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Emile Durkheim
As Formas Elementares
1
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da Vida Religiosa
O sistema totêmico na Austrália
Tradução
PAULO NEVES
PUCRS/BCE
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1
LIVRO I II - Crítica da primeira tese. - Distinção da idéia de
QUESTÕES PRELIMINARES alma e da idéia de duplo. -O sonho não expli-
ca a idéia de alma ...... ........ .... .. .... ...... ....... .. .. .... ..... 42
Capítulo I - DEFINIÇÃO DO FENÔMENO RELIGIOSO III- Crítica da segunda tese.-A morte não explica a
E DA RELIGIÃO transformação da alma em espírito. - O culto
das almas dos mortos não é primitivo ........ .......... 48
1
Utilidade de uma definição prévia da religião; méto IV- Crítica da terceira tese. - O instinto antropo
.J
do a seguir para proceder a essa definição.-Por que mórfico. Crítica que Spencer fez dele; reservas a
convém examinar primeiro as definições usuais .......... 3 esse respeito. Exame dos fatos pelos quais se
julga provar a existência desse instinto. - Dife
I - A religião definida pelo sobrenatural e pelo
rença entre a alma e os espíritos da natureza. O
misterioso. - Crítica: a noção de mistério não é
primitiva .. .. .. .... .. ............. ..... .. ...... ............. .. .. .. .... ....
antropomorfismo religioso não é primitivo.......... 54
5
V- Conclusão: o animismo reduz a religião a não
II- A religião definida em função da idéia de Deus
ou de ser espiritual. - Religiões sem deuses. -
ser mais que um sistema de alucinações .............. 58.
Nas religiões deístas, há ritos que não implicam
nenhuma idéia de divindade................................. 11
III - Busca de uma definição positiva. - Distinção
Capítulo III-AS PRINCIPAI CONCEPÇÕES DA S
RELIGIÃO ELEMENTAR (cont.)
das crenças e dos ritos.-Definição das crenças.
- Primeira característica: divisão das coisas em
II - O naturismo
sagradas e profanas. - Caracteres distintivos
dessa divisão. - Definição dos ritos em função
Histórico da teoria .......................................................... 61
das crenças.-Definição da religião ..................... 18
IV - Necessidade de uma outra característica para dis I - Exposição do naturismo segundo Max Müller ..... 63
tinguir a magia da religião. - A idéia de igreja. - II - Se a religião tem por objeto exprimir as forças na
As religiões individuais excluem a idéia de igreja? .. 26 turais e se as exprime de maneira errônea, não se
compreende como tenha podido se manter.-Su
posta distinção entre a religião e a mitologia . ........ 70
Capítulo II-AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES
.
I - O animismo
Capítulo IV-O TOTEMISMO COMO RELIGIÃO
Distinção entre animismo e naturismo.......................... 33 ELEMENTAR
II-Razões de método pelas quais o ·estudo terá por esse parentesco. - O caráter sagrado do homem
objeto especialmente o totemismo australiano. - é mais manifesto em certos pontos do organis
Importância que será dada aos fatos americanos... 87 mo: o sangue, os cabelos, etc. - Como esse ca
ráter varia com o sexo e a idade. -O totemismo
não é uma zoolatria nem uma fitolatria............ ... 129 .
LIVRO II
AS CRENÇAS ELEMENTARES
Capítulo III-AS CRENÇAS PROPRIAMENTE
Capítulo I-AS CRENÇAS PROPRIAMENTE TOTÊMICAS TOTÊMICAS (cont.)
I-O totem como nome e como emblema III -O sistema cosmológico do totemismo
e a noção de gênero
I - Definição do clã. - O totem como nome do clã.
- Natureza das coisas que servem de totens. - I - As classificações das coisas por clãs, fratrias,
Maneiras pelas quais se adquire o totem. - Os classes..................................................................... 138
totens de fratrias, de classes matrimoniais............ 96 II - Gênese da noção de gênero: as primeiras classi
II- O totem como emblema. -Desenhos totêmicos ficações das coisas tomam seus marcos da socie
gravados ou esculpidos nos objetos, tatuados dade. -Diferença entre o sentimento das seme
ou desenhados nos corpos.................................... 107 lhanças e a idéia de gênero. - Por que esta é de
III - Caráter sagrado do emblema totêmico. - Os origem social.......................................................... 142
churinga. - O nurtunja. - O waninga. - Caráter III - Significação religiosa dessas classificações: todas
convencional dos emblemas totêmicos. ..... ... .... 112 . .
as coisas classificadas num clã participam da na
tureza do totem e de seu caráter sagrado. - O
sistema cosmológico do totemismo. - O tote
Capítulo II - AS CRENÇAS PROPRIAMENTE mismo como religião tribal.................................... 146
TOTÊMICAS (cont.)
I -Exame crítico das teorias III - Anterioridade lógica da noção de força impessoal
em relação às diferentes personalidades míticas.
I - Teorias que derivam o totemismo de uma reli
-Teorias recentes que tendem a admitir essa
gião anterior: do culto dos antepassados (Wil-
anterioridade .......................................................... 201
ken e Tylor); do culto da natureza (Jevons). -
IV - A noção de força religiosa é o protótipo da no-
Crítica dessas teorias.............................................. 166
ção de força em geral ............................................ 206
II- Teorias que derivam o totemismo coletivo do to
temismo individual. - Origens atribuídas por es
sas teorias ao totem individual (Prazer, Boas, Hill
Capítulo VII - ORIGENS DESSAS CRENÇAS (final)
Tout). -Inverossimilhança dessas hipóteses. -
Razões que demonstram a anterioridade do to-
III - Génese da noção de princípio ou mana totémico
tem coletivo ........................................................... 171
III- Teoria recente de Prazer: o totemismo concepcio I - O princípio totémico é o clã, mas pensado sob
nal e local. -Petição de princípio em que ela re formas sensíveis. ....................................... . ... .... 209
. . ...
pousa. -O caráter religioso do totem é negado. II- Razões gerais pelas quais a sociedade é apta a
-O totemismo local não é primitivo . .................. 180
. despertar a sensação do sagrado e do divino. -
N- Teoria de Lang: o totem seria apenas um nome. A sociedade como potência moral imperativa; a
-Dificuldades para explicar desse ponto de vis- noção de autoridade moral. - A sociedade como
ta o caráter religioso das práticas totêmicas ......... 184 força que eleva o indivíduo acima de si mesmo.
V- Todas essas teorias somente explicam o totemis- - Fatos que provam que a sociedade cria o sa-
mo postulando noções religiosas que lhe seriam grado ............................................ ..................... 211
.
.• /IV- A religiã.o não é um produto do temor.-Ela ex Capítulo IX-A NOÇÃO DE ESPÍRITOS E DE DEUSES
prime algo de real. -Seu idealismo essencial. -
Esse idealismo é um caráter geral da mentalida I- Diferença entre a alma e o espírito. -As almas
de coletiva. - Explicação da exterioridade das dos antepassados míticos são espíritos, tendo
forças religiosas em relação a seus substratos. - funções determinadas. -Relações entre o espíri
O princípio a parte equivale ao todo ................... 231 .
to ancestral, a alma individual e o totem indivi
V- Origem da noção de emblema: o emblemaris dual. -Explicação deste último. -Sua significa-
mo, condição necessária das representações co ção sociológica ...... ................................................ 289
letivas. -Por que o clã tomou seus emblemas II- Os espíritos da magia .......... ......... .......................
.. 298
do reino animal e do reino vegetal....................... 239 ··
III- Os heróis civilizadores ...... ...................................
. 300
VI- Da inclinação do primitivo a confundir os rei- IV- Os grandes deuses. -Sua origem. -Sua relação
nos e as classes que distinguimos. - Origens com o conjunto do sistema totêmico. -Seu cará-
dessas confusões. -Como elas abriram caminho ter tribal e internacional ....... ......... .... ..................
.. 302
para as explicações científicas. - Elas não ex V- Unidade do sistema totêmico . . . .
. .. . . . . ... . ........ ....... .. 312
cluem a tendência à distinção e à oposição......... 245
LIVRO III
Capítulo VIII-A NOÇÃO DE ALMA AS PRINCIPAIS ATITUDES RITUAIS
I- Análise da idéia de alma nas sociedades austra- Capítulo I-O CULTO NEGATIVO E SUAS FUNÇÕES.
lianas 251
.............................. ...... . . . . . . . ...... ........ . . . . ... . .....
OS RITOS ASCÉTICOS
II- Gênese dessa noção.-A doutrina da reencarna
ção segundo Spencer e Gillen: ela implica que a 1 - O sistema das interdições.-Interdições mágicas
alma é uma parcela do princípio totêmico. - e religiosas. Interdições entre coisas sagradas de
Exame dos fatos mencionados por Strehlow; espécies diferentes. Interdições entre sagrado e
eles confirmam a natureza totêmica da alma ........ 257 profano. -Estas últimas estão na base do culto
III- Generalidade da doutrina da reencarnação. - negativo. - Principais tipos dessas interdições;
Fatos diversos em apoio da gênese proposta .... 269
IV sua redução a dois tipos essenciais .. . . 318
..
. ...... .... .......
- A antítese da alma e do corpo: o que ela tem de II- A observância das interdições modifica o estado
objetivo. - Relações entre a alma individual e a religioso dos indivíduos. - Casos em que essa
alma coletiva. -A idéia de alma não é cronolo eficácia é particularmente evidente. -Eficácia
gicamente posterior à idéia de mana.................... 275 religiosa da dor.-Função social do ascetismo.... 327
V- Hipótese para explicar a crença na sobrevivência . 281 . .
III- Explicação do sistema das interdições: antago
VI A idéia de alma e a idéia de pessoa; elementos
-
nismo entre o sagrado e o profano, contagiosi-
iffi
pessoais da personalidade ........................ . ...... 284
.
dade do sagrado . .. . ..
..... . .
..... . .
.... .337. ..... .... ............ .. ...
em relação a seus substratos. -Interesse lógico assegurar a fecundidade da espécie ..................... 379
dessa propriedade das forças religiosas ............... 342 II- Eles se baseiam no princípio: o semelhante pro
duz o semelhante. -Exame da explicação dada
pela escola antropológica a esse princípio. - Ra
Capítulo II-O CULTO POSITIVO zões que levam a imitar o animal ou a planta. -
Razões que levam a atribuir a esses gestos uma
,I I -Os elementos do sacrifício eficácia física. -A fé. - Em que sentido ela se
fundamenta na experiência. - Os princípios da
A cerimônia do Intichiuma nas tribos da Austrália magia nasceram na religião................................... 385
central. -Formas diversas que ela apresenta................ 349 III- O princípio precedente considerado como um
I- Forma Arunta. - Duas fases. -Análise da pri dos primeiros enunciados do princípio de cau
salidade. -Condições sociais das quais este últi
meira: visita aos lugares santos, dispersão de
mo depende. -A idéia de força impessoal, de
poeira sagrada, efusões de sangue. etc., para as-
segurar a reprodução da espécie totêmica .. . .. 351 . .. ...
poder, é de origem social. -A necessidade do
julgamento causal explicada pela autoridade
II- Segunda fase: consumo ritual da planta ou do
inerente aos imperativos sociais .... .. .... ................. 393
animal totêmicos.................................................... 358
III- Interpretação da cerimônia completa. - O se
gundo rito consiste numa comunhão alimentar.
Capítulo IV-O CULTO POSITIVO (cont.)
-Razão dessa comunhão ......... ............ . ......... 361
. ... . ..
II - Como eles se explicam. -Eles não são urna ma Em que essa função parece chamada a se trans-
nifestação de sentimentos privados. - A malda formar ...... ............. ........................... .............. .... 472
. . . ..
de atribuída à alma do morto tampouco é capaz III - Como pode a sociedade ser uma fonte de pen
de explicá-los. - Eles dependem do estado de samento lógico, isto é, conceituai? Definição do
espírito no qual se encontra o grupo. - Análise
conceito; ele não se confunde com a idéia ge
desse estado. - Como ele cessa através do luto. ral; caracteriza-se por sua impessoalidade, sua
- Mudanças paralelas na maneira como a alma comunicabilidade. - Ele tem uma origem coleti
do morto é concebida .......... ......... .. ...................... 434 va. - A análise de seu conteúdo testemunha no
III - Outros ritos piaculares: em decorrência de um mesmo sentido. - As representações coletivas
luto público, de urna colheita insuficiente, de como noções-tipos das quais os indivíduos par
uma seca de uma aurora austral. - Raridade ticipam. -. Da objeção segundo a qual elas só
�
desses rit s na Austrália. -Como eles se expli- seriam impessoais com a condição de ser verda
cam ...................... .. ...................... .... ................... 442
. . . .
deiras. - O pensamento conceituai é contempo-
IV - As duas formas do sagrado: o puro e o impuro. râneo da humanidade....................... ... .......... ..... 479. . .
- Seu antagonismo. - Seu parentesco. - Arnbi IV - Como as categorias exprimem coisas sociais. -A
güidade da noção do sagrado. � Explicação categoria por excelência é o conceito de totalida
dessa ambigüidade. - Todos os ntos apresen- de, que só pode ser sugerido pela sociedade. -
tam o mesmo caráter .............. ............ .................. 449
.
Por que as relações que as categorias exprimem
não podiam se tornar conscientes a não ser na
sociedade.-A sociedade não é um ser alógico.-
CONCLUSÃO Como as categorias tendem a se separar dos
agrupamentos geográficos determinados.
Em que medida os resultados obtidos podem ser ge- Unidade da ciência, de um lado, da moral e da
neralizados........ ............. ...... ....... ...... ......................... 457
. . . . .
religião, de outro. - Corno a sociedade permite
I - A religião apóia-se numa experiência bem fun compreender essa unidade. -Explicação do pa
dada, mas não privilegiada. - Nece� sidade de pel atribuído à sociedade: sua potência criado
uma ciência para apreender a realidade que ra. -Repercussões da sociologia sobre a ciência
fundamenta essa experiência. -Qual é essa rea do homem ....... ... . .. ............... ......
. . . ...... . .......... .
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l!�i(ão 1996
4� tingem 1009
Tradução
PAIJW.VE\'E.S
Re\isio da tradu(io
Rnisão gráfica
&l1umlo Brmuliio
Paginação/Fotolitos
Gernltlo Afra
Propomo-nos estudar neste livro a religião mais pri
S1mlfo J Dl'.J.em ·Qfrimemo l:.ditorwl mitiva e mais simples arualmente conhecida, fazer sua
análise e tentar sua explicação. Dizemos de um sistema
lnlem.'ldooais d< Calalogaçii o Publirnç'".., (CWI religioso que ele é o mais primitivo que nos é dado ob
(Câm.1111 llmsilcira do Livro. SP, Brasil)
!}.Idos M
g t lê i
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e- , êmile. 1858-1917.
, ., primeiro lugar, que se encontre em sociedades cu ja orga
As forma..'\ clemcn1ares d:t vida reli ios a : o shtcmn o m co 11:1
nização não é ultrapassada por nenhuma outra em simpli
Martin� Ponte,, 1996. - (Coleç ão Tópicos).
A u Mralm I Hm1lc Durkheim. traduç3o Paulo Ne'e�. São P..1ll lu
cidaclet; é preciso , além disso, que seja possível explicá-lo
T(mlo ongmal: Lc'! formC!'! élémenHures de la '1c rchg1eu,e.
sem fazer intervir nenhum elemento tomado ele uma reli
ISBN 85-336-0515-3 gião anterior.
J, Religião e suciologin 2. Religião primitiva 3. To1cm 1�mo Faremos o esforço ele descrever a economia desse
Au,.1rt'ilia 1. T ít ul o. li. S�rie. sistema com a exatidão e a fidelidade de um etnógrafo
96-2404 CDD-306.6 ou de um historiador. Mas nossa tarefa não se limitará a
Índices para catálogo sistemático: isso. A sociologia coloca-se problemas diferentes daque
les da história ou da etnografia. Ela não busca conhecer
1. To1cm1�111u : Religião . Soc1olog1a 306.6
idéias e nossos atos: essa realidade é o homem e, mais de durar. S<.: não estivesse fundada na natureza das coisas,
especialmenLc, o homem de hoje, pois não há outro que ela reria encontrado nas coisas resistências insuperáveis.
estejamos mais interessados em conhecer bem. Assim, Assim, quando abordamos o estudo das religiões primiti
não estudaremos a religião arcaica que iremos abordar. vas, é com a certeza de que elas pertencem ao real e o
pelo simples prazer de concar suas extravagâncias e sin exprimem; veremos esse princípio rerornar a t0do mo
gularidades. Se a tomamos como objeto de nossa pesqui mento ao longo das análises e elas discussões a seguir, e o
sa é que nos pareceu mais apta que outra qualquer para que censuraremos nas escolas das quais nos separamos é
fazer encender a naLUrcza religiosa do homem, isto é, pa precisamente havê-lo desconhecido. Certamente, quando
ra nos revelar um aspecro essencial e permanente da hu se considera apenas a letra das fórmulas. essas crenças e
manidade. práticas religiosas p'.lrecem. às vezes. desconcertantes, e
Mas essa proposição não deixa de provocar forres podemos ser tentados a atribuí-las a uma espécie de aber
ob1eçóes. Considera-se estranho que. para d1egar a co ração mtrínseca. Mas, debaixo do símbolo, é preciso sa
nhecer a humanidade presente, seja preciso começar por ber atingir a realidade que ele figura e U1e dá sua signifi
afastar-se dela e transportar-se aos começos da história. cação verdadeira. Os ritos mais bárbaros ou os mais extra
Essa maneira ele proceder afigura-se como particularmen vagantes. os miros mais estranhos traduzem alguma ne
te paradoxal na questão que nos ocupa. De fat0, costu cessidade humana, algum aspecto ela \'ida, seja indiYidual
mam-se atribuir às religiões um valor e uma dignidade ou social. As razões que o fiel concede a si próprio para
desiguais: diz-se, geralmente, que nem rodas contêm a justificá-los podem ser - e muitas vezes, de fato, são - er
mesma parte de verdade. Parece, pois, que não se pode rôneas; mas as razões verdadeiras não deixam de exisúr;
comparar as formas mais elevadas do pensamento reli compete à ciência descobri-las.
gioso com as mais inferiores sem rebaixar as primeiras ao o fundo, portanto, não há religiões falsas. Todas
nível das s<.:gundas. Admitir que os cultos grosseiros das são verdadeiras a seu modo: todas correspondem, ainda
tribos australianas podem ajudar-nos a compreender o que de maneiras diferentes, a condições dadas da existên
cristianismo, por exemplo, não é supor que este procede cia humana. Certamente não é impossível dispô-las se
da mesma mentalidade, ou seja, que é feito das mesmas gundo uma ordem hierárquica. Umas podem ser superio
superstições e repousa sobre os mesmos erros? Eis aí co res a outras, no sentido de empregarem funções mentais
mo a importância teórica algumas vezes atribuída às reli mais elevadas, ele serem mais ricas em idéias e em senti
giões primitivas pôde passar por índice el e uma irreligio mentos, de nelas haver mais conceitos, menos sensações
sidade sistemática que, ao prejulgar os resultados ela pes e imagens, e ele sua sistematização ser mais elaborada.
quisa, os viciava ele antemão. Mas, por reais que sejam essa complexidade maior e essa
N�10 cabe examinar aqui se houve realmente estuclio- mais alta idealiclacle, das não são suficientes para classifi
11� q111 111t·n�c<.:ram essa crítica e que fizeram da história e car as religiões correspondentes em gêneros separados.
11 1 • 1 1 111� :i il i;1 rl'I igiosa uma máquina de guerra contra a Todas são igualmente religiões, como todos os seres vivos
"li 1 111 l 1111111ln1.1so, ess<.: não poderia ser o ponto de são igualmente vivos, dos mais humildes plastídios ao ho
1 1 1 1 11111 '" 11 •I• ·�·.< 1 < .< u11 deito, é um postulado essen- mem. Portanto, se no� diriginlos às religiões primitivas,
1 l1 1 1,, 1 1 'I''' 11111.1 1mtituiçào humana não pode não é com a idéia ele depreciar a religião de uma maneira
l 1 11 1 1 111• 11111.l, t:iso contrário não po- geral; pois essas religiões não são menos respeitáveis que
VIII AS FOR.IIAS ELE.\fE.VTARES DA VTDA RE!JG/OSA OBJETO DA PESQUISA rx
as outras. Elas correspondem às mesmas necessidades, rada à maneira ca11ec;iana, isto é, um conceito lógico, um
desempenham o mesmo papel, dependem das mesmas puro possível. construído P.elas forças do espírito. O que
causas; portanto, podem se1vir muito bem para manifestar devemos encontrar é uma realidade concreta que só a obser
a natureza da vida religiosa e, conseqüentemente, para re vação histórica e etnográfica é capaz de nos revelar. Mas,
solver o problema que desejamos tratar. embora essa concepçào fundamental deva ser obtida por
proceclin1entos diferentes, continua sendo verdadeiro que
Mas por que conceder-lhes uma espécie de prerroga ela é chamada a ter uma influência considerável sobre to
tiva? Por que escolhê-las de preferência a todas as demais da a série ele proposições que a ciência estabelece. A evo
como objeto de nosso estudo? Isso se deve unicamente a lução biológica foi concebida de forma completamente di
razões de método. ferente a partir do momento em que se soube da existên
Em primeiro lugar, não podemos chegar a compreen cia de seres monocelulares. Assim também, o detalhe e.los
der as religiões mais recentes a não ser acompanhando na fatos religiosos é explicado diferentemente, conforme c;e
história a maneira corno elas progressivamente se compu ponha na origem da evolução o naturismo, o animismo ou
seram. A história, com efeito, é o único método de anãlise alguma outra forma religiosa. Mesmo os estudiosos mais
explicativa que é possível aplicar-lhes. Só ela nos permite especializados, se não pretendem limitar-se a uma tarefa
decompor uma instituição em seus elemenros consriniti de pura erudição, se desejam explicar os fatos que anali
vos, uma vez que nos mostra esses elementos nascendo sam, são obrigados a escolher urna dessas hipóteses e nela
no tempo uns após os outros. Por outro lado, ao situar ca se inspirar. Queiram ou não, as questões que eles se colo
da um deles no conjunto de circunstâncias em que se ori cam adquirem necessariamente a seguinte forma: de que
ginou, ela nos proporciona o único meio capaz de deter maneira o naturismo ou o animismo foram determinados a
minar as causas que o suscitaram. Toda vez, portanto, que adorar, aqui ou acolá, tal aspecto particular, a enriquecer
empreendemos explicar uma coisa humana, tomada num se ou a empobrecer-se deste ou daquele modo? Uma vez
momento determinado do tempo - quer se trate de uma que não se pode evitar tomar um partido sobre esse pro
crença religiosa, de uma regra moral, de um preceito jurí blema inicial, e uma vez que a solução que lhe é dada estã
dico, de uma técnica estética ou de um regime econômi destinada a afetar o conjunto da ciência, convém abordã
co -, é preciso começar por remontar à sua forma mais lo frontalmente. É o que nos propomos fazer.
simples e primitiva, procurar explicar os caracteres através Aliás, inclusive sem considerar essas repercus�ões in
dos quais ela se define nesse período de sua existência, fa diretas, o estudo e.las religiões primitivas tem, por si mes
zendo ver, depois, de que maneira ela gradativamente se mo, um interesse imediato que é ele primeira importância.
desenvolveu e complicou, de que maneira tornou-se o Se, de fato, é útil saber em que consiste esta ou aque
que é no momento considerado. Ora, concebe-se sem difi la religião particular, importa ainda mais examinar o que
culdade a importância, para essa série de explicações pro é a religião de uma maneira geral. É o problema que, em
gressivas, da determinação do ponto de partida do qual todas as épocas, tentou a curiosidade dos filósofos, e não
elas dependem. Era um princípio ca1tesiano que, no enca sem razão, pois ele interessa à humanidade inteira. Infe
lk·amento das verdades científicas, o primeiro elo desem lizmente, o método que eles costumam empregar para re
JH'll h.1 um papel preponderante. Claro que não se trata de solvê-lo é puramente dialético: limit am-se a analisar a
'11)111 .11 11.1 h;1�t· da ciência das religiões uma noção elabo- ic.léia que fazem da religião, quando muito ilustrando os
X AS FORMAS ELEMENTARES DA \'lDA RlllJGIOSA OBJETO DA PESQUISA Xl
resultados dessa análise com exemplos tomados das reli cios fo'.:is; confonne os homens, os meios, as circunstâncias,
gióes que realizam melhor seu ideal. Mas, se esse méroclo tanto as crenças como os.riras são experimentados de for
eleve ser abandonado, o problema permanece ele pé e o mas diferentes. Aqui, são sacerdotes, ali, monges, alhures,
grande serviço que a filosofia prestou foi impedir que ele leigos: há místicos e racionalistas, teólogos e profetas, etc.
fosse prescriro pelo desdém cios eruditos. Ora, tal proble Em tais conc.liçôes, é difícil perceber o que é comum a to
ma pode ser retomado por outras vias. Como todas as re- dos. Claro que se pode encontrar o meio de estuda r pro
1 igiões são comparáveis, e como rodas são espécies de veitosamente, através de um ou outro desses sistemas, es
um mesmo gênero, há necessariamente elementos essen te ou aquele faca particular que neles se acha especial
ciais que lhes são comuns. Com isso. não nos referimos mente desenvolvido, como o sacrifício ou o profetismo, a
simplesmente ao� caracteres exteriores e visíveis que co vida monástica ou os mistérios: mas como descobrir o
das apresentam igualmente e que lhes pennicem dar, des fundo comum da vida religiosa sob a luxuriante vegeta
de o inJCio da pesquisa, uma definiçào provisória, a des çao que a recobre? Como, sob o choque das teologias,
coberta desses signos aparentes é relativamente fácil, pois elas variações dos rituais. da mult iplicidade dos grupos, da
a obsef\·ação que exige não precisa ir além da superfície di\·ersitlade dos inc.li\'íduos, encontrar os estados funda
das coisas. J\las as semelhanças exteriores supõem oucras, mentais característicos da mentalidade religiosa em geral?
que são profundas. Na base de todos os sistemas de cren Algo bem diferente ocorre nas sociedades inferiores.
ças e de todos os cultos, deve necessariamente haver um O menor desenvolvimento das individualidades, a menor
ce1to número de representações fundamentais e de atiru extensão do grupo, a homogeneidade das circunstâncias ex
des rituais que, apesar da diversidade de fom1as que tanto reriores, tudo contribui para reduzir as diferenças e as va
umas como outras puderam revestir, rêm sempre a mes riações ao mínimo. O grupo realiza, ele maneira regular.
ma significação objeriva e desempenham por roda parre uma uniformidade intelectual e moral cujo exemplo só ra
as mesmas funções. São esses elementos permanentes ramente se encontra nas sociedades mais avançadas. Tu
que constituem o que há de eterno e de humano na rdi do é comum a todos. Os movimentos são estereotipados;
gião; eles são o conteúdo objetivo da icléia que se expri todos executam os mesmos nas mesmas circunstâncias, e
me quando se fala e.la religião em geral. De que maneira, esse conformismo da conduta não faz senão traduzir o cio
portanto, é possível atingi-los? pensamento. Sendo todas as consciências arrastadas nos
Não, certamente, obse1vando as religiões complexas mesmos turbilhões, o tipo n
i dividual praticamente se con
que aparecem na seqüência da história. Cada uma é for funcle com o tiro genérico. Ao mesmo tempo em que tu
mada de tal variedade ele elementos, que é muito difícil do é uniforme, tudo é simples. Nada mais tosco que esses
distinguir nelas o secundário do principal e o essencial do mitos compostos ele u m mesmo e único tema que se re
acessório. Que se pense em religiões como as do Egito, pete sem cessar, que esses ritos feitos ele u m pequeno nú
da Índia ou ela Antiguidade clássica! É uma trama espessa mero ele gestos recomeçados interminavelmente. A imagi
de cultos múltiplos, variáveis com as localidades, com os nação popular ou sacerdotal não teve ainda rempo nem
templos, com as gerações, as dinastias, as invasões, etc. meios de refinar e transformar a matéria-prima das idéias
Nelas, as superstições popu lares estão mescladas aos dog e práticas religios..is; esta se mostra, portanto, nua e se
mas mais refinados. Nem o pensamento, nem a atividade oferece espontaneamente ã obse1vação, que não precisa
rdigiosa encontram-se igualmente distribuídos na massa mais que um pequeno esfo rço para descobri-la. O acessó-
XII AS FORMAS ELEMENTA R!JS DA l 'lDA Rl:.VG/0.SA OBJETO DA PESQU/SA Xlll
rio, o secunJário, os desenvolvimentos de luxo não vie mcsm.1 razão que a descoberta dos seres monocelulares,
ram ainda ocultar o principal2. Tudo é reduzido ao indis de que falávamos há pouco, transformou a idéia que se
pensável, àquilo sem o que não poderia haver religião. fazia correntemente da vida. Como nos seres muito sim
Mas o indispensável é também o essencial, ou seja, o que ples a vida se reduz a seus traços essenciais. estes dificil
acima de tudo nos importa conhecer. mente podem ser ignorados.
As civil izações primitivas constituem, portanto, casos Mas as religiões primitivas não permitem apenas des
privilegiados, por serem casos simples. Eis por que, em tacar os elememos constitutivos da religião; têm também
todas as ordens de fatos. as observações dos etnógrafos a grande vantagem de facilitar sua explicação. Posto que
foram com freqüência verdadeiras revelações que renova nelas os fatos são mais simples, as relações entre os faros
ra m o estudo das instituições humanas. Por exemplo. an são também mais evidentes. As razões pelas quais os ho
tes da metade do século XIX. todos estavam convencidos mens explicam seus atos não foram ainda elaboradas e
de que o pai era o elemento essencial da família; não se desnaturadas por uma reflexão erudita; estão mais proXJ
concebia sequer que pudesse haver uma organização fa mas, mais chegadas às motivações que realmente deter
miliar cuja pedra a ngular não fosse o poder paterno. A minaram esses atos. Para compreender bem um delírio e
descobe11a de Bachofen veio derrubar essa velha concep poder aplicar-Lhe o trntamento mais aprop1iado, o médico
ção. Até tempos bem recentes, considerava-se evidente tem necessidade de saber qual foi seu ponto de partida.
que as relações morais e jurídicas que constituem o pa Ora, esse acontecimento é tanto mais fácil de discernir
rentesco fossem apenas um outro aspecto das relações fi quanto mais se puder observar tal delírio num período
siológicas que resultam da comunidade ele descendência; próximo de seu começo. Ao contrário, quanto mais a doen
Bachofen e seus sucessores, Mac Lennan, Morgan e mui ça se desenvolve no tempo, mais ela se furta à observa
tos outros, estavam ainda sob a influência desse precon ção: é que, pelo caminJ10, uma série de interpretações in
ceito. Desde que conhecemos a natureza do clã primitivo, tervieram, tendendo a recalcar no inconsciente o estado
sabemos, ao contrário, que o parenresco não poderia ser original e a substituí-lo por outros, através cios quais é di
definido pela consangüinidade. Para voltarmos às rel i fícil às vezes reencontrar o primeiro. Entre um delírio sis
giões, a simples consideração das formas religiosas que tematizado e as impressões primeiras que lhe deram ori
nos são mais familiares fez acreditar durante muito tempo gem, a distância é geralmente consideráve l . O mesmo va
que a noção de deus era característica de tudo o que é rc- le para o pensamento religioso. À medida que ele progri
1 igioso. Ora, a religião que estudaremos mais adiante é, de na história, as causas q u e o chamaram à existência,
em grande parte, estranha a toda idéia de divindade; as embora sempre permanecendo ativas, não são mais per
forças às quais se dirigem seus ritos são muito diferentes cebidas, senão através de u m vasto sistema de imerpreta
daquelas que ocupam o primeiro lugar em nossas reli ções que as deformam. As mitologias populares e as sutis
giões modernas; não obstante, elas nos ajudarão a melhor teologias fizeram sua obra: sobrepuseram aos sentimentos
compreender estas últimas. A5sim, nada mais injusto que primitivos sentimentos muito diferentes que, embora liga
o desdém que muitos historiadores conservam ainda pe dos aos primeiros, dos quais são a forma elaborada, só
los trabalhos dos etnógrafos. É certo, ao contrário, que a imperfeitamente ddxam transparecer sua natureza verda
etnografia determinou muitas vezes, nos diferentes ramos deira. A distância psicológica entre a causa e o efeito, en
da sociologia, as mais fecundas revoluções. Aliás, é pela tre a causa aparente e a causa efetiva, tomou-se mais con-
XIV AS FO!ll/AS ElElfEKlilRES DA l 7DA REIJGlO.'iA UB}/:,70 DA PESQLl.'>A
sid1:rán:I L mais difícil dL p1.:rcorrer par,1 o espírito. O dc çõcs :i natureza faz espontaneamente c;implific."1çôe" do
mesmo ripo no inicio da. h1stóna. Querema:. apenas tmir
senvoh·imcnto desra obra será uma ilustração e uma veri
proveito delas. E claro que só poderemos atingir. por esse
ficação dessa observação metodológica. \'cremos de que
maneira, nas religiões primitivas, o fato religioso traz ain método, fatos muito elementares. Quando, na medida do
possível, os tivermos atingido, ainda assim não estarão
da visível a marca de suas origens: bem mais difícil nos
Leria sido inferi-las com base na simples consideração das explicadas as novidades de Lodo tipo que se produziram
na seqüência ela evolução. Mas, se não pensamos em ne
religiões mais desenvolvidas.
gar a importância dos problemas que elas colocam, j u lga
O esLudo que empreendemos é, portanro, uma ma
mos que tais problemas ganham em ser tratados na sua
neira de retomar. mas em condições novas, o velho pro
blema da origem das religiões. Se. por origem, entende-se de\ ida hora, e que há inte resse em abord{l-los somenLe
um primeiro comeco absoluto, por certo a questão nada depois daqueles CU JO csLUdo iremos empreender.
controle de espécie alguma Bem diferente é o problema fornece um meio de renovar problemas que até agora só
foram debatidos entre filósofos.
1 lá muito
que colocamos. Gostaríamos de encontrar um meio de
-;e sabe que os primeiros sistemas de repre
discernir .is causas. sempre presentes. de que dcpcmkm
as formas mais essenciais do pensamento e da práLica reli sentações que o homem produziu do mundo e de s1 pró
prio sào de origem religiosa. Não há religião que não seja
giosa. Ora, pelas razões que acabam de ser expostas, es
uma cosmologia ao mesmo tempo que uma especulação
sas causas �
. ão mais facilmente observáveis quando as so
ciedades em que as observamos são menos complicudas. sobre o divino. Se a filosofia e as ciências nasceram da re
Eis por que buscamos nos aproximar das origensi. Não ligião, é que a própria religião começou por fazer as ve
zes de ciências e de filosofia. Mas o que foi menos notado
que pretendamos atribuir às religiões inferiores v i r L u des
particulares. Pelo contrário, elas são rudimentares e gros é que ela não se limitou a e n r iquecer com um certo nú
mero de icléias um espírito humano previamente forma
seiras; não é o caso, po1i.anto, de fazer delas modelos que
do; também contribuiu para formar esse espírito. Os ho
as religiões posLeriores apenas teriam reproduzido. Mas
mens não lhe de\'em apenas. cm parte notáve l. '.l matéria
M.: u próprio aspecto grosseiro as toma instruti\ as, poi:;,
deste modo, elas constiLUem experiências cômodas em de seus conhecimentos, mas igualmente a forma segundo
que os fatos e suas relações são mais fáceis de perceber. a qual esses conhecimentos sào elaborados.
Na raiz de nc �sos julgamentos, há um certo número
O físico, pam descobrir as leis dos fenômenos que estuda,
procura simplificar esses últimos, desembaraçá-los de de noções essenciais que dominam toda a nossa vida in
telectual; são aquelas que os filósofos. desde Ariscóccles,
seus caracteres secundários. 'o que concerne às institui-
XVl AS FORMAS ELEMEi\TARES DA \IDA RELIGIOSA e 1/1}1;70 DA PESQWSA XVII
chamam de categoriac; do entendimento: noçôcs de tem mos atr.l\'és de marcas objetiva<;, um tempo que não seria
po, de e:.paço-•. de gêncro. de número, de causa, de subs uma sucessão de anos. me.ses, semanas, dias e horas! Se
tância, de personalidade. etc. Elas correspondem às pro ria algo mais ou menos impensável. Só podemos conceber
priedades mais universais das coisas. São como quadros o tempo se nele distinguirmos momentos cliferemes. Ora,
sólidos que encerram o pensamento; este não parece po qual é a origem dessa diferenciação? Certamente os esta
der libertar-se deles sem se destruir, pois tudo indica que dos de consciência que já experimentan1os podem repro
não podemos pensar objetos que não estejam no tempo duzir-se em nós, na mesma ordem em que se desenrola
ou no espaço, que não sejam numeráveis, etc. As outras ram primitivamente; e, assim, porções de nosso passado
noções são contingentes e móveis; concebemos que pos voltam a nos ser presentes, embora distingu indo-se espon
sam faltar a um homem, a uma sociedade, a uma época, taneamente do presente. Mas, por importante que seja es
enquanto aquelas nos parecem quase inseparáveis do sa distinção para nossa experiência privada, ela está longe
funcionamento normal do e:.pírito. São como a o:.satura de bastar para constituir a noc,;ào ou categoria de tempo.
da inteligência. Ora, quando analisamos metodicamente Esta não consiste simplesmente numa comemoração, par
as crenças religiosas primitivas, encontramos naturalmen cial ou integral, de nossa vida transcorricla. É um quadro
te em nosso caminho as principais dessas categorias. Elas abstrato e impessoal que envolve não apenas nossa exis
nasceram na religião e da religião, são um produto do tência individual, mas a ela humanidade. É como um pai
pensamento religioso. É uma constatação que haveremos nel ilimitado, em que toda a duração se mostra sob o olhar
de fazer várias vezes ao longo desta obra. do espírito e em que todos os acontecimentos possíveis
Essa observação possui já um interesse por si pró podem ser situados em relação a pontos de referência fi
pria; mas eis o que lhe confere seu verdadeiro alcance. xos e determinados. l\ão é o meu tempo que está assim
A conclusão geral do livro que se irá ler é que a reli organizado; é o tempo tal como é objetivamente pensado
gião é uma coisa eminentemente social. As reprec;entações por todos os homens de uma mesma ci\'ilizaçào. Apenas
religiosas são representações coletivas que exprimem rea isso já é suficiente para fazer entrever que uma tal organi
lidades coletivas; os ritos são maneiras de agir que só sur zação deve ser coletiva. E, ele fato, a observação estabele
gem no interior de grupos coordenados e se destinam a ce que esses pontos de referência indispensáveis, em rela
suscitar, manter ou refazer alguns estados mentais desses ção aos quais todas as coisas se classificam temporalmen
grupos. Mas, então, se as categorias são de origem religio te, são tomados da vida social. As divisões em dias, sema
sa, elas devem participar da natureza comum a todos os nas, meses, anos, etc., correspondem à periodicidade dos
fatos religiosos: também elas devem ser coisas sociais, ritos, das festas, elas cerimônias públ icas;. Um calendário
produtos cio pensamento coletivo. Como, no estado atual exprime o ritmo ela atividade coletiva, ao mesmo tempo
de nossos conhecimentos desses assuntos, devemos evitar que tem por função assegurar sua regularidacleú.
toda tese radical e exclusiva, pelo menos é legítimo supor O mesmo acontece com o espaço. Como demonstrou
que sejam ricas em elementos sociais. Hamelin", o espaço não é esse meio vago e indetermina
Aliás, é o que se pode, desde já. entrever para algu do que Kant havia imaginado: puramente e absolutamen
mas delas. Que se tente, por exemplo, imaginar o que se te homogêneo, ele 1 . ão serviria para nada e sequer daria
ria a noção de tempo, se puséssemos de lado os procedi ensejo ao pensamento_ A representação espacial consiste
mentos pelos quais o dividimos, o medimos, o exprimi- essencialmente numa primeira coordenação introduzida
xvrn AS FORMAS ELEME!VTARES DA 17011 RELIGIOSA OBJETO DA Pt:SQUISA XIX
entre os dados da experiência sensível. Mas essa coorde te qu.1rteirões do mundo está cm íntima relação com um
nação seria impossível se as partes do espaço se equiva qua1teirão do pueblo, isto é, com um grupo de clãs10. "As
lessem qualitativamente, se fossem realmente intercambiá sim, diz Cushing, uma divisão eleve estar em relação com
veis umas pelas ouu·as. Para poder dispor espacialmente o norte; uma outra representa o oeste, uma terceira o
as coisas, é preciso poder situá-las diferentemente: colo sul•t. etc." Cada qua1teirão do pueblo tem sua cor caracte
car umas à direita. outras à esquerda. estas em c i m a . rística que o simboliza; cada região cio espaço tem a sua,
aquelas embaixo. a o norce ou a o sul, a leste ou a oeste. que é exatamente a cio quarteirão correspondente. Ao lon
etc., do mesmo modo que. para dispor temporalmente os go da história, o nú mero de clàs fundamentais variou; o
estados da consciência. cumpre poder localizá-los em da número de regiões variou da mesma maneira. Assim, a or
tas determinadas. Vale dizer que o espaço não poderia ser ganização social foi o modelo da organização espacial.
ele próprio se. assim como o tempo. não fosse d1nd1do e
diferenci..tdo. Mas essas cfü isões. que lhe �ào csscnci.tis,
que é uma espécie de decalque da primeira. Até mesmo a
distmçao de d1rc1ta e esquerda, longe de estar implicada
de onde provêm? Para o espaço mesmo. não há direita na natureza do homem em geral. é muito provavelmente o
nem esquerda, nem alto nem baL-..:o, nem norte nem sul. produto de representações religiosas, portanto coletivas 12.
Todas essas distinções provêm. evidentemente, de terem Mais adiante serão encontradas provas análogas rela
sido atribuídos valores afetivos diferentes às regiões. E tivas às noções de gênero, de força, de personalidade, de
como todos os homens de uma mesma civilização repre eficácia. Pode-se mesmo pergu ntar se a noção de contra
sentam-se o espaço da mesma maneira, é preciso, eviden dição não depende, também ela, de condições sociais. O
Lernente, que esses valores afetivos e as distinções que que leva a pensar assim é que a influência que ela exer
deles dependem lhes sejam igualmente comuns; o que ceu sobre o pensamento variou segundo as épocas e as
implica quase necessariamente que tais valores e distinçõe::. sociedades. O princípio de identidade domina hoje o
são de origem sociaJH. pensamento científico; mas há vastos sistemas de repre
P or sinal há casos em que esse caráter social tornou
,
sentações que desempenharam na história elas idéias um
se manifesto . Existem sociedades na Austrália ou na Amé papel considerável e nos quais ele é freqü entemente igno
rica do Norte em que o espaço é con cebido sob a forma rado: são as mitolog ias , desde as mais grossei ras alé as
de u m círculo imenso, porque o próprio acampamento mais ela boradas •3. Elas tratam sem parar de seres que têm
tem um a forma circular9, e o círcu lo es pacial é exatamen simu ltaneamente os atributos mais contraditórios, que são
te dividido como o círcu lo triba l e à imagem deste úllimo. ao mesmo tempo unos e m úl tiplos , materiais e espi riluais ,
Distinguem-se tantas regiões q uantos são os clãs da tribo, que pod em subdividir-se indefinidamente sem nada per
e é o l ugar ocupado pel os clàs no interior cio acampa der daqui lo que os constitui; em m itolog ia , é um axioma
mento que determina a orientação das reg iões. Cada re a parte equivaler ao todo. Essas variações a que se sub
gião d efine-se pelo tOLem do clã ao qu al ela é destinada. meteu na história a regra que parece governar nossa lógi
Entre os zufi i , por exempl o , o pueb/o compreen d e sete ca atual provam que, longe de estar inscrita desde roda a
quarteirões; cada um deles é um grupo ele clãs que teve eternidade na constituição mental cio homem, essa regra
sua unidade: com toda a certeza, havia primitivamente depende, pelo menos em parte, de fatores h istóricos, e
um único clã que depois se subdividiu. Ora, o espaço portanto sociais. N ão sabemos exatamente q u e fatores
compreen de igualmente sete regiões e cada um desses se- são esses, mas podemos presumir que existemH.
XX AS FORMAS ELEllE\TARES DA �?DA RELIGIOSA OB]ETO DA PESQl ISA XXI
L'ma \"CZ admitida essa hipótese. o problema <lo co úiferente do que são, de reprc-.entá-las como ...e tr.inscor
nhecimento coloca-se em novos tem1os. ressem numa ordem distinta daquela na qual se produzi
Alé o presente, duas doutrinas apenas haviam se de ram. Diante delas, nada nos prende, enquanto considera
frontado. Para uns, as categorias não podem ser derivadas ções ele um outro gênero não intervierem. Eis, porta nto,
da experiência: são logicamente anteriores a ela e a con dois ti pos de conhecimentos que se encontram como que
dicionam. São representadas como e.lados simples, irredu nos dois pólos contrários da inteligência. Nessas condições,
tíveis, ima nentes ao espírito humano em virtude de sua submeter a razão à experiência é fazê-la desaparecer, pois
constituição natural. Por isso se diz dessas categorias que é reduzir a universalidade e a necessidade que a caracteri
elas são CI priori. Para outros, ao contrário, elas seriam zam a serem apenas puras aparências, ilusões que, na prá
construídas. feitas de pecas e pedaços. e o indivíduo é tica. podem ser cômo<las, mas que a nada corrc<>pondem
que seria o operário dessa constmcão1s. nas coisas: conseqüentemente. é recusar toda realidade
..\las ambas as soluçóes le,·antam graves dificuldades. obiem·a à ,·ida lógica que as categonas têm por função re
Adotaremos a tese empirista? Então, cumpre retirar gular e organizar. O empirismo clássico conduz ao irracio
das categorias todas as suas propriedades características. nalismo; talvez até seja por esse último nome que conve
Com efeito, elas "e distinguem de Lodos os outros conhe nha designá-lo.
cimenLos por sua u niversalidade e sua necessidade. Ela:-. Os aprioristas, apesar cio sentido ordinariamente as
são os conceitos mais gerais que existem, já que se apli sociado às denominações, são mais respeitosos com os fa
cam a todo o real e, mesmo não estando ligadas a alg um tos. j á que não ad mitem como verdade evide nte que as
objeto particular, são independentes ele todo sujeito indi categorias são feitas cios mesmos elementos que nossas
vidual: são o lugar-comum em que se encontram todos os representações sensíveis, eles não são obrigados a empo
espíritos. Mais: estes se encontram necessariamente a í , brecê-las sistematicamente, a esvaziá-las de todo conteú
pois a rnzão. que não é outra coisa senão o conjunto das do real. a reduzi-las a er apenas artifícios Yerbais. Ao
cacegorias fundamentais, é investida de uma autoridade à contrário, conservam todas as características especificas
qual não podemos nos furtar à vontade. Quando tenta delas. Os aprioristas são racionalistas; crêem que o mun
mos insurgir-nos contra ela, l ibertar-nos de algumas des do tem um aspecto lógico que a razão exprime eminente
sas noções essenciais, deparamo-nos com fortes resistên mente. Mas, para isso, precisam atribuir ao espírito u m
cias. Portanto, elas não apenas não dependem de nós, co certo poder d e ultrapassar a experiência, ele acrescentar
mo também se impõem a nós. Ora, os dados empíricos algo ao que lhe é imediatamente dado; ora, desse poder
apresentam características diametralmente opostas. Uma singular, eles não dào explicação nem j ustificaç ão . Pois
sensação, uma imagem se relacionam sempre a um objeto não é explicar dizer apenas que esse poder é inerente à
clete1minaclo ou a uma coleção de objetos desse gênero e natureza da inteligência humana. Seria preciso fazer en
exprimem o estado momenrâneo de uma consciência par tender ele onde tirnmos essa surpreendente prerrogativa e
ticular: elas são essencialmente individuais e subjetivas. de que maneira podemos ver. nas coisas, relações que o
Assim, podemos dispor. com relativa liberdade. das repre espetáculo das coisas não poderia nos revelar. Dizer que
sentações que têm essa origem. É claro que, quando nos a própria experiência só é possível com essa condição, é
sas sensações são atuais, elas se impõem a nós de fato. talvez deslocar o problema, não é resolvê-lo. Pois se trata
Mas, de direito, temos o poder ele concebê-las de maneira precisamente de saber por que a experiência não se bas-
XXJI AS FO!ll/AS ELE.lfE\TARES DA l 1DA RE
LIGIOSA OBJETO DA PF.5Ql ISA XXJ J [
ta. mas supúe condii,-ües qlll: lhe :;ào 1::xteriures e anterio te1- pda narurcza psíquica do indivíduo. Ao contrário. -,e
res. e de que m aneira essas condicões são realizadas as categorias são, como pensamos. representações essen
quando e como convém. Para responder a essas questões, cialmente coletivas, elas traduzem ames de tudo estados
imaginou-se às vezes, ror cima das razões individuais, da coletividade: dependem da ma neira como esta é cons
uma razão superior e perfeita da qual as primeiras emana tiruída e organizada, de sua morfologia, ele suas institui
riam e na qual conservariam, por uma espécie de partici ções religiosas morais, econômicas, etc. Há, po1tanto, en
,
pação mística, sua maravilhosa faculdade: é a razão divi tre essas duas espécies ele representações toda a d istância
na. Mas essa hipótese tem, no minimo, o grave inconve que separa o individual do social, e não se pode mais de
niente de suhtrair-se a todo controle exrerim ental; não riva r as segundas das primeiras. como tampouco se pode
satisfaz portanto às condições requeridas ele uma hipótese deduzir a sociedade elo indivíduo. o rodo da parte, o
ciencífica Além disso. as categorias do pensamento huma complexo do simples18. A sociedade é uma realidade sui
no jamais são fixadas de uma fom1a definida; elas se fa ge11eris; tem i>Uas características próprias que nào se en
contram, ou que não se encontram da mesma fonna. no
resto do uni\ erso. As representações que a exprimem
zem. se desfazem. se refazem permanencemence; mudam
conforme os lugares e as épocas. A razão divina , ao con
trário, é imutável. De que modo essa imutabilidade pode têm, portanto, um conteúdo completamence distinto das
representações puramente individuais, e podemos estar
ce1tos ele antemão de que as pri meira s acrescentam algo
ria exp licar essa incessante variabilidade?
Tais são as duas concepções q u e há séculos se cho
cam uma contra a outra; e, se o debate se eterniza, é q u e às segundas.
n a verdade o s argumentos trocados s e equivalem sensi A maneira como ambas se formam acaba por diferen
velmente. Se a razão é apenas uma forma da experiência ciá-las. As representações coletivas �ão o produto de uma
individual, não existe mais razão. Por outro lado. se reco imensa cooperação que se estende não apenas no espaço,
nhecemos os poderes que ela se atribui. mas sem justifi mas no tempo� para criá-las. uma multidão de espíritos di
cá-los, parece que a colocamos fora da natureza e da ciên versos associou, misrurou, combinou suas idéias e seus
cia. Em presença dessas objeções opostas, o espírito per sentimentos; longas séries ele gerações nelas acumularam
manece incerto. Mas, .se admitirmos a origem social das sua experiência e seu saber. Uma intelectualidade muito
categorias. uma nova atitude torna-se possível, atitude particular, infinitamence mais rica e mais complexa que a
do indivíduo, encontra-se po1tanco como que concentrada
aí. Compreende-se, assim, ele que maneira a razão cem o
que permitiria, acreditamos nós, escapar a essas dificulda
des contrári as .
A proposição fundamental do ap riorismo é que o co poder de ultrapassar o alcance dos conhecimentos empíri
nhecimento é formado de duas espécies de elementos ir cos. Não eleve isso a uma virtude misteriosa qualquer, mas
redutíveis um ao outro e como que ele duas camadas dis simplesmente ao fato de que, segundo uma fórmula co
tintas e superpostasio. l\oi>sa hipótese mantém integral nhecida, o homem é duplo. Jiá dois .seres nel1:: um ser in
mente esse princípio. De fato. os conhecimentos que cha dividual. que tem sua base no organismo e cujo círculo de
mamos empíricos, os únicos que os teóricos do empiris ação se acha. por isso mesmo. estreitamente limitado, e
mo utilizaram para construir a razão, são aqueles que a um ser social. que representa em nós a mais elevada reali
ação direta dos objetos suscita em nossos espíritos. São. dade, na ordem intelectual e moral, que podemos conhe
pm1:111to, estados individuais, que se explicam inteiramen- cer pela observação, quero dizer, a sociedade. Essa duali-
XXIV AS FO/l\/AS ELEMENTARES DA VIDA REUGJOSA OBJETO PESQl7SA
DA XXV
dade de noi>i>a natureza tem por conseqüência, na ordem mesmo em nosso foro inrerior, liberrar-nos dessas noções
prática, a irredutibilidade do ideal moral ao móbi l utilitá fundamentais, sentimos que não somos completamente li
rio, e, na ordem do pensamento, a irredut ibili dade da ra vres, que algo resiste a nós, dentro e fora de nós. Fora de
zão ã expe riên cia individual. a medida em que p artici pa nós, há a opinião que nos julga; mas, alé m disso. como a
da sociedade, o indivíduo naturalmente ultrapassa a si soci eda de é também represe nta da em nó s , ela se opõe
mesmo, seja qu a ndo pensa, seja qua ndo age. desde dentro de nós a essas veleidades revolucioná rias;
Esse mesmo caráter social permite compreender de temos a impressão ele não podermos nos ent reg ar a elas
onde vem a necessidade das cat egorias . Diz-se de uma sem que nosso pensamento deixe ele ser um pensamento
idéia que ela é necessária quando, po r uma espécie de ve rd a dei ra me nte humano. Tal parece ser a o rigem da au
virtude interna, impõe-se ao esp írito sem ser acompanha toridade muito especial inerente à ra z ão e que nos faz
da de nenhuma prova. Há, portanto, nela, algo que obri aceitar com contiança suas sugestões. É a autoridade da
ga a in te ligência , que conquista a adesão, sem exame pré sociedade mesmat9, comunicando-se a certa::. maneira::. de
vio. Essa eficácia singular, o apriorismo a postula, mas pensar que são como as condições indispensáveis de toda
sem se dar conta disso, pois dizer que as categorias são ação comum. A necessidad e com que as categorias se im
necessárias por serem ind ispensáveis ao funcionamento põem a nós não é, portanto, o efeito de s i mpl es hábitos
do pensamento, é s imp lesmente repetir que são necessá ele cujo domíni o po deríamos nos desvencilha r com um
rias. Mas se elas têm a origem que lh es atribuímos, não há pouco ele esforço; não é também uma necessidade física
nada mais que surpreenda em sua autoridade. Com efei ou metafísica, já q u e as categorias mudam conforme os
to, elas exprimem as relações mais gerais que existem e n lugares e as épocas: é uma espécie particu l ar de necessi
tre as coisas; ultrapassando em extensão todas as nos sas dade moral que está pa ra a vida intelectual assim como a
outras noções, dominam LOdo deta lhe de nossa vida inte obrigação moral eslá para a vontade20 .
lecrual. Se, portanto, a cada momento do tempo, os ho
mens não se entendessem acerca dessas idéias essenciais, Mas, se as categorias não traduzem originalmente se
se não tivessem uma concepção homogénea do tempo, não estados sociais, não se segue daí que elas só podem
do espaço, da causa. do número, etc., toda concordância aplicar-se ao resto da natureza a título de metáforas? Se
se tornaria impossível entre as inteligências e, por conse elas são feiras unicamen te para exprimir coisas sociais,
guin te toda vida em comum. Assim a sociedad e não po
, ,
parece que não pod eriam ser estendidas aos outros rei nos
de abandonar as categorias ao livre arbítrio dos part icul a a não ser por convenção. Assim, na me di da em que nos
res sem se abandonar ela própria. Para poder viver, ela servem para pensar o mundo físico ou biológico só po
,
nã o necessita apenas de um suficiente conformismo mo deriam ter o valor ele símbolos artificiais, talvez úteis n a
ral: há um mínimo de co nformismo lógico sem o qual ela prálica, mas sem relação com a realidade. Po1tanto retor
também não pode passar. Por essa razão, ela pesa com naríamos, por outra via, ao nominalismo e ao empirismo.
toda a sua autoridade sobre seus membros a fim de pre J\las interpretar dessa maneira uma teoria sociológica
venir as d i ss id ê nci as. Se um e sp í rito infringe osten s iva - do conhecimento é esquecer que, se a sociedade é uma
11wn1e essas normas do pensamento, ela não o considera realidade específic;,, ela não é, porém, um império dent ro
1 1 1.11• 1 1 1 1 1 espírito humano no sentido pleno da palavra, e d e u m império: ela faz pa rte da nan1reza, é sua manifesta
1 1 1 1 1 " 1 · 1 1 1 con fo rm i dade Por isso, q uand o r entam os
. ,
ção mais e levada O reino social é um rei no natural que
.
XXVI AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RbLIGIOSA OBJETO DA PESQUTSA XXVII
não difere dos outros, a não ser por sua maior complexi empirismo não poderiam vencer. Pois elas aparecem, en
dade . Ora, é impossível que a natureza, no que tem de tão , não mais como noçõ�s muito simples que qualquer
mais essencial, seja radicalmente diferente de si mesma um é capaz de extrair de suas observações pessoais e que
aqui e ali. As relações fundamentais que existem entre as a imaginação popular desastradamente teria complicado,
coisas - justamente aquelas que as categorias têm por mas , ao contrário , como hábeis instrumentos de pensa
função exprimir - não poderiam, portanto, ser essencial mento, que os grupos humanos laboriosamente forjaram
mente dessemelhantes conforme os reinos. Se, por razões ao longo elos séculos e nos quais acumularam o melhor
que teremos de investigar2 1 , elas sobressaem de forma de seu capital intelectua[24. Toda uma parte da história da
mais evidente no mundo social, é impossível que não se humanidade nelas se enc.ontra como que resumida. Vale
encontrem alhures, ainda que sob formas mais encober dizer que, para chegar a compreendê-las e julgá-las, cum
tas. A sociedade as torna mais manifestas, mas ela não pre recorrer a omros procedimentos que não aqueles uti
tem esse privilégio. Eis aí como noções que foram elabo lizados até o presente. Para saber de que são fe itas essas
radas com base no modelo elas coisas sociais podem aju concepções que não foram criadas por nós mesmos , não
dar-nos a pensar coisas de outra natureza. Se essas noções, poderia ser suficiente interrogar nossa consciência: é para
quando assim desviadas de sua significação primeira, de fora de nós que devemos olhar, é a história que devemos
sempenham num certo sentido o papel de símbolos, são observar, é toda uma ciência que é preciso instituir, ciên
símbolos bem-fundados. Se, pelo simples fato de serem cia complexa, que só pode avançar lentamente, por um
conceitos construídos, há aí um artifício, é um artifício trabalho coletivo, e para a qual a presente obra traz, a tí
que segue de perto a natureza e que se esforça por apro tulo ele ensaio, algumas contribuições fragmentárias. Sem
ximar-se dela cada vez mais22. Po1tanto, do fato de as icléias fa zer dessas questões o objeto direto de nosso estu do,
de tempo, de espaço, de gênero, de causa, ele personali aproveitaremos toda ocasião que se oferecer para captar
dade serem construídas com elementos sociais, não se de em seu nascimento pelo menos algumas dessas noções,
ve concluir que sejam desprovidas de todo valor objetivo. as quais, embora religiosas por suas origens , haveriam ele
Pelo contrário, sua origem social faz antes supor que te permanecer na base da mentalidade humana.
nham fundamento na natureza elas coisas23.
Assim renovada, a teoria do conhecimento parece
destinada a reunir as vantagens contrárias elas duas teorias
rivais, sem seus inconvenientes. Ela conserva todos os
princípios essenciais do apriorismo; mas, ao mesmo tem
po, inspira-se nesse espírito de positividade que o empi
rismo procurava satisfazer. Conserva o poder específico
ela razão, mas justifica-o, e sem sair do mundo observável.
Afirma como real a dualidade de nossa vida intelectual
mas explica-a, e mediante causas naturais. As categoria �
deixam ele ser consideradas fatos primeiros e não analisá
veis; no entanto, permanecem de uma complexidade que
íl n(J 1 i s s simplistas como aquelas com que se contentava o
LIVRO 1
QUESTÕES PRELIMINARES
CAPÍTULO I
DEFINIÇÃO DO FENÔMENO RELIGIOSO
E DA RELIGIÃO'
perceptíveis, que permitem reconhecer os fenômenos re to falta para que a melhor forma de estudar a religião seja
l igiosos onde quer que se encontrem, e que impedem considerá-la de preferência sob a forma que a p resenta
que os confundamos com outros. É a essa operação preli nos povos mais civilizadosz.
minar que iremos proceder. Mas, para ajudar o espírito a libertar-se dessas con
Mas para que ela dê os resultados esperados, deve cepções usuais que, por seu prestígio, podem impedi-lo
mos começar por libe1tar nosso espírito de toda idéia pre de ver as coisas tais como são, convém, antes de abordar
conce b i d a . Os homens foram obrigados a criar para s i a questão por nossa conta, examinar algumas das defini
uma noção d o que é a religião, bem antes que a ciência ções mais correntes nas quais esses preconceitos vieram
das religiões pudesse instituir suas comparações metódi se exprin1ir.
cas . As necessidades da existência nos obrigam a todos,
crentes e incrédulos, a representar de alguma maneira as
coisas no meio das quais vivemos, sobre as quais a todo
momento emitimos juízos e que precisamos levar em con
ta em nossa conduta. Mas como essas pré-noções se for Uma noção tida geralmente como característica de
maram sem método, segundo os acasos e as circunstâncias tudo o que é religioso é a de sobrenatural. Entende-se por
da vida , elas não têm direito a crédito e devem ser manti isso toda ordem de coisas que ultrapassa o alcance de
das rigorosamente à distância do exame que iremos em nosso entendimento; o sobrenatural é o mundo do misté
preender. Não é a nossos preconceitos, a nossas paixões, rio, do incognoscíve l , do incompreensível. A religião se
a nossos hábitos que devem ser solicitados os elementos ria, portanto, uma espécie de especulação sobre tudo o
da definição que necessitamos; é a realidade mesma que que escapa à ciência e, ele maneira mais gera l , ao pensa
se trata de definir. mento claro . "As religiões, diz Spencer, diametralmente
C o l oquemo-nos, pois, diante dessa real i dade . Dei opostas por seus dogmas, concordam em reconhecer taci
xando de lado toda concepção da religião em geral, con tamente que o mundo, com tudo que contém e tudo que
sideremos as religiões em sua realidade concreta e procu o cerca, é um mistério que pede uma explicação" ; portan
remos destacar o que elas podem ter em comum; pois a to, ele as faz consistir essencialmente na "crença na oni
religião só pode ser definida em função das características presença de alguma coisa que vai além da inteligência"3.
que se encontram por toda parte onde houver religião. D o mesmo modo, Max Müller via em toda religião "um
Introdu ziremos portanto nessa comparação todos os siste esforço para conceber o inconcebível, para exprimir o
mas re l i giosos que podemos conhecer, os do presente e inexprimível, uma aspiração ao infinito"4.
os do passado, os mais simples e primitivos assim como É certo que o sentimento do mistério não deixou de
os mais recentes e refinados, pois não temos nenhum di desempenhar um papel importante em certas religiões,
reito e nenhum meio lógico de exclu ir uns para só reter especialmente no cristianismo. Mas é preciso acrescentar
os outros. Para aquele que vê na religião uma manifesta que a importância desse papel variou singularmente nos
ção natural da atividade humana, todas as religiões são diferentes momentos da história cristã . Há períodos em
instrutivas, sem exceção, pois todas exprimem o homem que essa noção paí'sa ao segundo plano e se apaga. Para
:'1 s u · 1 m a neira e podem assim ajudar a compreender me os homens do século XVII, por exemplo, o dogma nada
l i l or css aspecto de nossa natureza. Aliás, vimos o quan- tinha de perturbador para a razão; a fé conciliava-se sem
6 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA QUESTÕES PRELIMINARES 7
dificuldade com a ciência e a filosofia, e pensadores co los mesmos procedimentos; mas, para aquele que crê ne
mo Pascal, que sentiam com intensidade o que há de pro las, não são mais ininteligíveis do que o são a gravidade
fu ndamente obscuro nas coisas, estavam em tão pouca ou a eletricidade para o físico de hoje. Veremos aliás, ao
harmonia com sua época que permaneceram incompreen longo desta obra, que a noção de forças naturais derivou
didos por seus contemporâneos5. Portanto, poderia ser muito provavelmente da noção de forças religiosas; assim,
precipitado fazer, de uma idéia sujeita a tais eclipses, o não poderia haver entre estas e aquelas o abismo que se
elemento essencial ainda que apenas da religião cristã . para o racional do irracional. Mesmo o fato de as forças
Em todo caso, o que é certo é que essa noção s ó religiosas serem geralmente pensadas sob a forma de en
aparece muito tarde na história das religiões; ela é total tidades espirituais , de vontades conscientes, de maneira
mente estranha não somente aos povos chamados primiti nenhuma é uma prova de sua irracionalidade . À razão
vos, mas também a todos os que não atingiram um certo não repugna a priori admitir que os corpos ditos inanima
grau de cultura intelectual. É verdade que, quando os ve dos sejam, como os corpos humanos, movidos por inteli
mos atribuir a objetos insignificantes virtudes extraordiná gências, ainda que a ciência contemporânea dificilmente
rias, povoar o universo com princípios singulares, fe itos se acomode a essa hipótese. Quando Leibniz propôs con
dos elementos mais díspares, reconhecemos de bom gra ceber o mundo exterior como uma imensa sociedade de
do nessas concepções um ar de mistério. Acreditamos espíritos entre os quais não havia e não podia haver se
que os homens só puderam se resignar a idéias tão per não relações espirituais, ele entendia agir como racionalis
turbadoras para nossa razão moderna por incapacidade ta e não via nesse animismo universal nada capaz de
de encontrar outras que fossem mais racionais. Em reali ofender o entendimento .
dade, porém, essas explicações que nos surpreendem afi Aliás, a idéia de sobrenatural, tal como a entende
guram-se ao primitivo as mais simples do mundo. Ele não mos, data de ontem: ela supõe, com efeito, a idéia contrá
vê nelas uma espécie de ultima ratio a que a inteligência ria, da qual é a negação e que nada tem de primitiva. Para
só se resigna em desespero de causa, mas sim a maneira que se pudesse dizer de certos fatos que são sobrenatu
mais imediata de representar e compreender o que obser rais, era preciso já ter o sentimento de que existe uma or
va a seu redor. Para ele, não há nada de estranho em po dem natural das coisas, ou sej a , que os fenômenos do
der-se, com a voz ou o gesto, comandar os elementos, universo estão ligados entre si segundo relações necessá
deter ou precipitar o curso dos astros, provocar a chuva rias chamadas leis. Uma vez adquirido esse princípio, tu
ou pará-la, etc. Os ritos que emprega para assegurar a fer do o que infringe essas leis devia necessariamente apare
tilidade do solo ou a fecundidade das espécies animais de cer como exterior ã natureza e, por conseqüência, à ra
que se alimenta não são , a seus olhos, mais irracionais do zão: pois o que é natural nesse sentido é também racio
que o são, aos nossos, os procedimentos técnicos que os nal, tais relações necessárias não fazendo senão exprimir
agrônomos utilizam para a mesma finalidade. As potências a maneira pela qual as coisas se encadeiam logicamente .
que ele põe em jogo por esses diversos meios nada lhe Mas essa noção do determinismo universal é de origem
parecem ter de especialmente misterioso . São forças que recente; mesmo os maiores pensadores da Antiguidade
diferem, certamente, daquelas que o conhecedor moder clássica não chegaram a tomar plenamente consciência
no concebe e cujo uso nos ensina; elas têm uma outra dela. É uma conquista das ciências positivas; é o postula
maneira de comportar-se e não se deixam disciplinar pe- do sobre o qual repousam e que elas demonstraram por
8 AS FORMAS ELEMENTARES DA \!IDA REUG!OSA QUESTÕES PREUMINARES 9
seus progressos. Ora, enquanto ele inexistia ou ainda não cem J coisa mais clara do mundo; é que não percebem
se estabelecera solidamente, os acontecimentos mais mara sua obscuridade real: é que não reconheceram ainda a
vil hosos nada possuíam que não parecesse perfeitamente necessidade de recorrer aos proced imentos laboriosos elas
co ncebível. Enquanto não se sabia o que a ordem das coi ciências naturais para dissipar progressivamente essas tre
sas tem de imutável e de inflexível, enquanto nela se via a vas. O mesmo estado ele espírito encontra-se n a raiz de
obra de vontades contingentes. devia-se achar natural que muitas crenças religiosas que nos surpreendem por seu
essas vontades ou outras pudessem modificá-la arbitraria simplismo. Foi a ciência, e não a religião, que ensinou
mente. Eis por que as intervenções miraculosas que os an aos homens que as coisas são complexas e d i fíceis de
tigos atribuíam a seus deuses não eram, no seu entender, compreender.
milagres, na acepção moderna da palavra. Para eles. eram Mas. responde .Jevons". o espírito humano não tem
espetáculos belos. raros ou terríveis. objetos de surpresa e necessidade ele uma cultura propriamente científica para
de maravilhamento (0aúµa-ra, mirab1/ia, 1111racu/a); mas notar que exi:;tem entre os fatos seqüências determinadas,
de modo nenhum viam nisso uma espécie de acesso a um uma ordem constame de sucessão, e para observar, por
mundo misterioso que a razão não pode penetrar. outro lado, que essa ordem é freqüentemente perturbada.
Podemos compreender tanto melhor essa mentalida \comece que o sol se eclipse bruscamente, que a chuva
de na medida em que ela não desapareceu completamen falte na época cm que é esperada, que a lua demore a res
te do meio de nós. Se o princípio do determinismo está surgir após seu desaparecimento periódico, etc. Como es
hoje solidamente estabelecido nas ciências físicas e natu t;1o fora do curso ordinário das coisas, esses aconrecimen
rais. faz somente um século que ele começou a introdu tos são atribu ídos a causas extraordinárias, excepcionais.
zir-se nas ciências sociais, e sua autoridade é ainda con ou seja, em suma. extranaturais. É sob essa forma que a
testada. Apenas um pequeno número ele espíritos está idéia de sobrenatural teria nascido desde o início ela histó
convencido da idéia de que as sociedades estão submeti ria, e foi assim que. a partir desse momento, o pensamen-
das a leis necessárias e constituem um reino natural. Daí a 10 religioso se viu munido de seu objeto próprio.
crença de que nelas sejam possíveis verdadeiros milagres. Mas, em primeiro lugar, o sobrenarnral não se reduz
Admite-se, por exemplo, que o legislador pode criar uma de modo algum ao imprevisto. O novo faz parte ela natu
insriruição do nada por urna simples inju nçào ele sua von reza, assim como seu contrário. Se constatamos que, em
tad e, transformar um sistema social cm outro, assim como geral, os fenómenos se sucedem numa ordem determina
os cremes de tantas religiões admirem que a vontade divi d:t, observamos igualmente que essa ordem é sempre
na criou o mundo do nada ou pode ar bi tr ariamente trans .qxoxirnac.la, que não é idêntica duas vezes seguidas, que
m utar os seres uns nos outros. No que concerne aos fatos comporta todo tipo de exceções. Por menor que seja nos
so ciais, temos ainda uma mentalidade ele primitivos. No . ;1
s experiência, estamos habituados à frustração freq üente
entanto, se, cm matéria d e sociologia, tantos contemporâ dl• nossas expectativas e essas decepções retornam muito
neos apegam-se ainda a essa concepção antiquada, não é sq.tuidamente para que as vejamos como extraordinárias.
que a vida das sociedades lhes pareça obscura e misterio l lma cena contingência é um dado da experiência, assim
s a ; pelo contrário, se se comentam tão facil mente com tais nimo uma certa unirormiclacle; portanto. não há razão pa-
explicações, se se obstinam nessas ilusões que a experiên 1.1 relacionar uma a causas e forças inteiramente diferen
cia desmente sem cessar, é que os fatos sociais lhes pare- ll'' daquelas de que depende a outra. Assim, para que te-
10 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RlliJG!O.�A QUESTÕHS P/UiLIM!NA !UJS ]]
nhamos a idéia e.lo sobrenatural, não é suficiente que seja idéia contrária. Por isso, ela só ocorre num pequeno nú
mos testemunhas de acontecimentos inesperados; é preci mero de religiões avançadas. Não se pode. ponanro, fazer
so, além disso, que estes sejam concebidos como impossí dela a característica dos fcnômenos religiosos sem exclu ir
veis, isto é, como inconciliáveis com uma ordem que, cer da definição a maioria dos fatos a definir.
ta ou errada, nos parece necessariamente implicada na
natureza das coisas. Ora, essa noção de uma ordem ne
cessária, foram as ciências positivas que pouco a pouco li
construíram, portanto a noção contrária não poderia lhes
ser anterior. Uma outra idéia pela qual se tentou com freqüência
Além disso, seja como for que os homens tenham se definir a religião é a da di\'indade. "A religião. diz A. Ré
representado as novidades e as contingências que a expe ville. é a determmação da vida humana pelo sentimento
riência revela, nao há nada nessas represencações que de um \'inculo que une o espmto humano ao espmro mis
possa se1vir para caracterizar a religião. Pois as concepções terioso no qual reconhece a dominacão sobre o mundo e
religiosas têm por objeto, acima de tudo, exprimir e expli sobre si mesmo, e ao qual ele quer sentir-se unido."9 É
car, não o que há de excepcional e anormal nas coisas. verdade que. se entendemos a palavra divindade num
mas, ao contrário, o que elas têm de constante e regular. sentido preciso e estrito, a definição deixa de fora grande
Quase sempre, os deuses servem menos para explicar quantidade de fatos manifestamente religiosos. As almas
monstruosidades, extravagâncias, anomalias, cio que a dos mortos, os espíritos de toda espécie e de toda ordem,
marcha habitual do un iverso, do movimento dos astros, com que a imaginação religiosa ele tantos povos diversos
do ritmo das estações, do crescimento anual da vegeta povoou a natureza, são sempre objeto de ritos e, às vezes,
ção, da perpetuidade das espécies, etc. Po1tanto, a noção até de um culto regular; no entanto não se trata de deuses
do religioso está longe de coincidir com a do extraordiná no sentido próprio da palavra. Mas, para que a definição
rio e cio imprevisto. jevons responde que essa concepção os compreenda, hasta substituir a palavra deus pela de ser
das forças religiosas não é primitiva. No começo, estas te espiritual, mais abrangente. Foi o que fez Tylor: "O pri
riam sido imaginadas para justificar desordens e aciden meiro ponto essenci�d quando se trata ele estudar sistema
tes, e só depois util izadas para explicar as uniformidades ticamente as religiões das ra ça s inferiores, é, diz ele, defi
da natureza7. Mas não se percebe o que teria levado os nir e precisar o que se entende por religião. Se se conti
homens a atribuir sucessivamente a elas funções tão mani nuar fazendo entender essa palavra como a crença numa
festamente contrárias. Além disso, a hipótese segundo a divindade suprema . . . um certo número ele tribos estará
q u a l os seres sagrados teriam sido confinados de início excluído cio mundo religioso. Mas essa definição demasia
num papel negativo de pe1turbaclores, é inteiramente arbi do estreita tem o defeito ele identificar a religião com al
trária. Veremos, com efeito, que, desde as religiões mais guns de seus desenvolvimentos pa1ticulares . . . Parece pre·
simples que conhecemos, eles tiveram por tarefa essencial ferível colocar sim plesmente como definição mínima ela
manter, de uma maneira positiva, o curso normal da vidall. religião a crença em seres espirilllais."JO Por seres espiri
Assim, a icléia do mistério nada tem de original. Ela tuais, devemos entLncler sujeitos conscientes, dotados de
não foi dada ao homem: foi o homem que a forjou com poderes superiores aos que possui o comum dos homens;
suas próprias mãos, ao mesmo tempo que concebia a essa qual ificação convém, portanto, às almas dos mortos,
12 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RJJL/(,'f()SA QlE
STÕES PREl/Aflf\ARBS 13
aos g<'.:nios, aos dcmônios, canro quanto às di\ incfadcs pas pl'las quais é preciso passar para chegar a essa su.
propriamente dicas. É importante notar, de imediato, a pressao: a ret1dao, a meditação e, enfim, a sabedona, a
concepção particular da religião que está implicada nessa plena posse da doutrina. Atravessadas essas três etapas,
definição. O único comércio que podemos manter com chega-se ao término do caminho, à libertação, à salvação
pelo Nirvana.
Ora, cm nenhum desses princípios está envolvida a
seres dessa espécie se acha determinado pel a natureza
que lhes é atribuída. São seres consciemes; não podemos.
portanto, agir sobre eles. senão como agimos sobre as divindade. O budista não se preocupa em saber de onde
consciências em geral, isto é, por procedimentos psicoló vem esse mundo do devir em que ele vive e sofre; toma-o
gicos, tratando de com·encê-los ou de comovê-los, seja como um fato•- e todo o seu esforço está em evadir-se
ror meio de palavras ( invocaçàes. preces), seja por ofe dele. Por outro lado, para essa obra de salvação, ele só
rendas e sacnf1cios. E já que a religião teria por objeto re pode contar conMgo mesmo: "nao tem nenhum deus pa ra
gular nossas rel..içõc:. com esses seres espec1J1s, so podt: agradc<..cr .iss1m <..omu, nu combate, não chama m.:nhum
,
A primeira coloca a existência da dor como ligada ao que um culto da lembrança. Mas essa divinização do Bu
perpétuo fluxo das coisas; a segunda mostra no desejo a da, supondo-se qu<' a expressão seja exata. primeiramen
causa da dor; a terceira faz da supressão do desejo o úni te é particular ao chamado budismo setentrional. "Os bu
co meio de suprimir a dor; a quarta enumera as três eta- distas do Sul, diz Kern. e os menos avançados entre os
14 1IS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA QUESTôES PRELIMINA RES 15
budistas do Norte, podemos afirmar com base nos dados nheça e pratique a boa doutrina. Claro que ela não pode
hoje conhecidos, falam do fundador de sua doutrina co ria ter sido conhecida se o Buda não tivesse vindo revelá
mo se fosse um homem."21 Certamente, eles atribuem ao la; mas, uma vez feita essa revelação, a obra do Buda es
Buda poderes extraord inários, superiores aos que possui tava cumprida. A partir desse momento, ele deixou ele ser
o c? mum cios mortais; mas era uma crença muito antiga um fator necessário da vida religiosa. A prática das quatro
na India, e aliás muito comum numa série de religiões di verdades sagradas seria possível ainda que a lembrança
versas, que um grande santo é dotado de virtudes excep daquele que as fez conhecer se apagasse das memórias28.
cionais22; não obstante, um santo não é um deus, como Algo bem diferente ocorre com o cristianismo, que, sem a
tampouco um sacerdote ou um mágico, a despeito das fa icléia sempre presente e o culto sempre praticado de Cris
culdades sobre-humanas que geralmente lhes são atribuí to, é inconcebível; pois é por Cristo sempre vivo e a cada
das. Por outro lado, segundo os estudiosos mais autoriza dia imolado que a comunidade elos fiéis continua a comu
dos, essa espécie de teísmo e a mitologia complexa que nicar-se com a fome suprema ela vida espirirual29.
costuma acompanhá-lo não seriam senão uma forma deri Tudo o que precede aplica-se igualmente a uma ou
vada e desviada cio budismo. A princípio, Buda teria sido tra grande religião da Í ndia, o jainismo. Aliás, as duas
considerado apenas como "o mais sábio dos homens"23. doutrinas têm sensivelm ente a mesma concepção do
" A concepção ele um Buda que não seria um homem C')Ue mundo e el a vida. "Como os budistas, diz Barth, os jainis
alcançou o mais alto grau ele santidade, diz Burnouf, não tas são ateus. Não admitem criador; para eles, o mundo é
pertence ao círculo das icléias que constituem o fundo eterno, e negam explicitamente que possa haver um ser
mesmo dos Sutras simples"24; e, acrescenta o mesmo au perfeito para toda a eternidade. Jaina tornou-se perfeito,
tor, "sua humanidade permaneceu um fato tão incontesta mas não o era o tempo todo". Assim como os budistas elo
velmente reconhecido ele todos que os autores de lendas, Norte, os jainistas, ou pelo menos alguns deles, se volta
aos quais custavam tão pouco os milagres. não tiveram ram porém a uma espécie de deísmo; nas inscrições do
sequer a idéia de fazer dele um deus após sua morte"25. Decào, fala-se de um J inapati, espécie de Jaina supremo,
Assim, cabe perguntar se alguma vez ele chegou a despo que é chamado o primeiro criador; mas tal linguagem, diz
jar-se completamente desse caráter humano, e se temos o o mesmo autor, "está em contradição com as declarações
direito de assimilá-lo completamente a um deus26. Em to mais explícitas ele seus escritores mais autorizados"3º.
do caso, seria um deus de uma natureza muito particular Aliás, se essa indiferença pelo divino desenvolveu-se
e cujo pape! de modo nenhum se assemelha ao das ou a tal ponto no budismo e no jainismo, é que ela já estava
tras personalidades divinas. Pois um deus é, antes de tu em germe no bramanismo, do qual derivaram ambas as re
do, um ser vivo com o qual o homem eleve e pode con ligiões. Ao menos em algumas de suas formas, a especula
tar; ora, o Buda morreu, entrou no Nirvana, nada mais cão bramânica culminava em "uma explicação francamen
pode sobre a marcha dos acontecimentos humanos21. te materialista e atéia do universo"31. Com o tempo, as
Enfim, e não importa o que se pense da divindade múltiplas divindades que os povos ela Índia haviam de iní
do Buda, o fato é que essa é uma concepção inteiramente cio aprendido a adorar acabaram como que se fundindo
exterior ao que há de realmente essencial no budismo. numa espécie de princípio uno, impessoal e abstrato, es
Com efeito, o budismo consiste, antes de tudo, na noção sência de tudo o que existe. Essa realidade suprema, que
de salvação, e a salvação supõe un icamente que se co- nada mais possui de uma personalidade divina, o homem
16 A S FORMAS ELEMENTARES DA V!DA RELIGIOSA QUESTÕES PRELIMINARES 17
contém em s i , ou melhor, identifica-se com ela, uma vez !: verdade que esses ritos são puramente negativos;
que nada existe fora dela. Para encontrá-la e unir-se a ela mas não deixam de ser religiosos. Além disso, há outros
ele não precisa, portanto, buscar fora de si mesmo ne� que reclamam cio fiel prestações ativas e positivas, e que,
nhum apoio exterior; basta concentrar-se em si e meditar. n o entanto, são da mesma natureza. Eles atuam por si
"Quando, diz Oldenberg, o budismo lança-se nesse gran mesmos, sem que sua eficácia dependa de algum poder
de empreendimento ele imaginar um mundo de salvação divino; suscitam mecanicamente os efeitos que são sua ra
em que o homem salva-se a si mesmo e ele criar uma reli zão ele ser. Não consistem em preces, nem em oferendas
gião sem deus, a especulação bramânica já havia prepara dirigidas a um ser a cuja boa vontade o resultado espera
do o terreno para essa tentativa. A noção de divindade re do se subordina; esse resultado é obtido pela execução
cuou gradativamente; as figuras dos antigos deuses pouco automática da operação ritual. Tal é o caso, em particular,
a pouco se apagam; o Brama pontifica em sua eterna quie do sacrifício na religião védica. "O sacrifício, diz Bergaig
tude, muito acima e.lo mundo terrestre, e resta apenas uma ne, exerce uma influência direta sobre os fenômenos ce
única pessoa a tomar parte ativa na grande obra ela liberta lestes"36; ele é oni potente por si mesmo e sem nenhuma
ção: o homem."32 Eis, portanto, uma porção considerável influência divina. Foi ele, por exempl o , que rompeu as
da evolução religiosa que consistiu, em suma, num recuo portas da caverna onde estavam encerradas as auroras e
progressivo da icléia ele ser espiritual e ele divindade. Ei� aí fez brotar a luz do dia37. Do mesmo modo, foram hinos
grandes religiões em que as invocações, as propiciações, apropriados que, por uma ação direta, fizeram cair sobre
os sacrifícios, as preces propriamente ditas, estão muito a terra as águas cio céu, e isto apesar dos deuses38. A práti
longe de ter urna posição preponderante e que, portanto, ca ele certas austeridades tem a mesma eficácia. E mais:
não apresentam o sinal distintivo no qual se pretende re "O sacrifício é de tal forma o princípio por excelência,
conhecer as manifestações propriamente religiosas. que a ele é relacionada não somente a origem dos ho
Mas, mesmo no interior das religiões deístas, encon mens, mas também a dos deuses. Tal concepção pode,
tramos um grande número de ritos que são completamen com razão, parecer estranha. No entanto, ela se explica
te independentes de toda idéia de deus ou de seres espi como uma das últimas conseqüências ela icléia da onipo
rituais. Antes de mais nada, há urna série ele interdi ções. A tência do sacrifício."39 Assim, em toda a primeira parte elo
Bíblia, por exemplo, ordena ã mulher viver iso lac i'a todo trabalho ele Bergaigne, só são abordados sacrifícios em
mês durante um período cleterminado33 ; obriga-a a u m que as divindades não desempenham nenhum papel.
isolamento análogo durante o parto31; proíbe atrelar jun Esse fato não é particular ã religião védica, sendo, ao
tos o jumento e o cavalo, usar um vestuário em que o câ contrário, ele grande generalidade. Em todo culto há práti
nhamo se misture com o linho35, sem q u e seja possível cas que atuam por si mesmas, por uma virtude que lhes é
perceber que papel a crença em Jeová pode ter desempe própria e sem que nenhum deus se intercale entre o indi
nhado nessas interdições; pois ele está ausente de todas víduo que executa o rito e o objetivo buscado. Quando,
as relações assim proibidas e não poderia estar interessa na festa dos Tabernáculos, o j udeu movimentava o ar agi
do por elas. O mesmo se pode dizer da maior parte das tando ramos ele salgueiro segundo um certo ritmo, era pa
interdições alim entares. E essas proibições não são parti ra fazer o vento le,-antar-se e a chuva cair; e acreditava-se
culares aos hebreus, mas as encontramos, sob formas di que o fenômeno desejado resultasse automaticamente do
versas e com o mesmo caráter, em numerosas religiões. rito, contanto que este fosse executado de forma correta4°.
