comecaram a surgir os teoremas de convergência e estimativas de erro.
xx CONTEÚDO
Lista de Símbolos
T - transposta de uma matriz quando super-índice.
T - térmico, quando super-índice.
8 - para qualquer.
- barra indica grandeza num segundo sistema de coordenadas,
- ou indica valor prescrito de uma variável no contorno,
- ou indica modi…cação da grandeza .
( );x - diferenciação de uma função, @( )=@x.
( )0 , ( )00 - primeiras derivadas em x.
b, ( ) - função peso, primeira variação.
- variação …nita de uma grandeza.
a b - a é de…nido por por b.
sse - se e somente se.
@ en f - parcela do conjunto @ e não contido em f :
aeA - negritos em minúsculos e maiúsculos em geral indicam vetor e tensor respectiv.
f g - componentes de um arranjo unidimensional de valores ou funções. Tb. vetores.
[ ] - componentes de um arranjo bidimensional de valores ou funções. Tb. matrizes.
, - dominio e contorno de um corpo.
e@ - área de seção transversal (em EPT e EPD, por exemplo) e seu contorno.
- produto escalar entre vetores (pg.7) e entre tensores (pg.12).
: - produto interno de tensores, pg.12.
- produto tensorial, pg 10.
- produto vetorial.
ij - operador delta de Kronecker.
(xp ) - função generalizada delta de Dirac em xp .
eijk - símbolo de permutação, pg.9
R, Rd - espaço dos números reais, e espaço de dimensão d, onde d = 1; 2 ou 3:
Kin - conjunto das funções cinematicamente admissíveis.
V ar - espaço das funções das variações.
Nnos - número de nós de uma malha.
Nglno - número de graus de liberdade por nó.
Nne - número de nós do elemento.
Ngle - número de graus de liberdade do elemento.
Nel - número de elementos no modelo.
n - vetor normal unitário.
t - vetor tensão num ponto, força por unidade de área, eq.(2.15).
1 - tensor identidade de segunda ordem.
I - tensor identidade de quarta ordem.
K, U, Fa , R - matriz de rigidez global, vetor deslocamento nodal, nodais
vetor força aplicada conhecida e vetor de reações nodais, eqs.(5.22), (10.13).
B - matriz de deformações do elemento …nito.
x - vetor posição de um ponto, com coordenadas cartesianas (x1 ; x2 ; x3 ) ou (x; y; z).
xyz - eixos locais em elementos de barra, viga e casca.
Parte I
x3 P
e3 x Ω
O e2
x1 e1
x2
Figura 1.1: Corpo, eixos coordenados, ponto de origem O, ponto P, vetor posição x e vetores base.
A uma dada partícula podemos vincular grandezas mecânicas (dentre outras) tais como:
deslocamentos, densidade,
velocidades, temperatura.
6 Capítulo 1. Conceitos matemáticos preliminares
Estas grandezas possuem naturezas distintas entre si, de forma que também as entidades matemáti-
cas necessárias para quanti…ca-las são diferentes. Por exemplo, enquanto um escalar basta para
identi…car o valor da temperatura num ponto do corpo, a entidade adequada para representar a
velocidade é um vetor. Finalmente, para poder representar grandezas tais como a deformação ou
a tensão atuando na partícula, será necessária mais informação que a disponível num vetor, dando
lugar ao conceito de tensor. Escalar e vetor são elementos facilmente reconhecíveis, enquanto o
tensor nem sempre é familiar ao leitor e será tratado com especial atenção.
1. Associatividade: (a + b) + c = a + (b + c)
2. Comutatividade: a+b=b+a
3. Existência do vetor zero, 0: a+0=a
4. Existência do vetor inverso a: a+a=0
(1.2)
5. Multiplicação por escalar real c comutativa: ca = ac
6. Multiplicação por escalares reais c e d associativa: c(da) = (cd)a
7. Existência de escalar real unitário, 1: 1c = c
8. Distributividade no produto por escalares reais (c + d)(a + b) =ca+cb+da+db
A de…nição acima é completamente geral, e permite sua aplicação num grande número de enti-
dades matemáticas. Por exemplo, funções são normalmente classi…cadas como vetores pertencentes
a diferentes tipos de espaços vetoriais, dependendo das suas características. No presente livro usare-
mos principalmente vetores geométricos tridimensionais, usualmente representados em forma grá…ca
por uma reta com direção, sentido, comprimento. No exemplo da Figura 1.1, a posição de um ponto
P em relação ao ponto de origem O é univocamente relacionada ao vetor x. Normalmente se diz que
os pontos O e P são pontos pertencentes a um conjunto denominado Espaço Euclidiano tridi-
mensional, e o vetor posição x é um elemento do espaço vetorial associado. Nesse espaço vetorial,
dados os vetores u e v, sua soma se efetua transladando em forma paralela o inicio do vetor v para
o …nal do vetor u (ou vice-versa), e …nalmente unindo o inicio de u ao …nal do vetor v transladado,
o que gera o vetor soma w (Figura 1.2).
R A
u+v
v
O u P
A soma respeita a denominada regra do paralelogramo. Por trigonometria se prova que a seguinte
relação de comprimentos dos vetores é satisfeita:
2 2 2 2
2 OR + 2OP = RP + OA (1.3)
onde OP é a distância entre os pontos O e P, igual ao comprimento do vetor u. O produto do
vetor u por um número real c gera um novo vetor w com a mesma direção e sentido, mas com
comprimento igual ao comprimento do vetor u multiplicado pelo número real c.
Diz-se que vetores u, v e w são linearmente independentes no espaço vetorial 3D se não é
possível achar números reais a, b, c não nulos tais que:
au+bv+cw = 0, (1.4)
isto é, a única forma de obter o vetor nulo 0 é com a = b = c = 0. Isso também pode ser enunciado
da seguinte forma: se os vetores u, v e w são linearmente independentes, então au+bv+cw = a,
onde a 6= 0 exceto se a = b = c = 0.
A dimensão d do espaço vetorial é de…nida como o maior número de vetores linearmente
independentes que é possivel encontrar naquele espaço. Assim, no espaço vetorial tridimensional
por exemplo, não é possível encontrar mais que três vetores linearmente independentes.
De…ne-se uma base do espaço como qualquer conjunto de d vetores linearmente independentes.
Qualquer vetor do espaço pode ser representado por uma combinação linear dos vetores de uma
dada base. Por exemplo, num espaço de…nido por uma base fu; v; wg, um vetor arbitrário a pode
ser representado por
u v=c (1.5)
No caso de vetores no espaço vetorial 3D, tal operação é de…nida como
u v = uv cos (1.6)
onde u e v são os módulos (comprimentos) de u e v, e é o ângulo formado entre eles.
A de…nição de produto interno deve satisfazer as seguintes propriedades:
1. Comutatividade: c = u v = v u;
2. Distributividade: (au+bv) w =a(u w)+b(v w); (1.7)
3. Positividade: u u >0 para qualquer u 6= 0:
Dois vetores são ortogonais se u v = 0, isto é, se = =2;
Dois vetores são paralelos se u v =uv, i.e., se = 0, ou se u v = uv, i.e., se = 180 .
Como consequência da propriedade 3, u u =u2 , onde u 6= 0. Logo, pode-se de…nir a norma do
vetor, kuk, dada por
p
kuk = u u=u, (1.8)
que é igual ao seu comprimento u.
8 Capítulo 1. Conceitos matemáticos preliminares
Como visto, no espaço vetorial tridimensional, qualquer conjunto de três vetores linearmente inde-
pendentes se constitui numa base do espaço. Dentre todas as possíveis bases, um tipo se destaca,
aquela em que seus elementos são vetores de comprimento unitário e são mutuamente ortogonais
entre si. Assim, dado o conjunto de vetores fe1 ,e2 ,e3 g, ele se constitui numa base ortonormal se:
ei ej = 0 para i; j = 1, 2 e 3, e i 6= j,
ej ej = 1 para j = 1; 2 e 3: (1.9)
Dado um vetor arbitrário u, é possível calcular números reais unívocos u1 ; u2 e u3 tais que
up = u ep para p = 1; 2 e 3. (1.11)
A demonstração é simples. Para isso, tomemos o exemplo do produto para p = 2, usando a
representação de u em termos da base, eq. (1.10):
Ao longo desse livro, utilizaremos sempre bases ortonormais devido às vantagens operacionais
decorrentes das propriedades (1.9). Por exemplo, o produto interno de u e v pode ser obtido em
termos de suas componentes:
As componentes dos vetores são usualmente representadas em arranjos em forma de matriz coluna:
8 9 8 9
< u1 = < v1 =
fug = u2 , e fvg = v2 , (1.14)
: ; : ;
u3 v3
Assim, o produto interno pode ser representado em notação matricial por
Quando a base é conhecida, ou subentendida, como no caso deste livro, onde se usará sempre
uma ou duas bases ortonormais bem de…nidas, torna-se possível representar apenas as componentes
em quase todas as situações (em vez do vetor completo componente-base). Desta forma, para evitar
proliferação de notação, se usará o símbolo u tanto para representar o vetor quanto para o arranjo
com suas componentes, em lugar de fug, quando o contexto for su…ciente claro para evitar confusão.
1.2. Vetores e tensores 9
c = ku vk = uv sen (1.16)
onde u e v são os módulos (comprimentos) de u e v, e é o menor ângulo formado entre eles, isto
é, 0 . A orientação do vetor c é perpendicular ao plano formado por u e v, com sentido
dado pela regra da mão direita.
c
Área c
v
v sen θ
θ u
0
1. Observe na Figura 1.3 que a parcela v sen da de…nição de c é uma das duas alturas do
paralelogramo formado pelos dois vetores. De geometria, sabe-se que o produto de uma das
bases de um paralelogramo pela altura correspondente é igual a sua área. Logo, a de…nição
do produto vetorial indica que o módulo de c é igual à área formada pelo paralelogramo
de…nido pelos vetores u e v.
4. Note que a de…nição e as propriedades deste produto independem da base do espaço vetorial
utilizado para representar os vetores e a operação. Os vetores de uma base ortonormal
positiva satisfazem às condições
e1 e2 = e2 e3 = e3 e1 = 1;
e2 e1 = e3 e2 = e1 e3 = 1; (1.17)
e1 e1 = e2 e2 = e3 e3 = 0:
Esses resultados são representados de forma compacta pelo operador de permutação de índices
eijk , que é de…nido, conforme os valores dos seus índices, da seguinte forma:
8
< 0 se i = j ou j = k ou i = k, ou i = j = k,
eijk = 1 se ijk = 123 ou 231 ou 312; (1.18)
:
1 se ijk = 321 ou 132 ou 213:
Assim, existem 27 combinações possíveis para os índices, e o operador gera resultados não nulos
apenas em 6 combinações dos índices. Por exemplo, e112 = 0, e231 = 1 e e213 = 1. O conjunto
inteiro das 9 equações (1.17) …ca compactado em apenas
3 X
X 3 X
3
ei ej = eijk ek (1.19)
i=1 j=1 k=1
10 Capítulo 1. Conceitos matemáticos preliminares
Dada uma base ortonormal, o produto vetorial pode ser expresso por diversas formas equivalentes:
c = u v;
2 3
e1 e2 e2
= det 4 u1 u2 u3 5 ; (1.20)
v1 v2 v3
= e1 (u2 v3 u3 v2 ) + e2 (u3 v1 u1 v3 ) + e3 (u1 v2 u2 v1 ) ;
X3 X 3 X 3
= ei eijk uj vk : (1.21)
i=1 j=1 k=1
O próximo tipo de produto entre vetores, é o produto tensorial, que dá origem a uma nova
entidade matemática denominada tensor. Para introduzir este conceito, tomemos dois vetores a e
b, cada um de…nido em R3 e realizemos a seguinte operação sobre um vetor arbitrário u 2R3 :
Como (b u) é um escalar, o vetor resultante v tem a mesma direção de a, com módulo que depende
do produto interno de b com u. A expressão acima de…ne uma operação que transforma o vetor u
no vetor v. Podemos notar que a operação de…nida pelos vetores a e b é linear em relação a vetores
arbitrários u e v, isto é, dados dois números reais arbitrários c e d, tem-se que
A=a b, (1.24)
onde o símbolo é conhecido como produto tensorial entre vetores. Na literatura, frequentemente,
a operação é representada simplesmente por A = ab.. Diz-se então que o tensor A é de…nido pelo
produto tensorial dos vetores a e b. Então, dado um vetor u, um tensor A transforma-o num
outro vetor, v; através de:
v = Au. (1.25)
Caso o tensor A seja de…nido pelo produto tensorial entre dois vetores, A = a b, sua operação
sobre um vetor u é caracterizada pela expressão (1.22):
Deve-se notar que, dados dois vetores a e b, seu produto tensorial resulta num tensor, porém o
reverso não ocorre sempre: nem todo tensor pode ser representado pelo produto de dois vetores.
Podemos provar que a transformação é linear. De fato, dados dois números reais e , e usando
1.2. Vetores e tensores 11
A( u + v) = a(b ( u + v));
= a(b ( u)) + a(b ( v));
= a(b u) + a(b v);
= Au + Av: (1.27)
No caso particular de trabalharmos com bases cartesianas retangulares, esta operação …ca muito
clara pois as componentes de A, isto é, [A], podem ser obtidas mediante o seguinte diagrama de
operações matriciais:
8 9 2 3
< ax = ax bx ax by ax bz
[A] = [a b] = fag fbgT = ay bx by bz = 4 ay bx ay by ay bz 5 : (1.28)
: ;
az az bx az by az bz
8 9 2 3
< 2 = 2 2 4
A = a b= 4 4
1 1 2 = 4 4 8 5;
: ;
1 1 1 2
8 9 8 9 2 38 9 8 9
< 2 = < 1 = 2 2 4 < 1 = < 4 =
v = Au = 4 1 1 2 1 =4 4 4 8 5 1 = 8 : (1.30)
: ; : ; : ; : ;
1 0 1 1 2 0 2
O vetor resultante v é, como esperado, colinear com a. Seu tamanho porém, resultou modi…cado.
Componentes de um tensor
Dada uma base {e1 ; e2 ; e3 g, as componentes [A]ij de um tensor arbitrário A, denotadas sim-
plesmente por Aij , são obtidas da seguinte forma:
A23 = e2 Ae3 ,
= fe2 gT fAe3 g ,
82 38 99
< A11 A12 A13 < 0 ==
= f0; 1; 0g 4 A21 A22 A23 5 0 , isto é,
: : ;;
A31 A32 A33 1
12 Capítulo 1. Conceitos matemáticos preliminares
8 9
< A13 =
A23 = f0; 1; 0g A23 = A23 . (1.32)
: ;
A33
Da mesma forma que entre vetores, existem diversas operações entre tensores. Quando esses ten-
sores são representados em componentes cartesianas, essss operações seguem regras similares às
operações algébricas com matrizes. As principais operações entre tensores, explicitadas em coorde-
nadas cartesianas, são descritas a seguir.
Soma de tensores
A = B+C;
2 3 2 3
A11 A12 A13 B11 + C11 B12 + C12 B13 + C13
4 A21 A22 A23 5 = 4 B21 + C21 B22 + C22 B23 + C23 5 ; (1.33)
A31 A32 A33 B31 + C31 B32 + C32 B33 + C33
Aij = Bij + Cij ; para i; j = 1; 2; 3:
u = Bv;
8 9 2 38 9
< u1 = B11 B12 B13 < v1 =
u2 = 4 B21 B22 B23 5 v2 (1.34)
: ; : ;
u3 B31 B32 B33 v3
8 9
< B11 v1 + B12 v2 + B13 v3 = 3
X
= B21 v1 + B22 v2 + B23 v3 ; ! ui = Bij vj i = 1; 2; 3:
: ;
B31 v1 + B32 v2 + B33 v3 j=1
3 X
X 3
=A:B= Aij Bij : (1.35)
i=1 j=1
e antissimétrico se
A= AT isto é, Aij = Aji : (1.39)
1.2. Vetores e tensores 13
Observe que, devido a sua de…nição, todo tensor antissimétrico tem, necessariamente, a diagonal
nula.
Todo tensor M pode ser univocamente decomposto aditivamente num tensor simétrico S e
noutro antissimétrico A mediante a seguinte operação:
M + MT M MT
M= + =S+A (1.41)
2 2
Pode-se comprovar que S e A são, respectivamente, simétrico e antissimétrico usando as de…nições
de simetria e a propriedade algébrica que (B + C)T = BT + CT :
T T
T M + MT MT + MT MT + M
S = = = = S;
2 2 2
T T
T M MT MT MT M MT
A = = = = A: (1.42)
2 2 2
S:A=0 (1.43)
Consideremos agora o produto interno de uma matriz simétrica S por uma matriz arbitrária M:
S : M = S : (Ms +Ma ) = S : Ms +S a
| :{zM} =) S : M = S : Ms (1.44)
0
onde Ma e Ms são as partes simétrica e antissimétrica de M. Isto signi…ca que o produto interno de
uma matriz simétrica por uma outra arbitrária é igual ao produto da primeira pela parte simétrica
da segunda.
Finalmente, mostramos que todo tensor pode ser escrito a partir de uma combinação linear de
produtos tensoriais dos vetores da base do sistema de coordenadas cartesiana:
3 X
X 3
A = Aij (ei ej ) ;
i=1 j=1
= A11 (e1 e1 ) + A12 (e1 e2 ) + + A33 (e3 e3 ) ;
8 9 8 9 8 9
< 1 = < 1 = < 0 =
= A11 0 f1; 0; 0g + A12 0 f0; 1; 0g + + A33 0 f0; 0; 1g ; (1.45)
: ; : ; : ;
0 0 1
2 3 2 3 2 3
1 0 0 0 1 0 0 0 0
4
= A11 0 5
0 0 + A12 0 0 4 0 5+ + A33 4 0 0 0 5 :
0 0 0 0 0 0 0 0 1
Porque resulta tão mais fácil assimilar o conceito de vetor que o de tensor? A resposta
é muito simples: enquanto o primeiro é diretamente vinculado a uma representação geométrica
14 Capítulo 1. Conceitos matemáticos preliminares
no espaço físico tridimensional, que percebemos em forma intuitiva (podemos ver um vetor no
espaço tridimensional), falta-nos percepção sensorial de espaços de maior dimensão. Ficamos assim
dependentes de nossa capacidade de abstração para compreender estas entidades.
Um tensor é dito de segunda ordem se a especi…cação de cada uma de suas componentes
requer dois índices, como os tensores de…nidos acima.
Nota-se que as componentes de um tensor mudam de acordo com a base. Entretanto, O tensor
em si independe da base em relação à qual as suas componentes foram de…nidas. As componentes
devem se transformar de uma base a outra seguindo regras de transformação especí…cas, que serão
detalhadas na seção 1.4.
1.3 Notação
Ao longo do texto faremos uso de algumas formas diferentes de notação com o objetivo de tornar
o mais simples possível a leitura e a compreensão dos conceitos. Como já deve ter sido observado,
usamos em geral letras minúsculas para representar os vetores e maiúsculas para os
tensores. Símbolos em negrito representam, em geral, entidades vetoriais ou tensoriais enquanto
escalares ou componentes são escritas com símbolos normais (sem negrito), porém em itálico. Além
disso existem as seguintes formas de notação usuais na literatura:
1. Notação aberta: essa é a notação quando, nas expressões e equações, todos os termos
presentes estão explícitos e visíveis. Vamos usar esta forma de notação com o objetivo didático
de tornar clara as características de cada expressão. Geralmente os termos são explicitados
em coordenadas cartesianas.
2. Notação compacta: Quando toda uma expressão é resumida num simbolismo simples,
de…nido para tal …m. Por exemplo, a operação de produto interno em (1.13), está simbolizada
em notação compacta na primeira igualdade e em notação aberta na terceira igualdade. Na
notação aberta é comum utilizar tanto sub-índices numéricos (1; 2; 3) quanto literais (x; y; z);
para indicar as direções cartesianas. Assim, pode-se usar ex ou e1 ; ey ou e2 e ez ou e3 : Muitas
vezes as coordenadas são indicadas por xi , para indicar x1 , x2 e x3 , em vez de x; y e z, re-
spectivamente. O mesmo pode ser utilizado para componentes cartesianas de um vetor. Por
exemplo, em vez de ux ; uy e uz , pode-se usar u1 , u2 e u3 , respectivamente e, de forma ainda
mais compacta, escrever apenas “ui , para i = 1; 2; 3”. Os sub-índices numéricos possuem a
vantagem de poder ser usados num terceiro tipo de notação, que permite compactar grandes
expressões e mostrar ao mesmo tempo as operações envolvidas. Esta notação é denominada
notação indicial ou notação de Einstein.
3. Notação Indicial:
Se nas expressões (1.33)-(1.35) e (1.45) eliminamos os símbolos de somatório temos, para cada
operação,
indicial não pode ser usada. Note que, mesmo havendo o índice i tanto em B quanto em C na
equação (1.46)1 ; este não é considerado repetido, uma vez que ocorre em termos diferentes. Então,
(1.46)1 só tem índices livres em cada termo (i e j só aparecem uma única vez em A, em B e em C).
Isto signi…ca que, variando cada índice de 1 a 3, existem 9 (nove) equações envolvidas, cada uma
delas representando uma componente do tensor soma. Note que, para cada índice livre á direita
da igualdade, deve corresponder o mesmo índice livre à esquerda. Essa equação representa nove
equações do tipo: A11 = B11 + C11 , A12 = B12 + C12 , A31 = B31 + C31 , etc.
A expressão (1.46)2 possui o termo da direita com o índice j repetido, mantendo o i livre. Isto
se traduz em três equações, uma para cada valor de i, cada uma delas com uma somatória em j,
isto é,
O produto interno de tensores, como indicado em (1.46)3 , possui dois índices repetidos, ij, que
representam dois somatórios, um em i e outro em j. O resultado é um escalar dado por 9 termos:
1 se i = j;
ij = (1.47)
0 se i 6= j:
Os índices desse operador podem tomar nove possíveis combinações, e pode resultar em apenas dois
valores, +1 e 0. Por exemplo, 22 = 1, 23 = 0, etc. O operador delta de Kronecker é bastante útil
no trabalho de representação e manipulação de expressões indiciais, quando usado em conjunto à
regra do somatório. Vejamos um exemplo de sua aplicação ao abrir a seguinte expressão dada em
notação indicial:
E E
ij = "ij + "mm ij : (1.48)
1+ (1 + )(1 2 )
Podemos identi…car nesta expressão os índices livres i e j, e o índice repetido m: Por tanto, a
notação indica 9 (nove) equações (uma para cada componente ij) e um somatório em m: Em forma
aberta temos, por exemplo,
E E
11 = "11 + ("11 + "11 + "11 ) 11 ;
1+ (1 + )(1 2 ) |{z}
= 1
E E
= "11 + ("11 + "11 + "11 ) :
1+ (1 + )(1 2 )
E E
12 = "12 + ("11 + "11 + "11 ) 12 ;
1+ (1 + )(1 2 ) |{z}
= 0
E
= "12 : (1.49)
1+
16 Capítulo 1. Conceitos matemáticos preliminares
Finalmente, dado que derivadas parciais serão usadas frequentemente no texto, usaremos as
seguintes notações para derivada parcial em relação a uma coordenada cartesiana:
@( ) @( )
( );1 = ou ( );x = : (1.50)
@x1 @x
Já foi destacado anteriormente que tanto vetores como tensores são entidades independentes da
base usada para representá-los. Suas componentes, porém, estão intimamente relacionadas com os
vetores da base usada.
e3
e3
θ
e2
e2
e2 e1
β
α
e1 α e2 e1
(a) e1 (b)
Figura 1.4: (a) Mudanca de uma base ortogonal para outra; (b) rotação plana em torno da direção
e3 .
Assim, dado o vetor arbitrário u 2R3 ; suas componentes fu1 ; u2 ; u3 gT no sistema ei e suas com-
ponentes fu1 ; u2 ; u3 gT no sistema ei , a matriz de rotação R permite relacionar estas componentes
1.5. Cálculo tensorial - gradientes e divergentes 17
mediante a operação
8 9 2 38 9
< u1 = R11 R12 R13 < u1 =
u2 = 4 R21 R22 R23 5 u2 (1.52)
: ; : ;
u3 R31 R32 R33 u3
Seja, por exemplo, o caso mostrado na Figura 1.4b, onde os dois sistemas se diferenciam por
uma rotação em torno do vetor e3 , isto é, e3 = e3 : O produto entre os vetores da base é:
Entretanto, prova-se (ver a lista de exercícios), que a matriz de rotação goza da propriedade de
ortogonalidade, isto é, [R] 1 = [R]T : Então a expressão acima resulta em:
Quando mencionamos a que cada ponto/partícula de um corpo pode ser associado a uma grandeza
física, estamos implicitamente admitindo que esta grandeza é função do ponto material, isto é, varia
de ponto a ponto no corpo. Em outras palavras, não somente temos escalares, vetores ou tensores
mas sim funções escalares, vetoriais e tensoriais, cujo argumento é a posição do ponto no
espaço físico. Dado um ponto material ou partícula p localizada numa posição x; temos escalares,
18 Capítulo 1. Conceitos matemáticos preliminares
(x) = (x1 ; x2 ; x3 );
8 9 8 9
< v1 (x) = < v1 (x1 ; x2 ; x3 ) =
v(x) = v2 (x) = v2 (x1 ; x2 ; x3 ) ;
: ; : ;
v3 (x) v3 (x1 ; x2 ; x3 )
A(x) = A(x1 ; x2 ; x3 );
onde x é o vetor que representa a posição do ponto, e tem componentes cartesianas (x1 ; x2 ; x3 ).
Os modelos usados para representar os comportamentos na mecânica do contínuo normalmente são
dados por equações diferenciais cujas variáveis são precisamente as grandezas (funções) que estamos
de…nindo. Frequentemente será preciso realizar operações de cálculo sobre funções ou produtos de
funções de diferente natureza. Assim, de…nimos a seguir um conjunto de operações de derivação
realizadas no sistema de coordenadas cartesiano em relação ao ponto material x.
d
(a (x) b (x)) = a0 (x) b (x) + a (x) b0 (x) ;
dx
é frequente a necessidade de realizar operações de derivação do produto de funções escalares, vetoriais
ou tensoriais. Da aplicação sistemática das regras usuais de derivação sobre a operação envolvida,
surge um conjunto de resultados práticos ou regras de derivação para operações especí…cas. Vamos
aqui mostrar a obtenção de uma destas, deixando para o leitor a dedução das restantes. Para
operar, consideremos uma função tensorial (x), uma função vetorial u(x) e uma função escalar
(x). Então,
isto é,
A última linha é obtida a partir das de…nições de divergente de um tensor e do produto escalar
entre estes.
Z I
@(uv)
d = uv ni d , para i = 1; 2.
@xi
Abrindo o produto na primeira integral tem-se uma forma de integração por partes em domínios
bidimensionais:
Z I Z
@v @u
u d = uv ni d v d : (1.64)
@xi @xi
Fica a cargo do leitor abrir as expressões das outras igualdades. Este teorema permite converter
integrais de…nidas no domínio (integrais de domínio) em integrais de…nidas no contorno (integrais
de contorno) e vice-versa.
1.6 Exercícios
1.1 Demonstre a forma (1.20) para o produto vetorial.
1.2 Desenvolva em notação aberta as seguintes operações dadas em notação indicial (i; j; k =
1; 2; 3):
1
a. ( n )j = ji ni ; c. = (ui;j + uj;i + uk;i uk;j );
ij
2
1+
b. nn = ji ni nj ; d. "ij = ij 1+ ij kk ;
ZE Z Z
1
e. = ij "ij d bi u i d fi ui d :
2
1.4 Mostre que, em notação indicial, o produto C = AB de dois tensores se escreve Cij = Aik Bkj :
1.6. Exercícios 21
1.5 Coloque em notação aberta e mostre que, dada uma função escalar (x) e funções vetoriais
u(x) e v(x),
Rij = ei ej ;
T T
RR ij
= Rik Rkj = Rik Rjk = (ei ek ) (ej ek ) ;
= (ek ei ) (ek ej ) = (ek (ek ei )) ej ;
= (ek e k ) ei ej = ei ej = ij ;
T 1
) RR = RR = I:
1.7 Comprove a propriedade acima fazendo a operação RRT com a matriz de rotação plana (1.54).
1.8 Sejam as bases cartesianas fe1 ; e2 ; e3 g e fe1 ; e2 ; e3 g relacionadas por uma rotação de = 30
positivos em torno do eixo e3 : Seja a matriz A e o vetor v dados em componentes da base
fej g: 2 3 8 9
1 4 1 < 2 =
[A] = 4 4 2 2 5 ; fvg = 1
: ;
1 2 4 1
1.9 Considere o elemento triangular de três nós mostrado na Figura 1.5. O elemento é contido o
plano z = 0, isto é, tem coordenadas dos vértices dadas por x1 = fx1 ; y1 ; 0gT , x2 = fx2 ; y2 ; 0gT
e x3 = fx3 ; y3 ; 0gT respectivamente.
Note que aqui a área tem um aspecto vetorial, em que, além do valor da superfície, se
tem também a orientação de um vetor normal a ela.
(b) Para as coordenadas cartesianas x1 = f4; 6; 0gT , x2 = f10; 8; 0gT e x3 = f2; 14; 0gT qual
o valor da área? (Solução: De…na vetores a = x2 x1 e b = x3 x1 , que são concorrentes
no nó 1. Finalmente utilize a de…nição de produto vetorial a b.)
1.10 Para a Figura 1.5, com as coordenadas nodais do Exercício 9, determine o vetor n23 normal ao
segmento 23 e contido no plano 0xy. (Solução: Obter o vetor c = x3 x2 . O vetor e = c ^ e3
é normal a c e a e3 , isto é, está contido no plano. Então basta normaliza-lo. Substituindo os
valores, n23 = 0; 6^
e1 + 0; 8^
e2 .)
1.11 Para o elemento triangular da Figura 1.5, (a) determine os valores dos comprimentos dos três
lados do triângulo; (b) determine as correspondentes alturas do triângulo; (c) determine os
22 Capítulo 1. Conceitos matemáticos preliminares
y y
h3 n 3
y3
h2 h1
y2
2
θ1 θ
y1
1
x1 x3 x2 x 0 x
(a) (b)
três ângulos internos. (Solução: de…na os vetores a; b e c como nos Exercícios 9 e 10. (a) os
p
comprimentos dos lados são a = a a, etc. Os vetores unitários nas direções dos lados são
a = a=a, b
^ ^ = b=b, etc. (c) Os ângulos internos vem da de…nição de produto escalar (1.5): cos
1 =^ c, etc. (b) As alturas são h1 = c sen 1 , etc.)
a ^
1.13 Considre o elemento triangular da Figura 1.5, num plano inclinado, com as coordenadas nodais
x1 = fx1 ; y1 ; z1 gT , x2 = fx2 ; y2 ; z2 gT e x3 = fx3 ; y3 ; z3 gT . Mostre que a área de um triângulo
arbitrário no espaço é dada por
2 3
e1 e2 e3
1
A= det 4 x2 x1 y2 y1 z2 z1 5 (1.69)
2
x3 x1 y3 y1 z3 z1
1.14 Para o triângulo do Exercício 1.13, determine o vetor normal à superfície do elemento, n, e o
vetor coplanar normal ao lado 23, n23 . (Solução: de…nir os vetores a e b como no Exercício
1.9. n = a b= ka bk. De…nir o vetor c = x3 x2 . O vetor e = c e3 é normal a c e a e3 ,
isto é, está contido no plano. Então basta normaliza-lo.)
1.16 Sabe-se, da teoria de geometria, que o volume de um tetraedro é igual a um terço da área de
uma das faces vezes a altura correspondente. Considere o tetraedro mostrado na Figura 1.6,
com os nós 1, 2, 3 e 4. Determine seu volume em termos das coordenadas nodais. Utilize os
resultados dos Exercícios 13 e 14 para obter:
1
V = (a b) c (1.70)
6
(Solução: A área da base, de…nida pelos nós 123 é o vetor A = a b, na direção normal.
Por de…nição de produto escalar, tem-se que A c = ac cos . Porém, c cos = h, a altura
correspondente à base 123. Logo, o volume é a expressão mostrada.)
1.17 Determine o vetor normal à face 124 no tetraedro do Exercício 16, Figura 1.6. (Solução: usar
a solução do Exercício 14.)
1.6. Exercícios 23
y 3
c 2
b
θ a
1
x
z
t
Γ
Ω
P
x
x b
y
z
Começamos por identi…car os tipos de solicitações que atuam sobre um corpo contínuo ou sobre
partes deste:
2. Forças de corpo, também chamadas forças de campo, são exercidas pelo meio externo
diretamente sobre cada partícula do corpo. Estas forças são exercidas a distância, sem contato
físico. Forças gravitacionais (peso próprio), magnéticas ou inerciais são as mais frequentes.
Neste caso, as ações tem dimensão de força por unidade de volume [F=L3 ] e serão denotadas
por b(x) (Figura 2.1).
26 Capítulo 2. Tensões - equações de equilíbrio
t t
t
x x t ∆F
Pb
Pa Pa
n
∆A
y y
z Seção s z Seção s
(a) (b)
F
t(x) = lim : (2.1)
A!0 A
O vetor tensão t(x) possui uma componente normal à superfície, denominada tensão normal nn
e uma componente paralela à superfície denominada tensão cisalhante nc , como ilustrado na
Figura 2.3. Essas componentes podem ser calculadas por:
nn = (t n) n; nc =t nn : (2.2)
Para entender essas operações, basta lembrar que o produto escalar entre dois vetores, a b, é igual
à componente de a na direção de b, (ou equivalentemente, a componente de b na direção de a).
Assim, t n é a componente de t na direção normal. q A parcela cisalhante é obtida por adição
vetorial. Os módulos são k nn k = (t n) e k nc k = ktk2 k 2
nn k , respectivamente.
As hipóteses de Cauchy admitem também que este vetor n (x) varia continuamente com a
normal n: Isto é, se no mesmo ponto do corpo, de coordenada x; a inclinação do corte
for modi…cada, o vetor t(x) também muda. Veremos a seguir que t varia linearmente com
n ou, em outras palavras, que existe uma transformação linear do vetor n que fornece o vetor t:
Esta transformação linear de…ne o chamado tensor tensão.
1
Devemos observar que este conceito só e possível de ser formulado em virtude da hipótese que o corpo é um
contínuo, isto é, cada ponto dele contém matéria. Caso considerássemos o corpo como ele realmente é, isto é,
particulado, à medida em que a área fosse diminuindo, chegariamos a uma escala molecular, e …sicamente, chegariamos
a uma região do espaço sem matéria.
2.2. Tensor tensão 27
x3
σnn
σnc
x1 t
x2
Figura 2.3: Vetor tensão numa superfície orientada segundo o vetor n e suas componentes normal
e cisalhante à superfície, nn e nc .
Os vetores tensão tj (j = 1; 2 ou 3) atuam sobre as três faces anteriores desse paralelogramo, nas
direções positivas dos eixos cartesianos. Como ilustrado na Figura 2.4b, cada vetor tensão possui
três componentes nas direções cartesianas: uma normal e duas cisalhantes. Assim, as componentes
desses três vetores tensão são as nove componentes do tensor tensão, ij , (i e j = 1; 2 ou 3). De
forma puramente construtiva, as componentes de tensão são obtidas pela seguinte operação
T
= ti ei
8 9 8 9 8 9
< 11 = < 21 = < 31 =
= 12 1 0 0 + 22 0 1 0 + 32 0 0 1
: ; : ; : ;
13 23 33
2 3
11 21 31
= 4 12 22 32
5 : (2.3)
13 23 33
Este tensor tem a propriedade que, aplicado sobre qualquer um dos vetores cartesianos, fornece o
vetor tensão que atua no plano perpendicular ao vetor cartesiano usado. Por exemplo, para um
vetor ej , j = 1; 2 ou 3,
T
ej = (ti ei ) ej = ti (ei ej ) = ti ij = tj . (2.4)
28 Capítulo 2. Tensões - equações de equilíbrio
Por exemplo, para a face normal a e1 , o vetor tensão atuante tem componentes
2 38 9 8 9
11 21 31 < 1 = < 11 =
T
e1 = 4 12 22 32
5 0 = = t1 ;
: ; : 12 ;
13 23 33 0 13
É importante destacar que as faces opostas dos cortes, isto é, os planos cujas normais são, respec-
tivamente, e1 ; e2 e e3 , também estão sujeitas a vetores tensão que, obedecendo ao princípio de
ação e reação, possuem sentido oposto aos primeiros, isto é,
t 1 ( e1 ) = t1 , t 2 ( e2 ) t2 e t 3 ( e3 ) = t3 . (2.5)
Essa propriedade é totalmente consistente com a de…nição de T em (2.3) e sua propriedade (2.4).
Efetivamente, se operamos o tensor T do ponto x sobre o vetor normal e1 , temos
2 38 9 8 9
11 21 31 < 1 = < 11 =
T
( ej ) = 4 12 22 32
5 0 = 12 = t1 .
: ; : ;
13 23 33 0 13
É possível observar que os elementos situados na diagonal principal da matriz são componentes
normais aos planos onde atuam, e por isto denominadas tensões normais. De forma semelhante,
as componentes situadas fora da diagonal são componentes paralelas a estes planos e portanto
denominadas tensões cisalhantes.
As notações usadas na bibliogra…a para escrever este tensor respondem às mais variadas prefer-
ências. Além disso, será visto em breve que o tensor é simétrico e portanto se escreve, por
comodidade,
2 3 2 3 2 3
11 12 13 xx xy xz x xy xz
T
= =4 21 22 23 5=4 yx yy yz 5=4 yx y yz 5 : (2.6)
31 32 33 zx zy zz zx zy z
onde os termos designados por (tau minúsculo) indicam as componentes cisalhante e (sigma
minúsculo) indica as tensões normais.
As equações de equilíbrio, deduzidas a seguir, permitirão relacionar este tensor com os vetores
tensão atuando em planos de corte arbitrários.
2
O termo equilíbrio signi…ca, neste contexto, satisfação do balanço de forças. A observação é feita pois, rigorosa-
mente, um corpo submetido a aceleração não está em equilíbrio. Por isto esta equação é tambem intitulada de
equação locais de movimento ou equação de equilíbrio dinâmico.
2.3. Equações locais de equilíbrio 29
Z Z Z
dv
Forças ! bd + td = d , (2.7)
dt
Z Z Z
dv
Momentos ! x bd + x td = x d . (2.8)
dt
h = OA n1 ;
= OB n2 ;
= OC n3 ; (2.9)
onde OA é o comprimento do segmento OA. O volume do tetraedro pode ser escrito de quatro
diferente formas, dependendo de qual altura se tome:
1 1 1 1
V = h A = OA A1 = OB A2 = OC A3 : (2.10)
3 3 3 3
Substituindo h de (2.9)1 em (2.10)1 , e igualando o resultado a (2.10)2 obtemos A n1 = A1 .
Seguindo procedimento semelhante para as outras faces, obtemos
A1 = A n1 ; A2 = A n2 ; A3 = A n3 : (2.11)
x3
C A1
t1 t
A2
n
t2
h
0 B x2
A3
t3
A
x1
De…ne-se t como o vetor tensão atuando na face do tetraedro cuja normal é n, e ( ti ) são
as tensões atuantes nas correspondentes faces de normais ( ni ). Aplicando a condição (2.7) de
3
A expressão ”…nita” usada na literatura tem um signi…cado que representa ”…nitesimal”, em oposição a ”in…ni-
tesimal”, isto é, …nito é algo com dimensões mensuráveis, não diferenciais.
30 Capítulo 2. Tensões - equações de equilíbrio
Os vetores ti , t e b variam ao longo das faces e do volume. Porém, o teorema do valor médio
permite a…rmar que existe um ponto de coordenada xi no interior de cada face i, e um ponto de
coordenada xb dentro do volume, tais que
R
( ti ) dA = Ai ti (xi ) ; xi pertence à face i = 1; 2 e 3.
RAi
RA t dA = A t(x n ) ; xn pertence à face inclinada,
V b dV = V b(xb ) : xb é um certo ponto no volume.
dv
t1 (x1 ) A1 t2 (x2 ) A2 t3 (x3 ) A3 + t(xn ) A + b(xb ) V = V:
dt
Tomando os Ai ’s de (2.11) temos
dv
t1 (x1 ) A n1 t2 (x2 ) A n2 t3 (x3 ) A n3 + t(xn ) A + b(xb ) V =
V: (2.13)
dt
Divide-se pela área A e observa-se que, de (2.10)1 , V =A = h=3. Logo, para o limite quando h ! 0,
temos que V =A ! 0 e xi , xn , xb ! x. Assim, a equação acima resulta em
Esta equação coloca em evidência que o vetor tensão t depende linearmente de n: Portanto,
considerando a transformação linear (tensor) de…nida em (2.4), ti = T ei , pode-se escrever
T
t = n1 e1 + nT2 e2 + nT3 e3 ;
T Tn
= (n1 e1 + n2 e2 + n3 e3 ) ) t(x) = (2.15)
Assim, o tensor , denominado tensor tensão de Cauchy, tem a propriedade de, quando operando
sobre um vetor normal a um plano de corte, fornecer o vetor tensão t atuando neste plano. Note
que estas expressões são válidas mesmo em problemas dinâmicos. Isso porque, em (2.13), o termo
de inércia também desaparece naturalmente no limite, da mesma forma que o termo associado à
força de corpo.
x3
t
c σn
n
τ
x2
x1
ji nj = ti para i = 1; 2 ou 3; (2.18)
ty t
n
α α
σx
tx
τyx
τxy
σy
x
Figura 2.7: Componentes de tensões no plano xy, numa superfície inclinada em torno do eixo z.
11 n1 + 21 n2 + 31 n3 = t1 ;
12 n1 + 22 n2 + 32 n3 = t2 ;
13 n1 + 23 n2 + 33 n3 = t3 ; (2.19)
x nx + yx ny + zx nz = tx ;
xy nx + y ny + zy nz = ty ; (2.20)
xz nx + yz ny + z nz = tz :
Essas equações estabelecem, num ponto de contorno, o equilíbrio entre as forcas por unidade
de área aplicadas e os esforços internos (tensões). Note que, em (2.20), as tensões tx e ty aplicadas
sobre o corpo tem unidade de força/área, da mesma forma que as tensões do lado esquerdo.
As equações (2.20) podem ser simpli…cadas para o caso em que o contorno é tal que sua normal
é contida no plano xy, como ilustrado na Figura 2.7. Assim, nx = cos , ny = sen , e nz = 0, onde
32 Capítulo 2. Tensões - equações de equilíbrio
x cos + yx sen = tx ;
(2.21)
xy cos + y sen = ty :
Consideramos agora o equilíbrio de forças num ponto interior ao corpo. Reescrevemos a equação
(2.7), de equilíbrio dinâmico de uma região arbitrária do corpo:
Z Z Z
dv
td + bd = d ,
dt
Substituindo o vetor tensão t = T n, (eq.(2.15)), e usando em seguida o teorema do divergente no
primeiro termo, tem-se:
Z Z Z Z
T dv T dv
div d + bd = d ) div +b d = 0:
dt dt
Como esta integral deve ser satisfeita para qualquer parcela do corpo, o integrando deve ser nulo:
T +b dv
r = (2.22)
dt
@ xx @ yx @ zx dvx
+ + + bx = ;
@x @y @z dt
@ xy @ yy @ zy dvy
+ + + by = ; (2.25)
@x @y @z dt
@ xz @ yz @ zz dvz
+ + + bz = :
@x @y @z dt
No caso estático, quando as acelerações são muito pequenas ou nulas, o lado direito é considerado
nulo, e as equações são conhecidas como equações de equilíbrio estático, ou simplesmente equações de
equilíbrio. No caso dinâmico geral, essas são as chamadas equações do movimento, ou equações
de equilíbrio dinâmico, ou ainda equações locais de equilíbrio.
2.3. Equações locais de equilíbrio 33
onde x é o vetor posição que representa o braço de alavanca do momento de cada força, em relação à
origem do sistema de coordenadas. (Note que se poderia ter escolhido qualquer ponto de referência
para fazer o cálculo dos momentos.) Essa relação pode ser aberta e desenvolvida da seguinte forma:
Z Z Z
dvk
eijk xj bk d + eijk xj tk d = eijk xjd ; (usar (2.15) p/ tk )
dt
Z Z Z
dvk
eijk xj bk d + eijk xj lk nl d = eijk xj d ; (usar teorema do div)
dt
Z Z
dvk
[eijk xj bk + (eijk xj lk ) ;l ] d = eijk xj d ; (usar regra da cadeia)
dt
Z Z Z
dvk
[eijk xj bk + (eijk xj;l lk )] d + eijk xj lk;l d = eijk xj d ;
dt
Z Z
dvk
eijk xj bk + lk;l d + (eijk xj;l lk ) d = 0; (usar eq. do movim. (2.15))
dt
| {z }
= 0
Z Z
(eijk xj;l lk ) d = 0; ) (eijk jk ) d =0
(A última operação foi feita porque xj;l = jl , e jl lk = jk :). Dado que esta ultima igualdade
deve ser válida em qualquer porção do corpo, o integrando deve ser nulo em qualquer ponto, isto é,
eijk jk = 0. Isto representa três equações algébricas, para i = 1, 2 e 3. Tomemos por exemplo a
equação de equilíbrio na direção 3, isto é, i = 3. Por de…nição, o operador permutação eijk é não
nulo apenas se os três índices forem diferentes. Então a equação reduz-se a ei12 12 + ei21 21 = 0.
Mas, como e312 = +1 e e321 = 1, segue-se que se 12 21 = 0. Repetindo a operação para as
direções i = 2 e 3, tem-se que, em geral,
ij = ji (2.26)
y σy + dσy
τyx + dτyx
τxy + dτxy
by
σx bx σx + dσx
τxy
x
dy τyx dz
σy
z dx
Figura 2.8: Representação de um estado plano de tensões (componentes de tensão nulas na direção
z).
8
> P @ x
>
> Fx ! x dy dz + + dx dy dz yx dx dz
>
>
x
@x
>
>
>
> @ yx dvx
>
< + yx dx dy dz + bx dV =
+ dV;
@x dt
> P @ y
>
> Fy ! y dx dz + y + dy dx dz xy dy dz
>
> @y
>
>
>
> @ xy dvy
>
: + xy + dy dx dz + by dV = dV;
@y dt
onde dV = dx dy dz é o volume diferencial e bx e by são as componentes das forças de corpo.
Algumas simpli…cações são imediatas e, uma vez que dV 6= 0, podemos dividir ambas as equações
por dV , o que resulta em:
@ x @ yx dvx
+ + bx = ;
@x @y dt
(2.27)
@ xy @ y dvy
+ + by = ;
@x @y dt
que são as equações diferenciais de movimento para um estado plano de tensões. O
procedimento acima pode ser refeito facilmente para um estado triaxial de tensões, o que resultará
nas equações (2.25) obtidas anteriormente seguindo um procedimento consistente.
A simetria do tensor tensão também pode ser deduzida usando os mesmos argumentos in-
tuitivos usados acima. Consideremos por exemplo uma das componentes de momento, Mz , por
exemplo. Observando a Figura 2.8 para as componentes de um estado plano de tensões, os momen-
tos, em relação ao eixo paralelo a z passando pela origem do sistema de coordenadas, são:
dy @ xx dy @ yx
xx dy dz xx + dx dy dz yx + dy dx dz (dy)
2 @x 2 @y
dx @ yy dx @ xy
yy dx dz + yy + dy dx dz + xy + dx dy dz (dx)
2 @y 2 @x
dy dx dvx dy dvy dx
bx dV + by dV = dV + dV :
2 2 dt 2 dt 2
Primeiramente, termos que contém dx2 ou dy 2 são eliminados como in…nitésimos de ordem superior,
2.4. Mudança de base - tensões principais 35
em comparação aos demais termos. Com isto restam apenas os seguintes termos:
( xy yx ) dx dz dy = 0:
Uma vez que dxdydz = dV 6= 0, segue-se que yx = xy . O mesmo procedimento pode ser realizado
para os planos yz e xz, resultando que yx = xy e yx = xy , como já mostrado na seção 2.26.
Note que, de fato, a simetria do tensor tensão independe da ausência de forças de corpo e de
inércia. A dedução acima chegaria aos mesmos resultados mesmo que tivéssemos incluído todas as
componentes de tensão de um estado triaxial, em vez de usar apenas as componentes do estado
plano.
Como foi comentado no Capítulo 1, o tensor tensão é invariante em relação ao sistema de coorde-
nadas, mas sua representação em componentes depende do sistema. A transformação de compo-
nentes de tensão de um sistema cartesiano para outro segue regras idênticas àquelas já apontadas
na seção 1.4 (página 16). Admitindo duas bases de vetores unitários fe1 ; e2 ; e3 g e fe1 ; e2 ; e3 g, a
matriz de rotação R tem componentes de…nidas por Rij = ej ei : Esta matriz permite transformar
componentes de um vetor do sistema fei g para o sistema fei g por:
Consideramos um ponto no corpo e um plano que passa por esse ponto, com normal dada pelo vetor
unitário n. Nesse ponto e nesse plano, as componentes do vetor tensão t em relação à base fei g são
dadas por (2.15):
n= n; (2.31)
onde é o tensor tensão. Se existir uma direção n com essa característica, ela é denominada uma
direção principal de tensão e o escalar que indica o módulo do vetor resultante e a tensão
principal nesta direção.
Para veri…car a existência destes elementos é preciso tentar resolver o sistema acima. Operando
36 Capítulo 2. Tensões - equações de equilíbrio
x3
n
t = λn
x1
x2
n = n;
n = 1n ;
n 1n = 0 ; ) ( 1) n = 0: (2.32)
| {z }
A
det ( I) = 0: (2.33)
I1 = 11 + 22 + 33 = ii = tr ;
I2 = ( 11 22 + 22 33 + 11 33 ) + 12 21 + 23 32 + 13 31 ;
1 1
= ( ij ji ii jj ) = : (tr )2 ;
2 2
2 2 2
I3 = 11 22 33 11 23 22 13 33 12 12 23 13 = det : (2.36)
O operador traço de um tensor é de…nido de tal forma que sua operação resulta em:
tr = 11 + 22 + 33 ; (2.37)
isto é, o traço de um tensor é a soma dos termos da diagonal da matriz de componentes.
Dado que a matriz é simétrica de componentes reais, prova-se que o polinômio característico
2.4. Mudança de base - tensões principais 37
(2.35) possui três raízes reais 1 , 2 e 3 , denominadas tensões principais, cada uma destas associada
a uma direção principal n1 ; n2 e n3 . Prova-se também que se as três raízes forem distintas, os
autovetores associados são ortogonais. Caso um par dos autovalores seja idêntico o conjunto de
direções principais pode ser tornado mutuamente ortogonais usando o método de ortogonalização
de Gram-Schmidt e, em seguida, normalizado (conforme descrito na seção 23.4, página 642).
A direção principal indica o plano onde atua a correspondente tensão principal. O cálculo de cada
uma destas direções deve ser feito com a ajuda da equação (2.32). Por exemplo, para determinar
n1 substituímos o primeiro autovalor (tensão principal) 1 no lugar de :
2 38 1 9 8 9
( 11 1) 12 13 < n1 = < 0 =
4 12 ( 22 1 ) 23 5 n1 = 0 : (2.38)
: 21 ; : ;
13 23 ( 22 1) n3 0
Devemos notar que este sistema não tem solução única, uma vez que o valor de 1 foi calculado de
forma a tornar a matriz singular, e portanto apenas duas das três equações em (2.38) são linearmente
independente e existem três incógnitas. A solução é obtida adicionando uma equação extra, que
impõe que cada vetor tenha módulo unitário. Por exemplo, para o vetor n1 ,
2 2 2
n11 + n12 + n13 = 1: (2.39)
O resultado é um vetor unitário na direção principal. Este procedimento pode ser repetido para
a segunda direção, n2 . Se 2 6= 1 , automaticamente n2 será perpendicular a n1 . Do contrário,
utiliza-se o método de Gran-Schmidt, para obter um novo vetor n2 que seja perpendicular a n1 .
Uma vez obtido os dois primeiros autovetores, o último é obtido simplesmente identi…cando o vetor
ortogonal ao plano formado por eles, isto é:
n3 = n1 n2 (2.40)
Mas, que signi…cam a…nal estas tensões e direções principais? Por de…nição, são as direções
para as quais as tensões cisalhantes são nulas. Por outro lado, é possível demonstrar que estes
são os valores extremos (máximos/mínimos) que as tensões podem atingir no ponto para os todos
os diferentes possíveis planos de corte. As tensões cisalhantes máximas, por outro lado, são
dadas pelas máximas diferenças entre as tensões principais: j 1 2 j =2, j 1 3 j/2 e j 2 3 j/2.
Os planos onde as tensões cisalhante máximas atuam se encontram a 45 em relação aos planos
principais.
Se estabelecemos um novo sistema de coordenadas onde os vetores da base são os próprios vetores
{n , n2 , n3 } das direções principais, as componentes do tensor tensão são
1
2 3
1 0 0
=4 0 2 0 5 (2.41)
0 0 3
onde, claramente, os vetores tensão atuando em cada uma das novas direções cartesianas (principais)
são:
2 32 3 2 3
1 0 0 1 1
4 0 2 0 54 0 5 = 4 0 5;
0 0 3 0 0
2 32 3 2 3
1 0 0 0 0
4 0 2 0 54 1 5 = 4 2 5;
0 0 3 0 0
2 32 3 2 3
1 0 0 0 0
4 0 2 0 54 0 5 = 4 0 5:
0 0 3 1 3
38 Capítulo 2. Tensões - equações de equilíbrio
Uma partícula submetida a um estado de tensões com as três tensões principais iguais (três
autovalores iguais) corresponde a um estado de pressão hidrostática, semelhante ao que acontece
a uma partícula imersa num um ‡uido em repouso. O tensor de tensões é um múltiplo do tensor
identidade e vetor tensão permanece sempre normal à superfície de corte e do mesmo tamanho para
qualquer plano.
Se o estado de tensões possui dois autovalores (tensões principais) iguais, signi…ca que, nas
direções coordenadas dadas pelos autovetores associados a estes autovalores, o vetor tensão será
sempre normal e do mesmo tamanho para qualquer plano obtido pela combinação destas duas
direções principais. Se, …nalmente, existem três autovalores diferentes, então existem três e tão
somente três direções principais para as quais o vetor tensão é normal ao plano.
No caso particular em que uma das tensões principais é nula, temos um estado plano de
tensões. Orientando devidamente o sistema para que e3 esteja alinhada com esta direção principal,
o tensor tensão toma a forma geral
2 3 2 3
11 12 0 x xy 0
= 4 21 22 0 5 = 4 yx y 0 5 : (2.42)
0 0 0 0 0 0
Finalmente, se duas das tensões principais são nulas, temos o estado de tensões uniaxial,
representado pelo tensor na forma
2 3
x 0 0
=4 0 0 0 5 :
0 0 0
= t n;
2 2 2
= 1 n1 + 2 n2 + 3 n3 : (2.43)
ktk2 = 2
+ 2
, ! 2 2
1 n1 + 2 2
2 n2 + 2 2
3 n3 : (2.44)
O vetor n é unitário, isto é,
e
σnc
R
c d
σ3 σ2 σnn σ1 σ
( 2
2 )( 3) +
n21 = ;
( 1 2 )( 1 3)
( 2
1 )( 3) +
n22 = ;
( 2 3 )( 1 2)
( 2
1 )( 2) +
n23 = : (2.47)
( 2 3 )( 1 3)
Agora, observamos que os n2j são valores não negativos. Então, se as tensões principais são
ordenadas de forma
2
( 2 )( 3) + 0;
2
( 1 )( 3) + 0;
2
( 1 )( 2) + 0: (2.49)
É possível demonstrar que as três igualdades associadas representam as equações de três círculos,
como ilustrados na Figura 2.10. As equações indicam que, para que um par de componentes ( ; )
representem um estado de tensões …sicamente possível, eles deverão ser tais que satisfaçam as
três desigualdades (2.49). A …gura representa esse conjunto de valores possíveis como uma região
sombreada e delimitada pelos três círculos.
Uma demonstração de que as igualdades (2.49) representam círculos pode ser feita como segue.
Consideremos uma das igualdades, a terceira, por exemplo, que envolve as tensões principais 1 e
2 . Suponhamos que, de fato, ( ; ) represente um ponto de um círculo num diagrama com eixos
e , como na Figura 2.10. O ponto c é o centro do círculo, com coordenada c = ( 1 + 2 )=2, e
40 Capítulo 2. Tensões - equações de equilíbrio
σy
σy τxy
y y y y y
σx
τxy
P
vy v σx
ey vx x x
ey ex
α α
z ex vx x z x z=z x
σy σy σy
τyz τxy
τxy τxy σx
σx σx
σz τxz
α
y y y y
x
α
0 x 0 x 0 x
z z
z=z
(b) (c) (e)
Figura 2.11: Visualização de componentes de estados plano e triaxial de tensões, em dois sistemas
de coordenadas.
cde é um triângulo retângulo, com hipotenusa R = ( 1 2 )=2. Assim a relação de Pitágoras …ca:
2 2
R2 = cd + de , isto é,
2 2
1 2 1 + 2 2
= + .
2 2
2 2
+ + 1 2 + ( 1 2) =0;
que é exatamente o lado esquerdo de (2.49)3 .
Consideramos aqui um sistema de eixos xyz arbitrário, não necessariamente alinhado com as
direções principais, de forma que o tensor tensão é completo, não necessariamente diagonal. Con-
sideramos um segundo sistema, xyz de…nido por uma rotação em torno do eixo z. Então a matriz
de rotação é aquela dada em (1.54), na página 17. A fórmula de rotação do tensor tensão, eq.(2.30),
toma a forma [ ] = [R] [ ] [R]T . Efetuando as operações obtemos:
2.4. Mudança de base - tensões principais 41
x = x c2 + 2 xy sc + y s2 ; xz = xz c + yz s ;
2 2 xy sc + y c2 ;
y = xs yz = yz c xz s ; (2.50)
2 s2 ) ;
xy = ( y x )sc + xy (c z = z .
onde c = cos e s = sen . As componentes no plano xy são ilustradas na Figura 2.11 para um
ponto genérico do corpo.
A representação grá…ca da transformação de tensões no caso de um estado plano de tensões
( xz = yz = z = 0) para a rotação acima é feita através dos círculos ilustrados na Figura 2.10. O
procedimento grá…co é descrito a seguir, com o auxílio das Figuras 2.12 e 2.13.
1. Construir os círculos. Para isto, o estado de tensões deve ser conhecido no sistema xyz, na
forma (2.42). Traçam-se num plano cartesiano dois pontos, de coordenadas X( x ; xy )
e Y ( y ; xy ). Devido às propriedades trigonométricas das equações, esses pontos situam-se
diametralmente opostos no círculo, como ilustrado na Figura 2.12.
2. Traça-se o círculo de…nido por esses pontos, como na Figura 2.13. Esse círculo de…ne os
valores das tensões principais 1 e 2 . Como 3 = 0, pode-se traçar os demais círculos.
Aqui abandonamos o ordenamento indicado em (2.48), de forma que faremos 1 > 2 , porém
pode-se ter 2 < 3 .
3. Para uma rotação de eixos de um ângulo anti-horário como na Figura 2.11, os novos eixos
xy são obtidos por uma rotação 2 , em sentido horário a partir dos eixos CX e CY no
círculo de Mohr, o que de…ne os pontos X e Y . As coordenadas desses pontos podem ser lidas
e valem respectivamente ( x ; xy ) e ( y ; xy ) (ou podem ser obtidas diretamente de (2.50)).
6. A tensão cisalhante máxima em módulo no plano xy são dadas pelos pontos a e b no círculo,
e vale s
2
x y 2 ;
max xy = + xy (2.53)
2
τ
σx
a X
2β2
X
τ12
max
R
2α τxy
2β1
2 C 1 σ
τxy
Y
σy
Y b
σc = (σx + σy)/2 (σx σy)/2
2 3
x xy xz
= 4 yx y yz 5
zx zy z
2 3 2 3
m 0 0 ( x m) xy xz
= 4 0 m 0 5+4 yx ( yy m) yz 5;
0 0 m zx zy ( z m)
| {z } | {z }
e d
são iguais. Assim, sua representação neste grá…co deverá ser dada sobre a reta equidistante dos eixos
principais, denominado eixo esférico ou hidrostático. Os pontos nessa reta têm coordenadas
1 = 2 = 3 . Por outro lado, um estados de tensão puramente deviatórico é representado por
um ponto sobre o denominado plano octaédrico. Esse plano tem a característica de que as
coordenadas de qualquer ponto têm a somatória nula. Este plano passa pela origem do diagrama e
é perpendicular ao eixo hidrostático. Assim, podemos observar que um tensor pode ser representado
mediante uma componente sobre o eixo hidrostático e uma componente sobre o plano octaédrico.
Eixo hidrostático
Superfície de Tresca
σ1
σ2
Plano octaédrico
Esta decomposição tem o intuito de identi…car ações de naturezas …sicamente diferentes que
estão relacionadas com diferentes características de resistências dos materiais. Por exemplo, alguns
materiais têm sua falha associada a esforços normais (associados às tensões esféricas), e outros
associada a esforços cisalhantes (tensões deviatóricas). Alguns critérios de falha por início de escoa-
mento ou por fratura frágil, adequados a materiais homogêneo-isotrópicos mais comuns e simples,
são listados a seguir.
Segundo este critério, aplicado normalmente a materiais frágeis, a falha ocorre quando alguma
das tensões principais ultrapassa o valor de resistência máximo do material, R ; obtida por ensaio
de tração ou compressão uniaxial. Assim, os estados de tensão seguros são aqueles em que:
c t c t c t
R < 1 < R ; e R < 2 < R ; e R < 3 < R; (2.54)
onde os índices \t e \c indicam valores obtidos em ensaios de tração e compressão respectivamente.
Um material isotrópico, com resistência R idêntica em tração e compressão, o critério pode ser
posto em termos de uma tensão equivalente N de…nida por:
A representação grá…ca dos limites impostos por este critério forma um cubo de dimensões 2 R :
O critério indica que um estado de tensões interno ao cubo representa um estado de não falha,
enquanto que uma tensão situada na fronteira ou fora do cubo indica uma situação de falha. Este
critério é isotrópico no sentido que não faz distinção se a tensão principal é trativa ou compressiva.
44 Capítulo 2. Tensões - equações de equilíbrio
O valor int é muitas vezes referenciado como intensidade de tensão (ou ainda tensão equiv-
alente) e E é a tensão de inicio de escoamento do material, que é o valor de tensão que
inicia o processo de ‡uência plástica num ensaio de tração. A representação grá…ca dos limites
impostos por este critério é mostrada na Figura 2.14, formada por um prisma hexaédrico cujo eixo
é o eixo hidrostático. Se o tensor tensão tem componentes cisalhantes que se aproximam da fron-
teira do prisma, estaremos próximos de uma situação de falha. Se o estado de tensão tiver apenas
componentes esféricas, este critério não acusará falha, uma vez que sempre se terá int = 0.
2.6 Exercícios
2.1 De…na o que é tensão.
2.3 Quantas e quais condições (equações) um corpo rígido deve satisfazer para ser considerado em
equilíbrio estático?
2.4 Que tipo e quantas equações devem ser satisfeitas para que o tensor tensão seja simétrico?
2.6 Quantas e quais são as equações de equilíbrio de um ponto no interior de um corpo? Quais
são as variáveis físicas em equilíbrio nesta equação? Faça uma análise dimensional.
5
Henri Édouard Tresca, francês, 1814 – 1885.
6
Richard Edler von Mises, Alemão, 1883 – 1953.
2.6. Exercícios 45
2.7 Quantas e quais são as equações de equilíbrio de um ponto na fronteira de um corpo? Quais
são as variáveis físicas em equilíbrio nesta equação? Faça uma análise dimensional.
2.8 Indicar qual(is) das a…rmações são corretas e justi…car com um desenho:
a) ij = projeção de i na direção ej ;
b) ij = projeção de j na direção ei ;
c) ij = projeção de i no plano perpendicular a ej ;
d) ij = projeção de j no plano perpendicular a ei :
2.9 Escrever em forma aberta as três equações diferenciais de equilíbrio no domínio e as três
equações de equilíbrio no contorno:
r (x) + b(x) = 0 8x 2 ;
(x)n(x) = f (x) 8x 2 :
2.10 Para o seguinte tensor tensão, identi…car as direções e tensões principais. Calcular a tensão
equivalente de von Mises e intensidade de tensão (Tresca). Calcular as tensões esférica e
deviatórica. 2 3
40 15 10
(x) = 4 15 20 10 5 MPa:
10 10 10
2.11 Explique o signi…cado do critério de máxima tensão cisalhante (Critério de Tresca) e de Máx-
ima Energia de Distorção (von Mises). Explique porque o primeiro critério é mais restritivo
que o segundo. (Dica: Veri…que o diagrama dos critérios no plano 1 , 2 quando 3 = 0.)
2.12 Justi…que a veracidade ou falsidade das seguintes expressões (Dica: Com o circulo de Mohr
3D é possível visualizar a resposta.)
(a) Dado um ponto submetido a um estado de tensões arbitrário, é sempre possível achar três
planos mutuamente ortogonais para os quais as tensões sobre estes planos são normais a
estes (não há tensões cisalhantes).
(b) Dado um ponto submetido a um estado de tensões arbitrário, é sempre possível achar três
planos mutuamente ortogonais para os quais as tensões sobre estes planos são paralelas
a estes (não há tensões normais).
2.13 Descreva um caso de carregamento físico onde duas tensões principais sejam iguais e a terceira
diferente.
2.14 Descreva um caso físico onde as três tensões principais são iguais.
2.16 Determinar o tensor tensão e fazer o diagrama das componentes de tensão para os pontos A,
B e C da estrutura mostrada na Figura 2.15, com F1 = 80 N, F2 = 40 N. Ignorar os efeitos
de concentração de tensões. Considerar comportamento elástico-linear.
46 Capítulo 2. Tensões - equações de equilíbrio
F1
Seção tranversal
A F2 10
B
C 10
50
z
120 60
p t
•
Ωt
X+u u
x3
•
P
X Ω
x1 x2
Quando o processo mecânico precisa apenas da informação a respeito da posição que o corpo
ocupa, desconsiderando a velocidade com que este chega lá, tem-se um processo independente do
1
Deve-se observar que em (3.1) há uma escolha de notação simpli…cada: tanto o vetor posição (à esquerda da
igualdade), quanto a função que determina seu valor (direita da igualdade), são denotadas com o mesmo símbolo x.
48 Capítulo 3. Análise de deformações - equações cinemáticas
tempo. Neste caso, a variável t deixa de ser necessária2 , restando apenas a posição atual x da
partícula, que depende de sua posição inicial X. Nesse caso é usual denotar que cada partícula
inicialmente em X é mapeada para uma nova posição, de…nindo assim a função de mapeamento
do movimento (Figura 3.1)
x = x(X): (3.2)
Vamos admitir que a deformação seja uma função bijetiva, ou seja, existe uma relação um-a-um
entre a posição inicial e …nal que a partícula ocupa. Esta hipótese exclui as possibilidades de
fratura (um ponto se separando em dois) e a interpenetração entre partes do corpo (duas partículas
ocupando a mesma posição).
De…nimos deslocamento como a diferença entre a posição …nal e a inicial da partícula:
dx = rx dX = F dX (3.7)
Esta equação expressa que um segmento diferencial indeformado dX, passando pelo ponto X, com
2
Existe o chamado problema quasi-estático, onde a carga varia no tempo, porém de forma tão lenta que não se
desenvolvem forças de inércia apreciaveis. Então o tempo pode ainda ser usado apenas para demarcar a ordem de
uma seqüência de carregamentos e deformações.
3.1. Deslocamentos e deformações 49
componentes cartesianas arbitrárias fdX1 ; dX2 ; dX3 g, é transformada pelo operador F aplicado
no segmento deformado dx de componentes (dx1 ; dx2 ; dx3 ) : Com esta informação é possível quan-
ti…car valores representativos, como a variação de comprimento dos segmentos diferenciais ou vari-
ação de ângulo entre dois segmentos diferenciais inicialmente perpendiculares.
p dx q
•
du
x Ωt
u
x3 •P
Q
dX
X
Ω
x1 x2
Figura 3.2: Variação de comprimento de uma …bra pq que passa pelo ponto X.
e, em componentes cartesianas,
0 1
B 2 3C
B @u1 @u1 @u1 C
8 9 B2 3 6 7C 8 9
< dx1 = BB 1 0 0 6 @X1 @X2 @X3 7C < dX =
7C
1
B 6 @u2 @u2 @u2
dx2 = 4 5
0 1 0 +6 7C dX ; (3.9)
; B 7C
2
: B 0 0 1 6 @X1 @X2 @X3 : ;
dx3 B 4 @u3 @u3 @u3 5C
C dX 3
B C
@ @X1 @X2 @X3 A
| {z }
ru
1
E ruT + ru + ruT ru (3.12)
2
" #
2 2 2
@u1 1 @u1 @u2 @u3
E11 = + + + ;
@X1 2 @X1 @X1 @X1
1 @u1 @u2 1 @u1 @u1 @u2 @u2 @u3 @u3
E12 = + + + + : (3.13)
2 @X2 @X1 2 @X1 @X2 @X1 @X2 @X1 @X2
kdxk kdXk
En (3.16)
kdXk
Note que esta expressão representa o conceito usual de deformação de engenharia. Operando com
(3.15) e (3.16), obtemos que
kdxk p
En = 1= (2n E n) + 1 1; (3.17)
kdXk
1 1
n En = (En + 1)2 1 = En2 + En (3.18)
2 2
Note que o lado direito não se trata de uma expansão em série in…nita truncada, mas de uma soma
completa, com apenas os dois termos, sem envolver nenhum truncamento ou hipótese simpli…ca-
3.1. Deslocamentos e deformações 51
tiva. Avaliando o vetor n nas direções cartesianas e1 ; e2 e e3 ; chega-se a uma interpretação física
das componentes da diagonal principal do tensor de Green-St.Venant: elas medem a variação de
comprimento dos segmentos diferencias inicialmente orientados nas direções cartesianas, isto é,
1
e1 Ee1 = E11 = E1 + E12 ;
2
1
e2 Ee2 = E22 = E2 + E22 ;
2
1
e3 Ee3 = E33 = E3 + E32 : (3.19)
2
Os termos situados fora da diagonal principal possuem um outro signi…cado analisado a seguir.
dxt
θ
dxn Ωt dxt
dXt
x
u dXt ϕb
x3
θ
Ω
X dXn dxn
ϕa
x1 x2 dXn
Dividindo a expressão por kdxt k kdxn k e usando a de…nição de deformação especí…ca longitudinal
(3.17) para eliminar kdxn k e kdxt k, tem-se
dXn dXt
cos = (1 + 2E) ;
kdxn k kdxt k
(1 + 2E) dXn dXt
= ;
(En + 1) (Et + 1) kdXn k kdXt k
(1 + 2E)
= n t:
(En + 1) (Et + 1)
n t 2E
cos = + n t;
(E + 1) (Et + 1) (En + 1) (Et + 1)
| n {z }
0
2E
= n t = sen ( =2 ) = sen ; (3.21)
(En + 1) (Et + 1)
1
En t = (En + 1) (Et + 1)sen '. (3.22)
2
Resumindo, o tensor de deformação de Green-St.Venant E(X) oferece uma medida das deformações
que ocorrem na vizinhança do ponto material X: Estas deformações são avaliadas em termos de vari-
ação de comprimento dos segmentos, medidas pelas deformações longitudinais ou normais, e
em termos de variação de ângulo entre segmentos diferenciais, conhecidas como deformações angu-
lares ou cisalhantes. As operações (3.18) e (3.22) calculam estes valores para direções arbitrárias
n e t: As componentes da diagonal principal medem as deformações longitudinais dos segmentos
inicialmente nas direções cartesianas, enquanto as componentes externas à diagonal quanti…cam as
deformações cisalhantes entre estas direções.
Uma di…culdade que esta medida incorpora é a relação não-linear entre a deformação e a função
deslocamento. A próxima seção discute os casos onde esta relação pode ser linearizada, simpli…cando
os cálculos.
operar em radianos): Substituindo esta hipótese em (3.23) os valores das componentes …cam:
1
E11 = E1 + E12 E1 ;
2
1
E22 = E2 + E22 E2 ;
2
1
E33 = E3 + E32 E3 ;
2
1 1 1
E12 = E21 = (E1 + 1) (E2 + 1) sen 12 sen 12 12 ;
2 2 2
1 1 1
E23 = E32 = (E2 + 1) (E3 + 1) sen 23 sen 23 23 ;
2 2 2
1 1 1
E13 = E31 = (E1 + 1) (E3 + 1) sen 13 sen 13 13 : (3.24)
2 2 2
Portanto, quando as deformações são pequenas, o tensor de deformação tem como componentes da
diagonal principal as deformações especí…cas longitudinais e, como componentes fora da diagonal,
a metade do ângulo de distorção (em radianos) sofrido pelos segmentos orientados nas direções
cartesianas: 2 3
1 1
6 E1 2 12 2 13 7
6 7
6 1 1 7
E '6 E 2 7: (3.25)
6 2 12 2 23 7
4 1 1 5
13 23 E3
2 2
Uma outra hipótese, diferente da anterior, corresponde aos casos em que os deslocamentos são
pequenos. Um corpo pode sofrer deformações longitudinais pequenas e, não obstante, apresentar
deslocamentos signi…cativos. Esta é a situação, por exemplo, de uma viga bastante longa em balanço
que, submetida a um esforço transversal, se ‡exiona sem produzir grandes deformações em cada
ponto mas, devido a sua esbeltez, sofre deslocamentos e rotações apreciáveis. Se, pelo contrário,
tanto os deslocamentos quanto as deformações forem pequenos, pode-se mostrar que
@ui @uk @uk @ui
1; e, portanto, :
@xj @xi @xj @xj
Esta propriedade permite simpli…car a forma de cálculo de E ao eliminar os termos não lineares em
u em (3.12):
!
1 1
E = ruT + ru+ru |
T
{z ru} ruT + ru = rs u = " :
2 2
' 0
02 3 2 31
@u1 @u1 @u1 T @u1 @u1 @u1
B6 @X1 @X2 @X3 7 6 @X1 @X2 @X3 7C
B6 7 6 7C
B 6
1 B6 @u2 @u2 @u2 7 7 6 @u2 @u2 @u2 7C
" = 6 7C ;
2B 6 7 + 6 @X @X2 @X3 7 C (3.26)
B6 @X1 @X2 @X3 7 6 1 7C
@4 @u3 @u3 @u3 5 4 @u3 @u3 @u3 5A
@X1 @X2 @X3 @X1 @X2 @X3
que resulta no tensor "; denominado tensor de deformação in…nitesimal de Green:
54 Capítulo 3. Análise de deformações - equações cinemáticas
2 3
@u1 1 @u1 @u2 1 @u1 @u3
6 + + 7
6 @X1 2 @X2 @X1 2 @X3 @X1 7
6 1 @u1 @u2 @u2 1 @u2 @u3 7
6 7
"=6 + + 7 (3.27)
6 2 @X2 @X1 @X2 2 @X3 @X2 7
6 7
4 1 @u1 @u3 1 @u2 @u3 @u3 5
+ +
2 @X3 @X1 2 @X3 @X2 @X3
∂u
∂y
y y ∂u dx
v + ∂y
v+dv
dy dy ∂v
∂x
∂v dx
v + ∂x
v v
u u+du u
dx
dx
x x
(a) (b)
Observações:
1. Devemos ressaltar que as hipóteses realizadas nesta seção são bastante restritivas se obser-
vamos as deformações em geral. De fato, estas excluem diversos tipos de fenômenos, como
conformação de metais, ‡ambagem, deslocamentos visíveis em estruturas delgadas, etc. Afor-
tunadamente, uma grande quantidade de componentes mecânicos sofre deformações às quais
as hipóteses formuladas se adaptam bem. Componentes mecânicos (eixos, engrenamentos,
mecanismos, etc.) em operação nas condições previstas em projeto sofrem, na grande maioria
dos casos, deformações mensuráveis apenas com instrumentos, mantendo praticamente sua
geometria e con…guração original. Como exemplo simples basta observar o comportamento
de uma lata de refrigerantes. Cheia, ela está submetida a uma pressão interna que a de-
forma. Porém, esta deformação di…cilmente é perceptível a olho nu. Assim, em operação
normal, este pequeno vaso de pressão se ajusta às hipóteses admitidas. Porém, uma vez vazia
3.2. Pequenas deformações e deslocamentos 55
e submetida a esforços externos de compressão, sua deformação será visível, mudando por
completo a con…guração original. Este último caso representa um problema de modelagem
complexo, envolvendo grandes deformações, grandes deslocamentos, contato entre superfícies,
deformações permanentes, instabilidade, fratura, etc.
l l0 (dx + du) dx @u
"x = = = :
l0 dx @x
Analogamente, nas direções y e z,
l l0
(dy + dv) dy @v
"y = = = ;
l0 dy @y
l l0 (dz + dw) dz @w
"z = = = :
l0 dz @z
Seguindo argumento similar, se as deformações e a rotação do corpo naquele ponto forem pe-
quenas, o ângulo de cisalhamento entre as direções cartesianas no plano x-y pode ser quanti…cado
gra…camente, em radianos, mediante a seguinte operação:
@u @v
xy = yx = 2"xy = 2"yx = + :
@y @x
Em forma análoga, para segmentos no plano x-z e y-z,
@v @w
yz = zy = 2"yz = 2"zy = + ;
@z @y
@u @w
xz = zx = 2"xz = 2"zx = + :
@z @x
Aqui é de…nida as deformações cisalhantes de engenharia, ij , como o ângulo total de distorção,
isto é, ij = 2"ij . O uso de "ij na de…nição do tensor deformação, em vez de ij ; deve-se à necessidade
de preservação das propriedades de transformação das componentes de " quando de uma mudança
de sistemas de coordenadas.
56 Capítulo 3. Análise de deformações - equações cinemáticas
"n n = "n n = En ;
"n ^
t = "n t = Ent : (3.30)
εnn
x3 εn
^
n
x εnt
x1 x2
Cabe agora a mesma pergunta formulada para o tensor de tensões: é possível identi…car direções
para as quais os segmentos mudam apenas de comprimento mas não de direção?, isto é, existem
direções n tal que "n = n para algum escalar ? Matematicamente esta pergunta é representada
por um problema de autovalores e autovetores. Devido às características do tensor " (simétrico e de
componentes reais), ele possui três direções mutuamente ortogonais para as quais o fenômeno citado
acontece. Pares de segmentos inicialmente orientados numa destas direções (direções principais ou
autovetores) apresentam apenas deformações longitudinais; sua rotação é nula pois a deformação
cisalhante é nula. Resolver este problema equivale a determinar os autopares ( 1 ; n1 ), ( 2 ; n2 ) e
( 3 ; n3 ) que satisfazem as equações:
"ni = i
in , isto é, (" 1 i ) ni = 0; para i = 1; 2; 3: (3.31)
A técnica para resolver este problema é idêntica àquela já apresentada para o caso de tensões e sua
descrição não será repetida aqui. Pré-multiplicando (3.31) por ni e considerando que ni ni = 1,
tem-se
3.3. Propriedades do tensor deformação 57
i = ni "ni . (3.32)
1
De (3.18), n E n = En2 + En , e levando em conta pequenas deformações, n E n = En , de forma
2
que
i = Ei . (3.33)
Logo, os autovalores i correspondem ao valor da deformação principal, isto é, a deformação longi-
tudinal sofrida pelo segmento orientado inicialmente em cada direção principal.
Um caso particular é aquele em que os três autovalores são idênticos. Isto corresponde à situação
física de uma esfera in…nitesimal imersa a grande profundidade de líquido, sob a ação da pressão
hidrostática. Sua deformação consiste apenas de uma mudança de raio; todas as direções são direções
principais e não há distorção de forma no processo. Quando o tensor possui dois autovalores iguais
e um diferente, a esfera deformar-se-ia num elipsoide com um eixo de simetria, de forma que todos
os segmentos perpendiculares ao eixo de simetria não apresentam distorção angular. Se todos os
autovalores são diferentes, existem somente três direções associadas a cisalhamento nulo; a esfera
deforma-se num elipsoide achatado em três direções ortogonais.
O caso em que um dos autovalores é nulo corresponde a um estado plano de deformações,
e quando dois dos autovalores são nulos se tem um estado uniaxial de deformações.
dV dV0 (E1 + 1)(E2 + 1)(E3 + 1) jdx1 j jdx2 j jdx3 j jdx1 j jdx2 j jdx3 j
= = ;
dV0 jdx1 j jdx2 j jdx3 j
= (E1 + 1)(E2 + 1)(E3 + 1) 1 : (3.34)
Isto signi…ca que o traço do tensor deformação in…nitesimal de…ne a variação especí…ca de volume.
Observe que o traço, (somatória dos termos da diagonal principal de um tensor), é um escalar cujo
valor não muda de um sistema de coordenadas a outro (é um invariante do tensor). Adicionalmente
ele é, neste caso, equivalente ao divergente do deslocamento:
@u1 @u2 @u3
= tr " = + + = div u: (3.36)
@x1 @x2 @x3
2 3 2 3 2 3
"11 "12 "13 "m 0 0 ("11 "m ) "12 "13
4 "21 "22 "23 5 = 4 0 "m 0 5 + 4 "21 ("22 "m ) "23 5;
"31 "32 "33 0 0 "m "31 "32 ("33 "m )
" = "e + "d : (3.37)
A deformação média é "m = ("11 + "22 + "33 ) =3 = I1 =3. O tensor esférico "e possui os três
autovalores iguais representando uma expansão ou contração uniforme. O seu traço é idêntico ao do
tensor deformação. Isto signi…ca que o tensor de deformação esférico contém a parcela de variação
de volume da deformação, excluindo as distorções. Ao contrário, o tensor desviador apresenta
traço nulo, isto é, sem variação de volumétrica, apresentando apenas variação de forma através
de deformações cisalhantes. Esta separação em uma parcela que quanti…ca variação de volume e
outra de forma, tem sua utilidade na criação das relações constitutivas que vinculam grandezas de
deformação e tensão, assunto do próximo capítulo.
3.4 Exercícios
3.1 Dado o campo de deslocamento abaixo, calcular o tensor de deformação in…nitesimal "(X) =
(ru + rT u)=2 e o tensor de Green-St.Venant E(X): Compare e comente os resultados.
8 9
< 0; 2X1 + 0; 8X2 =
u(X) = 0 :
: ;
0; 6X3
3.2 Para o deslocamento do Exercício 1, determine o vetor das coordenadas deformadas x. Solução:
x = X + u, isto é: 8 9 8 9
< x1 = < 1; 2X1 + 0; 8X2 =
x= x2 = X2 :
: ; : ;
x3 1; 6X3
3.3 Num problema de torção de uma barra de seção circular, as seções transversais giram como
um corpo rígido, com seus pontos permanecendo no plano da seção. O ângulo de torção de
uma seção é proporcional ao comprimento da barra. Por exemplo, a barra de Figura 3.6 está
engastada num extremo e suporta um momento torsor no outro. Possui 10 mm de diâmetro
e 100 mm de comprimento. O campo de deslocamento (in…nitesimal) de qualquer ponto da
barra obedece à seguinte equação:
8 9 8 9
< ux = < 0 = T
u= uy = z x;
: ; : ; GJ
uz y
3.4 O deslocamento u de qualquer ponto P (x; y; z) de uma placa …na (Figura 3.7) pode ser descrito
a partir do conhecimento do deslocamento transversal w(x; y) da superfície media da placa, e
3.4. Exercícios 59
y
y
A
z z
100 mm
10 mm
T
da distancia z que separa o ponto P da superfície media. No caso em análise, temos uma placa
quadrada como na …gura, simplesmente apoiada nas bordas com carregamento de pressão na
superfície inferior, produzindo um deslocamento dado por:
8 9
8 9 > dw(x; y) >
> z >
< ux (x; y; z) = >< dx >
=
u(x; y; z) = uy (x; y; z) = dw(x; y) ;
: ; >> z >
>
uz (x; y; z) >
: dy >
;
w(x; y)
b P2
z P1
3.5 No Exercício 4, calcular as deformações principais e direções principais das deformações obtidas
nos dois pontos.
3.6 Considere a placa do Exercício 4, com o campo de deslocamento transversal w(x; y) = (rx2 +
sy 2 + txy). Calcular o tensor de deformação in…nitesimal. Esboce a con…guração deformada
da placa para r = s = 1, nos casos t = 0 e t 6= 0. Solução: Do Exercício 5, o campo de
60 Capítulo 3. Análise de deformações - equações cinemáticas
deslocamentos e de deformação é
8 9 2 3
< (2rx + ty) z = 2rz tz 0
u(x; y; z) = (2sy + tx) z ; " = 4 tz 2sz 0 5
: 2 2 ;
rx + sy + txy 0 0 0
Comportamento do material -
equações constitutivas
4.1 Introdução
A percepção de que o comportamento de uma peça submetida a esforços mecânicos muda em função
do material empregado é comum à maioria das pessoas. Esta diferença se traduz em vários efeitos
como a ‡exibilidade e a resistência exibidos pela peça. É tão difícil achar um pneu de automóvel
feito de alumínio (excessivamente rígido) quanto uma chave de fenda de borracha (excessivamente
‡exível). Este vínculo entre solicitações externas e resposta mecânica é fornecido pelas chamadas
relações constitutivas, que relacionam as tensões com às deformações desenvolvidas em uma
partícula.
Os modelos constitutivos são construídos com o objetivo de reproduzir, em forma aproximada,
o comportamento do material quando submetido a solicitações externas. A diversidade de materiais
usados na engenharia é tão grande quanto a área de pesquisa dedicada à modelagem deste tipo de
equações.
Neste capítulo será apenas esboçada uma classi…cação básica dos modelos constitutivos e em
seguida se fará uma apresentação mais detalhada da relação constitutiva mais frequentemente usada
em engenharia em problemas de mecânica dos sólidos: as equações constitutivas de elasticidade
linear. No Capítulo 22 é desenvolvida a formulação de teoria de plasticidade clássica.
Um material é considerado homogêneo se apresenta propriedades mecânicas iguais em qualquer
porção tomada de uma amostra, isto é, as propriedades não variam de um ponto a outro do corpo.
Caso contrário, o material é não-homogêneo. Note-se que em casos reais essa de…nição depende de
uma escala de ordem de grandezas. Por exemplo, numa lâmina de material composto de plástico
reforçado por …bra, onde as …bras tem diâmetros da ordem de 10 m (…bra de vidro), se tomamos
em diversos pontos amostras de 1 mm, pode-se concluir que a lâmina é homogênea. Entretanto,
se as amostras forem de dimensão de 1 m, por exemplo, as propriedades obtidas dependerão da
localização na lâmina, e se considerará a lâmina como não-homogênea.
Além do aspecto de homogeneidade, uma outra característica importante de um material é
a isotropia. Considera-se que o material é isotrópico caso este apresente a mesma resposta
mecânica para qualquer direção de solicitação. Um exemplo de material tipicamente não-isotrópico
(anisotrópico) é a madeira, cujas …bras de…nem características claramente diferentes de material
dependendo da orientação dos esforços.
Uma outra forma de classi…car materiais diz respeito ao seu comportamento sob carregamento
cíclico. De…nimos um material elástico como um material em que, quando submetido à aplicação
de carga até um valor máximo, seguida de um retorno ao nível zero de carga (descarregamento),
não dissipa energia. A Figura 4.1b ilustra o diagrama de um material elástico não linear. O
percurso no diagrama segue a mesma curva tanto no carregamento quanto no descarregamento.
Por outro lado, um material não-elástico é aquele que não cumpre esta regra, como na Figura
4.1a. Podemos a…rmar que o universo de materiais que satisfazem rigorosamente a hipótese de
comportamento elástico é praticamente inexistente. O que frequentemente acontece é uma clas-
62 Capítulo 4. Comportamento do material - equações constitutivas
σ σ σ
ε ε ε
(a) (b) (c)
Figura 4.1: (a) Material não elástico, (b) material elástico não-linear, (c) material elástico linear.
si…cação de níveis de carga para os quais este modelo se ajusta. O aço, por exemplo, apresenta
um comportamento elástico para uma faixa razoavelmente ampla de solicitação, que corresponde
aproximadamente à faixa linear do diagrama. Após esta faixa o comportamento é não elástico e
não linear até o colapso. Mesmo nestes casos elásticos clássicos, a existência de pequenos níveis de
dissipação é sempre presente.
Materiais não elásticos dependem, em geral, da história do carregamento. Esta história pode
considerar apenas a sequência deste, contabilizando os valores e a ordem em que foi efetuado, como
também a velocidade de aplicação. Esta distinção separa os materiais independentes do tempo
(plasticidade, elastoplasticidade, etc.) e aqueles que dependem deste (viscoplasticidade, viscoelas-
ticidade, etc.). Nos primeiros o tempo de…ne apenas uma ordem de acontecimentos enquanto nos
últimos o tempo de…ne o comportamento do material, isto é, suas propriedades dependem da ve-
locidade de deformação.
Nas seções seguintes trataremos de forma resumida na caracterização do modelo de elasticidade
isotrópica linear, amplamente utilizado em engenharia além de ser o modelo mais simples em sólidos.
= E" e =G ; (4.1)
Nesta equação, t representa a função que, dado o argumento tensorial ", fornece o estado de
tensões . Analogamente, a segunda equação representa a relação inversa t" , para a qual, dado o
estado de tensões , se obtém o estado de deformações ".
Como construir esta função? Primeiramente observa-se que os tensores tensão e deformação
são simétricos, o que signi…ca que existem apenas 6 componentes independentes em cada um, isto
é, 6 tensões a serem relacionadas a 6 deformações. Como estamos considerando apenas problemas
lineares, buscamos então uma forma linear de relacionar esses dois conjuntos de termos. A única
forma linear de relacionar esses conjuntos consiste em escrever uma combinação linear. Por exemplo,
4.2. Elasticidade linear 63
11 deve se relacionar de forma linear com cada uma das componentes de deformações, isto é,
11 = a"11 +b"22 + c"33 +d"12 +e"13 +f "23 . O mesmo deve ocorrer com 22 , porém através de outras
6 constantes. De fato as seis componentes de tensões se relacionam linearmente às deformações por:
8 9 2 38 9
>
> 11 >
> C11 C12 C13 C14 C15 C16 >
> "11 >
>
>
> >
> 6 C21 C22 C23 C24 C25 C26 7>> "22 >
>
>
> 22 >
> 6 7>> >
>
< = 6 7< =
C31 C32 C33 C34 C35 C36 "33
33
=6
6
7
7> ; (4.3)
>
> 23 >
> 6 C41 C42 C43 C44 C45 C46 7> 2"23 >
>
>
> >
> 4 5>> >
>
>
> 13 >
> C51 C52 C53 C54 C55 C56 >
> 2"13 >
>
: ; : ;
12 C61 C62 C63 C64 C65 C66 2"12
isto é, =C", onde C é denominada matriz de elasticidade.(2"23 , etc, são as deformação de en-
genharia, geralmente denotadas por 23 , etc.) O número de componentes diferentes em C é, a
princípio, 36. Cada um de seus termos é uma propriedade de material a ser obtida experimen-
talmente. Por outro lado, considerações de origem termodinâmica indicam a necessidade de C
ser simétrica, diminuindo assim, para 21 componentes diferentes: Finalmente, prova-se [67] que,
se o material for isotrópico, as condições de igualdade de comportamento em qualquer direção
conduzem a um formato representado pela expressão:
8 9 2 38 9
>
> 11 >
> C11 C12 C12 0 0 0 >
> "11 >>
>
> >
> 6 C12 C11 C12 0 0 0 7>> " >
>
>
> 22 >
> 6 7<>
> 22 >
>
< = 6 7 =
C C C 0 0 0 "
33
=66 0
12 12 11 7 33
; (4.4)
>
> 23 >
> 6 0 0 C44 0 0 77 >
> 2"23 >>
>
> >
> > >
>
> > 4 0 0 0 0 C44 0 5 > > 2" > >
: 13 > ; >
: 13 > ;
12 0 0 0 0 0 C44 2"12
onde estas componentes dependem apenas de dois parâmetros independentes a serem determi-
nados por ensaio.
Vejamos uma forma de construir a relação (4.4). As observações de Cauchy, levaram-no a admitir
como hipótese que, no caso de isotropia, as direções principais do tensor de deformação e de tensão
são iguais. Assim, usando a decomposição em partes esférica e deviatórica para a tensão e para a
deformação,
e d
= + e " = "e + "d ;
prova-se que num material isotrópico, cada parcela de tensão se relaciona apenas à parte correspon-
dente de deformação, através de constantes de material K e , da seguinte forma:
e
parcela esférica = 3K"e = K(tr ")1; (4.5)
d d
paracela deviatórica = 2 " : (4.6)
= 2 "d + 3K"e ;
= 2 (" "e ) + 3K"e ;
= 2 " + (3K 2 ) "e ;
(tr ") (4.7)
= 2 " + (3K 2 ) 1;
3
2
=2 "+ K (tr ")1 ! = 2 " + (tr")1
3
sendo
2
= K : (4.8)
3
64 Capítulo 4. Comportamento do material - equações constitutivas
11 "22 "33
E= ; e = = (4.11)
"11 "11 "11
E E E
=G= ; = ; K= . (4.12)
2 (1 + ) (1 + ) (1 2 ) 3 (1 2 )
E E
= "+ (tr ")1: (4.13)
1+ (1 + ) (1 2 )
Considerando que se trata de um conjunto de equações lineares, a relação é invertível, dando como
resultado:
1+
"= (tr )1 (4.14)
E E
As expressões (4.13) e (4.14) usam a notação compacta. Esta forma de escrever é cômoda para
indicar rapidamente o tipo de lei utilizada. Abrindo a relação em componentes, temos um conjunto
de equações análogo a (4.7).
4.2. Elasticidade linear 65
E E
11 = "11 + ("11 + "22 + "33 ); 12 = G2"12 ;
1+ (1 + ) (1 2 )
E E
22 = "22 + ("11 + "22 + "33 ); 13 = G2"13 ; (4.15)
1+ (1 + ) (1 2 )
E E
33 = "33 + ("11 + "22 + "33 ); 23 = G2"23 :
1+ (1 + ) (1 2 )
e a relação inversa
1+ 1
"11 = 11 ( 11 + 22 + 33 ); 12 = 2"12 = 12 ;
E E G
1+ 1
"22 = 22 ( 11 + 22 + 33 ); 13 = 2"13 = 13 ; (4.16)
E E G
1+ 1
"33 = 33 ( 11 + 22 + 33 ); 23 = 2"23 = 23 :
E E G
As relações acima permitem que se reescreva a matriz elástica C de (4.10) e sua inversa C 1,
2 3
1 v v 0 0 0
6 v 1 v 0 0 0 7
6 7
1 6 v v 1 0 0 0 7
C = 6
1 7 (4.18)
E66 0 0 0 1+v 0 0 7
7
4 0 0 0 0 1+v 0 5
0 0 0 0 0 1+v
As ações externas mencionadas ate o momento foram sempre de origem mecânica, introduzidas
em forma de forças de superfície ou de corpo. Uma ação muito comum, porém, tem como origem
variações térmicas sobre o componente. Estas deformações podem ter valores diferentes em direções
diferentes ou podem ser uniformes nas várias direções (dilatação ou contração uniforme). Neste
último caso se diz que o material é termicamente isotrópico. Sendo assim, a deformação é usualmente
modelada através de um coe…ciente de dilatação térmica linear : Dado um incremento térmico
T num ponto, a deformação térmica será
e, portanto, 08 9 8 91
>
> "11 >
> >
> 1 >
>
B>
> "22 >
> >
> 1 >
>C
B>
> >
> >
> >
>
=C
B< "33
= <
1 C
B
=CB T C: (4.21)
C
B>
> "23 >
> >
> 0 >
>C
@>
>
> "13
>
>
>
>
>
> 0
>
>
>A
>
: >
; >
: >
;
"12 0
Em palavras, o estado de tensões num ponto material depende da deformação total do ponto,
diminuído da deformação originada por fonte térmica.
b
x2
x1
x3
Uma vez de…nido, por hipótese, o tipo do campo de deformações no problema, as relações
constitutivas (4.15) permitem calcular o estado de tensões correspondente:
E E
11 = "11 + ("11 + "22 );
1+ (1 + ) (1 2 )
E E
22 = "22 + ("11 + "22 );
1+ (1 + ) (1 2 )
E
12 = "12 ;
1+
E
33 = ("11 + "22 ) = ( 11 + 22 );
(1 + ) (1 2 )
13 = 23 = 0: (4.25)
2 3
1
8 9 1 0
6 (1 ) 78 9
< 11 = E(1 ) 6 1 7 < "11 =
6 1 0 7
(u) = 22 = 6 7 "22 (4.26)
: ; (1 + )(1 2 ) 6 (1 ) 7: ;
33 4 1 2 5 12
0 0
2(1 )
isto é, (u) = Cd ". Aqui, Cd representa a matriz de componentes do tensor de elasticidade para
estado plano de deformações e " é o vetor de componentes de deformação, dependentes das funções
de deslocamento, isto é, " = "(u).
Observamos que no termo 33 da matriz Cd foi introduzido o escalar 1/2 para compensar a
utilização da deformação cisalhante de engenharia, 12 ( 12 = 2"12 ); em lugar de "12 na
deformação.
2 3
@( )
8 9 8 9 6 @x1 0 7
< "11 = < u1;1 = 6
6
7
@( ) 7 u1
"(u) = "22 = u2;2 =6 0 7 = Du (4.27)
: ; : ; 6
6 @x2 77 u2
u1;2 + u2;1 4 @( )
12
@( ) 5
@x2 @x1
A matriz D é chamada de operador diferencial. Operando sobre o vetor de componentes de u,
fornece as componentes da deformação. Matrizes desse tipo são úteis para compactar a formulação
numérica do método de elementos …nitos.
Finalmente, cabe aqui ressaltar um aspecto importante: uma vez que estamos considerando o
material como elástico linear isotrópico, o estado plano de deformação produz um estado
triaxial de tensões. Isto é evidente se representamos todas as componentes da tensão e da
deformação para este caso:
2 3 2 3
"11 "12 0 11 12 0
" = 4 "21 "22 0 5 ; () = 4 21 22 0 5: (4.28)
0 0 0 0 0 33
O fato de simpli…car a relação constitutiva de forma a envolver apenas três componentes de cada
tensor se deve a uma comodidade operacional, dado que a componente restante da tensão, 33 ,
depende das primeiras.
De forma análoga ao caso anterior, de…ne-se o estado plano de tensões como aquele em que o tensor
tensão possui uma das tensões principais (autovalores) igual a zero. Orientando o eixo cartesiano x3
e fazendo esta direção coincidir com a direção de autovalor nulo, obteremos a seguinte representação
das componentes de tensão: 2 3
11 12 0
(u) = 4 21 22 0 5 (4.29)
0 0 0
Essa de…nição diz respeito a uma única partícula de material. Entretanto, existem casos em que o
corpo inteiro encontra-se submetido a um estado de tensões desse tipo. É o caso de corpos delgados
como barras e placas delgadas submetidas a cargas contidas no plano da superfície media do corpo
(Figura 4.3).
-t
b
x2
x3 x1
Novamente, considerando o material elástico isotrópico linear, as equações (4.16) nos permitem
4.2. Elasticidade linear 69
É frequente, porém, a necessidade de obter a relação inversa dado que, em geral, a solução numérica
fornece o campo de deslocamentos cuja derivação resulta nas deformações. A inversão é realizada
usando as três primeiras equações, aquelas que correspondem às componentes coplanares. As duas
últimas não são mais úteis, dado que "33 já foi expresso em função das deformações no plano e as
deformações cisalhantes transversais ao plano são nulas. Operando, se obtém as expressões
E E
11 = 2
"11 + 2
"22 ;
1 1
E E
22 = 2
"22 + 2
"11 ; (4.31)
1 1
1
12 =E 2
"12 :
1
(a) Todas as variáveis independem de , isto é, @( )=@ = 0 em todos os dados e equações difer-
enciais.
(b) Admite-se que os deslocamentos circunferenciais u são nulos. Como consequência, os deslo-
camentos de cada ponto do corpo se mantém em seu próprio planos de simetria. Assim os
deslocamentos são iguais em todos os planos de simetria, permitindo assim, a modelagem do
70 Capítulo 4. Comportamento do material - equações constitutivas
z
ez
uz
ur
ez (r , z )
eθ er
(a) (b)
θ er
x y
É preciso destacar que esta expressão não convencional do gradiente é devido ao sistema de
coordenadas adotado, e onde já se encontra inserida a hipótese (a).
1+ E
r = "r + ("r + " + "z );
E (1 + )(1 2 )
1+ E
= " + ("r + " + "z );
E (1 + )(1 2 )
1+ E
z = "z + ("r + " + "z );
E (1 + )(1 2 )
r = r = 0;
z = z = 0;
1+
rz = "rz : (4.35)
E
Observamos nas equações (4.35) que as tensões cisalhantes nos planos envolvendo a direção circun-
ferencial são nulas. Porém, existe uma tensão normal circunferencial . As componentes não nulas
são incorporadas na seguinte notação matricial:
4.3. Problema de equilíbrio em termos de deslocamento - Eqs. de Navier 71
2 3
8 9 1 0
6 1 1 78 " 9
>
> r >
> 6 7> r >
< = E(1 ) 6 1 0 7>< >
=
6 1 1 7 "
(u) = = 6 7 = Cr "
>
> >
> (1 + )(1 2 ) 6 1 0 7> " >
: z
; 6 1 1 7>: z >
;
rz 4 1 2 5 rz
0 0 0
2(1 )
| {z }
Cr
(4.36)
As compontentes relevantes das tensões e deformações são quatro: tensões normais e cisalhantes
no plano de simetria e a tensão normal circunferencial. A relação deformação-deslocamentos pode
ser obtida em forma matricial, como nos casos anteriores, com o uso da matriz de diferencial D
adaptada para este caso:
2 3
@( )
6 07
8 9 6 @r 7
>
> r >
> 6 1 7
< = 6 0 7
6 r 7 ur
"(u) = =6 7 = Du: (4.37)
>
> z >
> 6 @( ) 7 uz
: ; 6 0 7
rz 6 @z 7
4 @( ) @( ) 5
@z @r
Tomando por exemplo o equilíbrio dinâmico num ponto interior, a primeira expressão em
(4.38) corresponde a 3 equações diferenciais parciais de primeira ordem envolvendo 6 variáveis
independentes (as componentes de ).
A expressão cinemática linear
ru + ruT
"=
2
fornece 6 equações diferenciais parciais lineares, (uma para cada uma das componentes de ", que é
simétrico) e envolvem 9 variáveis desconhecidas: 6 componentes de deformação e 3 de deslocamento.
A relação constitutiva elástica linear isotrópica
E E
= "+ (tr ")1 = C"
1+ (1 + ) (1 2 )
Uma vez que todo o sistema é linear, e o número de equações é idêntico ao de funções incógnitas,
prova-se que o sistema possui solução, e apenas uma única solução, desde que as condições
de contorno aplicadas sejam adequadas. Um procedimento muito utilizado para tratar desse con-
junto de equações consiste em eliminar as deformações nas relações constitutivas usando as relações
cinemáticas, isto é, nas relações constitutivas as tensões …cam em termos de deslocamentos. Em
seguida estas são substituídas nas equações de equilíbrio, de forma que todo o sistema …ca resumido
às três equações de equilíbrio escritas em termos das três componentes da função de deslocamento
4.3. Problema de equilíbrio em termos de deslocamento - Eqs. de Navier 73
dv
div +b = : Equilíbrio dinâmico. Usando as relações constitutívas,
dt
dv
div (C") + b = : Usando as relações cinemáticas,
dt
ru + ruT dv
div C +b= ; 8x 2 . (4.40)
2 dt
Esta última expressão envolve três equações diferenciais com três variáveis: u1 (x), u2 (x), u3 (x):
Lembremos que parte do contorno do corpo pode estar sujeito a tensões prescritas, isto é, as ten-
sões n tomam valores conhecidos t. Essas tensões podem também ser escritas em termos dos
deslocamentos:
Este tipo de condição é conhecido como condição de contorno de Neumann. As equações (4.40) e
(4.41) são conhecidas como equações de Navier.1
Esta formulação, denominada formulação de equilíbrio em deslocamentos, é de…nida pelo
seguinte sistema de equações diferenciais, condições de contorno e condições iniciais:
8
>
> ru + ruT dv
> div C
> +b= ; 8 x 2 e 8 t 2 [0; T ] ;
>
> 2 dt
>
>
< ru + ruT
C n=t; 8 x 2 f e 8 t 2 [0; T ] ; (4.42)
> 2
>
>
>
> u = u; 8 x 2 u e 8 t 2 [0; T ] ;
>
> du
>
: u(x;t) = uo (x); e (x;t) = vo (x); 8 x 2 e t = 0:
dt
uo (x) e vo (x) são as condições iniciais de deslocamento e velocidade em todo o corpo, que devem
ser conhecidos e prescritos no instante incial. Para elasticidade linear a equação no domínio e as
condições de contorno naturais tomam a seguinte forma, em notação indicial (para i = 1; 2; 3):
8
> @ 2 uk @ 2 ui
>
> ( + G) + G + bi = u •i , 8x 2 e 8 t 2 [0; T ] ;
>
> @xi @xk @xk @xk
>
>
< @uk @ui @uj
ni + G + n j = ti , 8x 2 f e 8 t 2 [0; T ] ; (4.43)
> @xk @xj @xi
>
> ui = ui , 8x 2 e 8 t 2 [0; T ] ;
>
> u
>
>
: u (x;t) = u (x); e dui (x;t) = v (x); 8x 2 e t = 0:
i io io
dt
A solução deste sistema pode ser obtida via técnicas analíticas ou numéricas. Soluções analíticas
foram largamente estudadas ao longo dos séculos dezenove e vinte, fornecendo a solução para um
imenso número de casos particulares onde as características geométricas e de carregamento são
simples o su…ciente para permitirem a obtenção de soluções fechadas ou em série de funções. Nos
últimos anos esforços neste sentido foram quase completamente abandonados em substituição ao
desenvolvimento e utilização de métodos numéricos, que são objeto de estudo dos próximos capítulos.
O aparecimento dessas técnicas abriu enormemente o espectro de aplicação dos modelos da mecânica
do contínuo em geral e mecânica dos sólidos em particular.
1
Claude Louis Marie Henri Navier, francês, 1785 – 1836.
74 Capítulo 4. Comportamento do material - equações constitutivas
4.4 Exercícios
4.1 Para que o problema seja chamado de elasticidade linear algumas aproximações devem ser
feitas. Quais são as hipóteses adotadas nas equações de equilíbrio, quais as adotadas nas
equações constitutivas e quais nas equações cinemáticas?
4.2 Usar os resultados do Exercício 3.3. Após calcular as deformações no ponto A, calcular
as tensões produzidas por esta deformação. Calcular a variação de volume deste tipo de
deformação. Separar o tensor de tensões esférico e desviador e calcular torção máxima para
que não haja falha, para limite de escoamento do material de 100 MPa, usando critério de
máxima tensão cisalhante. E = 2; 1 105 MPa, = 0; 3 .
4.3 Todo estado plano de deformações é também um estado plano de tensões e vice -versa? Para
responder a esta pregunta analise o caso de uma barra sob tração (estado uniaxial de tensões).
4.4 Use os resultados de deformação do Exercício 3.4 e calcule as tensões nos pontos P1 e P2. Use
a relação constitutiva triaxial (4.15) e a do modelo de estado plano de tensões (4.31). Discuta
qual é a solução mais adequada para este problema. Calcule as tensões e direções principais de
tensão nos pontos avaliados. Compare com as direções principais das deformações nos mesmos
pontos.
4.5 Prove que as direções principais de deformação e tensão num sólido linear isotrópico são as
mesmas.
Parte II
Estudaremos neste capítulo o modelo de barras, utilizado tanto em estruturas de construção civis,
nas treliças de pontes, viadutos, torres de transmissão elétrica, quanto em mecanismos e estruturas
aeronáuticas. Em qualquer dos casos, o modelo de barras considera que o componente desenvolve
exclusivamente esforços axiais. De fato, a designação “treliça” é formalmente de…nida como uma
estrutura constituída por barras unidas apenas pelas extremidades, sendo essas uniões feitas através
de rótulas (denominadas “nós” da treliça) perfeitamente articuladas. Também, o carregamento é
considerado aplicado apenas nos nós, sendo vedada a aplicação de cargas concentradas no vão de
alguma barra ou de cargas distribuídas. Como consequência dessas restrições, nenhuma barra sofre
‡exão ou esforços cortantes, isto é, sabe-se de antemão que todas as barras estão sujeitas apenas a
esforços axiais de tração ou compressão. Estruturas que não se adequam a esta condição deverão
ser simuladas com modelos de vigas que incorporam, além de esforços axiais, os de ‡exão, de torção
e de cisalhamento. Este é o caso dos modelos de vigas, tema do próximo capítulo.
Note-se, por outro lado, que a construção de estruturas mecânicas rotuladas foi abandonada
nos primeiros anos do século 20 devido aos problemas de corrosão entre as superfícies de contato,
originadas pelo movimento relativo de deslizamento e atrito sob altas forças compressivas. Assim,
as estruturas são construídas através de uniões rígidas entre as barras, usando rebites, solda ou
chapas auxiliares. Dessa forma, praticamente não existem (rigorosamente falando) treliças reais.
Entretanto, muitas das estruturas usadas em engenharia, como certos tipos de pontes, viadutos e
torres de transmissão elétrica, são construídos com barras cuja relação entre seu comprimento e
dimensão da seção transversal é su…cientemente grande para que, embora exista ‡exão nas barras,
esta seja pequena o bastante para ser desprezada. É nesse ponto então que se usa atualmente um
modelo de elementos …nitos de barras para analisar a estrutura como uma treliça. Do ponto de
vista de esforço computacional ou esforço do analista para a geração de dados, é quase indiferente
a opção por usar um modelo de barras ou de viga. O modelo baseado em vigas, como será visto
nos capítulos seguintes, exige do usuário a identi…cação da orientação da seção no espaço, o que,
em caso de estruturas espaciais pode resultar razoavelmente trabalhoso. A etapa de análise dos
resultados também torna-se mais longa no caso de vigas. Isso faz com que, caso o problema permita,
pode-se, com vantagem, usar o modelo de treliça. Evidentemente, entretanto, existirá toda uma
classe de problemas em que a ‡exão ou torção nos elementos será fundamental, e não se terá então
possibilidade de opção entre modelos.
excessivamente mecanicista como esse não é capaz de descrever o método de elementos …nitos para
problemas mais complexos, como os de elementos sólidos, de placas, cascas, ‡uidos, etc., além de
outros fenômenos físicos (acústica, escoamentos de ‡uidos, campos elétricos, etc.). Assim, após a
descrição inicial do MEF para barra e vigas vistos neste e no próximo capítulos, a fundamentação
mais geral do MEF é introduzida no Capítulo 7, usando novamente o problema de barras como
pano de fundo. Os demais capítulos aplicam o método a diversos outros problemas de mecânica dos
sólidos.
y y
Px1 1 Px1 1
s
z z
L x N(x)
2
Px2
(a) (b)
Figura 5.1: (a) Barra submetida a esforços nodais axial; (b) diagrama de corpo livre à esquerda de
uma seção arbitrária s.
Consideremos, por simplicidade, uma barra reta de comprimento L e seção transversal uniforme
de área A, como na Figura 5.1(a). As extremidades da barra são denominadas nós locais 1 e 2 (ou
I e J). É de…nido um sistema local de coordenadas xyz com origem no centroide da seção do nó
1, e com o eixo x orientado na direção do nó 2. Considere a barra submetida apenas aos esforços
normais Px1 e Px2 aplicados nos nós do elemento. Formulando o equilíbrio de forças externas,
temos que:
Px1 + Px2 = 0: (5.1)
Note que os esforços nodais Px1 e Px2 são de…nidos como positivos quando atuam no sentido
positivo do eixo local x, diferentemente do esforço normal numa seção arbitrária, Nx , (Figura 5.1b.)
que é de…nido como positivo se atua gerando tração no material.
Uma outra forma para a equação de equilíbrio pode ser obtida, agora relacionando Px1 com
o esforço normal Nx que atua internamente no material numa seção arbitrária s, como indicado no
diagrama de corpo livre da Figura 5.1b. Considera-se que as tensões se distribuem uniformemente
na seção (não há efeitos de concentração de tensões), tal que o esforço normal é dado em qualquer
seção por
Nx = Px1 = x A: (5.2)
Em seguida devemos considerar as equações constitutivas no equacionamento. Nesse caso, con-
sideramos que o comportamento do material da barra é elástico-linear, de forma que a relação
tensão-deformação é a lei de Hooke, em sua forma unidimensional:
x = E"x ; (5.3)
dux
"x = : (5.4)
dx
y
Configuração
indeformada
L0 x
y ux2
Configuração
deformada
Considera-se que a deformação seja uniforme ao longo do elemento, de forma que ela possa
ser de…nida a partir dos deslocamentos dos nós extemos, ux1 e ux2 , como ilustrado na Figura 5.2.
Então, numa seção arbitrária de coordnada x, o deslocamento é dado por
L x x
ux (x) = ux1 + ux2 (5.5)
L L
onde L é o comprimento da barra. A relação cinemática (5.4) mostra que a deformação é uniforme
e vale
ux2 ux1
"x = (5.6)
L
Deve-se notar que na ausência de forças de corpo (como peso próprio), essa expressão é exata, isto
é, a deformação na barra é uniforme ao longo desta.
Substituindo a equação cinemática (5.6) na equação constitutiva (5.3) e esta última nas equações
de equilíbrio (5.2), tem-se as expressões para os esforços nodais
ux2 ux1
Px1 = xA = AE"x = AE ;
L
ux2 ux1
Px2 = Px1 = AE : (5.7)
L
80 Capítulo 5. Análise matricial - modelo de barras
AE 1 1 ux1 Px1
K= ; U= ; P= : (5.9)
L 1 1 ux2 Px2
Observações:
Vetor de forças internas nodais: Vetor que contém as solicitações externas ao sistema
considerado. Observemos que cada componente deste vetor atua sobre o grau de liberdade
que lhe corresponde no vetor de deslocamentos.
F x
Fx1 = R
ux1 = 0
z
2 AE AE 3
6 L L 7 ux1 = 0 Px1 = R =?
4 5 = :
AE AE ux2 =? Px2
L L
A primeira equação não pode ser utilizada pois contém a reação R também desconhecida. Por outro
lado, como resta apenas um deslocamento incógnito, basta usar uma única equação para resolver
o problema, que é a segunda equação. Nesta, o termo que multiplica ux1 = 0 se anula. Assim, o
problema se reduz a
AE AE Px2 L
0+ ux2 = Px2 =) ux2 = :
L L AE
Uma vez obtido o deslocamento ux2 , é possível calcular as outras grandezas de interesse: deformações
e tensões nos elementos, usando as equações correspondentes (5.3) e (5.6):
ux2 ux1
"x = ; x = E"x :
L
Observemos agora um problema algo mais complexo que o anterior, envolvendo três barras conec-
tadas através de nós, como na Figura 5.4.
L1 = 50
2
3
L2 = 20 F
L3 = 20 4
x
Figura 5.4: Modelo de barra modelada por três elementos …nitos de barra.
Cada nó é identi…cado por um número e caracterizado por sua posição em relação a um sistema
de coordenadas global, único para toda a estrutura, gerando uma tabela de coordenadas dos nós.
Os elementos (barras) são também identi…cados por um número e caracterizados através dos nós
82 Capítulo 5. Análise matricial - modelo de barras
que estes conectam. Esta identi…cação gera então uma tabela de conectividade de elementos:
Tabela de coordenadas
Nó Coord. x [mm]
Elemento Noi Nof
1 0; 0
1 1 2
2 50; 0 ; : (5.10)
2 2 3
3 70; 0
3 3 4
4 90; 0
Existe então dois tipos de numeração dos nós, a numeração global dos nós, que identi…ca cada
nó do modelo, e a numeração local, que identi…ca os dois nós de cada elemento. Assim, cada
elemento tem seus próprios nós, referidos por 1/2, noi/nof ou ainda I/J. Essa numeração local é
associada à numeração global na tabela de conectividade.
Como informação adicional, devemos incorporar dados de propriedades do material e pro-
priedades geométricas de cada elemento, assim como dados carregamento e vínculos. Neste exemplo,
as propriedades citadas são o módulo de elasticidade e a área da seção transversal de cada barra
respectivamente:
Tabelahde propriedades
i
2
Elemento E N/mm A mm2
Nó
1 2; 0 105 5 1 u1 = 0 (5.11)
2 2; 0 105 10 4 F = 500 N
3 2; 0 105 10
1. Coordenadas nodais;
5. Carregamentos nodais.
Uma vez um programa tenha lido todos os dados necessários, ele entra numa nova fase, a fase
de processamento, que consiste no cálculo propriamente dito, como descrito a seguir.
Fase de processamento
A Figura 5.5a mostra o modelo de elementos …nitos para o problema. Tem-se o sistema global de
coordenadas, xyz, que foi posicionado com a origem no nó 1 e o eixo x estendendo-se ao longo da
viga. Tem-se a indicação dos deslocamentos nodais, ux1 , ux2 , ux3 , e ux4 , e a indicação das forças
nodas externas aplicadas sobre a peça: Fx1 , Fx2 , Fx3 , e Fx4 . No exemplo, apenas Fx4 é não nula,
mas eventualmente, cada nó de um modelo pode ser submetido a uma carga. No nó 1, devido ao
engaste, além de uma força aplicada, conhecida, Fx1 , (no presente caso nula), será desenvolvida uma
reação incógnita Rx1 . Essa reação será determinada de forma bastante simples ao …nal do processo
de cálculo.
Em seguida realizam-se cortes s1 , s2 , ; s6 , a distâncias in…nitesimalmente próximas de cada
nó. Com isso, podem-se construir diagramas de corpo livre de cada elemento e de cada nó, como
visto na Figura 5.5b. Surge mais claramente a distinção entre nó global da estrutura e nó local
dos elementos. No exemplo, a estrutura foi de…nida por 4 nós globais. Cada elemento é de…nido
por 2 nós locais, denominados 1 e 2, (ou I e J em alguns softwares). Os nós locais podem ser
5.2. Sistema de barras 83
y
(a)
e1 e2 e3
Fx1 + Rx1
(b)
e1
1
Px1 P1x2
Elem. 1
Fx2
e2
2 2
Px2 Px3
Elem. 2
2 3
Px3 Px3
Fx3
e3
3 3
Px3 Px4
Elem. 3
3
Px4 Fx4
Figura 5.5: (a) deslocamentos e forças externas nodais; (b) diagramas de corpo livre dos elementos
e nós.
84 Capítulo 5. Análise matricial - modelo de barras
entendidos como os pontos localizados in…nitesimalmente próximos aos nós globais, à direita e à
esquerda destes. As forças que atuam em cada elemento são os esforços internos nos seus nós locais,
e as forças que atuam nos nós globais são constituídos por duas partes:
nó 1 ! 1 =F +R ;
Px1 x1 x1
nó 2 ! 1 + P2 = F ;
Px2 x1 x2
2 + P3 = F ;
(5.12)
nó 3 ! Px2 x1 x3
nó 4 ! 3 =F :
Px2 x4
Fx1 , Fx2 , Fx3 , e Fx4 são as forças externas aplicadas em cada nó. No exemplo, tem-se que Fx1 =
Fx2 = Fx3 = 0 e Fx4 = F .
Na segunda e terceira equações, a resultante dos esforços é nulo (não há forças externas atuantes
nestes nós). A última equação mostra que a força no extremo direito da última barra é a força
externa F atuando no sistema. Por outro lado, já foi visto que existe uma relação de equilíbrio
entre esforços e deslocamentos em cada barra, isto é, o MEF, quando aplicado a problemas
de barras, garante não apenas o equilíbrio dos nós, mas também o equilíbrio de cada elemento.
Assim, para que cada elemento se mantenha em equilíbrio a relação (5.8) precisa ser satisfeita:
A1 E 1 1 1 ux1 1
Px1 1
Elemento 1 ! = 1 ; ! K1 U1 = P ;
L1 1 1 ux2 Px2
A2 E 2 1 1 ux2 2
Px1 2
Elemento 2 ! = 2 ; ! K2 U2 = P ;
L2 1 1 ux3 Px2
A3 E 3 1 1 ux3 3
Px1 3
Elemento 3 ! = 3 : ! K3 U3 = P ; (5.13)
L3 1 1 ux4 Px2
onde K1 , U1 e P1 , etc., são as matrizes e vetores de cada elemento. As expressões acima são
1 , P 1 , etc., com os deslocamentos nodais, através dos coe…cientes
relações entre forças internas, Px1 x2
de rigidez de cada elemento. Observa-se que os deslocamentos nos nós dos elementos, ux1 , ux2 , etc.,
são paralelos à direção global x, uma vez que o componente do exemplo tem todos os elementos
paralelos ao eixo global x. Assim, pode-se fazer u1 = ux1 , ux2 = ux2 , etc.
Substituindo (5.13) no sistema de equações de equilíbrio dos nós, eq.(5.12), obtém-se
A1 E 1 A1 E 1
nó 1 ! ux1 ux2 = Fx1 + Rx1 ;
L1 L1
A1 E 1 A1 E1 A2 E2 A2 E 2
nó 2 ! ux1 + + ux2 ux3 = Fx2 ;
L1 L1 L2 L2
(5.14)
A2 E 2 A2 E2 A3 E3 A3 E 3
nó 3 ! ux2 + + ux3 ux4 = Fx3 ;
L2 L2 L3 L3
A3 E 3 A3 E 3
nó 4 ! ux3 + ux4 = Fx4 :
L3 L3
5.2. Sistema de barras 85
2 A1 E1 A1 E1
3
L1 L1 0 0
6 78 u = 0 9
6 7> x1 >
6 A1 E1
L1
A1 E1
L1 + A2 E2
L2
A2 E2
L2 0 7>< >
=
6 7 ux2
6 7
6 7> ux3 >
6 0 A2 E2
L2
A2 E2
L2 + A3 E3
L3
A3 E3
L3 7>: >
;
4 5 ux4
A3 E3 A3 E3
0 0 L3 L3
8 9 8 9
>
> Fx1 = 0 >
> >
> Rx1 =? >
>
< = < =
Fx2 = 0 0
= + : (5.15)
>
> F =0 >
> > 0 >
: x3 ; > : >
;
Fx4 = F 0
KU = Fa +R = F (5.16)
2 3
A1 E1 A1 E1
L1 L1 0 0
6 7
Elem 1: Nó 1 Nó 2 6 7
Nó 1 ! A1 E1 1 1 6 A1 E1 A1 E1 7
! K=6 L1 L1 0 0 7;
Nó 2 ! L1 1 1 6 7
6 7
4 0 0 0 0 5
0 0 0 0
2 3
A1 E1 A1 E1
0 0
6 L1 L1 7
6 h i h i 7
Elem 2: No 1 Nó 2 6 A1 E1 A1 E1 A2 E2 A2 E2 7
Nó 2 ! A2 E2 1 1 6 L1 L1 + L2 L2 0 7
!K=6
6 h i h i
7
7
Nó 3 ! L2 1 1 6 A2 E2 A2 E2 7
6 0 L2 L2 0 7
4 5
0 0 0 0
86 Capítulo 5. Análise matricial - modelo de barras
2 A1 E1 A1 E1
3
L1 L1 0 0
6 7
6 7
6 A1 E1 h i 7
6 A1 E1 h L1 i A2 E2 7
6 L1 L2 0 7
Elem 3: No 3 Nó 4 6 + AL2 E 2 7
Nó 3 ! A3 E3 1 1 6 2 7
!K=6
6 h i 7:
7
Nó 4 ! L3 1 1 6 h i A2 E2 n o 7
6 A2 E2 n L2 o A3 E3 7
6 0 L2 L3 7
6 + AL3 E 3 7
6 3 7
4 n o n o 5
A3 E3 A3 E3
0 0 L3 L3
(5.17)
O processo é cumulativo, isto é, no momento em que se sobrepôs o último elemento a matriz está
completa e a matriz é idêntica àquela em (5.16). Note que marcamos na equação …nal os termos
correspondentes a cada elemento com ( ), [ ] e f g respectivamente. O processo induzido na eq.
(5.17) é facilmente automatizavel computacionalmente, e é conhecido por etapa de sobreposição
da matriz global.
A etapa seguinte consiste na imposição das condições de contorno no sistema algébrico. Deve-se
impor neste sistema de equações a informação de que o deslocamento ux1 é nulo, dado que o nó
correspondente se encontra engastado. Consequentemente, existe uma força desconhecida atuando
neste nó que é a reação de vínculo Rx1 . Disto se conclui que, ao mesmo tempo que eliminamos uma
incógnita do problema, uma das equações torna-se temporariamente inútil, uma vez que não são
conhecidos todos os seus termos (o valor da reação, presente no termo à direita da igualdade em
(5.16)).
Todos os termos da primeira coluna multiplicam a variável conhecida ux1 ; devendo passar para
o termo à direita da igualdade. Como neste caso ux1 = 0; estes se anulam. O sistema (5.16) …ca
modi…cado para a forma
2 A1 E1
38 9 8 9 8 9
0 0 0 A1 E1
L1 > ux1 > > Rx1 > > >
6 0 K22 A2 E2
0 7>< >
= >
< >
= >
< L1
A1 E1
>
=
6 L2 7 ux2 Fx2 = 0 L1
6 A2 E2 A3 E3 7 = ux1
4 0 K33 5>> u >
> > Fx3 = 0 > > 0 >
L2
A3 E3
L3
A3 E3 : x3 ; > : >
; >
: >
;
0 0 ux4 Fx4 = F 0
L3 L3
Fase de pós-processamento
O cálculo das tensões e esforços nas barras a partir deste ponto e muito simples. O cálculo é feito
elemento a elemento. Por exemplo, para o elemento 2, inicialmente deve-se identi…car no vetor
de deslocamentos nodais globais, os valores de deslocamentos associados ao elemento 2.
Isso é feito com a ajuda dos dados de conectividade dos elementos. Os deslocamentos do elemento
são ux2 e ux3 . Uma vez que o sistema local de coordenada do elemento é paralelo ao sistema global,
tem-se que na direção global x, os deslocamentos nodais no elemento 2 são ux2 = ux2 e ux3 = ux3 .
Em seguida, calcula-se a deformação no elemento 2, a tensões normal na direção axial x do
elemento, e …nalmente se obtém o esforço normal na barra:
ux3 ux2
"x = ; x = E"x ; N x = A2 x: (5.19)
L2
Cálculos
Para ilustrar todas as operações descritas acima, vamos substituir nestas os valores numércos dos
dados do exemplo. As componentes da matriz de rigidez global modi…cada da eq. (5.18) são dadas
por:
A1 E 1 5 2; 0 105
= = 0; 2 105 N/mm;
L1 50
A2 E 2 10 2; 0 105
= = 1; 0 105 N/mm;
L2 20
A3 E 3 10 2; 0 105
= = 1; 0 105 N/mm:
L3 20
Assim, o sistema de equações de equilíbrio modi…cado …ca
2 38 9 8 9
1; 2 1; 0 0 < u2 = < 0 =
1; 0 105 4 1; 0 2; 0 1; 0 5 u3 = 0 :
: ; : ;
0 1; 0 1; 0 u4 500
Esse sistema pode ser resolvido usando, por exemplo, o método de Gauss para solução de sistemas
algébricos simétricos. O resultado são os seguintes deslocamentos nodais:
8 9 8 9
< ux2 = < 0; 025 =
ux3 = 0; 030 mm (lembremos que ux1 = 0):
: ; : ;
ux4 0; 035
ux2 ux1
"1x = = 0; 00050; 1
x = E"1x = 100 N/mm2 ; Nx1 = A1 1
x = 500 N,
L1
ux3 ux2
"2x = = 2; 5 10 4; 2
x = E"2x = 50 N/mm2 ; Nx2 = A2 2
x = 500 N,
L2
ux4 ux3
"3x = = 2; 5 10 4; 3
x = E"3x = 50 N/mm2 ; Nx3 = A3 3
x = 500 N.
L3
pelo analista. No exemplo foi usada a numeração de nós e de elementos não sequencial de forma
a tornar evidente que isto não in‡ui nos resultados dos cálculos (embora altere as matrizes). Um
outro aspecto incorporado é a aplicação de um deslocamento conhecido não nulo num dos nós,
modelando, por exemplo, um erro de montagem ou uma interferência de montagem. Os dados
necessários são de mesmos tipos do exemplo anterior: coordenadas, conectividade, propriedades
de material, propriedades geométricas e condições de carregamento e vínculo, com valores dados a
seguir.
(a) y
5
3
1 2
x
F1 = 1000 N F2 = 500 N 4
(b) y
e5 5 ux5, Fx5
e1 3 e2 e3
ux1, Fx1 1 2 4 ux4, Fx4
ux2, Fx2 ux3, Fx3
Fase de pré-processamento
A1 E 1 1 1 75398 75398
Elem. 1 ! K1 = = = K2 = K3 ;
L1 1 1 75398 75398
A4 E 4 1 1 70686 70686
Elem. 2 ! K4 = = :
L4 1 1 70686 70686
Essas reações só serão determinadas ao …nal do processo. Assim, o sistema …ca com três equações
relevantes e três incógnitas. O sistema a ser resolvido, nesse ponto, tem a forma:
8 9
2 3>>
> u x1 >
> 8 9
> >
>
75398 0 75398 0 0 < ux2 = < 1:000 =
4 0 150796 75398 75398 0 5 ux3 = 500 :
> > : ;
75398 75398 221482 0 70686 > >
> u x4 = 0 >
>
> 0
: ;
ux5 = 0; 2
Passamos então as duas últimas colunas da matriz multiplicadas pelos correspondentes desloca-
mentos para o lado direito da igualdade. O sistema …ca:
2 38 9 8 9 8 9
75398 0 75398 < ux1 = < 1000 = < 0 =
4 0 150796 75398 5 ux2 = 500 + 0; 2 0 : (5.21)
: ; : ; : ;
75398 75398 221482 ux3 0 70686
Etapa de solução
O sistema modi…cado (5.21) possui matriz não singular, e pode ser resolvido, gerando a solução
8 9 8 9
< ux1 = < 0; 11025 =
^ =
U ux2 = 0; 06507 mm.
: ; : ;
ux3 0; 12352
Pode-se então, determinar o vetor completo de solução de deslocamentos nodais, incorporando
os deslocamentos prescritos:
8 9 8 9
>
> ux1 >
> >
> 0; 11025 >
>
>
> >
> >
> >
>
< ux2 = < 0; 06507 =
U= ux3 = 0; 12352 mm.
>
> >
> >
> >
>
> ux4
> >
> >
> 0 >
>
: ; : ;
ux5 0; 2
Fase de pós-processamento
R = KU Fa (5.22)
Note que as linhas de KU que não correspondem a graus de liberdade do apoio, são iguais às
linhas correspondentes de Fa , e as linhas de R são nulas. As únicas linhas não nulas de R são
aquelas que correspondem aos graus de liberdade que tiveram valores prescritos. Isso signi…ca que,
a rigor, a operação na equação (5.22) precisa ser feita apenas nas linhas de K que tem deslocamentos
prescritos. Especi…camente no exemplo, para obter as reações R4 ; R5 ; deve-se multiplicar a quarta
5.3. Estruturas planas de barras 91
K41 ux1 + K42 ux2 + K43 ux3 + K44 ux4 + K45 u5x = F4 + R4 = 0 + 4:906; 4 ;
K51 ux1 + K52 ux2 + K53 ux3 + K54 ux4 + K55 u5x = F5 + R5 = 0 5:406; 4 :
A multiplicação de U pelas tres primeiras linhas de K resultam exatamente nos valores prescritos
de carregamentos nos nós 1, 2 e 3, isto é, Fx1 = 1:000 N, Fx2 = 500 N, Fx3 = 0.
ux3 ux1
"1x = = 6; 34 10 5; 1
x = E"x1 = 13; 27 N/mm2 ; Nx1 = A1 x1 = 1000 N,
L1
ux2 ux3
"2x = = 2; 92 10 4; 2
x = E"x2 = 58:45 N/mm2 ; Nx2 = A2 x2 = 4406 N,
L2
ux4 ux2
"3x = = 3; 25 10 4; 3
x = E"x3 = 65; 07 N/mm2 ; Nx3 = A3 x3 = 4906 N,
L3
ux5 ux3
"4x = = 1; 91 10 4; 4
x = E"x4 = 38; 24 N/mm2 ; Nx4 = A3 x3 = 5406 N.
L4
(5.23)
Assim, o primeiro e quarto elemento se encontram submetidos a compressão, enquanto o segundo
e terceiro a tração.
Abrindo as equações,
AE AE
ux1 ux2 = Px1 ;
L L
AE AE
ux1 + ux2 = Px2 : (5.24)
L L
O fato da barra não possuir rigidez quanto aos deslocamentos transversais signi…ca que sua rigidez
92 Capítulo 5. Análise matricial - modelo de barras
uy2 Py2
x x
u2 ux2 P2 Px2
uy2 Py2
uy1 Py1
2 ux2 2 Px2
u1 ux1 P1 Px1
y y
uy1 α y Py1 α
1 ux1 1 Px1
(a) (b)
x
Figura 5.7: (a) deslocamentos nodais nos sistemas de coordenadas local e global; (b) esforços nos
mesmos sistemas.
Observamos que nesta última expressão não foi feita outra coisa que agregar à matriz de rigidez
(2 2) original, os graus de liberdade associados aos deslocamentos transversais dos nós. Assim,
estas equações descrevem o equilíbrio da barra no seu sistema local de coordenadas (x; y).
y
y
uy
u
uy ux
x
α
0 ux x
Seja assim o sistema local de coordenadas bidimensional associadas aos vetores unitários ex e
ey e seja o sistema global com vetores ex e ey : Um vetor u qualquer pode ser descrito pelas suas
componentes locais (ux ; uy ); assim como pelas suas componentes globais (ux ; uy ): A transformação
de componentes de um sistema para outro segue a seguinte regra de rotação vista na eq.(1.54): (ver
5.3. Estruturas planas de barras 93
Figura 5.8)
P = RP (5.28)
Note que as componentes de força são rotacionadas da mesma forma que as de deslocamentos,
uma vez que, por de…nição, qualquer vetor se transforma da mesma maneira.
Substituindo (5.27) e (5.28) em (5.26) obtemos
K R U = R P: (5.29)
1
Mas note-se que as matrizes rotação tem a propriedade2 que RT = R . Assim pre-multiplicamos
(5.29) por RT obtendo
T
K R} Ue = Pe
|R {z ! Ke Ue = Pe (5.30)
Ke
Nessa expressão introduziu-se o sobre índice “e”para indicar que se referem a um elemento arbitrário
e. Ke é a matriz de rigidez do elemento nas direções globais, Ue e Pe são os vetores de
deslocamentos nodais do elemento nas direções globais e o vetor de esforços nodais nas mesmas
direções, como mostrado na Figura 5.7.
Devido à sua simplicidade da de…nição de Ke em (5.30), pode-se obter explicitamente a matriz
de rigidez de um elemento …nito de barra orientado no plano xy:
2 3
cos2 cos sen cos2 cos sen
AE 6
6 cos sen sen 2 cos sen sen 2 7
7
K= (5.31)
L 4 cos2 cos sen cos2 cos sen 5
cos sen sen 2 cos sen sen 2
Fase de pré-processamento
y
e2
F = 10
e3
e1
5. Construção da tabela de graus de liberdade. Esse não é um conjunto de dados, mas uma
tabela auxiliar que ajuda no entendimento dos processos de sobreposição das matrizes. Essa
tabela identi…ca os graus de liberdade ou equações totais do sistema. Cada nó contribui com
5.3. Estruturas planas de barras 95
6. Construção da tabela de indexação. Essa também não é uma tabela de dados, mas uma
tabela auxiliar para facilitar o entendimento do processo de sobreposição. Ela identi…car em
que equações cada elemento contribui, usando a informação da tabela de conectividade e de
graus de liberdade: Em cada elemento, listam-se os graus de liberdade associados a cada
nó (tabela de graus de liberdade) na ordem fornecida pela conectividade do elemento. Por
exemplo, o elemento 1, com conectividade 1-2, conecta os graus de liberdade 1,2,3 e 4:
Tabela de Indexação
Elemento Nó 1 Nó 2
u1x u1y u2x u2y
1 1 2 3 4
2 5 6 3 4
3 1 2 5 6
Fase de processamento
Etapa 1 - Cálculo das matrizes elementares. A partir das coordenadas nodais do ele-
mento identi…ca-se sua orientação em relação ao eixo global x e seu comprimento. Para isto,
de…ne-se o eixo local x do elemento tomando sua origem no nó 1 do elemento (dado pela sua
conectividade) e apontando para o nó 2 do elemento. O eixo local y é perpendicular ao x,
contido no plano xy, e é obtido rotacionando este último 90 graus no sentido anti-horário.
