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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

AJUDÂNCIA-GERAL

SEPARATA
DO
BGPM

Nº 97

BELO HORIZONTE, 27 DE DEZEMBRO DE 2011

Para conhecimento da Polícia Militar de Minas


Gerais e devida execução, publica-se o
seguinte:
Caderno Doutrinário 2

PRÁTICA POLICIAL BÁSICA


Caderno Doutrinário 2

TÁTICA POLICIAL, ABORDAGEM A


PESSOAS E TRATAMENTO ÀS VÍTIMAS
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA
Caderno Doutrinário 2

TÁTICA POLICIAL, ABORDAGEM A


PESSOAS E TRATAMENTO ÀS VÍTIMAS

Belo Horizonte - MG
Academia de Polícia Militar
2011
Direitos exclusivos da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) Reprodução
proibida – circulação restrita.

Comandante-Geral da PMMG: Cel. PM Renato Vieira de Souza


Chefe do Estado-Maior: Cel. PM Márcio Martins Sant´ana
Chefe do Gabinete Militar do Governador: Cel. PM Luis Carlos Dias Martins
Comandante da Academia de Polícia Militar: Cel. PM Eduardo de Oliveira
Chiari Campolina
Chefe do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação: Ten.-Cel. PM Adeli Sílvio Luiz
Tiragem: 1.500

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Tática Policial, Abordagem a Pessoas


M663t e
tratamento às Vítimas - Belo Horizonte: Academia de Polícia Militar,
2011.
140 p.: il. (Prática Policial Básica. Caderno Doutrinário 2)

ISBN 978-85-64764-02-6
Abordagem policial. 2. Busca Pessoal. 3.Uso de Algemas. 4. Tática
Policial. I. Título. II. Série.
CDU 351.75
CDD 352.2
Ficha catalográfica: Rita Lúcia de Almeida Costa – CRB – 6ª Reg. n.1730

ADMINISTRAÇÃO:
Centro de Pesquisa e Pós Graduação
Rua Diábase 320 – Prado Belo Horizonte – MG
CEP 30410-440
Tel.: (0xx31)2123-9513
Fax: (0xx31) 2123-9512
E-mail: cpp@pmmg.mg.gov.br
Caderno Doutrinário 2

RESOLUÇÃO N° 4151, DE 09 DE JUNHO DE 2011.

Aprova o Caderno Doutrinário 2 – Tática


Policial, Abordagem a Pessoas e Tratamento
às Vítima.

O COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS


GERAIS, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo inciso I,
alínea I do artigo 6°, item V, do Regulamento aprovado pelo Decreto n°
18.445, de 15Abr77 – (R-100), e à vista do estabelecido na Lei Estadual
6.260, de 13Dez73, e no Decreto n° 43.718, de 15Jan04, RESOLVE:

Art. 1° Aprovar o Caderno Doutrinário 2 – Tática Policial,


Abordagem a Pessoas e Tratamento às Vítimas.

Art. 2° Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 3° Revogam-se as disposições em contrário.

QCG em Belo Horizonte, 09 de junho de 2011.

(a) RENATO VIEIRA DE SOUZA, CORONEL PM


COMANDANTE-GERAL
Equipe de Colaboradores:

Coronel PM Fábio Manhães Xavier


Coronel PM Antônio Leandro Bettoni da Silva
Tenente-Coronel PM Marcelo Vladimir Corrêa
Major PM Alfredo José Alves Veloso
Major PM Wágner Eustáquio das Silva Almeida
Major PM Eduardo Domingues Barbosa
Capitão PM Renato Salgado Cintra Gil
Capitão PM Wanderson Garcia Costa Neves
Capitão PM Arnaldo Affonso
Capitão PM Marco Aurélio Zancanela do Carmo
Capitão QOS Fabrízia Lopes Brandão Pereira
Capitão PM Rodolfo César Morotti Fernandes
1º Tenente PM Rodrigo Saldanha
1º Tenente PM Édson Henrique Rabello de S. Mendes
1º Tenente PM Ricardo Luiz Amorim Gontijo Foureaux
1º Tenente PM Molise Zimmermann Fonseca de Souza
1º Tenente PM Polyana Cristina Barbalho
1º Tenente PM Antônio Hot Pereira de Faria
1º Tenente PM Luciana do Carmo Socorro Nominato
2º Tenente PM Anderson Pereira de Sousa
1º Sargento PM Antônio Geraldo Alves Siqueira
3º Sargento PM Ricardo Martins Lopes
3º Sargento PM Márcia Daniela Bandeira Silva
3º Sargento PM Nadja Alves de Sousa
Cabo PM Elias Sabino Soares
Soldado PM Leonardo Giori de Oliveira
Soldado PM Aline Vanessa Alves
Professor Hugo de Moura
Professora Maria Sílvia Santos Fiúza
Caderno Doutrinário 2

Missão

Assegurar a dignidade da pessoa humana, as liberdades e os


direitos fundamentais, contribuindo para a paz social e para tornar
Minas o melhor Estado para se viver.

Visão

Sermos excelentes na promoção das liberdades e dos direitos


fundamentais, motivo de orgulho do povo mineiro.

Valores

- respeito aos direitos fundamentais e valorização das pessoas;


- ética e transparência;
- excelência e representatividade Institucional;
- disciplina e inovação;
- liderança e participação;
- coragem e justiça.
Caderno Doutrinário 2

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Coberta (Perspectiva do policial).......................................................................... 22

FIGURA 2 – Coberta (Perspectiva do abordado ......................................................................23

FIGURA 3 – Abrigo .............................................................................................................................23

FIGURA 4 – Uso de Escudo Balístico (Segurança Mínima) ..................................................26

FIGURA 5 - Uso de Escudo Balístico (Segurança Máxima) ...................................................27

FIGURA 6 – Uso de Escudo Balístico (Segurança Mínima com arma na lateral) ..........28

FIGURA 7 – Uso de Escudo Balístico (Segurança Mínima com arma à frente do visor) .......28

FIGURA 8 – Comunicação por gestos .........................................................................................30

FIGURA 9 – Técnica de Uso da Lanterna “Posição 1” .............................................................32

FIGURA 10 – Técnica de Uso Utilização da lanterna “Posição 2” ........................................33

FIGURA 11 – Tomada de ângulo ou “fatiamento” (visão do policial) ...............................34

FIGURA 12 – Tomada de ângulo ou “fatiamento” - (Visão do abordado) .......................34

FIGURA 13 – Olhada rápida (visão do policial) ........................................................................35

FIGURA 14 - Olhada rápida (visão do abordado) ...................................................................36

FIGURA 15 – Uso do espelho .........................................................................................................37

FIGURA 16 – Ângulos de aproximação ......................................................................................38

FIGURA 17 – Postura Aberta - mãos livres ................................................................................40

FIGURA 18 – Postura de Prontidão ..............................................................................................40

FIGURA 19 - Postura Defensiva .....................................................................................................41


FIGURA 20 – Posição 1: Arma localizada.................................................................................. 43

FIGURA 21 – Posição 2: Guarda baixa .........................................................................................43

FIGURA 22 – Posição 2: Guarda baixa velada ...........................................................................44

FIGURA 23 – Posição 3: Guarda alta ............................................................................................44

FIGURA 24 – Posição 4: Pronta-resposta ...................................................................................45

FIGURA 25 – Técnica de Aproximação Triangular e Área de Contenção ........................47

FIGURA 26 – Esquema tático de aproximação com 2 policiais e 1 abordado ..............49

FIGURA 27 – Esquema tático de aproximação com 2 policiais e 2 abordados ...........49

FIGURA 28 – Esquema tático de aproximação com 2 policiais e 3 abordados ............50

FIGURA 29 – Esquema tático de aproximação com 3 policiais e 1 abordado .............50

FIGURA 30 – Esquema tático de aproximação com 3 policiais e 4 abordados ............51

FIGURA 31 – Esquema tático de aproximação com 4 policiais e 4 abordados ............51

FIGURA 32 – Busca minuciosa na posição de contenção em pé, sem apoio ...............77

FIGURA 33 – Busca minuciosa na posição de contenção em pé, com apoio............... 78

FIGURA 34 – Busca minuciosa na posição de contenção ajoelhado............................... 79

FIGURA 35 – Busca minuciosa na posição de contenção deitado ...................................81

FIGURA 36 – Sistema de trava de algemas ...............................................................................86

FIGURA 37 – Verificação da vítima .............................................................................................131

FIGURA 38 – Isolamento do local ..............................................................................................132

FIGURA 39 – Pessoas alterando local de crime .....................................................................133

FIGURA 40 – Tratamento com a imprensa ..............................................................................134


Caderno Doutrinário 2

SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................15
2 TÉCNICA E TÁTICA POLICIAL BÁSICA ...................................................................21
2.1 Deslocamentos Táticos ..............................................................................................21
2.1.1 Uso de cobertas e abrigos ....................................................................................22
2.1.2 Tipos de deslocamentos a pé ..............................................................................24
2.1.3 Deslocamentos por rastejo ..................................................................................25
2.1.4 Técnicas de uso do escudo balístico .................................................................26
2.2 Disciplina de luz e som ..............................................................................................29
2.3 Comunicação por gestos ..........................................................................................29
2.4 Técnicas de uso de lanterna .....................................................................................30
2.5 Técnicas de varredura ................................................................................................33
2.6 Posições/posturas adotadas pelo policial na abordagem a pessoas ........37
2.6.1 Ângulos de aproximação ......................................................................................38
2.6.2 Posturas de abordagem com as mãos livres ..................................................39
2.6.3 Posições de emprego de arma de fogo ...........................................................42
2.7 Técnica de Aproximação Triangular (TAT)........................................................... 46
3 ABORDAGEM A PESSOAS ..........................................................................................55
3.1 Uso diferenciado de força nas intervenções policiais ....................................56
3.2 Níveis de Intervenção ................................................................................................58
3.3 Técnicas e táticas de abordagem a pessoas ......................................................62
3.4 Modelos de abordagem ............................................................................................63
3.4.1Intervenção nível 1 (assistência e orientação) ................................................63
3.4.2 Intervenção nível 2 (verificação preventiva) ..................................................64
3.4.3 Intervenção nível 3 (verificação repressiva) ...................................................66
4 BUSCA PESSOAL ............................................................................................................71
4.1 Aspectos legais da busca pessoal ..........................................................................71
4.2 Tipos de Busca Pessoal ..............................................................................................74
4.2.1 Busca Ligeira ..............................................................................................................74
4.2.2 Busca Minuciosa .......................................................................................................75
4.2.3 Busca Completa ........................................................................................................81
4.3 Uso de algemas ............................................................................................................82
4.3.1 Recomendações Gerais do Uso de Algemas ..................................................87
5 PROCEDIMENTOS POLICIAIS ESPECÍFICOS ......................................................91
5.1 Procedimentos Policiais em Ocorrências Envolvendo Autoridades.......... 91
5.1.1 Membros do Poder Executivo .............................................................................92
5.1.2 Membros do Poder Legislativo ...........................................................................93
5.1.3 Membros do Poder Judiciário .............................................................................94
5.1.4 Membros do Ministério Público .........................................................................94
5.1.5 Membros de Órgãos Policiais ..............................................................................94
5.1.6 Membros das Forças Armadas ............................................................................95
5.1.7 Membros da Advocacia .........................................................................................95
5.1.8 Outras Instituições ...................................................................................................96
5.2 Abordagens policiais a grupos vulneráveis .......................................................98
5.3 Atuação policial frente às minorias ....................................................................109
5.4 Abordagem a pessoas em surto de drogas .....................................................112
6 TRATAMENTO ÀS VÍTIMAS .....................................................................................117
6.1 Procedimentos com vítimas em locais de ocorrência .................................119
7 LOCAL DE CRIME .........................................................................................................125
7.1 Classificação do Local de Crime e Conceitos Correlatos .............................125
7.2 Prova ..............................................................................................................................126
7.3 Procedimentos no local de crime ........................................................................128
7.4 Cadeia de Custódia de Vestígios ..........................................................................135
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................137
Caderno Doutrinário 2

REFERÊNCIAS

SEÇÃO 1

APRESENTAÇÃO
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA
Caderno Doutrinário 2

1 APRESENTAÇÃO

O Caderno Doutrinário 2 – Tática Policial, Abordagem a Pessoas e


Tratamento às Vítimas (CD 2) está em conformidade com a legislação
brasileira, em especial à Portaria Interministerial do Uso da Força1, e com as
normas internacionais de Direitos Humanos, oriundas das Organização das
Nações Unidas (ONU), aos quais são aplicadas à função policial.

Este documento tem como referência os fundamentos da abordagem policial


do Caderno Doutrinário 1 – Intervenção Policial, Verbalização e Uso de
Força (CD 1) e trata da aplicação da técnica e tática policial à atividade-fim.
A construção das técnicas e táticas descritas neste Caderno é fruto de
experiências positivas vivenciadas no cotidiano operacional, de pesquisa e
da análise de simulações de ações policiais em âmbito acadêmico.
Este volume enfatizará a abordagem a pessoas, bem como as ações que
devem ser realizadas de forma preparatória e posteriores a esta intervenção.
Logo, a leitura do CD 2 deve, obrigatoriamente, ser precedida da leitura do
Caderno Doutrinário 1.
A seção 2 do Caderno é dedicada à apresentação de técnicas e táticas policiais
que antecederão a abordagem policial, como deslocamentos táticos, uso de
equipamentos como escudos balísticos e lanternas, técnicas de varredura e
de aproximação, bem como posturas de abordagem com as mãos livres e
posições de emprego de arma de fogo.
A abordagem policial2 é tratada na seção 3, onde é feita uma exposição
transversal com os princípios de uso de força e a classificação de risco,
estudados no CD 1. São descritas técnicas e táticas de abordagem a pessoas,
e traçado um modelo policial de referência para as abordagens nos diversos
níveis de intervenção.
A abordagem a pessoas envolve um conjunto ordenado de ações policiais
para se aproximar de um ou mais indivíduos, com o intuito de resolver
demandas do policiamento ostensivo. Este conceito possui um sentido
amplo, ou seja, abrange a todos os cidadãos, não se restringindo às pessoas
em situação de suspeição.

1 Portaria Interministerial 4226/10.


2 Ver Caderno Doutrinário 1

15
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Na seção 4 são descritos os procedimentos relacionados à busca pessoal,


bem como seu embasamento legal. Esta etapa da intervenção policial será
realizada desde que haja fundada suspeita em relação à pessoa.

Procedimentos policiais para o tratamento de públicos específicos


(minorias, grupos vulneráveis, entre outros) são temas presentes na seção 5,
demonstrando o compromisso institucional no alinhamento desta doutrina
às normas internacionais de direitos humanos.
No cumprimento da visão institucional da Polícia Militar de Minas Gerais
(PMMG), de atingir excelência na promoção das liberdades e dos direitos
fundamentais, este Caderno traz na seção 6 um enfoque de atenção do
policial à vitima de crime, tema pouco explorado nos documentos normativos
das polícias brasileiras e no ordenamento jurídico nacional.
A seção 7 é dedicada ao procedimento operacional em locais de crime, por
meio da classificação e conceitos dos locais de crime, bem como na descrição
de procedimentos específicos a serem adotados no local onde ocorreu um
delito e a cadeia de custódia de vestígios.
Diante desses conhecimentos, o policial deve refletir sobre seu papel
na sociedade e a melhor maneira de executar o seu trabalho. Ele deve
se reconhecer como integrante da comunidade que exerce um papel
diferenciado por sua qualificação profissionalização na área de segurança
pública, e por estar a serviço da comunidade.
Assim, uma intervenção que envolva a simples abordagem a pessoas é uma
grande oportunidade para o policial oferecer ajuda a alguém que acredita que
este é o profissional mais capacitado a orientá-lo na resolução de conflitos.
Como promotor de Direitos Humanos, o policial deve respeitá-los e defendê-
los, o que implica permitir que todos os cidadãos, sem distinção de qualquer
natureza, tenham seus direitos respeitados. Além disso, é imprescindível
que as condutas operacionais corroborem com os princípios elencados nas
normas de direitos humanos.
Por isso, as ações policiais devem estar sempre pautadas na imparcialidade e
na justiça, conforme as técnicas e táticas referenciadas nesse caderno.
Este documento faz parte de um conjunto de “Cadernos Doutrinários”
denominados Prática Policial Básica, a saber:

16
Caderno Doutrinário 2

Caderno Doutrinário 1 – Intervenção Policial, Verbalização e Uso de Força


Caderno Doutrinário 2 – Tática Policial, Abordagem a Pessoas e Tratamento
às Vítimas
Caderno Doutrinário 3 – Blitz Policial
Caderno Doutrinário 4 – Abordagem a Veículos
Caderno Doutrinário 5 – Escoltas Policiais e Conduções Diversas
Caderno Doutrinário 6 – Abordagem a Edificações

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SEÇÃO 2

TÉCNICA E TÁTICA
POLICIAL BÁSICA
Caderno Doutrinário 2

2 TÉCNICA E TÁTICA POLICIAL BÁSICA

Entende-se por técnica policial o conjunto dos métodos e procedimentos


utilizados na execução da atividade policial. O estabelecimento de técnicas
visa alcançar os princípios da eficiência, segurança e legalidade.
Para cada recurso utilizado no serviço policial, seja humano ou material,
existem técnicas pré-estabelecidas. O emprego correto da técnica exige
treinamento permanente, e cabe ao policial conhecer e empregar as técnicas
apresentadas neste caderno. O treinamento policial militar deve estar alinhado
com a identidade organizacional e ser realizado de forma contínua, sendo o
policial protagonista neste processo de auto-aprimoramento profissional.
Essas técnicas foram selecionadas e aperfeiçoadas a partir de diversas
experiências vivenciadas no cotidiano operacional e acadêmico, levando-
se em conta a segurança nas abordagens, a coerência com os fundamentos
legais e éticos presentes nas normas internacionais e nacionais de direitos
humanos.
Além do domínio das técnicas (como fazer?), outro fator importante para o
sucesso das intervenções é a disciplina tática.
Entende-se por tática policial a forma de se aplicar com eficácia os recursos
técnicos que se dispõe, ou de se explorar as condições favoráveis para se
atingir os objetivos desejados.
A disciplina tática consiste na obediência de todos os policiais, quando
atuando em grupo, ao exercer suas ações (o que e quando fazer?), no exato
local (onde fazer?) definido no planejamento de cada atividade. Isso propicia
uma melhor coordenação das ações e dos procedimentos de cada policial na
sua respectiva responsabilidade de atuação e, consequentemente, aumenta
a segurança dos envolvidos.
Para garantir a disciplina tática, todos os policiais devem conhecer sua função
no ambiente de intervenção e conscientizar-se que cada atribuição, por mais
simples que pareça, é imprescindível para que o caso tenha uma solução
satisfatória (por que fazer?).
2.1 Deslocamentos Táticos
Correspondem às movimentações, realizadas por policiais, com o objetivo de
progredir, aproximar e abordar pessoas, adotando técnicas específicas que
lhes permitam agir com rapidez, surpresa e segurança. A observância desses

21
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

fundamentos da abordagem policial potencializa suas ações e asseguram


que o objetivo proposto seja alcançado com mais eficácia.
Abaixo, estudaremos as técnicas a serem empregadas nos deslocamentos:
2.1.1 Uso de cobertas e abrigos
Nos deslocamentos táticos, os policiais deverão identificar locais no ambiente
que lhe permitam proteção e ocultação.
A ocultação visa possibilitar que os policiais desloquem até o local
determinado, sem serem vistos pelos suspeitos até o momento da abordagem,
ou seja, conseguindo assim o fundamento da surpresa.
A proteção visa diminuir o risco do policial ser agredido ou alvejado pelo
suspeito.
Portanto, nos deslocamentos, os policiais deverão buscar cobertas e abrigos
para proteção e ocultação.
As cobertas e os abrigos são anteparos existentes na natureza ou produzidos
pelo homem, encontrados ao longo do deslocamento ou no cenário onde
ocorre a intervenção policial, sabendo que:
a) as cobertas são usadas como ocultação. Não Têm a capacidade de deter
projéteis disparados contra o policial. Exemplos: portas em madeira, arbustos,
fumaça, neblina, um local escuro ou outro fator que dificulte a visualização e
os movimentos do policial ( figuras 1 e 2).

Figura 1 – Coberta (Perspectiva do policial)

22
Caderno Doutrinário 2

Figura 2 – Coberta (Perspectiva do abordado)

b) os abrigos são usados como proteções, e são anteparos que, por suas
características e dimensões, são capazes de proteger o policial contra disparos
de arma de fogo e arremesso de objetos.
Exemplos: postes, muros, paredes, parte frontal de veículos (compartimento
do motor), caçambas metálicas, tronco de árvores, dentre outros (Figura 3).

Figura 3 – Abrigo

23
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Para maximizar a proteção nos deslocamentos e nas abordagens, deve-se,


sempre que possível, conjugar a coberta com o abrigo.
O deslocamento tático em áreas amplas, abertas e sem proteção, podem
comprometer a segurança do policial. Todavia, sendo necessária a
movimentação nessas áreas, deverá ser realizada de forma rápida com
silhueta reduzida ou através dos procedimentos de rastejo e sempre com a
cobertura da equipe.
2.1.2 Tipos de deslocamentos a pé
Existem três tipos principais de deslocamento tático de policiais no processo
a pé, variando de acordo com o objetivo a ser alcançado:
a) Deslocamento Lento: é o passo com velocidade moderada, que permita
ao policial observar todos os pontos de foco e pontos quentes antes de
progredir. O policial deverá estar de silhueta reduzida, com a arma nas posições
de guarda baixa ou guarda alta. Deverá ser empregado, preferencialmente,
nas intervenções de risco nível II e III, em que há necessidade de aproximação
imediata do objetivo a pé, mantendo a ocultação dos policiais até o momento
da abordagem. Exige disciplina de luz e som, que será apresentada no item
2.2. Exemplos: abordagens a edificações;

b) Deslocamento Normal: é o passo natural, com compostura, em que o


policial deverá estar no estado de atenção ou de alerta, com a arma no coldre,
observando o que acontece à sua volta. Este deslocamento, devido ao pouco
desgaste físico, permite percorrer grandes distâncias e empenho em jornadas
prolongadas. Deverá ser empregado em rastreamentos e deslocamentos
longos até a aproximação mediata do alvo principal da intervenção. Exemplo:
deslocamentos para diligência de captura de presos em fuga em área rural;
c) Deslocamento rápido: é o passo com velocidade acelerada que permite
ao policial alcançar o objetivo com rapidez. Este tipo de deslocamento deverá
ser empregado mediante prévia avaliação dos riscos, nos seguintes casos,
entre outros:
I- Perseguição de suspeito enquanto estiver à vista. O policial deve alterar o
tipo de deslocamento conforme a avaliação das áreas de risco ou segurança;
II- Progressão em áreas amplas, carentes de cobertas e abrigos. Nestes casos,
o policial poderá empregar técnica de deslocamento com mudança brusca
de direção “ziguezague”;

24
Caderno Doutrinário 2

III- Intervenções com objetivo de salvar vidas.

