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Jack Tresidder

Um guia ilustrado de imagens, ícones


e signos seus conceitos, histórias e origens

Do original
Dictionary of simbols

Copyright © 1997 by Duncan Baird Publishers Ltd


CÓmmisstoned Artwork © Duncan Baird Publishers
Copyright da tradução © 2002 by Ediouro Publicações S.A.

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Çopidesque - PAULO CORRÊA

Revisão tipográfica - Jacqueline Gutierrez e Taís Monteiro

Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica - JüLíO MOREIRA

Produção gráfica - JaQUELINE LavÔR

Assistente de produção gráfica - Gl LM AR MIRÂNDOLA Como utilizar este livro .6 Metais .226
Morte ,230
CÍP - BRASIL. CATALOGAÇÂO-N A- FONTE Prefácio „? Musas 231
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, Rj' Números ,241
Dicionário de A a Z O Outro Mundo *250
t731 s Tresidder, Jack
O Grande Livro dos Símbolos/ Jack Tresidder ; tradução dc Ricardo
Paixão 258
ínojosa. - Rio de Janeiro : Ediouro, 2003. Quadros Especiais Paz ,262
Animais «27 Peixe *265
Tradução de: Dictionary of symbols
inclui bibliografia Animais Mitológicos «28 Planetas ,273
ISBN 85-00-00884-9 Castidade ,72 Pontos Cardeais «278
1. Sinais e símbolos - Dicionários. 2. Emblemas - Dicionários. Cores ,37 Sabedoria *306
I. Título. Cruz «106 Sete Pecados Capitais *317
Elementos *125 Vaidade
03-0763. CD D 302.2223
Estações *134 Verdade
CDU 003 (038)
Fama *141 Vigilância
03 0 4 0 5 06 0 7 8 76543 2 1 Fidelidade «144 Virtudes
Flores 147 Vitória
Ediouro Publicações S.A. Fortuna »151
Rua Nova Jerusalém, 345 • CEP 21042-230 • Rio de Janeiro • RJ Fruta *152 Sobre o Autor 878
lèl.: (21) 3882-8200 • Fax: (21) 2260-6522 9 e-mail: 1 ivròs@ediouro.com.br Jóias *182
Internet: www.ediouro.corn.br
Liberdade ,200 Agradecimentos
Longevidade *2 ©4
Como utilizar este livro fácio

ste dicionário contém verbetes sobre os principais símbolos encontrados s símbolos tradicionais formam uma simplificação visual de idéias - e ain-

E na mitologia, na literatura e na arte, bem como os que entraram nos as­ S -Jg'da assim suas funções e significados estendem-se para algo bem mais
pectos mais comuns da vida diária. Estão todos dispostos em ordem de amplo que isso. Por milhares de anos eles têm permitido a escultores, pin­
A a Z. Entremeados alfabeticamente com esses verbetes, encontram-se quadros tores e artífices concretizar e reforçar pensamentos e crenças profundos sobre a vida
especiais tanto sobre sistemas coerentes de símbolos (como o Zodíaco) quanto humana em imagens singulares, imediatas e poderosas. A exemplo do haiku,1 suas
sobre categorias genéricas (como as Cores e os Animais Mitológicos); alguns dos mensagens são rápidas, simples e memoráveis. Também não impõem limitações
exemplos mais importantes mencionados nesses quadros também têm seus pró­ porque cristalizam as idéias sem as confinar.
prios verbetes no dicionário. Outros quadros apresentam símbolos usados para A diferença essencial entre um símbolo e um signo é que os signos têm sig­
dar concretude a conceitos abstratos ou qualidades morais (como Paz e Casti­ nificados práticos e sem ambigüidade: Particular, Proibido Fumar, Perigo. Já os
dade) que sao com freqüência objeto de obras de arte. símbolos têm uma ressonância imaginativa maior e significados mais complexos,
As referências cruzadas fazem alusão a verbetes situados em outros pontos do às vezes ambíguos. Alguns símbolos encapsulam as crenças mais antigas e fun­
dicionário, que mencionam os assuntos aos quais se faz referência no texto. damentais que os seres humanos tiveram sobre o cosmo, seu lugar nele, como se
As ilustrações inspiram-se em obras de arte, em artefatos antigos e pinturas do comportar e o que honrar ou reverenciar. Muitos têm implicações psicológicas.
século XIX. Em todos os casos, o artista simplificou com vistas à clareza. Mesmo os que incorporam as idéias mais simples elevam o significado do objeto
O índice de Palavras Suplementares (p. 236) contém símbolos, personagens comum escolhido como símbolo, ampliando-o do particular para o geral: um cora­
mitológicos e obras de arte e literatura discutidos no texto, mas que não constituem, ção entalhado numa árvore é um símbolo, não um signo.
propriamente, objetos de verbete no dicionário. Para comunicar idéias amplas, as imagens antecederam em muito a escrita.
Entalhadas, pintadas ou trabalhadas em efígies, vestuário ou ornamentos, as
imagens que se tornaram familiares por intermédio da repetição eram usadas com
finalidades mágicas, para afastar o mal, suplicar aos deuses ou aplacar a sua ira
— e também para controlar as sociedades, mantê-las coesas, inspirar lealdade, obe­
1. Haiku é uma forma popularmente conhecida de haicai, poema de origem japonesa que contém 17 sílabas divididas em três
versos de cinco, sete e cinco sílabas. (N. do E.)
8 J a c k Tresidder símbolos y

diência, agressão, amor ou medo. Um sistema coerente de símbolos vivos podería “aço”, como símbolo de força, ou “cortina”, como símbolo de encobrimento. As
fazer com que as pessoas se sentissem em harmonia consigo mesmas, com sua co­ características familiares da Terra ou do universo visível — animais, aves, peixes,
munidade e o cosmo. Podería inspirar ações coletivas. As pessoas ainda lutam e insetos, plantas ou pedras - estão todas incluídas no repertório simbólico. Essas,
morrem sob emblemas, estandartes ou bandeiras dotados de significado simbólico. assim como os próprios seres humanos, já foram vistas como reflexos de uma
No começo, os símbolos mais importantes representavam tentativas de con­ realidade maior, dotadas de qualidades que exprimem as leis e “verdades” morais
ferir ordem e significado à vida humana num universo misterioso. Muitas idéias inerentes à ordem cósmica.
fundamentais, e os símbolos que as representavam, eram de uma similaridade De maneira alternativa, os símbolos também podem não ter ícones, com sua
marcante, seja em culturas primitivas, seja em civilizações desenvolvidas da Ásia, forma escolhida de modo mais arbitrário. Podem até basear-se, como ocorre com
índia, Oriente Médio, Europa Ocidental e América Central. No Ocidente, essa freqüência na China, num homônimo — associação puramente fonética com o no­
linguagem começou a perder força no Renascimento, quando a ciência, a razão me de outra coisa. Os símbolos sem ícone podem variar de linhas ou formatos grá­
e o crescente respeito pela individualidade conduziram a uma perda de interesse ficos até palavras ou atos rituais.
pelas crenças e rituais tradicionais, esvaziando muitos símbolos de sua vida finagi- Os verbetes deste livro foram escolhidos para explicar o significado dos sím­
nativa nos costumes civis ou religiosos ou no folclore. bolos visuais ou atos simbólicos, sobretudo os que possam hoje ser enigmáticos,
O simbolismo mantém sua força gráfica e psicológica não apenas em campos tanto para demonstrar a universalidade de muitos símbolos e a variedade cultural
criativos como a arte, a literatura, a música e o cinema, como também na políti­ de outros, como para mostrar que algumas das coisas mais familiares que nos cer­
ca e na publicidade. O simbolismo moderno, com sua ampla gama de novas cam têm, ou já tiveram, significados e associações mais profundos e mais fasci­
imagens e ícones passageiros, encontra-se fora do âmbito deste livro. Aqui, o ob­ nantes do que podemos hoje presumir.
jetivo é proporcionar um dicionário sucinto de símbolos com uma história mais
longa, muitos dos quais importantes para uma compreensão mais harmoniosa
do desenvolvimento do pensamento, da arte, dos costumes, da religião e da mi­
tologia humanos. As referências culturais são as mais amplas possíveis dentro de Jack Tresidder
um livro que se destina a leitores ocidentais. Os verbetes primeiro definem e
explicam os significados mais universais de cada símbolo para depois discutirem
significados subsidiários. Identificam-se as culturas particulares quando o uso sim­
bólico é mais específico do que geral.
Os mitos, falados ou escritos, são em si mesmos sistemas ampliados de sím­
bolos que encapsulam “verdades” religiosas, filosóficas ou psicológicas, em geral
baseadas em recordações tribais. Por exemplo, mito de Édipo, que matou o pai
e se casou com a mãe, simboliza os sentimentos humanos comuns de amor mater­
nal e ciúme com relação ao pai. Este livro, porém, é um dicionário de símbolos
individuais, que podem ser objetos ou imagens gráficas que representam uma
idéia, sentimento ou qualidade abstrata ou, ainda, atos rituais que representam
uma experiência interior.
O símbolo tem com freqüência forma de ícone, que imita a forma da coisa à
qual se refere. Seu significado é às vezes inesperado e às vezes auto-evidente por­
que se baseia em alguma qualidade que parece ser inerente a, por exemplo, um leão
(coragem) ou uma pedra (solidez). Ao selecionar os verbetes, passei por cima de
assuntos com associações banais ou completamente auto-explicativas, tais como
11
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«SI®fclll ImSSiiiSiii
Abelha — Símbolo notavelmente rico, embora nem tanto na iconografia, de
exemplo de virtudes éticas, sobretudo para os escritores de homilias. Entre as
qualidades atribuídas à abelha estão diligência, organização e habilidades téc­
nicas, sociabilidade, pureza, castidade, limpeza, espiritualidade, sabedoria, co­
ragem, abstinência, sobriedade, criatividade, desprendimento, eloqüência (por
associação com as palavras “melificadas”) e iluminação (por associação com as
velas de cera de abelha). A abe­
lha simbolizava realeza ou o sis­
tema monárquico no antigo
Oriente Médio, Grécia e Egito,
onde, por tradição, nasceu das
lágrimas de Rá, deus do Sol.
Na mitologia hitita, uma abe­
lha salvou o mundo do afoga­
mento ao encontrar o filho per­
dido do deus do tempo. A abe­
lha selvagem da Idade do Ouro
era associada à ambrosia, o ali­
mento dos deuses.
A abelha é atributo de muitos
deuses, incluindo a grande mãe
universal, as deusas classicas Ci- gssa imagemj de um tratado do século XV sobre er-
bele e Ártemis (Diana) e a deusa vas> mostra uma jovem colhendo mel de suas abelhas.
grega da fertilidade, Deméter, cujas sacerdotisas em Elêusis eram chamadas de bernáculo, e, por tradição, a coroa de Cristo era feita de espinhos de acácia.
“abelhas”. Os sacerdotes essênios também eram chamados assim, e a cristanda­ As flores vermelhas e brancas sugerem a dualidade vida - morte. A franco-ma­
de continuou essa tradição ao descrever a comunidade monástica e a própria çonaria utiliza o ramo de acácia como símbolo de iniciação e tributo funerário
Igreja como uma colméia. O mel e o ferrão da abelha representavam a doçura - referência ao galho supostamente colocado no túmulo do mestre construtor
e a dor de Cristo. Para Bernard de Clairvaux, a abelha era o Espírito Santo. Nas bíblico do rei Salomão, Hiram Abif, por colegas de trabalho que o mataram
tradições grega, ariana, do Oriente Médio e islâmica, dizia-se que a abelha repre­ por não conseguir fazê-lo revelar os mistérios de seu ofício. Acácia: ver Coroa;
sentava a alma. Espinho; Galho, Ramo; Vermelho
Símbolo da reencarnação, a abelha é também atributo dos deuses hindus. Uma
abelha azul na testa representa Krishna; num lótus, Vishnu; sobre um triângu­ Acanto - Imagem triunfal greco-romana da superação das provações da vida,
lo, Shiva. A abelha é símbolo de ressurreição quando mostrada em túmulos, simbolismo sugerido pelos espinhos e crescimento vigoroso da planta. As folhas
talvez porque sua dormência invernal haja sido interpretada erroneamente como estilizadas de acanto na capital de Corinto podem constituir uma referência ao
uma fase de morte. Por outro erro de interpretação, ela representava a Virgem mito grego do nascimento de um pé de acanto sobre o túmulo de um herói.
Maria porque se pensava que ela se reproduzia de maneira tão casta como as flo­ Acanto: ver Espinho
res nas quais se nutria. Os chineses associaram-na à volúvel “polinização” das
donzelas. Abelha: ver Alma; Azul; CASTIDADE; Colméia; Lótus; Mel; Mu­ €h«H INstsl — Parte central de um festival de meio de inverno celta e ger­
lher; Triângulo; Vela; Virgindade mânico de 12 dias que influenciou os costumes referentes ao Natal e ao Ano-
Novo. A queima ritual de uma acha de carvalho sagrado simbolizava a morte
Ahetarda - Ave terrestre, grande porém esquiva, que simboliza na África a da luz no solstício de dezembro e celebrava o calor de seu renascimento. Acha
de Natal: ver Árvore de Natal; Carvalho; Solstício
fecundidade polígama e também a procura da alma, ligada tanto à terra quanto
ao ar. Abetarda: ver Alma; Aves
Adaga — ver Faca
AbetO — ver Árvore de Natal; Pinheiro, Pinha
Ãgata - Pedra preciosa da sorte, apreciada desde a Antigüidade. Suas diversas
Abutre — Atualmente é metáfora de cobiça oportunista, mas no antigo Egito era faixas coloridas são às vezes associadas à Lua, às vezes a Mercúrio. As qualidades
símbolo protetor. Nekhbet, a grande deusa do Egito superior, era representada co­ associadas à ágata incluem a fortaleza, alegria, prosperidade e êxito na vida se­
mo abutre em seu papel de guardiã do faraó, cuja rainha usava um adorno de ca­ xual. O folclore dizia que a pedra preciosa tinha a capacidade de desviar armas.
Ágata: ver PLANETAS
beça em forma de abutre. O fato de que os abutres guardavam ferozmente seus
filhotes levou à lenda de que todos esses animais eram fêmeas - e às analogias for­
Água — Símbolo antigo e universal de pureza, fertilidade e da própria fonte de
çadas pelos escritores cristãos antigos entre o aspecto maternal do abutre e a Vir­
gem Maria. No antigo Irã, os abutres eram purificadores, por acelerarem os pro­ vida. Em todas as principais cosmologias, a vida surge das águas primordiais,
cessos de desintegração corporal e renascimento. Os corpos ainda são deixados pa­ símbolo feminino da potencialidade sem forma. No senso comum, a água é
ra eles nas Torres do Silêncio parses. Os abutres são espíritos tutelares em alguns emblema de toda fluidez no mundo material e dos princípios de circulação lí­
mitos indianos. Em Roma, eram consagrados ao deus Marte e acreditava-se que quida (sangue, seiva, sêmen), dissolução, mescla, coesão, nascimento e regene­
tinham poderes proféticos. Eram também associados à velhice e, portanto, domi­ ração. O Rig Veda canta louvores à água como causadora de todas as coisas. As
nados por Saturno. Abutre: ver Aves águas mais puras - sobretudo as do orvalho e da fonte, mas também as da chu­
va — eram consideradas como detentoras de propriedades sobrenaturais e cura­
Acácia - Imortalidade, em especial no pensamento judaico-cristão. A madei­ tivas como forma de graça divina, presentes da Mãe Terra (água de fonte) ou
ra de lei de uma espécie de acácia, a shittah, foi utilizada para construir o Ta­ deuses do céu (chuva e orvalho). A reverência à água doce como elemento pu-
rificador é particularmente marcante Batismo; Chuva; Dilúvio; ELEMENTOS; Fonte; Lago; Mar; Orvalho; Poço;
nas tradições religiosas dos países em Rio, Regato
que a água era escassa, como mos­
tram os rituais de limpeza ou batismo Águia - Emblema supremo -
islâmicos, judeus, cristãos e indianos. aquela que tudo vê - dos deuses do
O batismo combina os aspectos de pu­ céu e do Sol, governantes e guerrei­
rificação, dissolução e fertilização do ros. Símbolo de majestade, domi­
simbolismo da água: lava os pecados, nação, vitória, valor, inspiração e
apaga a vida velha e dá nascimento a aspiração espiritual. Como senhora
uma vida nova. Os mitos do dilúvio do ar, a águia é um dos símbolos
nos quais uma sociedade pecadora é mais ambíguos e universais, incor­
destruída são exemplos do simbolismo porando o poder, a velocidade e a
de limpeza e regeneração. percepção do mundo animal em
A água pode tornar-se metáfora de seu nível mais elevado. Não é ape­
nutrição espiritual e salvação, como no nas um atributo dos maiores deu­
Evangelho de São João (4:13), quando ses, mas com freqüência a personi­ Aguia combatendo serpente — símbolo da supera­
ção do mal, de um mosaico medieval, Istambul.
Cristo diz à mulher da Samaria: “O ficação direta deles. No mito grego,
que beber da água que eu lhe hei de o belo jovem Ganimedes é seqüestrado por uma águia para ser o copeiro dos
dar, nunca jamais terá sede.” As fontes deuses. Zeus, em diferentes versões, envia a águia como sua mensageira ou se
que fluem da Árvore da Vida no pa­ transforma, ele mesmo, nela. A ira de Zeus é igualmente personificada pela
raíso são símbolos da salvação. águia que rasga o fígado de Prometeu. Por planar em direção ao Sol com os
O simbolismo da água: mulheres banham-se ^ agua também e igualada a sabedo- olhos abertos, a águia parece ser uma criatura capàz de carregar almas ao pa­
numa fonte no Jardim da Juventude, de uma r*a’ como na imagem taoista da agua raíso - a origem do costume romano de libertar uma águia da pira dos impera­
pintura italiana do século XV que encontra seu caminho em volta dores. A idéia hebraica de que a águia poderia queimar suas asas no fogo solar e
dos obstáculos, o triunfo da fraqueza cair a prumo no oceano para emergir com um novo par (Salmo 103:5) tornou-
aparente sobre a força. Na psicologia, representa a energia do inconsciente e se um motivo do simbolismo batismal cristão. A águia aparece não só nas pias
também suas profundidades e perigos misteriosos. A água turbulenta é símbolo batismais, mas também nas estantes de coro de igrejas - como atributo de São
budista do agitado fluxo da revelação. Em contraste, a transparência das águas João, o Evangelista, portador da mensagem cristã. Na iconografia medieval, a
plácidas simboliza a percepção contemplativa. Na lenda e no folclore, os lagos águia está associada à ascensão de Cristo, às asas da oração, à descida da graça e
são espelhos de mão dupla que dividem os mundos natural e sobrenatural. As à conquista do mal (águia com uma serpente no bico).
divindades do lago e da fonte, espíritos tradicionalmente jovens e proféticos, ou Em outras tradições, por todo o Egito, Ásia Ocidental, índia e Extremo Orien­
então de cura, com freqüência eram dotadas de dons — a origem do costume de te, a ligação entre a águia e os deuses do céu é antiga e uniforme. Uma águia
arremessar moedas nas fontes e fazer pedidos. O simbolismo da transição da com braços humanos era um emblema sírio de adoração do Sol. A águia é em
água é responsável por numerosas mitologias nas quais os rios ou mares dividem geral símbolo do trovão e do relâmpago, bem como solar, sugerindo poder tan­
os mundos dos vivos e dos mortos. Muitas divindades nascem na água ou an­ to de luz quanto de fertilização. Garuda, o corcel misto de águia e homem do
dam nela. Na superstição, o simbolismo da pureza da água era tão forte que ela deus védico Vishnu, é mostrado em combate contra as serpentes do mal. A
era tida como capaz de afastar o mal. Daí o costume de identificar as bruxas jo­ águia e a serpente representam, de maneira alternada, ar e terra, embora o leão
gando mulheres em lagos para ver se flutuavam de volta à superfície. Agua: ver às vezes substitua a serpente, como na alquimia, que usava a águia e o leão co­
roados para representar o dualismo dos princípios volátil e fixo. Na mitologia
Alaúde — Na arte renascentista, símbolo das personificações da música e au­
dos nativos da América, a águia tinha simbolismos celestial e solar. A dualida­
dição e emblema popular do amor. Aaúdes ou bandolins com cordas quebra­
de do céu e da terra é representada na América Central pela águia e pelo jaguar.
das aparecem em naturezas-mortas como símbolos da discórdia.
Entre os nômades, particularmente no norte da Ásia, a águia era símbolo pa­
Na China, o alaúde era atributo de eruditos e, em comum com muitos outros
terno xamânico, e suas plumas eram usadas nos ritos de iniciação e ascensão.
instrumentos musicais, de harmonia — no casamento, bem como no governo.
A águia é um dos emblemas mais antigos e mais populares da vitória, seu voo
Alaúde: ver Música; PAZ
considerado augúrio de êxito militar na antiga Pérsia e também em Roma, onde,
desde a época de seus fundadores, Rômulo e Remo, era carregada em estandar­
Albatroz - O peso da culpa - simbolismo criado pela balada The Rime ofthe
tes como “a ave de Júpiter”. Os hititas usavam uma ornamentação com uma Ancient Mariner [A balada do velho marinheiro], de Samuel Taylor Coleridge
águia de duas cabeças, aparentemente ainda em uso entre os turcos seljúcidas
(1772-1834), em que a morte a tiros de um albatroz quebrou o tabu de um ma­
na época das cruzadas e levada de volta à Europa para tornar-se emblema do rinheiro. Tradicionalmente, a ave era bom presságio; sua força e energia tão ad­
Santo Império Romano e depois dos impérios austríaco e russo. O uso da águia
miradas, que no folclore o albatroz encarnava a alma dos marinheiros mortos.
na heráldica era amplo na Polônia, na Alemanha e na França de Napoleão.
Albatroz: ver Aves
A águia americana, de cabeça branca e com as asas abertas, é o emblema dos
Estados Unidos. Na arte, a águia pode ser um atributo do Orgulho. Águia: ver
Alce - ver Cervo
Alma; Alquimia; ANIMAIS MITOLÓGICOS; Ar; Asas; Aves; Batismo; Céu;
Dragão; Fogo, Chama; Jaguar; Leão; Luz; Pena; Serpente; SETE PECADOS
Alcião - Fidelidade, paz - símbolo de graça, nobreza e devoção conjugal na
CAPITAIS; Sol; Tempestade; Trovão; VITÓRIA
China e na Grécia, associado à tranqüilidade melancólica por meio do mito de
Acione, no qual ela e seu marido, Ceix, foram transformados em alcioes por
Agulha — Símbolo yin-yang na China: o buraco, feminino, a ponta, mascu­ Zeus. Como se acreditava que os alcioes faziam seus ninhos no mar, o pai de A-
lina. A picada da agulha era em geral associada à má sorte nos contos popula­
cíone, Éolo, rei dos ventos, mantinha as águas calmas sete dias por ano para que
res, o que levava a superstições contra costurar em certos dias, como na noção
sua filha incubasse seus ovos. Acião: ver Aves; FIDELIDADE
chinesa de que a agulha podia perfurar o olho de Buda se usado nos primeiros
cinco dias do Ano-Novo. Agulha: ver Yin-Yang
Álcool - Energia vital que une os elementos contraditórios do fogo (masculi­
no) e da água (feminino), a aqua vitae (“água da vida”) da alquimia. O álcool
Agulha (de torre) — Expressão simbólica do objetivo dos arquitetos góti­ era também associado à criatividade e à sabedoria. Acool: ver Águia; Aqui-
cos de criar igrejas que parecessem se projetar em direção ao céu. As catedrais gó­
mia; Embriaguez; Fogo, Chama; Soma; Vinho
ticas buscam “representar o material como imaterial”. Agulha (de torre): verTorre
Alecrim — “Aqui está, alecrim, para a lembrança”, diz Ofélia em Hamlet (4:5;
Álamo - Símbolo de dualidade na China, pois as folhas do álamo branco são
c. 1600), de Shakespeare. Essa erva aromática foi escolhida como antigo sinal
verde-escuras na face superior (solar), mas parecem brancas na inferior (lunar),
de casamento, talvez por sua fragrância prolongada. Seu nome em inglês (.Ro-
onde são cobertas com penugem.
semary) vem do latim, e em sentido literal significa “orvalho do mar”. O alecrim
Os gregos explicavam essa mudança de cor no mito em que Héracles (Hér­
estava, portanto, associado à deusa nascida da espuma, Afrodite (Vénus, na
cules, para os romanos) enrola um galho de álamo em volta da cabeça para des­
mitologia romana), e à fidelidade no amor. Aecrim: ver Casamento; FIDELI­
cer ao mundo subterrâneo. A fumaça do Hades acaba escurecendo a parte su­
DADE; Orvalho
perior das folhas enquanto o suor de Héracles alveja a parte inferior. O álamo
era consagrado a Sabásio e a Zeus (Júpiter), mas costuma ter simbolismo
Alfa 6 Ômega - Totalidade, representada pela primeira e última letras do
funerário. Álamo: ver Árvore; Galho, Ramo
alfabeto grego. Usadas juntas, as letras simbolizam a unicidade e totalidade do
espaço, tempo e espírito. Em cruzes, constituem referência ao Cristo do Apo­ forços dos não-iniciados. As co­
calipse: “Sou Alfa e Omega”, e em túmulos referem-se à aceitação de Deus co­ res preto, branco, vermelho e
mo começo e fim. Alfa e Ômega: ver CRUZ dourado simbolizavam uma pro­
gressão da redução (igualada à

/\ ÍX í i (Ú culpa original) à destilação (pu­


reza). Embora abundassem os
charlatães, alquimistas sérios tra­
balhavam com senso de objetivo
As letras gregas alfa (à esquerda) e ômega. Para ambas as letras, a forma maiuscula é mos­ espiritual, acreditando que a in­
trada à esquerda, a minúscula, à direita. tervenção divina traria o êxito.
Alquimia: ver Águia; Álcool; An­
Alquimista canaliza energia das estrelas para sua
Alho - Emblema supersticioso do poder protetor do sul e centro da Europa des­ drógino; Branco; Caduceu; ELE­
fornalha, de uma xilogravura alemã de 1519.
de a época clássica. Além das propriedades antimagnéticas (crença romana), di­ MENTOS; Enxofre; Fogo, Cha­
zia-se que era capaz de deter cobras, relâmpagos, mau-olhado e vampiros. „ ma; Forno, Fornalha; Graal; Leão; Mercúrio; METAIS; Ouro; Ovo; Pedra
O costume de pendurar réstias de alho em casa teve simbolismo protetor por Filosofal; Prata; Quintessência; Salamandra; Transformação; Urso; Verme­
séculos. Na Grécia antiga, onde o cheiro de alho não era apreciado, as mulhe­ lho; Zodíaco
res o mastigavam para assegurar sua castidade.
Amanhecer - Esperança e juventude — extensões das associações simbólicas
Â, ima - Símbolo dos aspectos espirituais ou não-corporais da existência huma­ auto-evidentes que envolvem o amanhecer, a iluminação e o reinicio. No bu­
na individual. A maioria das tradições imaginou uma ou mais almas a habitar dismo, a claridade particular da luz do amanhecer simboliza o esclarecimento
o corpo, às vezes saindo dele nos sonhos e persistindo de alguma forma depois da final. A deusa grega do amanhecer, Eos (Aurora, na mitologia romana), em geral
morte. No Egito, a alma que deixava o corpo era descrita como um falcão com é mostrada na arte como uma deusa alada que dirige uma carruagem, algumas
cabeça humana. Na Grécia, era mostrada como uma borboleta saindo da boca vezes espalhando flores. Embora o amanhecer esteja universalmente associado à
ou, às vezes, como uma serpente. A personificação grega da alma, a bela Psi­ alegria, Eos também pode aparecer de luto por seu filho Mêmnon, assassinado
que, pode ter influenciado a iconografia cristã de almas como pequenas figuras pelo herói Aquiles, com as lágrimas a caírem como orvalho. Amanhecer: ver
aladas. Pombas voavam das bocas dos santos, águias das piras dos imperadores. Cervo; Luz; Obelisco; Orientação; Orvalho; PONTOS CARDEAIS; Sol
Na arte ocidental posterior, as almas em geral aparecem como crianças nuas. Nas
tradições semitas e em outras, as almas eram faíscas de luz. Alma: ver Águia; AmarantO - Planta de florescência duradoura, retratada em túmulos e es­
Asas; Ba; Borboleta; Faísca; Falcão, Gavião; Ka; Pomba culturas gregos como símbolo de imortalidade. Associado a Ártemis, acredi-
tava-se que o amaranto tinha propriedades curativas. Na China, suas flores eram
Alquimia - Antigo símbolo tecnológico de perfeição da alma humana. Os al­ oferecidas à lebre lunar no Festival da Lua, como símbolo de imortalidade.
quimistas procuraram, de início, transmutar metais básicos em ouro e prata, e, Amaranto: ver FLORES; Lebre, Coelho
mais tarde, produzir um solvente universal, curativo, ou elixir da vida, feito dos
elementos terra, fogo, ar e água, juntamente com um quinto elemento primor­ Amarelo - De todas as cores primárias, a de simbolismo mais inconsistente,
dial, a quintessência. O processo revestia-se de um simbolismo tirado da filo­ variando de positivo a negativo, de acordo com o contexto e faixa de tonalida­
sofia, astrologia, misticismo e, na era medieval, religião. Formas ou termos de. O amarelo vivo compartilha o simbolismo solar do ouro. Na China, era
simbólicos eram empregados para designar equipamentos, materiais e proces­ emblema da realeza, do mérito e do centro. O amarelo era a otimista cor nup­
sos, em parte para pegar emprestado sua força e em parte para frustrar os es­ cial da juventude, virgindade, felicidade e fertilidade. Todavia, no teatro chinês,
a maquiagem amarela era código de traição. Esse simbolismo é difundido e ex­ O suco da amêndoa espremida era igualado no mundo antigo ao sêmen,
plica por que os judeus (por sua suposta “traição” a Cristo) tiveram de usar o que conduziu à história de que Átis, consorte de Cibele, deusa da terra
amarelo na Europa medieval e as cruzes amarelas no nazismo. Associações entre frigia e greco-romana, foi concebido a partir de uma amêndoa, o fruto pu­
a pele amarelada e o medo de doença são responsáveis pela correspondência da ro da natureza. A amêndoa era a árvore mais sagrada dos hebreus, ligada
cor com a covardia e a quarentena. Nas casas atingidas pela peste, pintava-se à imortalidade. Suas ligações mais antigas com a autogeração ganharam
uma cruz amarela. Em seu aspecto negativo, o amarelo é também a cor das fo­ peso bíblico na história do cajado de Aarão (Livro dos Números 17:8). O
lhas mortas e das frutas excessivamente maduras. Esse pode responder pela am­ sinal de Deus de que Aarão deveria ter status de sacerdote era um bastão
pla variedade de associações culturais com o conceito de espaço ligado à morte que florescia milagrosamente e produzia amêndoas. Este simbolismo está
e à vida no além-túmulo. O amarelo tem o maior valor simbólico nos países presente no nascimento de Cristo, em que uma auréola em forma de amên­
budistas por sua ligação com as vestimentas cor-de-açafrão dos monges. Essa doa (mandorla) envolve o menino Jesus e Maria, retratada na iconogra­
cor, anteriormente usada por criminosos, foi escolhida por Gautama Buda co­ fia medieval.
mo símbolo de sua humildade e da separação da sociedade materialista. A noz doce encerrada na casca sugeriu aos místicos árabes a existência de uma
Amarelo: ver CORES; MORTE; Ouro; Sol realidade secreta mascarada pelas aparências. A amêndoa é um símbolo yin
chinês. A árvore no início da floração é associada ao renascimento, à precau­
Ãumbar-O âmbar é ligado por sua cor à energia solar. Na China antiga, a pa­ ção e à delicadeza.
lavra para designar âmbar significava literalmente “alma de tigre” - resina su­ Diz-se no folclore europeu que uma virgem pode acordar grávida se dormir
postamente formada dos restos dos tigres, o que personificava a coragem. Na sob uma amendoeira e sonhar com seu amor. Amêndoa: ver Árvore; Bastão;
mitologia, muitas divindades vertiam lágrimas de âmbar; as irmãs de Fáeton Mandorla; VERDADE; Virgindade; Yin-Yang
foram transformadas em pinheiros chorosos ao lamentarem a morte do irmão,
que dirigira de maneira temerária a carruagem solar de seu pai, Hélio. O âm­ Ametista - Pedra preciosa de quartzo que simboliza temperança, paz, hu­
bar era há muito usado como talismã e cura para tudo, do reumatismo à dor mildade e piedade, harmonizada com a Era de Aquário. A ametista era usada
de cabeça. Ambar: ver Amuleto; Sol; Tigre pelos bispos por causa de sua cor - de um modesto violeta ou um sereno púr­
pura - e devido à crença grega de que incentivava a sobriedade (amethustos,
Ameixa - Na China, onde a resistente ameixa oriental floresce cedo, um im­ “não-intoxicado”). Como talismãs, acreditava-se que essas pedras promoviam
portante símbolo da longevidade e da virgindade ou felicidade nupcial. Como bons sonhos. Ametista: ver Embriaguez; JÓIAS; Violeta
suas flores apareciam no final do inverno, era considerada, juntamente com o
pinheiro e o bambu, como um dos Três Amigos do Inverno. A lenda dizia que Ãmtli© — Membrana fetal, considerada bom augúrio quando cobre parcial­
o grande sábio Lao-tsé tinha nascido sob uma ameixeira, e a árvore era emble­ mente a cabeça do bebê ao nascer. Mais particularmente, é considerado um
ma samurai no Japão. Ameixa: ver Bambu; FRUTA; LONGEVIDADE; Pinha, amuleto contra o afogamento. Essa superstição, que data pelo menos da épo­
Pinheiro; Virgindade ca dos romanos, levou a algum tráfico de âmnio. Na tradição eslava, o âmnio
também era sinal de segunda visão e metamorfose, possivelmente em lobiso­
Amém — Afirmação (proveniente do hebraico e significando “sinceramente” ou mem. Amnio: ver Lobo; Transformação
“verdadeiramente”) que adquiriu no cristianismo algo da força simbólica do
mantra sagrado hinduísta Om (ou Aurri) como a personificação sonora do espí­ Amor-Perfeito — Ternas lembranças, daí sua designação comum em in­
rito divino, evocado para responder a orações. Amém: ver OM (Aum); Palavra glês, heartsease (“paz de espírito”). A palavra em inglêspansy (“amor-perfeito”)
vem do francêspensée (“pensamento”). Alguns simbologistas propuseram uma li­
Amêndoa - Pureza, verdade oculta, nascimento virgem - associação mítica gação tortuosa entre essa associação e o número cinco, o número de pétalas da
com raízes tanto pagãs quanto bíblicas. flor. O simbolismo das pétalas baseia-se, de maneira mais plausível, em seu for-
mato parecido com o do coração e com os “pensamentos” do coração. Amor- que a barra superior poderia sugerir uma cruz — seu significado clandestino nas
Perfeito: ver Cinco; Coração; FLORES gravuras das catacumbas. A esperança de salvação é a “âncora da alma” (He­
breus 6:19) do Novo Testamento. Um motivo popular renascentista combina­
Ampulheta - Mortalidade e a passagem inexorável do tempo. A ampulheta va uma âncora (comedimento) e um golfinho (velocidade) com o lema augus-
aparece com freqüência nas naturezas-mortas devocionais para ilustrar a brevida­ tiniano festina lente (“apresse-se devagar”). Como emblema de São Nicolau,
de da vida humana e é um atributo do Pai Tempo e às vezes da Morte. Pode tam­ padroeiro dos marinheiros, a âncora significava segurança. Também aparece
bém tomar emprestado o simbolismo de dois triângulos, um deles invertido, numa iconografia egípcia como imagem da criação — sua forma combina um
simbolizando os ciclos de criação e destruição (o formato do tambor de Shiva, barco (feminino) com um mastro fálico, com uma serpente enrolada nele.
na arte indiana). Ampulheta: ver MORTE; Pai; Tambor; Triângulo; VAIDADE Âncora: ver CRUZ; Falo; Golfinho; Serpente; VIRTUDES

Amuleto - Poder benéfico. O objeto usado como amuleto, às vezes natural, Andorinha — Tradicional mensageiro da primavera e, por isso, símbolo de
às vezes feito, como um medalhão com inscrições, supostamente cria uma co­ renovação ou ressurreição em muitas tradições. Emblema de parto. Na China,
nexão mágica entre o usuário e a força simbólica que representa. Amuleto: ver onde sua chegada coincidia com os ritos de fecundidade no equinócio de mar­
Anel, Aliança ço, a existência de ninhos de andorinha numa casa era presságio de casamento
próximo com muitos filhos. A andorinha era consagrada a ísis no Egito e à
Aüão — Símbolo de proteção, tanto na mitologia (o protetor Bes, do Egito) deusa-mãe em outras regiões. Andorinha: ver Aves; Casamento; ESTAÇÕES
quanto no folclore, no qual atribuem-se aos anões quase universalmente pode­
res sobrenaturais. Andrógino — Completude divina - símbolo antigo derivado da adoração ge­
Na iconografia indiana, entre outras, os anões são algumas vezes demoníacos, neralizada de deuses primordiais que eram simultaneamente masculinos e fe­
sugerindo uma associação de idéias entre o crescimento tolhido e a ignorância mininos. O símbolo chinês do yin-yang resume uma perfeição andrógina em
humana ou instinto cego. Eles também podem ser associados ao simbolismo que todos os opostos se complementam. A filosofia de Platão, o misticismo sufi
do bobo como uma inversão do rei, um papel desempenhado algumas vezes por e a mitologia grega, egípcia, oriental, aborígine e da América Central, todos per­
anões na corte. ceberam o estado original do ser como andró­
No folclore, são em geral travessos, avarentos ou malignos. São açambarcadores gino. Por implicação, o próprio Adão continha
ciumentos de tesouros ou de conhecimento secreto e amantes de adivinhações e o masculino e o feminino.
enigmas. De acordo com as lendas nórdicas, os deuses determinaram que os anões O andrógino também era um símbolo alquí-
deveriam viver debaixo da terra, pois não eram nascidos do mundo vegetal como mico que corporificava a unicidade, que era o
outros homens, mas do cadáver do gigante Ymir, cujo corpo formou a terra. objetivo da ciência hermética. As pressões so­
Os anões estão amplamente associados à vida subterrânea (e, por extensão, à ciais estavam geralmente em conflito com esse
mente inconsciente) ou, na América do Sul, à chuva, às florestas e às cavernas. ideal, sobretudo na prática da circuncisão e
Como resultado, eram considerados trabalhadores peritos em pedras e metais da excisão do clitóris, que representava esfor­
preciosos, por natureza suspeitos e astutos, mas fáceis de enganar. Os gnomos ços no sentido de tornar mais claras as dife­
de jardim referem-se a um aspecto mais bondoso e ao conhecimento mágico renças sexuais. O amor e o casamento têm sido
das coisas da terra. Anão: ver Bode Expiatório; Caverna; Chuva; Gigante; JÓIAS; vistos como os modos mais práticos de atingir
METAIS; Palhaço; Terra; Rei a unicidade, simbolizada na mitologia grega
pela história de Hermafrodite, tão amado pe­
Âncora - Esperança, salvação, segurança, firmeza, fidelidade, prudência. Seu la ninfa Salmacis que acabou por absorvê-la Imagem alquímica do andrógi­
simbolismo cristão adveio tanto de sua forma quanto de sua função, uma vez em seu corpo. Daí o termo “hermafrodita” no (século XVII).
(em sentido estrito, na biologia, aquele que tem órgãos incompletos masculi­
nos e femininos). Andrógino: ver Alquimia; Casamento; Circuncisão; Homem; MMU :. '■ — Os animais
Mulher; Yin-Yang sempre foram a base mais
imediata, poderosa e impor­
Anel* Aliança — Eternidade, unidade, totalidade, compromisso, autorida­ tante do simbolismo. Ne­
de. O simbolismo circular do anel faz dele um emblema de completude, for­ nhuma outra fonte no mun­
ça, proteção e continuidade - que em seu conjunto ajudam a dar significado do natural proporcionou
às alianças de noivado e casamento. Os anéis sobreviventes mais antigos (do uma variedade tão rica de
Egito) são sinetes ou com selos pessoais ou com amuletos, em geral na forma iconografias. Poucas quali­
de um escaravelho que simboliza vida eterna. Assim, desde os tempos mais an­ dades humanas não pode­
tigos, o anel tem sido emblema de autoridade ou delegação dela, de poder pro­ riam ser personificadas no
tetor oculto e de empenho pessoal. Os anéis de noivado romanos eram provas mundo animal a partir da
de voto legal. O costume posterior de dar uma aliança de casamento baseou- observação próxima das for­
se provavelmente no uso eclesiástico de anéis com sinetes. A aliança de casa­ mas, hábitos e características
mento era usada originalmente no terceiro dedo da mão direita, como os dos animais. Detalhe de um tecido decorado, que
anéis episcopais. O Anel de Pescador, do Papa (que mostra Pedro arrastando A psicologia seguiu a reli­ mostra xamas a apaziguar espíritos
uma rede), quebrado quando de sua morte, é o selo supremo dos católicos ro­ de animais.
gião ao atribuir aos animais
manos. A aliança de ouro das freiras é símbolo de ligação de seu casamento o simbolismo essencial do “instintivo”, do “inconsciente”, da libido
com Cristo. O anel do Doge, jogado ao Adriático, em Veneza, no Dia da e das emoções. Esse não era, de modo algum, seu significado original.
Ascensão, era um sinal do perpétuo poder do mar veneziano, uma cerimônia A reverência prestada aos animais na maioria das culturas primitivas
mística iniciada pelo Papa Alexandre III depois que a cidade o ajudou a hu­ tinha a ver com a percepção de que eles estavam mais em contato
milhar o imperador Frederico I Barba-Roxas em 1176. Os anéis estão associa­ com as forças cósmicas invisíveis do que a humanidade. Suas capaci­
dos à força mágica ou a um tesouro escondido em muitas lendas — tema que dades físicas e sensoriais frequentemente superiores levaram à crença
remonta à crença de que o anel de Salomão era a fonte de seus poderes sobre­ generalizada de que eles possuíam poderes mágicos ou espirituais.
naturais e sabedoria. Anel: ver Amuleto; Casamento; Círculo; Coroa de Flo­ Para os xamãs, eles constituíam um meio de acesso a esses poderes.
res, Grinalda; Escaravelho Clãs ou tribos adotaram-nos como totens por motivos semelhantes.
Seus couros, peles ou penas eram vestidos para simbolizar alianças
Anémona — Transitoriedade da vida, fragilidade, pesar, morte, virgindade — mágicas nas quais eles eram patronos dos usuários. A maioria dos
símbolos baseados na natureza efêmera dessa flor silvestre, em suas pétalas escar­ deuses egípcios era personificada por animais - o mesmo acontecia por
lates e em seu nome (que significa “do vento”). As anémonas são identificadas toda parte -, e os de maior prestígio simbolizavam não as paixões brutas,
com as “flores do campo” bíblicas e às vezes aparecem em cenas da crucifica­ mas sim as qualidades espirituais. Os bestiários medievais partiam do
ção. Também estavam ligadas ao simbolismo do deus agonizante, do mito grego princípio de que seu simbolismo podia ser classificado de maneira es­
de que elas nasceram no local em que Adónis morreu. Anémona: ver CRUZ; trita, idéia apoiada por um surpreendente grau de uniformidade en­
FLORES; Vermelho; Virgindade tre diferentes culturas no que tange a conceitos personificados pelos
diferentes animais. ANIMAIS - ver ANIMAIS MITOLÓGICOS; Aves;
AMIMAIS - Ver quadro na página 27 PEIXE; Totem; nomes individuais

AMIMAIS MITOLÓGICOS — Ver quadro na página 28


CorporificaçÕes menos gigantescas do
- Animais imaginários aparecem em
poder do mar são Cila e Caribdes, que
todo o mundo no mito e no folclore, como símbolos de poder sobrena­
com suas múltiplas bocarras consti­
tural ou de projeções irresistíveis da psique humana. Eles nos proporcio­
tuem símbolos atroadores de passagem
naram de maneira vívida imagens que, de outro modo, seriam difíceis de
perigosa. O Beemote, versão terrestre
materializar.
de Leviatã, com aparência de hipopó­
Os híbridos formam a mais ampla categoria de animais mitológicos. Os
tamo, representa outra imagem da in­
mais notáveis são: Basilisco, Quimera, Dragão, Grifo, Maçara, Esfinge
significância da humanidade. O grupo
e Unicórnio. O Amamet, com mandíbula de crocodilo, juba de leão e
das gigantescas aves da tempestade in­
corpo de hipopótamo, devorava as almas egípcias danadas; a exemplo
clui a babilônia Zu e a árabe Roc.
do Cérbero greco-romano, que tinha juba de serpentes e muitas cabeças,
As harpias (urubus fétidos com A fênix e a salamandra pertencem a ou-
personifica as assustadoras incertezas da morte. Na mitologia grega, a
cabeça de bruxa) personificam tra categoria de animais próximos das
Hidra, serpente-dragão de muitas cabeças, simboliza a dificuldade de ven­
culpa e punição. formas naturais, com poderes sobrena­
cer os vícios; toda vez que se cortava uma de suas cabeças, nascia ourra.
turais. As najas indianas são símbolos de serpentes guardiãs de poderes dos
Pégaso, o cavalo alado que conduziu o herói Belerofonte à vitória sobre
instintos que podem ser dominados com proveito. ANIMAIS MITOLÓ­
a Quimera, é uma imagem de oposição do espírito sobre a matéria.
GICOS: ver Abutre; Águia; ANIMAIS; Asas; Aves; Baleia; Basilisco; Bode,
Os híbridos animais-humanos mais famosos, como o clássico homem-
Cabra; Cão; Cavalo; Centauro; Crocodilo; Dragão; Escorpião; Esfinge;
cavalo centauro, o homem-touro Minotauro e os sátiros, representam
Fênix; Grifo; Hipopótamo; Leão; Leviatã; Maçara; Minotauro; Naja; PEI­
a dualidade animal-espiritual da natureza humana. O tritão, criatura
XE; Salamandra, Sátiro; Serpente; Unicórnio; Varrão
marinha com cabeça e parte superior de homem e cauda de peixe (co­
mo Tritão, filho de Posêidon), é uma versão marítima do centauro, do
mesmo modo que sua equivalente feminina, a sereia, que desfruta uma
imagem mais delicada e desejável no folclore dos marinheiros solitá­ Anjos — Formas antropomórficas aladas que personificam a vontade divina.
rios. As equivalentes mitológicas mais perigosas das sereias são as sire­ Possivelmente evoluídos a partir de divindades aladas semitas e egípcias, os an­
nes, criaturas meio ave, meio mulher, que atraíam os marinheiros para jos aparecem numa variedade de religiões como intermediários entre os planos
a destruição com seu doce canto. material e espiritual, mas seu simbolismo é mais elaborado nas fés islâmica, ju­
A Lâmia, com corpo de serpente, é a devoradora dos filhos de outras daica e especialmente cristã. Seus atributos na arte incluem trompetes, harpas,
mulheres, metáfora grega para inveja. As górgonas (com cabeça de ser­ espadas, turíbulos e cetros ou bastões. Os anjos aparecem de variadas maneiras
pente, dentes de varrão, asas de ouro e mãos de bronze) são corporifica- nos papéis de mensageiros (angelos, em grego), guerreiros e, no pensamento mais
ções mais diretas do mal antagonista. A Mantico ra (cabeça humana, recente, guardiães ou protetores - como na visão de 1914 do Anjo de Mons -,
corpo de leão e cauda de escorpião) era um símbolo hebraico de destruti- o que corresponde ao desejo humano de proteção individual. A hierarquia dos
vidade. Alguns híbridos são representações da onipotência divina, como o anjos proposta no século V por Pseudo-Dionísio, O Areopagita, sugere outra
peixe-bode Capricórnio, que para os sumérios retratava o deus criador Ea. sublimação - do desejo de ordem tanto no plano divino quanto no social. Em
Os poderes dos elementos da natureza evocaram animais simbólicos de ordem de aproximação de Deus, os coros angelicais eram os serafins (vermelhos)
tamanho espantoso. Leviatã fora precedido por um equivalente destruti­ e os querubins (azuis) de seis asas, os tronos, os domínios, as virtudes, os pode­
vo na babilónica Tiamat, deusa do caos e das águas do mar. res, os principados, os arcanjos e os anjos. Os filósofos gregos pensavam que os
anjos guiavam as estrelas e eram formados de alguma substância etérea, mas, na
iconografia cristã, eles eram constantemente desmaterializados, aparecendo com
freqüência como cabeças com asas ou, no espírito brincalhão da arte barroca, integridade da Mãe Terra. O asterismo do Arado (grupo de sete estrelas bri­
como crianças semelhantes a Cupido (putti). Os anjos decaídos, liderados por lhantes na constelação de Ursa Maior) era considerado símbolo da energia
Satã, simbolizavam o pecado do orgulho. Anjos: ver Arcanjos; Asas; Bastão; celestial que criou a diversidade a partir da unidade primária. Arado: ver
Cetro; Demônios; Espada; Harpa; Meteorito; Serafim; SETE PECADOS PAZ; Terra
CAPITAIS; Trombeta
A X 3 uh a - Símbolo lunar e femini­
Ano - Ciclo completo — simbolicamente, de nascimento, morte e regeneração. no associado à trama do destino hu­
Daí o significado tradicional do Ano-Novo como marcador de renovação, em mano e, portanto, à adivinhação. Na
vez de apenas um marco no calendário. índia, a teia de aranha é símbolo de
maya (“ilusão”) - o mundo frágil e
Antílope — Graça, velocidade, clareza de visão - ideal espiritual e moldura mortal das aparências. As aranhas
apropriada para os deuses, tanto na tradição africana quanto na indiana. Para aparecem com freqüência na mitolo­
os boximanes do sul da África, o antílope era a personificação do criador su­ gia como atributo das deusas da Lua,
premo, Cagn, e no Mali, um cultuado herói que trouxe para a humanidade as como heroínas culturais ou como de­
habilidades da agricultura. A gazela é um atributo de Vayu, o deus persa e in­ miurgos criadores do mundo.
diano do ar e do vento. Para os pensadores islâmicos, seus olhos cheios de alma Elas podem simbolizar tanto cilada
simbolizam a vida contemplativa. Antílope: ver Ar; Cervo; Vento (pelo diabo no simbolismo cristão) Aranha de um disco de concha de mil
quanto proteção das tempestades, co­ anos, proveniente de Illinois, EUA.
A f — Vida espiritual, liberdade, pureza, elemento primeiro da maioria das cos­ mo entre alguns nativos da América Em algumas partes da América do
mogonias, igualado à alma pelos filósofos estoicos (seguidores do grego Zenão, do Norte. As associações folclóricas Norte nativa, a aranha era considerada
século II a.C.). O ar compartilha grande parte do simbolismo da respiração e da aranha com a boa sorte, saúde ou uma proteção contra tempestades.
do vento (ambos relativamente mais fáceis de representar pelos artistas). Ar: ver chegada de chuva são amplamente
Respiração, Sopro; Vento difundidas, simbolismo que pode ser sugerido pela aranha ao descer por seu fio,
. emblematicamente a trazer dádivas celestes. Aranha: ver Chuva; Fuso; Lua; Tear;
Arabesco - Na arte islâmica, o símbolo visual último da jornada difícil e Tecelagem; Teia
complexa em direção ao esclarecimento sublime. Um estilo decorativo linear
baseado no entrelaçamento de flores, folhas e galhos contorna com brilhantismo Arbusto ÔHt Chamas — Um arbusto em chamas, mas não totalmente
a proibição islâmica à arte figurativa, formando uma espécie de encantamento consumido, representa o flamejante Anjo do Senhor que Moisés encontrou,
visual, um auxílio infinitamente variado à contemplação. Arabesco: ver Entre­ conforme descrito no Êxodo. Imagem semelhante aparece no simbolismo vé-
laçamento; Jornada dico do fogo. Na iconografia cristã medieval, o arbusto em chamas pode
também simbolizar a virgindade de Maria. Arbusto em Chamas: ver Fogo,
Arado - No Antigo Testamento, símbolo das artes pacíficas da agricultura, Chama; Virgindade
e de maneira mais geral símbolo da fertilidade masculina — o arado fálico en­
trando na fêmea terra. O gesto ritual de arar praticado pelo novo imperador Arca — Salvação, redenção, conservação, santuário, regeneração. A história
chinês simbolizava sua responsabilidade pela fertilidade do país. O arado é do barco em forma de caixa que preservou a continuidade da vida por oca­
emblema da Idade de Prata, a descida para o trabalho. Os povos nômades sião do dilúvio é encontrada na mitologia de muitos povos em todo o
da Ásia Ocidental e da América, onde o arado era desconhecido antes da eu­ mundo. Especialmente digno de nota é o Epico de Gilgamesh mesopotâmi-
ropeização, chegaram a considerar a atividade de arar como uma afronta à co. Entretanto, os simbolismos da arca hebreu e cristão são provavelmente
mais ricos. A arca pode repre­ simbolizar uma tradição imortal, como nas cerimonias olímpicas. Archote: ver
sentar a Igreja (ao carregar san­ Falo; Fogo, Chama; LIBERDADE; Luz; MORTE; VERDADE; VIRTUDES
tos e pecadores), Maria carre­
gando seu filho ou, ainda, Cris­ Arco (arma) — Energia armazenada, força de vontade, aspiração, poder di­
to, como o Redentor. A Arca da vino ou terrestre e tensão dinâmica, sobretudo sexual. Como a arma de longo
Aliança hebraica, uma arca de alcance mais eficaz da humanidade por cerca de 50 mil anos, o arco é um em­
acácia dourada, simbolizava ga­ blema óbvio de guerra e caçada, mas o controle necessário para dominá-lo deu-
rantia de proteção divina. No lhe um significado mais profundo. Em particular no pensamento oriental,
simbolismo mais secular, a arca representava disciplina espiritual, combinação de força e domínio de si exaltada
é a Terra à deriva no espaço; em como virtude dos samurais. Provação homérica de adequação à regra (como
O detalhe mostra a arca de Noé, de um psicologia, representa o útero. Ar- exemplifica o arco que apenas o herói/navegante Ulisses podia puxar), o arco é
afresco medieval da capela de Saint-Savin- ca: ver Acacia; Baleia; Bau; Dilu- também atributo do deus solar grego Apoio, símbolo do poder e da fecundidade
sur-Gartempe} França. vio; Navio do Sol. Um arco puxado na direção do céu representava aspiração espiritual.
A forma do arco puxado era associada à Lua crescente e à sua deusa romana
ArCânjos - Ordem de anjos com simbolismo específico e personalizado. De Diana. Pinturas dos deuses do amor com arcos, como o grego Eros, simboli­
maneira mais proeminente na arte, Gabriel, como arauto da Anunciação, segura zam a tensão do desejo, a própria força da vida sexual. Arco: ver Arco-Íris;
um lírio ou um cetro com a flor-de-lis; Miguel, na qualidade de guerreiro-guar­ Crescente; Flecha; Lua; Sol
dião dos Justos e instrumento de julgamento, segura uma espada ou uma balan­
ça; e Rafael, como protetor das crianças, dos peregrinos e dos viajantes, segura ÂrC0 (arquitetura) - Característica triunfal da arquitetura romana, re­
um bastão. O outro arcanjo bíblico, bem menos conhecido, era Uriel. Arcanjo: lembrando associações clássicas mais antigas do arco com o céu e seu deus su­
ver Anjos; Balança; Bastão; Espada; Flor-de-Lis; Lírio premo, Zeus (Júpiter, na mitologia romana). Os iniciados que passam sob um
arco deixam simbolicamente sua vida anterior para trás (donde os arcos cerimo­
Archote — No antigo sentido de tição a queimar, símbolo da chama da vida, niais formados para os recém-casados). Arco: ver Casamento; Céu
desejo e da luz da verdade, da inteligência ou do espírito. Na arte, o Eros grego
(Cupido, na mitologia romana), Afrodite (Vénus) e seus assistentes costumam Arco-Íris - Símbolo que une os mundos sobrenatural e natural, geralmente
carregar os archotes do desejo sexual. O amor ardente é o tema do “cantor do otimista (como costuma ser do ponto de vista meteorológico). Na tradição ju­
archote” (cantor de melodias sentimentais populares sobre o tema do amor não- daico-cristã, o arco-íris era sinal da reconciliação de Deus com a vida terrestre de­
correspondido) e o segredo aberto do homem que “carries a torch” [carrega um pois do dilúvio: “Pus meu arco nas nuvens e ele será o sinal da aliança entre mim
archote] para alguém (expressão inglesa que significa “estar apaixonado” por al­ e a terra” (Genesis, 9:13). Na Grécia, íris, deusa do arco-íris, vestida de orvalho
guém). Como símbolo de fertilidade, o archote flamejante em geral é fálico e iridescente, trazia à terra mensagens do deus supremo Zeus e de sua esposa,
masculino, sobretudo nos rituais de casamento. Como símbolo da vida, costu­ Hera. Na índia, o arco-íris era o arco do deus herói Indra (tradição que encontra
ma na arte ser carregado pelas figuras mitológicas femininas, como Deméter paralelo no Pacífico, onde o arco-íris é o emblema de Kahukara, deus da guerra
(Ceres), Perséfone (Prosérpina) e Hécate, todas relacionadas à vida no mundo maori). No budismo tântrico tibetano, o “corpo de arco-íris” é o penúltimo es­
inferior, além da morte. O archote também é atributo de Prometeu, que rou­ tado de transição da meditação, no qual a matéria começa a se transformar em
bou o fogo para a humanidade, e de Hércules, que usou um archote para cau­ pura luz. O simbolismo benéfico subjacente a todas essas tradições não era
terizar as cabeças da Hidra para matá-la. Nos entalhes, o archote flamejante universal. Como emblema do Sol e da água, e por tocar na terra, o arco-íris
ilumina o caminho dos mortos para guiá-los ao outro mundo. Extinto ou in­ costumava sugerir fertilidade e tesouro - o “pote de ouro” do folclore. Em algu­
vertido, simboliza a morte, como no ritual mitraísta. O archote pode também mas culturas antigas, porém, há um simbolismo de mundo subterrâneo. O arco-
íris era associado à serpente em partes da África, fndia, Ásia, Austrália e entre tes de nobres, juízes ou professores como símbolo de pureza moral ou intelec­
os nativos da América do Norte, e seus poderes eram imprevisíveis. Em alguns tual. Arminho: ver Branco; CASTIDADE
mitos da África Central, Nkongolo, o rei do Arco-íris, é um tirano cruel. Daí
talvez a superstição africana e asiática de que apontar para um arco-íris era ar­ Arpão - Símbolo de potência masculina. O simbolismo fálico do arpão é cla­
riscado e constituía provocação. Na Ásia Central, fitas nas cores do arco-íris ro no mito japonês em que o deus criador Izanagi agita o oceano com um ar­
ajudavam os xamãs a viajar pelo céu, mas havia advertências folclóricas de que pão engastado de jóias, cujas gotas formam a primeira terra sólida. O simbo­
pisar no fim do arco-íris podia levar as pessoas a serem jogadas para cima num lismo da fertilidade também ligava o arpão ao raio, a exemplo da iconografia
torvelinho. Com maior freqüência, o simbolismo de escada do arco-íris é po­ fenícia do deus da tempestade Hadad, que joga um arpão em ziguezague na
sitivo. É a escada de sete cores de Buda e, em muitas tradições, o caminho que terra. Arpão: ver Armas; Falo; Lança; Raio; Ziguezague
conduz ao paraíso.
Na arte ocidental, Cristo às vezes senta-se a pensar no alto de um arco-íris, que AfTOZ — Símbolo de fecundidade no casamento — um costume proveniente da
pode também aparecer como atributo da Virgem Maria e (com três faixas) da fndia. Na Ásia, o arroz é o emblema equivalente do grão, símbolo de nutrição
Trindade. Arco-íris: ver Chuva; Degrau, Escada; Dilúvio; Luz; Orvalho; Ponte; divina, de corpo e espírito.
Serpente; Sete; Trindade Na mitologia, ou era a dádiva de um herói cultural ou aparecia na fonte pri­
mordial com a própria vida humana. O vinho de arroz era bebido ritualmen­
Afeia — Símbolo da multiplicidade devido a seus incontáveis grãos. Nas regiões te na China como uma forma de ambrosia (manjar dos deuses do Olimpo, que
áridas, sobretudo no norte da África e Oriente Médio, a areia substituía a água dava e conservava a imortalidade), e grãos de arroz, que tinham simbolismo pro­
como meio de limpeza e estava associada à purificação. De maneira mais geral, tetor, eram colocados na boca dos mortos. A veneração balinense da Mãe Arroz,
simboliza a instabilidade, desgaste e lento desaparecimento do tempo (por seu figura feita de um feixe de grãos longos (macho) e curtos (fêmea), expressava
uso nas ampulhetas). Areia: ver Ampulheta; Lavagem a crença folclórica do Sudeste Asiático de que as plantas de arroz, como os se­
res humanos, continham dentro de si um espírito vital. No Japão, Inari era
Armas — Símbolos ambíguos de poder ou vontade — agressivo ou defensivo, deus não só do arroz, mas também da prosperidade. Arroz: ver Casamento;
opressor ou liberador. No mundo antigo, onde a vida era incerta, poucas ar­ Grão; Raposa
mas tinham um simbolismo totalmente destrutivo — com exceção, talvez, do
porrete. Muitas são associadas à verdade, aspiração ou outras virtudes, e nos Arruda — Erva amarga às vezes usada nas igrejas para borrifar água benta e,
mitos e lendas davam-se armas mágicas aos heróis. As armas tornaram-se com na tradição hebraica, associada ao arrependimento. Assim tornou-se a “erva da
freqüência emblemas cerimoniais de autoridade ou justiça. Coletivamente, as graça” mencionada por Ofélia em Hamlet (4:5; c. 1600), de Shakespeare. Acom­
armas costumam simbolizar conflito armado na arte e são mostradas sendo quei­ panhando o significado de seu homônimo em inglês (rué), a arruda também é
madas ou quebradas nas alegorias de paz. Um dos temas favoritos do Renasci­ símbolo de pesar. Arruda: ver Água
mento era o triunfo do amor sobre a guerra (ou paixão), como em Marte e Vénus
(1483), de Botticelli, onde cupidos (os assistentes da deusa do amor, Vénus) Árvore — Símbolo natural supremo de crescimento dinâmico, morte e rege­
brincam com a lança do adormecido deus da guerra. Armas: ver Arco; Arpão; neração sazonais. Muitas árvores são consideradas sagradas ou mágicas em di­
Cetro; Espada; Faca; Flecha; Lança; Maça; Machado; Porrete; Rede; Tridente ferentes culturas (ver nomes individuais de árvores).
A reverência pelo poder das árvores remonta às crenças primitivas de que deu­
Arminho - Pureza e castidade - virtude que ele personifica na arte. Afora a ses e espíritos as habitavam. O simbolismo animista desse tipo sobrevive no
pelagem branca, a ligação com a pureza era reforçada pela noção de que os ar­ folclore europeu do homem-árvore ou Homem Verde. Nos contos de fada, as
minhos, cujo pêlo é ruivo ou castanho no verão, morreriam se sua pelagem árvores podem ser protetoras e atender a desejos, ou aparecer como terríveis,
branca de inverno fosse maculada. Os arminhos ornamentam as capas ou barre­ obstrutivas e até demoníacas.
À medida que as mitologias se desenvolveram, a idéia de uma árvore pode­ Os ritos de fertilidade da Mãe Terra em geral centravam-se em árvores decíduas,
rosa que formava um eixo para o fluxo da energia divina ligando os mun­ cujos galhos desfolhados no inverno e florescentes na primavera proporcionaram
dos sobrenatural e natural adquiriu formato simbólico na Arvore da Vida ou símbolos adequados dos ciclos sazonais da morte e regeneração. Uma exceção no­
Arvore Cósmica, enraizada nas águas do mundo inferior e que passa pela ter­ tável era o culto de Átis na Ásia Menor e o posterior mundo greco-romano. A
ra em direção ao céu. Esse símbolo é quase universal. A Arvore da Vida em emblemática árvore de Átis era um pinheiro, um dos principais símbolos da
geral torna-se metáfora do todo da criação. Em muitas tradições, cresce numa imortalidade. Sua morte (pela debilitação) e renascimento eram celebrados des­
montanha sagrada ou no paraíso. Uma fonte de nutrição espiritual pode cascando-se o pinheiro e enrolando-o em lã — a provável origem da tradição dos
jorrar de suas raízes. Uma serpente enroscada em sua base representa a ener­ mastros enfeitados em Io de maio, rito de fertilidade baseado na árvore. O dua­
gia espiralada puxada da terra; alternativamente, a serpente constitui um lismo da simbologia da árvore é em geral representado por árvores em pares ou
símbolo destrutivo. Os ninhos de pássaros nos galhos superiores são emble­ com o tronco dividido. Na história de Tristão e Isolda, árvores entrelaçadas cres­
mas de mensageiros celestes ou almas. Por intermédio da Arvore da Vida, a cem de suas sepulturas. No simbolismo dualista do Oriente Próximo, a Árvore da
humanidade ascende de sua natureza inferior em direção à iluminação espi­ Vida tem como correspondente a Árvore da Morte. Essa é a Árvore do Conheci­
ritual, salvação ou liberação do ciclo do ser. As imagens medievais do Cristo mento do Bem e do Mal bíblica, cujo fruto proibido, quando experimentado por
crucificado numa árvore em vez da cruz relacionam-se a esse simbolismo Eva no Jardim do Éden, trouxe para a humanidade a maldição da mortalidade.
mais antigo. Ser enforcado numa árvore era o destino do homem" amaldi­ Árvore: ver Acácia; Álamo; Ameixa; Amêndoa; Árvore Bohdi; Árvore de Natal;
çoado, de acordo com o Deuteronômio. A crucificação na árvore realçou, Aveleira; Azevinho; Bétula; Carvalho; Cedro; Cereja; Cinzas; Cipreste; Colu­
assim, o simbolismo de salvação por intermédio de Cristo, bode expiatório na; CRUZ; Espinho; Figueira; Jujubeira; Laranja; Lariço; Limeira, Tília;
dos pecados do mundo. A imagem unifica a Arvore do Conhecimento (o Louro; Maçã; Madeira; Mastro Enfeitado; Murta; Nogueira; Oliveira; Pal­
pecado original) com a Árvore da Vida. meira; Pêra, Pessegueiro; Pilriteiro; Pinheiro, Pinha; Romã; Sabugueiro; Sal­
Por sua própria forma, a árvore é símbolo da evolução, e seus galhos sugerem di­ gueiro; Sefirot; Serpente; Tamarga; Teixo; Visco
versidade espalhando-se do tronco (unidade). Na iconografia indiana, uma ár­
vore que brota do ovo cósmico representa Brahma a criar o mundo manifesto. Árvore Bodhi - A figueira sagrada (Árvore
De outro modo, a árvore cósmica é invertida para mostrar suas raízes puxarem Bodhi) sob a qual Gautama Buda meditava até
a força espiritual do céu e espalhá-la para os lados e para baixo - imagem favo­ alcançar a iluminação - donde ser um símbolo
rita na cabala e outras formas de misticismo e mágica (também usada com fre- budista de contemplação, ensinamento e perfei­
qüência no desenho de árvores genealógicas). Em muitas tradições, a Árvore da ção espiritual. Árvore Bodhi: ver Árvore; Figueira
Vida tem estrelas, luzes, globos ou frutas que simbolizam os planetas, ou ciclos
do Sol ou da Lua. O simbolismo lunar é comum, com a Lua a puxar água, as­ Árvore-de N 31 d I — Renascimento, mais par­
sim como a seiva sobe pela árvore. A fruta da Árvore da Vida também pode ticularmente o renascimento da luz - simbolismo
simbolizar imortalidade - representada na China, por exemplo, pelo pêssego. solar que vem, pelo menos, do festival romano das
Muitas outras árvores que produzem alimento aparecem como Árvores da saturnais, quando as decorações com ramos de
Vida — a figueira sicômoro, no Egito, a amêndoa no Irã, a oliveira, a palmeira sempre-verde celebravam a morte do ano velho e
ou a romãzeira em outras tradições do Oriente Médio ou semitas. Seu simbo­ o nascimento do novo. Os ritos de Natal teutôni-
lismo cósmico parece ter-se desenvolvido a partir de cultos mais simples, nos cos, nos quais árvores de abeto eram penduradas
quais as árvores eram incorporações da Mãe Terra fecunda. Por essa razão, ape­ com luzes e envolvidas com ofertas de sacrifícios,
sar de sua verticalidade fálica, as árvores geralmente são femininas no simbo­ são os antecedentes mais diretos da moderna árvo­ Arvore Bodhi, de um alto-relevo
lismo. Assim, na iconografia egípcia, a figueira sagrada é identificada com Hator, re decorada; a cerimônia vitoriana herdou essa tra­ em pedra do século I a. C. do
deusa que é mostrada na forma de árvore, fornecendo alimento e bebida. dição de Natal da Alemanha. Esferas, estrelas e templo Sanchi Bhopal, índia.
crescentes na árvore eram símbolos cósmicos. Na era cristã, colocaram-se luzes e ÃSHO — Símbolo bem entrincheirado de tolice, mas tradicionalmente de signi­
velas para simbolizar almas. Árvore de Natal: ver Acha de Natal; Alma; Árvore; ficado mais variado. O asno foi escolhido por Cristo para entrar em Jerusalém
Crescente; Estrela; Globo, Orbe; Luz; Sacrifício; Solstício; Vela tanto para cumprir a profecia quanto para significar a virtude da mansidão, e,
portanto, em geral representa humildade, paciência e pobreza no pensamento
ÂS3S — Velocidade, mobilidade, ascensão, sublimação, aspiração, supremacia, cristão. Os imortais chineses cavalgam asnos brancos. Em contraste, os asnos de­
liberdade, inteligência, inspiração. Embora as asas geralmente sejam emblemas sempenham papéis prejudiciais e até sinistros nas mitologias egípcia e indiana e
de elevação ou de subida da terra para o céu, também podem simbolizar pro­ são associados à luxúria ou à estupidez cômica nas lendas greco-romanas. Midas
teção (“ficar sob as asas”). As asas eram em geral associadas às divindades sola­ ganhou as orelhas de asno com símbolo de seus defeitos (preferir Pã a Apoio). As
res, acrescentando ironia ao mito grego de ícaro, que, com seu pai, Dédalo, orelhas do asno fazem parte do chapéu do palhaço, e o Bottom de Shakespeare
tentou escapar da ira do rei Minos de Creta. ícaro despencou para a morte (em Sonho de uma Noite de Verão, c. 1595) usa uma cabeça de asno numa sáti­
quando a cera de suas asas artificiais derreteu ao voar perto demais do Sol (um ra do amor. Outras qualidades associadas são a indolência e a obstinação. As­
deus real em oposição a um ser humano atrevido). No simbolismo, as asas de­ no: ver ANIMAIS; Barrete; SETE PECADOS CAPITAIS; VIRTUDES
vem ser espiritualmente merecidas. Os presunçosos têm suas asas aparadas ou
caem em chamas, como Satã. Áspide - zwNaja
Como os simbolismos da ave e da asa estão estreitamente ligados, as criaturas
aladas na arte podem ser vorazes e amedrontadoras ou, ao contrário, angelicais, Ataúde — Ventre protetor, que simboliza a esperança de renascer. Daí os es­
em especial as com asas escamosas ou de morcego - sinal de Satã. As fadas têm merados ataúdes das pessoas de alta condição social e a razão de serem coloca­
asas mais delicadas, como borboletas. A convenção artística de dar asas aos an­ dos em santuários, sepulcros e igrejas.
jos surgiu por volta do século VI, com base em imagens clássicas de deuses men­
sageiros e outras divindades aladas. Afora os anjos, almas e personificações do Auréola — Termo geral para descrever a aura radiante visível usada na arte
espírito, tais como a pomba do Espírito Santo, outros que aparecem alados na para distinguir pessoas de poder espiritual incomum ou santidade. Termos
arte incluem o deus mensageiro grego Hermes (Mercúrio, na mitologia romana), mais específicos são o halo, em geral retratado como um anel de luz; o nim­
cujas sandálias e elmo alados também eram usados pelo herói Perseu; o deus bo, modalidade mais nebulosa de fulgor; e a mandorla, um nimbo estiliza­
do sono Hipnos (Sono) e seu filho, Morfeu; a deusa Nêmesis e as harpias; do em forma de amêndoa. O simbolismo deriva de divindades resplande­
e as personificações da Fama, História, Paz, Fortuna e, às vezes, do Velho centes dos antigos cultos do Sol e do fogo. Conforme indica a etimologia de
Cronos. Os discos alados são emblemas solares. As serpentes ou os dra­ auréola (do latim medieval aureole corona, “coroa de ouro”), é um termo que
gões alados combinam os poderes terrestres e celestes. Asas: ver Anjos; se aplica de maneira correta num sentido específico ao brilho formado por
Aves; Borboleta; Demônios; Disco; Dragão; Leque; Morcego; Pena; raios ou feixes de luz que às vezes cercam o corpo, assim como a cabeça.
Serpente; Sol; VIRTUDES Auréola: ver Amêndoa; Coroa; Halo; Mandorla; Nimbo

Asfódeio - Flor greco-romana do Hades e de Perséfone (Prosér­ Auroque — Boi enorme e extinto da Europa — símbolo nas iconografias assí­
pina, na mitologia romana) - lírio de coloração apropriadamente ria e suméria do poder de Enlil, o grande deus do Oriente Médio do cosmo
pálida usado para consolar aqueles escolhidos pelos deuses para en­ ordenado e da agricultura. Auroque: ver ANIMAIS; Boi
trar nos Campos Elísios. O asfódeio é, portanto,
A flor do asfódeio, associa- um símbolo funerário de pesar. Acreditava-se Aveleira — Fertilidade, água, poderes sobrenaturais de adivinhação e sabe­
da ao Hades (inferno), fiue suas raizes’ alimento dos mortos, curavam doria. No norte da Europa e no mundo celta, o bastão de aveleira era instru­
tanto na mitologia grega picadas de cobra. Asfodelo: ver Lírio; O OU- mento de magos e fadas, adivinhos e de quem procurava ouro. Uma tradição
quanto na romana. TRO MUNDO clássica sugeria que ela seria o caduceu de Hermes, mensageiro dos deuses.
Seu simbolismo místico pode derivar tanto das profundas raízes da aveleira dos deuses, trazendo o elixir da imortalidade (soma) à humanidade. Nos
(poderes misteriosos do Reino dos Mortos) como dos morangos (sabedoria secre­ Upanishads, dois pássaros pousados na Arvore Cósmica, um comendo e outro
ta). Além de seu uso no encantamento, a aveleira tinha um forte simbolismo observando, simbolizam as almas individual e universal. Os pássaros desempe­
de fertilidade e chuva; pensava-se que trazia sorte para os amantes e, de acordo nham importantes papéis em muitos mitos da criação ou, como o Pássaro do
com o folclore normando, fazia com que as vacas dessem muito leite quan­ Trovão dos nativos americanos e o Pássaro do Raio do sul da África, contro­
do golpeadas com um anel de aveleira. Aveleira: ver Agua; Anel, Aliança; Bas­ lam os poderes dos elementos. O Quetzalcoatl, pássaro-serpente da América
tão; Chuva; Fadas; Leite; SABEDORIA; Vara Mágica Central, combina poderes celestes e terrenos, em geral separados em outros mi­
tos, em que pássaros em luta contra serpentes retratam o conflito fundamental
Ã¥0& - Corporificação do espírito tanto humano quanto cósmico, simbolismo entre luz e escuridão, espírito e carne. Pinturas pré-históricas e egípcias de seres
sugerido por sua leveza e rapidez, liberdade sublime de seu voo e sua mediação humanos com cabeça de pássaro simbolizam o lado espiritual da natureza huma­
entre a terra e o céu. No Egito antigo, a alma ou personalidade individual (Ba) na e a promessa de imortalidade.
era mostrada como um falcão com cabeça humana que deixava o corpo na hora Outro simbolismo fundamental incorpora a idéia de que os pássaros se comu­
da morte. nicam com as divindades ou, como a pomba da Anunciação, trazem mensagens
O conceito de pássaros como almas é tão difundido quanto a crença de que delas. Os celtas os veneravam por essa razão. Os xamãs equipados com penas
eles representavam divindades, augurando imortalidade e felicidade, idéia ex­ e máscaras de pássaros podiam voar mais alto nos reinos do conhecimento.
pressa de maneira encantadora pelo dramaturgo Assim, os pássaros tradicionalmente significaram sabedoria, inteligência e o
Maeterlinck, em The Blue Bird ofHappiness [O poder veloz do pensamento - bem longe da moderna palavra pejorativa “avoa-
pássaro azul], de 1908. Numas poucas cultu­ do”. A arte divinatória romana baseada nos padrões de voo ou canto dos pás­
ras, alguns pássaros são vistos como mau saros foi talvez uma tentativa de decodificar seu conhecimento superior. Eles
presságio, sobretudo corvos e urubus. Em confiam segredos úteis aos heróis de muitos contos de fadas. Uma visão abo­
geral, os pássaros são auspiciosos, simboli­ rígine é que os pássaros canoros também podem trazer informações dos ini­
zando no pensamento hinduísta o amor migos deles. A expressão “um passarinho me contou” ecoa, pois, antiga idéia.
Na arte ocidental, os pássaros podem simbolizar Ar e Toque. O menino Jesus
é às vezes mostrado com um pássaro numa corda.
Pássaros engaiolados (que, de acordo com Platão, representavam a mente) apa­
recem em alegorias da Primavera. Na China, o pássaro é símbolo masculino
(homônimo de “pênis”); no entanto, um “papa-figo selvagem” é uma prostitu­
ta. Aves: ver Ar; ANIMAIS MITOLÓGICOS; Áxvore; Asas; Pena; Raio; SA­
BEDORIA; Serpente; Soma; Trovão; nomes individuais

Avestruz - A pena de avestruz era o atributo de Maat, a deusa egípcia da jus­


tiça e da verdade: a pena mitológica contra a qual os corações dos mortos eram
pesados para avaliar-lhes o peso dos pecados. O comprimento idêntico das plu­
mas dos avestruzes é dado como razão para esse simbolismo de igualdade. Mais
provavelmente, as penas tinham status especial, pois vinham das maiores aves da
África. O impacto decorativo dos grandes ovos de avestruz também pode expli­
Na Melanésia, acredita-se que as aves carreguem mensagens entre o céu e a terra. Esta gra­ car por que eles (em vez de outros ovos) eram pendurados nas igrejas ortodoxas
vura, em madeira pintada, foi encontrada em Papua-Nova Guiné. orientais como símbolo de ressurreição.
A idéia de que o avestruz esconde sua cabeça na areia (dando-nos o significa­ iilial R
do idiomático moderno de “não encarar os fatos”) parece ter vindo de seu há­
bito de esticar o pescoço para perto do chão quando ameaçado. Avestruz: ver : 3
Aves; Coração; Ovo; Pena 1■Rí g| li; ill 113
Azewinho — Emblema de meio de ano de esperança e alegria. O azevinho era J1IS83I 7 3311 7
uma das plantas perenes carregadas no festival de meio de inverno da Saturnália,
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em Roma; seu uso no Natal, porém, liga-se mais diretamente a costumes teutô-
nicos de decorar a casa com ele em dezembro. Na tradição cristã, o azevinho está
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associado a João Baptista e à Paixão de Cristo (as flores parecidas com espinhos i vI I : .
e os frutos vermelho-sangue). Azevinho: ver PAIXÃO; Solstício
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Alill - Infinito, eternidade, verdade, devoção, fé, pureza, castidade, vida espi­
ritual e intelectual - associações que aparecem em muitas culturas antigas e que
7173 , 1 337:
expressam um sentimento generalizado de que o azul - a cor do céu* é o mais
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sereno, neutro e menos “material” de todos os matizes. A Virgem Maria e Cris­
to são mostrados com freqüência vestidos de azul, cor que é atributo de muitos
deuses do céu, entre eles o egípcio Amon, a Grande Mãe suméria, o grego Zeus li m ill ü 3l l ' ll
(Júpiter, para os romanos), Hera (Juno), os indianos Indra, Vishnu e sua encar­
nação de pele azulada, Krishna. O azul está ligado à misericórdia na tradição he­
r ... , .

braica e à sabedoria no budismo. Nas tradições populares, representa fidelidade, 1, '' 3 ílililll gjj |j | I
na Europa, e erudição e casamento feliz, em partes da China. A associação entre
sangue azul e aristocracia deriva do uso medieval da palavra bleu (azul) como
eufemismo de Dieu (Deus) no juramento “pelo sangue de Deus”, feito com fre­
qüência pelos nobres franceses, que com o tempo levou ao termo de gíria un
sang-bleu (“um sangue azul”). Mais recentes ainda são as ligações idiomáticas
com a melancolia, talvez derivadas dos cantos melancólicos feitos na hora do cre­ i« ■ | 11|§ |
púsculo pelos escravos africanos na América do Norte, e com a pornografia, 7-,

em razão das mostras obscurecidas de filmes explícitos. Azul: ver CASTIDA­ 11111
1
DE; Céu; FIDELIDADE; SABEDORIA;VIRTUDES 11; ;f ^ ■#; 11

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Ba - Símbolo egípcio da alma, em geral re­
tratado como um falcão com cabeça hu­
mana. Os egípcios tinham uma variedade
de símbolos para o princípio da vida in­
dividual, dos quais nem todos, como o
Ba, deixavam o corpo com a morte. Ba:
ver Alma; Falcão, Gavião; Ka

Babuíno — ver Macaco

Báculo — O cajado de autoridade pasto­


ral do bispo, com formato de báculo pa­
ra simbolizar a guarda e o controle de seu
rebanho. O báculo era emblema de go­ O Ba, ou alma, de uma estatue­
verno no Egito, Assíria e Babilônia, e atri­ ta egípcia de madeira pintada de

buto de Osíris e de vários deuses gregos. c.332-330 a.C.