Vimos que a matriz de rigidez de um elemento arbitrário no sistema global de coordenadas é
dada por (5.31):
2 3
cos2 cos sen cos2 cos sen
Ae E e 6
6 cos sen sen2 cos sen sen2 7
7:
Ke = 4 2 2 5 (5.36)
Le cos cos sen cos cos sen
cos sen sen2 cos sen sen2
Elemento 2:
= 0 ; sen = 0; cos = 1, A2 = 3 10 4m2 , E 1 = 2; 07 1011 N/m2 , L2 = 1; 5 m.
2 3
1 0 1 0
6 0 0 0 7
K2 = 4; 14 107 6
0 7 N:
4 1 0 1 0 5m
0 0 0 0
Elemento 3:
96 Capítulo 5. Análise matricial - modelo de barras
= 90 ; sen = 1; cos = 0, A3 = 3 10 4
m2 , E1 = 2; 07 1011 N/m2 , L3 = 1; 5 m.
2 3
0 0 0 0
6 0 1 0 1 7
K3 = 4; 14 107 6 7N
4 0 0 0 0 5 m:
0 1 0 1
e após a inserção da matriz K3 ; a matriz de rigidez global toma sua forma …nal:
2 3
1; 464 1; 464 1; 464 1; 464 0 0
6 1; 464 5; 604 1; 464 1; 464 0 4; 14 7
6 7
6
76 1; 464 1; 464 5; 604 1; 464 4; 14 0 7
K =1 10 6 7: (5.37)
1; 464 1; 464 1; 464 1; 464 0 0 7
6 7
4 0 0 4; 14 0 4; 14 0 5
0 4; 14 0 0 0 4; 14
Nos nós 1 e 3, nas direções em que o deslocamento é restrito, existem forças nodais incógnitas,
as reações, que serão determinadas na fase de pós-processamento.
Os deslocamentos dos nós 1 e 3 estão limitados pelos vínculos na parede de suporte. Estes
determinam que ux1 = ux3 = uy3 = 0:
2 38 9 8 9
1; 464 1; 464 1; 464 1; 464 0 0 > ux1 = 0
> >
> >
> Rx1 =? >
>
6 1; 464 5; 604 1; 464 1; 464 0 4; 14 7>> uy1 >
> >
> 0p >
>
6 7>> >
> >
> >
>
6
76 1; 464 1; 464 5; 604 1; 464 4; 14 0 7 < ux2 = <
500 p2
=
10 6 7 = :
1; 464 1; 464 1; 464 1; 464 0 0 7 > uy2 > > >
6 7> > > 500 2 >
4 0 0 4; 14 0 4; 14 0 5>>
> u =0
>
> >
> > Rx3 =?
>
>
>
>
>
: x3 >
; > : >
;
0 4; 14 0 0 0 4; 14 uy3 = 0 Ry3 =?
As colunas 1, 5 e 6 são multiplicadas por valores conhecidos de deslocamentos (zeros neste caso)
e passam para o termo F. Com isso o sistema modi…cado tem a forma …nal K ^U
^ = F:
^
2 38 9 8 9
5; 604 1; 464 1; 464 < uy1 = < 0p =
107 4 1; 464 5; 604 1; 464 5 ux2 = 500 p2 ;
: ; : ;
1; 464 1; 464 1; 464 uy2 500 2
cuja solução é 8 1 9 8 9
< uy = < 1; 708 =
5
u2 = 3; 416 10 m:
: x2 ; : ;
uy 9; 954
98 Capítulo 5. Análise matricial - modelo de barras
Esses deslocamentos podem ser ajuntados àqueles deslocamentos prescritos, gerando o vetor com-
pleto de deslocamentos nodais do modelo:
8 9 8 9
>
> u x1 >
> > > 0 >
>
>
> u >
> >
> 1; 708 >
>
>
> y1 >
> > >
< = > < >
=
ux2 3; 416 5
U= = 10 m:
>
> uy2 > > >
> 9; 954 >
>
>
> >
> >
> >
>
>
> u >
> > 0 >
: x3
; > : >
;
uy3 0
Observamos que os deslocamentos são pequenos comparados ao comprimento e à seção das barras,
respeitando as hipóteses adotadas.
Fase de pós-processamento
Etapa 1 - Cálculo das reações nos apoios. Multiplicando a primeira linha de K pelo vetor
U; obtemos a reação Rx1 no nó 1, na direção global x:
1; 464 107 u1y 1; 464 107 u2x 1; 464 107 u2y = Rx1 = 707; 1 N:
De forma geral, o produto da matriz de rigidez original K por U resulta no vetor completo
de forças nodais, que inclui tanto as forças aplicadas quanto as reações nos apoios, isto é,
R = KU Fa .
Etapa 2 - Cálculo de tensões e esforços nas barras.
As deformações são calculadas a partir dos deslocamentos nodais axiais em cada barra,
calculados em suas direções locais. Para o elemento 1,
ux2 ux1
"1x = :
L1
Os deslocamentos axiais no elemento são obtidos rotacionando as componentes de deslocamen-
tos do elemento obtidas do vetor global U, usando os dados de conectividade do elemento.
Usando a rotação (5.27) para o elemento 1 tem-se
8 9 2 38 9
>
> ux1 >
> cos sen 0 0 >
> ux1 >
>
< = 6 < =
uy1 6 sen cos 0 0 7 7 uy1
=4 :
>
> ux2 >
> 0 0 cos sen 5 > > ux2 >
>
: ; : ;
uy2 0 0 sen cos uy2
elasticidade, e o esforço normal é calculado também de forma simples. Por exemplo, para o
elemento 1,
1
x = E"1x = 2; 07 1011 ( 1; 6098 10 5
)= 3; 332 106 N/m2 ,
Nx1 = A1 1
x = 3 10 4
( 3; 332 106 ) = 1000 N.
As equações relevantes são a primeira e quarta, dado que as outras são identicamente nulas (não
existe rigidez nas direções transversais à barra). Estas equações, escritas no sistema local, podem
ser rotacionadas para o sistema global mediante o uso de uma matriz de rotação, agora de dimensões
6 6. Para se obter esta matriz de rotação (que fornece as componentes de coordenadas locais a
partir das globais) parte-se da eq. (1.52):
8 9 2 38 9
< ux = R11 R12 R13 < ux =
uy = 4 R21 R22 R23 5 uy
: ; : ;
uz R31 R32 R33 uz
Essa matriz rotaciona as componentes de um vetor qualquer. Assim, é usada para rotacionar as
componentes dos vetores força e deslocamentos nodais nos dois nós. Por comodidade, isso é feito
de forma simultânea, montando a matriz de rotação R numa forma tal que
8 9 2 38 9
>
> u x1 > R 11 R 12 R 13 > u x1 >
> u >
> > 6 R
> R R 7>
>
> u
>
>
>
>
> y1 >
> 6 21 22 23 7 >
> y1 >
>
< = 6 7 < =
uz 6 R 31 R 32 R 33 7 u z1
=6 ; (5.40)
>
> ux2 > > 6 R11 R12 R13 7 7>> ux2 > >
>
> > > >
>
> u > > 4 R21 R22 R23 5 > > u > >
: y2 > ; >
: y2 > ;
uz2 R31 R32 R33 uz2
e, de forma análoga para os esforços nodais. Em forma simbólica essas rotações são
e.
Um ponto importante a ser notado é o seguinte. É fácil veri…car que a matriz global Ke ;
resultado da operação (5.42), é uma matriz que depende apenas dos cossenos diretores do vetor
unitário local e1 , (ao longo do elemento, com origem no nó local 1) que são R11 , R12 e R13 : As
demais componentes de R não são usadas, devido aos zeros contidos em K.
Os vetores que de…nem as coordenadas globais dos dois nós do elemento são designados por
x2 = (x2 ; y2 ; z2 ) e x1 = (x1 ; y1 ; z1 ). Então, e comprimento Le do elemento e os cossenos diretores
de e1 são calculados por:
x2 x1 y2 y1 z2 z1
R11 = l = , R12 = m = , R13 = n = ;
q L L L
Le = (x2 x1)2 + (y2 y1 )2 + (z2 z1 )2 :
(5.43)
Assim, a matriz de rigidez de uma barra com orientação arbitrária no espaço é dada de forma
explícita como:
Ke = ReT Ke Re , isto é,
2 2 3
l lm ln l2 lm ln
6 lm m2: mn lm m2 mn 7
6 7
e EA 66 ln mn n2 ln mn n2 7
7
K = (5.44)
L 66 l
2 lm ln l2 lm ln 7
7
4 lm m2 mn lm m2 mn 5
ln mn n2 ln mn n2
3
y
e6 e3
4 x
e5
2 e4 F
e2 6
1,732 m F
e7
1
e1 m
, 4641
1m 5 3
Solução:
Existem três graus de liberdade por nó, (ux ; uy ; uz ). Os nós do contorno devem ter condições de
contorno de deslocamentos dadas:
Condições de contorno
Nó ux uy uz
1 0 0 0
2 0 0 0
3 0 0 0
4 0 0 0
São necessários três cossenos diretores, (l; m; n ), para de…nir a orientação de cada barras.
Como não levamos em conta efeitos de ‡exão, não é preciso identi…car a orientação da seção
da barra em relação a seu eixo, nem tão pouco a forma da seção. As coordenadas nodais
e os dados de conectividade dos elementos permitem calcular o comprimento e os cossenos
diretores de cada elemento por (5.43). Os comprimentos dos elementos 1 e 4 são 1 m, das
barras 2 e 3 são 2 m, das barras 5 e 6 é de 4 m e da barra 7 de 3,4641 m. Os cossenos diretores
são as seguintes.
Tabela de cossenos diretores
Elem. l m n
1 0 1 0
2 0 0; 5 0; 866
3 0 0; 5 0; 866
4 0 1 0
5 0; 866 0; 25 0; 433
6 0; 866 0; 25 0; 433
7 1 0; 25 0
Existem três graus de liberdade por nó, (ux ; uy ; uz ), que devem, portanto, serem relacionados
na tabela de Graus de Liberdade e obviamente na matriz de rigidez dos elementos e do
102 Capítulo 5. Análise matricial - modelo de barras
sistema.
Tabela de indexação
Tab. de graus de liberdade
elem. ux1 uy1 uz1 ux2 uy2 uz2
Nó ux uy uz
1 - - - 4 5 6
1 - - -
2 - - - 4 5 6
2 - - -
3 - - - 1 2 3
3 - - -
4 - - - 1 2 3
4 - - -
5 - - - 1 2 3
5 1 2 3
6 - - - 4 5 6
6 4 5 6
7 1 2 3 4 5 6
A aplicação das condições de contorno será feita nesse exemplo modi…cando os dados da
Tabela de Indexação. Cada grau de liberdade restrito será indicado por zero na tabela
de indexação. Assim, os termos nas matrizes de rigidez de cada elemento, correspondentes a
esses graus de liberdade não serão sobrepostos no matriz global. Então, após a sobreposição
de todos os elementos todas as condições de contorno já terão sido incorporadas.
2 3
0 0 0 0 0 0
6 0 0; 25 0; 4330 0 0; 25 0; 4330 7
6 7
2;07 1011 5 10 4 6 0 0; 4330 0; 75 0 0; 4330 0; 75 7
K2 = 6 7 = K3
2 6 0 0 0 0 0 0 7
6 7
4 0 0; 25 0; 4330 0 0; 25 0; 4330 5
0 0; 4330 0; 75 0 0; 4330 0; 75
2 3
0; 75 0; 2165 0; 375 0; 75 0; 2165 0; 375
6 0; 2165 0; 0625 0; 1082 0; 2165 0; 0625 0; 1082 7
6 7
2;07 1011 5 10 4 6 0; 375 0; 1082 0; 1875 0; 375 0; 1082 0; 1875 7
K5 = 6 7;
4 6 0; 75 0; 2165 0; 375 0; 75 0; 2165 0; 375 7
6 7
4 0; 2165 0; 0625 0; 1082 0; 2165 0; 0625 0; 1082 5
0; 375 0; 1082 0; 1875 0; 375 0; 1082 0; 1875
2 3
0; 75 0; 2165 0; 375 0; 75 0; 2165 0; 375
6 0; 2165 0; 0625 0; 1082 0; 2165 0; 0625 0; 1082 7
6 7
2; 07 1011 5 10 4 6 0; 375 0; 1082 0; 1872 0; 375 0; 1082 0; 1875 7
K6 = 6 7;
4 6 0; 75 0; 2165 0; 375 0; 75 0; 2165 0; 375 7
6 7
4 0; 2165 0; 0625 0; 1082 0; 2165 0; 0625 0; 1082 5
0; 375 0; 1082 0; 1875 0; 375 0; 1082 0; 1875
5.4. Barras em 3D - treliças espaciais 103
2 3
1 0 0 1 0 0
6 0 0 0 0 0 0 7
6 7
2; 07 1011 5 10 4 6 0 0 0 0 0 0 7
K7 = 6 7:
3; 4641 6 1 0 0 1 0 0 7
6 7
4 0 0 0 0 0 0 5
0 0 0 0 0 0
A matriz de rigidez global K possui seis equações associadas aos nós 5 e 6 listadas na matriz
de graus de liberdade (a contribuição dos demais nós não foi sobreposta devido às condições de
contorno. A indexação de cada elemento segue regra idêntica ao caso bidimensional. Porém, no
presente exemplo, a matriz de indexação contem números nulos. Quando uma componente da matriz
elementar é associada a um grau de liberdade inexistente, este simplesmente não é incorporado. A
matriz global é então montada com a contribuição de cada elemento. Após a sobreposição, as
matrizes da estrutura K e F já incorporam as condições de contorno, e tem a forma
2 3
49; 28 5; 602 9; 703 29; 878 0 0
6 5; 602 118; 05 25; 209 0 0 0 7
6 7
6
6 6 9; 703 25; 209 43; 66 0 0 0 7
K= 10 6 7;
6 29; 878 0 0 49; 284 5; 602 9; 703 7
7
4 0 0 0 5; 602 118; 05 25; 209 5
0 0 0 9; 703 25; 209 43; 66
8 9 8 9
>
> Fx5 >
> >
> 500 >
>
>
> Fy5 >
> >
> 750 >
>
>
> >
> >
> >
>
< = < =
Fz5 1500
F= = : (5.45)
>
> F x6 >
> >
> 500 >>
>
> >
> >
> 750 > >
>
> F >
> > > >
>
: y6 ; : ;
Fz6 1500
Nó ux uy uz
1 0 0 0
2 0 0 0
3 0 0 0
4 0 0 0
5 1; 0822 10 5 m 1; 5614 10 5 m 4; 5773 10 5 m
6 1; 0822 10 5 m 1; 5614 10 5 m 4; 5773 10 5 m
Elem. e [MPa]
x
1 3; 2321
2 3; 2948
3 3; 2948
4 3; 2321
5 0; 3387
6 0; 3387
7 1; 2933
104 Capítulo 5. Análise matricial - modelo de barras
2. A montagem da matriz de rigidez implica calcular cada matriz elementar e realizar sua pos-
terior sobreposição na matriz global mediante os dados de conectividade.
3. As tensões de um elemento são calculadas a partir do deslocamento axial relativo dos nós do
elemento. Para isto é preciso rotacionar os deslocamentos calculados no sistema global para
o sistema local do elemento.
5. O modelo considera unicamente esforços axiais. Não levam em conta ‡exão. Isto signi…ca
que serve para simular estruturas treliçadas, com articulações nos nós, ou com uma razão de
esbeltez (L=A) grande para cada barra.
6. O modelo considera que cada elemento possui seção uniforme, sem entalhes, sem nenhuma
irregularidade geométrica. Isso signi…ca que as tensões obtidas não levam em conta efeitos
de concentração de tensões, como aquelas que surgem em furos, ranhuras, mudanças de
seção, regiões nas extremidades com pinos, soldagem, etc. As tensões assim obtidas são
tensões nominais. As tensões nas regiões perturbadas podem ser obtidas corrigindo a tensão
nominal por fatores de concentração de tensão, se os entalhes forem de geometria padrão, ou,
caso necessário, realizando uma modelagem da barra utilizando elementos …nitos de casca ou
sólidos tridimensionais.
7. Quando consideramos barras sujeitas apenas a cargas nodais, sem carregamento distribuído,
a solução obtida por elementos …nitos coincide exatamente com a solução exata do modelo
que seria obtida das equações diferenciais de barra. Note que esta é uma situação particular.
Em qualquer outro problema físico, o método de elementos …nitos se propõe apenas a obter
uma aproximação da resposta exata, e é isso que em geral se obtém.
8. O método descrito nesse capítulo é a forma mais simples do método de elementos …nitos
(MEF), e só é viável nesse formato devido à grande simplicidade do problema de barras,
(também pode ser utilizado na solução do problema de vigas, como será descrito no próximo
capítulo). Nos demais problemas de engenharia, mais complexos, um procedimento de aplica-
bilidade geral é utilizado para a formulação do MEF. Aplicações desse formalismo é descrito
e aplicado nos demais capítulos do livro. Entretanto, as etapas gerais de operações com-
putacionais (entrada de dados, sobreposição, imposição de condições de contorno, solução do
sistema, pós-processamento) são, em essência, as mesmas etapas do método geral de elementos
…nitos.
5.6 Exercícios
5.1 Qual é o signi…cado físico do sistema de equações?
5.6 Quando se diz que o sistema de equações é singular? Qual o signi…cado desta situação, dos
pontos de vista algébrico e físico?
5.8 Porque se diz que a solicitação na estrutura pode ser fornecida em termos de forças ou de
deslocamentos?
5.9 No problema bidimensional, porque foi preciso utilizar um sistema global de coordenadas?
5.10 Porque, para calcular esforços nas barras, é preciso retornar ao sistema local de coordenadas
de cada barra?
5.14 Na sua opinião, estamos resolvendo o problema de treliças com cargas nodais em forma exata
ou aproximada?
106 Capítulo 5. Análise matricial - modelo de barras
Capítulo 6
Hipótese geométrica. Uma vez posicionado o sistema de eixos, a viga pode ser representada
por uma linha de referência ao longo do eixo x e uma seção transversal que possui área A
e momento de inércia Izz em relação ao eixo z. (Como estaremos inicialmente tratando de
‡exão plana, simpli…caremos a notação do momento inércia usando apenas I.) Num caso mais
geral, estes parâmetros são variáveis ao longo da viga possibilitando de…nir funções A(x) e
I(x).
Outra hipótese importante é admitir que o comprimento é muito maior que as dimensões
108 Capítulo 6. Análise matricial - modelo de viga
transversais. Considerando altura h da viga, o modelo presume que L & 100 h para que o
padrão de comportamento cinemático adotado a seguir tenha sentido. Neste caso dizemos que
estamos trabalhando com o modelo de viga delgada ou …na.
Hipótese cinemática. Admitimos que o padrão de deformação de uma viga …na segue as
seguintes regras:
1. Seções planas inicialmente perpendiculares ao eixo neutro da viga continuam planas após
a deformação.
2. Seções inicialmente planas e perpendiculares ao eixo neutro da viga continuam perpen-
diculares ao eixo neutro após a deformação. Esta é a hipótese que caracteriza a teoria de
Euler, e que realmente exige que a viga seja longa para que tenha validade. Sabe-se que,
para vigas mais curtas, para L=h . 5, a seção transversal ainda permanece razoavelmente
plana, porém não mais perpendicular à superfície de referência deformada. Quanto mais
longa é a viga, mais a seção deformada se aproxima da perpendicularidade.
3. Segmentos de material perpendiculares ao eixo neutro não variam de comprimento.
4. Os deslocamentos transversais são menores que a espessura da viga para caracterizar a
condição de pequenos deslocamentos.
Tangente à
y linha média
p α
p0
uy
p
p0
(a) (b) x
O campo de deformação que este deslocamento provoca pode ser calculada pela expressão (3.29).
A única componente de deformação não nula é a deformação axial "x :
y q(x + ∆x)
q(x)
Mz(x) Mz(x + ∆x)
A
x
Qy(x) Qy(x + ∆x)
x ∆x
onde Qy (x) é a o esforço cortante na seção de coordenada x e q(x) é a carga transversal distribuída
por unidade de comprimento. Aproximando o cortante por uma série de Taylor em torno do ponto
x, tem-se
dQy O(4x2 )
Qy (x + 4x) = Qy (x) + (x)4x + O 4x2 ; onde lim = 0: (6.4)
dx x!0 4x
O teorema de valor médio do cálculo postula que existe uma posição no intervalo (x; x + 4x)
tal que a integral das cargas distribuídas é igual ao produto do valor da carga calculado neste ponto
pelo comprimento do intervalo de integração:
Z x+4x
q(x) dx = q ( ) 4x: (6.5)
x
dQy
Qy (x) + q ( ) 4x + Qy (x) + 4x + O(4x2 ) = A u
•y 4x: (6.6)
dx
110 Capítulo 6. Análise matricial - modelo de viga
Dividindo ambos os lados da igualdade por 4x e tomando o limite 4x ! 0 se obtém (observe que
no limite 4x ! 0 tem-se também que ! x e lim Qy (x + 4x) Qy (x) =4x = dQy =dx):
dQy
q(x) = + A•
uy (6.7)
dx
d Mz
Mz (x + dx) = Mz (x) + 4x + O(4x2 ); onde lim O(4x2 ) = 0: (6.9)
dx x!0
Por outro lado, pelo teorema de valor médio temos que existe uma posição 2 (x; x + 4x) tal
que
Z x+4x
q (x) (x + 4x x) dx = q( )(x + 4x ) (4x) : (6.10)
x
Substituindo em (6.8) temos que
dM (x) 4x2
Mz (x) + Qy (x)4x q( ) (4x ) (4x) + M (x) + 4x + O 4x2 = A•
uy : (6.11)
dx 2
Dividindo por 4x e tomando lim 4x ! 0, (observe que ! x) obtemos …nalmente
d Mz
Qy = (6.12)
dx
Nota-se que no equilíbrio do momento, os termos devidos a carga distribuída e de inércia natural-
mente desaparecem, sem nenhuma hipótese simpli…cativa.
Desta forma, as condições de equilíbrio dinâmico se convertem nas equações diferenciais (6.7) e
(6.12). A primeira de…ne que a variação dos esforços cisalhantes ao longo da viga é devido a ação
da carga distribuída q: No caso estático, em que as forças de inércia são pequenas o su…ciente, se
tem as equações de equilíbrio da viga: (6.12) determina que a variação do momento ‡etor Mz é
causada pela existência de um esforço cisalhante Qy na seção. Substituindo o esforço cortante de
(6.12) pela equação (6.7), se obtém uma equação que relaciona o momento ‡etor Mz (x) com os
esforços distribuídos q(x):
d 2 Mz
+ A•uy = q(x) (6.13)
dx2
O momento numa seção x é, por de…nição, a soma dos momentos produzidos pelas tensões axiais
x ao longo da seção transversal:
Z
Mz (x) = x (x; y) y dA: (6.14)
A
d2 uy (x)
x = E"x = E y: (6.15)
dx2
6.3. Matriz de rigidez para ‡exão de vigas - Método direto 111
onde Izz é o momento de inércia da seção transversal da viga em relação ao eixo z.1 Substituindo
dQy
nas equações de equilíbrio dinâmicos (6.7) e (6.12) temos q(x) = + A• v
dx
d Mz d 3 uy
Qy (x) = = EI ;
dx dx3 (6.17)
dQy d4 uy
q (x) = + A•
v = EI + A•
uy ;
dx dx4
Num problema estático, a equação diferencial da curva elástica é
d4 uy (x)
EI q(x) = 0 (6.18)
dx4
Esta última expressão é conhecida como a equação diferencial de equilíbrio da viga ou equação
diferencial da curva elástica da viga. Para obter a chamada curva elástica, isto é, a função
deslocamento uy (x), deve-se resolver esta equação diferencial junto com as devidas condições de
contorno. Isto envolve um processo de integração que, neste caso, devido a simplicidade da equação,
pode ser feito de forma analítica:
x4 x3 x2
EI uy (x) q + C1 + C2 + C3 x + C4 = 0; (6.19)
4! 3! 2!
cujas constantes C1 ; C2 ; C3 e C4 são facilmente determinadas com o auxílio das condições de
contorno.
θz2
y
θ uy2
uy(x)
θz1 uy1 Mz2
s
Mz1 1 e 2 x
Py1 Py2
nodais prescritos como igual à unidade em um dos nós e prescrevendo os deslocamentos e rotações
nos demais nós como nulos, como mostrado na Figura 6.4b, onde são ilustradas as quatro funções
possíveis. Por exemplo, se apenas o deslocamento no nó 1 é unitário, a curva elástica produz a
função 1 (x). De forma análoga, para deslocamentos unitários no nó 2, e para rotação unitária
nos nós 1 e 3, as correspondentes curvas elásticas produzem as demais funções j (x) mostradas na
Figura 6.4. A dedução dessas quatro funções é feita na próxima seção. Essas funções padrão, no
âmbito do método de elementos …nitos, são denominadas funções de interpolação ou funções
de forma.
Uma curva elástica para um problema genérica de ‡exão de vigas, submetida a carregamento
arbitrário (de cargas concentradas) e com apoios arbitrários nas duas extremidades, pode ser de-
composta como uma combinação linear das funções de forma j (x), isto é
onde 1 (x), 2 (x), 3 (x) e 4 (x); são as curvas elásticas padrão (funções de forma), e uy1 , 1 , uy2
e 2 ; são os deslocamentos e rotações nodais do deslocamento no problema, (também simplesmente
chamados deslocamentos nodais do elemento). Em (6.20) as funções i (x); i = 1; ; 4, são
conhecidas e, durante o processo de solução, as incógnitas do problema são os deslocamentos nodais
6.3. Matriz de rigidez para ‡exão de vigas - Método direto 113
que de…nirão a solução. Entretanto, neste ponto, ainda falta determinar as funções i (x); assim
como os esforços associados a estas, o que é feito na seção a seguir.
y
Py1
Mz1 θz1 = 0
y
Py2 Py1
uy1= 1 Qy(x)
Mz2
1 s Mz(x)
x x
1 2 Mz1
x x
(a) (b)
Figura 6.5: Diagrama de corpo livre para o lado esquerdo de um corte numa seção arbitrária s, e
os esforços Qy (x) e Mz (x).
Vejamos inicialmente como obter a solução da primeira função, mostrada na Figura 6.4(b) e
detalhada na Figura 6.5. As condições de contorno deste problema são:
duy
uy1 = uy (0) = 1; z1 = (0) = 0; (6.21)
dx
duy
uy2 = uy (L) = 0; z2 = (L) = 0: (6.22)
dx
Faz-se um corte numa seção genérica s do elemento, na coordenada local x. Indicam-se os
esforços nodais atuantes no nó 1 e os esforços na seção genérica, como indicado na Figura 6.5.2
Fazendo equilíbrio de momentos temos uma expressão para o esforço de momento Mz (x) na seção
em termos dos valores nodais, isto é, Mz (x) = P1y x Mz1 . Da equação diferencial de equilíbrio,
eq. (6.16) temos então que
d2 uy
EI = Mz (x) = Py1 x Mz1 : (6.23)
dx
Integrando duas vezes obtemos a solução
duy x2
EI = Py1 Mz1 x + C1 ;
dx 2
x3 x2
EI uy (x) = Py1 Mz1 + C1 x + C2 : (6.24)
6 2
Resta agora identi…car os valores das quatro constantes, Py1 , Mz1 , C1 e C2 com o uso das quatro
condições de contorno disponíveis. Para x = 0; e x = L temos que a rotação duy =dx é nula. Da
condição (6.21)2 obtemos que C1 = 0 e usando (6.24)1 temos Mz1 = Py1 L=2. Substituindo obtemos
x3 x2
EI uy (x) = Py1 Py1 L + C2 :
6 4
2
Observe os esforços indicados nas Figuras 6.2 e 6.5. Em ambos os casos o sentido mostrado indica valores positivos
tanto para forças cortantes quanto para momentos, embora no nó 1 as orientações estejam invertida. Ocorre que na
primeira …gura estão indicadas as orientações usuais na teoria de resistência dos materiais, usada para obter, por
exemplo, a equação diferencial de equilíbrio (6.18). Por outro lado, a Figura 6.5 indica a convenção usada para tratar
valores nodais em elementos …nitos. A convenção diz que valores nodais são positivos se associados a vetores orientados
no sentido positivo dos eixos cartesianos. Assim, tanto no nó 1 quanto no 2, o cortante e momento nodais apontam
para o lado positivo de y e z.
114 Capítulo 6. Análise matricial - modelo de viga
EI = C2 ;
L3 EI
0 = Q1 + EI; =) Py1 = 12 :
12 L3
Podemos assim concluir que os esforços nodais para um deslocamento unitário no nó 1; mantendo
os demais deslocamentos nodais nulos são:
EI EI
Py1 = 12 ; Mz1 = 6 ; C1 = 0;
L3 L2
EI EI
Py2 = 12 3 ; Mz2 =6 2 C2 = EI: (6.25)
L L
Os esforços nodais Py2 e Mz2 foram obtidos por simples condição de equilíbrio global do elemento
de barra:
Py1 + Py2 = 0 ;
Mz2 + Mz1 Py1 L = 0 :
(
uy1 = 1 ; z1 = 0; Py1 = 12 EI
L3
; Mz1 = 6 EI
L2
;
Caso 1 =)
uy2 = 0 ; z2 = 0; Py2 = 12 EI
L3
; Mz2 = 6 EI
L2
:
(
uy1 = 0 ; z1 = 1; Py1 = 6 EI
L2
; Mz1 = 4 EI
L ;
Caso 2 =)
uy2 = 0 ; z2 = 0; Py2 = 6 EI
L2
; Mz2 = 2 EI
L :
(
uy1 = 0 ; z1 = 0; Py1 = 6 EI
L2
; Mz1 = 2 EI
L ;
Caso 3 =) (6.27)
uy2 = 0 ; z2 = 1; Py2 = 6 EI
L2
; Mz2 = 4 EI
L :
(
uy1 = 0 ; z1 = 0; Py1 = 12 EI
L3
; Mz1 = 6 EI
L2
;
Caso 4 =)
uy2 = 1 ; z2 = 0; Py2 = 12 EI
L3
; Mz2 = 6 EI
L2
:
T
As expressões das quatro funções de interpolação são (x) = f 1, 2, 3, 4g , onde
x 2 x 3
1 (x) =1 3 +2 ;
L L
x x2
2 (x) = L 2x + ;
L L
(6.28)
x 2 x 3
3 (x) = 3 2 ;
L L
x2 x3
4 (x) = + 2.
L L
Esses são polinômios cúbicos cuja combinação linear na forma (6.20) pode representar qualquer
polinômio cúbico no intervalo [0; L]. Estes resultados permitem agora montar a matriz de rigidez
6.3. Matriz de rigidez para ‡exão de vigas - Método direto 115
de elementos …nitos de viga, que relaciona os esforços com deslocamentos nodais num elemento.
Os termos na última igualdade foram obtidos do caso 1 em (6.27). Então, o produto da matriz K
pelo vetor de deslocamento fornece a primeira coluna desta matriz, e o vetor de esforços é conhecido,
pois é a solução do primeiro problema, dado na equação (6.27). Consequentemente, as componentes
da primeira coluna da matriz de rigidez estão determinadas. Repetindo o procedimento para os
demais casos de (6.27) (deslocamento unitário de z1 para obter a segunda coluna, etc.) temos
Caso 2: =1
2 38 9 8z1 9 8 9 8 EI 9
K11 K12 K13 K14 > uy1 = 0 >
> > >
> K12 >
> >
> Py1 >
> >
> 6 L2 >
>
6 K21 K22 K23 K24 7 < z1 = 1 = <
K22
= <
Mz1
= < EI
4L
=
6 7
4 K31 K32 K33 K34 5 > uy2 = 0 > = > K32 >
=
> Py2 >
=
> 6 EI >
;
>
: >
; >
: >
; > : >
; > : EI L2 >
;
K41 K42 K43 K44 z2 = 0 K42 Mz2 2L
Caso 3: uy2 = 1
2 38 9 8 9 8 9 8 9
K11 K12 K13 K14 >
> uy1 = 0 >
> >
> K13 >> > Py1 > >12 EI >
6 K21 7 < z1 = 0 = < = > < >
= >
< L3 >
=
6 K22 K23 K24 7 K 23 Mz1 6 EI
L2
4 K31 5 > uy2 = 1 > = = = EI ;
K32 K33 K34 > > > K33 >
> > > Py2 > > 12 >
: ; : ; > : >
; > : L3 >
;
K41 K42 K43 K44 z2 = 0 K43 Mz2 6 EI
L2
Caso 4: =1
2 38 9 8z2 9 8 9 8 EI 9
K11 K12 K13 K14 > uy1 = 0 >
> > >
> K14 >
> >
> Py1 >
> >
> 6 L2 >
>
6 K21 K22 K23 K24 7 < z1 = 0 = <
K24
= <
Mz1
= < EI
2L
=
6 7
4 K31 K32 K33 K34 5 > uy2 = 0 > = > K34 >
=
> P >
=
> 6 EI >
:
>
: >
; >
: >
; > : y2 >
; > : EI L2 >
;
K41 K42 K43 K44 z2 = 1 K44 Mz2 4L
Estes resultados fornecem a expressão completa das componentes da matriz de rigidez K para
116 Capítulo 6. Análise matricial - modelo de viga
Observemos que a matriz é simétrica, da mesma forma que a matriz de rigidez do modelo de barras,
e também singular.
z 10
0m
m 200 Nmm
5N
Solução:
A Figura 6.7 mostra o modelo de elementos …nitos para o problema, onde a viga foi modelada
por apenas um elemento. Podem-se observar os nós globais (uy1 , z1 , uy2 , z2 ), as forças e momentos
aplicados (Fy1 , Mz1 , Fy2 , Mz2 ) e as reações incógnitas Ry1 e RM 1 no nó 1. Dos dados do problema
na …gura (a), as forças e momentos aplicados são Fy1 = Mz1 = 0 e Fy2 = 5 N e Mz2 = 200 Nmm.
Substituindo estes dados na matriz (6.31), o sistema de equações …ca
2 38 9
25; 6 1280 25; 6 1280 >
> u y1 = 0 >
>
6 1280 85333 1280 42667 7 < z1 = 0 =
6 7 = Fa + R
4 25; 6 1280 25; 6 1280 5 > uy2 >
>
: >
;
1280 426678 1280 85333 9 8 z2 9 (6.32)
>
> F1 = 0 >
> >
> Ry1 =? >>
< = < =
Mz1 = 0 RM 1 =?
onde Fa + R = + :
>
> F2 = 5 > > >
> 0 >
>
: ; : ;
Mz2 = 200 0
Nesta equação já foram indicadas as condições de contorno que, neste caso, impõem deslocamento
e rotação nulos no nó 1 (condição de engaste). Ao mesmo tempo essas condições introduzem duas
6.3. Matriz de rigidez para ‡exão de vigas - Método direto 117
cujo resultado é
uy2 1; 25 mm uy1 = 0
= e :
z2 2; 109 4 10 2 rad 1 =0
y y
2 x 1 2 x
1
θz1 = 0 Mz1 + Rz1
(a) (b)
Figura 6.7: Modelo de MEF para o Exemplo 6.1, com deslocamentos e forças nodais.
A curva elástica da viga, isto é, o valor do deslocamento de seção transversal arbitrária, pode
ser facilmente obtida a partir dos deslocamentos nodais e das funções de forma, segundo a equação
(6.20):
uy (x) = uy1 1 (x) + z1 2 (x) + uy2 3 (x) + z1 4 (x): (6.33)
A partir da curva elástica do problema, podemos obter os esforços em qualquer seção usando as
equações (6.16)-(6.17):
d2 uy (x) d3 uy (x)
Mz (x) = EI ; e Qy (x) = EI :
dx2 dx3
A determinação das reações consiste em utilizar novamente (6.32), na forma R = KU Fa ,
agora tendo os deslocamentos todos conhecidos. Assim, tem-se
2 38 9 8 9
25; 6 1280 25; 6 1280 >
> 0 >
> > F y1 = 0 >
6 1280 85333 7< = >< >
=
1280 42667 0 M = 0
R =64 25; 6
7 z1
1280 25; 6 1280 5 >> 1; 25 >
> > Fy2 = 5 >
: 2 ; >: >
;
8 1280 42667
9 8 1280 853339 2; 1094 10 M z2 = 200
>
> Ry1 =? >> > 5N >
< = > < >
=
RM 1 =? 700 Nmm
R= = :
>
> 0 >
> > > 5N >
>
: ; : ;
0 200 Nmm
e1
1
z 40
mm e2
2 200 Nmm
60
mm
3
5N
Nó x [mm] h i
Elem. Nó 1 Nó 2 Elem. E N/mm2 I mm4
1 0
; 1 1 2 ; 1 2; 0 105 32=3 ;
2 40
2 3 2 2 2; 0 105 32=3
3 100
Nó uy z Elem. Nó 1 Nó 2
1 1 2 uy z uy z
; :
2 3 4 1 1 2 3 4
3 5 6 2 3 4 5 6
1
2 1 1 1
38 9 8 1 9
K11 K12 K13 K14 > uy1
> >
> >
> P >
>
6 K21
1 1 1 1 7< = < y11 =
K22 K23 K24 Mz1
Elem. 1: K1 U1 = F1 ) K1 = 6
4 K31
1 1 1 1 5
7 z1
= 1 ;
K32 K33 K34 > uy1
> >
> > Py2 >
1 1 1 1 : ; > : 1
>
;
K41 K42 K43 K44 z2 Mz2
22 2 2 2
38 9 8 2 9
K11 K12 K13 K14 >
> uy2 >
> >
> P >
>
6 K21
2 2 2 2 7 < = < y22 =
K22 K23 K24 7 Mz2
Elem. 2: K2 U2 = F2 ) K2 = 6
4 K31
2 2 2 2 5
z2
= : (6.35)
K32 K33 K34 >
> u >
> > P2 >
2 2 2 2 : y3 ; > : y32 >
;
K41 K42 K43 K44 z3 Mz3
Substituindo essas expressões para os esforços em (6.34), obtém-se as equações globais de equilíbrio
6.3. Matriz de rigidez para ‡exão de vigas - Método direto 119
y
(a)
θz1 , Mz1 θz2 , Mz2 θz3 , Mz3
1 e1 2 e2 3
x x
(b)
1 1
Py1 Py2
e1
Mz1
1 1 2 1
Elem. 1 Mz2
Fy1+Ry1 1 1 2
Mz1 Mz2 Mz2 Mz2
2
1
1
Py1 1 2
Py2 Fy2 Py2
2 2
Py2 Py3
e2
2 2 3 2
Mz2 Mz3
Elem. 2
2
Mz3 Mz3
3
2
Py3 Fy3
Figura 6.9: (a) Esforços nodais nos nós locais dos elementos do Exemplo 6.2. (b) equilíbrio dos nós
globais e dos elementos.
120 Capítulo 6. Análise matricial - modelo de viga
da estrutra:
2 1 1 1 1 38 9 8 9
K11 K12 K13 K14 0 0 > uy1
> >
> >
> Fy1 + Ry1 >
>
6 K211 1
K22 1
K23 1
K24 0 0 7>> z1 >
> >
> Mz1 + RM 1 >
>
6 1 7>> >
> >
> >
>
6 K31 1 1 2 1 2
K32 K33 + K11 K34 + K12 2
K13 2
K14 7 < uy2 = <
Fy2
=
6 7 = (6.36)
6 K1 1
K42 1 + K2
K43 1 2 2 2 7 > z2 > > >
6 41 21 K44 + K22 K23 K24 7> > > Mz2 >
4 0 0 2
K31 2
K32 2
K33 2
K34 5>>
> u3
>
>
>
>
>
> Fy3
>
>
>
>
: y3 >
; > : >
;
0 0 2
K41 2
K42 2
K43 2
K44 Mz3
z3
onde as forças externas aplicadas conhecidas são: Fy1 = Mz1 = Fy2 = Mz2 = 0, Fy3 = 5 N e
Mz3 = 200 Nm.
Podemos veri…car imediatamente que este resultado é obtido de uma forma muito mais simples
se utilizamos a tabela de indexação para sobrepor a contribuição de cada elemento na matriz de
rigidez global. A tabela de indexação indica que o primeiro elemento ocupa as linhas e colunas
(1; 2; 3; 4), enquanto o segundo elemento ocupa as linhas e colunas (3; 4; 5; 6), como mostrado em
(6.36).
Condições de contorno
A matriz de rigidez, como sobreposta, é singular. Nesse ponto é necessário incorporar ao sistema
algébrico as informações da condição de engaste na extremidade da viga, tal que a solução do sistema
satisfaça a condição uy1 = z1 = 0: As primeiras duas equações, associadas aos graus de liberdade
conhecidos, estão incompletas porque não se conhecem as reações Ry1 , RM 1 , sendo, portanto,
excluídas para essa fase. Resta o seguinte sistema de quatro equações e quatro incógnitas:
8 9
2 1 3 >
> uy1 = 0 >> 8 9
K31 K32 1 1 + K2
K33 1 2 2 2 >
> >
>
11 K34 + K12 K13 K14 >
> z1 = 0 >
> > 0 >
6 K41 1 1 1 + K2 1 + K2 2 2 7< = > < >
=
6 K 42 K 43 21 K 44 22 K 23 K 24 7 u y2 0
4 0 2 2 2 2 5 = :
0 K31 K32 K33 K34 >
> z2 >
> >
> 5 >>
>
> > : ;
0 0 2
K41 2
K42 2
K43 2
K44 >
> uy3 > >
> 200
: ;
z3
Esse sistema é não singular, uma vez que todos os possíveis movimentos de corpo rígido da viga
foram restringidos. Sua solução pode ser obtida pelo método de Gauss, fornecendo os valores dos
parâmetros uy2 , z2 , uy3 e z3 . Substituindo valores numéricos temos as matrizes dos elementos
2 3
4 80 4 80
6 80 1067 7
K1 = 6
80 2133 7 102 N ;
4 4 80 4 80 5 mm
80 1067 80 2133
2 3
1; 18 35; 6 1; 18 35; 6
6 35; 6 711; 1 7
K2 = 6
35; 5 1422 7 102 N ;
4 1; 18 35; 56 1; 18 35; 6 5 mm
35; 56 711; 1 35; 6 1422
6.4. Aplicação de condições de contorno 121
Observações
Podemos observar que os resultados são idênticos àqueles obtidos no exemplo anterior. O fato
que o modelo de dois elementos do presente exemplo fornece, em forma direta, o deslocamento
numa seção intermediária não é grande vantagem, dado que o mesmo valor pode ser obtido no
exemplo anterior com um simples cálculo, a partir da equação da curva elástica do elemento, eq.
(6.33). Em outras palavras, no modelo de vigas com carregamento concentrado nos nós,
(sem carga distribuída) os resultados do MEF são iguais à solução exata da equação
diferencial. Por isto não é preciso modelar uma viga com mais de um elemento para obter os
resultados de forma exata (a menos que esta tenha seção transversal variável ou esteja submetida
a carregamentos distribuídos). Note que esta é uma situação particular dos elementos de
barra, viga e alguns poucos outros. O método de elementos …nitos, em geral, fornece
apenas uma aproximação da solução exata.
Apenas o primeiro caso é tratado nesse capítulo, e os demais casos de restrição são detalhados
no Capítulo 10.
Etapa 1 - Multiplicar coluna i da matriz K por ui e transferir o resultado para o lado direito
da equação de equilíbrio, como um novo vetor força. Com isso, a matriz K torna-se modi…cada,
uma vez que agora sua coluna i é nula. Isso pode ser representado de…nindo um vetor Qi
como um vetor nulo, exceto na posição i, em que ele vale u: Qi = f0; 0; 0; ; ui ; ; 0; 0gT .
Então, o sistema KU = F torna-se
K1 U = F KQi ; (6.38)
onde K1 é a matriz com a linha i nula. De fato, geralmente existem diversos graus de liberdade
a serem restritos. Então, o vetor Qi incorpora todos os grau de liberdade prescritos, isto é,
Qi = f0; 0; u3 ; 0; 0; ui ; 0; ; 0; uN gT
Etapa 2 - Anular a linha i na matriz e no vetor a direita. Com isso o sistema torna-se
K2 U = F2 : (6.39)
onde onde K2 é a matriz com a linha/coluna i nula e F2 tem a linha i nula. O vetor F
incorpora cargas conhecidas e também as reações, isto é, F = Fa +R. O vetor de reações R é
não nulo apenas naquelas linhas em que o deslocamento é prescrito. Essas linhas, onde Ri 6= 0,
são anuladas nos dois lados da igualdade (6.39).· Numa análise puramente matricial como essa
realizada até esse ponto do texto, dois motivos permitem e justi…cam essa eliminação de linhas:
Etapa 3 - Fazer Kii2 = 1, e F2i = ui . Com isso, o sistema toma sua forma …nal
KU = F: (6.40)
A solução desses sistema automaticamente produz a condição ui = ui . Em forma aberta, para i = 1,
esse sistema pode ser ilustrado por
2 38 9 8 9a 8 9
1 0 0 0 0 >
> u1 >> >
> u1 >
> >
> 0 >>
6 0 k22 k23 k24 k25 7 > > >
> >
> >
> >
> >
< k21 >
6 7 < u 2 = < F2 = =
6 0 k32 k33 k34 k35 7 u3 = F3 u1 k31 (6.41)
6 7
4 0 k42 k43 k44 k45 5 > >
> u
>
>
>
>
>
> F
>
>
>
>
>
> k >
>
>
>
: 4 > ; > : 4 >
; >
: 41 >;
0 k52 k53 k54 k55 u5 F5 k51
Observações:
1. Note que, na prática, não é e…ciente fazer o produto KQi como mostrado em (6.38). O que é
feito é simplesmente manipular apenas a coluna i, copiando-a para o vetor força.
2. As linhas eliminadas devem ser armazenadas, para posterior processamento das reações.
O cálculo das reações é feito após a determinação dos deslocamentos U:Do sistema original,
KU = F = Fa +R, obtém-se as reações por
R = KU Fa (6.42)
onde Fa é o vetor de forças aplicadas conhecidas. Ele será não nulo apenas nos graus de liberdade
prescritos.
Nesta seção vamos construir um modelo de viga adequado á simulação do comportamento de elemen-
tos submetidas simultaneamente tanto a esforços axiais quanto a transversais. É importante notar
que, até este ponto, as hipóteses admitidas sobre geometria, deslocamentos e comportamento de
material permitiram construir expressões que apresentam um comportamento mecânico desacoplado
entre a parte axial (modelo de barras) e transversal (modelo de vigas): esforços axiais não produzem
alterações na distribuição de esforços de ‡exão e vice-versa. Os deslocamentos são restritos a pe-
quenos valores, a barra é reta e o material é isotrópico elástico-linear. Porém, se os deslocamentos
forem maiores, se o material não for homogêneo-isotrópico (material composto, por exemplo) ou se
a geometria não for reta (vigas curvas), os esforços de ‡exão podem induzir esforços axiais, assim
como uma tração pode dar origem a deformações de ‡exão. Não sendo este o caso, podemos formu-
lar o equilíbrio de uma haste que se estende ao longo do eixo coordenado local x, como na Figura
6.10, usando as expressões de barra e viga analisadas previamente de forma separada:
y
Fx1 Fy1
Mz1
z 1
Fy2
Mz2 Fx2
2
Figura 6.10: De…nição de sinais para esforços nodais em elemento plano de viga.
AL 1 1
ux1 Px1
Barra ! = ; (6.43)
L 1 ux2
1 Px2
2 38 9 8 9
12 6L 12 6L >
> uy1 >
> > Py1 >
EI 6 < = > < >
=
6 6L 4L2 6L 2L2 77 z1 Mz1
Viga ! = : (6.44)
L3 4 12 6L 12 6L 5 >> u >
> > Py2 >
: y2 ; > : >
;
6L 2L2 6L 4L2 z2 Mz2
124 Capítulo 6. Análise matricial - modelo de viga
Considere um sistemas de coordenadas local xyz e um global xyz, como na Figura 6.11. O
sistema local tem o eixo x orientado ao longo do elemento, com origem no nó local 1, e orientado na
direção do nó 2. Os eixos local z e global z são coincidentes, de forma que o sistema local é obtido
a partir do global por uma rotação plana em torno do eixo z, do ângulo .
Para se obter uma expressão da equação matricial de equilíbrio de um elemento de viga arbi-
trariamente orientado no plano (x; y), devemos fazer uso da mesma matriz de rotação utilizada no
modelo de barras, com a única diferença que o grau de liberdade correspondente à rotação da seção
não precisa ser rotacionado, uma vez que esta grau de liberdade é orientado na direção do eixo z,
o mesmo eixo em torno do qual o sistema de coordenadas é rotacionado.
Py2 uy2
Px2 x ux2 x
M2 θ2
Px2 ux2
2 2
Py1 uy1
Py2 uy2
y y
α α
1 1
Px1 ux1
y Px1 y ux1
Py1 uy1
M1 θ1
x x
(a) (b)
Para efetuar a transformação das componentes será usada uma matriz de rotação similar àquela
usada no modelo de barras em problemas coplanares. Esta matriz permite escrever as componentes
dos deslocamentos no sistema local da da viga a partir dos deslocamentos no sistema de referência
global. Seja f~e1 ; ~
e2 g e fe1; e2 g os vetores unitários do sistema local e global respectivamente e sejam
f~ ~
u; v~; g e fu; v; g as componentes de deslocamento de um nó da viga no sistema local e global de
6.5. Viga com carregamento axial e ‡exão plana 125
KU = P: (6.48)
A matriz de rotação R é ortogonal, isto é, tem a propriedade que sua inversa é igual à sua transposta:
R 1 = RT : Assim, prémultiplicando (6.49) por RT ; temos:
(RT KR)U = R 1
R P; (6.50)
Ke Ue = Pe ; Ke = RT KR ;
onde o expoente \e é acrescentado para lembrar que os valores se aplicam a um elemento genérico e.
A expressão acima indica que a matriz de rigidez Ke no sistema de global de coordenadas pode ser
obtida a partir da matriz local K, pré- e pós-multiplicada pela matriz de rotação R. Isto pode ser
feito uma única vez usando a expressão genérica da matriz de rotação dada por (6.46). O resultado
desta operação pode ser colocado usando a seguinte notação:
2 3
c2 a + s2 b sc (a b) s6EI=L2 K11 K12 K13
6 7
6 s2 a + c2 b c6EI=L2 K12 K22 K23 7
6 7
6 K33 7
e 6 4EI=L K13 K23 7
K =6 2 7; (6.51)
6 7
6 K11 K12 K13 7
6 7
4 K22 K23 5
sim. K33
y uy3, Fy3
uy2, Fy2
θz3, Mz3
ux2, Fx2
2 e2 3 ux3, Fx3
θz2, Mz2
e1
x uy1, Fy1
θz1, Mz1
1
ux1, Fx1 x
(a) (b)
Figura 6.12: (a) Pórtico plano simples do Exemplo 6.3; (b) modelo de EF.
Elemento 1
2 3
483; 21 0 48321 483; 21 0 48:321
6 0 47:775 0 0 47775 0 7
6 7
6 48:321 0 6:442:800 48321 0 3:221:400 7
K =6
1
6
7 :
6 483; 21 0 48321 483; 21 0 48321 7 7
4 0 47:775 0 0 47:775 0 5
48:321 0 3:221:400 48321 0 6:442:800
Elemento 2
2 3
35:437; 5 0 0 35:437; 5 0 0
6 0 151; 83 30:366 0 151; 83 30:366 7
6 7
6 0 30366 8:097:600 0 30:366 4:048:800 7
K =6
2
6
7:
7
6 35:437; 5 0 0 35:437; 5 0 0 7
4 0 151; 83 30:366 0 151; 83 30:366 5
0 30:366 4:048:800 0 30:366 8:097:600
A Figura 6.12b mostra os deslocamentos e forças nodais do modelo. Como o elemento tem
6.5. Viga com carregamento axial e ‡exão plana 127
3 graus de liberdade por nó, o modelo tem N = 9 graus de liberdade. A montagem da matriz
de rigidez global do sistema completo é feita com o auxílio da tabela de indexação que fornece
o número dos graus de liberdade de cada o elemento, e portanto a posição das componentes da
matriz elementar no sistema global de equações. Assim, para este caso, o elemento 1 ocupa as
linhas/colunas (1,2,3,4,5,6) enquanto o elemento 2 as linhas/colunas (3,4,5,6,7,8,9). (Esta ordem
sequencial é apenas uma particularidade do exemplo, não sendo assim em casos gerais). Assim a
matriz global tem a forma:
2
483; 21 0 48321 483; 21 0 48321 0
6 0 47775 0 0 47775 0 0
6
6 48321 0 6442800 48321 0 3221400 0
6
6 483; 21 0 48321 359720; 71 0 48321 35437; 5
6
K=6
6 0 47775 0 0 47926; 83 30366 0
6 48321 0 3221400 48321 30366 14540400 0
6
6 0 0 0 35437; 5 0 0 35437; 5
6
4 0 0 0 0 151; 83 30366 0
0 0 0 0 30366 4048800 0
3 8 9 8 9
0 0 > ux1 = 0 > > Fx1 + Rx1 >
>
> >
> >
> >
>
0 0 7 >
> uy1 = 0 >
> >
> Fy1 + Ry1 >
>
7 >
> >
> >
> >
>
0 0 7 >
> z1 = 0 >
> >
> Mz1 + RMz1 >
>
7 >
> >
> >
> >
>
0 0 7 >
< ux2 >
= >
< 5:000 >
=
7
151; 83 30366 77; U= uy2 ; F = Fa +R = 0 ;
> > > >
30366 4048800 77
>
>
> z2
>
>
>
>
>
> 0 >
>
>
7 >
> >
> >
> >
>
0 0 7 >
> u x3 >
> >
> 0 >
>
>
> >
> >
> >
>
151; 83 30366 5 >
> uy3 = 0 >
> >
> Ry3 >
>
: ; : ;
30366 8097600 z3 0
onde Fa é o vetor das forças nodais conhecidas, e R o vetor de reações. Note que as forças aplicadas
conhecidas no nó 1 são nulas: Fx1 = Fy1 = Mz1 = 0, e apenas as reações ali são não nulas. Das
condições de contorno concluímos que os graus de liberdade 1, 2, 3 e 8 são conhecidos, o que elimina
estas equações do sistema. Por outro lado, o valor destes deslocamentos são nulos, de forma que as
colunas 1, 2, 3 e 8 de K; quando multiplicadas por estes valores, se anulam. Assim, o sistema …nal
a ser resolvido …ca
2 38 9 8 9
35920; 71 0 48321 35437; 5 0 >
> ux2 >> >
> 500 >>
6 0 47926; 83 30366 0 30366 7>>
< u
>
>
=
>
>
< 0
>
>
=
6 7 y2
6 48321 30366 14540400 0 4048800 7 = 0 ;
6 7> z2
> > > >
4 35437; 5 0 0 35437; 5 0 5>> u >
> > 0 >
>
>
: x3 > ; > : >
;
0 30366 4048800 0 8097600 z3 0
1 2 x 1 2 x 1 2 x
m1
(a) (b) (c)
Figura 6.13: (a) Carga transversal distribuída arbitrária sobre um elemento de viga; (b) forças
nodais equilvalentes; (c) carga com variação linear.
Considere um elemento de viga submetido a uma carga transversal arbitrária q(x) como na
Figura 6.13. O vetor de cargas nodais equivalentes a essa carga distribuída é obtida a partir das
funções de forma (x) (dadas em (6.28)), por
8 9 8 9
>
> fy1 >
> >
> 1 >
>
< = Z L < =
m1 1
Fe = = q(x) dx (6.52)
>
> f >
> >
> >
>
: y2 ; x=0 : 2
;
m2 2
onde fy1 m1 , fy2 e m2 são as forças equivalentes, como ilustradas na Figura 6.13b. Esse vetor deve
ser sobreposto aos vetores dos demais elementos e às forças concentradas, somando todas as forças
aplicadas a cada nó global.
No caso particular de carga variando linearmente ao longo do elemento, como na Figura
6.13c, efetuando as operações para q(x) = q1 (L x)=L + q2 (x=L), obtém-se o vetor de forças
equivalentes do elemento como:
8 9 8 9
>
> fy1 >
> 3 (7q1 + 3q2 )
>
> >
>
< = L < =
m1 L (3q1 + 2q2 )
Fe = = (6.53)
> y2
> f >
> > 3 (3q1 + 7q2 )
60 > >
>
: ; : ;
m2 L (2q1 + 3q2 )
onde q1 e q2 são os valores nodais da carga distribuída. No caso …nal de carga uniforme, q(x) = qo ,
tem-se
8 9 8 9
>
> fy1 >
> > 6
> >
>
< = qo L < L =
m1
Fe = = (6.54)
>
> f >
> 12 >> 6 >
>
: y2 ; : ;
m2 L
como na seção 6.5, equação (6.47). Primeiro, o vetor (6.52) precisa ser expandido de forma a incluir
as forças axiais. No caso de ausência de forças axiais distribuídas, tem-se o vetor local como:
8 9e 8 9
>
> fx1 >
> >
> 0 >>
>
> fy1 >
> >
> >
>
>
> >
> Z >
> 1 >
>
< = L < =
e mz1 1
F = q(x) dx (6.55)
>
> fx2 >
> x=0 >
> 0 >>
>
> >
> >
> >
>
>
> f >
> >
> >
>
: y2 ; : 2 ;
mz2 2
Em seguida, o sistema local é rotacionado às direções globais por Fe = ReT Fe usando a matriz
de rotação plana (6.46). Em forma aberta, no caso particular de rotação plana, essa relação
…ca
8 9e 2 38 9e
>
> Fx1 >
> c s 0 0 0 0 >
> fx1 >
>
>
> Fy1 >
> 6 s c 0 0 0 0 7>> fy1 >
>
>
> >
> 6 7>> >
>
< = 6 7< =
Mz1 0 0 1 0 0 0 mz1
=6
6
7
7> isto é, Fe = ReT Fe (6.56)
>
> Fx2 >
> 6 0 0 0 c s 0 7> fx2 >
>
>
> >
> 4 5>> >
>
>
> F >
> 0 0 0 s c 0 >
> fy2 >
>
: y2 ; : ;
Mz2 0 0 0 0 0 1 mz2
onde c = cos , s =sen , R é a matriz de rotação, é o ângulo que o eixo local x faz como o
global x. Fe e Fe são o vetor de força consistente do elemento no sistema global e no sistema local,
respectivamente. Observe que a matriz de rotação é a mesma usada para rotacionar a matriz de
rigidez do elemento. No caso geral de elemento com orientação arbitrária no espaço, não plana, a
matriz de rotação é obtida da eq. (6.92).
No caso particular de carga variando linearmente ao longo do elemento, como na Figura
6.13c, o vetor de forças equivalentes no sistema local do elemento é dado em (6.53) e no sistema
global …ca:
8 9e 2 3 8 9
>
> Fx1 >
> cos sen 0 0 0 0 >
> 0 >
>
>
> Fy1 >
> 6 sen cos 0 0 0 0 7 >
> 3 (7q >
>
>
> >
> 6 7 >
> 1 + 3q2 ) >
>
< = 6 7 L < L (3q1 + 2q2 ) =
Mz1 0 0 1 0 0 0
=6
6
7
7 60 >
>
> Fx2 >
> 6 0 0 0 cos sen 0 7 > 0 >
>
>
> >
> 4 5 >
> >
>
>
> F >
> 0 0 0 sen cos 0 >
> 3 (3q 1 + 7q2 ) >
>
: y2 ; : ;
Mz2 0 0 0 0 0 1 L (2q1 + 3q2 )
isto é,
8 9e 8 9
>
> Fx1 >
> >
> 3 (7q1 + 3q2 ) s >
>
>
> Fy1 >
> >
> 3 (7q1 + 3q2 ) c >
>
>
> >
> >
> >
>
< = L < L (3q1 + 2q2 ) =
Mz1
= (6.57)
>
> Fx2 >
> 60 >
> 3 (3q1 + 7q2 ) s >
>
>
> >
> >
> >
>
>
> F >
> >
> 3 (3q1 + 7q2 ) c >
>
: y2 ; : ;
Mz2 L (2q1 + 3q2 )
Etapa 2 - Rotação dos deslocamentos nodais do elemento para as suas direções locais Oxyz,
conforme eq. (6.46):
Ue = Re Ue ; (6.58)
onde Re é a matriz de rotação entre o sistema de coordenadas do elemento e o global e
Ue = fux1 , uy1 ; z1 , ux2 , uy2 ; z2 gT são os deslocamentos nodais nas direções locais, conforme
a Figura 6.11. A expressão (6.58) pode ser expandida para a forma aberta:
8 9 8 9
>
> ux1 >
> >
> ux1 cos + uy1 sen >
>
>
> uy1 >
> >
> ux1 sen + uy1 cos >
>
>
> >
> >
> >
>
< = < =
z1 z1
= : (6.59)
>
> ux2 >
> >
> ux2 cos + uy sen >
>
>
> >
> >
> >
>
>
> u >
> >
> ux2 sen + uy2 cos >
>
: y2 ; : ;
z2 z2
O cálculo do esforço normal é feito com o auxílio das funções de interpolação axiais, 1 (x) = 1
x=L e 2 (x) = x=L. O esforço normal na viga é calculado por Nx = EA"x , tal que no elemento,
d 1 d
Nx = EA ux1 + ux2 2 : (6.60)
dx dx
d 1 1 d 2 1
Considerando as derivadas = e = , a expressão …ca
dx L dx L
EA
Nx = [ux2 ux1 ] = const: (6.61)
L
O cálculo dos esforços de momento ‡etor é feito com o auxílio das funções de interpolação
de viga, 1 , 2 , 3 e 4 , de…nidas na eq. (6.28).A relação entre o momento ‡etor e os deslocamentos
é dado por Mz = EIz z d2 uy =dx2 . Usando a interpolação do deslocamento transversal uy tem-se
d2 1 d2 2 d2 3 d2 4
Mz = EIz z uy1 + z1 + u y2 + z2 : (6.62)
dx2 dx2 dx2 dx
Substituindo as derivadas das funções de forma (6.28), o momento ‡etor é dado por um polinômio
linear ao longo do elemento.
Como esse é um polinômio linear, o valor máximo do momento ocorre num dos dois nós, isto é, em
x = 0 ou x = L. Logo, os valores nodais dos momentos no elemento são:
2EIz z
Mz (0) = 3uy1 + 2L z1 3uy2 + L z2 ;
L2 (6.64)
2EIz z
Mz (L) = 3uy1 + L z1 3uy2 + 2L z2 :
L2
A Figura 6.14a mostra os sentidos positivos dos momentos nas extremidades do elemento.
As tensões normais nos nós do elemento são obtidas sobrepondo a tensão normal do problema
axial e do problema de ‡exão, atuando nas …bras extremas de cada nó, isto é, nas coordenadas ymax
6.7. Esforços e tensões nos elementos em problemas planos 131
y
Mz(0) y
1 L
ymax
z
Qy(L)
z CG
Qy(0)
ymin
x
2
(a) (b)
Figura 6.14: Esforços nodais positivos no elemento de viga e cotas na seção transversal para tensões
normais.
e ymin , como visualizado na Figura 6.14 (em caso de seção simétrica, ymax = h=2 e ymin = h=2;
onde h é a altura da seção transversal da barra, ao longo da direção y). Observe que nesses dois
pontos, as parcelas de tensão associadas a Nx são idênticas, mas as parcelas associadas a momento
Mz são de mesmo módulo e sinais contrários. Tem-se assim as tensões normais nos dois nós do
elemento:
8
> Nx Mz (0)
>
< …bra superior: x (0) = ymax ;
A Iz z
Nó local 1
>
> Nx Mz (0)
: …bra inferior: x (0) = ymin ;
A Iz z
8
> Nx Mz (L)
>
< …bra superior: x (L) = ymax ;
A Iz z
Nó local 2 (6.65)
>
> Nx Mz (L)
: …bra inferior: x (L) = ymin ;
A Iz z
Os esforços cortantes no elemento são dados a partir da curva elástica ou do momento por
Qy = EIz zd3 v=dx3 = dMz =dx. Derivando (6.63) tem-se
12 6
Qy (x) = (uy2 uy1 ) z1 + z2 (6.66)
L3 L2
Observações:
1. Nota-se que o esforço cortante é uniforme no elemento, isto é, seus valores nodais são iguais,
Qy (0) = Qy (L) = Qy (x).
2. Deve-se enfatizar que os esforços obtidos nessa seção, de momentos e de cortante, são exatos
se não houver carga distribuída transversal no elemento.
3. O cálculo das tensões usando a fórmula de ‡exão em (6.65) pressupõe que os eixos locais no
elemento, y e z, são eixos principais de inércia da seção.
132 Capítulo 6. Análise matricial - modelo de viga
F
L
q2
2 3
60°
L
1
x
Considere o problema do pórtico da Figura 6.15. As duas vigas são idênticas, com comprimentos
L = 300 mm, seção transversal 5 6 mm2 . O material tem módulo de elasticidade E = 200 GPa.
O carregamento é distribuído linearmente com máximo q2 = 0; 1 N/mm, e a força concentrada é
F = 5 N.
Solução:
Consideramos um modelo simples, com apenas dois elementos …nitos de viga, como na Figura
6.12b. As propriedades de área das vigas são: área A = 30 mm2 e momento de inércia I = 90 mm4 .
As matrizes dos elementos são obtidas de (6.51) (usando unidades N e m):
2 3
8 0 1; 2 8 0 1; 2
6 20 103 0 0 20 103 0 7
6 7
6
36 0,24 1; 2 0 0,12 7
1
K = 10 6 7
8 0 1; 2 7
6 7
4 20 103 0 5
sim: 0,24
2 3
20 103 0 0 20 103 0 0
6 8 1; 2 0 8 1; 2 7
6 7
6
36 0,24 0 1; 2 0,12 7
2
K = 10 6 7
20 103 0 0 7
6 7
4 8 1; 2 5
sim: 0,24
O vetor força consistente do elemento 2 vem de (6.57)
8 2 9 8 9
>
> Fx2 >
> >
> 0 >
>
>
> F2 >
> >
> 4; 5 >
>
>
> >
> >
> >
>
< y22 = < =
Mz2 0; 3
2 =
>
> Fx3 >
> >
> 0 >
>
>
> >
> >
> >
>
>
> F2 >
> >
> 10; 5 >
>
: y32 ; : ;
Mz3 0; 45
Com o processo de sobreposição das matrizes dos elementos, a matriz global de rigidez …ca
6.7. Esforços e tensões nos elementos em problemas planos 133
2 3
8 0 1; 2 8 0 1; 2
6 20 103 0 0 20 103 0 7
6 7
6 0,24 1; 2 0 0,12 7
6 7
6 20008 0 1; 2 20 103 0 0 7
6
36
7
K = 10 6 20008 1; 2 0 8 1; 2 77 (6.67)
6 0,48 0 1; 2 0,12 7
6 7
6 20 103 0 0 7
6 7
4 8 1; 2 5
sim: 0,24
pAs condições de contorno são: ux1 = uy1 = z1 = 0 no nó 1, e ux3 = c3 uy3 , com c3 = 1= tan 60 =
1= 3. Essa condição é imposta na matriz seguindo o procedimento detalhado na página 271.
Usamos apenas as etapas mostradas nas eqs. (10.1)-(10.4), que consistem em multiplicar a coluna
ux3 da matriz por c3 e somar na coluna uy3 , e em seguida fazer o mesmo entre as respectivas
linhas da matriz e do vetor força. Em seguida anulamos a linha/coluna ux3 do sistema, e fazemos
^ =F
a diagonal ux3 igual a 1. O sistema modi…cado KU ^ …ca na forma
2 38 9 8 9
1 0 0 0 0 0 > ux1 > > 0 >
6 1 0 0 0 0 7>> >
> >
> >
>
6 7>> uy1 >
> >
> 0 >
>
6 1 0 0 0 7>> >
> >
> >
>
6 7>>
> z1 >
>
>
>
>
> 0 >
>
>
6 20008 0 1; 2 0 20p103
0 7>7 > >
> >
> >
>
6 3 < ux2 = < 0 =
6 7
103 6 20008 1; 2 0 8 1; 2 7 uy2 = 4; 5
6 7> > > >
6 0,480 0 1; 2 0,12 7 >
> >
> >
> 0; 3 >
>
6 7>>
>
z2 >
>
>
>
>
>
>
>
>
6 1 0 0 7 > ux3 > > 0 >
6 7>>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
4 20 103
3 +8 1; 2 >
5 >
:
uy3 >
>
;
>
>
:
10; 5 + F >
>
;
sim: 0,24 z3 0; 45
T
ux1 ; uy1 ; z1 ; ux2 ; uy2 ; z2 ; ux3 ; uy3 ; z3 =
T (6.69)
10 3 0; 0; 0; 1,632; 6,014E-4; 0,6262; 1,633; 2,828; 11,95 :
y θz3
θz2 uy3
R3x
R3y
R3
exata. Uma forma bastante tradicional de avaliar o nível desses erros consiste na realização de uma
nova análise, com uma malha mais re…nada no problema, isto é, com uma quantidade maior de
elementos na região sob carga distribuída. A malha mais re…nada produz uma solução mais precisa,
e a diferença entre as duas soluções indica a qualidade delas. Isso ocorre porque a fundamentação
matemática do MEF mostra que, dentro de condições adequadas, o MEF apresenta convergência,
isto é, quanto mais re…nada a malha, mais precisa é a aproximação obtida, isto é, menor seu erro
em relação à solução exata do problema. Note que isso não se restringe a elementos de viga, mas se
aplica a qualquer tipo de EF, como elementos sólidos, de placas, cascas, de transferência de calor,
de ‡uidos, etc.
Os esforços nos elementos são calculados como descrito na seção 6.7. Consideremos o elemento
1. Os deslocamentos no sistema local desse elemento são obtidos por (6.59), sendo que o elemento
é orientado pelo ângulo = =2.
8 9 8 9
>
> ux1 >> >
> ux1 cos + uy1 sen >
>
>
> u >
> >
> u sen + u cos >
>
>
> y1 >
> > x1 y1 >
< = > < >
=
z1 z1
=
>
> ux2 >> >
> ux2 cos + uy2 sen >
>
>
> >
> >
> >
>
> uy2 >> >
> ux2 sen + uy2 cos > >
>
: ; : ;
z2 z2
6.7. Esforços e tensões nos elementos em problemas planos 135
8 9 8 9
>
> 0 cos + 0 sen >
> >
> 0 >
>
>
> 0 sen + 0 cos >
> >
> 0 >
>
>
> >
> >
> >
>
< = < =
3 0 3 0
= 10 = 10 :
>
> 1; 632 cos + 6; 014 10 4 sen >
> >
> 6; 014 10 4
>
>
>
> >
> >
> >
>
>
> 1; 632 sen + 6; 014 10 4 cos >
> >
> 1; 632 >
>
: ; : ;
6; 262 10 1 6; 262 10 1
Os esforços nos dois nós do elemento 1 são dados pelas eqs. (6.61) e (6.64):
EA 200 109 3 10 5
Nx = [ ux1 + ux2 ] = 0 + 6; 014 10 4 10 3 = 12; 03 N,
L 0; 3
2EIz z
Mz (0) = Mz (0) = 3uy1 + 2L z1 3uy2 + L z2 ;
L2
2 200 109 9 10 11 1 3
= 3 0 + 2 300 0 3 ( 1; 632) + 300 6; 262 10 10 ;
0; 32
= 2:033; 5 Nmm.
2EIz z
Mz (L) = 3uy1 + L z1 3uy2 + 2L z2 ;
L2
2 200 109 9 10 11
= 3 0 + 300 0 3 ( 1; 632) + 2 300 6; 262 10 1 10 3
;
0; 32
= 2:108; 6 Nmm. (6.71)
8
>
> NxMz (0)
>
> …bra superior: x (0) = ymax ;
>
> A Izz
>
>
>
< 12; 03 2:033; 5
= 3; 0 = 68; 18 MPa.
Nó local 1 30 90
>
> Nx Mz (0)
>
> …bra inferior: x (0) = ymin ;
>
> A Izz
>
> 12; 03 2:033; 5
>
: = ( 3; 0) = 67; 38 MPa.
30 90
8
>
> Nx
Mz (L)
>
> …bra superior: x (L) = ymax ;
>
> A Izz
>
>
>
< 12; 03 2:109
= 3; 0 = 69; 89 MPa.
Nó local 2 30 90
>
> Nx Mz (L)
>
> …bra inferior: x (L) = ymin ;
>
> A Izz
>
> 12; 03 2:109
>
: = ( 3; 0) = 70; 69 MPa.
30 90
(6.72)
No elemento 2 os esforços são obtidos seguindo o mesmo procedimento, o que resulta em:
Nx = 13; 807 N, Mz (0) = 1:809 Nmm no nó local 1 do elemento (nó global 2), Mz (L) = 450 Nmm
no nó local 2 do elemento (nó global 3). Nota-se que aqui os resultados aparecem incoerentes com
a solução exata de forma bastante clara. O esforço de momento no nó 1 do elemento 2 deveria ser
igual ao esforço no nó 2 do elemento 1, isto é, 2:109 Nmm, em vez de 1:809 Nmm. Também no
nó 2 do elemento, onde se encontra a rótula, o esforço de momento deveria ser nulo, mas obteve-se
450 Nmm. Esses erros são provenientes do fato de que a resposta produzida pelo MEF é apenas
aproximada nesse exemplo, devido à presença da carga distribuída. Esses erros também se revelam
nas tensões. De fato, toda a resposta é aproximada em vez de exata: os deslocamentos em todos os
nós, os esforços e tensões.
136 Capítulo 6. Análise matricial - modelo de viga
8
>
> Mz (0)
Nx
>
> …bra superior: x (0) = ymax ;
>
> A Izz
>
>
>
< 13; 807 1:809
= 3; 0 = 59; 8 MPa.
Nó local 1 30 90
>
> Nx Mz (0)
>
> …bra inferior: x (0) = ymin ;
>
> A Izz
>
> 13; 807 1:809
>
: = ( 3; 0) = 60; 75 MPa.
30 90
8
>
> Mz (L)
Nx
>
> …bra superior: x (L) = ymax ;
>
> A Izz
>
>
>
< 13; 807 450
= 3; 0 = 15; 46 MPa.
Nó local 2 30 90
>
> Nx Mz (L)
>
> …bra inferior: x (L) = ymin ;
>
> A Izz
>
> 13; 807 450
>
: = ( 3; 0) = 14; 54 MPa.
30 90
(6.73)
Solução:
Inicialmente a tabela de graus de liberdade é identi…cada:
Tabela de graus de liberdade dos nós
Nó ux uy z
1 - - -
2 1 2 3
3 4 5 6
4 - - -
Os vínculos indicam que os nós 1 e 4 estão engastados. Mecanicamente, isto signi…ca que apenas
os nós 2 e 3 estão livres para se mover. No presente exemplo, utilizaremos o procedimento de
sobrepor na matriz global apenas os graus de liberdade do modelo não restringidos pelas condições
6.7. Esforços e tensões nos elementos em problemas planos 137
y
q0
2 3
e2
e1 e3
80° 80°
1 4
x
de contorno. Numericamente, isto signi…ca que os deslocamentos dos nós 1 e 3 sejam excluídos da
contagem da tabela de graus de liberdade. A tabela indica assim que existem apenas seis graus
de liberdade efetivos, que efetivamente comporão a matriz de rigidez global. Usando esta tabela e
a tabela de conectividade, podemos construir a matriz ou tabela de indexação de cada elemento.
Para isto identi…camos os nós que formam o elemento e listamos os seus correspondentes graus de
liberdade:
Tabela de Graus de Liberdade dos elementos
Elemento ux1 uy1 z1 ux2 uy2 z2
1 - - - 1 2 3
:
2 1 2 3 4 5 6
3 4 5 6 - - -
Esta tabela será imprescindível para sobrepor corretamente as matrizes elementares na matriz global.
Calculando a partir destes parâmetros as matrizes de rigidez de cada elemento, temos:
Elemento 1:
2 3
868450; 75 4917357; 2 983; 52188 868450; 75 4917357; 2 983; 52188
6 4917357; 2 27889142 173; 42122 4917357; 2 27889142 173; 42122 7
6 7
6 983; 52188 173; 42122 958; 53988 983; 52188 173; 42122 479; 26994 7
K =6
1
6 868450; 75
7 ;
7
6 4917357; 2 983; 52188 868450; 75 4917357; 2 983; 52188 7
4 4917357; 2 27889142 173; 42122 4917357; 2 27889142 173; 42122 5
983; 52188 173; 42122 479; 26994 983; 52188 173; 42122 958; 53988
Elemento 2:
2 3
621 105 0 0 621 105 0 0
6 0 6210 3105 0 6210 3105 7
6 7
6 0 3105 2070 0 3105 1035 7
K =6
2
6
7 ;
7
6 621 105 0 0 621 105 0 0 7
4 0 6210 3105 0 6210 3105 5
0 3105 1035 0 3105 2070
Elemento 3:
2 3
868450; 75 4917357; 2 983; 52188 868450; 75 4917357; 2 983; 52188
6 4917357; 2 27889142 173; 42122 4917357; 2 27889142 173; 42122 7
6 7
6 983; 52188 173; 42122 958; 53988 983; 52188 173; 42122 479; 26994 7
K =6
3
6
7 ;
7
6 868450; 75 4917357; 2 983; 52188 868450; 75 4917357; 2 983; 52188 7
4 4917357; 2 27889142 173; 42122 4917357; 2 27889142 173; 42122 5
983; 52188 173; 42122 479; 26994 983; 52188 173; 42122 958; 53988
138 Capítulo 6. Análise matricial - modelo de viga
Baseado na tabela de indexação, cada uma destas matrizes é inserida na matriz global, que possui
a dimensão de número de graus de liberdade contabilizados pela tabela de indexação (no presente
exemplo, são 6 graus de liberdade, aqueles correspondentes aos nós 2 e 3). Esta forma de trabalhar
evita construir toda a matriz de rigidez (12 graus de liberdade correspondentes aos nós 1 a 4) para
posteriormente eliminar aquelas equações associadas a graus de liberdade prescritos. No presente
caso, ao tomar uma componente elementar cuja posição for nula na matriz de indexação (como
por exemplo as componentes K11 1 ; K 1 ; K 1 ; K 1 ; K 1 ; K 1 ), esta é simplesmente não sobreposta no
12 13 14 15 16
sistema. Após a inserção das matrizes elementares na matriz global, obtemos
2 3
62968451 4917357; 2 983; 52188 621 105 0 0
6 4917357; 2 27895352 2931; 5788 0 6210 3105 7
6 7
6 983; 52188 2931; 5788 3030; 5399 0 3105 1035 7
K=6 6 7 :
621 10 5 0 0 62968451 4917357; 2 983; 52188 7
6 7
4 0 6210 3105 4917357; 2 27895352 2931; 5788 5
0 3105 1035 983; 52188 2931; 5788 3030; 5399
Uma vez que os graus de liberdade nos apoios não foram incorporados, essa matriz é não singular.
O vetor de carga nodal equivalente ao carregamento distribuído no elemento 2 é obtido partic-
ularizando (6.57) para o caso q1 = q2 = qo e orientação do elemento = 0:
8 9e2 8 9 8 9
>
> Fx1 >> >
> 0 >
> >
> 0 >
>
>
> F >
> >
> L=2 >
> >
> 100 >
>
>
> y1 >
> >
> >
> >
> >
>
< = < 2 = < =
Mz1 L =12 50=3
F= = qo = :
>
> Fx2 >> >
> 0 >
> >
> 0 >
>
>
> Fy2 > > >
> L=2 > > > > 100 > >
>
> >
> >
> >
> >
> >
>
: ; : 2 ; : ;
Mz2 L =12 50=3
A solução do sistema KU = F fornece o vetor deslocamento que, anexado aos valores já con-
hecidos permite escrever a seguinte tabela de deslocamentos nodais do modelo:
Nó ux uy z
1 0 0 0
2 2; 10158 10 7 m 3; 67462 10 6 m 8; 35238 10 3 rad
3 2; 10158 10 7 m 3; 67462 10 6 m 8; 35238 10 3 rad
4 0 0 0
γ y
0
B
z ds
B C
dθx
dx C
Mx z x
(a) x (b)
Figura 6.18: Ângulos de cisalhamento e de torção num segmento de barra sob torção.
Considere um segmento de barra de seção circular como a da Figura 6.18a, onde duas seções
transversais separadas por uma distância diferencial dx sofrem uma rotação relativa d x ; provocando
um cisalhamento . Considere-se um segmento axial AB de…nido numa coordenada radial constante
r. Esse segmento deforma-se em uma curva helicoidal AC. O segmento AC tem comprimento
diferencial ds. Esse segmento também de…ne o ângulo de rotação relativa d x por ds = rd x . Então
observa-se que, para pequenas deformações, o segmento ds entre os pontos pode ser visto como
segmento de arco para dois arcos distintos ao mesmo tempo, o arco de raio r e o arco de raio dx.
Sumarizando, as seguintes relações geométricas podem ser formadas:
d x
ds = rd x = dx ! = ;
dx r
d x (x)
tal que (x; r) = r . (6.74)
dx
Usando a Lei de Hooke 1D para cisalhamento puro, tem-se
d x (x)
(x; r) = G (x; r) = Gr : (6.75)
dx
Aqui x é o ângulo de rotação da seção transversal em torno do eixo axial da barra, é a deformação
cisalhante, G o módulo elástico de cisalhamento, r a coordenada radial do ponto onde está se
avaliando a deformação cisalhante e a tensão cisalhante. Observe-se que a tensão e a deformação
crescem linearmente com o raio, sendo nulos no centro e atingindo o valor máximo na superfície
externa cilíndrica da barra.
O esforço de torção Mx da seção é dado pela integral das tensões cisalhantes multiplicadas pelo
raio r de atuação:
Z Z
d x
Mx = r dA = Gr2 dA, (usada a eq. (6.75),
A A dx
Z
d x d x d x
Mx = G r2 dA = G J ! Mx = GJ (6.76)
dx A dx dx
onde J é o momento polar de inércia da seção.
Consideramos aqui apenas o caso de uma barra submetida apenas a cargas concentradas de
torção. (Momentos distribuídos podem facilmente ser incorporados.) A condição de equilíbrio de
um segmento de haste de comprimento 4x como na Figura 6.19, submetida a esforços de torção, é
dada por:
140 Capítulo 6. Análise matricial - modelo de viga
x ∆x
x + ∆x
Figura 6.19: Equlíbrio de momentos torçores num segmento de barra sob torção.
dMx (x)
Mx (x) + Mx (x) + 4x + O(4x2 ) = 0: (6.79)
dx
Dividindo por 4x e tomando lim 4x ! 0 chega-se a
d Mx
= 0: (6.80)
dx
Substituindo (6.76), se obtém
d2 x
GJ =0 (6.81)
dx2
que é a equação diferencial de equilíbrio do problema de torção escrita em termos da rotação
da seção transversal quando não há torque aplicado distribuído. A sua integração em relação à
coordenada x produz
GJ x (x) = C1 x + C2 (6.82)
cujas constantes são obtidas mediante condições de contorno. Essa equação mostra que a variação
de ângulo de torção ao longo de uma barra de seção transversal circular uniforme tem uma variação
linear se não houverem carregamentos distribuídos de momento.
é, é a solução exata, desde que a seção seja uniforme e o carregamento seja concentrado nos nós.
Assim, o campo de rotações pode ser de…nido a partir de duas condições de contorno, que são as
rotações dos extremos da barra.
y y
1 L, E, A 2 x L, G, J 2 x
1
M x2 + M x1 = 0;
GJ 1 1 x1 M x1
= (6.84)
L 1 1 x2 M x2
Estas são as equações de equilíbrio discretizadas, para a torção, e podem ser incorporadas aos
modelos de tração e ‡exão com o intuito de formular o problema geral de uma viga no espaço
submetida a um conjunto genérico de esforços.
z z
y y
1 1
Figura 6.21: Deslocamentos e rotações nodais e forças e momentos nodais no elemento de viga 3D.
eixos principais de inércia da seção. Neste sistema, as equações de equilíbrio que a viga deve
satisfazer são:
Equilíbrio axial,
AE 1 1 ux1 F x1
= : (6.85)
L 1 1 ux2 F x2
2 38 9 8 9
12 6L 12 6L >
> uy1 >
> >
> F y1 >
>
EIz 6 7 < = < =
6 6L 4L2 6L 2
2L 7 z1 M z1
= : (6.86)
L3 4 12 6L 12 6L 5 >
> u >
> > F >
: y2 ; > : y2 >
;
6L 2L2 6L 4L2 z2 M z2
2 38 9 8 9
12 6L 12 6L >
2 7<
> uz1 >
>
=
>
>
<
F z1 >
>
=
EIy 6
6 6L 4L2 6L 2L 7 y1 M y1
= : (6.87)
L3 4 12 6L 12 6L 5 >> u >
> > > F z2 >
>
: z2 ; : ;
6L 2L2 6L 4L2 y2 M y2
Equilíbrio à torção,
GJ 1 1 x1 M x1
= : (6.88)
L 1 1 x2 M x2
Escrevendo todas estas equações numa única matriz, se tem o sistema de equações completo do
elemento …nito de viga no sistema local de coordenadas do elemento
KU = F; onde (6.89)
6.9. Vigas no espaço tridimensional 143
2 AE AE
L 0 0 0 0 0 L 0 0
6 0 12EIz
0 0 0 6EIz
0 12EIz
0
6 L3 L2 L3
6 12EIy 6EIy 12EIy
6 0 0 L3
0 L2
0 0 0 L3
6 GJ
6 0 0 0 L 0 0 0 0 0
6 6EIy 4EIy
6 0 0 0 0 0 0 6EI
6 L2 L 12
6 0 6EIz
0 0 0 4EIz
0 6EIz
0
K= 6
6 AE
L2 L
AE
L2 (6.90)
6 L 0 0 0 0 0 L 0 0
6 0 12EIz
0 0 0 6EIz
0 12EIz
0
6 L3 L2 L3
6 12EIy 6EIy 12EIy
6 0 0 L3
0 L2
0 0 0 L3
6 GJ
6 0 0 0 0 0 0 0 0
6 6EIy
L
2EIy 6EIy
4 0 0 0 0 0 0
L2 L L2
6EIz 2EIz 6EI
0 L2
0 0 0 L 0 L2
0
3 8 9 8 9
0 0 0 > ux1 > > F x1 >
6EIz 7 >
> >
> >
> >
>
0 0 L2 7 >
> uy1 >
> >
> F y1 >
>
6EIy 7 >
> >
> >
> >
>
0 0 7 >
> uz1 >
> >
> F z1 >
>
L2 7 >
> >
> >
> >
>
GJ
0 0 7 >
> >
> >
> M x1 >
>
L 7 >
> x1 >
> >
> >
>
0
2EIy
0 7 >
> >
> >
> M y1 >
>
L 7 >
> y1 >
> >
> >
>
2EIz 7 < = < =
0 0 L 7; z1 M z1
7 U= ; e F= : (6.91)
0 0 0 7 >
> ux2 >
> >
> F x2 >
>
6EIz 7 >
> >
> >
> >
>
0 0 L2 7 >
> uy2 >
> >
> F y2 >
>
6EIy 7 >
> >
> >
> >
>
0 0 7 >
> uz2 >
> >
> F z2 >
>
L2 7 >
> >
> >
> >
>
GJ
0 0 7 >
> x2 >
> >
> M x2 >
>
L 7 >
> >
> >
> >
>
0
4EIy
0 5 >
> y2 >
> >
> M y2 >
>
L >
: >
; >
: >
;
0 0 4EIz z2 M z2
L
Note que as equações KU=F são precisamente as mesmas 12 equações de equilíbrio que aparecem
em (6.85)-(6.88), sendo que apenas foram reorganizadas numa forma compacta.
As grandezas descritas em KU=F são particularizadas para a posição especial da barra, coin-
cidente, como já apontado, com a direção x do sistema de coordenadas. Para obter uma expressão
geral, é preciso utilizar uma matriz de rotação de sistemas de coordenadas, da mesma forma como foi
feito para a rotação plana da viga, seção 6.5. A construção desta matriz é feita pelo produto interno
dos vetores unitários de uma e outra base, obtendo-se os cossenos diretores. Para se obter a matriz
de rotação que fornece as componentes locais a partir das globais se faz a operação Rij = ei ej onde
fe1 ; e2 ; e3 g e fe1 ; e2 ; e3 g são os vetores unitários que formam as base dos sistemas de coordenadas
global e local, respectivamente. A matriz de rotação tem as componentes
e1 e2 e3
e R11 R12 R13
R= 1 ; (6.92)
e2 R21 R22 R23
e3 R31 R32 R33
sendo que, para permitir a rotação simultânea de todos os graus de liberdade do elemento, montamos
uma matriz maior, mediante a composição das matrizes de rotação de cada nó. Assim, a rotação
dos graus de liberdade da barra do sistema global para o sistema local é feito mediante a operação
144 Capítulo 6. Análise matricial - modelo de viga
8 9 2 38 9
>
> ux1 >
> R11 R12 R13 >
> ux1 >
>
>
> >
> 6 7>> >
>
>
> uy1 >
> 6 R21 R22 R23 7>> uy1 >
>
>
> >
> 6 7>> >
>
>
> uz1 >
> 6 R31 R32 R33 7>> uz1 >
>
>
> >
> 6 7>> >
>
>
> x1 >
> 6 R11 R12 R13 7>> x1 >
>
>
> >
> 6 7>> >
>
>
> y1 >
> 6 R21 R22 R23 7>> y1 >
>
>
< >
= 6 7>< >
=
z1 6 R31 R32 R33 7 z1
=6 7
>
> ux2 >
> 6 R11 R12 R13 7> ux2 >
>
> >
> 6 7>> >
>
>
> uy2 >
> 6 R21 R22 R23 7>> uy2 >
>
>
> >
> 6 7>> >
>
>
> uz2 >
> 6 R31 R32 R33 7>> uz2 >
>
>
> >
> 6 7>> >
>
>
> >
> 6 R11 R12 R13 7>> >
>
>
>
x2 >
> 6 7>> x2 >
>
>
> y2 >
> 4 R21 R22 R23 5>>
> y2
>
>
>
>
: >
; >
: >
;
z2 R31 R32 R33 z2
(6.93)
ou simplesmente
U = RU: (6.94)
As matrizes de rotação em (6.92) e (6.93) rotacionam as componentes de qualquer vetor, do
sistemas de coordenadas Oxyz para o sistema Oxyz. Então as componentes dos esforços nodais são
transformadas da mesma forma que os deslocamentos em (6.94):
P = RP: (6.95)
As equações de equilíbrio no sistema global Oxyz são dadas substituindo (6.94) e (6.95) nas
equações do sistema local Oxyz, eq. (6.89), e em seguida pré-multiplicando ambos os lados da
igualdade por R 1 . Uma vez que R 1 = RT , o sistema de equações algébricas de equilíbrio
do elemento …ca
Qy Pz max
max = ; (6.98)
Izz t
onde Qy é o esforço cortante na seção na direção y, Pz max é o momento estático da região hachurada,
6.10. Observações - cisalhamento transversal e vigas de Timoshenko 145
de área As , mostrada na Figura 6.22a, em relação ao eixo principal z, e Izz é o segundo momento
da seção completa em relação ao eixo z. t é a espessura de material da seção na cota z = 0, e A é a
área da seção completa. Lembrar que o momento estático de uma área em relação a um dado eixo
pode ser calculado por Pz max = z As , onde z é a coordenada do centroide da área As .
(a) y (b) y
As
As
z cg z cg
t t=D
Figura 6.22: Parâmetros geométricos: (a) numa seção arbitrária e (b) numa seção circular, para o
cálculo da tensão cisalhante máxima.
Para uma seção circular, textos de estática fornecem a expressão para o momento estático Ps
de uma área semicircular em relação à sua linha diametral como:
2D
As ; Ps = (6.99)
3
onde As é área da região semi-circular. Isso permite o cálculo do momento do anel semicircular
tubular da Figura 6.22b em relação ao eixo centroidal z como:
Finalmente, como a tensão cisalhante média na seção é med = Qy =A, a expressão para o fator de
cisalhamento na seção anelar …ca
max Qy P =Izz t AP
k= = = : (6.101)
med Qy =A Izz t
Note que na seção circular não é necessário distinguir entre os momentos de inércia nas direções
y ou z, por serem idênticos.
y y
t/2 Di t/2
De τmax
(a) (b)
Nos capítulos anteriores …zemos o desenvolvimento das formulações de elementos …nitos para barras
e vigas usando o chamado método direto (ou método de equilíbrio). Este método se baseia em
ferramentas básicas de resistência dos materiais, na aplicação direta de condições de equilíbrio e
num entendimento físico direto do problema. Conquanto esta abordagem seja possivelmente a mais
adequada a um primeiro contato com o método de elementos …nitos (MEF) ela, infelizmente, não
se presta ao tratamento de problemas mais complexos como o de ‡exão de placas, cascas ou de
elasticidade tridimensional além de uma in…nidade de outros problemas de mecânica dos sólidos,
dos ‡uidos, de acústica, de campos elétricos, etc. De fato, o MEF, em sua forma geral, se baseia
num conjunto bastante amplo de conceitos e ferramentas matemáticas abstratas que, devido a sua
aplicabilidade em diversos problemas, o torna um dos métodos mais versateis existentes. Veri…ca-se
seu uso corriqueiro em análises de problemas de estruturas, de transferência de calor, eletromag-
netismo, reações químicas, astrofísica etc., isto é, qualquer problema que tenha sido previamente
modelado por um conjunto de equações diferenciais.
Assim, este capítulo é dedicado a uma introdução às ferramentas básicas do método, que serão
aplicados nos capítulos seguintes a elementos estruturais mais complexos como o de ‡exão de placas
ou a problemas como dinâmica ou transferência de calor.
z
b (x)
f (L)
isto é, atuam exclusivamente na direção axial da barra. f (L) e f (0) são forças por unidade de
área que atuam nas extremidades da barra, e b é uma força de corpo por unidade de volume.
Observamos que, no caso da barra se encontrar engastada, por exemplo no ponto x = 0; o
valor de f (0) é a reação do vínculo.
1+ 1
"x = x x = x; "z = x = "x ;
E E E E (7.5)
"y = x = "x ; "xy = "xz = "yz = 0:
E
Assim, os estados de tensão e deformação num ponto da barra são expressos pelos os tensores
2 3 2 3
x (x) 0 0 "x (x) 0 0
(x) = 4 0 0 0 5; "(x) = 4 0 "x (x) 0 5: (7.6)
0 0 0 0 0 "x (x)
@ x
+b= u
•: (7.7)
@x
b(x)
σx σx+ dσx
x dx
Podemos agora relacionar a tensão com a deformação axial da barra mediante a lei de Hooke
1D, eq.(7.5), isto é, x = E"x . Por sua vez, a deformação é relacionada ao deslocamento pelas
relações cinemáticas, que no caso 1D são "x = du=dx. Assim, a equação de equilíbrio estático pode
ser colocada em termos do deslocamento axial:
d2 u(x)
E + b(x) = 0 8x 2 (0; L) (7.8)
dx2
Essa é uma equação diferencial ordinária de segunda ordem, homogênea, que pode ser resolvida com
condições de contorno adequadas. Para que o problema tenha solução, é necessário que se conheça
uma condição de contorno em cada extremo da barra: ou o valor do deslocamento ou de sua
derivada. Especi…camente, as condições de contorno podem ser:
du
E (0) = f (0) ou u(0) = uo ; (7.9)
dx
du
E (L) = f (L) ou u(L) = uL : (7.10)
dx
As condições de contorno nas quais se …xa o valor da derivada da função incógnita, du=dx;
são conhecidas como condições de contorno naturais ou de Neumann. Outro tipo de condição
de contorno usual é aquela em que se conhece o valor do deslocamento u no nó. Esta condição é
conhecida por condição essencial ou de Dirichlet. No caso do presente exemplo (barra engastada
em x = 0), temos uma condição essencial na origem onde, devido ao engaste, se conhece o valor
do deslocamento u(0) = u: Usualmente u = 0 embora, devido a interferências negativas ou erros
de montagem pode-se ter um valor não nulo para o deslocamento prescrito. No extremo oposto da
150 Capítulo 7. Conceito de aproximação por elementos …nitos
barra, a carga distribuida aplicada é f (L) = f e a força resultante é F = Af , o que é uma condição
de contorno de tipo natural.
As equações …nais de equilíbrio para o caso da barra engastada da Figura 7.1 são 2 :
d2 u(x)
AE + A b(x) = 0 8x 2 (0; L);
dx2
du (7.11)
AE (L) = Af = F;
dx
u(0) = u:
1 1 2
) u(x) = u + (f + bL)x bx (7.12)
E 2
Conhecido o deslocamento u(x), as deformações "(x) e as tensões (x) ao logo da barra podem
ser facilmente calculadas:
du(x) 1
"(x) = = [ (f + bL) bx] ; (x) = E"(x) = [ (f + bL) bx] :
dx E
A simplicidade desta integração deve-se às características particulares da geometria e do carrega-
mento. Lamentavelmente este procedimento torna-se impraticável em casos gerais de elasticidade
tridimensional, sendo necessária a utilização de métodos numéricos. Por outro lado, é precisamente
pela sua simplicidade e pela possibilidade de se obter soluções analíticas, que o presente modelo
servirá de base para apresentar os fundamentos do Método de Elementos Finitos (MEF).
Inicialmente observamos que as condições de equilíbrio (7.11) estão escritas num formato não
conveniente ao MEF, isto é, na forma de equações diferenciais, enquanto que o MEF deve ser
expresso a partir de uma forma integral. Assim torna-se necessário reescrever a condição de equilíbrio
num formato alternativo através do chamado Princípio dos Trabalhos Virtuais.
N + (N + N ) + bA x = 0: (7.13)
Expandindo o produto dos parênteses, simpli…cando os termos x A que aparecem, dividindo todos
os termos por x e fazendo o limite x ! 0, obtém-se a equação diferencial de equilíbrio na forma
d
(N ) = bA (7.14)
dx
Considerando a lei de Hooke 1D com E constante em x, x = E"x = Eu0 . Então N = EAu0 Dessa
forma a equação diferencial de equilíbrio em termos do deslocamento axial …ca
d du
E A = bA (7.15)
dx dx
y
x
b(x)
a
x
Solução:
Usando trigonometria, largura b da barra numa dada seção x é dada por
x
b(x) = a 1 :
L
Logo a variação da seção transversal é dada por
x
A(x) = bh = ah 1 : (7.16)
L
A equação de equilíbrio (7.14) se torna
d
(N ) = bA;
dx
x
= bah 1 ; (7.17)
L
cuja integral …ca
x2
N (x) = bah x + c1 . (7.18)
2L
Aplicamos a condição de contorno (a) N (L) = 0. Isso produz
bahL
c1 = .
2
152 Capítulo 7. Conceito de aproximação por elementos …nitos
Logo,
bah 2
N (x) = L 2Lx + x2 (7.19)
2L
A tensão numa seção arbitraria é
N (x) b L2 2Lx + x2
x (x) = = (7.20)
A(x) 2L 1 Lx
Como "x = x =E = u0 ,
du b L2 2Lx + x2
= .
dx 2E (L x)
Uma nova integração produz
b
u(x) = 2Lx x2 + c2 : (7.21)
4E
Aplicando a condição de contorno (b) u(0) = 0 se obtém c2 = 0. Logo,
b
u(x) = 2Lx x2 (7.22)
4E
e o deslocamento máximo é umax = bL2 =4E.
Conjunto das variações de deslocamentos V ar. Para entender a de…nição desse outro
conjunto, consideremos a barra deformada devido a um deslocamento descrito pela função
u1 (x) ilustrada na Figura 7.4, onde u1 (x) 2 Kin. Se perturbamos o deslocamento, modi…cando-
o, teremos uma outra função u2 (x), que também pertence a Kin. Podemos calcular a diferença
de deslocamentos em cada ponto, (também chamada variação): u ^(x) = u2 (x) u1 (x): Esta
função, u ^(x); não pertence mais ao conjunto Kin uma vez que o seu valor no contorno é
7.2. Princípio dos trabalhos virtuais 153
nulo (Figura 7.4) e não o valor prescrito u: Assim, para coletar as variações de deslocamento
de…nimos o conjunto das variações como:
V ar = f^
u(x) : contínuo, diferenciável por partes, u
^(0) = 0g: (7.24)
Devemos notar que as funções deste conjunto tem obrigatoriamente o valor zero em x = 0;
uma vez que essas funções são obtidas pela diferença entre dois deslocamentos arbitrários de
Kin, ambos com o mesmo valor u no engaste.
u2(x) ∈ Kin
u1(x) ∈ Kin
0 L
Se a função u aplicada ao lado esquerdo da equação diferencial (7.11) for a solução exata do
problema, o resultado do lado direito será zero. Por outro lado, se a função u usada for uma função
qualquer, o resultado será não nulo. Esse resultado é igual a um erro, denominado função resíduo
r(x). Isso pode ser posto como:
d2 u(x)
AE + A b(x) = r(x) 8 x 2 (0; L) : (7.25)
dx
O nome resíduo indica justamente que, se a função r(x) não for nula em algum ponto x, a equação
diferencial de equilíbrio não está sendo completamente satisfeita, havendo um erro “residual”.
Uma forma possível de identi…car se uma função é nula em todo ponto do seu domínio, consiste
em realizar a operação Z L
r(x) u
^(x) dx; (7.26)
0
sendo u^(x) uma função arbitrária, conhecida, (denominada deslocamento virtual ou ainda
função peso) pertencente ao conjunto V ar. A palavra “virtual” é usada como equivalente a
“…ctício”, não verdadeiro. Se o resultado desta operação for o valor zero, existem chances de que
u1(x) u1(x)
u2(x) u2(x)
r(x)
r(x)
0 L 0 L
(a) (b)
Figura 7.5: (a) Função resíduo não nula e (b) Funcão resíduo nula.
a função r(x) seja zero em todo ponto x (Figura 7.5a). Obviamente não se pode concluir com isto
que o resíduo seja identicamente nulo dado que o valor zero da integral pode ser produto de uma
escolha particular de u^(x): No entanto, é possível a…rmar que a única função r(x) que produz um
valor nulo na integral acima para toda função u ^(x) 2 V ar, é a função r(x) 0 (ver Figura 7.5b).
154 Capítulo 7. Conceito de aproximação por elementos …nitos
A equivalência signi…ca uma a…rmação em dois sentidos. (a) se r(x) = 0, sempre é possível
multiplicar essa igualdade por qualquer função u ^(x) e em seguida integrar no domínio, onde se
chega a (7.27); (b) reversamente, se a integral em (7.27) é válida para qualquer função u
^(x), o lema
fundamental do cálculo variacional mostra que, necessariamente, r(x) = 0. Este lema é demonstrado
em (14.135), página 394.
Substituindo em (7.27) a expressão do resíduo (7.25) temos4
Z L
d2 u
A E u
^ + b^
u dx = 0; 8^
u 2 V ar: (7.28)
0 dx2
Lembrando a regra de derivação do produto de duas funções, é possível operar como segue:
d du d2 u du d^
u d2 u d du du d^
u
u
^ = 2
u
^+ ; ) 2
u
^= u
^ (7.29)
dx dx dx dx dx dx dx dx dx dx
Notemos que o primeiro termo pode ser facilmente integrado (usando = Edu=dx):
Z L L
d du du
E u
^ dx = E u
^ = (L) u
^(L) (0) u
^(0):
0 dx dx dx 0
cujos dois primeiros termos podem ser calculados a partir das condições de contorno de carregamento
e do fato que o deslocamento virtual u
^ 2 V ar ser nulo no engaste:
(L) = f e u
^(0) = 0 :
Substituindo isto em (7.30), obtemos a expressão denominada princípio dos trabalhos virtuais
(adaptada ao caso de barra sob tração como na Figura 7.1). Este princípio pode ser enunciado
formalmente como:
R L du d^
u RL
AE 0 dx dx dx = A 0 b u
^ dx + A f u
^(L) = 0 8^
u 2 V ar (7.31)
Como interpretar esta condição? Para ajudar nesta tarefa vamos analisar separadamente os
termos envolvidos.
4
Para facilitar a leitura será suprimida a dependência de (x) nas expressões, isto é, será escrito r ao invés de r(x):
A dependéncia será explícitada quando necessário.
7.3. Princípio da Energia Potencial Total Mínima 155
Trabalho virtual interno: é o trabalho produzido pelas tensões reais (u) = E du=dx
sobre a uma deformação virtual "(^u) = d^
u=dx que, por sua vez, é produzida por um campo
de deslocamento virtual u
^:
Z L Z L
^ du d^
u ^
Wi = AE dx isto é, Wi = A (u)"(^
u) dx: (7.32)
0 dx dx 0
Note que, como o deslocamento u ^ não é verdadeiro (é virtual, …ctício), o trabalho produzido
também não é real, mas virtual.
Trabalho virtual externo: é o trabalho produzido pelos forças externas reais sobre o campo
de deslocamento virtual u
^: Z L
^
We = A bu
^ dx + A f u
^(L): (7.33)
0
O princípios dos trabalhos virtuais postula que as tensões (u) estão em equilíbrio com o car-
regamento externo (f e b) se e somente se os trabalhos virtuais interno e externo são iguais para
^ 2 V ar, isto é5 ,
qualquer função peso u
^i = W
W ^e 8^
u 2 V ar: (7.34)
Princípio: porque pode ser utilizado como um postulado que de…ne equilíbrio, e consequente-
mente como ponto de partida para cálculo e dedução de outras relações, inclusive a própria
equação diferencial de equilíbrio.
Trabalhos: porque cada termo tem o signi…cado físico do trabalho realizado pelos esforços
internos e externos para uma variação de deslocamento arbitrária (deslocamento virtual) u
^:
Virtuais: porque o deslocamento u ^ não é real, isto é, não tem relação com os esforços
aplicados. São simplesmente funções arbitrárias do conjunto V ar:
Veremos a seguir uma outra forma de obter idêntico resultado partindo da existência de uma
função que mede a energia do sistema. Este item, porém, pode ser deixado momentaneamente
de lado pelo leitor que deseje abordar imediatamente o tópico de aproximação pelo método de
elementos …nitos.
5
É comum se ter certa di…culdade em interpretar estes conceitos, principalmente pelo hábito de se visualizar o
problema de equilíbrio através da ótica conhecida como “mecânica vetorial”, derivada diretamente das leis de Newton,
baseadas principalmente nas equações de movimento F = ma de uma partícula.
De fato, a representação do equilíbrio através dos conceitos do princípio dos trabalhos virtuais são anteriores a
Newton e suas primeiras expressões remontam a Leonardo da Vinci (1452-1519), Galileo Galilei (1564-1642) e Jean
Bernoulli (1667-1742) [64].
Hoje podemos ver claramente a relação entre ambas as formulações, como foi mostrado nas deduções anteriores.
156 Capítulo 7. Conceito de aproximação por elementos …nitos
d!
= E" = : (7.36)
d"
Considerando que o integrando não varia em relação às coordenadas da seção transversal da barra
(y; z), tem-se que
Z L
1
W (u) = AE "(u(x))2 dx: (7.38)
2 0
Da mesma forma, é possível de…nir a densidade de trabalho das forças externas devida ao
deslocamento real u(x) como:
' e são trabalho por unidade de volume e de área, respectivamente. O trabalho das forças
externas é a integral da funções densidade de trabalho externo sobre todo o corpo da barra:
8 Z
> RL
> Força de corpo b
< ! (u) = b(x) u(x) d = A 0 b(x) u(x) dx;
Z (7.40)
>
>
: Carga distribuída f ! (u) = f (L) u(L) dA = A f (L) u(L):
A
De…ne-se, …nalmente, a chamada energia potencial total como a energia do sistema na con-
…guração deformada. Esta é constituída pela energia elástica armazenada, menos a energia “gasta”
σ(x)
ω = 1 σ = 1 Eε 2
2 2
dω
σ = = Eε
dε
ε(x)
pelas forças ao se deslocar na direção em que estão aplicadas. Esta energia potencial é dada por:
Admitamos agora que o deslocamento u sofre uma perturbação, isto é, passa a ser u = u + t^ u
onde t^
u é uma variação da função u (Figura 7.7). O escalar t representa o módulo da variação.
u
^(x) é uma função arbitrária, conhecida, que indica a direção da variação. Devemos notar que, se
u 2 Kin e u^ 2 V ar, então função perturbada u 2 Kin, isto é, também satisfaz a condição de
contorno não-homogênea: u (0) = u. Seguindo o raciocínio em ordem inversa, se u ; u 2 Kin,
então u u 2 V ar. Como u u = t^ u, segue-se que u
^ 2 V ar.
u(x) ∈ Var
u^(x) ∈ Var
Vamos mostrar agora que o deslocamento u(x) que minimiza a energia potencial (u) coincide
com o deslocamento solução do problema de equilíbrio.
Um resultado clássico de cálculo indica que a condição necessária de mínimo de uma função de
variável real, contínua, de derivada continua é que a derivada desta seja igual a zero, isto é, dada
uma função g(x), um ponto de máximo, de mínimo ou de in‡exão de g é o ponto onde dg=dx = 0.
O problema que estamos estudando difere da operação de cálculo tradicional porque a variável aqui
é uma função u(x), isto é, estamos buscando a função u(x) que minimiza o funcional6 (u). Nas
disciplinas usuais de cálculo, em graduação, tem-se a situação distinta, em que se busca o valor da
coordenada x que minimiza o valor de uma função f (x) dentro de um certo intervalo. Aqui, para
funções …xas u e u^, pode ser visto como uma função de t: = (t).
Assim, para o caso do funcional (u); desejamos calcular o seguinte limite:
(u + t^
u) (u)
(u)j[^u] = lim =0 8^
u 2 V ar; (7.42)
t!0 t
Isso pode ser compreendido como a variação da energia (u) devida a uma perturbação da variável
u na direção arbitrária u
^ 2 V ar: Este limite envolve a avaliação de (u + t^
u), que pode ser expressa,
6
Um funcional é entendido aqui como uma função de funções, em forma integral. Ver detalhes na seção 14.5,
página 387.
158 Capítulo 7. Conceito de aproximação por elementos …nitos
Os termos marcados com o colchete inferior compõem a energia (u). Então, substraindo (u) de
(u + t^
u) e dividindo por t como em (7.42), temos
Z L Z L 2
(u + t^
u) (u) du d^
u 1 d^
u
= AE dx + t AE dx
t 0 dx dx 2 0 dx
Z L
A bu
^ dx A f (L)^
u(L):
0
Derivada e variação
Qual a diferença entre a derivada clássica de cálculo e aquela aqui efetuada? A derivada clássica de
cálculo é a seguinte:
df (x) f (x + t x) f (x)
f j[ x] = = lim :
dx t!0 t
Na derivação clássica de uma função real de uma única variável real, o incremento, ou “variação”,
x; tem sempre a mesma direção. No caso de duas dimensões, é necessário levar em conta a direção
da variação, tomando derivadas parciais (Figura 7.8):
u(x, y)
u tangentes
∆x
δu(x)[∆x]
x δf(x, y)∆y
x
∆x δf(x, y)∆x
(a) (b) ∆y y
@f (x; y)
f (x; y)j[ x] = ;
@x
f (x + t x; y) f (x; y)
= lim ;
t!0 t
@f (x; y)
f (x; y)j[ y] = ;
@y
f (x; y + t y) f (x; y)
= lim :
t!0 t
No caso do funcional (u), existem tantas formas de variar (u) quanto funções virtuais u
^ existam,
isto é, existem in…nitas derivadas parciais:
(u + t^
u) (u)
(u)j[^u] = lim : (7.46)
t!0 t
Para cada função u ^ tem-se uma “derivada parcial” de : Isto é um problema, dado que, para
garantir que haja equilíbrio, todas as derivadas parciais de (u) devem ser zero. Isto é, a variação
de (u) para toda direção u ^, deve ser zero.
a problemas envolvendo milhares de barras e para outros tipos de elementos em distintos tipos de
fenômenos físicos.
u(x)
uh(x)
0 L
h h h h
ϕ3(x)
1 e1 2 e2 3 e3 4 e4 5
Figura 7.9: Malha de quatro elementos, funções de aproximação lineares 'i , solução exata u e
solução aproximada uh .
Consideremos inicialmente a de…nição de uma função linear por partes como sendo uma
função do tipo mostrada na linha quebrada uh (x) da Figura 7.9, isto é, uma função que é linear ao
longo de segmentos de…nidos, porém não é linear em sua extensão completa.
Consideramos a solução exata de um problema, como ilustrada pela curva u(x) da Figura 7.9.
Uma aproximação possível da função u pode ser construída mediante uma função linear por
partes uh . A precisão dessa aproximação depende do número e do tamanho das divisões de com-
primento h realizadas na barra. É intuitivo perceber que, a medida em que o número de divisões
aumenta, o tamanho dos intervalos h diminui e a aproximação melhora. Em outras palavras, fazendo
o intervalo h ! 0, tem-se que uh ! u.
Os segmentos em que foi dividida a barra são conhecidos como elementos. Os pontos de união
entres estes elementos são chamados de nós. O conjunto de elementos é conhecido como malha de
elementos …nitos. Neste caso, a malha é composta de 4 elementos e 5 nós.
Uma função linear por partes como uh pode ser construída como a combinação linear de funções
'i (x) mais simples denominadas funções de aproximação7 . No presente exemplo a solução u(x)
pode ser aproximada pela função uh da seguinte forma (Figura 7.9):
u(x) ' uh (x) = 0'1 (x) + u2 '2 (x) + u3 '3 (x) + u4 '4 (x) + u5 '5 (x); (7.47)
onde Nnos é o número total de nós do modelo, que, nesse caso, é o número de funções de
interpolação.
Da mesma forma, uma função arbitrária u
^h pode ser expressa pelas mesmas funções de interpo-
lação 'i e por diferentes constantes u
^i :
N
X nos
u
^h (x) = u
^1 '1 (x) + u
^2 '2 (x) + u
^3 '3 (x) + u
^4 '4 (x) + u
^5 '5 (x) = u
^j 'j (x): (7.49)
j=1
As funções 'i (x) são convenientemente construídas de forma tal que seu valor seja igual a 1 (um)
7
Em geral, a aproximação da solução exata não é uma interpolação dos seus pontos - os valores nodais não
necessariamente coincidem com os valores exatos, exceto em problemas muito simples, como tração e ‡exão de barras
e problemas de condução uniaxial de calor.
7.4. Aproximação pelo método de elementos …nitos 161
1 se x = xi ;
'i (x) = (7.50)
0 se x = xj ; j 6= i
Por exemplo, '3 (x) é uma função não nula apenas entre os nós 2 e 4 e '5 é não nula apenas
no intervalo dos nós 4 e 5. Fora dos respectivos intervalos as funções são nulas. Esta forma de
aproximação de u(x) é um dos alicerces conceituais do método dos elementos …nitos. Toda solução
dada por este método estará baseada num conjunto de funções de interpolação tal que a combinação
linear adequada destas permita aproximar a solução exata. O grau de precisão da aproximação é
dado pela qualidade e quantidade das funções 'i (x).
Se, em (7.48) fazemos x = xj , onde xj é a coordenada de um nó j, da propriedade (7.50) temos
que
N
X nos
u4 uh(x)
u3
u2
u1ϕ1
0 x
1 e1 2 e2 3 e3 4 e4 5
Em outras palavras, u(x) é representada por uma combinação de in…nitos elementos da base har-
mônica 'i (x). Isto signi…ca que a função u(x) é de dimensão in…nita. O termo “in…nito” se refere
a que, se o conjunto de funções 'i (x) for previamente conhecido, para representar a função u se
necessita determinar e conhecer in…nitos valores ui . No caso de uma função de deslocamentos u no
MEF, precisaríamos de uma combinação linear com uma quantidade in…nita de termos para repre-
sentar a solução exata u(x) para um carregamento arbitrário. De forma prática isso é evidentemente
impossível, de forma que o que é feito no MEF é truncar a série, passando a uma representação
…nita para a representação de u(x): Em outras palavras, uh (x) no MEF é uma aproximação con-
struída através de um número …nito de funções de aproximação ou funções base (geralmente não
162 Capítulo 7. Conceito de aproximação por elementos …nitos
Uma vez construída uma malha, as funções de aproximação …cam de…nidas. Resta então calcular
os valores dos deslocamentos nodais ui : Para isto é necessário introduzir as aproximações propostas
(7.48) e (7.49) na condição de equilíbrio (7.31). As derivadas destas funções aproximadas são
imediatas. Para simpli…car a notação das derivadas usamos '0i em lugar de d'i =dx. Assim, as
derivadas das aproximações são:
N
X nos N
X nos
duh (x) d^
uh (x)
u0h = ui '0i (x) ; ^0h
u = = ^j '0j (x):
u (7.53)
dx dx
i=1 j=1
Substituindo u(x) e u
^(x) por uh (x) e u
^h (x), respectivamente, na expressão do PTV, eq.(7.31),
obtemos a condição de aproximação para o equilíbrio. O PTV nessa versão discretizada consistente
em determinar uh 2 Kinh tal que:
Z L Z L
duh d^
uh
AE dx A b^
uh dx Af u
^h (L) = 0 8^
uh 2 V arh : (7.54)
0 dx dx 0
As aproximações pertencem a conjuntos menores que Kin e V ar, de dimensão in…nita. Agora,
as aproximações são de dimensão …nita, igual a Nnos . Os espaços das aproximações são de…nidos
por8
n P nos o
Kinh = uh (x) 2 Kin tal que uh (x) = N i=1 u i ' i (x) ;
n PNnos o (7.55)
V arh = u ^h (x) = i=1 u
^h (x) 2 V ar tal que u ^i 'i (x) :
N
X nos
uh (0) = u
^j 'i (0) = u
^1 = 0 (7.56)
i=1
Z L NX ! 0N 1
Z L
0
N
1 0
N
1
nos X nos Xnos X nos
AE ui '0i @ ^j '0j A dx A
u b@ ^j 'j A dx
u Af @ ^j 'j (L)A = 0;
u
0 i=1 j=1 0 j=1 j=1
8^
uj , com j = 1; Nnos , tal que u^h 2 V arh . Uma vez que a integral de uma somatória é igual a
somatória das integrais (propriedade de comutatividade), podemos mudamos a ordem das operações:
N
X nos N
X nos Z L N
X nos Z L N
X nos
8^
uj , com j = 1; Nnos , tal que u
^h 2 V arh . Os parâmetros ui e u
^i não dependem de x e podem ser
8
Nota-se que nem toda função em Kin está em Kinh , apenas aquelas geradas por uma combinação linear das
funções de interpolação, em termos dos valores
P nos nodais. Olhando em sentido oposto, existem PNnos funções em Kin (con-
tínuas), que não podem ser expressas por N
i=1 u i ' i (x). Isso se revela pelo fato de que i=1 ui 'i (x) ser de…nida por
uma quantidade limitada de parâmetros (os valores nodais ui ), que permitem de…nir apenas um espaço de dimensão
…nita, Nnos .
7.4. Aproximação pelo método de elementos …nitos 163
+ f:::g u
^3 + f:::g u
^4 + f:::g u
^5 = 0; 8u
^1 ; u
^2 ; u
^3 ; u
^4 ; u
^5 : (7.57)
que é uma primeira equação algébrica. Repetindo o procedimento para apenas u ^3 = 1 obtém-se
uma segunda equação algébrica. Seguindo o mesmo procedimento para cada um dos demais u ^0s são
obtidas no total 4 equações. O conjunto completo de equações obtidas é o seguinte:
8
>
< K21 u1 + K22 u2 + K23 u3 + K24 u4 + K25 u5 F2 = 0
..
> .
:
K51 u1 + K52 u2 + K53 u3 + K54 u4 + K55 u5 F5 = 0
ou 8 9
2 3> u1 > 8 9
K21 K22 K23 K24 K25 >
> >
> > F2 >
> u2 > > >
6 K31 K32 K33 K34 K35 7< = <
F3
=
6 7 u3 = ; (7.60)
4 K41 5> >
K42 K43 K44 K45 >
> u4 > >
> > F4 >
: >
;
K51 K52 K53 K54 K55 >
: >
; F5
u5
A somatória (7.59) envolve 5 termos entre chaves, que multiplicam os parâmetros u^j , j = 1; 5.
O primeiro termo, como visto, é eliminado pois multiplica u
^1 = 0, resultando o sistema de…nido
164 Capítulo 7. Conceito de aproximação por elementos …nitos
por 4 incógnitas. Uma maneira alternativa e muito usual de operar consist em montar as equações
resultantes considerando todos os 5 parâmetros u^j arbitrários, para depois eliminar as linhas da
matriz que multiplicam os coe…cientes u
^j nulos. Neste caso, de (7.59) surgiria o sistema algébrico
2 38 9 8 9
K11 K12 K13 K14 K15 > > u1 >> >
> F1 >>
6 K21 K22 K23 K24 K25 7 > > >
> > > >
>
6 7 < u 2 = < F2 =
6 K31 K32 K33 K34 K35 7 u3 = F3 : (7.61)
6 7
4 K41 K42 K43 K44 K45 5 > >
> u
>
>
>
>
>
> F
>
>
>
>
: 4 >
; > : 4 >
;
K51 K52 K53 K54 K55 u5 F5
Observa que a primeira equação, associada a u ^1 = 0, não deve ser usada, e é eliminada numa etapa
de cálculo posterior ao cálculo da matriz completa, gerando um sistema na forma (7.60), com matriz
retangular. Nota-se em seguida que a primeira coluna da matriz multiplica u1 = u = 0, de forma
que essa coluna pode ser eliminada do sistema, gerando o sistema …nal na seguinte forma:
2 38 9 8 9
K22 K23 K24 K25 > > u 2 >
> > > F 2 >
>
6 K32 K33 K34 K35 7 < u3 = < F3 =
6 7
4 K42 K43 K44 K45 5 > u4 > = > F4 > : (7.62)
>
: >
; > : >
;
K52 K53 K54 K55 u5 F5
ou, …nalmente, em forma compacta,
K U = F: (7.63)
A matriz K é a matriz de rigidez da estrutura, U é o vetor de incógnitas e F o vetor de forças
nodais equivalentes, também chamado vetor de carregamento nodal.
A componente F1 do termo de carregamento deveria incorporar a reação de contorno no engaste.
Porem, esta reação (desconhecida a-priori ) não aparece nas equações por não produzir trabalho
(deslocamento nulo no engaste). Assim, a primeira equação está na verdade incompleta, e não pode
ser utilizada nessa etapa de cálculo.
Será possível observar nos exemplos a seguir que a matriz de rigidez completa, do tipo (7.61)
(sem eliminar nenhuma equação) é na verdade uma matriz singular, isto é, possui linhas linearmente
dependentes. O número destas linhas l.d. coincide com o número de movimentos de corpo rígido
do modelo mecânico de barra. Neste caso, a barra pode se movimentar rigidamente no sentido
longitudinal sem se deformar nem provocar esforços internos. A eliminação da primeira equação
equivale a “…xar” a barra num ponto e assim obter uma solução única dos deslocamentos.
1. Esparsidade - Muitos dos termos da matriz de rigidez são nulos devido a que o produto das
funções do integrando em (7.58) é igual a zero na região de integração. Por exemplo, K24 = 0;
pois o produto de '02 com '04 é igual à função zero (ver Figura 7.9). Isto possibilita a obtenção,
caso a numeração dos nós seja adequada, de uma matriz com formato denominado de
banda. No presente exemplo, a matriz …ca
2 38 9 8 9
K22 K23 0 0 >
> u 2 >
> > > F 2 >
>
6 K32 K33 K34 0 7 < u 3 = < F3 =
6 7
4 0 K43 K44 K45 5 > u4 > = > F4 > : (7.64)
>
: >
; > : >
;
0 0 K54 K55 u5 F5
Isto é, uma matriz tem banda se ela tem a maioria dos termos não nulos aglomerados em torno
da diagonal principal. Este formato é muito útil para certos tipos de métodos de resolução do
sistema, em termos de economia na área de memória para o armazenamento da informação e
economia no tempo de processamento para a solução do sistema algébrico.
2. Simetria - a expressão (7.58) indica que a matriz de rigidez é simétrica. Em outras palavras,
K23 = K32; K34 = K43 ; etc. Isto também é conveniente do ponto de vista numérico pois
7.4. Aproximação pelo método de elementos …nitos 165
somente pouco mais que a metade dos termos da matriz de rigidez precisa ser calculada e
armazenada. O método de Gauss para a solução também se bene…cia dessa característica.
Z L Z Le 2
1 AE
K11 = AE '01 '01 dx = AE dx = ;
0 0 Le Le
Z L Z Le 2
1 AE
K12 = K21 = AE '01 '02 dx = AE dx = ;
0 0 Le Le
Z L
K13 = K31 = AE '01 '03 dx = 0 = K14 = K15 = K41 = K51 ;
0
Z L Z Le 2 Z 2Le 2
1 1 AE
K22 = AE '02 '02 dx = AE dx + AE dx = 2 ;
0 0 Le Le Le Le
| {z } | {z }
elem. 1 elem. 2
Cálculo similar acontece com o termo de carregamento nodal F: (lembre que '1 (L) = '2 (L) = '3 (L)
= '4 (L) = 0 e '5 (L) = 1). Por exemplo,
Z L Z Le
x Le
F1 = A b'1 dx + Af '1 (L) = Ab 1 dx = Ab ;
0 0 Le 2
Z L Z Le Z 2Le
x x
F2 = A b'2 dx + Af '2 (L) = Ab dx + Ab 2 dx = AbLe ;
0 0 Le Le Le
166 Capítulo 7. Conceito de aproximação por elementos …nitos
Z L Z 4Le
x Le
F5 = A b'5 dx + Af '5 (L) = Ab 3 dx + Af 1 = Ab + Af:
0 3Le Le 2
Em forma matricial isso pode ser posto como:
2 3 8 9
1 1 0 0 0 >
> Ab L2e >
>
6 1 7 >
> >
>
2 1 0 0 < AbLe =
EA 6 6 0
7
7 ;
K= 1 2 1 0 F= AbLe :
Le 64 0
7
5 >
> >
>
0 1 2 1 >
> AbLe >
>
: ;
0 0 0 1 1 Ab L2e + Af
Considerando que a viga está engastada na origem, u1 = 0: Assim, a primeira equação é dispensada
do sistema, restando9
8 9
2 3 > u1 = 0 > 8 9
1 2 1 0 0 >
> >
> > > 200 >>
> >
6 0 1 2 1 0 7 < u2 = < 200 =
16:800 6
4 0
7 u3 = ;
0 1 2 1 5>> >
> >
> 200 >
>
>
> u4 > > : ;
0 0 0 1 1 : ; 50
u5
o que resulta na solução: 8 9 8 9
>
> u1 >
> >
> 0 >
>
>
> > > >
u >
< 2 = > < 3; 869 >
=
2
u3 = 6; 548 10 :
>
> > > >
>
> u >> > > 8; 036 >
>
: 4 >; > : >
;
u5 8; 333
Com estes parâmetros podemos calcular o deslocamento, deformação e tensão em qualquer ponto
da barra mediante as operações já conhecidas:
uh (x) = u1 '1 (x) + u2 '2 (x) + u3 '3 (x) + u4 '4 (x) + u5 '5 (x); (7.66)
duh
"h (x) = = u1 '01 (x) + u2 '02 (x) + u3 '03 (x) + u4 '04 (x) + u5 '05 (x);
dx
0 0 0 0 0
h (x) = E "h (x) = E u1 '1 (x) + u2 '2 (x) + u3 '3 (x) + u4 '4 (x) + u5 '5 (x) :
ψ
e e
ψ1(x) ψ2(x)
0 x1
e
e x2
e x
L
e xe2 x e xe1 x
1 = e 2 = , para x 2 e. (7.67)
xe2 xe1 xe1 xe2
Aqui se usa uma nova notação, onde o supra-índice indica o número do elemento ao
qual a função é associada, enquanto que os sub-índices indicam a numeração dos nós
intrínsecos do elemento, que neste caso, de elementos de dois nós, são numerados como nós 1 e
2 do elemento e.10 Estas funções são de…nidas apenas no elemento correspondente e satisfazem à
propriedade de valer 1 (um) no nó da função e 0 (zero) nos demais nós do elemento.
ϕ2(x) ϕ3(x)
e1 e2 e3 e4 x
1 2 3 4 5
ψ21 ψ12 ψ22 ψ13
1 e1 21 e2 21 e3 21 e4 2 x
Figura 7.11: Funções de interpolação globais e elementares. São indicadas a numeração global dos
nós, e também a numeração local dos nos em cada elemento.
Observemos a Figura 7.11. A função global '2 é decomposta em duas funções elementares
1
2 e 21 :
'2 = 12 [ 21 e '3 = 22 [ 31 ; (7.68)
sendo que 12 é a rampa não nula apenas no elemento 1 e nula nos demais elementos, (e é unitária no
nó 2 do elemento 1) e a função elementar 21 é não nula apenas no elemento 2 e nula nos demais (e é
unitária no nó 1 do elemento 2). Em geral, a notação ei indica a função de aproximação associada
do nó local i (unitária nesse nó) do elemento e.
O deslocamento numa seção genérica do elemento …ca de…nido pelos deslocamentos nodais em
seus dois nós, u1 e u2 , e pelas funções elementares, isto é,
2
X
e e e
u(x) = u1 1 (x) + u2 2 (x). Em geral, u(x) = ui i (x): (7.69)
i=1
Utilizando estas funções, os termos K22 , K23 , K33 , F2 e F3 ; da matriz de rigidez e do vetor força
10
Note que agora temos duas numerações distintas para os nós, a numeração global na estrutura e a numeração
local do elemento. No caso da barra, o elemento linear possui dois nós, de forma que os nós locais são 1 e 2. Várias
bibliogra…as e programas comerciais denotam a numeração local por I, J, K,.L etc.
168 Capítulo 7. Conceito de aproximação por elementos …nitos
Z L Z Z
1 2
F2 = b'2 dx + f '2 (L) = b 2 dx + b 1 dx = F21 + F12 ;
0 e1 e2
Z L Z Z
2 3
F3 = b'3 dx + f '3 (L) = b 2 dx + b 1 dx = F22 + F13 :
0 e2 e3
Trabalhando em forma análoga para os outros termos, o sistema toma a forma seguinte:
2 1 1 38 9 8 9
K11 K12 0 0 0 >
> u1 >> >
> F11 >
>
6 K21
1 1
K22 + K112 2
K12 0 0 7> >
< u
>
>
=
>
>
< F 1 + F2 > >
=
6 7 2 2 1
6 0 K 2 K 2 + K3 K 3 0 7 u = F 2 + F 3 : (7.70)
6 21 22 11 12 7> 3 2 1
4 0 0 3
K21 3 + K4
K22 K 4 5> > u4 >> >
> > F3 + F4 >
> >
>
11 12 >
: >
; > : 2 4 1 > ;
0 0 0 4
K21 4
K22 u5 F2
Nesta expressão podem ser claramente identi…cados, através dos supra-índices, os termos da de-
nominada matriz de rigidez e termo de carga elementar:
Z e
e = AE d ei d j
Kji dx; para i; j = 1; 2 (7.71)
e dx dx
Z
e
Fje = A b j dx + f j (L), para i; j = 1; 2 (7.72)
e
onde i; j = 1; 2; são os números intrínsecos dos nós do elemento. Aqui as matrizes elementares são
calculadas separadamente para cada elemento e posteriormente são montadas na matriz de rigidez
global de forma a obter o sistema algébrico de equações, que é o mesmo já obtido na eq.(7.64)
através de uma sequência de cálculo distinta. O procedimento mostrado aqui é sensivelmente mais
simples porque consiste na repetição para todos os elementos da malha do cálculo da matriz de
rigidez e termo de carga do elemento e sua incorporação adequada na matriz global.
Observações:
2. Todo o desenvolvimento feito até esse capítulo tem utilizado elementos de dois nós. Entretanto,
o MEF, em geral, faz uso de elementos de maior quantidade de nós, alguns dos quais serão
vistos no próximo capítulo.
3. O procedimento computacional usado para gerar a matriz global (7.70) a partir das matrizes
elementares (7.71), denominado processo de sobreposição da matriz global é detalhado
nas seções 5.2.2 e 6.3.4, páginas 87 e 117, respectivamente, e também no Exemplo 7.3 a seguir.
7.5. Matriz de rigidez e vetor de carga elementares 169
e xe2 x d e1 1
1 = ; ! = ;
Le dx Le
e x xe1 d e1 1
2 = ; ! =+ : (7.73)
Le dx Le
onde Le = xe2 xe1 é o comprimento de cada elemento. Substituindo em (7.71), observe que, devido
à forma como as funções de forma foram de…nidas em (7.73), em termos da coordenada global x,
os limites de integração devem ser de x = xe1 a xe2 :
Z xe2 Z
e d e1 d e1 1 1 AE
K11 = AE dx = AE dx = ;
x=xe1 dx dx e Le Le Le
Z Z
e d e1 d e2 1 1 AE
K12 = AE dx = AE dx = ;
dx dx e Le Le Le
Ze e Z
e d 2 d e2 1 1 AE
K22 = AE dx = AE dx = :
e dx dx e Le Le Le
AE 1 1
Ke = (7.74)
Le 1 1
Observe que o carregamento é constituído por uma parcela proveniente de uma integral ao longo
do comprimento do elemento e outra do produto de f e i (L). Para o caso particular de um
carregamento b uniforme no elemento, as integrais são resolvidas, e o vetor força devido apenas
a b pode ser obtido: (usando as funções de forma (7.73))
F1e AbLe 1
Fe = = : (7.76)
F2e 2 1
Assim, a força nodal equivalente de um elemento de barra submetido a um carregamento distribuído
constante é igual a metade da resultante do carregamento para cada nó. esta parcela está presente
em todos os elementos do exemplo em análise.
Para a parcela de força concentrada f se tem
e Af se i (L) = 1;
Af i (L) = (7.77)
0 se i (L) = 0:
Para os dados do Exemplo 7.1, uma vez que somente a função 42 (L), (= 1), tem valor não nulo,
esta parcela só se faz presente no segundo nó do último elemento, isto é, o nó 5. Assim, os valores
de força nodais nos nós dos elementos do exemplo são dados por
R
F1e = A Re b e1 dx;
(7.78)
F2e = A e b e2 dx + (Af se e = 4) :
Forças concentradas aplicadas nos nós são, em geral, muito simples de serem incorporadas
no modelo. Isto se deve a que somente uma função de aproximação é não nula naquele nó, com
valor unitário. Desta forma, por motivos de e…ciência, cargas distribuídas (primeira parcela) são
170 Capítulo 7. Conceito de aproximação por elementos …nitos
calculadas elemento a elemento. Já cargas concentradas nos nós, são colocadas diretamente no vetor
global de carregamento.
Usando as mesmas dimensões do exemplo anterior, L = 100 mm; A = 2 mm2 ; E = 2:1 105 MPa;
b = 4 N/mm3 ; f = 25 N/mm2 ; modi…camos os tamanhos dos elementos, fazendo L1 = L2 =
30 mm; L3 = L4 = 20 mm. (Observação: o leitor que já tiver estudado os Capítulos 5 e 6, ou ainda
o Capítulo 13, pode suprimir restante do presente capítulo.)
Área:
b = cte 2
e1 e2 e3 e4
f
1 2 3 4 5 1
Coordenadas nodais
Nós x y z
1 0 0 0
2 30,0 0 0
3 60,0 0 0
4 80,0 0 0
5 100,0 0 0
De…ne-se a matriz de conectividade (ou incidência) como aquela que indica os nós globais que
compõem o elemento:
Conectividade dos elementos
Elemento Nó inicial (1) Nó …nal (2)
1 1 2
2 2 3
3 3 4
4 4 5
Esta informação permite montar a matriz de rigidez global a partir das matrizes elementares.
A divisão por elementos considera 5 nós e, portanto, 5 incógnitas (modelo de MEF com 5 graus
de liberdade). A matriz K é, portanto, de dimensões 5 5: Os termos desta matriz são calculados
elemento por elemento e posteriormente montados usando a informação de conectividade. A matriz
de rigidez de cada elemento é:
11
As informações de comprimentos de elementos não são adequadas a um programa geral, devido aos outros tipos
de elementos existentes. Isso é fácil de compreender considerando, por exemplo, um elemento de placa quadrilateral,
distorcido (não retangular). Seria quase impossível informar a geometria correta dele usando comprimentos e ângulos.
