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Marcos Nogueira
(orgs.)
Cognição Musical:
aspectos multidisciplinares
M438 Medeiros, Beatriz Ra poso de, Or g.; Nogue ira, Marcos, Org.
Cognição musical: aspe ctos multidisciplinares. / Organização de Bea triz Ra poso
de Medeiros e Marcos No gueira. – São Paulo: Paulis tana, 2008.
C DU 78
CDD 780
“Desceu aos trópicos... baixou meio tom” — Considerações sobre os dois Les
Adieux, de Neukomm e seus afetos
Edmundo Hora ....................................................................................................................... 35
Noção de tonalidade
J. Zula de Oliveira e Marilena de Oliveira .............................................................................. 42
Análise musical para a interpretação da arietta “Voi che sapete”, n. 12, Le nozze di
Figaro, k. 492, de W. A. Mozart
Lara Janek Babbar ............................................................................................................... 112
A voz que canta, a voz que fala: o timbre na construção do sentido em “Tribunal
de Rua”, canção de O Rappa
Peter Dietrich e Maria Rita Aredes....................................................................................... 221
Álgebra musical
W.M. Pontuschka ................................................................................................................. 453
SIMCAM4
Cognição musical: aspectos multidisciplinares
28 a 30 de maio de 2008, Universidade de São Paulo
Cabe ressaltar que a empreitada para a divulgação dos textos aceitos é antes de
tudo a organização dentro da organização. Em meio às muitas tarefas de
preparação do evento, a preparação dos Anais exige tempo e dedicação; assim,
sem a ajuda de mais gente, é tarefa quase impossível. Somos gratos ao Ricardo
Escudeiro (FFLCH-USP) e à Graziela Bortz (UNESP) pelo trabalho realizado
durante diferentes etapas da organização destes Anais. À Adélia Ferreira, da
Editora Paulistana, agradecemos a dedicação e interlocução ao longo de todo o
processo de editoração.
Esperamos ter feito o melhor para que a tradição dos SIMCAMs se mantenha
firme: possibilitar a divulgação das discussões e achados em torno da cognição
musical no Brasil. Naveguemos então neste CD, que possibilita acesso ao artigo,
seja por subtema do SIMCAM4 (A mente e a percepção musical, A mente e a
produção musical, Artes musicais, lingüística, semiótica e cognição, Tecnologia,
artes musicais e mente, O desenvolvimento paralelo da mente humana e das artes
musicais), seja pelo sobrenome do autor. Fazemos votos que a navegação leve
aos portos desejados e desvende novas paragens. Até o SIMCAM5!
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Anais do SIMCAM4 – IV Simpósio de Cognição e Artes Musicais — maio 2008
Alexandre Porres
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Anais do SIMCAM4 – IV Simpósio de Cognição e Artes Musicais — maio 2008
Figura 1 [Aguilar 2005] – Os quatro modos: 1) Escutar é estabelecer relações indiciais. 2) Ouvir é receber o som bruto
sem qualidades extrínsecas anexadas. 3) Entender é a escuta de qualidades sonoras intrínsecas que o ouvinte deseja
perceber. 4) Compreender é estabelecer relações simbólicas entre objetos, pode ser visto como uma “escuta musical”, ou
seja, o som como um signo de valor.
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A Escala do Chromelodeon:
Um Modelo Psicoacústico de Rugosidade versus One Footed
Bridge de Harry Partch
Alexandre Porres
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Anais do SIMCAM4 – IV Simpósio de Cognição e Artes Musicais — maio 2008
1. Fundamentação Teórica
Figura 2 – Escala de um espectro ligeiramente inarmônico (notar o Vale logo acima de uma Oitava). As
linhas horizontais demarcam os Picos e Vales do gráfico.
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1.2 O Sistema de Harry Partch e One formados por relações até o 11º
Footed Bridge harmônico podem ser afinados de
ouvido. Seu sistema baseia-se nas
A partir dos experimentos de escalas de seis notas O-tonality e U-
afinação com o Chromelodeon, Partch tonality1 – as “Tonalidades” de Partch,
afirmou que, ao eliminar as sensações como descritas a seguir.
de Batimentos e Rugosidade, intervalos
A O-tonality é formada pelas 1/5, 1/6, 1/7, 1/8, 1/9, 1/10, 1/11, ..., ∞].
relações dos 1º, 3º, 5º, 7º, 9º e 11º Essas escalas, transpostas, geram um
harmônicos, que é, para Partch, uma Sistema com 43 notas por Oitava, que
expansão do material até então ainda comportam 7 O-tonalities e 7 U-
incrustado nas relações até o 5º tonalities completas (além de outras
harmônico. A U-tonality é uma simples incompletas). Partch separa os 43 graus
inversão (a Quinta inverte para a de seu sistema em quatro categorias de:
Quarta, a Terça Maior para a Sexta Poder (Uníssono, Quinta, Quarta e
Menor, etc.), que possuem relações que Oitava), Suspense (Trítonos), Emoção
não se encontram na Série Harmônica – (Terças e Sextas) e Aproximação
em múltiplos da fundamental [1, 2, 3, 4, (Segundas e Sétimas). Essas também
5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, ..., ∞] – e sim em são descritas em One Footed Bridge.
uma Série Harmônica invertida – ou
“Série Subarmônica” [1, 1/2, 1/3, 1/4,
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Figura 3 – One Footed Bridge. O gráfico, dividido no meio e espelhado, é uma estimativa de Consonância por Partch
de seu Sistema. O eixo horizontal, na metade de cima da esquerda para a direita, é o trecho do Uníssono a 600 Cents,
e o eixo vertical (de baixo para cima) é a Consonância. Já a metade de baixo (600 cents até a Oitava, da direita para a
esquerda) é a Consonância representada no sentido de cima para baixo. A forma espelhada desse gráfico demonstra
como todos os intervalos do Sistema de Partch possuem uma inversão.
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1,00
0,75
0,50
0,25
0,00 63
57
50
44
38
32
26
19
13
07
01
4
9
19
38
58
77
96
11
13
15
17
19
21
23
25
27
29
31
Figura 4 – Representação dos 16 primeiros harmônicos do Chromelodeon.
Eixo vertical é a Amplitude Relativa, eixo horizontal são os valores em Hertz.
3. Resultados
Figura 5 – Resultado para o Chromelodeon. Eixo horizontal igual a intervalos em cents a partir de 194Hz.
Eixo vertical é a Rugosidade em porcentagem relativa. Vales mais proeminentes ressaltados por flechas.
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Ordem %Diss. Razão Cents Categoria T Ordem %Diss. Razão Cents Categoria T
1 28.30% [2:1] 1200 Poder O/U 10 46.18% [7:5] 583 Suspense X
2 34.21% [1:1] 0 Poder O/U 11 46.25% [4:3] 498 Poder U
3 40.81% [5:3] 884 Emoção X 12 46.97% [8:5] 814 Emoção U
4 42.11% [11:6] 1049 Aprox X 13 47.11% [11:8] 551 Suspense O
5 42.30% [3:2] 702 Poder O 14 47.59% [12:7] 933 Emoção X
6 45.05% [7:4] 969 Aprox. O 15 50.49% [5:4] 386 Emoção O
7 45.82% [11:7] 783 Emoção X 16 58.11% [6:5] 316 Emoção X
8 46.00% [16:9] 996 Aprox. U 17 58.29% [7:6] 267 Emoção X
9 46.12% [10:7] 617 Suspense X 18 78.01% [11:10] 165 Aprox. X
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Angelo Martingo
angelomartingo@gmail.com
Resumo: O estudo relatado procurou testar a repetição como fator de preferência na recepção
musical. Para tal, 19 estudantes de música do ensino superior são solicitados a avaliar numa
escala de 1 (menor) a 7 (maior) a coerência, expressividade, fluência, tensão, controle da
dinâmica, controle da agógica de 7 gravações dos 9 compassos iniciais do 2º andamento da
Sonata Op. 53 de Beethoven (Waldstein), em que a 7ª Gravação era uma repetição da 6ª. A
análise das pontuações atribuídas à interpretação repetida mostram que todos os parâmetros,
sem excepção, recebem pontuações médias mais altas na segunda audição, sendo que em 5 dos
7 parâmetros essa diferença assume um nível significativo (p< 0,05).
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Foi então dado a ouvir o conjunto das 7 Observou-se que todos os parâmetros,
interpretações após o que se solicitou sem excepção, receberam, em média,
avaliar numa escala de 1 (menor) a 7 pontuações mais altas na segunda
(maior) cada uma das interpretações audição da interpretação repetida – a 7ª
relativamente a 7 parâmetros, gravação. Designadamente, as
nomeadamente: coerência, controle da pontuações atribuídas à gravação 7,
dinâmica, controle do tempo, foram significativamente superiores às
expressividade, tensão, fluência, e classificações atribuídas à gravação 6
avaliação global. nos parâmetros ‘domínio do tempo’,
‘tensão’, ‘expressividade’, ‘fluência’ e
4. Resultados ‘avaliação global’ (p< 0,05). Os
parâmetros ‘coerência’ e ‘domínio da
O estudo agora relatado é parte dinâmica’ receberam em média
de uma investigação mais vasta sobre pontuações mais altas na segunda vez
preferências musicais, que leva em em que foi dado a ouvir a gravação
conta a teoria desenvolvida por Lerdahl repetida, embora não a um nível
(2001) em Tonal Pitch Space. O significativo (p> 0,05).
estímulo foi desse modo elaborado
levando em conta a existência ou não de 5. Conclusões e discussão
correlação entre desvios expressivos e
os valores de Tensão e Atracção Os modelos estruturais da
previstos por Lerdahl para o fragmento tonalidade têm vindo a revelar-se como
em questão. A esse propósito são poderosos instrumentos não só analíticos
actuais as conclusões relatadas em como também explicativos da percepção
Martingo (2007b). Em particular, e da performance musical (e.g., Todd
verifica-se que os sujeitos não 1985; 1992; Krumhansl 1990; Repp
descriminam entre os parâmetros que 1990, 1992a, 1992b; Smith & Cuddy
são solicitados avaliar, e que recebem 2003). No mesmo sentido, os dados
pontuações mais altas as interpretações avançados por Martingo (2006; 2007a;
em que se verificam correlações a nível 2007b) corroboram os modelos analíticos
significativo entre desvios expressivos e e perceptivos estruturais existentes, ao
os valores de Tensão e Atracção mostrar que recepção musical é
previstos por Lerdahl (cf. Martingo influenciada pela relação entre desvios
2007b). Dentro do objectivo traçado, expressivos e estrutura musical, não
serão agora unicamente relatados os obstante a ausência de descriminação
resultados obtidos relativamente às entre factores evidenciada. Sem prejuízo
pontuações atribuídas à interpretação de da eficiência destes na percepção e
Barenboïm que, embora sem o recepção musical, e no seguimento de
conhecimento dos sujeitos, foi dada a resultados anteriores obtidos por Cook
ouvir em duas audições sucessivas e (1987), a repetição revela-se aqui também
apresentada como Gravação 6 e como factor de preferência.
Gravação 7.
Para verificar da existência de 6. Subáreas de conhecimento
diferenças estatisticamente significativas entre as
classificações atribuídas às gravações 6 e 7, foi Cognição, interpretação, recepção,
utilizado o teste paramétrico t para 2 percepção.
amostras emparelhadas, relativamente a
cada uma das características em análise.
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César Traldi
UNICAMP
ctraldi@nics.unicamp.br
Jônatas Manzolli
UNICAMP
jonatas@nics.unicamp.br
Resumo: Este artigo apresenta aspectos teóricos sobre a interpretação de obras que envolvem
elementos sonoros, visuais e o espaço físico. A relação entre a natureza e o significado da
música é apresentada no contexto da interação com outros domínios diferentes do sonoro.
Discute-se que tanto intérpretes como espectadores ainda não estão familiarizados com a
diversidade de elementos e expressões num contexto multisensorial. Duas composições que
abordam este tema são apresentadas. Na primeira desenvolve-se a interação entre som e luz e na
segunda entre o som e o tato. Finalmente, discute-se que em obras desta natureza amplia-se a
dimensão da interpretação através de uma ação co-criativa.
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multimídia para ser realizado nos ponto inicial do trabalho, explorar esta
Himalaias. Nesta grande obra final, possível comunicação multisensorial
Scriabin buscava uma interação entre como caminho para construção de uma
misticismo e todas as artes. nova visão interpretativa.
Além da visão de um compositor
como Scriabin, Peirce (1998), amplia a 3. Interação entre Som, Cor e Espaço
discussão sobre a interação entre os
sentidos, ao comentar que há um A relação entre cores e os sons
continuo onde todas as sensações estão esta presente no processo histórico da
integradas. Ele aponta para as múltiplas civilização. Prova disso são as inúmeras
possibilidades sensoriais do homem, da e variadas expressões utilizadas pelos
especialização e da intensificação de músicos para descrever aspectos do
alguns sentidos e da dormência de sonoro, tais como: cromatismo,
outros, em decorrência da habituação brilhante, escuro, etc. A relação de
advinda do cultural: elementos musicais com as cores é
muito empregada, especialmente para
Peirce (1998, p.132) “Não ilustrar aspectos do timbre e da altura. A
podemos formar agora mais que própria definição de timbre, muitas
uma débil concepção da
continuidade das qualidades
vezes, é encontrada como sendo a “cor
intrínsecas do sentir. O de um som”.
desenvolvimento da mente O estudo das correlações entre
humana extinguiu praticamente som e cores ocorre há séculos. Algumas
todas as sensações, exceto uns tentativas de criar uma correspondência
poucos tipos esporádicos, como
sons, cores, odores, calor etc, que
entre as notas e determinadas cores são
aparecem agora desconectados e muito antigas. No século XVII são
separados [...] Mas dado um encontrados Mersenne, Kircher e
número determinado de Castel, três pensadores jesuítas que
dimensões do sentir, todas as pesquisaram e criaram modelos sobre as
variedades possíveis são obtidas,
variando as intensidades dos
relações dos sons e das cores.
diferentes elementos [...] Segue- Segundo Caznok (2003, p. 38)
se, pois, da definição de “embora as propostas de
continuidade, que quando está correspondência dos três jesuítas entre
presente qualquer tipo particular sons e cores não seja coincidente termo
de sensação, está presente um
contínuo infinitesimal de todas as
a termo, algumas constantes aparecem
sensações, que se difere daquele nas idéias de Mersenne e Castel”. Essas
infinitesimalmente.” constantes seriam o aproveitamento das
idéias de Newton a respeito da refração
Muitos compositores já têm das cores e a relação entre sons graves
criado processos composicionais para com as cores escuras e dos sons agudos
explorar estas dimensões. Essas novas com as clores claras. A partir de 1890
formas de expressão artísticas, Caznok surgiram inúmeros aparelhos que
(2003, p.216) “longe de ser uma relacionavam som e cores, entre eles
interferência ou uma muleta, a união da estão: o órgão silencioso construído em
visão com a audição no momento da 1895 por Wallece Rimington (1854-
escuta tem sido um meio de 1918) e o Clavilux apresentado em
presentificar uma forma de percepção 1922, pelo holandês Thomas Wilfrid
cuja base está assentada sobre a (1889-1968).
comunicação entre os sentidos.” Este é
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Figura 1: Ilustração do desenho derivado da interação entre os movimentos das baquetas e as cores
destacadas pelo efeito “fluorescência” da luz negra.
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Edmundo Hora
Unicamp
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Pianoforte, que é a utilizada atualmente na Itália como aqueles que estão na base dos sistemas
para o piano moderno. com divisões múltiplas.
3 18
Conjunto de conceitos afetivos designados às Convém ressaltarmos aqui que para a
diferentes tonalidades da música ocidental por formação deste intervalo, se faz necessário uma
diferentes tratadistas europeus, compreendendo seqüência de quatro quintas. O grau de
os séculos XVII ao XIX. estreitamento destas mesmas quintas resultará
4
A nossa proposta refere-se à consulta aos na pureza ou não da terça.
19
trabalhos teóricos das fontes primárias, relativos Poucos são atualmente os estudos relativos às
ao tema, nos sécs. XVIII e início do XIX. Ver questões das afinações e temperamentos antigos
Rita Steblin em sua Tese Key Characteristics... em língua portuguesa. Contudo, o leitor deve
1981. consultar a Tese de Edmundo Hora sobre o
5
Muitos trabalhos tem sido realizados temperamento mesotônico, defendida no
atualmente no sentido de difundir os conceitos Instituto de Artes da Unicamp em 2004.
20
que envolviam as inúmeras possibilidades de Regras de Composição. Publicado em Paris.
divisão da oitava, proporcionando cores e afetos c.1692.
21
especiais à cada tonalidade. Mencionamos aqui o nosso Padre Mestre,
6
MATTHESON, Johann. Das neu-eröffnete seguramente o compositor e instrumentista
Orchestre. Hamburg, 1713. p. 232. brasileiro mais significativo que atuou na
7
Acompanhava como convidado do duque de Capela Real, porém com formação musical até
Luxemburgo, que vinha ao Brasil em missão então desconhecida.
22
diplomática. BERNARDES, Ricardo. “Música no Brasil
8
Significativa a Dissertação defendida por séculos XVIII e XIX”. In: CORTE DE DOM
Mayra Pereira na Escola de Música da UFRJ em JOÃO VI. Rio de Janeiro: Funarte Vol. III.
2005. 2002.
9 23
Adriano de Castro Meyer apresentou seu SIEVERS, Giacomo Fernando. Il Pianoforte
artigo no Simpósio de Musicologia Histórica em – Guida pratica per Construtori, Accordatori,
Curitiba-Pr, no ano de 2000. A ele agradecemos Dilettanti et Possessori di Pianoforti. Ghio,
a cessão das cópias manuscritas dos dois Les Naples 1868. p. 155. A escolha pelas indicações
Adieux. de Sievers se dá por razões político-sociais. A
10
Tratadistas como Mattheson (1713), Rousseau Áustria representava naquele momento o Norte
(c. 1749 e 1768), Gardiner (1817) e Castil-Blaze de Itália e o sul da Alemanha. O ano de 1830
(1821) comungam os mesmos conceitos em revela o quão tardiamente permaneceram
relação às tonalidades mencionadas. aquelas instruções.
11 24
Segundo Steblin (1981, p. 283 e 284) para Mi SCHWARCZ, Lilia Moritz. A longa viagem
Maior os autores do período - Gardiner (1817) da Biblioteca dos Reis. Companhia das Letras.
indicam: “Radiante e transparente” e Castil- São Paulo, 2002. p 305.
Blaze (1821): “Alegre, brilhante, ou marcial”.
12
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Dictionnaire, p.
502.
13
Rousseau. Dictionnaire , p. 517.
14
Curiosamente Rameau até 1726 (Nouveau
Systeme, p.107-114) defendia o temperamento
ordinaire [temperamento desigual], comum em
seu tempo. A partir de 1737 (Generation
Harmonique....), ele passa a defender
ardentemente o temperamento igual.
15
Note que o referido temperamento aqui
mencionado é o igual. O sistema padrão do
século XX para a música ocidental, que divide a
coma pitagórica em 12 partes exatamente iguais,
a saber -1/12P.
16
Rousseau, Ibidem, p. 517.
17
Termo que designa um intervalo residual
correspondente à diferença de duas séries de
intervalos. Aplicando-se igualmente e por
extensão, a toda a espécie de micro-intervalo,
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Noção de tonalidade
J. Zula de Oliveira
ICB –USP
jzula@icb.usp.br
Marilena de Oliveira
marilenoliveira@uol.com.br
Definir tonalidade é uma tarefa escalas. Todos eles têm uma função
difícil. Todavia, o fato histórico é que, dentro do todo e são igualmente
por cerca de cinco séculos, ela tem importantes na composição da estrutura
constituído a base para que se entenda a harmônica, contribuindo com o
linguagem musical e talvez, por afloramento da tonalidade. O que dá
conseguinte se a tenha admitido sem origem à(s) tonalidade(s) é a
discussão. funcionalidade entre os graus das
Faz parte da discussão sobre a escalas.
noção de tonalidade o estudo de dois A principal característica de uma
elementos: escala é o seu “fechamento”, ou seja:
a) O estudo das escalas começando com um determinado som
diatônicas e cromáticas, e (p.ex. um som que tenha 256 Hz, o seu
b) a dependência (ou fechamento dar-se-á com o som que tem
funcionalidade) dos graus das o dobro da freqüência do som inicial, ou
escalas entre si. seja, 512 Hz). Costumo chamar este
A tonalidade só se efetiva fenômeno de módulo da escala. O
quando ouvimos as funções módulo contém 6 tons. A distribuição e
estabelecidas entre os graus das escalas. o número de graus dentro do módulo de
Se alguém não consegue ouvir estas uma escala são variáveis que definem o
funções, ou seja, a relação de modo da escala. Existem escalas com,
dependência entre os graus das escalas, desde três até doze graus. As mais
não existe tonalidade para esta pessoa. conhecidas são as escalas de cinco sons
Portanto, tonalidade é um evento (as pentatônicas), as de oito sons (as
subjetivo. A noção de função dentre os diatônicas) e as de 12 sons (as
graus da escala é que faz com que se cromáticas).
possa falar em escala, que apesar de ser Os modos das escalas são
determinada fisicamente, através de determinados pela distribuição dos
cálculos matemáticos que remontam a intervalos entre os graus da escala
Pitágoras1, não significa muito se não se dentro do módulo. Desta forma fala-se
consegue ouvir a funcionalidade de seus em modalidade antiga (modos gregos e
graus. Há quem denomine esta litúrgicos), modalidade renascentista
funcionalidade de “hierarquia”. (os sete modos usados no ocidente no
Pessoalmente não gosto muito deste período da Renascença: dórico, frígio,
termo, uma vez que é difícil estabelecer lídio, mixolídio, eólio, lócrico (ou
uma hierarquia entre os acordes das jássico) e jônico2), modalidade clássica
(os modos clássicos que se firmaram
1
Pitágoras (do grego Πυθαγόρας) foi um
nos século XVIII e XIX: o modo maior
filósofo e matemático grego que nasceu em derivado do modo jônico e o modo
Samos pelos anos de 571 a.C. e 570 a.C. e
morreu provavelmente em 497 a. C. ou 496 a.C.
2
em Metaponto (Wikipédia) Estes nomes têm origem em províncias gregas.
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O termo Key (inglês) ou acorde- necessário que seja usado todo o campo
chave é bem expressivo quando harmônico da escala em questão, mas
desempenha um papel importante na pelo menos três acordes são básicos
composição da funcionalidade entre os para definir a tonalidade: a) o acorde
graus (acordes) da escala em uma peça sobre o Iº Grau: acorde de Tônica –
musical. Esta funcionalidade, que maior ou menor, de acordo com a
estamos chamando de funcionalidade escala. A tônica, dentro do discurso
tonal, parece não existir no universo, musical desempenha um caráter de
uma vez que existe apenas em nossa partida, conclusão, estabilidade,
mente, como função de nossas parada, repouso. É elemento de
experiências com o estilo músical repetição; b) O acorde sobre o Vº grau:
(principalmente o estilo clássico), com a acorde Dominante - o acorde de
gramática que está sendo usada e com dominante é sempre maior, mesmo nas
esquemas mentais que todos nós tonalidades menores. A dominante tem
desenvolvemos para termos condições um caráter de tensão, instabilidade,
de entender a música (Levitin, 2006). movimento, conflito; pede resolução.
Toda música “tonal’ tem uma Também é elemento de contraste. c) o
sonoridade recorrente, um centro tonal, acorde de IVº grau: acorde de
a tônica (Key), que até pode mudar Subdominante - maior ou menor, de
durante o curso de uma música acordo com a escala que está sendo
constituindo as chamadas modulações6. usada. A subdominante desempenha no
Mas por definição o acorde-chave discurso musical a função de
geralmente é um acorde que permanece movimento, afastamento. É também
por um período de tempo relativamente elemento de contraste, conflito. Nestes
longo, durante o curso da música, coisa três acordes estão contidas todas as
da ordem de minutos (Levitin, 2006). notas da escala à qual pertencem e isto é
Nossa memória está possuída desta o suficiente para definir a tonalidade. A
sonoridade e com ela estabelece a disposição seqüencial dos acordes é
relação de todos os acordes de uma feita obedecendo a uma ordem
escala. A sensação de tonalidade é o acusticamente lógica, resultando disto o
resultado de um processamento neural que chamamos de cadências (o termo
da funcionalidade dos acordes. Portanto, vem de “cadere”: cair, desabar,
tonalidade é um substrato neurofísico, desembocar, competir). As cadências
decorrente de processamentos neurais constituem a pontuação harmônica do
de eventos sonoros. Nâo existe fora do discurso musical. A esta pontuação dá-
ouvinte. se o nome de função.
O Anexo que acompanha a esta Para concluir: Tonalidade, um
exposição exibe o campo harmônico de postulado estabelecido arbitrariamente e
Dó maior. O campo harmônico de uma imposto pelo uso? Ou a resposta a uma
escala é que faz aflorar a tonalidade necessidade e a um sentimento natural
decorrente da respectiva escala. Para do ser humano (obviamente de quem
que se tenha condição de “intuir” a ouve tonalidade, pois para os que não a
noção da tonalidade de uma peça não é ouvem, não existe tonalidade na prática.
Mesmo assim, ela existe no campo
ontológico)?
6
Modulação é um termo impróprio para o
significado em que é usado. Deveria significar
“mudança de modo” o que geralmente não
ocorre. O termo “tonulação” seria mais
condizente com a situação em que de fato não
mudança de modo, mas apenas de tom
(Chailley, 1951).