O báculo é também emblema dos apóstolos e alguns outros santos cristãos, e de


Cristo como o Bom Pastor. Báculo: ver Cajado; Ovelha; Pastor

Baço — Antes considerado o órgão preponderante da emoção, simbolizava,


porém, mau humor, no Ocidente, e bom humor e riso, no Oriente. Na Chi­
na antiga, o baço era um dos oito tesouros, associado à energia yin. Baço: ver
Yin-Yang
Baixio — Na mitologia celta, local de desafio, sobretudo no combate indivi­ O período de enterro de Jonas, de três dias e três noites, sugere o simbolismo lu­
dual. Como os baixios eram em geral passagens difíceis, tal simbolismo é ra­ nar do “escurecimento da Lua” seguido por seu reaparecimento como um novo
zoavelmente auto-evidente, mas Jung traçou analogias com a transição de um crescente. O simbolismo de arco reaparece nos textos islâmicos, e a baleia está
estado do ser para outro. Baixio: ver Ponte; Rio, Regato associada à idéia de iniciação na África e na Polinésia. No Sudeste Asiático, há
mitos dos heróis espirituais trazidos por uma baleia. Ela costuma ser associada
Balança - Justiça, imparcialidade, equilíbrio, harmonia, verdade, julgamento ao Leviatã. As imagens medievais de sua boca como o portão do inferno basea­
divino. A balança representa o signo zodiacal de Libra no ponto equilibrado do vam-se em comparações fantasiosas dos bestiários ignorantes da época. A grande
ano, quando o Sol atravessa o equador na direção sul. É o emblema mais comum baleia do romance de Herman Melville, Moby Dick (1851), pode ser interpre­
não só da justiça, mas também da ligação causal entre pecado e punição na outra tada como um símbolo de repressão sexual destrutiva. Baleia: ver Arca; Dilúvio;
vida. Na arte ocidental, a balança é atributo de Têmis, deusa grega da lei e da or­ Iniciação; Leviatã; Lua; Três; Ventre
dem; do deus mensageiro Hermes (Mercúrio, na mitologia romana); do arcanjo
Miguel; e da personificação da Lógica e da Oportunidade. Balanças vazias po­ Bambu - Símbolo oriental de capacidade de recuperação rápida, longevidade,
dem ser carregadas pela Fome. As balanças de julgamento estão associadas a alegria e verdade espiritual - uma das três plantas auspiciosas do inverno. O bam­
Cristo e, no Egito, a Osíris e à deusa da verdade, Ma at. Na arte do Tibete, as boas bu era atributo do piedoso Bodhisattva Guanyin e do cavalheiro. Seu caule com
e más ações são simbolizadas por pedras brancas e pretas nos pratos da balança. anéis era associado aos passos da iluminação; também pode simbolizar o Buda.
Balança: ver O OUTRO MUNDO; VIRTUDES; Zodíaco Como instrumento de caligrafia, seu traço puro e caule côncavo tinham signifi­
cado sagrado para os eruditos e artistas budistas e taoístas. Na América do Sul,
Baldaquim — Dossel quadrado sobre quatro mastros carregado em procissões onde ele tinha importância como ferramenta de corte, canudo de soprar e instru­
religiosas e que simboliza a proteção celeste. O baldaquim deriva provavelmente mento de música sagrada, algumas tribos reverenciavam suas espécies altas como
dos dosséis quadrados ou circulares colocados sobre os governantes orientais pa­ Árvores da Vida. O bambu tinha na África uso ritual para circuncisão. Bambu:
ra denotar poder, tanto temporal quanto espiritual. Baldaquim: ver Dossel ver Árvore; Circuncisão; Degraus; LONGEVIDADE; Passos

Baleia - Imagem impressionante do colossal na natureza, mas também antigo Bandeira — Originalmente, emblema de um deus ou um soberano levado pa­
símbolo da regeneração de arca ou útero, expresso de ra a batalha como símbolo sagrado de supremacia. A bandeira carrega, portanto,
maneira mais clara na história bíblica do profeta imenso significado em termos de avanço triunfal, retirada humilhante ou, pior
Jonas, engolido e regurgitado por um “grande ainda, captura. Além do uso de bandeiras apenas para a identificação ou sinali­
peixe”. Alguns pesquisadores têm interpreta­ zação, a antiga ligação com status, honra e valores espirituais de um clã ou nação
do isso como uma alegoria do cativeiro e li­ continua a fundamentar o simbolismo individual das bandeiras — uma área de
bertação dos judeus na Babilônia, com ba­ estudos extensa, mas separada. Bandeira: ver Crescente; Estandarte; Estrela
se nos mitos sumério-semitas da deusa do
Bania - Árvore sagrada da índia, provável modelo do simbolismo da Árvore
caos, Tiamat. Numa versão mais plausível,
o ventre da baleia representa a obscuridade Cósmica invertida, em que por meio de suas raízes aéreas o espírito transcenden­
da iniciação, que conduz a um novo estado te pode manifestar-se por todo o universo. Às vezes, construíam-se templos nos
troncos principais. Bania: ver Árvore; Templo
de vida mais esclarecido. No Evangelho de
São Mateus (12:40), Cristo traça um para-
Detalhe de um vitral do século XIII leio entre a experiência de Jonas e sua pró- Barba - Dignidade, soberania, virilidade, coragem e sabedoria. As divindades,
que mostra Jonas ao ser retirado da pna descida iminente ao coração da Terra e reis, heróis e sábios masculinos em geral são barbados na iconografia. No
barriga da baleia. posterior ressurreição. Egito, os governantes sem barba — entre eles as rainhas - eram mostrados com
barbas falsas como marca de status. As tradições semitas e sikhs relacionam a barriga da baleia foi utilizada por Cristo como analogia de sua própria morte e
barba à honra. Barba: ver Cabelo; Rainha; SABEDORIA ressurreição. Os alquimistas usavam a barriga como analogia do laboratório.
Barriga: ver Alquimia; Baleia; Cruzamento do Mar Noturno
Barco - Para muitos povos ribeirinhos ou costeiros, as pequenas embarcações
(em contraste com as grandes) eram percebidas como um meio de transição Basiiisc© - Originalmente uma serpente venenosa coroada egípcia (talvez
do mundo material para o espiritual. Berços simbólicos das almas dos que re­ uma naja). Com a adição medieval de corpo e asas de galo, tornou-se a amea­
nasceriam, os barcos cruzam as regiões perigosas do Reino dos Mortos (como çadora personificação de pecados como a luxúria e portadora de doenças como
na mitologia egípcia) ou são lançados à deriva com os corpos dos chefes, co­ a sífilis. De acordo com o folclore, foi chocada por um sapo, de um ovo de ser­
mo na Amazônia. pente posto por um galo velho numa esterqueira. Ao contrário do dragão, que
Na mitologia grega, um barco impulsionado pelo barqueiro Caronte conduz representava o mal numa escala de heroísmo, o basilisco ameaçava o transgressor
as almas dos mortos na travessia do rio Estige com destino ao Hades. Barco: em nível de vida comum. Basilisco: ver ANIMAIS MITOLÓGICOS; Asas; Dra­
ver Arca; Crescente; Mulher; Navio; O OUTRO MUNDO gão; Galo; Naja; Sapo; Serpente; SETE PECADOS CAPITAIS

Barrete - Posto, autoridade, poder, sabedoria. Barretes de vários tipos aparecem Basti© - Antigo emblema de poder sobrenatural, simbolicamente associado à
com freqüência na iconografia antiga e são em geral associados ao status, so­ força da árvore ou galho, ao falo, à serpente e à mão ou dedo indicador. O sim­
bretudo quando altos e cônicos. A tentativa óbvia de conferir a seus usuários uma bolismo de criação e fertilidade do bastão está claro na história bíblica do cajado
aparência mais impressionante pode ter um significado menor do que seu simbo­ de Aarão, que floresceu e produziu amêndoas como sinal da benção divina sobre
lismo de poder solar e fálico. O barrete pontudo do mago simboliza poder e sa­ a casa de Levi — endossando a autoridade de Aarão (irmão de Moisés) como o
bedoria sobrenaturais. Os barretes do bobo e do bufão com seus sinos chocalhan- fundador do sacerdócio judeu (Números 17). Na religião, mitologia, lenda e fol­
tes constituem inversões zombeteiras dessa tradição. As feiticeiras também podem clore, o bastão, sobretudo de determinadas árvores, como a aveleira, é emblema
ser mostradas com barretes pontudos, numa referência aos chifres de Satã. O bar­ de autoridade pessoal ou confere a seu proprietário poder sobre o mundo natu­
rete sobrevive como símbolo de status no barrete acadêmico (e na 4 coroação” de ral - e para transformar, profetizar, arbitrar, curar feridas, encontrar água e con­
membros da equipe em alguns esportes). Barrete: ver Barrete Frígio; Bruxaria; Ca­ vocar ou dispensar espíritos. Bastão: ver Amêndoa; Aveleira; Báculo; Caduceu;
beça; Chifre; Demônios; Falo; Palhaço; SABEDORIA; Sol Cajado; Cetro; Falo; Galho, Ramo; Mão; Serpente; Vara Mágica

Barrete Frígio - Barrete cônico de feltro macio que se tornou emblema de Batismo - Rito espiritual de passagem que simboliza purificação e regeneração.
liberdade na Revolução Francesa - como na pintura de Delacroix, Liberdade Para os psicólogos, o batismo pela água representa a dissolução do velho ser e o
guiando o povo (1830). Esse estilo de barrete era usado pelos homens livres da renascimento a partir das águas originais da vida. Seu uso em cultos e religiões é
Frigia, na Ásia Menor, no reinado de Midas. antigo e muito disseminado, às vezes como rito de iniciação tanto para os vivos
Na arte, o jovem Páris pode ser mostrado usando-o — talvez numa referência ao quanto para os mortos. Dependendo da confissão religiosa, o batismo cristão
significado fálico de seu cone pontudo. Tradicionalmente, o barrete era vermelho, pode simbolizar entrada para a Igreja, marca adulta de fé, renascimento na graça,
sugerindo simbolismo de sacrifício, bem adequado à época da Revolução Fran­ expiação de pecados passados ou compartilhamento simbólico da morte e ressur­
cesa. Barrete Frígio: ver Barrete; Chifre; LIBERDADE; Sacrifício; Vermelho reição de Cristo. Menos comuns são os batismos pelo vento ou pelo fogo (este úl­
timo foi o destino ou a escolha de alguns mártires). Batismo: zwÁgua; Cervo;
Barriga - A sede da vida no pensamento oriental, donde o ritual japonês da Concha; Fogo, Chama; Iniciação; Octógono; PEIXE; Vento; Vieira
estripação, o haraquiri. As imagens orientais gordas e barrigudas são símbolos
de prosperidade e não de gula, como nas representações de Shen Yeh, deus chi­ Baú - Emblema romano das religiões místicas. Os baús gregos e hebreus
nês da riqueza. A história bíblica em que Jonas passa três dias e três noites na eram receptáculos de mistérios revelados apenas para iniciados escolhidos,
como nos baús carregados nos ritos de deuses gregos, como Dioniso e Deméter, via uma ligação simbólica entre a boca — vermelha e consumidora — e o fogo,
ou o baú com as Tábuas da Lei hebraicas. Na China, os baús constituíam re­ expressa nas lendas sobre dragões que expeliam fogo. Mais comumente, a bo­
licários de tradições antigas ou espíritos ancestrais. Baú: ver Arca
ca é associada à vulva, como no simbolismo chinês. Boca: ver Baleia; Cigarra;
Disco; Dragão; Fogo, Chama; Jade; Ka; Máscara; O OUTRO MUNDO; Res­
Beijo - Além do significado óbvio, o beijo é símbolo religioso de união espiritual
piração, Fôlego; Vermelho; Vulva
— significado por trás do costume de beijar as imagens dos santos nas igrejas.
Beijar a mão de alguém era sinal medieval de homenagem. Beijavam-se os pés e
Boda* Cabra - Virilidade, po­
as vestes dos reis tanto por homenagem quanto pela crença de que parte da san­
tência, luxúria, astúcia e destruti-
tidade deles poderia transferir-se para quem beijasse. Beijo: ver Mão
vidade no bode; fecundidade e
cuidado de nutrição na cabra. A
Bétula - Arvore benéfica e protetora dos povos do norte da Europa e da Ásia,
maior parte do simbolismo ambí­
sagrada para os deuses Thor ou Donar e Freia ou Friga, e que constituía o ponto
guo do bode resolve-se ao longo
central dos ritos xamanistas muito mais a leste, como a Árvore da Vida ou Árvore
dessas linhas sexuais. A cabra
Cósmica, que ligava a vida terrestre ao mundo espiritual. Como pólo central das
Amaltéia era, pois, a ama-de-leite
tendas (yurts), tinha significado sagrado nos ritos de iniciação como símbolo de
venerada do deus grego Zeus (Jú­
ascensão humana e de descida da energia cósmica. Na Rússia, simbolizava a pri­
piter, na mitologia romana), seu
mavera e as mulheres jovens, e era plantada perto das casas para invocar espíritos
chifre, a cornucópia da abundân­
protetores. Sua capacidade de expulsar o mal pode ser o motivo pelo qual as
cia - simbolismo profundamente
bruxas eram fustigadas com vara de vidoeiro (ou Bétula alba, espécie de bétula de
baseado na qualidade e adequa­
madeira branca) para livrarem-se dos demônios. É o emblema da Estônia, na
ção do leite de cabra para os be­
Europa Oriental. Bétula: ver Árvore; Bruxaria; Chicote, Mangual; Eixo
bês. A vitalidade do bode impres­
sionou o mundo antigo, como
Bezerro — Pureza no sacrifício — donde, ocasionalmente, símbolo de Cristo
mostra sua relação com diversos
(embora com maior freqüência retratado como cordeiro). Os bezerros também
deuses sumério-semíticos e gregos.
simbolizaram a prosperidade (matando-se o bezerro cevado). O Bezerro de
O bode também era a montaria
Ouro bíblico costuma ser tomado como emblema da adoração dos valores ma­
ígnea do deus védico Agni, puxa­
teriais, em vez dos espirituais. Bezerro: ver Cordeiro; Sacrifício; Touro
va a carruagem de Thor e estava
estreitamente ligado a Dioniso (Ba­
Bobo — ver Palhaço
co, na mitologia romana), além de fornecer muitas das características físicas
de Pã e dos sátiros. O bode é particularmente ativo no inverno (quando a fê­
Boca — Na iconografia, bocas abertas podem ser símbolos de devoração (como
mea entra no cio), o que pode ter contribuído para as imagens de bodes de pa­
nas muitas imagens de monstros com as mandíbulas escancaradas, represen­ lha usadas nos festivais de grãos realizados na Escandinávia na época do Natal
tando as portas do inferno) ou de espíritos que falam (como nas máscaras e es­
- estação às vezes personificada na arte pelo bode. Contudo, a virilidade do
culturas primitivas). Podem também simbolizar o sopro da vida.
bode era considerada lasciva pelos hebreus. Heródoto relatou práticas sexuais bes­
Nos ritos fúnebres egípcios, as bocas dos mortos eram abertas para permitir que
tiais no culto mendesiano do bode entre os egípcios. Isso pode ter influenciado
seu ka prestasse testemunho no tribunal da vida futura - e recebesse o dom de
o simbolismo cristão do bode como personificação da impureza e da luxúria
uma nova vida. Discos solares eram colocados na boca dos mortos, assim co­
vil. O bode é análogo aos pecadores no relato do evangelho sobre o Dia do Juízo
mo objetos de jade (simbolizando a imortalidade) na China e no México. Jung
Final, quando Cristo deverá separá-los das ovelhas e entregá-los ao fogo eterno
(Mateus 25:32; 25:41). Daí, provavelmente, as características físicas de bode do BoScl — Símbolo solar em jogos aéreos de antigos festivais de culto, sobretudo
Demônio medieval, uma associação reforçada pela reputação do bode de destru- no México e na Grécia. Os templos da América Central dedicados à adoração
tividade maliciosa. O bode também pode personificar a loucura. Na China, do Sol tinham elaboradas quadras para jogos violentos ou ritualísticos. Em ou­
onde “bode” e “yang” são homônimos, esse animal é um símbolo masculino tros lugares, a bola constituiu um dos primeiros brinquedos mais populares.
positivo, como na índia, onde, na qualidade de alpinista de andar seguro, era Bola: ver Sol; Zigurate
associado à superioridade. No zodíaco, Capricórnio é um peixe-bode. Bode,
Cabra: ver Carruagem, Biga; Chifre; Cornucópia; Demônios; Espiral; Grão; Bolha - Evanescência, sobretudo da vida terrena - simbolismo que aparece em
Leite; Ovelha; Sátiro; SETE PECADOS CAPITAIS; Yin-Yang; Zodíaco alegorias da mortalidade, tanto budistas quanto cristãs, em que putú> anjos com
aparência de criança, são mostrados a soprar bolhas que carregam a inscrição
Bode Expiatório — Descarga simbólica dos pecados ou deficiências em ou­ Homo bulia est (“O homem é uma bolha”). Bolha: ver Anjos; Vento
tra pessoa. O bode expiatório ou “bode de Azazel” (um demônio do deserto) foi
enviado ao deserto pelos hebreus no Dia da Reparação, Yom Kippur, emblema- Borboleta - Agora apenas metáfora de frivolidade, a borboleta é antigo
ticamente levando as transgressões dos israelitas. Na cristandade, Cristo fez-se de símbolo de imortalidade, da qual o ciclo de vida proporciona analogia perfei­
bode expiatório ao tomar para si os pecados do mundo. De acordo com J. G. ta: a vida (a rastejante lagarta), a morte (a escura crisálida) e o renascimento
Frazer em The Golden Bough [O ramo de ouro\, de 1890, as tradições antigas da (a alma a flutuar em liberdade). Daí o mito grego de Psique (literalmente
Ásia Menor envolviam o espancamento e a queima de uma vítima humana co­ “alma”). Retratada na arte com asas de borboleta, ela era uma mortal liber­
mo bode expiatório do governante em países afligidos por secas, pragas ou safras tada da morte quando Zeus comoveu-se pelo seu amor por Eros — e pelo dele
ruins. Bode Expiatório: ver Bode, Cabra; Bruxaria; CRUZ; Palhaço; Sacrifício por ela. Como emblemas de alma, as borboletas são encontradas em luga­
res tão afastados entre si como o Zaire, Ásia Central, México e Nova Zelândia.
Boi — Força, paciência, submissão, trabalho duro e constante — símbolo bene­ Aparecem com esse significado em túmulos cristãos, e Cristo é às vezes re­
volente em todo o mundo. Como a força que puxava o antigo arado, o boi era tratado a segurar a borboleta da ressurreição. As borboletas representavam
um animal valioso, em geral usado em sacrifícios, sobretudo nos rituais dos as almas dos guerreiros astecas assassinados e eram sagradas para diversas di­
cultos ligados à fertilidade agrícola. vindades mexicanas. Suas asas bruxuleantes também simbolizavam o fogo
O boi é símbolo cristão do Cristo sacrificado e também emblema de São Lucas solar, idéia que é evocada na tradição celta. Na China, a borboleta é emble­
e do clero em geral. Juntamente com o asno, é o animal mostrado com maior ma de lazer e de um amante jovem; por meio de uma ligação fonética com a
freqüência na Natividade e às vezes aparece sustentando a fonte batismal. Hoje palavra “setenta”, é também, quando ligada à ameixa, metáfora de beleza em
identificado com o indivíduo de muita força muscular, mas de compreensão idade avançada. No Japão, essa criatura representa alegria passageira, vaidade
lenta, o epíteto de “boi mudo” foi aplicado certa vez por Alberto Magno a seu feminina e a gueixa; um par de borboletas representa satisfação conjugal.
aluno corpulento, mas de inteligência formidável, Tomás de Aquino (1225- Nas ilustrações do folclore, as fadas são mostradas com freqüência com asas
74): “Um dia o boi mudo encherá o mundo com seu mugido.” de borboleta. Borboleta: ver Alma; Ameixa; Asas; Escuridão; Fadas; Fogo,
Como uma imagem de domínio da natureza animal da humanidade, o boi é Chama; Lagarto; VAIDADE
atributo taoísta e budista do sábio, e, na China, do aprendizado contempla­
tivo. O boi branco era alimento proibido em diversas tradições. No mundo Braço — Força instrumental, protetora ou julgadora. Símbolo de poder sobe­
clássico, os bois brancos eram sacrificados para o deus grego Zeus (Júpiter, rano e princípio ativo nas iconografias egípcia, indiana e budista - e de Deus na
na mitologia romana), e os pretos, para Hades (Plutão). Bois pretos puxavam trindade cristã. Os deuses onipresentes em geral têm diversos braços e carregam
as carruagens da Morte na arte e também são atributo da Noite. As associa­ símbolos específicos de suas várias funções. Para os bambaras, da África Oci­
ções lunares distinguem com freqüência o boi do touro solar. Boi: ver Asno; dental, o antebraço é símbolo do espírito, ligação entre a humanidade e Deus.
Batismo; Branco; MORTE; Noite; Preto; Sacrifício; Vaca O gesto simbólico mais universal dos braços é o levantamento submisso de
ambos, o que sinaliza tanto se render quanto um pedido de clemência, justiça Bruxaria — Na Europa Ocidental dos séculos XIII ao XVIII, um símbolo
ou, num contexto religioso, graça divina. Braço: ver Bastão de uso incorreto dos poderes sobrenaturais. Antes dessa época, e nas socie­
dades primitivas em geral, as bruxas eram temidas e suspeitas, mas seus ser­
Branco — Cor absoluta da luz e, portanto, símbolo de pureza, verdade, inocência viços eram em geral procurados. A bruxaria tornou-se uma ocupação peri­
e do sagrado ou divino. Embora tenha algumas conotações negativas - medo, co­ gosa quando as feiticeiras foram vistas não como agentes livres, mas como
vardia, rendição, frio, espaço vazio e palidez da morte —, o branco é o lado posi­ serviçais do Diabo. Isso transformou-as no símbolo negativo dos sacerdotes
tivo do preto, a antítese do branco em todos os sistemas de símbolos. Daí o cavalei­ que serviam a Deus. As tradições de divindades plurais aceitavam deusas
ro branco e o vilão preto. Seu uso como veste de luto — tradicionalmente sem cor bruxas, como a indiana Kali, como parte de uma ordem natural dualista.
na China, branco em Roma e por toda a Europa em geral por muitos anos — era Em contraste, na cristandade monoteísta, Satã era um erro da natureza, cujos
menos emblemático de pesar que de iniciação para a nova vida à espera dos mortos. seguidores tinham de ser queimados. No ápice da histeria de caça às bruxas,
O branco é quase universalmente a cor da iniciação, o noviço ou o neófito. A as “feiticeiras” tornaram-se bodes expiatórios dos infortúnios naturais, como
palavra “candidato” deriva do latim significando “branco brilhante”. É a cor quebras de safra, loucura ou idéias inaceitáveis para a Igreja, como a heresia ou
imaculada cristã do batismo, da crisma, do casamento e outros ritos de passa­ a luxúria feminina.
gem. Como cor da espiritualidade, santidade, verdade e revelação, era usado No mundo antigo, as bruxas eram mais estreitamente associadas à necromancia.
pelos druidas e por outros tipos de sacerdotes tanto no mundo pagão quanto Saul, por exemplo, consultou a bruxa de Endor, que chamou Samuel dentre
na cristandade. Com o mesmo significado sagrado, o branco também era a cor os mortos para prever que ele seria esmagado pelos filisteus. Segundo descre­
das vítimas de sacrifícios. veu Horácio, a necromancia romana envolvia o sacrifício de um cordeiro pre­
As ligações entre a luz e a alegria fazem do branco uma cor associada com fes­ to. Esse simbolismo reverso é típico da maioria dos símbolos tradicionais de
tivais. O ovo branco simboliza a criação; a pomba branca, a paz e o Espírito feitiçaria, que incluem os animais noturnos (como os gatos pretos e as coru­
Santo; a ilha branca, o paraíso; o lírio branco, a castidade. O branco simboli­ jas); sapos; lobos ou (no Japão) raposas; símbolos de luxúria com aparência de
zava a pureza mesmo na China, onde também estava associado com a traição, bode; serpentes; ervas venenosas; e oferendas sacrificiais horríveis, como de be­
a morte, o outono e a idade. Os contrastes de valor entre o brilho e a palidez bês mortos. Jung via as bruxas como projeções do lado escu­
da morte explicam algumas dessas aparentes ambigüidades. ro da anima ou lado feminino da natureza humana.
No folclore europeu, os fantasmas, os vampiros e outros espíritos do mal têm Bruxaria: ver Bode Expiatório; Cordeiro; Coruja; Demô­
as faces com palidez cadavérica, como o nórdico Hei, entre outras deusas da nios; Gato; Lobo; Preto; Raposa; Sapo; Serpente; SETE
morte na mitologia. A morte é um cavalo pálido. Assim como o branco pode PECADOS CAPITAIS; Vassoura
simbolizar tanto a vida quanto a morte, também está associado ao leste e ao oes­
te, ao amanhecer e ao entardecer. Búfalo, Bisão - Na índia, Ásia
Na alquimia, o branco (o albedo) está associado ao mercúrio e ao segundo es­ e América do Norte, símbolo de po­
tágio da Grande Obra. Branco: ver Alquimia; Batismo; Casamento; Cavaleiro; der formidável, mas pacato. O bisão
Ilha; Iniciação; Lírio; Mercúrio; MORTE; O OUTRO MUNDO; Ovo; Pom­ (comumente chamado de búfalo,
ba; Preto; Sacrifício embora constitua espécie diferente) sim­
bolizava para os índios americanos nativos
Bronze — Liga de cobre e estanho (muito confundida na Antigüidade com li­ das planícies não apenas a força do furacão,
gas de cobre com outros metais) que simboliza força, poder e dureza, sagrado pa­ mas também prosperidade e fartura. O búfalo
ra o ferreiro coxo Hefesto, que, na mitologia grega, moldou com ele o gigante branco era particularmente sagrado para eles. Um dos Oito Imortais, Lao-tsé
Talos. Acreditava-se que os objetos de culto feitos de bronze tinham poder prote­ À medida que os 60 milhões de cabeças dos monta um búfalo, de uma
tor. Bronze: ver Gigante; METAIS rebanhos foram sendo dizimados pelos caça- aquarela do século XVIII.
dores brancos, orelhas e chifres tornaram-se símbolos substitutos. O elevado
status do búfalo na índia e no Sudeste Asiático fez dele animal sacrificial.
Yama, deus hinduísta e budista da morte, montava um búfalo, e a cabeça do ani­
mal era símbolo da morte no Tibete. Os chineses associavam o poder quieto
do búfalo doméstico à vida contemplativa: segundo a lenda, o sábio Lao-tsé
teria deixado a China num búfalo verde. Búfalo, Bisão: ver ANIMAIS; Boi;
Branco; Furacão; Grão; Sacrifício; Touro II Il| ü $ 1
Buraco - Em artefatos religiosos e no pensamento místico, menos um símbo­
lo de vacuidade do que de abertura - para a vida física, no nascimento, e para
a vida espiritual, na morte. O significado de antigas pedras perfuradas nem
sempre é explicado pelo simbolismo do sexo feminino e da fertilidade. Na
China, por exemplo, preciosos discos de jade eram perfurados com um buraco
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central como símbolos da entrada do céu, um vazio que conduz à eternidade.
Buraco: ver Jade; Vácuo

Burro - ver Asno

Búzio - Concha parecida com um chifre, em geral usada como instrumento


musical cerimonial e que simboliza em muitas tradições de áreas costeiras a voz
criadora primordial — sobretudo na índia e na Polinésia. O misticismo india­
no associa o búzio ao som sagrado Om e à respiração de Vishnu, que enche o
universo. E um dos oito símbolos budistas do Bom Augúrio. Na Grécia, é atri­
buto dos tritões do deus do mar, Posêidon. Sua forma espiralada pode sugerir
tanto audição quanto som, e na tradição islâmica simbolizava atenção para com
o mundo. Búzio: ver Concha; Espiral; Palavra; Om (Aum)
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Caaba - Edificação em forma de cubo situada no centro de Meca. Na fé islâmi­


ca, simboliza o centro espiritual do mundo, a origem da civilização, estabilidade,
totalidade e perfeição. Os peregrinos circungiram a Caaba sete vezes e beijam a
Pedra Negra que há num dos lados — meteorito que se diz ter sido dado a Abraão
pelo arcanjo Gabriel. Caaba: ver Centauro; Circungiro; Cubo; Meteorito

Cabeça - Instrumento que governa a razão e o pensamento, mas também ma­


nifestação do espírito, poder ou força vital da pessoa - significação que é res­
ponsável pelo valor que os antigos atribuíam à cabeça decepada de um inimigo.
Para muitos povos, inclusive para os guerreiros celtas, que usavam cabeças como
troféus, ela tinha um simbolismo de fertilidade e fálico, e também se acredita­
va que transmitia a força e a coragem do guerreiro decapitado para seu novo
proprietário. Na iconografia, a cabeça de um deus, rei ou herói montada numa
coluna, mostrada numa moeda ou usada como emblema funerário corpori-
ficava seu poder de influenciar os acontecimentos. Para Platão, a esfera da ca­
beça representava um microcosmo humano. Em muitas tradições, a cabeça
substitui o coração como a presumida localização da alma. Em símbolos de
monstros ou de deuses animais, ela pode indicar que parte do híbrido é domi­
nante. Os artistas podiam aumentar a força de uma imagem mediante a multi­
plicação de cabeças ou rostos, às vezes para indicar funções diferentes. Assim,
na iconografia de Roma, a Hécate de três cabeças movia-se entre o céu, a terra e
os infernos, o Jano de dois rostos vigiava entradas e saídas, o passado e o futuro,
os viajantes que partiam e voltavam. As quatro cabeças de Brahma referem-se
aos quatro Vedas hindus, as quatro cabeças de carneiro de Amon-Rá fazem Cortar o cabelo era quase um símbolo
menção a seu governo sobre todos os elementos. Na arte, os gêmeos gregos de castração na China antiga — e conti­
Castor e Pólux mostrados um a olhar para cima e outro para baixo simbolizavam nua a ser um símbolo ressentido de con­
as fases de ascensão e descensão dos corpos celestres. As imagens que combi­ formidade à disciplina militar em alguns
países. Em diferentes tradições, cortar, dei­
navam cabeças masculinas e femininas tinham simbolismo protetor no Egito.
Objetos para cobrir a cabeça (coroas, grinaldas ou gorros) e movimentos da ca­ xar crescer ou arrancar o cabelo têm
beça - curvada, em submissão, ou erguida, em orgulho — têm um significado par­ simbolizado pesar. A cor do cabelo tem seu
próprio simbolismo: o vermelho já foi as­
ticular nos gestos humanos. Cabeça: ver Alma; Barrete; Cabelo; Coluna; Coroa;
Coroa de Flores, Grinalda; Decapitação; Escalpo; Esfera; Pena; Quatro; Tríade sociado às coisas do demônio, enquanto o
dourado simboliza poder solar ou real e
o preto o poder terrestre. O cabelo desgre­
CaÍ30Í€l — Energia vital, força - um aspecto profundamente significativo do
nhado pode simbolizar ascetismo — atri­
corpo humano, tanto do ponto de vista social quanto do pessoal, como se pode
buto de Shiva, que aparece com cachos de
ver pela ampla faixa de simbolismo atribuída aos diversos tipos de penteado.
cabelo em desordem. Hoje em dia, cabelos
O simbolismo de força do crescimento do cabelo tem como exemplo famoso
longos, rentes ou penteados de maneira bi­
Sansão, guerreiro da antiga seita hebreia dos nazireus, cuja longa cabeleira era
zarra são símbolos de protesto, inconfor-
sinal tanto de santidade carismática quanto de força física. A comunidade
mismo ou identificação de grupo. Cabelo: A bíblica corta o cabelo de
khalsa dos sikhs deixou crescer cabelo e barba por motivos simbólicos seme­
ver Cabeça; Castração; Escalpo; LIBERDA- Sansão, fonte da força dele, numa xi-
lhantes. Em muitas sociedades o cabelo comprido era marca de poder real ou
DE; Ouro; Preto; Vermelho; logravura de 1527.
de liberdade e independência, como entre os gauleses e outros povos celtas.
Nas mulheres, cabelos longos e soltos significavam o estado de solteirismo ou
Cabrito Montês - ver Bode, Cabra
virgindade — como na iconografia cristã da Virgem Maria e das santas virgens -
em comparação com as tranças das cortesãs. Alternativamente, como na Rússia, Cachimbo da Paz — Cachimbo sagrado e cerimonial dos nativos da
uma só trança marcava a donzela, enquanto duas, a esposa. Cabelo preso e caí­ América do Norte, em geral dotado de uma haste de junco com penas de
do sinalizava permissividade sexual. águia, simbolizando a união da natureza com o espírito, da terra com o céu
Enquanto os pêlos corporais eram em geral associados apenas à virilidade físi­ e do homem com Deus. Embora significasse paz (pena branca), podia tam­
ca ou aos estados mais baixos do ser (o hirsutismo é atributo demoníaco na arte bém significar guerra (pena vermelha). Em geral, porém, constituía um sinal
cristã), os cabelos da cabeça estavam intimamente ligados ao espírito indivi­
de hospitalidade. Os cachimbos eram com freqüência utilizados aos pares,
dual ou à força vital da pessoa - idéia responsável pelo costume de guardar me­ representando masculino e feminino, e eram passados num círculo no sen­
chas de cabelo. Na Grécia antiga, tirar uma mecha de cabelo de uma pessoa tido leste-oeste. A fumaça, que simbolizava o hálito vital, era cerimonial­
morta liberava a alma dela para ingressar no outro mundo. O escalpelamento, mente soprada na direção do céu, da terra e dos quatro pontos cardeais. O
nos costumes de guerra dos nativos americanos, retirava o poder do inimigo, cachimbo da paz era essencialmente um meio de oração. Cachimbo da Paz:
o que levava os bravos a deixarem, com essa finalidade, uma madeixa de cabelo ver Águia; Céu; Círculo; Fumaça; PAZ; PONTOS CARDEAIS; Respira­
em suas cabeças raspadas. Os islamitas tinham o costume de deixar um tufo
pelo qual o fiel poderia ser puxado para cima em direção ao paraíso. Embora ção, Sopro; Terra
os eremitas tradicionalmente deixassem o cabelo crescer, muitas ordens reli­
Cadinho — Símbolo alquímico da transformação pela dissolução, purificação
giosas seguiram o exemplo dos sacerdotes egípcios de raspar o cabelo como
e união. O cadinho pode representar a transmutação de materiais ou o teste e
símbolo de submissão a Deus ou de renúncia ao mundo material. Submissão
mistura do masculino e do feminino no casamento.
(aos manchus) era também o simbolismo original do rabo-de-cavalo chinês.
caduceu — Bastão com duas serpentes entrelaçadas, às vezes encimadas por
asas. Hoje é emblema da medicina ou do comércio, mas já desfrutou um sim­ afortunada, a abertura da caixa de Pandora na mitologia grega era metáfora das
bolismo de uma variedade intrigante. A palavra grega da qual caduceu se deri­ forças imprevisíveis do inconsciente, da libertação de males que atingem o
va significava “bastão de ofício do arauto”, na medida em que era a vareta má­ mundo. O buxo (do latim buxus), árvore cuja madeira densa e de alta qualida­
gica do grego Hermes, o mensageiro dos deuses, que veio a ser usado como de já foi usada para fazer caixas, era emblema funerário de imortalidade. Caixa,
emblema protetor por mensageiros das áreas política e comercial. Na mitologia Buxo: ver Árvore; Madeira; Mulher
romana, o equivalente de Hermes, Mercúrio, usa um bastão para reconciliar
duas serpentes em luta. Pode ser por isso que o caduceu se tornou um emblema Cajado — A exemplo do bastão e do cetro, símbolo masculino de poder e au­
romano de conduta moral equilibrada -, mas a forma do bastão tem vários sig­ toridade, em geral mantido como emblema de cargo ou carregado à frente dos
nificados simbólicos mais antigos. Um bastão com serpentes entrelaçadas com­ religiosos graduados nas procissões eclesiásticas. O cajado do pastor, ou bor­
bina diversos elementos fundamentais: um pólo axial que sugere poder fálico dão, era, com o mangual, o principal emblema do deus Osíris como pastor e
e a Arvore da Vida (meio de comunicação ou rota para mensagens entre a terra e juiz das almas egípcias. Como arma, o cajado pode ter significado punitivo,
o céu); a espiral dupla formada pelas serpentes sugere energia cósmica, duali­ mas costuma aparecer na arte como o atributo de peregrinos e santos. Cajado:
dade e união de opostos. As próprias serpentes sugerem as forças fertilizantes ver Báculo; Bastão; Caduceu; Cetro; Peregrinação; Vara Mágica
da terra e do mundo subterrâneo.
Remontando a pelo menos quatro mil anos, esse símbolo está associado a di­ Caldeirão - Transformação, germinação, profusão, renascimento, rejuvenesci­
vindades
' (em geral UCUiCÍ.
deuses 1mensageiros) na Fenícia e Babilônia, no Egito e na mento, poder mágico. Num nível simples, o caldeirão era um predominante sím­
bolo antigo das maravilhas que se poderiam obter com o ato de cozinhar, da coc­
índia, onde tornou-se a imagem indiana da kun-
ção de alimentos à preparação de poções mágicas. Também podia representar um
dalini (o despertar dessa energia). Na alquimia,
meio de iniciação, provação ou punição. Na arte, diversos santos cristãos são mos­
representou a integração de opostos (mercúrio e
trados tristemente sentados em caldeirões de óleo fervente (do qual a maioria so­
enxofre). Podia representar equilíbrio e, na arte
brevive), incluindo São João Evangelista, que dizem ter emergido rejuvenescido.

?
ocidental, Paz. A associação com a medicina vem
A falsa esperança do rejuvenescimento de seu pai levou as filhas do rei Pélias de
da ligação entre a serpente e o rejuvenescimento:
Iolco, na Tessália, a retalhá-lo e atirar os pedaços num caldeirão para cozê-los, se­
um bastão com apenas uma serpente é atributo de
gundo um conselho pérfido da feiticeira Medéia. Também no mito grego, Tétis,
Esculápio, deus da cura. Jung viu o caduceu co­
mãe de Aquiles, perdeu vários filhos ao pô-los num caldeirão para descobrir se ha­
mo emblema da medicina homeopática — a ser­
viam herdado sua imortalidade ou eram mortais como o pai. Um épico quirguiz
O caduceu, numa versão de pente que tanto envenena quanto cura. Caduceu:
broche com diamante incrus­
retrata um caldeirão mágico de beber sangue que o herói deve recuperar do fun­
ver Alquimia; Arvore; Asas; Bastão; Eixo; Enxo­
tado. Como se pode ver, esta do do oceano. Caldeirões sob a água aparecem no mito celta. A posse mais apre­
fre; Espiral; Falo; Kundalini; Mercúrio; Serpente;
versão tem asas. ciada pelo deus pai irlandês Dagda era um caldeirão doador de vida (Undry) que
Vara Mágica
nunca poderia ser esvaziado. As bruxas da meia-noite de Macbeth (c.1605), de
Cágado - ver Tartaruga, Cágado Shakespeare, jogaram “olho de salamandra e dedo do pé de sapo” na sua poção
mágica, seguindo assim uma longa tradição de crença nas propriedades mágicas
do caldeirão. Caldeirão: ver Kgua; Bruxaria; Forno, Fornalha; Iniciação; Mar
Caixa, BUXO — Além do óbvio simbolismo feminino de todo receptáculo,
caixa ou porta-jóias — ao encerrar e esconder seu conteúdo —, representa misté­
rio e o arriscado drama da surpresa, agradável ou não. “Aquele que me esco­ Cálice - Copo com pé cerimonial, associado particularmente ao vinho sagra­
lheu tem de dar e arriscar tudo que tem”, diz o porta-jóias de chumbo que ga­ do da Eucaristia Cristã (o sangue de Cristo) e à lenda do Santo Graal. Simbo­
nha a mão de Portia, no Mercador de Veneza (c. 1596), de Shakespeare. Menos liza beber a iluminação ou o conhecimento espiritual, a redenção e, assim, a
imortalidade. O cálice aparece na arte como emblema da Fé e é atributo de di­
versos santos. Na China e no Japão — bem como nas cerimônias de casamen­ Camundongo - Timidez — simbolismo antigo, a julgar pelo insulto lendário
to em todo o mundo partilhar um cálice significa fidelidade. Copos com pé do rei egípcio Tachos, decepcionado pelo insignificante aspecto de um aliado es­
cerimoniais eram usados no mundo celta para denotar soberania. O cálice tam­ partano: “A montanha entrou em trabalho de parto, Júpiter ficou estupefato e
bém pode representar destino amargo, como o cálice que Cristo pediu a Deus um camundongo projetou-se para fora.” As devastações secretas dos camun­
que afastasse dele (referindo-se à sua crucificação próxima). O chamado cálice dongos tornaram-nos um símbolo judaico da hipocrisia e um símbolo cristão da
envenenado promete esperança, mas entrega desastre. Cálice: ver Casamento; tendência destruidora e perversa. Na superstição popular, os camundongos eram
CRUZ; Graal; PAIXÃO; Sangue; Taça; VIRTUDES almas que haviam escapado da boca dos mortos (vermelhas se fossem boas, pre­
tas se fossem corrompidas) - mais ou menos como se dizia que pombas voavam
Ca ma i©ão — Agora simplesmente metáfora de mudança, esse lagarto das ár­ da boca dos santos quando suas almas partiam. Na África, os camundongos eram
vores tem outras características marcantes (habilidade de escalar, olhos que giram utilizados para predições, pois acreditava-se que compreendessem os mistérios da
de maneira independente e longa língua caçadora), que lhe conferem signifi­ região dos mortos. Camundongo: ver Alma; Pomba; Rato
cado sagrado e ético em muitas partes da África. Associado ao trovão, ao raio,
à chuva e também ao Sol, aparece amplamente como intermediário entre os Ca Siga — Principalmente um símbolo de opressão e submissão. Os romanos
deuses do céu e a humanidade; e, no folclore dos pigmeus, como um agente utilizavam estruturas em forma de canga para humilhar os exércitos derrota­
na criação da humanidade. Na arte ocidental, pode personificar o ar. Cama­ dos, que tinham de passar por baixo delas, e as cangas constituíam um méto­
leão: ver ANIMAIS; Ar; Árvore; Chuva; Raio; Sol; Trovão do tradicional de agrilhoar os escravos em marcha.
O significado mais antigo de canga é “união”, o significado original da palavra
Cambaxisra — Na tradição galesa, o pequeno rei dos pássaros, e na Irlanda, “ioga” como disciplina de união com a essência divina. Na cristandade, a canga
um pássaro associado aos poderes proféticos dos druidas. Como versátil ave ca­ pode simbolizar a obediência aos votos religiosos.
nora, a cambaxirra também aparece como um emblema de felicidade entre os
nativos da América do Norte. Cambaxirra: ver Aves Canibal is mo — Com freqüência um meio útil de alimentação (os grupos de
guerreiros maoris comiam os prisioneiros ao longo da marcha), o canibalismo
Camélia — Na China, imagem de saúde, beleza e também de firmeza, talvez também já constituiu um costume ritual que simbolizava a absorção do poder
por causa da capacidade desse arbusto de florescer no outono e no inverno. No vital da vítima e visava a qualquer vingança mágica. Antigos medos de ser con­
Japão, a flor é associada à morte súbita. Camélia: ver VIRTUDES sumido aparecem em muitas lendas populares de gigantes e feiticeiras e numa
variedade de mitos primitivos, notadamente na história do titã grego Cronos,
Camelo-Sobriedade e obediência dignificada — associações que refletem a apro­ que engoliu seus filhos ao nascerem. Canibalismo: ver Bruxaria; Gigante
vação cristã da capacidade do camelo de carregar às costas muito peso sem se
queixar (conforme observou Santo Agostinho) e caminhar longas distâncias sem Cão — Lealdade e vigilância protetora — simbolismo herdado principalmente das
beber água. É notável que, dada sua importância como animal de carga no norte tradições celtas e cristãs. No pensamento mais primitivo e antigo, o cão estava
da África e no centro da Ásia e da índia, o camelo desempenhe um papel menor associado quase universalmente ao Reino dos Mortos, no qual atuava como guia
na iconografia e na literatura dessas regiões, embora o zoroastrismo se refira a um e guardião. Daí a imagem grega do Cérbero, o aterrorizante cão de três cabeças
camelo voador como a imagem de um dragão-serpente do paraíso. Cristo usou o na entrada do Hades. Cães de caça do inferno também acompanhavam Hécate,
tamanho do camelo como analogia de dificuldade, quando declarou que seria a deusa da morte que assombrava tumbas e encruzilhadas e para quem os cães
mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um homem rico eram sacrificados. Outro símbolo de cachorro agressivo inclui o infernal cão es­
entrar no céu (Marcos 10:25). Na arte ocidental (e nas moedas romanas), o ca­ candinavo Garm e o cão preto de Satã.
melo personifica a Ásia. É um emblema do Natal, na medida em que os reis Em geral, o simbolismo que associa os cães à morte é mais positivo. O com­
Magos montaram camelos. Camelo: ver Agulha; ANIMAIS; Dragão; Serpente panheirismo deles na vida e seu suposto conhecimento do mundo dos espíri-
tos sugeriam que eles seriam guias adequados para a vida após a morte. Os cães forma. As capas mágicas aparecem geralmente nas lendas teutônicas e celtas, em
aparecem nesse papel como atributos do Anúbis egípcio, bem como na Amé­ particular na irlandesa; estão associadas a poderes especiais, como invisibilidade
rica Central, onde carregavam almas através do rio da morte na mitologia maia. e esquecimento. Eram emblema de realeza, fraternidade ou separação do mundo
Xoltl, o deus-cão asteca, levou o Sol pela noite do outro mundo e renasceu materialista, como em algumas ordens monásticas. Também podem ser emble­
com ele ao amanhecer. Os cães eram em geral sacrificados como companheiros ma de proteção divina. A capa também representa intriga - por exemplo, o mun­
para os mortos ou como intercessores com os deuses, como nos sacrifícios iro- do de capa e punhal da espionagem. Capa: ver Transformação
queses de cães brancos. As almas eram passadas aos cães mais diretamente na
antiga prática da Ásia Central e da Pérsia de alimentá-los com os corpos dos Caracol - Hoje simples metáfora de lentidão, era, nas tradições mais antigas
mortos. Esses costumes podem ter levado à visão de semitas e muçulmanos de — sobretudo da África e América Central -, símbolo lunar e da fertilidade. Por
que os cães eram impuros, vis e cobiçosos - úteis apenas como guardas — com mostrar e esconder periodicamente seus chifres, como a Lua, o caracol também
a exceção do galgo, que tinha status mais elevado. sugeria, por sua concha helicoidal, o processo espiralado da continuidade cíclica.
Os cães são em geral símbolos de desprezo, bem como de lealdade, como é evi­ Tornou-se, assim, emblema de renascimento ou ressurreição e da fecundidade
dente mesmo no idioma moderno. Essa ambivalência reflete-se na origem da pa­ em geral, como na iconografia asteca. A concha e o corpo que se desenrola
lavra “cínico”, da palavra grega para cão, kuon, aplicada de maneira injuriosa aos também combinaram simbolismo sexual feminino e masculino. Caracol: ver
seguidores de Diógenes para ilustrar sua rudeza agressiva, mas aceita por eles co­ Chifre; Espiral; Lua; SETE PECADOS CAPITAIS
mo descrição adequada de seu papel de cães de guarda da moral. O nome “do­
minicano” para uma ordem de frades - literalmente “cães de Deus” - enfatiza da Caranguejo — Símbolo lunar, pois, como a Lua com suas fases, descarta sua
mesma forma o simbolismo de guardião. No cristianismo, o cão também se ajus­ casca por uma nova — analogia ligada ao simbolismo do renascimento na tra­
ta ao simbolismo do Bom Pastor e era emblema do clero. Os cães são símbolos dição aborígine e às vezes também na cristã. Além do significado astrológico
benignos na iconografia celta, companheiros de muitas deusas associadas à cura, como o signo zodiacal de Câncer, o caranguejo raramente aparece na iconogra­
além de caçadores e guerreiros. São símbolos guardiães no Japão, e também na fia. A mitologia grega diz-nos que Hera colocou o caranguejo nos céus por sua
China, embora de modo menos consistente, pois geralmente têm significado de­ coragem em morder o calcanhar de Héracles enquanto ele lutava com a Hidra,
moníaco, em especial no simbolismo cósmico dos eclipses e outros fenômenos história que contrasta estranhamente com sua reputação de timidez. Aparece na
destrutivos. Podem aparecer como símbolos do Sol e do vento. O cão obedien­ tradição inca como devorador, relacionado à Lua minguante, enquanto na
te é símbolo de adesão à lei, embora Buda tenha dito que aqueles que vivessem Tailândia e em outros lugares associa-se às cerimônias da chuva. Ainda em ter­
como cães se tornariam um deles. No hinduísmo, os cães mais uma vez apare­ mos de analogia, seus movimentos para frente e para trás às vezes simbolizaram
cem como atributos de um deus da morte, Yama. desonestidade, como na China. Caranguejo: ver Chuva; Lua; Zodíaco
Em outros lugares, o cão em geral aparece com simbolismo divinatório, sobretu­
do na África. Nas lendas da Melanésia, América do Norte e Sibéria, sua inteligên­ Cardo — Retaliação - o simbolismo do cardo como o emblema heráldico da
cia os tornou símbolo da invenção engenhosa, aquele que origina ou furta o fogo. Escócia e da Lorena. Adão é punido, no Gênesis, com um chão coberto de car­
Como todos os heróis dessas culturas, o cão é tanto culpado quanto elogiado: em dos. Entretanto, a exemplo de outras plantas espinhosas, o cardo era associado
muitas versões da lenda, foi por causa da falha de um cão de guarda que os seres à cura ou a poderes talismânicos, e o cardo Lady, de pintas brancas, está ligado
humanos perderam a dádiva da imortalidade. Cão: ver Alma; ANIMAIS MITO­ ao leite da Virgem Maria. Na arte, os cardos são emblemas do martírio.
LÓGICOS; Branco; Eclipse; Encruzilhada; FIDELIDADE; Fogo; Chama; MOR­
TE; O OUTRO MUNDO; Olho; Pastor; Rio, Regato; Sacrifício; Sol Carma — Termo védico e hinduísta para ações; as boas e más ações praticadas
numa vida conduzem de maneira inevitável a boas ou más conseqüências na
Capa - Poder, proteção, separação, metamorfose, ocultação — uma variedade de próxima. O carma, que tem sido descrito como um balanço moral, liga as ações
simbolismos relacionados à rapidez com que a capa pode alterar ou esconder a do indivíduo às forças de causa e efeito do universo.
Carnaval — Tradicionalmente, o último dia de festa para os cristãos na terça- sorte. Imagens da carpa eram colocadas nos mastros ou tetos dos navios para
feira gorda antes da abstinência da Quaresma. O nome (que deriva do latim tar­ afastar incêndios. Carpa: ver Fogo, Chama; PEIXE; VIRTUDES
dio carne levarium) significa literalmente “privação da carne”. O fato de o carna­
val realizar-se às vezes em outras datas, sobretudo após o solstício de dezembro Carruagem, Biga — Imagem dinâmica da condição de governante, ampla­
(21 de dezembro), sugere ligações com festas mais primitivas, como as saturnais mente usada na iconografia para ilustrar o domínio e a mobilidade de deuses
(precursoras pagãs do Natal), celebrações de renascimento na natureza e oportu­ e heróis ou a autoridade espiritual de figuras religiosas e alegóricas. Seu simbo­
nidade de diversão, licenciosidade e anarquia moderada. Carnaval: ver Solstício lismo triunfal provavelmente deve muito à força de choque dos guerreiros
em biga que se espalhavam pela Ásia Central a partir do segundo milênio a.C.
Carneiro - Energia solar, ardor impetuoso, virilidade, impetuosidade, obstina­ A mística indiana (depois sustentada por psicólogos como Jung) via a carruagem
ção — símbolo do fogo como força tanto criativa quanto consumidora, ou de sa­ como símbolo do Ego: o auriga (pensamento) usa as rédeas (força de vontade
crifício. Seus chifres em espiral eram um emblema do crescente poder solar de e inteligência) para dominar os corcéis (força da vida) que puxam a biga (o cor­
Amon-Rá no Egito, que adotou o simbolismo do deus criador Khnum com ca­ po). Na alegoria moral, a biga tornou-se, assim, a imagem da jornada triunfan­
beça de carneiro. Na iconografia, esse animal era símbolo popular de deuses po­ te do espírito, simbolismo usado pelos realizadores do filme Carruagens de
tentes como Ea e Baal, no Oriente Médio, Zeus e Apoio, na Grécia, Indra e Fogo. Uma carruagem de fogo carregou o profeta Elias ao céu (2 Reis 2:11).
Agni, na índia, e por associação com seu poder de golpear, dos deuses do trovão O simbolismo da roda ajustou-se muito bem às carruagens dos deuses do Sol,
como o escandinavo Thor, cuja carruagem é puxada por carneiros. A serpente como Apoio, ou deusas da Lua, como Ártemis. Do mesmo modo, o som atroa-
com cabeça de carneiro (virilidade e renovação) é a companhia do deus celta
Cernunnos. Como primeiro símbolo do zodíaco, Áries, o carneiro simboliza re­
novação da fertilidade e retorno do calor solar no equinócio de março. É signo As Carruagens dos Deuses
astrológico de temperamento colérico e do planeta de fogo, Marte. Nome do deus (os equivalentes romanos Cultura Carruagem
Como emblema do fogo e solar, o carneiro também era um impor­ dos deuses gregos estão entre parênteses puxada por
tante animal de sacrifício — na tradição hebraica, substituiu Isaac no Clássica Pombas
Afrodite (Vénus)
último minuto, quando Deus tentou Abraão para sacrificar seu Clássica Cavalos brancos
Apoio
filho (Gênesis 22). A iconografia cristã às vezes faz de Cristo o Áries (Marte) Clássica Lobos
carneiro de sacrifício. Com maior freqüência, Cristo acompanhado de Ártemis (Diana) Clássica Cervos
um carneiro tinha significado protetor. Como protetor dos rebanhos, o Cibele Clássica Leões
carneiro era um atributo do deus grego Hermes (Mercúrio, na mitolo­ Dioniso (Baco) Clássica Tigres, panteras, leopar­
gia romana). O Tosão de Ouro vem do maravilhoso carneiro de Her­ dos, centauros ou bodes

mes, que foi sacrificado para Zeus. O sbofar, ou chifre de carneiro Efesto (Vulcano) Clássica Cães
Freia Nórdica Gatos
sagrado dos hebreus, é emblema protetor. Carneiro: ver Car­
Galatéia Romana Golfinhos
ruagem, Biga; Chifre; Fogo, Chama; PLANETAS; Primavera;
Hades (Plutão) Clássica Cavalos negros
Sacrifício; Serpente; Sol; Tosão de Ouro; Trovão; Zodíaco
Hera (Juno) Clássica Pavões
Hermes (Mercúrio) Clássica Galos ou cegonhas'
Carpa - Emblema de coragem, virilidade e erudição aca­ Clássica Cavalos-marinhos
Posêidon (Netuno)
dêmica na China e de fortaleza samurai no Japão - possi- Indiana Gazelas
Shiva
A carpa, de uma velmente originário do contraste entre seu vigor saltitante Thor Nórdica Carneiros
pintura japonesa do na água e a calma com que é fisgada e morre. Também ad­ Zeus (Júpiter) Clássica Águias ou touros
século XIX. mirada por sua longevidade, a carpa era símbolo de boa
dor das rodas sugeria as carruagens de Thor e de outros deuses do trovão. Os enxofre e mercúrio) simbolizava igualmente a continuação da ordem cósmica
deuses ou figuras alegóricas são com maior freqüência identificados pelo sim­ e a fertilidade da natureza, processo em que os casamentos humanos foram
bolismo específico das criaturas que puxam suas carruagens. Assim, a Cas­ considerados de importância tanto religiosa quanto social. A ideia da união do
tidade e puxada por unicórnios; a Eternidade, por anjos; a Noite, por cavalos humano com o divino foi expressa com freqüência sob o aspecto do casamen­
negros; a Morte, por bois negros; e a Fama, por elefantes (ver também tabela to, como na designação das freiras como noivas de Cristo .
na página anterior). A cor da carruagem também pode ser significativa - a de Os costumes matrimoniais, repletos de significados simbólicos hoje bastante
Indra é dourada. No taro, a carta da carruagem simboliza o autocontrole. esquecidos, procuravam garantir que os casamentos fossem de compromisso,
além de frutíferos e felizes. Símbolos de compromisso ainda em uso, incluem
C.&TT tJUCjeiYl, BigJIS* ver Águia; Bode, Cabra; Boi; Branco; Cão; Carneiro; a aliança (símbolo circular de eternidade, união e inteireza), o dar-se as mãos
CASTIDADE; Cavalo; Cegonha; Centauro; Cervo; Dragão; Elefante; FAMA; e o atamento de nós (como no costume indiano pelo qual o noivo amarra uma
Galo; Gato; Golfinho; Leão; Leopardo; Lobo; Lua; Ouro; Pavão; Pomba; Pre­ fita em torno do pescoço da noiva).
to; Roda; Serpente; Sol; Taro; Tigre; Touro; Trovão; Unicórnio Os símbolos da fertilidade incluem a aspersão de cereal, arroz ou seu substituto,
o confete, sobre o casal; o bolo de casamento (alimento que é tanto um símbolo
Cartas - As cartas de jogar tornaram-se alegoria do vício da preguiça para os sexual como um meio simbólico de unir as duas famílias numa festa partilhada);
puritanos na arte barroca, mas a cristandade medieval encarou o jogo de cartas a presença de criancinhas ao redor da noiva (simpatia de fertilidade); e o quebrar
como um passatempo inofensivo, empregado às vezes pelos clérigos como ins­ copos ou outros objetos (da defloração bem-sucedida). Uma quantidade enorme
trumento educacional, apoiado em textos adequados. Grande parte do atual de outros costumes foi programada para afastar influências malignas, assegurar
simbolismo das cartas deriva do baralho de taro do século XIV. Cartas: ver Taro boa sorte ou exprimir, de maneira inofensiva, as tensões sociais causadas pelo ca­
samento ou pela mudança drástica, em estilo de vida, do ca­
CarwaSho - Poder, resistência, longevidade, nobreza. O carvalho era consa­ sal. Um costume tão característico como o de amarrar latas de
grado aos deuses do trovão na Grécia, Alemanha, Escandinávia e nos países es­ conserva na traseira do carro do casal pode provir da idéia de
lavos, possivelmente porque se acreditava que suportava o impacto das descar­ que os maus espíritos podem ser expulsos ao se fazer muito
gas dos raios. barulho. Casamento: ver Andrógino; Anel, Aliança; Arroz;
Nos ritos druidas, servia como símbolo axial e templo natural, associado à po­ Círculo; Colar; Enxofre; Grilhões; Mercúrio; Nó; Yin-Yang
tência masculina e à sabedoria. Embora predominantemente um emblema mas­
culino (a bolota era equivalente para os celtas à glande do pênis), Cibele, Juno e Castelo - Objetivo notável ou desafio amedronta-
outras deusas Grandes Mães também eram associadas a ele, e as Dríades eram dor. Assim, os castelos aparecem em inumeráveis
suas ninfas. Na lenda grega, o porrete de Héracles (Hércules, para os romanos) lendas e contos folclóricos, com o simbolismo
era de carvalho e, de acordo com algumas tradições, Cristo morreu numa cruz em geral a variar com sua cor. O castelo escuro,
de carvalho. Feixes de folha de carvalho são usados como insígnia militar nos talvez escondido numa floresta quase impenetrá­
Estados Unidos. Carvalho: ver Árvore; CRUZ; Eixo; Glande (Bolota); LONGE­ vel e geralmente defendido por um cavaleiro ne­
VIDADE; Porrete; Raio; SABEDORIA; Templo; Visco gro, simboliza as forças do mal, o reino dos mor­
tos e o medo da morte. Contém um tesouro ou
Casamento - Rito de passagem de significação sagrada nas sociedades mais uma donzela encarcerada para serem arrebatados
antigas. Simbolizava um estado semidivino de plenitude - união entre os prin­ desses poderes obscuros pela coragem e engenho- Q castdo cQmo baiuarte do
cípios opostos masculino e feminino, necessária à criação e proteção de nova sidade. O castelo brilhante, que pode aparecer e mal dragão respirando fogo
vida. A representação, na mitologia e na arte, do “casamento” de dualidades es­ desaparecer como uma miragem e é em geral co- entre suas paredes), de uma
senciais (deuses e deusas, Sol e Lua, céu e terra, rei e rainha, ou, na alquimia, locado no alto, simboliza a busca espiritual ou a pintura medieval.
Cidade de Deus, difícil de atingir. Os castelos Castor — Antigamente comum nas florestas da Europa e integrando uma es­
no ar simbolizam os objetivos nunca atingidos pécie bem mais ampla, a criatividade atarefada do castor sempre fez dele um
daqueles que pensam que podem obtê-los ape­ símbolo de esforço e, entre os cristãos, de ascetismo. Castor: ver ANIMAIS
nas pelo desejo, em vez de pelo esforço realista.
Na arte, o castelo pode significar castidade Castração — Perda de poder, simbolizada através da prática da castração no
(pois é bem defendido). Castelo: ver CASTI­ enforcamento ritualístico dos traidores na Inglaterra elisabetana e nas mutila­
DADE; Cavaleiro; Espinho; Floresta; Luz; ções mais difundidas de inimigos assassinados considerados como ameaças sig­
Montanha; MORTE; Preto; Virgindade nificativas. A castração era às vezes usada em antigos sacrifícios de fertilidade.
Na mitologia grega, o deus céu Ouranos (Urano, para os romanos) foi castra­
Castiçal — O simbolismo geral da vela é com do com uma foice (emblema freqüente de castração) por seu filho mais jovem,
freqüência ampliado pela forma do castiçal, so­ Cronos. O sangue derramado produziu monstros; o sêmen dos genitais formou
bretudo no menorah, candelabro judeu de sete a nuvem que carrega Afrodite (Vénus). Castração: ver Foice; Gadanha
braços. O menorah original — descrito no Livro
do Êxodo (25:31-40) como feito de Q,uro com Ca uri — A vulva, fonte de vida. Entre os povos primitivos, a bonita concha em
concavidades em forma de amêndoa para lam­ forma de lábios desse molusco era o amuleto natural mais difundido contra a
parinas a óleo (depois, velas) - alude à Árvore esterilidade e o mau-olhado.
Cósmica ou Árvore da Luz, com seus sete bra­ O cauri dourado era um emblema de hierarquia em Fiji e
ços a representar o Sol, a Lua e os cinco plane­ Tonga. Colares de cauri eram usados no comércio por to­
tas antigos, os sete dias da semana e os sete níveis do o Pacífico, com significado tanto ritual quanto co­
O candelabro judeu menorah, do céu. Castiçal: ver Amêndoa; Árvore; Luz; O mercial. As associações com fecundidade, prazer sexual
de uma ilustração da Bíblia, do e boa sorte também tornaram os cauris amuletos apre­
OUTRO MUNDO; Óleo; Ouro; PLANETAS;
século XII. ciados na África e em outros lugares, em geral longe
Sete; Vela
da costa onde eram coletados. Como emblemas fu­
CASTIDADE- Com sua personificação mais famosa representada pelo nerários ou decorativos eles também podem signifi­
unicórnio, a Castidade também aparece na arte cristã como uma figura ve­ car vida e morte, com seu poder a persistir depois da
lada, geralmente carregando um escudo (contra as flechas do desejo) ou pi­ morte do molusco. Cauri: ver Concha; Ouro
sando num porco (luxúria). As representantes notáveis da castidade são a
Virgem Maria, a grega Ártemis (Diana, para os romanos) e a ninfa Dafne, Cavaleiro - Na lenda medieval, símbolo de domínio
que se tornou uma árvore de louro quando fugia de Apoio. Os símbolos das artes de montar cavalos e utilizar armas, das virtudes
tradicionais da castidade incluem: as cores azul e branca, a abelha, castelo, da lealdade e serviço honrado e da sublimação dos dese­
castanha, crescente, cristais, diamante, pomba, elefante, jardim fechado, jos animalescos. A dignidade ou classe dos cavaleiros,
arminho, grinalda, pilriteiro, íris, jade, louro, lírio, espelho, palmeira, pé­ que oferecia aos jovens um ideal simbólico, gerou vas­
rola, Fênix, salamandra, safira, poço selado, peneira, prata, torre e violeta. ta literatura de cavalaria. No simbolismo de cores da
CASTIDADE: ver Abelha; Arminho; Azul; Branco; Castelo; Cinturão, cavalaria, o Cavaleiro Verde é o neófito aspirante; o
Cinto; Cristal; Diamante; Elefante; Espelho; Fênix; Flecha; íris; Jade; Cavaleiro Branco é o herói casto e triunfante; o Ca- Lancelote> 0 maisfamoso dos
Jardim; Louro; Palmeira; Peneira; Pilriteiro; Poço; Pomba; Porco; Prata; valeiro Vermelho, o guerreiro já provado em batalha cavaieiros da lenda arturia-
Safira; Salamandra; Torre; Unicórnio; Véu; Violeta; Virgindade e que atingiu a maturidade espiritual. O Cavaleiro na> ^ um vitral de William
Negro é uma figura mais ambivalente, representan- Morris (1834-96).
do ou o mal ou o anonimato do homem que se retirou em austeridade para mesmo modo, um símbolo solar ou espiritual. Cavalos puxam a carruagem do
expiar seus pecados. O simbolismo da cavalaria como missão foi adotado por Sol nas mitologias clássicas iraniana, babilónica, indiana e nórdica e são caval­
Santo Inácio de Loiola, fundador dos Jesuítas, como uma ordem dedicada à gados por muitos outros deuses, entreteles Odin, cuja égua de oito pernas,
cavalaria sagrada. Já o Cavaleiro Errante vagueia na esperança de que surja uma Sleipnir, representa os oito ventos. As nuvens são os cavalos das Valquírias, sa­
missão de valor. Cavaleiro: ver Branco; Castelo; Graal; Preto; Verde; Vermelho cerdotisas escandinavas da deusa Freia.
Embora ligados predominantemente às forças da natureza ou dos instintos, os ca­
Cavalo - Símbolo arquetípico da vitalidade, velocidade e beleza animais. valos podem simbolizar a velocidade do pensamento. As lendas e o folclore con­
Com as notáveis exceções da África e das Américas do Norte e do Sul, onde os ferem-lhes com freqüência os poderes mágicos da adivi
cavalos desapareceram misteriosamente até que os espanhóis os trouxeram de nhação. São associados à energia sexual, desejo impe­
novo, o cavalo ligava-se por toda parte à ascensão de civilizações dominantes e tuoso ou luxúria — como na pintura de Fuseli The
à superioridade. O cavalo dominado é um dos principais símbolos de poder - Nightmare (Opesadelo), de 1781, fantasia de estupro
donde a popularidade da estátua eqüestre. Na arte das cavernas, bem como na em que um cavalo de olhos esbugalhados vara com a
pintura romântica, os cavalos fluem pela superfície da pintura como encarna­ cabeça as cortinas da cama da moça. Cavalo: ver
ções da própria força da vida. Eram amplamente associados à força de elemen­ ANIMAIS; ANIMAIS MITOLÓGICOS; Asas;
tos como o vento, a tempestade, o fogo, as ondas e a água corrente. De todos Branco; Carruagem, Biga; Centauro; Céu; Escu­
os animais, seu simbolismo é o menos limitado, indo da luz à escuridão, do céu ridão; Fogo, Chama; Luz; MORTE; Nuvem; O deus nórdico Odin cavalga seu
à terra, da vida à morte. Preto; SETE PECADOS CAPITAIS; Sol; Tem­ cavalo de oito pernas, Sleipnir, de
pestade; Terra; Vento; VITÓRIA uma gravura em pedra.
Seu papel como emblema da continuidade da vida é sugerido em muitos ritos.
Em todo mês de outubro, os romanos sacrificavam um cavalo para Marte, deus
da guerra e da agricultura, e guardavam sua cauda por todo o inverno como Caveira - Em sua modalidade mais auto-evidente, símbolo de mortalidade,
símbolo de fertilidade. Nas crenças antigas, os cavalos conheciam os mistérios daí ser um atributo freqüente dos santos nas artes medieval e renascentista, a
do outro mundo, da terra e de seus ciclos de germinação. Esse antigo símbolo chamar a atenção para a futilidade das coisas terrestres. A caveira tinha signifi­
citônico foi substituído por uma associação mais difundida do cavalo com os cado mais rico em muitas tradições, como o centro da inteligência, espírito,
deuses do Sol e do céu, embora os cavalos continuassem a desempenhar um energia vital e a parte do corpo mais resistente à deterioração - o simbolismo
papel nos ritos funerários como guias ou mensageiros no mundo dos espíritos. subjacente dos cultos pagãos da caveira na Europa.
O cavalo sem cavaleiro ainda é usado como símbolo pungente nos funerais mi­ A renúncia da vida é simbolizada na iconografia indiana por uma caveira cheia
litares e de Estado. de sangue. A caveira pirata com fêmures cruzados foi projetada para causar ter­
A morte é em geral representada por um cavalo negro - mas cavalga um cavalo ror e agora é um sinal de advertência universalmente conhecido. Caveira: ver
descorado no livro do Apocalipse. O cavalo branco é quase invariavelmente Cabeça; Esqueleto; Ossos; SETE PECADOS CAPITAIS
símbolo solar de luz, vida e iluminação espiritual. E um emblema do Buda
(que teria deixado sua vida neste mundo num cavalo branco), do hindu Kalki Caverna — Imagem primária de abrigo — daí símbolo de útero, nascimento e
(a última encarnação de Vishnu), do misericordioso Bato Kannon, do Japão, renascimento, origem, centro e coração do ser. A caverna também podia ter
e do Profeta do Islã (para quem os cavalos são emblemas de felicidade e abastan­ significados obscuros: o reino dos mortos, a entrada do inferno celta ou, na
ça). Cristo é às vezes mostrado a cavalgar um cavalo branco (a cristandade as­ psicologia, desejos regressivos e o inconsciente. De maneira mais comum, como
socia, assim, o cavalo à vitória, à elevação e às virtudes da coragem e da gene­ amplamente expresso nos mitos e ritos iniciáticos, era um local em que se con­
rosidade). O cavalo branco - conforme delineado nas terras calcárias do sul da centravam os poderes de germinação da terra, onde falavam os oráculos, onde
Inglaterra - era um padrão saxão, talvez ligado à deusa celta Epona, que foi leva­ os iniciados renasciam no entendimento espiritual e onde as almas ascendiam
da para o mundo romano como a protetora dos cavalos. O cavalo alado é, do para a luz celeste. Cavernas e grutas sagradas, geralmente em morros ou mon-
tanhas, formavam símbolos axiais da terra ao céu, o foco da força espiritual em (Juno, na mitologia romana) como divindade protetora das mães com filhos
geral representada por uma abóbada em domo, coluna ou linga. O simbolis­ pequenos — a base da fábula ocidental de que as cegonhas trazem os bebês. Na
mo da fertilidade associado a cavernas e diminutos deuses da chuva também arte, cegonhas puxam a carruagem do deus Hermes (Mercúrio) e são mostradas
aparece no México. Os profetas, bem como os deuses e heróis, eram associa­ com freqüência a matar serpentes. A iconografia cristã associa a cegonha à pu­
dos a cavernas ou fendas, tais como a de Labadéia, descrita pelo geógrafo gre­ reza, piedade e ressurreição. Cegonha: ver Fogo, Chama; LONGEVIDADE;
go Pausânias no século II d.C. Nesse local, os que consultavam o oráculo (a Mãe; Sol; Vermelho
voz do rei-arquiteto emparedado Trofônio) colocavam seus pés numa fenda e
eram transportados por túneis horripilantes de indagação para reaparecer ilu­ - Ignorância, auto-engano, a imprudência da “raiva cega” ou do
minados, mas profundamente abalados. A caverna como fonte espiritual tam­ amor sensual — o deus romano com os olhos vendados. Por outro lado, a ceguei­
bém aparece na crença crista: a manjedoura da caverna de Belém foi onde Cris­ ra simboliza justiça (não influenciada por simples aparências) e a visão interior
to nasceu e foi ainda numa caverna em Patmos que João Evangelista teve sua de videntes e poetas. A dicotomia pode existir lado a lado, como na Grécia, on­
visão do apocalipse. Na China, as cavernas tinham significado sagrado como de a deusa Ate representava o mal cego, enquanto o cego Tirésias tinha o dom
locais de sepultamento adequados para imperadores, que nelas poderiam renas­ da profecia. O próprio Homero era, por tradição, cego - assim como o eram
cer. Na mitologia turca, o primeiro homem nasceu numa caverna. muitos bardos na lenda (inclusive Milton, por grande parte de sua vida criativa).
Os ritos mitraístas, realizados em cavernas com regatos, flores e folhagens repre­ Na arte, a cegueira é característica da ignorância, justiça, avareza e destino ou
sentando o mundo criado por Mitra, podem ter introduzido na filosofia grega a fortuna. É alegoria medieval cristã da sinagoga. A cegueira era com freqüência
noção da caverna como metáfora do próprio mundo material. Daí a imagem pla­ o castigo para quem visse (como Tirésias, que viu Atena - Minerva - nua) ou
tônica da humanidade acorrentada numa caverna a ver ilusões - luz refletida de ousasse demais (Sansão, por exemplo). Cegueira: ver FORTUNA; SETE PE­
uma realidade maior que só a mente e o espírito poderiam alcançar. No folclo­ CADOS CAPITAIS; VIRTUDES
re, as cavernas costumam simbolizar objetivos menos éticos — os tesouros de Ala-
dim, por exemplo — protegidos por dragões ou gnomos astutos. Caverna: ver Centauro — Símbolo do ho­
Água; Alma; Anão; Bruxaria; Coluna; Domo; Dragão; Eixo; Iniciação; Labirin­ mem apanhado na armadilha
to; Linga; Luz; Mãe; Mar; Montanha; Mulher; Rio, Regato; Terra de seus impulsos básicos, em
especial a luxúria, a violência
Cedro — A Árvore da Vida na Suméria — símbolo de poder e imortalidade. e a embriaguez. Mostrado pri­
A fragrância, a durabilidade e a altura impressionante (acima de 30 metros) des­ meiro na arte grega como um
se pinheiro fizeram das espécies libanesas um emblema bíblico de majestade e homem com garupa de cava­
incorruptibilidade, seu cerne uma metáfora posterior de Cristo. O cedro foi lo, mas depois como um cavalo
usado para construir o Templo de Salomão e esculpir bustos gregos e romanos com torso e cabeça humanos,
de deuses e ancestrais. Sua reputação de longevidade pode explicar o uso de sua o centauro provavelmente con­
resina pelos embalsamadores celtas. Cedro: ver Árvore; LONGEVIDADE; verteu em mito bandos de ca­
Resina; Templo valeiros sem lei das montanhas Centauros selvagens atormentam uma vítima., de um
da Tessália. De acordo com um vaso PW d° *culo Va. C.
Ceg©üha — No Oriente, emblema popular de longevidade e, no taoísmo, de mito, o mortal Ixion estuprou a nuvem Nefele por acreditar que ela era a
imortalidade. Lá e em outras partes, a cegonha simboliza a devoção filial, pois deusa Hera, esposa de Zeus; Nefele deu à luz o monstro Centauro, cuja bes­
acreditava-se que alimentava seus pais velhinhos, bem como seus próprios fi­ tialidade com as éguas por sua vez produziu os centauros. Com essa lamentá­
lhos. Seus cuidados com jovens e velhos e sua associação à vida nova por ser vel linhagem, os centauros tornaram-se saqueadores selvagens e bêbados, em
ave migratória da primavera levaram-na a ser consagrada à deusa grega Hera geral mostrados com rostos angustiados e a combaterem sem êxito as forças da lei
e da ordem. Como tais, eles representam a paixão sensual, o adultério e a he­ adulto é um emblema solar de fertilidade. Sua galhada em ramos sugeria, nas
resia na iconografia crista. Um mito alternativo e humanizado introduziu uma tradições dos nativos americanos, entre outras, a Árvore da Vida, os raios de
raça de centauros moralmente superiores que descende de Cronos, entre eles sol e, por meio de sua difusão e repetido crescimento, longevidade e renasci­
Quíron, professor sábio, médico e amigo de Héracles (Hércules, na mitologia mento. O veado adulto está associado à virilidade e ao ardor, e, na China, à ri­
romana), cuja flecha envenenada atingiu esse centauro por acidente. O gesto queza e felicidade — seu nome é homônimo da palavra “abundância”.
de Quíron de sacrificar sua própria imortalidade para libertar o herói Prome­ A rapidez é um atributo mais óbvio, além da graça e beleza - daí, talvez, a liga­
teu valeu-lhe um lugar no firmamento como a constelação polar austral Cen­ ção do cervo com a poesia e a música. Outro simbolismo tirado da observação
tauro. Isso pode ser interpretado como metáfora do triunfo da mente sobre o de seus hábitos inclui a solidão nas tradições européia e japonesa (pois o cervo
instinto — forças mantidas em tensão dentro da imagem dinâmica do centauro. vermelho adulto geralmente permanece só). A crença celta de que os cervos eram
Esses híbridos aparecem na mitologia védica como os Gandarvas — virilidade o rebanho de fadas ou divindades, algumas das quais são mostradas com chi­
física combinada com talento intelectual. Centauro: ver ANIMAIS; ANI­ fres, pode ter levado à tradição de que as renas puxam o trenó do Papai Noel.
MAIS MITOLÓGICOS; Cavalo; Flecha; Nuvem; SETE PECADOS CAPI­ Os veados adultos eram os corcéis das divindades hititas, sumério-semitas e
TAIS; Zodíaco xintoístas, e aparecem de maneira mais ampla como mensageiros sobrenaturais
ou guias que mostravam aos heróis a trajetória para alcançar seus objetivos.
Centro — Ponto focal de adoração, essência da divindade, último e eterno esta­ Também se atribuíram aos cervos poderes curativos, sobretudo a capacidade de
do do ser, perfeição. A maior parte do simbolismo da centralidade é auto-evi­ descobrir ervas medicinais. Na arte, um cervo perfurado por uma flecha e car­
dente graças ao fato de que o centro aparece ou está implícito em quase todos os regando ervas na boca era uma imagem da paixão. A Prudência e a Audição
outros símbolos gráficos; que dinamicamente é o ponto central, pivô ou eixo, o também são personificadas pelo cervo.
ponto sobre o qual as linhas de força convergem ou do qual irradiam; isso pode A ligação do cervo com a piedade provém do simbolismo da água e da ser­
simbolizar não só divindade, o objeto do amor ou aspiração, mas também gover­ pente. Os cervos são mostrados esmagando cobras com as patas — destruindo
no e administração. Menos óbvio, o centro é símbolo de totalidade no conceito o mal — na iconografia cristã, e a Bíblia faz uma forte analogia entre a ânsia
metafísico pelo qual um ponto central concentra e contém a energia e o signifi­ do veado adulto por água e o anseio da alma por Deus. Com esse significado,
cado de tudo mais. Centro: ver Círculo; Eixo; Ponto; PONTOS CARDEAIS os cervos são mostrados na pia batismal ou
pintados bebendo aos pés da cruz. A corça
Cereja — Emblema samurai, talvez sugerido pela semente dura dentro da cas­ aparece com menos freqüência, exceto co­
ca e pela polpa cor de sangue. Na China, a cerejeira é considerada árvore da mo um atributo da deusa da caça lunar, no­
sorte, um símbolo da primavera (por florescer cedo) e virgindade. A vulva é tavelmente a grega Ártemis (Diana, na mi­
uma “fonte de cereja”. Na iconografia cristã, a cereja é uma alternativa à maçã tologia de Roma). A corça pode simbolizar
como a fruta do paraíso e às vezes um atributo de Cristo. Cereja: ver Árvore; o princípio feminino nos ritos de passagem
FRUTA; Maçã; Vermelho; Virgindade e era uma figura ancestral popular na Ásia
central — daí a lenda de que os antepassados
CBrVBja — Para os celtas, a cerveja era bebida de governantes e guerreiros, que de Gêngis Khan eram um lobo e uma corça.
se cria ser a bebida dos deuses. No Egito, era dádiva do deus Osíris. Na América Tanto as corças quanto os veados adultos
do Sul, usavam-se cervejas de milho em ritos de passagem para a maturidade. aparecem na mitologia como símbolos de
Cerveja: ver Cevada; Embriaguez; Hidromel transformação. Os alquimistas herdaram es­
te significado da história de Ártemis, que
Cef¥0 — Símbolo universalmente benevolente, associado ao Oriente, amanhe­ transformou o caçador Acteão em cervo pa- Cervo branco, de um painel do
cer, luz, pureza, regeneração, criatividade e espiritualidade. O cervo ou veado ra ser despedaçado por seus próprios cães, Díptico de Wilton (c.1395).
porque este a viu banhar-se. Cervo: ver Água; Alma; Amanhecer; Árvore; Alma; Arco (arma); Arco (arquitetura); Aves; Azul; Chuva; Domo; Estrela; Lua;
Batismo; Chifre; CRUZ; Fadas; Flecha; Galhada; LONGEVIDADE; Luz; Luz; Nuvem; O OUTRO MUNDO; Safira; Sol; Tempestade; Zodíaco
Serpente; Sol; Transformação; VIRTUDES
Cevada - Grão antigo que simboliza fertilidade e vida após a morte, em es­
Cesta — Análoga ao corpo protetor materno, associada tanto ao nascimento pecial na iconografia do Oriente Médio. A cevada era associada no Egito à res­
quanto ao renascimento. Plintos em forma de cesta para imagens dos deuses surreição do deus Osíris, e na Grécia, a Deméter, deusa da
egípcios também sugerem um simbolismo de alta posição; Moisés e os heróis fecundidade, e sua filha raptada Perséfone. Cevada: ver Cer­
bíblicos de outras culturas foram descobertos a flutuar em cestas. Uma cesta de veja; Milho
flores significa esperança, e, na China, longevidade proveitosa. As Três Cestas
(Tripitakd) dividem o cânone budista em regras de disciplina, doutrinas básicas Chá — No zen-budismo, bebida cerimonial associada à medi­
e doutrinas mais elevadas. Três cestas de sabedoria também aparecem na mito­ tação intensa, simbolismo sustentado por uma lenda japo­
logia maori, trazidas do céu pelo deus Tane. Cesta: ver FLORES; Mãe; Mulher nesa de que a primeira planta de chá cresceu das pálpebras
do bodhidarma em meditação, que as cortou para permane­
Cetro - A exemplo do bastão, emblema de fertilidade do poder criativo e da cer desperto. As qualidades enfatizadas na etiqueta da ceri­
autoridade, mas com uma decoração mais ornamentada e associado aos deuses mônia do chá são pureza, harmonia, tranqüilidade e a bele­
ou governantes supremos. O cetro geralmente implica poder real ou espiritual za da simplicidade.
para ministrar justiça, inclusive punição. Assim, o cetro do faraó do Egito era
encimado pela cabeça do violento deus Seth. Outros cetros estão ligados espe­ Chacal — Necrófago que cheira mal, simboliza a destruição ou
cificamente à força criativa e destrutiva do trovão com raio — em particular o o mal na índia, mas no antigo Egito era adorado como Anú-
O deus de cabeça
“cetro diamante” ou vajra das tradições hinduísta e budista e o dorje tibetano. bis, o deus do embalsamento, que levava as almas a julga­
de chacal Anúbis,
Esses cetros simbolizam tanto o domínio espiritual indestrutível quanto à sa­ mento. Anúbis é mostrado como um chacal negro ou como
de um antigo pa­
bedoria ou iluminação compassiva. O cetro de ébano de Roma era encimado uma figura humana com cabeça desse animal. Chacal: ver O
piro egípcio.
pela águia da supremacia e imortalidade. Topos esféricos simbolizavam autori­ rrnn a /n TMnn
dade universal, como no cetro dos monarcas britânicos com orbe e cruz. Na
China, o cetro budista, o ju-i, era considerado símbolo de benção celestial — o Chacra - O poder da consciência interna. Na doutrina tân-
significado de sua apresentação para a família da noiva - ou da reverência de­ trica, os chacras são “rodas” de energia vital, situadas ao longo
vida aos mais velhos. Cetro: ver Águia; Bastão; CRUZ; Globo, Orbe; Trovão da espinha dorsal. Ativados pela recitação de palavras sagra­
das na meditação, eles impulsionam um fluxo de energia psi­
Céu — Universalmente associado às forças sobrenaturais, é símbolo de superio­ cológica e espiritual da base da espinha para cima, para abrir
ridade, domínio, ascensão espiritual e aspiração. A influência fertilizadora do o “lótus de mil pétalas” no alto da cabeça. Chacra: ver Kun-
Sol e da chuva, a eterna presença das estrelas, a maré puxada pela Lua, as for­ dalini; Lótus; Roda
ças destruidoras das tempestades, tudo isso ajudou a se estabelecer o céu como
a fonte do poder cósmico. Com poucas exceções, sobretudo na mitologia egíp­ Chaminé — Foco tradicional não só da vida familiar, mas da
cia, o céu era um símbolo masculino ou yang, em geral considerado como tendo comunicação com as forças sobrenaturais. Seu simbolismo axial Os chacras posicio­
se separado da terra feminina para permitir o desenvolvimento da vida terrestre. data dos buracos de fumaça abertos das tendas dos nômades. nados ao longo do
O paraíso (em geral, mas nem sempre, imaginado como localizado acima da ter­ Daí sua importância no folclore como rota de saída da casa pa­ corpo, de um diagra­
ra) era na maioria das tradições uma região do céu arrumada em camadas atra­ ra as bruxas e de entrada para os espíritos bondosos, como Papai ma indiano do co­
vés das quais a alma poderia ascender em direção à luz e à paz últimas. Céu: ver Noel. Chaminé: ver Bruxaria; Eixo; Fogo, Chama; Fumaça meço do século XIX.
Cliawe — Autoridade, poder de escolha, ato de entrar, Chifre — Força, virilidade, fertilidade, supremacia — os potentes símbolos dos
liberdade de ação, conhecimento, iniciação. Chaves deuses, governantes, heróis ou guerreiros bárbaros. Para os antigos, os chifres
de ouro e de prata cruzadas em diagonal constituem de touros, vacas, carneiros, bodes e bisões eram a expressão coroada do espírito
emblema papal de autoridade, as simbólicas “chaves lutador masculino e vitalidade fálica, e também do poder protetor e reprodutor
do reino do céu” que Cristo deu a Pedro. Na tra­ feminino. Daí a popularidade e o status das divindades com chifres, sobretudo
dição romana, as chaves ficavam de modo seme­ nas tradições baseadas na criação de gado ou na caça. Representações anterio­
lhante na mão esquerda de Jano, guardião das res de figuras com chifres em pinturas nas cavernas provavelmente registram
portas e portões que, segundo se cria, controla­ invocações xamanistas de êxito na caça. As simpatias também podem ter sido
va a passagem do dia para a noite e do inverno invocadas pelos elmos de guerra com chifres dos nórdicos, teutônicos e gaule­
para o verão. Embora as chaves possam tanto ses, destinados a inspirar ferocidade animal e aterrorizar os inimigos. No exér­
trancar quanto destrancar, são quase sempre cito romano, concedia-se como prêmio de distinção por bravura uma conde­
símbolos visuais de acesso, liberação ou, nas coração com chifres, o corniculum. De maneira semelhante, como ocorria entre
iniciações, progresso de um estágio de vida os povos nativos da América do Norte, penteados decorados com chifres eram
para o próximo (donde a antiga e formal “cha­ reservados para os líderes corajosos.
ve da porta” que o jovem recebe quando atin­ Visto como um recipiente, em vez de arma, o chifre se torna feminino, mas re­
ge a idade adulta, aos 21 anos). A cruz ansata tém seu simbolismo subjacente de poder. Assim, o lendário Chifre da Abun­
(ankh) egípcia, cruz semelhante a uma chave, dância (Cornucópia) não podia ser esvaziado. Acreditava-se que os chifres para
simboliza a passagem para a outra vida. As cha­ beber, utilizados de maneira ritual para consumir hidromel ou vinho, confe­
ves são com freqüência emblemas de cargo ou riam potência. Os chifres em forma de lua crescente com freqüência simboli­
de liberdade de uma cidade. No Japão, eram zam as deusas da maternidade, como Hator, do Egito, representada com cabeça
símbolos de prosperidade, ao significarem as São Pedro segura a chave do portão de vaca ou cabeça humana com chifres. Os chifres curvos de touros e vacas que
chaves do celeiro de arroz. Chave: ver Cruz do céu. Detalhe de O sono da abrigam o disco do Sol (representados em Mali por uma abóbora) retratam
Ansata; Iniciação; O OUTRO MUNDO; Ou­ Virgem (relevo em pedra do século tanto o poder lunar quanto o solar. Os chifres de carneiros são especificamente
ro; Prata XIII, Notre Dame, Paris). solares — como em imagens de Amon, que se tornou o deus governante do Egito
e cujos chifres enrolados foram adotados por Alexandre, o Grande, “Filho de
Chicote, fi/languai - Poder, exorcismo, autoridade - sobretudo judicial. Amon”, como símbolo de seu poder imperial. No Grande Templo de Jerusalém,
No Egito, o mangual, mais uma ferramenta de debulha do que arma de puni­ chifres sagrados untados com sangue sacrificial guarneciam as quatro extremida­
ção, era um emblema de poder, julgamento e também de fertilidade (como um des do altar como emblemas do poder de Jeová, que tudo abrange.
atributo do deus do vento ictiofálico, Min). Todo esse simbolismo, inclusive o O shofar (chifre de carneiro) hebreu, usado como sinal de advertência pelos
sexual, associa-se ao chicote. O festival romano das lupercais caracterizava-se antigos israelitas, era outro símbolo de poder de proteção, e a palavra “chi­
pelos sacerdotes jovens que corriam de um lado para o outro golpeando as mu­ fres” aparece com freqüência na Bíblia como símbolo de força ou, no Novo
lheres com correias para expulsar a esterilidade. Cristo simbolizou sua autori­ Testamento, de salvação. A cristandade, no entanto, logo voltou-se contra a
dade espiritual usando um chicote para enxotar os vendilhões do templo. (Na adoração pagã do chifre, que se tornou, na arte medieval, a marca de Satã e
arte, o chicote também é emblema da Paixão de Cristo.) seus seguidores chifrudos. Os chifres também identificaram o marido enga­
Chicotear era um popular meio medieval de expulsar o demônio das bruxas e nado — possivelmente pela associação com o gamo que perde sua fêmea pa­
de mortificar os penitentes. Os reis eram punidos simbolicamente usando um ra um macho mais forte. Em psicologia, os chifres podem ter ligação com a
“bode expiatório” como dublê. O uso moderno de chicote no Islã é em geral divergência — como na expressão inglesa the horns (chifres) of a dilemma,
uma punição mais simbólica que física. Chicote, Mangual: ver Bruxaria; Rei (ou, em português, “nas garras de um dilema”). Chifre: ver Bode, Cabra;
Búfalo; Bisão; Carneiro; Cornucópia; Crescente; Demônios; Elmo; Galha­ tros anfíbios, criaturas lunares como o caranguejo e a aranha, cães (associados
da; Hidromel; Lua; Mãe; Sol; Touro; Vaca aos deuses do vento) e, de maneira mais estranha, o gato, o camaleão, a vaca, o
elefante, o papagaio e o peru. Chuva: ver Água; Anão; Arco-Íris; Aranha; Ave­
Chumbo — Metal básico da alquimia e, portanto, metáfora da humanidade no leira; Camaleão; Cão; Caranguejo; Corda; Dança; Dragão; Elefante; Esmeralda;
nível mais primitivo de desenvolvimento espiritual. Seu simbolismo mais geral Gato; Incenso; Lua; Língua; Maçara; Machado; Martelo; Nuvem; Pandeiro;
de peso bruto está ligado não só ao peso físico, mas à antiga associação com o Papagaio; Pena; Pente; Peru; Preto; Rã; Raio; Sangue; Sapo; Serpente; Tamarga;
deus Cronos (Saturno, para os romanos). Belerofonte jogou chumbo goela abai­ Tempestade; Touro; Triângulo; Trovão; Vaca; Verde; Yin-Yang
xo do monstro Quimera, que se sufocou quando o metal se derreteu com a res­
piração abrasadora da besta, o que talvez tenha resultado na crença de que o Cigarra - Imortalidade - um símbolo provavelmente derivado de sua aparên­
chumbo tenha poder protetor. Chumbo: ver Alquimia; METAIS; Quimera cia dessecada e longo período de vida. Na Grécia, onde era consagrada ao deus-
sol Apoio, esses aspectos eram combinados no mito de Titono, um mortal
Chuva - Símbolo vital de fecundidade, em amado por Eos (o amanhecer; Aurora, na mitologia romana), cuja ambrosia o
geral associado nas sociedades agrícolas pri­ mantinha vivo mas não podia impedir que envelhecesse. Num gesto de pieda­
mitivas ao sêmen divino, como no mito grego de, ela o transformou numa cigarra. As cigarras de jade chinesas eram usadas
em que o deus Zeus engravidou Dânae, mãe como amuletos dos mortos. Cigarra: ver Amuleto; Jade; LONGEVIDADE
de Perseu, na forma de chuva dourada. A
crença tradicional de que os deuses decidem Cinco - O número humano — em geral representado de modo gráfico por um
se retêm ou não a chuva, desencadeiam-na homem cuja cabeça e membros estendidos formam uma estrela de cinco pon­
com força punitiva ou a borrifam docemente tas ou, de maneira geométrica, pelo pentagrama, também chamado de pentá-
como uma benção nunca desapareceu por in­ culo, desenhado com linhas que cruzam os cinco pontos. Além de sua associação
teiro. A chuva fraca (comparada à misericór­ emblemática com o microcosmo humano (e a própria mão), o número cinco
dia por Portia em O Mercador de Veneza, de era importante símbolo de totalidade nas tradições chinesa, japonesa, celta e
Shakespeare, c.1596) era vista pela maioria O deus da chuva asteca, Tlaloc, em outras que incluíam o centro como uma quinta direção de espaço. Outras
de um códice centro-americano.
como sinal de aprovação divina ou, na China, associações são com o amor, saúde, sensualidade, meditação, análise, crítica,
de harmonia entre yin e yang na esfera celestial. O deus supremo da fertilida­ força, integração, crescimento orgânico e coração. De acordo com o misticis­
de dos astecas, Tlaloc (ou Chac, no panteão maia), era um deus da chuva cujo mo pitagórico, o cinco, como o sete, era um número holístico que casa o três
motivo era uma barra com dentes semelhantes aos do pente para representar a (céu) com o dois (terra), e era fundamental na natureza e na arte. No mundo
chuva a cair. Para ele, sacrificavam-se crianças no alto das montanhas; o san­ clássico, estava em geral associado a Afrodite (Vénus, na mitologia romana),
gue e as lágrimas delas eram interpretados como sinais promissores da chegada deusa do amor e casamento. A associação ao amor e sexo pode basear-se no nú­
de chuvas. mero masculino três com o feminino dois. Ou pode derivar de uma tradição
Uma associação semelhante entre o sangue e a chuva aparece na mitologia do mesopotâmica mais antiga na qual a estrela de cinco pontas era um emblema
Irã, onde o deus da chuva Tishtria, na forma de um cavalo branco, é alimen­ de Ishtar, cujo planeta era Vénus, a estrela primária da manhã e do entardecer.
tado pelos sacrifícios enquanto combate o cavalo negro da seca. A origem celes­ Ishtar era uma deusa não só do amor mas também da guerra, e a estrela de cinco
te da chuva fez dela emblema de pureza, donde realizavam-se com freqüência pontas permanece proeminente na insígnia militar moderna.
rituais de purificação para invocar sua queda. Na dança da chuva, uma clara Também no México, o deus asteca da estrela-d’alva, Quetzalcoatl, estava asso­
simpatia, o bater dos pés imitava o tamborilar das gotas na terra. Além do ma­ ciado ao número cinco. Ele ascendeu do reino dos mortos (também ligado ao
chado, do martelo e do raio (uma chuva de fogo ou luz), os símbolos da chuva cinco) no quinto dia, tradicionalmente o dia em que os primeiros brotos de
incluem a serpente ou a serpente com chifres, o dragão, na China, sapos e ou­ grão aparecem depois de semeados. Ampliando o significado desse número, os
astecas viam sua própria era como a do “Quinto Sol”. Na índia, a estrela de
CÍHM — Abnegação, humildade, melancolia, indiferença e, na terminologia
cinco pontas era emblema de Shiva, que às vezes é mostrado com cinco faces.
O cinco era um emblema budista japonês de perfeição. Na China, onde o cinco moderna, sinônimo de monótona sobriedade — possivelmente porque, apesar
de sua beleza sutil, é o matiz em geral mais considerado como sem cor. Só na
era símbolo do centro, seu significado era ainda maior: além das cinco regiões do
tradição hebraica é que parece estar associado à sabedoria da idade. Como a
espaço e cinco sentidos, dizia-se haver cinco elementos, metais, cores, tons e gos­
cor das cinzas, era às vezes associado à morte, ao luto e à alma. Nas comuni­
tos. Na iconografia crista, o cinco refere-se ao número de chagas de Cristo. Era
dades religiosas cristãs, simboliza a renúncia. Cinza: ver Alma; Cinzas; MOR­
um número benéfico e protetor no islã, religião cujos cinco fundamentos são fé,
TE; SABEDORIA
oração, peregrinação, jejum e caridade. Cinco era símbolo de força no judaísmo
e o número da quintessência na alquimia. O número quinhentos também tinha
peso simbólico - como na asserção de São Paulo de que o Cristo ressuscitado re­
Cinzas - Extinção, perda, renúncia, penitência e, em algumas culturas, parti­
velou-se a mais de 500 pessoas (1 Corindos 15:6). Cinco: ver Centro; ELE­ cularmente a nativa americana, símbolo que também invoca um renascimento
semelhante ao da Fênix. O ato de untar o corpo com cinzas tem esse significa­
MENTOS; Estrela; Homem; Mão; NÚMEROS; Pentagrama, Pentáculo; PLA­
do nos ritos de passagem de algumas tribos africanas. Tanto na tradição hebraica
NETAS; PONTOS CARDEAIS; Quintessência; Sete; Três
quanto na árabe, as cinzas constituem uma marca de pesar. Os iogues indianos
untam-se de cinzas para significar sua renúncia às vaidades terrestres. Cinzas:
Cinturão, Cinto - Fidelidade, castidade, força, preparo para a ação. No
ver Fênix; Iniciação
sentido antigo de cinto ou faixa, o cinturão adquiriu um considerável e varia­
do simbolismo porque era usado não só para manter juntas as peças de roupa
(daí um emblema da castidade feminina), mas também para carregar armas, Cipreste — Símbolo ocidental enigmático da morte e do pranto. Como outros
tipos de vegetais perenes, na Ásia e em outros lugares é emblema da longevidade,
provisões, dinheiro, ferramentas e outras coisas. Pôr de lado o cinturão impli­
resistência e mesmo imortalidade (era a Árvore da Vida dos fenícios). Na Grécia,
cava reforma do serviço militar (em Roma, por exemplo) — o oposto da expres­
seu simbolismo dual como atributo do sombrio deus Hades, bem como de divin­
são inglesa, aplicada a guerreiros ou viajantes, to gird up one’s loins (literalmente,
“cingir o lombo”, que significa “arregaçar as mangas”, “preparar-se para a luta dades mais alegres como Zeus, Apoio, Afrodite e Hermes, pode não significar
nada mais do que isso: sua forma sombria fez dele uma imagem funerária adequa­
ou um empreendimento”). Seu simbolismo sexual variou da fidelidade conju­
da de vida depois da morte. Cipreste: ver Árvore; LONGEVIDADE; MORTE
gal (um cinturão de lã de ovelha dado pelos romanos às suas noivas) à sedução
(dizia-se que o cinturão mágico da deusa grega Afrodite, ou Vénus, na mito­
logia romana, tornava quem o usasse irresistível aos homens). Os cinturões Círculo — Totalidade, perfeição, unidade, eternidade - símbolo de completude
que pode incluir as idéias tanto de permanência quanto de dinamismo. A corre­
mágicos aparecem na mitologia como emblemas de força (o cinto de Thor, que
dobrava o poder de seus músculos). lação entre as descobertas da física atômica e a noção mística do círculo é ad­
Originários dos cinturões ornados da cavalaria, os cinturões cerimoniais mirável. Afora o ponto ou o centro, com o qual compartilha a maioria de seu
simbolismo, o círculo é a única forma geométrica sem divisões e semelhante
eram concedidos como emblemas de honra na Inglaterra; daí o “conde cin­
gido”. Os cinturões de corda dos monges aludem à amarração e açoite de Cristo; em todas suas partes. Para os neoplatonistas, o círculo incorporava Deus, o
centro incircunscrito do cosmo. Como o círculo, que também pode represen­
o cinturão franciscano tem três nós, que significam obediência a Cristo e os
tar uma esfera, é uma forma potencialmente sem começo nem fim, é o mais
votos de pobreza e castidade. O cingulum sacerdotal usado na missa católica
importante e universal dos símbolos geométricos no pensamento místico. E
romana também simboliza castidade. O simbolismo do círculo faz do cintu­
rão hindu um emblema dos ciclos de tempo e também pode contribuir para como está implícito em outros símbolos importantes, como a roda, o disco, o
anel, o relógio, o Sol, a Lua, o ouroboros e o zodíaco, seu simbolismo geral di­
os cinturões da invisibilidade que às vezes aparecem no folclore mais ampla­
ficilmente tem menor significação.
mente. Cinturão, Cinto: ver Anel, Aliança; CASTIDADE; Círculo; Corda;
FIDELIDADE; Nó; Zodíaco Para os antigos, o cosmo observado apresentava-se inescapavelmente como cir­
cular - não só por causa dos próprios planetas, incluindo o suposto disco pia-
no da terra cercada por águas, como também por seus movimentos cíclicos e cúpulas circulares incorporam o simbolismo celeste da decoração arredon­
pelos ciclos recorrentes das estações. O significado e a função simbólicos com­ dada nas igrejas românicas ou nos templos pagãos à arquitetura baseada no
binavam-se no uso do círculo para calcular tempo (relógio solar) e espaço (pon­ quadrado, cruz ou retângulo. “Tornar o círculo quadrado” (a tarefa impos­
tos de referência direcional, astrológico ou astronômico). O simbolismo do sível do ponto de vista geométrico de formar um
céu e a crença no poder celeste formaram a base de rituais e arquiteturas pri­ círculo a partir de uma série de quadrados) era
mitivos em todo o mundo - danças circulares ou caminhada cerimonial em uma alegoria renascentista e alquímica da difi­
volta de fogos, altares ou postes, a passagem circular do cachimbo da paz na culdade de construir a perfeição divina com mate­
América do Norte, o rodopio dos xamãs, a forma circular de tendas e acampa­ riais terrestres. Inversamente, a imagem cabalística
mentos, marcos megalíticos circulares e fortificações ou monumentos anelados de um círculo dentro de um quadrado simboli­
do período neolítico. Os círculos tinham significado protetor e celeste, nota­ za a centelha divina dentro do corpo material.
velmente no mundo celta - e ainda o têm no folclore de anéis de cogumelos Círculo: ver Alquimia; Anel, Aliança; Anjos; Asas;
onde supostamente dançavam as fadas e nas especulações acerca dos discos Cachimbo da Paz; Centro; Céu; Chacra; Circun-
voadores. Também representam a harmonia inclusiva, como naTávola Redonda giro; Cruz Ansata (Ankh); Dança; Disco; Domo;
do rei Artur ou o “círculo encantado” (expressão inglesa que significa “grupo Esfera; ESTAÇÕES; Fogo, Chama; Globo, Or­
marcado pela exclusividade”) de amizade amplamente usado na linguagem be; Lua; Mandala; Mulher; Ouroboros; O OU­ Três círculos entrelaçados,
moderna. Círculos entrelaçados (como no emblema olímpico moderno) são TRO MUNDO; PLANETAS; Ponto; Quadrado; de uma ilustração cristã
outro símbolo de união. Relógio; Roda; Sol; Távola Redonda; Trindade; que representa o Pai, o
O dinamismo é acrescentado ao círculo nas muitas imagens de discos com Yin-Yanp: Zodíaco Pilbn 0 n fchiritn S/tnt/i.

raios, asas ou chamas encontradas na iconografia religiosa, sobretudo na suméria,


egípcia e mexicana. Esses elementos simbolizam o poder solar ou as forças cós­ Circuncisão — Ritual antigo, muito difundido - à exceção do norte da
micas criativas e fertilizadoras. Os círculos concêntricos podem representar Europa, Mongólia e índia hinduísta —, com significados iniciáticos e sacrificiais,
hierarquias celestes (como no coro de anjos que simboliza o céu na arte renas­ além de higiênicos. O mandamento hebreu de circuncisar os meninos oito dias
centista), níveis no outro mundo ou, no zen-budismo, estágios do desenvolvi­ após o nascimento parece ter tido importância tanto higiênica quanto simbó­
mento espiritual. Três círculos podem representar a Santíssima Trindade cristã, lica, de iniciação das crianças numa comunidade escolhida por Deus. Na cris­
mas também a divisão do tempo, os elementos, as estações ou o movimento tandade, o rito sacramental do batismo substituiu esse simbolismo iniciatório,
do Sol e as fases da lua. O círculo pode ser masculino (como o Sol), mas tam­ e a circuncisão não foi prescrita. Em outro lugar, a circuncisão na puberdade é
bém feminino (como o útero maternal). Um círculo (feminino) sobre uma cruz um rito de passagem para a idade adulta, em geral tanto para as mulheres
(masculino) é símbolo de união no Egito, também conhecido no norte da quanto para os homens. Já se sugeriu a existência de um simbolismo sacrificial
Europa, no Oriente Médio e na China. O símbolo chinês yin-yang da interde­ mais antigo ainda, em que a circuncisão representa uma oferenda de sangue -
pendência masculina e feminina usa duas cores dentro de um círculo, dividido uma parte significativa do corpo reservada na esperança da imortalidade. Uma
por uma curva em S, cada parte incluindo um círculo menor da cor oposta. Um suposição alternativa é que a circuncisão, masculina e feminina, era uma ten­
ponto dentro de um círculo é símbolo astrológico do Sol e alquímico do ouro. tativa de esclarecer as diferenças sexuais, o prepúcio sendo visto como um aspec­
O círculo combinado com o quadrado é símbolo arque típico junguiano da re­ to feminino dos homens, e o clitóris como um aspecto masculino das mulheres.
lação entre a psique ou o ego (círculo) e o corpo da realidade material (qua­ Circuncisão: ver Andrógino; Batismo; Iniciação; Sacrifício
drado). Essa interpretação é sustentada por mandalas budistas, nas quais os
quadrados dentro de círculos representam a passagem do plano material para Circungiro - O ritual de andar em volta de um objeto sagrado, ou definir
o espiritual. Tanto no pensamento ocidental quanto no oriental, o círculo com e santificar um espaço mediante sua transformação num circuito, imita os ci­
um quadrado dentro representa o céu a encerrar a Terra. Domos, abóbadas ou clos solar e astral e presta homenagem às forças celestiais e ao simbolismo pro-
tetor do círculo. Num exemplo famoso realizado em Meca, os peregrinos dão Codorna — Calor, ardor e coragem — simbolismo baseado na coloração mar-
sete voltas em torno da Caaba (o cubo sagrado). A circungiro budista de um rom-avermelhada da ave, bem como em sua combatividade e aparecimento
templo coloca o devoto sintonizado com o ritmo cósmico e simboliza a pro­ migratório no início do verão. A codorna estava ligada à ilha grega de Delos,
gressão para o autoconhecimento e a iluminação. A direção do circungiro hin- lugar mítico de nascimento do deus solar Apoio e da caçadora Ártemis. A co­
duísta e budista Pradakshina é no sentido dos ponteiros do relógio (seguindo dorna era emblema de valor militar tanto na China quanto em Roma. Os chi­
a trajetória aparente do Sol em volta do hemisfério norte); já a abordagem sim­ neses associavam-na ao sul, ao fogo e ao verão. Sua associação à luz parece con­
bólica do Sétimo Céu pelos muçulmanos em Meca tem orientação anti-horá­ firmar-se com o mito indiano das divindades gêmeas Ashvin, que libertaram
ria (como a roda polar das estrelas). Circungiro: ver Caaba; Círculo; Roda uma codorna (que simbolizava o verão) da boca de um lobo (inverno). Por voar
à noite, a codorna foi associada à bruxaria na Europa, embora constituísse em
Cisne - Símbolo romântico e ambíguo de luz, morte, transformação, poesia, geral um bom augúrio, sobretudo para os israelitas, que se alimentaram dela
beleza e paixão melancólica, com especial influência na literatura, música e ba­ no deserto durante o Êxodo. Codorna: ver ESTAÇÕES; Fogo, Chama; Lobo;
lé ocidentais. Como emblema masculino e solar da luz, o cisne branco tornou- Luz; Vermelho
se o herói resplandecente da ópera Lohengrin (1848), de Wagner, e outros contos
do cavaleiro-cisne. Como emblema da suavidade, beleza e graç^. femininas, Coelho - ver Lebre, Coelho
tornou-se a heroína do balé de Tchaikovsky, Lago dos Cisnes (1876). Do mes­
mo modo, na mitologia clássica, o cisne era atributo da deusa grega da beleza, CogysnmeSo — Vida a partir da morte, um importante símbolo de longevida­
Afrodite (Vénus, na mitologia romana), e de Apoio como deus da poesia, profe­ de e felicidade na China e o alimento lendário dos imortais na tradição taoísta.
cia e música. A fábula grega em que os cisnes cantam uma última música de be­ Em algumas regiões da Europa central e da África, os cogumelos personificam
leza sobrenatural ao morrer reforçou a associação do cisne à poesia e associou-o as almas dos renascidos. Seu aparecimento mágico repentino e talvez o uso de
também à morte, como na lenda finlandesa do Cisne de Tuonela, em que a ave algumas variedades como alucinógenos podem ser responsáveis por associações
personifica as águas do mundo subterrâneo. folclóricas com o sobrenatural, levando à noção de casas de duendes ou locais
O tema persistente de transformação no simbolis­ de reunião de bruxas. O formato do cogumelo, outrora ligado à
mo do cisne é prefigurado no mito em que o deus potência fálica, tornou-se o mais vigoroso símbolo apocalíptico
grego Zeus (Júpiter) se disfarçou de cisne para da era nuclear. Cogumelo: ver Alma; Anel, Aliança; Bruxa­
raptar Leda. Por meio desses mitos, o cisne evo­ ria; Fadas; Falo; LONGEVIDADE
luiu para tornar-se um símbolo de paixão alcan­
çada e de diminuição ou perda do amor. O cisne Coiotfâ — Engenhosidade criativa ou maliciosa. Entre
está ligado com a inspiração do bardo na tra­ os nativos da América do Norte, o coiote é o grande
dição celta (em que é quase intercambiável trapaceiro - um transformador e inventor hábil e ardilo­
com o ganso) e está em geral associado so, que age em nível às vezes de mitologia cósmica, às ve­
na iconografia à harpa e ao outro zes de fábula, e que, de acordo com cada uma das dife­
mundo dos seres espirituais. Um rentes tradições, traz benefício ou desastre para a huma­
par de cisnes, ligado por uma cor­ nidade. Os navajos, que temiam matar coiotes, diziam
rente de ouro ou prata, puxa a que esse animal acompanhou o primeiro homem e a
barca do Sol celta. Cisne: ver Aves; primeira mulher no mundo, mas que teve a precaução Coiote, o trapaceiro, de
Cavaleiro, Ganso, Harpa, Luz, Leda e o Cisne, com os Dióscuros no solo ao la- de trazer consigo sementes para obter alimento; os sho- uma gravura nativa nor­
MORTE; O OUTRO MUNDO; do, de uma cópia do século XVI de uma pintura shonis e outras tribos do oeste americano diziam que o te-americana, séculos XI
Sol; Transformação perdida de Leonardo da Vinci. coiote era responsável pela morte, além de outros ma­ a XIII.
les naturais (inverno, enchentes); os sioux diziam que inventou o cavalo. O coio- sete colunas de acordo com o Livro dos Provérbios. Cinco colunas da devoção
te mítico é, pois, um animal de muitos recursos, cujos erros e acertos explicavam marcam o verdadeiro seguidor do islã. Duas colunas gigantes, chamadas Jachin
a condição da vida num universo incerto. Coiote: Transformação; Trapaceiro e Boaz, flanqueiam o pórtico do Templo de Salomão, um símbolo de estabilida­
de na dualidade - depois adotado como emblema maçónico de justiça e bene­
Colar - Ligação e união. Símbolo com significado sexual nas culturas em que o volência. Na arte, a coluna é atributo da Fortaleza e da Constância, e é com es­
pescoço tinha associações eróticas. Em partes da África, ornamentos de pescoço se simbolismo que Cristo aparece preso a uma coluna nas cenas de sua flagelação.
extravagantes eram símbolos de status. Colar: ver Casamento; Corrente; Grilhões Os heróis de força e coragem lendárias estavam associados a colunas - o irlan­
dês Cúchulainn cingiu-se a uma coluna para morrer de pé; Sansão morre der­
Colher de Pedreiro - Importante símbolo de iniciação na maçonaria, rubando as colunas do templo filisteu; Héracles apruma a rocha de Gibraltar
que vincula os novos irmãos à fraternidade e às suas regras de segredo. De ma­ e a cidadela de Ceuta como colunas do mundo civilizado, mantendo os mons­
neira mais ampla, na qualidade de instrumento usado para juntar blocos de tros fora do Mediterrâneo e os homens prudentes dentro. O esquema heráldico
construção, pode aparecer na arte como o atributo do Criador. Colher de Pe­ ostentatório de Carlos V mostrava as Colunas de Héracles com as palavras plus
dreiro: ver Iniciação ultra (“mais além”), numa referência aos domínios espanhóis nas Américas.
Coluna: ver Águia; Árvore; Carneiro; Coroa; Eixo; Fogo, Chama; LIBERDA­
Colméiã - Trabalho coletivo - símbolo protetor e maternal de esforço ordena­ DE; Lua; Mastro Enfeitado; Obelisco; Sol; Tirso; VIRTUDES
do. Na arte cristã, a colméia aparece como imagem da comunidade monástica,
atributo de eloqüentes líderes religiosos da Idade de Ouro. Colméia: ver Abelha Comediante - ver Palhaço