18 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA Rfi/GIOSll QUESTÕES PREUJlf/f\A RES 19
Aliás, é isso o que explica a impo1tância primordial dada esfo1(0u-se por ahsorvê-los e assimilá-los; imprimiu-lhes
por quase todos os culros à parte material das cerimônias. uma cor cristã. Todavia, muitos deles persistiram até uma
Esse formalismo religioso, muito provavelmente a forma data recente ou persistem ainda com uma relativa autono
primária cio formalismo jurídico, advém ele que a fórmula mia: festas da árvore de maio, do solstício de verão, do car
a pronunciar, os movimentos a executar, tendo em si mes naval, crenças diversas relativas a gênios, a demônios lo
mos a fonte de sua eficácia, a perderiam, se não se confor cais, etc. Embora o caráter religioso desses fatos vá se apa
massem exatamente ao tipo consagrado pelo sucesso. gando, sua importância religiosa, não obstante, é tal que
Assim há ritos sem deuses e, n i clusive, há ritos dos permitiu a Mannhardt e sua escola renovarem a ciência elas
quais derivam os deuses. Nem todas as virtudes religiosas religiões. Uma definição que não levasse isso em conta não
emanam de personalidades di\·inas, e há relações cultu compreenderia, portanto. tudo o que é religioso.
rais que nsam outra coisa que não unir o homem a uma Os fenome11os rel1g1osos classificam-se natural mente
dhind<tdt.. Portanto, a religião vai além da ídt!ia de deuse:. cm <lua:. categorias fund<lmcmais. as crenças e os ritos �\s
ou de espíritos, logo não pode se definir exclusivamente primeiras são estados da opinião, consistem em represen
em função desta última. tações; os segundos são modos de ação determinados.
Entre esses dois tipos de fatos há exatamente a diferença
que separa o pensamento do movimento.
III Os ritos só podem ser definidos e distinguidos elas
outras práticas humanas, notadamente das práticas mo
Descartadas essas definições, é nossa vez de nos co rais, pela natureza especial ele seu objeto. Com efeico,
locarmos diante do problema. uma regra moral, assim como um rito. nos prescreve ma
Em primeiro lugar observemos que, em todas essas neiras de agir, mas que se dirigem a objetos de um gêne
fórmulas. é a natureza da religião em seu conjunto que se ro diferente. Portanto. é o ohjeto do rito que precisaría
tenta exprimir diretamente. Procede-se como se a religião mos caracterizar para podermos caracterizar o rróprio ri
formasse uma espécie de entidade indivisível, quando ela to. Ora, é na crença que a natureza especial desse objeto
é um todo formado ele partes; é um sistema mais ou me se exprime. Assim, só se pode definir o rito após se ter
nos co mplexo de mitos, ele dogm as, de ritos, de cerimô definido a crença.
nias. Ora, um todo não pode ser definido senão em rela Todas as crenças religiosas conhecidas, sejam sim
ção às partes que o formam. É mais metódico, portanto, p les ou com p lex a s , apresentam u m mesmo caráter co
procurar caracterizar os fenômenos elementares dos q ua is mum: supõem uma cl ass ifi cação das coisas , reais ou ideais,
toda religião resulta, antes do sistema produzido por sua que os homens concebem, em duas classes, em dois gê
união. Esse método impõe-se sobretudo pelo fato de exis neros opostos, designados geralmente por dois termos
tirem fenômenos religiosos que não dizem respeito a ne distintos que as palavras profa110 e sagrado t ra du zem bas
nhuma religião determinada. É o caso dos que constituem tante bem. A divisão do mundo em dois domínios que
a matéria do folclore. Em geral, são restos de religiões de compreendem. um, tudo o que é sagrado, outro, Ludo o
sa parecidas, sobrevivências inorganizadas; mas há outros que é profano, tal f> o traço distintivo cio pensamento reli
também que se formaram espontaneamente sob a influên gioso: as crenças, os mitos, os gnomos, as lendas, são re
cia de causas locais. Nos países europeus, o cristianismo presentações ou sistemas de representações que exrri-
20 AS FORMAS ELEMENTARES D1I \ffDA REl/GfOSll Q[.'ESTÕF.S Pl?El/MINllRES 21
mem a natureza das coisas sagradas, as virtudes e os po segunda seja sag rada em relação à primeira. Os escravos
deres que lhes sáo atribuídos, sua história, suas relações dependem de seus senhores, os súditos de seu rei, os sol
múLUas e com as coisas profanas. Mas, por coisas sagra dados de seus comandantes, as classes infer iores das clas
das , convém não entender simplesmente esses se res pes ses dirigentes, assim como o avarento depende de seu
soais que chamamos deuses ou espíritos: um rochedo, ouro e o ambicioso, do poder e das mãos que o detêm;
uma árvore, uma fonte, um seixo, um pedaço de madeira, ora, se dizemos ãs vezes de um homem que ele tem a re
uma casa, em uma palavra, uma coisa qualquer pode ser ligião dos seres ou das coisas aos quais atribui. assim. um
sagrada. Um riro pode ter esse caráter; inclusive, não exis valor emin ente e uma espécie de superioridade em rela
te rito que não o tenha em algum grau . llá palavras, fra ção a si próprio, é claro que, em todos esses casos, a pa
ses, fórmulas que só podem ser pronunciadas pela hoca lavra é ramada num sentido metafórico e que não há na
de p e rso nagens consagrados: há gestos e movimentos da. nessas relações, que seja propriamente religioso•!.
i o podem ser executados por cotlu o muntlo. ::>e o
quL n< Por outro lado, com·ém não perder de vista que há
sacrifício védico teve tal eficácia, se inclusive, segundo a coisas sagradas de todo tipo e que há aquelas dia nte das
mitologia. foi gerador de deuses, ao in\'és de ser apenas quais o homem se sente relativamente à v onta de. l:m
um meio de conquistar seus favores. é que ele possuía amuleto tem um caráter sagrado. no entanto o respeito
uma virtude comparável à dos seres mais sag l"<1dos. O cír que in sp ira nada tem de e xcepcion al . Mesmo diante de
culo dos objetos sagrados não pode, portanto, ser deter seus deuses, o homem ne m sempre se encontra numa po
minado de uma vez por todas; sua extensão é infinita sição de acentuada inferioridade. pois muitas vezes exer
mente variável conforme as religiões. Eis de que maneira ce sobre e les uma verdadei ra coercào física para obter o
o budismo é uma religião: é que, na falta de deuses, ele qu e desej a . Bate-se no fetiche com o q u a l não se está
ad mite a existência de coisas sagradas, que são as quatro contente, reconciliando-se com ele caso venha a se mos
verdades santas e as práticas que delas derivam 1 1 . trar mais dócil aos desejos de seu adoradorH. Para ohter a
Mas limi tamo-nos até aqu i a enumerar, a título de chuva, lançam-se pedras na fonte ou no lago sagrado on
exemplos, um certo número de coisas sagradas; cumpre de se supõe re si dir o deus da chuva: acredita-se, deste
agora indicar através de que características gerais elas se modo, obrigá-lo a sa ir e a se mostrar". Aliás, se é verdade
distinguem das coisas profanas. que o homem depende de seus deuses, a dependência é
Poderíamos ser tentados a defini-las, ele início, pelo r ecíproca . Também os deuses têm necessidade cio ho
lugar que geralmente lhes é atribuído na hierarquia dos mem: sem as oferendas e os sacrifícios, eles morreriam.
seres. Elas costumam ser consideradas como superiores Teremos ocasião ele mostrar que essa dependência dos
em dignidade e em poderes às coisas profa nas e, em par deuses em relação a seus fiéis mantém-se inclusive nas re
ticular, ao homem, quando este é apenas um homem e ligiões mais idealistas.
nada possui, por si próprio , de sagrado. Com efeito, o ho Mas, se uma distinção puramente hierárquica é um
mem é representado ocupando, em relação a elas, uma si critério ao mesmo tempo muito geral e muito impreciso,
ruaçào inferior e dependente; e essa representação por não nos resta outra coisa para definir o sagrado em rela
certo não deixa ele ser verdadeira. Só que nisto não há na ção ao profano, a não ser sua heterogeneidade. E o que
da que seja realmente característico cio sagrado. Não basta torna essa heterogeneidade suficiente para caracterizar se
que uma coisa seja subordinada a uma outra para que a melhante classificação elas coisas e disting ui- la de qual-
22 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA QUESTàES PREWlf!NARES 23
quer outra é justamente o fato de ela ser muito particular: re, que a pessoa determinada que ele era cessa de existir
ela é absoluta. Não existe na história do pensamento hu e que uma outra, instantaneamente, substitui a preceden
mano um outro exemplo de duas categorias de coisas tão te. Ele renasce sob uma nova forma. Considera-se que ce
profundamente diferenciadas, tão radicalmente opostas rimônias apropriadas realizam essa morte e esse renasci
uma ã outra. A oposição tradicional entre o bem e o mal mento, entendidos não num sentido simplesmente simbó
não é nada ao lado desta; pois o bem e o mal são duas es lico, mas tomados ao pé da letra46. Não é isso uma prova
pécies contrárias de um mesmo gênero, a mora l , assim co ele que há solução ele continuidade entre o ser profa no
mo a saúde e a doença são apenas dois aspectos diferen que ele era e o ser religioso em que se torna?
tes de uma mesma ordem de fatos, a vicia, ao passo que o Essa heterogeneidade inclusive é tal que não raro de
sagrado e o profano foram sempre e em toda pa1te conce genera num verdadeiro antagonismo. Os dois mundos
bidos pelo espírito humano como gêneros separados, co não são apenas concebidos como separados, mas como
mo dois mundos entre os quais nada existe em comum. As hostis e rivais um do outro. Como só pode penencer ple
energias que se manifestam num não são simplesmente as namente a um se tiver saído inteiramente cio outro, o ho
que se encontram no outro, com alguns graus a mais; são mem é exortado a retirar-se totalmente do profano, para
de outra natureza. Conforme as religiões, essa oposição foi levar uma vicia exclu sivamente religiosa. Daí a vida mo
concebida ele maneiras diferentes. Numa, para separar es nástica que, ao lado e fora cio meio natural onde vive o
ses dois tipos ele coisas, pareceu suficiente localizá-las em homem comum, organiza artificialmente um outro meio,
regiões distintas cio universo físico; noutra, algumas delas fechado ao primeiro e que quase sempre tende a ser o
são lançadas num meio ideal e transcendente, enquanto o seu oposto. Daí o ascetismo místico, cujo objeto é extirpar
mundo material é entregue às outras em plena proprieda do homem tudo o que nele pode permanecer ele apego
de. Mas, se as formas do contraste são variáveis45, o fato ao mundo profano. Daí, enfim, todas as formas de suicí
mesmo do contraste é universal. dio religioso, coroamento lógico desse ascetismo, pois a
Isso não significa, porém, que um ser jamais possa única maneira de escapar totalmente à vida profana é, em
passar de um desses mundos para o outro; mas a maneira última instância, evadir-se totalmente ela vida.
como essa passagem se produz, quando ocorre, põe em A oposição desses dois gêneros irá, aliás, traduzir-se
evidência a dualidade essencial dos dois reinos. A passa exteriormente por um signo visível que permita reconhe
gem implica, com efeito, uma verdadeira metamorfose. É cer com facilidade essa classificação muito especial, onde
o que demonstram particularmente os ritos de iniciação, quer q u e ela exista. Como a noção de sagrado está, no
tais como são praticados por uma quantidade ele povos. A pensamento dos homens, sempre e em toda parte separa
iniciação é uma longa série ele cerimônias que têm por da ela noção ele profano, como concebemos entre elas
objeto introduzir o jovem na vida religiosa: ele sai pela uma espécie ele vazio lógico, ao espírito repugna invenci
primeira vez cio mundo puramente profano onde trans velmente que as coisas correspondentes sejam confundi
correu sua primeira infância para entrar no círculo elas das ou simplesmente postas em contato, pois tal promis
coisas sagradas. Ora, essa mudança de estado é concebi cuidade ou mesmo uma contigüiclacle demasiado direta
da, não como o simples e regular desenvolvimento de contradizem violertamente o estado ele dissociação em
germes preexistentes, mas como uma transformação totius que se acham tais idéias nas consciências. A coisa sagrada
substantiae. Diz-se que, naquele momento, o jovem mor- é, por excelência, aquela que o profano não deve e não po-
AS FOR.ll-1.S ELE.llL\TARFS DA 1 7D.I RLLIGIOSA QlESTÕE.� PRELJ.lfl,\ARES _.,
r
de imrunemcnte tocar. Claro que essa interdirão não ro me a� circunstâncias em que se apl ica . st:ria, no fundo,
c.leria <..hegar ao ponto de tornai impOiiSÍ\el toda comu rn por toda parte, idêntico
a si mesmo: trata-se de um todo
caçào entre os dois mundos, pois, se o profano não pu formado de partes distintas e relativamente individualiza
desse de maneira nenhuma entrar em relação com o sa das. Cada grupo homogêneo de coisas sagradas, ou mes
grado, este de nada serviri a . l\las esse relacionamento, mo cada coisa sagrada de a lgu ma importânci a, constitui
além de ser sempre, por s i mesmo, uma operação delica um centro organizador em tomo do qual gravica um gru
da. que requer precauções e uma n
i iciação mais ou me po de crenças e de ritos, um culco particular; e não há re
nos complicada.�, de modo nenhum é possível sem que o ligião, por mais unitária que seja, que não reconheça uma
profano perca suas características específicas, sem que se pl ura lidade de coisas sagradas. Mesmo o criscianismo, pe
torne ele pré>prio sagrado nu m ceno grau e numa cena lo menos cm sua forma católica. admite, além da persona
medida. Os c.lois gêncros não podem se aproximar e cun lidade divina - aliás, tripla ao mesmo tempo que una -, a
seí\.ir ao mesmo tempo ':ilia natureza propria. \ i rgem, os anios, os santoii, as almas dos mortos, ecc..
Temos, desta vez, um primeiro critério daii crenças Assim, uma religião não se reduz geralmente a um
religiosas. Claro que, no interior desses dois gêncros fun culco único, mas consiste em um sistema de cultos dota
damentais, há espécies secundárias que, por sua vez, são dos de certa autonomia. Essa autonomia, por si n al , é variá
mais ou menos incompatíveis umas com as outras·•>i Mas vel. Às vezes, os CLiltos são hierarq uizados e subordinados
o característico do fenômeno religioso é que ele supõe a um culto predominance, no qual acabam inclusive por
sempre uma divisão bipa rtida do universo conhecido e ser absorvidos; mas ocorre também estarem simplesmente
conhech·el cm dois gêneros que com preende m tudo o justapostos e confederados. A religião que iremos estudar
que existe, mas que se excluem radicalmente. As coisas nos fornecerá justamente um exemplo desta última orga
sagradas são aque las que as proibições protegem e iso nização.
lam; as coisas profanas, aquelas a que se a pl ic a m essas Ao mesmo tempo, explica-se que possa haver grupos
proibii.;ü es e que devem permanecer a c.listância das pri de fenômenos rel igiosos que não pertencem a nenhum a
meiras. As crenças religiosas são representações que ex religião constituída: é que eles não estão ou não mais es
primem a natureza das coisas sagradas e as relações que tão integrados num s istema relig ioso. Se um dos c.:ulcos
elas mantê m, seja entre si, seja com as coisas profanas. em questão cons egu i r manter-se por razões especiais
Enfim, os ritos são regras de conduta que prescrevem co quando o conjunto do qual fazia parte desaparece, ele irá
mo o homem deve comportar-se com as coisas iiagradas.
Qua nclo u m certo número de c oi sas sagradas man
sobreviver apenas no estado desintegrado. Foi o que
aconteceu a tantos cultos agrários que sobreviveram a si
cém entre si rc laçôes ele coordenação e de subordinaçào, próprios no folclore . Em certos casos, não é sequer um
de maneira a formar um sistema dotado de uma certa uni culto, mas uma simples cerimônia , um rit o particular qul!
c.lade. mas que não participa ele próprio de nenhum outro persiste sob essa forma 19•
sistema do mesmo gênero, o conjunto das crenças e dos Em bora essa definição sej a a penas prelim ina r, ela já
ritos correspon dent es conscitui uma religião. Vê-se, por permite entrever em que termos se deve colocar o proble
essa definição, que uma religiào não corresponde neces ma que domina nc�essariamente a ciência das religiões.
sariamente a uma única e mesma idéia, não se reduz a Quando se acredita que os seres sagrados só se distin
um princípio único que, embora diversificando-se confor- guem dos demais pela maior intensidade dos poderes que
26 11.S FORMAS ElhillEN'filRliS DA l'fDA f<ElfG'fOSA <JI ESTÕES PRJ.il/Jllft\ANfü 27
lhes são atrihuídos, a questão de saher de que maneira os rnágko. Os demónios são igualmente u m instrumento
homens puderam ter a icléia desses seres é bastante sim usual da ação mágica. Ora, também os demônios são se
ples: basta examinar quais são as forças que, por sua ex res cercados de proibições: também eles são separados,
cepcional energia, foram capazes de impressionar tão vi \·ivem num mundo ã pane e, inclusive, costuma ser difícil
vamente o espírito humano para inspirar sentimentos reli distingui-los dos deuses propriamente clitoss3. Aliás, mes
giosos. Mas se, como tentamos estabelecer, as coisas sa mo no cristianismo, não é o diabo um deus decaído? E.
gradas diferem em natureza das coisas profanas, se são de independente até de suas origens, não tem ele um caráter
uma ouu·a essência, o problema é muico mais complexo. religioso pelo foto mesmo de o inferno. d o qual é o pre
Pois é preciso perguntar emão o que levou o homem a posto. ser um elemento indispensável da religião cristã?
ver no mundo dois mundos heterogêneos e incompará I lá inclusi,·e divindades regulares e oficiais que são invo
veb, quando nada na experiência sensh·el parecia dever cadas pelo mágico. Algumas vezes. são os deuses de um
.-..ugcrir-lhc .i idéia Je uma dualidade tào rndical. pon> estrangeiro: por exemplo, os mágicos gregos faztam
inte1vir deuses egípcios, assírios ou judeus. Outras vezes,
são deuses nacionais mesmos: Hécate e Diana eram obje
N to de um culto mágico; a Virgem, Cristo e os santos foram
utilizados da mesma maneira pelos mágicos cristãos�·•.
Entretanto, essa definição não é ainda completa, pois Será que se deveria então dizer que a magia não pode
convém igualmeme a duas ordens de fatos que, embora ser cliscinguicla com rigor ela religião? Que a magia está re
aparcnlac.los entre si, precisam ser distingu idos: u-arn-se da pleta de religião. como a religião de magia, e que. por
magia e da religião. conseguime, é impossível separá-las e definir uma sem a
Também a magia é feita de crenças e de ritos. Assim outra? J\<las o que torna essa tese dificilmente sustentável é
como a religião, tem seus mitos e seus dogmas ; eles são a marcada repugnância da religião pela magia e, em con
apenas mais rudin1emares, certamente porque, buscando trapartida, a hostilidade da segunda pela primeira. A magia
fins técn icos e utilitários, a magia não perde seu tempo tem uma espécie de prazer profissional em profanar as
com especulações. Ela tem igualmente suas cerimônias, coisas sagradas�\ em seus ritos. realiza em sentido diame
seus sacrifícios, suas pu rificações, suas preces, seus can tralmente oposto as cerimônias religiosas56. Por sua vez, a
tos e suas danças. Os seres que o mágico invoca, as for religião, se nem sempre condenou e proibiu os ritos mági
ças que emprega não são apenas ela mesma natureza que cos, os vê geralmente com desagrado. Como observam
as forças e os seres aos qLiais se dirige a religião; com m u i Hubert e Mauss, há, nos procedimentos do mágico, algo
ta freqüência, s ã o exatamente os mesmos Assim, desde . ele intrinsecameme anti-religioso57. Portanto, ainda que
as sociedades mais i n feriores, as almas dos morros são possa haver alguma relação entre esses dois tipos ele insti
coisas essencialmente sagradas e são obj eto de ritos reli tuições, é difícil que elas não se oponham em algum pon
giosos. Ao mesmo tempo, porém, elas desempenharam to; e é ainda mais necessário perceber em que se d istin
na magia um papel considerável. Tanto na Aust
rália50 co guem na medida em que pretendemos limitar nosso estu
mo na Melanésia51, tanto na Grécia como nos povos cris do ã rel igião e deter no ponto em que começa a magia.
tàoss2, as almas dos morros, suas ossadas, seus cabelos, Eis de que mane ira se pode traçar uma linha ele de
estão entre os intermediários muitas vezes utilizados pelo marcação entre esses dois domínios.
26 A.\ FORMAS ELE.l/EJ\TARES DA l7DA RELJG!OSA VI ESTÕES PREUWi\ARfil 27
lhes <;ão acrihuíclos a questão de c;aber dt' que maneira os 111!íg1n). Os demônios são igualmente u m instrumenro
homens puderam ter a idéia desses se res é hascance sim usual da ação mágica. Ora, também os dernônios são se
ples: basca examinar quais são as forças que, po r sua ex res cercados de p roibições : também eles são separados.
cepcio na l energia, foram capazes de impressionar tão ,-i ,·ivem num mundo ã parte e. inclusive, costuma ser d ifícil
vamente o espi riLo humano para inspirar sentimentos reli distingui-los dos deuses pro priamente ditoss3. Aliás, mes
giosos. Mas se, como ten tamos esrabelecer, as coisas sa mo no crist ia n ism o, não é o diabo um deus decaído? E,
gradas diferem em natureza das coisas profa nas, se são de indepen dente até de suas origens. não tem ele um caráter
uma outra essência, o p roblema é muito mais comp lexo. rel igioso pelo fato mesmo ele o inferno, cio qual é o pre
Pois é p reciso perguntar então o que levou o homem a posto, ser um elemento i nd i spensá vel da rel ig iã o cristã7
ver no mundo dois mundos heterogêneos e incompará l lá inclusive divindades regu la res e ofi cia is que sào invo
veis, quando nada na experi ência s<::n sível pa re cia dever cadas pelo mágico. Algumas vezes , são os deuses de um
s ugerir-lhe a id6ia de uma dualidade Láo radical . povo e.st rang<.:i ro: por exemplo, os mágicos g regos faziam
inlervir deuses egíp c ios , assírios ou j u deus . Ou tras vezes,
s:io deuses nacionais mesmos: I IécaLe e D iana eram obje
IV lO de um culto mágico ; a Virgem, Cristo e os santos foram
utilizados da mesma maneira pe los mágicos cristàos5 1 •
Entretanto, essa definição não é ainda com pleta , pois Será que se deveria então dizer que a magia não pode
convém igua lmen te a duas ordens de fatos que, embora ser disti nguida com rigor da rel igião? Que a magia está re
a parentados entre si, precisam ser distinguidos: trata-se da p leta de reli g iã o. como a rel i g ião de magia. e que. por
magia e da rel igião . co nsegu i nte . é impossíve l se pa rá-l as e definir uma sem a
Também a magia é feita de crenças e de ritos. Assim outra? �las o que torna essa tese dificilmente sustentável é
como a religi ão , tem seus mitos e seus dogmas; eles são i
: marcad a repugnâ ncia da rel igião pela magia e, em con
apenas mais rudimenrares, certamente porq u e . buscando trapart ida, a hostilidade da segunda pela primeira. A magia
fins técnicos e utili tários, a m agi a não perde seu tempo tem uma espécie de prazer profissional em profanar as
com espe cula çôes . Ela tem ig ualmente suas cerimônias, coi sas sagradas'i'i ; em seus ritos, realiza em sentido diame
seus s acrifí cios, suas pu ri ficações, suas preces, seus can tralmente oposto as ceri mônias re l ig iosass6 . Por sua vez, a
tos e suas danças. Os seres que o mágico i nv oca , as for re l igião, se nem sempre condenou e p roibiu os ritos mági
ças que emprega não são apenas da mesma natureza que cos, os vê gera l m en t e com desagrado. Como observa m
as forças e os seres aos quais se clirige a religião; com mui ! lubert e Mauss, há, nos p roced i m entos do mágico, algo
ta freqüência , são exatamente os mesmos . Assim, desde de int ri nse ca me nt e anti-re lig ioso17. Portanto, a i nda q u e
as socie d a des mais inferiores. as almas dos mortos são possa haver algum a re l ação entre esses dois tipos ele insti
co isas essencia l mente sag ra da s e c;ào objeto ele ritos reli tuições. é difícll que elas não c;e opon ham em algum pon
giosos. Ao mesmo tempo. porém, elas desempenh a ra m to; e é ainda ma is necessário perceber cm que se distin
na magia um papel considerável. Tamo na Auscráliaso co guem na medida em que r retende mos limitar nosso estu
rno n a Melanésia'i1, canto n a Grécia como nos povos cris do ã rel ig ião e deter no ponto em que começa a magia.
tàos52, as almas dos mortos, suas ossadas, seus cabelos, Eis d e que maneira se pode tra çar uma linha de de
estão entre os intem1ediários mu itas vezes utilizados pelo marcação entre esses dois domínios.
28 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA QUESTÔES Pf?ELIM!NARES 29
As crenças prorriamente religiosas são sempre co uma mesma vida. Não existe ip,rr�ja mágica. Entre o mági
muns a uma coletividade determinada, que declara aderir co e os ind ivíduos que o consultam, como também entre
a elas e praticar os ritos que Lhes são solidários. Tais cren esses indivíduos, não há vínculos duráveis que façam de
ças não são apenas admitidas, a título individual, por to les os membros de um mesmo corpo moral, comparável
dos os membros dessa coletividade, mas são próprias do àquele fo1mado pelos fiéis de um mesmo deus, pelos pra
grupo e fazem s ua unidade. Os indivíduos que compôem ticantes de um mesmo culto. O mágico tem uma clientela,
essa coletividade sentem-se ligados uns aos outros pelo não uma igrej a e seus clientes podem perfeitamente não
,
simples fato de terem uma fé comum. Uma sociedade cujos manter entre si nenhum relacionamento, ao ponto de se
membros estão u n idos por se representarem da mt:sma ignorarem uns aos outros; mesmo as relações que estabe
maneira o m un d o sagrado e por traduz irem essa repre lecem com o má gi co são, em geral , acidentais e passagei
sentaçao comum em práticas idênticas, é isso a que cha
mamo� uma 1gre1a. Ora. não encontramo� na hhtória. n::
ras: são em tudo semelhantes às de u m doente com seu
.
médico. O caráter oficial e publico com que às vezes ele é
ligião sem igreja. Às vezes a igreja é est rit amente nacional. invest i do não modifica em nada a situação; o fato ele
outras ,·ezes estende-se para além das fronteiras; ora exercer sua função abertamente não o une de maneira
abrange um povo inteiro (Roma, Atenas, o povo hebreu), mais regular e durável aos que recoffe m a seus serviços.
ora compreende apenas uma de suas frações (as socieda É verda de que, em certos casos, os mágicos formam
des cristãs desde o advento cio protestantismo); ora é diri enu·e si sociedades: acontece ele se reunirem mais ou me
gida por um c orpo de sacerdotes, ora é mais ou menos nos periodicamente para celebrarem em comum certos ri
desprovida de qualquer órgão clirigenre oficiaJ58. Mas, on tos: conhecemos o luga r que ocupam as reuniões de feiti
de quer que obse rvemos uma vida religiosa, elíl tem por ceiras no folclore europeu. Mas, antes ele mais nada, no
substrato um grupo definido. Mesmo os cultos ditos priva tar-se-á que tais associações de modo nenhum são indis
dos. como o culto doméstico ou o culto corporativo, satis pensáveis ao funcio namento da magia; são inclusive raras
fazem essa condição, pois são sempre celebrados por e basta nt e excepcionais. O mágico não tem a menor ne
uma coletividade - a família ou a corporação. Aliás, assim cessidade, para praticar sua a1te, de u nir-se a seus con fra
como essas religiões particulares são, na maioria das ve des. Ele é sob retu do um iso lado; em geral, longe de bus
zes, apenas formas especiais de uma religião mais geral car a sociedade, a evita. "Mesmo em relação a seus cole
que abarca a totalidade ela vicJa59, essas igrejas restritas, na gas, conserva sempre uma atitude rese1vada. "61 Ao contrá
realidade, não são mais que capelas de uma igreja mais rio, a religião é inseparável ela icléia d e igreja. Sob esse
vasta, a qual, por causa dessa extensão mesma, merece primeiro aspccLo, já exi s te entre a magia e a religião uma
ainda mais ser chamada por esse nome00. diferença essencia l . Além cio mais, e sobretudo, essas so
Algo bem diferente se dá com a magia. Claro que as ciedades mágicas, quando se formam, jamais compreen
crenças mágicas jamais deixam de ter alguma gencralida dem, muito pelo contrário, todos os adeptos ela magia,
dt:; co m freqüência estão difusas em largas camadas ele mas apenas os mágicos; os leigos, se é possível chamá-los
população e há inclusive muitos povos em que seu nú assim, ou seja, aqueles em proveito dos quais os ritos são
mero ele praticantes não é menor que o ela religião pro celebrados, aquele�, em suma, que representam os fiéis
priamente elita. Mas elas não têm por efeito ligar uns aos cios cultos regulares, são excluídos dess es encontros. Ora,
outros seus adeptos e uni-los num mesmo grupo, vivendo o mágico está para a magia assim como o sacerdote para
30 AS FORMAS J::LHMENTARES DA VIDA RJ::L!GlOSA tJl 1ESTÕES PRELIMINARIJS 31
a religiã o, e um colégio de sacerdotes não é um a igreja, ro de religiões americanas, assim como ela rel igiã o roma
como tampouco o seria uma congregação religi o sa que na (para citar apenas dois exemplos); pois ela é, como
prestasse a a lgum santo, na sombra do cl a ustro, um culto Vl'remos mais adiante, estreitamente solidária ã idéia de
parti c ul a r. Urna igreja não é s implesmente uma confraria . l ima, e a idéia de alma não é das que possam ser inteira
sace rd ota l; é a com u nidade moral formada por todos os mente abandonadas ao arbítrio dos particulares. Em uma
crentes ele uma mesma fé , tanto os fiéis como os sacerdo palavra, é a igreja ela qual ele é membro que ensina ao in
tes. Uma sociedade desse gênero normalmente não se ve divíduo o que são esses deuses pessoais, q u a l é seu pa
rifica na magia 62 . pel, ele que maneira deve entrar em contato com eles, ele
Mas, se introduzimos a noção de igreja na definição que maneira deve honrá-los. Quando analisamos metodi
de religião, não estaremos excluindo dela. ao mesmo tem ni mente as doutrinas dessa igreja, seja qual for, surge um
po, as religiões individuais qLie o indivíduo institui para si momento em que encontramos no trajeto aquelas que di-
mesmo e celebra por conta própria' Ora, há poucas socie 1.l'm rcspeito aos culros especiais. Ponamo, não temos aí
dades em que estas não ocorram. Cada Oji bway, corno ve duas religiões ele tipos diferentes e voltadas em sentidos
remos mais adiante, tem seu mcmit11 pessoal que ele pró opostos, mas sim, ele ambos os lados, as mesmas idéias e
prio escolhe e ao qual presta deveres rel ig iosos particula os mesmos princípios, aplicados a q u i às circunstâncias
res; o melanésio nas ilhas Banks tem seu lamanfu63; o ro que interessam à coletividade cm seu conjunto, ali, ã vicia
mano tem seu genfw,--ó4 ; o cristão, seu santo pad roeiro e do indivíduo. A soliclarieclacle é inclusive tão estreita q ue ,
seu anjo ela gua rda, etc . Todos esses cultos parecem, por cm alguns povos66, as cerimônias através das quais o fiel
defi nição , ind ependentes ela icléia d e grupo. E essas rel i entra pela primeira vez em comunicação com seu gênio
giões indivi duais não apenas são muito freqüentes na his protetor se misturam a ritos ele caráter púb l ico incontestá
tória: alguns se perguntam hoje se elas não estão destina vel, a saber, os ritos de iniciaçãoó7.
das a se tornar a forma eminente ela vicia religiosa e se não Restam as aspirações contemporâneas a uma religião
cheg a rá o dia em que não haverá outro culto senão aquele que consistiria inteiramente em estados interiores e subje
q u e cada um celebrará livremente em seu foro interio1-6s. tivos, e que seria livremente construída por cada um de
Mas, clcixanclo provisoriamente ele lado essas especula nós. Mas, por mais reais q u e sejam, elas não poderiam
ções sobre o futu ro , se nos limitarmos a considerar as reli afetar nossa definição, pois esta só pode aplicar-se a fatos
giões tais como são no presente e tais como foram no conhecidos e realizados, nào a virtualidades incertas. Po
passado, aparece com evidência que esses cultos indivi demos definir as religiões tais como são ou tais como fo
duais constituem, não sistemas religiosos distintos e autô ram, não tais como tendem mais ou menos vagamente a
nomos, mas simples aspectos el a religião comum a toda ser. É possível que esse individualismo religioso seja des
igreja da qua l os indivíduos fazem parte. O santo padroei t i nado a traduzir-se nos fatos, mas, para poder dizer em
ro dos cristãos é escolhido na lista oficia l cios santos reco que medida, seria preciso já saber o que é a religião, de
nhecidos pela igreja católica, e são igualmente regras ca que elementos é feita, ele que causas resulta , q u e função
nônicas que prescrevem ele que maneira cada fiel eleve preenche; questões todas essas cuja solução não se pode
cumprir esse culto particular. Do mesmo modo, a idéia de prejulgar enquantc não se tiver ultrapassado o limiar ela
que cada homem tem necessariamente um gênio protetor pesquisa. É somente ao cabo desse estudo q u e podere
está, sob formas diferentes, na base ele um grande núme- mos tratar de antecipar o futuro.
32 AS FORMAS ELEMENTARES DA VTDA JU:.'LJGIOSA
1 - O animismo
Não existe, por assim dizer, sistema religioso, antigo ( ompreender-se-ft melhor que é indispensável tentar u m
ou recente, no qual, sob formas diversas, não se encon novo caminho, quando s e tiver compreendid o a insufi-
trem lado a lado como que duas religiões, as quais, em 1 1 ência dessas concepções tradicionais.
bora estreitamente unidas e até penetrando-se mutuamen
te, não deixam de ser distintas. Uma dirige-se às coisas da
natureza, seja às grandes forças cósmicas, como os ven
tos, os rios, os astros, o céu, etc., seja aos objetos de todo
tipo que povoam a superfície da terra, plantas. animais, Foi Tylor quem constituiu, em seus traços essenciais,
pedras, etc.; por esse motivo lhe dão o nome de naturis .1 teoria animista�. Spencer, que a retomou cm segu ida,
mo. A outra tem por objeto os seres espirituais. os espíri n.i o o fez. é verdade, sem nela introduzir algumas modifi
tos, almas, gênios, demônios. divindades propriamente cações>. Mas, em �uma, tanto para um como para outro as
ditas ..igcntes ammados e consciences <.:omo o homem, questões se <.:olc>Lam nos mt:smos termo:>, e a� solu1,ocs
mas que se distinguem dele pela natureza dos poderes
.
m e nt e cio p olega r, não possa atirar a lança e se vingar. \'l', uma vez destruído o corpo - e os ritos funerários têm
Mas, embora assemelhando-se ao corpo, ela já possui ao l'm parte por objeto apressar essa destruição -, a separa
mesmo tempo algo de semi-espiritual. Diz-se que "é a par ( .10 é tida necessariamente por definitiva. Eis, portanto,
te mais sutil e mais leve do corpo", que "não tem carne, v" pír itos desligados de todo organismo e soltos livremen-
nem ossos, nem nervos"; que, quando se quer pegá-la, na 1�· pdo espaço. Como seu número aumenta com o tempo,
da se sente; que ela é '·como um corpo purificado"'.., _ lonna-se, ao lado d.1 população viva, uma população de
Aliás, juntamente com esse dado fundamental do so .limas. Essas almas de homens têm necessidades e pai
nho, outros fatos da experiência vinham naturalmente \úes de homens; procuram, portanto, misturar-se à vida
38 AS FORMAS ELENEl\'TARES DA \'IDA REUGJOSA \ / 1 1/ 1 l'J<lllMINARES 39
de seus compan heiros de ontem . seja para ajudá-los, �cja nf1cios teriam sido oferendas alimentares desti
para prej ud icá-los, conforme os sentimentos que co nser 11 • l 1 1 ·,, 11 1sfazer as necess idades e.los d efu ntos ; os pri
varam por eles. Ora, sua narureza faz delas, conforme o h 1 1'- d 1 . m:s teriam sido túmu losw.
caso, ou auxiliares muito preciosos, ou adversários muito
temidos. Essas almas podem, com efeito. graças à sua ex �l 1 o rn o esses espíritos eram de origem huma na .
1 1 M 111IL'ressavam pela vicia dos homens e agia m su
1s
trem a fl u idez, penetrar nos corpos e causa r todo tipo de
deso rdens, ou então, ao contrário, aumentar sua vitalida l' 1 1 1 1 1 1 1 1 l l' apena s sobre os acontecimentos hu ma nos .
x pl 1r< 1 r de que maneira outros espíritos foram ima
1
de. Assim, surge o hábito de atribuir-lhes todos os aconte J • 1 1 ,
cimentos ela vida que fogem um pouco do comum: há l 1 1 1d11" p.11.1 explicar ou tros fenômenos do universo. e de
pouco:> des:>es acontecimentos q ue não possam exp li ca r. q 1 1 1 111 1111 11 . 1 po rtanto . ao lado d o cu l to dos antepassa -
Elas consmuem, portanto, uma espéue de a rsenal de cau d• 1
sas SL'mprL' d isponíveis e que jamais deLxam l.:111 a pu
< 1 1 11�1i1u1 se um culto ela natureza.
ros o m ismo sena devida a
espírito cm busca de exp licações . Um homem parece ins
1',11.1 1 }"lot. t:ssa extensão do am
1 1 1i 1 11,dld.1dl' pa rt icular do primiti vo que, como a criança .
pirado? Fala com veemência? Encontra-se como que acima 11 \11 .li,,, d is t ingu ir o animado do inanimado. Já q u e os
de si mesmo e do nível médio dos homens? É que uma a l p 1 h 1 1 1 " ' " sl·rcs dos quais a criança começa a fo rm a r-se
ma benfazeja está dentro dele e o ani ma . Um outro �ofre 1 1 1 1 1 1 1d1 1.1 s,10 homens, isto é, el a própria e seus p róxi-
um ataque de loucura? É que um espírito mau introduziu 1 1 11 ' t 1 1 11 1 1 base no modelo da natureza humana que ela
1 n 1m:eber todas as co isas . Nos se us brinquedos,
,
se em seu corpo e u·ouxe-lhe a perturbação. Não há doen 11 1 1d•
ça que não possa ser relacionada a alguma influência des 11l iw111s <.k: todo tipo que afetam seus sentidos. ela vê
se gênero . Assim, o poder das almas cresce com tudo o
111 1
"( 11 ' hns como ela. Ora. o primitivo pensa como uma
, f 1 1 1 1i, .1. < :onseqüememcnte, também ele está inclinado a
'i
que lhes é atribuído, de tal maneira que o hom em acaba
por ver-se prisioneiro desse mundo imagi nário do qual, no 1 1 > 1 s.1s, mesmo inanimadas. de uma natureza aná
entanto , é o amor e o modelo. Cai sob a dependência des
1 1 ,1
1 ,1 Ml•l. Tendo c hegado, ponamo, pelas razões expos-
r
a proliferação dos animais, etc. Foi assim que a primeira 111111Lo d ifund i do dar a cada indivíduo, seja no momento
filosofia do homem, que está na base do culto dos ante 1k seu nascimento, seja mais ta rd e , o nome de um a n i -
pass ados, co mpl ecou -se por uma filosofia do mundo. 1 1 1 a l , de u m a p la nta, de um astro, de um objeto natural
Ante esses espí ritos cósmicos. o homem vi u-se num qualquer. Mas, por causa da extrema imprecisão de sua
estado de depe ndênc ia ainda mais evidente do que fa ce l i nguagem , é muito difícil ao primitivo dist i ngu ir uma me
aos duplos errantes de seus antepassados. Pois, com estes l 1 fo ra ela realidade. Portanto, ele logo teria perdido de
últimos, ainda podia manter um comércio ideal e imagi \ 1sta que essas denominações eram apenas figuras e. to-
nário, ao passo que ele depende realmente das coisas; pa 1 1 1a n do-as literalmente, teria acabado por acreditar que
ra viver. tem necessidade delas; ponanto. acreditou igua l u m ant epassado chamado Tigre ou Leão era realmente
mente ter necessidade dos espíritos que su postamente 1 1 1 11 tigre ou um leão. Em conseqüência. o culto prestado
animavam essas co isas e detemúnavam suas manifestações .1t(· ent ão a esse antepassado teria se transferido para o
d1n:rsa:.. Jmplorou sua assistência, solitnou-a mediante 11mal com o qual do ra \a nte era confundido: e o pera n
oferendas, preces, e a religião do homem completou-se do se a mesma subst i tu ição em relação às plantas. aos as-
numa religiào da natureza. 1 ros. a todos os fenômenrn; naturais, a religião ela natureza
l lerbert Spencer objeta a essa explicação que a hipó 11·na romado o lugar da velha religião cios mortos. Certa-
tese sobre a qual repousa é contestada pelos fatos. Adnú 1m:11Le, ao lado dessa confusão fundamental, Spencer ass i-
te-se. diz ele, que houve um momemo em que o homem 11.1la outras que teriam, aqui ou ali, reforçado a ação ela
não percebia as diferenças que separam o animado cio p 1 1meira. Por exemplo, os animais que freqüenram os ar-
inanimado. Orn, à med ida que se sobe na escala animal, 1l'dores dos túmulos ou as casas dos homens teriam sido
vê-se aumentar a capacidade de fazer essa distinção. Os 1nmados como almas reencarnadas. e é nessa qual id ade
anim a is superiores não confundem um objeto que se mo que os teriam adoradoll; ou, então, a m on t a n ha , que a
\'e por si mesmo e cujos movimentos se ajuswm a fins. 1 1 1d i çã o apont�n·a como o lugar de origem da ra<;a, terin
com aqueles movidos de fora e mecanicamente. ''Quando ,11 .ihaclo por se transformar na origem mesma dessa raça;
um gato se entretém com um rato que pegou, se ele o vê 11•riam acreditado que os homens eram os descendentes
pe rma necer por mui to tempo imóvel, toca-o com a ponta d1·1:! porque os a nt e passados tinham vindo de lá e, r o r-
da pata para fazê-lo correr. Evi de n te me nte, o gato pen sa 1 . i l llO, ela própria seria vista como antepassaclo 1 3. Mas, co-
que um ser vivo que for inco mo d a do procurará e sca 1 1 10 confessa S pencer, essas causas acessórias só t eri a m ti
par. " 1 1 O homem, mesmo prim i tivo, mlo p ode ria, no en do u ma influência sec u ndá ria : o que teria principal mente
tanto, ter uma i n te ligên c ia inferior ã ci os a n i mais q u e o t l1 ·11,;rminado a instituição cio natu rismo é "a interpretação
precederam na evol u ção ; assim, não pod e ser por falta ele l l ll'rnl ci os nomes metafóricos"t4.
d isc e rn ime nto que ele pas sou do culto do s an tepassados Precisávamos expor essa teoria a fim de que nossa
ao culto elas coisas. ,1 prt•senraç:io cio aninúsmo fosse co mpleta ; mas ela é mui
S e gu n d o Spencer, q u e neste po n to , mas somente l• > 1 1 u deq uacla aos fatos e está por demais universa lmente
neste, afasta-se de Tylor. essa passagem se deve ele fato a .iliandonada hoje para que haja motivos de deter-se ainda
u ma confusão, mas de outra espécie . Ela seria, p elo me 111.11s nela. Para podt.:r exp licar por uma i l u são um fato tão
nos na maior parte, o resu l tado de uma série de ambigüi V,<'1,d como a religião ela nat u reza . seria preci so que a ilu-
cla<les. Em muitas sociedades inferiores, é um costu me • 10 im·ocacla se devesse a causas de uma igual generali-
•.
42 AS FOJi\IAS ElE!lfEf\7'ARES DA VIDA REL/GfOSA ljl ESTÕES PREll.MINARES 43
dadc. Om, ainda que enganos como os que Spenct:r men 1 1.1 L da mitologi.i. ='Ião cabe duvidar, com efeito. que ela
cio na com uns raros exemplos pudessem explicar, lá onde 'eja algo essencialmente religioso por sua natureza, suas
os constatamos, a transformação do culto dos antepassa origens e suas fun ções . Foi da religião que os filósofos a
dos em culto da natureza, não se percebe por que razão receberam; assim, não se pode compreender a forma sob
eles teriam se produzido com uma espécie de universali .1 qual ela se apresenta entre os pensadores da Antiguida
dade. Nenhum mecanismo psíquico necessitava deles. Cla de. se não se levarem em conta os elementos míticos que
ro que a palavra, por sua ambigüida de podia favorecer o
, serviram para formá-la.
equívoco; mas todas as lembranças pessoais deixadas pelo Mas se Ty lor teve o mérito de colocar o problema, a
antepassado na memória dos homens deviam opor-se à ,
. o]uçào que ele oferece não deixa de levantar graves difi
confusão. Por que a tradição que representa,·a o antepas rnldades.
sado tal como havia sido, isto é, como um homem que vi Antes de mais nada, haveria reservas a fazer sobre o
veu uma vida de homem, teria por toda parte cedido ao principio mesmo que está na base dessa teoria. A<lmite-::.e
prestígio ela palavra? Por outro lado. devia haver alguma n>mo uma evidência que a alma é inteiramente distinta
dificuldade em admitir que os homens pudessem nascer do corpo e que, dentro ou fora dele, ela vive normalmen-
de uma monta nha, ele um astro, ele um animal ou ele uma 1e uma vicia própria e autônoma. Ora, veremosis que essa
planta; a idéia de tal exceção às condições ordinária::. ela rnncepção não é a cio primitivo; pelo menos, ela exprime
geração não poderia deixar de levantar fortes resistências. .1penas um aspecto da idéia que se faz ela alma. Para o
Assim, longe de o erro encontrar diante de si um caminho primitivo, a alma, embora independente, sob certos as
aberto, razões de toda ordem pareciam dever defender os pecros, do organismo que a anima, confunde-se em pane
espíritos contra ele. Portanto, não se compreende como, a rnm este ú ltimo, ao ponto de não poder ser separada ra
despeito de tantos obstáculos, teria podido triunfar de dicalmente dele: há órgãos que são, não apenas sua sede
uma mant:ira tão gemi. pri,·ilegiada, mas sua forma exterior e sua manifesracão
material . A noção é, portanto. mais complexa cio que su
püc a doutrina e, conseqüentemente, é duvidoso que as
Il vxperiências invocadas sejam suficientes para jus ti fi cá-la .
pois, mesmo se permitissem compreender de que manei-
Resta a teoria el e Tylor, cuja autoridade é sempre 1, 1 o homem acreditou-se duplo. elas não saberiam expli
grande. Suas hipóteses sobre o sonho, sobre a gênese das < , i r como essa dualidade não exclui, mas, ao contrário.
_
idéias de alma e espirito, são ainda clássicas. E importan 11 nplica, uma unidade profunda e uma penetração íntima
te. pois, testar ::.eu valor. dos dois seres assim d iferenciados.
Em primeiro lugar, deve-se reconhecer que os teóri Admitamos, porém , que a idéia de alma seja redutíYel
cos cio animismo prestaram um importante se1v1ço à ciên 1 1déia de duplo e n::jamos como teria se formado esta úl-
cia das religiões e mesmo à história geral elas idéias, ao 1 1 1na. Ela teria sido sugerida ao homem pela experiência
submeterem a noção de alma à análise histórica. Ao invés 1 lo sonho. Para compreender de que maneira, enquanto
de a considerarem, como tantos filósofos, um dado sim l'll corpo pennane....ia deitado no chão, era capaz ele ver
ples e imediato da consciência, viram nela, de maneira dura nte o sono lugares mais ou menos distantes, ele teria
hem mais justa, um todo complexo, um produto da histó- sido levado a conceber-se como formado por dois seres:
l'-l •IS FOflllAS ELEllE.VFARHS DA 1 7DA RELIGIOSA C>l ESTÔfil PRE.l..Llfl.\ARES
-;eu corpo, de um lado. e. de outro, um segundo si mL'-; pel 1 > nw'>mo tempo que n6c;· acreditamos vê-lo e ouvi-lo
mo, capaz de deixar o organismo no qual habita e de per .th onde no:. mesmos nos \Cmos. Segundo o animismo. o
correr o espaço. Mas. em primeiro lugar, para que essa hi primitivo explicará esses fatos imaginando que seu duplo
i
pótese de duplo pudesse mpor-se aos homens com uma 101 ,·isitado ou encontrado pelo duplo deste ou daquele de
e�pécic de necessidade. era preciso que fosse a única pas seus companheiros. Mas será suficiente que os interrogue.
sivei ou. pelo menos, a mais econômica. Ora, em realida ao despertar. para constatar que a experiência deles não
de há hipóteses mais simples, cuja idéia, ao que parece, t·oincidc com a sua. Dura nte o mesmo tempo. também
devia apresentar-se também naturalmente aos cspíricos. des tiveram sonhos, mas diferentes. ão se viram pa1t1c1-
Por que, por exemplo, o adormecido nào teria imaginado panclo da mesma cena; acreditam ter visitado lugares bem
que, d urante o sono, era capaz de ver a di s tâ nci a ? Para diversos. E uma vez que, em semelhante caso, cais contra
di<,,:Ocs devem ser a regra, como elas não leva ria m 01. ho
nH:: ns a dizcr·se que houve provavclmenLc erro, que dcs
atribuir-se um w l pod er, o dispêndio de imaginação seria
menor do que para construir essa complexa noçao de um
d u p lo , feito de uma substância etérea, semi-invisível, do imaginaram, que foram vítimas de uma ilusão? Pois há um
qual a cxp eri l: ncia direta não oferecia nenhum exemplo. n::no simplismo na cega cred ulidade qu e se atribui ao pri
Em Lodo caso, supondo-se que cenas sonhos peçam natu mitivo. É improvável que ele objetive necessariamente to
ralmente a explicação animista, há com ceneza muitos ou das as suas sensações. Não dcL-xará de perceber que, mes
tros que são absolutamente refratários a ela. Com muita mo no estado de vigília, seus sentidos o enganam às vezes.
freqül:ncia nossos sonhos relacionam-se a acontecimentos l'or que os acreditaria mais infalíveis à noite que e.Jurante o
lia, ontem. anteontem. em nossa juventude, etc.; sonhos t·ilmente seus sonhos por real idades e os interpretasse co
como esses são freqüentes e ocupam um lugar considerá mo um desdobramento de seu ser.
,.el em nossa vida noturna. Ora, a idéia do duplo não é ca Além do mais. mesmo que todo sonho se explicac;se
paz de explicá-los. Se o duplo pode transportar-se de um perfeitamente pela hi pótese do duplo e inclus1\ e nào pu
ponto a outro do espaço. não se compreende como lhe desse explicar-se de outro modo, faltaria dizer por que o
seria possível remontar o curso do tempo. Como é que o homem huscou dar-lhe uma explicação. Certamente, o
homem, por mais rudimentar que fosse sua inteligência, sonho constitui a matéria de um problema possíve l . Mas
pocl�ria acreditar, uma vez desperto, que acabara ele pre passamos constantemente ao largo de problemas que nüo
senciar realmente ou de to ma r parte em acontecimentos no:, colocamos, que nüo suspeitamos sequer, enquanto
que ele sabia terem se passado outrora( Como poderia :tlguma circunstância nüo nos fez sentir a necess i d a de ele
im ag ina r que Linha vivido durante o sono uma vida que colocá-los. Mesmo qua ndo o gosto da pura cspcculacâo é
despertado, a r efle x ã o está longe d e levantar Loc.las as
que•aõ
ele sa bi a ter há muiLo transcorrido? Era bem mais natural
que visse nessas imagens renovadas o que elas s:'.i.o real e<; a que poderia eventualmente aplicar-c;e; somen
mente, isto é, lembr,mças, cais como ele as rem durante o tL· a atraem as que apresentam um interesse particular. So
dia, ma<> de uma intensidade particular. bretudo quando se trata de fatos que se reproduzem sem
Por outro lado, nas cenas em que somos arares e tes pre da mesma mareira, o coMume adormece facilmente a
temunhas enquanto dormimos. acontece freqüentemente t uriosidade e sequer pensamos em nos interrogar. Para
que um de nossos contemporâneos desempenhe um pa- ..,an1dir esse torpor, é preciso que exigências pr.íticas ou,
46 AS FORMAS ELEtl/EN'fARES DA VZDA RHLTGIOSA 1 li 'ESTÔE
S PRELh\llNARES 47
p e l o menos, um interesse teórico muito premente ve �onho::., ou a lguns deles, às movimentacões ele seu duplo.
nham estimular nossa atenção e voltá-la para esse l a d o . Mas isso não quer dizer que o sonho forneceu efetiva
Eis aí como, a cada momento ela história, h á tantas coisas mente os elementos com os quais a icléia ele duplo ou ele
que renunciamos a compreender, sem mesmo ter cons .lima foi constrnícla; pois ela pode ter sido apl icada poste
ciência ele nossa renúncia. Até épocas não muito distan riormente aos fenômenos do sonho, cio êxtase e ela pos
tes, acreditava-se que o sol tivesse apenas alguns pés ele �essão, sem no entanto derivar deles. É freqüente que
diâmetro. Havia algo de incomp reensível no fato ele u m uma idéia, uma vez constituída, seja empregada para co
disco luminoso tão pequeno ser suficiente para il uminar a < >rclenar ou esclarecer, com uma luz às vezes mais aparen
Terra; no entanto, du rante séculos, a humanidade não te que real, fatos com os quais ela primitivamente não se
pensou em resolver essa contradição. A hereditariedade é relacionava e que não podiam, por s i próprios, sugeri-la.
um fato há muito conhecido, mas só recentemente procu l loje, prova-se correntemente Deus e a imortalidade ela
rou-se elaborar a sua teoria. Eram até aceitas certas cren .tlma mostrando que essas crenças decorrem dos princípios
ças que a tornavam inteiramente ininteligível: assim, para lunclamentais ela moral; em realidade, elas têm uma ori
várias sociedades australianas de que iremos falar, a crian gem bem diferente. A história cio pensamento religioso
ça não é fisiologicameme o produto ele seus pais 1 6. Essa poderia fornecer numerosos exemplos dessas justificações
preguiça intelectual é levada necessariamente ao máximo retrospectivas que nada podem nos ensinar sobre a ma
no primitivo. Esse ser frágil, disputando com dificuldade neira como s e formaram as icléias nem sobre os elemen
sua vicia contra todas as forças que o assaltam, não tem los que as compõem.
tempo para o luxo em matéria ele especulação. Só deve Aliás, é provável que o primitivo distinga entre seus
refletir quando incitado a isso. Ora, é difícil perceber o :-.onhos e não explique todos ela mesma forma . . . Em nos
que pode tê-lo levado a fazer cio sonho o tema de suas sas sociedades européias, mesmo as pessoas, muitas ain
meditações. O que é o sonho em nossa vida? Como é pe < la, para quem o sono é uma espécie ele estado mágico
queno o espaço que nela ocupa! Sobretudo por causa das religioso, no qual o espírito, a liviado parcialmente do cor
impressões muito vagas que deixa na memória, da pró po, tem uma acuidade ele visão que não possui durante a
pria rapidez com que se apaga ela lembrança. E corno é , igília. não chegam ao ponto ele considerar toe.los os seus
surpreendente, portanto, que um homem de uma inteli o.;onhos como intuições místicas: muito pelo contrário, vêem
gência tão rudimentar tenha despendido tantos esforços 11�1 maior parte deles, como todo o mundo, apenas esta
para encontrar sua explicação! De suas duas existências < los profanos, jogos ele imagens insignificantes, simples
sucessivas, a diurna e a noturna, é a primeira que devia . d ucinações. É possível supor que o primitivo sempre fez
interessá-lo mais. Não é estranho que a segunda tenha ca distinções análogas. Codrington diz formalmente, cios me
tivado suficientemente sua atenção para que fizesse dela l.1 nésios, que eles não atribuem a migrações de almas to
a base de todo um sistema ele idéias complicadas e desti ' los os seus sonhos indistintamente , mas apenas os que
nadas a ter sobre seu pensamento e sua conduta uma in 1 1 1 1 p ressionam fortemente sua imaginação17. Certamente
fluência tão profunda? , kvem-se entender como tais aqueles em que o aclorme-
Tudo tende a provar, portanto, que a teoria animista 1 ido ju lga-se em cantata com seres religiosos, gênios ben
da alma, apesar cio crédito que ainda desfruta, deve ser lvitores ou malignos, almas cios mortos, etc. Do mesmo
revisada. Claro que, hoje, o próprio primitivo atribui seus 1 1 1 oc.lo, os Dieri distinguem muito claramente os sonhos
'f8 AS FO!l\/AS ELE..ltE.\1�1RES DA l 7{)A RFLJGIO!JA !JI T...ffÓES PREL/.11/,\tlRFS
ordmúrios e as \'isõec; norurnac; em que "e mostram ·1 clec; 1.er cn·r que a alma sobrevi\·e ao corpo (e ha reser\'as a
um anugo ou um parente fal ecido. Dao nomes diferentes 1..'ll1 itír sobre e:..'>e ponto), por que essa almJ, pelo simpk:s
a esses dois tipos de estados. 10 pri meiro, ,·f:em uma fato de e>tar agora desligada do organismo, mudaria com
simples fantasia de sua imaginação; atribuem o segundo à pleta mente de natureza? Se, em vida, não era senão uma
ação de um espírito malignoHl . Todos os fatos que l lowitt toisa profa na, um princípio vital ambula nte, de que manei
menciona a título de exemplos para mostrar como o aus '"' se transformaria de repente numa coisa sagrada, objeto
traliano atribui ã alma o poder ele abandonar o corpo têm de sentimentos rel igi osos? A morte não U1e acrescenta nada
igua l mente um caráter místico: o adormecido ju lga-se de essenc ia l, salvo uma maior liberdade de movimenLOs.
transportado ao país dos morros ou então conversa com 'bo estando mais ligada a uma residência oficial, doravan
um companheiro dcfunto19_ Esses sonhos sao frcqüentes l l' da pode fazer o tempo tcxlo o que até então só fazia de
entre os prnrncivus-0. rui provavelmente em wrno desses 1101te; ma.., a ação que e capaz de exercer é ::.empre da me..,
fatos qrn. Sl formou a teoria. Para cxpl id-lus . aJm ite-M! 111.1 natureza Por qu1.; então os 'h·os leriam 'isto nesse du
que as almas dos mortos viessem reencontrar os vivos du pio desenraizado e ,·agabundo de seu companheiro de on
ra n te seu sono, expl i cação tanto mais faci lmente aceita lt'lll algo mais cio que um semelhante? Tratava-se de um se
porque nenhum faca de experiência podia invalidá-la. Só melhante cuja vi zinhança podia ser incômoda; não se trata
que esses sonhos só eram possíveis onde j á houvesse a ' a de uma clivindadcl!.
idéia de espíritos, de a l mas, de país cios mortos, ou seja, Inclusive parece que a morte deveria ter po r efei to
onde a evolução rel igiosa estivesse relativamente avança dl'h i l itar as energ ias vitais, ao invés de realçá-las. De fato,
da. Longe de poderem fornecer à re l ig ião a noção funda uma crença muito difundida nas sociedades infe rior es
mental sobre a qua l repousa, tais sonhos supunham u m <Jll l..' a alma participa intimamente da vida d o corpo. Se cs-
1·
sistema religioso já constituído e d o qual depcndiam2 1 . 11· e ferido, ela também o é, e no lugar corre::.pondente.
p, > rtanto ela de,·eria em·elhecer j u ntamente com ele. llá
P«>'os em que nao se prestam deveres funer.í rios aos ho
ll1 111L·ns chegados ã senilidade; eles são tratados como se
1.11nhém sua alma li\ esse se tornado seniP3. Aco n tec e
Mas chegamos ao que constitui o núcleo mesmo da 111L·smo q ue sejam regul armente mortas. antes de terem ai
doutrina. l llt'<ldo a velhice, as person:ilidades privilegiadas, reis o u
,,11 l· rdotes, tidas corno detentoras d e u m poderoso espí ri-
•
\·ez dissolvido definitivamente o corpo não "e percebe 1lma-. d o s morros· dirigem-lhec; preces. invocacões. fa
como ela poderia lhe sobreviver, se é apenas seu <luplo. zem-lhes oferendas e sacrifíc ios. Mai> nem todo ti11dalo (:
A idéia <le uma sobrevivência torna-se, desse ponto d e objeto dessas práticas rituais; somente têm essa honra os
vista, dificilmente inteligível. Há, portanto, um hiato, u m que emanam ele homens aos quais a opinião pública atri
vazio lógico e psicológico entre a idéia ele um duplo em buía, em vicia, uma virtude muito especial que os mela
liberdade e a de um espírito ao qual se presta um culto. nésios chamam de mana. Mais adiante teremos ele preci
Esse intervalo afigura-se mais considerável ainda sar a idéia que essa palavra exprime; por ora, será sufi
quando se sabe o abismo que separa o mundo sagrado ciente dizer que é o caráter distintivo de todo ser sagra
do mundo profano, pois é evidente que uma simples mu do. O mana, diz Codrington, "é o que permite produzir
dança de grau não poderia ser suficiente para fazer passar efeitos que estào fora do poder ordinário dos homens,
uma coisa ele uma categoria à outra. Os seres sagrados fora dos processos ordinários da natureza"'2'. Cm sacer
não se disunguem apenas <los profanos pda:. formas es dutt::, um feiticeiro. uma fórmula ritual têm o mana, assim
tranhas ou desconcertantes que assumem ou pelos pode como uma pedra sagrada ou um espírito. Portanto, os
res mais amplos que possuem; entre ambos, também não únicos tindalo aos quais são prestadas homenagens reli
há medida comum. Ora. na noção de duplo não há nada giosas são aqueles que, quando seu proprietário era vivo,
que possa explicar uma heterogeneidade tão radical. Diz já eram por si mesmos seres sagrados. Quanto às outras
se que, uma vez libertado do corpo, o duplo pode fazer almas, as dos homens comuns, ela multidão cios profa
aos vivos ou muito bem ou muito mal, segundo a maneira nos, elas são, diz o mesmo autor, "nada, tanto depois co
pela qual os trata. Mas não é suficiente que um ser cause mo antes da morte"26 . A morte, portanto, espontanea
inquietação no seu meio para que pareça de uma nature mente e por si só, não possui nenhuma virtude diviniza
za diferente daqueles cuja tranqüilidade ameaça. É verda dora. Como ela consuma, de uma maneira mais completa
de que, no sentimento que o fiel experimenta pelas coisas e definitiva, a separação da alma em relação às coisas
que adora, entra sempre alguma reserva e algum temor; profanas, pode muito bem reforçar o caráter sagrado d a
mas é um temor sui generis, feito de respeito mais que de alma, se esta j á o possui, mas não o cria.
pavor. no qual pre\·alece essa emoção muito particular Aliás, se realmente, como supõe a hipótese animista,
que a majestade inspira ao homem. A idéia de majestade os primeiros seres sagrados foram as almas cios mortos e
é essencialmente religiosa. Assim, pode-se dizer que nada o primeiro culto o dos antepassados, deveríamos consta
se explicou da religião enquanto não se tiver descoberto tar que, quanto mais as socieclacles são ele um tipo inferior,
ele onde vem essa icléia, a que ela corresponde e o que tanto mais esse culto tem importâ ncia na viela religiosa.
pode tê-la despertado nas consciências. Simples almas de Ora, é antes o contrário que se verifica. O culto ancestral
homens não poderiam ser investidas desse caráter pelo :-;ó se desenvolve e, inclusive, só se apresenta sob uma
simples fato de terem desencarnado forma caracteríc;tica em sociedades avançadas como a
É o que mostra claramente o exemplo da Melanésia. China. o Egito, as cidades gregas e latinas; ao contrário,
Os melanésios crêem que o h o m e m possui u m a a l m a l'Stá ausente nas sociedades australianas que representam.
q u e abandona o corpo n a morte; e l a muda então d e no como veremos, a forma de organização social mais baixa
me e torna-se o que eles chamam um linda/o, u m 11at e mais simples que conhecemos. Nelas encontramos, cer
mat, etc. Por outro lado, existe entre eles um culto das tamente, ritos funerários e ritos de luto; mas essas práticas
52 rlS FORMAS EUJ..\f&\TARES DA 17DA RWGTOS11 !..11 /\TÕES PRELIMh\ílRES 53
não con<;tituem um culto ainda que às vezes lhes tenha 1 ·tnmônias consistem geralmente em repn.:scntações
sido dado. erradamente, esse nome. Com efeito, um culro dr.1máricas nas quais são imitadas as ações que os mitos
não é simplesmente um conjunto de prescrições rituais 11 ribu em a esses heróis Iegendários29. Só que os persona
que o homem é obrigado a segu ir em certas circunstâncias; i.:ens assim colocados em cena não são homens que, após
é um sistema de ritos, de festas , de cerimônias diversos ll'rcrn v i vido uma vida de homens. teriam sido rra nsfor-
que apresentam todos a característica de retornarem perio 111ados em espécies de deuses pelo faro da morte. Su põ e
dicamente. Eles co rresponde m à necess idade que sente o 'l' que, em v i da desfrutavam já de p od eres sobre-huma-
11os. Atribuem-lhes tudo o que se fez de gra nde na histó-
,
fiel e le manter e fo rta lecer, a i nte rva los ele te mpo regu la
res, o vínculo com os se res sagrados dos quais depende . 11.1 da tribo e mesmo na história do mundo. Eles é que re-
Eis por que se fala de ritos nupciais, e não de um culto 1 1 1111 fei to em grande parte a te rra tal como ela é e os ho-
nupcial; de ritos de nascimento. e não de u m culto do re 111ens tais como eles são. A glória que continua a cercá-los
cém-nJsddo, é quL o� JconteL i mcnco� que enseja ra m es 11.10 lhes \·em, portanto, apen as do fato de serem anrepas
ses ritos não implicam nenhuma periodicidade. Do mes 'ados. mas de um caráter divino que sempre lhes foi atri
mo modo, só há culto dos antepassados quando sacrifícios buído; para retomar a expressão melanésia, eles s;1o cons
são feitos de tempos em tempos sobre os túmulos, quan titutivamente dotados de mana. Portanto, não há nada aí
do libações neles são derra ma das em cl ar as mais ou me q u e demonstre ter a morte o menor poder de divinizar.
nos a p ro x im adas , qu a nd o festas sã o regu l a rm ente cele Jnc:l usive não se pode, sem im p rop riedade, d izer qu e es
bradas em ho nra cio morto. Mas o austra liano não man 'l'S ritos constituam um culto dos ante passa dos , visto que
tém com seus mortos nenhum comércio desse gênero. 11:·1 0 se dirigem aos a n te passados como tais. Para que pos
Claro que deve se pu l ta r seus restos con forme o rito, cho ,,1 haver um verdad eiro culto dos m01tos. cumpre que os
rá-los durante o tempo prescrito e da maneira prescrita, 1 ntepassados rea is , os parentes que os homens perdem
vingá-los. se for o caso:r. !\las, uma vez quit ados esses de 11 1lmente rodo dia se tornem q uando morros, objeto de
, ,
veres piedosos. uma vez dessecados os ossos, e t endo o 11 111 culto: ora. uma vez mais. de um cu lto desse gênero
prazo do luto terminado, tudo está dito e os sobreviventes 11ao exis tem vestígi os na Austrália.
não têm mais obrigações para com seus parentes que dei Assim, o culto que, segundo a h ipótese, de\·eria ser
xaram de existir. Há, é verdade, urna forma pela qual os preponderante nas sociedades inferiores, em realidade
mortos continuam a conservar u m l uga r na vi da de seus 111existe nelas. D efini t iv am ente o australiano só se ocupa
dt· seus morros no momento mesmo do falecimento e
,
tal que há fu ndamento em perguncar se não foram os pri 1 m:m p1,de praticar um comunismo sexual que seria im-
1 >u�sível se esse ciúme não fosse susceth·el de a ten uar-se e
rnesmo desapa rece r quando necessário35. É q ue o homem ,
meiros que derivaram dos segun dos , se as almas do� ho
Lang3I, RévilJe32 e o próprio Robertson Smith33, é necessá 111cn1e. modifica as idéias que seríamos levados a ter des
rio fazer seu exame. �.is coisas. os sentimentos a que estaríamos incl inados se
nhcdecêssemos apenas ã n ossa natureza animal; ela os al-
11·ra ao ponto mesmo de substitu í-los por sentimentos con-
Essa extensão cio culto cios mortos ao conjunto da na
tureza viria cio fato de tendermos instintivamente a repre
sentar todas as coisas à nossa imagem. isto é, como seres 1 1 .1 rios. Acaso não chega a fazer-nos considerar nossa pró-
vivos e pensantes. Já vimos que o próprio Spencer contes 111 ia vida algo de pouco valor, quando ela é. para o ani-
o 1 11.d, o bem por excelência.31•? Portanto, é enganoso buscar
111k·rir a constituição mental do homem primitivo toma ndo
ta v a a realidade desse suposto instimo. Uma vez que
c:i algo sobre o que <;e descarregar e se dirige natu ral rnen 1 1c :ico ntece com os espíritos atribuídos :'is c.lifc
w
l <
para a coisa que a provocou, embora esta mio te n ha 111• rrnsas da natureza. O deus do Sol nào se encontra
tu 1
H .,
cul pa. A conduca do adulto, em semelhante caso, é muitas .,a riamente no Sol, nem o espírito desta pedra na
1 < t l 1 . 1 que lhe serve de hábitat prin cipa l. Claro que um es-
<.'
g i as . Para saber se o homem esteve primitivamente incli 1 1 1 . 1 11 .1 de uma civilizacào relativamente avan çada . Na ori
nado às confusões que l he im puta m, mio é o a ni ma l nem " 111 os seres sagrados sflo concebidos sob uma forma
a criança de hoje que devemos cons idera r, mas as próprias 1 1 1 1 1 1 1:1 1 ou vegetal e.la qual a forma humana só len tamen te
crenças primitivas. Se os espíritos e os deuses tia natureza ,, dvsvcncilhou. Veremos ad i a n t e de que m a n e i r a , n a
são rea l m e nt e construídos à i m age m da a l m a humana, \ 1 1., 1 r: i l ia , a n i ma is e p l a mas situam-se n o pr i mei ro plano
eles devem trazer a marca de sua origem e evocar os Lra , l.1 .. n>isas sag ra da s. Mesmo e n tre os índios da América do
(OS essenciais ele seu modelo. A ca racterística por exce 1\1(11 l l , as gra ndes di\'i nc.ladcs cósmicas, que começam ali
l<?ncia e.la alma é ser concebida corno o pr i ncí pio interior 1 ,, ., objeto de um culto, são com mu ita freqüê ncia repn.:
que anima o organismo; é ela que o move. que produz ,, 1 11 .1dos sob espécies a n i ma isW. ·'A difere nça entre o �1 ni-
sua vida, de modo que, quando dele se retira, a vida se 111.d o homem e o ��r divino, diz Réville. que constata o
detém ou é s us pen sa . É no corpo que ela tem sua resi 1 1 1 1 1 nao sem surpresa, não é se nt id a nesse estado de es-
dência naLUral, pelo menos enquanto existe. Ora, não é 1 •11110 e. na maioria das vezes, dir-se-ia que é a forma a11i-
">8 AS FOJWAS ELDIE1VTARES
I 011 \'JJ)A REJ.1G10SA 1 1/ Jr !/::\ PREL/,\1/NARE.S 59
mal ct .forma Ji1 nda mental. '' 10 Para encontrar um deus n untes imagens que ocupam nossos espíritos du-
consLruído inLeiramente com elementos humanos, é preci 1 1 1 \ll' n sono, pois a alma e o d uplo, e o duplo não é se-
so chegar quase até o cristianismo. Aqui o Deus é um ho 1 1 1 1 1 o homem tal como aparece a s i mesmo enquanro
mem, não somente pe lo aspecto físico sob o qual manifes lt l1 me. De s se ponLo de vista, os seres sagrados se riam,
tou-se temporariamente, mas também pe las idéias e os l '"1 l , 1 11 l o, apenas concepções imaginárias que o homem
sentimentos que exprime. Mas mesmo em Roma e na Gré I • 1 1.1 proc.luzido numa espécie de delírio que dele se apo
cia, embora os deuses fossem geral mente representados ,1, 1.1 regula rmenrc todo dia, sem q ue se possa perceber
com traços humanos. vários personagens míticos traziam p 1 1 1 que fins úteis elas servem ou a que correspondem
ainda a marca de uma origem animal: é D ioniso. que ve 11.1 1 l·;1 l i dade . Se o homem reza. se faz sacrifícios e oferen
mos ::.eguidamente sob a forma de um touro ou pelo me t l 1 se se submete às privações múl ti pla s que o rito lhe
nos com os chifres de couro; é Demécer. represen tada com l 'l l '"neve. é q ue uma espécie de aberraçào constitutiva o
uma cri na de GI\alo, é Pà. é �Hle no . sao os Faunas, etc .• I 1 ; 11 >ma r os sonhos por pen.:e pções . a morte por um so
Falcava mu ito. portanto. para que o homem estivesse incli n• • prolongado, os corpos brutos por seres vivos e pen-
nado a im por sua fonna às coisas. E mais: ele próp ri o co 111tcs. Assim, não apenas, como mu itos tendem a admi -
meçou por conceber-se como participando imimameme 1 1 1 .1 forma sob a q ua l as forças rel igiosas são ou foram
e.la natu reza animal. Com efeito, é uma crença quasL uni 1qiresentac.las não as exprimiria exatamente; nã o ap enas
\'ersal na Austrália, também muito difundida entre os índios 1 1 s1 1nbolos atrnvés cios quais elas foram pensadas masca-
da América do None. que os an tepassados dos hom ens fo 1 , 1 11;1111 p a rc ia l mente sua verdadeira natureza, mas tam
ram a nimais ou pl antas. ou, pe lo menos, que os primeiros h,·m. por trás dessas imagens e dessas figuras, não have-
homens tinham. na totalidade ou em parte, os caracteres 1 1.1 outra coisa senão pes adelos de es pírit os n i cultos. A re
distintivos de cenas e spécies animais ou vegetais. Assim , ligi a o seria apenas, em última instância, um sonho siste-
longe de ver em toda parte apenas seres semelhantes a 11: 1tizado e vivido, mas sem fundamento no rea1'2. Eis por
ele, o homem começou por pensar a si pró prio à ima gem ' l l le os teóricos do animismo, quando buscam as origens
de seres cios quais especificamente se diferenciava. do pensamento re l igioso , se contentam. em suma, com
muito pouco . Q ua n do j ulg am ter conseguido expl icar de
' ue maneira o homem pôd e ser n
l i duzido a imaginar se res
V , om formas estranhas, vaporosas, como os que vemos em
"onho, o problema lhes pa rece resolvido . ,
A t e or ia anim ista implica, aliás, u ma co nse qüênc ia Em realidade, ele não foi seq uer abordado. E inacl-
que é cal vez sua melhor refutação. 111issível, com c.:feiLo, que sistemas de idéias como as reli
Se fosse verc.ladeira, seria preciso admitir que as cren giúes, que ocuparam na história um lugar tão considcrã-
ças religiosas não passam de represen tações alucinatórias, 1 t'i, nos quais os povos de todas as épocas v ieram buscar
sem nenhum fundamento objetivo. Supõe-se, com efeito, .1 en ergia necessária para viver. sejam apenas tecidos de
que toe.las sejam derivadas da noção de alma, já qu e não ilusões. Todos reconhecem hoje que o direito, a mora l , o
se vêem nos espiritos e nos deu ses nada mais que almas próprio pensamente científico nasceram na religião, du-
sublimadas. Mas a noção de alma, esta, é inte i ramente 1.1nte muito tempo confundiram-se com ela e permanece
construída, segunc.lo Tylor e seus discípulos, com as vagas r.un penetrados de seu espírito. Como é que uma vã fan-
60 AS FORMAS ELE
MENTARES DA \/IDA RJ::l!C!OSrt
�'
neira tão duradoura a s consciências humanas? Segura
mente, eleve ser um princípio, para a ciência das religiões, PRI NCIPAIS CONCEPÇÕES
que a religião não exprime nada que não esteja na natu 1 1 \ HELIG IÃO ELEMENTAR
f t "111/111 1ação)
reza; pois só existe ciência de fenómenos naturais. Toda a
questão está em saber a que reino ela natureza pertencem
essas realidades e o que pôde levar os homens a conce
bê-las sob essa forma singular que é própria cio pensa
mento religioso. Mas, para que essa questão possa ser co
locada, é necessário começar por admitir que são coisas
reais que são assim representadas. Quando os filósofos
do século XVIII faziam da religião um vasto erro imagina
do pelos padres, eles podiam ao menos explicar sua per
sistência pelo interesse ela casta sacerdotal em enganar as
multidões. Mas se os próprios povos foram fabricantes
11 O naturismo
desses sistemas de idéias erróneas e , ao mesmo tempo,
vítimas deles, como é que esse logro extraordinário pôde
perpetuar-se ao longo ele toda a história?
Deve-se mesmo perguntar se, nessas condições, o lkm diferente é o espírito em que se inspira a escola
termo ciência das religiões pode ser empregado sem im 11 1 1 1 1 rista.
propriedade. Uma ciência é uma disciplina que, não im Seus adeptos, aliás, provêm de outros meios. Os ani-
porta como seja concebida, se aplica sempre a uma reali 1 1 1 1 �1.1s, na sua maior parte, são etnógrafos ou antropólo-
dade dada. A física e a química são ciências, porque os 111 11-o. As religiões que estudaram figuram entre a s mais
fenómenos físico-químicos são reais e de uma realidade 1 • 1 1 1ssciras que a humanidade praticou. Daí a importância
que não depende das verdades que elas demonstram. Há 1 1 1 1 1nordial que atribuem às almas dos mortos, aos espíri
uma ciência psicológica porque há realmente consciências '' '" • aos demónios, isto é, aos seres espirituais ele segunda
cujo direito à existência não depende dos psicólogos. Ao "' dvm: é que essas religiões praticamente não conhecem
conu·ário , a religião não poderia sobreviver à teoria ani 1 1 1 11ros que sejam de uma ordem mais elevada1. Ao con
mista, a partir do momento em que esta fosse reconheci l 1 Mio, as teorias que iremos agora expor são obra ele estu-
da como verdadeira por todos os homens, pois estes neces 1 l lc 1sos que se ocuparam sobretudo das grandes civil izações
sariamente abandonariam os erros cuja natureza e origem 1 l.1 l � u ropa e da Ásia.
lhes seriam assim reveladas. Que ciência seria essa, cuja Desde que, a pa1tir dos irmãos Grimm, se percebeu o
principal descoberta consistiria em fazer desapa recer o
1 t t l l'resse que havia em comparar umas às outras as dife-
objeto mesmo ele que trata?
1 1 · 1 nes mitologias elos povos indo-europeus, chamaram a
1 1 vn<;ão as notáveis simil itudes que elas apresentavam. Fo-
1 . 1 m identificados personagens míticos que, sob nomes cli
l 1 ·f'l'ntes, simbolizavam as mesmas idéias e cumpriam as
62 AS FOR.llAS ELFllF\TARES DA 1 ln.I RI':/1G/Q!)A 1 /1 •I \ f'REU\fli\ARill 63
mesm:.ts funções. inclusi\·e compar..1ram SL os nomes e jul na Fran..,a por .\fü:hd Bréal"'. Ela encontra\'a tão
gou-se poder estabelecer que às vezes rinham algum pa 1 t !\ l l .1 rl.'sistência que, seg undo uma frase de Gruppe''.
rentesco. Tais semelhanças só pareciam poder explicar-se ht g1 •li um momento em qu e, com exceção de algu ns fi-
por uma comun idade de origem. Ponanto. era-se levado a 1 !1 'W1s chíssicos, alheios aos estudos védicos, todos os
supor que essas concepções. por mais variadas na a pa rên 1 1 1 11 , J . •).lns tomavam como ponto de partida de suas expli-
cia prov in ha m , em realidade, de um fundo comum do 1 1 1 11•s os princípios ele Max Müller ou ele Kuhn"7.
que
,
qual não eram mais que fo rmas diversificadas e que não < .onvém portanto examinar em consistem esses
era impossível identificar. Pelo método comparativo. de pr l111 lfHOS e o que va l em.
\'ia-se poder remontar. para além dessas grandes rel igiões. 1 .nmo ninguém os apresentou de forma mais siste-
a um sistema de idéias bem mai<. antigo. a uma religião real
tllt .1 do que \fa,· \lüller, é sobretudo dele que tomare
1 1 1u'I 11-; elementos ela exposição a seguir8.
11
mente pnmitiva da qual as outras teriam derivado .
\ idéia, uma n:z emitida, difundiu se rapidamLnte nos cl<'\L'I necessariamente se apresentar. não como um vago
meios c1cntíficos. Ao nome de Kuhn está intimamente as t' confuso devaneio, mas como um sistema de idéias
e de
sociado o de seu cunhado Schwarrz. CUJO l n ro sobre a pr.111c.1s bem fundamentadas na realidade.
Origem da mitologia• foi pu blicado logo depois do prece \1as quais são <1:; sensações geradoras do pensamen
dente. Steinhal e toda a escola alemã da l 'õlke1psycbologie t • , rd i gioso? Tal é a questão que o estudo dos Vedas de
ligam-se ao mesmo movimento. Em 1863, a teoria fo i in- ' 1.1 1 judar a resolver.
.
AS FOR.IIAS EIEllEVTARES DA \'IDA RELIGIO�A \ / l >/·\ PREU\11,\ARES 65
Os nomes dos deuses védicos são gerJlmente noml:� 11 ..,1 milagre foram chamado� naturab. no �emido de
comuns, ainda empregados como Lais, ou antigos no 1 1 • 1 1 1 previstos, o rd i ná r ios, intel igíveis . . . Ora, foi esse
mes comuns cu j o sentido original é possível recuperar. 1 11 1 domínio aberto aos sentimentos ele su rpresa e de Le-
Ora, tanto uns como outros designam os principais fenô 1 1 1 11 l o i essa maravilha, esse milag re, esse imenso desco-
menos da natureza. Assim, Agni, nome ele uma elas princi 1 1 h ido oposto ao que é conhecido . . . que deu o primeiro
pais divindades ela Índia, significa, a princípio, apenas o 1 1 1 1 1 111 1 ,o ao pensamento religioso e à linguagem religio-
fato material do fogo, tal como os sentidos o percebem e 1 1 1 . para ilustrnr seu pensamento, Max Müller o aplica
sem nenhuma adição mitológica. Mesmo nos Vedas ele é 1 1 1 111.1 força natural que ocupa um importante lugar na re
li ri lo \'éd ica: ao fogo. "Procurem, diz ele, transportar-se
ainda empregado nessa acepção: em todo caso, o que -
mostra claramente o traço primitivo dessa significacào é 11 I " nsamento a e<;se estágio da vida primitiva em que é
que ela se consc1vou cm outras línguas indo-européias: o 1 • , '"º· forçosamente, situar a origem e mesmo as p r i -
laLino ig11is, o lituano ugnis, o antigo eslavo ogny sào evi 1 1 11 1 1 . 1 'i fases ela religião ela natureza; poderão facilmente
dentemente parentes próximos de Agni. Do mesmo modo, 1 1 1 1 1i•.111ar a impressão que deve ter causado sobre o espíri-
o parentesco entre o sânscrito Dyaus, o Zeus grego, o jovis 1 1 1 l1111nano o primeiro aparecimento do fogo. Não impor-
latino, o Zio do alto alemão, é hoje incontestado. Ele pro 1 , , 11110 tenha se manifestado na origem, quer tenha vin-
va que essas palavras diferentes designam uma única e 1 1 1 1 , li 1 raio. quer tenha sido obtido esfregando-se ramos
mesma divindade que os diferentes povos indo-europeus t i• ,1 1\'0re uns contra os outros, ou ainda que tenha brota-
já reconheciam como tal antes de sua separação. Ora,
Dyaus significa céu brilhante. Esses e outros fatos Lendem
1 11 , , l.1s pedras sob forma de faíscas: era algo que funcio-
1 1 1 1 1, que fazia progredir, a lgo que era preciso preservar,
a demonstrar que, nesses povos, os corpos e as forças da q 1 1 1 t razia a destruição consigo, mas, ao mesmo tempo,
natureza foram os primeiros ob jetos aos quais se apegou o q111 tornava a vida possível no inverno, que protegia du-
sentimento religioso: foram as primeiras coisas divinizadas. 1 11 111 a noite. que 'ief\ia como arma tanto ofensiva quanto
Dando u m passo a mais no caminho da generalização, de 1 1 11:-i,·a. Graças a ele, o homem deixou de devorar a
Max Müller julgou-se autorizado a concluir que a evolução 1 11 m crua e tornou-se consumidor de alimentos cozidos.
religiosa da humanidade em geral th·era o mesmo ponto 1 e 11 t.11nbém por intermédio do fogo que, mai� tarde, tra
de partida. l i d l i.1ram-se os metais. fabricaram-se os instrumentos e as
É quase exclusivamente por considerações de ordem 1 1 1 1 1 1s, ele se tornou, assim, um fator indispensável de to
psicológica que ele justifica essa inferência. Os espetáculos ' 11 1 progresso técnico e artísL ico . Que seríamos nós, mes-
variados que a natureza oferece ao hômem lhe parecem 1 1 1 1 1 .1gora, sem o fogo? " I J O homem, diz o mesmo autor
preencher todas as condições necessárias para despertar 1 11 1 1 11;1 outra obra. não pode entrar em relação com a natu-
imediatamente nos espíritos a idéia religiosa. Com efeito. 1 1 • 1 sem se dar conta de sua imensidão, de sua infinicla
diz ele, "ao primeiro olhar que os homens lançaram �obre ' h l la o excede por wdos os lados. Além dos espaços
o mundo, nada lhes pareceu menos natural que a nature q111 de percebe, há outros que se estendem sem conta;
za. A natu reza era para eles a grande surpresa, o grande 1 1 1 b um dos momentos da duração é precedido e segui-
Lerror; era uma maravilha e u m mi lagre permanente. Foi 11 1 de um tempo para o qual nenhum li mite pode ser fixa-
somente mais tarde, quando descobriram sua constância, 1 l11; o rio que corre manifesta uma força infinita, uma vez
sua invariabilidade, seu reto rno regular, que ce1tos aspec- q1 w nada o esgota 1 2 . Não há aspecto da natureza que não
66 AS FORMAS El.EJIE.\TARJ.i.!J 0.-1 11DA REUGIU:.. 1 1 7 \TÔES PRELJ.111.\'ARF.\' 67
seja ca �az de despertar em nós essa sensação e:-;maga 111' 1 1 ou niquc•la categoria de coisas. de maneira a poder
de um infinito que nos envolve e domina i�. E é dessa
dora
sen i l 11<·1 que ele é isto ou aqu il o, isto e não aquilo. l\Ias, por
sação que teriam derivado as religiõesi 1 . 1 1 1 1 1 rn lado, classificar é nomear, pois uma i dé ia gera l só
. .No emanto, �la estavam aí apenas em gcrme i s. A re
� 1rn1 existência e realidade na e pela pa l av ra que a exprime
hg1ao so_
se consrnu1u realmente quando essas forças na
•
a 1·1 usao,
a lin- , n1sas diferentes eram designadas por um mesmo termo;
p; 1 ra expl i ca r essas ho m on i mi as, admitiu-se que as coisas
-
nao - exJS[Ja '
, , Jementos h umanos que traduziam es-
guagem era fei ta de ºflão p ôde ap l i car-se à natureza sem
tados hum a n os , e la 0 hoje, observa Bréal, ela nos obriga. , nrresponclentes eram transformações umas das outras, e
1
u·an:-.figurá-la2 . i\ lesn 1 conceber as coisas sob 11nvas ficções se forjaram para tomar inteligíveis essas mc-
esse ângulo .
numa certa medi da, �1 1 idéia. ainda que desig 1 1morfoses. Ou então. ainda. uma palavra que deixara de
·l'í compreendida foi a origem de fábulas destinadas a
sonalidades divinas, a princípio confundidas com as coi 1 1 que lhes atribuíam Max Müller e sua escola2'1. Mas dei
sas, acabaram por distinguir-se delas e por determinar-se. \ , tremos de lado essas questoes cujo exame supõe uma
Eis como teria se constituído a noção do divino. Quan ' ompetência muito especial de lingüista, para nos deter-
to à religião cios antepassados, ela seria apenas um refle 1nos nos princípios gerais cio sistema. Ainda mais q u e
xo ela precedenre13. A noção ele alma teria se formado, a onvém não confundir demasiadamente a icléia naturista
1 om esses postulados controversos, pois ela é admitida
e
riam a dar c;e conta dLc;c;o· os fracas.,os. infinitamente maic; l'�'ic \'éu é o tecido de crenças fabulosas que a mitologia
frequentes que os êxitos, logo os teriam advenitlo do en l'roJuz. Portanto, o crente 'ive, como o delirante, num
gano, e a religião. abalada a todo instante por sucessivos 111 cio povoado de seres e coisas q u e têm apenas uma
desmentidos, não teria podido durar. • \1stência verbal. Aliás, é o que o próprio �lax Müller re-
Certamente ocorre ãs vezes que um erro se perpetue 1 o nhece, pois ele vê nos mitos o produto de uma doença
na história; mas, à parte um concurso de circunstâncias do pensamento. Primi tivamente os havia atribuído a uma
inteiramente exccpcionais, ele só pode manter-se assim tloenca da linguagem; mas como, segundo ele, linguagem
for praticamente verdadeiro, pensamento são inseparáveis, o que é verdade para um
1 \'erdade para o outro. "Quando, diz ele, tentei car:.icteri-
se isto é, se, mesmo sem nos •
nos ensinaram a utiliza r e que sabemos agora serem os �:1 1 ramente um sintoma de condição anormal ou doença
únicos eficazes? Se é isso o que os homens pediam à reli du pensamento, digamos claramentt:, de loucura bem ca-
gião. não c;e pode compreender que ela tenha podido se 1.1uerizada. ".�! E o argumento não \'ale apenas contra Max
manter, a menos que hábeis artifícios os tenham 1mped1- f\lulkr e sua teoria, mas contr.a o princípio mt:smo cio na-
do de reconhecer que ela não lhes dava o que dela espe 1 1 1 1 1-.mo, não importa como se aplique. Se a religião tem
ravam. Seria preciso. portanto. mais uma vez. retornar às po1 principal objeto exprimir as forças da natureza, não é
explicações simplistas do século XV1IP 1 . f l• •ss1\'el ver nela Olrtr.i coisa senão um sistema de ficções
1•1 1,1.pnosas cuja sobrevivência é incompreensível.
