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Nome: _____________________________________
Lenda
Turma:________ Nº:_____ Data: ____/____/____
Como certamente sabes, os mouros designam os muçulmanos que ocuparam a Península Ibérica entre os séculos
VIII e XV.
Para «evocar a existência das gentes mouriscas entre nós», contam-se inúmeras lendas de mouros e mouras. Só
Gentil Marques reuniu quarenta e quatro lendas no volume de onde retirámos a que agora vais ler.
A PONTE – A famosa ponte romana de Chaves foi construída no tempo do imperador Trajano com os seus possantes arcos
formados à maneira etrusca, e conservada tal como tinha sido construída até ao ano de 1880. Nesse ano, por se ter julgado
necessário aumentar a sua largura, foram substituídas as antigas e primitivas guardas de pedra por grades de ferro. A ponte
é considerada monumento nacional e ostenta dois padrões romanos.
Há muito tempo, quando os mouros reocuparam Chaves(1), era alcaide do castelo um guerreiro que tinha um filho
a quem adorava e uma sobrinha muito bela, que fizera noiva do filho. A jovem deixava-se amar, pois não encontrara entre
os da sua raça quem lhe despertasse o coração. Um dia, porém...
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Mas o alcaide, não querendo deixar o filho só com o inimigo, preparou-se para combater, esquecendo-se da
segurança da jovem sobrinha. O burburinho era enorme. Para cá e para lá corriam os mouros na ânsia de tapar as abertas
feitas pelas espadas cristãs. As mulheres choravam, tentando fugir como podiam e levando alguns haveres e os filhos
pequenos. Porém, a jovem moura sobrinha do alcaide não fugiu. Para ela, a vida nunca mais tivera verdadeiro significado
desde que num recontro com homens da sua fé e do seu sangue ficara subitamente órfã. Desde então, considerava a vida
sem sentido. A ambição dos homens pela glória de mandar enojava-a. Passavam por ela homens e mulheres, atropelando-a
quase, tão vagaroso era o seu andar. Nem sabia bem o que ia fazer. Sentia a imperiosa força da sua vontade a impeli-la
para a direção tomada. Se ali estivesse Abed, decerto a impediria de se expor assim. Mas ele, como o alcaide e os outros
homens válidos, estava assoberbado com a defesa do castelo.
A jovem moura parou à vista do castelo. Os cristãos haviam já penetrado por uma brecha e os mouros acorreram
ao local mais desprotegido. Entre os cristãos, destacava-se um guerreiro que, apesar de tudo, suscitava a admiração da
jovem moura. Alto, bem proporcionado, de extraordinária destreza, esgrimia com tal fúria que a sua espada nunca caía em
vão. Em breve os cristãos estavam senhores dessa ala direita. Na esquerda, porém, a luta continuava indecisa. Foi então
que o guerreiro alto e bem proporcionado, depois de colocar os seus homens de forma a garantirem o lugar conquistado,
se encaminhou para a ala esquerda do castelo. Mas o seu olhar caiu sobre a jovem moura que o fitava numa calma quase
perturbante. Ele suspendeu o combate e encaminhou-se para ela.
— Que faz aqui sozinha uma jovem tão formosa?
Ela não sorriu. Mas respondeu:
— Pergunto a mim mesma para que hão-de os homens lutar entre si, como se fossem feras!
Ele tentou gracejar.
— Bela pergunta, mas feita em má altura.
— Não sei de melhor ocasião para a fazer.
Ele encolheu os ombros.
— Senhora, é difícil discutir com mulheres qualquer assunto, e muito menos assuntos de homens!
— Porquê, de homens?
— Porque as coisas da guerra só a nós dizem respeito.
— Sim? E porquê?
— Porque nela jogamos a vida.
— E nós? Não a jogamos também, sem sequer a promovermos nem lucrarmos com as vossas vitórias? Foi a guerra
que me tornou órfã.
— Sois órfã?
— De pai e mãe!
— Lamento. Estais aqui sozinha?
— Vivo com meu tio, o alcaide deste castelo.
Ouvindo falar no alcaide, o guerreiro cristão compreendeu que o momento não era para jogo de palavras. Fitou a
sua interlocutora e gritou para um dos homens:
— Ramiro! Leva esta jovem para a minha tenda. A tua vida responde pela dela!
E sem mais olhar para a moura, correu para o lado donde a luta parecia mais acesa.
O castelo foi tomado pelos cristãos e feita a sua oferta a D. Afonso Henriques pelos seus conquistadores. Mas não
foram entregues certos despojos de guerra com os quais o rei português premiou tão grande feito. Também não se efetuou
a troca da sobrinha do ex-alcaide por certos prisioneiros de guerra. Lado a lado, como num delicioso sonho de amor, a
jovem moura vivia feliz com o cavaleiro cristão que um dia a mandara raptar. Encontrara uma razão para viver. Porém Abed
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não lhes perdoou. Recomposto de um grave ferimento recebido, conseguiu voltar a Chaves disfarçado de mendigo. Como a
sua bem-amada, porém, estivesse sempre bem rodeada, esperou-a certa vez sobre a ponte, quando ela e duas damas
cristãs regressavam de um passeio. Então caminhou ao seu encontro e pediu-lhe esmola. A jovem moura estendeu a mão
para o pedinte. E foi nesse momento que Abed lhe recitou a frase fatídica, olhando-a bem nos olhos:
— Para sempre ficarás encantada sob este terceiro arco da ponte que pisamos. Só o amor de um cavaleiro cristão,
não este que te roubou, poderá salvar-te. Mas esse cavaleiro não chegará jamais!
