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Nesta Edição

Ministro aponta prioridades de Avaliação para a Melhoria da


sua gestão. Conheça a íntegra do Qualidade (AMQ) da estratégia
discurso de posse Saúde da Família
Revista Brasileira

Saúde da Família
Revista Brasileira Saúde da Família
ISSN 1518-2335
Ano VIII, Número 13
Janeiro a Março de 2007
Publicação periódica trimestral
Tiragem: 15.000 exemplares

Coordenação, distribuição e informações:


MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Atenção à Saúde
Departamento de Atenção Básica
Esplanada dos Ministérios, bloco G,
6.° andar, sala 655
CEP: 70058-900, Brasília-DF
Tel.: (61) 3315-2497
Fax. (61) 3226-4340
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Supervisão Geral:
Luis Fernando Rolim Sampaio

Coordenação Técnica:
Antônio Dercy Silveira Filho
Iracema Benevides

Jornalista Responsável:
Adla Marques de Almeida Lacerda
(2772/13/37/DF)

Projeto Gráfico e Direção de Arte:


Paulo Valério Pires Selveira

Editoração eletrônica:
Wagner Alves

Colaboração:
Carmem De Simoni
Equipe Técnica da Coordenação de Acompanhamento e Avalia-
ção/DAB

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Distribuição gratuita

Revista Brasileira Saúde da Família. – Ano VIII, n. 13 (Jan/Mar


2007). Brasília : Ministério da Saúde, 2007.

Trimestral.
ISSN: 1518-2355

1. Saúde da família. I. Brasil. Ministério da Saúde. II. Título.


Ministério da Saúde
Secretaria de Atenção à Saúde
Departamento de Atenção Básica

Revista Brasileira
Saúde da Família

Brasília / 2007

1
SUMÁRIO 42 Trabalhar com a qualidade a partir da
implantação do projeto AMQ: a experiência
do estado do Espírito Santo

46 A melhoria contínua da qualidade nos


3 Editorial marcos do Projeto AMQ - ESF

5 Ministro aponta prioridades de sua 49 A implantação do projeto AMQ nas


gestão Equipes Saúde da Família no Programa de
Extensão Comunitária do IMIP
12 A avaliação como um processo que
enfatiza aprendizado e mudanças 55 Indicadores da atenção básica no
Pacto pela Saúde e os novos fluxos da
17 Seminário de apresentação dos pactuação
resultados iniciais da implantação do
projeto de Avaliação para a Melhoria da 57 As Secretarias Estaduais e a
Qualidade (AMQ) da estratégia Saúde da Avaliação da Atenção Básica: um desafio
Família. antigo com novas perspectivas

28 Desempenho do PSF no Sul e no 65 Projeto editorial amplia


Nordeste do Brasil: avaliação institucional e conhecimento sobre a estratégia Saúde da
epidemiológica da atenção básica à saúde Família

2
Editorial

AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA

C
om grande entusiasmo e satisfa- cípios e propostas que deverão nortear a
ção apresentamos a edição nú- sua gestão, entre as quais figura o papel
mero treze da Revista Brasileira da Atenção Básica, e da estratégia Saúde
Saúde da Família, cujo tema cen- da Família, seu potencial de impactar posi-
tral é a avaliação da Atenção Básica. Para tivamente em todas as esferas de atuação
este número foram reunidos um conjunto do sistema, bem como no processo de
de reportagens, matérias e artigos que reorganização do SUS.
confirmam o grau de acúmulo que hoje
existe sobre o tema, de maneira insti- Essa diretriz política vem ao encontro dos
tucionalizada, no país. São experiências resultados de estudos e pesquisas que,
exitosas que estão sendo desenvolvidas após mais de uma década de sua im-
por gestores, técnicos, profissionais de plantação inicial, apontam evidências de
saúde e acadêmicos em universidades, sucesso da estratégia no Brasil. Um dos
que servem de estímulo e inspiração para estudos, incluído nessa edição, avalia o
outros atores da estratégia. desempenho da estratégia SF em relação
ao modelo convencional da Atenção Bá-
Um destaque desta edição é o discurso sica em duas regiões brasileiras e aponta
de posse do novo Ministro da Saúde, o evidências de resultados positivos a favor
sanitarista e professor, Dr. José Gomes da primeira.
Temporão. Em suas palavras iniciais, pro-
feridas no dia 19 de março de 2007, na As demais matérias apontam novas abor-
sede do Ministério da Saúde em Brasília, dagens e experiências sobre este tema
ele convida os ouvintes (e leitores) para avaliação como um conjunto amplo de pos-
que o acompanhem em uma jornada. A sibilidades e recursos acessíveis, dinâmicos
seguir, descreve nove cenas muito caracte- e imprescindíveis à prática cotidiana de
rísticas do complexo cotidiano do Sistema gestores, técnicos e profissionais de saúde,
Único de Saúde, o SUS. Após significativas que já demonstra significativa instituciona-
reflexões, conclui apresentando 22 prin- lização na Atenção Básica do país.

Luis Fernando Rolim Sampaio


Diretor do Departamento de Atenção Básica

3
4

Foto: Marcello Casal / ABr


MINISTRO APONTA PRIORIDADES DE SUA GESTÃO
Tomou posse, no dia 16/03, o novo Ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Médico pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), Temporão dirigia, desde julho de 2005, a Secretaria de Atenção à Saúde
(SAS). A transmissão do cargo ocorreu no último dia 19/03, no auditório Emílio Ribas do Ministério da
Saúde, em Brasília. Conheça a íntegra do discurso de posse e as prioridades definidas pela ministro.

Minhas senhoras e meus senhores

Peço que me acompanhem em uma curta jor- Cena 4


nada. Nela quero que projetem em suas men- Na baixada fluminense uma adolescente de
tes algumas cenas do cotidiano dos brasileiros, 17 anos no 9o mês de gestação peregrina em
num dia qualquer do ano em curso: busca de atenção por vários serviços duran-
te dois dias. Ao final do périplo, mãe e bebê
Cena 1 morrem em um hospital público do RJ. Embora
Uma reunião do Conselho Municipal de tenha feito seis consultas de pré-natal ela
Saúde discute a assistência em uma de não sabia onde seu filho nasceria, tampouco
suas áreas programáticas. O foco é a sua quem seria o médico que os assistiria naquele
maior Unidade de Emergência, que sofre momento.
com escassez de insumos, equipamentos e
especialistas. Por outro lado duas unidades Cena 5
ambulatoriais da mesma região operam sem Uma equipe de epidemiologistas ao analisar
nenhum grau de integração com o hospital. os resultados da implantação do PSF nos
Os médicos e gestores dessas unidades não municípios de menor IDH de um estado do
conseguem estabelecer entre elas um fluxo nordeste constata que o impacto desta po-
resolutivo. lítica na redução da mortalidade infantil é
surpreendente e atribui este resultado ao
Cena 2 espetacular aumento de cobertura da AB
Um senhor aposentado chega em casa sur- nos últimos anos, com 27 mil equipes de SF
preso e radiante e comunica à família que e 260 mil agentes comunitários de saúde em
o tratamento da hipertensão arterial com o todo o país.
qual gastava cerca de trinta reais por mês,
vai reduzir-se para três reais com a farmácia Cena 6
popular. Um artigo científico de uma pesquisa desen-
volvida por uma rede de pesquisadores da
Cena 3 FIOCRUZ, USP, INCA e UFRGS relacionado
Uma chamada para a central do SAMU 192 ao aumento do tabagismo entre mulheres no
leva uma equipe de profissionais de saúde a país é publicado em revista de prestígio in-
um bairro da periferia de uma grande cidade. ternacional trazendo importante contribuição
O paciente é levado em uma ambulância UTI à Ciência com desdobramentos imediatos na
para um hospital público, no qual é pronta- reorganização da Atenção em Câncer de pul-
mente e convenientemente atendido. mão no país.

5
Cena 7 tes dimensões onde se tecem cotidianamente
Um homem baleado chega à emergência de os encontros entre os principais atores desse
um hospital público. A emergência está lo- processo: gestores, pacientes e profissionais
tada, faltam alguns especialistas e aparelhos de saúde.
importantes estão quebrados. Grande parte do
atendimento é realizado por estudantes sem Assim, penso que, ao assumir a pasta do Mi-
supervisão adequada. O salário médio mensal nistério da Saúde do Brasil, estou de imediato
do médico deste hospital é de 1.200,00 reais. desafiado a articular a compreensão dos deter-
minantes da saúde da população brasileira, com
Cena 8 o conjunto de providências e ações possíveis
Uma visita domiciliar realizada por equipe do dentro da governabilidade setorial. Instado a li-
INCA composta por médico, fisioterapeuta e dar com este caleidoscópio de acontecimentos,
psicólogo, provê cuidados a um paciente que torna-se necessário fazê-lo sem perder mesmo
sofre de um câncer em estágio terminal e a que por um breve momento o foco da atenção
toda sua família, observando a importância o homem comum, cidadão deste país ao qual
neste momento tão delicado, de cuidar tam- deve-se imputar o sentido único da construção
bém dos cuidadores familiares, para que se do Sistema Único de Saúde.
possa falar em qualificação da vida.
Seu exame nos aponta ganhos incontestáveis,
Cena 9 obstáculos aparentemente instransponíveis,
Em pequena cidade ribeirinha no Estado do decepções, alegrias e vitórias contra o sofri-
Amazonas, portadores de transtorno mental mento, a dor e a morte. Afinal a cada ano são
reúnem-se diariamente num Centro de Aten- 12 milhões de internações, 170 milhões de
ção Psicossocial, sendo atendidos por equipe consultas médicas, dois milhões de partos, 15
multiprofissional tanto em ambulatório como mil transplantes de órgãos, números que ex-
hospital-dia, e esta modalidade de atenção pressam junto aos programas de imunizações,
diminui de forma importante suas internações de DST/AIDS, de saúde da família, da reforma
e melhora substancialmente sua qualidade psiquiátrica, de transplantes, do controle do
de vida. tabagismo entre outros, o orgulho brasileiro
de sermos também respeitados e copiados por
É bastante interessante pensar que ao longo outros países. E é com esta dimensão e estru-
desta viagem pelo cotidiano da produção de tura complexas e contraditórias que gestores,
saúde no Brasil, aqueles que compõem as profissionais e usuários do sistema são convo-
cenas, como as acima descritas, possam vir cados a lidar no dia-a-dia do SUS, repensando-
a fortalecer a compreensão de que as inter- o e promovendo sua potencialização.
relações e interfaces entre o conjunto de
tantos eventos estabeleçam entre si densas A clareza de que somente a articulação destes
e complexas relações. E que estas passem a atores nos diferentes espaços de construção
exigir dos planejadores e dos dirigentes algo do Sistema, poderá torná-lo mais próximo do
mais do que os instrumentos colocados pela desejado remonta à realização da VIII CNS em
racionalidade pura do planejamento e da for- 1986. Na realidade suas raízes remontam aos
mulação de políticas públicas: há, portanto, anos 60 do século passado com a realização
uma convocação para um trânsito permanente da 3a Conferência Nacional de Saúde quando
entre macro e micro questões, entre diferen- Wilson Fadul defendeu um ambicioso projeto

6
de municipalização abortado pelo golpe mili- potencial de inovação nas indústrias da saúde
tar de 1964. Depois nos anos 70 e início dos devem constituir núcleos centrais da estratégia
anos 80 veio a estruturação do movimento nacional de desenvolvimento do governo vin-
da reforma sanitária brasileira com o lema culando competitividade, inovação e inclusão
saúde e democracia, tempos de construção social. Aqui existe uma enorme potencialidade,
de hegemonia e dos principais atores políticos ainda pouco explorada.
desse processo. Após a 8a CNS realizada no
governo de José Sarney e presidida por Sérgio Esta abordagem aproxima-se do conjunto de
Arouca, vêm a nova constituição e a lei do SUS. medidas que o governo Lula vem desenvol-
A saúde passa a ser um direito de cidadania e vendo através de suas políticas de redução
um dever do Estado. Nos anos 90 finalmente da desigualdade e de inclusão social: tanto
um vigoroso processo de descentralização e através da busca do crescimento econômico
ampliação de cobertura. Por fim, recentemente com distribuição da riqueza gerada - através
com a formalização dos Pactos em defesa da de uma nova visão do papel do estado como
Vida, do SUS e de Gestão entramos em um indutor do crescimento econômico demonstra-
novo patamar de institucionalidade. do pelo PAC - quanto do fortalecimento das
políticas sociais e dos compromissos públicos
Nestes 20 anos, na contra corrente da des- do Estado brasileiro com o aprofundamento
construção do Estado de Bem Estar Social das medidas de alcance social.
realizada nos países centrais, construímos esta
Foto: Marcello Casal Jr/ABr
generosa e ambiciosa política que nos trópicos
soava como uma utopia sanitária, iniciada na
luta política pelo fortalecimento da Democracia
no Brasil e que caminhou de política setorial
avançada, à sólida base de construção de
um Projeto Civilizatório, de observação de
direitos e responsabilidades de cidadania,
absolutamente pertinentes às reivindicações
mais prementes e atuais de desenvolvimento
da sociedade brasileira.

Minhas senhoras e meus senhores: Em termos


econômicos, a saúde representa oito por cento
do PIB, constituindo um mercado anual de mais Ministro José Gomes Temporão
de 150 bilhões de reais. Emprega, com traba-
lhos qualificados, cerca de 10% da população Todos estamos cientes que as grandes ques-
brasileira e é a área em que os investimentos tões da saúde pública não se resolverão ape-
com pesquisa e desenvolvimento são os mais nas com o aperfeiçoamento da assistência aos
expressivos do País. É importante frisar que doentes. Hoje vivemos um intenso processo de
o conjunto das indústrias produtoras de insu- medicalização perdendo-se a perspectiva de
mos para a saúde é estratégico em virtude de que, o que mais produz saúde, na maior parte
seus vínculos com a Política de Saúde e com a das vezes está fora da governabilidade seto-
Política Industrial, Tecnológica e de Comércio rial. Refiro-me a renda, emprego, habitação,
Exterior. Nesse contexto, a competitividade e o saneamento, lazer, cultura, educação entre

7
outros. Como tem demonstrado a Comissão tes do processo de produção de melhores
Nacional dos Determinantes Sociais da Saúde, indicadores de saúde.
a saúde é, antes que biológica, uma produção
social. Assim, para que a sociedade brasileira Um aspecto a ser observado em toda e qual-
alcance melhores níveis de saúde, é impres- quer proposta de aperfeiçoamento da política
cindível que o Estado e a sociedade cada vez de saúde vem a ser as profundas mudanças
mais implementem ‘ações intersetoriais’. que se observam no setor. O momento que o
SUS atravessa hoje está vinculado á dinâmica
A redução da pobreza no país, obtida pelos do Complexo Industrial da Saúde, composta
programas sociais, como o Bolsa Família, com por processos de estruturação e funcionamen-
suas condicionalidades sanitárias - imple- to que podem ser contraditórios e paradoxais
mentado pelo Ministério do Desenvolvimento a uma política social cujas premissas são a
Social; o incremento da educação básica e a universalidade e a equidade.
recente proposta de articulação entre as escolas
e a Saúde da Família, são excelentes pontos Nas ultimas décadas ocorreram profundas trans-
iniciais de contato para um grande programa formações no processo do trabalho em saúde
inter-setorial de políticas públicas articuladas, com a intensificação do uso de novas tecnologias
que pretendo propor ao Presidente Lula e aos para diagnóstico e terapêutica. Vivemos uma
meus colegas de Ministério. profunda mudança do padrão demográfico, do
perfil de morbi-mortalidade, do crescimento
Da mesma forma, a ausência de saneamento da violência e de seu impacto na sociedade e
básico e condições ambientais adversas são no trabalho médico, do intensivo processo de
poderosos determinantes de más condições de incorporação tecnológica, no aumento do conhe-
saúde. Por isso, a articulação entre o Ministério cimento da população sobre temas médicos e de
da Saúde e os Ministérios das Cidades e do saúde, com acesso direto ao “Doutor Google”,
Meio Ambiente será um objetivo persistente- da influência da mídia e das estratégias mer-
mente perseguido por nós. cadológicas da indústria. Entretanto, a maioria
das soluções propostas para a reorientação ou
Ademais, tudo faremos para que as articula- aperfeiçoamento do nosso sistema de saúde, na
ções intersetoriais projetem-se para Estados maior parte das vezes, não observa esta nova
e Municípios, acompanhando as orientações dinâmica e responde a padrões tradicionais de
do Pacto pela Vida, em propostas como dos diagnóstico e de correção de rumos. Esta nova
‘municípios saudáveis’ e das ‘escolas promo- realidade exige novos modos de organizar o cui-
toras de saúde’, por exemplo. dado e a atenção. Transversalidade, intersetoria-
lidade, comunicação e informação são categorias
Como sabemos, existem fortes evidencias centrais a serem trabalhadas e incorporadas a
científicas de que países que apresentam qualquer projeto de aperfeiçoamento setorial. É
perfis de equidade em relação ao padrão de necessário mudar o enfoque, a maneira de pen-
vida referido a classes, gênero e raça, apre- sar sobre saúde e a atenção médica. Do que nós
sentam também melhor nível de saúde. Isto precisamos? De mais médicos, de mais hospitais,
significa que políticas de desenvolvimento de mais tecnologia? Há muitos serviços com
voltadas para a redução da desigualdade gestão deficiente, que muitas vezes são de alto
social, da opressão, da discriminação, e da custo e baixo retorno para a sociedade. Acresce-
marginalização, são componentes importan- se a isso a cultura do consumismo desenfreado

8
de tecnologias e a ideologia marco civilizatório para a
da alta complexidade como sociedade brasileira, per-
“Fortalecer,
panacéias para a redução manece desafiada a pro-
expandir e
do sofrimento humano, tra- ativamente instigar sua
qualificar a Atenção
zendo muitas vezes gastos apropriação por outras áre-
Básica como a
desnecessários e iatrogenia. as como já vem ocorrendo
estratégia central
Não nos esqueçamos que as com a segurança, a educa-
instituições de saúde tam-
de re-ordenamento ção, e o meio-ambiente.
bém podem ser produtoras
do sistema, a partir
de doença, de discriminação dos princípios da O SUS é uma política de es-
e sofrimento. integralidade, tado, portanto, supraparti-
equidade e dária. Entretanto, cabe aos
Outro aspecto a ser consi- universalidade.” governos, na dependência
derado é que usualmente de sua capacidade e com-
lidamos com as conseqüências, não nos promisso, desenvolver políticas que permitam
antecipando aos determinantes, omitindo- aperfeiçoá-lo, qualificá-lo, aproximando-o ou
nos em relação a políticas de promoção que não do ideário reformista. O governo do Presi-
junto com a atenção básica de qualidade dente LULA tem este compromisso e enfren-
devem ser a base a partir da qual o pro- tará esse desafio. Se no 1o governo iniciamos
cesso de reversão do modelo de atenção a implantação de propostas inovadoras como
deve se iniciar. o SAMU, a Farmácia Popular e o Brasil Sorri-
dente, neste precisamos melhorar a qualidade
Considerando o exposto até aqui, podemos da atenção, inovar na gestão melhorando a
afirmar que há uma tensão permanente en- qualidade do gasto, dando continuidade ao
tre o ideário reformista e o projeto real em processo de redução das desigualdades re-
construção, assim como aspectos culturais e gionais. Trabalharemos para que a Sociedade
ideológicos em disputa como as propostas de Brasileira possa se orgulhar de seu sistema de
redução do estado, de individualização do ris- saúde como acontece na Inglaterra e Canadá
co, de focalização, de negação da solidariedade - desafio maior desta geração.
e banalização da violência.
Minhas senhoras e meus senhores. Quero deixar
Um dos possíveis caminhos de superação deste aqui meu compromisso e da minha equipe com
conflito certamente passa pelo reconheci- alguns princípios e propostas:
mento da sociedade de pensar a saúde como
um bem e um projeto social. É necessário, 1. Zelar pelo rigor no uso dos recursos públicos
portanto, retomar os conceitos da RSB que combatendo as fraudes e instituindo controles
não se limitam à construção do SUS, mas ao que permitam uma maior participação da socie-
aumento da nossa capacidade para interferir dade no uso e destino dos recursos da Saúde;
crescentemente na determinação social da
doença. E os sujeitos deste processo são os 2. Fortalecer, expandir e qualificar a Aten-
usuários e os profissionais de saúde. Sem eles ção Básica como a estratégia central de
o projeto será derrotado. re-ordenamento do sistema, a partir dos
A geração que colocou a saúde como uma princípios da integralidade, equidade e uni-
questão social, como um bem público, como versalidade;

9
3. Fortalecer, aprofundar e aperfeiçoar os mulheres vivendo com DST/AIDS;
Pactos em defesa da Vida, do Sus e de Ges-
tão, através do processo de descentralização 9. Melhorar o atendimento prestado às populações
pactuado e monitorado pela tripartite e pelas em situações de risco como a população indígena,
bipartites qualificando-os como espaços de quilombolas, assentamentos entre outras;
gestão e formulação de políticas;
10. Instituir a Política Nacional de Atenção à
4. Lutar dentro governo, no congresso nacional Saúde do Homem (comentários);
e na sociedade para que a saúde possa dispor
dos recursos orçamentários necessários à ple- 11. Desenvolver abordagens inovadoras em
na realização dos ditames constitucionais; relação a grupos mais vulneráveis da popu-
lação como os idosos e o binômio mãe-bebê
5. Fortalecer o controle social com uma gestão no 1o ano de vida, período reconhecidamen-
democrática e participativa no SUS ampliando te fundamental à construção de padrões de
o grau de consciência sanitária como nos en- relacionamento sociais compartilhados e de
sinou Giovanni Berlinguer, ampliando o grau desenvolvimento da personalidade;
de educação da população sobre saúde e seus
determinantes, mas também o nível de ação 12. Priorizar a promoção da saúde e políticas
coletiva voltada para a mudança de seus de- de prevenção voltadas para as doenças pre-
terminantes estruturais; valentes como as cardiovasculares, câncer,
as que resultam das violências, acidentes de
6. Adotar uma visão integrada interinstitu- trabalho e de trânsito, do uso de drogas psi-
cional, múltipla e interativa que aproxime os coativas e álcool, de hábitos alimentares, do
espaços da saúde, educação, esportes, cultu- tabagismo entre outras;
ra, saneamento, segurança, habitação com as
políticas de inclusão social. Aqui teremos pos- 13. Convocar a Fiocruz e a Escola Nacional de
sivelmente um de nossos maiores desafios; Saúde Pública Sérgio Arouca a minha Escola
para junto com a UNB e a ENAP implantarem
7. Fortalecer e disseminar nacionalmente a imediatamente uma ‘Escola de Governo em
Política de Humanização estendendo-a ao con- Saúde’ - cuja proposta têm se firmado como
junto de práticas no processo de produção dos espaço essencial para a capacitação dos ges-
cuidados em saúde, assegurando acolhimento, tores da saúde - na Capital Federal;
conforto, respeito, e qualificação técnica na
Atenção ao cidadão usuário do SUS; 14. Fortalecer a presença do Brasil no
cenário internacional (atendendo ao de-
8. Fortalecer a Política Nacional de Direitos safio lançado pelo presidente Lula durante
Sexuais e Reprodutivos, com ênfase na me- o congresso da Abrasco) estreitando as
lhoria da atenção obstétrica, no combate ao relações com o Ministério das Relações
câncer ginecológico (a situação do câncer Exteriores, amplificando nossa presença
de colo de útero é vergonhosa, 20 mil novos nos órgãos setoriais e em programas de
casos em 2007), no planejamento familiar, saúde das Nações Unidas - como a OMS, a
na atenção ao abortamento inseguro e no OPS, a UNITAIDS, o FIAM e tantos outros
combate a violência doméstica e sexual; agre- - assim como cooperando com o desenvol-
gando também a prevenção e tratamento de vimento dos sistemas de saúde dos países