Coluna - Símbolo geral óbvio de sustentação, mas também eixo sagrado e Cometa - Presságio de catástrofe. Os astrólogos antigos viam qualquer even­
emblema de poder divino, energia vital, ascensão, firmeza, força e estabilidade to celeste incomum com apreensão, e o aparecimento de um cometa agourava
- terrestre e cósmica. Uma coluna ou poste quebrado era símbolo de morte ou desastres como guerras, pragas, seca, fome, incêndios ou a queda de reis. Assim,
caos não só na arte ocidental, mas também entre os aborígines da Austrália. As a personagem Calpúrnia, em Júlio César, de Shakespeare (2:2; c.1600), diz:
colunas soltas tinham em geral no mundo antigo significados emblemáticos es­ “Quando o indigente morre, não se vêem cometas,/Os próprios céus resplan­
pecíficos, o que também ocorria às vezes com as colunas arquitetônicas. Num decem diante da morte dos príncipes.” Cometa: ver Zodíaco
nível primitivo, as colunas de madeira ou pedra costumavam representar as Ár­
vores do Mundo (como a Irmensul alemã) ou os deuses supremos. Duas colu­ Compasso - Emblema da geometria, arquitetura, astronomia e geografia, e
nas gravadas com águias eram foco de adoração a Zeus no monte Licaão, na símbolo muito usado na arte medieval e do Renascimento como resumo visual
Arcadia. No Egito, o poste djed (coluna adornada com quatro capitéis) represen­ de abordagem raciocinada e medida. O compasso também pode personificar,
tava a coluna vertebral do deus Osíris, canalizando de maneira simbólica seu flu­ por extensão, virtudes associadas, como justiça, prudência e maturidade. Na
xo de vida imortal. Os deuses mesopotâmicos ou fenícios eram igualmente re­ China, representava retidão. Como o compasso era usado para delinear círculos
presentados por colunas, às vezes encimadas por emblemas como a cabeça de (de simbolismo celeste), estava em geral associado ao esquadro (que significa
carneiro do grande Ea. Em Cartago, três colunas simbolizavam a Lua e suas fa­ Terra) em imagens que representam a relação entre espírito e matéria. Deus, co­
ses. O papel da coluna como símbolo da comunicação com as forças sobrenatu­ mo o arquiteto do universo, às vezes aparece com o compasso a estabelecer os
rais também está claro nas culturas pré-colombianas, como em Machu Pichu, limites da Terra ou do tempo. Com o mesmo significado, o compasso é tam­
onde os sacerdotes incas ritualmente “atavam” seu deus solar a uma coluna. bém atributo de Saturno, o que leva a uma ligação inesperada entre o compas­
No Livro do Êxodo, o Deus dos israelitas guia seu povo através do Sinai como so e a melancolia saturnina. William Blake, em sua famosa pintura Newton, dá
uma coluna de fogo. A coluna de fogo também é símbolo do Buda. No hin- uma torcida no simbolismo do compasso ao usá-lo para atacar a tentativa dos
duísmo, uma coluna com uma coroa simboliza o Caminho. A Sabedoria tinha cientistas de quantificar a criação. Compasso: ver Círculo; VIRTUDES
Concha — Símbolo auspicioso, erótico, lunar e feminino, associado à concep­ ção transfixado pela flecha de
ção, regeneração, batismo e, em muitas tradições, à prosperidade - talvez por Eros (Cupido) era outro tema
intermédio do simbolismo da fecundidade baseado em sua associação com a renascentista que se tornou o
vulva. Conchas apreciadas eram uma forma de moeda na Oceania. A concha motivo do Dia de São Valentim
é um dos oito símbolos de boa sorte no budismo chinês. Como símbolos do — festival realizado em meados
mundo subterrâneo e da ressurreição, as conchas às vezes foram sinais funerá­ de fevereiro, de raízes pagãs, e
rios. Mais recentemente, a concha tornou-se símbolo de introspecção ou reco­ não cristãs. Na iconografia, o co­
lhimento. Concha: ver Batismo; Búzio; Cauri; Ostra; Vieira; Vulva ração assume a forma de um
vaso, ou é representado grafica­
Cone - Fertilidade - forma geométrica que sugere simbolismo sexual mascu­ mente por um triângulo inverti­
lino e feminino, círculo e triângulo, torre e pirâmide. Era atributo da deusa do, simbolizando algo em que o
semita Astarte. Cone: ver Círculo; Falo; Pirâmide; Torre; Triângulo amor é vertido ou carregado; A pesagem do coração de um morto em comparação
nesse sentido, é ligado ao Santo com uma pluma, de um antigo papiro egípcio.
Contas — ver Rosário Graal. Coração: ver Alma; Cáli­
ce; Centro; Flecha; Fogo, Chama; O OUTRO MUNDO; Olho; Prego; San­
Coração - Fonte simbólica da afeição — amor, compaixão, caridade, alegria gue; Sol; Taça; Triângulo; Vaso; VERDADE; VIRTUDES
ou pesar mas também iluminação espiritual, verdade e inteligência. Era com
freqüência igualado à alma. Muitas tradições antigas não faziam distinção mui­ Corai — Poder de cura — simbolismo baseado nos simbolismos da árvore, água e
to precisa entre sentimentos e pensamentos. Uma pessoa que “deixa o coração sangue. Na mitologia clássica, o coral vermelho do Mediterrâneo crescia do san­
governar a cabeça” pareceria então sensível, em vez de tola. Simbolicamente, o gue da Medusa. Considerava-se que os amuletos romanos de coral estancavam o
coração era o sol do corpo, animando tudo. A aplicação ritual dessa crença le­ sangramento e protegiam as crianças das doenças ou da fúria dos elementos, e
vou os astecas a sacrificarem anualmente milhares de corações ao Sol para res­ os colares de coral também eram talismãs medievais populares para crianças.
taurar seu poder. Como símbolo do que há de mais essencial no ser humano, Às vezes, os corais decoravam as armas e os elmos celtas. Era apreciado na índia,
o coração era deixado nas múmias egípcias evisceradas. Seria pesado no outro onde um coral preto-azeviche era usado para fazer cetros. Coral: ver Água; Amu­
mundo para ver se estava pesado com más ações ou se estava leve o suficiente leto; Árvore; Cetro; Sangue; Vermelho
para prosseguir para o paraíso.
Em muitas religiões, o coração é um emblema da verdade, da consciência ou Corda - Servidão, mas também ascensão — o simbolismo espiritual do tru­
coragem moral — o templo ou trono de Deus no pensamento islâmico e judaico- que da corda indiano. A idéia de um cabo ou corda que formasse uma escada
cristão; o centro divino, ou atman, e o Terceiro Olho do hinduísmo; o diamante da terra ao céu era muito difundida no mundo antigo e às vezes era associa­
da pureza e essência do Buda; o centro taoísta da compreensão. O “Sagrado da ao cordão umbilical - de maneira específica entre os aborígines australia­
Coração” de Cristo tornou-se um foco de adoração dos católicos romanos co­ nos. No misticismo indiano, a corda é emblema do caminho interior para a
mo símbolo do amor divino redentor, às vezes mostrado perfurado por pregos iluminação espiritual. Cordas e serpentes eram com freqüência associadas,
e com uma coroa de espinhos, em referência à crucificação. Um coração com como no mito védico da serpente cósmica que servia de corda para girar a
uma coroa de espinhos também é o emblema do santo jesuíta Inácio de Loiola, montanha que sacudiu a criação do mar de leite. Na arte, o laço da corda é
enquanto um coração em chamas é o atributo dos santos Agostinho e Antônio um atributo sinistro de Nêmese, a deusa da punição, e de Santo André, que
de Pádua. Um coração em chamas é símbolo essencial do cristão ardente, mas estava preso à cruz. Os penitentes medievais usavam cordas em volta do pes­
também atributo na arte de caridade e paixão profana - a exemplo das pinturas coço como emblemas de submissão e remorso. Corda: ver Cordão; Gri­
renascentistas da deusa grega Afrodite (Vénus, na mitologia romana). O cora­ lhões; Serpente
Corda© — Ligação (como usavam os monges para prender-se a seus votos) ou
união (os cordões amarrados da maçonaria). No pensamento místico, os cordões CORES - As cores têm uma vasta e complexa faixa de significados simbóli­
ligavam os mundos material e espiritual e podiam ascender pela graça. O Cor­ cos. As generalizações sobre o simbolismo específico de qualquer cor como
dão de Prata liga corpo e espírito. Cordões com simbolismo fertilizador apare­ se tivesse um significado inerente e fixo, seja na psicologia, seja na natureza,
cem na iconografia da América Central, representando a queda de sementes ou são difíceis de sustentar. Preto e branco (ou cores claras e escuras) evidente­
chuva fertilizadoras divinas. Na arte, a Fortuna segura um cordão que repre­ mente representam dualidade e antítese. No entanto, em algumas tradições,
senta a vida mortal, que ela pode cortar a um simples capricho. No hinduísmo, o negro é a cor da morte e do luto; em outras, o branco. Vermelho, a cor do
os nós em cordões representam atos devocionais. Cordão: ver Chuva; FOR­ sangue, está em geral associado ao princípio da vida, atividade, fertilidade -
TUNA; Grilhões; Nó mas representava morte no mundo celta e era uma cor ameaçadora no Egito.
Experimentos têm mostrado que algumas associações de cores parecem ser
Cordeiro - Pureza, sacrifício, renovação, redenção, inocência, brandura, verdade. O vermelho é visto como forte, “pesado” e emotivo. O azul é am­
humildade, paciência - o símbolo mais antigo de Cristo. O uso emblemá­ plamente considerado “bom”. As pessoas preferem as cores de tom claro do
tico do cordeiro na iconografia e nas escrituras cristãs ampliou uma tradição que escuro, e as cores mais claras parecem auspiciosas. As cores que atraem
já longa na qual cordeiros recém-nascidos eram sacrificados como símbolos mais a nossa atenção são o vermelho, o amarelo, o verde e o azul (aquelas pre­
da renovação primaveril entre as sociedades pastoris do Oriente Médio. O feridas pelas crianças). A extremidade do espectro do vermelho ao amarelo é
sangue do cordeiro pascal era, desde o tempo da Páscoa dos judeus, uma “quente”, a extremidade do azul ao índigo “fria”. A faixa de cores considera­
marca particular da salvação hebraica, e profetas como Isaías descreveram o das significativas é muito mais ampla do que era, mas essa é uma questão de
Messias que estava por chegar como um cordeiro. Era com esse sentido que aumento da sofisticação visual.
João Baptista proclamou Jesus “Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mun­ A parte mais fundamental do simbolismo das cores foi tirada da natureza.
do”. João Baptista pode aparecer na arte segurando um cordeiro. Cristo algu­ Assim, o verde simbolizava potência nas regiões áridas e era uma cor sagrada
mas vezes também carrega um cordeiro em seu papel de Bom Pastor. O Agnus no islã. O ouro estava associado quase universalmente ao Sol, sugerindo,
Dei (“Cordeiro de Deus”) em geral é mostrado com uma cruz ou um halo pois, iluminação e posto ou dignidade de governante. O azul representava o
cruciforme, ou com um estandarte (representando a vitória sobre a morte). céu e, portanto, o espírito e a verdade (donde a expressão inglesa true-blue,
Nas pinturas do início do cristianismo, os discípulos podem aparecer como literalmente “azul verdadeiro”, que significa leal, fiel, genuíno). A religião em
12 ovelhas com o cordeiro no centro. Um cordeiro com um livro ou sinetes geral acrescenta, a esses, outros significados. Assim, o amarelo tem alto valor
refere-se ao Cristo da Revelação, também descrito como um cordeiro com na Tailândia não porque partilhe o simbolismo natural da luz e da chama,
sete chifres e sete olhos (sete espíritos de Deus). O cordeiro do julgamento mas sim porque Buda escolheu o amarelo (usado por indigentes e crimino­
do Apocalipse é capaz de demonstrar ira - atitude que aparentemente confli- sos) para simbolizar renúncia ao mundo material. Na cristandade, o branco
ta com o simbolismo geralmente dócil do cordeiro. Em seu aspecto triunfal, - pela simples observação, cor simbólica da morte em muitas culturas - veio
o cordeiro assume o simbolismo solar, intercambiando com seu oposto, o a simbolizar luz, pureza e alegria em oposição ao preto do mal e do luto.
leão solar. O leão, contudo, também é símbolo do Messias. Há uma ligação Muitos sistemas complexos de simbolismo da cor, que cobrem tudo, dos pla­
semântica entre o cordeiro e Agni, o deus védico do fogo. As representações netas e forças da natureza aos pontos cardeais, dos metais e substâncias da
iconográficas de Cristo como cordeiro acabaram por ser desaprovadas pela alquimia aos órgãos do corpo, dificilmente são mais do que formas arbitrá­
Igreja oriental, talvez para limitar esse tipo de confusão. O cordeiro também rias de identificação. O que parece verdade é que as cores são em geral sím­
é importante símbolo de sacrifício e redenção nos ritos islâmicos do Ra- bolos afirmativos de vida de iluminação, como refletido nas glórias dos vitrais
madã. Cordeiro: ver CRUZ; Estandarte; Fogo, Chama; Halo; Leão; Livro; eclesiásticos. CORES: ver Azul; Branco; Cinza; Laranja; Luz; Marrom;
Ovelha; Pastor; Sacrifício; Sangue MORTE; Ouro; Prata; Preto; Púrpura; Sol; Verde; Vermelho; Violeta
Cor nu CÓpia — O “Chifre da Abundância”, a transbordar com frutas, flores a Sabedoria, a Fama, a Verdade e a Igreja —; a sinagoga judia é mostrada com
e grãos, é símbolo não só de abundância, prosperidade e boa sorte, mas tam­
uma coroa que tomba. Coroa: ver Chifre; Círculo; Coroa de Flores, Grinal­
bém da generosidade divina. Associações antigas entre o chifre e a fertilidade
da; Espinho; Estrela; FAMA; JÓIAS; Lótus; Louro; Mãe; METAIS; Oli­
estendem-se desde a história clássica de Zeus (Júpiter, na mitologia romana),
veira; Ouro; Pena; Raio; Rosa; SABEDORIA; Sacrifício; Sol; Tiara; VER­
que por acidente quebrou um chifre da cabra que o amamentava. Ele o deu a
DADE; VIRTUDES
sua ama, Amaltéia, depois do que o chifre forneceu uma quantidade inexaurí­
vel de alimento e bebida.
Coroa Flores, Grinalda - Na vida, superioridade ou santidade; na
Motivo popular na arte, a cornucópia aparece como atributo não só das divin­
morte, ressurreição ou imortalidade. A forma da grinalda combina o simbolismo
dades da vegetação e do vinho, como a clássica Deméter (Ceres, na mitologia
celestial do círculo (perfeição) com o do anel (eternidade, continuidade, união).
romana), Dioniso (Baco), Príapo e Flora, mas também de muitas figuras ale­
Feitas de flores ou folhas trançadas e usadas na cabeça, as coroas são vivas, su­
góricas positivas, incluindo a Terra, o Outono, a Hospitalidade, a Paz, a For­
gerindo vitória e vitalidade. A forma e a posição da coroa na cabeça eram tão
tuna e a Concórdia. Os putti eram em geral pintados a derramar alimento (para
significativas no antigo Egito que ela era usada apenas uma vez por deuses ou reis.
o espírito) de uma cornucópia. Cornucópia: ver Bode, Cabra; FLORES; FOR­
Nas tradições clássicas e judaico-cristãs, as coroas de flores também eram origi­
TUNA; FRUTA; PAZ; Vinho
nalmente atributos reais ou sagrados, e em geral acreditava-se que tinham po­
deres protetores. Os iniciados ou os seguidores se identificavam com um deus
Coroa — Vitória, categoria, mérito ou eleição —
particular pelo uso de coroas feitas da planta ou flor sagrada desse deus. Os sa­
emblema supremo de autoridade espiritual ou
crifícios tinham grinaldas como meio de consagração.
As coroas adquiriram significado ce­
Os vencedores dos antigos jogos olímpicos também usavam coroas em home­
leste, solar, espiritual ou protetor em muitas
nagem aos deuses: de oliveira olímpica ou de salsa neméia para Zeus, de pinho
culturas (por intermédio do simbolismo de cir­
do istmo de Corinto para Posêidon, e da coroa de louro pítia para Apoio.
cularidade, raios dispostos como raiação de roda,
As plantas usadas em outras coroas geralmente têm com frequência valor sim­
estrelas, espinhos e torreões, entre outros), mas
bólico. As coroas nupciais de flores sugerem novo começo, alegria e fertilida­
são em essência formas de cobertura para a ca­
A coroa papal, de uma fachada de. As coroas funerárias de flores admitem a mortalidade, mas sua forma de
beça desenhadas para identificar, glorificar ou
de 1619 de Avignon, França. anel implica eternidade e continuidade da recordação. Coroa de Flores, Grinal­
consagrar pessoas escolhidas. As coroas origi­
da: ver Anel, Aliança; Coroa; Círculo; FLORES; Louro; Oliveira; Pinheiro,
nalmente eram simples grinaldas, em geral de louro trançado ou folhas de oli­
Pinha; Sacrifício; VITÓRIA
veira, ervas, juncos ou outras plantas, usadas em casamentos ou ritos funerários
ou conferidas aos vitoriosos nos jogos gregos. Os soberanos se concederam co­
Corrente - Servidão, mas também unidade por meio dos laços de amiza­
roas mais distintas de ouro ou rosas e diademas de tecido com jóias, ou elmos
de, comunicação ou esforço comunal - um simbolismo negativo e positivo
ornados com chifres, jóias ou penas, e essas várias formas eram gradualmente
agradavelmente confundido no famoso grito marxista de arregimentação:
combinadas em coroas de metal e jóias, com significado mais elaborado.
“Trabalhadores, uni-vos, não há nada a perder, exceto as correntes!” Como
No cristianismo, hinduísmo e budismo, a coroa representa iluminação es­
grilhões, as correntes são emblemas de escravidão, e, na arte cristã, do Vício
piritual, a coroa da vida eterna. A coroa de espinhos usada para zombar de
(a humanidade algemada aos desejos mundanos). Correntes quebradas sig­
Cristo (que se tornou a coroa dos mártires) tinha precedentes antigos na co­
nificam liberdade e salvação. Como emblemas de ligação comunitária, são
roação das vítimas de sacrifício. Muitos deuses usam coroas adequadas aos
exibidas para mostrar status oficial, ou usadas na decoração natalina como
seus atributos (por exemplo, a grega Deméter, com espigas de trigo; o ro­
símbolos de coesão social ou familiar. Podem representar casamento no ní­
mano Baco, com folhas de videira). Outros que usam coroas na arte ociden­
vel social e também casamento dos poderes espirituais e terrenos, simbolismo
tal são poetas, mártires, santos e figuras alegóricas como a Fé, a Esperança,
que data do poeta grego Homero (c. século IX a.C.), que falou de uma cor-
rente dourada pendurada do céu até a Terra pelo deus Zeus. Isso foi depois Munin. Contudo, esses dois, além de relatarem eventos na Terra, simbolizavam
interpretado como metáfora de prece. Corrente: ver Casamento; Cordão; os princípios construtivos da mente e da memória. O simbolismo hebreu também
Grilhões; LIBERDADE; Ouro é ambivalente. Como o escaravelho, o corvo era impuro. Era, porém, a ave astu­
ta liberada da arca por Noé que voou em vaivém até a terra secar. Os corvos tam­
Coruja - Agora um emblema da sagacidade e bém alimentaram Elias e diversos santos eremitas cristãos. Em geral, o corvo é
erudição livresca, a coruja tinha simbolismo si­ um símbolo solar e oracular, e sua plumagem negra brilhante talvez sugira a
nistro, feroz mesmo em algumas culturas an­ capacidade para sobreviver a uma relação estreita com o Sol. Era o pássaro men­
tigas, particularmente na China. Seus voos sageiro de Apoio, bem como da deusa Atena na Grécia, e era associado ao cul­
noturnos, silenciosos e predatórios, olhar fixo to solar de Mitra. Na China, era o emblema de três pernas da dinastia Chou,
e grito lúgubre ligaram-na em geral à morte e simbolizando a ascensão, o zénite e o pôr-do-sol (no qual, dizia-se, vivia um cor­
aos poderes ocultos, sobretudo de profecia — vo lendário). Na China e no Japão, os corvos são emblemas do amor familiar. Ele
talvez por sua capacidade de ver no escuro. Era aparece na África e em outras partes como guia, alertando sobre os perigos e, en­
a ave da morte no antigo Egito, índia, Américas tre os nativos norte-americanos, como herói cultural e trapaceiro. Para os inuit,
Central e do Norte, China e Japão, mas em algu­ a ave é o Pai Corvo, deus criador cuja morte traria mau tempo.
A sábia coruja, atributo da
mas tradições aparece como guardiã da noite ou As espécies carniceiras européias têm sido emblema de guerra, morte, solidão,
deusa Atena, de uma moeda
guia para a outra vida — entre os índios nativos das do mal e de má sorte - simbolismo que aparece também na índia. A espécie
grega antiga.
planícies norte-americanas, por exemplo, onde as americana, que é gregária e se alimenta principalmente de grãos e insetos, tem
imagens de corujas ou o uso ritual de suas penas tinha significado protetor. simbolismo notavelmente diferente — positivo, mesmo heróico, como nos mitos
Na China, as fábulas diziam que as corujas jovens arrancavam com o bico dos tlingites, em que aparece como ave solar, criativa e civilizadora, e nas len­
os olhos de suas mães. Era emblema antigo de forças destrutivas yang, asso­ das dos navajos, onde é o Deus Negro, mantenedor de todos os animais de caça.
ciadas ao trovão e ao solstício de junho. Como uma criatura do escuro, a co­ Tanto os mitos americanos quanto os aborígines explicam a plumagem negra
ruja era símbolo cristão do Diabo ou de bruxaria e imagem da cegueira e da do corvo como um percalço e não vêem mau augúrio nela. De maneira mais
falta de fé. Sua associação à inteligência vem dos atenienses, que consagra­ ampla, o corvo aparece como um guia ou voz profética - mesmo na Grécia, on­
ram a coruja à sua deusa da sabedoria e do ensino, Athene Pronoia (“a que de era consagrado ao deus-sol Apoio e à deusa Atena (Minerva, na mitologia
antevê”). As moedas gregas de Atena trazem uma coruja no lado reverso. É romana), e em Roma, onde seu grasnido soava parecido à latina eras (“amanhã”),
daí que derivam as corujas sábias das fábulas européias, donde o motivo comum o que o associava à esperança.
das corujas empoleiradas em livros e o uso, na língua inglesa, do adjetivo Na China, o corvo de três pernas num disco solar era o emblema imperial.
owlish (derivado de owl, “coruja”, e que significa “semelhante a ou caracte­ Também representava o amor filial ou familiar na China e no Japão. O xin-
rístico de coruja”) para descrever os eruditos a piscarem os olhos atrás de toísmo atribui-lhe o papel de mensageiro divino. “Comer corvo” (Eating crow),
seus bifocais. A coruja também aparece como atributo das personificações expressão americana para designar humilhação, refere-se a uma altercação atrás
da Noite e do Sono. Coruja: ver Aves; Bruxaria; Demônios; Lua; MORTE; das linhas britânicas durante uma trégua na guerra de 1812, quando um sol­
Noite; O OUTRO MUNDO; SABEDORIA dado americano que invadira território sob controle britânico foi obrigado a
comer um pedaço de um corvo que acabara de abater a tiro, mas quando sua
C0f¥0 - Como sua parente próxima, a gralha, ave associada à morte, perda e arma lhe foi devolvida, forçou seu atormentador inglês a também comer um
guerra na Europa Ocidental, mas amplamente venerada em outros lugares. Sua pedaço. Corvo: ver Arca; Aves; MORTE; Preto; Sol
reputação ocidental foi influenciada por suas associações, como adivinha, com
as deusas da batalha celtas, como Morrigan e Badb, e com os predatórios vi- Coxeadura - Em alguns contextos, símbolo de advertência do poder divi­
kings, cujo deus da guerra, Odin, era acompanhado por dois corvos, Hugin e no, marca deixada no corpo de um demiurgo ou herói que chegou muito perto
de competir com um deus em termos de igualdade. Assim, Jacó ficou coxo ao
entrar em luta corporal com o anjo de Deus no Gênesis. O deus ferreiro gre­
w Crescente - Emblema do islã, significan­
do autoridade divina, aumento, ressurreição
go Hefesto (Vulcano, na mitologia romana) ficou coxo em seu encontro com e, com uma estrela, o paraíso. Antigo sím­
Zeus (Júpiter). Deuses ferreiros, mestres dos segredos da criação do fogo, eram bolo do poder cósmico no oeste da Ásia, a
quase sempre representados na mitologia como homens que tinham sido fei­ Lua crescente era adotada como a embarca­
tos coxos (mais uma vez como Hefesto). Coxeadura: ver Ferreiro ção de Sin, o grande deus babilónico da
Lua, quando ele navegava pela vastidão do
Craw0 - Na pintura holandesa, símbolo de noivado, sobretudo quando ver­ espaço. A etimologia latina de “crescente”
melho. Os cravos cor-de-rosa aparecem às vezes como emblema de amor ma­ (aumentando) indica por que a imagem do
ternal em pinturas da madona com o menino. Cravo: ver Vermelho crescente depois se desenvolveu como sím­
bolo da expansão islâmica. Não só incorpo­ O crescente e a estrela, emblemas do
Crawci^clü-Osfunto — Flor solar. Na China, é ligada à longevidade, na ín­ rava a idéia da Lua em constante regenera­ islã que significam paraíso.
dia, a Krishna, e no Ocidente, à pureza e perfeição da Virgem Maria, de quem ção como também pode ser lido como dois
lhe veio o nome, entre os ingleses Mary-gold. O cravo-de-defunto é, por vezes, chifres de costas um para o outro, eles próprios símbolos de aumento. Desde
apontado como a flor (mais habitualmente o heliotrópio) do mito grego de o tempo das Cruzadas, o crescente tornou-se um emblema oposto ao da cruz,
Clítia, que se apaixonou sem esperança por Apoio. Cravo-de-Defunto: ver e o Crescente Vermelho é a versão islâmica da Cruz Vermelha de hoje. Os países
FLORES; Heliotrópio; Sol; Virgindade atuais que têm em suas bandeiras nacionais o crescente com uma ou mais es­
trelas são Turquia, Líbia, Tunísia e Malásia.
Cremação - Purificação, sublimação e ascensão. Os povos indo-iranianos O uso do crescente como emblema antecede em muito o império islâmico. Em
em geral preferiam a cremação ao enterro como resultado dessas associa­ Bizâncio, as moedas eram estampadas com o crescente e a estrela em 341 a.C.,
ções. Também era usado às vezes na Europa Ocidental da Idade do Bronze, quando, de acordo com uma lenda, a deusa da Lua, Hécate, interveio para sal­
espalhando-se depois pelo Império Romano, com freqüência como marca var a cidade das forças macedônias (seu ataque foi revelado pelo aparecimento
de status elevado. A dissolução quase completa do corpo no fogo simboliza repentino de uma Lua crescente). A imagem da Lua crescente como uma taça
a libertação da alma da carne e sua ascensão na fumaça. O enterro era pre­ que contém o elixir da imortalidade aparece nas tradições indiana, celta e mu­
ferido onde as doutrinas da ressurreição do corpo eram populares (por çulmana. No Egito, o crescente e o disco simbolizavam a unidade divina. As
exemplo, no Egito e na Europa cristã), e pelos chineses, que sempre foram deusas lunares grega e romana que usavam um crescente no cabelo simboliza­
apegados ao solo nativo. Cremação: ver Alma; Fogo, Chama; Fumaça; O vam castidade e nascimento. A Virgem Maria às vezes aparece na iconografia
OUTRO MUNDO cristã com um crescente a seus pés com semelhante significado de castidade.
Crescente: ver Barco; CASTIDADE; Chifre; CRUZ; Disco; Estrela; Lua; Ta­
CrepiJSCySo — A meia-luz do declínio e a borda sombreada da morte. No ça; Touro
norte da Europa, os mitos do crepúsculo dos deuses - o alemão Gõtterdám-
merung e o nórdico Ragnaroc - simbolizam o refluir melancólico do calor Criança - Pureza, potencialidade, inocência, espontaneidade - símbolo do
e da luz solares numa imagem poderosa do final do mundo e do prenúncio de estado natural, paradisíaco, livre de ansiedade. Na iconografia, a criança também
um novo ciclo de manifestação. A ligação entre o crepúsculo e o Ocidente pode representar conhecimento místico, abertura para a fé, como na imagem
contribuiu para muitos mitos em que deuses, heróis ou sábios desapareciam alquímica de uma criança coroada que representava a Pedra Filosofal. Cristo
na direção oeste, como fizeram Quetzalcoatl, no México, e Lao-tsé, na Chi­ usou o simbolismo da criança quando disse que apenas aqueles que se humi­
na. Crepúsculo: ver Escuridão; MORTE; O OUTRO MUNDO; PON­ lhavam como crianças pequenas poderiam entrar no Reino dos Céus (Mateus
TOS CARDEAIS 18:3). Criança: ver Coroa; Pedra Filosofal; SABEDORIA

tólfii
Crisântemo — Flor imperial e solar do Japão, associada à longevidade e ale­ cicatrizes da circuncisão são as marcas de um croco­
gria. Na China, o crisântemo é emblema da perfeição taoísta, tranqüilidade dilo que engole jovens e os devolve como adultos.
outonal e plenitude — talvez porque sua floração continue no inverno. Crisân­ No Ocidente, o crocodilo é às vezes interpretado co­
temo: ver LONGEVIDADE; Sol mo uma forma de leviatã, uma imagem do caos ou
o dragão que simbolicamente representa o mal.
Cristã - Emblema usado no alto dos elmos dos cavaleiros - escolhido para Com esse significado, aparece na arte vencido pelo
simbolizar seus pensamentos motivadores -, resume o objeto de sua procura romano São Teodoro. A psicologia junguiana tem-
ou proclama sua fidelidade pessoal. no visto como símbolo arquetípico do apático mal-
humorado, interpretação que conflita com seu sim­
Cristal - Clarividência, conhecimento sobrenatural, perfeição espiritual, cas­ bolismo de água e terra em muitas partes da Ásia,
tidade. O cristal, um sólido que a luz pode penetrar, impressionou os antigos como a China, onde aparece como o inventor do
como celeste e mágico. tambor e do canto. Crocodilo: ver Água; ANI­
O cristal simbolizou a noção de ultrapassar ou olhar para além do mundo ma­ MAIS; ANIMAIS MITOLÓGICOS; Cir­
terial e era emblema e ferramenta dos poderes xamanistas. Daí os visionários cuncisão; Dragão; Leviatã; Maçara; MOR-
palácios de cristal e os sapatos de cristal (ou vidro) mágicos do folclore. No bu­ TE; PONTOS CARDEAIS; Sol; Terra Crocodilo, de uma gravura do século
XVII de Benin, África Ocidental’
dismo, ele é o discernimento da mente pura. Cristal: ver CASTIDADE; Estrela;
ma onde se acreditava que as entranhas
JÓIAS; Luz; Trono (assento) CRUZ — ver quadro nas páginas 106, 107 e lua J
do animal tinham poderes mágicos.

Crocodilo - Voracidade destrutiva - agente da punição divina e senhor da água Cruz Ansafa (Âfíkh) - Cruz com um laço no alto, que representa a
e da terra, vida e morte. Para os europeus, não-familiarizados com esse réptil tro­ imortalidade (e que corresponde ao antigo símbolo egípcio para “vida” ou “al­
pical e subtropical, o crocodilo era objeto de reverência ou hostilidade morali- ma”), adotado pela Igreja Cóptica para significar vida eterna por intermédio de
zante desinformadas. O autor Plutarco (46-120 d.C.) considerou que esse animal Cristo. Seu formato geométrico pode ser lido como o nascer do Sol, como a
era venerado no Egito por ter as qualidades divinas do silêncio e a capacidade de união dos princípios masculino e feminino, ou outros contrários, e também
ver tudo com seus olhos cobertos por tecido membranoso. Os bestiários medie­ como uma chave para o conhecimento esotérico e para o outro mundo do es­
vais usaram-no como alegoria da hipocrisia — o lacrimejar dos olhos ao comer a pírito. Cruz Ansata (Ankh): ver Chave; CRUZ; Sol
presa (lágrimas de crocodilo), a mandíbula inferior atolada no lodo enquanto
a superior era alçada numa aparência de elevação moral. Onde era conhecido, foi Cruzamento do Mar iMoturn© - A influente imagem da morte e res­
tratado com respeito receoso, como uma criatura de poder primordial e oculto surreição solares expressa em antigas crenças de que o Sol poente mergulhava nas
sobre a água, terra e o mundo subterrâneo. Na índia, era o Maçara, o corcel pei­ águas do mundo subterrâneo para viajar na direção leste através da noite e depois
xe-crocodilo de Vishnu. Na iconografia egípcia, a morte em geral aparece na renascer. Jung via paralelos entre essa noção primitiva e mitos como o reapareci­
forma de crocodilo, e a cidade de Crocodópolis era dedicada ao deus da fecundi­ mento de Jonas do ventre da baleia ou as jornadas infernais retratadas com fre-
dade crocodilo, Sebek. No imaginário mais monstruoso, Amamet (ou Amemait), qüência em relatos da passagem da alma da morte para o renascimento. Cruza­
que devorava os corações de quem praticava o mal, tinha mandíbulas de crocodi­ mento do Mar Noturno: ver Alma; Baleia; Barriga; Sol
lo, e o deus Seth assumiu a forma de crocodilo para devorar seu irmão, Osíris.
Na iconografia dos nativos norte-americanos, o crocodilo, ou o jacaré, aparece de Cub© - Estabilidade perfeita, terreno firme - símbolo da própria Terra. O •cu-
boca aberta como o engolidor noturno do Sol. Alguns mitos da América Central bo é um quadrado em três dimensões, cada face apresentando a mesma visão,
dizem que o crocodilo deu à luz a Terra ou a amparava nas costas. O simbolismo daí um emblema da verdade, usado na arte como o suporte para os pés da Fé
do renascimento aparece numa tradição iniciática liberiana no sentido de que as e da História.
Dizia-se que a Árvore da Vida maia crescia de um cubo. Para o judaísmo e o
islamismo, o cubo representa o centro da fé. Os peregrinos em Meca circungi- podia significar proteção, unidade cósmica, des­
ram um cubo duplo, a Caaba, no centro da mesquita mais sagrada do islã. Cu­ tino ou (num círculo) soberania. Na Escan­
bo: ver Centro; Circungiro; Quadrado; Seis; Terra; VIRTUDES dinávia, as cruzes rúnicas que marcavam
limites e túmulos importantes podem

CRUZ - Na religião e na arte, o mais rico e mais resistente dos símbolos


geométricos, tomando muitas formas e significados através da história. É
tanto o emblema da fé cristã como uma imagem mais antiga e universal
do cosmo reduzido a seus termos mais simples — a interseção de duas li­
nhas que formam os quatro pontos de direção. Estes representavam os
ter representado o poder fertilizante
do martelo do deus Thor. A forma
da cruz celta, que incorporava um
círculo no centro de interseção das
barras, parece sintetizar o simbolismo
cósmico cristão e pagão. No Egito, a
X
quatro pontos cardeais e os quatro ventos trazedores de chuva (notada- cruz ansata (ankh) - símbolo de imorta­
mente na América pré-colombiana, onde a cruz era em geral emblema de lidade — foi adotada na cristandade pela
fertilidade da energia da vida e das forças da natureza), as quatro fases da Igreja Cóptica.
Lua (Babilônia) e os quatro grandes deuses dos elementos (Síria). Nos mundos romano, persa e judeu, a
Os braços da cruz poderiam ser multiplicados por seis (como na Caldéia cruz de crucificação era o instrumento Quatro tipos de cruz (no sentido
e em Israel) ou oito. Na China, uma cruz dentro de um quadrado re­ de execução brutal e humilhante para os horário, a partir do alto): crux
presentava a terra e a estabilidade. Na índia, a cruz era o emblema hin- não-cidadãos como escravos, piratas e commisa, crux decussata, crux im-
missa e crux quadrata.
duísta das línguas de fogo de Agni; uma cruz dentro de um círculo, a agitadores políticos estrangeiros ou ou­
roda da vida budista; ou, com os braços estendendo-se além do círculo, tros criminosos. Assim, na época da morte de Cristo, dificilmente pare­
a energia divina. A suástica — antigo emblema da energia cósmica — era ceria um emblema provável para fazer muitas conversões. O medo do
uma cruz que ganhava movimento pela dobra das pontas dos braços. ridículo, assim como a perseguição, provavelmente influenciaram as várias
A cruz era também um resumo da Árvore da Vida, simbolismo muito di­ formas de crux dissimulata (âncora, machado, suástica ou tridente) usa­
fundido que depois foi incorporado com freqüência na iconografia cristã das pelos primeiros cristãos como emblemas secretos da cruz. Mesmo
da crucificação. O eixo vertical tinha significado de ascensão, enquanto o depois da conversão do imperador Constantino, a cruz permaneceu por
horizontal representava vida terrena — em termos hinduístas e budistas, alguns séculos um emblema da fé secundário ao monograma Qui-Rô de
uma imagem dos estados superior e inferior do ser. Na China, a cruz re­ Cristo. Este tornou-se dominante com a dispersão da cristandade, pois
presentava uma escada celeste e também o número 10 (como símbolo da poderia herdar as tradições antigas da cruz e dar-lhes novo significado pro­
totalidade). Outro símbolo de totalidade é a cruz formada por um homem fundo - a redenção pelo auto-sacrifício de Cristo. Na arte, as representa­
de pé com os braços esticados - a imagem do Homem como microcosmo. ções esquemáticas da crucificação com um Cristo impassível deram gra­
De maneira mais geral, a cruz está associada à dualidade e à união, à con­ dualmente lugar a imagens poderosas de sua agonia, que culminam no
junção e, na psicologia junguiana, a uma energia que acende. retábulo de Grünewald em Isenheim (1515), que fez da própria cruz em
A veneração generalizada da cruz pelas pessoas que não conheciam o si um símbolo consolador da transcendência do sofrimento humano.
cristianismo intrigou os missionários antigos, em particular nas Améri­ A forma da cruz tem variado muito. A latina crux immissa (em que a
cas Central e do Norte; no México, a cruz era um atributo dos deuses barra horizontal está no alto da vertical) é tradicionalmente a cruz de Cris­
do vento e da chuva, Quetzalcoatl e Tlaloc. Também foram encontradas to. Alternativamente, esta pode ter sido a crux commissa (a letra grega
imagens astecas de crucificações sacrificiais. Na África, a marca da cruz tau, em forma de T, ou cruz de Santo Antônio). A transversa crux decus-
sata, significando martírio, é a cruz de Santo André, que dizem ter-se
sentido indigno da crucificação na cruz de Cristo. A cruz grega, crux
quadrata (a barra posicionada em posição central), é a de São Jorge.
Outras formas cristãs incluem a de formato em Y, fortemente identifi­
cada com a Árvore da Vida; a cruz do calvário, com três degraus na base;
a cruz papal, com três barras iguais; a cruz patriarcal, com duas barras,
usada por arcebispos e cardeais, muito difundida na Grécia e que se tor­
nou a Cruz de Anjou e Lorraine, depois o emblema da França Livre; a cruz
de São Pedro, uma forma de cabeça para baixo da cruz latina; a cruz em
lâmina de machado, dos templários; a cruz de Malta de oito pontos, dos
hospitalários; e a cruz armada em triângulo, dos Cavaleiros Teutônicos.
Todas são imagens com energia centrípeta. Uma cruz com pontas em
flecha era o emblema do fascista Partido Nacionalista Húngaro. Há qua­
se 300 formas de cruzes heráldicas.
A cruz é uma das imagens mais malcompreendidas. As cruzes, sobretu­
do as transversas, são comumente elaboradas em padrões sem nenhum
significado simbólico, ou simplesmente usadas como marcadores de di­
reção, assinatura, ou sinais de discordância, acordo ou aviso. Os signifi­
cados de algumas cruzes antigas riscadas na pedra ou na madeira são,
portanto, discutíveis. O simbolismo da cruz cristã também criou con­
fusão popular. As superstições que a Igreja encontrou dificuldade em
erradicar incluíam a idéia de que fazer o sinal da cruz (como na bênção
ou na oração) poderia afastar todo tipo de azar. A cruz no pão feito em
casa, por exemplo, ainda era comum na Inglaterra protestante do sécu­
lo XVII. CRUZ: ver Âncora; Árvore; Bode Expiatório; Caveira; Chuva;
Círculo; Cruz Ansata (Ankh); Degrau, Escada; Dez; Eixo; ELEMEN­
TOS; Estrela; Flecha; Fogo, Chama; Graal; Homem; Lança; Lua; Macha­
do; Martelo; Oito; PAIXÃO; Pelicano; PONTOS CARDEAIS; Prego;
Quadrado; Quatro; Qui-Rô; Roda; Runas; Sacrifício; Sangue; Seis; Ser­
pente; Sol; Suástica; Terra; Tridente; Vento; VIRTUDES

CUCO - Parasita, daí a palavra inglesa cuckold (marido enganado) e a ligação da


ave na Europa ao ciúme e ao oportunismo. De maneira mais geral, o cuco era
tradicionalmente um bom augúrio - de primavera, verão e riqueza. Seu cha­
mado repetitivo levou à superstição de que trazia sorte chacoalhar moedas ao
ouvir o cuco. Cuco: ver Aves; Relógio
DailÇâ - Expressão antiga e instintiva de força da vida, provavelmente ante­
rior ao desenho e à pintura como forma de simpatia. A dança é libertadora e
unificadora. Os dançarinos primitivos, por se sentirem unidos com o fluxo de
energia cósmica, acreditavam que os movimentos, padrões e gestos da dança
poderiam influenciar os processos da natureza ou as forças invisíveis que os
controlam. Esta crença é a base do simbolismo complexo das formas de dança
antiga destinadas a invocar a chuva ou o sol, boas colheitas ou a fertilidade hu­
mana, o êxito militar ou a cura de doenças, a proteção dos espíritos benignos
ou o apaziguamento dos destrutivos. Como a representação das crenças tribais ou
eventos iminentes pela dança — como a caça - induziam o apoio do grupo, pa­
recia razoável supor que encorajariam a ajuda dos deuses. A dança tornou-se, as­
sim, a mais primitiva forma de teatro, traduzindo dogmas religiosos em movi­
mentos expressivos, como nas danças religiosas do Egito e da Grécia antigos.
De maneira mais geral, a vitória militar foi comumente ensaiada em danças da
guerra — o simbolismo por trás das danças de espada dos patanes ou dos escoce­
ses. Danças de roda mimetizam os movimentos aparentes do Sol e da Lua, ou as
estações; as danças em ziguezague, o movimento das constelações. A dança em
volta de um objeto concentrava sua energia ou simbolizava proteção. Os xamãs
rodopiavam como os planetas, com os braços elevados para puxar a energia
cósmica para baixo, ou abaixados para dirigi-la para a terra. As danças com ves­
tes, máscaras e imitação de animais também utilizam os poderes atribuídos às
diferentes criaturas. A dança serpentina das sacerdotisas de Delfos utilizava, assim,
o simbolismo de sabedoria e fertilidade da serpente. A união é simbolizada pe-
las danças de casamento e por muitas formas de dança a ela relacionadas. Já o quando seu corpo fosse amortalhado). Para os bambaras, o polegar tinha po­
pesar é simbolizado pelas danças fúnebres. der de execução, enquanto o mínimo era usado para lançar feitiços.
Na África e em outros lugares, os curandeiros xamas procuravam invocar e re­ O gesto positivo “polegar para cima” tinha originalmente simbolismo fálico.
forçar as energias curativas pela dança. Toda dança desinibida é considerada te­ Na benção cristã, três dedos levantados são o sinal da Santíssima Trindade.
rapêutica, liberando o dançarino da tensão das regras sociais e, em particular A crença supersticiosa no poder da cruz de espantar o mal explica o costume
na dança de transe, da consciência individual. Esta transformação simbolizava de cruzar os dedos para dar sorte. O simbolismo reflete-se na linguagem dos
a obtenção de um estado sobrenatural em que o dançarino estaria supostamente sinais em muitos gestos com dedos, notoriamente no “V da vitória” de Chur-
em contato direto com a energia cósmica — elo tornado claro na iconografia chill. Dedo: ver Cinco; CRUZ; Polegar; Trindade; Três
dos deuses da dança. Shiva, o deus hindu da dança, geralmente mostrado envol­
vido por chamas, dança como a incorporação da energia tanto criativa quanto Degrau, Escada - Símbolos de progresso em direção ao esclarecimento,
destrutiva. Buda é outro deus da dança da vida. Na dança social ou recreativa, entendimento esotérico ou o próprio paraíso. Os degraus e terraços eram ge­
e sobretudo na folclórica, que tem ligação direta com os ritos de fertilidade, o ralmente usados na arquitetura religiosa e nos projetos dos altares ou nos ritos
simbolismo de um retorno ao centro vital de energia e de harmonia cósmica dos cultos de mistério para simbolizar a diferença marcante entre os planos ter­
tem diminuído mas não desaparecido. Dança: ver Centro; Chuva; Círculo; Es­ restre e espiritual, os estágios de iniciação que ascendem gradualmente e o pro­
pada; ESTAÇÕES; Fogo, Chama; Lua; Máscara; Serpente; Sol cesso lento e difícil de transformação espiritual. O número de degraus em geral
tem significado específico, como nos nove degraus
Dança do Sol - O ritual mais importante dos nativos das planícies da que levam ao deus Osíris (o ciclo completo) na tra­
América do Norte, que simbolizava o poder do Sol como manifestação do dição egípcia ou os sete passos (os planetas repre­
Grande Espírito. Para se tornarem xamãs, vingar insultos ou por outras razões, sentados como metais diferentes) na iniciação
os “candidatos” extraíam esse poder dançando num círculo em torno de um mitraísta. Degrau, Escada: ver Iniciação; Monta­
poste bifurcado representando o eixo do mundo, olhos fixados no Sol e arran­ nha; PLANETAS; Zigurate
cando do peito cordões que os prendiam ao poste para simbolizar libertação da
ignorância. Dança do Sol: ver Círculo; Eixo Demônios — Adversários da bondade, per­
sonificam a escuridão, tentação, fraude e o
Decapitação — Entre os caçadores de cabeças, a do inimigo era pega e pre­ mal, sobretudo no contexto moral das gran­
servada pelo poder que consideravam conter - difundido simbolismo ligado des religiões monoteístas. O mal e o infor­
à antiga crença de que a cabeça era o lugar da alma. Em particular na África, túnio geralmente eram simbolizados no
a posse do material da alma tinha simbolismo de fertilidade. O respeito à ca­ mundo antigo por monstros e duendes ou
beça como a essência de uma pessoa morta explica os rituais paleolíticos em pela natureza dual das divindades que ti­
que era enterrada separadamente do corpo. Também pode explicar por que nham crueldade, capricho ou aspectos
em algumas tradições a decapitação era vista como um modo honrado de exe­ destrutivos e demoníacos. O profeta ira­
cução - por exemplo, no mundo greco-romano, assim como na Inglaterra, niano Zoroastro, no final do século VII a.C.,
onde tendia a ser reservado para pessoas de condição social elevada. Decapi­ propôs uma nova explicação das falhas na
tação: ver Cabeça criação — a existência de Ahriman, espíri­
to criador escuro que escolhera o mal e
Dedo - O simbolismo está ligado aos dedos individuais por algumas tribos depois se envolvera de maneira inextricável
africanas, notavelmente no Mali, onde os dogons associavam o dedo indicador no mundo material da luz. Esse conceito O Diabo, do detalhe de uma gravura
à vida e o médio à morte (esse dedo era deixado exposto para o morto usar influenciou o desenvolvimento bíblico gra­ da Tentação de Cristo (1492).
dual de Satã (o anjo enviado por Deus para tentar a paciência de Jó) num Foi no deserto que Cristo foi testado por Satã e de onde podem surgir pro­
anjo decaído cujo orgulho o levou a escolher o mal e a se tornar adversário fetas tanto falsos como verdadeiros — como no poema agourento de Yeats,
de Deus. Iblis é seu equivalente islâmico. Outros conceitos influentes do The Second Corning [O Segundo Advento], de 1916. O eremita (do grego eremias,
Diabo incluem a noção maniqueísta de que Adão foi criado por Satã com “um devoto solitário”) exemplifica o homem que procura a solidão e o vazio
porções de luz roubadas de Deus, e a visão gnóstica (mais influenciada pelo do deserto, no qual se confronta com a realidade final: Deus. Deserto: ver
pensamento oriental) de que um demiurgo satânico criou o mundo mate­ Areia; Forno, Fornalha
rial do qual a humanidade tenta voltar para a divindade, da qual fazia ori­
ginalmente parte. Os nomes alternativos para Diabo são Satã (antes do pe­ Desmembramento — A criação por meio do ato de destruição. O des­
cado original), Belzebu (nome baseado no de um deus filisteu que os hebreus membramento era uma forma selvagem de sacrifício em que seres humanos
desdenhosamente chamaram “Deus das Moscas”) e Mefístófeles (figura que ou animais eram dilacerados para simbolizar o processo de desintegração que
na literatura fez um pacto diabólico com o feiticeiro alemão dr. Fausto). A leva à regeneração - num paralelo com a derrubada das árvores e a colheita
imagem mais popular do Diabo, tirada do deus pagão Pã, mostra-o com de nova safra. Osíris, no Egito, e Dioniso, na Grécia, são deuses da vegetação
chifres, cascos fendidos, cauda bifurcada e algumas vezes asas de morcego. cuja morte e desmembramento simbolizam esse processo na mitologia. O
Seguem-no diabos menores, armados com forcados ou arpões. Uma obsessão desmembramento era também imitado em alguns rituais de iniciação xama-
cristã medieval com o pecado da luxúria é responsável pela adição de uma nista como um estágio do renascimento espiritual. Desmembramento: ver
segunda face nas genitais ou nádegas do Diabo. Iniciação; Sacrifício
Como espíritos do mal, os demônios estão ligados ao simbolismo do dragão
(na tradição ocidental) e da serpente (na tradição judaico-cristã). Eles podem Dez — Inclusão, perfeição - o número místico da completude e da unidade,
representar divisão, desintegração e tentações de imortalidade. Demônios: ver sobretudo na tradição judaica; daí o número de Mandamentos que Deus
Bode, Cabra; Bruxaria; Chifre; Dragão; Escuridão; Fogo, Chama; JÓIAS; Luz; revelou a Moisés, resumindo as obrigações mais importantes da religião he­
Mosca, Espanta-Moscas; Morcego; O OUTRO MUNDO; Ponte; Serpente; braica. No sistema pitagórico, dez era símbolo do todo da criação, repre­
SETE PECADOS CAPITAIS; Taro; Tridente; Vulcão; Xadrez sentada por uma estrela de dez pontas, a sagrada tetractis - a soma dos primei­
ros quatro números: 1, 2, 3 e 4. A exemplo do número dc dedos das mãos
D8fites — Emblemas primordiais do poder de agressão e defesa. Na mitolo­ humanas, dez era símbolo de completude mesmo no nível mais simples.
gia grega, os dentes de dragão semeados por Cadmo, príncipe de Tebas, eram Os egípcios baseavam seus calendários nos decanos, 36 estrelas brilhantes
símbolos de vitalidade geradora. Ao contrário, arrancar ou perder dentes é divididas por intervalos de dez dias. Acreditava-sc que cada decano influencia­
símbolo de castração ou impotência. A associação entre dentes e poder ex­ va a vida humana - conceito significativo no desenvolvimento da astrolo­
plica por que os xamãs usavam colares de dentes de animais. Dentes: ver gia grega.
Castração; Dragão A fração de um décimo era a percentagem quase universal dos espólios, proprie­
dade ou produção devidos por obrigação a um deus ou rei no mundo antigo
Bente-da-leão - Emblema da Paixão de Cristo - simbolismo derivado do - a base do sistema de dízimo. Na China, dez era o número perfeitamente equi­
amargor de suas folhas. É usado em Israel e em outros lugares como erva me­ librado, representado por uma cruz com uma barra central curta. Como uma
dicinal. Algumas vezes, aparece em pinturas holandesas da crucificação. Den- combinação de números masculinos e femininos, dez era às vezes usado como
te-de-Leão: ver CRUZ; PAIXÃO símbolo de casamento. A década simboliza um ponto crítico na história ou um
ciclo completo no mito, como na Queda de Tróia depois do cerco de dez anos.
BasartO - Comumente uma imagem da esterilidade, o deserto tem simbo­ Dez: ver Mão; NÚMEROS; Zodíaco
lismo mais profundo nos pensamentos islâmico e cristão como um local de
revelação, uma fornalha que deu origem a ambas grandes religiões monoteístas. Diadema - ver Coroa
Diamante — Radiação solar, imutabilidade e integridade. A combinação de da perfeição espiritual — o círculo cósmico com a essência incognoscível ou
brilho e dureza do diamante deu-lhe uma dimensão espiritual, particularmen­ vácuo ao centro. Serpentes e dragões em torno de um disco representam a
te na índia, onde o trono de diamante de Buda é a imagem do centro imutável reconciliação das forças opostas. Disco: ver Asas; Buraco; Chacra; Chifre;
do budismo, e o cetro de diamante um símbolo tântrico do poder divino. Círculo; Crescente; Dragão; Raio; Roda; Serpente; Sol; Suástica; Vácuo
Na tradição ocidental, o diamante simboliza a incorruptibilidade e, em conse-
qüência, as virtudes morais, como a sinceridade e a fidelidade - o significado Domo - Na arquitetura dos templos, símbolo celestial do céu que se curva sobre
de seu uso nos anéis de noivado. A superstição atribuiu-lhe propriedades cura­ o mundo, o espírito da luz divina. A estupa budista semelhante à coroa esten­
tivas e protetoras: Satã evitava sua luz. Diamante: ver Cetro; FIDELIDADE; de o centro do domo por meio de uma agulha como símbolo axial de força
JÓIAS; Trono espiritual. Domo: ver Céu; Eixo

DÍSUWSO - Transformação pelo meio dissolvente e de nascimento da água. As porje - ver Cetro
histórias ou representações de um grande dilúvio, que aparecem nas mitologias
mais antigas, têm um tema simbólico recorrente de regeneração cíclica. O pe­ DOU ração - ver Ouro
cado, o destino ou a desordem humanos são submersos, em geral, num cata­
clismo de julgamento, o que leva a uma sociedade humana nova, reformada ou POSSel — Símbolo asiático do céu e, portanto, de realeza e poder protetor. Um
mais sábia. Dilúvio: ver Água; Arca; Transformação dos oito emblemas budistas chineses de boa sorte. Ligado ao simbolismo celeste
do guarda-sol, também alude ao paraíso islâmico. No ritual indiano, o dossel
Direita — ver Esquerda e Direita é redondo para os reis e quadrado para os sacerdotes. Dossel: ver Baldaquim;
Céu; Círculo; Guarda-Sol; Quadrado
DISCO — Emblema solar de di­
vindade e poder. O disco alado Doze — Número básico de espaço e tempo na astronomia, astrologia e ciên­
aparece na iconografia por todo cia calendar antigas e, portanto, de considerável valor simbólico, sobretudo
o Oriente Médio como símbolo na tradição judaico-cristã, na qual era o número dos eleitos. Representava a
dos deuses do Sol, como Rá, no organização cósmica, zonas de influência celeste e um ciclo de tempo com­
Egito, Assur, na Síria, e Ahura pleto (os 12 meses do calendário, as 12 horas do dia e da noite, 12 grupos
Mazda, a grande divindade do de anos na China). Como o produto de dois números poderosos - o três e
zoroastrismo, que também era o quatro -, simbolizou a união dos planos espiritual e temporal. Na Bíblia,
chamada de Armuzd, o deus doze é o número de filhos de Jacó e, portanto, das tribos de Israel, das jóias
criador da luz. Por combinar os do peitoral dos sacerdotes, dos principais discípulos de Cristo, das frutas da
simbolismos do Sol e da águia, Árvore da Vida, dos portões da Cidade Sagrada e das estrelas da coroa de
Disco solar encaixado em asas, de um baixo-relevo
o disco alado significa o Sol nas­ Maria. Doze também era o número de discípulos de Mitra e, para alguns
mesopotâmico do século IX a. C.
cente, ele próprio emblema da muçulmanos, o número de descendentes de Ali, filho de Maomé e também
ressurreição e da energia cósmica. No Egito, o disco com chifres ou um profeta. A astrologia solar baseava-se no movimento do Sol pelos 12 signos
crescente é um símbolo da união solar e lunar. Na índia, um disco irradiado é do zodíaco.
a arma de Vishnu Surya, significando seu poder absoluto, tanto para des­ O autor grego Hesíodo (c. 700 a.C.) disse que havia 12 titãs e, na tradição gre­
truir quanto para criar. Como rodas sólidas (o tipo mais primitivo), os discos ga posterior, 12 deuses governavam o Olimpo. ATávola Redonda também
podem também representar o giro da roda da existência e os pontos de ener­ tinha 12 cavaleiros principais. O simbolismo calendar é a base dos 12 dias
gia dos chacras. Na China, um disco com um buraco central é a imagem celeste de Natal, uma tradição desenvolvida do período das festividades do Yuletide
(festival que durava da véspera de Natal até depois do dia de Ano-Novo ou, dragão foi emblema popular dos guerreiros, aparecendo nos estandartes par­
sobretudo na Inglaterra, até o dia de Reis) e das saturnais no solstício de de­ tos1 e romanos, nas proas esculpidas dos barcos vikings, no mundo celta, co­
zembro - dia que representava todos os meses seguintes. Doze: ver Ano; NÚ­ mo símbolo de força soberana, e nos estandartes anglo-saxãos da Inglaterra
MEROS; Quatro; Solstício; Três; Zodíaco
e de Gales, onde o dragão vermelho ainda é emblema nacional.
Na Ásia, e particularmente na China, o dragão é símbolo do poder sobre­
Dragão - Corporificação réptil do poder primordial, uma criatura tão me­ natural livre de desaprovação moral. Por ondular sob túnicas, simboliza os
sozoica que a imaginação humana parece haver retrocedido 70 milhões de ritmos geradores dos elementos naturais, sobretudo o poder dos trovões de
anos para lhe dar forma. Como os dragões são em geral símbolos do bem
trazer chuva, com freqüência mostrado como uma pérola na boca ou gargan­
no Extremo Oriente e do mal no Ocidente, seu simbolismo não é tão fácil ta do dragão. Daí o simbolismo de chuva dos dragões de papel, carregados
de compreender como pode parecer. No mito e na lenda, o dragão e a ser­
em procissões entre fogos de artifício nos festivais da primavera, no segundo
pente eram em geral sinônimos — na China, por exemplo, e também na Gré­
dia do segundo mês chinês. O dragão turquesa de cinco patas, Lung., era o
cia, onde as grandes serpentes eram chamadas de drakonates, palavra que su­ motivo da dinastia Han e simbolizava o princípio ativo yang, o Oriente, o Sol
gere olhar penetrante (de derkomai, “percepção aguçada”)- A associação entre
nascente, a fertilidade, a felicidade e os dons do conhecimento espiritual e
o dragão e a vigilância (que ele pode personificar na arte) é evidenciada por
da imortalidade. O dragão também é o símbolo de três patas do micado no
muitos contos em que os dragões aparecem como guardiães ligados ao Reino Japão, e um importante símbolo da chuva, lá e em outros lugares do sudeste
dos Mortos e com o conhecimento oracular. Na mitologia grega, os dragões
da Ásia; o senhor dos mares e dos rios, mas também uma serpente celestial
guardavam as maçãs douradas das Hespérides e o Tosão de Ouro. O herói
sem asas ligada ao arco-íris. O rei dragão é proeminente no folclore japonês.
de Tebas, Cadmo, só poderia alcançar o vigor de Ares, deus da guerra, se Dragão: zwÁgua; Águia; ANIMAIS MITOLÓGICOS; Ar; Arco-Íris; Ban­
matasse o filho-dragão deste. O herói nórdico Sigurd e o anglo-saxão Beowulf
deira; Chifre; Chuva; Demônios; Dente; Fogo, Chama; Maçã; Morcego;
também mataram dragões que guardavam tesouros. Essas histórias levaram
Nó; Pérola; SABEDORIA; Serpente; Terra; Tosão de Ouro; Trovão; Turquesa;
a sugestões historicistas de que nas lendas pagãs o dragão é uma imagem
Vermelho; VIGILÂNCIA
pouco lisonjeira de um soberano poderoso cujas posses lhe foram arrebatadas
pela força. O fato de Cadmo haver semeado os dentes da discórdia do dra­
Duende — ver Fadas
gão após sua vitória oferece alguma sustentação a essa teoria. O mais certo
é que o cristianismo foi a influência primária na evolução da figura do dra­
Duplas — Os animais são em geral duplicados na iconografia para realçar seu
gão para que ela se tornasse um símbolo generalizado do mal. O Livro da
poder emblemático, mas as duplas também podem simbolizar características
Revelação (12:9) identifica o dragão diretamente com “aquela velha serpen­
diferentes, mesmo opostas. Duplas humanas eram mau agouro, significando
te, chamada Diabo” e prossegue associando-o ao pecado da blasfêmia. Os
morte - superstição associada à idéia de corpo e alma como entidades separadas.
dragões subjugados por muitos santos cristãos, notadamente São Miguel,
O fantasmagórico alemão doppelgànger é um símbolo extremo do alter ego.
simbolizam a desordem e a descrença, assim como o mal moral e a bestiali­
Duplas: ver Alma; Gêmeos
dade primordial. O dragão da imaginação medieval combina os simbolismos
do ar, fogo, água e terra - uma criatura que respira fogo e tem chifres, fortes
patas de águia, asas de morcego, corpo escamoso e cauda serpenteante e far­
pada (algumas vezes mostrada com nós para indicar sua derrota). Por outro
lado, aparece como uma serpente do mar, como em algumas pinturas de
São Jorge, tradição que remonta à iconografia sumério-semítica da deusa do
caos, Tiamat. O herói grego Perseu também combateu um monstro aquáti­
co para salvar a princesa Andrômeda. Só por ser uma imagem aterrorizante, o
1. Relativo à Pártia, amiga região correspondente, mais ou menos, ao Irã. (N. do E.)
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Eclipse - Símbolo quase universal de mau agouro - representa a morte da
|f|luz, o que sugere doença ou desordem cósmica. Na China, os eclipses solares
eram interpretados como o domínio indesejável do princípio feminino yin so­
bre o masculino yang ou, em nível da família imperial, da imperatriz sobre o
imperador. Outras interpretações eram de que o Sol escondia o rosto de raiva ou
fique ele, a Lua ou as estrelas haviam caído vítimas de um sapo devorador (China),
r-serpente ou jaguar (América Central) cósmicos. No Peru, dizia-se que um
! eclipse agourara a destruição espanhola do império inca. Eclipse: ver Estrela;
i Jaguar; Lua; Luz; Sapo; Serpente; Sol

;-ElXO - Símbolo linear de centro em quase todas as cosmologias do mundo anti-


P go — espinha dorsal ou haste de suporte em torno da qual tudo gira.
O axis mundi também proporcionou aos xamas e espíritos aspirantes um meio
de se deslocarem entre diferentes camadas da existência - inferno, terra e céu. Os
símbolos de eixo variam de hastes a enormes estruturas de colunas e de árvores
a montanhas sagradas. Eixo: ver Arvore; Caverna; Coluna; Montanha; Umbigo

fÉiefante - Força, sagacidade, longevidade, prosperidade, felicidade - um sím-


f bolo do poder soberano na índia, China e África. O elefante era a montaria
faustosa nao só dos governantes indianos, mas do deus do trovão e da chuva,
felndra. Ganesha, com cabeça de elefante, era o deus da sabedoria e da arte de
escrever. Por associação, o elefante veio a simbolizar não só as qualidades de um
bom governo - dignidade, inteligência e prudência mas também toda uma
série de benefícios em geral, entre eles, paz, safras abundantes e chuvas. O sim­
bolismo da fertilidade e da chuva estava particularmente associado ao elefante ELEMENTOS - Sistema complexo de correspondên­
branco na Birmânia, Tailândia e Camboja. Embora uma atração impopular cias simbólicas antes ligado às quatro - ou às vezes cin-
para o famoso proprietário de circo americano P. T. Barnum (que levou à ana­ co substâncias consideradas constituintes primárias
logia entre o elefante branco e um fardo pesado e de pouca utilidade), o elefan­ do universo. Na tradição ocidental, amplamente in­
te branco tinha significado sagrado no budismo. O nascimento iminente de fluenciada pela filosofia grega, eram os elementos a
Buda foi anunciado à sua mãe, a rainha Maia, pelo sonho de que um pequeno água, o ar, o fogo e a terra, aos quais era acrescentado,
elefante branco encantador entrara em seu ventre. Para os budistas, o elefante às vezes, um quinto - o éter, ou espírito da quintessên­
é símbolo do conhecimento espiritual e do imutável. cia. O fogo era o agente de transformação de um esta­
Como emblema da sabedoria, o elefante era atributo de Mercúrio na mitolo­ do para o outro. Como os elementos eram considera­
gia romana. Sua associação pelos romanos com a vitória dos a base da ordem e harmonia cósmicas, a medicina
(ele personifica a Fama na arte) pode ser respon­ antiga procurava equilibrar as características físicas e
sável por seu uso ocasional como símbolo do temperamentais atribuídas a cada um — a fleuma, o cé­
triunfo de Cristo sobre a morte ou o mal - como rebro e o temperamento fleumático (água); o sangue, o
nas representações de um elefante a pisar numa coração e o temperamento sangüíneo (ar); a bile ama­
serpente. A crença medieval de que o elefante rela, o fígado e o temperamento colérico (fogo); a bile
macho abstinha-se de sexo durante o longo negra, o baço e o temperamento melancólico (terra). O
período de gestação de sua companheira tam­ ar e o fogo eram vistos como ativos e masculinos; a água
bém tornou-o símbolo de castidade, fidelidade e a terra como passivas e femininas. Um número cada
e amor no Ocidente. A ligação com o desen­ vez maior de correspondências arbitrárias, entre elas as
gonçado pesado parece ser moderna, embora cores, as estações do ano e os estágios de vida, foi gra­
haja uma deliciosa lenda indiana de que os dativamente adicionado na tentativa de criar um siste­
Símbolos gráficos dos
elefantes perderam seu poder de voar ao serem ma simbólico coerente, que só começou a ruir com a
quatro elementos (de
amaldiçoados por um eremita cuja casa sobre chegada do método científico. Na China, um sistema
cima para baixo): ter­
uma figueira-brava-de-bengala foi esmagada correspondente baseava-se nos cinco elementos taoístas ra, água, ar e fogo.
numa das aterrissagens deles. Elefante: ver Bâ- da água, fogo, madeira, metal e terra, equilibrados pela
O deus indiano Ganesha, com nia; Branco; Chuva; FAMA; FIDELIDADE; dualidade dos princípios ativo e masculino yang (ar e fogo) e passivo e femi­
cabeça de elefante. De um mural LONGEVIDADE; SABEDORIA; Terra; VIR- nino yin (água, metal e terra). O sistema simbólico quíntuplo indiano pro­
de Jaipur. TUDES; VITÓRIA; Xadrez punha como “estados cósmicos de vibração” os elementos do akasha (éter),
apas (água), vayu (ar), tejas (fogo) eprithivi (terra). Na arte ocidental, a água
ELEMENTOS — ver quadro na página 125 é personificada por um jarro emborcado ou pelos deuses do mar e dos
rios; o ar por Juno, às vezes visto a voar, apesar das bigornas presas a ele, ou
Elmo - Poder invisível, em particular o poder de morte representado pelo el­ por uma mulher com um camaleão; o fogo pela Fênix, por Vulcano ou por
mo de Hades. O elmo também pode simbolizar o pensamento. De maneira uma mulher com a cabeça a queimar e o raio com trovão; e a terra, por
mais óbvia, é o atributo protetor dos guerreiros ou das divindades guerreiras, uma mulher com símbolos de fertilidade, ou pela coroa torreada de Cibele.
como o nórdico Odin, o grego Ares (Marte, na mitologia romana) e Atena ELEMENTOS: ver Água; Ar; Camaleão; Cinco; Coroa; Fênix; Fogo, Cha­
(Minerva), e dos heróis como Perseu, cujo elmo alado da invisibilidade permi­ ma; Madeira; METAIS; Quatro; Quintessência; Terra; Trovão; Yin-Yang
tiu-lhe escapar depois de matar a Medusa. Na arte, as figuras da Fortuna e da
Fé são em geral representadas com elmos. Elmo: ver ANIMAIS MITOLÓGI­ com um mito tonganês, uma enguia seduziu a virgem Hine em uma lagoa e
COS; Barrete; Cabeça; FORTUNA; Herói, Heroína quando foi esquartejada pelos aldeões enfurecidos produziu o primeiro coqueiro.
Uma história semelhante com simbolismo igualmente fálico aparece no ciclo
Embriaguez — Nas culturas antigas e primitivas, símbolo de comunhão polinésio maui, que relaciona a enguia fálica e o leite de coco, que lembra o
com os espíritos ou possessão por eles. O vinho, o hidromel e outros inebriantes sêmen. Enguia: ver Falo; PEIXE; Serpente; Trapaceiro
eram às vezes usados ritualmente para atingir estados de êxtase nos quais se
acreditava que quem os bebesse tornava-se receptivo à revelação divina. Beber Entrelaçamento _ Na arte> os motivos entrelaçados simbolizam unidade
vinho era associado à fecundidade e à sabedoria. O deus grego Sileno é um e continuidade. A arte celta na Irlanda é particularmente rica em complexos
exemplo do sábio bêbado, também encontrado na tradição taoísta. Embria­ desenhos lineares entretecidos. Como em antigas tradições de decoração seme­
guez: ver Álcool; Hidromel; SABEDORIA; Soma; Vinho lhante, esses padrões expressavam a idéia de que a energia divina manifestava-
se por uma vibração cósmica sem fim, vista com maior clareza no movimento
Encruzilhada — O desconhecido — sorte, escolha, destino, poderes sobre­ das ondas.
naturais. A importância dada aos caminhos cruzados nas culturas mais antigas
é notável. O fato de que eram paradas naturais para os viajantes só explica em par­ Enxofre - No simbolismo da alquimia, o princípio gerador ativo, ígneo, mas­
te o número de santuários, altares, pedras, capelas ou calvários situados nas en­ culino. Em reação com o princípio feminino do mercúrio, acreditava-se que o en­
cruzilhadas. No Peru e em outras partes do mundo, construíam-se pirâmides xofre poderia purificar com regularidade os metais básicos. A superstição chinesa
pela deposição, durante anos, de pedras votivas deixadas pelos viajantes que atribuía ao enxofre poderes mágicos contra o mal, enquanto na tradição cristã, o
passavam por esses locais. Considerava-se que os espíritos assombravam-nas, próprio Satã é uma figura sulfurea que controla um mundo infernal de enxofre.
daí serem locais de adivinhação e sacrifício — e, por extensão, locais de execu­ Enxofre: ver Alquimia; Demônios; Fogo, Chama; Mercúrio
ção ou de enterro de pessoas ou coisas das quais a sociedade desejava livrar-se.
Muitas tribos africanas descarregavam lixo em encruzilhadas, de modo que qual­ Escada — ver Degrau, Escada
quer mal residual pudesse ser absorvido. As encruzilhadas romanas na época de
Augusto eram protegidas por duas lares campitales (divindades tutelares de lugar). Escalpo - Entre os nativos norte-americanos, sím­
Faziam-se oferendas para elas ou para o deus Jano e outras divindades proteto­ bolo da força da vida. O escalpamento equivalia à caça
ras, que podiam olhar em todas as direções, tais como Hermes, para quem de cabeças como meio de captar o poder ou a ener­
eram colocadas estátuas de três cabeças nas encruzilhadas gregas. Como deusa gia vital de um inimigo. Entre algumas tribos, os
da morte, Hécate era uma presença mais sinistra, como também era o supremo guerreiros deixavam um tufo de escalpo como sinal
deus tolteca, Tezcatlipoca, que desafiava guerreiros nas encruzilhadas. Algumas de autoconfiança e de desafio aos homens de outras
versões do mito de Édipo colocam seus encontros fatais com seu pai desconhe­ tribos. Escalpo: ver Cabeça; Cabelo
cido e com a Esfinge nas encruzilhadas — uma analogia do destino. Jung via as
encruzilhadas como símbolo maternal da união de opostos. Com maior freqüên- Escaravelho - Emblema solar e masculino da gê­
cia, elas parecem ser uma imagem dos medos e esperanças humanos no momen­ nese, renascimento e força da vida eterna - o amule­
to da escolha. Encruzilhada: ver Esfinge; Jaguar; Pirâmide; Sacrifício; Tríade to mais popular do Egito e depois do Oriente Médio
antigo. Esse pequeno besouro do esterco estava pro­
Enguia — Atualmente metáfora de escorregadio, a enguia aparece no folclore fundamente associado a Khepri, deus egípcio do Sol O escaravelho, de um pin­
da Oceania como trapaceira e, de maneira mais proeminente, como símbolo de nascente. Acreditava-se que todos os escaravelhos gente egípcio antigo.
fertilidade, substituindo esse aspecto do simbolismo das serpentes em países eram machos e produziam larvas pela incubação do O círculo entre suas garras
como a Nova Zelândia, onde esses ofídios eram desconhecidos. De acordo sêmen em bolas de esterco que eles rolavam numa dianteiras representa o sol.
imitação microcósmica da passagem do Sol pelo céu. Os amuletos protetores a quem homenageava. O arqué­
de escaravelhos ou anéis com sinete, pingentes e selos funerários simbolizavam tipo é a Grande Esfinge de Gizé,
a energia geradora, a renovação cíclica e, no cristianismo primitivo, a ressurrei­ que exibe a cabeça de Quéfren
ção. Na China, o escaravelho era considerado um modelo de autogênese. Esca­ voltada para o sol nascente -
ravelho: ver Amuleto; Anel; Sol uma imagem antiga e serena
que não tem nada a ver com o
Escorpiã© - Morte, castigo, caráter vingativo, traição. Na mitologia grega, o “enigma da Esfinge”, invenção
caçador Órion foi picado de morte por um escorpião, por sua jactância ou por do gênio grego para criar mitos.
concentrar sua atenção na caçadora Ártemis. As esfinges funerárias egípcias -
Assim como a serpente, o escorpião era às vezes emblema guardião: no Egito como os guardiães com cabeça
era consagrado a Selket, protetor dos mortos. A crença de que ele segregava um de carneiro, em Karnak - evoluí­
óleo medicinal contra seu próprio ferrão fez com que ele adquirisse na África ram para as esfinges protetoras
um simbolismo ambivalente de ferimento e cicatrização. aladas do Oriente Próximo e, por
O escorpião é uma criatura demoníaca na Bíblia e aparece na arte medieval co-' fim, para o monstro híbrido gre­
mo emblema de traição mortal e às vezes de inveja ou ódio. Na arte, é atributo go com asas, cabeça e seios de A esfinge, de um relevo egípcio. Essa imagem da cria­
da África e também da Lógica, talvez como símbolo de argumento conclusivo. mulher que abordou Édipo na tura mostra sinais de transição para a forma grega.
Escorpião: ver Serpente; Zodíaco estrada para Tebas e lhe pergun­
tou (com risco de vida) o que caminhava com quatro pernas de manhã, duas ao
Escuridão - Assim como a cor negra, um símbolo ambivalente que represen­ meio-dia e três à tarde - a resposta era: o homem. Essa esfinge inteiramente gre­
ta não só morte, pecado, ignorância e o mal, mas também potencial de vida - o ga (vista pelo psicanalista Cari Jung como uma imagem da fêmea devoradora ou
mistério da germinação. Assim, tem significado negativo apenas quando conside­ “mãe terrível”) levou ao simbolismo popular da esfinge como enigma ou fonte de
rada dentro da dualidade de luz e escuridão, quando se liga a escolhas regressivas. conhecimento antiga. Esfinge: ver Asas; Carneiro; Leão; Mãe; SABEDORIA; Sol
No pensamento místico, a luz e a escuridão são aspectos da vida igualmente ne­
cessários. A escuridão precede a luz como a morte precede a ressurreição. O sim­ Esmeralda - Regeneração e fertilidade - simbolismo provavelmente ba­
bolismo maternal da escuridão explica ícones como a Virgem Negra. Mais ob­ seado na cor verde primaveril desse berilo. Era pedra importante na mito­
viamente, a escuridão simboliza mistério (um “cavalo escuro”), ocultamento logia asteca, associada à plumagem verde de quetzal, arauto da primavera e,
(manter alguém “na escuridão”) e o desconhecido (um “salto no escuro”). Escuri­ portanto, com o deus-herói Quetzalcoatl. Lá e em outros lugares era asso­
dão: ver Luz; Mãe; MORTE; Noite; Preto; Sombra; Terra; Virgindade; Yin-Yang ciada à Lua, à chuva, à água e ao leste. É símbolo cristão de imortalidade,
fé e esperança, além de ser a pedra do papa. Os alquimistas a ligavam a Her­
Esfera —A esfera compartilha o simbolismo da perfeição com o círculo e de mes; e os astrólogos, ao planeta Júpiter e ao signo de Virgem. Seu papel ex­
totalidade com o globo. O símbolo grego da esfera era a cruz gamada (uma cruz tenso no folclore como amuleto de cura mescla o simbolismo da fertilidade
num círculo), antigo emblema de poder. A esfera armilar — esqueleto de um glo­ com a tradição de poder oculto que pode ser usado para o bem e para o mal,
bo, composto de aros de metal para demonstrar a teoria ptolomaica da Terra co­ devido à crença de que é uma pedra do inferno, caída da coroa de Lúcifer.
mo centro do cosmo — era um emblema antigo da astronomia. Esfera: ver Cír­ Daí estar entre os talismãs mais poderosos contra doenças (incluindo epi­
culo; CRUZ; Globo, Orbe lepsia e disenteria). Considerava-se que acelerava o parto e também reforçava
a visão, talvez porque os feiticeiros usavam a pedra para ver o futuro. Esme­
Esfinge - Originalmente, no Egito, um monumental leão com cabeça huma­ ralda: ver Agua; Alquimia; Chuva; Demônios; JÓIAS; Lua; PLANETAS; Ver­
na que simbolizava o poder e a majestade do Sol e a glória eterna do governante de; VIRTUDES; Zodíaco
Espada — Além de sua óbvia função agressiva/protetora, importante símbolo trevas, não tinham reflexo. Embora os espelhos apareçam às vezes na arte oci­
de autoridade, justiça, julgamento decisivo, discernimento, intelecto penetran­ dental como atributos desfavoráveis do Orgulho, da Vaidade ou da Luxuria,
te, poder fálico, luz, separação e morte. Uma explicação para o simbolismo in- com maior freqüência simbolizam a Verdade - a sabedoria popular de que o
comumente rico da espada é que a habilidade oculta da fabricação de espadas espelho nunca mente: “Você pode não ir”, vocifera Hamlet para a mãe, “até eu
significava que se atribuíam poderes sobrenaturais a algumas espadas mais for­ a munir de um espelho onde você consiga ver seu aspecto mais profundo.”
tes, afiadas e equilibradas que outras. Daí as muitas lendas de espadas mágicas, (Shakespeare, Hamlet, 3:4; c. 1600). A Virgem Maria é representada, às vezes, se­
como a Excalibur, da lenda arturiana, e o aparecimento freqüente da espada gurando um espelho - referência à sua imaculada castidade e ao menino Jesus co­
como emblema de mágica. Os cultos a ela, sobretudo no Japão e em rituais re­ mo o espelho de Deus. O espelho (até o fim da Idade Média, em geral um disco
ligiosos das cruzadas medievais, conferiram-lhe um papel tanto cerimonial redondo de bronze ou prata, polido num dos lados) era um emblema da deusa
quanto militar, como na outorga de títulos de cavaleiro. Uma espada (na fábu­ grega Afrodite (Vénus, para os romanos) e das deusas-mães no Oriente Médio.
la, retirada da cauda de um dragão de oito cabeças) é um dos Três Tesouros do O significado filosófico do espelho como símbolo da vida auto-examinada é
imperador japonês. Na arte, a espada é atributo das personificações da Justiça, difundido nas tradições asiáticas e tem importância especial na mitologia e re­
Constância, Fortaleza e Ira — e de São Paulo, que chamou a palavra de Deus ligião japonesas: o deus-criador Isanagui deu aos filhos um espelho, dizendo-
de “a espada do espírito”. A espada de dois fios é um símbolo particular do reino lhes que se ajoelhassem e olhassem para dentro dele dia e noite, até haverem
ou verdade divinos, sobretudo no Apocalipse, onde se projeta da boca de Cristo deixado de lado os maus pensamentos e as paixões. No inferno do xintoísmo,
(1:16). De maneira semelhante, o budismo faz referência à espada da sabedo­ um espelho gigante reflete os pecados dos recém-chegados e determina a região
ria a cortar a ignorância. Vishnu é mostrado com a espada flamejante do co­ de suas punições, no gelo ou no fogo. O espelho de bronze latano-Cagami,
nhecimento. A forma de chama da espada de duas lâminas também está asso­ mantido em uso no mais importante santuário xintoísta do Japão, simboliza
ciada à purificação, como na alquimia, onde o objeto é emblema de fogo. Amaterasu, a deusa-sol, que foi tentada por um espelho mágico a emergir da
A pureza está subentendida pelo querubim bíblico com espada flamejante que caverna em que escondera sua luz divina. O espelho era um emblema solar im­
guarda o caminho de volta ao Éden (Gênesis 3:24). A espada pousada entre o perial passado de imperador para imperador. Tanto no hinduísmo quanto no
homem e a mulher na cama sugere pureza, assim como separação. Na lenda, budismo, ele simboliza a compreensão iluminada de que o mundo fenomênico
Dionísio, tirano de Siracusa, manda suspender sobre a cabeça de um cortesão é uma ilusão, mero reflexo. lama, o guardião hindu do além-túmulo, também
ambicioso uma espada — a espada de Dâmocles —, presa por um simples fio de se vale de um espelho para avaliar o estado do carma de uma alma. O espelho
cabelo, o que veio a simbolizar a precariedade do poder. Como um emblema da é uma das oito coisas preciosas do budismo. É um emblema chinês da sinceri­
justiça, a espada em geral aparece com a balança. É carregada pelo arcanjo dade, da harmonia e felicidade conjugal associado à pega.
Miguel, e aparece com significado punitivo oposto ao lírio nas pinturas do Cristo Em quase toda parte, os espelhos têm sido associados à magia e sobretudo
julgador. A espada quebrada simboliza fracasso. No simbolismo dos sonhos chi­ à adivinhação por poderem refletir acontecimentos passados ou futuros, as­
nês, a mulher que sacar uma espada da água terá um filho homem; a queda de sim como os do presente. Os xamãs da Ásia Central apontavam os espelhos
uma espada na água pressagia a morte de uma mulher. Evitar a morte é o sim­ para o Sol ou para a Lua a fim ler o futuro. O espelho também pode simbolizar
bolismo da dança das espadas. Espada: ver Alquimia; Armas; Balança; Cavaleiro; uma porta mística para um mundo paralelo, como em Alice no País das Ma­
Dança; Dragão; Falo; Fogo, Chama; Luz; Querubim; VIRTUDES ravilhas. A superstição muito difundida de que partir um espelho traz má
sorte se liga às noções primitivas de que o reflexo de uma pessoa contém
Espelho — Veracidade, autoconhecimento, sinceridade, pureza, iluminação, parte da força de sua vida, ou uma “alma” gêmea. E é também amplamente
adivinhação - símbolo predominantemente positivo por causa de sua antiga disseminado que o brilho ou o embaçamento de um espelho é uma alego­
associação com a luz, sobretudo a luz dos discos, parecidos com espelhos, do ria para o estado da alma de uma pessoa. Tanto no pensamento islâmico
Sol e da Lua, que se acreditava refletirem a divindade sobre a Terra. Daí a cren­ quanto no cristão, o coração humano é comparado a um espelho que refle­
ça de que os espíritos maus não podiam suportar espelhos e, como espíritos das te Deus. Espelho: verCarma; Casamento; CASTIDADE; Coração; Gêmeos;
Lago; Lua; Luz; O OUTRO MUNDO; Pega; SETE PECADOS CAPITAIS; Esquadro - Antigo emblema do imperador chinês como Senhor da Terra e
VAIDADE; VERDADE depois do Mestre de Loja, na maçonaria, com seu ângulo reto a simbolizar o
dever do maçom de preservar a moral, a retidão, a justiça e a verdade. Esqua­
Espinho — Aflição ou proteção. A acácia espinhosa aparece em ambos os sig­ dro: ver VIRTUDES
nificados simbólicos no Oriente Médio antigo — como atributo da deusa pro­
tetora egípcia Neith e do Cristo zombado com sua coroa de espinhos. Espi­ Esqueleto - Como o crânio, símbolo de morte da car­
nho: ver Acácia; Coroa; Coroa de Flores, Grinalda; Pintassilgo; Tordo ne, em geral usado como memento mori na arte (e, de acor­
do com o autor grego do século I, Plutarco, nos banque­
Espifat — Desde tempos imemoriais, um símbolo dinâmico da força da vida, tes egípcios).
cósmica e microcósmica. As formas espirais são vistas na natureza, de galáxias A Morte costuma ser personificada por um esqueleto com uma
a furacões e redemoinhos, de serpentes enroscadas ou conchas cônicas a im­ gadanha, o Ceifeiro Implacável. Assim fazem alguns deuses da
pressões digitais humanas e (como a ciência descobriu) à estrutura de dupla hé­ morte, como na iconografia maia. Os esqueletos são mostrados
lice do DNA no âmago de todas as células. com freqüência dançando ou fazendo amor, em geral como
Na arte, a espiral está entre os mais comuns de todos os motivos decorativos, ... . v , i| 1 Representação xama-
sátira dos prazeres carnais, mas as vezes como símbolo da r
. . . / , . x , nista do esqueleto, de
indo das espirais duplas celtas no norte da Europa até as volutas nos capitéis ro­ vida que vem, com o esqueleto (como o espirito), sobrevi-
. uma imagem encon-
manos e às espirais nos entalhes e tatuagens maoris no Pacífico Sul. As espirais vendo à morte. Esqueleto: ver Caveira; MORI E; Ossos , ,,
^ tracla no danada.
maoris, baseadas nas formas da samambaia, mostram a ligação estreita entre os
motivos espirais e os fenômenos naturais. Embora isso às vezes forneça uma cha­ Esquerda e Direita -No Ocidente e em algumas outras tradições atribui-
ve para seu simbolismo, as espirais são tão alegóricas que às vezes é necessário dis­ se maior valor simbólico à direita que à esquerda, provavelmente, no máximo,
por de outras pistas para ler seu significado específico. O simbolismo dos motivos porque a maioria da população é destra. Com poucas exceções, a direita está as­
espirais decorativos é, com freqüência, mais inconsciente que consciente. sociada à precedência, à ação e ao princípio solar masculino, a esquerda à posição
Entalhadas em megálitos, as espirais sugerem uma jornada labiríntica para a secundária, fraqueza, passividade e ao princípio lunar feminino. Como sugere a
outra vida e talvez um retorno. As serpentes espiraladas dos caduceus e as es­ palavra sinistro, para os romanos a esquerda estava ligada à má sorte. A preferên­
pirais duplas em geral sugerem o equilíbrio de princípios opostos - o signifi­ cia pela direita é particularmente marcada no simbolismo cristão, que em geral es­
cado do motivo yin-yang, que é ele próprio uma forma de espiral dupla. As tigmatiza a esquerda como o lado escuro dos pecadores e da magia negra. Na
forças vórtices do vento, água ou fogo sugerem ascensão, descenso ou a ener­ China, o conceito da harmonia yin-yang contribuiu para uma divisão menos rí­
gia rotativa que impulsiona o cosmo. gida dos valores simbólicos. No Japão, em geral a esquerda recebe precedência: es­
Por adicionar movimento à forma circular que gira, a espiral também simbo­ tá associada à honra, nobreza, sabedoria e ao princípio celeste e solar masculino,
liza o tempo, os ritmos cíclicos das estações e do nascimento e morte, a lua nas enquanto a direita limita-se às qualidades lunar e feminina. As tentativas de expli­
suas fases cheia e nova, e o Sol (em geral simbolizado pela espiral). Como a car o simbolismo de esquerda e direita em relação ao movimento do Sol ou estre­
“serpente' iogue situada na base da espinha dorsal, o enrolamento em forma las fracassam por sua inconsistência e sugerem que as atitudes se baseiam apenas
de mola da espiral sugere poder latente. A espiral desenroscada é fálica e mas­ no costume. O significado político moderno de “esquerda” e “direita” segue um
culina, a enroscada é feminina, o que também faz da espiral dupla um símbo­ precedente de 1789, quando os reformadores sentavam-se à esquerda, e os reacio­
lo de fertilidade. nários, à direita, na primeira Assembléia Nacional Francesa. Esquerda e Direita:
A espiral como linha aberta e circulante sugere extensão, evolução e continui­ ver Mão; Preto; Yin-Yang
dade, além de movimento ininterrupto concêntrico e centrípeto, o verdadeiro
ritmo da respiração e da própria vida. Espiral: ver Caduceu; Concha; Furacão; Esqy lio - Símbolo de fertilidade no Japão. Na Europa, esse animal comparti­
Kundalini; Labirinto; Lua; Serpente; Sol; Roda; Yin-Yang lha o simbolismo de destrutividade e voracidade dos outros roedores. Suas jor-
nadas rápidas para cima e para baixo nas árvores sugeriam o mito escandina^ Estreia — Supremacia, constância, guia, guar­
de um esquilo leva-e-traz que incentivava a inimizade entre a águia no topo ( da, vigilância e aspiração. Crenças antigas de
Arvore Centro do Mundo, Yggdrasil, e a serpente no solo. Esquilo: ver Rato que as estrelas dominavam ou influenciavam a
vida humana, como divindades ou seus agentes,
ESTAÇÕES — Como as fases da Lua, as estações eram símbolos universais explicam grande parte do simbolismo da estrela,
de nascimento, crescimento, morte e renascimento, os ciclos regulares da assim como sua gigantesca influência sobre o
natureza e da vida humana. A maioria das tradições reconhece quatro sistema de símbolos da astrologia. A mitologia
estações. A mitologia dos nativos da América sustentava que elas eram grega povoou o céu com deuses e heróis estela­
causadas pela luta de deuses rivais que controlavam as quatro direções do es­ res. Na religião, as estrelas formavam as coroas
paço. O Egito e algumas outras culturas reconheciam apenas três estações das grandes deusas-mães, notavelmente Ishtar,
Estrela de oito pontas represen­
- inverno, primavera e verão. no Oriente Próximo, e da Virgem Maria. As es­
tando a grande deusa do Oriente
Na arte e astrologia ocidentais, a primavera é representada por uma criança trelas eram janelas cósmicas ou pontos de entra­
Próximo, Ishtar, de uma esteia
ou mulher jovem com raminhos de flores. É associada à deusa grega da no céu. Eram os olhos de Mitra, deus persa esculpida.
Afrodite (Vénus, na mitologia romana), ao deus Hermes (Mercúrio), à Flora da luz. No Antigo Testamento, a “estrela de
(deusa das flores) romana, ao cordeiro ou ao cabrito e aos signos do zodía­ Jacó” é símbolo messiânico, relembrado no Novo Testamento, quando se descre­
co Áries, Touro e Gêmeos. ve Cristo como “a gloriosa e resplandecente estrela da manhã”.
O verão é mostrado por uma mulher coroada com espigas de milho, carre­ Estrelas em movimento ou cadentes pressagiavam a morte de grandes homens ou
gando uma foice. Está associado à deusa Deméter (Ceres) ou ao deus Apoio, o nascimento de deuses, como na história natalina do nascimento de Cristo
ao leão ou dragão cuspindo fogo e aos signos de Câncer, Leão e Virgem. ou nos mitos indianos de Agni e Buda. No simbolismo geral, as estrelas mais
O outono é uma mulher com folhas de videira, uvas ou outra fruta, talvez significativas são a Polar, eixo simbólico do universo, e a “estrela” Vénus - em­
numa cornucópia. É associado a Dioniso (Baco), à lebre e aos signos de blema agressivamente brilhante da guerra e da energia da vida como a estrela
Libra, Escorpião e Sagitário. matutina e de prazer sexual e fertilidade como a estrela vespertina.
Já o inverno pode aparecer como um homem velho junto a um fogo ou uma Entre as imagens de estrela, o pentagrama de cinco pontas e o hexagrama de
mulher de cabeça descoberta numa paisagem de inverno. É associado a seis (desenhado com linhas internas conectando cada ponto) têm simbolismo
Hefesto (Vulcano) ou a Bóreas, à salamandra ou ao pato selvagem e aos sig­ importante, discutido em seus verbetes individuais. A estrela de quatro pontas
nos de Capricórnio, Aquário e Peixes. ESTAÇÕES: ver Cornucópia; é a estrela-sol de Shamash, o deus solar mesopotâmico. A estrela de cinco pon­
Dragão; FLORES; Fogo, Chama; Foice, Gadanha; Grão; Lebre, Coelho; tas era emblema sumério de Ishtar em seu aspecto guerreiro como a estrela da
Leão; Salamandra; Videira; Zodíaco manhã. Como emblema de ascendência, é a estrela com o crescente islâmico a
mais usada nas bandeiras e nas insígnias militares e policiais de hoje. Também
é a representação mais comum da Estrela de Belém, ou Estrela do Nascimento.
Estandarte - Emblema de poderio, sobretudo na guerra, em geral tido por Na maçonaria, a “estrela flamejante” de cinco pontas simboliza centro místico
incorporar o espírito de um grupo ou seu líder. Os múltiplos estandartes dos e regeneração. A estrela de seis pontas é a Estrela de Davi, a Estrela Polar e, às
guerreiros japoneses invocavam a vitória, enquanto os estandartes taoístas sim­ vezes, aparece como a Estrela do Nascimento. A estrela mística gnóstica tem
bolizavam a ajuda protetora dos espíritos ou deuses dos elementos. O estandar­ sete pontas. A de oito pontas, associada à criação, à fertilidade e ao sexo, era o
te tremulante é atributo do deus hindu do ar e do vento, Vayu. Estandarte: ver emblema de Ishtar no simbolismo posterior do Oriente Próximo, e de Vénus, co­
Ar; Qui-Rô; Vento; VITÓRIA mo estrela vespertina. Esta é uma forma alternativa da Estrela de Belém. Estrela:
ver Coroa; Crescente; Estrela Polar; Hexagrama; Meteorito; Olho; Oito; Pen­
Estômago — ver Barriga tagrama, Pentáculo; PLANETAS; Zodíaco
Estreia Polar — Constância, o eixo do firmamento que gira. Visível como
a Estrela Norte imóvel e brilhante na constelação de Ursa Menor, era de enorme
importância na navegação. Muitas tradições veneravam-na como o zénite de
um poste ou coluna que ligava as esferas terrestre e celestial. Era às vezes con­
siderada como o brilhante Portão do Céu. Os antigos egípcios associavam a es­
trela polar de sua era (Thuban, em Draco) com as almas de seus faraós, e os chi­
neses com o supremo ser. O próprio Pólo Norte - às vezes representado por um
fio de prumo, como no simbolismo maçónico - era conectado a um centro espi­
ritual individual para cada cultura, com freqüência uma montanha sagrada ou
Arvore Centro do Mundo. O globo encimado por uma cruz é emblema polar.
Estrela Polar: ver Alma; Árvore; CRUZ; Globo, Orbe; Montanha; Roda

Esttipa - Relicário com domo construído


como símbolo do ensinamento de Buda —
a renúncia aos desejos terrestres. Em sua
forma clássica baseada no simples túmulo
em forma de cômoro, a base quadrada
simboliza o plano terrestre, o domo, o ovo
cósmico, encimado por uma sacada que
representa os 33 céus governados por Shiva.
O conjunto é penetrado por um mastro
axial com anéis ou guarda-sóis que simbo­
liza a ascensão de Buda e a fuga do círculo
da existência. Estupa: ver Anel; Domo;
Eixo; Guarda-Sol; Ovo; Quadrado

Excrementos — Na África, sobretudo


no Mali, símbolo de poder fertilizador, re­
síduo da força vital que pode ser purificada
e posta em uso. Daí a queima e oferenda de excrementos aos seres criadores,
como Nommo entre os dogons ou o deus Faro entre os bambaras, e, mais rara­
mente, o comer ritual. Por sua cor vermelha, o cobre era considerado uma forma
de esterco espiritual que podia ser transformada em ouro. Do mesmo modo, a
alquimia associava o nigredo, ou estado de corrupção, ao primeiro estágio de um
processo que poderia produzir ouro. Excrementos: ver Alquimia; Ouro

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Faca - Instrumento ritual de sacrifício, circuncisão e martírio, a faca é em ge­
ral símbolo de destruição, sobretudo nas mãos das divindades indianas, embora
no budismo possa significar rompimento com os laços do materialismo. E atri­
buto de diversos santos cristãos martirizados, entre eles Sao Bartolomeu, que
teria sido esfolado vivo. Freud associou a faca ao falo em sua interpretação dos
sonhos. Faca: ver Circuncisão; Falo; Sacrifício

Fadas - Personificações dos desejos ou frustrações humanos na forma de pes­


soas pequenas com poderes mágicos. Aparecem na maioria das tradições fol­
clóricas sob vários nomes, em geral como espíritos da natureza que gozam as
próprias vidas num nível sobrenatural, às vezes intrometendo-se em questões
humanas. Sua importância no simbolismo é principalmente oral e literária.
Como seu nome (derivado do latim fata, “destino”) sugere, elas aparecem es­
sencialmente para explicar gentilmente as obras do destino com suas dádivas
ou decepções imprevisíveis. Os contos de fadas sao excepcionalmente ricos em
simbolismo, psicológico e social, retratando os desafios apresentados pelos di­
ferentes estágios na vida. Fadas: ver Asas; Vara Mágica

Faisão - Emblema imperial e yang na China, associado por sua beleza e cor ao
Sol, à luz, à virtude e à capacidade organizadora dos altos funcionários públicos.
Os chineses também o associavam ao trovão, presumivelmente pela batida de
suas asas. No Japão, era mensageiro da grande deusa-sol, Amaterasu. O faisão
chinês e o pavão indiano (membros da mesma família) eram aves exóticas na
Europa antiga, e sua plumagem brilhante pode ter influenciado as representa­ Faio - Criação, força geradora, fonte de vida — símbolo solar e de fertilidade
ções artísticas da mitológica Fênix. Faisão: ver Aves; Fênix; Pavão; Sol; Trovão ativa que se acreditava amplamente proporcionar proteção e boa sorte. Na
arte, os falos eretos em escala gigantesca geralmente eram mais simbólicos
Faísca — Símbolo da alma nas tradições órficas, gnósticas e cabalísticas, entre que eróticos. Imagens de Príapo, o hediondo mas gigantescamente bem-do-
outras, concebida como um fragmento da luz divina, separado da divindade tado filho do deus Dioniso (Baco, na mitologia romana) e da deusa Afrodite,
no universo dualista de luz e escuridão, mas capaz de reunir-se a ela uma vez (Vénus) eram colocadas nos jardins, vinhas e pomares gregos e romanos para
libertada do mundo material. Faísca: ver Alma; Fogo, Chama; Luz estimular o crescimento das plantas e espantar ladrões e corvos com seu falo
pintado de vermelho. Muitos objetos voltados para cima ou penetrantes usa­
Faicao, Gavião — Superioridade, aspiração, espírito, luz e liberdade - co­ dos como símbolos no mundo antigo tinham significado fálico. Os objetos
mo a águia, emblema solar de vitória. O falcão é uma espécie muito semelhante funerários fálicos simbolizavam a continuidade da vida após a morte. Os talis­
ao gavião (mas com asas maiores e maior alcance), tornando-se difícil distin­ mãs de formato fálico eram populares entre fazendeiros e pescadores e também
guir na iconografia uma espécie de outra. Portanto, o simbolismo das duas es­ eram usados como amuleto contra a esterilidade. Falo: ver Bastão; Cabeça;
pécies é discutido junto. No Peru, o falcão aparece com significado solar, como Coluna; Homem; Linga; Ônfalo
companhia ou alma irmã dos Incas e também como ancestral humano. Era o
rei das aves no Egito antigo, onde muitos deuses eram mostrados com o corpo
FAMA - Personificada na arte por uma figura feminina com uma lon­
ou a cabeça de um falcão, incluindo Rá, que em geral tinha um disco no lugar
ga trombeta, às vezes alada, a Fama pode aparecer coroada ou carregando
da crista, simbolizando o Sol nascente. Hórus, deus do céu e do dia, é especi­
um ramo de palmeira, sentada num globo ou andando numa carruagem

«Si
ficamente um deus-falcão, com seu olho pintado parecido com o do falcão e
puxada por elefantes. Outros símbolos da fama incluem o cavalo alado
que constitui emblema comum nos amuletos egípcios, significando a agudeza
Pégaso e o deus romano Mercúrio. FAMA: ver ANIMAIS MITO­
de sua visão protetora. Ba, símbolo do espírito individual, tinha corpo de ga­
LÓGICOS; Asas; Coroa; Elefante; Globo, Orbe; Palmeira; Trombeta
vião e cabeça humana. Na tradição ocidental, o falcão é emblema do caçador
e está associado aos deuses do céu germânicos Wodan e Friga, bem como ao
trapaceiro nórdico Loki. O falcão encapuzado representa esperança (de luz e
liberdade). O simbolismo de predador aparece com maior raridade. Como em­ Fasces - Emblema punitivo do poder do Estado sobre o
blema da família de Ana Bolena (segunda esposa de Henrique VIII), um falcão indivíduo - originalmente de origem etrusca, era um ma­

í\
branco simbolizou de maneira adequada suas aspirações e seu comportamento chado envolvido por varetas de bétula ou olmo do qual a

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predatório em vista daqueles ameaçados pela reforma religiosa de Henrique. cabeça projetava, significativamente, o poder dos magistra­

1
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O falcão é agora símbolo da atitude belicosa. Falcão, Gavião: ver Amuleto; dos romanos para açoitar ou decapitar. O machado era re­

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Águia; Alma; Aves; Luz; Olho; Sol; Trapaceiro; VIRTUDES movido dos fasces na própria Roma para conhecimento
dos direitos do cidadãos de apelar contra a pena capital.
> Os fasces eram carregados por oficiais (lictores) que acom­
panhavam os magistrados romanos, e o número carregado
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aumentava para 12 se cônsules e 24 se ditadores. Os fasces


tinham um significado secundário de unidade, pois às vezes
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aparecem na arte como o símbolo conjugal do Cupido.