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Referências bibliográficas:
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Patrícia Vanzella
UNB
pvanzella@yahoo.com
Maria Gabriela M. de Oliveira
Mariana Werke
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Resumo: O presente artigo apresenta parte de uma pesquisa teórica mais ampla sobre os
aspectos da percepção e performance em tempo real. Introduz o conceito de Ação Simultânea
(AS) como um processo mediado pela memória sensorial no contexto de interação na prática
musical. O objetivo principal é caracterizar a AS como um dos processos possíveis de
percepção em tempo real na prática da performance e também no treinamento auditivo. O
método relaciona elementos do processo de interação musical aos aspectos do processo de
aprendizagem. São dados exemplos da aplicação da AS na performance, no solfejo e no ditado
musical em tempo real.
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Ricardo Goldemberg
UNICAMP
ricardo@nics.unicamp.br
Cristiane Otutumi
UFRN
cristianeotutumi@yahoo.com.br
Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar os procedimentos metodológicos utilizados
na dissertação ‘Percepção Musical: situação atual da disciplina nos cursos superiores de
música’, defendida na Unicamp, cujas ações principais foram unir duas linhas de pesquisa, ou
seja, a quantitativa e a qualitativa para enriquecer e complementar a investigação sobre o objeto
de estudo. A análise de conteúdo, segundo as proposições de Bardin (2002), referência
importante nesse trabalho, trata-se do desvendamento de significações de diferentes tipos de
discursos, baseando-se na inferência ou dedução, mas que, simultaneamente, respeita critérios
específicos propiciadores de dados em freqüência, em estruturas temáticas, entre outros. Apesar
de essa técnica estar mais evidente na parte qualitativa – na organização e análise das entrevistas
com professores da matéria – algumas condutas também foram aplicadas na seção quantitativa –
na qual as respostas dos questionários, com um público maior de docentes, puderam ser tratadas
e apresentadas. Dessa forma, a metodologia escolhida contribuiu muito para um panorama
minucioso da disciplina no Brasil, confirmando fatos costumeiramente ditos pelos professores,
revelando outros novos e exprimindo riqueza de detalhes de suas ações pedagógicas.
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Snizhana Drahan
snid@terra.com.br
Resumo: O presente trabalho considera o conceito “percepção vocal”, incluindo suas funções e
recursos, como a capacidade de ouvir, conscientizar e fazer, através dos seguintes tipos de
recepção sensorial: controle auditivo, sensação muscular, sensibilidade vibracional e visão. Uma
breve descrição sobre cada um deles revela a sua importância no processo de desenvolvimento
de uma percepção profissional. Ao mesmo tempo é analisada a interligação da percepção vocal
com outra habilidade auditiva, a percepção interna, determinando as diferenças e as
peculiaridades no processo vocal. A discussão a respeito destes elementos chama atenção para
outras habilidades ligadas à percepção, que são a memória musical e a recepção musical. A
presente pesquisa também apresenta um dos métodos de aperfeiçoamento da capacidade
auditiva, oferecendo um exercício prático, em anexo. Este trabalho tem por objetivos a
ampliação do referido conceito, trazendo para realidade brasileira a reflexão sobre o seu
desenvolvimento além do conhecimento da Escola de Música da Rússia e Ucrânia, que foi
adquirido pela autora com os anos de pesquisa teórica e prática. Assim, a discussão é alicerçada
na pesquisa da literatura russa e ucraniana sobre o assunto e tem o foco central baseado no
trabalho de Vladimir Morózov. As conclusões, colocadas aqui em forma abreviada, destacam a
atual importância e o lugar da percepção vocal na produção coral. Metodologicamente este
trabalho baseou-se em procedimentos de busca, comparação e análise da literatura supracitada,
seguidos de reflexão e formulação para adequação à realidade brasileira.
supracitada: “composição –
Introdução. A Regência é uma interpretação – recepção”. E não só
parte muito importante da interpretação participa, mas torna-se o princípio
e produção musical, onde mais organizador e criador no processo que
profundamente se revela a sua essência. nasce no momento em que o regente vê
A responsabilidade do regente é grande, a partitura pela primeira vez.
pois ele aparece como intermediário Escolhendo a obra, o regente a reproduz
necessário entre compositor e ouvinte e na mente em primeiro lugar, criando em
está no centro da corrente: “composição seguida o quadro musical imaginário.
– interpretação – recepção”. Ele deve Depois, nos ensaios, e, posteriormente,
possuir muitas habilidades pessoais e no concerto, ele tentará realizar a
musicais para participar genuinamente imagem musical desenvolvida por ele.
de todos os elos desta corrente. Por fim, durante o concerto, estando à
Refletindo sobre as habilidades frente do conjunto, além de controlar a
do regente, chegou-se ao tema desta execução prevenindo as falhas
pesquisa – a percepção do regente – que possíveis, o regente deverá analisar o
é uma das mais importantes habilidades resultado sonoro em relação à imagem
musicais, não somente do regente, mas musical criada por ele e, ao mesmo
de qualquer músico. Ela participa do tempo, ativar a própria recepção crítica,
trabalho do início ao fim e é necessária pois, ele é intérprete, ouvinte e crítico.
em todos os elos da corrente
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Ilustração 1
Ilustração 2
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Ilustração 3
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Alexandre Loureiro
alexl@alexl.info
Resumo: Antes da criação de uma notação apropriada, a música era transmitida e preservada
pela tradição oral. Com o passar do tempo, os próprios criadores, dependentes unicamente da
memória, provavelmente perdiam ou iam modificando suas composições. Isso tudo
eventualmente contribuiria para a utilização de formas mais simples, a proliferação de
variações, o predomínio da improvisação, etc. Com isso, por falta de registro, todo um universo
de tradições musicais estava fadado ao esquecimento, ao desaparecimento numa “pré-história
musical”.
Com a invenção da escrita musical, as canções poderiam ser registradas para a posteridade,
tocadas, cantadas e transmitidas por outros que não os próprios autores. Além disso, formas
mais complexas começaram a surgir. A composição, que originalmente era uma experiência
sonora, uma combinação de idéias tocadas e ouvidas, começa aos poucos a ganhar outra
dimensão: o registro das idéias musicais permite uma posterior análise das mesmas e,
conseqüentemente, uma elaboração de “estruturas discursivas mais densas e extensas”. Um
universo de novas ferramentas amplia de forma impressionante as possibilidades do compositor
e transforma radicalmente a maneira de se fazer e ouvir música no ocidente.
À medida que os processos de criação musical vão se afastando da experiência meramente
sensorial para se aprofundar no desenvolvimento de estruturas intelectualmente muito mais
complexas, o ato de compor começa a se transformar cada vez mais numa experiência espaço-
visual, uma exploração de possibilidades matemático-geométricas. A escrita musical, ferramenta
criada para representar a música, passa a ser, ela própria, o objeto a ser criado, analisado e
julgado, muitas vezes em detrimento de seu resultado sonoro. É certo que processos como a
retrogradação (execução de uma linha melódica de trás para frente) ou o dodecafonismo
(técnica composicional baseada numa seqüência com as 12 notas cromáticas, sem que nenhuma
seja repetida até que as outras 11 sejam tocadas), que só músicos muito bem treinados podem
identificar simplesmente pela audição, são frutos diretos dessa tecnologia gráfica para compor,
porém, a despeito de toda as possibilidades que a escrita musical trouxe, como em qualquer
forma de representação, ela possui limites e também "facilidades" tendenciosas. A música feita
no ocidente nos últimos séculos, com a predominância de métricas regulares e o abandono dos
intervalos microtonais, foi um fruto direto dos limites desta forma de representação musical.
No começo do século XX, alguns compositores começam a explorar novos recursos, fazendo
uso de equipamentos elétricos e eletrônicos, acabam por desenvolver uma linguagem com
ênfase em sonoridades impossíveis de serem obtidas pelos meios acústicos convencionais. Uma
música que os instrumentos tradicionais não poderiam produzir, instrumentistas não poderiam
executar e para qual a escrita convencional não apresentava soluções. A música dispensava a
escrita, rompia sua relação com a representação gráfica em prol de uma experiência estritamente
sonora. Com essa prática, a criação musical voltava a ganhar espaço como experiência auditiva
em vez de visual.
Atualmente, com os computadores, seqüenciadores MIDI editores não-lineares de áudio e tantas
novas ferramentas privilegiando e facilitando a experiência da “composição auditiva”, estaria a
escrita musical tradicional fadada a extinção?
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António Salgado1
University of Aveiro
f1180@ua.pt
Resumo-abstract: The main contribution of this paper aims to discuss body language within
musical performance, and to contribute to a theory of Gesture as a practice within musical
performance. Based on a point-light technique approach, empirical evidence has shown that the
abstract movement of the point lights (resulting from the video recording of a series of facial
movements while experienced singers expressed different emotions in singing performance) had
sufficient dynamic information to be recognised by an audience according to the emotional
intention performed by the singer. It seems, then, that performers, conscious or unconsciously,
use physical gestures associated with emotional states and other expressive issues as a basis for
shaping musical expression. Ultimately, it is possible to consider that bodily movements may
function as indicators of expressive intentions of the performer and, when linked to important
music structures, may also be seen as given musical expression to emotional states presented
through the music.
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it but through which we are able to Proxemic Behaviour), and aware of the
think the gestural practice). dangers of importing linguistic models
to analyze gestural communication.
B) This Theory of Gesture should take
into consideration that gestures share Subáreas de Conhecimento-Other
certain characteristics, being, according Subjects
to Hatten (1995:L2:5-6):
A mente e a percepção musical; a mente
a. analog, as opposed to digital or e a produção musical; artes musicais,
discrete, lingüística, semiótica e cognição.
b. hence, continuous in a
productive sense of continuity Bibliografia-Bibliography
(…)
c. having articulate shape, Bassili, J.N. (1979). Emotion
d. possessing hierarchical potential recognition: The role of facial
e. characterized by a significant movement. Journal of Personality and
envelope (pre- and post- Social Psychology, 37, 2049-58.
movement can substantially Birthwhistell, R.L. (1954). Introduction
affect the quality of the gesture), to Kinesics, Louleville, University of
f. being contextually constrained Louville Press, 1954 (1st Ed.
and enriched, and Washington, 1952).
g. typically foregrounded. (…)
Clarke, E. (1985). Structure and
h. being beyond precise notation or
expression in rhythmic performance. In
exact reproducibility, but
P. Howell, I. Cross and R. West (eds.)
i. amenable to type-token
Musical Structure and Cognition, pp.
relationships via cognitive
209-36. London: Academic Press.
categorization or even
conceptualization, and thus, Clifton, T. (1983). Music as heard: A
j. potentially systematic to the Study in Applied Phenomenology. New
extent of being organized Haven CT: Yale University Press.
oppositionally by type, as in Clynes, E. F. (1977). Sentics: The touch
gestural ¨languages¨ or ritual of emotions. New York: Doubleday.
movements,
k. Posture should be considered as Clynes, M. (1980). Transforming
gesture ¨under a fermata¨. (…) emotionally expressive touch to
The posture reverberates with similarly expressive sound. In
the resonance of the implied Proceedings Tenth International
gesture of an agent. Acoustic Congress, Sydney.
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1
Address for correspondence: Salgado,
António, Department of Art and
Communication, University of Aveiro, 3800
Aveiro-Portugal; Email: salgado@ca.ua.pt.
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Bernardo Pellon
bernardopellon@yahoo.com.br
Resumo: Usando como roteiro Davies (2001) foi feita uma revisão bibliográfica de conceitos
filosóficos que tentaram explicar a relação entre música e emoção. O objetivo foi encontrar
definições conceituais para auxiliar uma pesquisa em andamento. Foram constatadas deficiên-
cias em algumas teorias e encontrada a teoria do contorno que apresenta as melhores ferramen-
tas conceituais para uma pesquisa que pretende mostrar como a estrutura musical estabelece um
paralelo com emoções.
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a partir da música. Mas negar que essa musical. Além disso, músicos e não-
seja a condição que torna verdadeira a músicos acessam esses significados com
expressão da emoção por aquela. O que a mesma facilidade, não sendo necessá-
acontece é o inverso: por a música ex- rio nenhum estudo musical específico.
pressar uma emoção é possível se emo- Sendo assim, como se dá o en-
cionar ao escutá-la. As reações diante tendimento e a percepção da emoção em
da música são heterogêneas e é perfei- música? A teoria do contorno (contour
tamente possível o reconhecimento da theory) é talvez a melhor para a pesqui-
expressão emocional diante de uma mú- sa em questão. Esta abandona a expres-
sica sem que ocorra necessariamente sividade musical como dependente da
uma reação emocional no ouvinte. Isso sua conexão com emoções sentidas.
mostra que existe uma dependência mú- Observa que comportamentos, procedi-
tua entre nossa experiência com a músi- mentos, aparências e fisionomias são
ca e o julgamento que fazemos dela de experimentadas como expressivas sem
acordo com suas características. O que estarem expressando emoções ou serem
não implica um possuir precedência conseqüências de emoções. Sua aparên-
explanatória em relação ao outro. cia possui características das emoções.
O cachorro da raça São Bernardo possui
3.3 Teoria do contorno feições de tristeza, e o salgueiro chorão
lembra choro. O cachorro é senciente
Gabrielsson & Lindström (2001) para sentir emoção, contudo sua feição
propõem que um compositor com a in- não indica que está triste. Da mesma
tenção de criar uma música expressiva forma o salgueiro-chorão parece estar
de emoção utiliza os fatores estruturais chorando, como o próprio nome diz,
para atingir uma certa expressão emo- mas, sendo uma planta, não está cho-
cional que pode não ter nenhuma ou rando e muito menos triste. São seres
pouca relação com seu estado de espíri- cujos contornos lembram estados emo-
to. Dentre os fatores mais usuais pode- cionais, mas não representam uma ex-
mos citar o tempo, intensidade sonora, pressão de uma emoção sentida.
dinâmica, altura, modo, melodia, tim-
bre, articulação, ritmo e harmonia. A
pesquisa dos autores se baseia basica-
mente em encontrar de que maneira
esses fatores são apresentados para cada
emoção em música. Por exemplo, uma Figura 1 - São Bernardo
música alegre ser usualmente rápida e
pouco provavelmente lenta. Para os
autores a emoção percebida depende
tanto dos fatores da estrutura composi-
cional quanto da performance. Contudo,
a percepção da expressão emocional Figura 2 - Salgueiro-Chorão
deve ser distinta da reação emocional
individual do ouvinte, ou seja, da emo- A teoria do contorno propõe que
ção sentida. Sloboda & Juslin (2001) peças apresentam características
das emoções, ao invés de dar ex-
colocam semelhança entre o evento mu- pressão para emoções ocorridas, e
sical e a referência não-musical é, de elas a fazem em virtude das seme-
certa forma óbvia para alguém que está lhanças entre suas próprias estru-
familiarizado com a referência não- turas dinâmicas e comportamen-
tos ou movimentos que, em hu-
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De alguma forma a mente hu- and Emotion. In: JUSLIN, Patrick N.;
mana reconhece semelhanças entre pro- SLOBODA, John A. (Ed). Music and
priedades da estrutura musical e a estru- Emotion: theory and research. New
tura das emoções. A teoria do contorno York: Oxford University Press, 2001,
possibilita afirmar que somente essa pp.71-104.
semelhança é necessária para que exista
emoção em música. A pesquisa em an-
damento busca estudar as características
de algumas emoções selecionadas e
sugerir possibilidades musicais que tra-
çam um paralelo com essas característi-
cas. Em outras palavras, pretende en-
contrar “contornos” musicais que po-
dem se remeter a emoções, explicando
de forma embasada como e porque é
possível a existência desse paralelo.
6. Subáreas de conhecimento
7. Referências bibliográficas
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Flávia Narita
UnB
flavnarita@yahoo.com.br
Maria Cristina de Carvalho Cascelli de Azevedo
Resumo: As crianças, assim como os adultos, estão imersas numa rede sócio-interativa que
contempla grande diversidade musical. Desde a mais tenra idade, elas adquirem vivências
musicais estimuladas pela cultura familiar, pela escola, pelos colegas e pela mídia formando
valores e preferências musicais (Small, 1980; Campbell, 1998; Burnard, 2006). As crianças
ouvem, vêem, cantam, dançam, brincam e estudam música. Que conhecimentos musicais elas
levam para a sala de aula? De que forma suas vivências musicais se tornam objeto de criação
musical? Essas questões nortearam o trabalho pedagógico que relatamos nesta comunicação
cujo objetivo é discutir as possibilidades e os limites de integração da cultura musical infantil na
criação musical em aulas de música. Nesse sentido, entendemos criação musical de forma
ampla, como atividade musical que explora diferentes formas de manipular e organizar os sons
para elaboração de arranjos musicais, improvisação e composição. Sob essa concepção,
observamos os trabalhos de arranjo musical de um grupo de crianças de 7 a 10 anos. A escolha
das músicas para os arranjos se baseou em alguns critérios: músicas conhecidas e preferidas
pelos alunos; músicas que eles já tocavam em seus instrumentos e músicas presentes na mídia.
Na elaboração dos arranjos foram explorados seus conhecimentos musicais prévios, seus
interesses e suas habilidades cognitivas e motoras. A análise desses arranjos se baseou no
conceito sócio-cultural de criatividade (Burnard, 2006) e no trabalho de Campbell (1998) sobre
cultura musical infantil. O projeto pedagógico realizado destaca a relevância de se privilegiar os
conhecimentos musicais dos alunos na criação, execução e apreciação de músicas. Nesse
sentido, observamos a importância de se planejar ações pedagógicas que integrem as vivências
musicais dos educandos às aulas de música na promoção contínua de seu desenvolvimento
musical.
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maior das cordas soltas ao invés das Estas são pistas importantes: as cordas
presas (a audição das várias versões de de aço, por serem mais rígidas que as de
“Berimbau”, tocadas por Baden e nylon, exigem maior pressão no toque,
disponíveis em CD, já dá uma idéia portanto desenvolvem uma outra
dessas preferências). Com Ulisses não é estrutura no toque com os dedos; maior
possível determinar uma preferência esforço na impulsão da corda, portanto
muito marcada entre as sonoridades das unhas (ou palhetas) mais rígidas; e
cordas soltas e presas. Percebe-se, isto implicam respostas sonoras diferentes a
sim, que um de seus pontos de relevo é cada tipo de impulsão (os ligados
a possibilidade de articulação constante ascendentes e descendentes, por
da relação figura/fundo. Esta opção exemplo, são obtidos através de sutis
mostra uma tendência maior para a mudanças de processos articulares, de
contensão, para uma relação de um tipo de corda para outro; o recurso
articulação de maior “engenharia” do das notas bend, pequenas distorções de
que força, já que os modos de obtenção afinação obtidos com um “entortar” da
da simultaneidade entre melodia e corda pelo dedo que a pressiona,
acompanhamento são reduzidas no também variam muito de amplitude e
violão. Isto quer dizer que ele tenta, e intensidade dependendo do tipo de
consegue na grande maioria das vezes, cordas usadas). Michael utiliza também
manter sempre presentes, audíveis, um violão-harpa, com 11 cordas
essas duas dimensões (melodia e individuais (as 6 cordas tradicionais
acompanhamento). Principalmente nas acrescentadas de mais 5 num braço
suas próprias composições. Para que extra, colocado acima do braço
isto aconteça, Ulisses elabora soluções tradicional) que, pelo próprio desenho
que fogem daqueles procedimentos do instrumento, exige uma abordagem
mais comuns entre os violonistas, como corporal diferenciada. Mudam os pontos
por exemplo, o recurso da melodia nua, de apoio, os ângulos de visão que o
ou marcada por pontuações de acordes músico tem do instrumento, os pontos
ou contracantos oportunos; ou dos de equilíbrio entre violão e corpo, e os
acordes ritmados, ambos recursos muito modos de acioná-lo.
usados por Baden e pelos outros Quanto à afinação, Egberto
violonistas analisados4. utiliza, pelo que pude averiguar, a
Já Egberto, André e Michael afinação mais comum nas seis primeiras
transformaram de modo mais contundente seus cordas (EADGBE, contadas de baixo para
instrumentos. Egberto possui violões cima) e complementa, com as cordas adicionais,
especialmente construídos para ele, com 8, 10, 12 alterando-as conforme as músicas que vai
e 14 cordas (8 e 12 de nylon, 10 e 14 de executar. André e Michael, por sua vez,
aço), o que indica uma relação corporal alteram mais freqüentemente as
diferenciada com o instrumento, já que afinações. Michael chega quase a
até mesmo as dimensões do violão (o utilizar uma afinação por música,
braço mais largo, o violão mais pesado) poucas sendo as afinações repetidas
requisitam a mudança de atitude (todas mais graves que a afinação
corporal. André e Michael optaram tradicional). André, embora também
definitivamente pelas cordas de aço. varie bastante as afinações, repete-as em
algumas músicas, explorando um pouco
4
Quero deixar claro que isto não implica em mais os recursos melódicos e
valoração ou hierarquia de procedimentos. harmônicos de cada uma. Nos três
Explicito apenas as diferenças de escolhas e músicos também é possível perceber
resultados, todos igualmente legítimos.
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uma preferência pelo uso das cordas constrói uma proposta estética em que
soltas. Outro traço comum nesse três esses traços de rebeldia (ruídos,
músicos é a utilização freqüente do descontroles, exageros), ao contrário de
recurso dos harmônicos naturais e se instalarem nos cantos escuros de suas
artificiais, tanto quanto da percussão execuções, como em Baden, passam a
sobre as cordas do violão. Estes fazer parte do vocabulário artístico e
recursos permitem que as duas mãos sonoro de Egberto. Adentram em seu
produzam sons no instrumento, quase mundo musical como elementos
como num piano, e, por isso, permitem constitutivos e, por isso mesmo, se
a execução de vários planos sonoros, mostram nítidos e brilhantes.
vários eventos musicais (como melodia, No caso de Ulisses, André e
acompanhamento em vários níveis, Michael, o primeiro dá continuidade à
contracanto etc.) todos ao mesmo tradição do violão popular brasileiro,
tempo. contudo interpondo nessa linha de
No que diz respeito à linguagem continuidade o traço marcante da
musical, cada um dos cinco toma-a, ou realização plena do ideário
a realiza, de forma bastante melodia/acompanhamento, presente na
individualizada. Baden mistura música erudita européia desde os anos
elementos musicais de diversos gêneros, 1600 (Harnoncourt, 1988). Os outros
tais como samba, bossa nova, jazz, dois se instalam na linguagem popular
choro, blues, erudito (principalmente derivada do dedilhado country (o
num estilo “bachiano”) etc., frutos chamado finger style americano),
prováveis de seu esforço em se influência híbrida para André e tradição
legitimar como instrumentista de peso para Michael, de modo que inovam nos
no meio musical popular que, em sua modos inusitados de tocar e atualizam a
época, se consolidava como gênero linguagem.
artístico. Neste quesito, Baden se Outro ponto fundamental sobre
destaca por introduzir fissuras em suas as linguagens musicais que cabe aqui
execuções, por onde vazam traços enfatizar tem relação com os
marcantes de rebeldia e carnavalização procedimentos arquitetônicos utilizados
(Bahktin, 2002), numa tentativa sutil de por esses músicos. Baden, Egberto e
desorganizar a ordem legitimada do André podem ser colocados lado a lado
“bem tocar” em razão de uma no que diz respeito ao uso da
sensibilidade mais popular, no sentido improvisação em suas execuções e
da inversão bahktiniana da ordem social composições. As várias versões da
em uso. A exacerbação dos andamentos, música “Berimbau” com Baden, de
das intensidades e a introdução “Salvador” com Egberto e de “Lobo”
aparentemente desgovernada de ruídos com André já valeriam como amostra
daí provenientes (como o trastejamento desse grau muito apurado e
ou as sonoridades percussivas dos aprofundado de intimidade que cada um
fortíssimos que freqüentemente deles cultiva com a invenção, digamos,
imprime em suas execuções), são imediata da improvisação. Os três se
exemplos claros dessa carnavalização permitem grande liberdade nos modos
que ele propõe como recurso de de alterar suas músicas (e as que
introdução das marcas populares numa executam de outros autores também),
execução erudita. visto estarem absolutamente convictos
Já Egberto, embora se aposse de seu domínio das linguagens musicais
também desse traço de carnavalização,
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Resumo: Neste artigo proponho uma abordagem analítica da ária Voi che sapete, n. 12, da
ópera Le nozze di Figaro (1786), de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), sob o enfoque da
execução e da interpretação da obra. Para tanto, emprego as técnicas analíticas descritas por
John Rink, no artigo “Analysis and (or?) performance” (2002) que contribuem para a
aproximação e maior entendimento da composição e do “contorno” (shape) da obra a ser
executada, com o devido destaque da temporalidade. Dentre as discussões propostas por Rink,
encontra-se a inclusão do conceito de “intuição informada”, a qual permite o acionamento da
experiência e do conhecimento prévio do músico nas decisões de sua interpretação, e que
também é aplicado na análise de Voi che sapete.
5. redução rítmica;
1. Objetivo 6. re-notação da música.
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Figura 2: Mozart. Voi che sapete: redução rítmica da estrutura das frases disposta no hipercompasso.
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5. Percorrendo a “intuição
informada” Figura 5: Mozart. Voi che sapete: A troca de
instrumentação nas madeiras anuncia o humor
Já na introdução, o caráter jovial sutil da ária de Cherubino (cc.1-8)
e leve desta ária é evidenciado com a
instrumentação, o andamento (Andante) A voz feminina repete a temática
que situa o intérprete ao momento do apresentada na introdução, modificado
personagem e da obra. É possível apenas pela inserção de uma frase
afirmar que a linha do baixo em intermediária, entre os cc. 13 e 16. A
pizzicato e os arpejos ascendentes qualidade principal desta frase é o
remetem à sonoridade esperada pela cromatismo ascendente que desperta a
ação da personagem Susanna, que atenção, provoca curiosidade no
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Figura 10: Mozart. Voi che sapete: exemplos de contornos melódicos e da relação com libreto.
.