10
da América do Sul - em 21. Estabelecer novos
especial com o Mercosul “Esse conjunto de modelos de gestão que
- e com os países de lín- propostas implica garantam os princípios do
gua portuguesa da África em buscar soluções SUS, mas que permitam
e a CPLP; para que o filme que as instituições de
que imaginamos saúde operem em base
15. Dar continuidade e no início possa ser de maior eficiência e qua-
aperfeiçoar a reforma psi- revisto/reconstruído lidade. A recente regu-
quiátrica brasileira; como produto da luta lamentação da Lei dos
política/do saber/ Consórcios e a proposta
16. Buscar uma maior inte- da vontade e da de adoção de um novo
gração entre as atividades e união em torno do modelo jurídico-institu-
políticas desenvolvidas pela fortalecimento do cional para a rede pública
ANS e o SUS; SUS e da RSB.” de hospitais, abrem novas
perspectivas; e
17. Estabelecer com os pro-
fissionais de saúde um diálogo que permita 22. Contribuir para decifrar a esfinge do Rio
avançar na discussão da política salarial, das de Janeiro buscando estabelecer uma repac-
condições de exercício profissional, do comba- tuação entre os gestores federal, estadual e
te à precarização do trabalho, de sua qualifica- dos municípios, na compreensão da saúde
ção permanente e adotando nesta perspectiva como parte de um projeto civilizatório tão fun-
a máxima “cuidar de quem cuida”; damental para o povo carioca e fluminense;

18. Fortalecer o papel do MS em relação á Esse conjunto de propostas implica evidentemen-


pesquisa, a inovação e ao desenvolvimento te em grandes desafios. Implica em buscar solu-
científico e tecnológico, fortalecendo a recém ções para que o filme que imaginamos no início
concluída política de gestão de tecnologias possa ser revisto/reconstruído como produto da
em saúde; luta política/do saber/da vontade e da união em
torno do fortalecimento do SUS e da RSB.
19. Estabelecer uma estratégia nacional
de desenvolvimento e inovação para o Por fim quero dizer aos funcionários do minis-
Complexo Produtivo de Bens e Serviços tério de minha intenção de criar aqui um clima
de Saúde no país, pensando a saúde como de cumplicidade, de companheirismo. De fazer
um espaço de produção, desenvolvimento, uma gestão democrática, introduzindo novo
criação de empregos e de riqueza para a modelo de gestão. Quero todos próximos cons-
nação e como fator imprescindível ao de- truindo e dividindo projetos, sonhos, dúvidas
senvolvimento; e sucessos. Que esse clima se dissemine pelo
MS: uma equipe coesa construindo um projeto
20. Garantir o acesso da população aos medi- para o país e para todos.
camentos necessários através de uma política
de assistência farmacêutica que integre e Por fim quero externar minha confiança no
articule a dispensação gratuita com as novas futuro de nosso Brasil e sei que essa é a con-
estratégias estabelecidas pelo programa de fiança que move os milhões de trabalhadores
Farmácia Popular; da saúde.

11
A avaliação como um
processo que enfatiza
aprendizado e mudanças
Silvia M. Pasa Takeda
Margarita Silva Diercks

Resumo
saúde; acompanhando os efeitos das interven-
Este é um texto introdutório dirigido a equipes ções; identificando e corrigindo problemas;
de saúde que atuam em Atenção Primária e su- retro alimentando equipes de saúde, gestores,
gere alguns passos que podem ser utilizados por comunidades. “Não avaliar pode ser comparado a
equipes que buscam: a) incorporar a avaliação pilotar um avião sem instrumentos de navegação
como cultura da equipe; b) fazer da avaliação aérea, sem indicadores das condições de vôo e
um processo participativo e de aprendizado; c) do motor. É voar sem bússola, altímetro, velocí-
redirecionar processos de trabalho em busca de metro, indicadores de nível de combustível, óleo
melhores resultados em saúde. e temperatura da água.”

Palavras chaves. Avaliação em Saúde. Instituciona- Avaliar é uma forma de participação, parti-
lização da avaliação. Atenção Primária em Saúde. cipação da construção e do aperfeiçoamento do
Equipes de Saúde. SUS1. É uma oportunidade aos integrantes da
equipe de saúde revisarem processos de traba-
lho, redefinirem as atividades buscando melhores
I. Introdução
resultados, num processo de aprendizagem e de
A busca de uma metodologia que colocasse a comprometimento.
avaliação no cotidiano das equipes do Serviço de
Saúde Comunitária do Grupo Conceição/RS*, trou- Avaliar sem culpabilizar. Quebrando com o es-
xe uma experiência que pode ser sintetizada em tigma do enfoque no que saiu ´errado´, a avalia-
alguns passos, refinados pela análise dos acertos ção precisa ser entendida como uma atividade de
e erros da caminhada. retro alimentação, de analise de acertos e erros,
fortalezas e limitações, buscando aperfeiçoamento
Antes de apresentá-los gostaríamos de destacar os e melhores resultados2. “O desafio em avaliação é
pressupostos** que fundamentam a metodologia: o desenvolvimento de um processo que enfatiza
Avaliar é uma responsabilidade e não pode- aprendizado e mudanças, em vez de um sintético
mos deixar de exercê-la , seja analisando nossa
1
julgamento de valor, bom ou mau.” Giandomenico
capacidade em responder às necessidades em Majone, 1988.

*
O Serviço de Saúde Comunitária é um serviço de Atenção Primária criado em 1983, composto por 12 equipes de saúde,
contando com um programa de residência multidisciplinar e a responsabilidade por uma população de 120 mil habitantes na
periferia urbana de Porto Alegre, RS.
Baseados no texto Avaliar, uma responsabilidade, de Silvia Takeda & Yves Talbot. Publicado na Revista Ciência e Saúde
**

12 Coletiva, ABRASCO, vol. 11 numero 3, jul-set, 2006.


Conhecer o contexto da avaliação. O contexto é
a Atenção Primária (APS), ou seja, esta porção que
compõe o sistema de serviços de saúde, a porta de “O contexto é a Atenção
entrada para o sistema, o espaço onde são organi- Primária (APS), ou seja, esta
zadas as respostas às necessidades de saúde das porção que compõe o sistema
populações, seja “resolvendo” (cerca de 85% das de serviços de saúde, a porta
situações) ou seja referindo aos demais “níveis” de de entrada para o sistema, o
atenção. Avaliar em APS implica conhecer as ne- espaço onde são organizadas
cessidades em saúde (prevenção ou tratamento de as respostas às necessidades
doenças, recuperação ou promoção da saúde), qual de saúde das populações,
porção destas necessidades cabe à porta de entrada seja ‘resolvendo’ (cerca de
ao sistema, e qual deve ser referida aos cuidados 85% das situações) ou seja
secundários, terciários, demais recursos da rede de referindo aos demais “níveis”
serviços e demais setores). Implica conhecer com
de atenção.”
propriedade o que é a APS e os elementos chave
que a constituem3: em que medida o primeiro
contato, a integralidade, a longitudinalidade e a
coordenação estão sendo alcançados? em torno de criatividade e clareza de conceitos.

2º. Definindo objetivos


II. Como iniciar (ou aperfeiçoar) um processo A clara definição do que se quer avaliar e dos
de avaliação? Poderia ser assim...
objetivos da avaliação é um passo chave para
1º. Desmistificando conceitos o sucesso da atividade e costuma ter por ori-
A participação e a boa comunicação entre os gem um problema. Pode ser o abandono de
integrantes da equipe dependem do uso de uma tratamento em tuberculose, o inicio tardio do
linguagem comum. Alguns conceitos não são acompanhamento pré-natal, as hospitalizações
conhecidos por todos ou tem diferentes interpre- por pneumonias em menores de cinco anos, o
tações. Sugerimos uma discussão inicial visando controle do diabete. Assim que se definir cla-
clareá-los, reforçando assim a identidade de gru- ramente qual é o objeto da avaliação, a equipe
po e sensibilizando para o objetivo da atividade. prepara-se para a próxima etapa, que consiste na
Algumas sugestões: a) indicador de saúde (o que busca da informação (evidência) sobre o proble-
é um indicador? quais são as características de ma e suas razões (explicações). Se a proposta é
um bom indicador? como se constrói e interpreta mais ampla, ou seja, no caso de avaliação de um
um indicador?) b) as dimensões da avaliação
4 programa ou de um serviço, os mesmos passos
(definir estrutura, processo, resultados, qualida- podem ser utilizados.
de) c) monitoramento de indicadores , d) avalia-
4 5

ção: construir o entendimento da equipe acerca 3º. Reunindo e analisando informação


dos pressupostos da avaliação, explicitando as Para avaliar é preciso considerar que nossa prática
vantagens de avaliar, entre elas, a incorporação tem aspectos quantitativos e qualitativos e que
de experiência e motivação da equipe . 6 ambos são importantes e estão inter-relacionados4.
As informações relativas ao tema a ser avaliado
Dinâmicas de trabalho em grupo devem ser uti- podem ser encontradas nas diversas fontes (re-
lizadas para estimular a participação e tornar a gistro local, bases de dados locais ou nacionais,
atividade mais criativa e interessante em todo o etc); ser de diversos tipos (socio-demográfica,
processo. Nesta etapa, por exemplo, cada inte- ambiental, de saúde, cultural, etc); ter sido obtidas
grante da equipe ou cada dupla pode preparar e por metodologias qualitativa ou quantitativa; e ter
apresentar um conceito, gerando competição sadia evidencia científica ou empírica. Um depoimento do 13
agente comunitário sobre uma situação observada jar estudos operacionais para coletar ou qualificar
em um domicílio pode ajudar a explicar a tendência dados. As técnicas de estimativa rápida costumam
do indicador na série histórica local. ser muito úteis neste contexto7.

As informações são suficientes quando permitem 4º. Desenhando um plano (que inclui os
entender as particularidades locais, as razões para mecanismos para avaliar mudanças)
o não alcance de resultados esperados e explicar o Neste ponto temos uma lista de aspectos-proble-
problema. A síntese e apresentação de informações ma e as atividades, para modificar a situação e
consistentes apóiam a escolha das ações e tomada de melhorar os resultados, devem ser desenhadas.
decisões, visando modificar a situação. Prioridades são O modelo lógico pode ser utilizado como uma
destacadas e um plano de ação, buscando mudanças, ferramenta de planejamento e avaliação8, sendo
é elaborado. desenvolvido em atividade de equipe. Salientam-se
algumas vantagens: a) facilita a comunicação na
Se a informação for insuficiente ou de qualidade equipe e cria um entendimento compartilhado dos
questionável pode haver a necessidade de plane- conceitos, enfoque e metodologia de trabalho; b)
relaciona claramente as atividades a serem desen-
volvidas com os resultados esperados; c) identifica
os mecanismos de avaliação e define indicadores
para avaliar cada atividade. É uma ferramenta
útil nas fases de planejamento, implementação e
avaliação das ações (ver Figura 1).

E assim pode-se dizer que “conclui-se” um ciclo:


definição de um problema, análise de causas,
plano de ação para modificar as causas, analise
do resultado das ações e verificação de mudança
no problema. Ao final do processo, a experiência
adquirida é incorporada, aperfeiçoando os novos
processos avaliativos que se seguem.

“Avaliação é um processo de análise e reflexão crí-


tica sobre a prática (coletiva e individual) e permite
identificar os avanços, as dificuldades e limitações,
assim como as possibilidades de superá-las. Pro-
move a aprendizagem na situação de trabalho e a
(re)invenção, no cotidiano, das práticas de Atenção
Primária.” Barbara Raupp.

Silvia Takeda é Mestre em Ciências Sociais, Epidemiologista


no Serviço de Comunidade do Serviço de Saúde Comunitária
do Grupo Conceição, Porto Alegre, RS. Consultora do
CONASS para o projeto de Aperfeiçoamento de Gestão
em Atenção Primária; Pesquisadora Associada no Dpto
de Medicina de Família e Comunidade da Universidade de
Toronto/CA.

Margarita Diercks é Doutora em Educação, Médica de Familia


e Comunidade, Coordenadora Adjunta do Programa de
Residência Médica em Medicina de Familia e Comunidade do
Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Conceição, Porto
14 Alegre, RS.
FIGURA 1 ASPECTOS BÁSICOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO LÓGICO SIMPLES

Descrição do problema
Inicio tardio do acompanhamento pré-natal (40% das gestantes iniciam o
pré-natal após a 20ª semana de gravidez)

Objetivo/meta
Aumentar a proporção de gestantes que iniciam pré-natal antes de 20 sem
de gravidez (passar a 80% em um ano)

Recursos Mecanismos e
Estratégias para
Atividades a serem necessários para Resultados indicadores para
alcançar os
desenvolvidas desenvolvimento esperados avaliar o alcance
objetivos/metas
das atividades dos resultados

Sala reunião;
planejamento da Pré é e pós teste
Maior sensibilização
Atualização da 2 seminários de atividade; texto com anônimos avaliando
para a importância do
equipe de saúde uma hora evidências sobre conhecimento
pré-natal precoce
vantagens do início específico no tema
precoce do pré-natal

Diminuição do
absenteísmo a
Revisão do sistema consultas de pré-natal;
Melhora do acesso Modificações Diminuição do tempo
de agendamento de
ao acompanhamento do sistema de de espera para obter
consultas; consultas Aumento do número
pré-natal agendamento consulta pré-natal
preferenciais de gestantes iniciando
pré-natal antes de 20
semanas

Visitas domiciliares Aumento do número


Reorganizar a forma e
Busca de caso com possibilidade de gestantes iniciando
abordagem das visitas Maior identificação
de agendamento de pré-natal antes de 20
domiciliares
consulta no domicílio semanas

Atividades de sala
Educação em saúde Número de gestantes
de espera; Integrantes da equipe Procura precoce pelo
para a população e que procuram o pré-
e material educativo acompanhamento pré-
divulgação natal antes de 20
Atividades em espaços adequado natal
semanas
comunitários

Referências bibliográficas

1.Takeda S, Talbot Y. Avaliar, uma responsabilidade. Ciência e Saúde Coletiva, ABRASCO, vol 11 numero 3, julho-setembro
2006
2.Raupp B, Diercks M, Pekelman R, Fajardo A. A vigilância, o planejamento e a educação em saúde no SSC: uma aproximação
possível. In: Eymar VM, editor. A saúde nas palavras e nos gestos. São Paulo: Hucitec:2001.p.207-17.
3.Starfield B. Atenção Primária: Equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. 2ª ed. Brasília: Unesco,
Ministério da Saúde, 2004.
4.Takeda S, Raupp B, Flores R. Construindo um sistema para avaliação local. Serviço de Saúde Comunitária, Grupo Conceição.
2006. www.saude.gov.br/caadab
5.Tylleman G, Lerner JI, Rebel, Takeda S. Uma metodologia para monitorar indicadores de Saúde. Núcleo de Monitoramento e
Avaliação. Secretaria de Saúde e Meio Ambiente do Rio Grande do Sul. 2007
6.Takeda S. A organização de serviços de atenção primária à saúde. In: Duncam BB, Schmidt MI, Giugliani ER, (org).
Medicina Ambulatorial: condutas clínicas em Atenção Primária. Porto Alegre: 3º ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 2006.
7.Di Villarosa FN. Estimativa Rápida e a Divisão do Território no Distrito Sanitário (Manual de Instruções). Brasília: OPAS/OMS
(Série Desenvolvimento de Serviços de Saúde 11, 1993.
8.Fundación W.K.Kellogg. Guia de desarrollo de modelos lógicos. 2001. 62 paginas. 15
16
Seminário de apresentação dos resultados
iniciais da implantação do projeto de
Avaliação para a Melhoria da Qualidade (AMQ)
da estratégia Saúde da Família

O
Departamento de O que é o projeto AMQ O AMQ tem como diretrizes o
Atenção Básica do (www.saude.gov.br/amq) processo de auto-avaliação, a
Ministério da Saúde livre adesão pelos gestores mu-
(DAB/MS), por meio O AMQ constitui-se numa inicia- nicipais, a ausência de premia-
da Coordenação de Acompanha- tiva do Ministério da Saúde no ções ou punições relacionadas
mento e Avaliação (CAA/DAB/ sentido de oferecer, aos gesto- aos resultados e a privacidade
MS), promoveu nos dias 14 e 15 res municipais, ferramentas de das informações (perfil do usu-
de dezembro de 2006, em Brasí- avaliação e gestão da qualidade ário). Utiliza a metodologia de
lia, o Seminário de Apresentação da estratégia Saúde da Família, avaliação quantitativa, baseada
de Resultados Iniciais da Implan- principal eixo norteador para a em padrões de qualidade.
tação do Projeto Avaliação para organização da atenção básica.
Melhoria da Qualidade (AMQ) da O projeto foi lançado em julho de
estratégia Saúde da Família. O projeto busca estreitar a relação 2005, com a disponibilização do
entre os campos da avaliação e da Documento Técnico, do site e de
O Seminário teve como objetivo qualidade no âmbito da estratégia um aplicativo digital para o banco
apresentar e debater os resulta- Saúde da Família, possibilitando, de dados do AMQ. No segundo
dos iniciais da implantação nos 84 aos atores diretamente envolvi- semestre do mesmo ano, foram
municípios brasileiros que finaliza- dos nos municípios, ferramentas realizadas as oficinas macro re-
ram todas as etapas da avaliação facilitadoras para o diagnóstico gionais para ampla divulgação e
até o início de dezembro de 2006, situacional e planejamento de incentivo à articulação com os
com gestores e técnicos do Minis- intervenções para o alcance das Planos Estaduais de Monitora-
tério da Saúde e da Organização situações desejadas. mento e Avaliação.
Panamericana de Saúde (OPAS),
representantes de instituições
de ensino e pesquisa, do Banco
Mundial, do Conselho Nacional de
Secretários Municipais de Saúde
(CONASEMS), de consultores e
convidados internacionais. Entre
estes últimos, destacaram-se as
presenças de Hannu Vuori (con-
sultor internacional pioneiro na
área da Qualidade em Saúde),
Luis Augusto Pisco (Ministério da
Saúde de Portugal), Carme Nebot
(OPAS Washington) e Luis Coro-
nado (consultor internacional em
Gestão da Qualidade), que integra
a equipe técnica do projeto. 17
Posteriormente, em janeiro de
2006, foram lançados os Cader-
nos de Auto-avaliação, em cinco
versões, cada uma delas dirigida
a um participante específico do
processo no âmbito municipal.
Desta forma, os gestores, co-
ordenadores e profissionais da
Saúde da Família dispunham de
um material com os instrumentos
de auto-avaliação específicos,
além das folhas de respostas para
digitação no aplicativo digital e de
formulários para planejamento
das intervenções para melhoria
da qualidade após a avaliação.
Uma estratégia para envio direto
do material aos municípios cadas-
trados foi desenvolvida, viabili-
zando ampla distribuição a partir De acordo com o Dr. Eronildo contextos com os quais convivemos
das solicitações encaminhadas. Felisberto, coordenador da CAA num sistema de saúde descentrali-
durante o período de 2003 a 2006, zado e nas diversificadas condições
Em agosto de 2006, por ocasião a preocupação permanente em sócio-político-econômicas de nos-
do II Seminário Internacional relação ao projeto AMQ foi garan- sos municípios.
de Atenção Primária, em For- tir a construção de um produto
taleza-CE, foram lançadas as que conquistasse a aceitação dos Com esse compromisso institu-
versões do Documento Técnico diversos atores do SUS a serem cional, os mais variados perfis
AMQ em espanhol e inglês, ini- envolvidos, por sua consistência profissionais foram mobilizados
ciando a divulgação do projeto técnica e por uma clara adequa- para contribuírem na elaboração
no âmbito mundial. ção à realidade dos mais variados do projeto. A conjunção de dife-

18
rentes competências e habili-
dades construídas em distintas
vivências individuais, associadas
a um permanente grau de entu-
siasmo poucas vezes observado
em um grupo de trabalho com
essas características, possibilitou
uma ausculta mais acurada aos
diversos segmentos interessados
e uma potencialização qualitativa
das argumentações necessárias
à defesa das proposições apre-
sentadas. O resultado disto é
uma altíssima aceitação do pro-
jeto nos mais diversos círculos
em que é apresentado.

