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Saúde da Família
Revista Brasileira Saúde da Família
ISSN 1518-2335
Ano VIII, Número 13
Janeiro a Março de 2007
Publicação periódica trimestral
Tiragem: 15.000 exemplares
Supervisão Geral:
Luis Fernando Rolim Sampaio
Coordenação Técnica:
Antônio Dercy Silveira Filho
Iracema Benevides
Jornalista Responsável:
Adla Marques de Almeida Lacerda
(2772/13/37/DF)
Editoração eletrônica:
Wagner Alves
Colaboração:
Carmem De Simoni
Equipe Técnica da Coordenação de Acompanhamento e Avalia-
ção/DAB
Distribuição gratuita
Trimestral.
ISSN: 1518-2355
Revista Brasileira
Saúde da Família
Brasília / 2007
1
SUMÁRIO 42 Trabalhar com a qualidade a partir da
implantação do projeto AMQ: a experiência
do estado do Espírito Santo
2
Editorial
C
om grande entusiasmo e satisfa- cípios e propostas que deverão nortear a
ção apresentamos a edição nú- sua gestão, entre as quais figura o papel
mero treze da Revista Brasileira da Atenção Básica, e da estratégia Saúde
Saúde da Família, cujo tema cen- da Família, seu potencial de impactar posi-
tral é a avaliação da Atenção Básica. Para tivamente em todas as esferas de atuação
este número foram reunidos um conjunto do sistema, bem como no processo de
de reportagens, matérias e artigos que reorganização do SUS.
confirmam o grau de acúmulo que hoje
existe sobre o tema, de maneira insti- Essa diretriz política vem ao encontro dos
tucionalizada, no país. São experiências resultados de estudos e pesquisas que,
exitosas que estão sendo desenvolvidas após mais de uma década de sua im-
por gestores, técnicos, profissionais de plantação inicial, apontam evidências de
saúde e acadêmicos em universidades, sucesso da estratégia no Brasil. Um dos
que servem de estímulo e inspiração para estudos, incluído nessa edição, avalia o
outros atores da estratégia. desempenho da estratégia SF em relação
ao modelo convencional da Atenção Bá-
Um destaque desta edição é o discurso sica em duas regiões brasileiras e aponta
de posse do novo Ministro da Saúde, o evidências de resultados positivos a favor
sanitarista e professor, Dr. José Gomes da primeira.
Temporão. Em suas palavras iniciais, pro-
feridas no dia 19 de março de 2007, na As demais matérias apontam novas abor-
sede do Ministério da Saúde em Brasília, dagens e experiências sobre este tema
ele convida os ouvintes (e leitores) para avaliação como um conjunto amplo de pos-
que o acompanhem em uma jornada. A sibilidades e recursos acessíveis, dinâmicos
seguir, descreve nove cenas muito caracte- e imprescindíveis à prática cotidiana de
rísticas do complexo cotidiano do Sistema gestores, técnicos e profissionais de saúde,
Único de Saúde, o SUS. Após significativas que já demonstra significativa instituciona-
reflexões, conclui apresentando 22 prin- lização na Atenção Básica do país.
3
4
5
Cena 7 tes dimensões onde se tecem cotidianamente
Um homem baleado chega à emergência de os encontros entre os principais atores desse
um hospital público. A emergência está lo- processo: gestores, pacientes e profissionais
tada, faltam alguns especialistas e aparelhos de saúde.
importantes estão quebrados. Grande parte do
atendimento é realizado por estudantes sem Assim, penso que, ao assumir a pasta do Mi-
supervisão adequada. O salário médio mensal nistério da Saúde do Brasil, estou de imediato
do médico deste hospital é de 1.200,00 reais. desafiado a articular a compreensão dos deter-
minantes da saúde da população brasileira, com
Cena 8 o conjunto de providências e ações possíveis
Uma visita domiciliar realizada por equipe do dentro da governabilidade setorial. Instado a li-
INCA composta por médico, fisioterapeuta e dar com este caleidoscópio de acontecimentos,
psicólogo, provê cuidados a um paciente que torna-se necessário fazê-lo sem perder mesmo
sofre de um câncer em estágio terminal e a que por um breve momento o foco da atenção
toda sua família, observando a importância o homem comum, cidadão deste país ao qual
neste momento tão delicado, de cuidar tam- deve-se imputar o sentido único da construção
bém dos cuidadores familiares, para que se do Sistema Único de Saúde.
possa falar em qualificação da vida.
Seu exame nos aponta ganhos incontestáveis,
Cena 9 obstáculos aparentemente instransponíveis,
Em pequena cidade ribeirinha no Estado do decepções, alegrias e vitórias contra o sofri-
Amazonas, portadores de transtorno mental mento, a dor e a morte. Afinal a cada ano são
reúnem-se diariamente num Centro de Aten- 12 milhões de internações, 170 milhões de
ção Psicossocial, sendo atendidos por equipe consultas médicas, dois milhões de partos, 15
multiprofissional tanto em ambulatório como mil transplantes de órgãos, números que ex-
hospital-dia, e esta modalidade de atenção pressam junto aos programas de imunizações,
diminui de forma importante suas internações de DST/AIDS, de saúde da família, da reforma
e melhora substancialmente sua qualidade psiquiátrica, de transplantes, do controle do
de vida. tabagismo entre outros, o orgulho brasileiro
de sermos também respeitados e copiados por
É bastante interessante pensar que ao longo outros países. E é com esta dimensão e estru-
desta viagem pelo cotidiano da produção de tura complexas e contraditórias que gestores,
saúde no Brasil, aqueles que compõem as profissionais e usuários do sistema são convo-
cenas, como as acima descritas, possam vir cados a lidar no dia-a-dia do SUS, repensando-
a fortalecer a compreensão de que as inter- o e promovendo sua potencialização.
relações e interfaces entre o conjunto de
tantos eventos estabeleçam entre si densas A clareza de que somente a articulação destes
e complexas relações. E que estas passem a atores nos diferentes espaços de construção
exigir dos planejadores e dos dirigentes algo do Sistema, poderá torná-lo mais próximo do
mais do que os instrumentos colocados pela desejado remonta à realização da VIII CNS em
racionalidade pura do planejamento e da for- 1986. Na realidade suas raízes remontam aos
mulação de políticas públicas: há, portanto, anos 60 do século passado com a realização
uma convocação para um trânsito permanente da 3a Conferência Nacional de Saúde quando
entre macro e micro questões, entre diferen- Wilson Fadul defendeu um ambicioso projeto
6
de municipalização abortado pelo golpe mili- potencial de inovação nas indústrias da saúde
tar de 1964. Depois nos anos 70 e início dos devem constituir núcleos centrais da estratégia
anos 80 veio a estruturação do movimento nacional de desenvolvimento do governo vin-
da reforma sanitária brasileira com o lema culando competitividade, inovação e inclusão
saúde e democracia, tempos de construção social. Aqui existe uma enorme potencialidade,
de hegemonia e dos principais atores políticos ainda pouco explorada.
desse processo. Após a 8a CNS realizada no
governo de José Sarney e presidida por Sérgio Esta abordagem aproxima-se do conjunto de
Arouca, vêm a nova constituição e a lei do SUS. medidas que o governo Lula vem desenvol-
A saúde passa a ser um direito de cidadania e vendo através de suas políticas de redução
um dever do Estado. Nos anos 90 finalmente da desigualdade e de inclusão social: tanto
um vigoroso processo de descentralização e através da busca do crescimento econômico
ampliação de cobertura. Por fim, recentemente com distribuição da riqueza gerada - através
com a formalização dos Pactos em defesa da de uma nova visão do papel do estado como
Vida, do SUS e de Gestão entramos em um indutor do crescimento econômico demonstra-
novo patamar de institucionalidade. do pelo PAC - quanto do fortalecimento das
políticas sociais e dos compromissos públicos
Nestes 20 anos, na contra corrente da des- do Estado brasileiro com o aprofundamento
construção do Estado de Bem Estar Social das medidas de alcance social.
realizada nos países centrais, construímos esta
Foto: Marcello Casal Jr/ABr
generosa e ambiciosa política que nos trópicos
soava como uma utopia sanitária, iniciada na
luta política pelo fortalecimento da Democracia
no Brasil e que caminhou de política setorial
avançada, à sólida base de construção de
um Projeto Civilizatório, de observação de
direitos e responsabilidades de cidadania,
absolutamente pertinentes às reivindicações
mais prementes e atuais de desenvolvimento
da sociedade brasileira.