I� verdade � fax Müller acreditou escapar à objc
i\ssim. é somentt: em aparência que o naturismo es
capa à objeção que há pouco fazíamos ao a n i m ismo. que
Também ele faz da religião um sistema de imagens aluci \ 1 1 > , cuja gravidade percebia, ao d isting u ir radicalmente a
natórias, uma vez que a reduz a ser apenas uma imensa 1 1 1 1 1 o l ogia da religião e ao colocar a primeira fora ela se-
metáfora sem valor objetivo. É verdade que lhe atribui um 1 1 11da. Ele reclama o d i reito de reservar o nome religião
• •llll'l1te às crencas que são conformes às prescrições ela
•r. d saudável e aos ensinamentos de uma teologia racio-
ponto de partida no real. nas c;ensações que os fenôme
nos da natureza provocam em nós; mas, pela açao presti 111
giosa da l i nguagem. essa sensação se transforma em con 11;.11 Os mitos, ao contrário. seriam construções parasitárias
cepções extravagantes. O pensamento religioso só entra q11c, sob a influência da linguagem. teriam \'indo -;e en-
em contato com a realidade para cobri-la em seguida com 1 l.tr nessas representações fundamentais e desnaturá
um véu espesso, que dissimula suas formas ' ercladeiras; l1 \�sim. a crença em Zeus teria sido religiosa na medi-
AS FO/lllAS ELEJIE.\TrlRES DA 1WA R/JJ(dOSA 11 /\/l
)E\ Pllf:.Ll.lf/.VARF.'i 75
.
senciais ela vida rel igiosa . Se o mito for ret irado da reli
gião, cumpre igua lmen te retirar dela o rito, po is os ritos
l�ntretanto. dirão. seja como for que se expliquem as
r ·l iµiocs é certo q11c el as se enganaram sohre a verdadei-
se d irigem, na maioria das vezes, a personalida des defini
.
Um fato da expe
· nci a
t tl comum não pode nos dar a idéia de u m a coisa
q11c tem por característica estar fora do mundo da expe-
1 1t· nc:ia comum. O homem, tal como se revela a si mesmo
1 · m seus sonhos, continua sendo apenas um homem. As
t orras naturais, tais como nossos sentidos as percebem,
11.IC> são senão forças narurais, seja qual for sua intensicla
dv. Daí procede a crítica comum que fazíamos a ambas as
\l'ITLLO [\'
<> TOTEMISMO COMO RELIGIÃO
l �LEMENTAR
l ltstôrico da questão. Método para lrettá-/a
Um fato da expe
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t tl comum não pode nos dar a idéia de u m a coisa
q11c tem por característica estar fora do mundo da expe-
1 1t· nc:ia comum. O homem, tal como se revela a si mesmo
1 · m seus sonhos, continua sendo apenas um homem. As
t orras naturais, tais como nossos sentidos as percebem,
11.IC> são senão forças narurais, seja qual for sua intensicla
dv. Daí proced e a crítica comum que fazíamos a ambas as
AS FORMAS t.LIJMENTARES DA VlDA RELIG •IC lliS PRELLMINARES
82
IOSA 11 83
doutrinas. Para explicar como esses pretensos dados do t l1·,th.: então a suspeitar que se tratava de um sistema
pensamento religioso puderam adquirir um caráter sagra 1 11 1 1 1 11<1 cena generalidade.
do que nada fundamenta objetivamente, era preciso ad Mas nele não se via muito mais cio que uma institui
.
m1tll' que todo um modo de representações alucinatórias " , 1·ssencialmente arcaica, uma curiosidade etnográfica
veio sobrepor-se a eles, desnaturá-los a ponto ele torná , 1 1 1 grande interesse para o historiador. Mac Lennan foi o
los irreconhecíveis e substituir a realidade por uma pura i •1 l11 wiro a tentar vincular o totemismo à história geral da
fantasmagoria. Aqui, as ilusões do sonho é que teriam l i 1 1 1 11aniclade. Numa série ele artigos publicados na Fort-
operado essa transfiguração; ali, o brilhante e vão cortejo ll:/11�11 Review4, procurou mostrar não apenas que o tote-
ele imagens evocadas pela palavra. Mas em ambos os ca 1 1 1 1�1110 era uma religião, mas que dessa religião derivou
sos acabava-se vendo na religião o produto de uma inter 1 1 111.1 grande quantidade ele crenças e de práticas que se
pretação delirante. , 1 1 1 llntram em sistemas religiosos bem mais avançados.
Uma conclusão positiva se obtém, portanto, desse 1 l ll'gou a fazer dele, inclusive, a origem ele todos os cul-
exame crítico. Se nem o homem nem a natureza possuem, 1 • " zoolátricos e fitolátricos que podem ser observados
em si mesmos, caráter sagrado, é que o derivam de uma 1 1 1 1� povos antigos. Seguramente, essa extensão do tote-
outra fonte. Portanto, eleve haver, fora elo indivíduo hu
mano e do mundo físico, alguma outra realidade em rda
1 1 1 1�1110 era abusiva. O culto elos animais e elas plantas de
i " nde ele causas múltiplas que não se pode, sem simplis-
ção à qual essa espécie de delírio - que, em certo sentido 1110, reduzir à unidade. Mas esse simplismo, por seus exa
toda religião é de fato - adquire uma significação e u1 � v.•·1<is mesmos, tinha pelo menos a vantagem ele evidenciar
valor objetivo. Em outros termos: para além elo que foi 1 i111 portância histórica elo totemismo.
chamado ele animismo e ele naturismo, eleve haver um Por outro lado, os americanistas tinham notado h á
.
�
outro cu to, mais fundamental e mais primitivo, do qual 1 1 1 1 dlo tempo que o totemismo era solidário ele uma orga-
os pnmerros provavelmente são apenas formas derivadas 1d1.1ção social determinada: a que tem por base a divisão
ou aspectos particulares. 1 l,1 sociedade em clãs5. Em 1877, em sua Ancient Society6,
Esse culto existe, ele fato; é o que foi chamado pelos l 1•wis H. Morgan decidiu estudar essa organização, deter-
,
etnografos de totemismo. 1 1 1 111:11' suas características distintivas e, ao mesmo tempo,
1 1 1< >strar sua generalidade nas tribos indígenas da América
.i'IL'ntrional e central. Quase no mesmo momento e, aliás,
11nr sugestão direta ele Morgan, Fison e Howitt7 constata
doutrinas. Para explicar como esses pretensos dados do t l1·,th.: então a suspeitar que se tratava de um sistema
pensamento religioso puderam adquirir um caráter sagra 1 11 1 1 1 11<1 cena generalidade.
do que nada fundamenta objetivamente, era preciso ad Mas nele não se via muito mais cio que uma institui
.
m1tll' que todo um modo de representações alucinatórias " , 1·ssencialmente arcaica, uma curiosidade etnográfica
veio sobrepor-se a eles, desnaturá-los a ponto ele torná , 1 1 1 grande interesse para o historiador. Mac Lennan foi o
los irreconhecíveis e substituir a realidade por uma pura i •1 l11 wiro a tentar vincular o totemismo à história geral da
fantasmagoria. Aqui, as ilusões do sonho é que teriam l i 1 1 1 11aniclade. Numa série ele artigos publicados na Fort-
operado essa transfiguração; ali, o brilhante e vão cortejo ll:/11�11 Review4, procurou mostrar não apenas que o tote-
ele imagens evocadas pela palavra. Mas em ambos os ca 1 1 1 1�1110 era uma religião, mas que dessa religião derivou
sos acabava-se vendo na religião o produto de uma inter 1 1 111.1 grande quantidade ele crenças e de práticas que se
pretação delirante. , 1 1 1 llntram em sistemas religiosos bem mais avançados.
Uma conclusão positiva se obtém, portanto, desse 1 l ll'gou a fazer dele, inclusive, a origem ele todos os cul-
exame crítico. Se nem o homem nem a natureza possuem, 1 • " zoolátricos e fitolátricos que podem ser observados
em si mesmos, caráter sagrado, é que o derivam de uma 1 1 1 1� povos antigos. Seguramente, essa extensão do tote-
outra fonte. Portanto, eleve haver, fora elo indivíduo hu
mano e do mundo físico, alguma outra realidade em rda
1 1 1 1�1110 era abusiva. O culto elos animais e elas plantas de
i " nde ele causas múltiplas que não se pode, sem simplis-
ção à qual essa espécie de delírio - que, em certo sentido 1110, reduzir à unidade. Mas esse simplismo, por seus exa
toda religião é de fato - adquire uma significação e u1 � v.•·1<is mesmos, tinha pelo menos a vantagem ele evidenciar
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chamado ele animismo e ele naturismo, eleve haver um Por outro lado, os americanistas tinham notado h á
.
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outro cu to, mais fundamental e mais primitivo, do qual 1 1 1 1 dlo tempo que o totemismo era solidário ele uma orga-
os pnmerros provavelmente são apenas formas derivadas 1d1.1ção social determinada: a que tem por base a divisão
ou aspectos particulares. 1 l,1 sociedade em clãs5. Em 1877, em sua Ancient Society6,
Esse culto existe, ele fato; é o que foi chamado pelos l 1•wis H. Morgan decidiu estudar essa organização, deter-
,
etnografos de totemismo. 1 1 1 111:11' suas características distintivas e, ao mesmo tempo,
1 1 1< >strar sua generalidade nas tribos indígenas da América
.i'IL'ntrional e central. Quase no mesmo momento e, aliás,
11nr sugestão direta ele Morgan, Fison e Howitt7 constata
Tal é o objeco de -;eu pequeno livro intitulado Totemisnl''. n t: r , l• acé pouco tempo . Três grupos de sociedades
dizem res
11 11 1111 particularmente objeto de pesquisas que
Nor?es-
onde este é estudado ao mesmo tempo como religião e
I 11 1 1 .10 totemismo:
como instituição jurídica. Mas esse escudo era puramente em p1imei ro lugar, as tri�os do
descririvo; nenhum esforço havia nele para explicar 0 to 1• , .., Tlinki t, os IIaida, os Kwali ul, os Sahsh, os
Ts1ms
hl 111 L'lll seguida, a grande nação
temismow ou para aprofundar suas noções fundamentais. dos Sioux ; finalm ente,
IH • l'ntro da Améri
,
Robenson Smith foi o primeiro a empreender esse ca cio Norte, os índios dos Pueblo . Os
traba lho de elaboração. Ele sentia mais vivamente que • i l·
1 1 1 1 i iros foram principalmente estudados por
Dall, Krause,
por Dorsey; os
qualq �er um ele seus predecessores o quanto essa religião 1 1( 1 1 -., Swanron e l lill-Tout; os segundos
grosseira e confusa era rica em germes de futuro. É verda Minde leff, Sra. Sceven son e Cushi ng 1 '. Ma s.
1 1 l l 1111os por
pPr dla que fosse a coleta de fatos
de que Mac Lennan já ha\·ia aproximado o totemismo das vindo s ele toe.la� as
p 1 1 1vs. os documentos
grandes religiões da Antiguidade, mas isso u nicamente de que se dispun ha perma neciam
l i IJ.1111cn
porque julga\ a reconhecer, tantu aqui como la, um culto túnos . embo ra conte nham nume rosos traços ?e
fase propna-
dos animais e das plantas. Ora, reduzir o cocemismo a u 111·n11smo, as religiões americanas superam a
Por outro lado, na Austrá lia, as observa
uma espécie de zoolatria ou de fitolatria era perceber 1111;1\lL' totêmica.
, •
apenas o que ele tinha de mais superficial; era inclusive m quase sempr e sobre crença s e � parsas e ritos
\C ., mciclia
proibi ções relauv as ao torem .
desconhecer sua verdadeira natureza. Smith, para além da 1 1 1l.1dos, ritos de iniciação e
!
m � ni e scação das crenças totêmicas, buscou atingir os
.
\ ,.,1111 foi com fatos recolh idos de todos os lados que Fra
ismo.
"' 1e � tou traçar uma visão de conjun to do totem
mériro
pnnc1 p1os profundos dos quais elas dependem. Já no seu
livro sobre O parentesco e o casamento na Arábia primiti estáve l dessa re
1 1r.1. qualqu er que seja o incont
va1 1 , ele havia mostrado que o totemismo supõe uma ' , 111stituição, empreendida em tais condições,
ela não po
consubstancialidade, natural ou adquirida, do homem e d1.1 deixar de ser incompleta e hipotética.
Definilivamen-
ainda uma religiã o tocêmk a funcio-
do animal (ou da planta). Em sua Religião dos semitas•1. 11 núo se cinha visto
fez dessa mesma 1déia a origem primeira de todo o siste 11.11 1..: 11 1 sua integra lidade .
lacuna
ma sacrificial: é ao totemismo que a humanidade deveria foi somente nos últimos anos que essa gra\·e
observ adores de notáve l sagaci dade.
o pri �cípio da co �1unhão alimentar. É claro que se pode í01 preenchida. Dois
, em parte16•
considerar a teona ele Smith unilateral: ela não é mais 1 1.1klwin Spencer e F.-J. Gillen , descobriram
o consi
adequada aos facos atualmente conhecidos; mas não dei 111 1 interior do continemc austra liano, u m númer
tribos nas quais viram ser pratica do um sisce-
xava de conter uma idéia genial e exerceu, sobre a ciên dnavel de
cia das religiões, a mais fecunda iníluência. É nessas mes 1 1 1 .1 rel igioso cuja base e unidad
e são formadas pelas cren
_
mas concepções que se inspira o Golden Bough [O Ramo � .is totêm icas. Os resulc aclos dessa inves tigaçã o foram
renovaram o c�tudo do
de Ouro]l3 de Frazer, cm que o totemismo que Mac Lennan , 1 msignados em duas obras que
Tal é o objeco de -;eu pequeno livro intitulado Totemisnl''. n t: r , l• acé pouco tempo . Três grupos de sociedades
dizem res
11 11 1111 particularmente objeto de pesquisas que
Nor?es-
onde este é estudado ao mesmo tempo como religião e
I 11 1 1 .10 totemismo:
como instituição jurídica. Mas esse escudo era puramente em p1imei ro lugar, as tri�os do
descririvo; nenhum esforço havia nele para explicar 0 to 1• , .., Tlinki t, os IIaida, os Kwali ul, os Sahsh, os
Ts1ms
hl 111 L'lll seguida, a grande nação
temismow ou para aprofundar suas noções fundamentais. dos Sioux ; finalm ente,
IH • l'ntro da Améri
,
Robenson Smith foi o primeiro a empreender esse ca cio Norte, os índios dos Pueblo . Os
traba lho de elaboração. Ele sentia mais vivamente que • i l·
1 1 1 1 i iros foram principalmente estudados por
Dall, Krause,
por Dorsey; os
qualq �er um ele seus predecessores o quanto essa religião 1 1( 1 1 -., Swanron e l lill-Tout; os segundos
grosseira e confusa era rica em germes de futuro. É verda Minde leff, Sra. Sceven son e Cushi ng 1 '. Ma s.
1 1 l l 1111os por
pPr dla que fosse a coleta de fatos
de que Mac Lennan já ha\·ia aproximado o totemismo das vindo s ele toe.la� as
p 1 1 1vs. os documentos
grandes religiões da Antiguidade, mas isso u nicamente de que se dispun ha perma neciam
l i IJ.1111cn
porque julga\ a reconhecer, tantu aqui como la, um culto túnos . embo ra conte nham nume rosos traços ?e
fase propna-
dos animais e das plantas. Ora, reduzir o cocemismo a u 111·n11smo, as religiões americanas superam a
Por outro lado, na Austrá lia, as observa
uma espécie de zoolatria ou de fitolatria era perceber 1111;1\lL' totêmica.
, •
apenas o que ele tinha de mais superficial; era inclusive m quase sempr e sobre crença s e � parsas e ritos
\C ., mciclia
proibi ções relauv as ao torem .
desconhecer sua verdadeira natureza. Smith, para além da 1 1 1l.1dos, ritos de iniciação e
!
m � ni e scação das crenças totêmicas, buscou atingir os
.
\ ,.,1111 foi com fatos recolh idos de todos os lados que Fra
ismo.
"' 1e � tou traçar uma visão de conjun to do totem
mériro
pnnc1 p1os profundos dos quais elas dependem. Já no seu
livro sobre O parentesco e o casamento na Arábia primiti estáve l dessa re
1 1r.1. qualqu er que seja o incont
va1 1 , ele havia mostrado que o totemismo supõe uma ' , 111stituição, empreendida em tais condições,
ela não po
consubstancialidade, natural ou adquirida, do homem e d1.1 deixar de ser incompleta e hipotética.
Definilivamen-
ainda uma religiã o tocêmk a funcio-
do animal (ou da planta). Em sua Religião dos semitas•1. 11 núo se cinha visto
fez dessa mesma 1déia a origem primeira de todo o siste 11.11 1..: 11 1 sua integra lidade .
lacuna
ma sacrificial: é ao totemismo que a humanidade deveria foi somente nos últimos anos que essa gra\·e
observ adores de notáve l sagaci dade.
o pri �cípio da co �1unhão alimentar. É claro que se pode í01 preenchida. Dois
, em parte16•
considerar a teona ele Smith unilateral: ela não é mais 1 1.1klwin Spencer e F.-J. Gillen , descobriram
o consi
adequada aos facos atualmente conhecidos; mas não dei 111 1 interior do continemc austra liano, u m númer
tribos nas quais viram ser pratica do um sisce-
xava de conter uma idéia genial e exerceu, sobre a ciên dnavel de
cia das religiões, a mais fecunda iníluência. É nessas mes 1 1 1 .1 rel igioso cuja base e unidad
e são formadas pelas cren
_
mas concepções que se inspira o Golden Bough [O Ramo � .is totêm icas. Os resulc aclos dessa inves tigaçã o foram
renovaram o c�tudo do
de Ouro]l3 de Frazer, cm que o totemismo que Mac Lennan , 1 msignados em duas obras que
zados sugeriram a Frazer a idéia de completar seu Tote das difere nças nacio nais e históricas, as
1t mgir, para além
univer sais e verdad eirame nte human as da vida reli-
mism com uma espécie de compêndio2' onde cscariam hases
11 / '/OFS PRFJJ,lfff\'ANfü'
87
86 AS FORMASELEMEJ\TARES DA \ WA l?EUG/U,\A
zados sugeriram a Frazer a idéia de completar seu Tote das difere nças nacio nais e históricas, as
1t mgir, para além
univer sais e verdad eirame nte human as da vida reli-
mism com uma espécie de compêndio2' onde cscariam hases
88 L
AS FOR.itAS EEM .\I
.t.
i AR
T S DA 17/)/1 RELIG/I J \ t
E / 1 1/ ' l'IU'U\l/NAR/iS 89
giosa Fia supôe que o homem possua em si mesmo. l' l l l 1 1 1 11s 1 monogamia freqüente nas tribos australia
1 l
• •
\.1nucJe cJe sua constituição própria e mdependentemenlt 11 1 uda sancionada em nossos códigos, etc. No pró-
de quaisquer condições sociais, uma natureza religiosa. t 1 la\l o de Frazer encontram-se confusões desse gêne
se propõe detenniná-la33. Para uma pesquisa desse gê1w \1 • 1111eceu-lhe com muita freqüência assimilar às práti
ro, Lodos os povos podem contribuir. Claro que haverao p1 \ lpnarnen te totêrnica s simples ritos teriolátr ic ?s .
de ser i nterrogados de preferência os mais primiLi\'C"· 111 llllo .1 distância, às vezes enorme, que separa os meios
porque neles essa natureza inicial Lem mais chances de Sl' ' 1 1s rnrrespondence5, exclui toda idéia de assimilação.
1 1 1 1 11110. st: não quisem1os cair nos mesmos erros,
mosLrar nua; mas, como se pode igualmente verificá-la cleve-
nos mais civilizados, é natural que Lambém eles sejam 1110 .10 i m·és de dispersar nossa pesquisa por rodas as
chamados a depor. Com mais razão amda. Lcxlos aquell'' I< d ides possíveis, concentrá-la num tipo claramente
tidos como não muito afastados das origens, Lodos aqul' 1 I• 1 1 11inado.
k:s reunidos co1Úu:>ameme sob a rubrica 1mprecu;a cJe sei 1 11nportante também que essa concenrraçao sqa tao
t'agens, seráo colocados no mesmo plano e consultados 1 1 1 1 11.1 quanto possível. Só podem ser comparados pro
indiferentemente. AJém disso, como os fatos, desse ponto h1 1·.unente faLOs bem conhecidos. Ora. quando se deci-
de vista, só têm interesse proporcionalmeme a seu grau 1hr . 1 nger todo tipo de sociedades e ciYilizações, não se
de generalidade, considera-se obrigatório acumulá-IL'; na 1 11!1 n>nhece r nenhum a delas com a competência que
maior quantidade possível; julga-se que nunca é demais , 1 1, 1 necessária; quando se reúnem, para aproximá-los,
poder ampliar o círculo das comparações. l 11• ,, de toda procedência, se é obrigado a torná-los
indis
Esse não poderia ser nosso método, e por várias i l 111111.1<larn ente sem que haja meios ou mesmo tempo de
razões. 1 11 1 '>Ua crítica São essas aproximações tumultu osas e
Em primeiro lugar, tanto para o sociólogo como para · 1 1 1 1.111as que desacreditaram o método
comparativo junto
o historiador, os fatos sociais são função do sistema do 1 1 1 1 1 certo número de bons espíritos. Ele só
pode propor
qual fazem pane; não se pode, portanto, compreendê-los ' 111n.1r rt:sultados sérios se for aplicado a um número bas-
quando separados desse sistema. Eis por que dois faws, 1 1 1 1 l t' restrito ele sociedades para que cada urna delas pos-
1 ·l'I estudada com suficiente precisão. O essencial é
que dizem respeito a duas sociedades diferentes, não po es
de
dem ser comparados com proveito pela simples razão de ' ' 1lht·r aquelas onde a investigação tem mais chanct:s
part:cerem se assemel har; é preciso também que essas so 1 proveito sa.
/\ssim também , o valor dos fatos importa bem mais
q 1 1 t · seu número. A questão ele saber se o to tem is mo foi
c iedades mesmas se assemelhem, isto é, sejam apenas va
riedades de uma ún i ca espécie. O rnéLoclo comparativo
seria i mpos s íve l se não houvesse tipos soci a is, e ele só 1 1 1. 1 i s ou menos difundid o é, a nosso ver, muito secunclá
-
1 1. 1 • . Se ele nos interessa, é antes ele tudo porque, ao
es-
1 1 1d.1 lo. esperamos tlescobrir rdações capazes de nos fa-
pode ser a p l i cado proveitosamente no interior de um
mesmo tipo Quantos erros não foram cometidos por dcs·
1,·1 nnnpreender melhor o que é a religião. Ora. para
conhecirnemo desse preceito! É assim que indevidamente es-
se aproximaram fatos que, a despeito de suas semelhan 1 1l idecer relações, não é necessário nem sempre provei
ças exteriores, não tinham nem o mesmo sentido, nem o ' ""º amontoa r expe11ên cias umas sobre as outras; bem
mesmo alcance: a democracia primitiva e a de hoje, o co 111.1 1.-; imponante é que haja algumas bem construídas e
letivismo das sociedades inferiores e as tendências socia- qt ll' sejam realmente significa tivas. Um fato único
pode
88 L
AS FOR.itAS EEM .\I
.t.
i AR
T S DA 17/)/1 RELIG/I J \ t
E / 1 1/ ' l'IU'U\l/NAR/iS 89
giosa Fia supôe que o homem possua em si mesmo. l' l l l 1 1 1 11s 1 monogamia freqüente nas tribos australia
1 l
• •
\.1nucJe cJe sua constituição própria e mdependentemenlt 11 1 uda sancionada em nossos códigos, etc. No pró-
de quaisquer condições sociais, uma natureza religiosa. t 1 la\l o de Frazer encontram-se confusões desse gêne
se propõe detenniná-la33. Para uma pesquisa desse gê1w \1 • 1111eceu-lhe com muita freqüência assimilar às práti
ro, Lodos os povos podem contribuir. Claro que haverao p1 \ lpnarnen te totêrnica s simples ritos teriolátr ic ?s .
de ser i nterrogados de preferência os mais primiLi\'C"· 111 llllo .1 distância, às vezes enorme, que separa os meios
porque neles essa natureza inicial Lem mais chances de Sl' ' 1 1s rnrrespondence5, exclui toda idéia de assimilação.
1 1 1 1 11110. st: não quisem1os cair nos mesmos erros,
mosLrar nua; mas, como se pode igualmente verificá-la cleve-
nos mais civilizados, é natural que Lambém eles sejam 1110 .10 i m·és de dispersar nossa pesquisa por rodas as
chamados a depor. Com mais razão amda. Lcxlos aquell'' I< d ides possíveis, concentrá-la num tipo claramente
tidos como não muito afastados das origens, Lodos aqul' 1 I• 1 1 11inado.
k:s reunidos co1Úu:>ameme sob a rubrica 1mprecu;a cJe sei 1 11nportante também que essa concenrraçao sqa tao
t'agens, seráo colocados no mesmo plano e consultados 1 1 1 1 11.1 quanto possível. Só podem ser comparados pro
indiferentemente. AJém disso, como os fatos, desse ponto h1 1·.unente faLOs bem conhecidos. Ora. quando se deci-
de vista, só têm interesse proporcionalmeme a seu grau 1hr . 1 nger todo tipo de sociedades e ciYilizações, não se
de generalidade, considera-se obrigatório acumulá-IL'; na 1 11!1 n>nhece r nenhum a delas com a competência que
maior quantidade possível; julga-se que nunca é demais , 1 1, 1 necessária; quando se reúnem, para aproximá-los,
poder ampliar o círculo das comparações. l 11• ,, de toda procedência, se é obrigado a torná-los
indis
Esse não poderia ser nosso método, e por várias i l 111111.1<larn ente sem que haja meios ou mesmo tempo de
razões. 1 11 1 '>Ua crítica São essas aproximações tumultu osas e
Em primeiro lugar, tanto para o sociólogo como para · 1 1 1 1.111as que desacreditaram o método
comparativo junto
o historiador, os fatos sociais são função do sistema do 1 1 1 1 1 certo número de bons espíritos. Ele só
pode propor
qual fazem pane; não se pode, portanto, compreendê-los ' 111n.1r rt:sultados sérios se for aplicado a um número bas-
quando separados desse sistema. Eis por que dois faws, 1 1 1 1 l t' restrito ele sociedades para que cada urna delas pos-
1 ·l'I estudada com suficiente precisão. O essencial é
que dizem respeito a duas sociedades diferentes, não po es
de
dem ser comparados com proveito pela simples razão de ' ' 1lht·r aquelas onde a investigação tem mais chanct:s
part:cerem se assemel har; é preciso também que essas so 1 proveito sa.
/\ssim também , o valor dos fatos importa bem mais
q 1 1 t · seu número. A questão ele saber se o to tem is mo foi
c iedades mesmas se assemelhem, isto é, sejam apenas va
riedades de uma ún i ca espécie. O rnéLoclo comparativo
seria i mpos s íve l se não houvesse tipos soci a is, e ele só 1 1 1. 1 i s ou menos difundid o é, a nosso ver, muito secunclá
-
1 1. 1 • . Se ele nos interessa, é antes ele tudo porque, ao
es-
1 1 1d.1 lo. esperamos tlescobrir rdações capazes de nos fa-
pode ser a p l i cado proveitosamente no interior de um
mesmo tipo Quantos erros não foram cometidos por dcs·
1,·1 nnnpreender melhor o que é a religião. Ora. para
conhecirnemo desse preceito! É assim que indevidamente es-
se aproximaram fatos que, a despeito de suas semelhan 1 1l idecer relações, não é necessário nem sempre provei
ças exteriores, não tinham nem o mesmo sentido, nem o ' ""º amontoa r expe11ên cias umas sobre as outras; bem
mesmo alcance: a democracia primitiva e a de hoje, o co 111.1 1.-; imponante é que haja algumas bem construídas e
letivismo das sociedades inferiores e as tendências socia- qt ll' sejam realmente significa tivas. Um fato único
pode
90 ,JS FORMAS EU-:.lfF,\?ARHS DA l1DA REIJGIOSA \ /1 •I· ' l'/lj-JJJf/.\A� 91
evidenciar uma lei. ao passo que: uma quantidade de oh l.i primeira vez, isto é, as tribos indígenas da América
1 (\; 1 1l ll'
1
evidenciar uma lei. ao passo que: uma quantidade de oh l.i primeira vez, isto é, as tribos indígenas da América
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1 1111 1 1 11 1 1
t i 1 11 1 1 ,1 1 <.ontudo, essas duas ordens d<.: fa
. l i 1 1 • 1 1 • 11ti•s para que não seja indispensável
1 1 1 1 1 • 1 1 ,1d11. E como é impossível entender
1 1 1 1 1 1d 1 1 ignoram as idéias sobre as quais
11 p1 t1111·11 1 lugar essas últimas que devemos
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1 1 1 1 1 1d 1 1 ignoram as idéias sobre as quais
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u
crafl o primeiro a e.:;1ender desse modo o sentido da pai;& dd 1.. ncre os Arunta e os Loritj:i. <;trehlow conto
vr.i e a falar de um ·sistema tote1ruco·b. Essa extensão. da d11.1-. sociedades 't'i2 totens, vanos dos quais <lesig-
u
crafl o primeiro a e.:;1ender desse modo o sentido da pai;& dd 1.. ncre os Arunta e os Loritj:i. <;trehlow conto
vr.i e a falar de um ·sistema tote1ruco·b. Essa extensão. da d11.1-. sociedades 't'i2 totens, vanos dos quais <lesig-
e os Tjingilli, existe u m clã que tem o nome c.le um antt )l mgatori:tmcnte de um outro totem que seu marido,
passado, chamado Th aba lla, e que parece encarnar a ale 1 11 1 1• 1 l'l�1 vive, por outro lado, na localidade deste último,
gria2º. Um outro clã warramunga traz o nome de uma Sl'f 1111 111liros de um mesmo totem encontram-se necessaria
pente fa bulosa, monstruosa, da qual o clã su postament BI dispersos entre localidades diferentes, conforme os
descendeu2 1 . Devemos a Strehlow alguns fatos similaresJ 1 dos casamentos que se efetuam. Resulta daí que o
Em todos os casos, é bastante fácil entrever o que devl' 1111o 1 I• >11.•1nico carece de base territorial .
ter ocorrido. Sob a influência de causas d iv ersas . pelo N11111a segunda regra, o totem se transmite em linha
desenvolvimento mesmo do pensamento mitológico, o 1 1 1 1 1 )Csta vez, como a criança permanece junto a seu
totem coletivo e impessoal a pagou-se diante de certrn1 ' ' v1upo local é essencialmente formado de pessoas
personagens míticos que passaram ao primeiro plan o , 1 1 1 will'nccm ao mesmo totem: só as mulheres ca sadas
tornaram-se eles próprios torens. 1 1 1 u11.1111 aí totem, est ra nge iros . D ito ele outro modo,
Essas iliferentes irregularidade,, por mais mtcressantl: 1 lidade tem seu totem particular. Até tempos rc-
que possam ser sob outros aspectos, nada possuem qul' 1111 , l.''>Se modo ele organização só fora encontrado, na
nos obrigue a modificar nossa definição do totem. Elas nao 1 1 l f 1 1 1 1 em tribos onde o totemismo está em via d e de-
11 111 1;1, por exemp lo entre os Narrinyeri, onde o totem
111 1 11;10 tem mais caráter religioso2;. Supunha-se, por-
constituem, como se acreditou às vezesB, espécies de toten11
mais ou menos irredutíveis umas às outr.as e ao tote1'1 nor
1111 1, que houvesse uma re lação estreica entre o sistema
mal, cal como o definimos. São apenas formas secundária11
e às vezes aberrantes de uma única e mesma noção que é,
, 11111 n e a filiação em linha materna. Mas Spencer e Gil-
si m , nos li mitaremos a indicar sumariamente os princípios 1 1 1 ido mítico que, por procedimentos que os observa-
mais essenciais que norteiam a questão. 1 1 111 >s relatam de diferentes manciras27, veio fecundar
Confo1me as tribos, três regras diferentes são aplicadas. 1 1 1 1 l i• 1 1 1 1v11Le a mãe no momento da concepção. Uma téc-
Num grande número, pode-se até dizer no maior nú 1 1 1 1 . l1 • 1 l · rminacla permite reconhecer qual é esse antepas-
mero de sociedades, a criança tem por totem o de sua mãt". 11 I ' • .1 que grupo totêmico pertence2s. Mas, como é o
por direito de nascença: é o que acontece entre os Dleri l' 1 ' • t l l lL' faz esse antepassado encontrar-se nas proximi-
os Urahunna cio centro da Austrália meridional; entre os 1 11.1 müe e não de uma outra, o totem da criança aca-
Wotjobaluk e os Goumditch-Mara de Victoria; os Kamila 1 1• 1 w11dcndo finalmente ele circunstâncias fortuitas29.
roi, os Wiradjuri, os Wonghibon e os Euahlayi ela Nova Ga
lcs do Sul; os Wakel bura , os Pitta-Pitta e os Kurnandaburi l 111 k·pendenteme1.te e acima elos totens ele clàs, há os
do Queensland, para citar apenas os nomes mais importan 1 11 d1· J'ratrias que, sem diferirem em natureza dos pri-
11 1 • , de\ em no entanto ser distinguidos deles.
t
e os Tjingilli, existe u m clã que tem o nome c.le um antt )l mgatori:tmcnte de um outro totem que seu marido,
passado, chamado Th aba lla, e que parece encarnar a ale 1 11 1 1• 1 l'l�1 vive, por outro lado, na localidade deste último,
gria2º. Um outro clã warramunga traz o nome de uma Sl'f 1111 111liros de um mesmo totem encontram-se necessaria
pente fa bulosa, monstruosa, da qual o clã su postament BI dispersos entre localidades diferentes, conforme os
descendeu2 1 . Devemos a Strehlow alguns fatos similaresJ 1 dos casamentos que se efetuam. Resulta daí que o
Em todos os casos, é bastante fácil entrever o que devl' 1111o 1 I• >11.•1nico carece de base territorial .
ter ocorrido. Sob a influência de causas d iv ersas . pelo N11111a segunda regra, o totem se transmite em linha
desenvolvimento mesmo do pensamento mitológico, o 1 1 1 1 1 )Csta vez, como a criança permanece junto a seu
totem coletivo e impessoal a pagou-se diante de certrn1 ' ' v1upo local é essencialmente formado de pessoas
personagens míticos que passaram ao primeiro plan o , 1 1 1 will'nccm ao mesmo totem: só as mulheres ca sadas
tornaram-se eles próprios torens. 1 1 1 u11.1111 aí totem, est ra nge iros . D ito ele outro modo,
Essas iliferentes irregularidade,, por mais mtcressantl: 1 lidade tem seu totem particular. Até tempos rc-
que possam ser sob outros aspectos, nada possuem qul' 1111 , l.''>Se modo ele organização só fora encontrado, na
nos obrigue a modificar nossa definição do totem. Elas nao 1 1 l f 1 1 1 1 em tribos onde o totemismo está em via d e de-
11 111 1;1, por exemp lo entre os Narrinyeri, onde o totem
111 1 11;10 tem mais caráter religioso2;. Supunha-se, por-
constituem, como se acreditou às vezesB, espécies de toten11
mais ou menos irredutíveis umas às outr.as e ao tote1'1 nor
1111 1, que houvesse uma re lação estreica entre o sistema
mal, cal como o definimos. São apenas formas secundária11
e às vezes aberrantes de uma única e mesma noção que é,
, 11111 n e a filiação em linha materna. Mas Spencer e Gil-
si m , nos li mitaremos a indicar sumariamente os princípios 1 1 1 ido mítico que, por procedimentos que os observa-
mais essenciais que norteiam a questão. 1 1 111 >s relatam de diferentes manciras27, veio fecundar
Confo1me as tribos, três regras diferentes são aplicadas. 1 1 1 1 l i• 1 1 1 1v11Le a mãe no momento da concepção. Uma téc-
Num grande número, pode-se até dizer no maior nú 1 1 1 1 . l1 • 1 l · rminacla permite reconhecer qual é esse antepas-
mero de sociedades, a criança tem por totem o de sua mãt". 11 I ' • .1 que grupo totêmico pertence2s. Mas, como é o
por direito de nascença: é o que acontece entre os Dleri l' 1 ' • t l l lL' faz esse antepassado encontrar-se nas proximi-
os Urahunna cio centro da Austrália meridional; entre os 1 11.1 müe e não de uma outra, o totem da criança aca-
Wotjobaluk e os Goumditch-Mara de Victoria; os Kamila 1 1• 1 w11dcndo finalmente ele circunstâncias fortuitas29.
roi, os Wiradjuri, os Wonghibon e os Euahlayi ela Nova Ga
lcs do Sul; os Wakel bura , os Pitta-Pitta e os Kurnandaburi l 111 k·pendenteme1.te e acima elos totens ele clàs, há os
do Queensland, para citar apenas os nomes mais importan 1 11 d1· J'ratrias que, sem diferirem em natureza dos pri-
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t
Vias nisso não há nada que poss:i su rpreender. As frJtrias ração imed ia ta
h'm L <I unu outra classe que não a da ge
1 1 11•ntc anterior.
são certamente uma instituição primitiva, pois em toda Portan to. quando há apenas duas classes
parte e:-.tão em via de regressão: os cl<ls. oriundos delas, 11 fra tri elas :.e alterna m necess ariame nte a cada gera
I "
passaram ao primeiro plano. Portanto. 6 natural que os \ •11 > Os filhos são da dasse da qual seus pais
a,
não faze m
Vias nisso não há nada que poss:i su rpreender. As frJtrias ração imed ia ta
h'm L <I unu outra classe que não a da ge
1 1 11•ntc anterior.
são certamente uma instituição primitiva, pois em toda Portan to. quando há apenas duas classes
parte e:-.tão em via de regressão: os cl<ls. oriundos delas, 11 fra tri elas :.e alterna m necess ariame nte a cada gera
I "
passaram ao primeiro plano. Portanto. 6 natural que os \ •11 > Os filhos são da dasse da qual seus pais
a,
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duas classes. lppai e Kumbo; a fratria Dilbi, duas outra' 1 ,, e n quan to as classes matrimoniais se mantive
cbamada.s Murri e Kubbi. Como a filiação se faz em linha ' "im efei to, é certo que esras têm às vezes uma força
materna, a criança é da fratria de sua mãe; se esta for uma 1 1 1 "1cncia que os clãs não possuem. Em conseq üên -
Kupachin, também ela será Kupathin. Mas se a mãe for da 1
1
i n terd ições, destituídas ele seus supones primitivos,
classe lppai, a criança será uma Kumbo; os filhos desta, ,,e generalizado na extensão de cada classe, uma
1 1 1111
por sua vez, no caso de uma menina, voltarão a pertenn·r 1 1 11l não havia mais outros agrupamentos aos quais se
à classe lppai. Do mesmo modo, os filhos das mulherl·s 1 1 I• •"l'l11 associar. l\las, se essa regulan1entaçào nasceu
ela classe Murri serão da classe Kubbi. e os filhos da mu 1 , 11 11< 111 i :-.mo, percebe-se que não representa mais que
lhcres de Kubbi serão Mu rri de novo. Quando há quatro 1111 1 lo 11 ma enfraquecida e desnaturada delei6.
classes por frarria, ao im·és de duas, o sistema é mais J 11do o que a caba de ser dito do totem nas socieda-
complexo, mas o princípio é o mesmo. Essas quatro elas 1 1 1 ,.t1ahanas se apli ca às tribos indígen as da América
ses formam dois pare<; de dua.s das.se:- <.ada um, e e.s.sas l H lt A úruca diferença é que, nessas úluma:,, a urg;.1-
duas classes se alternam a cada geração, da maneira qul' 11 ''- · " , totêmica tem uma clareza de contornos e uma es-
acaba de ser indicada. 2) Os membros de uma classe sú 1 111 l 1d1.; ausentes na Austrália. Os clàs australianos não
podem. em princípio13, contrair casamento numa única 1 1 � 1 1 1 1plcsmente muito numerosos: são, para uma mes
das classes da outra fratria. Os Ippai elevem casar-sp na '' 1 li il u 1, em número quase ilimitado. Os observadores ci
classe Kubbi; os Murri. na classe Kumbo. É por essa orga ' 111 .d�uns deles a tÍlulo de exemplo, mas sem jamais
nização envolver profundamente relações matrimon iais 11 1 , '-:llir nos dar uma lista completa. É que em nenhum
que damos a esses agrupamentos o nome de classes ma 1• •1111 1110 essa lista é definitivamente estabelecida. O mes-
trimoniais. 11 , 1 11 < >n·sso de segmentação que desmembrou primitiva-
Ora, perguntou-se se essas classes não tinham ãs ve 11 1 1 1 1 1 fratria e que deu origem aos clàs propriamente
zes tocens como as fratrias e como os clàs. l 1 1 iossegue ininterruptamente no interior desses últi
' ' '"
O que levantou a q uestão é que, em certas tribos do por causa dessa fragmentação progressiva, um clà
Queenslan d, cada classe matrimoni al é submetida a inter 1 d 1 1 wlltc tem apenas um efetivo dos mais reduzidos •7.
dições alimentares que lhe são específicas. Os i nd ivídu os 1 n u 11<:<1, ao contrário, o sistema totêmico possu i for-
que a compõem devem abster-se da carne de certos ani 1 1 1 1 1 1 1. 1 1s bem definidas. Embora as tribos sejam aí, em
mais que os outros podem livremente consum i r • • . Esses 111 d 1 1 sensivelmente mais volumosas que na Austrá l ia,
animais mio se riam totens? 11 , l.1s sao menos n u merosos. Uma mesma tribo rara-
Mas a in terd ição alimentar não é o sinal característico t ,, 1 1 1 1 1 ! lilta com mais ele uma dezena cleles48, na maioria
do totemismo . Primeiramente e antes ele Ludo, o Lotem é 1 '1 ·s menos; cada clã constitu i, portanto, um agrupa-
um nome e, como veremos, um emblema . Ora, nas socie 11• " ' ' ' l 1l'm mais importa nte. Mas, sobretudo, seu nú me ro
1
dades em questão, não existe classe matrimonial que te t i l i 1111 determinado: sabe-se quantos são e isso nos é
nha um nome de animal ou de planta, ou que se sirva de lill l 1''
um emblema•5. Ce1tamente é possível que essas proibições 1
dife re nça eleve-se à su perio ridade da técnica so-
li
�.1
tenham derivado indiretam ente do t otemi smo. Pode-se 1 �rupos sociah, desde o momento em que essas
• h
supor que os a n i mais que essas interdições protegem, ser 1 1 1 11 • 1 1 11.1111 obse rva das pela primeira vez. achavam-se
viam primitivamente de totens para clãs que teriam desa- 1 1 1 • 1 1 11 nll' enraizados num território, portanto mais capa-
104 AS FORMAS ELEME1\IARES DA 117Dll l?ELJGIO'v1 1 /li \\. IS ELEMENTARES 1 05
duas classes. lppai e Kumbo; a fratria Dilbi, duas outra' 1 ,, e n quan to as classes matrimoniais se mantive
cbamada.s Murri e Kubbi. Como a filiação se faz em linha ' "im efei to, é certo que esras têm às vezes uma força
materna, a criança é da fratria de sua mãe; se esta for uma 1 1 1 "1cncia que os clãs não possuem. Em conseq üên -
Kupachin, também ela será Kupathin. Mas se a mãe for da 1
1
i n terd ições, destituídas ele seus supones primitivos,
classe lppai, a criança será uma Kumbo; os filhos desta, ,,e generalizado na extensão de cada classe, uma
1 1 1111
por sua vez, no caso de uma menina, voltarão a pertenn·r 1 1 11l não havia mais outros agrupamentos aos quais se
à classe lppai. Do mesmo modo, os filhos das mulherl·s 1 1 I• •"l'l11 associar. l\las, se essa regulan1entaçào nasceu
ela classe Murri serão da classe Kubbi. e os filhos da mu 1 , 11 11< 111 i :-.mo, percebe-se que não representa mais que
lhcres de Kubbi serão Mu rri de novo. Quando há quatro 1111 1 lo 11 ma enfraquecida e desnaturada delei6.
classes por frarria, ao im·és de duas, o sistema é mais J 11do o que a caba de ser dito do totem nas socieda-
complexo, mas o princípio é o mesmo. Essas quatro elas 1 1 1 ,.t1ahanas se apli ca às tribos indígen as da América
ses formam dois pare<; de dua.s das.se:- <.ada um, e e.s.sas l H lt A úruca diferença é que, nessas úluma:,, a urg;.1-
duas classes se alternam a cada geração, da maneira qul' 11 ''- · " , totêmica tem uma clareza de contornos e uma es-
acaba de ser indicada. 2) Os membros de uma classe sú 1 111 l 1d1.; ausentes na Austrália. Os clàs australianos não
podem. em princípio13, contrair casamento numa única 1 1 � 1 1 1 1plcsmente muito numerosos: são, para uma mes
das classes da outra fratria. Os Ippai elevem casar-sp na '' 1 li il u 1, em número quase ilimitado. Os observadores ci
classe Kubbi; os Murri. na classe Kumbo. É por essa orga ' 111 .d�uns deles a tÍlulo de exemplo, mas sem jamais
nização envolver profundamente relações matrimon iais 11 1 , '-:llir nos dar uma lista completa. É que em nenhum
que damos a esses agrupamentos o nome de classes ma 1• •1111 1110 essa lista é definitivamente estabelecida. O mes-
trimoniais. 11 , 1 11 < >n·sso de segmentação que desmembrou primitiva-
Ora, perguntou-se se essas classes não tinham ãs ve 11 1 1 1 1 1 fratria e que deu origem aos clàs propriamente
zes tocens como as fratrias e como os clàs. l 1 1 iossegue ininterruptamente no interior desses últi
' ' '"
O que levantou a q uestão é que, em certas tribos do por causa dessa fragmentação progressiva, um clà
Queenslan d, cada classe matrimoni al é submetida a inter 1 d 1 1 wlltc tem apenas um efetivo dos mais reduzidos •7.
dições alimentares que lhe são específicas. Os i nd ivídu os 1 n u 11<:<1, ao contrário, o sistema totêmico possu i for-
que a compõem devem abster-se da carne de certos ani 1 1 1 1 1 1 1. 1 1s bem definidas. Embora as tribos sejam aí, em
mais que os outros podem livremente consum i r • • . Esses 111 d 1 1 sensivelmente mais volumosas que na Austrá l ia,
animais mio se riam totens? 11 , l.1s sao menos n u merosos. Uma mesma tribo rara-
Mas a in terd ição alimentar não é o sinal característico t ,, 1 1 1 1 1 ! lilta com mais ele uma dezena cleles48, na maioria
do totemismo . Primeiramente e antes ele Ludo, o Lotem é 1 '1 ·s menos; cada clã constitu i, portanto, um agrupa-
um nome e, como veremos, um emblema . Ora, nas socie 11• " ' ' ' l 1l'm mais importa nte. Mas, sobretudo, seu nú me ro
1
dades em questão, não existe classe matrimonial que te t i l i 1111 determinado: sabe-se quantos são e isso nos é
nha um nome de animal ou de planta, ou que se sirva de lill l 1''
um emblema•5. Ce1tamente é possível que essas proibições 1
dife re nça eleve-se à su perio ridade da técnica so-
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tenham derivado indiretam ente do t otemi smo. Pode-se 1 �rupos sociah, desde o momento em que essas
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supor que os a n i mais que essas interdições protegem, ser 1 1 1 11 • 1 1 11.1111 obse rva das pela primeira vez. achavam-se
viam primitivamente de totens para clãs que teriam desa- 1 1 1 • 1 1 11 nll' enraizados num território, portanto mais capa-
106 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA S
I \ r RENÇAS ELEJHENTARE 107
zes ele resistir às forças dispersivas que os assaltavam. Ao subdivide m, por sua vez, num certo número de clãs:
Á
mesmo tempo, a sociedade já possuía um sentimento de l 1 . 1 t rias do Co1vo e elo Lobo, entre os TlinkitSO, da guia e
masiado vivo ele sua unidade para permanecer inconscien . i. , Corvo, entre os Haida5 1 . E essa divisão não é sirnples
te ele si mesma e das partes que a compunham. O exem l l ll'nte nominal: correspo nde a um estado sempre atual
plo da América serve, assim, para nos explicar melhor o 1 l1 is costumes e marca profundamente a vida. A distância
que é a organização à base de clãs. Enganar-nos-íamos se 1 1 1oral que separa os clãs é pouca coisa comparada à que
ju lgássemos essa última a partir elo aspecto que apresenta .1 ·para as fratriassz. O nome ele cada uma delas
não é ape-
atualmente na Austrália. Com efeito, aqui ela se encontra 1 1 . 1 s uma palavra cujo sentido se esqueceu ou se conhece
num estado de flutuação e dissolução que nada tem de 1 .igamente ; é um totem em toda a força da
expressã o;
normal; muito pelo contrário, devemos considerá-lo como pnssui todos os seus atributos essenciais. tais como serão
o produto de uma degenerescência, imputável tanto ao 1 ll 'scritos adiantes�. �obre esse ponto também,
portamo,
desgaste natural do tempo quanro à ação desorganizadora li.1via interesse em nào negligenc iar as tribos da América,
dos brancos. Certamente é pouco provável que os clãs I· ' que nelas podemos observar diretamente esses totens
australianos alguma vez Lenham tido as dimensões e a só 1 lv fratrias dos quais a Austrália não nos oferece
mais que
lida estrutura dos clãs americanos. Deve ter havido, po 1 11 lscuros vestigios.
zes ele resistir às forças dispersivas que os assaltavam. Ao subdivide m, por sua vez, num certo número de clãs:
Á
mesmo tempo, a sociedade já possuía um sentimento de l 1 . 1 t rias do Co1vo e elo Lobo, entre os TlinkitSO, da guia e
masiado vivo ele sua unidade para permanecer inconscien . i. , Corvo, entre os Haida5 1 . E essa divisão não é sirnples
te ele si mesma e das partes que a compunham. O exem l l ll'nte nominal: correspo nde a um estado sempre atual
plo da América serve, assim, para nos explicar melhor o 1 l1 is costumes e marca profundamente a vida. A distância
que é a organização à base de clãs. Enganar-nos-íamos se 1 1 1oral que separa os clãs é pouca coisa comparada à que
ju lgássemos essa última a partir elo aspecto que apresenta .1 ·para as fratriassz. O nome ele cada uma delas
não é ape-
atualmente na Austrália. Com efeito, aqui ela se encontra 1 1 . 1 s uma palavra cujo sentido se esqueceu ou se conhece
num estado de flutuação e dissolução que nada tem de 1 .igamente ; é um totem em toda a força da
expressã o;
normal; muito pelo contrário, devemos considerá-lo como pnssui todos os seus atributos essenciais. tais como serão
o produto de uma degenerescência, imputável tanto ao 1 ll 'scritos adiantes�. �obre esse ponto também,
portamo,
desgaste natural do tempo quanro à ação desorganizadora li.1via interesse em nào negligenc iar as tribos da América,
dos brancos. Certamente é pouco provável que os clãs I· ' que nelas podemos observar diretamente esses totens
australianos alguma vez Lenham tido as dimensões e a só 1 lv fratrias dos quais a Austrália não nos oferece
mais que
lida estrutura dos clãs americanos. Deve ter havido, po 1 11 lscuros vestigios.
brasão apenas nos objecos que possuem. carregam-no em l 1 p 1 1 1\1 111a chuva e. por essa razão, são considemc.las coi-
sua pessoa: ele está impresso n a carne. faz parte deles dl 111c-.ma famíliall!. É uma prova de que o próprio in-
h '• 1 1. 1 tcm consc1ênc1a de que tais deformacõe:-. tem por
1
menta que representa, na tota lidade ou cm parte, o corpo 1 1 1 1 1 11l iw10 sa grado, do q u a l falaremo s daqui a pou co,
cio animal que dá nome ao clã7>. Máscaras especiais são , l i 1 1 1 1 ido churi11ga; ora, veremos que as linhas desenha-
em pregadas com esse objeti vo. Encontramos as mesmas 1 1 1 1 n ,·huringa são emblemá ticas cio totem8�. Entre os
t 1 1 1 1s i l n euro é consider ado parente próximo e.la chu-
1
práticas em todo o Noroeste americano'6. Idêntico costu
me entre os Minnitaree quando vão ao combate.,..., e entre 11s pessoas do clã da chuva trazem nas orelhas pe
os índios cios Pueblos-11 Quando o totem é uma ave. os jlh n. pingentes feitos de dentes de euroR'. Entre os Yer-
indh·íduos levam na cabeça as plumas dessa ave"". Entre 1 l 1 d111.111te a iniciação, inflige-se ao jovem um certo nú-
1 1 1 • ri • dt.· cutilada s que deixam cicatrize s: o número
os Iowa. cada clã tem uma maneira especial de cortar os e a
cabelos. :\o clã da Águia. dois grandes rufas são dispostos 1 1 1 1 .1 dcssas cicatrize s ' a riam conform e os totensHI>. Cm
na frente da cabeça, enquanto um ou tro pende para trás: 1 1 1 1 1 1 1 l nrmantes de Fison assinala o mesmo fato nas tribos
11hsl·rvouR�. Segundo Ilowitt, uma relação do mesmo
t 1 1 1 10 vxist iria , nos Dieri, entre certas esca rificaçôcs e o
n o c l ã do B ú falo, são dispostos em forma de cornosllo. t
Di spositivos an á logos verificam-se entre os Omaha, cada
clã tendo seu pentea do. No clã e.la Tartaruga, por exem 1 1 11 1 • 1 1 1 d:1 água88. Quanto aos foclios do Noroeste, o costu-
1 i l l t i· · 1a1uar o totem é m u it o comum entre
plo, os cabelos são raspados para formar seis anéis, dois eles89.
de cada lado da cabeça, um na frente e outro atrás. de l\l 1s se as taruagens realizadas por meio de mutilações
i a imitar as p:uas. a cabeça e a cauda do animaJ'l l .
manera , 1 d1• , ,.,. arifi<.acõcs nem sempre têm uma signifi<.a1,
,.10 to
�Jas. n a maioria d a s ,·ezes, é no próprio corpo que é t 1111L . 1 '1t1, <ligo d fi erente ocorre com os simples desenhos
impressa a marca totêmica: é um modo de representnçào ll t1 1.1dos no corpo: na maioria dos casos. eles são repre-
que está ao alcance inclusive das sociedades menos avan
çadas. Chegou-se a perguntar se o rito tã o freq üente que nas panes inferiores do corpo, em especial no prepúcio
cons iste em arrancar e.los rapazes os dois cientes superio- ""
lnn'·'º
1)
•
1 10 �.\ F<JR.ilAS ELE.1/E\TARES DA l1DA RELIGIOSA 1 li'/ \{.. I \ l
!LE. ll
E.\TA
RF� 111
brasão apenas nos objecos que possuem. carregam-no em l 1 p 1 1 1\1 111a chuva e. por essa razão, são considemc.las coi-
sua pessoa: ele está impresso n a carne. faz parte deles dl 111c-.ma famíliall!. É uma prova de que o próprio in-
h '• 1 1. 1 tcm consc1ênc1a de que tais deformacõe:-. tem por
1
menta que representa, na tota lidade ou cm parte, o corpo 1 1 1 1 1 11l iw10 sa grado, do q u a l falaremo s daqui a pou co,
cio animal que dá nome ao clã7>. Máscaras especiais são , l i 1 1 1 1 ido churi11ga; ora, veremos que as linhas desenha-
em pregadas com esse objeti vo. Encontramos as mesmas 1 1 1 1 n ,·huringa são emblemá ticas cio totem8�. Entre os
t 1 1 1 1s i l n euro é consider ado parente próximo e.la chu-
1
práticas em todo o Noroeste americano'6. Idêntico costu
me entre os Minnitaree quando vão ao combate.,..., e entre 11s pessoas do clã da chuva trazem nas orelhas pe
os índios cios Pueblos-11 Quando o totem é uma ave. os jlh n. pingentes feitos de dentes de euroR'. Entre os Yer-
indh·íduos levam na cabeça as plumas dessa ave"". Entre 1 l 1 d111.111te a iniciação, inflige-se ao jovem um certo nú-
1 1 1 • ri • dt.· cutilada s que deixam cicatrize s: o número
os Iowa. cada clã tem uma maneira especial de cortar os e a
cabelos. :\o clã da Águia. dois grandes rufas são dispostos 1 1 1 1 .1 dcssas cicatrize s ' a riam conform e os totensHI>. Cm
na frente da cabeça, enquanto um ou tro pende para trás: 1 1 1 1 1 1 1 l nrmantes de Fison assinala o mesmo fato nas tribos
11hsl·rvouR�. Segundo Ilowitt, uma relação do mesmo
t 1 1 1 10 vxist iria , nos Dieri, entre certas esca rificaçôcs e o
n o c l ã do B ú falo, são dispostos em forma de cornosllo. t
Di spositivos an á logos verificam-se entre os Omaha, cada
clã tendo seu pentea do. No clã e.la Tartaruga, por exem 1 1 11 1 • 1 1 1 d:1 água88. Quanto aos foclios do Noroeste, o costu-
1 i l l t i· · 1a1uar o totem é m u it o comum entre
plo, os cabelos são raspados para formar seis anéis, dois eles89.
de cada lado da cabeça, um na frente e outro atrás. de l\l 1s se as taruagens realizadas por meio de mutilações
i a imitar as p:uas. a cabeça e a cauda do animaJ'l l .
manera , 1 d1• , ,.,. arifi<.acõcs nem sempre têm uma signifi<.a1,
,.10 to
�Jas. n a maioria d a s ,·ezes, é no próprio corpo que é t 1111L . 1 '1t1, <ligo d fi erente ocorre com os simples desenhos
impressa a marca totêmica: é um modo de representnçào ll t1 1.1dos no corpo: na maioria dos casos. eles são repre-
que está ao alcance inclusive das sociedades menos avan
çadas. Chegou-se a perguntar se o rito tã o freq üente que nas panes inferiores do corpo, em especial no prepúcio
cons iste em arrancar e.los rapazes os dois cientes superio- ""
lnn'·'º
1)
•
1 12 AS FORMAS ELEMENTARES OA 17011 REL!GJLJ.\.1
1 NI \( 1� HLEMENlilRES Ll 3
enrre os nomes que cada A ru nta poss u i , há um tão sagra mi i.s(,Iado, é por ser uma coisa de alto valor rel igioso e
do que é proibido revelá-lo a um estrangeiro; só é pro • 1q.1 pe rda lesaria gravemente a coletividade e os indiví
1
nunciado raramente, em voz baixa, numa espéc ie de mur d 1 1 1 1s. Ele possui todo lipo ele propriedades maravilhosas:
múrio religioso. Ora, esse nome é aritna churi11ga ( a ritna p1 •I n>ntato, cura feridas, especialmente aquelas que re-
11h 11n da circuncisà o10'>; tem inclusive eficácia contra a doen-
as
c.:huringa , só lhes é permitido olhá-lo:. de longe e, amda )L ·t..U adversário traz consigo um churinga. imc<liacamen
assim, cm raras ocasiões•o.1• 11• perde confiança e sua derrota é cerrall3. Assim, não h á
Os churinga são conservados piedosamente num lugar in .1nimento rin.1al que ocupe um lugar mais importante nas
u·11mônias religiosas•H. Mediante unções , seus poderes são
1 r 1 nsmitidos aos oficiantes ou aos assistences; para tanto,
especial que é chamado, entre os Arunta, o er111atulu11-
ga10"'. Trata-s e de uma cavidade, uma espécie de peqm·no
subtemineo dissimulado num local deserto. Sua entrada é 1 pos serem untados de graxa. são fr iccio nados contra os
cuidadosamente fechada por meio de pedras tão habilmen 1 1 ll'mbros. contra o estômago dos fiéis ••s. Ou então são re-
te dispostas que um estranho que passar ao lado não pode nhcrtos de urna penugem que se solta e se dispersa em
rá suspeitar que, junto dele, se acha o resouw religioso do 1 i idas as direções quando agitados no ar: é uma maneira ele
clã. O caráter sagrado dos chu ringa é tal, que se transmite • lissl'min ar as virtudes contidas neles• 16.
ao lugar onde são assim depositados: as mulheres, os nào Mas os churinga não são apenas úteis aos indivíduos:
iniciados nao podem se aproximar dele. Somente quando sone cio clã inteiro está ligada à sua. Perdê-lo é um de-
1s1rc; é a maior infelicidade que pode acontecer ao gru-
1
enrre os nomes que cada A ru nta poss u i , há um tão sagra mi i.s(,Iado, é por ser uma coisa de alto valor rel igioso e
do que é proibido revelá-lo a um estrangeiro; só é pro • 1q.1 pe rda lesaria gravemente a coletividade e os indiví
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nunciado raramente, em voz baixa, numa espéc ie de mur d 1 1 1 1s. Ele possui todo lipo ele propriedades maravilhosas:
múrio religioso. Ora, esse nome é aritna churi11ga ( a ritna p1 •I n>ntato, cura feridas, especialmente aquelas que re-
11h 11n da circuncisà o10'>; tem inclusive eficácia contra a doen-
as
c.:huringa , só lhes é permitido olhá-lo:. de longe e, amda )L ·t..U adversário traz consigo um churinga. imc<liacamen
assim, cm raras ocasiões•o.1• 11• perde confiança e sua derrota é cerrall3. Assim, não h á
Os churinga são conservados piedosamente num lugar in .1nimento rin.1al que ocupe um lugar mais importante nas
u·11mônias religiosas•H. Mediante unções , seus poderes são
1 r 1 nsmitidos aos oficiantes ou aos assistences; para tanto,
especial que é chamado, entre os Arunta, o er111atulu11-
ga10"'. Trata-s e de uma cavidade, uma espécie de peqm·no
subtemineo dissimulado num local deserto. Sua entrada é 1 pos serem untados de graxa. são fr iccio nados contra os
cuidadosamente fechada por meio de pedras tão habilmen 1 1 ll'mbros. contra o estômago dos fiéis ••s. Ou então são re-
te dispostas que um estranho que passar ao lado não pode nhcrtos de urna penugem que se solta e se dispersa em
rá suspeitar que, junto dele, se acha o resouw religioso do 1 i idas as direções quando agitados no ar: é uma maneira ele
clã. O caráter sagrado dos chu ringa é tal, que se transmite • lissl'min ar as virtudes contidas neles• 16.
ao lugar onde são assim depositados: as mulheres, os nào Mas os churinga não são apenas úteis aos indivíduos:
iniciados nao podem se aproximar dele. Somente quando sone cio clã inteiro está ligada à sua. Perdê-lo é um de-
1s1rc; é a maior infelicidade que pode acontecer ao gru-
1
lt
cer e Gillen. o churinga serviria de residência
a uma alma 1s demonstrações do rito; ela é que santifica o ob1eto
de antepassado, e seria a presidência dessa
alma que lhe 1 1 • 1 qual está gravada.
l lá. n o entanto, entre os Arunta e nas tnbos v1zmhas.
confer iria suas propriedades 1 2·1. Strehlo w, . . .
por seu lado.
embora declarando inexat a essa interpretação
, propõe d111.., outros instrumentos litúrgicos claramente relaciona
º' ,., ao totem e ao próprio churinga que entra orclinaria-
uma outra que não difere sensivelmente da
c huringa seria con si derado uma inlagem do
precedente: o
corpo do an 1111 nte em sua composição: o n11rlll 11ja e o waninga.
tepassado ou esse próprio corpo125. Portanto,
seriam mais o nununja I 28, ve rifica do entre os Arunta do 01te e
uma vez os sentimentos inspirados pelo antepa
ssado que , 1 · 1i... vizinhos imediatos129, é feito essencialmente de u m
se relacionariam ao objew material e fariam
dele uma es 1 q 1orte vertical que consiste ou numa lança, ou em várias
l 1 1 1l.1s reunidas em feixe, ou ainda numa simples varat:so.
pécie de fetiche. Mas, em primeiro lugar , tanto
uma con
1 1 t lns de e1vas são presos em volta por mei o de pequenas
cepção quanto a outra - que, aliás, quase não
diferem do
miLo .ª não ser na letra - foram manifestamen
te forjadas 1 1 1 1 s . feitas de cabelos. Por ci ma destes é acres c enta da
1 1 1 11.1 pen ugem, disposta em círculos ou em linhas pa ra le
depois, para tornar inleligíyel o caráter sagrad
o aLribuído
l . 1 , . de cima a baixo do suporte. O topo é decora do com
aos churin ga. Na constituição dessas peças
de madeira e
1 11 t 1 1 11 as de águia-falcão. Essa é a p enas a forma m ai s geral
desses pedaços de pedra, em seu aspecto exterio
r, não há
nada que os predestine a ser considerados
a residência de , 111:1is típica: ela comporta todo tipo de variações confor-
1 1 1 1· os casos particulares 1 3 I .
uma alma de antepa ssado ou a image m de
Portan to, se us home ns imagin aram esse mito,
seu corpo .
fo i para o waninga , que se verifica apenas entre os ArunLa do
1 i l , os Urabunna e os Lo ritja , tampouco apresenta um
poderem explica r a eles mesmos o respeito
religioso que
1 1 11 1 l k l o único. Redu z ido a seus elementos e ss en ciais,
tais coisas lhes inspira vam. e não porqu e
esse ·respe ito
fosse determinado pelo mito. Essa explicação,
como tan 1 1 1 11bém ele consiste num suporte ve1tical, formado por
1 1 1 1 1 ha sLà o com cerca ele meio metro de a l tura , ou por
tas ex plicações míticas, só resolve a questã
o pela questão
mesma, repelida em termos ligeira mente diferen
tes, pois 1 1111;1 lança com vá rios metros de comprimento, e cortado
dizer que o churinga é sagrado e dizer que ele
contém es- 1 11.1 por uma, ora por duas peças transversais132. No pri-
AS FORMAS HLEMENTllRES Dll
Ili \'ÇAS ELI
DIENT'ARES
1 16 11DA Rlil/Gl<J.\.� 117
I\
lt
cer e Gillen. o churinga serviria de residência
a uma alma 1s demonstrações do rito; ela é que santifica o ob1eto
de antepassado, e seria a presidência dessa
alma que lhe 1 1 • 1 qual está gravada.
l lá. n o entanto, entre os Arunta e nas tnbos v1zmhas.
confer iria suas propriedades 1 2·1. Strehlo w, . . .
por seu lado.
embora declarando inexat a essa interpretação
, propõe d111.., outros instrumentos litúrgicos claramente relaciona
º' ,., ao totem e ao próprio churinga que entra orclinaria-
uma outra que não difere sensivelmente da
c huringa seria con si derado uma inlagem do
precedente: o
corpo do an 1111 nte em sua composição: o n11rlll 11ja e o waninga.
tepassado ou esse próprio corpo125. Portanto,
seriam mais o nununja I 28, ve rifica do entre os Arunta do 01te e
uma vez os sentimentos inspirados pelo antepa
ssado que , 1 · 1i... vizinhos imediatos129, é feito essencialmente de u m
se relacionariam ao objew material e fariam
dele uma es 1 q 1orte vertical que consiste ou numa lança, ou em várias
l 1 1 1l.1s reunidas em feixe, ou ainda numa simples varat:so.
pécie de fetiche. Mas, em primeiro lugar , tanto
uma con
1 1 t lns de e1vas são presos em volta por mei o de pequenas
cepção quanto a outra - que, aliás, quase não
diferem do
miLo .ª não ser na letra - foram manifestamen
te forjadas 1 1 1 1 s . feitas de cabelos. Por ci ma destes é acres c enta da
1 1 1 11.1 pen ugem, disposta em círculos ou em linhas pa ra le
depois, para tornar inleligíyel o caráter sagrad
o aLribuído
l . 1 , . de cima a baixo do suporte. O topo é decora do com
aos churin ga. Na constituição dessas peças
de madeira e
1 11 t 1 1 11 as de águia-falcão. Essa é a p enas a forma m ai s geral
desses pedaços de pedra, em seu aspecto exterio
r, não há
nada que os predestine a ser considerados
a residência de , 111:1is típica: ela comporta todo tipo de variações confor-
1 1 1 1· os casos particulares 1 3 I .
uma alma de antepa ssado ou a image m de
Portan to, se us home ns imagin aram esse mito,
seu corpo .
fo i para o waninga , que se verifica apenas entre os ArunLa do
1 i l , os Urabunna e os Lo ritja , tampouco apresenta um
poderem explica r a eles mesmos o respeito
religioso que
1 1 11 1 l k l o único. Redu z ido a seus elementos e ss en ciais,
tais coisas lhes inspira vam. e não porqu e
esse ·respe ito
fosse determinado pelo mito. Essa explicação,
como tan 1 1 1 11bém ele consiste num suporte ve1tical, formado por
1 1 1 1 1 ha sLà o com cerca ele meio metro de a l tura , ou por
tas ex plicações míticas, só resolve a questã
o pela questão
mesma, repelida em termos ligeira mente diferen
tes, pois 1 1111;1 lança com vá rios metros de comprimento, e cortado
dizer que o churinga é sagrado e dizer que ele
contém es- 1 11.1 por uma, ora por duas peças transversais132. No pri-
1 18 REUGJ0,\.-1 1 19
W·\ç,:<iS ELEMENTARES
AS FORMAS ELEiWEJV!ARES DA VID
A
1
I ' ' , "'L' desenho insrira e o alto valor que lhe e. atnbm-
eram suspensos os churingam. Vale dizer que .
lhe confia
vam tudo o que tinham ele mais precioso. Ao mesmo
tem 1 , , 1 1 1 1 efeito, sendo traçado num terreno previamente
po, ele era uma espécie de estandarte que servia
como 1 1 .. 1 gldo com sangue humano143, e veremos adiante que
1 18 REUGJ0,\.-1 1 19
W·\ç,:<iS ELEMENTARES
AS FORMAS ELEiWEJV!ARES DA VID
A
1
I ' ' , "'L' desenho insrira e o alto valor que lhe e. atnbm-
eram suspensos os churingam. Vale dizer que .
lhe confia
vam tudo o que tinham ele mais precioso. Ao mesmo
tem 1 , , 1 1 1 1 efeito, sendo traçado num terreno previamente
po, ele era uma espécie de estandarte que servia
como 1 1 .. 1 gldo com sangue humano143, e veremos adiante que
AS PONAIAS l:'LEMENTARES DA VIDA REUC
IOSA
1 20
121
o sangue. por <; i me<;mo. já é
um líquido o:;agrado que ser
ve apenas a ofícios devotos. 111l'm ou d1.: u m animal por l i nhas pontilhadas, ctc. A si g
Depois que a imagem foi tra
çada, os fiéis permanecem sent rnficaçào das figuras obtidas por tais procedimentos é tao
ados no chão dian re dela
na atitu de da mais pura devo .1rbitrária que um desenho idêntico pode ter dois sentidos
d a r à pala vra um sent ido apro
ção1 11. Com a cond ição de
diferentes para os membros de dois totens e representl.l r
aqui um animal, ali um outro ou uma piam<. Isso
priad o à men talid ade do
pr.imitivo, pode-se dizer que é ta lve z
eles a adoram. Eis o que per
mite com pree nder de q u e ,linda mais evidente no caso dos nununja ( cios waninga.
man eira o bras ão totê mico
pe 1:man cc� u , para os índios Cada um deles representa um totem diferer .te . Mas os ele-
ela Amé rica do Norte, algo
muit o precioso. sendo sempre 1rn.:ntos pouco numerosos e muito simples que entram em
cercado de uma espécie ele
auréola religiosa. sua composição n ão poderiam prod uzir combinações
bastante variadas. Disso resulta que dois nurtunja possam
:\las para compn.:endt.r por tcr exatameme o mesmo aspecto, mas exprimir duas coi
que as repre�ent<tçoe.'> to
têmi cas são assim sagradas, "ª" tão diferentes quanto um eucalipto e uma ema 1 19 o
é interessante saber em que
consistem. momento em que confeccionam o nurtunja, dão-lhe um
. sentido que ele conserva d u rante toda a cerimônia, mas
Entre os índio s da Amé rica
do None, são imag ens
que. em suma. é fixa do por convenção.
Esses fatos provam que, se o australiano é fortemen
P mradas g� vadas ou esculpida
z1r, o mai s fielmente possível,
.
• .
s que procuram reprodu
o aspecto exterior do ani
mal totêmico. Os procedimento te inclinado a representar seu totem, não é para ter dian
s emp regados são aqueles
de que nos servimos ainda hoje te dos olhos u m retrato que renove perpetuamente sua
em casos simil ares, exce
sensação, mas simp lesmente porque sente a necessidade
ele representar-se a idéia que faz dele ror meio c.le u m
to por sere m, em gera l , mais
gros seiro s. Mas o mesmo
não acontece na Aust rália , e
é natu ralmente nas socieda
des austr alian as que devemos signo material, exterior, não importa qual seja, aliás. es
busc ar a origem dessas fi
�e signo. Não podemos ainda compreender o que moveu
�u '.·açõcs. Emb ora o aust ralia no seja bast
ante c::tpa z de o primitivo a <::s crever em sua pessoa e em d i ferentes ob
tn1ttar, ao menos de uma man
eira rudimentar, as formas
das coisas115. as omamenta(õe jetos a noção que Linha de seu totem, r:ias era importam�
s sagradas parecem, na maio
ria dos casos, al heias ::t qual qu constatar desde já a natureza da necessidade que deu on
e r preocupação dess
e gêne gem a essas múltiplas figuraçôes1�º .
ro: cons istem esse ncial
mente em desenhos geométric
os
executados nos churinga ou
no corpo dos homens. São li
nhas , retas ou curvas, p inta das
. . ele maneiras cllferentesH6
..
CU J O con1umo so ...
tem e so pode ter um sentido
'
convencio-
nal A . relação �ntre a figura
e a coisa figurada é a tal pon
te:_ indireta e cl 1stan1e que não se pode percebê-
:
la quan do
nao se tem ciên cia dela. Só os
membros do clã pod em di
zer q u a l o sent ido por eles
atrib uído a esta ou àque la
combinação de linha s 1 17. Gera
lmente, homens e mulheres
são representados por semicírcu
los, os anim ais por círcu
1ª; as pegadas de um ho-
los completos ou por espi rais!
AS PONAIAS l:'LEMENTARES DA VIDA REUC
IOSA
1 20
121
o sangue. por <; i me<;mo. já é
um líquido o:;agrado que ser
ve apenas a ofícios devotos. 111l'm ou d1.: u m animal por l i nhas pontilhadas, ctc. A si g
Depois que a imagem foi tra
çada, os fiéis permanecem sent rnficaçào das figuras obtidas por tais procedimentos é tao
ados no chão dian re dela
na atitu de da mais pura devo .1rbitrária que um desenho idêntico pode ter dois sentidos
d a r à pala vra um sent ido apro
ção1 11. Com a cond ição de
diferentes para os membros de dois totens e representl.l r
aqui um animal, ali um outro ou uma piam<. Isso
priad o à men talid ade do
pr.imitivo, pode-se dizer que é ta lve z
eles a adoram. Eis o que per
mite com pree nder de q u e ,linda mais evidente no caso dos nununja ( cios waninga.
man eira o bras ão totê mico
pe 1:man cc� u , para os índios Cada um deles representa um totem diferer .te . Mas os ele-
ela Amé rica do Norte, algo
muit o precioso. sendo sempre 1rn.:ntos pouco numerosos e muito simples que entram em
cercado de uma espécie ele
auréola religiosa. sua composição n ão poderiam prod uzir combinações
bastante variadas. Disso resulta que dois nurtunja possam
:\las para compn.:endt.r por tcr exatameme o mesmo aspecto, mas exprimir duas coi
que as repre�ent<tçoe.'> to
têmi cas são assim sagradas, "ª" tão diferentes quanto um eucalipto e uma ema 1 19 o
é interessante saber em que
consistem. momento em que confeccionam o nurtunja, dão-lhe um
. sentido que ele conserva d u rante toda a cerimônia, mas
Entre os índio s da Amé rica
do None, são imag ens
que. em suma. é fixa do por convenção.
Esses fatos provam que, se o australiano é fortemen
P mradas g� vadas ou esculpida
z1r, o mai s fielmente possível,
.
• .
s que procuram reprodu
o aspecto exterior do ani
mal totêmico. Os procedimento te inclinado a representar seu totem, não é para ter dian
s emp regados são aqueles
de que nos servimos ainda hoje te dos olhos u m retrato que renove perpetuamente sua
em casos simil ares, exce
sensação, mas simp lesmente porque sente a necessidade
ele representar-se a idéia que faz dele ror meio c.le u m
to por sere m, em gera l , mais
gros seiro s. Mas o mesmo
não acontece na Aust rália , e
é natu ralmente nas socieda
des austr alian as que devemos signo material, exterior, não importa qual seja, aliás. es
busc ar a origem dessas fi
�e signo. Não podemos ainda compreender o que moveu
�u '.·açõcs. Emb ora o aust ralia no seja bast
ante c::tpa z de o primitivo a <::s crever em sua pessoa e em d i ferentes ob
tn1ttar, ao menos de uma man
eira rudimentar, as formas
das coisas115. as omamenta(õe jetos a noção que Linha de seu totem, r:ias era importam�
s sagradas parecem, na maio
ria dos casos, al heias ::t qual qu constatar desde já a natureza da necessidade que deu on
e r preocupação dess
e gêne gem a essas múltiplas figuraçôes1�º .
ro: cons istem esse ncial
mente em desenhos geométric
os
executados nos churinga ou
no corpo dos homens. São li
nhas , retas ou curvas, p inta das
. . ele maneiras cllferentesH6
..
CU J O con1umo so ...
tem e so pode ter um sentido
'
convencio-
nal A . relação �ntre a figura
e a coisa figurada é a tal pon
te:_ indireta e cl 1stan1e que não se pode percebê-
:
la quan do
nao se tem ciên cia dela. Só os
membros do clã pod em di
zer q u a l o sent ido por eles
atrib uído a esta ou àque la
combinação de linha s 1 17. Gera
lmente, homens e mulheres
são representados por semicírcu
los, os anim ais por círcu
1ª; as pegadas de um ho-
los completos ou por espi rais!
< '\P ÍTUIO II
l\S CRENÇAS PROPRIAMENTE
TOTÊMICAS
1 Continuação)
veremos. de faro, que servem às vezes de verdadeira eu· ;t impocm seriam rdati\arnentc rL:cenccs. Eles julgam en-
carbtia, mas, normalmente, não podem ser utilizados para 1 1 1111rar a prova de sua tese nos dois seguintes fatos. Pri-
o consumo vulgar. Quem desrespeitar essa proibição se 111c: 1ro. como acabamos de dizer, há ocasiões solenes cm
expõe aos mais graves perigos. Não que o grupo interve l (lll os membros do clã ou seu chefe não apenas podem
nha sempre para reprimir arrificialmente a infração cometi 1 .. 1110 devem comer do animal ou da planta totêmicos.
da, mas acredita-se que o sacrilégio acarrete automatica \km disso, os mitos contam que os grandes antepassa
mente a morte. Supõe-se resida na planta ou no animal Lo d11s. fundadores dos clãs, comiam regularmente de seu to-
têmico um princípio temível que não pode peneLrar num 11 1 1 1 ; ora, dizem eles, essas narrativas só podem ser com-
organismo profano sem desorganizá-lo ou destruí-10 1 . 1 •11·l·ndidas como o eco de um tempo em que as proibições
Apena:-. os velhos, pelo menos em cerras tribos. sáo libera
do:-. c.l�sa mLerdiçào!; Yeremos mais adiante a rnzao disso.
11u.1is não teriam existido .
l\las o fato de que, durante cercas solenidades religio-
Entretanto, se a proibição é formal num granc.le nu 1 um consumo - alias moderado - do totem seia ritual-
mero de Lribos3 - com exceções que serão indicadas mais 1111•;\lc obrigatório, de modo nenhum implica que ele al-
tarde -. é incontestável que ela tende a atenuar-se à medi 1 1 1 1 1;1 yez serviu para a ali mentação vulgar. Muito pelo
da que a velha organização totêmica é abalada. Mas as 1 e • 1 t 1 1.1 ri o, o alimento que se come nessas refeições mísli
restrições cnLào mantidas demonstram que essas atenua ' 1>1 l essencialmente sagrado e, conseqi.ientemente, proi
ções não foram aceitas sem d i ficuldade. Por exemplo, l •11 l c , .1os profanos. Quanto aos mitos, é proceder segundo
mesmo onde se permitiu comer ela pla nta ou cio animal 1 1 1 1 1 método crítico um tanto sumário atribuir-lhes tão fa-
que se1ve de totem, isso não se faz em compleLa liberda 1 l c >1l'nte um valor de documentos históricos. Em gera l ,
de: só se pode consumir uma pequena quantidade de ca h s 1l"·m por objeto interpretar ritos existentes e não co-
d a \'CZ. Lltrapassar a medida constitui uma falta ritual 1 1 11 111mar eventos passados; são muito mais uma explica-
com graves conseqi.iências•. Além disso. a proibição per 1 1 c.11 presente do que uma história. :-:o caso, essas tradi-
manece intacta para as parres consideradas mais precio
sas. isto é, mais sagradas. por exemplo. os O\'OS ou a gor·
• 11 o; wgunc.lo as quais os antepassados da época fabulosa
1 1
H 1
É verdade que. -;egundo Spencer e Gillen. essas res ll u.-.es. Portanto, devia parecer ainda mais natural
trições não seriam os restos de uma proibição rigorosa p 11 111 1dl•s:-.em se nutrir do alimento sagrado9, mas essa
que iria se atenuando. mas, ao contrário, o prelúdio de 11 l 1 11111:1 r.izão para que a mesma faculdade tenha sido
uma interdicão que estaria começando a se estabelecer 111 d1d:1 .1os simples profanos'º·
De acordo com esses autores- . a liberdade de consumo 1 11l ll'tanto. não é cerro nem mesmo provável que a
teria sido completa na origem, e as limitações que agora 1 1 llu 111 tenha alguma vez sido absoluta. Ela parece ter
A.\ FOR.lfAS ELE.\fE.\T.·LRES DA HDA RFJJGIOSA l\ r RE.\'ÇAS ELF.ME.\TARfü 125
veremos. de faro, que servem às vezes de verdadeira eu· ;t impocm seriam rdati\arnentc rL:cenccs. Eles julgam en-
carbtia, mas, normalmente, não podem ser utilizados para 1 1 1111rar a prova de sua tese nos dois seguintes fatos. Pri-
o consumo vulgar. Quem desrespeitar essa proibição se 111c: 1ro. como acabamos de dizer, há ocasiões solenes cm
expõe aos mais graves perigos. Não que o grupo interve l (lll os membros do clã ou seu chefe não apenas podem
nha sempre para reprimir arrificialmente a infração cometi 1 .. 1110 devem comer do animal ou da planta totêmicos.
da, mas acredita-se que o sacrilégio acarrete automatica \km disso, os mitos contam que os grandes antepassa
mente a morte. Supõe-se resida na planta ou no animal Lo d11s. fundadores dos clãs, comiam regularmente de seu to-
têmico um princípio temível que não pode peneLrar num 11 1 1 1 ; ora, dizem eles, essas narrativas só podem ser com-
organismo profano sem desorganizá-lo ou destruí-10 1 . 1 •11·l·ndidas como o eco de um tempo em que as proibições
Apena:-. os velhos, pelo menos em cerras tribos. sáo libera
do:-. c.l�sa mLerdiçào!; Yeremos mais adiante a rnzao disso.