Apoio à Implantação

Para fortalecer o processo de


implantação e acompanhamento
do AMQ, foi criado, no Ministério

Foto: arquivo CAA/DAB


da Saúde, um Grupo Técnico
(GT AMQ) e constituída uma
rede de articulação permanente
com as Secretarias Estaduais de
Saúde-SES, em apoio a todas as
etapas do processo de implan-
tação: divulgação, sensibiliza-
ção, capacitação, respostas aos As oficinas de capacitação de paralelamente à troca de conhe-
instrumentos e alimentação do multiplicadores e facilitadores cimentos sobre o projeto.
aplicativo informatizado. possuem um formato modular, A partir da demanda de coor-
composto por 4 blocos inte- denadores e técnicos estaduais
Considerando que a mera leitura grados, porém dinâmicos, que e municipais, os participantes
dos documentos AMQ não garante podem ser adaptados de acordo do grupo técnico auxiliaram na
a completa assimilação do proces- com a disponibilidade de tempo realização das oficinas em várias
so de implantação municipal e de e espaço físico. Pensadas inicial- partes do país. Durante o ano
como devem se dar as auto-ava- mente para 20 horas, podem de 2006, foram sensibilizadas e
liações e as intervenções para a ser realizadas em até 12 ou 8 capacitadas 3.573 pessoas, entre
melhoria da qualidade propostas, horas, sem grandes prejuízos. gestores, coordenadores e profis-
o GT sistematizou e desenvolveu Têm como base uma metodologia sionais das equipes de SF. Destes,
oficinas de sensibilização (para participativa e dialógica. De ma- 1.777 podem ser considerados
gestores, coordenadores e equi- neira global, são contemplados os facilitadores AMQ, ou seja, estão
pes de SF) e capacitação (para aspectos do pensar, sentir e agir, preparados para apoiar todas as
multiplicadores, facilitadores e buscando despertar a criatividade etapas de execução e estão distri-
participantes do projeto). e o interesse dos participantes buídos em todos os estados. 19
Resultados dos esforços estado do Ceará. Em dezembro ca do projeto de “municípios pio-
de 2006, esse estado tinha 95% neiros” e compuseram o material
A adesão dos municípios apre- dos municípios cadastrados. de análise apresentado durante
sentou um grande progresso no o Seminário.
decorrer de 2006. Em dezembro A Coordenação de Atenção Bá-
de 2005, 11 municípios haviam sica da Secretaria Estadual de Entre os pioneiros, 28 eram
aderido ao projeto e um ano Saúde do Ceará desenvolveu municípios do Espírito Santo,
depois, em dezembro de 2006, uma ampla divulgação do pro- compondo 33,3% dos 84 consi-
já existiam 542 municípios jeto AMQ junto aos municípios, derados na amostra. A Secretaria
cadastrados, 1.101 unidades articulando o AMQ ao ProQua- Estadual de Saúde desenvolveu
básicas de saúde inseridas no li: Metodologia de Melhoria da uma ampla estratégia de articu-
aplicativo, com um total de Qualidade em Atenção Primária lação do projeto ao processo de
1.430 equipes de Saúde da à Saúde, desenvolvida pela pró- cerificação das ESF e ao plano es-
Família realizando a auto-ava- pria SES. tadual de Monitoramento e Ava-
liação. A meta proposta para liação, promovendo capacitação
dezembro de 2006 foi alcançada A partir do interesse e mobili- e apoio à implantação municipal
com sucesso, contemplando 84 zação dos municípios para im- para os gestores, coordenadores
municípios com os processos plantação do AMQ, foi possível e equipes participantes.
de avaliações concluídos e os identificar, junto com as SES, os
relatórios finalizados. municípios com potencial para Outras características dos municí-
conclusão da etapa do primeiro pios pioneiros observadas foram:
A partir da análise dos dados momento avaliativo, realizado aproximadamente 40% são da
obtidos através do relatório de em novembro de 2006. Do uni- região sudeste, 40% tem porte
acompanhamento do aplicativo verso de 542 municípios, 84 con- populacional menor que 20.000
digital AMQ e do levantamento cluíram a auto-avaliação de 649 habitantes, 27% são integrantes
de dados demográficos, popula- equipes, o que equivale a 43,5% do Projeto de Expansão da Estra-
cionais, de cobertura da estraté- da equipes implantadas nesses tégia Saúde da Família (PROESF),
gia saúde da família e do índice municípios. Os municípios, que 38% apresentam cobertura de
de desenvolvimento humano, finalizaram a auto-avaliação em 100% da ESF e todos possuem
buscou-se traçar um diagnóstico pelo menos uma equipe, foram Índice de Desenvolvimento Hu-
da implantação neste período, denominados, pela equipe técni- mano maior que 0,5.
com o objetivo de evidenciar
a evolução da implantação, a
situação atual e o perfil dos mu-
nicípios que, no ano de 2006,
realizaram a auto-avaliação.

Uma comparação do número de


adesões entre os meses de maio
e novembro de 2006 demons-
trou um significativo aumento,
principalmente nas regiões nor-
deste e sudeste. Evolutivamente
observou-se um elevado número
de adesões no mês de julho
(gráfico1), que se deveu prin-
cipalmente aos municípios do
20
Evolução mensal do cadastro de municípios no AMQ - Dezembro de 2005 a novembro 2006 - Brasil

A implantação do AMQ na voz avaliação do projeto por parte do processo. Também foram
dos participantes dos sujeitos envolvidos na ação. coletadas fotos, vídeos e en-
O instrumento denominado trevistas dos municípios que se
Para realizar o acompanhamento roteiro de acompanhamento disponibilizaram a enviá-los.
do processo de implantação, foi da implantação do AMQ foi en-
elaborado e encaminhado, aos viado para os municípios, que As oficinas de avaliação inicial da
coordenadores estaduais e muni- conseguiram finalizar todas as implantação do AMQ foram rea-
cipais, um instrumento - Roteiro etapas (sensibilização/capacita- lizadas nos meses de outubro e
Norteador (questionário semi- ção, preenchimento dos cader- novembro de 2006, nos estados
estruturado) com o objetivo de nos, alimentação do aplicativo do Espírito Santo, Pernambuco e
registrar as ações realizadas em informatizado e realização das Acre. No Espírito Santo a oficina
nível local, as opiniões sobre o matrizes de intervenção) refe- contou com a participação de
projeto e também identificar os rentes à primeira auto-avaliação 40 municípios, representantes
principais fatores facilitadores e concluída em 84 municípios. A do Ministério da Saúde, gestor
dificuldades para sua implanta- análise foi realizada com base estadual, gestores municipais,
ção. Além dos contatos sistemá- nos instrumentos devolvidos coordenadores e profissionais
ticos com as SES e municípios, (43), representando 51% dos das Equipes de Saúde da Famí-
também se constituíram fontes municípios com questionários lia. Em Pernambuco, a oficina
de informação a criação de um submetidos. foi realizada com a participação
Fórum de discussão aberto (site) de cinco municípios, contando
e as oficinas estaduais de avalia- Este roteiro de coleta de dados com a presença de coordenado-
ção inicial, espaços muito ricos abordou aspectos de infra-es- res municipais, facilitadores do
de troca de experiências. trutura disponível, atividades, Centro Colaborador e SES/PE.
estratégias, dificuldades e faci- A oficina do Acre, semelhante a
Estes procedimentos, em última lidades relativas à implantação, Pernambuco, foi realizada com a
análise, serviram de subsídio além de procurar captar opiniões participação de três municípios.
para o aperfeiçoamento e para e impressões gerais sobre o todo As oficinas traçaram um panora-
21
do coordenador AB/SF; descré-
dito por parte dos profissionais
em relação à resolubilidade da
gestão municipal; resistência
inicial de alguns participantes
das equipes SF por considerarem
a avaliação como punição/expo-
sição de fragilidades; baixa ade-
são dos profissionais médicos; e
pouca integração das Equipes de
Saúde Bucal (ESB).
Foto: arquivo CAA/DAB

Depoimentos sobre o projeto

Os depoimentos livres provenien-


Hannu Vuori e Luis Pisco na OPAS Brasil por ocasião do Seminário AMQ tes dos instrumentos e do fórum
de discussão ratificaram o poten-
ma da implantação do AMQ no Foi também possível observar cial qualificador do AMQ para o
estado e dos diversos cenários alguns fatores que contribuíram fortalecimento da gestão munici-
municipais, contemplando as para que a implantação aconte- pal em atenção básica, conforme
estratégias de implantação e cesse de maneira exitosa, dentre as impressões dos participantes,
debates. os quais destacam-se: AMQ na a seguir apresentadas:
política estadual de M&A; apoio
A análise dos roteiros possibilitou dos facilitadores estaduais; exis- “O AMQ nos mostra, efetivamen-
ao GT uma grande ampliação do tência de processos avaliativos te, onde estamos e quais cami-
conhecimento sobre os aspectos prévios ao AMQ nos estados e nhos podem ser traçados para
qualitativos da implantação, municípios (certificação, qualifi- ampliação e o fortalecimento do
dos fatores facilitadores e dos cação, etc.); realização de plane- SUS, oferecendo, desta forma,
obstáculos vivenciados pelos jamento prévio da implantação; ações de saúde mais resolutivas
coordenadores. infra-estrutura municipal dispo- e humanizadas para a população”
nível para capacitação; equipe (gestor municipal de Saúde).
Em relação ao processo de implan- AMQ municipal de composta por
tação, os resultados validaram o quatro facilitadores (em média); “O AMQ contribui para estimular
modelo sugerido pelo projeto, uma distribuição do material impresso os municípios ao exercício da
vez que a maioria dos municípios em tempo oportuno; boa recep- avaliação de uma forma mais
seguiu as principais orientações e tividade dos participantes; e fle- participativa e sem o caráter tra-
diretrizes preconizadas, com algu- xibilidade para inclusão do AMQ dicional que, de acordo com os
mas adaptações locais. Um dado na rotina de trabalho. resultados, premia ou pune, tor-
a ser destacado foi que o tempo nando o processo angustiante”
necessário para implantação do Por outro lado, algumas condi- (gestor municipal de Saúde).
projeto (2 meses) foi menor que ções desfavoráveis durante o
o indicado pelo projeto (6 meses). processo de implantação foram Sobre a mobilização e integração
Portanto, onde houve empenho apontadas, tais como: eleições promovidas:
institucional o processo avançou estaduais; descontinuidade da
de maneira significativamente gestão municipal; muitas atri- “A oficina de balanço do AMQ
22 mais rápida. buições referentes ao trabalho foi um momento muito enrique-
cedor para todos e sem dúvida “O profissional que gosta do que municipal da Estratégia Saúde
muito contribuirá para a consoli- faz, sonha em melhorar, na forma da Família é possível destacar
dação da ESF e do SUS em nosso de atender as pessoas, no efetivo as seguintes contribuições: for-
estado. Há 07 anos trabalho com controle social, nas condições de talecimento da integração ins-
o SUS e poucas vezes observei trabalho, estabilidade profissio- titucional em diversos âmbitos
uma mobilização e engajamento nal e fim da precarização. Todos (SES, SMS e Centro Colabora-
de profissionais tão grande como estes aspectos foram abordados dor); incentivo à mobilização,
foi para a implantação do AMQ. no AMQ, o que fez com que os funcionando como orientador
Tenho certeza que daqui pra envolvidos se apaixonassem pelo para organização do processo
frente é hora de arregaçar as projeto... com isso as dificulda- de trabalho (gestão e equipes);
mangas e colher os frutos desse des deram lugar à empolgação”. e a valorização da participação
trabalho tão empolgante” (coor- (coordenador Municipal de Aten- dos ACS.
denador de Saúde Bucal). ção Básica).
Além destes foram destacados
“ O AMQ aponta para ações bási- É inegável a função da avalia- como experiências inovado-
cas, até então pouco valorizadas, ção no processo de reflexão ras: iniciativa de envolver o
fundamentais para melhoria da para a ação e qualificação do Conselho Municipal de Saú-
qualidade... resgatou e consolidou o processo decisório, porém, de e Câmara de vereadores;
trabalho em equipe, sua integração muitas vezes ela é vista com subsídio para argumentação
e principalmente a responsabiliza- o receio da repreensão. Entre junto ao prefeito; e definição
ção pelo usuário e pela comunida- os depoimentos sobre AMQ de prioridade de investimento
de” (profissional de ESF). para fortalecimento da gestão em nível local.

Depoimentos dos Convidados Internacionais

A Confirmação internacional e os caminhos futuros

Em minha opinião, podemos da sua aplicação e foi confirma-


extrair duas importantes con- do que este é um projeto que
clusões do seminário AMQ de não tem comparação com ne-
dezembro: foi a primeira con- nhum outro vigente em qualquer
firmação séria, baseada em re- sistema de Atenção Primaria no
sultados, de que o projeto AMQ mundo e que foi desenvolvido
e seus instrumentos são válidos com grande solidez conceitual e
e adequados para a realidade do grande rigor metodológico.
Foto: arquivo CAA/DAB

país e que podem ser aplicados


pelos diferentes municípios, ain- Com os resultados do semi-
da que essespossuam diferentes nário, podemos avançar no
LUIS F. CORONADO
Consultor internacional em Gestão
níveis de desenvolvimento da desenvolvimento do projeto,
e Qualidade de Sistemas de Saúde Estratégia Saúde da Família. enfocando os esforços na con-
solidação da qualidade. Acho
Também foi a primeira vez que que era muito importante con-
autoridades internacionais co- seguir conhecer a situação real
nheceram mais profundamente da estratégia Saúde da Família
e avaliaram o projeto AMQ assim no início do projeto e os instru-
como os primeiros resultados mentos desenhados permitem 23
este conhecimento. Mas não se conseqüência, o nível de quali- Foi um prazer, para mim, cola-
pode esquecer que este não é dade de assistência. borar neste projeto. Acho que
um programa de qualidade em a equipe de trabalho foi mui-
si, senão uma avaliação para a A possível utilização futura do to legal e soube desenvolver
melhoria da qualidade, que, ao programa da AMQ como uma das uma tarefa difícil e complicada
mostrar os diferentes estágios bases para estabelecer a gestão com grande profissionalismo
de qualidade e os padrões asso- por resultados no sistema de saú- e dedicação, conseguindo um
ciados a cada estágio, conver- de, confere-lhe uma importância resultado que supera todas as
te-se em um guia incentivador máxima no desenvolvimento da expectativas e que poderá ser
para conseguir melhorar os Atenção Primária e da Estratégia o orgulho de todo um sistema
processos, os resultados e, em Saúde da Família no Brasil. de saúde.

Uma visão externa sobre o AMQ

A proposta de Avaliação para Me- Um conjunto de critérios deste


lhoria da Qualidade da Estratégia tipo necessita obviamente de re-
Saúde da Família (AMQ) será, se- visões periódicas, mas também
guramente, um marco importante não podem ser tão frequentes que
no evoluir de uma cultura de ava- impeçam comparações e que in-
liação sistematizada daquilo que se viabilizem a monitorização, afinal
faz na atenção básica no Brasil. de contas a sua razão de ser.

Foto: arquivo CAA/DAB


Ao contrário do que acontece Tem por princípios a melhoria
noutros países, este não é um pro- continua, a correção de erros do
cesso de acreditação de unidades sistema, a redução da variabili-
prestadoras de cuidados de saúde, dade indesejável e a responsa-
mas sim um projeto de melhoria bilização coletiva. LUIS PISCO
Ministério da Saúde, Portugal
contínua da qualidade de aspec-
tos organizacionais, mas também Deve enquadrar-se numa estra-
clínicos. Permite a autoavaliação, tégia global de melhoria contínua só o fato de se desencadear dis-
o exame das deficiências e a pos- da qualidade dos cuidados pres- cussões multiprofissionais sobre
sibilidade da sua correcção. É um tados aos usuários, do aumento o desempenho da equipe e da
processo eminentemente peda- da satisfação dos profissionais organização, e se possibilitar em
gógico que cria grande confiança de saúde e da melhoria da orga- muitos casos pela primeira vez a
nos seus utilizadores. nização e da gestão na atenção tomada de consciência dos pontos
básica. Deve funcionar como um fortes e dos pontos fracos, já vale-
Este é um processo exigente, em processo estruturado de identi- ria a pena todo este processo.
evolução constante, não existindo ficação e solução de problemas
nunca um conjunto de critérios defi- de qualidade. Estou certo que este é um pro-
nitivos, apenas aqueles que são atu- jeto com um enorme futuro, que
ais em cada momento. A evolução Trata-se pois, de um processo muito vai contribuir para credi-
das ciências da saúde e da atenção voluntário de aprendizagem e de bilizar a atenção básica no Brasil
básica é constante, tanto no aspec- troca de experiências de que to- e será muito em breve um dos
to científico como organizacional, dos os profissionais e instituições maiores projetos mundiais na
e critérios de qualidade têm que de saúde poderão beneficiar. Se área da melhoria da qualidade

24 acompanhar essa evolução. outros resultados não houvesse, na saúde.


Caminhos Futuros para o Projeto

Havendo trabalhado de forma Entretanto, gostaria de fazer um


intensa para promover garantia comentário sobre o futuro dire-
de qualidade na Europa desde cionamento do projeto. Os crité-
os primórdios, fiquei genuina- rios atualmente tratam muito da
mente impressionado ao ver o estrutura e pré-condições (incluo,
quanto o Brasil já caminhou. O por exemplo, a existência de uma
projeto pareceu ter suporte estratégia explícita na estrutura).
tanto técnico quanto político É, naturalmente, muito útil me-
Foto: arquivo CAA/DAB

e aborda um campo (Atenção dir estes aspectos no início do


Primária à Saúde) freqüente- projeto. Porém, uma vez esta-
mente considerado como árduo belecidos, medidas futuras serão
HANNU VUORI
M M.D., Ph.D., M.A. em questões de avaliação de improváveis em revelar quaisquer
Coordenador do Projeto de Desenvol- mudanças importantes. Eu, por-
qualidade, devido a sua hete-
vimento da Saúde da Criança
rogeneidade (todas as faixas tanto, gostaria de propor que o
etárias e todo o espectro de projeto caminhe na direção de
doenças). Os resultados, até fortalecimento dos padrões de
agora, pareceram-me muito resultado e de processo: resul-
promissores e, com o entu- tados para localizar áreas que
siasmo dos envolvidos, confio exijam mais atenção e processos
que o projeto alcançará os seus para identificar possibilidades de
objetivos. melhoria nos resultados.

Implementação de uma Metodologia para Avaliação da Melhoria da Qualidade na Atenção Primária

As premissas, nas quais se baseia lidade da atenção básica, corrobo-


o projeto AMQ, são atraentes e rando as metodologias expostas
interessantes, primeiramente e o nível de profissionalismo dos
por se basear num processo integrantes do grupo de AMQ.
auto-avaliativo, o que requer a
predisposição de ser avaliado por Convém agora, que o grupo reflita
parte dos membros das equipes, e decida para onde avançar, já que
e também pela ausência de in- até o momento a auto-avaliação
centivos ou sanções relaciona- foi voluntária, confidencial e não
das a resultados, que oferece a relacionada a incentivos. Deve-se
oportunidade para as equipes de ainda lembrar que o processo de
Foto: arquivo CAA/DAB

participarem do processo de for- avaliação é um meio para poder


ma livre, abrindo caminho para medir a qualidade dos serviços
CARME NEBOT ADELL
comparações, por exemplo, com e não o único processo para tal, Consultora Regional em serviços
de atenção primária a saúde da
situações antes do início do pro- pois, se o processo se torna muito Organização Mundial da Saúde
cesso ou com outras equipes. complexo, pode-se perder a gover- (OMS), Washington - DC

nabilidade e a eficiência. Por isso é


As diversas experiências apresen- recomendável avançar na seleção
tadas demonstram que no Brasil de um conjunto mínimo de indi-
existem as condições necessárias cadores válidos e confiáveis que
para avançar na melhoria da qua- permitam a tomada de decisão. 25
AMQ – Diretrizes, Metodologia e Recursos do Projeto

Diretrizes
• Processo auto-avaliativo;
• Livre adesão pelos gestores municipais;
• Ausência de incentivos (premiações) ou sanções (punições) financeiras ou outras relaciona-
das a resultados; e
• Privacidade das informações (perfil de usuário).

Metodologia
Optou-se pela metodologia de avaliação quantitativa, baseada em padrões de qualidade. Entretanto,
a proposta incorpora um processo de trabalho qualitativo, dialógico e educativo. O AMQ oportuniza
o debate e possibilita a formação de consensos, induzindo também as boas práticas à medida em
que as descreve como padrões de qualidade a serem alcançados. Oferece, adicionalmente, ferra-
mentas de planejamento e subsídio para intervenções para alcance da situação desejada.
Padrão de Qualidade é uma referência consensuada, construída a partir da observância de
parâmetros técnico-científicos, em consonância com as necessidades de saúde da população
e valores culturais. O padrão é a declaração da qualidade esperada.

Estágios de Qualidade do PSF

+
Nível Incremental
E - Qualidade Elementar

D - Qualidade em Desenvolvimento

C - Qualidade Consolidada

B - Qualidade Boa
Qualificação
A - Qualidade Avançada

- +
O quantitativo de padrões está dividido, por sua vez, em cinco instrumentos de auto-avaliação dife-
renciados, cada um deles dirigido a um ator ou atores da estratégia.

• Caderno de Auto-avaliação 1: gestor municipal da saúde;


• Caderno de Auto-avaliação 2: coordenadores municipais da Saúde da Família;
• Caderno de Auto-avaliação 3: Unidades Saúde da Família;
• Caderno de Auto-avaliação 4: Equipe Saúde da Família, parte I; e
• Caderno de Auto-avaliação 5: Equipe Saúde da Família, parte II.

Como recursos digitais foram desenvolvidos o site e o sistema AMQ.net, para registro de dados e re-
26 latórios. Para saber mais, acesse: www.saude.gov.br/amq.
Situação de Implantação do projeto AMQ em Março de 2007

Aspectos Quantitativos

• 615 municípios cadastrados, o que corresponde a 11,5% dos municípios do país;


• 551 equipes cadastradas; e
• 101 municípios com questionário submetido no aplicativo digital AMQ (em fase de finalização da
auto-avaliação), o que corresponde a 15,4% dos municípios cadastrados e 1,8% do total de muni-
cípios do país.