7
outros. Como tem demonstrado a Comissão tes do processo de produção de melhores
Nacional dos Determinantes Sociais da Saúde, indicadores de saúde.
a saúde é, antes que biológica, uma produção
social. Assim, para que a sociedade brasileira Um aspecto a ser observado em toda e qual-
alcance melhores níveis de saúde, é impres- quer proposta de aperfeiçoamento da política
cindível que o Estado e a sociedade cada vez de saúde vem a ser as profundas mudanças
mais implementem ‘ações intersetoriais’. que se observam no setor. O momento que o
SUS atravessa hoje está vinculado á dinâmica
A redução da pobreza no país, obtida pelos do Complexo Industrial da Saúde, composta
programas sociais, como o Bolsa Família, com por processos de estruturação e funcionamen-
suas condicionalidades sanitárias - imple- to que podem ser contraditórios e paradoxais
mentado pelo Ministério do Desenvolvimento a uma política social cujas premissas são a
Social; o incremento da educação básica e a universalidade e a equidade.
recente proposta de articulação entre as escolas
e a Saúde da Família, são excelentes pontos Nas ultimas décadas ocorreram profundas trans-
iniciais de contato para um grande programa formações no processo do trabalho em saúde
inter-setorial de políticas públicas articuladas, com a intensificação do uso de novas tecnologias
que pretendo propor ao Presidente Lula e aos para diagnóstico e terapêutica. Vivemos uma
meus colegas de Ministério. profunda mudança do padrão demográfico, do
perfil de morbi-mortalidade, do crescimento
Da mesma forma, a ausência de saneamento da violência e de seu impacto na sociedade e
básico e condições ambientais adversas são no trabalho médico, do intensivo processo de
poderosos determinantes de más condições de incorporação tecnológica, no aumento do conhe-
saúde. Por isso, a articulação entre o Ministério cimento da população sobre temas médicos e de
da Saúde e os Ministérios das Cidades e do saúde, com acesso direto ao “Doutor Google”,
Meio Ambiente será um objetivo persistente- da influência da mídia e das estratégias mer-
mente perseguido por nós. cadológicas da indústria. Entretanto, a maioria
das soluções propostas para a reorientação ou
Ademais, tudo faremos para que as articula- aperfeiçoamento do nosso sistema de saúde, na
ções intersetoriais projetem-se para Estados maior parte das vezes, não observa esta nova
e Municípios, acompanhando as orientações dinâmica e responde a padrões tradicionais de
do Pacto pela Vida, em propostas como dos diagnóstico e de correção de rumos. Esta nova
‘municípios saudáveis’ e das ‘escolas promo- realidade exige novos modos de organizar o cui-
toras de saúde’, por exemplo. dado e a atenção. Transversalidade, intersetoria-
lidade, comunicação e informação são categorias
Como sabemos, existem fortes evidencias centrais a serem trabalhadas e incorporadas a
científicas de que países que apresentam qualquer projeto de aperfeiçoamento setorial. É
perfis de equidade em relação ao padrão de necessário mudar o enfoque, a maneira de pen-
vida referido a classes, gênero e raça, apre- sar sobre saúde e a atenção médica. Do que nós
sentam também melhor nível de saúde. Isto precisamos? De mais médicos, de mais hospitais,
significa que políticas de desenvolvimento de mais tecnologia? Há muitos serviços com
voltadas para a redução da desigualdade gestão deficiente, que muitas vezes são de alto
social, da opressão, da discriminação, e da custo e baixo retorno para a sociedade. Acresce-
marginalização, são componentes importan- se a isso a cultura do consumismo desenfreado
8
de tecnologias e a ideologia marco civilizatório para a
da alta complexidade como sociedade brasileira, per-
“Fortalecer,
panacéias para a redução manece desafiada a pro-
expandir e
do sofrimento humano, tra- ativamente instigar sua
qualificar a Atenção
zendo muitas vezes gastos apropriação por outras áre-
Básica como a
desnecessários e iatrogenia. as como já vem ocorrendo
estratégia central
Não nos esqueçamos que as com a segurança, a educa-
instituições de saúde tam-
de re-ordenamento ção, e o meio-ambiente.
bém podem ser produtoras
do sistema, a partir
de doença, de discriminação dos princípios da O SUS é uma política de es-
e sofrimento. integralidade, tado, portanto, supraparti-
equidade e dária. Entretanto, cabe aos
Outro aspecto a ser consi- universalidade.” governos, na dependência
derado é que usualmente de sua capacidade e com-
lidamos com as conseqüências, não nos promisso, desenvolver políticas que permitam
antecipando aos determinantes, omitindo- aperfeiçoá-lo, qualificá-lo, aproximando-o ou
nos em relação a políticas de promoção que não do ideário reformista. O governo do Presi-
junto com a atenção básica de qualidade dente LULA tem este compromisso e enfren-
devem ser a base a partir da qual o pro- tará esse desafio. Se no 1o governo iniciamos
cesso de reversão do modelo de atenção a implantação de propostas inovadoras como
deve se iniciar. o SAMU, a Farmácia Popular e o Brasil Sorri-
dente, neste precisamos melhorar a qualidade
Considerando o exposto até aqui, podemos da atenção, inovar na gestão melhorando a
afirmar que há uma tensão permanente en- qualidade do gasto, dando continuidade ao
tre o ideário reformista e o projeto real em processo de redução das desigualdades re-
construção, assim como aspectos culturais e gionais. Trabalharemos para que a Sociedade
ideológicos em disputa como as propostas de Brasileira possa se orgulhar de seu sistema de
redução do estado, de individualização do ris- saúde como acontece na Inglaterra e Canadá
co, de focalização, de negação da solidariedade - desafio maior desta geração.
e banalização da violência.
Minhas senhoras e meus senhores. Quero deixar
Um dos possíveis caminhos de superação deste aqui meu compromisso e da minha equipe com
conflito certamente passa pelo reconheci- alguns princípios e propostas:
mento da sociedade de pensar a saúde como
um bem e um projeto social. É necessário, 1. Zelar pelo rigor no uso dos recursos públicos
portanto, retomar os conceitos da RSB que combatendo as fraudes e instituindo controles
não se limitam à construção do SUS, mas ao que permitam uma maior participação da socie-
aumento da nossa capacidade para interferir dade no uso e destino dos recursos da Saúde;
crescentemente na determinação social da
doença. E os sujeitos deste processo são os 2. Fortalecer, expandir e qualificar a Aten-
usuários e os profissionais de saúde. Sem eles ção Básica como a estratégia central de
o projeto será derrotado. re-ordenamento do sistema, a partir dos
A geração que colocou a saúde como uma princípios da integralidade, equidade e uni-
questão social, como um bem público, como versalidade;
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3. Fortalecer, aprofundar e aperfeiçoar os mulheres vivendo com DST/AIDS;
Pactos em defesa da Vida, do Sus e de Ges-
tão, através do processo de descentralização 9. Melhorar o atendimento prestado às populações
pactuado e monitorado pela tripartite e pelas em situações de risco como a população indígena,
bipartites qualificando-os como espaços de quilombolas, assentamentos entre outras;
gestão e formulação de políticas;
10. Instituir a Política Nacional de Atenção à
4. Lutar dentro governo, no congresso nacional Saúde do Homem (comentários);
e na sociedade para que a saúde possa dispor
dos recursos orçamentários necessários à ple- 11. Desenvolver abordagens inovadoras em
na realização dos ditames constitucionais; relação a grupos mais vulneráveis da popu-
lação como os idosos e o binômio mãe-bebê
5. Fortalecer o controle social com uma gestão no 1o ano de vida, período reconhecidamen-
democrática e participativa no SUS ampliando te fundamental à construção de padrões de
o grau de consciência sanitária como nos en- relacionamento sociais compartilhados e de
sinou Giovanni Berlinguer, ampliando o grau desenvolvimento da personalidade;
de educação da população sobre saúde e seus
determinantes, mas também o nível de ação 12. Priorizar a promoção da saúde e políticas
coletiva voltada para a mudança de seus de- de prevenção voltadas para as doenças pre-
terminantes estruturais; valentes como as cardiovasculares, câncer,
as que resultam das violências, acidentes de
6. Adotar uma visão integrada interinstitu- trabalho e de trânsito, do uso de drogas psi-
cional, múltipla e interativa que aproxime os coativas e álcool, de hábitos alimentares, do
espaços da saúde, educação, esportes, cultu- tabagismo entre outras;
ra, saneamento, segurança, habitação com as
políticas de inclusão social. Aqui teremos pos- 13. Convocar a Fiocruz e a Escola Nacional de
sivelmente um de nossos maiores desafios; Saúde Pública Sérgio Arouca a minha Escola
para junto com a UNB e a ENAP implantarem
7. Fortalecer e disseminar nacionalmente a imediatamente uma ‘Escola de Governo em
Política de Humanização estendendo-a ao con- Saúde’ - cuja proposta têm se firmado como
junto de práticas no processo de produção dos espaço essencial para a capacitação dos ges-
cuidados em saúde, assegurando acolhimento, tores da saúde - na Capital Federal;
conforto, respeito, e qualificação técnica na
Atenção ao cidadão usuário do SUS; 14. Fortalecer a presença do Brasil no
cenário internacional (atendendo ao de-
8. Fortalecer a Política Nacional de Direitos safio lançado pelo presidente Lula durante
Sexuais e Reprodutivos, com ênfase na me- o congresso da Abrasco) estreitando as
lhoria da atenção obstétrica, no combate ao relações com o Ministério das Relações
câncer ginecológico (a situação do câncer Exteriores, amplificando nossa presença
de colo de útero é vergonhosa, 20 mil novos nos órgãos setoriais e em programas de
casos em 2007), no planejamento familiar, saúde das Nações Unidas - como a OMS, a
na atenção ao abortamento inseguro e no OPS, a UNITAIDS, o FIAM e tantos outros
combate a violência doméstica e sexual; agre- - assim como cooperando com o desenvol-
gando também a prevenção e tratamento de vimento dos sistemas de saúde dos países
10
da América do Sul - em 21. Estabelecer novos
especial com o Mercosul “Esse conjunto de modelos de gestão que
- e com os países de lín- propostas implica garantam os princípios do
gua portuguesa da África em buscar soluções SUS, mas que permitam
e a CPLP; para que o filme que as instituições de
que imaginamos saúde operem em base
15. Dar continuidade e no início possa ser de maior eficiência e qua-
aperfeiçoar a reforma psi- revisto/reconstruído lidade. A recente regu-
quiátrica brasileira; como produto da luta lamentação da Lei dos
política/do saber/ Consórcios e a proposta
16. Buscar uma maior inte- da vontade e da de adoção de um novo
gração entre as atividades e união em torno do modelo jurídico-institu-
políticas desenvolvidas pela fortalecimento do cional para a rede pública
ANS e o SUS; SUS e da RSB.” de hospitais, abrem novas
perspectivas; e
17. Estabelecer com os pro-
fissionais de saúde um diálogo que permita 22. Contribuir para decifrar a esfinge do Rio
avançar na discussão da política salarial, das de Janeiro buscando estabelecer uma repac-
condições de exercício profissional, do comba- tuação entre os gestores federal, estadual e
te à precarização do trabalho, de sua qualifica- dos municípios, na compreensão da saúde
ção permanente e adotando nesta perspectiva como parte de um projeto civilizatório tão fun-
a máxima “cuidar de quem cuida”; damental para o povo carioca e fluminense;
11
A avaliação como um
processo que enfatiza
aprendizado e mudanças
Silvia M. Pasa Takeda
Margarita Silva Diercks
Resumo
saúde; acompanhando os efeitos das interven-
Este é um texto introdutório dirigido a equipes ções; identificando e corrigindo problemas;
de saúde que atuam em Atenção Primária e su- retro alimentando equipes de saúde, gestores,
gere alguns passos que podem ser utilizados por comunidades. “Não avaliar pode ser comparado a
equipes que buscam: a) incorporar a avaliação pilotar um avião sem instrumentos de navegação
como cultura da equipe; b) fazer da avaliação aérea, sem indicadores das condições de vôo e
um processo participativo e de aprendizado; c) do motor. É voar sem bússola, altímetro, velocí-
redirecionar processos de trabalho em busca de metro, indicadores de nível de combustível, óleo
melhores resultados em saúde. e temperatura da água.”