ATENÇÃO! Perseguição policial é o procedimento adotado


pelas forças policiais para acompanhar visualmente ou seguir
um suspeito da prática de um delito, que se encontra em
fuga, com objetivo de capturá-lo para adoção das medidas
legais cabíveis. (O tema de perseguição policial a veículos é
tratado no Caderno Doutrinário 4).

2.1.3 Deslocamentos por rastejo

Existem três processos de deslocamento de policiais por rastejo, variando de


acordo com o objetivo a ser alcançado e a necessidade. Ressalta-se que estes
processos são lentos e cansativos, logo se recomenda que sejam utilizados
em deslocamentos curtos:
a) 1º Processo: o policial apoiará seu corpo sobre seus joelhos e antebraços.
Erguerá o peitoral, mantendo seu corpo o mais próximo possível do chão,
forçando sua cabeça e quadril para baixo. Durante o movimento, os joelhos
deverão permanecer sempre atrás do quadril. O policial se locomoverá por
meio da tração alternada de cotovelos e joelhos. Ou seja, joelho esquerdo
move-se junto com o cotovelo direito, e vice-versa, de forma sucessiva. Caso
o policial esteja portando arma longa, ela deverá ser transportada nos braços,
perpendicularmente ao corpo, para que não entre sujeiras em seu cano.
b) 2º Processo: deitado de bruços, o policial moverá suas mãos à frente da
cabeça, mas manterá seus cotovelos no chão. Flexionará uma perna, e a
utilizará para impulsionar o corpo para frente, juntamente com a ajuda das
mãos e antebraços. Caso o policial esteja portando arma longa, ela poderá ser
conduzida por uma das mãos à frente do corpo, cano da arma voltado para
frente, elevando o armamento o mínimo necessário a cada impulsão. Este
processo faz com que a movimentação seja mais lenta e cansativa em relação
ao primeiro, mas melhora as condições de ocultação e proteção.
c) 3º Processo: o policial apoiará seu corpo sobre suas pernas e cotovelos.
Erguerá o peitoral, mantendo seu corpo o mais próximo possível do chão,
forçando sua cabeça e quadril para baixo. Movimentará seu corpo por meio da

25
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

tração de cotovelos, impulsionando com seus pés ao mesmo tempo. Caso o


policial esteja portando arma longa, ela deverá ser transportada atravessada,
no ângulo formado pelos braços e antebraços. É recomendado utilizar este
processo quando se pretende evitar que a arma longa se atrite com o solo.
Para maior segurança nos deslocamentos, o policial poderá, ainda, recorrer
ao escudo balístico.
2.1.4 Técnicas de uso do escudo balístico
O escudo balístico é um equipamento que visa proteger a pessoa que o
conduz. Contudo, com a técnica adequada, sua capacidade de proteção
poderá se estender aos demais policiais da equipe durante o processo de
deslocamento. As progressões utilizando escudos balísticos podem ser feitas
de duas formas principais, variando de acordo com o nível de segurança:
a) Segurança Mínima:
• o escudo será conduzido pelo 1° policial, na posição de pé (Figura 4).

Figura 4 – Uso de Escudo Balístico (Segurança Mínima)

26
Caderno Doutrinário 2

a) Segurança Máxima:

• o escudo será utilizado pelo 1° policial, que deslocará com a silhueta reduzida,
com o escudo bem próximo ao solo. Em casos de disparo contra a guarnição, ou
para conceder mais segurança em uma abordagem, o 1º policial interromperá o
deslocamento e ficará na posição de joelhos (escudo no chão) (Figura 5).

Figura 5 - Uso de Escudo Balístico (Segurança Máxima)

27
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Em ambos os casos, o armamento será conduzido lateralmente ao escudo, de


modo que a armação encoste no equipamento e apenas o cano fique exposto.
Havendo necessidade extrema de disparo, o policial levará o armamento para
frente do visor do escudo, para melhor controle da visada, fazendo a empunhadura
lateral (figuras 6 e 7). Todavia, o mais recomendado é que outro policial com
melhor posicionamento tático realize os disparos para neutralizar o agressor.

Figura 6 – Uso de Escudo Balístico (Segurança Mínima com arma na lateral)

Figura 7 – Uso de Escudo Balístico (Segurança Mínima com arma à frente do visor)

28
Caderno Doutrinário 2

2.2 Disciplina de luz e som


A disciplina de luz e som é o conjunto de recomendações que pode ser
empregado para reduzir ou eliminar a emissão de ruídos e de luminosidade
que possam denunciar o posicionamento do policial.
Para manutenção da disciplina de luz, os policiais deverão ocultar o visor
do celular, caso seja necessário seu uso como instrumento de comunicação.
Além disso, jamais acender cigarro, nem evitar expor objetos cromados
com capacidade de reflexão de luz direta. Os policiais deverão fazer o uso
da lanterna de acordo com as técnicas de emprego deste equipamento,
conforme seção 2.4.
Simples medidas podem preservar a vantagem tática durante a abordagem.
Para manutenção da disciplina de som:
• realizar a auto-inspeção (bater nos bolsos, efetuar pequenos saltos)
antes de iniciar o deslocamento, retirando materiais que façam barulho;
• manter no modo silencioso ou desligado os telefones celulares, alarmes
de relógio e similares;
• certificar-se de que os metais do cinturão ou de qualquer objeto
conduzido estejam realmente presos, como as algemas, apitos, tonfa,
outros;
• ajustar o volume do rádio HT ou, quando possível, usar fones de ouvido
para comunicação.
Iniciada a progressão, deve-se observar a presença de objetos espalhados pelo
solo (copos plásticos, garrafas, folhas secas, outros) que possam provocar ruídos.
2.3 Comunicação por gestos
A comunicação por gestos é uma técnica utilizada nos deslocamentos.
Trata-se de comunicação não verbal, executada por intermédio de sinais
convencionados, que objetivam intermediar mensagens entre os policiais de
forma silenciosa. Propicia a aproximação cautelosa e discreta.

Os gestos mais utilizados nas intervenções são os demonstrados na figura 8.

29
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Figura 8 – Comunicação por gestos

Além dos gestos apresentados, a equipe poderá convencionar outros, de


acordo com a necessidade. Para maior efetividade da comunicação, antes da
entrada em operação, as equipes deverão checar a compreensão dos gestos
a serem utilizados.
2.4 Técnicas de uso de lanterna
O olho humano não tem capacidade para se adaptar de forma rápida e efetiva
às variações da luminosidade dos ambientes.
Ao passar de um ambiente iluminado para um de baixa luminosidade, ou vice-
versa, é preciso que o policial aguarde alguns segundos, para que sua visão
se adapte às novas condições do ambiente, antes de iniciar o deslocamento.
No cotidiano operacional, o policial se depara com ambientes de baixa
luminosidade, mesmo durante o dia. Nessas circunstâncias, a visão em
profundidade e a percepção de detalhes ficam prejudicadas e os objetos, em
geral, adquirem uma tonalidade cinza ou parda.

30
Caderno Doutrinário 2

A lanterna é um recurso eficaz para ambientes de baixa luminosidade. Suas


principais utilidades são:

• iluminação do ambiente;

• identificação de pessoas ou objetos;

• auxílio na realização da pontaria;


• ofuscamento da visão do abordado;
• sinalização.
A lanterna deve ser utilizada com acionamentos intermitentes, para
que a posição do policial e dos demais integrantes da equipe não seja
denunciada. Além disso, o acionamento de lanterna, atrás de outro policial
deve ser evitado.
Se, durante o deslocamento, o policial deparar com um suspeito, poderá
focalizar
o feixe de luz nos olhos do abordado, com o objetivo de ofuscar-lhe a visão,
procurando abrigo para realização de uma verbalização segura.
O feixe de luz deverá permanecer sobre os olhos do abordado o tempo
necessário para averiguar se ele está armado ou enquanto apresentar perigo.
A lanterna será conduzida pela mão que não estiver empunhando a arma de
fogo e sempre acompanhará a direção do cano. Desta forma, o foco de visão
do policial, o cano da sua arma e o feixe de luz deverão estar voltados para a
mesma direção.
As posições de empunhadura da lanterna são as seguintes:

a) posição 1: o policial apoiará a lanterna lateralmente na armação da arma,


segurando-a com o dedo polegar e o indicador. É apropriada para lanternas
com botão de acionamento lateral (Figura 9).

31
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Figura 9 – Técnica de Uso da Lanterna “Posição 1”

b) posição 2: o policial coloca a mão que está com a lanterna abaixo da


mão que segura a arma. As costas das mãos se apóiam para dar estabilidade
ao conjunto, conforme ilustra a (Figura 10). É importante frisar que, nesta
posição, o armamento está em empunhadura simples com apoio, o que
poderia dificultar uma boa sustentação e estabilidade após o recuo da arma
entre um disparo e outro.

32
Caderno Doutrinário 2

Figura 10 – Técnica de Uso Utilização da lanterna “Posição 2”.

2.5 Técnicas de varredura


A varredura consiste na verificação visual feita pelo policial, de um
determinado espaço físico localizado em uma área de risco. Para realizá-la,
os policiais poderão utilizar três técnicas básicas denominadas: tomada de
ângulo, olhada rápida e uso do espelho.

a) Tomada de ângulo

Conhecida também como fatiamento permite checar o ambiente por


segmentos. Seu objetivo é propiciar a visualização total ou parcial de uma
pessoa ou de um objeto (pés, mãos, roupas, armamento, dentre outros),
antes que o policial seja visto pelo abordado.

A varredura será feita de maneira lenta e gradual, frente a locais com ângulos
desconhecidos (esquina de becos, portas, corredores, escadas, dentre outros).
O policial se moverá lateralmente, sem a exposição do corpo e sem cruzar as
pernas, tendo como referência o obstáculo (parede, muro, por exemplo), que
lhe servirá de abrigo.

A tomada de ângulo será feita até que se tenha o controle visual total do
ambiente ou visualize partes do corpo do abordado, momento em que
recorrerá à verbalização e às técnicas de abordagem.

33
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Com a arma na posição 3 – guarda alta, o policial manterá os cotovelos


recolhidos, para evitar a visualização de sua sombra e de peças do fardamento
(Figura 11 e 12).

Figura 11 – Tomada de ângulo ou “fatiamento” (visão do policial)

Figura 12 – Tomada de ângulo ou “fatiamento” - (visão do abordado)

A verbalização deverá iniciar-se tão logo o policial localize um suspeito,


procurando manter o controle visual.
b) Olhada rápida
Esta técnica tem por objetivo propiciar a visualização instantânea de um
suspeito, sem ser visto por ele.

34
Caderno Doutrinário 2

Para realizá-la, o policial deve expor a cabeça lateralmente, observar a área de


risco, e retornar à posição abrigada, o mais rápido possível.
Se a repetição do movimento for necessária, o policial deverá alternar o ponto
de observação, como se vê na figura 13 e 14.

Figura 13 – Olhada rápida (visão do policial)

35
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Figura 14 - Olhada rápida (visão do abordado)

Durante sua execução, a arma deverá estar no coldre ou em uma das mãos,
devendo o policial atentar para o controle da direção do cano.
Antes de empregar a técnica, o policial deverá ter próximo à sua retaguarda,
em cobertura, outro policial, que deverá estar em pé, com a arma na posição
2 – guarda baixa, sem apontá-la em direção ao executor e expô-lo ao perigo.
Ao avistar a área de risco e identificar o(s) suspeito(s) com a olhada rápida, o
policial executor sinalizará para os outros policiais o número e localização dos
suspeitos, bem como se estão armados.
Caso tenham supremacia de força3, deverão usar, após a olhada rápida, a
técnica de tomada de ângulo, com o objetivo de se posicionarem seguramente
para emprego da verbalização e abordagem.
c) Uso do espelho
O uso do espelho é uma técnica que contribui para aumentar a segurança do
policial. A varredura será realizada com o espelho de baixo para cima ou vice-versa,
cautelosamente e devagar, observando todos os ângulos. É conveniente que o
espelho a ser utilizado seja convexo e sustentado por uma haste, para facilitar
o manuseio e permitir uma maior amplitude visual. Ao conhecer a posição do
suspeito, o policial deverá recorrer à tomada de ângulo a fim de manter o controle

3 Ver seção 3 deste Caderno.

36
Caderno Doutrinário 2

sobre os pontos de foco e pontos quentes4 e empregar a verbalização.

Figura 15 – Uso do espelho

Embora apresentadas isoladamente, o policial deve dominar as três técnicas


descritas, para que as utilize segundo a conveniência e a necessidade.
Simultaneamente, poderá realizar o fatiamento, com olhadas rápidas ou com
o recurso do espelho, aumentando ainda mais o seu campo visual.
2.6 Posições/posturas adotadas pelo policial na abordagem a pessoas
Posições/posturas de abordagem, também conhecidas como “posturas
táticas”, são técnicas que definem o posicionamento do corpo e da arma do
policial, que o possibilitam aproximar-se e verbalizar com o abordado de
maneira segura, potencializando sua capacidade de autodefesa e viabilizando
o uso diferenciado de força.
As posturas referem-se ao posicionamento corporal do policial com as
mãos livres, enquanto posições referem-se a empunhadura de armas ou
equipamentos.
A posição/postura do policial durante uma abordagem influencia
diretamente no processo mental de agressão5 do abordado retardando a
etapa de decisão. Uma atitude relapsa transmite despreparo profissional e
expõe a segurança do policial, enquanto outra, demasiadamente rígida ou
desrespeitosa, poderia causar indignação.
A posição/postura do policial durante a abordagem deve estar diretamente
vinculada ao risco com o qual ele pode se deparar. Por isso, em toda
abordagem, este deve empregar a metodologia de avaliação de risco6 para

4 Ver Seção 4 do Caderno Doutrinário 1.


5 Ver Seção 4 do Caderno Doutrinário 1.
6 Ver Seção 3 do Caderno Doutrinário 1.

37
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

decidir a melhor técnica a ser utilizada.


Antes de estabelecer as posições/posturas, é necessário definir os ângulos
de aproximação entre o policial e o abordado. A aplicação do conhecimento
sobre estes ângulos proporcionará maior segurança na abordagem.
2.6.1 Ângulos de aproximação
Nas abordagens7e buscas pessoais8, os policiais deverão atentar pela
segurança. Para tanto, foram estabelecidos ângulos de aproximação ao
abordado, conforme figura 16.

Figura 16 – Ângulos de aproximação

O policial procurará não se aproximar do espaço compreendido entre os


braços do abordado, porque poderá ser atingido com maior facilidade em
caso de uma possível agressão física.
Os demais ângulos descritos na (Figura 16) acima permitem uma aproximação
segura, sendo que o ângulo 3 oferece maior segurança e o ângulo 1, menor.

Uma aproximação, observando-se os ângulos de segurança, aumenta o


tempo do processo mental da agressão do abordado. Assim, ele terá que
se virar para atingir o policial que, por sua vez, terá melhor condição de se
esquivar.

7 Ver Seção 3 deste Caderno.


8 Ver Seção 4 deste Caderno

38
Caderno Doutrinário 2

2.6.2 Posturas de abordagem com as mãos livres

São técnicas em que o policial faz a intervenção sem recorrer a quaisquer


armamentos, instrumentos ou equipamentos. São estabelecidas para cada
nível de risco9, orientando a distância e a angulação de aproximação, bem
como a posição de mãos e braços do policial.

Estando preliminarmente com as mãos livres e visíveis, o policial transmitirá


ao abordado a mensagem10 de que deseja dialogar ou resolver pacificamente
o conflito.

Para todas as posturas a mãos livres, o policial deverá adotar a posição de


“base”, utilizada nas artes marciais, variando-se apenas a posição das mãos e
braços. Esta posição permite ao policial equilíbrio e melhores possibilidades
de defesa e contra-ataque. Também permite maior proteção da arma de fogo
do policial, haja vista que os braços e pernas mais fortes e, consequentemente,
o coldre (geralmente colocado do lado da mão mais forte) ficam ligeiramente
projetados para a retaguarda. Logo, mais distantes do raio de ação do
abordado.

Aposição de base está representada na figura 17,18,19.

a) Postura Aberta

Deverá ser empregada nas intervenções em que o abordado não estiver


aparentemente portando armas e apresentar comportamento cooperativo.

Nesta postura, o policial se aproximará do abordado, preferencialmente,


pela angulação 1, conforme figura 16, e permanecerá a uma distância de
aproximadamente 3 metros, o que permitirá ao policial agir em autodefesa e
monitorar os pontos quentes (cabeça, mãos e pernas).

Na postura aberta, os braços do policial permanecerão naturalmente


abaixados, com as palmas das mãos voltadas para frente, manifestando
gestualmente uma mensagem de receptividade, conforme ilustra a figura 17.

9 Ver Seção 3 do Caderno Doutrinário 1.


10 Ver Seção 6 do Caderno Doutrinário 1

39
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Figura 17 – Postura Aberta - mãos livres

b) Postura de Prontidão
Deverá ser utilizada nas intervenções em que o abordado não estiver
aparentemente portando armas e apresentar comportamento de resistência
passiva.
Esta postura com um dos braços elevados e mãos abertas (conforme figura
18) permite ao policial o emprego mais eficiente das técnicas de controle de
contato, além de transmitir uma mensagem gestual de contenção do conflito,
não agressividade e intenção de resolução pacífica.

Figura 18 – Postura de Prontidão

40
Caderno Doutrinário 2

Sempre que o abordado tentar reduzir a distância de segurança, o policial


deverá ordenar que ele pare imediatamente e, concomitantemente, dele
se afastará. Esse procedimento retardará o tempo decorrente do processo
mental da agressão.
c) Postura Defensiva
Deverá manter a cabeça ereta na posição natural, com as mãos abertas
próximas ao rosto, e os cotovelos projetados na linha das costelas, a fim de
protegê-las, permanecendo assim em melhores condições de emprego das
técnicas de controle físico e com maiores chances de defesa contra golpes. As
mãos permanecerão abertas por assim representarem um gesto universal de
defesa, as pernas deverão estar formando uma base equilibrada, os joelhos
semifexionados e o corpo projetado à frente (figura 19). Jamais deverá ser
usado com punho cerrado, pois este gesto denota agressão.

Figura 19 - Postura Defensiva

A postura defensiva com as mãos livres deverá ser utilizada nos seguintes
casos:
a) abordado aparentemente desarmado que apresenta resistência
passiva continuada: após esgotada a tentativa de convencimento do
abordado ao acatamento das ordens, o policial deverá mudar a postura de

41
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

prontidão para postura defensiva, e realizar a aproximação para emprego


inicial de técnicas de controle de contato para prisão do abordado.

b) abordado aparentemente desarmado que apresenta resistência ativa:


neste caso, o abordado não obedece às ordens do policial e tenta atingir o
policial com socos e chutes. O policial deverá adotar a postura defensiva para
realizar o controle físico através do emprego e técnicas de defesa pessoal
policial.

Se o policial entender que não será possível dominar um abordado com o


emprego de técnicas de defesa pessoal policial com as mãos livres (controle
de contato e controle físico), desde que não exista risco iminente de
morte, deverá acionar reforço e avaliar a oportunidade e conveniência para
empregar instrumentos de menor potencial ofensivo (controle com IMPO)
ou até mesmo uso dissuasivo de arma de fogo11 .

A adoção de uma postura correta, somada a uma verbalização adequada,


poderão levar o abordado a cooperar com a abordagem policial, prevenindo
uma provável resistência, ainda na fase embrionária.

ATENÇÃO! Os procedimentos para o emprego


de instrumentos de menor potencial ofensivo
serão tratados em manual específico.

2.6.3 Posições de emprego de arma de fogo

São técnicas que objetivam garantir a segurança do policial e causar impacto


psicológico no abordado, proporcional ao nível de risco oferecido, de forma
dissuasiva.

Existem quatro posições básicas para se utilizar o armamento de porte


durante as intervenções policiais.

a) Posição 1 -arma localizada

O policial levará a mão até o punho da arma, e a manterá no coldre, conforme


figura 20. Tal posição tem o objetivo de reduzir o tempo de reação do policial
e passar ao abordado a possível intenção de usar a arma.

11 Conforme disposto no item 7.2.3 do Caderno Doutrinário 01 e orientação do item 6 da


Portaria Interministerial 4.226/10.

42
Caderno Doutrinário 2

Figura 20 – Posição 1: Arma localizada

b) Posição 2 – guarda baixa


O policial manterá os braços ligeiramente flexionados, à frente e próximos ao
corpo; estará com a arma empunhada (fora do coldre), posicionada na altura do
abdômen com o cano voltado para baixo e, como medida de segurança, manterá
o dedo indicador fora do gatilho, na mesma direção do cano, conforme figura 21.

Figura 21 – Posição 2: Guarda baixa

Esta posição é indicada para deslocamentos longos, pois minimiza o cansaço


físico causado pelo peso da arma, proporciona ao policial condição para se
defender de uma possível agressão, sem aumentar muito o tempo de reação.
Ao se deslocar em grupo, o policial deverá manter o controle do cano
da arma e, em hipótese alguma, a apontará na direção dos integrantes do
grupamento.

43
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Uma variável que pode ser utilizada com o intento de não expor
ostensivamente a arma, chama-se “guarda baixa velada”. Nesta posição, o
cano fica voltado para baixo, próximo à parte superior do abdômen, com a
mão que auxilia a empunhadura posicionada em cima da arma.

Figura 22 – Posição 2: Guarda baixa velada

c) Posição 3 – guarda alta


O policial manterá os braços à frente do corpo, ligeiramente flexionados. A
arma estará empunhada abaixo da linha dos ombros (altura do tórax), e o
cano ficará voltado pra frente e para baixo, num ângulo de aproximadamente
45º em relação ao solo, como mostra a figura 23.
Esta posição é indicada para deslocamentos curtos. O policial se mantém
em condições de responder rapidamente a uma possível agressão.