11u.1is não teriam existido .
l\las o fato de que, durante cercas solenidades religio-
Entretanto, se a proibição é formal num granc.le nu 1 um consumo - alias moderado - do totem seia ritual-
mero de Lribos3 - com exceções que serão indicadas mais 1111•;\lc obrigatório, de modo nenhum implica que ele al-
tarde -. é incontestável que ela tende a atenuar-se à medi 1 1 1 1 1;1 yez serviu para a ali mentação vulgar. Muito pelo
da que a velha organização totêmica é abalada. Mas as 1 e • 1 t 1 1.1 ri o, o alimento que se come nessas refeições mísli
restrições cnLào mantidas demonstram que essas atenua ' 1>1 l essencialmente sagrado e, conseqi.ientemente, proi
ções não foram aceitas sem d i ficuldade. Por exemplo, l •11 l c , .1os profanos. Quanto aos mitos, é proceder segundo
mesmo onde se permitiu comer ela pla nta ou cio animal 1 1 1 1 1 método crítico um tanto sumário atribuir-lhes tão fa-
que se1ve de totem, isso não se faz em compleLa liberda 1 l c >1l'nte um valor de documentos históricos. Em gera l ,
de: só se pode consumir uma pequena quantidade de ca h s 1l"·m por objeto interpretar ritos existentes e não co-
d a \'CZ. Lltrapassar a medida constitui uma falta ritual 1 1 11 111mar eventos passados; são muito mais uma explica-
com graves conseqi.iências•. Além disso. a proibição per 1 1 c.11 presente do que uma história. :-:o caso, essas tradi-
manece intacta para as parres consideradas mais precio
sas. isto é, mais sagradas. por exemplo. os O\'OS ou a gor·
• 11 o; wgunc.lo as quais os antepassados da época fabulosa
1 1
H 1
É verdade que. -;egundo Spencer e Gillen. essas res ll u.-.es. Portanto, devia parecer ainda mais natural
trições não seriam os restos de uma proibição rigorosa p 11 111 1dl•s:-.em se nutrir do alimento sagrado9, mas essa
que iria se atenuando. mas, ao contrário, o prelúdio de 11 l 1 11111:1 r.izão para que a mesma faculdade tenha sido
uma interdicão que estaria começando a se estabelecer 111 d1d:1 .1os simples profanos'º·
De acordo com esses autores- . a liberdade de consumo 1 11l ll'tanto. não é cerro nem mesmo provável que a
teria sido completa na origem, e as limitações que agora 1 1 llu 111 tenha alguma vez sido absoluta. Ela parece ter
126 AS FORMAS ELEA!EtVTARFS DA VJ[)A IU:'UGJOSA I \ r NENÇAS ELEME!VTARFS 127
�ido sempre suspcnsa cm caso de necessidad<.:, por exern pi ma ou o animal proibidos lhe forem apresentados por
pio, quando o indígena está faminto e não tem outra coi 1 1 1 1 1 membro da outra fratria1\
sa de que se alimentar1 1 . Com maior razão, isso acontece Uma outra sobre,·ivência do mesmo tipo é a que diz
quando o totem é um alimento sem o qual o homem não 11.: .peito ao totem materno. liá fortes razões para crer que,
pode passar. Assim. há um grande número de tribos em 1 1.1 origem, o totem transmitia-se em linha uterina. Portan
que existe um totem da água: uma proibição estrita, no '' ' · ;1 filiação em linha paterna, onde foi adotada, prova
caso. é manifestamente impossível. Contudo, mesmo nes \ d rnente só aconteceu depois de um longo período, du-
se caso, a faculdade concedida submete-se a condições 1 11fü.' o qual o princípio oposto fora aplicado; conseqüen
que restringem seu uso e que mostram perfeitamente que IL' t11cnte, a criança tinha, então. o totem de sua mãe e
ela infringe um princípio reconhecido. Entre os Kaitish e limctia-se a todas as interdições a ele associados. Ora.
os Warf".imunga. um homem desse totem não pode beber t 1 11 certas tribos, cm que, não obstante, o filho herda hoje
<igua hHemente: é pro1b1do de úrá-la do poço e só podc , item paterno, :;obre\ t\'C algo das interdições que pro
recebê-la das mãos de um terceiro que pertence obrigato l• ..:i.11n primitivamente o totem da mãe: não se pode co-
riamente à fratria da qual não é membro 1 2. A complexida 111c lo linemente ••. No entanto, no estado presente de coi-
de desse procedimento e o transtorno que causa são ain 1 , não há nada mais que corresponda a essa proibição.
da uma forma de reconhecer que o acesso ã coisa sagraJa À. interdição de comer acrescenta-se, com freqüência,
não é livre. A mesma regra aplica-se, em certas tribos do 1 dL' matar. ou, se o totem for uma planta. a de colher15.
Centro, toda vez que se come do totem, seja por necessi t.1. 1 ... também aqui há exceções e tolerâncias, em particular
dade, seja por alguma outra causa. Convém acrescentar e• , 1-;o de necessidade, quando, por exemplo, o totem é
que, quando essa fonnalidade não pode ser executada. is 1 1 1 1 1 .mimai nocivotó ou não há nada para comer. Inclusive
to é, quando o ind ivíduo está sozinho ou cercado apenas li 1ribos em que é proibido caçar por sua conta o animal
l i ! • > nome se leva, e não obstante é permitido matá-lo
1
�ido sempre suspcnsa cm caso de necessidad<.:, por exern pi ma ou o animal proibidos lhe forem apresentados por
pio, quando o indígena está faminto e não tem outra coi 1 1 1 1 1 membro da outra fratria1\
sa de que se alimentar1 1 . Com maior razão, isso acontece Uma outra sobre,·ivência do mesmo tipo é a que diz
quando o totem é um alimento sem o qual o homem não 11.: .peito ao totem materno. liá fortes razões para crer que,
pode passar. Assim. há um grande número de tribos em 1 1.1 origem, o totem transmitia-se em linha uterina. Portan
que existe um totem da água: uma proibição estrita, no '' ' · ;1 filiação em linha paterna, onde foi adotada, prova
caso. é manifestamente impossível. Contudo, mesmo nes \ d rnente só aconteceu depois de um longo período, du-
se caso, a faculdade concedida submete-se a condições 1 11fü.' o qual o princípio oposto fora aplicado; conseqüen
que restringem seu uso e que mostram perfeitamente que IL' t11cnte, a criança tinha, então. o totem de sua mãe e
ela infringe um princípio reconhecido. Entre os Kaitish e limctia-se a todas as interdições a ele associados. Ora.
os Warf".imunga. um homem desse totem não pode beber t 1 11 certas tribos, cm que, não obstante, o filho herda hoje
<igua hHemente: é pro1b1do de úrá-la do poço e só podc , item paterno, :;obre\ t\'C algo das interdições que pro
recebê-la das mãos de um terceiro que pertence obrigato l• ..:i.11n primitivamente o totem da mãe: não se pode co-
riamente à fratria da qual não é membro 1 2. A complexida 111c lo linemente ••. No entanto, no estado presente de coi-
de desse procedimento e o transtorno que causa são ain 1 , não há nada mais que corresponda a essa proibição.
da uma forma de reconhecer que o acesso ã coisa sagraJa À. interdição de comer acrescenta-se, com freqüência,
não é livre. A mesma regra aplica-se, em certas tribos do 1 dL' matar. ou, se o totem for uma planta. a de colher15.
Centro, toda vez que se come do totem, seja por necessi t.1. 1 ... também aqui há exceções e tolerâncias, em particular
dade, seja por alguma outra causa. Convém acrescentar e• , 1-;o de necessidade, quando, por exemplo, o totem é
que, quando essa fonnalidade não pode ser executada. is 1 1 1 1 1 .mimai nocivotó ou não há nada para comer. Inclusive
to é, quando o ind ivíduo está sozinho ou cercado apenas li 1ribos em que é proibido caçar por sua conta o animal
l i ! • > nome se leva, e não obstante é permitido matá-lo
1
Cur pi tnLJ
do
seriam impraticá\'cis se todo contato fosse proibido. 1 ou o anim al sagrado que o jovem inicia
nicar quan do e 1mrod uzic.lo no círculo da
pre norar, alias, que essa proibição não se obsen·a na , 1 1 .1 se comu
mais
Austrália, mas somente em sociedades em que o totc.· 1111 1 1 1 ligiosa; vimo s, ao contrário, que o momento
1 1 111• da iniciação é quand o o noviço penet ra no santu á
mo já se afastou bastante de sua forma original; é prm:\
\ el, ponanto. que ela seja de origem tardia e devida 1.11 do, l huring a. t com eles, é com o nurtun ja que o jo-
do totem, portanto,
\'CZ à influência de idéias que nada têm de propriamcnl 1 1 1 �· t omun ica. As representações
s aúva que o própr io cotem.
totêmicas:u. 1 1 1 1 1 1 1 1 eficác ia mai
Ao contrário, animais e plantas totêmicas vivem em rem um homem no sentido usual e.la
tôrio profano e estão misturados à vida comum. E, como l i 1\ 1 . 1 . um ani m al ou uma planta e.la espécie totêmica.
1 .1 >111 efeito, ele tem o nome desse anima
l ou planta.
o número e a importância das interdições que isolam uma
idade do nome impli ca uma
coisa sagrada e a retiram de circulação correspondem ao , , 111s1dera-se que a ident
1 1 1 1 1 idade
é consi derad a
e.la segun da: ela a su
grau de santidade de que ela é investida, chega-se ao cu de natur eza. A prime ira não
1 1 1 1 p l l'�mente como o sinal exterior
l " " ' l ogica ment e. Pois
rio!'io res u l tado de q ue as imagens do ser totêmico sâo
o nome , para o prim itivo, não é
de sons, mas algu-
111ais sagradas cio q11e o própn·o ser /otêmico. De resto, nas
ccrimônias do culto, o churinga, o nurtunja ocupam o pri 1 1 .. 11.is uma palav ra , uma comb inação
1 1 1 1 , 01sa do ser, e alguma coisa essen cial. Um membro
meiro lugar; o animal só aparece muito excepcionalmen
te. Num rito sobre o qual iremos falar1\ ele M:'f\·e tk: ma l f l 1 1.\ do Canguru cham a a si própr io de cangu ru: por-
l dessa mesma
1 nt • •, num certo .sentido. ele é um anima
l 'l'• il· " l m homem, dizem
té �ia a uma refeição religiosa, mas não desempenha papel
Spenc er e Gillen , considera
ativo. Os Arnnta dançam ao redor do nurtunja, reúnem-se
1 c · 1 que lhe .serve de <Otem como a mesm a coisa q u e
1 m indígena, com quem discutíamo
diante da imagem de seu totem e a adoram; jamais seme
s a quest ão, res-
lhante demonstração dirige-se ao ser totêmico ele mesmo. 1 J,
Cur pi tnLJ
do
seriam impraticá\'cis se todo contato fosse proibido. 1 ou o anim al sagrado que o jovem inicia
nicar quan do e 1mrod uzic.lo no círculo da
pre norar, alias, que essa proibição não se obsen·a na , 1 1 .1 se comu
mais
Austrália, mas somente em sociedades em que o totc.· 1111 1 1 1 ligiosa; vimo s, ao contrário, que o momento
1 1 111• da iniciação é quand o o noviço penet ra no santu á
mo já se afastou bastante de sua forma original; é prm:\
\ el, ponanto. que ela seja de origem tardia e devida 1.11 do, l huring a. t com eles, é com o nurtun ja que o jo-
do totem, portanto,
\'CZ à influência de idéias que nada têm de propriamcnl 1 1 1 �· t omun ica. As representações
s aúva que o própr io cotem.
totêmicas:u. 1 1 1 1 1 1 1 1 eficác ia mai
Ao contrário, animais e plantas totêmicas vivem em rem um homem no sentido usual e.la
tôrio profano e estão misturados à vida comum. E, como l i 1\ 1 . 1 . um ani m al ou uma planta e.la espécie totêmica.
1 .1 >111 efeito, ele tem o nome desse anima
l ou planta.
o número e a importância das interdições que isolam uma
idade do nome impli ca uma
coisa sagrada e a retiram de circulação correspondem ao , , 111s1dera-se que a ident
1 1 1 1 1 idade
é consi derad a
e.la segun da: ela a su
grau de santidade de que ela é investida, chega-se ao cu de natur eza. A prime ira não
1 1 1 1 p l l'�mente como o sinal exterior
l " " ' l ogica ment e. Pois
rio!'io res u l tado de q ue as imagens do ser totêmico sâo
o nome , para o prim itivo, não é
de sons, mas algu-
111ais sagradas cio q11e o própn·o ser /otêmico. De resto, nas
ccrimônias do culto, o churinga, o nurtunja ocupam o pri 1 1 .. 11.is uma palav ra , uma comb inação
1 1 1 1 , 01sa do ser, e alguma coisa essen cial. Um membro
meiro lugar; o animal só aparece muito excepcionalmen
te. Num rito sobre o qual iremos falar1\ ele M:'f\·e tk: ma l f l 1 1.\ do Canguru cham a a si própr io de cangu ru: por-
l dessa mesma
1 nt • •, num certo .sentido. ele é um anima
l 'l'• il· " l m homem, dizem
té �ia a uma refeição religiosa, mas não desempenha papel
Spenc er e Gillen , considera
ativo. Os Arnnta dançam ao redor do nurtunja, reúnem-se
1 c · 1 que lhe .serve de <Otem como a mesm a coisa q u e
1 m indígena, com quem discutíamo
diante da imagem de seu totem e a adoram; jamais seme
s a quest ão, res-
lhante demonstração dirige-se ao ser totêmico ele mesmo. 1 J,
do dele: · Af está exatamente a mesma coisa que eu'. Po1' l• k uma confusão tão perturbadora para o pensamen
hem, ele diz o mesmo do cangurn!" O canguru era seu to lt 1 \lgumas vezes, um personagem legendáno, por u m
tem2s. Cada indivíduo tem portanto uma dupla natureza. 11 1 . l v seu poder, teria metamorfoseado em homem o ani-
nele coexistem dois seres, um homem e um animal. 1 1 1 11 1·pônimo do clà32. Outras vezes o mito tenta explicar
Para dar uma aparência de inteligibil idade a essa dua 111111. por uma série de eventos mais ou menos naturais e
!idade, tão estranha para nós, o primitivo concebeu mitos 1 1 1 1 1 l'spécie de evolução espontânea, o próprio animal
que, certamente, nada explicarn e não fazem senão deslo 1 r 1,1 pouco a pouco se transformado e acabado por ad-
car a dificuldade, mas que, ao deslocá-la, parecem pelo 111h 11 uma forma humana3�.
menos atenuar seu escândalo lógico. Com variações no l ' erdade que existem sociedades (Haida, TI inkit.
detalhe. todos são construídos segundo o mesmo plano· 1 lm .hian > em que nào mais se admite que o homem te-
têm por objeto estabelecer entre o homem e o animal to 1 1 l t 1 1nscido de um animal ou de urna planta: no entanto.
témico relaçóe:, genealógicas que façam do primeiro u111 1 11 1 Ul: uma afinidade emre os animais da espt!cie cotê-
parente do segundo. Por essa comunhão de origem. aliás 1111 1 1 os membros cio clã sobreviveu e se exprime em
representada de maneiras diferentes, acredita-se explicar que. embora diferenciando-se dos precedentes. não
Ir
Hlh 1
sua comunhão de natureza. Os Narrinyeri, por exemplo. , 1 1 1 1 de evocar o q u e eles têm de essencial. É esse.
imaginaram que, enrre os prime iros homens. alguns •i ·kito, um dos temas fu ndamentais. O antepassado
1111
1
nham o poder de transformar-se em animais26. Outras so p • 1 1 1 1 110 é aí apresentado como u m ser humano, mas
ciedades austra lianas colocam no início da humanidadl· 1 1 1 , .1 pos peripécias diversas, teria sido levado a viver
ou animais estranhos, dos quais os homens teriam des 1 1 1 11111· um tempo mais ou menos longo em meio a ani
cendido não se sabe muito bem comor, ou seres mistos. ' 1 l 1hulosos da espécie que deu seu nome ao clã. Por
intermediá rios entre os dois reinos28• ou ainda criaturas 11 ,1 d1:ssa convivência íncima e prolongada. tornou-se
informe�. dificilmente representáveis, desprovidas de ór 111dhanre a seus novos companheiros que, ao volrar
gàos ou membros definidos, cujas diferentes partes cio 1 " 1 11 11110 dos homens, estes não mais o reconheceram.
corpo mal eram esboçaclas29. Potências míticas, às vezei; l •1 , 1 1 1 1 lhe, portanto, o nome cio animal ao qual se asse-
concebidas na forma de animais, teriam intervindo a se 111 11 .1 É de sua temporada nesse país mítico que teria
guir e transformado em homens esses seres ambíguos e 1 1 '' j, , ei emblema totêmico com os poderes e as virtudes
inomináveis que representam, dizem Spencer e Gillen, 11 1 • 1 1 11 .�:io tidos como inerentes�··. Assim, nesse caso co-
"urna fase de transição entre o estado de homem e o de 1 ' 1 1 1 .� n nteriores, su põe-se que o homem faça parte da
animal"30.Essas transformações nos são apresentadas co 11 111111 . .1 animal, ainda que essa participação seja conce-
mo o produto de operações violentas e quase cirúrgicas. 1 1 l 1 1 l1 uma forma ligeiramente diferente35.
É a golpes ele machado, ou, quando o operador é uma 1 11 1 1 1 . 11110, também o homem tem algo de sagrado. Oi
ave, por meio ele bicadas, que o indivíduo humano teria ]1< lc > organismo inteiro. esse caráter é mais particu-
sido esculpido nessa massa amorfa, seus membros sepa 1 1 11• 1 1 1 < ' ' i sível cm certos pomos privilegiados. IIá ór-
rados uns dos outros, sua boca abena, suas narinas perfu 1 , , 1c·1 1dos que são especialmente marcados por ele,
radas3J Encontramos na América lendas análogas, com a 1 m 1 1 1c l1 1 o sangue e os t .ibelos.
• 1 .. 111gue humano, em primeiro lugar, é algo tão sa-
_
do dele: · Af está exatamente a mesma coisa que eu'. Po1' l• k uma confusão tão perturbadora para o pensamen
hem, ele diz o mesmo do cangurn!" O canguru era seu to lt 1 \lgumas vezes, um personagem legendáno, por u m
tem2s. Cada indivíduo tem portanto uma dupla natureza. 11 1 . l v seu poder, teria metamorfoseado em homem o ani-
nele coexistem dois seres, um homem e um animal. 1 1 1 11 1·pônimo do clà32. Outras vezes o mito tenta explicar
Para dar uma aparência de inteligibil idade a essa dua 111111. por uma série de eventos mais ou menos naturais e
!idade, tão estranha para nós, o primitivo concebeu mitos 1 1 1 1 1 l'spécie de evolução espontânea, o próprio animal
que, certamente, nada explicarn e não fazem senão deslo 1 r 1,1 pouco a pouco se transformado e acabado por ad-
car a dificuldade, mas que, ao deslocá-la, parecem pelo 111h 11 uma forma humana3�.
menos atenuar seu escândalo lógico. Com variações no l ' erdade que existem sociedades (Haida, TI inkit.
detalhe. todos são construídos segundo o mesmo plano· 1 lm .hian > em que nào mais se admite que o homem te-
têm por objeto estabelecer entre o homem e o animal to 1 1 l t 1 1nscido de um animal ou de urna planta: no entanto.
témico relaçóe:, genealógicas que façam do primeiro u111 1 11 1 Ul: uma afinidade emre os animais da espt!cie cotê-
parente do segundo. Por essa comunhão de origem. aliás 1111 1 1 os membros cio clã sobreviveu e se exprime em
representada de maneiras diferentes, acredita-se explicar que. embora diferenciando-se dos precedentes. não
Ir
Hlh 1
sua comunhão de natureza. Os Narrinyeri, por exemplo. , 1 1 1 1 de evocar o q u e eles têm de essencial. É esse.
imaginaram que, enrre os prime iros homens. alguns •i ·kito, um dos temas fu ndamentais. O antepassado
1111
1
nham o poder de transformar-se em animais26. Outras so p • 1 1 1 1 110 é aí apresentado como u m ser humano, mas
ciedades austra lianas colocam no início da humanidadl· 1 1 1 , .1 pos peripécias diversas, teria sido levado a viver
ou animais estranhos, dos quais os homens teriam des 1 1 1 11111· um tempo mais ou menos longo em meio a ani
cendido não se sabe muito bem comor, ou seres mistos. ' 1 l 1hulosos da espécie que deu seu nome ao clã. Por
intermediá rios entre os dois reinos28• ou ainda criaturas 11 ,1 d1:ssa convivência íncima e prolongada. tornou-se
informe�. dificilmente representáveis, desprovidas de ór 111dhanre a seus novos companheiros que, ao volrar
gàos ou membros definidos, cujas diferentes partes cio 1 " 1 11 11110 dos homens, estes não mais o reconheceram.
corpo mal eram esboçaclas29. Potências míticas, às vezei; l •1 , 1 1 1 1 lhe, portanto, o nome cio animal ao qual se asse-
concebidas na forma de animais, teriam intervindo a se 111 11 .1 É de sua temporada nesse país mítico que teria
guir e transformado em homens esses seres ambíguos e 1 1 '' j, , e i emblema totêmico com os poderes e as virtudes
inomináveis que representam, dizem Spencer e Gillen, 11 1 • 1 1 11 .�:io tidos como inerentes�··. Assim, nesse caso co-
"urna fase de transição entre o estado de homem e o de 1 ' 1 1 1 .� n nteriores, su põe-se que o homem faça parte da
animal"30.Essas transformações nos são apresentadas co 11 111111 . .1 animal, ainda que essa participação seja conce-
mo o produto de operações violentas e quase cirúrgicas. 1 1 l 1 1 l1 uma forma ligeiramente diferente35.
É a golpes ele machado, ou, quando o operador é uma 1 11 1 1 1 . 11110, também o homem tem algo de sagrado. Oi
ave, por meio ele bicadas, que o indivíduo humano teria ]1< lc > organismo inteiro. esse caráter é mais particu-
sido esculpido nessa massa amorfa, seus membros sepa 1 1 11• 1 1 1 < ' ' i sível cm certos pomos privilegiados. IIá ór-
rados uns dos outros, sua boca abena, suas narinas perfu 1 , , 1c·1 1dos que são especialmente marcados por ele,
radas3J Encontramos na América lendas análogas, com a 1 m 1 1 1c l1 1 o sangue e os t .ibelos.
• 1 .. 111gue humano, em primeiro lugar, é algo tão sa-
_
zes para consagrar os instrumentos mais rcspeitad1" li.; lorte dos <.abdos é Lm ato ritual acompanh·1do
culto. O nurtun1a. por exemplo. é, em certas ocasiões.
r i 111onias específicas: o 10d1v1duo que se submete a
ligiosam�nte ungido. de cima a baixo. com sangue de 1 \l' manter-se agachado no chão. com a face voltada
mem:lb. E sobre terra embebida com sangue que os do e:
1 , �.111 do lugar onde supostamente acampamm os an-
da Ema, entre os Arunta, desenham o emblema sagrad 1d ,� fabulosos de cujo clã sua mãe descenderia ••.
Veremo:-; mais adiante de que maneira o sangue é dl· l't l.1 mesma razão, assim que um homem morre, cor
mado nos rochedos que representam as plantas ou os a
' 1111 lhe os cabelos, depositam-n os num local afastado.
mais cocêmicos�. Não há cerimônia religiosa em qut•
1 11 1 1c111 .1s mulheres nem os não-iniciados cêm o direito
sangue não desempenhe algum papel39. Durante a inir1 li \ 1 lns: e é nesse local, longe dos olhares profa nos.
çào, os adultos cortam suas veias e regam com seu sa p11 procede à confecção dos cmtos18.
gue o noviço; e esse sangue é tão sagrado que se prrnl
1 •1 1dl'ríamos assinalar outros tecidos orgânicos q u <.! ,
a presença de mul hcres enquanto ele corre; sua visào lh
1 1 1 l" · 1 u s tltv<.!rsos, manifestam propriedades anúlug,1s.
é proibida , assim como a de um churinga 10. O sangue qu
1 li 10 as costeletas, o prepúcio, a gordura do fígado,
o jovem iniciado pcrdc nessas operações violentas qlll' 1 1 • 1\1 .is é inútil multiplicar os ex<.!mplos. Os que prece
h 1 1 1 s:io suficientes para provar que existe no homem ai
obrigado a suportar tem virtudes muito part icu lares e s
ve a diversas comunhões•1. O que corre durante a s 1hin
" 1 11 •l mantém o profa no a distância e que possui urna
li• 11 1a rcligiosa: cm outros termos. o organismo humano
cisão é, entre os Arunta, piedosamente recolhido e enlt'
rado num sítio sobre o qual se coloca uma peça de ma
, ult 1 cm <;uas profundezas um princípio sagrado que,
111 urcunstância s determinadas , vem ostensi\'amen ce
deira para assinalar aos passanres a santidade do lug.1
nenhuma mulher deve aproximar-se dele•i. Aliás. é pd 1•i111,1r no e:o..'terior Esse princípio não d f i ere especifica-
nawreza religiosa do sangue que se explica o papt•I
1 11 t: daquele que faz o caráter religioso do cocem. Com
1 Hn, .ical �lmo)s de ,·er que as diversas substâncias nas
111
igualmente religioso, do ocre ,-ermclho, também mu11
empregado nas cerimônias: esfregam com ele os churir
• 11 1 1 1 s de mais eminentemente se encarna entram na com
zes para consagrar os instrumentos mais rcspeitad1" li.; lorte dos <.abdos é Lm ato ritual acompanh·1do
culto. O nurtun1a. por exemplo. é, em certas ocasiões.
r i 111onias específicas: o 10d1v1duo que se submete a
ligiosam�nte ungido. de cima a baixo. com sangue de 1 \l' manter-se agachado no chão. com a face voltada
mem:lb. E sobre terra embebida com sangue que os do e:
1 , �.111 do lugar onde supostamente acampamm os an-
da Ema, entre os Arunta, desenham o emblema sagrad 1d ,� fabulosos de cujo clã sua mãe descenderia ••.
Veremo:-; mais adiante de que maneira o sangue é dl· l't l.1 mesma razão, assim que um homem morre, cor
mado nos rochedos que representam as plantas ou os a
' 1111 lhe os cabelos, depositam-n os num local afastado.
mais cocêmicos�. Não há cerimônia religiosa em qut•
1 11 1 1c111 .1s mulheres nem os não-iniciados cêm o direito
sangue não desempenhe algum papel39. Durante a inir1 li \ 1 lns: e é nesse local, longe dos olhares profa nos.
çào, os adultos cortam suas veias e regam com seu sa p11 procede à confecção dos cmtos18.
gue o noviço; e esse sangue é tão sagrado que se prrnl
1 •1 1dl'ríamos assinalar outros tecidos orgânicos q u <.! ,
a presença de mul hcres enquanto ele corre; sua visào lh
1 1 1 l" · 1 u s tltv<.!rsos, manifestam propriedades anúlug,1s.
é proibida , assim como a de um churinga 10. O sangue qu
1 li 10 as costeletas, o prepúcio, a gordura do fígado,
o jovem iniciado pcrdc nessas operações violentas qlll' 1 1 • 1\1 .is é inútil multiplicar os ex<.!mplos. Os que prece
h 1 1 1 s:io suficientes para provar que existe no homem ai
obrigado a suportar tem virtudes muito part icu lares e s
ve a diversas comunhões•1. O que corre durante a s 1hin
" 1 11 •l mantém o profa no a distância e que possui urna
li• 11 1a rcligiosa: cm outros termos. o organismo humano
cisão é, entre os Arunta, piedosamente recolhido e enlt'
rado num sítio sobre o qual se coloca uma peça de ma
, ult 1 cm <;uas profundezas um princípio sagrado que,
111 urcunstância s determinadas , vem ostensi\'amen ce
deira para assinalar aos passanres a santidade do lug.1
nenhuma mulher deve aproximar-se dele•i. Aliás. é pd 1•i111,1r no e:o..'terior Esse princípio não d f i ere especifica-
nawreza religiosa do sangue que se explica o papt•I
1 11 t: daquele que faz o caráter religioso do cocem. Com
1 Hn, .ical �lmo)s de ,·er que as diversas substâncias nas
111
igualmente religioso, do ocre ,-ermclho, também mu11
empregado nas cerimônias: esfregam com ele os churir
• 11 1 1 1 s de mais eminentemente se encarna entram na com
por não serem admitidos nas cerimônias. É entre os anci:11 1 1 "l" numa tribo corno a dos Arunta, em que há gran-
que esse caráter atinge o máximo ele intensidade. São uc 1 • 1 1 1 . 1 n ticlacle ele totens diferentes, fosse proibido comer
sagrados que certas coisas proibidas ao vulgo lhes 11 11 1 . 1 pvnas cio animal ou ela planta cujo nome se carrega,
permitidas: podem comer mais livremente cio animal tot\'
san
diante ele seu deus, uma vez que pertence ele próprio ao
mundo sagrado. Suas relações são antes as ele dois sere� 1 1 1 1 1 1.1t jcra, quando um homem cio totem ela Ema, achan-
situados no mesmo nível e de igual valor. Quando muito 11 ,l numa localidade ocupada por um clã da Semente
se pode dizer q u e , ao menos em certos casos, o animal 1h1 t .. 1 p im (grass seed ), colhe algumas dessas sementes,
parece ocupar uma posição ligeiramente mais elevada na 1 1 1 1 1 · procurar o chefe, antes ele comê-las, e dizer- l h e :
hierarquia elas coisas sagradas. Assim, ele é chamado à s ' ' d lti estas sementes em suas terras." Ao que o chefe res-
vezes d e p a i ou avô dos homens do clã, o que parece in 1 " 1 1 1 1 k:: '·Está bem, pode comê-las . " Mas se o homem ela
clicar que estes se sentem diante dele num certo estado ele 1 1 1 1 . 1 comesse as sementes antes ele pedir autorização,
dependência moral52. Mas, com freqüência, talvez até I • 1 vd iLa-se que ficaria doente e se arriscaria a morrer59.
com muita freqüência, as expressões empregadas deno 11 1 inclusive casos em que o chefe cio grupo eleve ficar
tam antes um sentimento de igualdade. O animal totêmi • 1 1 1 uma pequena parte e comê-la ele próprio: é uma es-
ll' de taxa que se é obrigado a pagar<'°. Pela mesma ra-
•
por não serem admitidos nas cerimônias. É entre os anci:11 1 1 "l" numa tribo corno a dos Arunta, em que há gran-
que esse caráter atinge o máximo ele intensidade. São uc 1 • 1 1 1 . 1 n ticlacle ele totens diferentes, fosse proibido comer
sagrados que certas coisas proibidas ao vulgo lhes 11 11 1 . 1 pvnas cio animal ou ela planta cujo nome se carrega,
permitidas: podem comer mais livremente cio animal tot\'
san
diante ele seu deus, uma vez que pertence ele próprio ao
mundo sagrado. Suas relações são antes as ele dois sere� 1 1 1 1 1 1.1t jcra, quando um homem cio totem ela Ema, achan-
situados no mesmo nível e de igual valor. Quando muito 11 ,l numa localidade ocupada por um clã da Semente
se pode dizer q u e , ao menos em certos casos, o animal 1h1 t .. 1 p im (grass seed ), colhe algumas dessas sementes,
parece ocupar uma posição ligeiramente mais elevada na 1 1 1 1 1 · procurar o chefe, antes ele comê-las, e dizer- l h e :
hierarquia elas coisas sagradas. Assim, ele é chamado à s ' ' d lti estas sementes em suas terras." Ao que o chefe res-
vezes d e p a i ou avô dos homens do clã, o que parece in 1 " 1 1 1 1 k:: '·Está bem, pode comê-las . " Mas se o homem ela
clicar que estes se sentem diante dele num certo estado ele 1 1 1 1 . 1 comesse as sementes antes ele pedir autorização,
dependência moral52. Mas, com freqüência, talvez até I • 1 vd iLa-se que ficaria doente e se arriscaria a morrer59.
com muita freqüência, as expressões empregadas deno 11 1 inclusive casos em que o chefe cio grupo eleve ficar
tam antes um sentimento de igualdade. O animal totêmi • 1 1 1 uma pequena parte e comê-la ele próprio: é uma es-
ll' de taxa que se é obrigado a pagar<'°. Pela mesma ra-
•
1 111111.1 A
partidos entre elas. "Toda a natureza, diz Palmer a propó
sito das tribos cio rio Bellinger, é d ividida con forme º'
O fa leão pescador . . . . fumaça, a madressilva, cenas
O
a esta ou àquela fratria assim como os próprios negros."� cães, o fogo, o gelo, etc.
A tribo ele Port-Mackay, no Queensland, compreende duas corvo . . .. . .. . . . . . . . .. ... . A chuva, o trovão, o relâmpa
go, as nuvens1 o granizo, o
fratrias que têm os nomes ele Yungaroo e Wootaroo, e o
AB
inverno, etc.
mesmo acontece com as tribos vizinhas. Ora, diz Briclg A cacatua-preta ........ . estrelas, a Lua, etc.
mann "todas as coisas animadas e inanimadas são dividi Uma serpence nào O peixe, a foca, a enguia, as
�
das p r essas tribos em duas classes chamadas Yungaroo venenosa . . . . . . . . . . . . . .
e Wootaroo"5. Mas essa classificação não se detém aí. 0:;
á!vores de casca fibrosa.
Uma árvore de chá O pato, o lagos1im, o mocho,
etc.
homens ele cada fratria são repartidos entre um ce1to nú
mero de clãs; cio mesmo modo, as coisas relacionadas a
Uma rniz comestível.. A abetarda, a codorniz, uma
cio Canguru, e a e l e só. e conseqüentemente terá, assim Sobre o 4º e o )º clàs kroki, faltam detalhes.
como os membros h u manos do clã, o Canguru por torem;
aquela outra pe1tencerá ao clã ela Serpente; as nuvens se-
138 AS !-ORMAS ELEMENTARES DA \ITDA J<EL/(j{( 11 t 1 11/ \(.'AS ELEMENTARES 139
1 111111.1 A
partidos entre elas. "Toda a natureza, diz Palmer a propó
sito das tribos cio rio Bellinger, é d ividida con forme º'
O fa leão pescador . . . . fumaça, a madressilva, cenas
O
a esta ou àquela fratria assim como os próprios negros."� cães, o fogo, o gelo, etc.
A tribo ele Port-Mackay, no Queensland, compreende duas corvo . . .. . .. . . . . . . . .. ... . A chuva, o trovão, o relâmpa
go, as nuvens1 o granizo, o
fratrias que têm os nomes ele Yungaroo e Wootaroo, e o
AB
inverno, etc.
mesmo acontece com as tribos vizinhas. Ora, diz Briclg A cacatua-preta ........ . estrelas, a Lua, etc.
mann "todas as coisas animadas e inanimadas são dividi Uma serpence nào O peixe, a foca, a enguia, as
�
das p r essas tribos em duas classes chamadas Yungaroo venenosa . . . . . . . . . . . . . .
e Wootaroo"5. Mas essa classificação não se detém aí. 0:;
á!vores de casca fibrosa.
Uma árvore de chá O pato, o lagos1im, o mocho,
etc.
homens ele cada fratria são repartidos entre um ce1to nú
mero de clãs; cio mesmo modo, as coisas relacionadas a
Uma rniz comestível.. A abetarda, a codorniz, uma
cio Canguru, e a e l e só. e conseqüentemente terá, assim Sobre o 4º e o )º clàs kroki, faltam detalhes.
como os membros h u manos do clã, o Canguru por torem;
aquela outra pe1tencerá ao clã ela Serpente; as nuvens se-
1 RI\(.AS ElE.llE.\TARES
1-lO AS FORMAS ElE.IJE.\TARES DA l'TDA REl/G/U\A
1
fic�ção adotada pela tribo dos Wotjoba luk, informações 11hd1\ 1sões da frarria, é entre essas classes que se distri
l 1111·111 as coisas. Assim, os Wakelbura dividem-se
em duas
ma1s � mplas 9 uc permitem compreender melhor de qut• são cha-
1 1 1 1 1 1. 1... . Mallera e Wutaru ; as classes da prim eira
manetra um sistema desse tipo é capaz de abarcar todo 0
, Wungo e
1 1 1 11i.1'i Kurgilla e Banhe, as cla sse s ela segu nda
1 11 1 1 1 Ora, aos I3anbc pertencem o gambá, o c angur u , o
univ�rso conh ecid o dos indígenas. Também os Wotjoba
cm d u as fraufas, uma chamada Gurogity t'
.
t 1 e > mel da abelha pequena, etc. Aos Wungo são atri
luk d1v1dem-se
a outra Gumaty (Krokirch e Gamurch, segundo Howirt'll·
l 1ujdns a ema, o bamlicoot, o paro-preto, a cobra-preta,
a
para não estender essa enumeração. nos contentaremos
em mdíLar, c.le acure.lo com ,\lachews, as cc>LSas da�Lfica • 1sranha
• , aos Obu, a cobra-t apete. o mel elas abe
lh 1 que ferroam . etc.; aos Kurgilla , o porco-e
spinho, o
das em alguns dos clàs da fratria Gurogity.
p1 1 1 1 da s planíci es, a água, a chuva, o fogo, o trovão,
No clã do lnhame são classificados o peru das planí
. " 11
cie�, o gato selvagem, o mopoke, o mocho dyim-dyim, a
galinha mallee, o papagaio rosela, o peeu>ee. 1 · 11contra mos a mesma organização entre o s índios
l 1 \111erica do Norte. Os Zui'li têm u m sistema de
classifi
11 1
No clã do Mexilhão9, a ema-cinzema, o porco-espi
• e que. em linhas essenc iais, é compar ável ponto por
nho. o maçarico-real, a cacatua-branca, o pato dos bos
ques. o lagarto mallee, a tartaruga fétida, o esquilo voa p 11110 .tos que acabamos de descrever. O dos Omaha
ba-
1 1.1 "l' nos mesmos princíp ios que o dos Wotjob aluk 1 �.
dor. o gambá com cauda em forma de anel. o rombo
com asas cor de bronze ( bmnze-wi11g), o wijuggla. 1 1 1 1 e·1 o dessas mesmas icléias persiste até em sociedades
No clã do Sol, o handicool, a Lua, o raro-ca ngu ru , a 1 1 1 1 1 . 1 vançaclas. Entre os Haicla, toe.los os deuses,
tod os
pega-preta e a pega-branca, o gambá, o falcão ngJ/11, a la 11 1 · 1 i: s m ísticos que govern am os diferen tes fenôme nos
garta do eucalipto, a lagarta 11 mimoisa ( lcal/le-tree). 0 i l 1 11.11ureza. também são classificados. da mesma forma
111 e 1s homens. numa ou noutra das duas fratrias da
tri-
l 11 1 1 1 1 1 s são Águias, os outros. Corvos"'· Ora, os deuses
planeta Vênus.
No clã do Vento quenreio, a águia-falcão com cabeça s coi-
. 1 l 1 1 e >1sas são apenas um outro aspecto das própria
1 q u c eles govern am17.
cmzenra. a cobra-tapete, o papagaio fumador, o papagaio
Essa classifi cação mitológ ica,
com escamas (shell), o falcão murraka11, a cobra dikko
mur, o papagaio de colei ra , a cobra mirndai, o lagarto . 1 1 n o , é apenas urna outra forma elas amerio res. As-
1 11 1 r t
1 1 1 1 , 1·stamos seguros de que esse modo de
conceber o
com dorso furta-cor.
Se considerarmos que há muitos outros clàs ( 1 Jowin 1 1 11 1 1 1. l n é independente de qualque r particularidade
t:lni-
enumera doze, Machews catorze, e este último adn�rte que 1 1 1 1 1.!l'ográfica: mas, ao mesmo tempo. manifesta-se
1 1 1 1 1 1 "' idência que ele está intimam ente ligado
ao con-
sua li�ra é muito incomplera 1 1), compreenderemos de que
manetm lodas as coisas pe las quais o indígena se interessa 1111 11< 1 d.1s crenças rorêmica s.
encontram naturalmente seu lugar nessas classificaçôcs.
Foram o bservad os arranjos sim ilares
nos pontos mais
.
diversos do continente australiano: na Austrália do Sul ' no
1 RI\(.AS ElE.llE.\TARES
1-lO AS FORMAS ElE.IJE.\TARES DA l'TDA REl/G/U\A
1
fic�ção adotada pela tribo dos Wotjoba luk, informações 11hd1\ 1sões da frarria, é entre essas classes que se distri
l 1111·111 as coisas. Assim, os Wakelbura dividem-se
em duas
ma1s � mplas 9 uc permitem compreender melhor de qut• são cha-
1 1 1 1 1 1. 1... . Mallera e Wutaru ; as classes da prim eira
manetra um sistema desse tipo é capaz de abarcar todo 0
, Wungo e
univ�rso conh ecid o dos indígenas. Também os Wotjoba 1 1 1 11i.1'i Kurgilla e Banhe, as cla sse s ela segu nda
enumera doze, Machews catorze, e este último adn�rte que 1 1 1 1 1.!l'ográfica: mas, ao mesmo tempo. manifesta-se
1 1 1 1 1 1 "' idência que ele está intimam ente ligado
ao con-
sua li�ra é muito incomplera 1 1), compreenderemos de que
manetm lodas as coisas pe las quais o indígena se interessa 1111 11< 1 d.1s crenças rorêmica s.
encontram naturalmente seu lugar nessas classificaçôcs.
Foram o bservad os arranjos sim ilares
nos pontos mais
.
diversos do continente australiano: na Austrália do Sul ' no
1 -1 2 .�S FO!lll.15 EIEllE.\TARE:, DA 1 7011 RELJ(i/O.V,
!\ ( h'l:SÇAS EJLl/E.\TARF.S 1 13
�
e pri f1itivas . . já supõem essa acuidade Não é ao acaso
, que ser\ L à Jli1rn.!ntação2\ assim como os animais com
que 0 Juscra hano ordena as coisas num mesmo clã ou em
, ,., quais ele está mais intimamente associado1'i. Cl � ro qu e
m·m sem p re podemos compreender a obscu ra p s1�0I c:g1a
clãs ofaemcs. Tanto nele como em nós, as imagens simi
la res ;e atrae m, as imag ens opostas se repel em, e (: de
.
�
e pri f1itivas . . já supõem essa acuidade Não é ao acaso
, que ser\ L à Jli1rn.!ntação2\ assim como os animais com
que 0 Juscra hano ordena as coisas num mesmo clã ou em
, ,., quais ele está mais intimamente associado1'i. Cl � ro qu e
m·m sem p re podemos compreender a obscu ra p s1�0I c:g1a
clãs ofaemcs. Tanto nele como em nós, as imagens simi
la res ;e atrae m, as imag ens opostas se repel em, e (: de
.
coisas apresentam desempenhou um papel na génese d< l 1 1 1mente definido, de coisas entre as quais existem la
tais classificações. ' '" 1 nrernos, análogos aos laços de parentesco. E os (111i-
Uma coisa, porém, é o sentimento das semelhanças. 1 1s grupamentos desse tipo, que a experiência nos dá a
outra coisa a noção de género. O género é o quadro extl' ' 1 1 1 I iecer, são aqueles formados pelos homens ao se asso-
rior cujo conteúdo é formado, em parte, por objetos per 1 1 rt' m . As c o i s a s m a t e r i a i s p o d e m formar coleções,
cebidos como semelhantes. Ora, o conteúdo não podt• 1 1 1 1 1 mtoaclos, agregados mecânicos sem unidade interna,
fornecer o quadro no qual se dispõe. Ele é feito de üm 1 1 1 1 s não grupos no sentido que acabamos de dar ã pala-
gens vagas e.flutuantes, devidas à sobreposição e à fusão 1 llma pilha ele areia, um monte de pedras nada têm de
parcial de um n úmero determinado de imagens individuais 1 1 1 111 parável a esse tipo de sociedade definida e organiza
1
que eventualmente têm elementos comuns; o quadro, ao l.1 q u e é gênero. Portanto, é muito provável que ja-
forma
um
contrário, é urna definida, com contornos nítidos. 1 1 1 . 1 1 s Lería mos podido pensar em reunir os seres do uni
mas suscetível de aplicar-se a um número determinado ele• ' 1.,n e m grupos homogéneos, chamados géneros, se não
coisas, percebidas ou não, atuais ou possíveis. Todo gê 1 1 1 •·ssemos d i ante dos olhos o exemplo elas sociedades
nero, com efeito, tem um campo de extensão que ultra l 1 1 1 111anas, e inclusive se não tivéssemos começado por fa
passa infinitamente o círculo dos objetos cuja semelhança ' 1 das próprias coisas membros ela sociedade cios ho-
percebemos por experiência direta. Eis por que toda u1·1a 1 1 w11s, de tal maneira que grupamentos humanos e grupa-
escola de pensadores se recusa, não sem razão, a identifi 1 1 1•·11tos lógicos foram a princípio confuncliclos26.
car as idéias de género e ele imagem genérica. A imagem Por outro lado, uma classificação é um sistema cujas
genérica não é senão a representação residual, de frontei 1 •. 1 1 tcs estão dispostas segundo uma ordem hierárquica.
ras indecisas, que representações semelhantes deixam em 1 1 1 caracteres dominantes e outros subordinados aos pri-
nós, quando se apresentam simultaneamente n a consciên 1 1 11• iros; as espécies e suas propriedades distintivas depen-
cia; já o género é u m símbolo lógico através do qual pen 11 1n cios géneros e dos atributos que os definem; ou, ain-
sarnas distintamente essas similitudcs e outras análogas. 1 l 1 . � 1 s diferentes espécies de um mesmo gêncro são con
De resto, a melhor prova el a distância que separa essas , 1 •hitlas corno situadas no mesmo nível, tanto urnas quan-
duas noções é que o animal é capaz de formar imagens 1 ' . 1 s outras. Se o ponto de vista da compreensão é o que
genéricas, ao passo que ignora a arte de pensar por géne 1 11 vvalcce, representam-se então as coisas segundo uma
ros e por espécies. 1 1 1 i ll'm inversa: colocam-se em cima as espécies mais par-
A idéia ele género é um instrumento cio pensamento 1 1 1 1 dares e mais ricas em realidade, embaixo, os tipos mais
que foi manifestamente construído pelos homens. Mas, g< '1 �1is e mais pobres em qualidades. Mas não se deixa ele
para construí-lo, nos foi preciso, pelo menos, um modelo: , 1 1 1 1 cebê-Jos sob uma forma hierárquica. E não se deve
pois como teria ela podido surgir, se não houvesse nada 1 11 · 1 1sar que a expressão tenha aqui apenas um sentido
em nós ou fora ele nós que fosse capaz de sugeri-la? Res 1 1 11t.1fórico: trata-se realmente de relações ele subordina
poncler que ela nos é dada a priori, não é responder; essa \ .11 > e coordenação que uma classificação tem por objeto
solução rreguiçosa é, como foi dito, a morte da análise. ' ,1.1helecer, e o homem sequer teria pensado em ordenar
Ora, não se percebe onde teríamos podido enconu-ar esse ·•·us conhecimentos clc..ssa maneira se não soubesse, an-
modelo indispensável, senão no espetáculo da vida coleti 1 1 ·s , o que é uma hierarquia. Ora, nem o espetáculo ela na-
va. Um género, com efeito, é u m grupamento ideal, mas 1 1 1 1vza fís ica, nem o mecanismo elas associações mentais
144 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIG/0.\. 1 Nl:AÇ'AS ELEMENTrlRES 145
coisas apresentam desempenhou um papel na génese d< l 1 1 1mente definido, de coisas entre as quais existem la
tais classificações. ' '" 1 nrernos, análogos aos laços de parentesco. E os (111i-
Uma coisa, porém, é o sentimento das semelhanças. 1 1s grupamentos desse tipo, que a experiência nos dá a
outra coisa a noção de género. O género é o quadro extl' ' 1 1 1 I iecer, são aqueles formados pelos homens ao se asso-
rior cujo conteúdo é formado, em parte, por objetos per 1 1 rt' m . As c o i s a s m a t e r i a i s p o d e m formar coleções,
cebidos como semelhantes. Ora, o conteúdo não podt• 1 1 1 1 1 mtoaclos, agregados mecânicos sem unidade interna,
fornecer o quadro no qual se dispõe. Ele é feito de üm 1 1 1 1 s não grupos no sentido que acabamos de dar ã pala-
gens vagas e.flutuantes, devidas à sobreposição e à fusão 1 llma pilha ele areia, um monte de pedras nada têm de
parcial de um n úmero determinado de imagens individuais 1 1 1 111 parável a esse tipo de sociedade definida e organiza
1
que eventualmente têm elementos comuns; o quadro, ao l.1 q u e é gênero. Portanto, é muito provável que ja-
forma
um
contrário, é urna definida, com contornos nítidos. 1 1 1 . 1 1 s Lería mos podido pensar em reunir os seres do uni
mas suscetível de aplicar-se a um número determinado ele• ' 1.,n e m grupos homogéneos, chamados géneros, se não
coisas, percebidas ou não, atuais ou possíveis. Todo gê 1 1 1 •·ssemos d i ante dos olhos o exemplo elas sociedades
nero, com efeito, tem um campo de extensão que ultra l 1 1 1 111anas, e inclusive se não tivéssemos começado por fa
passa infinitamente o círculo dos objetos cuja semelhança ' 1 das próprias coisas membros ela sociedade cios ho-
percebemos por experiência direta. Eis por que toda u1·1a 1 1 w11s, de tal maneira que grupamentos humanos e grupa-
escola de pensadores se recusa, não sem razão, a identifi 1 1 1•·11tos lógicos foram a princípio confuncliclos26.
car as idéias de género e ele imagem genérica. A imagem Por outro lado, uma classificação é um sistema cujas
genérica não é senão a representação residual, de frontei 1 •. 1 1 tcs estão dispostas segundo uma ordem hierárquica.
ras indecisas, que representações semelhantes deixam em 1 1 1 caracteres dominantes e outros subordinados aos pri-
nós, quando se apresentam simultaneamente n a consciên 1 1 11• iros; as espécies e suas propriedades distintivas depen-
cia; já o género é u m símbolo lógico através do qual pen 11 1n cios géneros e dos atributos que os definem; ou, ain-
sarnas distintamente essas similitudcs e outras análogas. 1 l 1 . � 1 s diferentes espécies de um mesmo gêncro são con
De resto, a melhor prova el a distância que separa essas , 1 •hitlas corno situadas no mesmo nível, tanto urnas quan-
duas noções é que o animal é capaz de formar imagens 1 ' . 1 s outras. Se o ponto de vista da compreensão é o que
genéricas, ao passo que ignora a arte de pensar por géne 1 11 vvalcce, representam-se então as coisas segundo uma
ros e por espécies. 1 1 1 i ll'm inversa: colocam-se em cima as espécies mais par-
A idéia ele género é um instrumento cio pensamento 1 1 1 1 dares e mais ricas em realidade, embaixo, os tipos mais
que foi manifestamente construído pelos homens. Mas, g< '1 �1is e mais pobres em qualidades. Mas não se deixa ele
para construí-lo, nos foi preciso, pelo menos, um modelo: , 1 1 1 1 cebê-Jos sob uma forma hierárquica. E não se deve
pois como teria ela podido surgir, se não houvesse nada 1 11 · 1 1sar que a expressão tenha aqui apenas um sentido
em nós ou fora ele nós que fosse capaz de sugeri-la? Res 1 1 11t.1fórico: trata-se realmente de relações ele subordina
poncler que ela nos é dada a priori, não é responder; essa \ .11 > e coordenação que uma classificação tem por objeto
solução rreguiçosa é, como foi dito, a morte da análise. ' ,1.1helecer, e o homem sequer teria pensado em ordenar
Ora, não se percebe onde teríamos podido enconu-ar esse ·•·us conhecimentos clc..ssa maneira se não soubesse, an-
modelo indispensável, senão no espetáculo da vida coleti 1 1 ·s , o que é uma hierarquia. Ora, nem o espetáculo ela na-
va. Um género, com efeito, é u m grupamento ideal, mas 1 1 1 1vza fís ica, nem o mecanismo elas associações mentais
1<+6 AS FOR.lfAS ELEME\TARES DA 17DA REll<.te I\ e Nl:.YÇAS El.EJ!Ei'vTARES
poderiam ser capazes de nos fornecer essa idéia. A hin I• mk·m-se harmonizam-se naturalmente. Por exemplo.
quia é exclusivamente uma coisa social. Somente na SOl I q11.1ndo enterram um wakelbura da fratria Mallera, o ta
dacle existem superiores, inferiores, iguais. Conseq ül'nl l 1l.1do sobre o qual o corpo é exposto "eleve ser feito da
mente, ainda que o s fatos não fossem a tal p o n to d1 1 1 1;1deira de uma árvore pertencente ã fratria Mallcra"30. O
monstrativos, a simples análise dessas noções seria � 1 1 1 1 1 1 1l·smo em relação às ramagens que cobrem o cadáver.
ciente para revelar-lhes a origem. Foi da sociedade qut' , 1 'w o defunto é da classe Banbe, deverá se empregar uma
Lo�amos para projetá-las em seguida em nossa repre.\ lºll .11Yorc Banbe. Na mesma tribo, um mágico só pode ser
taçao do mundo. Foi a sociedade que forneceu o sup< >ll ' i r se. para sua arte, de coisas relacionadas ã sua fratria3 1 ;
sobre o qual trabalhou o pensamento lógico. porque as outras, sendo-lhe estranhas, não saberiam obe
d1Ter-lhe. Um laço de simpatia mística une assim cada in
cl1' iduo aos seres, vivos ou não, que lhe são associados;
lll d1ssu resulta que se acredita poder induzir o que ele fará
1 >li o que ele fez a partir do que esses seres fazem. Entre
Mas essas classificações primitivas dizem respeito. 11;11 1 ns mesmos Wakelbura, quando um indivíduo sonha que
menos diretamente, à gênese do pensamento religioso. 111a tou um animal pertencente a determinada divisão social,
Elas implicam , com efeito, que todas as coisas as!>m dl' espera deparar-se no dia seguime com um homem da
classificadas num mesmo clã ou numa mesma fratria sao 1 11esma clivisão31. Lnversamente, as coisas associadas a um
parentes próximas tanto umas elas outras quanto daqu1.·l.a l la ou a uma fratria não podem servir contra os membros
que serve de totem a essa fratria ou a esse clã. Quando 1 1 dvssa fratria ou desse clã. Entre os Wotjobaluk, cada fra-
austra l iano da lribo de Port-Mackay diz d o Sol, das ser 1 1 1.1 1 cm suas árvores que lhe são próprias. Ora, para caçar
pentes, etc., que eles são da fratria Yungaroo, n ão esla 11 111 animal da fratria Gurogity, podem-se empregar ape-
querendo simplesmente aplicar a todos esses seres díspa 11.1s armas cuja madeira é tirada das á rvores da oulra fra-
res um rótulo comum. mas puramen te convenc ional: a 1 1 1;1 l' inversamente: senão o caçador tem certeza ele que
palavra tem para ele uma significação objetiva. Ele acredi l.tlhar.í-�3. O indígena está convencido de que a flecha se
ta que. realmente, "os jacarés são Yungaroo e que os can dl'wiaria espontaneamente do alvo e se recusaria, por as
gurus seio Wooraroo. O Sol é Yungaroo. a Lua Wootaroo. sim dizer. a atingir um animal parente e amigo.
e assim por diame para as constela ções, as á rvores. a.� Assim, as pessoas do clà e as coisas que nele são
pl anta� , etc. "r.: Um laço interno os prende ao grupo no 1 l.1ssificadas formam, por sua reunião, um sistema soliclá-
qual sao classiftcaclos, são membros regulares dele. Diz-Sl' 1 10 em q u e todas as partes estão l igadas e vibram simpati
q�� pertencem a esse grupo2s da mesma forma que os in ' .1rnl'nle. Essa organização que, à primeira vista, podia
d1v1duos humano s que dele fazem pane; por conseguinte, 11os parecer puramente lógica, é, ao mesmo tempo, mo-
uma relação do mesmo gênero os une a estes últimos. O 1 . t l l m mesmo princípio a anima e faz sua unidade: é o
homem ,.ê nas coisas de seu clã parentes ou associados; totl'm. Assim como u m homem pertencente ao clã cio
chama-as seus amigos. considera-as como feitas ela mes l .on o Ll'm nele algo desse animal, também a chuva, por
ma carne que ele.29. Assim, existem entre elas e ele afini 'l ' do mesmo clã e derender do mesmo totem, é n�ces
dades eletivas e relações de conveniência muito particula s,1riamcme considerada como "sendo a mesma coisa que
res. Coisas e pessoas comunic am-se, ele certo modo, en- 1 1 1 1 1 co rvo" ; pela mesma razão, a Lua é uma cacatua-preta,
1<+6 AS FOR.lfAS ELEME\TARES DA 17DA REll<.te I\ e Nl:.YÇAS El.EJ!Ei'vTARES
poderiam ser capazes de nos fornecer essa idéia. A hin I• mk·m-se harmonizam-se naturalmente. Por exemplo.
quia é exclusivamente uma coisa social. Somente na SOl I q11.1ndo enterram um wakelbura da fratria Mallera, o ta
dacle existem superiores, inferiores, iguais. Conseq ül'nl l 1l.1do sobre o qual o corpo é exposto "eleve ser feito da
mente, ainda que o s fatos não fossem a tal p o n to d1 1 1 1;1deira de uma árvore pertencente ã fratria Mallcra"30. O
monstrativos, a simples análise dessas noções seria � 1 1 1 1 1 1 1l·smo em relação às ramagens que cobrem o cadáver.
ciente para revelar-lhes a origem. Foi da sociedade qut' , 1 'w o defunto é da classe Banbe, deverá se empregar uma
Lo�amos para projetá-las em seguida em nossa repre.\ lºll .11Yorc Banbe. Na mesma tribo, um mágico só pode ser
taçao do mundo. Foi a sociedade que forneceu o sup< >ll ' i r se. para sua arte, de coisas relacionadas ã sua fratria3 1 ;
sobre o qual trabalhou o pensamento lógico. porque as outras, sendo-lhe estranhas, não saberiam obe
d1Ter-lhe. Um laço de simpatia mística une assim cada in
cl1' iduo aos seres, vivos ou não, que lhe são associados;
lll d1ssu resulta que se acredita poder induzir o que ele fará
1 >li o que ele fez a partir do que esses seres fazem. Entre
Mas essas classificações primitivas dizem respeito. 11;11 1 ns mesmos Wakelbura, quando um indivíduo sonha que
menos diretamente, à gênese do pensamento religioso. 111a tou um animal pertencente a determinada divisão social,
Elas implicam , com efeito, que todas as coisas as!>m dl' espera deparar-se no dia seguime com um homem da
classificadas num mesmo clã ou numa mesma fratria sao 1 11esma clivisão31. Lnversamente, as coisas associadas a um
parentes próximas tanto umas elas outras quanto daqu1.·l.a l la ou a uma fratria não podem servir contra os membros
que serve de totem a essa fratria ou a esse clã. Quando 1 1 dvssa fratria ou desse clã. Entre os Wotjobaluk, cada fra-
austra l iano da lribo de Port-Mackay diz d o Sol, das ser 1 1 1.1 1 cm suas árvores que lhe são próprias. Ora, para caçar
pentes, etc., que eles são da fratria Yungaroo, n ão esla 11 111 animal da fratria Gurogity, podem-se empregar ape-
querendo simplesmente aplicar a todos esses seres díspa 11.1s armas cuja madeira é tirada das á rvores da oulra fra-
res um rótulo comum. mas puramen te convenc ional: a 1 1 1;1 l' inversamente: senão o caçador tem certeza ele que
palavra tem para ele uma significação objetiva. Ele acredi l.tlhar.í-�3. O indígena está convencido de que a flecha se
ta que. realmente, "os jacarés são Yungaroo e que os can dl'wiaria espontaneamente do alvo e se recusaria, por as
gurus seio Wooraroo. O Sol é Yungaroo. a Lua Wootaroo. sim dizer. a atingir um animal parente e amigo.
e assim por diame para as constela ções, as á rvores. a.� Assim, as pessoas do clà e as coisas que nele são
pl anta� , etc. "r.: Um laço interno os prende ao grupo no 1 l.1ssificadas formam, por sua reunião, um sistema soliclá-
qual sao classiftcaclos, são membros regulares dele. Diz-Sl' 1 10 em q u e todas as partes estão l igadas e vibram simpati
q�� pertencem a esse grupo2s da mesma forma que os in ' .1rnl'nle. Essa organização que, à primeira vista, podia
d1v1duos humano s que dele fazem pane; por conseguinte, 11os parecer puramente lógica, é, ao mesmo tempo, mo-
uma relação do mesmo gênero os une a estes últimos. O 1 . t l l m mesmo princípio a anima e faz sua unidade: é o
homem ,.ê nas coisas de seu clã parentes ou associados; totl'm. Assim como u m homem pertencente ao clã cio
chama-as seus amigos. considera-as como feitas ela mes l .on o Ll'm nele algo desse animal, também a chuva, por
ma carne que ele.29. Assim, existem entre elas e ele afini 'l ' do mesmo clã e derender do mesmo totem, é n�ces
dades eletivas e relações de conveniência muito particula s,1riamcme considerada como "sendo a mesma coisa que
res. Coisas e pessoas comunic am-se, ele certo modo, en- 1 1 1 1 1 co rvo" ; pela mesma razão, a Lua é uma cacatua-preta,
148 t\ /l/ 1/L\TARr:\
vel chegando a •H21' Portanto Spencer e Gillen não llll " ainda de totem principal· c;ó teria c;e difercn-
metiam nenhum exagero quando diziam que, .. na reg1àc 1 1 1 { 1 dd.1 numa epoca postcnor. Assim, as aYes chantun
ocupada pelos indígenas. não existe um objeto, animadc hi•Jl .tssociadas à lagarta witchetty. teriam sido, no!'>
ou inanimado, que não dê seu nome a algum grupo 101 111p > fabulosos, lagartas witchetry que depois se trnns-
mico d e indivíduos"18. Ora, essa quancidade de totcn� 1 1 1 1 1 . 1 1 , 1 111 em aves. Duas espécies atualmente ligadas ao
prodigiosa se comparada ao número da população, dc\l 111 1 1 1 d.1 formiga-pastora teriam sido formigas-pastoras
se ao fato de os clàs primitivos, sob a iníluência de d r 1 ' .unente, etc.55 Essa tra nsformação ele um subtotem
n1 nstâncias particulares. terem se dividido e subdividido 1 1 1h1 1 t1i•t•ll'm efetua-se, aliás, por graus imperceptíveis, de
ao infinito; com isso, quase todos os su b1otcns passaram .1 11 11111 que. em certos casos, a situação é in decisa e é bas-
condição de LOlens. 1 1 " dill<:il dizer se se t ra ta d e u m totem principal o u de
{ o que as observações de Strehlow demonstraram
1 1 1 1 1 1 1 11v111 secundárioS11. Como diz 1 lowitt a propós ito dos
•111 11 1.duk, há submtens que MIO tolcns em via ck
dcfi n i l iv amen tc . S pc n ccr e Gillen haviam citado apcna� forma
alguns casos isolados de totens associados·19. Strehlow l , Assim, as d i fer e nles coisas classificad as num cl ã
mostrou que se tratava, em realidade, de uma organiza 111 .1 1 1 u 1.· rn como que outros tantos centros em to�no dos
ção absolutamente geral e pôde elaborar um quadro em 1 1 1 1 1 · podem se formar novos culLos totêmicos . E a me
que praticamente todos os totens dos Arunta são classifi l h 11 prova dos sentimentos religiosos que elas inspiram.
cados de acordo com esse princípio: 1odos se ligam. na , 11 1 0 1ivessem um caráter sagrado, não poderiam ser
qualidade de associados ou auxiliares, a uns sessenta to 1 1 1 •1111 1\1das tão facilmente à mesma dignidade das coisas
tens principaisso. Os primeiros são considerados como e!'> 1 11 11l.1s por excelência, os totens propriamente dito:-..
tando a serviço dos segundoss1. Esse estado de depen e > drculo das coisas religiosas estende-se. portanto,
ciência é muito provavelmence o eco de um tempo em 1 1 1 1 . 1km dos limites dentro dos quais parecia a principio
q u e os -al iados� de hoje eram somente suhtorens. um 1 1 l rra lo. Ele n:io compreende apenas os animais totêmi-
tempo em que. portanto, a tribo só contava com um pc , ·� ,. 1is membros humanos do clã, mas como não existe
1 1 11 l.1 1k conhecido que não seja classificado num clã ou
1
queno número de clãs, subdivididos em subclãs. Numero
sas sohrevivências confirmam essa hipótese. Ocorre fre •l i 1 1 111 totem, também não existe nada que não receba,
qi.ienremente que dois gnipos assim associados tenham o 1 1 1 g1.1us dive rsos , a lgum reílexo de religi osi da d e. Quan-
mesmo emblema totêmico: ora, a un i dade cio em blema só 1· . 1 1 . 1 s religiões que se formarão posteriormente, os deu
é expl icável se, primi1ivamente, os dois grupos formavam ' propriam ente ditos a parecerem , cada um deles será
apenas um52. Além disso, o parentesco dos dois clãs se 1 1 11 . 1 1 rq.(aclo de uma ca tegoria especial ele fenôrnenos na-
ma n i festa pel a participação e o interesse de cada um de 1 1 1 1 1 1 -., este do mar, aquele da atmosfe ra , u m terceiro ela
les nos ritos cio outro. Os do i s cultos ainda estão apenas 1 1 11 i 1l'1!.t ou dos frutos, etc., e cada uma dessas pr ovíncias
imperfeitamente c;eparados; é que. com toda a certeza, no 1 1 i1ureza será considerada como dev e ndo a v i d a que
início se confundiam compl etamemes3. A tradição explica p1 1.. s111 .10 deus do qual ela depende. É p recisa meme essa
o vínculo que os une imaginando que, outrora. os dois 1 1 1 1. 1 1 1i�.1 0 ela natureza entre as diferentes divindades que
clãs ocupavam hábitats vizinhos'•. ;'\loutros casos, o mito .> que essas religiões nos dão do
1 1 •11'il1tui a representaçà
diz expressamente que um deles derivou do outro. Conta l l lll\ l'rso. Ora, enquanto a humanidade não ultrapassa a
se que o animal associado começou por pertencer à espé- 1 .,. do totemism o, os diferentes totens desempe nham
150 AS PO!ll!AS ELE.1/
E.\7�1RES DA 17DA RELJc.ic 1 1)1
vel chegando a •H21' Portanto Spencer e Gillen não llll " ainda de totem principal· c;ó teria c;e difercn-
metiam nenhum exagero quando diziam que, .. na reg1àc 1 1 1 { 1 dd.1 numa epoca postcnor. Assim, as aYes chantun
ocupada pelos indígenas. não existe um objeto, animadc hi•Jl .tssociadas à lagarta witchetty. teriam sido, no!'>
ou inanimado, que não dê seu nome a algum grupo 101 111p > fabulosos, lagartas witchetry que depois se trnns-
mico d e indivíduos"18. Ora, essa quancidade de totcn� 1 1 1 1 1 . 1 1 , 1 111 em aves. Duas espécies atualmente ligadas ao
prodigiosa se comparada ao número da população, dc\l 111 1 1 1 d.1 formiga-pastora teriam sido formigas-pastoras
se ao fato de os clàs primitivos, sob a iníluência de d r 1 ' .unente, etc.55 Essa tra nsformação ele um subtotem
n1 nstâncias particulares. terem se dividido e subdividido 1 1 1h1 1 t1i•t•ll'm efetua-se, aliás, por graus imperceptíveis, de
ao infinito; com isso, quase todos os su b1otcns passaram .1 11 11111 que. em certos casos, a situação é in decisa e é bas-
condição de LOlens. 1 1 " dill<:il dizer se se t ra ta d e u m totem principal o u de
{ o que as observações de Strehlow demonstraram
1 1 1 1 1 1 1 11v111 secundárioS11. Como diz 1 lowitt a propós ito dos
•111 11 1.duk, há submtens que MIO tolcns em via ck
dcfi n i l iv amen tc . S pc n ccr e Gillen haviam citado apcna� forma
alguns casos isolados de totens associados·19. Strehlow l , Assim, as d i fer e nles coisas classificad as num cl ã
mostrou que se tratava, em realidade, de uma organiza 111 .1 1 1 u 1.· rn como que outros tantos centros em to�no dos
ção absolutamente geral e pôde elaborar um quadro em 1 1 1 1 1 · podem se formar novos culLos totêmicos . E a me
que praticamente todos os totens dos Arunta são classifi l h 11 prova dos sentimentos religiosos que elas inspiram.
cados de acordo com esse princípio: 1odos se ligam. na , 11 1 0 1ivessem um caráter sagrado, não poderiam ser
qualidade de associados ou auxiliares, a uns sessenta to 1 1 1 •1111 1\1das tão facilmente à mesma dignidade das coisas
tens principaisso. Os primeiros são considerados como e!'> 1 11 11l.1s por excelência, os totens propriamente dito:-..
tando a serviço dos segundoss1. Esse estado de depen e > drculo das coisas religiosas estende-se. portanto,
ciência é muito provavelmence o eco de um tempo em 1 1 1 1 . 1km dos limites dentro dos quais parecia a principio
q u e os -al iados� de hoje eram somente suhtorens. um 1 1 l rra lo. Ele n:io compreende apenas os animais totêmi-
tempo em que. portanto, a tribo só contava com um pc , ·� ,. 1is membros humanos do clã, mas como não existe
1 1 11 l.1 1k conhecido que não seja classificado num clã ou
1
queno número de clãs, subdivididos em subclãs. Numero
sas sohrevivências confirmam essa hipótese. Ocorre fre •l i 1 1 111 totem, também não existe nada que não receba,
qi.ienremente que dois gnipos assim associados tenham o 1 1 1 g1.1us dive rsos , a lgum reílexo de religi osi da d e. Quan-
mesmo emblema totêmico: ora, a un i dade cio em blema só 1· . 1 1 . 1 s religiões que se formarão posteriormente, os deu
é expl icável se, primi1ivamente, os dois grupos formavam ' propriam ente ditos a parecerem , cada um deles será
apenas um52. Além disso, o parentesco dos dois clãs se 1 1 11 . 1 1 rq.(aclo de uma ca tegoria especial ele fenôrnenos na-
ma n i festa pel a participação e o interesse de cada um de 1 1 1 1 1 1 -., este do mar, aquele da atmosfe ra , u m terceiro ela
les nos ritos cio outro. Os do i s cultos ainda estão apenas 1 1 11 i 1l'1!.t ou dos frutos, etc., e cada uma dessas pr ovíncias
imperfeitamente c;eparados; é que. com toda a certeza, no 1 1 i1ureza será considerada como dev e ndo a v i d a que
início se confundiam compl etamemes3. A tradição explica p1 1.. s111 .10 deus do qual ela depende. É p recisa meme essa
o vínculo que os une imaginando que, outrora. os dois 1 1 1 1. 1 1 1i�.1 0 ela natureza entre as diferentes divindades que
clãs ocupavam hábitats vizinhos'•. ;'\loutros casos, o mito .> que essas religiões nos dão do
1 1 •11'il1tui a representaçà
diz expressamente que um deles derivou do outro. Conta l l lll\ l'rso. Ora, enquanto a humanidade não ultrapassa a
se que o animal associado começou por pertencer à espé- 1 .,. do totemism o, os diferentes totens desempe nham
152 A.\ FORMAS ELEllE.vTARE
.\ TJA 17nll REUCI0.\.1 1\ < /Uf.;\ÇAS ELE.\/Ei\T11RES 1 53
exatamente o papd que c:aherá mais tardi..: às personalida m pr.nk.ados no interior de uma mesma tribo não se
dl ..,l.!nvolvem paralelamente e ignorando-se uns aos ou-
1
tem particular e o definiam como a religião do clã. Desse 1 1e·IJs pessoas desse totem, é muito freqüente, porém, que
ponto de vista, parecia haver. numa mesma tribo, tantas 11 prl.!�entantcs de clàs diferentes os presenciem. Acontece
religiões totêmicas, independentes umas das outras, quan 1111 lusive não ser seu pa p el o de si m p les espectadores;
to s fossem os clãs nela existentes. Essa concepçào, por si 1 111 dúvi da , não são eles que oficiam, mas ornamentam
nal, estava de acordo com a idéia que se faz correntemen , " oficiantes e preparam o serviço. Eles próprios estão in-
te do clã: uma sociedade autônomasR, mai s ou menos fe 1 • 'lt's a dos em q u e o rito se celebre; por i sso , e m certas
s
chada às sociedades s i m ilares ou mantendo com estas 11 ll >os, são eles que convidam o clã qualificado a proceder
apenas relações exteriores e superficiais. Mas a realidade 1 1.il celebraçãoW.
é mais complexa Claro que o culto de cada totem tem 1 1:1. inclusive, todo um ciclo de ritos que se desenrola
sua sede no clã correspondente; é aí e somente aí que ele ol >iigatoriamente em presença da tribo reunida: as ceri-
é celebrado: são os membros do clã que têm esse encar 1 1 1 1 111i<1' LOtêmicas da iniciaçãoW.
go; é através deles que o totem é transmitido ele uma ge 1)e resto, a organiZ..lçào totêmica, tal como acabamos
ração a outra, bem como as crenças que constituem sua ( !, di..:screvê-la. deve manifestamente resultar de uma es
base. /\las, por outro lado, os diferentes cultos totêmicos P• ., i1.· de entendimento entre todos os membros da tribo
152 A.\ FORMAS ELEllE.vTARE
.\ TJA 17nll REUCI0.\.1 1\ < /Uf.;\ÇAS ELE.\/Ei\T11RES 1 53
exatamente o papd que c:aherá mais tardi..: às personalida m pr.nk.ados no interior de uma mesma tribo não se
dl ..,l.!nvolvem paralelamente e ignorando-se uns aos ou-
1
tem particular e o definiam como a religião do clã. Desse 1 1e·IJs pessoas desse totem, é muito freqüente, porém, que
ponto de vista, parecia haver. numa mesma tribo, tantas 11 prl.!�entantcs de clàs diferentes os presenciem. Acontece
religiões totêmicas, independentes umas das outras, quan 1111 lusive não ser seu pa p el o de si m p les espectadores;
to s fossem os clãs nela existentes. Essa concepçào, por si 1 111 dúvi da , não são eles que oficiam, mas ornamentam
nal, estava de acordo com a idéia que se faz correntemen , " oficiantes e preparam o serviço. Eles próprios estão in-
te do clã: uma sociedade autônomasR, mai s ou menos fe 1 • 'lt's a dos em q u e o rito se celebre; por i sso , e m certas
s
chada às sociedades s i m ilares ou mantendo com estas 11 ll >os, são eles que convidam o clã qualificado a proceder
apenas relações exteriores e superficiais. Mas a realidade 1 1.il celebraçãoW.
é mais complexa Claro que o culto de cada totem tem 1 1:1. inclusive, todo um ciclo de ritos que se desenrola
sua sede no clã correspondente; é aí e somente aí que ele ol >iigatoriamente em presença da tribo reunida: as ceri-
é celebrado: são os membros do clã que têm esse encar 1 1 1 1 111i<1' LOtêmicas da iniciaçãoW.
go; é através deles que o totem é transmitido ele uma ge 1)e resto, a organiZ..lçào totêmica, tal como acabamos
ração a outra, bem como as crenças que constituem sua ( !, di..:screvê-la. deve manifestamente resultar de uma es
base. /\las, por outro lado, os diferentes cultos totêmicos P• ., i1.· de entendimento entre todos os membros da tribo
1 54 AS FORA/AS ELEME!vTARES DA VTDA REL!GJO.\. I
que, sob formas diversas rcp rescma a coisa que esse no
, poderes maravilhosos, transmite-os a seu associado hu
que, sob formas diversas rcp rescma a coisa que esse no
, poderes maravilhosos, transmite-os a seu associado hu
chss(' N:i o st• lem uma espécie como alter e1 w ík fa10. 1 1 nda maa- porque o próprio primitivo serve-se da mesma
ha casos em que é com ceneza tal árvore, tal pedra dt'ter p.tla\ía para des ig na r o lotem do da e o animal p rot1.:t l> 1
minada que desempenha esse papef25. É o que acontece do indivíduoi•. Se Tylor e Powell rejcitaram essa denomi-
11 içao e redamarnm tem1os diferentes para esses dois t i
pos de institu içôcs religiosas. é porque, segundo eles, o
necessariamente sempre q u e se traca de um a n i m a l , e a
11ag 11afism11 ou 111c111ituísmo para designá lasu Mas dan rnente. com a úni ca cond1cáo de que formalidades neccs
do-lhes u m nome especi a l e distintivo, amscamo-nos a .,arias se1am observadas. Ao contrario, o individuo nao
-.omente respeita a es ré c: ic à qu�tl pertence seu totcm
como tambl:m s1.: esforça para protegê l a contra
desconhecer sua relação com o 1ocemismo. Com efeito,
são os mcsmos p rincír ios que se aplicam aqui ao clã pessoal.
1is estrangeiros, pelo menos cm toda parte que o dcstino
e al i
ao
-
dade dos dois sistemas; por isso, com Frazer, chamaremos 1i.
tote1111��1110 individ11af o culto que cada indivíduo presta a gar cm que sua m:ie concebeu (Arunta, Loritja). Ao con
seu padroeiro. Em certos casos, essa expressão justifica-se trario, o lotem indi\ idual é adquirido por u m ato delibera-
l'i8 AS FONMAS ELEMENTAR/is JJA l'llJA NllLf(,'/()�A 1 \ CNESÇA.S E/Fl/l:,V/i!Nfü' 159
chss(' N:i o st• lem uma espécie como alter e1 w ík fa10. 1 1 nda maa- porque o próprio primitivo serve-se da mesma
ha casos em que é com ceneza tal árvore, tal pedra dt'ter p.tla\ía para des ig na r o lotem do da e o animal p rot1.:t l> 1
minada que desempenha esse papef25. É o que acontece do indivíduoi•. Se Tylor e Powell rejcitaram essa denomi-
11 içao e redamarnm tem1os diferentes para esses dois t i
pos de institu içôcs religiosas. é porque, segundo eles, o
necessariamente sempre q u e se traca de um a n i m a l , e a
11ag 11afism11 ou 111c111ituísmo para designá lasu Mas dan rnente. com a úni ca cond1cáo de que formalidades neccs
do-lhes u m nome especi a l e distintivo, amscamo-nos a .,arias se1am observadas. Ao contrario, o individuo nao
-.omente respeita a es ré c: ic à qu�tl pertence seu totcm
como tambl:m s1.: esforça para protegê l a contra
desconhecer sua relação com o 1ocemismo. Com efeito,
são os mcsmos p rincír ios que se aplicam aqui ao clã pessoal.
1is estrangeiros, pelo menos cm toda parte que o dcstino
e al i
ao
-
dade dos dois sistemas; por isso, com Frazer, chamaremos 1i.
tote1111��1110 individ11af o culto que cada indivíduo presta a gar cm que sua m:ie concebeu (Arunta, Loritja). Ao con
seu padroeiro. Em certos casos, essa expressão justifica-se trario, o lotem indi\ idual é adquirido por u m ato delibera-
AS FORMAS ELEME1\'TAl?HS OA 1' e Rt.;W,.'A S f;L/i,l/liNlillU!..\
160 \'/[)11 Nh/JCIUSA
Lúl
dol : toda umLt .,l:rie de o perações rituais é necessá ria pa 1 wncns d i \ 1 natúri os P or ext· mplo. na baía Charlotte. no
ra deten n·1 nL�t- lc> O mécodo ,mais comumcnle empregado , 1 h o 13e dfo rd, 1unto ao no l'roserpme, a avó ou outras
.
g
•
,
• •
a 1ternL1 , .
l'Xcmplo, de pai a íilho, de tio a sobrinho•>. Esse procedi-
.
.
�
. n-se
1 1 . ·n t "
.
<.o a 1me o , i l'
•
.
.
.
n ere as drogas mais energeuc a s e as ma is 1111:nto é igualmente empregado na América. Num exem
en te, b eb e 1•1qu1.dos 1ntox1cantes
h 1
repu gn ant , e•L .. ; e,•e nn 1 a n plo relatado por lill Toul. o operador era um xamã 10 que
. -. l -.."s . p i' rito ·
esteja num verdadeiro estado de des-
.
.
mo, se l i-. u 1( . . ,. . 1 ·
1 r·i ver cm son h o ou g �uns momentos, para em seguida d esa parecer. Pa ul rece
.,1 n 1· 111..1 l ,.,1)1..... lieu a instruçao de pro c u rn r, no mesmo d i a , a pel.e ele
.
• '
·
·pe1 ·av·1l9
padroeiro que es
1parcceu soh a forma de u m ser humano, revelando-lhe o
'
.
Ent reta nto, esse proccd11nento e raramente empreg a-
do na Australi<1 'º· Nt:ssc continente ,. o tole.m pessoa l . pare no me misterioso que se dt:vc.· p ron u nciar quando se quer
ce a ntes ser i mpos to por um terceiro, s�1a no nasn m cn 111 ,·ocá-lo e prometendo-lhe proten o. ",� l
r o 1 1 :-.e j a no 1110111cn ro da iniciaçào1z. E g ra lme nte um e !\ião apenas o totem individual é adquirido, e não da
par nte ci ue desempenha esse
� . .
papel, ou um pe rsonage m
es espcc1a1s, como u m ve li10 ou u m
do. como também sua aqdis1çào geral mente não é obriga
<> de poder
·
tnVeStºd
1 loria. a Austrália, há uma sér ie de tribos em que esse
"
. i o utilizam-se as vezes proce<.
mágico P ara esse ob et v ,
·
1 1- j •
dol : toda umLt .,l:rie de o perações rituais é necessá ria pa 1 wncns d i \ 1 natúri os P or ext· mplo. na baía Charlotte. no
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es espcc1a1s, como u m ve li10 ou u m
do. como também sua aqdis1çào geral mente não é obriga
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1 loria. a Austrália, há uma sér ie de tribos em que esse
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. i o utilizam-se as vezes proce<.
mágico P ara esse ob et v ,
·
1 1- j •
mesmo onde ele existe, com freqüência é facultativo. ''\ · 111,1110 sexual. Só é encontrado na Austráli a, num pe
s i m , entre o s Euahlayi, s e todos o s mágicos têm um totem I"' 1 1 1 1 nú mero de tribos. Verifica-se sobretudo em V ictoria
i n cliviclual cio qual obtêm seus poderes, há um grande 1111 1 1 1 Nova Gales cio SuJ55. Mathews, é verclacle, declara tê-
mero ele leigos desprovidos dele. Trata-se ele um favw 1 1 1 h.�l'rvaclo em todas as partes ela Austrá l i a que visitou ,
que o mágico distribui, mas que reserva sobretudo a seu' •1•111 relatar fatos precisos em apoio ele sua afirmação56.
111 1 , ,
amigos, a seus favoritos, aos q u e a s p i r a m a tornar s1• Nt·sses diferentes povos, todos os homens ela tribo,
seus confrades49. Do mesmo modo, entre alguns Salis li . 1, 1 1 1 n lado, e todas as mulheres, de outro, em qualquer
os indivíduos que querem distinguir-se parlicularmcm1·, 1 l 1 p; 1rLicular a que ambos pertençam, formam como que
seja na guerra, seja na caça, ou os aspi rantes à função d 1 • 1 1 ! 1 1s sociedades distintas e mesmo antagônicas. Ora, cada
xamã s ã o o s únicos a munir-se ele u m protetor desse gc 1 1 1 11.1 dessas duas corporaçôes sexuais acredita-se unida
neros0. O totem incliviclual parece, pois, ser considerado, I " 11 laços místicos a u m a n i m a l determinado. Entre os
pelo menos por certos povos, uma vantagem e u m be111 1 1 1 1 11.11, os homens se consideram irmãos d a ema-garriça
supl ementar, não tanto uma necessidade. É bom contar 1 ' •' l' rÜng) e as mulheres, irmãs da soberba toutinegra
com ele, mas não se é obrigado a tê-lo. Inversamente, m1 1 1 >11·l·tgün); todos os homens são Yeerung e todas as mu
da obriga a contentar-se com um único totem: se alguém illl' 1l:S Djeetgün. Entre os Wotjobaluk e os Wu run jerri, são
quiser ser mais bem protegido, pode tentar adquirir várillS , , 111orcego e o nightjar (espécie ele coruja) que desempe-
cleles si e , p o r outro lado, se aquele que possui cumpre 1 i l 1 .1m esse papel. Noutras tribos, o n:ightja r é substituído
mal seu papel, rode trocá-Jos z. 1 11· 1 0 pica-pau. Cada sexo vê no a nimal a que é aparenta
M�1s, ao mesmo rempo que tem algo ele mais l ivre ' 1 1 1 um protetor que convém tratar com o maior respeito:
• proibido matá-lo e comê-Jo57.
e
mesmo onde ele existe, com freqüência é facultativo. ''\ · 111,1110 sexual. Só é encontrado na Austráli a, num pe
s i m , entre o s Euahlayi, s e todos o s mágicos têm um totem I"' 1 1 1 1 nú mero de tribos. Verifica-se sobretudo em V ictoria
i n cliviclual cio qual obtêm seus poderes, há um grande 1111 1 1 1 Nova Gales cio SuJ55. Mathews, é verclacle, declara tê-
mero ele leigos desprovidos dele. Trata-se ele um favw 1 1 1 h.�l'rvaclo em todas as partes ela Austrá l i a que visitou ,
que o mágico distribui, mas que reserva sobretudo a seu' •1•111 relatar fatos precisos em apoio ele sua afirmação56.