Quadros Regionais

Municípios com Municípios com


Municípios Municípios
NORTE questionários SUDESTE questionários
cadastrados cadastrados
submetidos submetidos
AC 6 3 ES 54 29
AM 16 4 MG 12 4
AP 2 1 RJ 15 3
PA 6 2 SP 52 2
RO 0 0
RR 1 0
TO 3 0
Municípios com
CENTRO- Municípios
questionários
OESTE cadastrados
submetidos
DF 0 0
Municípios com
Municípios GI 31 6
NORDESTE questionários
cadastrados
submetidos MS 14 3
AL 15 2 MT 4 0

BA 38 3
CE 175 3
MA 4 0
Municípios com
PB 36 2 Municípios
SUL questionários
cadastrados
PE 19 5 submetidos
PI 21 8 PR 33 10
RN 10 0 RS 9 3
SE 6 0 SC 23 5

Quadro Comparativo entre os meses de novembro de 2006 e março de 2007

Novembro Março Incremento


Regiões
cadast submet cadast submet cadast submet

Norte 32 8 34 10 2 2

Nordeste 293 20 324 23 31 3

Centro-Oeste 47 8 49 9 2 1

Sudeste 114 33 133 38 19 5

Sul 56 15 65 18 9 3
27
Desempenho do PSF no Sul e no Nordeste do
Brasil: avaliação institucional e epidemiológica
da atenção básica à Saúde
Performance of the PSF in the Brazilian South and Northeast:
institutional and epidemiological Assessment of Primary Health Care

Artigo originalmente publicado na Revista Ciência e Saúde Coletiva / ABRASCO Luiz Augusto Facchini1
Vol. 11 – Número 3 – Julho/Setembro 2006
Roberto Xavier Piccini1
Article originally published in Science and Collective Health Magazine / ABRASCO Elaine Tomasi2,3
Volume 11 – Number 3 – July/September 2006 Elaine Thumé1
Denise Silva Silveira1,3
Fernando Vinholes Siqueira1,3
Maria Aparecida Rodrigues1,3

Resumo Abstract

A pesquisa, desenvolvida dentro dos Estudos de The research developed in the context of the baseline

Linha de Base do Proesf analisou o desempenho studies of the PROESF analyzed the performance of the

do Programa Saúde da Família (PSF) em 41 mu- PSF in 41 municipalities of the States Alagoas, Paraíba,

nicípios dos Estados de Alagoas, Paraíba, Per- Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do

nambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande Sul and Santa Catarina. This article describes a transversal

do Sul e Santa Catarina. Utilizou delineamento study using an external group for comparison (traditional

transversal, com grupo de comparação externo primary care). Forty-one Presidents of Municipal Health

(atenção básica tradicional). Entrevistou 41 pre- Councils, 20 Municipal Health Secretaries and 32 Primary

sidentes de Conselhos Municipais de Saúde, 29 Care Coordinators were interviewed. The study characteri-

secretários municipais de Saúde e 32 coordena- zed the structure and work process of 234 Basic Care Units,

dores de Atenção Básica. Foram caracterizados a involving 4.794 workers, 4.079 children, 3.945 women,

estrutura e o processo de trabalho em 234 Uni- 4.060 adults and 4.006 aged people. Quality control rea-

dades Básicas de Saúde (UBS), incluindo 4.749 ched 6% of the sampled domiciles. The coverage provided

trabalhadores de saúde; 4.079 crianças;3.945 by PSF between 1999 and 2004 increased more in the

mulheres; 4.060 adultos e 4.006 idosos. O con- Northeast than in the South. Less than half of the workers

trole de qualidade alcançou 6% dos domicílios were admitted through open public selection and the work

amostrados. A cobertura do PSF de 1999 a 2004 under contract was more frequent in the PSF than in the

cresceu mais no Nordeste do que no Sul. Menos traditional UBS. These findings suggest a performance of

da metade dos trabalhadores ingressaram por primary health care still very distant from the prescriptions

concurso público e o trabalho precário foi maior of the Unified Health System. Less than half of the potential

no PSF do que em UBS tradicionais. Os achados users frequented the UBS in their area. The offer of health

sugerem um desempenho da Atenção Básica à actions, their use and the contact through programmed

Saúde (ABS) ainda distante das prescrições do actions were more adequate in the PSF.

SUS. Menos da metade da demanda potencial


Key words Primary care, PSF, Assessment of Health po-
utilizou a UBS de sua área de abrangência. A
licies, Evaluation of the performance of basic health care
oferta de ações de saúde, a sua utilização e o
services
contato por ações programáticas foram mais
adequados no PSF.
1 Departamento de Medicina Social, Faculdade de Medicina,
Palavras-chave atenção básica, PSF, avaliação de Universidade Federal de Pelotas. Av. Duque de Caxias 250,
96030-002 Pelotas RS. lfachini@terra.com.br
políticas de saúde, avaliação de desempenho de 2 Universidade Católica de Pelotas.
28 serviços básicos de saúde 3 Secretaria Municipal da Saúde de Pelotas.
Introdução Universidade Federal de Pelotas (UFPel) desenvol-
veu um Estudo de Linha de Base (ELB) com coleta
A avaliação de políticas e programas é essencial em de dados primários e secundários15.
saúde pública, contribuindo para os esforços em
busca de uma sociedade mais saudável e preve- Este artigo apresenta os fundamentos do ELB e
nindo o desperdício de recursos com a implemen- a avaliação do desempenho da atenção básica à
tação de programas ineficazes . Na avaliação dos
1
saúde nas duas regiões. O desempenho é avalia-
benefícios das políticas de saúde à população, o do em termos de sua adequação às prescrições
conhecimento dos arranjos e peculiaridades locais oficiais. Na comparação com o modelo tradicional
dos serviços de saúde é requisito básico . Entretan- 2
se examina a plausibilidade de o PSF melhorar o
to, ao avaliar o efeito de uma política de saúde no desempenho da atenção básica.
desempenho dos serviços e na situação de saúde
da população, é preciso valorizar o sinergismo O artigo também identifica alguns pontos prioritá-
entre os determinantes vinculados à política de rios para o desenvolvimento do PSF e da avaliação
saúde, aos serviços de saúde (estruturas, recursos da atenção básica no País.
humanos e processos) e ao estado de saúde das
populações3,4, 5, 6, 7.
Metodologia
Desde o estabelecimento da meta “Saúde para
Todos no Ano 2000”, em 1978, em Alma- Ata8, o A epidemiologia foi o eixo metodológico do estu-
Brasil implantou o Sistema Único de Saúde (SUS), do, articulando as dimensões político-institucio-
universalizou o acesso aos serviços e definiu a nal, organizacional da atenção, cuidado integral
Atenção Básica à Saúde (ABS) como porta de en- e desempenho do sistema16. O delineamento foi
trada e principal estratégia para alcançar a meta . 9
transversal, com medidas de múltiplos níveis de
Os conceitos de universalidade, integralidade, agregação17, 18. Para a comparação de desempenho
eqüidade, descentralização e controle social da dos modelos de atenção, as UBS foram estrati-
gestão orientam a ABS para a promoção da saúde, ficadas em tradicionais e PSF. Foram coletadas
prevenção de agravos, tratamento, reabilitação e informações de fontes primárias e secundárias,
manutenção da saúde .
8, 9, 10, 11
que constam da Figura 1.

Entretanto, a constituição da ABS no Brasil é A dimensão político-institucional reúne aspectos


marcada por problemas de estrutura física dos relativos à gestão do SUS, expressando diferenças
serviços, suficiência e perfil dos profissionais de sociais, econômicas, demográficas e contrastes na
saúde, acesso oportuno aos recursos e efetivida- constituição da ABS. A dimensão organizacional da
de de políticas e ações de saúde . Como
9, 10, 11, 12, 13
atenção examina as práticas de gestão e a oferta
alternativa, o Programa Saúde da Família (PSF), de serviços em atenção básica à saúde. A dimensão
implantado em 1994, em pequenos municípios do do cuidado integral avalia os recursos e as práticas
Nordeste, alcança após uma década os grandes dos serviços no cuidado das necessidades de saúde
centros urbanos de todo o país 10, 11, 12, 14
. O Projeto da população. Por fim, a dimensão desempenho do
de Expansão e Consolidação do Saúde da Família sistema analisa a utilização dos serviços de ABS e
(Proesf) 15, 16
busca a reformulação da ABS através a situação de saúde da população.
do PSF. Inicialmente direcionado a municípios com
mais de 100 mil habitantes, financia a melhoria O universo do estudo foi constituído por 41 mu-
da infra-estrutura dos serviços, a capacitação dos nicípios com mais de 100 mil habitantes, que
recursos humanos e a avaliação do PSF como um compunham os lotes 2 das regiões Sul e Nordeste.
requisito obrigatório . Responsável pela avaliação
16
Dois municípios eram do Estado de Alagoas, 3 da
Proesf em municípios das regiões Sul e Nordeste, a Paraíba, 10 de Pernambuco, 2 do Piauí, 3 do Rio 29
FIGURA 1 MODELO TEÓRICO PARA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO E IMPACTO DA ATENÇÃO BÁSICA
À SAÚDE EM MUNICÍPIOS ACIMA DE 100 MIL HABITANTES DAS REGIÕES SUL E NORDESTE. PROESF,
UFPEL, 2005

AL PA PI RN PE RS SC

Dados demográficos - PIB - Perfil Epidemiológico - No Municípios Estado/No Municípios c/ PSF -


Cartografia das desigualdades/Necessidades - Estrutura de Regulação indutora da Eqüidade - Projeto de Saúde Matriz
Financeira da Saúde - Políticas Indutoras para Implantação do PSF - Cobertura de PSF por Município...

Região Região
Capitais e municípios com 500.000 habitantes ou mais Metropolitana Metropolitana

Municípios com população entre 300.000 e 500.000 habitantes

Municípios com população entre 100.000 e 300.000 habitantes

Unidade Básica de Saúde Unidade Básica de Saúde


Programa de Saúde da Família Tradicional

Estrutura - Processo de Trabalho - Adstrição - Cadastramento - Acolhimento - Vínculo – Ações Programáticas –


Integralidade Controle Social - Vigilância Sanitária - Vigilância Epidemiológica - Educação Popular - Educação Permanente

Desempenho e Impacto

Utilização de Serviços - Utilização de Medicamentos - Cuidados Domiciliares - Atividade Física


Saúde da Mulher - Saúde da Criança - Saúde de Adultos - Saúde de Idosos - HAS - Diabete Mellitus - Saúde Mental

Grande do Norte, 17 do Rio Grande do Sul e 4 de facilitar a comparação dos achados, as UBS dos
Santa Catarina . Uma amostra estratificada por
16
dois modelos foram pareadas, utilizando-se como
múltiplos estágios selecionou unidades básicas de critério o tamanho da área física. As UBS sorteadas
saúde, profissionais de saúde, usuários e indivíduos orientaram a seleção das amostras de profissionais
residentes na área de abrangência dos serviços 19,
de saúde, usuários e população.
. Buscando uma maior representatividade, a
20, 21

amostra de UBS foi proporcional ao tamanho da Em cada UBS procurou-se entrevistar todos os
rede básica de saúde de cada município . 22
trabalhadores de saúde em atividade. Foram
incluídos médicos, enfermeiros, outros profissio-
Através dos Projetos de Adesão ao Proesf, foi iden- nais de nível superior, auxiliares de enfermagem,
tificado um total de 855 UBS no Nordeste e 655 recepcionistas e agentes comunitários de saúde
UBS no Sul. Em cada lote foram sorteadas aleato- (ACS). A amostra selecionada foi confrontada
riamente 120 UBS. No Sul, a amostra foi composta com o registro de profissionais lotados na UBS
por 69 UBS do PSF e 51 Tradicionais, enquanto no obtido a partir do instrumento de avaliação da
30 Nordeste 79 eram do PSF e 41 Tradicionais. Para estrutura das UBS.
A amostra populacional foi dividida em quatro SUS, IBGE) foram sistematizados, por Estado
grupos, crianças de um a três anos de idade, e município. Os 34 indicadores do Pacto da
mulheres que tiveram filhos nos últimos dois Atenção Básica formam o primeiro conjunto de
anos, adultos entre 30 e 64 anos de idade e informações coletadas24. O segundo conjunto de
idosos a partir dos 65 anos de idade. Estes informações inclui os indicadores de Monitora-
indivíduos foram localizados na área de abran- mento da Expansão do PSF em Grandes Centros
gência de cada uma das UBS, ponto inicial para Urbanos14. O controle de qualidade realizado por
a amostragem sistemática. A estratégia para telefone, mediante aplicação de questionários
delimitação da área de abrangência incluiu a reduzidos, alcançou 6% dos domicílios no Sul
obtenção prévia do mapa da área de abran- e no Nordeste. No exame da consistência dos
gência das UBS, uma estimativa populacional dados de variáveis dicotômicas, utilizou-se o
do IBGE e a localização dos indivíduos através índice Kappa e para as quantitativas, o coefi-
de amostragem sistemática23. Para cada região, ciente de correlação de Spearman25. Uma boa
estimou-se uma amostra de 2.100 indivíduos repetibilidade (Kappa > 0,7) foi observada para
em cada um dos grupos populacionais, tamanho a maioria das questões sobre crianças,mulheres,
suficiente para examinar diferenças de 25% adultos e idosos no Sul e no Nordeste26. A repe-
a 30% entre os modelos de atenção das UBS tibilidade satisfatória (acima de 0,7) foi maior
(PSF x Tradicional), com um poder estatístico entre as mulheres (67%) em ambas as regiões
de 80% e prevalências dos desfechos de no mí- e menor entre os idosos, principalmente do
nimo 25%. Para a composição total da amostra Nordeste (38%).
foram estimadas 18 entrevistas de cada grupo
populacional na área de abrangência de cada Digitados no EPI-INFO 6.04b, os bancos de dados
UBS. foram analisados com o pacote estatístico SPSS
10.0 para Windows. Inicialmente, procederam-se
O trabalho de campo se estendeu de 15 de março às análises descritivas, verificando a distribui-
a 19 de maio de 2005 no Sul e de 3 de junho a ção dos casos em cada variável e avaliando sua
10 de agosto de 2005 no Nordeste. As atividades amplitude e consistência. A seguir, examinou-se
de campo foram realizadas por uma equipe de o comportamento das variáveis por dimensão
15 supervisores criteriosamente selecionados e teórica e modelo de UBS (Tradicional e PSF). Na
capacitados para todas as etapas da coleta de análise estratificada do efeito do modelo de UBS,
dados. os municípios foram agregados segundo a região
(Sul e Nordeste).
Gestores, coordenadores e profissionais de saú-
de responderam auto-entrevista, com questões Para variáveis dependentes qualitativas, as as-
estruturadas e predominantemente fechadas. sociações foram testadas através da comparação
Os presidentes de CMS foram entrevistados por entre proporções, utilizando-se o teste do quiqua-
um supervisor. As informações sobre o processo drado. No caso de variáveis dependentes quanti-
de trabalho na UBS foram coletadas em reunião tativas, as associações foram testadas através da
da equipe e registradas em instrumento coleti- comparação entre médias, utilizando-se o teste
vo com questões abertas. Informações sobre a F (ANOVA). Para ambos os procedimentos, ado-
estrutura da UBS foram registradas em instru- tou-se o nível de confiança de 95%, considerando
mento fechado durante reunião de equipe. As significativas as diferenças com p-valor inferiores
informações populacionais, obtidas no domicílio a 0,0525. A estratificação possibilitou analisar as
por entrevistadores, foram registradas em ques- diferenças entre os modelos de UBS em ambas as
tionários estruturados e predominantemente regiões e de seu efeito na distribuição de insumos,
fechados. Os dados secundários, oriundos de no desempenho das UBS e no cuidado à saúde da
bases nacionais (Ministério da Saúde, DATA- população4, 5, 27. 31
Resultados municípios do Sul foram identificadas apenas 358
ESF. Assim, havia uma ESF para 6.060 habitantes
Contexto no Nordeste; no Sul, a disponibilidade era de uma
Dos 41 municípios estudados, os 21 municípios ESF para 15.149 habitantes.
da região Sul totalizavam 5.423.673 habitantes,
enquanto os 20 municípios da região Nordeste so- Perfil dos profissionais de saúde
mavam 7.575.633 habitantes. No Sul, as médias Foram estudados 4.749 profissionais de saúde,
de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de 1.730 no Sul (S) e 3.019 no Nordeste (NE). A
expectativa de vida, de alfabetizados e de cober- amostra está composta por 520 médicos (S=266;
tura de domicílios com água encanada foram mais NE=254), 337 enfermeiros (S=161; NE=176),
altas do que no Nordeste, região que apresentava 371 profissionais com outros cursos universitá-
maior proporção de pobres (41,0%) e de crian- rios (S=130; NE=241), 834 auxiliares e técnicos
ças menores de 5 anos (9,7%). No Sul, a maior de enfermagem (S=414; NE=420), 1.045 outros
proporção apresentada foi de idosos (7,7%). Nas profissionais com nível médio (S=261; NE=784)
áreas do PSF havia maior proporção de construções e 1.536 agentes comunitários de saúde (S=478;
inadequadas, de indivíduos com baixa escolaridade NE=1.058).
e classificados nos estratos econômicos menos
privilegiados (D e E)28 do que nas áreas de UBS O ingresso por concurso público alcançou cerca de
Tradicionais. A média de pessoas por domicílio 40% dos trabalhadores no Sul e no Nordeste, sen-
também foi maior nas comunidades do PSF. do significativamente maior no modelo Tradicional
(50%) do que no PSF (34%). O trabalho precário
foi significativamente maior no PSF (51%) do que
Dimensão político-institucional em UBS Tradicionais (32%) na região Nordeste,
não havendo diferença entre os modelos no Sul
Descentralização da gestão e crescimento do PSF (30%). A proporção de trabalhadores com outro
A descentralização do SUS, caracterizada através emprego foi significativamente maior nas unidades
da gestão plena do sistema municipal de saúde, Tradicionais (cerca de 30%) do que no PSF (cerca
foi significativamente maior no Nordeste (65% de 15%), independentemente da região.
dos municípios) do que no Sul (33% dos muni-
cípios). Nível superior completo foi significativamente
maior nas UBS Tradicionais (S=44%; NE=31%)
O crescimento relativo da cobertura de PSF no do que no PSF (S=31%; NE=26%), em ambas
período de 1999 a 2004 foi maior no Nordeste do as regiões. Em contraste, ensino médio comple-
que no Sul. Na amostra estudada, a cobertura de to foi significativamente maior no PSF (S=38%;
PSF cresceu 35% ou mais em aproximadamente NE=49%) do que no modelo Tradicional (S=33%;
65% dos municípios nordestinos, enquanto, no NE=42%).
Sul, apenas 5% dos municípios experimentaram
tal crescimento na cobertura. Em 2004, dez muni- Na composição das ESF do Sul havia 12% de médi-
cípios apresentavam cobertura de PSF de no míni- cos, 10% de enfermeiros, 22% de auxiliares e téc-
mo 60% da população. Destes, apenas um estava nicos de enfermagem, 4% de dentistas e 36% de
localizado no Sul, enquanto os demais pertenciam ACS, enquanto nas UBS Tradicionais a proporção de
à região Nordeste. médicos era o dobro, a de enfermeiros e dentistas
similar, a de auxiliares e técnicos de enfermagem
O crescimento relativo no número de ESF entre superior (28%) e a de ACS 2,6 vezes menor. No
2003 e 2004 foi duas vezes maior no Sul (44%) Nordeste, as ESF dispunham de 7% de médicos,
do que no Nordeste (22%). Mas nos municípios 7% de enfermeiros, 13% de auxiliares e técnicos
da região Nordeste havia 1.250 ESF, enquanto nos de enfermagem, 5% de dentistas e 44% de ACS.
32
Nas UBS Tradicionais a proporção de médicos era Do ponto de vista da tecnologia da informação a
11%, a de enfermeiros 4%, a de dentistas similar, situação das UBS era bastante precária. No Sul,
a auxiliares e técnicos de enfermagem superior 60% e no Nordeste, 71% das UBS não dispunham
(16%) e a de ACS 1,7 vez menor. de microcomputador, sem diferença entre os mo-
delos de atenção.

Dimensão organizacional da atenção Práticas de oferta


Entre as 240 Unidades Básicas de Saúde, ob-
Práticas de gestão teve-se a avaliação da estrutura para 236 UBS,
As práticas de gestão da ABS mais referidas no 118 em cada região. A quase totalidade das UBS
Sul foram reuniões com a coordenação de distrito (97%) de ambas as regiões funcionava em dois
ou UBS e com o Conselho Municipal de Saúde, a turnos de atendimento, sem diferença entre os
produção de relatórios de gestão e do SIAB e o modelos de atenção. No Sul eram atendidas pelo
acompanhamento dos recursos programados por médico do PSF, em média, três pessoas a cada
grupo de procedimentos. No Nordeste foram refe- hora, enquanto nas UBS Tradicionais esta média
ridas oficinas de trabalho, cursos de capacitação, era quatro. No Nordeste eram realizados quatro
atividades de educação permanente, reuniões com atendimentos médicos por hora no PSF e cinco nas
o Conselho Municipal de Saúde, as coordenações UBS Tradicionais.
de outros municípios e de distrito.
Aproximadamente 96% das UBS do PSF no Sul e
A disponibilidade de relatórios periódicos para no Nordeste possuíam área geográfica definida e
a tomada de decisão foi pequena no Sul, alcan- mapa; nas Tradicionais a proporção foi de 51% no
çando pouco mais da metade dos municípios. No Sul e 33% no Nordeste. A participação da equipe
Nordeste, 75% dos municípios referiram dispor de da UBS em atividades na área de abrangência nos
relatórios periódicos, predominantemente mensais últimos 12 meses foi significativamente maior no
ou trimestrais. Os relatórios disponíveis geralmente PSF (63% no Sul e 71% no Nordeste) do que nas
eram produzidos e divulgados pelas próprias SMS, Tradicionais (36% no Sul e no Nordeste).
com limitações de recursos materiais, humanos e
escasso apoio ou parceria institucional. A quase totalidade das UBS (98%) dispunha de sala
de recepção, embora em apenas 13% dos serviços
As atividades de supervisão do trabalho nas UBS tenha sido considerada adequada (iluminação, ruído
foram referidas por no máximo 66% dos traba- e ventilação). Entre todos os espaços da área física
lhadores de saúde do Sul e 70% do Nordeste, investigados, somente a disponibilidade de sala de
com predomínio significativo do PSF (77% no Sul reuniões diferiu significativamente com o modelo
e Nordeste). No Sul, a distância das UBS em re- de UBS. No PSF, cerca de 60% das UBS do Sul e
lação à sede da Secretaria Municipal de Saúde e 69% do Nordeste dispunham de sala de reuniões,
as dificuldades operacionais (transporte, pessoal enquanto nas unidades Tradicionais a disponibilida-
disponível e capacitado, tecnologia da informação) de foi de 36% no Sul e 44% no Nordeste.
eram grandes desafios para a supervisão periódica
e para descentralizar a gestão na atenção básica.
No Nordeste, as dificuldades de comunicação com Dimensão do cuidado integral
a rede básica foram atribuídas à complexa hierar-
quia para sua difusão, incluindo diversos níveis de As ações programáticas para o cuidado integral e
gestão (secretário, equipe de assessores, coorde- as atividades de grupo foram significativamente
nação da atenção básica e PSF, gerência distrital, mais freqüentes no PSF do que no modelo Tradicio-
coordenação de UBS, profissionais de saúde e nal, tanto no Sul quanto no Nordeste. (Tabela 1)
usuários do SUS). Os trabalhadores de saúde informaram baixa satis-
33
fação com a estrutura física das UBS em ambas as desempenho das duas modalidades de atenção.
regiões e modelos de atenção. Menos da metade Estes indicadores também constituem a linha de
utilizava protocolos em suas atividades, embora base para o estudo de acompanhamento, tanto
significativamente mais no PSF do que no modelo da utilização de serviços básicos de saúde (Tabela
Tradicional tanto no Sul, quanto no Nordeste. Os 2), quanto da situação de saúde da população.
protocolos citados com maior freqüência foram os (Tabela 3).
de imunização, prénatal, pré-câncer, diagnóstico
e tratamento da hipertensão e da tuberculose. Utilização de serviços: ações de prevenção e de
(Tabela 1). promoção da saúde