Figura 23 – Posição 3: Guarda alta

44
Caderno Doutrinário 2

d) Posição 4 – pronta-resposta
A arma será apontada diretamente para o abordado, conforme figura 24.

Figura 24 – Posição 4: Pronta-resposta

Será empregada nas situações em que exista potencialidade real e imediata


de agressão letal, ou nas situações que ofereçam risco de morte ou ferimentos
graves ao policial ou a terceiros12.
Ao visualizar um agressor armado, o policial apontará rapidamente a arma
para a sua massa central (tronco) e manterá, ao mesmo tempo, o controle dos
pontos quentes.
O policial somente deverá acionar a tecla do gatilho após identificar,
certificar e decidir para agir, ou seja, disparar a arma de fogo13.
LEMBRE-SE: Recomenda-se evitar iniciar as abordagens
na posição de pronta-resposta, pois isso limita a alternância
dos níveis de força, e ainda acarreta o risco de disparo
acidental14. O policial, ao verbalizar com um abordado
cooperativo aparentemente cooperativo, por exemplo,
estando ainda com a arma no coldre, disporá de outros
níveis de força, sem que recorra, necessariamente, ao
disparo15. Ver quadros 3, 4 e 5 deste Caderno, na Seção 3.

12 Conforme previsto no item 7 da Portaria Ministerial 4.226/10


13 Conforme previsto no princípio 9 dos Princípios Básicos sobre a utilização da Força e de
armas de fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei item 3 da Portaria Mi-
nisterial 4.226/10.
14 Conforme disposto no item 7 da Portaria Interministerial 4.226/10.
15 Conforme previsto no art. 3º do Código de Conduta para os Encarregados pela Aplicação
da Lei (CCEAL).

45
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

2.7 Técnica de Aproximação Triangular (TAT)


Nesta técnica, dois policiais e o abordado dispostos de maneira que formem
um triângulo. É considerada a forma mais segura e eficiente de aproximação
policial.

A distância recomendada entre os policiais será de aproximadamente 4


metros, o que dificulta o controle visual simultâneo de ação dos dois policiais
por parte do abordado. A distância dos policiais em relação ao suspeito será
de aproximadamente 3 metros, para proporcionar segurança à guarnição em
caso de repentina agressão (Figura 25).

A postura ou posição de emprego de arma a ser utilizada pelos policiais na


realização da TAT deverá ser definida pelo policial de acordo com o nível de
risco e a evolução dos fatos durante a intervenção16.

A TAT poderá ser empregada em esquemas táticos variados, em função da


quantidade e comportamento dos abordados e do número de policiais.

A área de contenção corresponderá ao espaço de abrangência da ocorrência,


em que os policiais manterão monitoramento mais constante, com objetivo
de conter os abordados e isolar o local de interferência de terceiros.

O setor de busca corresponde ao local onde se realizará a busca pessoal


e será definido pelos policiais após análise da área e da avaliação de risco.
Se possível, possuirá características que privilegiem a segurança tanto dos
policiais quanto dos abordados. Tais características são o relevo adequado e
se situar fora da área de tráfego de veículos e de locais onde os policiais não
tenham pleno controle no que se refere à segurança.

O setor de custódia corresponderá a um local dentro da área de contenção,


com as mesmas características do setor de busca, definido pela guarnição,
onde os demais suspeitos aguardam a busca pessoal e outros procedimentos
necessários (consulta de dados, checagem de objetos, outros). Recomenda-se
que estes locais não possuam pontos de escape, que permitam uma possível
evasão dos abordados.

16 Conforme posturas e posições de emprego de arma sugeridas na seção 3 deste Caderno

46
Caderno Doutrinário 2

Figura 25 – Técnica de Aproximação Triangular e Área de Contenção

Numa abordagem a pessoas, os policiais exercerão as seguintes funções:


• PM Verbalizador: aquele que verbaliza com o abordado;
• PM Segurança: responsável pela segurança da equipe;
• PM Revistador: encarregado de revistar o abordado e seus pertences
(busca).
Um único policial poderá exercer mais de uma função. É importante lembrar
que estas funções deverão ser previamente definidas pelo comandante da
abordagem, a fim de garantir a disciplina tática entre os integrantes.
Para a realização da abordagem de um ou dois suspeitos, a equipe de policiais
adotará as seguintes providências:
• O PM Verbalizador determinará ao abordado todos os
procedimentos para a adoção de uma das posições de contenção
(definidas no item 4.2.2) que o policial julgar mais adequada. Para
tal, o PM Verbalizador deverá dar ordens claras e precisas para o
abordado até que este adote a posição determinada.
• Havendo mais de um suspeito, a equipe fará a busca pessoal em um
de cada vez.
• A equipe cuidará para que não se perca a triangulação necessária;

47
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Para a realização da abordagem a três ou mais suspeitos, a equipe de


policiais adotará as seguintes providências:

• Dentre os suspeitos abordados posicionados no setor de


custódia, o PM Verbalizador determinará a um deles que se
poste em local distinto dos demais (setor de busca), tomando a
posição de contenção mais adequada, conforme sua avaliação,
para que seja procedida a busca pessoal.

• A pessoa a ser abordada ficará afastada a uma distância


aproximada de 3 metros do grupo, na lateral, caso a posição
definida seja a busca na posição em pé. Entretanto, ficará a
dois metros à retaguarda do grupo, caso a posição de busca
seja na posição de joelhos.

• O detalhamento das ações de Abordagem a Pessoa e Busca


Pessoal será feito nas seções 3 e 4, respectivamente.

• O abordado terá seus dados anotados para que seja averiguado


seu prontuário criminal e/ou para pesquisas de qualidade
do serviço operacional pós-atendimento. Após, o policial
informará ao suspeito o motivo do procedimento e agradecerá
a colaboração.

• Caso o cidadão, após terminado o procedimento policial,


deseje esperar por outro abordado, o PM Verbalizador
determinará que ele aguarde fora da área de contenção.
Entretanto, atenção ainda deverá ser dada a ele, através do
monitoramento pelo PM Segurança.

As funções policiais poderão variar no decorrer da abordagem, de acordo


com o local, número de abordados, grau de risco, e de informações obtidas
sobre os suspeitos.

Observe nos esquemas sugeridos a seguir, que o policial responsável pela


segurança da abordagem também se encarregará da segurança periférica.

48
Caderno Doutrinário 2

a) dois policiais e um abordado

Figura 26 – Esquema tático de aproximação com 2 policiais e 1 abordado

b) dois policiais e dois ou três abordados


O esquema tático sugerido aplica-se à abordagem a duas ou três pessoas.
No caso de três, o esquema dependerá da avaliação de riscos feita
pelos policiais.

Figura 27 – Esquema tático de aproximação com 2 policiais e 2 abordados

49
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Figura 28 – Esquema tático de aproximação com 2 policiais e 3 abordados

c) três policiais e um abordado

Figura 29 – Esquema tático de aproximação com 3 policiais e 1 abordado

50
Caderno Doutrinário 2

d) três policiais e vários abordados

Figura 30 – Esquema tático de aproximação com 3 policiais e 4 abordados

e) quatro policiais e quatro abordados

Figura 31 – Esquema tático de aproximação com 4 policiais e 4 abordados

51
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

ATENÇÃO: Em abordagens com buscas pessoais a


grandes grupos, mesmo não havendo um número superior
de policiais em relação aos abordados, desde que se
mantenha a segurança requerida para os policiais, poderá
ser designado mais de um policial para realizar a busca
pessoal de forma concomitante, conforme Seção 5.

Em seguida, na seção 3, serão discutidas técnicas e táticas de abordagem a


pessoas, e será traçado um modelo policial de referência para as ações nos
diversos níveis de intervenção.

52
SEÇÃO 3

ABORDAGEM
A PESSOAS
Caderno Doutrinário 2

3 ABORDAGEM APESSOAS

A abordagem policial é o conjunto ordenado de ações policiais para


aproximar-se de uma ou mais pessoas, veículos ou edificações. Tem por
objetivo resolver demandas do policiamento ostensivo, como orientações,
assistências, identificações, advertências de pessoas, verificações, realização
de buscas e detenções.
Já a abordagem a pessoas se refere apenas às ações policiais para se aproximar
de um ou mais indivíduos. Este conceito possui um sentido amplo, ou seja,
abrange a todos os cidadãos, não se restringindo às pessoas em situação de
suspeição.
Os procedimentos adotados pela guarnição variam de acordo com os fatos
motivadores da abordagem e com o ambiente. Além disso, o policial deve
compreender as peculiaridades daquele com quem interage e não vincular
essa interação, necessariamente, a ações delituosas.
Em cada abordagem realizada, o policial deverá utilizar técnicas, táticas e
recursos apropriados ao público-alvo desta intervenção policial, seja a pessoa
suspeita ou não.
O poder de polícia17, intrínseco nas abordagens, deve ser entendido como um
conjunto de ações que limitam e sancionam o direito individual e autorizam
a intervenção do Estado18, executada por intermédio de seus agentes, em
qualquer matéria de interesse da coletividade.
A ação de abordar uma pessoa é um ato administrativo, discricionário,
autoexecutório e coercitivo. Significa dizer que a abordagem policial é
realizada de ofício.

O ato de abordar é discricionário, e jamais poderá ser ilegal, sob pena de


não atingir sua finalidade precípua, que é o bem comum19. É imprescindível
também que, durante as abordagens, a pessoa receba um tratamento
respeitoso.
A doutrina sobre Intervenção Policial estabelece etapas que sistematizam o
processo de solução de problemas, objetivando estruturar ações de resposta
17 Conforme disposto no art. 78 do Código Tributário Nacional.
18 Conforme preconizado no art. 32, item 2 da Convenção Americana Sobre Direitos
Humanos (CADH).
19 Conforme disposto no art. 22, item 3, da Convenção Americana Sobre Direitos Humanos
(CADH).

55
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

adequadas durante a abordagem. Nesse enfoque, recomenda-se a leitura dos


seguintes tópicos, constantes no Caderno Doutrinário 1:
• etapas da intervenção: seção 5;
• fundamentos da abordagem policial à pessoa em atitude
suspeita: seção 5;
• verbalização do policial face ao comportamento do abordado:
seção 6;
• uso diferenciado de força: seção 7.
Como explorado no Caderno Doutrinário 1, a abordagem é uma intervenção
policial, rotineira, que se procede por meio de técnicas, táticas e uso de
equipamentos proporcionais aos níveis de riscos.
3.1 Uso diferenciado de força nas intervenções policiais
Durante a atuação policial, caso haja resistências e agressões em variadas
formas e graus de intensidade, o policial terá que adequar sua reação a essas
circunstâncias, estabelecendo formas de controlar e direcionar o abordado, a
fim de dominá-lo. Para lidar com esses diversos graus de intensidade, foram
definidos os níveis do Uso de Força.
Verifica-se, então, que a compreensão das atitudes do abordado, no que diz
respeito à relação de causa e efeito, será determinante para a avaliação de
riscos e a tomada de decisões seguras sobre o nível de força mais adequado
para fazer cessar a agressão20.

O Modelo de Uso de Força foi apresentado no primeiro Caderno


Doutrinário21. Entretanto, para maior compreensão do assunto, o quadro
abaixo condensa os níveis de força, explicando objetivamente a sequência
de comportamentos:

20 Conforme disposto no art. 3º do Código de Conduta para os Encarregados pela Aplicação


da Lei (CCEAL) e do item 2 da Portaria Interministerial 4.226/10.
21 Conforme disposto no item da Portaria Interministerial 4.226/10

56
Caderno Doutrinário 2

QUADRO 1 - Explanação sobre modelo de uso de força


COMPORTAMENTO DO ABORDADO RESPOSTA POLICIAL

Cooperativo: a pessoa abordada acata todas as Verbalização: é o uso da comunicação oral, por
determinações do policial durante a intervenção, sem meio de entonação apropriada e emprego de termos
apresentar resistência (classificação de risco nível I). adequados, que sejam facilmente compreendidos pelo
Exemplo: o motorista que apresenta, prontamente, abordado.
toda a documentação solicitada e atende as Presença Policial: utilizada em conjunto com a
orientações do policial, durante operação tipo blitz. verbalização, geralmente inibe o cometimento de
infração ou delito em determinado local.

RESISTENTE TÉCNICAS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO

Resistente passivo: a pessoa abordada não acata, de


Controles de contato: trata-se do emprego de técnicas
imediato, as determinações do policial, ou se opõe às
de defesa pessoal, aplicadas ao abordado resistente
ordens, reagindo com o objetivo de impedir a ação
passivo (que não agride o policial, nem terceiros), para
legal. Contudo, não agride o policial, nem a terceiros,
fazer com que obedeça à ordem dada.
nem lhes direciona ameaças (classificação de risco
nível II).
Exemplo: a pessoa, durante uma abordagem, corre na
tentativa de empreender fuga para frustrar a ação de
busca pessoal.

Controle físico: é o emprego das técnicas de defesa


V pessoal policial, com um maior nível de força, para fazer
E com que o abordado resistente ativo (que não agride
R o policial, mas a um terceiro), seja controlado, sem o
B emprego de equipamentos.
Resistente ativo (com agressão não letal): o
A Controle com Instrumentos de Menor Potencial
abordado opõe-se à ordem, agredindo os policiais ou
L Ofensivo (IMPO): O policial recorrerá aos instrumentos
as pessoas envolvidas na intervenção, contudo, tais
I disponíveis (bastão tonfa, agentes químicos, algemas,
agressões, aparentemente, não representam risco de
Z elastômeros, armas de impulso elétrico, entre outros),
morte (classificação de risco nível III).
Ç com o fim de anular ou controlar o nível de resistência.
Exemplo: a pessoa, durante a abordagem, tenta
à Uso dissuasivo de armas de fogo: trata-se de opções
agredir com socos os policiais.
O de posicionamento que o policial poderá adotar,
com sua arma, para criar um efeito intimidativo no
abordado sem, contudo, dispará-la. Ao mesmo tempo,
o policial permanecerá em condições de responder
rapidamente.

RESISTENTE ATIVO (COM AGRESSÃO LETAL) FORÇA POTENCIALMENTE LETAL

Golpes de defesa pessoal policial em regiões


vitais: consiste também na aplicação de golpes de
defesa, desferidos pelo policial, com ou sem o uso
de equipamentos, contra as regiões vitais do corpo
O abordado utiliza de agressão que põe em perigo
do agressor. Serão empregados apenas em situações
de morte o policial ou as pessoas envolvidas na
extremas que envolvam risco iminente de morte ou
intervenção.
lesões graves, com o objetivo imediato de fazer cessar
Exemplo: o agressor, empunhando uma faca, desloca-
a ameaça.
se em direção ao policial e tenta atacá-lo (classificação
Disparo de arma de fogo: consiste no disparo de arma
de risco nível III).
de fogo pelo policial contra um agressor, e que deve
ocorrer somente em situações extremas, que envolvam
risco iminente de morte ou lesões graves à pessoa
atingida. Seu objetivo imediato é fazer cessar a ameaça.

FONTE: Adaptado do Modelo do Uso da Força – Caderno Doutrinário 1.

57
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

3.2 Níveis de Intervenção


A abordagem policial à pessoa também é classificada em três níveis (1, 2
e 3) tendo como referência os níveis de intervenção policial, conforme
definidos pelo Caderno Doutrinário 1.
O quadro 2 mostra a relação entre os níveis de risco e de intervenção, e de
força, bem como os estados de prontidão decorrentes.
QUADRO 2 – Correlação entre os níveis de risco, de abordagem, estados de
prontidão e níveis de força recomendados.
NÍVEIS DE RISCO COMPORTAMENTO NÍVEIS DE INTERVEN- ESTADO DE NÍVEL DE FORÇA
DO ABORDADO ÇÃO PRONTIDÃO
Risco nível I: Intervenção nível 1:
caracterizado pela adotada nas situações de
reduzida possibi- assistência e orientação.
lidade de ocorre- A finalidade das ações
rem ameaças que policiais, neste nível, é de
comprometam a orientar, e dificilmente
• Presença policial
segurança. Este implicam em realizar Atenção
Cooperativo
nível de risco está buscas em pessoas (Amarelo) • Verbalização
presente em situa- ou bens. É o tipo de
ções rotineiras do intervenção na qual
patrulhamento e o caráter preventivo
nas intervenções de predomina.
caráter educativo e
assistencial.
Risco nível II: Intervenção nível 2:
caracterizado pela adotada nas situações
real possibilidade de que haja a necessidade de
ocorrerem ameaças verificação preventiva. A
que comprometam avaliação de riscos indica
Alerta
a segurança. São Resistente passivo que existe algum indício Controle de
(Laranja)
situações nas quais de ameaça à segurança contato
o risco é conhecido, (do policial ou de tercei-
mas que a interven- ros), mas ainda não há a
ção policial ainda é de necessidade imediata de
caráter preventivo. uma resposta.
Risco nível III: Intervenção nível 3: Controle físico
caracterizado pela adotada nas situações Controle com IMPO
concretização do Resistente ativo de fundada suspeita ou Uso dissuasivo de
dano ou pelo grau (agressão não letal) certeza do cometimento arma de fogo
de extensão da de delito, caracterizando
ameaça. São situ- ações repressivas. Neste
ações nas quais a caso, a avaliação de ris-
intervenção policial cos indica a iminência de Alarme
(Vermelho) Golpes de defesa
é de caráter repres- algum tipo de agressão.
em regiões vitais
sivo. Os policiais deverão estar
Resistente ativo Disparo de arma de
prontos para o emprego
(agressão não letal) fogo
de força

FONTE: Adaptado do Caderno Doutrinário 1.

OBSERVAÇÃO: Este quadro se trata de uma referência para as ações policiais, podendo o
comportamento e a atitude do abordado variarem nos diversos níveis de intervenção.

58
Caderno Doutrinário 2

Os quadros 3, 4 e 5, a seguir, sugerem táticas a serem empregadas na


abordagem a pessoas, em três variáveis principais:
• abordado aparentemente desarmado;
• abordado visivelmente portando arma branca;
• abordado visivelmente portando arma de fogo.
As variáveis principais, por conseguinte, estão divididas em tópicos estabelecidos
de acordo com a animosidade do abordado:
• abordado cooperativo;
• abordado resistente passivo;
• abordado resistente ativo.
QUADRO 3 – Tática de Abordagem a Pessoas - “abordado aparentemente
desarmado”
Comportamento do Verbalizador Revistador/Segurança
Abordado

Iniciar a abordagem adotando a Iniciar a abordagem na posição


postura aberta (mãos livres); de arma localizada;
Cooperativo Uso da técnica de verbalização. Adotar a postura de prontidão
(mãos livres) quando for se
aproximar para realizar a busca
pessoal.

Iniciar na postura de prontidão; Iniciar a abordagem na posição


Manter constante verbalização, de arma localizada;
buscando convencer o abordado Caso o abordado não ceda à
a acatar as ordens; verbalização, o policial deverá
Resistente Passivo Caso o abordado não ceda à retirar a mão do punho da arma
verbalização, o policial deverá e adotar a postura defensiva
atrair sua atenção para que o PM quando for se aproximar
Segurança consiga se aproximar do abordado para aplicar a
para dominá-lo. técnica de controle de contato
específica.

Iniciar a abordagem na postura Iniciar a abordagem na posição


defensiva; de arma localizada;
Manter constante verbalização; Será o responsável por imobilizar
Resistente Ativo Caso o abordado não ceda, e conduzir o abordado caso
deverá aplicar técnica de não acate às ordens do PM
controle físico, podendo ainda Verbalizador.
fazer uso de IMPO.

59
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

QUADRO 4 – Tática de Abordagem a Pessoas - “abordado visivelmente


portando arma branca”
Comportamento do Abordado Verbalizador Revistador/Segurança

Manter distância de segurança;


Iniciar na posição de arma localizada ou guarda baixa;
Cooperativo
Manter constante verbalização, Será responsável pela segurança
determinando ao autor que do PM Verbalizador;
coloque a arma branca no chão
e acate as ordens de busca.

Manter distância de segurança;


Emprego da arma na posição de guarda baixa;

Manter constante verbalização,


tentando convencer o autor a
Resistente Passivo colocar a arma branca no chão e
acatar às ordens de busca. Será responsável pela segurança
Caso, após tentativa de do PM Verbalizador;
verbalização, o abordado não
ceda às ordens de largar a arma Fará a aproximação para a
branca, deverá ser empregado imobilização e prisão do autor
IMPO para imobilização e prisão somente após ter sido cessado
do autor. seu poder de resistência face aos
A escolha do tipo de IMPO que efeitos do emprego do IMPO.
será empregado ficará a cargo
dos policiais, de acordo com os
instrumentos disponíveis, com
as informações do fato e com a
análise de risco.
Manter distância de segurança;

Verbalizar após estar abrigado Iniciar a abordagem na posição


(proteção física); de guarda baixa ou de guarda
Iniciar a abordagem na posição alta;
de guarda baixa (arma de fogo); Será responsável pela segurança
Caso, após tentativa de do PM Verbalizador;
verbalização, o abordado
continue tentando usar a arma Fará a aproximação para a
branca contra os policiais imobilização e prisão do autor
Resistente Ativo
ou contra terceiros, deverá somente após ter sido cessado
ser empregado IMPO para sua força de resistência face aos
imobilização e prisão do autor; efeitos do emprego do IMPO;
A escolha do tipo de IMPO que
será empregado ficará a cargo
dos policiais, de acordo com
os meios disponíveis, o fato e a
análise de risco;
Caso a tentativa de agressão do autor acarrete em risco real e
imediato à vida dos policiais e de terceiros, e o uso dos IMPO se
mostrarem ineficazes para o caso concreto, poderá ser efetuado
disparo com a arma de fogo.

60
Caderno Doutrinário 2

QUADRO 5 – Tática de Abordagem a Pessoas - “abordado visivelmente


portando arma de fogo
Comportamento do Abordado Verbalizador Revistador/Segurança
Cooperativo Deverá estar coberto e abrigado;
(Ex.: policial aborda cidadão
que se identifica como policial, Iniciar a abordagem na posição Será o responsável pela
pessoa com arma na cintura e de guarda baixa ou guarda alta; segurança do PM Verbalizador
aparentemente disposição a Manter constante verbalização, durante o processo de
acatar as ordens policiais) devendo determinar ao autor verbalização;
que largue a arma de fogo e aca- Iniciar a abordagem na posição
te às ordens de busca. de guarda alta (arma de fogo).