111 1 , ,
amigos, a seus favoritos, aos q u e a s p i r a m a tornar s1• Nt·sses diferentes povos, todos os homens ela tribo,
seus confrades49. Do mesmo modo, entre alguns Salis li . 1, 1 1 1 n lado, e todas as mulheres, de outro, em qualquer
os indivíduos que querem distinguir-se parlicularmcm1·, 1 l 1 p; 1rLicular a que ambos pertençam, formam como que
seja na guerra, seja na caça, ou os aspi rantes à função d 1 • 1 1 ! 1 1s sociedades distintas e mesmo antagônicas. Ora, cada
xamã s ã o o s únicos a munir-se ele u m protetor desse gc 1 1 1 11.1 dessas duas corporaçôes sexuais acredita-se unida
neros0. O totem incliviclual parece, pois, ser considerado, I " 11 laços místicos a u m a n i m a l determinado. Entre os
pelo menos por certos povos, uma vantagem e u m be111 1 1 1 1 11.11, os homens se consideram irmãos d a ema-garriça
supl ementar, não tanto uma necessidade. É bom contar 1 ' •' l' rÜng) e as mulheres, irmãs da soberba toutinegra
com ele, mas não se é obrigado a tê-lo. Inversamente, m1 1 1 >11·l·tgün); todos os homens são Yeerung e todas as mu
da obriga a contentar-se com um único totem: se alguém illl' 1l:S Djeetgün. Entre os Wotjobaluk e os Wu run jerri, são
quiser ser mais bem protegido, pode tentar adquirir várillS , , 111orcego e o nightjar (espécie ele coruja) que desempe-
cleles si e , p o r outro lado, se aquele que possui cumpre 1 i l 1 .1m esse papel. Noutras tribos, o n:ightja r é substituído
mal seu papel, rode trocá-Jos z. 1 11· 1 0 pica-pau. Cada sexo vê no a nimal a que é aparenta
M�1s, ao mesmo rempo que tem algo ele mais l ivre ' 1 1 1 um protetor que convém tratar com o maior respeito:
• proibido matá-lo e comê-Jo57.
e
liano, os totens sexuais se ligam aos totens ele clãs, que gvnios, personalidades divinas. Mas se, por essa razão, al
relações há entre os dois antepassados colocados na ori guns escritores, dos quais precisaremos aliás falar ele novo,
gem da tribo e aqueles dos quais cada clã em particular "l' recusaram a ver no totemisrno uma religião, é que eles
teria descendido. Mas os dados etnográficos atualmente 1 1 1 1ham do fenômeno religioso uma noção inexata.
disponíveis não permitem resolver a questão. Aliás, por Por outro lado, temos a certeza de que essa religião é
mais natural e mesmo necessária que essa questão nos .1 mais primitiva das que podem atual mente ser observa
pareça, é bem possível que os indígenas jamais a tenham das e até mesmo, muito provavelmen te, de todas q u e
colocado. De fato, eles não sentem, no mesmo grau que l'Xistiram. C o m efeito, ela é inseparável d a organização
nós, a nece'isidade ele coordenar e ele sistematizar suas .,ocial à base de clãs. Não apenas, conforme mostramos,
crenças6 •. "º se pode defini-la em função desta última, como tarn
livm o clã, na forma que apresenta n u m grande número
, k· sociedades australianas, parece não poder ter existido
�vm o totem. Pois os membros de u m mesmo clã não es-
1.10 unidos entre s i por uma comunidade de hábitat ou ele
164 AS FORMAS lilliAIENl/11?/JS ()A V7DA RELIGICJ.\ 1
liano, os totens sexuais se ligam aos totens ele clãs, que gvnios, personalidades divinas. Mas se, por essa razão, al
relações há entre os dois antepassados colocados na ori guns escritores, dos quais precisaremos aliás falar ele novo,
gem da tribo e aqueles dos quais cada clã em particular "l' recusaram a ver no totemisrno uma religião, é que eles
teria descendido. Mas os dados etnográficos atualmente 1 1 1 1ham do fenômeno religioso uma noção inexata.
disponíveis não permitem resolver a questão. Aliás, por Por outro lado, temos a certeza de que essa religião é
mais natural e mesmo necessária que essa questão nos .1 mais primitiva das que podem atual mente ser observa
pareça, é bem possível que os indígenas jamais a tenham das e até mesmo, muito provavelmen te, de todas q u e
colocado. De fato, eles não sentem, no mesmo grau que l'Xistiram. C o m efeito, ela é inseparável d a organização
nós, a nece'isidade ele coordenar e ele sistematizar suas .,ocial à base de clãs. Não apenas, conforme mostramos,
crenças6 •. "º se pode defini-la em função desta última, como tarn
livm o clã, na forma que apresenta n u m grande número
, k· sociedades australianas, parece não poder ter existido
�vm o totem. Pois os membros de u m mesmo clã não es-
1.10 unidos entre s i por uma comunidade de hábitat ou ele
166 AS FO/�S l!.l/J.MENTARES DA VDA
l RELIGIOSA l • NINÇAS ELEMENTARES
sangue, urna vez que não são necessariamente consangüí •· l lm grande número de povos crêem que a alma, após
neos e com freqüência estão dispersos em pontos diferen 1 1 1 1orte, não permanece eternamente clesencarnada, mas
tes do território tribal. Sua unidade, portanto, decorre uni ' 111 animar novamente algum corpo vivo; por outro lado,
camente ele terem um mesmo nome e um mesmo emble , 1 1 1110 a psicologia elas raças inferiores não estabelece ne-
ma, de acreditarem manter as mesm as relações com as 1 i l 1 1 1 ma linha ele demarcação bem definida entre a alma
mesmas categorias de coisas, de praticarem os mesmos ri i l 1 1� homens e a dos animais, ela admite sem grande difi
tos, ou seja, de comungarem no mesmo culto totêmico. ' 1 1 ld:1de a transmigração ela alma humana no corpo dos
Assim, o totemismo e o clã, pelo menos enquanto este úl 1 1 1 1 mais"3. Tylor cita u m certo número ele exemplos-'1. Nes-
timo não se confunde com o grupo local, implicam-se 1'> condições, o respeito religioso que o antepassado ins-
mutuamente. Ora, a organização à base de clãs é a mais 1 1 1 1 . 1 transporta-se naturalmente para o animal ou a planta
simples que conhecemos. Ela existe, com todos os seus ' 1 1111 que doravante se confunde. O animal, que serve as-
e lementos essenciais, tão logo a sociedade compreende 1 1 1 1 de receptáculo a um ser venerado, torna-se, para Lo
dois clãs primários; por conseguinte, não pode haver ou d" ·" os descendentes do antepassado, isto é, para o clã
tra mais rudi mentar enquanto não forem descobertas socie I J l l t' dele se originou, uma coisa sagrada, o objeto ele um
dades reduzidas a um único clã, e acreditamos q u e até ' 1 1 1 10, em urna palavra, um totem.
hoje não se tenham encontrado vestígios disso. Uma reli Fatos observados por Wilken nas sociedades do ar-
gião tão estreitamente solidária cio sistema social, que ul 1 p1ipélago malaio tenderiam a provar que é assim, com
trapassa toe.las as outras em simplicidade, pode ser consi l'il"ito, q u e as crenças totêmicas se originaram. Em Java,
derada como a mais elementar que nos é dada a conhecer. 1·111 Sumatra, os crocodilos são particularmente honrados;
Se chegarmos, pois, a encontrar as origens elas crenças •.. 111 vistos corno benevolentes protetores que não se eleve
que acabam ele ser analisadas, teremos chances ele desco 11r.1tar; fazem-lhes oferendas. Ora, o culto prestado a esses
brir também as causas que fizeram brotar o sentimento re- 111imais advém de que encarnariam almas cios antepassa
ligioso na humanidade. il()s. Os malaios elas FiJipLnas consideram o crocod ilo co-
Mas antes de nós mesmos tratarmos o problema,
.
1 1 1 0 seu avô; o tigre é tratado ela mesma maneira e pelas
convém examinar as soluções mais autorizadas que lhe 1 11vsmas razões. Crenças análogas foram observadas entre
foram propostas. e is Bantos5. Na Melanésia, acontece às vezes que um ho-
111vm influeme, no momento ele morrer, anuncie sua von-
1.1de c.le reencarnar-se em determinado animal ou planta;
c· x r l ica-se, assim, que o objeto q u e e l e escolheu como
111orada póstuma se torne em seguida sagrado para toda a
Encontramos em primeiro lugar um grupo de estudio '>11a famíJia6 . Longe de constituir um fato primitivo, o tote-
sos que acreditaram poder explicar o totemismo derivan 11t isrno seria apenas o produto de uma religião mais com
do-o diretamente ele uma religião anterior. plexa que o teria precedido?.
Para Tylor 1 e Wilken2, o totem ismo seria uma forma Mas as sociedades das quais esses fatos são tomados,
particular do culto dos antepassados; a doutrina da trans 1 . 1 a lcançaram uma cultura bastante elevada; em todo ca
migração das almas, certamente muito difundida, é que Ml, ultrapassaram a fase elo puro totemismo. Há entre elas
teria servido de transição entre esses dois sistemas religio- l.1111íl ias, e não clãs totêmicos8. Inclusive a maior parte cios
166 AS FO/�S l!.l/J.MENTARES DA VDA
l RELIGIOSA l • NINÇAS ELEMENTARES
sangue, urna vez que não são necessariamente consangüí •· l lm grande número de povos crêem que a alma, após
neos e com freqüência estão dispersos em pontos diferen 1 1 1 1orte, não permanece eternamente clesencarnada, mas
tes do território tribal. Sua unidade, portanto, decorre uni ' 111 animar novamente algum corpo vivo; por outro lado,
camente ele terem um mesmo nome e um mesmo emble , 1 1 1110 a psicologia elas raças inferiores não estabelece ne-
ma, de acreditarem manter as mesm as relações com as 1 i l 1 1 1 ma linha ele demarcação bem definida entre a alma
mesmas categorias de coisas, de praticarem os mesmos ri i l 1 1� homens e a dos animais, ela admite sem grande difi
tos, ou seja, de comungarem no mesmo culto totêmico. ' 1 1 ld:1de a transmigração ela alma humana no corpo dos
Assim, o totemismo e o clã, pelo menos enquanto este úl 1 1 1 1 mais"3. Tylor cita u m certo número ele exemplos-'1. Nes-
timo não se confunde com o grupo local, implicam-se 1'> condições, o respeito religioso que o antepassado ins-
mutuamente. Ora, a organização à base de clãs é a mais 1 1 1 1 . 1 transporta-se naturalmente para o animal ou a planta
simples que conhecemos. Ela existe, com todos os seus ' 1 1111 que doravante se confunde. O animal, que serve as-
e lementos essenciais, tão logo a sociedade compreende 1 1 1 1 de receptáculo a um ser venerado, torna-se, para Lo
dois clãs primários; por conseguinte, não pode haver ou d" ·" os descendentes do antepassado, isto é, para o clã
tra mais rudi mentar enquanto não forem descobertas socie I J l l t' dele se originou, uma coisa sagrada, o objeto ele um
dades reduzidas a um único clã, e acreditamos q u e até ' 1 1 1 10, em urna palavra, um totem.
hoje não se tenham encontrado vestígios disso. Uma reli Fatos observados por Wilken nas sociedades do ar-
gião tão estreitamente solidária cio sistema social, que ul 1 p1ipélago malaio tenderiam a provar que é assim, com
trapassa toe.las as outras em simplicidade, pode ser consi l'il"ito, q u e as crenças totêmicas se originaram. Em Java,
derada como a mais elementar que nos é dada a conhecer. 1·111 Sumatra, os crocodilos são particularmente honrados;
Se chegarmos, pois, a encontrar as origens elas crenças •.. 111 vistos corno benevolentes protetores que não se eleve
que acabam ele ser analisadas, teremos chances ele desco 11r.1tar; fazem-lhes oferendas. Ora, o culto prestado a esses
brir também as causas que fizeram brotar o sentimento re- 111imais advém de que encarnariam almas cios antepassa
ligioso na humanidade. il()s. Os malaios elas FiJipLnas consideram o crocod ilo co-
Mas antes de nós mesmos tratarmos o problema,
.
1 1 1 0 seu avô; o tigre é tratado ela mesma maneira e pelas
convém examinar as soluções mais autorizadas que lhe 1 11vsmas razões. Crenças análogas foram observadas entre
foram propostas. e is Bantos5. Na Melanésia, acontece às vezes que um ho-
111vm influeme, no momento ele morrer, anuncie sua von-
1.1de c.le reencarnar-se em determinado animal ou planta;
c· x r l ica-se, assim, que o objeto q u e e l e escolheu como
111orada póstuma se torne em seguida sagrado para toda a
Encontramos em primeiro lugar um grupo de estudio '>11a famíJia6 . Longe de constituir um fato primitivo, o tote-
sos que acreditaram poder explicar o totemismo derivan 11t isrno seria apenas o produto de uma religião mais com
do-o diretamente ele uma religião anterior. plexa que o teria precedido?.
Para Tylor 1 e Wilken2, o totem ismo seria uma forma Mas as sociedades das quais esses fatos são tomados,
particular do culto dos antepassados; a doutrina da trans 1 . 1 a lcançaram uma cultura bastante elevada; em todo ca
migração das almas, certamente muito difundida, é que Ml, ultrapassaram a fase elo puro totemismo. Há entre elas
teria servido de transição entre esses dois sistemas religio- l.1111íl ias, e não clãs totêmicos8. Inclusive a maior parte cios
168 AS FORMAS ELEAIEATARES DA VlDA REUGIOSA I \ CRENÇAS ELEMENTARES 169
animais. aos quais se prestam homenagens religiosas, <'.• 1 0 dada ror Tylor é que o homem, às vezes. lembra ce r-
1c >s traços da anatomia e da psi cologia do animal. "O sei
z
do animal seja considerado sua verdadeira pátria, pois se 1 1 11 • 1·x 1stc nenhuma relacão.
supõe que ela volta a ele assim que retoma sua liberdade. l· nquanto Tylor reduz o totemismo ao culto cio s a nte-
Ora, se a doutrina da transmigração postula essa singular 1 • 1 �.idos, Jevons o vincula ao culto da natureza• \ e eis de
afinidade, não a explica de maneira nenhuma. A única ra- 1 11 1 1 maneira o deriva dele.
168 AS FORMAS ELEAIEATARES DA VlDA REUGIOSA I \ CRENÇAS ELEMENTARES 169
animais. aos quais se prestam homenagens religiosas, <'.• 1 0 dada ror Tylor é que o homem, às vezes. lembra ce r-
1c >s traços da anatomia e da psi cologia do animal. "O sei
z
do animal seja considerado sua verdadeira pátria, pois se 1 1 11 • 1·x 1stc nenhuma relacão.
supõe que ela volta a ele assim que retoma sua liberdade. l· nquanto Tylor reduz o totemismo ao culto cio s a nte-
Ora, se a doutrina da transmigração postula essa singular 1 • 1 �.idos, Jevons o vincula ao culto da natureza• \ e eis de
afinidade, não a explica de maneira nenhuma. A única ra- 1 11 1 1 maneira o deriva dele.
170 AS FON1\llAS t:LEMIINTAJWS DA 1'/[)11 IU:'J.l(i/OSll AS CRENÇAS /JLEMliNTA IU!S 171
Urna vez que, sob o impacto da <>u rpresa que l h e necessic.laJcs para que possam ter sua origem num ato cla
<.:au::.avam as 1m..:gularidades constatadas n o cuf!>o dos fe ramente refletido da vontade. Aliás, ao mesmo tempo que
nômenos, povoou o mundo de seres sob renatu ra is 1 1 >, o peca por excesso de simpl ismo, essa hipótese está carre
homem sentiu a necessidade de conciliar-se com as forças gada de inverossirnilhanças. Diz-se que o homem teria
temíveis de que ele próprio se havia cercado. Para não buscado o apoio dos seres sobrenaturais dos quais as coi
ser esmagado por elas, compreendeu que o melhor meio sas dependem. Mas, então, deveria ter se dirigido. de pre
era aliar-se a a lgumas dessas forças e contar assim com ferência aos mais poderosos dentre eles, àqueles cuja pro
seu apoio. Ora, nessa fase da história, não se conhece ou teção prometia ser mais eficaz•7. Ora, muito pelo conLrário,
tra forma c.lc aliança e c.le associaç.-ão a não ser a que resul
ta e.lo parentesco. 1oc.los os membros de um mesmo ela se
os seres com os quais ele estabeleceu esse parentesco mís
tico figuram na maioria e.las vezes entre os mais humildes.
;qudam m u tuamente porque são parentes ou, o que da no
<.:orno cai!., ao contr..i rio, das difc
Por outro lado, se rea lmente se Lratasse apenas de fazer
mesmo, porquL M: vêem al iados e defensores, o homem teria buscado contar com
rentes sao tratados como inimigos porque sào de sangue
diferente. A única maneira de obter o apoio e.los seres so
o maior número possível deles, pois assim estaria melhor
defendido. No enLanto, cm rcalic.lade, cada clã se contenta
brenaturais era, portanto, adotá-los corno parentes e fa sistematicamente com um único totem, isto é, com u m
zer-se adotar por eles na mesma q u al id ad e: os procedi único protetor, deixando os outros clãs usufruir do deles
mentos bem conhecidos e.lo blood-coue11a11t ! pacto de cm completa liberdac.le: e-ada clã se encerra rigorosamente
sangue! permitiam atingir facilmente esse resultac.lo. Mas, no domínio religioso que lhe é próprio, sem jamais querer
como nesse momento o indivíduo não tinha ainda perso sa reserva e essa moderação são
usurpar o dos vizinhos. Es
na l idade própria. como não v i a nele senão uma parte ininteligíveis na hipótese que examinamos.
qualqu er de seu grupo, isro é, de seu clã, foi o clã em
conju nto, e não o indivíduo, que contraiu coleti\amcntc
esse parentesco . Pela mesma razão, contraiu-o, nao com li
um objeto em particula r, mas com o grnpo natural , isto é,
com a espécie da qual esse objeto fazia parte; pois o ho Todas essas teorias, aliás, cometem o e1TO de omitir
mem pensa o mundo como pensa a si mesmo, e, assim uma questão que domina todo o assunto. Vimos que exis
corno não se concebe separado de seu dã, não podcriõl tem duas espécies de toternisrno: o do indivíduo e o do
concdx:r uma cois" separada ela es pécie à qual rcrtcnce . clã. Entre os dois, há um parentesco demasiado evidente
Ora, urmr espécie de coisa unida a um clã por laços d e para que não mantenh a m qua l q ue r relação. Cabe, porta n-
parentesco, c.l i z .Jevons, é u m totem. 10, perguntar se um não derivou do outro e, em caso de
É certo, c.lc fato, que o totemismo impl ica urna estreita resposta afirmativa, qual o ma is primitivo. Conforme a so
associação entre um clã e uma categoria determinada de lução adotac.la, o problema e.las origens do toternismo se
objetos. Mas que essa associação, como pretende ,Jcvons, colocará em termos c.lifcrentes. Essa questão se impõe so
tenha sic.lo assumida del iberadamente, com plena cons bretudo por apresentar um interesse muito geral. O rore
ciência do propósito visado, é o que parece pouco de mismo individual é o a�pecto individual do culto totêmi
acordo com o que nos ensina a história. As religiões são co. Logo, se for ele o fato primitivo, cumpre dizer que a
coisas complexas, correspo ndem a múltiplas e obscuras religião nasceu ela consciência do indivíduo, que ela res-
170 AS FON1\llAS t:LEMIINTAJWS DA 1'/[)11 IU:'J.l(i/OSll AS CRENÇAS /JLEMliNTA IU!S 171
Urna vez que, sob o impacto da <>u rpresa que l h e necessic.laJcs para que possam ter sua origem num ato cla
<.:au::.avam as 1m..:gularidades constatadas n o cuf!>o dos fe ramente refletido da vontade. Aliás, ao mesmo tempo que
nômenos, povoou o mundo de seres sob renatu ra is 1 1 >, o peca por excesso de simpl ismo, essa hipótese está carre
homem sentiu a necessidade de conciliar-se com as forças gada de inverossirnilhanças. Diz-se que o homem teria
temíveis de que ele próprio se havia cercado. Para não buscado o apoio dos seres sobrenaturais dos quais as coi
ser esmagado por elas, compreendeu que o melhor meio sas dependem. Mas, então, deveria ter se dirigido. de pre
era aliar-se a a lgumas dessas forças e contar assim com ferência aos mais poderosos dentre eles, àqueles cuja pro
seu apoio. Ora, nessa fase da história, não se conhece ou teção prometia ser mais eficaz•7. Ora, muito pelo conLrário,
tra forma c.lc aliança e c.le associaç.-ão a não ser a que resul
ta e.lo parentesco. 1oc.los os membros de um mesmo ela se
os seres com os quais ele estabeleceu esse parentesco mís
tico figuram na maioria e.las vezes entre os mais humildes.
;qudam m u tuamente porque são parentes ou, o que da no
<.:orno cai!., ao contr..i rio, das difc
Por outro lado, se rea lmente se Lratasse apenas de fazer
mesmo, porquL M: vêem al iados e defensores, o homem teria buscado contar com
rentes sao tratados como inimigos porque sào de sangue
diferente. A única maneira de obter o apoio e.los seres so
o maior número possível deles, pois assim estaria melhor
defendido. No enLanto, cm rcalic.lade, cada clã se contenta
brenaturais era, portanto, adotá-los corno parentes e fa sistematicamente com um único totem, isto é, com u m
zer-se adotar por eles na mesma q u al id ad e: os procedi único protetor, deixando os outros clãs usufruir do deles
mentos bem conhecidos e.lo blood-coue11a11t ! pacto de cm completa liberdac.le: e-ada clã se encerra rigorosamente
sangue! permitiam atingir facilmente esse resultac.lo. Mas, no domínio religioso que lhe é próprio, sem jamais querer
como nesse momento o indivíduo não tinha ainda perso sa reserva e essa moderação são
usurpar o dos vizinhos. Es
na l idade própria. como não v i a nele senão uma parte ininteligíveis na hipótese que examinamos.
qualqu er de seu grupo, isro é, de seu clã, foi o clã em
conju nto, e não o indivíduo, que contraiu coleti\amcntc
esse parentesco . Pela mesma razão, contraiu-o, nao com li
um objeto em particula r, mas com o grnpo natural , isto é,
com a espécie da qual esse objeto fazia parte; pois o ho Todas essas teorias, aliás, cometem o e1TO de omitir
mem pensa o mundo como pensa a si mesmo, e, assim uma questão que domina todo o assunto. Vimos que exis
corno não se concebe separado de seu dã, não podcriõl tem duas espécies de toternisrno: o do indivíduo e o do
concdx:r uma cois" separada ela es pécie à qual rcrtcnce . clã. Entre os dois, há um parentesco demasiado evidente
Ora, urmr espécie de coisa unida a um clã por laços d e para que não mantenh a m qua l q ue r relação. Cabe, porta n-
parentesco, c.l i z .Jevons, é u m totem. 10, perguntar se um não derivou do outro e, em caso de
É certo, c.lc fato, que o totemismo impl ica urna estreita resposta afirmativa, qual o ma is primitivo. Conforme a so
associação entre um clã e uma categoria determinada de lução adotac.la, o problema e.las origens do toternismo se
objetos. Mas que essa associação, como pretende ,Jcvons, colocará em termos c.lifcrentes. Essa questão se impõe so
tenha sic.lo assumida del iberadamente, com plena cons bretudo por apresentar um interesse muito geral. O rore
ciência do propósito visado, é o que parece pouco de mismo individual é o a�pecto individual do culto totêmi
acordo com o que nos ensina a história. As religiões são co. Logo, se for ele o fato primitivo, cumpre dizer que a
coisas complexas, correspo ndem a múltiplas e obscuras religião nasceu ela consciência do indivíduo, que ela res-
172 AS FORMAS ELEA1/IIV/itRES DA VJDA REUG!OSA I\ CRE..\ÇASELEMENTARES 173
ponde antes de tudo a asp i rações individuais e que só se 1 1 1 em seguida passado aos descendentes desse herói mí-
cundariamente adq u iri u uma forma coletiva. 1 ll O po r direito de herança. Esses povos parecem, pois,
O es píri to si mplista , que ainda inspira com freqüên 1 vconhecer no Lotem coletivo u m totem i nd ivid ual que te-
cia mu ito s etnógrafos e sociólogos , levaria mu itos estudio pe rpetu ado numa mesma famílial1. De fato, aconte-
L' ainda hoje que u m pai transmite seu totem aos filhos .
1 i ; 1 se
sos a exp l ica r, tanto aqui como alhures, o com plexo pelo
simples, o totem do grupo pelo do indivíduo. Tal é, com
1
los Salish e os índios do rio Thom pson . Entre esses po 111convenientes, deixar temporariamente o corro que habi-
vos, com efeico, verificam-se tanto o totcmismo individual 1.1, por mais distante que possa esta r, continua a a n imá-lo
como o de clã; mas, ou eles não coexistem nu ma mesma por uma espécie de ação a distância. M<is com isso, em
tribo, ou, quando coexistem, são desigualmente desenvol 1 1·rtos momentos críticos que ameaçariam particularmente
vidos. Variam na razão inversa um cio outro: l á onde o LO .1 vida , pode haver interesse em retirar a alma do corpo e
tem de clã tende a ser a regra gera l , o totem individual d (' positá- la n u m lugar ou num obj eto, onde ela estaria
tende a desaparecer, e vice-versa. Não eq uivale isso a di lllais segura. E , de fato, h á u m certo nú mero de prá ticas
zer que o p ri meiro é u ma forma mais recente do segu ndo, 1 k·sLinadas a exteriorizar a alma a fim ele subtraí- la a algum
que ele exclui ao substituí-lo23? A mitologia parece confir 1 •vrigo, real ou imaginário. Por exemplo , no momento em
mar essa interpretação. Nas mesmas so.ciedad es , de fato, q11c as pessoas vão penetrar numa casa recém-construída,
o a ntepassado do clã não é um animal cotêmi co , o funda t > lll má gi co extrai suas almas e as põe num saco, restituin
dor do grupo sendo geralmente representado sob os tra ' lc >-as a seus proprietários somente depoLc; que o Limiar for
ços de um ser humano que, em dado momento, teria en 1 1 i.1,·essaclo. É que o momento de entrada numa casa nova
trado em relação e em comércio fa m i liar com u m animal 1 l'Xccpcionalmente crítico: corre-se o risco de pem1 rbar e,
fabuloso, d o qual teria recebido seu emblema totêmico. portanto, ofender, os espíritos que residem no solo, sobre-
Esse emblema, com os poderes especiais a ele l igados, te- 1 1 1 do debaixo cio limiar, e, se não forem tomad as precau-
172 AS FORMAS ELEA1/IIV/itRES DA VJDA REUG!OSA I\ CRE..\ÇASELEMENTARES 173
ponde antes de tudo a asp i rações individuais e que só se 1 1 1 em seguida passado aos descendentes desse herói mí-
cundariamente adq u iri u uma forma coletiva. 1 ll O po r direito de herança. Esses povos parecem, pois,
O es píri to si mplista , que ainda inspira com freqüên 1 vconhecer no Lotem coletivo u m totem i nd ivid ual que te-
cia mu ito s etnógrafos e sociólogos , levaria mu itos estudio pe rpetu ado numa mesma famílial1. De fato, aconte-
L' ainda hoje que u m pai transmite seu totem aos filhos .
1 i ; 1 se
sos a exp l ica r, tanto aqui como alhures, o com plexo pelo
simples, o totem do grupo pelo do indivíduo. Tal é, com
1
los Salish e os índios do rio Thom pson . Entre esses po 111convenientes, deixar temporariamente o corro que habi-
vos, com efeico, verificam-se tanto o totcmismo individual 1.1, por mais distante que possa esta r, continua a a n imá-lo
como o de clã; mas, ou eles não coexistem nu ma mesma por uma espécie de ação a distância. M<is com isso, em
tribo, ou, quando coexistem, são desigualmente desenvol 1 1·rtos momentos críticos que ameaçariam particularmente
vidos. Variam na razão inversa um cio outro: l á onde o LO .1 vida , pode haver interesse em retirar a alma do corpo e
tem de clã tende a ser a regra gera l , o totem individual d (' positá- la n u m lugar ou num obj eto, onde ela estaria
tende a desaparecer, e vice-versa. Não eq uivale isso a di lllais segura. E , de fato, h á u m certo nú mero de prá ticas
zer que o p ri meiro é u ma forma mais recente do segu ndo, 1 k·sLinadas a exteriorizar a alma a fim ele subtraí- la a algum
que ele exclui ao substituí-lo23? A mitologia parece confir 1 •vrigo, real ou imaginário. Por exemplo , no momento em
mar essa interpretação. Nas mesmas so.ciedad es , de fato, q11c as pessoas vão penetrar numa casa recém-construída,
o a ntepassado do clã não é um animal cotêmi co , o funda t > lll má gi co extrai suas almas e as põe num saco, restituin
dor do grupo sendo geralmente representado sob os tra ' lc >-as a seus proprietários somente depoLc; que o Limiar for
ços de um ser humano que, em dado momento, teria en 1 1 i.1,·essaclo. É que o momento de entrada numa casa nova
trado em relação e em comércio fa m i liar com u m animal 1 l'Xccpcionalmente crítico: corre-se o risco de pem1 rbar e,
fabuloso, d o qual teria recebido seu emblema totêmico. portanto, ofender, os espíritos que residem no solo, sobre-
Esse emblema, com os poderes especiais a ele l igados, te- 1 1 1 do debaixo cio limiar, e, se não forem tomad as precau-
174 AS FORMAS ELEMENTARES DA l'TDA REIJGIOSll 1\ <.RENÇAS EWMENTANliS 175
ções, eles pode ri am fazer o homem pagar caro sua audá . i, 1s não perm it em atribuir-lhe O primitivo tem u m a ló i
g
eia. Mas, uma vez passado o perigo, uma vez que se pôdt· • 1, por mais estranha que possa às vezes nos parecer; ora,
prevenir a cólera dos espíritos e até mesmo contar com 1 ll)Cnos que fosse totalmente desprovido dela, ele não
seu apoio graças ao cumprimento ele certos ritos, as almas 1 111deria fazer o raciodnio que lhe imputam. Que ele ju l
podem voltar a seu lugar habitual27. Essa mesma crença te ' 1 ...se gara n ti r a sobrevivência ele sua alma dissimulando-a
ria dado origem ao totem individual. Para se proteger con 1 1 1 1 111 lugar secreto e inacessível, como o teriam feito tan-
tra malefícios m ágicos, os homens teriam julgado prudente 11 ,.., heróis dos mitos e das fábulas, nada mais natural. Mas
ocultar suas almas na multidão anônima de uma espécie , 1 1rno poderia ele julgá-la mais segura no corpo de u m
animal ou vegetal . Estabelecida essa relaçJo, cada indiví 1111mal elo que n o seu próprio? Claro que, perdida assim
duo sentiu-se inti mamente unido ao animal ou à p la nta i 1 espécie, a a l m a poderi a ter chances de escapar mais
em que residiria seu princípio vital. Dois seres láo solic.lános 1 11 1 l mcme aos sortilégios elo magrco, mas, ao mesmo tem
acabaram indusíve sendo considerados praticam(;nte in i ' ' adta\·a-sc total1m:ntc expo:>ta aos ataques <los caçado
distintos: acredito u-se que um participava da natureza c.lo r • .., Seria um meio singula de proteção envolvê-l
r a numa
outro. &sa crenç·a, uma vez admitida, facilitou e ativou a l• •r ma material que se expunha a riscos a todo instante 29.
m
transfo r ação do rocem pessoal em totem hereditário e, 111hretudo, é i n co ncebíve l que povos inteiros se deixas-
portanto, coletivo, pois pareceu muito evide nte que essc> m levar por semelhante aberraçãoW. Enfun, n u m grande
parentesco de natureza devesse se transmitir hereditaria n 11mero ele casos, a função do totem individual é manifes-
mente do pai aos fiU1os. 1 . 1 1 nente muilO distinta da que lhe atribui Frazer: trata-se,
Não nos deteremos a discutir longamente essas duas 111tt·s de ntdo, de a
um meio ele conferir a mágicos, caça
expl icações do totem individual : são engenhosas noções d1 11cs, a gue rrei ros, poderes extraordinários31. Q ua nto à
do esp írito , mas carecem totalmente de provas positivas. .1 1lrd a riecla de do homem e d coisa, com todos os incon
a
Para poder reduzir o totemismo ao fetichismo, seria preci ' rnt·ntes que im plica , ela é aceita como uma conseqüên-
so ter estabelecido que o segundo é anterior ao primeiro; ' 1.1 obrigatória do rito, mas n ão é desejada em si mesma e
ora, não apenas nenhum fato é alegado para demonstrar I " 11 s i mesma.
essa hipótese, como também ela é con testada por tudo o 1Iá menos motivos ainda ele nos determos nessa con-
que sabemos. O conj unto, mal determinado, de ritos cha 1 1 1 1 vcrsia qua n do o verdadeiro problema não se encontra
mados fet ichismo, parece efetivamente só se manifestar 1 1 e> que importa saber antes de tudo é se o totem inclivi-
entre povos que já atingiram um certo grau de civil ização. 1 1 11.tl e realmente o faro primitivo do qu al o totem coletivo
É um t ipo ele culto desconhecido na Austrália. É verdade ' " ' i:i de riva do , pois, conforme a resposta que dermos a
que se qual ificou o chu r inga ele fet iche28; mas, suponclo 1 "'' questão, deveremos buscar o núcleo da viela religio-
se que essa qualificação se justifique, ela não poder.ia pro ' 1·111 duas direções opostas.
var a anterioridade que se postula. Muito pelo contrário, o Ora, contra a hipótese ele Hill Tout, da srta. Fletcher,
churinga supõe o totcmismo, já que é essencialmente um d1 l loas, de Frazer, há um tal conjunto de fatos decisivos
instrumento do culto totêmico e deve exclusivamente ãs ' I "'' nos surp reende mos que ela tenha sido aceita ele uma
crenças totêmicas as virtudes que llie são atribuídas. 111 1 1 11..•ira tão fácil e tão geral.
Quanto à teoria de Frazer, ela supõe no primitivo Em prin1eiro lugar, sabemos que o homem muito fre
uma espécie de absurdo intrmseco que os fatos conheci- < 1 1 1 1 · n temen te tem u m fone interesse em não ap en as res-
174 AS FORMAS ELEMENTARES DA l'TDA REIJGIOSll 1\ <.RENÇAS EWMENTANliS 175
ções, eles pode ri am fazer o homem pagar caro sua audá . i, 1s não perm it em atribuir-lhe O primitivo tem u m a ló ig
eia. Mas, uma vez passado o perigo, uma vez que se pôdt· • 1, por mais estranha que possa às vezes nos parecer; ora,
prevenir a cólera dos espíritos e até mesmo contar com 1 ll)Cnos que fosse totalmente desprovido dela, ele não
seu apoio graças ao cumprimento ele certos ritos, as almas 1 111deria fazer o raciodnio que lhe imputam. Que ele ju l
podem voltar a seu lugar habitual27. Essa mesma crença te ' 1 ...se gara n ti r a sobrevivência ele sua alma dissimulando-a
ria dado origem ao totem individual. Para se proteger con 1 1 1 1 111 lugar secreto e inacessível, como o teriam feito tan-
tra malefícios m ágicos, os homens teriam julgado prudente 11 ,.., heróis dos mitos e das fábulas, nada mais natural. Mas
ocultar suas almas na multidão anônima de uma espécie , 1 1rno poderia ele julgá-la mais segura no corpo de u m
animal ou vegetal . Estabelecida essa relaçJo, cada indiví 1111mal elo que n o seu próprio? Claro que, perdida assim
duo sentiu-se inti mamente unido ao animal ou à p la nta i 1 espécie, a a l m a poderi a ter chances de escapar mais
em que residiria seu princípio vital. Dois seres láo solic.lános 1 11 1 l mcme aos sortilégios elo magrco, mas, ao mesmo tem
acabaram indusíve sendo considerados praticam(;nte in i ' ' adta\·a-sc total1m:ntc expo:>ta aos ataques <los caçado
distintos: acredito u-se que um participava da natureza c.lo r • .., Seria um meio singula de proteção envolvê-l
r a numa
outro. &sa crenç·a, uma vez admitida, facilitou e ativou a l• •r ma material que se expunha a riscos a todo instante 29.
m
transfo r ação do rocem pessoal em totem hereditário e, 111hretudo, é i n co ncebíve l que povos inteiros se deixas-
portanto, coletivo, pois pareceu muito evide nte que essc> m levar por semelhante aberraçãoW. Enfun, n u m grande
parentesco de natureza devesse se transmitir hereditaria n 11mero ele casos, a função do totem individual é manifes-
mente do pai aos fiU1os. 1 . 1 1 nente muilO distinta da que lhe atribui Frazer: trata-se,
Não nos deteremos a discutir longamente essas duas 111tt·s de ntdo, de a
um meio ele conferir a mágicos, caça
expl icações do totem individual : são engenhosas noções d1 11cs, a gue rrei ros, poderes extraordinários31. Q ua nto à
do esp írito , mas carecem totalmente de provas positivas. .1 1lrd a riecla de do homem e d coisa, com todos os incon
a
Para poder reduzir o totemismo ao fetichismo, seria preci ' rnt·ntes que im plica , ela é aceita como uma conseqüên-
so ter estabelecido que o segundo é anterior ao primeiro; ' 1.1 obrigatória do rito, mas n ão é desejada em si mesma e
ora, não apenas nenhum fato é alegado para demonstrar I " 11 s i mesma.
essa hipótese, como também ela é con testada por tudo o 1Iá menos motivos ainda ele nos determos nessa con-
que sabemos. O conj unto, mal determinado, de ritos cha 1 1 1 1 vcrsia qua n do o verdadeiro problema não se encontra
mados fet ichismo, parece efetivamente só se manifestar 1 1 e> que importa saber antes de tudo é se o totem inclivi-
entre povos que já atingiram um certo grau de civil ização. 1 1 11.tl e realmente o faro primitivo do qu al o totem coletivo
É um t ipo ele culto desconhecido na Austrália. É verdade ' " ' i:i de riva do , pois, conforme a resposta que dermos a
que se qual ificou o chu r inga ele fet iche28; mas, suponclo 1 "'' questão, deveremos buscar o núcleo da viela religio-
se que essa qualificação se justifique, ela não poder.ia pro ' 1·111 duas direções opostas.
var a anterioridade que se postula. Muito pelo contrário, o Ora, contra a hipótese ele Hill Tout, da srta. Fletcher,
churinga supõe o totcmismo, já que é essencialmente um d1 l loas, de Frazer, há um tal conjunto de fatos decisivos
instrumento do culto totêmico e deve exclusivamente ãs ' I "'' nos surp reende mos que ela tenha sido aceita ele uma
crenças totêmicas as virtudes que llie são atribuídas. 111 1 1 11..•ira tão fácil e tão geral.
Quanto à teoria de Frazer, ela supõe no primitivo Em prin1eiro lugar, sabemos que o homem muito fre
uma espécie de absurdo intrmseco que os fatos conheci- < 1 1 1 1 · n temen te tem u m fone interesse e m não ap en as res-
176 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA Ré'UGIO,\. 1 1 1 < NHNÇAS ELEMENTA RES 177
peitar, mas cm fazer respeitar por seus co mpa n heiros os 1 111 1 se dimi nu i r a distância inserindo entre eles, como urna
animais da espécie que lhe serve de totem pessoa l ; n·ata t .pec1 e de termo médio, o direito que todo deten to r de
se de sua própria vida. Portanto, se o totemismo coletivo 1 1 1 1 1 totem teria ele tra nsmiti-lo a quem quisesse. Mas essas
fosse apenas a fonna generalizada do totem ismo individual, 1 1 1 1 1sferências, não impona onde as observemos, são atos
ele deveria se basear no mesmo princípio. Os membros 1 1 1 os, re lativamente excepcionais; não podem ser opera
d e um clã não só deveriam se abster de matar e comer ' "' senão por mágicos ou perso n agens investidos de po-
seu anima l-totem, como também deveriam fazer o possí d1 1es especia is32 ; em todo caso, só podem ocorrer por
vel para reclam a r dos estrangeiros a mes m a a bstenção. 1 1 11·10 de cerimô n ias rituais que efetuam a mudança. Seria
Ora, na verdade, muito lon ge de impor essa renú nci a a 1 •11·dso expli car, portanto, de que maneira o q ue era prer
toda a tribo, cad a clã, através de ritos que decreveremos r •i.:a t v i a de alguns tomou-se direito de todos; de que ma-
adiante, cuida para que a planta ou o animal que lhe ser 111 1r.1 o que implicava, antes ele mais nada, urna mudanç-a
de totem crei.1,<i e prospere, a fim de a�egur'&r aos ou 1 1fun<la na constitu 11;ào religiosa e moral do in<l ivíd uo
1'• 1de tornar-se um elemento dessa constituição; de que
\'t:
peitar, mas cm fazer respeitar por seus co mpa n heiros os 1 111 1 se dimi nu i r a distância inserindo entre eles, como urna
animais da espécie que lhe serve de totem pessoa l ; n·ata t .pec1 e de termo médio, o direito que todo deten to r de
se de sua própria vida. Portanto, se o totemismo coletivo 1 1 1 1 1 totem teria ele tra nsmiti-lo a quem quisesse. Mas essas
fosse apenas a fonna generalizada do totem ismo individual, 1 1 1 1 1sferências, não impona onde as observemos, são atos
ele deveria se basear no mesmo princípio. Os membros 1 1 1 os, re lativamente excepcionais; não podem ser opera
d e um clã não só deveriam se abster de matar e comer ' "' senão por mágicos ou perso n agens investidos de po-
seu anima l-totem, como também deveriam fazer o possí d1 1es especia is32 ; em todo caso, só podem ocorrer por
vel para reclam a r dos estrangeiros a mes m a a bstenção. 1 1 11·10 de cerimô n ias rituais que efetuam a mudança. Seria
Ora, na verdade, muito lon ge de impor essa renú nci a a 1 •11·dso expli car, portanto, de que maneira o q ue era prer
toda a tribo, cad a clã, através de ritos que decreveremos r •i.:a t v i a de alguns tomou-se direito de todos; de que ma-
adiante, cuida para que a planta ou o animal que lhe ser 111 1r.1 o que implicava, antes ele mais nada, urna mudanç-a
de totem crei.1,<i e prospere, a fim de a�egur'&r aos ou 1 1fun<la na constitu 11;ào religiosa e moral do in<l ivíd uo
1'• 1de tornar-se um elemento dessa constituição; de que
\'t:
quais .�l' apóia ll i l l Tout contêm um eco dessa antiga con .1 1 e1 1 plena decadência; nas sociedades do Norocs
' 1 1 1 particular, ele nao possui senao um caráter religio
n •
naruralmente aparentados. As pessoas comuns não gozam que encontramos n a história nos aparece, não como o
desse privilégio�. Ao contrário, n a América, o totem cole- princípio ativo da religião püblica, mas, ao contrário, co-
178 A.\ FON/11AS ELEMENTARES {)A \lf{)fl RELI(,'/(!\ 1 1 Ili V�.llS é'LEA1ENTARBS 179
quais .�l' apóia ll i l l Tout contêm um eco dessa antiga con .1 1 e1 1 plena decadência; nas sociedades do Norocs
' 1 1 1 particular, ele nao possui senao um caráter religio
n •
naruralmente aparentados. As pessoas comuns não gozam que encontramos n a história nos aparece, não como o
desse privilégio�. Ao contrário, n a América, o totem cole- princípio ativo da religião püblica, mas, ao contrário, co-
180 AS FOl?MAS ELE!llJENTARES DA VIDA l?liUG/O\.1 1 \1/Jl\'7'A l?ES
r Nl:NÇAS ELD 181
ele certo modo , em s<.:u hcc a seguir não é ouLra coisa senão esse a ntepassado
víduo organiza para s i rnesmo e,
•
ser o germe cio culto coletiv o, nao 1 n· nca rna do , seu totem é necessa ri a me n te o mesmo; ou
·l'f·' · o clã dessa criança é dete rmi na d o pela localidade
foro interior, longe ele
àS neces sidade s do indiví duo.
1 111dc ela teria sido místicamente co ncebida .
é senão este adapt ado
mais primit ivo que co nh ec emos ; Praze r c hega rá a dizer P• 11pada na co l e t a d e a lg u m a planta, ou se vigiava um
s os churin
se encontra o santuário onde são conservado
distribuição • 1 1ngênere cios animais ou das plantas ela mesma espécie,
ga e onde o culto é cel ebrado. É també m essa
que determ ina a manei ra pela q ual • 1111• lhes demonstre simpatia e consideração, que se proí
geográfica dos totens
m. A crianç a, com efeito , tem por totem l 1.1 de comê-los, etc.43 A part ir ele então, o totemismo ex is-
forma
não o de seu pai ou de sua mãe, mas
os clãs se
aquele que tem seu 1• 1·111 seus traços essenciais: a noção que o indígena teria
scnLido os primei l . 1 gt:raçào é que o teria originado, por isso Prazer chama
1 1 101emismo p ri m i tivo ele concepci:onal.
centro no lugar onde a mãe acredi ta ter
o Arunta
ros sintomas de sua m�ternidade próxima. Pois
ignora ' diz-se 1 a relação precis a que une o fato ela geração É des se tipo original q u e todas as outras formas de
l42; acr�d i tª que toda concc pçào é devida a 1 1 111·mismo teriam derivado. "Se várias m u l heres uma
ao ato sexua
uma espécie de fecundação mística. Ela implic
a, segundo 1 p11s a outra, perceberem os sinais premonitórios a matl
rou no corpo ele '' r 111dade num mesmo lugar e nas mesmas circunstâncias,
• ,.,,. lugar será visto como freqüenta do por espíri tos de
ele, que uma alma de �intcp assaclo penet
aí o princí pio de uma vicia nova.
1 1 1 1 1.1 es péci e particular; e, assim, com o tempo, a região
uma mulhe r e tornou -se
e as pri
No momento, portan to. em que a mulhe r perceb
da crian ça, ela imagin a que uma das al .n .1 d otad a de centros lotêmicos e dividida em distritos
meiras contrações
mas qu e têm sua resi dência princ ipal
no lugar onde se r 1 1r vmicos11." Eis co m o o totemismo local dos Arunta teria
180 AS FOl?MAS ELE!llJENTARES DA VIDA l?liUG/O\.1 1 \1/Jl\'7'A l?ES
r Nl:NÇAS ELD 181
ele certo modo , em s<.:u hcc a seguir não é ouLra coisa senão esse a ntepassado
víduo organiza para s i rnesmo e,
•
ser o germe cio culto coletiv o, nao 1 n· nca rna do , seu totem é necessa ri a me n te o mesmo; ou
·l'f·' · o clã dessa criança é dete rmi na d o pela localidade
foro interior, longe ele
àS neces sidade s do indiví duo.
1 111dc ela teria sido místicamente co ncebida .
é senão este adapt ado
mais primit ivo que co nh ec emos ; Praze r c hega rá a dizer P• 11pada na co l e t a d e a lg u m a planta, ou se vigiava um
s os churin
se encontra o santuário onde são conservado
distribuição • 1 1ngênere cios animais ou das plantas ela mesma espécie,
ga e onde o culto é cel ebrado. É també m essa
que determ ina a manei ra pela q ual • 1111• lhes demonstre simpatia e consideração, que se proí
geográfica dos totens
m. A crianç a, com efeito , tem por totem l 1.1 de comê-los, etc.43 A part ir ele então, o totemismo ex is-
forma
não o de seu pai ou de sua mãe, mas
os clãs se
aquele que tem seu 1• 1·111 seus traços essenciais: a noção que o indígena teria
scnLido os primei l . 1 gt:raçào é que o teria originado, por isso Prazer chama
1 1 101emismo p ri m i tivo ele concepci:onal.
centro no lugar onde a mãe acredi ta ter
o Arunta
ros sintomas de sua m�ternidade próxima. Pois
ignora ' diz-se 1 a relação precis a que une o fato ela geração É des se tipo original q u e todas as outras formas de
l42; acr�d i tª que toda concc pçào é devida a 1 1 111·mismo teriam derivado. "Se várias m u l heres uma
ao ato sexua
uma espécie de fecundação mística. Ela implic
a, segundo 1 p11s a outra, perceberem os sinais premonitórios a matl
rou no corpo ele '' r 111dade num mesmo lugar e nas mesmas circunstâncias,
• ,.,,. lugar será visto como freqüenta do por espíri tos de
ele, que uma alma de �intcp assaclo penet
aí o princí pio de uma vicia nova.
1 1 1 1 1.1 es péci e particular; e, assim, com o tempo, a região
uma mulhe r e tornou -se
e as pri
No momento, portan to. em que a mulhe r perceb
da crian ça, ela imagin a que uma das al .n .1 d otad a de centros lotêmicos e dividida em distritos
meiras contrações
mas qu e têm sua resi dência princ ipal
no lugar onde se r 1 1r vmicos11." Eis co m o o totemismo local dos Arunta teria
AS FORMAS HLEMTJNTARES DA VIDA RELIGIOS;1 t 1 1 Nl:NÇAS EL/iMENTARES
182 183
nascido. Para que em seguida os totens se separem ck 1 ' ' ''.lll' se do profano, e vimos que o totemismo é um vas
sua base terri torial, bastará conceber que as almas ances ' ' , �•.�tema de coisas sagradas. Explicá-lo é, portanto mos-
trais, ao invés ele permanecer imutavel mente fixas num 1 1 11 por que essas coisas foram marcadas por tal caráter46.
lugar determinado, sejam capazes de se mover livremenll' • • 1 . 1 . esse problema não é sequer colocado por Frazer.
sobre toda a superfície do território e de seguir, em suas Mas o que acaba de arruinar esse sistema é que, hoje,
viagens, o s homens e as mulheres do mesmo totem que " postulado sobre o qual repousa não é mais sustentável.
elas. Deste modo, uma mulher poderá ser fecundada por l 1 11 l.1 a argumentação de Frazer supõe, com efeito, que o
um espírito de seu próprio totem ou do totem ele seu ma 1 o 111·1 11ismo local dos Arunta é o mais primitivo que conhe
rido, ainda que ela resida num distrito totémico clifere�te. • ' 1 1 1os e, sobretudo, que é sensivelmente anterior ao tote-
Conforme se imaginar que são os antepassados cio mando 1 1 11•.ino hereditário, seja em linha paterna, seja em linha
ou os da mulher que seguem o jovem casal espreitando a
ocasião de reencarnar-se, o Lotem da criança será o de
1 1 1 . 1 1 vrna. Ora, com base nos simples fatos que a primeira
mundo vegetal o que há ele mais essencial nele. Ora, essa 1 l 1 l 1oje, cada arunta, além de seu totem local, tem um
ou
crença é precisamente uma das que estão na base do to l t • ' que é independente ele toda condição geográfica, mas
temismo. Colocá-la como uma evidência é, portanto, • 1 1 1 1 · lhe pertence por direito ele nascimento: é o ele sua
apoiar-se naquilo que seria preciso explicar. , · 1 1 1.11'. Esse segundo totem, assim como o primeiro, é con-
. .
Desse ponto de vista, além elo mais, o carater rel1g10- 1r lnado pelos indígenas como urna potência amiga e
so do totem é inteiramente inexplicável; pois a vaga cren 1 • 1 1 1lvtora, que provê o alimento deles, que os advene dos
ça num obscuro parentesco do homem e do animal não é 1 11 1 igos possíveis, etc. Eles têm o direito ele participar de
suficiente para fundar um culto. Essa confusão de reinos ' 1 1 culto. Quando os enterram, dispõem o cadáver de
d istintos não poderia ter por efeito desdobrar o mundo 1 1 1 t 11L·ira a que o rosto fique virado para a região onde se
em profano e sagrado. É verdade que, coerente consigo li 11 .tli za o centro totémico da mãe. Tsso significa que esse
_
mesmo, Frazer se recusa a ver no totemismo uma reltgiao, • 1 1 1 1 ro é também, de certa forma, o do defunto. De fato,
sob pretexto de que nele não se encontram nem seres es 1 l . 1 1 > lhe o nome ele tmara altiira, que quer dizer: campo
pirituais, nem preces, nem invocações, nem oferendas, eh 1 lotem que me é associado. Portanto é certo que, entre
etc. Para ele, seria apenas um sistema mágico, entenden ' '. Arunta, o totemismo hereditário em linha uterina não é
do por isto uma espécie de ciência grosseira e errônea, i " 1!-.ll'rior ao totemismo local, devendo, ao contrário, rê-lo
um primeiro esforço para descobrir as leis das coisas45. 1 • 1 1 '\'l'dido. Pois o totei.1 materno hoje não possui mais
Mas sabemos o que essa concepção da religião e ela ma q1w um papel acessório e complementar, é um totem se-
gia tem de inexata. Há religião assim que o sagrado clis- 1 1 1 1 d :írio, o que explica que tenha podido escapar a ob-
AS FORMAS HLEMTJNTARES DA VIDA RELIGIOS;1 t 1 1 Nl:NÇAS EL/iMENTARES
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nascido. Para que em seguida os totens se separem ck 1 ' ' ''.lll' se do profano, e vimos que o totemismo é um vas
sua base terri torial, bastará conceber que as almas ances ' ' , �•.�tema de coisas sagradas. Explicá-lo é, portanto mos-
trais, ao invés ele permanecer imutavel mente fixas num 1 1 11 por que essas coisas foram marcadas por tal caráter46.
lugar determinado, sejam capazes de se mover livremenll' • • 1 . 1 . esse problema não é sequer colocado por Frazer.
sobre toda a superfície do território e de seguir, em suas Mas o que acaba de arruinar esse sistema é que, hoje,
viagens, o s homens e as mulheres do mesmo totem que " postulado sobre o qual repousa não é mais sustentável.
elas. Deste modo, uma mulher poderá ser fecundada por l 1 11 l.1 a argumentação de Frazer supõe, com efeito, que o
um espírito de seu próprio totem ou do totem ele seu ma 1 o 111·1 11ismo local dos Arunta é o mais primitivo que conhe
rido, ainda que ela resida num distrito totémico clifere�te. • ' 1 1 1os e, sobretudo, que é sensivelmente anterior ao tote-
Conforme se imaginar que são os antepassados cio mando 1 1 11•.ino hereditário, seja em linha paterna, seja em linha
ou os da mulher que seguem o jovem casal espreitando a
ocasião de reencarnar-se, o Lotem da criança será o de
1 1 1 . 1 1 vrna. Ora, com base nos simples fatos que a primeira
mundo vegetal o que há ele mais essencial nele. Ora, essa 1 l 1 l 1oje, cada arunta, além de seu totem local, tem um ou
crença é precisamente uma das que estão na base do to l t • ' que é independente ele toda condição geográfica, mas
temismo. Colocá-la como uma evidência é, portanto, • 1 1 1 1 · lhe pertence por direito ele nascimento: é o ele sua
apoiar-se naquilo que seria preciso explicar. , · 1 1 1.11'. Esse segundo totem, assim como o primeiro, é con-
. .
Desse ponto de vista, além elo mais, o carater rel1g10- 1r lnado pelos indígenas como urna potência amiga e
so do totem é inteiramente inexplicável; pois a vaga cren 1 • 1 1 1lvtora, que provê o alimento deles, que os advene dos
ça num obscuro parentesco do homem e do animal não é 1 11 1 igos possíveis, etc. Eles têm o direito ele participar de
suficiente para fundar um culto. Essa confusão de reinos ' 1 1 culto. Quando os enterram, dispõem o cadáver de
d istintos não poderia ter por efeito desdobrar o mundo 1 1 1 t 11L·ira a que o rosto fique virado para a região onde se
em profano e sagrado. É verdade que, coerente consigo li 11 .tli za o centro totémico da mãe. Tsso significa que esse
_
mesmo, Frazer se recusa a ver no totemismo uma reltgiao, • 1 1 1 1 ro é também, de certa forma, o do defunto. De fato,
sob pretexto de que nele não se encontram nem seres es 1 l . 1 1 > lhe o nome ele tmara altiira, que quer dizer: campo
pirituais, nem preces, nem invocações, nem oferendas, eh 1 lotem que me é associado. Portanto é certo que, entre
etc. Para ele, seria apenas um sistema mágico, entenden ' '. Arunta, o totemismo hereditário em linha uterina não é
do por isto uma espécie de ciência grosseira e errônea, i " 1!-.ll'rior ao totemismo local, devendo, ao contrário, rê-lo
um primeiro esforço para descobrir as leis das coisas45. 1 • 1 1 '\'l'dido. Pois o totei.1 materno hoje não possui mais
Mas sabemos o que essa concepção da religião e ela ma q1w um papel acessório e complementar, é um totem se-
gia tem de inexata. Há religião assim que o sagrado clis- 1 1 1 1 d :írio, o que explica que tenha podido escapar a ob-
184 AS FORJ.fAS ELEMENTARES DA VIDA REL!GJO.l.
i � e IUiNÇ'AS ELE!v!EJVTARES 185
<>ervadores tão atentos e avisados como Spencer e Gillen 1 "a de um nome de animal, o homem que o tinha de
Mas para que se mantivesse assim em segundo plano, co \ 1.1 necessariamente crer que ele próprio possuía os atri
mo uma repetição do totem local, é preciso que tenha ha l 1111os mais característicos desse animal. Essa crença pro
vido um tempo em que ele é que ocupava o primeiro pia p 1l(ou-se tanto mais facilmenLe quanto mais se tornavam
no na vida religiosa. Trata-se, em parte, de um totem de 11 1 11otas e se apagavam das memórias as origens históri
caído, mas que lembra uma época em que a organização l h <le tais denominações. Mitos se formaram para repre-
totêmica dos Arunla era muito diferente da que é hoje. ' 11ur melhor aos espíritos essa estran ha ambigüidade d a
Toda a consLruçào de Frazer acha-se, assim, minada na 1 1 11 11rcza humana. Para explicá-la, m
i aginou-se que o ani-
sua baseso. 1 1 1. d era o antepassado do homem ou que ambos descen
- 1 1 . 1 111 de um ancestral comum. Assim teriam sido concebi-
1 lc1� os laços de parentesco que u niriam cada clã à espécie
IV •h loisa cujo nome é o seu. Ora, uma vez explicadas as
• 1 1 1gcns desse parentesco fabuloso, parece a nosso autor
Embora Anclrew Lang tenha combatido vivamente es • 11 1 1• o totemismo não tenha mais mi stério.
s a teoria de Frazer, a que ele propõe em suas últimas Mas de onde vem, então, o caráter religioso das cren
obrass1 aproxima-se dela em mais de um ponto. Comn \ •� e das práticas totêmicas? Pois o fato de o homem crer-
Frazer, ele faz o totemismo consistir inteiramente na cren ' um animal de tal espécie não explica por que ele atri
ça numa espécie de consubstancialidade do homem e do li111 a essa espécie virrudes maravilhosas, nem, sobretudo,
animal. Mas explica-a de outro modo. I" 11 que dedica às imagens que a simbolizam um verda
Deriva-a inteiramente do fato de o totem ser um no d1•1ro culto. A essa questão, Lang dá a mesma resposta
me. Tão logo houve grupos h uman os constiruídoss2, cada • j l tt• Frazer: ele nega que o totemismo seja uma religião.
um deles teria sentido a necessidade de distinguir uns dos 10 encontro na Austrália, diz ele, nenhum exemplo de
outros os grupos vizinhos com os quais se relacionava e, 1 ' 1.1ticas religiosas tais como as que consistem em rezar,
com essa finalidade, lhes teria dado nomes d f
i erentes. Es 1 1 1 1 1 1ir ou sepultar o totem56." Apenas numa época posterior,
ses nomes foram tomados preferencialmente da fauna e quando já estava constituído, é que o lotemismo teria si-
d a flora circundantes, porque animais e plantas podem 1lc1 como que atraído e envolvido por um sistema de con
ser facil mente designados por meio de gestos ou repre ' •'P(Ões p ropriamente religiosas. Segundo uma observa
scnlados por desenhos53. As semelhanças mais ou menos �.1<> <le Howitt57, qu ando os indíge nas procuram expl ica r
precisas que os homens podiam ter com este ou aquele 1� i n stituições totêmicas, eles não as atribuem nem aos
ani mal ou planla determinaram a forma como essas deno 1 1 1 <>prios totens, nem a um homem, mas a algum ser so
minações coletivas foram distribuídas entre os grupos54. l 11 vnatural, como Bunjil ou Baiame. "Se, diz Lang, aceitar-
Ora, é um fato conhecido que, "para espíritos primiti 1111 >s esse testemunho, uma fonte do caráter religioso <lo
vos, os nomes e as coisas designadas por esses nomes es 1 1 1tL'mismo nos é revelada. O totemismo obedece aos de
tão unidos por uma relação mística e transcendentaJ''55. ' 1 1 ·1os de Bu njil , assim como os cretenses obedeciam aos
Por exemplo, o nome que um indivíduo tem não é consi d1·Lretos divinos dados por Zeus a Minas ." Ora, a noção
derado uma simples palavra, um signo convencional, mas • kssas grandes divindades formou-se, segundo Lang, fora
parte essencial do próprio indivíduo. Assim. quando se 1 h> sistema totêmico; este, portanto, não seria por si mes-
184 AS FORJ.fAS ELEMENTARES DA VIDA REL!GJO.l.
i � e IUiNÇ'AS ELE!v!EJVTARES 185
<>ervadores tão atentos e avisados como Spencer e Gillen 1 "a de um nome de animal, o homem que o tinha de
Mas para que se mantivesse assim em segundo plano, co \ 1.1 necessariamente crer que ele próprio possuía os atri
mo uma repetição do totem local, é preciso que tenha ha l 1111os mais característicos desse animal. Essa crença pro
vido um tempo em que ele é que ocupava o primeiro pia p 1l(ou-se tanto mais facilmenLe quanto mais se tornavam
no na vida religiosa. Trata-se, em parte, de um totem de 11 1 11otas e se apagavam das memórias as origens históri
caído, mas que lembra uma época em que a organização l h <le tais denominações. Mitos se formaram para repre-
totêmica dos Arunla era muito diferente da que é hoje. ' 11ur melhor aos espíritos essa estran ha ambigüidade d a
Toda a consLruçào de Frazer acha-se, assim, minada na 1 1 11 11rcza humana. Para explicá-la, m
i aginou-se que o ani-
sua baseso. 1 1 1. d era o antepassado do homem ou que ambos descen
- 1 1 . 1 111 de um ancestral comum. Assim teriam sido concebi-
1 lc1� os laços de parentesco que u niriam cada clã à espécie
IV •h loisa cujo nome é o seu. Ora, uma vez explicadas as
• 1 1 1gcns desse parentesco fabuloso, parece a nosso autor
Embora Anclrew Lang tenha combatido vivamente es • 11 1 1• o totemismo não tenha mais mi stério.
s a teoria de Frazer, a que ele propõe em suas últimas Mas de onde vem, então, o caráter religioso das cren
obrass1 aproxima-se dela em mais de um ponto. Comn \ •� e das práticas totêmicas? Pois o fato de o homem crer-
Frazer, ele faz o totemismo consistir inteiramente na cren ' um animal de tal espécie não explica por que ele atri
ça numa espécie de consubstancialidade do homem e do li111 a essa espécie virrudes maravilhosas, nem, sobretudo,
animal. Mas explica-a de outro modo. I" 11 que dedica às imagens que a simbolizam um verda
Deriva-a inteiramente do fato de o totem ser um no d1•1ro culto. A essa questão, Lang dá a mesma resposta
me. Tão logo houve grupos h uman os constiruídoss2, cada • j l tt• Frazer: ele nega que o totemismo seja uma religião.
um deles teria sentido a necessidade de distinguir uns dos 10 encontro na Austrália, diz ele, nenhum exemplo de
outros os grupos vizinhos com os quais se relacionava e, 1 ' 1.1ticas religiosas tais como as que consistem em rezar,
com essa finalidade, lhes teria dado nomes d f
i erentes. Es 1 1 1 1 1 1ir ou sepultar o totem56." Apenas numa época posterior,
ses nomes foram tomados preferencialmente da fauna e quando já estava constituído, é que o lotemismo teria si-
d a flora circundantes, porque animais e plantas podem 1lc1 como que atraído e envolvido por um sistema de con
ser facil mente designados por meio de gestos ou repre ' •'P(Ões p ropriamente religiosas. Segundo uma observa
scnlados por desenhos53. As semelhanças mais ou menos �.1<> <le Howitt57, qu ando os indíge nas procuram expl ica r
precisas que os homens podiam ter com este ou aquele 1� i n stituições totêmicas, eles não as atribuem nem aos
ani mal ou planla determinaram a forma como essas deno 1 1 1 <>prios totens, nem a um homem, mas a algum ser so
minações coletivas foram distribuídas entre os grupos54. l 11 vnatural, como Bunjil ou Baiame. "Se, diz Lang, aceitar-
Ora, é um fato conhecido que, "para espíritos primiti 1111 >s esse testemunho, uma fonte do caráter religioso <lo
vos, os nomes e as coisas designadas por esses nomes es 1 1 1tL'mismo nos é revelada. O totemismo obedece aos de
tão unidos por uma relação mística e transcendentaJ''55. ' 1 1 ·1os de Bu njil , assim como os cretenses obedeciam aos
Por exemplo, o nome que um indivíduo tem não é consi d1·Lretos divinos dados por Zeus a Minas ." Ora, a noção
derado uma simples palavra, um signo convencional, mas • kssas grandes divindades formou-se, segundo Lang, fora
parte essencial do próprio indivíduo. Assim. quando se 1 h> sistema totêmico; este, portanto, não seria por si mes-
186 AS /-Y)RMAS ELB
MHNTARHS {)A 170A NHUG/t" 1 1� Ellf.l.l BNTARES
1 Ili \(.· 187
LO no totem uma coisa humana e profana, não lhes Lt'n.1 ' 1 1 111·r religioso do totemismo, o que significa, aliás, ne-
vindo a idéia de fazer dele uma instituição divina. Se, ac • 11 •is fatos. Outros o reconhecem, mas julgam poder ex-
contrário, sentiram a necessidade de relacioná-lo a u111.1 1 •li• .1 lo deriva ndo-o de uma religião anterior, da qual o
divindade, é que lhe reconheciam um caráter sagrado. Fs l l l l < '1111smo teria surgido. Em realidade, essa d is t i nção é
sas interpretaçôes mitológicas demonstram, pois, a na t u 1pt 11as aparente: a primeira categoria reaparece na segun-
mas não a expl icam. 1 Nl'm Frazcr nem Lang puderam manter seu princípio
o sangue do a n ima l, corno também o do homem, é objeto 1 \cabamos de ver como Lang teve de fazer intervir a
de m ú lt iplas interdi\,·õcs, ou, como ele diz, de tabus que es 1d1·1.1 de sag rado, isto é, a idéia cardinal de toda religião.
sa mitologia mais ou menos tardia é incapaz de explicar' l 1 . 1 /t'r, por seu lado, tanto na primeira como na segunda
Mas de onde elas provêm então? Eis em que termos I..a ng 1o 111 1.1 que propôs, apela abertamente para a idéia de alma
responde a essa quest<lo: "Assim que os grupos com nome.� • •11 ele espírito, pois, segundo ele, o totemismo viria ou de
• ·� homens acreditarem poder colocar sua alma em segu
' I li\ a n u m objeto exterior, ou de atribu írem o fato d a
de animais desenvolveram as crenças universalmente di
fundidas sobre o wakan ou o mana, ou sobre a qualidadt·
mbtica e sagrada do sangue, os d i ferentes tabus totêmicos t 1 1mepção a uma espécie d e fecundação espiritual, cujo
dcYem igualmente ter aparecido. "ti() As pala\ ras u·akan t 1 • nte seria um espírito. Ora, a alma, e o espírito m:.iis
mana, como veremos no capítulo seguinte, im pl icam a no 11 1111.1, são coisas sagradas, objetos de ritos; as noções que
çào mesma de sagrado-. uma é wm ada da língua dos Sioux, • ·� t·x pr i mem são, portanto, essencialmente religiosas, e
a outra, dos povos mclanésios. Explicar o caráter sagrado 1 • .1111, por mais que Frazer fa<:a do Lotcmismo um sistema
das coisas totêmicas p os tula ndo esse carúter, é responde r à 1 •1 1 1 ,1 1nentc múgico, também ele só consegue explicá-lo
questão com a questão. O que seria preciso mostra r é de 1 • 1 1 1 lu nç:1o de uma outra religião.
onde provém a noção de wakan e de que maneira se apli Mas mostramos as i nsuficiências tanto do na l u r i s-
cou ao totem e a tudo (jUe dele deriva. Enquanto essas duas 1 1 1 1 i co m o cio animismo; portanto, não se pode recorrer a
questões não forem resolvidas, nada foi ex p liG 1 clo. • 11 ·s. como fi 7.e ram Ty lor e je vo n s, sem se expor às mes-
1 1 1.1s objeções. No entanto, nem Frazer nem I..ang pa recem
itn:ver a p ossibilidade de uma outm hipótese62. Por outro
V l . 1do, sa bemos que o totemismo está estreitamente ligado à
' '' 1�.mizaç-.ão social mais primitiva que conhecemos e, muito
p 1 m avclmcnte, que pock ser conhecida. Portanto, supor
• flll' de foi precedido de uma outra religião que não diferia
Passamos em revista as principais expl icações que fo
LO no totem uma coisa humana e profana, não lhes Lt'n.1 ' 1 1 111·r religioso do totemismo, o que significa, aliás, ne-
vindo a idéia de fazer dele uma instituição divina. Se, ac • 11 •is fatos. Outros o reconhecem, mas julgam poder ex-
contrário, sentiram a necessidade de relacioná-lo a u111.1 1 •li• .1 lo deriva ndo-o de uma religião anterior, da qual o
divindade, é que lhe reconheciam um caráter sagrado. Fs l l l l < '1111smo teria surgido. Em realidade, essa d is t i nção é
sas interpretaçôes mitológicas demonstram, pois, a na t u 1pt 11as aparente: a primeira categoria reaparece na segun-
mas não a expl icam. 1 Nl'm Frazcr nem Lang puderam manter seu princípio
o sangue do a n ima l, corno também o do homem, é objeto 1 \cabamos de ver como Lang teve de fazer intervir a
de m ú lt iplas interdi\,·õcs, ou, como ele diz, de tabus que es 1d1·1.1 de sag rado, isto é, a idéia cardinal de toda religião.
sa mitologia mais ou menos tardia é incapaz de explicar' l 1 . 1 /t'r, por seu lado, tanto na primeira como na segunda
Mas de onde elas provêm então? Eis em que termos I..a ng 1o 111 1.1 que propôs, apela abertamente para a idéia de alma
responde a essa quest<lo: "Assim que os grupos com nome.� • •11 ele espírito, pois, segundo ele, o totemismo viria ou de
• ·� homens acreditarem poder colocar sua alma em segu
' I li\ a n u m objeto exterior, ou de atribu írem o fato d a
de animais desenvolveram as crenças universalmente di
fundidas sobre o wakan ou o mana, ou sobre a qualidadt·
mbtica e sagrada do sangue, os d i ferentes tabus totêmicos t 1 1mepção a uma espécie d e fecundação espiritual, cujo
dcYem igualmente ter aparecido. "ti() As pala\ ras u·akan t 1 • nte seria um espírito. Ora, a alma, e o espírito m:.iis
mana, como veremos no capítulo seguinte, im pl icam a no 11 1111.1, são coisas sagradas, objetos de ritos; as noções que
çào mesma de sagrado-. uma é wm ada da língua dos Sioux, • ·� t·x pr i mem são, portanto, essencialmente religiosas, e
a outra, dos povos mclanésios. Explicar o caráter sagrado 1 • .1111, por mais que Frazer fa<:a do Lotcmismo um sistema
das coisas totêmicas p os tula ndo esse carúter, é responde r à 1 •1 1 1 ,1 1nentc múgico, também ele só consegue explicá-lo
questão com a questão. O que seria preciso mostra r é de 1 • 1 1 1 lu nç:1o de uma outra religião.
onde provém a noção de wakan e de que maneira se apli Mas mostramos as i nsuficiências tanto do na l u r i s-
cou ao totem e a tudo (jUe dele deriva. Enquanto essas duas 1 1 1 1 i co m o cio animismo; portanto, não se pode recorrer a
questões não forem resolvidas, nada foi ex p liG 1 clo. • 11 ·s. como fi 7.e ram Ty lor e je vo n s, sem se expor às mes-
1 1 1.1s objeções. No entanto, nem Frazer nem I..ang pa recem
itn:ver a p ossibilidade de uma outm hipótese62. Por outro
V l . 1do, sa bemos que o totemismo está estreitamente ligado à
' '' 1�.mizaç-.ão social mais primitiva que conhecemos e, muito
p 1 m avclmcnte, que pock ser conhecida. Portanto, supor
• flll' de foi precedido de uma outra religião que não diferia
Passamos em revista as principais expl icações que fo
1
Se quisermos permanecer em concordância com os resulta
HUGENS DESSAS CRENÇAS
r < :ontinuaçâo)
dos anteriormente obtidos, devemos, ao mesmo tempo quv
afirmamos a natureza religiosa do totemismo, impedir-nos
de reduzi-lo a uma religião diferente de si mesmo. Não qut·
seja o caso de atribuir-lhe como causa idéias que não seriam
religiosas. Mas, entre as representações que integram a gê·
nese de que ele resultou, pode haver algumas que invocam
por si mesmas e diretamente o caráter religioso. São estas
que devemos pesquisar.
1
Se quisermos permanecer em concordância com os resulta
HUGENS DESSAS CRENÇAS
r < :ontinuaçâo)
dos anteriormente obtidos, devemos, ao mesmo tempo quv
afirmamos a natureza religiosa do totemismo, impedir-nos
de reduzi-lo a uma religião diferente de si mesmo. Não qut·
seja o caso de atribuir-lhe como causa idéias que não seriam
religiosas. Mas, entre as representações que integram a gê·
nese de que ele resultou, pode haver algumas que invocam
por si mesmas e diretamente o caráter religioso. São estas
que devemos pesquisar.
particulares que as distinguem umas <las outras. Se t.11 , 111 prrr ipal po'>suem em 1lguma medida. o mesmo
pécie animal ou vegetal é objeto de um temor reverem:1.il 11 1ll r l ambém elas tl:m algo de rehgroso. visto que al-
não é cm razão de suas propriedades específicas, já c p u 1 t111.1s sào protegidas por interdições e outras cumprem
o s membros h u manos d o cl ã gozam do mesmo privilcgi1 1 1 1111\ ncs determinadas nas cerimônias do culto. Et.sa reli-
embora num grau ligeiramente inferior, e já que a s i mpl 1... 11 1 idade não di fe re cm natureza daquela q ue diz respei-
imagem dessa mesma planta ou desse mesmo animal in� 1 • 1 1 1 totem, sob o q ua l essas coisas s ão class i ficad as ; ela
pira um respeito ainda mais pronunciado. Os s enti ment m li• r 1\ .1 n e ce s saria me nte do mesmo princípio. É q u e o
semelhantes que essas diferentes espécies ele coisas dl"' 1, 11-. totêmico - para retomar a expressão metafórirn q u e
pena m na consciência do fiel e que fazem sua naturc1.1 t• li 1.11 nos de uti l i za r - está nessas coisas santas assim co-
sagrada. evidentemente só podem vir de um princíp1n 111 ' 1·sta na espécie que sen·e de lotem e nos membros do
que é comum a todos indistintamente , tanto aos embll' • l.1 l'ercebe-se o quamo ele drfcre dos seres nos quab re-
mas totêm1u>s quanto aos membros do da e aos i ndividuo., 1d1 uma n:z q ue e a .dma de tantos :-.eret. diferem�.s.
da espécie que serve de Lotem. É a esse princípio comum l\las essa força i mpessoal , o australiano não a concebe
que se dirige, e m rea lidnde, o culto. Em outras palavras, 0 1 11 > sua forma abstrata. Por influência de causas que tcre-
totem ismo é a rel igião , não de tais animais, ou de tais ho 1 1 1 11� de pesquisar, ele foi leva do a concebê-la sob a fonna
m ens , ou de tais i mage ns , mas de uma espécie de fon,.1 ti, 11111 animal ou de um vegetal, em uma palavra: de u ma
an ônirm1 e impessoal que se manifesta em cada um des ' ' 11�;1 se nsível . Eis cm que consiste realmente o totem: ele é
ses seres, sem no entamo confundir-se com nen hu m de t 11 > sú a fo rma material sob a qual é rt:presenracla pa ra as
les. Ne n hu m a possui inteiramente e todos dela partici 1 1 1 1.iginaç_:ões essa substância ima teria l , essa energi a que se
pam. Ela é independente dos sujeicos particulare1> cm que d1l1111de por todo tipo de seres h eterogêneos e que é o ún i
se encarna, tanto assim que os precede como sobrevive a l • ' objeto verdadeiro do culto. Assim, pod emos com preen-
eles. Os indivíduos morrem, as gerações passam e são k r melhor o que o indígena quer dizer quando afinna que
substituídas por outras; mas essa forca permanece sempre membros da fratria do Corvo, por exemplo, são corvos.
1 k não entende precisamente que sejam corvos no sentido
e
amanhã. Tomando a palavra num sentido bastante a m plo, ,11 ha um pri ncíp io que constitui o que têm de mais essen-
poder-se-ia dizer que el a é o deus que cada culto lOLêm i 1 1 l i , que lhes é com u m com os a n imais do mesmo nome e
co adora. Só que é um deus i mpessoal, sem nome, sem qtll' e pensado sob a forma exterior do corvo. Dcslc modo ,
história, ima nente ao mundo, difuso numa quantidade in • > 11 ni vcrso , tal co mo o concebe o LOLcmismo, é atravessa
calculável de coisas. do, an imad o por um certo número de forças que a imagi-
Mesmo assim, temos somente u ma idé ia imperfeit a 11.1n10 se representa a tra vés de figuras tomadas, com pou-
da ubiqüicfade real dessa entidade quase divina. Ela não 1' cxcc�·ões, do reino animal ou do reino vegetal: h:.í 1an-
está apenas espalhada em toda a espécie totêmica, em lo 1.i-. dessas forÇ"'.1s quantos são os clãs da rribo, e c-.ida uma
do o clã, em todos os objetos que simbolizam o rotem: o dLlcts circula através de certat. categorias de coisa1> dat.
círculo de sua ação estende-se mais além. Com efeito, vi q11ab ela é a e!>Sência e e princípio de vida.
mos que, além dessas coisas eminentemente santas, todas Quando dizemos desses princípios que são forças,
aquelas que são atribuídas ao clã como dependências do 11.10 tornamos a palavra numa acepção merafórica: elas
• -• .. ""'-"'-·--... .... TÂ"C.7
particulares que as distinguem umas <las outras. Se t.11 , 111 prrr ipal po'>suem em 1lguma medida. o mesmo
pécie animal ou vegetal é objeto de um temor reverem:1.il 11 1ll r l ambém elas tl:m algo de rehgroso. visto que al-
não é cm razão de suas propriedades específicas, já c p u 1 t111.1s sào protegidas por interdições e outras cumprem
o s membros h u manos d o cl ã gozam do mesmo privilcgi1 1 1 1111\ ncs determinadas nas cerimônias do culto. Et.sa reli-
embora num grau ligeiramente inferior, e já que a s i mpl 1... 11 1 idade não di fe re cm natureza daquela q ue diz respei-
imagem dessa mesma planta ou desse mesmo animal in� 1 • 1 1 1 totem, sob o q ua l essas coisas s ão class i ficad as ; ela
pira um respeito ainda mais pronunciado. Os s enti ment m li• r 1\ .1 n e ce s saria me nte do mesmo princípio. É q u e o
semelhantes que essas diferentes espécies ele coisas dl"' 1, 11-. totêmico - para retomar a expressão metafórirn q u e
pena m na consciência do fiel e que fazem sua naturc1.1 t• li 1.11 nos de uti l i za r - está nessas coisas santas assim co-
sagrada. evidentemente só podem vir de um princíp1n 111 ' 1·sta na espécie que sen·e de lotem e nos membros do
que é comum a todos indistintamente , tanto aos embll' • l.1 l'ercebe-se o quamo ele drfcre dos seres nos quab re-
mas totêm1u>s quanto aos membros do da e aos i ndividuo., 1d1 uma n:z q ue e a .dma de tantos :-.eret. diferem�.s.
da espécie que serve de Lotem. É a esse princípio comum l\las essa força i mpessoal , o australiano não a concebe
que se dirige, e m rea lidnde, o culto. Em outras palavras, 0 1 11 > sua forma abstrata. Por influência de causas que tcre-
totem ismo é a rel igião , não de tais animais, ou de tais ho 1 1 1 11� de pesquisar, ele foi leva do a concebê-la sob a fonna
m ens , ou de tais i mage ns , mas de uma espécie de fon,.1 ti, 11111 animal ou de um vegetal, em uma palavra: de u ma
an ônirm1 e impessoal que se manifesta em cada um des ' ' 11�;1 se nsível . Eis cm que consiste realmente o totem: ele é
ses seres, sem no entamo confundir-se com nen hu m de t 11 > sú a fo rma material sob a qual é rt:presenracla pa ra as
les. Ne n hu m a possui inteiramente e todos dela partici 1 1 1 1.iginaç_:ões essa substância ima teria l , essa energi a que se
pam. Ela é independente dos sujeicos particulare1> cm que d1l1111de por todo tipo de seres h eterogêneos e que é o ún i
se encarna, tanto assim que os precede como sobrevive a l • ' objeto verdadeiro do culto. Assim, pod emos com preen-
eles. Os indivíduos morrem, as gerações passam e são k r melhor o que o indígena quer dizer quando afinna que
substituídas por outras; mas essa forca permanece sempre membros da fratria do Corvo, por exemplo, são corvos.
1 k não entende precisamente que sejam corvos no sentido
e
amanhã. Tomando a palavra num sentido bastante a m plo, ,11 ha um pri ncíp io que constitui o que têm de mais essen-
poder-se-ia dizer que el a é o deus que cada culto lOLêm i 1 1 l i , que lhes é com u m com os a n imais do mesmo nome e
co adora. Só que é um deus i mpessoal, sem nome, sem qtll' e pensado sob a forma exterior do corvo. Dcslc modo ,
história, ima nente ao mundo, difuso numa quantidade in • > 11 ni vcrso , tal co mo o concebe o LOLcmismo, é atravessa
calculável de coisas. do, an imad o por um certo número de forças que a imagi-
Mesmo assim, temos somente u ma idé ia imperfeit a 11.1n10 se representa a tra vés de figuras tomadas, com pou-
da ubiqüicfade real dessa entidade quase divina. Ela não 1' cxcc�·ões, do reino animal ou do reino vegetal: h:.í 1an-
está apenas espalhada em toda a espécie totêmica, em lo 1.i-. dessas forÇ"'.1s quantos são os clãs da rribo, e c-.ida uma
do o clã, em todos os objetos que simbolizam o rotem: o dLlcts circula através de certat. categorias de coisa1> dat.
círculo de sua ação estende-se mais além. Com efeito, vi q11ab ela é a e!>Sência e e princípio de vida.
mos que, além dessas coisas eminentemente santas, todas Quando dizemos desses princípios que são forças,
aquelas que são atribuídas ao clã como dependências do 11.10 tornamos a palavra numa acepção merafórica: elas
ENTARES DA VIDA Rli.IIC ,/e 11 1 /1/N(,/IS 1!.LEMENTARES
192 AS FORMAS ELEM r
19j
agem como verdadeiras forças. São inclusive, num v 1 1 1 l r d igião C:· uma espécie de técnica que permite ao ho-
sentido, forças mater iais qu e engend ram mecanicanw 1 1 1 1 1 1 11 1 1 1 L'nfrentar o mundo com mais confiança. Mesmo pa
efeitos físicos. Se um indivíduo entra em cont at o com d.1 r 1 e 1 e ristão, não é Deus Pai o guardião da ordem física,
sem cer LOmado as precauções necessárias, recebe 1 1 1 1 1 1 . 11 1 1 como o legislador e o juiz da conduta humana?
choque q u e pode ser comparado ao efeiLO ele u m a dl ''
li
carga elécrica. Às vezes elas parecem ser concebid as l "
mo fl uidos que escapam pelas poncasi. Quando se intro
duzem num organ ism o que não é feito para recebê-la'
produzem nele a doença e a morte, por uma reação co111 l'alvez pergu nta rã o se, interpretando deste modo o
pletamente automática 2. Fora do homem, elas desemrl' 11 111 mismo, não atribuímos ao primitivo idéias que ultra
"'' sam o a l ca n ce de seu espírito. Por certo. não somos
, 1 p.1Les de afirmar que ele conceba c�sas forças com a
nham o papel de princípio vita l ; é agindo sobre elas, co
IJ10 veremos·\ que se assegura a reprodução das cs pérn.:'
, l.11L'za relativa que tivemos que colocar em nossa
análise.
I ' 1demos mostrar claramente que essa noção é implicada
E sobre elas que repousa a vicia universal.
