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Aquele Que Diz Sim Aquele Que Diz Não PDF
Aquele Que Diz Sim Aquele Que Diz Não PDF
Escrito em 1929/30
Estréia: 23 .6 .1930 em Berlim
o PROFESSOR
a 1V1ENINO
Baseada na adaptação inglesa de Arthur \V'ale)' do "N ô' Ja-
ponês "Taniko". A MAE
()S TRÊS ESTUDA NTE5
Colaboradores: E. Hauptmann. K. W'eilJ
O GRANDE CORO
}\Q U E LE~ QUE ~D I Z snv1
t
o GR AN DE CORO - O m a is irn po r t an te de t udo é aprender a
estar de acordo.
Muitos dizem sim, mas sem estar de ac ordo.
Muitos não são consultados, e muitos
Estão de acordo com o erro. Por isso:
O mais irn portarite de tudo é aprende r a est ar de ac ordo.
. .
~,k! ::~
- - - - - - - - - - - - -- -- ---_._ - _ .
O PROFESSOR - Faz muito tempo que eu não ven ho o MENINO - É porq ue m in ha rn âe está d oente q ue
Seu filho diz qu e a sen ho r a tamb ém f ic ou doen te. E u quero i r com voc ê ) p ara
melhor agora? Buscar para ela rem édios e instruções
A :M AE - Infelizmente não estou nada melhor, já Com os g r an d es médicos, na cidade al ém d as mon tanhas.
agora não se conhece nenhum remédio para essa _~'" .......~ ... ~ O PRO FES SOR - Eu t enho que falar co rn su a m âe nova mente .
() PROFESSOR - l \ gente tem que descobrir alguma "'~" ."'" .: ~. .
Por isso eu vim me despedir de vocês: ama n h ã eu
Ele uol ta ao plano 2. O m enino escuta à porta.
partir para uma viagem através das m ontanhas em () PROF E SSOR - Estou aqui de nov o. Seu fil ho d iz que que r
ca de remédios e instruções. Porque na c id ad e, além vir con osc o. Eu expliquei que ele nã o poderia dei xar a
montanhas, moram os grandes m édicos, senhora so z in h a e doente e que, além disso, é urna via-
A . M "~ E - Uma caravana d e soco r ro n as m ontanhas! É ver- gern difícil e perigosa. É absolu t amen t e im po ssív el vo c ê
dad e, eu o uvi d ize r que os gran des m éd ic os moram vi r conosco, eu lh e d isse. M as ele r esp o n d eu q ue te rn que
mas t amb ém ouv i di z er que é u m a caminhada perigosa. ir à cidade, alé rn das mon tanhas , buscar rem édios e ins-
O sen ho r pret ende levar m eu fi lho? tr uções pa ra a sua d oenç a.
O PR O~ES SOR - N urn a viagem c omo est a n ão se levam A ~fÃE - Eu ouv i su as pa la v r as. E não duvido do que o
crranças, meni n o d iz - que ele gostaria d e faz er a cami n h ada
perigosa C0111 o sen ho r . Meu filho , venha cá .
A r-.1 .ÃE - Bom, esp er o que o sen h o r volte com saú de .
O P R O F ES SOR - l\gora eu tenho que ir embora. Adeus. o menino ent ra 11 0 plaru» 2.
Desde o dia ern qUI?
Sai para o plano 1. Se u pai nos deixou,
O ME N INO seguindo o fnofe ssor, no 11ft/no I - Eu tenho q ue E u não t e nho ning u ém
d izer urna coisa. A não ser voc ê ao meu la do.
Você nunca saiu
A mãe escuta ti porta. De m inha vista nem do meu pensamento
O PROFESSOR - O que é? Por mais tempo que eu precisasse
Para fazer su a comid a,
O b fE N IN O - Eu quero ir com o sen h o r para as mon ra nhas.
Arrumar su as roupas e
O PROFESSOR - C on10 eu ja di sse à s u a m âe, Ganhar dinheiro.
É uma viagem difícil e O MENINO - É como a senhora diz. 1\135 apesar diss o nada
Perigosa. 'Você não vai poder me desviar do que eu pretendo.
Vai conseguir nos acompanhar. .Além di sso:
O .M E N I N O, A l\L~E E o PROFESSOR - E u vou ( ele va i ) f aze r
Como você pode querer abandonar
a perigosa caminhada
Sua fi ãe, que está doen te?
E buscar rem édios e instruções
Fique. É absolutamente Para a su a (a minha) doença,
Irnpossi vel você vir conosco. N a cidade al ém das m on tanhas.
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Z:ll:',ftf,.;.'311
O G RA N DE CORO - Eles vi r am que nenh um arg umen r-, () ~\1 E N I N O - Eu tenho que dizer UH1a COi sa.