Para Mussolini, os fasces forneciam um
símbolo de coerção adequado para os Fasces simbolizando o poder do cônsul roma-
objetivos políticos do fascismo, em no Cícero, de um afresco de fins do século XV
que os interesses do indivíduo eram subordinados à ação direta de uma eli­ esperança de vitória sobre a mor­
te nacionalista. Numa exibição do idealismo comunal, o fascismo italiano te. Nas pinturas medievais, repre­
interpretava as diversas varetas como diferentes classes sociais e o machado co­ senta a natureza divina de Cristo
mo a autoridade suprema do Estado. Fasces: ver Bétula; Chicote, Magual; quando ao lado do pelicano (sím­
Doze; Machado bolo de sua natureza humana). A
Fênix também pode aparecer co­
Fâ tl n Q — ver Sátiro mo atributo da Caridade. Motivo
comum na alquimia, simboliza o
FeiJâO - Fecundidade, sobretudo masculina, ligado nas tradições egípcia e fogo purificador e transformador,
greco-romana às almas dos mortos (o feijão era um alimento órfico1 proibido) o elemento químico enxofre e a
e promessa de vida que virá. Era usado como encantamento amoroso na índia e cor vermelha. Uma lenda judaica
era um talismã popular no Japão, onde se costumava espalhá-lo pela casa para atribuiu a longevidade da ave a
afastar raios e maus espíritos. Feijão: ver Alma; Raio sua recusa em comer a fruta proi­
bida do paraíso.
Feixe de Trigo - ver Grão Às vezes, fazem-se analogias en­ ção de um herbário do século XIV
tre a Fênix e outras aves mitoló-
Fênix - O mais famoso de todos os símbolos de renascimento — ave lendária tj| gicas. Essas comparações incluem o Simurgh persa, o chinês Feng-huang
que se renova indefinidamente no fogo. A lenda da Fênix originou-se na cidade (símbolo de interdependência conjugal) e o Quetzal da América Central.
de Heliópolis, antigo centro egípcio de culto ao Sol, onde eram feitos os sacri­ H Apenas o Simurgh partilha o simbolismo da Fênix o suficiente para sugerir
fícios à garça Benu, como o espírito criativo do Sol. Baseados nesses rituais do J| a possibilidade de que os dois mitos hajam enriquecido um ao outro. Há li-
fogo e nas descrições de aves exóticas mais esplêndidas, como o faisão dourado, || gações estreitas com as lendas árabes da salamandra que vive no fogo. Fênix:
os escritores gregos teceram histórias que variam nos detalhes, mas têm uma §f ver Águia; Alquimia; ANIMAIS MITOLÓGICOS; Aves; Enxofre; Faisão;
coerência geral. A Fênix (palavra aplicada tanto à palmeira solar quanto à ave) |fi Fogo, Chama; Garça; LONGEVIDADE; Palmeira; Pelicano; Salamandra;
era um único pássaro macho de longevidade miraculosa - 500 anos, ou mais |g Sol; Vermelho
em alguns relatos. Ao fim desse período, a Fênix construía um ninho aromá­
tico, se auto-imolava, renascia três dias depois e carregava o ninho e as cinzas FerradlJfa — Talismã antigo contra o mau-olhado — mas só se o calcanhar es-
da encarnação anterior para o altar do Sol em Heliópolis. jj| tiver apontado para cima. Isso apóia a teoria de que a suposta mágica da ferra-
De início, símbolo do desaparecimento e reaparecimento cíclicos do Sol, a §§ dura dependia do simbolismo protetor da lua em forma de chifre, com o ferro
Fênix logo se tornou emblema da ressurreição humana - e por fim do espírito em forma de crescente. Uma explicação mais simples é que a ferradura protegia o
indomável do ser humano para superar provações. Como os artistas nunca cavalo. Ferradura: ver Chifre; Crescente; Olho
sabiam ao certo qual seria a verdadeira aparência da ave, sua iconografia é
facilmente confundida com o simbolismo geral solar (e da alma) de outras aves Ferreiro — Símbolo das habilidades criativas divinas ou mágicas na maioria
- sobretudo com a águia supostamente libertada na pira funerária de um im­ :1 das tradições antigas, associado às forças naturais do trovão, relâmpago, fogo e
perador romano.
H; |fè atividade vulcânica e aos vários tipos de iniciação nos mistérios da terra. Na mi­
Nas moedas romanas, a Fênix simbolizava o império imortal. Aparece na es­ tologia grega, o ferreiro é o deus coxo Hefesto (Vulcano, na mitologia romana).
cultura funerária cristã antiga como símbolo da ressurreição de Cristo e da Tipicamente, age como um demiurgo ou técnico do deus criador, e é benevo-
1. Relativo ao orfismo, culto religioso-filosófico difundido na Grécia a partir dos séculos VII e VI a.C., legado ao culto de
a |f lente, apesar de sua ligação com o mundo subterrâneo. Ferreiro: ver Coxea-
Dioniso, e que se acreditava instituído por Orfeu. (N. do E.) m dura; Fogo, Chama; Trovão; Vulcão
WÈê
Ferro — Dureza masculina, rigidez, força — é um símbolo menos de civilização te cristã uma figueira seca às vezes representa here­
(embora possa ter alguma lógica do ponto de vista histórico) do que de infle­ sia. Fecundidade é o significado mais amplo da fi­
xibilidade áspera e da brutalidade destrutiva da guerra. Embora o ferro dos me­ gueira, notavelmente no Egito, onde a variedade
teoritos fosse apreciado como um metal celeste, sobretudo pelos astecas, o ferro sicômoro era a Árvore da Vida, associada a Nut e
fundido era visto nos primórdios da Idade do Ferro como instrumento do mal. Hator como deusas nutridoras celestes. No Cha-
Era associado à “dor do homem” pelo autor grego Heródoto (c. 484-425 a.C.), de, qualquer um que podasse uma figueira era con­
à dureza implacável da vida contemporânea pelo poeta grego Hesíodo (século siderado sob risco de esterilidade. A figueira tam­
VIII a.C.), e aos ossos do deus destrutivo Seth, pelos egípcios. Esse simbolismo bém tinha simbolismo de fecundidade na índia,
sugere que o ferro era tradicionalmente visto como um metal vulgar em compa­ onde estava ligada ao poder procriador de Vishnu e
ração com o cobre e o bronze, sem falar no ouro, todos estes preferidos para a Shiva, e onde a variedade sagrada Bodhi era a árvore
produção de artefatos religiosos em particular. O ferro tornou-se e, depois, sím­ debaixo da qual Buda atingiu a iluminação espi­
bolo de escravidão, pela associação com os grilhões, embora também possa apa­ ritual. Daí seu significado no budismo como
recer com simbolismo protetor ou da fertilidade, e o ferro batido também em emblema do ensinamento moral e da imortali­
decoração de igrejas. Ferro: ver Bronze; Corrente; METAIS; Meteorito; Ouro dade. A figueira, como a oliveira, aparece na tra­
dição islâmica como a árvore frutífera proibida
FID E LID A Ü. - Personificada na arte por uma mulher segurando uma do paraíso.
chave e um sinete de ouro, às vezes acompanhada por um cão — este, um O figo, ou o sinal da figa (um polegar intercala­
do entre os dedos indicador e médio), era um sinal Adão bíblico segurando uma
dos símbolos mais comuns de fidelidade. Outros atributos incluem a ân­
medieval contra o mau-olhado, bem como um folha de figueira, de um deta­
cora, a cor azul, o cálice, o grou, o diamante, o pato, o elefante, a esme­
gesto obsceno. Figueira: ver Árvore; Árvore Bodhi; lhe de Adão, Eva e a Serpente
ralda, a granada, o cinturão, o ganso, o jacinto, a hera, o alcião, a opala, o
pinheiro, o alecrim e o topázio. FIDELIDADE: ver os verbetes individuais Falo; Oliveira (Espanha, século XII).

Flagelação - Quando auto-infligida, é símbolo de penitência, purificação, dis­


Figueira — Abundância, nutrição materna, procriação - a árvore sagrada da ciplina ou adoração sacrificial. Conhecida desde tempos antigos em muitos
vida em muitas regiões (notavelmente no Egito, índia, Sudeste Asiático e par­ cultos e religiões, a flagelação tornou-se tão popular entre as seitas cristãs dos sé­
tes da Oceania). A maioria dos significados da figueira vem de sua importân­ culos XI ao XV que foi proscrita como comportamento herege. Acreditava-se que
cia como fonte de alimento no mundo antigo. O formato da folha da figueira não só corrigia recaídas espirituais ou exorcizava tentações pessoais, mas também
(famosa na arte por cobrir os genitais masculinos) e a seiva leitosa extraída das afastava demônios, pragas, fome e esterilidade. Punições por chicotadas tinham
variedades maiores de figueiras como um tipo de borracha acrescentam aspec­ com freqüência simbolismo semelhante. Flagelação: ver Chicote, Mangual
tos sexuais poderosos a seu simbolismo. No Gênesis, Adão e Eva foram os pri­
meiros a usar folhas de figueira para proteger seu pudor quando comeram a Flecha - Penetração - pela luz, pela morte, pelo amor (humano ou divino),
fruta proibida e “perceberam que estavam nus”(3:7). pela percepção. Do ponto de vista gráfico, a flecha representa energia, precisão
Os gregos deram à figueira simbolismo fálico, tornando-a um atributo de direcional e aniquilação da distância. Ela aparece como símbolo do Sol e é o do­
Príapo e de Dioniso. Na tradição romana, os meninos Rômulo e Remo, len­ ce dardo penetrante de Cupido e de outros deuses do amor. Seu simbolismo fá­
dários fundadores de Roma, foram amamentados sob a sombra protetora de lico, proeminente no hinduísmo, também é sugerido pela escultura de Bernini
uma figueira, que a partir daí se tornou um augúrio da prosperidade nacio­ O Êxtase de Santa Teresa (1645-52). A flecha pode significar a ira de Alá, mar­
nal, simbolismo também encontrado no judaísmo. Como Jesus lançou a tírio e morte cristãos, em especial por raios ou por doenças rápidas, como a peste
praga da esterilidade sobre uma figueira improdutiva (Mateus 21:19), na ar­ bubônica. Reunidas em feixes ou quebradas (como no simbolismo dos nativos
americanos), representam paz. No xamanismo, as flechas com penas consti­
tuem símbolo de ascensão. A vida contemporânea reduziu as setas sobretudo
a sinais de direção. Flecha: ver Arco (arma); PAZ; Pena; Raio; Sol
FLORES - Beleza (em especial a feminina), perfeição espiritual, ino­
cência natural, bênção divina, primavera, juventude, suavidade - mas
também a brevidade da vida, a alegria do paraíso. A flor é, essencial­
FIor-de-LÍS — Mais conhecida como emble­
mente, um símbolo conciso da natureza em seu auge, condensando
ma dos reis franceses (e agora dos escoteiros) do
num breve período de tempo o ciclo de nascimento, vida, morte e re­
que como um símbolo propriamente dito, é to­
nascimento. A ikebana, arte japonesa de decoração por arranjos florais,
davia notável pela diversidade de associações li­
baseia-se nesse tema simbólico. Nas religiões orientais, as flores tam­
gadas a ela, que variam de pureza a fecundidade,
bém representam o desdobramento da vida espiritual, simbolizada
prosperidade e glória. A flor-de-lis heráldica é
especificamente pelo lótus. As flores têm significado espiritual em
um lírio estilizado com três flores (de fato é mais
muitas religiões. Assim, Brahma e Buda são mostrados emergindo de
como uma íris com praganas).
flores; a aquilégia, parecida com a pomba, é a flor do Espírito Santo;
O emblema originou-se na lenda de que Clóvis,
e a Virgem Maria é representada segurando um lírio ou íris. As flores
rei dos francos, recebeu um lírio em seu batismo,
também aparecem na arte como atributos da esperança e do amanhe­
como símbolo de pureza. A ornamentação foi
cer, e como lembrança da natureza efêmera da vida mundana em na­
escolhida como o emblema do rei francês no sé­
A flor-de-lis, emblema da realeza turezas-mortas. O simbolismo das flores individuais é variado, indo
culo XII, e a superabundância de lírios por
francesa desde o século XII. de alegorias da virtude (o lírio da pureza) ou sabedoria (a flor de ouro
Carlos V em honra à Santíssima Trindade.
taoísta que desabrocha na cabeça) às associações a sacrifícios de san­
O lírio também tinha associações antigas com a fecundidade, e versões de flores-
gue (nos astecas mexicanos) e à morte de deuses ou seres humanos (flo­
de-lis aparecem nas iconografias antigas etrusca, indiana e egípcia, aparentemente
res vermelhas ou pintalgadas com esta cor, incluindo a anémona, a
com simbolismo de renascimento e solar. As flores centrais em geral recebem um
papoula e a violeta). As cores, odores e qualidades das flores em geral
formato de flecha ou lança, o que sugere poder militar, bem como vigor mas­
determinam seu simbolismo — por exemplo, o lírio branco, da pureza;
culino. Flor-de-Lis: ver Batismo; Falo; Flecha; íris (flor); Lança; Lírio; Trindade
o jasmim, com seu forte perfume, de convite sexual; a vistosa magnó-
lia, de ostentação ou auto-estima. O uso funerário de flores mais de­
FLORES — ver quadro na página 147
licadamente perfumadas como emblemas de continuidade da vida ou
renascimento é conhecido desde o antigo Oriente Médio. As rosas
Floresta — Símbolo junguiano do inconsciente e suas ameaças, mas em algu­
eram espalhadas nas sepulturas romanas com esse significado. A for­
mas tradições, em particular no budismo, uma imagem do santuário.
ma receptiva da flor, semelhante ao cálice, tem simbolismo passivo e
No folclore europeu e nos contos de fadas, a floresta é um local de mistérios,
feminino, e suas camadas em tríade significam harmonia cósmica. A
perigos, provações ou iniciação. Estar perdido na floresta ou encontrar um ca­
flor tornou-se um eficiente símbolo da paz para a “geração das flores”,
minho por ela é uma metáfora poderosa do terror da inexperiência e a obten­
na década de 1960. FLORES: ver Amanhecer; Amaranto; Amor-
ção do conhecimento — do mundo adulto ou de si mesmo. Para comunidades
Perfeito; Anémona; Asfódelo; Camélia; Cravo; Cravo-de-Defunto;
estabelecidas, a floresta é o desconhecido, o incontrolável, o local de habitação
Crisântemo; Dente-de-Leão; Girassol; Heliotrópio; íris (flor); Lírio;
de divindades menores e de espíritos, alguns deles aterradores, como o espíri­
Lótus; Mimosa; Narciso; Orquídea; Papoula; PAZ; Peônia; Pomba;
to eslavo da floresta, leshi.
Prímula; Roda; Rosa; Sacrifício; Sangue; SETE PECADOS CAPI­
A escuridão úmida, terrosa e semelhante a um útero da floresta ligava-se no
TAIS; Violeta; Virgindade; VIRTUDES
mundo antigo a idéias de germinação e ao princípio feminino. Para os druidas,
era a parceira feminina do Sol. Entender a floresta, suas plantas e seus animais
era a marca de dádivas xamanistas, notavelmente na América Central. Nas tra­ na) e dos clássicos, com seus deuses benéficos, como Hefesto (Vulcano, na mito­
dições asiáticas, a floresta pode equiparar-se ao “ermo” do deserto dos eremitas logia romana). Muitos cultos ao fogo eram horripilantes, como no asteca do
do Oriente Médio como um local de recolhimento do mundo, onde é possí­ México e também na adoração pelos cananeus de Moloch, para quem sacrifica­
vel entrar em contemplação e desenvolvimento espiritual. Floresta: ver Árvore; vam-se crianças. Onde o fogo não era cultuado diretamente constituía em geral
Iniciação; Lobo; Mulher; Terra; Urso; Varrão poderoso símbolo da revelação divina, como no Livro do Deuteronômio (12:11),
quando “a montanha queimou com fogo” e Jeová falou aos hebreus do meio
Foca - Associada pelos gregos à transformação. Ninfas virginais, transformadas dele. Também no cristianismo, o fogo é uma encarnação do Espírito Santo.
em focas para escapar de homens importunos, integravam o cortejo do deus do O fogo é manifestação do Grande Espírito nas tradições dos nativos da América
mar Proteu (que podia, ele próprio, mudar de forma à vontade). Daí, talvez, as do Norte, onde a fogueira era imagem de felicidade e prosperidade e o próprio Sol
lendas de sereias e contos de fadas de focas que se desfazem de suas peles e vagam era chamado Grande Fogo. No budismo, a coluna de fogo é símbolo do Buda, e
pelo litoral como sedutoras mulheres. Foca: ver ANIMAIS MITOLÓGICOS o fogo como iluminação pode ser uma metáfora do conhecimento. No pensamen­
to místico, o fogo em geral simboliza a união com a divindade, transcendência da
FolcOf Gadanha — Morte, mas também fertilidade. A foice curva era símbo­ condição humana, o fim de todas as coisas. Daí o conceito do fogo espiritual que
lo lunar de colheita do deus agrícola Cronos (Saturno, na mitologiâ romana). queima sem consumir - os “sábios parados no fogo sagrado de Deus” do poema
Com esse significado, a foice também era atributo do deus da fertilidade Príapo e Sailing to Byzantium [Navegando para Bizâncioj, de 1927, escrito por W. B. Yeats.
do verão. Na mitologia grega primitiva, Cronos usou uma foice para castrar seu O fogo na arte cristã é o teste definitivo de pureza ou fé, um coração flamejante
pai, Ouranos (Urano) - num simbolismo de separação da criação terrena do céu. como emblema de diversos santos, entre eles Santo Agostinho e Santo Antônio de
Na arte, a Morte (às vezes personificada como Pai Tempo ou o Ceifeiro Implacá­ Pádua. O conceito associado de purgar o mal pelo fogo levou às atrocidades mais
vel) carrega uma gadanha. Foice, Gadanha: ver Castração; MORTE cruéis da Igreja Cristã. O judaísmo também usava a chama como símbolo puni­
tivo ou defensivo - os anjos com espadas flamejantes guardam um Éden perdido.
Fog©* Chama - Energia divina, purificação, revelação, transformação, rege­ O simbolismo de ressurreição do fogo é personificado pela fênix e pela salaman­
neração, ardor espiritual, provação, ambição, inspiração, paixão sexual - elemen­ dra - e também pelos rituais da Páscoa das Igrejas Católica Romana e Ortodoxa
to masculino e ativo que simboliza ao mesmo tempo o poder criativo e destruti­ Oriental, em que os círios são extintos e em seguida acesos
vo. Graficamente, o fogo era representado por um triângulo na alquimia, na qual a partir de “um novo fogo”. As fogueiras de Ano-Novo
era o elemento unificador. Em escala doméstica (o fogo da lareira), sua imagem é têm sua origem em modalidades de simpatia, associando
protetora e confortante; como força consumidora da natureza, é ameaçadora. o ato de acender novas fogueiras ao retorno da luz e ao ca­
Uma dualidade de louvor e medo fundamenta os rituais do culto ao fogo. Nas cul­ lor do Sol. No Japão, contudo, os fogos de xintoístas de
turas antigas ou primitivas, ele parece ter sido reverenciado primeiro como um Ano-Novo têm a intenção de impedir o risco de fogos des­
deus real, depois como símbolo do poder divino. Elemento aparentemente vivo, trutivos no ano vindouro. Na Europa, raposas (também
crescendo daquilo de que se alimenta, morrendo e reaparecendo, era às vezes inter­ associadas ao fogo) com tochas presas às caudas eram
pretado como uma forma terrestre do Sol, com o qual compartilha a maior parte perseguidas pelos campos, com semelhante objetivo. O
de seu simbolismo. Devido às repercussões importantes de fazer fogo para o desen­ significado de espantar o mal está ligado às bombinhas
volvimento humano, é visto em quase todos os mitos como habilidade divina. Daí chinesas, consideradas afugentadoras de demônios.
as lendas do fogo roubado dos deuses do céu por heróis como Prometeu, ou obti­ A importância nas culturas primitivas de preservar os
do pela persuasão de uma divindade infernal, como no caso do herói Maui nos mi­ fogos domésticos fundamenta a sacralidade emblemáti­
tos da Nova Zelândia (onde era plausível uma origem vulcânica da ilha). ca da chama imortal — como no fogo vigiado pe­
Nos mitos e no ritual do culto ao fogo, as tradições mais duradouras e menos las vestais em Roma; ou na tradição olímpica o deus do fogo maia,, IIuehueteotl,
ameaçadoras têm sido as do Irã (de onde o deus veda Agni basicamente se origi­ rnoderna, em que a chama carregada para cada carregando um braseiro na cabeça.
novo jogo simboliza a continuidade dos ideais esportivos tradicionais. Igualmente orja — ver Ferreiro
primitiva, a antiga técnica de fricção para fazer fogo fundamenta o simbolismo se­
xual deste, que tem sido com freqüência usado como metáfora do desejo. Fogo, ormígai - Diligência, paciência, humildade, previdência. Na China, a for­
Chama: ver Alquimia; Anjos; Batismo; Chaminé; Coluna; Coração; Cremação; miga simbolizava a ordem e o servo incansável. Sua diligência, vista na Bíblia
ELEMENTOS; Espada; Fênix; Fumaça; Raposa; Sacrifício; Salamandra; Sol; como uma virtude, era considerada um tanto excessiva pelo pensamento hin-
Solstício; Transformação; Triângulo; Vela; Vermelho; Virgindade; Vulcão duísta e budista; assim, tornou-se a imagem da atividade interminável e insig­
nificante de quem está cego para a transitoriedade da vida humana. No Mali,
FoSha — Emblema chinês de felicidade. As folhas jovens com mais freqüência as formigas eram organizadoras benéficas que teriam dado origem a habilidades
partilham o simbolismo conferido à vegetação verde. As folhas em geral sim­ como a da construção e da tecelagem, e cujos ninhos, por simpatia, poderiam
bolizam incontáveis vidas humanas — e sua brevidade. Folhas a cair no outono, trazer fecundidade. Os comedores de formigas, de maneira contrária, represen­
antiga metáfora de mortalidade, tornaram-se no século XX um clichê cinema­ tavam dano. No Marrocos, as formigas eram dadas como alimento a pacientes
tográfico para a passagem de tempo. Folha: ver Verde letárgicos para melhorar seu metabolismo.

Fonte — Força da vida e, por extensão, rejuvenescimento e imortalidade. Tam­ Forno, Fornalha - Matriz ou útero - instrumento de purificação espiri­
bém símbolo do centro cósmico, do espírito divino, da purificação, da inspiração tual ou de regeneração. A “fornalha abrasadora” na qual Nabucodonosor lan­
e do conhecimento. As tradições cristãs e islâmicas colocam uma fonte ou nas­ çou os administradores judeus da Babilônia, Shadrach, Meshach e Abednego
cente no centro do paraíso, aos pés da Arvore da Vida, da qual as correntes fluem é um símbolo bíblico de provação espiritual. Para espanto do rei, eles saíram
para os quatro pontos cardeais — imagem que influenciou os desenhos da futura ilesos, provando a superioridade de seu Deus sobre o ídolo dourado que eles
arquitetura de jardins e igrejas. O “rio de água pura” (Revelação 22:1) das fontes tinham sido ordenados a adorar. O simbolismo de purificação do forno ou da
era igualado ao Pai e ao Filho, de modo que a fonte se tornou símbolo não só da fornalha deriva dos processos de metalúrgicos e alquímicos. Forno, Fornalha:
pureza, mas da revelação e redenção. Na mitologia nórdica, o deus Odin dá um ver Alquimia; Fogo, Chama; Mulher
de seus olhos por um gole de água da Fonte do Conhecimento, que flui do ei­
xo do mundo, a árvore Yggdrasil. A tradição órfica grega sustentava que, ao se des­
viar da Fonte do Esquecimento e beber da Fonte da Memória na entrada do FORTUNA - A idéia de que o destino é caprichoso costuma ser re­
Hades, garantia-se a imortalidade. A Fonte da Juventude, tema popular na arte,
i presentada na arte ocidental por figuras baseadas na deusa romana
remonta no passado pelo menos ao mito romano em que o deus Júpiter transfor­ Fortuna, originalmente uma divindade da abundância que depois se
ma Juventas numa fonte. Um tema inter-relacionado é o efeito rejuvenescedor do
amor, daí o aparecimento freqüente do Cupido a presidir essa fonte e o simbolis­
im tornou mais volúvel. Os atributos comuns são o navio, o leme, a
proa, a vela e a esfera. Alternativamente, a Dama da Fortuna, que era
mo sexual de seu jato d’água. A fonte selada é uma imagem cristã de virgindade. popular na iconografia espanhola, aparece girando uma roda na qual
■St? alguns ascendem enquanto outros são lançados ao solo. FORTUNA:
As lendas orientais localizavam a Fonte da Vida no extremo norte, embora a Fló­
rida, nos Estados Unidos, já tenha parecido, para os europeus, um local provável. ver os verbetes individuais
Fonte: ver Agua; Árvore; Nascente (Água); PONTOS CARDEAIS; Virgindade
jjgBggj-
«Freixo - Árvore cósmica escandinava, que liga o inferno, a terra e o céu e
Forasteiro — Na maioria das tradições primitivas, símbolo enigmático da simboliza fecundidade, união de opostos, invencibilidade e continuidade da
mudança iminente - talvez um deus, talvez um rival perigoso. Na lenda grega, vida. Na mitologia grega, o freixo encarna a força (e, portanto, é sagrado pa­
um dos inimigos de Héracles (Hércules) é Busíris, rei egípcio que sacrificava ra Zeus), mas no folclore báltico, a árvore é um emblema de simploriedade,
forasteiros, a começar pelo profeta que lhe disse que essa prática poderia aca~ talvez porque suas folhas surgem tardiamente e se desprendem com rapidez.
bar com a fome no país. Freixo: ver Árvore
FRUTA - Abundância, prosperidade, prazeres ou desejos afcl
terrenos - o alimento utilizado com maior freqüência pa-
ra representar o estado paradisíaco da Idade de Ouro da
vida pastoral. Várias frutas (ver os verbetes individuais)
partilham alguns dos simbolismos do ovo. Na ar­
te, as frutas são atributos de Ceres e de outras di­
vindades agrícolas, além do Verão, do Gosto, da
Caridade e da Gula. FRUTA: ver Ameixa; Cere­
ja; Cornucópia; Figueira; Jujubeira; Laranja; O deus do arroz, Inari, mostra­
Maçã; Melancia; Morango; Oliveira; Ovo; Pêra; do com duas raposas, que
Pessegueiro; Romã; SETE PECADOS CAPI­ atuam como seus mensageiros
TAIS; Tâmara; Tamarga; Videira; VIRTUDES e guardam seu saco de arroz.

Fumaça - Símbolo de ascensão - de preces ou almas purificadas. Entre os na­


tivos da América do Norte, a fumaça constituía um meio de comunicação nos
níveis tanto cósmico quanto mundano. Com menos freqüência, aparece como
símbolo de ocultação ou da natureza transitória da vida. Fumaça: ver Cachim­
bo da Paz; Incenso

Funcho - Percepção, visão aguçada - aparentemente derivado do relato de


Plínio de que as cobras melhoravam sua visão ao comerem essa planta. Coroas
de funcho eram usadas em ritos do deus supremo frígio e trácio Sabásio, cujo
atributo era a serpente. Funcho: ver Coroa de Flores, Grinalda; Serpente; Tirso

Furacão - Manifestação do poder divino — simbolismo encontrado nas tri­


bos nativas das planícies norte-americanas, bem como nos desertos do Oriente
Próximo. Na bíblia, Deus fala a Jó de dentro de um furacão. A iconografia in­
diana retrata deuses do furacão, notavelmente Rudra, com cabelos trançados
para expressar a energia espiral do tufão.
O furacão, que arranca objetos e os joga no ar, reverte o simbolismo do rede­
moinho e está associado à ascensão e aos poderes do voo, incluindo os voos
oportunistas de bruxas e demônios. Furacão: ver Bruxaria; Espiral; Vento

Fuso -A exemplo da teia de aranha, símbolo lunar da natureza transitória da vi­


da humana, mas com aspectos criativos mais positivos, sobretudo no folclore. O
fuso é atributo da deusa-mãe e das mulheres em geral. Na arte, é mantido por
Cloto, a Parca grega que tece o destino. Fuso: ver Aranha; Tecelagem; Teia
‘tV; \
j^GafanhotO - Emblema da sorre na China, ligado com a fertilidade. Nos
' ' .
; países em que o equilíbrio natural é delicado, símbolo de desordem cósmica —
J
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m $ •# * 4; mm - ' -■ |; sobretudo na Bíblia, onde uma praga de gafanhotos simboliza a ira de Deus.
/
: ■ >. ■ : 1 ' ' . '

j| - ; '
I . ■ :■ ■ , ;■ ■■■•;" ; Galhada - Símbolo benigno que representa a fertilidade da primavera, prospe­
•• •
... ' V. " « ."•: ■%* ,~4 j ridade e fecundidade. Os deuses celtas com galhadas, como Cernunnos, sim­
li .
bolizavam o crescimento das colheitas. A galhada de dez pontas dos xamas era
| considerada um emblema de seus poderes superiores. Galhada: ver Cervo; Chifre
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;'í',S ftgü: K«XS§M
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f ^ íf' '■■ %:. ■)
^Balho, Ramo - Os galhos usados, por exemplo, em ritos de fertilidade na
r primavera assumiram o simbolismo das árvores das quais eram cortados. Assim,
os galhos sacudidos de palmeira ou oliveira eram emblemas triunfais em pro-
I cissões, e os galhos de visco eram símbolos muito difundidos de ressurreição,
sobretudo no mundo celta. Na Eneida de Virgílio (meados do século I a.C.),
Enéias carrega um galho de visco para assegurar uma passagem segura pelos in­
mm. fernos. J. G. Frazer deu nome a seu grande estudo de religião comparativa com
t'i base no Ramo de Ouro utilizado no assassinato ritual do sacerdote de Diana
:--1 no lago Nemi por seu sucessor. O galho florido representa a Lógica na icono­
#: grafia medieval. Galho, Ramo: ver Acácia; Árvore; Madeira; Oliveira; Pal­
% meira; Visco
|f$ :
‘Mf :
f;; Galinha - Na África, um guia para o outro mundo, usada em sacrifícios pa­
ra chamar os espíritos. Na Europa é símbolo de cuidados maternais exagera-
dos. Uma galinha com pintinhos era imagem crista da divina providência. as três vêzes que Pedro negou ser discípulo de Jesus. Desde então, o galo tornou-
Mais raramente, a galinha representa a personificação da Caridade. Galinha: se um dos atributos de São Pedro, que é o padroeiro dos relojoeiros. As fábu­
ver Galo; Ovo; VIRTUDES las em que os animais arrogantemente gabam-se um dos outros são a origem
da expressão inglesa cock-and-bull (literalmente “galo e touro”), que significa
Galo - Vigilância, coragem, virilidade, presciência, confiabilidade - e, como “lorota”. Galo: ver Amanhecer; ANIMAIS; Basilisco; Branco; Bruxaria; Falo;
arauto do amanhecer, símbolo de ressurreição solar e espiritual. Esses atributos Fogo, Chama; Galinha; Iniciação; Luz; Porco; Serpente; SETE PECADOS
positivos são culturalmente mais difundidos que o orgulho, a arrogância e a lu­ CAPITAIS; Sol; Vermelho; VIGILÂNCIA
xúria, também associados ao galo. Está associado ao amanhecer, ao Sol e à
iluminação em quase toda parte, exceto nas tradições celtas e nórdicas. Na G3HS0 — Vigilância, loquacidade, amor, felicidade e fidelidade conjugal - sím­
China, onde sua crista vermelha também sugeria pôr-do-sol e outono, seu no­ bolo solar, sobretudo no Egito, e também emblema da liberdade, aspiração e
me é homônimo de boa sorte: o galo vermelho evita o fogo, o branco, os fan­ (por suas migrações) estações da primavera e outono. O simbolismo solar e be­
tasmas. O galo era sacrificado nos rituais de iniciação, mas não comido. néfico do ganso selvagem é próximo daquele do cisne, e os dois são virtual­
Exemplificava as cinco virtudes chinesas do mérito civil e militar, coragem,, mente intercambiáveis na tradição celta. O próprio Júlio César observou que
confiabilidade e generosidade (advinda de sua prática de oferecer comida a os gauleses domesticavam o ganso mais por prazer que por alimento. Era sím­
suas galinhas). Também era emblema funerário, que afastava o mal. bolo masculino dos guerreiros celtas. Também em Roma era associado ao deus
O galo também era animal sagrado no Japão, motivo pelo qual ficava livre nos da guerra, Marte, e tornou-se emblema celebrado de vigilância depois de um
templos xintoístas. O galo chama os devotos xintoístas para rezar do mesmo incidente em 390 a.C., quando o grasnar dos gansos sagrados no templo de
modo como uma vez chamou a deusa-sol Amaterasu para sair da caverna on­ Juno alertou os defensores do monte Capitólio para um ataque dos gauleses.
de ela escondia sua luz. No budismo, o galo, que representa os desejos carnais, Os gregos associavam os gansos a Hera, Apoio, Eros e ao deus-mensageiro
junta-se ao porco e à serpente como um dos três animais emblemáticos que Hermes. No Egito, além de mensageiro dos deuses, era a lendária ave que pôs
prendem a humanidade à roda de nascimento e morte. o ovo cósmico. Tornou-se emblema da alma dos faraós (como representantes
O galo também pode representar a luxúria na arte ocidental. No cristianismo, do Sol, nascidos do ovo primevo). Na entronização de um novo faraó, quatro
contudo, seu simbolismo é em geral positivo. Representa a luz e o renascimento, gansos eram despachados como arautos para os pontos cardeais. Os sacrifícios
que põem em fuga a escuridão da ignorância espiritual. Os cata-ventos de igreja de gansos no solstício de dezembro simbolizavam o retorno do Sol. Embora
em forma de galo são emblemas da vigilância contra o mal. O canto do galo faz fosse um emblema solar masculino na China, o ganso selvagem era também
desaparecerem as aparições fantasmagóricas da noite. Esse simbolismo solar e pro­ um importante símbolo como a ave lunar do outono na arte da China e do Ja­
tetor é antigo em todo o Oriente Médio. Na Grécia antiga, o galo era atributo de pão, provavelmente devido a seus voos migratórios. Era a montaria dos xarnãs
muitas divindades, entre elas Zeus, Apoio, Atis e Perséfone (deuses e deusas do re­ asiáticos e, na índia de Brahma, como o anseio da alma de libertação da roda
nascimento), Ares e Atena (divindades de belicosidade), Hermes (arauto) e Escu­ incessante da existêrçcia.
lápio (curador). O galo também é venerado no islã: era o pássaro gigante visto por Um tema simbólico secundário, muito difundido na fábula e no folclore, ba­
Maomé no Primeiro Céu a cantar — “Não há deus além de Alá”. seia-se no ganso doméstico e remonta à sua associação com a deusa suméria do
O galo é um mensageiro familiar do mundo subterrâneo nas tradições celtas e terreiro de fazenda, Bau. Aqui sua imagem é a de uma criatura tagarela e mater­
nórdicas, em que lidera almas, chama os mortos para a batalha ou alerta os nal, às vezes tola. O simbolismo sexual do ganso - associado a Príapo na Grécia
deuses para o perigo. Algumas tradições africanas associam sua reputação de - também era bastante difundido e sobrevive, em inglês, no termo goosing (de­
previsão à idéia de conhecimento secreto e, daí, à bruxaria. rivado de goose, ganso, e equivalente à expressão chula brasileira “afogar o ganso”,
O papel do galo como emblema da França parece derivar de um trocadilho ro­ ou seja, copular), sugerido pelo gesto amoroso do macho de esticar o pescoço
mano, pois o latim gallus pode significar tanto “galo” quanto “gaulês”. Outra para cutucar a fêmea. Ganso: ver Alma; Cisne; FIDELIDADE; Ovo; PONTOS
associação curiosa com o tempo é dada pelos três cantos do galo que contaram CARDEAIS; Sacrifício; Sol; Solstício; VIGILÂNCIA
Garça - Curiosidade, mas também em geral ave de bom augúrio, símbolo ..gêmeos — Dualismo harmonioso - ou tensão dualista. Os gêmeos insepa­
do sol matinal no Egito e modelo da Benu, ave semelhante a Fênix, reve­ ráveis mais famosos, que agem como guias benéficos, são Castor e Pólux, da
renciada como a criadora da luz. A garça era símbolo de ascensão na China mitologia clássica (chamados de dióscuros, “filhos de deus”, pois o pai era,
e às vezes aparecia em alegorias de cristãos elevando-se acima das tempesta­ em algumas narrativas, o grego Zeus - Júpiter, na mitologia romana). Outra
des da vida, assim como a garça transpõe as nuvens de chuva. Garça: ver dupla benéfica é a dos Asvins védicos, nascidos da deusa do céu e das nu­
Aves; Fênix; Sol vens. Ambas as duplas representam os aspectos positivos e poderosos do
simbolismo dos gêmeos. Os Asvins (talvez símbolos da estrela da manhã e
Gato - Habilidade para a atuação furtiva, poder de transformação e clarividên­ da estrela da tarde) trabalham juntos para introduzir o dia e a noite. Como
cia, agilidade, vigilância, beleza sensual e malícia feminina. Essas associações guerreiros, Castor e Pólux também simbolizam a força da união - e união
quase universais tinham peso e significado simbólicos diferentes nas culturas é o motivo para sua translação ao céu - como constelação de Gêmeos - após
antigas. No Egito, notavelmente no culto da deusa de cabeça felina Bastet ou a morte de Castor em batalha. A desunião dos gêmeos é exemplificada por
Bast, os gatos eram criaturas benignas e sagradas. Bastet, originalmente mos­ Rômulo e Remo. A história em que Rômulo mata seu irmão simboliza os
trada como uma leoa, era uma deusa lunar tutelar, popularmente associada ao perigos da divisão da responsabilidade. Em algumas sociedades antigas, como
prazer, fertilidade e forças protetoras. Em sua honra, os gatos eram venerados as da China e de parte da África, os gêmeos eram augúrios desfavoráveis, e
e em geral mumificados, juntamente com camundongos para comerem. Na um ou ambos eram deixados morrer. Em outros lugares, geralmente eram
iconografia, o gato aparecia como aliado do Sol, a cortar a cabeça da serpente objeto de estupefação, daí o número de lendas em que um ou ambos os gêmeos
do mundo dos mortos. Os gatos também eram associados a outras deusas lu­ são filhos de divindades. As tradições nativas da América incluem tanto he­
nares, entre elas a grega Artemis (Diana, para os romanos) e a deusa nórdica róis gêmeos quanto gêmeos com caráter radicalmente diferente. Na mitolo­
Freia, cuja carruagem puxam. Em Roma, sua liberdade e auto-suficiência tam­ gia iroquesa, por exemplo, um gêmeo é bom e o outro mau.
bém fizeram deles emblemas de liberdade. Em outros lugares, seu vagar no­ Os gêmeos podem simbolizar outras dualidades, tais como corpo e espírito,
turno e poder de transformação (dilatação da pupila, desembainhar e recolher pensamento e ação, e, talvez mais comumente, a dualidade da escuridão e da luz.
das garras, mudanças repentinas da indolência à ferocidade) eram vistos com Gêmeos: ver Duplas; Zodíaco
desconfiança. Os gatos negros, em particular, eram associados à astúcia do mal
no mundo celta, aos prejudiciais djins no islã, e à má sorte no Japão, onde as Gigante — Símbolo de adversário, com algumas semelhanças com o dragão
lendas populares descreviam como os gatos poderiam tomar os corpos das mu­ nas mitologias ocidentais, provavelmente às vezes extraídas de lembranças de
lheres (simbolismo misógino que sobrevive na língua inglesa no epíteto catty, antigos inimigos tribais que se tornavam mais grandiosas à medida que se te­
palavra derivada de cat, “gato”, que significa “maldosa, traiçoeira”). Na índia, ciam as lendas sobre eles. Geralmente retratados como brutais, agressivos, es­
onde os gatos encarnavam a beleza animal, os budistas parecem ter usado seu túpidos e desajeitados, os gigantes são derrotados nos mitos algumas vezes pela
alheamento contra eles: assim como a serpente, eles não lamentaram a morte combinação de esforços divinos e humanos, outras pela coragem e astúcia de
de Buda. A visão mais negativa de todas aparece no vasto folclore da bruxaria uma figura heróica. As lendas antigas de gigantes podem ser vistas como ale­
ocidental, onde os gatos apareciam como amigos demoníacos associados a or­ gorias da luta pela evolução social e espiritual contra forças bárbaras ou contra
gias satânicas - encarnações lascivas e cruéis do próprio Diabo. Gato: ver ANI­ as forças dos elementos da natureza. Os gigantes nórdicos, por exemplo, per­
MAIS; Bruxaria; Demônios; Leão; LIBERDADE; Preto; Serpente; SETE PE­ sonificavam diretamente os poderes do fogo e do gelo.
CADOS CAPITAIS; Sol; Transformação Em diversas cosmogonias, a destruição de uma raça de titãs ou gigantes é des­
crita como um estágio primevo no processo de criação - simbolismo de sacri­
Gavião — ver Falcão, Gavião fício que pode estar na base da queima de figuras gigantes de vime cheias de
vítimas animais e humanas, como era característica de alguns rituais pagãos no
Gazela — ver Antílope solstício de verão. Na psicologia, por seu tamanho físico exagerado, os gigantes
são símbolos da autoridade dos pais, em particular a paterna. Gigante: ver mente da natureza de mamífero marinho amigo, brincalhão e inteligente. As
HF;
Dragão; Fogo, Chama; Herói, Heroína; Fai mitologias grega, cretense e etrusca, em que os golfinhos carregam deuses, sal­
vam heróis de se afogarem ou carregam almas para as Ilhas dos Abençoados,
|§gi :
Gínseng - Símbolo oriental de virilidade, seu significado masculino baseia- influenciaram seu simbolismo cristão. Foi um atributo das divindades gregas
jjl ;
se aparentemente no formato fálico que as raízes às vezes apresentam. Usados Posêidon (Netuno, na mitologia romana), Afrodite (Vénus), Eros (Cupido) e
i
há séculos na China como afrodisíacos de grande reputação, os remédios fei­ Deméter (Ceres). Dizia-se que Dioniso (Baco) havia transformado marinhei­
tos de ginseng também desfrutam a fama de possuírem a qualidade “celestial” :
1 ros bêbados e ímpios em golfinhos, e se transformou num deles para carregar
de promover o equilíbrio físico e mental. Ginseng: ver Falo adoradores de golfinhos cretenses para seu santuário em Delfos.
Como emblema do Cristo sacrificado, o golfinho pode aparecer perfurado por
GírâSSOl — Adoração solar - simbolismo usado por Anton van Dyck (1599- um tridente ou com o símbolo secreto da cruz de uma âncora. Entrelaçando uma
1641), que pintou um auto-retrato com um girassol para se insinuar junto a âncora, o golfinho é símbolo de prudência (velocidade
Carlos I da Inglaterra, seu “sol” real. O girassol, planta levada da América do refreada). Os herdeiros do trono francês eram
Norte para a Europa, é às vezes confundido com o heliotrópio, fonte de um chamados de dauphins (delfins), mas
mito grego de fascinação pelo Sol. Girassol: ver Heliotrópio sem o simbolismo do golfinho
- era um nome pessoal que se
Glândô |Boí©tâ)— Fecundidade, prosperidade e poder de crescimento espi­ tornou título dos governan­
ritual do cerne da verdade — simbolismo responsável pela “bolota” no cordão tes da província de Dauphi-
vermelho do chapéu cardinalício. As glandes eram sagradas para o deus rural nór­ né e que passou para a coroa Hermes (Mercúrio, na mitologia romana) monta golfinhos
dico do trovão, Thor, como parte do culto ao carvalho. Podem ter significado francesa no século XIV. com arreio, do mosaico de um soalho (séculos II - Ia.C.).
fálico em algumas gravuras celtas. Glande (Bolota): ver Carvalho; VERDADE
[Górgona - ver ANIMAIS MITOLÓGICOS
Globo, Ofb€ — Domínio mundial ou autoridade absoluta — emblema de
poder que data pelo menos do Império Romano. Por compartilhar com a esfera ; Gorro - ver Barrete
o simbolismo de totalidade, o globo é um atributo popular na arte das figuras
que representam as qualidades universais da verdade, fama, fortuna e abundân­ Graal - Símbolo romântico de desejo do coração - de nutrição espiritual
cia, até a justiça, filosofia e artes liberais. O globo também é o atributo dos ou física, integridade psíquica ou imortalidade. Nas lendas medievais elabora­
deuses onipresentes, como os gregos Zeus (Júpiter, na mitologia romana), Eros das e encantadoras do Graal, sua natureza física exata é tão indefinível
(Cupido), Apoio e Cibele. Na iconografia cristã, Deus geralmente segura ou quanto o próprio prêmio. Originalmente (na França), o Graal aparece co­
está sobre um globo. Um orbe coroado por uma cruz representa o domínio de mo um simples prato de servir com propriedades mágicas, que não difere
Cristo e era um emblema dos imperadores do Sacro Império Romano, como da cornucópia clássica ou do caldeirão mágico celta (a fonte pagã mais pro­
ainda é dos soberanos britânicos. Os imperadores, reis ou líderes espirituais, tais vável da lenda). Aqui o Graal parece referir-se à restauração mágica dos pode­
como o papa, em geral sustentam o globo na mão esquerda. Um globo coroado res declinantcs de um governante (o Rei Pescador) ou da própria natureza.
representava a pedra filosofal na alquimia. Um globo com estrelas é atributo Também foi identificado com a pedra filosofal procurada pelos alquimistas.
de Urânia, a musa da astronomia. Globo, Orbe: ver Coroa; CRUZ; Esfera; Alternativamente, era uma taça, lança, espada ou livro. Por fim, na versão
Estrela; FAMA; FORTUNA; Pedra Filosofal; VERDADE; VIRTUDES cristã, o Graal era o cálice usado por Cristo na Ultima Ceia, ou a taça da
imortalidade que já pertencera a Adão, que a perdeu, ou o cálice no qual Jo­
Golfinho — Salvação, transformação, velocidade, poder do mar, amor — em' sé de Arimatéia disse ter pegado o sangue de Cristo quando Ele foi crucifi-
blema de Cristo como Salvador. O simbolismo do golfinho provém direta- l!’ cado. Como tal, o Graal tornou-se símbolo do sagrado coração de Cristo,
conferindo graça divina. A psicologia junguiana via o Graal como símbolo Grifo — Criatura híbrida solar que combina a cabe­
do anseio da humanidade de encontrar seu próprio centro e como um sím­ ça, as asas e as patas da águia com corpo de leão. Por
bolo essencialmente feminino (o cálice), que dá e recebe. Graal: ver Caldeirão; causa desses dois aspectos (águia e leão), que sim­
Cálice; Cavaleiro; Centro; Coração; Cornucópia; CRUZ; Espada; Lança; bolizam o domínio do ar e da terra, e, juntos, for­
Livro; Mulher; Pedra Filosofal; Sangue; Taça mam um emblema duplo do poder do Sol,
grifo era um motivo poderoso - popular a
Grade de Presbitério — Partição de madeira ou pedra esculpida e de­ partir, pelo menos, do segundo milênio an­
corada, situada entre o coro e o corpo principal da igreja cristã medieval, e que tes de Cristo na Ásia Ocidental, depois no
originalmente sustentava um crucifixo. Como o véu do templo hebreu, sim­ Oriente Médio e na Grécia e, por fim, na Eu­
bolizava a divisão entre as esferas material e espiritual, terra e céu. Grade de ropa. Símbolo hebreu da Pérsia (os poderes
Presbitério: ver CRUZ; Véu afirmativos do zoroastrismo), tinha signifi­
cado demoníaco na Assíria, mas parece que
Gralha - ver Corvo em Creta desempenhava um papel protetor
na decoração dos palácios. Na Grécia, onde
g|,. =
Grão - Fertilidade, crescimento, renascimento, a dádiva divina da vida. Em to­ o grifo era consagrado a Apoio, a Atena co­
das as regiões em que os grãos eram um produto principal, o grão parecia uma mo sabedoria e a Nêmesis como castigo, a
imagem miraculosa e consoladora da continuidade da vida por meio da mor­ lenda dizia que grifos guardavam o ouro na
O grifo, de uma estatueta de bronze
te, o grão (trigo, cevada ou milho) amadurecendo na terra e reaparecendo na índia e na Cítia. Na iconografia cristã anti­
islâmica encontrada em
primavera. Assim disse Cristo no Evangelho de São Joao (12:24): “A menos ga, o grifo era usado para simbolizar as for­
Camposanto, Itália.
que um grão de trigo caia na terra e morra, permanece apenas um simples ças da perseguição, vingança ou impedi­
grão; mas se morrer, produz muito fruto.” Atributo da Mãe dos Grãos grega, mento. Todavia, no século XIV, emerge como emblema da natureza dual de
Deméter, a espiga de grãos “colhida em silêncio” era o símbolo central dos mis­ Cristo - humano e divino - e de vigilância corajosa, que era seu significado co­
térios eleusinos, que prometiam vida nova, tanto humana quanto vegetal. Os mum na heráldica. Grifo: ver Águia; ANIMAIS MITOLÓGICOS; Asas; Leão;
grãos eram emblema funerário na China, em Roma, no Oriente Médio e, como SABEDORIA; Sol; VIGILÂNCIA
atributo do deus Osíris, no Egito. Na iconografia, espigas de grãos aparecem
como atributos da maioria dos deuses e deusas da terra e no manto da Virgem Grilhões - Além de seu significado óbvio de restrição, os grilhões podem sim­
Maria nas artes medieval e renascentista. bolizar na iconografia poder judicial, sobretudo o das divindades ou governan­
Os astecas adoravam diversos deuses de grãos, maiores e menores, enquanto no tes, e sua aceitação pelas pessoas obrigadas pela lei. Assim, Varuna, deus védico
Peru a fertilidade era representada por uma mulher feita de hastes de milho, da ordem cósmica, é mostrado segurando cordas. Grilhões: ver Corda; Corrente
ícones de milho pintados de azul na América do Norte simbolizavam a sínte­
se fertilizadora da terra vermelha e do céu azul. Grilo — Emblema de felicidade e boa sorte, em especial na China, onde grilos
Na arte, a deusa romana Ceres aparecia coroada com espigas de grãos e segu­ P cantantes eram em geral mantidos em caixas ou gaiolas ornadas. Simbolizavam
rando um feixe. Uma espiga de trigo com uma relha de arado representa a o período de verão, coragem (eram encorajados a lutarem entre si) e também
Idade da Prata, um feixe atado simboliza a Concórdia, enquanto grãos e videi­ ressurreição, provavelmente por sua metamorfose a partir do estágio larval.
ras representam a Eucaristia Cristã. Os grãos também podem representar
abundância e prosperidade. É alimento e semente - o sabugo, do qual crescem liproui — Vigilância, longevidade, sabedoria, fidelidade, honra - um simbolismo
os pedacinhos de alimento, uma imagem da ejaculação. Grão: ver Azul; Ceva­ particularmente importante na China e no Japão. Um simbolismo contrário
da; Mãe; Prata; Terra; Vermelho aparece na índia (onde representa traição) e em algumas regiões celtas (como
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ave de mau agouro). Os antigos se impressionavam com a beleza e energia do


grou, sua migração e reaparições na primavera, sua complexa dança de acasa­
lamento, sua voz e sua postura contemplativa no descanso.
O grou está ligado na China à imortalidade; na África, ao dom da fala; e ern
muitos lugares, à habilidade de se comunicar com os deuses. Seu retorno cíclico
também sugeriu regeneração, um simbolismo de ressurreição às vezes usado
no cristianismo.
Na Grécia antiga, os gritos dos grous em migração anunciavam a floração da
primavera e a colheita do outono. O papel da ave na arte como a personifica­
ção da Vigilância pode remontar a uma descrição feita nos trabalhos de Aristó­
teles, em que o grou segurava uma pedra no bico para acordá-lo caso caísse no
sono e deixasse a pedra cair. Na China, onde um grou voando para o Sol sim­
bolizava aspirações sociais, o corpo branco do pássaro representava pureza, e
sua cabeça vermelha, o fogo da vida. No Egito, o grou de duas cabeças repre­
sentava prosperidade. Grou: ver Aves; Branco; Duplas; LONGEVIDADE;
Vermelho; VIGILÂNCIA

Guarda-Chuva - ver Guarda-Sol

Guarda-Sol - Soberania, domínio espiritual, ascensão, dignidade, riqueza,


proteção — emblema solar e real em toda a índia e Ásia. Na índia, o guarda-sol
era atributo de Vishnu e Buda. Em nível terrestre, protegia dignitários da luz
solar e servia como elaborado símbolo do elevado status deles, com seu topo
em domo a representar o céu, seus suportes irradiados — os raios solares agin­
do como um nimbo solar e a haste como eixo do mundo. O mesmo simbo­
lismo aparece nos discos semelhantes ao guarda-sol que encimam os pagodes,
representando esferas celestiais. Os suportes do guarda-sol também simboliza­
vam rodas de energia (<chacras) no budismo tântrico. Guarda-Sol: ver Chacra;
Disco; Domo; Eixo; Nimbo; Raio; Roda; Sol
Hábito — Túnica com capuz que simboliza votos de pobreza na cristandade e
no islã. Tem um significado particular na Arábia: o khirka (manto sagrado de lã)
dos místicos sufis marcava a entrada, após três anos, do iniciado na comunida­
de dos ascetas, julgado capaz de seguir a Lei, o Caminho e a Verdade. Hábito:
ver Iniciação

Halo - Auréola circular amplamente utilizada na arte


cristã entre os séculos V e XV para simbolizar a di­
vindade ou santidade da Trindade, Sagrada Família,
santos e anjos. A convenção, baseada na auréola que
cerca o disco do Sol, foi adaptada de imagens pagãs
de deuses do Sol ou de governantes divinizados, par­
ticularmente da iconografia do mitraísmo, que o
cristianismo suplantou no Império Romano.
A “imagem flutuante” do halo constituiu uma
forma posterior. Halo: ver Anel; Auréola; Man-
dorla; Nimbo; Sol

Harpa — Pureza e poesia — instrumento dos


coros angelicais, do rei Davi e, de modo pree­
O halo em forma de cruz foi bem
minente, do mundo celta (daí Gales ter por popular na arte crista do século IX.
emblema uma harpa). Dagda, o grande deus O exemplo é de uma imagem orto­
paterno, tocava uma harpa mágica. As cordas doxa oriental.
da harpa formavam um símbolo de escada que ascendia para o paraíso nos lais Davi (que unificou Judá e =z = == ~ ==zr == =z=: EE
(poemetos medievais cantados ou recitados ao som da harpa) da Noruega e Israel) e é o emblema do mo- HZ " ~ ~~ ~~ " ~
Islândia. No painel do Inferno, no Jardim das Delícias Terrenas (c. 1495), Bosch derno Estado de Israel. Era an- EH EEE EH EE EE EE E E EE
utilizou a harpa como uma imagem memorável da angústia espiritual ao repre­ BI teriormente chamado Selo de n zrzz zrzz zrz zr-zz :zzzr =-=
sentar a figura crucificada nas cordas. Harpa: ver Anjos §; Salomão ou Escudo de Salomão EEE EH EEE EE EH EH EH EE
^ -s K _ embora esse possa anterior- == —= — zz — zz EE EE EE EE
HeSiotrÓpiô - Adoração - significado sugerido pela posição da planta, vol­ mente ter sido o pentagrama, ^ZI “ ~ “ ~ ZZI Z ” ZZZ Z ~
tada para o Sol. O heliotrópio tinha um simbolismo solar nas grinaldas imperiais í estrela de cinco pontas da qual zz = zzzz == zzzz: zrzz zzrzz zETEi
romanas e asiáticas e era emblema cristão de devoção religiosa, atributo de san­ || há indícios arqueológicos mais---------- ------ -------------- ------- ------ -------
tos e profetas. Na mitologia grega, a jovem Clítia, cega de amor, foi transfor­ antigos na Palestina. Formatos EE EE 11:'— EE EE EH ~ — E E
mada num heliotrópio para seguir indefinidamente o objeto de sua paixão |C de hexagrama também aparecem EE EE EE EE EE EE EE — —
irrealizável, o deus-sol Hélio. Heliotrópio: ver Sol mm nas mandalas indianas como —--------- ------* -— ~—----------------------
imagens de meditação e, com iz Ezz EE zzzz z: zz zz zz zz E E E
Hera - Imortalidade, e tenacidade — da vida e do desejo. Por refrescarem a fron­ é. significado misterioso, em enta-
te, acreditava-se que as coroas de hera também evitavam a embriaguez, daí as m lhes em pedra
r na América Cen- n 64
Os r/, hexagramas
1 /•
chineses, c
conforme / na
usados
coroas de hera usadas pelo deus grego Dioniso (Baco, na mitologia romana) e |- trai. Na alquimia, o hexagrama ang divinatória do I Ching. Cada grupo delinhas
sua comitiva, que bebiam muito vinho. Em essência, a hera incorporava a força ^ simbolizava as dualidades mas- tem um significado diferente.
da vida vegetal no antigo Oriente Médio e era atributo dos deuses da ressur­ culino/feminino do fogo e da
«Ki °
reição - Osíris no Egito, Dioniso no mundo grego e Átis na Frigia. Heras en­ i água (o triângulo invertido), e, posteriormente, a união dos quatro elementos
roladas no bastão de Dioniso simbolizavam o ardor protetor e feminino de seus ou o “quinto elemento” (a quintessência). Na magia, o emblema do hexagrama
cultuadores. Na arte cristã posterior, a hera constituía símbolo tanto de fide­ era associado ao exorcismo.
lidade quanto de vida eterna (pelo fato de a hera continuar a crescer nas árvores I Na China antiga, linhas codificadas usadas em adivinhação também chamadas
mortas). Os crânios com coroas de hera em pinturas de natureza-morta tam­ de hexagramas eram grupos de seis linhas, quebradas ou não, que simboliza-
bém se referem à imortalidade. Hera: ver Caveira; Coroa de Flores, Grinalda; T vam qualidades arquetípicas e que possibilitavam 64 permutações, cada uma
FIDELIDADE; Tirso !J delas com um significado diferente. Hexagrama: ver Alquimia; Mandala; Pen-
gp tagrama, Pentáculo; Quintessência; Seis; Triângulo; Trigramas
Hermafrodita — ver Andrógino
m Híbrido - ver ANIMAIS MITOLÓGICOS
Herói* Heroína — Na psicologia junguiana, símbolo de vigor psíquico,
celebração do espírito humano. De acordo com essa interpretação, as pro­ ■Hiena — Na tradição européia, símbolo de covardia, cobiça e hipocrisia, metá-
vações por que passa o herói representam os desafios da autodescoberta. fjfl' fora medieval cristã de Satã, que se alimenta de pecadores. No entanto, a hiena
Na Grécia antiga, o aparecimento na literatura e na arte de protótipos herói­ jjl tinha um lugar nos ritos animistas da África Ocidental como acólito do leão;
cos com poderes quase super-humanos ou semidivinos parece ter-se desen­ |jf assumiu o papel de guardiã no simbolismo do povo bambara, do Mali. No an-
volvido de formas anteriores de adoração dos ancestrais. Herói, Heroína: iíS tigo Egito, acreditava-se que a hiena tivesse poderes de adivinhação, talvez de­
ver Dragão li vido à sua visão noturna. Hiena: ver Demônios; Leão
mÊt
Haxagrama - Dois triângulos entrelaçados e superpostos, um deles inverti­ ■pidromel - A bebida dos deuses na tradição celta, o que a torna, desse modo,
do, que simbolizam união e dualidade. É hoje conhecido como a Estrela de jj|;; símbolo de imortalidade. Lendas celtas falavam de reis depostos afogados em
Mjl
barris de hidromel em seus palácios em chamas. Bebida alcoólica feita de mel
fermentado em mistura com água e com freqüência um condimento, o hidro­
mel partilha o simbolismo positivo do mel e pode ter sido a ambrosia dos deu­
ses gregos. Hidromel: ver Álcool; Intoxicação; Mel

Hipopófam© - Força bruta, destrutividade, fecundidade — animal de simbo­


lismo bem ambivalente no Egito antigo. Imagens tebanas da deusa-hipopótomo
Tawaret — suave, com seios humanos, barriga inchada, a segurar o papiro de hie­
róglifos enrolado da proteção — simbolizavam a proteção a mulheres e crianças.
Ela, porém, era consorte do destruidor Seth e podia, ela própria, tornar-se vin­
gativa. O Livro de Jó (40:15-24) descreve o Beemote como uma voraz criatura
com forma semelhante à de um hipopótamo que simbolizava a necessidade de
auxílio divino da humanidade para subjugar seu lado animalesco. Hipopótamo:
ver ANIMAIS MITOLÓGICOS

HiggClp© — Purificação, humildade — simbolismo baseado nas referências bí­


blicas à erva usada com a água para espargir os impuros no Templo Hebreu,
embora possa ter sido na verdade uma planta condimentar de qualidades aro­
máticas semelhantes. Hissopo: ver Água

Homem — O paradigma dos animais, um símbolo, nas mais antigas culturas,


do que é possível aperfeiçoar na natureza, por ser feito à imagem de Deus e
conter tanto matéria quanto espírito, terra e céu. Essa crença mística inspira
representações da humanidade como um microcosmo que contém, ao menos
simbolicamente, todos os elementos do próprio universo. O corpo humano,
na tradição pitagórica um pentagrama formado pelos braços, pelas pernas e pela
cabeça, freqüentemente foi tomado como modelo para a arquitetura dos tem­
plos. O próprio princípio masculino é em geral simbolizado pelo Sol, pelo fogo
e pelo relâmpago, bem como pela verticalidade fálica dos objetos penetrantes:
esses incluem a flecha, o cone, o arpão, o linga, o obelisco, a coluna ou o poste,
o arado, o bastão, a enxada, a lança, a espada, o raio e a tocha. Homem: ver Mu­
lher; e os verbetes individuais

HÓStia - Pedaço circular de massa de pão não-fermentado (obreid) distribuí­


do na eucaristia cristã como símbolo do sacrifício do corpo de Jesus (do latim
hóstia, “vítima”). Um texto atribuído a Santo Tomás de Aquino louva a redon­
deza (perfeição) e alvura (pureza) simbólicas da hóstia. Hóstia: ver Branco;
Pão; Sacrifício
íbis — Sabedoria. A íbis sagrada do antigo Egito era
reverenciada como encarnação da divindade lunar
Thot, deus patrono dos escribas e senhor do
conhecimento oculto. O simbolismo religio­
so da íbis provavelmente baseava-se em
seus hábitos de ave pernalta curiosa e
com um bico curvado que lembra um
pouco a forma parecida da Lua crescente.
Aparece com freqüência na iconografia
egípcia e era mumificada nas tumbas reais
para dar instruções sobre os mistérios da
outra vida. íbis: ver Lua; C) OUTRO A íbis, de um papiro da XIXdinastia
MUNDO; SABEDORIA egípcia (1295-1186a.C).

1 Chíng - ver Trigramas

ícone — Na arte, a representação de uma imagem sagrada com finalidade pu­


ramente simbólica. Os pintores bizantinos dos ícones religiosos mantinham o
realismo à distância, pintando em cores puras e sem relevos, com base em con­
venções rígidas, com o objetivo de manter um limite estrito entre o mundo es­
piritual e o sensorial ou humano. Tenta-se, assim, fazer com que o ícone não
seja “natural”, mas sim que reflita ou simbolize uma realidade transcendente
sobre a qual o observador possa meditar.
IHS — Letras que, pela tradição, formam uma abreviatura do nome de Jesus, entre a terra e o céu, a humanidade e a divindade. O olíbano e a mirra, dois dos
simbolizando salvação ou ressurreição. No antigo mundo grego pagão, prova­ presentes dos Reis Magos no nascimento de Cristo, eram mercadorias de gran­
velmente com significado semelhante, as letras representavam a palavra Iacchos, de valor em todo o Oriente Médio antigo.
usada nos mistérios eleusinos para referir-se a Dioniso. Vários emblemas que Nas civilizações do Egito, Pérsia e do mundo sumério-semita e depois na
incorporam o IHS (às vezes com o significado Iesus Hominum Salvator, o sig­ Grécia e em Roma, essas e outras formas de incenso eram queimadas nos cul­
nificado latino de “Jesus, Salvador da Humanidade”) são emblemas dos santos tos diários. Mais para leste, na índia, China e Japão, o manjericão e o sândalo
cristãos Inácio de Loiola, Teresa e Bernardino de Siena. eram amplamente usados. (Joss-sticks era um termo em pidgin (língua sem fa­
lantes nativos, usada como segunda língua para comunicação entre grupos
Ilha - Paraíso ou refugio - simbolismo que aparece em incontáveis mitos e len­ falantes de diferentes idiomas) inglês para varetas de sândalo, sendo “joss” uma
das. Na tradição hindu, a ilha é imagem de paz espiritual no caos da existência provável corruptela da palavra portuguesa deus.) Na América Central, o incen­
material. Simbolicamente, em geral é um “outro lugar” mágico, um mundo es­ so, geralmente feito de resina copal, também tinha simbolismo de fecundida­
tabelecido à parte: às vezes um objetivo espiritual ou centro reservado para de, invocando a chuva por meio de associações entre a fumaça e as nuvens.
imortais eleitos (as Ilhas Felizes da mitologia clássica e as místicas Ilhas dos/ A própria resina era um símbolo de incorruptibilidade, e o Antigo Testamento
Abençoados, na China), às vezes um local encantado, como a ilha de Próspero está cheio de referências ao “aroma” de madeiras perfumadas, agradável a Deus.
em A Tempestade (c. 1611), de Shakespeare, onde a iniqüidade é corrigida. O A Igreja Cristã, inicialmente cautelosa com a associação entre o incenso e os cul­
número de ilhas lendárias habitadas apenas por mulheres sugere que a ilha tos dos deuses pagãos ou a pompa dos funerais dos imperadores, logo incorporou
também possa ser um símbolo feminino de refúgio passivo que os homens de­ o que se tornou uma tradição comum do incensamento cerimonial. A populari­
sejam e rejeitam. Assim, Calipso deteve Ulisses em sua ilha por sete anos, até dade mais recente dos incensos no Ocidente segue a tradição budista de usá-los
que ele se entediasse e retomasse a luta da vida. Num mito polinésio semelhante, como auxílio à meditação. Incenso: ver Fumaça; Nuvem; Resina; Sacrifício
Kae deixa a Ilha das Mulheres quando percebe que está envelhecendo, enquan­
to sua esposa Hine renova a juventude dela surfando. Diz-se que a maioria das Iniciação - Tentativa de dramatizar a passagem de um estágio de vida ou sta-
ilhas paradisíacas é branca, embora a celta Tir nan Og seja verde. Ilha: ver Bran­ tus para outro por ritos em que o “eu” antigo morre e nasce um novo, em geral
co; PAZ; O OUTRO MUNDO; Verde depois de provações que podem ser físicas ou puramente simbólicas. O simbolis­
mo da morte costumava ser marcante nos rituais iniciáticos antigos. Iniciação:
Imã - Para os antigos, impressionante símbolo da coerência cósmica. Conhecido ver Caverna; Chave; Crocodilo; Jornada; Labirinto; Mel; MORTE; Peregri­
principalmente pelas propriedades magnéticas da magnetita, no Egito o ímã era nação; Sangue
associado ao poder de Hórus, o deus que regulava os movimentos dos corpos ce­
lestes. A magnetita, às vezes, era usada como amuleto do amor. Intestinos — Símbolo do labirinto e órgão corporal que já foi considerado a
fonte da emoção e do conhecimento intuitivo ou mágico (daí expressões como
Imolação — ver Fogo, Chama; Sacrifício a inglesa gutfeeling- algo como “sentimento proveniente das entranhas”).
A idéia de que qualidades positivas como coragem ou compaixão residiam nas
Incenso — Pureza, virtude, doçura, oração ascendente. Desde os tempos mais entranhas era muito difundida. Os egípcios mantinham os intestinos da múmia
remotos, a queima de resinas aromáticas, madeiras, plantas ou frutas secas e eviscerados numa urna, como um repositório dos poderes mágicos de que a alma
perfumadas tem sido um dos mais universais de todos os ritos religiosos de ho­ precisaria em sua jornada perigosa ao outro mundo. O exame das entranhas de
menagem. A literatura e iconografia sagradas sugerem que o incenso era usado animais para adivinhar o futuro era uma pseudociência etrusca, e depois
originalmente para perfumar sacrifícios ou piras funerárias, mas que depois romana. Intestinos: ver Alma; Labirinto; O OUTRO MUNDO
passou a ser queimado por si mesmo como uma oferta puramente simbólica,
compartilhando o significado emblemático da fumaça como uma ligação visível Inverno - ver ESTAÇÕES
Iftversão — Dinâmica dos opostos, que às vezes revezam seu simbolismo de
modo que, por exemplo, o bobo aluda ao rei, ou a morte (sacrifício) conduza
à vida. A idéia de inversão é em geral simbolizada por objetos ou formas que
lembrem um X — por exemplo, a ampulheta ou o triângulo duplo. Inversão:
ver Ampulheta; Bode Expiatório; Sacrifício; Triângulo; Yin-Yang

íris {flor) — Pureza, proteção, mas também, associado à Virgem Maria, pe­
sar - simbolismo baseado nas folhas em forma de espada da variedade gladío-
lo. A íris azul aparece com freqüência nas pinturas da Virgem, simbolizando o
pungente pesar da Paixão de Cristo. Também pode referir-se à Imaculada Con­
ceição. No folclore japonês, a íris protegia as causas das influências prejudi­
ciais. A íris com praganas é a provável origem do emblema da flor-de-lis, e na
Grécia era consagrada a íris, deusa do arco-íris. íris (flor): ver CASTIDADE;
Espada; Flor-de-Lis; FLORES; PAIXÃO
íiacare - m- Crocodilo
§m-r 1
Jade - Energia cósmica, perfeição, virtude, poder, autoridade, incorruptibili-
p dade, imortalidade - a pedra lapidar do Deus do Paraíso e dos imperadores da
China. A tradição chinesa associava o jade a todo o espectro de virtudes: pureza
moral, justiça, verdade, coragem, harmonia, lealdade e benevolência. O selo de
-mm
lljade imperial simbolizava o mandato celeste. Os muitos matizes do jade, que
§§ü É;variam do branco e do verde, azul e vermelho ao quase preto, permitiram que os
' , -j objetos religiosos fossem distinguidos tanto pela cor quanto pelo formato, os mais
famosos sendo o emblema pi do Portão do Céu (disco azul-esverdeado com
uma perfuração circular) e o tsung da terra (cone amarelo dentro de um corpo
retangular). Embora um emblema solar e yang, a maciez lustrosa do jade fez
com que fosse também associado à beleza macia da carne e do muco (suco de ja­
de) femininos e à própria relação sexual (jogo de jade). A dureza e a durabili-
jji dade da nefrita (o material da maioria dos entalhes de jade chineses até o sé­
culo XVIII, quando as fontes de jadeíta tornaram-se mais facilmente disponíveis)
levaram à crença de que o jade em pó poderia prolongar a vida e que os amu­
letos de jade poderiam preservar o corpo depois da morte - daí o número de
objetos feitos do material encontrado nas tumbas chinesas. Os alquimistas chi­
li neses acreditavam que o jade era uma forma aperfeiçoada de pedra e que, nesse
sentido, substituía o ouro como emblema da pureza última.
O jade de nefrita verde era igualmente valorizado no antigo México, onde era
símbolo do coração e do sangue pela associação com as águas fertilizadoras.
Assim como na China, colocavam-se às vezes pedras de jade na boca dos mortos Jardim - Nas tradições antigas, uma imagem de mundo perfeito, ordem cós­
para garantir sua ressurreição. Entre os maoris da Nova Zelândia, a bela nefrita mica e harmonia - paraíso perdido e reconquistado. Para todas as principais
verde pounamu, encontrada na Ilha do Sul, era usada par fazer o mere sagrado, culturas mundiais, os jardins representavam a benção visível de Deus (o jardi­
porrete de guerra que simbolizava autoridade, e o hei tiki, pingente na forma neiro divino) e a capacidade do próprio homem para obter a harmonia espiri­
de figura estilizada do ancestral. Os espanhóis acreditavam que a nefrita (assim tual, o estado de graça ou beatitude. Na paisagem árida do Egito e do Irã, os
chamada pela forma de rim de muitas pedras de jade) curava doenças renais. jardins formais semelhantes a oásis, com suas árvores de sombra, flores, perfu­
Jade: ver Água; Amuleto; Buraco; Coração; Ouro; Sangue; Terra; Verde; VIR­ mes, pássaros e água corrente, tornaram-se símbolos de refugio, beleza, fertili­
dade, pureza e frescura primaveril da juventude - um antegozo do regozijo da
TUDES; Yin-Yang
imortalidade. O desenho em forma de cruz do jardim clássico persa, dividido
Jaguar - Animal dominante no simbolismo das Américas Central e Sul, as­ por quatro correntes a fluir de um manancial ou fonte central, foi modelado
sociado à adivinhação, à realeza, à feitiçaria, às forças do mundo dos espíritos, com base na imagem mítica do paraíso (palavra etimologicamente sinônima de
à terra e à Lua e à fertilidade. A crença de que, ao se transformarem em jagua­ “jardim”). Na China, vastos jardins com lagos, rochas e montanhas criados pela
res, os xamãs poderiam comandar os poderes ocultos era bem difundida e ex­ dinastia Han imitavam as míticas Ilhas Místicas às quais os imperadores espe­
plica a existência das muitas imagens híbridas de jaguar e homem de dentes a ravam ir como imortais. Quioto, o exemplo perfeito do jardim artístico japo­
mostra na arte da América Central do período Olmeca (c. 1500-400 a.C.) em nês, está imbuído de simbolismo espiritual. Alguns jardins indianos tinham a
diante. O olho espelhado do jaguar era uma encarnação medonha do deus forma de mandalas. Os jardins astecas, como imagens do mundo natural no
supremo asteca Tezcatlipoca, cujo espelho mágico revelava todas as coisas, dos microcosmo, incluíam animais selvagens e plantas. Os banquetes romanos man­
pensamentos humanos aos mistérios do futuro. A mitologia brasileira tor­ tidos em jardins funerários simbolizavam a alimentação sociável do Elísio (na
nou o jaguar um herói cultural que trouxe as dádivas do fogo e das armas. mitologia grega, a morada dos heróis e dos justos após a morte).
De maneira mais geral, a reverência ao jaguar era marcada pelo medo. Para Do ponto de vista psicológico, o jardim é símbolo de consciência em oposição
alguns, o jaguar era o engolidor celestial ao deserto da inconsciência e também do envolvente princípio feminino. É
do Sol e da Lua; para outros, uma usado com freqüência como metáfora do paraíso sexual constituído pela pes­
assombração predatória das soa amada - a “fonte dos jardins, o poço das águas com vida” (Cânticos de
encruzilhadas. Como a pele Salomão 4:15). A fertilidade selada do jardim cercado tornou-se um símbolo
de jaguar usada pelos xa­ cristão da Virgem Maria, que em geral é representada dentro de um cenário de
mãs simbolizava seu poder jardim, em pinturas da Anunciação. Jardim: ver Água; ANIMAIS; Árvore;
para proteger sua própria Aves; CRUZ; FLORES; Fonte; ilha; Lago; Mandala; Montanha; Mulher; O
tribo ou destruir outras, OUTRO MUNDO; Rio, Regato; Rocha; Virgindade
ele era uma aparição pe­
rigosa, talvez o espírito Jarro - Como outros vasos, símbolo do útero materno, associado na iconogra­
de um xamã morto ou fia à fonte da vida ou (no Egito, onde é atributo de ísis e Osíris) às águas fer-
vivo de uma aldeia hostil. tilizadoras. Na arte, a Temperança verte água de um jarro para outro. I lebe,
O jaguar é, em essência, sím­ criada dos deuses, carrega um jarro. É atributo do signo zodiacal de Aquário,
bolo de poder imprevisível e no baralho do taro, aparece nas cartas da Temperança (Arcano XIV) e da Es­
ou caprichoso. Jaguar: ver trela (Arcano XVII). Jarro: ^rÁgua; Mulher; Taro; VIRTUDES; Zodíaco
Encruzilhada; Espelho; Fo­
Jejum - Antiga tradição de abnegação - quase generalizada pelo mundo in­
Um jaguar xamanista. Os xamãs sul-americanos acre­ go, Chama; Lua; Pele; Terra;
ditavam que este animal possuía poderes ocultos. Transformação teiro - que pode ter sido usada na religião para simbolizar penitência, purificação
ou adoração, e no campo das relações sociais, para demonstrar protesto ou pesar.
O jejum de protesto moderno é em geral mais uma técnica política que um judaísmo (12 jóias no peitoral do Sumo-Sacerdote); e ao intelecto e à
gesto simbólico, mas no mundo celta o jejum era símbolo da dedicação pes­ incorruptibilidade no islã.
soal para corrigir injustiças ou reparar danos. Dos grandes jejuns religiosos, o Atribuíram-se virtudes específicas às diferentes pedras (ver tabela). Al­
Ramadã islâmico, o Yom Kippur judeu e a Quaresma cristã têm significado de gumas correspondências baseiam-se na cor - sobretudo o azeviche, uma
penitência. No hinduísmo, jainismo e taoísmo, o principal objetivo é a purifi­ das pouquíssimas pedras associadas ao luto, mas também considerada
cação e a criação de um estado físico de visões espirituais. particularmente protetora contra o mau-olhado, pois reflete a luz. As pe­
dras reflexivas ou transparentes são associadas à adivinhação; as vermelhas
Joelho — Ajoelhar ou dobrar o joelho é sinal de submissão e súplica em todas ao ardor e à vitalidade (e, no caso do carbúnculo, a guerra).
as culturas, ou de humildade e homenagem, como o ato de ajoelhar-se para re­
zar ou para prestar reverência à realeza. Virtude/Fortuna Jóia

Coragem ágata, cornalina, jade, rubi, turquesa


JÓIAS - Os minerais de brilho luminoso incrustados na terra eráhi uma Fertilidade jaspe
fonte de fascínio em todo o mundo antigo. Numa crença difundida, es­ Fidelidade diamante, esmeralda, granada, jacinto, opala, topázio
ses minerais eram formados pela saliva das serpentes. Essa ligação ajuda Amizade cornalina, magnetita, peridoto, rubi,
a explicar por que alguns simbolismos de jóias são semelhantes àqueles topázio, turmalina
das serpentes: as jóias em geral constituem emblemas de sabedoria e, em Alegria crisópraso, jaspe
muitos contos populares, são encontradas nas testas, olhos ou bocas dos Longevidade âmbar, crisoberilo, diamante, jade, rubi
símbolos serpentinos de guardiões, como os dragões. Um paralelo cris­ Amor, paixão carbúnculo, granada, lápis-lazúli, selenita, rubi
tão é a lenda de que as jóias foram espalhadas pela terra na queda do Pureza, castidade cristal, diamante, jade, pérola, safira
arcanjo Lúcifer (o nome dado a Satã quando ele vivia no céu), como frag­ Realeza, poder diamante, jade, rubi, safira
mentos de sua luz celestial. Outra versão sobre sua origem é que elas são Sobriedade ametista
evidência da energia divina, que trabalha na escuridão da terra para pro­ Verdade, honestidade,
duzir de pedras opacas perfeitas jóias de luz. Na psicologia de Jung, as sinceridade diamante, jade, magnetita, ônix, safira
jóias simbolizam o autoconhecimento conquistado do inconsciente - Sabedoria crisólita, diamante, jade, topázio, zireão
uma idéia semelhante. Juventude água-marinha, berilo, esmeralda
Além do significado óbvio de coisas preciosas, as jóias (palavra derivada
do latim através do francês para “coisas de brincar”) geralmente têm si­ JÓIAS : ver Âmbar; Ametista; Coral; CORES; Cristal; Demônios; Dia­
do símbolos de iluminação espiritual, pureza, refinamento, superiorida­ mante; Dragão; Esmeralda; Jade; Lápis-Lazúli; Lótus; Luz; Pérola; Preto;
de e durabilidade, com poderes mágicos de cura e proteção. Na religião Rubi; SABEDORIA; Safira; Serpente; Turquesa; Vermelho; VIRTUDES;
oriental, as jóias incorporam os tesouros do conhecimento espiritual ou Zodíaco
união divina (a jóia na lótus). No budismo, o tiratna (“três jóias”) é o
Buda, o Dharma (retidão) e o Sangha (santos budistas). As jóias sao as­
llft
sociadas a Vishnu, no hinduísmo; à fé, ao conhecimento e à conduta » Jornada - Símbolo universal de mudança ou evolução, expresso em incon-
correta no jainismo; à compaixão e à sabedoria no Japão; à verdade no táveis mitos e lendas em que um herói empreende uma jornada repleta de prova-
Jj| ções físicas e morais. Na psicologia, a jornada simboliza aspiração ou desejo e
a busca da autodescoberta. Quase todas as tradições religiosas conjecturam a
jornada da alma para a outra vida, e muitos ritos de iniciação encenam uma jor­
nada que simboliza a passagem de um estágio de vida para o seguinte. As peregri­
nações sao jornadas simbólicas ao centro espiritual. Jornada: ver Herói, Heroína;
Iniciação; O OUTRO MUNDO; Peregrinação

Jubilei! - ver Numeros

Jujllbeira - No taoísmo, símbolo da nutrição pura, sua fruta como o alimen­


to da imortalidade. A árvore aparece também no paraíso islâmico como símbolo
dos limites extremos do tempo e do espaço. Seus galhos com espinhos tinham sig­
nificado protetor na superstição popular. Jujubeira: ver Árvore; FRUTA

JUÜCO - Emblema japonês de purificação no mito da criação de Izanagi, talvez ,


pela associação com a água. “A planície de juncos” é metáfora japonesa do mun­
do mortal e do junco da revelação. O junco também tinha simbolismo de pu­
rificação no mundo celta e era supersticiosamente considerado eficaz contra
bruxas. Tinha o simbolismo da fertilidade na América Central e era emblema
do deus Pã (que inventara a “flauta de pã” de junco) e da música na Grécia.
De maneira mais geral, o junco é símbolo de fraqueza, como na referência bí­
blica ao Egito como um aliado fraco, um “junco quebrado” (Isaías 36:6). A cruz
de junco é emblema de João Baptista, que, disse Cristo, não era um junco que
balançava ao vento. O junco também é símbolo da Paixão de Cristo porque
uma esponja embebida em vinagre foi colocada na ponta de uma vara de jun­
co para alcançar Sua boca quando da crucificação. Junco: ver Água; Bruxaria;
CRUZ; PAIXÃO
1

