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GERADORES DE SINAL E OSCILADORES

Introdução

 Em circuitos eletrónicos é frequente a utilização de formas de onda sinusoidais,


quadradas, triangulares ou impulsos.

 Na geração de ondas sinusoidais são utilizadas duas diferentes abordagens. Na 1ª é


usada um malha de realimentação positiva formada por um amplificador em conjunto
com circuitos LC ou RC, sendo estes circuitos designados como osciladores lineares.
Na 2ª abordagem a onda sinusoidal é obtida partindo de uma onda triangular.

 Os circuitos geradores de ondas quadradas, triangulares ou de impulsos são


designados como osciladores não lineares, e usam para esse efeitos os chamados
circuitos multivibradores. Existem 3 tipos de multivibradores: biestáveis, astáveis e
monoestáveis.

Princípios de funcionamento de osciladores sinusoidais

 A estrutura básica de um oscilador sinusoidal consiste num amplificador e num bloco


adicional ligado de forma a produzir uma realimentação positiva, fazendo uma adequada
seleção de frequência (Fig. 1).

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ELETRÓNICA II 1
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES

 Apesar de num oscilador prático,


eventualmente, não existir uma entrada,
neste caso vamos considerá-la de forma a
explicar o princípio de funcionamento.
Contrariamente à realimentação negativa,
neste caso sinal xf é somado. O ganho em
malha fechada é então dado por
Fig. 1

(1)

 De acordo com a definição, o ganho em anel nesta


situação é dado por –A(s)β(s). Vamos no entanto por (2)
conveniência não considerar o sinal menos e definir o
ganho em anel como L(s) dado por

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ELETRÓNICA II 2
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES
Condição de oscilação

 Se para determinada frequência f0 o ganho em anel é igual à unidade, então Af será


infinito. Ou seja o circuito tem uma saída finita para uma entrada nula. Nesta situação
este circuito é designado como um oscilador. A condição de oscilação sinusoidal para
a frequência 0 é dada por

(3)

 Ou seja, para 0, a fase do ganho em anel deve ser nula e a amplitude unitária. Esta
condição é conhecida como critério de Barkhausen.

 De notar que para o circuito oscilar a uma determinada frequência, este critério deve
ser satisfeito para apenas uma frequência, caso contrário a onda resultante não será
uma simples sinusoide.

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ELETRÓNICA II 3
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES
Controlo não linear de amplitude

 O critério de Barkhausen garante as condições de oscilação do ponto de vista


matemático. No entanto, num sistema físico, não é possível manter os mesmos
parâmetros durante um determinado intervalo de tempo. Por exemplo, supondo que
inicialmente temos Aβ=1 e, devido a variações de temperatura, vamos ter um ligeiro
aumento acima da unidade. Este facto conduza um crescimento da saída. O contrário
(Aβ ligeiramente inferior a 1) conduz ao cessar das oscilações. Para manter o valor
desejado da amplitude de saída temos que usar então um circuito não linear para
controlo do ganho.

 A função desse circuito é de colocar inicialmente Aβ ligeiramente superior a 1. Após


o crescimento das oscilações até à amplitude desejada, o circuito não linear impõe um
ganho unitário. Ao contrário, se existir uma pequena diminuição de Aβ abaixo da
unidade, e também da amplitude das oscilações, o circuito não linear vai impor um
aumento do ganho em anel para o valor unitário.

 O circuito clássico para estabilização de amplitude usa limitadores baseados em


díodos. Outra abordagem usa elementos na malha de realimentação cuja resistência
pode ser controlada pela amplitude da onda de saída.

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ELETRÓNICA II 4
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES
Circuito limitador para controlo de amplitude

 Um circuito limitador,
frequentemente usado para controlo
de amplitude em osciladores
baseados em AmpOps, é apresentado
na Fig. 2 (a).

 Para valores de vI quase nulos,


vamos ter em vo valores de tensão
também muitos baixos, originando vA
positivo e vB negativo e,
consequentemente, D1 e D2 off.
Fig. 2

 Neste caso a totalidade da corrente de entrada


vai percorrer Rf, sendo a tensão de saída dada por (4)

 Esta relação é representada pela zona linear da Fig. 2 (b).


(5)

 Usando o teorema da sobreposição vamos


obter as tensões em A e B (6)

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ELETRÓNICA II 5
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES

 Se vI aumentar para um valor positivo, vo fica negativo (eq. 4) e vB fica ainda mais
negativo (eq. 6), mantendo D2 off. No entanto vA fica menos positivo (eq. 5).

