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A Gênese e o Surgimento
da Vocação Psicanalítica
de Melanie Klein
,
1. A INFÂNCIA.E A JUVENTUDE DE MELANIE KLEIN
e
i O relativamente malsucedido. De qual uer forma sua ClZes..te-
brir uma loja de modo a complementai:_élSJ:enda ' d esposa teve
~ª . . -s . af.amília
(ato revela certamente uma d.ificuldade, ois er ·
_ s da é oca ue a es osa e um m dico exer . a cont ·
pa roe • . d " . cess . os
t~;temunha ainda a energia e a m ependenc1a de espírºt . .. .
I o daque1 o,
a Que as-
MELANIE KLEIN I
Deste modo, Melanie aprende aos cinco anos a leiturª a es':::ºt ª caçula.
n,.e.n~os_d..e_c.álc1;1lo,..atr és.cdo.amor_de sua-1-rma,-eoma_qu.al~m
-isr~
,,\I,,. (i · - ~ ~uudi-
1
t_ - naturais da irmã caçula. Mas esta relação afetiva e intelectual intensa tam-
/, :/1 bém seria interrompida pela morte. Emmanuel sofria desde a infância de
I
J problemas cârdíaç_os e2 ua irmã ! al?fa, ªssim como ele mesmo, que estava
destinado a morrer muito jovem. Efetivamen!~, I eio a falecer eill 1~2,
·om ·. a idade de vinte e cinco anos.. -- - -
Nesta data Melanie Reizes já era noiva há três anos e Arthur Klein.
vés de estudar medicina como pretendera, fre .. nta cursos de arte
ória na Universidade de Viena. ~ s~:se,,_e,m_l9g desd~ então acom-
seu marido, engenheiro químico, pelas diferentes localidades da Eu-
a.C_e ntral, onde este exerce sua profissão. No decorre! destes anos te:
filho~: Melitta, nascida em 1904, Hans, em 1907, Ench, em 191 4. S a
s que ª.1filp.ília_!Çlei_!1._§~ inst~la em Budapest alg~s anos ~tes
eira .Gue:r.r~ ~°ºdjal e illi permançc~ até a revoluçao de B~la Ku ·
uda est--9.!!~...~elanie co~e9~ ~-le1t~~~ da obra de Freu .
l
nálise ~·graças a uma importante doação de Anton vo~ r '
, '
- 1n ,
A Gi!NESE E O SURGIMENTO DA VOCAÇÃO ... 3
~~J~&et_omar-einos.-em-br-eve-à-questãe-àa-natw:eza-de_suas ati:rida_d.e.5-..P-si- ·
canalíticas...na..Huagllia.
dos oficialmente
·
p'elámunicip'
·
alidade de Budapeste
•
uma peuçao ~irça'"o
a ena
a entre os estudantes da Universidade, no se~tido de req11;erer A doa-
uma cadeira de psicanálise que teria FerencZI como seu titular·
1 ··~
' '
.' • • •· '· . .
,m
· . · ; ; · e ta tech nique
7. S. FREUD, "1..es voies nouvelles de la tbérap1e psychanalytique , .v
psychanalytique, P.U.F. . :_ ·,' , . , . ' · . , ,, Jnternationale
8.· S. FERENCZI~ "Technische Schwi~rigkeiten einer Hyste:°~alyse •
• ... "A.Jn.L:,a.,u:. .o V i:)UKUl~NTO DA VOCAÇÃO ... 5
ção de Anton von Freund suscitava grandes esperanças. Tudo isto toma-
ria outro rumo cerca de dois meses mais tarde, em conseqüência do esbo-
roamento dos Impérios Centrais.