Deverá estar coberto e abrigado;

Resistente Passivo
Iniciar abordagem na posição de
(Ex.: Arma de fogo na cintura ou guarda alta; Iniciar abordagem na posição de
na mão com o cano voltado para Manter constante verbalização, guarda alta ou pronta-resposta;
baixo, porém, não acatando tentando convencer o autor a Será responsável pela segurança
as determinações do PM largar a arma de fogo no chão e do PM Verbalizador;
Verbalizador) acatar as ordens. Fará a aproximação para a
Caso, após tentativa de imobilização e prisão do autor
verbalização não acate as somente após certificar-se
ordens, deverá ser empregado de que o autor largou a arma
IMPO para imobilização e prisão de fogo e não oferece poder
do autor. de reação face aos efeitos do
A escolha do tipo de IMPO que emprego do IMPO;
será empregado ficará a cargo
dos policiais de acordo com os
meios disponíveis, com o fato e
com a análise de risco.
Poderá efetuar disparo com a arma de fogo caso a ação do autor
Resistente Ativo configure risco real e imediato à vida dos policiais e de terceiros.
autor apontando arma em dire- Deverá estar coberto e abrigado;
ção aos policiais ou a terceiros; Iniciar abordagem na posição de pronta resposta;
porém sem atirar.
O policial deverá fazer uma
análise do risco e verificar se o Será responsável pela segurança
autor tem intenção de atirar e se do PM Verbalizador;
o disparo tem probabilidade de Fará a aproximação para a
atingir aos policiais e a terceiros: imobilização e prisão do autor
a) caso o policial avalie que o somente após ter sido cessado
autor não tem intenção de atirar sua força de resistência face aos
E se caso vier a atirar o disparo efeitos do emprego do IMPO;
não tem condições de atingir Fará uso da arma de fogo caso a
os policiais e terceiros, face à ação do autor acarrete em risco
coberta e abrigo, deverá optar real e imediato à vida.
pelo emprego de IMPO capazes
de retirar, momentaneamente a
capacidade de reação do autor.
Sugerimos o uso do “stinger” e da
“munição de impacto controlado”
para o caso em análise;

61
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Resistente Ativo b) caso o policial avalie que


autor atirando contra os o autor vai atirar (ex.: pelo
policiais. grau de animosidade, pelos
antecedentes, dentre outros)
e que o disparo tem condições
de atingir os policiais e/ou
terceiros, deverá usar a arma
de fogo contra o autor.
Deverá estar coberto e abrigado;
Iniciar abordagem na posição de pronta resposta;
Caso o policial avalie que os disparos estão colocando em perigo a
vida dos policiais e de terceiros, deverá ser efetuado disparo de arma
de fogo contra o autor dos disparos.

OBSERVAÇÃO: a posição de emprego da arma de fogo


pode ser alterada, de acordo com a percepção do policial
sobre o uso diferenciado de força, podendo variar de acordo
com o comportamento do suspeito. O policial que aponta a
arma para o abordado não precisa se manter nesta mesma
posição durante toda a abordagem, se não for necessário.

3.3 Técnicas e táticas de abordagem a pessoas


Ao iniciar uma abordagem, a guarnição policial deverá realizá-la com
segurança. Se for realizada especificamente a uma pessoa em atitude
suspeita, é necessário que haja supremacia de força. Neste caso, a técnica
policial será fundamental para seu sucesso. Quando a guarnição entender
que necessitará de outros recursos (humanos ou logísticos), solicitará apoio
policial, mantendo o contato visual e, se possível, o controle do suspeito.
A supremacia de força é uma vantagem tática do policial em relação ao
abordado para uma atuação segura. Esta vantagem é medida de forma
qualitativa e quantitativa, podendo estar relacionada não só ao número
de policiais, mas também ao uso de força e à posse de instrumentos,
equipamentos e armamentos por parte da guarnição. Uma atuação policial
com supremacia de força é aquela em que os policiais envolvidos dispõem
de níveis de força adequados para reagirem às ameaças que poderão advir
dos abordados.
No desenvolvimento da abordagem, o policial manterá a atenção às possíveis
mudanças que venham a ocorrer no cenário e que podem, por exemplo,
obrigá-lo a aumentar ou diminuir o nível de força. O comportamento do
abordado (cooperativo, resistente passivo e ativo) será determinante para a
mudança de postura tática.

62
Caderno Doutrinário 2

É importante saber que, em qualquer nível de intervenção, o policial deverá


adotar os seguintes procedimentos:

a) autoidentificação: demonstrar clareza, falando nome e posto


ou graduação. Atitude que reforça os valores institucionais da ética,
transparência, representatividade institucional e disciplina. O policial
deve saber que sua identidade deve ser pública diante da função
revestida pelo Estado;
b) tratamento respeitoso para com as pessoas: tratar os abordados
com respeito, cordialidade, urbanidade, solicitude e dignidade.
c) esclarecimentos sobre o motivo de uma abordagem: esclarecer
às partes interessadas sobre a motivação e o desdobramento da ação
policial, a qual se submete o abordado. Com essa medida, fortalecerá o
respeito, a cortesia e a credibilidade no trabalho da Polícia Militar.
d) relacionamento adequado com a imprensa: é responsabilidade
do policial preservar a pessoa quanto à veiculação de sua imagem,
quando estiver sob sua custódia22.

Além disso, o policial deve ter em mente os Fundamentos da abordagem


policial à pessoa em atitude suspeita23 .

3.4 Modelos de abordagem


De acordo com os níveis de intervenção, serão apresentados modelos
que exemplificam a aplicação das técnicas e táticas policiais, de maneira
integrada, para a abordagem a pessoas.

3.4.1 Intervenção nível 1 (assistência e orientação)

Esta intervenção está alinhada com o conceito de Prevenção Ativa, que é


definido como as ações desenvolvidas visando o provimento de serviços
públicos à população, destinadas à prevenção da criminalidade. A finalidade
dos procedimentos policiais, neste nível, é orientar e prestar assistência.
Dificilmente implicará em busca pessoal. O caráter preventivo predomina
(risco nível I).

22 Conforme artigo 5º, inciso X da CF/88 e Princípio 1 do Conjunto de Princípios para a Proteção
de Todas as Pessoas Sujeitas a Qualquer forma de Detenção ou Prisão
23 Ver Caderno Doutrinário 1.

63
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Exemplo: policial aborda um cidadão e orienta-o a conduzir a própria bolsa


de maneira a evitar furto.
A aproximação dos policiais, junto ao abordado, será direta e natural, devendo,
entretanto, serem adotadas posições e posturas corporais específicas. A
arma permanecerá no coldre ou poderá ser utilizada na posição 1 (arma
localizada), mediante a possibilidade de ameaças, o que implicará numa
nova avaliação de riscos.
O policial se identificará profissionalmente e transmitirá ao abordado a sua
mensagem.
-Bom dia, Sr (a)! Sou o ... (dizer posto / graduação e o nome) da
Polícia Militar.
(Espere resposta).
-Sua bolsa está aberta (ou então outra situação que faça com que
o abordado se torne vulnerável à ação de algum cidadão infrator).
Para sua segurança, é melhor o(a) Sr(a) fechá-la e conduzi-la a
frente de seu corpo (ou dê outra orientação de autoproteção
para o abordado). Essa atitude evitará que seus pertences sejam
furtados. Tenha um bom dia.
3.4.2 Intervenção nível 2 (verificação preventiva)
A avaliação de riscos demonstra que há indício de ameaça à segurança (do
policial ou de terceiros), mas ainda não há, aparentemente, a necessidade
imediata de uma intervenção policial de nível mais elevado.
Neste tipo de intervenção, podem ser realizadas buscas em pessoas ou em
seus pertences, pois as equipes envolvidas iniciam suas ações com algum
risco conhecido (fundada suspeita) e o policial deverá estar pronto para
enfrentá-lo.
Exemplos: um cidadão que observa o interior de uma agência bancária ou
caixa eletrônico ou em atitude suspeita, em local classificado como Zona
Quente de Criminalidade (ZQC).
Os policiais planejarão a abordagem, indicando as características da pessoa
que se encontra em situação de suspeição, (vestimenta, tipo físico, gênero) e,
em seguida, rapidamente, elaborarão um plano de ação, com a Técnica de
Aproximação Triangular (TAT).

64
Caderno Doutrinário 2

Inicialmente, o PM Verbalizador deverá:


• identificar-se como policial;
• realizar a inspeção visual;
• determinar ao abordado que adote a posição de contenção 1 (em
pé) ou 2 (de joelhos), conforme previsto no item 4.2.2 ;
• explicar o motivo da abordagem;
• determinar que o abordado entregue os documentos ao PM
Revistador;
• controlar a atenção do abordado por meio de verbalização,
perguntando seu nome, sua idade, o que faz/procura no local,
diminuindo, desta forma, sua capacidade de reação.
- Bom dia! Esta é uma abordagem policial preventiva.
- Por motivo de segurança da abordagem, siga as minhas
orientações, entendeu?
- Qual é o seu nome?
- Permaneça parado. Preciso ver seu documento de identidade.
Retire seus documentos e os entregue ao meu companheiro. (PM
Revistador)
- O que faz por aqui?
(a verbalização evolui de acordo com o prosseguimento da
abordagem).
- Obrigado pela colaboração com a Polícia Militar.
Se for necessária a busca pessoal, sugere-se a seguinte verbalização:
- Bom dia! Esta é uma abordagem policial.
- Por motivo de segurança da abordagem, siga as minhas
orientações, entendeu?
- Qual é o seu nome?
- Caminhe até ... (indique o local na área de contenção para o
qual o abordado deverá se dirigir). Coloque as mãos na parede e
afaste bem os pés (ou determine que ele adote outra posição de
contenção, conforme item 4.2.2).

65
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

- Retire seu documento e o entregue ao policial próximo.


- Vejo que foi expedido um mandado de prisão contra você e por
isso será conduzido à delegacia.
- Continue olhando para mim, você será algemado (se a guarnição
considerar necessário) e passará por uma busca pessoal.
Na intervenção nível 2, o PM Revistador deverá:
• avaliar a necessidade do emprego de algemas;
• realizar a busca pessoal, conforme seção 4 deste caderno, dando
sequência aos demais procedimentos, como prisão, condução e
registro do fato.
3.4.3 Intervenção nível 3 (verificação repressiva)
Neste caso, a avaliação de riscos indica a iminência de algum tipo de delito
(risco nível III). Os policiais deverão estar prontos para se defenderem, sempre
com segurança, observados os princípios básicos do uso de força (legalidade,
necessidade, proporcionalidade, moderação e conveniência), conforme
Seção 7, item 7.1 do Caderno Doutrinário 1.
Aposição de arma adequada é a posição 4 (pronta-resposta).
Exemplos: infrator avistado no momento do cometimento do delito (roubo
a mão armada, agressão, outros), ou logo após; infrator identificado pelo
policial como procurado pela justiça de alta periculosidade.
Neste caso, o PM Verbalizador deverá:
aproximar-se do abordado utilizando a Técnica de Aproximação

Triangular (TAT), em conjunto com o PM Revistador;
• identificar-se como policial;
determinar ao abordado que adote uma das posições de contenção

conforme item 4.2.2;
• controlar a atenção do abordado por meio de verbalização,
diminuindo a capacidade de reação do infrator.

66
Caderno Doutrinário 2

O PM Revistador deverá:
• executar a busca pessoal, conforme seção 4 deste caderno, dando
sequência aos demais procedimentos da prisão, se confirmada
autoria;
• avaliar a necessidade do emprego de algemas, conforme item 4.4;

Após as técnicas e táticas de aproximação e deslocamento, vistas na Seção


2, e os ensinamentos sobre abordagens da Seção 3, serão apresentados
os procedimentos de busca pessoal na Seção 4, dando sequência às ações
policiais em uma intervenção.

67
SEÇÃO 4

BUSCA PESSOAL
Caderno Doutrinário 2

4 BUSCAPESSOAL

É uma técnica policial utilizada para fins preventivos ou repressivos, que visa
a procura de produtos de crime, objetos ilícitos ou lícitos que possam ser
utilizados para a prática de delitos que estejam de posse da pessoa abordada
em situação de suspeição.
Será realizada no corpo, nas vestimentas e pertences do abordado,
observando-se todos os aspectos legais, técnicos e éticos necessários.
A busca poderá ser realizada independente de mandado judicial, desde que
haja fundada suspeita.
Quando o policial realiza busca pessoal, a situação de suspeição deverá
ser verificada através da atitude do cidadão, ou seja, da conjugação entre
comportamento e ambiente. Exemplos:
- estado de flagrante delito;
- mesma característica física e de vestimenta utilizada por autor de
crime/ contravenção;
- comportamento estranho do suspeito (tensão, nervosismo, aceleração
do passo ou mudança brusca de direção ao avistar a presença policial);
- volumes observáveis na cintura ou em outras partes do corpo;
- pessoa parada em local ermo ou de grande incidência de criminalidade;
-pessoa monitorando residências;
- pessoa portando objeto duvidoso;
-condutor que tenta evadir de bloqueio policial; dentre outros.
Os policiais devem estar preparados tecnicamente para realizar a busca
pessoal e cuidar para que esta ação não se converta em atos de arbitrariedade
e discriminação.
4.1 Aspectos legais da busca pessoal

O poder discricionário inerente à ação de abordar e efetuar a busca pessoal está


condicionado à existência de elementos que configurem fundada suspeita,
requisito essencial e indispensável para a realização do procedimento. O
Código de Processo Penal (CPP) assim prevê:

71
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Art. 244 - Abusca pessoal independerá de


mandado, no caso de prisão ou quando houver
fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse
de arma proibida ou de objetos ou papéis que
constituam corpo de delito, ou quando a medida
for determinada no curso de busca domiciliar
(BRASIL, 1941).

LEMBRE-SE: diante das circunstâncias previstas


no artigo 244 do CPP, que caracterizam a
fundada suspeita, o policial pode e deve
realizar a busca pessoal, independentemente
de mandado.

Certifica o artigo 292 do CPP que caberá ao abordado cumprir as ordens


emanadas pelo policial, sob pena de incorrer em crime de desobediência,
previsto no artigo 330 do Código Penal (CP).
Quando o abordado se opuser, mediante violência ou ameaça, à submissão da
busca pessoal, estará incurso no crime de resistência, previsto no artigo 329
do CP. Neste caso, o policial usará a força adequada para vencer a resistência
ou se defender, conforme previsão legal. É importante não confundir
relutâncias naturais por parte do abordado que se sente constrangido, com
o crime de resistência. Na verbalização o policial deve esclarecer os motivos
da ação policial.
No Código de Processo Penal Militar (CPPM) a busca pessoal (ou revista
pessoal) é tratada nos seguintes artigos:
Art. 180. A busca pessoal consistirá na procura material feita
nas vestes, pastas, malas e outros objetos que estejam com
a pessoa revistada e, quando necessário, no próprio corpo.
Art. 181. Proceder-se-á à revista, quando houver fundada
suspeita de que alguém oculte consigo:
a) instrumento ou produto do crime;
b) elementos de prova.
Art. 182. A revista independe de mandado:
• quando feita no ato da captura de pessoa que deve ser
presa;

72
Caderno Doutrinário 2

• quando determinada no curso da busca domiciliar;


• quando ocorrer o caso previsto na alínea “a” do artigo
anterior; · quando houver fundada suspeita de que o
revistando traz consigo objetos ou papéis que constituam
corpo de delito; ·
• quando feita na presença da autoridade judiciária ou do
presidente do inquérito.
As buscas pessoais são realizadas em prol do bem comum, ainda que possam
causar eventuais desconfortos de caráter individual. É importante que a
restrição aos direitos individuais se dê o mínimo possível, ou seja, no limite
do que possa ser considerada necessária e razoável, para que não possa ser
interpretada como abuso de autoridade.
Nos casos em que a suspeição não se confirmar e nada de irregular for
encontrado, caberá ao policial:
• esclarecer ao abordado os motivos pelos quais ele foi
submetido a busca pessoal;
• demonstrar que esta abordagem é um ato discricionário e legal,
com foco na segurança preventiva;
• prestar outras informações que possam minimizar possíveis
embaraçamentos causados;

• agradecer a colaboração com a segurança coletiva.


Ao final do procedimento, recomenda-se que a equipe:
• avalie o desempenho individual e do grupo;
• avalie os resultados obtidos;
• avalie as falhas no procedimento;
• colha sugestões de correção;
• confeccione relatório ao escalão superior, se necessário.

73
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

LEMBRE-SE: Não existe pessoa suspeita, mas pessoa


em situação suspeita. Ninguém se torna suspeito por
suas características pessoais (classe social, raça, opção
sexual, forma de se vestir, traços físicos ou outras
características). Não existem rótulos ou estereótipos
que motivem uma abordagem, pois os infratores
podem apresentar todo tipo de característica. Cabe ao
policial a avaliação da suspeição, levando-se em conta
as variáveis da situação (horário, local da abordagem,
clima, características da região, comportamento do
cidadão, fatos ocorridos, dentre outros).

Buscas pessoais realizadas nos grupos vulneráveis e minorias, e outras


situações específicas, serão tratadas na Seção 5.
4.2 Tipos de Busca Pessoal
Há três tipos: a busca ligeira, a busca minuciosa e a completa. Embora
realizadas sob mesmo fundamento legal, cada qual cumprirá objetivos e
técnicas específicas, com a finalidade de minorar os riscos na ação policial.
4.2.1 Busca Ligeira
É uma revista rápida procedida nos abordados, comumente realizada nas
entradas de casas de espetáculos, shows, estádios e estabelecimentos afins,
para verificar a posse de armas ou objetos perigosos, comuns na prática de
delitos. Será iniciada, preferencialmente, pelas costas da pessoa abordada,
que ficará, normalmente, na posição de pé.
A busca será realizada por meio de movimentos rápidos de deslizamento
das mãos sobre o vestuário do cidadão. Deve-se verificar, sobretudo: cintura,
quadris, tórax, axilas, braços, pernas (entre as pernas), pés e cabelos. Bolsos,
bonés, chapéus, toucas, pochetes e demais pertences também deverão ser
revistados. Caso haja disponível detector de metal, a utilização desse aparelho
poderá substituir os movimentos rápidos de deslizamento das mãos sobre o
vestuário do cidadão.
A busca ligeira poderá progredir para outras modalidades, caso haja suspeição
de que o abordado ofereça maior risco à integridade das pessoas ou esteja

74
Caderno Doutrinário 2

ele de posse de objetos ilícitos. O policial se certificará da necessidade do


procedimento, optando por local adequado e seguro para a realização24.
4.2.2 Busca Minuciosa
Será realizada sempre que o policial suspeitar que o abordado porte objetos
ilícitos, dificilmente detectados na inspeção visual ou na busca ligeira.
Preferencialmente será feita pelas costas da pessoa abordada. Enquanto o
PM Revistador realizar a busca, o PM Verbalizador fará a cobertura policial.
A busca minuciosa pode variar conforme as Posições de contenção, que
são posturas que deverão ser adotadas pelo abordado na busca pessoal
minuciosa, e objetivam a garantia de segurança aos policiais e a eficiência da
revista, variando de acordo com o nível de risco e o ambiente. São enumeradas
quatro posições básicas de contenção:
a) posição de contenção 1 – abordado em pé, sem apoio;
b) posição de contenção 2 – abordado em pé, com apoio;
c) posição de contenção 3 – abordado ajoelhado;
d) posição de contenção 4 – abordado deitado.
a) Posição de contenção 1 -abordado em pé sem apoio
Será empregada quando não houver apoio para o abordado encostar as
mãos.
• Fase de verbalização:
Nesta abordagem o PM Verbalizador deverá se identificar como policial e
determinará que o abordado:
- coloque as mãos sobre a testa;
- entrelace os dedos;
- vire-se de costas;
- abra as pernas (as pernas deverão estar abertas de maneira que
não permita ao abordado movimento de agressão sem antes se ver
obrigado a realizar o movimento de fechamento das pernas, o que
24 Conforme art. 2º do CCEAL : “No cumprimento do seu dever, os funcionários responsáveis
pela aplicação da lei devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os
direitos fundamentais de todas as pessoas”.

75
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

sinalizará aos policiais a intenção de agressão);


- aguarde e fique calmo que um policial fará a busca pessoal;

ATENÇÂO! Na posição de contenção em pé sem apoio,


deverá ser determinado ao abordado que coloque as
mãos sobre a testa e não sobre a cabeça, conforme as
demais posições.
Esta técnica permite que, em caso de reação durante a
vistoria, o PM Revistador, puxe os dedos do abordado
para trás, desequilibrando-o e projetando-o ao solo.
Este procedimento irá proporcionar ao PM Revistador
tempo para reação, com emprego de técnicas de
imobilização e uso de Instrumentos de Menor Potencial
Ofensivo (IMPO).

• Fase de Revista
- O PM Revistador, com a arma no coldre, deverá se aproximar
do abordado pela posição 2 ½ ou 3 (figura 16), adotando os seguintes
procedimentos:
-posicionará atrás do abordado;
-deverá segurar os dedos do abordado, que estarão sobre a testa.
- ao revistar o lado direito do corpo do abordado, deverá segurar os
dedos do abordado com a mão esquerda e fazer a revista com a mão
direita;
- ao revistar o lado esquerdo do corpo do abordado, deverá segurar
os dedos do abordado com a mão direita e fazer a revista com a mão
esquerda;

A busca minuciosa na posição de contenção em pé, sem apoio, vem ilustrada


na figura 32.

76
Caderno Doutrinário 2

Figura 32 - Busca minuciosa na posição de contenção em pé, sem apoio

b) Posição de contenção 2 -abordado em pé com apoio


Será empregada quando houver apoio para o abordado encostar as mãos.
Nesta abordagem o PM Verbalizador determinará que o abordado caminhe
até uma superfície vertical (paredes, muros, dentre outros) e fique de frente
para ela, com pernas abertas e afastadas, braços abertos, mãos apoiadas na
superfície, acima da altura dos ombros e dedos abertos. Quanto mais distante
da parede estiver os pés do abordado, será mais difícil sua possibilidade de
reação.
• Fase de verbalização:
Nesta abordagem o PM Verbalizador deverá se identificar como policial e
determinará que o abordado:
- vire-se de costas;
- coloque as mãos apoiadas na superfície determinada (exemplo:
parede, muro);
- abra as pernas e afaste-as da superfície utilizada;
-aguarde e fique calmo que um policial fará a busca pessoal;
• Fase de Revista
- O PM Revistador, com a arma no coldre, deverá se aproximar do
abordado pela posição 2 ½ ou 3, adotando os seguintes procedimentos:
- posicionará atrás do abordado;
- ao revistar o lado direito do corpo do abordado, deverá apoiar a mão

77
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

esquerda nas costas do abordado, apoiar o joelho esquerdo atrás da


perna direita do abordado e fazer a revista com a mão direita;
- ao revistar o lado esquerdo do corpo do abordado, deverá apoiar a
mão direita nas costas do abordado, apoiar o joelho direito atrás da
perna direita do abordado e fazer a revista com a mão direita;
- o PM Verbalizador, no momento da revista, será responsável pela
segurança do PM Revistador e, portanto, deverá variar sua posição de
maneira a manter sempre a triangulação descrita na TAT.
A busca minuciosa na posição de contenção em pé, com apoio, vem ilustrada
na figura 33.