Dimensão desempenho da UBS a) Pré-Natal


A cobertura de pré-natal das 3.945 mulheres que
Os indicadores de ações preventivas e de promoção tiveram filho nos últimos dois anos foi de 98%
da saúde inerentes à Atenção Primária à Saúde e em ambos os lotes, mas apenas 30% iniciaram
de morbidades específicas na população de abran- o pré-natal até a 12a semana de gestação, sem
gência das UBS foram examinados na avaliação do diferenças significativas entre as áreas de PSF e

Tabela 1 Ações programáticas e processo de trabalho no cuidado integral de saúde segundo o mode-
lo de Atenção Básica em municípios acima de 100 mil habitantes das regiões Sul e Nordeste. Proesf,
UFPel, 2005. (* p valor < 0,05)

34
Tradicionais. No máximo 50% das mães realiza- 80%, sem diferenças significativas entre regiões e
ram o pré-natal na UBS da área de abrangência de modelos de UBS. Registrou-se, no máximo, 10%
seu domicílio, com proporções significativamente de informação ignorada para as vacinas avaliadas.
maiores no PSF do que no modelo tradicional nas A opinião sobre a puericultura foi boa, muito boa
duas regiões. O número médio de seis ou mais ou ótima para dois terços das mães entrevistadas,
consultas de pré-natal foi alcançado por aproxi- sendo significati-vamente maior (82%) nas UBS
madamente dois terços das mães que realizaram do PSF do Nordeste. (Tabela 2).
pré-natal na UBS de sua área, sendo que diferença
significativa entre os modelos foi identificada ape- c) Recomendação de atividade física para adultos
nas para as usuárias do PSF no Nordeste (74%) e idosos
quando comparadas às do modelo Tradicional A recomendação de exercício físico para melhorar
(64%). (Tabela 2). a saúde feita por médico da UBS da área foi refe-
rida por aproximadamente um terço dos adultos,
Ter recebido por meio de reuniões ou atividades e por pouco menos da metade dos idosos, sendo
em grupo o apoio ou suporte para amamentar significativamente maior no PSF. (Tabela 2).
imediatamente após o parto foi mencionado por
aproximadamente um terço das mulheres, exceto d) Realização de exame citopatológico por mulhe-
nas UBS do PSF do Nordeste, onde alcançou a res de 30 a 64 anos
metade delas. (Tabela 2). Entre as 2.238 mulheres de 30 a 64 anos de ida-
de, 93% referiram ter realizado pelo menos um
Durante o pré-natal, a vacina contra o tétano dei- exame citopatológico na vida, sem diferença entre
xou de ser administrada em 24% das mulheres os modelos de UBS. (Tabela 2).
que efetivamente necessitavam, sendo aplicada
em excesso em 60% das gestantes, não diferindo e) Cuidado domiciliar de idosos
significativamente entre os modelos de UBS, tanto Na região Sul a necessidade de cuidados domici-
no Sul, quanto no Nordeste.(Tabela 2). liares com regularidade foi referida por um quinto
dos idosos das unidades do PSF e 10% das unida-
Cerca de 80% das entrevistadas que realizaram des Tradicionais (p<0,05). Nas áreas do PSF, 13%
o pré-natal na UBS da área de abrangência ex- receberam este cuidado e nas áreas Tradicionais
pressaram opinião positiva sobre o programa. apenas 3% (p<0,05). No Nordeste a necessidade
Essa opinião foi significativamente melhor no PSF foi informada por um quarto dos idosos de ambos
do que no modelo tradicional nas duas regiões. os modelos de UBS e o cuidado foi recebido por
(Tabela 2). 20% dos idosos nas áreas do PSF e 8%
nas áreas Tradicionais (p<0,05). (Tabela 2).
b) Puericultura
A realização de puericultura foi referida para 91%
das 4.079 crianças estudadas, a metade das Situação de saúde na área de abrangência das
quais atendida na UBS da área de abrangência, UBS
sendo significativamente superior apenas no PSF
do Nordeste. Entre as crianças usuárias da UBS a) Diarréia em crianças
da área de abrangência, dois terços fizeram, no A ocorrência de diarréia no mês anterior à entre-
mínimo, sete acompanhamentos de puericultura, vista foi informada para 30% das crianças, sendo
também sendo significativamente superior no PSF no Sul significativamente maior no PSF (25%)
do Nordeste. A cobertura vacinal completa para do que nas Tradicionais (20%). Destas crianças,
Sabin, Sarampo, BCG, Hepatite e Tetravalente, pouco mais da metade se consultou (52%) em
coletada a partir do cartão de vacinação e, em sua ambas as regiões, sem diferença entre os mo-
ausência, da informação materna, foi superior a delos de UBS. Menos da metade das consultas
35
TABELA 2 UTILIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE: AÇÕES PREVENTIVAS E DE PROMOÇÃO DA SAÚDE
SEGUNDO O MODELO DE ATENÇÃO BÁSICA EM 41 MUNICÍPIOS ACIMA DE 100 MIL HABITANTES DAS
REGIÕES SUL E NORDESTE. PROESF, UFPEL, 2005

(* p valor < 0,05)

(46%) foi na UBS da área de abrangência, sendo b) Pneumonia em crianças


maior a proporção no PSF do Nordeste (53%). Para o período dos seis meses anteriores à entre-
(Tabela 3). vista, a ocorrência de pneumonia foi referida para

36
TABELA 3 SITUAÇÃO DE SAÚDE NA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DA UBS SEGUNDO O MODELO DE
ATENÇÃO BÁSICA EM MUNICÍPIOS ACIMA DE 100 MIL HABITANTES DAS REGIÕES SUL E NORDESTE.
PROESF, UFPEL, 2005

(* p valor < 0,05)

37
7% das crianças, sem diferen- da área. Para os adultos, essa
ça significativa por modelo de proporção foi significativamente
UBS. A quase totalidade das “A coleta de maior nas unidades do PSF do
crianças (97%) consultou pela dados primários Sul (58%); para os idosos, o
pneumonia, com distribuição em diversos níveis acesso foi maior no PSF tanto do
semelhante entre os modelos de avaliação Sul (53%), quanto do Nordeste
de UBS. Apenas 27% das crian- (48%) (Tabela 3).
(gestão, unidades
ças foram atendidas na UBS
de saúde e
de sua área geográfica, sem f) Problemas de nervos em adul-
diferença segundo o modelo de
população), tos e idosos
UBS. (Tabela 3). através de O padecimento de “problemas
instrumentos de nervos” foi referido por 26%
c) Situação de saúde de adultos padronizados, dos adultos e 29% dos idosos.
e idosos permite análises Entre os adultos, não houve di-
Aproximadamente 50% dos mais sofisticadas ferença entre os modelos, mas
4.060 adultos e 36% dos 4.006 entre os idosos, a ocorrência
do desempenho
idosos identificaram sua situa- foi significativamente menor
dos serviços de
ção de saúde como excelente, em áreas de UBS Tradicional do
muito boa ou boa, sem diferen-
atenção básica à Nordeste (20%). A média de
ça entre os modelos de atenção. saúde” duração deste sofrimento foi de
(Tabela 3). 12,6 anos (dp = 11,5) para os
adultos e 19,1 anos (dp = 17,8)
d) Hipertensão arterial sistêmica em adultos e para os idosos, não variando por modelo de UBS.
idosos Apenas 16% dos adultos e 15% dos idosos com
O diagnóstico de HAS foi informado por 28% dos “problemas de nervos” consultaram na UBS da
adultos e 63% dos idosos entrevistados, sem di- área por estes problemas nos últimos seis meses.
ferença significativa entre os modelos de atenção, No Nordeste, o acesso a este cuidado foi signifi-
com exceção de idosos de áreas do PSF no Sul cativamente maior para adultos no PSF (16%) do
(64%). O tempo médio de conhecimento da HAS que nas UBS Tradicionais (8%). (Tabela 3).
foi de 7,4 anos (dp = 7,8) para os adultos e 10,9
anos (dp = 10,5) para os idosos, sem variação
significativa entre os modelos de UBS. Consulta Discussão
por HAS na UBS da área nos últimos seis meses
foi informada por 46% dos adultos e dos idosos, Avaliação metodológica
sendo significativamente maior no PSF do que nas
UBS Tradicionais.(Tabela 3). O delineamento do estudo foi orientado para o
exame de uma intervenção em saúde pública com-
e) Diabetes mellitus em adultos e idosos plexa, programática e dependente do contexto29. O
O diagnóstico de diabetes mellitus (DM) foi informado estudo foi planejado para avaliar o desempenho da
por 7% dos adultos e 20% dos idosos, não havendo ABS no lote de municípios, não sendo seus achados
diferenças significativas entre os modelos de atenção, generalizáveis para o contexto municipal17.
com exceção de idosos de áreas do PSF no Sul (22%).
O tempo médio de conhecimento do diagnóstico foi Estudos observacionais criteriosos podem ser
de 5,9 anos (dp = 6,2) para adultos e 9,2 anos (dp vantajosos em relação aos ensaios clínicos na
= 9,4) para idosos, sem diferença entre os modelos avaliação de intervenções em saúde pública18, 27, 30,
de UBS. Cerca de 50% dos adultos e 46% dos idosos . O estabelecimento de grupos de comparação,
31

com diabete consultaram, por este problema, na UBS a composição de uma amostra de múltiplos níveis
38
de análise, a realização de medidas padronizadas Avaliação da implantação do PSF
e a utilização de critérios bem definidos para julgar
os achados reforçam a adequação do ELB. Estudos A implantação do PSF estava mais consolidada
com estas características têm maior capacidade nos grandes centros urbanos do Nordeste do que
de detectar o sucesso ou a falha da intervenção, no Sul do país14, 16. O PSF ainda é uma estratégia
aumentando a validade dos resultados, sendo, em construção, carecendo de melhor definição em
portanto, recomendáveis na avaliação de políticas aspectos conceituais e operacionais12, 14. No ano de
e programas de saúde17, 27, 29, 30,32. 2000, a totalidade dos municípios estudados na
região Nordeste já dispunha de ESF, enquanto no
A coleta de dados primários em diversos níveis de Sul, principalmente no interior do Rio Grande do
avaliação (gestão, unidades de saúde e população), Sul, a expansão do PSF foi recente, estando mais
através de instrumentos padronizados, permite fortemente associada ao Proesf.
análises mais sofisticadas do desempenho dos
serviços de atenção básica à saúde31. De um modo Embora as responsabilidades municipais na gestão
geral, as amostras populacionais foram suficientes da ABS sejam requisito da descentralização do
para examinar diferenças socioeconômicas, de- SUS10, 11, sua efetivação ainda é muito problemáti-
mográficas e de utilização de serviços, permitindo ca37. Na maioria dos municípios, o monitoramento e
comparações regionais e por modelo de UBS33. a avaliação da atenção básica à saúde era irregular e
materialmente desestruturado. A supervisão era de
O controle de qualidade realizado por telefone des- caráter informativo, com vistas a repassar aos pro-
de a sede do estudo mostrou, de um modo geral, fissionais de saúde e coordenadores de UBS normas
uma repetibilidade aceitável, similar a de estudos e procedimentos burocráticos, geralmente associa-
de grande complexidade .
34, 35
dos ao faturamento do SUS ou a reclamações de
usuários e da mídia. A utilização de relatórios peri-
Além disso, a baixa repetibilidade em idosos pode ódicos para a tomada de decisão foi rara, devido à
estar mais relacionada à estratégia de controle de sobrecarga de trabalho das equipes nos municípios e
qualidade , do que à validade do dado primário,
35
à necessidade de capacitação para as atividades de
obtido no domicílio do entrevistado, por auxiliar monitoramento e avaliação. O trabalho burocrático
de pesquisa capacitado. Mediante telefonemas nas UBS raramente estava informatizado, ocupan-
realizados da sede do estudo, uma entrevista- do parte importante do tempo dos profissionais de
dora interagia com os idosos de outras regiões saúde, em detrimento de suas atividade-fins38, 39.
e Estados do País, enfrentando desde problemas Portanto, a gestão da ABS necessita de um forte
auditivos, viés de memória e dificuldades de co- estímulo para seu desenvolvimento, não apenas
municação, até contrastes culturais e de diferenças em termos materiais, mas particularmente de ca-
idiomáticas. Diferenças na cobertura de telefone, pacitação de gestores e de estratégias gerenciais
associadas à dificuldade de locomoção de parte focadas nos objetivos prioritários.
dos idosos também prejudicaram o controle de
qualidade. Assim, o estudo ao avaliar a qualidade A delimitação de área e população de abrangên-
dos dados primários por telefone, acabou testando cia para a oferta de serviços no PSF11 representa
uma estratégia de controle de qualidade que pode um avanço programático, em relação ao padrão
ser desenvolvida em nosso meio .
35, 36
de “população aberta” adotado no modelo tradi-
cional. Esta estratégia facilita a disponibilidade
O aprimoramento das características metodológi- regular de unidades básicas de saúde à população,
cas do ELB deverá potencializar sua utilização tanto condição para o acesso aos cuidados de saúde33.
na avaliação da ABS como uma intervenção política O PSF amplia a equipe de saúde, com a inserção
em saúde pública, quanto na avaliação de uma obrigatória do enfermeiro e do ACS11, o que pode
ação programática em uma UBS particular31. contribuir para o desempenho da UBS. Por outro
39
lado, a maior produtividade médica no atendimento mais espaço na UBS para atividades que não es-
individual das UBS tradicionais não garantiu um tão centradas no médico e no usuário individual,
melhor desempenho ao modelo. Enquanto as UBS podendo contribuir para o melhor desempenho
tradicionais estavam mais focadas no atendimento do modelo em relação às ações programáticas e
à demanda, o PSF estava mais voltado a ações gestão dos serviços3,41.
programáticas, atividades domiciliares e, articu-
lação com a comunidade11, 12, 40. Portanto, a oferta A equipe do PSF tem um perfil ocupacional bastan-
de ações e recursos de saúde foi mais adequada te distinto da equipe tradicional11, sendo profissio-
no PSF do que no modelo tradicional. nalmente mais diversificada e podendo contribuir
para o melhor desempenho do novo modelo .
3, 40

Avaliação da adequação e da Em conseqüência, a utilização de serviços básicos


plausibilidade do desempenho do PSF de saúde foi mais adequada no PSF do que em
UBS Tradicionais para o conjunto dos grupos po-
O desempenho do PSF foi regularmente melhor pulacionais, confirmando indícios observados em
do que o de serviços tradicionais, tanto no Sul, estudos anteriores12, 13, 40.
quanto no Nordeste. Este achado coincide com a
literatura12, 13, 40 e com a percepção dos gestores de Para maior benefício da população e melhor desem-
que o PSF é mais adequado para o funcionamento penho do PSF diante das metas de Alma-Ata, há
do sistema municipal de saúde e conta com uma necessidade de estímulo financeiro, técnico e político
maior adesão dos profissionais de saúde do que o à rede básica de saúde no país. Os investimentos
modelo tradicional .15
em infra-estrutura são urgentes e precisam financiar
a reforma e a construção de UBS na concepção do
O PSF representou um esforço bem-sucedido de PSF e dos requisitos legais de conforto e segurança
promoção da eqüidade, pois normalmente sua ambientais. A Educação Permanente de Profissionais
presença era maior em regiões mais pobres e com de Saúde requer investimentos orientados para o
população mais vulnerável. Seu melhor desem- desempenho dos serviços e a vulnerabilidade social
penho em contextos de maior iniqüidade social e dos problemas de saúde. Assim, será mais fácil di-
de saúde reforça o efeito do PSF na melhoria da recionar as práticas na UBS para o monitoramento
atenção básica à saúde no país. Apesar de suas e acompanhamento criterioso de indivíduos mais
limitações, comuns aos modelos de ABS, o PSF faz vulneráveis. A implantação de grupos locais em
mais para quem mais precisa . 33
avaliação e monitoramento de saúde, que inclua a
capacitação de profissionais das UBS, será benéfica a
Na região Sul, o PSF necessita de uma forte ex- Estados e municípios, requerendo recursos materiais
pansão para alcançar uma cobertura populacional e humanos para sua efetivação33. O adequado en-
de 60%, conforme estabelecido pelo Proesf16, en- frentamento dos principais problemas do PSF poderá
quanto no Nordeste é preciso consolidar o aumento incrementar significativamente seu desempenho e
crescente da cobertura. Neste processo, a maior impacto positivo na saúde da população.
precarização do trabalho promovida pelo PSF, prin-
cipalmente no Nordeste, representa um aspecto
político da estratégia que deve ser enfrentado, para Colaboradores
não comprometer seus benefícios.
LA Facchini, RX Piccini, E Tomasi, E Thumé e D
A estrutura física das UBS foi bastante similar nas Silveira participaram da concepção, análise de
duas modalidades de atenção básica, destacando- dados, interpretação e redação final do artigo. FV
se por sua precariedade e improvisação . A maior
40
Siqueira coordenou o trabalho de campo do estu-
disponibilidade de sala de reunião no PSF significa do e participou da elaboração dos instrumentos e
40
processamento de dados. MA Rodrigues participou representantes do controle social, trabalhadores
do processamento de dados, elaboração dos ins- das unidades básicas de saúde e à população en-
trumentos e revisão da literatura. trevistada o apoio para a realização deste estudo.
Agradecem também aos supervisores do trabalho
de campo e a todos aqueles que trabalharam nas
Agradecimentos diversas etapas do estudo. O presente artigo in-
tegra o Componente 3 do Projeto de Expansão e
Os autores agradecem aos gestores, coordena- Consolidação do Saúde da Família (Proesf) finan-
dores de atenção básica e de saúde da família, ciado pelo Ministério da Saúde e Banco Mundial.

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São Paulo: Hucitec; 1998. 41
Trabalhar com a qualidade
a partir da implantação do
Projeto AMQ:
A experiência do Estado do
Espírito Santo

O
estado do Espírito
Santo foi um dos
pioneiros a realizar
a avaliação da im-
plantação do Projeto de Avalia-
ção para Melhoria da Qualidade
(AMQ) nos municípios. A mobili-
zação, intercâmbio e cooperação
técnica são experiências impor-

Fotos: www.cidadao.vilavelha.es.gov.br
tantes a serem compartilhadas
com outros estados e municípios
na perspectiva de consolidar a
melhoria da qualidade da gestão
e do trabalho das Equipes de
Saúde da Família.

Atualmente, mais de 70% dos


municípios do Espírito Santo
estão desenvolvendo seus pro-
cessos de auto-avaliação com o
apoio da coordenação estadual avaliação da implantação e das do Ministério da Saúde – para
do projeto, em parceria com o perspectivas futuras do projeto. participar da Oficina de Multipli-
Ministério da Saúde. cadores AMQ, na qual tiveram
O coordenador relata que o pro- contato com a proposta. Naquela
Em entrevista à Revista Bra- cesso de participação do estado ocasião, foi percebida uma clara
sileira de Saúde da Família, o no AMQ iniciou em março de associação de objetivos e de
coordenador do Projeto AMQ no 2006, quando a Coordenação integração entre o processo de
Espírito Santo, Wallace de Me- Estadual da Atenção Primária certificação das equipes de Saú-
deiros Cazelli , fez um resgate do em Saúde enviou dois técnicos de da Família no Espírito Santo,
AMQ no estado e falou sobre a a Brasília – a convite do De- que estava sendo concluído, e o
experiência da primeira etapa de partamento de Atenção Básica instrumento AMQ.
42
De acordo com Cazelli, o pro- cipantes, entre coordenadores SF, Nessas oficinas, estiveram pre-
cesso de certificação, em seu prefeitos, secretários de Saúde, sentes técnicos de 65 municípios,
papel de avaliação normativa profissionais das ESF, represen- representados por: 15 secretários
externa, resultou no diagnóstico tantes de instituições de ensino e municipais de Saúde, além de 105
situacional de 100% das equipes conselhos municipais de saúde. técnicos e coordenadores munici-
de saúde da família e saúde bu- pais de Saúde da Família, Saúde
cal do estado do Espírito Santo, A partir de agosto de 2006, foram Bucal e superintendente das
possibilitando o mapeamento de realizadas sete oficinas micros Regionais de Saúde. Em apenas
todo o quadro de estrutura e pro- regionais para apresentação de 30 dias o número de municípios
cesso de trabalho e gerando uma ferramentas de intervenção e capixabas que aderiram ao AMQ
“linha de base” de partida para o priorização de ações, utilizando o foi elevado de cinco para 45.
processo de qualificação. banco de dados da certificação. Na
ocasião, a proposta AMQ foi inclu- O próximo passo ocorreu nos
O coordenador considera que foi ída como mais um instrumento de dias 04 e 05 de setembro de
um momento rico de parceria e qualificação da atenção primária. 2006, no municio de Vila Velha,
aprendizagem com uma ampla
mobilização dos envolvidos na
construção e validação do ins-
trumento utilizado: técnicos da
APS, CIB e COSEMS; trabalho
de campo com a participação
de 60 técnicos de várias áreas
da SESA, das Regionais e dos
Municípios para a aplicação do
instrumento de certificação; e in-
tegração plena das equipes de SF
e suas coordenações municipais.
Dessa maneira, foram plantadas
bases sólidas para o sucesso do
AMQ no Espírito Santo.

Como estratégia de divulgação


e mobilização para a adesão
dos municípios do estado ao
AMQ, Wallace Cazelli relata que
uma grande mobilização inicial
aconteceu em Vitória durante o
encerramento da primeira etapa “o processo de certificação resultou no
do processo de certificação, em diagnóstico situacional de 100% das
julho de 2006. Nesse evento o
equipes de saúde da família e saúde bucal
consultor do DAB/MS apresentou
do estado do Espírito Santo, possibilitando
aos representantes municipais,
o mapeamento de todo o quadro de
as informações necessárias à
estrutura e processo de trabalho e gerando
compreensão do AMQ e sua
uma “linha de base” de partida para o
complementaridade ao processo
de certificação. O evento contou
processo de qualificação.”
com aproximadamente 300 parti-
43
Fotos: arquivo CAA/DAB

oficinas para capacitação de fa- e do então Secretário Estadual


cilitadores nas equipes de SF/SB de Saúde, Dr. Anselmo Tose. Ele
com acesso ampliado também considera que “o momento foi
às equipes PACS (no intuito de muito rico em troca de expe-
promover o conhecimento da riências e estratégias locais e,
proposta) e contando com a pre- principalmente, em motivação,
sença de conselhos municipais estabelecendo o marco da cer-
de saúde. teza do caminho certo”.