A de…nição usada nos programas de MEF, por coordenada nodais, é versátil e aplicável a qualquer geometria de
placas, cascas e sólidos.
7.5. Matriz de rigidez e vetor de carga elementares 171
e
K11 e
K12
Ke = e e ;
K21 K22
AE 1 1 AE 1 1
K1 = ; K2 = ;
L1 1 1 L2 1 1
AE 1 1 AE 1 1
K3 = ; K4 = :
L3 1 1 L4 1 1
Para incorporar a matriz de rigidez do elemento 1 na matriz global deve-se observar a informação
da conectividade. Esta indica que os nós locais 1 e 2 do elemento 1 correspondem aos nós globais
1 e 2 da estrutura. Com a sobreposição do elemento 1 a matriz global …ca
2 AE AE 3
L1 L1 0 0 0
6 AE 7
6 AE
0 0 0 7
6 L1 L1 7
K=6 6 0
7: (7.79)
6 0 0 0 0 7 7
4 0 0 0 0 0 5
0 0 0 0 0
O elemento 2 é tratado em forma idêntica. Neste caso, a conectividade indica que os nós locais
1 e 2 do elemento correspondem aos nós globais 2 e 3. Após a sobreposição desse elemento a matriz
global …ca: 2 AE 3
AE
L1 L1 0 0 0
6 AE AE AE 7
6 AE
0 7
6 L1 L1 + L2 L2 0 7
6 7
K=6 0 AE AE
0 0 7 : (7.80)
6 L2 L2 7
6 7
4 0 0 0 0 0 5
0 0 0 0 0
Trabalhando da mesma forma com os demais elementos obtém-se a matriz global …nal:
2 3
AE AE
L1 L1 0 0 0
6 7
6 AE AE + AE AE
0 0 7
6 L1 L1 L2 L2 7
6 7
6 AE AE AE AE 7
K=6 0 L L + L L 0 7: (7.81)
6 2 2 3 3 7
6 AE AE AE AE 7
6 0 0 L3 L3 + L4 L4 7
4 5
AE AE
0 0 0 L4 L4
Gra…cando estes valores junto à solução exata obtida via integração analítica (equação (7.12)),
pode-se observar que, (Figura 7.13) no caso especí…co do modelo de barras, apesar da solução
aproximada ser linear entre os elementos, os valores nodais coincidem com a solução exata. Isto
acontece qualquer que qualquer que seja a quantidade de nós usados no modelo. O resultado obtido
é aproximado apenas entre os nós. Um alerta, porém, deve ser aqui feito. Apenas em alguns
problemas unidimensionais, como esse, a solução nodal é exata, desde que não haja força de corpo
(carga axial distribuida). Como será visto nos próximos capítulos, em modelos contínuos,
bi ou tridimensionais, a solução obtida não possui, em geral, o valor nodal igual à
função exata nos nós.
7.5. Matriz de rigidez e vetor de carga elementares 173
0,100
0,075
u(mm)
0,050
0,025
0,000
0 25 50 75 100
x(mm)
Figura 7.13: Função deslocamento exata (curva suave) e solução aproximada de elementos …nitos
do Exemplo 2 (curva linear por partes).
É preciso destacar que, neste modelo de EF, os deslocamentos variam linearmente ao longo de
cada elemento, as aproximações para as deformações nesse modelo de EF são constantes
ao longo de cada elemento, como ilustrado na Figura 7.14. Como as tensões são proporcionais
às deformações, segue-se que as tensões do MEF são também aproximadas como constantes em cada
elemento.
u(x)
e1 e2 e3 e4 x
du
dx
e1 e2 e3 e4 x
1 2 3 4 5
carregamentos aplicados. Assim, a matriz é a mesma do exemplo anterior, dada na eq. (7.84). O
vetor carregamento é o mesmo daquela equação, mas sem a força concentrada f . A condição de
contorno incorpora agora o engaste em L. Assim, se tem que u1 = 1 e u5 = 0:
2 38 9 8 9
K11 K12 0 0 0 >
> u1 = 1 >
> >
> F1 + R 1 >>
6 K21 K22 K23 > >
> > >
6 0 0 7 >
7 < u2 = <
> F2 >
=
6 0 K32 K33 K34 0 7 u = F : (7.90)
6 7> 3
> >
3
>
4 0 0 K43 K44 K45 > 5 > u4 > > >
> F4 >
>
>
: >
; > : >
;
0 0 0 K54 K55 u5 = 0 F5 + R 5
onde Fj , j = 1; 5, são as forças nodais conhecidas, provenientes da sobreposição das forças de corpo
dos elementos, e R1 e R1 são as reações nos nós, incógnitas. Como ja foi explicado, a primeira e a
quinta equações podem ser removidas do sistema, pois multiplicam os parâmetros u ^1 = u^5 = 0, pois
nesses nós o deslocamento é prescrito. Essas duas equações incluem as reações R1 e R5 , incógnitas,
de forma que são equações não usaveis nessa etapa da solução. Por outro lado, enquanto a primeira
coluna multiplica u1 = 1 e passa para o lado direito do sistema, a quinta coluna multiplica u5 = 0
e é eliminada. Assim, o sistema reduz-se a
2 38 9 8 9 8 9
K22 K23 K24 < u2 = < F2 = < K21 =
4 K32 K33 K34 5 u3 = F3 1 K31 ; (7.91)
: ; : ; : ;
K42 K43 K44 u4 F4 K41
ui Fi
U= e F= ; (7.92)
ur Fr + R
sendo ui o vetor de deslocamentos nodais incógnitos, ur o vetor de deslocamentos nodais prescritos
(conhecidos), Fi o vetor de forças nodais conhecidos e R o vetor de reações nos apoios. Fr é o vetor
das forças nodais conhecidas aplicadas nos apoios. O sistema de equações de equilíbrio …ca:
Kii Kir ui Fi
= : (7.93)
Kri Krr ur Fr + R
Assim, a equação (7.94) permite determinar os parâmetros incógnitos, enquanto a (7.95) fornece o
valor das reações nos apoios.
Observações:
2. Observa-se que a notação Kii 1 na eq.(7.94) é apenas formal. Nunca, no MEF, matrizes
de grande porte são invertidas. O que é feito é resolver o sistema (7.94) na forma Kii ui =
(Fi Kir ur ), usando um método de solução algébrica como o método de Gauss (ou gradientes
conjugados, dentre alguns outros métodos). O motivo é que o maior custo de tempo de
176 Capítulo 7. Conceito de aproximação por elementos …nitos
processamento num método numérico como o MEF, é a etapa de solução. Como a inversão de
uma matriz envolve uma quantidade muito maior de operações que sua fatoração de Gauss, a
inversão simplesmente não é admitida.
3. A partição das matrizes como em (7.93) só é feita por motivos didáticos. Na prática, também
não é realizada, por ser ine…ciente, em termos de tempo de processamento e consumo de área
de memória. Um procedimento usual é descrito a seguir.
4. A aplicação das condições de contorno através da geração de uma matriz menor, como a (7.91),
também nunca é realizada. Em vez disso, é usado um procedimento como o descrito a seguir.
Multiplicando a coluna j por uj tem-se um novo vetor força, conhecido, que deve ser transferido
para o lado direito, deixando a matriz na forma
2 38 9 8 9 8 9
0 K12 K13 K14 K15 >
> u1 = u1 >
> >
> F 1 >
> >
> K11 >
>
6 7>> >
> >
> > > >
6 0 K22 K23 K24 K25 7< u2 = < F2 >= >
< K21 >
=
6 0 K32 K33 K34 K35 7 u3 = F3 u1 K31
6 7> > >
4 5>> >
> > F4 >> >
> >
>
0 K42 K43 K44 K45 >
:
u4 > >
; >
:
>
>
;
>
> K
: 41
>
>
;
0 K52 K53 K54 K55 u5 F5 K51
A área de memória da matriz ainda tem as dimensões 5 5 originais (N N num sistema
arbitrário de ordem N ), e a coluna 1 …ca ocupada por zeros.
Em seguida, a linha j do sistema, matriz e vetor, é zerada, resultando
2 38 9 8 9 8 9 8 9
0 0 0 0 0 >
> u1 >
> >
> 0 >
> >
> 0 >
> >
> 0 >
>
6 0 K22 K23 K24 K25 7>> u2
>
> >
> >
< F2 >
>
>
< K21
>
> >
> >
< F2 >
6 7< = = = =
6 0 K32 K33 K34 K35 7 u3 = F3 u1 K31 = F3
6 7> > > > > > > >
4 0 K42 K43 K44 K45 5>> u4 >
> >
> F4 >
> >
> K41 >
> >
> F4 >
>
>
: >
; > : >
; >
: >
; > : >
;
0 K52 K53 K54 K55 u5 F5 K51 F5
7.7. Exercícios 177
Nesse formato, a matriz tem uma linha/coluna nulas, e é singular. Entretanto, em vez de
copiar todos os seus termos não nulos numa nova área de memória de dimensões 4 4 originais
(N 1 N 1), o mais simples consiste em simplesmente fazer Kjj = 1 e Fj = uj . Assim, o sistema
original KU = F torna-se transformado para o sistema KU = F, com a forma
2 38 9 8 9
1 0 0 0 0 >
> u1 >> >
> u1 >>
6 0 K22 K23 K24 K25 7 > >
< u
>
>
=
>
>
< F
>
>
=
6 7 2 2
6 0 K32 K33 K34 K35 7 u = F
6 7 3 3
4 0 K42 K43 K44 K45 5 > >
> u >
> >
> > > F4 >
>
>
>
: 4 > ; > : >
;
0 K52 K53 K54 K55 u5 F5
que incorpora a condição de contorno desejada, isto é, sua solução produz u1 = uj e todos os demais
deslocamentos nodais.
Os termos da linha j da matriz são armazenados em outra área da memória para uso posterior
no cálculo das reações, como em (7.87).
Um procedimento alternativo para incorporar as condições de contorno ao sistema algébrico
consiste no seguinte. Em vez de montar a matriz K completa e em seguida eliminar as linhas/colunas
prescritas, montar apenas os termos das linhas/colunas não prescritas, gerando assim, diretamente,
apenas a matriz reduzida. Os termos da linha/coluna j são armazenados em outra área de memória
para posterior cálculo das reações.
7.7 Exercícios
7.1 Considere o seguinte problema de valor no contorno ( = fx 2 R tal que x 2 (0; 1) ):
u;xx + 4u = 12 para x 2 ;
u(0) = 3; (7.97)
u(1) = 1:
(a) Determine a forma fraca simétrica correspondente,R utilizando o método dos resíduos
ponderados. De…na os conjuntos Kin e V ar. (Sol.: (^
u;x u;x 4^uu + 12^
u)d = 0:)
(b) Obter uma aproximação de Galerkin usando a aproximação uG (x) = 3 2x + a x(x 1).
(Obs. Não precisa gastar muito tempo para obter precisamente o valor da constante a,
basta escrever a equação algébrica que a de…ne.)
u;xx + 4u = 12 para x 2 ;
u;x (0) = 4; 399; (7.98)
u(1) = 1:
(a) Determine a solução analítica do problema. (Dica: essa é uma equação diferencial or-
dinária não homogênea de coe…cientes constantes. Logo, pode ser usado o método padrão
de solução.) (Solução: u(x) = 3x + 1 1e4 (e2x e4 2x ).)
(b) Determine a forma fraca simétrica correspondente,R utilizando o método dos resíduos
ponderados. De…na os conjuntos Kin e V ar. (Sol.: (^
u;x u;x + 4^
uu + 12x^
u)d = 0:)
178 Capítulo 7. Conceito de aproximação por elementos …nitos
(c) Considere uma aproximação de Galerkin usando a aproximação uG (x) = L1 (x)+cL2 (x)
3L3 (x), onde L1 (x) = (2x 1)(2x 2)=2, L2 (x) = 4x1 x), L3 (x) = (2x 1)x. Porque
essa expressão pode ser usada como função teste de Galerkin? Qual a função peso
correspondente?
(d) Determine c.
(e) Determine o erro relativo de uG em x = 0:5 e de uG;x em x = 0 e x = 1.
(f) Determine
qR o erro relativo quadrático de uG e de uG;x . Para u, esse erro é: E(uG ) =
(u uG )2 =u2 d .
Capítulo 8
A grande diferença existente entre elementos …nitos unidimensionais (barras e vigas) e os elementos
…nitos de modelos de elasticidade bi e tridimensional é que os primeiros são, por de…nição, elementos
discretos, isto é, a cada barra, geralmente é associado apenas um elemento …nito de barra ou viga.
No caso de elasticidade bi ou tridimensional, o domínio que o corpo em análise ocupa é particionado
por uma “malha de elementos …nitos”. Dito de outra forma, dado um domínio de análise, este pode
ser particionado através de malhas diferentes, cada uma delas associada a um grau de precisão na
aproximação da solução exata.
A seguir é apresentado o modelo geral de elasticidade linear tridimensional e algumas de suas
particularizações para casos especí…cos que permitem modelagens planas. A presente abordagem
tem como intuito principal permitir a compreensão da aplicação da técnica de elementos …nitos em
diversas outras classes de problemas físicos (estruturais, térmicos, eletromagnéticos, piezoelétricos,
por exemplo) em que envolvem uma ou mais variáveis em duas ou três dimensões
Esta de…nição é análoga àquela já vista para os casos de barras. Em outras palavras, a solução
do problema se encontra dentro do conjunto das funções que satisfazem às condições de contorno e
seja su…cientemente regular para permitir a realização das operações necessárias para a solução.2
A diferença entre duas funções arbitrárias u1 (x) e u2 (x) pertencentes ao conjunto Kin, é uma
terceira função u
^ (x) que possui o valor zero em pontos x 2 u . O conjunto de todas as funções de
deslocamento com valor zero em u é denotado como o espaço das variações V ar, de…nido por
V ar = f^
u (x) é su…cientemente regular tal que u
^ (x) = 0; 8x 2 ug (8.3)
Novamente, este conjunto tem interpretação análoga ao apresentado para o caso do modelo de
barras. Feitas estas de…nições, se está em condições de formular o princípio dos trabalhos virtuais.
Considera-se que a equação diferencial (8.1)1 é satisfeita para todo ponto x 2 , isto é
2
No presente caso, a equação diferncial de domínio em (8.1), junto com as equações constitutivas e cinemáticas,
exigem continuidade da segunda derivada da função u, se a força de corpo b for uma função contínua em . Então,
para poder operar a equação diferencial, “regularidade su…cente” em Kin signi…ca que u 2 C 2 ( ). Veremos a seguir
que ao trocar a equação diferencial pelo PTV, tal exigêni de regularidade é reduzida, sendo possível utilizar um
conjunto de fuunções mais amplo que C 2 ( ).
8.1. O problema de elasticidade linear 181
onde g(x) é denominada função resíduo. Assim, a integral do produto de g (x) por uma função
^ (x) 2 V ar é3
arbitrária u
Z
g (x) u
^ (x) d = 0 8u^ (x) 2 V ar; (8.5)
ou
Z Z
r ^d +
u ^d
b u =0 8u
^ 2 V ar: (8.6)
Aplicando a regra do produto, eq. (1.62), página 19, no primeiro termo, e lembrando que o tensor
é simétrico = T ,
Z Z Z
r ( u ^) d :r^
ud + b u^ d =0 8u ^ 2 V ar: (8.7)
Faz-se uso agora do teorema do divergente, eq. (1.66)2 , para o primeiro termo, obtém-se
Z Z Z
^ nd
u :r^ud + b u ^ d =0 8u ^ 2 V ar: (8.8)
T
^ n=u
u ^ n=u
^ n (8.9)
2. Todo tensor M pode ser univocamente decomposto num tensor simétrico S e noutro antis-
simétrico A mediante a seguinte operação M = S + A, como visto na eq. (1.41), página 13,
onde S = ST e A = AT .
4. Considere agora o produto interno de uma matriz simétrica S por uma matriz arbitrária B.
De (1.44), tem-se que S : B = S : Bs , onde Bs é a parte simétrica de B.
O produto : r^
u em (8.8) envolve um tensor simétrico e um arbitrário. De…ne-se a parte
simétrica do gradiente r^
u por ^
" = " (^
u), tal que : r^u = : " (^
u). Assim, (8.8) …ca
Z Z Z
^d +
n u b u ^d : " (^
u) d = 0 8u^ 2 V ar: (8.10)
A integral sobre o contorno pode ser dividida numa integral na parte u e outra na parte f do
contorno:
Z Z Z Z
n u
|{z} ^d + ^ d +
n |{z}
u ^d
b u : " (^
u) d =0 8u
^ 2 V ar: (8.11)
f u
t 0
3
Omitimos nesta dedução, por clareza de notação, a dependência = (u).
182 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
" (^
u) = ^
", é a chamada deformação virtual. Esta é de…nida como a parte simétrica de r^
u,
usando (3.27) ou (1.41), i.e.:
1
" (^
u) =
r^u+r^ uT = rs u^: (8.13)
2
Nota-se que em (8.12) não foi incorporada nenhuma característica do material, de forma que
esse enunciado para o PTV é bastante geral, servindo para qualquer modelo constitutivo adotado,
= (u).
Se consideramos que a equação constitutiva seja elástica linear, pode-se escrever as tensões
em função das deformações produzidas pelo deslocamento real u (x), isto é
A origem do nome princípio dos trabalhos virtuais pode ser explicado como segue:
Princípio porque pode-se de…nir o equilíbrio de um sistema como aquele conjunto de esforços
externos (t; b) e internos ( ) que satisfazem a equação integral acima.
Virtuais porque u
^ (x) não é um deslocamento real e sim uma função arbitrária, utilizada
como função “peso” na veri…cação de satisfação da equação integral.
Trabalhos porque cada um dos termos tem a dimensão de trabalho ou energia. Como as
forças são reais mas atuam sobre deslocamentos …cticions, os trabalhos também são …ctícios.
Esses trabalhos são
Z
U= (u) : " (^
u) d : (8.16)
Z Z
W = ^d +
b u ^d :
t u (8.17)
f
Z Z Z
^d +
t u ^d
b u :r^
ud =0 8u
^ 2 V ar. (8.18)
f
O segundo termo é nulo pois u ^ = 0 8x 2 u . Como a igualdade em (8.20) deve ser satisfeita para
todas as funções u
^ 2 V ar, podemos escolher um subconjunto delas que possa ser escrito da seguinte
forma:
^ = (r + b) ;
u (8.21)
onde é uma função arbitrária escalar não negativa, contínua em , com valor nulo no contorno,
i.e.,
Devido à positividade de em , essa expressão só pode ser nula se o termo entre parênteses for
nulo em todo :
r + b = 0, 8x 2 , 8u 2 Kin. (8.24)
Isso signi…ca que as equações locais (8.1)1 e (8.1)3 em são satisfeitas. Quanto à condição de equilíbrio
no contorno, seguimos o mesmo procedimento, escolhendo em (8.20) uma função peso nula em todo
x 2 , e positiva em f . Uma função desse tipo pode ser de…nida na forma
^ = (t
u n) ; (8.25)
com de…nido como uma função arbitrária com as características
Devido à positividade de , essa expressão só pode ser nula se o termo entre parênteses for nulo em
todo f :
t n = 0 8x 2 f. (8.28)
que corresponde à equação local de equilíbrio no contorno de Neumann, (8.1)2 . Considerando a
dedução como um todo, tem-se que toda função u 2 Kin que satisfaz a Forma Variacional (FV)
(8.12) também satisfaça o equilíbrio local (8.1). Na seção anterior 8.1.1 foi provado o caminho
184 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
inverso, i.e., que a função que satisfaz a forma diferencial do equilíbrio, também satisfaz a Forma
Variacional. Com isso se tem provado a equivalência entre as duas formas. Entretanto, cabe uma
observação. Uma função u, para satisfazer a FV, necessita ser apenas C 0 ( ), enquanto que para
satisfazer o equilíbrio local precisa ser C 2 ( ), se os dados (C, b, t e u) forem funções continuas,
i.e., u precisa ter segundas derivadas contínuas, para que r resulte continuo, uma vez que r
deve ser igual a b.
Observação. A dedução está segue o mesmo raciocinio do chamado Lema Fundamental do Cál-
culo Variacional. Este teorema é demonstrado com uma formalização mais compacta em (14.135),
página 394.
A formulação apresentada até este ponto tem sido geral no sentido de ser tridimensional. A seguir
são apresentados os modelos denominados estados planos de elasticidade, mediante a incorporação de
hipóteses particulares de comportamento que permitem uma descrição plana do problema. Quando
essa redução de dimensão é admissível, os esforços de modelamento e de processamento numérico são
extremamente reduzidos em relação à análise tridimensional do problema. A rigor, o tratamento de
elementos …nitos para problemas tridimensionais é praticamente idêntico ao utilizado para estados
planos, e, de fato, bastante mais simples, porém esses últimos permitem a visualização grá…ca dos
campos, o que facilita a compreensão da metodologia e por isto são apresentados primeiro.
2. É usual orientar o eixo z ao longo do comprimento do corpo, de forma que a seção transversal
…ca paralela ao plano xy;
3. O carregamento é todo contido no plano da seção transversal (Figura 8.1), isto é, as compo-
nentes z são nulas;
5. As condições de contorno são tais que os deslocamentos na direção axial z são nulos (w = 0
em toda a peça).
2 3
1
8 9 0
6 (1 ) 78 9
< x = E(1 ) 6 1 7 < "x =
6 0 7
y = 6 7 "y ;
: ; (1 + )(1 2 ) 6 (1 ) 7: ;
xy 4 1 2 5 xy
0 0
2(1 )
isto é, = Cd ": (8.31)
As relações cinemáticas para as componentes coplanares de deformação podem ser escritas com
o auxílio de um operador diferencial D que atua sobre o campo de deslocamentos u na seguinte
forma:
2 3
@( )
8 9 6 0 7
< "x = 6 @x 7
6 @( ) 7 u
"y =6 0 7 , isto é, "(u) = Du: (8.32)
: ; 6 @y 7 v
xy 4 @( ) @( ) 5
@y @x
Cabe ressaltar que o problema originalmente tridimensional é tratado neste modelo mediante
uma descrição plana, tanto em termos da geometria (x; y), como na dimensão das variáveis de
deslocamento, u e v.
A seguir os tensores tensão e deformação são aplicados na expressão do princípio dos trabalhos
virtuais, (8.12), que é colocado na forma
Z Z Z
: " (^
u) d = ^d +
b u ^d
t u
f
2 3 2 3 8 9 8 9 8 9 8 9
Z x xy 0 ^"x ^"xy 0 Z < bx = < u
^x = Z < tx = < u
^x =
4 yx y 0 5 : 4 ^"yx ^"y 0 5 d = by u
^y d + ty u
^y d
: ; : ; f : 0 ; : 0 ;
0 0 z 0 0 0 0 0
O lado esquerdo pode ter as matrizes representadas em notação de Voigt, e em seguida se pode
aplicar as relações constitutivas e cinemáticas:
8 9 8 9 8 9 8 9
Z < x = < ^"x = Z < u;x = < u^;x =
y ^"y d = Cd v;y v^;y d
: ; : ; : ; : ;
xy ^ xy u;y +v;x u
^;y +^ v ;x
No processo deve-se observar que o termo 2 xy ^"xy é convertido em xy ^ xy , com o uso da deformação
cisalhante de engenharia virtual ^ xy .
Considera-se que o corpo tenha um comprimento h ao longo da direção axial z. Uma vez
que os integrandos não dependem da coordenada z; a integral sobre o volume é igual a uma
integral sobre a área da seção transversal multiplicada pelo comprimento. Então, os elementos
diferenciais de volume e de área são d = hd e d = hd@ , como ilustrado na Figura 8.2. Assim
o enunciado do princípio dos trabalhos virtuais para o EPD torna-se:
Z Determinar o campo
Z de deslocamentos
Z u(x) 2 Kin tal que:
Cd "(u) "(^
u) d = b u ^ d + t u^ d@ 8u
^ (x) 2 V ar (8.33)
@ f
onde @ denota o contorno da seção transversal :
186 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
dΓ = hd∂Σ
d∂Σ
x
dΣ
∂Σ
Σ
Figura 8.2: Dados geométricos de um corpo modelado para um estado plano de deformações
@ f é a parte do contorno da área sob forças prescritas. O problema consiste então na determinação
das funções de deslocamentos u(x; y) e v(x; y) que satisfazem à condição acima. Procura-se obter
uma solução aproximada via elementos …nitos.
Figura 8.3: Funções de forma (a) unidimensional, (b) bilinear em elemento quadrilateral, (c) linear
em elemento triangular.
'i (xi ) = 1
Por outro lado, a função tem valor nulo em todos os outros elementos que não são conectados ao
nó i, isto é, 'i (xj ) = 0 para 8xj 6= xi . De forma sintética, essa propriedade que as funções de
aproximação usadas no MEF deve ter, pode ser colocada na forma:
2. Cada função 'i é nula em todos os elementos que não contém o nó i, isto é, 'i (x) = 0 para
todo x que esteja em elemento que não contém o nó i. Essa é a propriedade de localidade,
que pode ser visualizada na Figura 8.3.
3. A soma de todas as funções de aproximação num ponto qualquer da malha é igual a um, isto
é,
N
X nos
Um conjunto de funções que satisfazem essa propriedade são ditas formarem uma partição
da unidade.
8 9
>
> u1 >
>
>
> >
>
>
> v1 >
>
>
> >
>
>
< u2 >
=
'1 0 '2 0 ::: 'Nnos 0 v2
u(x; y) = uh (x; y) = N(x; y) U: (8.36)
0 '1 0 '2 ::: 0 'Nnos >
> .. >
>
>
> . >
>
>
> >
>
>
> u >
>
>
: Nnos >
;
vNnos
O subscrito “h”, em uh e em outras variáveis, é geralmente utilizado na literatura para lembrar que
o campo é uma aproximação do campo que seria a solução exata, u.4 O campo de deslocamentos
virtuais arbitrários também é aproximado pelas mesmas funções de aproximação, isto é,
^ h (x; y)
u ^
N(x; y) U: (8.38)
As aproximações das deformações físicas e virtuais são calculadas a partir dos deslocamentos uh e
funções peso aproximados u
^h :
4
A partir de um certo ponto do texto abandonaremos a notação com índice h, como em uh , quando o texto não
permitir confusão com o campo exato u.
188 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
As aproximações pertencem a subconjuntos de Kin e V ar, que são de dimensão in…nita. São
aproximações de dimensão …nita, igual a 2Nnos , pertencentes aos seguintes conjuntos5
(
Kinh = nfuh (x; y) 2 Kin tal que uh (x; y) = N(x; y) Ugo;
^ : (8.44)
V arh = u^ h (x; y) 2 V ar tal que u
^ h (x; y) = N(x; y) U
^ = BT Cd BU U;
Cd BU BU ^
^ = N b U;
b NU T ^ e
^ = N t U:
t NU T ^ (8.45)
Z Z Z
T d ^ d
B C BU U T ^ d
N b U ^ d@
NT t U =0 ^ 2 R2Nnos :
8U (8.46)
@ f
5
Nota-se que nem toda função em Kin está em Kinh , apenas aquelas geradas por uma combinação linear das
funções de interpolação, em termos dos valores nodais. Olhando em sentido oposto, existem fuções em Kin (contínuas),
que não podem ser expressas por N(x; y) U. Isso se revela pelo fato de que N(x; y)U é de…nida por uma quantidade
limitrada de parâmetros (os valores nodais de U), que permitem de…nir apenas um espaço de dimensão …nita, 2Nnos
ou 3Nnos .
8.2. Estado plano de deformação (EPD) 189
Uma vez que os vetores U e U^ são independentes de (x; y); ambos podem sair da integral. Por
^ como fator comum, …cando a expressão do PTV na forma
outro lado, pode-se tomar U
(Z Z Z )
BT Cd B d U NT b d NT t d@ ^ =0
U ^ 2 R2Nnos :
8U (8.47)
@ f
Esta expressão deve ser satisfeita para qualquer vetor U ^ em R2Nnos , tal que N(x; y) U 2 Kinh
^
e N(x; y) U 2 V arh . A única possibilidade que isto ocorra é que o vetor entre colchetes seja o vetor
nulo, isto é, cada uma das componentes deve ser nula. Isto da lugar a um sistema de N = 2Nnos
equações lineares algébricas da forma KU = F:
Z Z Z
BT Cd B d U NT b d NT t d@ =0 (8.48)
@
| {z } | {z
f
}
K F
Essa expressão permite identi…car os seguintes termos: a Matriz de rigidez K e o vetor de forças
nodais equivalentes F. O problema se resume a encontrar a solução do sistema linear de equações
algébricas
KU = F: (8.49)
O cálculo de cada uma das componentes da matriz de rigidez e do vetor de carregamento acima
envolve a integração ao longo de todo o domínio (ou contorno) das funções de aproximação associadas
à componente correspondente. Em outras palavras, a componente Kij da matriz K é calculada
como a integral ao longo de todo o domínio de uma função de…nida pelas derivadas das funções
de aproximação 'i e 'i : Se estas duas funções de aproximação são diferentes de zero em lugares
diferentes (regiões disjuntas), a componente Kij será automaticamente igual a zero. A Figura
8.4 ilustra esse efeito numa situação de mais simples visualização, um caso unidimensional, onde
as funções associadas aos nós 2 e 5 tem suportes disjuntos, tal que o produto delas, ou de suas
derivadas, é nulo em qualquer ponto do domínio. Isto permite concluir que todas as componentes
Kij correspondente aos produtos das funções de aproximação 'i e 'i disjuntas no domínio ; são
igual a zero. Afortunadamente essa é uma situação muito frequente no MEF, onde a matriz K tem,
geralmente, características de matriz esparsa (muitas componentes nulas).
Surge assim uma forma alternativa de calcular a matriz de rigidez K: Esta forma consiste em
fazer o processo de integração como uma somatória de integrações realizadas em cada elementos.
Dentro de cada elemento a operação de cálculo é feita unicamente sobre os elementos de K de…nidos
por um par de funções de aproximação diferentes de zero dentro deste elemento. Isto dá origem à
matriz de rigidez elementar e ao vetor de carga elementar, em forma análoga ao já visto no
caso de barras.
190 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
Figura 8.5: (a) Função de interpolação global '4 , associada ao nó global 4. (b) Funções locais
associadas aos nós no elemento e.
e e
^ são vetores de dimensão igual a duas vezes o número
onde e é o domínio do elemento e, U e U
de nós do elemento Nne (número de funções de aproximação associadas ao elemento) e a matriz
e
N(x; y) é a matriz das funções de aproximação elementares correspondentes ao elemento arbitrário:
e 0 0 ::: 0
1 2 Nne
N(x; y) = : (8.52)
0 1 0 2 ::: 0 Nne
A relação entre as funções globais e elementares é ilustrado na Figura 8.5. A Figura 8.5a mostra
a função linear global '4 , associada ao nó 4. Essa função cobre todos os elementos que contém o
nó 4. Na região do elemento e, essa função de…ne a função elementar 4 do elemento e, mostrada
na Figura 8.5b. De forma análoga, as funções globais '1 , '2 e '3 geram, no elemento e, as funções
elementares 1 , 2 e 3 , também mostradas na …gura.
e
A matriz de deformação discreta B do elemento é calculada da mesma forma que no caso anterior,
usando o mesmo operador diferencial D:
2 3
e e 1;x 0 ::: Nne ;x 0
B = Dd N = 4 0 1;y ::: 0 Nne ;y
5: (8.53)
1;y 1;x ::: Nne ;y Nne ;x
e
Z eT e
K= B Cd Bd
e
Z e
eT
Z eT (8.54)
F= N bd + N t d@
e @ e \@ f
Reações no apoio Uma vez tendo sido determinados os valores de todos os deslocamentos nodais,
o cálculo de reações nos apoios segue os mesmos passos detalhados nos capítulos de barras e vigas.
As reações são calculadas mediante o produto da matriz de rigidez completa pelo vetor de deslo-
camentos nodais completo, dando como resultado o vetor de carregamento completo, incluindo as
reações: R = KU Fa , onde Fa e R são o vetor de forças aplicadas, (conhecidas) e o de reações,
respectivamente.
e e e
u(x; y) = N(x; y)U;
e e
"(x; y) = B(x; y)U; (8.55)
d
(x; y) = C "(x; y):
(a)
Γu Γf (b)
f
Σ y 2 2
f
3 Γf 2 6
K J K J
K
e2 e4
Γu b=1
e1 e3
I I I J I Γf
J
1 4 Γf 5 x
Figura 8.6: Exemplo de componente analisado com estado plano de deformações. (a) vista geral,
(b) seção transversal.
Note que cada elemento tem sua numeração local de nós, como nós 1, 2 e 3, (ou I, J, e K em
alguns programas comerciais de EF).
Figura 8.7: Funções de interpolação de elemento triangular linear, associadas aos três nós locais do
elemento 1.
As funções de aproximação dos elementos são funções lineares (superfícies planas) de…nidas no
domínio (x; y), como pode-se ver na Figura 8.7. Para o elemento e1 , as três funções de aproximação
são
x x
1 (x; y) =1
y; 2 (x; y) = ; 3 (x; y) = y. (8.56)
2 2
(Note que a numeração dessas funções é local, isto é, os nós 1, 2 e 3 locais são os nós globais 1, 4
e 3, respectivamente, como dado na tabela de conectividade dos elementos). Assim, as derivadas
parciais de i são
1 1
1;x = ; 2;x = ; 3;x = 0;
2 2 (8.57)
1;y = 1; 2;y = 0; 3;y = 1;
e e
que permitem construir a matriz elementar de funções de aproximação N e de deformação B do
elemento 1 (que vem de (8.53))
e1 0 0 0
1 2 3
N(x; y) = ; (8.58)
0 1 0 2 0 3
2 3 2 3
e1 1;x 0 2;x 0 3;x 0 1=2 0 1=2 0 0 0
B=4 0 1
;y 0 2;y 0 3;y
5=4 0 1 0 0 0 1 5: (8.59)
1
;y 1;x 2;y 2;x 3;y 3;x 1 1=2 0 1=2 1 0
Observe-se que, como as funções i são lineares, suas derivadas i;x e i;y são constantes. Por
e
este motivo a matriz B de qualquer elemento triangular linear é constante em relação posição dentro
do elemento.
Considerando o módulo de elasticidade E = 2; 0 105 MPa e coe…ciente de poisson = 0:0
8.2. Estado plano de deformação (EPD) 193
(apenas para simpli…car a notação no texto) a matriz de elasticidade Cd para EPD (8.31) …ca
2 3 2 3
E 0 0 1 0 0
Cd = 4 0 E 0 5=E4 0 1 0 5: (8.60)
0 0 E=2 0 0 0; 5
2 1 3
2 0 1
6 0 1 721 32 3
Z 2Z 1 x
6 1 7 1 0 0
2 1=2 0 1=2 0 0 0
e1 6 0 7
0 74
K= E6 2
6 0 1 7 0 1 0 54 0 1 0 0 0 1 5 dy dx
0 0 6 0 2 7
4 0 0 0 1=2 1 1=2 0 1=2 1 0
0 1 5
0 1 0
(8.62)
R2R1 x=2
Como 0 0 dy dx = 1, que é a área do elemento 1, a matriz …ca
2 3
6 2 2 2 4 0
6 9 0 1 2 8 7
6 7
e1E6 2 0 0 0 7
K= 6 7: (8.63)
8 6
6 1 2 0 7
7
4 4 0 5
sim. 8
u1 v1 u2 v2 u3 v3 u4 v4 u5 v5 u6 v6
u1 6 2 4 0 2 2
v1 2 9 2 8 0 1
u2
v2
u3 4 2 4 0 0 2
E
K= v3 0 8 0 8 0 0 (8.64)
8
u4 2 0 0 0 2 0
v4 2 1 2 0 0 1
u5
v5
u6
v6
termos nulos aparecem vazios) a matriz global …ca com a seguinte esparsidade
u1 v1 u2 v2 u3 v3 u4 v4 u5 v5 u6 v6
u1
v1
u2
v2
u3
K = v3 (8.65)
u4
v4
u5
v5
u6
v6
Etapa de aplicação das condições de contorno Deve-se observar que o sistema algébrico
do Exemplo 8.1, eq. (8.65), ainda não incorpora as condições de contorno de deslocamento. Para
incorporar a condição de engastamento nos nós 1 e 3: u = v = 0, segue-se o procedimento detalhado
no Capítulo de barra 5 e seção 6.4 na página 121. Assim as linhas u1 ; v1 ; u3 e v3 são eliminadas
momentaneamente do sistema algébrico. Por outro lado, as respectivas colunas multiplicam os
parâmetros u1 = v1 = u3 = v3 = 0, que são eliminadas momentaneamente do sistema. O sistema
…nal a ser resolvido é um sistema modi…cado KU = F:
8.2. Estado plano de deformação (EPD) 195
2 2
3 2 6 f 6 fb
2
e2 e4
b=1 e4
e1 e3 e3 fb
1 4 5 x 2
Figura 8.8: Carga distribuida no contorno e forças nodais equivalentes nos nós 5 e 6.
u2 v2 u4 v4 u5 v5 u6 v6 U F
u2 u2 0
v2 v2 0
u4 u4 0
v4 v4 = 0 : (8.68)
u5 u5 f b=2
v5 v5 0
u6 u6 f b=2
v6 v6 0
Observações:
1. Esse processo de imposição de condições e contorno foi apresentado e exempli…cado nos capí-
tulos 5 e 6 sem uma explicação matematicamente adequada. Agora, com o embasamento do
PTV, o procedimento pode ser precisamente explicado. Para isso, observa-se a forma dis-
cretizada do PTV, eq. (8.47). Cada linha do sistema algébrico (8.68) corresponde a um termo
^ No exemplo,
do colchete de (8.47), que multiplica um valor nodl de deslocamento virtual U.
(8.47) …ca:
Essa equação deve ser nula para qualquer U ^ em R2Nnos , tal que N(x; y) U 2 Kinh e N(x; y) U
^ 2
^
V arh . Isto signi…ca que U deve ser nulo nos nós vinculados, isto é, deve-se ter u ^1 = v^1 =
u
^3 = v^3 = 0. Então, as linhas 1, 2, 5 e 6 do sistema algébrico são multiplicadas por zero para
gerar o balanço de energia virtual em . Isso é o que explica o procedimento apresentado nos
capítulos iniciais para a imposição de condições de contorno de deslocamento: “primeiramente
eliminar as linhas vinculdas.”
2. Note-se que o fato dessas linhas da matriz estarem multiplicadas por zero no PTV não signi…ca
que seus termos sejam nulos. De fato, os coe…cientes de rigidez estão presentes, representando
196 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
a rigidez do corpo. Os valores de força Fx1 , Fy1 , Fx5 e Fy5 não são nulos. Apenas são
desconhecidos, pois parte deles são as reações na base do corpo.
3. As deformações e tensões são calculadas em cada ponto de cada elemento via as eqs. (8.55).
Uma vez que a formulação de MEF usada no presente exemplo tem matriz B constante em cada
elemento, (as funções de aproximação são lineares nos elementos) as deformações e tensões em
cada elementos deste problema são constantes também. É por este motivo que este elemento
é denominado triângulo de tensão constante.
2. Carregamento coplanar, aplicadas no plano da superfície media da placa, e não varia ao longo
da espessura. Também, as propriedades do material não variam com a espessura (usualmente
a direção da coordenada z);
3. Nessas condições, o tensor tensão possui componentes não nulas somente no plano, e todas as
variaveis do problema independem de z, isto é, deslocamentos, deformações e tensões depen-
dem apenas de (x; y). A placa ilustrada na Figura 8.9 incorpora os elementos para a aplicação
da formulação de EPT.
-t
b
x2
x3 x1
O equacionamento básico do EPT é listado na seção 4.2.3. Pode-se mostrar que, para peças
delgadas (pequenas relações espessura/comprimento h=L), as componentes transversais de tensões
z; xz e yz são bastante pequenas em relação às demais. Estas tensões decaem com a redução
da espessura. Isso justi…ca a teoria de Estado Plano de Tensões, EPT, onde se faz a aproximação
que estas componentes são exatamente nulas. Assim, o tensor tensão num ponto arbitrário tem a
forma:
2 3
x xy 0
(u) = 4 yx y 0 5: (8.70)
0 0 0
Para um sólido elástico linear isotrópico, as relações tensão-deformação para as componentes
não nulas de tensão são reorganizadas, em notação de Voigt, (u)=Ct "(u) são:
8.3. Estado plano de tensões 197
8 9 2 38 9
< x = E
1 0 < "x =
y = 4 1 0 5 "y ; (8.71)
: ; 1 2
1 : ;
xy 0 0 2 xy
| {z }
Ct
8 9 8 9 8 9 8 9 8 9 8 9
Z < x = < ^"x = Z < bx = < u
^x = Z < tx = < u
^x =
= y ^"y d = by u
^y d + ty u
^y d ,
: ; : ; : ; : ; : ; : ;
xy ^ xy 0 0 f 0 0
Z Z Z
Ct "(u) : "(^
u)d = ^d +
b u ^d
t u 8^
u 2 V ar: (8.73)
f
Nota-se que a partir desse ponto usamos as notações e " tanto para o tensores quanto para
os arranjos vetoriais da notação de Voigt. Uma vez que os campos independem de z, as integral
sobre o domínio são iguais a uma integral sobre a área da superfície media, ; multiplicada pela
espessura h, isto é, d = hd , e no contorno, d = hd@ , onde onde @ denota o contorno da área
. O princípio dos trabalhos virtuais se escreve como:
Z Determinar o campo
Z de deslocamentos
Z u(x) 2 Kinh tal que:
(8.74)
hCt "(u) "(^
u) d = hb u ^ d + ht u^ d@ 8u
^ (x) 2 V arh
@
Neste ponto é preciso observar que a única diferença que a formulação possui em relação ao
EPD consiste na matriz de elasticidade Ct , eq. (8.71), em lugar de Cd , eq. (8.31). Além disso
no EPT existe a presença da espessura, h = h(x), que não pode ser simpli…cada quando ela for
variavel. Por este motivo, as discusões relativas à aplicação de elementos …nitos para este caso são
idênticas àquelas feitas para estado plano de deformações, e não serão repetidas aqui. As forcas
prescritas de corpo e de contorno, b e t, possuem os mesmos signi…cados que no caso do modelo
tridimensional, isto é, são força por unidade de volume da placa e por unidade de área da borda da
placa. Também podem ser impostas b hb e t ht, isto é, força de corpo por unidade de área
e força por unidade de comprimento da borda da super…cie de referência d @ . Eventuais forças
concentradas nodais aplicadas no sistema algébrico de elementos …nitos, tem unidades [N].
cuja simplicidade permite visualizar melhor as funções envolvidas. Na seção 8.7 são detalhados
elementos com formato arbitrários.
y, v
4 3
x, u
1 2
Para essa geometria de elemento, pode-se veri…car facilmente que as funções de forma são
(a x)(b y) (a + x)(b y)
1 = ; 2 = ;
4ab 4ab (8.75)
(a + x)(b + y) (a x)(b + y)
3 = 4 = :
4ab 4ab
O elemento é chamado bilinear porque cada função é linear em x e em y. Para um estado plano de
tensão ou de deformação, o campo de deslocamentos no elemento é u = NUe
u(x; y) 0 0 0 0
= 1 2 3 4
Ue (8.76)
v(x; y) 0 1 0 2 0 3 0 4
u(x; y) = a1 + a2 x + a3 y + a4 xy;
v(x; y) = b1 + b2 x + b3 y + b4 xy; (8.77)
onde
4 a1 = (u1 + u2 + u3 + u4 ) ,
4a a2 = ( u1 + u2 + u3 u4 ) ;
4b a3 = ( u1 u2 + u3 + u4 ) ; (8.78)
4ab a1 = (u1 u2 + u3 u4 ) ;
e analogamente para as constantes bj . Torna-se claro que o elemento contém os monômios lineares,
1, x; y, e também um monômio não linear, xy. Isso signi…ca que ao longo de uma reta paralela a
um dos eixos, cada função de forma é linear, porém ao longo de uma reta diagonal, a variação é não
linear. (Ver Exercício 8.17)
A matriz de deformação do elemento …ca
2 3
y b 0 b y 0 b+y 0 b y 0
1 4
B= 0 x a 0 x a 0 a+x 0 a x 5: (8.79)
4ab
x a y b x a b y a+x b+y a x b y
8.4. Problema axissimétrico 199
Este modelo é utilizado para simular o comportamento de sólidos cuja geometria pode ser obtida
mediante a rotação de uma área plana ao redor de um eixo, dando lugar ao que se conhece como
sólido de revolução. É considerado também que o carregamento da peça pode ser obtido da mesma
forma, con…gurando um carregamento de revolução. Estas hipóteses novamente permitem fazer
uma descrição plana de um problema tridimensional ao se observar que o comportamento de todos
os planos que passam pelo eixo são equivalentes.
O equacionamento para o modelo axissimétrico é visto na seção 4.2.4. O tensor deformação, em
coordenadas cilíndricas, num estado geral de deformações in…nitesimais é dado por [67]
2 3
"rr "r "rz
4 ru+ (ru)T
"(u) = " r " " z 5= ; (8.81)
2
"zr "z "zz
onde o gradiente é
2 3
@ur 1 @ur u @ur
6 @r r @ r @z 7
6 7
6 @u 1 @u ur @u 7
ru = 6 + 7: (8.82)
6 @r r @ r @z 7
4 @uz @uz @uz 5
@r @ @z
Aplicando as condições de axissimetria: @=@ e (8.80), o tensor …ca simpli…ado como
200 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
2 3
@ur 1 @uz @ur
6 0 + 7
6 @r 2 @r @z 7
6 ur 7
"(u)= 6
6 0 0 7
7 (8.83)
6 r 7
4 1 @uz @ur @uz 5
+ 0
2 @r @z @r
Em notação de Voigt, as componentes não nulas são dadas em termos de um operador diferencial
Dr
2 3
8 9 @( )
0
>
> "r >
> 6
@r
7
< = 6 1=r 0 7
" ur
= 6
6 0
7
@(:) 7 ;
>
> " >
> 4 uz
: z ; @z 5
rz @(:) @(:)
@z @r
"(u) = Dr u: (8.84)
2 3
8 9 1 0 8 9
1 1
>
>
<
r >
>
= 6 7>> "r >
>
E(1 ) 6 1 1 1 0 7< " =
= 6 7 ;
>
> z >
> (1 + )(1 2 ) 6
4 1 0 7 > "z
5> >
>
: ; 1 1 : ;
rz 1 2
0 0 0 2(1 )
rz
| {z }
Cr
r
(u) = C "(u): (8.85)
O trabalho virtual interno da expressão do principio dos trabalhos virtuais se escreve como:
2 3 2 3
Z Z r 0 rz ^"r 0 ^"rz
(u) : "(^
u)d = 4 0 0 5 4 0 ^" 0 5d ;
rz 0 z ^"rz 0 ^"z
e passando para a notação de Voigt temos
8 9 8 9 8 9 8 9
^"r ur;r u
^r;r
Z >
>
<
r >
>
=
>
>
<
>
>
= Z >
>
<
>
>
=
>
>
<
>
>
=
^" u r =r u
^r =r
d = Cr d :
>
> >
> > ^"z > > uz;z > > u
^z;z >
: z
; >
: >
; >
: >
; >
: >
;
rz ^ rz ur;z + uz;r u
^r;z + u^z;r
Então a expressão do princípio dos trabalhos virtuais …ca
8 9 8 9 8 9 8 9
Z < br = < u
^r = Z < tr = < u
^r =
0 0 d + 0 0 d (8.86)
: ; : ; : ; : ;
bz u
^z f tz u
^z
Z Z
= ^d +
b u ^d
t u 8u
^ 2 V ar:
f
u ^
^ h (x; y) = N(x; y) U: (8.90)
"(uh ) = Dr uh = Dr NU = Br U (8.91)
uh ) = Dr u
"(^ ^ = Br U
^ h = Dr NU ^ (8.92)
onde Br é a matriz de deformações de EF, dada por
2 @( ) 3
@x 0
6 7
6 1=x 0 7 '1 0 '2 0 ::: 'N 0
Br (x; y)= Dr N(x; y)= 6
6 0
7
@(:) 7
nos
(8.93)
4 5 0 '1 0 '2 ::: 0 'Nnos
@z
@(:) @(:)
@z @x
2 3
@'1 @'2 @'Nnos
@x 0 @x ::: @x
6 7
6 ' =x 0 '2 =x ::: 'Nnos =x 7
r 6 1 7
B (x; y)= 6 @'1 @'2 @'Nnos 7: (8.94)
6 0 ::: 7
4 @z @z @z 5
@'1 @'1 @'2 @'2 @'Nnos @'Nnos
@z @x @z @r ::: @z @r
Substituindo estas aproximações na expressão (8.88) do PTV tem-se a sua forma discretizada
202 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
Z Z Z
^T
U x BrT Cr Br d U x NT b d x NT t d@ = 0 (8.96)
@
^ 2 R2Nnos :
8U
Z Z Z
rT r r T
xB C B d U= xN bd + x NT t d@ (8.97)
| {z } | {z @ }
K F
O conceito de matriz elementar é aplicado integralmente a este caso, sendo que não há nen-
huma diferença em relação aos casos de estados planos de deformação ou tensão. Considerando, por
exemplo, um elemento quadrilateral de quatro nós, como o da Figura 8.12, tem-se quatro funções
de aproximação que permitem descrever o deslocamento dentro do elemento como
8.5. Elementos volumétricos 203
8 9
>
> u1 >>
>
> v1 >>
>
> >
>
>
> u >
>
>
> 2 >
>
< = e e
e 1 0 2 0 3 0 4 0 v2
u(x; y) = = NU: (8.99)
0 1 0 2 0 3 0 4 >
> u3 >>
>
> >
> v3 >
> >
>
>
> >
>
>
> u 4 >
>
: ;
v4
As deformações, tensões, matriz de rigidez e termo de carga elementar são dadas por:
e e e
"(u(x; y)) = Dr N(x; y)U;
e e
= Br (x; y)U; (8.100)
e e e
(u(x; y)) = Cr Br (x; y)U; (8.101)
e
Z e rT er
K = xB Cr B d ;
e
e
Z eT
Z eT
F = xN b d + xN t d@ : (8.102)
e @ e\ f
Assim, a matriz de rigidez deste elemento de Nne = 4 nós (quatro funções de aproximação
associadas) possui ordem Ngle = 2Nne = 8 (quatro funções de aproximação e dois graus de liberdade
por nó: u; v).
8 Nnos 9
> P >
>
> ui 'i (x; y; z) >
>
8 9 >> >
>
>
< u(x; y; z) = < NPi=1 >
=
nos
u(x) uh (x) v(x; y; z) = vi 'i (x; y; z) ;
: ; >> i=1 >
>
w(x; y; z) >
> NP >
>
>
> nos >
>
: wi 'i (x; y; z) ;
i=1
8 9
>
> u1 >
>
>
> >
>
> v1 >
2 3>>
>
>
>
>
'1 0 0 ::: 'Nnos 0 0 >
< w1 >
=
u(x) = 4 0 '1 0 ::: 0 'Nnos 0 5 .. ;
> . >
0 0 '1 ::: 0 0 'Nnos >
> >
>
>
> uNnos >
>
>
> >
>
>
> v >
>
: Nnos ;
wNnos
u(x) = NU; (8.103)
2 3
( ) ;x 0 0
6 0 ( ) ;y 0 78 9
6 7 < u(x; y; z) =
6 0 0 ( ) ;z 7
"(u) = 6
6 0
7
7 : v(x; y; z) ; ;
6 ( ) ;z ( ) ;y 7
4 ( ) ;z 5 w; x; y; z
0 ( ) ;x
( ) ;y ( ) ;x 0
"(u) = Du: (8.105)
6
A partir de um certo ponto do texto abandonaremos a notação com índice h, como em uh , quando o texto não
permitir confusão com o campo exato u.
8.5. Elementos volumétricos 205
8 9 2 38 9
>
>
>
x >
>
>
1 a a 0 0 0 > "x
> >
>
> > 6 7>> "y >
>
>
>
<
y >
>
= 6 a 1 a 0 0 0 7>> >
>
6 a a 1 0 0 0 7 < "z =
z
= c6
6 0 0
7
7 > yz ;
>
> yz >> 6 0 b 0 0 7> >
>
>
> >
> 4 0 0 5>> >
>
>
> xz >> 0 0 b 0 >
> >
>
: ; : xz ;
xy 0 0 0 0 0 b xy
(u) = = C"(u): (8.108)
E(1 v)
onde a = 1 v v , b = 2(1
1 2v
v) e c = (1+v)(1 2v) . Para um material anisotrópico linear, a matriz é cheia,
de…nida com mais constantes independentes, porém a relação ainda pode ser representada na forma
(u)= C"(u):
Usando a aproximação para as deformações (8.105), as tensões …cam
(uh ) = CBU:
Substituindo no princípio dos trabalhos virtuais, eq. (8.15), a condição discretizada de equilíbrio
…ca
Z Z Z
CBU BU d ^ b NU d^ t NU ^ d =0 8U^ 2 R3Nnos ; (8.109)
f
tal que uh = NU 2 Kinh e u ^ (x) = NU^ 2 V arh . Manipulando algebricamente e considerando que
^
os vetores U e U são independentes das coordenadas (vetores de deslocamentos nodais), a expressão
acima se torna
(Z Z Z )
^T
U BT CB d U NT b d NT t d =0 ^ 2 R3Nnos :
8U
f
Uma vez que o vetor de parâmetros U ^ é arbitrário, a satisfação da equação só é possível mediante
a anulação do vetor entre chaves. Obtém-se o problema algébrico de equilíbrio KU = F, onde a
matriz de rigidez e o vetor de carregamento nodal equivalente são dados por
Z Z Z
K= BT CB d , F= NT b d + NT t d (8.110)
f
Como nos modelos de estado plano, a construção de K e F normalmente não é feita como
indicado em (8.110), mediante integração das derivadas das funções de aproximação 'i globais,
devido à baixa e…ciência operacional. Em vez disso, a construção de K e F é feita seguindo uma
integração elemento por elemento das funções de aproximação elementares, seguido do processo de
sobreposição.
5
8
7
6
1 4
z
x y
2
3
e
B do elemento é
e e
B = DN; (8.111)
e a matriz de rigidez e termo de carga elementares de um elemento arbitrário,
e
Z eT e
K = B CB d ;
e
e
Z eT
Z eT
F = N bd + N td ; (8.112)
e f \@ e
tem dimensões Ngle = 3Nne = 24. Na seção seguinte são apresentadas algumas das funções de
aproximação elementares mais utilizadas, junto com os conceito de mapeamento e de elemento
…nito padrão. Na última integral, f \ @ e indica a parte do contorno do elemento que pertence ao
contorno de Neuman do corpo, f .
8 9
< ux (x) =
u (x) = uy (x) = NU; (8.115)
: ;
uz (x)
onde x = (x; y; z), Nnos é o número de nós da malha. As relações deformação-deslocamentos lineares
são " (x) = DNU = BU. Desta forma a lei de Hooke …ca:
= C BU "T : (8.116)
Substituindo-a na expressão do PTV, eq. (8.12), temos
(Z Z Z )
^T
U BT C BU "T d NT b d NT f d ^ 2 <3N
= 0; 8U (8.117)
f
Observe que, de fato, "T é conhecido em cada ponto, se tivemos previamente determinado a dis-
tribuição de temperatura no corpo. Então o termo BT C"T é um vetor força nodal conhecido.
Este termo então será ajuntado aos termos da segunda e terceira integrais para compor o vetor de
carregamento nodais do problema.
A eq. (8.117) resulta do sistema de N = 3Nne equações algébricas:
Z Z Z Z
T T T T
(B CB d ) U = B C" d + N bd + NT f d : (8.118)
| {z } | {z } | {z } |
f
{z }
K forças térmicas forças de corpo forças de superfície
R R R R
K= BT CB d ; Fm = NT b d + f
NT f d ; FT = BT C"T d (8.119)
KU = F = Fm + FT (8.120)
Fm e FT são o vetor de forças nodais mecânicas e térmicas, respectivamente. Observe que a inclusão
do efeito térmico …cou restrita apenas à inclusão do termo de carregamento nodal FT . Os demais
termos são idênticos aos do problema não térmico.
O processo de solução consiste nas seguintes etapas.
Etapa 1 - Cálculo das deformações térmicas em cada ponto dos elementos. São deformações
…cticias, que ocorreriam se cada ponto fosse desconectado dos demais:
8 9T 8 9
>
> "x >
> >
> T >
>
>
> "y >
> >
> T >
>
>
> >
> >
> >
>
< = < =
"z T
"T = = (8.121)
>
> xy >
> >
> 0 >
>
>
> >
> >
> >
>
>
> >
> >
> 0 >
>
: xz ; : ;
yz 0
Etapa 2 -
! Cálculo do vetor de forças mecânicas nodais (cargas concentradas nos nós, cargas dis-
tribuídas, forças de corpo), de forma a montar Fm em (8.119). É o processo de cálculo
normal, que também é feito para a matriz de rigidez, usado nos problemas não térmicos.
208 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
t
t 3
3
x (s, t)
1 2 s
y
1 2 s x
(a) (b)
Figura 8.14: Mapeamento do elemento, entre (a) o domínio padrão triangular e (b) o domínio físico.
1 (s; t) =r=1 s t;
2 (s; t) = s; (8.124)
3 (s; t) = t:
1 2
(0, 0) (1, 0) s
Com auxílio destas funções é possível mapear qualquer ponto do triângulo padrão no triângulo
no domínio real (x; y). “Mapear”signi…ca fazer uma correspondência bi-unívoca entre a coordenada
intrínseca (s; t) de um ponto no domínio padrão e a coordenada física (x; y) no domínio físico. No
caso, o mapeamento é feito mediante a seguinte expressão:
onde xi ; yi são as coordenadas físicas dos nós do elemento. Essas expressões de mapeamento indicam
que x = x(s; t) e x = x(s; t).
A aproximação dos deslocamentos no elemento é feita usando as mesmas funções de aproximação
i
(s; t) do mapeamento:
Nne
X Nne
X
x= i (s; t)xi e y= i (s; t)yi (8.127)
i=1 i=1
onde (xi ; yi ) são as coordenadas dos nós locais do elemento. As componentes dos deslocamentos
podem ser interpoladas usando as mesmas funções de aproximação:
Nne
X Nne
X
u(s; t) = i (s; t)ui e v(s; t) = i (s; t)vi (8.128)
i=1 i=1
210 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
(0; 0; 1)
3 0 ; 13 ; 23
(0; 0; 1)
1; ;2
3 0 3
3 0 ; 12 ; 12 0 ; 23 ; 13
1; ;1
2 0 2 5 2; ;1
6 3 0 3 2
2 (0; 1; 0) (0; 1; 0)
4
1 1 1; 2 ;0
1; 1 ;0 2; 1 ;0 3 3
(1; 0; 0) 2 2 (1; 0; 0) 3 3
(a) (b)
Figura 8.16: Numeração nodal intrínseca e coordenadas nodais de área nos elementos (a) quadráticos
e (b) cúbicos.
e
A matriz B contém as derivadas parciais das funções i em relação as variáveis (x; y), como
se tivessemos i = i (x; y). Mas temos agora funções de aproximação de…nidas em termos das
coordenadas padrão (s; t), isto é, temos explicitamente i = i (s; t). Mas observa-se que, através
das funções de mapeamento (8.125) no caso de elemento linear, e (8.127) nos elementos arbitrários,
os deslocamentos são, implicitamente, em função de (s; t), como em (8.128). Precisamos agora
determinar um procedimento para obter as derivadas i;x e i;y nessas condições. Um resumo da
situação é o seguinte:
e e
B = B(x; y) e
i = i (s; t) . Porém tem-se o mapeamento:
x = x(s; t), e y = y(s; t):
Primeiramente supomos que existe uma relação inversa do mapeamento (8.125), isto é, funções
@ i @ i @s @ i @t
(s (x; y) ; t (x; y)) = + ;
@x @s @x @t @x (8.130)
@ i @ i @s @ i @t
(s (x; y) ; t (x; y)) = + :
@y @s @y @t @y
Em forma matricial essas relações …cam
8 9 2 @s 8 9
> @ i > @t 3 > @ i >
< = < =
@x 6 @x 7
rx i = @ = 4 @x
@s @t 5 >
@s =J 1r
s i : (8.131)
>
: i >
; : @ i >
;
@y @y @y @t
rx e rs são as componentes planas do gradiente de i em relação às coordenadas (x; y) e (s; t),
8.7. Elementos isoparamétricos e outros 211
Finalmente, é possível mostrar que o elemento diferencial de área d = dx dy pode ser escrito
em termos de elementos diferenciais das coordenadas intrínsecas ds e dt da seguinte forma:
Ordenando os resultados, a integral da matriz de rigidez no elemento, eq. (8.129), pode ser efetuada
no domínio do elemento …nito padrão com as devidas mudanças de variáveis:
e
Z 1 Z 1 teT e
K= B Cd B det J dsdt (8.137)
t=0 s=0
Essa expressão pode ser usada para integrar uma função constante unitária, o que resultará na área
do elemento:
e
Z 1 Z 1 t
A= 1 det J dsdt: (8.138)
t=0 s=0
No caso particular do elemento triangular linear, de 3 nós, tanto J quanto seu determinante
são constantes no elemento. Como a área do elemento padrão é 1/2 (os lados do triângulo são
212 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
O elemento triangular linear é tão simples que sua matriz jacobiana pode ser obtido em forma
explícita, como segue. Primeiro, do mapeamento (8.124) obtém-se as derivadas das Nne = 3 funções
de aproximação lineares no domínio padrão
8 9
> @ 1 @ 2 @ 3 >
< =
@s @s @s 1 1 0
= (8.140)
>
: @ 1 @ 2 @ 3 >
; 1 0 1
@t @t @t
Usando o mapeamento (8.125) em termos das coordenadas nodais do elemento, pode-se determinar
as componentes da matriz Jacobiana:
@x @x
= x2 x1 = x3 x1
@s @t
@y @y
= y2 y1 = y3 y1
@s @t
tal que a matriz jacobiana, sua inversa e seu determinante …cam dados em termos das coordenadas
nodais
x2 x1 y2 y1 1 1 y 3 y1 y1 y2
J= , J = ;
x3 x1 y3 y1 2A x1 x3 x2 x1 (8.141)
det J = (x2 x1 )(y3 y1 ) (y2 y1 )(x3 x1 ) = 2A:
Nota-se que a matriz jacobiana é constante. Prova-se que isso ocorre sempre que
se tenha elemento de três nós, ou elementos de maior quantidade de nós, (como os
quadráticos ou cúbicos a serem detalhados na seção 8.8.3) desde que os lados sejam
retos com os nós intermediarios em suas posições naturais (igualmente espaçados).
As derivadas em (x; y) vem de rx i = J 1 rs i . Obtendo as derivadas simultaneamente para
os 3 nós se tem
2 @ @ 2 @ 3 3 2 3
1 @ 1 @ 2 @ 3
6 @x @x @x 7 = J 1 6 @s @s @s 7 ;
4 @ @ 2 @ 3 5 4 @ @ 2 @ 3 5
1 1
@y @y @y @t @t @t
1 y3 y1 y1 y2 1 1 0
= (8.142)
2A x1 x3 x2 x1 1 0 1
1 y2 y 3 y3 y1 y1 y2
=
2A x3 x2 x1 x3 x2 x1
Com essas derivadas a matriz de deformações pode também ser explicitada, como segue.
2 3
@ 1 @ 2 @ 3
6 @x 0 0 0 7
6 @x @x 7
e 6 @ 1 @ 2 @ 3 7
B=6
6 0 0 0 7;
6 @y @y @y 7
7
4 @ 1 @ 1 @ 2 @ 2 @ 3 @ 3 5
@y @x @y @x @y @x
8.7. Elementos isoparamétricos e outros 213
2 3
y 0 y31 0 y12 0
1 4 23
e
B= 0 x32 0 x13 0 x21 5 (8.143)
2A
x32 y23 x13 y31 x21 y12
t 3 e2 e4
1
3 e1 e3
1
1 2 1 2
s 1 4 5 x
1 2 2
(a) (b)
x2 x1 y2 y1 2 0
J= = ;
x3 x1 y3 y1 0 1
e seu determinante é
1 1 y3 y1 y1 y2 1 1 0
J = = : (8.145)
2A x1 x3 x2 x1 2 0 2
Com isso se pode calcular as derivadas das três funções de aproximação no elemento 1, em
relação às coordenadas (x; y), conforme a eq. (8.131), usando (8.144) e (8.140), isto é, rx =
J 1 rs . Organizam-se os resultados para os 3 nós da seguinte forma:
2 @ @ 2 @ 3 3 "
1
1 # " 1 1 #
6 @x @x @x 7 = 0 1 1 0 0
4 @ @ 2 @ 3 5 2 = 2 2 :
1 0 1 1 0 1 1 0 1
@y @y @y
Com essas derivadas calculadas, a matriz de deformação do elemento 1 pode ser calculada usando
(8.143)
2 3
e1 1 0 1 0 0 0
1
B= 4 0 2 0 0 0 2 5:
2
2 1 0 1 2 0
214 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
Nota-se que esta matriz de deformação é idêntica a matriz (8.59) já obtida na seção anterior onde
e
não se fazia o mapeamento. Finalmente, considerando que det J e as matrizes B e Cd são constantes,
a matriz de rigidez do elemento 1 é integrada:
e eT e
Z 1Z 1 t
d
K = B C B det J dsdt (8.146)
0 0
R1R1 t
A integral 0 0 dsdt é a área do domínio padrão, que é sempre igual a 1/2. Nesse tipo simples
de elemento, essa integral cancela det J = 2, e a matriz …ca simplesmente
e eT e
K = B Cd B:
Este exemplo, embora didático, não é a situação mais usual. Elementos de outros tipos não
fornecem matrizes de deformação constantes quando possuirem funções de aproximação não lineares.
A integração da matriz de rigidez em geral exige procedimento próprio, que será visto no Capítulo
9.
1 1
Grau 1 ! L1 (r) = (1 r); L2 (r) = (1 + r);
2 2
r r
Grau 2 ! L1 (r) = (r 1); L2 (r) = (1 r2 ); L3 (r) = (r + 1); (8.147)
2 2
e para grau 3,
1 1 1
16L1 (r) = 9(r 1) r r+ ; 16L3 (r) = 27(r 1) r + (r + 1) ;
3 3 3
(8.148)
1 1 1
16L2 (r) = 27(r 1) r (r + 1) ; 16L4 (r) = 9 r r+ (r + 1) :
3 3 3
Cada função é associada a um nó. Por exemplo, os polinômios quadráticos, são associados aos
nós 1, 2 e 3, como ilustrados na Figura 8.18, localizados nas coordenadas r1 = 1, r2 = 0 e r3 = 1.
No polinômio cúbico, os nós 1, 2, 3 e 4 estão nas coordenadas intrínsecas r1 = 1, r2 = 1=3,
r3 = 1=3 e r4 = 1. Uma função lagrangeana Ls (r) tem a característica de ser unitária no nó j e
nula nos demais. Por exemplo, na …gura, L1 é unitário no nó 1 e nulo nos nós 2 e 3. As funções L1
e L2 do polinômio linear também tem essa característica, isto é, L1 (r1 ) = 1; L1 (r2 ) = L2 (r1 ) = 0 e
L2 (r2 ) = 1. De forma geral, para qualquer grau,7
Nne
X
Li (rj ) = ij e Li (r) = 1, para 1 r 1. (8.149)
i=1
7
O operador delta de Kronencker ij é de…nido de tal forma que ij = 1 se i = j e ij = 0 se i 6= j.
8.8. Tipos de elementos e suas funções 215
Funções que satisfazem à segunda condição acima são ditas formarem uma partição da unidade
no domínio referido.
As expressões mostradas em (8.147) e (8.148) para os graus 1 a 3, são casos de uma expressão
geral que pode ser usada para gerar conjuntos de polinômios de qualquer grau no domínio r 2 [ 1; 1].
Para um grau arbitrário p, de…nem-se n = p + 1 nós uniformemente distribuidos no intervalo, com
coordenadas intrínsecas rs , s = 1; :::; p + 1. Então o i-ésimo polinômio de grau p é dado por
Yn
(r rq )
q=1;q6=i
Lpi (r) = Yn , por exemplo para grau p = 3 e i = 2,
(ri rs )
s=1;s6=i
(r r1 )(r r3 )(r r4 )
L32 (r) = . (8.150)
(r2 r1 )(r2 r3 )(r2 r4 )
L1 L2 L3
1 2 3
r
r = -1 r=0 r=1
Nne
X
x(r) = xi Li (r) (8.151)
i=1
a1 A1 a2 A2 a3 A3
r= = ; s= = ; t= = (8.152)
a A a A a A
Caso o elemento seja de lados retos, o mapeamento (8.125) é feito com as funções de
aproximação lineares, que são as próprias coordenadas de triângulo:
1 = r; 2 = s; 3 =t (8.153)
de forma que o mapeamento é de…nido por
216 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
y
t 3
y3
3 A2 A1
y A
P 3 2
1 a2 P
t a1 1
a3 y1
1 s 2 s
x1 x x2 x
1
(a) (b)
Figura 8.19: Coordenadas intrínsecas e físicas de um ponto P no: (a) elemento padrão e (b) elemento
físico com coordenadas de área.
x = x1 1 + x2 2 + x3 3;
y = y1 1 + y2 2 + y3 3: (8.154)
Nesse caso é possível fazer o mapeamento inverso de forma explícita, isto é, obter expressões para
s = s(x; y) e t = t(x; y). Para isso, consideremos inicialmente um resultado de álgebra, que a área
de um triângulo pode ser obtida da seguinte forma:
2 3
1 x1 y1
1
A = det 4 1 x2 y2 5 : (8.155)
2
1 x3 y3
onde (x1 ; y1 ), (x2 ; y2 ) e (x3 ; y3 ) são as coordenadas físicas dos nós do triângulo. Essa expressão
pode ser adaptada para determinar as áreas dos três triângulos internos de…nidos por um ponto
arbitrário P de coordenadas (x; y) e pelos nós do elemento, como ilustrado na Figura 8.19. Então
as áreas são:
2 3 2 3 2 3
1 x y 1 x1 y1 1 x2 y3
1 4 5 1 4 5 1 4
A1 = det 1 x2 y2 ; A2 = det 1 x y ; A3 = det 1 x3 y3 5 (8.156)
2 2 2
1 x3 y3 1 x3 y3 1 x y
y
y3 3
s P r
y
y2 2
t
y1 1
x1 x3 x x2 x
Figura 8.20: Triangulo arbitrário, com nós locais 123, coordenadas globais e ponto P interno arbi-
trario de coordenadas (x; y).
Então, se o elemento for linear, as áreas podem ser expressas em termos das coordenadas nodais via
(8.155) e (8.156). Nesse caso, dadas as coordenadas físicas do ponto, pode-se calcular as coordenadas
8.8. Tipos de elementos e suas funções 217
intrínsecas:
t t
(0; 0; 1) (0; 0; 1)
3 3
2; ;1
3 0 3
1; ;1 0 ; 12 ; 12 8 7
2 0 2 6 5
1; ;2
P (r, s, t) 3 0 3 9 10 6
1 4 2 1 4 5 2
s s
(1; 0; 0) 1; 1 ;0 (0; 1; 0) (1; 0; 0) 1 ; 2 ; 0 2 ; 1 ; 0 (0; 1; 0)
(a) 2 2 (b) 3 3 3 3
Figura 8.21: Numeração nodal intrínseca e coordenadas nodais de área nos elementos (a) quadráticos
e (b) cúbicos, em domínio padrão.
Na prática, evitam-se utilizar elementos lineares devido a sua baixa precisão (e também devido a
diversos problemas e patologias que pode apresentar em diversas situações), e utilizam-se elementos
com ordem mais alta. Os códigos comerciais de elementos …nitos limitam-se, tipicamente, a oferecer
duas opções: elementos lineares e quadráticos. Veri…caremos a seguir a construção de elementos
quadráticos. Esses elementos possuem 6 nós, como nas Figuras 8.16 e 8.21, e sua numeração local
deve ser aquela indicada, isto é, os nós 1, 2 e 3 são anti-horário, e os nós 4, 5 e 6 são nos lados 12,
23 e 31, respectivamente. Assim, as funções de aproximação quadráticas associadas a cada nó
são as seguintes (com r = 1 s t):
Nne
X
i (rj ; sj ; tj ) = ij e i (r; s; t) = 1, 8 (r; s; t) 2 e. (8.159)
i=1
Elementos de funções cúbicas podem ser construídos em elementos triangulares de 10 nós, nu-
merados como na Figura 8.16b. Nessa …gura podem ser vistas ainda as coordenadas nodais de área
para os elementos qudráticos e cúbicos. As funções de aproximação cúbicas associadas a cada
nó são as seguintes:
218 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
3
3
ψ1
6 5
6 5
1 2
4 1
2
1 4
(a) (b) 1
O mapeamento e o jacobiano dos elementos de alta ordem são detalhados na seção 8.7.2.
1 1
1 = (1 r)(1 s); 2 = (1 + r)(1 s);
4 4 (8.161)
1 1
3 = (1 + r)(1 + s); 4 = (1 r)(1 + s):
4 4
As funções biquadráticas são as seguintes:
8.8. Tipos de elementos e suas funções 219
s
s 3
4 3
(-1; 1) (1; 1)
4
r
r
3 s 9 3
s
4 7 10 8
4
r 15
6 11 16 14 r
9 7
8 2 13
12 2
6
1 5 1 5
(b) (c)
Figura 8.23: Elementos lagrangeanos: (a) bilinear, (b) biquadrático, (c) bicúbico, com numeração
intrínseca dos nós e indicação das coordenadas intrínsecas (r; s); (d) coordenadas intrínsecas do nós
do elemento bilinear.
1 1
1 (r; s) = rs(r 1)(s 1); 5 (r; s) = s(1 r2 )(s 1);
4 2
1 1
2 (r; s) = rs(r + 1)(s 1); 6 (r; s) = r(r + 1)(1 s2 );
4 2
1 1 (8.162)
3 (r; s) = rs(r + 1)(s + 1); 7 (r; s) = s(1 r2 )(s + 1);
4 2
1 1
4 (r; s) = rs(r 1)(s + 1); 8 (r; s) = r(r 1)(1 s2 );
4 2
9 (r; s) = (1 r2 )(1 s2 ):
Observe que nessa família de funções, conjuntos de qualquer grau, como as bilineares, bicúbicas
etc., são facilmente formadas simplesmente fazendo produtos dos polinômios uniaxiais, nas
direções r e s. Por exemplo, observe que as funções quadráticas 1 (r; s) e 5 (r; s) em (8.162)
são formadas simplesmente fazendo L1 (r)L1 (s) e L2 (r)L1 (s) a partir das funções lagrangeanas
unidimensionais quadráticas (8.147). Isso ocorre porque cada função Lno é unitária no nó “no”
e nula nos demais nós, uma vez que os nós sempre se localizam nas coordenadas intrínsecas
r = 1, r = 0 e r = +1, conforme a Figura 8.18. Na direção s, os nós também estão nas
coordenadas e r = 1, r = 0 e r = +1. Esse processo de geração por produtos pode ser
visualizado por
L1 (r) L2 (r) L3 (r)
# # #
L3 (s) ! 4 (r; s) 7 (r; s) 3 (r; s) (8.163)
L2 (s) ! 8 (r; s) 9 (r; s) 6 (r; s)
L1 (s) ! 1 (r; s) 5 (r; s) 2 (r; s)
A Figura 8.24 ilustra a formação de 1 (r; s). Em geral, esse processo é conhecido como produto
tensorial entre funções.
220 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
s s s
r x r r
=
1 1
1
L1(r)
2
L1(s)
2 ψ1(r,s) 2
De forma geral, para qualquer grau, o método padrão de elementos …nitos requer que as
funções de aproximação satisfaçam à condição
Nne
X
i (rj ; sj ) = ij e i (r; s) = 1, para 1 r; s 1. (8.164)
i=1
Os elementos …nitos quadriláteros podem conter diferentes conjuntos de monômios. A Tabela 8.2
mostra os monômios presentes no campo de deslocamento de algumas das formulações de elementos
quadrangulares.
Esses conjuntos podem ser visualizados no triângulo de Pascal de monômios na Figura 8.25. Nota-se
que como a base de funções é gerada por produto tensorial das bases unidimensionais, o conjunto
inclui sempre monômios de grau superior aos a p. Por exemplo o elemento bilinear (p = 1) contém
três monômios lineares e um quadrático, rs. Entretanto, em cada direção a quadratura de integração
associada é para grau p = 1. Os monômios presentes em cada grau de polinômio Lagrangeano são
vistos acima de cada linha em V no triângulo de Pascal. Nos polinômios serendipity o V é truncado
na base conforme as linhas tracejadas na …gura.
O dominio padrão dos elementos hexaédricos é o cubo de lados 2 2 2 de…nido por D3 ={(r; s; t) :
r; s; t 2 R, 1 r; s; t 1}. Geralmente a numeração intrínseca dos nós é anti-horária em torno
do eixo t, da mesma forma que para o elemento quadrilateral. A Figura 8.26 mostra o elemento de
funções tri-lineares (linear em cada direção), que requer 8 nós, e o elemento triquadrático (quadrático
em cada direção), que requer 27 nós.
As funções de aproximação trilineares do elemento hexaédrico são (Figura 8.27a):
8.8. Tipos de elementos e suas funções 221
p=0
1
p=1
r s p=2
r2 rs s2
p=3
r3 r2s s2r s3
r3s2 r2s3
r3s3
x 4 11 3
y z
20 19
4 3 23
z x 8 10
12 15 26 7
8 24
s 7 22
2 16 25 9 14
r 1 2
2 1 t 2
17 18
21
5 6 2 5 13 6
2
2
2
(a) (b)
Figura 8.26: (a) Elemento de funções trilineares (linear em cada direção), com 8 nós, e (b) elemento
triquadrático lagrangeano, com 27 nós.
1 1
1 = (1 r)(1 s)(1 t), 5 = (1 r)(1 s)(1 + t);
8 8
1 1
2 = (1 + r)(1 s)(1 t); 6 = (1 + r)(1 s)(1 + t);
8 8 (8.165)
1 1
3 = (1 + r)(1 + s)(1 t); 7 = (1 + r)(1 + s)(1 + t);
8 8
1 1
4 = (1 r)(1 + s)(1 t); 8 = (1 r)(1 + s)(1 + t):
8 8
Note que essas funções são geradas usando o mesmo procedimento usado para gerar as funções bidi-
mensionais Lagrangeanas - através do produto das funções lineares unidimensionais, como ilustrado
em (8.163). Por exemplo, considere a função 5 é o produto de L1 (r)L1 (s)L2 (t). O mesmo pro-
cedimento pode ser usado para gerar o conjunto de funções para o elemento hexaédrico tri-
quadráticos, (Figura 8.26b), associadas aos 27 nós, a partir de produtos das funções unidimen-
sionais quadráticas das eqs. (8.147), o que gera o conjunto:
222 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
Nne
X
i (rj ; sj ; tj ) = ij e i (r; s; t) = 1, para 1 r; s; t 1. (8.167)
i=1
5 8 5 16 8
13 15
14
6 t 7 6 7 20
17
1 s 18 1 12 19
r 4 4
y
9 11
2 3 2 10 3 z x
(a) (b) (c)
Figura 8.27: Elementos Lagrangeanos (a) trilinear (8 nós), (b) e (c) triquadrático no domínio padrão
(r; s; t) e no dominio físico.
Nne
X Nne
X Nne
X
x= i (r; s; t)xi ; y= i (r; s; t)yi e z= i (r; s; t)zi (8.168)
i=1 i=1 i=1
8.8. Tipos de elementos e suas funções 223
onde (xi ; yi ; zi ) são as coordenadas dos nós do elemento. As componentes dos deslocamentos podem
ser interpoladas usando as mesmas funções de aproximação:
Nne
X Nne
X Nne
X
u= i (r; s; t)ui ; v= i (r; s; t)vi e w= i (r; s; t)wi (8.169)
i=1 i=1 i=1
Nota-se que no caso de um elemento plano quadriláteral, as equações acima são simpli…cadas,
envolvendo apenas coordenadas x, y, r e s, e deslocamentos u e v.
e
Z eT e
K= B Cd B d (8.170)
e
e
A matriz B contém as derivadas parciais das funções i , i = 1; :::; Noe , em relação as variáveis
(x; y; z). Torna-se necessário obter as derivadas i;x e i;y a partir das funções i = i (r; s; t).
Primeiramente utiliza-se a regra de cadeia da seguinte forma:
@ i @ i @r @ i @s @ i @t
(r(x; y; z); s (x; y; z) ; t (x; y; z)) = + + ;
@x @r @x @s @x @t @x
@ i @ i @r @ i @s @ i @t
(r(x; y; z); s (x; y; z) ; t (x; y; z)) = + + ; (8.171)
@y @r @y @s @y @t @y
@ i @ i @r @ i @s @ i @t
(r(x; y; z); s (x; y; z) ; t (x; y; z)) = + +
@z @r @z @s @zy @t @z
Em forma matricial essas relações …cam
8 9 2 @r 38 9
> @ i > @s @t > @ i >
>
> >
> > >
> > 6 @x 7>> >
>
< @@x
> >
= 6 @r @x
@s
@x
@t 7>< @r >
=
i 6 7 @ i 1r
rx i = =6 7 =J r i : (8.172)
>
> @y >
> 6 @y @y @y 7> @s >
>
> >
> 4 5>>
> @ i
>
>
>
>
: @ i >
; @r @s @t >
: >
;
@z @z @z @z @t
rx i e rs i são as componentes do gradiente de em relação às coordenadas (x; y; z) e (r; s; t),
respectivamente. J é a matriz Jacobiana do mapeamento. Prova-se que o operador J sempre
possui inversa se o mapeamento é bi-univoco, isto é, se cada ponto (r; s; t) corresponde a um único
ponto (x; y; z) e vice-versa.
8 9 2 38 9
> @ i > @x @y @z > @ i >
>
> >
> > >
> > 6 7>> @x >
>
< @r
> >
= 6 @r @r @r 7>< @ i
>
=
@ i 6 @x @y @z 7
=6 7 : (8.173)
>
> @s >
> 6 @s @s @s 7> @y >
>
> @ >
> 4 @x @y @z 5>>
>
>
>
>
>
: i >
; >
: @ i >
;
@t @t @t @t @z
Observando que os vetores a esquerda e a direita são os mesmos da eq. (8.172), e considerando
que a inversa de uma matriz, se existe, é única, nota-se que a matriz desta equação é a inversa da
anterior, isto é, é a matriz Jacobiana J. Então (8.173) …ca
224 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
2 3
@x @y @z
6 @r @r @r 7
6 7
6 @x @y @z 7
rr i = Jrx i, onde J=6 7 (8.174)
6 @s @s @s 7
4 @x @y @z 5
@t @t @t
Ordenando resultados, a integral da matriz de rigidez no elemento, eq. (8.170), pode ser efetuada
no domínio do elemento …nito padrão com as devidas mudanças de variáveis:
e
Z Z1 Z eT e
K= B Cd B det J drdsdt (8.177)
1
Essa expressão pode ser usada para integrar uma função constante unitária, o que resultará no
volume do elemento
e
Z Z1 Z
V = 1 det J drdsdt: (8.178)
1
No caso particular do elemento hexaédrico trilinear não distorcido de 8 nós, tanto J quanto
seu determinante são constantes no elemento. Como o volume do elemento padrão é 2 2 2 = 8
(os lados do elemento são biunitários), obtém-se:
e
V = 8 det J volume do elemento hexaédrico trilinear (8.179)
4 3
3,4
1 2 1 2
(a) (b)
Os elementos planos e sólidos descritos acima estão entre os mais tradicionais no MEF. Adicional-
mente, com algumas pequenas alterações, esses elementos podem mudar sua forma básica. Qualquer
que seja o tipo de elemento entre aqueles vistos acima, o mapeamento é dado por
P
N ne
x = x1 1 + x2 2+ + xNne Nne = xi i;
i=1
P
Nne
y = y1 1 + y2 2 + + yNne Nne = yi i; (8.180)
i=1
P
Nne
z = z1 1 + z2 2 + + zNne Nne = zi i;
i=1
onde xi ; yi e zi são as coordenadas físicas dos nós do elemento e Nne é o número de nós do elemento.
(Claramente, elementos unidirecionais retos terão apenas a coordenada x, elementos planos (x; y) e
elementos sólidos (x; y; z). As aproximações dos deslocamentos são dadas por
P
N ne
u = u1 1 + u2 2 + + uNne Nne = ui i;
i=1
P
N ne
v = v1 1 + v2 2 + + vNne Nne = vi i; (8.181)
i=1
P
N ne
w = w1 1 + w2 2 + + wNne Nne = wi i:
i=1
5 8
5,6 7,8
6 7
1 1
4 4
(a) 2 3 (b) 2 3
5,6,7,8 5,6,7,8
1 1
4 4
Figura 8.29: (a) Elemento sólido hexaédrico, (b) elemento colapsado em forma de cunha, (c) de
pirâmide e (d) em forma de tetraédro.
Consideremos inicialmente um elemento quadrilateral de quatro nós, como na Figura 8.28a. Esse
elemento pode facilmente ser transformado num elemento triangular, bastando para isso que, nos
dados de coordenadas nodais, um par de nós contíguos possuam os mesmos valores de coordenadas,
isto é, basta que se posicione dois nós no mesmo ponto. Na …gura é mostrado o elemento triangular
obtido pela colapsação dos nós 3 e 4. Dessa forma, evita-se a necessidade de implementar dois tipos
de elementos no programa, um quadrangular e outro triangular, bastando o quadrangular. Assim,
o mapeamento …ca
226 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
x = x3 ( 3+ 4) + x1 1 + x2 2;
(8.182)
y = y3 ( 3+ 4 + y1
) 1 + y2 2:
Procedimento semelhante pode ser usado para converter o elemento quadrangular quadrático
(de 9 nós), em triangular quadrático (de 6 nós), colapsando três nós de um dos lados.
Observa-se que os elementos quadrangulares (e os hexaédricos), são mais precisos (para uma
mesma quantidade de nós do modelo) que os triangulares (e tetraédricos). Entretanto, a maioria
das geometrias planas (e sólidas) em peças mecânicas são demasiado complexas para poderem ser
modeladas inteiramente por elementos quadrangulares (ou hexaédricos), e necessitam ser, em parte
ou completamente, modelada por elementos triangulares (ou tetraédricos ou suas variantes).
As colapsações possíveis dos elementos hexaédricos são várias, como ilustrado nas Figuras 8.29.
Por exemplo, considerando o elemento hexaédrico trilinear, de 8 nós, observamos que:
3. Finalmente, se na pirâmide acima, adicionalmente mais um par de nós da base for colapsado,
por exemplo, os nós 2 e 3, obtém-se um tetraédro.
e1 e1 e1
ue1 (x; y)jr=+1 = u3 3 (r = +1; s) + u8 8 (r = +1; s) + u13 13 (r = +1; s);
e2 e2 e2
ue2 (x; y)jr= 1 = u3 3 (r = 1; s) + u8 8 (r = 1; s) + u13 13 (r = 1; s): (8.183)
Entretanto, e1 3 (r = +1; s) =
e2
3 (r = 1; s) e e1
8 (r = +1; s) =
e2
8 (r = 1; s), etc. Então, o
fato das funções em ambos os elementos serem de…nidas pelos mesmos valores nodais na interface é
su…ciente para garantir sua continuidade, isto é, ue1 (x; y)jr=+1 = ue2 (x; y)jr= 1 em qualquer ponto
(x; y) ao longo da curva C.
No arrazoado acima se nota que a continuidade depende apenas dos valores nodais dos nós
contidos na interface inter-elementar. Então, em qualquer situação, os nós internos dos elementos
8.8. Tipos de elementos e suas funções 227
13
e1 e2
C
8
e1 e2
Figura 8.30: Curva C entre dois elementos contíguos através dos nós 3, 8 e 13.
Lagrangeanos não possuem in‡uência na continuidade da base. Isso levou ao uso do chamado
processo de condensação estática para a eliminação desses nós da matriz elementar, antes da
sobreposição na matriz global. O procedimento é como segue.
Consideremos o sistema algébrico de equilíbrio do elemento, Ke Ue = Fe , com as colunas e linhas
particionadas de forma a separar os graus de liberdade dos nós externos e internos (designados pelos
índices e e i):
Keee Keei Kii 1 Keie Uee = Fee Keei Kii 1 Fei . (8.186)
| {z } | {z }
ke fe
Tem-se então um sistema reduzido ke Uee = f e , associado apenas aos nós externos do elemento. A
matriz e o vetor força podem ser sobrepostos no sistema global de equilíbrio da maneira usual.
Após a solução, no pós-processamento no elemento, os valores nodais Uee são usados em (8.185)
para obter os valores nos nós internos, o que permite identi…car a resposta nodal completa Ue em
todos os nós do elemento.
Essa família de funções de aproximação tem a característica ser de…nida em elementos que não pos-
suem nós internos às faces (no caso de elementos planos), e nem internos ao volume do elemento (no
caso de elementos hexaédricos). Todos os nós são distribuidos apenas nas arestas dos elementos. A
Figura 8.31 mostra os elementos planos biquadrático e bicúbico, e um elemento sólido triquadrático,
todos com funções serendipty.
As funções biquadráticas são de…nidas por:
228 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
3
s 4 3
4 7 11
r 19
6 20
8 15
8 2 7 10
12
1 5
1 9 14
y 16
s 9 3 2
17 18
x
4 10 8
5 13 6
11 r s
7
(a) 12 2 (b) t r
6
1 5
Figura 8.31: Elementos serendipty: (a) 2-D biquadrático (8 nós) e 2-D bicúbico (12 nós); (b)
triquadrático (20 nós) no domínio padrão (r; s; t).
1 1
1 (r; s) = (1 r)(1 s) 58 ; 5 (r; s) = (1 r2 )(1 s);
4 2
1 1
2 (r; s) = (1 + r)(1 s) 56 ; 6 (r; s) = (1 s2 )(1 + r);
4 2 (8.187)
1 1
3 (r; s) = (1 + r)(1 + s) 67 ; 7 (r; s) = (1 r2 )(1 + s);
4 2
1 1
4 (r; s) = (1 r)(1 + s) 78 ; 8 (r; s) = (1 s2 )(1 r);
4 2
onde pq = p + q =2.
O processo de gerar essas funções é descrito a seguir e, uma vez comprendido, pode ser utilizado
para gerar conjuntos de funções para elementos planos e hexaédricos de graus maiores. Como exem-
plo, considere-se a geração das funções biquadráticas. O procedimento consiste em, primeiramente,
partir das quatro funções bilineares, que são associadas aos nós 1 a 4, de vértices. Esses termos
aparecem como o primeiro termo à direita da igualdade nas funções 1 a 4 em (8.187). Entretanto,
o conjunto de funções deve satisfazer as condições (8.167): particularmente, cada função deve se
anular em todos os demais nós do elemento. No processo de construção de 1 , por exemplo, se
se parte das funções bilineares tem-se, em primeira aproximação, 1 = (1 r)(1 s)=4. Nota-se
que essa função é nula nas bordas que não contém o nó 1, isto é, nos nós 2, 3, 4, 6 e 7. Porém, essa
função não é nula nós das bordas que contém o nó 1, isto é, nos nós 5 e 8, a função vale 1/2. O
que se faz é corrigir a função, adicionando outra que seja quadrática, e seja nula em todos os nós,
exceto no nó 5, onde ela deve valer exatamente 1=2. Essa função é 5 =2. A Figura 8.32 mostra as
funções 1 , 5 e 8 . Com isso, a forma 1 = (1 r)(1 s)=4, corrigida com ( 5 + 8 )=2, satisfaz a
nulidade em todos os nós do elemento, exceto no nó 1, e é unitaria ali. Esse processo de geração é
seguido para as funções 2 a 4 , tomando as funções bilineares correspondentes e fazendo a correção
com as funções quaráticas associadas aos nós internos às bordas que contém o nó da função sendo
corrigida (nós 5 e 6 para corrigir 2 ; nós 6 e 7 para corrigir 3 , e nós 7 e 8 para corrigir 4 ).
O processo de gerar as funções internas às bordas, nos nós 5 a 8, é ilustrado na Figura 8.33
para 5 . Num domínio 1-D, 1 r 1, uma função quadrática que se anule nas extremidades
e seja unitária no centro, é simplesmente (1 r2 ) mostrado na …gura 8.33a. Na Figura 8.33b se
tem a extensão dessa função para o domínio padrão, de forma uniforme na direção s. Essa função
não é nula na borda s = 1. Considera-se, em seguida, a função linear 1-D no domínio 1 s 1,
8.8. Tipos de elementos e suas funções 229
4 7 3 4 7 3 4 7 3
s
s s 1
8 8
6 6 8 6
r r
1 r
1
1 5 2 1 5 2 1 5 2
(a) (b) (c)
(1 s), mostrada na Figura 8.33c, e sua extensão uniforme na direção r na Figura 8.33d. Para a
etapa …nal, observa-se que o produto das duas funções, (1 r2 ) e (1 s), nas direções r e s, gera a
função 5 , mostrada na Figura 8.32, que possui todas as propriedades necessárias. O processo de
geração das demais funções, nos nós 6 a 8, é análogo.
s
4 3
f
1 r
r = -1 r=0 r=1 s 1
1 5 2
(a) (b)
s
s
4 7 3
s=1
f
s=0 6 r
1 1
s = -1 1 5 2
(c) (d)
número de parâmetros para os deslocamentos. Por exemplo, um elemento triangular pode ter sua
geometria de…nida com apenas 3 nós, com lados retos, e ter seus deslocamentos modelados por 4
ou mais funções. É o caso subparamétrico.
Observação 3: Entretanto, essa família de elementos possui uma série de limitações, de “patolo-
gias”, as quais foram objeto de estudo massivo para gerar entendimento e procedimentos de “cura”.
No Capítulo 11 fazemos algumas indicações de diversas dessas patologias dos elementos serendipty.
Deve-se notar que a maioria dessas patologias são, ou eliminadas, ou grandemente aten-
uadas, com o uso de elementos lagrangeanos, preferencialmente de graus mais elevados
(acima de grau 3).
A Figura 8.34 mostra ilustra as posições dos pontos de amostragem de elementos triangulares,
quadrangulares e tetraédricos, lineares e quadráticos. Os círculos cheios são os nós e os vazados os
pontos amostrais. Nos elementos quadrangulares e hexaédricos os pontos amostrais são os pontos
de subintegração de Gauss-Legendre. Nos triângulos e no tetraédros lineares o ponto é no centróide,
e nos triângulos e tetraédros quadráticos os pontos são nos meios dos lados.
A meta das técnicas de recuperação é usar os valores de tensão mef nos pontos amostrais e
obter valores rp nos nós p da malha. Isso permite em seguida de…nir uma função para a tensão
reconstruida r (x) sobre toda a malha, usando as próprias funções de forma p (x) já usadas no
MEF:
N
X nos
r r
(x) = p (x) p , para x 2 . (8.188)
p
Normalmente essa função recuperada r (x) apresenta uma precisão surpreendentemente boa nas
situações práticas. Isso faz com que seja a base de uma técnica bastante usada para a estimativa
a posteriori do erro na solução do MEF, quando é usada em lugar da solução exata. Se a técnica
de recuperação for usada para obter uma representação do tipo (8.188) para cada componente de
tensão (ou do vetor ‡uxo, etc), se tem o tensor recuperado r (x) em cada ponto de um elemento
arbitrário e:
N
X nos
r r
(x) = 'p (x) p, para x 2 e. (8.189)
p
onde 'p é a função de forma elementar. Então o erro pode ser estimado no elemento por uma norma
de energia complementar
r
e = k mef (x) (x)kE( e)
;
sZ
= ( mef r )T C 1( r) d : (8.190)
mef
e
232 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
Aqui as componentes de tensão estão na forma de Voigt. mef (x) é o tensor obtido diretamente
dos resultados do modelo de MEF. A matriz C é constitutiva, mas outra estimativa pode ser obtida
usando C = I. No caso de uma variável vetorial como o gradiente de temperatura g = ru, a
estimativa do erro do elemento pode ser obtida pela norma L2 :
Uma vez obtida a estimativa do erro em cada elemento, o erro total no modelo é estimado simples-
mente como
X
2 2
= e. (8.192)
e
k
k
(a) (b)
Figura 8.35: Ilustração de nuvens associadas a um nó k (a) interior em malhas de triângulos lineares
e (b) em contorno de elementos quadráticos.
Consideramos aqui apenas três técnicas, duas de médias nodais e a chamada técnica de recu-
peração super convergente de Zienkiewicz-Zhu (técnica ZZ) [116][117]. Essas técnicas são baseadas
no conceito de nuvem (patch) de elementos. Por de…nição, uma nuvem de elementos associada a
um nó k de vértice da malha,é o subdomínio k formado por todos os elementos que possuem o nó
k como vértice. A Figura 8.35 ilustra nuvens associadas a um nó k no interior de uma malha de
triângulos lineares e um nó no contorno de uma malha de elementos quadráticos. Note que no caso
de elementos quadráticos existem pontos amostrais de ambos os lados de uma linha (ou superfície,
no caso 3D) interelementar.
Os pontos amostrais na nuvem k são indexados, e a lista de índices é organizada no conjunto
Ak .
Nek
r 1 X e
xk = Ae xMEF (xk ): (8.194)
Ak e
onde Ae e Ak são a área do elemento e e a área total da nuvem. No caso de elementos tridimensionais,
as áreas devem ser entendidas como volumes. Uma vez calculado o valor médio para todos os nós
do modelo, uma função recuperada rx (x) pode ser de…nida sobre usando (8.188).
1 X h i2
E(S) = x (xj ) p(xj )T S : (8.196)
2 kj2A
Se o número de termos na base p(x) for menor ou igual ao número de pontos amostrais na nuvem,
o mínimo é dado pela solução S do problema algébrico
AS = F , onde
X X
A = p(xj )p(xj )T e F= p(xj ) x (xj ). (8.197)
j2Ak j2Ak
r
x = p(xk )T S. (8.198)
O processo (8.195)-(8.198) é repetido para todos os nós da malha, gerando valores nodais recuperados
em todos os nós. Então, (8.188) permite a representação da tensão recuperada em todo o domínio.
8.10 Exercícios
8.1 Explique qual a diferença entre o conjunto Kin e Kinh .
8.3 Porque o produto interno de um tensor simétrico S por um anti-simétrico A é nulo (S : A = 0)?
8.4 Qual a parte simétrica do gradiente de deslocamento ru, e qual seu signi…cado físico?
8.5 Porque o PTV, apesar de envolver um “trabalho”, não é uma relação termodinâmica?
8.7 No Exemplo 8.1, identi…que as funções de aproximação dos elementos 2 e 3, de forma similar
ao que foi feito para os elementos 1 e 4 (eqs. (8.58) e (8.66)). (solução: para o elemento 2,
1 = 1 y, 2 = x=2 + y 1, 3 = 1 x=2. Para o elemento 3, 1 = 2 x=2 y 1,
2 = 1 + x=2, 3 = y.)
8.8 Usando as funções de aproximação obtidas no Exercício 8.7, determine as matrizes de rigidez
dos elementos 2, 3 e 4, e faça a sobreposição.
(a) Aplique as condições de contorno, identi…que o vetor de forças nodais e resolva o sistema
algébrico para os deslocamentos. Em seguida determine as tensões em cada elemento.
(b) Compare com a solução analítica de barra sob estado plano de tensões.
8.9 Determine a equação (9.21) do lado curvo do elemento triangular quadrático mostrado na
Figura 9.7.
8.12 Determine as 27 funções biquadráticas lagrangeanas, conforme a Figura 8.27b, a partir das
funções 1D quadráticas (8.166).
8.13 Mostre que J é constante e diagonal para elementos biquadráticos, se eles forem retangulares
com os nós internos centrados..
8.16 Considere um domínio plano e uma malha que cobre todo o domínio. Em seguida eliminamos
um dos elementos que se encontra completamente interno, isto é, cercado por outros elementos.
Então o elemento faltante gera um furo, quadrado, por exemplo. Numa situação de estado
plano de tensões, o que se espera do estado de tensões aproximado obtido na vizinhança
do furo? Como seria o estado de tensões exato nos cantos do furo? A solução aproximada
apresentará o mesmo comportamento da exata no canto?
(a) Considere uma linha reta arbitrária passando pela origem dos eixos que faz um ângulo
com o eixo x. Mostre que ao longo dessa reta a variação de cada função é não linear;
P
(b) Para uma função f (x) = 4j=1 j (x)fj , qual é a função ao longo da coordenada s medida
ao longo da reta?
8.18 Considere o elemento biquadrático da Figura 8.23 e as funções de forma dos nós 2, 3 e 6,
restringidas para r = +1. Quais as propriedades das funções obtidas? Qual a relação dessas
funções com as funções Lagrangeanas 1D?
8.10. Exercícios 235
8.19 Construa um conjunto de funções de forma para um elemento com função bolha, modi…cando
as funções bilineares do elemento bilinear para incluir uma função quadrática extra associada
a um quinto nó central. A função do nó central é (r2 1)(s2 1). As demais quatro funções
devem ser modi…cadas para manter as propriedades desejadas das funções de forma do MEF.
Com isso as cinco funções passam a ter monômios quadráticos.
236 Capítulo 8. Tecnologia de elementos …nitos - I
Capítulo 9
Fazendo o mapeamento para o domínio padrão, x = x(r), tem-se que dx = (dx=dr)dr, o que signi…ca
que dx=dr é o jacobiano da transformação, em sua forma unidimensional. Então a integral se torna
Z 1
dx
I= P (x(r)) Jdr, onde J= : (9.2)
r= 1 dr
Prova-se que essa integral pode ser resolvida exatamente através de um somatório que envolve
a avaliação da função numa quantidade …nita np de pontos dentro do domínio de integração, de-
nominados pontos de integração, de coordenadas intrínsecas rei ; i = 1; 2:::; np, com o uso de np
pesos de integração Wi , isto é, I pode ser precisamente calculado pelo somatório
np
X dx
I= P (x(e
ri )) Wi (9.3)
dr
i=1
A quantidade necessária de pontos, suas posições e os valores dos pesos de cada ponto, dependem
do grau p do polinômio P . A formulação é tal que uma regra de np pontos integra exatamente
um polinômio de grau
p+1
p = 2 np 1 i.e., np = (9.4)
2
Valores usuais são vistos na Tabela 9.1. Pontos adicionais podem ser obtidos em [59] e [114], por
exemplo. A formulação para gerar esses pontos é incorporada em bibliotecas computacionais como
a IMSL [52], que podem ser incorporados em compiladores Fortran, permitindo a programação para
uma quantidade arbitrariamente grande de pontos de integração.
Caso a função P não seja polinomial, ou se P for polinomial, porém for usado uma quanti-
dade insu…ciente de pontos, existe um erro de integração. Isto signi…ca que se P for um polinômio
de grau 5, por exemplo, e usarmos a regra de 2 pontos, de fato estaremos integrando apenas o
polinômio cúbico que passa pelos dois pontos de integração. Nesse caso estamos realizando uma
238 Capítulo 9. Tecnologia de elementos …nitos - II
subintegração ou integração reduzida. Isso é ilustrado na Figura 9.1, onde uma curva arbitrária
integrada no domínio [ 1; 1] usando um, dois e três ponto de integração. A área considerada na
integração aproximada é identi…cada pela região hachurada.
f f f
-1 0 1 r -1 0 1 r -1 0 1 r
(a) (b) (c)
Figura 9.1: Curva arbitrária integrada por (a) um ponto de integração, (b) dois pontos e (c) três
pontos. A região hachurada corresponde ao valor da integral aproximada.
ZZ 1 Z 1 Z 1
a b a
r s drds = r dr sb ds;
1 r= 1 s= 1
npr
! 0npss 1
npr X
nps
X X X
= reia Wi @ sebj Wj A = reia sebj Wi Wj ; e da mesma forma,
(9.5)
i=1 j=1 i=1 j=1
ZZZ 1 npr X
X nps X
npt
ra sb tc drdsdt = reia sebj e
tcl Wi Wj Wl . (9.6)
1 i=1 j=1 l=1
onde npr, nps, npt são os números de pontos de integração em cada direção. Cada uma dessas
quantidades é determinada pelo grau do monómio na direção correspondente, de acordo com a
mesma regra unidimensional mostrada em (9.4).
Se a integração de um polinômio P (x) é feita num dominio físico, com possivel distorção em
relação ao domínio padrão, tem-se a seguinte forma
9.1. Integração numérica 239
RR RR 1 P nps
npr P
P (x; y) dxdy = 1 P (r; s) jJ(r; s)j drds = ri ; sej ) jJ(e
P (e ri ; sej )j Wi Wj ;
i=1 j=1
RRR RRR 1
P (x; y; z) dxdydz = 1 P (r; s; t) jJ(r; s; t)j drdsdt; (9.7)
npr P
P npt
P nps
= ri ; sej ; e
P (e ri ; sej ; e
tl ) J(e tl ) W i W j W l
i=1 j=1 l=1
onde jJj é o determinante da matriz jacobiana. No caso unidimensional, jJj é apenas o dx=dr usado
em (9.2) e (9.3). Ele aparece para manter a unicidade do valor da área durante o mapeamento, isto
é, dxdy = jJ(r; s)j drds, como pode ser visto em matemática avançada ou mecânica do contínuo
(ver Malvern [67]). Um tratamento detalhado dos métodos de integração numérica para diversos
tipos de problemas pode ser visto em Golub [40], Davis e Rabinowitz [31].
Solução:
Em ambos os casos, a integral exata vale 1. Observe que P (x) é um polinômio, de grau 2,
enquanto f (x) não é um polinômio, de forma que se espera obter resultado exato pela integração
numérica no primeiro caso, e aproximada no segundo.
(a) Para realizar a integração numérica, o primeiro passo é avaliar a matriz jacobiana, que nesse
caso é um escalar. O mapeamento é linear, e vem de (8.151) com as funções (8.148):
dx 1 1
J(r) = = (x2 x1 ) = :
dr 2 2
O mapeamento da integral vem de (9.1):
Z Z " #
1 1 2
2 1+r 1
I= P (x(r))J(r)dr = + dr:
r= 1 r= 1 3 2 2
Agora I está no domínio padrão, e podemos fazer a integração numérica por (9.3). Precisamos
p
de np = 2ppontos de integração. Da Tabela 9.1, as coordenadas dos pontos são re1 = 1; 0= 3 e
re1 = 1; 0= 3 e os pesos de integração são W1 = 1; 0 e W2 = 1; 0, respectivamente. Então,
np
X dx
I = P (x(e
ri )) Wi
dr
i=1
" # " #
2 1 + re1 2 1 2 1 + re2 2
1
= + W1 + + W2 , isto é,
3 2 2 3 2 2
240 Capítulo 9. Tecnologia de elementos …nitos - II
2 3 2 3
p !2 p !2
2 1 + ( 1= 3) 5 1 2 1 + 1= 3 5 1
I = 4 + 1; 0 + 4 + 1; 0;
3 2 2 3 2 2
= 0; 3557 + 0; 6444 = 1; 0001
Note-se que o erro de 0,01 % obtido não se deve ao processo de integração, mas a erros de arredonda-
mento devido ao número de dígitos usados nas operações.
p
(b) A segunda função, f (x) = (3=2) x, não é polinomial, de forma que não será possível, us-
ando essa quadratura numérica, obter a solução analítica. Podemos tentar, como exemplo, usar a
mesma quadratura da outra função, com np = 2 pontos de integração, que é adequada a integrar
corretamente até polinômios cúbicos. Então,
np=2
X dx
I = f (x(e
ri ))
Wi
dr
i=1
" r # " r #
3 1 + re1 1 3 1 + re2 1
= W1 + W2 ;
2 2 2 2 2 2
2 s 3 2 s 3
p p
3 1 + ( 1= 3) 5 1 3 1 + (1= 3) 5 1
= 4 1; 0 + 4 1; 0;
2 2 2 2 2 2
= 0; 34477 + 0; 66605 = 1; 0108:
Nota-se que agora o erro é de 1,08%. Caso tivessemos usado a quadratura de 1 ponto de integração,
q h q i
r1 1 1+0 1
adequada a polinômos lineares, teriamos I = 3 1+e
2
2 W 1 = 2
3 2 2,0 = 0,4714.
2 2
s s
s = 0,577
r
r s = - 0,577
r = 0,577
(a) r = - 0,577 (b)
Figura 9.2: Posições dos pontos de integração no domínio físico, para as regras de Gauss 2 2e
3 3.
eT e
produto B B, tem-se polinômios de grau 2 para integrar. Usando (9.4), isso signi…ca que esses
elementos podem ser integrados exatamente com np = (2 + 1)=2 = 1; 5, isto é, 2 pontos de
integração em cada direção intrínseca. Então são usados 2 2 pontos para a integração exata.
Os elementos distorcidos não podem ser integrados exatamente usando a regra de Gauss.
Figura 9.3: Posições dos pontos de integração de triângulo nas regras de um e de três pontos.
Z Z np
1 1 t
1X
P (r; s; t) jJ(r; s; t)j dsdt = rj ; sej ; e
P (e rj ; sej ; e
tj ) J(e tj ) W j (9.9)
t=0 s=0 2
j=1
0 ,7 9 7 .4 2 6 .9 8 5 .3 5 3 .0 8 7 0 ,1 0 1 .2 8 6 .5 0 7 .3 2 3 .4 5 6 0 ,1 0 1 .2 8 6 .5 0 7 .3 2 3 .4 5 6 0 ,1 2 5 .9 3 9 .1 8 0 .5 4 4 .8 2 7
0 ,1 0 1 .2 8 6 .5 0 7 .3 2 3 .4 5 6 0 ,7 9 7 .4 2 6 .9 8 5 .3 5 3 .0 8 7 0 ,1 0 1 .2 8 6 .5 0 7 .3 2 3 .4 5 6 0 ,1 2 5 .9 3 9 .1 8 0 .5 4 4 .8 2 7
0 ,1 0 1 .2 8 6 .5 0 7 .3 2 3 .4 5 6 0 ,1 0 1 .2 8 6 .5 0 7 .3 2 3 .4 5 6 0 ,7 9 7 .4 2 6 .9 8 5 .3 5 3 .0 8 7 0 ,1 2 5 .9 3 9 .1 8 0 .5 4 4 .8 2 7
0 ,4 7 0 .1 4 2 .0 6 4 .1 0 5 .1 1 5 0 ,4 7 0 .1 4 2 .0 6 4 .1 0 5 .1 1 5 0 ,0 5 9 .7 1 5 .8 7 1 .7 8 9 .7 7 0 0 ,1 3 2 .3 9 4 .1 5 2 .7 8 8 .5 0 6
0 ,4 7 0 .1 4 2 .0 6 4 .1 0 5 .1 1 5 0 ,0 5 9 .7 1 5 .8 7 1 .7 8 9 .7 7 0 0 ,4 7 0 .1 4 2 .0 6 4 .1 0 5 .1 1 5 0 ,1 3 2 .3 9 4 .1 5 2 .7 8 8 .5 0 6
0 ,0 5 9 .7 1 5 .8 7 1 .7 8 9 .7 7 0 0 ,4 7 0 .1 4 2 .0 6 4 .1 0 5 .1 1 5 0 ,4 7 0 .1 4 2 .0 6 4 .1 0 5 .1 1 5 0 ,1 3 2 .3 9 4 .1 5 2 .7 8 8 .5 0 6
Observe que em cada regra a soma dos pesos é sempre unitária, de forma que a integração da
função P = 1 sobre um triângulo de lados retos, resulta no valor de sua área. Isso pode ser veri…cado
considerando que, num triângulo de lados retos, det J = 2A. Então, (9.9) …ca
Z Z np
1 1 t
1X
P (r; s; t)det J dsdr = 1 2A Wi = A. (9.11)
t=0 s=0 2
i=1
0,2
1 /3
0,6
3
r3 =
r1 =
r2 =
4
1
t4 = 0,6
1
t1 = 1/3
3
t2 = 0,2 = t3
2
1
s2 = 0,2 = s4 2 x
s1 = 1/3
s3 = 0,6
Figura 9.4: Elemento triangular linear regular do Exemplo 8.2 e posição dos pontos de integração
de 4 pontos em triângulo.
2 3 2 3
x1 y1 0 0
=[ 1; 2; 3] = [1 s t; s; t] e 4
X = x2 y2 5 4
= 2 0 5
(9.12)
x3 y3 0 1
Logo, X = (x; y) = (2s; t).
Então, f (x(s; t); y(s; t)) = x(s; t)y(s; t)2 = 2st2 . Esse é então um polinômio de grau p = 3. A matriz
jacobiana vem de (8.133)
2 3
@x @y
J=4
6 @s @s 7 = 2 0 =) det J = 2
@x @y 5 0 1
@t @t
A integração da função é feita como em (9.9), usando a regra de np = 4 pontos da Tabela 9.3:
Z Z np
1 1 t
1X
I = P (r; s; t) jJ(r; s; t)j dsdt = ri ; sej ; e
P (e rj ; sej ; e
tj ) J(e tj ) W j
t=0 s=0 2
j=1
4
1 X
= j2j sj e
2e t2j Wj
2
j=1
" #
2 1 3 27 25 25 25
= 2 +2 0; 2 0; 22 +2 0; 6 0; 22 +2 0; 2 0; 62
2 3 48 48 48 48
= 0; 066:666:666:7 = 1=15:
Para realizar uma veri…cação do erro, pode-se obter a integração analítica da função:
Z Z Z Z !
2 1 x=2 2 1 x=2
2
I = f (x; y) dydx = xy dx dy;
x=0 y=0 x=0 y=0
Z 2
x x 2 1
= 1 dy = :
x=0 3 2 15
Como esperado, a integração numérica forneceu o valor exato, uma vez que a função é polinomial
9.1. Integração numérica 245
(a) Determinar a matriz jacobiana e o seu determinante para um elemento quadrangular bilinear
arbitrário, como na Figura 9.5a. (b) particularize os resultados para o caso do elemento retangular
da Figura 9.5b. (c) Considere o elemento distorcido como na Figura 9.5c, em que os lados 1-2 e 1-4
são perpendiculares e de comprimentos iguais, e o nó 3 encontra-se sobre linha y = x. Nesse caso,
identi…que o valor de y3 que torna o jacobiano singular.
Solução:
(a) As derivadas das quatro funções de aproximação bilineares são obtidas diferenciando (8.161),
e podem ser organizados na matriz gradiente
1 (x2 x1 ) 0 A
J= e detJ = (9.15)
2 0 (y3 y1 ) 4
onde A = (x2 x1 )(y3 y2 ) é a área do elemento. Prova-se que os resultados (9.14) e (9.15)
são válidos mesmo que o elemento seja de ordem superior (biquadrático, por exemplo),
desde que os lados sejam retos, para o primeiro caso, e ortogonais, no segundo caso,
e que os nós estejam em suas posições naturais, isto é, igualmente espaçados em cada
lado e cada façe do elemento.
1 x2 (1 s) + x3 (1 + s) (x3 x2 )(1 + s)
J = ; (9.16)
4 (x3 x2 )(1 + r) x2 (1 r) + x3 (1 + r)
x2
detJ = [2x3 + (r + s)(x3 x2 )] :
8
O determinante é nulo ao longo da linha reta
2x3 2
(r + s) = = x2 : (9.17)
(x2 x3 ) 1
x3
Existe uma singularidade em x2 = x3 , quando o elemento é quadrado, pois nesse caso detJ 6= 0 em
todo o elemento. Os valores de (r + s) são positivos se x2 > x3 e negativos do contrario.
y y y
y3 3 y4 4 3
y4 4 s y4 = x 2
y2 r 2 y3 = x 3 3
r
y1 y1
1 1 2
y1 = 0
x1 x4 x3 x2 x x1 x2 x x1 = 0 x 3 x2 x
(a) (b) (c)
1. Se x2 > x3 > x2 =2, o nó 3 encontra-se acima da linha diagonal entre os nós 1 e 4 e o elemento
tem a con…guração mostrada na Figura 9.5c. Nesse caso, (r + s) > 2. Porém, os pontos
internos ao elemento são de…nidos por 1 r; s 1, de forma que (r + s) 2 em qualquer
ponto do elemento. Como consequência, não há nenhum ponto do elemento com detJ = 0
para o tipo de distorção da Figura 9.5c.
Observando todos esses casos, nota-se que o caso 2, em que x3 = x2 =2, tal que o nó 3 encontra-
se sobre a linha diagonal, é a situação em que primeiro o elemento apresenta ponto de jacobiano
singular, nesse caso apenas um ponto. Caso a distorção seja acentuada para o caso 3, passa a
existir toda uma linha de pontos singulares. Deve-se notar que sobre os pontos singulares a matriz
9.1. Integração numérica 247
jacobiana não pode ser invertida, logo, não é possível obter o gradiente das funções de aproximação
em relação a (x; y). Com isso, não se pode obter diretamente deformações ou tensões nesses pontos.
Caso a quadratura de integração possua algum ponto que coincida com essas regiões singulares, a
matriz de deformações B do elemento não poderá ser formada e o integrando da rigidez também não
poderá ser formado. Como recomendação geral, considera-se que sejam evitadas malhas
em que existam elementos com distorções dos tipos mostrados na Figura 9.6.
y y y
4 4 4
1
1
3 1
1
3
3
1 2 x 1 2 x 1 2 x
4 3 ( r + = 2) 4
2x
( r + ) = x 3x
2- 3
s=0 s = 1/2 s = 1
t=1
t = 1/2
t=0
r=1
(a) (b) ©
Figura 9.7: Distorção gerada pelo posicionamento do nó 5 num elemento triangular quadrático. A
numeração intrínseca dos nós é colocada em círculos.
Solução:
248 Capítulo 9. Tecnologia de elementos …nitos - II
(a) Para o elemento na con…guração mostrada na Figura 9.7a, primeiramente deve-se observar
que a numeração dos nós mostrada é global. Deve-se fazer a associação com a numeração intrínseca
utilizada nas funções de aproximação. Os dados de conectividade e de coordenadas são os seguinte:
Nó global Nó local x y
1 1 0 0
3 2 2 0
6 3 0 2
2 4 1 0
5 5 1 b
4 6 0 1
O mapeamento é dado por (8.127). Para automatizar os cálculos, de…nem-se as matrizes com
as funções de aproximação e com as coordenadas nodais:
8 9 8 9 2 3 2 3
>
> 1 >
> >
> r(2r 1) >
> x1 y1 0 0
>
> >
> >
> s(2s 1) >
> 6 x2 y2 7 6 2 0 7
>
> 2 >
> >
> >
> 6 7 6 7
< = < = 6 7 6 7
t(2t 1) x3 y3 0 2
T
= 3
= e X=6
6
7=6
7 6
7:
7
>
> 4 >
> > > 4rs >
> 6 x4 y4 7 6 1 0 7
>
> >
> >
> >
> 4 5 4 5
>
> >
> > 4st > x5 y5 1 b
: 5 ; > : >
;
6 4rt x6 y6 0 1
Então o mapeamento é dado por
x 2s
= XT T
= : (9.18)
y 2t [1 + 2s(b 1)]
onde também foi incorporada a relação r = 1 s t. A matriz jacobiana e seu determinante vem
de (8.133)
2 3
@x @y
6 @s @s 7 2 4t(b 1)
J=6
4 @x
7= ; det J = 4 [1 + 2s(b 1)] . (9.19)
@y 5 0 2 + 4s(b 1)
@t @t
(b) Para determinar a área do elemento usamos a integração numérica de uma função unitária,
como em (8.138) e (9.9)
Z Z Z np
e 1 1 t
1X
A= 1d = 1 det J dsdt = rj ; sej ; e
1 J(e tj ) W j :
t=0 s=0 2
j=1
Como o determinante do jacobiano é de grau p = 1, a Tabela 9.3 indica que é necessário apenas
np = 1 ponto de integração, que é localizado na origem do sistema intrínseco de coordenadas. Então
tem-se
1
e 1X 1 1 2 e
A= det Jj( 1 ; 1 ; 1 ) Wj = 4 1 + 2 (b 1) 1 = (1 + 2b) = A (9.20)
2 3 3 3 2 3 3
j=1
Essa solução pode ser facilmente veri…cada obtendo o valor analítico da área. Para isso, observa-se
que a equação da curva entre os nós globais 3-5-6 é 1
(c) Caso b = 0; 5, observa-se, de (9.19), que det J = 4(1 s). Então, det J se anula em s = 1.
De (9.18), nota-se que esse ponto corresponde ao nó global 3, com x = 2. A derivada de (9.21) é
dy=dx = 2(1 b)x + (2b 3). Em b = 0; 5 e x = 2 essa derivada é nula. Isso signi…ca que se a
posição do nó 5 do elemento for tal que b = 0; 5, ocorre um cúspide no nó 3. Essa con…guração é
mostrada na Figura 9.7b.
(d) Caso em que 0; 5 < b < 0; 5, tem-se que a linha 3-5-6 intercepta a linha 1-2-3 do elemento. A
Figura 9.7c ilustra essa situação para o caso particular b = 0; 5. Nesse caso, (9.20) mostra que a
área do elemento torna-se nula. Nessa con…guração, de (9.19), tem-se que det J = 4(1 3s). Então,
det J = 0 nos pontos s = 1=3. Esses pontos formam uma linha sobre o elemento, que pode ser
identi…cada no mapeamento (9.18). Fazendo as simpli…cações obtém-se x = 2=3 e y = 0. De fato, a
“linha” reduz-se a um único ponto, que é aquele em que a linha 3-5-6 intercepta o lado horizontal
do elemento, como na Figura 9.7c.
No geral, as malhas utilizadas devem evitar elementos excessivamente distorcidos ou com cúspi-
des. A con…guração mostrada na Figura 9.24b representa um limite de distorção, embora, mesmo
em valores inferiores a esses outros fenômenos indesejaveis possam ocorrer. De forma geral,
a distorção nos elementos reduz a precisão dos resultados no Método de Elementos
Finitos.
r = +1, a face 2 por s = +1, a face 3 por r = 1 e a face 4 por s = 1. Para simpli…car a
exposição, o texto se concentrará numa única situação, em que a borda 1 do elemento é a que
faz parte do contorno do modelo, onde uma carga distribuída é aplicada. Os demais casos podem
facilmente ser obtidos a partir do entendimento desse caso. Assim, nas Figura 9.8a, (b) e c) se
tem a ilustração dos dois tipos mais comuns de representação desse carregamento, que é em suas
componentes cartesianas tx e ty , ou na forma da carga distribuída normal f . Como nos restringimos
à borda 1, tem-se que tx = tx (s), ty = ty (s) e t = t(s), e a borda é limiada pelos nós intrínsecos 2 e
3. Outros nós podem haver internamente a essa borda, dependendo do grau do elemento.
Consideremos um ponto arbitrário na borda 1, de coordenadas x, como na Figura 9.9, e os
vetores tangente vs (x) e normal n(x). O mapeamento de x na borda é o usual, dado em (8.187),
obtido através das funções de aproximação de área, porém restringidas a r = +1:
Nne
X Nne
X
x= i (r; s)jr=+1 xi ; e y= i (r; s)jr=+1 yi (9.22)
i=1 i=1
Isso signi…ca que, de fato, x = x(s) e y = y(s). Da teoria de geometria diferencial tem-se que vs e
n são dados por
@x @x @y vs k
vs (x) = ds = i+ j ds e n(x) = (9.23)
@s r=+1 @s @s r=+1 kvs kk
onde i, j e k são os vetores unitários cartesianos globais. Um elemento diferencial de arco d é tal
que d t = vs (x), onde t o vetor unitário tangente, dado por t = vs = kvs k. Logo,
@x
d = ds. (9.24)
@s r=+1
Por de…nição, o determinante da matriz jacobiana é
@x q
det J = = x2;s + y;s
2. (9.25)
@s r=+1
Esse determinante é a relação entre os comprimentos do arco físico d e do arco intrínseco ds. As
derivadas de x e y são obtidas do mapeamento (9.22).
De…ne-se o vetor normal n da seguinte forma
n
vs k = n ds, tal que n(x) = : (9.26)
knk
Efetuando explicitamente a operação n = vs k=ds, chega-se facilmente a
@y @x n
n= i j, o que resulta em n(x) = : (9.27)
@s @s det J
Z eT
Z eT
Z 1 eT
e nx
F = N td = pN n d = pN det J ds;
s= 1 ny
Z 1 eT nx
! Fe = pN ds (9.29)
s= 1 ny
A Figura 9.10 mostra as componentes do vetor força nodal equivalente nos nós 2 e 3 da borda de
um elemento biquadrático.
N
X ne N
X ne N
X ne
x= i (r; s; t)js=+1 xi ; y= i (r; s; t)js=+1 yi e z= i (r; s; t)js=+1 zi : (9.30)
i=1 i=1 i=1
Isso signi…ca que, de fato, x = x(r; t) e y = y(r; t). Da teoria de geometria diferencial tem-se que
vr (x), vt (x) e n são dados por
@x @x @y @z @x @x @y @z
vr (x) = dr = i+ j+ k dr, vt (x) = dt = i+ j+ k dt;
(9.31)
@r @r @r @r @t @t @t @t
vt vr
n(x) = ;
kvt vr k
d = vt vr , (9.32)
onde i, j e k são os vetores unitários cartesianos. Observando-se a expressão da matriz jacobiana
3D em (8.174), tem-se que os vetores tangente podem ser representados por
vr (x) = (J11 i + J12 j + J13 k) dr, e vt (x) = (J31 i + J32 j + J33 k) dt. (9.33)
As derivadas de x e y para o cálculo da matriz jacobiana são obtidas do mapeamento (9.30).
Efetuando o produto vetorial para n obtém-se
252 Capítulo 9. Tecnologia de elementos …nitos - II
n vt vr
n(x) = , onde n = , isto é,
knk drdt
nx = (J32 J13 J33 J12 ) , ny = (J11 J33 J31 J13 ) , nz = (J31 J12 J32 J11 ) . (9.34)
Pode-se mostrar que knk é a relação entre o valor da área física d e da área intrínseca drdt:
1
= 0;
1 2 = (1 s);
2 (9.38)
1
3 = (1 + s); 4 = 0:
2
Como esperado, o mapeamento na borda 1 é de…nido apenas pelas funções dos nós 2 e 3. Então o
mapeamento (9.22) …ca
9.2. Vetores força nodal consistente 253
Contorno ty
Borda 2 t n
tx
4 3 s s 3
3 4s 4 r
4 r
Borda 1
r
2
1 2
1 2 y y 1 y 1
Borda 4
(a) x (b) x (c) x (d)
Figura 9.8: (a) Indicação das quatro bordas de um elemento quadrilateral; (b) indicação de carga
distribuida na direção x na borda 1, (c) na direção y, (d) e carga distribuida normal.
3
vs
n
6
5 dΓ
4
2
7
Contorno
Figura 9.9: Vetor tangente vs (x) e normal unitário n(x) num ponto arbitrário na borda 1 de um
elemento.
8
( > 1 1
x= < x = (1 s)x2 + (1 + s)x3 ,
2 x2 + 3 x3 , 2 2
! (9.39)
y= 2 y2 + 3 y3 , > 1
: y = (1 1
s)y2 + (1 + s)y3 .
2 2
As derivadas são
@x 1 @y 1
= (x3 x2 ); e = (y3 y2 ). (9.40)
@s 2 @s 2
q
Com isso o jacobiano da transformação em (9.25) …ca det J = x2;s + y;s
2 = L=2, onde L é o
y;s 1 y3 y2
n= = : (9.41)
x;s 2 (x3 x2 )
O vetor força nodal do elemento bilinear sob carga normal uniforme na borda 2 é obtido aplicando
(9.29). Nota-se que o vetor Fe tem termos associados a todos os 4 nós do elemento. Entretanto,
254 Capítulo 9. Tecnologia de elementos …nitos - II
borda 2 F 3
borda 2
4 7 3 4 3
F3
borda 1
borda 3
s borda 3 s borda 1
8 6
9 r 9 r
F 2
borda 4 2 p = cte 2 F 2
1 5 1 borda 4
(a)
(a) (b)
Figura 9.10: (a) Elemento plano biquadrático com carga distribuida normal à borda 1, e (b) El-
emento plano bilinear com componentes do vetor força nodal equivalente nos nós 2 e 3 da borda
1.
4
n
s Face 6 20
4 3 11
Γ
Face 1 23 3
8
19
vt 15 r
7 r
8 1 2
7
Face 4 y r
t
5 6
(a) t Face 3 Face 5 z x (b)
Figura 9.11: (a) numeração das faces de um elemento hexaédrico; (b) carga distribuída t num ponto
de coordenada x da face 6 e as componentes cartesianas do vetor normal. Também vetores tangentes
vr e vt.
para o presente carregamento aplicado na borda 1, os termos de Fe associados aos nós 1 e 4 são
nulos. Assim, indicamos abaixo apenas os termos associados aos nós 2 e 3, que são mostrado na
Figura 9.10b:
8 9e
>
> Fx2 >
>
< = Z 1 eT
e Fy2 nx
F = = pN ds
>
> F >
> ny
: x3 ; s= 1
Fy3
2 1 3
(1 s) 0
6 2 7
Z 6 1 7
1 6 0 (1 s) 71
6 2 7 y3 y2
= p6 1 7 ds (9.42)
s= 1 6 (1 + s) 0 72 (x3 x2 )
6 7
4 2 5
1
0 (1 + s)
2
8 9e 8 9
>
> Fx2 >
> > y3 y2
> >
>
< = p < (x3 x2 ) =
F y2
Fe = = .
> y3
> F >
> 2>> y3 y2 >
>
: ; : ;
Fy3 (x3 x2 )
No caso particular em que a borda 1 seja perpendicular ao eixo x, tem-se x3 = x2 e y3 y2 = L.
Assim,
8 9e 8 9
>
> Fx2 >
> >
> 1 >
>
< = pL < 0 =
Fy2
Fe = = (9.43)
>
> F >
> 2 >
> 1 >
>
: y3 ; : ;
Fy3 0
Esse resultado é mostrado na Figura 9.12b. Nota-se que a força resultante da carga normal é
igualmente dividida entre os dois nós. No próximo exemplo, se verá que isso não é uma regra, mas
uma excessão, quando se considera elementos de maior ordem.
p
4 7 3 4 3 F3 = L 4 7 3 F 3 = pL
2 6
s s s
8 6 n= i
8
6 F 6 = 4 pL
9 r 9 r 6
r
p
F2 = L
2 2 F 2 = pL
1 5 2 5 2 6
1
(a) ( b) (c)
Figura 9.12: (a) Carga distribuida normal a uma borda perpendicular ao eixo x; (b) força nodais
equivalentes no elemento bilinear; (c) e biquadrático, sendo (b) e (c) para o caso em que a borda 1
seja perpendicular ao eixo x.
Consideramos o elemento biquadrático mostrado na Figura 9.12a, em que a borda 1 está sujeita
a uma carga distribuida normal p. Tomamos as funções biquadráticas (8.162) associadas aos nós 2,
6 e 3 da borda 1 e as restringimos a r = +1:
1 1
2 (s)
= s(s 1); 6 (s) = (1 s2 ); 3 (s) = s(s + 1): (9.44)
2 2
Comparando com (8.147), observa-se facilmente que essas são as mesmas funções lagrangeanas
quadráticas 1-D. O mapeamento (9.22) …ca
8
> 1 1
x=
< x = s(s 1)x2 + s(s + 1)x3 + (1 s2 )x6 ,
2 x2 + 3 x3 + 6 x6 , 2 2
! (9.45)
y= 2 y2 + 3 y3 + 6 y6 , > 1
: y = s(s 1
1)y2 + s(s + 1)y3 + (1 s2 )y6 ,
2 2
e as derivadas são
@x 1 @y 1
= [(1 + 2s)(x3 x2 ) 4sx6 ] ; e
= [(1 + 2s)(y3 y2 ) 4sy6 ] . (9.46)
@s 2 @s 2
q
Com isso o jacobiano da transformação em (9.25) …ca det J = x2;s + y;s
2 . As componentes do vetor
normal n são
256 Capítulo 9. Tecnologia de elementos …nitos - II
@x 1 @y 1
= (x3 x2 ); e = (y3 y2 );
@s 2 @s 2
e o vetor normal, claramente, é constante na borda. Além disso, det J = L=2, onde L é o compri-
mento da borda 2 do elemento, entre os nós 2 e 3.
O vetor força nodal do elemento biquadrático sob carga normal na borda 1 é obtido
aplicando (9.29). Nota-se que o vetor Fe tem termos associados a todos os 9 nós do elemento.
Entretanto, para o presente carregamento aplicado na borda 1, os termos de Fe são todos nulos
exceto aqueles associados aos nós 2, 3 e 6 Assim, indicamos abaixo apenas os termos associados a
esses nós:
8 9e
>
> Fx2 >
>
>
> F >
>
>
> y2 >
> Z
< = 1 eT
Fy3 nx
Fe = = pN ds
>
> Fy3 >
> s= 1 ny
>
> >
>
>
> F >
>
: y6 ;
Fy6
2 1 3
s(s 1) 0
6 2 7
6 1 7
6 0 s(s 1) 7
Z 6 2 7
1 6 1 7
6 7 y;s
= p 6 s(s + 1) 0 7 ds (9.48)
s= 1 6 2 7 x;s
6 1 7
6 0 s(s + 1) 7
6 2 7
4 (1 s2 ) 0 5
0 (1 s2 )
Esse ainda é um caso geral, para borda curva, com a carga normal variável. Como as funções são
quadráticas ao longo da borda, o caso mais geral de variação da carga é quadrático. Normalmente,
a carga é identi…cada pelos seus valores nodais p2 , p3 e p6 , o que permite a aproximação
p(s) = 2 p2 + 3 p3 + 6 p6 : (9.49)
Com isso, alguns casos notaveis podem ser integrados analiticamente, como listados a seguir.
2. Caso a borda seja reta, com o nó 6 centrado e a carga normal seja quadrático:
8 9e 2 3
>
> Fx2 >
> y32 (4p2 p3 + 2p6 )
>
> Fy2 >
> 6 x32 (4p2 p3 + 2p6 ) 7
>
> >
> 6 7
< = 1 6 y32 [p2 2(2p3 + p6 )] 7
6
e Fx3 7.
F = = (9.51)
>
> Fy3 >
> 30 6
6 x32 [p2 2(2p3 + p6 )] 7 7
>
> Fx6 > > 4 2y32 (p2 + p3 + 8p6 ) 5
>
> >
>
: ;
Fy6 2x32 (p2 + p3 + 8p6 )
4. Caso a borda seja reta e perpendicular ao eixo x, com o nó 6 centrado, sob carga
uniforme p:
8 9e 8 9
>
> F x2 >
> >
> 1 >
>
>
> F >
> >
> 0 >
>
>
> y2 >
> >
> >
>
< = pL < =
e F x3 1
F = = (9.53)
> Fy3 >
> > 6 >
> 0 >
>
>
> >
> >
> >
>
>
> F x6 >
> >
> 4 >
>
: ; : ;
Fy6 0
(L = y32 é o comprimento da borda 1.) Esse resultado é mostrado na Figura 9.12c. Nota-se
que a força resultante da carga normal não é igualmente dividida entre os três nós.
a R/4 R/4
4 3 4 3
b b
n=j r R/4 r
R/4
8 7 8 7
(a) y (b)
z x
t t
Figura 9.13: (a) Face 6 de um elemento hexaédrico trilinear. Face retangular perpendicular ao eixo
y. (b) Forças nodais equivalentes para o elemento trilinear. R = pA6 é a força resultante sobre a
face 6 do elemento e A6 é sua área.
Consideramos o elemento hexaédrico trilinear mostrado na Figura 9.13a, em que a face 6 está su-
jeita a uma carga distribuida normal uniforme p. Tomamos as funções trilineares (8.165) associadas
aos nós 3, 4, 8 e 7 da face 6 e as restringimos a s = +1:
258 Capítulo 9. Tecnologia de elementos …nitos - II
1 1
3 = (1 + r)(1 t); 8 = (1 r)(1 + t);
4 4 (9.54)
1 1
4 = (1 r)(1 t); 7 = (1 + r)(1 + t);
4 4
Essas funções são dependentes apenas de (r; t). Comparando com (8.162), observa-se facilmente
que essas são as mesmas funções lagrangeanas biquadráticas 2-D. O mapeamento (8.168) …ca
Nne
X Nne
X Nne
X
x= i (r; s; t)js=1 xi ; y= i (r; s; t)js=1 yi e z= i (r; s; t)js=1 zi : (9.55)
i=1 i=1 i=1
Embora o somatório esteja sobre as Nne = 27 funções, apenas aquelas associadas aos nós da face 6
são não nulas. A matriz jacobiana é obtida conforme (8.174), aplicado a s = 1. Caso a superfície
seja perpendicular ao eixo y, tem-se que y = const., e y;r = y;t = 0:
2 3 2 3
@x @y @z @x @z
6 7 6 0 7
6 @r @r @r 7 6 @r @r 7
6 @x @y @z 7 6 @x @y @z 7
J=6 7=6 7. (9.56)
6 @s @s @s 7 6 @s @s @s 7
4 @x @y @z 5 4 @x @z 5
0
@t @t @t @t @t
As componentes do vetor normal n são obtidas de (9.30):
8 9 8 9
< nx = < 0 =
n= ny = J11 J33 J31 J13 : (9.57)
: ; : ;
nz 0
O vetor força nodal do elemento trilinear sob carga normal uniforme na face 6 é
obtido aplicando (9.37). Nota-se que o vetor Fe tem termos associados a todos os 8 nós do elemento.