Palavras chaves. Avaliação em Saúde. Instituciona- Avaliar é uma forma de participação, parti-
lização da avaliação. Atenção Primária em Saúde. cipação da construção e do aperfeiçoamento do
Equipes de Saúde. SUS1. É uma oportunidade aos integrantes da
equipe de saúde revisarem processos de traba-
lho, redefinirem as atividades buscando melhores
I. Introdução
resultados, num processo de aprendizagem e de
A busca de uma metodologia que colocasse a comprometimento.
avaliação no cotidiano das equipes do Serviço de
Saúde Comunitária do Grupo Conceição/RS*, trou- Avaliar sem culpabilizar. Quebrando com o es-
xe uma experiência que pode ser sintetizada em tigma do enfoque no que saiu ´errado´, a avalia-
alguns passos, refinados pela análise dos acertos ção precisa ser entendida como uma atividade de
e erros da caminhada. retro alimentação, de analise de acertos e erros,
fortalezas e limitações, buscando aperfeiçoamento
Antes de apresentá-los gostaríamos de destacar os e melhores resultados2. “O desafio em avaliação é
pressupostos** que fundamentam a metodologia: o desenvolvimento de um processo que enfatiza
Avaliar é uma responsabilidade e não pode- aprendizado e mudanças, em vez de um sintético
mos deixar de exercê-la , seja analisando nossa
1
julgamento de valor, bom ou mau.” Giandomenico
capacidade em responder às necessidades em Majone, 1988.
*
O Serviço de Saúde Comunitária é um serviço de Atenção Primária criado em 1983, composto por 12 equipes de saúde,
contando com um programa de residência multidisciplinar e a responsabilidade por uma população de 120 mil habitantes na
periferia urbana de Porto Alegre, RS.
Baseados no texto Avaliar, uma responsabilidade, de Silvia Takeda & Yves Talbot. Publicado na Revista Ciência e Saúde
**
As informações são suficientes quando permitem 4º. Desenhando um plano (que inclui os
entender as particularidades locais, as razões para mecanismos para avaliar mudanças)
o não alcance de resultados esperados e explicar o Neste ponto temos uma lista de aspectos-proble-
problema. A síntese e apresentação de informações ma e as atividades, para modificar a situação e
consistentes apóiam a escolha das ações e tomada de melhorar os resultados, devem ser desenhadas.
decisões, visando modificar a situação. Prioridades são O modelo lógico pode ser utilizado como uma
destacadas e um plano de ação, buscando mudanças, ferramenta de planejamento e avaliação8, sendo
é elaborado. desenvolvido em atividade de equipe. Salientam-se
algumas vantagens: a) facilita a comunicação na
Se a informação for insuficiente ou de qualidade equipe e cria um entendimento compartilhado dos
questionável pode haver a necessidade de plane- conceitos, enfoque e metodologia de trabalho; b)
relaciona claramente as atividades a serem desen-
volvidas com os resultados esperados; c) identifica
os mecanismos de avaliação e define indicadores
para avaliar cada atividade. É uma ferramenta
útil nas fases de planejamento, implementação e
avaliação das ações (ver Figura 1).
Descrição do problema
Inicio tardio do acompanhamento pré-natal (40% das gestantes iniciam o
pré-natal após a 20ª semana de gravidez)
Objetivo/meta
Aumentar a proporção de gestantes que iniciam pré-natal antes de 20 sem
de gravidez (passar a 80% em um ano)
Recursos Mecanismos e
Estratégias para
Atividades a serem necessários para Resultados indicadores para
alcançar os
desenvolvidas desenvolvimento esperados avaliar o alcance
objetivos/metas
das atividades dos resultados
Sala reunião;
planejamento da Pré é e pós teste
Maior sensibilização
Atualização da 2 seminários de atividade; texto com anônimos avaliando
para a importância do
equipe de saúde uma hora evidências sobre conhecimento
pré-natal precoce
vantagens do início específico no tema
precoce do pré-natal
Diminuição do
absenteísmo a
Revisão do sistema consultas de pré-natal;
Melhora do acesso Modificações Diminuição do tempo
de agendamento de
ao acompanhamento do sistema de de espera para obter
consultas; consultas Aumento do número
pré-natal agendamento consulta pré-natal
preferenciais de gestantes iniciando
pré-natal antes de 20
semanas
Atividades de sala
Educação em saúde Número de gestantes
de espera; Integrantes da equipe Procura precoce pelo
para a população e que procuram o pré-
e material educativo acompanhamento pré-
divulgação natal antes de 20
Atividades em espaços adequado natal
semanas
comunitários
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(Série Desenvolvimento de Serviços de Saúde 11, 1993.
8.Fundación W.K.Kellogg. Guia de desarrollo de modelos lógicos. 2001. 62 paginas. 15
16
Seminário de apresentação dos resultados
iniciais da implantação do projeto de
Avaliação para a Melhoria da Qualidade (AMQ)
da estratégia Saúde da Família
O
Departamento de O que é o projeto AMQ O AMQ tem como diretrizes o
Atenção Básica do (www.saude.gov.br/amq) processo de auto-avaliação, a
Ministério da Saúde livre adesão pelos gestores mu-
(DAB/MS), por meio O AMQ constitui-se numa inicia- nicipais, a ausência de premia-
da Coordenação de Acompanha- tiva do Ministério da Saúde no ções ou punições relacionadas
mento e Avaliação (CAA/DAB/ sentido de oferecer, aos gesto- aos resultados e a privacidade
MS), promoveu nos dias 14 e 15 res municipais, ferramentas de das informações (perfil do usu-
de dezembro de 2006, em Brasí- avaliação e gestão da qualidade ário). Utiliza a metodologia de
lia, o Seminário de Apresentação da estratégia Saúde da Família, avaliação quantitativa, baseada
de Resultados Iniciais da Implan- principal eixo norteador para a em padrões de qualidade.
tação do Projeto Avaliação para organização da atenção básica.
Melhoria da Qualidade (AMQ) da O projeto foi lançado em julho de
estratégia Saúde da Família. O projeto busca estreitar a relação 2005, com a disponibilização do
entre os campos da avaliação e da Documento Técnico, do site e de
O Seminário teve como objetivo qualidade no âmbito da estratégia um aplicativo digital para o banco
apresentar e debater os resulta- Saúde da Família, possibilitando, de dados do AMQ. No segundo
dos iniciais da implantação nos 84 aos atores diretamente envolvi- semestre do mesmo ano, foram
municípios brasileiros que finaliza- dos nos municípios, ferramentas realizadas as oficinas macro re-
ram todas as etapas da avaliação facilitadoras para o diagnóstico gionais para ampla divulgação e
até o início de dezembro de 2006, situacional e planejamento de incentivo à articulação com os
com gestores e técnicos do Minis- intervenções para o alcance das Planos Estaduais de Monitora-
tério da Saúde e da Organização situações desejadas. mento e Avaliação.
Panamericana de Saúde (OPAS),
representantes de instituições
de ensino e pesquisa, do Banco
Mundial, do Conselho Nacional de
Secretários Municipais de Saúde
(CONASEMS), de consultores e
convidados internacionais. Entre
estes últimos, destacaram-se as
presenças de Hannu Vuori (con-
sultor internacional pioneiro na
área da Qualidade em Saúde),
Luis Augusto Pisco (Ministério da
Saúde de Portugal), Carme Nebot
(OPAS Washington) e Luis Coro-
nado (consultor internacional em
Gestão da Qualidade), que integra
a equipe técnica do projeto. 17
Posteriormente, em janeiro de
2006, foram lançados os Cader-
nos de Auto-avaliação, em cinco
versões, cada uma delas dirigida
a um participante específico do
processo no âmbito municipal.
Desta forma, os gestores, co-
ordenadores e profissionais da
Saúde da Família dispunham de
um material com os instrumentos
de auto-avaliação específicos,
além das folhas de respostas para
digitação no aplicativo digital e de
formulários para planejamento
das intervenções para melhoria
da qualidade após a avaliação.