) ").,
222 .:. ... J
E;:coste a ~abeça em nossos braços. AQUELE QUE 1)IZ NÃ()
N ao faça força.
Nós le vamos você com cuidado.
Os três est u dant es colocam () menino na parte p t . 1
esi ra -/0 I P' f . . . os erto r do
, . { c, ae e a sua ren t e, esco u dem cn ., do pú blico.
O fvl E N I N O Íln'i sÍl/el- Eu sabia muit bern r . O GRANDE CORO - O mais importante de tudo é aprender a
,\ '. . .• 1 o ern que nesta vi agem
i "1..rrrscava perder minha vida. estar de acordo.
Foi pensando em minha mãe Muitos dizem sim, mas sem estar de acordo.
Que m e fez a partir. Muitos não são consultados, c muitos
Tomem meu cantil , Estão de acordo corn o erro. Por isso:
Ponham o reméd io nele O mais importante de tudo é aprender a estar de acordo.
E levem para minha mãe,
Quando vocês voltarem. O professor está no plano 1 ; a-màe e o m enino, no plano 2.
O GR.ANDE CORO - .EJ f1 t ao - .
os amigos pegaram o cant il O PROFESSOR - Eu sou o professor. E u tenho uma escola n a
~ deploraram os tristes caminhos do m und o cidade e tenho um aluno cujo pai morreu. Ele só t em
~ ~ uas duras leis amargas, a mãe, que cuida dele. Agora, eu vou at é a casa deles
E Jogaram o menino. para me despedir, porque estou de partida para uma via-
Pé com pé, um ao lado do outro gem às montanhas. Bate naborta. Posso entrar?
Na beira do abismo ' C) ME NINO passando do plano 2 para o plano 1 - Quem é?
De olhos fechad os, ei es joga ra m o m en ino Oh, o professor está aqui! O professor veio n os v isit ar!
~~nhum m ais culpado que o ou t ro. ' () PROFESSOR - Por que faz tanto t empo que você nã o v ai
E jogaram pedaços de terra à escola na cidade?
E umas pedrinhas O M E NI NO - Eu não podi a ir porque m inha mãe f icou d o-
Lo go em seguida.
ente.
It O PROFESSOR - Eu n ão sabia. Por f avor, v á log o d izer J ela
que eu estou aqui.
j O M E N I N O grita em direção aoplano 2 - Mamãe, o professor
está aqui.
A MÃE sentada IIUI'na cad eira de madeira no jJ[aJlo 2 - Ma n -
I
de entrar.
O MENINO - Entre, por favor .
Ele forçou demais seu coração, Que o menino está somente cansado por causa da su bida.
Que pedia retorno imedia to. Mas ele não está ficando com uma aparência estranha?
Na alvorada, ao pé das montanhas, Logo depois da cabana vem a passagem estreita.
Ele quase não conseguia mais Só se pode passar por ela
Arrastar seus pés cansados. Agarrando-se à rocha e001 as duas mãos.
Nós não podemos carregar ninguém.
Entrar!': no plano 1: o professor, os três estudantes e, por Devemos então seguir o grande costume e
ltlU1110, o-menino trazendo um cantil.
Jogar o menino no vale?
O PROFESSOR - A subida foi rápida. Lá está a primeira ca-
bana. Lá nós vamos parar um pouco. Eles gritam em direção ao plano 1, com as mâos em
()S TRÊS ESTUDANTES - Nós obedecemos, concha:
A subida da montanha lhe fez mal?
Eles sobe!t1 num estrado do plano 2. O menino detém o
professor. O lV1ENINO - Não.
Vejam, eu estou em pé.
a NIENINO - Eu tenho que dizer uma coisa.
Eu não estaria sentado
() PROFESSOR- o que é?
Se estivesse doente?
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.. -.......---- - - - - - - - - - - - - - - - - ........~t.,·~.>i~
Pausa. O rne ni no u n t a-se. o ~'ii ENrN O - Eu compre e ndo .
