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Informativo 642-STJ (RESUMIDO)


Márcio André Lopes Cavalcante

DIREITO CONSTITUCIONAL

LIBERDADE DE EXPRESSÃO
É possível que o magistrado condene o autor da ofensa a divulgar a sentença condenatória nos
mesmos veículos de comunicação em que foi cometida a ofensa à honra

Importante!!!
O direito à retratação e ao esclarecimento da verdade possui previsão na Constituição da
República e na Lei Civil, não tendo sido afastado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento
da ADPF 130/DF.
O princípio da reparação integral (arts. 927 e 944 do CC) possibilita o pagamento da
indenização em pecúnia e in natura, a fim de se dar efetividade ao instituto da
responsabilidade civil.
Dessa forma, é possível que o magistrado condene o autor da ofensa a divulgar a sentença
condenatória nos mesmos veículos de comunicação em que foi cometida a ofensa à honra,
desde que fundamentada em dispositivos legais diversos da Lei de Imprensa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.866-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/02/2019 (Info 642).

DIREITO CIVIL

USUCAPIÃO
Não cabe oposição em ação de usucapião

Importante!!!
Não cabe intervenção de terceiros na modalidade de oposição na ação de usucapião.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.726.292-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/02/2019 (Info 642).

ALIMENTOS
Somente incidirá correção monetária para atualização do valor da pensão alimentícia
combinada no acordo se isso estiver expressamente previsto no pacto

Importante!!!
O acordo que estabelece a obrigação alimentar entre ex-cônjuges possui natureza consensual
e, portanto, a incidência de correção monetária para atualização da obrigação ao longo do
tempo deve estar expressamente prevista no contrato.
Os alimentos acordados voluntariamente entre ex-cônjuges, por se encontrarem na esfera de
sua estrita disponibilidade, devem ser considerados como verdadeiro contrato, cuja validade

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e eficácia dependem exclusivamente da higidez da manifestação de vontade das partes


apostas no acordo.
Não confundir:
• acordo de alimentos entre ex-cônjuges não prevê atualização monetária da pensão alimentícia
ao longo do tempo: o valor da obrigação se mantém pelo valor histórico (valor original).
• decisão judicial não prevê atualização monetária da pensão alimentícia: mesmo assim a
prestação deverá ser corrigida, atualizando-se o valor historicamente fixado.
Observação: a correção monetária explicada acima diz respeito à atualização da obrigação
original fixada no contrato e paga na data do vencimento. Não se estava tratando sobre
correção monetária de parcelas pagas em atraso. Mesmo que o contrato não preveja, haverá
incidência de correção monetária caso o alimentante pague a pensão alimentícia após a data
do vencimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.705.669-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/02/2019 (Info 642).

DIREITO DO CONSUMIDOR

FORNECEDOR
A empresa que utiliza marca internacionalmente reconhecida, ainda que não tenha sido a
fabricante direta do produto defeituoso, enquadra-se na categoria de fornecedor aparente

O conceito legal de “fornecedor” previsto no art. 3º do CDC abrange também a figura do


“fornecedor aparente”, que consiste naquele que, embora não tendo participado diretamente
do processo de fabricação, apresenta-se como tal por ostentar nome, marca ou outro sinal de
identificação em comum com o bem que foi fabricado por um terceiro, assumindo a posição
de real fabricante do produto perante o mercado consumidor.
O fornecedor aparente, em prol das vantagens da utilização de marca internacionalmente
reconhecida, não pode se eximir dos ônus daí decorrentes, em atenção à teoria do risco da
atividade adotada pelo CDC. Dessa forma, reconhece-se a responsabilidade solidária do
fornecedor aparente para arcar com os danos causados pelos bens comercializados sob a
mesma identificação (nome/marca), de modo que resta configurada sua legitimidade passiva
para a respectiva ação de indenização em razão do fato ou vício do produto ou serviço.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.580.432-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 06/12/2018 (Info 642).

RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO


Companhia aérea é civilmente responsável por não promover condições dignas
de acessibilidade de pessoa cadeirante ao interior da aeronave

Importante!!!
A sociedade empresária atuante no ramo da aviação civil possui a obrigação de providenciar
a acessibilidade do cadeirante no processo de embarque quando indisponível ponte de
conexão ao terminal aeroportuário (“finger”).
Se não houver meio adequado (com segurança e dignidade) para o acesso do cadeirante ao
interior da aeronave, isso configura defeito na prestação do serviço, ensejando reparação por
danos morais.

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Assim, caso a pessoa com deficiência (“cadeirante”) tenha que ser carregado pelos
funcionários da companhia aérea para entrar no avião, este fato configura defeito na
prestação do serviço, gerando indenização por danos morais.
A companhia aérea não se exime do pagamento da indenização alegando que o dever de fornecer
o equipamento para a entrada da pessoa com deficiência na aeronave seria da ANAC. Isso porque
a companhia aérea integra a cadeia de fornecimento, de forma que possui responsabilidade
solidária em caso de fato do serviço, nos termos do art. 14 do CDC. Ademais, tal alegação não se
amolda à excludente de responsabilidade por fato de terceiro (art. 14, § 3º, II, do CDC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.611.915-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 06/12/2018 (Info 642).

RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO


Concessionária de transporte ferroviário deve pagar indenização à passageira
que sofreu assédio sexual praticado por outro usuário no interior do trem?

Importante!!!
Atualize o Info 628-STJ
Concessionária de transporte ferroviário deve pagar indenização à passageira que sofreu
assédio sexual praticado por outro usuário no interior do trem?
O STJ está dividido sobre o tema:
• 3ª Turma do STJ: SIM:
A concessionária de transporte ferroviário pode responder por dano moral sofrido por
passageira, vítima de assédio sexual, praticado por outro usuário no interior do trem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.662.551-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 628).

• 4ª Turma do STJ: NÃO.


A concessionária de transporte ferroviário não responde por ato ilícito cometido por terceiro
e estranho ao contrato de transporte.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.748.295-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Marco Buzzi, julgado
em 13/12/2018 (Info 642).

PUBLICIDADE
A inserção de cartões informativos no interior das embalagens de cigarros não constitui prática
de publicidade abusiva apta a caracterizar dano moral coletivo

A Lei nº 9.294/96 estabelece que as fabricantes de cigarro são obrigadas a inserir, nas
embalagens e nos maços do produto, uma imagem e uma mensagem informando sobre os
malefícios do tabaco para a saúde.
O que algumas fabricantes de cigarro começaram a fazer? Inseriram, dentro das embalagens,
um “cartão” móvel, de papel, do tamanho exato da embalagem. Um dos lados do cartão traz a
mensagem e a foto determinados pelo Ministério da Saúde. No entanto, é possível virar o
cartão e, neste outro lado, há o logotipo da empresa. Assim, o consumidor pode retirar do
plástico esse cartão e virar o seu lado, de forma que a mensagem e a imagem de advertência
ficarão cobertos.
O STJ entendeu que a inserção de cartões informativos no interior das embalagens de cigarros
não constitui prática de publicidade abusiva apta a caracterizar dano moral coletivo.

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O suposto dano moral coletivo estaria alicerçado na possibilidade de o consumidor utilizar os


cartões para obstruir a advertência sobre os malefícios do cigarro. Assim, a responsabilidade
civil estaria sendo imputada a alguém que não praticou o ato, além do dano ser presumido,
uma vez que não se tem notícia que algum consumidor os teria utilizado para encobrir as
advertências. O fumante que se utiliza dos cartões inserts ou onserts quer tampar a visão do
aviso dos malefícios que ele sabe que o cigarro causa à saúde.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.703.077-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Moura Ribeiro, julgado em
11/12/2018 (Info 642).

