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2 — Ficha de avaliação
GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.
A
Leia com atenção o seguinte fragmento do Livro do desassossego, de Bernardo Soares.
1. Indique as razões que, segundo Bernardo Soares, justificam a inaptidão para a ação
que caracteriza o sonhador.
2. Explicite o modo como os sonhadores adquirem um conhecimento profundo da
Humanidade.
3. Clarifique a relação entre a «máquina do devaneio» (l. 53) e a ideia de «[saber]
escrever» (l. 51).
B
Leia o poema «Manhãs brumosas», de Cesário Verde.
Aquela, cujo amor me causa alguma pena,
Põe o chapéu ao lado, abre o cabelo à banda,
E com a forte voz cantada com que ordena,
Lembra-me, de manhã, quando nas praias anda,
5 Por entre o campo e o mar, bucólica, morena,
Uma pastora audaz da religiosa Irlanda.
ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana 2
Que línguas fala? A ouvir-lhe as inflexões inglesas,
— Na névoa, a caça, as pescas, os rebanhos!—
Sigo-lhe os altos pés por estas asperezas;
10 O meu desejo nada em época e banhos,
E, ave de arribação, ele enche de surpresas
Seus olhos de perdiz, redondos e castanhos.
Portugal não lida bem com a sua memória. Não é de hoje, é mesmo de sempre, e
é disso que fala o magnífico filme de Catarina Mourão — que já desesperávamos de
ver chegar ao grande público, depois de ter feito o circuito de festivais ao longo dos
últimos dezoito meses. É do Portugal dos anos de Salazar, e da sua sociedade
5 atrofiada, que A toca do lobo fala, mas também dos segredos, das mentiras, dos
silêncios e das omissões que continuamos a cumprir quase religiosamente, mesmo
hoje, quarenta anos depois do 25 de Abril.
Partindo de uma construção de documentário de fatura tradicional —
depoimentos contemporâneos, imagens de arquivo, pesquisa de matéria —, Catarina
10 Mourão revela lentamente a verdade do filme como uma paciente investigação
detetivesca, contada na primeira pessoa pela realizadora, com a ajuda preciosa da mãe
que vai preenchendo de memória o que não está nos arquivos e nos registos. Nesse
processo de avanços e recuos, A toca do lobo desenrola-se como um quebra-cabeças
que nos envolve aos poucos, começando como uma simples curiosidade pessoal para
15 terminar numa verdadeira reconstrução da história familiar, à volta não de uma
presença mas de uma ausência: Tomaz de Figueiredo (1902-1970), o avô materno que
Catarina Mourão nunca conheceu, escritor que chegou a ser publicado mas cuja
memória se foi perdendo com o tempo, dentro e fora da família.
A tentativa de devolver espessura a essa memória — convocada pelo acaso de
20 imagens de arquivo de um programa televisivo onde o escritor se dirige a uma neta
que se poderia vir a chamar Catarina, anos antes de ela ter sequer sido concebida —
transforma-se então numa tentativa de resolver um mistério espicaçado pelas
inconsistências e pelos silêncios, pelas questões que vieram inclusive separar a família.
E, nessa teimosa insistência em deixar as coisas a remoer, por dizer, por resolver, num
25 lume brando entre o doloroso e o ressabiado, A toca do lobo amplifica de modo quase
comovente essa dificuldade tão portuguesa de assumir e aceitar a nossa história tal
como é, sem a minimizar nem a empolar; de sabermos olhar para ela como parte de
um contínuo temporal.
É verdade que a história pode ser escrita pelos vencedores, mas isso não torna os
30 perdedores menos dignos de nela serem lembrados, e por vezes é nos recantos mais
poeirentos que encontramos a chave que nos permite compreender o que se passou.
A toca do lobo recorda-no-lo, com um pudor extraordinário e uma inteligência
delicada, e com a capacidade de transformar a história esquecida de uma família na
história de toda uma sociedade ao longo de todo um período, e de explicar quanto de
35 nós ali está. Ainda bem que este belíssimo filme não fica restrito ao circuito de festivais
ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana 4
— mesmo que as voragens do «mercado» quase o condenem a uma estreia frágil,
A toca do lobo merece que se corra a vê-lo, apenas porque é um dos grandes filmes do
ano.
Jorge Mourinha, https://www.publico.pt/2016/11/02/culturaipsilon/noticia/contra-o-
esquecimento-1749659, publicado em 2 de novembro de 2016;
consultado em 28 de novembro de 2016 (com adaptações).
GRUPO III
Devaneio
1. Quimera, fantasia.
2. Ideia de quem devaneia.
3. Delírio, desvario.
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em
branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /opôs-se-lhe/). Qualquer número
conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2016/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados — entre duzentas e trezentas palavras —
há que atender ao seguinte:
— um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do
texto produzido;
— um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.