 Continuando a aumentar vI, vA vai atingir um valor negativo que faz com D1 conduza,
ficando vA=-VD. Usando este valor, e resolvendo a equação (5) em ordem a v0, vamos
obter o valor limite negativo designado como L- dado por

(7)

O correspondente valor de vI é obtido dividindo L- pelo ganho do limitador -Rf/R1.

 Aumentado vI acima desse valor, mais corrente é injetada em D1 e vA mantém o valor


–VD. A corrente em R2 mantém o seu valor e a corrente adicional vai para R3. Na prática
R3 pode ser vista como estando em paralelo com Rf, passando o ganho a ser dado por
–(Rf//R3)/R1. Para variar o declive, ou seja o ganho, basta variar o valor de R3.

 Para valores negativos de vI tudo se passa de forma análoga. Agora D2 tem o papel
que tinha D1 e o valor limite positivo é dado por

(8)

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ELETRÓNICA II 6
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES

 O ganho passa agora a ser dado por –(Rf//R4)/R1

 Conclui-se então que o circuito da Fig. 2 (a) funciona como limitador suave com
limites L- e L+. Este tipo de limitador minimiza os efeitos de distorção não linear.

Osciladores baseados em AmpOps e malhas RC


Oscilador em ponte de Wien

 Na Fig. 3está representado um


oscilador em ponte de Wien sem a
malha de controlo não linear de
amplitude.

 O circuito consiste num AmpOp


em configuração não inversora,
com ganho em malha fechada de
(1+R2/R1) e com uma malha RC
como realimentação positiva. Fig. 3

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ELETRÓNICA II 7
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES

 O ganho em anel pode ser obtido pela multiplicação da função de transferência da


malha de realimentação Va(s)/Vo(s) pelo ganho do amplificador

(9)

 Substituindo s=j (10)

 O ganho em anel será um número real (fase nula) para uma frequência dada por

(11)

 Para termos para esta frequência uma oscilação sustentada o ganho em anel tem de
ser unitário. Esta condição é obtida para

(12)

 Para garantir que surgem oscilações, a relação (12) deve ser ligeiramente superior a
2. Nessa situação, as raízes da equação 1-L(s)=0 estarão na metade direita do plano s.

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ELETRÓNICA II 8
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES
 A amplitude das oscilações pode ser determinada e estabilizada através de um
circuito não linear. Na Fig. 4 está representada uma implementação usando o circuito
limitador simétrico estudado anteriormente, formado pelos díodos D1 e D2 e pelas
resistências R3, R4, R5 e R6.

 O circuito limitador funciona do


seguinte modo:
 Para o valor de pico da tensão de
saída v0, a tensão no nó b (verificar pela
equação (6) que vb=-3,75+3v0/4 (V)) vai
exceder a tensão vI (que é cerca de v0/3,
atendendo aos valores de R1 e R2).
Nesta situação D2 vai entrar em
condução.
 O valor de pico de v0 é fixado através
das resistências R5 e R6 e também de -V.
O seu valor pode ser determinado
fazendo vb=v1+VD2 e escrevendo uma
equação para o nó b, não considerando
a corrente em D2.
 Idêntico raciocínio pode ser usado
para obter o valor máximo negativo. Fig. 4
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ELETRÓNICA II 9
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES

 No circuito da Fig. 5 é apresentado um


oscilador em ponte de Wien que usa uma versão
simplificada do circuito de controlo de amplitude.

 O potenciómetro P deve ser ajustado forma a


que as oscilações comecem a crescer. Com o
aumento das oscilações os díodos entram em
condução dando origem a um decréscimo da
resistência entre o ponto a e b.
 O equilíbrio é atingido para a amplitude de saída
que conduz a um ganho em anel exatamente igual
à unidade. A amplitude de saída pode ser alterada
ajustando o potenciómetro P.
Fig. 5
Exercício 1
Considere o circuito da Fig. 4.
a) Não considerando o circuito limitador, determine a localização dos pólos da função de
transferência em malha fechada.
b) Determinar a frequência de oscilação.
c) Com o circuito limitador incluído, determine a amplitude da tensão sinusoidal de saída,
assumindo 0,7 V de queda de tensão nos díodos.

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ELETRÓNICA II 10
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES

Exercício 2
Considere o circuito da Fig. 5.
a) Determine o valor do potenciómetro para a massa, para o qual se dão inicio as oscilações.
b) Determinar a frequência de oscilação.