Mas, ao mesmo cernpo que um aspecto físico, ela.,
cêm u m ca ráter moral. Quando se pergunta a um indígena J l' lo conjunto de suas crenças e que ela as domina; mas
por que ele observa seus ricos, ele responde que seus an 1 1 1 11 saberíamos dizer até que ponto ela é expressamente
tepassaclos sempre os observaram e que deve seguir seu , e 111sciente , em que medida, ao contrário , não
é apenas
1111plícita e confusamente sentida. Faltam de todo os meios
l '·"·L precisar o grau de clareza que ta l idéia pode ter n es-
exemplo'. Po11anto, se ele se comporta desta ou daquela
morais. Ao mesmo tempo que uma disciplina espi ritual, .mimai morre, as pessoas do grupo q u e o veneram lamen-
194 AS FORMAS ELEAl/i/VTARES DA �7DA Rlf.l/(,/C J\ 1 I \ r RENÇAS ElT!AIENTARBS
cam sua morce e prestam-lhe deveres piedosos porque 1 1dações dn sistema totêmico como nas outras sociecla-
um deus habita nde; mas o deus nao esta mono. Ele
ererno como a espécie. Não se confunde com a geraç;u•
t· 1 h's dos Sioux"'9. Ora, entre esses povos, acima de todos
" deuses particulares aos quais os homens prestam um
presente; era já a alma da que precedeu, como será a ai , ulro, existe uma potência eminente ch amada wakan111, da
ma da que virá depois6. Porranto, ele possui todas as ca qual as demais são como que fom1as derivadas. Por causa
racterísticas cio princípio torêmico. Trata-se de um princ1 , il- sua situação preponderante no panteão sioux, esse
pio totêmico que a imaginação revestiu ele formas ligeira princípio foi visto às vezes como uma espécie ele deus so
mente pessoais. Mas uma persona lidade exagerada não lit-rano, de Júpiter ou Jeová, e os viajantes freqüentcmen
seria muito compatível com essa d ifu são e essa ubiqüida lt' traduziram wakan por "grande espírito". Era equivocar
de. Se seus contornos fossem claramente defin idos, ela ·l' gravemente sobre sua natureza verdadeira . O wakan
náo poderia dispersar-se e espalhar-se por uma mul udao 11ao é, de maneira alguma, um ser pessoal: os inc.hgenas
de coi:-.as nao o concebem sob formas determinadas. -Eles dizem,
Nesse caso, porém, é incontesrável que a noção de rnnta um observador citado por Dorsey, que jamais viram
força religiosa impessoal começa a a ltemr-se; mas há ou o wakanda; por isso, não podem pretender personificá
tros em que ela se afinna em sua pureza abstrata e atinge lo. "" Não é sequer possível defini-lo por atributos e ca
inclusive um grau de genernlidade bem mais alto do que racteres determinados. "Nenhum termo, diz Riggs, pode
na Austrália. Embora os diferences princípios totêmicos t•xprimir a sign ificação da palavra entre os Dakota. Ela
aos quais se dirigem os diversos clàs de uma mesma uibo compreende todo mistério, todo poder secreto, toda di
sejam disrintos uns dos outros, eles não deixam ele ser, no vindade."12 Os seres que o Oakota reverencia, "a Terra, os
fundo, comparáveis entre si, pois rodos desempe nham o quatro ventos, o Sol, a Lua, as estrelas, são manifestações
mesmo papel em sua respectiva esfera. Ora, há socieda dessa vida misteriosa e desse poder" que circula através
des que rivernm o sentimento dessa comunhão de nature de todas as coisas. Ora ele é representado sob a forn1a cio
za e que se elevaram, por conseguinte, à noção de uma \'ento, como um sopro que tem sua sede nos quatro pon
força religiosa única, da qual todos os outros princípios tos cardeais e que move ruclol3; ora é a voz que se faz ou
sagrados seriam apenas modalidades e que faria a unida 'vir quando o rrovão ressoa"; o Sol, a Lua, as estrelas são
de do un iverso. E, como essas sociedades estão ainda wakan1s. Mas não há enu meração capaz de esgotar essa
completamente impregnadas de totemismo, como perma noção infinitamente complexa. Não se trata de u m poder
necem ligadas a uma organização social idêntica à dos definido e definível, o poder de fazer isto ou aquilo; trata
povos aus1ral ianos, é lícito afirmar que o LOtemismo trazia se do Poder, ele uma maneira absoluta, sem epíteto nem
essa icléia no ventre. determinação ele espécie alguma. As diversas potências
É o que se pode observar num grande número de tri divinas são apenas suas manifestações particulares e per
bos americanas, especialmente as que percencem à gran sonificações; cada uma delas � esse poder visto sob u m
de família dos Sioux: Omaha, Ponka, Kansas, Osage, Assi de seus múltiplos aspectos'6. E o que levou um observa
niboin, Dakota, lowa, Winnebago, Mandan, Hidatsa, etc. dor a dizer que "se trata de um deus essencialmente pro
Várias dessas sociedades são ainda organizadas em clãs, teiforme, que muda de a l ributos e de funções conforme
como os Omaha7, os IowaH; outras o eram há não muito as circunsrâncias"17. E os deuses não são os únicos seres
tempo e, segundo Dorsey, nelas se encontram "todas as que o wakan anima: ele é o princípio de rudo o que vive,
194 AS FORMAS ELEAl/i/VTARES DA �7DA Rlf.l/(,/C J\ 1 I \ r RENÇAS ElT!AIENTARBS
cam sua morce e prestam-lhe deveres piedosos porque 1 1dações dn sistema totêmico como nas outras sociecla-
um deus habita nde; mas o deus nao esta mono. Ele
ererno como a espécie. Não se confunde com a geraç;u•
t· 1 h's dos Sioux"'9. Ora, entre esses povos, acima de todos
" deuses particulares aos quais os homens prestam um
presente; era já a alma da que precedeu, como será a ai , ulro, existe uma potência eminente ch amada wakan111, da
ma da que virá depois6. Porranto, ele possui todas as ca qual as demais são como que fom1as derivadas. Por causa
racterísticas cio princípio torêmico. Trata-se de um princ1 , il- sua situação preponderante no panteão sioux, esse
pio totêmico que a imaginação revestiu ele formas ligeira princípio foi visto às vezes como uma espécie ele deus so
mente pessoais. Mas uma persona lidade exagerada não lit-rano, de Júpiter ou Jeová, e os viajantes freqüentcmen
seria muito compatível com essa d ifu são e essa ubiqüida lt' traduziram wakan por "grande espírito". Era equivocar
de. Se seus contornos fossem claramente defin idos, ela ·l' gravemente sobre sua natureza verdadeira . O wakan
náo poderia dispersar-se e espalhar-se por uma mul udao 11ao é, de maneira alguma, um ser pessoal: os inc.hgenas
de coi:-.as nao o concebem sob formas determinadas. -Eles dizem,
Nesse caso, porém, é incontesrável que a noção de rnnta um observador citado por Dorsey, que jamais viram
força religiosa impessoal começa a a ltemr-se; mas há ou o wakanda; por isso, não podem pretender personificá
tros em que ela se afinna em sua pureza abstrata e atinge lo. "" Não é sequer possível defini-lo por atributos e ca
inclusive um grau de genernlidade bem mais alto do que racteres determinados. "Nenhum termo, diz Riggs, pode
na Austrália. Embora os diferences princípios totêmicos t•xprimir a sign ificação da palavra entre os Dakota. Ela
aos quais se dirigem os diversos clàs de uma mesma uibo compreende todo mistério, todo poder secreto, toda di
sejam disrintos uns dos outros, eles não deixam ele ser, no vindade."12 Os seres que o Oakota reverencia, "a Terra, os
fundo, comparáveis entre si, pois rodos desempe nham o quatro ventos, o Sol, a Lua, as estrelas, são manifestações
mesmo papel em sua respectiva esfera. Ora, há socieda dessa vida misteriosa e desse poder" que circula através
des que rivernm o sentimento dessa comunhão de nature de todas as coisas. Ora ele é representado sob a forn1a cio
za e que se elevaram, por conseguinte, à noção de uma \'ento, como um sopro que tem sua sede nos quatro pon
força religiosa única, da qual todos os outros princípios tos cardeais e que move ruclol3; ora é a voz que se faz ou
sagrados seriam apenas modalidades e que faria a unida 'vir quando o rrovão ressoa"; o Sol, a Lua, as estrelas são
de do un iverso. E, como essas sociedades estão ainda wakan1s. Mas não há enu meração capaz de esgotar essa
completamente impregnadas de totemismo, como perma noção infinitamente complexa. Não se trata de u m poder
necem ligadas a uma organização social idêntica à dos definido e definível, o poder de fazer isto ou aquilo; trata
povos aus1ral ianos, é lícito afirmar que o LOtemismo trazia se do Poder, ele uma maneira absoluta, sem epíteto nem
essa icléia no ventre. determinação ele espécie alguma. As diversas potências
É o que se pode observar num grande número de tri divinas são apenas suas manifestações particulares e per
bos americanas, especialmente as que percencem à gran sonificações; cada uma delas � esse poder visto sob u m
de família dos Sioux: Omaha, Ponka, Kansas, Osage, Assi de seus múltiplos aspectos'6. E o que levou um observa
niboin, Dakota, lowa, Winnebago, Mandan, Hidatsa, etc. dor a dizer que "se trata de um deus essencialmente pro
Várias dessas sociedades são ainda organizadas em clãs, teiforme, que muda de a l ributos e de funções conforme
como os Omaha7, os IowaH; outras o eram há não muito as circunsrâncias"17. E os deuses não são os únicos seres
tempo e, segundo Dorsey, nelas se encontram "todas as que o wakan anima: ele é o princípio de rudo o que vive,
I \ 1 /,'FVÇAS ELli.Ml!NTA RES l97
1% AS FONMAS EWMF.NTAl</fS lJA VIDA RELIG/c 1\ i
age e se move. "Toda a vida é wakan. E o mesmo aconlt w • 10 quL· e o equivalente exato do wakan dos <.;ioux e do
1 11 , mia dos lroqueses. Eb a definição de mana
dada por
ce com rudo o que manifesta algum puder, como os ,l' l l
n: "Os melanés ios crêem na existênc ia de uma
tos e as nuvens que se acumulam, o u res istência passiv.1, • • •dringto
que
l 1 1 1 l ,, absolutamente distinta de toda força materia l,
e
como o rochedo à beira do caminho."1s
Entre os lroqueses, cuja organização social tem u m •w de todas as formas, seja para o bem, seja para o mal,
orenda de de5igual intensidade. Os mais intensos subordi 1 odas as formas da vida, todas as cficácias da ação, seja
s, são
nam os mais fracos. Um homem supera seus concorrentes dos homens, dos seres vivos ou dos simples minerai
na caça ou na guerra? .É q ue ele tem mais orenda. Se um .1tribuídas à sua influência27.
às
animal escapa ao caçador que o persegue, é que o oren Portanto, não há temeridade alguma em atribuir
sociedades australian as uma idéia como a que tiramos da
da do primeiro é maior que o do segu ndo .
tra
A mesma idéia encontra-se entre os Shoshone com o .1 nálise das crenças totêmicas, uma vez que a reencon
alto ele abslraç ão e de
nome de pokunt, entre os Algonquins com o nome de ma- mos, mas levada a um grau mais
11itu2 1 , de nauala ent re os Kwakiut(22, de yek entre os Tlin na base ele rel igi õ es que mergulh am suas
general idade,
kit23 e de sgâna entre os Haida24. Mas ela não é panicular raízes no siste ma australia no e que trazem visivelmenlc
aos índios da América; foi na Melanésia q ue se a estudou sua marca. As duas concepcões são manifestamente apa
pela primeira vez. É verdade que, em certas ilhas melané rentadas; diferem apenas em grau. Enquanto o mana é di
para
sias, a organização social atualmente não é mais de base fuso em todo o universo, o que chamamos deus, ou,
ser mais exato, princípio totêmico , está localizad o n um
totêmica; mas em todas elas o totemismo é ainda visíveJ25
não importa o que tenha dito Codrington a respeito. ora : círculo, certamente muito extenso, porém mais limitado,
encontramos nesses povos, sob o nome de mana, uma de seres e ele coisas de espécies diferentes. É mana, mas
I \ 1 /,'FVÇAS ELli.Ml!NTA RES l97
1% AS FONMAS EWMF.NTAl</fS lJA VIDA RELIG/c 1\ i
age e se move. "Toda a vida é wakan. E o mesmo aconlt w • 10 quL· e o equivalente exato do wakan dos <.;ioux e do
1 11 , mia dos lroqueses. Eb a definição de mana
dada por
ce com rudo o que manifesta algum puder, como os ,l' l l
n: "Os melanés ios crêem na existênc ia de uma
tos e as nuvens que se acumulam, o u res istência passiv.1, • • •dringto
que
l 1 1 1 l ,, absolutamente distinta de toda força materia l,
e
como o rochedo à beira do caminho."1s
Entre os lroqueses, cuja organização social tem u m •w de todas as formas, seja para o bem, seja para o mal,
orenda de de5igual intensidade. Os mais intensos subordi 1 odas as formas da vida, todas as cficácias da ação, seja
s, são
nam os mais fracos. Um homem supera seus concorrentes dos homens, dos seres vivos ou dos simples minerai
na caça ou na guerra? .É q ue ele tem mais orenda. Se um .1tribuídas à sua influência27.
às
animal escapa ao caçador que o persegue, é que o oren Portanto, não há temeridade alguma em atribuir
sociedades australian as uma idéia como a que tiramos da
da do primeiro é maior que o do segu ndo .
tra
A mesma idéia encontra-se entre os Shoshone com o .1 nálise das crenças totêmicas, uma vez que a reencon
alto ele abslraç ão e de
nome de pokunt, entre os Algonquins com o nome de ma- mos, mas levada a um grau mais
11itu2 1 , de nauala ent re os Kwakiut(22, de yek entre os Tlin na base ele rel igi õ es que mergulh am suas
general idade,
kit23 e de sgâna entre os Haida24. Mas ela não é panicular raízes no siste ma australia no e que trazem visivelmenlc
aos índios da América; foi na Melanésia que se a estudou sua marca. As duas concepcões são manifestamente apa
pela primeira vez. É verdade que, em certas ilhas melané rentadas; diferem apenas em grau. Enquanto o mana é di
para
sias, a organização social atualmente não é mais de base fuso em todo o universo, o que chamamos deus, ou,
ser mais exato, princípio totêmico , está localizad o n um
totêmica; mas em todas elas o totemismo é ainda visíveJ25
não importa o que tenha dito Codrington a respeito. ora : círculo, certamente muito extenso, porém mais limitado,
encontramos nesses povos, sob o nome de mana, uma de seres e ele coisas de espécies diferentes. É mana, mas
198 AS PONMA S H.EIWENTA/?ES DA Vll)A REl/GIC!.\i I \ 1 'JWNÇAS ELEMl'.N/A/U!.S 19':)
que todas as coisas, animadas ou inanimadas, sao capel a que goza de larga
penetr.tdas por um princípio comum de vida; a segunda e
1'..J a da igreja tribal; mas é uma
celebra , sem formar um
29 Ora, esse princípio comum <lc
1 1 1depend ência. O culto que aí se
que ess..i \'ida é co núnu a . ''
" ido auto-suficiente, mantém, no entamo, com o� dcma1�
vicia é o wakan. O totem é o meio pelo qual o indivíduo se pe
1 renas relações exteriores: eles se justapõem sem
ado pa-
se coloca em relação com essa fonte de energia; se o ro netrarem·' o totem de um clã só é plenamente s agr
tem tem poderes, é porque encarna o wakan. Se o homem 1 ,1 esse c lã. Por consegu inte, o grupo
das coisas que di-
que violou as i nterd ições que protegem seu totem é ataca em res pe it o a cada clã e que fazem parte dele tanto
a n;es
do pela clocns,-a ou a morte, é porque a força misteriosa dian quanto os homens, tem a mesma in<livi dualidad � e
te ela qual se depara, o wakan, reage contra ele com uma represe ntado como 1rreduu vel
ma autonomia. Cada qual é
intensidade proporcional ao choque sofrido30 . Inversa similare s, como que sepa ra do deles por uma
.1os grupos
é wakan o wakan, �
.
mente, do mesmo modo que o totem éc1 e e
,
�olução de conLinu idadc, constiLU indo u.ma esp .
por sua vez, lembra, às vezes, pela maneira como é conce a 1de1a
reino distinto. Nessas condições, não podia surgir
bido, suas origens totêmicas. Com efeito, e ntre os Dakota, mani
de 4ue esses mundos hetcrogêncos fossem apenas
funda
diz Say, o wahcon da se manifesta ora sob a forma de um
" "
t cstaçôes variada s de uma única e mesma força
deles
urso cinzento, ora de um bisão, de um castor ou de algum mental· devia-se ao contrário, supor que a cada um
outro animaf3 1 . Claro que essa fórmula não pod er i a ser � �
corres ondia u 1 mana especificamente diferen
te e cuja
aceita sem reserva. O wakan é avesso a tod a perso n ifi ca .1ção n ão po dia estende r-se além do clã e do c
í rculo de
,
ção e, portanto, é pouco provável que alguma vez tenha ídas. A noção de um mana urn
sido pe nsado cm sua genera l idade abstrata com o auxílio
coisas que lhe eram atribL1
l'O e u niversal só podia nascer a partir
do momento cm
de sí mb olo s tão definidos. Mas a observação de Say apli dos cul
que uma religião da tribo se desenvolvesse acima
ca-se prova ve l me n te às formas pa rticu la res que ele assu e os absorve sse mais ou menos c om pletame n
tos de clãs
ll!. Foi com o sentido da u nidade tribal que despert
me ao especial izar-se na realidade concreta da vida. Ora, ou o
ente,
se realmente houve um tempo em que essas especializa sentido da unidad e substan cial elo mundo . Certam
ções cio wakan test emun havam uma afinidade tão marca emos mais adiante 33 que as socieda des da Austrá
mostrar
da pela forma animal, teríamos aí mais uma prova elos la M�s ' se
lia já conhecem um culLo comum à tribo inteira. ._
ços estreitos que unem essa noção às crenças totêmic as 32. nta a forma mais elevada das reltg1oe s
esse culto represe
ios so
Pode-se, aliás, ex plica r por que, na Austrália, a idéia australianas, ele não conseguiu modificar os princíp
de mana era incapaz de atingir o grau de abstração e ge- almen-
bre os quais elas repousam: o totemismo é essenci
198 AS PONMA S H.EIWENTA/?ES DA Vll)A REl/GIC!.\i I \ 1 'JWNÇAS ELEMl'.N/A/U!.S 19':)
que todas as coisas, animadas ou inanimadas, sao capel a que goza de larga
penetr.tdas por um princípio comum de vida; a segunda e
1'..J a da igreja tribal; mas é uma
celebra , sem formar um
29 Ora, esse princípio comum <lc
1 1 1depend ência. O culto que aí se
que ess..i \'ida é co núnu a . ''
" ido auto-suficiente, mantém, no entamo, com o� dcma1�
vicia é o wakan. O totem é o meio pelo qual o indivíduo se pe
1 renas relações exteriores: eles se justapõem sem
ado pa-
se coloca em relação com essa fonte de energia; se o ro netrarem·' o totem de um clã só é plenamente s agr
tem tem poderes, é porque encarna o wakan. Se o homem 1 ,1 esse c lã. Por consegu inte, o grupo
das coisas que di-
que violou as i nterd ições que protegem seu totem é ataca em res pe it o a cada clã e que fazem parte dele tanto
a n;es
do pela clocns,-a ou a morte, é porque a força misteriosa dian quanto os homens, tem a mesma in<livi dualidad � e
te ela qual se depara, o wakan, reage contra ele com uma represe ntado como 1rreduu vel
ma autonomia. Cada qual é
intensidade proporcional ao choque sofrido30 . Inversa similare s, como que sepa ra do deles por uma
.1os grupos
é wakan o wakan, �
.
mente, do mesmo modo que o totem éc1 e e
,
�olução de conLinu idadc, constiLU indo u.ma esp .
por sua vez, lembra, às vezes, pela maneira como é conce a 1de1a
reino distinto. Nessas condições, não podia surgir
bido, suas origens totêmicas. Com efeito, e ntre os Dakota, mani
de 4ue esses mundos hetcrogêncos fossem apenas
funda
diz Say, o wahcon da se manifesta ora sob a forma de um
" "
t cstaçôes variada s de uma única e mesma força
deles
urso cinzento, ora de um bisão, de um castor ou de algum mental· devia-se ao contrário, supor que a cada um
outro animaf3 1 . Claro que essa fórmula não pod er i a ser � �
corres ondia u 1 mana especificamente diferen
te e cuja
aceita sem reserva. O wakan é avesso a tod a perso n ifi ca .1ção n ão po dia estende r-se além do clã e do c
í rculo de
,
ção e, portanto, é pouco provável que alguma vez tenha ídas. A noção de um mana urn
sido pe nsado cm sua genera l idade abstrata com o auxílio
coisas que lhe eram atribL1
l'O e u niversal só podia nascer a partir
do momento cm
de sí mb olo s tão definidos. Mas a observação de Say apli dos cul
que uma religião da tribo se desenvolvesse acima
ca-se prova ve l me n te às formas pa rticu la res que ele assu e os absorve sse mais ou menos c om pletame n
tos de clãs
ll!. Foi com o sentido da u nidade tribal que despert
me ao especial izar-se na realidade concreta da vida. Ora, ou o
ente,
se realmente houve um tempo em que essas especializa sentido da unidad e substan cial elo mundo . Certam
ções cio wakan test emun havam uma afinidade tão marca emos mais adiante 33 que as socieda des da Austrá
mostrar
da pela forma animal, teríamos aí mais uma prova elos la M�s ' se
lia já conhecem um culLo comum à tribo inteira. ._
ços estreitos que unem essa noção às crenças totêmic as 32. nta a forma mais elevada das reltg1oe s
esse culto represe
ios so
Pode-se, aliás, ex plica r por que, na Austrália, a idéia australianas, ele não conseguiu modificar os princíp
de mana era incapaz de atingir o grau de abstração e ge- almen-
bre os quais elas repousam: o totemismo é essenci
IWNÇAS ELl..!MHNTARES 201
200 AS FORMAS W.BMENTARES DA VlDA NEUCTOS11 11 r
te uma religião federativa que não pode ultrapassar certo l 1 1 1 . 1 -se, pois, muito precisamente, de u m mana nocivo.
grau de centralização sem deixar de ser o que é. 1 t 1 1•y assinala nas tribos que observou uma noção exata-
1 1 1r•11tc idêntica37. Assim, entre esses diferentes povos, en-
1 p 1. 1 11to as forças propriamente religiosas não conseguem
Um fato característico mostra bem que é essa a razão
profunda que, na Austrália, manteve a noção ele mana
nesse estado de especialização. As forças propriamente , . desfazer de uma certa heterogeneidade, as forças mági
religiosas, pensadas sob a forma dos totens, não são as ' ,., são concebidas como sendo todas da mesma natureza:
únicas com as quais o australiano se crê obrigado a con , t l l representadas aos espíritos em sua unidade genérica.
1 1 >1110 pairam acima ela organização social, acima de suas cli
' hocs e subdivisões, elas se movem num espaço homogê-
tar. Há também aquelas de que o mágico, mais particular
ac.lo-
mos de descrever um conjunto, sistematicamente articul 1 ,, , 1 1 animismo. Se o Sol, a Lua e as estrelas foram
do, de <..rença:. religiosas que temos motivos para cons1tk 1 1 1 11 1-., nào deveram essa honra à sua natureza intrínsec a,
rar como muico primi tivo, no entanto não encontramos rw 1 1 1 .ts proprie dades distintiv as, mas ao fato de terem si-
é a
le personal idades desse cipo. O culto propriamente totêm 1 11 1 , oncebidos como particip antes dessa força que
co não se dirige nem a estes animais ou àquelas plantas til· 1 1 1 111 .1 .t conferir às coisas seu caráter sagrado , que se en
me ?tc num rito. e-.cc se tornará, através dela, criad1 •r 1 n.1 qu�I :>s ritos teriam se dirigido a forças impessoais
divindades '5. E is também por que calvez nao haja pl'r" ' 1 1 uno o mana melanésio ou o wakan dos Omaha e
nalidade divina q u e não conserve algo de i m pesso.11 1 1 1 >.1kota�11. Contudo, Marrete não chegava a afirmar
Mesmo aqueles que a concebem mais claramente �· 11 11u !.L'mpre e em todos os casos. a noção de esp írito é
u ma forma concreta e sensíve l , pe n sa m- na, ao m es 11 11 1 1 •••1t: . 1 cronologic.-amente posterior à de
mana e dela de
t 1\ 1d.1, ele parecia até disposto a ad mitir que essa nocão
L'
tempo, como u m poder abstrato que só poc.lc ser definido
pela naLUreza de sua eficácia, como uma força que se dt·' 1t 1 1.1 .1s vezes se constituído de maneira independente e
l i " po rt anto, o pensamento religioso decorre de uma
dobra no espaço e que esrá, ao menos em parte, em cad.1
um de seus efeiLOs.
É o poder de produzir a chuva ou o vento, a colhl' 1 l . 1
l1q1l.1 l"ontei?. Por outro lado, concebia o mana como uma
ade fossem
Lraliano.s, não são capazes de produzir no homem essa' 1 1 quase divindade, se o grupo e . a divind _
grandes e fortes impressões que por algum aspecto se as des clisrint as? Por conseguinte , o deus do ela, o
d1 1,1, reaJida
semelhem às emoções re l ig iosas e de imprimir nos obje 1 11 1 1 1npio rotêm ico, só pode ser o própr
io clã, mas hiposrn-
s sob as apare nc1as
ros que as suscitam um caráter sagrado. Claro que o mcs 1 . i d o e representad o às imagi naçõe
serve de totem.
mo não vale para os astros, para os grandes fenômenos , 1 1s1veis do vegetal ou do anima l que
ose e por que ela
atmosféricos que, ao contrário, têm tudo para impressio Mas como foi possível essa apote
nar as imaginações; mas ocorre justamente que só em cir , , uTcu desse modo ?
cunstâncias muito excepcionais eles servem de totens; :
(
provável inclusive que tenham sido chamados a cumprir
esse ofício apenas tardiamente'. Portanto, não era a natu li
reza intrínseca da coisa cujo nome o clã trazia que a de
a de que uma
::>ignava a ser objeto de um culto. Aliás, se os senlimentos D<:: uma mane ira ge ra l , não há dúvid
que ela i nspira fossem rea lmente a causa determinante tem tudo o que é precis o para desperrar nos
'incicdade
sobre eles, a sen-
dos ritos e das crenças rotêmicas, essa coisa seria também , .piriros, pela simples ação que exerce
I\ ,10 do divino; pois
o ser sagrado por excelência; os animais ou as plantas ela é para seus memb ros o que um
, orno superior a si
culto encontra-se noutra parte. São as representações fi mesm o e do q u a l acred ira depender.
t,h1er
gurativas dessa planta ou desse animal, sào os diversos se trate de u m a perso nalida de consc renre, como
s abstra tas, como aquel as
emblemas e símbolos totêmicos que possuem o máximo f.l·u s ou Jeová, quer de força
ri: s os ca�os,
l H >Stas em ação
de santidade; é neles , portanto, q u e está a fonte da reli no totem ismo' o fiel, e ambo
. _
giosidade, e os objetos reais que esses emblemas repre crê obriga do a certas manet ras de agrr que lhe sao rm
,(
i •o stas pela natureza do princípio sagra
sentam não recebem senão um reflexo dela_ do com o qual se
• 1· ntc em canta
Assim, o totem é antes de tudo um símbolo, a ex ta. Ora, ramb ém a socie dade provoca em
sistir a uma corrente muito forte da opinião pública ' cor . • 11 > de uma assembléia que uma paixão comum inflama,
rerá o risco de perder seu crédito6. I• 11 11<1mo-nos suscetíveis de sentimentos e atos de que sería-
Uma vez que é por vias mentais que a pressão social 1 1 1ns incapazes quando reduzidos a nossas sm i ples forças;
se exerce, ela não podia deixar de dar ao homem a idéia " quando a assembléia é dissolvida, quando, novamente
de que existe fora dele uma ou várias forças, morais e ao .11�. recaímos em nosso nível ordinário, podemos avaliar
mesmo tempo eficazes, das quais depende. Essas força:-, 1 1 1 1 :10 a altura a que fôramos elevados acima ele nós mes-
1 1 1os. A história está cheia de exemplos desse tipo. Basta
1 H'nsar na noite de 4 de agosto [de 1789], em que uma as
ele devia concebê-las, em parte, como exteriores a ele, j:i
que lhe falam num tom de comando, inclusive ordenan
cio-lhe às vezes a praticar violência contra suas inclinaçõe:-, ,, 111hléia foi de repente levada a um ato ele sacrifício e ab-
mais naturais. Certamente, se ele pudesse ver imediata 1 wgação ao qual cada um de seus membros se recusava na
1 1 .pera e do qual todos se surpreenderam no dia seguin
terá mais
Além desses estados passageiros ou intermirentes. lt.1 l1.1rmon ia moral com seus compa nheiros , e l e
como o
outros mais dur5veis em que essa influência Lonificante d.1 , nnfiança, coragem, ousadia na ação, exatamente
olhar de seu deus voltado com bene
sociedade se faz sentir com mais continuidade e muita� l w l que crê sentir o
sus-
vezes até com mais impacLo. Há períodos his Lóricos e111 volência para ele. Produz-se, assim, como que uma
que, sob a influência de uma grande comoção col et iva a� , 11·n1ação perpétua de nosso ser mora l . Como ela
varia con
res,
interações sociais Lomam-se bem mais freqüentes e ativa!> lmme grande quantid ade de circuns tâncias exterio
que nos
Os indivíduos se procuram, se reúnem mais. Disso resulta rnnforme nossas relações com os grupos sociais
que são
uma efervescência geral, característica das épocas revolu , l'rcam sejam mais ou menos ativas, conforme o
s deixar de senlir que esse vigor
218 A� FORMAS ELEAl.&\TARES f)A VIDA REIJ<.J1 1 t 1 /(/ \( 1.\ ELEMHNTARES 219
de exaltação. Cada sentimento exrresso vem repercu ti! 111e a luz das fogueiras penetra aqui e ali, conceberemos
sem resistência, em todas essas consciências largarnent < ' l.1cilmente o efeito que devem produzir semelhantes ce-
abertas às impressões exteriores: cada uma delas ecoa a�. 1 1as sobre o espírito ele todos os seus participantes. Essas
outras e reciprocam ente. O impulso inicial vai assim s< · t l'nas determinam uma superexcitação tão violenta ela vi
amplificando à medida que repercute, como uma avalan da física e mental, que esta não pode ser suportada por
che aumenta à medida que avança. E corno paixões tão lllUito tempo: o ator que detém o papel principal acaba
intensas e tão liberadas ele todo controle não podem dei por cair exausto no d1ão2s .
xar ele se extravasar, o que se vê, de todos os lados, são Eis, em acréscimo, para ilustrar e precisar esse qua
gestos violentos, gritos, verdadeiros urros, ruídos ensurdc dro necessariamente esquemático, o relato de algumas ce
cedores, que contribuem rara intensificar ainda mais o es nas que tomamos emprestadas ele Spencer e Gillen.
taclo que manifestam . É claro que, como um sentimento Uma das solenidades religiosas mais imporrames en
coletivo só pode se exprimir se observar uma certa ordem tre os Warramunga é a que concerne à serpente Wollun
que permita a coordenação e os movimentos ele conjunto, qua. Trata-se ele uma série de cerimônias que se desen
esses gestos e esses gritos tendem naturalmente a ritmar volvem por vários dias. No quarto dia, tem lugar a que
se e a regularizar-se; daí, os cantos e as danças. Mas, ao vamos descrever.
tomarem uma forma mais regular, eles nada perdem de De acordo com o cerimonial praticado pelos Warra
sua violência natural: o tumulto regulado rermanece tu munga, representantes elas duas fratrias dela participam,
multo. A própria voz humana é insuficiente nessas ocasiões. uns na qualidade ele oficiantes, outros como preparadores
Sua ação é reforçada por rrocedimentos artificiais: batem e assistentes. Apenas os membros da fratria Uluuru estão
se os bumerangu es uns contra os outros · fazem-se girar qualificados para celebrar o rito, mas são os da fratria Kin
os hull-roa rers. É provável que esses ins rumentos, cujo
; gilll que devem ornamentar os atores, preparar o local, os
emprego é tão generalizad o nas cerimônias religiosas da instrumentos e desempenhar o papel da assistência. São
Austrália, tenham se1vido, antes ele tudo, para traduzir de também encarregados ele fazer previamente, com areia
maneira mais adequada a agitação experimentada. Mas, molhada, uma espécie de montículo sobre o qual é exe
ao mesmo tempo que a traduzem, eles a reforçam . A efer cutado um desenho, feito de penugem vermelha, que re
vescência chega muitas vezes a rrovocar atos inusitados. presenta a serpente Wollunqua. A cerimônia propriamen
As paixões desencadeadas são de tal impetuosidade que te dita, à qual Spencer e Gillen assisliram, só começou de
não se deixam conter por nada. As pessoas se sentem fora pois de anoitecer. Por volta ele dez ou onze ela noite, os
elas condições ordinárias da vida e têm tanta consciência Uluuru e os Kingilli chegaram ao local; sentaram-se no
disso que experimentam como que uma necessidade ele montículo e puseram-se a cantar. Todos estavam num es
colocar-se fora e acima da moral ordinária . Os sexos se tado ele evidente superexcitação (euery one was evidentlr
juntam contrariamente às regras que presidem ao comér uery excited) . Um pouco mais tarde, os Uluuru trouxeram
cio sexual. Os homens trocam suas mulheres. Às vezes suas mulheres e as emregaram aos Kingilli29, que tiveram
até uniões incestuosas, que em tempos normais são julga relações com elas. A seguir foram chamados jovens re
das abomináveis e severamente condenadas, se realizam cém-iniciados, aos qua;s toda a cerimônia foi explicada
ostensiva e impunemen te27. Se acrescentarmos que tais em detalhe, e até as três ela madrugada os cantos prosse
cerimônias ocorrem geralmente à noite, em meio às trevas guiram sem interrupção. Aconteceu, então, uma cena de
224 AS FORMAS ELEMEIVTARES DA VIDA RELIGl<J.\. I 1\ 1 /U:YÇAS ELEMENTARES 225
um frencsi verdadeiramente selvagem (a scene of the u·i/ A f111 11<1ça, as tochas ílamcjantes, essa chuva de fagulhas,
dest excilement). Enquanto as fogueiras, acesas de todos , '" amontoado de homens dançando e urrando, tudo is-
os lados, faziam sobressair violentamente a brancura do' 1, dizem Spencer e G illen, formava uma cena de uma sei
eucalipLos no fundo das trevas em volta, os Uluuru se ajoc.: \ 1�l ria impossível de descrever com palavras."3
1
lharam uns aLrás dos outros ao lado do tümulo da serpen Concebe-se sem dificuldade que, chegado a esse es-
Le; depois, levantando-se todos de uma só vez, com a), 1 . 11 lo de exaltação, o homem não mais se reconhece. Scn-
duas mãos apoiadas nas coxas, e ajoelhando-se de novo 1 1 mlo-se dominado, arrebatado por uma espécie de poder
um pouco mais adiante, foram dando a volta ao montícu 1 )(lt:rior que o faz pensar e agir de modo diferente que o
lo. Ao mesmo Lempo, inclinavam seus corpos ora à direi ""'mal, nacuralmente tem a impressão de não ser mais ele
ta, ora à esquerda, todos soltando, a cada u m des...,es mo 1 1 1 1 smo. Parece-lhe Ler-se tornado um ser novo: os orna-
v i mentos, um g r i t o reLumbante, um verdadeiro urro, 1m ntos, as máscaras que cobrem seu rosLo, figuram mate-
}'n-shl Fmbl }17�/J/Enquanto isso, os King1Jli, num grande 11.dmence essa transformaçáo 1ncenor, mais ainda cio que
estado de exaltação, faziam ressoar seus bumerangues, e , 1 1 11Lribuem para determiná-l a. E como todos os seus com
o chefe deles parecia ainda mais agitado que os outros. p.mheiros, no mesmo momento, sentem-se cransfiguraclos
As
sim que a procissão dos Ulu uru deu duas voltas ao re 1 l.1 mesma maneira e traduzem seu sentimento por grilos,
dor do montículo, eles deixaram a posição ajoelhada, sen �·l·sLos, atitudes, tudo se passa como se ele realmente fos
Lamm-se e puser..tm-se de novo a cantar; por momentos, o .,•. transportado a um mundo especial, muito diferente
da
canto arrefecia, depois recomeçava bruscamente. Quando ' (t1cle onde cosruma viver, a um meio povoado de forças
começou a ama nhecer, Lodos se levantaram; as fogueiras , xcepcionalmenle intensas que o invadem e o metamor
que extinguiam foram reavivadas e os Uluuru, pressio loseiam. De que forma experiências como estas, sobretu
do quando se repetem todo dia durante semanas, não lhe
se
ma n ifestação ritual não se ja dirig ida aos Jcuses. Na Au' t lt· nns suge re impressões e idéias tristes. Essa transferên
trália, ao contrário, fora elas festas cio clã e da tribo
0 Lcrn
' 1.1 de semimenLrn; advém simplesmente de que a idéia ela
• 1 11sa e a idéia de seu símbolo estão in t i m am ente l igada s
po é q u ase inteiramente preenchido por funções
l
• 111 nossos espí ri tos ; disso resulta que as emoções provo
e iga� t ·
p�·ofanas Claro que há p roi bições que devem ser e qw
.
sao observadas mesmo du rant e esses períodos de t tdas po r uma se esLe ndem co nta gi osament e à outra . Mas
alivid;i
de temporal : ja ma is é perm itido matar ou a l ime
ntar-se 11 1 ...se co ntágio, que sempre se produz em algum grau, é
vre mente do animal torêmico, pelo menos onde a imerdt 111uito mais completo e marcante toda vez que o símbolo
ção� conser vou seu rigor prim itivo, mas não 1 .dgo sim ples, d efi n i do, facilmente r eprese n táv e l , ao pas
se celehra ,
entao, quase nen hum rito positivo , nenhum a c "ll que a coisa, por suas dimensões, o n ú mero ele suas
erimôni ; t
d e alg um.a imponância. Estas s ó ocorrem n o seio dos gru p.1nes e a co mpl ex ida de de sua organização, é c..l ifícil de
pos reunidos. A vida religiosa do australi ano 1harcar pelo pensamento. Pois não poderíamos considc
passa. por
tanto, por fases sucessivas de completa atonia ' 1 1 numa entidade abstrata, que só represen tamos lalJOrio
e ao con
trário, de h iperexcitação, a vida social osci lan d ... . 1 mente e com uma noção confusa, a origem cios senti
o ' de acor
a 0 vín
do com o mesmo ritmo . É o q ue põe cm evidênci mentos fortes que experimentamos. Não po de mos expl i
c � i lo exi� t�nte entre ambas, enquanto que, entre os povos l a -l os a nós mesmos senão re laci onan do-os a um objeto
d ilos civili zados, a continu idade relaLiva de uma e da ou concreto cuja real idade sentimos vivamente. Portamo, se
tra n�ascara e ?1 ?ª r�e su as rel a ções . Pode-se mesmo .1 própria coisa nã o preenche essa condição, não pode
per
guntar se a violenc1a desse contraste não e ra
necessária ...crvir para nela fixarem-se as impressões exp erimentadas,
p�a f�zer sobressair a se nsação do sagrado em sua fom1a l'mbora cenha sido ela que as provocou . É o si gn o então
primei ra . Ao concentrar-se quase inteiram ente que toma seu lugar; é para ele que se voltam as emo ções
e m mo
mentos determinados do tempo, a vida coletiva que ela suscita. Ele é que é amacio, te mido , respeitado; a
podia al
cançar, com efeiLo, o máximo de imensidade e
de eficácia de somos gratos, por ele nos sacrificamos. O soldado que
e, poitanto, dar ao homem um senti mento mai morre por sua ba ndei ra , morre por sua pátria, mas de fa
s fone da
du p! ª existência que ele vive e da dupla narurez
a da qu al lo, em sua consciência, éa idéia da bandeira que está em
pa mapa .
.
primeiro pl a no. Ocorre inclusive que ela determine direta
mente a ação. Se u ma bandeira isolada permanecer ou
Mas a ex pl icação é ai nda incompleta. Mostramos de não nas mãos do inimigo, a pá tri a não estará p e rdida por
que forma o clã, pela maneira como age sobre seus mem isso, no entanto o soldado se faz matar para relomá-la.
br?s, desperta neles a idéia de forças exteriores que o clo Perde-se de vista que a bandeira é apenas um signo , que
rn111am e o e�ltam ; mas resta-nos saber o que faz que es não tem valor por si mesma, mas somente faz lembrar a
sas forças SCJam pensadas sob as es pécies do totem ' ou realidade que representa; tratam-na como se ela próp ria
si;ja, sob a fi g ura de um animal ou de u ma planta. fosse essa rea l ida de .
A razão é que esse animal ou essa pl a nta deram seu Ora, o totem é a ba nde ira do clã. É natural, portanto,
nome ao clã e lh e seivem de em blema . Com efeito é uma que as impressões que o clã desperta nas consciências in
lei co n h:cida qu e os sentimen tos despertados em � ós por dividua is - impressões de d epe n dência e de vitalidade
uma coisa se transmitem es pon t a n e a me nt e ao símbolo acrescida - se liguem muito m a is à idéia do totem que à
q ue a representa. O preto é para nós sinal de luLo; assim, do clã, pois o clã é uma real i da de de m asia d o complex a
I\ f.Nf-\ÇAS E/.EMEtv7A RliS
228
229
para que inteligências tão rudimentar
la claramente em sua unidade concreta.
es possa m conce l w
Aliás, o primi 11\o
1 111.1is os homens se sen1em cm contato, e assim se ex-
lhe vêm d . 1
1 ,fl, .1 que eles tenham sido levados a conc� ber essas for:
\ J -..ob os traços e.lo ser, animado ou inammado, que da
nem mesmo percebe que essas i mpressões
d 11 nome ao clã.
coletividade. Não sabe que a apro ximacão
de um certo
número de homens associados numa mesma
vida tem pc 11 Isto rosto, eslamos em condições de compreender
efeito liberar energias novas que transforma
deles. Tudo o que ele sente é que é erguido
m cada um 111clo o que há de essencial nas crenças tot�micas. _
ucima ele ,, l á que a força religiosa não é ouLra c01sa senao a for
> letiva e anônima do clã, e já q ue esta só é represe �
mesmo e que vive uma vida diferente da comu
� 1 \·�
m. EntH·
' 11 c.:I aos espíritos sob a forma do totem, o �mblema LOle-
tanto, é preciso que ele relacione essas sensa
ções a algum
objeto exterior como à causa delas. Ora, o
que ele vl' .1 1 1 1 1 1 o é como que o corpo visível cio deus. E dele, po�an-
seu redor? Em tod�1 parte, o que se oferece
a seus sen11
dos, o que, cham a sua atenção, são as mCllLip
l.is i magc 1 1 �
1 1 1, que parecem emanar as ações, benéficas ou Lem1clas,
e.lo tolem. E o wanin ga, o nurtu nja, símbolos , 111v o culto tem por objetu provocar ou prevenrr; em on
_
�
· •·qiiência, é especialmente a ele que se dmgem os ntos .
entre outrm
e.lo ser sagrado. São os bull-roarers, os churi
nga, sobre m. \ sim se explica que, na série elas coisas sagradas, ele
•x upe o primeiro lugar.
quais geral ment e são gravadas comb inaçõ
es ele linha .,
que têm a mesma significa<,.-ão. São as ornamentaç
ões qu•· . ,
Mas o clã, como toda espécie de sociedade, so pode
cobrem as diferentes partes de seu corpo e que
são outras
tantas marcas totêmicas. Como é que essa image , 1vl'r nas e através das consciências individuais que o
, 1 1 1 npôem. Assim, se por um lado, enquanto é conce�ida
m, repeti
ela por toda parte e sob todas as formas, não
teria nos es 1 11110 incorporada ao emblema totêmico, a força religiosa
_
píritos uma importância excepcional? Assim
colocada no ílparece como exterior aos indivíduos e � ot�da, em rela
\ . t < > a eles, de uma espécie de transcendencia, por outro
centro ela cena, toma-se represemativa dela.
É nela que se:
füc am os sentimentos experimentados, pois é
o único oh l.1do, assim como o clã de que é símbolo, ela só pode s:
Jeto concreto ao qual eles podem se ligar. Ela
lembrá-los e a evocá-los, mesmo dissolvido
continua a l l 'al izar neles e através deles; neste sentido, a força reli
o encontro; giosa lhes é, portanto, imanente e eles a concebem neces-
pois sobrevive a este, gravada nos instrument
o do culto. 11 1,1mentc como tal. Sentem-na presente e atuante neles,
nas superfícies das rochas, nos escudos, etc.
as emoçôes sentidas são perpetuamente conse
Através dela, poh é ela que os eleva a uma vida superior. E !s aí como º
rvadas e rea _ _ ,
\ivadas. Tudo acontece, lrornem acreditou que havia nele um pnnc1p10 compara
sc diretamente. É ainda mais natur
portanto, como se ela as insrira.�
' vi ao que reside no totem; como, portanto, alribuiu a si
al atribu í-las a ela por
que, como essas emoções são comuns ao l l lL'smo um caráter sagrado, mas menos marcante que o
dem ser relacionadas a uma coisa que lhe seja
grupo, só po do emblema. É que o emblema é a fonte eminente da vi
igualmente d.1 religiosa; o homem só participa dele indiretamente e
comum. Ora, o emblema totêmico é o único a
11 · 1 1 1 LOnsciênci<1 disso: percebe que a força que o tr.ins
satisfazer 1
essa condição. Por definição, ele é comum
a Lodos. Du porta ao círculo das coisas sagradas não lhe é inerente,
ranle a ccrimônia, é o ponto de convergênc
ol hares . Enqu a nto as gerações muda m, ele
ia de todos os rnas lhe vem de fora.
perma nece Por uma outra razão, os animais ou vegetais ela espé
imutável: é o elemento perrnaneme da vida socia
l. É dele, ' re totêmica deviam ter o mesmo caráter, e até em mais
portanto, que parecem emanar as forças miste
riosas com .tlto grau. Pois, se o princípio torêmico não é outra coisa
VTDA REUGIC1\4 I \ 1 /<I·\"ÇAS Elf:.A-fENTARES
231
230 AS FORMAS Ei.EJlfl!1VTARES DA
senão o clã, o que o embkma representa é o clã pensadc 1 Agora nos explicamos de onde vem a
a mbigü idacle
de pesadelo criado por e l e próprio, o hom<.:m t<.:ria " 1 ela fa:t parte dele e. porcanto quando ele cede aos
acreditado cercado de forças hoscis e cerníveis que cabcri.1 l11 1pulsos vindos dela, nao acredita ceder a uma coerçao,
aos ritos apaziguar. Acabamos de mostrar que as prinwi 1 1 1 " 1 1 aonde sua natureza o chama37.
ras religiões têm uma origem completamente diferente. A O ra, essa maneira de entender a gênese do pensa
famosa fórmula Primus in orbe deosfecit timor• de ma "'' 1110 religioso escapa às objeç;ões que as teorias cláss i-
neira nenhuma é justificada pelos fatos. O primitivo n;ío 1 1 mais acreditadas levantam.
viu, em seus deuses, esLrangeiros, inimigos, seres e.ssencial Vimos como naturistas e animistas pretendiam cons-
mente e necessariamente maléficos cujos favores era obri 1 1 1 1 1 r ,1 noç-::io de seres sagrados com as sensações provoca
gado a atrair a qualquer preço; muito pelo contrário. são i ! " em nós por diversos fenômenos de ordem física e bio
antes amigos, parentes, protetores naLUrais. Não é assim li •g1ca e mostramos o que essa tentativa tinha de impossí
que ele chama os seres da espécie cotêmica? A potência :1 \'< 'I e mesmo ele contraditória. Nada provem de nada. As
qual se dirige o culto não é representada paira ndo muito 111 1 prcssõcs que o mundo físico dcsrcna em nós não po
acima dele e esmagando-o com sua su periori dade· ao o ll' ii am, por definição, conter nada que ultrnpassasse esse
cont rário, está bem perto dele e lhe confere poderes teis Ú 11111ndo. Com o sensível, não se pode produzir senão o
que ele não extrai de sua natureza. Talvez nunc-J a divin .\'llsível; com o extenso, não se pode fazer o inexrenso.
dade esteve mais próxima do homem do que nesse mo \·,sim, para poder explicar como a noção do sagrado pô
mento da história, jã que está presente nas coisas que po "" :-.e formar nessas condiçôes, a maior parte desses teóri
voam seu meio imediato e é, em parte, imanence a ele ' os era obrigada a admitir que o homem sobrepôs à rea li
próprio. O que está na raiz do totemismo são, em última dade, tal como é dada à observação, um mundo irreal,
análise, sentimentos de alegre confiança mais cio que de • onstruíclo inteiramente com as imagens fantasmáticas que
terrorde opressão. Descontados os ritos funerários - la
e 1gitam seu espírito durante o sonho, ou com as abermçôes
do sombrio de toda religião -, o culto totêmico celebra-se �l·1.1lmente monstruosas que a imaginação mitológica teria
em meio a cantos, danças, representações dramáticas. As produzido sob a influência prestigiosa, mas enganadora,
expiações cruéis, como veremos, são relativamente raras; 1 la l i nguagem. Mas, com isso, tomava-se incompreensível
mesmo as muci lações obrigatórias e dolorosas da inicia 1 1 ue a humanidade se obstinasse, dumnte séculos, em er
ção não têm esse caráter. Os deuses ciumentos e terríveis ros que a experiência logo lhe teria feito perceber.
Do nosso ponto ele vista, essas dificuldades desapa
recem. A reli gi ão deixa ele ser sabe lá que inexplicável
só aparecem mais tarde na evolução religiosa. É que as
aumento de vitalich1dc é obra ele um poder com form;i d plldiani ter influência profunda, porque não atingiam
1
1 ,. ,
an i mal ou de planta. Mas o erro incide apert as sobre a l l
1 1·ligiào em seus princípios38.
l >bjetar-se-á no entanto que, mesmo nessa h1pot;�e,
tra do símbolo por meio do qual esse ser é representado . ,
metafórica e simbólica, essa representaç-Jo não é infiel . Ela , '\ccssivo e mesmo propriamente patológico: ess s . taras
�
traduz, ao contrário, tudo o que há de essencial nas rela 1 1..,101ógicas os predestinavam às grandes tarefas r�ltg1osas.
ções que se crnca de exprimir, pois é uma verdade ecerna 1 > l'mprego ritual de bebidas intoxicantes explica-se �a
que existe fora de nós algo de maior que nós e com o 111l·-.ma maneiraW. Por certo, não é que a fé ardente se1a
qual nos comunicamos. 1wcessariamente um fruto da embriaguez e das pertu��a
'" ll'S mentais que a acompanham, mas, como a expenen
Por isso, podemos estar certos de antemão que as
práticas cio culto, sejam elas quais forem, são algo mais ' 1,1 Jogo mostrou aos povos as analogias existentes entre a
do que movimentos sem alcance e gestos sem eficácia. 1ncntalidade do delirante e a do vidente, buscou-se che
i:ar à segunda suscitando artificialmcnt� � -primeira. Se,
por essa razão, pode-se diz�� qu_e a re�1g1ao s; mprc se
Pelo simples fato de terem por função aparente estreitar
os vínculos que unem o fiel a seu deus, elas ao mesmo
tempo estreitam realmente os vínculos que unem o indiví .1eompanha de um certo delmo, e preciso porem a: re:
' L'ntar que esse delírio, se tem as causas que lhe a_trtb� 1-
mos, é hem:fundamentado. As imagens ele �ue e fc1t?
duo à sociedade ela qual é membro, já que o deus não é
senão a expressão figurada da sociedade. Concebe-se
mesmo que a verdade fundamental que a religião assim mio são puras ilusões, como aquelas que naturistas e ani
continha tenha sido suficiente para compensar os erros rrnstas põem na base da religião; elas correspondem a al
secundários que ela implica\ quase necessariamente e
:i
go no real. Claro que faz parte da natureza das forças mo
que, portanto, os fiéis tenham sido impedidos ele afastar r.us que elas exprimem não poder afetar com a l�uma
se dela, apesar das decepções que deviam resulta r desses vnergia o espírito humano sem colocá-lo ��ra de s1, s:n:i
erros. Cercamente deve ter acontecido m u itas vezes que mergulhá-lo num estado que se pode qual1f1car de ext�tt1-
co, contanto que a palavra seja tomada em seu sent1?0
<.:timológico eKcr-camç; mas disso não se segue, de manei':
as receitas que ela recomendava ao homem para agir so
bre as coisas revelaram-se ineficazes. Mas esses fracassos
nenhuma, que elas sejam imaginárias. Muito pelo contra-
REIJGJO\ � I \ < /\/�\(:AS l!LH..\IENTARES
236 AS FORMAS ELEME/\7"ARES DA 17nA
,
ap
l ariza
� rece.- n ?s com? um de seus atrib utos disti ntivos
, em
natu reza em pí ri ca cio
bota seja 1 m p oss 1 v e l encontrar na lidade. Claro que, mesmo nesse caso, o idealismo precisa
h o1 �1em a lgu ma coisa que a fun dam
.
ente . Um s elo posrnl temperado. Não podemos jamais escapar à dualidade
1 ll' nossa na tu reza e libertar-nos completamente das ne
'•t'I'
canmbado pode vale r uma
f ortu na ; é evidente que esse
v�lo r de mo�o nen hum está
impl icad o cm suas proprie ' l'Ssidades físi cas : para exprimirmos nossas próprias idéias
�ades !1atu ra 1s . N u m certo
sent ido, nossa pró pri a repr
e .1 11é>s mesmos, temos necessidade, como mostn1remos em
sent�çao_do mundo exterior
não passa de um tecido de .l'guida, de fixá-las em coisas materiais que as simboli
a l � c1 �açoe s, pois os odores,
os sabores e as cores q u e ' l'm. Mas, aqui, a parti c;paçào da matéria é reduzida ao
atnbu1mos aos corpos não
são, ou, pelo menos, não são 111111imo. O objeto que serve de suporte à idéia é i nsignifi
exatamente como percebem .
os No entanto, nossas sens ' ,1me, comparado à superestrutu ra ideal sob a qual desa-
a-
AS FOR.itAs ELEMENTA'RES DA iwA RELIGIOSA
238 239
I\ CRENÇA S EIBl4.El vTARES
.
ele devena vanar conJo.rme
que assim se objetivam têm fu ndam en to , não certamente ,.e de substrato, pois, então,
r com ela. Mas, se as vir�u
na natureza das coisas materiais sobre as quais se enxer t:ssa coisa, crescer e decresce
tam mas na natu reza ela sociedade. ross ui não lhe são intrín�ecas se lhe ve1�
des que a coisa
•
,
Pode-se agora compreender de que maneira o princí de certos sentimentos que ela
pio totêmico e, de maneira mais geral, toda força religiosa e como ela não tem ne:ess�
tenham sua origem fora dela,
é exterior às coisas nas quais reside12. É que sua noção não dade , para cum prir esse pape l evocador, de poss uir d1-
a coba terá o mesm o valor,
é constrnída em absoluto com as impressões que essa coisa mensw determinadas, enta o
produz diretamente sobre nossos sentidos e sobre nosso não Com o a parte le mbra � todo,
quer seja intei ra, quer .
co let i vida de insrira a seus membros, mas projetado fora simp les fra gmento da band eira
representa a p a cna tanto
elas consciências que o experimentam e objetivado. Para se eira; assim , ele é sagrado pela mes
quanto a próp ria band
.
objeti va r ele se fixa num objeto que, assim, se torna sagra
,
ma razão e no mesm o grau 44
do; mas qu a lq uer objeto pode desempenhar esse papel.
Em p rincípio, não há objetos predestinados a isso por sua
natureza, com exdusão de outros; tampouco há os que se V
jam necessariamente refratários •3. Tud o depende das cir
nos perm itiu expl}
cunstâncias que fazem o sentimento gerador elas idéias reli Mas se essa teoria do totem ismo
ticas dessa religião, ela pro
giosas colocar-se aqui ou ali, em tal ponto e não num ou car as crenças ma is caracterís
tro. O caráter sagrado que uma coisa adquire não está, por pria repousa sobre u m fato a i nda não ex p l i cado Dada a
clã, o res� a � c e se se�u e ;
.
t.anco, impli cado nas propriedades intrínsecas dessa coisa: é noção do totem , emb lema do _
o se con sutu 1 u A que.o;�o
acrescentado a ela. O mundo do relig ioso nào é um aspec mas falta saber como essa noçã
.
to pa rticu lar
da n a tureza empírica; é sobreposto a ela .
é dupla e pode subdividir-se
ass i m: 1)
o que levou o ela a
2) Por que esse s emb lei:na s
Essa conccpção cio religioso permite, enfim, explicar escolher para si um emblema7
anim al e v egeta l , mais parti cu-
um imporcance princípio que encontramos na base ele foram tomados do mundo
uma grande quantidade de m itos e de ricos e que pode larmente do primeiro? .
toda espec1e de grup�,
,
ser assim enunciado: quando um ser sagrado subdivide Que um emb lema seja, para
to, é algo que nem se preci
se, ele permanece por inteiro em cada uma de suas par um útil foco de congraçamen
unidade social sob uma f?r
tes. Em outros termos, para o pensamento rel igioso, a sa demonstrar. Ao exprimir a
parte equiva le ao todo; tem os mesmos poderes , a mesma ma material, ele a torna mais
sensível a todos e, ta1:1bem
eficácia. Um fragmento de relíquia cem as mesmas virtu por essa razã o, o emp rc6o cios símb ol�s emb lema t1c_os
.
des que a rel íquia integra l A menor gota de sangue con amente assim que sua ideia
.
deve ter se genera li zado rapid
icléia deve ter brotado es-
tém o mesmo princípio ativo que o sangue inteiro. A ai- surgiu. Mas, além disso, essa
240 AS FOiàllfAS ELEMENTARES DA VIDA RELlC!O.\ 1 I \ 1 .NliNÇAS ELE
MEl'ffARES
241
pontaneam�nte das condições ela vida em comum; pois 1 1 .t·ntar,;ões correspondentes. Mas só as simbolizam porque
emblema nao e_ apenas um procedimento cômodo qu(' , , ml ribuírarn para formá-las.
torna mais claro o sentimento que a sociedade tem de si; Aliás, sem símbolos, os sentimentos sociais não po
ele serve para produzir esse sentimento, ele próprio é u111 il1 ·riam ter senão uma existência precária. Muito foites en-
elemento constitutivo deste. 1 p 1nnto os homens estão reunidos e se infuenciam reci
Com efeito, as consciências individuais, por elas mcs procamente, eles não subsistem quando a reu nião Lermina,
n:as, estão fechadas umas às outras; não podem se comu 1 não ser na forma ele lembranças que, se forem abando-
rncar senão por meio de signos que traduzam seus esta 11.H..las a si mesmas, irão se apagando cada vez mais; pois,
cios interiores. Para que o comércio que se estabelece en , omo nesse momento o grupo não está mais presente e
tre elas possa levar a uma comunhão, isto é, a uma fusão 1t uante, os temperamentos individuais retomam facilmen-
de todos os sentimentos particulares num sentimento co 11· o comando. As paixoes violentas que se desencadea-
mum, é preciso que os signos que as manifestam venham 1 . 1 111 no seio de uma mulLidão refluem e se extinguem as
a se fundir, eles próprios, numa única resultante. É 0 apa s1 m que ela se dissolve , e os indivídu os se pergunt am
rec1mento dessa ·esultante que indica aos indivíduos que , om espanto como puderam se deixar arrebatar a tal pon-
!
_ em
eles estao unissono e que os faz tornar consciência ele 10 fora de seu caráter. Mas se os movimentos pelos quais
s�1a unidade moral. É soltando um mesmo grito, pronun vsses sentimentos são expressos vêm se inscrever em coi
ciando uma mesma palavra, executando um mesmo gesto -�;1s que duram, eles próprios se tornam duradouros. Essas
relacionado a um n ;esmo objero, que eles se põem e se coisas nã.o cessam ele evocá-los aos espíritos e os mantêm
perpetuamente despertos; é como se a causa inicial que
os suscitou continua sse a agir. Assim, o emblem atismo,
s:ntem de . acordo. E verdade que também as representa
ç�es 1� 1cliv 1dua1s det rmi nam no organismo reações que
�
nao sao sem importancia; _ elas podem, no entanto, ser necessário para permitir que a sociedade tome consciên-
concebidas sem levar em conta essas repercussões físicas 1·ia ele si, não é menos indispen sável para assegura r a
que as acompanham ou que as seguem, mas que não as continuidade dessa consciência.
constituem. Com as representações coletivas ocorre algo Cumpre, porLanto, não ver nesses símbolos meros ar
bem diferente. Elas supõem que consciências ajam e rea t illcios, etiquetas que se acrescentariam a representações
Jª:11 umas sobre as outras; elas resultam dessas ações e rea inteiramente prontas para torná-las mais manejáveis: eles
çoes que, por sua vez, só são possíveis graças a interme sao parte integrant e delas. Mesmo o fato de q u e senti
diários materiais. Estes não se limitam, portanto, a revelar mentos coletivos se achem assim ligados a coisas que lhes
o estado mental ao qual estão associados: contribuem pa si'io estranhas não é puramente convencional: ele não faz
ra produzi-lo . Os espíritos particulares não podem se en senão mostrar sob uma forma sensível u m caráter real dos
contrar e se comunicar, a não ser que saiam deles mes !'atos sociais, a saber, sua transcen dência em relação às
mos; mas só podem exteriorizar-se sob a forma de movi consciências individua is. Sabe-se, com efeito, que os fe
_
mentos. E a homogeneidade desses movimentos que dá nômeno s sociais se originam , não no indivídu o, mas no
ªº grupo o sentimento ele si e que faz, portanto, que ele grupo. Seja qual for nossa pa1ticipação em sua gênese, ca
.
exista. Uma vez estabelecida essa homogeneidade, uma da um de nós os recebe de fora45_ Portanto, quando os re
_ presentamos como emanando ele um objeto material, não
nos equivocamos completamente sobre sua natureza . É
vez que os mov1mentos tomaram uma forma e uma figu
raçao _ estereotipada,
eles seivem para simbolizar as repre-
AS FORMAS ELE.lf.8\TARES DA VIDA RE/J(,J< 1\ 1 H e IU!NÇAS ELEME/\T
243
2'-12
ARES
cl a ro q ue eles não vêm da coisa determinada com a qu.d 11 re os so l d,1d os de u m mesmo quartel, entre os mari-
co, entre os p ris ion ei ros encer-
nos rdac 1onamos; mas continua sendo verdade q u e lt'III
.
1 1 ' 1c1ros de um mesmo bar
o5o . Compreende-se, de fato,
su a origem fora de nós. E mbora a fo rça moral que sustv11 1 . 1dos num a casa ele deten çã
q11c, sobretudo onde a técn ica é ainda rudimentar, a tatua
Wm seja o meio mais direto e
la o fiel não provenha do ídolo que ele adora, do embk
expressivo pelo qual se p�
ciências. A melhor mane1-
ma que venera, ela não deixa porém de lhe ser eÀ'terio r t·
cl1· afirmar a co mu nhã o das cons
1 , de atestar a
ele sabe disso. A o bjet i vi d a de cio símbolo não faz ma1!'.
m q u e se faz parte d e
no corpo u ma mesma marca
si mesm o e a outre
que traduzir essa exterioridade.
, 1 111 mesmo grupo é imprimir
1 l islinti va. E o que prova
Assim, a vida social, sob todos os seus aspeclos e
é exatamente a razão de
cm
que essa
lodos os momentos de sua história, só é possível graças a
o mostramos, ela não
um_vast? simbolismo. Os emblemas materiais, as represen ,1·r da imag em totêm ica é que, com
supostamente re
taçoes figurad as, de que nos ocupamos mais especialmen l 1t1sca reproduzir o aspeCLo da coisa que
prcsenta. Ela é feita de linha s e de pom os aos �uais_se a�
te no presente cstudo, são uma forma particular disso· ma� enci onal ' 1 . Nao
há mu itas outras. Os sentimentos coletivos podem i� u al l>ui uma sign ificação i n te i rame n te conv
rar um obje to dete m1 inado ,
IL'm por objetivo figurar e lemb
um
mente se encarnar em pessoas ou em fórmulas: há fórmu
cert o nú mero de indivíd uos pa r
las que são ba ndei ras; há personagens, reais ou míticos mas testemunhar que
que são símbolos. Mas há um tipo ele emblema que dev � i ici pa de uma mesma vida moral.
O clã, aliás, é uma sociedade que,
mais que qualquer
ter su rg i do rápido, ind epen den te de todo cálculo e de to
olo, po� pou
da re� exào: é e xa tamente o que vimos desempenhar no s em embl ema e símb
O dà nao po
outra, não pode pass ar
cas carecem tanto de consi stênci a com o ela.
tote n� 1sm o um papel considerável - a tatuagem. Fatos co nem toda autoridade
de se definir por seu ch e fe, pois, se
nce rta e i nstávef52•
nhecidos demonstram, com efeico, que ela se produz com
nte, es ta p e l o men os é i
uma espécie de automatismo em determinadas co ndiçõ es. ccnri·al é ause
tório que ocu pa,
Quando ho mens de cultura inferior se associam numa vicia Também não po de se definir pe lo terri
o nôma de5:l, não está estre itamente
c?mum, g�ral men te são l evados, como q ue por uma ten pois a popu lação, send
idade determi nada . Além di sso , em virtu
ligada a urna local
de da lei de exogamia , o marido e a mulher
dencia instintiva, a pintar ou a gravar em seus corpos ima são obrigatoria
gens que lembram essa comunidade de existência. Segu n o cotem se
difer ente s; porta nto, lá onde
mente de totens
transmite em li nh a materna -
e esse siste
do um texto de Pro cópi o, os primeiros cristãos mprimiam
i
ma de filiação é
na p el e o nome de Cr ist o ou o sinal da cruz46. D u rante
i da hoje o mais geraf51 -, os filho s são de u m totem dife
muito tempo, os grupos de peregrinos que i a m à Palesti na an
do junto deste. Por todos es
faziam-se igua l mente tatuar, nos braços o u nos pun hos , rente de seu pai, embora viven
ses motivos, encontram-se no
interior de uma mesma famí
lia e mais ainda no inter
desenhos que rep resen tavam a cruz ou o monograma de
ior de uma mesma localidade, rc
pres mantes do ma is variados
Crist047. Observa-se o mesmo costume nas peregrinações
que se fazem a certos lugares santos da Ilália4ll. Um cu rio � � clãs. Assim , a unidade do
ao nome coletivo que possuem
s? ca�o de tatuagem espontânea é relatado por Lombroso: grupo só é perceptível graças
todos os seus mem bros e ao
emblema, igualmente coleti
vinte Jovens de u m colégi o italiano, no momento de se se
nada por esse nome. Um clã
pararem, fizeram-se gravar tauagens que, sob formas di vo, que reproduz a coisa desig
de indivíduos que têm u m
torno de um mesmo sig-
versas, lembravam os anos que eles acabavam de passar é essencialmente uma reu n ião
juntos49• A se unem em
mesm a prática foi com freqü ênci a o bserva da mesmo nome e que
244 AS FORMAS ELhMENTANES DA VIDA RELIGIO\ 1 1, 1 11/WÇ'AS ELEMENTARES
sigi:io escrito ocupa ainda hoje na vicia cio clã um l u ar � "1gni a o anim al ou o vege tal mais difun dido nas vizin han
1
coisa que um anim al. No inter
ior de cada reino, as nu
.1 1enha 1ncervindo para transfigurar o real de modo a
l 11
mas barreiras separam as difer
lc > mostrar-se sob
entes classes: não concd >t
mos como um mineral poderia um aspecro que não é o seu .
ter os caracteres distintivc ,
de um outro mineral, ou uma Foi a religião o agente dessa transfigu ração; foram as
espécie anim al os de u111,1
1 1 1 1� as religiosas que substituíram o mundo, tal �orno o
um sistema de representações coletivas relacionadas ü .li 1111 !>lia forma é essencia lmente inconsistente e indeter
ma, à sua origem, a seu desti no. Tanto quanto se pod1· 1111nada7; ela modifica-se de u m instante a outro ao sabor
julgar com base nos dados da ernografia, a idéia de alm;1 J 1.., circunstâncias conforme as exigências do
mito e do
parece ter sido contemporânea da humanidade e paren· 1 1111 A substância de que é feita não é menos indefinível.
ter tido desde o início todas as suas características essen 1 J.1 não é privada de matéria , já que possui uma form� ,
l " >r mais vaga que seja. E, de fato, mesmo durante
ciais, de sorte que as religiões mais avançadas e a filosofi.1 esta v1-
praticamente se lim itaram a depurá-la, sem nada llw .J.1, ela tem necessidades físicas: come e, rnversa
. men �e,
acrescentar de realmente fundamenrnl. Todas as socied.1 pndc ser comida. Sucede- lhe sair do c<:>rpo e, em suas v1<�
'• '11'>, aliment ar-se ele almas estrangelías11• Quando
eles australianas admitem, com efeito, que cada corpo hu se Il-
i nou completamente do organismo, supõem que
mano abriga um ser interior, princípio da vida que o ani ela le
ma: a alma. É verdade que as mulheres constituem excl' "' uma vida inteiram ente análoga à que levava nesta ter-
çào à regra geral: há tribos cm que elas são considt:rnd.i� 1 1 bebe, come, caça, etc.9 Ao esvoaçar nos ramos das ar
como não tendo alma ' . A acreditar em Dawson, o mesmo 'nrcs, produz ruídos e esta lidos que mesmo _os. ouv1c.los
aconteceria com as crianças pequenas nas trihos que el1· piofanos percebem'º· Mas, ao mesmo tempo, e uda como
obscrvoui. Mas estes são casos excepcionais, provavel "" 1sível ao vulgo". Os mágicos, é verdade, ou os velh �s,
1 1 111 a faculdade de ver as almas, mas isso porque, em
mente tardios3; o último afigura-se inclusive suspeito v v1r
t 11<k: de poderes especiais, que devem à idade ou
poderia muito bem ser devido a uma interpretação errô a uma
nea dos fatos4 . , 111lura especia l, eles percebem coisas que escapam aos
É difícil determinar a idéia que o australiano faz da 11nssos sentidos. Quanto aos indivíduos comuns, eles só
alma, a tal ponto ela é obscura e flutuante, e não podería 1 1 i.1m o mesmo privilégio, 'iegundo Dawson
, num único
mos nos surpreender com isso. Se perguntássemos a nos 11111mento ele sua existência: quando estão às vésperas de
sos contemporâneos, àqueles mesmos que crêem mais 11111rrer de uma morte prematura. Assim, essa visão quase
firmemente na existência da alma, de que maneira a con 1111raculosa é tida como um sinistro presságio. Ora, a invi-
cebcm, suas respostas não teriam muito mais coerência e ilulidadc é geralmente considerada como u_m cios sinai �
precisão. É que se trata de uma noção muito complexa. , ).1 c!>piritualidade. Portanto, numa certa medida, a � lma :
em que entra uma quantidade de impressões mal analisa c oncchida como imateri al, pois não afeta os sentidos a
das, cuja elaboração foi sendo feita durante !>éculos, sem 1 11.1ncira dos corpos: ela não tem ossos, dizem as tribos do
1 1 1 1 Tullyti. Para conci liar Lados esses ca!�ct�re ?
que os homens tivessem uma consciência cl a ra a respei s postos
. '.
to. Eis aqui, não obstante, os caracteres mais essenciais - 1 1 presenwm-na como feita de uma matena _ mf10,1tamente
freqüentemente contraditórios, aliás - pelos quais ela se 1 1 1 , 1 e sutil, como algo de etéreo 1 3, comparavel a sombra
define. , 111 .1 rcspiração 11.
Num certo número ele casos, dizem-nos que ela tem l:la é disltnta e tndependente do corpo, uma vez que,
o aspecto exterior do corpo5. Mas acontece também ser 1 , nesta vida, pode sair momen taneam ente dele._ Ela o
representada como do tamanho de um grão de areia; ela 11>.1 ndona durante o sono, durante o desmaio, etc. 11 Pode
1111 l11sive permanecer aus<:nte por algum tempo sem
teria dimensões tão reduzidas que poderia passar pelo!> que
menores orifícios e fendas6. Veremos que ela é, ao mes 111\L'nha a morte; todavia, nessas ausênci as, a vida se re
1 Mas
mo tempo, concebida sob aparências animais . Vale dizer .1111, e irá cessar se a alma não voltar à sua morada 6.
� .... ...
--.t. - --6:0 -•A
...,.
Chega um momento, porém, em que a separação <k Em geral, todas as almas têm o mesmo destino e le-
to
fin itiva é consumada; a alma liberada empreende seu võo. 1 1 111 a mesma vicia. Entretanto, ocorre que um tratamen
se
Mas ela é, por natureza, tão intimamente associada ao t l 1 krente seja aplicado conforme a maneira como elas
corpo, que essa soltura não ocorre sem uma grave trans 1 1 1nduzira m na terra, e vemos surgir como que um pri-
formação ele seu estado. Por isso ela adquire um outro 111l·1ro esboço desses compartimentos distintos e inclusive
nome.�•. Embora conserve todos os traços do indivíduo 1 1p ostos entre os quais se dividirá mais tarde o mundo do
ca
que animava, seu humor, suas boas e más qual idadesu , 11l m. As almas dos que se destacaram, em vida, como
l 1dores, guerreiros, dançarinos, etc., não
ela tornou-se u m ser novo. A partir ele então, começa pa se confundem
ra da uma nova existência. , l llll a multidão dos outros; um lugar especial lhes é re-
relata
Ela se dirige ao país das almas. Esse país é diversa ' rvadoll . Às vezes, esse lugar é o céu42. Strehlow
dos
mente concebido conforme as tribos; encontram-se inclu inclusiv e que, de acordo com um mito, as almas
sive conce pi,:ões diferentes que coexistem lado a lado as por espíritos temíveis e aniqmladas·•3.
1mus são devorad
1 untudo, essas concepções sempre permanecem
numa mesma sociedade. Às vezes ele est:á situado debai muito
, • •l lH?ÇO dos temp os, exist iam seres que não deriv�vam d�
não é especificamente diferente do que nas outras socit·
a, por essa razao, Alp
dades australianas; por toda parte, ela apresenta os mes 111 nhum outro. O arunta os cham
incria dos, os que existem desde toda a
mos caracteres essenciais. Como um mesmo efeito tem ,,111p,amitjina41, os
sempre uma mesma causa, há razões para pensar que e.� 1 tl'rnidade, e, segundo
Spencer e Gillen, ele daria o nome
seres fabulosos
sa noção, sempre idêntica, não resulta, aqui e ali, de ele: 1 11 Alcheringa4s ao período em que esses
nizad os em clàs totêm icos, assim co-
mentos diferentes. A origem que seremos levados a atri t • · t'iam vivido. Orga
vam seu tempo em via-
buir-lhe através do estudo das tribos que abordaremos 1 1 10 os homens de hoje, eles passa
quai s reali zaram todo tipo de ações
mais especificamente, deverá, portanto, ser considerada 1w ns, ao longo das
cuja lemb ranç a os mito s perp etua m. Mas
como igualmente verdadeira para as outras. As primeiras prod igios as,
terrestre teve fim:
nos pcnnitir::io fazer, dt: certo modo, uma expenência cujos 1 hegou um momento em que essa vida
grup os, eles se ente rraram no solo .
resultados, como os de toda experiência bem feita' serão 1,oJadamente ou em
em árvores ou em roche
suscelÍveis de ser general.izados. A homogeneidade da ci Sl.!us corpos transformaram-se
s onde teriam desapare
vilização australiana seria suficiente, por si só, para justifi dos que são vistos ainda nos locai
. Mas suas alma s duram sempre; elas
car essa genera lização; mas teremos o cuidado de confir rido debaixo da terra
sive a freqüentar os lugares
má-la em seguida por meio ele fatos tomados de outros são imortais. Continuam inclu
de seus prim eiros hospedei
razão das lembranças que
povos , tanto da Austrália quanto da América. onde terminou a existência
Como as concepções que nos fornecerão a base de ros. Esses lugares têm, aliás , em
lá que se encontram os ok-
nossa demonstração foram relatadas em termos diferentes evocam, um caráter sagrado; é
ários onde são conservados
por Spencer e Gillen, de um l ado, e por Strehlow, de ou 11anikilla, espécies de santu
clã e que são com o os centros dos dife
tro, devemos expor sucessivamente essas duas versões. os churinga do
do uma das alma s que va
Veremos que, bem interpretadas, elas diferem mais na rentes cultos totêmicos. Quan
um dess es santu ários se introduz no
forma que no fundo e que, em última instância, têm a gueiam em torno de
ltado é u m a co nc�pção e:
mesma significação sociológica. corpo de uma mulher, o resu . _
Porta nto, cada md1v1duo e
s:gund? Spencer e Gillen, as almas que, a cada gera mais tarde, um nascimento49.
avata r de um ante pass ado
_
çao, vem arumar os corpos dos recém-nascidos não são o considerado com o u m novo
ado mesm o, retornando
produto de criações especiais e originais; todas essas tri determinado: ele é esse antepass
s traço s. Ora, o que eram es-
bos admitiam que existe um estoque definido de almas num novo corpo e sob novo
cujo número não pode ser acrescido de uma unidade46 � ses antepassados? . .
dos de poderes infiru�
que se reencarnam periodicamente. Quando um indiví Em primeiro lugar, eram dota
uem os homens de hoie,
duo morre, sua alma deixa o corpo onde residia e, uma mente superiores aos que poss
s e os mágicos de maior
mesmo os velhos mais respeitado
vez cumprido o luto, dirige-se ao país das almas; mas, ao
cabo de um certo tempo, volta a encarnar-se de novo e reputação. Atribuem-lhes virtud
es que podería�os qua ifi �
viaja r no �hao, deba1�0
são ess� s reencarnações que ocasionam as concepçõe e � car de milagrosas: "Eles j)Odi am
de suas veia s, ela podia
os nascimentos. Essas almas fundamentais são aquelas do chão , nos ares ; aberta uma
cont rário, fazer emergir ter-
que, na 01igem mesma das coisas, animavam os antepas- inundar terras inteiras ou, ao
260 AS FORMAS ELEJl!ElffARF.S DA �7DA REL!G/OS.·I 261
\e RE.\ÇAS ELEMEJ\TARES
fisionomia própria ,
ras no�as; numa m�ralh de rochas, faziam surgir
� um lago m1gem delas; como cada uma tem sua
_
ou abrn-se um d�sftlade1ro que lhes serviria de passagem; cada uma, uma f'isiono mia distinta.
1•lv assume, em
nc
no ponto onde fincavam seu nurtunja, rochas
ou áivores É verdade que esse princípio, em si mesmo, perma
brotavam do chào."5o Foram eles que deram ao estran ha ao homem ; mas sua par
' l' uma força exterior e
ma que tem atualmente. Criaram todo tipo de
solo a for
seres ho ' da presente em cada um não pode
deixar de con � for
�e� ou animais. São quase deuses. Suas almas, port nto, � particular no qual reside : ela
ll'S afinidades com o sujeito
tem 1gual �ente um caráter divino. E já que as participa de sua nature za, numa cerra med .
�
i a se torna su �.
almas cios .
homens sao essas almas ancestrais reencarnadas , ela possu i dois caract eres contra cl1tonos, mas CUJa
em cor Assim
da noção de al
pos humanos, elas próprias são seres sagrados. coexistência é um dos traços distin tivos
Em segundo lugar, esses antepassados não eram outro ra, a alma é, por um lado, o
lllJ. Tanto hoje como
� iste e n;i nós, a ?arte
ho
m� ns, no senlido próprio da palavra, mas animais que de melho r e mais profun do e
ou vege
l minen te de no!)SO !)er; n o entanto,
tais, ou entao_ e tamb em um hospe
serec; mistos em que o elemento animal ou
vegetal predominava: "Os antepassados que viviam em que nos veio de fora, que vive em nós
nesses de de passag
rem l='.o� fabulo os, dizem Spencer e Gillen, eram, uma existência distin ta da do corpo e
que deve retomar
� segundo
a �p1�1ao _
�
os indígenas, tão intimamente associados aos um dia sua comp leta indep endên cia.
Em uma palav ra,
arnrna1s e as pi amas cujo nome traziam, que um como a socied ade só existe nos e pelos indivíduos,
.
gem do Alchennga pertencente ao lotem do cangu11
persona
.1 por
,1ssim
o princípio lotêmico só vive nas
�
e p� las consci ncias in
exemplo, é freqüen tement e representado como
mem-canguru ou um canguru-homem. Sua persona
u �
ho dividuais, cuja assoc iação forma o ela. Se elas nao o sen
ria; são elas que ?
tissem em si, esse princí pio não existi
lidade
humana não raro é absoivida pela da planta ou sidade , pois, de se parti
do animal põem nas coisas. Ele lem neces
!
de que e e leria descen dido. "5 1 Suas almas, que
duram lhar e se fragmentar entre elas. Cada um desses fragmen
s�mpre, tem necessariameme a mesma naturez tos é uma alma.
a; nelas Lam
ro basta nt e
bem se casam o elemento humano e o elemento
animal Um mito que encon tramo s num núme
com u 1�a certa tendência do segundo a predom
_
. inar sobr � grande de socied ades do centr o autral iano
dos
e que, por si
prece dentes ,
o pnmeuo. Elas são, portanto, feitas da mesma
substância nal não é senão uma forma particular
que o pr.incípio tolêrnico; pois sabemos que este
último �
mo tra ainda melhor que tal é de fato a matér ia de que é
a tradição coloca na
tem prec1�am�nre por característica apresentar esse feita a idéia de alma. Nessas tribos,
aspeclo, sintetizar e confund i r em si os dois reinos.
duplo
origem de cada clã, não uma plural idac
�
e de antep a �sa
Como não existem outras almas a não ser estas , ou mesm o um so53. Esse ser urn�
che dos, mas apenas dois52
g� mos à conclusão de que a alma, de uma maneira
n� o é senão o princípio tolêmico encarnado em
� era[ co, enqua nto perm anece u assim solitá rio, continha em s1
pois nesse momento
cada incli� a totalidade do princípio torêmico,
v1duo. E ne_ssa derivação não há nada que possa ainda não existia nada a que esse princí pio pudesse se
nos sur
. ão, todas as al
preender. Ja sabemos que esse princípio é imanen
te a ca comunicar Ora, segundo a mesma tradiç
da um dos membros do clã. Mas, ao penetrar tanto as que anima m presen
nos indiví mas huma nas que existem,
duos, é inevitável que ele próprio se individualize. corpo s dos home ns quant o as que, atualmente
Como temente os
o futuro, teriam
as consciências, das quais ele se torna assim um
elemento desempregadas, estão em reserva para
in tegrante, diferem umas das outras, ele se diferen único ; elas seriam feiras de sua
cia à saído desse personagem
262 AS FORJtAS ELEMENTARES DA
VTDA RELIG!O\A
Além desses dois processos de fecundação, StrehJow assi 1 1 11noniaJ68. Seu lugar no contexto social da tribo é exata
nala um terceiro, mas que é tido como bem mais raro. o l l lt:nte aquele que o antepassado teria ocupado outrora.
próprio antepassado, depois que seu namatuna penetrou l'em o mesmo nome69. É uma prova de que essas duas
no corpo da mulher, se introduziria e se submeteria vo personalidades são, pelo menos, muito aparentadas uma
luntariamente a um novo nascimento. Desta vez, portan ela outra.
to, a concepção se deveria a uma verdadeira reencarna Mais: esse parentesco chega inclusive a uma comple
ção do a �tepa�ado. Só que o caso seria muito excepcio t.i identidade. Com efeito, foi no corpo místico do ante
nal e , alem disso, quando o homem assim concebido passado que o ratapa se formou; é daí que ele provém,
morre, a alma ancestral que o animava partiria, como as romo uma parcela que se tivesse destacado. Em suma,
da
almas comuns, para a ilha dos mortos, onde, após as de trata-se de algo do antepassado que penetra no seio
moras usuais, seria definitivamente aniquilada. Portanto' mãe e que se toma a criança. Assim, voltamos ã concep
ela não sofreria novas reencarnações61. \ .lO de Spencer e Gillen: o nascimento é devido à encar
Tal é a versão de Strehlow65. No pensamento desse nação de um personagem ancestra l. Claro que não é o
autor, ela se oporia radicalmente à de Spencer e Gillen. persona gem inteiro que se encarna , mas apenas uma
Em realidade, ela difere apenas pela letra das fórmulas
e emanação dele. A diferença, porém, é de interesse muito
dos símbolos, pois em ambos os casos, sob variações de secundário, uma vez que, quando u m ser sagrado se divi
ca
forma, o tema nútico é o mesmo. de e se desdobra, ele está presente, com todos os seus
os
Em primeiro lugar, todos esses observadores estão de racteres essenciais, em cada um dos fragmentos entre
acordo quanto a ver em cada concepção o produto quais se dividiu. O antepassa do do Alcheringa está, por
de
uma encarnação. Só que, segundo Strehlow, o que se en tanto, no fundo, inteiro nesse elemento de si próprio que
carna não é uma alma, mas um ratapa ou um namanma. E se transforma num ratapa7o.
o � ue é um ratapa? É um embrião completo, diz Strehlow O segundo modo de concepção, distinguido por
,
feito ao mesmo tempo de uma alma e de um corpo. Mas Strehlow, tem a mesma significação. Com efeito, o churin
a alma e_ sempre
representada sob formas materiais; ela ga, especialmente esse churinga particular chamado na
dorme, dança, caça, come, etc. Porranto, também ela matuna é considerado um avatar do ancestral; é o corpo
compreende um elemento corporal . Inversamente 0 rata �
dele, s gundo Strehlow11, da mesma forma que a árvore
pa não é visível pelo vulgo; ninguém o percebe uando
. � nanja. Em outras palavras, a personalidade do ancestral,
se mtroduz no corpo da mulher66; vale dizer que é feito seu churinga, sua árvore nanja, são seres sagrados que
de uma matéria comparável à da alma. Assim, sob esse inspiram os mesmos sentimentos e aos quais se atribui o
aspecto, parece não ser possível diferenciá-los claramente mesmo valor religioso. Por isso, eles se transformam uns
um do outro. Trata-se, em última instância, de seres míti nos outros: onde um ancestral perdeu um churinga, uma
cos sensivelmente concebidos segundo o mesmo modelo. árvore ou uma pedra sagradas brotaram do chão, o mes
Schulze chama-o s almas de crianças6-. Além disso, da mo acontecendo no lugar onde ele próprio se enterrou72.
me�ma forma que a alma, o ratapa mantém as relações Há, portanto, uma equ ivalência mítica entre um persona
mais estreitas com o antepassado cujas formas materiali gem do Alcberinga e .:.eu churinga; por conseguinte,
zadas são a árvore ou a pedra. Ele é do mesmo totem que quando o primeiro lança um namatuna no corpo ele uma
esse antepassado, da mesma fratria, da mesma classe ma- mulher, é como se ele próprio penetrasse. De fato, vimos
AS FORMAS ELEME.'ffARES DA VIDA RELIGIOSA
1 \ CRENÇAS El.EME/\TARES
266
267
ll'S metáforas por meio das quais ele chegou a ser expres-
que, às vezes, ele se introduz aí em
pessoa depois do na
matuna; segundo ouLros relatos,
ele o precede, como se .
lhe abrisse o caminho73. O fato M> têm para nós um interesse apenas secun dá no78.
ele esses temas coexisti .
rem num mesmo mito acaba most Longe de contradizer os dados sobre os quais repousa
rando que um não é se
não o substituto do outro. nossa tese as recentes observações de Strehlow nos trazem
Aliás, seja como for que a concepção novas pro�as que a confirmam. Nosso raciocínio co� istia
ocorra, não há
d ú vida de que cada indivíduo está vm inferir a natureza totêmica da alma humana a pa1t1r da
unido a um antepassa
do determinado do Alche1inga por natureza totêmica da alma ancestral , da qual a primeira é
uma emanação e uma espécie de réplica. Ora, algu n� dos
laços excepcionalmen
te íntimos. Em primeiro lugar, cada
fatos novos que devemos a Strehlow demo':'�· matS ca:
homem tem seu ante
passado titular: duas pessoas não
tegoricamente ainda que aqueles de que d1sp�nh�os ate
podem ter simultanea
mente o mesmo. Dito de outro modo
, um ser do Alche
ringa sempre conta com um único então esse caráter que ambas possuem. Em pnmelfO lugar,
vivos74. Além disso, um é apen
representame entre os
as u m aspecto do outro .
�
Strehl w insiste, da mesma forma que Spencer e Gillen, so
Com efeito, o churinga deixado bre "as relações íntimas que unem cada antepassado a um
pelo antepassado expri
me, como sabemos, sua personalid animal1 a uma planta o u a um outro objeto natural''. Alguns
ade; se adotarmos a in
terpretação de StrehJow, que é desses Altjirangamitjina (são os ancestrais do �cheringa. de
talvez a mais satisfatória ,
diremos que é seu corpo. Mas esse Spencer e Gi11en) "devem, diz ele, ter se manifestado dire
mesmo churinga está
relacionado da mesma maneira tamente na qualidade de animais; outros tomavam a forma
do concebido sob a influência do
ao indivíduo que teria si
antepassado, ou seja, é
animal de maneira passageira"79. Ainda hoje, acontece-lhes
1 1
o fruto de suas obras místicas. Quan a todo momento transformar-se em animais80. Em todo ca
do introduzem o jo
vem iniciado no santuário do clã, so. e não importa seu aspecto exterior, "em cada um deles,
as qualidades próprias e distintivas do animal sobress� em
mostram-lhe o churinga
ele seu antepassado e dizem -lhe:
"Tu és este corpo; és
a mesma coisa que isro."75 Portanto, com evidência''. Por exemplo, os antepassados do da do
segundo a expressão
mesma ele Strehlow, o churinga é Canguru comem erva como cangurus verdadeiros e fogem
"o corpo comum cio in .
divíduo e de seu antepassado"76. diante do caçador; os do clã da Ema correm e se alimentam
Para que possam ter o
mesmo corpo, é preciso que, pelo como as emass1, etc. E mais: aqueles dentre os antepassa
menos por um aspec
to, suas duas personalidades se confu dos que tinham por totem um vegetal se transformaram, ao
morrer, nesse vegetal!BZ Aliás, o estreito parenrescc:i do a �te
ndam. Aliás, é o que
reconhece explicitamente Strehlow:
passado e do ser totêmico é percebido c�m tanta mtens1da
"Pelo tjutunga (chu
ringa), o indivíduo é unido a seu
de pelo indígena, que isso afeta a termmologia. E_?tre os
antepassado pessoal . "77 .