6. Resultados e conclusão 7. Referências
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2
Ao se partir para um estudo analítico de uma
obra musical, é condição ideal a consulta de
fontes primárias (fac-símile ou manuscritos), ou
edições diplomáticas, visto que os riscos de
modificações e interferências dos editores
podem tornar o estudo frágil. Contudo,
encontrando-se tal conjuntura indisponível,
utilizou-se a edição realizada por Ludwig
Finscher (1973) para o Neue Mozart Ausgabe.
3
No texto original se emprega o termo “shape”
(Rink, 2002, p. 36).
4
Outros princípios que norteiam as discussões
levantadas por Rink são:
1. A temporalidade reside no coração da
performance e é fundamental para
análise do intérprete;
2. A importância de descobrir “contorno”
(shape) da música em oposição à
estrutura, e os meios de projetá-lo;
3. A partitura musical não é “a música”, e
“a música” não está se restringe à
partitura;
4. Decisões determinadas analiticamente
não devem ser sistematicamente
priorizadas;
O processo analítico para o intérprete é guiado,
ou ao menos influenciado, pela “intuição
informada” (Rink, 2007).
5
A canção pode ser identificada como música
diegética, assim designada no cinema àquela
empregada como parte da estrutura da narrativa,
em oposição à música não-diegética (Beard,
2005, p. 54).
6
Para Sérgio Magnani, ‘a sua personalidade
verdadeira [do clarinete] reside na expressão do
entusiasmo, do amor apaixonado e heróico, da
romântica inquietação’ (Magnani, 1989, p. 225).
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Resumo: Nos últimos 150 anos, a necessidade de respeitar as indicações do compositor tem
sido quase um dogma na performance musical erudita, porém muitos intérpretes questionam
esse paradigma alegando que esta forma de interpretação inibe a expressividade, impedindo a
manifestação da idéia artística individual do intérprete. Esta pesquisa é uma análise descritiva
interdisciplinar apoiada em trabalhos desenvolvidos nos campos da musicologia, ensino
musical, psicologia e na neurociência que visam a explicar ou dar sentido à polêmica
relacionada à função da fidelidade ao texto na expressividade interpretativa musical.
Encontramos dados na musicologia, psicologia e neurociência de que a espontaneidade é um
fator importante na expressividade interpretativa musical e que tocar de acordo com as
indicações pode realmente inibir a expressividade. Por outro lado, encontramos evidências no
ensino musical de que tocar apenas espontaneamente traz uma grande limitação na capacidade
expressiva do instrumentista e a prática de tocar de acordo com as indicações da partitura é um
instrumento de extrema eficiência para desenvolver a capacidade expressiva mais elaborada.
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com o ensino musical, tocar de forma fiel técnica, ele proporciona maiores recursos
ao original é a forma mais indicada e para uma interpretação expressiva mais
adequada para conseguir desenvolver toda elaborada. O domínio técnico além de
essa técnica necessária para a diluir a inibição expressiva, permite um
interpretação expressiva mais elaborada. maior repertório de nuanças de timbres,
agógicas, e dinâmicas entre outros,
5. Conclusão aumentando assim a capacidade
expressiva.
Portanto encontramos um grande Um outro aspecto também muito
paradoxo em toda esta questão. Há indícios importante a ser considerado reside no fato
de que a fidelidade ao texto pode inibir a da emoção não ser passiva de controle.
expressividade, porém a prática de estudo Assim, considerando que expressividade
tocando apenas espontaneamente não seja fruto da emoção do intérprete, a
desenvolve recursos técnicos necessários expressividade não pode ser resgatada
para uma execução musical expressiva mais voluntariamente. Se o músico depender
elaborada e, justamente a adoção da exclusivamente da emoção espontânea para
fidelidade ao texto pode contribuir para o sua interpretação, ele ficará refém da
desenvolvimento desses recursos técnicos. “inspiração”, que nem sempre estará à sua
Na verdade, mesmo havendo disposição. Portanto o intérprete necessita
indícios de que a adoção da fidelidade ao de um recurso confiável e controlável que
texto pode, a princípio, inibir a possa lhe garantir uma execução de
expressividade, a tarefa de tocar de qualidade, mesmo sem a “inspiração”.
acordo com as indicações escritas no A interpretação trabalhada
texto desenvolve o controle motor que fielmente ao texto pode possibilitar todos
possibilitará o estudante a ter recursos esses recursos, e talvez por este motivo, esta
para conseguir expressar sua emoção de forma de interpretação seja exigida e
forma mais precisa. Outra contribuição indispensável, tanto nos altos níveis
importante desta tarefa reside no fato de acadêmicos como artísticos, do meio
que tanto as indicações da partitura, como musical erudito.
os conhecimentos resgatados por estudos Portanto, embora a interpretação
musicológicos, proporcionam um fiel ao texto tenha sido um motivo de
conhecimento mais rico e profundo da grande preocupação para Liszt, por
peça e, deste modo, o estudante terá considerá-la como negação à
muito mais recursos e condições de fazer personalidade artística do intérprete, a
uma interpretação coerente e mais execução obedecendo-se às indicações da
expressiva. partitura é uma ferramenta
Embora estudos neurocientíficos importantíssima para o desenvolvimento
indiquem que a cognição pode inibir a expressivo. Porém o trabalho de
expressividade, de acordo com estudo de interpretação não deve se restringir à
Blair, a inibição da emoção através da obediência ao texto. É necessário “tentar
cognição estaria relacionada ao grau de penetrar no fundo do coração das
dificuldade da tarefa. composições, tocando de diversas e
Portanto, ao deduzir que quanto diferentes maneiras, até chegar ao ponto
maior for o domínio técnico, menor será o de encontrar a verdadeira mensagem”,
efeito inibitório, podemos entender por como fazia Liszt (Walker 1983).
que tocar fielmente ao original é A fidelidade ao texto deve ser um
fundamental para uma interpretação meio e não o fim.
expressiva mais elaborada. Por ser um
procedimento eficaz para desenvolver a
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Márcia Higuchi
USP
higuchikodama@uol.com.br
João Pereira Leite
USP
jpleite@fmrp. usp.br
Resumo: O rubato sempre esteve vinculado à expressividade performática musical, mas nos
últimos 150 anos, o ensino da música erudita tem exigido um rigor métrico nas execuções de
músicas anteriores ao romantismo, porém esta prática não é consensual. Esta pesquisa é uma
análise descritiva interdisciplinar apoiada em trabalhos desenvolvidos nos campos da
musicologia, psicologia e na neurociência que visam explicar ou dar sentido à polêmica
relacionada à função da rigidez métrica na expressividade interpretativa musical. Encontramos
dados na psicologia cognitiva que sustentam a relação rubato e a expressão musical, assim como
encontramos na neurociência, evidências de que a rigidez métrica pode realmente inibir a
expressividade, e que a inibição estaria relacionada ao grau de dificuldade que a pessoa tem em
manter o tempo. Apesar do componente inibidor, observações no aprendizado musical indicam
que a prática do rigor rítmico é um instrumento imprescindível para uma interpretação musical
expressiva mais elaborada. Portanto este trabalho pretende analisar a importância dessa prática
para o desenvolvimento da expressividade musical.
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romantismo. Mas apesar da rigidez música fosse tocada pela severidade fria
métrica ser associada à fidelidade do de um metrônomo.1
texto, estudos apontam que muitos Assim como Beethoven, é
destes compositores não tocavam no comum muitos músicos associarem a
tempo estrito. Segundo Frederick rigidez métrica à frieza interpretativa, e
Dorian: o rubato à expressividade. Atualmente
alguns pesquisadores da psicologia
A frase ‘modificação do tempo’ cognitiva parecem concordar com essa
como tal, havia sido usado desde associação. Bob Snyder, em seu livro
a época de Spohr e de Wagner.
Todavia, o sentido da expressão
Memory and Music (2000), escreve:
foi conhecido já pelos escritores e
intérpretes do Renascimento e “nuanças rítmicas são
empregado a partir de então, instrumentos poderosos para dar
manifestando tão claramente a um sentimento ‘humano’ para o
doutrina dos sentimentos. As ritmo. É preciso compreender que
fontes anteriores ao período numa performance musical real,
clássico nunca deixam de esses tipos de nuanças temporais
apresentar amplas referências à ocorrem constantemente. Quando
modificação do tempo, mas um evento musical está com
sublinham a execução vocal como batidas dentro deste tempo (entre
seu terreno natural. [...]. (1950 p 1/8 a 1/4 do intervalo de tempo da
185) pulsação básica) é simplesmente
ouvido como uma versão de um
daqueles tempos. [...] Lembrar a
Mozart, em 24 de outubro de
proporção exata do intervalo de
1777, escreveu a seu pai: “eles não tempo entre os sons é difícil.
conseguem entender como mantenho a Experimentos nos quais sujeitos
mão esquerda independente no tempo tentam reproduzir a proporção de
rubato de um adágio, pois para eles a duração de diferentes sons fora de
um esquema de uma pulsação
mão esquerda sempre segue a direita”
mostram uma margem relativa de
(Mersmann ed. 1972). erro. Parece que para fazer um
Gunther Schüller afirma que “há julgamento acurado sobre o
em quase todas as escritas mais antigas tempo, nós precisaríamos de
um extraordinário consenso sobre o algum tipo de ‘relógio’ para
compará-los.”
tema flexibilidade do tempo, que
Beethoven costumava chamar de tempo
Ou seja, o controle rítmico
elástico” (Dorian, 1950 p. 185).
humano é bastante limitado. Mesmo
Portanto, são evidentes os
muitas das pulsações que parecem ser
indícios de que os próprios
precisas aos ouvidos das pessoas
compositores, desde o Renascimento,
contêm nuanças, decorrentes
usavam rubato para interpretar suas
características humanas individuais.
obras, o que pode significar que haveria
Esses dados sugerem que, para se obter
uma contradição no que se refere à
uma precisão metronômica é necessária
fidelidade à idéia original do
a utilização do metrônomo. O uso desse
compositor. Porém, além dessa provável
artefato eliminaria as nuanças rítmicas,
contradição, a rigidez métrica enfrenta
destituindo assim a realização musical
uma outra questão.
de elementos poderosos que atribuem
Segundo Anton Schindler,
sentimento ‘humano’ ao ritmo.
Beethoven utilizava a mudança de
andamentos para conseguir
expressividade e não queria que sua 1
Schindler (1966).
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Maurício Dottori
UFPR
m.dottori@onda.com.br
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Bibliografia
Filmografia
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Norton Dudeque
UFPR
nortondudeque@gmail.com
Resumo: este artigo visa discutir a noção de cadência. Funcionalmente, cadências articulam
frases, períodos, sentenças e seções formais, seja na música tonal ou não. No entanto, cadências
também podem sofrer uma série de variações que alteram sua função para uma ênfase funcional
maior ou menor. Estas possibilidades são ilustradas através de exemplos tomados de obras de
Arnold Schoenberg e discutidos em relação à percepção de sua função formal.
I.
No seu Harmonielehre
Schoenberg escreve: “a eficácia do
horizontal é maior que a do vertical.
Uma conclusão realizada
horizontalmente resultará mais vigorosa
do que realizada verticalmente”
(Schoenberg, 1999, p. 204). Assim,
Schoenberg sugere que há uma
facilidade maior para compreendermos
uma melodia do que uma harmonia.
Para ele “o entendimento do fato
musical não é outra coisa que uma
análise rápida, uma determinação dos
componentes e de sua dependência
mútua (meu itálico)” (Schoenberg,
1999, p. 203). Assim, a compreensão
clara de uma melodia e sua terminação Fig. 1a, b, c (Excerto de “Ein Mädchen oder
é, para Schoenberg, independente de Weibchen”, n. 20 de A Flauta Mágica de W. A.
suas harmonias. Para ilustrar seu ponto Mozart, cc. 13–20)
de vista, Schoenberg re-harmonizou um
trecho da ária “Ein Mädchen oder Com esta ilustração Schoenberg
Weibchen” da ópera A Flauta Mágica dá a entender que uma melodia é capaz
de Mozart. Na Fig. 1a encontram-se de encerrar cadencialmente uma
somente a melodia do trecho escolhido estrutura musical de maneira mais
por Schoenberg, na Fig. 1b a adequada e mais direta que um evento
harmonização original de Mozart e na harmônico. Ademais, Schoenberg
Fig. 1c a versão de Schoenberg. declara que a eficácia conclusiva de
uma cadência é mais completa quando
utilizada conjuntamente nas dimensões
harmônica, melódica e rítmica. No
entanto, ele adverte, não há necessidade
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de utilização de todos esses meios para ambigüidade, i.e. podem não apresentar
ter-se uma cadência, algumas vezes um efeito conclusivo muito claro.
basta um, outras necessita-se vários. Caplin por sua vez argumenta
As afirmações de Schoenberg que cadência é um componente sintático
podem ser ilustradas com excertos de da música, e que se difere de uma
obras suas onde serão observados grande variedade de outros elementos
momentos cadenciais. Estes exemplos componentes da música que são
darão subsídios para a conclusão onde a retóricos em função (Caplin, 2004, p.
argumentação de Schoenberg será 52).
avaliada. As concepções tradicionais e até
históricas de cadência remontam a teoria
II. musical do século XV na Itália, onde
Cadências têm uma importância formações intervalares específicas eram
especial na música, são elas que utilizadas para encerrar passagens de
delineiam o encerramento de estruturas música com textura homofônica e
formais de diversos tamanhos. Estas polifônica. Durante os séculos XVI e
podem ser uma frase, um período ou XVII o termo foi utilizado em conjunto
sentença, seções inteiras e até mesmo com termos qualitativos tais como
uma obra completa. Referindo-se a este cadentia ordinaria, cadentia simplex,
aspecto na música de Schoenberg, cadentia perfecta, cadentia diatonica, etc.
Kurth observa: Estes termos qualitativos definiam o tipo
de cadência e como esta era realizada.
Nas cadências, processos formais Assim, encontramos cadências que
tomam forma no ato de encerrar finalizavam na nota tônica do modo,
ou de começar novas seções (a
cadência final é a exceção), e
cadências que dependiam do estilo de
cadências articulam continuidade contraponto utilizado, cadências que
e descontinuidade, equilíbrio e dependiam da progressão melódica e
desequilíbrio, e expectativa e contrapontística, da modalidade, e de
surpresa. A formação cadencial vários outros fatores presentes na
pode ser efetivada por qualquer
fator musical ativo–seja melodia,
composição. O entendimento de cadência
harmonia, duração, dinâmica, como elemento de gesto de encerramento
articulação, timbre, registro, etc. formal passou a existir a partir do séc.
(Kurth, 2002, p. 245) XVIII, quando houve a associação entre
fechamento gestual representado pela
Segundo Ashforth, a cadência é cadência com a pontuação gramatical da
um fator crítico na articulação linguagem.1 Com o estabelecimento da
composicional de frases e agrupamento teoria harmônica durante este século,
de frases, ou seja, a cadência significa o Rameau estabeleceu a cadence parfait
movimento para um objetivo como o paradigma fundamental de
momentâneo ou definitivo (Ashforth, progressão harmônica conclusiva: “A
1978, p. 195). As cadências na música cadência perfeita é uma certa maneira de
tonal são bem conhecidas e suas
definições dependem de determinadas
1
fórmulas, sejam elas melódicas, Vide por exemplo: Joseph Riepel, Sämtliche
harmônicas ou rítmicas. Muito embora Scriften zur Musiktheorie (1752–1786);
estas sejam relativamente padronizadas, Heinrich Koch, Versuch einer Anleitung zur
Composition (1782–1793); Johann Mattheson,
elas também podem implicar em Der vollkommene Capellmeister (1739); Johann
Kirnberger, Die Kunst des reinen Satzes in der
Musik (1771–1779).
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terminar o fluxo musical tão satisfatória nos diz, portanto, que há outras
que após ela não desejamos nada mais” possibilidades que não apenas as
(Rameau, 1722 [1971], p. 63). A partir de associadas à tonalidade para a
então qualquer progressão harmônica realização de encerramento cadencial.
poderia ser considerada como cadência, Nos exemplos que seguem,
mesmo sem o gesto de encerramento de todos extraídos de obras de Schoenberg,
uma unidade musical. No século XIX espera-se ilustrar algumas
uma progressão cadencial era entendida possibilidades para a realização de
como que envolvendo duas harmonias cadências de encerramento de unidades
somente, a dominante e tônica. Coube a musicais. Alguns destes exemplos
Hugo Riemann expandir esta noção para mostram possibilidades distintas de
a seqüência harmônica completa em cadência com o mesmo material
quatro estágios: I. Tônica (afirmação do temático, procurando, naturalmente, um
início) II. Subdominante (conflito) III. efeito distinto para cada utilização da
Dominante (resolução do conflito) IV. cadência.
Tônica (confirmação) (Riemann, 1887, p.
16). Finalmente durante o século XX, III.
cadência foi entendida em diferentes 1. Cadências que enfatizam a
níveis estruturais da música, até mesmo atividade melódica. Estas cadências
entendida como um elemento expandido podem articular seções e subseções
que refletia a progressão tonal de uma dentro de obras e prover, em particular,
obra inteira.2 continuidade uma vez que não
Apesar da evolução do termo e apresentam um movimento harmônico e
de seu entendimento, cabe levar em melódico cadencial tão definido quanto
consideração no presente trabalho, que uma cadência perfeita V–I. Estas
cadências são relacionadas ao cadências por condução de voz de grau
encerramento formal de uma unidade conjunto têm um papel importante para
musical, tendo em vista vários aspectos a continuidade musical entre as
musicais, tais como: melodia, harmonia, subseções na obra Friede auf Erden,
ritmo, textura, timbre, e até mesmo Op. 13 (1907) para coro a capella de
processos composicionais específicos, Schoenberg. As Fig. 2a e 2b ilustram
tais como, procedimentos de dissolução cadências que levam ao mesmo material
motívica. temático. A cadência nos compassos
Schoenberg declara que o 10–11 (Fig. 2a) é concluída pelo
“sentido de uma cadência harmônica é a movimento de semitom nas partes
restauração de um estado de repouso: a externas. Ela é caracterizada no
tônica não é mais desafiada... Cadências compasso 10 pela prolongação das
completas não somente são um padrão notas Si bemol e Mi bemol (indicadas
para funções necessárias, mas também, pelas setas na Fig. 2a); a primeira nota
em especial no que tange a música que (Si bemol) projeta a progressão
não é ligada à tonalidade, outras melódica da voz superior Si bemol–Lá
funções devem ser capazes de promover natural, e a segunda no baixo a
o efeito articulador por si próprias” progressão Mi bemol–Mi natural. Na
(Schoenberg, 1995, p. 249). Schoenberg Fig. 2b (compassos 88–90) a cadência
cromática introduz o mesmo material
2
Vide Heinrich Schenker, Der Freie Satz temático, no entanto, a condução de voz
(1935); Arnold Schoenberg, The Musical Idea das partes superiores e inferiores são
and the Logic, Technique, and Art of Its combinadas em uma progressão
Presentation (1995).
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Fig. 5a (excerto de Trio para cordas, op. 45, de A. Schoenberg; cc. 120-127)
Fig. 5b (excerto de Trio para cordas, op. 45, de A. Schoenberg; cc. 120-127, linha melódica)
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V. Referências bibliográficas
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A inspiração é um processo
1. Fundamentação teórica ativo e necessita da contração do
diafragma e aumento do volume da
1.1. Aspectos básicos da respiração no cavidade torácica; esse aumento reduz a
canto pressão intrapulmonar, permitindo que
o ar externo, de pressão maior, entre,
O ato respiratório é realizado igualando-se as pressões. Na inspiração
incansavelmente pela entrada e saída de forçada, soma-se à contração
ar de nossos organismos, com paradas diafragmática e à elevação das costelas
momentâneas denominadas de apnéias (contração dos músculos subcostais e
fisiológicas. Essa troca gasosa ocorre intercostais) a ação dos músculos
nos pulmões através das membranas esternocleidomastóideo e escalenos. Na
alvéolo-capilares. O ato respiratório, expiração, por outro lado, ocorre o
além de nutrir o organismo com relaxamento daqueles músculos
oxigênio, contribui eficazmente para envolvidos na inspiração e, portanto,
outros objetivos: para acompanhar o estabelece-se um processo passivo. Na
ímpeto de um movimento ou de um expiração forçada, porém, vários grupos
prazer, para modificar emoções e tônus musculares do tórax e da cavidade
muscular (decréscimo ou acréscimo), abdominal devem ser contraídos para
para mobilizar vísceras, para abrir ou diminuir o volume torácico (Rizzolo;
fechar o gradil costal, para sustentar a Madeira, 2004).
voz falada ou cantada, etc. Algumas É essencial realçar a
essas manobras respiratórias são possibilidade de manter e mesmo de
acessadas inconsciente; entretanto, para colocar as estruturas musculares citadas
a produção da voz cantada são em posição inspiratória durante a
necessários treinamentos de controle do expiração, configurando uma contração
fluxo inspiratório e expiratório. diafragmática com gradil costal
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Sexo Masculino 11
feminino 9
Instrumentistas 11
Prática musical
Cantores 2
Ambos 7
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De vez De vez
Quase em Rara- Quase em Rara-
Sempre sempre quando mente Nunca Sempre sempre quando mente Nunca
1. Perder a noção do tempo 3 5 6 3 3 4 3 5 2 3
2. Sensação de bem estar 8 8 4 0 0 5 8 2 2 0
3. Alegria 7 8 4 1 1 6 6 2 0 1
4. Prazer momentâneo 8 8 4 0 0 6 7 3 0 1
5. Vontade de continuar
tocando no momento 8 7 4 0 1 8 5 1 1 1
6. Vontade de superar
desafios 14 3 3 0 2 6 4 5 0 0
7. Satisfação com o resultado 5 7 5 2 1 2 8 6 0 0
8. Sentimento de que sua
prática se torna melhor 6 10 4 0 0 3 9 4 1 0
9. Se desligar de situações
exteriores 8 7 3 0 1 7 6 2 1 1
10. Vontade de tocar/cantar
cada vez mais
12 5 3 0 0 11 3 2 0 1
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Thiago Cazarim
UFG
thiago_cazarim@yahoo.com.br
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gesto e expressividade ao dizer que a expressar aquilo que a ela mesma não é
fala é uma modalidade de gesto, o que expresso. É dar de conhecer ao mundo
nos obriga a reavaliar tanto o que aquilo que ela só conhece obliquamente,
entendemos por fala quanto o que e é isso que Merleau-Ponty quer dizer
entendemos por gesto. Vejamos então quando afirma ser
como a relação entre transcendência e
gesto se dá no caso fala. preciso reconhecer então essa
potência aberta e indefinida de
Merleau-Ponty (2006) classifica significar – quer dizer, ao mesmo
as operações de fala em dois tipos: a tempo de apreender e de comunicar
falada a falante. A primeira corresponde um sentido – como um fato último
pelo qual o homem se transcende em
à fala que apenas utiliza os sentidos já direção a um comportamento novo,
criados e estereotipados; a segunda, ao ou em direção ao outro, ou em
contrário, se caracteriza por ser uma direção ao seu próprio pensamento,
através de seu corpo e de sua fala.
atividade expressiva, que não só renova, (2006, p. 263)
mas inaugura sentidos. A criança que
aprende a falar não simplesmente A fala é sempre silêncio, em
maneja as palavras que lhe são dadas; algum grau. Se ela é falada, é silêncio
para ela, a primeira palavra (não os porque não rompe a opacidade dos
balbucios) é, de fato, a primeira sentidos já instaurados – ela apenas os
palavra, a inauguração do mundo da perpetua, se mantém tácita diante deles;
fala; assim, falar pela primeira vez se é falante, não é plenamente expressa
corresponde a se instalar no mundo dos para si mesma – de outro modo, seria
falantes. Merleau-Ponty afirma que é raciocínio, esquema, representação, em
esta a característica essencial de toda a nenhum caso seria ato. O cogito da fala
fala, a de fazer inaugurar sentidos. A é da mesma ordem do gesto (seus
fala falante é um tatear-ao-redor-de-si e pensamentos só são enquanto o gesto
não é nunca assegurada por operações gesticula, a fala fala); assim, fala e gesto
anteriores. A tentativa de falar é próprio se caracterizam por serem atividades
o sentido que a guia, sentido este que expressivas.
não existe antes dela, mas que, uma vez Gesto e fala se relacionam não
expresso, também não reside (“mora”) só pela relação de expressividade, mas
nela – antes, se projeta para além. Nesse por uma outra já indicada que relaciona
sentido, falar é romper o silêncio. Mas o as três: transcendência. Falar em
filósofo dirá também que a fala se guia transcendência não implica um
por si através de um mundo de silêncio, abandono da fala, a ascensão a um nível
e que o ato de falar não pressupõe em que a fala não seja mais necessária.
representações do discurso que se É, antes, uma transcendência que se
pretende cumprir; falar é a única funda na fala, no gesto, que é a
possibilidade de se entrar no mundo da expressividade mesmo quando aponta
linguagem verbal. Daí de se dizer da para além dela. Assim, falar é se
fala que ela é gesto: ela traça no mundo projetar no mundo, é se transcender no
um sentido que não é dado a si, que só mundo, é fazer com que exista um
existe para ela enquanto ela se faz mundo para além do que a biologia ou a
silêncio (obscura) para si no momento metafísica podem dizer da minha fala, e
em que fala; como os gestos manuais ou o mesmo se pode dizer do corpo e do
as expressões de indignação, alegria, gesto. Ora, transcender-se não é senão
tristeza ou horror, ela retoma o mundo reunir, ou fazer existir-para-o-mundo,
através de seu poder de significar, de aquilo que só pode ser entendido como
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Valentina Daldegan
UFPR
valentina@onda.com.br
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Resumo: Este estudo faz parte de uma pesquisa mais ampla que discute, em última instância,
significação musical. Em pesquisa etnográfica destinada a estudar a contribuição do repertório
fúnebre para o êxito da Sentilena – ritual de morte realizado em muitos lugarejos nordestinos,
detectou-se um declarado repúdio ao repertório tradicional pelos católicos dos centros urbanos.