Quando Melan~e Klein faz, fil> ano seguinte, sua primeira comunica-
~º :!-Socie~ e Hl!.~ 1!!.~ ~ ~ n do.(-'.9,.;tc-
elogiada por Ferenczi e von Freund, que lhe cojocmn..q~_es.Jlatticular-
ment~rU~i!e~ ~ - ª - ªjJldam._a amadur.e.cer..algumas..de...snas..cíl.UCep-
__çõe$. Ferenczi apresenta-a em seguida, por ocasião do Congresso Inter-'
nacional de Psicanálise de Haia, em setembro de 1920, a Karl Abraham,
que a convida para ir a Berlim. Mas parece certo que .teiamgi
tou em seu trabalho e o su erv1s1ono u rimeiro tra-
balho psiCI1halítico. imitou-se a encora ·á-la e em restar-lhe livros -~-
lanie Klein foi eleita membro titular da Sociedade Húngara a 13 de julho
de 191.2.z_ logo após à exposição que fez de seu primeiro artigo. Não havia,
ainda, começado a praticar a psicanálise, ao menos no sentido como a
entendemos hoje.
~
tos sobre a criança. Estamos em condições de afirmar que esta cri~
'rf,!('r 'Í )
ão Erich: .º segundo, fil~o de Melanie Klein, então
/ ·1'-o.u 11 oo o., l,IJ-.L::!_ c•J . .
co:
10. Cf. WILL Y HOFFER, "Melanie Klein", lnternationa/ Journ
v.42, 1961, pp.1-3 . . ai 01 Psycho-Ana/ysis
11. Cf. WILLY HOFFER, "Melanie Klein" Jntern - '
v .42, 196 l, pp. 1-3. O autor d á o endereço de Melanie
, Kla1.1ona/ Journa/ oif Psycho-An .
Director Julius Klein, Ruzomberok, Tcheco-EsJová . em em 1919: Fr. Melanie l(J ~')ls,s, 1
I 2. Anunciado no Internationa/ Journa/ ofP. huia. em e/o
Mrs . Melanie Klein: Remarks on the InteUect :s'YDc o-Ana/ysis, v.I, 1920 p •,
1 37
6 MELANIE KLEIN I
i
1
11
1
14. No que se refere à ~omprovaçã~ desta afirmativa, pedimos ~o leitor que leia ª P,- ·
1~. "The Psycho-Analytical Pla,y-Technique; His History and Significance" , New Dz:ec-
1:
l tions in Psycho-Analysis, Maresfield' ~eprints, Londres, p. ,4. "My first patient was a fi~e-
years-old boy. I referred do .Júm under the name Fritz in my firs,t published paper .. • Between
1920 and 1923 l gained some further experienée with other child cases ... " .
16. Mencionaéla nó International Journat of Psycho-Ana/ysis, 1920, I, p.370.
17. Intérnatidnale Zeitschrift. '. ., v,VI, 1-920, pp.151-155. , '
18. fmago, v .IX, ' 1921. ,
19 .' Cf. 'lnternational Journal of Psycho-Analysis, 1961, pp .1 -3.
. . · ---
v
o
mas não do marido, que encontrou. UDLemp.rego-aa-Suooia--e-ali--se-imtala.
~ ~~-ª-~~par.a_Ç.ão_serádefinitiv..a~_send.Q_o_diyórcio_p[Qnunciado pouco depois.
1~2. Os anos berlinenses (_p i}~ft, ( f3;;J2rm) --, cl,;,,ór;;;_?
-- -----~·------
- •·-
a o
t d d , esenv 1 s A tidões na Crian " ·
ar eara o esseociaa ""'--t+41•~ -@-Cr-1a t1ças~ ~'.
· 1 r1 , , A .... 1 • • ue mais
Melanie Klein prossegue durante o ano de 1923 su . _
científicas à Sociedade Psicanalítica de Berlim· "N t as ~omumcaçoes
de uma Criança" a 2713 de fevereiro·_ "O Jog~ d ~a:d~o re a Análise
Crianças o Jogam" a 10 de abril;~ uma P O Ic~ Tal Qual as
. equena comunicação cl' .