Figura 33 - Busca minuciosa na posição de contenção em pé, com apoio

c) Posição de contenção 3 – abordado de joelhos


É indicada para os seguintes casos:
- quando o número de abordados for maior do que o número de policiais;
- abordado de alta periculosidade ou que tenha antecedentes de reação;
• Fase de verbalização:
Nesta abordagem o PM Verbalizador deverá se identificar como policial e
determinará que o abordado:
- coloque as mãos acima da cabeça;
78
Caderno Doutrinário 2

- entrelace os dedos;
- vire-se de costas;
- ajoelhe-se;
- cruze os pés;
- aguarde e fique calmo que um policial fará a busca pessoal;
• Fase de Revista
- O PM Revistador, com a arma no coldre, deverá se aproximar do
abordado pela posição 2 ½ ou 3, adotando os seguintes procedimentos:
- posicionará atrás do abordado;
- deverá segurar os dedos do abordado;
- ao revistar o lado direito do corpo do abordado, deverá segurar os dedos
do abordado com a mão esquerda e fazer a revista com a mão direita;
- ao revistar o lado esquerdo do corpo do abordado, deverá segurar
os dedos do abordado com a mão direita e fazer a revista com a mão
esquerda;
- o PM Verbalizador, no momento da revista, será responsável pela
segurança do PM Revistador e, portanto, deverá variar sua posição de
maneira a manter sempre a triangulação descrita na TAT.
A busca minuciosa na posição de contenção ajoelhado vem ilustrada na
figura a seguir.

Figura 34 - Busca minuciosa na posição de contenção ajoelhado

79
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

d) Posição de contenção 4 – abordado deitado


É indicada para os casos em que o abordado apresente potencial perigo para
a equipe policial.
• Fase de verbalização:
Nesta abordagem o PM Verbalizador deverá se identificar como policial
determinará que o abordado:
- coloque as mãos acima da cabeça;
- entrelace os dedos;
- vire-se de costas;
- ajoelhe-se;
- deite-se com o peito encostado no chão (decúbito ventral);
- abra os braços em forma de crucifixo;
- vire as palmas das mãos para cima;
- mantenha as pernas estendidas;
- aguarde e fique calmo que um policial fará a busca pessoal;
Após realizar estes movimentos, o PM Verbalizador caminhará em direção
a uma das laterais do abordado, ao mesmo tempo em que o PM Revistador
caminhará em direção ao lado oposto.
Após estar posicionado em uma das laterais do corpo do abordado, o PM
Verbalizador determinará ao abordado que:
- permaneça olhando em sua direção;
- fique calmo que um policial fará a busca pessoal.
• Fase de Revista:
O PM Revistador, com a arma no coldre, deverá se aproximar pelo lado em
que o abordado não estiver olhando:
- certificará sobre a existência do fato motivador da abordagem
(existência de cometimento de crime);

80
Caderno Doutrinário 2

- se necessário, efetuará a algemação , conforme item 4.4


- conduzirá o abordado até a posição de pé;
- posicionará atrás do abordado, segurando-lhe as algemas;
- determinará ao abordado que abra as pernas ao máximo;
- ao revistar o lado direito do corpo do abordado, deverá segurar as
algemas com a mão esquerda e fazer a revista com a mão direita;
- ao revistar o lado esquerdo do corpo do abordado, deverá segurar as
algemas com a mão direita e fazer a revista com a mão esquerda;
- o PM Verbalizador, no momento da revista, será responsável pela
segurança do PM Revistador e, portanto, deverá variar sua posição de
maneira a manter sempre a triangulação descrita na TAT.
ATENÇÃO: Esta posição é indicada para os
casos de contenção voltada para algemação e
prisão segura do autor de crime.

A busca minuciosa na posição de contenção deitado vem ilustrada na


figura 35.

Figura 35 - Busca minuciosa na posição de contenção deitado

4.2.3 Busca Completa


É a verificação detalhada do corpo do abordado, que se despirá e entregará
seu vestuário ao policial. Cada peça de roupa deverá ser examinada.
O policial, além de atentar para todos os procedimentos previstos na busca
minuciosa, verificará o interior das cavidades do corpo.

81
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Na busca completa, o policial, em conformidade com a avaliação de riscos,


determinará que o(a) abordado(a) retire todas as peças de vestuário e fique
na posição de pé. O policial determinará ao abordado que realize pelo menos
três movimentos de agachamento, a fim de detectar objetos escondidos na
região pubiana.
O policial deve evitar o uso do tato, no corpo do abordado, estando ele já
despido. A participação que se espera do revistado diz respeito à observância
das orientações que lhe são passadas: despir-se, entregar o vestuário, abrir a
boca, levantar os braços, abrir as pernas, agachar-se com as pernas abertas,
dentre outras.
Devido à exposição corporal do abordado e por questões de segurança,
recomenda-se que a busca completa seja realizada em local isolado do
público e, sempre que possível, na presença de testemunha do mesmo sexo
da pessoa abordada (preferencialmente, desconhecida por ela) que será
esclarecida sobre a necessidade do procedimento.
Por questões de biossegurança, recomenda-se o uso de luvas para o caso de
manusear peças de vestuário e objetos do abordado.

ATENÇÃO: Caso não se confirme a suspeição,


os policiais farão a liberação do abordado,
agradecendo e explicando a importância da
busca pessoal na prevenção criminal. Caso
confirmada a suspeição, fará a prisão do autor.

4.3 Uso de algemas


Algemas são equipamentos policiais utilizados com os objetivos primários de
controlar uma pessoa, prover segurança aos policiais, ao preso ou a terceiros
e reduzir a possibilidade de fuga ou agravamento da ocorrência.
As algemas, além dos modelos tradicionais de argolas de metal, com
fechaduras e ligadas entre si, podem também ser de plástico (descartáveis)
ou consistir em objetos utilizados para restringir os movimentos corporais
de uma pessoa presa sob a custódia (corda com nó de algema, cadarço, etc).
A algemação não pode ser adotada como regra para todo caso de prisão/
condução, pois, quando utilizada, causa um constrangimento inevitável. Este
equipamento não deve ser utilizado como instrumento de subjugação ou

82
Caderno Doutrinário 2

humilhação do preso25.
O Código de Processo Penal (CPP) dispõe, em seu artigo 284, que não será
permitido o emprego de força, salvo o indispensável no caso de resistência
ou tentativa de fuga de preso.
Por sua vez, o Código de Processo Penal Militar (CPPM) em seu artigo 234,
assim prevê sobre o uso de algemas:
§1º - O emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja
perigo de fuga ou de agressão da parte do preso, e de modo algum
será permitido, nos presos a que se refere o art. 242 (BRASIL, 1969).

Significa dizer que a algemação se aplica aos casos de resistência e fundado


risco à integridade física dos envolvidos.
O §1º do artigo 234 prevê, ainda, que de modo algum será permitido o uso
das algemas nas autoridades descritas no art 242 do CPPM:
• os ministros de Estado;

• os governadores ou interventores de Estados, ou Territórios, o


prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários e chefes
de Polícia;

• os membros do Congresso Nacional, dos Conselhos da União e da


Assembleias Legislativas dos Estados;

• os cidadãos inscritos no Livro de Mérito das ordens militares ou


civis reconhecidas em lei;

• os magistrados;

• os oficiais das Forças Armadas, das Polícias e dos Corpos de


Bombeiros, Militares, inclusive os da reserva, remunerada ou não,
e os reformados;

• os oficiais da Marinha Mercante Nacional;

• os diplomados por faculdade ou instituto superior de ensino


nacional;

• os ministros do Tribunal de Contas;

• os ministros de confissão religiosa.

25 Conforme disposição do princípio 1 do Conjunto de Princípios para Proteção de Todas as


Pessoas Sujeitas a Qualquer Forma de Detenção ou Prisão.

83
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Porém, é entendimento do Superior Tribunal Federal que, se houver


necessidade, o uso de algemas poderá ser feito, mesmo nas autoridades
elencadas anteriormente, e independente do cargo/função/posição social
do preso.
A Súmula Vinculante nº 11, publicada em 22 de agosto de 2008, assim discorre:
Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado
receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia,
por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade
por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e
penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do
ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade
civil do Estado. (BRASIL, 2008)

Ao empregar as algemas é indispensável que o policial justifique tal medida


por escrito no Boletim de Ocorrência (BO/REDS), conforme determina a
Súmula Vinculante, sob pena de responsabilização nas esferas civil, penal e
administrativa.
A formalização escrita dos motivos que ensejaram a algemação é o grande
diferencial que a Súmula traz para a prática policial e decorrerá de três
situações específicas:
• resistência do preso à ação policial;
• fundado receio de que o preso possa empreender fuga;
• comportamento do preso que ofereça risco à integridade física
do policial, de terceiros ou para si mesmo.

O quadro a seguir apresenta um rol, exemplificativo, de situações e


informações complementares que possam ser inseridas no BO/REDS para se
justificar o uso de algemas.

84
Caderno Doutrinário 2

QUADRO 6: Sugestões de justificativas e informações complementares


quanto ao uso de algemas26
RESISTÊNCIA
- o preso resistiu à ação policial, durante a intervenção. Foi necessário o
uso de algemas para contê-lo;
- o preso com sintomas de embriaguez, ou sob efeito de substâncias
entorpecentes, demonstrou indignação ou resistência à prisão, investindo
contra a guarnição (chutes, socos, pontapés, cuspiu no policial, empurrões
e outros);
RECEIO DE FUGA
- há caso de tentativa de fuga nos registros policiais do preso;
- trata-se de preso foragido;
- no momento da prisão, o preso tentou fugir do local, sendo necessário
persegui-lo;
- trata-se de cidadão considerado de alta periculosidade, pelo envolvimento
com quadrilhas/bandos;
- o preso possui grande número de registros policiais e processos judiciais em
andamento.
PERIGO À INTEGRIDADE FÍSICADO PRESO
- situação verificada em razão da possibilidade do preso ser agredido pela
vítima e seus familiares, ou por populares;
- situação verificada por meio do comportamento agressivo do preso (auto­
lesão, possibilidade de quedas, fraturas);
PERIGO À INTEGRIDADE FÍSICADO POLICIAL OU DE TERCEIROS
-situação verificada em razão do comportamento agressivo do preso em
relação aos policiais;
-houve necessidade de conduzir o preso algemado, em razão da viatura
não possuir compartimento fechado (xadrez), e havia possibilidade de fuga
e/ou necessidade de segurança no transporte;
-existe histórico de agressões perpetradas pelo preso;
- o preso apresentava sintomas de embriaguez e comportamento agressivo;
parecia estar sob efeito de substâncias entorpecentes ou análoga;
-trata-se de cidadão considerado de alta periculosidade, em virtude de
registros policiais com emprego de violência;
-a agressividade do preso foi demonstrada na execução do fato criminoso.

26 Adaptado do Memorando Circular nº 31.687.6/08-EMPM,de 10out2008

85
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

ATENÇÃO! O policial registrará no BO/REDS


que sua ação foi revestida de legalidade, de
razoabilidade e de proporcionalidade n ouso
de força27, para justificar o emprego das algemas.
Recorrerá para tal, à descrição minuciosa de cada
comportamento irregular do preso, que resultou em
sua algemação28.

O policial deverá, preferencialmente, algemar o infrator com as mãos para


trás e com as palmas voltadas para fora. Certificará, ainda, de que as algemas
não ficaram frouxas ou apertadas, em demasia, trancando-as e travando-as,
corretamente. Figura 36.

Figura 36 – Sistema de trava de algemas

A descrição pormenorizada da algema, a aplicação, a condução e as técnicas


de emprego deste equipamento estão no Manual de Defesa Pessoal Policial.

27 Conforme disposto no Princípio 5 dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de


Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (PBUFAF) e item 2 da
Portaria Interministerial 4.226/10.
28 Conforme disposto no artigo 3º do Código de Conduta para os Encarregados pela Aplicação
da Lei (CCEAL).

86
Caderno Doutrinário 2

ATENÇÃO! As algemas não impedem fugas. São


equipamentos de uso temporário para conter uma
pessoa. Sob esta condição, exige-se uma vigilância
constante do preso por parte do policial.

4.3.1 Recomendações Gerais do Uso de Algemas


É importante que o policial entenda que a algemação é uma forma temporária
de conter pessoas presas. Trata-se de uma ação constrangedora e por isso,
recomenda-se que não se estenda por períodos longos, pois esta atitude
poderá resultar em lesões, como pulsos arranhados e até fraturas e ruptura
de ligamentos. A utilização da trava de segurança também contribuirá com a
integridade física do algemado.
A algemação pode parecer uma boa medida para conter um criminoso
violento, evitando que ele venha a machucar outras pessoas. Todavia, vale
ressaltar que, ao algemar alguém, você prejudica a capacidade dessa pessoa
de se proteger.
Por isso, algemar uma pessoa a um ponto fixo, como um poste, ou a partes
fixas de veículos, como as barras presentes no xadrez de algumas viaturas,
pode colocar em risco o preso. Sem as mãos livres para se defender, ele se
torna incapaz de se proteger de perigos iminentes, como por exemplo, do
ataque de um parente inconformado da vítima, ou até de choques mecânicos
e acidentes ocorridos com a viatura.
Algemar uma pessoa a um ponto móvel, como uma cadeira, uma mesa, ou
até a um policial ou outro preso, é uma conduta que não fornece segurança
à guarnição, pois o algemado pode utilizar a cadeira ou mesa como arma
contra os policiais, vítimas e testemunhas. Da mesma forma, poderá utilizar
da proximidade com o outro preso ou com o policial para agredi-los.

Apesar do policial algemar preferencialmente o preso com as mãos voltadas


para trás, nem sempre isso será possível. O policial deve definir se a algemação
será pela frente ou pelas costas, de acordo com o comportamento do
algemado e suas condições de saúde. Obesos, grávidas, pessoas adoentadas
e de constituição mais fraca poderão ser algemados pela frente sem expor a
guarnição a perigo.

87
SEÇÃO 5

PROCEDIMENTOS
POLICIAIS
ESPECÍFICOS
89
Caderno Doutrinário 2

5 PROCEDIMENTOS POLICIAIS ESPECÍFICOS

Existem diversos grupos na sociedade que, devido às suas condições


peculiares, merecem atenção especial por parte da Polícia.
A abordagem policial a essas pessoas seguirá os mesmos princípios éticos
e profissionais das demais intervenções, bem como os procedimentos
técnicos e táticos operacionais já estabelecidos, sobretudo aqueles relativos
à segurança dos policiais e de terceiros.
No atendimento, quer seja na condição de suspeito, agente de delito, vítima
ou testemunha, o policial deverá, prioritariamente, compreender de maneira
integral a complexidade no trato das questões relativas aos respectivos
grupos, para que exerça, com efetividade, a proteção e a promoção de sua
dignidade de seus integrantes.
Adiante, seguem as recomendações para a atuação policial, os quais serão
divididos em:
- autoridades;
- grupos vulneráveis;
- minorias;
- pessoas com surto de drogas.
Em sua atuação, o policial deve cumprir, em todos os momentos, os deveres
lhe impostos pela lei, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas
contra atos ilegais, com uma atuação humanística focada em assegurar as
garantias constitucionais e promover a paz social.

5.1 Procedimentos Policiais em Ocorrências Envolvendo Autoridades

Esta subseção abordará as providências que devem ser tomadas pelos


policiais militares nos casos de cometimento de ilícitos penais, prisão em
flagrante de autoridades e confecção de Boletim de Ocorrência (BO/REDS). Ela
está subdividida por poderes e cargos, para uma melhor organização. Além
disso, também estará definido o dispositivo legal que trata da prerrogativa
em relação à prisão no cometimento de ilícitos penais. No final deste tópico,
haverá um quadro para uma consulta rápida sobre esse tema.

91
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

5.1.1 Membros do Poder Executivo


a) Presidente da República: enquanto não sobrevier sentença condenatória
nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito à prisão
(Art. 88, § 3º, da CFB/88). O policial irá liberar o Presidente da República no
local e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando-o à
Polícia Judiciária Federal (Polícia Federal), para possíveis providências.
b) Ministros de Estado: não possuem prerrogativas em relação à prisão
em flagrante no cometimento de delitos, tendo o mesmo tratamento dos
demais cidadãos. O policial deverá, neste caso, prender o Ministro de Estado
e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando-os à Polícia
Judiciária Federal (Polícia Federal), para possíveis providências.
c) Diplomatas: a pessoa do agente diplomático é inviolável. Não poderá
ser preso ou detido (art. 29, da Convenção de Viena). O policial irá liberar
o Diplomata no local e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS),
encaminhando-o Polícia Judiciária Federal (Polícia Federal), para possíveis
providências.
d) Governadores de Estado: enquanto não sobrevier sentença condenatória,
nos crimes comuns, o Governador não estará sujeito à prisão (art. 92, § 3º, da
CE/89). O policial militar irá liberar o Governador de Estado no local e registrar
o Boletim de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando-o à Polícia Judiciária
Federal (Polícia Federal), para possíveis providências.
e) Secretários de Estado: não possuem prerrogativas em relação à prisão
em flagrante no cometimento de delitos, tendo o mesmo tratamento dos
demais cidadãos. O policial militar deverá, neste caso, prender o Secretário
de Estado e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando-os à
Polícia Judiciária Estadual (Polícia Civil), para possíveis providências.

f) Prefeitos: não possuem prerrogativas em relação à prisão em flagrante no


cometimento de delitos tendo o mesmo tratamento dos demais cidadãos. O
policial militar deverá, neste caso, prender o prefeito e registrar o Boletim de
Ocorrência (BO/REDS), encaminhando-os à Polícia Judiciária Estadual (Polícia
Civil), para possíveis providências.

92
Caderno Doutrinário 2

ATENÇÃO: CRIMES INAFIANÇÁVEIS


A lei brasileira considera como crime inafiançável os delitos que se
enquadram nas possibilidades previstas dos artigos 323 e 324 do CPP,
além da prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos (homicídio
quando praticado em atividade de extermínio, homicídio qualificado,
latrocínio, extorsão qualificada pela morte, extorsão mediante
sequestro, estupro e estupro de vulnerável, epidemia com resultado
morte, falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto
destinado a fins terapêuticos ou medicinais e genocídio), além da ação
de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e
o Estado Democrático.

5.1.2 Membros do Poder Legislativo


a) Deputados Federais e Senadores: o policial deverá, no caso de flagrante
de crime inafiançável, prendê-lo e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/
REDS), encaminhando-o à Polícia Judiciária Federal (Polícia Federal), para
possíveis providências. Nos demais delitos (afiançáveis e de menor potencial
ofensivo), será feito apenas o registro do BO/REDS, encaminhando-o à Polícia
Federal, sendo os parlamentares liberados no local. Os deputados federais e
senadores são invioláveis civil e penalmente por quaisquer de suas opiniões,
palavras e votos. Nos casos de prisão em flagrante, os autos serão remetidos
dentro de vinte e quatro horas à respectiva Casa (Câmara dos Deputados ou
Senado), para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a
manutenção da prisão.
b) Deputados Estaduais: serão adotadas as mesmas providências dos
deputados federais e senadores, divergindo apenas no encaminhamento do
Boletim de Ocorrência (BO/REDS) e membro da Casa Legislativa, que será feito
para a Polícia Judiciária Estadual (Polícia Civil), e os autos serão remetidos à
Assembleia Legislativa.

c) Vereadores: se o delito praticado pelo vereador não tiver nenhum


vínculo político com sua função ou for fora de sua circunscrição, o policial
militar deverá prendê-lo, registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS),
encaminhando-o à Polícia Judiciária Competente. Os Vereadores gozam de
prerrogativa em relação à prisão no cometimento de delitos somente nos
casos relacionados com sua função, sendo invioláveis por suas opiniões,
palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município.
Nos demais casos, recebem os mesmos tratamentos dos demais cidadãos.

93
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

5.1.3 Membros do Poder Judiciário


a) Desembargadores e Juízes Federais: os Membros da magistratura
da União não podem ser presos senão por ordem escrita do Tribunal ou
do órgão especial competente para o julgamento, salvo em flagrante de
crime inafiançável, caso em que a autoridade fará imediata comunicação e
apresentação do magistrado ao Presidente do Tribunal a que esteja vinculado.
O policial militar deverá, no caso flagrante de crime inafiançável, prendê-los e
registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando-os ao Presidente
do Tribunal a que esteja vinculado (Desembargadores ao STJ, Juízes Federais
incluídos os da Justiça Militar ao TRF). Nos demais delitos (afiançáveis e de
menor potencial ofensivo), será feito apenas o registro do BO/REDS para
possíveis providências, sendo os Magistrados liberados no local.

b) Juízes Estaduais: serão adotadas as mesmas providências dos juízes


federais e desembargadores, divergindo apenas no encaminhamento do
Boletim de Ocorrência (BO/REDS) e do membro desta instituição, que será
feito para o Tribunal de Justiça do Estado.

5.1.4 Membros do Ministério Público

a) Procuradores e Promotores da União: o Membro do Ministério Público


da União só poderá ser preso por ordem escrita do Tribunal competente ou
em razão de flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará
imediata comunicação àquele tribunal e ao Procurador-Geral da República,
sob pena de responsabilidade. O policial militar deverá, nos casos de
flagrante em crime inafiançável, prender os Membros do Ministério Público
da União e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS), encaminhando-os ao
Procurador-Geral da República. Nos demais delitos (afiançáveis e de menor
potencial ofensivo), será feito apenas o registro do BO/REDS para possíveis
providências, sendo os promotores liberados no local.

b) Procuradores e Promotores do Estado: serão adotadas as mesmas


providências dos procuradores e promotores da União, divergindo apenas no
encaminhamento do Boletim de Ocorrência (BO/REDS) e do membro desta
instituição, que será feito para o Tribunal de Justiça do Estado.