()S TRÊS ESTUDA N T ES - V 3n10S f al a r pro f essor. Mes-
co m o
() PRO F E SSO R - Você exige q ue se vo lte po r sua causa? O u
está d e acordo em ser jogado n o v aie corno exi ge o gran-
tre, quand o h á pouco perguntamos pel o m en ino, você
di sse que ele estava sirn p lcsrne n te cansad o por causa da de c ostume?
subida. Mas agora ele está C0t11 urna aparência muito o MENINO, dep ois ti!', um te mpo de reflcxtio _.- N ão. Eu n âo
estranha. O lhe, ele até est á se n t ado. É terr i vel ter que estou d e aco r do.
dizer ist o, mas há muito tClTIpO reina um grande coseu- O PROFES SOR grit a em di rcçtÍo ao J}lau(J 2 - Desçalll até aq ui .
me entre nós: aquele que não pode continuar será jogado E le não re sp ondeu d e acordo corn o cost urne.
n o vale. ()S TRÊS ESTUDANTES de sce n do em direção ao plano 1 -. Ele
( ) P RO FESSOR - C orno, vo cês querem jog a r este mem no no d isse não. i 10 menino: P o r qu e você não res po n de de
v ale ? acor do com O costu rn e ? .A.. quclc que disse a , r arnb érn
O s T RÊS EST U DA NTE S - Sim. É a nossa in ten ção. tem q ue d ize r b , aquele t empo q u an do lhe pe rg:r n t a-
varn se você estaria de acordo com tudo que esta Yiagenl
O PROFESSOR .- É um g rande costume . E u não posso me
opor a ele . Mas o grande cost u m e t amb ém exige q ue se poderia t razer" você re spondeu que sim.
per gu n t e àquele que fic ou d oe nte se se deve voltar po r O lvfEN INO - 1\ resposta que e u de i foi fa lsa, [nas a sua per-
sua c ausa . Meu coração tem muit a pen a d essa pess oa. gunta) ma is f alsa aind a. Aquele q ue diz <1 , n ão ten-:. q ue
Eu vou até ele e, com o ma io r cuidado , vou lhe f ala r do dizer b. Ele t arn be rn p ode re conhecer que a era f also.
grande costu me . Eu q ueria b uscar remé dio p a ra . mir:ha lTI_ãe,. mas, agora
eu t arn b érn f iquei doen te, c , assim, .Isto na o . e m ~ls p~s
( )S T RÊS E STU D A N TES - Faça isso, por fav o r.
sivel. E d iante de sta riov a situ ação, q u ero voltar imedia-
El es se colocam fr en t e a f ren te. tamerite. E eu p eço a voc ês que t am b ém v oltem e m e
lev em p ara casa. Seu s estudos podem m ui to bern espe rar:
Os T RÊS ES TUDA NTES E O GRA N DE CORO - N ós vamos lh e E se há algu m a coisa a apre nd e r lá , o que eu espero, 50
perguntar ( eles lhe perguntaram ) se d e quer poderia ser que, ern nossa sit uação, nós te~os q~evoltar.
Que se volte (que voltem) por SUa c au sa. E quanto ao antigo g r an de costume, n ao ve jo n ele o
Porém , mesmo se ele quiser, menor sen t id o. Preciso é de um novo grande c ostume .
Nós não vamos (eles não iam ) voltar, que devemos introduz ir irnedi a rame nte : ,0 co~t u me de
E sim jogá-lo no vale. refletir novamente diante de cada nov a siruaç ao.
O PROFESSOR, que f oi até o menino no plano 1 - Presta aten- Os TRÊS ESTUDANTES ao professor - O q ue f :1z er? O qu e o
çã o! Há muito tempo existe a lei que aquele que fica menino disse não é nada heróico, nus faz sen t ido.
doente numa viagem como esta tem que ser jogado no O PROFESSOR - Eu de ix o corn voc ês :1 dec isã o do que f azer.
vale. A morte é imediata. Mas o costume também exige Mas tenho que lhes dizer uma co isa: se você s volta rern ,
que se pergunte àquele que ficou doente se se deve voltar
vão ser cobertos de zornbar ia e vergonha .
por sua causa. E o costume exige que aquele que ficou
doente responda: Vocês não devem voltar. Se eu estivesse Os TRÊS ESTUDANTES - Não é vergonha ele falar ;1 f a vor
em seu lugar. com que prazer eu morreria! de si próprio?
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O PROFESSOR - Não. Eu não vejo nisso nenhuma vergonha
Os TRÊS ESTUDANTES - Então nós queremos voltar. Não
ser a zombaria e não vai ser o desprezo que vão nos
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pedir de fazer o que é de bom senso, c não vai ser um
antigo costume que vai nos impedir de aceitar uma idéia
justa.
Encoste a cabeça em nossos braços.
Não faça força.
Nós levamos você com cuidado.
O GRANDE CORO - Assim os amigos levaram o amigo
E eles criaram um novo costume,
E uma nova lei,
E levaram o menino de volta.
Lado a lado, caminharam juntos
Ao encontro do desprezo)
Ao encontro da zombaria, de olhos abertos,
Nenhum mais covarde que o outro.
A decisão
Peç a did át ica
Die Massnahrne
Lehrstück
Escrito em 1929/30
Estréia: 13.12.1930 em Berlim
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