Entretanto, para o presente carregamento aplicado na face 6, os termos de Fe são todos nulos exceto
aqueles associados aos nós dessa face. Assim, indicamos abaixo apenas os termos associados a esses
nós:
8 9
Z 1 Z 1< nx = eT
Fe = pN ny drdt;
t= 1 r= 1 : ;
nz
8 9e 2 3
>
> F x3 >
> 3 0
>
> >
>
> Fy3 >>
>
6 0
6 3
7
7
>
> >
> 6 0 7
>
> Fz3 >> 6 0 7
>
> >
> 6 7
>
> F x4 >
> 6 4 0 7
>
> >
> 6 0 78
>
> F >
y4 > 6 7 9
>
< >
= Z 1 Z 1 6 4
7< 0 =
Fz4 6 0 0 7
= =p 6 7 J11 J33 J31 J13 drdt (9.58)
>
> F >
x7 > t= 1 r= 1 6 0 7: ;
>
> > 6 7 7 0
> Fy7 >
> >
> 6 0 7 7
>
> >
> 6 7
>
> F z7 >
> 6 0 0 7
>
> >
> 6 7
>
> F x8 >
> 6 8 0 7
> F >
> > 6 7
>
> >
y8 > 4 0 5
>
: F ; > 8
z8 0 0
8 9e 3 2
>
> Fy3 >
> 1
< = pA6 6 7
Fy4 6 1 7;
Fe = = (9.59)
> Fy7
> >
> 4 4 1 5
: ;
Fy8 1
onde A6 = ab é a área da face 6 do elemento. Esse resultado é mostrado na Figura 9.13b. Nota-se que
o elemento tri-linear é o caso único em que a força resultante da carga normal é igualmente
dividida entre os quatro nós da face. Esse resultado é válido apenas no presente caso em que
a face do elemento seja retangular, sob carga normal unifome.
a
A C B A E
b D D
b 4 11 3
B B E E
20 23
n= j r A B A
D E D
8 7
15
y
t
(a) (b) ( c)
z x
Figura 9.14: (a) Elemento hexaédrico triquadrático lagrangeano, com a face 6 retangular e perpen-
dicular ao eixo y. (b) Forças nodais equivalentes no elemento lagrangeano. A = pA6 =36, B = 4A,
C = 16A, onde A6 é a área da face 6 do elemento. (c) Forças nodais no elemento serendipty.
D = pA6 =12, E = 4D.
1 1
4 (r; t) = tr(t 1)(r 1); 20 (r; t) = r(1 t2 )(r 1);
4 2
1 1
8 (r; t) = tr(t + 1)(r 1); 15 (r; t) = t(t + 1)(1 r2 );
4 2
1 1 (9.60)
7 (r; t) = tr(t + 1)(r + 1); 19 (r; t) = r(1 t2 )(r + 1);
4 2
1 1
3 (r; t) = tr(t 1)(r + 1); 11 (r; t) = t(t 1)(1 r2 );
4 2
23 (r; t) = (1 t2 )(1 r2 ):
As etapas da dedução são as mesmas do elemento trilinear, de forma que são descritas aqui
apenas de forma abreviada. Como a superfície é considerada perpendicular ao eixo y, tem-se que
y = const., e y;r = y;t = 0, e se tem que as componentes do vetor normal n, obtidas de (9.30), são
8 9 8 9
< nx = < 0 =
n= ny = J11 J33 J31 J13 : (9.61)
: ; : ;
nz 0
O vetor força nodal Fe do elemento triquadrático sob carga normal uniforme na face
6 é obtido aplicando (9.37). Nota-se que o vetor Fe tem termos associados a todos os 27 nós do
elemento, nas direções x, y e z. Entretanto, para o presente caso em que a face 6 é perpendicular ao
260 Capítulo 9. Tecnologia de elementos …nitos - II
eixo y e o carregamento é aplicado na face 6, normal e uniforme, os termos de Fe são todos nulos
exceto aqueles associados aos nós dessa face, e orientados em y. Assim, indicamos abaixo apenas
os termos não nulos:
8 9e 8 9
> Fy3 > > 3 >
>
> >
> >
> >
>
>
> Fy4 >
> >
> >
>
>
> >
> >
>
4 >
>
>
> Fy7 >
> >
> >
>
>
> >
> >
> 7 >
>
>
< Fy8 >
= Z 1 Z 1
>
< 8
>
=
Fe = Fy11 =p 11 (J11 J33 J31 J13 ) drdt (9.62)
>
> >
> t= 1 r= 1 >
> >
>
>
> Fy15 >
> >
> 15 >
>
>
> >
> >
> >
>
>
> Fy19 >
> >
> 19 >
>
>
> >
> >
> >
>
>
> Fy20 >
> >
> 20 >
>
: ; : ;
Fy23 23
τmax
y F
x 2b
0
z M
L F 2a
u=v=0
w (0; 0; 0) = 0
8 9 8 9
> Fy3 > > 1 >
>
> >
> >
> >
>
>
> Fy4 >
> >
> 1 >
>
>
> >
> >
> >
>
>
> Fy7 >
> >
> 1 >
>
>
> >
> >
> >
>
>
< Fy8 >
= > 1 >
pA6 < =
Fe = Fy11 = 4 ; (9.63)
>
> >
> 36 >
> >
>
>
> Fy15 >
> >
> 4 >
>
>
> >
> >
> >
>
>
> Fy19 >
> >
> 4 >
>
>
> >
> >
> >
>
>
> Fy20 >
> >
> 4 >
>
: ; : ;
Fy23 16
onde A6 = ab é a área da face 6 do elemento. Esse resultado é mostrado na Figura 9.14b. Nota-se que
o elemento tri-linear é o caso único em que a força resultante da carga normal é igualmente
dividida entre os quatro nós da face. Caso o elemento seja isoparamétrico, com as funções
triquadráticas de serendipy (20 nós), na face 6 não há o nó central 23. Assim, os valores nodais
devem ser recalculados, gerando aqueles ilustrados na Figura 9.14c. Esses resultados são válidos
apenas no presente caso em que a face do elemento seja retangular, sob carga normal unifome.
9.3. Exemplos e comentários sobre modelagem 261
Solução:
O problema de torção de barras retas com seção transvesal uniforme, não circular, tem solução
em séries dada por St.-Venand em 1853, e sua solução é descrita sucintamente em Timoshenko [101].
A solução é dada a partir da função de empenamento (x; y) para um valor arbitrário do ângulo
de torçao por unidade de comprimento . O campo de deslocamentos na barra é dado por:
onde z é a coordenada na direção axial da barra e x e y são contidos no plano de sua seção
transversal. Uma vez que é considerada, por hipótese, constante na barra inteira, (x; y) de…ne
o deslocamento de um ponto arbitrário (x; y) da seção na direção axial. Esse deslocamento é nulo
apenas no caso de seção circular. A função de empenamento é a solução da equação r2 = 0. A
tensão máxima ocorre no centro do lado mais largo da seção. Caso b > a o máximo ocorre nas
coordenadas (x; y) = ( a; 0), e é dado por
1
X
16G a 1
max = xz (0; a) = 2G a 2
: (9.65)
n b
n=1;3;5; n2 cosh
2a
A tensão cisalhante é nula no centro da seção e nos vértices (x; y) = ( a; b). O ângulo de
torção se relaciona ao momento por
2 3
X1
1 193a 1 n b
Mt = G (2a)3 (2b) 41 5b
tanh 5: (9.66)
3 n5 2a
n=1;3;5;
Mt k1
max = , onde k2 = (9.68)
k2 G (2a)3 (2b) k
Modelo de MEF
Para simular essa solução, o modelo de elementos …nitos deve ter o engaste aplicado conforme
(9.64). Isso foi feito impondo na seção z = 0 as condições: u(x; y; 0) = v(x; y; 0) = 0, e w(0; 0; 0)
= w(0; 0; L)= u(0; 0; L) = v(0; 0; L) = 0. Não se pode impor w(x; y; 0) = 0 em toda a façe da
extremidade, por que isso anularia a função de empenamento , como visto em (9.64).
Foi de…nida uma sequência de malhas regulares de elementos sólidos hexaédricos trilineares e
triquadráticos. Os elementos trilineares são de 8 nós, sem função bolha, e os elementos triquadráticos
usam funções de aproximação do tipo serendipity, tal que apenas as arestas do elemento tem 3 nós,
porém as faces possuem apenas 8 nós, como na Figura 8.31b. Assim, o elemento tem 20 nós.
Para simpli…car a apresentação dos resultados, as malhas foram de…nidas usando o mesmo
número N de elementos nas três direções da barra. A Figura 9.16 mostra a malha obtida com
4 4 4 elementos (isto é, N = 4). Ao longo do exemplo foram utilizadas malhas com N = 4, 6,
8, 10, 12 e 16 elementos.
a b
Figura 9.17: Tensões cisalhantes xz na superfície central da barra, obtida por: (a) uma malha de
4 4 4 elementos trilineares, com distribuição descontínua nas interfaces dos elementos; (b) malha
de 16 16 16 elementos trilineares.
O momento foi aplicado via um binário de forças concentradas numa extremidade da barra, o
que gera concentrações de tensões incompativeis com a solução analítica que se busca. Entretanto,
devido ao princípio de St.Venant, sabe-se que em regiões da barra distantes dessa extremidade, as
tensões não são afetadas fortemente pela forma como as cargas são aplicadas. Tipicamente, a região
mais intensamente perturbada é aproximadamente igual à dimensão maior da seção transversal,
extendendo-se a partir da extremidade da barra. Como o comprimento da barra é 100 mm e a
seção tem lados de 10 mm, a região menos perturbada tem comprimento de cerca de 80 mm na
região central da barra. Assim, tomamos o campo de tensões na seção central da barra para fazer
9.3. Exemplos e comentários sobre modelagem 263
4
τxz(x,y = a)
Figura 9.18: Variação das tensões cisalhantes xz ao longo da borda da seção central da barra, ao
longo da linha y = a, obtida por uma malha de 4 4 4 e outra de 16 16 16 elementos tri-lineares
e tri-quadráticos.
A Figura 9.18 mostra a variação da tensão cisalhante xz na seção central da barra, ao longo da
linha y = a, obtida pelas malha 4 4 4 elementos tri-lineares e 16 16 16 elementos triquadráticos.
No caso do elementos trilineares, as tensões foram calculadas da maneira direta, o que gera a curva
descontínua mostrada. Em seguida, fazendo médias nodais dos valores calculados nos elementos,
obtém-se linha reta contínua mostrada. Como referência, a …gura mostra ainda a curva obtida
com uma malha re…nada, de 16 16 16 elementos triquadráticos. Esse caso aproxima as tensões
analíticas com erro inferior a 1 % na tensão máxima.
A Figura 9.19 mostra uma análise de convergência do erro relativo do ângulo de torção e da
tensão cisalhante máxima na seção central da barra. O erro relativo é obtido por:
V alorM EF V alorEXAT O
Erro relativo = (9.69)
V alorEXAT O
A Figura 9.19 mostra a variação do erro relativo com o número de graus de liberdade do modelo,
para malhas regulares de elementos sólidos hexaédricos trilineares e triquadráticos. O que se observa
nessa …gura são comportamentos típicos do MEF, que podem ser sumarizados da seguinte forma:
264 Capítulo 9. Tecnologia de elementos …nitos - II
Erro relativo
0,01
n = 1,07 τxz
1
0,001 θ
n = 1,37 τxz
1
0,0001
θ
1E-005
Figura 9.19: Curvas de erro relativo de ângulo de torção e de tensão máxima na seção central.
1. As curvas de erro versus número de graus de liberdade, num diagrama log-log, tendem a uma
reta conforme cresce o número de graus de liberdade do modelo. A inclinação da reta é a
taxa de convergência n;
2. Para um dado número de graus de liberdade do modelo, em geral a precisão cresce com
o aumento do grau das funções de aproximação. No presente caso, a precisão obtida com
elementos quadráticos é superior àquela de elementos lineares.
3. Para um dado número de graus de liberdade do modelo, em geral a precisão obtida para as
deformações (consequentemente para as tensões) é inferior à precisão obtida para os desloca-
mentos;
4. A taxa de convergência para as tensões é inferior à taxa dos deslocamentos (no caso, o ângulo de
torção). No presente exemplo, a Figura 9.19 mostra que se conseguiram taxas de convergência
de n = 1; 37 e n = 1; 07 para o deslocamento e para a tensão, respectivamente, com o uso do
elemento triquadrático.
5. As taxas de convergência obtidas nesse exemplo são associadas ao tipo de malha utilizado.
No caso, todas as malhas tem o mesmo número de elementos ao longo de cada uma das três
direções da barra. Para cada de…nição de malha diferente dessa que se use, diferentes taxas
serão obtidas.
6. A taxa de convergência é maior quanto maior for o grau das funções de aproximação uti-
lizadas. No presente exemplo, um re…no de malha é mais e…ciente em melhorar a precisão
com elementos quadráticos que com elementos lineares.
Uma explicação simpli…cada do motivo pelo qual a precisão dos deslocamentos é superior à das
deformações e tensões é baseada no fato de que as deformações são obtidas por diferenciação dos
deslocamentos. Logo, grosso modo, um elemento de funções lineares, por exemplo, aproxima os
deslocamentos linearmente, e as deformações são aproximadas por constantes no elemento. Em
geral, as funções que aproximam as deformações no elemento são de um grau menor que as do
deslocamentos.
Observações:
As observações acima sobre a forma de convergência do MEF estão listadas apenas como tendên-
cias gerais. De fato, diversos fatores afetam esse comportamento, como por exemplo:
9.3. Exemplos e comentários sobre modelagem 265
2
u(x) - analítico
1,6 uh(x) - 1 elemento linear
uh(x) - 2 elementos lineares
0,4
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
x
1. Nem toda sequencia de malhas apresenta curvas de convergência nítidamente linares, mas
podem se apresentar de forma irregular, embora sempre com tendência geral à convergência,
caso não ocorra algum tipo de patologia numérica no modelo, como o locking.
2. A precisão e a taxa de convergência dependem de diversos fatores, como
Sabe-se que elementos regulares são mais precisos que elementos distorcidos, e que quanto maior
a distorção na forma do elemento, menor sua precisão.
Regiões com alto gradiente de tensões precisam ser modeladas com mais elementos que em
regiões de baixas tensões. O motivo é que altas tensões são provenientes de altas deformações, que
são calculadas como as derivadas do campo de deslocamentos. Logo, altos gradientes de tensões
numa região do corpo signi…ca que ali os deslocamentos possuem altos gradientes. Logo, torna-
se necessário uma quantidade adequadamente alta de elementos para aproximar esse campo. Isso
pode ser visualizado considerando, por exemplo, duas funções analíticas para o deslocamento numa
região, u1 (x) = x e u2 (x) = x2 , que geram os campos de deformação "1 (x) = 1 e "2 (x) = 2x.
Para aproximar o campo linear u1 (x) num domínio [0; 1], usando elementos lineares, bastaria
um elemento, que gera a deformação exata "1 (x) = "1h (x) = 1 (o índice h é utilizado para indicar
que o valor é uma aproximação). Para aproximar o campo quadrático u2 (x) com elementos lineares,
um único elemento geraria uma aproximação bastante pobre da deformação, "2h (x) = 1. Porém,
dois elementos podem produzir "2h (x) = 0; 5 no elemento 1 e "2h (x) = 1; 5 no elemento 2, como
pode ser visualizado na Figura 9.20. Claramente, aumentando o número de elementos, melhor a
aproximação para a deformação. Entretanto, sempre se terá uma aproximação descontínua entre os
elementos, e essa descontinuidade tende a decrescer com o re…no da malha.
Nota-se claramente que, quanto maior for o gradiente da função que se deseja aproximar numa
certa região do corpo, mais re…nada deve ser a malha ali. Esse efeito será ilustrado mais detalhada-
mente no próximo exemplo.
F y F
D d
z
r t
L
uniformes são aplicadas nas extremidades de tal forma que sua resultante seja F = 1:800 N. O
material tem módulo de elasticidade E = 200:000 MPa e coe…ciente de Poisson = 0; 25.
Figura 9.22: Malha grosseira, quase uniforme, de elementos quadrangulares de lados aproximada-
mente iguais a r=2.
r 4 D 30
= = 0; 2 e = = 1; 5.
d 20 d 20
Um manual de Kt produz o valor Kt = 2; 216, baseado na seção mínima. Dessa forma, a tensão
nominal na seção e a tensão máxima no fundo do entalhe são:
F 1:800
o = = = 30 MPa e = Kt o = 2; 216 30 = 66; 484 MPa.
td 4 20
Esse problema é tipicamente modelado como um estado plano de tensões, para espessuras peque-
nas o su…ciente. Consideramos inicialmente uma sequência de malhas quase uniformes de elementos
triangulares e quadrangulares, tanto lineares quanto quadráticos. Uma vez que o problema possui
dois planos de simetria (de geometria, carregamento, condições de contorno e propriedades de mate-
rial), pode-se fazer a análise de elementos …nitos apenas da região cinza mostrada na Figura 9.21 As
Figuras 9.22 mostra uma malha grosseira quase uniforme de elementos quadrangulares. Essa malha
tem elementos de lados de tamanho aproximadamente iguais a r=2. Uma sequência de malhas pode
ser gerada, com elementos de tamanhos aproximados r=3, r=4, etc.
Os resultados para o erro relativo na tensão normal máxima, no fundo do entalhe, obtida por
re…no quase uniforme de elementos triangulares e quadrangulares são mostrados na Figura 9.23. O
9.3. Exemplos e comentários sobre modelagem 267
1x100
1x10-1
Elem. quadr. linear
Erro relativo e
1x10-4
1x10-5
1x102 1x103 1x104 1x105
Número de graus de liberdade
Figura 9.23: Erros relativos para a tensão normal máxima no problema da barra com entalhe, em
estado plano de tensões, com malha uniforme.
Figura 9.24: Malha 1 com re…no localizado, obtido com m = 2 aplicado na malha da Figura 9.22.
268 Capítulo 9. Tecnologia de elementos …nitos - II
erro relativo foi calculado como na eq. (9.69). Observa-se que, diferentemente das curvas de con-
vergência do Exemplo de torção, agora as curvas tem comportamento irregular, embora mostrem
uma tendência geral de convergência. Aparece claramente a melhor precisão dos elementos quad-
rangulares em relação aos triangulares, para um mesmo número de graus de liberdade, e também a
superioridade dos elemmentos quadráticos sobre os lineares.
Figura 9.25: Malha 2 com re…no localizado, obtido com m = 2 aplicado na malha da Figura 9.22,
sequida de uma segunda subdivisão com m = 2.
Figura 9.26: Distribuição da tensão x obtida pela malha 4 (de re…no localizado).
Os resultados obtidos usando malhas regulares apresentam baixa taxa de convergência, uma vez
que o problema tem duas regiões de concentração de tensões. Assim, re…nos de malha aplicados
em regiões distantes desses pontos são pouco efetivos, e contribuem apenas para aumentar o custo
computatacional da análise sem se traduzirem em melhor precisão das tensões de interesse. Nesses
casos, torna-se necessário o uso de re…no localizado. Assim, foi construida uma sequência de
malhas com re…no localizado em torno da linha que gera o arco do entalhe. Na malha da Figura
9.22, foram tomadas as duas camadas de elementos em volta do entalhe para gerar um re…no
localizado. Esse re…no é feito subdividindo as linhas de cada elemento em m = 2, 3, etc e gerando
novos elementos. Em seguida, os novos elementos podem, por sua vez, sofrerem nova subdivisão.
No presente caso, quatro malhas foram obtidas da seguinte forma:
malha 2: m = 2, sequida de uma segunda subdivisão com m = 2 (1.887 nós, Figura 9.25);
disponível em softwares comerciais de elementos …nitos, embora diferenças possam ser obtidas
na malha resultante dependendo do algorítmo utilizado.
Os resultados para o erro relativo na tensão normal máxima, no fundo do entalhe, obtida por
re…no não-uniforme de elementos quadrangulares são vistos na Figura 9.23. Observa-se claramente
a alta taxa de convergência obtida em relação às curvas de re…no uniforme. A Figura 9.26 mostra
a distribuição da tensão x obtida pela malha 4. Em toda a região próxima da extremidade da
barra a tensão é aproximadamente igual à tensão nominal, o = F=A = 30 MPa. Então a região
perturbada é bastante próxima ao fundo do entalhe.
9.4 Exercícios
8.1 Qual a diferença entre vetor força consistente e não consistente?
Exercícios de programação.
8.2 Utilize um programa aberto de elementos …nitos que já contenha elementos de estado plano de
tensões. Implemente a formulação de elemento com função bolha, modi…cando o elemento
de quatro nós bilinear para incluir uma função quadrática extra associada a um quinto nó
central.
8.3 Modi…que o programa para incorporar e testar a aplicação de condições de contorno de deslo-
camento prescrito nao nulo.
8.4 Considere uma viga de seção retangular. Modele-a com elementos de elasticidade plana com
coe…ciente de Poisson nulo, e aplique um carregamento coplanar que simule uma carga de
‡exao de viga. Compare com a solucao exata de viga, em de‡exão e tensoes normal e cisalhante
transversal. Compare com os resultados obtidos com malhas uniformes de elementos bilineares
e biquadráticos. Avalie o efeito da função bolha. Modi…que o coe…ciente de Poisson para 0.25
e avalie a resposta comparando com a solucao com v = 0.
8.5 Programe uma rotina que receba os dados de uma malha regular e aplique um parâmetro que
modi…que as coordenadas dos nós internos pela multiplicação das coordenadas originais pelo
parâmetro, de forma a gerar distorções arbirariamente grandes nos elementos. Considere uma
viga de seção retangular modelada por elementos de estado plano de tensão, sob ‡exao plana.
8.6 Programe a entrada de dados e o cálculo do vetor forca de corpo variavel num elemento de
elasticidade plana.
(a) Programe a entrada de dados e o cálculo do vetor forca consistente para carregamento
de contorno variando quadraticamente ao longo do lado do elemento.
(b) Programe a entrada de dados e o cálculo do vetor forca consistente para carregamento
de contorno nas direcoes normal e tangencial ao contorno do elemento.
8.9 Porque em cada termo da matriz de rigidez, o integrando não é polinomial quendo o elemento
é distorcido?
Capítulo 10
Condições de restrições
Entretanto, os tipos de restrições são muito mais abrangentes. Podem, por exemplo, serem apli-
cadas em regiões internas do domínio global. Um caso típico é a região de contato entre dois corpos
em contato, em que se necessita impor continuidade de algumas componentes de deslocamentos.
ui = cj uj + ck uk (10.1)
O processo para a imposição desse tipo de condição pode ser melhor entendido através da visual-
ização do caso mais simples u1 = c4 u4 , como:
272 Capítulo 10. Condições de restrições
A’
y, uy F (b)
A’ u u4
φ
A u1
A x, ux
φ
(a) (c)
- R1
φ
R R4
2 38 9 8 9
k11 k12 k13 k14 k15 > u1
> = c4 u4 >
> >
> F1 + R 1 >
>
6 k21 k22 k23 k24 k25 7>> u2
>
> >
> F2
>
>
6 7< = < =
6 k31 k32 k33 k34 k35 7 u3 = F3 (10.2)
6 7> > > >
4 k41 k42 k43 k44 k45 5>> u4 >
> >
> F + R4 >
>
>
: >
; > : 4 >
;
k51 k52 k53 k54 k55 u5 F5
2 38 9 8 9
0 k12 k13 c4 k11 + k14 k15 >
> u1 >
> >
> F1 + R 1 >
>
6 0 k22 k23 c4 k21 + k24 k25 7>> u2
>
> >
> F2
>
>
6 7< = < =
6 0 k32 k33 c4 k31 + k34 k35 7 u3 = F3 (10.3)
6 7> > > >
4 0 k42 k43 c4 k41 + k44 k45 5>> u4 >
> >
> F + R4 >
>
>
: >
; > : 4 >
;
0 k52 k53 c4 k51 + k54 k55 u5 F5
2 3 8 9
0 0 0 0 0 8 9 > 0 >
u1 > > >
6 0 k22 k23 c4 k21 + k24 k25 7>> > >
> F2 >
>
6 7>> >
= >
u2 >
> >
>
6 0 k32 k33 c4 k31 + k34 k35 7< <
F3
=
6 7 u3 =
6 [c4 k12 [c4 k13 [c4 (c4 k11 + k14 ) [c4 k15 7> > > [c4 (F1 + R1 ) >
6 0 7> u4 > > >
4 +k42 ] +k43 ] + (c4 k41 + k44 )] +k45 ] 5>>
:
>
>
; >
>
> + (F4 + R4 )]
>
>
>
u5 >
: >
;
0 k52 k53 c4 k51 + k54 k55 F5
(10.4)
2 3
f 0 0 f c4 0 8 9
8 9 > 0 >
6 0 k22 k23 c4 k21 + k24 k25 7> u1 > >
> >
>
6 7> > > F2 >
6 0 k32 k33 c4 k31 + k34 k35 7>> >
u2 >
= >
> >
>
6 7< <
F3
=
6 {[c4 (c4 k11 + k14 ) 7 u3 =
6 [c4 k12 [c4 k13 [c4 k15 7> > > [c4 (F1 + R1 ) >
6 7> u4 > > >
6 f c4 +(c4 k41 + k44 )] 7>> >
>
; >
> >
>
4 +k42 ] +k43 ]
+f c24 g
+k45 ] 5: u5
>
>
:
+ (F4 + R4 )] >
>
;
F5
0 k52 k53 c4 k51 + k54 k55
(10.6)
cj (ui cj uj ck uk )f = 0 à linha j, e
ck (ui cj uj ck uk )f = 0 à linha k: (10.8)
Essas inclusões da Etapa 3 podem ser sumarizadas pelas seguintes modi…cações na matriz obtida
até a Etapa 2:
Reações
O termo F^4 = c4 (F1 + R1 ) + (F4 + R4 ) em (10.6) precisa de atenção, uma vez que as reações R1 e
R4 são incógnitas. Considere que a condição de contorno u1 = c4 u4 seja proveniente de um apoio
deslizante como o da Figura 10.1. Ali, o deslocamento resultante deve ser na direção tangente, e a
reação resultante deve ser na direção normal, ambos de…nidos pelo ângulo do apoio:
1
u1 = c4 u4 e R1 = R4
c4
onde, no caso, c4 = 1= tan . Então, de fato, o termo c4 R1 +R4 é nulo em F4 . Condições semelhantes
de reciprocidade devem existir entre as componentes de reação e de deslocamento, de forma que os
termos de reação em F se anulam. Isso signi…ca que as operações de linha envolvem, de fato, apenas
as forças aplicadas, conhecidas, contidas em Fa , e não as reações.
U = TU (10.10)
onde U é o vetor de deslocamentos que satisfaz às condições de restrição. Esse sistema tem a forma
274 Capítulo 10. Condições de restrições
8 9 8 9
> .. > 2 3> .. >
>
> . >
> 1 >
> . >
>
>
> >
> >
> >
>
>
> ui >
> 6 0 cj ck 7>
> ui >
>
>
> >
> 6 7>
> >
>
< .. = 6 7< .. =
. 1 .
=6
6
7
7> (10.11)
>
> uj >
> 6 1 7> uj >
>
>
> >
> 4 5>
> >
>
>
> .. >
> 1 >
> ..>
>
>
> . >
> > .>
>
: >
; 1 > >
:
>
>
;
uk | {z } uk
T | {z }
U
T T ^ = TT F,
KT}U isto é, ^U
K ^ = F,
^ onde ^ = TT KT
K e ^ = TT F
F (10.12)
| {z | {z }
^
K ^
F
Observações:
1. Uma variação do procedimento consiste em de…nir T como uma matriz retangular, sem
a coluna i, isto é, com dimensões N (N 1). Com isso o vetor U não contém o termo ui ,
^U
isto é, contém apenas os graus de liberdade independentes. Então o sistema …nal K ^ =F
^
…ca com ordem (N 1).
2. Na prática, não é e…ciente gerar a matriz T e realizar os produtos com a rigidez e a força. O
mais e…ciente é realizar as operações de linha/coluna diretamente no sistema.
3. Outra prática consiste em aplicar, ao nível do elemento, as transformações que envolvam
apenas nós daquele elemento.
4. Condições de restrição que envolvem diferentes nós modi…cam o per…l da matriz global. A
altura de certas colunas será aumentada, modi…cando a largura de banda, o per…l skyline e o
armazenamento esparso (ver seção 12.1).
R = KU Fa (10.13)
onde Fa é o vetor de forças aplicadas conhecidas. Ele será não nulo apenas nos graus de
liberdade prescritos.
−λ λ
F
e1 e2 e3 x
1 2 3 4
(a)
e2 F
e1 2 3 e3 x
1 4
e4
(b)
Agora a matriz é retangular, e o sistema tem mais incógnitas que equações. Entretanto, a própria
equação da restrição, u3 = u2 , é uma relação independente, e pode ser ajuntada ao sistema, que
toma a forma …nal
276 Capítulo 10. Condições de restrições
2 38 9 8 9
k k 0 0 0 >
> u1 >
> >
> F1 >
>
6 7>> >
> >
> >
6 k 2k k 1 7< u2 = < F2 >
=
6 0 k 2k k 1 7 u3 = F3 : (10.16)
6 7> > > >
4 5>> >
> > >
0 0 k k 0 >
:
u4 > >
; > F >
: >
;
0 1 1 0 0 0
A matriz continua simétrica, com dimensão aumentada. Após a imposição da condição de
engaste, u1 = 0, o problema pode ser resolvido, e não só os deslocamentos são determinados, mas
simultaneamente a força interna .
Esse exemplo pode ser conectado a um problema de mínimo. No presente caso, o sistema
algébrico KU = F pode ser visto como derivado do problema de minimização da energia potencial
total. Assim, o arrazoado visto no exemplo acima pode ser estendido, como mostrado a seguir.
Consideremos o problema algébrico linear KU = F, onde K é uma matriz quadrada, real,
simétrica e positiva de…nida, de ordem N , F é um vetor conhecido e U o vetor solução. Con-
sideremos o problema de minimização,
1 T
E(U) = U KU UT F;
2
1
= Ui Kij Uj Ui Fi (notação indicial com regra do somatório) (10.17)
2
É imediata a prova de que o vetor U que minimiza E(U) é o mesmo que satisfaz KU = F. O
mínimo é o ponto em que o gradiente de E é nulo, isto é, em notação indicial com a regra do
somatório,
@E
=0 ! Kmj Uj Fm = 0, para m = 1; :::; N; (10.18)
@Um
isto é, o U que satisfaz KU = F minimiza E(U). Em paralelo, nota-se que num problema elas-
tostático, E(U) corresponde à energia potencial total do sistema. Entretanto, o enunciado mostrado
acima aplica-se a qualquer situação em que a solução discretizada do problema seja expressa por
KU = F, desde que K possua as características listadas acima.
Consideremos agora o problema de obter U que, além de satisfazer KU = F, esteja adicional-
mente sujeito a uma restrição num certo grau de liberdade p, Up = Up . Tem-se então o problema
KU= F;
(10.19)
Up = Up :
onde Ui é um valor conhecido. De…ne-se o funcional Lagrangiano associado da seguinte forma
1
L(U; ) = [Ui Kij Uj Ui Fi ] + (Up Up ); (10.21)
2
onde é o chamado multiplicador de Lagrange, que é uma nova incógnita. As condições de
estacionaridade de L(U; ) são aquelas que identi…cam o ponto (U ; ) que anula o gradiente de
L(U; ) em relação a todas variáveis, que são agora todos os Ui e o :
@L
= 0 ! para m = 1; :::; N;
@Um
@L
= 0 ! Up Up = 0; (10.22)
@
10.2. Multiplicadores de Lagrange e penalização 277
@L
= 0„ para m = 1; :::; N;
@Um
1 1
= im Kij Uj + Ui Kij jm Fm + mp = 0,
2 2
1 1
= Kmj Uj + Ui Kim Fm + mp = 0, (10.23)
2 2
= Kmj Uj Fm + mp = 0
onde mp é o operador delta de Kronecker. Foi também usada a condição de simetria da matriz
para fazer Ui Kim = Kmi Ui . A segunda condição gera
@L
=0 ! Up Up = 0;
@
Tem-se então um sistema algébrico de N + 1 equações e incógnitas, cuja forma matricial é
KU F + 1p = 0;
Up Up = 0; (10.24)
onde 1p é o vetor de dimensão N; nulo, com valor 1 na posição p. Pode-se construir um sistema
algébrico único que tem a seguinte forma:
2 38 9 8 9
0 >
> >
> >
> >
>
6 0 7>>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
6 7>> >
> >
> >
>
6 1 7>< >
= >
< >
=
6 7
6 0 7
6 K 7> U > = > F >: (10.25)
6 7> > > >
6 0 7>>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
4 0 5>> >
> >
> >
>
>
: >
; : > >
;
0 0 1 0 0 0 0 Up
KU F+ 8 1 1q 1 + +
2 1q 2 + r 1qr = 0;
>
> Uq1 Uq1 = 0;
>
< Uq
2 Uq2 = 0; (10.26)
r condições: ..
>
> .
>
:
Uqr Uqr = 0;
Esse sistema pode ser colocado em forma matricial particionada
K Ic U F
= (10.27)
ITc 0 C
onde
1. Ic é uma matriz de dimensões N r, em que a coluna j é nula exceto pela posição qj , cujo
valor é 1.
ITc U = C. (10.28)
O método dos multiplicadores de Lagrange se caracteriza por aumentar a ordem da matriz. Além
disso, a presença dos novos termos devidos a Ic implica numa modi…cação da esparsidade da matriz.
Por exemplo, se K estiver com numeração adequada para minimizar a largura de banda, a matriz
resultante passa a ter a forma de uma ‡echa. Por exemplo, para N = 5, r = 3 e meia largura de
banda 2, a diagramação …ca:
2 3
K11 K12 K13 0 0 0
6 K21 K22 K23 K24 0 1 0 7
6 7
6 K31 K32 K33 K34 K35 1 0 0 7
6 7
K Ic 6 K42 K43 K44 K45 0 0 0 7
=6
6
7
7 (10.29)
ITc 0 6 K53 K54 K55 0 0 1 7
6 0 0 1 0 0 7
6 7
4 0 1 0 0 0 5
0 0 0 0 1
Tanto no armazenamento skyline quanto esparso, os dados de controle também …ca modi…cados.
Entretanto, a esparsidade da matriz K não é modi…cada, o que permite a programação de formas
de armazenamento e solução adequadas que levem em conta a estrutura de Ic de forma separada.
De fato, é possível substituir ITc em (10.28) para representar qualquer tipo de relação linear entre
diferentes graus de liberdade. Essa relação pode ser posta na forma
RU = C; (10.30)
isto é,
KU= F;
(10.32)
RU C = 0.
O funcional Lagrangiano é
1
L(U; ) = UT KU UT F + T (RU C): (10.33)
2
A coordenada que torna L(U; ) estacionario é obtida pela solução do sistema algébrico modi…cado
K RT U F
= , isto é, KU = F. (10.34)
R 0 C
Na seção 14.8 detalhamos o método de obter as relações RU = C para restrições contínuas via o
MEF.
Observações:
1. Apesar da submatriz 0, a fatoração de Gauss não sofre nenhum problema de encontrar pivô
nulo durante o processamento, se as condições de restrição forem su…cientes para eliminar os
autovalores nulos de K. Em problemas de mecânica dos sólidos, isso se traduz por eliminar
todos os movimentos de corpo rígido do sistema.
10.2. Multiplicadores de Lagrange e penalização 279
2. A solução obtida pelo método é exata (exceto pelos erros computacionais de arredondamento),
isto é, a restrição é exatamente imposta. Isso é diferente de um método como o de penalização,
em que a restrição é sempre imposta de forma aproximada.
3. Uma vantagem do método é que ele permite que a matriz K seja triangularizada e armazenada,
de forma que o sistema (10.27) possa ser resolvido para diferentes conjuntos de restrição e de
carregamento, bastando realizar a fatoração das colunas R a cada novo conjunto de restrições.
4. Uma desvantagem do método é que ele aumenta o número de incógnitas do problema, com os r
valores dos multiplicadores. Esse aspecto pesa pouco no caso de uma quantidade relativamente
pequena de restrições impostas. Por outro lado, duas vantagens do método, em relação ao
método de penalização visto a seguir, é que não é necessário o usuário arbitrar nenhuma
constante, e que o procedimento não afeta o número de condição da matriz.
5. Uma desvantagem é que se uma restrição for imposta mais de uma vez (devido é gerações
independentes de dados, por exemplo) a matriz R passa a ter linhas iguais, o que, claramente,
implica na singularidade da matriz de rigidez expandida. Esse problema também se estende
às situações de restrições quase iguais, o que geraria matriz mal condicionada.
6. Outra característica do método que pode ser um problema é que a matriz expandida não
mais é positiva-de…nida. Se condições de restrição adequadas forem impostas, ela deixa de
ser singular, porém apresenta autovalores positivos e negativos. Isso restringe a escolha do
método de solução para aqueles que não dependem da positividade da matriz, impossibilitando
métodos como o de fatoração de Choleski e o Gradientes conjugados pré-condicionado.
quarto elemento, paralelo ao elemento 2, com rigidez muito grande, muito maior que a rigidez da
barra. Esse elemento extra tem equação de equilíbrio
k k u2 0
p = ; (10.37)
k k u3 0
onde k = EA=L, sendo L o comprimento do elementos 1 a 3. Então a rigidez desse elemento
adicional é feita igual a pk, onde p é um número arbitrário e “grande”. Sobrepondo essa matriz no
sistema original se tem
2 38 9 8 9
k k >
> u1 >
> > > F1 >
>
6 k 2k + pk k pk 7 < u2 = < F2
=
6 7 = : (10.38)
4 k pk 2k + pk k 5> u > > > F3 >
>
: 3 >; : >
;
k k u4 F
Nota-se que, uma vez que p sempre será …nito na computação do sistema, a solução do sistema
penalizado, (10.38), conterá a in‡uência do sistema (10.37), em que u2 u3 será sempre distinto de
zero, isto é, com erro dependente da penalização p escolhida.
Essa argumentação pode ser generalizada para o caso geral de um conjunto de relações lineares
entre os graus de liberdade, como em (10.30), RU = C, usando uma modi…cação na energia poten-
cial total. Assim, consideramos que essa restrição possa ser satisfeita de forma aproximada, com
um erro r, isto é,
r RU C, (10.39)
onde se busca, claramente, impor as restrições de forma a ter r = 0 ou o menor possível. De…ne-se
um aumento na energia potencial total através de uma penalização
1 T
r Pr, (10.40)
2
onde P é uma matriz diagonal, onde Pjj = pj , j = 1; :::; r são fatores de penalização, reais, arbi-
trários, escolhidos um para cada restrição. Então a energia penalizada …ca
1 1
E(U) = UT KU UT F + rT Pr. (10.41)
2 2
Expandindo r e separando termos se tem
1 1
E(U) = UT K + RT PR U UT F + RT PC + CT PC.
2 2
Nota-se que no método de penalização os fatores de penalização são arbitrários, não incógnitas,
tal que E depende apenas dos deslocamentos U. O valor estacionario é obtido gerando N equações
@ E=@Ui , o que resulta no sistema algebrico modi…cado
K + RT PR U =F
| +R
T
{z PC}: (10.42)
| {z }
K F
Caso seja usado o mesmo fator de penalização para todas as restrições, P =pI, onde I é uma
matriz identidade de ordem r, e o sistema algébrico simpli…ca-se para
Entretanto, isso pode ser inadequado quando cada restrição envolver graus de liberdade associados
a diferentes ordens de grandeza.
10.2. Multiplicadores de Lagrange e penalização 281
Observações:
1. O método de penalização não aumenta o tamanho do sistema como no método dos mul-
tiplicadores de Lagrange. Entretanto, torna-se necessário arbitrar valores para os fatores de
penalidade. Essa tarefa di…culta a construção de programas realmente automáticos, obrigando
o usuário a escolher o parâmetro, num procedimento que pode envolver muitas tentativas e
tempo de busca.
4. O procedimento de escolha da penalidade pode ser, até certo ponto, automatizada. Nota-se
que o valor adequado …ca limitado entre dois pontos. Por um lado, p deve ser o maior possível
do maior acima do coe…ciente de rigidez, para reduzir o erro na imposição da restrição. Por
outro lado, p próximo do maior número da máquina aumenta o erro na solução do sistema.
Uma estratégia consiste em de…nir p que divida em partes aproximadamente iguais os dois
tipos de erro. É a chamada regra da raiz quadrada, que é estabelecida tomando
onde k é tal que o maior termo da diagonal da matriz K antes da penalização é da ordem de
10k , isto é, max Kjj ' 10k . O expoente s é o número de algarismos signi…cativos da máquina,
por exemplo, s = 16. De toda forma, deve-se veri…car que 10k+s=2 não gere over‡ow.
6. A singularidade da matriz de penalidade é um requisito para a solução. Isso pode ser veri…cado
tomando o caso simples em (10.43) com C = 0. Conforme p cresce, o sistema tende a
1
RT R U = F. (10.45)
p
Se RT R for não singular, a solução tenderia a U = 0. Caso RT R singular se pode ter U com
N r termos não nulos.
7. Essa situação de matriz de penalidade não singular não é esperada quando o método é usado
para a imposição de condições de restrições aos modelos de elementos …nitos. Entretanto,
formulações de elementos …nitos podem apresentar penalidades implícitas na formulação, que
geram os diversos efeitos de locking.
K RT U F
1 = 1 . (10.46)
R eS C eS
A matriz S é escolhida para ser simples, até mesmo a matriz identidade. Entretanto, do lado
direito é incógnito. Isso leva a um processo iterativo, em que se pode reescrever o sistema como
K RT Uj+1 F
1 = 1 . (10.47)
R eS j+1 C eS j
para iterações j = 1; :::;, começando com um conjunto arbitrário inicial 0 , por exemplo 0 = 0.
A segunda equação em (10.47) pode ser usada para explicitar j+1 em termos de Uj+1 :
1 1 1
j+1 =
+ SRUj+1 j S C (10.48)
e e
e quando substituída na primeira equação gera uma equação algébrica para Uj+1 . Tem-se então
um problema iterativo que é resolvido em partes desacopladas sucessivamente:
1 1
K+ RT S 1
R Uj+1 = F RT + RT S 1 C,
j para j = 1; :::
e e
1 1 1
j+1 = j + SRUj+1 S C. (10.49)
e e
A partir de j ( 0 arbitrado), Uj+1 é obtido da primeira equação e em seguida j+1 da segunda.
De fato, as iterações podem ser feitas sem o cálculo de j+1 . Nota-se que a primeira equação (10.47)
pode ser escrita para a iteração j:
KUj + RT j = F. (10.50)
Assim, o termo entre parêntesis em (10.49)1 é: F RT j = KUj . Então (10.49)1 toma a forma
1 1
K+ RT S 1
R Uj+1 = KUj + RT S 1 C, para j = 1; ::: (10.51)
e e
| {z }
K
Nota-se que agora essa expressão envolve apenas Uj ! Uj+1 . O valor dos multiplicadores de
Lagrange podem ser calculados apenas uma vez, após a convergência, usando (10.49)2 .
Observações:
1. Esse método é conceitualmente próximo do método de penalidade, porém contornando muitas
de suas limitações. Também suas características são próximas do método dos multiplicadores
de Lagrange. Nesse último, a matriz se torna maior, com o aumento no número de incógnitas.
Aqui o número de incógnitas é o mesmo da matriz original, N .
3. No método de penalidade, o comportamento …ca de…nido pelo valor escolhido para a pe-
nalidade p. Dado um valor de penalidade, o erro …ca de…nido. No método Lagrangiano
aumentado, a penalidade 1=e não de…ne o erro, mas apenas de…ne o número de iterações para
atingir determinado erro. Qualquer que seja e, é provado que o processo iterativo convergirá
para a solução exata.
A prática mostra que duas iterações são su…cientes para uma aproximação adequada [41].
Em geral a precisão para um dado número de iterações cresce com o crescimento de 1=e.
Entretanto, esse valor não pode ser tão grandes que tornem os termos de K irrelevantes na
soma em K.
7. Em problemas lineares, K pode ser triangularizado apenas uma vez e armazenado, de forma
que o custo de fazer mais de duas iterações não é acentuado, nem muito maior que o proced-
imento básico do método de penalidade.
10.3 Exemplos
Consideremos uma sequência de exemplos baseados no modelo de elementos …nitos de barra mostrado
na Figura 10.2, com três elementos idênticos.
2k k u3 k
= u2 ; (10.54)
k k u4 0
cuja solução é facilmente obtida, gerando a solução completa
8 9 8 9
>
> u1 >
> >
> 0 >
>
< = < =
u2 1
= u2 : (10.55)
>
> u >
> >
> 1 >
>
: 3 ; : ;
u4 1
1. Por exemplo reduzir o sistema para duas equações e duas incógnitas, resolver e em seguida
complementar o valor de u2 .
Em vez disso vamos usar o procedimento descrito nas eqs. (10.6)-(10.9). A restrição segue a
forma geral u2 = c4 u4 mostrada em (10.1), onde a constante c4 = 1. A etapa seguinte consiste em
aplicar a relação u2 c4 u4 = 0 na primeira linha, porém ajustando a ordem de grandeza dos termos
adicionados através de uma constante f . Assim adicionamos f (u2 c4 u4 ) = 0 na linha 1, e, para
manter a simetria, adicionamos f c4 u2 c24 u4 = 0 na linha 3, onde foi arbitrado f = k. Assim
o sistema …ca na forma
2 38 9 8 9
k 0 k < u2 = < 0 =
4 0 2k 2k 5 u3 = 0 : (10.58)
: ; : ;
k 2k 4k u4 F
A solução obtida é
8 9 8 9
< u2 = F < 1 =
u3 = 1 . (10.59)
: ; k : ;
u4 1
Essa é a solução esperada, uma vez que F=k = F L=EA é o deslocamento do nó 2, e como o nó 4 se
desloca igual ao 2, todo o trecho entre os nos 2 e 3 não se deforma, tal que os nós 2, 3 e 4 sofrem a
mesma translação.
p p u2 0
= : (10.60)
p p u4 0
Com isso o sistema penalizado …ca
2 38 9 8 9
2k + p k p < u2 = < 0 =
4 k 2k k 5 u3 = 0 : (10.61)
: ; : ;
p k k+p u4 F
A solução analítica pode ser obtida por um manipulador simbólico como o Mathematica, gerando
a solução:
8 9
8 9 >
> 0 >
>
u >
> >
>
>
> 1 >
> >
> 1=k >
>
< = < =
u2 2(k + p)
=F : (10.62)
>
> u > > k(k + 2p) >
: 3 > ; >
>
>
>
>
(3k + 2p) >
u4 >
> >
>
: ;
k(k + 2p)
10.3. Exemplos 285
Nota-se que fazendo o limite para p ! 1, u4 ! u2 F=k, que é a restrição em sua forma exata.
Nesse caso, a superbarra entre os nós 2 e 4 tende a ter rigidez in…nita. Do contrário, para p
…nito, a rigidez da superbarra é …nita, e existe uma diferença entre os deslocamentos u2 e u4 na
solução. Usando valores E = 2 105 MPa, A = 100 mm2 , L = 100 mm, F = 105 N, tem-se
k = EA=L = 2 105 N/mm. A Figura 10.3 mostra a variação do erro na imposição da restrição
versus o valor da penalidade. O erro relativo foi de…nido como (u4 u2 )=(F=k).
100
10-2
10-3
10-4
10-5
Figura 10.3: Erro normalizado (u4 u2 )=(f =k) versus penalidade p no Exemplo 3.
Primeiro, a restrição u2 u4 = 0 é colocada na forma matricial (10.30), com uma única restrição,
r = 1:
8 9
< u2 =
RU = C ! [1; 0; 1] u3 = f0g , (10.63)
: ;
u4
de forma que o sistema estendido (10.34) correspondente a (10.53) …ca
K RT U F
= ,
R 0 C
2 38 9 8 9
2k k 1 >
> u2 >
> >
> 0 >
>
6 < = < =
6 k 2k k 0 77 u3 0
4 = : (10.64)
k k 1 5>> u > > F >
: 4 >; >
: >
;
1 0 1 0 0
Tabela 10.1: Resultados para as duas primeiras iterações no método Lagrangiano aumentado do
Exemplo 5.
1=e Iteração j u4 [mm] [N]
0 0,0149 9,90
103 1 0,0148 19,7
2 0,0147 19,4
0 0,0141 90,9
104 1 0,0133 173,6
2 0,0125 248,7
0 0,010 500
10 5 1 0,0075 750
2 0,00625 875
0 0,0059 909,1
106 1 0,00508 991,7
2 0,005008 999,2
0 0,005099 990,1
107 1 0,0050005 999,9
2 0; 005 + 10 5 1000 10 4
0 0,00500999 999,001
108 1 0; 005 + 10 5 999,999002
2 0; 005 + 10 8 1000 10 6
ainda de outra forma, através do cálculo padrão de reações. Partimos da matriz de rigidez orig-
inal, antes de ser reduzida pela condição de engaste. O sistema de equilíbrio é similar a (10.14):
Ko U = F = Fa + R. As reações são obtidas por R = Ko U Fa , onde Fa são as forças externas
aplicadas, conhecidas. Assim,
8 9 2 3 8 9 8 9 8 9
>
> R 1 >
> k k >
> 0 >
> >
> 0 >
> >
> 1 >
>
< = 6 7 < = < = < =
R2 k 2k k 1=k 0 1
=6
4
7F =F . (10.66)
>
> R > k 2k k 5 > 1=k > > 0 > > 0 >
: 3 > ; >
: >
; >
: >
; >
: >
;
R4 k k 1=k F 1
10.4 Exercícios
10.1 O que signi…ca p = 0 na solução do Exemplo 3? E numa situação geral? (Dica: Use as eqs.
(10.62) e (10.43), e complemente o grá…co da Figura 10.3 para pequenos valores de p.
10.2 Refaça os Exemplos 1 a 5 aplicando a restrição 3u2 u4 = F=2k. Use os valores numéricos
mostrados no Exemplo 2: E = 2 105 MPa, A = 100 mm2 , L = 100 mm, F = 105 N e
k = EA=L.
F
y
1 2
x
α
Figura 10.4: Modelo de um elemento de viga com apoio de rolete deslisante inclinado.
10.3 Considere o problema ilustrado na Figura 10.4, que consiste em uma viga engastada no no 1
e apoiada no nó 2 por um rolete que permite a rotação e a translação ao longo de um plano
que faz ângulo de a = 60 com o eixo x. Os dados da viga são: comprimento L, módulo de
elasticidade E, área e momento de inércia da seção A, I e força F . Resolva analiticamente
os itens abaixo. Para compactar a notação, podem ser usados os números adimensionais
= F=EA e = I=AL2 .
3
y
1 2 e2
x 4 6
e1
5
Figura 10.5: Problema do Exercício 4, para a conexão do nó 2 da viga com o modelo de estado
plano de tensões à direita.
288 Capítulo 10. Condições de restrições
10.4 Considere o elemento de viga e a região de uma malha de elementos de estado plano de tensões,
como mostrado na Figura 10.5. Identi…que as condições de restrição necessárias para garantir
continuidade de deslocamentos u, v e rotação do nó 2 da viga com a região de elasticidade
plana. As restrições devem envolver os nós 4 e 6 ou os nós 2, 4 e 5, além do nó 2 da viga.
Capítulo 11
No presente capítulo apresentamos alguns aspectos sobre as patologias típicas do método de ele-
mentos …nitos, incluindo o fenômeno de locking, sub integração, modos espúrios de deformação, e
o patch test. A apresentação é puramente fenomenológica, através da ilustração de diversos casos
comuns nas formulações mais usuais do MEF.
y 2 2
3 2 6 F
e2 e4
b=1
e1 e3
I
1 4 5 F x
Figura 11.1: Problema de ‡exão de viga analisado com estado plano de tensões.
Consideremos a malha mostrada no Exemplo 1, seção 8.2.3, na página 191, dada por elementos
triangulares lineares, num problema de estado plano de tensões. A placa encontra-se submetida a
um binário de forças nodas nos nós 5 e 6 da extremidade, como na Figura 11.1. Isso simula a ‡exão
pura (cisalhamento transversal nulo) de uma viga de seção retangular. Para o elemento 1, a matriz
de deformação é mostrada em (8.59), de forma que as deformações no elemento se relacionam aos
deslocamentos nodais por
8 9
>
> u1 >>
8 9 2 3>>
> v1
>
>
>
"
< x = 1=2 0 1=2 0 0 0 >
< >
=
4 5 u 4
"y = 0 1 0 0 0 1 : (11.1)
: ; >
> v4 >>
1 1=2 0 1=2 1 0 > >
}> u >
xy
| {z >
> >
e1
: 3 > ;
B
v3
asita. A presença dessa deformação prejudica a precisão da parcela adequada da deformação, "x .
Considerando um balanço trabalho = energia de deformação, para um trabalho aplicado …xo, a
existênca da deformação cisalhante espúria absorve parte da energia que deveria ser da parcela as-
sociada a "x . Assim o deslocamento transversal …ca diminuido, e viga tem di…culdade de se ‡exionar
adequadamente. Esse é um exemplo de locking de cisalhamento.
Em geral, o termo “locking” (trancamento) é usado em MEF para representar uma rigidez
excessiva no modelo numérico. Em alguns casos ele se revela por um travamento completo do
movimento e, em outros casos, numa rigidez extra que pode ser atenuada com re…no de malha,
embora com uma taxa de convergênca bastante baixa.
A relação elástica entre as parcelas volumétricas de tensão e deformação é dada em (4.5) por
v = 3K"v = KE v 1, onde o módulo volumétrico, (4.12) é dado por K = E=(3 (1 2 )). A
deformação volumétrica especi…ca é E v = tr "e . Um material quase incompressível como a borracha,
apresenta E v = "x + "y + "z = 0. Isso resulta em módulo volumétrico tendendo ao in…nito, o que é
associado a = 0; 5. Se esse material é modelado num estado plano de deformações, com "z = 0,
então a deformação volumétrica …ca E v = "x + "y = 0. Uma vez que "z = 0, a área no plano xy
deve permanecer constante no processo de deformação. Nessa situação a matriz de rigidez apresenta
uma rigidez quase in…nita a qualquer deslocamentos nodais que impliquem em mudança de volume.
Numa modelagem de elementos …nitos lineares isso pode gerar situações inesperadas, como aquela
ilustrada no exemplo clássico visto na Figura 11.2, em que a malha plana modela um estado plano
de deformações.
Consideremos os elemento 1 e 2 por exemplo. No elemento 1, o único movimento que o nó
5 pode fazer sem modi…car o volume é o deslocamento vertical indicado na Figura 11.2b. Ao
mesmo tempo, no elemento 2, o único movimento possível de volume constante para o nó 5 é o
movimento horizontal. Logo, qualquer deslocamento que o nó 5 …zer causa mudança de volume nos
dois elementos, pois a deformação no elemento é constante. Mesmo que o coe…ciente de Poisson
seja apenas próximo de 1/2, o material é quase incompressível. Nesse caso, o nó 5 torna-se quase
imposível de ser movido, para garantir a quase incompressibilidade. Se o nó 5 deve permanecer
imóvel, os elementos 1 e 2 …cam indeformaveis. O mesmo argumento pode ser repetido para o
nó 6, gerando a conclusão que ele também deve permanecer imóvel na resposta numérica. Assim
conclui-se que, para qualquer carregamento aplicado, a malha vai permanecer quase completamente
indeformada, travada. Esse é um exemplo do chamado locking volumétrico.
6 9 2 5
3 ee22
5
2 8 1
e2 5
e1 ee1 1
1 1 4
7
4
(a) (b)
paralelos aos eixos de coordenadas, submetida a um par de momentos ‡etores. A …gura (a) ilustra
o modo de deformação exata, que consiste nas deformações
ty ty
Exato ! "x =
, "y = , xy = 0, (11.2)
a a
onde t é o ângulo de rotação da seção normal.
t t tMEF tMEF
4 3 4 3
y, v y, v
x, u x, u
Mf Mf M MMEF
MEF
1 2 1 2
(a) (b)
Figura 11.3: Modo de deformação exata para ‡exão pura em (a) e obtido por um elemento …nito
bilinear em estado plano de tensões, em (b).
Consideremos agora o mesmo problema modelado por um único elemento …nito bilinear, como
na Figura 11.3b. Uma vez que as funções de forma são lineares ao longo de cada eixo, a única
resposta possivel do modelo é aquela mostrada em linhas tracejadas na …gura, isto é, os segmentos
entre os nós 1-2 e 3-4 permanecem retos, sem ‡exão. Então, os valores nodais possíveis são
MEF ! Ue = fu1 ; v1 ; u2 ; v2 ; u3 ; v3 ; u4 ; v4 gT ;
= tM EF b f 1; 0; 1; 0; 1; 0; 1; 0gT ,
isto é, os deslocamentos axiais são de…nidos pela rotação tM EF produzida na resposta, e os desloca-
mentos transversais são nulos. As deformações são obtidas da matriz de deformação mostrada em
(8.79), página (198):
tM EF tM EF
"xM EF = y, "xM EF = 0, xyM EF = x. (11.3)
a a
Qualitativamente, a estimativa de "x é correta, a estimativa de "y também é correta para o
caso de coe…ciente de Poisson nulo, porém surge uma deformação cisalhante transvesal não nula,
espúria. O problema pode ser resolvido por simples balanço de energia da deformação com trabalho
do momento aplicado. Para o problema exato,
U = W;
Z b Z a
1
"T Ct " dxdy = Mf t,
2 y= b x= a
onde Ct é a matriz elástica para estado plano de tensões, eq.(8.71). E analogamente para o modelo
de elementos …nitos, UM EF = WM EF . Realiando analiticamente as integrações se obtém
2b3 E(1 + 3 2 ) 2
Exato ! 2)
t = Mf t;
3a(1
b3 E(2b2 + a2 (1 ) 2
MEF ! 2
tM EF = MM EF tM EF . (11.4)
3a(1 )
A discussão a seguir pode ser feita com mais clareza para o caso = 0, com MM EF = Mf :
292 Capítulo 11. Locking, patch test
E
Exato ! 2b3 t = Mf ;
0 3a 1
Nota-se que a solução de elementos …nitos apresenta um termo extra, positivo, a2 b dentro do
parênteses, que é originário do cisalhamento espúrio. Então, conforme a cresce, a aproximação
tM EF torna-se cada vez menor. É um caso típico de travamento por cisalhamento. Conforme o
segundo termo cresce, ele vai se sobrepondo ao valor correto dado pelo primeiro termo. A energia
de deformação cisalhante funciona como uma penalização sobre o termo de energia de deformação
de ‡exão.
O processo pode ser visto também fazendo a relação entre o ângulo exato e o aproximado:
tM EF 1
= (11.6)
t 1
2 (a=b)2 + 1
Claramente, conforme a=b cresce, tM EF =t tende a zero no limite. Para um valor …nito de a=b, o
travamento não será completo, mas a aproximação será pobre, com baixa taxa de convergência de
re…no de malha.
Ke X = X , (11.7)
onde consideramos aqui X o conjunto de Ngle autovetores, ortonormalizados (XT X = I), e a
matriz diagonal com os correspondentes autovetores. Se os autopares estiverem ordenados em ordem
crescente, os cr primeiros autovalores serão nulos. Por outro lado, a energia de deformação
do elemento para o modo j é (1/2)XTj Ke Xj . Claramente, para um dos modos de corpo rígido,
XTj Ke Xj = 0, para j = 1; :::; cr , isto é, os modos de movimento de corpo rígido possuem energia
11.2. Subintegração e modos espúrios 293
de deformação nula, isto é, são modos em que o elemento não se deforma, apenas se translada e se
rotaciona. A matriz do elemento bem integrado posui md = Ngle cr modos de deformação. Então,
a matriz de rigidez tem posto md , que é o posto correto.
Quando se considera o elemento obtido por subintegração, observa-se que ele apresenta mais
de cr autovalores nulos. Existem me modos espúrios, de autovalor nulo, cujos corresponentes au-
tovetores são também modos de deformação, porém associadas a energia de deformação nulas. Isso
signi…ca XTj Ke Xj = 0, para j = cr + 1; :::; cr + me . Isso signi…ca que o posto da matriz é menor
que Ngle cr . É uma matriz com posto de…ciente.
y, v y, v
4 3 4 3
x, u x, u
1 2 1 2
Figura 11.4: Modos de deformação do elemento bilinear que se tornam de energia de deformação
nulas se a matriz for subintegrada.
Por exemplo, a Figura 11.4 mostra dois dos modos dedeformação do elemento bilinear de
estado plano. Se a matriz for integrada completamente, a energia de deformação será nula, como
esperado. Esses modos são ilustrados na …gura. Entretanto, se a matriz for obtida tomando apenas o
ponto de integração central, ela não apresentará rigidez quanto a esses modos, pois a deformação é
nula nesse ponto. Quaisquer valores de deslocamentos nodais associados podem ocorrer, gerando
um campo de deformação de energia nula.
Os modos de energia nula do elemento bilinear são ditos não comunicaveis. Isso signi…ca
que numa malha desses elementos, após serem impostas as condições de contorno adequadas para
restringir os movimentos de corpo rígido da peça, esses modos espúrios são suprimidos. Entretanto,
a solução do modelo nos elementos distantes dos apoios pode apresentar resposta poluida por esses
modos, com valores nodais enormes. Isso porque a matriz global de rigidez apresenta-se perturbada
pelos modos espúrios dos elementos. Entretanto, mesmo nessa situação, deslocamentos e tensões
nos centroides dos elementos (o ponto de subintegração), podem ser razoavelmente precisos. Isso se
traduz por uma matriz de rigidez com uma quantidade de autovalores que são não nulos, porém bas-
tante menores que os demais. A resposta em um problema estático pode ser boa, porém a presença
desses modos quase singulares pode gerar di…culdades num problema dinâmico. O sistema dinâmico
pode apresentar algumas frequências naturais inferiores à menor frequência natural verdadeira do
modelo.
Um elemento biquadrático Lagrangiano de 9 nós em estado plano, quando subintegrado, apre-
senta 3 modos espúrios de energia nula, sendo dois deles comunicaveis, isto é, uma malha pode
ter todos os elementos com esse modo espúrio. O elemento ’serendipity de 8 nós apresenta apenas
1 modo espúrio, sendo não comunicavel. Não comunicavel signi…ca que, numa malha com dois ou
mais desses elementos, é impossível que dois elementos vizinhos se deformem com esse modo. Esse
é o chamado modo “hourglass”, (ampulheta em inglês), devido ao seu formato geral. A Figura 11.5
ilustra esses modos para os dois tipos de elementos. Observe que em todos esses modos o tensor
deformação é nulo em cada um dos 4 pontos de integração reduzida. Em elementos sólidos de
baixa ordem, lineares ou quadráticos, os efeitos da subintegração são similares. Por exemplo,sólidos
trilineares de 8 nós quando subintegrados com 1 ponto de integração apresentam 12 modos espúrios,
e sólidos triquadráticos Serendipity de 20 nós com subintegração de 2 2 2 pontos apresenentam
294 Capítulo 11. Locking, patch test
6 modos espúrios.
4 3 4 3 4 3
s s s
r r r
1 2 1 2 1 2
(a) (b) (c)
Figura 11.5: Modos espúrios: (a)-(c) elemento de 9 nós; (c) elemento de 8 nós. Os modos (a) e (b)
são os únicos comunicaveis.
2. Numa integração uniforme, com o mesmo número de pontos em cada direção do elemento, se
tem no total n pontos de integração, que geram cn “informações”independentes no processo;
considerar que o modelo numérico tranca como efeito de uma quantidade excessiva de restrições im-
postas, sendo que cada ponto de integração é uma restrição. A subintegração uniforme remove uma
quantidade excessiva de restrições e a matriz Ke …ca demaisado ‡exível. A subintegração seletiva
pode remover uma quantidade mais adequada de restrições, deixando a matriz com seu posto mais
próximo do adequado, e com a ‡exibilidade ajustada. De fato, a escolha dos pontos de subinte-
gração, e dos termos a serem subintegrados, também são feitas de maneira adequada. Ao …nal, o
problema do locking pode ser resolvido, em muitos casos, mas em geral outros problemas surgem
decorrentes da subintegração, principalmente em elementos de baixa ordem. Esses problemas só são
resolvidos de forma completa pelo uso de formulações mais complexas, baseadas em métodos de
estabilização por campo de deformação assumida. Assim existem os elementos estabilizados
planos de 3 e 4 nós para elasticidade …nita e ‡exão de placas e cascas, sólidos tetraédricos de 4 nós,
hexaédricos de 8 nós, que são livres de todas as patologias numéricas. São usados principalmente em
problemas não lineares de deformação/deslocamentos …nitos, e em problemas dinâmicos de impacto,
via integração direta. São situações que tornam atraentes elementos de baixa ordem.
O modelo de ‡exão de viga de Timoshenko pode ser visto, formalmente, como uma simpli…cação
unidimensional do modelo de ‡exão de Mindlin. A relação dos modelos de viga de Timoshenko e de
Euler-Bernoulli é a mesma entre os modelos de placa de Mindlin e de Kirchho¤, isto é, a inclusão
ou não da energia de deformação de cisalhamento transversal. Na formulação de Timoshenko, o
campo cinemático é descrito tomando a simpli…cação de (15.3) para o caso de deslocamento coplanar
apenas no plano xz:
ux (x; z) = z x (x);
uz (x) = w(x); (11.9)
@ x
"x (x; z) = z x (x) , onde x = ,e
@x
@w
xz (x) = x (x) + . (11.10)
@x
Consideramos uma viga de seção uniforme de comprimento L, seção transvesal com área e
momento de inércia A e I, submetida a uma carga transversal distribuida qz (x) [N/m] e a uma
força concentrada F em x = L. Usando a lei de Hooke 1D a energia potencial total da viga é dada
por
Z L Z Z L
1
= E"2x + G 2
xz dydz dx qz w dx F w(L): (11.11)
2 x=0 A x=0
Z L Z Z L
E 2 2 EI 2
Uf = x z dydz dx = x dx; (11.12)
2 x=0 A 2 x=0
e a parcela de cisalhamento …ca
Z L Z
G 2
Uc = xz dydz dx;
2 x=0 A
Z L "Z 2
#
G @w
= x+ dydz dx;
2 x=0 A @x
Z L Z L 2 Z L
EI 2 kGA @w
= x dx + x+ dx qz w dx Fz w(L): (11.14)
2 x=0 2 x=0 @x x=0
82 3 9
>
> >
>
> Z L Z Z >
h3 <6
6 Eb 2 kGb L
@w 2 L 7
7
=
= 6 x dx + x+ dx q w dx7 Fz w(L) : (11.15)
2 >>4 x=0 12 h2 x=0 @x x=0 5 >
>
>
: | {z } >
;
Ic
Pode-se fazer alguns enunciados gerais para o modelo de Timoshenko, baseados em uma funda-
mentação física.
2. Um método deve ser tal que, conforme a espessura da viga tenda a zero, h ! 0, apresente a
energia de deformação cisalhante tendendo a zero mais rápido que a energia de ‡exão: Uc ! 0.
Isso por que sabe-se que, no limite, a solução do modelo de Timoshenko deve ser igual à solução
do modelo de Euler-Bernoulli, em que Uc = 0.
De forma puramente matemática, observa-se em (11.15) que a primeira integral não depende da
espessura, porém o segundo termo tem a forma const Ic /h2 . Conforme h ! 0, o termo kGA=h2
cresce mais rápido que Eb=12. A segunda integral tende a dominar a primeira. Como se busca o
mínimo de , é necessário que
Z L 2
@w
lim x+ dx = 0. (11.16)
h!0 x=0 @x
11.4. Patch test 297
@w
x ! . (11.17)
@x
Esse limite corresponde exatamente à hipótese básica do modelo de Euler-Bernoulli, onde apenas
a primeira integral em (11.15) permanece. (11.16) é uma relação extra no modelo, uma restrição
no problema de minimzação. Seu efeito é o de reduzir a quantidade total de graus de liberdade
do modelo. Em aproximações como as de elementos …nitos de baixa ordem, a redução no número de
graus de liberdade tende a prejudicar a convergência. É o locking de cisalhamento. Por exemplo,
um elemento …nito com dois nós, com aproximação linear para w e x , dadas por
w(x) = c1 + c2 x,
x (x) = d1 + d2 x (11.18)
O campo de deformações é
@w
xz (x) = x ;
+
@x
= (d1 + c2 ) + d2 x. (11.19)
1. O elemento deve ser capaz de deslocar-se descrevendo qualquer movimento de corpo rígido
esperado para a formulação (uma translação para elemento de barra, tres movimentos de corpo
rígido em elasticidade plana, etc.);
2. Uma malha qualquer desses elementos, sob a ação de carregamento compativel deve ser capaz
de reproduzir qualquer estado uniforme de deformações, isto é, "x = const, com as demais
componentes nulas, e também apenas "y = const, etc, e combinações entre elas.
Nota-se que esses dois estados correspondem aos campos de deslocamentos constantes e lineares.
Considera-se que se o elemento cumpre essas condições, ele será capaz de convergir para a solução
exata em qualquer problema, em uma sequência de re…nos de malha adequados. Com o passar dos
anos, essas ideias foram progressivamente embasadas em arguemtos matermáticos consistentes.
O chamado patch test foi concebido ainda nos anos 1960 [36] e foi desenvolvido desde então
[98], para gerar um procedimento simples de veri…car se uma formulação atende aos requisitos de
convergência. De forma compacta, tem-se que
298 Capítulo 11. Locking, patch test
2. Pelo menos um dos nós deve ser interno, não pertencendo ao contorno.
4. A malha deve conter elementos distorcidos. Certas formulações passam no teste apenas se os
elementos forem regulares.
5. O carregamento aplicado deve ser consistente com a solução de estado uniforme de defor-
mações. No caso de elementos de ‡exão, como placas e cascas, o problema deve ser de
curvatura (e ângulo de torção) uniformes, ou de momentos uniformes.
Estabilidade
Nota-se que uma formulação pode passar no patch test e mesmo assim falhar na convergência em
problemas reais, se o elemento for instavel. A instabilidade de uma formulação pode incorporar uma
quantidade de fenômenos, mas um deles mais evidente é a presença de modos espúrios, de energia
de deformação nula, que surge com o uso de subintegração, completa ou seletiva. Assim torna-se
necessário também testar a estabilidade da formulação. Algumas formas práticas é veri…car, num
modelo, se um dos eventos seguintes ocorre:
1. Instabilidade, por natureza, se revela quando uma pequena modi…cação na solicitação produz
uma grande alteração na resposta. Isso pode ser testado num dado modelo.
3. Um teste direto da formulação pode ser feito obtendo todos ou apenas os primeiros autovalores
da matriz de rigidez de um elemento. A quantidade de zeros deve ser exatamente a quantidade
de movimentos de corpo rígido. Zeros adicionais indicam modos de energia nula, que podem
perturbar a resposta mesmo após a sobreposição global.
Capítulo 12
Uma das maneiras de ver o MEF é considera-lo como uma transformação que converte um prob-
lema contínuo, dado em forma de um conjunto de equações diferenciais e devidas condições de
contorno/iniciais, num problema discreto representado por um conjunto de equações algébricas em
termos de um conjunto de coe…cientes incógnitos (geralmente nodais). Num problema de mecânica
dos sólidos estático, esse problema tem a forma padrão KU = F, onde U é o vetor que contém
as incógnitas nodais do problema. Uma vez o sistema tenha sido resolvido para U; todo o resto
da solução é obtido de forma direta (deformações, reações, tensões, etc.). Em muitas situações
em que o sistema algébrico bastante pequeno (envolvendo, por exemplo, 2 equações, 50 ou mesmo
1000 equações simultâneas), pode-se praticamente ignorar qualquer di…culdade em resolver o sis-
tema. Por exemplo, utilizando uma rotina padrão de algum software para inverter K e em seguida
calcular U = K 1 F. Entretanto, quando se trata do MEF, simplesmente não é admissível esse
procedimento devido a diversos fatores que tornariam, não raro, impossível a tarefa. Os fatores são,
principalmente, os seguintes:
1. Os métodos de inversão de matrizes, alguns dos quais são sumarizados nesse capítulo, requerem
uma quantidade de operações da ordem de N 3 . Normalmente isso é representado por N op =
O(N 3 ). Isso signi…ca que uma matriz de N = 1:000, deve necessitar cerca de 109 operações de
ponto ‡utuante (soma, subtração, divisão e multiplicação) para ser invertida. Entretanto, se
N = 106 , o número de operações para a inversão passa a ser N op = O(1018 ). Note-se que essa
potência, 3, no número de operações é bastante perversa. Não importa o quanto a velocidade
dos computadores cresça, a cada instante é possível identi…car o tamanho de uma certa matriz
cuja inversão demandaria um tempo de processamento proibitivamente longo. Um método que
permita obter uma solução com um número de operações O(N 2 ), por exemplo, será sempre
mais rápido que um método com N op = O(N 3 ). Esse tipo de estimativa é o que torna proibido
o uso de inversão como forma de solução no MEF.
outras etapas são proporcionais à quantidade de nós ou de elementos, isto é, O(N nos) ou
O(nelem), isto é, se N nos ou nelem for duplicado, a tendência é uma duplicação do trabalho
computacional nessas etapas. Mas se N nos for duplicado, o esforço para resolver o sistema
num algoritmo de N op = O(N 3 ) é aumentado em 8 vezes.
O termo matriz triangular, à primeira vista, aparenta estranho, mas se refere apenas a uma for-
matação dos termos que se deseja armazenar. Essa forma é a mais obvia quando se considera a
simetria da matriz de rigidez ou de inércia do MEF na maioria das aplicações. Assim, é bastante
natural que se armazene apenas os termos de um dos lados da diagonal principal. Por exemplo, con-
sideremos uma matriz simétrica A que desejemos armazenar apenas seus termos acima da diagonal.
Esses termos são visualizados da seguinte forma
2 3
A11 A12 A13
6 A22 A23 7
6 7
A=6 A 7 : (12.1)
4 33 5
..
sim. .
N N
forma: 8 9
>
> A11 >
>
>
> A12 >
>
>
> >
>
>
> >
>
>
> A22 >
>
>
< >
=
A13
V= A23 : (12.2)
>
> >
>
>
> A33 >
>
>
> >
>
>
> .. >
>
>
> . >
>
>
: >
;
AN N M 1
M = N (N + 1)=2: (12.3)
Numa rotina de cálculo, um termo arbitrário Aij de A pode ser localizado na posição m de V, isto
é:
Note que a as operações (j 1)j=2 devem ser entendidas em forma computacional, onde as variáveis
i; j e m são inteiros e devem ser operados com os truncamento, isto é, 11=2 = 5, e não 5,5.
Adicionalmente, as operações devem ser feitas na ordem mostrada. Por exemplo, o termo A23 está
na posição m = (j 1)j=2 + i = (3 1)3=2 + 2 = 5, isto é, é o termo V(5), como pode ser veri…cado
em (12.2).
Nota-se que, com rearranjos adequados na de…nição acima, pode-se construir também uma matriz
triangular inferior.
A programação para realizar operações referentes à matriz A, operando em seus termos ar-
mazenados em V, é feita utilizando a fórmula de mapeamento indicial (12.4). Por exemplo, o
produto com um vetor arbitrário U, isto é, W = AU, é obtido pelo seguinte fragmento em For-
tran:
2 3
A11 A12 A13
6 A22 A23 A24 7
6 7
6 A33 A34 A35 7
6 7
6 A44 A45 A46 7
A=6 7 : (12.6)
6 A55 A56 7
6 7
6 A66 7
4 5
..
sim. .
N N
No exemplo da matriz em (12.6), tem-se b = 2. Claramente, uma matriz com b = 0 é uma matriz
diagonal, e com b = 1 é uma matriz tridiagonal.
Caso a matriz tenha banda, pode-se utilizar a forma de armazenamento em banda, que consiste
em armazenar, numa matriz Ab , os termos não nulos, em coluna (ou linha) após coluna. No caso
de serem armazenadas as colunas, Ab tem dimensões (b + 1) N . Para a matriz em (12.6), tem-se
2 3
0 0 A13 A24 A35 A46
b 4
A = 0 A12 A23 A34 A45 A56 5 (12.8)
A11 A22 A33 A44 A55 A66 3 6
Entretanto, essa não é a única forma possível. Por exemplo, é possível gerar uma forma em que
a diagonal principal esteja na primeira coluna, numa matriz de dimensões N (b + 1):
2 3
A11 A12 A13
6 A22 A23 A24 7
6 7
6 A33 A34 A35 7
A =6
b
6
7
7 (12.9)
6 A44 A45 A46 7
4 A55 A56 0 5
A66 0 0 6 3
Considerando a malha plana uniforme da Figura 12.1, com m m nós, a numeração nodal
mostrada é a que gera a menor largura de banda, no caso b =ngln(m + 1), onde ngln é o número de
graus de liberdade por nó. A de…nição (12.10) gera diretamente um procedimento computacional de
procura, elemento a elemento, pelo valor de b. Ao mesmo tempo a de…nição indica a condição que
a numeração nodal deve satisfazer para minimizar b. Diversos algoritmos tem sido desenvolvidos
para gerar uma numeração nodal ótima.
Em diversas estimativas de e…ciência computacional, é interessante ter um relacionamento entre
a ordem e a banda, N e b, com o tamanho do elemento, mesmo que apenas para um problema
padrão. Considere a Figura 12.1, com um domínio 2D quadrado de lados unitários, com uma malha
uniforme de m m nós. Nesse caso, a largura h de cada elemento é h = 1=(m 1). O número de
12.1. Tipos de armazenamento de matrizes 303
y 2
2m+1 3m 1
1 2 3 4 ... m
h x
1
Figura 12.1: Problema padrão 2D: malha plana uniforme de elementos quadrangulares de quatro
nós, em domínio unitário, com numeração nodal de mínima largura de banda.
1
m = + 1;
h
2
1 + 2h + h2
1
N = +1 , = (12.11)
h h2
1 + 2h
b = m+1= :
h
Fazendo o limite para 1=h ! 1, chega-se às ordens de grandeza de N e b conforme a malha é
re…nada continuamente:
1 1
N =O e b=O (caso 2D) (12.12)
h2 h
Consideremos a malha uniforme no bloco 3D de lado unitário, com m m m nós. Para ngln
= 1 graus de liberdade por nó, a ordem da matriz é N = m3 e a largura de banda é b = m2 + m + 1.
Então,
1
m = + 1;
h
3
1 1 + 3h + 3h2 + h3
N = +1 = , (12.13)
h h3
1 + 2h + h2 1 + h
b = m2 + m + 1 = + + 1:
h2 h
Fazendo o limite para 1=h ! 1, chega-se às ordens de grandeza de N e b conforme a malha 3D
uniforme é re…nada continuamente:
1 1
N =O e b=O (caso 3D) (12.14)
h3 h2
As expressões (12.12) e (12.14) podem ser sumarizadas para os casos 2D e 3D por (d = 2 ou 3 para
304 Capítulo 12. Operações matriciais no MEF
o número de dimensões):
1 1
N =O e b=O (12.15)
hd hd 1
Uma forma mais so…sticada de armazenar termos não nulos é a chamada matriz skyline. Em vez
de armazenar todos os termos abaixo da linha da banda, o que é feito é armazenar, de cada coluna,
apenas os termos abaixo do termo não nulo situado à maior distância vertical da diagonal. Por
exemplo, consideremos a matriz com a seguinte forma
2 3
A11
6 A22 A23 A25 7
6 7
A=6
6 A33 0 7
7 ; (12.16)
4 A44 A45 5
sim. A55 5 5
onde os termos acima da diagonal não indicados são nulos. A meia-banda dessa matriz é b = 4, de
forma que não se conseguiria uma economia su…ciente de memória nem de tempo de processamento
fazendo o armazenamento em banda. Já o armazenamento skyline consiste em trabalhar com os
dados, num vetor único, armazenando coluna após coluna, a partir do primeiro termo da coluna até
a diagonal. Para o exemplo se tem o seguinte vetor coluna de armazenamento:
T
V= A11 A22 A23 A33 A44 A25 0 A45 A55 NA 1
: (12.17)
Nota-se que na coluna 5 armazenamos todos os termos a partir do primeiro não nulo da coluna,
A25 , inclusive o 0 da posição A35 . No exemplo, temos o armazenamento de apenas NA = 9 termos
em V. Para armazenamento em banda teríamos 5 4 = 20 termos, para matriz triangular M =
N (N + 1)=2 = 15 e em matriz quadrada N N = 5 5 = 25. Conforme a ordem da matriz
cresce, a diferença cresce de forma potencial. Nota-se que a matriz banda só apresenta vantagem
se a numeração nodal for adequada para gerar uma banda estreita, isto é, b << N . Do contrário
ela se comporta de forma pior que o armazenamento triangular.
O armazenamento em matriz skyline trabalha com dois vetores. O vetor com os dados da matriz,
como o V em (12.17), e um vetor de controle MaxA(N ) que indica, para cada coluna j, a posição
em V do termo Ajj da matriz:
Então o termo A33 encontra-se em V (MaxA(3)) = V (4). O termo A22 encontra-se em V (MaxA(2)) =
V (2). Com isso determina-se o número de termos na coluna 3 sob o per…l skyline: nk = MaxA(3)
MaxA(2) =4 2 = 2. Em geral, pode-se calcular, unicamente a partir de MaxA, a primeira linha
não nula li na coluna k:
AU = F. (12.23)
O processo padrão da eliminação de Gauss é feito em duas etapas.
Etapa 1 - Triangularização
306 Capítulo 12. Operações matriciais no MEF
L 1
= LN1 1 :::L2 1 L1 1 . (12.25)
Então
1
L A = S: (12.26)
Cada matriz Lj 1 tem a forma:
2 3
1
6 1 7
6 7 (j)
6 .. 7 Alj
6 . 7
6 7 onde Ll;j = ;
1 6 Ljj = 1 7 (j)
Ajj
Lj =6 7 (12.27)
6 .. 7 j = 1; ; N 1;
6 Llj . 7
6 7 l = j + 1; ; N:
6 .. 7
4 . 1 5
LN j 1 N N
A(1) = = A e A(j) = Lj 11 :::L2 1 L1 1 A. Os termos não mostrados são nulos. A aplicação da matriz
Lj 1 anulará todos os termos abaixo da diagonal da coluna j de A(j) . A inversa de Lj 1 é obtida
simplesmente multiplicando os termos abaixo da diagonal por ( 1). De (12.25), a inversa de L 1 é
dada por
2 3
1
6 L(1) 1 7
6 21 7
6 (1) .. 7
6 L L32
(2)
. 7
6 31 7
L = L1 L2 :::LN 1 , ou L = 6 . 7. (12.28)
6 .. 1 7
6 7
6 .. 7
4 . 5
(1) (2)
LN 1 LN 2 1
(Nessa matriz a notação (j) indica que o termo pertence à matriz Lj .) Cada matriz Lj 1 é triangular
inferior, de forma que L 1 e L também o são. Após a aplicação de todas as transformações L 1 A
em (12.26), o lado direito é uma matriz triangular superior. Sua diagonal pode ser extraída para a
matriz diagonal D, deixando S com diagonal unitária. Então, D tem seus termos dados por
A = LDS (12.30)
S é obtida por
1
S=D S. (12.31)
Tanto L quanto S tem diagonal unitária.
T
Caso a matriz A seja simétrica, tem-se S = L , logo A = LDLT . Se, adicionalmente A for
positiva de…nida, toda a diagonal de D é positiva e pode ser incorporado em L, o que geram as
12.2. Métodos de solução de sistemas algébricos estáticos 307
seguintes formas
1. O processo de fatoração de Gauss não modi…ca o per…l skyline da matriz A, isto é, cada
coluna de S tem a mesma altura que em A.
3. Entretanto, os valores nulos sob o per…l skyline em A podem se tornarem não nulos em L e S.
É o processo denominado “…ll in”. Isso signi…ca que parte da esparsidade das matrizes
do MEF é perdida no processo de fatoração.
4. Nas expressões mostradas até o …nal da seção, a menos que indicado em contrário, os índices
supõem que as matrizes A, L e S estejam armazenadas em arranjos quadrados de ordem N .
Caso as matrizes possuam banda, os somatórios serão ajustados para operar apenas os termos
dentro da banda, eliminando operações com zeros. Essa forma é util apenas para tornar claro
as operações envolvidas. Para implementação, as matrizes são armazenadas em forma de
banda, e os índices serão ajustados conforme mostrado posteriormente.
(LS)U= F: (12.33)
|{z}
V
LV = F (12.34)
cuja solução é simplesmente V = L 1 F. Devido às propriedades de L isto é obtido linha após linha
sem di…culdades, indo do primeiro termo de V até o último, isto é,
F1
V1 = ;
2L11 3
i 1
X 1 (12.35)
Vi = 4Fi Lij Vj 5 , para i = 2; ;N
Lii
j=ji
A presença do termo L11 pode ser suprimida na fatoração de Gauss (onde L11 = 1), mas será
necessária na fatoração de Cholesky vista na seção seguinte. O valor inicial no somatório, ji ,
depende do tipo de esparsidade da matriz, se matriz cheia ou se tem banda b:
SU = V: (12.37)
A matriz S é triangular superior, de forma que a solução é obtida comecando pelo último termo de
U:
308 Capítulo 12. Operações matriciais no MEF
FN
Un = ;
SN 2
N 3
jf
X (12.38)
1 4
Ui = Fi Sij Uj 5, para i = N 1; ;1
Sii
j=i+1
O valor …nal no somatório, jf , depende do tipo de esparsidade da matriz, se matriz cheia (quadrada)
ou se tem banda b:
A etapa de triangularização pode ser resumida na forma mostrada no seguinte ‡uxograma, para
uma matriz quadrada, não singular, não necessariamente simétrica. A matriz A é armazenada
em forma quadrada, completa. Ao …nal do processamento, as fatorações L e S (tal que A = LS),
aparecem na mesma área de memória que A. L contém diagonal unitária.
Fatoração de Gauss:
(1) do j = 1; N 1 (corre as colunas de A)
(2) do l = j + 1; lf (corre as linhas sob a diagonal)
(3) if Ajj ", c = Alj =Ajj
(4) if Ajj < ", msg de erro, stop
(5) do m = j; mf (corre as colunas da linha l)
(6) Alm = Alm cAjm (compõe S e parte de L)
enddo
(12.40)
(7) Alj = c (compõe L)
enddo
enddo
(8) Para matriz cheia, lf = m
(f = N
j + b, se j + b N;
(9) Para matriz com banda b, lf =
(N; se j + b > N:
j + b, se j + b N;
mf =
N; se j + b > N:
dos somatórios para limitar as operações aos termos dentro da banda da matriz, caso ela a possua.
Fatoração de Cholesky:
(1) do k = 1; N (corre as colunas de A)
p
(2) Akk = Akk .
(3) do i = k + 1; if (linhas da coluna k sob a diagonal)
(4) Aik = Aik =Akk
enddo
(5) do j = k + 1; jf (colunas a direita da k)
(6) do p = j; pf (linhas da coluna j sob a diagonal j)
(7) Apj = Apj Apk Ajk
enddo
(12.42)
enddo
enddo
(8) Para matriz cheia, if = (
pf = jf = N
N , se qi > N;
(9) Para matriz com banda b, if =
( qi ; se qi N:
N , se qp > N;
(10) pf =
( qp ; se qp N:
N , se qj > N;
(11) jf =
qj ; se qj N:
(12) qp = qi = qj = k + b
Do ponto de vista computacional, o aspecto mais importante de um método que gera solução exata
(a menos de erros de truncamento), como os métodos diretos, é o tempo de processamento, que
se traduz no número de operações necessárias para gerar a solução. Esse número de operações
geralmente é contado usando o acrônimo inglês “‡op”- ‡oat point operation, o número de operações
de ponto ‡utuante. É a contagem do número de operações de soma, subtração, produto e divisão
entre números reais. São as operações mais demoradas. A forma de contagem não é uniforme na
literatura. Algumas vezes são consideradas apenas os produtos e divisões, sendo subentendido que
os cálculos envolverão igual quantidade de soma-subtrações.
Fatoração
Consideremos uma matriz quadrada não simétrica A, e as operações de fatoração de Gauss mostradas
no ‡uxograma da eq. (12.40). Incialmente consideremos as operações para um dado valor de j,
o laço mais externo. As operações são aquelas nos laços das linhas 2 e 5, de l = j + 1; N e
m = j; N . Cada termo no laço interno envolve um produto e uma subtração. O número de termos
é (N j)(N j + 1): é o número de termos no retângulo da matriz de…nido pelos limites dos laços
de…nido por j. Esse retângulo é mostrado no seguinte exemplo, para j = 3:
310 Capítulo 12. Operações matriciais no MEF
2 3
x x x x x x x
6 x x x x x x 7
6 7
6 A33 x x x x 7
6 7
A=6
6 x x x x x 7
7 (12.43)
6 x x x x x 7
6 7
4 x x x x x 5
x x x x x
Entretanto, não buscamos o número exato de operações, apenas sua ordem de grandeza e o coe-
…ciente multiplicando o termo de maior potência. Assim, o número de operações no retângulo, 1
produto + 1 soma por termo, pode ser simpli…cado para:
O resultado da série é:
2
nf G = N (N 1)(2N 1). (12.45)
6
Como estamos interessados na estimativa de número de ‡op’s para grandes valores de N , a
chamada estimativa assintótica, basta que tomemos o termo de maior potência de N :
2
nf G = N 3 (12.46)
3
Uma outra forma mais precisa pode ser obtida tomando precisamente todos os laços do ‡uxo-
grama:
2 3
N
X1 X N XN
nf G = 41 produto + (1 soma + 1 produto)5 (12.47)
j=1 l=j+1 m=j
1
nf G = N (N 1)(4N + 7): (12.48)
6
A simpli…cação para o termo de maior potência resulta na mesma expressão (12.46).
Usando o mesmo procedimento usado em (12.47), temos a contagem para as substituições progressiva
e regressiva, a partir de seus algoritmos nas eqs. (12.35) e (12.38):
2 3
XN i 1
X
npG = nrG = 4(1 prod. + 1 soma) + (1 soma + 1 produto)5 ; (12.49)
i=2 j=1
Outra forma mais simples de contagem consiste em considerar que L contém N (N +1)=2 termos.
A substituição progressiva envolve as mesmas operações que o produto L com um vetor. Cada termo
de L faz um produto com um de v e uma soma. Então são 2N (N + 1)=2 = N 2 + N operações,
aproximadamente.
Outra forma mais e…ciente de obter a inversa é a partir da representação fatorada de A, isto é,
A = LS. Então
1
AA = I;
1 1= 1 1
LSA =I ! A S L (12.52)
Do i = 1; N
Do j = i; N
(12.53)
Do m = j; N
A 1 ij = A 1 + S 1 L 1
ij im mj
1 1 3
nIG sup = N (N + 1)(N + 2) N : (12.54)
3 3
Caso a matriz não seja simétrica, torna-se necessário realizar aproximadamente a mesma quantidade
de operações para identi…car o triângulo inferior da inversa. Então, o custo total de determinar a
inversa é dado pelas operações de fatoração e do produto matricial S 1 L 1 :
Logo é metade do custo da inversa obtida pelo procedimento mostrado em (12.51), mas em
ambos os casos, da ordem de N 3 operações
312 Capítulo 12. Operações matriciais no MEF
1 1 3
nf C = N (N + 1)(N 1) ! nf C N (12.56)
3 3
As substituições progressivas e regressivas demandam a mesma quantidade de operações que
no método de Gauss, eqs. (12.50).
Fatoração de Gauss
Consideramos as linhas 2-5 do ‡uxograma da eq. (12.40), com os limites lf e mf ajustados conforme
as linhas 8-9. O efeito dessas limitações é que, para cada termo j, as operações realizadas são
limitadas a um retângulo de…nido pelo termo Ajj . No exemplo de (12.59) estão marcados os
retângulos associados aos termos A11 e A88 . Cada retângulo possui b(b + 1) termos, sendo que
em cada termo são feitas uma subtração e um produto. Somamos apenas os retângulos de A11 a
A(N b)(N b) , isto é, existem (N b) retângulos. Em resumo, o número de ‡op’s é aproximadamente
Uma outra forma pode ser obtida tomando todos os laços do ‡uxograma (12.40):
2 3
N j+b
Xb X k+b
X
nf Gb = 41 produto + (1 soma + 1 produto)5 ; (12.61)
j=1 l=j+1 m=j
cuja aproximação assintótica é a mesma de (12.59). Note que essas estimativas ignoram o número
de operações no triângulo inferior do último retângulo. Esse triângulo contém aproximadamente
b(b + 1) termos, o que envolve aproximadamente b3 operações. Portanto, a estimativa nf Gb acima
não é adequada para valores de b próximos de N .
1
npGb = 2 (b + 1)(N b) + b(b + 1) (12.62)
2
O segundo termo conta os termos abaixo da diagonal, incluindo esta, do triâgulo inferior do primeiro
quadrado de…nido pela banda (o quadrado marcado com A11 no exemplo da eq. (12.59)). O primeiro
termo leva em conta os demais termos abaixo da diagonal. Então, os valores assintóticos para as
substituições progressivas e regressivas são
Nota-se que é uma forma bastante cara de obter a inversa, uma vez que, assintoticamente, as
substituições progressivas e regressivas passam a requerer mais operações que a fatoração. Assim
consideramos obter a inversa a partir da representação fatorada de A, isto é, A = LS, isto
1
é, A 1 = S L 1 . As operações para determinar o triângulo superior de A 1 são as mesmas do
caso de matriz cheia, eq. (12.53), porém ajustando os índices para levar em conta que todas as
314 Capítulo 12. Operações matriciais no MEF
matrizes, A 1 , S 1 e L 1 , possuem banda b, sendo que as duas últimas são banda superior e
inferior, respectivamente. Os termos no triângulo superior de A 1 , até a linha n b, são obtidos
por:
Do i = 1; N b (linha de A 1 )
Do j = i; i + b (coluna de A 1 )
(12.65)
Do m = j; i + b
A 1 ij = A 1 ij + S 1 im L 1
mj
e os termos após a linha a linha n b + 1 (o triângulo superior de…nido pelo quadrado iniciado pelo
termo diagonal n b + 1) são
Do i = N b + 1; N (linha de A 1 )
Do j = i; N (coluna de A 1 )
(12.66)
Do m = j; N
A 1 ij = A 1 ij + S 1 im L 1 mj
Logo é um custo fortemente menor que a inversa obtida pelo procedimento mostrado em (12.64).
1
nf Cb = 2 b(b + 1)(N b); ! nf Cb N b2 (12.69)
2
Uma outra forma pode ser obtida tomando todos os laços do ‡uxograma (12.42):
2 3
N
Xb X
k+b k+b
X
nf Cb = 41 produto + (1 soma + 1 produto)5 ;
k=1 j=k+1 i=j
cuja aproximação assintótica é a mesma de (12.59). Note que essas estimativas ignoram o número
12.2. Métodos de solução de sistemas algébricos estáticos 315
Também a inversão de matriz simétrica pelo método de Cholesky requer metade das operações de
Gauss.
Em todas as operações descritas nessa seção foi considerado que a matriz possuía banda, porém
estava armazenada numa área quadrada de ordem N . De fato, os dados da matriz estarão armazena-
dos numa das formas compactas, por exemplo aquela mostrada em (12.9), onde a matriz quadrada,
simétrica, A; é armazenada num arranjo retangular Ab de dimensões N (b + 1), com a diagonal
principal na primeira coluna. A programação de qualquer operação pode ser feita simplesmente
seguindo os ‡uxogramas feitos para armazenamento quadrado, e realizando um mapeamento de
índices como descrito a seguir.
(a) I = i;
(12.72)
(b) J = j i + 1:
Se (i; j) pertence ao triângulo inferior de A. O mapeamento é:
(a) I = j;
(12.73)
(b) J = i j + 1:
12.2.6 Comparações
A Tabela 12.1 mostra os resultados comparativos de ordem assintótica de número de operações para
algumas operações típicas baseadas nos métodos de fatoração de Gauss e de Cholesky, tanto para
matrizes com esparsidade completa quanto em banda. Nota-se que em todos os casos a fatoração de
Gauss se comporta com a mesma ordem que a de Cholesky, exceto pelas substituições progressivas e
regressivas, porém o método de Cholesky requer aproximadamente metade do número de operações
do método de Gauss.
Usando as estimativas (12.12) e (12.14) para ordem de grandeza de b nos problemas padrão
2D e 3D, se obtém
316 Capítulo 12. Operações matriciais no MEF
Tabela 12.1: Sumário das estimativas de números assintóticos de operações para operações típicas
usando fatoração de Gauss e de Cholesky. As colunas 2D e 3D são para o problema padrão.
Método Operação Esparsidade O(‡op’s) 2D 3D
2 3
Gauss Fatoração L, S completa 3N
Subst. progr. + regr. 2N 2
4 3
Inversão 3N
1 3
Cholesky Fatoração B completa 3N
Subst. progr. + regr. 2N 2
2 3
Inversão 3N
Gauss Fatoração L, S Banda b 2N b2 2N 2 2N 7=3
Subst. progr. + regr. 4N b 4N 3=2 4N 5=3
Inversão 4N b2 4N 2 4N 7=3
Cholesky Fatoração B Banda b N b2 N2 N 7=3
Subst. progr. + regr. 4N b 4N 3=2 4N 5=3
Inversão 2N b2 2N 2 2N 7=3
1 1
Em 2D, N = O , logo b = O = O N 1=2 , e
h2 h
1 1
Em 3D, N = O , logo b = O = O N 2=3 . (12.74)
h3 h2
Essas estimativas para b podem ser aplicadas nas estimativas da coluna 4 da Tabela 12.1 para
estimar o número de operações na malha padrão, em matriz banda, mostrados nas colunas 5 e 6. A
Figura 12.2 mostra uma comparação entre as estimativas assintóticas do número de operações para
fatoração usando os métodos de Gauss (matriz não simétrica) e de Cholesky, com matriz completa
e banda. Para o caso de matriz banda utilizou-se as estimativas para a malha padrão em 2D e 3D
mostradas na Tabela 12.1. Nota-se que a diferença de 2 entre o número de operações de Gauss e
de Cholesky parecem pouco nítida no grá…co, devido às escalas logarítmicas. Já as diferenças de
inclinação das retas são evidentes. O trabalho com matriz completa parece inadmissível quando
comparado ao uso da banda no processo de fatoração. De fato, a tendência é que outros métodos
de armazenamento sejam usados, além da banda, (como skyline, esparsa), de forma a obter ainda
mais vantagens.
Número de operações
Gauss, banda, 3D
1014
Cholesky, banda, 3D
1013
1012 3
1
1011
1010
109 1
2
108 1
107
106
105
104
102 103 104 105 106
Ordem N da matriz
Figura 12.2: Comparação entre estimativas assintóticas de número de operações para fatoração de
Gauss e de Cholesky, com matriz completa e banda.
AU = F: (12.76)
Assim, a solução do problema algébrico pode ser obtida buscando o vetor que minimiza o potencial.
Uma prova sucinta da equivalencia de ambas as soluções pode ser feita como segue. Considera-se o
sistema em dois estados:
Estado 1, caracterizado pelo vetor deslocamento2 U e o potencial V (U);
Estado 2, caracterizado por um vetor vizinho ao estado 1, dado por U+ U e potencial
V (U+ U).
U é um deslocamento virtual (variação de U) aplicado ao estado 1. A variação total do potencial
é obtida usando (12.75)
V V (U+ U) V (U);
1 1 T
= (U+ U)T A (U+ U) (U+ U)T F U AU + UT F: (12.77)
2 2
Uma vez que os produtos triplos resultam em um escalar, UT AU = UT A U. Então a variação
simpli…ca-se para
1
V = UT [AU F] + UT A U: (12.78)
| {z } 2
V
Uma vez que A é requerida ser positiva-de…nida, segue-se que V é sempre não negativo, e
é nulo apenas se U = 0. Segue-se que o vetor U que é a solução (única) de (12.76) é o mesmo
vetor que minimiza V . Nessa e na próxima seção alguns dos procedimentos mais e…cientes para
obter o mínimo são tratados: o método do gradiente, o dos gradientes conjugados e um processo de
condicionamento.
Aspectos gerais de variação e de minimização podem ser vistos nas seções 10.2 e 14.5.
u2
d (k) U (k)
u1 U
grad V
(k)
ak d
Figura 12.3: Ilustração de uma função potencial para N = 2 coordenadas, com curvas de nível,
vetor gradiente grad V e vetor direção de busca d.
Diversas formas existem para de…nir ak e d(k) , cada uma delas de…nindo um método com car-
acterísticas próprias. Caso se aplique em (12.76) qualquer vetor distinto da solução exata se tem
um resíduo, um erro no equilíbrio. Numa dada iteração k, o resíduo é
@V @V @V @V
rV = ; ; ; ! rVi = : (12.81)
@u1 @u2 @uN @ui
O operador potencial (12.75), em notação indicial, é
1
V = ui Aij uj Fi u i : (12.82)
2
12.3. Método iterativos baseados em minimização de potencial 319
@ h i
V (U(k+1) ) V (U(k) + ak d(k) ) ! V (U(k) + ak d(k) ) = 0: (12.85)
@ak
Porém,
1 T
V (U(k) + ak d(k) ) = U(k) + ak d(k) A U(k) + ak d(k) U(k) + ak d(k) F:
2
Essa expressão pode ser expandida, diferenciada e simpli…cada (usando d(k)T F = F d(k) e U(k)
Ad(k) = d(k) AU(k) ), de forma que (12.85) se torna
@ h i h i
V (U(k) + ak d(k) ) = d(k) AU(k) F + ak d(k) A d(k) =0: (12.86)
@ak
Resolvendo para ak obtém-se o comprimento ótimo de correção na direção d(k) . Assim,o método
do gradiente pode ser sumarizado no seguinte:
Quando nada se sabe sobre a solução, a estimativa inicial geralmente é feita fazendo U(0) = 0.
Em problemas não lineares, essa estimativa pode ser tomada como a solução convergida do tempo
ou nível de carga anterior.
Como este é um problema de minimização de um potencial, a modi…cação do potencial para
satisfazer condições de restrição pode ser feita da maneira usual. Ver por exemplo o Capítulo
10.
320 Capítulo 12. Operações matriciais no MEF
O tamanho apropriado de a vai surgir automaticamente durante a dedução. Uma vez que a solução
exata satisfaz AU F = 0, pode-se somar essa expressão à igualdade trivial U = U, na forma
U = U a (AU F). Subtraindo de (12.89)1 , e usando (12.89)2 para eliminar d(k) , obtém-se
Nesse ponto é necessário buscar de álgebra uma das varias de…nições de norma kAk de uma
matriz A:
kAvk
kAk max (12.93)
v6=0 kvk
max
c(A) (12.95)
min
min e max são o menor e o maior autovalor da matriz. Normalmente os autovalores são ordenados
crescentemente, então pode-se representar c(A) = N = 1 .
Finalmente, a álgebra linear prova que a norma da matriz é relacionada aos seus autovalores por
Uma estimativa da norma do vetor erro em (12.92) pode ser obtida com a ajuda de (12.94):
Agora essa expressão é toda escalar, onde a relação entre os erros é dada por f kI aAk. Para
que o método convirja é necessário que esse fator seja menor que 1. Quanto menor f , mais rápida é
a convergência entre uma iteração e outra. Então, torna-se necessário identi…car as condições para
que isso ocorra. Nota-se que, devido a (12.96),
1 a j > 1, para j = 1; 2; ; N:
(Lembrar que os j ’s, os autovalores de A, são todos positivos.) Com isso, pode-se observar que
a deve ser escolhido de tal forma que a < 2= j para todo j. Isso só pode ser conseguido tomando
a < 2= N . Um valor frequentemente utilizado é
1
a= (12.99)
N
Por outro lado, para um dado valor de a, o máximo valor em (12.98) é obtido para j = 1, isto
é, f = kI aAk = j1 a 1 j. Nesse caso, incorporando o valor de a de (12.99) e comparando com a
de…nição de número de condição em (12.95), tem-se
1 1 1
kI aAk = 1 =1 =1 . (12.100)
N N c (A)
Levando esse termo à equação de evolução do erro, (12.97), obtém-se
Essa é a relação entre os erros entre duas iterações sucessivas. Aplicando essa expressão sucessiva-
mente a partir de k = 0, tem-se a relação entre o erro atual em k + 1 e o erro inicial:
k
1
e(k+1) 1 e(0) : (12.102)
c (A)
Num processo real de simulação, o interesse consiste em estimar a quantidade n de iterações
necessárias para atingir um erro menor que um certo valor, , onde é de…nido por
e(n+1)
: (12.103)
e(0)
322 Capítulo 12. Operações matriciais no MEF
Resolvendo (12.102) esse erro pode ser relacionado ao número de iterações por
n
e(n+1) 1 1 1
= 1 ! n ln 1 ln . (12.104)
e(0) c (A) c (A)
Nesse ponto utiliza-se uma relação que pode ser demonstrada de diversas formas, como com a ajuda
grá…ca: para x 1 tem-se que ln(1 x) x Nesse caso, (12.104) pode ser modi…cada para
n 1 1 1
n ln 1 ln ! n c (A) ln (12.105)
c (A) c (A)
Essa expressão é o objetivo da presente dedução. Ela mostra que a quantidade de iterações para
reduzir o erro inicial a um valor é proporcional ao número de condição da matriz, desde que seja
utilizado um valor adequado do comprimento da correção a.
Pode-se fazer algumas experiências com a expressão (12.105). Tomemos um valor típico de erro,
= 10 6 . Então, n 6 c (A). Consideremos o domínio unitário 2D padrão da Figura 12.1. Prova-se
que numa modelagem de elementos …nitos de um problema como o de transferência de calor, plano,
com uma única variável, a temperatura, de…nido pelo operador diferencial laplaciano, o número
de condição da matriz coe…ciente é c (A) = O(h 2 ), onde h é o tamanho do lado do elemento.
Então, na malha padrão se tem que o número de graus de liberdade é N = O(h 2 ), conforme
(12.12). Isso signi…ca que c (A) = O(N ).
Assim, numa malha com N = 1:000 graus de liberdade se teria o número de interações estimado
por (12.105) como
1 1
n c (A) ln = N ln = 1000 13; 8 = 13.800 iterações, (12.106)
que é uma quantidade proibitivamente grande de iterações para atingir o erro requerido na solução.
Estimativas similares são válidas em problemas estáticos de mecânica dos sólidos, e outros associados
a operadores diferenciais de equações elípticas.
Esse tipo de comportamento do método do gradiente explica porque tornou-se necessário buscar
métodos mais e…cientes. O mais utilizado deles é uma variação do método do gradiente, sumarizado
na próxima seção.
O método do gradiente conjugado foi proposto inicialmente por Hestenes [47] em 1952, com a
proposta de ser um método para solução de sistemas lineares de equação de grande porte, de…nido
por matriz simétrica e positiva-de…nida. É um método mais e…ciente que o do gradiente, em que as
direções de procura, d(k) ; são conjugadas, isto é,
Nesse método, em vez da direção de correção d(k+1) ser feita na direção contrária ao do gradiente,
ela é feita de forma a ser perpendicular a todas as direções anteriores. Isso é conseguido
fazendo d(k+1) = r(k) +bk d(k) , onde bk é determinado de forma que a ortogonalidade seja satisfeita.
Detalhes sobre o método podem ser vistos em [54] e [91].
As etapas do método GC são as seguintes:
12.3. Método iterativos baseados em minimização de potencial 323
1 (k+1)
r(k+1) A d(k) = r r(k+1) r(k) .
ak
Com a ortogonalidade r(k+1) r(k) = 0 gera
1 (k+1) (k+1)
r(k+1) A d(k) = r r : (12.113)
ak
Usando o mesmo arti…cio, o numerador de (12.108)7 …ca
1 (k)
d(k) A d(k) = d r(k+1) r(k)
ak
De (12.110), d(k) r(k+1) = 0, o que resulta em
1 (k) (k)
d(k) A d(k) = d r : (12.114)
ak
Com isso se tem a segunda igualdade para bk no ‡uxograma.
Ocorre que num espaço RN existem no máximo N vetores não nulos mutuamente ortogonais.
Isso signi…ca que, a partir de certo valor de m N , passa-se a ter r(m) = AU(m) F = 0. Isso
signi…ca que, dentro de certa limitações coentadas a seguir,:
O número de iterações, assim como o número de operações para resolver o problema é …xo, da
mesma forma que no caso dos métodos diretos como aqueles baseados na fatoração de Gauss. Esse
resultado é bastante diferente do método do gradiente, em que o número de iterações necessária
para atingir a solução exata pode tender ao in…nito. Entretanto, a dedução que leva à a…rmação
em (12.115) é feita considerando que todas as operações são feitas de forma exata. Na
prática, a convergência pode não ocorrer em virtude dos erros de arredondamento numérico na
computação de matrizes muito grandes, o que é acentuado com o uso de precisão simples.
Mesmo que o método possa fornecer a solução exata em N iterações, em geral considera-se
que esse ainda envolve uma quantidade proibitivamente alta de operações. Assim, o método é
geralmente visto como um método iterativo, em que se obtém apenas uma aproximação da solução
após n << N iterações. Prova-se que o erro após n iterações é relacionado ao número de condição
c(A) da matriz por
1p 2
n c(A) ln (12.116)
2
O número de operações por iteração é o mesmo do método do Gradiente, mostrado em (12.88).
Estimar o número de iterações do método dos gradientes conjugados para os dados do Exemplo 12.1
no problema padrão.
Solução: p
Tomemos um valor típico de erro, = 10 6 . Então, n 3; 15 c(A). Consideremos o domínio
unitário padrão da Figura 12.1. O número de condição da matriz coe…ciente é estimado por c (A) =
O(h 2 ), onde h é o tamanho do lado do elemento. Então, na malha padrão se tem que o número
de graus de liberdade é N = O(h 2 ), conforme (12.12). Isso signi…ca c (A) = O(N ). Numa malha
com N = 1:000 graus de liberdade o número de interações é estimado por (12.116) como
12.3. Método iterativos baseados em minimização de potencial 325
1p 2 1 2 1
n c(A) ln = N 1=2 ln = 10001=2 13; 8 = 229 iterações (12.117)
2 2 2
Deve-se comparar com a estimativa de 14 mil iterações necessárias com o uso do método do gradiente
vista no Exemplo 1. A grande diferença é que no método do gradiente, o número de iterações cresce
com o número de condição, enquanto no método dos gradientes conjugados ele cresce com sua raiz.
Observação: Uma característica de ambos os métodos baseados no gradiente é que suas etapas
envolvem apenas produtos matriz x vetor, vetor x vetor e somas vetor + vetor. Essa característica
favorece o uso de formas de armazenamento esparso da matriz, apenas dos termos não nulos,
de forma a reduzirem ao máximo o número de operações por iteração.
U = TU (12.118)
1
onde T é uma matriz de transformação, não singular, de dimensões N N . Substituindo U = T U
no problema original (12.76), e pré-multiplicando o resultado por T T , obtem-se
1 T
AU = F ! AT U=F ! |T AT }1 U =T
{z
T
| {z F}; (12.119)
A F
As iterações podem prosseguir até a convergência de U(k) , mas nesse ponto será necessário voltar
ao espaço físico fazendo a transformação inversa pela resolução do sistema algébrico
TU = U: (12.121)
Em vez da transformação (12.118), uma outra forma usual de apresentar o condicionamento de
forma geral consiste em identi…car uma matriz M; simétrica, positiva de…nida, e pré-multiplicar
AU = F pela sua inversa:
1 1
| {z A}U =M
M | {z F}. (12.122)
^
A ^
F
T 1 1
M=P P , tal que M = PPT : (12.123)
326 Capítulo 12. Operações matriciais no MEF
Essa é apenas uma de várias formas de gerar M conhecida na literatura, denominado pre-condicionador
de matriz separada (“splitting matrix pre-conditioner”). O problema linear (12.122) em forma
separada …ca
M 1 AU = M 1 F;
PPT AU = PPT F;
PT AU = PT F; (12.124)
PT A(PP 1 )U=P T
F:
| {z }| {z } | {z }
A U F
Esse problema é de…nido por uma matriz A que é simétrica e positiva de…nida, devido às carac-
terísticas de M.
Nota-se que a forma de pré-condicionamento via M 1 A, como em (12.122), torna-se idêntica à
forma baseada em transformação vetorial U = TU, como em (12.121), desde que M 1 seja escolhida
em forma separada, M 1 = PPT . Nesse caso, a equivalência tem a forma
1
T=P : (12.125)
Entretanto, a forma baseada em M 1 é mais geral, permitindo outros procedimentos para sua
de…nição, além da forma separada.
Para que o pré-condicionamento seja e…ciente, é necessário que a matriz T (e M 1 ) de trans-
formação escolhida tenha características que satisfaçam as condições:
^ << c(A);
c(A) (12.126)
de forma que o número de iterações no sistema transformado seja menor que no original e,
por consequência, o método do gradiente conjugado aplicado a A convirja em menos iterações
que com A. Nota-se que, num caso extremo, se M 1 = A 1 , então c(A) ^ = 1, pois A^ = I.
Outra situação extrema é para M = I, o que corresponde ao método original do GC.
O(N ): (12.127)
Observe que O(N ) é uma meta muito ambiciosa, pois essa é a ordem de número de operações
necessárias para simplesmente multiplicar um vetor por um escalar. Caso a variante do método
não necessite o cálculo explícito de T ou M 1 , então a computação implícita ou explícita de
M 1 A deve poder ser feita com o mínimo de operações possível.
3. M deve ser escolhida de forma que M 1 A seja simétrica e positiva de…nida, que são os
requerimentos para o método de gradiente conjugado.
1
Considerando T = P , então M 1= PPT = T 1
T T. Tomamos cada um dos itens do ‡uxo-
grama acima.
Item 1.1. d(0) se relaciona a d(0) através da mesma transformação T de U, i.e., d(0) = Td(0) .
Porém, dado r(0) ;
d(0) = r(0) ,
Td(0) = T T (0)
r ! d(0) = M 1 r(0) (12.129)
Logo,
r(k) r(k)
ak = , onde r(k) = M 1 r(k) (12.133)
d(k) Ad(k)
328 Capítulo 12. Operações matriciais no MEF
r(k+1) r(k+1)
bk = ;
d(k) r(k)
r(k+1) T 1 T T r(k+1)
= : (12.137)
d(k) TT T T r(k)
r(k+1) r(k+1)
! bk = , onde r(k+1) = M 1 r(k+1)
d(k) r(k)
1.1 Inicializações: k= 1; b0 = 0:
r(0) = AU(0) F, d(0) = M 1 r(0) :
r(k+1) r(k+1)
7. Fator de ortogonalização: bk =
d(k) r(k)
12.3.4 Pré-condicionadores
Observando as operações no ‡uxograma de (12.138) tornam-se mais evidente os requerimentos para
o condicionante M:
1. M deve ser simétrica e positiva de…nida. Isso permite o uso de métodos mais e…cientes para
a solução de Mr(k+1) = r(k+1) .
Pré-condicionamento de Jacobi
Esse é o pré-condicionador mais simples que existe, e consiste em tomar M simplesmente como a
diagonal de A:
A = CCT . (12.141)
onde C é triangular inferior. Isso é equivalente a tomar a matriz pré-condicionante na forma
1 T 1
M =C C : (12.142)
Dessa forma, a solução do sistema linear Mr(k+1) = r(k+1) se torna direta. O número de condição
se torna
1 T 1
c(A) = c(M A) =c(C C A) =c(I) =1:
Essa seria a melhor opção pois C é triangular e tem esparsidade superior à de A e a solução do
sistema (12.121) requereria uma quantidade de operações que viola a condição (12.127). A solução
adotada para essa di…culdade consiste em realizar uma fatoração de Cholesky incompleta. Isso
é feito seguindo as operações usuais da fatoração de Cholesky, porém apenas nas posições de C em
que A seja não nulo. Onde A seja nulo, também C é deixado nulo. Para matrizes com a esparsidade
típica do MEF, esse a fatoração incompleta geralmente requer apenas O(bN ) operações, para matriz
banda. Note-se que a fatoração é realizado apenas uma vez, antes das iterações. O número
de condição de A ^ não reduz-se a 1, porém sofre redução considerável. Por exemplo, prova-se que,
em uma malha plana regular do problema padrão, num problema de Laplace, c(A) ^ = O(h 1 ), em
vez de c(A) = O(h 2 ).
Solução: p
Tomemos um valor típico de erro, = 10 6 . Então, n 3; 15 c(A). Consideremos o domínio
unitário padrão da Figura 12.1. O número de condição da matriz coe…ciente num problema de
330 Capítulo 12. Operações matriciais no MEF
Laplace é estimado por c (A) = O(h 2 ) e por c(A) ^ = O(h 1 ) na matriz pré-condicionada, onde
h é o tamanho do lado do elemento. Então, na malha padrão se tem que o número de graus de
liberdade é N = O(h 2 ), conforme (12.12). Isso signi…ca c A ^ = O(N 1=2 ). Assim, numa malha
com N = 1:000 graus de liberdade se teria o número de interações estimado por (12.116) como
q
1 ^ ln 2 = 1 N 1=4 ln 2 = 1 10001=4 13; 8 = 41 iterações
n c(A)
2 2 2
Deve-se comparar com a estimativa de 14 mil iterações necessárias com o uso do método do gradiente
vista no Exemplo 1, e 229 iterações para o GC não condicionado. A grande diferença é que no método
do GC, o número de iterações cresce com N 1=2 enquanto no método dos GC condicionado ele cresce
com N 1=4 .
Tabela 12.2: Sumário das estimativas de números assintóticos de operações para os métodos de
gradiente, para o problema padrão 2D.
Gradiente GC GC condicionado
Oper./iter O(2bN ) = O(2N 3=2 ) O(2bN ) = 2N 3=2 O(6bN ) = 6N 3=2
q
1 1p 2 1 ^ log 2
Num. iter n c(A) log c(A) log c(A)
2 2
Num. condic. c O(N ) O(N ) O(N 1=2 )
1 2 2
Oper. total 2N 5=2 ln = 28 N 2;5 N 2 ln = 15 N 2 3N 7=4 ln = 44 N 1;75
A estimativas assintóticas de número de operações para as três variantes iterativas são 28N 2;5 ,
15N 2 e 44N 1;75 , respectivamente. Esses valores podem ser comparados à estimativa para o método
de Cholesky em matriz banda, que é 2N 2 . Observa-se na Tabela 12.2 que a parte mais importante na
composição do expoente de N é o número de operações por iteração, que aparecem como O(2bN ) =
2N 3=2 para os três métodos. É o custo do produto matriz banda vetor. A estimativa feita
aqui considerou a matriz densa de termos não nulos sob a banda. Matrizes de MEF são tipicamente
esparsas, de forma que algoritmos podem ser construídos para fazer o produto matriz-vetor de forma
mais e…ciente, eliminando as operações com zero. Dessa forma, o número de operações por iteração
pode cair para próximo de O(N ). Isso pode levar ao custo total no método GC condicionado para
O(aN 1;5 ), para algum a > 0.
número de condição). Essas situações ocorrem em estruturas que contém partes muito mais ‡exíveis
que outras, por exemplo. Isso gera valores na diagonal da matriz de rigidez muito distintos uns dos
outros, e geralmente contribui para o distanciamento entre o menor e o maior autovalor. O mesmo
efeito ocorre com uma estrutura em que diferentes partes são constituídas por materiais de pro-
priedades mecânicas muito distintas. Nessas situações o método de Cholesky com armazenamento
em banda pode tornar-se a única opção de solução.
Uma vez que os métodos de gradiente envolvem apenas produto matriz-vetor, eles se bene…ciam
do armazenamento esparso. Também, em problemas não lineares, em que uma solução precisa
ser obtida a cada incremento de carga, os métodos iterativos apresentam a vantagem de poderem
utilizar a solução do incremento anterior como valor inicial nas iterações de gradiente do incremento
atual. Entretanto, deve-se ter claro que a maior ou menor qualidade da estimativa inicial não afeta
a taxa de convergência do método de gradiente.
Por outro lado, em problemas lineares em que a matriz coe…ciente A permanece …xa e uma
sequência de problemas precisa ser resolvida para diferentes vetores força, isto é,
A U1 ; U2 ; ; Uj = F1 ; F2 ; ; Fj
o método de Cholesky pode tornar-se mais e…ciente que os iterativos. Isso porque a matriz A
precisa ser fatorada apenas uma vez e armazenada (a operação mais demorada), e a solução de
cada problema j é feita simplesmente aplicando as etapas de substituição progressiva (LVj = Fj ) e
retroativa (LT Uj = Vj ).
12.5 Exercícios
12.1 Porque, e em que casos, o armazenamento em banda pode ser menos e…ciente que o triangular?
12.3 Considere a matriz banda com armazenamento compacto do tipo mostrado em (12.8). Iden-
ti…que fórmulas adequadas de mapeamento de índices do tipo mostrado em (12.72)-(12.73).
(a) construa o algoritmo para a operação, considerando que as matrizes estão armazenadas
em forma compacta do tipo (12.8).
(b) Idem, para armazenamento compacto do tipo (12.16).
(0)
12.5 Em (12.128), prove que r(0) = AU F relaciona-se a r(0) por r(0) = T T r(0) .
332 Capítulo 12. Operações matriciais no MEF
Capítulo 13
O problema de transferência de calor por condução, como será descrito a seguir, é de…nido por
uma única equação diferencial, em termos de uma única função incógnita, o campo de temperatura
no corpo. Uma vez que a geometria do corpo pode ser tomada como sendo unidimensional, bi-
ou tridimensional, o problema é algo mais complexo que os casos de tração em barras ou ‡exão
de vigas. Ao mesmo tempo, é bastante mais simples que o de elasticidade, por envolver uma
única incógnita, a temperatura no ponto, em vez de duas ou três (os deslocamentos u, v e w)
como ocorre em elasticidade. Assim, a aplicação do MEF a problemas de transferência de calor
é frequentemente usada como uma introdução à compreensão de detalhes do método, de forma a
melhor preparar o estudante às situações que envolvem mais incógnitas, como problemas de placas,
cascas e de elasticidade. Como consequência, o material é apresentado aqui pressupondo que este
seja o primeiro contato do leitor com o MEF em situações bidimensionais. O leitor que já tiver
passado pelo Capítulo 8, verá aqui uma certa repetição de conteúdo, mostrado de forma diferente, o
que o ajudará a compreender o método de forma mais abrangente. De forma reversa, esse capítulo
pode ser usado como uma primeira leitura para gerar uma visão geral do MEF, sem a prévia
leitura dos capítulos de vigas e de elasticidade. Nesse caso o leitor terá uma visão resumida porém
panorâmica dos diversos aspectos do método.
dy
qx qx+ dqx dx
qger dx
y
x dz
z
dx
Figura 13.1: Balanço de ‡uxo de calor unidimensional num elemento diferencial de volume.
334 Capítulo 13. Transferência de calor pelo MEF
onde qx é o ‡uxo de calor por unidade de área, (Watts/m2 ) na direção x, U é a energia interna
contida no material e dydz é a área diferencial normal ao ‡uxo. A variação da energia interna U é
proporcional à taxa de variação de temperatura segundo a lei:
@U dT
= c dxdydz; (13.2)
@t dt
onde T (x) é o campo de temperatura, é a densidade do material, em kg/m3 , e c é o calor
especí…co do material, em Joules/kg C. O calor gerado internamente, qger , geralmente é calculado
como
qger = b(x)dxdydz:
A função b(x) é a taxa de calor gerado por unidade de volume de material, em W/m3 e, em
situações simples, é considerada como dado no problema. Então, de (13.1)-(13.2), a primeira lei da
termodinâmica, num problema uniaxial …ca:
dT @qx
c + =b (13.3)
dt @x
Para uma situação triaxial de transferência de calor, sem aplicação de trabalho, [67], a mesma
dedução pode ser feita incluindo os ‡uxos nas direções y e z, de forma que a primeira lei toma a
forma:
qx = kxrT x (13.13)
Substituindo as relações inversas de (13.12), e usando a condição de ortogonalidade de R, isto é,
R 1 = RT , temos
RT qx = kxRT rT x ;
e pré-multiplicando a relação por R, obtém-se a relação para o sistema de coordenadas 0xyz
@ @T @ @T @ @T @T
b+ kx + ky + kz = c : (13.15)
@x @x @y @y @z @z @t
caso a condutividade térmica seja homogênea, a primeira lei toma a forma:
@T
b + kr (rT ) = c;
@t
onde r (rT ) é o divergente do gradiente da temperatura. Esta equação pode ser expressa ainda
como:
b 1 @T
r2 T + = (13.17)
k @t
Se o problema for estacionário, a variação da temperatura ao longo do tempo é nula, resul-
tando na seguinte equação de equilíbrio térmico:
A eq.(13.18), junto com as devidas condições de contorno, gera o chamado problema de Pois-
son. Caso a fonte de calor b seja nula, i. e., r2 T = 0, tem-se o chamado problema de Laplace, o
que explica o nome do operador r2 . O interesse matemático nessa equação é que ela descreve não
somente o problema de condução de calor, mas também, mudando o signi…cado físico das variáveis,
descreve o problema de torção numa barra, o problema de de‡exão de uma membrana, além de
13.2. Formas forte e fraca do problema de Poisson 337
vários outros fenômenos nas ciências físicas. Em grande parte do desenvolvimento que se segue,
consideramos apenas o caso particular de transmissão de calor descrito pela eq.(13.18), e igno-
raremos a parcela de convecção no contorno. Estas restrições visam à conseguir uma simplicidade
de exposição e a maior facilidade de compreensão da aplicação do método de elementos …nitos.
Dados: b : ! R;
g : u ! R;
h : q ! R;
hc : c ! R;
Encontrar T : !R tal que
2
kr T (x) = b(x); 8x2 ; (13.19)
T (x) = g(x); 8x2 T ; (13.20)
q n = h(x); 8x2 q; com q = krT ; (13.21)
q n = hc (x) (T T 1) ; 8 x 2 c: (13.22)
Isto pode ser lido da seguinte forma. Dadas as funções b, g e h, de…nidas no domínio e
no contorno , deseja-se encontrar a função T (a solução do problema, que é a temperatura em
cada ponto do corpo), tal que esta função T satisfaça a equação diferencial do problema, no caso
kr2 T (x) = b(x); em todos os pontos do dominio, e que também satisfaça às condições em cada
ponto do contorno do corpo. As funções g e h são a temperatura e o ‡uxo de calor fornecido na
superfície do corpo, respectivamente sendo o ‡uxo normal ao contorno. g e h devem ser conhecidas
para permitir a solução do problema. T e q são as partes do contorno onde a temperatura e o
‡uxo de calor normal ao contorno são conhecidos, respectivamente. c é a região do contorno onde
ocorre convecção com o meio circundante ao corpo. hc (x) é o coe…ciente de película do ‡uido
próximo à superfície do corpo. (T T 1 ) é a diferença entre a temperatura na superfície do corpo
e a temperatura do ‡uido localizado a uma distância su…cientemente grande da superfície do corpo.
Nota-se que na parte c do contorno não se conhece, a-priori, nem a temperatura nem o ‡uxo de
calor.
Para que se possa resolver o problema, deve-se conhecer alguma informação em cada ponto do
contorno, seja temperatura ou ‡uxo, isto é, T [ q [ c = . Além disso, T \ q \ c = ;.1
A forma forte mostrada acima é uma expressão em forma diferencial. Em oposição a isto existe
a chamada forma fraca, também chamada forma variacional do problema, que é uma expressão
integral que será mostrada a seguir para o problema de Poisson. Antes de se chegar à forma fraca
é necessário de…nir dois tipos de funções e alguns tipos de conjuntos de funções que tem as
características de espaços vetoriais de funções.
O primeiro conjunto de funções é composto por funções candidatas à solução, chamadas
funções teste. As funções deste conjunto possuem algumas características que permitem mostrar
1
Na literatura, a condição de contorno do tipo (13.20) é conhecida como condição de contorno de Dirichlet,
enquanto que quando certas derivadas são incluídas, como em (13.21), tem-se uma condição de contorno de
Neumann.
A condição de contorno do tipo envolvendo convecção, como em (13.21), é uma condição de contorno mista,
por apresentarem tanto temperatura como ‡uxo desconhecidos no contorno.
338 Capítulo 13. Transferência de calor pelo MEF
que a função solução do problema pertence a este conjunto. Uma dada função é função teste se
satisfaz as seguintes condições:
Para que certas expressões obtidas a seguir durante a dedução tenham signi…cado, é requerido
que as primeiras derivadas da função teste sejam integráveis ao quadrado, isto é:
Z 2 Z 2
@T @T
d <1 e d < 0; etc. (13.23)
@x @y
De forma compacta, somando os termos, estas expressões podem ser postas na forma:
Z
rT rT d < 1: (13.24)
Funções que satisfazem (13.24) são chamadas funções H 1 ; e o conjunto de todas as funções que
satisfazem (13.24) é uma base para o espaço linear de funções de Hilbert, denotado por H 1 .
O conjunto de funções teste, denotado por Kin, consiste de todas as funções cujas primeiras
derivadas são integráveis ao quadrado em e satisfazem a condição de contorno de Dirichlet (13.20).
De forma simbólica isto é escrito como:
O segundo conjunto de funções é composto por funções chamadas funções peso ou vari-
ações. Este conjunto é base para um espaço linear chamado espaço das funções peso, denotado
por:
V ar = u b 2 H1 ; u
bju b(x) = 0 8x2 T : (13.26)
O objetivo nesse ponto consiste em obter uma expressão integral que seja equivalente à forma forte
do problema. Nessa seção o problema de Poisson é utilizado como ilustração, mas o mecanismo
mostrado pode ser usado para obter a forma fraca para uma grande variedade de problemas a partir
das suas equações diferenciais.
Tomemos primeiramente a equação diferencial do problema de transferência de calor, neste caso a
eq.(13.19). Para facilitar a exposição, usaremos momentaneamente um problema bidimensional
com k constante para um material isotrópico. A igualdade não é alterada se multiplicarmos
ambos os lados por uma função peso arbitrária u b 2 V ar. Também pode-se integrar ambos os lados
em todo o corpo, obtendo:
Z Z
2
kb
ur T d = bb d :
u (13.27)
A seguir realizam-se integrações por partes de forma a “transferir” algumas ordens de difer-
enciação de T para u b. Como r2 é de segunda ordem, isto é, tem segundas derivadas em x e y,
“transfere-se” apenas uma ordem, realizando apenas uma integração. Cada uma das parcela do
termo à esquerda de (13.27) é integrado por partes usando (1.65):
13.2. Formas forte e fraca do problema de Poisson 339
Z Z
@2T @ @T
k b
u d = k ub d ;
@x2 @x @x
Z Z
u @T
@b @T
= k d + b
ku nx d , e
@x @x @x
Z Z
@2T @ @T
k b
u d = k ub d ;
@y 2 @y @y
Z Z
@b
u @T @T
= k d + b
ku ny d : (13.28)
@y @y @y
Z Z Z
2
b|k r
u {z T} d = k rb
u rT d + b rT n d :
ku (13.29)
b
Usando a eq.(13.27) podemos eliminar o termo incógnito na primeira integral, substituindo pelo
valor da fonte de calor b, que é conhecida, de forma que a expressão …ca:
Z Z Z
k rb
u rT d = b rT n d +
ku bbd ;
u (13.30)
Z Z Z
@b
u @T @b
u @T @b
u @T @T @T @T
k + + d = b
ku nx + ny + nz d + bbd :
u
@x @x @y @y @z @z @x @y @z
(13.31)
Note que nesse ponto da dedução tem-se ampla opção de escolha da função peso, dentro das limi-
tações previstas, de forma que se pode fazer a escolha de forma a simpli…car ao máximo o processo
de solução. Por exemplo, se for escolhida uma função peso ub que se anule na parte do contorno onde
a temperatura é conhecida, T , isto é, se ub(x) = 0 em 8 x 2 T (isto é, u b 2 V ar), a Eq.(13.30)
simpli…ca-se para:
Z Z Z Z
k rb
u rT d = b |krT
u {z n} d + b
u |krT
{z n} d + bbd :
u (13.32)
q c
h hc (x)(T T 1)
Dados: b : ! R; g : T ! R; h : q ! R;
obter T 2 Kin tal que:
Z Z Z Z Z
k rbu rT d + b hc (x)T d =
u bhd +
u b hc (x)T1 d +
u bbd
u b 2 V ar:
8u
c q c
(13.33)
Como visto, a solução do problema diferencial, a formulação forte, pode ser obtida, dentro de
certas restrições, resolvendo o problema integral, a formulação fraca. De forma geral não é possível
ou econômico obter soluções exatas de nenhuma das duas formas. Em vez disso, buscam-se na
engenharia soluções aproximadas. Enquanto a forma forte é bastante adequada a métodos como o
método de diferenças …nitas, a forma fraca é a base para o método de elementos …nitos, como será
visto na próxima seção.
Nota-se na integral à esquerda da igualdade em (13.33), uma simetria entre as derivadas da
função peso u b e da temperatura que não aparecia na expressão integral original, eq.(13.27). Essa
simetria foi resultante do processo de integração por partes feita nas eqs.(13.28), e é diretamente
responsável pela simetria da matriz de rigidez de elementos …nitos que será obtido no processo de
discretização de (13.32) na próxima seção. De fato, um dos principais motivos da realização da
integração por partes é exatamente conseguir essa simetria. Do contrário, a forma (13.27) poderia
ser utilizada, gerando um método distinto do MEF.
T
T
g vg
u x
em que a função v(x) que seja nula em T , isto é, v(x) = 0 8 x 2 T , e uma função vg (x) que
satisfaz à condição no contorno vg (x) = g(x) 8 x 2 T . Isso signi…ca que T e vg 2 Kin e v 2 V ar.
Essa decomposição é ilustrada na Figura 13.2 numa região próxima ao contorno de Dirichlet. A
decomposição acima é arbitrária, pois vg pode ser arbitrado. Isso ocorre porque seus valores no
contorno, g; são pré-de…nidos porém seus valores internos ao domínio podem ser arbitrários. Então
pode-se considerar vg (x) como uma função conhecida, a ser escolhida entre uma in…nidade de funções
que valem g em T . Desta forma, a função incógnita do problema agora é apenas v(x), que satisfaz
v = 0 na parte T do contorno. Pode-se reescrever a forma fraca (13.33) substituindo (13.34) e
separando no lado esquerdo os termos que contém a função incógnita v:
13.3. Solução aproximada via formulação de Galerkin 341
8
>
> Dados: b : ! R; g : T ! R; h : q ! R;
>
>
>
< Obter T = v + vg 2ZKin; com v 2 V ar,
Z tal que: Z
R (13.35)
>
> k rbu rv d + b hc (x)v d =
u bhd
u b hc (x) (vg T 1 ) d
u
>
>
>
: R c
R q c
A principal vantagem da forma (13.35) em relação à (13.33) poderá ser apreciada posteriormente
com relação à matriz de rigidez que se originará da integral à esquerda de (13.35) no processo de
discretização. Nessa forma, ub e v pertencem ao mesmo espaço de funções V ar. Aquela integral,
uma forma bilinear em u b e v, é agora simétrica.
f (x) g (x)
yb yb
yc yc
f (x) g ( x)
ya ya
a x c b x a x c b x
(a) (b)
Figura 13.3: (a) Exemplo de função de dimensão in…nita e ( b) exemplo de função de dimensão
…nita.
espaço de funções é o número de parâmetros necessários para especi…car univocamente uma função
qualquer. Na Figura 13.3b esta dimensão é 3, enquanto que o espaço Euclidiano é de dimensão 1,
a dimensão do domínio. Cada segmento de curva é um polinômio de grau 1, como poderia ser de
outro grau, ou mesmo não ser um polinômio, mas uma função trigonométrica ou de outro tipo.