Oscilador de desvio de fase

 A estrutura básica de um
oscilador de desvio de fase (phase-
shift oscillator) está representada
na figura 6. Consiste num
amplificador com ganho negativo
(–K) com uma malha RC de 3ª
ordem na realimentação. Para
existir oscilação, a fase da malha
de realimentação terá de ser de Fig. 6
180º, para perfazer 0º de
desfasamento do ganho em anel.

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ELETRÓNICA II 11
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES

 A razão para usar 3 secções RC é porque é o número mínimo de secções capaz de


garantir um desfasamento de 180º, para uma frequência finita.

 No entanto, para as oscilações se


iniciarem, o valor de K tem de ser
ligeiramente superior ao valor que
garanta a condição de ganho em anel
unitário. O crescimento das oscilações
será limitado através de um mecanismo
de controlo não linear.

 Na figura 7 é mostrado um oscilador


de desvio de fase prático com um
limitador, composto pelos díodos D1 e
D2 e resistências R1, R2, R3 e R4 para
estabilização de amplitude.

 Para se iniciarem as oscilações Rf


tem de ser ligeiramente superior ao Fig. 7
valor mínimo pretendido.
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ELETRÓNICA II 12
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES

Outros osciladores lineares baseados em AmpOps

• Oscilador de quadratura
• Oscilador baseado em filtro ativo sintonizado

 Os osciladores baseados em AmpOps e malhas RC, tipicamente são usados na


gama de 10 a 100kHz (eventualmente 1 MHz). O valor inferior da frequência é limitado
pelo tamanho dos componentes passivos e o valor superior pela resposta do AmpOp.

Outros osciladores lineares

 Para frequências mais elevadas são usados outros circuitos:


 Transístores e malhas LC sintonizadas (Colpitts e Hartley);
 Cristais, como por exemplo o quartzo (aproveitando a estabilidade e
seletividade das suas características de ressonância eletromecânica).

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ELETRÓNICA II 13
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores biestáveis
Biestável inversor

 Os multivibradores biestáveis apresentam 2 estados estáveis. O circuito pode


permanecer em cada estado indefinidamente, movendo-se para o outro apenas quando
lhe é aplicado um determinado sinal (trigger).

 Este tipo de circuito pode ser obtido através de realimentação positiva de um


amplificador com ganho em anel maior do que a unidade. Um exemplo está
representado na Fig. 8.

 Vamos analisar este circuito admitindo inicialmente que


v+ tem um potencial próximo de zero:
- Admite-se depois que devido a ruído elétrico existe um
pequeno aumento de v+.
- Este pequeno aumento vai ser amplificado pelo elevado
ganho em malha aberta A do amplificador dando origem
na saída a um valor elevado de v0.
- O divisor de tensão vai fornecer uma fração desta
tensão v0 ao terminal + do AmpOp (β=R1/(R1+R2)).
Fig. 8
- Como Aβ>>1 o sinal fornecido pela realimentação é
maior que o incremento original.

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ELETRÓNICA II 14
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores biestáveis

 - Este processo de regeneração continua até o AmpOp saturar com a saída no seu
nível (L) positivo de saturação (v0=L+).
- Nesta situação a tensão v+ fica igual a L+(R1/(R1+R2)), que é um valor positivo e
mantém assim o AmpOp na saturação positiva. Este é um dos estados estáveis.

 Se assumirmos que o incremento anterior é negativo o AmpOp satura negativamente


v0=L- e v+=L-(R1/(R1+R2)). Este é outro estado estável do circuito.

 Conclui-se então que este circuito tem dois


estados estáveis. Uma analogia física com o
seu funcionamento é mostrada na Fig. 9. A bola
não consegue manter-se na posição indicada
durante nenhum intervalo de tempo.

Fig. 9

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ELETRÓNICA II 15
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores biestáveis

Função de transferência

 Vamos agora verificar como se pode mudar de estado o circuito biestável .

 Na Fig. 10 temos o circuito biestável com uma


tensão de entrada ligada à entrada inversora:
- Vamos assumir que v0 está no seu estado estável
positivo, v0=L+, o que implica que na entrada não
inversora temos v+=βL+.
- Se vi aumentar desde 0V não acontece nada até
atingir o valor v+=βL+.
- Assim que vi ultrapassa este valor começa a
desenvolver-se na saída uma tensão negativa.
- Devido à realimentação positiva, v+ vai tornar-se
também negativa o que por sua vez vai fazer com
que na saída apareça um valor ainda mais negativo.
Continuando com este processo regenerativo o Fig. 10
AmpOp vai saturar (v0=L-) e v+=βL-.