5.1.5 Membros de Órgãos Policiais

a) Membros da Polícia Federal e Rodoviária Federal: o policial militar


irá neste caso prendê-los e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS).

94
Caderno Doutrinário 2

Após a chegada do superior hierárquico do conduzido, será encaminhado


à Polícia Judiciária Competente, para possíveis providências. Não possuem
prerrogativas em relação à prisão em flagrante no cometimento de delitos,
tendo o mesmo tratamento dos demais cidadãos.

b) Membros da Polícia Militar Estadual: o policial militar irá neste caso


prendê-los e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS). O militar e o BO/
REDS deverão ser encaminhados, por um superior hierárquico, à Polícia
Judiciária Competente, nos crimes comuns e ao Comandante do militar nos
crimes militares, para possíveis providências. Não possuem prerrogativas em
relação à prisão em flagrante no cometimento de delitos, tendo o mesmo
tratamento dos demais cidadãos.

c) Membros da Polícia Civil: o policial militar deverá neste caso prendê-los


e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS). Após a chegada do superior
hierárquico do conduzido, será encaminhado à Polícia Judiciária Competente,
para possíveis providências. Não possuem prerrogativas em relação à prisão
em flagrante no cometimento de delitos, tendo o mesmo tratamento dos
demais cidadãos.

5.1.6 Membros das Forças Armadas

a) Militares do Exército, Marinha e Aeronáutica: o policial militar deverá


neste caso prendê-los e registrar o Boletim de Ocorrência (BO/REDS). Após
a chegada do superior hierárquico do conduzido da respectiva Força, será
encaminhado à Polícia Judiciária Competente, nos crimes comuns e ao
Comandante do militar nos crimes militares, para possíveis providências. Não
possuem prerrogativas em relação à prisão em flagrante no cometimento de
delitos, tendo o mesmo tratamento dos demais cidadãos.

5.1.7 Membros da Advocacia

a) Advogado-Geral da União: se o delito tiver vínculo com sua função,


o policial militar só poderá prendê-lo em caso de crime inafiançável ou
desacato. Para quaisquer outros crimes, fora do exercício da função, não há
prerrogativas. O registro do Boletim de Ocorrência (BO/REDS) e a autoridade
quando for efetuada a prisão, serão encaminhados à Polícia Judiciária Federal
(Polícia Federal), para possíveis providências.

95
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

b) Advogado-Geral do Estado: serão adotadas as mesmas providências


do Advogado-Geral da União, divergindo apenas no encaminhamento do
Boletim de Ocorrência (BO/REDS) e do membro desta instituição, que será
feito à Polícia Judiciária Competente, para possíveis providências.

c) Advogado: serão adotadas as mesmas providências do Advogado-Geral


da União, divergindo apenas no encaminhamento do Boletim de Ocorrência
(BO/REDS) e do membro desta instituição, que será feito à Polícia Judiciária
Competente, para possíveis providências.
5.1.8 Outras Instituições
a) Guarda Municipal: o policial militar deverá neste caso prendê-los e registrar
o Boletim de Ocorrência (BO/REDS). Será encaminhado à Polícia Judiciária
Competente, para possíveis providências. Não possuem prerrogativas em
relação à prisão em flagrante no cometimento de delitos, tendo o mesmo
tratamento dos demais cidadãos.

b) Agentes Penitenciários: serão adotadas as mesmas providências dos


Guardas Municipais.

96
Caderno Doutrinário 2

QUADRO 7 – Procedimentos policiais em ocorrências envolvendo autoridades

Cabe Prisão em Encaminhamento do


Autoridade Embasamento Legal
Flagrante? REDS
Presidente não Art. 86, § 3º CF/88
Ministros sim - Polícia Federal*
Diplomatas não Art. 29 Conv. de Viena
Governadores Art. 92, § 3º CE/89
Secretários Estaduais -
sim Polícia Civil*
Prefeitos
Art. 53, caput e §2º Polícia Federal
Deputados Federais
CF/88
só em crime
Senadores inafiançável Art. 56, caput, §§2º
e 3º CE/89 Polícia Civil*
Deputados Estaduais
Vereadores se não tiver vínculo Art. 29, inc. VII CF/88
político
Desembargadores Art. 33, inc II LC 35 Presidente do STJ
só em crime
Juízes Federais Art. 90, inc II LC 59/01 Presidente do TRF
inafiançável
Juízes Estaduais Presidente do TJ
Procuradores da União Art. 18, Inc II, alinea “d” Procurador-Geral da
LC 75/93 República
só em crime
Promotores da União inafiançável Art. 40, inc III Lei
Procuradores do Estado 8.625/93 e Procurador-Geral de
Art. 105 inc III LC 34 Justiça
Promotores do Estado
Policial Federal sim Polícia Civil*
Polícia Civil*
(crime comum),
Policial Militar Estadual sim -
Cmt do militar
(crime militar)
Polícial Civil sim - Polícia Civil*
Regra geral: Sim.
Advogado-Geral da União Nos casos de Polícia Federal
crime com vínculo Art. 7º, § 3º,
Advogado-Geral do Estado profissional, apenas Lei 8906/94
inafiançáveis e Polícia Civil*
Advogado desacato.
Guarda Municipal Polícia Civil*
sim -
Agente Penitenciário

* Nos crimes cuja competência para apuração é da União, o BO/REDS deverá ser encaminhado
para a Polícia Federal, desde que haja Delegacia desta Instituição no município.

97
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

5.2 Abordagens policiais a grupos vulneráveis

Por grupo vulnerável29 entende-se o conjunto de pessoas com características


específicas, relacionadas ao gênero, à idade, à condição social, às necessidades
especiais e diversidade sexual. E, por essa razão, podem se tornar mais
suscetíveis à violação de seus direitos.
A vulnerabilidade está na ação de sujeição da pessoa a constante preconceito
e discriminação, em razão de sua condição específica, independente de
outros fatores. Nesse conjunto, estão inseridas as mulheres, as crianças
e adolescentes, os idosos, a população em situação de rua, as pessoas
com necessidades especiais e a população de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Transexuais e Travestis (LGBTT).
a) Atuação policial no atendimento à mulher
Em praticamente todas as esferas sociais, a mulher está sujeita a desigualdades
por lei e de fato. Esta situação é causada e agravada pela existência de
discriminações, que normalmente se tornam comuns no seio da própria
família, na comunidade e no local de trabalho.
A discriminação contra a mulher se mantém por meio da sobrevivência de
estereótipos (do homem, assim como da mulher), de culturas tradicionais e
de crenças prejudiciais às mulheres.
Entende-se por discriminação contra mulheres qualquer distinção,
exclusão ou restrição baseada no sexo, e que tenha por objetivo ou efeito,
comprometer ou destruir o reconhecimento, o gozo ou o exercício de seus
Direitos Humanos e garantias fundamentais, em qualquer estado social em
que se encontrem, e em todos os campos da atividade humana (político,
econômico, social, cultural).
Entende-se por discriminação contra mulheres qualquer distinção, exclusão
ou restrição baseada no sexo, e que tenha por objetivo ou efeito, comprometer
ou destruir o reconhecimento, o gozo ou o exercício de seus direitos humanos
e garantias fundamentais, em qualquer estado social em que se encontrem,
e em todos os campos da atividade humana (político, econômico, social,
cultural).
Contudo, as especificidades femininas exigem um tratamento próprio com as
mulheres de forma a respeitar as suas características de sexo, e o policial deve
realizar uma busca pessoal de forma profissional e eficiente.

29 Diretriz para a Produção de Serviço de Segurança Pública (DPSSP) nº 08/2.004 – CG

98
Caderno Doutrinário 2

Recomendações:
• a abordagem de mulheres pode ser feita por qualquer policial militar,
independentemente do sexo, devendo a busca pessoal ser efetivada
conforme determina a legislação nacional30, que prescreve que a
busca em mulher será feita por outra mulher, “se não importar em
retardamento ou prejuízo da diligência”;
• as mulheres, quando capturadas, serão mantidas separadas dos
homens capturados (sempre quando houver condições logísticas e de
segurança);31
• a busca pessoal em mulheres suspeitas de portarem objetos ilícitos
deverá ser realizada, preferencialmente, por outra mulher profissional
de polícia ou encarregada de fazer cumprir a lei. Em momento algum
poderá ser convocadas pessoas leigas ou civis, para realizar buscas
em caso de suspeição, pois, isto colocará em risco a segurança e a
integridade física destas pessoas;
• não havendo a disponibilidade no grupo que realiza a abordagem, a
guarnição poderá recorrer à rede-rádio, solicitando apoio de policial
feminina que possa comparecer ao local e suprir as necessidades da
ocorrência;
• a busca pessoal feita por homens em mulheres é uma
excepcionalidade. Não deve ser realizada em situações operacionais
ordinárias, principalmente em relação à busca completa;
• procedimentos mais simples como solicitar que a própria pessoa
abra sua bolsa, retire os sapatos, mostre a região da cintura e levante
os cabelos, diminuirá a exposição da mulher;
• se, em casos extremos, o policial precisar realizar uma busca em
uma mulher, esta deverá ser feita com respeito e profissionalismo, em
local discreto e, sempre que possível, na presença de testemunhas,
preferencialmente, do sexo feminino. O policial deve evitar o contato
físico com a abordada, principalmente nas partes íntimas, procurando
limitar-se a orientá-la quanto aos procedimentos a serem adotados.

30 Conforme artigo 249 do Código de Processo Penal/1969.


31Conforme 8º item das Regras Mínimas Para Tratamento de Prisioneiros,
ONU, 1955

99
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

b) Atuação policial no atendimento às crianças e aos adolescentes


Crianças e adolescentes possuem direitos próprios que estão previstos em
diversos instrumentos internacionais32 e na legislação brasileira. O Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de
1990, dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Em seu
artigo 2º considera criança a pessoa até 12 anos (incompletos) e adolescente,
pessoa entre 12 e 18 anos (incompletos.
Ato infracional é a ação tipificada como crime ou contravenção penal33,
que tenha sido praticada pela criança ou pelo adolescente. São penalmente
inimputáveis todos os menores de 18 anos e não poderão ser condenados.
A criança que incorre em ato infracional deverá ser encaminhada à presença
do Conselho Tutelar ou do Juiz da Vara da Infância e da Juventude, para que
seja social e legalmente assistida. Na ausência desses órgãos, deverá ser
encaminhada aos pais ou ao responsável legal, que dará recibo no Boletim
de Ocorrência, dirigido ao Juizado da Infância e da Juventude.

O adolescente, em caso de flagrância de ato infracional, será levado à delegacia


de polícia especializada. Na ausência desta, deverá ser encaminhado à
Delegacia de Polícia local, onde deverá permanecer separado dos adultos34,
até que outra medida seja determinada.
As crianças e os adolescentes têm os mesmos direitos e liberdades dos
adultos35.
As regras específicas propiciam proteção adicional aos interesses deste grupo
vulnerável.
Recomendações:
• comunicar, imediatamente, aos pais ou representante legal sobre a
apreensão da criança ou adolescente;
• manter a atenção às situações que possam implicar em risco à
integridade física ou mental da criança ou do adolescente;

32 Convenção Americana sobre Direitos Humanos, dentre outros


33 Conforme artigo 103 do ECA
34 Interpretação institucional do art. 5º e 19 da CADH
35 Conforme disposto nos artigos 2º e 7º da Declaração Universal dos Direitos Humanos
(DUDH); art. 24 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH); art. 2º, item 3, a) e
3º e 26 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e políticos (PIDCP.

100
Caderno Doutrinário 2

• não conduzir crianças e adolescentes em compartimento fechado


da viatura. Contudo, em casos extremos, em que o adolescente
apresentar séria ameaça à integridade física dos policiais, devido a sua
compleição física avantajada, com atitudes violentas em resistência à
ação policial, e com histórico de atos infracionais violentos, poderá ser
admitido o uso de algema e condução em compartimento fechado de
veículo policial, visando até mesmo a segurança do adolescente. No
REDS, deverá ser constado e justificado esse procedimento;
• nunca divulgar sem a autorização devida, por qualquer meio de
comunicação, o BO/REDS relativo à criança ou ao adolescente a que se
atribua ato infracional;
• evitar a exposição da imagem do conduzido conforme previsto nos
Arts. 17 e 18 do ECA;
• a busca pessoal será realizada, com segurança, procurando sempre
reduzir os constrangimentos, respeitando-se os princípios e as
orientações gerais contidas no ECA.
c) Atuação policial no atendimento à diversidade sexual
A diversidade sexual pode ser entendida como o termo usado para designar
as várias formas de expressão da sexualidade humana.
O cidadão, muitas vezes, tem seus direitos desrespeitados pelo fato de
ter orientação sexual diversificada. O policial, como promotor de direitos
humanos, deve lidar com o cidadão, de forma a respeitar sua sexualidade e a
lhe fornecer a devida atenção36.
A heterossexualidade define os indivíduos que têm atração por uma
pessoa do sexo oposto. Por sua vez, a homossexualidade pode ser
definida como a atração afetiva e sexual por uma pessoa do mesmo sexo.
Homossexuais podem ser masculinos, afeminados ou não; femininos,
masculinizados ou não.
Na sociedade encontramos as seguintes definições:
• lésbicas: são mulheres, não necessariamente masculinizadas, que se
relacionam afetiva e sexualmente com outras mulheres;

36 Conforme disposto nos Arts. 1° e 2° do Código de Conduta para os Funcionários Responsá-


veis pela Aplicação da Lei (CCEAL)

101
PRATICA POLICIAL
PRÁTICA POLICIALBÁSICA
BÁSICA

• gays: são homens que se relacionam afetiva e sexualmente com


pessoas do mesmo sexo;
• bissexuais: são indivíduos que se relacionam sexual e afetivamente
com pessoas de ambos os sexos;
• travestis: pessoa que apresenta sua identidade de gênero oposta ao
sexo designado no nascimento. Ela se diferencia da pessoa transexual,
por não ter se submetido à cirurgia de readequação sexual;
• transexuais: pessoa que apresenta sua identidade de gênero oposta
ao sexo designado no nascimento, e que submeteu-se à cirurgia de
readequação sexual.
No caso das lésbicas, a busca será procedida seguindo as mesmas
recomendações para mulheres. Procedimento idêntico também será dado
no caso das transexuais com comprovada retificação de registro civil (nome
feminino).
Em relação aos gays e travestis, o policial masculino fará a busca pessoal,
evitando, sempre que possível, situações de constrangimento.
Recomendações:
• o cidadão homossexual deve receber tratamento respeitoso durante
as providên-cias policiais, minimizando possíveis constrangimentos.
Ao abordar um homossexual deve-se evitar o a reprodução de
preconceitos sociais, como exemplo, proferindo a leitura do seu nome
de registro, constante na Carteira de Identidade, em voz alta, para
outros policiais e público presente, ridicularizando-o;
• o policial não deverá coibir manifestações de afeto entre homossexuais
(mãos dadas, beijo na boca), uma vez que estes atos não configuram
ações ilícitas e ainda, configuram atos privados da vida do cidadão,
nos quais não deve haver interferência;
• é importante balizar a conduta policial, relembrando a diferença
fundamental entre o delito caracterizado por ocorrência de ato sexual
em via pública e a manifestação afetiva entre pessoas. As providências
policiais caberão apenas no primeiro caso, independentemente da
orientação sexual;

102
Caderno Doutrinário 2

• o BO/REDS deve ser redigido com o nome de registro da pessoa e o


tratamento verbal deve ser feito pelo nome social (nome pelo qual a
pessoa quer ser chamada). Uma vez constatado que o fato que gerou a
intervenção policial, se deu por motivo de intolerância, discriminação
ou por homofobia, esse detalhe deverá ser constado no histórico do
BO/REDS, informando também a orientação sexual ou identidade de
gênero da vítima (lésbica, gay, bissexual, travesti ou transexual) afim
de que se possa futuramente possibilitar pesquisas e diagnósticos de
vitimização por seguimento.
d) Atuação policial no atendimento a pessoas portadoras de necessidades
especiais
O policial se aterá aos procedimentos específicos em ocorrências que envolvam
portadores de deficiência física e com sofrimento mental, oferecendo-lhes
encaminhamento adequado para a solução de suas questões.
Alguns conceitos técnicos, relacionados a esse público, precisam ser
conhecidos, pois auxiliarão o posicionamento policial na ocorrência:
• deficiência: é toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou
função psicológica, fisiológica ou anatômica, podendo ser auditiva,
visual, mental, física, neurológica (paralisia cerebral) ou múltipla
(tetraplegia, cegueira e surdez);
• ·doença: manifestações de falta ou de perturbações da saúde,
moléstia, mal, enfermidade, que podem ser temporárias (tuberculose
e pneumonia) ou definitivas (hanseníase e AIDS);
• incapacidade: inclui toda restrição, inaptidão, inabilidade ou falta
(devido a uma deficiência) de capacidade para realizar uma atividade,
na forma ou na medida em que se considera normal para um ser
humano;
• impedimento: situação desvantajosa para um determinado indivíduo,
em consequência de uma deficiência ou de uma incapacidade, que
limita ou impede o desempenho de determinado papel, levando em
conta circunstâncias como idade, sexo, fatores sociais e culturais.
Recomendações Gerais para Portadores de Necessidades Especiais:
• durante as abordagens, o policial se manterá atento às questões da
segurança, jamais subestimando a capacidade individual do deficiente
ou o seu envolvimento com outras pessoas na ocorrência;

103
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• deve-se evitar gracejos ou situações que possam ridicularizar as


expressões da pessoa abordada, causando-lhe constrangimento ou
exposição desnecessária;
• o abordado deverá ser avisado antes de receber a busca pessoal,
momento em que também será orientado a manter-se calmo, tendo
em vista que lhe serão assegurados todos os seus direitos. Assim,
enquanto um policial verbaliza e executa a busca, os demais cuidarão
da segurança.
Recomendações:
• pessoa com deficiência auditiva:
- verificar se a pessoa abordada consegue se comunicar e compreender
o que lhe foi dito. Prestar atenção nos lábios, gestos, movimentos e
nas expressões faciais e corporais da pessoa com quem o diálogo está
sendo mantido;
- enquanto estiverem conversando, é prudente que o policial se
mantenha em contato visual com o deficiente auditivo. Ao desviar seu
olhar para outras direções, o policial poderá emitir uma mensagem ao
deficiente, no sentido de que a conversa terminará;
- caso o policial tenha dificuldade para entender o que o deficiente
auditivo está falando, poderá pedir que escreva o que deseja falar;
- não se deve iniciar o diálogo sem captar a atenção visual da
pessoa. A forma de comunicação também não deverá ser mudada
repentinamente;
- como os deficientes auditivos não podem ouvir as mudanças sutis do
tom de voz, indicando posturas, como sarcasmo ou seriedade, a maioria
deles lerá as expressões faciais, os gestos e movimentos corporais para
entender o que o policial deseja comunicar.
·pessoa com deficiência visual:
- ao guiar uma pessoa cega, o policial deixará que ela segure em seu
braço, devendo orientá-la quanto à presença de obstáculos no trajeto,
como degraus, escadas, calçadas e bueiros, dentre outros;
- estando o policial na presença de um deficiente visual, em ambientes

104
Caderno Doutrinário 2

fechados ou não, na iminência de se retirar, deverá informá-lo. Esta é


uma atitude cortês que evitará a sensação desagradável de se falar para
o vazio e demonstrará respeito pela condição humana do interlocutor;
- o policial não deve se constranger ao usar palavras como cego, olhar
ou veja bem, pois tratam-se de vocábulos coloquiais que fazem parte,
inclusive, da linguagem habitual dos deficientes visuais;as indicações
de direção devem ser claras e específicas, abrangendo inclusive os
obstáculos. Como algumas pessoas cegas não têm memória visual,
deve-se, ainda, indicar as distâncias em metros, com expressões do
tipo “a uns vinte metros para frente, para a direita, esquerda”.
• pessoa com deficiência física
Por questões humanitárias e profissionais, o policial não deve subestimar a
capacidade dessas pessoas, principalmente quanto à manifestação intelectiva
que mantém nos processos decisórios da vida em sociedade.
Motivado pela necessidade de atuação, o policial conciliará em sua abordagem
os elementos da técnica policial, regida pela segurança, pelo respeito e pela
solidariedade.
Recomendações quanto a abordagem e busca a deficientes físicos com
restrição de locomoção:
- ao conversar com um cadeirante (portador de necessidade especial
que utiliza cadeira de rodas), em virtude da divergência de altura entre
os interlocutores e do desconforto que causa no cidadão olhar por
tempo prolongado para cima, o policial, quando possível, se postará de
maneira mais equânime, de forma a tornar mais confortável e diligente
a conversa, usando, inclusive, recursos como distanciar-se ou abaixar-
se;
- caso ofereça ajuda ao cadeirante, o policial não deverá insistir na
assistência. Se a pessoa aceitá-la, ele próprio informará o que deseja
que seja feito a seu favor;
- o cadeirante deverá ser conduzido em “marcha a ré”, quando auxiliado
a descer rampas ou a subir degraus. A conduta evitará que seu corpo
seja projetado para frente e venha a cair;
- o policial somente deverá tocar na cadeira de rodas, quando seu
objetivo for os procedimento da busca ou da assistência. Na busca

105
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

pessoal, a vistoria deverá abranger, além do corpo, os pertences e a


cadeira de rodas;
- diante de fundada suspeita, se necessário, o abordado poderá ser
retirado da cadeira, podendo ser colocado assentado no banco da
viatura. A revista da cadeira de rodas compreenderá toda a sua estrutura,
incluindo forros e o interior de sua estrutura metálica. Somente após a
vistoria na cadeira, o cadeirante, já abordado, será nela recolocado;
- se o abordado utilizar muletas ou bengala, o policial seguirá os
mesmos procedimentos previstos para a abordagem em pessoa sem
deficiência, adaptando as técnicas de acordo com a limitação motora
e tomando cuidado com possíveis golpes que ele poderá efetuar,
com a própria muleta. Há possibilidade de se ocultar objetos (drogas,
instrumentos perfurocortantes, armas de fogo), no interior das muletas.
Assim, é importante que o policial não permita que as muletas sejam
apontadas na direção das pessoas envolvidas na abordagem ou
próximas à intervenção.
• pessoa com deficiência mental
A deficiência mental caracteriza-se por um funcionamento intelectual
significativamente abaixo da média, com limitações associadas a duas ou
mais áreas da conduta humana, como comunicação, cuidados pessoais,
habilidades sociais, independência na locomoção, dentre outras. Exemplo:
Síndrome de Down, oligofrenia, autismo, algumas psicoses.
Existem deficiências mentais que provocam sinais de agitação no indivíduo:
não consegue se comunicar, não tem noção de perigo e pode se comportar
de maneira agressiva. Por isso, é necessária uma avaliação de risco cautelosa.
Recomendações:
- a condução deverá ser feita com muita cautela e preparo.
Antecipadamente, o policial se certificará da disposição dos recursos
humanos e materiais necessários à contenção do deficiente,
precavendo-se de situações em que ele possa se machucar ou provocar
acidentes, agravando, inclusive, a ocorrência;
- sempre que possível, a guarnição solicitará a presença de equipe
técnica da área médica, como enfermeiros ou médicos do Serviço
de Atendimento Médico de Urgência (SAMU), que possuem melhor
treinamento e condições técnicas para lidarem com pessoas nessa
situação;

106
Caderno Doutrinário 2

- mesmo com a utilização de força física, proporcional ao agravo,


pode ser que o doente não recue ou não sinta dores, devido ao seu
estado clínico, tornando-se ainda mais agressivo. Se o abordado estiver
agitado ou nervoso, o policial, sempre que possível, aguardará que ele
se acalme, antes de iniciar a intervenção;
- ao fazer a condução a pé, o policial redobrará os cuidados com a
travessia de locais que ofereçam risco ao doente, como escadas, rampas,
pontes e ruas, para evitar que o indivíduo se lance aos obstáculos ou à
frente de veículos em movimento.
• pessoa com paralisia cerebral
A pessoa com paralisia cerebral anda com dificuldade ou simplesmente não
anda, podendo, também, apresentar problemas de fala. Seus movimentos
podem ser descontrolados. Pode, involuntariamente, apresentar gestos
faciais incomuns (contrações do rosto).
Recomendações:
- em caso extremo se o policial tiver que realizar uma busca em uma
pessoa com paralisia cerebral, no caso de suspeita dela ter sido usada
para ocultar algum objeto ilícito, esse deverá agir no ritmo da pessoa
abordada, demonstrar tranquilidade e evitar ações bruscas, e seguir as
orientações à pessoa responsável pelo abordado;
- caso não compreenda o que a pessoa diz, o policial pedirá para repetir,
sem constrangimentos.
e) Atuação policial no atendimento à pessoa idosa
O Estatuto do Idoso define como pessoa idosa, aquela com idade igual ou
superior a 60 anos. Nele se encontram estabelecidos, com prioridade absoluta,
as medidas protetivas ao idoso. A norma prevê novos direitos e estabelece
vários mecanismos específicos de proteção, que vão desde a melhoria das
condições de vida até a inviolabilidade física, psíquica e moral dos idosos.