Para o coordenador, a extraordi- Desta oficina de balanço, impor-


nária participação do estado no tantes resoluções para a continui-
processo – tanto em número de dade do trabalho foram delibe-
adesões, quanto pela qualidade radas como: (1) a realização de
de experiências de implantação oficinas para inserção e início de
– foi percebida na consolidação trabalhos nos municípios que já
dos dados do primeiro momento tinham feito adesão, de oficinas
avaliativo do AMQ, o que de- macro regionais para multiplica-
monstrou a confiança na escolha ção e reforço e oficinas de socia-
da estratégia Saúde da Família lização de matrizes de ação; e (2)
como o grande promotor de a proposta de Seminário Estadual
saúde, cidadania e qualidade de para apresentação de experiên-
com a realização da primeira ofi- vida para a população. cias de implantação e mostra de
cina para formação de multiplica- ações pós AMQ, (agendado para
dores e facilitadores no processo Cazelli explica que o intenso 19 de junho de 2007), que con-
AMQ no Espírito Santo. Sob a trabalho desenvolvido na implan- tará com a presença de todos os
coordenação de consultoras do tação do AMQ levou a Secretaria municípios capixabas, secretaria
DAB/MS, Marina Mendes e Gisele Estadual de Saúde a realizar, de estadual de Saúde, DAB/MS, e
Cazarin, o evento contou com 31 de outubro a 01 de novembro segmentos representativos da
a presença de 60 profissionais, de 2006, a Oficina de Balanço da sociedade organizada (COSEMS,
entre secretários, coordenadores Implantação AMQ nos Municípios Ministério Público, Assembléia
e técnicos municipais e estaduais do ES, primeira do gênero no Legislativa, Conselho Estadual
de saúde. Como produto final do Brasil, reunindo 30 municípios de Saúde, instituições de ensino
evento, os planos municipais de com resultados a relatar e vários e pesquisa, entre outros).
implantação estavam pratica- dispostos a ouvir. O evento con-
mente elaborados, com opera- tou com a presença das consul- O coordenador, em sua privile-
cionalização programada até o toras e apoiadoras do DAB/MS, giada posição do estar presente
fim de novembro de 2006. além da equipe estadual da APS no dia-a-dia dos municípios ca-

Em seguida, no dia 06 de setem-


bro, as mesmas consultoras do
“o momento foi muito rico em troca
MS foram conhecer de perto a
experiência de alguns municípios
de experiências e estratégias locais
e equipes que iniciaram o proces-
e, principalmente, em motivação,
so. Nessa ocasião, principiou-se
estabelecendo o marco da certeza do
a mobilização junto destes mu- caminho certo.”
nicípios com o agendamento de
44
pixabas, observa que o Projeto com pouco mais de cinco meses
AMQ na estratégia Saúde da Fa- da implantação, em nosso estado,
mília, fundamentado na adesão é parte integrante do dia-a-dia de
voluntária dos atores envolvidos equipes SF e SB, de coordenado-
diretamente na prestação do res e secretários municipais de
serviço de saúde junto à popu- saúde, estimulando a visão da
lação, constrói de forma sutil a realidade de nossa estratégia, do
percepção de uma grande equipe seu monitoramento, avaliação,
de saúde municipal na qual o planejamento e gestão”.
secretário municipal de saúde,
os coordenadores municipais E que “é muito gratificante per-
Wallace Cazelli é Coordenador do AMQ no ES
dos programas saúde da família ceber como um instrumento, que
e saúde bucal, os coordenado- a primeira vista para quem ainda de fazer a diferença e de arrega-
res das unidades de saúde e as não o conhece, é simples, pode çar as mangas para efetivar uma
equipes como um todo, assu- se revelar como uma ferramenta mudança concreta na realidade.
mem o compromisso de trabalho poderosa de mudanças positivas. Ele destaca o apoio e a confiança
conjunto, com um só objetivo e E o mais gratificante ainda, não depositados neste trabalho, do
responsabilidade compartilhada, só para mim, mas para todos os secretário estadual de Saúde, Dr.
personificando conscientemente técnicos envolvidos no processo Anselmo Tose, outro entusiasta da
os seus papeis de avaliadores e de implantação, é que estamos qualificação dos serviços de saú-
agentes de transformação das trabalhando em algo que acredi- de, que, além de apoiar o proces-
suas próprias realidades. tamos mais e mais, a cada passo so desde seu início, fez questão de
dado, em cada realidade de tra- se manter informado e vibrando
Wallace pondera que o momento balho revisitada”. em cada passo dado pela equipe
de resposta aos cadernos avalia- junto aos municípios. O estado
tivos leva todos a uma análise crí- Após 17 anos de trabalho no ser- do Espírito Santo tem hoje 56 de
tico-reflexiva de seus verdadeiros viço público estadual, o coordena- seus 78 municípios trabalhando o
papéis enquanto equipe e a uma dor conclui que o AMQ está sendo AMQ (72%), e estará com adesão
consciência clara da necessidade sua mais vibrante experiência e implantação real de 100% muito
de intervenção, dentro da sua vivida, pois lhe dá a oportunidade em breve.
possibilidade, para uma efetiva
melhoria da qualidade não só dos
serviços, mas do próprio ambien-
“é muito gratificante perceber como um
te profissional.
instrumento, que a primeira vista para
quem ainda não o conhece, é simples,
Quanto ao passo seguinte (cons-
pode se revelar como uma ferramenta
trução das matrizes de interven-
ção sobre os padrões escolhidos),
poderosa de mudanças positivas. E o
Cazelli avalia que ele aproxima e
mais gratificante ainda, não só para
consolida ainda mais a equipe,
mim, mas para todos os técnicos
dando um sentido real da impor- envolvidos no processo de implantação,
tância social do trabalho de cada é que estamos trabalhando em algo
um e gerando soluções inéditas que acreditamos mais e mais, a cada
e ações de longo alcance junto à passo dado, em cada realidade de
população. Ele afirma que “sem trabalho revisitada.”
nenhum medo de errar, o AMQ,
45
A Melhoria Contínua da
Qualidade nos marcos do
Projeto AMQ-ESF
Carlos Eduardo Aguilera Campos*

“Gostaria portanto de propor que o projeto (AMQ) se direcione, no futuro,


para a incorporação de mais padrões de resultado e processo: resultados
para as áreas que requeiram maior atenção e processos para que se possa
identificar a melhoria dos resultados”. Hannu Vuori, M.D., Ph.D., M.A.

I
númeras iniciativas nacionais tem enfatizado e desafios a enfrentar em futuro próximo. Neste
a necessidade de se imprimir programas de sentido formou-se um grupo técnico, para formular
Melhoria da Qualidade da Atenção Primária, a presente proposta de abordagem e metodologias
com vistas à alcançar objetivos consagrados com o objetivo de apresentar métodos e ferra-
em Sistemas Universais de Saúde: o aumento da mentas para a Melhoria Contínua da Qualidade,
acessibilidade; o alcance de melhores resultados a partir da identificação de eventuais situações
em saúde; a satisfação dos usuários e a busca por consideradas deficientes ou problemáticas, seja na
maior eficiência dos recursos empregados. prática gerencial ou assistencial. Neste momento,
Este sub-projeto representa uma proposta de além dos esforços para disponibilizar e capacitar os
continuidade das atividades desenvolvidas pelo municípios a utilizarem a metodologia de auto-ava-
projeto Avaliação para a Melhoria da Qualidade da liação, o atual grupo envolvido com o sub-projeto
Estratégia Saúde da Família AMQ-ESF), desenvol- da Melhoria Contínua da Qualidade busca trazer
vido em conjunto pela OPAS e MS, como um dos subsídios aos profissionais envolvidos no processo
componentes do PROESF, sob a responsabilidade AMQ-ESF em processos de Melhoria Contínua da
da Coordenação da Avaliação e Acompanhamento qualidade. Para concretizar este objetivo, conta-
do Departamento de Atenção Básica. mos com o apoio decisivo da OPAS, da CAA-DAB e
Concebido como um instrumento de auto-ava- do Instituto da Qualidade em Saúde do MS de Por-
liação da qualidade dirigida para gestores, coor- tugal, que não mediram esforços, disponibilizando
denações e equipes de saúde da família, o projeto todo o apoio e estímulo a esta iniciativa.
AMQ-ESF tem revelado pouco a pouco o interesse A nortear a construção desta iniciativa, esteve
e o entusiasmo dos profissionais da atenção básica sempre em mente o atendimento às necessidades
de vários municípios do país pelo tema da quali- e expectativas de profissionais que atuam nas equi-
dade. A construção de parâmetros de avaliação pes de SF e dos usuários dos serviços. A satisfação
da qualidade que abrangesse a maioria das ações do usuário está ligada a múltiplos aspectos muitas
da ESF para reflexão e debate sobre a prática vezes independentes da assistência efetivamen-
gerencial e assistencial abre novas perspectivas te prestada. Um aspecto importante talvez seja

Médico graduado pela UFRJ, mestre em saúde coletiva pela ENSP e doutor, em medicina preventina, pela USP.
*

46
aquele relacionado às suas expectativas segundo da equipe, tendo cada um dos seus integrantes,
as representações, o nível sócio-econômico, à sua necessariamente, um papel de sujeito ativo a
forma de entender o mundo e à sua auto-estima. desempenhar; ausência de limitações e entraves
Atender bem, significa estar consciente sobre que externos à atuação da equipe, ser uma atividade
padrões culturais compartilham determinado grupo desenvolvida no âmbito interno do serviço; bus-
de pacientes ou determinada comunidade. Estes car prevenir os erros por meio de correções com
aspectos de certa forma subjetivos, implicam na foco prioritário nos processos de trabalho; não ter
necessidade de que os mecanismos que visem a objetivos finalísticos significando que aquilo que
melhoria da qualidade sejam formulados de acor- está bom pode ser indefinidamente melhorado;
do com cada situação em que se vive e se atua. ter o apoio e o compromisso das chefias ou dos
Desta forma esta proposta tem como preocupação níveis hierárquicos superiores da gerência com o
adequar as metodologias disponíveis na literatura esforço das equipes.
ao contexto brasileiro. Também a nortear a formu- Para que um programa de Melhoria Contínua da
lação aqui realizada estão os princípios inscritos Qualidade cumpra os seus objetivos são necessá-
na carta de direitos do usuário do SUS. Para a rias as seguintes condições: provocar mudanças
garantia destes direitos a prestação de serviços de concretas no sentido de um serviço de melhor qua-
qualidade previstos no campo da atenção básica lidade; definir os responsáveis pelas ações; exis-
são e serão sempre imprescindíveis. tência de uma decisão superior em proporcionar
A Garantia da Qualidade, a Melhoria Contínua as condições que não estão ao alcance da equipe
da Qualidade e o Monitoramento da Qualidade de forma a facilitar a melhoria de qualidade.
constituem-se em métodos que buscam estruturar Para o monitoramento da qualidade utiliza-se
ações que se organizam em um programa interno informações previamente existentes nos siste-
de qualidade. Estes prevêem o estabelecimento mas de informação, que tenham alimentação
de objetivos bem definidos visando implementar sistemática e regular. Os indicadores devem ser
medidas para a garantia e a melhoria da qualidade. escolhidos segundo critérios de relevância para
São conceitos que envolvem um processo dinâmico os objetivos do serviço ou para a organização.
e participativo de identificação de problemas e de- Podem ser do tipo sentinela. Sua ocorrência é
ficiências, definição e implementação de propostas considerada uma falha grave em um dos pontos
concretas de ação. O Ciclo da Melhoria de Quali- da cadeia assistencial impondo uma investi-
dade (Figura 1) é um processo contínuo em que a gação detalhada (morte materna; internação
avaliação leva ao diagnóstico das deficiências em por complicações de diabetes não controlado;
comparação com parâmetros pré-estabelecidos, a ocorrência de sífilis congênita). Podem ser utili-
definição de objetivos e metas, a implementação zados ainda indicadores construídos a partir de
de ações e o retorno à avaliação após um prazo dados agregados de desempenho ou cobertura,
determinado. Este trabalho de equipe não deve que permitem avaliar, no tempo, problemas ou
ser encarado nem concebido como um exercício insufi ciência no alcance de metas. As falhas
acadêmico ou projeto de pesquisa, mas deve es- técnicas da assistência podem ser identificados
tar adequado para ser desenvolvido como parte e corrigidos por meio deste enfoque (percentual
integrante da rotina de trabalho. Para isto deve-se de gestantes captadas no primeiro trimestre da
buscar metodologias e instrumentos apropriados gravidez, percentual de idosos com vacinação
e factíveis. em dia). Para este monitoramento quantitativo
Alguns dos princípios da Melhoria Contínua da podem ser utilizados gráficos ou diagramas de
Qualidade são: a prioridade para se alcançar a controle, identificando a evolução nos indica-
qualidade definida a partir do ponto de vista do dores em intervalos pré estabelecidos (mensal,
usuário; participação de todos os profissionais semestral, anual). Muitos dos indicadores podem
47
ser construídos a partir do SIAB e utilizados para Ciclo de Melhoria da Qualidade.
o monitoramento. As falhas identificadas devem Os métodos que norteiam a avaliação e a melhoria
servir para mudanças de estrutura e processos. da qualidade podem diferir de um país para outro,
Outros aspectos importantes que podem ser evi- dependendo da realidade encontrada. Desta forma
denciados no monitoramento referem-se ao uso métodos e instrumentos utilizados em um país
desnecessário (uso de antibióticos em casos de pode ser inadequado para uma ou outra realidade.
gripe, cobertura vacinal acima de 100%) ou a Este é o motivo pelo qual deve-se, mesmo com
sub-utilização de serviços necessários (cota de base em diversos instrumentos internacionais, esta
exames e medicamentos não utilizados, baixa co- iniciativa tem buscando construir uma proposta
bertura de pré-natal; agendas com vagas ociosas que reflita o atual estágio da Estratégia de Saúde
para determinado procedimento por tipo de clien- da Família. A idéia é oferecer em breve um manual
tela). Neste projeto em especial todos os padrões de apoio às Equipes para estas possam desenvolver
apresentados na auto-avaliação pelo instrumento a metodologia MCQ imprimindo assim mudanças
AMQ-ESF que estejam, na avaliação da equipe, em em seus métodos e rotinas de trabalho, a partir
não conformidade com a qualidade desejada são das deficiências identificadas.
propostos como ponto de partida para o início do

FIGURA 1 O CICLO DA MELHORIA CONTÍNUA DA QUALIDADE

48
Foto: arquivo CAA/DAB

A implantação do projeto AMQ nas Equipes Saúde da Família do Programa


de Extensão Comunitária do IMIP:

Somando esforços para


produzir mudanças
Técnicos do Grupo de Estudo de Avaliação
em Saúde (GEAS) e do Programa de
Extensão Comunitária (PEC/IMIP) 49
I. Introdução

O Programa de Extensão Comunitária (PEC) do O AMQ busca induzir o


Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira aperfeiçoamento contínuo
(IMIP) contribui para o fortalecimento da aten- da qualidade da atenção à
ção primária em saúde (APS) de qualidade no saúde prestada por meio
país atuando nas áreas de assistência, ensino,
da institucionalização de
pesquisa, organização de serviços e avaliação. A
integração dos processos de formação dos profis-
processos avaliativos, ou
sionais de saúde com a prática acontece por meio seja, sua efetiva incorporação
de parcerias estabelecidas com as prefeituras dos no cotidiano dos serviços de
municípios de Recife e Olinda, em Pernambuco, saúde em nível local.
para co-gestão técnica e administrativa das Equi-
pes Saúde da Família (ESF). Neste campo vivo
de práticas, destacam-se as ações de educação tados apresentados. A auto-avaliação é realizada
permanente dos profissionais e o monitoramento a partir de instrumentos direcionados à gestão e
e avaliação (M&A) da assistência prestada. Fazem equipes onde encontram-se padrões de qualidade
parte do PEC, 19 ESF (incluindo 8 ESB), sendo 17 distribuídos em estágios, que vão do elementar (E)
sediadas em Recife e 2 em Olinda. ao avançado (A), passando pelos estágios de de-
senvolvimento (D), consolidado (C) e bom (B).
Entre os objetivos estabelecidos para as ações de
M&A da estratégia SF, que são realizadas rotinei- Organizados em dimensões e subdimensões temá-
ramente no PEC/IMIP, está o de oferecer subsídios ticas, os instrumentos do projeto permitem que os
teórico-metodológicos para a reprodução de boas participantes construam um diagnóstico detalhado
práticas em APS em outras Unidades de Saúde da de suas fragilidades e fortalezas, identificando
Família das Secretarias Municipais de Saúde (SMS). áreas prioritárias para intervenção. As matrizes
Nesse sentido, a implantação do projeto Avaliação de planejamento integram os recursos do projeto
para a Melhoria da Qualidade da Estratégia Saúde da e orientam todos os passos das ações necessárias
Família (AMQ) nas ESF conveniadas tem contribuído para melhoria da qualidade.
para que esse objetivo seja alcançado com êxito.

III. A implantação do AMQ nas USF


II. O projeto Avaliação para a Melhoria conveniadas ao PEC/IMIP
da Qualidade da Estratégia Saúde da
Família (AMQ) O processo de implantação teve início no segundo
semestre de 2006 a partir do trabalho conjunto
O AMQ busca induzir o aperfeiçoamento contínuo da Coordenação do PEC/IMIP e Gerentes de Terri-
da qualidade da atenção à saúde prestada por meio tório dos Distritos Sanitários (DS) para definição
da institucionalização de processos avaliativos, ou da melhor estratégia a ser adotada. Em seguida,
seja, sua efetiva incorporação no cotidiano dos foram realizadas oficinas de sensibilização com 137
serviços de saúde em nível local. Nesse projeto, a profissionais de todas as categorias, representando
avaliação deve ser um processo dinâmico, peda- as 17 ESF do município de Recife. O processo foi
gógico e mobilizador, no sentido da reflexão para acompanhado por facilitadores do PEC e da SMS,
a ação em direção à qualidade. É necessária ainda que também participaram do momento de resposta
a livre adesão por parte do gestor municipal e de aos instrumentos e da construção das matrizes
todos os participantes, além da não vinculação a de intervenção. Do total de ESF, 10 concluíram as
50 incentivos ou punições de acordo com os resul- etapas de avaliação e planejamento.
Houve uma boa receptividade dos participantes em equipes utilizaram padrões mais avançados em
relação à proposta e flexibilidade para inclusão na detrimento a padrões elementares. Por exem-
sua rotina de trabalho, entretanto algumas dificul- plo: algumas ESF desenvolveram matrizes para
dades puderam ser observadas durante o processo, elaboração de mapas de trabalho complexos,
tais como: pouca familiaridade com métodos de que apontam situações dinâmicas do território,
avaliação e planejamento; dificuldade na compre- quando ainda não possuíam cadastro mensal atu-
ensão de alguns padrões; e certo descrédito por alizado das famílias de sua área de abrangência
parte dos profissionais em relação à continuidade (ação considerada elementar). Essa experiência
do processo. sinaliza a necessidade das capacitações do pro-
jeto fortalerem os conteúdos orientados para a
compreensão de que a melhoria da qualidade é
IV. Achados relevantes em relação aos alcançada de forma gradual e que o cumprimento
padrões de qualidade a padrões mais elementares é determinante para
o alcance de padrões mais avançados. Entre-
O processo de implantação do AMQ nas ESF inte- tanto, para o conjunto de padrões elementares,
grantes do PEC/IMIP em parceria com a SMS, ainda persiste o desafio para definição de prioridades,
que incipiente, possibilitou a análise de informa- considerando limites e possibilidades além dos
ções importantes: foram encontrados percentuais prazos para alcance das respostas desejadas.
entre 60% e 80% de não conformidade em padrões
relacionados ao cadastramento de famílias, crian- O produto das discussões possibilitou que as
ças menores de cinco anos e hipertensos, assim ESF refletissem sobre o processo de trabalho,
como relacionados a atividades educativas no pré- apontando ações, que estão sob sua governabi-
natal. Todas essas ações são consideradas básicas lidade, e algumas mudanças a serem realizadas
a serem realizadas pelas equipes SF. no cotidiano.