Assim , tanto para Streh low quan
to para Spencer e
GiUen, há em cada recém-nascido Arunta o filho chama de altjira o totem de sua mae, que
místico. que emana de um antep
um princípio religioso,
assado do Alcheringa. É
lhe se �e de totem secundário83. Como, primitivamente, a
esse princípio que fa z a essência filiação se fazia em linha uterina, houve um tempo em que
de cada indivíduo· ele
caso, sua alma é fei a d
cada indivíduo não tinha outro totem a não ser o de sua
po1tanto, sua alma , ou, em todo
mesma matéria e da mesma subst
� d mãe; é muito provável, po1tanto, que esse termo altjira de
signasse o totem propriJmente dito. Ora, vemos qt e � !e
ância. Ora, é unicamen
te nesse fato fundamental que nos
apoiamos para deter �
de aLna. As diferen-
minar a natureza e a origem da idéia entra evidentemente na composição da palavra que signifi
ca grande antepassado, altjirangamitjina84.
AS CRENÇAS ELEMENTARES
269
268 A S FORMAS ELEMENTARE5 DA VIDA RELIGIOSA
miyur'J7 de seus respectivos dãs; dali saem para nascer de e única figura
um sincretismo que fez fundir numa mesma
. i s múltip las figuras dos primeiros a � tepa �sados.
novo sob forma humana quando uma ocasião favorãvel O que
se apresenta ."98 Mathews afirma inclusive que "a crença
torna essa h ipótese ao menos veross 11rul, e
.
que � s pala
na reenca rnação ou na transmigração das almas estã for prox1m as;
vras Anje-a e Anjir são evidentemente muito
ora' a sem o-
temente enraizada em todas as tribos australianas"99. mda designa o primeiro homem, o .antepa ssado
Se passarmos para as regiões setentrionais, encontra . se ong1
.
� a d? 10'-.
inicial de quem todos os homen s tenam
remos no Noroeste, entre os Niol-Niol, a pura doutrina mcl1ge nas
As mesmas idéias verificam-se nas tnbos
cios Arnnta; todo nascimento é atribuído à encarnação de , diz Krause , as a l mas dos
da Améri ca. Entre os Tlinkit
uma alma preexistente que se introduz no corpo ele uma corpo das
mortos voltariam à terra e se introduziriam no
mulher100. No Queensland do Norte, mitos que se diferen �o uma mu:
mulheres grãvidas de sua família. "Assim, quan
ciam dos precedentes apenas na forma traduzem exata
Iher grãvida sonha com algum parente falec1d
� , ela cr�
mente as mesmas idéias. Nas tribos do rio Pennefather
que a alma deste úlúmo penetro u n � la Se o reccm-nasu
vegetal. Não é evidente que esse duplo só pode réptil. Não que o indivíduo seja considerado descendente
ser a ai
��· visto que a �!ma já é, por si mesma, um duplo do su desse animal, mas julga-se haver um parentesco entre o
Jetto que ela anima? O que justifica em definiti
vo essa espírito que anima o homem e o espírito do animal " l l 1 .
identificação, é que os órgãos nos quais mais eminen Há inclusive casos em que a alma é tida por emanar
te
mente se encarna o princípio totêmico que cada imediatamente do animal ou do vegetal que serve de to
indiví
duo contém são também aqueles onde a alma reside.
Éo tem. Segundo Strehlow, entre os Arunta, quando uma mu
caso do sangue. Há no sangue algo da natureza do lher comeu abundantemente de um fruto, acredita-se que
totem
como o prova o papel que ele desempenha nas cerimôn ela dará à luz uma criança que terá esse fruto por totem.
ia�
totem1cas 108. Mas, ao mesmo tempo, o sangue é Se, no momento em que sentiu as primeiras contrações
A '
uma das
sedes da alma; ou melhor, é a alma mesma vista do filho, ela olhava para um canguru, acredita-se que u m
de fora.
Qua do o sangue sai do corpo, é a vida que escapa, ratapa de canguru penetrou seu corpo e a fecundou1 12. H.
mas
tambem a alma. A alma se confunde, pois, com
n_
o princí Basedow relatou o mesmo fato a respeito dos Wogait113.
pio sagrado imanente ao sangue. Sabemos, por outro lado, que o ratapa e a alma são coisas
Por outro lado, se nossa explicação tem fundame mais ou menos indistintas. Ora, não se poderia ter atribuí
nto
º. rincípio totêmico, ao penetrar, do à alma uma tal origem se não se pensasse que ela é
como supomos, no in�
feita da mesma substância que os animais ou os vegetais
P_
ivJC lu o'. deve conservar nele uma certa autonomia,
� já que
e especificamente distinto do sujeito no qual se da espécie totêmica.
encarna.
Ora, é precisamente o que Howitt diz ter observa Assim, a alma é com freqüência representada sob
do entre
os Yuin: "Que o totem, diz ele, seja concebido nessas forma animal. Sabe-se que, nas sociedades inferiores, a
tri
bos como sendo, de alguma maneira, uma parte morte jamais é considerada um acontecimento natural,
do ho
mem, é o que prova claramente o caso do chamad devido à ação de causas puramente físicas; geralmente é
o Um
bara, de quem já falei. Este contou -me q u e , há atribuída aos malefícios de algum feiticeiro. Num grande
alguns
anos, um indivíduo do clã dos lagartos-rendados (/ace-li número de tribos australianas, para determinar qual o au
zards) enviou-lhe seu totem enquanto ele dormia. O tor responsável por essa morte, parte-se do princípio de
to
tem penetrou pela garganta do adormecido e que, cedendo a uma espécie de necessidade, a alma do
quase co
meu-lhe o totem que residia em seu peito, por pouco matador vem inevitavelmente visitar sua vítima. Por isso,
não
lhe causando a morte." 109 Portanto, é certo que o corpo é colocado sobre um andaime; depois, debaixo
o totem se
fragmenta ao individualizar-se e que cada urna do cadáver e ao redor, alisa-se cuidadosamente a terra de
das parce
l s que assim se separam desempenha o papel modo que a menor marca se torne facilmente perceptí
� . de um es
pmto, de uma alma que reside no corpo 110 . vel. Volta-se no dia seguinte; se, no interva lo, um animal
Mas eis aqui falos mais diretamente demonstrativo passou por lá, pode-se reconhecer seus traços sem difi
s.
Se a alma não é senão o princíp io totêmico individu culdade. A forma revela a espécie à qual ele pertence, e
aliza
do' ela deve, ao menos em certos casos, manter daí se infere o grupo social de que faz parte o culpado.
relações
.
mais ou menos próximas com a espécie animal ou vegetal Diz-se que é um homem de tal classe ou de tal clã1 14 con
cuja forma o totem reproduz. E, de fato, "os forme o animal seja um totem desse clã ou dessa classe.
Geawe-Gal
(tnbo da Nova Gales do Sul) crêem que cada um Portanto, é a alma que teria vindo sob a figura do animal
tem em
si uma afinidade pelo espírito de alguma ave, mamífe totêmico.
ro ou
275
AS FORMASELEJfEi\TARES DA HDA REUGJOSA 1 \ CREIVÇASELEMENTARES
N
(Queensland do Norte) crêem que a criança, no momento
em que entra no corpo da mãe, é um maçarico se for uma
meni �a , uma serpente se for um menino. Só depois ela
ção particu
aclqu1re fom1a humana11' . Mui tos índios da América do A noção de alma é, portanto, uma aplica
dos. Deste modo
Norte , diz o príncipe de Wiecl, dizem que têm um animal lar das crenças relativas aos seres sagra
essa icléia apres entou
no corpo 1 16 . Os Bororo do Brasil representam sua alma se explica o caráter religio so que
conserva ainda ho
sob a forma de uma ave e, por essa razão, acreditam ser desde que apareceu na história e que
aves dessa mesma variedadeJ 1 ·. Em outros lugares ela é erada uma coisa
ie. Com efeito, a alma st:mpre foi consid
corpo , que é natu
uma abeU1a, etc. t t8
concebida como uma serpente, um lagarto. uma mosca, �agrada; nesse aspec to ela se opõe ao
nte profa no. Ela não se distin gue apenas de seu in
ralme
relação ao fora; não
Mas é sobretudo após a morte que a natureza animal vólucro material, como o dentro em
da alma se manifesta. Durante a vida, esse caráter é como esmen te como feita de uma matéria
é representada simpl
que parcialmente encoberto pela própria forma do corpo ela inspir a algo dos
mais sutil, mais fl uida; além disso ,
humano. Mas, assim que a morte a pôs em liberdade, a al reservados ao que é
sentimentos que por toda parte estão
ma volta a ser o que era. Entre os Omaha, em pelo menos dela um deus, perce be-se nela pelo
essencial
se faz
menos uma centelha da divindade. Esse ca ráter
divino. Se não
dois dos clãs do búfalo, acredita-se que as almas dos mor
tos vão se juntar aos b ú falos, seus ancepassadost t9. Os de alma fosse apena s uma so
seria inexplicável se a idéia
Hopi estão divididos num certo número de clãs, dos quais ca ao probl ema do sonho , pois, como
lução pré-c ientífi
os antepassados eram animais ou seres com forma ani rta r a emoção reli
não há nada no sonho capaz de despe
mal. Ora, segundo Schoolcraft, eles dizem que na morte é explic ado não poderia ser de
giosa, a causa pela qual
retomam sua forma original; cada um deles volta a ser ur é parte da substância divi
outra nature za. Mas se a alma
so, cervo, conforme o clã a que pertence120. Com muita que nós mesmos; se
na, ela representa em nós algo mais
freqüência, a alma se reencarnaria num corpo de ani os seres sagrados, é
é feita da mesma matér ia menta l que
mal121. Provavelmente é daí que veio a doutrina tão di os sentimentos.
natural que ela seja o objeto dos mesm
fundida, da metempsicose. Vimos o quanto Tylor' se atra se atribu i não é o
E o caráter que o home m assim
p.alha para explicá-la122. Se a alma é um princípio essen
produto de uma pura ilusão ; da mesm a forma que a no
cialmente humano, que pode haver de mais singular, com
a noção de alma
.
efeito, que essa marcada predileção que ela manifesta ção de força religiosa e de divind ade,
realid ade. A verda de é que somos
num número tão grande de sociedades, pela forma ani� não é desprovida de
opõem uma à
�ai? Tudo se explica, de duas partes distin tas que se
ao contrário, se, por sua constitui formados
e se pode dizer, num
çao mesma. a alma é parente próximo do animal, pois, outra como o profano ao sagrado,
existe divino em nós. Pois a sociedade,
certo sentido, que
o
nesse caso, ao voltar, após a vida, ao mundo da animali
fonte única de tudo que é sagrad o, não se limita a
dade, ela apenas retorna à sua verdadeira natureza. As essa
geiramente; ela se
sim, a generalidade da crença na metempsicose é mais nos mover ele fora e a nos afetar passa
de mane ira durad oura, suscitando todo
uma prova de que os elementos constitutivos da idéia de organiza em nós
AS CRENÇAS ELEME/VTARES
277
276 AS FORMAS ELEMENTARES DA VTDA RELIGIOSA
mesmos. Quando o australiano sai de uma cerimónia reli dade do dever e seu caráter sagrado sem cair no materia
giosa, as representações que a vida comum despertou ou lismo. De fato, se não tivéssemos a noção dos m
i perativos
tornou a despertar nele não são abolidas ele vez. As figu morais e religiososl23, nossa vida psíquica seria nivelada,
ras dos grandes antepassados, os feitos heróicos cuja lem todos os nossos estados de consciência estariam no mes
brança os ritos com emo ram , as coisas i mp o rta ntes das mo plano e todo sentimento de clualiclacle se dissiparia.
quais o culto o fez participar, em uma palavra, os ideais Certamente, para exprimir essa dualiclacle int el igível , de
diversos que ele elaborou coletivamente continuam a vi maneira nenhuma é necessário imaginar, sob o nome ele
ver em sua consciência e, pelas emoções que despertam, alma, uma substância misteriosa e irrepresentável que se
pela influência muito especial que exercem, distinguem oporia ao corpo. Mas, Lanto aqui como quando se tratou
se claramente das impressões \'Ulgares nele mantida/> por da noção elo sagrado, o erro tem a ver com a letra do sím
seu comércio cotidiano com as coisas exteriores. As idéias bolo empregado, não com a realidade do fato simboliza
morais têm o mesmo caráter. Foi a sociedade que as gra do. Continua sendo verdade que nossa naLUreza é dupla:
vou em nós, e, como o respeito que ela inspira transmite há realmente em nós uma parcela de divindade porque
se naturalmente a tudo o que vem dela, as normas impe há em nós uma parcela desses grandes ideais que sào a
rativas da conduta se acham, em razão de sua origem, in alm a ela coletividade.
vestidas de uma a ut oridade e de uma dignidade que nos
sos outros estados interiores não possuem - por isso, atri A alma individual, portanto, não é senão uma porção
buímos a elas um lugar à parte no conjunto de nossa vida da alma coletiva do grupo; é a força anónima que está na
psíquica. Embora nossa consciência moral faça parte de base do culto, mas encarnada num indivíduo cuja perso
nossa consciência, não nos sentimos no mesmo plano nalidade ela esposa; ela é mana individualizado. O sonho
que ela. Nessa voz que se faz ouvir apenas para nos dar pode efetivamente ter contribuído para determinar certos
ordens e enunciar proibições, não podemos reconhecer caracLeres secundários da idéia. A inconsistência e a insta
nossa voz; o próprio tom com que ela nos fala indica que
bilidade das imagens que ocupam nosso espírito durante
ela exprime em nós algo além de nós. Eis aí o que há de
o sono, sua notável capacidade de transformar-se umas
objetivo na idéia de alma: é que as representações cuja
nas outras, forneceram talvez o modelo dessa matéria su
trama constitui nossa vida interior são ele duas espécies
ti l, diáfana e proteiforme de que a alma seria feita. Por
diferentes e irredutíveis entre si. Umas relacionam-se ao
outro lado, os fenómenos de síncope, catalepsia, etc., po
mundo exterior e material; as outras, a u m mundo ideal
dem ter sugerido a idéia de que a alma era móvel e, j á
ao qual atribuímos uma superioridade moral sobre o pri
nesta vida, abandonava temporariamente o corpo; o que,
meiro. Somos, portanto, realmente feitos de dois seres
por via indireta, serviu para explicar certos sonhos. Mas
que estão orientados em sentidos divergentes e quase
todas essas experiências e observações não puderam ter
contrários, sendo que um exerce sobre o outro uma ver
senão uma influência acessória e complementar, cuja
dadeira preeminência. Tal é o sentido profundo da antíte
existência é inclusive difícil de estabelecer. O que há de
se que todos os povos conceberam mais ou menos clara
realmente essencial na noção provém ele outra parte.
mente entre o corpo e a alma, entre o ser sensível e o ser
r
Z78
AS FORMAS E/DfEll;TARES DA VIDA RELIGIOSA AS CREl\'ÇAS ELEM.E/\TARES
não desconhece 0
Mas essa gênese da idéia
�aráter essencial dela? Se a alma é apenas
de alma totalmente O culto das relíquias demonstra que, ainda
�le ren.uncia a ela basta nte facilmente126. Além disso, a Os mito:. que relatamos anteriormente nos fornecem
I?1ortalidade que lhe é prometida pelas
religiões que pra .1 única explicação que pode ser dada dessa crença. Vi
�
tica na a tem de pessoal. Num grande núme
ro de casos, a mos que as almas cios recém-nascidos eram ou emanações
alma nao conserva ou não conserva por de almas ancestrais, ou essas próprias almas reencarna
muito tempo a
pe:s nal idade d defunto, uma vez que, das. Mas, para que elas pudessem se reencarnar ou libe
� . ? esquecida de sua
ex1stenc1a anterior, parte para anim ar outro rar periodicamente emanações novas, era preciso que so
s corpos. ao
cabo de algum tempo, tornando-se assim brevivessem a seus primeiros detentores. Parece claro,
. o princípio vivi
f1c � dor de perso nalid ades nova s. Mesm portanto, que se admitiu a sobrevivência dos mortos para
o entre povos
mais avançados, não era a pálid a e triste poder explicar o nascimento dos vivos. O primitivo não
existência das
sombras no Scheol ou no Érebo que podia tem a idéia de um deus todo-poderoso que cria as almas
atenuar os la
mentos que a recordação da vida perdida do nada. Parece-U1e qw.. só se podem fazer almas com al
deixava.
Um: explicação mais satisfatória é a que mas. As que nascem, portanto, só podem ser fonnas no
relaciona a
concepçao de uma vida póstuma às expe vas das que existiram; por conseguinte, é preciso que es
riências do so
nho. Nossos parentes, nossos amigos morto tas continuem a existir para que outras possam se formar.
� em em s nho: vcm -los agir, ouvimo-los
� �
s nos reapare
falar; era natu-
A crença na imo1taliclade das almas, em última instância,
1al cor clu1r que continuassem a existir é a única maneira que o homem possui de explicar a si
: . Mas se essas ob
serv çoes puderam servir para confirmar mesmo um fa to q u e não pode deixar d e chamar sua
� a idéia, uma vez
surgida, elas não parecem capazes de tê-la atenção: a perpetuidade da vida do grupo. Os indivíduos
suscitado inte
gralmente. º: sonh s em que vemos reviv morrem, mas o clã sobrevive. As forças que fazem sua vi
? er pessoas de
saparec1das sao muito raros, muito breve da devem assim ter a mesma perperu idade. Ora, essas
. s e deixam lem
branças mutto vagas para que, por si sós, forças são as almas que animam os corpos individuais;
tenham sugeri pois é nelas e através delas que o grupo se rea liza. Por
do aos homens um sistema de crenças tão
�
uma orte desproporção entre o efeito
imponante. Jiá essa razão, é preciso que elas durem. É inclusive neces
e a causa a que é sário que, ao durarem, permaneçam idênticas a si mes
atr1bu1do.
O que to na a ques tão emba raços a é mas, pois, como o clã conserva sempre sua fisionomia
� que, por ela característica, a substância espiritual de que ele é feito
me� m�, a noçao de alma não implicava
a idéia de sobrc deve ser concebida como qualitativamente invariável. Já
v1venc1a, mas parecia antes excluí-la. Com
efeito vimos que se trata sempre do mesmo clã com o mesmo princí
que a alma, e nbora distinta do corpo, é
tamente solida
i:
. ria dele: envel
;
tida com estrei pio totémico, é preciso que as almas sejam as mesmas, as
hece quando ele envelhece almas não sendo senão o princípio totêmico fragmentado
refl �te todas as enfermidades que o ating
devia parece natural que morresse junto
em; portanto : e particularizado. Há, assim, como que um plasma germi
� com ele. Pelo nativo, de ordem mística. que se transmite de geração a
me�os, devena se acreditar que ela cessa
sse de existir, a geração e que produz, ou pelo menos deveria produzir,
pamr d momento em que o corpo tivess
� e definitivamen a unidade espiritual do clã através da duração. E essa
te perdido sua forma primeira, em que nada
mais restasse crença, apesar de seu ca ráter simbólico, não é desprovi
do que ele havia sido. No entan to, é justam
ente então da de verdade objetiva. Pois, se o grupo não é imortal no
que se abre para ela uma nova vida sentido absoluto da palavra, a verdade é que ele dura
.
-·�·llS ELEME\TARES DA VlDA REl.l<.!1
1 t
1 1 Ili \(·IS ELEMENTARES 285
por sol >rv os indivíduos, rena
c,1d 1 gcraçno nova.
scendo e se reencarnando
'" .,ulca do que precede que a noção d� pessoa � o
Um fato confirma essa inter ., h !lo de dois tipos de fatores. Um é essenc1alme�te rn1-
11,tl: é o princípio espiritual que �ei:e de aJ ?'1a ª cole-
pretação. Segundo o ll''" 1 ,1
.
que os Arunta distinguem doh
munho de StrehJow, vimos
1i l ide. É ele, com efeito, que const1tl11 a substancia rnes-
, as dos antepassados cio AI
tipos de almas: há, de um lado 11
cheringa e, de outro, as dos 1 1 1 1 d.1s almas individuais. Ora, esse princípio não perten-
1 l ,1 ninguém em particular: faz parte d� pa trimõnio col�-
indivíduos que, a cada monw11
ente o efetivo da tribo. As w
to da história, compõem realm
.
gundas só sobrevivem ao corp 1 1 \ , '· nele e através dele, todas as consc1enc1as se c�murn
o durame um tempo basra 111t ·
curto; não tardam a ser total • 1 1 1 1 Mas, por outro lado, para que haja personalidades
mente aniquiladas. Somente
como são incriadas, elas 11a1
ª'
primeiras são imortais; assim 1 p.1radas, deve inte1vir um outro fator que fragmente es-
perecem. Ora, é notável que > princípio e que o diferencie: � m ouLros termos, deve
estas sejam também as únic
a�
cuja imortalidade é necessári 11.1\i•r um fator de individuação . E o corpo que desempe-
a para explicar a permanênu
do grupo, pois é a elas e som .1 1 1 J i . 1 esse papel. Como os corpos são distintos uns dos ou-
ente a elas que incumbe a fun
ção de assegurar a perpetuid 1 1 w,, como ocupam pontos diferentes no tem �o e no es
ade do clã, já que toda concep
ção é obra delas. As outras J •.l(O, cada um deles constitui um meio especial em. qu �
não têm, sob esse aspecto,
nhum papel a desempenhar
. Portanto, as almas só são dit
ne
as
1.' representações coletivas vêm se refratar e se col _:1r
? ? 1-
imortais na medida em que l 1 rentemente. Disso resulta que, se todas as consc1enaas
essa imortalidade é útil para
nar inteligível a continuidade tor
da vida coletiva. 1·nvolvidas nesses corpos têm os olhos voltados para o
Assim, as causas que suscitara 1 1 1c.smo mundo, isto é, o mundo de idéias e sc_:ntime�tos
m as primeiras crenças
relativas a uma outra vida nada que fazem a unidade moral do grup� , elas nao o veem
tiveram a ver com as fun
ções que as inst ituiç ões de
além -túm ulo have riam de �ob o mesmo ângulo: cada uma o expru:rie a s:u r:iodo. .
cumprir mais tarde. Mas. uma Desses dois fatores igualmente 111d1spensave1s, o pn-
vez nascidas, elas logo fo
ram utili zada s para finalidad 111ciro certamente não é o menos importante, pois é ele
es diferences daqu elas que
haviam sido suas primeiras < 1ue fornece a matéria-prima d� idéia e al�a. Talvez cau
�
razões de ser. Já nas socieda
des australianas, vemo-las se surpresa atribuir um papel tao cons1derave ao elemen- !
10 impessoal na gênese da noção de personalidade. Mas a
começar a se organizar ness
direção. Aliás, para isso elas a
não precisaram sofrer trans
formações fundamentais. Tant málise filosófica da idéia de pessoa, que antecedeu em
o é verdade que uma mes
ma instituição soci muito a análise sociológica, chegou a resultados análogos
al pode, sem mudar de natu
reza, cum
prir sucessivamente funções sobre esse ponto. Entre todos os filósofos, �eibniz é ur:i
dos que mais intensamente sentiram o que e a personali
diferentes!
I
r
lJ V :apBp�uaA! a •
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J V :;:,pep�u;:,A!<I •
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288 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA REllG!OSA
--.. --,.. ... . ,,,... ,.
CAPÍTULO IX
essencialmente individuais; mas somos tanto mais
pessoas
quanto mais livres dos sentidos, quanto mais capazes
de
pensar e agir por conceitos. Os que insistem, pois,
em tu
A NOÇÃO DE ESPÍRITOS E DE DEUSES
do o que há de social no indivíduo, não pretendem,
com
isso, negar ou rebaixar a personalidade. Apenas se
recu
sam a confundi-la com o fato da individuaçào•2B.
material subsistia. Situaram-na, portanto, nessas á1vores, Assim também, segundo uma expressão da sra. Parker, o
nessas pedras, nesses remoinhos. Assim cada uma delas, totem individual dos Euahlayi, chamado Yunbeai, é u m
embora continuando ligada à proteção de um indivíduo alter ego cio indivíduo: "A alma cio homem está e m seu
determinado, viu-se transformada numa espécie de genius Yunbeai e a alma de seu Yunbeai está nele."26 Trata-se
loci e cumpre essa fu nção21 . pmtanto, no fundo, ele uma mesma alma em dois corpos.
O parentesco dessas duas noções é tão grande que às ve,:
Essas concepçôes, assim elucidadas, nos capacitam a zes elas são expressas por uma mesma e única palavra. E
compreender uma forma de totemismo que tivemos de o caso na Melanésia e na Polinésia: atai na ilha Mota, ta
deixar, até agora, sem explicação: o totemismo individual. maniu na ilha Aurora, taleg ia em Motlaw designam ao
Um totem individual se define essencialmente pelos mesmo tempo a alma do indivíduo e seu totem pessoal27.
dois seguintes caracteres: 1) é um ser com forma animal O mesmo acontece com aitu em Samoa2s. É que o totem
ou vegetal, que tem por função proteger um indivíduo; 2) individual é apenas a forma exterior e visível do eu, da
a sorte desse indivíduo e a de seu padroeiro estão estrei personalidade, cuja forma interior e invisível é a alma29.
tamente ligadas: tudo o que atinge o segundo se comuni Assim, o totem individual tem todos os caracteres es
ca simpaticamente ao primeiro. Ora, os espíritos ances senciais do antepassado protetor e cumpre o mesmo pa
trais de que tratamos correspondem à mesma definição. pel; e isso porque tem a mesma origem e procede da
Também eles se relacionam, ao menos em parte, ao reino mesma idéia.
animal ou vegetal. Também eles são gênios tutelares. En Ambos, com efeito, consistem num desdobramento
fim, um vínculo simpático une cada indivíduo a seu ante da alma. O totem, como o antepassado, é a alma do indi
passado protetor. A árvore nanja, corpo místico desse an víduo, mas exteriorizada e investida ele poderes superio
tepassado, não pode, com efeito, ser destruída sem que o res aos que ela possuiria no interior cio organismo. Ora,
homem se sinta ameaçado. A crença, é verdade, perde esse desdobramento é o produto de uma necessidade psi
hoje força. No entanto, Spencer e Gillen ainda a obse1va cológica, pois apenas exprime a natureza da alma q u e ,
ram e, em todo caso, julgam que outrora era gera122. como vimos, é dupla. N u m certo sentido, ela é nossa: ex
A identidade verifica-se inclusive nos detalhes das prime nossa personalidade. Mas, ao mesmo tempo, está
duas concepções. fora de nós, já que é apenas o prolongamento em nós de
As almas ancestrais residem em árvores ou pedras uma força religiosa que nos é exterior. Não podemos nos
que são consideradas sagradas. Do mesmo modo, entre confundir completamente com ela, já que lhe atribuímos
os Euahlayi, o espírito cio animal que serve de totem indi uma excelência e uma dignidade através das quais se ele
vidual habitaria numa á1vore ou numa pedra23. Essa árvo va acima ele nós e ele nossa individualidade empírica. Há,
re ou essa pedra são sagradas; ninguém pode tocar nelas, assim, toda uma parte de nós mesmos que tendemos a
salvo o proprietário cio totem; e, mesmo assim, quando se projetar fora de nós. Essa maneira de nos concebermos
trata de uma pedra ou rocha, a interdição é absoluta24. acha-se tão bem fundada em nossa natureza que não po
Disso resulta que são verdadeiros locais de refúgio. demos escapar a ela, ainda que tentemos nos pensar sem
Enfim, vimos que a alma individual é apenas um ou recorrer a nenhum símbolo religioso. Nossa consciência
tro aspecto cio espírito ancestral; este, segundo a expres moral é como o núcleo em tomo do qual se formou a no
são de Strehlow , serve, de certo modo, ele segundo eu 2s . ção de alma; no entanto, quando ela nos fala, dá-nos a
298 AS FORMAS ELE!VJENTARIJS DA VT
DA REL/GfOSA AS CRENÇAS ELEMENTARE5 299
impressão de uma força exterior e superior a nós, que nos pio religioso é considerado a fonte da vida; era lógico,
dita a lei e nos julga, mas que também nos ajuda e nos sus portanto, relacionar a um princípio do mesmo gênero to
tenta. Quando a temos a nosso favor, sentimo-nos mais dos os acontecimentos que perturbam a viela ou que a
fortes contra as provações da vida, mais seguros de triun destroem.
far delas, da mesma forma que o australiano, confiante em Esses espíritos prejudiciais parecem claramente ter
seu antepassado ou em seu totem pessoal, sente-se mais sido concebidos segundo o mesmo modelo que os gênios
�alente contra seus inimigos3o. Há, portanto, algo de obje benéficos ele que acabamos ele falar. São representados
tivo na base dessas diferentes concepções, quer se trate sob forma animal, ou em parte animal, em parte huma
do geníus romano, do totem individual ou elo antepassa na36; mas há uma tendência natural a atribuir-lhes dimen
do elo AJcheringa; e é por isso que, sob formas diversas, sões enormes e um aspecto repugnante37. Assim como
elas sobreviveram até nossos dias. Tudo se passa como se as almas dos antepassados, supõe-se que habitem árvo
tivéssemos realmente duas almas; uma que está em nós, res, pedras, remoinhos d'água, cavernas subterrâneas38.
ou melhor, que é nós; outra que está acima ele nós e cuja Muitos nos são representados como almas ele pessoas
função é assistir e controlar a primeira. Frazer percebia que viveram uma viela terrestre39. No que se refere aos
claramente que, no totem individual, havia uma alma ex Arunta em particular, Spencer e Gillen dizem expressa
terior; mas acreditava que essa exterioridade era o produ mente que esses maus gênios, conhecidos pelo nome de
to de um artifício e de uma artimanha mágica. Em realida Oruncha, são seres do AJcberinga4°. Entre os persona
de, ela está implicada na constituição mesma da idéia de gens da época fabulosa, havia vários, com efeito, de tem
alma31. peramentos diferentes: alguns tinham instintos cruéis e
maldosos que ainda conservam41 ; outros tinham natural
mente má constituição; eram magros e descarnados; as
II sim, quando se enterraram no chão, as pedras nanja a
que deram origem foram consideradas focos de perigo
Os espíritos de que acabamos de falar são essencial sas influências42.
mente benéficos. Certamente agem com severidade, se o Mas eles se distinguem de seus congêneres, os heróis
homem não se comporta com eles como convém32; mas do Alcheringa, por caracteres particulares. Esses maus es
sua função não é prejudicar. píritos não se reencarnam; entre os homens vivos, não h á
Entretanto, o espírito, por si mesmo, pode servir tan jamais quem o s represente; s ã o privados d e posteridade
to ao mal quanto ao bem. Por isso, ante os espíritos auxi humana43. Quando, por certos sinais, acredita-se que uma
liares e tutelares, constituiu-se naturalmente uma classe criança é o produto de suas obras, matam-na assim que
de gênios malignos que permitiram aos homens explica ela nasce44. Por outro lado, não s e relacionam a nenhum
rem-se os males permanentes de que devem padecer, os centro totêmico determinado; estão fora dos marcos so
pesadelos33, as doenças34, os furacões e as tempestades35 ciais4s. Por todos esses traços, admite-se que são potências
etc. Não que todas essas misérias humanas, é claro, pare� muito mais mágicas do que religiosas. E, de fato, é so
cessem coisas demasiado anormais para só poderem ser bretudo com o mágico que estão em contato; é delas,
explicadas por forças sobrenaturais; mas é que todas as com muita freqüência, q u e este obtém seus poderes46.
forças são então pensadas sob forma religiosa. Um princí- Chegamos a q u i , portanto, ao ponto o n d e termina o
300 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA ,1\ CRENÇAS El.EM.ENTARES 30J.
�undo ? ª religião e começa o da magia; e, como este úl presença da tribo, ou, pelo menos, por ocasião de uma
timo esta fora de nossa pesquisa, não nos cabe levar adian .1i.sembléia para a qual diferentes clãs foram convocados .
te esse esn1do47. A razão disso é que a iniciação tem por finalidade intro
duzir o neófito na vida religiosa, não apenas do clã onde
de nasceu, mas da tribo inteira; portanto, é necessário
III que os aspectos variados da religião tribal sejam represen
tados diante dele e passem, de certo modo, por seus
O aparecimento da noção de espír olhos. É nessa ocasião que melhor se afirma a unidade
ito marca um im
p.ortan te progresso na indiv idual moral e religiosa da tribo.
izaçã o das forças reli
giosas.
�_'.'
Toc vi� os seres espirin1ais ele que
se falou até ago
Há, assim, em cada sociedade, um certo número de
ritos que se distinguem dos demais por sua homogenei
.? �unda mais. que personagens secundários. Eles
, m_ o sa '.
ra dade e sua generalidade . Uma concordância tão notável
ou s: �o
g�n�? s maléfcos que pertencem só pareceu poder se explicar por uma unidade de origem .
mais à magia do
que a el1g1ao, u, ligad � imaginou-se, po1tanto, que cada grupo de ritos similares
� � os a u m indiv íduo e a u m lugar
d�termmados, so podem fazer senti
ra10 de ªção muito limitado. Porta
r sua influência num havia sido instituído por um mesmo e único antepassado
. nto, só podem ser 0 ob que os teria revelado à tribo inteira. Assim, entre os Arun
!et� de ntos privados e locais. Mas, uma vez constituída ta, é um antepassado do clã do Gato-Selvagem, chamado
a
1de 1a ele espírito, ela se estendeu Putiaputia4s, que teria ensinado aos homens a maneira de
naturalmente a esferas
mais .
elevadas da viela religiosa, e com fabricar os churinga e de empregá-los ritualmente; entre
isso surgiram per
sonaltdacles m1tic , as
de uma ordem superior. os Warramunga, é Multll-murtu49; entre os Urabunna, Wi
Se as cerimônias próprias a cada
clã d i ferem umas turna so; entre os Kaitishs 1 , Atnatu, e entre os Kurnai52,
das outr · elas não deixam de Tundun. Do mesmo modo, as práticas da circuncisão são
. �: se relacionar a uma mes
n1a r:ltgiao; assim, existe entre atribuídas pelos Dieri do Leste e várias outras tribos53 a
. . elas um cena número de
sunilitudes essenciais. � �mo t?<los os clãs são apenas par dois Mura-mura detenninados, pelos Arunta, a um herói
tes de u a mesma e un1ca tribo do Alcheringa chamado Mangarkunjerkunjas�. do totem
� , a unid ade da tribo não
pode deixa r de se fazer sentir atrav do Lagarto. Ao mesmo personagem são atribuídas a insti
. és da diversidade dos
c� ltos particulares. J? e fato, não há grupo totêmico que tuição das interdições matrimoniais e a organização social
nao te�ha seus chun nga, seus bult- que elas implicam, a descoberta do fogo, a invenção da
roarers, que em toda
P.'.1 1te sa empregad s de forma lança, do escudo, do bumerangue, etc. Com muita fre
� � semelhante. A organiza
ça � da �1bo em fra :na , em class qüência, aliás, o inventor do bull-roarer é também consi
� es matrimoniais, em clàs,
_
as mterd1çoes e_xog�ll1l as a eles ligadas, cons
� tituem igual derado como o fundador dos ricos da iniciação55 .
?1:� te verdadeiras mst1tuições tribais. Todas as festas da Esses antepassados especiais não podiam ser postos
_ o comp
m1c1aç� reendem algumas práticas fundamen
tais no mesmo nível dos outros . Por u m lado, os sentimentos
extraçao do dent e' circu cisão,
_
� subin cisào , etc. -, que, de veneração que inspiravam não eram limitados a u m
para .uma mesma tnbo .
, nao variam com os totens. A uni clã, mas comuns a toda a tribo. Além disso, era a eles que
for� 1dade em relação a esse pont se atribuía o que de mais estimado havia na civilização tri
o se estabelece ainda
mais facilmente porq ue a inicia bal. Por essa dupla razão, eles se tornaram objeto de uma
ção semp re ocorreu em
302 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA IS CRENÇAS ELEMENTARES 303
consideração muito particular. Diz-se de Atnatu, por 10 extensa que compreende o Estado de Victoria, a Nova
exemplo, que ele nasceu no céu, numa época inclusive < . ales do Sul e se estende até mesmo ao Queensland62.
anterior aos tempos do Alcheringa, que criou a si mesmo l\m toda essa região, um número considerável de tribos
e deu-se o nome que tem. As estrelas são suas mulheres nê na existência ele uma verdadeira divindade tribal que,
ou suas filhas. Além cio céu onde ele vive, há um outro segundo as regiões, possui nomes diferentes. Os mais fre
com um outro Sol. Seu nome é sagrado e jamais eleve ser qüentemente empregados são os de Bunjil ou Punjil63,
pronunciado diante das mulheres ou dos não-iniciaclos56. Daramulun64 e Baiame65. Mas verificam-se também os ele
No entanto, qualquer que fosse o prestígio desses Nuralie ou Nurelle66, Kohin67, Mungan-ngaua6s. Encontra
personagens, não havia motivo para instituir em sua hon se a mesma concepção mais a oeste, entre os Narrinyeri,
ra ritos particulares, pois eles próprios não são mais que onde um grande deus é chamado Nurunderi ou Ngurrun
ritos personificados. Não têm outra razão de ser senão ex <leri69. Entre os Dieri, é bastante provável que, acima dos
plicar práticas existentes, das quais são apenas um outro Mura-mura ou antepassados ordinários, exista um que go
aspecto. O churinga forma uma coisa só com o antepassa ze de uma espécie de supremacia70. Enfim, contrariamen
do que o inventou; ambos têm, às vezes, o mesmo no
me57. Quando se faz ressoar o bull-roarer, diz-se que é a
te às afirmações de Spencer e Gillen, que declaravam não
ter observado entre os Arunta nenhuma crença numa di
voz elo antepassado que se faz ouvir58. Mas, precisamente vindade propriamente dita71, Strehlow garante que, sob o
porque cada um desses heróis se confunde com o culto nome ele Altjira, esse povo, assim como os Loritja, reco
que teria instituído, acredita-se que ele está atento à ma nhece um verdadeiro "bom deus"72.
neira pela qual este é celebrado. Só fica satisfeito se os fiéis Os caracteres essenciais desse personagem são em
cumprem exatamente seus deveres; pune os que são ne toda parte os mesmos. Trata-se ele um ser imortal, até
gligentes59. Po1tanto, ele é visto como guardião do rito, ao mesmo eterno, pois não deriva de nenhum outro. Após
mesmo tempo que seu fundador, razão pela qual se acha ter habitado a Terra durante algum tempo, subiu ou foi
investido de um verdadeiro papel moral6o. levado ao céu73, onde continua a viver cercado de sua fa
mília, pois lhe atribuem geralmente uma ou várias mulhe
rv
res, filhos e irmãos74 que, às vezes, o assistem em suas
funções. Em razão do lugar onde reside, ele e os seus
costumam ser identificados com estrelas determinadas75.
Entretanto, essa formação mitológica não é a mais Atribuem-lhe, aliás, um poder sobre os astros. Foi ele que
elevada que encontramos entre os australianos. Há um estabeleceu e ordenou a marcha do Sol e da Lua76; ele
certo número de tribos que chegaram à concepção ele um lhes dá ordens77. Ele é que faz cintilar o relâmpago da nu
deus, senão único, pelo menos supremo, situado numa vem e que lança o raio7s. Como é o trovão, relaciona-se
posição preeminente em relação às outras entidades reli igualmente com a chuva79: é a ele que se dirigem quando
giosas. falta água ou quando chove demaisSO.
A existência dessa crença havia sido há muito assina Fala-se dele como de uma espécie de criador: é cha
lada por diferentes observadores61, mas foi Howitt quem mado o pai dos hon1ens e diz-se que os criou. Segundo
mais contribuiu para estabelecer sua relativa generalida uma lenda que circulava em Melbourne, Bunjil teria feito
de. Ele a constatou, com efeito, numa área geográfica mui- o primeiro homem da seguinte maneira: com argila, teria
30·Í AS FORMAS ELElfEATAJ?ESDA �WA REUGIOSA ,1\ CRESÇAS ELE.lfE.\TARES 305
fabricado uma e5tatueta; depoi5 terüi dançado ao redor 1· seu CL.lto. Por isso. cuida que esses ritos, em particular,
dela várias vezes, lhe teria soprado nas narinas, e a estatue :-,eiam exatamente observados: quando faltas ou negligên
ta teria se animado e começado a a (ldar8I. Segundo um cias são comelidas, ele as reprime de maneira terrível9S.
outro mito, ele teria acendido o Sol'· a Terra teria então se A autoridade de cada u m desses deuses, aliás, nào se
aquecido e os homens dela teriam b(otado112. Ao mesmo limita a uma única tribo: ela é igualmente reconhecida
tempo que os homens83, esse person agem divino fez os por uma pluralidade de tribos vizinhas. Bunjil é adorado
animais, as árvoresfl.l; é a ele que se d evem todas as artes em quase todo o Estado de Vicroria; Baiame, numa boa
da vida, as armas, a linguagem, os rit'.os tribais85. Ele é o patte da Nova Gales do Sul, etc. É o que explica que es
benfeitor da humanidade, para a q u a JI continua a desem ses deuses sejam em tão pequeno nümero para uma área
penhar o papel de uma espécie de Prc)Vidência. Ele é que geográfica relativamente extensa. Os cultos de que são
provê a seus fiéis o necessário ã existRncia86. fatá em co objeto têm, portanto, um caráter internacional. Acontece
municaç-Jo com el<.:s, seja diretamence seja por intenncdiá inclusive que essas diferentes mitologias se misturem se
d
rios87. Mas, ao mesmo tempo, guar iíão da moral tribal, combinem, se façam mutuamente empréstimos. Assim, a
castiga quando esta é violadaRS. A julg:a r por certos obser maior parte das tribos que crêem em Baiame admitem
vadores, cumpriria inclusive, após a vi c;la, a função de juiz; também a existência de Daramulun; só que lhe concedem
distinguiria entre bons e maus e não r:rataria uns da mes uma menor dignidade. Fazem de Daramulun um filho ou
m a for ma que os outrosB9. Em todo caso, costuma ser um irmão de Baiame, subordinado a este ültimo96. A fé
a presentado como encarregado do p>aís dos mortos90 e em Daramulun acha-se assim difundida, sob formas diver
como acolhedor das almas, quando chiegam no além91. sas, em cada a Nova Gales do Sul. Portanto, o internacio
Como a iniciação é a forma princ ipal do culto tribal, nalismo religioso está longe de ser uma particularidade
lhe são mais especialmente devotado�s os ritos de inicia das religiões mais recentes e avançadas. Desde o início da
ção; ele é o centro desses ritos. Com fnUita freqüência, é história, as crenças religiosas manifestam uma tendência a
representado, então, por uma imagem talhada numa cas não se encerrar numa sociedade política estreitamente li
ca de árvore ou modelada na terra . ])lança-se ao seu re mitada; há nelas como que uma aptidão natural a transpor
dor; canta-se em sua honra; dirigem- Ilhe até verdadeiras as fronteiras, a se difundir, a se internacionalizar. Claro
preces92. que houve povos e épocas em que essa aptidão espontâ
. Explicam aos jovens quem é o pe. rsonagem que essa nea foi barrada por necessidades sociais opostas; mas ela
imagem representa; dizem-lhes seu no• me secreto, aquele não deixa de ser real e, como se percebe, muito primitiva.
que as mulheres e os não-iniciados d�vem ignorar; con Essa concepção pareceu a Tylor de uma teologia tão
tam-lhes sua h istória, o papel que a tra Pição lhe atribui na elevada que ele se recusou a ver aí outra coisa que o pro
vida d_'.1 tribo. Em outros momentos, levantam as mãos pa duto de uma importação européia: seria uma idéia cristã
ra o ceu onde se supõe que ele resida ; ou então apontam mais ou menos desnaturada97. A. Lang, ao contrário98,
na mesma direção as armas ou os instnJmentos rituais que considera-a autóctone; mas, admitindo, também ele, que
manejam93: é um meio de entrar em ,comunicação com ela contrasta com o conjunto das crenças australianas e se
�!e. Por toda parte sentem sua presença .. Ele vela pelo neó baseia em princípio« completamente diferentes, conclui
fito quando este se retira na íloresta94 . . Está atento ã ma que as religiões da Austrália são feitas de dois sistemas
neira pela qual as cerimónias são celetbradas. A iniciação heterogêneos, superpostos um ao outro e derivados, con-
AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RRUG!OSA AS CRENÇAS ELEMENTARES 307
seqüentemente, de uma dupla origem. Haveria, de um la mente dotado de poderes mais que humanos, mas que vi
do, as idéias relativas aos totens e aos espíritos, que teriam veu na terra uma vida perfeitamente humana102. Pintam
sido sugeridas ao homem pelo espetáculo de certos fenô no como um grande caçadorto3, u m poderoso mágico104,
menos naturais . Mas, ao mesmo tempo, por uma espécie o fundador da triboios. Ele é o primeiro dos homens106.
de intuição sobre cuja natureza nada é explicado99, a in Uma lenda o representa inclusive sob os traços de um ve
teligência humana teria concebido desde o início um lho fatigado que mal pode se mover107. Se existiu entre os
deus único, criador do mundo, legislador da ordem mo Dieri um deus supremo chamado Mura-mura, a palavra é
ral. Lang julga inclusive que, na origem, em panicular na significativa, pois serve para designar a classe dos ante
Austrália, essa idéia era mais pura de qualquer elemento passados. Assim também, Nuralie, nome do grande deus
estrangeiro do que nas civilizações que vieram imediata nas tribos do rio M u rray, é às vezes empregado como
mente depois. Com o tempo, essa idéia teria sido pouco uma expressão coletiva aplicada ao conjunto dos seres
a pouco rccobena e obscurecida pela massa sempre cres rrúticos que a tradição coloca na origem das coisas108. São
cente das superstições animistas e totêmicas. Assim, ela personagens inteiramente comparáveis aos do Alcherin
teria sofrido uma espécie de degenerescência progressi ga tO')_ Inclusive encontramos no Queensland um deus An
va, até o momento em que, por efeito de uma cultura je-a ou Anjir, que cria os homens e, não obstante, parece
privilegiada, teria conseguido se recuperar e se afirmar claramente ser apenas o primeiro dos humanos 1 1 0.
de novo, com um brilho e uma clareza que não possuía O que ajudou o pensamento dos australianos a pas
no princípio100. sar da pluralidade dos gênios ancestrais à idéia do deus
Mas os faros não admitem nem a hipótese cética de tribal foi que, entre esses dois extremos, intercalou-se um
Tylor, nem a interpretação teológica de Lang. termo médio, que serviu de transição: os heróis civiliza
Em primeiro lugar, é hoje certo que as idéias relativas dores. Os seres fabulosos que chamamos com esse nome
ao grande deus tribal são de origem indígena. Elas foram são, de fato, simples antepassados aos quais a mitologia
observadas quando a influência dos missionários não tive atribuiu um papel eminente na história da tribo e que, por
ra ainda tempo de se fazer sentir10 1 . Mas disso não se se essa razão, foram colocados acima dos outros . Vimos
gue que devamos atribuí-las a uma misteriosa revelação. mesmo que eles faziam regularmente parte da organiza
Longe de derivarem de uma outra fonte que não as cren ção totêmica: Mangarkunjerkunja é do totem do Lagarto e
ças propriamente totêmicas, elas são, ao contrário, a con Putiaputia do totem do Gato-Selvagem. Mas, por outro la
seqüência lógica e a forma mais elevada dessas crenças. do, as funções que eles supostamente cumprem ou teriam
Vimos, com efeito, que a noção dos antepassados cumprido se assemelham muito às que competem ao
míticos está implicada nos princípios mesmos sobre os grande deus. Também este é tido por haver iniciado os
quais repousa o totemismo, pois cada um deles é um ser homens nas artes da civilização, por ter sido o fundador
totêmico. Ora, embora os grandes deuses lhes sejam cer das principais instituições sociais e o revelador das gran
tamente superiores, há entre uns e outros apenas diferen des cerimônias religiosas que continuam sob seu controle.
ças de graus: passa-se dos primeiros aos segundos sem Se ele é o pai dos homens, é antes por tê-los fabricado do
solução de continu idade. Um grande deus, de fato, é ele que engendrado; m'ls Mangarkunjerkunja faz a mesma
próprio um antepassado particularmente importante. Com coisa. Antes dele, não havia homens, apenas massas de
freqüência falam-nos dele como de um homem, certa- carne informes em que os diferentes membros, inclusive
308 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELJGIOS11 ,1s CREJ\ÇAS ELEJ1ENTARES 309
01> diferentes indivíduos, não estavam separados uns dos Um de •.cus fi lhos, pelo menos, é um dos totens abrangi
22•
outros. Foi ele que esculpiu essa matéria-prima e dela ti dos pela fratria à qual ele deu ou emprestou seu nome1
rou seres propriamente humanos 1 1 1 . Entre esse modo de Seu irmão é Pallyan, o morcego; ora, este serve de totem
fabricação e aquele que o mito de que falamos atribui a sexual aos homens em numerosas tribos de Victoria 123.
Bunjil, há apenas nuanças. Aliás, o que mostra bem o laço Podemos mesmo ir além e precisar ainda mais a rela
que une essas duas figuras uma à outra é que uma rela ção que os grandes deuses mantêm com o sistema totémi
ção de filiação é às vezes estabelecida entre elas. Entre os co. Daramulun, como Bunjil, é uma águia-falcão, e sabe
Kurnai, Tundun, o herói do bull-roarer, é o filho do gran se que esse animal é um totem de fratria num grande nú
de deus Mungan-ngaua112. Do mesmo modo, entre os Euah mero de tribos do Sudeste m. Nuralie, dissemos, parece
layi, Daramulun, filho ou irmão de Baiame, é idêntico a ter sido inicialmente um termo coletivo que designava in
Gayandi, que é o equivalente do Tundun dos Kurnai113. d1Stintamente águi
a1>-falcões ou corvos; ora, nas tribos em
Seguramente de todos esses fatos não se deve concluir que. esse mito foi observado, o corvo serve de totem a
que o grande deus não é nada mais que um herói civiliza uma das duas fratrias, a águia-falcão à outra12s. Por outro
dor. Há casos em que esses dois personagens são nitida lado, a história legendária dos grandes deuses lembra mui
mente diferenciados. Mas, se não se confundem, pelo me to a dos totens de fratria. Os mitos, e às vezes os ritos, co
nos são parentes. Também acontece que se tenha alguma memoram as lutas que cada uma dessas divindades teve
dificuldade em distingui-los: há os que podem ser igual de travar contra uma ave carnívora, da qual triunfou não
mente bem classificados tanto numa como noutra catego sem dificuldade. Bunjil, ou o primeiro homem, após ter
ria. Por isso, falamos de Atnatu como de um herói civiliza feito o segundo homem, Karween, entrou em conflito
dor, mas ele está bem mais perto de ser um grande deus. com este e, durante uma espécie de duelo, feriu-o grave
A noção de deus supremo depende mesmo tão inti mente e transformou-o em corvo1 26. As duas espécies de
mamente do conjunto de crenças totêmicas que conserva Nuralie são apresentadas como dois grupos inimigos que,
ainda sua marca. Tundun é u m divino herói muito próxi primitivamente, estavam a todo momento em guerra127.
mo da divindade tribal, como acabamos de ver; ora, a Baiame, por sua vez, teve de lutar contra Mullian, a águia
mesma palavra, entre os Kurnai, quer dizer totem • 1 4 . Do falcão canibal, que, aliás, é idêntica a Daramulun12ª. Ora,
mesmo modo, entre os Arunta, Altjira é o nome do gran vimos que entre os totens de fracria há igualmente uma
de deus e também o nome do totem materno1 1s. E mais: espécie de hostilidade constitutiva. Esse paralelismo aca
muitos grandes deuses têm um aspecto manifestamente ba demonstrando que a mitologia dos grandes deuses e a
totêmico. Daramulun é uma águia-falcão 116 , tem por mãe dos totens são parentes próximas. O parentesco ficará
uma ema• 11. É sob os traços de u m a ema que Baiame é ainda mais evidente se observarmos que o êmulo cio deus
igualmente representado11s. O próprio Altjira dos Arunca é regularmente ou o corvo, ou a águia-falcão, que são, de
tem pernas de ema•19. Nuralie, antes de ser o nome de maneira geral, totens de fratria1 29.
um grande deus, designava, como vimos, os antepassados Baiame, Daramulun, Nuralie, Bunjil parecem, portan
fundadores da tribo, uns dos quais eram corvos e os ou to, ser totens de fratria que foram divinizados. Eis como é
tros falcões1 20. Bunjil, segundo Howitt l21, é sempre figura possível conceber que ocorreu essa apoteose. Sem dúvida
do sob uma forma humana; no entanto, a mesma palavra nenhuma, essa concepção se elaborou nas assembléias
serve para designar um totem de fratria, a águia-falcão. que se realizam a propósito da iniciação; pois os grandes
310 •JS CRESÇAS E/..E.HE.\TARES 311
AS FORMAS ELEMENTARES DA VTDA REUGIOSA
�
d euses só esempenham um papel de alguma importân que este ú timo, durante uma luta contra seu rival, fora
.
ua nesses ntos, enquanto são alheios às outras cerimônias 'encido e que sua exclusão fora a conseqüência de sua
!
religios�s. Al ás, como a iniciação é a forma principal do derrota. A idéia foi ainda mais facilmente aceita por estar
c� lto tnb� I. e s�me�t� nessa ocasião que uma milOlogia de acordo com o conjunto da mitologia, já que os totens
tribal podia surgir. Ja vunos como o ritual da circuncisão e de fratria são geralmente considerados inimigos um do
o da subincisão tendiam espontaneamente a se personifi outro.
c:r na for�a de heróis civilizadores. Só que esses heróis
yp.iO pode servir para confirmar essa explicação, pois ele
Um mito que a sra. Parker observou entre os Euahla
nao exerciam nenhuma supremacia; estavam no mesmo
plano que os outros benfeitores legendários da sociedade. apenas a traduz sob uma forma figu rada. Conta-se que,
Mas la_ onde a tribo adquiriu um sentimento mais forte de nessa tribo, os totens eram a princípio apenas os nomes
si, esse sentimento encarnou-se naturalmente num perso dados às diferentes partes do corpo de Baiame. Os clâs
nagem qu1.;; se tornou seu símbolo. Para explicar a si mes '>criam, portanto, num certo sentido, corno que fragmen
mos o: vínculos que os uniam uns aos outros, não impor tos do corpo divino. Não é outra maneira de dizer que o
t� o ela a 5Jue pertencessem, os homens imaginaram que grande deus é a síntese de todos os totens e, conseqüen
tinham saido de um mesmo tronco, que eram filhos de temente, a personificação da unidade tribal?
um mesmo p�i a �uem deviam a existência, sem que este Mas o grande deus adquiriu ao mesmo tempo um cará
a devesse a nmguem. O deus da iniciação era talhado sob ter internacional. Com efeito, os membros da tribo à qual
pertencem os jovens iniciados não são os únicos que assis
tem às cerirnônias da iniciação; representantes das tribos vi
medida para esse papel, pois, segundo uma expressão
��e . re �orna com freqüência aos lábios dos indígenas, a
m1c1açao tem precisamente por finalidade fazer fabricar zinhas são especialmente convocados para essas festas, que
;
homens. Atribuiu-se, pois, a esse deus um pod r criador se assemelham a feiras internacionais, a uma só vez religio
�· por todas :ssas razõ�, ele se viu investido de um pres sas e leigasl31. Crenças que se elaboram em meios sociais
tigio que o pos bem acima dos outros heróis da mitologia. ac;sim compostos não podem permanecer como patrimônio
Estes tornaram-se seus subordinados, seus auxiliares; fez exclusivo de uma nacionalidade detenninada. O estrangeiro
se deles seus filhos ou seus irmãos menores, como Tun a quem elas foram reveladas as comunica, assim que retor
dun, Gayand1, . Karween, Pallyan, etc. Mas já existiam ou na, à sua tribo natal; e como, cedo ou tarde, chegará sua
tros seres sagra �los que ocupavam no sistema religioso da vez de convidar seus anfitriões da véspera, vão se produzin
tnbo um lugar igualmente eminente: os totens de fratria. do, de sociedade a sociedade, continuas trocas de idéias.
Onde se mantiveram, são tidos por conservar sob sua de Constituiu-se, assim, uma mitologia internacional, cujo ele
pendên � ia os totens dos clãs. Assim tinham tudo o que mento essencial acabou sendo naturalmente o grande deus,
era preciso para que eles próprios se tomassem divinda já que essa mitologia tinha sua origem nos ritos da iniciação
des tribais. Era natural, portanto, que uma confusão parcial que ele tem por função personificar. Seu nome passou,
?
se .esta elecesse entre esses dois tipos de figuras míticas. pois, de uma língua a outra com as representações que a
Fot assim que um dos dois totens fundamentais da tribo ele estavam associadas. O fato de os nomes das fratrias se
emprestou seus traços ao grande deus. Mas como era pre rem geralmente comuns a tribos muito diferentes só pôde
ciso explicar por que somente um deles fora chamado a facilitar essa difusão. O n
i ternacionalismo dos totens de fra
essa dignidade da qual o outro estava excluído, supôs-se tria abriu caminho para o do grande deus.
r '
313
312 AS FORMAS ELF.MENTARES DA HDA REUCIOSA AS CRENÇAS ELEMENTARES
LIVRO IrI
não prescrevem ao fiel que cumpra ações efetivas, mas se el a, quando mio a antecipa, pena essa que é delibernda
limitam a proibi r-lhe cenas maneiras de agir; ponanto, ac.1- mente inlligida pelo1> homens; ou, pelo menos. há censu
qu i rem Lodos a forma da interdição, ou, como se diz cor ra, reprovação pública . Ainda que o sacrilégio tenha sido
rentemence em et nografia, do tabu . Esta última pah1vr.1 é a como que punido pela do ença ou a monc nawral ele seu
que se emprega na.'> linguas polinésias para designar a i n� autor, ele é, além disso, estigmatizado; ele ofende a opiniào,
Litu iç:io em virtude ela qual certas coisas são retirndas e.lo que reage contrJ ele; põe aquel e que o cometeu em estn
uso comumZ; é também u m adjetivo que exprime o niráwr do de falta. Ao contrário, a incerd içào mágica é sa nciona
distint ivo desse tipo de coisas. Já t ivemos a ocasião de da apenas pela.... com .eq üências materiais que o ato inter
moscrJr o quanto é impróprio transformar assim, num ter dito supostamente prod uz, com uma es pécie de necessi
mo genérico, uma expressão estritamente local e dialeta l . dade fís ic:i. Ao deso b ed e cer, correm-se riscos, como
Não há religião em que não existam in Lt:rclições e cm que aquelt:s aos quais se expôe um enfermo que não segue os
elas não desempenhem um pa pel considerável; portanto, conselhos de seu médico; mas a desobed iência, nesse ca
(: lamentável que a terminologia consagrada pareça fazer, so, não const itui uma falta, não causa ind ignação. N<\<> há
de uma institu ição tão u niversal, uma particularidade pró pecado mágico. Essa diferença nas pun ições deve-se, a l iás,
pria d�t Pol inésia 5 . A expressão interditos ou i11terdições a uma diíercn<;:1 profund<t na natureza das intcrc.liçôcs. A
nos parece bem mais preferível . Entretanto, " palavra tabu, inLerd iç;1o religios;1 impl ica necessariamente a noção do
como totem, é Lào usual que haveria um excesso de puris sagrado, vem cio respeito que o objeto sagrad o inspira e
mo cm proi bi-la sistematicamente; além disso, os inconve tem por finalidade im pedi r q u e falte esse respeito. Ao
nientes que ela apresenta são atenuados tão logo se tenha contrário, as i nlerdiçôcs mágicas supõem apenas a no,·ão
o cuidado de precisar seu sentido e seu alcan ce. perfc iL<tmenle leiga de propriedade. As cois:is que o mági
Mas há interdições ele espécies diferentes, que impor co recome nda manwr separadas são aquelas que, cm ra
ta distinguir, pois, no presente capírulo, não iremos tratar zão de suas propri edades caracterísricas, não podem .�er
de todos os seus tipos. misturadas ou :ipro. 1madas sem perigos. Mesmo se ele
Antes ele mais nada, além daq uelas relacionadas ã re vem a convidar seus clientes a m an terem distância de cer
ligião, há as que dizem respeito à m agia . Ambas têm cm tas coisas sagradas, não o faz por respeito a elas e por te-
º ES RITUAJS
,15 PRl1YCIPAIS A T!Tl{)
320
AS FOflltAS ELE!.1ENTARES DA VIDA REUG!OSA 321
mor de que sejam profanadas, pois a magia, como sabe Mas ex1�te um ou tro <;istema de interdiçõe-; religiosas
mos, vive de profanações•, mas unicamente por razões de muito mais extenso e mais importante: é o que separa,
utilidade temporal. Em uma palavra , as inte rdições re l ig io não espécies d iferentes, mas tudo o que é sag rado ele tu
sas são i m perati vos categó r i cos ; as o u t ras são máximas do o que é profano. Deriva im edi ata mente, portanto, da
utilitárias, primeira fo rm a ele i nterdições higiênicas e mé noção mesma de sag rado, que esse sistema se l im i ta a ex
dicas. Não se pode, sem confusão, es tu d a r simultanea pri m i r e a rea l i za r. Assim, ele fo rn ece a m a téri a ele um
mente, e sob o mesmo nome, duas ordens de fa tos tão di verdadeiro cul to, e mes mo de um culto que está na base
ferentes . Iremos nos ocupar aqui apenas das in terd ições de todos os oUlros, po is a atitude que prescreve é aquela
reUgiosas5. de que o fiel jamais _deve se desviar em suas relações
�om
Mas, mesmo entre estas últimas, uma nova distinçã o os seres sagrados. E o que chamamos de culto negauvo.
é necessária. Pode-se dizer, portanto, dessas mt erd içõ�s , que elas são
Há intcrdiçà<.::s rel igiosas que têm por objeto separar, as interdições rel igiosas por excdência.,. E som ente delas
umas das outras, coisas sagradas de espécies diferentes. O que se tratará nas páginas seguintes.
leitor se lembra, por exem pl o , de como, entre os Wakel Mas elas assu mem formas múltiplas. Eis aq u i os tipos
bura, o t a b la do sobre o qt1al o morto fica ex posto eleve p ri nci pais que se observam na A ustrália .
_
ser ex c l u s iva mente construído com materiais que perten Antc.:s ele tudo, há interdições de contato: sao os tabus
cem à f at ri a
r do clefunro; val e dizer que é i nterd i to todo primários dos quais os outros não são muito mais que va
contato entre o morto, que é sagrado, e as coisas ela omra riedades particulares . Eles se base ia m no p rin cíp io de que
fratria , que também são sagradas, mas a títulos diferentes. o profano não deve Locar o sagrado. Já vimos que em ca o
�
Além disso, as armas util izadas para caçar um animal não nenhum os churinga ou os bull-roarers devem ser maneia
devem ser feitas de uma macieira que esteja classificada dos por não-iniciados. Se os adultos têm essa liberdade, é
no mesmo grupo social que e!;Se animal<>. Mas as mais im que a iniciação lhes conferiu um caráter sagrado. O s n
�
portanres dessas interdições são as que estudaremos nu m
� _in1c1
gue, e pa rtic u larm ente o que corre clura t e . aç�o ,
�
tem uma virtude rcligiosaR; ele está submeudo a mesma m
próxi mo ca pítul o: elas se destinam a prevenir toda comu
terdição9 . O mesmo aco ntece com os cabelos1º. O morto é
nica ção entre o sagrado puro e o sagrado impuro, e ntre o
um ser sagrado, porq ue a alma que animava o corpo ade
sagrado fasto e o sagrado nefasto. Tod a s essa s i nterd i ções
re ao cadáver; por essa razão, é às vezes proibido trans
têm uma característica comum: advêm, não do fato de ha
portar os ossos cio morto a não ser envolv idos numa casca
ver coisas sagradas e outras que não o são, mas de existi
de árvorel 1. O l ugar mesmo onde ocorreu o falecimento
rem entre as coisas sagradas relações de inconveniência e
deve ser evitado, po is acredita-se que a alma do defumo
de incompatibilidade. Portanto, n ã o dizem respeico ao
continue a residir ali. Por isso, a aldeia é desmontada e
que há ele essencial na idéia do sagrado. Assim. a obser
transportada a uma certa distância 1 2; cm alguns casos, ela
vância dessas proibições pode dar ensejo apenas a ritos
é destruída com tudo o que contém 13, e um tempo decorre
isolados, particulares e quase excepcionais, mas não seria
antes que se possa voltar ao mesmo locaJH. Acontece, al
capaz de constituir um culto propriamente dito, pois um
gumas vezes, que o moribundo já provoque como qu um
culto é feito, antes de tudo, de relações regulares entre o
�
v azio a seu redor; ele é, então, abandonado, depois ele
p rofano e o sagrado como tal. instalado tão confortavelmente quanto possíveJ 1 5.
322 AS FORMAS ELl:.ME.\TAR!� DA lll)A RHLIG'IOSA ,fS PR!iVCIPAIS ATl111DES R!Tl'AIS 323
! 'm <:onta to excercionalmente íntimo (: o profano� A m u l her jamais deve ver os instrumentos do
que resulta
da ab.sorçao de um alimento. Dai vem a interdiç l Ulto; quando muilo lhe é permitido vislumbrá-los de lon
ao de co
mer os animais ou os vegetais sagrados, particul ge'9. O mesmo acontece com as pinturas totêmicas execu
armente
os que servem de totens"'· Um tal ato afigura-se tadas sobre o corpo dos oficiantes por ocasião de cerimô
tào sacrí
lego que a p oibi ão aplica-se inclusiv e aos adultos nias particularmente importantesio. A excepcional soleni
� ! ou,
pelo menos, a m�11or parte deles; somente os velhos dade dos ritos de i n iciação faz que, em certas tribos, as
atin
gem s u ficiente d i gn i da de rel ig ios a para ne m mulheres não possam sequer ver os locais onde são cclc
sempre se
submeterem a essa interdição Explicou-se às vezes brados21 nem o próprio neófito22. O caráter sagrado ima
.
essa
proibição pelo parentesco mít ico que une o homem nente à cerimônia inteira m a n i festa-se nalllralmente na
aos
animais cujo ome ele te m; esses animais serimn pessoa dos que a dirigem ou que dela participam; disso
� proregi
_
c.los pdo st:nllmento de simpatia resulta q ue o nm iço não pode levantar os olhos para eles,
que inspiram na qua lichi
c.1: uc parentc.s1 : Ma:;, o que mo:-.tra bt!m que a mterd1ç<lo L a proibição se mantém mesmo depois que o rito se re::ili
nao te m por origem uma s i mples reação do sent zou23. Também o morto é às vezes subtraído aos olhares:
i me n to
de solidari edade domést ica é que o consum o e.la sua face é recoberta de maneira a não poder ser vist.a24.
carne
p roibida é tido por determinar automaticamen A fala é um outro mcio de entrar em con ta to com as
te a doença
e a mo �te . Tr ta-se, portanto, de forças de outro pessoas ou com as coisas. O ar expirado esta belece a co
que eswo em 1ogo, análogas àquelas que, em
� gêncrc'
todas as re municação, é a lgo de nós que se espalha para fora. Por is
ligiões, reagiriam contra os sacrilégios. so, é proibido aos profanos dirigir a palavra aos seres sa
Aliás, se certos a l i mentos são proibidos ao profano grados ou, s implesmente, falar em sua presença. Do mes
po r se rc m sag ra d os , outros, ao contrár io, são mo modo que não deve olhar os oficiantes nem os assis
p roib i
dos, ror serem rrofanos, às pessoas marrnd as tentes, ao neófilo é proibido conversar com eles, salvo
de um ca
rfüer sagrado. Assim, é frcqüentc que animais dctcrm por sinais; e ess a in terd ição persiste até que tenha sido le
ina
dos sejam especia lmente destina dos à a l imentaç
ão das vantada por intermédio de um ri to especiall>. De urna ma
mu lheres; acredita-se que participa m da naturez neira geral, há, entre os Arunta, durante as grandes ceri
a femini
na e que, portanto, são profanos. O jovem iniciado mônias, momentos em que o silêncio é obriga tó riol<>. As
' ao
contníri >, é sub metido a um conj u n to de ritos de sim que os churinga são expostos, todos se calam; ou, se
lar g ra v 1 c la c; ra ra rocl er transm itir-lhe as virtude
� ran icu
� s que fa la m , é em voz baixa e calmamente27.
lhe pcrm1t1 rao rcnetrar no mundo das coisas sag Além das coisas sagradas, há palavras e sons que têm
rad as de
onde �.�tava excl uído aLé então, faz-se convergir sobre o mesmo caráter; não devem sair dos lábios dos profanos
ele
um feixe excerc1onalme_ nem chegar a seus ouvidos. Há cantos rituais que as mu
nte poderoso de forças religiosas.
Ele se encomra num estado de santidade que afasta lheres não devem ouvir sob pena de morte28. Elas podem
para
longe tudo o que é profano . Assim lhe é rroibid perceber o ruído dos bu/1-roarers, mas apenas à distância.
o comer
e.la caça que estaria destinada às mulhereslH. Todo nome próprio é considerado um elemento essencial
Mas o cont ara pode se estabelecer de outra forma da pessoa que o tem; intimamente associado nos espíritos
nªº r el o tato. Entra-se cm relação com uma coisa
que
_
v1sao das coisas sagrada'> é, em certos casos pro é. Assim não pode ser pronunciado ao longo da vida pro-
. ibida aos
324 AS FOR,\IAS Effiltl'..\TARES DA HD1I RELIGIOSA AS PRINCIPAIS A T!n'OES RJntA/S 325
fana . Há, entre os Warramunga, um totem que é particu é proib1Jo u tl i7.á- los no convívio profano. Uma vez encer
larmente venerado; trata-se da serpen te mítica ch amada rada a cerimônia, são enterrados ou queimados1º; os ho
Wo l lu nq ua , cujo nome é tabu29. O mesmo oco rre com mens devem incl usive lavar-se de maneira a não conser
Baiame, Daram u l un, Bunjil: a forma esotérica ele seus no var nenhum vestígio dos o rn ame ntos que os cobriam4 1 .
mes não pode ser revelada aos nâo- i n ic iaclos3o. Durante o De maneira mais geral, os atos característicos da vida
luto, o nome do morto não deve ser mencionado, ao me ordinária são interditos e nq uanto se desenrolam os ela vi
nos por seus parentes, salvo q ua ndo há absoluta necessi cia religios a . O ato de comer é, por si mesmo, profano,
dade e, mesmo nesse caso, somente em voz ba ixa3' . Essa pois acontece todos os dias, satisfaz necessidades essen
interd ição é muitas vezes perpét ua para a viúva e para al cialmente utilitárias e materiais, faz parte de nossa existên
guns parenres32. Em cercos povos, ela se estende incl usive cia vulgaf'll. Por isso ele é proib ido e m tempos religiosos.
além d a família, todos os indivíduos que têm o mesmo Assim, quando um grupo totêmico emprestou seus churin
nome d o defunto são obrigados a mudá-lo wmporaria ga a um clã estrangeiro, é um momento solene aquel e cm
memc.1.�. Mais: os parentes e os ínt i mos proíbem-se às ve que são trazidos de volta e recolocados n o ercnatulunga:
zes cerras palavras da língua usual, certamente porque todos os que tomam pa11e da cerimôn ia elevem perma ne
eram e m prega da s pe lo morto; p ree n che m-se essas lacu cer em jejum enquanto ela d ura r, e ela dura bastante43. A
nas por meio ele perífrases ou e m p réstimos Lomaclos ele m es ma regra se obse1va durante a celebração dos ritosH,
algum dia leto estrangei ro3 1. Além ele seu nome pú b l ico e que.: veremos no capít u lo seguinte, bem como em certos
v u l ga r, os homens têm u m outro guardado em seg redo: momentos da in iciação45.
as mu lh eres e as crianças o ignoram; jamais se faz uso de Pela mesma razão, todas as ocupações temporais são
le na vicia ordinária. É que ele possui um caráter religio suspensas quando ocorrem as grandes solenidades reli
so35. ! lá também cerimônias durante as quais se é obriga giosas. Conforme uma observação de Spencer e Gillen 16
do a falar uma l i nguagem especial que não se pode utili que já tivemos a ocasião de citar, a vida do australiano é
zar nas relações profanas. Trata-se de um começo de lín feita ele duas partes muito distintas: uma é dedicada ã ca
gua sagra da36. ça, à pesca, à guerra, a outra é cons agrada ao culto. E es
Os seres sagra dos não somente são separados dos sas duas a tivi dades se excl uem e se repelem muruamente.
profanos, como também nada do que concerne, direta ou É nesse pri n cípio que se baseia a in stituiçã o universal do
in d i retam ente , à vicia profana eleve se misturar à vicia reli des ca n so re l igio so . O caráter distintivo e.los dias de festa,
giosa. Uma nudez com plet a não ra ro é exigi da d o ind íge em todas as re lig i ões conhecidas, é a pa ra l isação do tra
na como co nd ição prévia para poder participar do rito37; balho, a suspensão da vida pública e privada , na medida
ele é obrigado a despojar-se ele todos os seus orna mentos em que esta não tem objetivo religioso. Esse repouso não
h a b itu a is , m esm o da qu e les a que tem mais apego e d os é simplesmen te uma espécie de fo lga te mporária que os
qua is é mais difícil separar-se por cau sa das virtudes pro homens teriam se concedido para se entregarem mais li
tetoras que lhes atribui38. Se, para desempenha r seu pa pel vremen te aos sentimentos de a legria que os feriados ge
ritual, ele é obrigado a enfeitar-se, essa ornamentação de ralmente despeitam, pois há festas tristes, co nsagradas ao
ve ser feita especialmente para a ci rcu n stân cia : é uma in l u t o e à penitência, durante as quais e l e não é menos
dumentária cerimoni<1l, um traje de festa39. Como esses o r obligatório. Mas é que o trabalho é a forma e m inen te da
namentos são sagrados em razão do u so que deles se fez, at ivid a de profana, não tem outra finalidade aparente a
326 AS FOR.llASELfüfENTARES DA 17DA REUG!OSA 327
1\ l'IU.YCIPAIS ATm.rnES RIT/IA/S
não ser prover às necessidades temporais da vida; ele só na
Do mesm o modo, a vida religiosa e a vida profa
1 1. 1 0 rodem
nos põe em contato com coisas profanas. Ao contrário nos ele temp o.
� lias d� festa, � vida religiosa atinge um grau de excepclonal
coex istir nas mesm as unida des
111tens1dade. l ortanto, o contraste entre as duas formas de
primeira dias ou perío
l 'ortanto, é necessário reservar à
t lm determinados dos quais todas as ocup açõe s profa nas
existência, i:esse momento, é panicularmentc acentuado; . Não há
por consegu111te, elas não podem ser vizinhas. O homem é .qam retiradas. Foi assim que surgiram as festas
H'ligião nem, conseqüentemente, socie dade que não te
incap�z de se � proximar intimamente de seu deus quando o do tempo em duas
nha conhecido e pratic ado essa divisã
traz a111da em s1 as marcas de sua vida profana· inversamen lei variáv el
te, ele só pode re�ornar às suas ocupações usu�is depois ele parles defin idas que se altern am segun do uma
. ações; é muito prová vel até, co-
santificado pelo nto. Assim o descanso ritual é apenas um 1 om os rovos e as civiliz
tenha
1110 dissemos, que a necessidade dessa alt<:rnância
k vado
caso pa1ticula r da i_ncompatibilidade gemi que separa o sa contin uidad e e homo
. os home ns a introd uzir, na
grado do profano; e o resultado de uma interdição. nciaçõ es que ela
geneidade da duração, distinções e difere
Não poderíamos enumerar aqui lodos os tipos de in te
terdições que são observadas, ainda que apenas nas reli niio comporta narur almente49. Claro que é praticamen
conce ntrar de
giões australianas. Da mesma forn1a que a noção de sagra impossível que a vida religiosa venha a se
que lhe
do sobre a qual repousa, o sistema das interdições estende lonna hermética nos meios espaciais e temporais
ídos; é inevi tável que um rouc o dela se
se às relações mais diversas; inclusive é deliberadamente são assim atribu
s sagra das fora cios
utilizado para fins utilitários 11. Mas, por mais complexo que escoe no exter ior. l lá sempre coisa
rodem ser celeb rados em dias de
possa ser, ele resulta fi nalmente em duas interdições fun santuários; há ritos que
Mas trata-s e de coisas sagra das de ordem secun
damentais que o resumem e o dominam. trabal ho.
rtânc ia. A conc entra ção
Em primeiro lugar, a vida religiosa e a vida profana dária e de riLos de menor imro
ização.
rermanece a característica dominante dessa organ
_
nao pod�m _c:oexistir num mesmo espaço. Portanto, para leta em tudo o que
Ela é aLé mesm o geral mem e comp
que a pnme1ra possa se desenvolver, é preciso providen ser celeb rado cm
. concerne ao culto público, que só pode
ciar-lhe um local especial de onde a segunda esteja excluí é o único que chega
privad o, indivi dual,
a se mislllrar com a vida temporal. Assim o contr
da. Daí a instilUição dos templos e cios santuários: são comum. O culto
aste en
porções de espaço destinadas às coisas e aos seres sagra huma na atinge seu
Lre essas duas fases sucessivas ela vida
dos e que lhes servem de hábitat, pois estes só podem se inferio res, como
máxim o de intens idade nas socie dades
estabelecer ali com a condição de apropriar-se totalmente dual
daquele chão num raio determinado. Essas providências são as tribos australianas, pois é lá que o culto indivi
são tão indispensáveis à vida religiosa que mesmo as reli é o mais ruclimencarso.
giões mais inferiores não podem passar sem elas. O ertna
tulunga, local onde são depositados os churinga, é um
II
verdadeiro santuário. Assim é proibido aos não-iniciados
aproximar-s_:: dele. É proibido mesmo entregar-se ali a
uma ocupaçao profana, qualquer que seja. Veremos a se Até agora, o cultn negativo só se apresentou a nós
como u m sistema de abstenções. Ele parece, portanto,
servir apenas rara inibir a atividade, não para estimulá-la
guir que existem outros lugares santos onde se celebram
impo1tanles cerimônias48.
e Lonificá-Ja. No entanto, por um reflexo inesperado desse
328 AS FORMAS ELE.itE.\TARES DA l'IDA REIJGIOS11 /t\ /'N/.\'C/PA!S A77Tf.JDES RnvAIS
329
e os se av
. ·umul an e
efeito inibidor, ele Jl,1ba exercendo, i.obre a natureza reli 11 1111 úmco sujeito; nesse case >, seus e1e1t
na Ai.....istw-
1,
_
giosa e a moral do indivíduo, uma ação positiva da mais M iornam mais manife E o ce,
ito a uina
stos. q u e aconte
alta importância. 1 1 1 1)or ocasião da iniciaç ão . O neófito é adst? 1.e , · .
. . . . , . �
c.r
t 11 � r a
De fato, cm razão da barreira qu<.: separa o sagrado
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1 · , 1 n:ma vanedade de rnus neg,1t1v os. Deve s L:nc1a e e
d
.
�. .
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11wo, longe de seus semelh l ores l_
A rr
mente da vida temporal. O culto negativo é, pois, em cer guns velhos que lhe servem �e padrinhos'ii. <� �
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.-,a lavl'.ª
to sentido, um meio tendo em vista u m objetivo: ele é a meto natura l, qL c
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u i ronlU consid<.:rada seu de
nhos
.
condição de acesso ao culto positivo. Não se limita a pro l.1 c1ual se deo;ign a a iniciaçã o num cerro numer•
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, .._ freLlra1 1re
o,
s1g111fica o que e da floresta''. Pe 1a mesma
teger os sere::. sagrndos dos contatos vulgares mas age so raz:v-
.
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bre o próprio fiel, modificando-lhe po1>itivamente o esta assiste o neófito com m u' ;:
1s cerimônias a que . . iJ- ongo 1-; n
do. O homem que se submeteu às interdições prescritas da é enfeitado de folhagem5'. Assim ele passa 1
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tempo, pe o t 10s d e
nào é, depois delas, o mesmo que era antes. Antes, era s<.:s�. entrecortados, de tempo em ' m pe .•
é u . 1 . :tiouo
<i u e e.leve partic ipar. Para e l'e , . esse tempo 1 � d llU'<!n l S
um s<.: r comum que, por essa razão, devia permanecer
.. .
afastado das forças religiosas. Depois, encontra-se mais de abstinências de toda espec1e. Uma serie . , 111. a c1e
<. <:r' l o
, e. e \·O
. a quant1 CV" -
junto delas, pois aproximou-se do sagrado pelo simples lhe são proibidos; só lhe é pen111l l"d a
não r.: e
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fato de ter se afastado do profano; purificou-se e sancifi mida estritamente indispensável para viv�r'� <
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()brig �<.
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cou-se por ter se separado das coisas baixas e triviais que submetido a um jejum rigoroso'ill, o� enrao e não
a l i menta, elv . , POd e
entorpeciam sua natureza . Os ritos negativos conferem comer algo imundoW. Quand o se . . h .,,-, s quQ a (l-
-
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assim. podere1> eficaze:-. tJntO quanto os ritos positivos; o� comida com as maos, sao os pa d n n
tocar na <rJe ve 1Sa1t
V a
primeiros, como os segundos, podem servir para elevar a troe.l uzem em sua boca6 . Em cenas casos,
0
do d r e
• •
energia religiosa dos indivíduos. Segundo uma justa ob tência "'· Do mesmo m º ' � o '.n
mendi gar sua subsis . • ar n �ll<t(l-
fal �.
servação que foi feita, ninguém pode se envolver numa apenas o indispensávelúl. Deve abster-se de
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cerimônia religiosa de alguma importância sem se subme to não lhe dirigem a palavra ; e por sinais . q v- ,( i , " N· o
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operações essencialm ente positivas; mas chega-se ao pt:cie<>1. Ora, 0 resulta do dessas 1mcrd 1çoes do r;\d .K� 1 .
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mesmo resultado por meio de jejuns, vigílias, pelo retiro e detem1inar no iniciado uma mudan ça de esta� a ex
mulher es, esta ./ 1.:lutt 0
pelo silêncio, isto é, por abstinências rituais que não são Antes d a iniciação, vivia com . a s
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senão a prática de interdições determinadas. ..
do culto. Dorav ante, e a d m1t1 d o na soc1e<.
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er sa�raq )
Quando se trata apenas de ritos negativos particula mens toma parle nos ntos, adqu1n u um carat• , , <
/.es e teprc::
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res e isolados, sua ação é geralment e pouco acentuada A metamorfose é tão comple ta, que muitas ver
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a-se quei o
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para ser facilmente perceptível. Mas há circunstâncias cm sentada como um segundo nascunento. lmag1
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to; viu se na dor um estado de graça que é preciso buscar enccrramc..·nto dessa longa série de cerimônias. o jovem
:
e susct �a �, m esmo anificialmente, por causa dos poderes e se estende num leito de folhas sob o qual se colocam
_ _
cios pnvtlcg1os que confere tanto quanto os sistemas ele brasas ardentes; ele permanece deitado, imóvel em meio
interdições, cios quais ela é o acompanhamento natural. ao calor e a uma fumaça sufocantes75. Entre os Urabun
Preuss foi o primeiro, em nosso conhecimento, que per na, observa-se um rito similar; mas, ainda por cima, en
cebeu o papel religioso-o atribuído à dor desde as socie quanto o paciente encontm-se nessa penosa situação, ba
? ade� inferiores. Ele cita o caso dos Arapaho que, para se tem-lhe nas coscas�6. De u m a maneira geral, todos os
1mun1zarem contra os perigos das batalhas, infl igem-se exercícios a que o jovem é submetido têm esse caráter, a
verdadeiros suplí�ios; dos índios Gros-Ventre (Barriga tal ponto que, quando chega a hora de retomar sua vida
Grande] que, na vespera das expedições militares, subme comum, ele está com um aspecto lastimável e parece
tem-se a verdadeir.is torturas; dos J lupa que, para garantir meto escupefato77• E verdade que todas essas práticas são
i.:om freqüênda apre:-.enwda:-. como ordálios destinados a
provar o valor do neófito e a mostrar se ele é digno de
o sucesso ele seus empreendimentos, nadam em rios gela
dos e permanecem em seguida, pelo maior tempo possí
vel, estendidos junto à margem; dos Karaya que, para for ser admitido na sociedade religiosa78• Mas, cm realidade,
talecer seus músculos, tiram de tempos em tempos san a função probatória do rito é tão-só um outro aspecto de
gue dos braços e das pernas por meio de raspadeiras fei sua eficácia. Pois o que prova a maneira como ele foi su
tas com dentes de peixe; dos povos ele Oallmannhafen portado é precisamente que o rico produziu seu efeito, is
(Terra do l m pcr � ?or G u i l herme, na Nova-Guiné) que to é, conferiu as qualidades que são sua primeira razão
�0 1l?atem a estenltdade de suas mulheres praticando-lhes
� de ser.
mc1soes sangrentas na parte superior da coxa7t. Em out ros casos, essas sevícias rituais são exercidas
Mas encontramos fatos aná logos sem sair da Austrá não sobre o organismo em seu conjunto, mas sobre um
lia, parcicul< � rmente durante as cerimón ias de inicia1;,·ào . órgão ou um tecido particular, cuja vitalidade elas têm
.