Essa conduta reclama uma discussão acerca dos fatores que elaboram esta forma de perceber os
benditos tradicionais a qual lhes confere um valor de contra-testemunho religioso.
Apresentamos uma reflexão acerca deste problema realizando um estudo de afinação e contorno
melódico em relação a um dos mais importantes benditos fúnebres da região do Cariri.
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Figura 1: contorno melódico inicial do bendito Maria Valei-me interpretado por Dona Edite.
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Figura 2: embelezamento da sílaba “vo” nas três versões analisadas do bendito Maria Valei-me (na
seqüência: Edite, Aves e Nilton).
Figura 3: exemplos de portamentos nos benditos Maria Valei-me (Edite e Aves) e Stabat Mater (Edite).
Figura 4: microcromatismos no bendito Maria Valei-me de D. Edite. Temos uma figura de passagem e
uma figura de bordadura superior com utilização de intervalos próximos ao quarto-de-tom.
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Figura 5: contorno melódico final do canto gregoriano Salve Regina interpretado pela cantora Kelly
Patrícia.
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função do canto, mas também à sua capitulado por Maria Valei-me. Este
estruturação como material sonoro. fato, em certa medida, reforça a
hipótese de que a sonoridade gerada
[O lamento] é caracterizado por pelo canto dos benditos tradicionais é
instabilidade geral de altura: um capaz de recuperar uma simbologia que
contorno melódico deslizante,
estruturas modais sem escalas
instaura um desacordo cultural e
fixas, uso extenso de intervalos religioso quando confrontado com os
microtonais que continuamente fiéis dos centros urbanos, os quais como
variam em tamanho, um nível forma de “protegerem-se” do estranho
global variável de altura (MAZO, conferem a eles um uso oposto àquele
1994, p.194, tradução nossa).
atribuído à música de louvor católica.
Enquanto esta ressalta aspectos do
3. Considerações finais
triunfo de um Cristo glorioso e
ressuscitado, aquele, através, como já se
Cumpre ressaltar que o caráter
disse, de uma sonoridade de caráter
lamentoso do canto dos benditos é
lamentoso, tem função destinada a
reconhecido por ambos os grupos, o que
excitar o desejo de mortificação do
mostra que as duas formas opostas de
corpo como elemento essencial para
elaborar a significação dos benditos
aplacar os rigores de uma justiça divina
residem no modo diferenciado com que
centrada no pecado e na penitência.
os dois grupos lidam com o caráter de
lamento presente no repertório. A
4. Referências
análise que apresentamos tem por
finalidade promover uma discussão
inicial acerca da participação da BARBOUR, James M. Tuning and
sonoridade do canto do bendito dentro temperament: a historical survey.
do processo de significação musical Mineola, N.Y.: Dover Publications Inc.,
aqui estudado. A nossa hipótese baseia- 2004 [1951].
se no entendimento do bendito BLACKING, John. How musical is
tradicional enquanto evento psico- man? Seattle: University of
acústico que recupera valores Washington Press, 1973.
penitenciais presentes no modelo
catequético e devocional próprios do BOLAN, Valmor. Sociologia da
catolicismo popular, mas que aos secularização: a composição de um
ouvidos dos católicos atuais constituem- novo modelo cultural. Petrópolis:
se arautos de valores que vão de Vozes, 1972.
encontro àqueles professados pelo BRANDÃO, Iulo. Unidade e
modelo pós-conciliar. diversidade como correlatos da ordem e
Herndon e McLeod (1981) da desordem no campo da estética. In:
entendem como indício de antiguidade DEBRUM, M. et al (Orgs.). Auto-
de um repertório musical a utilização, Organização. Campinas, 1996, p. 383-
nas canções, de palavras desconhecidas 400.
para a língua da cultura, assim como
CROSS, Ian. Music as a communicative
conferem à música que tem exercício
medium (No prelo). In: BOTHA, R.;
em uma atividade ritual maior
KNIGHT, C. (Eds.), The prehistory of
resistência a mudanças. A forte
language, Oxford: Oxford University
presença do Latim e a participação em
Press, 2008. Disponível em:
certas etapas do rito de exéquias –
<http://www.mus.cam.ac.uk/~ic108/>
Sentinela, sugerem, a partir do
Acesso em: 25 jan. 2008.
entendimento das autoras, a antiguidade
do repertório estudado, neste artigo
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Resumo: O trabalho que ora apresentamos tem como objetivo propor uma nova metodologia
para o estudo da prosódia de línguas mortas, em especial o português arcaico. Partimos de uma
metodologia anterior utilizada por Massini-Cagliari (1995, 1999) que focalizava, em cantigas
trovadorescas, a palavra que aparece em posição de rima poética, visto que somente nessa
posição é possível, por meio da observação da estrutura da cantiga e da maneira como o autor
conta as sílabas poéticas, ter certeza da posição do acento principal da palavra. A partir do
contato com esse trabalho, começamos a desenvolver uma proposta metodológica que desse
conta de localizar os acentos lexicais em outras posições nos versos. Para isso, desenvolvemos
um trabalho de análise das proeminências musicais em comparação com as proeminências
lexicais, tendo como corpus transcrições de algumas das Cantigas de Santa Maria para a
notação musical atual, feitas por Ferreira (1986). Na análise dos dados, pudemos observar que
em pelo menos 72% dos casos o tempo mais forte do compasso marca justamente a sílaba
tônica da palavra. Esse percentual já é suficiente para afirmamos que a observação do nível
musical junto com o nível lingüístico dessas cantigas pode constituir uma metodologia auxiliar
no estudo de fenômenos prosódicos como acentos secundários e/ou eurrítmicos do português
arcaico, na medida em que pode constituir um instrumento de identificação de possíveis
proeminências rítmicas, ao lado de informações trazidas pela estrutura métrica dos poemas.
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dona
donas Postônica
sennores coitas
piadosa
doores Monossílabo
oxítona átono
sennor e
parecer de
prazer tônico
seer mui
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1
Descartadas as palavras repetidas.
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Flávia Toni
USP
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Gladis Massini-Cagliari
UNESP
gladis@fclar.unesp.br
Resumo: Estudo do ritmo lingüístico em Português Arcaico, período trovadoresco, com base na
abstração da estrutura prosódica de um período passado da língua a partir da análise do ritmo
musical das cantigas religiosas escritas em galego-português. A exemplificação é feita a partir
da Cantiga de Santa Maria 35, atribuída a Afonso X, rei de Castela (1121-1284).
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Tabela 1. Pauta prosódica das sílabas em posição inicial do compasso musical – CSM35.
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Figura 2. Refrão e primeira estrofe da CSM35, em E35 (Anglés, 1964: fólios 57v-58r).
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com a figura correspondente à àtona leva a pensar que, por razões estilísticas
final – o que, no nível da duração, de manutenção do ritmo poético/musical
mantém a relação de proeminência e da quantidade de sílabas poéticas
original entre essas sílabas: como necessária à constituição do verso, a
exemplo, vejam-se as figuras musicais pronúncia dessa palavra, neste contexto
equivalente às sílabas: ta, de Santa específico, pode ser reliquías.
(refrão); me, de ome (primeiro verso da A mesma alteração de
primeira estrofe); no de inferno (segundo posicionamento da proeminência
verso da 15ª estrofe). principal com vistas à manutenção da
rima pode ser verificada oitava estrofe
desta cantiga, em que as palavras
(também de origem latina) Colistanus e
Brutus rimam com chus (um
monossílabo tônico):
Figura 3. Notação musical correspondente à
palavra inferno (CSM35, segundo verso da 15ª Dun mercador que avia | per nome
estrofe) Colistanus,
que os levass' a Bretanna, | a que
As 6 exceções referidas pobrou rei Brutus;
anteriormente dão conta de 5 casos em e entrou y tanta gente | que non
que a átona final tem duração igual a das cabian y chus,
sílabas tônicas e/ou pretônicas adjacentes de mui ricos mercadores | que
(exemplo: sílaba do de querendo levavan grand' aver.
(terceiro verso da 23ª estrofe: querendo O que a Santa Maria der algo ou
vingar sa Madre, | fez com' aquel que prometer...
aduz) e de um caso em que recai na
posição de proeminência do compasso a A observação da notação musical
sílaba qui da palavra reliquias (terceiro pode também trazer contribuições para a
verso da segunda estrofe). Com relação a solução de dúvidas quanto à posição do
este caso específico, deve ser feita uma acento primário em palavras específicas,
observação importante. A palavra com relação às quais se tem dúvida
reliquias tem apenas uma ocorrência quanto à pauta acentual (por exemplo, se
nesta cantiga, variando com relica(s), paroxítona ou proparoxítona). A notação
que, por sua vez, aparece dez vezes. musical da cantiga CSM35 traz
Como reliquias aparece internamente ao evidências a favor da consideração da
verso, em posição logo anterior à cesura, existência de proparoxítonas em PA,
em conformidade com o que acontece uma vez que, na palavra crerigos
em outras CSM, o poeta pode ter (quarto verso, segunda estrofe), a sílaba
subordinado a estrutura lingüística da que coincide com a posição de acento
palavra às necessidades da rima e da musical é a antepenúltima.
métrica, recorrendo a um termo latino
antigo já em desuso na época, alterando-
lhe a posição do acento, entretanto. Essa
alteração na posição do acento de
palavra pode ser sustentada ao constatar
que a sílaba qui de reliquias é a única
das 26 sílabas nessa posição
(considerando-se que são 26 estrofes
Figura 4. Notação musical correspondente à
cantadas com a mesma melodia) que não palavra crerigos (CSM35, quarto verso da 2ª
é uma tônica primária. Ora, este fato nos estrofe)
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Lucas Shimoda
USP
lucas.shimoda@yahoo.com.br
2. Objetivos
1. Fundamentação teórica
Através da análise prática de um
A semiótica da canção jingle, pretende-se observar do ponto de
desenvolveu ferramentas metodológicas vista semiótico como o timbre participa
capazes de analisar a união entre o do processo de construção de sentidos.
componente lingüístico e o melódico Tomando como ponto de partida a
dos textos cancionais como um todo de distinção entre timbre adulto e timbre
significação. Valendo-se dos conceitos infantil, procurou-se observar de que
de tensividade de Claude Zilberberg, modo a alteração do registro timbrístico
Luiz Tatit estabeleceu três processos influencia as estratégias de persuasão
fundamentais para a construção de empregadas pelo enunciador.
sentidos na canção: tematização,
passionalização e figurativização.1 Este 3. Método
modelo teórico extrai os mecanismos de
produção de sentidos presentes na curva A fim de verificar mais
melódica (altura e duração), associada eficazmente os efeitos de sentido
ao plano do conteúdo lingüístico. provocados pelo timbre, foram
Contando com o poder heurístico já escolhidas duas interpretações de um
comprovado deste instrumental teórico, jingle criado para o Café Seleto (1978),
empregaremos ainda as reflexões feitas idênticas quanto à curva lingüístico-
por Peter Dietrich a respeito do estatuto melódica porém recobertas por
semiótico do timbre. Seguindo as diferentes timbre.s Procedeu-se à
diretrizes deste pesquisador, associação entre o componente
consideraremos o timbre como atinente melódico (altura e duração) e o
ao plano do conteúdo2, especialmente componente lingüístico para, em
no que tange o plano discursivo. seguida, relacionar o timbre às
condições de enunciação, notadamente
as categorias lingüísticas de tempo,
pessoa e espaço. Após estas etapas, é
possível delinear a imagem do
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Figura 1
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Figura 2
Figura 3
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6. Subáreas do conhecimento
Semiótica; Publicidade
7. Referências bibliográficas
1
TATIT, L. 2002 p. 20-23
2
DIETRICH, P. 2006. p. 7
3
Ambas gravações podem ser ouvidas
gratuitamente nos endereços eletrônicos:
http://www.clubedojingle.com/realaudio/1978-
cafeseletomenina.ram e
http://www.clubedojingle.com/realaudio/1978-
cafeseletocoral.ram, respectivamente. (acessado
em 15/12/2007)
4
TATIT, L. (1997), p. 158.
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Resumo: Este artigo apresenta o conceito de antecipação, conforme descrito por David Huron, e
o relaciona com o conceito de raciocínio abdutivo, ou abdução, segundo a filosofia de Charles
Sanders Peirce, para a construção de um modelo de significado musical. A antecipação,
enquanto fenômeno cognitivo, é entendida aqui a partir de uma perspectiva biológica e
adaptativa; a antecipação é um processo que visa uma melhor atuação e percepção do organismo
em seu meio ambiente. No domínio psicológico, a antecipação é descrita pela noção de
expectativa. A expectativa visa determinar, no curso dos eventos futuros, ‘o que’ acontecerá e
‘quando’ acontecerá, possibilitando uma melhor adequação do sujeito ao seu ambiente. Quando
as expectativas falham, em sua função preditiva, surge a surpresa. O primeiro autor a relacionar
a noção de expectativa com significado musical foi Leornard Meyer, em 1956. Meyer entendia
que o significado surge da relação dinâmica entre expectativas erigidas pelo ouvinte e fatos
surgidos no desdobrar da experiência musical. Cinco décadas mais tarde, David Huron
apresenta uma série de experimentos que evidenciam o papel da expectativa na escuta musical,
corroborando o modelo inicial de Meyer. Além disso, a correspondência que Huron apresenta
entre expectativas e emoções parece ser mais sólida do que a sugerida por Meyer. No entanto,
nem um nem outro conseguem explicar como são geradas tais expectativas, i.e., que tipo de
processo (mental) resulta na formação de tais expectativas. Charles S. Peirce, em sua filosofia
pragmática e fenomenológica, estabelece que existem três formas básicas de raciocínio pelas
quais uma mente pode operar, a saber, abdução, indução e dedução. Especificamente, o que nos
interessa aqui é o conceito de abdução, responsável pela capacidade criativa de um sistema
cognitivo qualquer. A abdução é, para Peirce, a única forma pela qual um sistema cognitivo
pode adquirir novos conhecimentos, e opera principalmente pela formulação de hipóteses.
Sendo assim, reunimos as formulações iniciais de Meyer, as evidências experimentais de Huron,
e os conceitos da filosofia peirceanas para caracterizar o significado musical como um processo
de significação, que opera por modos não distintos daqueles empregados em qualquer outra
atividade cognitiva. Esse modelo nos parece ser adequado para explicar a experiência musical,
em seus aspectos mais básicos e fundamentais, i.e., entender como entendemos música.
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mentais adaptativas que permitem aos Huron (2006) nos oferece uma
organismos se preparem para as ações e interessante descrição da relação entre
percepções apropriadas”. A expectativa, estados afetivos e antecipações. Quando
enquanto fenômeno psicológico, visa as expectativas geradas por um
determinar dois aspectos de um possível organismo falham, e,
evento: ‘o que’ irá acontecer e ‘quando’ conseqüentemente, ele se vê em uma
irá acontecer. Antecipação, assim como situação desfavorável, o estado
sua contra-parte psicológica, a emocional caracteriza-se por uma
expectativa, estão presentes em todas as valência negativa, que através de
esferas da experiência, sendo que uma mecanismos associativos tornam-se
das principais hipóteses sobre a função conectadas (a situação e o estado
primordial e o fator responsável pelo emocional). Ao contrário, quando a
grande desenvolvimento do neocortex previsão é correta, existe um estado
cerebral humano é consensualmente emocional positivo, uma espécie de
considerada como a da geração de recompensa límbica pela eficiente
previsões (Barlow, 2001). antecipação. Anatomicamente, existem
No que se tange à experiência dois circuitos cerebrais que operam
humana, existe outro fato psicológico simultaneamente, que o autor chama de
diretamente correlacionado ao caminho ‘rápido’ e caminho ‘lento’ (cf.
fenômeno da antecipação: a emoção. Fig. 1). O caminho ‘rápido’ resulta no
Apesar de inúmeras vertentes diferentes que se conhece por surpresa. A surpresa
nas pesquisas relacionadas às emoções2, é uma resposta emocional sempre
parece que, em geral, pode-se afirmar negativa, porém extremamente
que elas são correlatos psicológicos de importante, que visa preparar o
processos cerebrais que atuam como organismo para a ação o mais rápido
motivadores, relacionados aos objetivos possível, já que suas previsões
ou propósitos de um organismo (Frijda, mostram-se falhas – ser surpreendido
1987; Frijda, 1986; Scherer & Ekman, significa ter feito as previsões erradas.
1984). Huron (2006, p.4) sintetiza essa Por sua vez, o caminho ‘lento’ envolve
visão afirmando que “as emoções áreas corticais, responsáveis por uma
encorajam os organismos a perseguirem avaliação mais contextualizada, porém
comportamentos que são normalmente que requer mais processamento ou
adaptativos, e a evitar comportamentos atividade cerebral. A avaliação lenta
que são normalmente inadaptativos.” pode apresentar uma valência límbica
Sendo assim, as emoções supostamente contrastiva com relação àquela gerada
exercem um importante papel na pelo circuito rápido, quando a análise da
geração de expectativas, pois as situação evidencia que o estímulo,
expectativas eficientes (aquelas que se apesar de surpreendente, não oferece
mostram verdadeiras no desdobrar de risco ao organismo. O contraste da
eventos) levam o organismo a um valência negativa e positiva ressalta o
estado mais desejável, associado a um estado emocional positivo. Emoções
estado emocional de valência positiva; positivas, portanto, podem decorrer de
enquanto que falhas preditivas levam a duas situações: (i) quando a antecipação
estados indesejáveis ou mesmo mostra-se como correta (recompensa
perigosos, associados a caracteres límbica); ou (ii) quando a antecipação
afetivos de valência negativa. mostra-se equivocada, mas sem causar
perigo ao organismo (valência
2
contrastiva).
Para uma visão geral, cf. Oatley (2001).
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Figura 1. Diagrama esquemático dos circuitos cerebrais envolvidos nas reações emocionais. (In:
Huron, 2006, p. 20)
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Peter Dietrich
peterd@uol.com.br
Resumo: Este artigo propõe uma análise integrada dos elementos verbais e musicais da canção
"A história de Lily Braun", de Edu Lobo e Chico Buarque. Para tanto, conjugaremos algumas
proposições da semiótica tensiva de Claude Zilberberg com o modelo de semiótica da canção
desenvolvido por Luiz Tatit.
valores de
absoluto
-
- +
valores de universo
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E voltou E voltou
Me ofereceu um drinque No derradeiro show
Me chamou de anjo azul B Co poemas e um buquê
Minha visão Eu disse adeus B
Foi desde então Já vou com os meus
Ficando flou Numa turnê
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Parte A
Fá ro meus no
Mi so me e mais
-ra
Ré -mance dos -nhos dancing
Dó
-mem
Sib
La
O ho
218
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Parte B
Dó -fe
me o -re -zul
Sib
Lá voltou -ceu -jo a
Sol Um
drin an
Fá
Mi -que e
Ré E me de
Dó Cha
-mou
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Peter Dietrich
peterd@uol.com.br
Maria Rita Aredes
Resumo: O modelo de análise semiótica de canções criado por Luiz Tatit recai principalmente
sobre a curva melódica que sustenta a letra. No entanto, em canções no estilo rap, a curva
melódica é geralmente dissolvida para dar lugar a uma melodia que se aproxima da fala
cotidiana. Além disso, a canção é construída a partir de uma complexa rede de produção de
sentidos criados pelos instrumentos que nela atuam. Neste artigo realizaremos a análise da
canção “Tribunal de rua”, do grupo O Rappa, e mostraremos que o timbre pode ser usado como
fio condutor dos sentidos construídos pela canção.
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E eu ainda
tentei O cano do fuzil refletiu
argumentá o lado ruim do Brasil
Mas, tapa na Nos olhos de quem quer
cara pra me e quem me viu, único
desmoralizá civil
Tapa, tapa na Rodeado de soldados
cara pra Como se eu fosse o
mostra quem culpado
é que manda No fundo querendo
Porque os estar
cavalos À margem do seu
corredores pesadelo
ainda estão Estar acima do biótipo
na banca suspeito
Nesta cruzada Nem que seja dentro de
de noite, um carro importado
encruzilhada Com um salário
Arriscando a suspeito
palavra Endossando a
democrata impunidade
Como um À procura de respeito
Santo Graal
Na mão (Mas nesta hora) só tem
errada dos (sangue quente)
hômi Quem tem (costa
carregada em quente, quente, quente)
devoção Só costa quente, pois
De geração nem sempre é
em geração inteligente
todos no (Peitar) peitar, peitar
bairro já (um fardado alucinado)
conhecem Que te agride e ofende
essa lição (pra te levar, levar,
levar)
Neste ponto entra em cena um Pra te levar alguns
segundo timbre de voz, que ao invés da trocados (diz aê)
Pra te levar, levar,
interpretação linear em rap canta em levar / Pra te levar
uma tessitura de uma oitava. É uma alguns trocados (segue
enorme explosão passional, a mão)
contrastando com a entoação contida Era só mais uma dura
empregada desde o início da canção. Resquício de ditadura
Mostrando a
Temos aqui um alinhamento claro dos mentalidade
dois sujeitos que estes timbres De quem se sente
representam: um sujeito da resignação, autoridade
que fala, e outro da indignação, que Nesse tribunal de rua
canta. A oposição liberdade vs opressão
aqui se manifesta melodicamente: Aqui está o cerne da crítica feita
enquanto o sujeito da resignação, que pelo enunciador, crítica que se desdobra
aceita a opressão, manifesta-se dentro em várias vertentes. Há uma
de uma tessitura extremamente condenação ao fazer dos policiais, assim
contraída, o outro explode em liberdade como também há uma denúncia de
com uma tessitura que é preconceito racial (biótipo suspeito).
comparativamente muito alongada. Mas há também uma crítica social mais
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7. Referências
1
O disco de vinil, sucessor do disco de acetato,
foi o grande veículo de distribuição de música
até meados da década de 80, sendo então
progressivamente substituído pelo Compact
Disc (CD). Sua reprodução era feita em vitrolas
(por sua vez, sucessoras do gramofone), em que
uma agulha deslizava sobre as irregularidades
gravadas no disco, transformando as
informações assim registradas em sinais
elétricos, posteriormente amplificados e
convertidos em som.
2
Cf. o artigo “Minha alma: construção do
sentido na canção do Rappa” (Aredes e
Dietrich, 2007)
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Ataque Rima
Núcleo Coda
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Jr., J. M., PLG, 79]. As pausas fraca do tempo); os tempos fortes são
separativas ( | ) entre os (GR)s e os preenchidos por pausa, e os fracos com
(GF)s ocorrem naturalmente em notas”.
qualquer ponto do verso. Aplicamos, II.1.2.2. Síncopa (ς):
porém, particularmente o nome de deslocamento da acentuação normal dos
cesura ( || ) à pausa intencional e usual tempos do compasso, pela prolongação
em um ponto determinado do verso. de tempo fraco (ou parte fraca do
[Ali, 41]. tempo), para o tempo forte (ou parte
forte do tempo)” [Bona, 3,5,6 e 17)
I.4. O ritmo “fonológico” é a
repetição regular, na cadeia da fala, de III. A canção do Latim cantione,
impressões auditivas análogas, criadas acusativo de cantio, -onis (“canto”,
pelos elementos prosódicos. [Dubois, “canção”) do verbo cano, canis, cecini,
523] cantum, canere (“cantar”). Associada à
poesia lírica, de “lira” (< lira, ae),
II. A Música é a arte de instrumento musical. Daí, o
expressar as combinação de sons de uma entrelaçamento da instrumentação, a
maneira lógica e agradável. É dividida letra e o canto – bases da canção
em três partes: melodia, harmonia e popular vizinha do folclore. [Moisés,
ritmo, possui quatro propriedades: 281-282].
altura, duração, intensidade e timbre.
III.1. A voz do intérprete é o
II.1. O ritmo disciplina o tempo componente melódico que juntamente
na execução dos sons, medida de com o componente lingüístico dão
duração das notas (dos valores). identidade à canção (a instrumentação,
Considera-se valor o tempo de duração os arranjos etc., são variáveis de cada
do som (nota) ou da pausa (P) (silêncio) execução). [Tatit, 23]
que são variáveis.
2. Objetivos
II.1.1. Compasso (Cp) é a
divisão da música em tempos iguais 1. Comparar a “leitura rítmica” do verso
(pequenas partes de duração). É medida “falado” (ou “recitado”) com a do verso
métrica e rítmica, às vezes variável. “cantado” (ou “entoado”) na melodia,
identificar as alterações de acento entre
II.1.2. Tempo (t) é uma pequena as duas leituras e apontar as
parte de duração dentro de um conseqüências e possíveis causas dessas
compasso. Podem ser fortes, meio-fortes variações.
ou fracos, dependendo de sua maior ou 2. Propor uma leitura rítmica da palavra
menor acentuação no discurso musical. “cantada” a partir da leitura rítmico-
Geralmente o 1º. tempo (1) é forte e os melódica.
demais (2, 3, 4) são meio-fortes ou
fracos. Indicam-se aqui os tempos sob a 3. Métodos
escansão de cada (Vs).
I. Comparativo, expositivo e
II.1.2.1. Contratempo (Ct): na demonstrativo.
combinação de valores em uma peça, o
acento normal é deslocado, em vez de I.1. Comparação da leitura dos
ser no tempo forte, cai no fraco (ou parte versos “falados” (ou “recitados”)
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GF1[Co / me / çou // a / cir //cu /lar //] GF2[ o Ex / pres / so // dois dois // dois / dois//]
(σ+) (σ±) (+φ) (+φ) (σ±) (σ+)
[(κ→Δt) + Δt = Δf] [(κ→Δt) + Δt =Δf]
GRs[− − + | − + | − + || − + −| − + | − + ]
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←
Co / me / çou a // cir / cu // lār / o Ex // prēs / so // dois / dois // dois / dōis/
ς1 2 ς1 ς2 1 2 ς1
[+ − − / + − / + − / + − / + − / ± + ]
Segunda parte
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1 2 1 2 ς1 2 1
[− + − / − + − / − + − / − + / − +]
(...)