1n1ca
. 20. Cf. ''.The Psycho-Analytic Play Techni ,, . . •
resf1eld Reprmts, p. 4. que , New D1rections in P. ·
2 1. ln Essais de Psychanalyse Pay t 'SYcho-Ana/ysis M
22. S. FERENCZI "N' ' • PP.110-141. ' a-
' evroses du D1manche" .
23. MELANIE KLEIN, Essais d P. , 10 Oeuvres C ,
_ABRAHAM. n,,," __'! 'SYchanafvsP º~-- omnlo,,.._
/ \/ 8 -
MELANIE KLEIN I
'l pequena ta, com 01s,anos·,., e t res meses de idad\) no início de seu t rata-
mento, and..ális_ e que durarba ~res ou quatro meses . O trabalho verificava-se
na casa a cna,nça, que nncava espontaneamente com seus brinq d
M 1 . Kl . b · r
: e-·~e ·ªbn~e e1fn ~na ISava o drmcar, como h~via feito com Erich. 1, técni-
ue os
1 cw,u 0, rmcar 01, ortanto e al 1m osta pelas próprias criân-
! ~- ,.. ·, ~o_ín~te n?m se_g~mdo moment~, ªº.longo deste mesmo..ano..rut1,223,
que Me}fnie Klem....iiiíííiiiid~xp__enência obtida com.oJnício...da.análise
· de .Rita...~ cide a11ali.sit,as c~anç~ em_s_uji_ças,a.._ª1jm de evitar a.i~ e-
f 1rência da família no tratament.o...,.e_é aí que lhe vem a idéia de lhes forne-
• ,., 1, c~r os brinquedos,J ra ·· ando" assim, um fenômero ej gontãn_e.o..nu-
-. '~f ma-técnica-plane-j análise de Rita nfirma os dados colhidos ao
• , ~,••• ~ ~7· loµgo da de Erich e per
1
e novas aqµisições: <:.Yidencia a existência e a ti
-'· · y
1
s~veridade de ~mainsJ;ãnci~ crítica in~t:rna des~6lt~nra idade, 8:_importân-J(-
1
·., í . 1
" (:' \ } ,,-
li ' '
, - ' 1
3
,28~ s~,.FREUD, K. ABRAHAM, éorresp0nd~nré: N.R.F '. , _P• ~·e "Análise ~e crian-
,.
29. ',' O i>ape( da Escôla nq,Desénvolvimento L1b~dinal pa Criança ,
"!'~ ças Pequenas", in Essais qe Psyéhan~lyse, Pay9t,. ·p~.9()-141 : · , . , ,
, 30. Cf. Cap. '·. • ,, •. , ':" ·· : . Klein a seu tradutor J .B.
31. Obedecendo aç,s conselhos dados pela próP,na Me1an_~c 1•m O título Zur Tech-
~ oulanger (cf. Lf!,psj,chanalysedesenf,{!,nts, P.U:F, P-,9~, tr~duz~m~sa;; que é "imprópria e
111/é der frühen Analyse, a fim de evit~ ,o emprego da. palavra pr, co '
,' J ,
A GÊNESE E O SURGIMENTO DA VOCAÇÃO ... 9
Meu primeiro paciente foi um menino de cinco anos de idade. Referi-me a ele
sob o nome de ''Fritz'' em meu primeiro artigo publicado. Aprincípio julguei que
seria suficiente influenciar a atitude da mãe. &µgeri-Jbe que dexia encorajar a crimiça
a' discutir livremente caro e)a ouroerasas pecg1mtas inexpressas que estavam obvia-
mente ocultas em sua mente e que impediam seu desenvolvimento intelectual. Isso
deu bons resultados, mas suas dificuldades neuróticas não foram suficientemente
atenuadas e logo decidiu-se que eu deveria psicanalisá-lo41 •
44. In ternationale Zeitschrift für Psychoanalyse, v.VI, 19~0. "Mitteilu~gen ~u~,d~ ~::
fantile seelenleben", J'. "Der Familienroman in Statu Nascend1, von Melame Klem ( u
pest), pp.151-155.
45.MELANIE KlEIN , Essais de Psychanalyse, Payot, pp.32-3 3.