Aproximações
Feitas estas de…nições passaremos ao procedimento de de…nir uma aproximação para a formulação
fraca, eq.(13.35). Essa equação é exata, entretanto buscamos obter uma representação aproximada
dela através do uso de funções de dimensão …nita em vez de in…nitas. Isto signi…ca buscar soluções
dentro de espaços de dimensão …nitas, denotados por Kinh ( h ) e V arh ( h ), que aproximarão os
espaços Kin( ) e V ar( ). Uma vez que, em geral, a solução exata é uma função de dimensão
in…nita, e buscamos entre as funções de dimensão …nita a que fornece o menor erro, o método
fornecerá apenas aproximações da solução exata. Também, em geral, não se usa o domínio real
, que pode ser demasiado intrincado, mas é usada uma aproximação h dele, de mais simples
representação. Essa aproximação do domínio é ilustrada na Figura 13.4, em que na …gura (b) se tem
uma representação do domínio através de regiões, elementos quadrilaterais, de lados retos. Então,
regiões curvas do contorno original não podem ser descritas exatamente. (Claramente, mudando o
tipo de representação, é possível descrever sem erro qualquer tipo de contorno.) Para simpli…car a
notação, frequentemente usaremos no resto do texto simplesmente para o domínio discretizado
em lugar de h .
22 23 24
-q.n=h 21 25
13 16
16 20
12
-q.n=h Ω 11 15
5 8 Elemento
6 10
T=g 1 2 3 4
ΓT No global
1 2 3 4 5
(a) (b)
Para cada função na forma fraca (13.35) considera-se uma aproximação de dimensão …nita
correspondente. Desta forma obtém-se a formulação de Galerkin para o problema:
8
>
> Dados b, g e h como em (13.24),
>
>
>
< Obter: T h = v h + vgh 2 ZKinh ; com v h 2 V arZh , tal que:
Z Z
k rb h
u rv d +h h h h
b hc (x)v d =
u h
b hd
u h b hc v h T 1
u d h
>
>
>
> h h h
>
: R c
R q c
+ hu bh b d h h k rbu h rv h d h
g 8 b
u h 2 V ar h :
(13.36)
A maneira mais conveniente de especi…car estas funções é pela discretização do domínio em
regiões, denominadas elementos …nitos, representadas por e , onde “e”é o número do elemento,
sendo e = 1; 2; :::; Nel . Por exemplo, um domínio bidimensional pode ser discretizado em elementos
triangulares ou quadrangulares, como na Figura 13.4. Ali se tem Nel = 16 elementos quadrangulares
de lados retos, cada um de…nidos por quatro nós. Estão indicados também os nós globais com sua
numeração própria. De…nem-se os seguintes conjuntos de nós:
1. O conjunto dos números globais dos nós: = f1, 2, , Nnos g, onde Nnos é o número total
de nós do modelo. No exemplo da …gura, Nnos = 25. Associado a cada nó, existe apenas
13.3. Solução aproximada via formulação de Galerkin 343
2. O conjunto T dos números dos nós na parte do contorno T onde a temperatura é prescrito.
3. O conjunto q dos números dos nós na parte do contorno q onde o ‡uxo de calor é prescrito.
4. O conjunto c dos números dos nós na parte do contorno c submetido a convecção. Então,
nem a temperatura nem o ‡uxo são conhecidos ali.
onde dno é o valor da temperatura v h do nó no, ainda desconhecida, isto é, as funções 'no (x; y) são
de…nidas de tal forma que dno = v h (xno ; yno ). Cada função 'no é denominada função de aproxi-
mação (ou ainda função base) associadas ao nó no.
Observação: nas equações (13.37) e (13.38), tanto quanto no resto dessa seção, usamos um repre-
sentação bidimensional apenas para facilitar as explicações e …guras. Claramente, as funções teste
e de aproximação podem, e efetivamente o são, serem de…nidas em três dimensões, isto é, como
'no = 'no (x; y; z), associadas a uma malha de nós distribuídas num corpo tridimensional.
1. 'no deve ser de…nida em todo o domínio, porém deve ser não nula apenas nos elementos que
contém o nó no. Isso é ilustrado na Figura 13.5, para a função do nó 3 no caso de domínio
unidimensional, e nó 13 no domínio bidimensional.
2. 'no pode ser uma função linear, quadrática ou de outro tipo em cada elemento, em cada
direção.
3. 'no deve ser uma função contínua, isto é, não deve haver descontinuidade de 'no (x; y) nas
interfaces entre elementos.
5. 'i (xj ; yj ) = 0 se (xi ; yi ) 6= (xj ; yj ); isto é, nos outros nós diferentes do nó i a função 'i deve
ser nula. Para os nós i e j, as condições 4 e 5 podem ser sintetizadas em termos do operador
delta de Kronecker ij por
'i (xj ; yj ) = ij (13.39)
344 Capítulo 13. Transferência de calor pelo MEF
6. O conjunto de funções base pode ter uma propriedade de formar o que se denomina uma
Partição da Unidade. Um conjunto de funções forma uma Partição da Unidade num certo
domínio, se satisfaz a uma série de propriedades, sendo que a principal delas é que, em qualquer
ponto do domínio, a soma dos valores de todas as funções é igual à unidade, isto é,
N
X nos
Caso a função seja linear em cada elemento, ela é chamada função tenda, ou função linear
por partes, (piecewise continuous) e pode ser visualizada na Figura 13.5 nos casos unidimen-
sional e bidimensional. São também de…nidas em domínios tridimensionais, porém, obviamente,
sua representação grá…ca é impossível. Figura 13.5a representa a função '3 (x), isto é, a função de
interpolação associada ao nó 3. Claramente, ela vale 1 no nó 3 e zero nos demais nós. Entre os nós
2 e 4, ela tem variação linear por partes, isto é, é linear entre os nós 2 e 3, e entre os nós 3 e 4.
A Figura 13.5b mostra a função de interpolação linear num domínio bidimensional, associada ao nó
13. Novamente, ela vale 1 no nó 13 e zero nos demais nós.
Observação - Note-se que, embora a ilustração nesse ponto do texto tenha sido com funções
lineares de…nidas em elementos de 4 nós, o método de elementos …nitos usa, mais frequentemente,
funções quadráticas de…nidas em elementos quadrangulares de 8 ou 9 nós„triangulares de 3 e 6 nós,
e funções lineares e quadráticas em elementos tridimensionais de tipos hexaédricos e tetraédricos
adequados, além de funções de graus mais elevados.
y
21 22 23 24 25
ϕ13(x, y)
ϕ 13 14 15 16
17 18 19
ϕ3(x) 16 20
9 10 11 12
1 11 12 13 14
15
1 2 3 4 5 x 5 6 7 8
6 10
7 8 9
1 2 3 4
(a) (b)
1 2 3 4 5 x
Figura 13.5: Ilustração de funções globais tipo tenda em dominios uni- e bidimensionais.
Observe que existe uma função associada a cada nó. Por exemplo, a Figura 13.6 mostra como uma
função global arbitrária pode ser “montada” como uma combinação de funções de interpolação.
Na Figura 13.6b uma função unidimensional f (x) foi obtida combinando as funções de interpolação
'i , fazendo: f (x) = 0 '1 + 1; 5 '2 + 2; 0 '3 + 0 '4 : A situação bidimensional é análoga, usando-se as
funções esboçadas na …gura 13.5b.
Além das equações (13.37) e (13.38), de…ne-se a aproximação para a função da condição de
temperatura prescrita no contorno, vgh (x; y); de…nida em (13.34), também usando as mesmas funções
de aproximação:
X
vgh (x; y) = 'no (x; y)gno (13.41)
no 2 T
é válida para qualquer função peso ubh , desde que ela pertença a V arh : Então, como a função peso
pode ser qualquer, em (13.37) pode-se fazer, por exemplo, c2 = c3 = c4 = 0 e apenas c1 = 1,
o que nos produz como função peso u b(x) = '1 (x). Para a função da temperatura v h , usamos a
expansão (13.38), tal que (13.36) …ca agora toda escrita em termos das funções de interpolação 'i
e das temperaturas nodais incógnitas di . Para o caso em que u bh = '1 , isto é, apenas c1 = 1 e os
0
demais ci s = 0,
8 9 8 9
>Z > Z >Z >
P < = P < =
kr '1 r'j d dj = '1 h d '1 hc 'j d dj
j 2 i>
: |{z} >
; q
|{z} |{z}
j 2 c>
: c
>
;
bh
u bh
u 8 bh
u 9
> > (13.42)
Z Z >
< P Z >
=
+ '1 hc T1 d + '1 b d kr '1 r'j gj d
|{z} |{z} >
> |{z} | {z } >>
c
bh
u bh
u
:j 2 T bh
u h
;
vg
8 9 8 9
> > >
> >
>
>
>Z >
> >
>Z >
>
P < = P < =
kr'i r'j d dj + 'i hc 'k d dk =
j 2 i>
>
>
>
> k 2 >
> >
>
:| {z }> > c
}>
:| {z
c
; > >
;
Kij c
Mik (13.43)
Z Z Z X Z
'i h d + 'i hc T1 d + 'i b d kr'i r'j d gj
q c j 2
T
| {z }
Fi
Em geral esta equação é escrita com mais clareza usando notação matricial:
KG d = F (13.44)
onde
ϕ f (x)
2,0
ϕ1 ϕ2 ϕ3 ϕ4 1,5
1 1 1 1
0 x
1 1 2 2 3 3 4 x 1 2 3 4
(a) (b)
Figura 13.6: (a) Funções 'i ; (b) Construção de uma função f (x) como umaP“montagem” a partir
de uma combinação linear entre as funções de interpolação lineares: f (x) = i 'i (x)di .
346 Capítulo 13. Transferência de calor pelo MEF
KG = K + Mc ;
Z
K = [Kij ] , onde Kij = kr'i r'j d ;
Z
c
M = Mijc , onde Mijc = 'i hc ' j d ;
c
d = fd1 ; d2 ; d3 ; ; dNi g;
F = fFi g , onde
Z Z Z X Z
Fi = 'i h d + 'i hc T1 d + 'i b d kr'i r'j d gj : (13.45)
q c j 2
T
O sistema (13.44) é um sistema algébrico de equações, com Ni equações e Ni incógnitas d que são
os valores nodais da temperatura v h (x). A matriz K é a matriz coe…ciente, e na mecânica estrutural
é a matriz rigidez do sistema. A matriz Mc é formalmente similar a uma matriz massa usada
em dinâmica, computada apenas sobre os graus de liberdade da região do contorno sob condição
convecção. Essa matriz representa uma contribuição à matriz de rigidez K. A temperatura do
‡uido, T1 , gera termos de força do lado direito da equação. A matriz K tem várias propriedades
importantes:
K é simétrica;
K é positiva-de…nida;
se usar algoritmos especialmente desenvolvidos que tomam uma numeração arbitraria e geram uma
renumeração automática que reduza ou minimize b.
Em geral uma malha de elementos …nitos é “grande”, isto é, pode envolver desde algumas
centenas de nós até alguns milhões. Qualquer programa de EF então utiliza algum tipo de esquema
especial de armazenamento que implique em não armazenar todos os Ni Ni elementos de K em
sua forma quadrada. Uma vez que a matriz é simétrica, pode-se armazenar apenas um “triângulo”,
inferior ou superior, a partir da diagonal principal. Se a matriz é bandeada, torna-se necessário
armazenar apenas os elementos sob a banda. Existem ainda muitos outros esquemas que envolvem
apenas o armazenamento dos termos dos elementos ou de blocos de elementos não nulos, levando
a uma maior economia de área de armazenamento e no processamento. Mais aspectos sobre o
armazenamento e o processamento de matrizes no MEF são sumarizados no Capítulo 12.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5
1 x x x x
2 x x x x x
3 x x x x x
4 x x x x x
5 x x x x
6 x x x x
7 6 6 x 6 6
8 6+ 7 7 6 6+ 7 7
9 7 x 7 7 x
0 x x x x
1 x x x x
2 6 6 x x x
3 6+ 7 7 x x x
4 7+ x x x x
5 x x x x
6 x x x x
7 x x x x x
8 x x x x x
9 x x x x x
0 x x x x
1 x x
2 x x
3 x x
4 x x
5 x
(13.46)
sido decomposto na soma de um campo incógnito v(x) e de um campo conhecido vg (x). Na seção
anterior tínhamos determinado a formulação para obter uma aproximação para v(x). Entretanto,
caso se considere, momentaneamente, que não haja nós de contorno com temperatura imposta,
pode-se considerar T (x) = v(x) como o campo incógnito, de…nido pela forma fraca (13.33).
De forma semelhante a (13.37), uma função qualquer do espaço V arh será representada por uma
combinação linear de funções conhecidas 'no (x; y); do mesmo espaço, através de parâmetros nodais
cno :
X
bh (x; y) =
u 'no (x; y) cno : (13.47)
no 2
onde Tno é o valor da temperatura T h no nó no, ainda desconhecida. Note que a diferença em relação
às expressões (13.37) é que agora o somatório estende-se por todos os nós do modelo, o
conjunto de nós (N graus de liberdade), em vez de apenas sobre i como antes (quando se
tinha Ni < N ).
Substituindo a aproximação (13.48) à forma fraca (13.33)2 , geram-se N equações algébricas similares
a (13.43):
8 9
>
> >
>
>
<PZ >
= I Z
kr'i r'j d Tj = 'i h d + 'i b d (13.49)
>
>j 2 >
>
>
: | {z } >
; |
q
{z }
Kij Fi
K T = F: (13.50)
Nota-se que na forma atual (13.49) contém N equações em termos das N temperaturas nodais,
enquanto (13.43) envolve apenas Ni equações e valores nodais incógnitos associados às temperaturas
nos nós internos, e possui, na de…nição de Fi uma terceira integral, ausente de (13.49), associada
às temperaturas prescritas. De fato, a matriz K em (13.49) é simétrica como a anterior, porém
é singular, uma vez que não foram ainda impostas as condições de contorno essenciais. Com-
putacionalmente, a imposição é feita numa etapa posterior, através de manipulação da matriz K e
do vetor F. O procedimento de imposição das condições de contorno de temperatura é descrito a
seguir.
Observa-se o que ocorre quando se calcula a matriz K completa, incluindo seus nós pertencentes a
T . Considere um problema com 4 nós, de forma que o sistema de equações de equilíbrio térmico
obtido conforme calculados conforme (13.49), sem incorporar as temperaturas prescritas, tem a
forma K T = F, isto é,
2 38 9 8 9
K11 K12 K13 K14 > > T1 >
> >
> F1 >
>
6 K21 7 < = < =
6 K22 K23 K24 7 T2 F2
4 K31 = (13.51)
K32 K33 K34 5 >
> T >
> > F3 >
: 3 ; > : >
;
K41 K42 K43 K44 T4 F4
2
Por simplicidade de notação suprimimos o termo de conveção.
13.3. Solução aproximada via formulação de Galerkin 349
Z Z Nne
X
fi = 'i h d + 'i b d Kij gj (13.52)
q e j=1
Isto é o mesmo que tomarmos apenas as colunas de K correspondentes aos nós T e as multiplicar-
mos por gj e somarmos ao vetor força proveniente do ‡uxo normal imposto h e da geração interna
de calor b. A próxima etapa consiste em eliminar a linha j do sistema algébrico resultante. No
exemplo do sistema (13.51), o sistema …nal modi…cado pela imposição da temperatura no nó 1 tem
a forma
2 38 9 8 9 8 9
K22 K23 K24 < T2 = < F2 = < K21 =
4 K32 K33 K34 5 T3 = F3 K31 g1 : (13.53)
: ; : ; : ;
K42 K43 K44 T4 F4 K41
Com isso tem-se um sistema de Ni = 3 equações e 3 temperaturas nodais.
Observação - No texto que segue consideraremos sempre essa forma de introduzir as condições de
contorno de Dirichlet, isto é, sempre consideraremos a matriz inicialmente calculada em todos os
seus graus de liberdade, em sua condição prévia à incorporação das temperaturas prescritas. Então,
as equações (13.43)-(13.45) são reescritas para incorporar todos os graus de liberdade e representar
o sistema térmico antes da imposição das temperaturas no contorno:
8 9 8 9
> > >
> >
>
>
> Z >
> >
> Z >
>
<NP
nos
= < P =
kr'i r'j d Tj + 'i hc 'k d T =
>
> > >k 2 c c > k
>
:
j=1
| {z }>>
;
>
>
> | {z >
>
}>
Kij
: c ; (13.54)
Z Z Z Mik
'i h d + 'i hc T1 d + 'i b d
q c
| {z }
Fi
Nota-se a diferença nos limites do somatório da rigidez, que envolve todos os nós do modelo, e na
ausência do último termo à direita da igualdade (13.43). Agora o sistema tem N equações na forma
KG T = F (13.55)
onde
350 Capítulo 13. Transferência de calor pelo MEF
KG = K + Mc ; Z
K = [Kij ] , onde Kij = kr'i r'j d ;
h i Z
Mc = Mijc , onde Mijc = ' i h c 'j d ; (13.56)
c
T = fT1 ; T2 ; T3 ; ; TN gT ; Z Z Z
F = fFi g , onde Fi = 'i h d + 'i hc T1 d + 'i b d :
q c
nel
X Z I
G e
Kij = Kij onde Ke ij
= kr'i r'j d e + 'i hc 'j d : (13.57)
|{z} e=1 |{z} e
e\
c
global elemento
e \ c é a região do contorno do elemento sob convecção. Isto signi…ca que a matriz global de
rigidez é a soma das matrizes dos elementos:
nel
X
KG = Ke . (13.58)
e=1
Até esse ponto, a matriz do elemento tem ordem N , como a matriz global, é é nula exceto nos
termos relacionados aos nós i, j, k :::; Nne contidos naquele elemento e. (Nne é o número de nós do
elemento e.) Por exemplo, a matriz do elemento 6 da malha da Figura 13.5b pode ser visualizada
fazendo nula a matriz da Eq.(13.46), com exceção dos termos dos nós 7, 8, 12 e 13 assinalados
ali pelo número do elemento 6. Para evitar ocupar uma área de memória tão grande para cada
elemento, é feito o cálculo de K e na menor área possível, que neste exemplo exige apenas uma
matriz elementar de 4 4 termos. Notamos a seguir que a matriz do elemento 7 na Figura 13.5b
envolve os nós 8, 9, 13 e 14. Como temos que somar as contribuições de cada elemento conforme
(13.57), somamos os termos de K7 presentes na matriz 4 4, indicados pelos números 7 na matriz
da Eq.(13.46), com os termos de K6 cujos nós são comuns, isto é, os nós 8 e 13. Este processo é
chamado de processo de sobreposição das matrizes dos elementos na matriz global.3
A determinação do vetor força nodal é feita de forma semelhante, particionando as integrais em
(13.56) sobre os elementos e realizando a sobreposição:
Nel
X Z Z Z
Fi = Fei , onde Fei = 'i h d + 'i hc T1 d + 'i b d : (13.59)
e\ e\
e=1 q c e
3
Esse processo é bem detalhado no âmbito de elementos …nitos de barras, no Exemplo 5.3.
13.4. Matriz de rigidez e vetor força do elemento 351
e\ q é a região do contorno do elemento e que esteja sob condições de contorno de ‡uxo normal
imposto.
Uma vez que o processo de integração é realizado elemento por elemento, o uso direto de funções
de interpolação globais torna-se incomodo. Mas observa-se que na própria de…nição dessas funções
elas são de…nidas localmente, em cada elemento, como mostrado nas Figuras 13.5a e b, onde estão
ilustrados os casos uni e bidimensionais para as funções globais '3 e '13 respectivamente. Observe
que podemos identi…car e tratar com funções de aproximação locais, em cada elemento.
ϕ 17 18 19
ϕ1
10 11
1
12 14
13
2 2 3 3 4 x
6 7
ψ23 ψ33 7 8 9
1 1
(a) (c) 1
2 2 3 3 3 4
4 3
7
ψ13 7
ψ23 ψ43
1 1
(b) 1 2
2 2 3 3 3 4
A função global uniaxial '3 na Figura 13.5a é decomposta nas duas funções 23 e 33 mostradas
na Figura 13.7a. A Figura 13.7b mostra as duas funções lineares possíveis de serem de…nidas no
elemento 3, as funções locais 33 e 34 , a primeira associada ao nó 2 e a segunda ao nó 3. De forma
geral se usa a notação eno , isto é, o sobrescrito indica o número do elemento e o subescrito indica
o número do nó.
Para o caso 2-D, a Figura 13.7c mostra a função global '13 , decomposta em quatro funções,
6 7 10 11
13 ; 13 ; 13 e 13 , uma em cada um dos quatro elementos circundantes ao nó 13. A função local
7
13 correspondente ao elemento 7 aparece também na Figura 13.7c. Observando ambos os tipos de
elemento, vemos que o elemento unidimensional número 3, de dois nós, tem associado duas funções
locais, mostradas na Figura 13.7a e 13.7b. O elemento quadrilateral tem então quatro funções, uma
associada a cada nó do elemento, e uma delas é mostrada na Figura 13.7c.
Para facilitar as manipulações ao nível do elemento, é costumeiro de…nir-se uma numeração
local nos nós do elemento, única, de…nida sobre um elemento genérico, como os números de 1,
2, 3 e 4 indicados sobre o elemento quadrilateral na Figura 13.7c. Frequentemente, em vez de usar
números, os nós locais são identi…cados por letras, I, J, K e L, por exemplo. De…ne-se também Nne ,
o número de nós do elemento, neste caso 4. Nota-se que a numeração 1, 2, 3, 4 do elemento
7 mostrada na Figura 13.7c é local, enquanto na malha os nós globais do mesmo elemento são 8,
9, 14 e 13, respectivamente. Cada elemento tem sua numeração global e local de seus nós (sendo a
local sempre 1, 2, 3, 4).
Pode-se agora adaptar as de…nições da matriz de rigidez e do vetor força nodal para um elemento
genérico, análoga às de…nições das equações (13.54)-(13.56) para funções globais. Neste caso,
352 Capítulo 13. Transferência de calor pelo MEF
Ke = [KZmn
e ]; e f e = ffm
e g; com 1 m; n Nne ;
e =
Kmn kr r
m n d e;
Z e Z Z (13.60)
X
e =
fm mh d + mb d kr m r nd e gn :
q e n=1; n 2 e
T
e
m é a função de aproximação local, associada ao nó local m do elemento e. Os produtos internos
indicados geralmente são substituídos por uma notação matricial para melhorar a clareza. Para
simplicidade de notação, ignoramos nessa expressão os termos de convecção.
A função de temperatura T h (x; y) num ponto genérico (x; y) pertencente ao elemento e é obtida
pela combinação linear das funções de aproximação do elemento, en (x; y), da seguinte forma:
T h (x; y) = T1e e
1 + T2e e
2 + T1e e
3 + + TNene e
Nne ,
ou, em notação matricial,
8 e
9
>
> T1 >
>
>
> e >>
>
< 2 >
T =
e e e e T3e
= 1 2 3 Nne nne >
; isto é,
> .. >
1
> >
>
>
> . >
: e > ;
TNne n 1 ne
= Ne (x; y) Te . (13.61)
Te é o vetor das temperaturas nodais no elemento e Ne (x; y) é uma matriz de aproximação para
a temperatura. Para um elemento quadrangular de quatro nós, por exemplo, os vetores acima tem
ordem Nne = 4.
Uma vez aproximado o campo de temperatura no elemento, o gradiente de temperatura
num domínio plano, num ponto arbitrário (x; y) no elemento e, é obtido das mesmas funções de
aproximação, diferenciando (13.61):
8 9 8 9
> @T h > > @( ) >
>
< >
= >
< >
=
@x @x
rT e = h
= DT = T h = DNe (x; y) Te ;
>
> @T h >
> >
> @( ) >
> | {z }
: ; : ; Be
@y @y
2 3
@ e1 @ e2 @ e3 @ eNne
6 @x @x @x @x 7
= 6
4 @ e
7Te ! rT e = Be Te ; (13.62)
1
e
@ 2 @ 3 e @ eNne 5
@y @y @y @y
| {z }
Be
D é um operador diferencial que gera o gradiente de temperatura. Quando aplicado sobre a matriz
de funções de forma do elemento, Ne , se tem a matriz gradiente Be (x) = DNe (x).
Para um domínio tridimensional a extensão é imediata. A matriz B tem dimensões d Nne , onde
d é o número de dimensões geométricas do problema, isto é, 1 para problemas unidimension-
ais, 2 ou 3 para problemas planos ou tridimensionais, respectivamente. Be pode ser particionada
em matrizes Beno associadas a cada nó do elemento:
Be = Be1 ; Be2 ; Be3 ; ; Benne , onde Bei = r i (x); com i = 1; ; Nne ; (13.63)
onde, no presente problema de transferência de calor, Bei tem dimensões d 1. Por exemplo, para
um problema tridimensional, com elementos quadriláteros, d = 3 e Nne = 4, e a matriz
13.4. Matriz de rigidez e vetor força do elemento 353
gradiente …ca
2 3
@ 1 @ 2 @ 3 @ 4
6 @x @x @x @x 7
6 7
6 @ 1 @ 2 @ 3 @ 4 7
e 6
B (x; y) = 6 7: (13.64)
6 @y @y @y @y 7
7
4 5
@ 1 @ 2 @ 3 @ 4
@z @z @z @z
Além de de…nir a aproximação do gradiente de temperatura no elemento, Be de…ne também
o ‡uxo de calor através da lei de Fourier, Eq.(13.10). Para materiais ortotrópicos em que as
constantes de condutividade sejam homogêneas no corpo,
Da de…nição (13.60), a matriz de rigidez do elemento pode ser explicitada com a ajuda de (13.62).
Para maior clareza de explicação tomaremos um elemento de Nne nós e um material ortotrópico:
2 3
@ e1 @ e1
6 @x @y 7
6 7
6 7
6 @ e2 @ e2 7 2 e 3
6 7 @ e1 @ e2 @ e3 @ Nne
Z 6 @x @y 7
6 7 6 @x @x @x @x 7
e
K = 6 @ e3 @ e3 7k6 7d e; (13.66)
6 7 4 @ e1 @ e2 @ e3 @ e 5
e 6 7 Nne
6 @x @y 7
6 .. .. 7 @y @y @y @y
6 . . 7 | {z }
6 7 Be
4 @ eNne @ eNne 5
@x @y
| {z }
BeT
O supra índice T indica transposto de uma matriz ou vetor, de forma que N eT é o transposto do
vetor de funções do elemento de…nido em (13.61), isto é, uma matriz coluna.
Então, as equações (13.66) e (13.67) podem ser postas em forma compacta como:
Z Z Z
Ke = BT kB d e e Fe = NeT h d + NeT b d e . (13.68)
e e\ q e
Ke tem dimensões Nne Nne , e no presente exemplo de elemento plano quadrilateral de 4 nós,
Nne Nne = 4 4.
Nó x y z
1 x x x
2 x x x
..
.
Nno x x x
onde Nno é o número de nós do modelo, a coluna “Nó” indica os números globais dos nós, e as
colunas x; y; z contém as coordenadas globais do nó.
Os dados de conectividade dos elementos são armazenados na forma
nolj = 1 nolj = 2
nogj = Igj nogj = Jgj
igj = 1 igj = 2 igj = 3 igj = 1 igj = 2 igj = 3
igi = 1 e
K11 e
K12 e
K13 e
K14 e
K15 e
K16
noli = 1 nogi = Igi igi = 2 e
K21 e
K22 e
K23 e
K24 e
K25 e
K26
igi = 3 e
K31 e
K32 e
K33 e
K34 e
K35 e
K36
igi = 1 e
K41 e
K42 e
K43 e
K44 e
K45 e
K46
noli = 2 nogi = Jgi igi = 2 e
K51 e
K52 e
K53 e
K54 e
K55 e
K56
igi = 3 e
K61 e
K62 e
K63 e
K64 e
K65 e
K66
Os nós de…nem submatrizes de dimensões Nglno Nglno , que são associadas a um par de nós locais
e a um par de nós globais. Por exemplo, se os dados de conectividade do elemento 2 diz que seus nós
locais 1 e 2 correspondem aos nós globais 4 e 7, por exemplo, a matriz terá 2 x 2 submatrizes, que
corresponderão aos nós locais (1,1), (1,2), (2,1) e (2,2), respectivamente. Simultaneamente, essas
submatrizes correspondem aos nós globais (4,4), (4,7), (7,4) e (7,7) respectivamente.
O processo de sobrepor a matriz elementar na matriz global pode ser detalhado no seguinte
fragmento de programa. Esse programa prevê que tanto a matriz do elemento quanto a matriz
global são armazenadas completas, em sua forma quadrada. Nota-se que isso é feito aqui apenas a
bem da clareza da notação, uma vez que em elementos …nitos as matrizes raramente são calculadas
e armazenadas dessa forma.
Após inicializar a área para a matriz global, K = 0, o fragmento de programa para sobreposição
da matriz KEL do elemento número NULE é o seguinte:
Consideremos que o elemento seja de…nido pelas temperaturas em três nós, denominados nós
intrínsecos ou locais, numerados localmente no elemento. Essa numeração geralmente é feita de
forma anti-horária como na Figura 13.8. Esta foi uma das primeiras formulações de elementos a
serem desenvolvidas. Procuramos uma expansão linear para a distribuição de temperatura T h (x; y)
dentro do elemento, isto é:
T h (x; y) = a0 + a1 x + a2 y: (13.69)
Para conseguir expressar as constantes ai em termos dos valores nodais de temperatura do elemento,
aplica-se (13.69) a cada um dos nós:
T1 = T h (x1 ; y1 ) = a0 + a1 x1 + a2 y1 ;
h
T2 = T (x2 ; y2 ) = a0 + a1 x2 + a2 y2 ;
h
T3 = T (x3 ; y3 ) = a0 + a1 x3 + a2 y3 ; (13.70)
|{z} |{z} |{z}
temp.no nó coord. do no coord. do no
y
(x3, y3)
3
y P 2 (x2, y2)
1
(x1, y1)
x x
Figura 13.8: Geometria do elemento triangular linear, os números intrínsecos dos nós e suas coor-
denadas.
8 e 9 2 3 8 9
< T1 = 1 x1 y1 < a0 =
Te = G A onde e
T = Te , 4
G= 1 x2 y2 5 e A= a1 : (13.71)
: 2e ; : ;
T3 1 x3 y3 a2
Se a área do triângulo for não nula (que ocorre apenas se os três nós forem colineares), G pode ser
invertida, de forma que os coe…cientes são dados por
1
A = G Te ;
= CTe , onde C = G 1
: (13.72)
Uma vez que G é uma matriz bastante simples, sua inversa pode ser obtida de forma analítica,
da mesma maneira que as constantes. Então a interpolação (13.69) pode ser colocada em termos
dos valores nodais de temperatura no elemento:
onde de…nimos as funções de aproximação lineares no elemento, i (x; y); tais que:
2 3
1 x1 y1
4
det G = det 1 x2 y2 5 ;
1 x3 y3
= 2 Área do elemento = 2A: (13.75)
13.5. Elemento triangular linear 357
(O resultado de que det G = 2 vezes a área do elemento é colocado sem prova aqui.) A matriz de
rigidez de um elemento …nito e arbitrário, linear, de 3 nós, é dada por (13.63)-(13.68), onde
2 3
@ 1 @ 2 @ 3
6 @x @x @x 7
B= r 1 r 2 r 3 =6 4 @ 1 @ 2 @ 3 5:
7
@y @y @y
Substituindo aqui as de…nições das funções de aproximação mostradas em (13.73) tem-se:
No caso particular em que a fonte de calor b seja uniforme no elemento, o vetor força se simpli…ca
para:
8 9
< C11 + C21 x + C31 y =
Fe = bA C12 + C22 x + C32 y : (13.79)
: ;
C13 + C23 x + C33 y
onde x e y indicam as coordenadas do centroide do elemento.
Caso Particular
y
3
1 2
(0, 0) x (h, 0) (0, - h)
(a) (b)
De (13.74), as matrizes C nos dois tipos de elemento da Figura 13.9 são, respectivamente, as
seguintes:
2 3 2 3
1 0 0 1 0 0
6 1 1 7 6 1 1 7
6 0 7 6 0 7
C=6 h h 7 e C=6 h h 7: (13.80)
4 5 4 5
1 1 1 1
0 0
h h h h
Substituindo C em (13.77) e as coordenadas nodais em (13.79) obtemos, para ambas as con…gurações
da Figura 13.9, a matriz de rigidez e para o vetor força em uma forma bastante simpli…cada, que
termina sendo as mesmas para ambas as con…gurações:
2 3
1 1
6 1 2 2 7 8 9
6 7 < 1 =
6 1 1 7 bh 2
Ke = k 6 6 2 0 77 e Fe = 1 : (13.81)
6 2 7 6 : ;
4 1 1
1 5
0
2 2
y a
21 22 23 24 25
32
16 20
17 18 19
c 11 7
12 13 14
11
6 10
1,5 27 8 9 8
1
1 2 3 4 5 x
r2 T = 1 em ,
T = 0 em . (13.82)
Solução:
Observemos que os graus de liberdade correspondentes aos nós do contorno, onde a temperatura
é conhecida, T = 0, não precisam ser sobrepostos na matriz global.
A conectividade dos elementos é mostrada numa matriz de dados que indica, para cada
elemento, o número global do nó que corresponde a cada um dos três nós intrínsecos do elemento.
13.5. Elemento triangular linear 359
Elemento Nó I Nó J Nó K
1 1 2 6
2 7 6 2
3 2 3 7
4 8 7 3
5 3 4 8
6 9 8 4
7 4 5 9
8 10 9 5
9 6 7 11
10 12 11 7
11 7 8 12
12 13 12 8
.. .. .. ..
. . . .
Nota-se que foi utilizada uma conectividade nos elementos de forma que o nó local I é sempre o
do vértice do ângulo reto do elemento, para coincidir com a dedução na eq.(13.81). Pelo mesmo
motivo, a numeração local foi feita sempre anti-horária.
Nós 7# 8# 12# 8 9
bAe< 1 = 7
7! 1 0; 5 0; 5
K11 =k , F11 = 1 8
8! 0; 5 0; 5 0 3 : ;
1 12
12! 0; 5 0 0; 5
onde Ae = h2 =2 é a área e h é o lado do elemento e. Da matriz de conectividade, sabe-se que os nós
globais do elemento 11 são f7; 8; 12g. Isso signi…ca que cada coluna e linha de sua matriz elementar
K11 corresponde a um dos nós globais, 7, 8 e 12, respectivamente. Por exemplo, o termo (1,1) da
matriz elementar, de valor k, deve ser sobreposto na matriz global na posição (7,7). “Sobrepor”
signi…ca que esse valor deve ser somado a qualquer outro valor que já possa estar presente na matriz
global devido a outros elementos anteriormente sobrepostos. Se esse for o primeiro elemento a ser
sobreposto, a matriz de rigidez global ainda é uma matriz nula. Então, se o elemento 11 for o
primeiro a ser sobreposto, a matriz global tem a forma:
nós ! 7 8 9 12 13 14 17 18 19
7 1 0; 5 0; 5
8 0; 5 0; 5 0
9
12 0; 5 0 0; 5
K=k
13
14
17
18
19
Após a sobreposição dos termos associados aos nós internos de todos os elementos, a matriz global
…ca:
360 Capítulo 13. Transferência de calor pelo MEF
nós ! 7 8 9 12 13 14 17 18 19
7 4 1 1
8 4 1 1
9 4 0 1
13 4 1 1
K=k (13.83)
14 4 1 1
15 4 0 1
17 4 1
18 4 1
19 sim: 4
(sim. indica que a matriz é simétrica.) Nota-se que os termos do elemento 1, por exemplo, são
totalmente ausentes, e da matriz do elemento 2 será sobreposto apenas o termo correspondente ao
seu nó local 1, que vale k. O termo K11 da matriz, correspondente ao nó 7 terá contribuições dos
elementos 3, 4, 9 e 10, com valor k/2 de cada um, e do elemento 11 com valor 1, o que resulta
em K77 = 4k. Nota-se que, poderia ter sido feita a sobreposição de todos os 25 nós da malha,
gerando uma matriz de ordem 25 25, em vez de 9 9. Nesse caso, a imposição das condições
de contorno, de temperatura nula na borda, deveria ser imposta posteriormente, zerando as linhas
e colunas correspondentes às temperaturas prescritas, impondo o valor 1 na diagonal da matriz, e
zero na posição correspondente do vetor força.
A meia largura de banda nessa malha é b = 3. Pode-se mostrar que, caso essa malha seja
re…nada mantendo o mesmo padrão de regularidade, a largura de banda cresce em +1 a cada …leira
de elementos adicionados em cada linha e coluna da malha. A forma da matriz, neste caso particular
de elementos triangulares lineares em malha regular, terá sempre o mesmo padrão, para M M
blocos: a diagonal principal será sempre composta por 4’s, a diagonal secundaria sempre composta
por 1’s, da mesma forma que a M -ésima diagonal, situada sempre na posição M a partir da
diagonal principal.
O vetor força global é obtido fazendo sobreposição dos vetores força elementares. No caso, o
vetor global para os nós internos são:
T
F= 1, 1, 1, 1, 1, 1, 1, 1, 1 . (13.84)
Uma vez que o sistema algébrico global KT = F foi obtido excluindo da sobreposição as linhas
e colunas correspondentes às temperaturas prescritas, esse sistema já incorpora as condições de
contorno de Dirichlet. Então a matriz K é não singular e o sistema pode ser resolvido para as
temperaturas nodais internas. Aplicando os dados do problema obtém-se a solução nos nós internos:
O cálculo do ‡uxo de calor num certo elemento é feito usando a matriz Be do elemento e o
vetor de temperaturas nodais dele, Te , como em (13.65). Por exemplo, para o elemento 2, as
temperaturas nodais são obtidas de (13.85) tomando T2 = fT7 ; T6 ; T2 gT :
qx
q2 = = kBe2 Te2 : (13.86)
qy
Note que o elemento 2 está na posição correspondente àquela do elemento da Figura 13.9b, de forma
que B2 vem de (13.76) e da segunda expressão em (13.80). Então, para lados h = 1 e k = 1,
13.5. Elemento triangular linear 361
8 9
k < 0; 6875 = W
qx 1 1 0 0; 6875
q2 = = 0 = : (13.87)
qy h 1 0 1 : ; 0; 6875 m2
0
Essa é uma estimativa do ‡uxo, que pode ser considerada uma aproximação (grosseira, nesse prob-
lema), do ‡uxo no centroide do elemento, como ilustrado na Figura 13.11.
qy
6 7
qx
k x
1 Rk sen
bx 2b X a k y k (c y)
T (x; y) = (a x) senh + senh ,
2 a k c a a
k=1 senh
a
a 3
Rk = [1 cos (k )] : (13.88)
k
Para o caso da placa quadrada de lados a = c = 4 m, modelada pela malha de M = 4 blocos de
elementos lineares, como na Figura 13.10, (4 4 blocos de elementos), a distribuição de temperatura
T e de ‡uxo, qx = k@T =@x, foi obtida pelo MEF, para elementos lineares de 3 nós, resolvendo o
sistema linear formado pelas eqs.(13.83) e (13.84). A Figura 13.12 mostra a variação da temperatura
e do ‡uxo ao longo da linha y = 1; 5 m, junto aos valores analíticos. Observa-se nos resultados as
seguintes características típicas do MEF:
1. a variável principal, (a temperatura, no presente caso), é contínua através das interfaces dos
elementos, porém as variáveis secundárias, (no presente caso, o ‡uxo), são descontínuas.
2. A segunda característica comum que pode ser vista nesse grá…co, é que, como regra, a precisão
das aproximações das variáveis secundárias é bastante pior que da principal.
A Figura 13.13 mostra os mapas de ‡uxo qx para a placa do Exemplo 13.2, para malha de
4 4 blocos. Na …gura (a), resultados são obtidos diretamente dos elementos, usando a matriz
B, como detalhado no Exemplo 13.1. Como o elemento usado é triangular linear, seu gradiente é
constante, de forma que o ‡uxo estimado é constante em cada elemento, e, portanto, descontínuo
4
Essa solução pode ser obtida de teoria padrão de solução de equações diferenciais parciais pelo método de separação
de variáveis. Consultar textos como [60].
362 Capítulo 13. Transferência de calor pelo MEF
1,5
Analítico
1 T
MEF
0,5
0 MEF qx
- 0,5 Analítico
-1
- 1,5
0 0,4 0,8 1,2 1,6 2
x
Figura 13.12: Variação da temperatura (em C ) e do ‡uxo (em W/m2 ) ao longo da linha y = 1; 5
m, para o problema do Exemplo 13.1.
nas interfaces. Um procedimento bastante usual em MEF é o de obter uma aproximação suavizada
da variável secundária (o ‡uxo, no presente caso), através de uma média nodal entre os valores de
‡uxo dos elementos que contém cada nó. Para o problema do exemplo, os resultados obtidos por
média nodal são mostrados na Figura 13.13b.5
(a) (b)
Figura 13.13: Mapas de ‡uxo qx para a placa do Exemplo 13.2, para malha de 4 4 blocos. À
esquerda, resultados obtidos diretamente dos elementos, e à direita, resultados obtidos fazendo
média nodal.
A Figura 13.14 apresenta as curvas de convergência para o problema, usando elementos trian-
gulares lineares (3 nós) e quadráticos (6 nós, com nós no meio dos lados). Os valores numéricos
aparecem na Tabela 13.1. Tem-se os valores absolutos do erro relativo da temperatura no centro
da placa, em (x; y) = (2; 2) e do ‡uxo no centro do lado da placa, em (x; y) = (0; 2), obtido por
média nodal. Na abcissa, tem-se Ni , o número de graus de liberdade de cada malha. Ni é calculado
tomando o número total de nós da malha, menos os nós de temperatura prescrita, isto é, Ni indica a
5
O processo de fazer média nodal é apenas o mais simples para estimar uma distribuição suave de ‡uxos (ou de
tensões nos problemas mecânicos). Existe na literatura diversos métodos mais so…sticados, como os de Zienkiewicz e
Zhu ZZ1 [116] e o ZZ2 [117] (esse conhecido por “patch recovery method”), baseados em mínimos quadrados, e outros.
13.6. Elemento quadrilateral bilinear 363
ordem da matriz de rigidez, e portanto, indica o esforço computacional realizado na solução. Todas
as malhas foram do tipo daquela mostrada na Figura 13.10, variando o número M de blocos de
elementos. O erro relativo é calculado usando a solução analítica, que no caso são os seguintes
valores: T o = 1,1787417 C e qxo = 1,350629 W/m2 . Os erros relativos são calculados por
1. Para um dado número de graus de liberdade no modelo, os resultados obtidos com elementos
de maior ordem (quadráticos, no presente caso), são mais precisos que os resultados com
elementos de menor ordem (lineares, no caso presente).
2. Mais importante, a taxa de convergência é maior quanto maior for a ordem do elemento.
A taxa de convergência é de…nida como a inclinação da curva de convergência num diagrama
log-log como o da Figura 13.14. Como característica geral do MEF, aumentando-se o número
de graus de liberdade de um modelo, consegue-se muito maior incremento de precisão dos
elementos de alta ordem que nos de baixa. Isso signi…ca que os elementos de alta ordem são
mais e…cientes que os de baixa, uma vez que podem gerar resultados com a mesma precisão com
matrizes de rigidez menores. Isso signi…ca economia de área de memória para armazenamento,
e principalmente, economia de tempo de processamento.
0
1x10
-1
1x10
Erro relativo
-2 qx, linear
1x10
-3
T, linear
1x10
-4
1x10
qx, quadrático
-5
1x10
1 10 100 1000 10000
Número de graus de liberdade Ni
Figura 13.14: Curvas de convergência para elementos lineares e quadráticos. Valor absoluto do erro
relativo da temperatura no centro da placa, em (x; y) = (2; 2) e do ‡uxo no centro do lado da placa,
em (x; y) = (0; 2).
Tabela 13.1: Curvas de convergência para elementos lineares e quadráticos. Valor absoluto do erro
relativo da temperatura no centro da placa, em (x;y)=(2;2) e do ‡uxo no centro do lado da placa,
em (x;y)=(0;2).
MEF - elementos 3 nós MEF - elementos 6 nós
Malha Ndof T q
h x i Erro E T Erro E q Ni Erro Eq
M [C ] W/m2 10 3 10 3 10 3
2 9 62,14
4 9 1,1250 0,81250 45,592 398,4 49 5,945
6 25 1,1543 0,99573 20,74 262,8 121 1,132
8 49 1,1650 1,0876 11,66 194,7 225 0,3176
12 121 1,1729 1,1780 4,956 127,8 529 0,09551
16 225 1,1756 1,2222 2,665 95,09 961 0,02147
24 529 1,1776 1,2658 0,9686 62,81
32 961 1,1783 1,2873 0,3747 46,89
40 1521 1,1787 1,3001 0,03538 37,41
y (x3 , y3)
s
(x4 , y4)
s 3
4 P (-1, 1) (1, 1)
y
4 3
r P
1 r s
(x1 , y1)
2 r
(x2 , y2)
1 2
x x
(a) (b) (-1, -1) (1, -1)
Figura 13.15: (a) Domínio físico do elemento bilinear; (b) domínio padrão para mapeamento em
coordenadas intrínsecas.
4
X
x(r; s) = a (r; s) xa = 1 (r; s) x1 + 2 (r; s) x2 + 3 (r; s) x1 + 4 (r; s) x4 ;
a=1
X4
y(r; s) = a (r; s) ya = 1 (r; s) y1 + 2 (r; s) y2 + 3 (r; s) y1 + 4 (r; s) y4 : (13.90)
a=1
onde a (r; s) são as quatro funções de aproximação do elemento, de…nidas no domínio padrão. De
forma compacta estas relações podem ser postas na forma:
Nne
X
x(r) = a (r; s) xa . (13.91)
a=1
onde
x = (x; y), e xa e ya são as coordenadas dos nós do elemento, onde o contador a pode tomar
valores de 1 a Nne .
13.6. Elemento quadrilateral bilinear 365
Nne é o número de nós intrínsecos no elemento, sendo que no caso do elemento quadrangular
da Figura 13.15, Nne = 4.
Note que o mapeamento acima signi…ca simplesmente, de certa forma, apenas uma correspondên-
cia entre os valores, isto é, dados valores para r e s, que identi…cam um ponto no domínio auxiliar,
podem-se calcular os valores de x e y que representam a posição do ponto correspondente no domínio
físico visto na Figura 13.15a. De fato, as equações (13.90) possuem inversa, de forma que, dados x e
y é possível obter os valores de r e s correspondentes. (Observe que a razão para o uso das coorde-
nadas intrínsecas em lugar do uso direto das coordenadas físicas deve-se à facilidade proporcionada
em diversas etapas do método de elementos …nitos.)
Em (13.90) usamos as funções a (r; s) para mapear as coordenadas. É desejável poder usar o
mesmo conjunto de funções para interpolar a temperatura T h (x; y) no elemento, isto é, desejamos
aproximar a temperatura em qualquer ponto do elemento por:
4
X
T h (r; s) = a (r; s) Ta
e
= 1 (r; s) T1
e
+ 2 (r; s) T2
e
+ 3 (r; s) T3
e
+ e
4 (r; s) T4 : (13.92)
a=1
os Tae ’s são os valores de temperatura nos nós do elemento e, isto é, são os valores nodais de
temperatura.
Desejamos obter as funções a (r; s) de forma que elas sejam polinômios em r e s no mais alto grau
possível, envolvendo apenas quatro constantes (as quatro coordenadas por exemplo). Um polinômio
de 4 parâmetros em r e s tem a forma
x(ra ; sa ) = xa ; (13.94)
y(ra ; sa ) = ya , para a = 1; 2; 3 e 4;
onde, para cada nó a, as coordenadas intrínsecas são mostradas na Figura 13.15b. Uma vez que
as coordenadas nodais físicas são dados do problema, tem-se dois conjuntos de quatro equações
algébricas que podem ser resolvidas para os a’s e b’s. As equações são:
2 32 3 2 3
1 1 1 1 a0 b0 x1 y1
6 1 1 1 7 6
1 7 6 a1 7 6
b1 7 6 x2 y2 7
6 = 7. (13.95)
4 1 1 1 1 5 4 a2 b2 5 4 x3 y3 5
1 1 1 1 a3 b3 x4 y4
Pode-se inverter a matriz coe…ciente e obter as constantes a’s em termos das coordenadas nodais
xa ’s, e as constantes b’s em termos das coordenadas nodais ya ’s. Substituindo estas constantes em
(13.93) e reagrupando os termos obtém-se para x:
1 1 1 1
x(r; s) = (1 r)(1 s)x1 + (1 + r)(1 s)x2 + (1 + r)(1 + s)x3 + (1 r)(1 + s)x4
|4 {z } |4 {z } |4 {z } |4 {z }
1 (r;s) 2 (r;s) 3 (r;s) 4 (r;s)
e uma expressão similar para y(r; s). Os coe…cientes das coordenadas nodais são as funções de
366 Capítulo 13. Transferência de calor pelo MEF
1 1
1 (r; s) = (1 r)(1 s), 3 (r; s) = (1 + r)(1 + s),
4 4 (13.96)
1 1
2 (r; s) = (1 + r)(1 s), 4 (r; s) = (1 r)(1 + s).
4 4
Observações:
1. Deve-se notar que a matriz e o vetor força do elemento, são de…nidos em (13.68) como inte-
grais de funções de…nidas sobre o domínio físico do elemento, de coordenadas x = (x; y), e
o gradiente de temperatura é de…nido nessas coordenadas. Se de…nimos as funções de inter-
polação em coordenadas intrínsecas = ( ; ), deve-se considerar a mudança de variáveis na
determinação das derivadas do gradiente e no domínio de integração.
3. Funções de interpolação para elementos quadrangulares de maior numero de nós e maior grau,
são listadas na seção 8.8, página 214, tanto quanto para elementos triangulares de diversos
tipos.
13.7 Exercícios
13.1 Considere o problema similar ao do Exemplo 13.1, de achar uma solução aproximada para o
problema de transferência de calor numa região plana de dimensões 4 4. A fonte interna é
uniforme, dada por b = 43 W/m3 . A placa é de aço com constante de condutividade térmica
do material é k = 43 W/m C. Considere que as bordas da placa são mantidas sob controle de
temperatura de tal forma que T = 0 em toda a borda. Resolva os seguintes itens.
(a) Use as funções de interpolação bilineares num elemento de quatro nós. Calcule analiti-
camente a matriz de rigidez e o vetor força do elemento quadrado. (Dica: use o auxílio
do Mathematica, Maple ou Matlab.)
(b) De…na uma malha com 3 3 elementos, isto é, M = 3. Sobreponha manualmente a matriz
e o vetor global. Veri…que se há uma estrutura na matriz. Qual é o valor da largura de
banda?
(c) Resolva o problema algébrico KT = F da malha M = 3.
(d) Use o Ansys para rodar as malhas M = 2, 4, 8 e 16.
(e) Faça uma plotagem da temperatura T e do ‡uxo qx ao longo de uma linha y = 2, junto
com os valores exatos obtidos da eq.(13.88). É possível observar alguma tendência na
resposta conforme a malha é re…nada?
(f) Compare a solução com os elementos quadriláteros com os elementos triangulares através
de curvas de convergência. O que se observa? (Solução: como regra do MEF, elementos
quadriláteros são mais precisos que os triangulares, para um mesmo número de graus de
liberdade do modelo. Por que isso?)
13.2 Considere dois elementos triangulares de três nós como na Figura 13.9, porém com lados Lx
e Ly ao longo das direções globais x e y.
13.7. Exercícios 367
(a) Deduza a expressão da matriz Ke para cada um dos elementos, para condução de calor,
em termos de k, Lx e Ly .
(b) Deduza a expressão de Fe para cada elemento se apenas o lado vertical transfere calor
por convecção.
(c) Deduza a expressão de Fe para cada elemento associado a uma geração de calor b = const.
no elemento. 2 3
1 1 1 1
6 L2 +
6 x Ly
2 L2x L2y 7
7
6 1 1 7
e
Solução: para ambos os elementos, K = kAe 6 6 0 7 e Fe =
L 2 L L 7
6 x x y 7
4 1 1 5
2
0 2
Ly Ly
2 3
8 9 1 1 1
1 =
Ae b < 6 7
1 1
6 0 7
1 . Para os triângulos das Figuras 13.9a e (b), C = 6 Lx Lx 7e
3 : ; 4 1 1 5
1 0
Ly Ly
2 3
1 0 1
6 1 1 7
6 0 7
C = 6 Lx Lx 7
4 1 1 5
0
Ly Ly
13.3 Considere uma placa quadrada de lados L = 1 m, com malhas regulares de M M elementos
triangulares. (A Figura 13.10 ilustra a malha M = 4.) Considere o lado y = 0 com tem-
peratura prescrita dada por f (x) = sen ( x=L), e os demais lados com temperatura nula. A
geração interna de calor e a convecção são nulas.
1 x (L y)
T (x; y) = sen senh : (13.99)
senh ( ) L L
13.4 Considere uma placa quadrada de material isotrópico, com lados L e espessura unitária, com
bordas sob temperatura prescrita T = 0, e geração interna de calor dada por b = p sen
( x=L)sen ( y=L), para um sistema de coordenadas posicionado no vértice da placa.
368 Capítulo 13. Transferência de calor pelo MEF
pL2 x y)
T (x; y) = sen sen : (13.100)
2 2k L L
(b) De…na valores para os parâmetros e resolva o problema com o Ansys, ou outro programa
comercial de elementos …nitos, usando uma sequência de malhas regulares M. Plote as
curvas para a variação da temperatura e dos ‡uxos ao longo da linha x = L=4, em termos
do número de graus de liberdade do modelo, N .
Capítulo 14
Esse capítulo reorganiza as formulações de MEF que nos capítulos anteriores foram detalhadas
utilizando um equacionamento que, até certo ponto, parece distinto para cada um dos problemas a
que o método foi aplicado (barras, vigas, elasticidade plana e 3D). No presente capítulo, sumarizamos
a aplicação de MEF para três tipos de problemas: barras, transferência de calor 3D e elasticidade 3D.
Essa nova apresentação é feita usando uma formatação simbólica que permite visualizar estruturas
matemáticas do MEF válidas para uma grande variedade de problemas. Sobre essa estrutura, são
deduzidas algumas propriedades básicas do MEF e de suas soluções, permitindo ao analista melhor
avaliar os resultados obtidos de simulações numéricas. Resultados típicos de unicidade de solução,
de convergência e erro são abordados. Adicionalmente, são apresentados outros métodos derivados
do método dos resíduos ponderados. Finalmente, são apresentadas e exempli…cadas formulações
de princípios de mínimo com restrição via multiplicadores de Lagrange e soluções aproximadas via
método de Rayleigh-Ritz.
w: ! R;
(14.1)
R.
Frequentemente, e sem perda de generalidade, o intervalo aberto (0; L) é normalizado para L = 1.
Dependendo das características de w, podem ser de…nidos os seguintes conjuntos de funções:
( Z L )
L2 ( ) = w w2 dx < 1 ;
0
dj w (14.2)
Hk( ) = w 2 L2 , para j = 0; 1; :::; k ;
dxj
dj w
Ck( ) = w para j = 0; 1; :::; k existem e são funções contínuas ;
dxj
L2 ( ) é o conjunto contendo funções tais que a integral do quadrado dessas fornece um número
…nito. Assim, se diz que tais funções são quadrado-integráveis (ou simplesmente funções L2 ) em
370 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
. O conjunto H k ( ) contém funções tais que ela e suas derivadas até ordem k são quadrado-
integráveis. Como consequência desta de…nição, resultam naturais as seguintes propriedades:
H 0 = L2 ;
(14.3)
Hk H k+1 ;
onde j j 1 + 2 + 3:
H 0 ( ) = fw j w 2 L2 ( ) g = L2 ( );
@w @w
H 1 ( ) = fw w; ; 2 L2 g;
@x1 @x2 (14.6)
@w @w @ 2 w @ 2 w @ 2 w
H 2 ( ) = fw w; ; ; ; ; 2 L2 g:
@x1 @x2 @x21 @x22 @x1 @x2
Finalmente, associado ao espaço H k ( ) em (14.5), tem-se o espaço H0k ( ), de…nido por:
isto é, H0k ( ) é constituído pelas funções w 2 H k ( ) que são nulas na parte u do contorno.
Norma L2
O espaço vetorial L2 ( ) possui o produto escalar
Z
hv; wiL2 ( ) vw d ; (14.8)
hv; wi
cos = . (14.11)
kvk kwk
Esta de…nição é possível pois, pela desiguldade de Cauchy, o lado direito …ca sempre no intervalo
[ 1; 1]. Se hv; wi = 0, considera-se que v e w são ortogonais.
Deve-se lembrar que, para que uma operação possa ser considerada uma norma k k, ela deve
contar com as propriedades
e a norma H 1 ( ):
q
kvkH 1 ( ) = hv; viH 1 ( ) (14.14)
1
Publicado por Augustin-Louis Cauchy em 1821 para somas, por Viktor Bunyakovsky em 1859 para integrais, e
re-descoberto em 1888 por Hermann A. Schwarz.
372 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
A
R expressão “su…cientemente regular” se refere, neste contexto, a funções w : ! R tal que
(du=dx)2 dx < 1, isto é, aquelas funções de…nidas no segmento (0; L) cuja integral da derivada
elevado ao quadrado fornece um número …nito. Isto garante que as operações necessárias para
realizar o cálculo sejam sempre executáveis. Esta condição é exatamente a caracterização das
funções do espaço H 1 ( ), de forma que se pode simplesmente escrever: u 2 H 1 ( ).
Formulação fraca. Como foi visto no Capítulo 7, o problema de uma barra elástico-linear sob
tração pode ser descrito em sua forma fraca como:
Uma forma alternativa de representar o funcional em (14.17) consiste em de…nir os seguintes oper-
adores:
Z Z
d^u du
a(u; u
^) = EA d e l(^
u) = Ab^ u d + t^u(L). (14.18)
dx dx
Assim, a forma fraca (14.17) toma a forma simbólica
Até esse ponto parece não haver benefício na mudança da representação (14.17). Entretanto, o
texto que segue tornará mais clara as vantagens desta forma simbólica.
Observe que as de…nições são similares àquelas em (14.16) do problema de barra. Entretanto, o
domínio é diferente e a de…nição da regularidade su…ciente é diferente. No presente caso, exige-se
que
Z
ru ru d < 1. (14.21)
Dados: b : ! Rd ; g: ! Rd ; h :
u q ! Rd ; obter u 2 Kin tal que:
a(u; u
^) = l(^
u); 8^
u 2 V ar; (14.22)
Z Z
a(u; u
^) = k rb
u ru d + b hc (x)T d ;
u
Z Z c
Z
l(^
u) = bhd +
u ub hc (x)T1 d + u bbd . (14.23)
q c
Note que o operador a(u; u^) é sempre de…nido com todos os termos contendo a incógnita do
problema, enquanto l(^
u) contém apenas funções conhecidas, quer sejam os dados ou a função peso.
É possível mostrar que se cada uma das componentes de u for tal que uj 2 H 1 ( ), j = 1; c, e se
C for limitada, então a condição (14.26) é satisfeita, de forma que a regularidade su…ciente dos
conjuntos Kin e V ar são representadas simplesmente por: uj 2 H 1 ( ), para j = 1; c.
Formulação fraca. Também conhecido em elastostática como Princípio dos Trabalhos Virtu-
374 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
ais,2 foi desenvolvida em forma explícita em (8.15) e aqui é escrita em forma simbólica como:
Z
a(u; u
^) = " (^
u) : (C" (u)) d ;
Z Z
l(^
u) = ^ bd +
u ^ td
u = 0. (14.29)
f
Pode-se notar que os três problemas mostrados, e diversos outros, podem ser simbolicamente
representados pelas mesmas expressões (14.27) e (14.28), desde que usando as expressões corretas
para as formas bilineares, e ajustando a dimensão adequada d do espaço Euclidiano e a dimensão
c das funções vetoriais da solução e dos dados. Por exemplo: (a) em barra, o campo incógnito é o
deslocamento, com apenas uma componente axial, logo c = 1, e existe apenas uma única coordenada
onde se insere , logo, d = 1; (b) em transferência de calor, o campo incógnito, a temperatura,
é também escalar, c = 1 mas o número de coordenadas espaciais pode ser d = 1,2 ou 3; (c) em
elasticidade, c = d.
Embora as expressões de de…nição das formas lineares dependam do problema, elas gozam
das mesmas propriedades. Estas propriedades podem ser obtidas uma única vez, e são válida
para todos os problemas que compartilham a mesma estrutura, particularmente aqueles que geram
formas lineares com as propriedades (14.30) mostradas a seguir. Em seguida deduziremos, de forma
abrangente, a diversas propriedades decorrentes destas.
Linearidade
Diz-se que o operador a( ; ) é uma forma bilinear dos seus argumentos e l( ) uma forma linear do
seu, por possuírem as seguintes propriedades:
2
Johann Bernoulli, suiço, (1667-1748), apresentou seu trabalho sobre o PTV em 1715. O Princípio foi desenvolvido
em sequência por D’Alembert em uma publicação de 1743 e por Lagrange em 1768.
14.2. Formas simbólicas 375
A propriedade de linearidade dos operadores permite reduzir a de…nição dos conjuntos admissíveis
de funções (14.28) para uma forma mais simples. Para isto, admite-se a decomposição de u 2 Kin
em duas funções: uma conhecida, w 2 Kin, e outra u 2 V ar, de tal forma que
u = w + uo : (14.31)
Substituindo em (14.27), o problema …ca: obter w + uo 2 Kin tal que:
a(w + uo ; u
^ ) = l(^
u); 8^
u 2 V ar:
Sendo w conhecido a priori, a incógnita passa a ser uo 2 V ar. Assim, a forma fraca se torna:
~l(^
u) = l(^
u) a(w; u
^ ): (14.33)
Esta mudança de variáveis mostra que todos os casos apresentados envolvendo o caso geral de
condições de contorno essenciais não homogêneas pode ser reduzido à expressão de um problema
com condições de contorno homogêneas. Este resultado será utilizado para facilitar a descrição de
outras propriedades dos operadores, assim como das suas correspondentes aproximações numéricas.
Para tal, admitiremos doravante que o problema genérico estudado é apropriadamente descrito por
(14.32), ou ainda por (14.27) desde que se considere Kin = V ar.
Simetria e positividade de a( ; )
É fácil veri…car que a forma bilinear é simétrica, como enunciado em (14.30)4 . Mais ainda, as
propriedades de material dos respectivos modelos (E > 0, k > 0, C positiva de…nida), garantem
que
a(u; u) 0 8u 2 V ar, e
(14.34)
a(u; u) = 0 se e somente se u(x) = 0 em todo x 2 .
Isso signi…ca que a forma bilinear é positiva de…nida no conjunto V ar. A imposição de condições
essenciais no modelo (u 2 V ar) é fundamental para garantir a positividade de a( ; ), como ilustrado
a seguir para o caso de elastostática 3D.
ru + (ru)T = 0: (14.36)
A solução é deduzida em Malvern [67], por exemplo, mas pode …nalmente ser obtida partindo de
376 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
Os dois termos à direita da igualdade representam translação e rotação de corpo rígido, respec-
tivamente. Entretanto, o segundo termo representa rotação de corpo rígido apenas no âmbito do
presente modelo cinemático linear, de pequenas deformações, deslocamentos e rotações.
Se condições de contorno são impostas em u(x) tal que os movimentos de corpo rígido sejam
impedidos, segue que a( ; ) é positiva-de…nida. Em particular, se u(x) = 0 8x 2 u , segue-se que
(14.34) é satisfeito. Raciocínio similar pode ser seguido para os casos de elasticidade 1D e condução
de calor, tomando as constantes de material E > 0 e k > 0, respectivamente.
a(u1 ; v) = l(v);
(14.38)
a(u2 ; v) = l(v):
Subtraindo uma equação da outra se tem a(u1 u2 ; v) = 0. Escolhendo v = u1 u2 2 V ar, se tem
a(u1 u2 ; u1 u2 ) = 0:
Da positividade do operador, a única função que fornece valor nulo é a própria função nula, isto é,
deve-se ter
v = u1 u2 = 0 ) u1 = u2 .
É importante lembrar que a propriedade de positividade foi alcançada ao restringir as funções
ao espaço V ar, que contém condições su…cientes para garantir a ausência de movimentos de corpo
rígido (no caso de elastostática). Caso isto não aconteça, a forma bilinear é apenas positiva semi-
de…nida, e perde-se a garantia de unicidade da solução.
De…nem-se dois conjuntos de dimensão …nita para funções vetoriais w(x) 2Rc , com w : ! Rd :
n X
Kinh = w(x) jwg = 'j (x)wjg para componentes g = 1; :::; c;
j wg 2 H 1 ( ) e wg (x) = ug (x) se x 2 u
n X
V arh = w(x) wg = 'j (x)wjg para componentes g = 1; :::; c;
j wg 2 H 1 ( ) e wg (x) = 0 se x 2 u (14.43)
Assim, esses conjuntos de dimensão …nita estão contido em suas contrapartidas de dimensão
in…nita: Kinh Kin e V arh V ar. A satisfação das condições wg 2 H 1 ( ) é garantida pela
escolha adequada da base de funções 'j (x). Frequentemente a base é escolhida simplesmente como
contínua, tal que wg 2 C 0 ( ).
A forma discretizada do PV enunciado em (14.32) é a seguinte:
Dados: b : h ! Rc ; t : f ! Rc ; u : u ! Rc ;
obter uh 2 V arh tal que: ^ h ) = ~l(^
a(uh ; u uh ), 8^
uh 2 V arh ; (14.44)
com ~l(^
uh ) = l(^
uh ) a(wh ; u
^ h ), de…nido em (14.33).
De…nem-se os seguintes conjuntos de nós:
Nota-se com clareza que, tanto u0h quanto u ^ h pertencem aos mesmo espaço de funções, V arh ( ), e
são descritas pelas mesmas funções.
n oT
Pode-se organizar os valores nodais u0j = u0j ; vj0 ; wj0 de todos os nós j 2 nu na forma usual
do vetor coluna
T
U0 = u01 ; v10 ; w10 ; ; u0N i ; vN
0 0
i ; wN i : (14.49)
e os valores nodais da função peso u
^j = f^
uj ; v^j ; w
^j g de todos os nós j são organizados similarmente:
^ = f^
U u1 ; v^1 ; w
^1 ; ;u ^ N i gT :
^Ni ; v^Ni ; w (14.50)
Assim, as aproximações do deslocamento e da função peso nas equações (14.47) e (14.48) podem
ser representadas em forma matricial:
onde N(x) é a matriz de dimensão c Ni de…nida pelas funções de aproximação, de forma coerente
com os valores nodais.
Usando a relação cinemática linear, " = 12 (ru + (ru)T ) em sua forma de arranjo vetorial de 6
elementos, pode-se usar (14.51) para obter:
"(u0h ) = B(x) U0 ;
^ (14.52)
uh ) = B(x) U:
"(^
Z
onde K = BT C B d (14.55)
é a matriz de rigidez. Sua simetria é evidente dessa de…nição. A positividade de K pode ser
14.3. MEF - simetria e positividade da matriz de rigidez 379
demonstrada como segue. Foi visto que a(u; u) é uma forma bilinear positiva-de…nida 8u 2 V ar.
O espaço de funções de aproximação V arh V ar, logo a(u0h ; u0h ) também é positiva-de…nida, isto
é, a(u0h ; u0h ) 0 8u0h 2 V arh , e a(u0h ; u0h ) = 0 se e somente se u0h = 0.
Num problema discretizado, u0h pode ser visto como uma função dos coe…cientes nodais U0 ,
através da relação u0h = N(x)U0 , o que signi…ca que o valor da forma bilinear também de…nida
pelos valores nodais. Então se pode identi…car algumas situações:
a(v; v) = VT KV 0, e
a(v; v) = VT KV = 0 se V = 0. (14.56)
Logo, K é positiva-de…nida.
Consideremos um caso de dependência linear explícita da base, por exemplo se '2 = '1 .
Nesse caso é possível construir um vetor nodal não nulo, V = fvj1 ; vj2 ; vj3 gT = fb; b; 0gT .
Dependendo da formulação e da de…nição das funções de forma, é possível ter deslocamento
nulo em todo o domínio: vhj0 (x) = b' (x) b'1 (x) + 0'3 (x). Nesse caso, as linhas/colunas 1
1
T
e 2 de K seriam idênticas. Isso resulta V KV = 0, mesmo com V 6= 0. Claramente a mesma
conclusão se chega para outros tipos de dependência linear na base.
As bases usadas no presente texto, que correspondem àquelas usadas na maioria das aplicações
do MEF no mundo, são baseadas em funções nodais. Estas satisfazem à propriedade 'i (xj ) = ij
onde xj é a coordenada do nó j. Como consequência, são linearmente independentes e formam
o que se chama uma Partição da Unidade. Por outro lado, quando parte das funções é não
nodal, como é comum nas funções enriquecidas do MEF Generalizado (GFEM/XFEM), não há
garantia a priori da independência da base. Ver, por exemplo, os artigos iniciais do GFEM/XFEM
[33, 95, 96, 77, 14, 37], e [8, 73].
^ ) = ~l(^
a(u; u u), ^ 2 V ar,
u (14.58)
Seja também uh 2 V arh a solução aproxima, que satisfaz
^ h ) = ~l(^
a(uh ; u uh ), ^ h 2 V arh .
u (14.59)
Como V arh V ar, se tem que a solução u 2 V ar também satisfaz a equação
^ h ) = ~l(^
a(u; u uh ), ^ h 2 V arh .
u (14.60)
380 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
a(u uh ; u
^ )=0 8^
uh 2 V arh : (14.61)
| {z } h
e
O segundo termo a direita é nulo, devido a (14.61). O primeiro e o último termos são sempre
positivos, devido à positividade da forma bilinear. O primeiro termo é o erro da função arbitrária
w. Então conclui-se que
ou ainda
Note que tanto uh quanto v 2 V arh , isto é, suas componentes vetoriais são de…nidas por
combinações lineares das funções 'j (x) de base. uh é obtido pelo MEF e v uma função arbitrária.
Essa desigualdade responde à questão inicial da seção, isto é, ela mostra que o erro,
medido na norma de energia, obtido por qualquer função v 2 V arh , é superior àquele
obtido pela aproximação produzida pelo MEF, vh (x).
Nota-se que (14.61) pode ser escrita como um produto escalar (ver (14.41)):
Essa relação é conhecida como condição de ortogonalidade do erro no MEF. Ela mostra que o
erro u uh é ortogonal a V arh em relação ao produto h ; iE( ) . Uma outra forma de expressar essa
14.4. Estimativas de erro a-priori no MEF 381
relação da seguinte forma. A solução aproximada de MEF uh é uma projeção vetorial, em relação
a h ; iE( ) , da solução exata u sobre V arh . Logo, uh é o elemento no espaço V arh mais próximo a
u. Isto pode ser expresso de forma simbólica em (14.68).
Essa relação pode ser visualizado na analogia da Figura 14.1. O plano representa o espaço linear
de funções V ar, e a reta representa um subespaço V arh V ar. A solução exata u(x), em geral,
não está contida em V arh , mas em V ar. A função erro do MEF, (u uh ), é ortogonal a qualquer
função v 2 V arh . A linha tracejada indica o erro obtido por qualquer outra função v 2 V arh
distinta de uh . Nota-se que sua norma é maior que ku uh k.
u-v
u2 u - uh
Varh
u
uh
Var
v
u1
a(u; u) = a(e + uh ; e + uh );
= a(e; e) + 2a(e; uh ) + a(uh ; uh ); (14.70)
| {z } | {z } | {z }
>0 0 >0
O objetivo nessa seção é esboçar relações que indiquem como o erro da solução do MEF, medido por
alguns tipos de normas, se relaciona ao tamanho dos elementos na malha. Dessas relações surgirão,
naturalmente, de forma matemática, a priori, o conceito de taxa de convergência, que pode ser
medido empiricamente em testes numéricos em malhas e problemas especí…cos.
382 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
A estimativa do erro e(x) u uh é feita considerando que, como uh deve pertencer a V arh ,
pode-se considerar uma função u ~h aproximativa de uh , também pertencente a V arh , que seja o que
se chama interpolante de u. Dada uma malha de…nida por nós de coordenadas xj , é dito que uma
função u
~h (x) interpola u(x) se
u
~h (xj ) = u(xj ) para j = 1; 2; :::; Nnos . (14.73)
A função interpolante tem o mesmo valor que a função interpolada nos nós da malha. Entre cada
dois nós, a função interpolante pode ser um polinômio de grau pré-de…nido. A …gura 14.2 ilustra o
uso de u
~h (x) de…nido por funções lineares par partes entre cada par de nós contíguos. Normalmente,
cada elemento …nito 1D é modelado por uma função contínua de derivadas contínuas, geralmente
um polinômio de grau Nne 1, (Nne é o número de nós do elemento). No texto que segue, usaremos,
por simplicidade, a notação N em lugar de Nne .
u~h
A estimativa de erro que buscamos será obtida a partir do Teorema 1, cuja prova usa o Teorema
2 [25].
(x) dN u
u(x) u
~h (x) = ;
N ! dxN 2 e (14.74)
onde (x) (x x1 )(x x2 ) (x xN ):
Teorema 14.2 - (Teorema de Rolle). Seja f (x) uma função contínua em a x b e derivável
em a < x < b. Se f (a) = f (b), então existe, no mínimo, um ponto entre a e b tal que df =dxj = 0
(isto é, um ponto de máximo ou mínimo local).
(s) = u(s) u
~h (s) g(x) (s) (14.75)
14.4. Estimativas de erro a-priori no MEF 383
(xj ) = u(xj ) u
~h (xj ) g(x) (xj );
= 0: (14.77)
(x) = u(x) u
~h (x) g(x) (x);
= 0, (Devido á de…nição de g(x) em (14.76).) (14.78)
Então x também é raiz de . De fato, possui N + 1 raízes em . Pelo teorema de Rolle, entre
cada par de raízes contíguas deve haver pelo menos um ponto com d =ds = 0. Então, 0 (s) deve
possuir pelo menos N raízes em . Segundo o mesmo raciocínio, agora possui pelo menos N
pontos com 0 (s) nulos, que geram N 1 intervalos. Logo, o teorema de Rolle novamente diz que
em cada intervalo 00 (s) possui pelo menos um zero, o que signi…ca que 00 (s) possui pelo menos
N 1 raízes em . O raciocínio pode ser prosseguido até que, …nalmente, sabe-se que dN =dsN
deve ter, no mínimo, uma raiz em . Seja uma dessas raízes. Usando a de…nição de em (14.75)
temos
dN dN u dN u~h dN dN u
= g(x) =0 =) = g(x)N ! (14.79)
dsN dsN ds N dsN dsN
| {z } | {z }
=0 =N !
dN u
~h =dsN é nulo porque u
~h é um polinômio de grau N 1, e dN =dsN = N ! vem de (14.74).
Trazendo g(x) de sua de…nição (14.76) para (14.79) tem-se:
(x) dN u
u(x) u
~h (x) =
N ! dxN
No caso do problema de barra, a solução da forma forte, o PD, é u(x), uma função que é, em
geral, desconhecida. u
~h (x) é um polinômio de grau N 1 que interpola N pontos nodais em um
elemento …nito de N nós. A expressão (14.74) indica que o erro no elemento, e(x) = u u ~h ; é
uma função (x)=N ! vezes a N -ésima derivada da solução exata, calculada num ponto , que é
desconhecido, embora se saiba que pertence a . Da forma como se encontra, (14.74) possui pouca
aplicação prática no cálculo exato do valor do erro. Entretanto, as deduções a seguir mostrarão
que ela gera estimativas bastante úteis. Adicionalmente, nota-se que (14.74) permite não apenas
estimativas do erro no deslocamento, mas também em suas derivadas, o que, em muitas classes de
problemas, como em problemas de mecânica dos sólidos, é a grandeza mais importante, por estar
associada às deformações e tensões e à maioria dos modos de falha do material.
Esse é o uso de uma malha de elementos 1-D, com elementos lineares por partes, como na Figura
14.2, em que se considera um particular elemento …nito, com nós de coordenadas x1 e x2 . Então,
em (14.74), N = 2, e:
(x) = (x x1 )(x x2 ): (14.80)
384 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
(x2 x)~
u1 (x1 x)~
u2
u
~h (x) = : (14.81)
x2 x1
Assim, (14.74) …ca:
(x x1 )(x x2 ) d2 u
u(x) u
~h (x) = : (14.82)
2! dx2
Como a solução exata u(x) não é conhecida, suas derivadas à direita de (14.74) também não
podem ser calculadas exatamente. Entretanto, frequentemente se pode a…rmar que eles sejam
limitadas por algum número real M , isto é,
d2 u
M: (14.83)
dx2 x2 e
j(x x1 )(x x2 )j d2 u
ju(x) u
~h (x)j = ;
2 dx2
M
j(x x1 )(x x2 )j : (14.84)
2
Nota-se que o máximo de q(x) (x x1 )(x x2 ) ocorre em x0 = (x1 + x2 )=2, onde q(x0 ) =
(x2 x1 )2 =4. Entretanto, x2 x1 é o comprimento he do elemento e. Então, o erro máximo do
polinômio interpolador linear no elemento, entre x1 e x2 é:
h2e
ju(x) u
~h (x)j M para x 2 [x1 ; x2 ]: (14.85)
8
Se considerarmos todos os Nel elementos de uma malha, em que cada elemento tenha compri-
mento he , o erro próximo na malha é associado ao elemento de maior tamanho, hmax :
h2max d2 u
ju(x) u
~h (x)j max (14.86)
8 x2 dx2
ub(x) ua’
’> ub’
’
ua(x) u~h(x)
u2
eb(x) = ub(x) - ~
uh(x)
ea(x) = ua(x) - ~
uh(x)
Elemento e
0 x1 x2
Observação 1
Para um dado elemento, a expressão (14.84) pode ser entendida com o auxílio da Figura 14.3,
que, ilustra a função interpoladora linear entre os nós de coordenadas x1 e x2 , e o erro que ela
gera para duas funções ua (x) e ub (x), quando d2 ua =dx2 > d2 ub =dx2 . Quanto maior for a segunda
derivada, “mais funda” é a função, e maior será seu afastamento em relação ao interpolador linear.
Isso explica gra…camente a equação (14.84): quanto mais côncava a função analítica que se
14.4. Estimativas de erro a-priori no MEF 385
busca, maior será o erro do interpolador. Assim, a busca por melhor precisão com o
uso de interpolador linear exige o uso de uma quantidade maior de elementos, de forma
que o comprimento de cada intervalo se torna menor. Isto signi…ca a necessidade de
um re…no de malha.
Observação 2
Normalmente, em uma expressão do tipo (14.86), pelo fato de que, claramente a solução exata
u(x) é desconhecida, a única informação útil que ela produz é o expoente do elemento hmax . No
caso, a expressão pode ser reescrita simplesmente como um enunciado: existe uma constante C 2 R,
…nita, tal que:
ju(x) u~h (x)j Ch2max (14.87)
O expoente 2 representa a taxa de convergência, isto é, sabe se que, se o tamanho dos
elementos numa malha uniforme de elementos lineares de barra for reduzido à metade, o erro
máximo no deslocamento axial deve cair a 1/4. O valor preciso do erro não pode ser obtido por
estimativas do tipo (14.87), apenas a taxa de convergência. Esse é o tipo denominado estimativa
a priori do erro, que difere das estimativas a posteriori, que são feitas a partir de uma ou uma
sequência de soluções do MEF, e realmente produz informações mais precisas dos valores dos erros
em uma dada modelagem.
du d~
uh 1 d d2 u
= : (14.88)
dx dx 2 dx dx2
du d~
uh 1 d d2 u he d 2 u
= ; (14.89)
dx dx 2 dx dx2 2 dx2
e o erro da primeira derivada numa malha em que o maior elemento tem comprimento hmax é:
du d~ uh hmax d2 u
max ;
dx dx 2 x2 dx2 (14.90)
ou simplesmente, C1 hmax :
No caso do MEF para o problema de barras, essa estimativa representa a estimativa de erros nas
deformações e, por extensão, nas tensões aproximadas. Esse resultado mostra um efeito conhecido
do MEF, de que as derivadas convergem mais lentamente que os deslocamentos, isto é, com taxa de
convergência 1 em vez de 2.
Note que a simpli…cação (2) não afeta os resultados buscados, pois representa apenas uma
translação das coordenadas nodais. Com isso, (x) simpli…ca-se para:
he he
(x) = x+ x x : (14.92)
2 2
0 (x) hpe
Esse é um polinômio cúbico, com derivada = 3x2 h2e =4. ’(x) = 0 tem raízes x = 2 3
.
h3e h3e
Então min = p
12 3
e max = p
12 3
. Com isso, (14.74) …ca:
j (x)j d3 u
ju(x) u
~h (x)j = ;
3! dx3
(14.93)
h3e d3 u
para 2 e:
72 dx3
Numa malha em que hmax seja o tamanho do maior elemento, o erro é limitado por
h3max d3 u
ju(x) u
~h (x)j max
72 z2 dx3 (14.94)
ou simplesmente C3 h3max :
du d~
uh 1 d d3 u
= : (14.95)
dx dx 3! dx dx3 2 e
A segunda derivada de (x) em (14.92) é 00 (x) = 6x, que tem uma raiz em x0 = 0. Nesse
ponto, ’(x0 ) = h2e =4. Então (14.95) aplicado a um elemento gera a relação:
du d~
uh 1 h2e d3 u
max (14.96)
dx dx 6 4 z2 e dx3 z
du(x) d~
uh (x) h2max d3 u
max ;
dx dx 24 z2 dx3 (14.97)
ou simplesmente C4 h2max :
dp+1 u
ju(x) u
~h (x)j C1 hp+1
max max
z2 dxp+1
(14.98)
du d~
uh dp+1 u
C2 hpmax max
dx dx z2 dxp+1
14.5. Cálculo Variacional 387
e1 e2 eN
he
L
de
log = log k + p [log p log(Nnos 1)] : (14.100)
dx
Nota-se que os grá…cos não são retos. Entretanto, conforme a malha se torna mais re…nada, isto
é, Nnos ! 1, a eq.(14.100) tende a sua forma assintótica
de
log = p log Nnos (14.101)
dx
Essa é a equação de uma reta no grá…co log-log, com inclinação p, que é a taxa assintótica
de convergência a priori do MEF em problemas de barra.
100
10-1 p=1
10-2
10-3 p=2
10-4 1
Erro na deformação
10-5
1
p=3
10-6
10-7
10-8 p=4 2
10-9 1
10-10
10-11
10-12 3
10-13
10-14 4 1
10-15
10-16
f : X ! Y. (14.102)
Podemos observar que esta função é extremamente genérica. Um dos casos particulares mais simples
é aquele em que X e Y são o espaço dos números reais R1 . Nesta condição, f é a clássica função
de valor real de…nida na reta: y = f (x). Outros exemplos típicos são campos escalares, como a
distribuição de temperatura num corpo tridimensional, T : ! R1 , ou campos vetoriais como a
distribuição de deslocamentos num problema de elasticidade, u : ! R3 .
Os operadores a( ; ) e l( ), de…nidos em (14.18), também se encontram na classe de funções
de…nidas por (14.102). Entretanto, os vetores argumentos de tais operadores são funções (campos)
e o resultado é um número real:
a( ; ) : V ar V ar ! R1 ,
l( ) : V ar ! R1 . (14.103)
Em forma genérica, operadores que mapeiam funções para um número real são conhecidos como
funcionais, isto é, um funcional é uma função de funções, com resultado em R1 . Em particular, as
formas a( ; ) e l( ) são funcionais lineares em relação aos seus argumentos, como visto em (14.30). Já
1
a função (u; u) = a(u; u) l(u) é um funcional não linear (quadrático) em relação ao argumento
2
u 2 V ar.
~
u
u
0 L
Figura 14.6: Ilustração de função u 2 V, uma direção v 2 V, e a função u variada u
~ 2 V.
F~ = F (~
u) = F (u + v);
dF (~u) d2 F (~
u) 2
= F (u) + + 2
+ O( 3 ). (14.105)
d =0 d =0 2!
dF (~
u) d2 F (~
u) 2
F (~
u) F (u) = + + O( 3 ) (14.106)
| {z } d =0 d 2
=0 2!
F | {z } | {z }
F 2
F
d
F (u; v) = F (u + v) (14.107)
d =0
A primeira variação F de um funcional F pode ser entendida com ajuda do conceito de variação
u da função u. Em (14.104), a função u + v foi perturbada pela função v. Frequentemente é
interessante representar a perturbação como u = v, de forma que
~ = u + u = u + v.
u (14.108)
De forma reversa, a variação de u tem o signi…cado de
390 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
u=u
~ u. (14.109)
Podemos tomar a de…nição (14.107) e representar a primeira variação do funcional em duas
outras formas: em termos de ou da variação u. Isso é feito, primeiramente, tomando a perturbação
~ (x) = u(x) + v(x), e a regra de derivada em cadeia:
u
dF (~
u)
F = ;
d =0
@F (~
u) d~u
= ;
@~u d =0
@F (~
u)
= v . Como u
~ = u para = 0; (14.110)
@~u =0
@F (u) @F (u)
F = v . E como u = v ! F = u
@u @u
d
F (u) = F (u + v) . Aplica a perturbação dos argumentos:
d =0
Z
d b
= (u + v)(u0 + v 0 )dx . Troca ordem derivada/integral:
d a =0
Z b
d
= (uu0 + vu0 + uv 0 + 2 vv 0 )dx . Efetua a derivação: (14.112)
a d =0
Z b
= (vu0 + uv 0 + 2 vv 0 )dx . Como u = v, e u0 = v 0 ,
a =0
Z b
F (u) = u0 u + u u0 dx:
a
~ = u + 1 v1 , e
u
(14.113)
~ w + 2 v2
w=
O funcional perturbado é
F~ = F (~
u; w):
~ (14.114)
14.5. Cálculo Variacional 391
dF~ dF~
F (u; w) = 1 + 2 (14.115)
d 1 d 2
1 = 2 =0 1 = 2 =0
Para f (x) ser um mínimo, é necessário que a variação total f seja positiva para qualquer variação
x próxima de x. Como x pode ser positivo ou negativo, uma condição necessária para o
mínimo é df =dxjx = 0. Se o primeiro termo à direita for nulo, o segundo termo passa a ser
dominante. Como ( x)2 é sempre positivo, o sinal de f é de…nido pelo sinal de d2 f (x)=dx2 x . Se
a segunda derivada for positiva (ou negativa), o ponto é de mínimo (ou máximo). O caso …nal é
quando as duas primeiras derivadas são nulas. Então o terceiro termo é dominante. Como ( x)3
troca de sinal conforme o sinal de x, a variação f troca de sinal em torno de x. Todo esse
arrazoado é o padrão em cálculo de funções de uma variável real, e é fundamental ao entendimento
das variações em funcionais.
Consideremos agora um funcional F = F (u), isto é, uma função dependente de uma função u;
em vez de uma coordenada x como no caso acima. Consideremos a perturbação F~ F (u + v).
Para valores …xos das funções argumento u e v, o funcional pode ser considerado uma função de
uma variável escalar , de forma que toda a argumentação do parágrafo anterior, para uma função
escalar, torna-se, até certo ponto, válida. Assim, se F~ for diferenciável em = 0, pode-se fazer a
série de Taylor em torno de u:
dF (u + v) 2
F (u + v) = F (u) + +O : (14.118)
d =0
Dividindo por , aplicando o limite, e usando a discussão no parágrafo anterior, a condição necessária
para que F (u) seja mínimo local é que
dF (u + v)
= 0: (14.119)
d =0
Comparando com (14.107), isso corresponde à nulidade da primeira variação:
F (u; v) = 0: (14.120)
392 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
du d d(u + v) dv d ( v) d( u) du d( u)
= = = = . ) = (14.121)
dx d dx dx dx dx dx dx
Assim se tem que as operações de variação e derivação são comutativas. Nota-se que a operação de
variação é realizada mantendo a coordenada x …xa (perturbando a função), enquanto a derivação é
feita sobre uma única função (perturbando a coordenada).[64].
R
2. Relação entre variação e integração. Consideramos uma função g(f (x)) = f (x) dx e
buscamos g. Podemos iniciar com a variação de uma função g, usando (14.107):
dg(f + v)
g(f ) = ,
d =0
Z Z
d d
= (f + v) dx = (f + v) dx ,
d =0 d =0
Z Z Z
= v dx. ) f (x) dx = f (x) dx (14.122)
df (~
u; w)
~ df (~
u; w)
~
f (u; w) = 1 + 2;
d 1 1 = 2 =0
d 2 1 = 2 =0
= v1 w 1 + v2 u 2. ) (uw) = u w + w u (14.123)
ru = r ( u) (14.124)
@F @F @F @F
F = F~ F = u1 + u2 + u1;x + u1;y
@u1 @u2 @u1;x @u1;y
@F @F
+ u2;x + u2;y + O( 2 ), (14.127)
@u2;x @u2;y
@F @F
F = up + up;q + O( 2 ), para p; q = 1; ::; c. (14.128)
@up @up;q
| {z }
F
2
onde O( ) inclui todos os termos de ordem dois ou mais, do tipo ( u1 )2 , ( u1 )3 etc. O termo entre
colchetes é a primeira variação de F , as vezes denotada por 1 F , quando é necessário distinguir das
variações de ordem superior, 2 F , 3 F , etc. Usando a comutatividade entre variação e diferenciação,
se tem
@F @F @
F = up + ( up ) , para p; q = 1; ::; c (14.129)
@up @up;q @xq
Este resultado também pode ser obtido com auxílio de (14.112), considerando F como F =
F (u1 ; u2 ; u1;x ; u1;y ).
6. Variação da funções implícitas. Considere a função implícita g(u) = f (u; w(u)). Observe o
que ocorre se usamos a de…nição da variação na forma (14.107)
d
f (u) = g(u + v) ;
d =0
d
= f (~
u; w(~
~ u)) , onde u
~ = u + v,
d =0
@f d~
u @f @ w
~ d~
u
= + .
@~
ud @w
~ @~u d =0
d~
u
Como o termo entre colchetes é avaliado em = 0 se tem =veu
~ = u:
d
@f @f @w @f @f @w
f (u) = v+ v. Tomando u = v, ) f (u; w(u)) = u+ u
@~
u @w @u @u @w |@u
{z }
u
(14.130)
Portanto, a operação de variação de funções implícitas segue a mesma mecânica da regra de
derivação. Por exemplo, para u = u(x); w = w(x) e as funções implícitas g = g(w) e f (u; w)
ug(w). A primeira variação de f (u; w) em relação às funções u e w é obtida por:
@f dg dg
[ug(w)] = g(w) u + w, isto é, [ug(w)] = g(w) u + u w (14.131)
@g dw dw
F (u) pode ser visto como o dobro da energia de deformação num corpo de volume , de material
elástico linear de…nido por C, se u for o campo de deslocamentos. Note que F (u) = a(u; u). Temos
a seguinte dependência explícita, (mostramos em duas dimensões para ilustração):
e cuja variação é
@f
f= up;q .
@up;q
Fazendo o gradiente de f temos
@ui;j @uk;l
f= Cijkl uk;l + ui;j Cijkl up;q
@up;q @up;q
@ui;j @uk;l
como @up;q = ip jq e @up;q = kp lq , tem-se
0 a p x q b
ser sintetizados como de…nição de um conjunto de funções V ar. O enunciado então considera que
f satisfaz a condição (14.135) para qualquer u^ 2 V ar.
A demonstração é feita considerando, como hipótese, uma função f não nula, tal que f > 0 num
ponto x 2 . Como f é contínua, existe uma região x que contém o ponto x onde também
f > 0. Uma vez que, pelo enunciado do teorema, u ^ é arbitrário, podemos escolher u^ na forma de
uma bolha, não nula em x = x, contínua, e nula fora de x . A Figura 14.7 ilustra uma função assim
num caso unidimensional, em que = (a; b), com Rx = (p; q), talR que a < p < q < b. Por exemplo
f = (x p)(x x) em x e zero fora x . Então, x f u ^d = fu^ d > 0. Uma vez que essa
desigualdade é contraria à hipótese que a integral é zero, o teorema …ca provado.
A função f pode não ser contínua, porém precisa ser localmente integravel. Um caso de grande
interesse é o de f contínua por partes, tal que f 2 L2 ( ). Neste caso, se (14.135) é satisfeito para
toda função u ^ 2 C 1 ( ) de suporte compacto, então f = 0 em L2 ( ), i.e., f = 0 em todo lugar
exceto nos pontos de descontinuidade de f .
onde as funções u
^ e u devem ter regularidade su…ciente para tornar as integrais limitadas. Fazendo
uma integração por partes na primeira integral se obtém
Z Z
0 0 0
Eu^ u d + Eu ^u + b^
u d = 0. (14.138)
Integrando por partes o primeiro termo mais uma vez, todas as derivadas …cam “transferidas”de u
para u
^:
Z Z
00 0
Eu u ^ d + Eu
^u = Eu^00 u d + E u
^0 u , (14.139)
(onde também se usou a equação diferencial b = Eu00 para eliminar b). Dessa expressão se
obtém todas as possíveis condições de contorno para u
^ e u que sejam consistentes com o problema
diferencial:
u
^=u ^ ou Eu0 = t em u ;
(14.140)
e Eu^0 = t ou u = u: em f .
onde u^ e t são valores prescritos da função peso no contorno. Como u ^ é uma função arbitrária,
ela pode ser escolhida de forma a ter valores convenientes no contorno.
O procedimento ilustrado acima pode ser generalizado para uma equação ou um sistema de d
equações diferenciais que pode ser colocado em forma simbólica por um operador diferencial vetorial
L(u) como
396 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
L(u) B = 0, 8x 2 Rd , (14.141)
Por exemplo, para um campo escalar como temperatura ou potencial elétrico se tem, num problema
1D: L(u) = E@ 2 u=@x2 , ou para o operador Laplaciano 2-D, r2 u, L(u) = E@ 2 u=@x2 + E@ 2 u=@y 2 .
Um caso típico de sistema de equações são as equações de equilíbrio de Navier vistas em (4.43),
página 73, cujo operador diferencial toma a forma
2 3
@2( ) 2 @2( ) @2( )
6 @x2 + Gr ( )
c c
@x1 @x2
c
@x1 @x3 78 9
6 1 7
6 @2( ) 2
@ () @2( ) 7 < u1 =
6 7
L(u) = 6 c c + Gr2 ( ) c 7 u2 : (14.142)
6 @x2 @x1 @x22 @x2 @x3 7: ;
6 7 u3
4 @2( ) @2( ) 2
@ () 5
c c c + Gr2 ( )
@x3 @x1 @x3 @x3 @x23
Consideramos aqui apenas operadores lineares, isto é, operadores que satisfazem a condição
Podem-se fazer sucessivas integrações por partes até transferir todas as derivadas de L(u) para u
^.
Isso gera
R R R R
L(u) u
^d ^ u) u d
L(^ = ^ (^
G u) S(u) d ^ u) d
G (u) S(^ (14.145)
Note que todas as expressões mostradas na seção anterior são em forma exata. Consideramos nesta
seção, alternativas para obter soluções aproximadas do problema diferencial
L(u)= B , em x 2 ,
G(u) = g(x); em x 2 u = . (14.147)
Para simpli…car a exposição, nos restringimos aqui a campos escalares u(x) de…nidos em , com
condições de contorno essenciais em todo o contorno. Consideramos uma solução aproximada na
forma
14.6. Panorama dos métodos de resíduos ponderados 397
N
X
u(x) = aj j (x), (14.148)
j=1
onde aj são constantes a serem determinadas e j (x) são funções de uma sequência completa de
funções. Essas funções são denominadas funções de aproximação ou funções teste.
De…nição - Uma sequência de funções, linearmente independente j é completa se, dada uma
função f (x) em , existe um conjunto de constantes reais bj tal que
N
X
f (x) bj j (x) <" (14.149)
j=1
Para u(x) aproximado, a função resíduo r(x) = L(u) B 6= 0 em parte de . Os métodos de resíduo
ponderados consistem em impor nulidade do resíduo apenas em média, i.e., em relação ao produto
interno associado a um conjunto de funções peso
Z
r(x) k (x) d = 0, para k = 1; 2; :::; N , (14.150)
N
X
u(x) = ug (x) + u0 (x), onde u0 (x) = aj j (x), (14.152)
j=1
Tomando u
^= k, para k = 1; :::; N , tem-se um sistema de N equações algébricas em termos de aj :
N
X Z Z Z
k L( j ) d aj = kb d k L(ug ) d . (14.154)
j=1
L(u) = B, em x 2 ,
G(u) = g(x); em x 2 u; (14.157)
S(u) = t(x); em x 2 f.
Agora, se considera que as funções teste satisfaçam as condições essenciais, mas não as naturais.
Assim, se tem dois resíduos, um no domínio e outro em f :
r L(u) B, em x 2 ,
rf S(u) t(x); em x 2 f. (14.158)
Nesse ponto ainda não identi…camos restrições em u^ , exceto que ele seja tal que produza integrais
limitadas. Caso o operador L(u) seja auto adjunto, as ordens de diferenciação em todos os seus
termos são pares. Isso permite realizar em cada termo, uma quantidade de integrações por partes
igual à metade da ordem de diferenciação de cada termo. Com isso chega-se a
D E
a(u; u
^ ) hB; u
^i ^ u); S(u) + h^
G(^ u; S(u) ti = 0, (14.160)
f
R
onde hB; u
^i = B u ^ d é o produto interno em , e de forma similar nos demais termos. a(u; u
^)
é uma forma bilinear.
Como exemplo especí…co de (14.160), tomemos o problema de barra:
L(u) = Eu00 = b, em x 2 ,
G(u) = u = g(x); em x 2 u; (14.161)
0
S(u) = Eu = t(x); em x 2 f.
Como o operador diferencial é de segunda ordem, fazemos apenas uma integração por partes:
Z Z Z Z
0 0 0
Eu u
^ d + b^
ud + Eu u
^d Eu0 t u
^d f = 0, (14.163)
f
Note-se que agora u e u^ aparecem em primeiras derivadas na primeira integral, de forma que o
requerimento de continuidade é inferior ao de L(u). A integral em pode ser decomposta em suas
parcelas u e f :
Z Z Z Z Z
0 0 0 0
Eu u
^ d + b^
ud + ^ d +
Eu |{z}
u Eu u
^d Eu0 t u
^d f = 0, (14.164)
u f f
^ u)=0
G(^
a(^
u;u)
Essa forma, e também seu caso geral (14.160), é aquela que se tem utilizado em todo o texto, que
é a base do MEF em sua forma mais usada. Essa é a chamada forma fraca do problema. Essa
expressão “forma fraca”, se refere à redução nos requerimentos de regularidade da função teste em
relação à forma forte, do operador diferencial.
Quando se obtém uma solução aproximada a partir da forma fraca (14.160) (ou (14.165)),
quer seja pelo método de Galekin ou por elementos …nitos, as condições de contorno que, de fato,
estão sendo satisfeitas exatamente e as relações que estão sendo obtidas de forma aproximada, são
identi…cadas analisando a forma forte (14.159). Note que partimos da forma (14.159) para a forma
fraca, mas pode-se também partir da forma fraca e chegar (14.159) se as funções possuírem a suavi-
dade requerida pela forma forte. A função teste é requerida satisfazer as condições essenciais. Em
(14.159) nota-se que uma solução aproximada satisfaz apenas de maneira aproximada as equações
de equilíbrio local no domínio e no contorno, isto é, existem erros r = L(u) B no domínio e rf
= S(u) t(x) no contorno, não nulos.
400 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
Descontinuidade interelementar
Quando se obtém uma solução aproximada via elementos …nitos, além da não satisfação do equilíbrio
em todos os pontos do domínio e do contorno de Neumann, tem-se também uma aproximação cujo
gradiente é descontínuo nas interfaces dos elementos. Esse efeito foi mostrado no texto em exemplos
numéricos, porém aqui será mostrado de maneira formal. Consideremos o problema de Poisson com
a seguinte forma fraca discretizada proveniente de (13.33), para uh ; u^h 2 V arh :
Z Z Z
ruh r^ uh d = b^ uh d + qu^h d (14.166)
f
onde q é o ‡uxo prescrito na região f do contorno. Consideremos que o domínio seja discretizado
em uma malha M de elementos …nitos, onde cada elemento tem domínio e , isto é, = [N el
e=1 e , e
contorno @ e . Subdividimos os domínios de integração do primeiro e do terceiro termos em integrais
sobre os elementos:[2]
N el Z
X Z N el Z
X
ruh r^
uh d = b^
uh d + qu
^h d : (14.167)
e=1 e e=1 @ e\ f
N el Z
X N el Z
X Z N el Z
X
2 @uh
u
^ h r uh d + u
^h d@ e = b^
uh d + qu
^h d@ e; (14.168)
e @ e
@n @ e\ f
e=1 e=1 e=1
Nota-se que o termo r2 uh é suave dentro do elemento, embora possa ser singular nas interfaces,
dependendo da continuidade de uh . Isso permite que as integrais em cada elemento no primeiro
termo sejam limitadas. Também, pode-se somar as integrais de cada elemento, formando uma única
integral em . Em seguida, as parcelas no contorno podem ser agrupadas, resultando o seguinte:
Z Z N el Z
X N el Z
X
2 @uh @uh
u
^ h r uh d = b^
uh d u
^h q d@ e u
^h d@ e: (14.169)
@ e\ f
@n @ en f
@n
e=1 e=1
onde @ e n f é a parte do contorno do elemento e que não faz parte de f. O primeiro somatório
pode ser coletado numa única integral em f
Z Z Z N el Z
X
@uh @uh
^ h r2 u h d
u = b^
uh d + u
^h q d@ e+ u
^h d@ e: (14.170)
f
@n @ en f
@n
e=1
O último termo engloba tanto os contornos de elementos internos quanto aqueles pertencentes a u .
Essa última parcela é eliminada com a escolha da função peso homogênea em u , de forma que o
último termo envolve apenas contornos internos ao domínio global.
Consideremos o traço de u ^h num certo elemento como os valores de u ^h no contorno deste
elemento. Observa-se que os traços de u^h em dois elementos vizinhos coincidem ao longo da interface
entre eles, devido à continuidade de u
^h . Entretanto, pode-se de…nir o salto de descontinuidade
do ‡uxo na interface entre os elementos e e e0 mediante a seguinte expressão:
@uh
ne ruh je + ne0 ruh je0 (14.171)
@n
@uh
= ne (ruhe ruhe0 ) (14.172)
@n
14.6. Panorama dos métodos de resíduos ponderados 401
Com a notação para o salto de descontinuidade, o último termo na forma ponderada (14.170)
pode ser reorganizado para um somatório sobre todas as descontinuidades internas:
Z Z XZ
2 @uh @uh
u
^ h r uh + b d u
^h q d@ e u
^h d = 0: (14.173)
f
@n @n
n
(A notação n signi…ca o conjunto das interfaces que não pertencem a :) Uma vez que essa
igualdade deve ser válida para todo u ^h 2 V arh , se a base de aproximação do MEF for re…nado ao
in…nito, de forma que V arh tenda a V ar, tem-se que, pelo Lema fundamental do cálculo variacional,
(seção 14.5.3), as seguintes relações são satisfeitas por uh :
r2 uh + b = 0 em ;
@uh
q = 0 em f; (14.174)
@n
@uh
= 0 em cada interface interna .
@n
Entretanto, numa discretização …nita, em que u ^h não é suave e pertence a um espaço de dimensão
…nita, estas relações locais não são exatamente satisfeitas. Considerando que, com o re…no da mod-
elagem, a solução do MEF converge, segue-se que os lados esquerdos dessas relações locais tendem a
zero. Outra forma de interpretação é que a solução do MEF aproxima estas relações locais. Quando
se considera o conjunto geral das equações locais do problema, observa-se que a solução do MEF
baseado em Galerkin aproxima as relações acima (equilíbrio e continuidade interele-
mentar) e satisfaz exatamente as relações constitutivas e cinemáticas no domínio, e as
condições de contorno essenciais. Note que essa dedução e todas as suas conclusões podem ser
aplicadas, com os devidos ajustes, ao problema elastostático, quando se considera a descontinuidade
interelementar dos vetores tensão nas interfaces entre os elementos.
Z Z Z Z
L(u) u
^d ^ u) u d
L(^ = ^ (^
G u) S(u) d ^ u) d .
G (u) S(^ (14.175)
Nos métodos baseados em Galerkin, a função peso é escolhida entre as que satisfazem as condições
de contorno essenciais nulas. Entretanto, existem diversas famílias de métodos baseados na escolha
de u ^ u). São as famílias de métodos de elementos de
^ que satisfaz condições do operador adjunto L(^
contorno ou de Green.
Nos métodos de elementos de contorno a função peso pode ser escolhida para satisfazer o prob-
lema adjunto
^ u) = 0
L(^ (14.176)
em um domínio in…nito, de forma que não satisfaz nenhuma condição pré de…nida sobre o contorno
do problema real. Nesse caso, (14.175) …ca
Z Z Z
B u ^d = ^
G (^u) S(u) d ^ u) d .
G (u) S(^ (14.177)
Então todas as incógnitas do problema …cam apenas no contorno, o que exige discretização apenas
no contorno. Nota-se que o contorno possui uma dimensão a menos que o domínio. Por exemplo,
402 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
Z Z Z Z Z
^d
B u = ^ (^
G u) S(u) d + ^ (^
G u) S(u) d ^ u) d
G (u) S(^ ^ u) d .
G (u) S(^
u f
| {z } u
| {z } f
t g(x)
(14.178)
Uma variação mais usual no método de elementos de contorno usa funções peso que satisfazem
o seguinte problema adjunto (restringimos aqui a notação para problemas escalares)
^ uk ) = (xk )
L(^ (14.179)
num domínio in…nito, onde (xk ) é a o operador delta de Dirac. Observa-se que no problema
elastostático, (xk ) corresponde a uma força concentrada aplicada no ponto xk . Este ponto é
conhecido como ponto fonte. A solução do problema adjunto para esse carregamento é uma
solução que possui uma singularidade no ponto fonte, quando o problema é elástico. Substituindo
em (14.175) e aplicando as propriedades do delta de Dirac se obtém
Z Z Z
u(xk ) = Bu^d G^ (^ ^ u) d .
u) S(u) d + G (u) S(^ (14.180)
Essa expressão é válida quando o ponto fonte é interior ao domínio. Uma equação similar é obtida
quando o ponto fonte se encontra no contorno. Frequentemente as aplicações são para problemas
sem força de corpo, gerando um método inteiramente no domínio. Uma expressão na forma (14.175)
é conhecida como identidade de Somigliana6 , que é um ponto central nos métodos de elementos
de contorno.
Em problemas de mecânica dos sólidos, o problema adjunto (14.179) corresponde a uma carga
concentrada aplicada num ponto xk de um corpo in…nito ou semi-in…nito, em duas ou três dimensões,
com a carga aplicada num ponto interno ou na superfície. Existem diversas famílias de soluções
analíticas para esses problemas, como as de Boussinesq e de Kelvin. Existem também soluções para
placas sob ‡exão[107], tanto isotrópicas quanto ortotrópicas, além de diversos outros problemas,
como de acústica. As soluções de (14.179) são funções singulares conhecidas na literatura como
soluções fundamentais do problema. Nota-se que, em geral, o operador diferencial adjunto L(^ ^ u)
é tão complicado quanto o primal L(u), porém a solução analítica adjunta torna-se mais simples por
não haver condições de contorno a serem satisfeitas. Entretanto, a di…culdade de resolver o problema
adjunto faz com que, em geral, mas não inteiramente, o método de elementos de contorno seja
limitado problemas lineares e a materiais homogêneos, muitas vezes isotrópicos. Detalhes do método
de elementos de contorno e suas aplicações podem ser vistos em ampla literatura, principalmente a
partir dos anos 1970 [17][89].
Em vez de de…nir o problema adjunto como em (14.179), sobre um domínio in…nito, em certos
casos é possível obter a solução de um problema adjunto que satisfaz algum tipo de condição de
contorno sobre o contorno real do problema. Por exemplo,
^ u) = 0
L(^ em ,
^ (^
G u) = f (x) em , (14.181)
onde f (x) seja uma função conhecida adequadamente escolhida. Uma função que satisfaz esse tipo
de problema é conhecida como função de Green do problema primal.
6
Carlo Somigliana, Itália, 1860-1955.
14.7. Princípios de mínimo e método de Rayleigh-Ritz 403
1
F (u) a(u; u) l(u) ; (14.183)
2
onde a(u; u) é a forma bilinear obtida integrando por partes cada termo de L(u) uma quantidade
adequada de vezes. O princípio de mínimo estabelece que a função u que satisfaça u = u em u
e minimiza F (u) também é solução de (14.182), desde que u tenha a diferenciabilidade necessária
para L(u). Com isso, o problema de minimização toma a seguinte formatação:
tal que a função u que satisfaz F (u) = 0 é a mesma que satisfaz a forma fraca (14.186). De fato,
usando (14.107),
d
F (u) = F (u + v) = 0 8v 2 V ar,
d =0
Z Z
d 1 0 0 2
= E u + v d b (u + v) d t (u + v)j = 0;
d 2 f
=0
Z Z
0 0
= Eu v d bv d tvj f ; (14.188)
Z Z
= Eu0 u0 d b ud t uj f = 0 8 u 2 V ar.
onde j (x) devem ser tais que u(x) = u(x) em u . Também, j (x) e 0j (x) devem pertencer ao
espaço L2 ( ). Busca-se o conjunto aj que minimiza F (u), isto é, que faz F (u) = 0 para qualquer
u. Como
N
X
u= aj j (x); (14.190)
j=1
busca-se o conjunto aj que faz F (u) = 0 para qualquer aj admissível. Formalmente, para um
campo escalar,
@F @F @F
F = a1 + a2 + + aN = 0: (14.191)
@a1 @a2 @aN
Isso gera um conjunto de N equações algébricas em função dos aj ’s:
@F
=0 para k = 1; :::; N . (14.192)
@ak
Tabela 14.1: Resultados do Exemplo 1 para problema 1D obtidos pelo método de Rayleigh-Ritz.
Valores de deslocamento em mm e de tensão em MPa. Os erros são relativos, percentuais.
N u(L) Erro em u x (L) Erro em x
1 0; 074 41; 1 0
2 0; 123 1; 4 36; 3 26; 6
3 0; 125 0; 17 44; 15 11; 7
4 0; 125007 5; 4 10 3 50; 282 0; 56
6 0; 12400019 1; 5 10 4 50; 65 1; 3
9 0; 125 10 9 2; 3 10 7 49; 62 0; 76
12 0; 125 10 9 9; 2 10 8 49; 67 0; 65
Solução:
Esse é um problema com solução analítica fechada, mostrada em (7.12), página 150. Trocando
f por t se tem
7
Walter Ritz, Suiça, 1878-1909. John William Strutt, 3o Barão de Rayleigh, Inglaterra, 1842-1919.
14.8. Multiplicadores de Lagrange e restrições no funcional 405
1
u(x) = bx2 , x (x) = bx e x (L) = t. (14.193)
2E
A solução exata é polinomial. Então, se usarmos uma base de funções teste polinomial, se teria
a solução exata com apenas os três primeiros termos da série. Usaremos uma base distinta para
ilustrar a convergência. A base usada é a seguinte:
N
X j x
u(x) = aj sen . (14.194)
2L
j=1
Essa aproximação satisfaz à condição de contorno essencial para qualquer aj . De (14.187), o fun-
cional …ca
Z L Z L
01 0 2
F (u; u ) = E u dx bu dx tu(L): (14.195)
2 0 0
Nota-se que F = F (u; u0 ). Logo, sua variação gera
@F @F @u @F @u0
= + 0 = 0. (14.196)
@ai @u @ai @u @ai
Então, as componentes do gradiente de F são
Z L Z L
@F i x j L i 0 i x
= b sen dx t sen +E u cos dx = 0. (14.197)
@ai 0 2L 2L 0 2L 2L
PN j
u0 = j=1 2L aj cos j2Lx . O sistema algébrico resultante é
N
X Z L Z L
2 j x i x i x i L
E ij cos cos dx aj b sen dx t sen = 0, (14.198)
2L 0 2L 2L 0 2L 2L
j=1
minimiza F (u),
(14.200)
submetido às restrições g(u) = 0.
De forma aberta, tem m restrições envolvendo as d coordenadas u:
g1 (u1 ,...,ud ) = 0,
.. (14.201)
.
gm (u1 ,...,ud ) = 0.
O número de restrições deve ser menor ou igual ao número de coordenadas u, isto é, m < d. De um
ponto de vista formal, é possível resolver o problema de mínimo com restrições usando o conjunto
de equações de restrição para exprimir m coordenadas em termos das demais d m. Por exemplo,
podemos tomar as m primeiras coordenadas em termos das demais:
u1 = 1 (um+1 ,...,ud ),
..
. (14.202)
um = m (um+1 ,...,ud ),
onde j ’s são funções adequadas obtidas das expressões das restrições (14.201). Note-se que em
geral não é viável a identi…cação explícita dessas funções, e também não é necessário que se faça.
Aqui elas são usadas apenas como etapa intermediária na dedução da formalização do processo de
minimização via multiplicadores de Lagrange. Nesse caso, será su…ciente apenas saber que essas
funções existem. Em seguida, formalmente substituímos as coordenadas u1 -um na função F :
Então agora, formalmente, F depende apenas das d m coordenadas um+1 -ud . Para simpli…car a
notação, continuaremos a dedução para um caso em que d = 5 e m = 2. Então as equações (14.202)
se tornam
dF (u)
= 0, para k = m + 1; :::; d. (14.206)
duk
Devido à dependência implícita nas funções j ’s, essas equações se tornam (para o presente exemplo)
14.8. Multiplicadores de Lagrange e restrições no funcional 407
dF @F @ 1 @F @ 2 @F
= + + = 0;
du3 @u1 @u3 @u2 @u3 @u3
dF @F @ 1 @F @ 2 @F
= + + = 0; (14.207)
du4 @u1 @u4 @u2 @u4 @u4
dF @F @ 1 @F @ 2 @F
= + + = 0;
du5 @u1 @u5 @u2 @u5 @u5
Uma vez que se deseja um procedimento que não exija a identi…cação explícita das funções j ’s,
as equações acima apresentam (d m) m funções desconhecidas: as derivadas @ a =@up para
a = 1; :::m e p = m + 1,...,d. A maneira de contornar essa de…ciência é diferenciar as m equações
de restrição (14.201):
2 38 9 8 9
@g1 @g1 > @ 1 @ 1 @ 1 > > @g1 @g1 @g1 >
>
< > > >
6 @u1
6 @u2 7
7 @u3 @u4 @u5 = < @u
3 @u4 @u5 =
4 @g2 5 = ; (14.210)
@g2 > @ 2
> @ 2 @ 2 >
> > @g2
> @g2 @g2 >
>
: ; : ;
@u1 @u2 @u3 @u4 @u5 @u3 @u4 @u5
AB= H .
1
Se A for não singular, se tem B = A H, onde A = A . Os termos de B são exatamente o que se
necessita em (14.207), e foram obtidos apenas com o gradiente das restrições g, sem a necessidade
da identi…cação explícita das funções j ’s. Por exemplo, as duas primeiras equações (14.207) …cam
dF @F @F @g1 @F @F @g2 @F
= A11 + A21 + A12 + A22 + = 0;
du3 @u1 @u2 @u3 @u1 @u2 @u3 @u3
| {z } | {z }
1 2
dF @F @F @g1 @F @F @g2 @F
= A11 + A21 + A12 + A22 + = 0: (14.211)
du4 @u1 @u2 @u4 @u1 @u2 @u4 @u4
| {z } | {z }
1 2
Os termos entre parênteses envolvem a inversa de A, que dependem das funções j ’s. Essas funções
dependem da solução u , que é desconhecida. Então esses parênteses pode ser identi…cados como
m novas funções incógnitas, ( 1 e 2 no exemplo). Os termos entre parêntesis geram m equações
que podem ser organizados em forma matricial como
8 9
> @F >
>
< @u > =
A11 A21 1 1
= , (14.212)
A12 A22 > > @F >
> 2
| {z }: ;
AT @u2
o que gera uma solução
8 9
> @F >
< @u >
> =
1 1
= AT . (14.213)
> @F >
> > 2
: ;
@u2
Isso gera m equações na forma
@F @g1 @g2
+ 1 + 2 = 0;
@u1 @u1 @u1
@F @g1 @g2
+ 1+ 2 = 0. (14.214)
@u2 @u2 @u2
T
L(u; ) = F (u1 ; :::; ud ) + g(u1 ; :::; ud ) (14.215)
O argumento {u; g onde L(u; ) é estacionário, agora é um vetor com d + m componentes, que
satisfaz o sistema de equações
@L @F T @g
= + = 0, para j = 1; :::; d,
@uj fu; g @uj @uj
@L
= gp = 0, para p = 1; :::; m, (14.216)
@ p fu; g
problema discretizado (cuja solução u pertence a um espaço vetorial de dimensão …nita d) sub-
metido a um número …nito m de restrições, o que gera um conjunto discreto de m multiplicadores
de Lagrange. Por outro lado, em mecânica do contínuo, é usual é tratar de campos contínuos, que
de…nem funcionais, sobre os quais se deseja modi…car para impor restrições, contínuas. Isso pode
ser exempli…cado no problema a seguir.
r2 u = b em ,
g = u u em u; (14.217)
@u
= q em f;
@n
com a correspondente forma fraca
Z Z Z
ru r^
ud = b^
ud + qu
^d ; (14.218)
f
Desejamos agora modi…car esse funcional para incorporar a condição de contorno essencial como
restrição, via multiplicador de Lagrange. A forma discreta deduzida em (14.215) para incorporar
restrições, pode ser estendida para o caso de campos escalares. No presente problema, o funcional
modi…cado é
Z
L(u; ) = F (u) + (u u) d ;
Z u
Z Z Z
1
= ru ru d bu d qu d + (u u) d ; (14.220)
2 f u
| {z }
g
L(u; ) = 0, isto é,
Z Z Z Z Z
ru r u d b ud q ud + ud + (u u) d = 0, 8 u; admissíveis
f u u
(14.221)
Integrando por partes o primeiro termo se tem
410 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
Z Z
2
L(u; ) = r u ud b ud
Z Z Z (14.222)
@u @u
+ q ud + + ud + (u u) d =0
f
@n u
@n u
@u
em u .(x) = (14.223)
@n
Essa expressão produz o signi…cado físico do multiplicador de Lagrange admissível
no problema de Poisson. Em cada tipo de problema o multiplicador assume um signi…cado físico
adequado, dependendo do tipo de restrição associado a ele. Por exemplo no problema elastostático,
o multiplicador de Lagrange associado à restrição de deslocamento é o vetor tensão.
Devido a que (14.221) deve ser satisfeito para todos u e admissíveis, duas equações são
obtidas:8
8 Z Z Z Z
>
> ru r u d b ud q ud + u d = 0, 8 u admissível,
<
Z f u
(14.224)
>
>
: (u u) d = 0, 8 admissível.
u
Estas duas equações, quando discretizadas via FEM, fornecem um conjunto de equações algébricas
análogo a (14.216).
Observação: o problema estacionário para o funcional Lagrangiano associado ao problema de
Poisson é: obter u 2 H 1 ( ) e 2 H 0 ( f ), tal que
Consideremos o funcional F para o princípio da mínima energia potencial total, dado em (14.183),
Z Z Z
1
F (v) "(v) : C"(v) d v bd v td ; (14.226)
2 f
A condição de contorno essencial imposta no conjunto Kin pode ser incorporada ao funcional
F via multiplicador de Lagrange, gerando o funcional Lagrangiano
8
Estas duas equações são obtidas aplicando u = 0 e = 0 alternadamente em (14.221).
14.8. Multiplicadores de Lagrange e restrições no funcional 411
Z Z Z Z
1
L(u; ) "(u) : C"(u) d u bd u td + (u u) d (14.228)
2 f u
Z Z Z Z Z
L(u; ) = "( u) : C"(u) d u bd u td + u d + (u u) d
f u u
(14.229)
Novamente, a arbitrariedade das variações u e permite explicitar duas equações:
8 Z Z Z Z
>
> "( u) : C"(u) d u bd u td + u d , 8 u admissível,
<
Z f u
>
>
: (u u) d = 0, 8 admissível.
u
(14.230)
A discretização destas equações via MEF fornece um sistema algébrico na forma (14.216).
a(u; u
^) (b; u
^ ) hq; u
^i f
=0 8u
^ 2 V ar; (14.231)
onde
8^
u tal que u^i 2 H 1 ( ) e 8 ^ tal que ^ i 2 H 1 ( ). A arbitrariedade das variações u e permite
explicitar duas equações:
a(u; u
^ ) (b; u
^ ) hq; u
^ i f + h^
u i u = 0, 8 u admissível,
D E (14.234)
u u; ^ = 0, 8 admissível,
u
e a discretização destas equações via MEF fornece um sistema algébrico na forma (14.216).
9
Note que o sinal no último termo é arbitrário, uma vez que é uma incógnita a ser determinada.
412 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
Solução:
O funcional Lagrangiano pode ser obtido a partir do funcional (14.195), incorporando a restrição
mediante a adição do termo (u(0) u).
Z L Z L
1 0 2
L(u; ) = E u dx bu dx tu(L) + (u(0) u) : (14.235)
2 0 0
Diferentemente do problema elastostático 3D visto em (14.228), aqui a restrição é aplicada apenas
em um ponto, de forma que o multiplicador de Lagrange é uma constante escalar. A base usada é
a seguinte:
N
X
u(x) = a0 + aj xj . (14.236)
j=1
Note que nem todos os termos dessa aproximação satisfazem à condição de contorno essencial para
qualquer aj . A variação de L(u; ) …ca
@L @u @L @u0 @L
L= + 0 ai + = 0. (14.237)
@u @ai @u @ai @
| {z }
@L=@ai
1 1 2
u(x) = u + (t + bL)x + bx (14.240)
E 2
pois a base usada contém a solução exata. Também foi obtido de = 50, que corresponde a menos
o valor imposto da tração na extremidade, Eu0 (L) = t. Esse é o signi…cado físico de no problema.
14.9. Restrições na forma fraca via penalização 413
O formalismo para a sua solução via elementos …nitos inicia-se com as discretizações
u(x) = N(x)U;
(x) = N (x) , (14.242)
onde N(x) e N (x) são matrizes com as funções de forma associados a uma certa malha e U e
são os correspondentes valores nodais. A partir dessa discretização obtém-se
ru = B(x)U, r^ ^ e
u = B(x)U ^ = N (x) ^ . (14.243)
Assim, a forma fraca discretizada …ca
( Z Z Z Z ) Z
^T
U B BdT
U T
N bd T
N qd + N N dT
+^T NT (NU u) d = 0:
f u u
(14.244)
^ e ^ admissíveis, obtém-se
Considerando que a expressão é valida 8U
Z Z Z Z
T T T
B Bd U N bd N qd + NT N d = 0,
| {z } | {z
f
} | u
{z }
K RT
Z Z F (14.245)
T T
N Nd U N u d = 0:
u u
| {z } | {z }
R C
K RT U F
= , isto é, KU = F. (14.246)
R 0 C
Nota-se que essa é a mesma expressão (10.34) obtida para imposição de condições de restrições
pontuais via multiplicador de Lagrange.
Consideremos como exemplo a forma fraca usual do problema elastostático: obter u 2 Kin tal que
Z Z Z
u) :
"(^ (u) d = ^ bd +
u ^ t d ; 8^
u u 2 V ar (14.247)
f
u 2 Kin, deve satisfazer, a priori, às restrições u u = 0 em u . A forma fraca pode ser modi…cada
para incorporar essas restrições. Na seção anterior vimos essa incorporação ser feita via multiplicador
de Lagrange. Aqui apresentamos a incorporação via penalidade. O princípio variacional modi…cado
toma a forma: obter u tal que ui 2 H 1 ( ) e
414 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
Z Z Z Z
u): (u) d
"(^ = ^ bd +
u ^ td
u (u ^ d ; 8^
u) u u 2 V ar (14.248)
f u
14.10 Exercícios
14.1 Obtenha a forma forte do problema da barra elástica.
14.3 Use a estratégia de dedução da unicidade da solução do problema variacional para demostrar
a unicidade do problema diferencial de barra.
14.4 Demonstre as propriedades (14.30) - (14.34) para as formas bilineares de condução de calor
3D.
14.5 Prove que a Forma Variacional (FV) (14.22) de condução de calor 3D é equivalente á sua
forma forte.
14.6 Prove que o Princípio de Mínimo (14.184) para condução de calor é equivalente á sua FV
(14.22).
1
14.7 Mostre que a função f (x) = x 2 C 1 em = [0; 1], mas não a Cb1 .
14.14 Considere o problema de uma barra submetida a uma força axial distribuída b(x) = A1 sen Lx .
Considere E = A = L = 1. Construa um programa de EF para elementos lineares, quadráticos
e cúbicos. Determine curvas de erro para o deslocamento e para a deformação do MEF versus
o tamanho dos elementos. Utilize malhas uniformes. Identi…que as taxas de convergência e
1 2L 2
compare com as estimativas em (14.98). (Solução analítica: u(x) EA u sen 2x .)
14.15 Considere a equação (14.57). Considere um único elemento de barra, discretizado pelas três
funções. Considere os valores nodais mostrados. Mostre que: (a) as linhas/colunas 1 e 2 de
K são idênticas e (b) disso resulta que VT KV = 0, mesmo com V 6= 0.
Seção 14.6
Determine a forma fraca associada. Mostre que o operador diferencial L associado é auto
adjunto. Qual é o problema adjunto?
Z
14.17 Para o problema do Exercício 16, determine o funcional F (u). (Solução: F (u) = 2 { (u0 )2 +
1
u 2 + 2ux } d + tujx=L .)
14.18 Obter uma solução aproximada para o problema de mínimo de F (u) do Exercício 16, usando
o método de Rayleigh-Ritz. Considere u = 1, t = 5, L = 1000. Use a aproximação dada em
(14.236). Obtenha resultados de erro relativo em x = L para u e para u0 , para uma sequência
de N 0 s na base. Use a solução exata do Exercício 19.
t+1+u sen L
14.19 Obtenha a solução exata do problema do Exemplo 16. (Solução: u(x) = cos L sen x+g
cos x x.)
14.20 No exercício 17, determine a norma L2 ( ) do erro relativo, eL2 ( ) , para uma sequência de
valores de N , onde eL2 ( ) é de…nido por
s
Z 2
umef (x) uexato (x)
eL2 ( ) = d (14.250)
uexato (x)
Compare as taxas de convergência com aquelas obtidas por uma outra avaliação de erro, dada
pelo erro relativo entre as normas L2 :
14.21 Obtenha a expressão (14.115) da primeira variação de um funcional de duas funções, usando
a série de Taylor.
14.22 Obtenha (14.129) usando (14.112), considerando F como F = F (u1 ; u2 ; u1;x ; u1;y ).
14.25 O que é um operador diferencial auto adjunto? Porque eles são importantes?
416 Capítulo 14. Propriedades matemáticas básicas do MEF
Parte III
Análise mecânica
Capítulo 15
Modelo de placas
Superfície de
Γ referência Ω
x
H H
V = (x; y; z) 2 R3 j z 2 ; , (x; y) 2 R2 ; (15.1)
2 2
sendo a projeção do domínio V sobre a superfície de referência e H a espessura da placa. Dessa
de…nição observa-se que os eixos x e y, e a origem do eixo z, são posicionados sobre a superfície de
referência, que se localiza na posição intermediária da espessura.
O desenvolvimento de uma teoria de placa, com as características de uma teoria que permitisse
obter aproximações para o comportamento do corpo tridimensional através de um modelo bidimen-
sional foi desenvolvida por Sophie Germaine, uma matemática teórica francesa, durante a primeira
parte do século 19. O modelo tornou-se famoso com os trabalhos de Kirchho¤ e sua publicação
em 1850, a quem foi atribuido o nome do modelo. Posteriormente as hipóteses foram estendidas a
cascas delgadas por Love, gerando o modelo de Kirchho¤-Love para cascas.
O modelo bidimensional, é baseado nas seguintes hipóteses ad-hoc:
Essas hipóteses limitam a aplicação da teoria somente à placas …nas, uma vez que através da
imposição da não rotação das normais em relação à rotação da superfície de referência, os efeitos da
deformação transversal são negligenciados. Esta teoria é denominada teoria clássica de placas,
teoria de placa delgada ou teoria de placa de Kirchho¤.
Um modelo mais so…sticado, proposto por Reissner em 1945 e 1947 e por Mindlin em 1951 [74],
considera a in‡uência da deformação cisalhante transversal, possibilitando a utilização desta teoria à
placas moderadamente espessas. Esse modelo é baseado nas mesmas hipóteses de Kirchho¤, porém
com a seguinte diferença:
z
∂w p p ∂w
∂x ∂y
q q
w w
u0 v0
x y
B B
P z z P
x Q Q y
A A
Configuração indeformada
A Figura 15.2 ilustra as relações cinemáticas nos modelos de Kirchho¤ e de Mindlin. Consider-
amos um ponto arbitrário P, de cota z. Com o carregamento aplicado, esse ponto desloca-se para a
posição p. Seu deslocamento numa das duas direções coplanares, x, por exemplo, é ux (x; y; z). Essa
componente é decomposta numa parcela uo (x; y), associada ao ponto Q na superfície de referência,
de coordenadas (x; y). Outra parcela de ux , relativa uo , é associada à rotação do segmento normal
AB. Pela hipótese de Mindlin, a rotação desse segmento em torno do eixo y é x (x; y). Então,
associada à rotação da normal existe um deslocamento coplanar z x na direção x. Somando as duas
contribuições ao deslocamento de P tem-se a aproximação cinemática
x
0 e y θx no
e
θyno
x
θxno
θy
(a) (b)
Figura 15.3: (a) Graus de liberdade da placa de Reissner-Mindlin. (b) ilustração de um elemento e
e dos graus de liberdade nodais num nó no: xno e yno .
2 3
@ x z @ x @ y 1 @w
6 z + + x 7
6 @x 2 @y @x 2 @x 7
6 z @ @ y @ y 1 @w 7
6 x 7
"(up ) = 6 + z + y 7: (15.6)
6 2 @y @x @y 2 @y 7
6 7
4 1 @w 1 @w 5
+ x + y 0
2 @x 2 @y
As componentes de deformação são
@ x @ x @ y
"x = z ; xy = 2"xy = z + ;
@x @y @x
@ y @w (15.7)
"y = z ; xz = 2"xz = + x;
@y @x
@w
"z = 0; yz = 2"yz = + y:
@y
É possível separar as deformações coplanares, que são associadas à ‡exão e as deformações cisal-
hantes transversais, passando da forma tensorial para a notação de Voigt:
8 9
> @ x >
8 9 >
> >
> 8 9
>
> @x >
> > @w
< "x = < = < + y > =
@ y yz @y
"y =z e = ; (15.8)
: ; >
> @y >
> xz >
: @w + >
;
xy >
> @ x @ y > > | {z } x
| {z } >
: + >
; @x
"f @y @x
| {z }
de forma que "f = z , onde "f é o vetor deformação devido à ‡exão, é o vetor deformação
cisalhante transversal e é uma aproximação da curvatura da placa em sua con…guração
deformada. As componentes de são = f x ; y ; xy g. Note-se que e independem da
coordenada z, i.e., são de…nidas para pontos da superfície de referência. Então, essas deformações
generalizadas dependentes apenas das coordenadas (x; y), i.e., = (x; y) e = (x; y).
A Figura 15.4 ajuda a revisar conceitos associados a curvatura e identi…car o conceito de
em (15.8). Na con…guração deformada, a superfície de referência descreve uma superfície curva no
espaço. Na …gura temos um corte no plano yz, em que a superfíce é interseptada por uma curva
plana. Como qualquer curva plana, se pode traçar uma reta perpendicular passando por um ponto
p de coordenada (x; y). Pode-se tomar outro ponto próximo, q, e tracar outra reta perpendicular.
Ambas as retas se interceptarão, exceto se a curva for reta, quando ambas as retas serâo paralelas.
Se a distância entre p e q for o arco s, conforme s ! 0, o ponto de intersecção das duas curvas
tende a um ponto …xo no espaço, c. A distância cp de…ne o raio de curvatura Ry da superfície
no plano yz. Esse raio varia ponto a ponto, i.e., Ry = Ry (x; y). Em teoria de geometria diferencial
é de…nida também a curvatura y da superfície no plano yz, da seguinte forma: y = 1=Ry .
Claramente, conforme Ry ! 1, a curva tende a uma reta, que possui curvatura y = 0. O conceito
de x é análogo ao de y , para o plano xz. Entretanto, xy tem carater distinto, pois não envolve
‡exão da superfície no ponto, como x e y , mas torção local.
Essas de…nições existem para qualquer superfície suave. Entretanto, no presente problema de
‡exão de placas em pequenos deslocamentos, os valores de curvatura da superfície deformada são
bastante pequenos, e se prova (ver Mendonça, [72]) a curvatura pode ser aproximada como em
(15.8), i.e., y ' @ y =@y, etc. Como conclusão, se deve enfatizar que (15.8) apresenta apenas uma
aproximação da curvatura da placa deformada, com erros admissíveis se os deslocamentos forem
pequenos. Entretanto, para abreviar a notação, no restante do presente texto, em vez de usar
‘aproximação da variação da curvatura da placa’, será usado apenas ‘curvatura’.
A curvatura e a deformação cisalhante podem ser colocadas ainda em termos de operadores
diferenciais
15.1. Formulação de placas de Mindlin-Reissner 423
∆s
z
p
q
Ry(x,y)
w
Figura 15.4: Visualização do raio de curvatura da superfície de referência deformada, no plano yz.
= @f u; = @c u; (15.9)
T
onde o vetor u = fw; x; y g e os operadores diferenciais @f e @c são de…nidos por
2 3
@
2 3
6 0 @x
0 7 @
6 @ 7 1 0 7
6 7 6
@f = 6 0 0 7 e @c = 4 @y 5: (15.10)
6 @y 7 @
4 @ @ 5 0 1
0 @x
@y @x
A Figura 15.5 ajuda a interpretar como um vetor de deformações cisalhantes transversais.
Na …gura temos um corte no plano yz da placa ‡exionada. No modelo de Kirchho¤, y = @w=@y,
de forma que a deformação prevista é yz = 0. Isso é visualizado na …gura pelo arco ab0 c0 d. Já
no caso do modelo de Reissner-Mindlin, y é independente de @w=@y, o que gera o cisalhamento
yz = y + @w=@y. Isso é visualizado na Figura 15.5 pelo arco abcd, onde se percebe o elemento
diferencial incial distorcido no trapezio colorido. Note-se que o modelo de Mindlin faz uma previsão
apenas aproximativa do cisalhamento, como uma constante ao longo da espessura.
∂w
z ∂y θy
c’ c
d ∂w
∂y
a b b’
w
y
8 9 2 38 9
< = 1 0 < "x =
x
E 6 1 0 7
y = 4 5 "y ;
: ; (1 2) 1 : ;
xy 0 0 xy
| {z } | {z 2 }
Cf
yz 1 0 yz
= G ; (15.11)
xz 0 1 xz
| {z } | {z }
c Cc
ou ainda como
z dy y
z σx(x,y,z)
Mx(x,y) τxz(x,y,z)
dz
(x,y) Qx(x,y)
x x
y Nx(x,y)
x
dx
Figura 15.6: Tensão normal x e cisalhante transversal xy ao longo da espessura da placa, e esforços
de momento Mx , normal Nx e cisalhante Qx .
Nota-se que estes esforços são de…nidos por unidade de comprimento medido ao longo da superfície
de referência, e variam apenas sobre ela, i.e., Mx = Mx (x; y), My = My (x; y) etc. Mx e My são
momentos ‡etores e Mxy é um momento torçor. São momentos distribuídos por unidade de
comprimento, com unidades de força, i.e., dado em [Nm/m]. Os esforços cortantes Qxz e Qyz são
forças transversais por unidade de comprimento, com unidades de N/m.
O signi…cado físico desses esforços pode ser entendido com o auxílio da Figura 15.6. Num
ponto arbitrário na superfície de referência, de coordenada (x; y), se pode identi…car o elemento
15.1. Formulação de placas de Mindlin-Reissner 425
diferencial de volume mostrado onde se ilustra a variação das tensões x e cisalhante transversal
xy ao longo da espessura, na face normal ao eixo x. As integrais em (15.13) podem ser entendidas
como resultantes de força cisalhante Qx . e de momentos Mx por unidade de comprimento dy no
ponto (x; y) da superfície de referência. Considerando os quatro lados do elemento diferencial, se
tem o conjunto completo de componentes de esforços de momento e de cisalhamento. Esse conjunto,
junto à convenção de sinais adotada, é sumarizada na Figura 15.7.