Uma estratégia para envio direto
do material aos municípios cadas-
trados foi desenvolvida, viabili-
zando ampla distribuição a partir De acordo com o Dr. Eronildo contextos com os quais convivemos
das solicitações encaminhadas. Felisberto, coordenador da CAA num sistema de saúde descentrali-
durante o período de 2003 a 2006, zado e nas diversificadas condições
Em agosto de 2006, por ocasião a preocupação permanente em sócio-político-econômicas de nos-
do II Seminário Internacional relação ao projeto AMQ foi garan- sos municípios.
de Atenção Primária, em For- tir a construção de um produto
taleza-CE, foram lançadas as que conquistasse a aceitação dos Com esse compromisso institu-
versões do Documento Técnico diversos atores do SUS a serem cional, os mais variados perfis
AMQ em espanhol e inglês, ini- envolvidos, por sua consistência profissionais foram mobilizados
ciando a divulgação do projeto técnica e por uma clara adequa- para contribuírem na elaboração
no âmbito mundial. ção à realidade dos mais variados do projeto. A conjunção de dife-
18
rentes competências e habili-
dades construídas em distintas
vivências individuais, associadas
a um permanente grau de entu-
siasmo poucas vezes observado
em um grupo de trabalho com
essas características, possibilitou
uma ausculta mais acurada aos
diversos segmentos interessados
e uma potencialização qualitativa
das argumentações necessárias
à defesa das proposições apre-
sentadas. O resultado disto é
uma altíssima aceitação do pro-
jeto nos mais diversos círculos
em que é apresentado.
Apoio à Implantação
A implantação do AMQ na voz avaliação do projeto por parte do processo. Também foram
dos participantes dos sujeitos envolvidos na ação. coletadas fotos, vídeos e en-
O instrumento denominado trevistas dos municípios que se
Para realizar o acompanhamento roteiro de acompanhamento disponibilizaram a enviá-los.
do processo de implantação, foi da implantação do AMQ foi en-
elaborado e encaminhado, aos viado para os municípios, que As oficinas de avaliação inicial da
coordenadores estaduais e muni- conseguiram finalizar todas as implantação do AMQ foram rea-
cipais, um instrumento - Roteiro etapas (sensibilização/capacita- lizadas nos meses de outubro e
Norteador (questionário semi- ção, preenchimento dos cader- novembro de 2006, nos estados
estruturado) com o objetivo de nos, alimentação do aplicativo do Espírito Santo, Pernambuco e
registrar as ações realizadas em informatizado e realização das Acre. No Espírito Santo a oficina
nível local, as opiniões sobre o matrizes de intervenção) refe- contou com a participação de
projeto e também identificar os rentes à primeira auto-avaliação 40 municípios, representantes
principais fatores facilitadores e concluída em 84 municípios. A do Ministério da Saúde, gestor
dificuldades para sua implanta- análise foi realizada com base estadual, gestores municipais,
ção. Além dos contatos sistemá- nos instrumentos devolvidos coordenadores e profissionais
ticos com as SES e municípios, (43), representando 51% dos das Equipes de Saúde da Famí-
também se constituíram fontes municípios com questionários lia. Em Pernambuco, a oficina
de informação a criação de um submetidos. foi realizada com a participação
Fórum de discussão aberto (site) de cinco municípios, contando
e as oficinas estaduais de avalia- Este roteiro de coleta de dados com a presença de coordenado-
ção inicial, espaços muito ricos abordou aspectos de infra-es- res municipais, facilitadores do
de troca de experiências. trutura disponível, atividades, Centro Colaborador e SES/PE.
estratégias, dificuldades e faci- A oficina do Acre, semelhante a
Estes procedimentos, em última lidades relativas à implantação, Pernambuco, foi realizada com a
análise, serviram de subsídio além de procurar captar opiniões participação de três municípios.
para o aperfeiçoamento e para e impressões gerais sobre o todo As oficinas traçaram um panora-
21
do coordenador AB/SF; descré-
dito por parte dos profissionais
em relação à resolubilidade da
gestão municipal; resistência
inicial de alguns participantes
das equipes SF por considerarem
a avaliação como punição/expo-
sição de fragilidades; baixa ade-
são dos profissionais médicos; e
pouca integração das Equipes de
Saúde Bucal (ESB).
Foto: arquivo CAA/DAB
Diretrizes
• Processo auto-avaliativo;
• Livre adesão pelos gestores municipais;
• Ausência de incentivos (premiações) ou sanções (punições) financeiras ou outras relaciona-
das a resultados; e
• Privacidade das informações (perfil de usuário).
Metodologia
Optou-se pela metodologia de avaliação quantitativa, baseada em padrões de qualidade. Entretanto,
a proposta incorpora um processo de trabalho qualitativo, dialógico e educativo. O AMQ oportuniza
o debate e possibilita a formação de consensos, induzindo também as boas práticas à medida em
que as descreve como padrões de qualidade a serem alcançados. Oferece, adicionalmente, ferra-
mentas de planejamento e subsídio para intervenções para alcance da situação desejada.
Padrão de Qualidade é uma referência consensuada, construída a partir da observância de
parâmetros técnico-científicos, em consonância com as necessidades de saúde da população
e valores culturais. O padrão é a declaração da qualidade esperada.
+
Nível Incremental
E - Qualidade Elementar
D - Qualidade em Desenvolvimento
C - Qualidade Consolidada
B - Qualidade Boa
Qualificação
A - Qualidade Avançada
- +
O quantitativo de padrões está dividido, por sua vez, em cinco instrumentos de auto-avaliação dife-
renciados, cada um deles dirigido a um ator ou atores da estratégia.
Como recursos digitais foram desenvolvidos o site e o sistema AMQ.net, para registro de dados e re-
26 latórios. Para saber mais, acesse: www.saude.gov.br/amq.
Situação de Implantação do projeto AMQ em Março de 2007
Aspectos Quantitativos
Quadros Regionais
BA 38 3
CE 175 3
MA 4 0
Municípios com
PB 36 2 Municípios
SUL questionários
cadastrados
PE 19 5 submetidos
PI 21 8 PR 33 10
RN 10 0 RS 9 3
SE 6 0 SC 23 5
Norte 32 8 34 10 2 2
Centro-Oeste 47 8 49 9 2 1
Sul 56 15 65 18 9 3
27
Desempenho do PSF no Sul e no Nordeste do
Brasil: avaliação institucional e epidemiológica
da atenção básica à Saúde
Performance of the PSF in the Brazilian South and Northeast:
institutional and epidemiological Assessment of Primary Health Care
Artigo originalmente publicado na Revista Ciência e Saúde Coletiva / ABRASCO Luiz Augusto Facchini1
Vol. 11 – Número 3 – Julho/Setembro 2006
Roberto Xavier Piccini1
Article originally published in Science and Collective Health Magazine / ABRASCO Elaine Tomasi2,3
Volume 11 – Number 3 – July/September 2006 Elaine Thumé1
Denise Silva Silveira1,3
Fernando Vinholes Siqueira1,3
Maria Aparecida Rodrigues1,3
Resumo Abstract
A pesquisa, desenvolvida dentro dos Estudos de The research developed in the context of the baseline
Linha de Base do Proesf analisou o desempenho studies of the PROESF analyzed the performance of the
do Programa Saúde da Família (PSF) em 41 mu- PSF in 41 municipalities of the States Alagoas, Paraíba,
nicípios dos Estados de Alagoas, Paraíba, Per- Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do
nambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande Sul and Santa Catarina. This article describes a transversal
do Sul e Santa Catarina. Utilizou delineamento study using an external group for comparison (traditional
transversal, com grupo de comparação externo primary care). Forty-one Presidents of Municipal Health
(atenção básica tradicional). Entrevistou 41 pre- Councils, 20 Municipal Health Secretaries and 32 Primary
sidentes de Conselhos Municipais de Saúde, 29 Care Coordinators were interviewed. The study characteri-
secretários municipais de Saúde e 32 coordena- zed the structure and work process of 234 Basic Care Units,
dores de Atenção Básica. Foram caracterizados a involving 4.794 workers, 4.079 children, 3.945 women,
estrutura e o processo de trabalho em 234 Uni- 4.060 adults and 4.006 aged people. Quality control rea-
dades Básicas de Saúde (UBS), incluindo 4.749 ched 6% of the sampled domiciles. The coverage provided
trabalhadores de saúde; 4.079 crianças;3.945 by PSF between 1999 and 2004 increased more in the
mulheres; 4.060 adultos e 4.006 idosos. O con- Northeast than in the South. Less than half of the workers
trole de qualidade alcançou 6% dos domicílios were admitted through open public selection and the work
amostrados. A cobertura do PSF de 1999 a 2004 under contract was more frequent in the PSF than in the
cresceu mais no Nordeste do que no Sul. Menos traditional UBS. These findings suggest a performance of
da metade dos trabalhadores ingressaram por primary health care still very distant from the prescriptions
concurso público e o trabalho precário foi maior of the Unified Health System. Less than half of the potential
no PSF do que em UBS tradicionais. Os achados users frequented the UBS in their area. The offer of health
sugerem um desempenho da Atenção Básica à actions, their use and the contact through programmed
Saúde (ABS) ainda distante das prescrições do actions were more adequate in the PSF.
AL PA PI RN PE RS SC
Região Região
Capitais e municípios com 500.000 habitantes ou mais Metropolitana Metropolitana
Desempenho e Impacto
Grande do Norte, 17 do Rio Grande do Sul e 4 de facilitar a comparação dos achados, as UBS dos
Santa Catarina . Uma amostra estratificada por
16
dois modelos foram pareadas, utilizando-se como
múltiplos estágios selecionou unidades básicas de critério o tamanho da área física. As UBS sorteadas
saúde, profissionais de saúde, usuários e indivíduos orientaram a seleção das amostras de profissionais
residentes na área de abrangência dos serviços 19,
de saúde, usuários e população.