J. - - - -# _... ,,. . . ,,nrc:'Írln .
V A gENESE b u ;:)UAU U YJ..LJ, , .. -- -
Assim como mais tarde Melanie Klein será encorajada por Ferenczi
também os pais do pequeno Hans, ambos ''adeptos achegados'' de Freud'
foram P?r ele incentivados a observar seu filho, então com menos de trê~
~os de idade, s?b, um p~~to de vista psicanalítico, a fim de verificar prin-
cipalmente as hipoteses Ja formuladas no ano anterior nos Três E · ·
sobre a Teoria
· da1Sexualidade nsaws
• (1905). Suas observaço~es multi'plicaram-se
e Freud f01 regu armente mformado a respeito (Idem, p. 94).
A intenção inicial dos pais não era apenas estudar O des 1·
de Hans, mas'' ... educar seu primeiro filho sem maiores env,? v1mento
as que fossem absolutamente necessárias p~a manter u ~oerçoes do que
~e~to. E, à medida que a criança, desenvolvendo-se : om comporta-
mmnho alegre, bom e vivaz, a experiência de deixá-1 o' crescer
tomava um me-
e expressar-
l
grandiosa e é acompanhada de; '.µm (om de entusiasmo militante: não se
',, trata de curar perturbações neuróticas, de-cuidar, de readaptar a criança
:1 a seu meio e de permitir sua entra<la na média, o que será mais tarde o
objetivo de Anna Freud. A perspecti'fi completamente diferente: a hu-
manidade média não é normal, é doentia sem o seu conhecimento. A doen-
ça mais disseminada é a inibição intelectuàl que Melanie Klein passa em
vista nas manifestações mais banais, fundamentando-se constantemen-
o seguinte postulado, que permanece implícito ~s nem por isso é me-
atentemente operante: i.Ó é verdadeiramente·normal uma athddade
tLJ:aJ g11~_cJ>.mp.01:te_a_cap,âcjdade_de cobrir a extensão.do..campo.QOs
sses e a canacidad~_de.p~netração aprofundada,J mlicável tanto ao
_ iÓ -prático como ao domínio científico e especulativ.o,j ntegralmen-
subordinada ao teste -de realidade e liberada, em particular, da ilysão
·giosa. Todas as formas de "graves prejuízos causados à capacidade
lectual", que descreve em julho de 191953 , repousam na supressão,
o efeito da repressão, de uma ou outra dessas aptidões que parecem
e pleno direito, sob o ponto de vista de Melanie Klein, o resultado
desenvolvimento natural das capacidades do ser humano. Esta crenç_a
tentada pela freqüente observação do contraste entre a espontane~-
e e a vivacidade intelectual da criança pequena e o caráter mais contl-
, de alguma forma "achatado", dos interesses intelectuais da criança
idade escolar. A diferença se explica pela repressão da curiosidade se-
ai inerente ao complexo de Édipo.
O inventário dos tipos de inibição por ela levantados merece que nos
nhamos por um instante nele. A ''repugnância pela pesquisa funda-
mental desinteressada" não é um fato natural, mas procede diretam~nte
da oposição dos adultos à curiosidade sexual da criança: nas pesqu!sas
profundas, a criança que permanece no adulto teme descobrir "as c01sas
52. 'S. Freud escreve: "A análise praticada diretamente numa criança neurótica deve, des-
de o principio, parecer digna de fé, mas não pode ser muito rica em material; é preciso colocar
à disposição da criança muitas palavras e muitas idéias; ainda assim, as camadas mais profun-
das de seu psiquismo se acharão impenetráveis à consciência" (S. FREUD, Cinq Psychanaly-
ses. P.U.F _. n n.li,
A G~NESE E O SURGIMENTO DA VOCAÇÃO.·· 15
..rê •'·', •. 111- ',., '- ·:.lii:1, ; ' ' d" •. '-"Aai tO.,.c ti ·, .......
-~S.0'ti,alização:dâ-. : -· ··-~u-
ni.. ·;e. .