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ELETRÓNICA II 16
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores biestáveis

 Continuando a aumentar vi não altera a saída (saturação). Na Fig. 11 temos a


característica de transferência (comparador), sendo a tensão limiar VTH (threshold
voltage) igual a βL+.

 Considerando agora que vi diminui, o circuito transita de estado quando vi for


inferior (superior em módulo) a βL- (note-se que L- é negativo). Conforme vi diminui,
uma tensão positiva aparece aos terminais do AmpOp, que devido à realimentação
positiva dá origem a uma tensão positiva na saída (v0=L+) e v+=βL+.

Fig. 11 Fig. 12

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ELETRÓNICA II 17
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores biestáveis

 Na Fig. 12 temos a característica de transferência para uma diminuição de vi, sendo


agora a tensão limiar VTL igual a βL-.

 A característica completa está representada na Fig. 13.

 Podemos então verificar que:


- O circuito muda de estado para valores diferentes de vi,
dependendo se vi está a aumentar ou a diminuir. O circuito
exibe histerese. A amplitude da histerese é a diferença entre
βL+ e βL- (VTH e VTL).
- Como o circuito passa de um estado positivo (vo=L+)
para o estado negativo (vo=L-) quando vi está a aumentar, e
acima do limite βL+, o circuito diz-se inversor.
- Não é necessário ter uma onda sinusoidal à entrada para
fazer o biestável comutar de estado. A entrada vi só inicia
(dispara) o processo regenerativo. vi pode ser substituindo
por um impulso de curta duração (um impulso positivo ou Fig. 13
um impulso negativo para fazer a comutação de estados).

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ELETRÓNICA II 18
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores biestáveis

 Para valores de vi entre βL- eβL+ a saída pode ser L+ ou L-, dependendo do estado
em que o circuito já apresentava. Assim, para esta gama de valores a saída é
determinada pelo valor do trigger (disparo) anterior (o sinal de disparo que fez com
que o circuito ficasse no estado atual). Diz-se então que o circuito tem memória. Este
circuito é também designado por Schmitt trigger.

Biestável não inversor

 Na Fig. 14 temos representado um circuito biestável


não inversor. Aplicando o princípio da sobreposição:

(13)
Fig. 14
 Se o estado positivo for vo=L+ e o estado negativo
vo=L-, da equação (13) verifica-se que se estivermos no
estado positivo, valores positivos de vi não têm
qualquer efeito.

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ELETRÓNICA II 19
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores biestáveis

 Para o circuito comutar para o estado vo=L-, vi tem que tomar valores negativos de tal
forma que v+ seja inferior a zero. Substituindo em (13) v+=0, vo=L+ e vi=VTL resulta

(14)

 Do mesmo modo, se estivermos no estado negativo vo=L-, é necessário um valor


positivo de vi para que v+ seja superior a zero volts. Usando o raciocínio anterior
vamos obter

(15)

 A característica completa está representada na


Fig. 15. De notar que para o circuito comutar de
L- para L+, vi tem de positivo e superior a VTH,
logo o circuito é não inversor.

Fig. 15

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ELETRÓNICA II 20
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores biestáveis

Circuito biestável como comparador

 O comparador é um circuito analógico usado em varias aplicações, que vão desde a


deteção do nível de um sinal de entrada relativamente a um valor predefinido, até à
utilização em conversores analógico-digitais (A/D). Podemos pensar no comparador
como um circuito com apenas uma tensão limiar (Fig. 16), sendo no entanto em muitas
aplicações útil que também exiba histerese.

Fig. 16 Fig. 10 Fig. 17

 Nessa situação o comparador exibe duas tensões lineares VTL e VTH posicionadas
simetricamente em relação a uma referência pretendida, como indicado na Fig. 17.
Normalmente VTH e VTL estão separados por uma tensão pequena da ordem de 100 mV.

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ELETRÓNICA II 21
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores biestáveis

 Para demonstrar a necessidade de histerese vamos considerar uma aplicação


comum em que se pretende detetar e contar o número de passagens em zero de um
sinal arbitrário. Isso pode ser implementado usando um comparador com a referência
em 0 V. A cada passagem em zero o comparador dá origem a um degrau na saída que
pode ser usado para gerar um impulso, que por sua vez é fornecido a um contador.