. Buscando uma maior representatividade, a
20, 21
amostra de UBS foi proporcional ao tamanho da Em cada UBS procurou-se entrevistar todos os
rede básica de saúde de cada município . 22
trabalhadores de saúde em atividade. Foram
incluídos médicos, enfermeiros, outros profissio-
Através dos Projetos de Adesão ao Proesf, foi iden- nais de nível superior, auxiliares de enfermagem,
tificado um total de 855 UBS no Nordeste e 655 recepcionistas e agentes comunitários de saúde
UBS no Sul. Em cada lote foram sorteadas aleato- (ACS). A amostra selecionada foi confrontada
riamente 120 UBS. No Sul, a amostra foi composta com o registro de profissionais lotados na UBS
por 69 UBS do PSF e 51 Tradicionais, enquanto no obtido a partir do instrumento de avaliação da
30 Nordeste 79 eram do PSF e 41 Tradicionais. Para estrutura das UBS.
A amostra populacional foi dividida em quatro SUS, IBGE) foram sistematizados, por Estado
grupos, crianças de um a três anos de idade, e município. Os 34 indicadores do Pacto da
mulheres que tiveram filhos nos últimos dois Atenção Básica formam o primeiro conjunto de
anos, adultos entre 30 e 64 anos de idade e informações coletadas24. O segundo conjunto de
idosos a partir dos 65 anos de idade. Estes informações inclui os indicadores de Monitora-
indivíduos foram localizados na área de abran- mento da Expansão do PSF em Grandes Centros
gência de cada uma das UBS, ponto inicial para Urbanos14. O controle de qualidade realizado por
a amostragem sistemática. A estratégia para telefone, mediante aplicação de questionários
delimitação da área de abrangência incluiu a reduzidos, alcançou 6% dos domicílios no Sul
obtenção prévia do mapa da área de abran- e no Nordeste. No exame da consistência dos
gência das UBS, uma estimativa populacional dados de variáveis dicotômicas, utilizou-se o
do IBGE e a localização dos indivíduos através índice Kappa e para as quantitativas, o coefi-
de amostragem sistemática23. Para cada região, ciente de correlação de Spearman25. Uma boa
estimou-se uma amostra de 2.100 indivíduos repetibilidade (Kappa > 0,7) foi observada para
em cada um dos grupos populacionais, tamanho a maioria das questões sobre crianças,mulheres,
suficiente para examinar diferenças de 25% adultos e idosos no Sul e no Nordeste26. A repe-
a 30% entre os modelos de atenção das UBS tibilidade satisfatória (acima de 0,7) foi maior
(PSF x Tradicional), com um poder estatístico entre as mulheres (67%) em ambas as regiões
de 80% e prevalências dos desfechos de no mí- e menor entre os idosos, principalmente do
nimo 25%. Para a composição total da amostra Nordeste (38%).
foram estimadas 18 entrevistas de cada grupo
populacional na área de abrangência de cada Digitados no EPI-INFO 6.04b, os bancos de dados
UBS. foram analisados com o pacote estatístico SPSS
10.0 para Windows. Inicialmente, procederam-se
O trabalho de campo se estendeu de 15 de março às análises descritivas, verificando a distribui-
a 19 de maio de 2005 no Sul e de 3 de junho a ção dos casos em cada variável e avaliando sua
10 de agosto de 2005 no Nordeste. As atividades amplitude e consistência. A seguir, examinou-se
de campo foram realizadas por uma equipe de o comportamento das variáveis por dimensão
15 supervisores criteriosamente selecionados e teórica e modelo de UBS (Tradicional e PSF). Na
capacitados para todas as etapas da coleta de análise estratificada do efeito do modelo de UBS,
dados. os municípios foram agregados segundo a região
(Sul e Nordeste).
Gestores, coordenadores e profissionais de saú-
de responderam auto-entrevista, com questões Para variáveis dependentes qualitativas, as as-
estruturadas e predominantemente fechadas. sociações foram testadas através da comparação
Os presidentes de CMS foram entrevistados por entre proporções, utilizando-se o teste do quiqua-
um supervisor. As informações sobre o processo drado. No caso de variáveis dependentes quanti-
de trabalho na UBS foram coletadas em reunião tativas, as associações foram testadas através da
da equipe e registradas em instrumento coleti- comparação entre médias, utilizando-se o teste
vo com questões abertas. Informações sobre a F (ANOVA). Para ambos os procedimentos, ado-
estrutura da UBS foram registradas em instru- tou-se o nível de confiança de 95%, considerando
mento fechado durante reunião de equipe. As significativas as diferenças com p-valor inferiores
informações populacionais, obtidas no domicílio a 0,0525. A estratificação possibilitou analisar as
por entrevistadores, foram registradas em ques- diferenças entre os modelos de UBS em ambas as
tionários estruturados e predominantemente regiões e de seu efeito na distribuição de insumos,
fechados. Os dados secundários, oriundos de no desempenho das UBS e no cuidado à saúde da
bases nacionais (Ministério da Saúde, DATA- população4, 5, 27. 31
Resultados municípios do Sul foram identificadas apenas 358
ESF. Assim, havia uma ESF para 6.060 habitantes
Contexto no Nordeste; no Sul, a disponibilidade era de uma
Dos 41 municípios estudados, os 21 municípios ESF para 15.149 habitantes.
da região Sul totalizavam 5.423.673 habitantes,
enquanto os 20 municípios da região Nordeste so- Perfil dos profissionais de saúde
mavam 7.575.633 habitantes. No Sul, as médias Foram estudados 4.749 profissionais de saúde,
de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de 1.730 no Sul (S) e 3.019 no Nordeste (NE). A
expectativa de vida, de alfabetizados e de cober- amostra está composta por 520 médicos (S=266;
tura de domicílios com água encanada foram mais NE=254), 337 enfermeiros (S=161; NE=176),
altas do que no Nordeste, região que apresentava 371 profissionais com outros cursos universitá-
maior proporção de pobres (41,0%) e de crian- rios (S=130; NE=241), 834 auxiliares e técnicos
ças menores de 5 anos (9,7%). No Sul, a maior de enfermagem (S=414; NE=420), 1.045 outros
proporção apresentada foi de idosos (7,7%). Nas profissionais com nível médio (S=261; NE=784)
áreas do PSF havia maior proporção de construções e 1.536 agentes comunitários de saúde (S=478;
inadequadas, de indivíduos com baixa escolaridade NE=1.058).
e classificados nos estratos econômicos menos
privilegiados (D e E)28 do que nas áreas de UBS O ingresso por concurso público alcançou cerca de
Tradicionais. A média de pessoas por domicílio 40% dos trabalhadores no Sul e no Nordeste, sen-
também foi maior nas comunidades do PSF. do significativamente maior no modelo Tradicional
(50%) do que no PSF (34%). O trabalho precário
foi significativamente maior no PSF (51%) do que
Dimensão político-institucional em UBS Tradicionais (32%) na região Nordeste,
não havendo diferença entre os modelos no Sul
Descentralização da gestão e crescimento do PSF (30%). A proporção de trabalhadores com outro
A descentralização do SUS, caracterizada através emprego foi significativamente maior nas unidades
da gestão plena do sistema municipal de saúde, Tradicionais (cerca de 30%) do que no PSF (cerca
foi significativamente maior no Nordeste (65% de 15%), independentemente da região.
dos municípios) do que no Sul (33% dos muni-
cípios). Nível superior completo foi significativamente
maior nas UBS Tradicionais (S=44%; NE=31%)
O crescimento relativo da cobertura de PSF no do que no PSF (S=31%; NE=26%), em ambas
período de 1999 a 2004 foi maior no Nordeste do as regiões. Em contraste, ensino médio comple-
que no Sul. Na amostra estudada, a cobertura de to foi significativamente maior no PSF (S=38%;
PSF cresceu 35% ou mais em aproximadamente NE=49%) do que no modelo Tradicional (S=33%;
65% dos municípios nordestinos, enquanto, no NE=42%).
Sul, apenas 5% dos municípios experimentaram
tal crescimento na cobertura. Em 2004, dez muni- Na composição das ESF do Sul havia 12% de médi-
cípios apresentavam cobertura de PSF de no míni- cos, 10% de enfermeiros, 22% de auxiliares e téc-
mo 60% da população. Destes, apenas um estava nicos de enfermagem, 4% de dentistas e 36% de
localizado no Sul, enquanto os demais pertenciam ACS, enquanto nas UBS Tradicionais a proporção de
à região Nordeste. médicos era o dobro, a de enfermeiros e dentistas
similar, a de auxiliares e técnicos de enfermagem
O crescimento relativo no número de ESF entre superior (28%) e a de ACS 2,6 vezes menor. No
2003 e 2004 foi duas vezes maior no Sul (44%) Nordeste, as ESF dispunham de 7% de médicos,
do que no Nordeste (22%). Mas nos municípios 7% de enfermeiros, 13% de auxiliares e técnicos
da região Nordeste havia 1.250 ESF, enquanto nos de enfermagem, 5% de dentistas e 44% de ACS.
32
Nas UBS Tradicionais a proporção de médicos era Do ponto de vista da tecnologia da informação a
11%, a de enfermeiros 4%, a de dentistas similar, situação das UBS era bastante precária. No Sul,
a auxiliares e técnicos de enfermagem superior 60% e no Nordeste, 71% das UBS não dispunham
(16%) e a de ACS 1,7 vez menor. de microcomputador, sem diferença entre os mo-
delos de atenção.