íKa - Símbolo egípcio da energia criativa divina, que se expressa por meio da
personalidade individual e que sobrevive à morte da pessoa. Acreditava-se
que as estátuas funerárias incorporavam o Ka da pessoa que representava. Ka:
íwAlma; Ba

pCarashishi — Símbolos de força e coragem, casal de “leões” com cara do cão


chinês chow, que guarda os templos budistas no Japão. O macho tem a boca
aberta, mas não é assustador. A forma estilizada baseia-se no contato, por meio
J de terceiros, dos chineses com o leão. O nome “cães de Buda” é uma descrição
apropriada. Karashishi: ver Cão; Leão

tundalini - Imagem hindu da energia latente ou “da terra”, é representa­


da de maneira simbólica por uma serpente que dorme enrolada na base da
espinha. Por intermédio da disciplina espiritual, a kundalini é despertada de
modo que um fluxo serpentino de força de vida move-se para cima pelo cor­
po etéreo, passando por uma série de chacras (rodas). Esses elementos do “eu”,
se desenvolvidos de maneira apropriada, seguem adiante com purificação
crescente até atingir o chacra da parte superior da cabeça para resplandecer
como iluminação. Kundalini: ver Chacra; Roda; Serpente
Labirinto — Estrutura ou padrão tão enigmático quanto seu simbolismo -
capaz de muitas variações de significado. Sua ambivalência remonta aos mis­
térios, terrores e vantagens protetoras dos sistemas de cavernas nas quais os
seres humanos já viveram. Os labirintos artificiais mais antigos conhecidos, no
Egito e na Etrúria (Itália Central), foram construídos para impedir a violação
das tumbas dos reis. De acordo com o autor grego Heródoto (c. 484-425 a.Q),
o maior desses labirintos arquitetônicos, perto do lago Moeris no Egito, tinha
desnorteantes três mil câmaras e 12 pátios. As antigas decorações labirínticas
das casas gregas parecem ter apreendido esse simbolismo protetor nos motivos
desenhados para confundir os espíritos maus. O extraordinário sistema de
águas do palácio minóico de Cnossos pode ter sido a origem do lendário labi­
rinto cretense em queTeseu matou o Minotauro. A leitura comum desse mito
poderoso é que Teseu, símbolo do herói salvador, superou os aspectos anima­
lescos de seu próprio caráter, além do poder de Minos. Isso se enreda com os
principais significados religiosos e psicológicos da passagem por um labirinto
- iniciação, retorno simbólico ao útero, “morte” que conduz ao renascimento,
descoberta de um centro espiritual, o processo trabalhoso e em geral desorien-
tador da autodescoberta.
Um significado mais óbvio do labirinto é simbolizar as múltiplas e difíceis
escolhas da vida - o significado do padrão em labirinto usado como esquema
heráldico pela casa dos Gonzaga de Mântua, acompanhado pelo mote: “Talvez
sim, talvez não”. Os labirintos formados por jardins de cercas vivas transfor­
maram esse problema em jogo. No entanto, muitos labirintos têm um curso
único, sem armadilhas, levando de maneira sinuosa por um só caminho. Esse Noites, em que Aladim deixa enferrujar sua lâmpada mágica depois que ela
tipo de labirinto era em geral usado nos templos antigos como rotas de iniciação lhe trouxe riqueza é uma alegoria da negligência com o lado espiritual da
ou, mais comumente, para danças religiosas que imitavam os volteios do Sol ou vida. No budismo e no hinduísmo, a lâmpada, como símbolo da vida, re­
dos planetas. Eles reapareceram em padrões nos assoalhos das igrejas cristãs presenta a continuidade de um estado de existência para o seguinte. Nos
medievais como “estradas para Jerusalém” - trajetórias que simbolizavam a pere­ santuários ou altares, as lâmpadas simbolizam devoção e a presença da di­
grinação. Na catedral de Chartres, França, os penitentes arrastavam-se de joelhos vindade. Na arte, personificam Vigilância e também Noite. A lâmpada é
por 200 metros num labirinto circular dentro de uma área de apenas 12 metros ainda símbolo do cuidado maternal, associado às crianças e aos enfermos.
de diâmetro. Labirinto: ver Caverna; Dança; Iniciação; Peregrinação Florence Nightingale era chamada de A Dama com a Lâmpada. A lanterna
(como uma luz encerrada) tem mais simbolismo protetor - o significado da
Lagarta - Humilde, amorfa - imagem da inadequação na doutrina hinduís- lanterna mágica chinesa, supostamente capaz de afastar demônios. A lanter­
ta da transmigração das almas. Na tradição dos nativos norte-americanos, a na também foi usada para moldar sombras propícias. O filósofo cínico
lagarta é metáfora do despertar sexual, a primeira experiência sexual. Lagarta: Diógenes (séculos IV-III a.C.) ficou famoso por circular de dia com uma
ver Alma; Borboleta lanterna à procura de um homem honesto. Lâmpada, Lanterna: ver Ar­
chote; Fogo, Chama; Luz; Vela; VIGILÂNCIA
Lagarto - O lagarto partilha algo do simbolismo da sua relativa proximidade
da serpente, especialmente como emblema da ressurreição (derivando de sua Lança - Arma de choque da cavalaria até o século XX. Está associada à
muda regular de pele). Isso pode explicar seu uso como motivo nos castiçais cavalaria andante e à Paixão de Cristo. A exemplo do arpão, simboliza o
cristãos. Era emblema benéfico no Egito e no mundo clássico, às vezes ligado masculino, poder fálico e terrestre. Sua ligação de sacrifício com o Graal
à sabedoria. Tornou-se atributo da Lógica na arte. Os lagartos aparecem no deriva da lenda de que o instrumento usado para perfurar o lado do corpo
mito maori como monstros guardiães. No folclore e nas decorações aborígines, de Cristo depois de sua morte na cruz era uma lança carregada por um cen-
melanésias e africanas, são heróis da cultura ou figuras ancestrais. Lagarto: ver turião romano, Longino, que depois exclamou, “esse homem era verdadei­
SABEDORIA; Salamandra; Serpente; Vela ramente o filho de Deus”. Longino tornou-se o santo padroeiro de Mântua,
cidade à qual se diz que ele teria voltado carregando gotas do sangue sagra­
Lago - Um meio oculto na mitologia e na lenda, ligado particularmente, no do. Considerava-se que sua lança, como a do grego Aquiles, tinha poder de
ciclo do rei Artur, aos poderes femininos de encantamento, por meio do sim­ cura. A lança quebrada é atributo de São Jorge e simboliza o soldado expe­
bolismo feminino da água, e de maneira mais ampla, aos abismos, à morte e à riente. Como emblema de vitória, é um atributo na índia do deus da guerra,
misteriosa passagem noturna do Sol (com base na observação de seu aparente Indra. O termo inglês freelancer (literalmente, “lanceiro livre”) vem de gru­
desaparecimento na água). Isso foi encenado no Egito pelos sacerdotes de Karnak pos medievais de cavaleiros cujas lanças eram de aluguel. Lança: ver Arpão; Falo;
num lago artificial. No mito grego, Dioniso desceu ao Hades através de um Graal; PAIXÃO; Sangue
lago. Na verdade, símbolo de mão dupla do espelho, a água plácida do lago
sugeria tanto a contemplação de cima para baixo quanto a observação de baixo Lápis-Lazúli - Pedra de azul profundo com simbolismo celeste no México
para cima pelos espíritos que, pensava-se, habitavam palácios adornados com e, em particular, na Mesopotâmia, onde era usada em templos para represen­
jóias. O costume celta de lançar troféus a esses espíritos explica a conexão entre tar o céu noturno estrelado. A associação com as forças divinas ajuda a explicar
a Dama do Lago e a espada Excalibur na lenda do rei Artur. Lago: ver kgua; Es­ sua popularidade como pedra ornamental no mundo antigo, onde se conside­
pelho; Mar rava ter valor de talismã. Era emblema do amor na Grécia, atributo da deusa
Afrodite, e augúrio de sucesso na China, onde estava ligada à clarividência. O
Lâmpada, Lanterna - Espírito, verdade, inteligência, a própria vida - lápis-lazúli era precioso não só como pedra, mas como antiga base de pintura
todas qualidades simbólicas associadas à luz. A lenda árabe das Mil e Uma da cor azul-ultramar. Lápis-Lazúli: ver Azul; Céu; JÓIAS

I
Laranja - Fertilidade, esplendor, amor. A florescência da laranja era um antigo Em algumas gravuras, o leão parece ofere­
sinal de fertilidade, usado nas grinaldas matrimoniais — costume continuado nos cer-se ao sacrifício, e a própria divindade de
países cristãos mas com o simbolismo direcionado para a pureza. rei é sugerida pelo agarrar deste­
As laranjas eram possivelmente as “maças douradas” das Hespérides, uma ligação mido da pata do animal — imagem
com o Sol poente. A cor está associada ao fogo e à luxúria, exceto nos países bu­ arquetípica da coragem humana
distas, onde as túnicas açafrão dos monges simbolizam humildade. Na arte, o igualando-se à do leão.
Menino Jesus às vezes segura uma laranja, símbolo de redenção, pois ela era con­ No Egito, a deusa vingativa Sckh-
siderada por alguns a fruta proibida da Arvore do Conhecimento. No segundo met, representada por uma leoa,
dia do ano-novo chinês, comem-se laranjas como emblemas da boa fortuna. simbolizava o calor feroz do Sol,
Laranja: ver Amarelo; CORES; Fogo, Chama; Maçã mas o leão também era um guia
para o reino dos mortos, pelo qual
Lariço - Como um dos mais duros e duráveis de todos os pinhos (estacas de se acreditava que o Sol passava to­
lariço sustentam a maioria das construções de Veneza), símbolo de imortali­ das as noites. Daí as tumbas com
dade. O lariço era a Arvore Centro do Mundo da Sibéria e pode ter simbolismo pegadas de leão encontradas no
funerário como emblema do renascimento. Lariço: ver Arvore Egito e as imagens de múmias car­
regadas nas costas de leões. Esses
Lawagem — Importante rito de purificação que simboliza mais uma limpeza eram os guardiões da morte na
interna que externa - como no costume islâmico de lavar o rosto, mãos e pés Grécia (identificados com Dioni-
O Sansão bíblico domina um leão, de um retábulo
antes dos três cultos diários. Nas cerimônias de iniciação do budismo, os mon­ so, Febo, Ártemis e Cibele) e dos
austríaco do século XII.
ges noviços fazem a lavagem ritual de suas vidas passadas. Ao proceder à lava­ palácios, tronos, santuários, por­
gem cerimonial das mãos depois de julgar Cristo, Pilatos procurou absolver-se tas ou portões em geral - como em Micenas. O grifo, híbrido de leão e águia,
de qualquer culpa pela crucificação. era símbolo guardião alternativo, sobretudo onde os leões eram conhecidos
principalmente por intermédio dos contos de viajantes. Máscaras de leão ou
Leão - Poder solar divino, autoridade real, força, coragem, sabedoria, justiça, batedores de porta anelados de leão (símbolos da eternidade) eram comuns nas
proteção — mas também crueldade, ferocidade devoradora e morte. O leão é portas egípcias. O Egito também foi a origem das torneiras ou fontes de água
uma imagem do grande e do terrível na natureza, uma personificação gran­ com cabeça de leão, simbolizando a enchente fértil do Nilo quando o Sol esta­
diosa do próprio Sol. Como na verdade gosta de sombra, sendo principal­ va no signo zodiacal de Leão (de 23 de julho a 22 de agosto).
mente um caçador noturno, suas associações solares baseavam-se menos nas Gravuras e selos de um leão devorando um touro, cavalo ou varrão representam
observações de sua natureza do que no esplendor iconográfico de seu pêlo os opostos complementares de vida e morte, Sol e Lua, verão e inverno - tema
dourado, juba radiante e simples presença física. Aparece tanto como des­ simbólico que aparece na África, na Ásia e no Oriente Médio. A vitória sobre
truidor quanto como salvador, investido de dualismo de tipo divino e capaz a morte é simbolizada por vestir uma pele de leão e por mitos como aquele
de representar o mal e sua destruição. Seu simbolismo de agressão e defesa é em que Hércules mata o leão de Neméia ou Sansão despedaça um leão mem­
captado num verso do livro de Joel (3:16): “Deus ruge de Sião e emite sua bro a membro. Alternativamente, no judaísmo, o leão da morte é superado pela
voz de Jerusalém e céus e terra tremem. Mas Deus é o refúgio de seu povo, oração (Daniel na cova dos leões). O leão era o emblema da força de Judá e veio
um baluarte para o povo de Israel.” O tema da caça ao leão real, comum na a ser associado tanto à salvação quanto à morte, e, portanto, ao Messias. Daí a
iconografia antiga da Ásia Ocidental, simbolizava morte e ressurreição - a surpreendente passagem do Apocalipse (5: 5-6), em que o Leão de Judá se
continuação da vida garantida pela morte de um animal divino, ligado tanto transforma no Cordeiro (Cristo) redentor. A serenidade cristã ante a morte está
ao supremo deus mesopotâmico Marduc quanto à deusa da fertilidade Ishtar. expressa em muitas histórias simbólicas que envolvem leões, entre elas a lenda
em que São Jerônimo removeu um espinho da pata de um leão. As ligações wm da lebre para um lugar celestial na Lua. Na arte taoísta, a lebre lunar é repre­
entre o leão e a ressurreição foram fortalecidas pelas lendas dos primeiros cris­ m sentada a misturar com um pilão o elixir da longevidade ou da imortalidade.
i
tãos em que filhotes (cegos na primeira semana) nasciam mortos e eram trazi­ Na China Imperial, a lebre era um símbolo yin e augúrio de boa sorte. (Na
dos à vida por seus pais depois de três dias. Assim, o leão podia aparecer na arte China também podia simbolizar homossexualidade.)
cristã tanto como adversário quanto como atributo. São Marcos, cujo evan­ As lebres personificam a astúcia inofensiva em muitas tradições. As histórias do
gelho enfatiza a majestade de Cristo, é identificado como um leão alado (o em­ Coelho Brer (abreviatura de brother, irmão) do folclore americano derivam
blema de Veneza). provavelmente de lendas africanas, como aquela em que uma lebre induz um
De maneira menos ambivalente, o leão é um símbolo muito difundido de poder hipopótamo e um elefante a jogarem cabo-de-guerra só para limparem a terra
e dominação reais, vitória militar, bravura, vigilância e firmeza, virtude per­ para ela. Do mesmo modo, no Japão, a Lebre Branca de Oki cruza o mar sobre
sonificada na arte por uma mulher a lutar corpo a corpo com um leão. Os lí­ crocodilos alinhados do focinho à cauda, que ela finge contar. Diversas tribos
deres identificados com o leão incluem o genro de Maomé, Ali, o “Leão de nativas da América do Norte elevaram a lebre ao status de herói da cultura - os
Alá”, que simboliza a destruição do mal no islã; Ricardo I, o “Coração de Leão” algonquianos, por exemplo, viam a lebre lunar como o filho demiurgo do
(os leões eram usados com freqüência como emblemas funerários de cruzados, Grande Manitou, que desempenha o papel de criador/salvador ao dar forma às
mortos); e os imperadores da Etiópia, que adotaram o Leão de Judá*como sím­ forças naturais para proveito do homem. Com sua qualidade de reprodutores
bolo nacional. O leão era o emblema real da Escócia e da Inglaterra, e tornou-se prolíficos, as lebres e coelhos eram com freqüência associados nas simpatias às
o símbolo dominante do poder imperial britânico no século XIX. O suave Buda curas da esterilidade ou parto difícil (talismã recomendado pelo poeta latino
é um “leão entre homens”, pois o leão na índia simbolizava coragem e sabedo­ Plínio). A lebre era um atributo das deusas da Lua e da caça nos mundos clássi­
ria, zelo religioso e defesa da lei. Era um avatar hindu de Vishnu, algumas vezes co e celta, e também da grega Afrodite (Vénus, na mitologia romana), Eros
mostrado como um híbrido de homem e leão, e o companheiro da deusa guer­ (como amor; Cupido) e Hermes (como mensageiro rápido; Mercúrio). Asso­
reira matadora de demônios, Durga. O leão também era emblema do grande ciações antigas com a fertilidade e a regeneração em tradições teutônicas e
Ashoka, que unificou a índia no século III a.C. Na China e no Japão, o leão é nórdicas são a base do simbolismo do Coelho da Páscoa (referência a Eostre,
protetor; as danças de máscara de leão têm o mesmo objetivo amedrontador das deusa anglo-saxônica da primavera, que tinha cabeça de lebre). Como criatura
danças de dragão. Na arte asiática, os leões costumam aparecer com uma bola, que divina ou semidivina, a lebre era com freqüência um alimento proibido. Alguns
pode simbolizar o Sol ou o ovo ou vácuo cósmicos. Leão: ver Anel, Aliança; Asas; xiitas acreditam que ela seja a reencarnação de Ali, genro de Maomé. Os he­
Bola; Cavalo; Cordeiro; Dragão; Fonte; Grifo; Mar; Máscara; MORTE; O breus consideravam-na impura. Com base nisso, e em seu apetite sexual, ela se
OUTRO MUNDO; Ouro; Ovo; Pele; Raio; SABEDORIA; Serpente; Sol; Tori; tornou um símbolo cristão de luxúria, embora sua expressão às vezes assustada
Touro; Vácuo; Varrão; VIGILÂNCIA; VIRTUDES; Zodíaco de caça em fuga também tenha feito dela uma alegoria do crente em busca de
refúgio em Cristo. Um cavaleiro a fugir de uma tímida lebre constituía uma
Lebre* Coeltl© - O animal mais comumente associado à Lua; também imagem medieval da covardia. A louca lebre de Alice no País das Maravilhas,
símbolo de fertilidade, libido, procriação, renascimento cíclico, astúcia, ligei­ de Lewis Carroll, é tirada de observações populares de que as lebres se com­
reza, vigilância e poderes mágicos. Para os antigos, as manchas sobre a Lua pa­ portam de maneira desvairada na época do cio, na primavera. A crença popu­
reciam lebres ou coelhos (raramente distinguíveis umas dos outros) a pular. O lar de que o pé de uma lebre ou coelho ágil é bom para gota ou reumatismo é
simbolismo lunar da lebre era reforçado pela observação de suas cambalhotas outro exemplo de simpatia. Lebre, Coelho: ver Cavaleiro; LONGEVIDADE;
sob o luar. Nos mitos dos africanos, dos nativos da América do Norte e dos Lua; Sacrifício; SETE PECADOS CAPITAIS; VIGILÂNCIA
celtas, budistas, chineses, egípcios, gregos, hindus e teutônicos, a lebre era asso­
ciada aos ciclos de regeneração lunar e feminino. Às vezes, aparecia como uma Leite — O elixir da vida, do renascimento e imortalidade — metáfora de bonda­
figura de sacrifício ou salvação, como na lenda budista de uma lebre pulando de, cuidado, compaixão, abundância e fertilidade. Na tradição indiana, o papel
numa fogueira para proporcionar comida ao Buda faminto - donde a elevação fundamental do leite é expresso num mito védico sobre a origem do mundo,
i
quando os deuses e seus opositores agitaram o recipiente cósmico do oceano malfeitores não poderiam mudar seus meios com maior facilidade com que
primitivo para criar o primeiro leite, depois a manteiga, em seguida o Sol e a o leopardo seria capaz de mudar suas pintas (13:23). Daí a ligação entre o leo­
Lua e, por fim, o elixir da imortalidade, soma. No paraíso hindu havia uma ár­ pardo e Satã, o pecado e a luxúria. O animal representava coragem na herál­
vore que dava leite. O leite aparece em muitas tradições, inclusive celtas, como dica européia e na China, onde também tinha simbolismo lunar. O nome
a bebida da imortalidade. Além dos elos óbvios com a amamentação e a mater­ “leopardo” vem de um híbrido fabuloso, situado entre o leão e a pantera (no­
nidade ou adoção, o leite representava iniciação ou renascimento simbólicos me agora só aplicado ao leopardo negro ou, na América, ao puma). Leopardo:
nos ritos órficos gregos, no islã e nos primeiros batismos cristãos. Era despeja­ ver ANIMAIS; Carruagem, Biga; Demônios; Leão; Olho; Pele; SETE PE­
do como libação para a ressurreição de Osíris no Egito e em ritos primaveris da CADOS CAPITAIS
fertilidade em outros lugares. De maneira mais generalizada, representava a
absorção do conhecimento ou da alimentação espiritual. Sua cor também o tor­ Lequ^ - Leques grandes significam autoridade, sobretudo na Ásia e África,
nou um símbolo da pureza: falou-se que leite, e não sangue, jorrou quando San­ talvez tanto pela associação com o simbolismo do vento quanto por seu poder
ta Catarina de Alexandria foi decapitada. Leite: ver Árvore; Batismo; Bode, Ca­ de acender o fogo, como ocorre com a mão do deus indiano do fogo, Agni. Os
bra; Branco; Iniciação; Mãe; Nogueira do Japão; Vaca; Via Láctea | leques cerimoniais de penas, como o flabellum carregado nas procissões papais,
certamente parecem ter simbolismo celeste. De maneira mais prosaica, o uso
Leme - Como instrumento de direção, um emblema da autoridade respon­ de leques para proteger governantes ou objetos sagrados do calor e das moscas
sável, às vezes mostrado em medalhões oficiais. Na arte ocidental é atributo da pode ter contribuído para sua associação a status e dignidade. Um leque em
Fortuna e da Abundância. Leme: ver FORTUNA formato de coração era usado pelo imortal taoísta Chuang-li Chuan para de­
volver a vida. O simbolismo do leque era altamente desenvolvido no ritual
Lsopâfd© — Ferocidade, força implacável, coragem, orgulho, velocidade - japonês como analogia para o desdobramento da própria vida - ou o encerra­
emblema inglês de batalha, mas associado ao mal nas tradições antigas egípcia mento dela, no caso de homens condenados que carregavam leques nas exe­
e cristã. As peles de leopardo usadas pelos xamãs da Ásia e da África simboli­ cuções. O leque dobrável também estava associado com as fases da Lua e, por
zavam a supremacia deles sobre os poderes demoníacos desse animal. No Egito, extensão, com os humores mutáveis da mulher. Seu uso como um instrumento
onde era igualado a Seth, os sacerdotes vestiam- de flerte espalhou-se da Espanha e Itália para todas as cortes da Europa no sécu­
se com peles de leopardo nos ritos funerários lo XVIIL Leque: ver Fogo, Chama; Lua; Mosca, Espanta-Moscas; Pena; Vento
para demonstrar a capacidade de proteger o
morto da influência malévola desses felinos. Leste - ver PONTOS CARDEAIS
No mundo clássico, o leopardo era atribu­
to do deus Dioniso (Baco, na mitologia Leviatã - Monstro aquático, símbolo de uma força
romana) como criador e destruidor, en­ da natureza que apenas um poder sobre-humano po­
quanto, na arte, dois leopardos puxam a deria criar ou controlar. Embora empregada com
carruagem de Baco. As pintas do anL freqüência para significar baleia, a palavra hebraica
mal foram associadas ao lendário liviatan refere-se a qualquer monstro das profun-
Argos, de muitos olhos. O simbo­ I; dezas. jó 41 começa com “Poderia apanhar o leviatã
lismo cristão negativo baseou-se na com um anzol?” e passa a descrever uma criatura com
Leviatã na forma
visão de um leopardo monstruoso características de crocodilo. O simbolismo de uma
de serpente
em Daniel 7:6 e, de maneira ainda criatura tão feroz que “ninguém ousa provocar” deri­ marinha, de uma
O deus grego Dioniso cavalgando um leopardo, de um mais poderosa, na narrativa de Jere- va de mitos mesopotâmicos e fenícios em que um representação inglesa
mosaico encontrado em Delos, Grécia, c. 180 d. C. mias em que Deus lhe dizia que os deus-herói luta para arrancar a ordem à força de do século XII.
de luz, cujos limites superior e inferior não podem ser
um deus do caos primordial das profundezas. O filósofo inglês Thomas Hobbes
encontrados por Brahma como um ganso selvagem ou
(1588-1679), em seu Leviatã, usou o monstro bíblico como símbolo do
por Vishnu como um varrão — prova do poder de
Estado absoluto ao qual o indivíduo está subordinado. Leviatã: ver ANIMAIS
MITOLÓGICOS; Baleia; Crocodilo Shiva. Embora seja essencial mente símbolo de vi­
rilidade, o linga aparece às vezes com um círculo
de pedra em sua base que representa o yoni (vulva)
Libélula - Frivolidade e futilidade, elegância, velocidade. Algumas vezes
como um símbolo do casamento sagrado de ho­
divide o simbolismo das borboletas. Diz-se que o herói ancestral imperial
mem e mulher. O keui chinês, um jade oblongo
japonês Jimmu-Tenno deu a Honshu o nome Ilha Libélula. Libélula: ver
com ponta triangular, tem significado semelhante.
Borboleta
O linga enlaçado por uma serpente refere-se à Kundali-
ni, o fluxo serpentino de energia vital. Linga: ver Cir­
LIBERDADE - A liberdade é em geral representada na arte por uma cungiro; Coluna; Cone; Falo; Ganso; Jade; Kundalini;
mulher segurando um cetro e usando um barrete frígio - numa refe­ Ônfalo; Serpente; Triângulo; Varrão; Vulva
rência ao costume romano de presentear barretes aos escravos libertos.
O barrete tornou-se um emblema popular da Revolução Francesa, como ■* ,Língua - Em geral mostrada estendida em entalhes e
na pintura de Delacroix Liberdade Conduzindo o Povo (1830). A própria pinturas, a língua tinha uma variedade de significados
luz é símbolo de libertação (da escuridão) e a Estátua da Liberdade, em simbólicos. Como o único órgão interno do corpo que
Nova York, segura um archote. Outros símbolos de liberdade incluem pode ser exibido de maneira tão surpreendente, a
o acrobata, o sino, as correntes quebradas, o gato, a águia, o falcão, o -A
língua é um símbolo poderoso de agressão e defesa.
peixe, cabelos longos e asas. — LIBERDADE: ver os verbetes individuais A língua projetada nos entalhes e hacas (danças de O linga de Shiva, de uma
escultura de arenito vermelho,
guerra) maoris expressam desafio e provocação
num templo do século XV.
(como o habitual mostrar a língua). O simbolismo
Limeira* Tília - Árvore da amizade ou comunidade, um simbolismo que
sexual é comum na arte primitiva, como nas “imagens mastro” da fertilidade
remonta ao mundo clássico, mas adquire particular relevância na Alemanha,
com línguas estendidas, em Bornéu. O deus protetor egípcio Bes aparece com
onde a tília (limão-doce europeu) constituía o ponto central da vida na aldeia,
língua estendida com a finalidade, conforme em geral se acreditava, de evitar
como o é em algumas cidadezinhas francesas. Suas associações dóceis e benéficas
o mal. Na índia, a língua de Kali, igualmente estendida, simboliza seu poder
podem estar ligadas ao mel feito de suas flores. Limeira, Tília: ver Árvore; Mel
consumidor. O deus do fogo, Agni, é mostrado com sete línguas. Há uma forte
ligação simbólica entre língua e chama - ambas vermelhas, ativas, consumido­
Línce — Vigilância. Simbolismo com bases profundas na visão extraordinaria­
ras e criadoras-destruidoras (pelo papel poderoso da língua na fala). No Livro
mente aguçada do animal, que a superstição levava a acreditar ser capaz de ver
de Isaías, a língua de Deus é “um fogo devorador”, e nos Atos dos Apóstolos,
através de obstáculos e penetrar segredos. Na arte, o lince representa senso de
recebe a dádiva dos idiomas, na forma de línguas fendidas “como o fogo”. A
visão. Lince: ver VIGILÂNCIA
língua em geral representa o próprio idioma e também eloqüência ou sabedo­
ria: a língua de Buda, por exemplo, é longa. Na arte funerária egípcia, as lín­
Linga - Força geradora masculina na natureza, simbolizada na arte e arquite­
guas estendidas permitiam ao morto falar aos deuses. A exibição da língua
tura hindus por um falo estilizado que representa o deus Shiva como procria-
também pode ter um simbolismo demoníaco, carnívoro ou assustador, como
dor divino. Na caverna de Elephanta, em Bombaim, o linga - um cone de
nas máscaras teatrais da Grécia e outras regiões. Algumas efígies animais com
pedra negra grosso e liso - era o foco dos rituais de circungiro, o que indica seu
línguas estendidas invocam a chuva. Língua: ver Fogo, Chama; SABEDORIA;
papel de símbolo tanto axial quanto fálico, um pouco como o clássico ompha-
Sino; Vermelho
los (umbigo, centro). Num mito, o linga de Shiva aparece como uma coluna
Linha — Continuidade no espaço e tempo, ligação, destino — simbolismo sem­ res teriam sido anémonas semelhantes à papoula (Anemone coronário). Outra
pre ligado ao delicado tecido da vida humana. Na mitologia grega, as Três Par­ referência bíblica (Cânticos 1:2) compara os lábios da pessoa amada aos lírios,
cas tecem, medem e cortam a linha da vida. Na tradição oriental, duas linhas ||§ supostamente os vermelhos. O lírio branco pode às vezes simbolizar tanto a
tecidas juntas simbolizavam o destino comum de um casal. morte quanto a pureza, e em geral é visto como presságio da morte. O lótus,
ou nenúfar, é uma flor de características diferentes, com um simbolismo muito
Lira - Harmonia divina, a música das esferas, a mais amplo. Lírio: ver Arcanjos; Branco; Flor-de-Lis; íris (flor); Leite; Lótus; Va-
vibração do cosmo, inspiração musical e poética e so; Via-Láctea
adivinhação. A lira é o instrumento musical mais
plausivelmente ligado à mitologia clássica e, em Livro - Emblema auto-evidente de sabedo­
particular, a Orfeu, cuja música encantava ani­ ria, ciência e erudição, o livro também
mais selvagens e parava o curso dos rios. Uma aparece amplamente na iconografia co­
versão grande, chamada de cítara, teria sido mo símbolo de revelação divina, em
feita por Hermes (Mercúrio, na mitologia especial nas fés cristã e islâmica. Pa-
romana) para Apoio. j§ ra os místicos árabes, é metáfora da
Na arte, a lira é o atributo da Poesia personificada de própria vida e de todo o universo,
Erato, musa da poesia lírica, e de Terpsícore, musa p Em algumas lendas do Graal, a
da dança e do som. A lira de sete cordas simbolizava busca é de um livro e da Palavra
os sete planetas; uma versão de 12 cordas representa­ Um músico caminha com |, Perdida. Na arte, o livro é segurado
va os signos do zodíaco. Lira: ver Música; PLANE­ uma cítara (lira grande), de por profetas, apóstolos (João Evange­
TAS; Zodíaco um antigo vaso grego. lista é visto literalmente engolindo o Livro
B da Revelação), Cristo, a Virgem Maria em pin­
Lífio - Um dos mais ambíguos de todos os símbolos florais - identificado com turas da Anunciação e as figuras da História, Filo­
a piedade, pureza e inocência cristãs, mas tendo associações com a fecundidade sofia e as Musas. Um livro com uma cruz repre­ Cristo Pantocrata segura
e o amor erótico em tradições mais antigas, por seu pistilo fálico e fragrância. senta a Fé. A queima de livros simboliza o descarte um livro na mão esquerda,
O lírio encontrado na arte cristã é o tipo branco chamado no século XIX de de velhas crenças e tradições. Livro: ver Graal; Pa­ de um mosaico grego do
“Madona” devido à sua associação com a Virgem Maria (também era atributo lavra; SABEDORIA; VIRTUDES século XI.
de seu esposo, José, e de muitos santos). É com freqüência mostrado num vaso
ou nas mãos do arcanjo Gabriel nas pinturas da Anunciação. O bonito lírio-do- ILobo — Ferocidade, astúcia, cobiça, crueldade, mal — mas também coragem, vi­
vale tem o mesmo simbolismo. Como flor de jardim favorita na Antigüidade, tória, os cuidados com alimentação. Nas sociedades pastoris antigas, sobretudo
rezava a fábula que o lírio surgira do leite da deusa grega Hera e estava ligado na judaico-cristã e em geral nas regiões da Europa com alta densidade de flo­
à fecundidade não só na Grécia, mas também no Egito e no Oriente Médio em restas e população, o lobo é um predador famoso na mitologia, no folclore e
geral, onde era motivo de decoração popular. Os lírios simbolizavam prosperi­ nos contos de fada. O lobo grande e mau era um símbolo tanto de devoração
dade e realeza em Bizâncio, e isso, em vez da ligação com a pureza, pode ter sido quanto de predação sexual. As histórias das bruxas que se transformam em
a razão original para a escolha da flor-de-lis como o emblema da França. Seu lobos e de homens em lobisomens simbolizavam os medos de possessão demo­
significado emblemático para os santos cristãos é tirado em grande parte do níaca, bem como do desencadeamento da violência e do sadismo masculino.
Sermão da Montanha, em que Jesus usou o glorioso “lírios do campo” como O simbolismo cristão da ovelha, como paroquiano, fez do lobo predador um sím­
alegoria de como Deus provê a subsistência para aqueles que renunciam à per­ bolo do diabo e da heresia. As pinturas de São Francisco de Assis com um lobo
seguição de riquezas (Mateus 6:28-30). Hoje, porém, acredita-se que essas fio- referem-se à história de que ele domesticou um desses animais. A tradição chi-
nesa associava o lobo à voracidade e à libertinagem. Na mitologia nórdica, o brincalhonas, a um alto impulso sexual, e há contos populares de lontras que
lobo gigante Fenris é símbolo do caos que engole o Sol no fim do mundo. O lobo se disfarçavam de mulher para seduzir os homens.

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também é um engolidor do Sol na mitologia celta.
Em outras partes, esse simbolismo é às vezes invertido, de modo que o lobo Losango — Graficamente, símbolo da matriz da vida, da vulva, da fertilidade
torna-se um símbolo triunfal de inteligência por meio da experiência e emble­ e, em alguns contextos, da inocência. Adquire imagem dual quando combinado
ma dos guerreiros. Era consagrado a Apoio na Grécia e a Odin (Wodan) na com o simbolismo fálico das serpentes na arte decorativa dos nativos ameri­
mitologia nórdica. Consagrado a Marte, era emblema romano de vitória se vis­ canos. O formato de losango aparece com o simbolismo da fertilidade na saia
to antes da batalha. de jade de Chalchiuhtlicue, consorte do deus Tlaloc, deusa mexicana dos rios
A loba que amamentou Rômulo e Remo (os lendários fundadores de Roma) é e lagos. No Mali, o formato de meio losango com um ponto na outra extremi­
uma imagem do cuidado maternal selvagem que reaparece no folclore da índia. dade simbolizava mulher jovem.
Pode explicar as muitas histórias de lobos ancestrais - de Gêngis Na arte cristã, o simbolismo de losango das deusas da fertilidade foi tomado
Khan, para citar um caso. Kemal Atatürk como símbolo de virgindade no culto da Virgem Maria, convencionalmente

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era chamado de “o Lobo Cinza”. O mostrado dentro de uma mandorla, também conhecida como vesicapiseis (“ve­
simbolismo turco do, lobo é positi­ sícula de peixe”) - formato de losango com auréola. Losango: ver Amêndoa;
vo o suficiente para sugerir que era Auréola; Mandorla; Mulher; Serpente; Virgindade; Vulva
um animal totêmico na Ásia
Central. No México e entre os na­ LÓtUS - Flor com muitos significados simbólicos, em particular nas tradi­
tivos da América do Norte, o lobo ções do Egito, índia, China e Japão. Sua importância singular baseia-se
era símbolo do dançarino, associ­ tanto na beleza decorativa de suas pétalas radiantes quanto na analogia entre
ado, juntamente com o cão, aos elas e uma forma idealizada da vulva como a divina fonte da vida. Por exten­
A estátua de bronze (séculos V-VI a.C.) mostra os fantasmas e ao guia dos espíritos são, o lótus passou a simbolizar, entre outras coisas, nascimento e renasci­
gêmeos Rômulo e Remo, fundadores de Roma, na outra vida. Lobo: ver Bruxaria; mento, bem como a origem da vida cósmica e os deuses criadores, ou o Sol
amamentados pela loba. Cao; Demônios; Ovelha e os deuses solares. Também representava o crescimento espiritual humano a
partir do broto, ainda enrolado, do coração e o potencial da alma para al­
cançar a perfeição divina.
No Egito, o lótus, ao surgir do fundo lodoso como um nenúfar para desdobrar
suas pétalas imaculadas ao Sol, sugeria a glória da própria emergência do Sol
do lodo primevo. Metáfora da criação, constituía símbolo votivo não só dos
deuses e deusas do Sol e da fecundidade, mas também do Alto Nilo como doa­
dor da vida. O lírio azul, mais sagrado que o branco, era emblema de modés­
tia e correção no Egito e também no budismo chinês. As grinaldas de lótus para
os mortos adquiriram um simbolismo de renascimento.
Como motivo decorativo funerário simbolizador da ressurreição, esta flor apa­
recia na Grécia antiga e na Itália, além de na Ásia Ocidental, onde as formas
decorativas do lótus egípcio deram origem na arquitetura aos capitéis jónicos
(os “comedores de lótus” do mito grego, extasiados em ditoso esquecimento,
Lontra — Animal lunar, associado à fertilidade e aos cultos de iniciação na nada têm a ver com a flor sagrada: o suco fermentado de um arbusto de lótus
África e América do Norte. Os chineses associavam as lontras, amigáveis e africano é a provável fonte dessa referência homérica).
No hinduísmo, o lótus sagrado cresceu do umbigo de Vishnu quando ele des­ LOiire — Vitória, paz, purificação, proteção, adivinhação, conhecimento secre­
cansava nas águas, dando lugar ao nascimento de Brahma (uma representação to e imortalidade. Os lauréis confeccionados com espécies aromáticas de louro
do crescimento espiritual). O lótus é símbolo do que é divino ou imortal na eram o emblema de coroação do mundo greco-romano, não só para guerreiros,
humanidade e é quase sinônimo de perfeição. mas também para poetas, por intermédio de sua associação com o deus Apoio.
A iconografia indiana, tanto hinduísta quanto budista, é cheia de deuses (ou, Dizia-se que ele se purificara com louro nos arvoredos de Tempe, na Tessália,
no budismo, bodisatvas) sentados de pernas cruzadas no centro de pétalas de depois de matar a serpente Píton em Delfos. A sacerdotisa de seu culto em
lótus semelhantes a chamas. O lótus é o atributo dos deuses do Sol e do fogo Delfos, Pítia, mascava louro antes de fazer suas profecias. Considerava-se que
e principal símbolo de Padma, consorte do deus Vishnu. Simboliza a realiza­ detinha a pestilência e os raios, superstição compartilhada pelo imperador
ção do potencial interno ou, nas tradições tântricas ou iogues, a capacidade Tibério, que costumava usar sua coroa de louro nas tempestades. Associado a
para utilizar o fluxo de energia movendo-se através dos chakras (representados muitas divindades, entre elas Dioniso (Baco), Zeus (Júpiter), Hera (Juno) e
com freqüência como lótus semelhantes a rodas), florescendo como o lótus de Ártemis (Diana), o louro era emblema da trégua ou da paz, bem como do triun­
mil pétalas da iluminação no topo do crânio. Um conceito paralelo é a “flores­ fo. E também um simbolismo secundário de castidade derivado do mito de
cência dourada” do taoísmo chinês, tradição inspirada no budismo, em que o ló­ Dafne, a ninfa que foi transformada em louro quando fugia da luxúria de Apoio.
tus é mais uma vez símbolo da evolução espiritual. O louro tinha significado de talismã no norte da África, e na China aparece
A veneração do lótus é igualmente marcante, se não mais, nos budismos india­ como a árvore sob a qual a lebre lunar mistura o elixir da imortalidade. É sím­
no, tibetano, chinês e japonês. Ele representa a natureza do próprio Buda e é bolo cristão de vida eterna. Louro: ver Árvore; Cabelo; Coroa; Coroa de Flo­
imagem de aspiração ao florescimento espiritual do conhecimento que pode res, Grinalda; Dragão; PAZ; Raio; VIRTUDES; VITÓRIA
levar ao estado de nirvana. As imagens sexuais do lótus, mais marcantes no
budismo tântrico, combinam às vezes a haste masculina e a florescência femi­ Lua — Fertilidade, renovação cíclica, ressurreição, imortalidade, poder oculto,
nina num símbolo da união e harmonia espiritual. Essa é a “jóia no lótus”, mutabilidade, intuição e as emoções - antiga ordenadora do tempo, das águas,
invocada no mantra Om mani padme hum. do desenvolvimento das colheitas e da vida das mulheres. Os surgimentos e desa­
Ecoando o simbolismo egípcio do nascimento dos deuses a partir da vulva pura parecimentos da Lua, assim como suas surpreendentes alterações de forma,
do lótus, dizia-se que o pai do budismo tibetano, Padmasambhava, teria sido proporcionavam uma imagem cósmica impressionante dos ciclos terrenos de
descoberto no coração de um lótus aos oito anos de idade. No budismo chinês, nascimento, desenvolvimento, declínio, morte e renascimento dos animais e
em que o lótus é um dos Oito Sinais Auspiciosos, acrescentaram-se mais associa­ vegetais. O alcance e a influência do culto e do simbolismo lunares são parcial­
ções simbólicas - retidão, firmeza, harmonia conjugal e pros­ mente explicados pela imensa importância da Lua como fonte de luz para caçadas
peridade —, em especial a bênção de ter muitos filhos, repre­ noturnas e como a mais antiga medida do tempo - as suas fases constituíram a
sentada por um garoto segurando um lótus. Mistura de sim­ base dos primeiros calendários conhecidos. Além de exercer influência sobre as
bolismo sagrado e profano na tradição chinesa - a cortesã marés, era amplamente difundida a crença de que a Lua controlava o destino
era conhecida como o “lótus dourado”, embora a flor humano, bem como as chuvas, a neve, as enchentes e os ritmos da vida de ve­
esteja em geral mais ligada à pureza, até mesmo à virginda­ getais e animais em geral e das mulheres, por meio das periodicidades lunares
de também constitui um emblema japonês de do ciclo menstrual.
moralidade incorruptível. O lótus aparece, ainda na Embora fundamentalmente um símbolo do princípio feminino, a Lua foi às
iconografia maia, aparentemente com o simbolismo vezes personificada por deuses do sexo masculino, sobretudo entre culturas
de renascimento. Lótus: ver Água; Alma; Azul; Bran­ nômades ou de caçadores. O grande deus-lua semita-sumério Sin, cujo emble­
co; Chacra; Coração; Coroa de Flores, Grinalda; ma era um crescente em formato de barco, era Senhor dos Meses e do Destino.
O deus hindu Brahma, sentado FLORES; Fogo, Chama; Nirvana; Oito; Ouro; Ro- A Lua era igualmente do sexo masculino no Japão, na Oceania e nos países
numa flor de lótus. da; Sol; Umbigo; Virgindade; Vulva teutônicos, assim também entre algumas tribos africanas e ameríndias. As di-
vindades lunares femininas diferem na índole, variando de grandes deusas- blema da eterna juventude na tradição da Ocea­
mães protetoras até ferozes defensoras da própria virgindade, tal como Ártemis, nia e quase universalmente da imortalidade — daí
a deusa-caçadora grega dotada de chifres. Castidade, inconstância, volubilidade sua associação com as árvores, como em alguns
ou “fria” indiferença são características associadas à Lua. Diana, a sua personifi­ túmulos islâmicos, onde o crescente aparece aci­
cação clássica mais conhecida, era uma secundária deusa italiana das florestas, ma da Árvore da Vida. Na iconografia oriental, a
posteriormente identificada com Ártemis, que absorvera elementos dos cultos lebre lunar mistura o elixir da imortalidade sob a
lunares gregos de Selene, amante de Endimião, e com Hécate, representando Árvore da Vida (em outros lugares, a Lua cres­
a Lua no seu aspecto fúnebre. A “escuridão da Lua” (a sua ausência durante três cente às vezes aparece como uma taça contendo
dias) tornou a Lua um símbolo da passagem da vida para a morte, bem como da esse elixir). Além dos principais símbolos da fer­
morte para a vida. Em algumas tradições, a Lua é o caminho para a vida após a tilidade, como a lebre ou o coelho, os animais lu­
morte, ou a morada dos mortos reverenciados. Embora seja em geral um sím­ nares incluem o urso que hiberna, anfíbios co­
bolo benevolente, às vezes pode apresentar-se como um olho maligno, uma pre­ mo o sapo e a rã, outros animais noturnos como
sença enfeitiçadora, pela associação com a morte e com aspectos sinistros da o gato e a raposa - e o caracol, com as antenas
noite. Tanto o deus egípcio Toth quanto a deusa grega Hécate uniam simbolismõ que surgem e desaparecem (os “chifres” na Lua
lunar e oculto. crescente). A lebre ou o coelho e o sapo eram na
Pictoricamente, com freqüência a Lua aparece na iconografia como um cres­ maioria das vezes identificados com as manchas
cente (com as pontas para a esquerda), um sinal propício para semear as culturas. da Lua (encaradas, alternativamente, como um
O crescente turco, com as pontas para a direita, era o antigo símbolo protetor velho recolhendo gravetos, um aguadeiro ou - na
de Bizâncio, escolhido em honra de Hécate. Unido à estrela de Ishtar (Vénus, África - a lama atirada pelo invejoso Sol). Com
A carta da Lua, de um baralho
no mito romano), posteriormente ele se tornou o símbolo não só da Turquia maior freqüência no mito (e na alquimia), o Sol e
do taro.
como do islã em geral, significando soberania e o poder de Alá, além de cres­ a Lua formam uma dualidade necessária como
cimento e prosperidade. O crescente com as pontas para cima une os simbolis­ marido e mulher, irmão e irmã, quente e frio, fogo e água, masculino e femi­
mos lunar e da fertilidade do touro ou da vaca. A estreita faixa da lua nova nino - simbolizada particularmente pelo enfeite de cabeça egípcio que apre­
simboliza o nascimento casto, como nas representações cristãs da Virgem senta o disco solar enquadrado pelos chifres da Lua. A astrologia enfatizou os
Maria com a lua nova aos pés (Apocalipse 12:1). A lua cheia partilha o sim­ aspectos passivos da Lua como mera refletora da luz do Sol, daí sua associação
bolismo do círculo como uma imagem de totalidade ou perfeição. E um símbolo com o pensamento conceptual ou racional mais do que com o conhecimento
budista da beleza e da serenidade, e, na China, da família completa. A lua da direto (embora o taoísmo a considerasse a visão do conhecimento espiritual
colheita (uma lua cheia perto do equinócio de setembro) é, por motivos agrí­ nas trevas da ignorância).
colas, um símbolo de fertilidade, amplamente associado a amor e casamento. A psicologia a relaciona à subjetividade, intuição e emoções - e às alterações
A festa lunar chinesa, celebrada no equinócio de setembro com frutas, boli­ de humor, que é um simbolismo recorrente. Lua: ver Agua; Alquimia; Ano; Ár­
nhos doces e lanternas, também contém simbolismo de fertilidade. A noção de vore; Barco; Bruxaria; Caracol; CASTIDADE; Chifre; Chuva; Círculo;
que a Lua cheia provoca formas de loucura diferentes do amor é de origem Crescente; Desmembramento; Disco; Escuridão; Espelho; Gato; Lebre, Coe­
romana (daí “lunático”). Idiotas de nascença podem ser chamados de “aluados” lho; Lontra; Luz; Mãe; Mulher; O OUTRO MUNDO; Olho; PLANETAS;
pela mesma razão, mas também porque a Lua, que preside os sonhos, está liga­ Prata; Rã; Raposa; Sabá; Sapo; Semana; Sol; Taça; Taro; Touro; Urso; Vaca;
da à fantasia ou à alienação. Virgindade; Zodíaco
As mudanças de forma da Lua determinam grande parte do seu simbolismo e são
vinculadas, por alguns, a mitos e rituais de deuses desmembrados e ressuscitados, Luva - Símbolo da própria mão executiva, portanto em geral empregada como
como o egípcio Osíris. É um símbolo desintegrador, mediador e unificador, em­ uma garantia de ação na época em que as luvas eram mais usadas, sobretudo
pelas pessoas de condição social mais elevada. O costume de jogar no chão
uma luva como desafio (posteriormente, de bater com ela na face de alguém)
vem de disputas medievais em que se desafiava para um duelo. Réus que
tivessem perdido casos depositavam uma luva dobrada como garantia de que
cumpririam a ordem do tribunal. As luvas também eram usadas pelos cavalei­
ros das justas como garantia de amor, e por governantes para conceder direitos
comerciais ou feudos. No ritual de status, remover a luva direita reconhecia a
superioridade de um senhor feudal ou soberano - e mostrava que não havia
ameaça. Luvas brancas (pontifícias) são usadas na Igreja Católica Romana co­
mo símbolos de pureza. Luva: ver Branco; Esquerda e Direita; Mão

LUZ - Metáfora de espírito e da própria divindade, que simboliza a iluminação


interna e a presença de um poder cósmico de bondade e verdade últimas. Por
extensão, a luz é símbolo de imortalidade, eternidade, paraíso, o ser puro, reve­
lação, sabedoria, intelecto, majestade, regozijo e a própria vida. Embora a
maioria das tradições filosóficas reconheça a luz e a escuridão como uma
dualidade necessária, as principais religiões do Oriente Próximo viam-nas
como forças de disputa ética, reinos do bem e do mal, como no zoroastrismo
e no maniqueísmo. A “luz” tornou-se sinônimo do “bem” ou de “Deus”.
Assim, Cristo é a Luz do Mundo; Gautama Buda a Luz da Ásia; Krishna, o
deus da Luz; Alá, a Luz do Céu e da Terra. Na tradição judaico-cristã, a luz
eterna é a recompensa das virtudes. O Gênesis tenta fazer uma distinção clara
entre a luz divina e a luz física mais efêmera do Sol, da Lua ou das estrelas, cria­
das apenas depois. A Candelária, Festa da Purificação da Virgem Maria, reali­
zada em 2 de fevereiro, adotou o simbolismo dos ritos pagãos mais antigos em
que se acendiam archotes e velas para invocar a fertilidade e a renovação pri­
maveril das safras. No simbolismo em geral, a luz do Sol está relacionada ao
conhecimento espiritual, enquanto a luz refletida pela Lua é associada ao co­
nhecimento racional. Luz: ver Auréola; Demônios; Estrela; Halo; Lâmpada,
Lanterna; Lua; Nimbo; O OUTRO MUNDO; SABEDORIA; Sol; Vela
Maça - Símbolo de autoridade. Arma originalmente semelhante ao porrete,
com ressaltos para atravessar armadura, a maça mais tarde era carregada pelas
escoltas e se tornou, por fim, um símbolo de poder puramente cerimonial. Por
ser, na Inglaterra, particularmente associada à autoridade real, a maça cerimo­
nial adquirida em 1649 pela Câmara dos Comuns foi um emblema significa­
tivo do recém-obtido direito de governar do parlamento de Cromwell. Maça:
ver Céu; Porrete

Maçã - Satisfação, sobretudo sexual - simbolismo talvez ligado à forma de vul­


va do núcleo da fruta num corte longitudinal. A maçã era amplamente usada
como símbolo de amor, casamento, tempo primaveril, juventude, fertilidade e
longevidade ou imortalidade - e, portanto, sugeria a tentação na tradição cristã.
As mitologias grega, celta e nórdica descrevem-na como o alimento miraculo­
so dos deuses. O herói grego Héracles (Hércules, na mitologia romana) ganha
das Hespérides as maçãs de ouro da imortalidade. Como objeto de desejo, a
deusa Éris (Discórdia) lançou uma maçã de ouro “à mais bela” das deusas, a ser
designada por Páris. Este escolheu Afrodite (Vénus) que, ao recompensá-lo com
a bela Helena de Tróia, fatidicamente provocou a Guerra de Tróia. Embora a
fruta que tentou Eva não tenha seu nome citado no Gênesis, a maçã talvez tenha
sido a escolha natural dos intérpretes posteriores das escrituras. Adquiriu, por­
tanto, os significados tanto negativos quanto positivos de “conhecimento”, no
sentido de que Eva a colheu na Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
Na arte, a maçã simboliza o Pecado Original quando é mostrada na boca de
um macaco ou de uma serpente; a imagem de Cristo com uma maçã na mão Maçara — Monstro aquático híbrido (em geral apresentado como um cro­
ou esticando o braço para pegar uma é o símbolo do Redentor. codilo-peixe) e que num mito indiano simboliza o poder das águas. Como
A ciência hermética, ao observar o formato “quintessencial” de cinco dobras o Maçara é cavalgado por Varuna, senhor da ordem tanto física quanto
do corte transversal do núcleo, também usou essa fruta como símbolo de co­ moral, assim como dos céus e das profundezas, sua imagem é predominan­
nhecimento. Na China, a maçã significa paz, e seu florescimento, beleza. Maçã: temente benéfica, ligada ao arco-íris e às chuvas, ao lótus que nasce na
ver Árvore; Cinco; Macaco; Serpente água e à volta do Sol no solstício de dezembro. No zodíaco indiano, o
Maçara toma o lugar do Capricórnio meio bode e meio peixe, simbolizan­
Macaco - Animal de simbolismo acentuadamente do o renascimento dentro do ciclo da existência material ou a liberação
divergente, respeitado no Egito, África, índia e dele. Maçara: ver Arco-Íris; Chuva; Crocodilo; Lótus; Peixe; Sol; Solstí­
China antigos, mas profundamente suspeito na cio; Zodíaco
tradição cristã, na qual era igualado ao vício, lu­
xúria, idolatria e heresias demoníacas. As habilida­ Machado - Símbolo quase universal de poder de decisão, ligado aos antigos
des imitativas dos macacos eram amplamente utiliza­ deuses do Sol e das tempestades, com Zeus na Grécia e Agni, deus indiano do
das para satirizar a vaidade humana e outros tipos de fogo. O machado é símbolo celta, nórdico, africano e oceânico especialmente
insensatez. Na arte ocidental, ele aparece com de autoridade, e de maneira mais geral, atributo de guerreiros. Sua queda cin­
maçã na boca, como símbolo da Queda, e poste­ tilante, com ruído surdo e produção de fagulhas, explica grande parte de suas
riormente de maneira mais divertida, como um associações simbólicas com o fogo e também com a força criativa e germinativa
dos próprios artistas a imitarem a na­ do raio com o trovão. Na África Ocidental, era usado diretamente para invo­
tureza. Na iconografia egípcia, o babuíno sagra­ car o trovão e a chuva. Os machados eram utilizados para cortar ao meio os
do é símbolo de sabedoria. crânios dos bois sacrificiais do Oriente Médio e são atributo de diversos santos
Na tradição tibetana, o bodisatva Avalokitesh- O deus-macaco Hanuman brin­ cristãos, sobretudo Mateus.
cando com os pêssegos da imorta­
vara (encarnado pelo Dalai-Lama) originalmente Mais comumente, o machado representa a resolução de um problema pela força:
lidade, numa ilustração chinesa.
entrou no país sob a forma de um macaco sa­ ele corta a roda da existência budista; simboliza a união de famílias nos casa­
grado, apiedou-se de uma ogra que se apaixonou por ele e, com ela, gerou os mentos chineses e cura a dor de cabeça de Zeus na lenda em que Atena (Mi­
seis antepassados da raça tibetana. Histórias de reis-macacos aparecem também nerva, na mitologia romana) pula de uma fenda em sua cabeça.
nos mitos chinês e indiano, onde desempenham ágeis e inteligentes papéis cen­ O machado de duas lâminas gravado nas construções minóicas pode invocar a
trais. Hanuman, o deus-macaco indiano, representa coragem, força e auto-sa­ proteção de Zeus. De maneira alternativa, suas curvas duais, de meia-lua, podem
crifício. Era símbolo de fertilidade e de cura de doenças, além de ser guerreiro ser um símbolo lunar ou representar a reconciliação dos contrários. Machado:
e leal seguidor do deus Rama. Na arte chinesa, o gibão simbolizava a proteção ver Fogo, Chama; Lua; Trovão
materna, e, no Japão, bonecas em forma de macaco tinham um simbolismo
protetor semelhante. Os famosos koshin - três macacos que não vêem, não ou­ Mâd&irü — Proteção — simbolismo baseado nos cultos antigos de espíritos be­
vem nem falam nada de mal, entalhados em madeira no santuário do primeiro néficos das árvores e nas tradições universais nas quais a árvore é uma expres­
xógum Tokugawa, em Nikko - inesperadamente significam a sabedoria da discri­ são da nutrição maternal e da força da vida.
ção, uma inversão da concepção ocidental do macaco como curioso e tagarela. A A superstição de bater na madeira vem dos supostos poderes mágicos do freixo,
obra tem sido interpretada como um talismã contra a calúnia. A malícia, a luxú­ do pilriteiro, da aveleira, do carvalho e do salgueiro.
ria e a cobiça são atributos do macaco na arte cristã: eles com freqüência carica­ Na tradição indiana, a madeira é a substância primária que dá forma a todas
turam as faltas veniais da natureza humana ou representam as artes plásticas. as coisas - Brahma. Na China, é emblema da primavera e do leste. Madeira:
Macaco: ver Maçã; SETE PECADOS CAPITAIS; VIRTUDES ver Árvore; Aveleira; Caldeirão; Freixo; Pilriteiro; Salgueiro; Teixo
Mãe - Natureza, a terra e suas da psicologicamente a instinto, emoções, sentimento, ternura e melancolia.
águas, fertilidade, alimento, ca­
Múltiplos aspectos da mãe eram às vezes representados na iconografia por deu­
lor, abrigo, proteção, dedicação,
sas triformes ou tríplices, como no caso de Hécate e das esculturas celtas. As
mas às vezes também uma ima­
deusas-mães celtas geralmente eram protetoras, sobretudo de bichos, inclusive
gem de amor sufocante, destino
dos animais selvagens. Seus atributos compreendiam barcos ou lemes, assim co­
mortal e túmulo. Esculturas pa­
mo imagens mais familiares de fertilidade e prosperidade, tais como cestas de
leolíticas, talvez datando de 30
frutas, espigas de milho ou cornucópias. Outros símbolos da mãe compreen­
mil anos, sugerem que as figuras
dem o urso (especialmente em sonhos), a vaca, a pomba, o ganso, a perdiz e a
maternais com seios intumesci­
andorinha, além de outros animais produtivos e alguns selvagens, especialmente
dos foram os mais antigos de to­
a leoa; fontes, lagos, oceanos, rios e a Lua; jardins, portões, casas e navios; re­
dos os símbolos da fertilidade.
cipientes, em especial cestas e taças; a meia-lua do quarto crescente; o signo do
E, embora muitas cosmogonias Mãe Terra (esquerda) e Pai Céu (direita), se­
gundo uma pintura navaja com areia colorida. labirinto conhecido como o modelo “mãe e filho”; ou, na representação gráfica,
identifiquem divindades criado­
o losango ou a espiral; e a criação ou o sustento de entidades como Igreja, uni­
ras masculinas ou de sexo dual como a fonte original da vida, é possível que
versidade ou país natal. Mãe: ver Abutre; Água; Andorinha; Árvore; Barco; Bode,
fossem precedidas pela veneração de deusas-mães que personificassem a Natu­
Cabra; Cesta; Cornucópia; Crescente; Desmembramento; Escuridão; Esfinge;
reza, a Terra ou a própria Força Criadora. Hesíodo (c.700 a.C.), o poeta que
Espiral; Fonte; Ganso; Labirinto; Leão; Losango; Lua; Mar; Pêra; Perdiz; Pomba;
sistematizou a mitologia grega, situou Gê ou Gaia (a Terra) em primeiro lugar,
Preto; Seios; Taça; Terra; Tríade; Urso; Vaca; Virgindade
na sua genealogia dos deuses, como a “mãe universal, solidamente estabelecida,
a mais antiga das divindades”. Ela deu à luz os deuses e, segundo o mito ático,
Maná — Graça divina - simbolismo que se relaciona ao alimento aparentemen­
o primeiro ser humano, Erictônio. No mundo greco-romano, a veneração de
te miraculoso que sustentou os filhos de Israel por 40 anos no deserto (Êxodo
símbolos da natureza materna, inclusive Réia e Deméter, culminou na Grande
16). Sua descrição como “folhados de mel” levou a indicações de que os folha­
Mãe frigia Cibele, cujo culto foi um rival inicial do cristianismo.
dos eram compostos do líquen lecanora e de resinas adesivas, parecidas com o
O culto cristão da Virgem Maria é excepcional, não só porque Maria era uma
mel, da tamargueira ou de árvores semelhantes da região. São alimentos aces­
mulher jovem (o elemento humano no Cristo) e não uma deusa, mas também
síveis aos beduínos, e as quedas de líquen soprado pelo vento são conhecidas
porque ela representava uma ruptura completa com a longa tradição de mães
no norte da África. O cristianismo adaptou o simbolismo do “alimento do
veneradas que eram essencialmente símbolos da natureza. Seu vínculo simbólico
céu” dos judeus, representado por Cristo como “o pão da vida” (João 6:31-33).
com as deusas-mães anteriores é que seu filho foi morto. A morte, emasculação
Maná: ver Mel; Pão; Resina; Tamarga
ou desmembramento dos entes queridos da deusa-mãe são um importante tema
recorrente no simbolismo mítico da mãe — representando o ciclo morte-renasci­
Manda la - Desenho que simboliza a ordem espiritual, cósmica ou psíqui­
mento, que é a regra inflexível da natureza.
ca. Embora os mandalas budistas, especialmente na forma geométrica do
O simbolismo da mãe devoradora prende-se tanto à terra (a escuridão da ger­
yantra, tenham-se tornado famosos como auxiliares em exercícios de medi­
minação e do túmulo) quanto ao mar (as águas primordiais da vida, represen­
tação, antigas formas de mandala tanto do hinduísmo quanto do budismo
tadas pela grande deusa suméria Nammu, e pelo abismo temível). Kali, a “Mãe
também possuíam um simbolismo iniciatório, orientando os devotos para
Negra” da mitologia indiana, é a imagem mais alarmante da destruidora-cria­
um espaço sagrado. São tentativas de proporcionar uma imagem da realida­
dora. A “mãe terrível” da psicologia é um símbolo do amor possessivo e do pe­
de suprema - de uma totalidade espiritual que transcende o mundo das apa­
rigo de uma fixação infantil que persiste e bloqueia o desenvolvimento do ego.
rências. O significado de mandala em sânscrito é “círculo” e, mesmo quan­
O simbolismo da mãe-bruxa pode refletir essa tirania, assim como antigos laços
do dominado por quadrados ou triângulos, têm estruturas concêntricas.
entre a mãe e o secreto conjunto de conhecimentos terrenos. A mãe está liga­
Simbolizam a progressão, mental ou física, para um centro espiritual, como
na estrutura de mandala de muitos ascendentes, que simbolizam não apenas sua santidade, como também sua
templos ou estupas. transfiguração. Mandorla: ver Amêndoa; Auréola; Fogo, Chama; Losango;
O aspecto notável de todos os pa­ Transformação; Virgindade
drões do mandala é o equilíbrio
cuidadoso dos elementos visuais, ^ Mandrágora _ Planta narcótica mediterrâ­
simbolizando a harmonia que trans­ nea da família da batata, com raiz bifurcada que
cende a confusão ou desordem do sugere a forma humana; é tida como possuidora
mundo material. Para Jung, esses de poderes mágicos e largamente associada à
modelos eram símbolos arquetípi- bruxaria. Era utilizada para lançar feitiços pela
cos do desejo humano de integra­ maga Circe, na mitologia grega. No Egito, era usada
ção psíquica. Para outros, o manda­ como um afrodisíaco; em Israel, como ajuda à con­
la representa uma viagem espiritual cepção; e em Roma, como medicamento herbáceo
para fora do ego. Cada mandala antiinflamatório. Superstições que se acumularam em
O mandala sagrado, com base nunyi pintura
tem um significado individual e di­ torno da mandrágora, na Idade Média, resultaram
do século XVIII, de Rajasthan, índia.
ferente dos demais: alguns possuem na idéia de que, quando arrancada, seus agudos gri-
elementos figurativos que convidam à contemplação, por exemplo, das virtu­ E. tos podiam matar, ou que “os mortais que os ou­
des específicas encarnadas por um determinado bodisatva, retratado com fre- viam ficavam loucos” (Shakespeare, Romeu e Julie-
qüência sentado dentro de um lótus. O sentido da ordem, no entanto, é coe­ ta, 4:3: c.1595).
rente e simboliza uma inteligência inspiradora, uma estrutura sobrenatural, a A lenda de que as mandrágoras crescem do sê­
serenidade da iluminação. Mandala: ver Centro; Círculo; Estupa; Iniciação; men dos assassinos enforcados ilustra um deslo-
Lótus; Quadrado; Templo; Triângulo I camento simbólico da idéia de que uma planta de
forma humana podia constituir uma simpatia be­ Mandrágora antropomorfi-
Mandorla — Auréola em forma de amêndoa néfica para o medo de que ela representasse forças zada, de um tratado inglês
empregada na arte cristã medieval para com­ demoníacas. Mandrágora: ver Bruxaria; Demônios sobre ervas, século XVI.
por a figura de Cristo em sua ascensão e ain­
da envolver a Virgem Maria, Maria Madalena H Manto — ver Capa
ou outros santos levados para o céu. Como a
m
vesica piseis (“bolha dos peixes”), a mandorla Mantra — Palavra ou sílaba que simboliza um aspecto do poder divino nas tra­
era um antigo símbolo de Cristo na glória. A dições hindus e budistas. Seja falada em voz alta, seja apenas pronunciada na
“amêndoa” mística (mandorla, em italiano) mente de alguém que se concentra nela, a sonoridade da palavra sagrada tem
era associada à pureza e à virgindade, sendo um valor quase mágico, que corresponde a uma carga de energia criativa. Acre-
sua forma oval um antigo símbolo da vulva. dita-se que o mantra é capaz de alinhar o devoto com a vibração do próprio
Graficamente, parece também uma chama, cosmo. Mantra: ver Om (Aum); Palavra
símbolo da espiritualidade. Outra opinião é a
de que ela representa a dualidade do céu e da Mão - Poder (temporal e espiritual), ação, força, dominação, proteção - sim­
terra, desenhada como dois arcos que se cru­ A mandorla, auréola em forma de bolismo geral que reflete o papel executivo da mão na vida humana e a crença
zam. Isso explicaria por que as mandorlas, amêndoa que circunda essa ima­ de que pode transmitir energia tanto espiritual quanto física. A mão era às vezes
emblematicamente, em geral contêm figuras gem ortodoxa oriental de Cristo. suficientemente vigorosa para aparecer sozinha na iconografia, como um motivo

JH
nas pinturas das cavernas, por exemplo, ou em fj|tda, três dedos abertos - a trindade cristã; levantada, polegar e dois dedos abertos
pinturas cristãs da mão de Deus saindo das IB - voto ou juramento; ambas levantadas (orante) — adoração, receptividade à gra-
nuvens. No islamismo, a mão aberta de Fáti­ !§ ça celeste, renúncia (agora, de maneira menos humilde, a receptividade de um
ma (filha de Maomé) proclama os cinco prin­ vencedor ao aplauso); coberta ou oculta - respeito; dobrada - tranqüilidade; pal­
cípios fundamentais: fé, oração, peregrinação, mas para cima, pousadas uma sobre a outra — meditação (a palma da mão para
abstinência e caridade. A Mão de Atum era cima significando tanto dar quanto receber); palmas juntas — oração, humildade;
um emblema da fertilidade no Egito, que es­ sobre o peito — submissão (também uma atitude de sabedoria). O pulso esquer­
timulava o sêmen doador de vida original pro­ do colocado na mão direita era sinal de submissão em partes da África. Colocar
veniente do corpo do deus criador masculino- ambas as mãos nas mãos de outra pessoa é um gesto mais difundido de confian-
feminino. Como o número cinco era associa­ I ça ou submissão (como nos contratos feudais para servir a um senhor). O aperto
do ao outro mundo no México antigo, a mão de mãos é um símbolo quase universal de amizade, fraternidade, boa acolhida,
com os dedos abertos era um ícone de morte. acordo, congratulação, reconciliação ou, no casamento, amor fiel.
A Mão Vermelha do Ulster tornou-se insígnia Os quiromantes afirmam ser capazes de ler mais sobre o caráter e o destino de
não apenas da província, como ainda da dig- a Mão de Fãtima, de um pingente uma pessoa nas mãos do que no rosto. Na iconografia, um olho na palma da
nidade de baronete (título de nobreza supe- gravado islâmico. mão é símbolo de clarividência ou, no budismo, de sabedoria piedosa. Mão:
rior ao de cavaleiro e inferior ao de barão, ins­ ver Cinco; Esquerda e Direita; Luva; Mudras; Olho
tituído para levantar fundos para a defesa do Ulster). A crença de que as mãos
dos reis, líderes religiosos ou fazedores de milagres tinham poder benéfico exis­ Mar - Em muitas tradições, a fonte primeira da vida - amorfo, ilimitado, ine­
tia desde tempos imemoriais; daí a sua aplicação para cura ou bênção religiosa, xaurível e cheio de possibilidades. Na mitologia da Mesopotâmia, a vida surgiu
crisma ou ordenação. O uso talismânico das mãos estendeu-se à pavorosa prá­ da mescla de Apsu, a água doce sobre a qual a terra flutuava, à água salgada,
tica dos ladrões de carregar a mão decepada de um criminoso enforcado para tra­ personificada pela deusa do caos, Tiamat, que fez nascer todas as coisas e cuja
zer uma abominável boa sorte. À exceção do Japão e da China, onde a mão destruição levou ao mundo organizado. No Gênesis, Deus movimenta-se so­
esquerda significa honra, a mão direita é amplamente favorecida; um gover­ bre a superfície do mar primordial. O deus criador indiano, Vishnu, dorme
nante celta foi deposto depois de perder a mão direita numa batalha. Cristo está numa serpente enroscada sobre o mar.
sentado à mão direita de Deus, que distribui misericórdia com a direita e justiça O mar é uma imagem maternal mais primária mesmo que a terra, mas também
com a esquerda. Na tradição ocidental, a mão direita simbolizava franqueza e ló­ implica transformação e renascimento. É ainda símbolo de sabedoria infinita e,
gica, enquanto a esquerda significava duplicidade (mágica branca em oposição na psicologia, do inconsciente. Mar: ver Água; Dilúvio; SABEDORIA; Serpente
à negra). De maneira semelhante, a mão direita abençoa, a esquerda amaldiçoa. m
O lado direito é às vezes ampliado, como no Davi (1501), de Michelangelo. JMarfim — Incorruptibilidade, pureza, hierarquia, proteção. O simbolismo
Embora a ligação conceptual entre mão e poder (palavras sinônimas no hebrai- do alheamento arrogante (torre de marfim) deriva provavelmente do elevado
co antigo) seja de imensa importância no simbolismo pictórico, é apenas um as­ status do marfim em quase todas as culturas antigas, onde era usado para
pecto do simbolismo muito mais amplo e variado dos gestos com as mãos. Estes produzir alguns dos mais bonitos e duráveis de todos os trabalhos de arte.
formam, nos mudras do hinduísmo e do budismo, toda uma linguagem simbó­ Ao marfim de morsa eram atribuídos poderes de cura no mundo islâmico,
lica que envolve centenas de formas e posições de mão e dedo utilizadas no ritual na índia e na China, onde era considerado útil como antídoto para veneno.
religioso, na dança e no teatro. Gestos manuais de significado bastante difundi­ Os funcionários públicos graduados chineses usavam pingentes em faixas
dos (mais sinais que símbolos) incluem os seguintes: fechada — ameaça, força ou carregavam tabuinhas de marfim. Sua associação cristã com a pureza e,
agressiva, segredo, poder (o punho fechado do Black Power); aberta e levantada, em particular, com a Virgem Maria, está ligada à sua brancura. Marfim: ver
com a palma da mão para fora - bênção, paz, proteção, a mão do Buda; levanta- Branco; Virgindade
Marrom - Humildade, renúncia, pobreza - provavelmente simbolismo deri­ ças, expulsar os espíritos remanescentes dos morros ou proporcionar um obje­
vado de associações de sobriedade e modéstia com o solo de argila. Daí as ves­ to de adoração. A sociedade de mascarados iroqueses era de exorcizadores pro­
tes marrons das ordens mendicantes cristãs. Mesmo assim, o marrom também fissionais dos demônios da doença, assim caracterizados para simbolizar o fu­
foi a cor da suntuosa dinastia Sung da China. Culturalmente, parece haver nesto irmão gêmeo do deus criador. As máscaras ou acondicionamentos do
poucos indícios antigos ou modernos da visão de Freud de que as associações rosto também foram utilizados em cerimônias de iniciação africanas, de índios
com os excrementos constituem o simbolismo predominante do marrom. Mar­ americanos e da Oceania, para marcar a transição da aparência infantil para a
rom: ver CORES da idade adulta. As máscaras de sepultamento, representando mortos impor­
tantes, eram amplamente usadas não apenas para proteger suas faces decadentes,
Martelo - Símbolo de criação-destruição da força masculina, ligado ao po­ como no caso das máscaras douradas dos micênicos, mas também para garan­
der do Sol e dos trovões, com autoridade soberana, deuses da guerra e benéficos tir que suas almas pudessem achar o caminho de volta para seus corpos, um
deuses artesãos. O martelo raramente aparece como símbolo da pura força ponto de preocupação nos ritos funerários egípcios, entre outros.
bruta (embora Eduardo I fosse chamado de “O Martelo dos Escoceses” pelo As máscaras trágicas e cômicas usadas para identificar diferentes personagens
tratamento cruel que lhes dispensava). Até o poderoso martelo de pedra do no antigo teatro grego se desenvolveram a partir do uso de máscaras religiosas
deus nórdico Thor, que ele podia lançar de modo infalível para matar ou abrir para representar os mitos ou simbolizar a presença de divindades, particular-
vales em cadeias de montanhas, podia ser usado como emblema protetor em mente no culto da fertilidade de Dioniso. As máscaras de afugentar demônios,
lápides ou para sugerir a solenidade com que se celebravam contratos ou casa­ 1 na Ásia (que sobrevivem em danças processionais de dragões e leões), podem,
mentos. Nas mãos do deus grego Hefesto (Vulcano), o martelo era instrumento da mesma forma, ter dado origem às máscaras de uso posterior, com simbolis­
de habilidade divina, emblema do vigor criativo que impulsiona o cinzel ou mo de cores estilizadas no teatro nô japonês: vermelhas para a virtude, brancas
que dá forma ao metal. Esse é o significado de seu uso na maçonaria como atri­ para a corrupção, pretas para a canalhice. A máscara também pode, de maneira
buto do Mestre da Loja, como símbolo da inteligência criativa. O emblema da mais óbvia, simbolizar o ocultamento ou a ilusão. Nas tradições indianas, a más­
foice e martelo da Rússia soviética foi, do mesmo modo, escolhido como ima­ cara é maya - o mundo como uma ilusão projetada pelo indivíduo que não com­
gem vigorosa do trabalho produtivo. Na China, o martelo era símbolo do poder preende a maya divina, ou máscara de Deus. Na arte ocidental, a máscara é um
soberano de moldar a sociedade. Lá, como também na índia, sua destrutivida- atributo do Engano personificado, do Vício e da Noite. Máscara: ver ANIMAIS;
de estava ligada à conquista do mal. Também era símbolo de proteção contra Branco; Dragão; Iniciação; Leão; Noite; Preto; Totem; Transformação; Vermelho
o fogo. Ferramenta que faz barulho, era amplamente associada ao trovão e, por
extensão, à fecundidade - à liberação de chuva ou, no nordeste da Europa, à que­ Mastro Enfeitado - No hemisfério norte, emblema da primavera, da fer­
bra do gelo na primavera. No Japão, o martelo aparece como emblema de rique­ tilidade e renovação solar, ligado a antigos ritos da agricultura e da ressurrei­
za (ligado à recuperação do ouro), atributo do deus da prosperidade, Daikoku. ção, bem como ao simbolismo axial da Árvore do Mundo. Na Inglaterra, o
Martelo: ver Chuva; Ferreiro; Trovão simbolismo fálico dos mastros enfeitados e o comportamento libertino em torno
deles no T de maio deixavam os puritanos ofendidos. As fontes pagãs do mastro
Máscara — Transformação, proteção, identificação ou disfarce. O simbolis­ enfeitado incluíam os ritos de primavera (gregos e romanos) de Átis, consorte
mo primitivo e antigo da máscara é de que ela encarnava uma força sobrena­ assassinado da mãe da Terra, Cibele. Seu símbolo era um pinheiro descascado,
tural ou mesmo transformava o xamã seu portador no espírito representado enrolado em faixas de lã e em torno do qual se efetuavam danças, para invocar e
pela máscara. As primeiras máscaras animais parecem ter sido usadas para cap­ celebrar sua ressurreição. O festival romano de Hilária adaptou essa tradição
turar o espírito de um animal caçado e evitar que prejudicasse o usuário. Mais combinada com outros ritos de primavera existentes no mundo celta. Os mas­
tarde, as máscaras primitivas tiveram significado totêmico, identificando a tribo tros enfeitados ingleses ressaltavam o simbolismo da fecundidade ao prender
com um determinado espírito ancestral cujo poder podia então ser empregado um disco feminino no poste masculino. Diz-se que os dançarinos que desem­
para proteger a tribo, aterrorizar seus inimigos, exorcizar demônios ou doen­ baraçam as fitas enquanto giram em torno do mastro simbolizam a criação do
cosmo a partir do centro axial (de maneira semelhante aos ritos de Átis, o que Na Grécia, onde o mel também era usado em ritos de iniciação, poetas como
indica uma fonte romana). Mais exaustivas ou angustiantes, as danças circulares Homero e filósofos como Pitágoras tinham a reputação de não se alimentarem
executadas pelos índios das grandes planícies da América do Norte utilizavam de outra coisa.
um mastro central como símbolo de ligação entre a terra e as forças sobrena­ Além do uso como bálsamo, era amplamente disseminada a crença sobre seus
turais acima dela. Essas danças invocavam o poder do Sol, às vezes oferecendo poderes afrodisíacos e de promoção da fertilidade (o simbolismo erótico talvez
pedaços sacrificiais de carne arrancados do peito dos guerreiros. Mastro Enfei­ reforçado pelos efeitos de beber hidromel). O jainismo proibiu seus seguido­
tado: ver Árvore; Coluna; Dança do Sol; Eixo; Falo; Pinheiro, Pinha; Sacri­ res de beber mel por esse motivo. Mel: ver Abelha; Hidromel; Iniciação; Leite;
fício; Sol Nirvana; Ouro; Orvalho; Palavra

Meia-Noite - Na tradição chinesa, o começo das 12 horas da ascensão so­ Melancia - No Sudeste Asiático, a melancia partilha o simbolismo de fecun­
lar — momento carregado de poder e que se acredita ser uma hora propícia didade da romã devido ao número de sementes existentes na fruta. Esse é o sig­
à concepção, sobretudo no solstício de dezembro. Foi também, nas lendas nificado emblemático de dar sementes aos noivos nos casamentos vietnamitas.
cristãs, a hora do nascimento de Cristo. A independência da índia, ao bater Melancia: ver Romã
a meia-noite, adquiriu significação simbólica porque, na tradição tântrica, era
uma hora de apogeu espiritual, bem como de iniciação. Meia-Noite: ver "MetldíCfO — Imagem de piedade e espiritualidade em muitas tradições orien-
Iniciação; Solstício f tais e indianas, sobretudo no budismo. Na Tailândia, ainda é costume os rapa-
I zes mendigarem o alimento por algum tempo. O mesmo simbolismo está ligado
Meio-Dia — Hora da revelação nas tradições judaica e islâmica e, de maneira às ordens mendicantes cristãs. Lázaro (num banquete) e o asceta Santo Aleixo
mais geral, o momento de confrontação nua. O significado espiritual positivo aparecem na arte como mendigos. Um mendigo segurando uma pedra pesada
do meio-dia vem da ausência de sombras (simbolicamente consideradas preju­ representa a Pobreza.
diciais) e dos antigos rituais de adoração do Sol no zénite, quando o astro apa­
recia com todo seu poder e glória. Meio-Dia: ver Doze; Sol; Sombra JWSenir - Pedra neolítica vertical, muitas vezes erigida próximo a sítios de se-
pultamento europeus e que alguns acreditam simbolizar a força da vida de uma
Me! - Alimento dos deuses e imortais, videntes e poetas — símbolo de pureza, divindade ou herói masculino e comemorá-lo como uma presença duradoura,
inspiração, eloqüência, da palavra divina e das bênçãos dadas por Deus. O mel f a zelar pelos viventes. As primeiras pedras verticais parecem ser indicadores as-
era uma fonte importante de açúcar no mundo antigo e suas propriedades me­ tronômicos, mas menires posteriores e menores são às vezes entalhados com
dicinais eram valorizadas. Era também a base do hidromel, bebida sagrada em pormenores figurativos que reforçam a idéia de um papel mais simbólico. Menir:
muitas culturas, igualada à ambrosia dos deuses. Suas qualidades celestiais pa­ ver Falo; Homem; Pedra
reciam ser corroboradas pela cor dourada e pela idéia de que as abelhas co­
lhiam o mel ao sorver o orvalho das flores. Assim, a doçura mística celebrada Mercúrio - Fluidez, ligação, transformação, volatilidade e o intelecto - me­
por Coleridge nas linhas finais de Kublae Khan (1797-8): “Ele, que se alimentou tal lunar e feminino, associado pelos alquimistas à energia “fria”. Como único
de mel-orvalho,/Bebeu o leite do Paraíso.” A terra bíblica de Canaã, onde fluíam metal líquido comum em temperaturas regulares, o mercúrio foi de grande
o leite e o mel, era uma imagem de abundância, tanto espiritual quanto física. interesse para os alquimistas, sobretudo por amalgamar-se com facilidade
O mel era usado não só como alimento votivo, mas também como fluido de com outros metais — motivo pelo qual era utilizado para extrair o ouro do
unção e purificação em muitas culturas antigas do Oriente Médio e nos ritos minério. Mercúrio (o metal, o planeta e o deus andrógino) tem um simbo­
de iniciação do mitraísmo. Os reis eram embalsamados com ele em Esparta, na lismo universal e de extraordinária coerência em mitologia, astrologia e alquimia.
Cítia e no Egito. Na índia, era igualado à bem-aventurança do nirvana e aos pra­ Por ser entre todos os planetas o mais próximo do Sol, o que mais rápido gira
zeres celestes tanto na China quanto no Ocidente. em torno da estrela e, portanto, de observação mais esquiva, Mercúrio foi
associado ao mensageiro alado dos deuses (Her­ mais elevada. A pedra ou metal dos meteoritos tinha, portanto, valor sagrado.
mes/Mercúrio). O metal, também conhecido co­ A Caaba, santuário situado no centro da Grande Mesquita de Meca, contém
mo azougue ou “prata líquida,” era extraído pe­ um meteorito. Meteorito: ver Caaba; Estrela; Faísca; Ferro
los antigos do cinábrio calcinado e representa­
va o segundo estágio da purificação alquí- iVSÍrrtOSa — A certeza da ressurreição - simbolismo religioso baseado na cor so­
mica, após a “conjunção” com seu oposto lar dessas flores douradas e na idéia de que sejam uma imitação da vida sensível,
simbólico, o enxofre. Seu selo planetário, com suas pétalas correspondendo aos estímulos e se desdobrando na eternidade
adotado pelos alquimistas, tem pelo me­ da luz. Mimosa: ver FLORES; Luz; Ouro
nos três mil anos. Na China, o mercúrio
foi associado ao dragão e aos elementos lí­ IVSifilOiâUro - Monstro fabuloso dos creten­
quidos do corpo - sangue, água e sêmen. Corres­ ses, com cabeça de touro e corpo de homem,
pondia ao elemento iogue na tradição indiana, simbolizando a tirania - e, num sentido psico-1
associado ao fluxo interno de energia espiritual e lógico, a capacidade de destruição do desejo
ao sêmen de Shiva. Mercúrio: ver Agua; Alqui­ Mercúrio conduzindo o oculto ou reprimido. No mito grego, Pasífae,
mia; Andrógino; Asas; Caduceu; Dragão; Enxo­ caduceu, de uma gravura esposa do rei Minos, deu à luz o Minotauro
fre; METAIS; PLANETAS; Sangue; Transformação alquímica de 1666. depois de se acasalar com um touro branco -
ato de vingança preparado pelo deus do mar,
Posêidon (Netuno, na mitologia romana), irri­
MET# - Energia cósmica capturada em forma sólida - simbolismo
tado por Minos não haver sacrificado o touro
que explica alguns aspectos enigmáticos das antigas atitudes para com
para ele. Minos escondeu o Minotauro num
os metais. A extração, purificação e técnicas de fusão antigas, bem como,
labirinto e o alimentou com tributos regulares
mais ainda, os esforços dos alquimistas para transmutar metais básicos O homem-touro Minotauro, de
de jovens atenienses, até que o herói Teseu o
em ouro, fizeram da metalurgia uma alegoria da experimentação e pu­ um antigo vaso grego.
surrou até a morte. A cabeça de touro num
rificação espiritual. Os metais, como os seres humanos, eram coisas ter­
corpo humano simbolizava a predominância completa do instinto animal. Mi­
renas com potencial celeste. Daí o desenvolvimento de uma hierarquia
notauro: ver ANIMAIS MITOLÓGICOS; Centauro; Labirinto; Sacrifício;
cósmica que equiparava os metais aos sete planetas conhecidos. Em or­
SETE PECADOS CAPITAIS; Touro
dem ascendente: o chumbo com Saturno; o estanho com Júpiter; o fer­
ro com Marte; o cobre com Vénus; o mercúrio com Mercúrio; a prata
Mirra — ver Incenso
com a Lua; e o ouro com o Sol. Na psicologia, os metais representavam
a sensualidade dos seres humanos, transcendida apenas pelo desenvolvi­
mento espiritual. Em alguns ritos iniciáticos, os aspirantes se desfaziam
Monólito — ver Menir; Coluna
de suas posses em metais para significar o abandono das impurezas.
METAIS: ver Alquimia; Bronze; Chumbo; Ferro; Iniciação; Mercúrio; ^Montanha - Cume e centro espiritual do mundo, ponto de encontro da ter­
ra e do céu, símbolo de transcendência, eternidade, pureza, estabilidade, ascensão,
PLANETAS; Prata; Ouro
i ambição e desafio. A crença de que as divindades habitavam as montanhas, ou
* manifestavam ali sua presença, foi universal em países com picos suficiente­
Meteorito - Centelha ou semente divina. No mundo antigo, achava-se qu< mente altos para serem encobertos por nuvens. Tais montanhas foram muitas
os meteoritos eram fragmentos das estrelas que governavam o cosmo — virtual vezes tão temidas quanto veneradas - como na África. Eram associadas a imor­
mente, anjos em forma material, a lembrar os homens da existência de uma vidí tais, heróis, profetas santificados e deuses. A Bíblia está repleta de referências a
montanhas sagradas. As revelações de Deus a Moisés no monte Sinai encon­ «jyloníe - Na tradição egípcia, o estado intermediário da matéria. Segundo a
traram um paralelo no cristianismo, no Sermão da Montanha, de Jesus Cris­ mitologia da criação do Egito, a primeira forma a surgir do estado primordial
to. Foi no monte Carmelo que Elias triunfou sobre os sacerdotes de Baal, no do caos (Nun) foi um monte que proporcionou local de pouso para o pássaro
monte Horeb que ele ouviu a palavra de Deus e no monte das Oliveiras que Benu, que personificava o deus-sol criador. Os montes também possuem um
Cristo ascendeu ao céu, segundo os Atos dos Apóstolos. Nas lendas medie­ simbolismo axial, sagrado para os povos de planície, como locais mediadores
vais do Graal, o elixir da vida é guardado num castelo em Montsalvat. Na entre os mundos natural e sobrenatural. Monte: ver Eixo; Garça; Sol
China, a Montanha Centro do Mundo, Kunlun, considerada a nascente do rio
Amarelo, era símbolo de ordem e harmonia, a morada de imortais e do Ser (Viorango - Símbolo do prazer carnal nas pinturas de Bosch, que mostra mo­
Supremo. O Fujiyama, quase um emblema do próprio Japão, foi e é um local rangos gigantes crescendo em O Jardim das Delícias (c. 1495). Frutas comidas na
sagrado de peregrinação xintoísta. No México central, o monte Tlaloc era outra vida podem simbolizar o fim de qualquer possibilidade de retornar ao mun-
uma personificação do grande deus da fertilidade e da chuva. No monte Ifrdo dos vivos, como no mito dos nativos canadenses da tentação dos morangos.
Olimpo, os gregos eram submetidos aos caprichos dos seus conflituosos
deuses. As montanhas sagradas podiam ser tanto figuradas quanto reais, como Morcego - Inimigo da luz - daí conside­
a montanha Branca celta, a Qaf do islã, com base de esmeralda, ou o monte rado por toda parte como animal de medo
Meru, a Montanha Centro do Mundo indiana no Pólo Norte. Na cosmo­ e superstição, em geral associado à morte, à
gonia indiana, o monte Mandara é usado como agente principal para revolver noite e, na tradição judaico-cristã, à idolatria
as águas cósmicas. ou ao satanismo. O morcego também pode signifi­
A montanha polar é tanto centro quanto eixo do mundo, estendendo-se de seu car loucura, como na apavorante pintura de Goya do sé-
cume como uma grande Arvore do Mundo invertida. O cume poderia ser con­ J culo XIX, O Sono da Razão. O morcego é uma (
siderado tanto um umbigo quanto um buraco ou ponto de partida da vida ter­ poderosa divindade do inferno na mitologia Morcego, de um emblema de ouro do
restre. Às vezes, a montanha era oca e continha imortais adormecidos. As mon­ da América Central e do Brasil, às vezes mos- Peru pré-colombiano. O morcego, em
tanhas emblemáticas eram em geral vistas como constituídas por camadas, que 1J; trado como um devorador, de mandíbula es- algumas partes deste país, era associado
representavam os progressivos estágios da ascensão espiritual (os riscos de esca­ cancarada, da luz e do próprio Sol. Foi erro- ^ bruxaria.
lar montanhas sem preparação eram bem conhecidos). Os templos com for­ neamente considerado como tendo visão aguçada (vigilância, clareza) tanto na
mato de montanha expressam a mesma idéia nos grandes zigurates da Meso- África quanto na Grécia clássica. As almas de Flomero tinham asas de morcego.
potâmia ou da América Central, bem como nas estupas e pagodes da Ásia. Na Europa, os morcegos chegaram a ser pregados nas portas para espantar de-
Psicologicamente, galgar a montanha simboliza um grande desafio, as etapas í mônios. Toda essa tradição é invertida na China, onde fu (morcego) é homôni-
em direção ao autoconhecimento. A verticalidade torna a montanha símbolo sl98-
mo de “boa sorte”. Dois morcegos no cartão de visitas constituem uma previsão
masculino, embora a grande mãe Cibele fosse especificamente uma divindade de riqueza, saúde, virtude, longevidade e morte com dignidade. Morcego: ver
da montanha. Na arte, montanhas com picos geminados simbolizam poderes Asas; Demônios; Eclipse; LONGEVIDADE; Luz; MORTE; Noite; Sol
duais. Outros símbolos da montanha incluem o triângulo, a cruz, a coroa, a
estrela e degraus ou escadas de mão. Maomé, segundo se afirma, usou a imu­ Morte ver quadro na página 230
tabilidade das montanhas como alegoria da necessidade de humildade, ao or­
denar ao monte Safa que se movesse. Quando Safa se recusou a se mexer, SBp-ÒSC&g Espanta-ivioscas “ As moscas simbolizam o mal e a pestilên-
Maomé foi até a montanha para agradecer a Deus que ela houvesse ficado no cia. Eram um problema tão grande no mundo antigo que se invocavam divin­
lugar onde estava. Montanha: ver Árvore; Branco; Buraco; Castelo; Caverna; dades para lidar com elas, incluindo Zeus, sob o título Apomyios (“o que im-
Centro; Coroa; CRUZ; Degrau, Escada; Eixo; Esmeralda; Estrela; Estupa; Graal; I pede a mosca”). As moscas eram equiparadas aos demônios e tornaram-se um
Nuvem; Pagode; Pirâmide; Triângulo; Zigurate f: símbolo cristão da corrupção moral e física.
espanca-moscas e símbolo de autoridade na Aírica (pnde provavelmente
ÜORTE — As personificações da Morte como tá relacionado ao mangual de julgamento egípcio), China e índia. Mosca, Es-
algo de absoluto é deliberadamente alarmante. panta-Moscas: ver Chicote, Mangual; Demônios
O simbolismo religioso modifica a imagem
de fim, sugerindo que a morte é um estágio Mudras — Extenso sistema de gestos sutis e simbólicos das mãos, usado na ico-
necessário que resulta na liberação para a Ü nografia hinduísta e budista, na dança religiosa ritual e também, com adaptações,
imortalidade. O simbolismo do medo e espe­ na dança e no teatro em geral, em grande parte da Ásia. Mudras: ver Dança; Mão
rança algumas vezes aparece lado a lado em
combinação desconfortável. Na arte, a fi­ SRfluia - ver Asno
gura mais familiar da morte é o cavaleiro
de esqueleto, de manto e capuz, brandindo i lWilIher - Receptora, carregadora, animadora, protetora e nutridora da vida.

impiedosamente uma foice, tridente, espada "t Esse antigo simbolismo domina a representação da mulher na arte, mitologia
ou arco e flecha. Ele segura uma ampulheta Í e religião em todas as tradições antigas e se reflete nos emblemas associados a
significando a medida do período de vida. H elas. Esses emblemas incluem símbolos do útero, como a caverna, o poço ou a
Os deuses do Reino dos Mortos que domi­ ji fonte; recipientes como o vaso, a jarra, a taça, a urna, a bainha, a cesta, o bar-
navam a morte usavam esses auxiliares impla­ H co e o crescente lunar em forma de barco; cavidades como o sulco ou o vale;
cáveis para despachar-lhes as almas, embora os símbolos da fecundidade, como as árvores e as frutas; imagens especifica-
não fossem eles próprios necessariamente U mente sexuais, como a concha, o losango ou o triângulo invertido. As qualida-
símbolos de amedrontamento. Os druidas en­ > des associadas à mulher com maior freqüência no simbolismo tradicional são
sinavam que o deus da morte (Donn, na | a alma, a intuição, a emoção e a inconstância emocional, a passividade e a in­
Esqueleto de morto:
Irlanda) era a fonte de toda a vida. Outros consciência, o amor e a pureza. Na arte, a mulher personifica a maioria dos ví-
estatueta xamanista dos
símbolos da morte incluem o esqueleto, a cios e virtudes. Elas também são fortemente identificadas com as artes mágicas,
nativos americanos.
caveira, o túmulo ou uma figura de manto em especial a adivinhação e a profecia. Mulher: ver os verbetes individuais
negro com uma espada, tal como o deus grego Tânatos (o preto está
associado à morte na tradição ocidental; o branco, na oriental). A gJWy ro - Além de sua função óbvia de proteção, símbolo de separação. O Muro
Morte também podia aparecer como um tocador de tambor ou dan­ / das Lamentações em Jerusalém é consagrado pelos judeus como uma relíquia
çarino. Os símbolos suaves eram uma mulher velada ou um Anjo da do Templo de Herodes, mas também como símbolo da Diáspora e daqueles
Morte, como o Israfil islâmico. Barcos ou barcaças da Morte simbo­ | que permanecem separados de Israel.
lizavam a jornada para o mundo do além. As flores da Morte incluem
a papoula e o asfódelo. O cipreste e o salgueiro-chorão estão entre as Jfflurta - Amor sensual, felicidade conjugal, longevidade e harmonia. Talvez
árvores associadas. Muitos outros símbolos têm fortes ligações com as devido às suas bagas roxas, esse perfumado arbusto sempre verde, de cresci-
noções de vida após a morte, incluindo a grinalda — símbolo de re­ | mento espontâneo no Mediterrâneo e às vezes usado para coroas de vence­
compensa no paraíso. MORTE: ver Ampulheta; Arco (arma); Asfó­ dores, foi amplamente associado às deusas do amor, sobretudo à grega
delo; Branco; Cavalo; Caveira; Cipreste; Coroa de Flores, Grinalda; | Afrodite (Vénus, no mito romano), e a rituais que cercavam o casamento e
Dança; Esqueleto; Espada; Flecha; Foice, Gadanha; Manto; Navio; 1 o parto. A murta era reverenciada pela seita dos mandeus como um símbo­
O OUTRO MUNDO; Papoula; Preto; Salgueiro; Serpente; Tambor; lo da vida. Era um emblema chinês do sucesso. Acreditava-se que os estali­
Tridente; Véu dos das suas folhas indicavam se a pessoa amada seria fiel. Murta: ver Coroa
de Flores, Grinalda; VITÓRIA
S¥ltJ§Â$ — Deusas protetoras da poesia épica
(Calíope), poesia lírica (Érato), história (Clio),
música (Euterpe), tragédia (Melpômene), pan­
tomima (Polímnia), comédia (Talia), dança
(Terpsícore) e astronomia (Urânia). Seu simbo­
lismo baseava-se na associação entre as fontes
ou nascentes e a inspiração. Daí a sua origem
como ninfas gregas dos rios dos montes, as fi­
lhas de Zeus e de seu adultério com Mnemó-
Melpômene e Calíope ladeando
sine. Na arte, elas aparecem como companhei­
ras de Apoio ou sozinhas, com uma multiplici­
Virgílio, num mosaico. 1181 S SI
dade de atributos, inclusive livros, rolos de pergaminhos, tabuinhas de mar­
fim, flautas, violas, pandeiros, trombetas, liras, harpas, trompas, diademas,
coroas de louro, máscaras ou, no caso de Melpômene, uma espada ou pu­
nhal. MUSAS: ver Coroa; Coroa de Flores, Grinalda; Espada; Fonte; Harpa; mfò $ ssfp.-í -jm ?
Lira; Livro; Louro; Máscara; Música; Nascente (água); Pandeiro; Rolo de
Pergaminho; Tábua, Trombeta
mm
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WÊÈÊÊlmÊÊÊÊÊÊmWÊÊÊmÊ
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V