Su / bin // do ao / céu //
2 ς 1 2 1
[− + /− +].
→
Num / véu // de / nū1 //2 vem3 / bri //4 lhan / te // su / bin //5 do ao6 / céu//
2 ς 1 2 Ct 1 2 1
[− +/ − + / + − / + − / − + / − +]
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4.3 Público-alvo
4.1 Tempo necessário para a
demonstração da metodologia As Oficinas de Performance são
indicadas para estudantes performers de
Um tempo desejável de sessenta nível médio ou superior, e para
minutos seria necessário para a educadores musicais e músico
demonstração da metodologia, pois é educadores (professores de instrumento
esperado que haja duas apresentações, e de canto, regentes de coro e orquestra)
com instrumentistas e/ou cantores com como forma de reciclagem de novos
níveis de desenvolvimento diferentes, conhecimentos e novas abordagens
para que vários aspectos possam educacionais para a música e
emergir das apresentações e serem performance musical.
trabalhados. Uma vez que o trabalho
com cada performer toma cerca de 25 5. Resultados
minutos, e 10 minutos poderão ser
usados ao final para perguntas, um A prática diária deste autor, a
tempo mínimo de 60 minutos seria demanda de professores de outras
desejável para uma demonstração instituições e o interesse dos próprios
satisfatória da metodologia. alunos apontam para alguns resultados
positivos verificados de maneira não
4.2 Material e recursos humanos formal. Dentre eles, temos (1) os
necessários resultados positivos verificados durante
as dinâmicas da própria oficina, (2) o
(1) É necessário que a Oficina de crescente interesse dos alunos
Performance se desenvolva num envolvidos de se apresentarem por
auditório, ou numa sala grande onde conta própria em concertos e audições;
possam ser definidos os locais para a (3) a constatação de melhoras no
audiência (platéia) e para o performer aprendizado, na motivação e na
(palco). (2) É desejável que haja a performance musical, relatados pelos
possibilidades de visualização ou professores de instrumento e canto dos
ilustração dos modelos e esquemas alunos envolvidos.
didáticos utilizados através de um As
computador com um projetor de mídia, oficinas de Performance ainda não
ou um retro-projetor, ou mesmo um foram submetidas a uma investigação
quadro branco com pincéis coloridos. formal de consistência metodológica
(3) É desejável que o auditório ou sala para averiguar a validade de suas
para a demonstração tenha um piano, propostas e a extensão de seus
para possibilitar mais opções de objetivos. Este é o objetivo deste autor
apresentação. Caso não seja possível, as para um futuro bem próximo.
apresentações poderão ser feitas com
instrumentistas solo. (4) É desejável que 6. Referências
se apresentem formações musicais não
maiores do que duos, uma vez que as CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: Uma
formações maiores diluem as Nova Compreensão Científica dos
expectativas e as tensões da Sistemas Vivos. São Paulo: Cultrix,
performance, camuflando algum 1999.
problema ou deficiência que algum
deles poderia apresentar.
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Anahí Ravagnani
UFPR
anahiravagnani@hotmail.com
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Caroline Pacheco
UFPR
carolbrendel@gmail.com
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Magne & Besson, 2004; Magne, Schön & participantes eram músicos com cerca de
Besson, 2006). Partindo das idéias de que 15 anos de estudo; já o estudo
(1) a prática musical intensiva ou a desenvolvido com crianças analisou os
exposição à música podem beneficiar resultados de 26 crianças de 8 anos (14
domínios não-musicais e (2) que o meninas e 12 meninos), metade das quais
treinamento musical pode ser responsável estudava música. Todos os participantes
por importantes diferenças na dos estudos tinham o francês como língua
organização anatomo-funcional do materna, eram destros e não apresentavam
cérebro, os autores buscaram verificar se problemas de audição. As crianças que
a prática musical pode favorecer o participavam da pesquisa estudavam na
desenvolvimento e o funcionamento de mesma escola e provinham do mesmo
áreas cerebrais específicas, favorecendo grupo socioeconômico. Elas foram
não somente o processamento musical, divididas em dois grupos: músicos e
mas também as transferências positivas não-músicos. As crianças do grupo dos
para outros domínios da cognição, como músicos tocavam instrumentos musicais
a linguagem. Para tanto, elaboraram dois há cerca de quatro anos e praticavam
estudos praticamente iguais, um diariamente. Já as crianças do grupo dos
realizado com adultos (Schön, Magne & não-músicos participavam regularmente
Besson, 2004) e outro com crianças de diversas atividades extracurriculares
(Magne, Schön & Besson, 2006). (como natação, judô, tênis, entre outras).
Os pesquisadores usaram técnicas Os participantes foram submetidos
avançadas de imageamento cerebral que a um teste em que ouviam melodias e
ofereceram novas formas de analisar os frases enquanto um equipamento de
resultados do estudo, o que resultou na eletroencefalograma registrava a resposta
diminuição de problemas metodológicos da atividade elétrica cerebral, o potencial
encontrados em outros estudos da área. relacionado ao evento (ERP). Cada
As pesquisas objetivavam verificar se o participante ouviu blocos de melodias e de
treinamento musical influencia o materiais prosódicos (frases) e deveria
processamento de alturas na música e na decidir, com a maior precisão e o mais
linguagem. Para isso, os estudos rápido possível, se a altura da última nota
compararam a percepção de alturas na da melodia e da última palavra da frase
música e na linguagem a partir de testes estava correta ou não. O procedimento
de ERP1,obtidos através da violação, em ocorreu utilizando como estímulo uma série
diferentes graus, da expectativa da de sentenças em francês e uma série de
freqüência fundamental da nota final de melodias que foram apresentadas em três
uma melodia e da última palavra de uma condições experimentais: nota ou palavra
frase. final prosódica ou melodicamente (1)
O estudo realizado com adultos congruente, (2) fracamente incongruente e
(Schön, Magne & Besson, 2004) (3) incongruente. No caso do estudo com as
comparou os resultados de 18 adultos crianças, as frases foram retiradas de livros
(média etária de 31 anos), sendo que nove infantis e as melodias pertenciam ao
cancioneiro infantil.
1
Resumidamente, os resultados
EPRs (sigla de potencial relacionado ao obtidos foram analisados verificando a
evento) compõem uma forma de medição,
através de um eletroencefalograma, da resposta
quantidade de erros, o tempo de reação
da atividade elétrica cerebral que está ao estímulo e os dados elétrico-
diretamente ligada ao resultado de um fisiológicos. Os autores concluíram que
pensamento ou de uma percepção, partindo de (a) adultos músicos detectaram, com
um estímulo interno ou externo.
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vida escolar das crianças e não se sabe se de novas diretrizes teóricas para a
o aprendizado formal, ao qual as cognição musical no Brasil.
crianças foram submetidas, teve alguma
influência nos resultados da pesquisa.
8. Subáreas do conhecimento
Schellenberg (2001) ainda revisou
outros estudos que procuraram Cognição musical, educação musical,
estabelecer conexões entre o aprendizado lingüística, neuropsicologia cognitiva.
musical e diversas habilidades não-
musicais como as habilidades espaciais
9. Referências bibliográficas
(descritas anteriormente), as habilidades
de leitura; as habilidades matemáticas; a
BORGES, José. Música é linguagem?.
memória e a inteligência. Porém, o autor
questiona se todos os resultados obtidos In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE
nesses diversos estudos podem ser COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS, 1,
atribuídos somente à aprendizagem 2005, Curitiba. Anais… Curitiba:
musical e propõe a realização de estudos Deartes-UFPR, 2005, p. 3-9.
rigorosos que levem em conta, também, CAMPBELL, Don G. O efeito Mozart:
o desenvolvimento neurológico nos explorando o poder da música para curar
primeiros anos de vida assim como as
o corpo, fortalecer a mente e liberar a
influências do meio no desenvolvimento
infantil. criatividade. Trad. Nivaldo Montigelli
Jr.. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
7. Conclusões e implicações preliminares ILARI, Beatriz. A música e o
desenvolvimento da mente no início da
Esta breve revisão de literatura vida: investigação, fatos e mitos. In:
aponta para diversas possibilidades de SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE
pesquisa sobre a música e as transferências
COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS, 1,
cognitivas. Além de desvelar muitas
abordagens metodológicas, assim como 2005, Curitiba. Anais… Curitiba:
suas incongruências, a análise destes Deartes-UFPR, 2005, p. 54-60.
estudos demonstra claramente a ausência MAGNE, Cyrille; SCHÖN, Daniele; BESSON,
de estudos realizados no Brasil. Faz-se Mireille. Musician children detect pitch
necessário um aprofundamento teórico violations in both music and language
desta área e, principalmente, a realização
better than nonmusician children: behavioral
de estudos que tomem dados de amostras
brasileiras e considerem este nosso contexto, and electrophysiological approaches.
amplamente rico e fundamentalmente Journal of Cognitive Neuroscience,
diverso. [S.l.], v. 18, n. 2, p. 199-211, 2006.
Há a necessidade de estudos que SCHELLENBERG, E. Glenn. Music lessons
considerem a língua portuguesa, a escola enhance IQ. Psychological Science, [S.l.],
brasileira e os inúmeros contextos de v. 15, n. 8, p. 511-514, 2004.
aprendizagem musical nos quais os
SCHELLENBERG, E. Glenn. Music and
brasileiros, sejam crianças, adolescentes
ou adultos, estão engajados. Esta nonmusical abilities. Annals of the New
‘pesquisa brasileira’ trará subsídios para York Academy of Sciences, New York,
a verificação da validade de estudos v. 930, p. 355-371, 2001.
estrangeiros ou para o estabelecimento SCHÖN, Daniele; MAGNE, Cyrille;
BESSON, Mireille. The music of speech:
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Celina Maydana
cmaydana@compuland.com.br
Maria de Fátima Brasil
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Esse texto tem por objetivos: a experiência com música que a torna
apresentar e refletir o tema música em importante para a terapia?” (Brandalise,
Musicoterapia à luz da teoria da 2001, p. 28). O termo musicoterapia
Complexidade; apresentar as contribuições músico-centrada associado aos conceitos
da aproximação entre Teoria da Metáfora apresentados nas abordagens Nordoff
e Teoria da Música para o campo da Robbins e GIM é uma sugestão da Mt.
Musicoterapia Músico-Centrada. Bárbara Hesser. Sua intenção era
Com isso traz alguns aspectos apresentar elementos que ampliassem a
dessa abordagem que são pouco visão de Música em Musicoterapia
difundidos no Brasil. Não busca a presente nas demais abordagens, ou
verdade sobre música em Musicoterapia, seja, “uma ferramenta no auxílio à
mas sim, possibilita estar em um contemplação de objetivos da terapia”.
caminho que se revela ao caminhante no A manutenção do termo propunha-se a
momento da caminhada por, afastar-se “focar a atenção no porquê e no como
do campo de significados representados e poderia se pensar e utilizar o poder da
aprofundar-se do ambiente de interações e música, em sua capacidade plena, no
relações consensuais. Os sentidos e trabalho. [...] chamar nossa atenção para
significados da experiência musical são a função central da música no
únicos para cada pessoa e emergem junto tratamento musicoterápico” (Hesser,
com a experiência. O ambiente nesse apud Brandalise, 2003, p. 12).
trabalho é de musicalidades em ação O livro Musicoterapia Músico-
onde, mente e corpo, personalidade e Centrada (Brandalise, 2001) apresenta
musicalidade, estão integrados. Fazer uma proposta de sistematização desse
música faz bem às pessoas pelo simples modelo e Music-centedered Music
fato de ser música e pelo que podem Therapy (Aigen, 2005) traz as bases
aprender, delas mesmas, nessa experiência filosóficas e teóricas da Música como
(Elliott, 1995). fundamentações para uma teoria da
Musicoterapia.
2. Musicoterapia músico-centrada Nessa abordagem o processo
musicoterapêutico ocorre com o
A prática científica da equilíbrio dos três elementos: o cliente,
Musicoterapia iniciou-se em meados do o terapeuta e a música. O princípio que
século XX e o IX Congresso Mundial de move esse sistema é a experiência de
Musicoterapia (Washington, 1999) estar na música, (living in the music)
reconheceu cinco modelos teóricos: “terapeuta e paciente vivendo/sendo da
“Modelo Nordoff Robbins ou de forma mais intensa possível suas
Musicoterapia Criativa e Improvisacional; Experiências Criativas na Música”
Modelo GIM (Guided Imaginery and (Brandalise, 2003, p. 20).
Music); Modelo de Musicoterapia O ponto de partida dessa
Analítica; Modelo Benenzon; Modelo de abordagem são os trabalhos de Nordoff
Musicoterapia Behaviorista” (Shapira, & Robbins. Aigen (2005) agrega os
2002, p. 11). conceitos de musicing e teoria da
Desses cinco, o Modelo Nordoff Metáfora aos já existentes: music child2
Robbins e Modelo GIM têm por base o
questionamento1: “O que é único sobre na New York University em 1982. Esse evento
é um marco no desenvolvimento da Musicoterapia
1
Estas inquietações levaram à organização do Mundial.
2
Second World Symposium on Music Therapy, Esta abordagem desenvolveu-se como o
com o tema: Music in the life of Man realizado trabalho musicoterapêutico voltado à clientela
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of music. Journal of Music Theory, Music. Annals of the New York Academy
[S.l.], v. 40, n.02, p. 217-243, 1996. of Sciences, New York, v. 930, 2001.
SCHAPIRA, Diego. Musicoterapia: ZBIKOWSKI, Lawrence. Metaphor and
Facetas de lo inefable. Rio de Janeiro: music theory. Music Theory Online, vol.
Enelivros, 2002. 4, n.1. Disponível em: <http://smt.ucsb.
SEKEFF, Maria de Lourdes. Da Música: edu/mto/mtohome.html>. Acesso em: 1997.
seus usos e recursos. São Paulo: Unesp, 2002. ZBIKOWSKI, Lawrence. Conceptualizing
TURRY, Alan. Rethinking Music and music: Cognitive structure, theory, and
Community: theorical perspectives in analysis. Oxford University Press, 2002.
support of community Music Therapy. ZUCKERKANDL, Victor. Sound and
In: FORINASH, Michele. Music Therapy Symbol: Music and the external world.
Supervision. Phoenixville: Barcelona Princeton: Princeton University Press,
Publishers, 2001. p. 351-377. 1973. (Bolligen Series XLIV)
ZATORRE, Robert; PERETZ, Isabelle
(eds). The Biological Foundations of
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Elaine Kafjes
Mirna Domingos
Márcio Andriani
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Esther Beyer
UFRGS
esther.beyer@ufrgs.br
Resumo: A neurociência tem trazido muitas novas descobertas nos últimos anos, a partir de
novas técnicas de estudo do cérebro, menos invasivas e possíveis de aplicar também nos bebês.
Shore (2000) apresenta uma síntese das conclusões da neurociência e suas conseqüências
pensadas para a primeira infância, além de vários outros estudos na área de música (Bastian,
2003; Ilari, 2006; Maffioletti, 2002, entre outros). Assim, este estudo se concentrou em realizar
observações com os bebês do Programa de Extensão “Música para Bebês” (UFRGS), visando
detectar os efeitos de diferentes interações dos bebês com a música. No projeto, atende-se 70
bebês de 0 a 24 meses por semestre, sendo que eles têm uma hora semanal de aula de música,
acompanhados de seus cuidadores (pai, mãe, avó, babá, etc.). Especialmente, buscou-se estudar
os casos de bebês com interação mais frágil com seus cuidadores. Para tanto, foram realizadas
filmagens durante todas as aulas, e gravadas em DVD. Da triagem inicial, foram selecionadas
algumas cenas que poderiam indicar a interação frágil do bebê com a música, provocados por
uma vinculação também mais fragilizada ou ausente com a criança durante as aulas. Após
observação repetida das cenas selecionadas, observou-se como resultados de que quanto mais
cedo eram os momentos de ausência do cuidador, menor parecia a iniciativa do bebê em idade
posterior em relação à música. Dois bebês de um mesmo grupo apresentaram, em seu primeiro
semestre, cuidadores ausentes, pouco envolvidos com as atividades. Ao ver algumas cenas
destes mesmos dois bebês com suas cuidadoras um ano e meio depois, vemos os mesmos
muitas vezes parados, olhando para o que ocorre com os outros, perdidos. Quando há uma
oferta muito interessante, como a aparição de tambores em sala de aula, eles tomam iniciativa
de explorar, porém, sem interação com o adulto que os trouxe. Todavia, nos casos observados e
analisados, não se percebeu nenhum prejuízo maior no desenvolvimento geral ou musical das
crianças. Neste momento é que entra a grande relevância de um trabalho sistemático e grupal de
Educação Musical. Pareceu-nos que, quando não há envolvimento muito intenso por parte do
cuidador com a criança na música, os outros bebês, a professora e as outras mães desempenham
este papel na vida do bebê. São as dinâmicas do grupo que parecem compensar a falta de
interação com os pais ou cuidadores neste momento. Se o bebê não sacode o chocalho que
recebeu, e não é motivado pela sua mãe que ali está, ele pode também se motivar pela ação dos
outros bebês que movimentam freneticamente seus chocalhos, dançam e cantam, além de
receber sorrisos e pequenos impulsos de outras mães e também da professora.
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com a música. No projeto, atende-se 70 porém, sem interação com o adulto que
bebês de 0 a 24 meses por semestre, os trouxe.
sendo que eles têm uma hora semanal de Todavia, nos casos observados e
aula de música, acompanhados de seus analisados, não se percebeu nenhum
cuidadores (pai, mãe, avó, babá, etc.). prejuízo maior no desenvolvimento
Especialmente, buscou-se estudar os geral ou musical das crianças. Neste
casos de bebês com interação mais momento é que entra a grande
frágil com seus cuidadores. Para tanto, relevância de um trabalho sistemático e
foram realizadas filmagens durante grupal de Educação Musical. Pareceu-
todas as aulas, e gravadas em DVD. nos que quando não há envolvimento
Posteriormente, foram analisados alguns muito intenso por parte do cuidador
bebês cujos cuidadores pareciam estar com a criança na música, os outros
mais distraídos em aula, ausentes. bebês, a professora e as outras mães
Destaque-se aqui que este não costuma desempenham este papel na vida do
ser um comportamento acentuado ou bebê. São as dinâmicas do grupo que
contínuo, em geral os cuidadores tem parecem compensar a falta de interação
alguns momentos de ausência e depois com os pais ou cuidadores neste
interagem novamente com seus bebês. momento. Se o bebê não sacode o
Da triagem inicial, foram selecionadas chocalho que recebeu, e não é motivado
algumas cenas que poderiam indicar a pela sua mãe que ali está, ele pode
interação frágil do bebê com a música, também se motivar pela ação dos outros
provocados por uma vinculação também bebês que movimentam freneticamente
mais fragilizada ou ausente com a seus chocalhos, dançam e cantam, além
criança durante as aulas. de receber sorrisos e pequenos impulsos
Após observação repetida e em de outras mães e também da professora.
câmera lenta das cenas selecionadas, Hallam (2006) menciona fatores
observou-se como resultados de que sociais como o apoio dos pais, professores
quanto mais cedo eram os momentos de e interações de seus pares para serem
ausência do cuidador, menor parecia a considerados mais importantes do que um
iniciativa do bebê em idade posterior grande tempo de prática para conseguir um
em relação à música. Dois bebês de um nível mais elevado no desempenho
mesmo grupo apresentaram em seu musical. Nós também observamos que o apoio
primeiro semestre cuidadores ausentes, de pais, professores, e principalmente a
pouco envolvidos com as atividades. interação entre os pares (outros bebês)
Uma provavelmente envolvida em foi fundamental para a construção do
depressão pós-parto, outra não era a processo de desenvolvimento musical
mãe e parecia não se importar muito na criança.
com o que aconteceria ao bebê em aula, Concluindo, segundo Beyer (1988,
desde que ele estivesse seguro e não se 1999), só há aquisição do saber
machucasse. Ao ver algumas cenas mediante a ação do sujeito sobre o
destes mesmos dois bebês com suas objeto e a posterior reorganização
cuidadoras um ano e meio depois, interna do mesmo, como preconizado
vemos os mesmos muitas vezes por Piaget. Ação e reflexão – prática e
parados, olhando para o que ocorre com teoria – são vistas como um só conjunto
os outros, perdidos. Quando há uma interdependente. Assim, para que haja
oferta muito interessante, como a construção de estruturas no cérebro, é
aparição de tambores em sala de aula, preciso que haja interação sobre o
eles tomam iniciativa de explorar,
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internas que englobam aspectos afetivos idoso, a sua história de vida pode gerar
e cognitivos, pois a inter-relação entre elementos significativos para a
as formas musicais e as histórias aprendizagem e o autodesenvolvimento.
pessoais de cada indivíduo produz As idéias e pensamentos de
significado. Portanto, a experiência pesquisadores e teóricos como Charlot,
musical gera significados pessoais, que Swanwick e Elliott iluminam a nossa
motivam as pessoas e as estimulam à compreensão sobre a relação do homem
aprendizagem musical independente de com o saber musical e podem nos
sua faixa etária. orientar na busca por novas formas de
David Elliott (2005), em sua ensino e aprendizagem musical na
filosofia de educação musical2, parte de terceira idade.
duas premissas: 1) a natureza da
educação musical depende da natureza 3. Pesquisas e tendências sobre a
da música e 2) a natureza da música está aprendizagem musical na terceira
relacionada ao seu significado para idade
quem a realiza. Assim, o ensino e
aprendizagem musical devem promover As pesquisas sobre as práticas
o desenvolvimento do musicais na terceira idade enfatizam os
autoconhecimento e da auto-estima benefícios da mesma para os alunos
considerando as diferenças pessoais e (Yarbrough, 2007, Rodrigues, 2007;
culturais (Elliott, 2005, p.10). O fazer Luz, 2006; Ribas, 2006). Os estudos
musical está, pois, entrelaçado a contemplam diferentes práticas de
camadas do conhecimento e da ensino e aprendizagem musical: canto
afetividade, proporcionando coral; musicalização; instrumento;
oportunidade para a expressão musical práticas de conjunto, ensino de jovens e
por meio da emoção, dos sentimentos, adultos (EJA) e atividades musicais
dos pensamentos, dos conhecimentos e intergeracionais. De modo geral,
dos valores. Elliott (2005) reconhece procura-se verificar as motivações,
que o fazer musical é procedimental e expectativas, práticas e metodologias
envolve quatro formas de conhecimento que norteiam as aulas com alunos
musical: o formal (verbal), o informal idosos.
(saber prático), o impressionista Yarbrough (2007) destaca a
(emocional) e o supervisor (elaborações presença do indivíduo idoso nos mais
mentais de imagens musicais que variados ambientes de ensino e
englobam os demais conhecimentos). aprendizagem musical como uma das
Na sua concepção o desenvolvimento novas tendências da Educação Musical
musical é “situado” e difere de uma para o século XXI. Ela ressalta a
prática para outra, tal pensamento importância do ensino de música
implica que o ensino e a aprendizagem articular-se com a vida dessas pessoas,
musical deve contemplar diferentes bem como enfatiza a importância da
experiências musicais. No caso do atuação do idoso em experiências
musicais intergeracionais. Os resultados
2
da pesquisa de Ribas (2006) também
Elliott defende um modelo de educação indicam a importância da música para
musical, Praxial Music Education,
fundamentado no conceito aristotélico de
estudantes de gerações diferentes. Sua
práxis, que entende a educação como uma ação pesquisa mostra que não há fronteiras
humana prática que é refletida e visa o “bem” etárias na relação com a aprendizagem
para o homem, seu auto-desenvolvimento e musical e que todos têm muito a
auto-conhecimento (Elliott, 2005).
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Fernanda de Souza
f_fernandadesouza@yahoo.com.br
Resumo: O presente artigo refere-se a uma revisão crítica de literatura no campo da psicologia
cognitiva no que diz respeito às habilidades normalmente requeridas ao professor de música no
exercício de sua profissão. Junto a isso, busca-se refletir a respeito do pensamento do professor,
principalmente no que se refere à maneira como ele resolve problemas específicos de ensino da
música.
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Graziela Bortz
gbortz@uol.com.br
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aquisição dos títulos leva a “um recuo avaliações ocorrem constantemente para
para o talento (carisma) em favor da que se detectem possíveis falhas ou
riqueza”, ou seja, um recuo do mérito em sucessos na execução dos planos. Notas
favor do poder econômico. ou conceitos são alheios aos princípios
Opondo-se aos currículos pré- das escolas democráticas, que são contra
estabelecidos e à educação competitiva qualquer premiação ou desqualificação. A
visando os títulos estão as correntes de Escola da Ponte baseia a aprendizagem
educação democrática e de educação em pesquisa e projetos. As aulas
libertária ou anarquista, que mantêm raramente ocorrem, a não ser que os
certas afinidades, como a ênfase no alunos as requisitem (Pacheco, 2001).
processo de desenvolvimento da Outras escolas, como a de Summerhill, no
autonomia dos indivíduos. Em ambas as Reino Unido, têm aulas normalmente,
correntes, este processo é construído no apenas a presença dos alunos não é
âmbito social.1 A primeira corrente obrigatória (Neill, 1984).
baseia-se em pensadores e educadores Na corrente libertária, Gallo
como Tolstoi, Korckac, Neill (1984), (1995) diz que é preciso entender que a
Pacheco (2001) e Illich (2007). A segunda educação é essencial ao pensamento
baseia-se nas propostas anarquistas de anarquista e vice-versa, já que um
Bakunin, Proudhon, Robin, Faure e alimenta o outro em movimento circular.