Tabela 1 Ações programáticas e processo de trabalho no cuidado integral de saúde segundo o mode-
lo de Atenção Básica em municípios acima de 100 mil habitantes das regiões Sul e Nordeste. Proesf,
UFPel, 2005. (* p valor < 0,05)
34
Tradicionais. No máximo 50% das mães realiza- 80%, sem diferenças significativas entre regiões e
ram o pré-natal na UBS da área de abrangência de modelos de UBS. Registrou-se, no máximo, 10%
seu domicílio, com proporções significativamente de informação ignorada para as vacinas avaliadas.
maiores no PSF do que no modelo tradicional nas A opinião sobre a puericultura foi boa, muito boa
duas regiões. O número médio de seis ou mais ou ótima para dois terços das mães entrevistadas,
consultas de pré-natal foi alcançado por aproxi- sendo significati-vamente maior (82%) nas UBS
madamente dois terços das mães que realizaram do PSF do Nordeste. (Tabela 2).
pré-natal na UBS de sua área, sendo que diferença
significativa entre os modelos foi identificada ape- c) Recomendação de atividade física para adultos
nas para as usuárias do PSF no Nordeste (74%) e idosos
quando comparadas às do modelo Tradicional A recomendação de exercício físico para melhorar
(64%). (Tabela 2). a saúde feita por médico da UBS da área foi refe-
rida por aproximadamente um terço dos adultos,
Ter recebido por meio de reuniões ou atividades e por pouco menos da metade dos idosos, sendo
em grupo o apoio ou suporte para amamentar significativamente maior no PSF. (Tabela 2).
imediatamente após o parto foi mencionado por
aproximadamente um terço das mulheres, exceto d) Realização de exame citopatológico por mulhe-
nas UBS do PSF do Nordeste, onde alcançou a res de 30 a 64 anos
metade delas. (Tabela 2). Entre as 2.238 mulheres de 30 a 64 anos de ida-
de, 93% referiram ter realizado pelo menos um
Durante o pré-natal, a vacina contra o tétano dei- exame citopatológico na vida, sem diferença entre
xou de ser administrada em 24% das mulheres os modelos de UBS. (Tabela 2).
que efetivamente necessitavam, sendo aplicada
em excesso em 60% das gestantes, não diferindo e) Cuidado domiciliar de idosos
significativamente entre os modelos de UBS, tanto Na região Sul a necessidade de cuidados domici-
no Sul, quanto no Nordeste.(Tabela 2). liares com regularidade foi referida por um quinto
dos idosos das unidades do PSF e 10% das unida-
Cerca de 80% das entrevistadas que realizaram des Tradicionais (p<0,05). Nas áreas do PSF, 13%
o pré-natal na UBS da área de abrangência ex- receberam este cuidado e nas áreas Tradicionais
pressaram opinião positiva sobre o programa. apenas 3% (p<0,05). No Nordeste a necessidade
Essa opinião foi significativamente melhor no PSF foi informada por um quarto dos idosos de ambos
do que no modelo tradicional nas duas regiões. os modelos de UBS e o cuidado foi recebido por
(Tabela 2). 20% dos idosos nas áreas do PSF e 8%
nas áreas Tradicionais (p<0,05). (Tabela 2).
b) Puericultura
A realização de puericultura foi referida para 91%
das 4.079 crianças estudadas, a metade das Situação de saúde na área de abrangência das
quais atendida na UBS da área de abrangência, UBS
sendo significativamente superior apenas no PSF
do Nordeste. Entre as crianças usuárias da UBS a) Diarréia em crianças
da área de abrangência, dois terços fizeram, no A ocorrência de diarréia no mês anterior à entre-
mínimo, sete acompanhamentos de puericultura, vista foi informada para 30% das crianças, sendo
também sendo significativamente superior no PSF no Sul significativamente maior no PSF (25%)
do Nordeste. A cobertura vacinal completa para do que nas Tradicionais (20%). Destas crianças,
Sabin, Sarampo, BCG, Hepatite e Tetravalente, pouco mais da metade se consultou (52%) em
coletada a partir do cartão de vacinação e, em sua ambas as regiões, sem diferença entre os mo-
ausência, da informação materna, foi superior a delos de UBS. Menos da metade das consultas
35
TABELA 2 UTILIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE: AÇÕES PREVENTIVAS E DE PROMOÇÃO DA SAÚDE
SEGUNDO O MODELO DE ATENÇÃO BÁSICA EM 41 MUNICÍPIOS ACIMA DE 100 MIL HABITANTES DAS
REGIÕES SUL E NORDESTE. PROESF, UFPEL, 2005
36
TABELA 3 SITUAÇÃO DE SAÚDE NA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DA UBS SEGUNDO O MODELO DE
ATENÇÃO BÁSICA EM MUNICÍPIOS ACIMA DE 100 MIL HABITANTES DAS REGIÕES SUL E NORDESTE.
PROESF, UFPEL, 2005
37
7% das crianças, sem diferen- da área. Para os adultos, essa
ça significativa por modelo de proporção foi significativamente
UBS. A quase totalidade das “A coleta de maior nas unidades do PSF do
crianças (97%) consultou pela dados primários Sul (58%); para os idosos, o
pneumonia, com distribuição em diversos níveis acesso foi maior no PSF tanto do
semelhante entre os modelos de avaliação Sul (53%), quanto do Nordeste
de UBS. Apenas 27% das crian- (48%) (Tabela 3).
(gestão, unidades
ças foram atendidas na UBS
de saúde e
de sua área geográfica, sem f) Problemas de nervos em adul-
diferença segundo o modelo de
população), tos e idosos
UBS. (Tabela 3). através de O padecimento de “problemas
instrumentos de nervos” foi referido por 26%
c) Situação de saúde de adultos padronizados, dos adultos e 29% dos idosos.
e idosos permite análises Entre os adultos, não houve di-
Aproximadamente 50% dos mais sofisticadas ferença entre os modelos, mas
4.060 adultos e 36% dos 4.006 entre os idosos, a ocorrência
do desempenho
idosos identificaram sua situa- foi significativamente menor
dos serviços de
ção de saúde como excelente, em áreas de UBS Tradicional do
muito boa ou boa, sem diferen-
atenção básica à Nordeste (20%). A média de
ça entre os modelos de atenção. saúde” duração deste sofrimento foi de
(Tabela 3). 12,6 anos (dp = 11,5) para os
adultos e 19,1 anos (dp = 17,8)
d) Hipertensão arterial sistêmica em adultos e para os idosos, não variando por modelo de UBS.
idosos Apenas 16% dos adultos e 15% dos idosos com
O diagnóstico de HAS foi informado por 28% dos “problemas de nervos” consultaram na UBS da
adultos e 63% dos idosos entrevistados, sem di- área por estes problemas nos últimos seis meses.
ferença significativa entre os modelos de atenção, No Nordeste, o acesso a este cuidado foi signifi-
com exceção de idosos de áreas do PSF no Sul cativamente maior para adultos no PSF (16%) do
(64%). O tempo médio de conhecimento da HAS que nas UBS Tradicionais (8%). (Tabela 3).
foi de 7,4 anos (dp = 7,8) para os adultos e 10,9
anos (dp = 10,5) para os idosos, sem variação
significativa entre os modelos de UBS. Consulta Discussão
por HAS na UBS da área nos últimos seis meses
foi informada por 46% dos adultos e dos idosos, Avaliação metodológica
sendo significativamente maior no PSF do que nas
UBS Tradicionais.(Tabela 3). O delineamento do estudo foi orientado para o
exame de uma intervenção em saúde pública com-
e) Diabetes mellitus em adultos e idosos plexa, programática e dependente do contexto29. O
O diagnóstico de diabetes mellitus (DM) foi informado estudo foi planejado para avaliar o desempenho da
por 7% dos adultos e 20% dos idosos, não havendo ABS no lote de municípios, não sendo seus achados
diferenças significativas entre os modelos de atenção, generalizáveis para o contexto municipal17.
com exceção de idosos de áreas do PSF no Sul (22%).
O tempo médio de conhecimento do diagnóstico foi Estudos observacionais criteriosos podem ser
de 5,9 anos (dp = 6,2) para adultos e 9,2 anos (dp vantajosos em relação aos ensaios clínicos na
= 9,4) para idosos, sem diferença entre os modelos avaliação de intervenções em saúde pública18, 27, 30,
de UBS. Cerca de 50% dos adultos e 46% dos idosos . O estabelecimento de grupos de comparação,
31
com diabete consultaram, por este problema, na UBS a composição de uma amostra de múltiplos níveis
38
de análise, a realização de medidas padronizadas Avaliação da implantação do PSF
e a utilização de critérios bem definidos para julgar
os achados reforçam a adequação do ELB. Estudos A implantação do PSF estava mais consolidada
com estas características têm maior capacidade nos grandes centros urbanos do Nordeste do que
de detectar o sucesso ou a falha da intervenção, no Sul do país14, 16. O PSF ainda é uma estratégia
aumentando a validade dos resultados, sendo, em construção, carecendo de melhor definição em
portanto, recomendáveis na avaliação de políticas aspectos conceituais e operacionais12, 14. No ano de
e programas de saúde17, 27, 29, 30,32. 2000, a totalidade dos municípios estudados na
região Nordeste já dispunha de ESF, enquanto no
A coleta de dados primários em diversos níveis de Sul, principalmente no interior do Rio Grande do
avaliação (gestão, unidades de saúde e população), Sul, a expansão do PSF foi recente, estando mais
através de instrumentos padronizados, permite fortemente associada ao Proesf.
análises mais sofisticadas do desempenho dos
serviços de atenção básica à saúde31. De um modo Embora as responsabilidades municipais na gestão
geral, as amostras populacionais foram suficientes da ABS sejam requisito da descentralização do
para examinar diferenças socioeconômicas, de- SUS10, 11, sua efetivação ainda é muito problemáti-
mográficas e de utilização de serviços, permitindo ca37. Na maioria dos municípios, o monitoramento e
comparações regionais e por modelo de UBS33. a avaliação da atenção básica à saúde era irregular e
materialmente desestruturado. A supervisão era de
O controle de qualidade realizado por telefone des- caráter informativo, com vistas a repassar aos pro-
de a sede do estudo mostrou, de um modo geral, fissionais de saúde e coordenadores de UBS normas
uma repetibilidade aceitável, similar a de estudos e procedimentos burocráticos, geralmente associa-
de grande complexidade .