Música — Ordem mística. A música estava ligada à origem da própria vida em


algumas tradições, particularmente na índia, onde o som é considerado, na iPê
doutrina hinduísta, a vibração primordial da energia divina. Daí procede a len­ • •: *• 1:;
da da flauta de Krishna, que fez o mundo começar a existir. iifiüi
A música primitiva, baseada no ritmo e imitações dos sons de animais e do
mundo físico, era essencialmente uma tentativa de se comunicar com o mun­ -
do espiritual. Com o desenvolvimento de instrumentos e harmonias mais ela­ ■V: - . :í m 1 l! #1 í- V ■ ' ■■ %

borados, a música tornou-se um símbolo da ordem cósmica e foi associada, na


China e na Grécia, ao simbolismo dos números e aos planetas (“a harmonia ; i I :■ -I ■
das esferas”). Platão acreditava que o cosmo formava uma escala e número mu­
sical e que os planetas criavam uma harmonia divina ao se moverem com ve­
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locidades diferentes em relação uns aos outros, tal como a altura musical se
modificava quando as cordas eram vibradas em relações distintas.
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Características yin ou yang eram conferidas aos semitons da mais antiga oita­ j Hg- * M ;
■ ■ . :■'v
va chinesa, o que tornava a música um símbolo da dualidade vital que conser­ ■ - :■■■■' : ■ m
«16 iÜ
va unidas coisas díspares. Na arte, os músicos ou os instrumentos musicais
com freqüência simbolizam paz ou amor. Música: ver Harpa; Lira; MUSAS;
NÚMEROS; Pandeiro; PAZ; PLANETAS; Tambor; Trombeta; Yin-Yang

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wÈmi f|llÉg||gp§
Naja - Além do simbolismo geral de serpente, a naja ere­
ta e encapuzada tem significado sagrado específico na
| iconografia da índia e do Egito. No Egito, uma na­
ja fêmea com o capuz erguido é o Ureus, o bri­
lhante olho do deus-sol Rá, usado na cobertu-
I ra de cabeça de reis e deuses e também esculpi­
do em templos, como emblema do poder de
dar e tirar a vida. O cajado de Aarão, que se
: transformou numa serpente para impressionar
o faraó no Livro do Êxodo (7:8 12), pode de fa-
| to ter sido o corpo rígido de uma naja. Há me-
| nos dúvida de que o instrumento de suicídio
: escolhido por Cleópatra era uma pequena naja
áspide. A grande naja da índia é a Naga mági-
, i-^i Naja enroscada em torno do Sol, de
ca da mitologia indiana, guardia de tesouro,
um desenho folclórico indiano.
i correspondendo também a Shesha ou Ananta,
a serpente cósmica na qual Vishnu descansa entre eras de criação. No budismo,
a naja é o poder dominado do instinto. No Camboja, a miraculosa Naga de se­
te cabeças é símbolo do arco-íris, representando a passagem da terra ao céu. Naja:
ver ANIMAIS MITOLÓGICOS; Arco-Íris; Bastão; Serpente; Sol

plarciso — Flor da primavera, mas também símbolo de morte jovem, sono e


renascimento. A variedade de plantas pertencentes a esse gênero (que inclui o
narciso, o silvestre e o junquilho) pode contribuir para sua ampla variedade de lestes - o crescente do deus-lua babilónico a navegar no espaço, ou a barca
simbolismo. O Narciso da mitologia grega era um jovem belo que se apaixo­ egípcia do Sol em sua passagem noturna pelo mundo subterrâneo. Navios fu­
nou por seu próprio reflexo nas águas de uma fonte e definhou a se olhar. Era nerários eram fornecidos para a morte no Egito, e em outras tradições, nota­
geral, admite-se que a história é uma alegoria da vaidade, do egoísmo ou, era velmente no costume viking de imolar líderes em navios semelhantes a galeras.
termos psicológicos, da introspeção mórbida, mas seu simbolismo original pode O navio com mastro e âncora a representar um sinal críptico da cruz foi no
ter sido mais direto. O narciso floresce e morre cedo e, como afirma o antro­ início do cristianismo símbolo de Cristo e da Igreja como imagem de seguran­
pólogo J. G. Frazer, as auto-reflexões eram temidas no mundo antigo como au­ ça em meio às tempestades da vida. As próprias igrejas eram navios simbólicos,
gúrios da morte. O narciso era a flor que Perséfone colhia quando a carruagem com a nave (em latim, navis: “navio”) a carregar passageiros, os arcobotantes
de Hades irrompeu da terra e o rei dos infernos a carregou para seus domínios. servindo como remos e a agulha como mastro. Na arte, o navio é atributo de
O narciso também era usado nos ritos de Deméter e plantado nas sepulturas São Pedro e da Fortuna e emblema de prosperidade incerta - como na expres­
para simbolizar a idéia de que a morte era apenas um sono (o nome grego da são inglesa when my ship comes in (literalmente, “quando meu navio chegar”,
flor tem a mesma raiz que “narcose”: narké, “entorpecimento”). A fragrância que equivale, em português, a “ganhar a sorte grande”).
do narciso simbolizava a juventude na Pérsia. Sua haste vertical também tornou- A Nau dos Insensatos, tema tanto da literatura como da arte, é alegoria de via­
o emblema islâmico do servo fiel ou crente. Como jar na direção de objetivos materiais, em vez de espirituais. Navio: ver Agulha
florescia no ano-novo chinês, era símbolo de de Torre; Âncora; Arca; Barco; Crescente; CRUZ; Mulher
alegria, boa sorte ou casamento feliz na
tradição oriental. O narciso branco Nenúfar - ver Lírio
era o lírio sagrado da China
às vezes substitui o lírio Nevoeiro - Transição, evolução ou intervenção sobrenatural - eis o signifi­
na arte cristã como atri­ cado do nevoeiro em algumas pinturas orientais e no simbolismo das tradições
buto da Virgem Maria. em geral. O nevoeiro representou o indeterminado, um prelúdio para a reve­
Narciso: ver FLORES; Lí- O jovem e belo Narciso da mitologia grega, de uma lação ou o surgimento de novas formas, como nos ritos de iniciação. Nevoeiro:
rio; MORTE pintura 1711 de Nicolas-Bernard Lécuver. ver Água; Ar; Iniciação

Nascente (água) — Pureza e fertilidade - fonte de sabedoria espiritual, Nicho - Na arquitetura cristã, islâmica e indiana, caverna simbólica formada
salvação ou cura. Na mitologia, folclore e religião, as fontes são locais mágicos por um plano horizontal (terra) debaixo de um arco (céu) - o local de residên­
ou espiritualmente significativos, idéia baseada, por um lado, no simbolismo ge­ cia de Deus. Uma lâmpada ou vela num nicho significa a divina presença ou
ral da água e, por outro, na fonte como origem da água pura. Palavra. Nicho: ver Caverna; Lâmpada, Lanterna; Palavra; Vela
Nos cultos pagãos, as fontes eram associadas à sabedoria ou dádivas de espíri­
tos benevolentes do mundo subterrâneo. As propriedades de cura das fontes Nimbo - Fulgurância enevoada que envolve a cabeça ou a figura, simbolizan­
minerais podem ter contribuído para o simbolismo curativo das fontes em do a energia divina, santidade ou poder. As formas estilizadas de fulgurância
geral. Uma fonte que fluía da Árvore da Vida alimentava os quatro rios do pa­ usadas na iconografia cristã incluem o halo arqueado ou circular, a auréola
raíso — símbolo cristão da salvação. Nascente (água): ver Água; Árvore; Fonte; raiada e mandorla em forma de amêndoa. Outras convenções eram o uso de
Poço; SABEDORIA um nimbo triangular para Deus ou a Trindade, cruciforme para Cristo, qua­
drado para uma pessoa viva e hexágono para figuras alegóricas. As personifica­
WâWÍ0 - Símbolo de segurança, representando um útero ou berço feminino ções pagãs dos deuses do Sol às vezes eram envolvidas por um nimbo que, na
(ou lunar). Também símbolo de busca e passagem para outros estados do ser. arte oriental, poderia simbolizar tanto poder quanto divindade. Nas pinturas,
No mundo antigo, os navios em geral simbolizavam a viagem dos corpos ce­ o nimbo é em geral dourado na arte cristã, vermelho na indiana e azul para os
deuses clássicos do céu. Nimbo: ver Amêndoa; Auréola; Azul; Círculo; Halo; flogueira - Como outras árvores de nozes, fertilidade e sabedoria ou profe­
Mandorla; Ouro; Raio; Sol; Triângulo; Trindade; Vermelho cia - o conhecimento escondido dentro da casca externa dura. As nozes eram
alimento tradicional no solstício de dezembro e emblemas da fertilidade nos
m rwana - Símbolo de transcendência no pensamento hinduísta e budista - casamentos romanos. Na China, eram associadas ao namoro. Nogueira: Ár­
estado no qual o indivíduo é finalmente liberado da reencamaçao cíclica, ex­ vore; Solstício
tinto como “eu” mas absorvido na realidade última. Esse estado de bem-aven­
turança do ser indiferenciado ou pura iluminação situa-se além da descrição ttogueira-do-japão - Árvore sagrada na China, plantada perto dos tem­
objetiva. Sua claridade foi comparada no budismo ao brilho da lua cheia reve­ plos como símbolo da imortalidade - bastante apropriado devido à história ex­
lado pelas nuvens que partem. Nirvana: ver Carma; Roda; Transformação traordinariamente longa dessa espécie e à durabilidade das árvores individuais.
A nogueira-do-japão está particularmente associada a esse país, onde é emblema
MÓ - Os nós apertados são símbolos de união, fixação ou bloqueio, enquan­ de lealdade - na lenda, às vezes disposta a morrer por seu dono. Como se dizia
to os mostrados como um padrão frouxo e entretecido representam infinida­ que a nogueira-do-japão ajudava a manter o fluxo do leite materno, era tam­
de ou longevidade (uma linha sem começo nem fim). Por incorporar idéias bém considerada árvore da sorte das mães em fase de amamentação. Nogueira-
de atar e desatar, capturar e soltar, o simbolismo do nó é muito complexo. do-japão: ver Árvore; Leite; Templo
Curiosas superstições de pescadores do norte da Europa e da Escócia atribuem
significado mágico aos nós dados em lenços ou cordões, que, segundo acredi­ JfNoite - A noite é personificada na arte ocidental por uma figura maternal com
tam, influenciam os ventos e as condições meteorológicas. A proibição roma­ uma criança branca (sono) e uma negra (morte), uma imagem que transmite o
na de usar trajes com nós no templo de Juno Lucina, deusa do parto, reflete simbolismo ambivalente da noite. A exemplo da escuridão, está associada ao me-
uma crença semelhante de simpatia — os nós a representarem bloqueio num do primevo do desconhecido, da ocultação, do mal e dos Poderes da Escuridão,
contexto em que a liberação é essencial. “Atar o nó”, na Inglaterra vitoriana si­
nônimo de casamento, constituía um motivo popular em pinturas do deus ro­
mano do amor, Cupido. A união é também o simbolismo do cordão com nó
■ bruxaria e espíritos que assombram, desespero, loucura e morte - mas também
com germinação, passividade, o princípio feminino, sexualidade, descanso, paz,
sono, sonhos e renovação. O simbolismo positivo da “noite silenciosa, noite sa­
usado pelos brâmanes para vinculá-los a Brahma, do mesmo modo que o cor­ grada” é tão universal quanto o negativismo da “noite escura das almas”. A noite
dão de três nós dos frades franciscanos os liga a seus votos de pobreza, celiba­ era geralmente representada como uma figura calma com asas dobradas, embora
to e obediência. a Nyx grega, que usava um manto de estrelas e andava numa carruagem puxada
Por outro lado, o nó tinha com freqüência simbolismo de proteção, prova­ por cavalos negros, fosse associada ao destino inflexível. Seus filhos incluíam não
velmente com base na idéia da frustração. Assim, no islã, davam-se nós nas só Thanatos (morte) e Hipnos (sono), mas também as Parcas. Nas ilustrações do
barbas para afastar demônios, enquanto na presença do bem eles eram Renascimento, a Noite e o Dia são retratados como dois ratos, um preto e um
proibidos — como na mesquita de Meca. O nó górdio exemplificava o prin­ branco, que roem o tempo, simbolizando a falta de piedade. Os símbolos associa­
cípio da frustração. Ao cortá-lo, Alexandre, o Grande, encontrou uma so­ dos são a lua crescente, as estrelas, as criaturas noturnas (em especial a coruja), as
lução de curto prazo, mas nunca completou a conquista da Ásia prevista papoulas e as máscaras. Noite: ver Boi; Bruxaria; Carruagem, Biga; Coruja; Cres­
para o homem que conseguisse desatá-lo. A lição moral que o budismo re­ cente; Escuridão; Mãe; Máscara; MORTE; Papoula; PAZ; Rato
tirou desse famoso incidente foi de que é a paciência, não a violência, que
desembaraça os nós, em especial os que prendem a humanidade ao círculo Morte - ver PONTOS CARDEAIS
da existência material. O padrão de nó de tecedura aberta é um dos oito
emblemas de boa sorte do budismo chinês. Padrões ornamentais semelhantes iNov© — Como a tríade tripla, número extremamente poderoso na maioria das
a representar continuidade aparecem nas artes indiana e celta. Nó: ver Gri­ tradições, sobretudo na China, no budismo e no mundo celta. O número chi­
lhões; LONGEVIDADE nês mais auspicioso e o número yang mais potente, era a base da maior parte
do cerimonial taoísta e da divisão ritual na arquitetura e na propriedade. No
misticismo, representava a síntese tripla da mente, corpo e espírito, ou do mun­ Nü MEROS — Ordem divina, as chaves crípticas da harmonia cósmica.
do subterrâneo, terra e céu. Os matemáticos antigos ficavam impressionados Os maiores filósofos matemáticos da Babilônia e Grécia antigas e, depois,
pelo modo com que a multiplicação por nove produzia sempre dígitos cuja soma da índia, acreditavam que os números poderiam revelar os princípios da
resultava em nove. O nove era símbolo hebreu da verdade e cristão da ordem criação e as leis de espaço e tempo. Na interação dos números ímpares
dentro da ordem - daí, talvez, a organização dos anjos em nove coros. Havia e pares, o filósofo grego Pitágoras (c. 580-500 a.C.) via os trabalhos de
nove céus ou esferas celestiais em muitas tradições e, na América Central, nove um universo dualista de opostos — com limites e ilimitado, reto e cur­
infernos. Geralmente associado à coragem ou à resistência masculina, o nove era vo, quadrado e oblongo. “Todas as coisas são números”, dizia ele. No
um número básico nos rituais xamanistas do norte e do centro da Ásia. Os no­ hinduísmo, os números eram a base do universo material. Já os astecas
ve dias e noites nos quais o deus nórdico Odin (Wodan, na tradição teutôni- designavam, para cada número fundamental, um deus, uma qualidade,
ca) pendurou-se na Árvore do Mundo Yggdrasil simbolizaram o período ritual uma direção e uma cor. Como os números eram usados por deuses pa­
necessário para sua ressurreição ou rejuvenescimento mágicos. Nove: ver Anjos; ra regular o mundo, acreditava-se que eles tinham um significado sim­
NÚMEROS; O OUTRO MUNDO; Três; VIRTUDES bólico particular. Os números eram considerados fundamentais na mú­
sica, poesia, arquitetura e arte.
Nudez - Inocência, liberdade, vulnerabilidade, verdade e, nas idealizações da Os cabalistas judeus atribuíam valores numéricos às letras do alfabe­
arte grega, a própria divindade. Embora a nudez também possa simbolizar car- to hebraico e usavam o sistema para reinterpretar o Antigo Testamento,
nalidade, vergonha ou perversão - como nas figuras nuas e amontoadas na re­ numa técnica precursora da numerologia. A superstição nos números
presentação do inferno de uma pintura de Bosch (c. 1490) - o corpo humano geralmente baseia-se em seu simbolismo tradicional (sete sagrado, 13
sem adornos era, na maioria das tradições, símbolo da sinceridade, simplicida­ de má sorte). A seqüência 1, 2, 3 representava, quase universalmente,
de e pureza do recém-nascido. Daí o despir dos iniciados e às vezes dos sacer­ unidade, dualidade e síntese. Em termos pitagóricos, 1, 2, 3, 4 sim­
dotes em alguns ritos religiosos antigos. bolizava o fluxo do ponto para a linha, daí para a superfície e então
A descrição bíblica de Adão e Eva como despidos antes do Pecado Original asso­ para o sólido. Na Grécia, os números ímpares eram masculinos e ati­
ciava a nudez com o estado primário de inocência. Os ascetas às vezes ficavam nus vos, os pares femininos e passivos. Na China, os números ímpares
por essa razão. A seita cristã de camponeses russos do século XVIII dos dukho- eram yang, celestes, imutáveis e auspiciosos; os pares eram yin, ter­
bors (“lutadores do espírito”) - cujos membros depois emigraram em sua restres, mutáveis e às vezes menos auspiciosos. Os números com sig­
maioria para o Canadá - usava a nudez como protesto simbólico contra o mate­ nificado arquetípico iam de um a dez (ou de um a 12 nos sistemas
rialismo e a autoridade da Igreja e do Estado. Na arte medieval, bruxas nuas sim­ duodecimais). Os números maiores em que importantes arquétipos
bolizavam as tentações carnais de Satã, mas os modernos grupos de bruxas usam reaparecem (17 na tradição islâmica; 40 no mundo semítico) em geral
o termo “vestidas de céu” (nuas) para sugerir sua abertura às forças sobrenaturais. reforçam seu simbolismo.
Do mesmo modo, os ascetas indianos nus estão “vestidos de ar”. Em muitas tradições, o 13 era considerado de má sorte, possivelmente
Nas civilizações em que era desaprovada, como na China, a nudez simboliza­ porque os calendários lunares antigos precisavam intercalar um 13° “mês”,
va o primitivo ou a pobreza, como para os romanos. Nudez: ver Bruxaria; Céu; considerado desfavorável; os conselhos para que não se semeie no dia 13
Iniciação; LIBERDADE de qualquer mês remonta, pelo menos, a Hesíodo (século VIII a.C.);
Satã era a “13a figura” nos ritos das bruxas. No taro, a Morte é a 13a
NUMEROS — ver quadro nas páginas 241 e 242 carta do Arcanos Maiores. Na América Central, o 13 era sagrado (sema­
nas de 13 dias no calendário religioso). Os cinco dias “restantes” do ca-
Muvens - Fecundidade, das forças da natureza e espiritual. Afora seu simbo­
lismo óbvio de fertilidade como precursoras da chuva, as nuvens também re-
lendário solar maia de 20 meses eram de azar. Vinte era um número sa­
grado na América Central, associado ao deus-sol. O número 21 era as­
sociado à sabedoria na tradição hebraica. Quinze, ano do jubileu, era
abençoado na tradição judaica, pois seguia 49 anos (o sagrado 7 x 7), e
era quando os débitos deviam ser perdoados, os escravos libertados e as
propriedades devolvidas. A Shavuot, Festa das Semanas (no 50° dia
pentecostal), está igualmente associada ao sete porque se segue ao fim
da sétima semana depois da Páscoa judaica. Sessenta era usado como a
base do calendário chinês. Setenta, o período de vida bíblico, represen­
tava totalidade ou universalidade. Para muitos, dez mil simbolizava os
números infinitos ou o tempo infinito (como na China). Os gregos cha­
mavam de “Imortais” os dez mil guerreiros de elite da Pérsia. NUME­
ROS: ver Cinco; Demônios; Dez; Doze; Escuridão; Lua; Luz; Música;
Nove; Oito; Onze; Quarenta; Quatro; Seis; Sete; Sol; Três; Um; Yin-
Yang; Zero

presentavam a revelação, a presença de Deus, uma divindade quase manifesta.


Assim Jeová guiou os israelitas como um coluna de nuvem, e Alá fala de uma
nuvem no Alcorão. As nuvens, sobretudo as cor-de-rosa, são símbolos da feli­
cidade na China e também emblemas da ascensão ao céu. Nuvens: ver Coluna;
Escuridão; Nove
o
Obelisco - Símbolo do deus egípcio Rá em forma de coluna retangular e afu­
nilada, encimada por uma pirâmide projetada para captar, concentrar e refletir a
luz. Os obeliscos eram usados como colunas funerárias ou memoriais, talvez
com significado emblemático da potência penetrante dos raios de Sol e do po­
der imortal. Também eram erigidos como pilonos de templos, em geral aos
pares. Obelisco: ver Coluna; Falo; Pirâmide; Sol

Oceano - ver Mar

Octógono - Na arquitetura religiosa, sobretudo nos batistérios, símbolo de


renascimento para a vida eterna. Oito é um número emblemático de renova­
ção, e as formas de oito lados eram consideradas mediadoras entre o simbolismo
do quadrado (existência terrena) e do círculo (céu ou eternidade). Nos tem­
plos, um domo sustentado por oito colunas no plano quadrado - representando
os pontos cardeais e intercardeais - era uma imagem similar de totalidade. Oc­
tógono: ver Batismo; Oito

Oeste - ver PONTOS CARDEAIS

Oito — Do ponto de vista espacial, emblema do equilíbrio cósmico e, no que


tange ao aspecto dos ciclos, símbolo de renovação, renascimento ou beatitude.
O octógono era percebido como forma intermediária entre o quadrado e o cír­
culo, combinando estabilidade com totalidade. Além do simbolismo de tota-
xa -i /

lidade, o número oito representava os quatro pontos cardeais juntamente com O oculto terceiro olho, às ve­
seus quatro pontos intermediários. As rodas iconográficas celtas e indianas, en­ zes chamado o “olho do cora­
tre outras, tinham em geral oito braços - como Vishnu na arte indiana. As pias ção”, simboliza o olho da per­
batismais octogonais também incorporam o simbolismo de renovação ou re­ cepção espiritual, associado ao
começo devido ao fato de que o oito se segue ao número simbólico “completo”, poder de Shiva e ao elemento
sete, e dá início a um novo ciclo. Oito era um número de sorte na China, on­ sintetizador do fogo, no hin-
de havia oito Imortais taoístas, e também no xintoísmo japonês. O lótus cos­ duísmo, com a visão interna
tuma ser mostrado com oito pétalas - o número de chacras e de símbolos bu­ no budismo, e com a clarivi­
distas de bom augúrio. Oito anjos sustentam o trono de Alá. dência sobre-humana no islã.
A forma do atual numeral arábico “8” foi equiparada à do caduceu, e oito é o Embora representado na testa
número do deus grego Hermes (Thot, na mitologia egípcia) na magia hermé­ de Shiva, é um olho interno.
tica. A Estrela de Belém é mostrada com freqüência com oito pontas. O octo- Sua antítese é o “olho do mal”, O uedjat, ou olho de Hórus, o deus egípcio do céu, de
grama, formado pelo desenho de bissetrizes entre cada ponto e seu ponto um amuleto antigo. Muitos desses “olhos”foram desen-
que, no pensamento islâmico,
cavados de túmulos egípcios.
oposto, dentro de uma estrela de oito pontas, era um antigo símbolo da deu­ é um símbolo da força destru­
sa romana Vénus, símbolo nórdico de proteção e signo gnóstico da criação. tiva da inveja. A górgona Medusa, cujo olhar fixo podia transformar homens
Oito: ver Anjos; Batismo; Chacra; Círculo; Estrela; Lótus; Octógono; Qua­ em pedra, era um símbolo grego antigo do mau olhado. Perseu usou um espe­
drado; Quatro; Roda lho para acertar o golpe que a matou, e o talismã de olho (ainda pendurado
em cima das portas na Turquia) serve para uma função dobrada similar. Na
Óie© - Graça espiritual, iluminação e bênção - associações tradicionais no Europa medieval, a ferradura era considerada de eficácia particular contra o
Oriente Médio, onde o azeite de oliveira era usado para iluminação e nutrição, mau-olhado da bruxaria ou do próprio Satã, às vezes representado com um
e também como bálsamo medicinal. A unção dos reis simbolizava sua consagra­ olho deslocado em seu corpo. Múltiplos olhos também podem ter simbolismo
ção como governantes com autoridade divina. Em muitas partes do mundo, o positivo, representando vigilância e a luz das estrelas no céu noturno. O pavão
óleo tinha simbolismo de proteção e fertilidade. Oleo: ver Oliveira; Unção atributo de Amitaba, o meditativo tibetano Buda da Luz Infinita, tinha este
simbolismo (através de sua plumagem de múltiplos olhos). Os olhos de alguns
Olho - Visualmente o símbolo mais constrangedor baseado no corpo huma­ outros animais tinham significado clarividente. Daí o costume parse de levar
no, geralmente usado para representar a onisciência dos deuses do Sol e, no um cão a um leito de morte para que o moribundo possa ver o outro mundo
início da cristandade, Deus, o Pai (um único olho), ou a Trindade (um olho em seus olhos, e a crença dos xamãs astecas de que eles poderiam ler os misté­
dentro de um triângulo). O uedjat egípcio, um olho pintado com uma linha rios do mundo espiritual nos olhos do jaguar. Olho: ver Amuleto; ANIMAIS
espiralada embaixo (tirado das marcas faciais de alguns gaviões), é o emble­ MI LOLÓGICOS; Bruxaria; Cão; Coração; Demônios; Estrela; Falcão, Ga­
ma do deus-falcão do céu, Hórus, e é um símbolo não só do seu poder de vião; Ferradura; Fogo, Chama; Jaguar; Lua; Mão; O OUTRO MUNDO; Pavão;
tudo ver, mas da totalidade cósmica. No simbolismo ocidental, o olho direi­ SETE PECADOS CAPITAIS; Sol; Trindade; VIGILÂNCIA
to é ativo e solar; o esquerdo passivo e lunar (um sistema reverso na tradição
oriental). A mitologia egípcia dizia que o olho da lua de Hórus tinha sido Oliveira - Árvore abençoada nas tradições judaico-cristã, clássica e islâmica,
restaurado depois de sua destruição na batalha com Seth, uma história que famosa por sua associação com a paz, mas também com a vitória, alegria,
contribui para a popularidade do uedjat como uma ornamentação protetora abundância, pureza, imortalidade e virgindade. Com um tipo de plantação an­
nos amuletos. Os olhos também eram pintados ou esculpidos dos túmulos tiga, importante e excepcionalmente durável no mundo mediterrâneo, a oli­
egípcios para assistir à morte. Olhos alados na iconografia egípcia represen­ veira era consagrada na Grécia à deusa guerreira Atena (Minerva, na mitologia
tam norte e sul. romana), que, dizia-se, teria inventado a árvore para a cidade de Atenas, ven-
cendo uma disputa com Posêidon e tornando-se padroeira da cidade. A árvo­ Onze - Associado por Santo Agostinho ao pecado, pela razão um tanto sofis­
re também era associada a Zeus, Apoio, Hera e Cibele. ticada de que sugere excesso - sendo uma unidade a mais que 10, o número
As noivas usavam ou carregavam folhas de oliveira (que significavam virgindade), perfeito -, o número 1 1 era um número também ligado ao perigo, conflito
e os vitoriosos nos Jogos Olímpicos eram coroados com ramos dessa árvore. O ou rebelião. Era às vezes conhecido na Europa como a “dúzia do Demônio”.
simbolismo de paz da oliveira tornou-se dominante sob a Pax Romana, quan­ Já os xamãs africanos usavam o 11 como número propício à fecundidade. Ser
do os emissários de povos desejosos de submeter-se ao poder imperial apresen­ salvo na “décima primeira hora” alude à parábola de Cristo sobre os trabalha­
tavam seus ramos. Para os estudiosos do simbolismo judaico-cristão, o galho dores que receberam o pagamento de um dia mesmo tendo sido contratados
de oliveira levado a Noé pela pomba (que de início não significava nada mais na última hora do dia de trabalho. Onze: ver Dez; NÚMEROS
que o vigor da árvore) adquiriu depois o significado emblemático romano de
sinal de paz entre Deus e a humanidade. A oliveira é atributo da Paz, Concór­ O OUTRO W1UNDO - ver quadro nas páginas 250 e 251
dia e Sabedoria na arte ocidental.
Na tradição islâmica é uma Arvore da Vida, associada ao Profeta e também a ; Orbe - ver Globo, Orbe
Abraão - uma das duas árvores proibidas do paraíso. No Japão, é emblema de
amizade e sucesso; na China, de serenidade. Oliveira: ver Arvore; Coroa de Flo­ I Orelha - Conexão simbólica entre audição e inseminação, aparece tanto em
res, Grinalda; Óleo; PAZ; Pomba; SABEDORIA; Unção algumas tradições africanas, nas quais tinha conotações sexuais, quanto, de
maneira ainda mais curiosa, na noção cristã antiga de que Cristo foi concebi­
Om (Aum) - Sílaba sagrada indiana que representa o do pelo Espírito Santo ao entrar na orelha da Virgem Maria; daí a pomba na
som primordial que criou o mundo da existência — a orelha de Maria em algumas cenas da Anunciação. Lóbulos de orelha grandes
Palavra divina ou o mantra dos mantras. Seus três elementos significavam sabedoria ou status na China, índia e no império inca do Peru.
fonéticos (a-u-mm) simbolizam a tríade fundamental, Brah- Orelha: ver Pomba; Virgindade
ma, Vishnu e Shiva, como princípios criador,
tentador e destruidor no ciclo do ser. Om (Aum): Orgia - Símbolo do caos primevo e da supremacia do instinto e da paixão co­
ver Mantra; Palavra; Tríade mo forças criadoras elementares. Além dos cultos orgíacos específicos, muitas
culturas antigas institucionalizavam períodos de licença nos quais as normas
Õnfalo - Zona ou objeto sagrado que simboliza sociais eram rejeitadas ou revertidas. Na Babilônia, 12 dias de anarquia repre­
o umbigo cósmico ou centro da criação - foco sentavam uma contenda mítica contra a deusa do caos para estabelecer a or­
das forças espirituais e físicas e ligação entre o dem cósmica.
Sinal de Om: o som é usado nas As saturnais romanas eram igualmente um carnaval de 12 dias autorizado no
mundo subterrâneo, a terra e o céu. O ônfalo de
práticas de meditação hindus.
Delfos — uma pedra branca em pé com um rendi­ solstício de dezembro para celebrar o renascimento do deus da vegetação. O
lhado esculpido - era consagrado a Apoio e pode originalmente ter sido foco simbolismo da orgia religiosa, como nos ritos pagãos frenéticos do deus grego
de adoração da Mãe Terra e adivinhação. Num mito, Réia (a terra) embrulhou Dioniso, era o aniquilamento da diferença entre o estado humano - limitado
a pedra em tecido de cueiro e, no lugar de seu filho recém-nascido Zeus, deu-a pelo tempo, moralidade, convenção social ou energia física - e o estado de di­
a seu marido Cronos, que devorava seus filhos no nascimento. vindade - eterno, ilimitado e sempre energizado. Orgia: ver Carnaval; Solstí­
O símbolo do ônfalo variava de pedras de formato fálico ou ovóide com enta­ cio; Vinho
lhes em forma serpentina, a simbolizar as forças geradoras, a árvores sagradas
ou montanhas. Os buracos nos discos de jade sagrados chineses têm até certo Orientação - A orientação das mesquitas, templos e igrejas na direção leste
ponto significado similar. Ônfalo: ver Buraco; Centro; Eixo; Falo; Linga; Mãe; está associada quase universalmente ao simbolismo da luz como iluminação di­
Pedra; Umbigo vina. Em muitas igrejas cristãs, a janela oriental estava alinhada precisamente
O OUTRO IWIUNDQ - Tema que embora o cristianismo medieval apreciasse o conceito do fogo eterno.
deu origem a alguns dos sistemas de O tipo de paraíso retratado pelos artistas em geral só representava um es­
símbolos mais ricos. Os Livros dos tágio de transição para algo inefável, simbolizado pela pura luz. O céu era
Mortos egípcio e tibetano estabelecem construído numa série de camadas ou esferas (daí o Sétimo Céu islâmico,
regras precisas de como se comportar no qual Maomé alcançou o Trono de Alá). De cidades ou jardins celestiais,
durante e após a morte, e os textos es- a alma reta ascendia em direção a uma bênção abstrata, a contemplação
catológicos chineses, japoneses, da do esplendor de Deus. O OUTRO MUNDO: ver Alma; Anjos; Asfóde-
América Central, budistas, muçulma­ lo; Balança; Branco; Cão; Carma; Céu; Coração; Cremação; Demônios;
nos, hinduístas e cristãos também pro­ Domo; Esfera; Estupa; Fogo, Chama; ilha; Jardim; Jornada; Luz; Mar;
porcionam orientação, mas de maneira MORTE; Nirvana; Ossos; Pena; Ponte; PONTOS CARDEAIS; Preto;
menos elaborada. Nas tradições pri­ Purgatório; Querubim; Rio, Regato; Serafim; Sete; Estupa; Transforma­
mitivas, o outro mundo não tem jul­ Figuras egípcias escoltam urça alma ção; Trombeta; Trono (assento); Vácuo; Vermelho; Véu
gamentos — é uma versão mais feliz do para o outro mundo. ■ ■ . .■ M ■ ■ ■-
mundo como o conhecemos. Em ou­
tros mundos eticamente distintos, o simbolismo de bênção ou desgraça com o leste para permitir que o sol nascente atingisse o altar. Essa janela pode­
é de uma consistência notável: o paraíso está acima do arco do céu (sim­ ria também estar voltada para a direção do sol nascente no dia do santo a quem
bolizado na arquitetura pelo domo e pela estupa), cintilando de luz e a igreja era dedicada. Os devotos islâmicos voltam-se para o leste para significar
com música harmoniosa; o inferno situa-se embaixo — escuro, desolado, que seus espíritos estão voltados para a fonte divina. Orientação: ver Luz;
fumarento, pútrido e doloroso. A punição é um tema comum, simboli­ PONTOS CARDEAIS; Sol; Templo
zado pela pesagem das almas. As balanças foram usadas por São Miguel
para pesar as ações boas e más, e também na Sala de Julgamento egípcia, Orquídea — Símbolo chinês de fecundidade e encantamento contra a esteri­
onde corações, simbolizando a consciência, eram pesados contra a plu­ lidade, mas também emblema da beleza, erudição, refinamento e amizade. Nas
ma da verdade da Deusa Ma’at. O julgamento dos budistas tibetanos pinturas chinesas, orquídeas num vaso simbolizam concórdia. Orquídea: ver
era feito com seixos pretos e brancos; o dos budistas japoneses com re­ FLORES; Vaso
ferência às cabeças decepadas vermelhas e brancas. Outros julgamentos
envolviam jornadas perigosas - talvez transpor uma ponte, estreita e es­ Orvalho — Pureza, iluminação espiritual, rejuvenescimento — o néctar dos
corregadia para os pecadores, larga para os virtuosos. O outro mundo imortais. O orvalho é o emblema budista da evanescência - símbolo também
era com freqüência alcançado pelo cruzamento de um rio, como o gre­ usado nas pinturas ocidentais. De maneira mais ampla, associações com o
go Estige, com seu barqueiro sinistro, Caronte. Ou poderia envolver amanhecer e com o céu fizeram do orvalho a mais pura das águas, metáfora
uma jornada marítima, como nas tradições oceânicas e aborígines. Às para a palavra divina no hinduísmo e para o Espírito Santo no cristianismo.
vezes, era um lugar exclusivo (como o escandinavo Valhala, para onde A “Árvore do Orvalho Doce” chinesa, situada no centro do mundo, simboli­
iam os guerreiros mortos em combate), às vezes aberto para aqueles cu­ zava imortalidade. No mundo clássico, o orvalho era associado às deusas da
jos pecados eram expiados no outro mundo, como no Purgatório cató­ fecundidade. Orvalho: ver Água; Amanhecer; Árvore; Céu; Pérola
lico (lugar doloroso, mas não necessariamente o estágio final para peca­
dores mais leves). Os infernos também não eram necessariamente finais, OSS0S - Imagens de mortalidade e morte - mas também do que é menos ca­
paz de ser destruído e com maior probabilidade de formar a base da ressurrei­
ção do corpo. Por essa razão, os ossos eram cuidadosamente protegidos em cul-
turas antigas, em geral sob megálitos. Os povos do norte da Europa, da Fin­ Ouroboros
C — A imagem circular de uma serpente
lândia à Sibéria, enterravam os esqueletos de ursos e outros tipos de animais de engolindo
| « sua própria cauda — emblema do eterno
caça, para assegurar seu renascimento. Num mito escandinavo, Thor ficou fu­ e do indivisível, e do tempo cíclico. A imagem
rioso ao ver coxear um dos bodes que trouxera de volta à vida após um ban­ tem sido interpretada de várias maneiras, com­
quete com a carne deles, porque o filho de seu anfitrião sugara a medula de um binando o simbolismo de criação do ovo (o es­
osso da perna. O conceito de coisas criadas ou sentidas “no osso” ecoa antigas paço dentro do círculo), o simbolismo terrestre
crenças de que a essência da pessoa — no Mali, a própria alma — estava conti­ da serpente e o simbolismo celeste do círculo.
da nos ossos. Ossos: ver Alma; Bode, Cabra; MORTE; Urso Em sua forma original religiosa egípcia, o ourobo­
ros é considerado um símbolo do retorno diário do
Ostra - Sexualidade feminina e reprodução - símbolo tirado tanto do simbolis­ Sol a seu ponto de partida, passando pelo céu e pe­
mo de fertilidade geral da água quanto da associação entre os bivalves e a vulva. lo mundo subterrâneo. Na Grécia, o simbolismo O ouroboros, de uma ilustração
A jactância famosa de Pistol, “Assim sendo, o mundo será para mim uma os­ de morte e renascimento parece indicado por seu encontrada num manuscrito me­
tra que abrirei com a espada” (As Alegres Comadres de Windsor, 2:2; c. 1600, uso na iconografia órfica. Os gnósticos viam-no dieval grego de alquimia.
Shakespeare), refere-se não a esse simbolismo específico, mas à idéia de que'a como uma imagem da Natureza auto-sustentada, que se recria eternamente, e
riqueza pode ser encontrada em qualquer lugar, como pérolas nas ostras — con­ da unidade na dualidade, a unidade essencial da vida, a serpente universal a
ceito errado, pois o molusco que produz as verdadeiras pérolas não é a ostra mover-se através de todas as coisas. A máxima “Um é tudo” às vezes acompa­
comestível. Ostra: ver Pérola nha o símbolo. Como emblema da eternidade, estava associado no Império
Romano a Saturno, como o deus do tempo, e Jano, deus do Ano-Novo. Ou­
Oyr© — O metal da perfeição, de simbolismo divino por sua associação univer­ roboros: ver Círculo; Ovo; Roda; Serpente
sal com o Sol no mundo antigo e também por seu extraordinário brilho, resis­
tência à ferrugem, durabilidade e maleabilidade. Suas qualidades emblemáti­ Oval - ver Losango
cas associadas vão da pureza, refinamento, esclarecimento espiritual, verdade,
harmonia e sabedoria ao poder terrestre e glória, majestade, nobreza e riqueza. QveSha - Mansidão - símbolo cristão de laicidade, que precisa de liderança es­
O ouro era a Grande Obra da alquimia, o objetivo do processo de transforma­ piritual e se desencaminha com facilidade. “Apascenta as minhas ovelhas” estava
ção e o metal preferido para os objetos sagrados ou para os reis santificados. entre as ultimas palavras ditas por Cristo ao discípulo Pedro antes de Sua ascen­
No império inca, os governantes entronados eram cobertos de resina borrifada são, de acordo com o evangelho de São João (21:15). A “ovelha perdida” é um
com pó de ouro, a origem histórica da lenda do El Dorado (homem dourado). pecador desorientado, a “ovelha negra” incorrigível. Embora as ovelhas estejam
A douração dos ícones da cristandade bizantina e do budismo simbolizava a em geral associadas à obtusidade, os mongóis acreditavam que o seu esterno ti­
divindade, como o trabalho de folhear a ouro da arte medieval. Em muitas tradi­ nha poder divinatório. Ovelha: ver Báculo; Cordeiro; Pastor; Preto
ções, o ouro era identificado como a substância real da divindade — a carne de
Rá no Egito, as fezes do deus-sol Huitzilopochtli no México asteca - ou era I Ovo — Gênese, o microcosmo perfeito - símbolo universal do mistério da cria­
considerado um resíduo do próprio Sol, sua iluminação deixada como fios na ção original, a vida a romper o silêncio primordial. Poucos objetos naturais
terra, uma forma mineral de luz, como no pensamento indiano. Também era simples têm um significado tão auto-explicativo, ainda que profundo, e o corpo
símbolo do espírito de esclarecimento, como no budismo, ou da mensagem de dos mitos e do folclore que cerca o ovo é enorme. Em muitos mitos da criação,
Cristo. Pela associação com o Sol, o ouro é símbolo masculino. A maior parte indo do Egito e índia à Ásia e Oceania, um ovo cósmico (às vezes fertilizado
do simbolismo do metal também incorpora-se à cor dourada - Sol, fogo, glória, por uma serpente, mas de maneira mais geral posto nas águas primevas por
divindade, a luz do céu e da verdade. Ouro: ver Alquimia; Amarelo; Fogo, uma ave gigante) dá forma ao caos e disso eclodem o Sol (a gema dourada), a di­
Chama; Luz; METAIS; SABEDORIA; Sol; VERDADE visão entre terra e céu e a vida em todas as suas formas, naturais e sobrenaturais.

O mito da criação não custou a conduzir ao simbolismo da recriação: a Fênix,


que morreu no fogo, ressurgiu de seu próprio ovo; o deus Dioniso era mostrado
carregando um ovo como símbolo de sua eventual reencarnação; e para órficos
e druidas, o ovo era um alimento sagrado e proibido. Também associado à pro­
messa e esperança da primavera, o ovo encontrou um lugar pronto para ele nas
cerimônias da Páscoa Cristã como símbolo de ressurreição. A pureza branca do
ovo e o milagre da vida contida dentro de sua casca branca acrescentaram outras
conotações, como no retábulo Madona e o Menino (c.1450), de Piero delia
Francesca, no qual um ovo simboliza a Imaculada Conceição (também uma re­
ferência à noção popular de que os ovos de avestruz chocam-se a si mesmos).
A tradição de comer ovos no final da Quaresma sugere as implicações eucarísti­
cas. Nos costumes judaicos, o ovo é símbolo de promessa no banquete pascal, e,
tradicionalmente, os ovos são o primeiro alimento oferecido aos judeus enlutados.
O simbolismo da criação é reforçado pela forma de testículos d© ovo e pela
dualidade sexual da gema e da clara — no Congo, a gema representa o ardor fe­
minino e a clara o esperma masculino. Na mitologia indiana, a Árvore Cósmica
cresce do ovo dourado que deu Brahma à luz. No Nepal, a cúpula das estupas
budistas representam o ovo cósmico. Os alquimistas adotaram a idéia de ovo
cósmico no formato de suas retortas, simbolizando a transmutação. No folclore
por todo o mundo, o ovo é símbolo favorável que sugere sorte, riqueza e saúde.
Os ovos mágicos de ouro ou prata são protegidos por dragões. Dos ovos, nas­
cem deuses e heróis. Numa história, Helena de Tróia veio de um ovo que tinha
caído da Lua. Em outra versão, ela teria nascido de um ovo posto por Leda, a
rainha de Esparta, que copulara com um cisne (o deus Zeus disfarçado). Depois,
nessa mesma noite, Leda também dormiu com seu marido mortal. Ela pôs
dois ovos; de um vieram Pólux e Helena; do outro, Castor e Clitemnestra.
Ovo: ver Alquimia; Aves; Avestruz; Branco; Dragão; Estupa; Fênix; Ganso;
Herói, Heroína; Lótus; Ouro; Prata; Serpente; Sol; Virgindade
; Pagode — Símbolo arquitetônico de Buda e da ascensão celestial por meio de
estágios progressivos de iluminação espiritual. O pagode escalonado, ampla­
mente encontrado no sul da Ásia, China e Japão, baseava-se num templo in­
diano perto de Peshawar. Era o protótipo da estupa cônica ou monte funeral
sagrado que constitui um diagrama arquitetônico do cosmo.
As camadas que sobem em escala decrescente representam os passos à Mon­
tanha Centro do Mundo ou o eixo que liga a terra ao céu. A palavra pagode é
considerada corruptela portuguesa da palavra sânscrita bhagavati (que signifi­
ca “do divino”). Pagode: ver Degrau, Escada; Eixo; Montanha

Pai — Dominação, poder solar e celeste, autoridade espiritual, moral e civil, razão
e consciência, lei, os elementos do ar e fogo, espírito bélico e o raio - uma série
de simbolismos que refletem a natureza patriarcal das culturas mais tradicionais.
A maioria, embora não todos, dos deuses supremos dos mitos e religiões é per­
sonificada como pai. Pai: ver Ar; Céu; Fogo, Chama; Homem; Sol; Trovão

PAIXÃO — ver quadro na página 258

Pa SCua — ver Trigramas

PaSawra - Na tradição mística, símbolo do poder criativo divino. A noção in­


diana de que a vibração de um som primordial sagrado criou o mundo mani­
festo aparece em muitas tradições. No livro do Gênesis, Deus fala para criar a
car a vitória sobre a morte por intermédio de Cristo, cuja entrada em Jerusa­
PAIXÃO — No simbolismo cristão, o lém é celebrada no Domingo de Ramos. A palmeira, já símbolo de longevida­
sofrimento e a crucificação de Cristo, de ou imortalidade, tornou-se assim atributo na arte de muitos santos e mártires
em particular o período da Agonia no cristãos, bem como da Vitória, Fama e (pela Virgem Maria) Castidade. São
Jardim para a Descida da Cruz, forman­ Paulo, o Eremita (c. 249-341 d.C.), usa uma tanga de folhas de palmeira tran­
do um tema principal na arte mundial. çadas. Os peregrinos que haviam visitado a Terra Santa eram conhecidos por
Os símbolos da Paixão incluem o cálice, ostentar palmas. A forma de palmeira em lâmpadas e em outros objetos fune­
o galo, a cruz, a coroa de espinhos, os da­ rários simboliza ressurreição. Palmeira: ver Árvore; Galho, Ramo; LONGE­
dos, o pintassilgo, um martelo e pregos, VIDADE; Peregrinação; Tâmara; VITÓRIA; VIRTUDES
. t . tecimento da Paixão, quando Ele
uma escada, o cordeiro, o pelicano, as _ „ ,
foi tirado da cruz. Detalhe de uma
moedas de prata, o manto violeta ou ver-
r
. , n . T/rv.
pintura de retrus Lhnstus, c. 1450.
Pandeiro - O tambor dos dançarinos, associado particularmente aos rituais
melho, a papoula vermelha, a rosa verme­ orgíacos da fertilidade agrícola. As mênades ou bacantes carregavam pandeiros
lha, o junco, a corda, a caveira, a lança, a esponja, a espada, o vinagre e o nos ritos do deus grego Dioniso (Baco, na mitologia romana). O som percussor
chicote. PAIXAO: ver os verbetes individuais do pandeiro, que sugere trovão e chuva, transformou-o em símbolo de fecun­
didade da África à Ásia e também na América Central. Na arte indiana, signi­
luz. O Evangelho de São João começa assim: “No começo era o Verbo, e o Verbo fica ritmos cósmicos nas mãos de Shiva e guerra nas mãos de Indra. Pandeiro:
estava com Deus, e o Verbo era Deus.” O próprio Cristo é chamado de Logos ver Chuva; Tambor; Trovão
(Palavra). Palavra: ver Mel; Om (Aum)
pantera — ver Leopardo
Palhaço - Herdeiro de uma tradição que inclui bobos (simplórios ou supostos
simplórios), brincalhões (finos gozadores) e bufões (comédia de pancadaria), ca­ •Pão - Palavra para designar o alimento essencial em países em que era a fonte bá­
tegorias geralmente confusas. O simbolismo mais profundo e sinistro do bobo é sica de alimentação; e, na cristandade, metáfora de alimento para o espírito e do
o de ser uma imagem antiga e invertida do rei ou soberano, usada como substi­ corpo do próprio Cristo. O pão partido e compartilhado é sinal de união. O pão
tuta dele nos rituais de sacrifício antigos. De maneira mais geral, o palhaço ou sem fermento é símbolo de purificação e sacrifício. Pão: ver Sacrifício; Vinho
bobo representa e age como bode expiatório da falha humana - a rapidez com
que a dignidade e a seriedade podem desabar em farsa, ou sabedoria tornada idio­ Papagaio - Mensageiro ou ligação entre a humanidade e o mundo espiri­
tice. Palhaço: ver Barrete; Bode Expiatório; Rei; SABEDORIA; Sacrifício tual, simbolismo óbvio em vista de sua loquacidade. Os papagaios estavam,
portanto, associados à profecia e eram considerados úteis fazedores de chuva,
Palmeira - Vitória, supremacia, fama, longevidade, ressurreição e imortali- tanto na índia quanto na América Central. O papagaio também aparece como
dade. A palmeira majestosa com suas folhas enormes e radiantes era símbolo um atributo do deus indiano do amor, Kama. Nos contos populares chineses,
solar e de triunfo no Oriente Médio antigo; equivalia à Árvore da Vida no os papagaios informam sobre as adúlteras. Como grande tagarela, o papagaio
Egito e na Arábia. Como fonte de alimento, uma espécie, a tâmara, também é na China gíria para garota de bar. Papagaio: ver Aves
tinha o simbolismo feminino e de fecundidade na Ásia Ocidental e na China.
Assim, os motivos com palmeiras estão associados não só ao culto a Apoio, mas fapoula - Na arte, emblema dos deuses gregos do sono (Hipnos) e sonhos
também às deusas Astarte e Ishtar — e depois à Virgem Maria (Cântico dos (Morfeu); e, na alegoria, de personificação da Noite - simbolismo baseado nas
Cânticos de Salomão 7:7: “a tua estatura é assemelhada a uma palmeira”). propriedades da papoula de ópio que crescia como flor selvagem na Grécia e
O uso emblemático das folhas de palmeira nos desfiles da vitória (e como prê­ no Mediterrâneo oriental e era usada para infusões de ervas desde os tempos
mio para os gladiadores vitoriosos) foi adaptado pelo cristianismo para signifi" antigos. A papoula era também associada à deusa da agricultura grega Deméter
(Ceres na mitologia romana) e sua filha Perséfone (Prosérpina), como símbolo lismo iraniano, dizia-se que o pavão as matava e usa­
do “sono” invernal da vegetação. A cristandade adotou aspectos dessa tradição va a saliva delas para criar os “olhos” iridescentes de
mais antiga, fazendo da papoula vermelha emblema do sacrifício de Cristo e um bronze esverdeado e azul-dourado da pluma­
“sono da morte”. Os campos de batalha de Flandres deram um novo toque de gem de sua cauda. A essa lenda, acrescentava-se
pungência ao simbolismo de sacrifício da papoula vermelha. Papoula: ver a idéia de que a carne do pavão era incorruptível.
FLORES; Noite; Sacrifício ■ À medida que a fama da ave se espalhou e ela
passou a ser exibida no mundo mediterrâneo,
Paraíso - ver O OUTRO MUNDO tornou-se emblema não só de renascimento
| (como no simbolismo cristão primitivo) como
Pardal - Ave vivaz e prolífica associada na China ao pênis e às vezes comida também do firmamento estrelado e, portanto,
por sua suposta potência. O simbolismo sexual também aparece na Grécia, on­ da totalidade e unidade cósmicas. A unidade na
de o pássaro era um atributo da deusa Afrodite, e na arte ocidental, onde uma dualidade (o Sol no zénite e a Lua cheia) é re-
mulher segurando um pardal representa libertinagem. Pardal: ver Aves presentada pelo motivo islâmico de dois pavões de
frente, ao lado da Árvore Cósmica.
Pares — ver Duplas; Gêmeos Na tradição clássica, o pavão tornou-se consagrado à
deusa grega Hera (Juno, na mitologia romana), que,
Pastor - Nas comunidades pastoris, símbolo de liderança espiritual - uma dizia-se, concedeu-lhe os cem olhos do Argus Pa-
personificação comum de Cristo no início da arte cristã. As representações de noptes (“que tudo vê”) assassinado. O pavão era _ „ .
1 ravao, de uma pintura
Cristo com um carneiro ou cordeiro nos ombros baseavam-se em imagens clás­ muito utilizado como emblema de realeza, poder ,
r persa medieval.
sicas do deus grego Hermes (Mercúrio, na mitologia romana) carregando um espiritual e apoteose. Em Roma, o pavão era a ave
carneiro como protetor dos rebanhos. Outros símbolos do Deus Pastor incluem da alma da imperatriz e suas princesas, assim como a águia o era do imperador.
Rá e os faraós do Egito que carregam cajado; o deus protetor iraniano Yima; A corte persa era o “Trono do Pavão”, e essa ave também estava associada aos
e, no Tibete, o Dalai-Lama. Pastor: ver Carneiro; Cordeiro; Ovelha tronos do deus indiano Indra e de Amitaba (que governa o paraíso budista
chinês), e às asas do querubim que sustenta o trono de Jeová. O pavão é a
Pato - União marital, felicidade e fidelidade - simbolismo centrado no pato- escolta ou montaria de várias divindades indianas, sobretudo Sarasvati (da
mandarim da Ásia e sugerido pelo nado sincronizado das aves macho e fêmea. sabedoria, música e poesia), Kama (do desejo sexual) e o deus da guerra
Contos tristes de patos-mandarins separados são populares nos folclores japonês Skanda (que também podia transformar venenos no elixir da imortalidade).
e chinês, e os motivos de patos são usados como emblemas de união na decora­ Como emblema budista do Avalokiteshvara (Guanyin, na China), o pavão re­
ção dos quartos nupciais. Jovens amantes são “patos-mandarins no sereno”. presenta vigilância compassiva - e tinha significado semelhante no cristianis­
O pato também pode aparecer como mediador entre o céu e a terra —, por exem­ mo. O pavão às vezes aparece na arte cristã na Natividade ou bebendo de
plo, entre os nativos da América - mas o cisne e o ganso são usados com maior um cálice - ambos motivos de vida eterna. No entanto, as doutrinas cristãs
freqüência nesse simbolismo. Pato: ver Aves; Cisne; FIDELIDADE; Ganso de humildade levaram a uma analogia entre o pavão e os pecados de orgulho,
luxúria e vaidade (associações instigadas pelo texto científico Physiologus, do
Pavão - Glória solar, imortalidade, realeza, incorruptibilidade, orgulho. A século II d.C.). Embora o pavão personifique por isso principalmente o
majestade bruxuleante que o pavão macho exibe é a origem de sua associação Orgulho na arte ocidental, a maioria das outras tradições o via como um
com a imortalidade. Nas antigas tradições da índia e depois no Irã, a auréola símbolo totalmente positivo de condição social e dignidade, em especial na
em forma de roda de sua exibição era um símbolo do Sol “que tudo vê” e dos China, onde era emblema da dinastia Ming. As danças do pavão do Sudeste
ciclos eternos do cosmo. Como as serpentes eram inimigas do Sol no simbo­ Asiático baseiam-se na idéia original da ave como emblema solar, de modo
que a representação de sua “morte” trazia chuva. Pavão: ver Arvore; Aves; Colocar os pés num território geralmente é visto como uma ação investida de
Cálice; Dança; Faisão; Olho; Roda; Serpente; SETE PECADOS CAPITAIS; significado particular: é famoso, na história recente, o primeiro passo de Neil
Sol; Trono (assento) Armstrong na Lua. Pé, Pegada: ver Búzio; Cetro; Coroa; Lavagem; PEIXE;
Roda; Sete; Suástica; Vaso
PAZ - A paz é personificada na arte por uma pomba carregando um ra­
mo de oliveira ou por uma figura alada segurando um galho ou usando pedra - De início, irresistível símbolo animista de poder mágico que se acre­
uma coroa dessa mesma planta, acompanhada por uma pomba. Outros ditava existir dentro da matéria inanimada. Em quase todas as culturas antigas,
símbolos da paz incluem o leão e o cordeiro emparelhados, flechas ou ou­ as qualidades simbólicas gerais das pedras - permanência, força, integridade -
tras armas quebradas, a lira e outros instrumentos musicais, a cor azul, a eram exaltadas e conferia-se significado sagrado a determinadas pedras situadas
ametista, a maçã, o caduceu, o cachimbo da paz, a cornucópia, o ovo, em posição vertical, a machados e facas de pedra sacrificiais e objetos de pedra,
o elefante, a flor, a ilha, o alcião, o louro, a noite, o arado, a sela, a safira, o tais como amuletos. As pedras armazenavam calor, frio, água e (como jóias)
céu, a bandeira branca e as asas. PAZ: ver nomes individuais luz. Podiam aparecer como presenças gigantescas e com ar de vida. Para os na-
ÜY tivos da América do Norte, eram ossos metafóricos da Mãe Terra, como também
í ocorria na Grécia e Asia Menor, onde a grande deusa-mãe Cibele era cultuada
Pég Pagada - As imagens dos pés às na forma de uma pedra, depois carregada para Roma. Elas podiam vir do céu
vezes aparecem na iconografia como si­ V/ como meteoritos, como a pedra negra sagrada da Caaba em Meca. Assim,
nais que indicam contato entre a terra eram associadas tanto à terra quanto ao céu. Como símbolos duráveis da for­
e uma divindade. No budismo, por ça da vida, eram usadas para marcar locais sagrados e para atuarem, como altar,
exemplo, a imanência de Buda é retra­ ônfalo ou linga, como um foco de adoração, sacrifício ou invocação da fertili­
tada pelas solas de seus pés, que leva­ dade. As vítimas de sacrifício eram amarradas a elas ou (em Fiji) tinham seus
vam os sete símbolos de sua sabedoria cérebros arrancados sobre elas.
divina: concha, coroa, cetro de diaman­ Nos memoriais funerários, a pedra simbolizava vida eterna. Nos rituais de co­
te, peixe, vaso de flor, suástica e a Roda roação, significava a autoridade consagrada pela tradição. Para simbolizar sua
da Lei. Supostas “pegadas” de deuses, reivindicação pela suserania sobre a Escócia, Eduardo I roubou a Pedra de Scone,
gigantes ou heróis (naturalmente for­ na qual os reis escoceses eram coroados até 1296, e instalou-a em Westminster
madas na rocha) eram veneradas supers­ (voltou à Escócia em 1996). A tradição de beijar uma pedra no Castelo de
ticiosamente. Blarney para adquirir “o dom da loquacidade” baseava-se no simbolismo ora-
Em termos de fetiche, de acordo com cular da pedra não só na tradição celta, mas também em outros lugares. O ar­
Freud, o pé é símbolo fálico. O ato de unir remesso de pedras está associado tanto com a morte (em especial na tradição
os pés das mulheres na China mesclava Uma pegada de Buda, mostrando os judaica) quanto com a vida. Na mitologia grega, Deucaleão e sua irmã reconsti­
fetiche com possessividade masculina. símbolos da divindade.
tuem a raça humana depois do dilúvio ao arremessarem sobre os ombros pe­
Em outros contextos, beijar os pés de dras que se tornaram homens e mulheres. Uma superstição chinesa afirmava
alguém é símbolo de submissão ou rebaixamento. Andar descalço, como em que as brigas com pedras promoviam a fertilidade e traziam chuva. As sinetas
algumas ordens mendicantes, significa humildade. O ato de Cristo de lavar de pedra eram emblemas chineses de fertilidade. O uso de pedras e objetos de
os pés de seus discípulos - gesto imitado pelos soberanos ingleses, que lava' pedra como curas fálicas da esterilidade era muito difundido. Com o declínio
vam os pés dos pobres para demonstrar humildade - tinha esse significado, das crenças animistas, a pedra tornou-se primariamente um símbolo de frieza
embora no mundo antigo o lava-pés fosse também um gesto de hospitalidade insensível. Pedra: ver Amuleto; Coluna; JÓIAS; Ka; Linga; Mãe; Mendigo;
ou purificação. Menir; Meteorito; Ônfalo; Ossos; Rocha
Fe eira Filosofai — A chave para o esclareci­
mento espiritual. Nos processos físicos da alqui­ PEIXE — Símbolo positivo, amplamente
mia, a “pedra” era uma substância misteriosa que, ligado à fecundidade, felicidade sexual
uma vez criada, poderia ser usada como pó ou e ao falo - porém mais famoso como
tintura no estágio final da Grande Obra para o primeiro símbolo de Cristo. As le­
transformar os metais não-preciosos em ouro. O tras da palavra grega para “peixe”,
simbolismo baseado nessa crença fez da Pedra ichthusy formam um acrônimo para
Filosofal o elixir da vida, o próprio Graal - a to­ “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salva­
talidade espiritual que os seres humanos se esfor­ dor” (Iesous Christos Theou Huios So-
çam para encontrar. Pedra Filosofal: ver Alquimia; ter). Selos e lâmpadas nas catacumbas
Graal; Ouro de Roma traziam esse emblema como
sinal secreto. Textos do evangelho refor­
Pedras Preciosas - ver JÓIAS çam esse simbolismo - a pesca milagrosa
dos peixes e a analogia feita por Cristo Três peixes entrelaçados, repre-
Pega - Alegria, satisfação conjugal, contentamen- Representação da Pedra entre a pesca e a conversão da população Smtando a Santíssima Trindade,
to sexual. Emblema feliz nas tradições da China - Filosofal> do livro de um al' /i /:.«■ :ji j » i , de um vitral de Wrexham Priory,
(dai o anel de pescador usado pelo Pa- J
, • j i j quimista do século XVII.
pa); a alimentação de cinco mil pessoas
onde o grito de uma pega anunciava a chegada 7
dos amigos. No Ocidente, uma ave ligada à cobiça, à tagarelice turbulenta e com cinco pães e dois peixes; o batismo dos convertidos, realizado pela
até à bruxaria. A atração da pega pelos objetos brilhantes parece ser a origem imersão na água. A fonte batismal era em latim chamada piscina (“viveiro
de sua associação com um costume chinês pelo qual marido e mulher separa­ de peixes”), e os convertidos, pisciculi (“pequenos peixes”). Os peixes são
dos quebram um espelho e guardam cada um uma metade. Se um dos dois for mostrados nas pinturas da Última Ceia - a ligação sacramental com o cos­
infiel, sua metade do espelho se converterá numa pega e voará para contar ao tume católico de comer peixe em vez de outra carne nas sextas-feiras. Três
outro. Emblema yang e ave sagrada dos manchus, a pega freqüentemente apa­ peixes entrelaçados ou partilhando uma só cabeça são símbolos da San­
rece nos cartões chineses de saudação. Pega: ver Aves; Bruxaria; Casamento; tíssima Trindade. A tradição hebraica preparou o caminho para esse amplo
Espelho; Yin-Yang simbolismo. Os peixes representavam a fé e eram o alimento do Sabá e do
paraíso. Os sacerdotes do culto de Ea, o deus mesopotâmico das águas e da
PEIXE — ver quadro na página 265. sabedoria, também acrescentaram significado sagrado ao peixe. Como cria­
turas de liberdade ilimitada, não ameaçadas pelo Dilúvio, eles aparecem co­
P6Se - Casca seca que encerra uma nova vida — o implacável significado dos ri­ mo salvadores na mitologia indiana, avatares de Vishnu e Varuna. Nas
tos astecas nos quais o sacerdote do deus da vegetação, Xipe Totec, usava as peles plantas dos pés de Buda, eles simbolizam liberdade das restrições dos dese­
de vítimas esfoladas para simbolizar a vagem ou casca que envolve as plantas jos mundanos. Buda e o Orfeu grego são chamados “pescadores de ho­
da primavera. A serpente a mudar de pele era emblema semelhante de regene­ mens”. O simbolismo sexual do peixe é quase universal - ligado com sua
ração. Do mesmo modo, os xamãs vestiam peles de animais para adquirir seus desova prolífica, o simbolismo de fertilidade da água e suas analogias com
poderes. Pele: ver Grão; Serpente o pênis. O peixe está associado às deusas e mães lunares e ao nascimento.
Na China, são emblemas de sorte plena e boa. PEIXE: ver Água; Anel;
Pell€an© - Amor de auto-sacrifício - simbolismo baseado na lenda de que ANIMAIS MITOLÓGICOS; Batismo; Carpa; Enguia; Falo; Leviatã; LI­
os pelicanos rompem seus peitos (em vez de esvaziar seus bicos) para alb BERDADE; Lua; Maçara; Mãe; Mar; Pé, Pegada; Polvo; Rede; Trindade
mentar os filhotes. O mais antigo bestiário cristão traçou uma analogia en~
tre o pelicano macho, que reanimava o fi­ a covardia deriva dos galos de briga, em que as penas brancas da cauda eram
lhote com seu sangue, e Cristo, que derra­ IJll sinal de que faltou à ave a agressividade de um galo de briga criado de modo
mou seu sangue pela humanidade. O pelica­ correto. Pena: ver Águia; Ar; Aves; Avestruz; Branco; Céu; Chuva; Flecha; Le­
no às vezes aparece nas pinturas de crucifica­ que; Serpente; Sol; Trovão; Vento; VIRTUDES
ção com esse significado, e pode representar
!§;'
a Caridade em naturezas-mortas e devoção peneira - Discernimento, consciência, purificação - emblema bíblico da
filial na heráldica. Representa a natureza chegada do julgamento de Deus. Devido a suas antigas associações com a pu­
humana de Cristo quando comparado à Fê­ rificação (peneirar o refugo), na arte a peneira é atributo da Castidade.
nix. Pelicano: ver Aves; CRUZ; Fênix; San­ Peneira: ver CASTIDADE; Teia
Pelicano: detalhe de uma gravura J®i§
gue; VIRTUDES
em madeira, de um tabernáculo.
Pentagrama, Pentáculo - Símbolo geomé-
P0na — Ascensão - simbolismo derivado tanto da leveza da pena quanto de suas trico de harmonia, saúde e poderes místicos - uma
associações com o poder de planar e com as qualidades espirituais das aves. Por estrela de cinco pontas com linhas que atravessam
extensão, as penas usadas pelos xamãs, sacerdotes ou chefes simbQlizavam a co­ cada ponto. Quando usado nos rituais
municação mágica com o mundo espiritual ou com a autoridade e proteção mágicos, o sinal geralmente é
celestes. A capa de penas era atributo não só dos deuses do céu e do nórdico chamado de pentáculo. O pentagra­
Freia, como também dos druidas celtas, que procuravam através de magia via­ ma parece ter sido originado na Me-
jar além dos confins da terra. Uma serpente coberta pelas penas verdes e bri­ ■ sopotâmia quatro mil anos atrás, prova­
lhantes do pássaro quetzal era o emblema do poder no céu e na terra do deus velmente como diagrama astronômico dos
asteca Quetzalcoatl. Na América do Norte, cocares de penas de águia eram as­ movimentos do planeta Vénus. Tornou-se
sociados principalmente ao Grande Espírito e ao poder dos deu­ um sinal estelar sumério e egípcio, teria
ses do ar, do vento e do raio. O Sol de Penas (disco com pe­ sido a imagem usada no Selo de Salomão
nas que apontam tanto para fora quanto para dentro) é, (ou talvez o hexagrama) e era o selo ofi­
para os índios das grandes planícies dos EUA, emble­ cial de Jerusalém (c. 300-150 a.C.). O pentagrama ou pentáculo — estrela de
ma do cosmos e do centro. As penas constituem um Na Grécia, os pitagóricos o adotaram cinco pontas considerada o selo de Salomão
emblema ascensional muito difundido de prece; daí como emblema de saúde e harmonia e que era usada na adivinhação.
o simbolismo dos bastões com penas usados para mística, o casamento de céu e terra,
invocar a chuva nos rituais de solstício dos índios combinando o número dois (terrestre e feminino) com o três (celestial e mas­
pueblos. No cristianismo, as penas representam culino). O número cinco resultante simbolizava o microcosmo do corpo e
oração e fé, e eram às vezes usadas como emble­ mente humanos. Daí em diante, o pentagrama passou a adquirir com regu­
mas da virtude, como no dos Médicis — um anel laridade significado oculto. Gnósticos e alquimistas associaram-no aos cin­
com três penas, que significam fé, esperança e caridade. No co elementos. Os cristãos associaram-no à proteção das cinco chagas de
Egito, as penas eram atributo de diversos deuses do céu, Cristo, e os feiticeiros aos famosos poderes de Salomão sobre a natureza e o
mas em particular da deusa da justiça, Ma’at, que tinha
m mundo espiritual.
uma única pena de avestruz contra a qual pesava os cora­ M Os mágicos às vezes usavam barretes de linho fino em pentáculo para in­
ções dos mortos no outro mundo — numa alegoria da pre- m vocar ajuda sobrenatural. Nos encantamentos, creditavam-se poderes espe­
»
Cocar depenas asteca, cisão de julgamento necessária para separar as almas mere- i||||k ciais aos pentáculos desenhados em couro virgem de bezerro, mas eram
do Códex Mendoza. cedoras das pecadoras. A associação entre as penas brancas e também inscritos, com objetivo de proteção, na madeira, nas pedras e nos
amuletos ou anéis. O Fausto (1808) de Goethe desenhou um pentáculo pa­ Peregrinação - Jornada a um centro espiritual, simbolizando provação,
ra prevenir que Mefistófeles cruzasse sua porta. Com um ponto para cima expiação ou purificação, e atingir um objetivo ou a ascensão a um novo plano
e dois para baixo, o pentáculo era sinal de magia branca, o “pé do druida”. de existência. Num sentido emblemático, a peregrinação é tanto uma inicia­
Com um ponto para baixo e dois para cima, representava o “pé do bode” ção como um ato de devoção. Sua explicação lógica é a antiga crença de que
e os chifres do diabo — uma inversão simbólica característica. As inscrições as forças sobrenaturais manifestam-se com maior poder em localidades parti­
latinas ou cabalísticas dos hebreus geralmente apareciam em pentáculos ta- culares. Na fé islâmica, a localização é Meca, local de nascimento do Profeta.
lismânicos desenhados dentro de círculos protetores. O pentáculo era tam­ No hinduísmo é Benares, no Ganges. Para budistas e cristãos, é local-chave na vi­
bém um símbolo de aspiração dos maçons, a “estrela flamejante”. Penta­ da de Gautama Buda e Cristo. Quando a Terra Santa caiu sob domínio islâmico,
grama, Pentáculo: ver Chifre; Cinco; Círculo; Estrela; Hexagrama; NÚ­ o foco das enormes peregrinações cristãs mudaram para os túmulos dos santos,
MEROS; Três sobretudo em Roma (associado a Pedro e Paulo) e em Santiago de Compostela
(Tiago, filho de Zebedeu). Mais recentemente o culto da Virgem Maria mudou
— Fertilidade e, no Japão, poder espiritual - associações simbólicas que novamente as peregrinações dos católicos romanos para locais em que se diz que
provavelmente derivam dos pentes ornamentais de dentes longos de madeira, ela apareceu e em que curas miraculosas são portanto esperadas. Os símbolos tra­
osso ou chifre usados pelas mulheres desde a Antigüidade, sugerindo os raios dicionais dos peregrinos ocidentais incluem a tigela, o chapéu de aba larga, o ca­
do Sol ou chuva a cair. Um motivo parecido com o do pente é o emblema do puz (às vezes com uma cruz vermelha), a cabaça ou o cantil, folhas de palmeira
deus da chuva asteca, Tlaloc. Pente: ver Chuva; Raio (significando uma visita à Palestina), o saco, a vieira (atributo de São Tiago) e o
cajado. Peregrinação: ver Centro; Iniciação; e nomes individuais
Peônia — Flor imperial da China, associada à riqueza, glória e dignidade por
sua beleza vistosa. Era símbolo japonês da fertilidade, ligado à alegria e ao ca­ Pérola - Dentre as jóias, o símbolo quintessencial de luz e feminilidade - sua
samento. No Ocidente, suas raízes, sementes e flores tinham antiga reputação iridescência pálida associada à Lua brilhante, sua origem aquática, à fertilidade,
medicinal, daí seu nome, tirado da palavra grega para “médico” e de Paeon, e sua vida secreta na concha, ao nascimento ou renascimento miraculosos.
que curava os deuses feridos em Tróia. A peônia é às vezes identificada como a A luz oculta também fez da pérola um símbolo de sabedoria espiritual ou co­
“rosa sem espinhos”. Peônia: ver FLORES; Rosa nhecimento esotérico. A pérola é emblema tanto de fecundidade quanto de
pureza, virgindade e perfeição. Para os antigos, a jóia no molusco - imagem
Pêra - Símbolo de mãe ou de amor, com suas associações eróticas tiradas pro­ de unificação do fogo e da água - representava maravilha e mistério, evocando
vavelmente do formato intumescido da fruta, que sugere a pelve ou os seios fe­ teorias de fecundação celeste pela chuva ou orvalho que caíssem na concha
mininos. Associada na mitologia clássica às deusas gregas Hera (Juno, na mitolo­ aberta, por trovões e raios, ou pelo aprisionamento do luar ou da luz das estre­
gia romana) e Afrodite (Vénus), a pêra também era símbolo de longevidade na las. Daí o aparecimento na arte chinesa da pérola (raio) na garganta do dragão
China, pois a pereira tem vida longa. Contudo, como o branco simbolizava o (trovão). Como forma de luz celestial, a pérola é o terceiro olho (iluminação
luto na China, a flor da pêra era um sinal funerário. Pêra: ver Branco; FRUTA; espiritual) de Shiva e de Buda. É a palavra islâmica para Deus, o centro místico
LONGEVIDADE; Mãe; Seios taoísta, “a pérola do grande valor” cristã das águas do batismo. Também é me­
táfora de Cristo no útero da Virgem Maria. O simbolismo espiritual persistiu
Perdiz - Fecundidade, amor, beleza feminina. A perdiz estava associada à dem mesmo depois que os chineses encontraram uma explicação não-celestial para
sa Afrodite na Grécia e à graça e beleza na tradição indo-iraniana; a superstição a produção de pérolas. Eles formavam pequenos budas de nácar ao colocar pe­
popular atribuía à sua carne qualidades afrodisíacas. Analogias adversas feitas quenas imagens de metal dentro dos moluscos de água doce que cultivavam
por alguns escritores cristãos antigos, em particular São Jerônimo, associaram para produzir pérolas.
a ave na iconografia românica aos ganhos desonestos, e seu grito à tentação de A transfiguração da matéria numa jóia “espiritual” fez da pérola um símbolo
Satã. Perdiz: ver Aves muito difundido de renascimento e levou ao caro costume funerário asiático
de colocar uma pérola na boca do morto, e da decoração das tumbas com péro­ das Três Frutas Abençoadas do budismo oriental. Na arte renascentista ocidental,
las no Egito. Na outra vida, as pérolas formavam as esferas individuais envolven­ o pêssego com uma folha presa a ele era emblema de honestidade - uma refe­
do os abençoados islâmicos e os portões da Nova Jerusalém (no Apocalipse). rência ao uso antigo dessa imagem como símbolo da língua que fala do
Eram consideradas medicinais e sagradas. Os romanos, que usavam pérolas em coração. Pessegueiro: ver Arco (arma); Árvore; Bastão; Coração; FRUTA; Lín­
homenagem a Isis, usavam-nas como talismãs contra tudo, de ataques de tuba­ gua; LONGEVIDADE; Madeira; VIRTUDES
rões até à loucura, e o pó de pérolas ainda é uma panacéia indiana.
O simbolismo sexual da pérola é ambivalente. Na tradição clássica era usada Pica-Pau - Proteção na maioria das tradições, provavelmente em virtude de
pela deusa do amor nascida da espuma, Afrodite (Vénus, na mitologia roma­ seu hábito de encravar-se nos troncos “maternais” das árvores. A exemplo de al­
na). E também símbolo da pureza e inocência. Sua associação às lágrimas (de dor gumas outras aves barulhentas, ao pica-pau também eram atribuídos poderes
ou de alegria) tornou-a uma jóia nupcial de má sorte — o rompimento de um de profecia.
colar de pérolas era algo de péssimo augúrio. No Oriente, porém, era jóia fa­ Era consagrado aos deuses clássicos mais poderosos, e na lenda levava alimen­
vorável - uma das Oito Jóias da China e as Três Insígnias Imperiais do Japão. to para os gêmeos Rômulo e Remo, os lendários fundadores de Roma. Na
No mundo antigo, as pérolas também eram, com certeza, símbolos claros de índia antiga e em algumas tradições nativas da América do Norte, seu martelar
riqueza (a mercadoria mais preciosa de todas, segundo o escritor latino Plínio, alertava para a chegada de tempestade ou evitava raios. Para outros era uma
c.24-79 da era cristã), pescadas no Golfo Pérsico séculos antes do nascimento chamada para a batalha. Pica-Pau: ver Árvore; Aves; Tambor
de Cristo. Dizia-se que Cleópatra jogou um brinco de pérola em seu vinho e o
bebeu para mostrar a Marco Antônio como era rica. Pérola: ver Agua; Dragão; Pilar — ver Coluna
Fogo, Chama; JÓIAS; Lua; Luz; Olho; Ostra; Orvalho; O OUTRO MUN­
DO; Raio; Trovão; Virgindade Pilriteiro — Árvore e flor investidas de poderes mágicos na Europa desde os
tempos clássicos, quando o pilriteiro era associado a Himeneu, deus dos ca­
Peru - Alimento tradicional do dia de Ação de Graças no México, muito antes samentos. As flores eram usadas na confecção de grinaldas, e a madeira para
de adquirir o mesmo simbolismo nos Estados Unidos. Os nativos norte-ame­ fabricar archotes matrimoniais. A associação entre sua floração primaveril e
ricanos associavam-no à fertilidade feminina, bem como à potência masculina a virgindade levou a superstições populares de que ele protegia a castidade.
(sugerida pela protuberância no pescoço), e os toltecas à iminência de chuva. Para outros, o leve perfume de peixe das flores tinha um augúrio de morte se
Peru: ver Aves levado para dentro de casa. Pilriteiro: ver Árvore; Coroa de Flores, Grinalda;
Madeira; Virgindade
Pessegueiro - Um dos mais favoráveis de todos os símbolos chineses e ja­
poneses, com sua madeira, flor e fruta associadas à imortalidade, longevidade, Pinheiro, Pinha - No simbolismo oriental, o mais importante de todos
primavera, juventude, ao casamento e à magia protetora. Na mitologia chine­ os sempre-verdes resinosos, representando imortalidade ou longevidade. Como
sa, o pessegueiro era a Árvore da Imortalidade, que frutificava a cada três mil o cedro, estava associado à incorruptibilidade e era plantado em torno das se­
anos, guardada pela Rainha do Paraíso, Xi Wang Mu. Shou Lao, deus da lon­ pulturas chinesas com esse simbolismo. Sua resina, de acordo com a fábula,
gevidade, segura um pêssego ou é retratado dentro da fruta. A madeira do pes­ produzia os cogumelos com que os imortais taoístas se alimentavam. O pinheiro-
segueiro era usada para fazer arcos miraculosos, varetas de exorcismo, talismãs, escocês é um dos motivos favoritos nas artes chinesa e japonesa, tanto só, re­
imagens oraculares e efígies dos deuses tutelares, e galhos de pessegueiro eram presentando longevidade, quanto aos pares, representando fidelidade conjugal.
colocados no lado de fora das casas no Ano-novo. Esse significado de afastar o Em geral aparece com outros emblemas de longevidade ou de renovação, como
mal aparece também no Japão, como na história em que Izanagi expulsou oito a ameixa, o bambu, o cogumelo, a cegonha e o cervo branco. O pinheiro tam­
deuses do trovão perseguidores ao arremessar três pêssegos neles. Nos dois paí­ bém é emblema de coragem, resolução e boa sorte - a árvore do ano-novo xin-
ses, a flor do pessegueiro é emblema de pureza e virgindade. O pêssego é uma toísta. Assim como o abeto, tem significado igualmente favorável na tradição
nórdica, consagrado a Odin (Wodan), e centro dos ritos natalinos, o que le­
vou à sua adoção como árvore de Natal na Europa Ocidental. Seu simbolismo ,PLANETAS - A crença antiga de que os planetas eram deuses vivos e po­
geral no Ocidente está ligado à fertilidade agrícola, em particular nos ritos de derosos influenciou profundamente a evolução do simbolismo. Por mais
renascimento da primavera romanos de Cibele e Atis (representados por um de dois mil anos depois de os gregos incorporarem essa crença a seus
pinho enrolado com la), a provável origem do poste enfeitado. O pinheiro era mitos, pensadores nos campos da ciência, filosofia e religião aceitaram o
também consagrado ao deus grego Zeus (Júpiter, na mitologia romana). O em­ princípio de que todos os planetas governavam os acontecimentos na Terra
blema do deus Dioniso (Baco) é o thyrsus (bastão) com uma pinha na ponta. - como o fazem de maneira inquestionável o Sol e a Lua. Embora a astro­
A própria pinha é um símbolo fálico e de chama da força geradora masculina. logia e a ciência hajam-se separado por volta do século XVIII, o simbolis­
Encimando uma coluna (e às vezes confundida com o abacaxi), era emblema mo planetário desde então tornou-se uma parte inextricável da vida hu­
do deus-herói mesopotâmico Marduk. Pinheiro, Pinha: ver Acha de Natal; mana. Os dias da semana baseiam-se, eles próprios, nos sete “planetas”, os
Ameixa; Árvore; Árvore de Natal; Bambu; Cedro; Cegonha; Cervo; Cogume­ quais os antigos podiam ver se movendo ativamente contra o vasto pano
lo; FIDELIDADE; Fogo, Chama; Mastro Enfeitado de fundo das estrelas. Pegando a Terra como o centro imóvel, esses sete
(que se tornou um número místico em conseqüência disso) eram a Lua,
Pintassilgo - A alma ou o espírito cristão - o pássaro visto com maior fre- Mercúrio, o Sol, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno (os outros três planetas
qüência nas mãos do menino Jesus. Além de sua beleza e suavidade, que fizeram ainda eram desconhecidos). Para cada um deles eram designadas caracte­
dele um popular animal de estimação das crianças, a iconografia dessa ave pode rísticas baseadas parcialmente em sua cor e movimento e num sistema de
aludir a uma lenda de que um pintassilgo baixou e pegou um espinho da coroa “correspondências” que os ligava a direções do espaço, cores, metais, órgãos
de Cristo no caminho para o calvário, daí a mancha cor vermelho-sangue na corporais, jóias e flores específicas e daí em diante. A teoria subjacente
fronte do pássaro. Pintassilgo: ver Aves; Coroa; Espinho; Sangue; Tordo a esse sistema de símbolos complexos era de que os “planetas” e todos os
aspectos da natureza terrestre, incluindo a humanidade, eram interligados.
Pirâmide - No Egito, “colina de luz” — símbolo do poder criador do Sol e da Dos sete “planetas”, a Lua, Marte e Saturno tinham potencial para o mal,
imortalidade do faraó, de quem constituía túmulo. As construções piramidais enquanto os outros eram percebidos como geralmente benéficos.
em outros lugares, em especial os zigurates babilónicos encimados por tem­ Abaixo estão as características distintas que identificam os planetas na
plos, tinham objetivos simbólicos diferentes. A pirâmide egípcia foi desenvol­ cosmologia e na mitologia da tradição ocidental.
vida a partir do túmulo convencional mastaba por Imhotep, sumo-sacerdote
do deus-sol Rá. Embora sua pirâmide para o faraó Zoser em Saqqarah fosse es­ • Mercúrio - personificado por um jovem andrógino e ágil: Mercúrio (ro­
calonada, arquitetos posteriores aperfeiçoaram a forma da pirâmide verdadeira, manos), Hermes (gregos) ou Nabu (mesopotâmicos). Ele tem um cadu­
recobrindo-a com calcário para refletir a luz, clareando, assim, seu simbolismo. ceu, um barrete e sandálias alados, e está associado à mobilidade, media­
Ela representava o monte primordial que, na cosmogonia egípcia, captou pela ção, razão, eloquência, vontade livre, adaptação, comércio, quarta-feira,
primeira vez a luz do Sol criador. A massa e poder da estrutura eram “material mercúrio, púrpura ou azul-cinzento, o centro, Virgem e Gêmeos.
para a eternidade” - uma construção cuja permanência negava a morte e cuja • Vénus - personificado por uma mulher bonita: Vénus (romanos), Afro­
altura e superfícies refletoras simbolizavam a união perfeita entre o faraó en­ dite (gregos) e Ishtar (mesopotâmicos). Os atributos incluem louro,
terrado e o deus Sol. Além de concentrar a luz, os lados triangulares inclinados murta e rosa, a concha ou o golfinho, o archote ou o coração flamejante e
têm significado mais estrutural que simbólico, pois possibilitam a estabilidade uma carruagem puxada por pombas ou cisnes. Associado ao amor (sa­
que viabilizou a construção desses estupendos monumentos. Pirâmide: ver Luz; grado ou profano), desejo, sexualidade, prazer, renascimento, imagina­
Monte; Obelisco; Sol; Zigurate ção, harmonia e felicidade como a estrela vespertina (na Mesopotâmia,

Pitou — ver Serpente


jpla Htas — ver Vegetação
associado à guerra como a estrela-d’alva), sexta-feira, cobre, verde/ama­
relo-pálido, oeste como a estrela vespertina, Libra e Touro.
p©ÇO — Salvação, vida, conhecimento, verdade, pureza. Na maioria das tradições,
• Marte - personificado por um homem agressivo: Marte (romanos), Ares
mas sobretudo na hebraica e na islâmica, os poços tinham significado sagrado
(gregos), Nergal (mesopotâmicos). De capacete com um escudo e espada
como fontes de vida. O imaginário é específico na história de como Deus revelou
ou lança, talvez montado, às vezes com um lobo. Energia, violência, cora­
um poço no deserto a Agar e seu filho Ismael (Genesis: 21:9-21). A água que sur­
gem, ardor, tensão, fogo, terça-feira, ferro, vermelho, sul, Aries e Escorpião.
ge da terra simboliza a doação feminina.
• Júpiter - personificado por um homem imponente, semelhante a um
Na China e em outros lugares, o poço era associado diretamente ao útero e à vagi­
deus: Júpiter (romanos), Zeus (gregos), Marduk (mesopotâmicos), geral­
na. Do ponto de vista psicológico, é a imagem de um conduto para as profunde­
mente com barba. Os atributos incluem a águia, o cetro e o trovão com
zas do inconsciente. Os poços de desejos ou do conhe­
raio. Poder, equilíbrio, justiça, otimismo, capacidade de organização, quin­
cimento, lembrança, verdade ou juventude são tirados
ta-feira, estanho, azul, leste, Sagitário e Peixes.
do simbolismo do mundo subterrâneo, como fontes
• Saturno - em geral personificado por um homem com barba grisalha:
de poderes mágicos que incluem, nos mitos celtas, o
Saturno (romanos), Cronos (gregos) e Ninib (mesopotâmicos). Tem uma
poder de devolver a vida aos guerreiros mortos. Poço:
foice e com freqüência uma muleta. Uma vez associado à agricultura,
ver Água; Fonte; Virgindade; VIRTUDES; Vulva
mas geralmente ao pessimismo, rigidez, moralidade, religião, castidade,
contemplação, inércia, morte, melancolia, sábado, líder, negro, norte,
Capricórnio e Aquário.
Polegar — Poder - significado que deriva do pa­
pel-chave do polegar na habilidade manual e força
de pega, além do simbolismo fálico. O polegar pa­
Na astrologia chinesa, Mercúrio era associado ao norte, água e negro;
ra baixo era usado pelos imperadores romanos pa­
Vénus (masculino) a oeste, metal e branco; Marte ao sul, fogo e vermelho;
ra sinalizar que o gladiador deveria ser morto. Na
Júpiter ao leste, madeira e azul; e Saturno, ao centro, terra e amarelo. O herói celta Finn, adquirin­
PLANETAS: ver Águia; Amarelo; Andrógino; Archote; Azul; Branco; mitologia irlandesa, o herói Finn chupou o polegar do conhecimento e o poder ao
para adquirir o poder de profecia do suco do Sal­ chupar o polegar que escaldara
Caduceu; Cetro; Chumbo; Cisne; Concha; Coração; CORES; Espada;
Estrela; Ferro; Foice, Gadanha; Golfinho; JÓIAS; Lança; Lobo; Louro; mão do Conhecimento, no qual ele se escaldara. no Salmão do Conhecimento.
Polegar: ver Falo De uma cruz de pedra celta.
Lua; Madeira; Mercúrio; METAIS; Murta; Música; NÚMEROS; Polegar;
Pomba; PONTOS CARDEAIS; Preto; Rosa; Semana; Sete; Sol; Trovão;
Verde; Vermelho; VIRTUDES; Zigurate; Zodíaco
[Polvo — Símbolo de voragem e do mundo subterrâ­
neo, associado ao redemoinho, à aranha e à serpente
do mar. O polvo mostrado nos medalhões micênicos
Da esquerda para com os tentáculos decorativamente espiralados
a direita: Júpiter, pode ter sido um amuleto de homens do mar
Marte, Sol, contra os perigos das profundezas ou do mau-olha-
Saturno, Lua, do. Há semelhanças intrigantes com a Medusa da
Mercúrio, Vénus lenda grega, de cara redonda, cabelo de serpentes
(da Bíblia de e olhar paralisante (semelhança tão estreita que a
Dijon). água-viva também dotada de tentáculos é chamada
de “medusa”). Um simbolismo sinistro ou infernal
também pode ter sido sugerido pela nuvem de tinta Polvo num vaso minóico.
ejetada pelo polvo amedrontado. O signo zodiacal de Câncer, que está associa­ I envolvendo “pombas” e “falcões” é recente, mas remete a analogias muito
do à Lua, às águas e ao solstício de junho, era às vezes representado pelo polvo, antigas. Pomba: ver Aves; Batismo; Boca; CASTIDADE; Dilúvio; Falo; LON­
em vez do caranguejo. Polvo: ver Amuleto; Espiral; Zodíaco GEVIDADE; Oliveira; PAZ