 Vamos supor que o sinal a processar tem


sobreposto, como acontece usualmente, ruído de
frequência muito mais elevada. Pode acontecer
então que na zona de passagem em zero, devido às
variações provocadas pelo sinal indesejável, o
comparador volte a mudar de estado dando origem
a um número errado de contagens (Fig. 18).

 Se tivermos uma ideia sobre a amplitude pico-a-


pico do sinal de ruído, podemos resolver este
problema introduzindo histerese de amplitude
apropriada no comparador (Fig.18). Ou seja, para
esta aplicação a histerese num comparador dá
origem a um efeito similar à filtragem. Fig. 18

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ELETRÓNICA II 22
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores biestáveis

Aumento da precisão nas saídas do circuito biestável

 A precisão das saídas de um circuito biestável pode ser aumentada acima dos níveis
de saturação do AmpOp através da introdução de circuitos limitadores. Duas dessas
montagens são mostradas na Fig. 19.

Fig. 19

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ELETRÓNICA II 23
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores astáveis

 Um circuito multivibrador astável não apresenta estados estáveis. Não tem sinais
externos de controlo, comutando automaticamente entre os 2 meta-estados que podem
ser pré definidos. Se por exemplo os 2 meta-estados tiverem a mesma duração obtém-
se uma onda quadrada.

 Com um multivibrador astável consegue-se produzir uma onda quadrada sem ter a
necessidade de uma fonte externa. Isso é possível acrescentando ao circuito uma
malha de realimentação RC (Fig. 20).

Fig. 20

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ELETRÓNICA II 24
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores astáveis

 Funcionamento:
- Vamos supor que a saída vo só apresenta 2 valores possíveis L+ e L- (como no
biestável), sendo estes respetivamente as tensões de saturação positiva e
negativa.
- Se vo estiver em L+ o condensador C vai carregar até esse valor de tensão
através de R.
- A tensão em C, que está a ser aplicada no terminal v_ do AmpOp, irá aumentar
exponencialmente até L+ com um constante de tempo =RC.
- A tensão em v+ do AmpOp é dada por v+=VTH=L+ com =R1/(R1+R2).
- A situação anterior mantém-se até a carga do condensador atingir VTH, altura em
que o biestável comuta para o seu estado vo=L_ e v+=L_ (VTL).
- Neste momento o condensador começa a descarregar exponencialmente para a
saída.
- A descarga mantém-se até o condensador ficar com uma tensão v-=VTL. Aqui o
biestável comuta para o seu estado vo=L+, o condensador começa novamente a
carregar, o ciclo repete-se.

 Pelo exposto o circuito astável oscila e produz na sua saída uma onda quadrada.
Esse sinal de saída e os sinais nas entradas do AmpOp são apresentados na Fig. 21.

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ELETRÓNICA II 25
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores astáveis
 Determinação do período T da onda quadrada:
- Durante o intervalo de carga T1 a tensão v- aos
terminais do condensador em qualquer instante t, com
t=0 no inicio de T1, é dada por

- Para t =T1, o condensador, cuja tensão é v-, carregou


até βL+, substituindo na expressão anterior vamos obter

(16)

- De forma análoga durante o tempo de descarga T2, a


tensão v-, com t = 0 no inicio de T2, é dada por

(8)

- Substituindo v-=βL- para t=T2 vamos obter

(17)

Fig. 21

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ELETRÓNICA II 26
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores astáveis

 As equações (16) e (17) podem ser combinadas de forma a obter o período T=T1+T2.
Como normalmente L+=-L-, vamos obter uma onda quadrada com período dado por

(18)

 Neste tipo de gerador de forma de onda quadrada a frequência pode ser ajustada
através da variação do condensador ou da resistência.

 De notar que o circuito astável não tem estados estáveis mas sim dois estados
quási-estáveis (meta-estados) e permanece em cada um deles um intervalo de tempo
definido por RC e pelas tensões limiares VTH e VTL.

Geração de forma de onda triangular

 A forma de onda exponencial gerada pelo circuito astável pode ser alterada para
triangular substituindo o circuito passa baixo RC por um integrador, que vai dar
origem a uma carga ou descarga linear do condensador, originando uma onda
triangular. O circuito resultante é apresentado na Fig. 22.

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ELETRÓNICA II 27
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores astáveis

 De notar que como o integrador é


um circuito inversor, é necessário
usar o circuito biestável não
inversor similar ao da Fig. 14.

 Vamos verificar que este circuito


oscila e dá origem a uma onda Fig. 22
triangular em v1 e uma onda
quadrada em v2.