34, 35
dos ao faturamento do SUS ou a reclamações de
usuários e da mídia. A utilização de relatórios peri-
Além disso, a baixa repetibilidade em idosos pode ódicos para a tomada de decisão foi rara, devido à
estar mais relacionada à estratégia de controle de sobrecarga de trabalho das equipes nos municípios e
qualidade , do que à validade do dado primário,
35
à necessidade de capacitação para as atividades de
obtido no domicílio do entrevistado, por auxiliar monitoramento e avaliação. O trabalho burocrático
de pesquisa capacitado. Mediante telefonemas nas UBS raramente estava informatizado, ocupan-
realizados da sede do estudo, uma entrevista- do parte importante do tempo dos profissionais de
dora interagia com os idosos de outras regiões saúde, em detrimento de suas atividade-fins38, 39.
e Estados do País, enfrentando desde problemas Portanto, a gestão da ABS necessita de um forte
auditivos, viés de memória e dificuldades de co- estímulo para seu desenvolvimento, não apenas
municação, até contrastes culturais e de diferenças em termos materiais, mas particularmente de ca-
idiomáticas. Diferenças na cobertura de telefone, pacitação de gestores e de estratégias gerenciais
associadas à dificuldade de locomoção de parte focadas nos objetivos prioritários.
dos idosos também prejudicaram o controle de
qualidade. Assim, o estudo ao avaliar a qualidade A delimitação de área e população de abrangên-
dos dados primários por telefone, acabou testando cia para a oferta de serviços no PSF11 representa
uma estratégia de controle de qualidade que pode um avanço programático, em relação ao padrão
ser desenvolvida em nosso meio .
35, 36
de “população aberta” adotado no modelo tradi-
cional. Esta estratégia facilita a disponibilidade
O aprimoramento das características metodológi- regular de unidades básicas de saúde à população,
cas do ELB deverá potencializar sua utilização tanto condição para o acesso aos cuidados de saúde33.
na avaliação da ABS como uma intervenção política O PSF amplia a equipe de saúde, com a inserção
em saúde pública, quanto na avaliação de uma obrigatória do enfermeiro e do ACS11, o que pode
ação programática em uma UBS particular31. contribuir para o desempenho da UBS. Por outro
39
lado, a maior produtividade médica no atendimento mais espaço na UBS para atividades que não es-
individual das UBS tradicionais não garantiu um tão centradas no médico e no usuário individual,
melhor desempenho ao modelo. Enquanto as UBS podendo contribuir para o melhor desempenho
tradicionais estavam mais focadas no atendimento do modelo em relação às ações programáticas e
à demanda, o PSF estava mais voltado a ações gestão dos serviços3,41.
programáticas, atividades domiciliares e, articu-
lação com a comunidade11, 12, 40. Portanto, a oferta A equipe do PSF tem um perfil ocupacional bastan-
de ações e recursos de saúde foi mais adequada te distinto da equipe tradicional11, sendo profissio-
no PSF do que no modelo tradicional. nalmente mais diversificada e podendo contribuir
para o melhor desempenho do novo modelo .
3, 40
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Trabalhar com a qualidade
a partir da implantação do
Projeto AMQ:
A experiência do Estado do
Espírito Santo
O
estado do Espírito
Santo foi um dos
pioneiros a realizar
a avaliação da im-
plantação do Projeto de Avalia-
ção para Melhoria da Qualidade
(AMQ) nos municípios. A mobili-
zação, intercâmbio e cooperação
técnica são experiências impor-
Fotos: www.cidadao.vilavelha.es.gov.br
tantes a serem compartilhadas
com outros estados e municípios
na perspectiva de consolidar a
melhoria da qualidade da gestão
e do trabalho das Equipes de
Saúde da Família.
I
númeras iniciativas nacionais tem enfatizado e desafios a enfrentar em futuro próximo. Neste
a necessidade de se imprimir programas de sentido formou-se um grupo técnico, para formular
Melhoria da Qualidade da Atenção Primária, a presente proposta de abordagem e metodologias
com vistas à alcançar objetivos consagrados com o objetivo de apresentar métodos e ferra-
em Sistemas Universais de Saúde: o aumento da mentas para a Melhoria Contínua da Qualidade,
acessibilidade; o alcance de melhores resultados a partir da identificação de eventuais situações
em saúde; a satisfação dos usuários e a busca por consideradas deficientes ou problemáticas, seja na
maior eficiência dos recursos empregados. prática gerencial ou assistencial. Neste momento,
Este sub-projeto representa uma proposta de além dos esforços para disponibilizar e capacitar os
continuidade das atividades desenvolvidas pelo municípios a utilizarem a metodologia de auto-ava-
projeto Avaliação para a Melhoria da Qualidade da liação, o atual grupo envolvido com o sub-projeto
Estratégia Saúde da Família AMQ-ESF), desenvol- da Melhoria Contínua da Qualidade busca trazer
vido em conjunto pela OPAS e MS, como um dos subsídios aos profissionais envolvidos no processo
componentes do PROESF, sob a responsabilidade AMQ-ESF em processos de Melhoria Contínua da
da Coordenação da Avaliação e Acompanhamento qualidade. Para concretizar este objetivo, conta-
do Departamento de Atenção Básica. mos com o apoio decisivo da OPAS, da CAA-DAB e
Concebido como um instrumento de auto-ava- do Instituto da Qualidade em Saúde do MS de Por-
liação da qualidade dirigida para gestores, coor- tugal, que não mediram esforços, disponibilizando
denações e equipes de saúde da família, o projeto todo o apoio e estímulo a esta iniciativa.
AMQ-ESF tem revelado pouco a pouco o interesse A nortear a construção desta iniciativa, esteve
e o entusiasmo dos profissionais da atenção básica sempre em mente o atendimento às necessidades
de vários municípios do país pelo tema da quali- e expectativas de profissionais que atuam nas equi-
dade. A construção de parâmetros de avaliação pes de SF e dos usuários dos serviços. A satisfação
da qualidade que abrangesse a maioria das ações do usuário está ligada a múltiplos aspectos muitas
da ESF para reflexão e debate sobre a prática vezes independentes da assistência efetivamen-
gerencial e assistencial abre novas perspectivas te prestada. Um aspecto importante talvez seja
Médico graduado pela UFRJ, mestre em saúde coletiva pela ENSP e doutor, em medicina preventina, pela USP.
*
46
aquele relacionado às suas expectativas segundo da equipe, tendo cada um dos seus integrantes,
as representações, o nível sócio-econômico, à sua necessariamente, um papel de sujeito ativo a
forma de entender o mundo e à sua auto-estima. desempenhar; ausência de limitações e entraves
Atender bem, significa estar consciente sobre que externos à atuação da equipe, ser uma atividade
padrões culturais compartilham determinado grupo desenvolvida no âmbito interno do serviço; bus-
de pacientes ou determinada comunidade. Estes car prevenir os erros por meio de correções com
aspectos de certa forma subjetivos, implicam na foco prioritário nos processos de trabalho; não ter
necessidade de que os mecanismos que visem a objetivos finalísticos significando que aquilo que
melhoria da qualidade sejam formulados de acor- está bom pode ser indefinidamente melhorado;
do com cada situação em que se vive e se atua. ter o apoio e o compromisso das chefias ou dos
Desta forma esta proposta tem como preocupação níveis hierárquicos superiores da gerência com o
adequar as metodologias disponíveis na literatura esforço das equipes.
ao contexto brasileiro. Também a nortear a formu- Para que um programa de Melhoria Contínua da
lação aqui realizada estão os princípios inscritos Qualidade cumpra os seus objetivos são necessá-
na carta de direitos do usuário do SUS. Para a rias as seguintes condições: provocar mudanças
garantia destes direitos a prestação de serviços de concretas no sentido de um serviço de melhor qua-
qualidade previstos no campo da atenção básica lidade; definir os responsáveis pelas ações; exis-
são e serão sempre imprescindíveis. tência de uma decisão superior em proporcionar
A Garantia da Qualidade, a Melhoria Contínua as condições que não estão ao alcance da equipe
da Qualidade e o Monitoramento da Qualidade de forma a facilitar a melhoria de qualidade.
constituem-se em métodos que buscam estruturar Para o monitoramento da qualidade utiliza-se
ações que se organizam em um programa interno informações previamente existentes nos siste-
de qualidade. Estes prevêem o estabelecimento mas de informação, que tenham alimentação
de objetivos bem definidos visando implementar sistemática e regular. Os indicadores devem ser
medidas para a garantia e a melhoria da qualidade. escolhidos segundo critérios de relevância para
São conceitos que envolvem um processo dinâmico os objetivos do serviço ou para a organização.