Por outro lado, foram apresentados percentuais


elevados em padrões com estágio de qualidade V. Considerações finais
mais avançados, tais como: prevalência de 90%
ou mais do aleitamento materno O AMQ vem contribuindo para
exclusivo aos 30 dias; selamen- a capilarização da avaliação,
to dos quatro primeiros molares Algumas dificuldades considerada uma importante
em casos com indicação clínica; puderam ser observadas ferramenta de gestão para
e investigação de todos os óbi- durante o processo, qualificação das ações e do
tos infantis e fetais ocorridos cuidado com a saúde da co-
como pouca
nos últimos 12 meses. Tais letividade.
padrões, cujos percentuais de
familiaridade com
resposta variaram entre 70% e métodos de avaliação e O IMIP, por meio do PEC
100%, representam condições planejamento, dificuldade tem sido um importante
mais avançadas em direção à na compreensão de laboratório de práticas ino-
qualidade da atenção. vadoras no desenvolvimento
alguns padrões e certo
e implantação de projetos
descrédito por parte dos
Quanto às matrizes de interven- envolvendo a atenção bá-
ção construídas, observam-se profissionais em relação sica. Neste cenário, o AMQ
que a seleção dos padrões nem à continuidade do encontra um conjunto de
sempre priorizou o critério gra- processo. condições muito favoráveis
dativo, uma vez que algumas junto às ESF integrantes do 51
PEC/IMIP, contando com grande apoio institucio- respostas aos padrões de qualidade oferecem
nal para sua implantação e desenvolvimento. O subsídios para compreensão e monitoramento do
processo permite que diversos aspectos do pro- desenvolvimento da estratégia como um todo.
jeto sejam avaliados, desde a implantação até o Assim, por meio de um olhar diferenciado a par-
alcance de estágios mais elevados de qualidade tir da integração entre os campos de ensino e
após intervenções. Muitas informações advindas práticas, o acompanhamento do projeto nestas
destas avaliações podem gerar subsídios para ESF representa uma importante contribuição
aperfeiçoamento de estratégias envolvendo o para implementação do AMQ e da própria estra-
AMQ em outras localidades. tégia Saúde da Família tanto em nível local, no
trabalho conjunto com a SMS, como em âmbito
Considerando ainda que este conjunto de equipes nacional, em articulação com a Coordenação de
representa uma amostra qualitativa da Saúde Acompanhamento e Avaliação do Departamento
da Família no país, a observação e análise das de Atenção Básica.
Foto: arquivo CAA/DAB

52
Indicadores da Atenção Básica
no Pacto pela Saúde e os
novos fluxos da pactuação

A
atenção básica no Brasil vem construindo por praticamente todos os estados e municípios
caminhos para inserção da cultura avalia- do país, com um aumento gradual a cada ano,
tiva no âmbito do Sistema Único de Saú- atingindo a marca dos 100% em 2004. Entretanto,
de. Sua política apresenta como um dos ao longo de alguns anos de sua existência, obser-
fundamentos realizar avaliação e acompanhamento vou-se uma tendência à sua condução como um
sistemático de resultados alcançados, como parte instrumento normativo e burocrático, trabalhado
do processo de planejamento e programação das de maneira estanque aos demais processos de pla-
ações. Diante da expansão e consolidação de suas nejamento e intervenção das Secretarias de Saúde
estratégias de (re)organização, compete às três estaduais e municipais. Ainda nesta direção, ob-
esferas de governo desenvolver servou-se também que, muitas
ações que visem ao monitora- vezes, as metas propostas não
mento e avaliação dos serviços significavam avanços reais em
prestados à população. Entre 1999 a 2006, direção a resultados inovadores,
durante os oito sendo facilmente alcançadas
Desde sua proposição em 1999, ou superadas. Por outro lado,
anos em que vigorou,
o Pacto de Indicadores da Aten- metas muito ambiciosas eram
o Pacto da Atenção
ção Básica constituiu-se em um propostas e não havia uma cor-
importante mecanismo para Básica foi firmado por respondência de esforços em
direcionamento de esforços em praticamente todos os sua direção.
relação às metas desejáveis a estados e municípios
serem alcançadas pelas três do país, com um No histórico de existência do
esferas de governo no SUS, por pacto, na busca por indicadores
aumento gradual a
meio do processo de pactuação. mais robustos e representativos
Além disto, tornou-se também
cada ano, atingindo a da atenção básica, o conjunto
um instrumento de referência marca dos 100% em de indicadores sofreu muitas
para o monitoramento e avalia- 2004. mudanças. Durante os anos
ção das ações desenvolvidas no de 1999, 2000, 2001 e 2002
âmbito da atenção básica em as alterações foram anuais.
todo território nacional. Entre- Entre 2003 e 2005 o conjunto
tanto, o processo não foi vinculado a desempenho manteve-se inalterado. Uma nova reformulação
nos resultados, não havendo nenhuma forma de san- foi realizada para o Pacto de 2006. A relação dos
ção ou penalidade para os estados e municípios. indicadores de cada Pacto está disponível para
consulta no site da Coordenação de Acompanha-
Entre 1999 a 2006, durante os oito anos em que mento e Avaliação da atenção básica (www.saude.
vigorou, o Pacto da Atenção Básica foi firmado gov.br/caadab). 53
(SIS), a partir da incorporação da análise de con-
sistência de resultados referentes aos indicadores
pactuados pelos estados e municípios; o debate
em torno de resultados de indicadores à luz das
políticas de saúde implementadas, agregando-se
aspectos organizacionais e contextuais à análise;
e a promoção da cultura de monitoramento e ava-
liação no âmbito do SUS.

Em 2004, como fruto da necessidade de se criar


estratégias mais efetivas de articulação e inte-
gração entre os diversos instrumentos de plane-
jamento, programação e pactuação existentes
no âmbito do SUS, começou o debate em torno
de um pacto unificado. Após um longo processo
de discussão, com proposições tripartites, esta
construção foi concretizada no Pacto pela Saúde,
em fevereiro de 2006, que estabelece novas for-
mas de relação e negociação entre gestores do
SUS. O novo Pacto pressupõe a assinatura de um
Termo de Compromisso de Gestão e institui a uni-
ficação do processo de pactuação de indicadores
Nos últimos três anos, o Departamento da anteriormente integrantes do Pacto da Atenção
Atenção Básica buscou dinamizar o processo de Básica e da Programação Pactuada e Integrada
pactuação. Com esse intuito, adotou algumas da Vigilância em Saúde.
estratégias importantes para qualificar a nego-
ciação de metas que incluiu: a) tornar o processo A relação dos indicadores do Pacto pela Saúde
mais participativo no âmbito das três esferas bem como os fluxos e rotinas de pactuação foram
de gestão do SUS, garantindo envolvimento estabelecidos pela Portaria nº 91/GM de 10/01/07.
de áreas estratégicas; b) subsidiar gestores na No novo formato, algumas mudanças podem ser
definição de políticas e planejamento de ações observadas, tais como: a ampliação do número
no âmbito da atenção básica e demais níveis de de indicadores, apresentando um total de 50 que
atenção a partir do monitoramento e análise dos estão organizados em 38 principais (de pactuação
indicadores; c) estimular diálogo entre os ges- obrigatória) e 12 complementares (de pactuação
tores; d) estimular um processo crítico-reflexivo opcional); a inclusão de um conjunto de priorida-
de negociação de metas e análise de resultados; des previstas no Pacto pela Vida que, apesar de
e) articular o pacto com outros instrumentos de não haver metas específicas, deve ser realizado e
programação e pactuação existentes; e f) pro- monitorado pelos gestores das três instâncias; a
mover a melhoria do conhecimento e utilização manutenção do aplicativo informatizado (Sispacto)
das informações dos sistemas de saúde. com as devidas adequações; e a alteração da co-
ordenação do processo que passa a ser realizada
Como efeitos desse processo de dinamização pela Secretaria Executiva mais especificamente pelo
do Pacto no âmbito federal, pode-se destacar a Departamento de Apoio à Descentralização. Avan-
mobilização interna das diversas Secretarias do ça ainda no controle social ao incluir os Conselhos
Ministério da Saúde sobre indicadores de saúde; a de Saúde nesse processo de negociação tripartite.
contribuição para melhoria da qualidade dos dados Em relação ao Pacto da Atenção Básica, pode-se
gerados pelos Sistemas de Informações em Saúde destacar alteração no fluxo de pactuação.
54
Resumidamente, o fluxo da pactuação das metas
dos indicadores do Pacto pela Saúde prevê as se-
guintes etapas:

1. Proposição e envio de metas dos indicadores


pelo Ministério da Saúde para cada estado;

2. Manifestação das SES sobre as metas e envio, se


for o caso, da proposta de alteração e justificativa
técnica para o Ministério da Saúde;

3. Negociação e pactuação das metas pelas áre-


as técnicas do Ministério da Saúde e devolução
ao Departamento de Apoio à Descentralização
(DAD/SE/MS);

4. Pactuação das metas estaduais pelo Conselho


Estadual de Saúde e pela Comissão Intergestores
Bipartite;

5. Envio da relação de indicadores com as respecti-


vas metas pelas SES para a Comissão Intergestora
Tripartite e ao DAD;

6. Homologação dos pactos estaduais pelo Minis-


tério da Saúde;

7. Negociação e pactuação das metas municipais


com as SES;

8. Pactuação das metas municipais no Conselho Munici-


pal de Saúde e na Comissão Intergestora Bipartite; e

9. Homologação dos pactos municipais pelas Se-


cretarias Estaduais de Saúde.

O Quadro 1 apresenta os indicadores definidos


pelo Ministério da Saúde, de forma tripartite, que
compõem o Pacto pela Saúde para a pactuação
do ano de 2007. Do total de indicadores, 21 inte-
graram o Pacto da Atenção Básica de 2006, sendo
considerados diretamente relacionados com a
atuação das equipes da atenção básica e devendo
ser monitorados para a ampliar a resolutividade
da atenção básica no país.

55
QUADRO 1 RELAÇÃO DOS INDICADORES DA ATENÇÃO BÁSICA DO PACTO PELA SAÚDE, 2007

INDICADORES PRINCIPAIS

Proporção de nascidos vivos de mães com 4 ou mais consultas de pré-natal


Média anual de consultas médicas por habitante nas especialidades básicas
Coeficiente de mortalidade infantil
Razão entre exames preventivos de câncer de colo de útero em mulheres de 25 a 59 anos e a
população feminina nesta faixa etária
Proporção de óbitos de mulheres em idade fértil investigados
Taxa de internações por acidente vascular cerebral (AVC)
Proporção de internações por complicações do diabetes mellitus
Cobertura de primeira consulta odontológica programática
Proporção da população coberta pelo programa de saúde da família (PSF)
Razão de mortalidade materna

INDICADORES COMPLEMENTARES

Proporção de nascidos vivos com baixo peso ao nascer


Taxa de internações por Infecção Respiratória Aguda em menores de 5 anos de idade
Taxa de internações por Doença Diarréica Aguda em menores de 5 anos de idade
Coeficiente de mortalidade neonatal tardia
Proporção de partos cesáreos
Taxa de internações por insuficiência cardíaca congestiva (ICC)
Proporção de portadores de hipertensão arterial cadastrados
Proporção de portadores de diabetes mellitus cadastrados
Cobertura da ação coletiva escovação dental supervisionada
Média de procedimentos odontológicos básicos individuais
Média mensal de visitas domiciliares por família

É importante ressaltar que os municípios com É importante considerar que a pactuação é a


menos de 80 mil habitantes devem pactuar o nú- base para a negociação de metas a serem al-
mero absoluto de óbitos infantis e maternos, ao cançadas por municípios, estados e Distrito Fe-
invés dos indicadores Coeficiente de Mortalidade deral com vistas à melhoria do desempenho dos
Infantil e Razão de Mortalidade Materna (princi- serviços e da situação de saúde da população.
pais) e Coeficiente de Mortalidade Neonatal Tardia É preciso avançar no campo político no sentido
(complementar). Da mesma forma, nos estados de que os gestores utilizem essa ferramenta
em que a proporção de nascidos vivos de mães para avaliação de políticas implementadas no
com quatro ou mais consultas de pré-natal superou nível local e que a definição de metas possa
90% no ano anterior, devem pactuar o indicador de fato refletir o compromisso dos mesmos em
Proporção de Nascidos Vivos de mães com sete ou melhorar seus resultados e conseqüentemente

56 mais consultas de pré-natal. a saúde da população.


As Secretarias Estaduais e a
Avaliação da atenção básica:
um desafio antigo com novas
perspectivas
A organização da atenção à saúde no Brasil se configura em um
desafio cotidiano enfrentado por gestores, técnicos e profissionais
de saúde em diferentes pontos do sistema.
O avanço na elaboração das
políticas, o perfil sanitário e a
diversidade de contextos viven-
A discussão sobre o papel do gestor
ciados pelos municípios, estados
estadual no SUS, especialmente na
e regiões conferem à gestão do
atenção básica, ocupa um espaço
SUS uma complexidade crescen-
permanente nos debates sobre o sistema
te. Entre as temáticas essenciais
de saúde brasileiro e diversas iniciativas
para a instrumentalização e
têm sido implementadas para fortalecer e
qualifi cação dos gestores pú-
auxiliar as secretarias estaduais de saúde
blicos comprometidos com a
(SES) às suas atribuições.
melhora do sistema de saúde
em todas as esferas, destaca-se
a avaliação em suas múltiplas
abordagens e dimensões. ações previstas em um de seus ra integrada, flexível e adaptável
componentes, vem contribuindo às mudanças requeridas pela
A discussão sobre o papel do para o fortalecimento da capaci- realidade. Tal concepção pre-
gestor estadual no SUS, especial- dade técnica das SES em desen- tende fortalecer a incorporação
mente na atenção básica, ocupa volver ações de monitoramento dos processos avaliativos no co-
um espaço permanente nos de- e avaliação da atenção básica tidiano das práticas e da cultura
bates sobre o sistema de saúde (M&A) desde 2004. organizacional das SES.
brasileiro e diversas iniciativas
têm sido implementadas para Nesse contexto, se inserem os A orientação conceitual, que
fortalecer e auxiliar as Secreta- Planos Estaduais de Monitora- alinha todos os planos em exe-
rias Estaduais de Saúde (SES) mento e Avaliação da Atenção cução, é de que a avaliação
às suas atribuições. Dentre tais Básica, que foram formulados deve ser entendida como um
iniciativas, destaca-se o Projeto pelas 27 Secretarias Estaduais processo dinâmico, permanente,
de Expansão e Consolidação do de Saúde. Importante ferramen- sistemático, articulado às ações
Saúde da Família (PROESF), que ta de planejamento e gestão, os implementadas, que visa a sub-
por meio do financiamento de planos são elaborados de manei- sidiar a definição de problemas,
57
reorientar estratégias desenvol- das ações de M&A e o terceiro, o representa um dos pilares funda-
vidas e fornecer elementos para de avaliação da implantação do mentais da iniciativa. Uma parte
a transformação das práticas projeto no estado. deste recurso foi direcionada à
sanitárias e a organização dos contratação de Centros Cola-
serviços de saúde. Para fortalecer o processo de boradores para a Avaliação da
implantação e acompanhamento Atenção Básica, que são institui-
Considerando a necessidade dos Planos Estaduais, a Coor- ções de ensino e pesquisa, com
de imprimir maior organicida- denação de Acompanhamento expertise na área, que ocuparam
de institucional aos processos e Avaliação da Atenção Básica uma função de destaque no
de avaliação da atenção básica (CAA) do Departamento de assessoramento ao desenvolvi-
desenvolvidos pelas SES, os Atenção Básica, do Ministério da mento das propostas metodoló-
Planos Estaduais tiveram como Saúde, formou um grupo técnico gicas de cada Secretaria.
referência para sua elaboração voltado para o apoio ao desen-
as seguintes linhas norteadoras: volvimento dos referidos planos, Como contribuir efetivamente,
(1) Saúde da Família como estra- que, tanto de maneira presencial para a consolidação da estraté-
tégia prioritária para a organi- quanto a distância, tem per- gia Saúde da Família, por meio
zação das práticas e serviços de manentemente assessorado as dos Planos Estaduais de M&A da
atenção básica, com repercussão SES nos distintos momentos de AB? Essa era uma entre muitas
na gestão do sistema de saúde; execução da proposta. As especi- outras perguntas feitas pelas
(2) integração dos distintos pro- ficidades de cada estado são va- Secretarias Estaduais de Saúde,
cessos e dos instrumentos de lorizadas nas reuniões e oficinas no momento da implantação do
trabalho em avaliação do SUS; com o núcleo de M&A das SES, PROESF (início da fase I). Sem-
(3) articulação entre as áreas de sempre considerando as dificul- pre que uma inquietação dessa
atenção básica, planejamento, dades e facilidades dos cenários ordem surgia, as linhas nortea-
epidemiologia, informação em e dos profissionais, investindo doras, nas quais o projeto está
saúde e vigilâncias (epidemio- na articulação permanente e in- pautado, eram resgatadas.
lógica, ambiental e sanitária) centivando o protagonismo das
no processo de formulação e Secretarias. Para o Ministério da Saúde este
implementação da avaliação da projeto reforça o papel das SES
atenção básica, no âmbito do O repasse de recursos finan- como definidoras de políticas, co-
estado; e (4) (re)estruturação ceiros para execução pelas SES financiadoras, norteadoras e coo-
da infra-estrutura física, de
equipamentos e de pessoal da
SES, como forma de potencia-
lizar a capacidade executora de
Para fortalecer o processo de implantação
processos avaliativos da atenção
e acompanhamento dos Planos Estaduais,
básica. a Coordenação de Acompanhamento
e Avaliação da Atenção Básica (CAA)
Os projetos contemplam três do Departamento de Atenção Básica,
momentos de execução articula- do Ministério da Saúde, formou um
dos. O primeiro é o de desenvol- grupo técnico voltado para o apoio ao
vimento da capacidade técnica, desenvolvimento dos referidos planos,
que teve como objetivo central que, tanto de maneira presencial e quanto
a (re)estruturação da equipe a distância, tem permanentemente
de trabalho para desenvolver assessorado as SES nos distintos
atividades de M&A nas SES. O momentos de execução da proposta.
58 segundo é o de desenvolvimento
peradoras para os municípios, no estadual na AB por meio da SES. Muitas perguntas já foram
planejamento, desenvolvimento, institucionalização do monito- respondidas.
execução e fortalecimento da ramento e avaliação nesse nível A expectativa é de uma mobiliza-
AB/SF e na avaliação e monito- de atenção. ção permanente em torno da te-
ramento, incluindo a definição mática, buscando potencializar a
de instrumentos e metodologias Após três anos do início efetivo da capacidade de produzir mudanças
de avaliação. Neste sentido, os elaboração dos primeiros planos, e transformando esforços isolados
Planos Estaduais de M&A da significativos resultados já podem em movimentos articulados, que
AB potencializam a priorização ser vislumbrados na incorporação possam, por sua vez, contribuir
da estratégia Saúde da Família das ações de M&A da atenção bá- para melhoria da qualidade dos
e a construção da identidade sica na agenda de prioridades das serviços de saúde no país.

Experiências Estaduais I – O Olhar do Gestor em Diferentes Regiões


Rio Grande do Sul consistente na maneira de lidar de, com transferência de respon-
com as informações para racio- sabilidades e compromissos para
A Secretaria Estadual de Saúde nalizar as decisões, não pode o nível local, exige mudança no
do Rio Grande do Sul desenvolve deixar de garantir um signifi- modelo organizativo do sistema,
um importante trabalho no sen- cativo processo de integração priorizando a realidade local”.
tido de incorporar em seu dia-a- entre os diferentes setores das Para isso, é necessária a constru-
dia, a prática do monitoramento Secretarias. ção de um olhar que valorize o
e avaliação no âmbito da atenção planejamento, o monitoramento
básica. Para José Inácio Lermen e Outro aspecto de extrema rele- e a avaliação em todos os níveis
Gládis Tyllman, técnicos que têm vância para a fixação do senti- de gestão.
trabalhado à frente do projeto no mento de que a avaliação é algo
estado, o Plano Estadual de M&A imprescindível na gestão, é o Os técnicos acrescentam que,
da AB tornou-se um instrumento envolvimento direto dos vários “após a conquista do conjunto
fundamental para a indução do atores, desde o nível federal de condições legais para a im-
monitoramento e avaliação como até o nível local. Nesse sentido, plantação e implementação do
um compromisso assumido pela Lermen e Tyllman lembram que Sistema Único de Saúde, pela
Secretaria e, ao mesmo tempo, “a efetiva descentralização das Constituição de 88 e pelas Leis
é capaz de tencionar as diversas ações em saúde, superando a Orgânicas da Saúde, seguida das
áreas da SES a se defrontarem lógica vertical e centralizadora do normas e formas para estrutu-
com a realidade da necessidade planejamento da política de saú- ração filosófica, organizacional
de se monitorar e se avaliar de
maneira sistemática.

Integrar as áreas que compõem Integrar as áreas que compõem a aten-


a atenção básica, inclusive os se- ção básica, inclusive os setores vincu-
tores vinculados aos Sistemas de lados aos sistemas de informação em
Informação em Saúde, tem sido saúde, tem sido um grande desafio en-
um grande desafio enfrentado frentado pelas secretarias de saúde na
pelas Secretarias de S aúde na execução do projeto.
execução do projeto. O propósito
de garantir uma transformação 59
Pelo contrário, é estabelecer prio-
ridades e ações de acordo com o
diagnóstico local, de cada situa-
ção dada, buscando evidências
do problema e da pertinência das
ações e mudanças propostas”.
Desde a sua concepção, esse
caráter descentralizador foi uma
das premissas do projeto. Bus-
cou-se antes de tudo, orientar
e estabelecer diretrizes gerais,
Foto: arquivo CAA/DAB

que pudessem nortear as ações,


respeitando as especificidades de
cada contexto.

Para Lermen e Tyllman, as pers-


SES/RS: Técnicos reunidos para decisões do M&A estadual pectivas, em relação à implan-
tação do projeto no Rio Grande
e financeira, transcorrendo de trabalho para qualificar não ape- do Sul, são de mudanças es-
forma seqüencial, progressiva e nas a análise das informações, truturais e organizacionais dos
pactuada, chega-se ao terceiro mas também a interlocução com vários níveis do sistema, a partir
momento: a necessidade de uma os municípios. de avaliações contínuas das prá-
atenção à saúde de qualidade. E ticas na Secretaria. Espera-se
qualidade não se consegue sem De acordo com Lermen e Tyll- que o projeto, em suas etapas
monitoramento e avaliação”. man, o projeto tem contribuído futuras, possa proporcionar, de
No Rio Grande do Sul, a chegada para que o estado reencontre o forma mais ampla, capacitações
do Plano Estadual de M&A da seu papel e função no sistema na área de planejamento e ava-
AB significou inicialmente, para de saúde. Segundo eles, “o pro- liação, incorporando inclusive
os técnicos dos diversos setores jeto traz um rumo, com objeti- tecnologias de aprendizagem,
que nele se envolveram, uma vos definidos, determinados e como ensino a distância, com o
tarefa a mais a ser desenvolvida. construídos a partir das diversas objetivo de atingir as equipes de
Mas, com o passar do tempo, o realidades e pelas diversas ne- saúde, seja da estratégia Saú-
monitoramento e a avaliação foi cessidades. Não é uma proposta de da Família, seja do modelo
se tornando uma ferramenta de vertical e única de realizar ações. tradicional.