Ferrer i Guàrdia, autores estudados por A concepção de liberdade no âmbito
Gallo (1995, 2007) em seu trabalho anarquista difere do conceito liberal e
sobre pedagogia libertária. neoliberal burguês (que o autor afirma ser
Não é apenas às exigências dos uma reedição da mesma estrutura de
títulos que essas correntes se opõem, mas dominação do liberalismo do século
especialmente aos currículos e à presença XVIII). A liberdade no pensamento
compulsória. São 209 as escolas burguês é considerada “como um fator
democráticas filiadas ao IDEC2 em todo o individual e natural, e não como um fator
mundo – a maioria encontra-se em Israel coletivo e cultural”, isto é, uma liberdade
e na Austrália – embora existam outras que se constrói coletivamente – como
tantas escolas que possuem afinidades de pensam os anarquistas (Gallo, 1995, p.
princípios, mas que não são filiadas. A 165). A liberdade burguesa é para poucos
maneira de lidar com a organização dos e em detrimento da liberdade de outros, a
currículos ou com a presença dos alunos anarquista é para todos. “Ao contrário da
varia de uma instituição à outra. Algumas, perspectiva burguesa, a liberdade de um
como a Escola da Ponte, em Portugal, não termina onde começa a liberdade do
organiza os conteúdos em um sistema de outro, mas ambas as liberdades começam
tutoria, onde o professor e o aluno juntas, e uma é a garantia da outra”
estabelecem um plano de pesquisa (Gallo, 2007, p. 104). A educação que
quinzenal, mas mantêm encontros diários aceita os princípios competitivos e
na chegada do aluno à escola, que possui individualistas do pensamento liberal é,
horário flexível, para estabelecer o plano portanto, uma educação de afirmação,
do dia subordinado àquele quinzenal. As reprodução e manutenção do status quo
da sociedade. A educação libertária
1 pretende ser protagonista de uma
Uma das características comuns a todas as
escolas democráticas são as assembléias
transformação social.
freqüentes, em que todos os membros da escola Assim descreve Gallo:
podem participar.
2
International Democratic Education Conference
<http://www.educationrevolution.org/index.html>.
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Hellen Ferracioli
hellenthf@yahoo.com.br
Resumo: As teorias e pesquisas recentes sobre o desenvolvimento humano ainda não oferecem
informações científicas suficientes para explicar a origem e o desenvolvimento de uma
inteligência superior em crianças superdotadas. Contudo, apesar de não haver um consenso na
discussão sobre esta temática, já é possível desmistificar as idéias errônias oriundas do
desconhecimento da população acerca da superdotação, para que esta classe de crianças seja
mais facilmente identificada e assistida de maneira adequada. Desta forma, faz-se relevante um
trabalho que esclareça as dúvidas sobre o desenvolvimento de altas habilidades e as
características comportamentais de crianças superdotadas. Dentre todas as áreas de
conhecimento, este trabalho tem como foco principal a superdotação em Música. Grande parte
das crianças musicalmente superdotadas não são identificadas, principalmente porque a
avaliação do nível de inteligência se dá através de testes de QI, que revelam, em geral, altas
habilidades acadêmicas. Existem crianças superdotadas nas mais diversas áreas, e o
desenvolvimento das habilidades é independente, podendo um indivíduo apresentar divergência
entre os níveis das inteligências humanas.
do desenvolvimento e comportamento de
1. Introdução crianças superdotadas, este assunto foi
abordado de três maneiras, neste trabalho.
O sistema educacional, até Primeiramente, foi realizado um
então, vinha dando pouca atenção às estudo bibliográfico, visando definir o
crianças superdotadas, considerando conceito de superdotação e outros termos
que muitas nem eram reconhecidas relacionados a este fenômeno. Buscou-se
como tais. No entanto, nos dias de hoje, discutir também alguns dos elementos
a preocupação com o despreparo dos que caracterizam estes indivíduos com
professores e a busca pela informação altas habilidades, e outras informações
sobre a superdotação tem aumentado, relevantes para que a família, a escola e a
pelo menos em teoria. A escola e a comunidade possam atuar de maneira
sociedade enxergam estes indivíduos adequada no processo de desenvolvimento
como seres privilegiados por possuírem e aprendizagem desta classe de crianças.
um “talento especial”, mas não admitem Em um segundo momento, o
que sejam tratados como “crianças trabalho teve como foco a superdotação
especiais”, isto é, necessitados de uma na área da Música, discutindo e
“educação especial”, assim como comparando os conceitos de superdotação
aqueles que possuem um grau de musical e inteligência musical, e
inteligência inferior com relação à abordando os diversos aspectos que
média. implicam no desenvolvimento superior da
Compreendendo a importância de capacidade artística. Nesta etapa,
um estudo sobre a superdotação, a fim de objetiva-se, entre outros fatores, traçar
esclarecer as principais dúvidas a respeito
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deste assunto, para saber a maneira mais dos superdotados sem acelerar.
adequada de agir diante de um caso de Basta que os professores estejam
superdotação. preparados para estimular essas
crianças em sala de aula, com
conteúdos e atividades além dos
2.6 A educação das crianças
tradicionais. (apud MILAN,
superdotadas 2007, p. 7).
Muitas crianças superdotadas, Do contrário, aqueles favoráveis
inseridas no sistema regular de ensino, à aceleração argumentam que a escola
ainda não foram identificadas. Tais não tem o direito de manter em uma
crianças, na maioria das vezes, são série escolar inicial um aluno que é
vistas como alunos indisciplinados e capaz de se adaptar a um nível muito
displicentes, um comportamento que mais avançado, pois isso seria coibir seu
reflete a falta de estímulo do ambiente interesse pelo domínio do conhecimento.
escolar. A medida principal para
A Lei nº 9394/96, da LDB (Lei derrubar grande parte dos obstáculos
de Diretrizes e Bases), no capítulo que dificultam o trabalho na educação
dedicado à Educação Especial, de superdotados é a informação sobre
pronuncia que, no caso de crianças este assunto, auxiliando na atuação dos
superdotadas, o programa educacional educadores.
deve ser acelerado, para que a conclusão
do Ensino Fundamental se dê em menor 3. Superdotação musical
tempo. Sendo assim, pode-se afirmar
que as escolas estão pecando e muito ao As crianças com altas habilidades
ignorar a presença dos superdotados nas em Artes ou em Música também podem
salas de aula, principalmente porque ser consideradas superdotadas, de acordo
essas crianças possuem o direito, com a visão atual sobre esta temática.
previsto e protegido por lei, de receber Suas habilidades superiores podem se
uma educação especializada para o seu manifestar nos diferentes aspectos da
potencial de desenvolvimento humano. inteligência musical.
Alguns profissionais da educação,
como Maria Lúcia Sabatella, mestre em 3.1 O conceito de inteligência musical
Educação e presidente do Instituto para a
Otimização da Aprendizagem, INODAP, Quando Gardner (1994, p.78)
se posicionam contra a aceleração de discute sobre o desenvolvimento da
crianças superdotadas, e alegam estarem inteligência em Música, ele revela que
preocupados com o isolamento social “[...] nenhum [talento] surge mais cedo
dessas crianças e a privação de uma que o talento musical”. O psicólogo ainda
infância normal em virtude da exigência ressalta que as diferenças particulares
do programa de ensino no qual foram visíveis são mais facilmente encontradas
inseridos. Sabatella, em um artigo para o no aprendizado do canto em comparação
jornal Gazeta do Povo, do mês de à linguagem, quando se trata de crianças
novembro de 2007, explica: em idade tenra:
A primeira opção é não adiantar
Algumas conseguem acompanhar
as séries, porque a criança pode
grandes segmentos de uma
se sentir deslocada em relação à
canção por volta da idade de dois
idade dos colegas. Temos muitos
ou três anos [...]; muitas outras
recursos para suprir a ansiedade
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Julia Escalda
juescalda@yahoo.com.br
desenvolvimento lingüístico de
1. Fundamentação teórica crianças. Trabalhos atuais têm sido
produzidos na literatura com a intenção
O desenvolvimento infantil tem de demonstrar relações entre música e
sido objeto de estudo há muitos anos em linguagem infantil.
diversas áreas do conhecimento como Aquisição e desenvolvimento de
psicologia, neurologia, lingüística, linguagem são processos dinâmicos que
fonoaudiologia. Os estudos dessas passam por etapas sucessivas
linhas investem, principalmente, na semelhantes para diversas línguas, são
produção de conhecimento relacionado também processos que envolvem
ao desenvolvimento cognitivo, afetivo, aspectos culturais e sociais que são
motor, lingüístico e musical da criança. peculiares de cada cultura. A aquisição
As tendências atuais sobre o e desenvolvimento do português
desenvolvimento infantil assumem um brasileiro já foram estudados e descritos
papel integrador dos aspectos orgânicos, por alguns autores, entretanto, existem
psicológicos, cognitivos, funcionais, poucos estudos no Brasil que busquem
culturais e sociais. Existe uma relacionar a educação musical infantil
preocupação crescente em buscar com as habilidades lingüísticas e
relações mais estreitas e produzir auditivas de crianças brasileiras.
estudos interdisciplinares entre diversas Como fundamentação teórica
áreas de conhecimento incluindo a foram adotados a teoria cognitiva
música e o desenvolvimento musical e o piagetiana, o Modelo Espiral de
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Avaliação Fonológica
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12 17
ILARI, Beatriz. A música e o cérebro: PARIZZI, Maria Betânia. O canto espontâneo
algumas implicações do neurodesenvolvimento da criança de três a seis anos como indicador de
para a educação musical. Revista da ABEM, seu desenvolvimento cognitivo-musical. 2005.
Porto Alegre, v. 9, p. 7-16, set. 2003. 144 f. Dissertação (Mestrado em Música). Escola
13
MOURÃO, L. F; PARLATO, E. M; de Música, Universidade Federal de Minas
SILVÉRIO, K. C .A; ALTMANN, E. B. C; Gerais, Belo Horizonte, 2005.
18
CHIARI, B. M. Descrição da ocorrência dos FRANÇA, Maria Cecília Cavalieri. Composing,
fonemas da língua portuguesa em pré-escolares. performance and audience listeninig as
Pró-Fono Revista de Atualização Científica, symmetrical indicators of music understanding.
v. 6, n. 1, p. 27-32, 1994. 1998. 297f. Tese (Doutorado em Educação
14
SWANWICK, Keith. Music, mind and Musical PhD). Institute of Education, University
education. Londres: Routledge, 1988. p. 76-80. of London, Londres, 1998.
15 19
idem idem
16 20
Idem idem
21
idem
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Lemuel Guerra
lenksguerra@yahoo.com
Resumo: Tendo como base o debate sobre estratégias de ensino de música e a produção de
performances expressivas, esta comunicação apresenta dados sobre percepções de alunos de
canto lírico a respeito das diversas modalidades de instrução utilizadas por seus professores com
o objetivo de traduzi-las em propriedades sonoras da música em suas performances.
Observamos 12 alunos de canto (sendo 6 graduandos e 6 graduados, 6 homens e 6 mulheres)
durante aulas práticas individuais e os entrevistamos sobre sua percepção e processamento das
instruções dadas. Os sujeitos trabalharam com suas experiências mais recentes e anteriores. As
entrevistas de pesquisa guiaram os sujeitos a falar sobre a freqüência em que ocorrem instruções
baseadas em imagens e metáforas, em verbalização concreta e em modelização, além de
discorrerem sobre suas preferências e percepções da produção de efeitos decorrentes delas em
suas performances. Os sujeitos falaram sobre suas impressões e pensamentos ocorridos relativos
às estratégias instrucionais adotadas pelo docente durante e depois das aulas de canto. A análise
dos dados indica que o background musical e o gênero influenciam as preferências em termos
de estratégias instrucionais, mas não o processamento das instruções de todos os tipos
posteriores às aulas. Finalmente discutem-se alguns possíveis desdobramentos das análises em
termos de práticas docentes na área de canto lírico.
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Luciane Cuervo
UFRGS
lu_cuervo@yahoo.com.br
Resumo: Esta comunicação tem por objetivo problematizar o ensino de música destinado ao
adolescente, o qual passa por profundas modificações em seu cérebro e em sua forma de
relacionar-se com a sociedade. Aborda características e obstáculos relativos à motivação do
adolescente para a aprendizagem sistemática de música, a partir da reflexão sobre a
personalidade e transformações psicológicas e neurológicas do indivíduo nessa fase,
relacionando-as com seu modo de pensar e fazer música. Levanta a questão: Como pode haver
uma significativa resistência à aprendizagem musical nesta faixa etária quando, em seu
cotidiano, a música é tão marcante? Serão sugeridas estratégias alternativas para possíveis
dificuldades no ensino de música para adolescentes na escola, fundamentadas teoricamente em
trabalhos dos neurocientistas Herculano-Houzel (2005) e Sacks (2007), dos psicólogos Inhelder
e Piaget (1976) e de educadores musicais, especialmente Eliott (1998) e Palheiros (2006). Serão
apresentados relatos da prática docente da autora, como exercício de reflexão teórica. Este
trabalho é um recorte da pesquisa de Mestrado em Educação/UFRGS em andamento, a qual
investiga a questão da musicalidade no processo de aprendizagem da flauta doce.
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artistas ditados pela mídia. Maffioletti tomar. Resolvi perguntar aos jovens que
(2001, p. 45), comenta a sobre a estavam saindo da escola pública de
conseqüência da repetição contínua de ensino médio, mas absolutamente todos,
músicas, o que acaba estabelecendo um ou seja, 100% dos estudantes que por
padrão de gosto. E isso define quais mim passaram durante os 15 minutos de
serão as estrelas do showbiz do espera, estavam ouvindo música por
momento, quem serão os artistas mais meio de Mp3. Completamente absortos
ouvidos e vendidos. em trilhas sonoras de suas vidas, não
A ampla presença da música na viam nem ouviam nada além de seu
vida dos adolescentes que me cercam, mundo próprio. (Diário de campo,
sejam eles alunos, familiares ou amigos, 08/11/2007).
me fez refletir sobre as possíveis causas Sacks critica este tipo de hábito,
da grande desistência ou desinteresse, acrescentando que atualmente “estamos
apontado pela maioria dos educadores cercados por um incessante bombardeio
musicais em relação ao aprendizado de musical, queiramos ou não”, e isso
música nesta faixa etária. Como pode acarreta temíveis conseqüências, como
haver uma significativa resistência à a “grave perda de audição encontrada
aprendizagem musical nesta faixa em parcelas cada vez maiores da
etária quando, em seu cotidiano, a população” (Sacks, 2007, p. 57). Talvez
música é tão marcante? É inegável a a visão de Sacks seja um pouco
importância da música no cotidiano do pessimis, já que esse fator negativo
adolescente, seja ouvindo música, poderia ser resolvido com a orientação
tocando em uma banda de rock, sobre a importância de uma redução do
cantando na igreja, dançando na festa volume (intensidade), ainda que não
ou tocando violão em uma roda de deva ser uma solicitação simples a um
amigos, enfim, nas mais variadas indivíduo que precisa de alguns
situações a música está presente na vida excessos para obter satisfação. O
dos jovens em quase todo o mundo. próprio autor afirma ser agradável e
As diferentes maneiras de ouvir estimulante a audição musical como
e “usar” música podem estar resultado do aumento de dopamina no
relacionadas com as funções da música, núcleo acumbens1 e de contribuição do
e podem depender de características cerebelo na regulação das emoções
pessoais do ouvinte (idade, formação Acredito que a satisfação do
musical), da situação (intenção de ouvir, adolescente em ouvir música não foi
atenção) e do contexto (físico, social, ainda produtivamente explorada, em
cultural, educativo) (Palheiros, 2006, p. todo seu potencial, pelos educadores
309). musicais. Constata-se, na prática, que o
O desafio que se impõe, no ensino teórico da música é bastante
ensino de música para adolescentes, é valorizado em sua riqueza de conteúdo
fazer com que a vivência na escola seja e quantidade de informações.
tão rica e apreciada como a vivência Herculano-Houzel afirma que o cérebro
informal, fora da escola. Registrei uma adolescente possui como característica
situação que pode ilustrar a presença da
música na vida do adolescente:
Estava saindo de uma 1
Núcleo Acumbens: é um órgão
observação de aula relativa ao meu neurotransmissor que possui como função a
mestrado (...), e precisava de uma estimulação cerebral, tendo associado a ele
informação sobre a condução correta a respostas motoras e controle de liberação de
dopamina (ligado ao sistema de recompensa).
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Luís Bourscheidt
gauspa@gmail.com
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Liciê Martin
UFPR
licie1986@yahoo.com.br
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Resumo: Este relato apresenta projeto de pesquisa de iniciação científica (PIBIC) que tem por
objetivo investigar, sob a ótica dos alunos do Ensino Médio, que saberes e competências
musicais estão sendo desenvolvidos nas aulas de música para cumprir as exigências cognitivas
do Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília. Neste programa, a
música é disciplina obrigatória no processo seletivo para ingresso nos cursos da universidade e
verifica o domínio de saberes e competências que correlacionem a linguagem musical com o
contexto sócio-cultural em que as relações homem-música ocorrem (HARGREAVES, 2005;
GREEN, 1997). O programa de avaliação seriada apresenta uma proposta singular e original,
fundamentada em três princípios: 1) avaliação centrada no domínio de competências e
habilidades cognitivas; 2) interdisciplinaridade entre as diversas áreas do conhecimento humano
e 3) a contextualização da linguagem musical. A presença da música no PAS tem exigido a
necessidade de compreendermos: 1) quê competências e habilidades cognitivas são exigidas no
domínio do conhecimento musical; 2) que competências e habilidades estão sendo
desenvolvidas nas aulas de música no Ensino Médio; 3) que competências e habilidades
musicais têm sido articuladas e integradas às outras áreas do conhecimento no Ensino Médio e
4) até que ponto o domínio dessas competências e habilidades têm transformado a vivência
musical dos alunos. Para responder a essas questões estamos realizando um survey (BABBIE,
2005) de pequeno porte com os alunos do terceiro ano do Ensino Médio. A análise dos dados
terá como referência o conceito de competência (DOLZ e OLLAGNIER, 2004); o Programa de
Avaliação Seriada (PAS/UnB) e autores que discutem a “identidade musical” dos jovens
(HARGREAVES, 2005). Neste texto, apresentamos o projeto em andamento, analisamos o
conceito de competências e habilidades utilizado na proposta de avaliação seriada e
apresentamos a proposta de avaliação da segunda etapa do subprograma de 2006 do PAS/UnB.
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Resumo: Este artigo pretende fazer uma abordagem o processo de ensino da relação e da
interação de Educação Musical e Educação Física através da Capoeira e de banda rítmica,
percussão e flauta doce em Projeto de Educação Especial. O trabalho visa à possibilidade de
utilizar a música como ferramenta de interação, socialização e principalmente educação, entre
os portadores de necessidades especiais com a comunidade escolar, a família e os próprios
alunos, em escola pública soteropolitana.
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2 3
Instrumentos (em asteriscos) de origem O Teclado era utilizado às vezes por um aluno
africana incorporada à cultura local da Bahia da escola regular que não portava deficiência e
desde a época escravidão no Brasil. integrava o grupo na oficina.
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As oficinas que a escola oferece são:
aprendizado de culinária, marcenaria, bordado,
libras (D.A) e (D.V), serviços gerais e apoio
pedagógico (“ponte” para inclusão em ensino
regular).
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Mariana Werke
UNIFESP
marianawerke@yahoo.com.br
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usado para avaliar a capacidade do Logie & Edworthy, 1986; Zatorre et al.,
sistema de armazenamento de curto 1994) e não por testes de recordação
prazo para material verbal (Richardson, serial. Nesses estudos, tipicamente se
1977; Saito, 2001; Shebani et al., 2005). apresenta um tom (estímulo) que deve
Neste teste, os indivíduos devem repetir ser comparado a algum outro
seqüências de dígitos na mesma ordem apresentado alguns segundos depois
em que lhes são apresentados. As (alvo), sendo que entre a apresentação
seqüências aumentam acrescentando-se do primeiro e do alvo pode-se
outro dígito a cada apresentação e o apresentar outros tipos de estímulos.
indivíduo deve esperar até o final de Baseados nesse tipo de estudo, alguns
cada seqüência para repetir os dígitos autores mostraram ocorrer interferência
apresentados. no reconhecimento de seqüências
Na língua inglesa, a habilidade melódicas por testes verbais (Logie &
humana em processar informação neste Edworthy, 1986, p. 36). Por outro lado,
tipo de teste é de sete, mais ou menos Deutch (1970) verificou que em um
dois itens (7 ± 2; Miller, 1956). Este teste de reconhecimento de tons, a
número, no entanto, difere interpolação de outros tons causa queda
significativamente entre os idiomas no desempenho, mas quando o mesmo
(Ardila, 2003) e tais diferenças podem teste é realizado com dígitos a serem
depender de fatores como tamanho, recordados no intervalo entre os tons
similaridade fonológica das palavras a principais, o declínio é mínimo. Este
serem lembradas (Baddeley, 1990, último dado sugere, ao contrário de
2003) e contexto semântico nos quais Logie e Edworthy, que os mecanismos
estas palavras se inserem (Ardila, 2003; de armazenamento de material melódico
Thorn et al. 2002; Thorn & Gathercole, e verbal na memória de curto prazo
1999). seriam independentes.
Os aspectos fonéticos e De acordo com o modelo de
semânticos da informação são sempre memória operacional de Baddeley &
bem contemplados nos estudos da alça Hitch (1974), os itens armazenados na
fonológica e memória operacional, alça fonológica também são passíveis
porém o modelo de memória de manipulação através do executivo
operacional de Baddeley não propõe central. Um dos testes que pode avaliar
explicitamente como outros tipos de a manipulação interna das
materiais, que claramente são representações mnemônicas da
armazenados na memória de curto informação verbal é o teste de
prazo, se relacionam com os amplitude numérica na ordem inversa
componentes do modelo. Este é o caso (Alptekin et al. 2005; Conklin et al.,
de material melódico, que não se 2000). Neste teste, é apresentada ao
encaixa facilmente na categoria verbal indivíduo uma seqüência de números a
ou vísuo-espacial. ser lembrada, e ele deve repetir a
Os poucos estudos sobre seqüência ouvida na ordem inversa. Na
armazenamento de material melódico, ordem inversa é possível se utilizar de
ou mais especificamente, do estratégias vísuo-espaciais além de
armazenamento de seqüências de tons, estratégias verbais para executar a tarefa
sem significado nem estrutura fonética, (Hoshi et al. 2000; Rudel & Denckla,
e com freqüências diferentes, é feito 1974). Provavelmente, esta estratégia
sempre por testes de reconhecimento não é utilizada quando o material a ser
(Berti et al., 2006; Deutsch, 1970, 1973; lembrado é de difícil visualização como
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seja devida à falta de contexto centros tonais, nos são mais familiares
semântico. auditivamente (ver Bennett, 1986). É
Embora o número de possível que a amplitude na ordem
pseudopalavras recordadas na ordem direta seja diferente se listas forem
inversa seja menor que o de dígitos, o construídas usando outros tipos de
índice calculado, que reflete a queda do escalas como a diatônica ou a
número de palavras lembradas na ordem pentatônica. Trabalhos estão sendo
inversa em relação à direta, é desenvolvidos no sentido de se explorar
semelhante para os dois tipos de se estes fatores influenciam a amplitude
material. Isso indica que a memória da memória de curto prazo melódica.
operacional para material verbal é Os indivíduos com ouvido
semelhante para material com absoluto possuem a capacidade de
significado ou sem significado. associar sons verbais às notas (Zatorre
Com relação aos estímulos que et al., 1998) e esta habilidade pode
não possuem significado, ou seja, em conferir vantagem na recordação das
relação às amplitudes de pseudopalavras melodias. No entanto, nem todos
e melódica na ordem direta, a análise utilizaram tal estratégia para recordar os
mostra que o grupo de cantores tons. A nova análise realizada apenas
amadores apresenta uma queda de com os sujeitos que utilizaram
desempenho no teste melódico em estratégias verbais mostrou que o
relação ao de pseudopalavras, fenômeno número de notas recordadas chega a ser
este não observado nos outros dois maior que o de pseudopalavras.
grupos. Isto sugere que o contato Na ordem inversa o material
profissional com a música, ou o tempo melódico é menos recordado que
de estudo de teoria musical facilita a pseudopalavras e estas menos
memorização melódica, fenômeno este recordadas do que os números,
já observado por Berti (2006) em testes sugerindo que a inversão de melodias é
de reconhecimento de tons. mais difícil que a inversão de material
O teste de amplitude melódica verbal. Este fenômeno também pode ser
na ordem direta para cantores evidenciado pela análise do índice.
profissionais e músicos com ouvido Como afirmado anteriormente,
absoluto pode parecer baixo (4,6 ± 0,99 as médias dos índices de amplitude
para profissionais e 4,87 ± 0,92 para numérica e de pseudopalavras
ouvido absoluto) levando-se em conta encontradas foram semelhantes,
que músicos conseguem guardar na portanto a manipulação de itens verbo-
memória melodias bastante longas. As acústicos sem significado na memória
escalas melódicas do presente estudo operacional parece não ser mais difícil
foram construídas a partir da escala do que a manipulação de itens verbo-
cromática e com seqüências sorteadas acústicos com significado. Porém, o
ao acaso e, portanto, não previsíveis. índice de amplitude melódica é maior
Isto foi feito com o intuito de impedir do que os dos outros dois tipos de
que os músicos buscassem esquemas amplitude, isto é, a queda no
melódicos pré-armazenados na memória desempenho quando na ordem inversa é
de longo prazo. A música ocidental é maior para material melódico do que
baseada em escalas tonais, isto é, para verbal. Logo, os resultados
sempre construída com base na escala sugerem que tanto cantores amadores
diatônica, composta por tons e como profissionais têm dificuldade em
semitons. Tais melodias, que possuem
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Maristela Smith
Resumo: Este trabalho tem por objetivo comentar sobre a aplicação técnica de escalas musicais
diatônicas, dentro do sistema temperado, em pacientes submetidos ao processo musicoterápico.