Essa convenção é baseada em considerar que cada componente de tensão cresce na direção
positiva de z.
Nota-se que os índices dos esforços não são associados à orientação do vetor, mas aos índices
da componente de tensão que deram origem ao esforço. Por exemplo, yz produz Qy , embora
este esteja orientado na direção +z. x gera Mx , que está, de fato, orientado no sentido +y.
Qxz
z, w Mxy
Qy Mx
Mxy
y
My My
x Mxy
Mx
Qy
Mxy Qx
ou ainda
Z H=2 Z H=2
M= z dz e Qc = c dz; (15.15)
H=2 H=2
Se o material da placa for homogêneo ao longo da espessura, (diferentemente de uma placa laminada
com diversos materiais) as deformações cisalhantes e as curvaturas independem de z, elas podem
426 Capítulo 15. Modelo de placas
ser postas fora da integral. Uma vez realizadas as integrações, novas matrizes de propriedades
elásticas, D e Dc , surgem, produzindo relações constitutivas de placa na forma.
H3 f
D= C e Dc = kHDc (15.19)
12
Na matriz de rigidez cisalhante é introduzido um fator de correção k da tensão cisalhante transver-
sal, dado por Reissner com o valor k = 5=6 [50]. Maiores detalhes na determinação de k, podem ser
vistos em [72].
Na teoria considerada aqui os carregamentos admitidos são (q; mx ; my ), i.e., carga distribuida
transversal na direção z, (força por unidade de área) e momentos ‡etores por unidade de com-
primento nash direções x e y. Todasi essas cargas são aplicadas na superfície de referência, em
unidades de N/m2 , Nm/m2 , Nm/m2 .
O contorno da superfície de referência é dividido em duas partes, u e f , tal que = u [ f e
u \ f = ?, onde u é a parte do contorno onde são prescritos deslocamentos/rotações da normal,
e em f são prescritas forças/momentos. Os tipos de condições de contorno possíveis de serem
aplicadas são as seguintes:
em 8(x; y) 2 u
w = w; x = x; y = y;
em 8(x; y) 2 f
Qn = Qn ; Xm = X m ; Ym = Ym ; (15.20)
onde
Os valores sob circun‡exo, por exemplo w, são valores conhecidos, e Qn , Xm e Ym são os esforços
cortante e de momentos numa região curva de contorno onde n é o vetor unitário com componentes
(nx ; ny ), como ilustrado na Figura 15.8. As equações (15.21) são as relações entre os esforços
no ponto do contorno, no segmento AC, e os esforços na região interna da placa, os segmentos
AB e BC. Essas relações são obtidas por equilíbrio de forças e momentos nas direções cartesianas
(detalhes em [72]). Correspondentes aos esforços no contorno, existem os deslocamentos e rotações
da normal, indicados na …gura por x e y , que podem ser valores prescritos, nas direções xy, ou
suas componentes de rotação em torno dos eixos normal e tangencial, t e n , respectivamente.
Para formular o equilíbrio da placa sob carregamento externo aplica-se, inicialmente, o PTV em sua
forma geral, como foi de…nido para um corpo de geometria arbitrária, na eq. (8.12). Separando a
integração no volume em uma integração na superfície de referência e outra na espessura, tem-se
a equação associada ao PTV na forma
15.2. Princípio dos trabalhos virtuais em placas 427
y Y n Xm , θx M ,θ t
ny n
t Nn Mn , θn
A α A Nnt A
Qn
nx
Nx
Qx α Mxy α
B C D X D Ym ,θy
Nxy ds Mx
x B Nxy C B C
Qy My
Mxy
Γ (a) Ny (b) (c)
Figura 15.8: Ilustração dos esforços normais e cortantes no contorno da placa em (b) e de momentos
em (c).
Z Z H=2 Z Z H=2
(u) "f (^
up ) dz d + c (u) (^
u) dz d (15.22)
H=2 H=2
Z h i Z h i
= qw ^ ^
^ + mx x + my y d + ^ + Xm ^x + Ym ^y d
Qn w
Substituindo as tensões em termos das deformações com o uso da relação constitutiva eq. (15.12),
obtém-se
Z Z H=2 Z Z H=2
2 f
z C (u) (^
u) dz d + Cc (u) (^
u) dz d
H=2 H=2
Z Z
= ^d +
b u ^d ;
t u (15.23)
1. u = fw(x; y), T,
x (x; y); y (x; y)g o vetor de deslocamentos,
4. u ^ y), ^x (x; y); ^y (x; y)gT , as funções de deslocamento virtuais (funções peso).
^ = fw(x;
Como todos os termos nos integrandos em (15.23) independem de z, exceto pelo termo em z 2 ,
a integração resulta em
Z Z Z Z
D (u) (^
u) d + Dc (u) (^
u) d = ^d +
b u ^d
t u (15.24)
onde as matrizes D e Dc são aquelas de…nidas em (15.19) quando da de…nição dos esforços. A
condição (15.24) deve ser satisfeita para quaisquer funções virtuais w(x; ^ y), ^x (x; y); ^y (x; y) que
sejam contínuas e satisfaçam a condição de contorno homogênea na parcela do contorno onde existem
condições prescritas ( u ), i.e., as funções virtuais devem pertencer ao conjunto das variações V ar,
de…nido por
Note então que, como é exigido que u^ = 0 em u , a integral de contorno à direita de (15.24) é não
nula apenas na região f , onde t = t, i.e., t é conhecido, igual aos valores impostos fQn , Xm , Ym gT .
(A parcela da integral em u é nula).
428 Capítulo 15. Modelo de placas
Essa função pode ser aproximada mediante a de…nição de uma base de funções de aproximação,
da seguinte maneira
2 3
1 0 0 Nne 0 0
Ne (x; y) = 4 0 1 0 0 Nne 0 5;
0 0 1 0 0 Nne
e T
U = x1 y1 w1 xNne yNne wNne ;
T
^e =
U ^x1 ^y1 w
^1 ^xN ^yN w
^Nne : (15.29)
ne ne
tinuidade C 0 ( ) é garantida automaticamente com o uso de funções 'no polinomiais e com o uso
de nós comuns entre os elementos que fazem fronteira entre si. Esses nós comuns garantem que os
valores nodais são também comuns a ambos os elementos, o que garante a continuidade da base de
funções.
Com a aproximação dos deslocamentos (15.28), as curvaturas e deformações cisalhantes são
também discretizadas por:
2 3
@( )
6 0 0 7
6 @x 78 9
6 @( ) 7 < x (x; y) =
e e 6 0 7
(u ) = 6 0 7 y (x; y) = Df ue (x; y);
6 @y 7: ;
6 7 w(x; y)
4 @( ) @( ) 5
0
@x @y
| {z }
Df
2 3
@( ) 8 9
6 1 0 7< x (x; y) =
@y
e
(u) = 6
4
7
5: y (x; y) = Dc ue (x; y);
@( ) ;
0 1 w(x; y)
| {z @x }
Dc
= Dc N(x; y)Ue = Bec Ue ; (15.31)
onde Df e Dc são operadores diferenciais e Bef e Bec são as matrizes de deformação de ‡exão e
de cisalhamento do elemento …nito e, que são constituidas na forma
2 @ no 3
0 0 2 3
6 @x 7 @ no
6 7 1 0
6 @ no 7 6 @y 7
Bf = 6
e
6 0 0 7
7 e Bec = 6
4
7;
5 (15.32)
6 @y 7 @ no
4 5 0 1
@ no @ no @x
0
@x @y
para a no-ésima função de aproximação local do elemento e.
Note que a expressão do PTV, eq. (15.24), pode ser expressa não apenas para o dominio do
modelo completo , mas também para o domínio de um elemento individual e .2 Substituindo a
aproximação dos deslocamentos e deformações de (15.28) e (15.31) na expressão do princípio dos
trabalhos virtuais, eq. (15.24), a condição de equilíbrio de um elemento de placa é expressa em
forma discreta como:
Determinar o vetor dos parâmetros nodais Ue tal que
Z Z
^ e + Dec Bec Ue Bec U
De Bef Ue Bef U ^e d e ^e d e
be Ne U
Z e e
(15.33)
t e Ne U^ e d e = 0; 8U^ e 2 R3Nne .
e
2
Note que, apesar de ser possível identi…car um problema de equilíbrio para cada elemento, a partir do PTV
aplicado a ele, claramente, uma solução elemento a elemento não é possível, uma vez que não temos conhecidas as
condições de contorno necessárias, para cada elemento. Isso é o que torna necessário o processo de sobreposição
das matrizes, como já visto nos capítulos anteriores, de forma a determinar a equação de equilibrio para a malha
completa.
430 Capítulo 15. Modelo de placas
Dessa forma, de…ne-se a matriz de rigidez do elemento Ke e o vetor carregamento nodal consistente
Fe como
Z
e
Ke = BeT eT e e
f DBf + Bc Dc Bc d
e
e
Z Z (15.35)
eT e
Fe = N b d +e NeT te d e
e e
15.3.1 Mapeamento
Fazendo um mapeamento para o sistema de coordenadas padrão, neste caso de…nido nas coordenadas
intrínsecas (r; s), o elemento diferencial da superfície de referência do elemento, d e , pode ser escrito
como
e
d = det Je drds; (15.36)
onde Je é a matriz jacobiana dada por (ver o conceito na seção 8.7):
2 3 2 3
@x @y @ no @ no
6 @r @r 7 Nne
X 6 @r xno @r
yv 7
Je = 6
4 @x @y 5
7= 6
4 @
7;
5 (15.37)
no=1 no @ no
xno yno
@s @s @s @s
sendo xno e yno as coordenadas nodais do elemento em relação ao sistema global de coordenadas, e
Nne é o número de nós do elemento. A inversa de Je é avaliada da seguinte maneira
2 3 2 3
@r @s @y @y
6 @x @x 7 1 6 @r 7
1
Je = 6 7 6 @s 7
4 @r @s 5 = det Je 4 @x @x 5 : (15.38)
@y @y @s @r
As derivadas cartesianas das funções de aproximação podem ser obtidas pela regra da derivação em
cadeia
8 9 8 9 8 9
> @ > 2 @r @s 3 > @ > > @ >
< = < = < =
@x 6 @x @x 7 @r 1
@r
@ =4 @r @s 5 > = Je : (15.39)
>
: >
; : @ >
; : @ >
> ;
@y @y @y @s @s
Dessa forma as integrais das matrizes dos elementos em (15.34) e (15.35) podem ser realizadas nas
coordenadas intrínsecas r e s:
Z Z
e e e
K = BeT eT e e e
f D Bf + Bc Dc Bc det J drds;
Zs Zr Z
Fe = eT e e
N b det J drds + NeT te det Je drds: (15.40)
s r e\
f
Essas integrais são avaliadas numericamente utilizando uma regra de integração numérica para
cada elemento …nito (ver seção 9). Fazendo a sobreposição dos elementos para modelar toda a
15.3. Elementos …nitos de placas 431
KU = F; (15.41)
sendo K a matriz de rigidez global da estrutura, U o vetor deslocamentos nodais generalizado e F o
vetor carregamento consistente generalizado, em total semelhança a todos os modelos já vistos nos
capítulos anteriores.
Qy
z y 4 Mxy
Qx My
3
Mxy
x
Mx Qy σxs
y σxm
1 My σxi
dy
(a) 2 (b) dx
x
Mxy
Figura 15.9: (a) Elemento de placa e (b) esforços e tensões nas direções locais do elemento, numa
coodenada (x; y).
3. Para cada elemento e, monta-se o vetor Ue com os deslocamentos nodais desse elemento.
4. Calculam-se matrizes de deformação Bef e Bec para ‡exão e cisalhamento do elemento através
das eqs. (15.32).
6. Então os esforços e as tensões num elemento diferencial do elemento de placa são visualizados
na Figura 15.9. Os esforços são estimados por:
Os valores calculados nos ítens 4 a 7 acima devem ser calculados em diversos pontos do elemento.
É comum avaliar as tensões nos pontos de integração de Gauss, dado que, para alguns tipos de
elementos, como aqueles baseados nas funções serendipity, na vizinhança destes pontos se encontram
os pontos denominados de superconvergentes, i.e., pontos onde a solução aproximada apresenta
3
Ver detalhes sobre o processo de sobreposição de matrizes na seção 5.2.1, página 81.
432 Capítulo 15. Modelo de placas
melhor precisão dentro do elemento. O processo usual de cálculo é o seguinte é através de algundos
métodos de suavização e recuperação de tensões como o de média nodal simples ou ponderada
pela área e métodos baseados em mínimos quadrados. Esse métodos estão descritos na seção 8.9.
Observação: a realização das médias pressupõe que os sistemas de coordenadas em todos os
elementos em torno do nó sendo processado seja o mesmo. Caso cada elemento seja de…nido por
um sistema de coordenadas próprio, antes da realização das médias torna-se necessário transformar
as componentes do tensor tensão para um sistema de coordenadas comum aos diversos elementos
envolvidos.
B
A C
z z
y y
x x
(a) (b)
Figura 15.10: (a) Ilustração de uma casca formada por regiões planas (placas); (b) casca cilíndrica
circular modelada por elementos planos (de placa) triangulares.
A análise de cascas é um assunto que tem merecido um esforço massivo de pesquisa desde
o …nal do século 19, com ênfase em formulações diferenciais e soluções analíticas. A partir dos
anos 1960 o desenvolvimento sofreu grande impulso com os tratamentos por elementos …nitos.
A análise estrutural de cascas por elementos …nitos curvos conta, literalmente, com milhares de
formulações, embora a mais usada seja aquela denominada “formulação de cascas degenerada”,
proposta por Ahmad et.alli [1], cuja formulação pode ser vista em detalhes em [10][50][115] para
materiais homogêneo-isotrópicos, e em [72] para materiais compostos. Entretanto, apresentaremos
aqui apenas uma breve introdução ao tópico, através de uma formulação que, embora simples e
antiga, ainda apresenta boa usabilidade. Ela baseia-se na ideia de molelar a casca através de
elementos planos. Em estruturas que sejam naturalmente constituidas por partes planas, como
aquela ilustrada na Figura 15.10a, o procedimento apresenta ótimos resultados. Caso a casca seja
suave, como aquela da Figura 15.10b, o adequado é fazer sua modelagem por elementos curvos.
Entretanto, a modelagem por elementos planos de placa oferece uma aproximação razoavel do campo
de deslocamentos, a um custo baixo. As tensões obtidas, entretanto, em geral não são adequadas,
devido ao efeito de concentração de tensões …cticias gerado nas quinas entre os elementos, de forma
que é recomendado que cada elemento não se extenda por mais de 15 de arco da casca. A presente
seção faz um sumário da formulação de elementos de placa adaptado à modelagem de cascas. As
principais modi…cações envolvidas, a rotação das matrizes, possuem intrinsecamente valor didático,
uma vez que é um artifício de uso bastante amplo em diversas situações do MEF.
Ao longo do capítulo, até esse ponto, estivemos tratando com o sistema local de coordenadas
do elemento de placa, onde os eixos xy eram paralelos à superfície de referência, como visto na
Figura 15.1. Entretanto agora buscamos uma formulação que permita a modelagem de uma casca.
Isso exige o uso de dois sistemas de coordenadas, de forma análoga ao que foi feito no caso do uso
de vigas no espaço tridimensional para modelar pórticos 3D no Capítulo 6. Assim, a estrutura é
modelada num sistema global de coordenadas x y z, enquanto a matriz de cada elemento é
deduzida e de…nida primeiramente no seu próprio sistema local de coordenadas x y z, como
visto na Figura 15.11. O sistema local é de…nido de forma que os eixos x y estão na superfície de
referência do elemento, e z normal ao elemento. A matriz e o vetor força do elemento são calculados
no sistema local e rotacionados para o sistema global, e em seguida são sobrepostos na matriz de
rigidez e vetor força global.
z y 4
3 3
3
2
44
2
2 3 1
y 1 x y
z 1 z 1
x z y e2
y
2 x
x z e3 e1 x
(a) (b)
onde uox e uoy são delocamentos de membrana, i.e., os deslocamentos de um ponto da superfície de
referência nas direções coplanares à placa, e w, x e y são deslocamento transversal à superfície
de referência e as rotações da normal, exatamente como visto nas seções anteriores para a ‡exão
de placa, em relação aos eixos locais x y z, como visto na Figura 15.12. As componentes uox e uoy
descrevem exatamente o comportamento de estado plano de tensões visto no Capítulo 8. O que
se tem aqui para casca são os dois comportamentos levados em conta simultaneamente na relação
cinemática.
2
ux, θx
w , θz
3 P
uy, θy
x
z1, w1, θz1
y
1
x ux1, θx1
z y, uy1, θy1
Figura 15.12: Componentes de deslocamento uox , uoy , w, x e y num ponto P arbitrário de coorde-
nadas locais (x; y; z), e deslocamentos nodais no nó local 1, uox1 , uoy , w1 , x1 , y1 .
8 9 8 9
> @ uox > > @ y >
>
> >
> >
> >
> 8 9
8 9 >
> @x >
> >
> @x >
> @w
>
> >
> >
> >
> >
> >
>
< "x = < @ uoy = < @ x = < x =
yz @y
"y = +z ; e = (15.45)
: ; > @y > > @y > > >
xy
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
> |
xz
{z } >: @w + >
;
| {z } >
> @ ux @ uoy
o >
> >
> @ y @ x >
> @x
y
"
>
: + >
; >
: >
;
@y @x @y @x
| {z } | {z }
"o
A parcela "o (x; y) é a deformação coplanar da superfície de referência, a mesma vista na elasticidade
plana, enquanto e são a mudança de curvatura e a deformação cisalhante da parcela de ‡exão.
A lei de Hooke …ca
= Cf f"o + z g e c = Cc , (15.46)
15.5. Análise de cascas por elementos planos 435
Z Z H=2 Z Z H=2
(u) ["o (^
u) + z (^
u)] dz d + c (u) (^
u) dz d (15.47)
H=2 H=2
Z h i Z h i
= qx u
^ x + qy u
^y + q w ^ ^
^ + mx x + my y d + Xu
^x + Y u ^ + Xm ^x + Ym ^y d
^y + Qn w
Z Z H=2 Z Z H=2
o o
Cf [" + z ] [^
" + z ^ ] dz d + Cc ^ dz d
H=2 H=2
Z Z
= ^d +
b u ^d :
t u (15.49)
Z Z Z
A"o (u) "o (^
u) d + D (u) (^ u) d + Dc (u) (^ u) d
| {z } | {z } | {z }
Membrana Flexão Cisalhamento
Z Z
= b u^d + ^d :
t u (15.50)
| {z }
Carregamento
A três integrais à esquerda são o trabalho virtual das forças internas de membrana, de ‡exão e de
cisalhamento, respectivamente.
2 3
1 Nne
6 7
6 1 Nne 7
6 7
N (x; y) = 6
e
6
1 Nne 7;
7
6 1 Nne 7
4 '1 5
Nne
0 0
e T
U = uox1 ; uoy1 ; w1 ; x1 ; y1 ; z1 ; :::; uoxNne ; uoyNne ; wNne ; xNne ; yNne ; zNne ;
n oT
^e
U = u^ox1 ; u ^1 ; ^x1 ; ^y1 ; ^z1 ; :::; u
^oy1 ; w ^oxNne ; u ^Nne ; ^xNne ; ^yNne ; ^zNne (15.52)
^oyNne ; w
2 3
@ no
6 0 0 1 0 7
Bec = 4 @y 5 ;
@ no
0 0 0 1 0
2 @x 3
@ no
6 0 0 0 0 0 7
6 @x 7
6 @ no 7
Bem = 6 0 0 0 0 0 7: (15.54)
6 @y 7
4 @ no @ no 5
0 0 0 0
@y @x
Aqui foram mostradas apenas as colunas associadas à no-ésima função de aproximação correspon-
dente ao no-ésimo nó do elemento.
Note que aqui estamos considerando apenas as funções sobre um elemento individual, e em
seguida usaremos o princípio dos trabalhos virtuais também sobre um único elemento. Assim
aplicam-se aqui as mesmas observações já apontadas em relação à eq. (15.33) para o MEF em
elasticidade plana. Substituindo a aproximação dos deslocamentos e deformações na expressão do
PTV, eq. (15.50), a condição de equilíbrio do elemento de placa é expressa em forma discreta como:
R e e ^e e e e ^e e
e Ae Bem U Bm U + De B f U B f U ^e d e
+ Dec Bec U Bec U
R R
e e^e
e b N U d
e
e t
e ^ e d e = 0;
Ne U ^ e 2 R6Ne :
8U
(15.55)
^ e
Manipulando algebricamente e considerando que o vetor U é arbitrário e multiplica todos os termos,
a satisfação da integral acima exige que, para um elemento genérico,
Z Z Z
e eT e e e eT e eT
eT e eT e e
Bm A Bm + Bf D Bf + Bc Dc Bc d U = e
N b d + e
N te d e ;
e e e
| {z } | {z }
Ke Fe
(15.56)
i.e.,
e
Ke U = Fe (15.57)
Ke e Fe são a matriz e o vetor de forças nodais do elemento no sistema local de coordenadas.
As matrizes Ae , De e Dec são as matrizes elasticas de extensão, ‡exão e cisalhamento, no sistema
local de coordenadas do elemento.
Note que na de…nição do vetor de deslocamentos nodais, eq. (15.52), foi introduzido arti…cial-
no
mente o grau de liberdade nodal de rotação na direção normal z , embora a teoria de placa usada
não modele essa componente de rigidez. Assim, a matriz de rigidez Ke do elemento apresenta as
linhas (e colunas) de números múltiplos de 6 identicamente nulas. Esse grau de liberdade é intro-
duzido de forma a permitir a rotação do elemento no espaço, como será feito a seguir. Entretanto,
antes da rotação da matriz, torna-se necessário o uso de um procedimento empírico, que consiste
em introduzir nos termos nulos da diagonal de Ke uma constante, que é arbitrariamente de…nida
na ordem de 1/10.000 do valor do menor termo da diagonal da matriz do elemento [12][13].
x2 x1
e1 = ; v = x3 x1 ;
kx2 x1 k
(15.59)
e1 v
e3 = ; e2 = e3 e1 :
ke1 vk
438 Capítulo 15. Modelo de placas
Fazendo essas operações usando xno de (15.58), ao …nal dos cálculos se tem os vetores da base local
na forma
T
Ue = uox1 uox1 w1 x1 y1 z1 uoxNne uoyNne wNne xNne yNne zNne ;
(15.63)
e e
sendo que a disposição de U , F e Fe são análogas, gerando vetores de dimensão Ngle = 6 Nne .
Claramente, Re tem dimensões Ngle Ngle .
Substituindo as rotações (15.62) na equação de equilíbrio do elemento (15.57), e pré-multiplicando
ambos os lados da igualdade por Re 1 (lembrando que que Re 1 = ReT ), o sistema de equações de
equilíbrio do elemento no sistema global …ca
e e
Ke Ue = Fe , onde Ke = ReT K Re e F = Re Fe (15.64)
No pós-processamento, as tensões são obtidas em cada elemento utilizando a Lei de Hooke (15.46)
em varias cotas z ao longo da espessura do elemento. Uma vez que a variação das tensões coplanares
é linear ao longo da espessura, basta o cálculo de três valores, i.e., nas superfícies inferior i , média
m e superior s . A Figura 15.9 ilustra a variação de
x . Entretanto deve-se ter cautela com a
utilização de médias nodais das tensões nas inerfaces entre-elementos. Os sistemas de coordenadas
locais a cada elemento serão distintos, de forma que não se pode fazer médias diretamente. É
necessário que, primeiramente, as componentes do tensor tensão sejam todas rotacionadas a um
sistema de coordenadas comum, geralmente o sistema global ou outro de…nido pelo usuario. Uma
vez que as tensões nos varios elementos estejam em termos de um sistema comum, pode-se realizar
a média entre os valores nodais dos diversos elementos comuns.
15.6 Exercícios
15.1 Porque a modelagem de uma placa anisotrópica precisa ser feita usando acoplamento membrana-
‡exão?
15.6. Exercícios 439
15.2 É possível de…nir a superfície de referência fora da posição média da placa? Quais as conse-
quências na formulação? (Dica: lembre que o carregamento é aplicado nos nós, e que os nós
estão na superfície de referência. Considere momentos.)
15.3 Programe o processo descrito na seção 8.9 para cálculo de tensões no elemento por extrapolação
das tensões calculadas nos pontos de subintegração do elemento. Use o elemento Lagrangeano
biquadrático de 9 nós e calcule usando a grade de 2 2 pontos de integração. (a) Obtenha as
tensões nos pontos de subintegração e determine os erros em relação a uma solução analitica.
(b) Determine as tensões nos nós usando extrapolação, usando o cálculo direto via as matrizes
de deformação, e compare com a solução exata. (c) realize os cálculos do item (b) em dois
elementos vizinhos e faça média nodal. Em seguida determine os erros. Compare também
com os erros obtidos fazendo média nodal dos valores obtidos diretamente das matrizes de
deformação. Compare os erros com média nodal aritimética e ponderada.
440 Capítulo 15. Modelo de placas
Capítulo 16
Até esse ponto do texto tem-se considerado consistentemente apenas materiais homogêneo-isotrópicos.
O presente capítulo fará a modelagem de materiais compostos, que se inserem na classe de materiais
não-homogêneos e não isotrópicos (anisotrópicos). Sobre essa última propriedade, a anisotropia do
material, deve-se lembrar que consiste numa dependência das propriedades termomecânicas com a
orientação.
O termo “materiais compostos” indica, basicamente, um material que é constituído por uma
junção de dois ou mais materiais distintos. Esse termo engloba uma multitude de tipos distintos
de material, tanto materiais naturais (madeira, por exemplo), materiais tradicionais de engenharia
(concreto armado), e materiais ditos de alto desempenho, modernos, que são mais especi…camente
tratados como materiais compostos. Dentre os materiais compostos, trataremos aqui da modelagem
dos chamados laminados. Um laminado é uma viga, placa ou casca, constituída por uma quanti-
dade N de lâminas, que são supostas serem coladas adequadamente, como ilustrado na Figura 16.1.
Cada lâmina, num composto moderno, é constituída por uma matriz e um ou mais reforços. A
matriz é o material base, geralmente de propriedades estruturais inferiores e mais barato, enquanto
os reforços são de materiais mais rígidos e/ou resistentes. Tipicamente, num laminado de alto de-
sempenho, a matriz é polimérica, metálica ou cerâmica e o reforço é de feito por …bras de vidro,
carbono ou …bras orgânicas como o kevlar. Compostos especiais incluem combinações …bra/reforço
do tipo carbono/carbono, inclusões de cerâmicos em metal, além de reforços de nanotubos de car-
bono Em matrizes poliméricas são utilizados tanto os polímeros termo…xos (principalmente o epóxi
e o poliéster), quanto os termoplásticos. As …bras são disponíveis em diversas formas: continuas
ou picotadas em comprimentos que vão desde cerca de 15 mm até dimensões da ordem de algumas
dezenas de micrometros. Os compostos podem ser formados por …bras contínuas paralelas, por
mantas de …bras picotadas ou por tecidos. Esses últimos podem ter tramas simples como os tecidos
cruzados, ou por tramas complexas como os setins.
Figura 16.1: Visualização idealizada de alguns tipos clássicos de lâminas: (a) lâmina com …bras
unidirecionais; (b) lâmina com …bras tecidas; (c) laminado composto por várias lâminas orientadas
em diferentes direções.
Lâminas reforçadas por tecidos ou por …bras unidirecionais apresentam ortotropia, isto é, suas
442 Capítulo 16. MEF para materiais compostos laminados
propriedades termomecânicas variam com a direção. A Figura 16.1 ilustra os eixos principais
de propriedades mecânicas, denominados eixos 1, 2 e 3. Em lâminas unidirecionais, a direção 1 é
na direção da …bra, a direção 2 na direção transversal à …bra, e a direção 3 é normal à lâmina.
Normalmente, as espessuras das …bras são muito menores que a espessura da lâmina, de forma
que existem pelo menos dezenas de …bras ao longo da espessura, distribuídas aleatoriamente. As-
sim, se considera que no plano transversal, de…nida pelos eixos principais 23, as propriedades são
isotrópicas, isto é, são as mesmas em qualquer direção nesse plano. Então esse tipo de lâmina é
dito ser transversalmente isotrópica. Essa consideração permite uma grande simpli…cação na
determinação experimental de propriedades mecânicas.
3 Direção
normal
2
Direção
1 transversal
Direção
longitudinal
Fibras
Figura 16.2: Idealização de um segmento de lâmina ortotrópica e indicação das direções principais
de propriedades mecânicas.
No presente capítulo apresentamos nas primeiras seções um sumário bastante resumido da formu-
lação de materiais compostos. Um tratamento completo pode ser visto em Mendonça [72]. As seções
…nais apresentam formulações de elementos …nitos para compostos, em análise estática, dinâmica e
de estabilidade de placas.
(“sim.” signi…ca que a matriz é simétrica.) Em notação simbólica, isso será representado nesse
capítulo por:
1
= C1 "1 (16.2)
16.1. Relação tensão-deformação para materiais elástico-lineares anisotrópicos 443
O supra-índice ( )1 é utilizado para indicar que todos os valores se referem às direções 123. Note
que todos os 21 termos Cij da matriz de rigidez do material, são propriedades de material. A
inversa dessa relação é
8 9 2 38 9
>
> "1 >
> S11 S12 S13 S14 S15 S16 >
> 1 >
>
>
> "2 >
> 6 S22 S23 S24 S25 S26 7>> >
>
>
> >
> 6 7>> 2 >
>
< = 6 7< =
"3 S33 S34 S35 S36
=6
6
7
7>
3
; (16.3)
>
> 23 >
> 6 S44 S45 S46 7> 23 >
>
>
> >
> 4 5>> >
>
>
> >
> S55 S56 >
> 31 >
>
: 31 ; : ;
12 sim: S66 12
As 9 constantes nas relações ortotrópicas (16.4) e (16.5) frequentemente são substituídas por um
outro conjunto que possui interpretação física mais clara e são mais fáceis de serem obtidas ex-
perimentalmente. Essas são denominadas propriedades de engenharia, e se constituem numa gen-
eralização daquelas propriedades usadas para caracterizar os materiais isotrópicos: o módulo de
elasticidade E, o coe…ciente de Poisson e o módulo cisalhante G. Entretanto, no caso de materi-
ais ortotrópicos, cada direção ou plano possui um distinto valor de cada uma dessas propriedades,
que devem ser obtidas exerimentalmente em diversos ensaios. A Figura 16.3 ilustra a obtenção
experimental dos módulos de elasticidade nas direções principais 1 e 2, isto é, E1 e E2 , e os dois
coe…cientes de Poisson associados ao plano 12, isto é, 12 e 21 .
Considere uma amostra de uma lâmina submetida a um carregamento uniaxial 1 aplicado na
direção principal de material 1. Se as deformações decorrentes "11 , "12 e "13 forem medidas, podem-se
de…nir as propriedades:
1 "12 "13
E1 = , 12 = , 13 = : (16.6)
"11 "11 "11
o supra-índice em "12 indica que "2 foi obtido de uma tensão na direção 1, e é uma deformação
associada ao efeito de Poisson.
De forma análoga, aplicando um carregamento uniaxial na direção principal de material 2, 2 , e
medindo "21 , "22 e "23 , podem-se de…nir as propriedades:
444 Capítulo 16. MEF para materiais compostos laminados
σ2
ε22
ε12 2
2 2 2
σ1 σ1
1 1
ε12
2 ε22
ε11 ε11 2
2 2
σ2
(a) (b) ε12 ε12
2 2
2 "21 "23
E2 = , 21 = , 23 = : (16.7)
"21 "22 "22
O mesmo pode ser feito para a direção principal 3, gerando outras três constantes de engenharia,
E3 , 13 e 31 .
Observa-se agora a relação constitutiva (16.5), aplicada ao primeiro experimento, isto é, quando
o estado uniaxial de tensões é dado por
8 9 2 38 9 8 9
>
> "1 >> S11 S12 S13 0 0 0 >
> 1 >
> >
> S11 >>
>
> "2 >> 6 S12 S22 S23 0 0 0 7 >
> 0 >> >
> S21 >>
>
> >
> 6 7 >
> >
> >
> >
>
< = 6 7 < = < =
"3 S S S 0 0 0 0 S
=66
13 23 33 7 = 31
(16.8)
>
> 23 >
> 6 S44 0 0 77 >
> 0 >> >
> 0 >>
1
>
> > 4
> > > > > >
>
> > S55 0 5 > > 0 >> > 0 > >
: 31 > ; >
: >
; > : >
;
12 S66 0 0
Comparando as expressões de "1 , "2 e "3 em (16.6) e (16.8), identi…cam-se as relações entre o conjunto
de propriedades Sij e as constantes de material: S11 = 1=E1 , S21 = 1
12 =E1 e S31 = 13 =E1 .
As demais constantes são associadas de forma similar, de forma que a relação constitutiva para um
material ortotrópico toma a forma
2 1 3
21 31
0 0 0
6 E1 E2 E3 7
6 1 7
6 12 32
0 0 0 7
6 E1 E2 E3 7
6 7
6 13 23 1 7
6 0 0 0 7
6 E1 E2 E3 7
S=6 1 7; (16.9)
6 0 0 7
6 7
6 G23 7
6 1 7
6 0 7
6 G31 7
4 1 5
sim:
G12
Uma vez que a matriz é simétrica, as constantes de engenharia são relacionadas por:
ij ji
= ; para i; j = 1; 2; 3 (16.10)
Ei Ej
1
Essas relações podem ser facilmente obtidas. Por exemplo, de (16.6)2 , tem-se "12 = 12 "11 . Usando (16.6)1 essa
relação …ca "12 = E121 1 . Comparando com (16.8), identi…ca-se S21 = E121 .
16.1. Relação tensão-deformação para materiais elástico-lineares anisotrópicos 445
A matriz de rigidez Cij para um material ortotrópico, em termos das constantes de engenharia, são
dadas por:
1 23 32 + 31
21 23
C11 = ; C44 = G23 ; C12 =
E2 E3 E2 E3
1 13 31 31 + 21 32
C22 = ; C55 = G31 ; C13 = (16.11)
E1 E3 E2 E3
1 12 21 32 + 12 31
C33 = ; C66 = G12 ; C23 =
E1 E2 E1 E3
C22 = C33 ; C12 = C13 ; C55 = C66 ; 2C44 = C22 C23 : (16.12)
Eqs. (16.12) e (16.11) resultam em:
E2
E3 = E2 ; G31 = G12 ; 13 = 12 ; G23 = ; 23 = 32 : (16.13)
2 (1 + 23 )
3 = 0; 23 = 0; 31 = 0; 8 (x; y; z) 2 : (16.14)
Quando esse modelo baseado em EPT é aplicado à ‡exão de um laminado, ele leva à chamada
teoria clássica de laminação, que é bastante adequada ao desenvolvimento de soluções analíticas e a
projetos preliminares. Do ponto de vista de modelagem de placas e cascas laminadas por elementos
…nitos, é de uso quase universal o modelo de Mindlin, que leva em conta uma aproximação das
deformações cisalhantes transversais. Então as restrições sobre as tensões cisalhantes transversais
em (16.14) são relaxadas.
2 3
1 21
8 9 2 38 9 6 0 78 9
< "1 = S11 S12 0 < 1 = 6 E1 E2 7< 1 =
6 12 1 7
"2 = 4 S21 S22 0 5 2 =6 0 7 2 ; (16.16)
: ; : ; 6 E1 E2 7: ;
12 0 0 C66 12 4 1 5 12
0 0
G12
2 3
1
S44 0 0
23 23 6 G23 7 23
= =4 1 5
31 0 S55 31 31
G31
Em forma simbólica essas relações são
"1 = S 1
e 1
= Sc 1
; (16.17)
23 C44 0 23 G23 0 23
= = : (16.18)
31 0 C55 31 0 G31 31
1
= Q"1 e 1
= Cc 1
: (16.19)
Q e Cc são as matrizes de rigidez reduzidas, com as componentes de Q dadas por
E12 12 E1 E2 E1 E2
Q11 = 2 E ; Q12 = 2 E ; Q22 = 2 E ; Q66 = G12 (16.20)
E1 12 2 E1 12 2 E1 12 2
E E E
Q11 = Q22 = 2
; Q12 = 2
e Q66 = = G: (16.21)
1 1 2 (1 + )
2
σ2 τ12 σ1
σy 1
τxy ϑ
ϑ
dy
σx
y P Ponto arbitrário
Fibras
x
x
Lâmina
dx
Figura 16.4: Estado de tensões planas num ponto arbitrário P, em dois sistemas de coordenadas.
16.1. Relação tensão-deformação para materiais elástico-lineares anisotrópicos 447
Num laminado, cada lâmina tem sua direção principal própria, como visto na Figura 16.1. Logo, a
relação entre as tensões e as deformações no laminado devem ser escritas em relação a um sistema
de eixos associado ao laminado, que é distinto do sistema das várias lâminas. Torna-se necessário
primeiramente rotacionar a relação tensão-deformação de uma lâmina arbitrária, entre as direções
principais de material 123 e direções arbitrárias xyz. Tem-se um estado plano de tensões e uma
rotação plana, em torno do eixo 1, como ilustrado na Figura 16.4.
Sendo # o ângulo entre o eixo 1 e o eixo x em rotação em torno do eixo 3, as tensões se transformam
por
8 9 2 38 9
< x = cos2 # sen2 # 2sen # cos # < 1 =
y = 4 sen2 # cos2 # 2sen # cos # 5 2 ;
: ; : ;
xy sen # cos # sen # cos # cos2 # sen2 # 12
yz cos # sen # 23
= : (16.22)
zx sen# cos # 31
x 1 1 x
=T , e = Tc 1 1
, (16.23)
Observa-se a necessidade, desse ponto em diante, de identi…car, em cada grandeza, o sistema de
coordenadas em relação ao qual as componentes são de…nidas. Assim, são utilizados super-índices
“x” e “1”, para indicar os sistemas de coordenadas xyz e 123, respectivamente.
As matrizes de transformação são dadas por
2 3
cos2 # sen2 # 2sen # cos #
T = 4 2
sen # cos2 # 2sen # cos # 5 ;
sen # cos # sen # cos # cos2 # sen2 #
cos # sen #
Tc = : (16.24)
sen# cos #
A transformação das deformações, entre os dois sistemas de coordenadas é dada pelas mesmas
transformações. No caso das deformações cisalhantes transversais a transformação é
1 = Tc x (16.25)
Entretanto, a transformação das deformações coplanares torna-se um pouco mais complicada uma
vez que T opera apenas com a deformação cisalhante tensorial, "xy , porém a lei de Hooke utiliza a
deformação de engenharia xy , onde "xy = xy =2, isto é:
8 9 8 9
< "x = < "1 =
1
"y =T "2 ; em notação simbólica, "x = T 1 1
" : (16.26)
: ; : ;
xy =2 12 =2
O termo 1/2 nas deformações cisalhantes é tratado de forma elegante com o auxílio da matriz:
2 3
1 0 0
R 4 0 1 0 5: (16.27)
0 0 2
448 Capítulo 16. MEF para materiais compostos laminados
1 x 1
Substituindo (16.28) e (16.29) em (16.26), obtém-se "1 = RTR " . Prova-se que RTR =T T,
de forma que
x 1
=T QT T "x , isto é, x = Q"x (16.31)
| {z }
Q
8 9 2 38 9
< x = Q11 Q12 Q16 < "x =
y = 4 Q21 Q22 Q26 5 "y (16.32)
: ; : ;
xy Q61 Q62 Q66 xy
onde
Observa-se que agora a relação tensão deformação para um EPT em direções xy não principais
são de…nidas por 6 constantes elásticas Qij , em vez das 4 constantes Qij que o material apresenta
nas direções principais. Entretanto, as seis constantes são de…nidas apenas por quatro constantes,
isto é, apenas 4 constantes de…nem as propriedades planas do material, e o ângulo # de orientação
da lâmina gera o conjunto de 6 propriedades nas direções oblíquas.
Nota-se que a matriz de rigidez reduzida rotacionada apresenta os termos Q16 e Q26 não nulos
quando # 6= 0 e # 6= 90 . Isso signi…ca que nesses casos existe o chamado acoplamento membrana-
cisalhamento. Esse acoplamento signi…ca que um estado uniaxial de tensão gera não apenas defor-
mações normais, através do efeito de Poisson, mas gera também um cisalhamento. Isso é ilustrado
na Figura 16.5. Na …gura (a) a tensão uniaxial está na direção principal da lâmina, e se tem # = 0.
Então o elemento retangular permanece retangular, como na região tracejada da …gura. Na …gura
(b) a tensão é aplicada numa direção oblíqua, # 6= 90 . Então o elemento retangular sofre, além
dos elongamentos, também distorção angular. Essa distorção é vista da inversa da equação (16.32)
como xy = S61 x , onde S61 é o termo da matriz inversa de Q. Esse termo é não nulo se Q16
também o for, e isso ocorre para # 6= 0 e # 6= 90 .
16.2. Análise de um laminado 449
σ1 σx
γxy
x
1, x 2
1
2, y y
(a) σ1 σx (b)
Figura 16.5: Efeito do acoplamento extensão-cisalhamento. (a) Tensão uniaxial na direção principal
da lâmina; (b) numa direção oblíqua.
1 1
= Cc ;
x x
Tc = Cc Tc ;
x 1 x x
= Tc Cc Tc =) = Cxc x (16.34)
| {z }
Cx
c
x
C44 x
C45
yz yz
= x x , onde (16.35)
zx C45 C55 zx
x
C44 x
C45 C44 cos2 # + C55 sen2 # (C55 C44 ) sen # cos #
Cxc = x x =
C45 C55 (C55 C44 ) sen # cos # C55 cos2 # + C44 sen2 #
8 9lk 2 3k 88 o 9 8 99
< x = Q11 Q12 Q16 << "x = < x ==
y = 4 Q21 Q22 Q26 5 "oy +z y (16.37)
: ; :: o ; : ;;
xy Q61 Q62 Q66 xy xy
lk x x k lk
yz C44 C45 yz
= x x : (16.38)
zx C45 C55 zx
Nota-se que nesse modelo, tanto as deformações generalizadas "o e , quanto as cisalhantes
transversais, x , são independentes de z. Substituindo as tensões na de…nição dos esforços, eqs.(15.13),
tem-se: 8 9 8 9lk
< Nx = X N Z zk < x =
N= Ny = y dz;
: ; : ;
Nxy k=1 zk 1 xy
8 9 8 9lk
< Mx = X N Z zk < x =
M= My = y z dz:
: ; z : ;
Mxy k=1 k 1
xy
N Z
X zk lk
Qy yz
Q= = dz; (16.39)
Qx zk 1 zx
k=1
Número de lâmina
z
N
Superfície zN
média k zk
H
x
z2
z0 z1
2
1
2 3k 2 08 o 9 8 9 1 3
N
X Q11 Q12 Q16 Z zk < "x = < x =
M= 4 Q21 Q22 Q26 5 4 @ "oy z+ y z 2 A dz 5 : (16.40)
zk 1 : o ; : ;
k=1 Q61 Q62 Q66 xy xy
N
X x x k lk Z zk
C44 C45 yz
Q= x x dz;
C45 C55 zx zk 1
k=1
8 9 2 38 o 9
>
>
>
Nx >
>
>
A11 A12 A16 B11 B12 B16 > "xo
> >
>
>
> Ny >
> 6 A21 A22 A26 B21 B22 B26 7>> "y >
>
>
< >
= 6 7>> >
>
Nxy 6 A61 A62 A66 B61 B62 B66 7 < oxy =
= 6
6
7
7> x ;
> Mx
> >
> 6 B11 B12 B16 D11 D12 D16 7> >
>
>
> >
> 4 5>> >
>
>
> My >
> B21 B22 B26 D21 D22 D26 >
> >
>
: ; : y ;
Mxy B61 B62 B66 D61 D62 D66 xy
Qy E44 E45 yz
= ; (16.41)
Qx E45 E55 zx
onde
P
N k P
N k h3k
Aij = Qij hk ; Dij = Qij hk z 2k +
k=1 k=1 12
(16.42)
PN k P
N
x;k
Bij = Qij hk z k ; Ers = kc Crs hk :
k=1 k=1
N A B "o "o
= =C ;
M B D (16.43)
Q= E
2 3
A A 0 0 0 0
6 A A 0 0 0 0 7
6 7
6 (1 )A 7
6 0 0 0 0 0 7
6 2 7 Qy G 0 yz
C=6 7 e =
6 0 0 0 D D 0 7 Qx 0 G zx
6 7
6 0 0 0 D D 0 7
4 (1 )D 5
0 0 0 0 0
2
(16.45)
onde A = EH=(1 2 ) e D = EH 3 =12(1 2 ), que são as chamadas constantes de rigidez
Z T Z T Z
"o
^ A B "o ^ yz E44 E45 yz
d + d w
^qd = 0;
^ B D ^ ^ xz E45 E55 xz
(16.47)
onde o símbolo ^ indica funções virtuais, (peso) arbitrárias. Particiona-se a superfície de referência
da placa, representada por , em elementos …nitos e . O procedimento é o mesmo das formulações
de EF tratadas nos capítulos anteriores, de forma que as integrais no domínio do laminado, ,
é particionada num somatório de integrais realizadas sobre os domínios dos elementos. A mesma
expressão acima do PTV se aplica a cada um dos elementos, embora a solução do problema em forma
local seja inviável devido ao não conhecimento de condições de contorno su…cientes. O procedimento
a seguir consiste em de…nir campos de aproximação em cada elemento, com a restrição de serem
contínuos nas interfaces dos elementos. Assim, o campo de deslocamentos é aproximados por funções
de aproximação elementares num elemento arbitrário e da forma usual
8 o 9e 8 9
>
> u (x; y) >
> >
> uno >
>
>
> >
> >
> >
>
< v o (x; y) = Nne
X < vno =
e e
w(x; y) = no (x; y) wno ; 8(x; y) 2 (16.48)
>
> >
> >
> >
>
>
> (x; y) >
> no=1 >
> >
>
: x ; : xno ;
y (x; y) h yno
onde uno , vno etc, são os deslocamentos nodais nos nós do elemento e e eno (x; y) são as funções
do elemento associadas ao nó no. Nne é o número de nós do elemento. As coordenadas (x; y)
são mapeadas nas coordenadas intrínsecas (r; s) do domínio padrão 1 (r; s) 1 no elemento,
usando funções de aproximação no (r; s). O mapeamento entre os dois domínios do elemento,
(x; y) $ (r; s), para qualquer (x; y) 2 e , é representado por
P
N ne
e P
N ne
e
x(r; s) = no (r; s) xno ; y(r; s) = no (r; s) yno (16.49)
no=1 no=1
A aproximação dos deslocamentos no elemento em (16.48) pode ser colocada em forma expandida
como
2
8 o 9e 6
>
> u >> 6 1 (r; s) 0 0 0 0 :::
>
> > 6
< vo >
= 6 0 1 (r; s) 0 0 0 :::
6
w =6 0 0 1 (r; s) 0 0 ::: :::
>
> > 6
> x >
> >
> 6 0 0 0 1 (r; s) 0 :::
: ; 6
y h
4 0 0 0 0 1 (r; s) :::
| {z } | {z }
n1 n2
38 9
> u1 >
7>> >
>
Nne (r; s) 0 0 0 0 7>> u2 >
>
7>> >
>
0 Nne (r; s) 0 0 0 7>< .. >
=
7 .
0 0 Nne (r; s) 0 0 7 (16.50)
7> uno >
0 0 0 Nne (r; s) 0 7>> >
>
7>>
>
.. >
>
>
0 0 0 0 Nne (r; s) 5 > . >
| {z } >:
uNne
>
;
Nne
T
onde uno = funo vno wno xno yno g são os deslocamentos de um nó. (16.51)
Em forma compacta,
454 Capítulo 16. MEF para materiais compostos laminados
onde a notação uo;x signi…ca @uo =@x, etc. Substituem-se as aproximações dos deslocamentos,
eq.(16.50), para obter as aproximações para as deformações na superfície de referência do elemento
“e”:
2 3
6 0 0 0 0 0 0 0 0 7
6 1;x Nne ;x 7
6 0 0 0 0 0 0 0 0 7
6 1;y Nne ;y 7
e 6 7
"o 6 1;y 1;x 0 0 0 Nne ;y Nne ;x 0 0 0 7 e
=6 7U
6 0 0 0 1;x 0 0 0 Nne ;x 7
h 6 7
6 0 0 0 0 1;y 0 0 0 0 Nne ;y 7
6 7
4 0 0 0 1;y 1;x 0 0 0 Nne ;y Nne ;x 5
| {z }| {z } | {z }
Nó 1 Nó 2 Nó Nne
(16.54)
2 3
e 6 7
yz 6 0 0 1;y 0 1 0 0 Nne ;y 0 Nne 7 e
=6 7U :
xz h 4 0 0 1;x 1 0 0 0 Nne ;x Nne 0 5
| {z }| {z } | {z }
Nó 1 Nó 2 Nó Nne
8 9
>
> u1 >
>
>
> >
>
>
> u2 >
>
>
> >
>
e e < .. =
"o yz .
= Bef (x; y)Ue e = Bec (x; y)Ue , com Ue = (16.55)
xz >
> u no >
>
h h >
> .. >
>
>
> >
>
>
> . >
>
: ;
uNne
u ^ e:
^ (x; y)eh = Ne (x; y)U (16.57)
16.3. Análise de compostos por elementos …nitos –1a ordem 455
Substituindo essas funções peso em (16.53), tem-se as deformações virtuais, dadas por
e e
"o
^ ^e byz ^e
= Bef (x; y)U e = Bec (x; y)U (16.58)
^ h
bxz h
8 9
< >
=
e
^h (x; y) = 0; 0; 1 ; 0; 0;0; 0; 2 ; 0; 0 : : : 0; 0; no ; 0; 0 : : : 0; 0; Nne ; 0; 0 U
w ^ e; (16.60)
:| {z }| {z } | {z } | {z >
};
nó 1 nó 2 nó no nó Nne
^ e.
^he (x; y) = New (x; y)U
ou, de forma compacta, w
Finalmente pode-se voltar à expressão do PTV para um elemento “e” de placa anisotrópica
laminada, eq.(16.47), que, após substituídas as aproximações das deformações, toma a forma:
2 3
6Z Z 7
6 A B 7 e
^ eT
U 6 eT
Bef d + BeT e e
d e7
6 e Bf B D e c E Bc 7U
4| {z } |
e
{z }5
Kef Kec (16.61)
Z
^ eT
U New q(x; y) d e = 0;
e
| {z }
Fe
isto é,
^ eT
U Kef + Kec Ue Fe = 0: (16.62)
Uma vez que, pelo PTV os deslocamentos virtuais são arbitrários, obtém-se Ngle equações algébricas
de equilíbrio no elemento:
Travamento
Tanto quanto no caso de placas homogêneas, o modelo de Mindlin pode levar ao fenômeno de
travamento, principalmente para elementos de baixa ordem. A estratégia tradicional de evitar o
travamento em modelos de material isotrópico-homogêneo, pela sub-integração seletiva, torna-
se difícil de ser implementado no caso de placas e cascas anisotrópicas, uma vez que não é óbvio
o processo de como integrar normalmente a energia de ‡exão, associada às curvaturas , e sub-
integrar apenas a energia de membrana, associada a "o . Isso porque as componentes de membrana
e ‡exão encontram-se acopladas pela matriz de material Ce , e a matriz de rigidez Kef não pode
ser diretamente separada em duas parcelas independentes. Um processo de sub-integração seletiva
adequado a elementos …nitos para materiais compostos laminados é o chamado método da matriz
B-barra. Uma descrição detalhada do método pode ser vista em Hughes [50] e Mendonça [72].
456 Capítulo 16. MEF para materiais compostos laminados
e
"o (x; y)
V = Bef (x; y)Ue ;
(x; y)
k (16.64)
V xlk (x; y; z) = Q (x; y) f"o (x; y)e + z (x; y)e g ;
V 1lk (x; y; z) = Tk (x; y) xlk (x; y; z):
As tensões cisalhantes transversais podem ser obtidas também pela relação constitutiva,
isto é,
e
yz (x; y)
= Bec (x; y)Ue ;
xz (x; y)
lk x x lk
yz (x; y; z) C44 C45 yz (x; y)
V = x x ; (16.65)
xz (x; y; z) C45 C55 xz (x; y)
lk lk lk
13 (x; y; z) cos # sen # yz (x; y)
V = :
23 (x; y; z) sen # cos # xz (x; y)
Entretanto, sabe-se que esses resultados são estimativas extremamente pobres para o cisal-
hamento transvesal num laminado sob ‡exão. Isso ocorre principalmente devido ao fato de que
o modelo cinemático prevê deformações cisalhantes transversais uniformes ao longo da espessura,
como pode ser visto na eq.(16.53), o que é bastante distinto da variação verdadeira. Essa dis-
tribuição uniforme de deformações não satisfaz sequer as condições de contorno de tensões nas faces
do laminado e não é satisfatória sequer para materiais homogêneo-isotrópicos. Entretanto, o mod-
elo apresenta resultados satisfatórios, dentro de certos limites, para o campo de deslocamentos e de
tensões coplanares.
Em vez desse processo, o processo mais consagrado para obter o cisalhamento transversal é pela
integração das equações diferenciais de equilíbrio, proposto por Chaudhuri [19] em 1987. Assim,
consideram-se as duas primeiras equações locais de equilíbrio (2.25), página 32, com ausência de
forças de corpo e de inércia. Nota-se que zx e zy podem ser expressos como integrais em z das
derivadas das tensões coplanares. Assim, numa lâmina genérica lk tem-se para lxzk :
Z zk
lk lk lk
xz (x; y; z) xz (x; y; zk 1 ) = ( x;x + xy;y ) dz; para zk 1 z zk : (16.66)
z=zk 1
lk lk 1
xz (x; y; zk 1 ) = xz (x; y; zk 1 ),
lk lk 1
yz (x; y; zk 1 ) = yz (x; y; zk 1 ), (16.67)
lk lk 1
z (x; y; zk 1 ) = z (x; y; zk 1 ).
Essa condição é que gera a forma de integração lâmina a lâmina mostrada na eq. (16.66), onde
o segundo termo à esquerda da igualdade é sempre conhecido, tendo sido previamente determinado,
lk 1 lk 1
uma vez que o cálculo é feito a partir da lâmina 1. Nessa lâmina, k = 1, xz (zk 1 ) e yz (zk 1 ) são
os valores na superfície inferior do laminado, em z0 , onde as condições de contorno são conhecidas,
frequentemente nulas.
As tensões coplanares obtidas pelo MEF precisam ser diferenciadas:
@ xlk (x; y; z) @ k
=Q f"o (x; y) + z (x; y)g ;
@x @x
(16.68)
@ xlk (x; y; z) = Qk @ f"o (x; y) + z (x; y)g :
@y @y
As derivadas de "o e são obtidas diferenciando Bf em (16.64)1 :
lk lk 1
xz (z) = xz (z ) + (X1 + Y3 );
| {z k 1}
Tensão no topo da lamina k 1
lk lk 1
yz (z) = yz (zk 1 ) + (X3 + Y2 ); (16.71)
| {z }
Tensão no topo da lamina k 1
30 12
τxz τxz
q 20 q 8
10 M 2x2 4
M 4x4
M 8x8
Exato
0 0
-2,50 -0,83 0,83 2 50 -2 50 -0,83 0,83 2,50
z [mm] z [mm]
Figura 16.7: Tensões cisalhantes transversais obtidas pela relação constitutiva e por integração,
para malhas uniformes de 2 2, 4 4 e 8 8 elementos Lagrangeanos de 9 nós para modelo de
Mindlin. Placa laminada quadrada. k = 0; 75:
Tabela 16.1: Deslocamento máximo e tensão normal no centro de placa laminada, e tensão cisalhante
no meio da borda x = 0, e z = 0, para diferentes malhas uniformes. H = 5 mm e k = 0,75, q = 0,1
MPa.
Malha wmax [mm] c [MPa] i [MPa]
x [MPa] xz xz
2 2 0,695499 71,42 1,57625 0,470309
4 4 0,80009 86,70 1,18827 1,09069
8 8 0,810927 86,76 0,771894 1,42751
Exato 0,819684 85,88 0,753 1,57602
Esse tipo de comparação mostra que a escolha do fator de cisalhamento é importante na mode-
lagem de elementos …nitos. Existe na literatura uma profusão de modelos e valores sugeridos para
o fator kc . A referência [72] mostra um levantamento parcial dos principais modelos. Uma di…cul-
dade inicial na determinação desse fator é que ele busca fazer a equivalência de uma dada grandeza
(tensão num certo pondo da espessura, energia de deformação, primeira frequência natural, etc),
entre o valor obtido pela relação constitutiva e um outro valor obtido fazendo alguma hipótese so-
bre o campo cinemático exato no problema. Isso mesmo nas placas homogêneo-isotrópicas. Assim,
podem-se listar:
1. Modelo de Timoshenko, adaptado de problemas de vigas, mas que gera os mesmos valores
em laminados homogêneo-ortotrópicos. O valor kc = 2=3 é obtido de forma a que a tensão
em z = 0 na placa seja corrigida para aquela obtida por uma variação quadrática da tensão
cisalhante transversal, considerada que seria a distribuição exata.
3. Modelo de Mindlin [74], que faz uma equivalência dinâmica e chega a kc = 2 =12.
4. Cowper [29], [34], faz um levantamento de diversos procedimentos para vigas de Timoshenko
de diversas formas de seção transversal.
460 Capítulo 16. MEF para materiais compostos laminados
1,3 1
H = 40 mm H = 1 mm
H = 5 mm 0,99 H = 5 mm
H = 1 mm H = 40 mm
1,2
0,98
w σx
wk = 1 σx,k = 1
0,97
1,1
0,96
1 0,95
Figura 16.8: Resultados exatos da teoria de ‡exão de Mindlin para um laminado. Deslocamento
transversal e tensão normal x no centro da placa, na coordenada (x; y; z) = (100; 100; +H=2) mm.
Valores para diferentes espessuras H e fator kc de cisalhamento.
Tabela 16.2: Valores analíticos para deslocamento máximo e tensão normal no centro de placa
laminada, em z = H/2, para diferentes malhas uniformes. q = 0,001 MPa.
H = 1 mm H = 5 mm H = 40 mm
k w x w x w x
2/3 0,987461629 21,5443317 0,00823564 0,858414 0,0000545019 0,0112445
3/4 0,9872667 21,54472401 0,00819684 0,858799 0,0000504662 0,0114065
2 =12 0,98712932 21,545000554 0,00816948 0,859072 0,0000475902 0,0115294
5/6 0,987110779 21,5450378 0,00816579 0,859109 0,0000471999 0,0115466
1 0,9868768707 21,545508712 0,00811919 0,859573 0,0000422286 0,0117764
Essa forma gera o procedimento de determinação das primeiras derivadas em relação a (x; y),
conforme a seção 8.8.6. Isso é obtido fazendo diferenciação implícita:
@r @s
;x = ;r + ;s;
@x @x
@r @s
;y = ;r + ;s : (16.75)
@y @y
Isso pode ser colocado em notação compacta como
" #
1 1 r;x s;x
rx =J rr , where J = , and (16.76)
r;y s;y
rr = Jrx . (16.77)
@ @ @ @ @ @
= J11 + J12 , = J21 + J22 , e
@r @x @y @s @x @y
@2 @J11 @ @J12 @ @2 @2
= + + J11 + J12 ;
@r2 @r @x @r @y @x@r @y@r
@2 @J21 @ @J22 @ @2 @2
= + + J21 + J22 ;
@s@r @r @x @r @y @x@r @y@r
@2 @J11 @ @J12 @ @2 @2
= + + J11 + J12 ; (16.79)
@r@s @s @x @s @y @x@s @y@s
@2 @J21 @ @J22 @ @2 @2
= + + J21 + J22 :
@s2 @s @x @s @y @x@s @y@s
Em forma compacta,
@ @J @ @ @J @
rr = rx + J rx e rr = rx + J rx . (16.80)
@r @r @r @s @s @s
Logo, o último termo pode ser calculado por
@ 1 @ @J @ 1 @ @J
rx =J rr rx e rx =J rr rx ; (16.81)
@r @r @r @s @s @s
após o cálculo dos gradientes rx e rx . As derivadas da matriz Jacobiana são obtidas do ma-
peamento:
462 Capítulo 16. MEF para materiais compostos laminados
2 3 2 3
@2x @2y @2x @2y
6
@J 6 @r2 @r2 7 6
@J 6 @r@s @r@s 7
=4 7 e =4 2 7: (16.82)
@r @2x @2y 5 @s @ x @2y 5
@r@s @r@s @s2 @s2
Nota-se que os termos calculados em (16.81) são f ;xr ; ;yr g e f ;xs ; ;ys g, respectivamente. Por
outro lado, de (16.77), a relação entre os gradientes de uma função continua qualquer é dada por
rr = Jrx . Então,
@ @ @ @
rr = Jrx e rr = Jrx ; (16.83)
@x @x @y @y
cuja inversa produz as segundas derivadas que buscamos:
@ 1 @ @ 1 @
rx =J rr e rx =J rr : (16.84)
@x @x @y @y
Os termos calculados à esquerda são f ;xx ; ;xy g e f ;xy ; ;yy g, respectivamente. O procedimento
geral de cálculo para as segundas derivadas das funções de forma é sumarizado por
Essa determinação é feita para cada termo do vetor de funções nodais = f 1 ; 2 ; :::; Nne g do
elemento. De posse desses valores num determinado ponto da superfície de referência do laminado,
as derivadas da matriz de deformação Bf são computadas, conforme (16.54), e usando (16.68) e
(16.69), as derivadas das tensões coplanares numa cota através da espessura podem ser calculadas.
Z ( T
)
N "o
^ T
+Q ^ d
M ^
Z Z n o (16.86)
+ qw ^d + Fx u ^ + Fmxbx + Fmy ^y d = 0
^ + Fy v^ + Fz w
| {z }
I
Fx , Fy , Fz , Fmx e Fmy são as forças de origem inercial de…nidas por: (ver uma dedução detalhada
em Mendonça [72])
16.4. Frequências naturais e carregamentos dinâmicos 463
d2 uo d2 x d2 uo d2 x
Fx (x; y; t) = o + 1 ; Fmx (x; y; t) = 1 + 2 ;
dt2 dt2 dt2 dt2
d2 v o d2 y d2 v o d2 y
Fy (x; y; t) = o 2 + 1 ; Fmy (x; y; t) = 1 2 + 2 ; (16.87)
dt dt2 dt dt2
d2 w
Fz (x; y; t) = o 2 ;
dt
onde o (x; y), 1 (x; y) e 2 (x; y) são densidades generalizadas: o (x; y) é a massa por unidade de
área da superfície de referência do laminado, e 1 e 2 são o primeiro e o segundo momentos de
massa, de…nidos por
Z H=2
f o (x; y); k 1; z; z 2 dz
1 (x; y); 2 (x; y)g = (16.88)
H=2
Observe que no caso de uma placa homogênea, o (x; y) = k H, 1 (x; y) = 0 e 2 (x; y) = k H 3 =12.
A equação (16.86) é a equação da forma fraca, ou do princípio dos trabalhos virtuais
associado ao problema de placas laminadas num modelo de primeira ordem (modelo de Mindlin),
incorporando os efeitos de inércia. A primeira e a segunda integrais correspondem ao trabalho
virtual das forças internas e externas, respectivamente, e são os termos utilizados na análise estática,
e geram as matrizes de rigidez e o vetor força, como visto na seção 16.3. A única parcela diferente
agora é a terceira integral, associados às forças de inércia, que denominamos integral I: Essa integral
pode ser organizada na forma:
Z h i
I= o uo u
(b •o + vbo v•o + w
^o w
•o ) + 1 box • + vbyo • + b x u
u •o + by v•o + 2
bx •x + b
y •y d :
(16.89)
onde a notação • indica @ 2 =@t2 . Em forma matricial tem-se
8 o 9T 2 38 9
>
> ub (x; y) >
> o (x; y) 0 0 1 (x; y) 0 >
> u•o (x; y; t) >
>
>
> >
> 6 7>> >
Z >
o
< vb (x; y)
> >
>
= 6 0 o (x; y) 0 0 >
1 (x; y) 7 > v•o (x; y; t) >
>
>
6 7< =
I= w(x;
^ y) 6 0 0 o (x; y) 0 0 7 w(x;
• y; t) d ;
> > 6 7> >
>
> b > 6
> 7> >
>
> x (x; y) >
> 4 1 (x; y) 0 0 2 (x; y) 0 5>>
>
•x (x; y; t) >
>
>
>
: b >
; >
: >
;
y (x; y) 0 1 (x; y) 0 0 2 (x; y) •y (x; y; t)
(16.90)
e em forma compacta,
Z
I= bT m u
u •d : (16.91)
•
MU(t) + KU(t) = F(t) (16.95)
K !2M U = 0 (16.97)
Esse problema, por sua vez, é resolvido usando técnicas numéricas adequadas, como aquelas descritas
no Capítulo 23.
16.5 Exercícios
16.1 Programe a entrada dos dados necessários e o processamento da matriz de rigidez de um
material ortotrópico num elemento de elasticidade plana, com uma única lâmina.
16.2 Programe o pós-processamento de tensões nos elementos de placa laminada sob ‡exão, para a
determinação das tensões cisalhantes transversais via integração das equações diferenciais de
equilíbrio. Use como dados o vetor de deslocamentos nodais de um elemento …nito quadrático
de 9 nós, as coordenadas nodais e as propriedades de material de cada lâmina. Determine
as tensões cisalhantes nas superfícies inferior, média e superior de cada lâmina nos pontos de
integração e nos nós do elemento.
Capítulo 17
O estudo que relaciona as forças que atuam sobre um corpo com o movimento, tanto do corpo
como um todo quanto de suas partes relativamente umas às outras, é denominado dinâmica. As
equações que representam este movimento em velocidades não relativísticas são as leis do movi-
mento de Newton. Um tipo particular de comportamento dinâmico é o “movimento vibratório”ou
simplesmente a “vibração”, onde o sistema oscila em torno de uma certa posição de equilíbrio ou
de um trajeto de movimento de frequência inferior.
O presente capítulo faz um levantamento dos principais resultados clássicos do estudo de vi-
brações em sistemas de um grau de liberdade. Caso o leitor já possua segurança nesse tipo de
conteúdo pode passar para o capítulo seguinte. Entretanto, deve-se ter claro que o tratamento
de problemas de multigraus de liberdade utiliza, em maior ou menor grau, a nomenclatura, o
equacionamento, os conceitos e a compreensão física proporcionadas pelo modelo de um grau de
liberdade.
u(t) u(t)
uf uf
to t to t
(a) (b)
Figura 17.1: Exemplo de aplicação sem efeitos dinâmicos apreciáveis em (a), solicitações tipicamente
com to > 3Tmax , e com resposta dinâmica em (b), para intervalos to < Tmax , onde Tmax = 2 =! 1 .
Considere o caso em que normalmente se considera como estático, onde o carregamento não varia
com o tempo. Devemos lembrar que certamente houve um período inicial onde a carga teve que ser
aplicada, quando ela variou de zero até seu valor …nal. Quando este período é su…cientemente longo,
as acelerações desenvolvidas pela estrutura são baixas o su…ciente para poder serem desprezadas e a
análise pode ser feita como estática, sem o primeiro termo de (18.23). Ali a força e o deslocamento
são agora constantes no tempo, constituindo-se no problema estático de obter o deslocamento …nal
uf a partir de Ku = F: Isto corresponderá, por exemplo, a soltar uma carga sobre a carroceria
de um caminhão com in…nito cuidado. A carroceria baixaria suave e lentamente até atingir sua
posição …nal, como na Figura 17.1a. Na situação oposta a carga seria simplesmente jogada. A
carroceria então oscilaria várias vezes sobre a suspensão. Devido ao amortecimento, essas oscilações
gradualmente se reduziriam enquanto o sistema tenderia à sua posição …nal de repouso como na
Figura 17.1b.
466 Capítulo 17. Vibrações em sistemas de 1 grau de liberdade
Ku = F Ku(t) = F(t)
Jacobi Métodos:
Explícito
QR
Newmark
Lanczos ...
Figura 17.2: Classi…cação aproximada do comportamento dinâmico linear, tipos de análises e méto-
dos de cálculo em dinâmica linear.
Nota-se então que a classi…cação de um problema como estático ou dinâmicos nem sempre
é simples e direta. Mesmo que o carregamento varie com o tempo não necessariamente se tem
um problema dinâmico. Por exemplo, considere um carregamento cíclico com baixa freqüência.
Novamente, se a frequência de carregamento for baixa, as acelerações, que também são cíclicas,
serão baixas. Isto pode ser visto de (17.58). Então as acelerações do sistema podem ser desprezadas
nas equações do movimento (2.25) (página 32), resultando num sistema algébrico dado por Ku(t) =
F(t). Este é o chamado problema quasi-estático porque, embora não tenha o termo de inércia,
a resposta varia com o tempo como se fosse um problema dinâmico. Para classi…car um problema
como quasi-estático ou não basta saber se a frequência de excitação é baixa o su…ciente. Este
“pequeno” é geralmente quanti…cado de forma um tanto arbitrária. Se a frequência de excitação
for menor que aproximadamente um terço da menor frequência natural do sistema, isto é,
!1 2 2
!. ! período natural é T1 = e período de excitação é Tex = . (17.1)
3 !1 !
Logo, Tex 3T1 . Considera-se que então o problema pode ser tratado como quase-estático com
precisão aceitável.
A outra situação é quando as frequências de carregamento são altas e as forças de inércia devem
ser consideradas, o que constitui o problema da dinâmica. Dois grandes tipos de problemas existem,
17.1. Equação do movimento em grau de liberdade 467
x(t)
k Fk(t)
m m
F(t) F(t)
c Fd (t)
(a) (b)
Figura 17.3: (a) Sistema idealizado k-c-m exitado, (b) diagrama de corpo livre.
δk
k c
δd
k c
Fk = kδk Fd = cδd
(a) (b)
Figura 17.4: (a) Força numa mola proporcional ao deslocamento; (b) força num amortecedor pro-
porcional à velocidade.
Observando o diagrama de corpo livre na …gura e usando a segunda Lei de Newton, obtemos a
equação de movimento do sistema como:
mx
•(t) + c x(t)
_ + k x(t) = F (t): (17.3)
Esta é uma equação diferencial linear, ordinária de coe…cientes constantes m, c e k, que de…nem
as características do sistema físico sendo simulado. O carregamento aplicado sobre o sistema é
representado pela força F (t), função do tempo t.
k
•(t) + ! 2 x(t) = 0;
x !2 = : (17.4)
m
Com as condições iniciais
x(0) = uo e x(0)
_ = vo : (17.5)
Esse é um problema de valor inicial, PVI, cuja solução pode ser apresentada em diversos formatos
que são usados conforme a conveniência de cada situação. A seguir revemos as formas mais usuais
que a solução toma.
Forma 1 de solução
vo
x(t) = uo cos !t + sen !t (17.7)
!
Forma 2 de solução
Anotamos aqui algumas relações trigonométricas que serão úteis ao longo das deduções:1
Usando a primeira delas, a solução (17.6) também pode ser posta como: (fazer A1 = A cos e
A2 = Asen )
A1 A2 A2
A= = ; tan = (17.10)
cos sen A1
As novas constantes A e tem signi…cado físico mais evidentes que A1 e A2 : são a amplitude
e ângulo de fase do movimento. O sistema realiza uma oscilação harmônica simples com
frequência natural !, isto é, a massa move-se para frente e para trás sempre com a mesma
amplitude A e com frequência de !=2 ciclos por segundo [Hz]. O tempo gasto em cada ciclo, o
período, é T = 2 =! segundos. No instante inicial, t = 0, a eq. (17.9) dá o deslocamento e a
velocidade inicial
x(t = 0) = A cos = uo ;
x(t
_ = 0) = A! sin = vo : (17.11)
Exprimindo sen = vo =A! e cos = uo =A, e usando sen2 + cos2 = 1, obtém-se a amplitude e a
fase:
r
vo 2 vo
A= u2o + , tan = (17.12)
! uo !
1
Essas relações são facilmente deduzidas usando números complexos, como visto no Exercício 10 da lista.
470 Capítulo 17. Vibrações em sistemas de 1 grau de liberdade
Forma 3 de solução
Além das formas (17.7) e (17.9) uma terceira forma para a solução do problema (17.4), é
s2 + ! 2 = 0: (17.15)
Esta equação tem duas soluções, dadas por
s= i!; (17.16)
p
onde i é a unidade complexa, i = 1. A solução da equação do movimento é então uma combinação
linear das duas formas resultantes da substituição das duas raízes (17.16) em (17.13):
x(0) = A1 + A2 = uo ;
x(0)
_ = i! (A1 A2 ) = vo :
1 ivo 1 ivo
A1 = uo + , A2 = uo (17.18)
2 ! 2 !
x _ + ! 2 x(t) = 0
•(t) + 2 ! x(t) (17.19)
onde
c
=
: (17.20)
2m!
é o chamado quociente de amortecimento viscoso. tem signi…cado físico de…nido e será visto
na seção 19.6. A solução do problema é aquela mostrada na eq. (17.13). Substituindo a solução
x(t) = A est em (17.19) obtemos a equação característica
s2 + 2 !s + ! 2 = 0: (17.21)
Dois valores de s satisfazem a esta equação:
17.3. Vibração livre de sistema amortecido 471
q
s1 2
= 1 !: (17.22)
s2
Cada raiz produz uma solução. Da teoria de equações diferenciais lineares, temos que a solução do
problema é uma combinação linear de soluções independentes. Caso as raízes sejam distintas e
reais, a solução é:
h p 2
p 2
i
x(t) = A1 e!t 1 + A2 e !t 1 e !t (17.23)
2A1 vo + !uo
= uo p (17.24)
2A2 ! 2
1
A Figura 17.5 mostra respostas para dois casos, com deslocamento inicial nulo e velocidade
inicial nula. (A curva com vo tem, de fato, derivada nula na origem, apesar de não ser bem visível
no grá…co.) Como se observa da equação da solução, (17.23), a solução não é oscilatória, mas decai
monotonicamente. Após um certo período de tempo, o deslocamento é praticamente nulo. Isso
explica o motivo de se referir a essa solução como resposta transiente. Uma vez que a única
excitação ocorre no instante inicial, a dissipação faz com que os efeitos desapareçam com o tempo.
0,2
uo = 0,2, vo = 0
0,16
0,12
x(t)
0,08
0,04
uo = 0, vo = 2,0
0
0 0,4 0,8 1,2 1,6
t [s]
Figura 17.5: Exemplo de solução transiente amortecimento > 1. (Usados os valores ! = 5 rad/s,
= 1; 2, uo = 0; 2 mm, vo = 2; 0 mm.)
!t
x(t) = [A1 + A2 t] e (17.25)
Se as condições iniciais forem x(0) = uo e x(0)
_ = vo , com amortecimento = 1, as constantes …cam:
A1 = u o , A2 = vo + uo !
o que gera a solução
prescrita. O comportamento da resposta é não oscilatório, da mesma forma que para > 1 mostrado
na Figura 17.5.
0,2
u0 = 0,2, v0 = 0
0,16
0,12
x(t)
u0 = 0, v0 = 2,0
0,08
0,04
0
0 0,4 0,8 1,2 1,6
t [s]
2a forma: x(t)e !t
= (A1 + A2 ) cos ! d t + i(A1 A2 )sen ! d t (17.29)
| {z } | {z }
A cos A sen
1
(x1 + x2 ) = e !t cos ! d t;
2
1
(x1 x2 ) = e !t sen ! d t:
2i
x1 e x2 são soluções independentes. Os lados direitos da equação acima também são independentes,
além de reais. O teorema fundamental de equações diferenciais lineares mostra que se duas funções
independentes são solução da equação diferencial homogênea, então uma combinação linear delas
também é solução. Então, a solução de (17.21), com amortecimento < 1, pode ser posta na forma
real:
0,40
0,20
e- t
x(t)
0,00
-0,20
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
t
Figura 17.7: Ilustração de solução transiente amortecida com velocidade inicial prescrito. (Usados
os valores ! = 5 rad/s, = 0; 2, vo = 2 mm/s, ! d = 4; 899:)
vo p
!t sen ! 2
x(t) = e d t; !d = ! 1 (17.32)
!d
Esta é então a resposta do sistema à velocidade inicial vo , denominada solução transiente do
sistema. O termo “transiente” refere-se ao fato de que ela consiste em uma função periódica, o
seno, que por si tem amplitude constante igual a 1 para todo t > 0. Porém o amortecimento no
termo exponencial faz com que o fator multiplicando seno decresça ao longo do tempo. Desta forma
as oscilações vão diminuindo de amplitude como ilustrado na Figura 17.7.
474 Capítulo 17. Vibrações em sistemas de 1 grau de liberdade
x(0)
_ = vo = A ! cos + A! d sen = 0;
(17.33)
x(0) = uo = A cos :
Este é um sistema de duas equações e duas incógnitas, A e , cuja solução é
! uo
tan = e A= : (17.34)
!d cos
p
2
Tomando ! d = ! 1 de (17.32), temos
tan =p : (17.35)
2
1
A expressão da amplitude em (17.34) aparece em função do ângulo de fase . Existe uma dedução
clássica na literatura para representar A apenas em termos de valores previamente conhecidos, que
denominamos dedução 1. Em seguida apresentamos uma dedução 2, mais clara para o problema.
Em ambos os casos, é provado que
q
2
cos = 1 , (17.36)
de forma que, de (17.34), tem-se
uo
A= p (17.37)
2
1
Então a solução do problema de vibração livre amortecida com x(0) = uo e x(0)
_ = 0 é obtida
levando (17.35) e (17.37) à solução (17.30):
uo !t cos (!
x(t) = p e dt ) (17.38)
2
1
A Figura 17.8 ilustra essa resposta.
Dedução 1 - O ponto de partida é considerar que existe um triângulo retângulo como na Figura
17.9. A existência desse triângulo, entretanto, só …ca clara na dedução 2 mostrada a seguir. De
qualquer forma, trigonometricamente tem-se a relação (17.36), e a partir daí se obtém a amplitude
como em (17.37).
Dedução 2 - Somam-se os quadrados das duas equações (17.33) na forma:
2
! uo 2
sen2 = cos2 e cos2 = :
!d A
Eliminando cos2 na primeira equação com (17.34) e simpli…cando tem-se
" #
2
! uo 2
1= +1 .
!d A
Usando a de…nição de ! d e simpli…cando chega-se a (17.37).
6 00
4,00 −ζωt
e
2,00
x(t)
0,00
2π 4π
ωd ωd
-2,00
-4,00
Figura 17.8: Ilustração de solução transiente amortecida com deslocamento inicial prescrito. (Usados
os valores ! = 5 rad/s, = 0; 2, uo = 5 mm, ! d = 4; 899, A = 5; 1, = 0; 201:)
8
< x _ + ! 2 x(t) = 0;
•(t) + 2 ! x(t)
x(0) = uo ; (17.39)
:
x(0)
_ = vo :
Uma vez que o problema é linear podemos simplesmente sobrepor a solução (17.32) obtida para
x(0) = 0 e x(0)
_ = vo , com a solução (17.38) obtida para x(0) = uo e x(0)
_ = 0. Então a solução
completa é
" #
uo vo !t
x(t) = p cos (! d t )+ sen ! d t e (17.40)
1 2 !d
onde ! d e são de…nidos em (17.32) e (17.35). Esta solução pode ainda ser posta nas formas
alternativas:
vo + uo ! !t ;
x(t) = sen ! d t + uo cos ! d t e ou ainda
s !d (17.41)
2
vo + uo ! !t , vo + uo !
x(t) = + u2o cos (! d t )e com tan =
!d ! d uo
Essas soluções são obtidas partindo das 4a e 3a formas de solução, respectivamente, isto é, as eqs.
(17.31) e (17.30). Para obter (17.41)2 , é necessário usar o procedimento mostrado na dedução 2
acima.
476 Capítulo 17. Vibrações em sistemas de 1 grau de liberdade
A
x _ + ! 2 x(t) =
•(t) + 2 ! x(t) cos t: (17.43)
m
A solução particular deste problema tem a seguinte forma
A
X !2 2
cos ( t ) 2 ! sen ( t
cos t: (17.45)) =
m
Usando em seguida as relações trigonométricas (17.8), podem-se igualar os coe…cientes de cos t
de ambos os lados da igualdade e fazer o mesmo com os coe…cientes de sen t, o que gera duas
equações:
( A
X[(! 2 2 ) cos +2 ! sen ] = ;
m
X[(! 2 2 ) sen 2 ! cos ] = 0:
Estas equações podem ser resolvidas para as incógnitas do problema, X e (fazer o quadrado de
ambas as equações e somar e usar ! 2 = k=m)
2 !2 3 1=2
2 2
A 2 2 =!
X= 4 1 + 5 e tan = 2 (17.46)
k ! !
1
!
Levando (17.46) a (17.44) temos que o sistema responde com a mesma frequência do carregamento,
com amplitude X proporcional à amplitude A do carregamento.
Observa-se que a máxima amplitude da resposta amortecida não ocorre nem na frequência
não amortecida ! e nem na frequência amortecida ! d . Isso pode ser demonstrado tomando a
amplitude da resposta em (17.46) e derivando-a em relação à frequência de excitação e anulando
o resultado. Com isso tem-se
2 2 2
2 + !2 2 1
" #3=2 = 0.
4 2
+ !4 + 2 2!2 2 1
!5
!4
Do numerador se obtém o valor am da frequência de pico de excitação que gera a amplitude
17.4. Carregamento harmônico 477
= 0,0
3
= 0,2
X/A
2 = 0,3
= 0,5
1
= 1,0
= 1,3
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
/
Figura 17.10: X=A versus =! para varios valores de amortecimento , conforme eq.(17.48), para
k = 1.
máxima na resposta:
p
2
am =! 1 2 (17.47)
p
2
Essa frequência é diferente da frequência natural amortecida ! d = ! 1 . am encontra-se
no intervalo am < ! d < ! para < 1. Para pequenos amortecimentos são bastante próximas. Por
exemplo, = 0; 01, essas frequências são ! d = 0; 99995 ! e am = 0; 99990 !. Já para = 0; 10,
tem-se ! d = 0; 9950 ! e am = 0; 98995 !.
De (17.46) obtém-se uma relação importante, entre a amplitude da resposta em relação à am-
plitude da solicitação
2 !2 3 1=2
2 2
X 2
R =4 1 + 5 (17.48)
A=k ! !
Essa relação é conhecida como fator dinâmico de magni…cação. Nota-se que A=k é desloca-
mento obtido elasticamente numa situação estática, o fator R quanti…ca o efeito da inércia e do
amortecimento na amplitude do movimento.
O comportamento dessa relação é visualizado na Figura 17.10. Para a situação estática, X=A =
1. No caso de ausência de amortecimento, a amplitude da resposta tende ao in…nito se a frequência
de excitaçãop coincide com a frequência natural !. A resposta máxima ocorre na frequência de pico
am = ! 1 2 2 para 1. Nessa faixa de amortecimento, o máximo de R decresce com o
aumento do amortecimento, e esse máximo ocorre em frequências cada vez menores até que, para
> 1, o máximo passa a ocorrer sempre na frequência =! = 0. De (17.48) veri…ca-se que a
amplitude de resposta tende a zero conforme a frequência de excitação cresce, qualquer que seja o
amortecimento. Fisicamente, pode-se entender que não há tempo su…ciente para a massa se mover
antes que a força reverta o sentido.
Figura 17.11 mostra a variação do ângulo de fase versus =! para diversos valores de amortec-
imento , conforme a eq. (17.46)2 . Observa-se que para = 0, o ângulo de fase da resposta é zero,
isto é, a resposta transiente é em fase com a excitação. Conforme o amortecimento cresce, a evolução
de depende de que a frequência de excitação esteja abaixo ou acima da frequência natural. Caso
=! < 0, um crescimento de leva ao crescimento do ângulo de fase em direção a + =2. Ao
contrário, se =! > 0, um crescimento de leva ao decrescimento de em direção a =2.
478 Capítulo 17. Vibrações em sistemas de 1 grau de liberdade
3,14
= 0,2
= 0,5
= 1,0
2,355
= 1,6
1,57
= 1,6
0,785 = 1,0
= 0,5
= 0,2
0
Figura 17.11: Ângulo de fase versus !=! para varios valores de amortecimento .
2 !2 3 1=2
2 2
A 2
x(t) = [C1 cos ! d t + C2 sen ! d t] e !t + 4 1 + 5 cos ( t ) (17.49)
| {z } k ! !
sol. homogênea | {z }
sol. particular
A
C1 = uo cos ;
kh
A
C2 ! d = vo + ( !)uo ( sen + ! cos ) ; (17.50)
kh
2 2
onde h = [(1 ) + (2 )2 ]1=2 .
2 2 2 2
Considerando um triângulo retângulo com catetos 2 e 1 , a hipotenusa é h = [(1 ) +
(2 )2 ]1=2 , e obtém-se as relações
2
cos = (1 )=h;
(17.51)
sen = (2 )=h;
e a tan resulta na eq. (17.46)2 . Com essas relações, (17.50) …ca
A h i 1
2 2
C1 = uo (1 2
) 1 + (2 )2 ,
k h i (17.52)
A 2 2
1
C2 ! d = vo + ( !)uo ! 1 2
+2 1 + (2 )2
k
A cos t
x(t) = C1 cos !t + C2 sen !t +
| {z } k(1 2
)
sol. homogênea | {z }
sol. particular
2
Aplicando as condições iniciais x(0) = uo e x(0)
_ = vo , obtém-se C2 = vo =! e C1 = uo A=(1 )k,
e a solução …ca
A vo A cos t
x(t) = uo 2 cos !t + sen !t + 2 (17.53)
k(1 ) ! k(1 )
F (t) = B ei t
: (17.54)
onde B pode ser real ou complexo. Se consideramos B complexo, ele pode ser representado por
B = bei : (17.55)
Considerando a forma polar do número complexo, tem-se B = b [cos + i sen ]. Note que no
instante t = 0; o carregamento físico é igual à parte real b cos ou à parte imaginária b sen .
é o ângulo de fase do carregamento. Note que a solução da seção 17.4.1 foi desenvolvida para
ângulo de fase nulo no carregamento.
1
0,6
Re[F(t)]
0,2 Im[F(t)]
-0,2
-0,6
-1
Figura 17.12: Partes real e imaginária de F (t) em (17.56), com b = 2 N, ! = 5 rad/s, = =4.
F (t) = bei( t+ )
, ou
= b [cos ( t + ) + i sen ( t + )] , ou (17.56)
= B cos t + iB sen t:
A solução do problema sob este carregamento será obtida, no domínio complexo, com o con-
hecimento prévio de que o carregamento …sicamente aplicado consiste ou na parte real de F (t),
Re(F (t)) = b cos ( t + ), ou na sua parte imaginária, Im(F (t)) = b sen ( t + ). A Figura 17.12
480 Capítulo 17. Vibrações em sistemas de 1 grau de liberdade
ilustra essas duas funções de carregamento. Da solução complexa tomaremos também a parte real
ou imaginária como representação física do movimento efetivamente realizado.
B i t
x _ + ! 2 x(t) =
•(t) + 2 ! x(t) e : (17.57)
m
Toma-se a solução e suas derivadas na forma geral:
x(t) = X ei t ;
x(t)
_ = i X ei t = i x(t); (17.58)
x
•(t) = 2 X ei t = 2 x(t);
B=m B=k
X= = 2 (17.59)
!2 2 + i2 ! 1 + i2
2
O denominador à direita da segunda igualdade, d 1 + i2 , pode ser colocado na forma
h i1=2
2 2
1 2
+ i2 = 1 + (2 )2 ei , (17.60)
2 =!
onde tan = 2 (17.61)
1
Observa-se que d é um número complexo, que pode ser representado na forma d = R + iI, ou
d = Aei , onde é o ângulo associado ao triângulo retângulo de catetos R e I, e hipotenusa igual
ao módulo A.
Substituindo (17.60) no denominador de (17.59) e substituindo B = bei , tem-se
(b=k)ei( )
X=h i1=2 : (17.62)
2 2
1 + (2 )2
b ei( t + )
x(t) = i1=2 : (17.63)
kh 2 2
1 + (2 )2
b cos( t + )
x(t) = (17.65)
kh 2 2
i1=2
1 + (2 )2
Nota-se que para carregamento com angulo de fase nulo, , essa expressão reverte-se às eqs. (17.44)
e (17.46).
métodos baseados na transformada de Fourier, mas nos concentraremos aqui no método baseado na
integral de convolução, também chamada em dinâmica, integral de Duhamel.
F(t)
F(τ)
τ ∆τ t t
ga(t)
1
ε
a ε t
É visível que
Z 1
I= ga (y) dy = 1; 8 2 R: (17.67)
1
Uma vez que a integral será sempre unitária para qualquer valor de pode-se de…nir uma pseudo-
função denominada “função” Delta de Dirac (t a) como
(t a) = 0 8t 6= a (17.69)
e é inde…nida em t = a. Sua integral é tal que
Z 1
(t a) dt = 1: (17.70)
1
482 Capítulo 17. Vibrações em sistemas de 1 grau de liberdade
Esta “função”é melhor compreendida como um operador com a seguinte propriedade, decorrente
de (17.70):
R1
J= 1 G(t) (t a) dt = G(a) (17.71)
isto é, (t a) é tal que, quando multiplicado por qualquer função, a integral do resultado é igual
ao valor desta função no ponto a. Esta característica pode ser entendida com a ajuda da Figura
17.15. Note que o resultado do produto G(t) g(t a) é não nulo apenas no intervalo [a; a + ].
Então, para t 2 [a; a + ],
Z a+ Z a+
1 1
J = lim G(t) ga (t) dt = lim G(t) dt = lim G(t) :
!0 a !0 a !0
No limite, t tende a a, o que resulta em (17.71). Lembramos que as operações acima são apenas
formais, e que resta provar algumas delas, como a passagem do limite para fora da integral. A
relação (17.71) se constitui na principal utilidade da função Delta de Dirac.
G(t)
G(t)
1
ε
G(a)
a ε t
Consideremos agora um outro conceito, o impulso de uma força, que é de…nido como
Z 1
I= F (t) dt: (17.72)
t=0
Se consideramos a segunda lei de Newton para uma partícula, sendo F (t) a força resultante aplicada
sobre a partícula, tem-se que F é igual à variação da quantidade de movimento, isto é, F = m v. _
Se a força é aplicada durante um intervalo de tempo T , o impulso é de…nido por
Z 1 Z T
I= F (t) dt = m v_ dt = m[v(T ) v(0)]:
t=0 t=0
Então o impulso tem a signi…cação da variação da quantidade de movimento imposta à massa
durante o tempo de aplicação da força.
No momento nos interessa uma força de curta duração, uma força impulsiva como a função ga
ilustrada na Figura 17.14 quando ! 0. Apesar da duração da força tender a zero, desejamos que
seu impulso, isto é, sua integral no tempo, seja …nita, igual a um valor dado, Fb:A força impulsiva
aplicada no instante a, de impulso Fb, é representada:
F (t) = Fb (t a) : (17.73)
R1
É visível que, substituindo esta equação em (17.72) temos I = b (t a) dt = Fb se a
t=0 F 0. O
impulso Fb tem unidade [Ns].
17.5. Resposta a carregamentos não periódicos 483
A resposta impulsiva h(t) é de…nida como a resposta do sistema a uma força impulsiva unitária
aplicada no instante inicial t = 0, isto é, F (t) = Fb (t), com Fb = 1 Ns, sob condições iniciais nulas,
isto é, a resposta à força impulsiva F (t) = Fb (t), é a solução do PVI (eq. (17.3)):
mx _ + kx(t) = Fb (t);
•(t) + cx(t) t > 0;
x(0) = 0; (17.74)
x(0)
_ = 0:
lim mx
• dt = lim (m x)j
_ 0 = lim m (x_ ( ) _ + );
x_ (0)) = m x(0
!0Z0 !0 !0
(17.75)
lim m x_ dt = lim (m x)j0 = lim m (x ( ) x (0)) = 0;
!0Z0 !0 !0
lim m x dt = 0:
!0 0
Aqui, x_ (0+ ) é a velocidade logo após o instante inicial. Note que em t = 0 a velocidade é nula, mas
é possível aplicar uma variação de velocidade em um intervalo 4t bastante curto. Por outro lado,
não é possível aplicar uma variação de posição num intervalo de tempo in…nitesimalmente curto
(implicaria aceleração desenvolvida e a força necessária in…nitas). Assim, não apenas x (0) = 0; mas
também x (0+ ) = 0:
O resultado da integração de (17.74)1 é
Fb
x_ 0+ = : (17.76)
m
Isto mostra que a aplicação de uma força impulsiva Fb produz uma mudança instantânea de veloci-
dade. Também se pode visualizar esse resultado como Fb = mx_ (0+ ). Considerando que a velocidade
inicial é zero, isso signi…ca a mudança na quantidade de movimento na massa no instante inicial.
Isto é interessante porque estamos interessados em obter a resposta do sistema a Fb. Mas, devido
a (17.76), podemos usar a solução que já dispomos para a resposta do sistema a uma velocidade
inicial. Usamos então a eq. (17.40) com vo = Fb=m e uo = 0:
Fb !t 2 1=2
x (t) = e sen ! d t; onde !d = ! 1 , para t > 0: (17.77)
m! d
1 !t sen !
h(t) = e d t; t > 0;
m! d (17.78)
h(t) = 0; t 0:
Observando a Figura 17.13 vemos que conseguimos a solução no instante t devido a um impulso
F (0)4 aplicado no instante inicial = 0. Esta solução é
F( ) !(t )
4x(t) = F ( ) 4 h (t )= e sen ! d (t )4 : (17.80)
m! d
Mas, observe que no instante t; o valor do deslocamento não é apenas devido a este intervalo de
carregamento aplicado entre e + 4 : Existe também as outras parcelas devidas aos impulsos de
duração 4 aplicados desde o instante 0 até t que compõem a curva F (t): Então a resposta total
em t é
X
x(t) = F ( ) h (t )4 : (17.81)
Fazendo 4 ! 0 o somatório tende à integral e se tem
Z t
x(t) = F ( ) h (t )d : (17.82)
=0
Esta integral aparece em diversas áreas das ciências físicas e é logicamente objeto de estudo matemático
em busca de suas propriedades. É a chamada integral de convolução. Uma das propriedades
mais úteis desta integral, que apresentamos sem demonstração, [60] é que (ver Exercício 17)
Z t Z t
F ( ) h (t )d = F (t ) h( ) d (17.83)
=0 =0
" # Z t
uo vo !t 1 !(t ) sen !
x(t) = p cos (! d t )+ sen ! d t e + F ( )e d (t )d ;
1 2 !d m! d 0
p k
2
!d = ! 1 ; !2 = ; tan =p :
m 1 2
(17.87)
25
20
15
F(t)
10
0
0 2 4 6
t
Figura 17.16: Carregamento exponencial do Exemplo 1 dado pela eq.(17.88). Valores usados:
! d = 4; 9, ! d = 5; 0, = 0; 2.
Z t
1 !(t )
x(t) = F( )e sen ! d (t )d
m! d =0
Z t
!t
= !d e sen ! d (t )d :
=0
!t
x(t) = e [1 cos ! d t] para t > 0: (17.89)
A Figura 17.17 ilustra a curva de resposta ao longo do tempo. É interessante notar que o movimento
da massa não é oscilante em torno do ponto de equilíbrio x = 0, mas sofre um movimento oscilante
onde a posição mínima é x = 0: A massa atinge esta posição periodicamente com período t =
2n =! d .
486 Capítulo 17. Vibrações em sistemas de 1 grau de liberdade
1,2
1,0
0,8
x(t)
0,6
0,4
0,2
0,0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
t
Figura 17.17: Resposta do sistema do Exemplo 1, sob o carregamento exponencial da eq. (17.88).
(Usados os valores: m = 1 kg, = 0; 2, ! = 5 s 1 , ! d = 4; 9 s 1 .)
1. Sua linearidade, que permite a soma de soluções previamente obtidas com carregamentos mais
simples, e
Consideremos o caso em que o carregamento seja dado como uma combinação de dois outros
carregamentos, na forma
F ( ) = a F1 ( ) + b F2 ( ); (17.90)
como por exemplo as funções ilustradas nas Figuras 17.18a e b, onde F1 (t) = sen !t e F2 (t) = 0
para t < t1 e F1 (t) = sen !t e F2 (t) = sen !(t t1 ) para t t1 . Podemos de…nir uma função F (t)
como F (t) = F1 (t) F2 (t) como ilustrado na Figura 17.18c. Da integral de convolução temos para
a eq. (17.90):
Z t Z t
!(t ) !(t )
F( )e sen ! d (t )d = a F1 ( ) e sen ! d (t )d +
=0 =0
Z t
!(t )
b F2 ( ) e sen ! d (t )d : (17.91)
=0
Suponha que se tenha conseguido obter a solução para um carregamento F1 (t) como mostrado
na Figura 17.18a. Se transladarmos F1 (t) em t1 e de…nirmos assim a função F2 (t), (F2 (t) = F1 (t t),
para t t1 e F2 (t) = 0 para t < t1 ), a solução x2 (t) é a solução x1 (t) transladada, isto é, x2 (t) =
x1 (t t1 ) para t t1 e x2 (t) = 0 para t < t1 . A solução devida a F = a F1 + b F2 é a combinação
das duas soluções:
x1(t)
(a)
t1 t1
F2 x2(t)
(b)
x(t)
(c)
F
Em geral, a integral de Duhamel é realizada numericamente. Uma vez que ela é uma integral de
convolução, sua integração numérica pode se tornar cara se não forem tomados cuidados especiais
na escolha do algoritmo. Isso ocorre porque, para obter a aproximação do resultado no instante
t, é necessário fazer a integração numérica desde o instante inicial. Porém, se forem usadosos
procedimentos mais simples, para obter a aproximação em t + t, é necessário integrar novamente
desde o instante inicial. O problema do custo computacional não é grave quando se trata de
problemas de um grau de liberdade como aqueles vistos nessa seção. Entretanto, deve-se notar que
a principal função da presente teoria de um grau de liberdade é ser base para as teorias de múltiplos
graus de liberdade, que serão vistas nos próximos capítulos. Naqueles casos, a integral de Duhamel
deve ser repetida para cada grau de liberdade modal do modelo.
Um procedimento consiste em simplesmente não usar (19.105) para avaliar j (t). Em vez disso,
j (t) é obtido por um método de integração direta a partir da equação diferencial desacoplada
(19.115). Isso é feito usando qualquer dos métodos de integração direta mostrados no Capítulo 21
(método de diferença central, de Newmark, etc), usando a solução no instante tk 1 como condição
inicial para estimar a solução j (tk ). Deve-se notar que esse procedimento trará consigo todas as
características típicas desses tipos de integração: possibilidade de perda cumulativa de precisão,
instabilidade, etc.
Entretanto, um outro procedimento mais e…cientes é aquele visto a seguir, baseado no uso da
relação trigonométrica (17.8)2 , sen ! d (t ) = sen ! d t cos ! d cos ! d t sen ! d , para separar o
integrando:
Z t Z t
!(t ) !t !
F( )e sen ! d (t )d = sen ! d t e F( )e cos ! d d
=0 =0
| {z }
A(t)
Z t
!t !
cos ! d t e F( )e sin ! d d : (17.93)
=0
| {z }
B(t)
488 Capítulo 17. Vibrações em sistemas de 1 grau de liberdade
Nota-se que agora as integrais A(t) e B(t) não mais são integrais de convolução. Então podem ser
integradas normalmente usando um dos vários métodos padrão, como regra do trapézio, regra de
Simpson, por exemplo. Adicionalmente, uma vez que se tenha a aproximação para o instante tn , a
aproximação para tn+1 pode ser obtida por
Z tn + t
!
A(tn+1 ) = A(tn ) + F( )e cos ! d d : (17.94)
=tn
17.6 Exercícios
17.1 Considere um sistema de um grau de liberdade, não amortecido, sujeito a um carregamento
do tipo:
0 se t < a;
F (t) = f du (t a) , onde du (t a)
1 se t a;
com condições iniciais nulas. Determine a resposta de regime permanente. (Resposta: x(t) =
f !a (cos ! a + ! sen ! a) - e !t (cos ! t + ! sen ! t)] d (t
k [e d !d d d !d d u a).)
17.3 Use a solução do problema 17.2, para o caso sem amortecimento, e obtenha a solução de
regime permanente para o carregamento da Figura 17.19. (Resposta: x(t) = fk {[1 cos !(t +
T )]du (t + T ) - [1 cos !(t T )]du (t T )}, onde du ( ) é a função degrau unitário do exercício
17.2.)
17.6 Use a integral de convolução para obter a solução de regime permanente de um sistema de um
grau de liberdade não amortecido para uma força na forma da Figura 17.20. (Dica 1: para t >
T , some as soluções de três carregamentos: F1 (t) = Atdu (t), F2 (t) = Atdu (t T ), F3 (t) =
f du (t T ), com A = f =T . Para t > T as parcelas são, respectivamente, T fk! (!t sen!t),
f
T k! ( !t + T ! cos(!(t T )) + sen(!(t T )) e fk (1 cos(!(t T )). Dica 2: pode-se apenas
subtrair a solução de F1 (t) pela mesma solução trasladada em (t T ))
F(t)
f
0 T t
17.7 Considere o caso não amortecido onde o carregamento é impulsivo na forma da Figura 17.21,
dado por F (t) = A sen t para t < t1 e F (t) = 0 para t > t1 e t < 0.
(Dica: Use a identidade trigonométrica cos a cos b = 2 sen 21 (a + b)sen 12 (a b). Resposta:
a) ua (t) = A[sen t sen !t]=k(1 2
); b) u(t) = ua!(t1 ) sen !(t t1 ) + ua (t1 ) cos !(t t1 ); c) Os
tempos de derivadas nulas são !t = 2 n=(1 ), porém alguns são máximos locais e outros apenas
pontos estacionários.)
F(t)
kA
0 t1
17.8 Considere o caso não amortecido onde o carregamento impulsivo é na forma indicada na Figura
17.22. Resolva os itens a) e b) do problema anterior. (Resposta: a) ua (t) = A(1 cos !t)=k;
b) ub (t) = ua!(t1 ) [1 sen !(t t1 )] + ua (t1 ) cos !(t t1 ).)
17.9 Prove que frequência de excitação harmônica que leva à máxima amplitude no sistema amorte-
cido, am , encontra-se no intervalo ! d < am < ! para < 1.
Deduções:
490 Capítulo 17. Vibrações em sistemas de 1 grau de liberdade
F (t )
kA
0 t1 t
17.10 Deduza as relações trigonométricas (17.8). (Dica: use a relação complexa em forma polar
ei(!t ) =
ei!t e i .)
A quase totalidade dos sistemas físicos na engenharia podem ser considerados apenas de forma
aproximativa como sendo de um grau de liberdade como descrito nas seções acima, composto um
bloco rígido de massa m (sem rigidez ou dissipação), ligado a uma base por uma mola (sem massa
ou amortecimento) e um amortecedor (sem massa ou rigidez). Estamos interessados principalmente
em determinar o comportamento dinâmico dos sistemas contínuos, isto é, corpos e estruturas
sólidas, tridimensionais, com sua forma própria, sua massa e sua capacidade de amortecimento
interno. Entretanto, o modelo discreto de um grau de liberdade visto no Capítulo 17 é útil, tanto
pelo entendimento físico que proporcionam, quanto pelo fato de sua formulação ser usada como
parte de vários métodos de análise de corpos tridimensionais, como será visto no presente capítulo.
Considere o corpo com forma arbitrária ilustrado na Figura 18.1a submetido a um conjunto de
forças variáveis ao longo do tempo. Caso sua forma, apoios e carregamento sejam simples, regulares,
é possível uma análise analítica que resulta na solução exata de sua resposta. Alguns problemas
em que o corpo tenha forma de barra, vigas, placas circulares ou retangulares, dependendo do
carregamento, podem ser tratadas desta forma. Uma série de livros clássicos tratam destas soluções,
como por exemplo Langhaar [64], Meirovitch [68], Clough [22] dentre outros. Frequentemente porém,
os componentes e sistemas usados em engenharia mecânica são de formato e carregamento complexos
e não podem ser tratados por fórmulas analíticas. Da mesma forma que em problemas estáticos, a
maneira padrão de se tratar destes problemas consiste em abrir mão do desejo de obter uma solução
exata e buscar uma solução aproximada do problema.
Para tratar do problema contínuo como o do corpo tridimensional da Figura 18.1a, num
primeiro momento pode-se considerar um modelo discretizado como aquele ilustrado na Figura
18.1b, onde o corpo é simulado por uma coleção de massas discretas unidas entre si por molas e
amortecedores, fazendo uma hipótese temporária bastante forte de que tenham uma disposição em
série. A forma de realizar este processo de discretização de forma consistente não é óbvia, e existem
diversos métodos de fazê-lo, dentre os quais o próprio método que estamos tratando, o de elementos
…nitos. No momento consideramos que, de alguma forma, esta discretização já tenha sido realizada
e temos disponível um modelo como o da Figura 18.1b, com N massas discretas. Cada uma dessas
massas pode ser considerada um corpo rígido, de forma que podemos aplicar a ela a Segunda Lei
de Newton. A Figura 18.1c representa um diagrama de corpo livre de uma massa arbitrária mi .
Sobre ela atuam uma força externa Fi (t) e as forças internas devidas aos deslocamentos relativos às
outras massas. Estas forças internas são as forças elásticas fe , relacionadas à rigidez das molas ki
e ki+1 , e as forças de amortecimento fa relacionadas às constante Ci e Ci+1 dos amortecedores.
Pela segunda lei de Newton, a resultante de todas estas forças deve ser igual à força de inércia
mi x
•i : Então a equação do movimento para uma massa mi interna qualquer é a seguinte:
F2(t)
(a) F1(t)
k1 ki ki + 1 kN
m1 mi - 1 mi mi + 1 mN
c1 ci ci + 1 cN
müi
(c)
Fi(t)
ui(t)
ki (ui (t) - ui - 1 (t)) ki + 1 (ui + 1 (t) - ui (t))
mi
. .
ci (ui (t) - ui - 1 (t)) . .
ci + 1 (ui + 1 (t) - ui (t))
mi u
• C u_ + (Ci + Ci+1 ) u_ i Ci u_ i ki+1 ui+1 + (ki + ki+1 ) ui ki ui = Fi (t): (18.2)
| {z }i | i+1 i+1 {z }1 | {z }1
inércia amortecimento deformação
Podemos expandir estas equações incluindo as massas vinculadas aos apoios e coloca-las numa forma
matricial para o conjunto de massas:
2 38 9 2 38 9
m1 >
> u
•1 >
> (C1 + C2 ) C2 >
> u_ 1 >
>
6 7>> >
> 6 C2 7>> >
>
6 m2 7>< u
•2 >
= 6 (C2 + C3 ) C3 7>< u_ 2 >
=
6 m3 7 u
•3 6 C (C3 + C4 )
7 u_ 3
6 7 +6 3 7
6 .. 7> .. > 6 7> .. >
4 . 5>>
> .
>
>
> 4 5>>
> .
>
>
>
>
: >
; .. >
: >
;
mN u
•N . u_ N
2 38 9 8 9
(K1 + K2 ) K2 >
> u1 >
> >
> F1 (t) >>
6 K2 7>> >
> >
> >
>
6 (K2 + K3 ) K3 7>< u2 >
= >
< F 2 (t) >
=
6 K (K 3 + K4 )
7 u3 F (t)
+6 3 7 = 3 : (18.3)
6 7> .. > > .. >
4 5>>
> .
>
>
>
>
>
> .
>
>
>
> >
; > >
. : : ;
..
uN FN (t)
Este sistema pode então ser escrito de forma compacta como
• (t) + Cu(t)
Mu _ + Ku(t) = F(t) (18.4)
que é o conjunto de equação do movimento do sistema discreto da Figura 18.1b. São equações
diferenciais ordinárias, com coe…cientes constantes. É um sistema discreto no espaço e contínuo no
tempo. As matrizes são as chamadas matriz massa ou de inércia M, matriz de amortecimento
C e a matriz de rigidez K, todas reais e simétricas. Embora neste exemplo M seja diagonal, de
forma geral isto não é assim.
Nas próximas seções trataremos dos métodos para a determinação da solução do problema
18.1. Princípio de D’Alembert 493
semidiscreto (18.4). Antes disso daremos uma amostra do processo geral de como aquelas matrizes
são determinadas para um corpo sólido, isto é, um sistema contínuo, pelo método de elementos
…nitos.
Basicamente o processo de determinação por elementos …nitos da equação matricial de movi-
mento num caso dinâmico é o mesmo procedimento usado nos capítulos anteriores na determinação
da equação matricial de equilíbrio. Em ambos os casos usaremos o Princípio dos Trabalhos Vir-
tuais, onde no caso dinâmico fazemos uma alteração em seu enunciado pelo uso do Princípio de
D ’Alambert, descrito a seguir. Um outro procedimento a ser apresentado, além do PTV, é a
obtenção das equações de matriciais de movimento pelo uso das equações de movimento de
Lagrange. Estas equações são uma forma derivada do mesmo PTV aplicado à dinâmica, porém
apresentam uma versatilidade muito grande em várias classes de problemas não lineares.
isto é, a resultante de todas as n forças externas aplicadas, Fi , e da força do corpo mb, deve ser igual
à força da inércia, dada pela massa vezes a aceleração a desenvolvida pela massa. Aqui, b é uma
força de corpo por unidade de massa. Quando as forças são tais que a aceleração é nula, as forças
estão em equilíbrio e esta equação é chamada equação de equilíbrio. Obviamente, o tratamento de
problemas de equilíbrio é mais simples que o de problemas dinâmicos. D’Alembert, de certa forma,
realizou uma operação bastante simples. Ele transferiu a força de inércia do lado direito de (18.5)
para o lado esquerdo obtendo
n
X
Fi + m(b a) = 0: (18.6)
i=1
Agora a forma da equação é exatamente a mesma de uma equação de equilíbrio estático e, dentro
de certos limites, parte do que foi desenvolvido para os problemas estáticos pode ser adaptado aos
problemas dinâmicos. O Princípio de D’Alembert então a…rma que as forças de inércia podem ser
incorporadas às forças de corpo e o problema pode ser tratado como uma equação estática.1
y
dx
1
Note que o problema é estático apenas de forma …ctícia, uma vez que agora as forças de corpo incorporam a
aceleração, que é desconhecida, diferentemente de b que é a-priori conhecida.
494 Capítulo 18. Elementos …nitos em dinâmica
Considere um elemento diferencial de volume numa barra como ilustrado na Figura 18.2. A massa
desse elemento é dm = Adx onde é a densidade do material, em kg/m3 . Observe na Figura
18.3 o comportamento dinâmico de uma barra sob carga axial. O elemento diferencial inicialmente
encontra-se a uma distância X da origem. Num outro instante t sua posição encontra-se a uma
distância x da origem. Sem dúvida que a posição atual será função da posição inicial e estará
variando instante a instante. Então podemos escrever que
du
x(X;
_ t) = (X; t) = u(X;
_ t);
dt
(18.9)
d2 u
x
•(X; t) = 2 (X; t) = u •(X; t):
dt
F(0)
X
u(X,t)
F(t)
x(X,t)
Figura 18.3: Posição inicial P e posição …nal p num dado instante t e deslocamento u(X; t) de um
elemento diferencial numa barra sob solicitação dinâmica.
A eq. (18.9) signi…ca que a taxa de variação da posição é a mesma do deslocamento. O elemento
diferencial de massa sofre uma aceleração u
•(X; t) e sua força de inércia é
A u
•(x; t) dx; (18.10)
| {z }
bin é rc ia :
Z L Z L
du(x; t) d^
u(x)
AE dx A (b(x; t) u
•(x; t)) u
^(x) dx Af (t) u
^(L) = 0, 8^
u 2 V ar: (18.11)
0 dx dx 0
18.2. Princípio do Trabalhos Virtuais em barras 495
2
X
e
u(x; t) = ui (t) i (x): (18.12)
i=1
Observe que as constantes nodais, os u0i s, agora variam com o tempo. Também a função peso é
interpolada pela mesma base de funções de interpolação:
2
X
e
u
^(x) = u
^i i (x); (18.13)
i=1
2
X
e
u
•(x; t) = u
•i (t) i (x): (18.14)
i=1
Z Z
e e e e e e
AE u1 (t) 1;x + u2 (x) 2;x u
^1 1;x +u
^2 2;x dx A b(x; t) (^
u1 1 +u
^2 2) dx
Ze e (18.16)
e e e e e
+ A (•
u1 (t) 1 +u
•2 (t) 2 ) (^
u1 1 +u
^2 2) dx Af (t)^
u2 i (Le ) = 0; 8^
u1 ; u
^2 :
e
Z Z
e e e e
AE 1;x 1;x dx u1 (t) + AE 1;x 2;x dx u2 (t)+
e e
| {z } | {z }
e
K11 2
K11
Z Z
e e e e
R e
A 1 1 dx u•1 (t) + A 1 2 dx u•2 (t) = A e b(x; t) 1 dx;
e e
| {z } | {z }
e
M11 2
M11
Z Z
e e e e
AE 2;x 1;x dx u1 (t) + AE 2;x 2;x dx u2 (t)+
e e
| {z } | {z }
e
K21 e
K22
Z Z (18.17)
e e e e
R e e
A 2 1 dx u•1 (t) + A 2 2 dx u•2 (t) = A e b(x; t) 2 dx + Af (t) i (Le ):
e e
| {z } | {z }
e
M21 e
M22
Podemos reconhecer as primeiras duas integrais em cada equação como os termos da matriz de
rigidez do elemento …nito de barra, vistas na eq. (7.71). Os termos no terceiro e quarto colchete em
cada equação formam a chamada matriz massa ou matriz de inércia do elemento. Os termos
à direita da igualdade formam o vetor de carregamento, o mesmo mostrado em (7.72). Então as
equações acima podem ser postas na forma
e u + K2 u + M e u
K11 e • = F e (t);
1 12 2 11 •1 + M12 u 2 1 (18.18)
e e e
K21 u1 + K22 u2 + M21 u e u
•1 + M22 •2 = F2e (t);
ou, em notação mais compacta,
Me u
• e (t) + Ke ue (t) = Fe (t): (18.19)
Comparando com o caso estático vemos que agora existe uma força de inércia, M e u
•e (t), e que
agora o carregamento pode variar no tempo. Mas mesmo que o carregamento seja estático, a
presença do termo de inércia permitirá que a solução seja variante com o tempo. A de…nição de
cada termo é a seguinte
Z e
e @ ei @ j
Kij = AE dx;
Z e @x @x
e e e (18.20)
Mij = A i j dx;
eZ
e
Fie (t) = A b(x; t) i (x) dx + Af (t) i (Le ):
e
onde xe1 e xe2 são as coordenadas globais dos nós 1 e 2 do elemento. A matriz de rigidez e o vetor
força do elemento são os mesmos já integrados nas equações (5.7)-(5.8), de forma que agora tem-se
o conjunto completo:
AE 1 1 ALe 2 1 0
Ke = Me = Fe = Af (18.22)
Le 1 1 6 1 2 1
Observe que ALe é a massa total do elemento. Como no caso estático, estas são apenas as
matrizes de um elemento, e devem ser sobrepostas nas matrizes globais para gerar as equações
semidiscretas de movimento que representam o sistema sendo modelado:
d @T @T @W
+ = Fi (18.25)
dt @ u_ i @ui @ui
Para uma barra, por exemplo, a energia de deformação interna é dada por (7.38):
Z L 2
AE @u(x; t)
W = dx: (18.26)
2 0 @x
A energia cinética pode ser obtida da seguinte forma. Lembre que a energia cinética de uma
massa pontual m é, por de…nição, Ec = mv 2 =2. Agora considere o elemento diferencial de barra
de comprimento dx das Figuras 18.2 e 18.3. Este elemento tem massa diferencial dm = Adx e
velocidade axial u(x;
_ t): Logo sua energia cinética é u(x;
_ t)2 dm=2, isto é, Au(x;
_ t)2 dx=2: A energia
cinética da barra completa é então
Z L
A
T = (u(x;
_ t))2 dx: (18.27)
2 0
Tendo W e T , cabe agora fazer a discretização de elementos …nitos. Dividimos a barra em
elementos, o que signi…ca simplesmente particionar o intervalo de integração nas equações acima em
uma soma de integrais realizadas em cada elemento. Em cada elemento interpolamos o deslocamento
e velocidade usando (18.12). Então as energias em cada elemento se tornam:
498 Capítulo 18. Elementos …nitos em dinâmica
Z Z
AE
e e e 2 e A e e 2
W = u1 (x; t) 1;x + u2 (x; t) 2;x dx, T = u_ 1 (x; t) 1;x + u_ 2 (x; t) 2;x dx:
2 e 2 e
(18.28)
Se usarmos as equações de interpolação da lineares (7.69) no elemento as energias acima …cam
T T
1 u1 (t) u1 (t) 1 u_ 1 (t) u_ 1 (t)
We = Ke e Te = Me : (18.29)
2 u2 (t) u2 (t) 2 u_ 2 (t) u_ 2 (t)
Se compararmos estas expressões a (18.22) vemos que as energias acima são proporcionais à rigidez
e massa do elemento, respectivamente. De…nindo o vetor de deslocamentos nodais, do elemento
como ue (t) = fu1 (t); u2 (t)gT , a equação acima pode ser posta na forma
1 1
W e = ueT (t) Ke ue (t); T e = u_ eT (t) Me u_ e (t) (18.30)
2 2
Essas são as expressões discretizadas para as energias interna e cinemática e podemos passar ao uso
das equações de Lagrange. Para um dado elemento a equação de Lagrange em (18.25) reduz-se a
duas equações, para i = 1 e i = 2, correspondentes aos dois graus de liberdade do elemento. As
equações …cam:
d @T e @W e d @T e @W e
+ = F1e ; e + = F2e : (18.31)
dt @ u_ 1 @u1 dt @ u_ 2 @u2
Observe que cada uma das equações (18.30) é uma forma quadrática, que se expandem em
1
We e 2
K11 u1 + K12e
u1 u2 + K21 e
u1 u2 + K22 e 2
u2 ;
2
1
T e M11e 2
u_ 1 + M1e u_ 1 u_ 2 + M21
e e
u_ 1 u_ 2 + M22 u_ 2 u_ 2 :
2
e
M11 e
M12 u
•1 (t) e
K11 e
K12 u1 (t) F1e (t)
e e + e e = ; (18.32)
M21 M22 u
•2 (t) K21 K22 u2 (t) F2e (t)
que é exatamente a equação do movimento (18.19) obtida anteriormente usando o PTV e o Princípio
de D’Alembert.
Determine a equação do movimento discreta para uma barra de comprimento L, área de seção
transversal A, densidade e módulo de elasticidade E. Obtenha as matrizes para dois e três
elementos …nitos iguais.
Solução:
A Figura 18.4 ilustra os nós e graus de liberdade do modelo de três elementos. Para dois
elementos a equação do movimento é obtida sobrepondo as matrizes em (18.22):
2 38 9 2 38 9 8 9
2 1 0 < u •1 (t) = 1 1 0 < u1 (t) = < F1 (t) =
AL 4 2EA 4
1 4 1 5 u
•2 (t) + 1 2 1 5 u2 (t) = F2 (t) ;
12 : ; L : ; : ;
0 1 2 u
•3 (t) 0 1 1 u3 (t) F3 (t)
y
E, A,ρ
x
z
L
F2(t) F3(t)
F1(t) F4(t)
1 2 3
1 2 3 4
u2(t) u3(t)
2
2 3
L2 = L/3
2 38 9 2 38 9 8 9
2 1 0 0 > > u
•1 (t) >
> 1 1 0 0 >
> u1 (t) >
> >
> F1 (t) >
>
AL 6 < = < = < =
6 1 4 1 0 7
7 u
•2 (t) 3EA 6
6 1 2 1 0 7
7 u2 (t) F2 (t)
+ = :
18 4 0 1 4 5
1 > > u
• (t) >
> L 4 0 1 2 5
1 >> u (t) >
> > F3 (t) >
: 3 ; : 3 ; > : >
;
0 0 1 2 u
•4 (t) 0 0 1 1 u4 (t) F4 (t)
(18.33)
Aqui os tensores de segunda ordem como " já foram convertidos em vetores como em (8.104). Os
conjuntos de funções cinematicamente admissíveis, Kin e V ar são de…nidos em (8.2) e (8.3).
Aplica-se o princípio de D’Alembert, substituindo a forças de corpo b por b u • , onde u
•éa
força de inércia por unidade de volume, associado a um elemento diferencial de massa dm = dV . As
aproximações do campo de deslocamentos e de deformações num elemento vem de (8.103) e (8.106).
A mesma interpolação dos deslocamentos é usada para as acelerações e para os deslocamentos
virtuais:
u(x; t) = N(x)U(t); u ^
^ (x) = N(x)U; u(x;
_ _
t) = N(x)U(t);
• (18.35)
• (x; t) = N(x)U(t);
u "(x; t) = B(x)U(t)
Z Z Z Z
" (^
u) C" (u) d + u
^ u•d ^ bd
u ^ f d
u = 0; (18.36)
e e e f
| {z }
Novo termo: inércia
8u^ 2 V ar. O conceito de força de inércia u • no PTV pode ser estendida ao conceito de forca
dissipativa cu,
_ isto é, uma força proporcional à velocidade do elemento diferencial, onde c é a
constante de proporcionalidade, dependente do material. Assim, …ca
Z Z Z Z Z
" (^
u) C" (u) d + u
^ u •d + c^
u u_ d ^ bd
u ^ f d
u = 0;
e f
| {z } | {z }
Novo termo: inércia Novo termo: amortecimento
(18.37)
8u
^ 2 V ar. Introduzindo as discretizações (18.35), associadas à um elemento arbitrário, de domínio
e , a condição discretizada de equilíbrio num elemento …nito arbitrário …ca
Z Z Z
e
e
B CBU d + •
N NU d + cN NU _ed
e e
| {z } | {z }
Novo termo: )
inércia Novo termo: amortecimento (18.38)
Z Z
N bd N f d U^ = 0;
e
f \@
8U^ 2 R3N . f \ @ e é a parte do contorno do elemento com o contorno global f . Note que as
funções de interpolação elementares devem satisfazer as condições de continuidade inter-elemento,
conforme as características do conjunto V ar, de…nido em (8.2). Manipulando algebricamente e con-
siderando que os vetores Ue , U_ e, U
•e e U ^ são independentes das coordenadas (vetores de parâmetros
nodais), a expressão acima torna-se
Z Z Z Z
T
B CB d U + e T
N N d U + • e T _ e NT b d
e e | {z } e
|cN{z N} d U e
R
Novo termo: inércia Novo termo: amortecimento
T
e N f d U^ = 0;
f \@
Observe que a dedução entre as equações (18.37) e (18.39) é a mesma utilizada para o caso
estático, eqs. (8.109) e (8.110), exceto pela introdução dos termos de inércia e de amortecimento
assinalados, que resultam nas matrizes de inércia Me e de amortecimento Ce do elemento. Após o
cálculo das matrizes elementares, o processo de sobreposição gera as matrizes globais e se tem as
equações semidiscretizadas de equilíbrio dinâmico
•
MU(t) _
+ CU(t) + KU(t) = F(t): (18.40)
Observações:
1. Essas equações são chamadas semi-discretizadas, porque a discretização foi realizada apenas
no domínio espacial (x; y; z), mas o sistema permanece contínuo na coordenada temporal.
2. O procedimento acima para determinar a matriz de amortecimento raramente é utilizado, pela
di…culdade de identi…car o parâmetro de amortecimento c. Métodos usuais para certas classes
de amortecimento estruturais são apresentados na seção 19.6.
18.5. Matriz massa em elementos de viga 501
O procedimento detalhado na seção 18.4 para a determinação da matriz massa e das equações de
movimento do elemento sólido é estendido aqui para elementos …nitos de viga de Euler-Bernoulli. De
fato, é mostrado que o procedimento é padrão para a matriz massa de quase todo tipo de elemento
…nito.
O princípio dos trabalhos virtuais para ‡exão de vigas delgadas (modelo de Euler-Bernoulli),
adaptado aos materiais elástico-lineares, em problemas estáticos, já incorporando as forças de
aceleração através do Princípio de D’Alembert, tem sua expressão dada por:
Dado q (x), determinar u(x) 2 Kin que satisfaz a condição
Z L Z L Z L
00 00
EI v^ v dx = v^ (x) q (x; t) dx A^
v (x) v• (x; t) dx 8^
v (x) 2 V ar: (18.41)
0 0 0
v(x; t) = NU; ^
v^ = NU; u •
• = NU; "(x; t) = BU; ^
^"(x) = BU: (18.43)
8 9
>
> v1 (t) >
>
< =
1 (t)
v(x; t) = NUe ! v(x; t) = f 1; 2; 3; 4 g
>
> v (t) >
>
: 2 ;
2 (t)
8 9
>
> v•1 (t) >
>
< • =
•e 1 (t)
v•(x; t) = NU ! v•(x; t) = f 1; 2; 3; 4 g
>
> v• (t) >>
: •2 ;
2 (t)
8 9
>
> v1 (t) >
>
< =
00 00 00 00 1 (t)
"(x; t) = BUe ! "(x; t) = 1; 2; 3; 4 (18.44)
>
> v (t) >
>
: 2 ;
2 (t)
8 9
>
> >
>
>
< Z Le Z Le Z Le
>
=
^ eT
U T
EI B B dx U = e T
N q dx •e = 0
ANT N dx U ^ 2 R2N
8U
>
> >
>
:|
0
{z } |0 {z } | 0
{z } >>
;
Ke fe Me
(18.45)
onde q = q(x; t) e Le é o comprimento do elemento. Como U ^ deve ser arbitrário, obtém-se as
equações semidiscretas do movimento de um elemento:
8 Z Le
>
> e
>
> M = ANT N dx;
>
> 0
>
< Z Le
e• e e e
M U + K U = f , onde Ke = EI BT B dx; (18.46)
>
> 0
>
> Z Le
>
>
>
: fe = q (x; t) NT dx;
0
onde Me ,
K e fe
são a matriz massa, a matriz de rigidez e o vetor força nodal equivalente do
elemento. Expandindo as matrizes obtém-se
Z Le Z Le Z Le
e 00 00
Kij = EI i j dx, Mije = A i j dx, fie = q (x; t) i dx. (18.47)
0 0 0
•
MU(t) _
+ CU(t) + KU(t) = F(t); (18.49)
ou problemas derivados desses, como os problemas de autovalor, ainda a serem de…nidos no próximo
capítulo, usados para a determinação dos modos e frequências naturais:
[K M] u = 0. (18.50)
Será considerado aqui apenas o caso típico de condição de contorno essencial homogênea na
forma ui = 0 para o grau de liberdade i. Do princípio dos trabalhos virtuais tem-se que as funções
peso (deslocamentos virtuais) são arbitrárias, porém devem ser nulas nas partes do contorno em
que o deslocamento seja prescrito, isto é, se ui (t) = 0 8t > 0, num grau de liberdade i, deve-se ter
18.6. Aplicação de condições de contorno 503
u
^i = 0. Isso signi…ca que, de fato, a linha i do sistema (18.49) é multiplicada por zero, como pode
ser visto, por exemplo em (18.45) no caso do modelo de vigas, mas que, de fato, é uma característica
do MEF em geral. Tal como no problema estático, essa linha poderia não ter sido sobreposta no
sistema, ou pode ser sobreposta e, em seguida, na etapa de aplicação de condições de contorno, ser
anulada.
Primeiramente considerar que, se ui (t) = 0 em todo t > 0, seque-se que u_ i (t) = u •i (t) = 0.
Entendido esses aspectos, as etapas do procedimento de aplicação da condição ui = 0 para um grau
de liberdade i, são as seguintes:
Etapa 1 - Multiplicar a linha i de todas as matrizes (K, C, M e F) por zero, isto é, fazer
Kij = 0 para j = 1; 2; ; N . Isso satisfaz ao princípio dos trabalhos virtuais.
Etapa 2 - Multiplicar a coluna i de todas as matrizes (K, C e M) por zero, isto é, fazer
Kji = 0 para j = 1; 2; ; N . Isso impõe as condições ui = u_ i = u
•i = 0 em 8t 0.
Etapa 3 - Fazer Kii = 1, Cii = 0 e Mii = 10c , onde c é um inteiro a ser arbitrado conforme
o problema. Com isso, o sistema toma sua forma …nal
^ U(t)
M • ^ U(t)
+C _ ^
+ KU(t) ^
= F(t): (18.51)
Em forma aberta, para i = 1, esse sistema pode ser ilustrado por
2 38 9 2 38 9
10c 0 0 0 >
> u
•1 >
> 0 0 0 0 >
> u_ 1 >
>
6 0 < = < =
6 m22 m23 m24 7
7 u
•2 6 0 c22 c23 c24 7 u_ 2
4 0 +6 7 +
m32 m33 m34 5 >
> u
• >
>
4 0 c32 c33 c34 5 >
> u_ >
>
: 3 ; : 3 ;
0 m42 m43 m44 u
•4 0 c42 c43 c44 u_ 4
2 38 9 8 9 (18.52)
1 0 0 0 >
> u1 >
> >
> 0 >
>
6 0 7 < = < =
6 k22 k23 k24 7 u2 F2
4 0 =
k32 k33 k34 5 >
> u >
> > F3 >
: 3 ; > : >
;
0 k42 k43 k44 u4 F4
Os valores 1 e 10c incluídos na rigidez e na massa são valores arbitrários, utilizados apenas para
evitar que essas matrizes …quem singulares. O importante é que o grau de liberdade i foi tornado
desacoplado dos demais. Num processo de solução temporal, como nos métodos diretos (Capítulo
21), os resultados produzidos para esse grau de liberdade, em deslocamento, velocidade e aceleração,
serão irrelevantes: após a computação eles devem ser corrigidos para ui = u_ i = u •i = 0 em 8t 0.
Entretanto, para a solução do problema de autovalor, para vibrações livres (próximo capítulo
e Capítulo 23), esses valores 1 e 10c geram algumas vantagens. Para isso h observemos
i o sistema
^
associado, [K M] u = 0, agora com a condição de contorno imposta, K M u = 0. Para o ^
exemplo das matrizes da eq. (18.52), tem-se
82 3 2 39 8 9 8 9
>
> 1 0 0 0 10c 0 0 0 >
> > u1 > > 0 >
<6 =>< >
= >
< >
=
6 0 k22 k23 k24 7
7
6 0
6 m22 m23 m24 7
7 u2 0
4 0 = : (18.53)
>
> k32 k33 k34 5 4 0 m32 m33 m34 5>
> > u3 > >
> 0 >
: ;>: ; >
> : ;
0 k42 k43 k44 0 m42 m43 m44 u4 0
A solução desse sistema produzirá quatro autovalores , sendo que um deles terá valor =10 c .
Então, se o valor escolhido para c for algo como c = 20, esse autovalor será =1020 e será,
provavelmente, o maior dos N autovalores do sistema. Como será visto, em problemas dinâmicos,
os ’s são as frequências naturais do sistema. Por diversos motivos, as frequências mais importantes
para caracterizar o comportamento da estrutura são as menores. Assim, existem diversos métodos
504 Capítulo 18. Elementos …nitos em dinâmica
numéricos (Capítulo 23), que calculam apenas uma quantidade limitada dos primeiros autovalores
de um sistema algébrico. Então, a aplicação das constantes 1 e 10c incluídos na rigidez e na massa
para a imposição de condições de contorno geram autovalores que não afetam os autovalores de
interesse.
Claramente, as linhas/colunas i das matrizes poderiam não ter sido sobrepostas, de forma que
o sistema algébrico obtido satisfaria automaticamente as condições de contorno de deslocamento
homogêneas, sem a necessidade das etapas 1 a 3 acima.
18.7 Exercícios
18.1 Integre as matrizes massa, rigidez e força do elemento de viga.
18.2 Integre as equações (18.28) usando (7.69) e encontre as energias no elemento de barra, eqs.
(18.29).
18.3 Observe as matrizes da barra do Exemplo 18.1 para dois e três elementos …nitos. Determine o
padrão ou regra de de…nição dos termos das matrizes e mostre como seriam para um número
arbitrário de elementos iguais.
Capítulo 19
u(t) + Ku(t) = 0:
M• (19.1)
A única coordenada neste sistema é o tempo, uma vez que as coordenadas espaciais xyz já foram
discretizados. Este tipo de equação é bastante conhecida e estudada em matemática, uma vez que
toda uma série de fenômenos físicos é modelada por sistemas diferenciais ordinários deste tipo. Uma
classe de solução tem a seguinte forma
u1 (t) = 1 f (t);
u2 (t) = 2 f (t);
(19.3)
u3 (t) = 3 f (t);
u4 (t) = 4 f (t):
Imagine-se que num dado instante, t0 = 0; por exemplo, os deslocamentos sejam = {0; 0,2; 0,7; 1,1}T
como na …gura. Se num certo instante t1 , f (t1 ) = f1 , e num outro instante t2 , f (t2 ) = f2 , por ex-
emplo, isto signi…ca, pela hipótese da eq. (19.1), que os todos os deslocamentos nodais no instante,
506 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
t2 são f2 =f1 vezes maior que no instante t1 . Os valores nodais do deslocamento são sempre pro-
porcionais entre si a qualquer instante.
1 2 3 4
f (t = 0) = 1
φ=0 φ = 0,2
φ = 0,7 φ = 1,1
1 2 3 4
f (t = 1s) = 4
u=0
u = 0,8
u = 2,8 u = 4,4
1 2 3 4
Figura 19.1: Exemplo de deslocamentos nodais proporcionais a um fator comum f (t) que varia no
tempo.
Observe que (19.2) não é a solução de (19.1), mas apenas sua forma geral. Antes desconhecíamos
os valores nodais da função do tempo u(t). Agora temos u(t) expresso em termos de um per…l
de deslocamentos nodais , independente do tempo, e de um fator comum, f (t), ambos também
desconhecidos. A diferença é que antes tínhamos N funções do tempo incógnitas a determinar, agora
as N incógnitas são constantes, as componentes de , e apenas uma função incógnita dependente
do tempo, f (t). Substituindo (19.2) em (19.1) temos
f•(t)
M = K : (19.5)
f (t)
| {z }
Lembramos que estas são N equações diferenciais em f (t); M é uma matriz coluna de N termos,
tanto quanto K : Uma vez que tanto M quanto K são independentes de t, também f•(t)=f (t)
deve sê-lo. Deve então ser igual a uma certa constante, ainda a ser determinada. Com isto se
obtém uma nova equação diferencial, escalar, em termos apenas de f (t): f•(t)=f (t) = . Então,
(19.5) gera dois problemas:
O primeiro problema é uma equação com forma bastante conhecida, cuja solução tem a forma geral
s2 + = 0: (19.9)
1. Uma primeira
p solução é obtida supondo-se < 0, o que daria duas soluções reais, s1 =
s2 = = s. Teríamos duas soluções, f1 (t) = Aest e f2 (t) = Ae st , isto é, uma solução
(19.2) crescente exponencialmente no tempo e outra solução decrescente. Mas o carregamento
é nulo e o sistema é dito conservativo, isto é, não possui dissipação de energia, amortecimento.
A única forma deste sistema se mover é simplesmente continuar um movimento iniciado ante-
riormente através de um impulso aplicado no instante inicial. O movimento deve ser tal que
a quantidade de energia total do sistema deve permanecer constante. Isto não permite que a
amplitude do movimento cresça ou diminua ao longo do tempo. Como consequência deve-se
ter que não pode ser negativo. Como = 0 nos remeteria a um problema estático, deve-se
então ter > 0.
2. Se > 0; fazemos = ! 2 e as soluções de (19.9) são
s1 = i!; e s2 = i!;
p
com i = 1, e a solução de (19.6) é uma combinação linear das duas soluções:
K !2M = 0: (19.13)
Observe que o fator multiplicando é uma matriz A = K ! 2 M de ordem N: A equação matricial
é um sistema algébrico de N equações e N incógnitas, os i , i = 1; N: De álgebra linear, sabe-se que
se A for uma matriz arbitrária não-singular, a nulidade do lado direito da equação implica que a
única solução possível é = 0, isto é, 1 = 2 = : : : N = 0: A única maneira de se ter uma solução
não nula é que K ! 2 M seja uma matriz singular, isto é:
det K ! 2 M = 0: (19.14)
508 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
Como as frequência são ainda desconhecidas, podemos usar a própria condição (19.14) para determiná-
las, isto é, basta que procuremos os valores de ! para os quais o determinante de A seja nulo. Note
que o determinante de A é uma função, um polinômio em termos de ! 2 , isto é
p !2 det K ! 2 M = 0: (19.15)
Este é o chamado polinômio característico, associado ao chamado determinante característico,
também conhecido por equação de freqüência. Devido às características de K e M, (simétricas e
M positiva de…nida), o polinômio é de grau N e possui todos as raízes reais.