São Paulo rente ao gestor municipal pela Paulo Monteiro: “O desenho do


organização e operacionaliza- projeto adotou como referência
O Plano Estadual de M&A da AB, ção da AB, mas entende que a o papel do estado e do município
no estado de São Paulo, teve esfera estadual deve desenvol- na gestão do sistema de saúde e
início, em outubro de 2005, sen- ver importantes macrofunções, da atenção básica. No primeiro
do coordenado pelo Instituto de prioritárias necessárias ao au- caso, foi enfatizada a atribuição
Saúde, órgão de pesquisa, en- mento da resolubilidade do SUS, do estado em garantir a integra-
sino e preservação da memória conforme depoimento do então lidade do cuidado, por meio da
da Secretaria Estadual de São diretor do Instituto, Alexandre estruturação e articulação dos
Paulo (SES/SP). Seu desenho Grangeiro e dois dos técnicos diversos níveis de gestão e aten-
60 defende a responsabilidade ine- de sua equipe, Luiza Heimann e ção. A regionalização da saúde,
nesta perspectiva, passou a ser
essencial ao projeto”.
“O desenho do projeto adotou como
referência o papel do estado e do
O plano do estado está estrutu-
rado em dois componentes: (1)
município na gestão do sistema de saúde
a produção de conhecimento
e da atenção básica. No primeiro caso,
sobre o grau de implementação foi enfatizada a atribuição do estado
das ações de saúde e seus re- em garantir a integralidade do cuidado,
sultados na organização do SUS por meio da estruturação e articulação
e na saúde da população e (2) a dos diversos níveis de gestão e atenção.
transferência de conhecimento A regionalização da saúde, nesta
e tecnologia aos diversos níveis perspectiva, passou a ser essencial ao
de gestão, por meio da formação projeto.”
de trabalhadores de saúde e o
fortalecimento das direções re-
gionais. Com essas dimensões, a Com a criação do SISMASUS disponíveis por município, po-
Secretaria Estadual de Saúde se (www.isaude.sp.gov.br/sisma- dendo ser agregadas para o nível
preocupa em visualizar o contex- sus), cujo acesso é permitido a regional e estadual”.
to da política pública, focalizando gestores, profissionais de saúde
os vários aspectos relacionados e à população, a SES/SP dinami- Outra importante preocupação do
à gestão do SUS. zou um importante instrumento projeto era aumentar a capacida-
de avaliação da atenção básica de de gestão das direções regio-
No que se refere às fases de que, tendo por referência o nais de saúde, na medida em que
execução, a SES/SP, articulou de Pacto pela Saúde, acompanha o diagnóstico, realizado em sua
maneira exitosa, apesar do curto 76 indicadores estruturados em fase inicial, indicou que esse era o
espaço de tempo, os três mo- seis matrizes analíticas. Heimann nível mais frágil na organização do
mentos de execução existentes. ainda lembra que “o sistema sistema de saúde no estado.
A respeito disso, Heimann afirma abrange informações relativas
que “a estruturação foi realizada à resolubilidade dos serviços Com a aproximação do término
a partir da articulação de seus básicos de atenção, da gestão dessa fase inicial, Grangeiro faz
componentes, na perspectiva de do SUS e o cumprimento do um balanço das ações e produtos
garantir que todo o conhecimen- planejamento e da programação dos componentes/subcompo-
to produzido se transformasse em saúde. Os indicadores foram nentes que estruturam o plano
em uma nova tecnologia, a ser, priorizados em oficinas com re- no estado, comunicando que
necessariamente, transferida presentantes da Secretaria de “no componente de produção do
para os diversos níveis de gestão estado, das regionais de saúde conhecimento também foi estru-
do sistema de saúde e incorpo- e dos municípios, atendendo às turado o programa de avaliação
rada à prática profissional dos necessidades de cada nível de da atenção básica, que teve os
trabalhadores. A adoção desse gestão. Os agravos priorizados temas de pesquisa definidos
pressuposto permitiu ao projeto para o acompanhamento foram em uma consulta pública a 55
superar a clássica distância exis- a mortalidade infantil e materna, gestores e membros da comu-
tente entre a produção acadêmi- tuberculose, hanseníase, dengue, nidade acadêmica. O programa
ca e a prática dos serviços, assim aids, câncer de colo de útero e está estruturado em três sub-
como possibilitou fortalecer a de mama, diabetes, hipertensão, componentes: o de avaliação da
cultura de avaliação no sistema alimentação saudável e atividade atenção básica, o de história e
de saúde e a sua vinculação aos física e violência. As informações preservação da memória e o de
processos de gestão”. relativas aos indicadores estão gestão do projeto”. 61
Segundo o entendimento de
Monteiro, em relação às dificul-
dades enfrentadas na implanta-
ção do plano, o desafio marcante
se deu na área de formação, “o
desafio foi desenvolver sistemá-
ticas para articular os modelos
pedagógicos ao processo de
supervisão das ações desen-
volvidas no âmbito regional e
municipal. Optou-se, para tanto,
por adotar a metodologia de
ensino à distância e estruturar
uma rede de vídeo conferência,
que interligará, por meio de te-
lesalas ou internet, as regionais
de saúde e seus municípios”. SES/SP: Capacitação em M&A no contexto do Plano Estadual
Acrescentou também, que “a
metodologia de comunidades de Apesar dos significativos resul- proposições. “A busca de soluções
práticas, reunindo profissionais tados alcançados pela SES/SP, para estas questões foi o objeto do
das Direções Regionais de Saúde ao término da fase I do PROESF, PROESF no estado de São Paulo. O
e dos municípios, está sendo Grangeiro afirma que há muito por desenvolvimento da segunda fase
utilizada na organização do en- realizar para de fato a avaliação deverá aprimorar a amplificação
sino a distância, que terá como consista num processo cotidiano, destas estratégias e permitir sua
produto final a formulação dos na perspectiva da realização de institucionalização em âmbito es-
planos regionais de saúde.” sínteses que direcionem ações e tadual, regional e municipal”.

Acre estado, composto por técnicos liação. Para Maria Estela Livelli
das diversas áreas que têm in- Becker, representante do núcleo
A Secretaria Estadual de Saúde terface com a atenção básica. de coordenação do projeto, o
do Acre tem imprimido esforços Segundo Fabiana Souza, uma Plano Estadual foi “o pontapé
no sentido de incorporar, em seu das integrantes do núcleo que inicial para desencadear mudan-
cotidiano, o apoio aos municípios coordena o projeto, a princípio, a ças no processo de trabalho que
para desenvolvimento das ações construção do Plano Estadual de conduzam à institucionalização
de M&A da AB e compartilha com M&A da AB significou uma oportu- do monitoramento e avaliação
o consenso do Conselho Nacional nidade de elaboração coletiva de como ferramenta importante
de Secretários de Saúde (Cona- uma diretriz, uma ferramenta de para condução das políticas insti-
sems) sobre as macrofunções trabalho para nortear as ações. tuídas. Por outro lado, a necessi-
atribuídas ao gestor estadual em dade de desenvolver estratégias
relação a este nível de atenção. A equipe entende que hoje um de integração entre as diferentes
Com apoio do Ministério da dos pontos fortes do Plano Esta- áreas técnicas da SES, municí-
Saúde, a Secretaria investiu na dual de M&A da AB é ter contem- pios e o próprio MS, nos levou
composição de uma equipe para plado em seus componentes a a considerar o componente de
formação de um núcleo de M&A educação permanente, que visa integração intra e intersetorial,
e definiu como prioridade inicial a desenvolver a capacidade téc- como essencial no processo de
62 qualificar um grupo ampliado no nica em monitoramento e ava- fortalecimento da gestão”.
técnicos da que compreenderam
a transcendência desse momen-
to e se dedicaram firmemente
na implementação do projeto. A
maior dificuldade continua sendo
a “burocratização” dos processos
de aquisição de bens e serviços
previstos no projeto, o que dificulta
a sua execução físico-financeira.
Outro obstáculo vivenciado foi a
falta de profissionais com perfil e
formação específica para acompa-
nhar esse processo.

Para a continuidade do projeto no


estado, Becker e Souza acreditam
SES/AC: Capacitação da em M&A no contexto do Plano Estadual que “as perspectivas em relação
ao desenvolvimento do projeto são
O caráter articulador do projeto o seu desenvolvimento, mas boas no sentido de contarmos com
foi o que incentivou a equipe a também muitos entraves. uma gestão e técnicos capacitados
superar as dificuldades num con- e sensibilizados quanto à importân-
texto tão adverso. No caminho Entre as facilidades encontradas na cia do M&A, que, junto aos recur-
percorrido para a implantação implantação do projeto, os técnicos sos financeiros garantidos, devem
do Plano Estadual foi possível das SES/AC apontaram o apoio do otimizar a execução das ações,
identificar forças sinérgicas que centro colaborador, do Ministério para finalmente institucionalizar o
atuaram de forma a favorecer da Saúde e o empenho de alguns monitoramento e avaliação”.

Experiências Estaduais II – O portal de informações


geolivre.saude da SES do Rio Grande do Norte
No contexto dos Planos Esta- RN e da Universidade Federal do principal é facilitar o trabalho dos
duais, a Secretaria Estadual de Rio Grande do Norte (UFRN) tra- profissionais da saúde por meio
Saúde do Rio Grande do Norte, balharam na elaboração de um das seguintes funcionalidades:
vem implementando ações volta- portal eletrônico de informações, reunir as informações revisadas
das para a melhoria na utilização que tem como diretrizes a utili- dos bancos de dados do Datasus;
dos sistemas de informação em zação de software livre, internet acrescentar informações atuais e
saúde do MS. A idéia é tornar os e servidores de mapas para o complementares; acessar estas
sistemas ainda mais integrados, georeferenciamento. informações em forma de ma-
interativos, descentralizados e pas, tabelas e gráficos; facilitar
georeferenciados, facilitando seu O portal consiste de uma sala de a comunicação e colaboração en-
uso pelos gestores. Em setembro informação virtual que reúne, via tre os profissionais de saúde; e
de 2006, a partir da solicitação internet, os principais bancos de viabilizar suas atividades. Outro
de cooperação técnica da SES/ dados do Datasus do estado (in- objetivo do projeto é apresentar
RN à Secretaria de Atenção à formações formais) com sistemas as informações da SES/RN de
Saúde, técnicos da CAA/DAB em de comunicação (informações forma georeferenciada (mapas
conjunto com técnicos da SES/ preliminares e atuais). O objetivo temáticos). 63
Os dados da base cartográfica vêm
de distintas fontes, sendo princi-
palmente provenientes do Cadas-
tro Nacional dos Estabelecimentos
de Saúde (CNES); do Sistema de
Informações da Atenção Básica
(SIAB) (histórico da cobertura do
Programa de Saúde da Família);
e do Pacto dos Indicadores da
Atenção Básica referentes ao Rio
Grande do Norte.
O conceito fundamental do portal
é que as informações georeferen-
ciadas são indexadas por meio
RN 2005 - Homogeneidade da cobertura vacinal por Tetravalente em menores
de caixas temáticas (schemas), de 1 ano de idade
atendendo a dois objetivos: Inte-
gração (cruzamento de camadas)
e Modularidade (facilidade e ma-
nutenção).
O portal é dirigido a gestores,
gerentes, profissionais de saúde
e à população. Tendo em vista
que cada um desses usuários
tem diferentes necessidades e as
pesquisas podem ser individuali-
zadas. Os mapas apresentados a
seguir correspondem a produtos
dirigidos a técnicos especializados.
Para conhecer mais acesse:
64 http://geolivre.saude.rn.gov.br
Projeto editorial amplia
conhecimento sobre a
estratégia Saúde da Família
Resgatar a trajetória adotada pelo Ministério da Saúde, fortalecendo a relação
entre a organização, especialmente o Departamento de Atenção Básica (DAB)
e as coletividades sociais – que se chama aqui de público – foi o principal ob-
jetivo das comunicações externas por meio de um projeto editorial que incluiu
um elenco diversificado de temas e publicações institucionais. Ao disseminar
informações fundamentais sobre o processo de implantação e manutenção da
estratégia Saúde da Família, o projeto editorial do DAB sustenta e reafirma a
cultura organizacional.
Com o desafio de promover a do Departamento de Atenção Bá- tuais, representaram uma con-
reorientação das práticas e ações sica, apostou em um programa tribuição relevante e irreversível
de saúde de forma integral e de informações em saúde, com a para o sucesso da consolidação
contínua, levando-as para mais criação de publicações que visam da estratégia Saúde da Família
perto da família e melhorar a esclarecer e orientar (profissio- no Brasil.
qualidade de vida dos brasileiros, nais de saúde e coletividades)
a estratégia Saúde da Família como forma de aperfeiçoar e As publicações são trabalhos
precisava estender seu reper- valorizar ainda mais a estraté- de qualidade, que reúnem co-
tório aos públicos dirigentes e gia. Essa concepção, de investir nhecimentos e experiências de
consumidores de seus serviços e, em informações na formação profissionais e técnicos da área
com isso, facilitar o entendimen- profissional, ajuda no domínio de saúde. Cada publicação tem
to de valores, princípios, inova- do conhecimento técnico-cientí- temas e peculiaridades específi-
ções e mudanças de realidades fico, no aumento da autonomia cas. Dessa forma, todas as áreas
diferentes na sua execução. intelectual dos trabalhadores e do DAB como: Acompanhamento
na interação com os usuários dos e Avaliação, Alimentação e Nutri-
A comunicação com esses pú- serviços de saúde. ção, Gestão da Atenção Básica,
blicos, de forma contínua e Hipertensão e Diabetes, PROESF e
sistematizada, garantiu uma Embora ainda existam desafios Saúde Bucal, têm o compromisso
resposta social que superou as diversos, próprios de resultados na elaboração de materiais de con-
expectativas do Departamento. em construção, a divulgação das fiança relacionados a cada espe-
Por conhecer o vínculo que a formas de execução da estraté- cialidade. A distribuição das publi-
população e os profissionais de gia Saúde da Família por meio de cações é gratuita e o Ministério da
saúde criam entre si, o Ministé- revistas, livros, livretos, guias e Saúde viabiliza a chegada desse
rio da Saúde, por intermédio da cadernos com edição periódica, trabalho até as equipes de Saúde
Secretaria de Atenção à Saúde e além de outras publicações pon- da Família de todo o Brasil. 65
Revista Brasileira Saúde da
Família
Seus números trazem informa-
ção científica e fatos, relatos e
experiências bem-sucedidas de
equipes, municípios e estados
na condução da Atenção Básica/
Saúde da Família. Cada volume
traz um tema específico, que é
abordado de diversas formas,
com material ilustrativo, fotos e
gráficos. Durante o ano passado
foram disponibilizados os seguin-
tes volumes:

Nº 8 – Saúde da Família chega


aos grandes centros urbanos

Nº 9 – Política Nacional de Aten-


ção Básica ganha novo redimen-
sionamento

Nº 10 – Os novos espaços da Edu-


cação Permanente em Saúde

Nº 11 – Literatura de Cordel
– Instrumento de Educação po-
pular para a Saúde

Nº 12 – Com acesso à Saúde Bu-


cal a família brasileira sorri mais

66
Cadernos de atenção básica
Esta série tem o objetivo de
subsidiar os profissionais de
saúde, oferecendo atualizações
e indicações de ações baseadas
em evidências sobre temáticas
freqüentes em Atenção Básica/
Saúde da Família, buscando auxi-
liar na correta implementação do
modelo assistencial. Constitui-se
em um importante instrumento de
valorização das práticas de saúde.
Em 2006, a coleção foi acrescida
dos seguintes cadernos:

Nº 12 – Obesidade
Nº 13 – Controles dos Cânceres
do Colo do Útero e da Mama
Nº 14 – Prevenção Clínica de
Doenças Cardiovascular, Cere-
brovascular e Renal Crônica
Nº 15 – Hipertensão Arterial Sis-
têmica (em elaboração)
Nº 16 – Diabetes Mellitus
Nº 17 – Saúde Bucal
Nº 18 – HIV/Aids, hepatites e
outras DST
Nº 19 – Envelhecimento e Saúde
da Pessoa Idosa

67
Política Nacional de Atenção Básica
(PNAB)
A concepção da PNAB se fundamentou nos prin-
cípios assistenciais e organizativos do SUS con-
signados na legislação: os eixos transversais da
universalidade, integralidade e eqüidade, em um
contexto de descentralização e controle social
da gestão. Assim a nova política aponta para a
redefinição dos princípios gerais, responsabilida-
des de cada esfera do governo, infra-estrutura e
recursos necessários, características do processo
de trabalho, atribuições dos profissionais e regras
de financiamento, incluindo as especificidades da
estratégia Saúde da Família.

Aprovada e publicada no ano de 2006, a PNAB tem


a marca da maturidade no que se refere à Atenção
Básica/Saúde da Família. Afinal, o Pacto pela Vida
definiu com prioridade: consolidar e qualificar a es-
tratégia Saúde da Família como modelo de Atenção
Básica e centro ordenador das redes de atenção à
saúde no Sistema Único de Saúde.

Memorial da II Mostra Saúde da Família


A publicação revela a vitalidade da produção cien-
tifica da academia e dos serviços de saúde em
torno da estratégia Saúde da Família, ao trazer
os trabalhos apresentados no evento. Estimula a
produção e o debate acerca das diferentes pos-
sibilidades para a reorganização e conversão do
modelo de atenção básica.

Manual de Estrutura Física das Unidades


Básicas de Saúde
Tem o objetivo de orientar os profissionais e ges-
tores municipais de saúde no planejamento, pro-
gramação e elaboração de projetos para reforma,
ampliação, construção e ate na escolha de imóveis
para aluguéis de estabelecimento ambulatoriais
para Unidades Básicas de Saúde (UBS) para o
68 trabalho das equipes Saúde da Família.
Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC)
Este livro apresenta a Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares no SUS. A PNPIC
atende, sobretudo, à necessidade de se conhecer,
apoiar, incorporar e implementar experiências
que já vêm sendo desenvolvidas na rede pública
de muitos municípios e estados, entre as quais
se destacam aquelas no âmbito da Medicina Tra-
dicional Chinesa – Acupuntura, da Homeopatia,
da Fitoterapia, da medicina Antroposófica e do
Termalismo-Crenoterapia.

Programação para Gestão por Resultados


na Atenção Básica (ProGRAB)
É um software livre desenvolvido para a progra-
mação das ações das equipes de Atenção Básica/
Saúde da Família. Tem como eixo estruturante a
integralidade da atenção. Guarda coerência com
a Programação Pactuada e Integrada, com Pacto
da Atenção Básica e com os indicadores do Projeto
de Expansão e Consolidação da Saúde da Família
(PROESF). As soluções de informática permitem
modificações, inclusões e exclusões de áreas,
atividades e parâmetros, ou seja, permitem mo-
dificações para a estreita adequação ao processo
de programação local.

Evidências Clínicas: Conciso


Este livro aborda condutas clínicas com base em
evidência científica. O uso da evidência como sele-
cionador de condutas clínicas permite que os pro-
fissionais de saúde tomem decisões melhores na
hora do cuidado com os usuários do SUS, assim é
Livro Original: Aquisição

possível obter melhores resultados. Estão descritas


as melhores evidências disponíveis provenientes
de revisões sistemáticas, ensaios clínicos rando-
mizados (ECRs) e estudos observacionais quando
apropriado e, se não há boas evidências, também
é mencionado. 69
Medicina Ambulatorial: Condutas de Aten-
ção Primária baseadas em Evidências
Este livro oferta aos profissionais de saúde uma
fonte segura e rica de informações para o cuidado
integral á saúde. É um compêndio de fácil leitura,
organizado de forma lógica, que permite assimi-
lação da informação de maneira rápida e simples.
São explicitados níveis de evidências para as in-

Livro Original: Aquisição


tervenções terapêuticas e preventivas. Em suma,
procurou-se contemplar os avanços e as mudanças
verificadas na área médica.

Saúde da Família no Brasil – Avaliação da


implementação em dez grandes centros ur-
banos – Síntese dos principais resultados
Esta publicação apresenta uma análise dos fatores
facilitadores e limitantes da implementação da es-
tratégia Saúde da Família em dez grandes centros
urbanos. Questões que concernem ao estabeleci-
mento de vínculo entre a equipe Saúde da Família e
a comunidade, à conversão do modelo de atenção
à saúde nas unidades básicas e a sua articulação
com a rede de serviços de saúde são trazidas de
forma clara e aberta, servindo de estímulo para
gestores e teóricos na busca de soluções.

Política Nacional de Saúde Bucal do Brasil:


Registro de uma conquista histórica
Esta publicação incorporou registros preexistentes
de momentos históricos, bem como estudos já
realizados sobre a situação da saúde bucal nos di-
ferentes momentos políticos brasileiros. O objetivo
foi sintetizar uma leitura que pudesse oferecer o
panorama de construção da Política Brasil Sorri-
dente, sendo consultados, para isso, alguns dos
principais autores da área.

Guia Alimentar para a População Brasileira


O Guia contém as primeiras diretrizes alimentares
70 oficiais para a população. Aborda questões rela-
cionadas às deficiências nutricionais e às doenças
infecciosas e prioridades de saúde pública no Brasil,
contribuindo para a prevenção das deficiências
nutricionais, incluindo as de micronutrientes (fome
oculta), e para aumentar a resistência a muitas
doenças infecciosas em crianças e adultos.

Manual para os Agentes Comunitários


de Saúde
Tem o objetivo de apresentar informações sobre
saúde, alimentação e nutrição para que seja divi-
dida com as famílias acompanhadas e atendidas
pelo SUS, promovendo hábitos alimentares mais
saudáveis na busca do direito à alimentação ade-
quada.

Caderno: Sistema de Informação em Aten-


ção Básica (SIAB) – Edição 2005
O SIAB é um sistema de informação territorializado
cujos dados são gerados por profissionais de saú-
de das equipes Saúde da Família. Esta publicação
apresenta os resultados da análise dos indicadores
do SIAB referentes a municípios que informaram
no Sistema todos os meses do ano e cujas bases
encontravam-se livres de erros e inconsistências
após aplicação de uma criteriosa rotina de limpeza
de dados, durante o ano de 2005.

Saúde da Família no Brasil – Uma Análise


de indicadores selecionados 1998-2004
A pesquisa Saúde da Família no Brasil descreve
comparativamente, no período de 1998 a 2004, a
evolução de alguns indicadores de saúde, segun-
do estratos de cobertura da Saúde da Família no
Brasil, considerando o Índice de Desenvolvimento
Urbano (IDH) dos municípios. Um dos pontos de
destaque é que a Saúde da Família está promo-
vendo eqüidade, um dos princípios mais caros do
SUS. A estratégia Saúde da Família tem maior
cobertura em municípios de IDH mais baixo e está
conseguindo aproximar os indicadores desses, de
71
outros municípios de IDH mais alto. A pesquisa
mostra claramente que a opção pela saúde da
família está trazendo resultados positivos nos in-
dicadores, sendo uma estratégia a ser priorizada
na consolidação do SUS.

Avaliação na Atenção Básica em Saúde:


Caminhos da Institucionalização Edição em
Português e Inglês
Este documento contextualiza a trajetória da
construção de uma política de avaliação de políti-
cas e programas de saúde no âmbito da Atenção
Básica/Saúde da Família. Apresenta as bases con-
ceituais e as principais estratégias orientadoras
das ações desenvolvidas. Contribui para o debate
sobre avaliação, entendida como ferramenta de
negociação permanente e de formação das pessoas
no cotidiano de suas práticas e com vistas à sua
institucionalização.

Avaliação para Melhoria de Qualidade


(AMQ)
Os cadernos da AMQ representam o compromisso
institucional de contribuir para a consolidação da
Política de Monitoramento e Avaliação no âmbito
da Atenção Básica (AMQ)/ Saúde da Família. O
instrumento possibilita a identificação dos estágios
de implantação, desenvolvimento e qualidade da
estratégia em seus diferentes pontos, desde a
gestão até as práticas de saúde das equipes jun-
to à população. A partir desse conhecimento os
gestores, coordenadores e profissionais poderão
elaborar planos de intervenção e propor ações para
melhoria da qualidade.

Adaptação do texto original das jornalistas Talita


Santos e Rosa Reis.

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www.saude.gov.br/dab

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