.f' :.:a·ena,-~~• ;O:~~~m
u ,1pqa,1;1.la·y,a1 ~. rep~~~
1' '
i
tambçip. teD1,,unt\·pipi! '' e lhe diz:
. . •.. •r
','for
,' E . favor, n_ergunt . _e. a .Lena,
, ~ 1( - · . "
P! ·
.. . , 4, :i.: •
. ta)~ ela !,. -:aem:::"rn _um Pf ~J Pr!sS~:~~ ê9~Jtáµleni~·áÔs tiês
-~ e sei~ ~e,s~s,·~ ~ -~ · e ~t~~-' ;J,~ 3'.°1ais ctt,üv0.,~ 1pro~un~i~ ·aquél 1
pressões., 1:1ptãv~~~\F. ex~~ 7,as, qt,t~~re êostutfla ou\'ir dosT ãbio~de cr{
1
de tenra 1:aade mais beni dotadas. .
1
;oi
fr~irir conhecimentos sexuais na medida de sua curiosidade" (Idem, p.
Esta regra implica um aspecto positivo: responde-se totalmente à per-
.ta da criança, sem desviar o assunto antes que ela mesma o faça; ain-
aspecto restritivo: informam-se apenas os fatos suscitados por suas
ª tões. Erich reage às explicações de sua mãe, mostrando-se distraído
~~~~fuso, mas repete, a princípio, cotidianamente a pergunta. Em segui-
d dirige-se a Hans e à governanta que lhe contam a fábula da cegonha
~hes repete a mesma pergunta várias vezes. Depois de alguns dias volta-
e de novo para mãe, repetindo a pergunta da seguinte forma: "Como
se faz uma pessoa?" e desta vez reage diferentemente às explicações: opõe
le esposta de Melanie Klein a fábula das cegonhas que é por ela desmenti-
d;; e quando ela a desment,e, o fato pr?voca uma r~isão ~eral_ das cren-
ças infantis: o coelho da ~ascoa, Papai N?el e os anJ_os nao existem; e!11
contrapartida os serralheuos realmente existem. A cnança começa entao
a adquirir referências intelectuais para o teste de realidade. Entretanto,
sobrepõem-se acontecimentos que e~id~nci~m as _d~fi~uldad~s da cr!~nça
em assimilar a educação sexual. O prmc1pal e o ep1sod10 refendo em Ro-
mance Familial in Statu Nascendi", o qual se liga às dificuldades encon-
tradas na instauração do teste de realidade. Algumas semanas antes deste
episódio Melanie Klein havia desmentido a fábula do coelho da Páscoa
contada pelas crianças da vizinhança. Como essa estória lhe agradava mui-
to, Erich recebeu mal as explicações de sua mãe. Reagiu da mesma ma-
neira quando esta lhe disse que o diabo, de quem também falavam as crian-
ças L. (as crianças dos vizinhos), não existia. Em ambos os episódios, ten-
tara mostrar à sua mãe o coelho de Páscoa e o diabo; ~mas se tratava de
um coelho e de um potro vistos em um prado. Na época, a família L. cons-
tituía um meio cuja influência contrariava as explicações de sua mãe. Dois
dias após a conversa sobre a origem das crianças, o coelho da Páscoa,
o Papai Noel etc., Erich anuncia que vai trocar de família. Será, doravan~
te, o irmão das crianças. Mantém esta decisão durante o dia todo , recusa- .
s!! a obedecer a Melanie Klein a quem não considera mais como sua mãe.
E preciso pedir aos vizinhos que o mandem embora para que volte para
a casa à noite. Reconcilia-se com sua mãe e a recebe na manhã seguinte
com a pergunta: "Mamãe, por favor, como é que você veio ao mundo?"