Observação: Embora …sicamente se saiba que as frequencias naturais do sistema são valores reais,
é necessário veri…car se os autovalores do sistema (19.14) são de fato reais. Isso será provado na
seção 19.2 a seguir.
K ! 2j M j
= 0: (19.16)
Cada vetor solução j é chamado autovetor do problema, e o par ! j ; j é um autopar. O vetor
j
é também denominado modo de vibração do sistema. Uma vez que não temos apenas um par
de solução do problema de autovalor (19.12a), mas N autopares, a solução do problema dinâmico
(19.1) não é apenas (19.12), mas uma combinação linear de todos os modos na forma:
1 2 N
u(t) = C1 cos (! 1 t 1) + C2 cos (! 2 t 2) + + CN cos (!t N) ;
isto é,
N
X
j
u(t) = Cj cos ! j t j (19.17)
j=1
[E I] v = 0, e
[A B] u = 0, (19.18)
19.2. Propriedades dos autovetores e autovalores 509
Eu = u; e Eu = u: (19.19)
Pré-multiplica-se a primeira equação por uT e a segunda por uT . Como E é simétrica, a transposição
de ambos os lados da segunda equação gera:
T
uT Eu = uT u; e uT Eu = u u:
Subtraindo a primeira da segunda equação tem-se
0= uT u: (19.20)
Como uT u não é zero segue-se que = . A única possibilidade é que seja um número real. Como
consequência, se E e são reais, de (19.19) se tem que u também o é.
Note que na dedução as únicas condições requeridas para E foi que fosse real e simétrica.
1 2 2 0
A= e B= ; (19.21)
2 0 0 2
p
os autovalores são = 1 i 15 =4. De fato, uma condição su…ciente para que todos os
autopares do problema sejam reais é que exista alguma combinação linear de A e B que seja
positiva de…nida, isto é,
[A B] u = 0,
[aA a B] u = 0, (shift)
[aA a B bB] u = 0, (reorganiza) (19.23)
2 3
4(aA+bB) (a + b)B5 u = 0,
| {z } | {z }
W s
Caso W seja positiva de…nida, é possível fazer a decomposição de Cholesky W = CCT onde C é
uma matriz triangular inferior (ver seção 12.2, página 308). Então o sistema …ca na forma
1
Aplicação de shift b é feita somando bB. Ver seção 23.3.
510 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
Wu = sBu,
CCT u = sBu,
T 1,
Faz-se uma transformação u = C z e pré-multiplica-se a igualdade por C o que gera a forma
1 T
C BC z = (1=s)z. (19.24)
Agora esse é um problema padrão de autovalor, e como a matriz C 1 BC T é simétrica, se tem
a garantia que todos os autovalores s são reais. Como a e b são reais, então os autovalores do
problema generalizado também são todos reais.
Nota-se que essa é uma condição su…ciente, não necessária, isto é, é possível haver matrizes que não
atendam a essa condição e que mesmo assim tenha os autopares reais.
19.2.2 Ortogonalidade
A primeira propriedade que será demonstrada é a ortogonalidade entre autovetores: considere dois
distintos autopares de (19.13), isto é, (! r ; r ) e (! s ; s )
r
K = ! 2r M r
; K s
= ! 2s M s
: (19.25)
s sT rT
Se multiplicarmos a primeira equação pelo transposto de , isto é, ; e a segunda por
obtemos2
sT r
K = ! 2r sT
M r
; rT
K s
= ! 2s rT
M s
: (19.26)
Observe que, enquanto a equação (19.25a) consiste de uma igualdade entre dois vetores, isto é,
K r é igual a um certo vetor Vr e M r é igual a um certo vetor Ur : De forma similar para a eq.
(19.25b). Quando pré-multiplicamos (19.25a) por um autovetor sT , isto equivale a um realizar o
produto escalar s Vr , cujo resultado é um escalar. Podemos transpor uma das duas equações
(19.26), a segunda por exemplo, e o sistema …ca
sT r
K = ! 2r sT
M r
; sT
KT r
= ! 2s sT
MT r
: (19.27)
Como K e M são matrizes simétricas, os termos se tornam idênticos entre as duas equações. Se
subtrairmos a primeira da segunda equação temos
0 = ! 2r ! 2s sT
M r
: (19.28)
sT r
M é um escalar a. Se as frequências naturais forem distintas, ! r 6= ! s , é então necessário que
sT r
M =0 para qualquer r 6= s se ! r 6= ! s (19.29)
Este resultado é chamado de condição de ortogonalidade dos vetores modais. A operação
sT
M r pode ser vista como um tipo de produto escalar entre os vetores s e r , que é de…nido
com o uso de uma matriz peso, no caso a matriz massa, de forma que s r sT
M r , enquanto
a forma mais conhecida do produto interno é o chamado produto Euclidiano, a matriz peso é a
identidade: s r sT r
: Observe que, se dois distintos vetores modais r e s são M-ortogonais,
isto é, satisfazem (19.29), eles são também K-ortogonais. Basta levar (19.29) para o lado direito de
(19.27)1 e temos
sT r
K = 0; (19.30)
isto é, se dois vetores são ortogonais em relação à massa também são em relação à rigidez.
2
O sobre-índice ”T ” indica transposto de um vetor ou matriz.
19.2. Propriedades dos autovetores e autovalores 511
r
p r r
k k =p ;
rT r (19.31)
= M
É visível que, se o termo dentro do radical puder ser negativo para algum vetor r , a de…nição perde
o signi…cado, uma vez que não se poderia interpretar como comprimento um valor negativo. Então
esta norma só pode ser de…nida com uma matriz peso que tenha a propriedade de ser positiva
de…nida. Uma matriz A é dita positiva de…nida se
Podemos multiplicar estas N equações por uma constante escalar d qualquer e colocar a equação
na forma
[K ! r M] (d r ) = 0:
Concluímos que se r é um autovetor, d r também o será. Desta forma, após a determinação
de cada autovetor fazemos sua normalização, isto é, calculamos sua norma por (19.31) e fazemos
r 1 r
= r : (19.33)
k k
Visivelmente, agora r tem norma unitária, isto é, rT M r
= 1: Como os diversos autovetores são
ortogonais entre si, podemos escrever a seguinte relação
rT s
M = rs , r; s = 1; 2; 3; :::; N . (19.34)
onde rs é o operador delta de Kronecker. Sua de…nição é a de que rs = 1 se r = s, isto é, se
tivermos r = s = 1 ou 2; etc. Por outro lado, se r =
6 s, por de…nição rs = 0 por exemplo r = 1 e
s = 2: Resumindo,
rs = 1 se r = s;
(19.35)
= 0 se r 6= 0:
Um conjunto de vetores que possui a propriedade mostrada em (19.34) é dito um conjunto
ortonormal de vetores, isto é, cada um é normalizado, tem norma unitária e também é ortogonal
a todos os demais. A relação (19.34) está colocada na chamada forma indicial, com os índices r
e s podendo assumir valores entre 1 e N: Esta relação pode ser colocada numa forma matricial
completa. De…nimos a chamada matriz modal por
1 2 N
= ::: ; (19.36)
onde é a matriz N N em que cada coluna é composta por um dos autovetores do problema.
Desta forma a relação de ortonormalidade (19.34) pode ser colocada na forma matricial
TM =I (19.37)
onde I é uma matriz identidade de ordem N N.
Autovetores não ortogonais. Note que (19.29) garante a ortogonalidade apenas no caso de
512 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
2
K =M ; (19.38)
onde 2 é uma matriz diagonal composta pelos autovalores:
2 2 3
!1
6 ! 22 7
2 6 7
=6 .. 7: (19.39)
4 . 5
! 2N
Note que (19.38) representam as N equações associadas a cada autovetor. Então tem-se de fato
N N equações algébricas. Podemos em seguida pré-multiplicar (19.38) por T obtendo:
T
K =| T{z
M} 2
:
I
Mas com a ortonormalidade dos autovetores em relação à matriz massa, eq. (19.37), o lado direito
da equação acima simpli…ca-se e temos
TK = 2 (19.40)
Já tínhamos visto em (19.30) a ortogonalidade dos vetores em relação à rigidez, isto é, rT K s = 0:
Agora temos também que rT K r = ! 2r , isto é, a norma de um autovetor em relação a matriz de
rigidez é o quadrado da correspondente frequência natural.
1 2 3 N
= a2 + a3 + + aN ; (19.41)
com constantes a2 ; ; aN não nulas. Passando os termos da direita para a esquerda e mudando os
nomes das constantes temos
1 2 N
b1 + b2 + + bN = 0:
Isto pode ser colocado em forma matricial como b = 0, onde b = {b1 ; b, ,bN }T . Pré-multiplicando
por T M temos
T
M }b = 0 =) b = 0
| {z
I
isto é, b1 = b2 = = bN = 0, devido a ortonormalidade dos vetores. Então (19.41) não pode ser
satisfeito. Conclui-se que o conjunto de autovetores é linearmente independente.
19.3. Exemplos 513
Da teoria de álgebra linear tem-se então a seguinte consequência: qualquer vetor de ordem N
pode ser escrito como uma combinação linear dos vetores modais r , isto é, qualquer pode ser
representado por:
N
X
1 2 N j
= d1 + d2 + : : : + dN = dj ;
j=1
= d; (19.42)
onde d é o vetor coluna composto pelos N coe…ciente dj tal que d = fd1 ; d2 ; : : : ; dN gT :
O conjunto de autovetores é então dito ser uma base do espaço de dimensão …nita N -
dimensional gerado pelas matrizes massa e rigidez. A expressão (19.42) caracteriza o chamado
teorema de expansão. Ele é fundamental ao método de análise modal visto a seguir.
19.3 Exemplos
19.3.1 Exemplo 19.1 - Freqüências naturais
Considere a barra do Exemplo 18.1, página 498, engastada na extremidade esquerda, modelada por
três elementos. Obtenha a aproximação de elementos …nitos para sua primeira e segunda frequência
natural. Use E = 200 GPa, = 7:800 kg/m3 , A = 10 4 m2 , L = 1;0 m.
Solução:
As frequências naturais são as raízes ! 2j do polinômio característico de…nido em (19.15) pelo
determinante det[K ! 2 M] = 0. Da solução do Exemplo 18.1, o problema de autovalor para um
modo j é:
8 2 3 2 39 8 j
9 8 9
> 1 1 0 0 2 1 0 0 > >
> >
> > 0 >
>
< >
= >
<
1
j >
= >
< > =
3EA 6
6 1 2 1 0 77 AL 6
6 1 4 1 0 7
7 0
! 2j 2 = : (19.43)
>
> L 4 0 1 2 1 5 18 4 0 1 4 1 5>
> > j
> > 0 >
>
: ;>>
:
3
j
>
>
;
>
: ;
0 0 1 1 0 0 1 2 4
0
Deve-se primeiramente aplicar as condições de contorno para vincular a barra. Uma vez que ela
está engastada pelo nó 1, qualquer que seja seu movimento vibratório este deve ser tal que u1 (t) = 0.
Então todos os modos de vibração devem ser tais que j1 = 0. Levando este valor à equação signi…ca
eliminar a primeira coluna de cada matriz junto com o termo j1 . Em seguida eliminamos a primeira
linha, …cando então com matrizes 3 3. Quanto às constantes multiplicativas, dividimos a equação
por 3EA=L e de…nimos
AL=18 L2
j = ! 2j = ! 2j (19.44)
3EA=L 54E
O polinômio característico então …ca
82 3 2 39
< 2 1 0 4 1 0 =
p( j ) = det 4 1 2 1 5 j4 1 4 1 5 = 0; (19.45)
: ;
0 1 1 0 1 2
que pode ser simpli…cado para
2 2 2
p( j) = (2 4 j ) (1 2 j) (1 + j ) (1 2 j) (1 + j ) (1 4 j) = 0;
cujas três raízes são
514 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
p
11 6 3 2s 4
1 = 13 = 0; 0467458 m ! ! 1 = 8:045; 0 /s = 1:280; 4 Hz;
= 0; 50 m 2s 4 ! ! 2 = 26:311; 5 /s = 4:187; 6 Hz; (19.46)
2
p
11+6 3 2s 4
3 = 13 = 1; 64556 m ! ! 3 = 47:732; 6 =s = 7:597; 0 Hz:
Observe que os modos iniciais convergem com malhas mais grosseiras e os modos mais altos
sempre requerem malha mais re…nada para atingir precisões aceitáveis. Isto é regra geral nas
aproximações por elementos …nitos.
Solução:
O autovetor j é obtido substituindo em (19.43) o valor de ! j da Tabela 19.1 e resolvendo o
sistema para cada modo j. Para o modo 1, usamos ! 1 = 1:280; 4 Hz = 8:045 s 1 , o que corresponde
a 1 = 0; 04674 m 2 s 4 . A eq. (19.43) para o modo j = 1 …ca
2 38 1
9 8 9
1; 81304 1; 04674 0 < 2 = < 0 =
4 1; 04674 1; 81304 1; 04674 5 1
3 = 0 :
: 1 ; : ;
0 1; 04674 0; 90652 4 0
Triangularizando a matriz temos:
2 38 1
9 8 9
1; 81304 1; 04674 0 < 2 = < 0 =
4 0 1; 20868 1; 04674 5 1
3 = 0 :
: 1 ; : ;
0 0 0 4 0
1
Podemos fazer 4 = 1; 0. Neste caso resolvemos 12 = 0; 5 e 1
3 = 0; 866, isto é,
8 9
< 0; 5 =
1
= 0; 866 : (19.47)
: ;
1; 0
Seguindo procedimento similar tem-se os modos 2 e 3 de vibrações axiais da barra:
19.3. Exemplos 515
8 9 8 9
< 1; 0 = < 0; 5 =
2 3
= 0 e = 0; 866 : (19.48)
: ; : ;
1; 0 1; 0
Solução:
Os autopares obtidos foram:
0 8 91 0 8 91
p < 0; 5 = < 1 =
p
( 1; 1) = @ 11
6 3
; 3=2 A ; @( 2 ; 2 ) = (0; 5; 0 A;
2 : ; : ;
1; 0 1
0 8 91
p < 0; 5 =
11 + 6 3 p
( 3; 3) = @ ; 3=2 A :
2 : ;
1; 0
Solução:
Parte a) Para a solução analítica, primeiro usamos a equação diferencial do problema estático,
eq. (7.8):
d2 u(x)
AE + A bx (x) = 0 8x 2 (0; L); (19.50)
dx2
e aplicamos o Princípio de D’Alembert, tomando a força de corpo bx como sendo a força de inércia,
u
•. A equação do movimento para vibrações livres, e condições iniciais e de contorno …cam então:
8
> d2 u(x; t) d2 u(x; t)
>
> AE A =0 8x 2 (0; L); t > 0;
>
> dx2 dt2
>
>
>
< u(0; t) = 0; t > 0;
du (19.51)
> AE (L; t) = Afx = 0; t > 0;
>
> dx
>
>
>
> u(x; 0) = u0 (x),
>
:
u(x;
_ 0) = v0 (x),
onde fx = fx (t) é uma força por unidade de área da seção transversal, aplicada na extremidade
da barra. Este problema pode ser resolvido pelo método clássico conhecido como método de
separação de variáveis [60], [61]: suponha que a solução pode ser escrita na forma u(x; t) =
X(x)T (t) que, substituída em (19.51) resulta:
X(x)T•(t) = 0:
X 00 (x)T (t)
E
Podemos separar os termos dependentes de x e t da seguinte forma:
E X 00 (x) T•(t)
= = const = !2: (19.52)
X(x) T (t)
Uma vez que o primeiro termo é função apenas de x enquanto o segundo apenas de t, devemos
necessariamente ter que cada termo é, na realidade, constante. Denominamos esta constante de
! 2 . Isto gera duas equações diferenciais ordinárias:
(
X 00 (x) + ! 2 X(x) = 0;
E (19.53)
T•(t) + ! 2 T (t) = 0:
A primeira destas equações, quando juntadas às condições de contorno, gera o primeiro prob-
lema, o de valor no contorno. As condições de contorno são de que uma das extremidades é
engastada, u(0; t) = 0, e a outra é livre de forças. Isto resulta no problema
8
>
> d2 X(x)
>
> E + ! 2 X(x) = 0;
< dx2
X(0) = 0; (19.54)
>
> dX
>
> = 0:
:
dx x=L
Este é um problema de autovalor contínuo, não discretizado como aqueles vistos anteriormente.
De…nimos 2 = ! 2 =E. Esta equação diferencial tem solução bastante conhecida. Se ! for con-
hecido, a solução é:
dX
= A cos L = 0:
dx x=L
Como A 6= 0, é necessário que L = (2j 1) =2, para j = 1; 2; 3; . Estes são então os
19.3. Exemplos 517
(2j 1)
j = , j = 1; 2; 3; ;
2L
2
ou, usando a de…nição de , ( = ! 2 =E); as frequências naturais da barra engastada são:
r
(2j 1) E
!j = ; j = 1; 2; 3; (19.56)
2L
Os correspondentes modos naturais de vibração são obtidos levando as frequências para (19.55) com
B = 0:
Parte b) A solução aproximada para os modos de vibrações obtidas por três elementos é vista na
eq. (19.49), normalizados pela massa. Estes são então valores nodais. Os valores de deslocamentos
em cada ponto x da barra são obtidos com o uso das funções de forma. Uma vez que estas funções
são lineares em x ao longo de cada elemento, obtém-se a distribuição de deslocamentos de forma
“quebrada”, como mostrada na Figura 19.2. Os valores de j na solução analítica são 1 = 1; 57,
2 = 4; 71 e 3 = 7; 85. A solução analítica foi normalizada de forma a que o deslocamento analítico
na extremidade, Xj (L); coincida com o valor de elementos …nitos j em x = L, isto é, em (19.57)
a constante Aj foi obtida por Aj = j4 =sen j L. então, A1 = 0; 3410, A2 = 0; 4082 e A3 = 0; 5422.
modo 3
0,50
modo 1
0,25
φ(x), X(x)
0,00 L
- 0,25
modo 2
- 0,50
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00
x
Figura 19.2: Solução analítica Xj (x) e aproximada j (x), obtida por três elementos …nitos de barra,
para os três primeiros modos naturais de vibrações.
Observe que a precisão obtida decai progressivamente para os modos mais altos, como ocor-
reu também para as frequências naturais, como visto no Exemplo 19.2. Isto é regra no método
de elementos …nitos. Nota-se que, também neste exemplo, os valores nodais foram sempre exatos.
Isto ocorre sempre, mas apenas em alguns tipos de problemas unidimensionais. Prob-
lemas bi- ou tridimensionais como os de placa, casaca ou sólidos apresentam valores nodais apenas
aproximativos da solução analítica.
Note que a plotagem da Figura 19.2 representa, na realidade, deslocamentos axiais,
(pois é um modelo de barras) e não transversais como a …gura possa sugerir.
518 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
Solução:
Detalhamos aqui a solução para a viga em balanço. Esse é um problema clássico, cuja solução
sumarizamos aqui. O ponto de partida é o estabelecimento da forma forte do problema, isto é, o
conjunto de equações diferenciais e condições de contorno. A equação diferencial é a equação do
movimento de viga delgada, deduzida em (6.17), página 111, restringida para o caso de vibrações
livres, isto é, com carga transversal nula, q (x) = 0. As condições de contorno para a viga em
balanço são
d4 v d2 v
EI = A , 8x 2 (0; L) e t > 0, (19.58)
dx4 dt2
onde v = v(x; t) é o deslocamento transversal da linha de referência. As condições de contorno para
a viga em balanço são
v(0) = 0;
v’(0) = 0;
d3 v
Qy (L) = EI = 0; (19.59)
dx3 L
d2 v
Mz (L) = EI = 0;
dx2 L
onde Qy (L) é o esforço cortante e de momento ‡etor na extremidade livre. A solução v(x; y) pode
ser separada da seguinte forma
d4 X d2 T
EI T = AX .
dx4 dt2
As funções podem ser agrupadas conforme sua dependência de x ou de t:
EI 1 d4 X 1 d2 T
= = !2. (19.61)
A X dx4 T dt2
Note que esse é um método padrão de solução que funciona para diversos tipos de equações difer-
enciais parciais lineares. O procedimento prossegue, observando que, uma vez que o primeiro termo
só depende de x e o segundo só de t, ambos devem ser constantes, iguais a um valor ! 2 ainda a ser
determinado. Isso gera duas equações diferenciais ordinárias:
8 4
> d X 4 4 !2 A
< X = 0, 8x 2 (0; L), onde = ;
dx4 EI (19.62)
> 2
: d T + ! 2 T = 0, 8t > 0,
dt2
A solução geral da primeira equação é:
X(0) = 0 =) c2 + c4 = 0;
X 0 (0) = 0 =) c1 + c3 = 0;
(19.64)
X 00 (L) = 0 =) c1 sen L c2 cos L + c3 senh L + c4 cosh L = 0;
X 000 (L) = 0 =) c1 cos L + c2 sen L + c3 cosh L + c4 senh L = 0;
Esse é um novo sistema algébrico, cuja matriz deve ser singular para se ter solução não trivial.
Então, se impõe o determinante nulo:
u(t) + Ku(t) = 0:
M• (19.68)
Primeiramente formamos o problema de autovalor (19.13) e obtemos sua solução, os N autovalores
2 e os correspondentes autovetores . Usamos então o teorema da expansão (19.42), isto é,
520 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
se qualquer vetor no espaço N -dimensional gerado por K e M pode ser expandido como uma
combinação linear dos modos naturais, então a solução u(t) de (19.68) também deve poder, já que
este vetor também pertence ao mesmo espaço. Então podemos fazer
onde (t) = f 1 (t); 2 (t); : : : ; N (t)gT são os coe…cientes, os d’s de (19.42); u(t) são os desloca-
mentos nodais físicos do sistema, enquanto (t) são as chamadas coordenadas generalizadas,
aqui denominadas também coordenadas modais. Neste caso, como u(t) é um vetor que muda
a cada instante, também os coe…cientes j (t) devem ser função do tempo. Aparentemente não se
conseguiu nenhum bene…cio com a transformação vetorial acima. Simplesmente passamos de N
funções incógnitas uj (t) para outras N funções incógnitas j (t): Mas a seguir se poderá visualizar
sua utilidade.
Realizamos então as seguintes operações: substituímos (9.19) em (19.68) e pré-multiplicamos esta
última por T , o que resulta
T T
M • (t)+ K (t) = 0:
Se o conjunto de autovetores tiver sido ortonormalizado, com o uso de (19.37) e (19.40) a equação
acima …ca
Observe que, como I e 2 são matrizes diagonais, este é um conjunto de N equações diferenciais
ordinárias, homogênea, com coe…cientes constantes, desacopladas, isto é, a j-ésima equação tem
a forma
Mj1 u
•1 + Mj2 u
•2 + + MjN u
•N + Kj1 u1 + Kj2 u2 + + KjN uN = 0: (19.72)
Ela envolve, portanto, todas as N funções incógnitas uk (t), sendo um sistema do tipo acoplado.
Já em (19.70) a j-ésima equação envolve apenas uma única função incógnita, j (t): Desta forma,
cada uma das equações (19.70) pode ser resolvida separadamente. Quando todos os j (t) forem
determinados, usamos a transformação (19.69) e temos a solução u(t). Note que os coe…cientes
j (t) são apenas “coe…cientes”, funções temporárias no processo do cálculo, não tem signi…cado
físico de…nido, como tem u(t).
Passemos aos detalhes. Cada equação desacoplada em (19.70) tem solução já determinada, uma
vez que corresponde ao problema de vibrações livres não-amortecidas de um grau de liberdade. A
solução pode ser tomada de (17.30) para amortecimento nulo, = 0:
se obter informações úteis por uma simulação simpli…cada, em que o veículo seja modelado como
uma simples viga apoiada sobre duas molas que representem toda a ‡exibilidade dos pneus e do
sistema de suspensão. Aplicado um carregamento impulsivo sobre o veículo, cada parte dele se põe
a mover. No esquema da Figura 19.3b indicamos uma modelagem de elementos …nitos de cinco
elementos de viga para modelar o comportamento do modelo inicial. Note que temos dois modelos:
o veículo físico foi primeiro modelado pela viga e molas. O segundo modelo, o de elementos …nitos
visa aproximar o comportamento dinâmico do primeiro modelo, que por sua vez pretende-se que dê
informações sobre o comportamento do veículo em si.
1 2 3 4 5 6
1 2 3 4 5 6
u1(t)
ka kb
(a) (b)
Figura 19.3: (a) Esquema de um veículo, e (b) uma possível representação esquemática.
Buscamos então as seis funções, u1 (t) a u6 (t) em cada um dos seis nós da malha da Figura 19.3b,
por exemplo. Para a resolução de qualquer problema diferencial que envolve o tempo, é necessário
que se tenha um problema de valor inicial, dito bem posto. Isto signi…ca que devemos ter
a(s) equações diferenciais que regem os problemas. Mas elas não são su…cientes. É necessário que
conheçamos as condições de contorno, que em geral dizem como o sistema está vinculado. Além
disso, é necessário que se conheça as condições iniciais do sistema, isto é, devemos conhecer os
deslocamentos e velocidades de cada ponto do sistema no instante inicial, t = 0. No exemplo da
Figura 19.3b isto signi…ca conhecer os valores de deslocamento em cada um dos nós no instante
t = 0. Frequentemente a origem da medida de deslocamentos é escolhida como a con…guração do
sistema no instante inicial, ou em sua con…guração de equilíbrio. Nestes casos as condições iniciais
seriam
u(0) = uo : (19.75)
É de se esperar que o sistema continue a mover-se, devido às interações entre as forças de inércia
e as elásticas. Isto é o que explica por que a equação do movimento (19.68) pode ter solução não
nula se nela não aparece carregamento. A excitação aparece em termos de deslocamentos iniciais.
O mesmo pode ser dito sobre as velocidades iniciais. Podemos ter a cada nó valores conhecidos de
velocidade inicial:
u(0)
_ = vo ; (19.76)
isto é, u_ 1 (0) = 01 , u_ 2 (0) = 02 ; : : : ; u_ N (0) = 0N :
Note que, com uso da transformação (19.69), transformamos o conjunto de equações diferenciais
522 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
de movimento (19.68), escrito em termos de deslocamentos, nas equações diferenciais (19.70), es-
critos em termos das funções j (t). Como desejamos resolver primeiro (19.70), devemos transformar
também as condições iniciais (19.75) e (19.76) em termos de j (t). Aplicamos então a transformação
(19.69) às condições iniciais:
u(0) = (0) ) u0 = 0;
(19.77)
u(0)
_ = _ (0) ) v0 = _ 0:
Pré-multiplicamos as equações do lado direito pela matriz TM obtendo
T T T T
Muo = M o e Mvo = M _ o:
Devido à ortonormalidade dos autovetores em temos
= T Mu e _o = T Mv (19.78)
o o o
o que nos dá os valores iniciais das funções (t), a serem usados na solução do problema (19.70).
Aplicamos (19.73) no instante inicial:
_ j (0)
tan j = (19.80)
! j j (0)
j (0)
Aj = (19.81)
cos j
Estas constantes são calculadas para cada uma das equações desacopladas, de forma que todas
as funções j (t) são conhecidas de (19.73). Conhecidas estas funções a solução dos deslocamentos
nodais do sistema não amortecido sob excitação inicial vem de (19.69), isto é,
P
N
j
u(t) = Aj cos ! j t j (19.82)
j=1
Esta solução pode também ser calculada numa forma alternativa. Usamos a solução (17.40) do
problema de vibração livre unidimensional. Fazendo o amortecimento nulo naquelas equações, = 0,
obtemos as simpli…cações ! d = ! N e = 0; o que resulta na solução do problema desacoplado como:
_ j (0)
j (t) = j (0) cos ! j t + sen ! j t; para j = 1; : : : ; N; (19.83)
!j
onde j (0) e _ j (0) são obtidos resolvendo (19.78). Então os deslocamentos físicos vem de (19.69)
como:
P
N
j
_ j (0)
u(t) = j (0) cos ! j t + sen ! j t (19.84)
j=1 !j
19.4. Excitação inicial - Sistema não-amortecido 523
Essa força é aplicada de forma quase-estática, isto é, lentamente, sem gerar acelerações apreciáveis,
até que se atinja o deslocamento máximo na barra. Neste instante a força é subitamente removida.
O sistema então começa a vibrar axialmente. Determine a resposta dinâmica do sistema. Discretize
a barra em três elementos …nitos.
L, E, A,ρ
F4
1 2 3 4
Figura 19.4: Barra discretizada por três elementos, sob deslocamento inicial provocado pela remoção
da carga F .
Solução:
Após o instante em que a carga é liberada temos um problema de vibração livre com condição de
deslocamento inicial prescrito não nulo. Primeiramente devemos calcular os deslocamentos iniciais
nodais uo . No Exemplo 17.11.1 na página 499, já tínhamos obtido as matrizes K e M para uma
modelagem de três elementos, e do Exemplo 19.3 temos as frequências e modos naturais de vibração
na eq. (19.49). Estes valores são os seguintes:
2 3 2 3
4 1 0 2 1 0
AL 4 3EA 4
M= 1 4 1 5; K = 1 2 1 5;
18 L
0 1 2 0 1 1
2 p 3
r 0; 170518 1= 6 0; 271037
18 4
= 0; 295345 0p 0; 469536 5 (19.85)
AL
0; 341035 1= 6 0; 542173
e as frequências naturais são:
1
f! 1 ; ! 2 ; ! 3 g = f8:045; 0; 26:311; 5; 47:733; 4g s : (19.86)
O problema da determinação de uo é um problema estático, de…nido por Kuo = F, isto é,
2 38 9 8 9
2 1 0 < uo2 = < 0 =
3EA 4
1 2 1 5 uo3 = 0 N:
L : ; : 5 ;
0 1 1 uo4 10
T
A solução é: uo = 1; 667; 3; 333; 5; 0 10 3 m, e a velocidade inicial é vo = 0.
Passamos a seguir à determinação do sistema desacoplado de equações do movimento, eq.
(19.70). Como a matriz modal já está normalizada pela massa, as eqs. (19.85) resultam em
8 9 2 38 9 8 9
< •1 (t) = 6; 47 107 < 1 (t) = < 0 =
• (t) +4 6; 92 108 5 (t) = 0 : (19.87)
: 2 ; 9 : 2 ; : ;
•3 (t) 2; 28 10 3 (t) 0
A determinação das condições iniciais o e _ o é feita por (19.78), o que resulta em:
8 9
< 25; 31 =
T
o = Muo = 2; 832 10 4 ; _ o = T Mvo = 0: (19.88)
: ;
1; 146
524 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
De (19.80) os ângulos de fase em cada modo são: f 2; 3; 4g = f0; 0; 0g, e de (19.81) as correspon-
dentes amplitudes são:
j (0) 4
Aj = ! A = f25; 31; 2; 832; 1; 146g10 :
cos j
3
X
j
u = Aj cos ! j t;
j=1
1 2 3
= A1 cos ! 1 t + A2 cos ! 2 t + A3 cos ! 3 t:
isto é,
8 9 8 9 8 9
< u2 (t) = < 2; 073 = < 1 =
u3 (t) = 3; 590 10 3 cos(8:045; 0t) + 0 5; 554 10 4
cos(26:331; 5t)
: ; : ; : ;
u4 (t) 4; 146 1
8 9
< 1; 492 =
+ 2; 584 10 4 cos(47:733; 4t): (19.89)
: ;
2; 984
u4(t)
0,0050
0,0030
0,0010
t
-0,0010
-0,0030 2 modos
3 modos
-0,0050
0,0000 0,0020 0,0040
Figura 19.5: Curva do movimento vibratório da extremidade livre da barra ao longo do tempo, com
resposta usando os três modos na análise modal e apenas os dois primeiros modos. (A curva com
dois modos é plotada apenas a partir de t > 0; 0030 s.)
No Exemplo 19.4, Figura 19.2, vimos que a aproximação do terceiro modo com uma malha de
três elementos de barra é bastante pobre. Sua inclusão na análise modal é então desaconselhável,
e pode-se obter melhores resultados usando apenas os dois primeiros modos em (19.89), como
visto na Figura 19.5. A contribuição dos modos mais altos, neste caso, consiste apenas em gerar
irregularidades nas curvas. Observe na eq. (19.89) que a amplitude da contribuição do terceiro
modo no deslocamento do nó 4, u4 (t), é pequena quando comparada às demais, e sua frequência é
alta. Sua eliminação então não afeta sensivelmente as amplitudes de u4 (t), mas apenas a suavidade
19.4. Excitação inicial - Sistema não-amortecido 525
19.4.2 Exemplo 19.6 - Solução analítica para barra sob deslocamento inicial
Use a solução analítica obtida no Exemplo 19.4 para os modos naturais de uma barra engastada
numa das extremidades, e obtenha a solução analítica da resposta dinâmica da barra devida ao
deslocamento inicial prescrito, dado no Exemplo 19.5, i.e., u(x; 0) = F x=EA. (Observe que este
problema usa uma série de resultados da teoria de equações diferenciais parciais. Se o leitor não se
sentir confortável com o assunto pode simplesmente pular para a solução, eq. (19.97).)
Solução:
O deslocamento u(x; t) da barra é a solução do problema (19.51) visto no Exemplo 19.4. Ali
usamos o método de separação de variáveis, isto é, supusermos que a solução possa ser colocada
na forma u(x; t) = X(x)T (t), o que resultou em duas equações diferenciais ordinárias, eqs. (19.53),
uma em termos de x e outra do tempo. A primeira equação foi já resolvida no Exemplo 19.4, onde
obtivemos as frequências naturais ! j e os modos Xj (x) mostrados nas eqs. (19.56) e (19.57).
Temos agora que resolver o problema no tempo, a segunda das eqs. (19.53). Para isto temos que
primeiro identi…car as condições iniciais na barra. Se aplicarmos uma força F na extremidade,
temos um problema estático, onde o deslocamento u(x) em cada ponto é u(x) = F x=EA. A
velocidade inicial é nula. Então o problema no tempo é de…nido por:
d2 T (t)
+ ! 2 T (t) = 0; para t > 0: (19.91)
dt2
A solução deste problema é conhecida [61] e tem a forma
" s ! s !#
1
X (2j 1) x (2j 1) E (2j 1) E
u(x; t) = sen Cj sen t + Dj cos t : (19.94)
2L 2L 2L
j=1
As constantes Cj e Dj devem ser determinadas de forma a fazer com que u(x; t) satisfaça as condições
iniciais, que são:
Fx
u(x; 0) = ;
EA
du(x; t)
= 0: (19.95)
dt t=0
A única forma de (19.94) satisfazer à segunda condição é que todos os Cj ’s sejam nulos. A
primeira condição resulta no seguinte:
1
X (2j 1) x Fx
u(x; 0) = Dj sen = : (19.96)
2L EA
j=1
A forma de determinar os Dj ’s consiste em multiplicar esta equação por sen (2j 1) x=2L e integrar
no intervalo 0 x L. Observe que:
526 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
Z L
(2m 1) x (2j 1) x L sen (m j) sen (m + j 1)
sen sen dx =
x=0 2L 2L 2 (m j) (m + j 1)
O segundo termo no colchete é sempre nulo. O primeiro termo também é nulo se m 6= j. Caso m = j,
o primeiro termo é obtido fazendo lim sen (p )=p = . Multiplicando (19.96) por sen (2j 1) x=2L
p >0
e integrando tem-se
Z L Z L
2 (2j 1) x Fx (2j 1) x
Dj sen dx = sen dx;
x=0 2L x=0 EA 2L
L F 4L2 cos (j )
Dj = :
2 EA 2 (2j 1)2
o que resulta em
8F L( 1)j
Dj = 2 EA(2j
:
1)2
A solução (19.94) para o movimento da barra devido ao deslocamento inicial então …ca:
1 r
8F L X ( 1)j (2j 1) x (2j 1) E
u(x; t) = 2 EA
sen cos t (19.97)
(2j 1)2 2L 2L
j=1
Nota-se que a amplitude do movimento varia conforme o primeiro termo no colchete, ( 1)j =(2j
1)2 . Conforme o modo j cresce, o numerador apenas se alterna entre 1, enquanto o
denominador tende a zero. Isso signi…ca que a in‡uência dos modos superiores na resposta é
menor que dos modos iniciais. Isso será fundamental no método clássico visto na próxima seção.
M•u(t) + Cu(t)
_ + Ku(t) = F(t);
u(0) = uo ; (19.98)
u(0)
_ = vo ;
onde C é a matriz de amortecimento do sistema, de dimensões N N , simétrica. Na seção
a seguir veremos métodos para a estimativa da matriz de amortecimento de um sistema, mas no
momento consideraremos C como dada.
A princípio podemos tentar aplicar o mesmo processo de análise modal usado no caso de vibrações
livres não-amortecidas. Primeiro de…nimos e resolvemos o problema de autovalor
K ! 2j M j
= 0: (19.99)
Conhecidos os N autovetores formamos a matriz modal : Usamos esta matriz para transformar
os deslocamentos em novas funções (t) como na eq. (19.69), isto é, substituímos u(t) = (t) em
(19.98). Em seguida pré-multiplicamos o resultado por T e usamos as relações de ortogonalidade
(19.37) e (19.40), o que resulta em:
T 2 T
• (t) + C _ (t) + (t) = F(t): (19.100)
| {z } | {z }
c f (t)
19.5. Método de sobreposição modal geral 527
Lembremos que o objetivo da transformação da equação do movimento com o uso da matriz modal
é o de obter um conjunto de equações desacopladas que possam ser resolvidas uma a uma. Em
(19.100) as matrizes coe…cientes de • e são diagonais, porém, se C for uma matriz arbitrária, o
resultado de T C será uma matriz N N não diagonal, o que não facilita em nada a resolução do
sistema. Uma forma de contornar este problema consiste em usar uma matriz de amortecimento C
construída de forma especial, de tal maneira a se saber previamente que T C será diagonal, ou
pelo menos quase diagonal (isto é, com uma banda bastante estreita, como as matrizes tridiagonais
por exemplo). Consideremos neste momento que sabemos como determinar C tal que ela possa ser
diagonalizada. De forma geral de…nimos a matriz transformada c e o vetor força transformado f (t)
como sendo
T T
c C e f (t) F(t): (19.101)
O sistema de equações de movimento transformado, eq. (19.100), então …ca
2
• (t) + c _ (t) + (t) = f (t): (19.102)
Se tivermos c diagonal, este é um sistema desacoplado, do tipo do sistema (19.70), com N equações
na forma
onde cj = cjj é um termo da diagonal. Novamente, cada uma destas N equações diferenciais é
idêntica à equação do problema de um grau de liberdade. Comparando com (17.57), página 480,
reescrevemos cada cj em termos da frequência natural ! j e da taxa de amortecimento modal j ,
isto é,
cj = 2 j ! j ; (19.104)
tal que a matriz c tem a forma
2 3
2 1!1
6 2 2!2 7
6 7
c=6 .. 7:
4 . 5
2 N !N
A solução do problema desacoplado é composta pela sobreposição de duas parcelas. Uma parte
consiste na solução do problema de vibrações livres sob carregamento inicial, mais a solução do
problema de vibração forçada sob condições iniciais nulas. Em outras palavras a solução do problema
(19.98) é equivalente à adição das soluções dos seguintes problemas:
8 8
< M•u(t) + Cu(t)
_ + Ku(t) = 0; < M•u(t) + Cu(t)
_ + Ku(t) = F(t);
u(0) = uo ; e u(0) = 0;
: :
u(0)
_ = vo ; u(0)
_ = 0;
Para o problema de um grau de liberdade a solução conjunta destes problemas aparece na equação
(17.87) na página 485. Esta equação dá então a solução de cada uma das equações de movimento
desacopladas em (19.103) como:
Z t
1 j ! j (t )
j (t) = fj ( ) e sen ! dj (t )d
!d j 0 2 3
_ j (0) (19.105)
+e !t 4 q j(0) cos ! dj t + sen ! dj t5 , j = 1; : : : ; N
j
1 2 !d j
j
528 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
onde j (0)e _ j (t) são calculados por (19.78) usando os valores conhecidos de uo e vo , f (t) =
q q
T F(t); ! = ! 2 2 j
dj j 1 j de (17.32). De (17.35), tan j = j = 1 j e !j e são os autopares
do problema de autovalor associado (19.99). Obtidos os valores de (t) num dado instante, a solução
do problema de vibrações forçadas amortecidas é dada por (19.69):
19.5.1 Exemplo 19.7 - Solução pelo MEF de barra sob carga variável no tempo
Considere a barra do Exemplo 19.5, (ver Figura 18.4, página 499), sob condições iniciais nulas, isto
é, uo = vo = 0, submetida a uma força dinâmica de 105 sen 4:000t aplicada na extremidade, em
Newtons. Determine a resposta do sistema. (Dados: E = 200 GPa, = 7:800 kg/m3 , A = 10 4 m2 ,
L = 1; 0 m.)
Solução:
Devemos formar o sistema desacoplado de equações do movimento, eqs. (19.103). Com o auxílio
de (19.85) no Exemplo 19.5, basta calcularmos as forças generalizadas usando (19.101):
2 p 3T 8 9
r 0; 170518 1= 6 0; 271037 < 0 =
18 4
f (t) = T
F(t) = 0; 295345 0p 0; 469536 5 0 sen t; (19.107)
AL : 5 ;
0; 341035 1= 6 0; 542173 10
p
onde = 4:000 s 1 é a frequência de excitação e 18= AL = 4; 8038. O sistema desacoplado é
obtido usando as frequências naturais já obtidas no Exemplo 19.1, página 513:
8 9 2 38 9 8 9
< •1 (t) = 6; 47 107 < 1 (t) = < 163:811 =
•2 (t) +4 6; 92 108 5 2 (t) = 196:093 sen t: (19.108)
: ; : ; : ;
•3 (t) 2; 28 109 3 (t) 260:464
As condições iniciais dos deslocamentos generalizados vêm de (19.78), que resultam em: o = _ o =
0. A solução para cada equação vem da integral de Duhamel em (19.105). Por exemplo, para 3 (t),
com amortecimento nulo, 3 = 0, temos:
Z t
1
1 (t) = f1 ( ) sen ! 1 (t )d ;
!1 0
Z
1; 64 105 t
= sen sen 8:045(t )d :
8:045 0
Para os demais modos o processo é o mesmo. Podemos colocar o vetor carregamento temporal, eq.
(19.107), na forma f (t) = R sen t. Então a solução analítica para um j qualquer é:
Rj
j (t) = [ sen ! j t ! j sen t]: (19.109)
!j ( 2 ! 2j )
Observe que apenas em casos bastantes simples a integral de Duhamel poderá ser feita analitica-
mente como aqui. Em geral ela é estimada por integração numérica. A solução do sistema a cada
instante em termos de deslocamentos nodais físicos vem de (19.106), u(t) = (t):
8 9 8 9
< u2 (t) = < 16; 72 sen 8:045t + 33; 63 sen 4:000t =
u3 (t) = + 0; 441 sen 26:311t 2; 90 sen 4:000t 10 4 :
: ; : ;
u4 (t) 0; 0965 sen 47:733t + 1; 151sen 4:000t
19.5. Método de sobreposição modal geral 529
0,008
0,004
u [m]
0,000 t [s]
0,000 0,002 0,004 0,006 0,008
-0,004
-0,008
Figura 19.6: Resposta no tempo do movimento do nó 4 na extremidade da barra sob carga har-
mônica.
m N , dois métodos principais e suas muitas variações são disponíveis: o método da iteração
subespacial e o de Lanczos, que serão descritos no Capítulo 23.
As etapas de cálculo do método geral de sobreposição modal são descritas abaixo.
ETAPA 1 - Determinação das matrizes da equação de movimento, eqs. (19.98) e vetor força F(t),
u(t) + Cu(t)
M• _ + Ku(t) = F(t) (19.111)
e identi…cação das condições iniciais e condições de contorno do problema.
ETAPA 2 - Formar o autoproblema (19.13):
h i
j
K ! 2j M =0 (19.112)
Determinar os m primeiros autopares usando um dos procedimentos vistos no Capítulo 23. Colocá-
los em ordem crescente. Em caso de autovalores repetidos, usar o método de Gram-Schmidt
para ortogonalizar os autovalores. Normaliza-los pela massa, isto é, gerar as matrizes reduzidas
= diag ! 21 ! 22 : : : ! 2m ; m m;
(19.113)
= 1 2 ::: m ; N m;
tal que
TM = Im m;
TK (19.114)
= m m:
ETAPA 3 - Obter o problema desacoplado (19.103), agora em sua forma reduzida, com m equações
e m incógnitas j (t):
onde, de (19.101),
jT jT
fj (t) = F(t); 2 j !j = C j (19.116)
= T Mu ;
o o
T Mv (19.117)
_o = o:
Z tk
1
j (tk ) = fj ( ) e j !j (t ) sen ! dj (t )d
! dj
0 2 3
(0) _ (0) (19.119)
j j
+e !t 4 q cos ! dj t j + sen ! dj t5 , j = 1; : : : ; m:
1 2 ! dj
j
19.6. Estimativa do amortecimento 531
2 p+
! d tp =2 p ! tp = ; (19.121)
!d
como esquematizado na Figura 17.8, página 475. Tomemos agora a amplitude xp no pico p e a
amplitude xp+q , q picos a frente. A relação entre eles é obtida usando (17.30) e simpli…cando
usando tp de (19.121):
!
!tp (2 p+ )
xp e e !d 2q !
= !tp+q
= ! =e !d
:
xp+q e (2 (p+q)+ )
e !d
xp 2q ! 2q
pq = ln = =p (19.122)
xp+q !d 1 2
Então pq é a “porcentagem”de decremento nas amplitudes após q ciclos. Para = 8% por exemplo,
o decremento é de = 50% em apenas 1 ciclo. Para um decremento de 50% pode-se obter uma
relação entre o amortecimento e o número necessário de ciclos q:
532 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
p
2
1
q= : (19.123)
4
Esta relação é plotada na Figura 19.7.
O decremento logarítmico é o decremento entre dois ciclos subsequentes. Tomando (19.122)
para q = 1 tem-se
xp 2 ! 2
= ln = =p (19.124)
xp+1 !d 1 2
q
6,00
4,00
2,00
ζ
0 0,05 0,10 0,15 0,20
Figura 19.7: Número necessário de ciclos para um decremento total pq = 0; 5 para dado valor de
amortecimento :
O exponencial pode ser expandido em série de Taylor, tomando apenas os dois primeiros termos, os
lineares. Então, entre dois ciclos subsequentes,
xp xp xp+1
1+2 ! (19.125)
xp+1 2 xp+1
Então tem aproximadamente o signi…cado da variação da amplitude sofrida entre dois ciclos
subsequentes, dividido pela amplitude do segundo ciclo.
A equação (19.122) é a base de um dos métodos experimentais mais simples e mais usados
na determinação do quociente de amortecimento . É o chamado método do decaimento em
vibrações livres, que consiste no seguinte. Coloca-se a estrutura sob vibrações livres usando um
procedimento qualquer e mede-se a amplitude do movimento em um intervalo de m ciclos. Mede-se
a amplitude do movimento xp e xp+m em um intervalo de m ciclos e calcula-se o coe…ciente de
amortecimento por (19.122):
xp m
m = ln ! =q (19.126)
xp+m 2
m + (2 m)2
Uma série de outros métodos experimentais são disponíveis, como o da ampli…cação ressonante,
o método da largura de banda, da perda de energia por ciclo e do amortecimento his-
terético, e podem ser vistos em textos padrão de vibrações.
19.6. Estimativa do amortecimento 533
C = ao M + a1 K (19.127)
que é a expansão de Rayleigh. Estamos buscando uma estimativa para C, de preferência uma
que seja diagonalizavel. De fato, esta expansão é diagonalizavel. Para veri…ca-lo basta levamos esta
expansão a (19.101), e usar as relações de ortonormalidade da matriz modal , o que dá:
T 2
c= C = ao I + a1 ; (19.128)
portanto c é diagonal. Representando cjj em termos do amortecimento modal a expressão tem a
forma
2 3 2 3 2 3
1!1 1 ! 21
6 7 6 7 6 ! 22 7
6 2!2 7 6 1 7 6 7
26 .. 7 = ao 6 .. 7 + a1 6 .. 7 (19.129)
4 . 5 4 . 5 4 . 5
m!m 1 ! 2m
2 p ! p = ao + a1 ! 2p ;
2 q ! q = ao + a1 ! 2q .
cuja solução é
2! p ! q p!q q !p 2 q !q p!p
ao = , e a1 = (19.130)
! q ! 2p
2 ! 2q 2
!p
Existe uma forma mais geral que (19.127), diagonalizavel, que permite a incorporação de tantos
valores de quantos se queira ou disponha. Para p valores disponíveis de deve-se determinar as
p constantes a em:
X X
C=M ab M 1K b = Cb ; para b= 2; 1; 0; 1; 2;
| {z } (19.131)
b b p valores
Esta forma contém (19.127) como caso particular onde b = 0 e 1. Os valores de b podem assumir
quaisquer valores entre 1 e +1, mas os melhores resultados são obtidos tomando os valores em
torno de 0.
Para cada modo j o amortecimento generalizado é dado por (19.101) e (19.104),
jT j
cj = C = 2 !j , para j = 1; 2; ; m; (19.132)
j
onde m é a quantidade de modos usados na análise. Mas como C vem de (19.131) em termos
dos ab , a parcela b de cj é
jT 1 b j
cjb = ab M M K , para j = 1; 2; ; m: (19.133)
Observe que, se não se conseguir uma maneira de evitar a inversão de M a formulação acima é
inútil, devido ao esforço computacional inadmissível envolvido na inversão completa de uma matriz
de alta ordem. Passemos, pois, a um artifício para contornar o problema. Consideremos o problema
2
do autovalor K = M : Se o pré-multiplicamos por M 1 temos
1 1 2
M K = : (19.134)
Pré-multiplicamos agora por M 1K e usando (19.134) obtemos
1 2 4
M K = ;
e pré-multiplicando novamente por M 1K e usando (19.134) obtemos
1 3 6
M K = :
Observando o padrão destas três equações temos, por indução, que
M 1K b = 2b
(19.135)
T 1 b 2b
M M K = : (19.136)
Mas o lado esquerdo é justamente aquele da expansão de C em (19.131). Observe que agora não
mais é necessário inverter M, basta usar as frequências naturais em 2 : Tomamos apenas o modo
j como em (19.133):
19.6. Estimativa do amortecimento 535
jT 1 b j
cjb = ab M M K logo, cjb = ab ! 2b
j , para j = 1; 2; :::; m:
Então, de (19.131) e (19.132),
X
cj = ab ! 2b
j = 2 j !j , para j = 1; 2; :::; m:
b
Então,
1 X
j = ab ! 2b
j (19.137)
2! j
b
Esta expressão de…ne p equações algébricas em termos dos p valores incógnitos ab , e são conhecidos
p valores de amortecimento j . Consideremos alguns casos particulares.
C = ao M (19.139)
Caso 2 - Suponha que tenhamos conhecido apenas um valor de amortecimento, o de um modo,
q , associado a uma frequência natural ! q , como no caso anterior, porém deseja-se aplicar um
amortecimento proporcional à rigidez, na forma
C = a1 K (19.140)
Aplicando essa expressão nos valores q e ! q obtém-se
2 q
a1 = (19.141)
!q
A expansão de C …ca
1 2
C = ao M + a1 K + a2 M M K : (19.143)
Devemos buscar mais uma identidade vetorial antes de prosseguir. Tomamos a relação de ortonor-
malidade T M = I: Então, T M = 1 , o que resulta na inversa da matriz modal
1 = TM (19.144)
Pós-multiplicando esta relação em (19.135) temos
1 b 2b T
M K = M:
Podemos agora retornar a (19.143) que …ca
4 TM
C = ao M + a1 K + a2 M (19.145)
536 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
Observação: este procedimento pode ser usado mesmo que a matriz modal não tenha sido comple-
tamente determinada, isto é, se tiver sido determinado apenas os m primeiros autopares, de forma
que seja retangular, de dimensões N m. Nesse caso, em vez de 1 , é comum usar a notação
+ para designar o que se chama pseudoinversa de . + é tal que
+
= Im ; (19.146)
onde Im é a matriz identidade de ordem m. Se m = N , e é não singular, a pseudoinversa é igual
à inversa usual. Alguns detalhes são vistos nas seções 23.8.2 e 23.8.3.
Os casos 1, 2 e 3 são visualizados na Figura 19.8, com as constantes obtidas de (19.130) para
amortecimento combinado e eqs. (19.138) e (19.141) para amortecimento proporcionais à individ-
ualmente à massa e à rigidez. As três curvas foram plotadas usando = ao + a1 ! 2 =2!, tomando
valores nulos de ao ou a1 quando necessário. Veri…ca-se que no caso 1, onde C = ao M, o amorteci-
mento será maior nos primeiros modos e será mínimo nos mais altos. No caso 2, C = a1 K; ocorre
o inverso, o amortecimento será maior nos modos mais altos.
Figura 19.8: Amortecimento crítico para amortecimento proporcional à massa e à rigidez. Dados:
1 1
1 = 0; 04, ! 1 = 15 s , 2 = 0; 08 e ! 2 = 100 s . O amortecimento proporcional produz
1
a0 = 5; 3994 s e 2; 4097. Os amortecimentos proporcionais apenas à massa e à rigidez foram
obtidos pelo ponto 1 e pelo ponto 2, respectivamente. Para a massa, a0 = 7; 53982 s 1 e a1 = 0 .
Para a rigidez, a0 = 0 e a1 = 2; 5465 10 4 s.
T 1
C= c : (19.148)
19.6. Estimativa do amortecimento 537
T
C=M c M: (19.149)
Note que esta matriz contém amortecimento apenas nos modos especi…cados. Se apenas 1 , 2 e
3 forem especi…cados em (19.147), C não apresentará nenhum amortecimento nos demais modos,
diferentemente do método anterior, eq. (19.131). Normalmente, apenas os m primeiros modos serão
disponíveis, e (19.149) pode ser usado com em lugar de , isto é, C é estimado por
T
C=M c M: (19.150)
onde is pelos primeiros m autovetores ortonormalizados, e c é de ordem m m apenas com os
modos amortecidos.
Solução:
As constantes ao e a1 vem de (19.130). As duas primeiras frequências naturais foram obtidas
no Exemplo 2 como: ! 1 = 8:045 s 1 e ! 2 = 26:311; 5 s 1 . Então,
2 3
1
1 6 !1 !1
7 ao 1 ao 123; 22
4 1 5 = ! = :
2 !2 a1 2 a1 5; 8214 10 7
!2
A matriz de amortecimento vem de (19.127), usando K e M de (19.85), na página 523. Então,
C = ao M + a1 K, o que resulta
2 3
91; 215 29; 589 0
C = 4 29; 589 91; 215 29; 589 5 : (19.151)
0 29; 589 45; 608
A matriz diagonalizada é dada por (19.128), c = T C , isto é, c = ao I + a1 2:
2 3
160; 9
c=4 526; 22 5: (19.152)
1:449; 6
Mas, de (19.104), cada termo de amortecimento cj , se relaciona com o correspondente fator j e
frequência ! j na forma cj = 2 j ! j . Pode-se comparar que a matriz de amortecimento C gerada
em (19.151) corresponde a 1 = 2 = 0; 010, conforme tinha sido diretamente imposto, e também
obtemos o amortecimento indiretamente imposto ao modo 3 como 3 = 0; 0152.
Solução:
Por comodidade repetimos aqui os dados já obtidos para este problema, que tem sido desen-
volvido em diversos exemplos desde o Exemplo 18.1 (ver eqs. (19.85), (19.86) e (19.152) nas páginas
(523) e (537)):
2 p 3
r 0; 170518 1= 6 0; 271037
18 4
= 0; 295345 0p 0; 469536 5 ; (19.153)
AL
0; 341035 1= 6 0; 542173
2 3 2 3
8:0452 160; 9
2
= 4 26:3122 5 s 2, c = 4 526; 2 5 kg
s
47:7332 1:447
onde os valores de E, A, e L são dados no Exemplo 19.1, página 513. Os valores dos coe…cientes
de amortecimento, associados a c foram obtidos no Exemplo 19.11 como: 1 = 2 = 0; 010 e
3 = 0; 0152. Os deslocamentos e velocidades generalizadas foram obtidas no Exemplo 19.5, página
523 como o = [f25; 31; 2; 812; 1; 146gT e _ o = 0. Naquele problema os ângulos de fase j eram
todos nulos, uma vez que o amortecimento era considerado nulo. Agora, usando (17.32) e (17.35),
q
! dj = 1 2
j !j ! ! d = f8:045; 26:310; 47:727gT ;
j (19.154)
tan j =q ! d = f0; 01; 0; 01; 0; 0152gT ;
2
1 j
Observe que os ângulos de fase são pequenos, de ordem de meio grau, uma vez que o amortecimento
é baixo. Isto faz também com que as frequências amortecidas ! dj pouco se diferenciem de ! j . Como
o carregamento é nulo, a solução do problema generalizado é dada apenas pelo terceiro termo em
(19.105), que …ca:
j !j t
j(0)
j (t) = Aj e cos ! dj t j , com Aj = q j = 1; : : : ; N:
2
1 j
8 9 8 9
< u2 (t) = < 20; 73 =
u3 (t) 104 = 35; 90 e 80;45t cos(8:045t 0; 010)
: ; : ;
8u4 (t) 9 41; 46 8 9
< 1 = < 1; 492 =
+ 0 5; 554e 263t cos(26:310t 0; 01) + 2; 584 e 726t cos(47:727t 0; 0152)
: ; : ;
1 2; 984
(19.156)
A Figura 19.9 mostra o histórico do deslocamento do nó na extremidade da barra pela aproxi-
mação da função u4 (t) obtida por elementos …nitos a partir da eq. (19.156). É visível a atenuação
da amplitude ao longo dos ciclos.
u4(t)
0,005
0,003
- 0,003
- 0,005 t
0 0,002 0,004 0,006 0,008
Figura 19.9: Vibração livre amortecida da extremidade da barra do Exemplo 19.9: aproximação
por elementos …nitos de u4 t.
variando no tempo conforme 105 sen t, com = 4:000 s 1 . Determine a aproximação de elementos
…nitos para a resposta do sistema. (Observe que este é o mesmo Exemplo 19.9, porém considerando
um carregamento nodal em vez de deslocamento inicial). Os dados do sistema já estão sumarizados
nos Exemplos 19.7 e 19.9. A modelagem de elementos …nitos é feita com três elementos de barra
como na Figura 18.4 na página 18.4.
Solução:
As matrizes de MEF, os modos e frequências naturais da barra foram determinados nos exemplos
anteriores, eqs. (18.33), (19.46)-(19.47) e os resultados estão sumarizados nas eqs. (19.153), página
538, enquanto as forças generalizadas fj (t) em cada nó j, do sistema desacoplado, foram calculados
na eq. (19.107), e valem:
2 p 3T 8 9
r 0; 170518 1= 6 0; 271037 < 0 =
18 4
f (t) = T
F(t) = 0; 295345 0p 0; 469536 5 0 sen t;(19.157)
AL : 5 ;
0; 341035 1= 6 0; 542173 10
8 9
< 163:811 =
= 196:093 sen t:
: ;
260:469
Temos assim todos os termos da equação completa do movimento desacoplada, eq. (19.103). A
solução é dada por (19.105), página 527, onde apenas o termo da integral de Duhamel é não nulo,
uma vez que as condições iniciais são nulas. Cada um dos termos tem a seguinte forma:
Z t
1 j ! j (t )
j (t) = aj sen e sen ! dj (t )d ; (19.158)
!d j 0
onde aj é a amplitude da força generalizada f (t) em cada modo dada em (19.157). A integração
analítica é
aj gj e j !j t + hj ! d j
j (t) = 2
;
!d j 2 2 2 2
j !j + ! 2d j +2 2
j !j ! 2d j + 4
2 2
onde gj = 2 j ! j cos(! d j t) + j !j ! 2d j + 2
sen(! d j t) e
2 2
hj = 2 j ! j cos( t) + j !j + ! 2d j 2
sen( t) : (19.159)
PN
A solução para o histórico dos deslocamentos físicos nodais é dada por ui (t) = j=1 ij j (t). O
deslocamento no nó 4 na extremidade da barra é dado por:
540 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
5 5 80;46t 6 263t
u4 (t) = 8:117 10 c0 + 7; 270 10 e c1 + 1; 7697 10 e c2 (19.160)
6 7255t 3 3 80;45t
+6; 696 10 e c3 + 6; 354 10 s0 2; 737 10 e s1
5 263t 5 7255t
8; 641 10 e s2 2; 190 10 e s3 ;
onde c0 = cos t, c1 = cos 8:046t, c2 = cos 26:313t, c3 = cos 48:862t, s0 = sen t, s1 = sen 8:046t,
s2 = sen 26:313t, s3 =sen 48:862t:
A Figura 19.10 mostra a plotagem de u4 (t) conforme (19.160), no intervalo de tempo de 0 a
0,06 s. Pode-se visualizar um leve decaimento da amplitude devido ao amortecimento. Da equação
nota-se que, no limite para t ! 1, todos os termos que contem exponencial tendem a zero, deixando
apenas os termos em co e so , de forma que u4 (t) tende a
5 3
u4 (t)j1 = 8:117 10 cos t + 6; 354 10 sen t; (19.161)
isto é, um movimento com amplitude constante igual a 6; 355 10 3 m, harmônico, com a mesma
frequência do carregamento, = 4:000 s 1 . O presente cálculo foi realizado utilizando 3 modos na
sobreposição modal. caso se utilize apenas 2 modos obtém-se amplitude 6; 07 10 3 m.
0,0075
0,005
0,0025
t
- 0,0025
- 0,005
- 0,0075
0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06
19.7 Exercícios
Seções 19.1-19.5.
19.1 Determine as frequências naturais para a barra em balanço no Exemplo 19.1, para 4, 5,..., 10
elementos. Complete a Tabela 19.1, página 514, e plote os erros relativos
p para cada modo
versus o número de nós do modelo. (Solução analítica: ! j = (2j 1) E= =2L para o modo
j.)
19.2 Considere o sistema da Figura 19.11.
(a) Mostre que as matrizes do sistema são:
2 1 1 0
K=k ; M=m :
1 2 0 2
3 1 1 0
K= ; M= :
1 2 0 0; 5
p p
(Solução: w12 = 2; w22 = 5; 1
= f1; 0; 1; 0gT 2=3; 2
= f1; 0; 2; 0gT 1=3.)
19.4 Considere o sistema do problema anterior com as seguintes condições iniciais: uo = {1/3; 1}T ,
vo = {0; 0}T . Obtenha a resposta do sistema sob vibração livre não amortecida.
em vibração livre sob as seguintes condições iniciais: uo = f0; 5; 0; 4; 0; 3gT , vo = f0; 9; 0gT .
19.6 Considere o sistema do Exercício 19.3 com condições iniciais nulas, mas com um carregamento
dado por F(t) = f0; 5gT .
p p
(a) Determine a solução u(t). (Solução: 1 = 2; 5 2=3(1 cos ! 1 t); 2 = 2= 3(1 cos ! 2 t);
u(t) = .)
19.8 Plote e compare a solução analítica dos modos de vibração da barra em vibração livre sob
deslocamento inicial prescrito, eq. (19.97) obtida no Exemplo 19.6, com a solução de elementos
…nitos, eq. (19.89), obtida no Exemplo 19.5 com três elementos.
Seção 19.6.
19.10 Considere um sistema de…nido pelas matrizes do Exercício 19.5, com quocientes de amorteci-
mento ao primeiro e terceiro modos de 1 = 3 = 0; 05, como no Exercício 19.9, submetido a
um carregamento F(t) = [f0; 0; A sen !tgT . Determine a solução u(t).
542 Capítulo 19. Método de sobreposição modal
19.11 Considere um sistema de…nido pelas matrizes do Exercício 19.7 com amortecimento 1 = 3 =
0; 05, sob vibração livre. Considere que os deslocamentos iniciais são aqueles devidos a uma
carga estática F(t) = f0; 0; AkgT . Compare com a solução não amortecida. Determine a
solução u(t).
u1(t)
u2(t)
k1 = k k2 = k
m1 = m
m2 = 2m
k3 = k
19.12 Dado o problema padrão de autovalor [A sI] u = 0, com A uma matriz real e simétrica e I
uma matriz identidade. Prove que, se ( ; u) for um autopar, seu conjugado complexo ; u ,
também o é, isto é, ambos satisfazem A = I e A = I :
19.13 Use a dedução mostrada no Exemplo 19.4a para deduzir a expressão (19.67) das frequências
naturais de vibração axial de uma barra.
Capítulo 20
F2 v4
F1
3 4 5 3 4 5
u2 u6
2 6 2 6
y y
1 7 1 7
x x
(a) (b)
Figura 20.1: (a) Pórtico plano de 7 nós (21 g.l.) e (b) indicação de 3 g.l. mestres, nos nós 2, 4 e
6, para uso no método de Redução de Guyan. Caso se deseje usar 5 g.l. mestres, se poderia, por
exemplo, adicionar as rotações dos nós 3 e 5.
Kmm um + Kme ue = 0;
(20.2)
KTme um + Kee ue = 0:
Resolvendo a segunda equação para ue tem-se
um I
u= = um ; (20.4)
ue Kee1 KTme
onde I é uma matriz identidade de ordem m. Essa expressão pode ser posta na forma
Tm I
u = Tum com T= = (20.5)
Te Kee1 KTme
Ku= F;
KTum = F; (pré-multiplicar por TT )
T T
T
| {zKT}um = T
| {zF} ! Kum = F (20.6)
K F
O problema Kum = F tem agora dimensão reduzida m. Observação: no caso estático, não
há economia de tempo de processamento, isto é, redução no número de operações pelo uso do
sistema reduzido, devido às operações necessárias para determinar a matriz T. Nota-se que
essa é uma condensação estática de graus de liberdade.
20.1. Redução de Guyan 545
T T
K !2M m = 0, onde K = T KT e M = T MT (20.7)
onde m é um vetor modal reduzido, contendo apenas os graus de liberdade master. Como
o sistema é pequeno, de ordem m, todos os m autopares podem ser determinados, formando
a matriz modal master m , m m. Em seguida, os modos são obtidos de forma completa,
incluindo os graus de liberdade mestre e escravos, fazendo a transformação = T m . Obser-
vação: o método de iterações subespaciais (ver seção 23.6) de determinação de autopares em
problemas de grande porte faz, dentro de suas iterações um processo de redução mais e…ciente
que esse obtido via redução de Guyan.
Etapa 5 - Em Y substituir Kmm por I, o que gera uma matriz modi…cada Y0 ocupando a
mesma área de memória anteriormente ocupada por Y.
I 0 Tm I
= ; (20.10)
0 Kee Te KTme
Observações:
3. Os graus de liberdade no sistema reduzido de Guyan são físicos, ao contrário das matrizes
no sistema modal. Em algumas situações essa característica do sistema de Guyan pode ser
vantajosa.
4. Geralmente a matriz modal é ortonormalizada pela massa, de forma que M e K são diago-
nais, e é possível considerar C também diagonal. Isso permite o desacoplamento da equação
do movimento reduzido no espaço modal. Entretanto, o sistema reduzido produzido por T,
eq. (20.8), não possui essa propriedade, o que impede sua integração equação a equação. Para
excitação não periódica, torna-se necessária a integração direta de todo o sistema simultanea-
mente, seguindo um dos métodos vistos no Capítulo 21. Para excitação harmônica, a análise
harmônica (ver próxima seção) envolve apenas a triangularização de uma matriz reduzida a
cada frequência de excitação sendo calculada.
5. Se a matriz modal for obtida via um método como o de iterações subespaciais ou de Lanczos,
ela provê uma modelagem bastante mais precisa dos primeiros m modos do sistema que aquele
produzido por T.
6. Em geral, os softwares comerciais de elementos …nitos dispõem das duas formas de redução em
problemas dinâmicos, a modal e a de Guyan. Discussões e resultados numéricos comparativos
podem ser vistos em [45].
0,16
0,12
0,08
0,04
Figura 20.2: Amplitude [m] versus frequência de excitação [Hz] obtida por redução modal usando
2 modos num sistema de 3 graus de liberdade. As barras verticais indicam as frequências naturais
não amortecidas (1.280, 4.188, 7.597 Hz) obtidas pela malha de 3 elementos, na página 514.
reduzidas pela matriz modal, e geram um sistema modal desacoplado. Em outra forma, as matrizes
são reduzidas via matriz de transformação T seguindo a redução de Guyan vista na seção 20.
T T
f (t) = F(t) = | {zB} ei t
; (20.13)
D
T
onde D = B é também complexo, de dimensão m, dado por
T T
D= B= BR + iBI (20.14)
onde BR e BI são as partes real e imaginária de B. Cada uma das componentes de D pode ser
expressa em parte real/imaginaria como Dj = DjR + iDjI , ou ainda em amplitude e ângulo por
r
2 2 DjI
Dj = dj ei j , onde dj = DjR + DjI e tan j = R : (20.15)
Dj
Para cada componente modal se tem
fj (t) = Dj ei t
= dj ei( t+ j ), para j = 1; 2; ; m: (20.16)
A solução de cada equação (20.11) é dada em (17.44) e em (17.46), página 476,
dj ei( t j+ j) 2 j =! j
j (t) = h i1=2 e tan j = : (20.17)
! 2j 2 2 2 1 2
j
1 j + 2 j j
onde j = =! j . Uma vez todas as m soluções modais tenham sido obtidas o vetor (t) é comple-
tamente conhecido, e toma a forma
dj ei( j+ j)
(t) = Nei t , onde Nj = h i (20.18)
! 2j 2 2 2 1=2
1 j + 2 j j
A solução física é obtida pela transformação modal, tomando, por exemplo, a parte real de
20.2. Análise de resposta harmônica 549
u(t) = N ei
(t) = |{z} t
= Uei t : (20.19)
U
Nota-se que U é um vetor complexo de dimensão N . Na presente análise não se busca a solução
temporal, mas apenas U, que pode ser representado por sua parte real e imaginária ou por sua
amplitude e ângulo de fase. Esses últimos são dados por
i
Uk = Uk e k
, para k = 1; 2; ; N. (20.20)
Assim, a solução temporal …ca
uk (t) = Uk ei( t k)
: (20.21)
Nos programas comerciais a solução pode ser apresentada através do par amplitude/ângulo de fase
(Uk e k ), ou na parte real/imaginária de U obtida de (20.19).
A Tabela 20.2.1 apresenta um ‡uxograma para o processo de cálculo do método harmônico via
redução modal.
Solução:
As matrizes de MEF, os modos e frequências naturais da barra foram determinados nos exemplos
anteriores, eqs. (18.33), (19.46)-(19.47) e os resultados estão sumarizados nas eqs. (19.153), página
538. No processo utilizaremos apenas os dois primeiros modos, que tem os seguintes valores: w1 =
8:045 s 1 , w1 = 26:311; 5 s 1 , com os quocientes de amortecimento 1 = 2 = 0; 01 e modos
2 p 3
r 0; 170518 1= 6
18 4
= 0; 295345 0p 5 . (20.22)
AL
0; 341035 1= 6
O carregamento real tem ângulo de fase nulo. As partes real e imaginária da amplitude de F
são
8 9 8 9
<0 = < 0 =
BR = 0 BI = 0 :
: ; : ;
105 0
O módulo do vetor de carregamento modal …ca
T 163:830 0
D= B tal que DR = , DI = :
196:116 0
r
2 2
i
A conversão de D para a forma polar Dj = dj e j é feita na forma rotineira: dj = DjR + DjI
e j = arctan DjI =DjR . Entretanto deve-se tomar o cuidado no caso em que DjI = 0 e DjR < 0 como
no modo 2. A equação produziria ângulo de fase 2 = 0. Nesse caso, deve-se ter 2 = . Assim
tem-se
163.830 0
d= , = .
196.116
( )
2 j 0,0132089 0,00336226 ei( 1 1)
j = arctan ! = eN= : (20.23)
1 2
j
0,0031125 0,000289996 ei( 2 2)
0,00336196 -4,441 10 5
NR = e NI = :
0,000290 9,026 10 7
8 9 8 9
< 2,1852 = < 1; 584 =
Uamp = 4,7692 10 3
m, ângulos de fase = 1; 321 10 2
rad (20.24)
: ; : ;
6,077 1; 223
Então, a resposta no nó 4 da malha (ver Figura 18.4), página 499, é dada pela parte real de
u4 (t) = 6; 077 10 3 ei(4:000t+0;01223) . Observe-se que essa amplitude no nó 4 da malha, 6,077 10 3 ,
é bastante próxima do valor de amplitude obtido pelo método de sobreposição modal, no Exemplo
19.10, eq. (19.161), com o valor de 6,355 10 3 quando o método de sobreposição era feito com
os três modos e amplitude 6; 07 10 3 m quando utilizava apenas 2 modos. Como comparação, o
Exemplo 19.12 a seguir determina a solução analítica para a amplitude da seção extrema da barra,
para vibrações harmônicas não amortecidas, no valor de 6; 38734 103 m.
O procedimento entre as eqs. (20.23) e (20.24), pode ser realizado para uma série de valores de
frequências , e os resultados são mostrados nas Figuras 20.2 e 20.3. Nessas …guras as frequências
de excitação coincidentes com as frequências naturais foram marcadas com barras verticais. Nota-se
que, como foram utilizados dois modos na análise, as duas frequências naturais são bem identi…cadas
em ambos os grá…cos: no grá…co de amplitudes aparecem os picos e no de ângulos de fase existem
as trocas de sinal. Entretanto, a terceira frequência natural não é identi…cada.
Nota-se que a amplitude máxima no primeiro pico ocorre numa frequência um pouco menor que
a primeira frequência natural. Isso é coerente com a solução analítica do problema de um grau de
liberdade, como pode ser visto em (17.47), página 477. Entretanto nota-se na solução aproximada
desse exemplo, Figura 20.2, a frequência do segundo pico de amplitude é bem aproximada, porém
aparece superior à segunda frequência natural. Isso é um re‡exo do fato de terem sido usados apenas
dois modos na redução das matrizes.
1,0
0,5
0
- 0,5
-1,0
Figura 20.3: Ângulo de fase [rad] versus frequência de excitação [Hz] obtida por redução modal
usando 2 modos. As barras verticais indicam as frequências naturais não amortecidas (1.280, 4.188,
7.597 Hz) obtidas pela malha de 3 elementos, na página 514.
Solução:
Considera-se a solução analítica para os modos naturais de vibração desenvolvida no Exemplo
4. A equação diferencial de movimento é a eq. (19.51), página 516:
552 Capítulo 20. Redução matricial e resposta harmônica
d2 u(x; t) d2 u(x; t)
AE 2
A =0 8x 2 (0; L); t > 0;
dx dt2
u(0; t) = 0; t > 0; (20.25)
du
AE (L; t) = Afx ; t > 0;
dx
onde fx = fx (t) é uma força por unidade de área da seção transversal, aplicada na extremidade
da barra. No presente caso, essa é a excitação harmônica dada por Afx = b cos t, com b = 105 .
A solução desse problema pode ser obtida por separação de variáveis por u(x; t) = X(x)T (t). A
solução é harmônica com a mesma frequência da excitação (e com ângulo de fase nulo devido à
ausência de amortecimento). No espaço a solução é uma combinação linear dos modos de vibração
sen x e cos x:
2
2
X(x) = C1 sen x + C2 cos x, onde = (20.26)
E
e a solução temporal é dada por T (t) = cos t. A solução geral tem a forma
du
(L; t) = Afx ;
EA
dx
EAC1 cos L cos t = b cos t.
Essa expressão só pode ser satisfeita se C1 = b=( EA cos L). Assim, a solução temporal do
problema de vibração harmônica da barra é
b
u(x; t) = sen x cos t (20.28)
( EA cos L)
b
u(x; 0) = sen x;
( EA cos L)
u(x;
_ 0) = 0 (20.29)
b 105
uampl (L) = sen x = sen L
( EA cos L) L=1 0; 789937 200 109 10 4 cos L
o que resulta em uampl (L) = 6; 38734 10 3 m. A Figura 20.4 mostra a variação da amplitude
do deslocamento na extremidade da barra em termos da frequência de excitação . Uma vez que
não foi incluído amortecimento, os picos de amplitude vão ao in…nito nas frequências de excitação
correspondentes às frequências naturais da barra, determinadas na Tabela 19.1 para esses dados
como {7.955, 23.864, 39.773}rad/s.
20.2. Análise de resposta harmônica 553
0,04
0,02
Amplitude [m]
0
-0,02
-0,04
0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000
Frequency [1/s]
Figura 20.4: Solução analítica para amplitude de deslocamento na extremidade da barra versus
frequência de exitação . As frequencias de reversão de fase para esses dados foram determinadas
na Tabela 19.1, pg 514, como {7.955, 23.864, 39.773}rad/s.
F(t) = B ei t
onde Bk = bk ei k ; para k = 1; 2; ; N; (20.31)
onde B é complexo, bk e k são a amplitude e o ângulo de fase do carregamento no grau
de liberdade k. Sendo F(t) colocado na forma complexa, também (t) será complexo, também
harmônico com a mesma frequência da excitação, isto é,
2 3
4K 2
C5 N = T T
| {z M}+i|{z} | {zB}
k c g
[k+ic]N = g (20.33)
| {z }
k( )
Esse é um problema algébrico cuja matriz k( ) [k+ic] é complexa, não esparsa, de dimensões
554 Capítulo 20. Redução matricial e resposta harmônica
m m, dependente da frequência de excitação . Uma vez que a solução N tenha sido obtida,
deve-se levá-la a (20.32) e em seguida aplicar à transformação de Guyan de volta ao espaço completo
gerando o histórico de deslocamento:
TN ei
u(t) = T (t) = |{z} t (20.34)
U
Nota-se que U é um vetor complexo de dimensão N . Na presente análise não se busca a solução
temporal, mas apenas U, que pode ser representado por sua parte real e imaginária ou por sua
amplitude e ângulo de fase. Esses últimos são dados por
i
Uk = Uk e k
, para k = 1; 2; ; N. (20.35)
Assim, a solução temporal …ca
uk (t) = Uk ei( t k)
: (20.36)
Nos programas comerciais a solução pode ser apresentada através do par amplitude/ângulo de fase
(Uk e k ), ou na parte real/imaginária de U obtida de (20.34). A Tabela 20.2.4 apresenta um
‡uxograma para o processo de cálculo do método harmônico via redução de Guyan.
kNR cNI = gR ;
(20.39)
kNI + cNR = gI :
Esse sistema pode ser reorganizado numa matriz única na forma
NR gR k c
A = onde A= : (20.40)
NI gI c k
Esse é um sistema de ordem 2m, real, com matriz não simétrica e dependente da frequência de
rotação . Como é um sistema “pequeno”, ele pode ser resolvido para cada valor de . Nota-se
que, se o sistema não tivesse sido reduzido pela transformação de Guyan, o sistemas (20.40) teria
ordem 2N , e o custo de sua solução para cada poderia ser proibitivo.
Normalmente C é gerada proporcional à massa e à rigidez, conforme a seção 19.6.3. Existem
duas possibilidades quanto à vinculação da estrutura: ela pode estar vinculada de forma a não
apresentar movimentos de corpo rígido, ou a vinculação pode ser insu…ciente e a estrutura poder
apresentar movimento de corpo rígido.
Se a estrutura estiver su…cientemente vinculada, a aplicação das condições de contorno nas
matrizes faz com que K se torne não singular. Como M é sempre não singular, segue-se que
também C …ca não singular. Essas características são herdadas pelas suas correspondentes matrizes
20.2. Análise de resposta harmônica 555
c = C, nota-se que k pode se tornar quase singular (portanto mal condicionada), se for um valor
próximo de alguma frequência natural. Entretanto, como o sistema é pequeno, isso normalmente
não causa di…culdades na solução se c 6= 0. Caso c = 0, a tendência é que k, e por consequência, A,
sejam singular em algum valor de próximo de cada freqência natural. Esses valoresh críticos
i de ,
que podem ser designados por cr , são os m autovalores gj do sistema reduzido K gj2 M xj = 0.
Nota-se que, como a matriz de transformação não aproxima corretamente os m primeiros modos
de vibrações não amortecidas da estrutura, os gj não serão as suas frequências naturais, embora
possam ser aproximações.
Caso o sistema seja amortecido, c 6= 0 faz com que A seja não singular mesmo em = gj .
Solução:
As matrizes de MEF, os modos e frequências naturais da barra foram determinados nos exemplos
anteriores, eqs. (18.33), (19.46)-(19.47) e as matrizes massa e rigidez são:
556 Capítulo 20. Redução matricial e resposta harmônica
2 3 2 3 2 3
2 1 0 12 6 0 4 1 0
3EA 4 5 4 AL 4
K= 1 2 1 = 6 12 6 5 107 M= 1 4 1 5
L 18
0 1 1 0 6 6 0 1 2
O carregamento é real, com ângulo de fase nulo. Suas partes real e imaginária são
8 9 8 9
0 =
< < 0 =
BR = 0 BI = 0 :
: ; : ;
105 0
Considerando para a frequência de excitação de = 4000 /s, a primeira fase da solução consiste
na determinação da matriz de transformação de Guyan, conforme a seção 20.1.1. Inicialmente
de…nem-se os graus de liberdade mestre como os deslocamentos axiais dos nós 3 e 4 da malha
da Figura 18.4. Como as matrizes do MEF foram obtidas excluindo o grau de liberdade restrito,
associado ao nó 1, tem-se 3 graus de liberdade no modelo, que correspondem aos deslocamentos nos
nós 2, 3 e 4. Então, os graus de liberdade mestre são os graus 2 e 3 nas matrizes, o que de…ne a
matriz de dimensões 3 2:
2 3
0 0
X =4 1 0 5
0 1
O produto KX = Y resulta em
2 3 2 3 2 3
12 6 0 0 0 6 0
4 6 12 6 5 107 4 1 0 5=4 12 6 5 107 = Y: (20.42)
0 6 6 0 1 6 6
Em seguida removem-se as linhas correspondentes aos graus mestre, e incluindo 1’s nas posições
adequadas, e faz o mesmo com as linhas/colunas de K, o que resulta em
2 3 2 3
6 0 12 0 0
Y0 = 4 1 0 5 107 e K0 = 4 0 1 0 5 107 :
0 1 0 0 1
O módulo do vetor de carregamento reduzido é g= TT B, tal que suas partes real e imaginária são
0 0
g = TT B tal que gR = , gI = :
105 0
0,20
0,15
0,10
0,05
Figura 20.5: Amplitude [m] versus frequência de excitação [Hz] obtida por redução de Guyan usando
graus de liberdade mestre dos nós 2 e 3. As barras verticais indicam as frequências naturais não
amortecidas (1.280, 4.188, 7.597 Hz) obtidas pela malha de 3 elementos, na página 514.
1,5
1,0
0,5
0
- 0,5
- 1,0
- 1,5
0 2000 4000 6000 8000
Figura 20.6: Ângulo de fase [rad] versus frequência de excitação [Hz] obtida por redução de Guyan
usando graus de liberdade mestre dos nós 2 e 3. As barras verticais indicam as frequências naturais
não amortecidas (1.280, 4.188, 7.597 Hz) obtidas pela malha de 3 elementos, na página 514.
k c NR gR
= que …ca
c k NI gI
2 3 8 9
858; 4 606; 9 3; 378 1; 184 0
>
> >
>
6 606; 9 < =
6 586; 13 1; 184 1; 824 77 105 NR 105
4 3; 378 = ; (20.44)
1; 184 858; 4 606; 9 5 NI > 0
> >
>
: ;
1; 184 1; 824 606; 9 586; 13 0
e sua solução é
558 Capítulo 20. Redução matricial e resposta harmônica
4,503 6; 1676
NR = 10 3
e NI = 10 5
.
6,368 7; 4594
Finalmente, a solução nodal completa é obtida por U = T NR +iNI :
8 9 8 9
< 2; 2514 = < 3; 0838 =
UR = 4; 5030 10 3 e UI = 6; 1676 10 5
:
: ; : ;
6; 3685 7; 4594
cujas amplitudes e ângulos de fase são os seguintes
8 9 8 9 8 9
< u2 = < 2; 2516 = < 1; 367 =
3
Amplitudes = u3 = 4; 5031 10 e Ângulos de fase = 1; 367 10 2 :
: ; : ; : ;
u4 6; 3689 1; 171
(20.45)
Então, a resposta no nó 4 da malha (ver Figura 18.4), página 499, é a parte real de u4 (t) = 6; 3689
10 3 ei(4:000t+0;01171) . Observe-se que essa amplitude no nó 4 da malha, 6; 3689 10 3 , é bastante
próxima do valor de amplitude obtido pelo método de sobreposição modal, no Exemplo 19.10, eq.
(19.161), com o valor de 6; 355 10 3 quando o método de sobreposição era feito com os três modos
e amplitude 6; 07 10 3 m quando utilizava apenas 2 modos. Como comparação, o Exemplo 19.2 de-
termina a solução analítica para a amplitude da seção extrema da barra, para vibrações harmônicas
não amortecidas, no valor de 6; 38734 103 m.
Nota-se da Figura 20.5 que a amplitude máxima no primeiro pico ocorre numa frequência um
pouco maior que a primeira frequência natural. Isso é contrário do que se espera baseado na
solução analítica do problema de um grau de liberdade, como pode ser visto em (17.47), página
477. Também a solução aproximada mostra que a frequência do segundo pico de amplitude aparece
numa frequência (5.600 Hz) muito superior à segunda frequência natural (4.187,6 Hz). Isso é um
re‡exo do fato de terem sido usados apenas dois modos na redução das matrizes.
Note-se que a diferença dos valores aproximados nos Exemplos 19.10, 19.1 e 19.3 pelo MEF com
o valor analítico deve-se a diversas causas:
O procedimento entre as eqs. (20.23) e (20.24), pode ser realizado para uma série de valores de
frequências , e os resultados são mostrados nas Figuras 20.5 e 20.6. Nessas …guras as frequências de
excitação coincidentes com as frequências naturais foram marcadas com barras verticais. No grá…co
de amplitudes as frequências naturais são identi…cadas pelos picos e no de ângulos de fase existem
as trocas de sinal. Nota-se que a aproximação da primeira frequência natural foi mais e…ciente no
presente exemplo, com redução de Guyan, que com a redução modal (que produziu estimativa de
amplitude de 6; 077 10 3 com dois modos no exemplo anterior. Aqui, a segunda frequência foi mal
indicada no grá…co de amplitudes, e a terceira não apareceu. Já no grá…co dos ângulos de fase, a
segunda e a terceira frequência natural aparecem mal estimadas, indicadas pelas trocas de sinal do
ângulo, próximos 3.000 Hz e de 5.600 Hz, em lugar dos valores corretos de 4.187,6 Hz e de 7.597 Hz.
Capítulo 21
Os métodos de integração direta fornecem resposta temporal para históricos temporais de carrega-
mento que variam arbitráriamente no tempo. A princípio, os métodos diretos cumprem a mesma
…nalidade que o método de sobreposição modal, entretanto diversas diferenças notaveis devem ser
apontadas entre a aplicabilidade de um e de outro:
2. No que se refere a problemas lineares, existe uma diferença entre análises de curta e de longa
duração ao longo do tempo. A duração da análise é geralmente associada à duração da
excitação. Pode-se identi…car, grosso modo, dois tipos de análise quanto à duração:
3. Todo histórico de excitação pode ser decomposto em seu conteúdo de frequências, como uma
combinação linear de muitas ou de in…nitas excitações harmônicas, cada uma com sua ampli-
tude e frequência. Em problemas dinâmicos de máquinas rotativas pode ocorrer que a frequên-
cia de excitação seja única, igual ao valor da rotação do componente. Em grande quantidade
de outras situações, o histórico de carregamento é aleatório, porém de…nido apenas por uma
faixa de frequências limitadas abaixo de certo valor, ! f , sendo que as amplitudes associadas
às frequências superiores a essa são bastante pequenas. Deve-se lembrar que cada frequência
natural da estrutura possui um amortecimento modal, que faz com que a resposta modal tran-
siente se dissipe ao longo do tempo, conforme o fator e &!j t . Ocorre que pode ser provado que
problemas com carregamentos de impacto, caracterizados por curta duração, excitam altas
frequências da estrutura. Nesse caso, o custo de determinar uma grande quantidade de modos
de vibrações torna ine…ciente o uso do método de sobreposição modal, sendo mais adequados
os métodos de integração direta. Adicionalmente, diversos problemas de impacto envolvem
comportamento inelástico do material, além de grandes deslocamentos e deformações, isto é,
são problemas não lineares, o que impede o uso de sobreposição modal. Por outro lado, em
casos de carregamentos de longa duração, que sejam caracterizados por poucas frequências
excitadas na estrutura, são adequados ao método de sobreposição modal.
560 Capítulo 21. Métodos de integração direta
4. Em resumo, tem-se a seguinte diretriz geral para o uso dos dois métodos:
Apesar dos métodos diretos serem aplicaveis a problemas não lineares, sua formulação básica é
melhor descrita num problema linear, quando diversos teoremas de estabilidade e de convergência
podem ser mais facilmente deduzidos, e seu comportamento geral pode ser avaliado. Como será
visto, em geral esses teoremas são baseados na decomposição modal da solução, o que pressupõe
linearidade do problema. O conceito geral de um método de integração direta pode ser enten-
dido sucintamente da seguinte forma. Considere uma equação diferencial ordinária, de coe…cientes
constantes, de segunda ordem, como por exemplo, a equação de movimento de um sistema massa-
mola-amortecedor1
mu
• + c u_ + k u = F (t) para t > 0; (21.1)
submetido às condições iniciais u(0) = uo e u(0)
_ = vo onde m; c e k são a massa, o amortecimento
e a rigidez da mola, F (t) é o histórico de força externa aplicada, u(t) é o histórico de deslocamento
sofrido pela massa como resposta do carregamento F , do deslocamento inicial uo e da velocidade
inicial vo aplicada à massa. Em lugar de buscar a solução analítica u(t), busca-se obter uma
aproximação por integração numérica. Isso é feito, inicialmente, particionando o domínio do tempo
em intervalos de comprimento t; como na Figura 21.1, de forma que se tem a seqüência de instantes
t0 = 0;
t1 = t;
t2 = 2 t;
..
.
tn = n t: (21.2)
Os métodos mais usados são sequenciais, também chamados métodos de marcha no tempo. Signi…ca
que a solução é obtida instante a instante ao longo do tempo, a partir dos dados iniciais em t0 .
Então, num dado ponto da solução se tem conhecidas aproximações para a solução desde t0 até um
instante tn . Os diferentes métodos proverão procedimentos para aproximar a solução no instante
tn+1 , usando as informações já obtidas em um ou em alguns dos instantes anteriores, tn , tn 1 , etc.
Numa situação mais geral, os intervalos de tempo não necessitam ser iguais, mas usaremos essa
simpli…cação aqui para facilidade de exposição.
Em cada instante tn a equação de movimento deve ser satisfeita:
mu
•n + c u_ n + k un = Fn : (21.3)
Diferentes métodos de integração existem, e todos eles tomam como base o conhecimento da
solução em uma certa quantidade de instantes anteriores, tn k ; ; tn 2 ; tn 1 e tn , para produzirem
a aproximação da solução em tn+1 . Dentre os métodos clássicos, podem-se citar o método de
diferencas centrais, o de Newmark e o de Wilson, que descreveremos aqui. Inicialmente faremos
uma descrição básica do método mais simples, o de diferenças centrais.
1
De fato, qualquer equação diferencial ordinária no tempo, com as devidas condições iniciais, pode ter sua solução
estimada via um método adequado de integração direta.
21.1. Método de diferenças centrais 561
un+1 2un + un 1
u
•n = (21.6)
t2
e
un+1 un 1
u_ n = (21.7)
2 t
Substituindo as aproximações (21.6) e (21.7) em (21.3), a equação do movimento …ca:
1 1 1 1
2
m+ c un+1 = Fn kun + m(2un un 1) + cun 1 ) Aun+1 = Rn (21.8)
t 2 t t2 2 t
| {z } | {z }
A Rn
Observa-se então que a solução un+1 é obtida a partir de A e de Rn , sendo que Rn é computado em
termos de valores previamente determinados, un 1 e un . Outro aspecto nessa dedução, é que ela
é idêntica ao caso de um sistema de equações diferenciais, onde K, C e M tornam-se matrizes de
ordem N , e un é um vetor de ordem N . Então, para um problema de N graus de liberdade, (21.8)
…ca:
2 3
1 1 1 1
M+ C un+1 = 4Fn Kun + M(2un un 1) + Cun 15 ) Aun+1 = Rn
t 2 2 t | {z } t2 2 t
| {z } fn
A | {z }
Rn
(21.9)
u(tn+1)
un+1
.
un
un-1
∆t ∆t
Figura 21.1: Discretização de uma função ao longo do tempo por diferenças centrais.
562 Capítulo 21. Métodos de integração direta
onde os negritos são para indicar arranjos. Agora, a solução do sistema Aun+1 = Rn exige a semi-
inversão da matriz A, isto é, un+1 = A 1 Rn . De fato, não é necessário realizar a inversão completa.
Pode-se usar o método de Gauss para triangularizar a matriz e resolver o sistema algébrico. Uma
vez obtida a aproximação dos deslocamentos nodais no instante tn+1 , a velocidade e aceleração
em tn são obtidos por (21.6) e (21.7). Em problemas não lineares, o termo Kun será referido
simplesmente como um vetor força interna fn .
Caso as matrizes M e C sejam diagonais, o sistema (21.9) torna-se um sistema de N equações
algébricas desacopladas, tal que a solução para cada grau de liberdade j é dada de forma explícita
1
Mjj Cjj 1 1
ujn+1 = 2
+ Fnj fnj + Mjj (2ujn ujn 1) + Cjj ujn 1 (21.10)
t 2 t t2 2 t
Nesse caso, em que M e C sejam diagonais, o método direto torna-se um método explícito,
no sentido que os valores em tn+1 são obtidos sem a necessidade de resolver um sistema algébrico,
como em (21.9) em que é preciso fatorar a matriz A.
u 1 = u1 2 t u_ o ;
2 1 2 2
2
M+ C u1 = Fo + M K uo + M C u_ o : (21.11)
t 2 t t2 t
Uma vez obtido u1 dessa forma, os tempos seguintes são resolvidos da maneira padrão por
(21.9).
2. Entretanto, pode-se tornar interessante usar apenas (21.9) em todos os instantes. Para isso,
torna-se necessário obter uma expressão para u 1 que não envolva u1 como (21.9). Isso é
obtido aplicando n = 0 em (21.6) e (21.7) e eliminando u1 , o que resulta na expressão:
t2
u 1 = u0 t u_ o + •o :
u
2
A aceleração inicial u
• o é obtida do carregamento, deslocamento e velocidade iniciais, a partir da
equação do movimento (21.3)
1
•o = M
u [Fo C u_ o K uo ] ;
ou pode ser imposta como excitação inicial na estrutura.
21.1.1 Caso C = M
Caso o amortecimento seja proporcional à matriz massa, e ambas as matrizes sejam diagonais,
(21.10) toma a forma (para cada grau de liberdade j):
1 t2 t
ujn+1 = Fj fnj + 2ujn 1 ujn : (21.12)
(1 + t=2) Mjj n 2 1
Num modelo tridimensional a matriz de inércia será sempre não-diagonal. Entretanto, é comum
a sua diagonalização através de algum procedimento aproximativo, como o método sumarizado na
2
Para ver isso, basta usar (21.9) com n = 0 do lado direito.
21.1. Método de diferenças centrais 563
seção 21.2 a seguir, de forma a facilitar o método de diferencas centrais. Entretanto, deve-se observar
que todos os métodos de diagonalização da massa incorporam erros adicionais à discretização do
problema.
Etapa 1 - Determina-se o maior valor na diagonal da matriz massa: Mmax = max Mll .
Detemina-se o expoente k, tal que Mmax = c10k .
Observações
1. Nota-se que a matriz coe…ciente A em (21.9) é sempre positiva de…nida, devido à positividade
de M. Ela não depende de K. Então o método pode ser usado mesmo em corpos desvinculados.
Se t for uniforme, a matriz pode ser fatorada apenas uma vez, préviamente à integração,
usando o método de Cholesky. Ou pode ser usado o método de gradiente conjugado pré-
condicionado durante a integração.
2. Na Figura 21.1 nota-se que, mesmo que un 1 e un fossem exatos nos instantes tn 1 e tn , o
valor calculado para un+1 é apenas uma aproximação do valor exato u(tn+1 ).
ALe 2 1
Me = : (21.14)
6 1 2
A diagonal é: m=3, m=3, onde m = ALe . é a massa do elemento. Ambos os graus de liberdade são
translacionais, na mesma direção, axial x. s = 2m=3. Dividindo, temos para a matriz diagonalizada:
(m=3) (m=(2m=3)) = m=2, para ambos os termos da diagonal. Assim, a matriz diagonalizada do
elemento …ca
ALe 1 0
Me = : (21.15)
2 0 1
Consideremos a matriz diagonalizada do elemento de viga orientado na direção global x,
eq.(18.48), página 502. Nesse caso, como o modelo de viga usado ali é de ‡exão plana, o movi-
mento translacional é apenas de deslocamento transversal em y, que é de…nido tanto pelos graus
de liberdade de translação (v1 ,v2 ) quanto de rotação ( 1 , 2 ). A diagonal da matriz consistente é
{156m=420, 4mL2 =420, 156m=420, 4mL2 =420}, onde m = ALe é a massa do elemento. A soma s
dos termos translacionais é s = 2 156m=420 = 512m=420. Dividindo todos os termos da diagonal
por s se tem para o primeiro termo (156m=420) (m512m=420) = m=2. Para o segundo termo,
(4mL2 =420) (m512m=420) = m=78. Assim, a matriz diagonalizada do elemento de viga …ca
21.3. Método implícitos 565
Observação 1 - Embora a matriz massa consistente obtida pelo MEF seja sempre positiva de…nida,
(se tiver sido obtida usando a quantidade adequada de pontos de integração), diversos métodos
de diagonalização geram matrizes que não são positiva de…nidas. O método HRZ produz matriz
diagonal com termos não negativos. É possivel o método produzir matrizes com termos nulos na
diagonal. Também, o método garante a preservação da massa do elemento em todos os movimentos
translacionais.
Observação 2 - O método HRZ fornece aproximações razoáveis apenas para elementos de baixa
ordem.
Observação 3 - Se as matrizes de rigidez e massa do MEF são obtidas de forma consistente, e
sem sub integração, e se a malha representa adequadamente o volume e a geometria do problema,
é provado que os autovalores aproximados são superiores aos valores exatos. Entretanto, se alguma
das condições acima tiverem sido violadas, não há garantias de limite. Matrizes diagonalizadas
geralmente, mas não sempre, subestimam as frequencias naturais.
u(t) = a + b t + c t2 + d t3 ; (21.17)
onde a, b, c e d são constantes a serem determinadas. Essa aproximação prevê uma variação linear
da aceleração ao longo do intervalo de integração. Consideram-se quatro instantes de tempo tn 2 ,
tn 1 , tn e tn+1 , separados por intervalos uniformes t, tal que
tn 2 = t 2 t,
tn 1 = t t,
tn = t,
tn+1 = t + t.
un 2 = a + b (t 2 t) + c (t 2 t)2 + d (t 2 t)3 ;
un 1 = a + b (t t) + c (t t)2 + d (t t)3 ;
un = a + b t + c t2 + d t;
un+1 = a + b (t + t) + c (t + t)2 + d (t + t)3 : (21.18)
3
Uma introdução sobre o conceito de estabilidade é visto na seção 21.4.
566 Capítulo 21. Métodos de integração direta
Fazendo t = 0 e colocando em forma matricial, tem-se um sistema algébrico linear para as constantes
a, b, c e d:
8 9 2 38 9
>
> un 2 >
> 1 2 t 4 t2 8 t3 > > a >
>
< = 6 1 < =
un 1 t t2 t3 7 b
=6 7 ; (21.19)
> un
> > 4 1
> 0 0 0 5 > c
> >
>
: ; : ;
un+1 1 t t2 t3 d
cuja solução pode ser facilmente obtida por um manipulador simbólico de equações (por exemplo
Mathematica):
1
a = un ; c= (un+1 + un 1 2un ) ;
2 t2
(21.20)
1 1
b= (3un 6un 1 + un 2 + 2un+1 ) ; d= (3un 1 un 2 3un + un+1 ) :
6 t 6 t3
Diferenciando (21.17) e substituindo essas constantes tem-se as aproximações para a velocidade e
aceleração no tempo tn+1 (t = 0 em (21.17) fornece un ):
1
u_ n+1 = (9un 1 18un 2un 2 + 11un+1 ) ;
6 t
1
u
•n+1 = (4un 1 5un un 2 + 2un+1 ) : (21.21)
t2
Essas expressões podem ser facilmente estendidas para o problema N -dimensional. O equilibrio
nesse método é imposto no instante tn+1 , diferentemente do método de diferenças centrais. En-
tão temos M u • n+1 +C u_ n+1 +K un+1 = Fn+1 . Substituindo (21.21) se obtém a expressão para a
aproximação da solução un+1 em termos de un 2 , un 1 e un :
2 11 5 3
2
M+ C + K un+1 = Fn+1 + 2
M+ C un
t 6 t t 6 t
| {z } | {z }
^
K M1
4 3 1 1
2
M+ C un 1 + 2
M+ C un 2 .(21.22)
t 2 t t 3 t
| {z } | {z }
M2 M3
A partida do algorítmo é um tanto di…cil nesse método, uma vez que o cálculo para n = 0,
isto é, u1 , requer a avaliação de u 2 e u 1 . Inicialmente é conhecido apenas uo e u_ o . A maneira
formal de obter a partida consiste em montar um sistema de equações simultâneas. Primeiro, de
(21.21) para n = 0 tem-se:
1
u_ 1 = (9u 1 18uo 2u 2 + 11u1 ) ;
6 t
1
•1 =
u (4u 1 5uo u 2 + 2u1 ) : (21.23)
t2
A equação do movimento produz
n = 1 ! Mu
• 1 +C u_ 1 +K u1 =F1 ;
n = 0 ! Mu
• 0 +C u_ 0 +K u0 =F0 : (21.24)
^ 1 = F1 + M1 uo
Ku M2 u 1 + M3 u 2: (21.25)
1
•o =
u (u1 + u 1 2uo ) : (21.26)
t2
As equações (21.23)-(21.26) formam um sistema de seis equações em termos dos seis vetores
incógnitos u1 ; u 1 ; u 2 ; u_ 1 ; u
•1 e u
• o . Uma vez esses vetores tenham sido obtidos, os valores
subsequentes, u2 , u3 etc, são obtidos de (21.22). Outro procedimento mais simples de partida
consiste em usar um outro método de integração para obter u1 e u2 e em seguida iniciar as iterações
em (21.22) com n = 2.
O método de Wilson considera uma variação cúbica para o deslocamento ao longo do tempo,
através de uma interpolação linear da aceleração. Para um problema unidimensional, considera-
se um intervalo de tempo t a t + t, como na Figura 21.2, e uma coordenada auxiliar com origem
em t, crescendo até t; onde é um escalar a ser prescrito (será visto que deve-se ter > 1; 37).
A equação da reta é:
u
•t+ = u
•t + (•
ut+ t u
•t ) : (21.27)
t
..
u
üt+θ∆t
üt+τ üt+∆t
üt
t t+∆t t+θ∆t t
τ
∆t
θ∆t
2
u_ t+ = u_ t + u
•t + (•
ut+ t u
•t ) ;
2 t
1 3
ut+ = ut + u_ t + u•t 2 + (•
ut+ t u
•t ) : (21.28)
2 6 t
Nota-se que o primeirio termo de cada equação corresponde ao valor inicial em = 0. Nota-
se também que a velocidade tem variação quadrática em , coerente com a hipótese inicial de
aceleração linear. Como (21.28) são válidas para arbitrário, pode-se aplica-la para = t:
568 Capítulo 21. Métodos de integração direta
t
u_ t+ t = u_ t + (•
ut+ t +u
•t ) ;
2
2
t2
ut+ t = ut + u_ t t+ (•
ut+ t + 2•
ut ) : (21.29)
6
Esse é um sistema de duas equações simultâneas em termos de u_ t+ t eu
•t+ t, cuja solução é:
6 6
u
•t+ t = 2 (ut+ t ut ) u_ t 2u
•t ;
t2 t
3 t
u_ t+ t = (ut+ t ut ) 2 u_ t u
•t : (21.30)
t 2
Finalmente, considera-se a equação de equilíbrio dinâmico em t + t num problema
N -dimensional. Para isso, o vetor força deve ser extrapolado linearmente a partir de Ft e Ft+ t :
M•
ut+ t + Cu_ t+ t +Kut+ t = Ft + (Ft+ t Ft ); (21.31)
| {z }
Ft+ t
Ft+ t Ft Ft+ t Ft
, =
t t
cuja solução produz Ft+ t em termos dos valores de interesse, como em (21.31).
Substituindo u•t+ t e u_ t+ t de (21.30) em (21.31) obtém-se a expressão para a solução nodal
em t + t:
^ t+ t = F,
Ku ^ onde
^ =K+ 6 M+ 6 C
K 2
t2 t
^
F = Ft+ t + M (a0 ut + a2 u_ t + 2•
ut ) + C (a1 ut + 2u_ t + a3 u
•t ) (21.32)
onde
6 3 t
a0 = 2 2
, a1 = , a2 = 2a1 , a3 = . (21.33)
t t 2
As etapas do método são as seguintes:
Etapa 3 - Esses valores são usados, …nalmente, em (21.27)-(21.28), com = t, para obter
ut+ t , u_ t+ t e u
• t+ t .
Partida - Observando-se o algorítmo, nota-se que ele requer um esquema especial sim-
ples para a partida. Para determinar u t em (21.32), isto é, quando t = 0 e se busca
a solução em t, torna-se necessário conhecer u• 0 . Esse vetor pode ser obtido aplicando a
condição de equilíbrio dinâmico em t = 0:
u0 + Cu_ 0 + Ku0 = F0 .
M• (21.34)
A aplicação de condição de contorno …xo, ujn = 0 em um certo grau de liberdade j para qualquer
tempo tn é imposta aplicando o procedimento visto na seção 18.6, página 502, com uma constante
c = 0.
a) ! u_ t+ t = u_ t + [(1 )u
•t + u
• t+ t ] t;
b) ! ut+ t = ut + u_ t t + [(0; 5 )u • t+ t ] t2 .
•t + u (21.35)
c) ! M•
ut+ t + Cu_ t+ t + Kut+ t = Ft+ t : (21.36)
Isolando u
• t+ t em (21.35)2 obtém-se uma expressão em termos de uma incógnita, ut+ t :
1 1
u
• t+ t = [ut+ t ut u_ t t] 1 u
•t . (21.37)
t2 2
Essa expressão é usada para eliminar u • t+ t de (21.35)1 , que resulta uma expressão para u_ t+ t
também em termos de apenas uma incógnita, ut+ t . Essas duas expressões, para u_ t+ t e u • t+ t ,
são substituidas em (21.36), que …ca em termos apenas de ut+ t :
^ t+ t = F,
Ku ^ onde
^ = K + ao M + a1 C
K (21.38)
^ = Ft+
F t + M (a0 ut + a2 u_ t + a3 u
• t ) + C (a1 ut + a4 u_ t + a5 u
•t )
onde
1 a2 1
a2 = , a1 = a2 , a0 = , a3 = 1 ,
t t 2
1 t
a4 = 1, a5 = 2 : (21.39)
2
uo = F0
M• (Cu_ o + Kuo ) : (21.40)
A fatoração de M pode ser evitada utilizando uma matriz de inércia diagonalizada através de
um método como o HRZ sumarizado na seção 21.2. Nesse caso, a aceleração obtida será uma
aproximação do valor correspondente àquele obtido pela matriz consistente.
O ‡uxograma geral de cálculo do método de integração de Newmark, em problemas
lineares, é mostrado na Tabela 21.1
O ‡uxograma foi organizado supondo que o incremento t seja o mesmo em todos os intervalos,
o que mantém a matriz K ^ inalterada num problema de dinâmica linear. Então, na Etapa 2, K ^
é triangularizada uma única vez pelo método de Gauss, isto é, L é triangular inferior, tal que
570 Capítulo 21. Métodos de integração direta
u + Cu_ + Ku = F:
M• (21.41)
É um sistema de N equações diferenciais ordinárias, acopladas. No método de sobreposição modal,
o problema de autovalor K ! 2 M = 0 é resolvido para uma quantidade reduzida m << N de
autopares ! 2j ; j . Os autovetores são ortonormalizados tendo a matriz massa como peso e orga-
nizados na matriz modal = [ 1 ; 2 ; ; k; ; m ] e os autovalores formam a matriz espectral
= Diag ! 21 ; ! 22 ; ; ! 2k ; ; ! 2m . A base formada pelos autovetores é usada para representar a
solução u(t):
21.4. Estabilidade e precisão 571
•
Y(t) + cY(t) + Y(t) = T
F(t): (21.43)
c = T C = diagd2! 1 1 ; 2! 2 2 ; ; 2! k k ; ; 2! m m c. k é o amortecimento modal e ! k a k-
ésima freqüência natural do sistema. Esse é um sistema de m equações diferenciais ordinárias
desacopladas na forma
y•k + 2! k k y_ k + ! 2k yk = fk ; (21.44)
que são resolvidas usando a integral de Duhamel ou, mais geralmente, usando também um método
numérico. Embora não seja viavel a obtensão de todos os N autopares do problema acoplado, eles
existência todos, o que signi…ca que existem N equações do tipo (21.44) a serem integradas uma a
uma. Cada equação de um grau de liberdade corresponde a uma freqüência ! k , o que corresponde
um movimento com período Tk = 2 =! k . Para integrar numericamente essa equação, é necessário
escolher um intervalo de integração t pequeno o su…ciente, por exemplo, t = Tk =10. Mas cada
equação possui um período diferente, sendo que os primeiros modos tem períodos longos (baixas
frequências) e os últimos os menores períodos (altas frequências). Isso pode ser representado por
!1 !2 !k !m !N ,
T1 T2 Tk Tm TN .
Assim, a integração de uma equação de alta freqüência requer uma quantidade muito maior de
intervalos de integração que a integração dos primeiros modos, por exemplo, t para a integração
para o último modo, de período TN , deve ser muito menor que o t para a integração adequada do
primeiro modo, de período T1 , Essas observações indicam que a solução pelo método de sobreposição
modal é equivalente ao de integração direta, desde que o de sobreposição fosse realizado usando o
mesmo intervalo de integração em todos os N modos, como ocorre no de integração direta. (Entre-
tanto, os resultados obtidos não devem ser os mesmos em ambos os métodos.) Uma consequencia
dessa equivalência entre os métodos, é que a análise de estabilidade e precisão dos métodos de
integração direta pode ser feita usando apenas a equação de um único grau de liberdade, do tipo
(21.44), em vez de usar o sistema acoplado (21.41).
(a) Como excessão, deve-se fazer a ressalva que em sistemas excitados por carregamentos
harmônicos, como máquinas rotativas, os modos de vibrações da estrutura que são ex-
citados são aqueles de…nidos pelas frequências de excitação, mesmo que não sejam os
primeiros.
572 Capítulo 21. Métodos de integração direta
(b) Adicionalmente, carregamentos súbitos, como impacto, tem associados altas frequências
de excitação, de forma que o número de modos excitados não são poucos, o que torna
pouco e…ciente o método de sobreposição modal.
3. O método de elementos …nitos tem a característica de exigir uma quantidade “grande”de graus
de liberdade para garantir a precisão dos primeiros modos, o que faz gerar uma quantidade
correspondentemente “grande” de modos no modelo que não são aproximados corretamente.
De fato, dada uma malha, apenas os poucos primeiros modos são aproximados com certa
precisão. Os demais são aproximados de forma gradualmente piores, tal que os últimos são
basicamente “lixo” numérico.
6. Ora, sabe-se que as amplitudes de resposta dos modos superiores são progressivamente menores.
Então o que se deseja de qualquer método direto de integração é que produzam respostas a
esses modos que sejam também pequenas, isto é, que não crescam arti…cialmente ao longo da
integração. Caso isso ocorresse, as amplitudes obtidas para esses modos cresceriam ao ponto
de superarem as amplitudes dos modos baixos, gerando uma solução …nal completamente
incorreta.
7. Como os métodos diretos são progressivos, basta que se analise dois instantes de tempo sub-
sequentes, t e t + t.
8. Como não há interesse no resultado dos modos superiores, o que se deseja dos métodos diretos
é que, dada uma condição inicial em t, a solução nos modos superiores a m não seja ampli…cada
arti…cialmente em t + t. Essa é a de…nição da condição de estabilidade de um método.
9. A estabilidade também signi…ca que qualquer condição inicial no intervalo, gerada arti…cial-
mente por erros de arredondamento computacional, não seja ampli…cado pelo método, mas
seja reduzido.
^ n+1 = A Y
Y ^ n + L fn+1 (21.45)
onde Y^n e Y
^ n+1 são vetores com as soluções nos dois instantes, A e L são matriz e vetor, operadores
de…nidos por cada método, e ft+ é o vetor carregamento.
Descreveremos a seguir o procedimento de análise usando o método de diferenças centrais como
exemplo. Para isso, consideremos as equações básicas do método, eqs. (21.6) e (21.7) e a equação
(21.44) no instante tn :
21.4. Estabilidade e precisão 573
y•n + 2! y_ n + ! 2 yn = fn ;
yn+1 2yn + yn 1
y•n = ; (21.46)
t2
yn+1 yn 1
y_ n = :
2 t
A substituição das duas últimas equações na primeira resulta numa equação algébrica:
2 ! 2 t2 1 ! t t2
yn+1 = yn yn 1+ fn : (21.47)
1+! t 1+! t 1+! t
Essa equação pode ser suplementada pela relação trivial yn = yn , tal que o sistema de duas equações
diferenciais possa tomar a forma geral (21.45):
2 3 8 9
2 ! 2 t2 1 ! t t2
< =
yn+1 4 yn
= 1+! t 1+! t 5 + 1+! t fn : (21.48)
yn yn 1 : ;
| {z } 1 0 | {z } 0
^ n+1
| {z } ^n
| {z }
Y Y
A L
A análise de estabilidade é feita examinando apenas o efeito de uma condição inicial no modo,
de forma que não é necessário levar em conta o efeito do carregamento, isto é, pode-se fazer ft = 0.
Então (21.45) …ca apenas
^ n+1 = A Y
Y ^n (21.49)
A análise de estabilidade parte da representação da decomposição espectal de A, dada por
A = PDP 1 , onde D é a forma canônica de Jordan, uma matriz bi-diagonal, formada pelos auto-
valores de A, possivelmente complexos, uma vez que A é geralmente não simétrica. P é a matriz
formada pelos autovetores de A. Prova-se que
n n 1
| {z A}= A = PD P
AA : (21.50)
n
A = max j j j ; (21.51)
j=1;2;::
isto é, o raio espectral é o módulo do maior autovalor de A, quer seja real ou complexo.
O critério de establidade de um método é estabelecido como: o método é estável se A 1.
Essa condição pode ser entendida considerando (21.49) para n intervalos de tempo subsequentes.
Então, a solução para condições iniciais prescritas é
^ t+n
Y t
^t
= An Y (21.53)
^ t+n t não tende ao
Uma solução limitada consiste numa solução tal que cada componente de Y
in…nito conforme n ! 1. Se o maior autovalor de A é tal que A < 1, segue-se que nA ! 0, o
que implica que
com amortecimento nulo, isto é, = 0, tal que o problema de autovalor associado à matriz A
de…nida em (21.48) se torna Az = z, isto é,
2 ! 2 t2 1
z = z: (21.54)
1 0
O determinante da matriz (A I) é o polinômio característico p( ) = 2 ! 2 t2 ( )+1.
As raizes são:
v
u 2
2 !2 t2 u 2 ! 2 t2
1
= u 1: (21.55)
2 u 2
2 t| {z }
Logo, para haver estabilidade, t não pode ser tal que ! t > 2. (Note que não importa o
que ocorre com a outra raiz, 1 , pois 2 já possui um comportamento inadequado.)
1 2 ! 2 t2 ! tp
= i 4 ! 2 t2 : (21.57)
2 2 2
2 TN
t tcr = = (21.58)
!N
onde ! N e TN são a freqúência e período do modo mais alto do modelo. Caso o amortecimento
seja incluido, o mesmo procedimento pode ser usado para mostrar que
q
2 TN p
t tcr = 1+ 2 = 1+ 2
(21.59)
!N
| {z }
<1
Para amortecimentos estruturais baixos, como em metais, ( . 0; 10), a expressão pode ser simpli-
…cada para tcr = 2(1 )=! N , isto é, o amortecimento reduz ainda mais o tamanho do
intervalo crítico de integração.
Observação - Deve-se ter o raio expectral A 1 para garantir a estabilidade. Entretanto, valores
muito baixos de A gera um efeito de amortecimento numérico, não presente no modelo de MEF
(e nem na estrutura física), que causa uma sub-estimativa dos valores dos deslocamentos ao longo
do tempo.
21.5. Exercícios 575
21.5 Exercícios
21.1 Programe o método de integração de diferenças centrais para um problema dinâmico de um
grau de liberdade, eqs. (21.1), com as devidas condições de contorno e iniciais.
(a) Faça testes comparativos entre a solução numérica e a analítica, usando varios valores de
intervalo de integração t. (Teste para t = 0; 01T , 0,1T , 1,0T , 10,0T; 100,0T , onde T é
o período.) Calcule a evolução do erro relativo de deslocamento e velocidade no instante
T =4. Use os dados: m = 1 kg; = 0, ! n = 5 s 1 . Considere vibrações livres para
velocidade inicial nula e x(0) = 1.
(b) Identi…que o t crítico de integração do método de diferencias centrais para o problema.
(c) Identi…que na solução aproximada alterações na amplitude e na frequência de resposta
em relação aos valores analíticos. Mostre os resultados em grá…cos de R=T e a=A versus
t=T , para t=T entre 0,01 e 0,15, onde R e a são a redução do período e da amplitude
ao longo de um ciclo, e T e A são a período e amplitude exatos da resposta.
(a) Programe uma aproximação para a matriz C de amortecimento pelo método 1 de Raylegh,
eq.(19.130).
(b) Obtenha valores numéricos para uma malha de elementos …nitos de barra, para uo =
vo = 0, submetida a uma força dinâmica de 105 sen 4:000t aplicada na extremidade,
em Newtons. Obtenha C considerando
p amortecimentos modais 1 = 0; 05, 2 = 0; 1,
associados às frequências ! 1 = (EA=L)=( AL=3) e ! 2 = 2! 1 (note que essas não são
frequências naturais, mas apenas duas frequências numa faixa de interesse). Use os dados:
E = 200 GPa, = 7:800 kg/m3 , A = 1; 0 cm2 , L = 1; 0 m. Exempli…que aplicando ao
sistema matricial obtido por 2 ou 3 e 15 elementos …nitos de barra, com a barra engastada
numa extremidade, isto é, u1 = 0. Compare a resposta temporal do deslocamento e da
velocidade no nó da extremidade da barra para varios valores de intervalo de integração
t com a solução analítica. Apresente os resultados em dois grupos de grá…cos: no
primeiro, um grá…co para cada t, com as curvas deslocamento x tempo para duas ou
três malhas. No segundo grupo, um grá…co com o erro relativo de deslocamento e de
velocidade na extremidade da barra no instante T =4, onde T é o período associado à
última frequência natural.
576 Capítulo 21. Métodos de integração direta
21.4 Refaça o Exercício 3 para o método de integração de de Wilson para o caso N-dimensional.
21.5 Refaça o Exercício 3 para o método de integração de Newmark para o caso N-dimensional.
21.9 Considere uma malha de elementos …nitos de barra, desvinculado, sob a ação de uma força
variando senoidalmente no tempo, aplicada a uma das extremidades. Determine a solução
aproximada pelos métodos de integração de diferenças centrais. Plote um grá…co com as
curvas do deslocamento no primeiro e no último nó, ao longo do tempo. Identi…que o tempo
de defasagem entre ambos os movimentos.
21.10 Programe o método HRZ de diagonalização da matriz massa. Resolva o problema para uma
malha de elementos …nitos de barra e carregamento como do Exercício 3. Compare as aprox-
imações obtidas para deslocamento e velocidade obtidos com a matriz massa consistente e
massa diangonalizada.
21.11 Programe o MEF para elementos de estado plano de tensões: matriz de rigidez, massa e vetor
força consistente.
21.12 Considere uma barra de secão retangular, modelada por elementos de estado plano de tensão.
Construa uma malha regular e resolva para os dados do Exercicio 3. Compare as soluções
obtidas com modelo de elementos barra. Aplique o carregamento na extremidade atravez de
vetor força consistente. Compare as respostas obtidas com coe…ciente de Poisson nulo e com
= 0:25.
21.13 Considere uma viga de seção retangular modelada por elementos …nitos de estado plano de
tensões. Considere a viga engastada numa das extremidades, submetida a uma força transver-
sal aplicada na outra extremidade, dada por F (t) = v sen (! 1 t=2) aplicada na extremidade,
em Newtons, sendo v a força que causa uma de‡exão estática na extremidade, igual a 25 %
da altura da secão da viga. Refaça o Exercício 3, determinando C pelo método 1 de Raylegh,
eq.(19.130),
p considerando amortecimentos modais 1 = 0; 05, 2 = 0; 1, associados às frequên-
cias ! 1 = (3EI=L3 )=( AL=2) e ! 2 = 4! 1 (note que essas não são frequências naturais, mas
apenas duas frequências numa faixa de interesse) Compare as respostas obtidas com coe…ciente
de Poisson nulo e com = 0:25.
Capítulo 22
Plasticidade clássica
O estudo da plasticidade cobre uma variedade de fenômenos através de uma quantidade imensa de
teorias e modelos que tentam se ajustar às peculiaridades de cada tipo de comportamento. Em sua
forma mais geral, o termo “plasticidade”se refere, de um ponto de vista puramente fenomenológico
(visto apenas pelos seus efeitos externos, macroscópicos), ao desenvolvimento de deformações
permanentes em uma porção de matéria sólida, após a aplicação e remoção de um
carregamento. Entretanto, o mecanismo físico da mudança que a estrutura do material sofre
é diferente em cada classe de material. O estudo de plasticidade tem origem com a plasticidade
de metais. Por outro lado, os polímeros apresentam mecanismos plásticos distintos dos metais,
porém parte dos conceitos e modelos matemáticos desenvolvidos para metais são adaptados ao
comportamento plástico dos polímeros.
A velocidade do carregamento também gera diferenças de comportamento e requer distintas
teorias. Velocidades de carregamento muito altas, caracterizando velocidades de impacto, alteram
os valores das propriedades do material. Por exemplo, na maioria dos materiais estruturais, tanto os
metais quanto os polímeros, por exemplo, valores característicos do diagrama tradicional de ensaio
tensão-deformação unidimensional, como os valores de módulo de elasticidade e de tensão de início
de escoamento, se tornam maiores conforme a velocidade do carregamento no ensaio cresce.
No extremo oposto de carregamentos aplicados ao longo de tempos extremamente longos, o
material exibe comportamento viscoso, além de plástico. Isso requer modelos dependentes de taxas,
os modelos viscoelásticos e os viscoplásticos.
Os modelos matemáticos distinguem-se também em modelos pequenas e de grandes deformações
(também denominadas plasticidade in…nitesimal e …nita, respectivamente). Essa distinção
ocorre principalmente devido à maior complexidade das formulações e das implementações computa-
cionais do MEF para as formulações de plasticidade …nita. Enquanto as formulações in…nitesimais
já tinham se desenvolvido até um ponto adequado em 1975, apenas no início dos anos 1990 diversas
di…culdades fundamentais das formulações …nitas encontraram soluções consideradas satisfatórias
pela comunidade cientí…ca.
As teorias de plasticidade in…nitesimal são tais que a única não linearidade presente no modelo
é na relação constitutiva do material. As demais relações da mecânica do contínuo são tomadas
como lineares. O conjunto completo de relações utilizadas na formulação in…nitesimal é o seguinte:
É interessante ter um entendimento qualitativo claro entre grandes deslocamentos e grandes de-
formações. Um exemplo típico é o de uma viga longa, em balanço, com comprimento L muito maior
578 Capítulo 22. Plasticidade clássica
que sua altura h, submetida a uma carga transversal. Observa-se que para certos níveis de carga
pequenas o su…ciente, é possível ter deformação máxima (e correspondente tensão) ainda no nível
considerado pequeno, por exemplo menor que 2 %, que ocorre na …bra extrema próxima do engaste.
Entretanto, para essa mesma situação, dependendo do comprimento da viga, é possível que ela apre-
sente deslocamentos transversais considerados grandes, por exemplo valores muito superiores a sua
altura h. Numa situação como essa não é possível ignorar a existência de grandes deslocamentos na
formulação, mesmo que junto a pequenas deformações, sob pena de se obter soluções excessivamente
distante da realidade.
Assim não se pode, por exemplo, modelar uma placa plana sob carga transversal até que ela
seja deformada num cilindro. Isso exigiria a utilização das teorias de plasticidade …nita. Logo,
a formulação in…nitesimal não pode ser usadas em processos de conformação mecânica. De fato,
numa placa, casca ou viga, os deslocamentos máximos devem ser, no máximo, da mesma ordem
de grandeza da espessura, sob pena de gerar erros progressivamente crescentes na solução obtida
conforme as de‡exões se afastam desses limites.
σ
Pequenas deformações
Elástico
(a)
σ σ
σE
(b)
σ σ
Figura 22.2: Alguns elementos mcânicos usados em modelos reológicos. (a) Modelo mecânico
elástico-linear; (b) Modelo plástico 1-D.
5. Tensões tais que f ( ) > 0, (isto é, > E ou < E ) são inadmissíveis no modelo.
Esse é um modelo matemático para um material elasto-plástico perfeito (ou ideal),
representado pela curva tensão-deformação da Figura 22.3.
σ
C f >0
Região inadmissível
D
B f=0
Região admissível
E A f<0
1
ε
se = E >0 ) "_ p 0,
p
se = E <0 ) "_ 0. (22.6)
+1 se > 0;
sign( ) = (22.8)
1 se < 0:
|σ|
1 sign (σ)
-1
8. Observa-se que
se f ( ) < 0 ) = 0 (item 4),
se f ( ) = 0 ) 0 (item 7).
Logo, qualquer que seja a condição, deve-se ter que
f( ) = 0 (22.9)
22.1. Modelo plástico unidimensional sem encruamento 581
(a) "_ é todo elástico, tal que "_ p = 0. Logo, o ponto B só pode mover-se para o interior, em
direção a A, reduzindo o valor de f ( ), isto é, f_ < 0.
(b) "_ contém uma parcela plástica, isto é, "_ p 6= 0, o que signi…ca > 0. Então o ponto B só
pode mover-se ao longo da linha BD, tal que f permaneça nulo, isto é, f_ = 0.
f_( ) = 0 (22.10)
Encruamento do material
O modelo de plasticidade perfeita ilustrado no diagrama da Figura 22.3 pode facilmente ser apri-
morado pela inclusão de encruamento. O primeiro tipo de encruamento mais comum de ser con-
siderado é o encruamento isotrópico, ilustrado na Figura 22.5. Nesse caso, o escamento ocorre
com variação de tensão. Na …gura, o segmento AB indica um comportamento de encruamento não
linear realístico do material, enquanto a curva AC mostra uma idealização linear.
σ
C
B
ET
A 1
E
1
ε
Figura 22.5: Encruamento isotrópico.
σ
σB B
σE A
0
C ε
-σE
-σB
D
E
encruamento cinemático, considerando que a faixa elástica BD tem o mesmo comprimento que FA,
isto é, 2 E . Assim, o centro da região linear BD cresce com a deformação plástica, ao longo da
linha tracejada OC.
σ
B
A
σE
C
0 ε
D
-σE
F
Observação 1 - Caso um dado problema não envolva reversão de carga, tanto o modelo de
encruamento isotrópico quanto o cinemático produzem o mesmo resultado. Entretanto, com
reversão da tensão em algum ponto do corpo, o modelo isotrópico tende a ser não satisfatório,
e deve-se usar conjunto o cinemático.
_ = j_"p j = : (22.11)
O critério de escoamento para o encruamento isotrópico toma a forma
f( ; ) j j ( E + hi ) 0
22.1. Modelo plástico unidimensional sem encruamento 583
Observação 5 - Enquanto é possível tanto "_ p ser positivo quanto negativo, a variável é
sempre não negativo. Ela computa o acúmulo de modi…cações sofridas pela estrutura
do material, não importando se provenientes de plasti…cação em tração ou compressão. Por
exemplo, considere-se um ciclo como o da Figura 22.6, em que a tensão cresce ao longo de
OAB. Ao …nal desse carregamento a deformação plástica é +"pc . Quando reversão de carga
BDE é imposta, uma nova quantidade de deformação plástica é adicionada, agora negativa,
de valor "pc , de forma que, ao …nal do ciclo em E, a deformação plástica é nula. Entretanto,
a variável interna tem valor 2"pc em E.
O encruamento cinemático linear (introduzido por Prager em 1956 [87] e Ziegler em 1959
[113]), é modelado por uma variável interna , um tensor de segunda ordem, denominada tensão
central (back stress). Essa variável identi…ca a localização do centro da região elástica (o ponto C
na Figura 22.7), tal que o critério de escoamento toma a forma
f( ; ; ) j j ( E + hi ) 0 (22.12)
Esse modelo, que inclui os escoamentos isotrópico e cinemático, é conhecido por modelo de es-
coamento misto.
A evolução da tensão central é dada pela regra (Devido à Ziegler [113]. Ver também Fung [38].)
_ = H 0 "_ p (22.13)
onde H 0 = dH=d , sendo H = H( ) uma função de material para encruamento cinemático. No
caso de encruamento linear, H 0 = hc é uma constante de material.
A evolução da deformação plástica é dada pela regra de escoamento
se 0e f( ; ; ) 0 ) f = 0;
(22.15)
se f =0 ) f_( ; ; ) = 0
Em geral, os cálculos em plasticidade computacional são baseados no fato de que, num dado
instante de tempo t, caracterizado por um nível de carregamento, toda a solução seja conhecida:
, ", "p , e . Nesse processo, considera-se que num certo momento a taxa "_ seja conhecida, e
busca-se "_ p , _ e _ . Para isso é necessário obter uma expressão para . Isso é obtido a partir da
condição de consistência f_ = 0, para o caso > 0, tal que f_ = 0. A taxa f_ é obtida fazendo
derivadas em cadeia na função f = f ( ; ; ), o que resulta em
@f @f _ @f
f_ = _+ + _: (22.16)
@ @ @
As derivadas de f vem de (22.12). Para isso é necessário observar a seguinte identidade
584 Capítulo 22. Plasticidade clássica
@j j
= sign( ) (22.17)
@
que pode ser obtida por inspeção da Figura 22.4. Então usando a regra da cadeia tem-se
@j j @j j @( )
= = sign( ) 1: (22.18)
@ @( ) @
Levando a (22.16), tem-se
f_ = sign( ) _ + sign( )( 1) _ hi _ :
Como _ = E(_" "_ P ), e _ e _ vêm de (22.13) e (22.11), tem-se
sign( )E
= "_ (22.19)
E + hc + h i
_
, ET (22.20)
"_
ET depende do estado ( ; "; "p ; ; ). Nota-se que essa relação frequentemente é colocada em forma
de diferencial:
_ d =dt d
ET = = : (22.21)
"_ d"=dt d"
Busca-se o incremento in…nitesimal de tensão d para um dado incremento in…nitesimal d". Essa
relação pode ser deduzida partindo da relação elástica (22.2)
_ = E(_" "_ p ):
Usando a expressão de em (22.19) e "_ p = sign( ) de (22.14), tem-se
[sign( )]2 E 2
_ = E "_ "_ :
E + h c + hi
Comparando essa expressão com a de…nição (22.20), pode-se obter ET para o processo plástico. Já
para o processo elástico, ET é simplesmente o módulo elástico. Então, para qualquer uma das duas
situações se tem o módulo elastoplastico 1D, para encruamento misto bilinear, dado por:
8
< E(hc + hi )
_ ; se > 0;
ET = E + (hc + hi ) (22.22)
"_ :
E, se = 0.
A integração entre tn e tn+1 é feita por um algoritmo de retorno, como descrito a seguir. Essa
família de algoritmos é baseada, em parte, no esquema clássico de integração numérica de equações
diferenciais ordinárias denominada regra do ponto intermediário.
u(t)
_ = f (u(t))
(22.25)
u(0) = uo
isto é, um PVI dado por uma equação diferencial ordinária de primeira ordem para a função u = u(t),
com f (u) sendo uma função conhecida e uo o valor inicial de u(t). Observe na Figura 22.8 uma
curva ilustrativa de u(t). O valor de u(tn ) em tn , ponto C, é conhecido, e busca-se o valor u(tn+1 )
em E. Inicialmente, arbitra-se um valor 2 [0;1] e de…ne-se um instante no intervalo [t; t + t]:
u u = u(t)
.un+θ = f (un+θ)
u(tn+1) E
1
un+1
D
u(tn+θ) un+1 un
un+θ A
un=u(tn) C
tn tn+θ tn+1 t
un+2 , e assim por diante, até o instante …nal de interesse. A partida do processo é u0 , que é valor
inicial dado no problema, usado para obter u1 . O algoritmo é tal que, conforme t ! 0, tem-se que
un+ ! u(tn+ ) e un+1 ! u(tn+1 ). O algoritmo produz solução exata sempre que a solução exata
for linear.
Para qualquer valor arbitrado > 0, tanto o lado esquerdo de (22.27)1 quanto o direito dependem
da incógnita un+1 , que deve ser extraída por um método numérico de determinação de raízes de
equação algébrica (Newton-Raphson, por exemplo).
No caso particular em que = 0 tem-se um esquema explícito (conhecido por regra de
Euler). “Explícito” porque (22.27) …ca na forma un+1 = un + tf (un ), isto é conhecendo un
obtém-se diretamente un+1 , sem a necessidade de resolver a raiz de uma equação não linear como
no caso > 0.
Outros casos particulares de (22.27) bastante usados são para = 1 (esquema implícito de
Euler) e = 1=2. A análise matemática desses esquemas mostram que para ocorrer estabilidade
incondicional é necessário usar 1=2, quando então se pode usar qualquer tamanho de t. Isso
signi…ca que, se for usado < 1=2; deve-se usar t < tcr , para evitar crescimento descontrolado
na solução. tcr é um tamanho crítico de incremento de tempo, pequeno o su…ciente para garantir
a estabilidade do processo. A estabilidade não se confunde com precisão, que é máxima apenas em
= 1=2.
(d) No instante tn+1 as condições de Kuhn-Tucker tem que ser satisfeitas, agora em forma
discreta:
Nota-se que esses testes dependem do conhecimento do valor de fn+1 , que não é previamente con-
hecido.
As equações (22.29) a (22.31) são su…cientes para se obter uma aproximação numérica ao problema
elastoplástico num ponto do corpo. Entretanto, os diversos testes que precisam ser feitos para iden-
ti…car se o incremento "n+1 envolve descarregamento, ou carregamento elástico, ou ainda carrega-
mento plástico, tornam-se razoavelmente intrincados de serem implementados computacionalmente,
principalmente considerando-se o fato que o algoritmo é implícito e não há uma forma direta de
avaliar fn+1 e assim fazer os testes de Kuhn-Tucker. Os Algoritmos de retorno proporcionam uma
maneira alternativa e elegante de realizar os cálculos e os testes.
Inicialmente é de…nido um estado teste elástico (trial state). Esse é um estado …ctício, obtido
por uma correção do estado em tn como se "n+1 fosse completamente elástico. Observando a
Figura 22.9, se a solução em tn é o ponto A, com ("n ; n ), adicionando-se elasticamente "n+1
obtém-se o ponto teste em B. Esse ponto é …sicamente inatingível , …ctício, sendo apenas uma etapa
intermediaria do procedimento. Posteriormente o algoritmo vai buscar a solução admissível sobre a
curva de encruamento, no ponto C, isto é, ( n+1 ; "n+1 ).