e participativo de identificação de problemas e de- Podem ser do tipo sentinela. Sua ocorrência é
ficiências, definição e implementação de propostas considerada uma falha grave em um dos pontos
concretas de ação. O Ciclo da Melhoria de Quali- da cadeia assistencial impondo uma investi-
dade (Figura 1) é um processo contínuo em que a gação detalhada (morte materna; internação
avaliação leva ao diagnóstico das deficiências em por complicações de diabetes não controlado;
comparação com parâmetros pré-estabelecidos, a ocorrência de sífilis congênita). Podem ser utili-
definição de objetivos e metas, a implementação zados ainda indicadores construídos a partir de
de ações e o retorno à avaliação após um prazo dados agregados de desempenho ou cobertura,
determinado. Este trabalho de equipe não deve que permitem avaliar, no tempo, problemas ou
ser encarado nem concebido como um exercício insufi ciência no alcance de metas. As falhas
acadêmico ou projeto de pesquisa, mas deve es- técnicas da assistência podem ser identificados
tar adequado para ser desenvolvido como parte e corrigidos por meio deste enfoque (percentual
integrante da rotina de trabalho. Para isto deve-se de gestantes captadas no primeiro trimestre da
buscar metodologias e instrumentos apropriados gravidez, percentual de idosos com vacinação
e factíveis. em dia). Para este monitoramento quantitativo
Alguns dos princípios da Melhoria Contínua da podem ser utilizados gráficos ou diagramas de
Qualidade são: a prioridade para se alcançar a controle, identificando a evolução nos indica-
qualidade definida a partir do ponto de vista do dores em intervalos pré estabelecidos (mensal,
usuário; participação de todos os profissionais semestral, anual). Muitos dos indicadores podem
47
ser construídos a partir do SIAB e utilizados para Ciclo de Melhoria da Qualidade.
o monitoramento. As falhas identificadas devem Os métodos que norteiam a avaliação e a melhoria
servir para mudanças de estrutura e processos. da qualidade podem diferir de um país para outro,
Outros aspectos importantes que podem ser evi- dependendo da realidade encontrada. Desta forma
denciados no monitoramento referem-se ao uso métodos e instrumentos utilizados em um país
desnecessário (uso de antibióticos em casos de pode ser inadequado para uma ou outra realidade.
gripe, cobertura vacinal acima de 100%) ou a Este é o motivo pelo qual deve-se, mesmo com
sub-utilização de serviços necessários (cota de base em diversos instrumentos internacionais, esta
exames e medicamentos não utilizados, baixa co- iniciativa tem buscando construir uma proposta
bertura de pré-natal; agendas com vagas ociosas que reflita o atual estágio da Estratégia de Saúde
para determinado procedimento por tipo de clien- da Família. A idéia é oferecer em breve um manual
tela). Neste projeto em especial todos os padrões de apoio às Equipes para estas possam desenvolver
apresentados na auto-avaliação pelo instrumento a metodologia MCQ imprimindo assim mudanças
AMQ-ESF que estejam, na avaliação da equipe, em em seus métodos e rotinas de trabalho, a partir
não conformidade com a qualidade desejada são das deficiências identificadas.
propostos como ponto de partida para o início do
48
Foto: arquivo CAA/DAB
52
Indicadores da Atenção Básica
no Pacto pela Saúde e os
novos fluxos da pactuação
A
atenção básica no Brasil vem construindo por praticamente todos os estados e municípios
caminhos para inserção da cultura avalia- do país, com um aumento gradual a cada ano,
tiva no âmbito do Sistema Único de Saú- atingindo a marca dos 100% em 2004. Entretanto,
de. Sua política apresenta como um dos ao longo de alguns anos de sua existência, obser-
fundamentos realizar avaliação e acompanhamento vou-se uma tendência à sua condução como um
sistemático de resultados alcançados, como parte instrumento normativo e burocrático, trabalhado
do processo de planejamento e programação das de maneira estanque aos demais processos de pla-
ações. Diante da expansão e consolidação de suas nejamento e intervenção das Secretarias de Saúde
estratégias de (re)organização, compete às três estaduais e municipais. Ainda nesta direção, ob-
esferas de governo desenvolver servou-se também que, muitas
ações que visem ao monitora- vezes, as metas propostas não
mento e avaliação dos serviços significavam avanços reais em
prestados à população. Entre 1999 a 2006, direção a resultados inovadores,
durante os oito sendo facilmente alcançadas
Desde sua proposição em 1999, ou superadas. Por outro lado,
anos em que vigorou,
o Pacto de Indicadores da Aten- metas muito ambiciosas eram
o Pacto da Atenção
ção Básica constituiu-se em um propostas e não havia uma cor-
importante mecanismo para Básica foi firmado por respondência de esforços em
direcionamento de esforços em praticamente todos os sua direção.
relação às metas desejáveis a estados e municípios
serem alcançadas pelas três do país, com um No histórico de existência do
esferas de governo no SUS, por pacto, na busca por indicadores
aumento gradual a
meio do processo de pactuação. mais robustos e representativos
Além disto, tornou-se também
cada ano, atingindo a da atenção básica, o conjunto
um instrumento de referência marca dos 100% em de indicadores sofreu muitas
para o monitoramento e avalia- 2004. mudanças. Durante os anos
ção das ações desenvolvidas no de 1999, 2000, 2001 e 2002
âmbito da atenção básica em as alterações foram anuais.
todo território nacional. Entre- Entre 2003 e 2005 o conjunto
tanto, o processo não foi vinculado a desempenho manteve-se inalterado. Uma nova reformulação
nos resultados, não havendo nenhuma forma de san- foi realizada para o Pacto de 2006. A relação dos
ção ou penalidade para os estados e municípios. indicadores de cada Pacto está disponível para
consulta no site da Coordenação de Acompanha-
Entre 1999 a 2006, durante os oito anos em que mento e Avaliação da atenção básica (www.saude.
vigorou, o Pacto da Atenção Básica foi firmado gov.br/caadab). 53
(SIS), a partir da incorporação da análise de con-
sistência de resultados referentes aos indicadores
pactuados pelos estados e municípios; o debate
em torno de resultados de indicadores à luz das
políticas de saúde implementadas, agregando-se
aspectos organizacionais e contextuais à análise;
e a promoção da cultura de monitoramento e ava-
liação no âmbito do SUS.
55
QUADRO 1 RELAÇÃO DOS INDICADORES DA ATENÇÃO BÁSICA DO PACTO PELA SAÚDE, 2007
INDICADORES PRINCIPAIS
INDICADORES COMPLEMENTARES
Acre estado, composto por técnicos liação. Para Maria Estela Livelli
das diversas áreas que têm in- Becker, representante do núcleo
A Secretaria Estadual de Saúde terface com a atenção básica. de coordenação do projeto, o
do Acre tem imprimido esforços Segundo Fabiana Souza, uma Plano Estadual foi “o pontapé
no sentido de incorporar, em seu das integrantes do núcleo que inicial para desencadear mudan-
cotidiano, o apoio aos municípios coordena o projeto, a princípio, a ças no processo de trabalho que
para desenvolvimento das ações construção do Plano Estadual de conduzam à institucionalização
de M&A da AB e compartilha com M&A da AB significou uma oportu- do monitoramento e avaliação
o consenso do Conselho Nacional nidade de elaboração coletiva de como ferramenta importante
de Secretários de Saúde (Cona- uma diretriz, uma ferramenta de para condução das políticas insti-
sems) sobre as macrofunções trabalho para nortear as ações. tuídas. Por outro lado, a necessi-
atribuídas ao gestor estadual em dade de desenvolver estratégias
relação a este nível de atenção. A equipe entende que hoje um de integração entre as diferentes
Com apoio do Ministério da dos pontos fortes do Plano Esta- áreas técnicas da SES, municí-
Saúde, a Secretaria investiu na dual de M&A da AB é ter contem- pios e o próprio MS, nos levou
composição de uma equipe para plado em seus componentes a a considerar o componente de
formação de um núcleo de M&A educação permanente, que visa integração intra e intersetorial,
e definiu como prioridade inicial a desenvolver a capacidade téc- como essencial no processo de
62 qualificar um grupo ampliado no nica em monitoramento e ava- fortalecimento da gestão”.
técnicos da que compreenderam
a transcendência desse momen-
to e se dedicaram firmemente
na implementação do projeto. A
maior dificuldade continua sendo
a “burocratização” dos processos
de aquisição de bens e serviços
previstos no projeto, o que dificulta
a sua execução físico-financeira.
Outro obstáculo vivenciado foi a
falta de profissionais com perfil e
formação específica para acompa-
nhar esse processo.
Nº 11 – Literatura de Cordel
– Instrumento de Educação po-
pular para a Saúde
66
Cadernos de atenção básica
Esta série tem o objetivo de
subsidiar os profissionais de
saúde, oferecendo atualizações
e indicações de ações baseadas
em evidências sobre temáticas
freqüentes em Atenção Básica/
Saúde da Família, buscando auxi-
liar na correta implementação do
modelo assistencial. Constitui-se
em um importante instrumento de
valorização das práticas de saúde.
Em 2006, a coleção foi acrescida
dos seguintes cadernos:
Nº 12 – Obesidade
Nº 13 – Controles dos Cânceres
do Colo do Útero e da Mama
Nº 14 – Prevenção Clínica de
Doenças Cardiovascular, Cere-
brovascular e Renal Crônica
Nº 15 – Hipertensão Arterial Sis-
têmica (em elaboração)
Nº 16 – Diabetes Mellitus
Nº 17 – Saúde Bucal
Nº 18 – HIV/Aids, hepatites e
outras DST
Nº 19 – Envelhecimento e Saúde
da Pessoa Idosa
67
Política Nacional de Atenção Básica
(PNAB)
A concepção da PNAB se fundamentou nos prin-
cípios assistenciais e organizativos do SUS con-
signados na legislação: os eixos transversais da
universalidade, integralidade e eqüidade, em um
contexto de descentralização e controle social
da gestão. Assim a nova política aponta para a
redefinição dos princípios gerais, responsabilida-
des de cada esfera do governo, infra-estrutura e
recursos necessários, características do processo
de trabalho, atribuições dos profissionais e regras
de financiamento, incluindo as especificidades da
estratégia Saúde da Família.
72
www.saude.gov.br/dab