~ ela~e Klein, que relata este incidente a Ferenczi, adota a seguinte inter-
P etaça?, que es~e lhe sugere: Erich estava muito perturbado em razão das
r~pressoes anteriores, pelas explicações de sua mãe· quisera escolher ·p ara
sr uma f ! tão desagradável e
tã ami'lia na qual nao
- se nasce de uma maneua
0
comum, mas sim de uma forma mais poética e refinada.
raçã;: 1i:? c~so, a volta à casa de sua ~ãe é acompanhada de uma libe-
do cresci n osidade. Durante algum tempo faz perguntas sobre detalhes
Num dia Jento do f~to e sobre o próprio mecanismo deste crescimento.
tência de ~~~uva, ~rrcunstâncias fortuitas levam a abrir a questão da exis-
tempo vai h s. Ench pergunta se Deus realmente sabe durante quanto
fazia a eh e over. Melanie Klein lhe responde "que não era Deus quem
uva mas
0 _ mecanismo;, li
que a chuva provmha . .
das nuvens e explicou-lhe todo
t~es : sobre a or/ dem , p. ~4). No dia seguinte ele repropõe as três ques-
disso a questão -~~: das crianças, seu crescimento e a chuva. Coloca além
numa Posição e. b as Deus realmente existe?" Melanie Klein vê-se então
a_seus filhos Enmt araçosa: é atéia e não deu nenhuma educação religiosa
giosa . · de retanto · d a epoca
, .
e a 1déia D , O ensmo comporta uma mstrução reli-
eus acha-se presente na educação das crianças. Arthur
:\ Klei11, o. '" '~dp de M~l;~ ~\ que não é pra~!çattte, m'ltitém
itJãseada.IJ.~ ~ncepçao . ~teísta .~ di~dlifé~, (Jd'i) · ..Utna cre· -.
tã~.;ttio ~o~titiuap~oblema até~~~ã(re €êl~ ,•toiliàvj;:~:~J~•J,t .
a este respeito. Após algum~,.~es,~tação, ~la re$p().ade-~ u /, 1na~o ., .
. e acr~sc~nta,.erp. r~~~ta ~-~ ~.d bj~r~~,B,~mi:·qt(Chriuitas~us não
tas nao est,ã o bem~.Pfí cla&\~otsas e ttiopodeín ·falar-co · > -~asadlll-
-te
peito. Tal 'tottyersailêlà·o~ ehii o atêbtar enteriltir Ute?~ente.a tts,.
t~ncia e percep~°,:atual·:·_~~uilo que ele vê, ~xisttdfi-~·· po~ç: ~re.~
ve tudo que extste~~9r e ,, \o ·a casa:·de'! suai1tia que nãoq .. dr~o Uln
u!
q~ele momento? S~J1:1~e i(a,~s.ma, <ij:(Íê'1ll lde q\Je ele?~ .~•Vet , ..
i,
nao ver esta casa, s1ttfâ$1~: ,. : ;, m'itral\ êiê~ ,? Em 8 ·,:i: . ;- ; ,Ela Pt>tle·Ou
:.J:8•
1
nao cre na su~ extst~cia" (Idem, p. 35). Es~ respaít~ trán:qüffiia BriGi
que estava mmto ans10so no início da cem~ ..AP6_ $,-íé~ 'peri\llltàs·ek .
( 1
a opinião de sua mãe: Deus não existe, ·m~ -~i"'tl:Jrsas que.. podemos t er
existem, principalmente os bondes elétricos·~··t ·
Este dia parece ter marcado uma mudança deqsiva. anch adquiriu
um critério da existência dos objetos. ·
Pela primeira vez constata uma divergência de opinião entre seus pais
de realizar sua primeira escolha intelectual. Os objetivos de sua mãe
çam a ser alcançados: a autoridade dos pais é abalada-~nquanto cri-
de verdade e este referencial, não estando disponível, le:va-o a ques-
r a idéia de Deus através de um método de verificação tirado da re-
ão sobre sua experiência pessoal. Deste dia em diante, as interroga~
ções da criança se multiplicam em diferentes direções.