DIREITO EMPRESARIAL

RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Reserva de 40% dos honorários do administrador judicial (art. 24, § 2º da Lei)
se aplica apenas à falência, não à recuperação

A reserva de 40% dos honorários do administrador judicial, prevista no art. 24, § 2º, da Lei nº
11.101/2005, não se aplica no âmbito da recuperação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.700.700-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/02/2019 (Info 642).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

INTIMAÇÃO
A habilitação de advogado em autos eletrônicos não é suficiente para a presunção de ciência
inequívoca das decisões, sendo inaplicável a lógica dos autos físicos

A habilitação de advogado em autos eletrônicos não é suficiente para a presunção de ciência


inequívoca das decisões, sendo inaplicável a lógica dos autos físicos.
A lógica da presunção de ciência inequívoca do conteúdo de decisão constante de autos físicos,
quando da habilitação de advogado com a carga do processo, não se aplica nos processos
eletrônicos.
Para ter acesso ao conteúdo de decisão prolatada e não publicada nos autos eletrônicos, o
advogado deverá acessar a decisão, gerando, automaticamente, informação no movimento do
processo acerca da leitura do conteúdo da decisão.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1.592.443-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
17/12/2018 (Info 642).

ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS


Em caso de descumprimento do § 3º do art. 941 do CPC,
haverá nulidade do acórdão, mas não do julgamento

Importante!!!
Novo CPC
O § 3º do art. 941 do CPC/2015 prevê que:
§ 3º O voto vencido será necessariamente declarado e considerado parte integrante do
acórdão para todos os fins legais, inclusive de pré-questionamento.

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Há nulidade do acórdão e do julgamento caso o § 3º do art. 941 do CPC seja descumprido? Há


nulidade se o voto vencido não tiver sido juntado ao acórdão?
• Haverá nulidade do acórdão.
• Não haverá nulidade do julgamento (salvo se o resultado proclamado não refletir a vontade
da maioria).
Em suma: haverá nulidade do acórdão que não contenha a totalidade dos votos declarados;
por outro lado, não haverá nulidade do julgamento se o resultado proclamado refletir, com
exatidão, a conjunção dos votos proferidos pelos membros do colegiado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.729.143-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/02/2019 (Info 642).

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PRISÃO PREVENTIVA
A SV 56 é inaplicável ao preso provisório (prisão preventiva) porque esse enunciado trata da
situação do preso que cumpre pena (preso definitivo ou em execução provisória da condenação)

Importante!!!
A SV 56 destina-se com exclusividade aos casos de cumprimento de pena, ou seja, aplica-se tão
somente ao preso definitivo ou àquele em execução provisória da condenação.
Não se pode estender a citada súmula vinculante ao preso provisório (prisão preventiva), eis que
se trata de situação distinta.
Por deter caráter cautelar, a prisão preventiva não se submete à distinção de diferentes regimes.
Assim, sequer é possível falar em regime mais ou menos gravoso ou estabelecer um sistema de
progressão ou regressão da prisão.
STJ. 5ª Turma. RHC 99.006-PA, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 07/02/2019 (Info 642).

COISA JULGADA
Havendo duas sentenças transitadas em julgado envolvendo fatos idênticos,
deverá prevalecer a que transitou em julgado em primeiro lugar

Importante!!!
Atualize o Info 616-STJ
Diante do duplo julgamento do mesmo fato, deve prevalecer a sentença que transitou em
julgado em primeiro lugar.
Diante do trânsito em julgado de duas sentenças condenatórias contra o mesmo condenado,
por fatos idênticos, deve prevalecer a condenação que transitou em primeiro lugar.
STJ. 6ª Turma. RHC 69.586-PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 27/11/2018 (Info 642).

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DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR

COMPETÊNCIA
A Lei 13.491/2017 deve ser aplicada imediatamente aos processos em curso, respeitando-se os
benefícios previstos na legislação penal mais benéfica ao tempo do crime

Importante!!!
É possível a aplicação imediata da Lei nº 13.491/2017, que amplia a competência da Justiça
Militar e possui conteúdo híbrido (lei processual material), aos fatos perpetrados antes do seu
advento, mediante observância da legislação penal (seja ela militar ou comum) mais benéfica
ao tempo do crime.
STJ. 3ª Seção. CC 161.898-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/02/2019 (Info 642).

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