Tais pacientes tiveram aprendizado musical formal em piano e, portanto, treinaram
procedimentos que desenvolveram os aspectos motor e mental relacionados com percepção
intervalar, a partir dos quais foram observadas representações sonoro-musicais. Numa
abordagem neurocientífica, do estudo da relação entre música e cérebro, pretende-se discorrer a
respeito de respostas imediatas obtidas em sessões individuais, de onde resultaram esquemas
seqüenciais, com compreensão temporal, advindas da memória musical anterior a lesões nos
lobos frontais, parietais e/ou occipitais do cérebro. Vista a possibilidade de se interpretar o fato
como um “alerta atencional”, a previsão expressada de subseqüências intervalares, por um certo
número de pacientes, motivou a autora a pesquisar a questão, levantando a hipótese de que o
efeito da escala musical diatônica, em sistema temperado, em indivíduos que, em cujas histórias
pessoais insere-se o aprendizado técnico pianístico, anterior a uma lesão cerebral é imediato, se
comparado à lentidão do processamento auditivo quando decorrente de ferimentos
intracranianos por armas de fogo. Após observações e registros sonoro-musicais, feitos por
meio de gravações, filmagens e grafias, aventou-se a possibilidade de se utilizar, de maneira
criativa, a escala tonal de Dó maior como base, por ser a única do gênero a não possuir
alterações em sua estrutura, explorando-se várias técnicas musicoterápicas e musicais
propriamente ditas, de modo a se obter as mesmas categorias de respostas imediatas por parte
desses pacientes. Será evidenciado, neste artigo, um deles, cuja lesão foi conseqüência de
ferimento por projétil de arma de fogo com hidrocefalia derivada, a partir do qual o paciente foi
submetido à craniotomia frontal bilateral e occipital direita e dilatação dos ventrículos
supratentoriais, permanecendo a região temporal praticamente intacta. Detectaram-se, entre
outras, extensas alterações seqüelares com áreas de atrofia regional secundária. O caso em
estudo tem demonstrado a percepção sonoro-musical temporal dos eventos intervalares, como
fatores de alerta da atenção auditiva, o que possibilita o desenvolvimento, tanto mental quanto
motor, isto é, de compreensão e execução do paciente.
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Milson Fireman
milsonfireman@gmail.com
Resumo: O desenvolvimento de uma boa leitura musical tem sido um obstáculo para muitos
músicos. Provavelmente por compreender uma série de habilidades combinadas. Embora muitos
não concordem, a leitura à primeira vistaparece estar atrelada ao desenvolvimento musical.
Habilidades mneumônicas, cinestésicas, perceptivas e de resolução de problemas estão
envolvidas e podem ser desenvolvidas através da leitura musical. O presente trabalho tem como
objetivo principal reunir e discutir conceitos relacionados ao papel da memória durante o
processo de leitura à primeira vista. O texto está distribuído em quatro partes principais:
Introdução, A memória humana, A leitura e a memória e Considerações finais. Pude observar
que a memória tem um papel fundamental para que se possa alcançar fluência tanto na leitura
quanto na execução de peças musicais e que também pode ser aprimorada através treinamentos.
1
sight-reading comprises certain perceptual,
kinesthetic, memory, and problemsolving skills.
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Estudar o eye-hand span (EHS) tem demonstrar essa realidade, inverti duas
demonstrado diferenças significativas entre letras no texto “por exemplo”, logo a cima,
leitores com mais ou menos habilidade. e é fácil o leitor passar por ele
Leitores mais habilidosos tem demonstrado desapercebido.
maior EHS [Sloboda, 2005; SLoboda, Trabalhos anteriores que pesquisaram
1985; Lehmann e McPherson, 2002]. Não leitura, avaliaram a habilidade de
é difícil deduzir que quanto mais à frente o datilógrafos ao copiar textos [Sloboda,
leitor estiver olhando, ou seja, quanto 1985]. Alguns deles já relatavam
maior for seu EHS, terá mais tempo para resultados de que a leitura era realizada em
resolver os problemas que estão por vir. unidades e outros, que a coerência textual
Outro aspecto é que os leitores mais interferia no processo de leitura [Butsch,
habilidosos realizam mais fixações durante 1932]. Não só se lê em unidades, como
uma leitura e que essas fixações são mais também as unidades podem ser
curtas, em outras palavras, os mais estabelecidas pelo próprio leitor. O termo
habilidosos capturam mais flashes de freqüentemente utilizado para isso é
imagens [Waters e Underwood, 1998]. “chunking”. Vários autores argumentam
Alguns pesquisadores observaram nas que a abrangência da unidade pode variar.
performances de leitores mais habilidosos sloboda2005 em um estudo realizado em
a presença de “sacadas regressivas”4 1977 “descobriu que os instrumentistas
[Furneaux e Land, 1999], que é voltar a um apresentavam um maior EHS quando liam
ponto que já foi fixado. Supõe-se que essa música com coerência tonal, sendo
regressão pode ser para analisar melhor contrário quando liam música que
partes problemáticas. Possivelmente por quebrava as regras de progressão tonal
estar lendo bem à frente da performance o [Sloboda, 2005].”6 Paralelamente aos
leitor tenha mais tempo para planejar sua resultados das pesquisas sobre leitura de
performance e rever partes duvidosas, textos, as unidades (chunks) em música
melhorando sua performance. podem ser uma escala ou acorde. O
instrumentista ao ler reconhece estruturas
3.2 Chunking familiares e constrói sua performance a
furneaux1999 apresentam duas partir dessas interpretações. Os indivíduos
possibilidade para medir o eye-hand span. lêem em unidades porque têm a capacidade
“Este atraso [da performance], o ’eye-hand de reconhecer estruturas familiares. Eles
span’ (EHS), pode ser medido de duas buscam satisfazer estruturas já conhecidas,
maneiras: como o tempo de atraso da ou armazenadas na memória de longo
fixação à performance ou como o número prazo. Então, dependendo da estrutura
de notas entre a posição do olho e a musical e do entendimento que o músico
performance [Furneaux e Land, 1999].”5 tiver no momento da leitura a medida do
Mesmo que seja claro o entendimento eye-hand span pode não gerar dados
dessa proposta de medida, algumas coerentes.
questões surgem. Trabalhos, tanto em Em uma primeira vista essa busca pela
textos quanto em música, tem demonstrado coerência do discurso musical pode não ser
que os leitores, principalmente os mais deliberada. O instrumentista pode não
habilidosos, não capturam as informações recuperar a informação na memória
segmentadas. Por exepmlo, não se lê sílaba durante o processo de leitura, mas pode
a sílaba e sim palavras inteiras. Para reconhecer as estruturas e tentar satisfazê-
las.
4
regressive saccade.
5
This lag, the “eye-hand span” (EHS), can be
6
measure in two ways: either as the time delay from it was found that performers had grater EHS when
fixation to performance, or as the number of notes reading tonally coherent music than when reading
between eye position and performance. music that broke rules of tonal progression.
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Patrícia Gatti
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25%
(n=6) Afetos positivos
58% Evocações
17% (n=14) Interação social
(n=4)
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1
Demência é o termo médico utilizado para
denominar as disfunções cognitivas globais,
(orientação, linguagem, julgamento, função
social e habilidades de realizar tarefas motoras),
podendo ocorrer em várias afecções diferentes
(Aisen et al, 2001).
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Patrícia Pederiva
UnB
pat.pederiva@uol.com.br
Elizabeth Tunes
Resumo: Neste trabalho, examina-se como a musicalidade surge no homem, o que acontece em
estreita relação com a possibilidade de os animais poderem expressar sons por meio de seus
órgãos vocais. Busca-se examinar sua gênese e função, fazendo uma descrição sintética de sua
história natural, desde a expressão musical nos animais, no homem primitivo até chegar ao
homo sapiens sapiens. A biomusicologia, a antropologia da música e a psicologia histórico-
cultural são as bases teóricas da presente análise. O exame empreendido permite concluir que,
do ponto de vista da gênese, a musicalidade é anterior à fala articulada e que, como animais
humanos, temos todos a condição da musicalidade e, portanto, a possibilidade de nos expressar
musicalmente.
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Paula Pecker
UFRGS
Patrícia Kebach
UFRGS
Resumo: Este artigo tem como objetivo discorrer sobre os processos de aprendizagem e
desenvolvimento da criança em relação à música, nos primeiros anos de vida, e propor formas
construtivistas de agir pedagogicamente no ambiente de Educação Musical. Será dado destaque
à fase que vai desde o nascimento até os quatro anos de idade. Para enfocar as construções
cognitivas musicais, utilizaremos como fundamentação teórica a Epistemologia de Jean Piaget e
demais autores que concordam com a idéia de que dentro da sala de aula é necessário que o
olhar não seja somente sobre os conteúdos a serem desenvolvidos, mas para a interação entre a
criança e os objetos propostos.
2. O desenvolvimento da criança
1. Introdução segundo a Epistemologia Genética:
um olhar sobre as condutas musicais
O presente trabalho tem como
(...) cada vez que ensinamos
objetivo descrever os processos de
prematuramente a uma criança
aprendizagem musical em período alguma coisa que poderia ter
precoce sob a ótica da Epistemologia descoberto por si mesma, esta
Genética. Para tanto, vamos expor como criança foi impedida de inventar e
ocorre o desenvolvimento cognitivo da conseqüentemente de entender
completamente. Isso obviamente
criança em relação à música em seus
não significa que o professor deve
primeiros anos de vida, ou seja, desde o deixar de inventar situações
seu nascimento até a aquisição da experimentais para facilitar a
função simbólica, o que lhe permite o invenção do aluno. (Piaget apud
uso da linguagem verbal. Proporemos, Becker, 2005)
baseadas na mesma teoria, formas de
agir pedagogicamente em ambiente de O comentário acima revela uma
Educação Musical para auxiliar nas das maiores contribuições da
construções musicais das crianças, com Epistemologia Genética ao campo
vistas às observações realizadas em pedagógico. Diz respeito ao cuidado do
nossas pesquisas em andamento. Nossa educador em deixar seu aluno explorar,
proposição é a de que a construção jogar, refletir e tirar suas próprias
musical ocorre de forma homóloga à conclusões sobre o mundo que o cerca.
construção dos outros objetos de Como já reiterado em diversos
conhecimento. trabalhos, este tipo de atitude não se
propõe a deixar o aluno livre ou sem
orientação, pois deixa claro o papel
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ativo do professor, que atua como recém assimilado. Com isso, um novo
desafiador e orientador na busca de esquema surge finalizando a adaptação.
proporcionar à criança novas Foquemos desde o início como
descobertas. Para Becker & Marques ocorrem as primeiras apreensões do
(2001), “afirmar que a criança é capaz objeto musical. A partir de um ponto de
de aprender qualquer coisa em qualquer vista construtivista, podemos dizer que
idade é um mito que realimenta o as primeiras descobertas musicais que a
verbalismo que tanto mal tem causado à criança realiza têm a ver com o
aprendizagem escolar”. Esta afirmação exercício do aparelho fonador e de seus
reitera a importância de entendermos movimentos espontâneos. A partir
como se dá o desenvolvimento musical dessas ações ocorrem, por exemplo, a
da criança, pois este é o objeto que aqui progressão de sua emissão sonora, ou o
procuramos abordar. Trataremos, domínio rítmico pelos embalos do
portanto, de explicar como o sujeito vai tronco, controle dos gestos, etc.
se adaptando ao real e como isso se dá Conforme o patamar (estágio)
em termos musicais. que o indivíduo se encontra, a maneira
As estruturas da inteligência de “resolver um problema” (ou adaptar-
humana são construídas à medida que o se a um objeto) acontecerá de forma
sujeito é desafiado por uma perturbação distinta. Do nascimento até por volta de
interior ou pelas resistências dos objetos um ano e meio de idade, Piaget refere-
em relação às suas ações. A cada nova se ao estágio sensório-motor, no qual a
situação, processos assimilativos e criança, através de seus movimentos
acomodativos entrarão em ação e isto físicos, dirige as sensações provenientes
resultará na adaptação do sujeito ao do seu redor (bem como o contrário). A
objeto (Becker, 2002). coordenação dos espaços auditivo,
Piaget nomeou como esquema visual e tátil, dá a ela a possibilidade de
cada nova aquisição mental passível de construir para si os objetos de seu
ser generalizada em uma determinada interesse (Kesselring, 1990). O estágio
ação. Os esquemas já formados define o nível de complexidade do
funcionam como ferramentas a serem pensamento do indivíduo, revelando
coordenadas entre si e usadas para a qual a estratégia mais evoluída que será
formação de novos complexos, usada por parte do sujeito para adaptar-
desenvolvendo assim a inteligência do se a algo. Assim, no estágio sensório-
indivíduo. Para que o esquema seja motor, as condutas são
interiorizado pelo sujeito, é fundamental predominantemente exploratórias. A
que haja interação entre este e os criança pode sacudir um objeto
objetos em seu entorno. A interação aleatoriamente para produzir sons, ir
proporciona que dois mecanismos controlando progressivamente a força
distintos atuem e alcancem a adaptação de seu gesto, embala-se ao som de uma
do sujeito ao novo. Estes dois música, emite explorações vocais de
mecanismos são chamados de consoantes, vogais, balbucios, ruídos,
assimilação e acomodação, e funcionam etc. Isto é, as coisas são percebidas
como dois pólos complementares de especialmente através dos órgãos dos
todo processo de adaptação. O primeiro sentidos, pois a criança ainda não possui
incorpora o novo desafio à ação do a capacidade de representação mental, o
sujeito, o segundo modifica esquemas que lhe permitiria estabelecer relações
antigos para se adequarem ao objeto entre várias fontes de informação. No
período sensório-motor, as crianças se
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Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar princípios que consideramos fundamentais para o
desenvolvimento de uma musicologia de orientação fenomenológica. Iniciamos por uma
descrição histórica da musicologia apresentando os estudos sobre música relevantes para a
formação da cultura ocidental e tratamos também dos limites e alcances dos estudos
musicológicos a partir do século XVIII. Classificamos os estudos sobre música em três vertentes
musicológicas principais e apontamos uma crítica sobre problemas conceituais específicos a
cada vertente. Como última etapa descrevemos princípios organizadores de uma musicologia
fenomenológica. Tais princípios são apenas descritos como um primeiro conjunto conceitual
para o desenvolvimento de estudos futuros que poderão decorrer em novas tendências nos
estudos musicológicos.
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minha vó, mãe de minha mãe, era babás, etc.) é inserido no universo
bandolinista” (Bosco, 2007). Seu pai, artístico-musical, desenvolvendo sua
finalmente, era comerciante e apreciava cognição voltada à compreensão do
bastante música popular, levando à sua fenômeno artístico, que pode ser,
casa diversos discos que adquiria no futuramente, tomado como linha diretriz
comércio do Rio de Janeiro. de sua vida.
Finalmente, José Antonio de
Almeida Prado (1943-), um dos o 5. Áreas de pesquisa
compositores eruditos brasileiros mais
relevantes da história de nossa música Educação musical, sociologia da
contemporânea, também tem em sua música, musicologia, fundamentos
família configurações socioeconômicas históricos, filosóficos e sociológicos da
e culturais específicas que lhe educação, história (história oral).
permitiram iniciar-se na música desde a
infância: 6. Referências
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Resumo: Este artigo analisa o papel do regente coral em motivar seu grupo, a partir de uma revisão de
literatura multidisciplinar, envolvendo as áreas de gestão de recursos humanos, música e psicologia. A
pesquisa bibliográfica foi conjugada a dados coletados empiricamente, por meio de um questionário
aplicado a 19 (dezenove) estudantes graduandos em Música (bacharelado e licenciatura) na Faculdade de
Música Carlos Gomes (São Paulo), que freqüentam as disciplinas Regência coral II e Prática coral. Por
meio da pesquisa, foi possível delinear a relevância da motivação na prática coral e fatores motivacionais
que influem nesse contexto.
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de cada pessoa, e por fatores externos, caso das necessidades fisiológicas, quando uma
das recompensas e punições oferecidas pela necessidade é satisfeita, aquela que fica no
organização ou grupo. Para ser motivado nível imediatamente superior passa a se
dentro de um grupo social, o indivíduo manifestar (Kondo, 1994; De Masi, 2003). A
precisa ser atendido em três necessidades necessidade da pessoa em dado nível da
interpessoais (Schutz, citado por Bergamini, hierarquia precisa ser atendida para que a
1988): inclusão, controle e afeição. Ao ser pessoa tenha seu nível de motivação
incluída, a pessoa passa a estabelecer e aumentado (Maxiamiano, 2006). Ademais,
manter um relacionamento estável com as necessidades que já foram satisfeitas não
outras pessoas, realizando trocas materiais e influem mais no comportamento humano;
simbólicas, que influem em seu auto- somente aquelas ainda não cumpridas
conceito e desenvolvem sua sociabilidade. A exercem potencial de motivação sobre o
necessidade de controle, por sua vez, indivíduo (Chiavenato, 2003), porém deve-
consiste em influenciar o comportamento se sempre buscar um processo dinâmico,
das outras pessoas, o que faz o indivíduo com o cumprimento gradual das
sentir-se importante naquele grupo social. A necessidades, para que o ciclo motivacional
afeição, finalmente, é um prolongamento da seja prolongado. A interpretação rígida da
necessidade de inclusão, ou seja, além do hierarquia de Maslow, entretanto, incorre em
senso de pertencimento ao grupo, a pessoa se erro, já que as necessidades podem variar de
sente amparada por outras em termos acordo com a personalidade do indivíduo,
psicológicos. Segundo Bergamini (1988, p. sua faixa etária e condição socioeconômica:
87), a teoria de Schutz “aponta um fator de “todas as cinco necessidades estão sempre
grande importância que reside na busca do presentes, mas suas importâncias relativas
equilíbrio, que é constantemente almejado, variam de um nível baixo para um alto,
entre o comportamento da própria pessoa e conforme nosso padrão de vida se eleva [...]”
das demais com os quais lhe é dado (Kondo, 1994, p. 17).
interagir”. A partir da teoria de Maslow, pode-se
No âmbito da gestão de recursos incluir o canto coral em um cenário de
humanos, a temática da motivação foi qualidade de vida e equilíbrio social, já que a
desenvolvida pela administração. Dentre as participação em atividades que promovam o
teorias motivacionais mais relevantes, aumento da auto-estima e do senso de auto-
destacam-se as abordagens efetuadas por realização constitui significativo aspecto da
Maslow e Herzberg. formação do indivíduo. Nessa perspectiva, o
Para Maslow, citado por Mathias canto coral auxilia a pessoa no seu
(1986), Kondo (1994), Chiavenato (2003), crescimento pessoal e, a partir de então, em
De Masi (2003) e Maximiano (2006), a sua motivação (Fucci Amato e Amato Neto,
motivação ocorre a partir do cumprimento 2007; Fucci Amato, 2007).
das necessidades do indivíduo, agrupadas em Aplicando-se a visão de Herzberg
uma hierarquia, convencionalmente (citado por Kondo, 1994; Chiavenato, 2003;
representada por uma pirâmide, em que o Maximiano, 2006) ao trabalho coral, pode-se
grupo de necessidades básicas ou delinear que há basicamente duas categorias
fisiológicas ocupa a base e o conjunto de de fatores determinantes da motivação
necessidades de auto-realização se localiza humana em um grupo: a primeira,
no topo. Tais necessidades motivacionais constituída por fatores extrínsecos ou
seriam, portanto, as: básicas ou fisiológicas, higiênicos, refere-se aos aspectos: salário
de segurança, sociais ou de participação, de condizente com a tarefa e a função do
estima ou ego e de auto-realização. A partir profissional (aplicável somente a coros
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música, associando-o a idéias de sucesso, afirmando que para tocar ou cantar ‘com
destaque, algo único e inatingível. Um alma... só os que têm o dom’; outro
dos participantes acredita que nem acredita que talvez seja possível este
sempre o talento é necessário para fazer desenvolvimento, mas que ‘a pessoa já
música, e outro não respondeu a esta nasce com talento’. Resultados bastante
questão. Os números decorrentes similares foram encontrados na pesquisa
desta tabulação são praticamente realizada com estudantes universitários
inversos aos resultados da pesquisa com de música, onde a maioria acredita que
estudantes universitários de música, onde todas as pessoas podem se desenvolver
13 afirmaram a necessidade de talento musicalmente com a mediação
para lidar com música, 4 consideraram o pedagógica adequada. Um único
talento relativo para o desenvolvimento estudante afirmou que “não pode se
musical e 3 não achavam necessário a desenvolver musicalmente quem não
existência de talento para lidar com possui uma ‘alma artística’” (Figueiredo;
música. Os dados parecem sugerir que Schmidt, 2005, p. 212).
para se fazer música profissionalmente é Os comentários apresentados por
preciso talento. Neste estudo realizado 2 participantes incluíram o desejo de ver
com não-músicos, alguns participantes a música em todas as escolas, oferecendo
responderam que é necessário talento mais oportunidades para todos na
para ser músico, para ter destaque ou aprendizagem de voz e instrumentos
fazer sucesso. No entanto, quando musicais. A necessidade de se incentivar
afirmaram que para lidar com música as pessoas a aprenderem música foi
não é preciso ter talento é possível que destacada por um dos sujeitos deste
estivessem se referindo ao fato de lidar estudo; outro participante fez uma crítica
com música rotineiramente, sem a a métodos em vigor na escola, que
pretensão ou intenção de ser músico. muitas vezes desestimulam os estudantes
Alguns participantes se referiram a para a prática musical, lembrando da
diferentes velocidades de aprendizagem, necessidade de se promover melhor
sugerindo que a pessoa talentosa poderia preparo dos professores de música.
ser aquela que aprende mais rápido do Outro participante enfatizou o
que as outras. Um participante enfatizou reconhecimento da música como forma
que ‘estudo e esforço superam o talento’. de inclusão e valorização do ser humano.
A última questão dizia respeito Um último comentário está reproduzido
à possibilidade de todos os indivíduos a seguir:
se desenvolverem musicalmente se
tivessem orientação adequada. Dezessete A Arte em qualquer das suas
sujeitos responderam que acreditam na modalidades é fundamental
possibilidade de aprendizagem musical a para o ser humano e eu
partir de uma orientação adequada, acredito neste ser, portanto
sendo que 3 deles foram enfáticos tenho plena certeza de que se
todos pudessem estar
respondendo ‘com certeza’. Quatro
envolvidos com arte, neste
sujeitos incluíram em suas respostas caso particular a música (de
reflexões sobre a importância dessa qualidade), nosso planeta
orientação para o desenvolvimento estaria mais tranqüilo e
musical, valorizando o papel do equilibrado.
professor de música. Um participante
não acredita na possibilidade de todas as
pessoas se desenvolverem musicalmente,
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Sandra Rocha
srochakanda@gmail.com
Resumo: Este trabalho aborda uma proposta investigativa interdisciplinar entre as áreas de
Educação e Música, especificamente entre a Psicopedagogia e a Musicoterapia frente às
dificuldades de aprendizagem. Tem como objetivo apresentar uma experiência desenvolvida na
área da Musicoterapia (1999), realizada dentro do contexto escolar com crianças e adolescentes
que apresentavam elevados índices de agressividade e inquietação psicomotora, desvelando as
significações das condutas infanto-juvenis consideradas atípicas. Posteriormente, apresenta uma
proposta de investigação ampliando os estudos da aplicabilidade da Musicoterapia nos casos de
dificuldades de aprendizagem (2006).
No decorrer dos atendimentos musicoterápicos realizados com os alunos-pacientes com níveis
elevados de agressividade, observou-se uma diferenciação nas suas expressões musicais, ou
seja, suas condutas psico-musicais retrataram suas características psicológicas e
comportamentais peculiares, projetando seu mundo interno. Percebeu-se que ao proporcionar a
re-organização das condutas psico-musicais desses alunos, vivenciando momentos de aceitação
e valorização do que é e de como se expressa através do fazer musical, uma nova música foi
introjetada, ocasionando mudanças em suas condutas sociais. Desta forma, a ampliação dos
estudos sobre a aplicabilidade da Musicoterapia na educação objetiva constatar a possibilidade
de re-significação nos casos de dificuldades de aprendizagem, através de uma abordagem
investigativa interdisciplinar onde várias áreas do conhecimento contribuem para a ‘leitura’ dos
déficits no ensino-aprendizagem, oportunizando modificações desde a percepção docente sobre
o aluno até o proporcionamento de novas maneiras de aprender.
Conclui-se que ao proporcionar diversos estudos sobre a utilização da Musicoterapia nas
questões do ensino-aprendizagem, configura a possibilidade de ampliar as investigações sobre a
eficácia da música nos processos cognitivos. A Musicoterapia, acolhendo e trabalhando com a
auto-expressão que se apresenta, pode proporcionar aos indivíduos envolvidos no processo
ensino-aprendizagem o restabelecimento da capacidade de aprender e ensinar, ampliando e/ou
resgatando a interação entre os envolvidos no processo, auxiliando na re-estruturação
intrapessoal e interpessoal e, consequentemente, a uma abertura à aprendizagem. Condição sine
qua non para essa possibilidade investigativa é ancorar-se na abordagem interdisciplinar,
favorecendo a construção de redes de conhecimentos buscando compreender os fenômenos que
são apresentados em suas múltiplas perspectivas.