O material recolhido por Melanie Klein durante as seis seman~ se-
guintes classifica-se segundo dois eixos maiores: liberação e sublimaç~' da
uriosidade sexual e fortalecimento do senso de realidade correlaciol\~do
om o declínio do sentimento de onipotência. No que concerne ao pri~ei-
ro tópico, as questões relativas ao nascimento mud~ de natureza_, vers:
do agora sobre comparação entre o homem e o ammal. As questoes so..
a origem e o modo de formação das coisas aplicam-se a todos os órg:_os
O
e partes do corpo humano, aos animais, às plantas e suas part~s e aos
tos inanimados. A curiosidade da criança se volta para o mtenor ~o codes-
e seus conteúdos: urina, fezes. Certo dia, enquanto aj~da s~a ma~~ta a
cascar ervilhas, faz a seguinte observação que Melame Klem _s~ bUJil·
mencionar6-J: "... disse que faria uma lavagem na vagem, lhe abf1!1ª inter·
-bum e lhe tiraria os cocôs". Ele se interessa também pelo mecalll!~ os Si-
no .das coisas, pelo sistema de circulação de água, e jog?s mecam..co s~bre
m~eamente, emergem qu:8tões que testemu~am uma mterrog~~seIIlPre
ª ~<:llf~nça dos sexos: sua mae fora sempre menm~, ele ~esmo fo intelecto,
menmo?· Tui processo corresponde a uma dupla hbera?ao _de seu e,q,eriên·
em eKteosão e em profimdidade. Melanie_Kiein tem pela pnmerra vezª acidade
·eia-do.que havia postulado: a redução da repressão acarreta uma..cap centro
de sublimação. A descrição e explicação de tal conceituação estai:a0 n;de.
1
,,, suas primeiras teorias pessoais, formuladas três anos mais ª
.de
6Ó. Ela só irá interpretar fantasias deste tipo após 1925.
A GÉNESE E O SURGIMENTO DA VOCAÇÃO ... 21
.f
d8.:i se cuta suas explicações e a interrompe rapidamente. Em outra opor-
fll de menciona que para que uma galinha ponha ovos, é necessário
tuJll/m ~m galo, mas logo abandona o assunto e sua atitude geral per-
taill ~e inibida em todos os domínios. A liberação sobrevém bruscamen-
Jllaneós alguns dias, quando Melaine Klein, dando-lhe um bombom, con-
te ':::e uma estória que lhe agrada muito: o bombom, esperava-o há muito
ta- po e a aventura do b~mbom dá lugar a um relato que encanta Erich
teill
depois a outro. A partrr. deste momento a cnança
. conta espont aneament e
e tórias fantásticas, cada vez mais ricas e longas com uma fluência ex-
traordinária. ~e1a•KI'
es me em começa_ e~ta~ - a comumcar-
. 1he prud ente~en-
te interpretaçoes para romper as res1stenc1as, que por vezes mterromp1am
as narrativas, e descobre assim a função dinâmica da interpretação, que
assumirá ulteriormente uma considerável importância em sua técnica psi-
canalítica. Após algum tempo, reaparecem também as questões referen-
tes à origem e fabricação das coisas.