 Funcionamento:
- Vamos admitir que inicialmente na saída do
biestável temos L+.
- Em R vai circular uma corrente I=L+/R. Essa
mesma corrente vai circular em C, dando origem
a que a saída do integrador decresça linearmente
com um declive –L+/(RC) (Fig. 23).
Fig. 23

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ELETRÓNICA II 28
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores astáveis

 Funcionamento:
- O processo continua até a saída do integrador atingir VTL do biestável. Neste ponto o
biestável muda de estado e a sua saída fica negativa e igual a L-.
- A corrente passa a circular em R e C no sentido inverso, sendo o seu valor dado por
|L-|/R. A saída do integrador passa a aumentar linearmente com um declive positivo
dado por |L-|/(RC).
- Este processo continua até a saída do integrador atingir VTH. Neste momento o
biestável comuta de estado para L+, repetindo-se um novo ciclo.

 Para determinar o período T das ondas quadrada e


triangular podemos observar a Fig. 23. Durante T1 temos

 Dando origem a (19)

(20)
 Da mesma forma podemos obter T2, que é dado por

 Consequentemente para a obtenção de ondas simétricas o biestável deve ter L+=-L-.

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ELETRÓNICA II 29
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores monoestáveis

 Um circuito multivibrador monoestável apresenta apenas um estado estável no qual


permanece indefinidamente. Se for aplicado um trigger externo pode transitar para um
estado quase estável (meta-estado) e aí permanecer por um período de tempo
predefinido pelos parâmetros do circuito. Depois desse tempo o circuito regressa ao
seu estado estável e aí permanece até que ocorra outro disparo.

 Na Fig. 24 temos um circuito monoestável. Em relação


ao circuito astável foi adicionado o díodo D1 à entrada
inversora, e à entrada não inversora um circuito de
trigger formado pelo condensador C2, a resistência R4 e
o díodo D2.

 Funcionamento:
- No estado estável, no qual permanece enquanto não é
aplicado o disparo, a saída está em L+ e D1 está a
conduzir através de R3 garantindo v-=0,7 V.
- A resistência R4 é escolhida de forma ser muito maior
que R1, logo D2 conduz uma corrente muito baixa e a
tensão vC é praticamente determinada pelo divisor de
tensão R1, R2. Fig. 24

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ELETRÓNICA II 30
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores monoestáveis

- Temos então a tensão vC=βL+, com β=R1/(R1+R2). O estado estável mantém-se, pois
βL+ é maior que VD1.

- Considerando agora a aplicação de um impulso


negativo (Fig. 25), D2 passa a conduzir o que vai fazer
com que a tensão v+ desça bruscamente.
- Se o disparo tiver amplitude suficiente para que v+
desça abaixo de v-, a saída comuta para L-, passando
v+ a βL- mantendo-se o AmpOp neste novo estado.
- De notar que esta tensão negativa faz com que D2
fique ao corte, isolando o circuito do disparo.
- A tensão negativa em vo (L-) faz também com que D1
fique ao corte, e o condensador começa a descarregar
para a saída vo. Quando a tensão no condensador (v-)
for igual ao valor de v+(L-) o circuito comuta de
estado para o estado estável colocando a tensão L+
na saída.

Fig. 25

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ELETRÓNICA II 31
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Multivibradores monoestáveis

 Duração do impulso de saída T:


- Pela Fig. 25 verifica-se que um impulso negativo é gerado na saída durante o estado
quase estável. A duração T do impulso de saída é determinada através da forma de
onda exponencial no condensador (ponto B), que coincide com v-

Substituindo v-(T)=vB(T)=L-

Resolvendo em ordem a T (21)

Para VD1<<|L-| esta equação pode ser aproximada por (22)

 De notar que o monoestável não deve ser disparado novamente antes de C1 ter
recarregado até VD1; caso contrário o impulso de saída fica mais curto. Este tempo de
recarga é designado como período de recuperação.

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ELETRÓNICA II 32
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Timer 555

 Um circuito comercial muito conhecido que permite implementar um multivibrador


monoestável ou astável é o timer 555. Na Fig. 26 está representado o seu diagrama de
blocos.

Fig. 26

Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores


ELETRÓNICA II 33
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Timer 555

Monoestável

(23)

Fig. 27

Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores


ELETRÓNICA II 34
GERADORES DE SINAL E OSCILADORES Timer 555

Astável

(24)

(25)

Fig. 28

Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores


ELETRÓNICA II 35

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