σtr B
σn+1
C
σE D
σn A
εnp εn εn+1 ε
∆εn
tr + E "n+1 ,
n+1 n
p;tr
"n+1 "pn ,
tr (22.32)
n+1 n,
n+1 n,
tr =
fn+1 tr ( + hi
n+1 n E n ).
tr
n+1 = n + E "n+1 ;
= E("n "pn ) + E "n+1 ;
= E("n+1 "pn ): (22.33)
O interessante desse estado teste é que, primeiro, ele é fácil de calcular, pois é todo de…nido
elasticamente pelo estado tn e por "n+1 . Segundo, todas as conclusões sobre carga e descarga que
seriam obtidas analisando fn+1 em (22.31) (que não é explicitamente de…nido), podem ser obtidas
analisando o estado teste, como visto a seguir.
Caso 1 - fn+1tr 0 Observa-se que, nesse caso, as variáveis do estado teste, (22.32), satisfazem
todas as condições que a solução deve satisfazer (equações (22.29) - 22.31), com = 0. Então na
Figura 22.9, "n+1 foi tal que o estado teste está, não no ponto B, mas no ponto D ou E, ainda
tr < 0. Nesse caso, os valores teste em (22.32) são de fato reais para t
elástico, com fn+1 = fn+1 n+1 .
tr > 0 Logo o estado teste não pode ser real, pois viola a condição f
Caso 2 - fn+1 0. Então
n+1
"n+1 causou incremento "p de plasti…cação, e n+1 > 0. Na Figura 22.9, busca-se corrigir o
ponto B para o ponto C, numa etapa denominada correção ou retorno, vista a seguir. O algoritmo
completo é referido como em algoritmos preditor (estado teste)/corretor (retorno).
Como conclusão se chega a que:
tr
fn+1 >0 ) >0 ) fn+1 = 0. (22.34)
tr
Nota-se que fn+1 identi…ca completamente a presença ou não de plasti…cação no incremento
"n+1 .
Algoritmo de correção
Determinação de tr .
em termos de fn+1 Inicialmente de…ne-se uma variável auxiliar, a
tensão relativa n+1 :
Observe que sempre se pode representar um número real x por jxjsign(x). Fazendo essa substituição
em n+1 em (22.37) tem-se
tr tr
j n+1 j sign( n+1 ) = n+1 sign( n+1 ) (E + hc )sign( n+1 ).
tr tr
[j n+1 j + (E + hc )]sign( n+1 ) = n+1 sign( n+1 ). (22.38)
| {z }
>0
O colchete à esquerda é positivo desde que E + hc > 0. Então obtém-se duas relações:
tr
sign( n+1 ) = sign( n+1 );
tr
j n+1 j = n+1 (E + hc ): (22.39)
logo,
tr
fn+1
= (22.40)
E + hc + h i
Com isso se conclui todas as deduções necessárias. Os cálculos são feitos numa sequência diferente
da dedução, e são resumidos a seguir.
1. Dados "n , "pn , n e n num ponto x do corpo. n também está armazenado ou é calculado
por n = E("n "pn ) e "n+1 = "n + "n+1 .
tr
4. Teste. Se fn+1 0 ) estado teste é elástico e real, e a solução em tn+1 é:
(
= tr , = 0, "n+1 = "n + "n+1 ,
n+1 n+1
(22.42)
n+1 = tr
n+1 , n+1 = n, "pn+1 = "pn Ir para 6 .
Solução:
Seguimos as etapas de cálculo do Fluxograma 22.1. Inicialmente, no tempo tn = 0, com n = 0,
tem-se
"0 = "P0 = 0 = 0 = 0 = 0.
tr
1 = 0+ E "1 = 0 + 200:000 0; 008 = 1:600 MPa,
tr tr
1 = 1 0 = 1:600 MPa,
tr tr
f1 = 1 ( E hi 0 ),
= 1:600 (300 hi 0) = 1:300 MPa.
f1tr 1:300
= = = 4; 815 10 3 ,
E + h c + hi (100 + 40 + 30) 103
tr
1 = 1 E sign( tr
1 ) = 1:600 4; 815 10 3 200 103 (+1) = 637; 0 MPa,
p
"1 = "p0 + sign( tr
1 ) = 0 + 4; 815 10 3
(+1) = 4; 815 10 3
,
3
1 = 0 + = 4; 818 10 ,
tr
1 = 0 + hc sign( 1 ) = 0 + 30 103 4; 815 10 3
(+1) = 144; 4 MPa
3
"1 = "0 + "0 = 8; 0 10 .
E(hc + hi )
Passo 6. O módulo elastoplástico é ET = = 51; 9 GPa.
E + hc + h i
tr
2 = 1+ E "2 = 637; 0 + 200 103 ( 8; 0 10 3
)= 963; 0 MPa,
tr tr
2 = 2 1 = 963; 0 144; 4 = 1:107; 4 MPa,
f2tr = tr
2 ( E + hi 1) = 1:107; 4 (300 + 40 103 4; 815 10 3
) = 614; 8 MPa.
f2tr 614; 8
= = = 2; 277 10 3 ,
E + h c + hi 270 103
tr
2 = 2 E sign( tr
2 ) = 963; 0 4; 098 10 3
200 103 ( 1) = 507; 5 MPa,
3 3
"2 = "1 + "1 = 8 10 + ( 8 10 ) = 0,
"p2 = "p1 + sign( tr
2 ) = 4; 818 10 3
+ 2; 277 10 3
( 1) = 2; 538 10 3
,
3 3 3
2 = 1 + = 4; 818 10 + 2; 277 10 = 7; 092 10 ,
tr 3 3
2 = 1 + hc sign( 2 ) = 144; 4 + 30 10 2; 277 10 ( 1) = 76; 13 MPa.
tr
3 = 2+ E "3 = 507; 5 + E(0; 008) = 1:092; 5 MPa,
tr tr
3 = 3 2 = 1:092; 5 76; 13 = 1:016; 3 MPa,
f3tr = tr
3 ( E + hi 2) = 1:016; 3 (300 + 40 103 7; 092 10 3
) = 432; 6 MPa.
f3tr 432; 6
= = = 1; 602 10 3 ,
E + hc + h i 270 103
tr
3 = 3 E sign( tr
3 ) = 1:092; 5 1; 602 10 3
200 103 (+1) = 772; 0 MPa,
3 3
"3 = "2 + "2 = 0 + 8 10 = 8 10 ,
"p3 = "p2 + sign( tr
3 ) = 2; 538 10 3
+ 1; 602 10 3
(+1) = 4; 140 10 3
,
3
3 = 2 + = 8; 694 10 ,
tr
3 = 2 + hc sign( 3 ) = 124; 2 MPa.
900
σ3 H
σ1 G
B
600
A ET
Tensão [MPa]
300 1
0
O F C
-300
D
σ2
E
-600
0 2 4 6 8
Deformação [x103 ]
8
< D =
+ E "BD < 0, 1
1 = 1 + E "BD < 0 (descarga), (22.45)
: D D 1
fD = j D j ( E + K 1 ) = 0.
Logo,
fD = 1 E "BD + 1 (300 + 40 103 4; 818 10 3
) = 0.
Então "BD pode ser explicitado:
900
3 H
1 G B
600
hi + hc
1
Tensão [MPa]
300
A
0
O F C
-300
E D
2
-600
0 1 2 3 4 5
Deformação plástica [x103 ]
8
< = G + E "BG > 0,
2
= 2 > 0 (carregamento), (22.46)
: G G
fG = j Gj ( E + K 2 ) = 0.
Logo,
fG = 2 + E "BG 2 ( E +K 2) = 0.
3
G = 2 + E "BG = 507; 5 + E(5; 837 10 ) = 659; 8 MPa.
A Tabela 22.1 mostra o sumário dos valores nos pontos de in‡exão do ciclo (as deformações
estão em 10 3 ). Nas Figuras 22.10 e 22.11 observam-se as inclinações das curvas de encruamento:
ET na curva " e hi + hc na curva "p . Os resultados mostram que essas inclinações tem os
seguintes valores:
594 Capítulo 22. Plasticidade clássica
1 A 637 300
= = 51; 9 GPa = ET ,
"B "A (8 1; 5) 10 3
1 A 637 300
= = 70 GPa = hi + hc .
"p1 4; 815 10 3
onde ei , i = 1; 2; 3 são os vetores ortonormais da base cartesiana. Esse é o tensor identidade usual,
que tem a propriedade de, para um vetor v e um tensor de segunda ordem M, arbitrários,
1v = v e 1M = M (22.49)
1
I = Iijkl ei ej ek el , onde Iijkl = 2 [ ik jl + il jk ] (22.50)
I : M = Sim(M)
1
I : Q = [Qijmn + Qjimn ]ei ej em en (22.51)
2
isto é, ele produz a parcela simétrica dos tensores em que opera.
1. A : B = Aijkl Bklmn ei ej em en ,
2. A : M = Aijkl Mkl ei ej ,
3. M : A = Mij Aijkl ek el ,
4. 1 1 : M = ij Mqq ei ej = 1tr(M), (22.52)
5. I : 1 1 = 1 1,
6. 1 1: 1 1 = 31 1,
7. I : B = B : I = Sim(B).
4. A relação tensão deformação isotrópica linear foi dada na seção 4.2 em notação de Voigt.
Em notação tensorial ela é
8
>
> =C:" e "=C 1: ,
>
> onde C = 1 1 + 2GI,
>
<
2G 2
Componentes: Cijkl = K ij kl + G( ik jl + il jk ) ij kl , onde K = + G, (22.53)
>
> 3 3
>
> 1 1 1
>
: Inversa: C 1= 1 1+ I 1 1
9K 2G 3
1. Decomposição aditiva do tensor deformação linear, numa parte "e elástica e numa parte
"p plástica:
" = "e + "p , isto é, "ij = "eij + "pij : (22.54)
Os modelos de plasticidade in…nitesimal se caracterizam pelo uso das relações deformação-
deslocamento lineares (mostradas em (3.27), página 54).
596 Capítulo 22. Plasticidade clássica
onde C é o tensor elástico isotrópico de quarta ordem, e " são tensores de segunda ordem,
e a operação “:”é de…nida tal que, em notação indicial e coordenadas cartesianas, = C : "e
é dado por:
ij = Cijkl ["kl "pkl ]. (22.56)
f ( ; q) 0. (22.57)
"_ p = r( ; q) e q=
_ h( ; q) (22.58)
@ @
r= e h= (22.59)
@ @q
As de…nições mais usadas para = e consiste em de…ni-las iguais à superfície de escoa-
mento. Assim, r e h tornam-se normais à superfície f = 0:
@f @f
r= , isto é, rij = ;
@ @ ij
(22.60)
@f @f
h=D , isto é, hij = Dijkl :
@q @qkl
r
p 2
f( ; q ; ) = (s ) : (s ) K ( ), (22.61)
| {z } 3
q
1
onde s é a parte deviatórica de , (s = 3 tr( )1). q = K ( ) é a tensão associada à
deformação de encruamento . No caso de encruamento isotrópico linear,
K ( )= E + hi , (22.62)
onde hi é o parâmetro do material para encruamento isotrópico linear.
As tensões de encruamento, q na formulação geral (22.57), foi desmembrado em uma função escalar
q e uma tensorial .
A função central é de…nida no espaço de funções devatóricas, isto é, tr = 0.
O termo na raiz em (22.61) pode ser expresso em termos do segundo invariante do tensor tensão
deviatórica, (2.36), tal que a superfície de escoamento de von Mises frequentemente é representada
na forma
r
p 2
f ( ; K ; ) = J2 (s ) K ( ), (22.63)
3
Essa expressão reduz-se à forma (22.12) no caso de estado uniaxial de tensões.
Outras superfícies de escoamento existem, geradas por variações nessa forma, e são conhecidas
por “teorias J2 de plasticidade”.
σ2 Eixo
hidrostático
Superfície de
von Mises
σ3 σ1
Figura 22.12: Superfície de escoamento de von Mises no espaço de tensões principais, com = 0.
As funções de escoamento f em materiais isotrópicos podem ser expressas em termos apenas das
tensões principais de , isto é, p1 , 2 e 3 . Nesse espaço a superfície de von Mises, eq. (22.61), toma
a forma de um cilindro de raio 2=3K ( ). A Figura 22.12 mostra uma visualização da superfície
para o caso de ausência de encruamento cinemático, = 0. É uma superfície cilíndrica, cujo eixo
coincide com o chamado eixo hidrostático, que é de…nido pela linha 1 = 2 = 3 . Essa linha faz
ângulos idênticos com os três eixos principais 1 , 2 e 3 .
A Figura 22.13 ilustra os casos clássicos de encruamento. Note que a superfície de von Mises é
um cilindro de seção circular, porém sua intersecção no plano 3 = 0 é uma elipse, como mostrado na
…gura. Na Figura 22.13a tem-se o modelo de plasticidade ideal, sem nenhum tipo de encruamento.
Então a superfície de escoamento é …xa. Na equação (22.61), = 0 e K ( ) = const: = E .
Na Figura 22.13b tem-se uma ilustração do encruamento isotrópico, em que a superfície
de escoamento tem o centro …xo e expande-se uniformemente pela ação de K ( ). Na Figura
22.13(c) tem-se o encruamento cinemático, em que representa a translação do centro da
superfície. Deve-se observar que é de…nido no espaço de tensões deviatóricas, de forma que
não representa exatamente a translação da superfície no espaço 1 2 3 , (como ilustrado na …gura
apenas para …ns de visualização).
0, f ( ; q) 0, f ( ; q) = 0 (22.64)
598 Capítulo 22. Plasticidade clássica
σ2 σ2 σ2
σ1 σ1 σ1
Figura 22.13: Representações da superfície de escoamento para modelos de encruamento; (a) sem
encruamento (plasticidade perfeita); (b) encruamento isotrópico; (c) encruamento cinemático.
e a condição de consistência é
f_( ; q) = 0 (22.65)
Caso 1 - Se o estado ( ; q) no ponto do corpo for tal que f ( ; q) < 0, de (22.64)3 segue-se
que = 0. Das regras de evolução (22.58) segue-se que "_ p = 0 e q_ = 0. Isto signi…ca que não
há modi…cação no nível de plasti…cação ou de encruamento. Esse caso pode ser resumido por
8
< = 0,
f ( ; q) < 0 ) "_ p = q_ = 0, (22.66)
:
_ = C : ":
_
f=0
f>0
f<0
f<0
f=0
(σ, q)
Todas essas condições podem ser visualizadas na Figura 22.14. f = 0 é um ponto arbitrário
( ; q) sobre a superfície de escoamento, e f < 0 é um ponto interno. A situação f = 0 com f_ < 0
indica descarregamento elástico e f = 0 com f_ > 0 indica carregamento plástico. Note que nunca
se tem f > 0. O que ocorre é que, se f = 0 e f_ = 0, a própria superfície de escoamento cresce ou
se move, devido ao encruamento, e sempre o escoamento ocorre com f = 0.
Um caso de carregamento neutro, em que f_( ; q) = 0 e = 0, tem-se que "_ p = q_ = 0 como
visto acima. Nesse caso, o ponto move-se sobre a superfície de escoamento, de forma a não alterar
o valor de f nem das componentes de "p e de q.
@f @f
f_ = : _ + q_ 0. (22.68)
@ @q
Note que @f =@ é um tensor, de componentes cartesianas @f =@ ij , e @f =@q tem componentes
@f =@qm . A taxa _ vem da relação constitutiva elástica (22.55) e "_ p e q_ vem das leis de evolução
(22.58):
@f @f
f_ = : C : ["_ "_ p ] + q;
_
@ @q
@f @f @f
= : C : "_ :C:r+ h 0: (22.69)
|@ {z } |
@
{z
@q
}
A B>0
Para simpli…car a notação no texto que segue foram de…nidas duas constantes escalares, A e B.
Prova-se que o colchete é sempre positivo:
@f @f
B :C:r+ h >0 (22.70)
@ @q
A equação (22.69) pode ser posta na forma A B 0. Sua única incógnita é , é obtida para o
caso f_ = 0:
A
= ,
B
600 Capítulo 22. Plasticidade clássica
A situação f_ < 0 implica = 0. Para f = 0 e f_ = 0, deve-se ter 0. Como B > 0, segue-se que
A 0. Reversamente, se A 0, segue-se que 0 e f = f_ = 0. Resumindo, se f = f_ = 0,
@f
A : C : "_
= = @ (22.71)
B @f @f
:C:r+ h
@ @q
Tendo a expressão para , pode-se obter a expressão para o tensor tangente elastoplástico Cep .
Esse tensor é tal que _ = Cep : ". _ No caso de > 0 ele é obtido levando de (22.71) à relação
constitutiva linear (22.55), e usando (22.58)1 :
_ = C : ["_ "_ p ]
= C : ["_ r];
1 @f
= C : "_ C: : C : "_ r: (22.72)
B @
Nesse ponto deve-se evitar a tentação de colocar "_ em evidência nos dois termos à direita da
igualdade. Isso não é possível, uma vez que as operações a que " é submetido são distintas em cada
um dos dois termos. Torna-se necessário abrir a expressão em notação indicial, realizar simpli…cações
e reorganizar o resultado de volta em forma simbólica. Assim, (22.72) em forma indicial (tirando
os símbolos de somatório e usando a regra do somatório conforme (1.46), na página 14), é:
1 @f
_ ij = Cijrs "_ rs Cijgt rgt = Cijrs "_ rs Cpqrs "_ rs Cijgt rgt .
B @ pq
(Existem símbolos de somatório para todos os índices, exceto i e j que são índices livres). Colocando
"_ rs em evidência tem-se:
2 3
6 7
6 1 @f 7
6 7
_ ij = 6Cijrs Cijgt rgt Cpqrs 7 "_ rs
6 B | {z } @ pq 7
4 (C:r)ij | {z }5
( @@f :C)rs
Os parênteses são tensores de segunda ordem (ver equação (22.52)). Com isso, tem-se a relação
elastoplástica:
_ = Cep
8 : ",
_ onde
< C, se = 0;
Cep = 1 @f
: C (C : r) :C , se > 0; (22.73)
B @
@f @f
eB= :C:r+ h.
@ @q
Observação 7 - Em geral, para plasticidade não associativa, Cep é não simétrica. Em plas-
ticidade associativa com r =@f =@ tem-se que Cep é simétrica.
para qualquer tensor de segunda ordem A 6= 0. Ocorre que @f =@ é sempre não nulo. Logo,
nesse caso, B > 0.
σ2 .
ε
P θ f
n σ
(σ,q)
σ1
f<0
f=0
Observação 10 - A matriz elastoplástica independe de taxas, o que explica essa teoria ser
chamada de plasticidade independente de taxas, em oposição às teorias de viscoplasticidade.
1
s com s= (tr )1. (22.75)
3
As tensões de encruamento isotrópico e cinemático são
q
q= e q = K ( ). (22.76)
@f
"_ p = r( ; q) = . (22.77)
@
602 Capítulo 22. Plasticidade clássica
A regra de evolução associativa das tensões de encruamento vem de (22.58)2 , que é expressa
aqui por uma matriz de propriedades do material D tal que:
@f
q_ = h( ; q) = D , isto é,
@q
8 9
> @f >
>
< q > =
q_ K0 0
_ = 2 0 : (22.78)
0 3H I >
> @f > >
: ;
@
H 0 ( ) = dH=d é uma função de que caracteriza o encruamento cinemático num problema uni-
axial. No caso de encruamento cinemático linear tem-se a forma simpli…cada
H( ) = H 0 + Ho , (22.79)
e H 0 é uma constante. K 0 = dK =d também é uma função experimental para encruamento
isotrópico uniaxial, que no caso linear, equação (22.62), torna-se constante, K 0 = hi .
Dedução de @f =@ e @f =@
@f @ p 1 1 @
= kl kl = ( kl kl );
@ ij @ ij 2 k k @ ij
1 @ kl
= kl ; (22.80)
k k@ ij
p
onde k k = : . Como a tensão relativa é kl = skl kl , tem-se que
@ kl @skl
= .
@ ij @ ij
1
Como a tensão deviatórica é skl = kl 3 tr( ) kl , seu gradiente é
@ kl @skl @ kl 1 @ mm 1
= = kl = ik jl im jm kl (22.81)
@ ij @ ij @ ij 3 @ ij 3
Levando de volta a (22.80), tem-se:
@f 1 1
= ij kk ij (22.82)
@ ij k k 3
Porém é de…nido no espaço de tensões deviatóricas, logo, tr( ) = 13 kk = 0, e tem-se @f =@ =
= k k. Um processo dedutivo similar determina @f =@ . Nota-se que = k k é um tensor de
comprimento unitário, n, normal à superfície de escoamento. Em resumo, para o modelo J2 de von
Mises,
@f @f
= =n e
= n = (22.83)
@ k k k k @
p
Substituindo (22.83) em (22.77) e (22.78), e obtendo @f =@q = 2=3 de (22.74) e (22.76), obtém-se
( q )
q_ K0 0 2
3
q_ _ = 2 0 = h. (22.84)
0 3H I n
| {z }
D
22.2. Plasticidade Clássica 3-D 603
Nota-se que nesse formato a notação torna-se irregular pois q_ é uma função escalar, _ e n são
tensores de segunda ordem e I é de quarta ordem.
Os tensores da formulação geral (22.58) tomam as seguintes formas no modelo J2 :
q_
q_ = _ , q = K ( ),
" q # (22.85)
2 0
h= 3K ; r = n.
2 0
3H n
A n : C : "_
= = . (22.87)
B @f 0 q 2 @f 2 0
n:C:n+ K 3 : Hn
@q @ 3
A simpli…cação deve ser feita em notação indicial, tomando C de (22.53),
n : C = 2Gn (22.88)
Da de…nição de n,
n= ! n:n=1 (22.89)
k k
O termo n : "_ pode ser simpli…cado decompondo "_ em sua parte volumétrica "_ v e deviatória "_ d .
1
n : "_ = nij "_ kk ij + "_ dij ,
3
Uma vez que nij ij = npp = 0, segue-se que
A 2G n : "_ n : "_
= = ) = (22.91)
B 2G + 32 (K 0 + H 0 ) (K 0 + H 0 )
1+
3G
O tensor elastoplástico vem da teoria geral (22.73), usando (22.83)-(22.85). De fato, B já foi
simpli…cado em (22.91), e usando C : r = C : n = 2Gn, de (22.89), tem-se
8
> C, se = 0,
<
2Gn n
Cep = C , se > 0. (22.92)
>
: (K 0 + H 0 )
1+
3G
Para facilitar a programação, as componentes cartesianas dos tensores simétricos de segunda ordem
da formulação, como , ", "_ p , e n, são convertidos a arranjos vetoriais de 6 valores usando a
forma de Voigt. Por exemplo,
8 9
>
> n11 >
>
2 3 >
> n22 >
>
>
> >
>
n11 n12 n13 < =
n33
n = 4 n12 n22 n23 5 ! n= : (22.93)
>
> n23 >
>
n13 n23 n33 >
> >
>
>
> n >
>
: 13 ;
n12
Observe que, como n = = k k, então n é simétrico devido à simetria da tensão relativa .
As componentes cartesianas do tensor elastoplástico, de quarta ordem, em (22.92), podem ser
convertidas para a forma matricial por:
8 9 2 3ep 8 9
>
> 11 >
> C1111 C1122 C1133 C1123 C1131 C1112 >
> "_ 11 >
>
>
> >
> 6 C2211 C2222 C2233 C2223 C2231 C2212 7 > > "_ 22 >
>
>
> 22 >
> 6 7 > > >
>
< = 6 7 < =
C3311 C3322 C3333 C3323 C3331 C3312 "_ 33
33
=6
6
7
7 > ; (22.94)
>
> 23 >
> 6 C2311 C2322 C2333 C2323 C2331 C2312 7 > 2_"23 >
>
>
> >
> 4 5 > > >
>
>
> 31 >
> C3111 C3122 C3133 C3123 C3131 C3112 >
> 2_"31 >
>
: ; : ;
12 C1211 C1222 C1233 C1223 C1231 C1212 2_"12
isto é, em formato vetor-matriz, a relação constitutiva toma a forma
ep
_ = C "_ (22.95)
ep
Os termos Cijkl vem de 22.92 e Cep é uma matriz simétrica nessa teoria J2 associativa com
encruamento misto arbitrário. Por exemplo:
ep ep 2G
C11 = C1111 = (G + ) n11 n11 ,
c
ep ep 2G
C12 = C1122 = n11 n22 ,
c
ep ep 2G
C14 = C1123 = n11 n23 ,
c
ep ep 2G
C44 = C2323 =G n23 n23 ,
c
ep ep 2G
C45 = C2331 = n23 n31 . (22.96)
c
onde c = 1 + (H 0 + K 0 ) =3G.
22.2. Plasticidade Clássica 3-D 605
Entidades e produtos de entidades tensoriais usadas na teoria de plasticidade podem ser con-
vertidos em produtos de entidades vetor-matriz conforme a Tabela 22.2.
Tabela 22.2: Entidades e produtos tensoriais e suas conversões em entidades vetor-matriz em notação
de Voigt.
Tensor ! Vetor-matriz
T
ij ! =f 11 ; 22 ; 33 ; 23 ; 31 ; 12 g ;
" "ij ! " = f"11 ; "22 ; "33 ; 2"23 ; 2"31 ; 2"12 gT ;
n nij ! n = fn11 ; n22 ; n33 ; n23 ; n31 ; n12 gT ;
n:" nij "ij ! nT " = nk " k , k = 1 a 6
n:n nij nij ! nT Mn = nk Mkl nl , k; l = 1 a 6
! M = Diag[1; 1; 1; 2; 2; 2],
I ! I = Diag[1; 1; 1; 1; 1; 1],
1 ! 1 = f1; 1; 1; 0; 0; 0gT ,
:" T"
ij "ij ! k "k ,
k=1a6
=C:" ij = Cijrs "rs ! Ver eqs. (22.94) e (22.96)
Observe que, por motivo de simplicidade, não foram criadas notações distintas para os símbolos
da notação tensorial e vetorial, exceto por n e n. Em geral o leitor saberá distinguir um tipo do
outro pelo contexto. Em particular, as notações nunca são misturadas numa mesma expressão.
O termo k k na de…nição de f em (22.86) pode ser interpretado como uma tensão equivalente,
p
eq = : . (22.97)
Analogamente, existe a de…nição de taxa de deformação plástica equivalente,
r
2 p
"_ peq = k"_ k (22.98)
3
p
O motivo da introdução do fator 2=3 na de…nição é para que o valor de "_ peq num problema
uniaxial reverta-se exatamente no valor da taxa de deformação plástica axial aplicada. Para ver
isso, considere-se um estado uniaxial de tensões, dado por _ x . Existe um efeito de Poisson
plástico, que gera deformações plásticas laterais, "_ py e "_ pj , a partir da deformação axial "_ px , tal que
o tensor …ca
2 3
"_ px
"_ p = 4 vp "_ px 5 (22.99)
vp "_ px
onde vp é o coe…ciente de Poisson plástico.
Um dos fundamentos físicos da teoria J2 de plasticidade é a evidência experimental que o escoa-
mento em certos materiais (metais, principalmente), em certas situações, ocorre com preservação
de volume. Isso se traduz em
tr "_ p = 0 (22.100)
Aplicando o estado (22.99), o traço nulo resulta em (1 2vp )_"px = 0, o que gera o tão conhecido
valor do coe…ciente de Poisson plástico:
606 Capítulo 22. Plasticidade clássica
vp = 0; 5 (22.101)
associado a todo problema isocórico (que tem preservação de volume). Num estado triaxial, a
deformação plástica equivalente ao estado uniaxial (22.99) é dada por (de (22.98)):
r r r
p 2p p p 2 2 1 2
"_ eq = "_ : "_ = "_ px + 2 "_ px = "_ px .
3 3 4
Isso signi…ca que a de…nição (22.98) foi construida para ajusta-la ao problema de tração uniaxial.
Também, num estado triaxial modelado pela teoria J2 , usando (22.86), tem-se
r
p p 3 p
p p p p
k"_ k = "_ : "_ = n:n= , =) k"_ k = = "_ (22.102)
2 eq
Essa relação da um sentido físico para , como sendo a norma do tensor taxa de deformação
plástica
p equivalente, e sendo proporcional à deformação equivalente. Da mesma forma, a partir de
_ = 2=3, chega-se a:
T
=f 11 ; 22 ; 12 g e s = fs11 ; s22 ; s12 gT , etc. (22.107)
Etapa 4 - Após o cálculo em todos os pontos de integração, as forças residuais das equações
de equilíbrio são obtidas e o teste do equilíbrio é realizado. Se a convergência não é satisfeita,
uma nova interação de Newton - Raphson é realizado, a partir da etapa 2.
As etapas 1, 2 e 4 que concernem a solução dos problemas elastoplásticos pelo MEF e ao método
de Newton-Raphson, serão descritos nas seções seguintes. A etapa 3, que consiste no cálculo local,
é desenvolvido nessa seção, com a dedução dos algorítimos de integração das equações contínuas de
elastoplasticidade vistas nas seções anteriores, em problemas tridimensionais.
Aqui descreveremos apenas o algorítimo para plasticidade J2 , denominado algorítimo de re-
torno radial, em sua forma clássica obtida por Wilkins [62], com as extensões de Krieg e Key [62]
para incluir encruamentos isotrópicos e cinemáticos lineares. Uma descrição detalhada é dada por
Simo [94]. A presente seção faz toda a dedução do algorítmo, e a sequência de cálculo é sumarizada
no Fluxograma 22.2, página 628.
A integração das taxas é feita pela regra de Euler implícita ( = 1 em (22.25) e (22.27)):
2 Hn+1
n+1 = n + t nn+1 , onde
3 r
2
Hn+1 = H ( n+1 ) H( n) e = : (22.110)
3
q
2
n+1 = n+ 3 Hn+1 nn+1 (22.111)
Note que os tensores sn , n , "pn , são os valores convergidos nas interações de Newton-Raphson
do nível de carga n, portanto são valores que satisfazem aproximadamente o equilíbrio naquele nível
de carga. Por isso são considerados exatos, dentro da tolerância de convergência utilizada.
v = 3K"ve
= C : "e ! tal que ij = 3K"ve 1 + 2Gee (22.112)
s = 2Gee
A presente teoria toma a deformação plástica como ocorrendo a volume constante, isto é, "pv = 0.
O estado teste é de…nido no espaço deviatórico, considerando que "n+1 e sua parcela deviatórica
en+1 , sejam puramente elásticos. Assim,
str
n+1 sn + 2G en+1 ,
tr
n+1 = n, (22.114)
tr =
n+1 n:
tr
n+1 = str
n+1 n (22.115)
A de…nição de estado teste implica que todo o incremento "n+1 é considerado elástico, o que
resulta nas seguintes relações:
"tr
n+1 = "n + "n+1 ,
= "n+1 "pn , e (22.116)
tr
n+1 = C: "tr
n+1 .
"vn+1
"n+1 ! (22.117)
en+1
A integração da parcela volumétrica, que é considerada puramente elástica, é feita simples-
mente por
A parcela deviatórica, en+1 , que pode conter uma parcela elástica e outra plástica, é submetida
ao algorítimo de integração. Então, (22.109)1 gera
sn+1 str p
n+1 = 2Gen 2Gepn+1 = 2G epn+1 :
Finalmente, tomando (22.119), epn+1 = nn+1 , chega-se à importante relação
sn+1 = str
n+1 2G nn+1 (22.120)
2G∆en tr
sn+1
sn
2G∆enp
sn+1
0
O método de retorno foi proposto por Krieg e Key em 1976 [62]. No caso de modelo J2 , tem-se
o retorno radial, e Krieg e Krieg em 1977 [63] mostraram que este método é superior aos métodos
anteriores, como o método tangente, por exemplo.
A tensão relativa vem de (22.108):
Por de…nição, nn+1 = n+1 = n+1 . Logo, n+1 = nn+1 n+1 , que pode ser levado ao lado
esquerdo de (22.121). Isolando o termo nn+1 tem-se
" r !#
2
n+1 + Hn+1 + 2G nn+1 = tr
n+1
3
Como o termo em colchetes é um escalar sempre não negativo, segue-se que tr é um tensor
n+1
paralelo a nn+1 . Logo, nn+1 pode ser obtido de tr
n+1 por
tr
n+1 n+1
nn+1 = = tr (22.122)
k n+1 k k n+1 k
Esse é um resultado importante, pois permite obter a direção de escoamento usando valores já
previamente determinados, tr
n+1 , em vez de necessitar do ainda incógnito n+1 que, até esse ponto,
é uma incognita.
f 6 0; >0 e f = 0.
A forma discretizada dessas condições são
f( n+1 , qn+1 ) 6 0;
> 0; (22.123)
f ( n+1 ; qn+1 ) = 0
Na prática computacional esses testes não são simples de serem implementados, uma vez que as
variáveis envolvidas são incógnitas. Assim, os métodos de retorno buscam uma forma de realizar
os testes usando o valor de f na condição teste, que é completamente conhecida. Para que isso seja
possível, é necessário primeiramente provar que f tr f tr tr
n+1 ; qn+1 é tal que
tr
fn+1 > fn+1 (22.124)
Isso é mostrado a partir da condição de convexidade de f , que é explicitada pela forma
@fn+1 @fn+1
tr
fn+1 fn+1 > tr
n+1 n+1 : + (qn qn+1 ) : (22.125)
@ @q
Observação 11 - A Figura 22.17 ilustra de forma esquemática essa condição para o caso
sem encruamento. O primeiro termo à direita da desigualdade, associado ao gradiente de f ,
corresponde ao valor do intervalo P na …gura. A característica de convexidade de uma função
é que a diferença à esquerda seja superior ao valor P obtido a partir do gradiente de função.
tr @fn+1 @fn+1
n+1 = n+1 C: e qn+1 = qn D: : (22.127)
@ @q
22.3. Algorítimo de integração 611
f (σ)
tr
fn+1
f
fn+1
P σ
σn+1 σn+1
tr σ, q
Os dois termos à direita são as normas dos tensores baseados nos tensores peso C e D. O tensor
elástico C é positivo-de…nido. Considera-se a condição que D também seja positivo-de…nido. Con-
sequentemente, uma vez que > 0, o lado direito é sempre > 0, o que demonstra a condição
(22.124). Com a condição (22.124), as condições de carga e descarga discretizadas de Kuhn-Tucker,
em termos apenas de fn+1tr ; são:
tr < 0
fn+1 , = 0 (passo elástico)
tr > 0 (22.129)
fn+1 ) > 0 (passo plástico)
tr
Essas condições podem ser demonstradas da seguinte forma. Primeiro, se fn+1 < 0, de (22.124)
tr
segue-se que fn+1 < 0, o que signi…ca incremento elástico. A outra opção, se fn+1 > 0, então
o estado teste não é …sicamente viável, então ocorre plasti…cação com > 0. Também, como
fn+1 = 0, segue-se que fn+1 = 0.
O lado esquerdo é eliminado com a segunda igualdade de (22.130), e pode-se gerar uma função
p ( ) de…nida por:
612 Capítulo 22. Plasticidade clássica
r r !
2 tr 2
p( ) K ( n+1 ) + n+1 Hn+1 + 2G = 0: (22.131)
3 3
Nessa expressão a única incógnita é , que aparece explicitamente no último termo e implici-
tamente em K ( n+1 ) ou Hn+1 . A próxima etapa consiste em determinar a raiz da função
p ( ) = 0. Se houver encruamento não linear, expresso em K ( n+1 ) ou Hn+1 dependentes
não-linearmente de , a raiz só poderá ser obtida por interações locais de Newton-Raphson.
r (x) = 0:
A série de Taylor em torno de um valor x(i) , retendo apenas até o termo linear, é
dr
r x(i) + x(i) = r x(i) + x(i) :
dx x(i)
Etapa 1 - Início das interações. Impondo r x(i) + x(i) = 0, tem-se a correção x(i) resol-
vendo
@r
x(i) = r x(i) (22.132)
@x x(i)
x(i)
r x(i+1) 6 tol e 6 TOL (22.134)
x(i+1)
Se a tolerância não foi atingida, voltar à Etapa 1, eq.(22.132), utilizando x(i) = x(i+1) .
Inicialmente, antes da Etapa 1, um valor x(0) é arbitrado.
Fluxograma 22.1
q
(i) 2 (i) tr
p = 3K n+1 + n+1
q h i
(i) 2 (i)
2G 3 H n+1 H( n ;
)
2 3 (22.135)
(i) (i)
@p H0 n+1 + K0 n+1
= 2G 41 + 5:
@ (i) 3G
Etapa 2 - Atualização
p( (i) )
(i) = ;
@p
@ (i)
(22.136)
(i+1) = (i)
+ (i) ;
q
(i+1) 2 (i+1) :
n+1 = n + 3
(i)
p (i)
6 tol e se (i+1)
6 TOL,
dH
H 0 ( ) = hc = ;
d (22.137)
K ( )= E + hi ;
onde hi e hc são constantes de material para encruamento linear isotrópico e cinemático. A inte-
gral de 0
p H é H( ) = hc + C. Logo, Hn+1 = ( n+1 n ) hc , e de (22.109) tem-se Hn+1 =
hc 2=3.
No estado teste,
r
tr tr 2
fn+1 n+1 ( E + hi n ) :
3
p
Assim, p ( ) em (22.131) …ca (usando n+1 = n + 2=3 ):
0 1
r r r
B 2 C
2 2 B C
p ( ) = tr n+1 [ E + hi ( n + )] B Hn+1 + 2G C = 0:
3 3 @ 3q | {z } A
| {z } 2
tr
fn+1 h
3 c
Essa é uma função linear em cuja raiz pode ser obtida em forma explícita:
tr
fn+1
= (22.138)
h i + hc
2G 1 +
3G
614 Capítulo 22. Plasticidade clássica
onde hi , hc e c1 são constantes do material. Procedendo da mesma forma que no caso linear, tem-se
que:
r
tr tr 2 2
fn+1 n+1 E + hi n + c1 n : (22.140)
3
Assim, p ( ) em (22.131) …ca
q q q 2
tr 2 2 2
p( ) n+1 3 E + hi n + 3 + c1 n + 3
2
3 hc + 2G = 0:
r " r #
2 2 2 hi 2 hi
c1 +2 + c1 n + +G fn+1 = 0 (22.141)
3 3 3 3 3
Esse é um polinômio de segundo grau que pode ser resolvido para . Essa expressão incorpora
o caso do encruamento linear, c1 = 0, o que resulta na mesma expressão de mostrada em
(22.138).
Na equação (22.73) tem-se o tensor elastoplástico contínuo, que é exato em relacionar incrementos
diferenciais, isto é, d = _ dt e d" = "dt.
_ Entretanto, no processo algorítmico , onde se realiza a
computação usando incrementos …nitos, , ", etc., esse tensor não mais é exato, e seu uso leva a
que o processo geral de Newton-Raphson do equilíbrio global, usado no MEF (a ser visto na próxima
seção), apresenta taxa de convergência inferior, da mesma ordem de um método de Newton-Raphson
modi…cado. O conceito de tensor tangente algorítmico foi introduzido por Hughes e Taylor [51],
e desenvolvido por Simo e Taylor em 1985 [92]. A descrição que se segue é um detalhamento das
deduções de Hughes e Taylor e de Simo [94], e é válida para materiais isotrópicos em formulação J2 .
Busca-se o tensor tangente algorítmico Cep que é tal que
@ n+1
n+1 = Cep : "n+1 , onde Cep = : (22.142)
@"n+1
Para obter sua expressão considera-se a relação elástica na forma (22.112):
(
ij = K"qq ij + 2G (eij nij ), onde
1
(22.143)
eij = "ij 3 "pp ij é a deformação deviatórica.
Então, (22.142) …ca (removemos os índices n + 1 para enxugar a notação)
22.3. Algorítimo de integração 615
3
@"qq @eij @ @nij 7
7 "kl
=K + 2G 2G nij 2G (22.144)
@"kl 5
ij ij
@"kl @"kl @"kl
|{z} |{z} |{z} |{z}
B1 B2 B4 B3
Termo B1
@"qq
= qk ql = kl (=1 em notação tensorial) (22.145)
@"kl
Termo B3
@nij @nij @ trq @est
= : (22.148)
@"kl @ trq |{z}
@est @"kl
|{z}
|{z}
A2 A1 B2
Termo A1 De (22.115) e (22.114), tem-se a relação constitutiva para a tensão relativa teste
tr
n+1 = sn + 2G en n:
@ tr
pq
= 2GIpqst : (22.149)
@est
Termo A2 O tratamento desse termo é um tanto longo e será feito por partes. Inicialmente,
considera-se a derivada direcional de k k numa direção arbitrária h. Essa derivada pode ser
expressa por
d
Dh ( ) k + rhk
dr r=0
onde h = hij ^
ei ^ej é um tensor simétrico
p que indica a direção e r é um número real não negativo
arbitrário. Uma vez que k + rhk = ( + rh) : ( + rh) , segue-se que
1
Dh ( ) = 2h : ( + rh)jr=0
2 k + rhk
d
= h: ) k + rhk = h: n (22.150)
k k dr r=0
616 Capítulo 22. Plasticidade clássica
d tr @n
n + rh = :h (22.151)
dr r=0 @ tr
dn @ 1 @k k
= k k 2 ;
dr r=0 @r
|{z} r=0 k k @r r=0
| {z }
h Usar (22.150)
h tr tr
= 2 n: h usar n ;
k k r=0 k k
| {z r=0}
tr =k tr k2
d h n 1
ntr + rh r=0
= tr k tr k
n: h = tr k
[I n n] : h: (22.152)
dr k k k
| {z }
@n=@ tr
Porém, por de…nição de gradiente, (ou, comparando (22.152) com (22.151)), tem-se que
@n 1
= [I n n] (22.153)
@ tr k tr k
@n 1 1
= [I n n] : (2GI) : I n n (22.154)
@" k tr k | {z } 3
| {z } A1 | {z }
A2 B2
@n 2G
= [I n n] (22.155)
@" k tr k
Termo B4 O termo …nal em (22.144), B4, é parcialmente deduzido em Simo e Taylor [92], difer-
enciando a eq. (22.131) de p ( ) em relação a ":
r r
@p 2 0 @ @ @ tr @ 2 0 @ @
= K + 2G H = 0: (22.156)
@ " 3 @ @" @"
| {z } @" 3 @ @"
| {z } | {z }
p B4:1 p
2=3 2=3
tr
@ @ tr
= : n: (22.157)
@" @"
O termo @ tr =@" vem de tr = sn + 2G e
n+1 n. Logo,
22.3. Algorítimo de integração 617
@ tr @ e
= 2G
@" | @"
{z }
B2 de (22.147)
@ tr 1
= 2G I 1 1
! @" 3 (22.158)
@ tr
1
= 2G I 1 1 : n:
@" 3
Como 1 : n = 0, segue-se que
@ tr
= 2Gn é o termo B4.1 (22.159)
@"
Voltando a (22.156), obtêm-se
1
@ K0 + H0
= 1+ n que é o termo B4 (22.160)
@" 3G
1
K0 + H0
Cep = C 2G 1 + nn+1 nn+1
3G
1
4G2 tr
I 1 1 nn+1 nn+1 : (22.161)
n+1 3
Cep
n+1 = K1 1 + 2G n+1 I 1
31 1 2G n+1 nn+1 nn+1 ;
2G
n+1 1 tr
6 1, e
n+1
onde 1 (22.162)
K0 + H0
1< n+1 1+ (1 n+1 ) 6 ;
3G
@ n+1
tal que n+1 = Cep
n+1 : "n+1 e Cep
n+1 = :
@"n+1
Essa expressão deve ser comparada com o tensor elastoplático contínuo em (22.92), que pode
ser posto na forma
1
1 K0 + H0
Cep
n+1 = K1 1 + 2G I 1 1 2G 1 + nn+1 nn+1 (22.163)
3 3G
A diferença entre ambos os tensores é o tensor
1
= 4G2 I 1 1 + 4G2 tr
nn+1 nn+1 :
3 n+1
A discretização pelo MEF para uma análise de pequenas deformações é feita por funções de
aproximação contínuas em todo o domínio , que aproximam os deslocamentos u (x) fu; v; wgT
por
Z (Z Z )
BT d NT b d + NT f d =0 (22.168)
f
onde já foi imposta a condição de que U ^ 2RN tal que os deslocamentos virtuais sejam tais que
^ 2 V ar . V ar é o espaço discretizado das variações, tal que V arh V ar.
^ (x) = N (x) U
u h h
nglno é o número de graus de liberdade por nó (3 num modelo sólido tridimensional e 2 num
problema plano, por exemplo),
Então (22.168) representa N equações de equilíbrio discretas. No problema linear com = C"
a equação (22.168) se torna igual a (8.109), gerando a matriz de rigidez K e o vetor força em
(8.110). Já no caso do material elastoplástico, é uma função não linear de ", dada em forma
incremental através da matriz elastoplástica incrementral (22.162), = Cep ", onde " e Cep ,
de fato, dependem de U. Isso torna necessário o uso de um método iterativo para a solução do
problema. A próxima seção revisa o método de Newton-Raphson em sua forma geral e em seguida
é feita sua aplicação ao problema (22.168) com material elastoplástico.
Note que além desse método, diversos outros existem, como o método Quase-Newton e os de
comprimento de arco, que não serão revistos aqui.
dr
r x(i) = r x(i 1)
+ x = 0;
dx x(i 1)
O lado direito é todo conhecido, pois depende apenas de x(i 1) . Tendo x, obtém-se uma nova
aproximação, (melhorada, caso o processo esteja convergindo) por
x(i) = x(i 1)
+ x: (22.171)
Testa-se a convergência veri…cando se o resíduo é su…cientemente pequeno
x
r x(i) 6 tol e/ou 6 T OL: (22.172)
x(i)
Esse é o método de Newton-Raphson chamado completo, por que, a cada iteração, a tangente
dr=dx é recalculado para uso em (22.170). Num problema uniaxial isso não envolve nenhum custo
620 Capítulo 22. Plasticidade clássica
@r
r(U(i) ) = r(U(i 1)
)+ U(i) U(i 1)
(22.174)
@U U(i 1)
(i 1)
Kt U(i) = r(i 1)
, onde
(i 1) @r
Kt = ,
@U U(i 1)
Considera-se o problema algébrico não linear de…nido pelo resíduo (22.172). Numa iteração i o
resíduo r(i) é
U(i) = U(i 1)
+ U(i) . (22.180)
O novo resíduo r(i) é calculado de (22.176). O teste de convergência para uma tolerância prescrita
tol do erro é feito por
1 1
K(i) = A(i)T K(i 1)
A(i) , onde
A(i) = 1 + v(i) w(i)T . (22.182)
1 é uma matriz identidade de ordem N e v(i) e w(i) são vetores coluna dados por
622 Capítulo 22. Plasticidade clássica
A partida do processo em i = 1 as operações acima pode ser usadas desde que usando as
seguintes inicializações. Pode-se começar com uma matriz tangente K(0) obtida linearmente a
1
partir de U(0) = 0. Essa matriz é fatorada, gerando formalmente a inversa K(0) . Em todo o
método essa é a única fatoração necessária. U(0) é usado em (22.176) para obter o resíduo r(0) .
A partir desse ponto as etapas (22.179) a (22.183) seguem normalmente para obter U(1) e a nova
1
inversa da matriz secante K(1) e as iterações seguintes até a eventual convergência.
Nota-se que cada iteração envolve o cálculo de R(U(i) ), mas não necessita o cálculo ou a fatoração
de nenhuma matriz. As operações são quatro somas de vetores nas eqs. (22.176), (22.178), (22.180) e
(22.183), dois produtos escalares, U(i) r(i) e U(i) r(i) , um produtos matriz vetor em (22.179), um
produto tensorial v(i) w(i)T e dois produtos matriz matriz em (22.182). Os números de operações de
ponto ‡utuante2 (soma, subtração, divisão e multiplicação de real) nos cálculos que envolvem apenas
vetores são de ordem N . Entretanto, o produto de duas matrizes cheias requer ordem N 3 operações.
Esse é um custo superior ao dos métodos diretos de solução como o de Gauss. Claramente cuidados
adicionais devem ser adotados no detalhamento de qualquer implementação computacional. Por
1 (i)
exemplo, em vez de calcular A(i) = 1 + v(i) w(i)T e em seguida fazer o produto K(i 1) A ,
(i)
pode-se tomar partido da estrutura de A para desmembrar as operações:
1 1 1
K(i 1)
A(i) = K(i 1)
+ K(i 1) v(i) w(i)T . (22.184)
| {z }
g
1
O produto g = K(i 1) v(i) (2N 2 operações em matriz cheia) pode ser feito primeiro. Em seguida
1
a matriz gw(i)T é obtida e em seguida somada com K(i 1) . Isso envolve ordem de 2N 2 operações,
e o produto …nal do resultado por A(i)T em (22.182) requer mais ordem 2N 2 operações. Outros
estratagemas são buscados para baratear mais o custo por iteração. Em geral, o conhecimento
explícito da matriz tangente não é necessário. Nesse caso, U(i) em (22.179) pode ser calculado
diretamente por
1
U(i) = K(i 1)
r(i 1)
;
1
= A(i)T K(i 1)
A (i) (i 1)
| {z r }; (22.185)
h
= m + w(v m):
Então se tem U(i) com apenas dois produtos escalares (4N operações) e um produto matriz-vetor
para m (2N 2 operações em matriz cheia).
2
Métodos de contagem de operações de ponto ‡utuante em operações matricias é melhor vista no Capítulo 12.
22.4. Elementos …nitos em plasticidade 623
1
As matrizes K(i) em (22.182) são simétricas e positivas de…nidas desde que a matriz inicial
também o seja. Entretanto, ao longo das iterações, os vetores de atualização podem indicar uma
matriz secante mal condicionada. É provado que o número de condição da matriz atualizada é o
fator c(i) usado no cálculo de v(i) . O procedimento usual é que se esse número de condição exceda
um valor prescrito de tolerância (por exemplo 105 ), a atualização da matriz não é feita naquela
iteração.
N-R BFGS
0,1
N-R modificado i = 2 N-R
i=2 i=2
i=1
0
N-R
r(x)
-0,1
-0,2 Analítico
x = 0,214...
-0,3
0 0,1 0,2 0,3
x
Solução:
Seguindo o procedimento de Newton-Raphson, tem-se a expressão para a tangente dr / dx jx(i 1)
2
= 3 x(i 1) 6 x(i 1) + 2, que é utilizada no método de N-R completo. Para o método de N-R
2
modi…cado, utiliza-se aqui a tangente inicial dr=dxjx(0) = 3 x(0) 6 x(0) + 2 = 2. Assim, tem-se
os resultados para as seis primeiras iterações na Tabela 22.3. A Figura 22.18 mostra os resultados
para as duas primeiras iterações. Nota-se que, devido ao recálculo da tangente, a segunda estimativa
do método de N-R completo já se aproxima melhor da raiz que a estimativa do método de N-R
modi…cado. Na tabela, os termos entre parênteses nas iterações i = 5 e 6, indicam o erro relativo
(e(i) = (x(i) xexato )xexato ) atingido pela estimativa. A …gura e a tabela mostram também os
resultados para o método BFGS. Na …gura aparecem as retas usadas na iteração i = 2 para os três
métodos. A inclinação da reta mostrada para o BFGS é K(1) , e é intermediária às inclinações dos
métodos de N-R e N-R modi…cado. Observando a tabela nota-se que um erro relativo na faixa de
10 4 é atingido no método de N-R na 3a iteração, e no método BFGS na 4a iteração. No método
de N-R modi…cado esse erro só será obtido além da décima iteração.
624 Capítulo 22. Plasticidade clássica
Tabela 22.3: Resultados dos Exemplo 2. Os termos entre parênteses são erro relativo.
N-R completo N-R Modi…cado BFGS
dr
i r(i 1)
dx i 1 x(i) r(i 1) x(i) r(i 1) x(i)
0 0
1 0; 3 2 0; 150 0; 3 0; 150 0; 3 0; 150
2 0; 0641 1; 168 0; 204:9 0; 0641 0; 182 0; 0641 0,1908
3 7; 53 10 3 0; 8964 0; 213:322 0; 0292 0; 197 0; 0207 0,2102
4 1; 68 10 4 0; 8566 0; 213:517 0; 0151 0; 204 2; 86 10 3 0; 213:321
( 9; 2 10 4)
O sistema (22.168) é o sistema algébrico de equilíbrio , de N equações não lineares, em que se busca
a solução U 2 RN dos deslocamentos nodais. Esse sistema pode ser escrito em forma vetorial como
Fn+1 = Fn + Fn : (22.190)
A solução buscada também é incremental:
Un+1 = Un + U;
n+1 = n + , (22.191)
"n+1 = "n + ", etc.
22.4. Elementos …nitos em plasticidade 625
(i 1)
Consideramos já ter obtido ou de…nido a (i 1)-ésima aproximação do deslocamento, Un+1 ,
para o tempo n + 1, correspondente ao carregamento Fn+1 . Deve-se notar que existem N equações
e N incógnitas, isto é, no tempo n + 1, a k-ésima equação de resíduo é
(i) (i) (i 1)
Un+1 = Un+1 Un+1 (22.193)
(i) (i 1)
Usaremos uma expansão em série de Taylor para Un+1 em torno de Un+1 , retendo apenas os
termos lineares e forçando o resíduo a ser nulo. A expansão de Taylor então gera N equações na
forma:
PN @r (i 1)
(i) (i 1) k (i)
rk Un+1 = rk Un+1 + Uj = 0 ; k = 1; 2; ; N: (22.194)
j=1 @U j
| {z }
(Kt )kj
(i 1) (i) (i 1)
Kt(n+1) Un+1 = rn+1 (22.195)
(i 1)
A matriz tangente Kt(n+1) é mostrada em seu termo kj na eq.(22.194), isto é, simbolicamente,
tem-se:
(i 1)
(i 1) dR
Kt(n+1) (22.196)
dU n+1
(i)
onde Rn+1 é a força interna. O valor inicial geralmente é tomado como
(0) (0)
Un+1 = Un e U1 = 0: (22.201)
(0) (0)
O resíduo inicial associado a Un+1 é obtido considerando que Un+1 = Un e que Un satisfaz o
equilíbrio com Fn , isto é, de (22.187),
626 Capítulo 22. Plasticidade clássica
r (Un ) = R (Un ) Fn = 0.
Já em n + 1, o resíduo é
(0)
rn+1 = R (Un+1 ) Fn+1 6= 0; (22.202)
= (Fn+1 Fn ) :
(i)
Observação: As tensões n+1 para o cálculo das forças internas em
(i)
(22.200) são obtidas a partir de Un+1 , integrando
a relação constitutiva elastoplástica, a partir dos
valores conhecidos, que satisfazem equilíbrio
com o carregamento: Fn , isto é, n ; "n ; "pn ; n etc.
(i 1)
Não são usados os resultados da iteração de N-R anterior, Un+1 .
1. Critério de deslocamento:
(i) (i)
Un+1 6 D Un+1 Un (22.205)
L2 L2
(i)
Rn+1 Fn+1 6 R(0) F (22.206)
| {z }
F
| n {z n+1}
(i) (0)
rn+1 rn+1 = F= (Fn+1 Fn )
L2 L2
(0)
A norma à direita é o resíduo inicial rn+1 , que é sempre um valor não nulo, e a da esquerda é
(i)
a norma do resíduo atual rn+1 .
mesmo fazendo a certi…cação de convergência e apenas um deles. Isso devido à grande diferença de
rigidez de translação e de ‡exão em componentes delgados.
Matriz Tangente
@ n+1 @ l(n+1)
= Cep
n+1 ! ep
= Clq(n+1) (22.210)
@"n+1 @"q(n+1)
Usando regra da cadeia tem-se
@ l @ l @"q
= : (22.211)
@Uj @"q @Uj
A modelagem de elementos …nitos produz a discretização da deformação em termos dos desloca-
mentos nodais como em (22.167), " = B U, que tem a representação em notação indicial "q = Bqj Uj
(j = 1; :::; N ). Assim, @"q =@Uj = Bqj . Finalmente, usando esse resultado e (22.211), obtém-se
@ l ep
= Clq Bqj : (22.212)
@Uj
Substituindo em (22.209) tem-se
Z
ep
(Kt )kj = Blk Ckq Bqj d : (22.213)
1. nível global. As equações algébricas de equilíbrio não lineares são resolvidas iterativamente
por um método como o de Newton-Raphson ou outro. Nesse nível a estrutura da formulação
independe do tipo de relação constitutiva ou de qual modelo utilizado. Esse processamento
global depende apenas dos seguintes aspectos:
(a) Tipo de relação cinemática, isto é, do tipo de tensor de deformação usado (linear ou não
linear), o que permite ou não o tratamento de grandes deformações;
(b) Análise em pequenos ou em grandes deslocamentos.
(c) A estrutura dessa etapa é a mesma para qualquer tipo de relação constitutiva. Entre-
tanto, ela utiliza a matriz constitutiva algorítmica, e o campo de tensões (para o cálculo
do resíduo). Esses dois tensores são calculados de forma separada, em cada ponto de
integração, como parte do processamento em nível local, comentado no item 2 a seguir.
Calcula:
(i 1) (i 1)
U resolvendo Kt(n+1) U = rn+1 ;
(i) (i 1)
Un+1 = Un+1 + U : correção,
(i) (i)
Un+1 = Un+1 Un incremento no nível de carga,
Etapa local, cf. Fluxograma 22.3:
(i) (i) p(i) (i) (i)
n+1 ; "n+1 ; "n+1 ; n+1 ; n+1
4. Toda a formulação descrita é restrita a problemas de estado triaxial de tensões. Para estados
planos tornam-se necessárias adaptações no método de retorno.
(i)
Etapa 1 - Dados n; "pn ; n; n e Un+1 .
Dadas as funções K ( ) e H ( ) dos encruamentos isotrópico e cinemático.
(i)
Etapa 2 - Calcular "n+1 = Bn Un+1 .
Etapa 3 - Parcelas volumétricas: "vn+1 = tr "n+1 ;
v 1
n = 3 tr n:
1
Parcelas deviatóricas: en+1 = "n+1 3 "vn+1 1;
sn = v 1:
n n
n+1 = n;
n+1 = n + Cep
n+1 "n :
Etapa 5.2 - Passo elastoplástico:
Cep
n+1 da eq. (22.162),
sn+1 = str
n+1 2G nn+1 eq.(22.120),
n+1 = sn+1 + 3 "vn K + v;
n usada eq.(22.112).
estado plano, em que a seção transversal do tubo encontra-se no plano xy. Os dados utilizados são
os seguintes: E = 200 MPa, E = 200 GPa, = 0; 25. Os raios interno e externo do tubo são
a = 100 mm e b = 150 mm respectivamente. A pressão interna aplicada é P = 75,184266 MPa.
Considera-se o material elasto-plástico ideal.
(a) (b)
y y
x x
Figura 22.19: Malhas utilizadas no Exemplo 3.
Solução:
A solução analítica para a pressão que leva ao início do escoamento no tubo, que ocorre na
super…cie interna, obtida pelo critério de von Mises para início de escoamento, é dada por
Tabela 22.4: Tensões radial e tangencial [MPa] nas coordenadas r = a, b e c ao longo da espessura,
obtidas para o Exemplo 3. A tensão radial está multiplicada por (-1). As malhas são de 3 e 6
elementos ao longo da espessura.
Tensão radial Tensão tangencial
c r (a) r (c) r (b) (a) (c) (b)
Referência 113,4 75,18 47,0 0,30 152,2 172,6 125,6
MEF malha 3 6 46,8 61,1 10,1 170,6 160,4 121,2
MEF malha 6 12 116,3 60,6 42,2 4,8 161,8 167,3 123,8
…gura a partir de uma grade de pontos uniformemente distribuida ao longo da espessura, gerando
o aspecto zig-zag mostrado.
200
r = 113,4 mm
160
Tensões [MPa]
120
Solução de referência
Solução MEF contínua
80
Solução MEF descontínua
40
r
0
100 110 120 130 140 150
r [mm]
Figura 22.20: Tensões radial e tangencial obtidas para o Exemplo 3 ao longo de uma linha radial do
cilíndro. A tensão radial está multiplicada por ( 1). Malha de 6 elementos ao longo da espessura.
A Tabela 22.4 mostra um sumário dos pontos críticos das curvas. Nota-se que a malha grosseira
e a re…nada de MEF apresentam tensão radial na superfície externa com valores 4; 8 MPa e 10; 1
MPa respectivamente, em vez de zero que é o valor correto, uma vez que a superfície externa é
livre de solicitações. Entretanto, um re…no progressivo de malha faz com que esse valor se aproxime
gradualmente do valor correto. Os resultados da malha de 3 6 são tão pobres que tornam difícil a
identi…cação da superfície de interface plástico-elástico.
Uma vez que a posição da interface plástica é, a priori, desconhecida, a forma mais rústica de
localiza-la consiste em utilizar uma malha bastante re…nada em todo o domínio. Claramente essa
opção computacionalmente é a mais custosa. Ao longo das últimas décadas, uma série de estratégias
tem sido propostas e utilizadas para identi…car esse tipo de descontinuidade (e outras), que sofrem
translação ao longo do crescimento da carga. Uma estratégia, também tradicional, consiste em
fazer remalhamento. Para um dado nível de carga, o processo iterativo gera uma estimativa da
posição da descontinuidade. Então uma malha é construida com re…no apenas na vizinhança da
descontinuidade, o que permite obter solução com precisão adequada naquele nível de carga. Num
segundo nível de carga, a descontinuidade se move, e a malha é desconstruída e reconstruída com
re…no na vizinhança da nova posição. O processo segue da mesma forma até o último nível de carga.
Outros procedimentos mais recentes envolvem uma malha …xa, sem re…no localizado, mas utiliza
funções de enriquecimento especiais, tanto locais aos elementos …nitos quanto globais. Essa é a classe
dos método de elementos …nitos generalizados, que encontra-se fora do escopo desse livro.
22.5. Exercícios 633
22.5 Exercícios
22.1 Mostre que se a solução u(t) do PVI (22.25) para uma função linear, o algoritmo é exato para
qualquer valor de 2 [0;1].
22.4 Prove que (22.61) reduz-se a (22.12) em um estado uniaxial de tensões. Note que (22.12) está
limitada a encruamento isotrópico linear.
22.5 Comente dois casos práticos em que o vetor de forças nodais externas F em depende da solução
U.
22.7 Comente uma forma de gerar as funções potenciais para as regras de evolução?
22.8 Porque é (22.129) válido, isto é, porque se pode fazer os testes usando o estado teste?
22.10 Mostre as expressões indiciais para notação de Voigt das operações n : " e n : n mostradas
na Tabela 22.2.
634 Capítulo 22. Plasticidade clássica
Capítulo 23
Os termos entre colchetes podem ser reconhecidos como as matrizes de rigidez e massa K e M, de
tal forma que as energias …cam
1 1 _T _
U = UT (t)KU(t); e T = U (t)MU(t). (23.3)
2 2
Consideremos o conceito de função positiva de…nida. Uma função de várias variáveis é dita
ser positiva de…nida se ela é sempre não negativa, e é zero se e apenas se todas as variáveis são
zero. A energia cinética em (23.3) é uma função das velocidades nodais Uj (t), e é totalmente de…nida
pelos coe…cientes da matriz massa, Mij : Então a positividade de T é ditada pelas características de
M. Como, …sicamente, sabe-se que a energia cinética é uma grandeza positiva de…nida, a matriz
M (consistente) deve ser positiva de…nida. Isto signi…ca que M deve ser tal que, dado um vetor V
arbitrário de ordem N ,
VT MV 0 para 8V 6= 0, e
(23.4)
VT MV = 0 () V = 0:
Esta é a de…nição de uma matriz positiva de…nida. Em (23.3), M é tal que, qualquer que sejam as
velocidades nodais, T será sempre não negativo.
A importância de se saber se uma matriz é ou não positiva de…nida surge no momento de se
construir ou escolher algoritmos de solução aos problemas onde ela aparece. Existem algoritmos
que tiram partido do fato, e só admitem, matrizes simétricas ou positiva-de…nida.
Quanto à matriz de rigidez a análise tem dois casos distintos. Observe que um deslocamento
de corpo rígido num corpo, como uma translação, não envolve deformações. Neste caso o vetor
de deslocamentos nodais U(t) é não nulo, porém a deformação " e consequentemente a energia de
deformação em (23.1) é nula. Neste caso a matriz de rigidez em (23.3) não é positiva de…nida, uma
vez que não satisfaz as condições de (23.4). Como U neste caso não pode ser negativo, K é dita
matriz positiva semide…nida.
Por outro lado, se condições de contorno tiverem sido aplicadas no sistema de forma a impossibilitar
movimentos de corpo rígido, a deformação " será não nula se o campo u(t) for não trivial. Então
U > 0 e K é positiva de…nida. Maiores detalhes sobre a positividade da rigidez são vistos na seção
377.
A seção 19.2.3, página 511, mostra que, se M e K são simétricos, dois autovetores quaisquer i
j
e do autoproblema
K !2M =0 (23.5)
i j
são M ortogonais, isto é, M = ij , se ! i 6= ! j .
Uma das maneiras mais óbvias para tentar aproximar 1 em (23.5) é usar um simples processo
denominado de substituições sucessivas. Esse processo inicia-se arbitrando um vetor não nulo
vo qualquer. Em seguida calcula-se um vetor v1 por
vs+1 = ! 21 K 1
Mvs ; (23.7)
se convergiria para 1 , isto é, vs ! 1 conforme s ! 1. Será isso verdade? A resposta é sim.
Este procedimento foi proposto e demonstrado por Stodola, conforme será descrito a seguir. Antes,
observemos que a inversão de K mostrada acima é apenas simbólica. Se o método dependesse de
uma inversão completa de K ele seria computacionalmente inviável para um problema de grande
porte, portanto inútil. Mas o que tem-se a fazer é apenas resolver Kvs = ! 21 Mvs , isto é, resolver um
sistema linear de equações, com o lado direito dado, o que requer apenas as operações necessárias
para triangularizar a matriz e não para invertê-la.
A demonstração da convergência de (23.7) é feita como segue. Considere-se o vetor inicial
vo em (23.6). Lembremos que o conjunto de autovetores j , j = 1; ; N; forma uma base do
espaço vetorial N -dimensional de…nido por K e M. Isto signi…ca que, qualquer vetor neste espaço,
como o vo , pode ser escrito como uma combinação linear dos elementos desta base, da seguinte
forma:
vo = y1o 1
+ y2o 2 o
+ : : : yN N
= yo ; (23.8)
onde é a matriz modal, ainda desconhecida, e y1o , y2o ; o são constantes reais de propor-
; yN
cionalidade (também desconhecidos nesse ponto). Consideremos que os autovetores são numerados
segundo uma ordem crescente de autovalores. Substituímos esta expansão em (23.6):
Kv1 = ! 21 Mvo
= ! 21 M 1 o
y1 + 2 o
y2 + ::: N o
yN :
Agora de…nem-se novas constantes, y11 = y1o (! 1 =! 1 )2 , y21 = y2o (! 1 =! 2 )2 etc., isto é,
2
!1
yj1 = yjo (23.10)
!j
Faz-se a substituição e, ao mesmo tempo, multiplicam-se os dois lados da equação por K 1:
1 1 2 1 N 1
v1 = y1 + y2 + ::: + yN = y1 : (23.11)
Se re…zermos estas operações para a próxima iteração obtemos uma equação semelhante a (23.9):
! 21 1 1 ! 21 1 2 ! 21 1 N
Kv2 = y K + y K + ::: + y K : (23.12)
! 21 1 ! 22 2 ! 2N N
Multiplicamos por K 1 e rede…nimos as constantes por yj2 = yj1 (! 1 =! j )2 : Usando a de…nição
638 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
v2 = y2 : (23.14)
Para as próximas iterações o padrão se repete:
vo = yo
2
!1
v1 = y1 onde yj1 = yjo ;
!j
4
!1
v2 = y2 onde yj2 = yjo ;
!j
!1 6 (23.15)
v3 = y3 onde yj3 = yjo ;
!j
.. ..
. .
2s
!1
vs = ys onde yjs = yjo :
!j
Numa iteração s qualquer, (23.15) pode ser expandido na forma
! 1 2s o ! 1 2s o ! 1 2s o
vs = ys = 1 o
y1 + 2
y2 + 3
y3 + : : : + N
yN : (23.16)
!2 !3 !N
| {z } | {z } | {z }
1 1 1
Lembramos que nesta notação estamos considerando os autovalores ordenados de forma crescente,
isto é, ! 1 < ! 2 < !j < ! N : Então 0 < ! 1 =! j 1: Ao mesmo tempo, lim 2s = 0 se for um
s !1
número real no intervalo aberto (0; 1). Como consequência , os termos entre parêntesis são tais que
2s
!1
lim =0 para j 6= 1: (23.17)
s !1 !j
De (23.16) tem-se que, conforme o número de iterações s cresce, todos os termos à direita da
igualdade tendem a zero com exceção do primeiro, de forma que
1
lim vs = y1o (23.18)
s !1
se os vetores vs são gerados como em (23.7) e o autovalor ! 1 for conhecido. Observe que se 1 é
um autovetor de (23.5), y1o 1 também o é. Uma constante afeta apenas a norma do vetor. Assim,
o fato de se ignorar os valores y’s utilizados na dedução, não afeta a capacidade do procedimento
em obter o autovetor.
Nesse ponto deve-se retornar ao fato de que não se conhece previamente o primeiro autovalor
! 1 : Porém, considere-se uma iteração arbitrária s:
1
vs+1 = K 1 Mvs ; (23.19)
! 21 | {z }
vs+1
2
vs = s+1 vs+1 : (23.20)
23.2. Método da potência ou de Stodola 639
A princípio, se poderia estimar 2 como o quociente entre um termo do vetor vs pelo termo
s
correspondente de vs+1 , isto é,
T Mv
vs+1
2 s
s+1 = T
. (23.22)
vs+1 Mvs+1
1 1M 1.
Observe que se os vetores fossem a solução do problema, se teria vs = e vs+1 = K Então
1T 1 1
2 MK M
s+1 = 1T
:
MK 1
M K 1M 1
2 !1 2 2
s+1 = =) s+1 = ! 21 (23.23)
!1 4
Então, como os vetores vs convergem para 1 , a tendência é que s convirja para ! 1 :
A síntese do algoritmo é a mostrada na Tabela 23.1
Com esta sequência de operações, cada iteração envolve dois produtos vetor vetor e dois
produtos matriz vetor. Previamente ao início das iterações a matriz de rigidez é trangularizada
e armazenada. A cada iteração a operação na Etapa 3 consiste apenas na substituição retroativa
para a determinação de vs+1 :
Dois aspectos afetam a convergência do método. Observe (23.16). Se, por exemplo, ! 2
for muito próximo de ! 1 , o valor (! 1 =! 2 )2s tende a zero muito lentamente, consequentemente
retardando a convergência de vs , isto é, requerendo um número maior de iterações. Então a taxa
de convergência do método depende das características de K e M que se re‡etem nos autovalores.
Um valor usual para tol é 10 6 .
O segundo aspecto sobre a convergência pode ser identi…cando observando a eq. (23.8) que
mostra a expansão do vetor inicial vo , em termos da base de autovetores. Observe o que ocorre se
vo for escolhido de forma a não ter uma componente na direção 1 , isto é, se y1o for nulo. Então
vo é ortogonal a 1 , o que torna impossível a convergência ao primeiro modo. Felizmente, dadas as
matrizes do sistema, é praticamente impossível que vo seja gerado excluindo 1 :
640 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
De…nição de vo : a princípio qualquer vetor não nulo poderia ser usado, como por exemplo vo =
f1; 0; : : : 0gT . Entretanto a prática mostra que vo = f1; 1; 1; : : : ; 1gT é melhor por ativar todos os
termos da matriz M.
Exemplo 23.1
Considere o autoproblema dos Exemplos dos Capítulos 18 e 19 nas páginas 498 e 514, de…nido por
82 3 2 39 28 j 93
< 2 1 0 4 1 0 = > < 1 > =
4 1 2 6 7
1 5 2
j
4 1 4 1 5 4
j
2 >5 = 0: (23.24)
: ; > : j ;
0 1 1 0 1 2 3
2
p Use o método de Stodola para estimar o primeiro autopar. (A solução analítica é 1 = (11
6 3)/13 = 0,04674578112 m 2 s 4 e 1 = [0,170518; 0,295345; 0,341035]T .)
Solução
Arbitra-se o vetor inicial vo = f1; 1; 1gT e seguem-se as etapas listadas em (23.1). A primeira
estimativa v1 é obtida resolvendo
8 9 8 9
< 5 = < 14 =
K v1 = Mvo = 6 ! v1 = 23 :
: ; : ;
3 26
8 9
< 79 =
v1 = Mv1 = 132 :
: ;
75
2 v1T vo 63
1 = T
= ! 1 = 0; 0464468:
v1 v1 6; 092
8 9
v1 < 0,17937 =
v1 = = 0,29468 ;
v1T v1 : ;
0,333114
com o que se conclui a primeira iteração com as aproximações 1 e v1 para o primeiro autopar.
As próximas iterações produzem 22 = 0,0467475, 23 = 0,0467458 e v3 = {0,170593; 0,295345;
0,340961}. Comparando com a solução analítica isso resulta numa convergência em torno de 10 3
na frequência e 10 6 no primeiro modo.
1
M = K : (23.25)
!2
e de…ne-se 2 = 1=! 2 . Aplicando o método de Stodola, tem-se uma aproximação do menor autovalor
do problema, 21 , que corresponderá então ao maior valor do sistema, ! 2N . Se M puder ser invertida,
(e as matrizes consistentes do MEF sempre são positivas de…nidas) o algoritmo do método …ca o
mesmo que o de Stodola no Fluxograma da Tabela 23.1, trocando K por M e vice-versa.
23.3. Método de iteração progressiva 641
[(K+cM) ( + c) M] =0 (23.26)
Tem-se então um novo problema na forma
K M = 0: (23.27)
Agora tem-se novamente um problema padrão, com matriz K não singular. Observa-se que, se
e forem um autopar de (23.5), o autovalor de K e M é = + c e os autovetores de ambos os
problemas são idênticos, .
Suponha que K seja uma matriz singular, real e simétrica, positiva semide…nida, isto é, onde
todos os autovalores do problema [K I] = 0 são não negativos. Então K representa um
sistema mecânico onde não foram impostas condições de vinculação, de forma que ele pode responder
em forma de movimento de corpo rígido. Muitos métodos de solução de autoproblemas não
seriam aplicáveis. Note que uma matriz singular deste tipo tem o primeiro ou primeiros autovalores
nulos, isto é, para [K I] = 0 se tem que 1 = 2 = = r = 0, onde r é o número de
possíveis movimentos de corpo rígido do componente. Entretanto, pode-se aplicar uma
translação a todos os autovalores pela técnica do “shift” descrita acima. Nesse caso, arbitra-se um
número c > 0: Isto resulta num sistema (23.27) onde a matriz K é não singular (uma vez que M é
0
positiva de…nida). Observe que agora todos os s são positivos, o que signi…ca que K é positiva-
de…nida. Obtida a solução de (23.27), a solução de (23.5) é obtida tomando os mesmos autovalores
de (23.27) e extraindo os autovalores da seguinte forma
1 = 1 c;
2 = 2 c;
..
.
N = n c:
Em geral, o j-ésimo autovalor vem de
j = j c (23.28)
Uma outra utilização da técnica do “shift” é a seguinte. Suponha que K seja não singular e se
use um método como o de Stodola para obter o primeiro autopar. Na eq. (23.16) vimos que a taxa
de convergência é proporcional a ! 1 =! j : Pode ocorrer que K e M sejam tais que as dois primeiros
autovalores sejam bastante próximos, por exemplo, (! 1 =! 2 ) = 9999=10000 = 0; 9999 o que resultaria
numa taxa bastante pequena, ou poderiam ser bastante diferentes como (! 1 =! 2 )2 = 1=100 = 0; 01.
Este fator depende apenas do sistema físico que está sendo modelado, o que transparece em K e M,
e não pode ser alterado. Entretanto é possível deslocar a origem da medição de todas as frequências
num fator comum, usando a técnica do “shift”.
Suponha que se saiba que o primeiro autovalor está na faixa de ! 21 = 1 = 9999. Pode-se usar
por exemplo, um deslocamento c = 9998 como ilustrado na Figura 23.1. Isto fará com que os
2 2
primeiros autovalores do sistema alterado (23.27) sejam 1 = 1 e 2 = 2: Este sistema terá então
2
uma taxa de convergência de 1 = 2 = 1=2 = 0; 5, que é muito superior à original (0; 9999).
Exemplo 23.2
Considere o autoproblema do Exemplo 23.1.
p Seus autovalores foram calculados
p exatamente no
2 2 2
Exemplo da página 498 como 1 = 11 6 3 =13, 2 = 0; 5 e 3 = 11 + 6 3 =13. Aplique um
642 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
λ2 = 10000
λ1 = 9999
9998
ω2 = λ
0
λ1 = 1
λ2 = 2
2
2
c = - 9998 2
λ
O polinômio característico é
2 2
= [ 32 + 6 1; 5 + ] = 0,
p p
e suas raízessão = 11 6 3 =13 0; 5 = 0; 453234, 2 = 0, e 3 = 11 + 6 3 =13 0; 5 =
1; 14556. A matriz K é então singular. Caso a matriz K fosse originalmente singular um shift
positivo a tornaria positiva-de…nida. Note que os autovetores do sistema acima são os mesmos
obtidos no Exemplo da página 498 uma vez que eles não são afetados pelo shift.
v2 = (v2 e1 ) e1 + e2 :
23.4. Processo de ortogonalização de Gram-Schmidt 643
e2
v2
v1
e2 e1
(v2 e2) e1
e2 = v2 (v2 e1 ) e1 : (23.29)
Fazendo o produto interno de e1 e2 é possível con…rmar que estes vetores são ortogonais: e1
e2 = e1 v2 (v2 e1 ) e1 e1 = 0 uma vez que e1 e1 = 1. Finalmente e2 pode ser normalizado
gerando
e2
e2 = : (23.30)
(e2 e2 )1=2
Dado um terceiro vetor no conjunto, v3 , não paralelo a v1 ou a v2 , pode-se gerar um terceiro vetor
unitário e3 ortogonal a e1 e e2 por
v1 jP1 ej
e1 = ; ej = vj (vk ek ) ek ; ej = (23.32)
(v1 v1 )1=2 k=1 (ej ej )1=2
P
N
Produto interno Euclidiano u v = uT v = ui vi ;
i=1
P
N P
N (23.33)
Produto interno ponderado u v= uT Mv = ui Mij vj :
i=1 j=1
j 1
X
v1 ej
e1 = 1=2
; ej = v j vkT Mek ek ; ej = 1=2
. (23.34)
uT1 Mv1 k=1 eTj Mej
1
Jørgen Pedersen Gram, dinamarques (1850 – 1916) e Erhard Schmidt, alemão (1876 – 1959) .
644 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
[K M] = 0; isto é, A = 0: (23.35)
Da teoria básica de álgebra linear sabe-se que um sistema deste tipo só pode ter solução não nula,
6= 0, se a matriz A for singular, isto é, det A = 0: Mas A é uma função de ; A = A ( ) :
Uma das maneiras de entender o signi…cado de um autovalor é este, como um número que torna a
matriz coe…ciente singular e, consequentemente, permite uma solução não trivial, o autovetor . O
determinante de [K M] é um polinômio p ( ) de grau N em termos de , isto é,
p ( ) = det [K M] ; (23.36)
é o chamado polinômio característico.
Para um valor arbitrário, o valor do polinômio será não nulo e a matriz [K M] será não
singular, cuja única solução para (23.35) será = 0: Buscam-se então as N raízes j do polinômio,
isto é, os valores tais que
p ( j ) = det [K j M] = 0: (23.37)
onde Bij é a “matriz menor”, obtida eliminando a linha e a coluna j da matriz B. Esta matriz
é de ordem (N 1) (N 1) e seu determinante pode ser calculado usando o mesmo método.
Operando de forma recorrente, até se chegar a uma matriz menor de ordem 1, se chega ao valor de
det B:
Para matrizes de grande porte, como aquelas geradas pelo método de elementos …nitos,
existe um outro procedimento computacionalmente mais e…ciente. Na fórmula (23.38) percorre-se
uma linha qualquer da matriz: um elemento da linha é tomado e multiplicado pelo determinante da
matriz menor. Observa-se que se esta de…nição for aplicada a uma matriz triangular, superior
U ou inferior L, seu determinante se torna igual ao produto dos termos da diagonal. O mesmo
ocorre para uma matriz diagonal D. Por exemplo,
N
Y N
Y N
Y
det D = Djj ; det S = Ujj ; det L = Ljj ; (23.39)
j=1 j=1 j=1
Q
n
onde Djj é o produtório dos termos da diagonal de D, igual a D11 D22 D33 DN N .
j=1
Considere-se em seguida uma outra propriedade conhecida do determinante: dadas duas matrizes
quadradas reais C e E,
B = LU (23.41)
onde L e U são matrizes triangular inferior e superior, com Ljj = 1 para j = 1; ; N . Usando
(23.40) e (15.17) tem-se o determinante de B numa forma limpa e computacionalmente aceitável:
Q
N
det B = Ujj
j=1 (23.42)
Observa-se que se B for singular, um ou mais dos últimos valores da diagonal de U serão nulos. Além
disso deve-se lembrar que, trocando duas linhas ou colunas de uma matriz, o sinal do determinante é
trocado. Então se B tiver um elemento diagonal nulo, B não pode ser diretamente fatorado pelo
método de Gauss. Neste caso torna-se necessária uma troca de linhas (ou coluna), o que gera uma
matriz B diferente de B. B é que será fatorada e terá seu determinante calculado. O determinante
de B deve ser obtido por det B = ( 1)p det B, onde p é o número de permutações de linhas ou
colunas realizados na de…nição de B.
Exemplo 23.3
Obter o determinante da matriz K usando o método da diagonalização (eqs. (23.40) e (23.42)).
2 3
4 1 1 0
6 1 4 1 0 7
K =6
4 1
7:
1 4 1 5
0 0 1 2
Solução:
Aplicando o método de fatoração de Gauss, a decomposição de K na forma K = LU é:
2 3 2 32 3
4 1 1 0 1 4 1 1 0
6 1 4 1 0 7 6 1 1 76 15 5
0 7
6 7=6 4 76 4 4 7:
4 1 1 4 1 5 4 14 1
1 54 10
1 5
3 3
3 17
0 0 1 2 0 0 10 1 10
Da equação (23.42), det K = det L det U. Para o determinante de L usa-seQ (23.38) e chega-se a que
det L = 12 . Então, para o det U pode-se usar diretamente a eq. (23.42): 4j=1 Ujj = 4 15 10 17
4 3 10 = 85.
2 N
p ( ) = ao + a1 + a2 + + aN ; (23.43)
2
De fato isto é uma propriedade geral, isto é, qualquer matriz real triangular com diagonal unitária tem determi-
nante igual a um.
646 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
p(µk - 1)
p(µk) λ1 λ2 λ3
µk - 1 µk µ2 µ1
µk + 1 µ3
tem-se como calcular seu valor para um dado : O problema de como obter suas raízes torna-
se então um problema conceitualmente simples, já estudado em métodos padrão de determinação
numérica de raízesde polinômios. Ilustraremos aqui apenas um deles, o método da secante. Este
é um método de interpolação linear. Observe-se a Figura 23.3, onde se tenta aproximar o primeiro
autovalor, 1 : O procedimento pode ser aplicado para qualquer autovalor, uma vez que é realizado
para aproximar cada autovalor, um por vez, de forma independente.
O processo iterativo do método da secante pode ser sintetizado no seguinte ‡uxograma:
Etapa 1 - Estabelece-se o autovalor alvo, j , que se deseja aproximar. De…nem-se duas estimativas
iniciais para ele, valores 0 e 1 , o mais próximo possível de j : Na próxima seção se comentará um
processo que pode ser usado para estimar aproximadamente os valores dos j numa certa faixa do
espectro.
Etapa 2 - Para cada iteração em busca de j tomam-se os dois últimos valores k 1 e k da
sequência de…nida no algoritmo.
Etapa 3 - Calcula-se
Q
pk 1 =p k 1 = det K k 1M = det (LU)k 1 = (Ujj )k 1 ;
| {z } j
Ak 1
Q (23.44)
pk = p ( k ) = det [K M] = det(LU)k = (Ujj )k :
| {z k } j
Ak
p k 1 k k 1
k+1 = k 1 (23.45)
p( k) p k 1
Etapa 5 - De…ne-se uma tolerância de erro, T ol, por exemplo 10 6 , para o autovalor. Como
em vibrações = ! 2 , isto dará uma precisão de 10 3 na frequência natural. O valor de k+1 é
considerado satisfatório se
23.5. Método do determinante 647
k+1 k
T ol (23.46)
k+1
Observação 1 - que este método permite a estimativa de tantos autovalores quantos se deseja,
pois eles são calculados um a um. Os erros incorridos na aproximação de um autovalor não
afetam a precisão dos demais.
a = log A ! 10a = A;
b = log B ! 10b = B; (23.47)
Se P = AB Z ! p log P = log A + log B + + log Z:
Então, o determinante em (23.44) …ca
N
X N
X
bk 1 = log pk 1 = log(Ujj )k 1 e bk = log pk = log(Ujj )k :
j j
k
Embora cada expoente bk 1 e bk possa ser grande como o 5:000 do exemplo, ambos devem ser valores
de ordem semelhante, de forma que sua diferença seja pequena o su…ciente para evitar “over‡ow”.
Este procedimento de uso de logaritmo pode ser usado em conjunto com o escalamento da matriz.
Observação 4: Como o método envolve várias fatorações de matriz para convergir para
cada autovalor, o que torna o método muito menos e…ciente que outros mais so…sticados, que
envolvem apenas uma fatoração antes das iterações.
648 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
B = LDLT : (23.49)
É provado que o número de elementos negativos na matriz diagonal D é igual ao número
de autovalores de [K M] = 0 menores que . Isto signi…ca que, se for tomado entre i
e i+1 , isto é, i < < i+1 , a matriz D terá exatamente i valores negativos. Este é o chamado
teste de Sturm.
Uma das utilizações para esta propriedade é a seguinte. Nota-se que para usar o método do
determinante para a obtenção dos autovalores, é necessário que se tenha uma estimativa prévia,
mesmo que grosseira, da localização dos autovalores desejados. Para isso, pode-se usar o chamado
teste de Sturm acoplado a um método de bisseção. Considere-se inicialmente o esboço de
parte de um polinômio característico ilustrado na Figura 23.2. Toma-se um certo número real,
por exemplo 1 , como indicado na …gura. Calcula-se a matriz A = [K 1 M] e a realiza-se sua
fatoração, A = LDLT : Conta-se o número n1 de termos negativos em D, que no exemplo seria
n1 = 2, isto é, no exemplo existem dois autovalores, 1 e 2 menores que 1 .
Se o processo for repetido para k e se obtenha nk = 0, se teria a indicação de não haver nenhum
autovalor menor que k : Deduz-se então que existem dois autovalores entre k e 1 , e esses são os
autovalores 1 e 2 : Usa-se então o método da bisseção, isto é, divide-se o intervalo k a 1 ao
meio, isto é, toma-se um valor 2 dado por 2 = ( k + 1 ) =2 e repete-se o processo de calcular A e
fatorá-la. Caso se obtenha um termo negativo, n2 = 1, se saberia que o autovalor 1 se encontra no
intervalo k 2 e 2 no intervalo 2 1 : Se for desejado um intervalo mais estreito em torno de
um certo autovalor basta dividir o intervalo ao meio e repetir o processo. Uma síntese do processo
de bisseção é mostrado no Fluxograma da Tabela 23.2.
Observação - Este método pode ser usado para determinar os autovalores porém apresenta baixa
e…ciência computacional. Seu melhor uso é apenas o de determinar regiões para cada autovalor
para facilitar a aplicação do método do determinante pela secante.
23.5. Método do determinante 649
Exemplo 23.4
Considere o autoproblema do Exemplo 23.1, equação (23.24). Use o teste de Sturm para determinar
quantos autovalores existem abaixo de = 2; 0.
Solução:
Tomamos K e M do Exemplo 23.1 e calculamos a matriz B = K M:
2 3
6 3 0
B=4 3 6 3 5:
0 3 3
A fatoração desta matriz na forma B = LU resulta no seguinte:
2 32 3
1 6 3 0
B = 4 21 1 54 9
2 3 5:
2
0 3 1 1
O número de termos negativos na diagonal é três, o que corresponde à solução analítica dos
autovalores mostrados no exemplo da página 523, os três autovalores são inferiores a 2.0, ( 1 =
0,04675, Q2 = 0,5, 3 = 1,6456), isto é, j < . Observe que, para = 2; 0, o determinante de B é
det B = 3j=1 Ujj = ( 6)( 9=2)( 1) = 27.
Exemplo 23.5
Use o método do determinante por secante para determinar uma aproximação ao terceiro autovalor
do autoproblema do Exemplo 23.1.
Solução:
Do Exemplo 23.4 tem-se que, para = 2; 0, o determinante de B = K M é igual a 27.
Chamemos a este de 1 . Buscamos o determinante de B para 2 = 1; 0. Então B2 = K 2 M,
que dá:
2 3
2 2 0
B2 = 4 2 2 2 5:
0 2 1
Calcula-se det B2 = +8; 0. Usando o teste de Sturm veri…ca-se que existem dois autovalores menores
que 2 = 1; 0. Conclui-se que existe apenas um autovalor entre 1 = 2; 0 e 2 = 1; 0, precisamente
o terceiro autovalor do sistema. Tem-se dois pontos, ( 1 ; p ( 1 )) e ( 2 ; p ( 2 )), onde p ( k ) é o valor
do polinômio característico, calculado como p ( k ) = det Bk , isto é, p ( 1 ) = 27 e p ( 2 ) = +8; 0.
Calcula-se uma nova estimativa 3 para o autovalor 3 usando a extrapolação linear (23.45):
p( 2 1) 8 (1; 0 2; 0)
3 = 2 = 1; 0 = 1; 228:
p ( 2) p ( 1) 8 ( 27)
A matriz B3 = K 3 Mé
2 3
2; 912 2; 228 0
B3 = 4 2; 228 2; 912 2; 228 5 :
0 2; 228 1; 456
O valor do seu determinante é p ( 3 ) = det B3 = 9; 3362. Novamente, utilizam-se os pontos 2
e 3 na equação (23.45) para encontrar uma estimativa 4 para o terceiro autovalor 3 . Seguindo
o processo obtém-se os valores mostrados na nas colunas 2 e 3 da Tabela 23.3 Visivelmente as
iterações divergem. Isto se explica pela má qualidade das estimativas iniciais 1 e 2 . A evolução
das iterações pode ser vista com o auxílio da Figura 23.4 que mostra a variação do valor do polinômio
característico p ( k ) versus k . Um melhor par de valores iniciais pode ser obtido utilizando o método
650 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
de bisseção algumas vezes. Feito isto consegue-se estreitar a região de localização do autovalor 3
para o intervalo de entre 1; 5 a 2; 0, (colunas 4 e 5) em vez de 1; 0 a 2; 0 (colunas 2 e 3) da Tabela
23.3. Observe que as iterações foram executadas até se obter convergência de 8 dígitos signi…cativos,
p
para tolerância T ol = 10 6 , o que resulta num erro relativo para a frequência, w3 = menor que
3
10 como desejado. Este é ainda um valor aproximativo, uma vez que o determinante não é nulo,
mas apenas 3; 2 10 10 .
Tabela 23.3: Determinação do terceiro autovalor da matriz do Exemplo 5 com o uso do método do
determinante.
Valores iniciais 1,0 e 2,0 Valores iniciais 1,0 e 1,5
ponto k k p( k) = det Bk k p( k) = det Bk
1 2,0 27; 0 2,0 27; 0
2 1,0 +8; 0 1,50 5,50
3 1,229 9,335 1,585 2,64
4 0; 369 18,96 1,663 -0,847
5 2,78 183; 3 1,644 0,079
6 0; 074 diverge 1,64552 0,00202
7 1,64556 5; 05 10 6
8 1,6455619 3; 2 10 10
9 1,6455619
10
0 λ
-5
p
-10
-15
-20
-25
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
Figura 23.4: Plotagem de p ( k) = det [K k M] para o Exemplo 23.4. Os autovalores são os três
zeros da função.
O método da iteração subespacial, tanto quanto o de Lanczos, é um dos mais versáteis e e…cientes
métodos disponíveis para a solução de autoproblemas de grande porte envolvendo matrizes simétri-
cas. Ele se fundamenta principalmente no método da potência e no método de Rayleigh-Ritz, sendo
uma generalização destas. O primeiro já foi visto neste capítulo e o último será visto a seguir.
23.6. Método da iteração subespacial 651
j j
K = jM ; j = 1; 2; ; N: (23.50)
jT
Pré-multiplicando ambos os lados da igualdade por pode-se fazer
jT j
K
j = jT j
(exato) (23.51)
M
Considera-se agora que, em vez de usar um autovetor j no lado direito de (23.51) se tenha um
vetor qualquer v 6= j : O resultado daria um escalar, frequentemente denominado R, que seria
função de v, isto é, R = R(v); e sem dúvida seria diferente de j , isto é,
vT Kv
R(v) (aproximado) (23.52)
vT Mv
Este escalar é o chamado quociente de Rayleigh. Uma propriedade importante deste quociente
pode ser vista como segue. Considere-se a expansão deste vetor arbitrário v em termos dos au-
tovetores j do sistema (mesmo que estes não sejam ainda conhecidos), isto é, qualquer v pode ser
escrito como uma combinação linear dos j , bastando determinar os coe…cientes cj :
N
X
j
v= cj = c; (23.53)
j=1
cT TK c cT 2 c
R(v) = = :
cT TM c cT c
Porém, como 2 é diagonal, R …ca
P
N
2
j cj
j=1
R(v) = : (23.54)
P
N
c2j
j=1
De…nem-se os números "j = cj =cr ; para r = 1; ::N arbitrário, onde cr é um dos termos de c. Então
se r = 2; "1 = c1 =c2 ; "2 = 1; "3 = c3 =c2 , etc. A equação (15.52) pode ser colocada em termos dos
"0 s, colocando cr em evidência:
P
N
2
r + (1 jr ) j "j
j=1
R(v) = ; (23.55)
P
N
2
1+ (1 jr ) "j
j=1
onde jr é o operador delta de Kronecker. Por exemplo, para r = 3 e N = 4 esta equação …ca
+ 2
+ 2 "22 + (1 1) 3 "23 + 2
3 1 "1 4 "4
R(v) = :
1 + "21 + "22 + (1 1) "23 + "24
652 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
De fato, agora tem-se que R é uma função de " = ("1 ; "2 ; ; "N ), isto é, R = R("). Pode-se fazer
uma expansão de R em série de Taylor em torno de " = 0, retendo até os termos de segunda ordem:
@R @R @R
R ("j ) = Rj"=0 + "1 + "2 + + "n
@"1 "=0 @"2 "=0 @"N "=0
1 @2R 1 @2R
+ "21 + + "2N + 0 "3 :
2 @"21 "=0 2 @"N "=0
As diferenciações podem ser feitas com a ajuda de um manipulador simbólico de equações e elimi-
nados todos os termos de ordem superior a dois em "j . Isto resulta em
N
X
R(v) = r+ ( j r) "2j + 0 "3 : (23.56)
| {z }|{z}
j=1
0 0
vT Kv
R(v) = 1, qualquer que seja o vetor v. (23.57)
vT Mv
Isto signi…ca que o quociente de Rayleigh nunca é menor que o primeiro autovalor. Uma
outra maneira de ver esta equação é que o mínimo de R(v) dentre todos os possíveis valores
de v é o primeiro autovalor:
Esta propriedade do quociente de Rayleigh pode ser usada em métodos de cálculo para os autovalores
como visto na próxima subseção. Note que, quanto mais o vetor escolhido v se aproximar do primeiro
autovetor 1 mais R(v) se aproximará de 1 : Isto pode ser visto em (23.55): se v 1 , de (23.53)
0 0
observa-se que c1 1 e os outros c s são pequenos. Como consequência, todos os " s são pequenos,
com exceção de "1 que é 1. Então, de (23.56), tem-se que R(v) 1:
do autovetor , que pode ser utilizado para calcular o quociente de Rayleigh (23.52):
T
K zT TK z
R( ) = T
= : (23.60)
M zT ( TM )z
Nota-se que, para K, M e dados, o quociente é, de fato, função dos coe…cientes z. De…nem-se
as matrizes de massa e rigidez generalizadas, de dimensões reduzidas m m; por
T T
M M e K K (23.61)
A eq. (23.60) então …ca:
zT Kz
R (z) = : (23.62)
zT Mz
De (23.56) veri…ca-se que, se é próximo de um dos autovetores, R ( ) possui um mínimo
próximo (um pouco superior) do autovalor correspondente. Então cabe buscar quais os coe…cientes
zi em (23.62) que minimizam R (z) : Estes coe…cientes produzirão o vetor em (23.59) que seja o
mais próximo possível de um dado autovalor :
Para obter o mínimo de (23.62), diferencia-se R em relação a cada coe…ciente zp :
@R (z)
= 0;
@zp
8P P 9
>
< zi Kij zj >
=
@ i j
= P P ;
: zk Mkl zl >
@zp > ;
k l
8 P P P P 9
>
< z1 K1j zj + z2 K2j zj + : : : + zp Kpj zj + : : : + zm Kmj zj >
=
@ j j j j
= P P P P : (23.63)
@zp >
: z1 M1j zj + z2 M2j zj + : : : + zp Mpj zj + : : : + zm Mmj zj >;
j j j j
@R (z) @ zi Kij zj
= = 0;
@zp @zp zk Mkl zl
@ zi Kij zj 1 zi Kij zj @ zk Mkl zl
= 2 = 0: (23.64)
@zp zk Mkl zl zk Mkl zl @zp
@ zk Mkl zl
= 2Mpj zj
@zp
Com isso (23.64) toma a forma (voltando à notação com o símbolo de somatório)
! !
P
m P
m
zT Mz 2 Kpj zj zT Kz 2 Mpj zj
@R (z) j j
= 2 = 0:
@zp zT Mz
Em seguida escreve-se esta equação para todos os termos zj :
8 9 8 9
>
> @R=@z 1 >
> >
> 0 >>
>
< >
= >
< >
@R (z) @R=@z 2 z T Mz Kz z T Kz Mz 0 =
= .. =2 = .. (23.66)
@z >
> . >
> z T Mz 2 >
> . >
>
>
: >
; >
: > ;
@R=@zm 0
Por outro lado, se se conseguir que aproxime um autovetor, o termo zT Kz no numerador pode
ser substituído por @R(z) T T
@zp = z Mz, e simpli…cando z Mz, a segunda igualdade resulta em
Kz Mz = 0 (23.67)
Observa-se que agora se tem um problema de autovalor de dimensões reduzidas m << n: Sua solução
dá simultaneamente os coe…cientes z que minimizam R e ao mesmo tempo dá a estimativa do
associado ao autovetor minimizante. Este autoproblema reduzido tem matrizes também simétricas
e possui m autopares j ; zj .
Então as etapas de cálculo são mostradas no Fluxograma da Tabela 23.4.
K k+1 =M k (23.68)
onde K e M tem ordem N e k é uma matriz de ordem N m.
Etapa 4 - No método mais antigo, das simples iterações simultâneas, k+1 seria ortogonalizado e
usado novamente do lado direito de (23.68), como um novo k . Aqui, entretanto, se usa o método
do Rayleigh-Ritz. Então calculam-se as matrizes reduzidas de ordem m m
T T
Kk+1 = k+1 K k+1 e Mk+1 = k+1 M k+1 : (23.69)
Etapa 5 - Resolver o autoproblema reduzido (usando o método iterativo de Jacobi, por exemplo),
obtendo todos os m autopares j ; zj k+1 :
(k+1) (k)
j j
(k+1)
eps; (23.73)
j
para algum j = 1; 2; ; p; com p < m << N , então a sequência não convergiu para todos os
autopares e deve-se fazer k = k + 1 e voltar à etapa 1; caso contrário tem-se a convergência
j
:
m
Então 1 converge mais rápido que 2 , que converge mais rápido que 3 , etc. Então é recomendado
que, para obter p autopares, realizem-se as iterações com m vetores, onde m é estimado empirica-
mente como
(k+1)
= 1; 01 p : (23.76)
O teste de Sturm dirá quantos autovalores menores que existem no sistema matricial. Se
houver p autovalores menores que então conclui-se que o p-ésimo valor em k+1 é realmente uma
estimativa do p-ésimo autovalor do sistema, e nenhum autovalor foi pulado. Por outro lado, se, por
(k+1)
exemplo, se p = 5 e o teste de Sturm mostra que existem 6 autovalores menores que 5 , então
(k+1)
5 deve estar aproximando o sexto autovalor e algum dos outros foi pulado. Deve-se lembrar,
de (23.49), que o teste de Sturm é feito primeiro calculando a matriz A como
A=K M (23.77)
e depois fatorando-a pelo método de Gauss:
A = LS: (23.78)
onde L é uma matriz triangular inferior com diagonal unitária, e S triangular superior. O número
de termos negativos da diagonal de S é o número de autovalores de (K M) = 0 menores que
. Com isto termina o ‡uxograma do método.
Vetores iniciais
Exemplo 23.6
2 3 2 3
2 1 0 0 0 2 1 0 0 0
6 2 1 0 0 7 6 2 1 0 0 7
6 7 6 7
K=6
6 2 1 0 7
7 e M=6
6 4 1 0 7:
7
4 4 1 5 4 1 1 5
sim. 1 sim. 4
Solução:
As relações Kii =Mii para todos os termos nas diagonais são 2/2:
i 1 2 3 4 5
Kii 2 2 2 1 4 1 1
=1 =1 = =4 =
Mii 2 2 4 2 1 4 4
Então as posições onde os quocientes Kii =Mii são mínimos são k = 5 e k = 3. Os três vetores são
2 3
1 0 0
6 1 0 0 7
6 7
1 =6
6 1 0 1 7:
7
4 1 0 0 5
1 1 0
Exemplo 23.7
Usar o método da iteração subespacial para estimar os dois primeiros autopares do seguinte prob-
lema. Use dois vetores nas iterações. As matrizes K e M são dadas por
82 3 2 39
>
> 2 1 4 1 >
>
<6 7 6 1 4 1 7=
6 1 2 1 7 6 7
4 = 0:
>
> 1 2 1 5 4 1 4 1 5> >
: ;
1 1 1 2
Solução:
A solução analítica para os autovalores é 1 = 0; 026034064, 2 = 0; 25908459, 3 = 0; 85492442
e 4 = 1; 787791972. Para a solução aproximada pelas iterações subespaciais seguimos as etapas
do método descritas na seção 23.6.3 para ordem de matriz N = 4 e p = 2 vetores nas iterações.
Primeiramente deve-se fazer a escolha dos vetores iniciais conforme as eqs.(23.79) e (23.80). Estes
vetores iniciais 1 são
2 3
1 1
6 1 0 7
=6
4 1
7:
1
0 5
1 0
Para a iteração k = 1, a equação (23.68) determina 2 resolvendo o sistema K 2 =M 1, o que
resulta 2 3
20 5
6 35 6 7
2 =4
6 7:
44 6 5
47 6
Na etapa 2 calculam-se as matrizes reduzidas K2 = T e M2 =
2 K 2 2M 2:
Fazendo o mesmo teste para o modo 1 vemos que este convergiu já em na iteração j = 2 (embora
a con…rmação só deva aparecer em j = 3. Entretanto, o segundo modo não convergiu, o que
demandará mais iterações.
23.7. Método de Lanczos 659
Ku Mu = 0; (23.81)
onde K e M são matrizes reais e simétricas, positiva de…nidas, de ordem N , e e u são um
autovalor e autovetor do problema. Uma vez que as matrizes são positiva-de…nidas, a condição
(19.22) é satisfeita, de forma que se garante que todos os autopares do problema são reais. Existem
outras deduções para o método de Lanczos que são adequadas a sistemas com autopares complexos.
A dedução é feita usando a forma padrão do problema de autovalor correspondente a (23.81):
2 3
4K 1 M I5 u = 0. (23.82)
| {z }
A
onde = 1= . A matriz A K 1 M é não simétrica mas seus autovalores reais e são os mesmos de
(23.81) e os autovalores os inversos daqueles. Nota-se que a inversa de K é indicada aqui e durante
a dedução, porém o algoritmo …nal não exigirá sua determinação. Em vez disso será exigido apenas
sua fatoração de Cholesky ou solução de sistema linear por outro meio.
Inicialmente considera-se a chamada sequência de Krilov. Dada uma matriz A quadrada de
ordem N , não singular, e um vetor v0 de ordem N , a sequência de j vetores
v0 ; Av0 ; A2 v0 ; ; Aj 1
v0 (23.83)
forma a sequência de Krilov, e o conjunto de j vetores é a base de um subespaço de ordem j.
Conforme j ! 1 a sequência converge para o autovetor correspondente ao autovalor
de modulo mais próximo de zero (positivo ou negativo). A notação A3 , por exemplo, signi…ca
AAA. Diversos métodos iterativos de determinação de autovalores podem ser vistos como rela-
cionados a esse subespaço, como o método de Lanczos e o de gradientes conjugados. De forma geral
pode-se dizer que o método de Lanczos toma os vetores da sequência de Krilov como
vetores teste de Ritz, para obter um problema reduzido cuja matriz é tridiagonal, portanto mais
fácil de ser resolvida em seus autopares.
O processo iterativo é centrado em determinar um conjunto de vetores de Lanczos, um a cada
iteração, de forma que se parte de um vetor arbitrário v0 , e numa iteração arbitrária j se tem
conhecidos os vetores de Lanczos {q1 ; q2 ; ; qj g e se busca qj+1 . Esse conjunto foi determinado de
forma a garantir a ortonormalidade pela massa, isto é, de…nindo a matriz Qj de dimensões N j
formada pelas colunas q1 ; q2 ; ; qj , isto é,
660 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
onde Ij é uma matriz identidade de ordem j e pq, é o operador delta de Kronecker. O próximo
vetor de Lanczos qj+1 é obtido a partir do próximo termo da sequência de Krilov,
1 j
wj K M v0 ; (23.85)
ortonormalizando-o em relação ao conjunto Qj dos q’s anteriores. Mas observa-se que
1
wj K M wj 1. (23.86)
Mas wj 1 foi o vetor cuja ortonormalização em relação aos j 2 vetores de Lanczos anteriores gerou
qj . Então wj 1 pertence ao subespaço de…nido por Qj , de forma que pode ser escrito como uma
combinação linear desses vetores
Xj
wj 1 = ep qp , (23.87)
p=1
j
X
1
wj ep K M qp , que pode ser separado como
p=1
j 1
X
1
= ej K M qj + ep K 1 M qp . (23.88)
p=1
| {z }
2Qp+1
1
rj = K M qj . (23.90)
Esse vetor pode ser representado como uma combinação linear de um vetor pj perpendicular aos
vetores anteriores, e de parcelas paralelas aos vetores anteriores:
rj = pj + aj qj + bj qj 1 + cj qj 2 + + zj q1 , (23.91)
|{z} | {z }
perpend.aos anteriores paralelos aos vetores anteriores
aj , bj , etc., são as componentes de rj nas direções qj , qj 1, etc. Essas componentes são determinadas
a seguir.
Determinação de aj
Impõe-se a condição de M-ortonormalização de rj , pré-multiplicando (23.91) por qTj M:
23.7. Método de Lanczos 661
qTj Mrj = qTj Mpj + aj qTj Mqj + bj qTj Mqj 1 + cj qTj Mqj 2 + + zj qTj Mq1 .
| {z } | {z } | {z }
0 1 0
Por de…nição, pj é ortonormal aos vetores anteriores, logo o primeiro termo à direita é nulo. O
produto matricial no segundo termo a direita é igual a 1, e os demais termos à direita são nulos
devido à ortogonalidade, resultando a componente de rj na direção qj :
Determinação de bj
A componente de rj na direção qj 1, isto é, bj , é obtida pré-multiplicando (23.91) por qTj 1 M, o
que resulta
Uma forma alternativa pode ser construida. O vetor rj 1 pode ser representado em termos
dos vetores de Lanczos precedentes, usando uma expressão similar a (23.91):
rj 1 = pj 1 + aj 1 qj 1 + bj 1 qj 2 + cj 1 qj 3 + + zj 1 q1 . (23.95)
Pré-multiplicando essa relação pelo transposto de Mqj e levando o resultado a (23.94) obtém-se
A ortonormalidade da base anula todos os termos à direita exceto o primeiro. Pelo processo de
construção da base ortonormal, o vetor obtido na iteração anterior, qj , foi obtido como a parte
unitária de pj 1 (lembrando que esse último é a parte de rj 1 ortogonal à base anterior), isto é,
pj 1
qj = q . (23.97)
pTj 1 Mpj 1
De fato, tanto essa quanto a expressão (23.94) podem ser usadas para calcular bj , embora experi-
mentação numérica mostre que a segunda apresenta melhor resultado geral, por lidar melhor com
a perda natural de ortonormalidade da base que caracteriza o método de Lanczos.
As expressões (23.97) e (23.98) podem ser usadas para representar
pj 1 pj
qj = e qj+1 = . (23.99)
bj bj+1
qTj 2 Mrj = qTj 2 Mpj + aj qTj 2 Mqj + bj qTj 2 Mqj 1 + cj qTj 2 Mqj 2 + + zj qTj 2 Mq1 .
| {z } | {z } | {z } | {z }
0 0 1 0
Por de…nição, pj é ortonormal aos vetores anteriores, logo o primeiro termo à direita é nulo. O
produto matricial no quarto termo a direita é igual a 1, e os demais termos à direita são nulos,
resultando a componente de rj na direção qj 2 :
Uma forma alternativa para cj é obtida por um procedimento similar àquele usado em (23.95):
vetor rj 2 é representado em termos dos vetores de Lanczos precedentes, usando uma expressão
similar a (23.91):
rj 2 = pj 2 + aj 2 qj 2 + bj 2 qj 3 + cj 2 qj 4 + + zj 2 q1 . (23.102)
Pré-multiplicando essa relação pelo transposto de Mqj , (23.101) …ca
Pelo processo de construção da base ortonormal, o vetor obtido na iteração anterior, qj 1 , foi
obtido como a parte unitária de pj 2 (lembrando que esse último é a parte de rj 2 ortogonal à base
anterior), isto é,
pj 2
qj 1 =q . (23.104)
pTj 2 Mpj 2
q
Comparando com (23.98), tem-se que o denominador é bj 1 = pTj 2 Mpj 2, de forma que (23.104)
…ca
pj 2 = bj 1 qj 1 . (23.105)
Levando essa expressão ao primeiro termo à direita de (23.103), obtém-se qTj Mpj 2 = bj 1 qTj Mqj 1
que, pela ortonormalidade da base, é zero. Os demais termos também são nulos, o que faz com que
cj = 0 (23.106)
De fato, o procedimento usado na determinação de cj pode ser repetido, resultando que todas as
demais componentes de rj = K 1 M qj em (23.91) são nulos:
cj = dj = = zj = 0. (23.107)
Muitas deduções do método de Lanczos encontradas na literatura usam essa expressão como ponto
de partida, porém sem deixar claro que não se trata de um truncamento arbitrário. Em cada
iteração o lado direito da primeira equação é calculado, e os valores de pj e bj+1 são usados na
segunda equação para determinar o próximo vetor de Lanczos qj+1 . Tanto pj quanto qj+1 são
ortonormalizados em relação aos vetores anteriores através da primeira equação.
Consideremos a igualdade entre os termos a direita de (23.108):
1
K M qj aj qj b j qj 1 bj+1 qj+1 = 0, (23.109)
e sua aplicação explicita para j = 1, 2 e 3: (lembrando que q0 = 0)
1
j = 1 ! K M q1 q1 a1 q0 b1 q2 b2 = 0;
1
j = 2 ! K M q2 q2 a2 q1 b2 q3 b3 = 0; (23.110)
1
j = 3 ! K M q3 q3 a3 q2 b3 q4 b4 = 0:
Essas relações podem ser colocadas em forma matricial, de…nindo a matriz Qj [q1 , q2 ,...,qj ] como
em (23.84), para j = 3:
2 3 2 3
a1 b2
6 7
K 1 M [q1 ; q2 ; q3 ] [q1 ; q2 ; q3 ] 4 b2 a2 b3 5 = 40; 0; q4 b4 5 ; (23.111)
|{z}
b3 a3 usar (23.99)
ou na forma,
1
K M Q3 Q3 T3 = [0; 0; p3 ] . (23.112)
T3 é a matriz tridiagonal cuja forma geral é
2 3
a1 b2
6 b2 a2 b3 7
6 7
6 b3 a3 7
6 7
Tj = 6 .. 7: (23.113)
6 . 7
6 7
4 bj 5
bj aj
Em geral, para j iterações (23.112) tem a forma
1
K M Qj Qj Tj = [0; 0; ; pj ] . (23.114)
Na iteração j se tem disponível o conjunto Qj de vetores de Lanczos, M-ortonormais. Isso
permite que eles sejam usados como uma base para reduzir as dimensões do problema. Para isso,
pré-multiplicando-se (23.114) por QTj M, e usando a propriedade de ortonormalidade, tem-se
Tj = QTj M K 1
M Qj . (23.115)
Nota-se que K 1 M tem ordem N , grande, e Tj tem ordem j, pequena. Essa redução pode
ser usada para reduzir a ordem do problema original (23.82), K 1 M I u = 0. Isso é feito
usando Qj como um conjunto de vetores teste de Ritz, isto é, representando a solução u como uma
combinação linear dos termos de Qj :
u = Qj s. (23.116)
664 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
Tj s = s. (23.117)
onde = 1= . Esse problema possui j autopares. Os autovalores são aproximações daqueles do
problema original, e seus autovetores geram os autovetores no espaço físico através de (23.116). O
método fornecerá aproximações para os maiores autovalores de (23.82), o que signi…ca
que se terão os menores autovalores do problema generalizado original [K M] u = 0.
A Tabela 23.5 mostra um ‡uxograma do algoritmo de Lanczos para o problema generalizado de
autovalor, Ku Mu = 0, onde K e M são matrizes reais e simétricas, positiva-de…nidas, de
ordem N . Buscam-se os m primeiros autopares e u do problema com um dado erro de convergência
" pré-de…nido. Para obter m autopares, é usual fazer as iterações até uma quantidade maior de
valores, m; no caso de problemas de grandes ordens N . Para N pequeno o método pode ser usado
para obter todos os autopares, com m = m = N .
Teste de convergência
(j) (j 1)
m m
(j)
<" (23.118)
m
Entretanto, foi veri…cado [83] que esse método simples pode levar a um falso sinal de con-
vergência. Isso levou à necessidade do uso de um critério mais elaborado, baseado no vetor de resí-
(j) (j)
duo do j-ésimo autopar associado à aproximação ( m , um ) do problema (23.82), K 1 M I u = 0,
que …ca
R(j)
m = K
1
M u(j)
m
(j) (j)
m um . (23.119)
O teste de convergência pode então ser feito por
(j)
Rm
M
< "r . (23.120)
(j)
um
M
q
(j) (j)T (j) (j)
onde Rm = Rm MRm é a norma de Rm . Entretanto, esse procedimento tem um certo
M
1M (j)
custo, por envolver uma solução de sistema linear, K um e dois produtos de matriz de grande
(j) (j)
porte por vetor, MRm e Mum . Assim, foi desenvolvido um procedimento alternativo que permite
obter o resíduo sem esse custo. O ponto de partida é a relação (23.114). Pós-multiplicando-a pelo
(j)
m-ésimo autovetor reduzido sm tem-se (
1
K M Qj s(j) Qj Tj s(j) = [0; 0; ; pj ] s(j)
m . (23.121)
| {zm} | {zm}
(j) (j) (j)
um m sm
(j)
O termo à esquerda é exatamente o resíduo Rm que se busca. O vetor pj vem de (23.99), pj =
(j)
bj+1 qj+1 . De…nindo q como o último elemento do vetor sm , o lado direito …ca igual a bj+1 qqj+1 .
Então a expressão acima pode ser representada por
R(j)
m = bj+1 qqj+1 . (23.123)
Sua norma …ca
R(j)
m = bj+1 q. (23.124)
M
Esse é o numerador do resíduo em (23.120), que pode ser calculado praticamente sem custo. Ainda
666 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
(j)
resta o custo de obter o denominador um . Isso pode ser evitado considerando que o denomi-
M
nador em (23.120) é apenas um fator de normalização e pode ser substituído por outro de mesma
ordem de grandeza. Por exemplo, pode-se tomar apenas os termos da diagonal de M, de forma que
o teste de convergência pode ser feito usando
bj+1 q
r < "r (23.125)
XN
2
Mtt ut
t=1
Observações:
m = 1; 5m ou 2m. (23.126)
onde m é o número de autopares que se deseja com uma precisão de…nida ".
3. Em diversas etapas do método aparece a notação K 1 . Entretanto deve …car claro que uma
matriz de grande porte como de rigidez obtida por uma modelagem de elementos …nitos, não
é recomendável a inversão. Em vez disso, a Etapa 2.1 do Fluxograma, rj = K 1 gj , o vetor
rj é obtido como a solução do problema algébrico linear
Krj = gj . (23.127)
De fato, a fatoração de Cholesky (seção 12.2) é feita antes das iterações, na Etapa 1.5, gerando
a forma K = CCT onde apenas a matriz triangular inferior C é armazenada, usando uma
forma adequada (em meia banda, skyline, esparsa, etc.). Então, operação feita na Etapa 2.1
23.8. Sistemas lineares com matriz quadrada ou retangular, singular ou quase singular 667
consiste apenas nas operações de substituição progressiva e regressiva, que são de menor custo
que a fatoração. Em outros pontos da dedução do método de Lanczos a matriz K 1 aparece,
mas ao …nal ela está ausente das etapas de cálculo.
Em suma, mesmo que do ponto de vista analítico a matriz devesse ser não singular, existem
combinações especiais de parâmetros do modelo que podem tornar o menor autovalor muito próximo
de zero.
Note que o problema não é apenas a proximidade de um ou mais autovalores do zero. Se
todos eles tiverem ordem de grandeza igualmente pequenas, não se apresenta nenhuma di…culdade
numérica. O problema vem da presença de valores pequenos e grandes ao mesmo tempo.
Por exemplo, nas operações de soma de dois termos de ordens de grandeza extremas, a in‡uência
do menor valor tende a desaparecer do resultado.
Existem procedimentos de melhorar o condicionamento da matriz, os chamados métodos de
pré-condicionamento, que consistem em fazer uma transformação
U = TU, (23.128)
onde T é uma matriz N N não singular, conhecida, cuja de…nição produza os benefícios deseja-
dos. Na seção 12.3.3 descrevemos um dos métodos mais e…cientes de condicionamento, o chamado
pré-condicionamento pela fatorização incompleta de Cholesky. p Uma versão simpli…cada
consiste em de…nir T simplesmente como uma diagonal onde Tjj = 1= Kjj . Isso geralmente produz
uma redução de 1 ou 2 no número de condição.
Qualquer que seja o método de condicionamento, se ele tiver a forma (23.128), sua substituição
no sistema linear, e pré-multiplicação do resultado por TT , gera
KU= F;
KTU= F; (23.129)
T T
T KT}U = |T{zF}
| {z ! KU = F.
K F
668 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
U K+ F. (23.130)
As seções seguintes descrevem elementos de álgebra e diversos procedimentos usados para gerar a
pseudo inversa.
KX = X , (23.131)
onde é a matriz diagonal com os autovetores em ordem decrescente, e X é a matriz modal,
ortonormalizada de tal forma que
XT X = I, (23.132)
Todas as matrizes envolvidas têm ordem N . A solução do autoproblema pode fazer uso de
“shift” se necessário.
Consideramos agora o problema linear, pré-multiplicando-o por XT
KU = F
XT KU = X T
F;
~
U = XU, (23.133)
X T ~ T
! ~U~ = F.
~ (23.134)
| {zLX}U=X
| {zF} K
~
K ~
F
XT KX = . (23.135)
~ = , e sua inversa pode ser obtida facilmente. Fazendo agora de forma inversa as trans-
Então, K
formações temos
~
U = 1 ~
F,
= 1 XT F e, de (23.133),
U ~
= XU; (23.136)
1 T
=X| {z X }F,
K+
K+ = X 1 XT (23.137)
23.8. Sistemas lineares com matriz quadrada ou retangular, singular ou quase singular 669
Observemos o resultado da operação KK+ , que é igual a alguma matriz quadrada simétrica A:
KK+ = A. (23.138)
Substituindo as expressões temos
KK+ = A,
1
KX XT = A, (pré-multiplicando por XXT )
T 1
XX
| {zKX} XT = XXT A, (23.139)
XXT = XXT A.
KK+ = K+ K = I (23.140)
1. Modos de corpo rígido. Correspondem aos primeiros cr autovalores são nulos, correspon-
dentes aos r movimentos de corpo rígido do sistema que não tenham sido vinculados. O posto
da matriz é R(K) = N cr . Se cr > 0, diz-se que o posto é de…ciente, do contrário, a
matriz é de posto completo, o que signi…ca não singular.
3. Modos de deformação. Correspondem aos d autovalores restantes, não nulos e nem incor-
retamente próximos de zero. Em geral são os modos de interesse na matriz.
Se K for obtido pelo MEF, grande parte dos modos de deformação não possuem precisão e
também são de pouco interesse na maioria das aplicações. Assim, pode ser interessante representar
K por uma matriz que contenha apenas a in‡uência de um conjunto selecionado de modos, m << N ,
os menores dentro do conjunto de modos de deformação.
Uma vez que os principais métodos de obter autovalores identi…cam um bloco único dos menores
deles, faz-se a determinação dos menores m apenas, onde m deve ser calculado de forma a incluir os
r modos de corpo rígido (se houverem), e os p modos quase nulos, mais uma quantidade adequada
dos primeiros modos de deformação.
3. Isso signi…ca que, em (23.139), a expressão X tem posto m. Ela não pode ser invertida
exatamente, de forma que não se pode a…rmar que A = IN . Assim, não há garantia de que
KK+ = IN , e também KK+ 6= K+ K. Nesse caso K+ é denominada pseudoinversa de K.
K+
N N= XN m
1 T
m m Xm N : (23.141)
6. Caso o sistema possua in…nitas soluções, uma solução única pode ser obtida, associada
a uma norma mínima, por exemplo a Euclideana (kUk2L2 ).
7. Caso F não esteja todo contido no subespaço gerado por X, prova-se que o problema KU = F
não possui solução. Entretanto, o resultado obtido por U = K+ F sempre existe, e é o vetor
que minimiza a distância E (em norma Euclidiana) entre F e o subespaço gerado por X, e
que possui a menor norma. Isto é, isto é, U minimiza as quantidades
1
E= kKU Fk2L2 e kUk2L2 . (23.143)
2
8. Note que o posto R(C) de uma matriz retangular C, de dimensões a b, pode ser obtido por di-
versos métodos, por exemplo operações de linha, identi…cando o numero de linhas linearmente
independentes, que deve ser igual ao de colunas linearmente independentes. Uma outra forma
consiste em calcular uma matriz quadrada correspondente. Sempre o posto R(C) min(a; b),
e será dado pela quantidade de autovalores não nulos da matriz CCT , de dimensões a a, ou
CT C, de dimensões b b.
Existem diversas propriedades das pseudo inversas. Primeiramente, prova-se (Penrose, 1955)
que a matriz pseudo inversa é única, e satisfaz as seguintes relações:
1) KK+ K = K,
2) K+ KK+ = K+ ,
T (23.144)
3) K+ K = (K+ K) e
+ + T
4) KK = KK , i.e., K+ K e KK+ são simétricas.
Conversamente, essas relações podem ser usadas para checar uma dada matriz, isto é, se uma
matriz satisfaz essas quatro relações, ela é a pseudo inversa de K. Essas propriedades permitem
obter diversos resultados simples como:
++
K+ +
=K = K: (23.145)
23.8. Sistemas lineares com matriz quadrada ou retangular, singular ou quase singular 671
AU= F,
! (23.146)
AAT V= F
a b
Agora AAT tem dimensões a a e posto a. Logo é não singular e pode ser invertida (ou
fatorada), resultando
1
V = AAT F, o que resulta em
T
U = A V; (23.147)
1
= AT AAT F, isto é, a pseudo inversa é:
| {z }
A+
1
A+ = AT AAT (23.148)
A matriz AT A tem dimensões b b e posto b. Logo ela é não singular e pode ser invertida,
resultando
1 T
U = AT A A F, isto é, a pseudo inversa é: (23.149)
| {z }
A+
1
A+ = AT A AT (23.150)
Caso 3 - Casos em que r = posto(A) < minfa; bg, as matrizes AAT e AT A dos dois casos
acima serão singulares. As quantidades de autovalores nulos são (a r) e (b r), respecti-
vamente. De fato, o cálculo dessa quantidade de autovalores não nulos é uma das muitas
maneiras de identi…car o posto de uma matriz retangular. Assim essas matrizes quadradas
não possuem inversa, mas sempre existe uma pseudo inversa, que pode ser obtida via Decom-
posição Singular (SVD), como visto na próxima seção, e eq. (23.163).
A A = AA (23.151)
672 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
A A = AA = I. (23.152)
Para matrizes reais isso …ca AT A = AAT = I. As matrizes ortogonais (reais) são um caso
particular das matrizes unitárias.
3. Matriz Hermitiana ou auto-adjunta. É uma matriz complexa que é igual ao seu conjugado
complexo transposto, isto é,
Essas matrizes dividem diversas propriedades com as matrizes reais simétricas, tendo, por
exemplo, todos os autovalores reais (embora os autovetores possam ser complexos ou reais).
Nota-se que as matrizes simétricas reais são um caso particular das Hermitanas.
4. Matriz diagonal. Não necessariamente é quadrada. Se caracteriza por ter termos fora da
diagonal nulos. Por exemplo,
2 3
2 3 a
a 6 b 7
6 7
D=4 b 5 ou D = 6 6 0 7
7 . (23.154)
c 4 5
3 5
5 3
Não necessariamente os termos na diagonal precisam ser todos reais ou não nulos.
5. O Teorema espectral mostra que uma matriz A é normal se e somente se existir uma matriz
unitária U e uma matriz diagonal D tal que
A = UDU (23.155)
A decomposição singular (SVD) é uma forma mais abrangente que o teorema espectral, que
permite realizar a representação de matrizes retangulares, reais ou complexas, em vez apenas em
matrizes quadradas. Dada uma matriz retangular A de dimensões a b, tem-se sua decomposição
singular dada por: (aqui são indicadas as respectivas dimensões das matrizes)
Aa b = Ua a Da b Vb b , (23.157)
23.8. Sistemas lineares com matriz quadrada ou retangular, singular ou quase singular 673
onde:
A. U é uma matriz de dimensões a a, real ou complexa unitária, cujas colunas são os chama-
dos vetores singulares a esquerda. Se provará que U são os autovetores ortonormalizados
de AA , isto é,
[AA ]a a Ua a = US: (23.158)
S é uma matriz quadrada diagonal de ordem a a, com r = minfa; bg autovalores não nega-
tivos. (Note que AA é uma matriz quadrada e simétrica). Esses autovalores são ordenados
em ordem decrescente e as colunas em U são ordenados de forma correspondentes.
B. V é uma matriz de dimensões b b, real ou complexa unitária, cujas colunas são os chama-
dos vetores singulares a direita. Se provará que V são os autovetores ortonormalizados
de A A, isto é,
[A A]b b Vb b = Vs: (23.159)
s é uma matriz quadrada diagonal de ordem b b, com r = minfa; bg autovalores não negativos.
(Note que AA é uma matriz quadrada e simétrica). Esses autovalores são ordenados em
ordem decrescente e as colunas em V são ordenados de forma correspondentes. Prova-se que
os valores não nulos em S e s são os mesmos.
C. D é uma matriz retangular diagonal, a b, cujos valores na diagonal são reais não negativos.
A quantidade de valores não nulos em D é igual a r. Os termos não nulos da diagonal de D
é igual à raiz quadrada dos autovalores na diagonal de S ou s.
A demonstração de (23.158) e (23.159) pode ser feita das seguinte forma. Dada a SVD (23.157),
A = UDV , e usando a propriedade de V e U de serem unitárias, (U U = UU = Ia , e V V = VV
= Ib ),
A A = (VD U ) (UDV ) ;
= VD DV ;
AA = (UDV ) (VD U ) ; (23.160)
= UDD U :
são necessárias duas bases, U e V, que não possuem relação direta entre si, mas apenas através da
própria matriz A.
Caso A seja retangular, de dimensões m n, a de…nição de valor próprio é a seguinte: um
número real não negativo s é um valor próprio de A se e somente se existem vetores unitarios u e
v, de dimensões m e n respectivamente, tal que os seguintes problemas sejam satisfeitos:
Av=su,
(23.161)
A u=sv
Os vetores u e v que satisfazem essas duas relações são os chamados vetores singulares a esquerda
e a direita respectivamente. Nota-se que no caso de matriz real simétrica os dois problemas são
idênticos e u = v. Na SVD as relações acima geram as relações entre as duas bases U e V.
Caso A - a >> b (A tem mais linhas que colunas) - Nesse caso o autoproblema (23.158) se
torna grande e pode-se fazer a determinação apenas dos b maiores modos em U, gerando uma
matriz retangular U de dimensões a b. D também se torna modi…cada em D, quadrada de
dimensões b b, pela eliminação das linhas nulas abaixo da diagonal. Então a SVD toma a
forma
A = UDV : (23.162)
Nota-se que nesse processo nenhuma modi…cação foi introduzia no resultado, uma vez que os
termos eliminados em U seriam multiplicados pelos termos nulos eliminados em D. Deve-se
notar que agora U U = Ib , porém UU 6= Ia . (Ia e Ib são matrizes identidade de ordem a e
b:)
Caso B - D possui posto r < minfa; bg - nesse caso a diagonal de D possui valores nulos.
Então pode ser feita apenas a determinação dos r modos correspondentes aos valores singulares
não nulos. Em seguida, em vez das matrizes U e V, esses modos são montados em matrizes
retangulares U e V de dimensões a r e b r. Os termos não nulos de D geram a matriz
diagonal D de dimensões r r. Então,
A = UDV : (23.163)
Também nesse caso, nenhuma aproximação no resultado da SVD foi introduzida. Deve-se
notar que agora V V = Ir , porém VV 6= Ib .
A+ = VD+ U ; (23.164)
onde D+ é a pseudo inversa de D, que é obtida simplesmente tomando o de D e fazendo a inversa
dos valores não nulos da diagonal. Deve-se observar que esse procedimento é válido qualquer que
seja o posto de A, mesmo que ele seja menor que o minfa; bg, o que é diferente do procedimento
mostrado nas eqs. (23.148) e (23.150).
Determine a SVD e a pseudo inversa das seguintes matrizes. Nas matrizes quadradas obter também
os autopares de sua representação espectral e sua inversa.
1 3 1 i 3
1. A1 = ; 2. A2 = ;
4 3 2 4 3 3
1 0 3
1 0 3
3. A3 = ; 4. A4 = 4 4 0 3 5;
4 0 3 10
0 10 0
Solução do caso 1
Essa é uma matriz real não simétrica e seus autopares podem ser complexos. No presente caso a
solução do autoproblema associado A1 X = X é realmente complexa:
Solução do caso 2
A matriz A2 é quadrada porém complexa. A matriz AA em (23.158) …ca
11 5 + 4i
AA =
5 + 4i 25
É uma matriz Hermitiana, cujos autovalores são
27; 4868
S= ;
8; 5132
e os autovetores são U, que são os vetores a direita da SVD de A2 , tal que A2 = UDV .
676 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
onde D = S1=2 . Como obrigatório, D é real, embora aqui os vetores sejam complexos, tais que
UU = U U = I (o mesmo para V). A pseudo inversa é obtida a partir da inversa de D:
1/5; 24279
D+ = e (23.169)
1/2; 91773
0,19231+0,038462i 0; 19231 0; 038462i
A+
2 = VD+ U = :
0; 25641 + 0; 051282i 0; 076923 0; 051282i
Solução do caso 3
A matriz A3 é real e retangular. Observa-se por inspeção que as linhas são linearmente indepen-
dentes, o que signi…ca que posto(A3 ) = 2. Então, (A3 AT3 ) é não singular. Uma pseudo inversa
1
pode ser obtida resolvendo A+ T
3 = A3 A3 A3
T conforme eq. (23.148), o que produz
2 3
0; 2 0; 2
A+ 3=
4 0 0 5: (23.170)
0,26667 0,06667
Nota-se que A3 A+ +
3 = I2 , porém A3 A3 6= I3 como esperado. As propriedades (23.144) são satisfeitas.
Outra forma de pseudo inversa é via SVD, cujas componentes são:
Como obrigatório, D é real, e aqui os vetores também são reais, tais que UU = U U = I (o
mesmo para V). D con…rma que o posto de A3 é 2, igual ao número de linhas. A pseudo inversa é
obtida a partir da inversa transposta de D:
2 3 2 3
1/5; 14916 0 0; 2 0; 2
D+ = 4 0 1/2; 91309 5 e A+
3 = VD +
U = 4 0 0 5; (23.172)
0 0 0,26667 0,06667
que é a mesma já obtida em (23.170), uma vez que a pseudo inversa é única.
Solução do caso 4
A matriz A4 é real, quadrada, não simétrica. Por inspeção se prevê que possa ser mal condicionada.
Uma inversão pode ser obtida diretamente:
2 3
0; 2 0; 2
A4 1 = 4 0 0 1011 5 : (23.173)
0; 266667 0,066667 0
Seus autovalores, associados ao problema A4 X = X , são
23.8. Sistemas lineares com matriz quadrada ou retangular, singular ou quase singular 677
2 3
1
=4 1:22475 10 5 5 (23.174)
1:22475 10 5
2 3 2 3
5; 14916 0; 28978 0; 95709 0
D = 4 2; 91309 5, U =4 0; 95709 0; 28978 0 5;
10 11 0 0 1
2 3
0; 687215 0; 72645 0
V = 4 0 0 1 5. (23.175)
0; 72645 0; 687215 0
Como obrigatório, D é real, e aqui os vetores também são reais, tais que UU = U U = I (o mesmo
para V). D mostra que o posto de A4 é 3, igual ao número de linhas. A pseudo inversa é obtida a
partir da inversa transposta de D:
2 3
1=5; 14916
D+ = 4 1=2; 91309 5 e (23.176)
1011
2 3
0; 2 0; 2 0
A+
4 = VD+ U = 4 0 0 1011 5 ;
0; 266667 0,066667 0
que é a mesma já obtida em (23.173), uma vez que a pseudo inversa é única.
Agora, buscamos identi…car uma matriz aproximada de A4 , expurgando seu valor singular quase
nulo. Assim a matriz aproximada A~ 4 será bem condicionada. Para isso, truncaremos as matrizes
da SVD, anulando os termos associados a D33 em todas as matrizes:
2 3
5; 14916
D= 4 2; 91309 5, (23.177)
0
tal que
2 3
1=5; 14916
D+ = 4 1=2; 91309 5: (23.178)
0
Assim, a representação da aproximação de A4 e de sua pseudo inversa são dadas por
2 3
1 0 3
~4
A = UDV = 4 4 0 3 5 e
0 0 0
2 3
0; 2 0; 2 0
~+
A 4
+
= VD U = 4 0 0 0 5 (23.179)
0; 266667 0,066667 0
Note que agora o número de condição de A ~ 4 é in…nito pois possui um autovalor nulo. A
~ 4 é per-
feitamente singular, logo, não invertível. Entretanto a pseudo inversa é obtida sem que esse mal
condicionamento afete qualquer das operações.
678 Capítulo 23. Métodos numéricos para autovalores
5; 14916 0
D= . (23.180)
0 2; 91309
Note que no presente exemplo a origem do mal condicionamento moderado da matriz A4 é
bastante evidente, com o termo 10 10 situado numa linha e coluna nula. Numa situação usual
a origem não é visível dessa forma, e se traduz por linhas (ou colunas) com ordem de grandeza
muito diferente das demais, ou ainda por linhas (ou colunas) que são quase combinações lineares
de outras. Nesses casos a decomposição singular permite uma visualização completa da situação da
matriz, no espaço transformado, identi…cando o que é signi…cativo, analisando os valores próprios,
e identi…cando quais os modos são tão pequenos que podem ser descartados.
23.9 Exercícios
1. Exercícios de programação. Utilize um programa aberto de elementos …nitos estático que
já contenha elementos de estado plano de tensões ou de barra. Incorpore as rotinas necessárias
para o cálculo da matriz massa.
4. Prove a segunda igualdade de (23.140) para o caso em que a matriz tenha posto completo.
5. Prove (23.145).
6. Mostre que a inversa de uma matriz também possui as propriedades (23.144) e (23.145).
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