Soou um grito estridente de aflição. A jovem reconhecera Abed no mendigo. Mas nada mais pôde dizer. Como
fumo, ela desaparecera no espaço e Abed fugira antes de ser descoberto. Do caso, só as damas cristãs puderam falar.
Deu urros de furor o guerreiro português, vendo-se sem a sua amada. Mas a jovem moura não mais apareceu.
Levava o cavaleiro horas seguidas sobre a ponte, na ânsia de ver a moura encantada. Distribuiu dinheiro para que lhe
trouxessem Abed vivo, no intuito de o obrigar a desencantar a sobrinha do ex-alcaide. Mas tudo foi em vão. E a sua dor foi-
se empedernindo, até que morreu sem tornar a vê-la.
Mas o povo continuava a recordar o estranho acontecimento. O povo, que todos os anos ouvia suspiros e
lamentos de uma jovem encantada, pedindo ao transeunte a esmola de um beijo libertador...
E diz ainda o povo...
Certa noite, um cavaleiro cristão passou por ali. Era noite de S. João. Havia luar. Ouviu murmúrios. Desceu do
cavalo e perguntou:
— Quem está aí?
Uma voz doce respondeu:
— Preciso que me ajudes!
— Onde estás? Não te vejo!
— Aqui em baixo, na ponte, sob o terceiro arco!
O cavaleiro debruçou-se. Achou estranha aquela voz de mulher naquele lugar insólito, a uma hora daquelas.
— Estás ferida?
— Não. Sou moura encantada.
— E que devo fazer?
— Vem ter comigo!
— Mas eu não te vejo!
— Se desceres, ver-me-ás.
— E depois?
— Terás de beijar-me. É tudo!
— Beijar-te?...
Houve um silêncio, O cavaleiro olhou o crucifixo que trazia no fio de ouro colocado ao pescoço. Pensou um
momento. Ouviu como em surdina a voz da mãe a contar-lhe contos de fadas e de princesas mouras, quando ele era
pequeno. Relembrou o feito de antigos cavaleiros que perderam a alma por se entregarem ao feitiço das mouras
encantadas. E montou no cavalo, e galopou para não mais passar ali à meia-noite...
Desde essa hora, a moura do terceiro arco da ponte ficou ali encantada para sempre. Somente os seus queixumes,
os seus soluços magoados se elevam em noites de S. João, a atestar a sua eterna presença, como castigo de ter amado um
cavaleiro cristão.
Fonte Biblio MARQUES, Gentil Lendas de Portugal Lisboa, Círculo de Leitores, 1997 [1962] , p.Volume III, pp. 383-387
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Glossário:
1. Foi em 712 que os Mouros tomaram Chaves, de onde foram expulsos em 888. No ano de 1129 os
mouros voltaram a apoderar-se da cidade, sendo finalmente vencidos pelos cristãos portugueses em
1160.
2. Trata-se do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques.
3. Eram os cavaleiros Rui e Garcia Lopes, os quais deliberam conquistar Chaves aos Mouros e oferecer essa
conquista a D. Afonso Henriques. Diz-se que estes dois irmãos foram sepultados na igreja matriz de
Chaves.
Lenda s.f. 1. Relato oral ou escrito de acontecimentos reais ou fictícios do passado, aos quais a imaginação popular
ou o poder criador do poeta contador de histórias acrescentam novos elementos e cuja memória faz parte do
património cultural do povo; tradição popular.
1.1 Distingue o que será real e o que será fictício nesta lenda.
1.2 Em que época ocorreram os acontecimentos narrados?
1.3 Transcreve expressões que referem a transmissão oral e popular da lenda.
2. Resumimos esta lenda em doze frases que baralhámos:
a) Numa noite de S. João, um cavaleiro cristão passou sobre a ponte e ouviu uma voz de mulher, pedindo-lhe
que se aproximasse e a beijasse para a libertar do encantamento que a mantinha ali presa.
b) Vencidos os mouros, o guerreiro cristão e a jovem moura enamoraram-se um do outro e ficaram juntos.
c) No tempo da reocupação de Chaves pelos mouros o alcaide do castelo tornou noiva do seu filho Abed uma
jovem sobrinha muito bela.
d) A jovem foi condenada a ficar encantada sob o terceiro arco da ponte de Chaves , até que o amor de um outro
cavaleiro cristão a salvasse.
e) Temendo perder a alma, o cavaleiro cristão não atendeu aquele pedido e afastou-se.
f) Muitas mulheres fugiram, mas a jovem moura decidiu aproximar-se do local onde se travava a luta entre os
mouros e os cristãos.
g) Quando soube que a jovem moura era sobrinha do alcaide do castelo, o guerreiro mandou que levassem a
jovem para a sua tenda.
h) Desde então, nas noites de S. João, ouvem-se os soluços e os queixumes da jovem moura, que para sempre
ficou encantada.
i) Um dia, tendo-a visto sobre a ponte, Abed aproximou-se, lançando-lhe uma maldição.
j) Foi então que um guerreiro cristão a viu e lhe falou.
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k) Porém, Abed não perdoou à sua antiga noiva ter sido abandonado.
l) Um dia, os portugueses atacaram Chaves e o alcaide e o filho correram a defender o castelo.
2.1 Depois de numerares as frases pela ordem correta, copia-as e ficarás com um resumo desta lenda.
II – Gramática