Posuba - Paz, pureza, amor, ijponte - União. A ponte era metáfora muito difundida da passagem entre
ternura, esperança - o emble­ os mundos dos vivos e dos mortos, simbolismo talvez sugerido pelo perigo
ma cristão do Espírito Santo. de atravessar pontes estreitas em território não-familiar ou hostil. A antiga
A importância universal da religião indo-iraniana do zoroastrismo, ainda hoje base das crenças parses,
pomba como símbolo da paz confrontava as almas com Chinvat Parvatu, a Ponte do Separador, que só
deve-se menos à sua natureza permitia a passagem para o paraíso aos justos, conceito também encontra­
(geralmente briguenta) que à do em algumas iconografias medievais de céu e inferno. De maneira mais
sua beleza como ícone e à in­ geral, a ponte simboliza transição e ligação. Considerada território neutro,
fluência de referências bí­ é lugar de reuniões e encontros amorosos, mas também, a exemplo do bai­
blicas. A pequena ave branca xio, um contestado local de desafio. O arco-íris era com freqüência visto co­
que volta a Noé com uma fo­ mo ponte celeste, promessa divina de ligação da terra com o céu. O mais al­
lha de oliveira colhida das Noé solta a pomba da arca., de um mosaico bizantino to escalão sacerdotal da antiga Roma era o de pontifex (“fazedor de pontes”).
da Basílica de São Marcos, Veneza.
águas do dilúvio tinha o char­ A construção de pontes era vista como uma habilidade quase mágica, e o fol­
me irresistível como a imagem de um Deus colérico que fazia as pazes com clore creditava algumas pontes maravilhosas (como a Valentre, de Cahors)
a humanidade. Aqui, e em outras partes do mito, a pomba atuou como a pactos do arquiteto com o diabo. Ponte: ver Arco-Íris; Baixio; O OUTRO
mensageira. O simbolismo geral da ave, junto com sua pureza branca, tam­ MUNDO; Rio, Regato
bém fez dela uma incorporação pré-cristã do espírito divino nas tradições
da Ásia Ocidental. João Baptista viu “o espírito de Deus descer como uma Ponto - No pensamento místico, centro e origem da vida - um símbolo do
pomba” sobre Cristo depois de seu batismo em João (1:32) e Mateus (3:16). poder criativo primordial, às vezes concebido como sendo tão concentrado que
A pomba é, portanto, um símbolo do batismo e aparece como o Espírito poderia ser representado apenas de modo não-material - como um buraco.
Santo, especialmente nas cenas da Anunciação. Por extensão, representa a Esse simbolismo antigo de energia infinitamente comprimida, amplamente di­
alma purificada e costuma ser mostrada a voar das bocas dos santos marti­ fundido na escrita mística, aproxima-se das teorias centrais da astronomia e fí­
rizados. As pombas algumas vezes podem representar almas no mundo clássi­ sica modernas. Ponto: ver Buraco; Céu
co e na índia.
Também aparece como emblema cristão de castidade, apesar de ligações : PONTOS CARDEAIS ver quadro nas páginas 278 e 279
mais antigas e compreensíveis com a concupiscência. Era o atributo da deu­
sa semita do amor, Astarot (Astartéia), assimilada no mundo clássico como Porco - Glutonaria, egoísmo, luxúria, obstinação e ignorância - mas também
Afrodite (Vénus, na mitologia romana), e também de Adónis, Dioniso (Baco) maternidade, fertilidade, prosperidade e felicidade. A visão afetuosa dos por­
e Eros (Cupido). O gemido da pomba estava ligado tanto ao sexo quanto cos em muitos mitos contrasta com seu simbolismo geralmente negativo nas
ao parto. Em Pompéia, encontraram-se falos alados com pombas. Um par de tradições do mundo religioso. Nas culturas mais primitivas, as porcas eram
pombas é antigo símbolo de bem-aventurança sexual; pode ser por isso que veneradas como emblemas de fecundidade da Grande Mãe. A deusa do céu
acabou por personificar a esposa atenciosa e gentil. Na China, a pomba é egípcia, Nut, era às vezes representada como uma porca amamentando seus fi­
um dos muitos símbolos de longevidade, como no Japão, onde com uma es­ lhotes (as estrelas). A porca também estava associada a Isis e às deusas-mães nos
pada é um emblema da paz. A terminologia da política externa americana mundos mesopotâmico, escandinavo e celta, onde Ceridwen era uma deusa-porca.
PONTOS CARDEAIS. — Os quatro pontos cardeais — norte, sul, leste, (o príncipe iraniano da escuridão), Lúcifer e Mictlanteculitli (deus aste­
oeste —, representados graficamente como uma cruz, formavam antigo ca da morte). Na iconografia, era mostrado como a águia asteca da guerra,
símbolo do cosmos, com a humanidade ao centro (às vezes tornando-se o boi alado hebraico e o cágado negro chinês.
o quinto ponto). Rituais primitivos, em especial nas Américas do Norte • Sul - na maior parte do mundo, simbolizava fogo, paixão, masculinida­
e do Sul, constituem forte sugestão de que os deuses vivem nesses pontos de e energia solar e lunar. O Egito e a índia, mais uma vez, constituem
e controlam a vida humana, o que explica a importância do número exceções: aí, o sul representa a noite, o inferno e o princípio feminino.
quatro na mitologia e nas vidas diária e religiosa. Dessas direções bási­
cas, vieram os ventos causadores de chuvas que fertilizam ou destroem as PONTOS CARDEAIS: ver Águia; Alma; Amanhecer; Boi; Cachimbo da
plantações, personificados por deuses, cujos favores eram buscados com Paz; Centro; Chuva; Crocodilo; CRUZ; Demônios; Dragão; Fogo, Cha­
libações, sacrifícios ou com o baforar de fumaça. No pensamento chinês, ma; Fumaça; MORTE; Orientação; O OUTRO MUNDO; Quadra­
os quatro pontos e o centro eram guardados por tigres simbolizadores de do; Quatro; Sacrifício; Sol; Tartaruga, Cágado; Tigre; Vento
forças protetoras. Como o simbolismo das direções individuais baseava-se
em grande parte no clima e na influência do Sol, as semelhanças entre A lenda celta de Manannan, que tinha um rebanho de porcos miraculosamen­
diferentes culturas sao mais marcantes no sentido leste-oeste do que na te auto-renováveis, expressava um simbolismo geral de abundância.
direção norte-sul. Em alguns contos da mitologia grega, uma porca nutriu Zeus (Júpiter, na mito­
logia romana) quando criança, e os porcos eram prestigiados animais de sacrifício
• Leste — quase invariavelmente simbolizava a luz, a fonte da vida, o Sol nos ritos de fertilidade oferecidos às divindades da agricultura, Deméter (Ceres),
e os deuses solares, juventude, ressurreição e nova vida. Era o ponto bá­ Ares (Marte) e Gaia. O porco também era símbolo da fertilidade (e virilidade)
sico da maioria das religiões e, como não é de surpreender, alguns dos na China.
mapas primitivos colocavam o leste no alto do eixo vertical da cruz cós­ A desconfiança de judeus e muçulmanos com respeito à ingestão da carne de
mica. Lá ficavam o dragão celeste chinês e o crocodilo asteca da criação, necrófagos e as associações mais gerais entre os porcos e a paixão animal (co­
o Éden judaico-cristão, o local de nascimento dos heróis, o lar dos an­ mo no mito grego em que Circe que transforma seus pretendentes em porcos)
cestrais e, em muitas tradições africanas, o lugar para onde iam as boas mudaram tudo isso. Na arte ocidental, o porco simboliza glutonaria e luxúria
almas. As orações cristãs e muçulmanas eram dirigidas para lá, e a na­ (rejeitada pela figura da castidade), assim como preguiça. A história de como
ção dacota, entre outras, enterrava os mortos com a cabeça voltada pa­ Cristo expulsa os demônios para dentro dos porcos gadarenos (Mateus 8: 28-34)
ra o leste, fonte do vento do paraíso. simbolizava a necessidade da humanidade de sublimar sua cobiça sensual. Um
• Oeste - simbolizava o sono, o descanso, o mistério da morte, os bons tema semelhante aparece no budismo, onde o porco, que simboliza ignorân­
terrenos de caça da América do Norte e o reino dos espíritos indo-irania- cia, é um dos três animais que amarram a humanidade à roda da existência sem
no, egípcio e grego. Em algumas culturas, esse simbolismo tingia-se de fim. Porco: ver ANIMAIS; Céu; Mãe; Roda; Sacrifício; SETE PECADOS CA­
medo. A oeste ficava o mar nórdico da destruição, o abismo. São Jerô- PITAIS; Varrão; VIRTUDES
nimo associava o oeste a Satã. Para algumas tribos africanas, era o lugar
para onde iam as almas más. Porco-Espinho — Algo como um herói cultural dos antigos povos nôma­
• Norte — simbolizava poder beligerante, escuridão, fome, frio, caos e o mal des da Ásia Central e do Irã, associado às dádivas do fogo e da agricultura.
na maioria das tradições do hemisfério norte, à exceção das do Egito e Ligações semelhantes eram feitas com o porco-espinho na África Oriental.
da índia, onde representava luz e princípio masculino. Associado aos ven­ Enrolado numa bola dc espinhos, pode ter sugerido uma analogia com os raios
tos furiosos, o norte era o lugar dos deuses poderosos, entre eles Ahriman solares. Associações com a belicosidade podem ser responsáveis pelo uso do
porco-espinho como atributo da deusa babilónica da guerra, Ishtar. Os escri-
tores romanos e primeiros cristãos concederam uma atenção aprovadora à sua sa­ dissolução primária na alquimia), agouros sinistros. Os pássaros pretos são
gacidade de derrubar as uvas dos vinhedos, rolar sobre elas e carregá-las nos es­ símbolos cristãos da tentação. Na superstição - e no idioma inglês moderno -
pinhos. Esse hábito parece ser a origem de sua posterior identificação com a Gula preto é sinônimo de desastre: gato preto, dias negros, pontos negros, manchas
na arte cristã. O porco-espinho é também um atributo à personificação do negras, bola preta. Como cor do luto, dramatiza perda e ausência. Como cor
Toque. Porco-Espinho: ver Fogo, Chama; Raio; SETE PECADOS CAPITAIS dos clérigos cristãos e muçulmanos, sinaliza renúncia das vaidades da vida. O
preto também tem sido uma cor de desforra no islã, tradição ecoada pelos ter­
Porrete - Símbolo celta da força divina, atributo do supremo deus Dagda, roristas do Setembro Negro nos Jogos Olímpicos de Munique, na Alemanha.
cujo porrete poderia tirar ou restaurar a vida e era pesado bastante para serem Apesar disso, no Egito e em outras antigas tradições, surge um simbolismo mais
necessárias de rodas para deslocá-lo. Esse duplo simbolismo é análogo ao poder positivo. A escuridão da terra e das nuvens de chuva representa a escuridão ma­
do relâmpago para fertilizar ou destruir. Na arte, o porrete pode representar ternal da germinação (nesse contexto, os ícones da Virgem Negra não são tão
tanto brutalidade quanto heroísmo. Aparece como um atributo da Fortaleza. Por­ enigmáticos). Preto é a cor de Anúbis, que levava as almas egípcias para a vida
rete: ver VIRTUDES após a morte, e de Min, deus das colheitas. A caçadora grega Ártemis (Diana, na
mitologia romana) de Efeso era às vezes retratada com mãos e rosto negros. As
Prata - Pureza, castidade e eloqüência. No simbolismo dos metais,-a prata era indianas Kali e Durga podem aparecer como deusas negras, sugerindo a dualida­
lunar, feminina e fria e atributo das deusas lunares, em particular da grega de luz-escuridão necessária para a continuação da vida, como expressada pelo
Ártemis (Diana, na mitologia romana), e das rainhas. Por sua ligação com a Lua, símbolo chinês preto-e-branco do yin-yang. Preto: ver Alquimia; Branco; Escu­
era também igualada à luz da esperança e à sabedoria - oradores têm língua de ridão; Demônios; Nuvem; Luz; Terra; Virgindade; Yin-Yang
prata. Daí o provérbio oriental: “A palavra é de prata, o silêncio é de ouro.” A
Idade da Prata foi emblemática da perda da inocência, talvez porque, como m Primavera - ver ESTAÇÕES
metal maleável de cunhagem muito antiga, a prata tivesse associações negati­
vas — é famosa como símbolo de traição, por ter sido Cristo vendido por “trin­ Prímula - Prazer libertino - como no aviso de Ofélia a seu irmão para não se­
ta moedas de prata”. Prata: ver CASTIDADE; Lua; METAIS; Rainha guir “a trilha do pecado, aberta em primaveras” (Hamlet, de Shakespeare, 1:3;
c.1600). Esse florescimento antigo e perene era emblema europeu de juventude,
Prego — Proteção - no costume chinês de martelar os pregos supérfluos nas SÊm
ligado às “pessoinhas” (fadas e duendes) do folclore celta. Prímula: ver FLORES
casas para afastar os demônios, ou na cerimonia anual de martelar um prego '
no templo de Júpiter na antiga Roma. |PríncÍpe, Princasa — O jovem, ou a jovem, ideal — símbolo persistente
Por tratar-se de simbolismo de união ou fixação, acredita-se que explique o de tudo o que há de mais bonito, gentil ou heróico. O príncipe, em particular,
costume africano de enfiar pregos em alguns fetiches (para manter seus espíri­ era emblema promissor de renovação do vigor ou fertilidade nacionais. A de­
tos residentes fixados nas tarefas para cuja realização se invocou sua ajuda). Na cepção popular com os defeitos visíveis dos príncipes pode ajudar a explicar os
arte, três pregos simbolizam a crucificação. Os pregos também aparecem como •K:
contos de fadas populares da transformação pelo amor de príncipes em forma
i-V;
atributos das figuras associadas às lendas sobre Cristo ou a Cruz - sobretudo de rã em algo mais perto do ideal. Príncipe, Princesa: ver Rã
Helena, mãe de Constantino, o Grande, que diziam ter descoberto a Verdadei­
ra Cruz e até seus próprios pregos, reivindicação disputada por outros interes­ Procissão - Ritual de purificação ou demonstração de poder em muitas tra­
sados em possuir a relíquia. Prego: ver CRUZ; PAIXÃO dições antigas. Objetos sagrados e animais de sacrifício eram carregados em
procissões em torno dos campos recém-cultivados para proteger as plantações
Preto - O preto é um símbolo quase inescapável da cor das forças negativas e de doenças e assegurar um crescimento bem-sucedido. Os dragões de papel
dos acontecimentos infelizes. Representa a escuridão da morte, ignorância, de­ ainda hoje carregados nas procissões chinesas invocavam a chuva. Ás marchas
sespero, dor e mal (cujo Príncipe das Trevas é Satã), níveis inferiores (inferno, processionais em torno do inimigo o amarravam e enfraqueciam simbolicamen-
te, como por exemplo, quando os israelitas marcharam em torno das muralhas
de Jericó com a arca sagrada. As procissões triunfais romanas não só exibiam
ao público os heróis militares, como também afirmavam seu poder sobre os
prisioneiros que conduziam. Procissão: ver Arca; Dragão; Sacrifício

Prostituta — No Livro da Revelação, 17:1, metáfora da Babilônia, “a gran­


de prostituta, que está assentada sobre as grandes águas”. A raiva dos hebreus
contra a Babilônia baseava-se em parte na aversão à prostituição religiosa, que,
de acordo com o grego Heródoto (c. 484-425 a.C.), era comum nos templos
de Ishtar (e em grande parte do mundo antigo). Quer os templos usassem as
prostitutas como fonte de renda, quer por motivos espirituais, o simbolismo
dessa prática era de união com a Grande Mãe e seu poder fertilizador. Prosti­
tuta: ver Mãe

Purgatório - Refinamento e purificação espirituais - simbolismo pelos


processos da metalurgia e alquimia, mas transferidos para os conceitos cristãos
primitivos de vida após a morte. Na fé católica romana, as almas dos portado­
res de pecado venial (menos que mortal) podem ter a necessidade de passarem
pelo abrasador, mas temporário, estado do Purgatório a caminho do céu. Pur­
gatório: ver Alquimia; Fogo, Chama; O OUTRO MUNDO

Púrpura - Cor de realeza e dignidade no mundo antigo. Seu significado em­


blemático baseava-se no alto valor do tecido tingido de púrpura com as secre­
ções de duas espécies de moluscos, o que constituía um processo dispendioso.
A cor púrpura era usada pelos altos sacerdotes, magistrados e líderes militares
do mundo romano, mas era associada sobretudo aos imperadores. Os filhos
dos imperadores bizantinos nasciam num aposento com cortinas púrpuras,
donde a expressão inglesa bom in thepurple (literalmente, “nascido na cor púr­
pura”, que equivale, em português, à expressão “nascido em berço de ouro.”).
Ainda se diz que os cardeais foram “elevados à cor púrpura”, embora suas ves­
timentas sejam na verdade vermelhas. Púrpura: ver CORES
Quadrado - Antigo signo da terra, particularmente importante no sistema de
símbolos da índia e da China. Baseado na ordem implicada pelas quatro direções
do espaço e no simbolismo estabilizador “feminino” do número quatro, o quadra­
do simbolizava permanência, segurança, equilíbrio, organização racional do espa­
ço, proporção correta, limitação, retidão moral e boa-fé. Em oposição ao dinamis­
mo do círculo, da espiral, da cruz e do triângulo, o quadrado é o mais estático das
formas gráficas geralmente usadas como símbolos. Combinado com o círculo, co­
mo em muitos mandalas indianas, representa a união da terra com o céu - a
base simbólica dos templos de domos construídos sobre planta fundamental qua­
drada. Em muitas tradições, o quadrado era um emblema de cidade perfeita,
construída para a eternidade - extensão da diferença simbólica entre as quatro pa­
redes “permanentes” da casa e a base circular da tenda nômade. Quadrado: ver
Círculo; Mandala; PONTOS CARDEAIS; Quatro; Templo; Terra

píuarenta - Número de uso ritual nas tradições judaico-cristã e islâmica


para definir períodos significativos de tempo - em especial os de preparação
espiritual ou de provação, purificação, penitência, espera, jejum ou segrega­
ção. Uma explicação para a escolha do número quarenta é que os astrôno­
mos babilônios associavam as catástrofes naturais, sobretudo tempestades e
enchentes, a um período de 40 dias na primavera, quando o grupo de estrelas
Plêiades desaparecia. Outro é a idéia antiga de que o morto levava 40 dias
para desaparecer totalmente. Os banquetes funerários romanos eram feitos
depois de 40 dias. A idéia de que 40 dias era um tempo adequado de puri-
ncaçào levou o porto de Marselha a impor no século XIV uma proscrição da religião, bem como a universalidade, o quadrado constituía a base da maior
nesse período de tempo (a quarentena) aos barcos de países com epidemias. parte da arquitetura sagrada.
Historiadores antigos usavam o quarenta mais como número simbólico que Acreditava-se que o mundo ou o céu eram sustentados por quatro colunas
como acurado. Assim, na Bíblia, o Dilúvio durou 40 dias e noites; os israe­ (Egito) ou gigantes (América Central). A guardiania das direções do espaço era
litas vagaram por 40 anos no deserto; Moisés ouviu Deus por 40 dias e noites outro símbolo quaternário. No processo de mumificação egípcio, quatro jarros
no monte Sinai; Davi e Salomão governaram 40 anos cada; Cristo jejuou no com cabeça em forma de guardião acondicionavam as vísceras do morto. Um
deserto por 40 dias (hoje Quaresma), pregou por 40 meses e ascendeu aos céus corpo exposto em câmara ardente ainda é convencionalmente velado por qua­
40 dias depois da Páscoa. No Egito, Osíris desapareceu por 40 dias, o perío­ tro guardas. Como número “racional”, quatro simbolizava o intelecto. Nas tra­
do de jejum religioso. Maomé recebeu a palavra de Deus aos 40 anos de idade. dições ocidentais antigas, havia quatro elementos - terra, ar, fogo e água - e
Muitos outros rituais hebreus e islâmicos testemunham o poder do quaren­ quatro humores. A psicologia junguiana continuou essa tradição ao considerar a
ta como um número simbólico de realização ou mudança. Quarenta: ver Di­ psique humana em termos de quatro aspectos fundamentais: pensamento, sen­
lúvio; Jejum timento, intuição e sensação. Entre os símbolos gráficos do quatro, além do
quadrado e da cruz, estão a suástica e o quadrifólio. Quatro: ver Arvore; Co­
Quatro - Compreensão, ubiqüidade, onipotência, solidez, organização, pocjer, luna; CRUZ; ELEMENTOS; O OUTRO MUNDO; PONTOS CARDEAIS;
intelecto, justiça, estabilidade, terra. O simbolismo do quatro é tiTado primaria­ Quadrado; Rio, Regato; Suástica; Terra; Vento
mente do quadrado e da cruz de quatro braços. O quadrado era o emblema da
terra na índia e na China. A cruz de quatro braços é o emblema mais comum da .Querubim — Segunda ordem dos anjos, cujas asas formavam o trono de
totalidade, as quatro direções do espaço. O significado desses quatro pontos car­ | Jeová no santuário hebreu que Moisés recebeu ordem para construir (Êxodo 37).
deais, tradicionalmente considerados como governados pelos deuses poderosos do Seu simbolismo protetor derivava dos antigos espíritos guardiões persas e me-
vento e das condições meteorológicas, levou ao domínio do número quatro na re­ sopotâmicos que flanqueavam os templos. Em geral, aparecem na arte como
ligião e nos rituais da maior parte da América pré-colombiana. Os quatro deuses cabeças com asas azuis, às vezes com um livro, simbolizando o conhecimento
m
celestes do panteão maia, os quatro deuses criadores dos astecas e os quatro mun­ ffmÊü divino por sua proximidade com Deus, a quem às vezes são mostrados susten-
H
dos da criação na tradição hopi do Arizona, todos apontam para esse tema fun­ L tando no voo. Querubim: ver Anjos; Azul; Serafim; Tabernáculo
damental. Como símbolo de universalidade, o quatro dificilmente era menos im­
portante na geografia celeste em outros lugares. O conceito de quatro rios que IIQuimera - Monstro da mito-
fluem da Arvore da Vida no paraíso e trazem a dádiva da nutrição espiritual ou | logia grega, celebrado o suficien-
imortalidade é comum nas tradições babilónicas, iranianas, cristãs, alemãs, nórdi­ M te para tornar-se um termo geral
cas, indianas e budistas. Os deuses de quatro faces como Amon-Rá no Egito e | para designar qualquer fantasia
Brahma na índia simbolizam suas soberanias sobre todos os elementos. Como da imaginação - e para animais
símbolo emblemático da ordem terrestre e universalidade, o quatro também era híbridos de todos os tipos na ar­
o número de castas na sociedade indiana. As quatro letras YHVH delineavam o quitetura.
nome hebraico impronunciável de Deus. As 12 Tribos de Israel eram agrupadas A Quimera, que cuspia fogo, ti­
sob quatro emblemas: homem, leão, touro e águia. Estes tornaram-se os emble­ nha juba e cabeça de leão, corpo
mas cristãos respectivamente para os quatro evangelistas, Mateus, Marcos, Lucas A Quimera, animal mitológico, parte leão, parte bo­
de bode (ela também é mostrada
e João. Os muitos outros símbolos quaternários da Bíblia, como os cavaleiros do de, com cauda de serpente. De um bronze etrusco.
freqüentemente com cabeça de
Apocalipse, igualmente expressam a idéia de universalidade. bode) e cauda com cabeça de serpente, como o dragão. A vitória de Belerofonte
Quatro era, em termos pitagóricos, o primeiro número que formava um sóli­ sobre a Quimera é um exemplo da lenda, muito difundida, da confrontação en­
do-o tetraedro, com a base e três lados. Por simbolizar a força estabilizadora tre o herói e o dragão (que personifica o diabo).
Na arte medieval, a Quimera representava as forças satânicas. Psicólogos terri­
na visto como imagem de deformação psíquica. Alguns mitólogos interpretam
sua forma tripla como a incorporação de diversas forças destruidoras da natu­
reza, tais como as erupções vulcânicas e labaredas de gás. Quimera: ver ANIMAIS
MITOLÓGICOS; Bode, Cabra; Dragão; Fogo, Chama; Herói, Heroína; Leão;
Serpente; Tríade; Vulcão

Quintessência - Matéria aperfeiçoada. Os alquimistas ocidentais diziam que


os quatro elementos (terra, ar, fogo e água) eram cercados por uma quinta es­
sência mais pura, semelhante à noção oriental do prana, o espírito etéreo energi-
zante. Os símbolos animais da águia (ar), fênix (fogo), golfinho (água) e homem
(terra) eram agrupados para representar a quintessência. Quintessência: m*Água;
Águia; Alquimia; Aj; Fênix; Fogo, Chama; Golfinho; Homem; Terra

Qlli-RÔ — Nome do monograma semelhante a


uma roda formado pelas letras gregas (XP) ini­
ciais combinadas da palavra Cristo, destinado
a simbolizar Sua proteção e Seu triunfo sobre
a morte. Por alguns séculos, além do peixe, o
Qui-Rô foi o principal emblema da cristanda-
, r , . . , . , As duas formas do Qui-Rô. À es-
de. Substituiu a aguia no estandarte romano J
. _ . , , querda, o monograma é composto
quando Constantmo, o Grande, chegou ao . .
de X e P; a direita, a cruz latina.
poder derrotando Maxêncio em 312. De acor­
do com seu biógrafo Eusébio (século IV), a conversão final de Constantino ao
cristianismo deveu-se a um sonho auspicioso do sinal Qui-Rô sobrepondo-se ao
Sol — indício de sua provável identificação de Cristo com a encarnação do Sol.
O sinal não era novo, uma vez que a palavra grega para auspicioso, chrestos,
também começava por X e P, e um emblema semelhante de roda raiada den­
tro de um círculo era um símbolo solar caldeu anterior. XP (Cristo) e IX (Jesus
Cristo) aparecem como monogramas funerários cristãos antigos. Qui-Rô: ver
Águia; Círculo; CRUZ; Roda; Sol
Rã - Símbolo fetal, ligado à deusa-rã egípcia do nascimento, Heket, e em ou-
1 tras culturas, também associado ao estado primordial da matéria, fecundidade,
germinação, evolução, fases lunares, água e chuva. Seu simbolismo embrionário,
sua transformação anfíbia de ovo e girino para uma criatura que vai à terra com
características humanas rudimentares, ajuda a explicar o conto de fadas de Grimm
I da rã que se tornou príncipe. Os sapos eram símbolos zombeteiros de aspira­
ção tola. Identificada no Apocalipse (16:13) como espírito impuro e às vezes
associado à heresia, a rã aparece amplamente como símbolo de fertilidade e res­
.V surreição, precursor das chuvas de primavera e de um novo despertar da natu­
reza - sobretudo no antigo Egito e na Ásia.
Na mitologia védica, uma Grande Rã, como o estado primordial da matéria
indiferenciada, sustenta a Terra. Imagens da rã eram usadas para invocar
chuva na antiga China, onde, no folclore, as ovas desse anfíbio apareciam
com o orvalho da manhã. No Japão, as rãs significam sorte, em especial pa­
ra os viajantes. Seu coaxar é metáfora comum de instruções maçantes. Seu
jogo do amor levou os gregos a associá-las a Afrodite. Rã: ver Água; Chuva;
Lixa; Orvalho; Ovo

Rainha - A exemplo do rei, arquétipo de seu sexo ordenado no céu, símbolo


humano da Lua. Os dois eram ligados numa dualidade, vista como necessária
para a prosperidade e felicidade do reino. Na alquimia, o casamento sagrado
da rainha branca (mercúrio) com o rei vermelho (enxofre) simbolizava a união
dos princípios masculino e feminino para produzir a Pedra Filosofal. Como
consortes, as rainhas estavam subordinadas ao representante masculino da Os raios têm ainda simbolismo de poder fertilizante, sacralidade, iluminação
dinastia, mas como soberanas podiam adquirir com rapidez importância espiritual e energia criativa. Podem representar os cabelos do deus do Sol, ma­
simbólica, como o fez Elizabeth I (em quem Edmund Spenser baseou seu nifestação de divindade ou emanações de pessoas santificadas. No simbolismo
Faerie Queene, de 1596 - A Rainha das Fadas. No mundo antigo, deusas - solar, o sétimo raio constitui o caminho central para o céu. Raio: ver Auréola;
máes (entre elas a Virgem Maria) eram Rainhas do Céu; deusas lunares, Rai­ Braço; Cetro; Chuva; Eixo; ESTAÇÕES; Falo; Flecha; Fogo, Chama; Martelo;
nhas da Noite. Seus atributos simbólicos incluíam o manto azul, o cálice, a Nimbo; Olho; Sete; Tridente; Trovão; Ziguezague
coroa torreada ou estrelada, esfera e cetro, além da prata. Rainha: ver Alqui­
mia; Azul; Branco; Cetro; Enxofre; Globo, Orbe; Lua; Mercúrio; Pedra Filo­ Raposa - Representante da astúcia - simbolismo profundamente baseado em
sofal; Prata; Rei; Torre sua esperteza, mas em geral estendido, notadamente na tradição européia, a
qualidades mais desabonadoras -, malícia, hipocrisia, maldade. Como predador
Ral© - Manifestação universal de ira, poder ou potência fertilizadora divi­ noturno difícil de apanhar, a raposa tornou-se analogia cristã dos artifícios do
na. O raio era visto de maneira variável como arma, braço ou falo simbólicos demônio. A raposa vermelha era um demônio de fogo em Roma. Na América
ou verdadeiros do deus masculino supremo do céu - ou de seu auxiliar. do Norte, era figura embusteira moralmente neutra, semelhante ao coiote. A mi­
Alternativamente, foi a luz ofuscante de seu olho - na tradição dos nativos / tologia nórdica a ligava ao trapaceiro Loki.
americanos, o piscar do Pássaro do Trovão - o grande espírito criador; na As associações eróticas aparecem nas superstições do folclore chinês, em que “mu­
índia, o terceiro olho cintilante de Shiva, a luz da verdade. O raio é um ra­ lheres raposas” eram consideradas sedutoras perigosas e os testículos da rapo­
ro exemplo de fenômeno simbolicamente ligado tanto ao fogo quanto à sa tinham reputação de afrodisíaco. Astúcia e poderes de transformação eram
água, pois em geral precede a chuva. Por ser ao mesmo tempo criador e des­ também associações simbólicas no Japão, embora a raposa branca fosse a com­
truidor, era visto com uma mistura de medo e reverência. Os lugares atin­ panheira e mensageira do importante deus do arroz, Inari. Raposa: ver Arroz;
gidos por raios tornavam-se áreas sagradas, e as pessoas tocadas por ele traziam Demônios; Fogo, Chama; Transformação; Trapaceiro; Vermelho
a marca de Deus, se sobrevivessem, ou - acreditava-se - eram transportadas
instantaneamente para o paraíso, se morressem. No México, por exemplo, Rat© - Destrutividade, avareza, previsão e fecundidade. Como atacantes no­
Tlaloc usava raios para despachar almas para o paraíso asteca. O mestre clás­ turnos dos celeiros, os ratos eram em geral percebidos como prejudiciais no
sico do raio era Zeus (Júpiter, na mitologia romana). Os mitos originais antigo Oriente Médio. Eram associados ao mundo subterrâneo e, na cristan­
gregos sobre Dioniso atribuem o primeiro de seus dois nascimentos ao cla­ dade, ao diabo. No entanto, um simbolismo diferente, baseado em sua astúcia,
rão do raio de Zeus. fecundidade e capacidade de obter seu sustento, é evidente não só no folclore
O simbolismo fálico do raio é patente entre os aborígines australianos-, onde (sua lendária previsão do afundamento iminente dos navios), mas também em
simbolizava um pênis cósmico ereto. A tradição judaica associou o raio à re­ sua associação aos deuses asiáticos da sabedoria, sucesso ou prosperidade (in­
velação, como no Êxodo (19:16-18), onde trovões e raios anunciaram a clusive as “riquezas”, que abrangem ter muitos filhos). O rato é o corcel do deus
Moisés a presença de Deus no monte Sinai. O raio foi amplamente consi­ Ganesha, com cabeça de elefante, na mitologia indiana, e o companheiro do
derado um augúrio, significativo o suficiente em Roma para provocar reuniões deus japonês da riqueza, Daikoku. Na mitologia do sul da China, um rato
públicas ao cair da tarde. Se caísse da esquerda (o leste em relação ao lugar trouxe o arroz para a humanidade. O rato é o primeiro signo do zodíaco chi­
em que o áugure romano estava sentado), o raio era sinal do favor de Jú­ nês. Algumas pinturas da Renascença mostram um rato branco e outro preto,
piter; os gregos tinham uma visão contrária. Na iconografia, o raio é repre­ que representam noite e dia a roer o tempo. Rato: ver Camundongo; Demô­
sentado pelo machado cintilante, o tridente forcado, o cetro, o martelo, a nios; SETE PECADOS CAPITAIS; SABEDORIA; Zodíaco
flecha e, graficamente, pelo ziguezague. Era, às vezes, personificado por uma
ave de rapina gigante não só na América do Norte, mas também no sul da R8de — Captura mágica - simbolismo baseado na capacidade de um dispositi­
África, nos mitos da Ave do Raio. vo aparentemente frágil (composto em sua maior parte de espaços) para servir
de armadilha. Conforme descrito no evangelho de Lucas, Cristo usou uma trono ou tablado, a esfera, o rubi, a espada e as flechas. Rei: ver Bastão;
rede para apanhar uma quantidade miraculosa de peixes e, por intermédio Bode Expiatório; Cetro; Coroa; Espada; Flecha; Globo, Orbe; Jade; Ouro;
dessa demonstração de seu poder, para capturar os discípulos Simao, Pedro, Palhaço; Rubi; SABEDORIA; Sacrifício; Sol; Trono (assento)
Tiago e João, que se transformaram eles próprios em “pescadores de ho­
mens”. Como um apanhador furtivo de almas, acreditava-se popularmente Relâmpago - ver Raio
que Satã possuía uma grande rede. Um símbolo místico mais antigo do po­
der da rede foi seu uso pelo deus-herói babilónico Marduk para subjugar Relógio - Moderação - atributo da Temperança na arte. Nas naturezas-mor­
Tiamat, deusa do caos do oceano primevo. A tradição islâmica originária tas devocionais, os relógios aparecem como lembrança do passar do tempo,
do Irã conjecturava uma rede mística coúio o meio pelo qual os homens mas alguns retratos incluíam-nos para simbolizar a natureza sempre tranqüila
poderiam apreender Deus. Ainda mais poét)ica é a imagem taoísta das es­ do modelo vivo do pintor. Relógio: ver Círculo; Roda; VIRTUDES
trelas como a “rede do céu”, arranjada nupía ampla malha através da qual
nada podia escapar — na yerdadeTttrmsííhbolo da unidade cósmica. Na ar­ Rem© - Para alguns povos marítimos, símbolo semelhante ao bastão de poder
te, as redes costumam ser atributos dos deuses do mar, entre eles a deusa nór­ real, ação ou habilidade executiva, provavelmente pela associação com sua força
dica Ran, que recolhe as almas afogadas em sua rede. A deusa grega Afro­ propulsora e orientadora. De acordo com o poeta romano Virgílio (70-19 a.C),
dite (Vénus, na mitologia romana) e o Ares (Marte) são às vezes mostrados sob um remo foi carregado de maneira cerimonial em torno do sítio da cidade de
uma rede, em referência ao mito de que Hefesto (Vulcano) pegou-os com uma Tróia em intenção de sua reconstrução. Na iconografia, os deuses do rio às ve­
rede de fios de bronze quando os encontrou traindo-o. Rede: ver Demô­ zes carregam remos. Remo: ver Bastão
nios; Mar; PEIXE
Rena — ver Cervo
Kei — Com freqüência, símbolo de poder sancionado pela divindade, bem
como de autoridade temporal absoluta sobre a tribo, a nação ou a região. Resina — Imortalidade — símbolo baseado na crença de que a resina era a subs­
Quanto mais forte a ligação do rei com as forças sobrenaturais, mais impor­ tância incorruptível das árvores de vida longa, como o cipreste, e que poderia
tantes tornavam-se suas qualidades de liderança, inteligência e saúde - a au­ assegurar a vida depois da morte. A resina era usada para embalsamar e tam­
toridade de mãos dadas com a responsabilidade pela felicidade e saúde de bém era misturada com incenso. Resina: ver Árvore; Cipreste; Incenso
seus súditos. Daí os antigos sacrifícios do rei (ou de um bode expiatório do
rei) quando os países eram tomados pelas pragas ou pela quebra das safras. Respiração, Sopro-O princípio da vida, espiritual e física. A ligação en­
Os reis eram símbolos de fecundidade, sabedoria, êxito militar e favor divino. tre a respiração e o espírito é pane das tradições tanto ocidental quanto islâmica
A deificação dos imperadores de Roma seguia antigas tradições nas quais os e oriental. Assim, no Gênesis (2:7), Deus sopra vida nas narinas de Adão. A insu­
reis eram delegados simbólicos do Sol, noção que ainda permanecia viva na flação já foi usada pelos cristãos de maneira simbólica para inserir o Espírito Santo
França do século XVII (quando o rei-sol, Luís XIV, garantia a proeminência e retirar os demônios de pessoas perturbadas. A respiração controlada, aspecto da
de seu país), do mesmo modo que no império inca. Luís XVI foi executado meditação islâmica, budista e tântrica, é mais desenvolvida no sistema indiano da
como refém simbólico da declinante sorte da França durante a Revolução ioga, no qual a respiração correta visa concentrar o espírito e alinhar a respiração
Francesa dois séculos depois. Nas monarquias constitucionais, apesar das individual com o ritmo do cosmo. Na base de grande parte do simbolismo respi­
unções e coroações, o antigo simbolismo que considerava os reis como ar­ ração/espírito, está a idéia mística de que a respiração é dádiva divina, devolvida
quétipos da perfeição humana, responsáveis perante Deus, em vez de perante a seu doador por ocasião da morte. Respiração, Sopro: ver Alma; Ar
o povo, tem sido solapado, o que faz com que as imperfeições dos sobera­
nos não causem mais tanta consternação. Símbolos tradicionais de realeza Rinoceronte — Emblema de sorte na China, curiosamente associado à eru­
incluem o Sol (a rainha é simbolizada pela Lua), ouro, jade, bastão ou cetro, dição. O folclore dizia que seu chifre podia detectar veneno. Supersticiosamente,
acredita-se que o chifre de rinoceronte em pó aumenta a virilidade e seu uso Roda — Um dos símbolos supremos do movimento cósmico - a força que
medicinal na índia pode ter contribuído para a lenda do unicórnio. Rinoce­ impulsiona planetas e estrelas - e de mudança e repetição incessantes. Os
ronte: ver Chifre; Unicórnio egípcios associavam o giro da roda do oleiro (a provável origem das rodas
dos veículos) com a evolução da própria humanidade. Como as primeiras
Ri O, Regato - O fluxo de todas as coisas - poderoso símbolo natural de rodas eram sólidas, os motivos primitivos de roda diferiam pouco dos dis­
passagem do tempo e da vida. Para as muitas grandes civilizações dependen­ cos que representavam a Lua e o Sol. A roda pode ter influenciado os motivos
tes de sua irrigação fertilizadora, os rios eram símbolos importantes tanto de discos alados que simbolizavam a velocidade da luz. O desenvolvimento da
de suprimento quanto de purificação e remoção. A imagem comum de qua­ roda raiada por volta de 2000 a.C. tornou o motivo da roda decisivamente
tro regatos que fluíam no paraíso da Arvore da Vida para os pontos cardeais solar, com seus raios a sugerir tanto os raios quanto o movimento giratório
era metáfora da energia divina e da nutrição espiritual que corriam por to­ do Sol (sobretudo quando curvado, como se vê em muitos entalhes). O ad­
do o universo. No hinduísmo, o^Cange§>pêrsqitificado por Ganga, deusa vento da biga com seu enorme impacto militar tornou a roda um dos prin­
suprema dos rios, era símbolo axial, retratado na mitologia como a cair do cipais símbolos não só do Sol, mas também de poder e domínio no Egito,

:
céu para limpar a terra (amortecido por Shiva) e também penetrar no mun­ no Oriente Próximo, na índia e na Ásia. Um simbolismo igualmente difun­
do subterrâneo. A purificação no Ganges é ritual básico do hindu&mo. Um dido, em especial nas artes indiana e budista, associava o giro da roda aos ciclos
exemplo mais grosseiro do simbolismo da purificação aparece no mito gre­ de revelação, nascimento, morte e renascimento, ao zodíaco, ao tempo e ao des­
go de Héracles (Hércules, na mitologia romana), que desviou um rio para tino humano.
as cavalariças de Áugias. Como os rios eram imprevisíveis, procurava-se ga­ Um motivo com duas linhas que se cruzam dentro de um círculo (conhecido
nhar suas boas graças mediante sacrifícios aos deuses locais ou, com maior como cruz de roda, que depois se tornou a cruz gamada dos primeiros cris­
freqüência, às deusas. Os rios em geral aparecem como limites, sobretudo a tãos) antecede a invenção da roda e também aparece na América, onde não
dividir os mundos dos vivos e dos mortos. Os celtas consideravam as con­ se usavam rodas antes da chegada dos espanhóis. Esse ideograma parece ser
fluências de rios particularmente sagradas. Na China, acreditava-se que os um símbolo de totalidade (o círculo) e a divisão do espaço. Os simbolismos
afogados assombravam os rios, na esperança de encontrar corpos vivos em da roda e do espaço são às vezes difíceis de desenredar. Também pode ocor­
que pudessem habitar. Rio, Regato: ver Água; Árvore; Baixio; Eixo; PON­ rer confusão com o sinal de três braços de Taranis, o deus celta do trovão.
TOS CARDEAIS; Sacrifício Os deuses especificamente associados à roda são em geral solares ou todo-
poderosos - Asshur, Shamash e Baal no Oriente Próximo; Zeus, Apoio e às
Rocha - Confiabilidade, integridade, firmeza, estabilidade, permanência, vezes Dioniso na Grécia; Vishnu-Surya na índia. Rodas em chamas eram às
força e, na China, longevidade. Metáfora bíblica mais comum de confiabili­ vezes jogadas morro abaixo no solstício de junho para encorajar a carrua­
dade, a rocha é em geral igualada à força viva de Deus, manifestada pela água gem do Sol a continuar rodando além do horizonte e reaparecer no dia seguin­
que minou da rocha atingida pelo cajado de Moisés. Cristo é a “Rocha dos te. Na extraordinária visão bíblica do profeta Ezequiel, as rodas aparecem
Tempos”, a fonte da vida eterna. A própria Igreja foi fundada pelo discípulo repetidas vezes como símbolos da onipotência divina de Jeová, a inexorabi­
que Cristo renomeou como Pedro (gregopetros, “pedra”, petra, “rocha”). Na lidade de suas leis morais e o caminho indesviável seguido por seus anjos.
pintura chinesa, a rocha é símbolo yang (masculino e ativo). As esculturas em O simbolismo da roda a girar como uma lei inflexível da vida domina grande
rocha na Ilha de Páscoa, no Egito e, mais recentemente, as figuras monumen­ parte da iconografia do budismo. A Roda da Existência carrega a humani­
tais dos presidentes americanos esculpidas por Borglum no monte Rushmore, dade de uma encarnação à outra em ciclos incessantes enquanto ela se ape­
nos Estados Unidos, transmitem o mesmo significado emblemático de poder ga à ilusão. Apenas a Roda da Lei e da Doutrina pode esmagar a ilusão.
atemporal. Em diversas religiões do Oriente Médio, sobretudo no mitraís- O Buda é seu centro imutável. O taoísmo também usa o eixo da roda co­
mo, acreditava-se que os deuses nasciam de rochas vivas. Rocha: ver Bastão; mo um símbolo do sábio que atingiu o âmago imóvel do mundo que gira.
LONGEVIDADE; Pedra O simbolismo da roda influenciou de maneira significativa a escolha do ló-
tus e da rosa como as flores simbólicas dominantes do Oriente e do Ocidente. séfone quando ela pediu permissão para retornar à superfície da terra. Ao
Os cbacras a girar, que controlam o fluxo da energia espiritual no budismo comê-la, condenou-se a passar quatro meses de cada ano com seu amo do
tântrico, são mostrados com freqüência como rodas de lótus. As rosáceas mundo subterrâneo — um simbolismo sexual explorado na pintura pré-ra-
das catedrais cristãs são símbolos em forma de roda de evolução espiritual. faelista de Rossetti em que ela segura uma romã mordida (.Prosérpina,
Num plano menos elevado, a roda da Dama da Fortuna é um emblema fa­ 1874). Dizia-se que a fruta teria surgido do sangue de Dioniso (deus da fer­
miliar dos altos e baixos da vida e dos aspectos imprevisíveis do destino. tilidade na primavera). Essa tradição é responsável pelas pinturas nas quais
Roda: ver Carruagem, Biga; Chacra; Círculo; Disco; Espiral; FORTUNA; Cristo segura uma romã como símbolo de ressurreição. Maomé recomen­
Lótus; Lua; Luz; Raio; Rosa; Sol; Zodíaco dou a fruta para purgar inveja e ódio. Romã: ver Casamento; FRUTA;
Maçã; Sangue; Vulva
Roda da Existência - ver Roda _
Rosa - Paradigma de flor na tradição ocidental
Rolo d 8 Pergaminho - Na iconografia, geralmente emblema de sabe­ símbolo místico do coração, o centro e a roda cós­
doria, profecia ou lei canônica antigas. Na tradição judaico-cristã, os rolos de mica, e também do amor sagrado, român­
pergaminho são atributos não só dos grandes profetas, como Isaías e Jeremias, tico e sensual. A rosa branca é emblema
mas também dos apóstolos, sobretudo Jaime, filho de Zebedeu. Rolo de Per­ de inocência, pureza e virgindade; a
gaminho: ver Livro; SABEDORIA vermelha simboliza paixão e desejo, be­
leza voluptuosa. Ambas são símbolo de
RGIYlã — Fecundidade, abundância, generosidade, perfeição e imagens da taça da vida eter­
tentação sexual. A estrutura multicelular da ro­ na. Com este significado, pétalas de ro­
mã, com suas múltiplas sementes assentadas na sas eram espalhadas nas sepulturas do
polpa suculenta dentro de um invólucro rijo, festival romano de Rosária, e os impe­
também levou a significados emblemáti­ radores romanos usavam coroas de rosas. Representação do emblema cabalístico
cos subsidiários - a unidade do di­ A mortalidade é simbolizada pela rosa rosa-cruz — cruz com símbolo de uma
versificado cosmo, as múltiplas rosa no centro.
desabrochada, e a rosa vermelha pode
bênçãos de Deus, a Igreja Cristã significar sangue derramado, martírio, morte e ressurreição. A mitologia ro­
a proteger seus muitos membros. mana associava a rosa vermelha, por sua cor, ao deus da guerra, Marte, e à
Antiga fruta persa, conhecida pe­ sua consorte, Vénus (Afrodite, na mitologia grega), e ao amante morto dela,
los romanos como “maçã de Carta- Adónis. Segundo uma versão grega do mito, Adónis foi atacado fatalmen­
go”, a romã era predominantemente te por um javali. Como Afrodite correu para o lado de seu amante ferido,
Detalhe mostra o Menino Jesus sendo ali­
um símbolo de fertilidade associa­ rasgou seu pé nos espinhos de uma rosa branca, e as gotas de seu sangue
mentado por uma romã, de Madonna
do ao amor e casamento com muitos tornaram-na vermelha. A rosa também era emblema do Sol e do amanhe­
Delia Melagrama, de Sandro Botticelli
filhos tanto no mundo mediterrâ­ (década de 1480). cer, além de ser associada ao deus grego Dioniso, à deusa Hécate, às Graças
neo como na China, onde era uma e às Musas.
das Três Frutas Abençoadas do budismo. Era consagrada a deusas do amor, Para a cristandade, o vermelho-sangue da rosa com seus espinhos era um
como Astarte e Afrodite (Vénus na mitologia romana), e também às deusas símbolo pungente do sofrimento de Cristo e de seu amor pela humanidade.
maternais e agrícolas Hera (Juno), que segurava uma romã como símbolo Isso fez com que ela se tornasse a imagem focal da sociedade oculta e caba­
de casamento, e Deméter (Ceres) ou sua filha Perséfone (Prosérpina). Hades lística Rosa-cruz no século XVII, cujo emblema era uma cruz formada pela
deu uma romã (simbolizando a indissolubilidade do matrimônio) para Fer- própria rosa ou uma cruz de madeira com uma rosa ao centro ou nas inter-
seções dos braços. A disposição das pétalas em múltiplas camadas simboli­ imortal” da Ode to a Nightingale (Ode a um Rouxinol\ de 1819) de Keats, é uma
zava os estágios de iniciação, a rosa central representando o ponto de uni­ metáfora tanto de cantores quanto de poetas. Seu canto tem sido com freqüên-
dade, o coração de Cristo, a luz divina, o Sol no centro da roda da vida. A cia ligado à dor e à alegria, como no terrível mito grego de Filomela, cuja língua
roseta (a flor vista de cima) e a rosa gótica também têm o simbolismo da roda, foi cortada para que ela não revelasse que seu cunhado Tereu a estuprara; os
conotando o desdobramento do poder gerador - equivalente ocidental do deuses piedosos a transformaram num rouxinol. Em geral, um bom augúrio,
lótus emblemático. No simbolismo relacionado da maçonaria, as três rosas dizia-se que o rouxinol cantava tanto o amor quanto a perda, o anseio pelo pa­
de São João representam luz, amor e vida. A Virgem Maria é a Rosa do Céu e raíso ou, no Japão, a Sagrada Escritura. Também já foi comido na crença su­
a Rosa Sem Espinhos (sem pecados), uma referência à sua pureza irrepreensí­ persticiosa de que sua carne poderia conferir uma voz musical ou eloqüente.
vel. As grinaldas de rosas também eram símbolo de virgindade em Roma. Uma Rouxinol: ver Aves
rosa de ouro é o emblema do papa. Um simbolismo secundário importante da
rosa é a discrição. Várias lendas contribuem para isso. Na mitologia romana, IMI KU&i - Amor ardente, vitalidade, realeza, coragem - a pedra da fortuna e da
Cupido cessa os rumores sobre as infidelidades de Vénus ao subornar o deus felicidade (incluindo a longevidade) na índia, Birmânia, China e Japão. Sua

1
do silêncio com uma rosa. Outra explicação é que as grinaldas de rosa eram cor varia do vermelho a uma tonalidade purpúrea chamada de “sangue de
usadas nas dionisíacas (festas primaveris em homenagem a Dioniso; bacanais, pombo”, que é a cor dos rubis mais valiosos, associados no mundo clássico
para os romanos) na crença de que poderiam moderar a embriaguez e a taga­ ao ígneo Ares (Marte, na mitologia romana), mas também a Cronos (Satur­
relice. As rosas foram depois penduradas ou pintadas acima das mesas de con­ no), que controlava a paixão. Acreditava-se que o rubi inflamava os amantes e
selhos ou banquetes como sinais de que a conversação era sub rosa - privada e incandescia no escuro. Sua característica de parecer mais pálido sob algumas

Í
não pública. Rosa: ver Amanhecer; Branco; Centro; Coração; Coroa; Coroa luzes era interpretada como um aviso - de veneno ou de outros perigos.
de Flores, Grinalda; CRUZ; Espinho; FLORES; Iniciação; Lótus; Roda; Sol; f (dizia-se que o rubi de Catarina de Aragão perdeu a cor quando ela perdeu
Taça; Vermelho o privilégio com Henrique VIII). Na homeopatia, o
|| rubi era jóia medicinal, considerada eficaz contra
Rosário - Literalmente, “jardim de rosas”, nome dado pelos místicos cris­ perda de sangue e melancolia. O fogo é o simbolis-
tãos no século XIII para uma seqüência de orações contadas numa fileira de mo de sua representação na testa dos dragões len­

J
contas e dirigidas à Virgem Maria como a Rosa do Céu. As contas dos que dários. Rubi: ver Dragão; Fogo, Chama; JÓIAS;
oram foram usadas muito antes na índia — e com simbolismo mais específi­
co. As 50 contas do rosário indiano correspondem ao número de letras no
LONGEVIDADE; Púrpura; Sangue; Vermelho
alfabeto sânscrito, e o rosário está associado ao poder criativo do som e, em
particular, a Brahma e sua consorte, Sarasvati, bem como a Shiva. No bu­
dismo, o número de contas é 108 (12x9) — número referente à lenda de que
Ru nas - Letras góticas antigas que adquiri­
ram simbolismo quase mágico quando essa
108 brâmanes estavam presentes no nascimento de Buda. O círculo de con­
forma de alfabeto espalhou-se do sul da Eu­
tas simboliza a Roda da Vida e do Tempo. O rosário islâmico, o mala, tem
ropa para a Escandinávia e Ilhas Britânicas. A
99 contas representando todos os nomes de Deus. Uma centésima conta mís­
associação de runas específicas ao Sol, à Lua
tica, sem som e inexistente, simboliza o nome que só é conhecido no paraíso.
e a outros deuses do céu, bem como a arte de
De acordo com a superstição, o rosário teria poderes talismânicos. Rosário:
entalhes funerários de runas levaram à crença
ver Roda; Rosa
de que elas incorporavam poderes sobrenatu­
rais - de proteção, vingança e, particularmen-
Rouxinol — A angústia e o êxtase do amor - simbolismo baseado na beleza
te, predição do futuro. As runas inscritas em Símbolos de runas inscritos num
do canto do rouxinol macho na estação de acasalamento na primavera. A “ave
pedra, madeira ou couro eram usadas para lan- bastão, de uma gravura
çar encantamentos ou transmitir mensagens medieval
oraculares. Curiosamente, as linhas bifurcadas dentro do emblema circular
da Campanha para o Desarmamento Nuclear parecem-se muito com a
Todesrune (runa da morte) germânica. O sinal em ziguezague das SS de
Adolf Hitler, baseado no Sigrune (associada ao Sol, vitória e ao teixo, do qual
os arcos eram cortados), constituía um exemplo notório das tentativas nazis­
tas e neonazistas de usar letras rúnicas como símbolos “arianos”. RUNAS: ver
Sol; Suástica; Teixo; VITÓRIA; Ziguezague

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Sabá — Símbolo judeu da criação de Deus e da aliança entre Ele e os israeli­
tas, comemorado num dia festivo de descanso, o sábado. A corrente majoritária
da cristandade seguiu a tradição estabelecida de descansar no sétimo dia (sábado),
mas com proibições menos severas, e num domingo - o dia emblemático da
ressurreição de Cristo. O dia santo de descanso islâmico é sexta-feira. Por trás
desses costumes comuns dos semitas, está uma tradição antiga de sete dias ba­
seada nas quatro fases da Lua. O sétimo dia babilónico era dedicado ao deus
da Lua, Sin, e, nessa ocasião, importantes funções de Estado eram suspensas.
Isso tem sugerido a alguns estudiosos o simbolismo de um “dia fora de época”
desfavorável. O “sabá das bruxas” da imaginação medieval era uma inversão do
domingo cristão, sugerindo que enquanto Deus descansava, os demônios fica­
vam à solta. Sabá: ver Bruxaria; Lua; Semana; Sete

SABEDORIA - ver quadro na página 306

Sâbügyaíro - Considerado árvore mágica no norte da Europa, em especial


na Dinamarca, onde era de má sorte usar sua madeira para móveis. Oferecia pro­
teção contra a bruxaria na Noite de Valpúrgis, e os crédulos pediam-lhe descul­
pas mesmo quando pegavam suas flores ou frutos. Em alguns relatos, Judas Isca-
riotes teria se enfocado num sabugueiro. Sabugueiro: ver Arvore; Bruxaria

Sâ€fÍf̀̀l — Meio de comunicação entre um deus e uma ou mais pessoas


em que algo apreciado é sacrificado e então destruído como oferta simbólica.
oferenda de aliança nos sacrifícios hebreus e emblema da purificação nos ri­
SABE O O li IA — A sabedoria é personificada na arte ocidental pela deu­ tuais religiosos da Grécia ao Japão. Os eleitos cristãos eram o “sal da terra”, de
sa grega Atena (Minerva, na mitologia romana), que segura um livro e acordo com o Sermão da Montanha.
um ramo de oliveira e é acompanhada por sua coruja sagrada. Nas pin­ Gregos e romanos atribuíam ao sal qualidades protetoras. Daí a superstição de
turas medievais, a Sabedoria também segura um livro, mas em geral tem que dá azar derramá-lo e que uma pitada deve ser jogada sobre o ombro es­
uma serpente a seus pés. A Prudência, como um aspecto da sabedoria, querdo para evitar isso (num gesto agourento, Judas Iscariotes derrama sal na
partilha muitos dos mesmos símbolos, sobretudo o da serpente. O vinho pintura de Leonardo da Vinci, A Ultima Ceia, c. 1495). O sal também está as­
e o álcool eram associados com freqüência à sabedoria e à verdade. À água sociado ao rasgo de aguda inteligência e sabedoria. Sal: ver Sabedoria
também, em especial a fonte. Os metais preciosos e as jóias eram sím­
bolos importantes, sobretudo o ouro e a prata, a crisólita, o jade, o dia­ Salamandra - O lagarto lendário
mante, a pérola e o zircao. A sabedoria era associada às cores ouro e azul, que viveu no âmago do fogo, e que
ao número sete e ao triângulo./Tntre outros símbolos estão, o babuíno por isso foi tomado como emblema
sagrado de Thoth no Egito, as laves em geral, a abelha, o barrete, o dra­ do próprio fogo. Plínio relatou a
gão, o bobo (por inversão), o lójtus, o grifo, a aveleira, o coração, o pavão, crença de que a salamandra sobrevi­
as sete colunas, o rato, o anel, o^sal, o cetro, o rolo de pergaminho, a es­ veu ao fogo apagando-o com seu
finge grega, a espada, a língua, o unicórnio e a nogueira. SABEDORIA: corpo frio, história talvez baseada
ver os verbetes individuais nos anfíbios que gostam da umida­
de, chamados de salamandras-do-fo-
O elevado status e o valor dos animais domésticos no mundo antigo fizeram de go devido às suas marcas brilhantes A lendária salamandra sobrevive às chamas,
les o objeto de sacrifício mais comum. amarelas e pretas. A salamandra, di­ o que levou à sua associação simbólica com o
As formas de sacrifício são amplas e variadas, indo de rituais de expiação ou ta ter nascido no fogo, é um sím­ próprio fogo.
purificação a ofertas feitas com objetivo de apaziguamento ou gratidão - e até bolo comum nos desenhos de al­
costumes funerários em que vítimas humanas eram mortas para se tornarem quimia que simbolizam os agentes purificadores do fogo e enxofre. É símbolo
espíritos tutelares ou para fornecer companhia ou serviços na vida póstuma. cristão do crente de espírito puro que resiste às chamas da tentação e às vezes sím-
Em seu nível mais profundo, o sacrifício era um ato criativo que mimetizava a bolo de castidade. Divisa de Francisco I de França, a salamandra simbolizava o
morte de todas as coisas vivas, em particular a vida vegetal no inverno, como um patrocínio das coisas boas, a destruição do mal. Na heráldica, em geral simboli­
prelúdio necessário para o renascimento ou renovação da fertilidade. Sacrifí­ za coragem. Salamandra: ver Alquimia; Enxofre; Fogo, Chama; VIRTUDES
cio: ver Boi; Carneiro; Cordeiro; CRUZ; Sangue; Touro
Salgueiro - Para os judeus, árvore da lamentação, mas no Oriente, um sím­
Safira - Jóia do paraíso (por sua cor cerúlea) e, nas crenças tradicionais sobre bolo da primavera do amor sexual, do encanto feminino, a doce dor da sepa­
pedras, emblema de harmonia, paz, verdade e serenidade celestiais. A safira era ração, elasticidade e imortalidade. Os salgueiros próximos aos rios da Babilônia,
consagrada ao planeta Saturno na tradição indiana e, portanto, estava associa­ onde os hebreus penduravam suas harpas e choravam relembrando Sião (Salmo
da ao autocontrole. Safira: ver Azul; Céu; JÓIAS; VIRTUDES 137), podem não ter sido os salgueiros-chorões, mas, na lenda, desde então,
essa espécie tem lamentado. É emblema budista de mansidão e compaixão, as­
Sal - Símbolo básico de hospitalidade e amizade no Oriente Médio antigo, sociado ao bodisatva Avalokiteshvara (Guanyin na China).
onde era uma mercadoria importante e valiosa, pois era usada tanto como con­ Como símbolo lunar e feminino, o salgueiro é um dos mais celebrados moti­
servante quanto pelo sabor. Repartir o sal e o pão também implicava um rela­ vos da arte e decoração chinesas. Era metáfora taoísta para paciência e força na
cionamento duradouro. A associação entre sal e incorruptibilidade tornou-o uma flexibilidade. Na tradição tibetana, é a Árvore da Vida. No Japão, o Ainu disse
que era a espinha dorsal do primeiro homem. Os analgésicos extraídos de sua pois de sua passagem noturna pelos infernos. A mistura de sangue é símbolo
casca — e talvez o simbolismo de serpente sugerido pelos vimes flexíveis - de união em muitos costumes populares (como, por exemplo, na fraternidade de
podem explicar sua associação com a saúde, o parto fácil e outros benefícios sangue) e pode marcar um selo ou um pacto entre as pessoas ou entre o homem
médicos e mágicos nas tradições asiáticas e ocidentais. Salgueiro: ver Árvore e Deus. Na doutrina católica romana, Cristo está presente no vinho transubstan-
ciado da eucaristia, que corporifica e simboliza o sangue do Salvador. Sangue: ver
Saliva - Fluido corporal em geral considerado como tendo poder especial pa­ Água; Carneiro; Cruzamento do Mar Noturno; Touro; Sol; Vinho
ra ferir ou curar, dependendo do jeito como for usado. Assim, São João (9:6)
relata que Cristo curou um cego ao misturar saliva e barro para ungir suas pál­ SapO — Na superstição européia, repugnante amigo das bruxas, que sugere
pebras. O hábito de cuspir para obter boa sorte utiliza o velho simbolismo morte e os tormentos dos amaldiçoados — simbolismo demoníaco que se origina
ofensivo de cuspir na cara dos demônios ou bruxas. no Oriente Próximo antigo, com base talvez nas secreções tóxicas do animal.
O sapo era usado na medicina da China, onde constituía símbolo lunar, yin e
Salmão - Virilidade, fecundidade, coragem, sabedoria e previdência - sim­ úmido, que trazia chuva, sendo, portanto, associado à sorte e riqueza. No folclo­
bolismo comum dos povos costeiros do norte da Europa e do noroeste ameri­ re, um sapo de três pernas vivia na Lua: dizia-se que o eclipse lunar ocorria
cano. A luta do salmão em seu caminho rio acima tornou-se imagem totêmica quando o sapo engolia a lua. O simbolismo da chuva e da fertilidade aparece
da generosidade e sabedoria da natureza. Para os celtas, transformação e sim­ no México e em partes da África, onde às vezes se concede ao sapo o status de
bolismo fálico mesclam-se na história de Tuan mac Cairill, que, em forma de herói da respectiva cultura. Curiosamente, a ligação do sapo na Europa medie­
salmão, teria fecundado uma rainha irlandesa a quem foi servido após ser val com a escuridão e o mal, avareza e luxúria misturava-se ao simbolismo do
capturado. O herói irlandês Finn escaldou seu polegar quando cozinhava o nascimento e do renascimento (pela sua transformação anfíbia) e à idéia de
Salmão do Conhecimento. Ele chupou o polegar para aliviar a dor e, ao pro­ longevidade e riqueza. A noção de que o sapo, a exemplo da serpente, tinha
var o caldo do salmão, adquiriu poderes de profecia e sabedoria. Salmão: ver uma jóia na testa era muito difundida; a jóia simbolizava felicidade. A alquimia
PEIXE; Polegar associou o sapo aos elementos primevos da terra e da água. O “bajulador”
(ftoady*, palavra inglesa derivada de “toad\ sapo) era originalmente um apren­
Sangue - Símbolo ritual da força da vida, diz de curandeiro que fingia engolir sapos para que seu mestre pudesse “curá-lo”
em muitas culturas acreditava-se que continha do veneno ingerido. Sapo: ver Alquimia; Bruxaria; Chuva; Eclipse; JÓIAS;
uma parcela da energia divina ou, mais comu- LONGEVIDADE; Lua; MORTE; SETE PECADOS CAPITAIS
mente, o espírito de uma criatura individual.
O sangue tinha o poder de trazer chuvas ou Sátiro — Símbolo caprino da luxúria mas­
fertilizar, de acordo com algumas antigas tra­ culina e da vida de prazer sensual. Na mi­
dições, como no Oriente Médio, onde a noiva tologia clássica, os sátiros acompanham os
dava um passo sobre o borrifo de sangue de deuses da natureza, como o romano Silvano,
um carneiro. Sangue de touro era usado nos o grego Dioniso (Baco, na mitologia roma­
ritos romanos de Mitra e Cibele por causa de na) e Pã (Fauno). Perseguiam ninfas e náia-
• , . XT / Um detalhe de uma representação
seus supostos poderes mágicos. No taurobo- r r des, bebiam copiosamente, tocavam flauta e
j. .... , , do século XVI, mostrando uma ta-
hum romano, os ímciandos eram levados a extravasavam sua energia irrefreável em dan­
r ça enchida com o sangue de Cristo.
um tosso para um banho com sangue prove­ ças extasiantes. Seus atributos incluem gri­
niente de sacrifícios de touros. Com o mesmo simbolismo de força da vida, naldas de hera, cachos de uvas, frutas, cor-
ainda se bebe sangue nas touradas mexicanas. No ápice do império asteca, o nucópias e serpentes - numa referência à Sátiros bebem de um odre, detalhe de
sangue de 20 mil vítimas era derramado anualmente para “revigorar” o Sol de­ lenda de que Fauno transformou-se numa um esfriador de vinho do século V
serpente para violar a própria filha. A cristandade medieval tinha uma visão No Gênesis e na tradição sumério-semítica antiga, o mundo foi criado em
severa dos sátiros, associando-os não à Idade de Ouro do deleite carnal, mas seis dias. De acordo com o livro do Apocalipse (13:18), o número da Besta
sim ao mal. (Satã) era “666”. Uma teoria explicativa é que esse número foi escolhido
Os sátiros permaneceram como objetos favoritos da arte erótica, em geral re­ porque cai repetidamente antes do número sagrado, sete. As teorias nume-
presentados como semi-humanos com barba de bode, pernas peludas, cascos rológicas explicam-no como uma versão codificada do nome de vários im­
e, às vezes, com cauda de cavalo. Sátiro: ver Bode, Cabra; Coroa de Flores, Gri­ peradores romanos opressores. Também é sugerido como número monásti­
nalda; Dança; Demônios; Serpente co que identifica Simão, o Mago, precursor do gnosticismo, a quem o escri­
tor do livro do Apocalipse pode ter visto como influência perigosa no iní­
Sef ifOt - Sistema de símbolos hebreu, em geral descrito como uma Árvore da cio da cristandade. Seis: ver Andrógino; Caaba; Cubo; Demônios; Hexagra­
Vida de dez galhos, por meio do qual os cabalistas medievais esperavam enten­ ma; Triângulo; Trigramas
der os mistérios da criação e a vida interior de Deus. Embora o simbolismo do
sefirot seja complexo e esotérico, sua idéia subjacente é que o todo da Criação re­ Seiva - Força vital que permeia a vida como um todo - agente simbólico de
vela a natureza de Deus, que procurou contemplar nela seus próprios atributos. renovação, espiritualização e imortalidade. A seiva da planta era amplamente
Os cabalistas acreditavam que esses atributos foram estabelecidos de maneira equiparada ao armazenamento e fluxo cíclicos de sêmen, à morte e renovação
codificada nas escrituras. A iluminação espiritual poderia ser obtida pelo en­ da vida vegetativa e ao crescimento voltado para a luz divina. O culto dioni­
tendimento de suas relações precisas, mapeadas num caminho sinuoso que vai síaco da uva e o culto védico do soma (ao qual possivelmente se ligava) são as
do kheter (“coroa”) a malkhut (“reino”). Sefirot: ver Árvores; NUMEROS expressões mais significativas dessas idéias. Seiva: ver Soma; Videira; Vinho

Selos — Segurança, proteção, bondade, amor e nutrição mater­ Sela - Emblema da vida familiar na China antiga, onde a palavra para “sela”
nos. Portanto, em tempos antigos, a nudez dos seios das mulhe­ era homônimo de “paz”. Daí o costume em que a noiva passa por cima de uma
res de uma tribo derrotada representava um apelo de compaixão. sela colocada no portão de entrada da casa dos pais do marido. Nas estepes da
As deusas com seios exagerados ou múltiplos são imagens de Ásia Central, os xamãs moribundos tinham por travesseiro suas selas — símbo­
fertilidade. Seios: ver Leite; Mãe; Mulher los de sua jornada para outra vida celestial. Sela: ver O OUTRO MUNDO

Seis - Número da união e equilíbrio, expresso de manei­ Semana — Divisão artificial do tempo, provavelmente baseada na divisão
ra gráfica pelo hexagrama, que combina dois triângulos, quádrupla do ciclo lunar e do significado místico do número sete. Esse simbo­
um apontando para cima (masculino, fogo, céu), outro lismo, cultuado na semana de sete dias judaico-cristã, teve força suficiente para
para baixo (feminino, água, terra). Essa figura, hoje conheci­ superar o anterior costume romano de uma semana de oito dias baseada no an­
da como Estrela de Davi, simbolizou a união de Israel e Judá tigo intervalo entre os dias de comércio.
e às vezes também é usada como ideograma para a alma hu­ Uma influência adicional foi o sistema astrológico de sete “planetas”, que deu
mana. Era símbolo grego de androginia. seus nomes aos dias latinos da semana - Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vénus,
O Livro das Mutações oracular chinês, o I Ching, baseia-se no Saturno e Sol. Semana: ver PLANETAS; Sabá; Sete
simbolismo unificador de seis linhas interrompidas ou contínuas
que compõem um sistema geral de 64 “hexagramas” lineares. Semente - ver Grão
No sistema pitagórico, o seis representava a oportunidade ou
sorte - como ocorre nos dados modernos. A exemplo do Diana de Éfeso, deusa Serafim - A mais alta das nove ordens de anjos judaico-cristãos, que simbo­
cubo com seis superfícies, o número seis representa esta- da fertmdade, com lizam o fogo purificador do espírito. Isaías (6: 2-6) descreveu os serafins como
bilidade e verdade ■, criaturas de seis asas paradas acima do trono de Deus e cantando louvores a
• muitos seios.
Ele. Um deles levou a Isaías uma brasa para purgar seus lábios do pecado cer a cada manhã. No México, Quetzalcoatl, a
Serafim: ver Anjos; Fogo, Chama; Querubim versão asteca das divindades mistas de pássaro e
serpente conhecidas em toda a América Cen­
Serpente - O mais significativo e complexo de todos os símbolos animais e, tral, une os poderes da terra e do céu.
talvez, o mais antigo. As serpentes esculpidas em chifres no paleolítico, na África, O simbolismo protetor-destruidor que permeia
ou desenhadas nas paredes das rochas eram basicamente símbolos de fertili­ esses e outros mitos de serpentes ilustra o grau
dade ou da chuva, e o simbolismo da fertilidade sexual ou agrícola permaneceu em que ela é uma força dualista: uma fonte de
um elemento básico na maioria dos cultos posteriores à serpente. Entretanto, as força quando dominada, mas potencialmente
analogias óbvias entre a serpente e o pênis, o cordão umbilical ou o processo perigosa e em geral fonte emblemática da mor­
úmido do nascimento (visto que a serpente combina simbolismo masculino e fe­ te ou do caos, bem como da vida. A energia
minino) nao explicam a importância quase universal desse animal na mitologia. Kundalini, enroscada na base da espinha, cons­
A serpente era, acima de tudo, um símbolo mágico e religioso da força da vida titui um símbolo positivo da força serpentina
primitiva, às vezes uma imagem da própria divindade criadora. O motivo do ou- interior, da energia psíquica e do poder espiri­
roboros — uma serpente a engolir a própria cauda - simboliza não só eternidade, tual latente. O domínio da serpente em seu
mas também auto-suficiência divina. aspecto mais perigoso é simbolizado na índia e
Emblematicamente, a serpente estava em contato com os mistérios da terra, das no Egito pela naja ereta e com capuz. No Egi­ A Naga, modalidade de serpente
águas, da escuridão e do mundo subterrâneo — autocontida, de sangue frio, secre­ to, isso forma o ureus ou diadema dos faraós, mística provavelmente baseada na
tora, às vezes peçonhenta, óapaz de deslizar com rapidez sem ter pés, de engolir um emblema serpentino protetor do poder naja, de um bronze indiano.
criaturas grandes de maneira mágica e de rejuvenescer ao mudar a própria pele. real para abater inimigos. Imagens do ureus a envolver um disco solar ou de
Sua forma serpentina erja tão alusiva quanto as outras características, sugerindo uma serpente com cabeça de leão também eram emblemas de guardiania so­
ondas e paisagens ondulantes, a sinuosidade dos rios, as videiras e raízes de árvo­ lar. Na índia, as divindades da naja (Nagas) eram símbolos guardiões, em geral
res e, no céu, o arco-íris, o raio que cai, o movimento espiralado do cosmo. benevolentes, como na imagem da naja de sete capuzes que protege o Buda.
Como resultado, a serpente tornou-se um dos mais difundidos de todos os sím­ As serpentes em geral aparecem lá e em diversos outros lugares como guardiãs
bolos animistas — representada em escala gigantesca no Cômoro da Grande Ser­ de santuários, de fontes de água ou de tesouros. Essas tradições estavam associa­
pente, de 400 metros de comprimento, em Ohio. das tanto ao simbolismo da fecundidade da serpente quanto à superstição de que
A serpente enroscada em torno de seus ovos sugeria a analogia de uma grande ser­ as pedras preciosas formavam-se sob a terra a partir de saliva de serpente. A naja
pente enrolada em volta do mundo, sustentando-o ou unindo as águas que o indiana em geral é mostrada com uma jóia situada em seu capuz e que simboliza
cercam. Assim, o deus criador indiano, Vishnu, descansa na espiral de uma gran­ tesouro espiritual. No folclore chinês, as serpentes recompensam os benfeitores
de serpente, Ananta (Shesha); Indra mata a serpente do caos, Vritra, para liberar com pérolas.
as águas fertilizadoras que ela encerra; e a grande serpente do terremoto, Vasuki, Paradoxalmente, a serpente era usada com freqüência como símbolo curativo.
é usada para agitar o mar da criação. Nos mitos africanos, entre outros, uma ser­ O cajado com serpentes enroladas - o caduceu de Hermes (Mercúrio), que sim­
pente do arco-íris vai do mundo inferior aquático ao céu. Na mitologia nórdica, boliza a mediação entre as forças opostas, era interpretado pelo psicólogo Cari
a grande serpente da tempestade de Midgard sustenta o mundo em sua espiral im­ Jung como emblema da medicina homeopática. A serpente de bronze feita por
previsível (a proa com forma de serpente dos navios vikings tinha simbolismo Moisés por sugestão de Deus para curar mordidas de serpente (Números 21:9)
tanto protetor quanto de agressão). Na América do Sul, a explicação dada para os era um emblema homeopático semelhante e foi depois adotado para prefigurar
eclipses era a de que uma serpente gigantesca havia engolido o Sol ou a Lua. No Cristo na cruz, a curar os pecados do mundo. Uma serpente cravada à cruz na
Egito, a barca do Sol que viaja à noite pelas águas do mundo subterrâneo é amea­ arte cristã medieval é, pois, símbolo de ressurreição e sublimação espiritual da
çada pela serpente Apep e tem de entrar em outra grande serpente para renas­ força da vida física. No mundo antigo, o simbolismo de rejuvenescimento da ser-
pente associava-a especificamente ao deus clássico da cura, Esculápio. Por outro te como espíritos de antepassados. O simbolismo ancestral, junto com a crença de
lado, culpava-se a serpente por ter feito com que a humanidade perdesse a dá­ que as serpentes entendiam os mistérios da terra e podiam ver no escuro, ajuda a
diva da vida imortal - não só na história de Adão e Eva, mas também no babiló­ explicar a forte ligação entre a serpente e a sabedoria ou profecia. “Sede prudentes
nico Épico de Gilgamesh, que percorreu distâncias sobre-humanas apenas para como as serpentes e simples como as pombas”, disse Cristo a seus discípulos
encontrar a planta mágica do rejuvenescimento roubada por uma serpente. (Mateus 10:16). A palavra grega dracon (“dragão” ou “serpente de olho de conta”)
A dualidade da serpente, o equilíbrio entre medo e veneração que seu simbo­ estava etimologicamente ligada à visão, e na arte a serpente é atributo da deusa gre­
lismo encerra, contribui para sua apresentação como progenitora ou agressora, ga Atena (Minerva), como sabedoria, e de prudência, no sentido de previdência.
heroína cultural ou monstro. Em seu aspecto amedrontador, gerou os dragões Dizia-se que a Cassandra troiana devia seus dons proféticos às serpentes sagradas
e as serpentes marinhas da tradição ocidental e híbridos de serpentes que sim­ de Apoio, que lamberam suas orelhas quando ela se deitou no templo dele.
bolizavam os múltiplos perigos da existência humana, tipificados pelos filhos Num contexto em que o excesso de conhecimento era ímpio, a sabedoria da ser­
de Eqüidna da lenda grega - a Hidra, a Quimera e o Cérbero, cão do inferno pente voltou-se contra ela — como na história bíblica de como Eva foi enganada
com cabeças de serpente no lombo. Uma picada de serpente levou Eurídice, por uma serpente “mais astuta que qualquer outro animal selvagem que Deus fize­
esposa de Orfeu, para o mundo subterrâneo, onde Minos, de cauda de serpen­ ra” (Gênesis 3:1). A serpente enrolada em volta da árvore proibida no Éden tinha
te, julgava os mortos. No âmbito do folclore ocidental, o simbolismo da ser­ muitos paralelos no Oriente Médio. Na mitologia grega, uma serpente guarda os
pente é em geral negativo, com sua língua bifurcada a sugerir hipocrisia ou pomos de ouro das Hespérides e também a árvore na qual está pendurado o Tosão
fraude, e sua peçonha a trazer morte repentina e traiçoeira. No budismo tibe- de Ouro. Uma árvore com uma serpente enroscada era um emblema específico
tano, a serpente verde do ódio é um dos três instintos básicos. Constitui um dos da deusa da fertilidade do Oriente Próximo, Ishtar. Como mostram muitas ou­
cinco animais nocivos da China, embora também apareça em papéis mais po­ tras deusas da terra descritas a segurar serpentes fálicas, as serpentes desempenha­
sitivos. A serpente como Satã foi prenunciada na religião dualista iraniana do vam papéis importantes nos cultos de fertilidade da vegetação do Mediterrâneo e
zoroastrismo, para a qual simbolizava a escuridão do mal. do Oriente Próximo. Os ritos de iniciação de Sabásio, deus da fertilidade da Ásia
Os pássaros associados à luz, tais como a águia, o falcão e o lendário Garuda na Menor, imitavam a passagem de uma serpente pelo corpo de um acólito. As ser­
índia, eram em geral mostrados matando serpentes, como faziam muitos deuses pentes enroscadas em volta dos membros dos sátiros nas pinturas de bacanais re­
e heróis. Na sabedoria popular alemã, Thor e Beowulf matam e são mortos por ferem-se aos ritos clássicos de fertilidade baseados nesses modelos antigos e asso­
dragões-serpentes. É tentador ver o ato de matar serpentes como símbolo de des­ ciados sobretudo à sinuosidade das videiras. As serpentes são também caracteriza­
truição de um poder paternal ou mais velho - como na lenda em que o herói das nos cultos semitas da fertilidade que usavam ritos sexuais para se aproximar
grego Héracles (Hércules) estrangulou duas serpentes em seu berço. Para estabe­ da divindade. O gesto de Eva de oferecer a Adão o fruto proibido (símbolo de
lecer seu culto em Delfos, Apoio teve de matar a serpente-dragão Píton, que cria­ uma tentativa sacrílega de adquirir poderes divinos) tem sido interpretado como
ra o terrível monstro Tífon nessa cidade da Grécia antiga — mito que sugere a subs­ uma advertência hebraica contra as seduções de cultos rivais semelhantes. Daí -
tituição de um culto anterior da serpente maternal. Pode ser esse o significado da de acordo com essa exegese —, o simbolismo judaico-cristão da serpente como ini­
destruição, por Baal, da serpente de sete cabeças, Lotan, na mitologia fenícia. Em miga da humanidade e sua identificação posterior com o próprio Satã: “aquela ve­
seu aspecto mitológico positivo, existem as serpentes paternas, deuses ou heróis lha serpente chamada Diabo” (Apocalipse 12:9). Na arte ocidental, a serpente tor-
(incluindo Alexandre, o Grande, que se dizia ter sido gerado por Zeus — Júpiter nou-se, assim, um símbolo dominante do mal, pecado, tentação ou engano.
- disfarçado de serpente). Amon e Aton, divindades progenitoras do Egito, eram Aparece nos pés da cruz como um emblema do pecado original, redimido por
ambos deuses serpentes. Na lenda grega, Cadmo, fundador de Tebas, semeia os Cristo, e é mostrada sendo esmagada com os pés pela Virgem Maria. Serpente:
dentes de uma serpente-dragão dos quais surge, então, a nobreza tebana. ver Água; Águia; ANIMAIS MITOLÓGICOS; Arco-Íris; Árvore; Basilisco;
As serpentes aparecem amplamente como figuras ancestrais nas lendas da África, Caduceu; CRUZ; Demônios; Dentes; Dragão; Eclipse; Espiral; Falo; Iniciação;
dos nativos da América e da China, onde Na Gua e Fu Xi eram deuses progeni- JÓIAS; Kundalini; Leão; Maçã; Naja; Ouroboros; Ovo; Pérola; Quimera; Raio;
tores com corpo de serpente, e considerava-se que serpentes em casa traziam sor­ SABEDORIA; Sete; Sol; Terra; Tosão de Ouro; Videira; VIRTUDES
Sete — Número sagrado, mítico e mágico, especialmente nas tradições da Ásia
Ocidental, que simboliza ordem cósmica e espiritual e a conclusão de um ci­ SL.TT rO pdHúS CAPE VIL' - Na arte, sobretu­
clo natural. do nas pinturas renascentistas e barrocas, os Sete
A importância do número sete baseia-se na astronomia antiga — em particular, Pecados Capitais representam a lição “moral” do
as sete estrelas errantes ou corpos celestes dinâmicos (Sol e Lua, Marte, Mer­ bem contra o mal.
cúrio, Júpiter, Vénus e Saturno), em homenagem aos quais os dias da semana
receberam seu nome em muitas culturas. Outra influência foram as quatro fa­ • Ira - Vício que, na arte renascentista, em
ses de sete dias da Lua que compõem os 28 dias do calendário lunar. Os ma­ é representado como uma mulher arrancando
temáticos notaram depois que a soma dos primeiros sete dígitos dá 28. suas roupas.
O sete foi fundamental no mundo mesopotâmico, que dividiu a terra e o céu • Avareza - Tema favorito dos escultores
em sete zonas e representou a Árvore da Vida com sete galhos. medievais e, depois, dos pintores. A ava­
Na Bíblia, à bênção de Deus no sétimo dia, segue-se grande número de outras re­ reza costuma ser simbolizada por um
ferências ao sete. Era o número de festas, festivais e purificações, e entre cada ano pecador que segura ou usa uma bolsa,
sabático havia um intervalo de sete anos. Sete também foi o número de Pilares ou por uma harpia cujas garras ator­
da Sabedoria e, em outras culturas, era em geral associado à mestria intelectual. mentam os sovinas, que podem ser
O sete era consagrado ao deus Osíris, no Egito (símbolo de imortalidade); ao deus mostrados a entesourar dinheiro ou ma­
Apoio na Grécia (o número de cordas da lira dele); a Mitra, deus persa da luz (o çãs de ouro. Entre outros símbolos de
número de estágios de iniciação nesse culto); a Buda (seus sete emblemas). avareza, estão o rato e o sapo.
O pecado mortal da luxúria, de
Na tradição indiana, a montanha centro do mundo tinha sete faces, o Sol se­ • Inveja - Pecado em geral retratado como
um detalhe de Palas expulsando
te raios. O sétimo raio é um símbolo de centro, do poder de Deus. No islã, on­ uma mulher comendo o coração arran­
os Vícios do Jardim da Virtude,
de o número sete simboliza a perfeição, há sete paraísos, terras, mares, infernos cado de seu próprio peito (a origem do de Andréa Mantegna (c.1500).
e portas do paraíso. Os peregrinos andam sete vezes em volta da Caaba sagra­ coloquialismo inglês eatyour heart out —
da, em Meca. literalmente, “coma seu coração”) ou, às vezes, as próprias vísceras. Seu
Nos costumes populares árabes, entre outros, o sete tinha poder protetor, as­ atributo familiar é uma serpente, às vezes mostrada com sua língua esti­
sociado particularmente ao parto. As lendas estão cheias de setes, como nas cada e venenosa. Outros símbolos de inveja incluem o escorpião, o “mau-
histórias muito difundidas de dragões de sete cabeças ou na dos Sete Ador­ olhado” e a cor verde (daí a expressão “verde de inveja”).
mecidos de Éfeso — cristãos jovens, que teriam sido emparedados numa caver­ • Gula - Personificada na arte por suas imagens corpulentas e vorazes ou
na no reinado de Diocleciano e ressuscitados 200 anos depois. Sete: ver Árvo­ pelos animais associados com maior freqüência a esse vício sensual — o
re; Caaba; Coluna; CORES; Dragão; Iniciação; Lira; Lua; Montanha; Música; porco, o urso, a raposa, o lobo ou o ouriço.
NÚMEROS; O OUTRO MUNDO; PLANETAS; Quadrado; Raio; Sabá; • Luxúria - Esse vício era um assunto popular dos artistas medievais. A
Semana; Triângulo luxúria era representada com freqüência na arte ocidental por serpen­
tes ou sapos alimentando-se de seios ou genitais de mulher (cujos im­
SETE PECADOS CAPITAIS — Ver quadro nas páginas 317 e 318 pulsos sexuais pareciam mais chocantes à Igreja que os dos homens).
Outros emblemas da luxúria incluem o macaco, o asno, o basilisco, o
Sino - Em muitas religiões, a voz divina que proclama a verdade, em especial urso, o varrão, o gato, o centauro, o galo, o diabo, o bode, a lebre, o ca­
nas mensagens budista, hinduísta, islâmica e cristã. Seu som era uma repercus­ valo, o leopardo, o Minotauro, o espelho, o porco, o coelho, o sátiro,
são do poder da divindade no pensamento islâmico e hinduísta, e de harmo­ o archote e a bruxa.
nia cósmica na China, onde também representava respeito, obediência e (por
ragem e juventude eternamente renova­
• Orgulho — Este pecado geralmente é personificado na arte ocidental da. Como a fonte de luz, em oposição
por uma mulher com um pavão. Ela também pode ser mostrada com à escuridão, simboliza o conheci­
um leão e uma águia como emblemas dominantes das naturezas terres­ mento, o intelecto e a personifica­
tre e celestial. O dito bíblico “A soberba precede a ruína: e o espírito ção da Verdade, que, na arte oci­
eleva-se antes da queda” (Provérbios 16:18) levou a alegorias medie­ dental, segura às vezes um sol
vais de orgulho, como um cavaleiro derrubado da sela. Esse simbolis­ em sua mão. E como o mais
mo influenciou a obra-prima de Carravaggio, A Conversão de São Paulo brilhante dos corpos celestes, é
(c. 1600), que mostra Saulo derrubado do cavalo na estrada para Da­ emblema da realeza e do es­
masco. Outros símbolos de orgulho são o galo, o anjo caído, o leopar­ plendor imperial.
do, o espelho e o zigurate. O Sol representa o princípio mas­
• Preguiça - Pecado geralmente personificado na arte ocidental por um culino na maioria das tradições, mas
homem com excesso de peso ou um porco. A Preguiça geralmente ca­ era feminino na Alemanha, Japão e
valga ou está acompanhada por um animal de carga, como o asno ou o em muitas tribos do mundo celta,
boi. O caracol também era um emblema cristão da preguiça. da África, de nativos da América, da
Oceania e da Nova Zelândia. Era O Sol, com raios em ziguezague, de uma
SETE PECADOS CAPITAIS: ver ANIMAIS MITOLÓGICOS; Anjos; máscara inca de ouro.
emblema imperial yang na China,
Espelho; Verde; Zigurate; e nomes individuais de animais. mas nunca foi visto como supremo no panteão chinês de deuses. A exemplo de
diversos outros povos, o chinês simbolizou os aspectos destrutivos do poder so­
associação fonética) a passagem por provações. Os sinos constituem um lar num mito sobre como os múltiplos sóis fizeram o mundo tão quente. Os
chamado para a adoração e, no Tibete, para ouvir e obedecer às leis de Buda. dez sóis originais recusaram-se a compartilhar seus deveres solares com base
Os sinos de retinido leve podem representar alegria e também prazer sexual, numa escala de serviço e entraram juntos no céu. O arqueiro divino Yi teve en­
como nos ritos gregos, onde eram associados ao fálico Príapo. De modo con­ tão de matar nove deles para restaurar o equilíbrio cósmico. Um emblema solar
trário, eram usados nos vestidos hebraicos como sinal de virgindade. O sino é característico da China é um disco vermelho com um corvo ou gralha pretos
geralmente percebido como um símbolo passivo, feminino, e sua forma como de três patas que simboliza as três fases do Sol (ascensão, zénite, ocaso).
a abóbada celeste. Seu badalo simboliza a língua do pregador. Foi amplamen­ Os cultos ao Sol mais elaborados eram os do Peru, México e Egito. Para enfa­
te visto como protetor, afastando ou exorcizando o mal. De modo mais geral, tizar a pretensão inca de serem os “filhos do Sol”, a divindade solar era repre­
marca a passagem do tempo, proclama as boas novas, como casamentos e vi­ sentada na forma humana com rosto dourado em forma de disco. No culto
tórias (o Sino da Liberdade, dos Estados Unidos), adverte do perigo e, por cau­ asteca do Quinto Sol, o deus da guerra Huitzilopochtli exigia sacrifícios huma­
sa de seu dobre de morte, pode simbolizar a mortalidade humana, como no fa­ nos contínuos para manter a força do Sol como guardião da era contemporânea.
moso sermão de John Donne, Deattis Duell— O Duelo da Morte, de 1631. Sino: Essa história sem atrativos, que dissimula a sede de sangue asteca, encontra-se
ver Livro; Palavra; Vela; Virgindade no extremo oposto da lenda nórdica da morte do jovem e bonito deus da luz,
Balder, mas é um dos incontáveis mitos e ritos baseados no tema simbólico do
Sol — Símbolo dominante de energia criativa na maioria das tradições, em ge­ eclipse solar, desaparecimentos noturnos ou poder sazonal de crescer e declinar.
ral adorado como o deus supremo ou como uma manifestação de sua capaci­ Assim, o mito solar egípcio descreve a viagem da barca do Sol a cada noite pelos
dade de tudo ver. Apesar da base geocêntrica da astronomia antiga, alguns dos perigos do mundo subterrâneo antes de emergir triunfalmente da boca de uma
sinais gráficos mais primitivos do Sol mostram-no como o centro simbólico ou serpente a cada manhã. Numa abordagem cômica do tema, a deusa-sol japo­
âmago do cosmo. Como fonte de calor, o Sol representa vitalidade, paixão, co- nesa Amaterasu esconde-se numa caverna e tem de ser enganada para sair no-
vamente. As personificações do Sol são múltiplas em algumas culturas, como morreram, como Osíris no Egito e Balder no norte da Europa. É a origem das
no Egito, onde Khepri é o deus-escaravelho do Sol nascente; Hórus, o olho do saturnais e do festival natalino do norte da Europa, bem como dos 12 dias de
dia; Rá, o zénite; e Osíris, o Sol poente. Na Grécia, Hélio personificava o Sol, Natal. Solstício: ver ESTAÇÕES; Roda; Sol
enquanto o romano Sol era, de maneira incoerente, deslocado por Apoio, que
representava o fulgor de sua luz. Soma - O suco fermentado de uma planta do deserto, que simbolizava nos ri­
Alternativamente, o Sol é filho do deus supremo ou simboliza sua visão ou amor tuais védicos e indianos a divina força da vida. Há afinidades estreitas com o sim­
radiante. Era o olho de Zeus, na Grécia; de Odin na Escandinávia; de Ahura bolismo da ambrosia, da seiva, do sêmen e do vinho. O soma era personificado
Mazda (também chamado de Ormuzd) no Ira; de Varuna na índia: e de Alá pa­ por um deus védico, identificado na tradição indiana posterior com a Lua, de
ra Maomé. Era a luz de Buda, do Grande Espírito dos nativos da América do cuja taça os deuses bebiam soma (reabastecida todos os meses de fontes solares).
Norte, de Deus-Pai na cristandade. Cristo, o Sol da Honradez, substituiu Mitra Nos rituais místicos, o soma era bebido como símbolo de comunhão com o po­
no Império Romano como símbolo da ressurreição do Sol indómito. der divino. Na iconografia indiana, os emblemas da força estimulante do soma
Na iconografia, o Sol é representado por uma vasta série de emblemas. Entre incluem o touro, a águia e o gigante. Soma: ver Seiva; Videira
eles, figuram o disco dourado, o disco raiado ou alado (mais comum no
Oriente Médio), o meio-disco com raios (Nihon, que significa “fonte solar”, o Sombfâ — Nas tradições primitivas, a alma ou o alter ego, associada em par­
emblema do Japão), o círculo com ponto central (símbolo de autoconsciência ticular aos espíritos da morte. Na China, os Imortais, como seres totalmente
na astrologia), a estrela, a espiral, o anel, a roda, a suástica (ou outras formas penetrados pela luz, não tinham sombras, enquanto, no folclore ocidental, as
de cruz que giram), o coração, a roseta, o lótus, o girassol e o crisântemo. pessoas que não projetavam sombra eram suspeitas de ter vendido a alma ao
Também pode ser representado por bronze, ouro, amarelo, vermelho, diaman­ diabo e de ser, de certo modo, “irreais” (as sombras como prova de realidade
te, rubi, topázio, uma serpente alada ou emplumada, uma águia só ou com material). Como antítese da luz, o diabo era, ele próprio, uma sombra. Na psi­
uma serpente, falcão, Fênix, cisne, leão, carneiro, galo ou touro. Cavalos ou cologia, a sombra simboliza o lado intuitivo e egoísta da psique, em geral
cisnes dourados ou brancos puxavam a carruagem solar. O “sol negro” era sím­ reprimido. Sombra: ver Alma; Demônios; Luz; Preto
bolo alquímico da matéria primeva não-trabalhada. Sol: ver Águia; Amanhe­
cer; Amarelo; Anel; Auréola; Bola; Carneiro; Carruagem, Biga; Cavalo; Cen­ Suástica - Ideograma que representa dina­
tauro; Círculo; Cisne; Coração; Corvo; Crisântemo; CRUZ; Cruz Ansata mismo cósmico e energia criativa, um dos
(Ankh); Dança do Sol; Diamante; Disco; Eclipse; Escaravelho; Espiral; Estrela; mais antigos e difundidos de todos os sím­
Falcão, Gavião; Fênix; Fogo, Chama; Galo; Girassol; Globo, Orbe; Halo; He- bolos lineares. Denominado com base no
liotrópio; Leão; Lótus; Lua; Luz; Meio-Dia; Olho; Ouro; PLANETAS; Qui- sânscrito su, “bem”, e asti, “estar”, seu signifi­
Rô; Raio; Roda; Rosa; Rubi; Serpente; Solstício; Suástica; Touro; VERDADE; cado tradicional sempre foi positivo. O uso
Vermelho; Yin-Yang; Zodíaco pelos nazistas de seu poderoso simbolismo
fez dele o emblema infame mais bem-suce­
Solstício — Significativo nos rituais solares, em particular naqueles que mar­ dido do século XX e um dos mais alterados
cam o solstício de inverno no hemisfério norte em 22 de dezembro, o dia mais com relação a seu significado original. A suás­
curto do ano, depois do qual o Sol “renascia” simbolicamente. No ano 274 de tica é uma cruz de braços iguais, com a ponta Suástica, de uma pintura em areia
nossa era, o imperador Aureliano procurou unir o Império Romano em torno de cada braço dobrada em ângulo reto para dos índios navajos.
do culto do “Sol Invicto” (o deus persa da luz, Mitra) e fixou 25 de dezembro proporcionar impressão de giro. Do ponto de
como dia de aniversário do Sol. Cerca de 60 anos depois, a Igreja Cristã ado­ vista pictórico, pode sugerir uma roda solar com um facho de luz sendo arrasta­
tou essa data para comemorar o nascimento de Cristo como o novo príncipe do por cada um dos raios que giram, e seu aparecimento em muitos cultos pri­
da luz. O solstício de dezembro era o aniversário de diversos outros deuses que mitivos estava associado aos deuses do Sol ou do céu, sobretudo indo-iranianos.
A suástica pode girar em ambas as direções. Com a barra do alto voltada para a
esquerda — símbolo budista do giro cíclico da existência — é às vezes, mas não
sempre, identificada com o princípio da energia masculina, e era um emblema
usado por Carlos Magno (c. 742 - c.771).
A suástica invertida (usada por Hitler) estava associada ao poder gerador femini­
no na Mesopotâmia superior e aparece no púbis da grande deusa semítica Ishtar,
equivalente no mundo clássico à grega Artemis (Diana, na mitologia romana).
Também na China, a suástica invertida é um símbolo yin. O significado essencial
da suástica - força da vida, poder solar e regeneração cíclica - é com freqüência
ampliado para significar o Ser Supremo, sobretudo no jainismo. Aparece na pe­
gada ou no peito de Buda (âmago imóvel da Roda do Devir). Também é um si­
nal de Cristo (movendo-se no mundo) nas inscrições das catacumbas, dos deuses
védicos e indianos (Agni, Brahma, Surya, Vishnu, Shiva, Ganesha); de Zeus,
Hélio, Hera e Artemis, na Grécia; e de Thor, o deus escandinavo do trovão, cujo
martelo pode aparecer sob diferentes formas de suástica, a sugerir raios duplos. O
disco alado na suástica foi usado como símbolo de energia solar no Egito e na
Babilônia, mas a suástica apareceu de maneira ampla em outras partes, em ícones
ou artefatos e com uma variedade de significados subsidiários.
Além da força giratória, a outra característica gráfica notável da suástica é que
seus braços rodopiam num espaço de quatro partes em torno de um eixo ou
centro estático. No simbolismo dos nativos da América do Norte, a suástica es­
tava associada ao número sagrado quatro - os quatro deuses do vento, as qua­
tro estações, ou os quatro pontos cardeais, como na China (onde era o símbolo
do número “infinito” 10.000). Seu uso como símbolo polar sobrevive na ma­
çonaria. Era símbolo secreto gnóstico e a cruz da seita cristã maniqueísta. O
uso da suástica como emblema da pureza racial “ariana” data de pouco antes
da Primeira Guerra Mundial, entre grupos socialistas anti-semitas da Alema­
nha e Áustria. A força aérea finlandesa adotou-a como emblema militar em
1918. Hitler, mestre da psicologia de massa, reconheceu seu dinamismo como
um emblema de partido e a colocou no emblema nazista em agosto de 1920,
inclinando-a para conferir-lhe impulso para a frente. “O efeito era como se ti­
véssemos jogado uma bomba”, escreveu. Suástica: ver Centro; Céu; Círculo;
CRUZ; Eixo; Luz; Martelo; NÚMEROS; Pé, Pegada; PONTOS CARDEAIS;
Quatro; Raio; Roda; Sol

Suíno — ver Porco

Sul - ver PONTOS CARDEAIS


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Tabernácyio — Na tradição hebraica, o trono terrestre ou local de morada


de Deus. Santuário originalmente estabelecido por Moisés no deserto - de
acordo com regras geométricas precisas para simbolizar o cosmo —, com um sa­
crário ao centro, que contém a Arca da Aiança e cujo acesso se dá por meio
de uma série de espaços velados de santidade crescente. Tabernáculo: verAsca.;
Templo; Trono (assento); Véu

Tâtoum, fâbülll— Ligada, por sua durabilidade, a poderes não-mortais ou


eternos, constitui com freqüência símbolo de comunicação com esses poderes.
■■
;

No mundo antigo, os códigos da lei, as inscrições funerárias e outros docu­



w.

mentos importantes eram gravados em tábuas (às vezes chamadas de “tabelas”)


de bronze, mármore ou outros metais e pedras. Em particular no Oriente

tam

A ~;
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Médio, isso levou à idéia de que os mandamentos divinos deveriam ser entre­
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í> Ç ^ ? r>

gues em tábuas — como nas Tábuas da Lei mosaicas. As tradições mesopotâmi-


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i5.,;e

cas e islâmicas sustentavam que nas tábuas da sina ou do destino existentes, es­
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.

tavam gravados o futuro e o passado. As tábuas funerárias em geral simbolizavam


a consagração das tumbas aos espíritos dos mortos. Na China, elas impediam
os espíritos ancestrais de vagarem. As tábuas gregas com pragas dirigidas aos
inimigos dirigiam-se provavelmente às divindades do reino dos mortos. Tábua,
Tabela: ver Pedra

