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Polifonia

Antes de falar em polifonia, acho que devemos falar ou pelo menos esclarecer o conceito de
TEXTURA, conceito que abrange a categoria de polifonia.
Associamos a palavra textura à maneira como se entrelaçam os fios de uma trama, de um tecido.
Associamos a palavra textura à rugosidade ou a suavidade de uma superfície, o bem à sensação táctil
de uma tela (pintura).
Em música, também existe o conceito de textura, sendo esta o “som” resultante da interação dos
aspetos individuais da obra, como ser, o ritmo, a harmonia, a melodia, a instrumentação, etc.
Os tipos mais comuns de texturas musicais podem ser resumidos a estas categorias:
a) Monofónica: textura que está constituída por uma simples melodia sem nenhum tipo de
acompanhamento ou camada sonora circundante.
b) Bifónica: textura que está determinada por duas linhas melódicas, uma de carater elaborado
e outra de estrutura simples, como ser um som sustentado. A música produzida pela gaita de
foles é um exemplo de este tipo de textura.
c) Polifónica: muitas melodias interatuando simultaneamente, num contexto onde cada uma
delas é relativamente independente. Na música étnica se pode observar em algumas
manifestações sonoras de tribos africanas. Lembro de ter visto exemplos transcritos no livro
sobre Jazz de Gunther Schuller. Na música clássica ocidental começou a desenvolver-se a
partir do século IX e continua a ser utilizada pelos compositores até os dias de hoje.
d) Homofónica ou homorítmica: duas ou mais vozes movimentando-se em forma paralela, onde
o ritmo é igual ou muito semelhante. É a textura dos corais protestantes, dos hinos litúrgicos
e de muitas manifestações musicais que têm origem na tradição oral.
e) Melodia acompanhada: é uma das texturas mais comuns, na qual uma linha melódica é
realizada em simultâneo em parceria com um ou vários instrumentos (ou vozes) que executam
uma “base harmónico-rítmica” que sustenta e dá profundidade (como a perspetiva em pintura)
ao discurso da melodia. É a textura de qualquer canção ou solo acompanhado por uma viola
ou outro instrumento harmónico. Se diferencia da polifonia porque a componente de
acompanhamento é subsidiária da linha principal, enquanto que na polifonia cada linha é
independente, embora vinculada (dependendo da maneira como, da linguagem musical
utilizada) com as outras.
f) Heterofonia: Hétero (diferente), fonia (sons). Acontece quando duas ou mais vozes realizam
variações de uma mesma melodia de maneira simultânea. Se observa desde a música de
algumas culturas orientais, obras do barroco europeu e composições de hoje em dia.

À luz de estas palavras, o Cante, talvez não pertença propriamente à categoria de POLIFONIA, já que
a estrutura fundamental: SOLO, solo e CORO (Ponto, Alto e Coro) podemos enquadrá-la em mais de
uma categoria:
1) Monodia: o ponto e o alto cantam a solo.
2) Homofonia ou homoritmia: O alto (solo) e o coro desenvolvem-se paralelamente, já seja a
nível rítmico como a nível dos intervalos sonoros, ou distâncias, ou diferença de frequências
em que estão as vozes entre si. No caso do Cante, este intervalo é uma TERCEIRA, chamada
assim porque entre o som do coro e o som do alto podem “contar-se” (cantar-se) três sons.
Em outras culturas o intervalo é uma QUINTA.
3) Heterofonia: porque o alto, não sempre canta de maneira exatamente paralela ao coro, mas
sim, vai ornamentando, as vezes ao improviso, à linha principal com gestos musicais que o
coro, por ser um coletivo, não realiza espontaneamente.

Este tipo de textura não só se encontra no Cante, algumas manifestações populares do leste de Europa,
como algumas Bagualas (músicas do Altiplano da América do Sul) recorrem a “paralelismos” com
outros intervalos ou com “texturas” mais complexas.

O que é verdade é que a maioria das músicas de transmissão oral no mundo são monódicas e isto
talvez seja devido a que a simultaneidade sonora seja um atributo da especulação de um artista
individual ou do “acaso”, como talvez pode ter sido o início da “polifonia” em Ocidente.
(contar em poucas palavras o meu ponto de vista de como nasceu a polifonia em Europa por volta do
século IX.

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