Nesse enfoque, o Estatuto do Idoso também estabelece como obrigação da


família, da sociedade e do Poder Público, a efetivação de direitos fundamentais
da pessoa idosa, como o direito à saúde, ao lazer, à cidadania, à vivência com
dignidade, incluída aí, principalmente, a convivência familiar.

107
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Recomendações:
- nas intervenções em razão de suspeita de prática de delito, o policial
observará a idade e as condições de saúde do idoso, e os demais
procedimentos técnicos, previstos neste Caderno;
- sempre que possível, deve-se promover o acompanhamento do idoso
por algum membro familiar ou pessoa indicada por ele;
- quando houver necessidade da busca pessoal, o policial a executará
de modo a evitar constrangimentos desnecessários;
- prestar informações necessárias ao idoso, a respeito de sua condução
(local, providências).
f) População em situação de rua
Por intermédio do Decreto Federal nº 7.053, de 23 de dezembro de 2.009,
a população em situação de rua foi oficialmente reconhecida para fins
de implementação de políticas públicas que lhe garanta, sobretudo, a
sobrevivência e o desenvolvimento.
As diretrizes da Política Nacional para a população em situação de rua
dizem respeito à promoção de direitos civis, políticos, econômicos, sociais,
culturais e ambientais, bem como o direito dos cidadãos, nessa condição, a
terem atendimento humanizado e universalizado, em face da não referência
de moradia.
A população de rua é bastante heterogênea: misturam-se famílias, homens,
mulheres, crianças e adolescentes, formando diferentes combinações
sociais. O que todos têm em comum é a luta pela sobrevivência, a carência
ou a precariedade de habitação, além de laços familiares fragilizados ou
interrompidos.
As ruas e avenidas são os lugares utilizados por este público como dormitório,
bem como para realizar as tarefas afetas ao interior de uma residência. A
pessoa que utiliza o espaço público para pernoite costuma sofrer violência
também de seus pares, em virtude de disputas de territorialidade, de estigma
de grupo ou conflitos individuais, de envolvimento com as drogas, dentre
outros fatores, dada a dimensão do contexto de rua. Dormir em grupo,
portanto, representa determinado nível de segurança; uma proteção coletiva
em relação às enormes adversidades que enfrenta pela sua inclusão.

108
Caderno Doutrinário 2

Estar em situação de rua não implica necessariamente estar envolvido


com práticas ilegais. O policial deve promover os direitos humanos dessas
pessoas, principalmente em razão do isolamento social, do descrédito e do
sentimento de abandono que adquirem por viverem nas ruas.
Recomendações:
- agir com equilíbrio e bom senso, sobretudo nos momentos em que
as demandas decorrentes da aplicação da lei exigirem condutas mais
firmes. O policial deverá ter a consciência de que uma pessoa que vive
em condições sociais extremamente precárias apresenta debilidades
(deficiência linguística, invisibilidade social, falta de higiene corporal),
que inclusive podem funcionar como barreiras para que recebam
tratamento adequado;
- tratar a população em situação de rua com devido respeito e
profissionalismo;
- deverá atender e orientar as pessoas desse grupo a buscarem auxílio,
junto aos órgãos competentes de assistência social;
- lembrar que, de acordo com a Constituição Federal, ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei. As pessoas em situação de rua não podem ser obrigadas a praticar
atos que não sejam exigidos por lei e são livres para estarem em
qualquer local, sem que as suas presenças signifiquem desrespeito à
lei;
-nos atendimentos, o policial não permitirá o tratamento desumano ou
degradante a esses cidadãos, por quem quer que seja;
-ter o cuidado no trato com os objetos pessoais e com os abrigos
improvisados do cidadão abordado, quando a revista for necessária.
5.3 Atuação policial frente às minorias
As minorias são grupos de cidadãos, sem posição dominante, dotados de
características étnicas, religiosas ou linguísticas, que os diferem da maioria
da população.

Neste grupo, observa-se comumente o surgimento de “um senso de


solidariedade um para com o outro, motivado, senão apenas implicitamente,
por vontade coletiva de sobreviver, e de conquistar a igualdade com a
maioria, nos fatos e na lei” .

109
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Essas pessoas têm o direito de desfrutar de sua própria cultura, de professar


e praticar sua religião, de fazer uso de seu idioma em ambientes privados
ou públicos, livremente e sem interferência de quaisquer formas de
discriminação.
A discriminação é uma conduta (ação ou omissão) que objetiva separar ou
isolar as minorias do seio de uma sociedade.
Pelo fato do racismo e da segregação social ainda existirem na sociedade,
foram necessárias diretrizes legais que disciplinassem a matéria.
A lei nº 9.459, de 13/05/1997, que alterou a Lei Federal nº 7.716, de 05 de
janeiro de 1989, define os crimes resultantes de preconceito e tipifica o crime
de racismo, adotando três verbos principais: obstar, recusar e impedir, no
sentido de que ninguém seja privado de seus direitos em decorrência da cor,
da religião, da etnia, da língua ou da procedência nacional.

Prevendo uma natural aproximação entre a injúria preconceituosa e o


racismo, o policial deve ter extremo cuidado para que não se equivoque
quanto ao enquadramento legal do crime. Na injúria preconceituosa (racial),
o agente pratica o crime quando atribui qualidades negativas a alguém,
promovendo xingamentos e ações dessa natureza, com base nos elementos
de raça, cor, etnia, religião, idade, ou condição física do ofendido. O racismo,
por sua vez, atende diretamente a vontade do ofensor em segregar
socialmente o ofendido, obstando-lhe os direitos. É um crime imprescritível,
inafiançável, cuja ação pública é incondicionada, e que atinge diretamente a
dignidade da pessoa humana.
O policial deverá estar certo do alcance e do poder de ofensividade de
ambos os crimes, cujas condutas, indubitavelmente negativas e reprováveis,
atingem, com frequência, as minorias.
No que se refere a outras comunidades tradicionais como ciganos e povos
indígenas, reconhecido seu organismo social (língua, costumes, religião,
crenças e tradições), deve-se considerar que também eles gozam de direitos
fundamentais e, em igual importância, históricos, a contar a ocupação dos
espaços territoriais que tradicionalmente os tornou legítimos donos; bens
hoje reconhecidos, demarcados e protegidos pela União.
Recomendações:
Em ocorrências que envolvam pessoas ou grupos que se caracterizam por
identidade étnica, religiosos ou linguísticos, resguardados os aspectos de

110
Caderno Doutrinário 2

fundada suspeita e os respectivos fundamentos da abordagem, sempre que


possível o policial deverá:

• agir com profissionalismo e bom senso, ao lidar com situações em


que uma pessoa se sinta discriminada, demonstrando respeito por
suas características;

• considerar que a etnia da pessoa (negra, cigana, indígena) não


determina a suspeição. A condição étnica das pessoas não se confunde
com índole criminosa e não poderá determinar pré-julgamentos.

a) Religiões de Matriz Africana

A CF/88 informa: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo


assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei,
a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Estão inclusas as religiões
de matriz africana, como o Candomblé, Umbanda ou outras de manifestação
afro-católica, como o Congado. Elas são assim designadas devido a sua
origem, trazidas para o Brasil pelos negros vindos do continente africano,
desde o início da colonização portuguesa.

Estas religiões têm sofrido através dos séculos intolerâncias e discriminações


de todo gênero. Por serem de matriz africana, se tornam referências para a
cultura do racismo. O Brasil, constitucionalmente, é um país laico (não tem
religião oficial), por isto, todos têm diretos a praticar seus cultos religiosos,
manifestações ideológicas, políticas e culturais, sem intervenções de caráter
repressivo, discriminatório ou jocoso.

A liberdade de crença religiosa é um direito e o Estado tem por obrigação


garanti-lo e punir suas violações. Não há espaço, em um país democrático,
para prática de violência e discriminações por motivação religiosa.

Atualmente, o senso popular ainda associa os símbolos, práticas e ritos


sagrados destas religiões a coisas demoníacas, como possessões de “espíritos
malignos”, e causas determinantes de tragédias pessoais. Neste contexto, as
instituições de segurança pública devem estar preparadas para lidar com
estes diversos conflitos, principalmente os originados da ação discriminatória
e preconceituosa de outros grupos radicais.

111
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Recomendações:
• se uma viatura policial é acionada para deter pessoas que fazem
suas oferendas, conhecidas como “despachos”, em uma encruzilhada,
o solicitante deve ser informado que, por força constitucional, estas
pessoas têm direito a livremente praticar sua religião e a fazer suas
oferendas;

• a intervenção policial, durante uma reunião pública, deve ser feita


com cautela, para não haver constrangimento aos presentes e também
para que
• o policial não incorra no delito de perturbação de culto religioso;
• o policial deverá verificar antes o que está realmente acontecendo,
se inteirando dos fatos perante todos na região, sem proferir juízo
de valor. Se for apurado perante a própria população local que não
está ocorrendo delito, a operação deve ser encerrada para evitar
constrangimentos, comunicando-se o fato, discretamente, ao
denunciante, se identificado;
• em caso de denúncia, a intervenção policial, dentro do terreiro, deverá
ocorrer de maneira tranquila e, se possível, sem a utilização de farda. O
dirigente do terreiro deverá, se possível e no momento adequado, ser
cientificado dos fatos. O contato com o dirigente deverá ser em local
reservado, longe das demais pessoas;
• Algumas denúncias são relacionadas a barulho, com incômodos aos
vizinhos. Também há denúncias de supostos sacrifícios de animais
no terreiro, ou ainda que há agressões físicas entre os participantes.
O policial deverá avaliar se deve intervir ou não, verificando se há
motivos preconceituosos na denúncia.
5.4 Abordagem a pessoas em surto de drogas
O funcionamento do organismo humano pode ser alterado em razão da
interação com substâncias capazes de provocar alterações fisiológicas ou
comportamentais. Essas modificações variam de acordo com cada pessoa,
com o tipo de droga, o ambiente de consumo, a via de administração e a dose
da substância ingerida, com a expectativa almejada pelo usuário, dentre
outros fatores.
Graus de intoxicação elevados, via de regra, possibilitam perturbações do
nível de consciência, da capacidade cognitiva, da percepção, do juízo crítico,

112
Caderno Doutrinário 2

do afeto, do comportamento ou de outras funções e reações psicofisiológicas,


elementos
essenciais a serem considerados quando da abordagem policial ao consumidor
de drogas, pois interferem na avaliação de risco e uso diferenciado de
força. Nesse sentido, evidências científicas indicam que a ingestão de drogas
perturbadoras, depressoras ou estimulantes, como o álcool e os derivados da
cocaína, podem desencadear atos ilícitos.
Recomendações:
a) compreender que o consumo de drogas pode provocar alterações na
percepção do mundo: o tempo e o espaço passam a ter uma dimensão
diferente, estímulos visuais e auditivos são criados (alucinações) ou se
apresentam de maneira distinta;
b) colher o máximo de informações referentes ao histórico pessoal
do consumidor de drogas, caso possível, com os familiares e/ou
conhecidos, no que se refere aos surtos do abordado;
c) avaliar o grau de consciência e o potencial de agressividade. Ao
identificar a pessoa a ser abordada, ela pode se apresentar com a
fala, os pensamentos, emoções e percepções confusas. Demonstram
desorientação e desvinculação com o mundo externo, como se
estivessem psiquicamente ausentes. O estado emocional pode, ainda,
mudar bruscamente;
d) Observar a fala do abordado. O primeiro indicativo de interação com
substâncias psicoativas e de que pode haver uma reação inesperada,
se relaciona à fala da pessoa.Há necessidade de que as perguntas
sejam repetidas várias vezes pelo policial, em razão da dispersão da
atenção do abordado. Pode ser muito difícil engajar o usuário numa
conversação normal;
e) Tenha em mente que a instabilidade emocional pode ser frequente,
com apresentação de choro e risos imotivados. Além disso, pode se
apresentar alheio à realidade e com pouca, ou nenhuma sensibilidade,
mostrando-se como uma pessoa fria. Por vezes, o abordado terá um
olhar perdido, sem fixação em pontos, ou a demonstração de que está
assustado ou desconfiado;

113
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

f ) alertar para o fato de que a maioria das paranoias decorrentes do


consumo de drogas acarreta a necessidade do uso de força;

g) compreender que as técnicas de imobilização policial, na maioria


das vezes, não funcionam, devido ao seu rebaixamento da crítica e do
efeito anestésico da droga, momento em que não esboça reação de
dor e não atende às ordens emanadas, podendo precipitar uma reação
agressiva, quando da tentativa de controle físico.

114
SEÇÃO 6

TRATAEMENTO
ÀS VÍTIMAS
Caderno Doutrinário 2

6 TRATAMENTO ÀS VÍTIMAS

As ciências que estudam o ato delituoso (como a criminologia e o direito


penal) inicialmente não percebiam a importância da vítima como objeto de
estudo. A ênfase maior de tais disciplinas era dada à pena e ao delinquente.
Na atualidade, as vítimas já conquistaram a atenção destas ciências, e o seu
comportamento e atitudes são temas constantes de pesquisa.
Seguindo essa lógica, as vítimas também não podem ser desconsideradas
pelos organismos policiais. É necessária a conscientização dos profissionais
de segurança pública que o tratamento inadequado pode gerar a violação e
o desrespeito aos Direitos Humanos, o que resultaria em uma nova violência.
A Declaração das Nações Unidas sobre os Princípios Fundamentais de Justiça
Relativos às Vítimas da Criminalidade e do Abuso do Poder é o instrumento
internacional que oferece orientação sobre a proteção e a reparação a essas
pessoas. Para este documento, vítimas são todas as pessoas que, individual
ou coletivamente, tenham sofrido prejuízo ou atentado à sua integridade
física ou mental, sofrimento de ordem material, ou grave atentado aos seus
direitos fundamentais, como resultado de ações ou omissões violadoras da
legislação instituída pelo Estado.

Devido à prioridade que é dada à captura do autor do delito, muitas vezes, a


atenção à vítima é colocada em segundo plano pelo policial, deixando-a sem
apoio, informações ou esclarecimentos.

As vítimas, ao requererem a presença policial, criam uma expectativa de


conforto, de reabilitação do equilíbrio emocional e de solução do problema
e, por isso mesmo esperam uma atuação positiva por parte da Polícia.

É neste sentido que o policial deve, primeiramente, conscientizar-se


da importância de seu papel como mediador do conflito e se preparar
profissionalmente37 para dar um atendimento diferenciado à vítima e ao
autor do delito.

Medidas como informar sobre serviços sociais de atendimento à vítima,


existentes no município (serviços de atendimento psicossocial, jurídico, ONGs,
grupos de ajuda e de orientação, abrigos, entre outros), complementam o
atendimento policial. A orientação e o encaminhamento da vítima e de seus

37 Conforme Interpretação Institucional do Princípio 20 contido nos Princípios Básicos da


Utilização da Força e de armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei.

117
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

familiares para esses serviços podem ajudar a diminuir o seu sofrimento e a


prevenir novos episódios.

A Lei Estadual nº 13.188, de 20 de janeiro de 1999, dispõe sobre a proteção,


o auxílio e a assistência às vítimas de violência no Estado38, elencando, ainda,
outras providências sobre a matéria.
O seu artigo 1º determina que o Estado ofereça proteção, auxílio e assistência
às vítimas de violência, por meio dos órgãos ou das instituições competentes.
Já o artigo 3º, informa que a proteção, o auxílio e a assistência previstos no
artigo 1º da Lei consistem em:
I -colaborar para a adoção de medidas imediatas que visem a
reparar os danos físicos e materiais sofridos pela vítima;

II - acompanhar as diligências policiais ou judiciais, especialmente


quando se tratar de crime violento;

III - elaborar e executar plano de auxílio e de manutenção


econômica para as vítimas, testemunhas e seus familiares que
estiverem sofrendo ameaças e necessitam de transferência
temporária de residência;

IV -pagar as despesas de sepultamento da vítima de que trata o


inciso I do art. 2º, se do ato de violência resultar a morte;

V -proporcionar alimentação para lesionados com dificuldades


econômicas e seus dependentes, enquanto durar o tratamento;

VI -apoiar programas pedagógicos para readaptação social


ou profissional da vítima. (Alterado pela Lei 15475, de
12/04/2005)

VI - criar programas especiais organizados nos termos da Lei


Federal n° 9.807, de 13 de julho de 1999.

§ 1º Em se tratando de vítima de crime tipificado nos arts.


130 e 213 a 220 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
de 1940, que contém o Código Penal, os exames médicos
periciais que se fizerem necessários serão realizados em
hospital público ou hospital particular conveniado com o
poder público, onde a vítima terá direito a assistência médica
e psicológica. (BRASIL, 1999).

38 Ver também o artigo 2º do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos.

118
Caderno Doutrinário 2

Um atendimento adequado e atencioso poderá minimizar os efeitos violentos


decorrentes do crime e facilitará, significativamente, a administração da
ocorrência.
Nos itens a seguir, sugere-se orientações e verbalizações para balizar esse
atendimento.
6.1 Procedimentos com vítimas em locais de ocorrência
• No ambiente de intervenção, o policial deve tranquilizar a vítima
e demonstrar preocupação com sua situação física e psicológica.
Sugerem-se os seguintes diálogos de verbalização:
“___Minha preocupação agora é com você (o senhor).
Você (o senhor) tem lesões aparentes? Necessita de
atendimento médico? Você (o senhor) gostaria de falar
sobre o ocorrido? Não se preocupe, pois outros policiais
de nossa equipe já estão procurando o agente do crime
para prendê-lo.”
• Na audição da vítima, que se encontra sob forte impacto
psicológico, decorrente de fato violento, o policial deve permitir
que ela fale livremente sobre o evento que ensejou a intervenção
policial evitando-se, quando possível, tratar de detalhes que
possam aumentar o constrangimento. Deve ouvir de maneira
cuidadosa e respeitar os limites da vítima, inclusive a dificuldade
em relatar os fatos e sentimentos.
• ·Deve-se resguardar a vítima dos populares, da imprensa, como
forma de preservá-la diante do acontecido.
• Sempre que possível, a medida de localização e prisão dos
infratores deverá ser tomada por outra equipe de serviço,
utilizando-se de informações obtidas pela vítima, por solicitantes,
testemunhas ou denunciantes.

ATENÇÃO! Policiais femininos podem ter mais


acessibilidade às vítimas mulheres ou crianças,
o que as tranquilizará de forma mais imediata e
facilitará a aproximação e o atendimento policial

119
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• Habitualmente, as vítimas manifestam medo, insegurança,


desconfiança, dor, vergonha, incerteza ou culpa, além de apresentar
possíveis lesões físicas. Diante desse quadro, ela será acolhida e
orientada de maneira especial. No caso de violência sexual contra
pessoa adulta, deverá ser respeitada sua opinião, quando houver
recusa em prosseguir com as providências policiais.
ATENÇÃO! Nos casos em que houver
necessidade de socorro médico às vítimas,
este deve ser priorizado em relação a qualquer
outro procedimento policial.

• Durante a identificação de possíveis autores do delito, o policial


atentará para que a vítima não seja exposta, evitando que autor
e vítima tenham contato, devendo o reconhecimento ser feito de
maneira reservada e em momento oportuno.
• Lembre-se que as testemunhas também poderão se tornar vítimas
e se sentirem ameaçadas pelo(s) agressor(es). Portanto, deve-se
adotar as mesmas providências que foram propostas para o caso de
identificação do autor por parte da vítima.

ATENÇÃO! O registro da ocorrência (BO/REDS) ou


da notícia crime deverá ser feito preferencialmente
em local seguro e privado, principalmente quando
se referir a crimes sexuais, ocasião em que a vítima
estará fragilizada e exposta psicologicamente.