T8ÇH — Como o copo, símbolo do coração nas tradições islâmica, egípcia e


celta — daí as taças serem as precursoras do naipe de copas no taro. A taça tam-
bem simboliza o oferecimento de amor ou a dádiva da sabedoria revelada e da vi­ paço sagrado. Da idéia do tapete que elevava o devoto a um plano de existên­
da eterna. As taças eram usadas para fazer ou trocar votos, para adivinhação (o que cia separado, foi preciso talvez um pequeno passo para as lendas populares dos
sobrevive na leitura das folhas de chá) e para libações ou ofertas. Na iconografia, tapetes voadores, como o do rei Salomão, que, embora fosse feito apenas de se­
uma taça numa coluna em geral tem os simbolismos tanto de dar quanto de da verde, era capaz de sustentar seu trono e todo seu séqüito. Tapete: ver ANI­
receber - no hinduísmo, por exemplo. A tigela budista de mendigar é um em­ MAIS; Aves; Jornada
blema contrastante da renúncia. Uma taça emborcada numa natureza-morta sim­
boliza o vazio dos valores materiais. As taças de premiação das realizações são um Tarê — Na tradição do ocultismo, sistema
costume mais recente. Taça: ver Cálice; Coração; Graal; Taro; VAIDADE simbólico que traça o progresso humano em
direção ao esclarecimento espiritual ou com-
Tâmara - Como importante fonte de alimento no norte da África e oeste da pletude psíquica. O baralho do taro, baseado
Ásia, a palmeira de tâmaras estava ligada à fertilidade, em especial a masculina, e no simbolismo corrente do final do século
também à generosidade divina. Daí a tâmara ser um símbolo bíblico dos jus­ XIV, pode bem ter sido a origem do baralho
tos, que só receberiam riquezas no céu. As colunas em forma de palmeira de moderno, de quatro naipes de cartas nume­
tâmara da arquitetura egípcia constituem uma alusão à Árvore da Vida. Tâma­ radas e com figuras. No taro, essas cartas cor­
ra: ver Árvore; Palmeira respondem aos “Arcanos Menores” com 56
cartas (em essência, o moderno baralho mais
Tcim«lircj«l — Árvore resinífera de significado sagrado nas regiões de deserto, quatro cavaleiros — exceto que copas, ouros,
entre elas a Mesopotâmia, a Palestina (onde era uma possível fonte do maná, paus e espadas eram representados como cá­
como ainda o é para os beduínos) e o Egito, onde estava associada à ressurreição lices, moedas ou pentáculos, varas de condão
de Osíris. A tamarga estava ligada à imortalidade na China e à chuva no Japão. e espadas). A essas cartas, adicionaram-se ou­
Tamarga: ver Maná; Resina tras 22, os Arcanos Maiores, que depois dei­
xaram de ser usadas como cartas de jogar, mas
lamber — Trovão, a voz da energia cósmica. De todos os instrumentos mu­ tinham poder alusivo suficiente para torna-
sicais, o tambor é o meio de comunicação mais primitivo, a percussão de seu rem-se o meio mais poético de adivinhação e
som viaja ao coração e, por extensão, sugere a capacidade de comunicação com cartomancia do Ocidente. As influências eso­
as forças sobrenaturais. Simbolizava o poder criativo e destrutivo de Shiva, Kali téricas incluíam o saber cabalístico baseado O Louco, carta não-numerada do
e Indra, a voz da lei budista, a voz chinesa do céu. Seus materiais - madeira e nas 22 letras do alfabeto hebraico e talvez al­ baralho do tarô, de um exemplar
couro - tinham eles próprios simbolismo protetor, e seus ritmos eram ampla­ guns elementos do conhecimento hermético francês do século XV
mente usados para atingir estados de êxtase em que os espíritos eram invocados greco-egípcio.
ou os xamãs poderiam movimentar-se além do plano material. O uso antigo Como ocorre com todos os sistemas oraculares, a mística do taro baseia-se
do tambor para inspirar guerreiros é trazido do simbolismo do trovão de força em sua flexibilidade interpretativa. As cartas dos Arcanos Maiores foram re­
destrutiva. Tambor: ver MORTE; Palavra; Trovão desenhadas muitas vezes e têm acumulado uma vasta série de significados e
interpretações. A seguinte estrutura-chave lista apenas um punhado de asso­
Tapete - Importante meio de simbolismo visual por todo o mundo árabe e, ciações tradicionais.
por associação, meio mágico de transportar-se de um lugar para outro. Ani­ O Louco é a única carta não-numerada dos Arcanos Maiores (às vezes consi­
mais, aves, plantas e motivos geométricos tecidos nos tapetes orientais levavam derada como zero ou XXII) — o homem comum, o forasteiro, o microcosmo,
seu significado simbólico para o próprio tapete, conferindo-lhe significado mí­ o que procura por seus próprios meios. A carta I é o Mago, Malabarista ou
tico. De maneira semelhante, o tapete de orações adquiriu o significado de es­ Menestrel — habilidade, o ser transformável, o manipulador da personalidade
humana, o espírito criativo. A carta II é a Sacerdotisa — discernimento, lei aparece novamente na mitologia dos nativos america­
moral, introvisão feminina. A carta III é a Imperatriz — segurança, fecundida­ nos, onde a tartaruga elevava a terra das prohmdezas.
de, crescimento, desejo. AIVé o Imperador - ação, poder temporal, virilidade, Embora principalmente símbolo feminino, lunar e
liderança. A V é o Papa — esclarecimento, energia espiritual, a alma, filoso­ úmido, a tartaruga está ligada à fertilidade femini­
fia. A VI sao os Enamorados — união, a escolha entre amor e paixão. A VII é o na e masculina, como em partes da África, onde a
Carro - sucesso, autocontrole, vitalidade. A VIII é a Justiça — equilíbrio, dua­ cabeça emergente é vista como um pênis. Como
lidade, julgamento correto. A IX é o Ermitão - verdade, auto-suficiência, emblema protetor, as tartarugas são populares
moralidade, solidão. A X é a Roda da Fortuna — movimento, grande mudança, animais de estimação.
equilíbrio precário. A XI é a Força - confiança, coragem, poderes interiores. O simbolismo ocidental é menos extenso, melhor resu­
A XII é o Enforcado — expiação (forçada ou voluntária), realinhamento. A mido no emblema Festina lente (“Apresse-se lentamen­
XIII é a Morte - transição, separação dos desejos carnais. A XIV é a Tempe­ te”), de Cosimo de Médici - uma tartaruga com uma
rança — autocontrole, diluição, o fluxo da vida emocional. A XVé o Diabo - vela náutica nas costas, viajando devagar e sempre.
provação, auto-exame. A XVI é a Torre — infortúnio, revelação, liberação Na alquimia, a tartaruga simboliza a matéria do co­
emocional. A XVII é a Estrela - esperança, reposição da energia espiritual. A meço do processo evolutivo. Tartaruga, Cágado: Vishnu representado como
XVIII é a Lua — ilusão, o poder da imaginação. A XIX é o Sol — alegria, inte­ ver Alquimia; Arvore; Domo; Elefante; LONGE- Kurma, a tartaruga, de uma
gração bem-sucedida. A XX é o Julgamento - transformação, a voz de Deus. VIDADE; Quadrado pintura indiana.
A XXI é o Mundo - completude, totalidade, recompensa. Taro: ver Carrua­
gem, Biga; Cartas; Demônios; Espada; Estrela; Lua; MORTE; Palhaço; Tatuagem — Em geral, símbolo de fidelidade estreita ou identificação com
Pentagrama, Pentáculo; Sol; Taça; Torre; Vara Mágica; VIRTUDES um grupo social ou de culto. Algumas tatuagens, sobretudo as que representa­
vam animais, eram usadas como talismãs para absorver os poderes específicos
Tartaruga, Cágado - Força, paciência, resistência, estabilidade, lenti­ deles. Tatuagem: ver ANIMAIS
dão, fecundidade, longevidade. As tartarugas e os cágados (membros do mes­
mo grupo de répteis) são um símbolo importante e antigo da ordem cósmi­ Távola Redonda — Unidade, coerência e totalidade. De acordo com a
ca em muitas tradições, sobretudo na China. As tartarugas de pedra que lenda do rei Artur, a famosa mesa com um local vazio para o Santo Graal foi
sustentam os colunas das sepulturas imperiais aludem ao lendário Ao, que projetada por Merlin para assentar 150 cavalheiros sem disputa sobre a prece­
sustentou o mundo em suas quatro patas. Associada ao norte, água e inver­ dência. O poder mágico da Távola Redonda deriva da reverência celta pelo círcu­
no, a tartaruga também aparecia nos estandartes imperiais como o Guer­ lo, provavelmente baseada nos cultos antigos aos deuses do céu. O significado
reiro Negro. Protegia contra o fogo, bem como contra os perigos da guerra. cósmico é igualmente sugerido pela mesa redonda indiana, construída em 12
No Japão, sustentava a montanha centro do mundo, e a tartaruga-marinha segmentos e associada ao zodíaco e aos meses do ano. Távola Redonda: ver
era o emblema de Kumpira, deus dos marinheiros - como também o era de Círculo; Doze; Graal; Roda; Zodíaco
Ea, Senhor das Profundezas sumério-semítico. Com um casco em domo nas
costas e outro quadriculado protegendo seu ventre, a tartaruga ou o cágado Tear - Instrumento da criação cósmica e estrutura sobre a qual é tecido o des­
eram amplamente usados como imagem cósmica tripartida do céu aboba­ tino individual - simbolismo antigo resumido no mito grego de Aracne, trans­
dado, do corpo (humanidade) e da terra e do mundo inferior ou das águas. formada em aranha pela deusa Atenéia, ciumenta da sua habilidade na divina
Na índia, o simbolismo da estabilidade era enfatizado pela noção de que arte de tecer. Outra figura em geral descrita ao tear é a mítica Penélope, que,
um elefante sustentava o mundo apoiando-se sobre as pernas da tartaruga para ganhar tempo, desfazia a cada noite o que tecera de dia, para manter afas­
cósmica. Alternativamente, a árvore cósmica é mostrada crescendo de uma tados seus pretendentes na ausência de seu esposo, Ulisses. Tear: ver Aranha;
tartaruga, avatar do deus sus tentador Vishnu. O simbolismo do herói criador Tecelagem; Teia
Tecelagem — Antigo símbolo de criação cósmica, concebida como um pro­ dos na margem de um rio, no topo de uma montanha ou num bosque. Na ou­
cesso contínuo no qual os eventos temporais são tecidos num padrão em cons­ tra extremidade do espectro arquitetônico, estão as fileiras de zigurates, estupas
tante mudança e numa urdidura imutável. Na mitologia japonesa, a deusa-sol e pagodes das tradições oriental e da América Central, as formas complexas de
Amaterasu controla esse processo num celestial Salão Sagrado. Este simbolis­ mandalas do hinduísmo e as glórias dos templos ocidentais nos períodos clás­
mo cósmico remonta pelo menos à deusa babilónica da tecelagem, Ishtar. Suas sico, românico, gótico, renascentista e barroco. O que todos esses diversos es­
divindades equivalentes eram Neith no Egito, com sua aranha sagrada, e Atena tilos têm em comum é a tentativa de simbolizar a ordem divina. Templo: ver
na Grécia. Os destinos individuais são tecidos no padrão enquanto a linha não Centro; Estupa; Mandala; Montanha; Pagode; Tabernáculo; Zigurate
é cortada por um dos Destinos - as Moiras na Grécia; Parcas em Roma; ou
Norns na Escandinávia. A tecelagem representa coesão, a interação constante Terra - Maternal e protetora - símbolo universal de
da urdidura masculina com a trama feminina, como no pensamento chinês. fecundidade e sustento. No geral, a terra é perso­
No budismo, o processo simboliza a tecelagem de uma realidade ilusória. nificada na mitologia pela deusa-mãe tal como
Tecelagem: ver Aranha; Tear; Rede na clássica Ge ou Gaia, o útero da vida — o deus
egípcio da terra, Geb, é uma exceção. Em muitos
Teia -A teia compartilha da maior parte do simbolismo criativo da tecelagem mitos da criação, os primeiros seres humanos são
e do tear como imagem da estrutura do destino cósmico e individual. Em par­ formados a partir do lodo, da argila ou, na Polinésia,
ticular, a teia frágil é um emblema budista eficaz do maya (o mundo da ilusão), da areia. O céu copula com a terra — às vezes num Imagem chistosa da terra-
da Roda da Existência e dos ciclos do tempo. Teia: ver Aranha; Tecelagem abraço tão estreito que deve ser quebrado por um mãe e sua generosidade global.
deus-herói para permitir que a vida se desenvolva -, um enta^e intitulado
. 1,. . i- / • e • • Jocus Servens.
TeilCO — Arvore da imortalidade, vista com freqüência nos cemitérios ingle­ ideia comum nos mitos polinesios e egípcios. (J sim­
ses, e madeira associada à força, capacidade rápida de recuperação e poderes bolismo de fertilidade explica o uso da terra (e, às vezes, “enterros”) em ritos de
mágicos (as varas mágicas e os arcos dos druidas eram feitos com ela). Na su­ passagem. Cópulas em sulcos eram uma característica popular da vida rural nas
perstição, dava sorte tocar no teixo, mas dava azar levá-lo para dentro de ca­ festividades da fertilidade da primavera até épocas razoavelmente recentes.
sa porque suas folhas e sementes são venenosas. Teixo: ver Arco (arma); Ár­ A terra é com freqüência representada graficamente pelo quadrado, como na
vore; Madeira; Vara Mágica China. Embora associada à escuridão, à passividade e ao princípio fixo, seu
simbolismo como fonte de vida tendeu a, no pensamento antigo, separá-la do
Tempestade - Embora associada na maior parte do mundo à ira ou puni­ mundo subterrâneo da morte. Já quanto à deusa asteca da terra e do parto,
ção divinas, a tempestade era símbolo de energia criativa e fecundidade. Daí o Cihuacoatl, acreditava-se que se alimentava dos mortos para nutrir a vida, mas
nome “casa de abundância” do templo do grande trazedor de chuva da Meso- em geral o simbolismo é suave. Daí, talvez, a crença antiga e difundida de que
potâmia, o deus da tempestade, Hadad. A maioria dos deuses das tempestades os terremotos destrutivos emanavam não da terra em si, mas da movimenta­
representados a brandir machados, martelos e relâmpagos tem simbolismo du­ ção das criaturas que a sustentavam - um peixe gigante (Japão), um elefante
plo, criativo e destrutivo. Tempestade: ver Eixo; Martelo; Touro; Trovão de pé sobre uma tartaruga (índia e Sudeste Asiático) ou uma serpente (América
do Norte). Terra: ver Elefante; Escuridão; Esfera; Mãe; Marrom; Mulher; Qua­
Templo — Na arquitetura religiosa, em geral símbolo da casa terrena de Deus, drado; Serpente; Tartaruga, Cágado; Verme
o centro cósmico que liga o inferno, a terra e o céu, ou o caminho ascendente
para a iluminação espiritual — conceitos que modificaram profundamente as Tesourão, Tesoura - Mortalidade, o imprevisível da vida. Com esse
formas funcionais das construções sagradas através da história. No espírito do simbolismo, o tesourão ou a tesoura são, na arte atributo de Átropos, uma das
grego temenos (“terra reservada para recinto sagrado”), os templos podiam ser três Parcas, que, na tradição popular grega, cortam a linha da vida humana.
tão simples quanto um altar ou santuário para uma divindade natural, situa­ Tesourão, Tesoura: ver Foice, Gadanha; Tecelagem
Tetfamorfos - Em algumas culturas, os Tigre - Poder felino, ferocidade, crueldade, ira, beleza e velocidade - símbolo
guardiães de quatro cabeças das direções do es­ tanto agressivo quanto protetor, bestial e de realeza nas tradições da Ásia e índia,
paço - que em muitas tradições simbolizavam onde substitui amplamente o leão como a imagem do animal supremo do gran­
a universalidade do domínio divino e uma ga­ de e terrível da natureza. O poema de William Blake The Tyger- O Tigre, de 1794
rantia contra a volta do caos primário. Os qua­ - apreende o mesmo simbolismo de simetria temível, a perigosa força do desejo
tro tetramorfos bíblicos descritos no primeiro elementar. A exemplo do leão, o tigre pode representar morte e vida, o mal e sua
capítulo de Ezequiel têm cabeças de homem, destruição. Diversos deuses demonstram poder montando tigres, entre eles o in­
leão, boi e águia. Seguindo a mesma ordem, es­ diano Durga. Curiosamente, o deus da riqueza monta um tigre na China, caso
sa visão liga-se na cristandade aos evangelistas em que também constitui emblema de jogo de azar ou talvez de seus riscos (“ti­
Mateus, Marcos, Lucas e João e à encarnação, gre” era gíria para a menor cartada do pôquer nos Estados Unidos). O tigre está
ressurreição, sacrifício e ascensão de Cristo. Cristo com os Tetramorfos, um particularmente ligado ao valor militar e era emblema dos guerreiros na índia.
Tetramorfos: ver Águia; Boi; Leão; PONTOS em cada canto, de um manuscri­ Na China, cinco tigres lendários protegiam as direções do espaço: azul a leste,
CARDEAIS; Quatro to dos séculos XII-X1IL « preto ao norte, vermelho ao sul, branco a oeste e amarelo ao centro.
O simbolismo protetor é também o responsável pela colocação de tigres de pedra
Texugo - No Japão, trapaceiro ardiloso com um traço de malícia, herói de nas sepulturas e portas de entrada na China e pelo antigo costume em que as
muitas histórias populares, às vezes mostrado fora de restaurantes egoistica- crianças usavam bonés de tigre. Shiva e seu consorte destruidor, Kali, aparecem
mente barrigudo. Seus hábitos solitários e secretos também sugeriram dissimu­ com freqüência em peles de tigre na iconografia indiana. Embora os tigres ra­
lação no folclore europeu. A palavra inglesa badgering (proveniente de badger, ramente sejam vistos a oeste da Pérsia, são às vezes substituídos por leopardos
texugo, e que significa o ato de importunar ou molestar alguém) relaciona-se como os animais que puxam a carruagem do deus grego Dioniso (Baco) na ar­
com o controvertido esporte inglês do badger-baiting (pesca com isca artificial te ocidental. No sul da Ásia, o tigre aparece como figura ancestral e as lendas po­
feita de um anzol munido de pêlos de texugo, que simula uma mosca para pulares da ferocidade de homens e mulheres com corpo de tigre são conhecidas
atrair peixes predadores). Texugo: ver ANIMAIS da índia à Sibéria. O tigre é o terceiro signo do zodíaco chinês e personifica a Ira
no budismo chinês (um dos Três Animais Insensíveis). Tigre: ver ANIMAIS;
ThIJÍlí - Termo clássico para o limite mais distante do mundo conhecido, daí Carruagem, Biga; Leopardo; Leão; PONTOS CARDEAIS; Zodíaco
Ultima Thule, em geral descrita como uma ilha branca (talvez referência à
Islândia). Na lenda e no simbolismo, Thule representa o limiar místico do ou­ Ti- O bastão caraterístico do deus romano do vinho e das festas, Dioniso
tro mundo. A exemplo dos povos hiperbóreos, que habitavam além do Vento (Baco, na mitologia romana), e também de seus devotos - vareta semelhante a
Norte, seu povo era considerado mais sábio e longevo que os mortais comuns. uma lança (originalmente de funcho oco), encimada por uma pinha ou cacho
Thule: ver Branco; Ilha de uvas e com hera ou vinhas enroladas à sua volta como símbolo de poder fe­
cundador e fertilizador, sexual e vegetal. A resina de pinheiro fermentada po­
Tiara - Coroa papal de três fileiras e formato de colméia desenvolvida no sé­ de ter sido misturada com vinho nos ritos dionisíacos (bacanais), elevando o
culo XIV como cobertura não-litúrgica para a cabeça, para simbolizar três as­ significado do tirso como emblema de liberação orgíaca. Tirso: ver Bastão; Ca­
pectos da soberania do papa — autoridade espiritual no mundo, autoridade jado; Funcho; Hera; Orgia; Pinheiro, Pinha; Resina; Videira
temporal em Roma e preeminência entre os outros líderes cristãos. O simbo­
lismo moderno da tiara papal é que o papa é o Pai da Igreja, príncipe terrestre Titis — ver Gigante
e Vigário de Cristo. Tiara: ver Coroa; Três
Tonsura - Estilo de corte de cabelo que simboliza renúncia dos monges ao
Tigela - ver Mendigo; Peregrinação mundo material. O estilo cristão medieval de tonsura em que o alto da cabe-
■ ' . -v

ça era raspado para deixar um círculo de cabelo é considerado uma rememo­ to espiritual e da imortalidade. Como emblema de proteção cavalheiresca, o
ração da coroa de espinhos de Cristo. Tonsura: ver Cabelo; Coroa Tosão de Ouro tornou-se uma ordem de cavaleiros na Borgonha, Áustria e
Espanha. Uma origem sugerida do Tosão de Ouro é que a lã era usada para pe­
Tordo - Alternativa para o pintassilgo na lendária história de um pássaro que gar partículas de ouro nas técnicas de mineração antigas. Tosão de Ouro: ver
arrancou uma espinha da coroa de Cristo e foi salpicado com Seu sangue. Isso Carneiro; Cavaleiro; Graal; Ouro; Sol

■#**•*■
pode ter levado às superstições européias de que o tordo anuncia a morte ao
dar batidinhas na vidraça da janela, e que traz má sorte matá-los. Tordo: ver Totem — Animal ou outro objeto natural que age como símbolo de identifi­

*
Aves; Espinho; Pintassilgo cação de um clã estreitamente unido. Na arte primitiva, os exemplos mais im­

« tf* # # '- w*
pressionantes são os postes de totem gigantes da costa noroeste da América,
To ri - Em japonês, literalmente “poleiro” - pórtico em forma de canga simpli­ que servem quase como símbolos heráldicos de status. Os corvos, ursos ou ou­
ficada situado na entrada dos templos xintoístas. Símbolo essencialmente so­ tros animais esculpidos neles representam os espíritos ancestrais místicos na
lar, é identificado como um dos pássaros no mito em que as aves ajudaram a aparência animal ou simbolizam qualidades admiradas pelo clã. Nos rituais de
atrair a deusa solar Amaterasu para fora da caverna em que se escondera (dei­ iniciação, o totem pode ser um espírito tutelar mais pessoal. Totem: ver ANI­
xando o mundo às escuras) e, portanto, a trazer de volta à luz. Também re­ MAIS; Corvo; Iniciação; Urso

f *
*
presenta a entrada para a luz espiritual. Tori: ver Aves; Luz; Sol
T-Oliro — Poder, potência, fecundidade - símbolo multiforme de divindade,
Torre - Ascensão, ambição, força, vigilância, inacessibilidade, castidade. Os realeza e das forças elementares da natureza, mudando de significado entre di­
escritores bíblicos sentiram que a Torre de Babel (uma alusão ao zigurate mo­ ferentes épocas e culturas.

^
numental da Babilônia) carregava o simbolismo axial terra-céu da torre para al­ Como encarnação animal de muitos deuses supremos do Oriente Médio, foi
um dos mais importantes de todos os animais. Tanto no ritual quanto na ico­

-
turas insolentes. Os mitos de torres que simbolizam a presunção humana tam­
bém são comuns no sul da África. Como emblemas de aspiração, as torres fo­ nografia, o touro representou Lua e Sol, terra e céu, chuva e calor, procriação
ram mantidas como símbolos de status na arquitetura dos castelos do Loire feminina e ardor masculino, matriarca e patriarca, morte e regeneração. Como
muito depois de perderem a função defensiva. No simbolismo cristão medie­ símbolo de morte e ressurreição, foi central para o mitraísmo, culto persa an­
val, a Virgem Maria era a “Torre de Marfim”, terior ao zoroastrismo, absorvido pelo império romano e espalhado por grande

' ■

pura e inexpugnável. Na arte, a figura da Cas­ parte dele, como rival primitivo do cristianismo. Sacrifícios rituais celebravam

'
a matança, por Mitra, deus-sol, de um touro primordial cujo sangue e sêmen

i'
tidade aparece às vezes numa torre, como ocor­
re com as donzelas em situação angustiante fizeram jorrar nova vida, animal e vegetal. No taurobolium romano, os inician-
dos contos de fadas. Torre: ver CASTIDADE; dos passavam por um chuveiro de sangue de touro como um jorro de vida. Um
Eixo; Marfim; Zigurate simbolismo de germinação semelhante aparece em mitos indo-iranianos mui­

~
to mais antigos. Na arte das cavernas ainda mais primitiva, o touro só perde
;
Tosão ÚB Ouro - O famoso símbolo do *
para o cavalo como a imagem de energia vital pintada com maior freqüência.
objetivo quase impossível, combinando dois Ele aparece desde o norte da Europa até a índia como emblema de poder divino,
emblemas do céu ou do Sol de aspiração - o em especial associado a deuses lunares, solares, do céu ou da tempestade, in­
cluindo notadamente os deuses nórdicos Thor e Freia; os deuses gregos Zeus
'

carneiro do qual o tosão era tosquiado (sagra­


do ao deus Zeus) e o ouro, metal solar. A jor­ (Júpiter, em Roma), Dioniso (Baco), Posêidon (Netuno) e Cibele; os egípcios
O Tosão de Ouro, capturado pelo
nada épica de Jasão e seus argonautas costuma herói Jasão, um detalhe de um
Rá, Osíris, Pta (encarnado como o touro sagrado Ápis) e Seth; os mesopotâmios
ser comparada à lenda do Santo Graal como antigo vaso grego de El (que aparece com chifres de touro) e Baal; e os indianos Indra, Aditi, Agm,
"

alegoria da busca pelo tesouro do esclarecimen- figura vermelha. Rudra e Shiva com seu touro de montaria. Ao condenar o Bezerro de Ouro, o
bíblico Moisés procurou ciado em sangue; Cristo é transfigurado num ser de luz sob os olhos dos seus
mudar uma antiga tradição apóstolos, e as almas transmigram para outros corpos depois da morte. O uso de
semita de adoração do tou­ roupas do sexo oposto (travestismo) simboliza a liberação do constrangimento de
ro. Na índia, o primeiro um único sexo, uma volta à perfeição primária do andrógino. Transformação: ver
santo da seita jainista é re­ Alma; Alquimia; Andrógino; ANIMAIS; Carnaval; Orgia; Sangue; Vinho
presentado por um touro
dourado. Os atributos físi­ Trapaceiro - Na mitologia e no folclore, o anti-herói que conta com o pensa­
cos deste animal sustentam mento cínico rápido, astúcia e engano no lugar da força moral e física para supe­
grande parte de seu sim­ rar inimigos ou atingir objetivos. Os exemplos incluem o Hermes, na Grécia, o
bolismo — seus chifres são herói cultural Maui, na Oceania, e muitos animais astutos, tais como a lebre,
associados à Lua crescente; o coiote e o corvo, em várias culturas da África, Ásia e entre os nativos da América.
/ _ i Touro, conforme mostrado num alto-relevo de pedra de
so seu tamanho sugere um F Os trapaceiros simbolizam a importância do papel, na evolução humana, do
. c. 500 a. C. do Portão de Ishtar, na Babilônia.
apoio para o mundo nas lado egoísta, subversivo, irreverente e astuto do homem. Trapaceiro: ver Coio­
tradições védica e islâmica; seu sêmen prolífico é armazenado pela Lua ha mito­ te; Corvo; Lebre, Coelho
logia persa; e seu rugido, estampa e a energia que demonstra ao agitar os chifres
são amplamente associados ao trovão e aos terremotos, sobretudo em Creta, lar Três — Síntese, reunião, resolução, criatividade, versatilidade, onisciência, nas­
do monstruoso homem-touro mitológico, o Minotauro. cimento e crescimento — o número mais positivo não só no simbolismo, mas
Como o mais formidável dos animais domesticados, o touro dos tempos antigos também no pensamento religioso, na mitologia, na lenda e no folclore, no qual
tornou-se tanto adversário quanto ícone. Desafiar seu poder era tarefa dada a he­ é muito antiga a tradição de que após fracassar nas duas primeiras tentativas de
róis lendários, como Héracles, e um jogo perigoso para os acrobatas minóicos, fazer algo, na terceira, a pessoa será bem-sucedida. A doutrina cristã da Trinda­
que davam saltos mortais sobre os chifres do touro. O ritual orquestrado das de, que permitiu que um Deus monoteísta fosse reverenciado por intermédio
touradas modernas dá continuidade a uma antiga tradição de usar o touro para do Espírito Santo e da pessoa de Cristo, é um exemplo de como o três pode
flertar com a morte. Aqui, o simbolismo direto de enganar a morte talvez seja substituir o um como símbolo de uma unidade mais versátil e poderosa. Deu­
mais fundamental que a visão moralizante de Jung, de que a derrota do touro re­ ses de três cabeças ou desdobrados em três, tais como o grego Hécate ou a celta
presenta o desejo humano de sublimar as paixões animais. O simbolismo sexual Brigite, tinham funções múltiplas ou controlavam diversas esferas. O deus
certamente predomina na mitologia grega testemunhado pela ligação com os ri­ egípcio das pseudociências ocultas, Toth, foi chamado pelos gregos de Hermes
tos orgíacos de Dioniso e pelo mito em que Zeus aparece para Europa sob a Trismegistos: “Hermes três vezes grande”. As tríades religiosas são comuns - o
forma de um delicado touro branco antes de raptá-la. Diodoro relatou que as mu­ trimúrti hindu de Brahma (criador), Vishnu (sustentador) e Shiva (destrui­
lheres egípcias expunham-se a imagens do deus touro Ápis. Entretanto, o simbo­ dor); os três irmãos - Zeus (Júpiter, na mitologia romana), Posêidon (Netuno)
lismo de morte e ressurreição, como encontrado no mitraísmo, é mais difundido: e Hades (Plutão) -, que controlavam o mundo grego com o triplo atributo, os
é bem marcado no Egito e também no norte da Ásia, onde a Morte monta um raios trifurcados, o tridente e as três cabeças do cão Cérbero; as três grandes di­
touro preto. Touro: ver ANIMAIS; Bezerro; Branco; Búfalo, Bisão; Cavalo; Ca­ vindades incas do Sol, da Lua e da tempestade; os três irmãos que controlavam
verna; Céu; Chifre; Crescente; Labirinto; Minotauro; MORTE; Preto; Sangue; os paraísos na China. Outras figuras mitológicas e alegóricas ocorrem também
Sacrifício; Sol; Tempestade; Trovão; Zodíaco com freqüência em número de três, como as Parcas (nas tradições grega e nór­
dica), as Fúrias, as Graças, as Harpias, as Górgonas, ou as virtudes na teologia
Transformação - As transformações de todos os tipos simbolizam liberação cristã: Fé, Esperança e Caridade. Três é um número muito repetido no Novo
das limitações físicas ou mortais da natureza. Na maioria das mitologias, os seres Testamento: os três Reis Magos; as três negações de Pedro; as três cruzes do
sobrenaturais metamorfoseiam-se à vontade em animais; o vinho é transubstan- Gólgota; a ressurreição depois de três dias.
Três era o número da harmonia para Pitágoras, e da completude para Aristóteles, mo como na trindade cristã. Como ocorre com muitos entalhes celtas de tría­
tendo começo, meio e fim. Em outras tradições, entre elas o taoísmo, o três sim­ des de deuses, eles podem aparecer como uma única figura de três cabeças. Os
bolizava força por implicar um terceiro elemento. Do ponto de vista político, o três artistas medievais às vezes também retratavam a Trindade desse modo, até que
foi o primeiro número a tornar possível a ação executiva por uma maioria, como a Igreja baniu essas imagens. O cágado costuma aparecer como símbolo de
nos triunviratos romanos. Na China, era o número auspicioso que simbolizava tríade, sobretudo na arte taoísta, onde é emblema da terra-homem-céu - sim­
santidade, lealdade, respeito e refinamento. Era o número dos “tesouros” sagrados bolismo adotado pelas sociedades secretas chinesas conhecidas como tríades.
japoneses - o espelho, a espada e a jóia. No budismo, era o número de escrituras Tríade: ver Tartaruga, Cágado; Três; Trimúrti; Trindade
sagradas, o Tripitaka. No hinduísmo, era o número de letras da palavra mística
Om (Aum), que expressa o ritmo ternário do cosmo inteiro e da divindade. Triângulo - Um dos símbolos geométricos mais poderosos e versáteis. O
Três é, significativamente, o número da unidade familiar, a menor “tribo”. triângulo equilátero assentado em sua base é signo masculino e solar, que repre­
Simbolizava o corpo, a alma e o espírito individuais. Na África, era o número senta a divindade, o fogo, a vida, o coração, a montanha e a ascensão, a prospe­
da masculinidade (pênis e testículos). Nas relações entre os sexos, é emblema ridade, a harmonia e a realeza. O triângulo invertido — possivelmente um sig­
de conflito (“três é demais”), o eterno triângulo. Por outro lado, três em geral no mais antigo — é feminino e lunar, representando a grande mãe, a água, a
é visto como número de sorte, possivelmente por simbolizar a resolução de um fecundidade, a chuva e a graça celeste. O simbolismo do triângulo púbico fe­
conflito — uma ação decisiva que pode levar ao sucesso ou ao desastre. Nas lendas minino e da vulva é às vezes melhor especificado pela adição de uma curta
populares, os desejos são concedidos em três. Heróis e heroínas podem fazer linha interior desenhada a partir do ponto inferior. Na China, o triângulo pa­
três escolhas, passar por três provações ou receber três oportunidades de serem rece ser sempre feminino. O encontro dos triângulos masculino e feminino em
bem-sucedidos. As ações rituais costumam ser feitas três vezes, como nas ablu- sua parte pontuda significa união sexual. Interpenetrados para formar um he-
ções diárias islâmicas, nas saudações ou augúrios. O símbolo gráfico de três é xagrama, simbolizam síntese, a união dos opostos. Horizontalmente, com o
o triângulo. Outros símbolos triformes incluem o tríscele (forma de suástica, encontro das bases, dois triângulos representavam a lua nas suas fases crescen­
com três pernas, em vez de quatro), o trifólio, o trigrama chinês, o tridente, a te e minguante. Como a figura plana mais simples, baseada no número sagrado
flor-de-lis, três peixes com uma única cabeça (representando a trindade crista) três, o triângulo era o sinal pitagórico da sabedoria, ligado a Atenéia.
e animais lunares de três pernas (que representam as fases da Lua). Três: ver Tanto no judaísmo quanto no cristianismo, o triângulo era o sinal de Deus. Na
Flor-de-Lis; NÚMEROS; Om (Aum); Tríade; Triângulo; Tridente; Trigramas; trindade cristã, Deus é às vezes representado por um olho dentro de um triân­
Trimúrti; Trindade; Tríscele gulo ou por uma figura venerável com um halo triangular. A alquimia usava triân­
gulos apontados para cima e para baixo como os sinais do fogo e da água. De ma­
Trevas — ver Escuridão neira mais geral, os triângulos lineares ou as composições de formato triangular
podem referir-se às tríades de deuses ou outros conceitos tríplices. Triângulo: ver
Trevo - Com suas três folhas, o trevo simboliza a trindade cristã. O uso, pela Alquimia; Coração; Fogo, Chama; Halo; Hexagrama; Homem; Lua; Montanha;
Irlanda, da variedade shamrock como emblema nacional pode referir-se ao res­ — Mulher; Olho; SABEDORIA; Três; Tríade; Trindade
peito que os celtas nutriam pelo crescimento vigoroso da planta. Trevo: ver
Três; Trindade
Tridente — O poder do mar — emblema da antiga civilização minóica (assim

como de Britânia a governar as ondas). O tridente era famoso como símbolo
Tríade — Grupo de três, em geral usado na iconografia para simbolizar idéias da autoridade de Posêidon, deus grego do mar (Netuno, na mitologia roma­
— — —

estreitamente ligadas, tais como corpo/alma/espírito ou divindades que parti­ na). Seu aparecimento nas mãos de alguns deuses das tempestades sustenta a
lham funções, como as Parcas ou Graças na mitologia grega. No hinduísmo, a visão de que seus dentes representam raios ramificados. Entre outras figuras
;

tríade Brahma, Vishnu e Shiva simboliza três aspectos do poder divino repre­ que na arte carregam tridente, encontram-se Satã (para quem o tridente tem a
sentados por deuses separados que não estão fundidos num único ente supre-
mesma função do forcado) e a figura da Morte.
Na índia, a similar trisula simboliza os três aspectos de Shiva (criador/ mante­ Triscele - Símbolo da energia dinâmica parecido com a suástica, mas com
nedor/destruidor) e é uma marca na testa de seus seguidores. O uso cristão do três, em vez de quatro, pernas dobradas, que giram em círculo.
tridente como símbolo da Trindade é raro. Tridente: ver Demônios; MORTE; Como motivo, seja na arte celta, seja nas moedas e escudos gregos, parece re-
Raio; Três; Trindade lacionar-se menos aos ciclos solares ou fases lunares (um dos significados suge­
ridos) do que ao poder ou à intrepidez física. É ainda hoje o emblema das Ilhas
Trigramas - Estruturas triplas de linhas contí Scilly e da Ilha de Man. Triscele: ver Suástica
nuas (yang) ou interrompidas (yin), oito das
quais (o Pa Kua) formam a base do grande Trombeta - De todos os instrumentos musicais, o mais auspicioso - sím­
livro chinês de adivinhação, o I Ching. bolo tradicional de acontecimentos significativos, notícias importantes ou
Essas estruturas simbolizam a crença teoís- ação violenta.
ta de que o cosmo se baseia num fluxo Na arte, a trombeta é o atributo personificador da Fama e dos sete anjos do
constante de forças complementares — o Juízo Final. Os romanos popularizaram o efeito de choque ao soprar as trom­
yang, masculino e ativo, a equilibrar o yin, betas antes das cargas de cavalaria, assim como em rituais importantes e ceri­
Os oito trigramas usados na adivinha­
feminino e passivo, e vice-versa. Grupos mônias de Estado. Nas justas medievais, as trombetas anunciavam notícias tra­
ção. Em sentido horário, de cima para
permutáveis de dois trigramas formam os baixo: K*an (o profundo); Chen (o que zidas pelos arautos e introduziam os cavaleiros. Trombeta: ver Cavaleiro; FA­
64 hexagramas do I Ching, cuja interpre­ desperta); Ken (o imóvel); Tui (o jubilo­ MA; Música
tação fornece um guia de ação sábia. Tri­ so); Li (o aderente); Kun (o receptivo);
gramas: ver Três; Yin-Yang Sun (o suave); e Ch’ien (o criativo). Trono (assemto) — Poder, estabilidade, esplendor. Psicologicamente, os
governantes sempre projetaram confiança ao se sentarem enquanto os demais
Trisnúrti — Grupo sagrado indiano de Brahma, Vishnu e Shiva que simboli­ ficavam em pé. Seus tronos, que se tornaram cada vez mais elaborados no de­
za os três ciclos de manifestação — criação, preservação e destruição. Apesar de correr da história, tornaram-se símbolos de sua autoridade, tanto que o pró­
sua similaridade com a trindade cristã, o trimúrti não é um conceito mono- prio trono tornou-se símbolo de glória, como nas tradições budista, hinduísta e
teísta de três em um. Na tradição hinduísta posterior, Shiva pode representar cristã ortodoxa oriental, que às vezes representavam a presença radiante de
ele próprio os três aspectos do trimúrti. Trimúrti: z^rTrês; Trindade uma divindade pela retratação de um trono vazio. O trono de diamante é uma
imagem budista do centro. Cristo disse a seus discípulos que se sentariam em
Trindade — Na cristandade, as três Pessoas que formam o Deus Supremo 12 tronos para julgar as 12 tribos de Israel. Degraus ou um tablado (elevação)
único - o Deus-Pai, o Deus-Filho e o Deus-Espírito Santo. A doutrina da Trin­ e um dossel (proteção celestial) em geral sustentam o simbolismo de poder do
dade — que reconciliou o culto do deus-homem Cristo com o monoteísmo — próprio assento. Jóias, metais preciosos e efígies de criaturas solares tais como o
simboliza a essência indivisível de uma divindade que se revela em diferentes leão ou o pavão eram características decorativas muito usadas. Na iconografia
formas. Na arte, a Trindade costuma ser representada pela figura de Deus atrás egípcia, ísis é identificada com o trono como grande mãe. Trono (assento): ver
e acima do Cristo crucificado, com a pomba do Espírito Santo a pairar sobre Cetro; Diamante; Dossel; Doze; JOIAS; Leão; Pavão
Eles, ou ainda pela pomba com duas figuras entronizadas. Outros símbolos in­
cluem o trono, o livro e a pomba (poder, intelecto, amor); três peixes entrela­ Trovão - Vontade divina - equiparado na tradição semita, entre outras, à so­
çados ou partilhando uma mesma cabeça; três águias ou leões; três sóis; um norização da palavra de Deus (o raio representava a palavra escrita). “Deus tro­
triângulo com um olho ou três estrelas dentro; três círculos ou arcos superpos­ veja maravilhosamente com sua voz” (Jó 37:5). Os raios acompanhados de trovão
tos dentro de um círculo; um trevo de três folhas ou uma cruz de três lâminas. (em geral representados como flechas dentadas de fogo arremessadas das nu­
Trindade: ver Águia; Círculo; CRUZ; Leão; Livro; Três; Trevo; Triângulo; Tri­ vens) são atributos dos deuses do céu mais poderosos em muitas tradições,
múrti; Trono (assento) notadamente armas do deus grego Zeus (Júpiter, na mitologia romana). O raio
acompanhado de trovão era símbolo de criação e destruição, associado à força
da fecundação, bem como à punição ou justiça. Assim, nas tradições hinduísta e
budista, Indra usa o vajra, raio acompanhado de trovão, na forma de um ce­
tro de diamante, para partir as nuvens (que, no simbolismo tântrico, represen­
tam a ignorância). O deus inca da chuva, Hiapa, libera as águas celestes com
sua funda de trovão, simbolismo comum com a força impulsora em geral as­
sociada ao trovão no mundo antigo. Para os nativos da América do Norte, o
Pássaro do Trovão, ouvido na poderosa concussão de suas asas de águia, é so­
bretudo um deus do céu protetor. O simbolismo da ave também aparece na
mitologia siberiana. Embora predominantemente associado em outros lugares
a deuses masculinos, como o Thor escandinavo, ou com ferreiros divinos (em
geral coxos), o trovão era às vezes associado, por seu simbolismo de fecundida­
de, a deusas da terra ou lunares. Na Ásia, era ligado ao dragão (em especial na
China), ao tambor, ao vagar ruidoso das almas mortas e à cólera ou gargalhada
dos deuses. Outras associações incluem o martelo, o macete, o cinzel, o ma­
chado, o touro a bramir e o zunidor, animais ligados à chuva, como a serpente,
e, na representação gráfica, como a flecha em ziguezague, a flor-de-lis e a espi­
ral do trovão a rolar. Alguns deuses do trovão, sobretudo japoneses, eram di­
vindades tanto da terra como do céu, cujas vozes provinham do vulcão e das
nuvens. Trovão: ver Águia; Aves; Cetro; Dragão; Eixo; Espiral; Ferreiro; Mar­
telo; Palavra; Raio; Serpente; Tambor; Touro; Ziguezague; Zunidor

Túnel — ver Caverna; Labirinto

Turbante - Emblema tradicional da fé nos países islâmicos, particularmen­


te ligado à honra pessoal entre os sikhs. Em algumas seitas e nas repartições pú­
blicas civis, o estilo do turbante envolve um ritual considerável.
O turbante, que nos países árabes adquire parte do simbolismo da coroa, está
estreitamente associado ao Profeta, cujos descendentes podem usar sua cor sa­
grada, o verde. Turbante: ver Cabeça; Coroa; Verde

Tyfqy©SS — Símbolo solar e do fogo no México, associado ao deus asteca do


fogo, Xiuhtecuhtli, que é mostrado com plumas turquesas em seu aspecto jo­
vem, como deus da turquesa. A cor azul esverdeada da pedra sugeriu aos astecas
a existência de uma serpente turquesa que ligava o céu à terra, o Sol ao fogo.
Nas crenças populares sobre pedras preciosas, a turquesa é uma pedra de cora­
gem, sucesso, proteção real e o signo astrológico Sagitário. Turquesa: ver Azul;
Dragão; Fogo, Chama; JÓIAS; Serpente; Sol; Verde
Um - Número que simboliza a unidade primordial, a divindade ou essência
criativa, o Sol ou a luz e a origem da vida.
Na tradição ocidental, o próprio número arábico tinha simbolismo fálico,
axial, agressivo e ativo. Era o símbolo de Deus em todas as grandes religiões
monoteístas, sobretudo no islã.
No pensamento pitagórico, o número um era a parte essencial, a base comum
para todo cálculo. Era a entidade confuciana perfeita, o indivisível, o cen­
tro místico do qual tudo mais irradiava. De maneira mais óbvia, o número
um é emblema de começo, do eu e da solidão. Um: ver Eixo; Falo; NÚME­
ROS; Ponto

Umbigo - Força criativa, origem da vida e centro espiritual, foco da con­


centração iogue como centro de energia psíquica. Na tradição védica, o ló­
tus da criação cresceu do umbigo de Vishnu quando ele descansava nas águas
cósmicas, dando origem ao nascimento de Brahma. Na mitologia nórdica,
a Estrela Polar era o umbigo cósmico. Como símbolo da vida, o umbigo é
às vezes exagerado na estatuária africana. Um umbigo proeminente tam­
bém era um emblema chinês de força e beleza. Umbigo: ver Estrela Polar;
Linga; Ônfalo

üfiçã© — Rito originário do Oriente Médio no qual se usa óleo consagrado co­
mo símbolo da graça divina para santificar governantes ou pessoas em processo
de ordenação sacerdotal, para conferir autoridade sagrada. Unção: ver Óleo
Unicórnio — Castidade, pureza, poder, virtude — símbolo cortesão de de­ ra domar e transformar o chifre do desejo sexual. Na arte ocidental, os unicór­
sejo sublimado e símbolo cristão da Encarnação. O unicórnio é o mais am­ nios puxam o carro da Castidade.
bíguo e poético dos animais mitológicos, em geral retratado na arte medie­ Embora o simbolismo ocidental do unicórnio seja singular, uma criatura len­
val como um gracioso animal branco com um só chifre longo e espiralado dária com algumas semelhanças é o Ky-lin, da China — símbolo de fertilida­
na testa. Tem corpo, crina e cabeça de cavalo (às vezes com cavanhaque de de yin-yang de sabedoria, delicadeza, e felicidade. Seu(s) chifre(s) (pode ter
bode), casco fendido de antílope e cauda de leão. O médico grego Ctésias até cinco) representa(m) o intelecto. Na alquimia, o unicórnio representa o
menciona os poderes curativos do unicórnio em sua história da Pérsia e mercúrio, juntamente com o emblema de leão, que representa o enxofre. Es­
Assíria do século IV a.C. - numa aparente referência aos remédios indianos ses dois animais podem representar outras dualidades, tais como Sol-Lua,
feitos com pó de chifre de rinoceronte. Os primeiros escritores cristãos po­ além de serem figuras populares na heráldica. Emblema da Escócia, o unicór­
dem ter associado esse poder curativo aos chifres de um animal, como o cla­ nio substituiu um dragão galês quando Jaime VI da Escócia tornou-se Jaime I
ro antílope órix árabe. De acordo com um devaneio teológico, o unicórnio da Escócia e Inglaterra. Unicórnio: ver ANIMAIS MITOLÓGICOS; Antí­
poderia purificar água envenenada por peçonha de cobra ao agitá-la com o lope; CASTIDADE; Chifre; CRUZ; Falo; Lança; Leão; Mercúrio; Rinoceron­
chifre num movimento em forma do sinal da cruz. te; Serpente; Virgindade
Diversos outros elementos integram o tecido do simbolismo do unicórnio na
arte cristã medieval, sobretudo da tradição pagã, de que essa criatura veloz e Uraeus - ver Naja
bravia só poderia ser capturada por uma virgem - em aparente
referência à associação entre o unicórnio e as deusas virgens Urna - Emblema feminino e de fecundidade da água ou dos deuses dos rios na
lunares da caça, como a grega Ártemis (Diana, na mitologia arte — e de Aquário na astrologia. No budismo chinês, a urna com tampa é um
romana). O simbolismo de falo e lança do chifre, combi­ dos oito símbolos de boa sorte e pode representar a vitória sobre a morte. Esse
nado com uma mitologia de purificação, fez do unicór­ é também o simbolismo da urna com uma chama a subir, o que denota ressur­
nio um símbolo elegante de penetração espiritual - espe­ reição na arte funerária ocidental. Urna: ver Água; Fogo, Chama; Zodíaco
cificamente, o mistério da entrada de Cristo no útero
virgem. É esse o significado alegórico das miniaturas UfSO - Força primitiva brutal — emblema de guerreiros em regiões do norte da
góticas e tapeçarias ou pinturas posteriores nas quais Europa e da Ásia. O animal era a encarnação do deus Odin na Escandinávia,
o unicórnio recosta a cabeça no regaço de uma mu­ onde os ferozes guerreiros berserkes vestiam peles de urso; e também da caçadora
lher, a acompanha num jardim fechado ou pavi­ Ártemis da Grécia, onde as donzelas que a cultuavam se vestiam como ursos.
lhão de rosas ou é guiado em direção a ela por Está ligado a muitas outras divindades guerreiras, inclusive ao germânico Thor
um caçador (Gabriel, o e ao celta Artio de Berna (a cidade suíça do “urso”). Símbolo de força dos na­
anjo da Anunciação). tivos americanos, o urso é emblema de coragem masculina na China, onde os
Na cavalaria, o unicór­ sonhos com urso pressagiam o nascimento de meninos. O urso, sobretudo a
nio simbolizava a virtu­ ursa, também aparece como símbolo de força, cuidado e calor maternais (o ur­
de do amor puro e o po­ so Baloo, de Kipling, em TheJungle Book — Mogli, o Menino Lobo, de 1894). Para
der da mulher casta pa- os ainu do norte do Japão e para os índios algonquianos, o urso é uma figura
ancestral. Também está ligado aos simbolismos lunar e da ressurreição, talvez
O unicórnio no regaço de
devido à hibernação. Os xamãs usavam máscaras de urso para se comunicarem
uma mulher, de A Dama do com os espíritos da floresta. Para Jung, o urso simbolizava aspectos perigosos
Unicórnio, de uma tapeçaria do inconsciente, e é visto como poder negro pelas tradições cristã e islâmica:
francesa do século XV cruel, luxurioso, vingativo, cúpido — uma representação do pecado mortal da
glutonaria na arte ocidental. O Davi bíblico realmente combateu com um ur­
so, e o disforme filhote de urso “moldado” por sua mae tornou-se a imagem
do pagão que necessitava do socorro da Igreja. Do mesmo modo, o urso é o

■si

m ei
Smêmêm
f*
símbolo alquímico do primeiro estado da matéria. Urso: ver Alquimia; ANI­
MAIS; Floresta; Lua; Máscara; Ossos; SETE PECADOS CAPITAIS

1
Útero — ver Mulher

Uwa - ver Videira; Vinho

11

mmm
p w*
WpSí»
Vaca — Antigo símbolo de nutrição maternal e, como o touro, imagem do
poder cósmico gerador. Em culturas do Egito à índia, a vaca era uma per­
sonificação da Mãe Terra. Também era lunar e astral, com seus chifres em
crescente a representar a Lua; e seu leite abundante, as incontáveis estrelas
da Viâ-Láctea. Nut, deusa egípcia do céu, às vezes aparece com esse simbo­
lismo na forma de uma vaca com estrelas no ventre, as patas a simbolizar os
quatro cantos da terra. Hator, a deusa Grande Mãe da alegria e do amor e
alimentadora das coisas vivas, também é representada como uma vaca.
Como emblema protetor da realeza, em geral era mostrada com o disco solar
entre os chifres — referência à idéia de uma vaca celeste e materna a nutrir
o Sol poente com seu calor. Imagem semelhante da vaca como nutridora da
vida original aparece na mitologia do norte da Europa, onde Adumla, ama-
de-leite dos gigantes primordiais, lambe o gelo para expor o primeiro ho­
mem ou, alternativamente, os três deuses criadores. Na literatura védica, a
vaca é céu e terra, com seu leite a cair como chuva abundante e fertilizado-
ra. A vaca preta desempenhava um papel nos ritos funerários; a branca era
símbolo da iluminação. Para hinduístas e budistas, o ritmo de vida quieto e pa­
ciente da vaca apresentava uma imagem de santidade tão completa que ela se
tornou o animal mais sagrado da índia. Sua imagem é de felicidade em toda a
parte — como nos ritos gregos em que novilhas eram coroadas e levadas em
procissões celebratórias com dança e música. Vaca: ver Branco; Céu; Coroa de
Flores, Grinalda; Crescente; Disco; Gigante; Leite; Lua; Mãe; Preto; Sol; Ter­
ra; Touro
Vá CU© — Símbolo budista e místico de fuga da roda da existência, concebido rancar a terra pelas raízes com suas presas, após ter sido capturado pelos de­
como a ausência completa de ego, emoção e desejo — um estado de experiência mônios. A brutalidade destrutiva é o outro lado do simbolismo do varrão: era
ilimitada e de revelação espiritual altruísta. Vácuo: ver Nirvana adversário monstruoso de Héracles (Hércules) e também do deus egípcio da
luz do dia, Hórus, cujo olho foi arrancado por seu tio Seth na forma de um var­
rão preto. O varrão tornou-se um símbolo judaico-cristão de tirania e luxúria.
VAIDADE - Na arte, a vaidade é em geral representada de maneira
Varrão: ver ANIMAIS; Branco; Floresta; Lua; Olho; Porco; Preto; Sol
alegórica como um nu reclinado preocupado com seus cabelos, com
um espelho a simbolizar sua natureza autocontemplativa. No sentido
Vas© - Em geral, símbolo feminino, sobretudo na arte ocidental, em que um
antigo de futilidade ou vazio, vanitas é um dos maiores campos de
vaso com um lírio refere-se à Virgem Maria. Na arte funerária egípcia, os va­
simbolismo nas naturezas-mortas ocidentais. Possessões materiais, co­
sos simbolizavam vida eterna. O vaso de flores significa harmonia no budismo
mo moedas, ouro ou jóias, e adornos do poder, como coroas ou cetros,
chinês e aparece como um dos símbolos da pegada do Buda. Vaso: ver FLO­
são mostrados com símbolos de vazio, como taças emborcadas ou em­
RES; Lírio; Mulher; Pé, Pegada
blemas de mortalidade e evanescência - caveira, relógio ou ampulheta,
flores ou uma vela derretendo. Os animais associados à vaidade são o
Vassoura - Modesto implemento investido com um considerável poder má­
macaco, o pavão e, com menor freqüência, a borboleta. VAIDADE: ver
gico desde tempos remotos. Essencialmente símbolo de remoção ( vassoura
os verbetes individuais
nova é que varre melhor”), tinha de ser usada com cuidado para não jogar para
fora os espíritos benignos, como faz com a poeira. Essa crença explica as po­
Vara Mágica - Emblema dos poderes sobrenaturais, menos autoritário que pulares proibições de varrer a casa à noite, na Bretanha, e de varrer a casa na
o bastão e mais especificamente associado à bruxaria e aos seres mágicos. A vara qual alguém acabou de morrer, no norte da África. Vassouras sagradas (não
mágica simboliza a facilidade de transformação. Vara Mágica: ver Aveleira; prejudiciais) eram usadas em alguns ritos pelo mesmo motivo. A crença popu­
Bastão; Círculo; Fadas; Transformação lar de que as bruxas iam para suas demoníacas assembléias noturnas montadas
em vassouras está ligada à idéia de que os espíritos do mal podem tomar pos­
Varra© - Imagem primordial de força, agressão destemida e coragem resolu­ sessão do implemento mágico utilizado para expulsá-los. Vassoura: ver Bruxaria;
ta, sobretudo no norte da Europa e no mundo celta, onde era o principal sím­ Demônios; Falo; Madeira; Sabá
bolo dos guerreiros. Também tinha significado sagrado em outros lugares: como
símbolo do Sol no Irã e da Lua no Japão, onde o varrão branco era tabu para ¥ead© - ver Cervo
os caçadores. A ferocidade do varrão selvagem provocou um misto de medo,
admiração e reverência. Seu simbolismo zoomórfico é evidenciado pela desco­ Vegetação - Em todas as culturas, símbolo fundamental da terra viva e da
berta de pequenos varrões votivos e esculturas de pedra maiores de varrões em natureza cíclica do nascimento, morte e regeneração. Os deuses e as deusas
lugares tão ao sul quanto a península Ibérica. Está associado com os deuses do da vegetação estavam entre as divindades mais antigas geralmente cultuadas
governo, da batalha e da fertilidade, como o teutônico Wodan, os escandinavos como fontes da vida tanto humana quanto vegetal. Os mitos de transforma­
Odin, Freir e Freia, o grego Ares (Marte, na mitologia romana) e o deus japo­ ção de planta para ser humano simbolizam a unidade cósmica; a força da vida
nês da guerra, Hachiman (governante deificado). Para os celtas, ele simboli­ que anima todas as coisas.
zava autoridade espiritual; sua carne era comida de maneira ritual e enterrada
com o sacrificado. Os druidas, ao se chamarem de “varrões”, identificavam-se com Velâ — Imagem de iluminação espiritual na escuridão da ignorância, a vela é
o conhecimento oculto da floresta. Os elmos de varrão dos guerreiros suecos um símbolo importante no ritual cristão, representando Cristo, a Igreja, ale­
tinham simbolismo protetor. O respeito pelo animal estendeu-se à índia, on­ gria, fé e testemunho. Em nível mais pessoal, individualiza o simbolismo do fo­
de, como Vahara, Vishnu assumiu a sua forma para mergulhar no dilúvio e ar­ go, sendo que a de curta duração e sua chama que se apaga com facilidade tor-
nam-se metáfora da alma humana solitária que aspira ascender ao céu. Aparece um de seus tripulantes abriu desastrosamente. Pensava-se que os demônios
com esse significado nas naturezas-mortas devocionais e no costume mais di­ montavam os ventos violentos, trazendo o mal e a doença. Na China, o vento
fundido de colocar velas em volta de um caixão. O apagar das velas de um bolo era associado ao rumor, um simbolismo talvez derivado da caça e que na lín­
de aniversário desloca o simbolismo para o sopro vital — prova da continuida­ gua inglesa deu origem à expressão getting wind of(farejar, ter notícia de). Sua
de da vida para além de todos os anos que se acabaram. Vela: ver Alma; Cas­ importância na polinização o transformou em simbolismo sexual na China.
tiçal; Fogo, Chama; Luz; Respiração, Sopro; VAIDADE; VIRTUDES Geralmente o vento é um símbolo poderoso de mudança, inconstância, jactân­
cia vazia e do efêmero, seu significado dominante no século XX. Vento: ver Ar;
Weia Náutica-Na arte, atributo da Fortuna (devido à sua inconstância) e Furacão; Respiração, Sopro
da deusa grega Atena (Minerva, para os romanos). De maneira mais ampla, as
velas eram às vezes usadas por artistas para representar o que de outro modo não Verão — ver ESTAÇÕES
poderia ser mostrado — o elemento ar, o vento, a respiração vital e a alma, co­
mo nas pinturas medievais em que as velas representavam o advento do Espírito
Santo. Vela Náutica: ver Alma; Ar; FORTUNA; Respiração, Sopro; Vento - Virtude solar, personificada na arte ocidental por uma fi­
*
gura feminina que pode sustentar um disco dourado ou espelho e usar
Ventre - ver Barriga uma coroa de louros. Nas pinturas do Renascimento, ela em geral apa­
rece nua ou é revelada pelo Pai Tempo.
Vent© - Imagem poética do espírito animador cujos efeitos podem ser vistos Outros símbolos de verdade incluem uma pêra com uma folha (simbo­
e ouvidos mas que permanece invisível. O vento, o ar e a respiração estão es­ lizando a união do coração com a língua), as cores azul, branco e ouro,
treitamente ligados no simbolismo místico, e a idéia do vento como animador, os números nove e seis, armas como a espada e metais preciosos ou jóias,
organizador ou suporte cósmico era muito difundida. O Gênesis começa com em especial o ouro, o jade, a prata, o diamante, a magnetita, o ônix e a
o Espírito de Deus movendo-se como o vento sobre a face do abismo. O deus safira. A verdade também se identifica de perto com a luz em geral — o
indo-iraniano do vento, Vayu, é a respiração cósmica. O deus-vento asteca dia, o raio, a lâmpada, a lanterna e o archote. Entre outros emblemas
Ehecatl (um aspecto de Quetzalcoatl) coloca o Sol e a Lua em estão a glande (q. v.), a amêndoa, o bambu, o sino, a coroa, o cubo, o
movimento com um sopro. Os ventos também apare­ globo, o coração, a pena de avestruz, a balança, o esquadro, o poço ou
cem como mensageiros divinos e como as forças que a fonte de água e vinho. VERDADE: ver os verbetes individuais
controlam as direções do espaço - a origem das po­
pulares cabeças com a bochecha inflada a soprar
dos antigos criadores de mapas. Abaixo V^rdte — Símbolo em geral positivo, como é evidente até por seu uso como a
do nível elevado desse simbolismo, os cor de “avançar” nos sinais de trânsito modernos. Universalmente associado à
ventos individuais eram em geral per­ vida vegetal (e, por extensão, à primavera, juventude, renovação, frescor, ferti­
sonificados como violentos e impre­ lidade e esperança), o verde adquiriu ressonância simbólica nova e poderosa
visíveis. Na mitologia grega, para ga­ como o moderno emblema da ecologia. Tradicionalmente, seu simbolismo es­
rantir que o herói da Odisséia tivesse piritual era mais importante no mundo islâmico, onde era a cor sagrada do
uma viagem calma, Eolo, senhor dos Profeta e da divina providência, e na China, onde o jade verde simbolizava per­
ventos, deu-lhe vento num saco - que feição, imortalidade ou longevidade, força e poderes mágicos - cor associada
particularmente à dinastia Ming. O verde é também a cor emblemática da
Os deuses dos quatro ventos, de uma ilustração Irlanda, a “Ilha Esmeralda”, epíteto adequadamente associado à tradição celta
da Eneida de Virgílio (século I a. C.). em que as almas boas viajavam para a verde Ilha dos Abençoados, a Terra da
Juventude, Tir nan Og. O verde-esmeralda é emblema cristão de fé, a cor re- Como a cor do despertar, era também associada à sexualidade — ao deus fá­
nomada do Santo Graal na versão cristianizada da lenda. O verde também apa­ lico, Príapo, na Grécia, e à “mulher escarlate” da prostituição. Todavia, com
rece como a cor da Trindade, da revelação e, na arte cristã antiga, da Cruz, e maior freqüência seu simbolismo era positivo. Na China, onde era o emble­
às vezes, do manto da Virgem Maria. ma da dinastia Chou e do sul, era a de melhor sorte entre todas as cores, asso­
No mundo pagão, o verde está mais amplamente ligado à água, à chuva e à fer­ ciada à vida, riqueza, energia e verão. O vermelho no branco pode simbolizar
tilidade, a deuses e espíritos da água e a divindades femininas, entre elas a deusa o sangue perdido e a palidez da morte, mas a marca vermelha asiática de bele­
romana Vénus. É cor feminina no Mali e também na China. O Dragão Verde za é protetora. No teatro chinês, a pintura vermelha na face do ator atribui-lhe
da alquimia chinesa representava o princípio yin, o mercúrio e a água. Como significado sagrado. O vermelho-ocre era usado nos enterros antigos para
a cor da germinação, o Leão Verde da alquimia ocidental simbolizava o estado “pintar a vida” na morte. Mesmo na cristandade, onde o simbolismo prin­
primário da matéria. cipal do vermelho é de sacrifício (a Paixão de Cristo e o martírio dos santos),
Uma corrente secundária de simbolismo é mais ambivalente. Muitas tradições era também o emblema dos soldados de Deus - cruzados, cardeais e peregri­
fazem uma distinção entre o verde-escuro (cor da vida budista) e o matiz esver­ nos. Os calendários que marcam as festas e dias santos em vermelho são a
deado pálido da morte. O verde do deus egípcio Osíris na iconografia simbo­ origem da expressão inglesa red-letter (literalmente, marcado com letra ver­
liza seu papel como deus tanto da morte quanto de uma nova vida. No uso melha no calendário, e, em sentido figurativo, dia ou data memorável, ines­
idiomático do inglês, o verde representa não só a imaturidade, mas também a quecível). O vermelho também é tradicionalmente associado às artes ocul­
coloração da inveja e do ciúme — o “monstro de olho verde” de lago a alertar tas e é cor dominante no taro. Na alquimia, simboliza o enxofre e o fogo da
Otelo. É cor de doença, mas psicologicamente ocupa uma posição fria e neu­ purificação. Vermelho: ver Alquimia; CORES; Enxofre; Falo; Fogo, Chama;
tra no espectro e geralmente é vista como uma calmante cor “terapêutica” — daí JÓIAS; MORTE; Sangue; Taro
seu uso como a cor da farmácia. Embora o verde seja a cor predominante da
natureza e do mundo das sensações, está em geral associado a outros mundos Vespa — Em geral associada a uma personalidade mordaz, a vespa em algumas
- a cor mística das fadas e dos homenzinhos do espaço exterior. O próprio Satã tradições africanas simboliza a evolução e o controle sobre outras formas de vida.
às vezes é representado como verde. Talvez isto derive do fato de que o verde No Mali, a vespa-pedreira era o emblema de uma elite de xamãs.
não é a cor de pele da normalidade saudável. Verde: ver Água; Alquimia; Chu­
va; CORES; CRUZ; Dragão; Esmeralda; Fadas; Graal; Ilha; Jade; LONGEVI­ Véu — Separação, reticência, proteção, modés
DADE; Mercúrio; O OUTRO MUNDO; MORTE; SETE PECADOS CA­ tia, recolhimento, segredo, santidade. Para
PITAIS; Trindade; VIRTUDES as freiras, “tomar o véu” simboliza sua sepa­
ração do mundo, embora o costume possa
Verme — Dissolução, mortalidade - simbolismo usado em algumas pinturas ter-se originado no véu protetor das vir­
solenes de larvas em flores ou frutos. De maneira mais imprevista, nos mitos gens consagradas. O Véu do Templo, que
de alguns países, entre eles a Irlanda, os vermes aparecem como emblemas an­ separa o sacrário judeu, marcava uma divi­
cestrais, adotando o simbolismo da metamorfose larval. Verme: ver VAIDADE são entre os planos material e espiritual,
terra e céu. O relato do apóstolo Mateus
Vermelho — A cor ativa e masculina da vida, fogo, guerra, energia, agressão, de que o véu “rasgou-se em dois, de alto a
perigo, revolução política, impulso, emoção, paixão, amor, alegria, festividade, baixo”, no momento da morte de Cristo
vitalidade, saúde, força e juventude. O vermelho era a cor emblemática do Sol, simbolizou a visão cristã de que esse aconteci­
dos deuses da guerra e do poder em geral. Em seu aspecto destrutivo, estava às ve­ mento marcava uma ruptura decisiva da antiga Mulher indiana levanta o véu,
zes associado ao mal, sobretudo na mitologia egípcia, na qual era a cor de Seth e Lei Hebraica e um novo começo. No misticismo, num gesto de fim da inocência
da serpente do caos, Apep. A morte era um cavaleiro vermelho na tradição celta. o véu geralmente é usado como metáfora do (de um desenho de vestuário).
ao deus Osíris). As videiras e os grãos são símbolos eucarísticos. Um cordeiro
mundo ilusório da existência - o maya da tradição budista. Por outro lado,
cercado por espinhos e videiras é uma representação de Cristo. Cachos de uvas,
o véu esconde a realidade última, a luz ofuscante da divindade. Na tradição
símbolos de redenção na arte funerária, também são emblemas tradicionais de
islâmica, 70 mil véus de luz e escuridão escondem a face de Deus. Os véus
hospitalidade, juventude, a Idade de Ouro, a generosidade do outono. Asso­
da noiva e da viúva simbolizam ambos estados de transição. A morte, como mera
ciada às festas de Baco, Sileno e suas comitivas, a videira pode simbolizar gula
transição, é descrita como ‘além do véu”. A Castidade usa um véu na arte
e embriaguez. Videira: ver Árvore; Cordeiro; Grão; Sangue; Vinho
medieval. Véu: ver CASTIDADE; Luz; MORTE; Tabernáculo

Vieira - A exemplo de outros bivalves, símbolo da vulva, mas


Via^Láctea - Nossa galáxia assim chamada a partir do mito clássico de ter
particularmente significativo pela sua associação com o nasci­
sido criada quando Hércules, amamentado por Hera, puxou-lhe tão forte o
mento da deusa grega Afrodite (Vénus, na mitologia romana).
seio que o leite se derramou pelos céus (o leite que caiu na terra transformou-
O pintor Sandro Botticelli retratou a chegada dela à praia nu­
se em lírios). A Via-Láctea aparece como: uma serpente celestial, num mito
centro-americano; o caminho percorrido pelas almas para a outra vida, na ma concha de vieira soprada pelo vento oeste (O Nascimento
América do Norte; um rio celestial de que o deus-trovão extrai a chuva, no de Vénus, c. 1484-6).
A cristandade adotou esse mito pagão de sexualidade e fertilida­
Peru; e uma fronteira ou ponte simbólica entre o mundo conhecido e ò divi­
de para fazer da vieira um símbolo da esperança de ressurrei­
no. Via-Láctea: ver Lírio; Leite; O OUTRO MUNDO; Serpente; Trovão
ção e renascimento. A vieira é símbolo particular
Viciei ra - Um dos símbolos mais antigos de fecundidade do apóstolo Jaime, filho de Zebedeu, que se acre­
natural no antigo Oriente Próximo — e um símbolo ainda ditava ter viajado para a Espanha; seu santuário em
mais importante de vida espiritual e regeneração nos mun­ Santiago de Compostela era ponto de peregrinação
dos tanto pagão quanto cristão. Em todo o Antigo Testa­ na Idade Média. A concha de vieira tornou-se pri­
mento, a videira é um emblema feliz dos frutos da terra — meiro emblema da peregrinação dele e então dos Vénus na sua vieira, em
o equivalente à Árvore da Vida. A importância contínua peregrinos em geral, sedentos da água do espírito. O Nascimento de Vénus
Vieira: ver Água; Concha; Peregrinação; Vulva (1484-6), de Sandro Botticelli.
do vinho no ritual judaico baseia-se nas associações sim­
bólicas entre a videira e a bênção de Deus sobre um povo
escolhido. A videira foi a primeira planta cultivada por VIGILÂNCIA - As aves e, em particular, as domésticas comestíveis, como
Noé depois do Dilúvio bíblico e, no Livro do Exodo, um ra­ o ganso e o galo, são os emblemas mais comuns de vigilância - daí a exis­
mo com uvas foi o primeiro sinal de que os israelitas tinham tência do galo com os pontos cardeais no alto dos campanários das igrejas.
alcançado a Terra Prometida. A exemplo das divindades agrí­ Um popular símbolo barroco de vigilância era o de um grou a segurar uma
colas antigas da Mesopotâmia, o grego Dioniso (Baco, na mi­ pedra na boca. Outros emblemas incluem o cão, o dragão, o grifo, a lebre,
tologia romana) era identificado com a videira e suas frutas. o leão e o pavão (por causa dos olhos em sua cauda), esculpidos e pintados
Sob a influência do orfismo, seu culto adquiriu significado de em motivos de olho, a lâmpada e outras fontes de luz, incluindo as estrelas
sacrifício. O simbolismo cristão é ainda mais específico: “Eu vigilantes. VIGILÂNCIA: ver os verbetes individuais
sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor”, diz Cristo
no Evangelho de São João (15:1). A videira tornou-se
um símbolo espiritual de regeneração, e, na eucaristia, o A dema eg,pda & sggum
Vinho - Força vital, bênção espiritual, salvação, alegria, cura, verdade, trans­
suco fermentado de suas uvas é o sangue de Cristo. uma mddm> da parte in_
formação. Além de seu valor como bebida social, nutriente e medicinal, o suco
Os motivos de videiras são comuns na arte e arquite- terna de uma antiga tam-
da uva esmagada tinha o poder misterioso de se transformar em algo mais po­
tura cristãs e são emblemas da vida no Egito (associados pa de ataúde.
tente — e de alterar aqueles que o bebem. Isso e a cor de sangue do vinho tin­ Virgindade — Espiritualidade e pureza — sobretudo como um estado escolhi­
to sao a base de seu simbolismo sacramental. O vinho já era produzido no Orien­ do. Votos de virgindade por mulheres em idade núbil simbolizavam sua renún­
te Próximo pelo menos cinco mil anos atrás e era amplamente considerado cia aos desejos mundanos e dedicação ao serviço de uma divindade. Em Roma,
como uma bênção divina, prova do vigor da natureza e do espírito benéfico a virgindade das seis donzelas que guardavam o fogo sagrado de Vesta garantia a
que o anima. No ritual judeu, o vinho comemora a bênção de Deus sobre seu pureza (e, portanto, a segurança) do próprio fogo. As virgens do deus do Sol no
povo. O islã reserva sua bênção para aqueles que alcançaram o paraíso - pois Peru igualmente garantiam a atenção perfeita para suas necessidades. Em ambas
o Profeta não condena o vinho, apenas o abuso dele. tradições, a penalidade para quaisquer deslizes era extremamente severa.
Em outros lugares do mundo mediterrâneo, o vinho era associado à fertilida­ O nascimento a partir de uma virgem acrescentou nova dimensão do sobrena­
de e à vida após a morte (o significado das libações despejadas na terra). No cul­ tural a esse simbolismo de pureza. Sugeriu um retorno ao vácuo original em
to do deus grego Dioniso (Baco, na mitologia romana), o vinho era símbolo que a criação não era um acontecimento diário, mas extraordinário. Daí o nú­
da união extática com o próprio deus e nos ritos órficos era igualado a seu san­ mero de deuses, heróis ou sábios com reputação de terem sido gerados por
gue sacrificial. A cristandade deu a esse simbolismo nova força poética: “Quem deuses e nascidos de virgens humanas, entre eles os gêmeos romanos Rômulo
comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim e eu nele” e Remo, que foram abandonados aos lobos depois que a mãe ficou embaraçada
(João 6:56). O vinho sacramental que representa o cálice do sangue redentor ao ser engravidada pelo deus da guerra, Marte. Das deusas-mães virgens que
de Cristo é o simbolismo da Eucaristia e do Graal. As pinturas medievais de precederam Maria, a maior foi Ishtar, a personificação babilónica e assíria do
Cristo em pé ou ajoelhado numa prensa de vinho referem-se à sua descrição planeta Vénus. Como outras deusas virgens, que incluem Atena e Artemis na
por Santo Agostinho (354-430) como “o cacho que foi posto sob a prensa de Grécia, Ishtar também era uma deusa guerreira, sugerindo que a virgindade es­
vinho”. Os cachos de uvas são emblemas funerários da salvação. Alternativa­ tava às vezes estreitamente associada à liberdade de ação direta. O simbolismo
mente, o sangue derramado das uvas prensadas simboliza a cólera de Deus, como da Virgem Maria como ideal de maternidade é único em sua natureza e alcance.
no Apocalipse (14:20). Um simbolismo subsidiário do vinho é que ele produz Seus atributos na arte incluem a lua crescente (emprestado de ísis como a
a verdade, seja “abrindo o coração à razão”, numa frase rabínica, seja soltando Rainha do Céu), uma coroa de 12 estrelas, a pomba do Espírito Santo, o uni­
a língua de mentirosos e hipócritas. A Bíblia tem uma visão razoavelmente to­ córnio da castidade, o lírio ou a íris da pureza, imagens de transparência como
lerante do vinho bebido em excesso como uma insensatez. Noé é envergonha­ cristais e janelas, a lâmpada, vestes azuis, vermelhas, violetas ou cinzas, a Árvo­
do em vez de condenado por isso. “Esses homens estão cheios de vinho novo”, re da Vida, um galho florescente (a Árvore de Jessé), uma ponte ou uma esca­
disseram os zombeteiros quando os apóstolos começaram a falar em línguas di­ da, sete espadas (Virgem dos Sete Lamentos) e imagens de recintos cercados,
ferentes. Contudo, os odres de vinho cheios são às vezes emblemas do pecado. como o portão, o jardim amurado, a fonte selada ou o poço. Muitos desses
Vinho: ver Graal; Sangue; Transformação; Vinho símbolos foram tirados do Cântico dos Cânticos de Salomão, com base em
Bernardo de Clairvaux (1090-1153), interpretado como uma alegoria da rela­
Vl©Seta - No simbolismo da cor, associada à temperança, moderação, espiri­ ção entre Cristo e sua mãe virgem — sobretudo no capítulo 4, verso 12: “Jardim
tualidade e contrição ou transição do ativo ao passivo, do masculino ao feminino, fechado és, minha irmã, minha esposa, nascente cerrada, fonte selada.” Virgin­
da vida à morte. Essas interpretações baseiam-se na mescla do vermelho (paixão, dade: ver nomes individuais
fogo e terra) com o azul (intelecto, água ou céu). Cristo e Maria usam túnicas
violetas em algumas pinturas de cenas da Paixão. No simbolismo das flores, a pe­ VIRTUDES - ver quadro nas páginas 362 e 363
quena violeta também está associada à modéstia e humildade - o simbolismo das
violetas nas pinturas da Adoração, onde referem-se à castidade de Maria e à man­ VISCO - Fertilidade, proteção, cura, renascimento, imortalidade - o “ramo de

sidão do Menino Jesus. As coroas de violeta eram as flores da lembrança em ouro” mágico do mundo celta. Como um parasita perene que dá flores amare­
Roma e eram usadas em banquetes para refrescar a fronte. Violeta: ver Ametista; las e bagas brancas no meio do inverno, o visco simbolizava a potência conti­
Azul; CASTIDADE; Coroa de Flores, Grinalda; FLORES; Vermelho nuada das árvores caducas em que foi achado. O visco que adere a um carva-
VIRTUDES buídos à justiça são a pena, o número quatro, o globo, o jade, os instru­
• Caridade — Amor dedicado, a maior das mentos matemáticos e de carpintaria, o leão, o cetro e o raio acompa­
virtudes paulinas, representada na arte nhado de trovão. A justiça é a oitava carta dos Arcanos maiores do taro.
ocidental por uma mulher jovem. Ela •Prudência - Personificada na arte ocidental como uma mulher com
pode estar segurando uma trouxa de uma serpente ou dragão e carregando um espelho — prudência mais no
roupas para os que não as têm, alimen­ sentido de sabedoria que de cuidado (o espelho é autoconhecimento).
tos para os famintos ou uma chama, Outros símbolos são a âncora, a bússola, o cervo e o elefante.
vela ou coração flamejante. A Caridade • Temperança - Virtude cardeal representada na arte medieval do Oci­
pode também aparecer a amamentar dente por uma mulher a verter água de uma jarra em outra (para diluir o
bebês ou, com menor freqüência, como vinho). A jarra de água também pode aparecer com um archote (extin­
um pelicano a alimentar seus filhotes - guindo a luxúria). Os atributos comuns da temperança são a rédea e o
supostamente com seu próprio sangue. freio de cavalo, o relógio ou a espada embainhada. A ametista é jóia
A casula sacerdotal, veste que represen­ eclesiástica que simboliza a temperança e, assim, o violeta é uma cor as­
ta o manto de Cristo, pode significar sociada a essa virtude.
Caridade. É um dos cinco fundamen­ VIRTUDES: ver Ancora; Aves; Balança; Cálice; Cegueira; Espada; Co­
tos do islã. Outros símbolos são a fru- Té, de uma gravura do século XVI ração; Corvo; CRUZ; Dragão; Espelho; Fênix; FLORES; Fogo,
ta, a Fênix e a galinha. ^e Lucas van Leyden. Chama; JÓIAS; Leão; Navio; Pão; PEIXE; Serpente; Taro; Vela; Verde;
• Fé - Virtude paulina personificada na arte cristã por uma mulher com Vinho; e os verbetes individuais.
uma cruz, cálice ou vela. Ela é mostrada com freqüência de pé ao lado
de uma fonte ou com o pé numa cuba. Outros símbolos são a cor azul,
lho (fato raro) era um símbolo de fertilidade feminina para os druidas, que,
a esmeralda e a criança.
conforme o autor romano Plínio (c. 24-79), cortavam-no com uma foice dou­
• Fortaleza - Virtude cardeal, representada na arte cristã como uma guer­
rada no sexto dia da lua nova (provavelmente no ano-novo celta, em novembro)
reira a usar nada mais que um elmo e um escudo, e com freqüência
e sacrificavam um novilho de touro branco, debaixo da árvore. O sumo das ba­
acompanhando um leão ou abrindo a mandíbula dele. Outros símbo­
los são a camélia, a carpa, o porrete, a coluna e a espada. gas (que era equiparado ao sêmen da árvore, com suas conotações de poder e
sabedoria) supostamente impedia a esterilidade e a doença do gado, e se acre­
• Esperança - Uma das três virtudes paulinas. A esperança é retratada como
ditava possuir outras propriedades curativas.
uma âncora. Ela pode usar na cabeça um barco a vela (viagem esperan­
A veneração celta pelo visco, que se pensava fosse suscitada pela iluminação,
çosa), carregar um cesto de flores (promessa de frutos) ou esticar o braço
pode ter influenciado o relato, na Eneida de Virgílio (c. 29-19), da viagem com
para pegar uma coroa. O peixe, o pão e o vinho eram associados à espe­
toda segurança de Enéias pelos infernos, carregando um ramo dessa planta. O
rança na tradição hebraica. O corvo pode aparecer como símbolo de es­
ramo dourado da vida aparece, mais inesperadamente, como um instrumento
perança, e seu grito sugeria aos romanos a palavra “amanhã” {eras).
da morte no mito nórdico e germânico de Balder, deus da luz, morto por um
• Justiça - Virtude cardeal personificada pela confusa figura de uma mu­
dardo inocente feito de visco. Essa manifesta inversão de seu simbolismo talis-
lher com os olhos vendados a segurar a balança do julgamento e a espada
do poder. Os artistas que acrescentaram a venda pretendiam mostrar mânico pode significar a passagem da situação de mortal para a de imortal,
mediante a atuação de uma planta sagrada. A tradição celta parece justificar os
que a justiça não se deixa levar pelas aparências. Outros símbolos atri­
beijos de Natal sob um feixe de visco, augúrio de união frutífera. Visco: ver Beijo;
Branco; Carvalho; Foice, Gadanha; Galho, Ramo; Luz; O OUTRO MUN­
DO; Ouro; Raio; Sacrifício; Touro
VITÓRIA — Personificada na arte ocidental pela deusa grega Nice (a
Vitória romana), com pés e ombros alados, algumas vezes mostrada co­
roando guerreiros, atletas ou poetas com louro. A oliveira, murta, hera ou
salsa também eram coroas dos vitoriosos. Outros símbolos de vitória ^ mm

s
incluem o Arco do Triunfo, o estandarte, a coroa, a águia, o elefante, o ■' âafiSHSsPisffl 1;,

IS 1 ÜÍSI
falcão, o gavião, o cavalo, a lança, o leão, a palmeira, a Fênix, o lobo e
o sinal de ziguezague (o sigrune). VITÓRIA: ver os verbetes individuais §9s:S'3-;;í
-

| ®|i§
WtJicâ© - Ira destrutiva ou força criativa. No Havaí, o vulcão simboliza a mãe
destruidora, personificada pela deusa Pele, cujo temperamento violento está
associado ao comportamento imprevisível da grande cratera ativa Kilauea, seu
lar. Uma deusa feminina vigia os fogos do mundo subterrâneo no mito maori, S I li g, «j
e é dela que o trapaceiro Maui rouba o fogo para a humanidade. Em algumas

S :-
versões, o grego Prometeu rouba o fogo não do céu, mas do ferreiro divino
Hefesto, figura benéfica e criativa. O vulcão era um símbolo mais sinistro no
mito do zoroastrismo, pois Ahriman, o espírito do mal, encontra-se capturado

I ■
'
na cratera do monte Demavend, perto de Teerã, numa associação germinal do

- 'F K í
Inferno com o fogo eterno. De modo mais geral, a atividade vulcânica está as­
sociada à paixão. Vulcão: ver Demônios; Ferreiro; Fogo, Chama; Mãe; Qui­
mera; O OUTRO MUNDO A

"
v .í
¥uiwa - Poder gerador feminino - na iconografia ocidental é mais diretamen­
te representada pelo losango. O simbolismo de portão, passagem e nascimento

v
que a vulva possui é espiritualizado na arte cristã como a mandorla. Na arte
budista tântrica, o yoni é um motivo importante, descrito como dois arcos
contíguos que simbolizam o portão de entrada do renascimento espiritual. No

3f iT
hinduísmo, o yoni pode aparecer como um anel ou anéis na base da linga de­
dicada ao deus Shiva como criador. Vulva: ver Linga; Losango; Maçã; Mandorla;


Pessegueiro; Poço


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Xadrez - Atualmente analogia de previsão fria e tática, o xadrez era antiga


metáfora do uso sábio da vontade e do destino livres num universo dualis­
ta — ou, num nível mais prático, da administração responsável da guerra e
das questões de Estado pela classe dirigente da índia, de onde o jogo prova­
velmente se origina. O xadrez pode ser visto como uma imagem simples da
transposição cuidadosa da guerra para o plano da atividade intelectual.
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Contudo, acréscimos mais ricos de simbolismo, lenda e alegoria uniram-se
ao jogo, que data pelo menos do século VI d.C. e até antes. O destino, assim
como a lógica, intervinha no antigo xadrez indiano, uma versão de quatro

;
mãos em que se usavam dados para iniciar o movimento. Um jogo de duas mãos


com alguma semelhança existiu na Pérsia, onde a versão indiana (Chaturanga)
era aproveitada e desenvolvida para tornar-se uma disputa mais estrita­
mente intelectual (.Shatranj), que entrou pela Espanha e tornou-se extremamen­
te popular na Europa medieval. Tabuleiros mágicos nas lendas arturianas
tornaram-se alegorias das provações do amor. Os heróis folclóricos jogavam
xadrez com o diabo. Artífices produziram peças de xadrez maravilhosamente
modeladas, talhadas de acordo com as dramáticas intrigas da política ou ale­
gorias morais da luta entre as forças do bem e do mal, luz e escuridão, razão
e paixão, vida e morte, tirania e bom governo. O tabuleiro de 64 quadrados
deriva do mandala quádruplo (8 x 8) do deus indiano Shiva, o campo de
ação das forças cósmicas que ele controlava. Originalmente, as peças-chave
eram elefantes (que também carregavam os reis), carruagens, cavalos e solda­
dos a pé. Seu simbolismo é complexo, assim como o status relativo de cada
um, as formas e os padrões de movimento, que foram mudando ao longo
do tempo até chegarem aos valores atuais. A percepção da importância do
peão no século XVIII coincidiu nitidamente com o aumento da importân­
cia política do homem comum. Xadrez: ver Carruagem, Biga; Castelo; Ca­
valo; Demônios; Elefante; Escuridão; Luz; Mandala; NÚMEROS; Quatro;
Rainha; Rei
mmw
Y
Ésis
&SB ittÊSIM K.;* j,

* I m #ti! Yantra — zwMandala

Yítl-Yang - Unidade na dualidade, simbolizada na China por um círculo


dividido em partes iguais por uma curva em S invertido numa metade es­
cura, feminina (yin), e outra clara, masculina (yang), ambas com um peque­
no círculo na cor oposta. Essa imagem simples é de um dinamismo equili­
brado que simboliza a interdependência das forças contrárias e princípios
do cosmo. Embora um andrógino perfeito
venha a formar um círculo sem divisões, o
símbolo do yin-yang implica que cada
metade da divisão contenha a se­
wÊÊm mente da outra. No I Ching, ou Livro
.

das Mutações, essa influência recípro­


;
:

ca de forças complementares expres­


11111

sa-se pela alternância do contínuo


(yin) ou interrompido (yang), núme­
•••■•

ros pares ou primos. A tensão criati­


iifgm va, a alternância e fusão entre yin e
l^íRSifSi yang geram mudança e movimento,
evolução e involução. O yin, que an­
tecede o yang, é feminino, úmido, O símbolo do yin-yang, encerrado num
escuro, passivo, macio, flexível e in­ octaedro, de um emblema exibido em portões
, S-- . Sj pi® Ví» tuitivo, e associa-se à terra, ao vale, às de um parque nos arredores de Bangcoc.

WÊÊÊÊÊ^
¥
Yantra — z/^rMandala

YSrt-Yareg — Unidade na dualidade, simbolizada na China por um círculo


dividido em partes iguais por uma curva em S invertido numa metade es­
cura, feminina (yin), e outra clara, masculina (yang), ambas com um peque­
no círculo na cor oposta. Essa imagem simples é de um dinamismo equili­
brado que simboliza a interdependência das forças contrárias e princípios
do cosmo. Embora um andrógino perfeito
venha a formar um círculo sem divisões, o
símbolo do yin-yang implica que cada
metade da divisão contenha a se­
mente da outra. No I Ching, ou Livro
das Mutações, essa influência recípro­
ca de forças complementares expres­
sa-se pela alternância do contínuo
(yin) ou interrompido (yang), núme­
ros pares ou primos. A tensão criati­
va, a alternância e fusão entre yin e
yang geram mudança e movimento,
evolução e involução. O yin, que an­
tecede o yang, é feminino, úmido, 0 s{mbolo do yin_yang encerrado num
escuro, passivo, macio, flexível e in- octaedro, de um emblema exibido em portões
tuitivo, e associa-se a terra, ao vale, as de um parque nos arredores de Bangcoc.
árvores e flores, além de animais e aves lunares. O yang é masculino, seco, cla­ i'/

ro, ativo, duro, inflexível e racional, além de associar-se ao céu, às montanhas


e aos animais e aves solares. Yin-Yang: ver Agulha; Andrógino; Árvore; Aves;
Círculo; FLORES; Homem; Montanha; Mulher; Terra; Trigramas

Yoni - ver Vulva


Zero — Vácuo, mistério, vazio, morte - mas também eternidade, o absoluto ou
a essência da realidade, totalidade, o ovo ou útero cósmicos, potencialidade,
intervalo gerador. Pitágoras viu o signo (conhecido desde a Babilônia, mas de­
senvolvido matematicamente na Arábia e na índia) como se contivesse todas
as coisas. Era o Tao, o genitor do um. Nos hieróglifos maias, era representado
pela espiral cósmica. O zero é também o poder do multiplicador decimal.
Zero: ver Ovo; NÚMEROS; Espiral; Vácuo

Zigyezagye — Signo antigo (baseado no raio) de poder, fertilidade, calor,


energia, batalha e morte. Após ser atributo dos deuses das tempestades, o zigue-
zague foi a Sigrune, ou runa da vitória, no antigo alfabeto nórdico, adotada
como emblema de força de ataque pela SS nazista, cuja insígnia era um zigue-
zague duplo. Ziguezague: ver Raio; Runas

Zigurate — Grande templo mesopotâmico escalonado construído com tijo­


los e que forma uma montanha sagrada simbólica. Na tradição hebraica, o
maior zigurate da babilônia era a Torre de Babel, símbolo escarninho do orgu­
lho e loucura humanos. Do ponto de vista espiritual, os zigurates construídos
entre 2200 e 500 a.C. representavam tanto a ascensão humana (por meio dos
degraus que conduzem a níveis cada vez mais elevados) quanto a esperança de
que os deuses - aos quais cada templo é individualmente dedicado - descessem
para os santuários pelo alto das construções. Há teorias de que o grande zigu­
rate da Babilônia tinha sete níveis, cada um deles a representar um planeta.
Templos semelhantes aos zigurates, situados na América Central, tinham com neiro), na data em que o Sol cruza o equador na primavera do hemisfério norte,
certeza significado planetário. Zigurate: ver Montanha; Pirâmide; SETE PE­ 21 de março. Em seguida vêm Touro, Gêmeos, Câncer (caranguejo), Leão, Vir­
CADOS CAPITAIS; Sol; Templo gem, Libra (balança), Escorpião, Sagitário (arqueiro), Capricórnio, Aquário e
Peixes. Os astrólogos valeram-se do simbolismo antigo, da ciência existente na
Zodíaco - Caminho de poder celes­ época e de observações da natureza humana para atribuir a esses signos todos os
te — a estreita faixa do céu que o tipos de qualidades e características e sugerir polaridades e relações entre eles co­
Sol percorre no decorrer de um mo a base para predizer a personalidade humana e adivinhar o futuro.
ano. O zodíaco é simboliza­ Como um todo, o zodíaco simboliza uma crença persistente de que o cosmo é
do como uma faixa circular uma força gigantesca em que tudo está interligado. A simples distância, suge­
ou roda segmentada com re ela, não impede os poderosos corpos celestes de influenciar a vida humana.
emblemas das constela­ Para manear o campo de força relevante para o indivíduo, os astrólogos tradi­
ções dentro dessa zona. cionalmente trabalhavam com base no ponto em que a eclíptica cruzava o ho­
Na astrologia, o zodíaco rizonte no amanhecer do dia do nascimento. Usando as estrelas como fundo
proporciona um meio de referência, eles acreditavam que as posições e movimentos do Sol, Lua e pla­
simbólico para as previ­ netas nesse momento formavam um padrão que influenciava a constituição
sões da constituição mental, mental e física da pessoa. Com diferentes emblemas e interpretações, mas com
física e emocional das pes­ o mesmo simbolismo subjacente, o zodíaco aparece em todas as grandes cul­
soas. Baseado na grandeza e no turas antigas. Muitas das qualidades que agora parecem ter sido alocadas de
mistério do céu noturno, o zodía­ maneira arbitrária a signos individuais utilizam uma linguagem de simbolismo
co era um dos mais persuasivos de baseada na observação profunda da natureza. Zodíaco: ver Água; Balança; Bo­
todos os sistemas de símbolos. de, Cabra; Caranguejo; Carneiro; Doze; Escorpião; Estrela; Flecha; Gêmeos;
O Sol épersonificado no centro dessa reprodu­
A palavra grega zoidiakos significava Jarro; Leão; Lua; PEIXE; PLANETAS; Roda; Sol; Touro; Virgindade
ção de um zodíaco do século IX. Os signos apa­
“conjunto de criaturas” porque se sabe
recem na ordem da eclíptica, a começar por
que os antigos usaram animais verda­ Zunidcir — Tabuinha volteada por uma tira de couro para simular o rugido do
Áries na seção acima da mão do Sol, e então
deiros ou mitológicos para identificar continuam em sentido anti-horário. trovão, usada como instrumento sagrado nas iniciações masculinas para invo­
as constelações. Antes do zodíaco he- car potência em ritos orgíacos (Grécia), pelos xamãs apaches para ajudar na
lenista rudimentar do século II a.C, pagava-se aos astrólogos para calcularem a predição, e pelos aborígines australianos para chamar vozes ancestrais. Podia
suposta influência dos deuses planetários ou estelares sobre os acontecimentos ter­ também simbolizar a voz de Deus. Zunidor: ver Trovão
renos - em especial os que afetassem os governantes. Os gregos misturaram seus
próprios mitos com as ciências das estrelas babilónica e egípcia e com os cálculos
de seus melhores geômetras para projetar um zodíaco com um simbolismo mui­
to mais rico e baseado numa astronomia bem mais precisa e detalhada. Seu zodía­
co mapeava as posições de todas as constelações visíveis numa faixa de 6o de
cada lado do caminho aparente do Sol (a eclíptica).
O zodíaco ocidental (como a maioria dos outros) divide-se em 12 segmentos
iguais, cada um deles regido pelo Sol, pela Lua ou por um planeta, e cada um
deles com um nome e desenho simbólicos. Cada signo é marcado pelas datas da
entrada, passagem e saída do Sol em sua seção de 30°, a começar por Áries (car­
Sobre o Autor Agradecimentos

Jack Tresidder trabalhou em jornais como jornalista, editor internacional e Gostaria de agradecer a todos da Duncan Baird que participaram da pro­
crítico de livros e teatro, e, em Londres, como diretor de publicações. Nascido e dução deste livro e ao próprio Duncan, por pedir-me para escrevê-lo. Meus
educado na Nova Zelândia, atualmente mora e trabalha num vale remoto dos agradecimentos vao, em especial, para os editores Judy Dean e Mike Darton
Alpes franceses. e para o designer John Grain. O livro também deve muito a Jane Tresidder e à
London Library.
ISBN' 8 5 -0 0 -0 0 8 8 4 -9
9788500008849

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