Simultaneamente, Erich restabelece contatos com outras crianças e
recomeça a brincar sozinho ou em companhia. As pulsões edipianas são
agora claramente reconhecíveis em suas fantasias e·suas brincadeiras: nas
fantasias, duas vacas caminham juntas, sendo que uma pula sobre o dor-
so da outra, e monta em cima dela; certa manhã, diz à sua mãe: ''Eu vou
subir em cima de você; você é uma montanha e eu vou escalar você". Ex-
prime o desejo de ver sua mãe nua e de ver "a imagem que está em seu
estômago" ou seja, o lugar onde se encontrava antes de nascer. Nas brin-
cadeiras duas peças de um jogo de xadrez são um soldado e um rei. O
soldado injuria o rei, que o prende e ele morre; mas volta à vida, prome-
tendo não mais cometer o mesmo crime e desta vez é apenas detido. Duas
figurinhas representando cachorros são seu pai e ele, um é bonito(ele),
o outro é sujo(seu pai). Esta manifestação da vida de fantasia edipiana
é acompanhada de uma mudança geral. A criança está cada vez mais ale-
gre e loquaz. Em muito pouco tempo e com pouca ajuda aprende a ler
e com tal avidez " ...que parece quase precoce" (Idem, p. 65). Quando
se rememora a preocupação manifestada por Melanie Klein diante dos su-
p~stos atrasos de seu filho, imagina-se facilmente que tenha ficado satis-
feita com esta evolução. ·
O episódio decisivo desta segunda fase da educação analítica é uma
~o~versa realizada após o reaparecimento, nas brincadeiras e fantasias de
nc~, da teoria sexual infantil da criança na fase anal, segundo a qual ");
as cna~ças são feitas de alimentos e são idênticas às fezes: sentado em
~~~pemc? oco~ria-lhe dizer que suas ''cacas'' eram crianças malvadas que
m quenam Vlf ou ameaçar bater nelas, porque eram muito duras e de-
oravam para chegar.
"cac;~~to d~a, Erich, sentado em seu penico, explica à sua mãe que as
des s 5 ubir~m ~orrendo para a varanda ( = estômago) e não quere
ess::r para o Jardim ( ~ penico). Melanie Klein interpreta: "Então !"
rea e as tuas cnanças que nascem no teu estômago?" e, como a cri' sao
ent~ :avoravelmente, prossegue seus esclarecimentos sobre a dit ança
pa~
0uma e.
f~' e cnanças, relembra as explicações dadas sobre O at0 erença
0 es~er~a, dos óvulos. Erich exprime o desejo de" sexual,
d·
fazer cnança e f e1ta por dentro desse jeito" e logo em seg . ver como
cada h:ma. Melanie Klein comunica-lhe, então, a interdiçãUI 0 da de lhe
mem tem apenas uma mulher, ela é mulher do pai d 8 incesto·
e nch, quan~
L.4 MELANIF T(LEIN I
d~. ele for grande"1 e~3: e~t~@\Y~füâ-•e. ·el~•ir,á·:iSê, ~.~ -t ,JJ'Ill uma .-bel·-,; ·.__ .
, E;ich está prestes a'>·~orar m,ae.~-lt-~·<tüe~-1apêsar dis~:J~~-
ra com ele .e em segtll~a fa~ uma~ .,,J,_·:~-d:eJta . ;• tas ,s0. ~~u~._b, ..,i.:,..,cr- !9_,··Y\tt;.
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dp feto (Ide";, pp. a c -;~simil ~t:nto
ment~, em mvel conscient~., a\ i~-~ ~d~. ~~1, ~,p~~ ·rtçebid~~bv.a~
nuncia, em gra1:de parte, à t,eori,a.Ffa .~ n~!~f~~,tlnteressa;.~e muito ~e-
nos por seu_ estomago, ~o qu_a:l_falav,.~~.µi,tb atfventãf. NU ,4q; ·"~
,seguem, a vida de fantasia edip)fiDa é ç'<;tª,~Yt-·mlia élàta e sua·mlV~.se
1
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,~-cion~ sta ~as lu_zes._d_Q.espJ!!~9.__ crí!!_ço, _do. livr~_pen~e.ut.o.,_ d~ reJet
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~\ 3:11tond ade e...das.r.eligiões. Na prática real de Melanie Klein, esta
~!~rve de.,-atjonalização ao investimento narcísico em Erich.\~
\ 4°.~
a'<:f segun
, SW1 o·plano 0
mento, pe~ c~~trário, as~rspectivas eda ó icas as .
apa -- - -- . • - ro-
e> c.lamadastn • .. recem con:i--;-uII@_conotacao menos ideológ1ca e s.~~ P
- quá d · •-~ · um tom menos m1btante. Por este fato podem lograr exito e,
n o-suamãem d d . - - ' · ar
· :~ u a e atitude, Erich pode, então, não apenas bnnc