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VALENTIM, Basilio - As 12 Chaves PDF
VALENTIM, Basilio - As 12 Chaves PDF
(Primeira Chave)
Estas gravuras seriam gravadas em cobre e são mais recentes porque existem
outras muito mais antigas gravadas em madeira "woocuts" provavelmente da
edição de 1602.
Por isso, para vos poder transmitir a nossa opinião sobre a sua interpretação
nada melhor que descrever a parte essencial do texto da Primeira Chave.
Na gravura da primeira chave vê-se um Rei e uma Rainha, de pé tendo o Rei
na mão esquerda um ceptro e a Rainha segurando também, na sua mão
esquerda um ramo com três flores.
Aqueles que conhecem bem a via seca como nós conhecemos, poderão ver
que falta na figura o Acólito metálico que permitiria a Separação. Nem
Saturno ou a Rainha o permitiria a não ser na composição do amálgama na via
de Filaleto. Foi precisamente por esse motivo que nós rejeitámos a
interpretação pela via seca.
Albert Poisson no seu livro Teoria e Símbolos dos Alquimistas, página 87 diz:
«Sabe meu amigo que todas as coisas imperfeitas são impróprias para a nossa
obra, porque a sua lepra não pode produzir nada de bom, ora o bom é
impedido pelo impuro.
Todas as mercadorias à venda, extraídas das minas valem cada uma o seu
preço, mas logo que sejam falsificadas tornam-se impróprias. Elas são, com
efeito, alteradas sob um falso brilho e não são mais, como anteriormente,
convenientes ao nosso trabalho.
Tal como o médico, por meio dos seus medicamentos, purga e limpa o interior
do corpo, donde tira a sujidade, da mesma maneira os nossos corpos devem
ser lavados e purgados de toda a sua impureza a fim de que, da nossa geração,
a purificação seja alcançada. Os nossos mestres procuraram um corpo puro,
sem mácula, que não fosse alterado por nenhuma mancha ou mistura. Com
efeito, a adição de coisas estranhas é a lepra dos nossos metais.
Que o diadema do Rei seja de ouro puro e que a casta noiva lhe seja unida no
matrimónio.
Assim, pois, se vais trabalhar com os nossos corpos, toma o lobo cinzento
muito ávido que, pelo exame do seu nome, está sujeito ao belicoso Marte,
mas, pela sua raça de nascença, é filho do velho Saturno, e que, nos vales e
nas montanhas do mundo, é presa da fome mais violenta. Deita-lhe o corpo do
Rei, a fim de que dele receba o seu sustento e, logo que tenha devorado o Rei,
faz um fogo forte e deita-lhe o lobo para o consumir inteiramente então, o Rei
será libertado. Quando isso se fizer três vezes, o Leão triunfará do Lobo e não
encontrará mais nada que comer nele. E, assim, o nosso corpo ficará pronto
para o começo da nossa Obra.
Sabe, ainda, que só esta via é a directa e verdadeira para purgar os nossos
corpos. Porque o Leão purifica-se pelo sangue do Lobo e a tintura do seu
sangue junta-se admiravelmente à tintura do Leão, visto que o sangue dos dois
são mutuamente unidos por uma certa afinidade de parentesco.
Mas, meu amigo, prevê diligentemente, de forma que a fonte da vida seja
encontrada pura e clara. Nenhuma água estranha deve ser misturada...
Tendo em conta o que diz Canseliet e Albert Poisson e ainda em face das
imagens da figura, tudo nos levaria a concluir que o Rei representa o ouro que
será purificado pelo Lobo e, a Rainha, a prata, purificada por Saturno na
Copela, como se pode ver pelo botão metálico. Este processo de purificação
dos dois metais nobres era muito usual naquela época.
Esta era uma possível interpretação que, à primeira vista, nos pareceu a mais
adequada, e, durante muito tempo a aceitámos embora com reserva.
Mas se lerdes com atenção o texto da chave, vereis que o Mestre não faz
nenhuma referência à purificação da Rainha. Ele refere-se, apenas, à
purificação do Rei, e daí a nossa dúvida.
A purificação do ouro faz-se de forma que seja batido, bem delgado e muito
fino, depois, vazado e passado três vezes pelo antimónio, que em seguida, o
Rei passado através do antimónio, assentado e pousado no fundo, seja
refundido antes de ser soprado a fogo muito forte e, depois, purificado por
Saturno.
Então, encontrarás o ouro mais esplêndido, mais belo e mais altamente
brilhante que se possa desejar, semelhante ao claro resplendor do Sol e de
muito agradável aspecto...»
O texto é bem claro e não deixa sequer lugar a dúvidas. Só o Rei, (ouro) e
apenas o Rei, é purificado pelo antimónio ou Lobo cinzento (o lobo saltando
por cima do cadinho) e, depois, passado pela Copela por meio de Saturno (o
velho com uma perna de pau empunhando uma gadanha), tendo debaixo uma
Copela com um botão metálico de ouro purificado como mostra a figura.
Vejamos, agora, como era purgado o ouro pelos artistas do século XVII, tal
como está descrito no Traité De La Chymie de Christophle Glaser, boticário
ordinário do Rei de França, em 1667, página 84:
Tomai, pois, uma onça de ouro, tal como os ourives o empregam, colocai-o
num cadinho entre carvões ardentes, num fogo a vento, e, logo que fique
rubro, deitai, pouco a pouco quatro onças de bom antimónio em pó, o qual se
fundirá imediatamente e devorará ao mesmo tempo o ouro, o que, de outra
forma, é de difícil fusão, por causa da sua composição muito perfeita. Agora
que está tudo fundido como água e que a matéria deita chispas, é um sinal de
que a acção do antimónio destruiu as impurezas do ouro e, por isso, é
necessário deixá-lo ainda um pouco no fogo e, depois, vazá-lo prontamente
num corneto de aço que tenha sido previamente aquecido e untado com um
pouco de óleo.
Logo que a matéria seja vazada dentro, é preciso ao mesmo tempo bater com
uma tenaz no corneto, para fazer descer ao fundo o régulo.
Depois da matéria arrefecer, é preciso separar o régulo das escórias, pesá-lo
em seguida e colocá-lo num cadinho para fundi-lo, deitando, pouco a pouco, o
dobro do seu peso de salitre; tapar o cadinho com a tampa, de forma que o
carvão não possa entrar e, dando um fogo forte, o salitre consumirá todo o
antimónio que ainda restar.
O ouro fica fundido no fundo, muito belo e puro. Vazar-se-á num corneto ou
deixar-se-á arrefecer no cadinho, o qual será necessário partir, depois, para
separar o ouro dos sais.»
Por fim, purifica-se o ouro numa Copela, por meio de Saturno (chumbo).
Resta na copela um botão de ouro muito puro.
Cabe então perguntar: qual é o papel da Rainha nesta Chave se o Mestre diz
que apenas o Rei e só o Rei (ouro) é purificado pelo antimónio e depois
passado pela Copela?
Por incrível que pareça nenhum. Então porquê a sua presença na figura?