• A atenção à vítima somente se encerrará no momento em que todos


os procedimentos policiais estiverem completos. A guarnição, diante
de circunstâncias tais como, a vítima não possuir meios para voltar
para o domicílio, estar despida, se encontrar em horário e local de risco
ou temer nova agressão, poderá conduzi-la ou acompanhá-la para sua
residência ou para local estabelecido por ela, mediante contato com a
Coordenação Operacional da fração.
• Dependendo da situação avaliada pela equipe, os policiais precisarão
ser incisivos, para fornecer segurança à vítima.

120
Caderno Doutrinário 2

“____Para termos certeza de que você (o senhor) estará


seguro, vamos acompanhá-lo até a sua casa.”
Ou,
“____Você (o senhor) será levado para casa em nossa
viatura, para termos a certeza de que estará seguro.”
• Após a chegada na residência da vítima ou outro local indicado
por ela, o policial deverá certificar-se de que tudo esteja bem, porém
evitará entrar. Na hipótese da vítima solicitar a presença policial no
interior da casa para, por meio de uma vistoria, verificar se há algo
suspeito, o procedimento será realizado na presença da própria vítima
e, preferencialmente, de testemunhas, para a defesa posterior de
possíveis reclamações.

• É importante que o policial entenda que esta vítima está


emocionalmente fragilizada. Logo, ele deve manter uma postura
profissional e acolhedora, mas evitar o excesso de intimidade e
proximidade com esta pessoa.

• Antes de se retirar do local, o policial tranquilizará a vítima, informando


que terá todo o apoio necessário e, se for preciso, poderá acionar uma
equipe policial por meio do 190.
• Os casos de violência doméstica devem ser tratados de forma
diferenciada. Violência doméstica e familiar contra a mulher39 é
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial. A vítima deverá ser orientada quanto aos seus direitos,
medidas protetivas e de possíveis locais ou órgãos de apoio e, se
possível, que procure abrigo em casa de parentes ou amigos.
• A orientação quanto aos direitos legais proporciona o acesso à
justiça ao vitimado e à sua família, bem como a responsabilização do
agente infrator. É recomendado que o policial conheça as instituições
para o encaminhamento e atendimento inicial das vítimas (hospitais
de pronto atendimento, hospitais de referência para violência sexual,
Delegacias Especializadas, Defensoria Pública, dentre outros).

39 Conforme disposto no Artigo 5º da Lei Maria da Penha (Lei 11340/06).

121
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• Vários são os órgãos que podem cooperar com o trabalho da Polícia


Militar: conselhos tutelares, programas de atendimento às mulheres
vítimas de violência, conselhos de direitos humanos, conselhos dos
portadores de deficiência física, de idosos, negros, dentre outros. São
espaços de cidadania habilitados a oferecer serviços que asseguram
o exercício dos direitos das vítimas e dos familiares de vítimas de
crimes, e que são eficazes na prevenção e no combate à violência e à
impunidade, bem como na promoção da cidadania.
Em geral, essas instituições se ocupam de atividades, como:
a) prestação de atendimento interdisciplinar (psicológico, jurídico e
social) a vítimas de crimes violentos graves e aos familiares;
b) identificação dos perfis da violência criminal urbana e das formas de
prevenção;
c) identificação e redução dos efeitos traumáticos provenientes da
violência sofrida pelas vítimas e por suas famílias;
d) atuação como auxilio na ruptura de ciclos e códigos de violência;
e) apoio à inserção da vítima no processo penal, garantindo-lhe acesso
à Justiça;
f ) apoio e orientação, quanto a direitos e deveres, àqueles que podem
contribuir como testemunhas para a realização da justiça.
g) atuação no combate e/ou minimização dos efeitos da vitimização,
por meio de capacitação dos agentes do Estado e demais profissionais.
• O Núcleo de Atendimento as Vítimas de Crimes Violentos (NAVCV),
por meio de um programa federal e estadual, presta apoio jurídico,
psicológico e social gratuito aos familiares e às vítimas de homicídio,
de latrocínio e crimes sexuais.
No caso de atendimento de familiares de vítimas fatais, o policial poderá aplicar
os mesmos procedimentos definidos para atendimento às vítimas, naquilo
que couber. Estas pessoas são indiretamente afetadas pelo cometimento do
crime, que envolve normalmente alto grau de comoção.

122
SEÇÃO 7

LOCAL DE CRIME
Caderno Doutrinário 2

7 LOCAL DE CRIME

É o espaço onde tenha ocorrido um ato que, presumidamente, configure


uma infração penal e que exija as providências legais por parte da polícia.
Compreende, além do ponto onde foi constatado o fato, todos os lugares
em que, aparentemente, os atos materiais, preliminares ou posteriores à
consumação do delito, tenham sido praticados.
O local de crime é fundamental para a investigação criminal. Ele fornece
elementos relevantes para concretizar a materialidade do delito e chegar à
autoria.
7.1 Classificação do Local de Crime e Conceitos Correlatos
A Criminalística40 apresenta uma classificação própria do local de crime. Para
a atividade policial-militar destacam-se as seguintes:
a) Consoante à natureza:
Pode ser de homicídio, infanticídio, suicídio, atropelamento, incêndio,
afogamento, furto, roubo, arrombamento, dentre outros.
b) Consoante ao lugar do fato:
• local interno: área compreendida por ambiente fechado, que preserva
os vestígios da ação dos fenômenos da natureza. Ex.: Interior de
residências, interior de veículos, galpões, dentre outros;
• local externo: área não restrita, e que não preserva os vestígios da
ação dos fenômenos da natureza. Trata-se de áreas abertas, como ruas,
rodovias, praças, estradas, matagal, beira de rios, dentre outros;
• local imediato: é a área exata onde ocorreu o fato ou o crime;
• local mediato: são as adjacências; os pontos e áreas de acesso ao local
do crime. Ex.: corredores, ambientes ao redor de cômodos, jardins,
estradas, trilhas, dentre outros;
• locais relacionados: são as áreas que podem apresentar conexão
com o fato criminoso e, por isso, oferecer pontos comuns de contato
(vestígios) a serem observados.
40 A Criminalística é uma disciplina autônoma, integrada pelos diferentes ramos de
conhecimento técnico-científico, auxiliar e informativa das atividades policiais e judiciária da
investigação criminal. Seu objetivo é estudar os vestígios encontrados nos locais de crime,
para a elucidação dos fatos.

125
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

c) Consoante ao exame

local idôneo: é aquele que não foi violado, que não sofreu nenhuma
alteração desde a ocorrência do fato.

O artigo 169 do CPP discorre sobre as providências policiais a serem tomadas,


imediatamente, no local de crime. De sua interpretação, vale lembrar que o
primeiro policial que chegar ao local terá a responsabilidade inadiável de
preservá-lo, devendo recorrer, inclusive, a todos os meios necessários para
que o estado das coisas não seja alterado até que a perícia técnica assuma
seu trabalho na ocorrência.

Art. 169 – Para o efeito de exame do local onde houver


sido praticada a infração, a autoridade providenciará
imediatamente para que não se altere o estado das coisas
até a chegada dos Peritos, que poderão instruir seus laudos
com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.

Parágrafo Único: Os Peritos registrarão no Laudo, as


alterações do estado das coisas e discutirão no relatório,
as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos.

• local inidôneo: é aquele que foi violado, que sofreu alguma


alteração após a ocorrência dos fatos delituosos.

7.2 Prova

Tudo que demonstra a veracidade de uma proposição ou a realidade de um


fato. Na criminalística, existem as provas objetivas e as subjetivas.

• Prova Objetiva: tem por base os vestígios encontrados nos locais


de crime, que são interpretados pelos Peritos, por meio dos exames.
Exemplo: laudo pericial.

• Prova Subjetiva: tem por base as informações colhidas da vítima,


das testemunhas ou de qualquer pessoa relacionada com o fato.
Exemplo: boletim de ocorrência (BO/REDS), expedido pela Polícia
Militar.

126
Caderno Doutrinário 2

O boletim de ocorrência (BO/REDS) é um documento que necessariamente


será lavrado nas intervenções policiais, descrevendo os fatos ocorridos no
local do delito e materializando a presença policial. O boletim formaliza
a comunicação ao poder público de que determinada situação requer
providências, quer seja pela superveniência de ações criminosas ou de outros
fatos que ofereçam riscos à sociedade.
Por esse registro, a equipe de Polícia Judiciária extrairá as primeiras informações
do fato criminoso, formando as primeiras imagens e abstraindo as primeiras
idéias que subsidiarão uma linha de ação. É de suma importância que os
primeiros policiais que chegarem ao local do crime descrevam o cenário
(vítima, instrumentos, vestígios, testemunhas), da forma mais autêntica e
detalhada possível, para que esses elementos não se percam com tempo.
O exame de corpo de delito é outro instrumento de coleta de provas,
imprescindível para a elucidação dos fatos. O Código de Processo Penal (CPP)
determina em seus artigos 158 e 167 que:
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será
indispensável
o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não
podendo supri-lo a confissão do acusado.
(...)
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de
delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova
testemunhal poderá suprir-lhe a falta (BRASIL, 1941).

ATENÇÃO! De acordo com o art. 167 do CPP, se no


local do crime não forem encontrados vestígios, a
descrição dos fatos pelas testemunhas arroladas
no Boletim de Ocorrência poderá ser a única prova
do ato delituoso.
É importante distinguir os seguintes elementos:
• evidência: é o vestígio que, após analisado pela perícia técnica e
científica, possui relação com o crime;
• vestígio: é todo objeto ou material bruto, suspeito ou não,
encontrado no local de crime e que deve ser recolhido e
resguardado para exames posteriores;

127
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• indício: é todo vestígio cuja relação com a vítima ou com o


suspeito, com a testemunha ou com o fato, foi estabelecida. É o
vestígio classificado e interpretado, que passa a significar uma
prova judiciária.
São exemplos de vestígios considerados importantes para a elucidação
do crime: manchas diversas (sangue, saliva, sêmen, vômito), substâncias
orgânicas, cabelos, impressões digitais, marcas de calçados ou pés,
documentos (manuscritos, datilografados, desenhados), resíduo de explosivo,
explosivos, armas, munições, fibras, tecidos, objetos de vidro, líquidos, metais,
marcas de tintas, plásticos, gesso, escombros, concreto, argamassa, cordas,
linhas, cordões, pneus e suas marcas, ferramentas e suas marcas, material
tóxico, veículos, fios, cabos, madeira, dentre outros.
Antes de adotar os procedimentos no local de crime o policial deverá
diferenciar isolamento de proteção:
• isolamento: é a delimitação da área física, interna e externa do
local de crime, por meio de recursos visíveis, tais como cordas,
fitas zebradas e outros, cuja finalidade é proibir a entrada de
pessoas não credenciadas no local de crime;
• proteção: consiste em impedir que se altere o estado das coisas,
visando à inalterabilidade das provas.
7.3 Procedimentos no local de crime
A conscientização dos policiais e da sociedade é fundamental para a
conservação do local de crime. Qualquer alteração nesse ambiente prejudicará
os trabalhos periciais, a investigação policial e, consequentemente, a
elucidação do fato.
Os policiais, ao serem acionados para atuarem em um local de crime,
obedecerão às etapas da intervenção policial41, razão pela qual é necessário,
inicialmente, fazer um diagnóstico para elaborar um plano de ação e, só
então, efetuar o isolamento do local (execução). A avaliação é pertinente em
qualquer tipo de intervenção.
Quanto à sequência das três etapas anteriores, temos inicialmente o
diagnóstico, que será elaborado a partir das informações sobre o motivo
e o local de crime, obtidas por meio da avaliação de risco, da análise do
cenário feita a partir do pensamento tático e da observação e identificação
dos locais mediatos, imediatos e relacionados.
41 Caderno Doutrinário 1

128
Caderno Doutrinário 2

A segunda etapa, plano de ação, consiste na decisão, acerca das atribuições


de cada policial, dos métodos e procedimentos para alcançar objetivos do
efetivo isolamento e proteção do local. Os policiais, trabalhando em equipe,
devem ter atitudes coerentes entre si, fruto de uma mesma avaliação de risco
e uso diferenciado de força caso seja necessário empregá-la. É imprescindível
considerar os dados que subsidiaram o diagnóstico, os fundamentos para
o isolamento e os recursos disponíveis (pessoas e equipamentos). O plano
de ação deve ser elaborado de forma simples e verbal, ou exigir maior
estruturação, conforme a avaliação da complexidade do local.

O policial, para elaborar o plano de ação, precisa responder às seguintes


perguntas:

• Por que estamos isolando este local?

• Quem, ou o que iremos isolar e proteger?

• Onde se dará o isolamento?

• O que fazer?

• Como atuar?

• Qual a função e posição de cada policial?

• Quando iniciar o isolamento?

• Qual material necessário?

A terceira etapa, execução, é a ação propriamente dita, resultante das fases


anteriores. Consiste na aplicação prática do plano de ação, bem como da
adoção de medidas decorrentes do próprio isolamento e o registro do fato
em BO/REDS.

O policial, ao chegar, deve dar atenção a tudo que estiver presente no local de
crime, sem fazer qualquer juízo de valor. A preservação deverá ser realizada
por meio do isolamento e proteção de forma efetiva para que as pessoas
não tenham acesso a ele, evitando-se que vestígios sejam modificados ou
destruídos, antes de seu reconhecimento. Em princípio, tudo que estiver no
local é importante.

129
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

A preocupação inicial da guarnição será com o socorro à vítima e com a


segurança dos envolvidos. Também deve se atentar ao fato de que o autor
do delito poderá permanecer nas imediações. Além disso, em decorrência do
crime, o local poderá ser alvo de manifestações e da comoção social.

O policial militar, que normalmente é o primeiro a chegar, deverá providenciar


para que não se altere o estado e conservação das coisas42, isolando o local,
até a chegada dos peritos criminais.
O local a ser isolado deverá abranger todos os vestígios visualizados numa
primeira observação, além de áreas adjacentes que possam ter relação com
o crime. Exemplo: em um local de homicídio, com uma vítima caída no
chão de um dormitório, não basta isolar apenas o quarto. O local do crime
deve ser considerado como a casa inteira (garagem, passeio e outros) e a
rua em frente, já que não se sabe onde poderão ser encontrados vestígios
relacionados ao delito. Vale lembrar que esses locais não se restringem às
ocorrências com homicídios provocados por armas brancas ou de fogo,
tentados ou consumados.
A avaliação é a última etapa e consiste em um feedback das condutas
individuais e do grupo, os resultados alcançados e as falhas notadas em cada
intervenção devem ser, posteriormente, discutidas e analisadas. Possíveis
correções devem ser apresentadas, visando aperfeiçoar as competências
profissionais para um eventual novo isolamento e proteção do local de crime.
Como forma de ilustrar procedimentos policiais nos locais de crime, este
Caderno exemplificará cenas de uma ocorrência de homicídio em via pública.
Ao chegar ao local de crime, o policial deverá:
1. saber que o público normalmente desconhece a importância
da pre­servação dos vestígios no local de crime, e poderá tê-lo
alterado;
2. adentrar em linha reta, ou pelo menor trajeto possível, enquanto
os demais policiais cuidarão da segurança. Somente quando se
tratar de área de risco, poderá e será necessária a entrada de mais
de um ao mesmo tempo;
3. verificar os sinais vitais da vítima;

42 Conforme disposto no art. 6º do Código de Processo Penal.

130
Caderno Doutrinário 2

Figura 37 – Verificação da vítima

4. priorizar o socorro da vítima;


5. em caso de óbito, evitar mexer na vítima (tocar, remover, mudar sua
posição original, revirar bolsos, tentar identificá-la). A identificação
é responsabilidade da perícia criminal, salvo se houver a efetiva
necessidade da guarnição de preservar materialmente a vítima
ou seus documentos em caso de mudança de tempo (chuva,
enchente), com possibilidade de lavagem de manchas e arrasto do
corpo, ocorrência de incêndio, ou outras ações que possam fugir do
controle dos policiais;
6. Realizar constantemente a observação e o controle visual, para
verificar se há segurança na atuação policial;
7. Quando necessário, retornar lentamente, pelo mesmo trajeto feito
na entrada, observando outros detalhes dentro daquela área;
8. prender o criminoso. Caso não seja possível, coletar informações
sobre o autor e divulgá-las para os demais policiais de serviço;
9. observar todas as imediações para definir os limites de isolamento,
podendo abranger trechos de ruas, ou quarteirões (quadras) e
estabelecimentos comerciais que tenham relação direta com o
crime;
10. isolar a área, onde se deu os acontecimentos, usando fitas zebradas.
Na ausência desse material, poderão ser utilizados materiais
alternativos, como arames, cavaletes, cones, cordas, cabos de aço ou

131
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

outros meios disponíveis, sendo que ninguém poderá se deslocar


dentro da área isolada, antes do trabalho periciais;

Figura 38 – Isolamento do local

11. afastar as pessoas, sinalizar, desviar e controlar o trânsito de veículos


e de pedestres;
12. fazer anotações e croquis para facilitar a redação do texto do Boletim
de Ocorrência (BO/REDS);
13. arrolar testemunhas do delito;
14. preservar armas ou outros instrumentos vinculados ao crime;
15. impedir que a posição dos objetos ou de coisas seja modificada.
Tratando-se de locais fechados, manter portas, janelas, mobiliários,
eletrodomésticos, utensílios, tais como foram encontrados. Deve-
se evitar, por exemplo, abrir ou fechar, ligar ou desligar quaisquer
objetos; usar aparelhos de telefonia (fixa ou móvel), sanitários
ou lavatórios, e demais recursos disponíveis no local), salvo o
estritamente necessário para conter riscos;
16. Posicionar-se fora da área isolada, prosseguir com a vigilância,
preser­vando os vestígios até a chegada dos peritos criminais;
17. transmitir as informações já obtidas à equipe de Polícia Judiciária ou
a quem for pertinente, procurando interagir com os diversos órgãos

132
Caderno Doutrinário 2

que compõem o Sistema de Defesa Social;


18. em caso de suspeita de alteração do local de crime, identificar o(s)
possível(eis) causador(es), registrar tal situação no BO/REDS e avisar
aos peritos que comparecerem ao local;
19. acompanhar os trabalhos dos peritos, anotando e conferindo o
material apreendido, visando constar todos os dados no Boletim de
Ocorrência (BO/REDS);

Figura 39 – Pessoas alterando local de crime

20. avisar ao responsável pelo exame pericial sobre possíveis vestígios


deixados por terceiros que adentraram ao local de crime (por
necessidade ou equivocadamente), para que os peritos não percam
tempo analisando vestígios ilusórios.
21. proibir que repórteres e fotógrafos acessem o local de crime, antes
da realização dos trabalhos periciais, explicando-lhes a necessidade
de manter os vestígios preservados e que será garantida a liberdade
de imprensa após resguardada a prioridade do serviço pericial;
22. prestar informações à imprensa de forma objetiva sobre os fatos;

133
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Figura 40 – Tratamento com a imprensa

23. caso a perícia não seja realizada, proceder à apreensão dos materiais
encontrados, na presença de testemunhas, relacionando-os no BO/
REDS, para encaminhamento ao delegado de polícia, (Cadeia de
Custódia de Vestígios – Ver item 7.4 deste Caderno Doutrinário);
24. liberar o local após encerrados todos os trabalhos periciais, e na
ausência da perícia, somente após o recolhimento dos objetos;
25. dar atenção especial aos familiares em casos de vítimas fatais, que
poderão reagir de forma agressiva ou tentar invadir o local de crime.
Esta consideração decorre do estado emocional provocado pela
perda de uma pessoa querida. Os policiais deverão assisti-los de
forma profissional, entendendo o momento que estão passando.

ATENÇÃO! A ordem dos procedimentos poderá


ser alterada, dependendo da prioridade observada
no momento da intervenção policial. Exemplo: em
alguns acidentes de trânsito, a prioridade é sinalizar
a via para evitar agravamento da ocorrência ou
o surgimento de novas vítimas e, somente após
resguardar a segurança, procede-se a assistência
necessária aos envolvidos e o isolamento.

134
Caderno Doutrinário 2

7.4 Cadeia de Custódia de Vestígios


É um modelo utilizado nas mais variadas áreas do conhecimento, que tem
como preocupação a manutenção, no âmbito judicial, da qualidade das
provas coletadas. Seu objetivo é garantir a identidade e integridade das
provas até seu destinatário final.
Uma das principais dificuldades encontradas para a elucidação de
determinados fatos e comprovação da conduta criminosa praticada pelo
agente é o levantamento eficiente de provas que estejam preservadas e
tenham idoneidade comprovada. A falta de integridade desse material pode
comprometer o processo de conhecimento criminal.
Nesse contexto, a Cadeia de Custódia de Vestígios é usada para manter e
documentar a história cronológica da evidência, para rastrear a posse e o
manuseio da amostra a partir do preparo do recipiente adequado (quando
necessário), da coleta, do transporte, do recebimento, do armazenamento
e da análise, fazendo sua ligação direta com a infração penal cometida.
Ela é usada para registrar as informações no local da coleta das provas, no
laboratório de análises e também das pessoas que manusearam a amostra.
Assim, apesar desse trabalho ser destinado prioritariamente à polícia
Judiciária, mais precisamente ao perito criminal, outras pessoas, mesmo que
por curto período de tempo, podem eventualmente serem responsáveis pela
coleta e controle dessas provas, como é o caso dos profissionais da área de
saúde e também dos policiais militares que posteriormente conduzirão essas
provas para a autoridade competente.
Os responsáveis pela coleta das provas devem desenvolver um trabalho em
equipe, preferencialmente, conforme programa previamente estabelecido e
acordado pelas Instituições envolvidas, com conscientização e treinamento
sobre as suas respectivas responsabilidades.

Tal responsabilidade dos profissionais envolvidos na Cadeia de Custódia


de Vestígios não tem apenas uma implicação legal, mas também moral, na
medida em que o destino das vítimas e dos réus depende do resultado da
perícia.

135
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140
Página: ( - 141 - )

( - SEPARATA DO BGPM Nº 97 de 27 de dezembro de 2011 -)

(a) RENATO VIEIRA DE SOUZA, CORONEL PM


COMANDANTE-GERAL

CONFERE COM O ORIGINAL:

JOÃO SUSSUMU NOGUCHI, TEN CEL PM


AJUDANTE-GERAL

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