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interdisciplinar onde várias áreas do do setting (sala), entre outras ações que
conhecimento possam contribuir para a foram consideradas como condutas
‘leitura’ dos déficits no ensino- apresentadas e que pareceram retratar as
aprendizagem, oportunizando características psicológicas do grupo
modificações desde a percepção docente e/ou de um aluno-paciente, projetadas
sobre o aluno até o proporcionamento no ‘fazer musical’ e nas movimentações
de novas maneiras de aprender. A corporais, caracterizadas por uma
metodologia pensada na investigação “desorganização e não-comunicação”.
configurar-se-á como pesquisa-ação, Percebeu-se que, ao proporcionar a re-
propondo intervenções musicoterápicas organização das condutas psico-
aos alunos que apresentam dificuldades musicais desses alunos, vivenciando
de aprendizagem, bem como aos seus momentos de aceitação e valorização do
professores envolvidos. que é e de como se expressa através do
fazer musical, uma nova música foi
4. Resultados introjetada, ocasionando mudanças em
suas condutas sociais. Possibilitando a
No decorrer dos atendimentos modificação no ‘fazer musical’,
musicoterápicos realizados na modificações foram observadas e
experiência psicopedagógica e relatadas por seus pares em outras
musicoterápica, observou-se que os situações fora do setting. A partir da
alunos-pacientes selecionados leitura musicoterápica das principais
manifestavam uma diferenciação na condutas psico-musicais manifestadas
expressão musical, ou seja, suas pelos alunos-pacientes, foi possível
condutas psico-musicais2[2] retratavam perceber que há uma íntima relação
características psicológicas e entre a expressão sonora e corporal e os
comportamentais peculiares, projetando conteúdos intrapsíquicos, sendo
seu mundo interno. Os alunos com esclarecidas a partir do referencial da
quantidade maior de condutas área da Musicoterapia, buscando
inadequadas, no início do processo, realizar uma análise musicoterápica
apresentaram musicalmente, as para compreender as mensagens que
seguintes condutas psico-musicais: estariam sendo manifestadas naquelas.
intensidade sonora muita elevada (ff);
escolha de instrumentos sonoros que 5. Conclusões
possibilitavam essa intensidade; ritmos
desestruturados; intensidade vocal Poucos estudos existem na área
muito elevada; rompimento e/ou quebra da Musicoterapia investigando sobre
de instrumentos e objetos sonoros; sua aplicabilidade na educação, com
agressões verbais e/ou ameaças indivíduos “normais”. A escassez de
(xingamentos, palavrões); agressões literatura sobre o tema é uma realidade,
físicas (empurrões, chutes, socos); fugas onde a maioria das pesquisas
musicoterápicas ligadas à educação
2[2]
encontram-se no campo do ensino
O termo Condutas psico-musicais foi proposto especial, onde se centram nos casos que
pela autora, tendo como definição “aquelas condutas
apresentadas e que parecem retratar as características apresentam deficiências, com
psicológicas do grupo, projetadas nas manifestações investigações efetivadas dentro de
sonoro-musicais e movimentações corporais. As instituições especializadas ou em
condutas psico-musicais representam TUDO que o
aluno-paciente ‘escolheu’durante o “seu momento”de contexto clínico.
fazer música junto com o grupo, retratando seus
aspectos psico-afetivos” (1999, p.27)
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Silvia Nassif
USP
rscnassif@terra.com.br
Resumo: Este trabalho analisa algumas questões referentes às relações entre desenvolvimento
cognitivo e aprendizagem musical e suas implicações para o ensino de música. Toma como
ponto de partida concepções de musicalidade e musicalização predominantes entre importantes
autores do cenário da educação musical no século XX, as quais revelam um conflito entre um
discurso marcado por uma visão inatista da musicalidade e propostas práticas de cunho
fortemente empirista. À luz da psicologia histórico-cultural vigotskiana, considerada mais
promissora no sentido de superar determinados dualismos (biológico/cultural, individual/social),
procura mostrar a inconsistência de algumas dessas concepções quando se observa o
desenvolvimento de um ponto de vista mais abrangente. Os objetivos dessa análise incluem não
apenas contribuir para o conhecimento sobre a aquisição e o desenvolvimento da musicalidade,
mas principalmente permitir que os educadores musicais se apropriem de propostas educativas
para musicalização de uma maneira mais consciente e crítica.
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3 4
Pensemos, por exemplo, em dois músicos “Tal como um filho de surdos-mudos, que não
profissionais, um que aprendeu música na ouve falar à sua volta, continua mudo apesar de
escola e, portanto, lê partitura e, outro que toca todos os requisitos inatos necessários ao
“de ouvido”, desconhecendo o código escrito da desenvolvimento da linguagem e não desenvolve
música. Se conseguíssemos refazer os seus as funções mentais superiores ligadas à
processos de aprendizagem musical, linguagem, assim todo o processo de
dificilmente encontraríamos muitos pontos em aprendizagem é uma fonte de desenvolvimento
comum no desenvolvimento de ambos. Embora que ativa numerosos processos, que não
aparentemente esses dois músicos sejam poderiam desenvolver-se por si mesmos sem a
equivalentes em termos de domínio musical (ou aprendizagem.” (Vigotski, 1998d, p.115). Vale
habilidade de se expressar musicalmente), uma aqui também um comentário sobre casos de
análise mais profunda revelaria modos distintos lesão cerebral nos quais pessoas sem formação
de “pensar musicalmente”, ou seja, de trabalhar musical anterior aparentemente “acordam”
operacionalmente com a música. Enquanto o músicos após o acidente. Esses casos poderiam
primeiro terá sempre a partitura como ser contra-exemplos à teoria vigotskiana da
mediadora entre a idéia musical e sua realização relação entre desenvolvimento e aprendizagem.
sonora, para o segundo a relação com a música Entretanto, de acordo com Sacks (2007), os
é mais direta, a idéia já acontece em forma de “músicos pós lesão cerebral” também passam
som. Isso sem falar na diversidade de “línguas por um processo de aprendizagem, embora num
musicais” existentes que requerem habilidades ritmo aceleradíssimo. Sem um contato intenso
musicais tão distintas e que, provavelmente, com a música, nem mesmo eles, com toda a sua
exigem “etapas” de desenvolvimento estrutura cerebral favorável, seriam capazes de
específicas. realizações musicais significativas.
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através de procedimentos
1. Introdução metodológicos eficazes e precisos,
responsáveis por um comportamento
O processo da construção do participativo e autônomo. Paulo Freire
conhecimento na chamada era da (1996) discute esta questão da
informação requer novas concepções de autonomia e do seu desenvolvimento,
aprendizagem, revisão e atualização do assim como Piaget (1973), que inter-
papel e das funções de professor. relaciona os conceitos de cooperação e
Ensinar, hoje, não significa a autonomia. Segundo Ramos (1999) para
transmissão de conhecimentos, implica que a autonomia se desenvolva é
na mediação da construção de necessário que o sujeito seja capaz de
conhecimentos através da interação com estabelecer relações cooperativas.
troca de experiências, idéias e Tendo por base a interação
conceitos, entre as pessoas que defendida pelas teorias citadas, a
aprendem se relacionando umas com as aprendizagem cooperativa é uma
outras e com o meio ambiente. metodologia educacional na qual os
É de extrema importância essa sujeitos inseridos confiam e auxiliam
interação no processo de construção e uns aos outros para atingir uma meta
reconstrução das funções cognitivas, estabelecida, utilizada no
como argumenta o educador e desenvolvimento desta experiência.
pesquisador Vygotsky (1984), que o ser
humano cresce num ambiente social e a 2. A base para a experiência
sua interação com outras pessoas é
essencial ao seu desenvolvimento. A A aprendizagem cooperativa
sua teoria juntamente com a de Piaget desenvolveu-se na década de 80, sendo
defende a importância da interação do objeto de várias pesquisas desde então.
sujeito com outros indivíduos no O pesquisador Dr. Spencer Kagan foi
processo de aprendizagem. um dos primeiros a utilizá-la e na sua
Entretanto, para a realização contribuição, considerou quatro
deste processo de interação é importante aspectos fundamentais: (P)
despertar no indivíduo o sentimento de interdependência positiva, (I)
pertencer, de participar ativamente, responsabilidade individual, (E)
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Vera Cury
veracury@gmail.com
Resumo: Essa pesquisa visa estabelecer as possíveis relações entre a neurociência e o ensino e
aprendizagem das artes. Desse modo o ato de desenhar, cantar, dançar, observar, perceber e
imaginar, exercidos na ação artística, é considerado a partir da fisiologia do sistema nervoso. O
conhecimento do funcionamento encefálico oferece subsídios importantes para futuras formulações
metodológicas para o ensino e a aprendizagem das artes. Numa primeira fase foi realizado
levantamento bibliográfico de temas como percepção, memória, atenção imaginação, emoção e
cognição. Na segunda fase foram selecionadas as pesquisas que investigam as prováveis bases
neurais relativas a atividades artísticas, essas são pesquisas recentes e começam a ser publicados
com mais freqüência apenas a partir de 2004. Os resultados evidenciam um aumento das pesquisas
experimentais que buscam estabelecer as bases neurais de determinados aspectos de uma atividade
artística e apontam como desafios a definição da ação artística e o desenvolvimento de teorias
abrangentes capazes de dar conta da complexidade do funcionamento cerebral. Concluiu-se que a
compreensão das vantagens e limitações das técnicas de neuroimagem, assim como a necessidade
de conduzir rigorosos protocolos cognitivos, é uma etapa importante no entendimento de como a
neurociência pode fornecer dados significativos às áreas educacionais e artísticas.
2. Objetivos
1. Introdução
O objetivo deste trabalho teórico
Embora seja extremamente antiga foi analisar as relações existentes entre a
e persistente a presença de manifestações neurociência e o ensino e aprendizagem
artísticas nas sociedades humanas, como das artes.
pintura, escultura, desenho, música,
dança, entre outros, apenas recentemente 3. Método
os cientistas dirigiram seus esforços, de
uma maneira mais sistemática, no sentido Sendo este um trabalho teórico, o
da investigação dos mecanismos método utilizado foi uma extensa revisão
neurobiológicos subjacentes à complexa e bibliográfica e análise conceitual e
sofisticada capacidade cognitiva referente argumentativa de temas comuns à
à produção da arte e da apreciação neurociência e ao ensino e aprendizagem
estética. das artes. Tais como percepção, memória,
As razões para que essas pesquisas atenção, imaginação, emoção e cognição.
só estejam sendo realizadas recentemente No período de 2004 a 2007,
referem-se à inexistência anterior, tanto realizamos um levantamento com uma
de teorias abrangentes capazes de dar revisão crítica dos poucos artigos que
conta da complexidade do funcionamento investigaram as possíveis bases neurais da
cerebral quanto de tecnologia adequada dança, da música e do ensino e
para esse tipo de investigação científica. aprendizagem das artes.
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Álgebra musical
W.M. Pontuschka
USP
Resumo: Desde a mais remota antigüidade já se conhecia a importância dos números como
elementos integrantes da natureza dos sons musicais. As relações numéricas entre as freqüências
dos tons fundamentais das escalas naturais e temperadas são bem conhecidas. O que se pretende
mostrar neste trabalho é a profunda relação que as notas musicais possuem com a teoria dos
números. Em particular, apresentamos uma demonstração de que as propriedades das notas
satisfazem às condições que permitem classificar a escala natural como grupo aberto e a
temperada como grupo fechado, de acordo com os critérios estabelecidos pela Álgebra Linear.
Como as relações entre as freqüências fundamentais das notas musicais são números e estes
podem ser multiplicados entre si, as notas também possuem esta propriedade. Os resultados das
multiplicações são notas que podem ou não fazer parte do conjunto originalmente formado com
as notas de uma dada escala. Entre os exemplos discutidos neste trabalho, mostramos que a
escala diatônica maior natural não é grupo, a escala cromática natural é um grupo aberto e a
escala temperada (cromática) é um grupo aberto e, portanto, adequada para música polifônica.
Em termos práticos, o produto entre duas notas equivale à multiplicação da primeira pelo
intervalo existente com a segunda, resultando o número que identifica esta última nota. O fato
de que a escala temperada é um grupo fechado significa, portanto, que qualquer intervalo entre
duas notas quaisquer é um número que representa uma das notas já preexistentes nessa escala.
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DO RE MI FA SOL LA SI DO
1/1 32/22 5/4 4/3 3/2 5/3 (3×5)/8 2/1
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1/1 9/8 25/24 6/5 5/4 4/3 3/2 8/5 5/3 16/9 15/8 2/1
16/15 135/128 16/15 25/24 16/15 16/15 st2 st1 st3 st1
st1 st3 st1 st2 st1 st1
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Tabela 1: Matriz 3 × 3 contendo todos os produtos possíveis entre DO, SOL e FA.
DO SOL FA
SOL (RE) DO
FA DO (SI )
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DO RE RE MI MI FA SOL LA LA SI
SI
1/1 16/15 9/8 6/5 5/4 4/3 3/2 8/5 5/3 16/9
15/8
DO
1/1 DO RE RE MI MI FA SOL LA LA SI SI
RE RE ---- MI ---- FA ---- LA ---- SI ---- DO
16/15
RE RE MI ---- ---- ---- SOL DO ---- SI DO ----
9/8
MI MI ---- ---- ---- SOL LA ---- ---- DO RE RE
6/5
MI MI FA ---- SOL ---- LA SI DO ---- ---- ----
5/4
FA FA ---- SOL LA LA SI DO RE ---- ---- ----
4/3
SOL SOL LA DO ---- SI DO RE MI MI FA ----
3/2
LA LA ---- ---- ---- DO RE MI ---- FA ---- SOL
8/5
LA LA SI SI DO ---- ---- MI FA ---- ---- ----
5/3
SI SI ---- DO RE ---- ---- FA ---- ---- ---- LA
16/9
SI SI DO ---- RE ---- MI ---- SOL ---- LA ----
15/8
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(trítono)
↓
1 21/12 21/6 21/4 21/3 25/12 21/2 27/12 22/3 23/4 25/6 211/12 2
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Alexandre Porres
De cima para baixo, temos, primeiramente, uma seção de síntese sonora por tabelas (wavetables
- formas de onda ou amostras de som) e síntese aditiva. Logo abaixo, encontramos duas seções
de análise baseadas no modelo de Rugosidade: Geração de Curvas de Dissonância (Dissonance
Curves) e Análise de Rugosidade no tempo via FFT (Dissonance Scores). Por fim, foi
desenvolvida uma seção de Afinação Adaptativa, que permite ajustar a afinação de acordo com
uma dada escala. A análise de Rugosidade no tempo é uma seção que não está diretamente
vinculada às outras seções. Por outro lado, o patch segue um fluxograma de gerar um espectro
sonoro a partir da seção de síntese, para então retornar análises pelas Curvas de Dissonância e
extrair uma escala com pontos consonantes e dissonantes. Essas, assim como outras escalas,
podem ser inseridas para performance nos módulos de Afinação Adaptativa.
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Figura 4 – Fluxograma da informação no Patch para um par de tons puros [Porres, 2007, p. 44]
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Resumo: este artigo é desenvolvido tendo por base as idéias de Leonard Meyer, sobretudo as
formuladas em seu livro Music, the arts, and ideas. Partindo de definições de termos
relacionados ao processo de cognição musical (como percepção, compreensão e significação),
algumas correspondências com a teoria da informação são avaliadas. Por fim, são apontados
aspectos desse processo que podem embasar as linguagens musicais contemporâneas com
intuito do restabelecimento da comunicação entre compositor e ouvinte.
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modelos, conceitos e classificações que que nossa experiência passada nos disse
foram estabelecidos em nossa tradição” constituir uma relação” (idem, p.280).
(Meyer, 1994, p.273). Conclui também As mudanças e revoluções
que a percepção não é passiva, pois ocorridas durante a história da música
participa da organização dos estímulos deram-se conservando uma grande parte
valendo-se de modelos aprendidos. Isto do estilo. A música pós-tonal
traz implícito que a compreensão da ocasionou, entretanto, uma diversidade
música complexa está na dependência estilística que rompeu fortemente com
da familiaridade e do aprendizado com os padrões perceptuais, já que as obras
esse repertório. Quanto mais complexas não conservaram um estilo
familiarizado com o estilo, maior a comum (background perceptual). As
percepção de organização, porém, por revoluções no idioma do sistema tonal
não aprendermos as linguagens foram um processo linear e gradual. No
complexas da música desde tenra idade, serialismo, porém, não há um núcleo
estas se tornam mais difíceis. homogêneo estilístico para servir como
ponto de origem (idem, p. 279).
5. Música contemporânea e A compreensão musical reside
comunicação primordialmente na capacidade de
lograr associações entre os eventos
Algumas questões perceptuais sonoros. Estes eventos podem
foram trazidas com as pesquisas e relacionar-se de maneira implicativa e
constituição do repertório funcional, como exposto sobre
contemporâneo. Algumas destas antecedente e conseqüente. A
questões interferem com maior ou diferenciação funcional é que propicia
menor grau de contundência na aos eventos musicais gerarem estruturas
compreensão e conseqüente hierárquicas formalmente articuladas.
comunicação musical. A seguir, alguns “Uma vez que um evento musical
pontos relatados por Meyer são implica, ou é signo de, algum outro
comentados. evento musical somente para um
A falta de familiaridade com observador ou ouvinte, a percepção de
repertório logicamente tem grande relações funcionais é o resultado de
interferência no entendimento musical. inferências feitas pelo ouvinte sobre as
Entre suas causas está o aprendizado possíveis implicações de um evento
durante a infância, isto é, aquele que musical” (idem, p.296). Com isso,
vem dos hábitos de escuta durante os percebe-se que a impossibilidade de
primeiros anos de vida, mas que serão promover conexões funcionais age
responsáveis por formatar a percepção comprometendo e/ou restringindo a
durante o período adulto. Como esse compreensão.
aprendizado se dá com o estilo tonal, o A dificuldade em promover
confronto perceptual com outros implicações de ordem funcional faz
repertórios sempre irá ocorrer de com que os conseqüentes tenham baixa
maneira comparativa com este estilo probabilidade de ocorrer. Com isso, o
aprendido. Isto põe em relevo o fato da índice de informação é alto. Porém, essa
tradição formatar a percepção, que situação revela-se contraditória, pois
tenderá a balizar-se naquilo que tem na muita informação satura os níveis
memória, pois “nossa habilidade em perceptuais do ouvinte, sendo
perceber relações depende em parte do desfavorável à compreensão. Quando
tudo pode acontecer, qualquer coisa será
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7. Referências
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Resumo: Este trabalho apresenta uma proposta teórica para o desenvolvimento de um conjunto
de experimentos que tem por finalidade o reconhecimento psicoacústico de timbres de
instrumentos musicais. Após uma explanação teórica acerca dos parâmetros vinculados à noção
de timbre, descreve-se um procedimento experimental para distinguir o som de algumas notas
musicais da clarineta, pré-determinadas, e tocadas por um instrumentista humano daquelas
produzidas por um modelo experimental. O modelo apresentado no artigo tem como objetivo
formar critérios para estabelecer uma métrica perceptiva para avaliar diferenças timbrísticas,
que do ponto de vista musical pode ser mais interessante, em detrimento da clássica métrica
utilizando-se somente sistematização matemática.
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4. Metodologia
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Orlando Scarpa
UFPR
Resumo: Em seu livro On Sonic Art, Trevor Wishart, entre outras coisas, descreve uma série de
diferentes categorias de timbre. Wishart também descreve o que ele chama de "contraponto
eletroacústico". Neste trabalho sobrepusemos os diferentes tipos de timbre descritos por Wishart
com seu conceito de contraponto, e vimos de que maneira uma idéia complementa a outra.
Segundo Wishart, o nosso ouvido escuta alguns tipos de timbre como unidades independentes e
bastante diferentes entre si. Em sua idéia de contraponto eletroacústico, Wishart diz que uma
das preocupações é criar a independência das diferentes vozes e a interação entre uma voz e
outra. Mostramos aqui como grupos de timbre podem ser úteis para a criação desta
independência e interação. Em seguida, estes resultados obtidos foram relacionados com
conceitos desenvolvidos por outros autores que estudam música eletroacústica, mesmo que boa
parte destes não tivesse como objetivo, segundo seus autores, servir à composição musical. A
maioria pretendia descrever a nossa escuta da música eletroacústica e outros poucos serviam a
análise musical. Nosso objetivo foi, ao contrário, ver se conseguiríamos criar novas maneiras de
organizar composições a partir destes conceitos. No fim da pesquisa foi possível extrair dos
resultados obtidos uma séria de táticas composicionais. Foi concluído que para realizar o
"contraponto eletroacústico" de Wishart é essencial que se tenha algum tipo de diferenciação
sistemática de grupos de timbres. Também foi concluído que conceitos que não serviam, a
princípio, à composição musical, mas à análise ou à descrição de nossa escuta, quando
relacionados uns aos outros da maneira certa, podem criar ótimas ferramentas de composição
musical.
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três maneiras básicas de se fazer isso: esteticamente do que uma com 3 fluxos
eletroacusticamente, por síntese e por re- independentes. Quanto mais informação
síntese. Eletroacusticamente este processo nosso ouvido recebe, mais difícil fica para
seria possível através do tratamento nossa memória e raciocínio dar sentido a
analógico e/ou digital de dois sons. Por musica. Nossa memória, inteligência e
síntese isso seria possível gerando um paciência não são infinitas.
som que faria a ponte entre outros dois
sons (Landy sugere programas como 5. Conclusões
Csound e Cmusic. Estas duas técnicas
são, segundo Landy, difíceis e um pouco Este trabalho, tanto a parte teórica
frustrantes. A maneira mais adequada quanto a composição, confirmou a
seria por re-síntese, usando um vocoder hipótese de que a relação entre o
de fase que tenha funções como contraponto eletroacústico de Wishart
interpolação, deslocamento do espectro com seus conceitos sobre timbre, uma vez
(spectral shift), time stretch, etc. Todos contraposta a conceitos de diversos
estes parâmetros podem ser usados a autores sobre a escuta musical, pode ser
favor da transformação sonora (Landy, útil para a elaboração de táticas
1994, p.14). É importante observar que composicionais.
Landy (1994), assim como Wishart (1988 A primeira coisa que percebemos
apud Landy, 1994, p.15), afirmam que os é que os conceitos sobre timbre podem
sons atuando em uma transformação têm ser úteis para diferenciação e criação de
que ter no mínimo quatro segundos de independência dos fluxos. Idéias como a
duração para que sejam reconhecíveis. de causalidade, de Denis Smalley, podem
O último autor que iremos ajudar a criar o que Wishart chamaria de
abordar nesta seção é W. Luke Windsor. princípio arquitetônico e princípio
Windsor afirma que sons significam dinâmico. Idéias, desenvolvidas por
coisas além deles mesmos, qualquer som Smalley, como a de afinidade de fontes
mais ou menos complexo produz algum (source bonding) podem ser usadas para
significado (Windsor, 1997, p.78). As pensarmos em outras maneiras de criar a
idéias de Windsor são compatíveis com o independência dos fluxos, e a sua
que discutimos aqui: este trabalho só é discussão sobre espacialidade pode nos
possível porque sons significam coisas, e ajudar a pensar em ainda outras maneiras
tanto Smalley como Wishart estão de fazer a interação, articulação e criação
preocupados em descobrir maneiras de da independência dos fluxos.
descrever (e no caso específico de O conceito de Deslize espectral,
Wishart, prever) como esta significação de Erickson (apud Wishart, 1996, p.94),
ajuda no processo de entender música, e pode ser usado para a articulação de
no caso de Wishart, como esta fluxos com massa definida, e a idéia de
significação ajuda na composição. allure, de Schaeffer (apud Wishart, 1996,
Por ultimo, é importante ressaltar p.94) pode ser usada para a criação de
que quanto maior o número de fluxos multiplexos com uma morfologia
maior a chance destes procedimentos não dinâmica.
funcionarem. Uma música livre de grades Francesco Giomi e Marco
(lattice-free) contrapontística exige do Ligabue, com o conceito de sintagma
ouvinte certo nível de concentração (e, (syntagm), reforçam a idéia de que
em alguns casos, boa vontade). Uma articulando a tipologia do timbre e a
música com 10 fluxos independentes tem espacialidade dos sons conseguimos criar
maior chance de não funcionar uma narrativa musical com frases
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musicais coerentes. A discussão sobre WISHART, T. Red Bird. In: Red Bird:
transformações sonoras (sound A Political Prisoner's Dream (LP).
transformations) de Leigh Landy (1994) Iorque: York Electronic Studios, 1978.
nos deu idéias a respeito de como
modular de uma área tímbrica para outra.
8. Referências
Esta modulação, segundo Wishart, seria
um elemento necessário para o GIOMI, F; LIGABUE, M. Understanding
contraponto eletroacústico. W. Luke SMALLEY, D. Spectromorphology:
Windsor finalmente, ao afirmar que sons explaining sound-shapes. In: Organised
significam algo além deles mesmos, nos Sound, Vol. 2, issue 2. Cambridge:
ajudou a perceber como a significação Cambridge University Press, 1997,
dos sons pode ajudar na composição p.107-126.
musical.
Este trabalho também mostrou LANDY, L. Reviewing the musicology
que usar as críticas à musicologia da of electroacoustic music: a plea for
música eletroacústica de Landy (1999) greater triangulation. In: Organised
para a estruturação de um trabalho rende Sound, Vol. 4, issue 1. Cambridge:
bons resultados. Este trabalho também Cambridge University Press, 1999, p.
prova que conceitos que descrevem a 61-70.
nossa escuta da música eletroacústica ou LANDY, L. Sounds Transformations
servem a análise musical podem, desde in Electroacoustic Music, 1994.
que lidos com o enfoque certo, servir à Disponível em:
composição musical. <http://people.bath.ac.uk/masjpf/CDP/la
As idéias apresentadas neste ndyeam.htm>. Acesso em: 18 Mar.
trabalho foram testadas nas peças de 2007.
minha autoria, chamadas “Orange,
Fornax e o Vale da Morte” e SMALLEY, D. The Listening
“Causalidade e Espaço”, e continuarão Imagination: Listening in the
sendo aplicadas em futuras composições. Electroacoustic Era. In: Contemporary
Podem também ser aplicadas por Music Review: Live Electronics, Vol.
qualquer compositor(a) interessado(a). 13, No. 2. Londres: Harwood Academic
Publishers, 1995, p.77-107.
6. Subáreas do conhecimento WINDSOR, W. L. Frequency structure
in electroacoustic music: ideology,
A mente e a produção musical function and perception. In: Organised
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