Muitos dos mos praticados nessa ocasião consistem preci por objetivo est imular. Assim, entre os Arunta, os Warra
samente em infligir ao neófito sofrimentos determin ados munga e várias outras tribos79, n u m certo momento da
tend ? em vista mo:lif car seu estado e fazê-lo adquirir a
� � iniciac;ão, personagens determinados são encarregados de
qualidades caractenst1cas do homem. Assim, entre os La morder com vontade o couro cabeludo cio noviço. A ope
rakia ' enquan �o os jovens estão em retiro na floresta , seus ração é tão dolorosa que, cm geral, o paciente t: incapaz
p� clnnhos
. .
e vigilantes lhes aplicam a todo instante golpes de suportá-la sem gritos. Ora, o objetivo dessa operação é
v1olcntos, sem advertência prévia e sem razâo72. Entre os fazer crescer os cabelost«J. Aplica-se o mesmo tratamento
Urnbunn a, num dado momento, o noviço é estendido no para fazer crescer a barba. O rito de depilação, que Ho
chão, a face contra o solo. Todos os homens presentes witt assinala em outras tribos, poderia muito bem ter a
batem nele duramente; depois fazem-lhe nas costas uma mesma razão de scr8•. Segundo Eylmann, entre os Arunta
série de entalhes, de quatro a oito, dispostos de cada lado e os Kaitish, homens e mulheres se fazem pequenos feri
da espinha dorsa l, e uma na linha média da nuca73. Entre mentos no braço por meio de bastões em brasa, a fim de
os Arunta, o primeiro rito da iniciação consiste em escar se tornarem hábeis l m fazer o fogo ou de adquirirem a
necer do j�ve1�1; os homens o jogam para cima, pegam-no força necessária para carregar pesadas cargas de madei
quando cat e iogam-no outra vez11. Na mesma tribo, no raR2. Segundo o mesmo observador, as jovens warramun-
335
AS FORMAS ELE.liE.\TARES DA HDA REIIGIOSA
H l '/.'/.\C/PATS A TITUDES RJTL,AIS
334
d1 ·mandam
Dizíamos no início desta obra que todos os elemen seu tempo e suas forças. Para servir aos cleu
tos essenciais do pensamento e da vicia religiosos devem
cumpre que ele se esqueça; para reco ecer-lhe� o
�
r �eus 1�-
·• ·s,
se manifescar, ao menos em germe, destle as religiões cumpre sacnf1ca
Jiiw1r que ocupam em sua vida,
mais primitivas. Os fatos precedemes confirmam essa afir _
1t·rcsses profanos. O culto positivo , portanto , so e poss1-
' vi se o homem é levado à renúncia , à abnegaç ã.o,
mação. Se há urm1 crença lida como específica das reli ao
giões mais recentes e idealistas, é a que atribui à dor um
, ksprendimento de si e, conseqü entemen te, ao sofnme �
poder santificador. Ora, essa mesma crença está na base
" , Este não deve ser temido. Aliás, ele só pode cumpnr
l lcgremente seus deveres s: ? s?frime�to for am� do
dos ritos que acabam de ser observados. Claro que ela é em
desdobrada d i ferentemente conforme os momentos da :sp ensave 9 }
ue se i a exer
asceucas. k> d��es
, 1.no grau. Mas, para tanto, e md
.
história em que a considerarmos. Para o cristão, é princi
• ido, e é isso que buscam as praucas
palmeme sobre a alma que ela agiria, depurando-a, eno
q11e elas impõem não são, portanto , crueldad es arb1trana s
brecendo-a, espiritualizando-a. Para o australiano, sua efi homem se
1' estéreis; é uma escola necessária em que o
cácia é sobre o corpo, aumentando as energias vitais, fa d�
lorma e se tempera, em que adquire as qualidades de
zendo crescer a barba e os cabelos, enrijecendo os mem as quais não há religião. Inclus1-
-.,1pego e paciência sem
bros. Mas, em ambos os casos, o princípio é o mesmo:
336 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RElJG!OSA 1� PRJ.VCTPA !S A TITUDES RJTUAJS �37
. '.'l
as, mesmo não sendo inexata, essa explicação é in leitor como ela se estende não apenas à cavidade em que
suf1c1� nte. Com efeito, há muitos seres que são objeto de são conservados, mas também a toda a região vizinha,
respeJto sem serem protegidos por sistemas de interdições aos animais que nela se refugiam e que é proibido matar,
rigorosas como os que descrevemos. Certamente, há uma às plantas que nela crescem e nas quais não se deve to
tendência geral do espírito a localizar em meios diferentes car87. Um totem da serpente tem seu centro num lugar on
!
co sas difer�ntes, sobretudo quando elas são incompatí de se encontra um redemoinho d'água. O caráter sagrado
v: 1s entre si. Mas o meio profano e o meio sagrado não do totem transmite-se ao lugar, ao remoinho, à própria
sao apenas distintos, são ambos fechados: entre eles exis água, que é interdita a todos os membros do grupo totê
te um abismo. Deve haver, portanto, na natureza dos se micoRS. O iniciado vive numa atmosfera inteiramente car
res sagrados, uma razão particular que torne necessário regada de religiosidade e ele próprio está como que im
esse estado de isolamento excepcional e de mútua oclu pregnado clela89. Por conseguinte, tudo o que ele possui,
são. E, de faco, por uma espécie de contradição, o mundo tudo o que ele toca é interdito às mulheres e subtraído ao
contato delas, mesmo a ave que ele bateu com seu bas
tão, o canguru que atravessou com sua lança, o peixe que
sagrado está como que inclinado, por sua própria nature
za, a se difundir nesse mesmo mundo profano que ele,
por outro lado, excl u i : ao mesmo tempo que o repele, mordeu seu anzol90. Mas, por outro lado, os ritos aos
tende a se escoar nele, bastando que haja uma simples quais se submete e as coisas que neles desempenham u m
. _ . papel são d e uma santidade superior à sua: essa santidade
aproXJmaçao. Por isso, é necessário mantê-los ã distância
um do outro e criar, de certo modo, o vazio entre eles . transmite-se contagiosamente a tudo o que evoca a idéia
O que obriga a essas precauções é a extraordmána tanto de uns como das outras. O dente que lhe foi arran
contagiosidade do caráter sagrado. Longe de permanecer cado é considerado santo9 1 . Por essa razão, ele não pode
ligado às coisas por ele marcadas, ele é dotado de uma comer de animais que tenham dentes proeminentes, por
espécie de fugacidade. Mesmo o contato mais superficial que fazem pensar no dente extraído. As cerimônias do
ou mais indireto é suficiente para que ele se estenda de Kuringal encerram-se com uma lavagem ritual92; as aves
aqu áticas são interditas ao neófito porque lembram esse
\
-
riLo Os animais que trepam até o topo das árvores são giosidaoe inerente a tudo o que é sagrado, um ser profa
igualmente sagrados porque estão mutto próximos de Da no não pode violar uma interdição sem que a força reli
ramulun, que vive nos céus93. A alma do morto é um ser giosa da qual indevidamente se aproximou não se esten
sagrado: já vimos que a mesma propriedade transmite-se da até ele e não estabeleça sobre ele seu domínio. Mas
ao corpo onde essa alma residiu, ao lugar onde foi sepul como, entre ela e ele, há antagonismo, ele se vê colocado
tado, à aldeia onde habitou quando vivo e que é destruí sob a dependência de uma potência hostil, cuja hostilida
da ou abandonada, ao nome que ele tinha, à sua mulher de não pode deixar de se manifestar sob forma de reações
e a seus parentes94. Também eles são como que invesli violentas que tendem a destruí-lo. Por isso, a doença ou a
dos de um caráter sagrado; portanto, convém manter-se a morte são consideradas conseqüências naturais ele toda
clisLância deles; não são Lrataclos como simples profa nos . transgressão desse gênero; e são conseqüências que se
Nas sociedades observadas por Dawson, seus nomes, as produ zir ia m esponLaneamente, por uma espécie de ne
sim como o cio morto, não podem ser pronunciados du c.:t:ssidade física. O culpado sente-se invadido por uma
rante o período de luto95. Alguns dos animais que ele co força que o domina e conLra a qual é impoLenLe. Se co
mia freqüentemcnle também são proibidos96. meu do animal totêrnico, sentirá que este o penetra e rói
Essa contagiosidade do sagrado é um fato muito co lhe as entranhas; irá deitar-se no chão e esperar a morte98.
nhecido97 para que seja preciso demonstrar sua existência Toda profanação implica uma consagração, mas que é Le
através de mais exemplos; queríamos apenas estabelecer mível ao sujeito consagrado e àqueles mesmos que dele
que ela é verdadeira tanto para o toLemismo como para as se aproximam. São as conseqüências dessa consagração
religiões mais avançadas. Uma vez constatada, ela explica que sancionam em parte a interdição99.
facilmente o extremo rigor elas interdições que separam o Observar-se-á que essa explicação das interdições
sagrado do profano. Considerando que, em vim1de dessa não depende dos símbolos variáveis por meio cios quais
extraordinária capacidade de expansão, o contato mais le podem ser concebidas as forças religiosas. Pouco importa
ve, a menor proximidade material ou simplesmente moral que elas sejam representadas sob a forma de energias
de um ser profano é suficiente para arrastar as forças reli anônimas e impessoais, ou figuradas por personalidades
giosas para fora de seu domínio, e considerando que, por dotadas de consciência e de sentimento. Claro que, no
outro lado, elas não podem sair desse domínio sem con primeiro caso, elas reagiriam contra as transgressões pro
tradizer sua natureza, todo um sistema de medidas é indis fanadoras de maneira automática e inconscienle, enquan
pensável para manter os dois mundos a uma distância res to que, no segundo, obedeceriam a movimenLos passio
peitosa um do outro. Eis por que proíbe-se ao vulgo não nais, determinados pela ofensa sentida. Mas, no fundo,
apenas tocar, mas ver e ouvir o que é sagrado e por que essas duas concepções, que, aliás, têm os mesmos efeitos
esses dois gêneros de vida não devem se misturar nas práticos, apenas exprimem em duas línguas diferentes um
consciências. As precauções são tanto mais necessárias pa mesmo e único mecanismo psíquico. O que está na base
ra mantê-los separados na medida em que eles, embora se de ambas é o antagonismo do sagrado e do profano,
opondo um ao outro, tendem a se confundir um no outro. combinado com a notável capacidade do primeiro em
Ao mesmo tempo que a multiplicidade dessas inter contagiar o segundo ora, esse antagonismo e esse contá
dições, compreende-se a maneira como elas funcionam e gio agem do mesmo modo, seja o caráter sagrado atribuí
as sanções que a elas estão ligadas. Por causa da conta- do a forças cegas ou a consciências. Assim, longe de a vi-
342 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA REUGIOSA
1\ PRINCIPAIS A TITUDES RITUAJS 343
IV
.
gamente todas as suas emoções. Em sua vida �o�al, no
detalhe de suas ocupações leigas, ele nao _ atnbu1 a uma
Mas se a conta giosidade cio sagrad o contri coisa as propriedades de sua vizinha ou reciprocamen�e.
bui para
explic ar o sistem a das interdições, de se ele é menos apaixonado do que nós por clareza e d1s
que maneira ela
própria se explica? Linção, falta muito para que haja nele não sei que deplo
Acreditou-se poder explicá-la pelas leis, bastan rável aptidão a misturar e a confundir tudo. Só o pens �
te co
nhecidas, da associação das idéias . Os sentim mento religioso tem uma inclinação acentuada por esse ti
entos que
uma pessoa ou uma coisa nos inspiram, estend po de confusões . Portanto, é precisame �te na natu :cza
em-se con .
tagiosamente da idéia dessa coisa ou dessa especial das coisas religiosas, e não nas leis gerais da mte
pessoa para as
representações a elas associadas e, por conse ligência humana, que devemos buscar a origem dessas
guinte, aos
objetos que essas representações exprim predisposições.
em. O respeito
que temos por um ser sagrado transmite-se Quando uma força ou uma propriedad � n?s parece
, pois, a tudo o
que tem contato com esse ser, a tudo o ser uma parte integrante, um elemento consutuuvo do s�
que se parece
com ele e faz lembrá-lo. Certamente o homem jeito no qual reside, não podemos nos representar facil
se engana com essas assoca
culto não
i ções; sabe que essas emoções
mente que ela se separe dele para se transportar a hure�. �
Um corpo se define por sua massa e sua compos1çao . ato
derivadas devem-se a simples jogos de image
ns, a combi .
nações inteiramente mentais, e não se entreg mica · assim não concebemos que ele possa comunicar,
ções que tais ilusões tendem a determ inar.
a às supersti
Mas, dizem, o
� �
por 1 eio d contato, algum desses caracteres distintivos.
primitivo objetiva ingenuamente suas impres Mas, ao contrário, se se trata de uma força que penetrou o
sões sem cri
ticá-las. Uma coisa inspira-lhe um temor corpo desde fora, como nada a prende a ele, como ela es
revere ncial? Ele .
tá nele na qualidade de estra nha, não há nada de 1rrep1 _-e
sentável no fato de que ela possa escapar del e É assim
conclui que uma força augusta e temíve
l reside realmente
nela; po1tanto, mantém-se à distância dessa .
coisa e a trata
como se fosse sagrad a, mesm o que ela que o calor ou a eletricidade, que um objet� q :1alquer r�
não tenha ne
nhum direito a esse títuJo ioo. cebeu de uma fonte externa, são transmiss1ve1s ao meto
Mas isso é esquecer que as religiões mais ambiente, e o espírito aceita sem resistência a possibilida
primitivas
não são as únicas que atribuíram ao caráte de dessa transmissão. Portanto, a extrema facilidade com
r sagrado essa
capacidade de propagação. Mesmo nos cultos que as forças religiosas se irradiam e se difundem n ada
mais recen .
tes existe um conjunto de ritos que repou tem de surpreendente, se forem geralmente concebidas
sam sobre esse
princípio. Toda consagração por meio de como exteriores aos :.eres nos quais residem. Ora, é exa
unção ou de
purificação não consiste, por acaso, em tamente isso que a teoria que propusemos implica.
transferir a um
RF.UGIOSA
345
344 AS FORMAS ELEMENTARES DA \llDA
� l'R!SCIPAJS A 171l'DF.S RITUAIS
ao
alma, embora esteja ligada
Coi:-1 ef�ito, elas são apenas forças coletivas hiposta t. 1vore< e. Por isso, a própria
.
muit o pess oais , ame aça a codo momenco
siadas. isto e, forças morais; sao feitas das idéias e dos l 1rpo por laços
. o
todos os poros do organism
sc:_n tim� nlos que o espetáculo da sociedade desperta em ,,aar dele: todos os orifícios,
tend e a se espa lhar e a se difundir
nos, nao das sensações que nos vêm do mundo fís ico. �.10 vias pelas quais ela
Elas são, portanto, heterogêneas às coisas sensíveis nas l'Xteriormente1<>4 .
mel hor o fenômeno que
quais nos situamos. Podem perfeitamente lomar dessas M a s exp licaremo s aind a
nder se, ao invés de cons d�rarmos
�
coisas as fo1mas exteriores e materiais sob as quais são re procuramos compree
re
s plen ame nte const1tu1da,
p �e�e � tadas; n�as nada lhes devem daquilo que faz sua .1 noção de forças religiosa
tal do qual ela resu lta.
ef1cacm. Elas nao estão presas por laços incernos aos su montarmos ao processo men
caráter sagrado de um ser
portes diversos sobre os quais vêm se colocar· não têm Vimos, com efeito, que o
seus atributos intrínsecos. Não
raízes neles; de acordo com uma expressão que 1já empre nao se devia a nenhum de
ico tem este aspecto ou aque la
gamos 101 e que pode servir para caracterizá las melhor, · porque o anim al totêm
ira sent imentos religiosos; estes
�las ;e acrescentam a eles. Assim, não há objetos que se propriedade que ele insp
te alheias ã natureza do obje
iam, a exclusao
_ de lodos os demais, predestinados a rece resultam de causas totalmen
fixar. que os cons titui são as im
bê-las; os mai� insignificantes, inclusive os mais vulgares, to sobre o qual vêm se
O
dependência que a ação ela
podem cumprir esse papel: são circunstâncias adventícias pressões de reconforto e de s
ciências. Por si mesmas, essa
que decidem quais serão eleitos. Lembremo-nos dos ler sociedade provoca nas cons
as ã idéia de nenh um objeto de
emoções não estão ligad
'.
mos em q�e Co?r ngLon fal a do mana: "É uma força, diz
emoções, e emoções particu
ele, que nao esta fi:xada num objeto material, mas que po terminado, mas, por serem a
m são eminentemente cont
de ser levada a quase todo tipo de objeto."'º2 Assim tam larmente intensas, elas també
r'd m, port anto ; este ndem -se a todos os
bém, o dakma da sra . Fletcher nos representava o �akan giosas. Elas se alast
ocup am então o espírita; pe
como uma espécie de força ambulante que vai e vem pe outros estados mentais que
icula rmente as representações
lo mundo, colocando-se aqui ou ah sem se fixar definiti netram e con tami nam part
rsos objetos que o homem,
vamente em parte algumaI03. A própria religiosidade ine nas quai s se exprimem os dive
mãos ou sob os olhos - de
rente ao homem não lem outro caráter. Certamente, no no mesmo momento, tem nas
reco brem seu corpo, bull-roarers
mundo da experiência, não há ser que esteja mais próxi senhos totêmicos que
ele
que o cercam, o chão que
� o da font� mesma de toda vida religiosa, ninguém parti que ele faz ressoar, pedras
adq uirem um valo r a�c
pisa, etc. É assim que esses
obje tos
cipa mais diretameme dela, urna vez que é nas consciên im
não lhes é inerente, mas s
cias humanas que ela se elabora. No entanto, sabemos l igioso que , e m reali dad e,
, portanto , não é u m a espé
que o princípio religioso que anima o homem' a saber a conferido d e fora . O contágio
io pelo qua l o carã ter sagrado,
alma, lhe é parcialmente exterior. cie de processo secundár
'
Os elementos do sacrificio
nossas inf orma ções. 1 lá sobretudo uma fesca que esses ex , conforme os elas. Para falar
l u •· . mas, numa mesma tribo
1 'l'rdade, os diferentes mec
ploradores se dedicaram pa rt icularmen te nos descrever e an ismos assim emp regados
s para poderem se <lis
a
. rvar um Os próprio
,\...sim, no clã do ilpirla (espécie de m.ana)
JCJum rigoroso.
. A região que atravessam está dia do lnc1ch1 uma, o
repleta de lembra nças ··q.�uince maneira. Quando chega o
deixadas pelos gloriosos antepassad . uma g�ande pe
os Eles chegam , assim, �: 1 upo se reúne num lugar onde se ergue
a um lugar onde um grande bloco acima dela:
de quartzo está plamado dr.1, <le cerca de u m metro e meio de altura;
as arredondadas. o bloco
no solo, tendo a seu redor pedr semelhante a
deva-se uma segunda, com aspecto muito
i nimeir
representa a lagarta witchetcy no re.prese�t�m
estado adulto. O AJatunja a e cerca de outras men?r es. Amba:.
bate nele com uma pequena game
la de madeira chamada qu.intidadcs de mana. O Alatun 1a cava � so lo JllnLO ª, es
''1:'�1ara6, ;o me�mo temr<:> que sal?10dia um canto
..... 1s pedras e retira
s . enterrado
cuja fi um churin ga, que tena 1do
a po r ovos . Faz 0 mesm
nos tempo s do Alcher inga e que consu tu1
nalid ade e conv idar o anim al . como que a
o
com as pedras, que representam os ovos alto da pe
cio anim al e com quintessência do mana. A seg�ir, �le sob� ao �
uma delas, esfrega o estômago de
�
cada assistente. F�it isso
'
dra mais elevad a e esfrega -a pnmetr amente com esse chu
RmlA IS
Jl'Jt/) xrrn DES
355
mento e.los i nd ígenas "é que a poei ra assim dispersa irá se "' "' i•spal har- que a
.
e corre até
canta r . O sa
ngu
' I • 1 1 1cs continuam a " l 3 . O ob1"eto dessa
colocar nas árvores mulga e nelas prod uzi r mana". E, de co b erta
"
'
.
I"
ctam ente
, •-,cei a compl ra e
virtu des da ped
1 1 '' " . 1 0 re vivi ficar , de e C:
c rt mo d,º ' as�
fato, essas operações são acompanhadas de um canto pe ' '
tribo, existe um banco de areia ao qual as lembranças mi 1111 •t1n>s q ue � um hom em está d o ente ou
, . mica Quan do
tológicas associam intimamente o totem do piolho. No 1 1 , .pcc1e tote .. e os Arunt a
que,
entemen te entr
·
f r e q u
mesmo l ugar acham duas árvores , uma delas chamada 1 i11g.1 l1o, acon tece
co mp hei r os a b re-sc
1 0. 1 1 , 1 rcanimá-lo, um
. an
de seus 1ovens
se
1·, pode re-
árvore do piolho comum, e a outra, árvore do piolho-ca ue Se o sangue
,., ' •·ias
. o co m se u sang
e 1 n nte que
·
não é su rpr ee
rega-
ranguejo. O s indígenas pegam a a reia , esfregam-na contra · de
d• � pc rtar a vida
num 1ome m , ' e anim al
essas árvores, lançam-na em todas as direções, convenci na
1 em la espé ci
i para des perta-
l'' 1ssa w
·
serv·r
a qua l os 110m
dos de que assim nascer.lo muitos piol hos9. Entre os Ma m J - . ens do clã se c
onfu n de �.
.
ve g l com lnt1c h1L1m a
O mesmo proce.d1me nto e
� )
ra, é d ispersa ndo poeira retirada de pedras sagrad as que eta no
co d a cerimônia é
,, 1 _ , mpregado
se realiza o T nt ichiu ma das abelhasio. Para o canguru das
,
pal
dn Canguru em Un
d1a ra ( run: t . O
e.
pla nícies emprega-se um méwdo ligeiramente diferente rochi:;do a piqu
se r ue um
Pe ga -se bosta de cang uru ; envolve-se-a numa cena erva rn11 remoi nho
. junto a o qua
Alch erin-
presenta u1;i
guru cio
· !ai can
que esse animal gosta muito de comer e q ue , por essa ra
zão, está relacionada ao rotem do Canguru. Deposita-se a
1•.s:-,e rochedo re
1-\•' que foi mor to e depo ªS� s!ta nesse luga r
por um ho-
supõ e-se que
oc a., por isso
da mesm a ep
bosta, assim envolvida, no chão entre duas camadas dessa i11cm-canguru
de canguru re si
d� � essa área. De-
Pedras sagrad
s espm , ·tos as fora m es-
mesma erva e põe-se fogo em tudo. Com a chama que se numeroso
certo núme ro de
l ibera, inflamam-se ramos de árvore que são agitados, a prns . que um da maneira que d escr eve-
i regadas umas
conti:a as outras longo da
seguir, de maneira que as fagulhas se dispersem em todas t bem na roch a. ao
s dos ssis te n es so
cerimô
mos, vário a o
ueis "0 objetiv
da
scorrer s�u san g
as direções. Essas fagulhas desempenham o mesmo pa pe l
qual deixam e . t l n te o
que a poeira nos casos precedentes 1 1 . . dígenas a me
nia, segu ndo O
ua
in é
'
que dizem os derra mado
ue dP home
•
ce rto u assim
Num número de clàs12, pa ra tornar o rito mais m-cang
íritos dos ca ng
u r
segu inte: o sang
. u-
.
eficaz, os homens misturam à substância da pedra algo de
na-se a reura r dela os esp
na rocha, desti os em todas
sua própria substância. Jovens abrem-se as veias e deixam ntram e a disp
ersá-l
is que aí se enco
o sangue escorrer sobre a pedra. É o que ocorre parti rus-anima
cularmente no lnlichiuma da flor I Ta kea, entre os Arunta.
356
AS FORMAS El.Ell/!t\TARES DA l7DA RElJG'IOSA t /'f{J\'<;l!',l/!i A TffiDES RITLAIS 357
, 1 1 1 re os Kaic is h , duran1e
�ma 1ct 1c1n ass� m enca ntac
s�tng uc q ue scrvr u para fazê- la, que pa n iria mnLem ente e.lo
l�1 e, cons eqi.ie
uma cerimônia que tem por ob-
v�v.?s que, �º anim . ar os ;)
os prind ios 1' 11\'0 fozcr chover, rc.:ga-M: com água uma pedra sagrada,
É
embriões e.la nova geração,
impe 1 p 1 v representa heróis míticos do clã da água. evidente
drrao a especre de clesapare
.
cer1 1.
E � tre os W?n k ong aru is, 'l l l l.'. desse jeito, acredita-se aumentar as virtudes produlo-
& um clã tem por Lotem u m
certo 11po e �erxe . E Lambém
� 1,1-. da pedra da mesma forma que com o sangue, e pelas
o sangue que desempenha
o papel prrn�rpal n<? Intic hium 11 1l·smas razõesz• . Entre os Mara, o operador vai buscar
a desse tocem. O chefe do
grup<?, c.lepors de pint ar-se IL:lla num remoinho sagrado, bebe-a e cospe-a em todas
cerim onia lmen ce, encra n u
ren:io rnho e senta-s . Então, m 1s direçõeszz. Entre os Worga ia, quando os inhames co
� com pequenos ossos pontu
dos, pe �fura sucessivamente tt ll.'Çam a brotar, o chefe do clã do lnhame envia os mem
o escroto e a pele ao redor
�
do umbigo. _ sangue que
corre dessas diferentes ferid
as
i>ms da fratria, à qual ele próprio não pertence, para co
espal ha-se na agua e faz nasc lher essas plantas; estes lhe trazem algumas e solicitam
_ er os peixes"•9.
E por uma prática inteirame .11 1 intervenção para que a espécie se desenvolva bem.
� nte simi lar que os Dieri
creem assegurar a reproduç l·lc.: toma uma delas, morde-a e cospe os pedaços para co
ão de dois de seus rocens
dos os lados23. Entre os Kaitish, qu ando , depoi s ele ritos
3
�obra-tapete lserpenl tapis]
e a serpente woma (scrpe
C�)'.1:um). Um M u ra-1:1ura chamado �te
v.t riados que não descreveremos, certa semente de capim
M in ka ni é tido por resi
<.�u sob u1m� clu � a . Seu corpo é
representado por ossadas l ' ha ma da Er l i pi n na chegou a seu ple no desenvolvimento,
se enco ntram , diz-nos J lo p u nh ado delas
fosse is de repteis como os que
w m , nos d e l L a s d ?s rios q
o chefe do totem leva um ao acampam<.: n-
u e desa guam no lago Eyre 10 e as mó i entre duas pedras; recolhem-se p iedos amente
Quanc.�o chega o e.Ira da cerimônia .
os farelos assim obtidos e colocam-se alguns grãos nos lá
. , os homens se reúnem
e s? drr;gcm ao luga r onde bios do chefe que, ao soprar, d ispersa-os em todos os
está o Mink ani. Lá, cavam
areia ate atingir uma camada a
de terra úmida e 0 que cha scmidos. Esse contato com a boca do chefe, que possui
�1am de "os excrementos do
Mink ani". Depois continuam 11ma virtude sacramental toda especial, tem por objetivo,
a cavar co� gr.i des precauçõ certamente, estimular a vital idade dos germes que esses
� es, até que apareça "o coto
velo do Mrnk anr" . Então, dois
homens sangram-se e dei grãos contêm e que, nrojctados em codas as direções do
xam o sang�e es orrer sobr
� e a pedra sagrada. Entoa-se horizonte, vão transmitir às plantas as propriedades fe
0
cant o do Mmk anr enqu anto
os assistentes, tomados por cundantes que possuem11•
AS FORMAS El.E.llEJ\TARES n.1 11nA
358
.:359
Rl:IJGJOSA
IS PRJSC/P,1/S A TinDh\ Rin'AI!>
A cfidcia desses ritos não é posta
dígena. ele c:-.tá convencido
cm dúvida pelo in
deque devem se produzir os r de ritos. Ela varia um pouco conforme os clàs;
longa se i e
resultados que espera, com uma mas seus elementos essenciais sao por toda pane os mes
espécie de
necessidade.
Se suas esperanças se frustram, mos. Eis aqui duas das principais formas qu � ela aprese �
ta entre os Arunta. Uma está relacionada a Lagarta wn-
simp lesmente conclui que
os ritos foram contrariados pelo
s malefícios de algum gru
po hostil. Em todo caso, não
resultado favorável possa ser
lhe vem ao espírico que um chetty, a outrn ao Ca g ru.
n u ,
.�. � .
mostram cm abundância, os membros do �ote n; . ,1ss1m e�:
obtido por outros meios. Se. Assim que as laga1tas chegam a plena matun .ic. c
, e se
obr.1gaçao de come-lo
os come solcncrncnie e cm conta duas características essenciais do rito. Em pri
s. Se não cum prisse esse
_ iem a
dever per
� ena seu
�oder de celebrar e ficaz men te o lntic hium ;
meiro lugar, t rata-se de uma refeição: são alimentos que
constituem sua matéria . Além disso, Ciata-se de uma refei
�· �cc na r anu alm ente a espécie. Às vezes, o cons �
de isto
ção da qual os fiéis que a oferecem tornam parte junta
nt ual � acompa nhado de mo
uma unção feita com a g
�
o �n: a l ou ce� as part o�dura
es da planta.u. Gcrn lmcme , o rito
mente com o deus a quem ela é oferecida. Certas partes
�
. • -
.
h ar que houve u m rc m no m mesma carne e do m esmo sangue. Mas a alimentação re
, ve rda de que j<• mai s faz constan iemcntc a s u bstância do organi sm o. Porlanto,
o, ,che
c1ue cl·
c fe
- .i nao- era ign orada . E
•
fe, .!
)� rgunta ndo-lhe se que
•
. ao
r comer. Ele recusa e acre
.
rabelecer emre eles um laço de parentesco. Oes�e pomo
scen
t�: �
1z iss o ror vocês; vocês pod de vista, o sacrifício revelava-se sob um aspec10 inteira
menre novo. O q ue o constituía essencialmente não era
? costum e da a presen taçã
em comer Ji vrememc de
o s ubsiste, portanto e a
le. "l
1)anquetes sacrifi
· ' essa
ci'' 1 1·s· Esta nao resulta excl us ·vame
uos a eficácia q ue irão ped ir as forças suplem entares que nccessi-
do f;ato da co 1 1 1 1 1 pa ra ren ová- lo e rejuvenescê-lo. Um homem do clã
-
' e . 0 11omem 1
•
c,1
- m
ente por 'scntar-
mcnsalid·id
i-
não
s•
,
"• de certo m
' se sam1"f1ca
od.o ' ,1
· un
q l l didade que se define; é ela qu e m a rca seu l ugar na so-
.•
.
· ·
coisa sama. cuja dig ser imolado numa Mas, para que essa o peração possa produzir todos os
. �i;.m J. te-s e
seguida ao fiel t li 111>:. que dela se esperam, é importante que nào se rca-
•
cio"� e ,1 e, me ntas s- e
·
ém e l e, c.onsi.ste
· ·
1111 111am a espécie lotêmica atingem sua p l ena expansão.
a 1 totê mico , o
desse gênero lJina nu m ato
tu nja e os ve lh 1 l.1s mal acabaram ele ser extraídas desses ricos reservató-
vez mono o anim
os come-m sol
.
comu nhà. o, po .
do membro de um srnal
.
' . • o lheita manifestam a energia que contêm: o deus totêmi
•
uma espécie de
dà toro; cmi o _truz em s1.
n> n el es se afirma com todo o esplendor da juven tude.
a pa rte emme
substância m �
l .1s por q u e, em todos os tempos, as primícias foram con
íst ic·'1 que conslitu1
pois e • dela ciue e me de seu
. ·
- ,• C i. ta sua alm
ser,
É e e 1 a que proce-
1
�
. a. ' 1deradas um alimen to sagrado , reservado a seres santos.
'1 ·1)LI i e seL1 pape1 .
dem os poderes
" Ue ele se atn
atraves dela q ue
•
socral ; é 1·� natural, portanto, que o au stralia no si rva-s e del as para
ele é u ma pessoa ,
i n te-
c1- l a intacta , e
ress e vital em co . 1-Ia, po rta n to, um ... v regenerar espiritualmente . Assim se exp lica m tanto a
q u anto p ossível
nsei · v,.
' i1u m estaclo ele
m mante -la lante
• tua 1uve
data como as circunstâncias da cerimônia .
•
.
•
perpe
'
l1. zmen re , todas
as força s, . mesm o as
mucle. Jnfe- Talvez su rpreenda que um alimento t:ão sagrado pos
.
desgasram com 0 · mais es
.
.p 1 mua is,
.
.
sa ser consumido por simples profanos. Mas, em primeiro
r
se
l ugar, nào há culto positiv o que não se mova nessa con-
tempo, se, na da .
�erdem no curso natural vier � energia que
.
da s cois·as.. rem _
rep o
os ª' uma ncces- 1 radição. Todos os seres s agrados ,
c 1 ue, corno vere
sidade primo rdial e m razão do caráter
e1o culto positivo
·
_ t Olem so pode ou tro l ado, eles de nada serviriam e não teriam razão de
-
u esses
1
Smith, sem conhcc
.,,
. p or .
uma mtuiç,to gcni·ai '
. .
.engc-
•
de
1 1111-., te ve, o pre
01
um a série
mio p<xle comerciar com os seres sagrados sem atrm essar ssenti mento deles .
- zir aqui, pois tem
, .
du
•
. ú til repro
'\ Creditou poder esta-
: e é in
1 1 1 11 1-..is cleduçocs - q �
h1stonco'- -' ele
a barreira que, normalmente, deve mantê-los separados.
·1us
.3
resse
. a 1. 1
1
•
Tudo o que impo1ta é que o sacrilégio seja fcico com pre um inte
. cios
11" i do nos sacrifí
·• ·
1 .. ll-ccr que, na
nol·
, 0n·gem' 0 anim
•
cauções que o atenuem. Entre as que são empregadas, a , .
. parent e pro,
x1-
o quase div ino e
d1·\ li ter co nsi de rad
1 vam Ora ' ess
mais usual consiste em conduzir a transição e imroduzir o sid o
· · as caract
•
. en,st'icas são pre-
1110 dos que o uno ª '
. se
fiel no círculo das coisas sagradas apenas de maneira len · espécie totêm i-
define a
s pelas quais
ta e gradual. Fragmentado e diluído, o sacrilégio não fere, ' '" imentc aquela 1, e> deveria ter
co-
• .1 Smith sup �
t0te1nism .
•
dar
•
• ll de sacrifí
e 1 u�da n1enral de
, 1·i· f
cede u o momenco em que o totem é solenemente comido cio a bas
•,.1l rific1al 11 . O sac
. . '1 c ·1o nao tcna . s·1d o 1
··nst.1tuíclo na ori-
'
um laço de
entre o ho me ·m e seus deuses
. 1 mas para ma.nter e
participaram ativamente delas. Foi um período essencial \:l'lll, para criar
1· f·i -,
renov a r o paren-
i
mente religioso que eles não puderam atravessa r sem que ' iarentesco a n· c a '
l l'sco nat ura 1 que
Aqui como
seu estado religioso se tra nsfom1asse. Os jejuns, o conrato
. . · va1n ente
0s unn . ' p n m1 · t 1 · •
u ó
s_
'"' i· mitar a natureza .
com as pedras sagradas, com os churinga 'º · as ornamema o ar T
.
Smith se-
i o pa�
� �:
1cio . · teíl'I nasc·d
.ilh ures,
•
qt 1e lhe s · •os
'
.s hoi·e é líci to afinnar,
opria mente ditos . · •'i . Ma
Se o aLO pelo qual um ser sagra do é imolado e de "ªº totens. pr o está fe1t . a:
ser
·m on str açã
pois comido pelos que o adoram pode chamado um nu m ponto pe lo
menos, qu e ª d
�
, me o importante cJe soc ie-
��
que� n
sacrifício, o rito que acabamos de ver tem direito à mes .1<.abamos de . vc r bia, é
ma denominação. De resto, o que mostra claramente sua dades, o sacnfic10
. rotem1c � como Smith o conce
uma temos a
do . Cla �o. qu e ' de maneira nenh
significação são as analogias impressionantes que apre ou foi pratica e inerente ao
S�J. ª necessariament
senta com outras práticas que se verificam num grande de que essa pranca os au
l)rova o germ.e ele qL1e todos
e ela se1a ,
número de cultos agrários. Com efeito, é uma regra bas totemismo , nem �u a universalidade
do
l!
. sa1rat�. Mas ' se
c10 .
eante geral, mesmo entre povos que alcançaram um alto tros tipos de sacnfí . .
-o mais
a conte stável
sua ex1stenc1a n
. f.
grau de civilização, que os primeiros produtos da colheita e, h .
ipot e' t '
i ca ' a
elecido que
-.. ve-se cons
rito
1'dcrar como estab •
Doravante, c.l.,
h-
sirvam de matéria a refeições rituais, das quais o banquete ntar ·1 á se ven 1ca
forma ma
· comu n ao alime
pascal é o exemplo mais conhecido•l. Como, por outro is mi. 'sti ca de
ente conhecida.
rudimentar presentem
lado, os ritos agrários encontram-se na base das formas na religião mais
mais elevadas do culto, percebe-se que o lntichiuma das
sociedades australianas está mais próximo de nós do que
fa ria supor seu aparente primarismo.
366 1 l'/U\CIP/li!) A Tln DI� Rlnws
367
AS FOllltAS EL/!.IJE.\TAR!�\ Dr! IWA RElJGJOSr!
� :
acred itava com efei � , 1 1carna essen cialme nte o que
.
pudem
, que, para se
to, c escobnr na JXópria noç<lo de oblaç 1 dora a divi ndade tmêmica Vimos, porém
pl' rpe uar, ela tem
ào um absurdo de-
1 �asiado revoltante para que fosse
possível ver nela a , - � neces sidade do concu rso do home m. É
za� P.rofuncla de tão gran de instit uição . Uma das fu n�·c de que, todo ano, dá vida à geraç<lo nova;
dade é assegurar aos
s;: o homem deixar de celebr
sem ele, ela
ar o l ntich iu-
ie da terra.
mais ,' mpona 1� tes que cabem à divin 11;10 veria a luz. Se
homens os a l1 mem os necessários arecer ão ela su perfíc
1
para viver,· nare�"e por 111;1, os seres sagrad os desap
• l que o sacrifício, por sua vez
,. -
os seres sagrados
tan�' unpo · ss1ve a ele, portanto, num certo sentido, que
•
rsao e o mes. m o •"N:s �.u1s atos no lnLichiuma, cal como acaba de ser dcs
normalmen te as of
·
que aco mpanha
erenda s. , E m c�rros. Caiios, a
. ' 1 1 lo. A ú n ica diferença é que, no sacrifício propriamente
dos dois rito·s verifi
. ca -se. me .
i us1ve nos po .
semel hança d J l o'iO, eles se fazem simu ltaneamente ou se seguem ime
movimentos efe tua . ' me nores dos d1,1 lameme, ao passo que, na cerimônia australiana, estão
que , Pª'.ª fa zer
chover, 0
do s v·
kaitish derra ma água
povos, o sacerdote
� � :'::
s br ' � a pedr:i
� agrada ; em certos
.cparados. Al i são p a rte s de um mesmo rito indiviso;
, acontece
. 1 1 liculados e organizados.
-
l1 u v1tur1<
1tos Essa aproximaçao tem a dupla vantagem de nos fazer
. mais ava nç'
ompn:c..: ndcr m el hor a natureza do lntichiuma e a do sa
• CL1
1 sacrificad·i ou •B .
do propno fiel se1a
. ·
e
't l car
:
.
deram seu a
ses, que o consi Compreendemos melhor o I n t ichiuma. De fato, a
.
•
, , imen
. co prcfe
lia , ele é dado ·1 . ndo; - na Austrá-
o, nao 1la- mais
' esp
. e · c1e sagrada Por rnncepçào de Frazer, que fazia dele uma simples opera
e 01 )1-.iça�o um
mouvo . tam
,
para ver na idéia d � .io mágica, desprovida de todo caráter relig ioso� 1 , revela
civilizuç::io. produ to tardio da
M.� agora insustentável. Não se pode pensar em colocar fo
Um docu mento ra e.la religião um rito que é como o preâmbulo de uma
que devemos a 'Strehl
esse parentesco do 1 .
• ow poe .
denc1a . - cm evi 1 11stillliçào religiosa tão importante.
nuc111um a e do
ta-se de um canto sacnti cio. Tra- Mas com pree ndemos melhor, também, o que vem a
que acom panha o
ser o pró prio sacrifício. Em primeiro lugar, a igu al im por-
lntich iuma .
guru; a cerimôn ia é do Can-
sào expostos os
aí desc ·ca
efeitos qu :�� :� m mo tempo em
s
:. que 1!incia dos dois elementos que o compõem está doravante
cMabeledda. 5e o auMraliano faz oferendas a seus seres sa
, e esperam. Um
da gord ura do cang . pedaço
uru foi d, epos1tado pelo
um suporte feito chefe s obre grados, não há razão para supor que a idéia de oblação
de ra magens.
gord ura fa z cresc Ora ' o texto d 1z º que essa
er a gordur fosse estranha à orga niz ação primitiva da instituição sacrifi
a d . cangu rus.i9.
oficia nte não se
limita a es · tl h · po . �� �
Desta vez, o cial e pe11u rbasse s ua economia natural. /\ teor ia de Smith
deve ser revisada nesse pon ro s1 Claro que o s<1crifício é ,
gue huma no; o
�� . : 1 ra s<1gr c a
ou san
�
próprio a ni1 �
c m pa ne, um procedimento de comunhão; mas é também,
l e imolado, sa
.
A cia. •
as forç,
0 �angue
1, s de
,
· •
isso
tam�nte à açã o e ã vi da, adquiriu ao mesmo tempo mais . .
a circu nsi_an
que dispõe e que mobiliza para.
� . �I� ?
realidade. Pode-se, portanto, pensar que a prática do cu a es ,
e un
,
v11lu cles f m
que corre em suas veias tem
c
l
to favoreceu de mane ira secundária certamente, mas seu ela possui; Jra
que derramará . Nas pedras sagradas que
mesmo assim merece ser notada, a personif icação das os e os semeara no
buscar os germes de vida adormecid
forcas religiosas . ?
. ,a
espaço. Em uma palavra, fará biaçõ es. , . ..
. alem c.ltsso
Essas crises externas e fís1c..1s somam-se
t nses i nternas e mentais que tendem ao � esmo resul tado .
V os seres sagra dos só e x i s t em porq ue sao rc pr � �c nta d >� �
ele acred i ta�. neles ' ,
nimo tais nos espíri tos . Se cessarmos
Mas resta expl icar a contradição na qual R. Smith via
será como se não existissem. Mesm o aque les q � e tem u ma
p eri ê n c i a sens 1 � : 1 depen�
forma mate rial e se dào na e x
um inadmissível escândalo lógico.
Se os seres sagra dos manifestassem sempre seus po amento dos f1e1s. que, os
-
dcm , sob esse aspccLO, do pens
que faz deles obietos d:
.
deres de uma maneira perfeitamente idêntica seria i ncon
,
ce bível , de fato que o homem pudesse pen�ar cm ofere
,ido ram pois 0 carát er sagrado
culLO n o é dado em sua const it u ição
ci natur al; � le
que
lhes e
um
cer-lhes seus serviços, pois não se percebe que necessida mais
u.ru
é
Cang
ça. O cang uru não
.ic rescent ado pe l a cren
de poderiam ter deles. Mas. em primeiro lugar, na medida
mim ai como os outro s; mas para as p �s � oas do
cm � ue se confundem com as coisas , na medida em que
de contém em si um pri ncíp io que o
d1sungue dos out1os
se ve ne les os princípios da vida cósmica, os próprios se e nos espír itos que o pen
seres, e esse princ.:ípio só exist
res sagrados estão submetidos ao ritmo dessa vida. Ora, a os ,cre5 sagra dos, uma vez concebi do�,
�amss. Para que
vida submete-se a oscilações em sentidos contrários e que h omen s para dura r, sena
não tivessem necessidade dos
se sucedem segundo uma lei dett:rminada. Ora ela se afir-
.
senta ções que os expnmem
preciso, port.anto, que as repre
IS
A1'f71'/)/f.S RJTPA
375
\ \ l 'J<l\CJl'A /S
374 AS FORMAS E
LfllE.
'V
T .ARES DA 17Dil REL/ClJOSA tambl:m
o simbólica ,
li
que a expressã
·
ligad os a ao vento,
areia lança dos
. c�• encias
de os seres sagrados . em1Jora superiores. ,1os . h omens na
·o 1111 nte
A
algu ns grãos de
. ' .
ele
· ,
com ma ro
Po(.Icrcm
' , viver a na
· o ser
, cm cons humanas. 111 que ,
derramadas sobr e u
gotas de sangue manter a
Mas esse c í rculo se;: , revehra mais · natural ainda e • 1 1 111 algumas era pos sível
' h.1 ou sobr
' um altar ,
l
c< >mprecndcremos melhor "<:� . sentido . e sua raôo de ser,
sc, e \ ando mais longe a analise e su1 )St1tu1 do os súnbo-
. .
ida de uma
e a pedra de
espé cie anim al ou de um
deus? Certa men
a soluç ão
te,
desse
passo para
I · ' demos an1e
�
1<�s re1 .1g1osos
. pelas realidades que eles expnmem exam ·
riormenu.:: um
mov ime ntas
ext erio res e
p1 ob\e
• 1-
do, sob ess es
mecanis-
·
ma quan um
narmos de c1ue mane·ira estas se c. m o rtam no ri(Q. Se descobrimos
� � . desa rrazoados .
.
como procuramos estabelecer, º. pnnc1 �10 sagrado nàn ê 1parente mentc
dá um sentido
e um alca nce mora l .
outra coisa senão à ' e h1 osras 1ada e t ransfigurn tal que lhes o seja um
socied·1d
� 1110 men esse meca nism
o nã
, ser interpretada em termos nada nos gara nte que ram os clar a-
d<�, a vida ritual deve �oder �la s inatórias . Most
. e
imagens aluc acred itar
le1gos e. sociais. E' de fa(Q da mesma iorma que esta u ' lt' - ,,mp\ cs jogo de os fiéis a
. a vida social se move 'num círcu1o. Por um lado, o m- 1 o leva
esso psicológic espirituais de
ma, . 1nente que proc deles as forças
d.1v1'd uo deve ''í sc)c·te·d a<le o mcll1or de si mesmo• wclo o ren ascer junto
que o rito faz logi came nte ex
de ser psico
m; mas, do fato
- parte entre os ou-
•
que 1 he dá uma fisiono11 lia . e um lug·.ir a que necessita tenh a um valor ob-
ça
1ros seres, sua cultura imcl cctua
cren
. 1 c n:ioral. Se do homem vel, não se segue que essa na eficácia
pl icá riza dos a ver
forcm retiradas a linguage �� :s
.A
�.iene ias, as artes, as cren
.
1ctivo. Para que
aos ritos
este jamos auto
algo mais do
que o prod um de um de
anari a, é
ças da moral, ele cairá no c1 d,1 arnmalidade. O s acribu .1rrib uída anid ade se eng
��iza_ l com o qual a hum
. .
. dade .
as tradições e as aspiraçoes da - col cL_ exisLe: é a socie religiosas terem
algu ma
e partilhadas etos particulares, a sociedade
. fato , basta as cerimônias os grupos
ser scnudas De a coletividade:
� que mobilizem
. •
1c1ma. da d ivindacl., ,
'-·· ela so tem re· se reúnem para r seus con tatos e tor
plica
·A
indivíduos, mulú
•
li
gundo as sociedades. Onde o período de dispersão é lon
- Os ritos miméticos e o princípio de causalidade
go e a dispersão é extrema, o período de congregação é,
por sua vez. muito prolongado. Produzem-se, então, ver
de ver não são
dadeiros abusos de vicia coletiva e religiosa. Festas suce Mas os proced i mentos que acabamos
dem-se a festas durante semanas ou meses, e a vida ritual empre gados para assegu rar a fecund idade ela es
os únicos
É
mesm o objetivo,
atinge <1s vezes uma espécie de frcnesi. o caso das tri p<.·cie totêmica. T fá outros que servem ao
indo os
bos australiam1s e de várias sociedades elo Norte e cio No
dentes , seja substi tu
�cja acompan hando os prece
- .
acampamento· m ª
• "
c:altan do cerca ele uma mi
·11la •• r r 1inam, todos sentam-se no chão ele mane i ra a for-
gar, a marcha é sus pensa e t d s se rname para che·
·· · s
•
me�ce, retomando a caminh ntam ritual 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 semicírculo voltado para o oficiante principal. Es-
adaºe � �
taçoes anu ncia m que u m · . seguKla. E:ssas omamen 11 dll'rnadamente, inclina-se acé o chão e levanta-se
'1 •m po rta nLe ce nm ôn nos joell1os; ao mesmo cempo, agita os braços
rea lizar. E de fato , enquan ia irá se
to o grupo escav . a ausen
11 11.1do
dos velhos que ficaram de te, um 1 1" ri didos, o que é uma forma ele representar as asas do
gu ari(1a no acamp
•
amento cons- 1 1 1 l ' ln. De tempo em cempo, ele se inclina por cima do
' m
tru iu um abr igo ele
agens, ongo e est
U.m bana, reito, cJlam ado 1 ,, 1 1 d o , i mit a n d o a maneira como a borboleta adeja cm
n
que representa a cri
seco.Todos os que par
sá l i da. d e �n�e
.emerge o m 1 1 1 1 1 1 < > das árvores onde põe seus ovos . T erm i na da essa
tici aram das
.
se reúnem perco do 1 ug · cerimonias anteri 1 1 1 1 1 nô 11 ia , recomeça uma outra num local diferente para
ar ponde essa, co ns�1çao - e ·
ores
da; depois avançam lentam io1 ergui- 1 1 11.!1 · todos vão em silêncio. Desta vez, empregam-se dois
ent
tc mpo, até chegarem no mbe, dete ndo-se de tempo em 1 1dos. !'\um dele::. são representados, por linhas em zi-
seguida, todos os q ue não _
U _ t:m:, n� q�al penetram. Em 1g ue , os traços da lagarta; no outro, círculos concên
�<10 a fr atn a re l a c ion ada l r h < >s, de dimensões des iguais, representam, uns, os ovos
11
zen
evi dcnte men Le represent:r � seus gestos_, cujo objeto é pessoas do totem emitem o grito caracte1ístico do maçari
o i�seco ao sa1 r da crisálid
Aliás , um cama que se faz a. co, grito naturalmente associado nos espíritos ã estação
que e como um comentário ouvir n o m esmo .momen to e das chuvas'. Mas os casos de ritos miméticos obsetvados
oral clo i"rt� cons is
•
mente nu ma descriç te precisa por esses dois p esq u i sadores são pouco numerosos. É
ão dos m v •me · ntas que faz o ani ma l certo, porém, que o silêncio relativo deles acerca desse
nesse estágio de seu desenv
o1º · ento 1
v1m ponto decon-e ou de que não observaram suficientemente
Um outro Tntichiuma2 cel
·
outro tipo ele lagarta ' a., 1 aga ebr ad 0 .a propos1to de um os lntichiuma, ou de que negligenciaram esse aspecto das
rta unchalka3, [em esse car .
• .
ter de forma ainda mais � a- cerimônias. Schu lze, ao contrário , ficou impressionado
1 ara. Os atores do
�
tam com desenhos ue � rito se enfei com o caráter essencialmente mimético dos ritos arunta.
qu al essa l aga rt a vi n . �
P�ese n am a sar a unchal "Os corrobori sagrados, diz ele, são, na sua maior parte,
m1c1<? e e sua existê nci a ; dep a
� � ka n
eles cobrem um esc cerimônias represemativas de animais"; ele os ch a ma ani
udo c c1r�cul?s. concêntricos de pe
ois
mal ljurunga6, e seu testemunho é hoje confirmado pelos
nugem, que figuram uma
�� espeCJe de sarça na documentos reunidos por Strehlow. Nesse último aucor,
inseco adulto deposita seu qual o
s a% s . Quan do esses preparari- os exemplos são cão numerosos que é impossível citar to-
AS FORMAç ELE.HE.\TARES Orl 170.t Rl:IJGIOSA 383
382 1' l'N/.\C/Pllü A 77Tl'DC.\ Nl1Ulü
, iir. é
rus, imitam-se os movimencos que eles fazem ao comer, o preci so, porta nto, que ele nao se moscre. Acred1ta
t \ccuta-sc num
morcego, o grito do peru selvagem , o da águia, o assobio escu do um dese nho que represc nta o ar-
.
da serpente, o coaxar da etc.7 Quando o totem é uma o à aldeia, tendo o cuidado de
10 í ris. Leva-se esse escud
res. Tem -se �erte za t�c
i,
r.
planta, faz-se o gesto de colhê-la11, ou de comê- la9, ele. 111anL ê-lo ocul lo a todos os olha
Entre os \Xfarramunga, o I ntichiuma apresenta, em qut:, ao torn a r invis ível essa imag em .do arco- 11 1s , ,º P��l
geral , uma forma muito particular que prio a rco- ír i s _é impe dido de se
c.Jcscrev<..: remos no ma m festa r. N � � ssc �1�10
p1tc b1 c heio
.
próximo ca pítulo e que di fe re das que 'imos até agora. tendo a seu lado um
ivmpo, 0 c:hele do clà,
oes tlo�os de pen � 1 �c_m
No entanto, há nesse povo um caso típico de Intichium:.i d agua , lança cm todas as dircç _
ns. lmtt� ç�e� repcud,1s
puramente mimético: o d a ca ca t ua- bra nca . A cerimônia branca que representa m as nuve
que Spencer e Gillen descrevem começou às dez da noi dl) grito do maçarico d:m comp
letar a cenmc�nia, que pa
te. Durante a noite toda, o chefe do clà imitou o grito da uma gravi dade muito pa rticu lar, pois, enquanro
rcce ter
m, como aLOres ou como
ave com u ma monoLOnia desesperante. Só se detinha v i a dura, os que e.leia parti cipa
quando estava exausto, sendo, enrào, substituído por seu m ter nenh um contato com suas mu
t!>sistenccs, não pode
Ihes12. .
filho; depois recomeçava, assim que se sentia um pouco lheres, não podem sequer falar-
s ele figura çao sao dt
_ .
repousado. Esses exercícios estafantes prosseguiram até Entre os l)ieri , os proced imenm
a não por ág ua , mas por
de manh�i sem intcrrupção H> . il'rences. A chuv a é represen ta d
Os seres vivos não são os únicos que se procura imi r de suas veias sobre a as
s,mgue que homens fazem corre
ta r. Num grande número de tribos, o l ntichiuma da chuva o, eles lança m punl1ac.los de
-.istência n Ao mesmo temp .
consiste essencialmente em ritos imitativos. Um dos mais ca, c.iue ::iirnb oliza as nuve ns. Anre ·� 1orme n�e '.
penugem bran
simples é o celebrado entre os Urabunna. O chefe do clã uma chou pana foi co ns tru ída
. Nela se depo s tta m du.is
senta-se no chão, todo ornamentado de penugem branca grandes pedras que re presc nta 11� acú m � los de nuve �s.
li
nas. arrancam-nas, até que tudo desah<:
defini tivamLnte. A
upcraçao q ue conMste cm atravessar a choup
ana de lado a
lado é destinada a representar as nuvens
Todos esses ritos são d o mesmo tipo. O princípio so
chuva 11.
que se a brem , e
l 11v qual re pousam {; um dos que estão na base daq u il.o
o desabamento da construção, a queda da
nte m i méticas.
e que pare
cem ser, na sua maior parte, essencia lme
11111 objeto atinge também tudo o que 111a11té111 com esse ob
Ch' 1niam- se tarlow, entre esses povos, mo
.
ntes ele pe wtu uma relação de J>roxim idade 011 de solidariedade
11w/quer. Assim, o q ue afeta a pane a feta o todo; toda
dras ev1den temcn te sagradas, uma vez que, como
vere
mos, são objeto de ritos importantes. Cada
anima l, cada 1 , .10 exercida sobre u m mdh 1<.luo transmite-se a seu:.. v1z1
planta , em suma, cada totem ou subtotem"'
1 1 1 t os a seus parentes, a toe.los os que lhe são solidários
do por um tarlow, que um clã detenninado
é representa
por uma razão qualquer. Esses rnsos são si m ples apl i ca
.
P deve prote
há entre esses \ oes da lei c.le contágio que v i mos anteriormente. Um es
ngc-s� a ele com u m certo número de seus co mpa n hei o segu ndo princípio se resu me geralmente a fonnu
r o . Lá, executam-se diferen
_ ,
� tes ritos, consistindo os princi l.1 o semelhante produz o semelhante. A figu ração <l� u m
pais em saltar ao redor do tarlow, como
saltam os cangu �vr ou de u m estado produz esse ser ou esse estado. E es-
· 1 máxima que aplicam os ritos que acabam de ser descri
rus, em beber como eles bebem, ou seja,
em imitar seus
movim entos mais característicos. As armas
que servem tos, e é nessa ocasião que se pode perceber melhor o que
para a caça do anima l desempenham um
papel importan 1 la tem de característico. O exemplo clássico do feitiço,
te nesses ritos. Elas são brandidas, lançad
as contra as pe t presentado geralmente como a aplicação típica do mes-
1 1 10 preceito , é bem menos significativo. No feitiço, com
.
dras, etc. Quand o se trata de emas, vai-se
ao tarlow da
ema; cami nha-se e corre-se como fazem
essas aves. A ha l ' fcito, h á , em g ran de parte, u m s i m pl e s fe nômen� . c.le
bili dade que demonstram os indígenas nessas
imitações é, 1 1 .i nsferência. A ic.léia da imagem é associada nos espmtos
ao que parece, notável.
.1 do modelo; daí os efeitos da ação exercida sobre a esta
Outros tarlow são consagrados a planta
s, a sementes t ucLa se comunicarem contagiosame nte à pessoa cujos
d ca pim, por exemp lo . Nesse caso, imitam
� -se as opera 1 1.1cos ela re produ z. A i magem desempenha, em relação
ori g i nal , o papel da parte em relação ao todo: ela é um
çoes que servem para penei rar essas
sementes ou moê
las. E como, n a v id a ord iná ria, as mulhe
,10
res é que normal 1gente de transmissão. Assim, acredita-se poder obter o
mente se encarregam dessas tarefas, são
elas também que mesmo resultado queimando os cabelos e.la pessoa que se
executam o rito em meio a cantos e da nças
.
quer atingir: a única diferença entre esses dois tip�s de
operação é que, numa, a comunicação se faz por meio da
�imilaric.lacle, na ou tra , por meio ela contigüidade. Aconte-
A\. FORMAS Ell111ENIARES DA
VllJA NllUG!O\/I
386
I f/!\1 11•1/S A TITUDES RIT/!AIS 387
ce algo diferente com os ritos que exa 11 1 1 11.ili;iu •>s de observa�� só a imagem ? d��cJa ; �u.� nt-��
1111 ( 1l 11>' · le na-0 existe lª que a nova gerJçao da espe
supôem apenas o dcsloca rrn.:nco minamos. E les nà11
. 1 us1-
.
de um estado ou de uma � • '
qualidade dados, que pass<im de h 111·111ica ainda não é senão uma esperança e, me
um objeto a outro, ma.,
�1 criaçao de algo inteiram
presen t a r o anima l dá orige m a
ente novo. O si mp les fato de re 1 1 1 11.1 esperança incerta. Não poderi� se º caso, P<:>r-
1 1 1 111 1 • li· assimil ação, crrônea ou não: ha �naçao
� -
imit ar o ruíd o do vento ou d a á
esse anim al e o cria; ao pr����-
_
�-
1 1 11 1 1 1 1 1 1 1· 1·... e na - o se f)ercebe de q u e maneira a assoc1aç.10
1 l1 h i . 1s poderia fazer acreditar nes�a cnaçao. . - eon:o ..
g ua que cai, faz-se com
que as nuvens se formem e se convert
am cm chuva, etc
. 1 . ,
Certamente a semelha nça desempe 111 , .,11np les fato de figurar os movimentos de um ani
nha
111 ti 1 •• 1tleria dar a certeza ele que esse anima ira reprodu-
um papel em am 1 ,
bos os casos, mas muito diferen
te. No feitico. ela apenas
.
impri me uma d ireção determ in a d v111 abundância?
a à ação exercida; orien 11
up 1·ied es
.•
ta num certo senlido uma eficacia
, •
que não provém dela. \.� p1 ad gl!rais da natureza hum:rna. n.1.- 0 s..:'
Nos ritos que exarnin.unos, a :-.emdha especi.us. . Portanto, ao i_ nves
mesm:.1 e diretamente eficaz. Assim, aoni,:a 1 11 • ' n11solidar o princípiotao
•' cxplic.1r praticas
�
- •• • •
é atuante por s1
sobre o qual elas repou_sam e
t i l111ma geral e abstrata, recoloqucmo-lo no_ meio mor.1
nições usuais, o que diferencia real contrário das defi
"' q1 w faz parte e onde acabamos de observa-lo, u�amo-
men
da magi<1 di ta s impát i ca e as prática te os dois princípios
s correspondentes não
é q e <i cont igü idadc age
u num as e a semelha nça nou tras, 1 ' I • ' <'<> nj u nto de idéi as e de sentimentos dos qu a is ���
I • 1 . 1 1 1 os ritos em q u e ele se arlica e poderemos pe1ce-
mas sim que, nas primeiras, há s im ples comunic 1
1 i, 1 nidhor as c<1usas de que resulta.
tagiosa e, nas segundas, produção aç-Jo con
t >s homens que se reúnem por ocas1ao de�s�s n t<:> s
e criaçãozo.
Explicar os ritos miméticos é, port ·- .
ele.
1 1(,1 .,''ll S gestos ' seus gritos, sua atitude. Como sao em�s
de idéias por contigüidade. A mag
ia homeopática comete ·
o engano de tomar por idên tica 1 11 1 ' . 1 ngu ru s, comportar-se-ão, portanto, como an1ma1s
_ .
t I• ,,.s nom es . Deste 111odo, testemunham-se m ut u am ente
s coisas que se asseme
l ha m " 21 . Mas isso é des
conhecer o caráter específico das
práticas cm questão. Por um lado q 1 1 1 ,,10 membros da mesma comunidade moral e toma m
�
, a fó
deri a a plica r-se , com algu ma con rmu la de Frnzer po • ' •1 1'1 iência do parentesco que os une . Esse par:nt sc , º
veniência, ao caso do �
i 1 1 • • 1 1 .10 se limita a exprimi-lo: ele o c�1a ou o recna.
feitir;o22. Neste, com efeito, duas cois . .
as distintas são assi o1s
miladas uma à outr.:1 em razão de acre
�
sua semelhança parcial: 11111 Jarentesco que só <>xiste na medida em que s e
é a i magem e o modelo, o que ela _ A
t 1 1 1 i n le e todas essas demonstrações coleuvas tem l?°r
' f, 111 1 co �serva r as crenças sobre as quais repousa. Ass1m,
representa de maneira
mai s ou menos esq uem átic a. Mas
, nos ritos mim étic os
'Dl!S RffUA IS
I /.'/\< 11•,11.� ATITC
389
388 AS FORMAS ELE.lll!IVFARES DA \f/DA RELJGJ().\4
espíritos se vol-
. o qual todos os
os saltos, os gritos, os movimentos de todo ripo, a paren tl' 111• 111 . o objeuvo para 1 r' de convocá
la,
quer rc."1l iz'L
1 1 1 1 1 dl' Jrzer
mente bizarros e grotescos , têm, em realidade, uma sig111 a eoisa que se , 111-
n ec�s·· r· dade não
uma época
•
De fato, as cerimô nias nas quais vimos esse princípio ' ul.i nova cs taça
. idéia de que, ao
pode ter v111 do a
ser aplicado não têm apenas o objetivo geral que acaba
lhe
, I< 1 rito
. o n de
qLie ele se repr
D e . oduza?
· ve\ e n
ilme nte inte 1 1g1'
mos de mencionar, por mais essencial que seja: elas vi 1 1 1 1 . 1 r o a · m ai determ 11a -se
11 , .1
man.r fcsco e, c1·fic
·
m •
�' · o
S<lm também um objetivo mais próximo e mais conscien U m erro tão mate rial para o qual
.
te, que é assegu ra r a reprodução ela espécie wtêmica A o so, se vi . r no nto o olJj.euv que rena
q11.1nt ·1lém do efeito
. ;a � : nos-
; � t��e ; profun -
Mas
icléia dessa reprodução necessária está sempre presente p.11ece tend:r.. � erce urna ação
1 1hn: a especl(:: toten .
1�� ·
; dele
no espírito cios fiéis. é nela q ue se concentram as forças partici pam. Estes rec?
dos _ 1:1. 1 uc
il.1 sobre a alma cuja s causas nao
e be m -e sta r
de sua atenção e de sua vontade. Ora, uma mesma preo
.
unpr essa o d
r 1 hc cem u m a
rnas que e
cupação não pode dominar a tal ponto um grupo ele ho
"" muito
1· ustificada . Eles
mens sem se exteri o riza r numa forma material. Como to c1,ararnente é salutar; e, cl,e
ele que a cerim A
l >l'rce 11em . lhes
•
•
onia -.
\l·rn 1e nc1 a essa espe-
, 1 Como é que
dos pensam no animal ou no vegetal de cujos dest inos o c o n s c · A
clã é solidário, é inevitável que esse pensamento comum 1 .110, nela refaz em seu ser n.1ora de que o rito
. ·
s.,cn t·me nto
' ic de eu t.ona
- o lhes dana o
t
na o ob1euvo
. .
venha se manifestar exteriormente por gestos, e os mais çou
e ha ser ' alcan
ll'VC exilo, -io1 o 1 , .
. c ue se un
nte l Jusca-
prop
1 . tr\
indi cados para tal função são aqu el es que representam
. ,o conscienteme
0 u n rco o 1ie
A •
-
esse a ni mal ou essa planta num de seus aspectos mais ca ' lsaclo? E lª que - ce as�e-
do é a reproduçao ela ixegacJos c.uia
ê , es t a pare
,
espéc ie tot mica m
� .
·
, ·eal fez acre
o
a moral cio �tt
o, q� e e
•
i\ . dicáci, . f' .
ca d a
.
0s e
em que a pl anta é cotidianament e util izada. Todos esses s realm ente ute1s .
clam en1e fei to
procedimentos de figuração são meios de assinalar osten- isola
parte , tornada .
390 ,iç FORMAS t'lf!ML\7i1Rt;S DA l'l!Jrl RE1JGJOSl1 1\ l'IUSGJPAIS 11 TITC IJES RJT(/11 /S
LJ UC o conjun �o da ccrimônia produz são como uma justi il' ltTonlorto moral que a cclehraçào regular do culto pro-
�1ca�ao e�pcnmental d�1s práticas elementares c.le que ela 1 11 11 nona. Deste modo, criam uma predisposição a crer
q1w antecede as provas, que leva a inteligência
e feita, ainda que, em realidade, essas práticas de modo a p�� s� r
1 .. ,, cima
nenhum sejam indispensáveis ao sucesso. Aliás, o que da insuficiê ncia das razões lógicas e a se d1 nª1r,
prova bem que elas não agem por si mesmas é que po _
, 11110 que espontaneamente, ao encontro _e.las pro�os1çoes
• f l l \ ' se quer fazê-la aceitar. Esse precon
dem ser substit uídas por outras, de nawreza muito dife ceito fav�rav� I, es:
re� tc, sem que o resultad o final se modifique. Parece que ,,. impulso a crer, é precisameme o que constitu i a le. E e
1 lv que dá autoridade aos ritos ante o cre � tc: se1a ele
existem festas do Intichiu ma que compreendem apenas qu �I
oblaçõcs sem ritos miméticos; outras são puramente mi 1 1 11 cristão ou austral iano. Toda a supeno nc.lac.lc e.lo pn-
méticas e não compo rtam obla1;ões. Entreta nto, tanto 1 1w1ro consiste cm perceber melhor o processo psíquico
umas como as outras teriam a mesm;i eficácia. Assim, se 1 l t , qual resulta sua cren�·a; ele sab e que
··é a fe que s�tlva .. ._
se prezam essas diferentes manobras, não é por causa que a fe, num cerro scnuc.lo, e
1 1 11permeável à exreriê ncia"l·•. Se ()� fracassos 111term1
cJo É ror ter essa origem
v�llor intrínseco delas, mas por fazerem parte de um rito _ L�n
austraha -
ll'� do Intichiuma não abalam
com f?lcxo cuja ulil iclacle global é sentida. a co n fi a nça que o
E tanto mais fácil compreendermos esse estado ele es 110 tem em seu rito, é porque e le se apega com todas as
pírito na medida cm que podemos observá-lo a nosso re forças de sua alma a essas práticas nas quais \'em se refa-
l'r periodicamente; portant o, ele não poderia negar
dor. Sobretudo nos povos e nos meios mais cultivados, en o
contram-se freqüemementc crentes que, embora tendo dú princípi o delas sem que disso resulta �se uma verdac.le � ra
1 wlturbação de toe.lo o seu ser que resiste. M�s, por
vidas sobre a eficácia especial que o dogma atribui a cada ma1�1.
, 1 1 1e seja essa força de resistência, ela não distingu e rad1-
rito considerado separada mente, continua m não obstante _
a praticar o culto. Eles não estão certos de que o detalhe 1 . r l mente a menlali clacle religiosa
das outras formas ela
das obse1vâ ncias rrescritas seja rncionalmcnte justificável, 11 1t·ntalidade humana , mesmo daquela s que mais costu-
mas sentem que lhes seria impossível libertar-se delas sem 1 1 1eiramcme se lhe opõem. Sob esse aspecto, a mentalida
cair numa confusão moral diante da qual recuam. O fato dl' do cientist a não difere da rrccetlente, a não ser em
mesmo ele a fé Ler perdido neles suas raízes intelectuais •1.1us. Quando uma lei científica tem a seu favor a autori-
1 l . 1 c.le ele inúmeras e variadas experiê
põe, assim, cm evidência as razões profundas sobre as ncias, é contrário a to
quais ela repousa. Eis por que as críticas fáceis que u m ra do método renunci ar facilmence a ela devido à descoberta
ci � nalismo simplista dirige às vezes às prescrições , es�r
dl' um fato que parece contradizê-l a . É preciso, a n�es_
m-
rituais
c!e1xa �1 cm ger� I o fiel indiferente: é que a verdadeira jus �1.:guro de que este fato não compor ta sen � o_ uma umca
ll ficaçao elas praticas religiosas não está nos fins aparentes 11.·rprctação e de que não é possível explica -lo sem aban
que elas persegu em, mas na ação invisível que exercem donar a proposição que ele parece invalida r. º'.'1· ? a � s-
sobre as consciências, na maneira como afetam nosso ní 1 1 .Lliano não procede ele outra forma quando atnbtu o m
vel mental. Assim também, quando os pregadores procu �ucesso de um lntichiu ma a algum malefício, ou a abun-
ram convencer, eles se clcclicam bem menos a estabelecer 1L111cia de uma colheita prematura a algum lntichiu1 m1 mís
direta�ncnte � ror provas metódicas a verdade ele tal pro tico celebrado no além Ele tem ainda maiores motivos de
P_?S1_�ao particular ou a utilidade desta ou daquela obser nao duvidar de seu rito em função de um fato contrário.
vancia, do que a despertar ou a redespertar o sentimento p orque o valor desse rito é ou parece estabelecido por um
iA/S
1 J '/U,\UPA IS 1ITrtUIJl!S R/Tl
:393
392 AS" FORJIAS l:'IL.1/MTAH/iS T>A 1 '/T)A f(f:.1JGIOSA
lo
r m e que
considerável de fatos concorda ntcs Primei religiosos em que sL origi naeles 1
c
me ios
a .
110s
.
nli mc ro mais Qu an d o sao vrs-
-lo
mora l da u.:nrnônia e real e é dr reta
p l i
raml•nte. a eficácia 1. , º"' umcos capazes de ex soli tários,
á gicos
rncnt� ex pe rime ntada por Lodos que dela participam. Ela 11 , , 11110 obra de ind
,
ivíduos isolados, de m s pude
eira e s p ír i tos hum ano
co n:;i u u1 uma experiência constantemente renovad:.1, cujo , r i u perguntar de que ma n vez que nad a, na ex
-los; se:
tais ax iom as, u ma
' 1 1 1 1 ll'r a idéia de
I " t ll'nc:ia, er:.1 capaz
alcance nenhuma experiência contraditória vem diminuir
Além d isso, a própria eficácia física não deixa ele encont ra� de sugeri los nem de verificádo
-
de ser im próprio ! lá
. n junt o de prát
nó dr :os, nao pedem outra coisa à nacure:t..a a nào ser pros . rito s simpáticos,
s�gurr .seu surpreendente que, na maio , 11nmar, não deixa
" " ' ' l'les não são part
curso regular. não é i a; não som ente os cn
iculares à ma g
r� a das vezes, esta dê a im p ressão de obedecer- lhes. As
o tam bém é da rel igião que a
o, com
tanto, só pode l evar
' 1 1r11 ramos na reli giã
1 1 1 1g1a os recebeu . Por
sim, se acontece ao crente mostrar-se refrnt:.írio ;1 certas li a confusões p;
ções da experiência, é por se basear em outrds experiê ncias lhes dão , algo de espec1-
�
e que
mais demonstrat ivas O cientista não faz l·r fazer deles, pelo nom
l11 unente mágico
que lhe parecem . '' 1
h 1 l'SLu a ra m din:tament
A _Ma� ia, portanto, n ã o é, como afirmou um Frazerzs, s t rara m que
. e a ma g ian El s mo
. e
fato pnmerro do qual a el ig ião seria tão-só uma forma de
r d ria g se
ro � i ra ,
1. 1 era alg o mu ito dis
tinl o de um a ind úst
�
nv� a . Muito pelo contrário, é sob a iníluência d e idéi<rs �
t
e m
ca ms os,
religi osas que se consrituíram os preceitos sobre os q uais
Por trá s dos m
a,
truncad a.
l l 1 11da c.la num a ciência
ap arência , que o m ág� co e rg
r i : � e
repousa a arte do mágico, e é somente por uma extensão 1 1 1 1 1 .tmente leigos cm s re l rg1o sa s,
cep çoe
um fundo de con
secundá ria que el es foram apl icados a rdaçõcs purn meme , lvs fizeram ver todo ia tomou em
_ cu j a idé ia a mag
!) eencle; por
as
leigas. Como todas as forças do u niverso foram concebi 1 1 1do um m u ne.lo de forç
Po em os ago ra com �
rgrosos : e que
l ll l'Sta cla da reli giã o.
d
p leta
' ( t il' ela está ass im
das .segundo o modelo das forças sagradas, a contagiosida l
_ , re de elementos e r
r l i ião.
d� inerente as s unda foi estendida às
eg s acr
primeiras e e
ditou-se que, em condiçõe det ITTJ i na a , 1<x.las as p ro ie
s e ds pr 1•l 1 na sce da e g
u
dades dos corpos podiam se tra nsm itir comag io.s amentc.
Do mesmo modo, assim que o princípio segun o 0 d qual 0 lll
semelham� produz o semelhante se constituiu para satisfa
zer �ece.ss1dades religiosas, el e sepa rou de suas origens
se
r � l icado nà<_> tem
de se e p
s a diretamente a te.0
acaba
p que
_
ntua1s parn rornar-se, por uma espécie de ge ner:.l l izacào \1as o p rincí ic -
.1 pl'nas um a funrão riw
al; i t ele n ere s
. Com fe to, trat
esponrâ �ea, u ma lei da natureza.!6. Mas parn compreen der enu nci a-
es ses ax iomas funclamenrais da magia é necessário recolo
a-se
e i de um
- 1 1.1 do con h cim nto
e e
-
do concrL'lO da lei de causaltdadc e, muito prmwdmt·n o wakan, o orenda, o princípio totl-mk�l, no
dl\ l'rsos dados a força coleliva, objeti
m 1.
te, um dos enunc.i:.ldos mais pnm1li,·os que ex1stmun. vada e proiet.ac.la
da u m a conce�çã <? da reh1çào causal está implicada lo no 1 t 1 11s.1s.lll. O primei ro poder que os homen s conce_bcram
poder assun atnbu1do ao scmelhanlC' de produzir seu Sl' rn 1 1 ti p a rece ter sido, pon.an to, aq u e l e que a scx-1�dade
melh�1!1tc; e essa concepçào domina o pensamento 1 " ' sobre seus membros. O racioc ínio vem confirmar
t 1v� . J� ql.IC serve de base l<tnto às práticas do culto primi
quan· , 11 ,.1111ado da obser va�·âo ; é possív el, com efciro , esta
to a tecrnca do mágic o. As origens do preceito i 1 1 1 1 por que essa noç:io de pcxler, de eíic-.ícia, c.lc
força
1i ob rc 0
qual repousam os ritos miméticos séio, pona nto, capazes 1 1 t 1 11111 . n:Jo pode ter vindo de uma ouu-a fonte .
de escl arecer as. do princípio de causalidade. A gêncse de . por !º-
1 1 1 1 p ri mei ro lugar, é evidente e rcconhec1c.lo .
um eleve nos <quclar a com p reend e r a gênese do outrci . q 1 11• via nã o poderia nos ser fornec ida
pe� a expenen�
1 1 1 , xtl'rna . Os senlic.los so nos fazem
1
Ora, arn ha mo:s de mostrar que o primeiro é um prod ver fenomenos ' . que
istvm ou se suc.:ede1n, 111,l/i nada do quc l'les pcrce
uto
1
ele e<�usa� sona 1s: . fora
.
m grupos que o L'labornram Lendo
em v1sia 1111 � co letivos, e o que de traduz são sentimentos ( 11 1 1 1 pode nos da r a ic.léia dessa ação conslm � ng dora e de
co l eti: v os. 1 od e-se , porta nto . presu mir que 0 mesm 1 1 1 1 11,1ntc que é característica do que
denommamos um
só
acomccc com o seg u ndo. o h
i . · -.
e poder em ine nte " Ue Sl .
'Jam ma
. is . nttgiosas e consi:-
mente pessoal qu
q11n 1IL'men[,
. ,
vontade hu ma na. .. e é a
e, ina is comu111cave1s. C
• • •
i , 1 1..m a mes1
l que elas tenham
. . n·1
. . .
,.. o podemos ter d1re-
do conc.:cbidas �1 si
im agem desta últi
ma . . : propnedade, mas. . na
. .
A l iCts, há um cariíte
r essencial das for 1 i11 i1·nte consciencta delas, não_ Poclemos sequer apreen-
que seria inexplicáve
l nessa hipótese:
ças imp cs<; oai s <>
, ,, l.1s como t ª '· ·5 . porque nos s a cxLeriores · Quando de-
sua
1 •.110 t.o 111 um obstáculo, expenm enro urn·i' sensaç- ào d e
de. As forç;:is da com unica bilic la .
·
a outro, de se mis
n0 obstáculo e por con-
l
de se combinar, turar,
o não está em m i m, es
•
'""·1<·à
de M:: trnnsforrnar
urnas nas outms. ta ' . '
··qumce. esta , �oia
. cio círcu I o de m 1n ha "' o. Pcrce-
• pcrcep r ã
clu sive essa pro É in .
priedade qu e lhe
s dá seu valor exp
i · dela
. • mas . nela mesma.
.,1 atingimos
vo , pob é graças lica ti
.
a ela que os ef eito l 11·rnos os ef·e·tos nao
s podem ser liga
suas causas sem dos a
· _
soJu�·ão de con lin 1111 .is forças sociais acontece a lgo diferente: elas la7em
uidade. Ora, o eu
1 • l ltl' de nossa vida interior e, i:ortan to, não conhecemos
um car áce r pre cis tem
am en te oposto:
ele é inc om un icá
os prod utos de sua ' acao·. vemo- 1as- ,.1g1r. A força
Não pcxle mu da ve l. .
r de substrato, est
ender-se de um ·••llK_·nte
• 1 1 l 1so1a o se . 'r sagrado
só se com unica po a oucro,
r metáfom. A ma
ne ira pela qu al ele 1 . '
e mamem , os profanos à distância
' nesse
,
1 1.10 esta, em re·iltdacle
cide e execurn sua de
• ·
fun dir com outras que eIa ,.1ge ·sobre sua vontac1e Par
·• t inibir certos rnov1-
·
icos novos .
Assim, a idéia de
força, tal como a 1 1 1nstrangedora e exigente.. q u e nos escapa quando vem
imp l ica o concei
'
dt · urna coisa exterior ()Crce 1Jcm 0- l i
de relar:.to causal to
, deve apre.'>entar · a q u i nitidamente,
·
um du plo caráte
i '' irque e1� ••c.onte -
primeiro lugar, só r. Em
•
cl� . uomínio, dominação e, com: lativamente , ele depen t ll rm i n t o estado conse cutivo C h a m a
. st• o pri � eiro
� le nc1a e suhorc.l inaçào ; ora, as relações <.JUe todas essas J LllZ<> a l i rnrn a ex1sten-
1 111�.1. 0 segund
. .
o efeito, e o causa l
, o empmsmo
Desse apriorismo e dessa necessidade
��s d� �ue o c pírito human o teve noção s
� _ ª
os pode
quclcs que 1 1 1 11.11s conseguiu clar coma. jamais os fi�l sofos d:ssa es�t - �
l 1 1 H 1 deram expl ic
as SO(lcd . . _?� . 1de1as rcfrn ·
ades mst1tuw..1m ao se organizar: e a imagem a r como uma assoc1 açao de
cJe
l �s que as rorças do mundo físico foram conceb
idas. As produ zir outra coisa que um csta
sim, o homem �ó rtlde chegar :1 se concdler
, 11 t,1 pelo habito podia
ilt • ,fL espera, uma prcdisposi�ao mais ou
como uma mt.nos foi:'-t. d.1s
l1 f.>1,1s a se
.
força que domin a o corpo onde ela reside,
com a condi evoca rem segun do uma ordem determinada
não \'a ria (.k: um sujeito a ou Lro: é a me!>ma para lodos 0� s afasta-se das dou ui-
1 1. ·1 m·1 is geral d:ts ca tegoria
atores do rno. por !>er o prod uw tk: urna experiênua cole 11 , J.1s.'>1<.:as sobre a qucsL.10, embora
111
con ciliando a!>. Jun
1
t iv� . T<xlavia, se nenh um ouLro faLor i nlervics.se, prcxluzir
•
�
repe ida sempre que necessário e, por conseguinte, q ue os t l. 1 1 oletividadc, nos é dada jú pronta. Trata-se de um qua
d 1 1 , no qua l vêm se dispor nossas
m o v i mentos, con d içã o do sucesso, !-.ejam regularmente constatações empíricas
exec utados : da os impõe obrigatoria mente. Ora. esses rno l. , 1 ue nos perm ite pensá -las. isto é, \'ê-las de um jeito pe
� � �
vi me t< s ii 1 p lica m uma atitude definida do espírito que. (,, qual podemos nos entender a
respe i to delas com ou�
_
por via indireta, participa do mesmo car.íter de obriga�1 o. 1 1 1 111 . Claro que, se o quad ro se aplic a ao contc utlo, e
com a maté ria que con
Prescrc\·er que se deve i mitar o a n imal ou a planta para fa porque não deixa de Ler relação
�
z -l os reproduzi r-se é colocar como um ax iom a, d o q ua l " ·m mas não se confunde com
ela. Ele a u l lrapa ssa e a
le!-. re
uma ouLra orige m. Não é um simp
nao se deve du v ida r, que o semelhante produz o seme clorm na. Possui
: é feito, antes de tudo.
lhante. A opinião pública não pode permitir que os indiví sumo de rccnrclaçôes indiv iduais
da vida em comu n .
d ��s neguem teoricamente esse princ1p10, sem lhes per p.1ra responder a exigências �
rrnur ao mesmo Lempo q u e o v i o l e m em s u a conduLa. , o erro do e mp ir is mo foi ver no vincu lo cau-
Em suma
do pensa memo cs
Portanto, ela o impõe juntamente com as práticas que de .. 1 1 , 1 penas uma construçào engenhosa
le derivam e, assim, o preceito ri tua l é acom panhad o ele
•
sem se de para r com as resistências da opi ni:1o pública. Eis 1 , .1c:eica e é obrigado a aceitar. c;em con
trole e sem reser
s dessa fonte. Some nte as
por q ue as primciras exigem. antes de q u alquer exame, a ' as, não poderia , portanto. \'ir-no
1tl·ccs..-;idade!-. da aç-.io, sobre tudo da ação coletiva, podem
adesão da i nte li gência . assim como as segundas determi
nam imediatamente a submissão da vontade. v deve m se expri mir 1 m fórmu las categóricas, percmptó ria_s
l' taxativas, que não admitem co
ntradiçã o, pois os movr
síve is se concertados, portanto
Pode-se \'erificar mais uma vez, com esse exemplo,
como uma teoria sociol ógi ca da noção de causalidade e. mcnLos coletivos só são pos
--
ies, as fontes e os
'ie e<>Í�>rçarem em multiplicar os animais ou as plantas da .i,·;.sas ,iagens, a forma pla n1c
riachos,
seu ca minho gl.:r
nha s e as
esp�;·c1e consagrnda, parecem trabalhar para seus compa t. 1w as monta
,.1,. Ao mesmo tem
po, ele semeava em
,i\'os 4uL :.ollJ\am de ;.cu
nheiros dos outros totens, cumpre núo \·er nessa colabora sfor
corpo e que se tran
'-L
<,-:1o o princípio funcl�tmemal do tOlemismo arunt,1 ou lurit 111.,.
çõe s, nos me m
s ree nca rna
mar.im, ao cabo de sucessciva
Or a, a crimôn ia que
lª · Jam�1is �>s negros me disseram espomaneamente que tal , entre os Warra
hiu ma �º? �1:-
clã .
de exatamente ao ln
era a finalida.de de suas cerimônias. Certamente, quando bro s atu s
ai do
lllu nga , correspon
tic
ar a h1stona 1111-
, .1. tem no I' r ob1'eto
eu lhes sugena e expunha essa idéia, eles a compreendiam
trata nem de o)'))açao, nem,
comemora r e repres ent
e concordavam com ela. l\Jas ninguém há de me censurar -
por desconfiar um pouco de respostas oblidas nessas con 11e:a do antepassado. Não se práticas miméticas. O �ilolo con
di�·ões. '' Strehlow observa, aliás, que essa maneira de in .-.alvo um ún ico caso•, demb passado e torna- pre
ler�retar o rito é comestada pelo fato de nem todos os ani '>t'ite unicamente cm rele merario ode um a verdadeira rcpre
mais ou vegetais tocêmicos serem comestíveis ou úteis·' há -.,entc, de certo modo, poravra é ainda mais oportuna por
:-.t·ntaçào dramática. A pal caso, de maneira nenhuma con
nao ser 0 oficiante,
ª lguns que não servem para nada; há inclusive alguns pc nesse
r.�gosos. As cerimônias que lhes dizem respeito não podc a ntepassado que representa.
ponanto, ler fins alimentaresi. siderado uma encarnaçãocntdoa um . .
ns i ste � lnu ch1 u
m1 111 ,
papel .
"Quando, conclui nosso autor, se pergunta aos indíge ele é um ator que repres que co
cm
na� �ual a razão detcrminame dessas cerimônias, eles são Eis, a tíllllo de exe mp lo,
servaram Spe nce r e
unanimcs cm responder é que os antepassados instiruíram
: ma da cobra- pre ta, tal como o ob
as coisas assim. Eis por que agimos dessa maneira e não de C l i llcn 5.
Um a primeira ccrimônia não par
ece rcfer�r ao pa �-
se
outra."2 Mas dizer _que o rito é observado porque procede ão que nos é dada nao ª.uton -
dos < 1 ntepassaclos e reconhecer que sua autoridade se con sado; pelo menos, a descriçtido . Ela con siste em cor neia s e
fun ( le com a autoridade da tradição, coisa social em pri 1.a a interpretá-la nesse sendois ofi cia ntes6, ornamentado.s
meuo · . lugar. Celebram-no para permanecerem fiéis ao pas cm saltos que executam am a cobra-preta. Quando, fi
sado, para preservarem a fisionom ia moral da colc:tividaclc de desenhos que representno chão, os assistentes passam
e n:10 por cau.:a dos efeitos físicos que ele pode produzir'. nalmente caem cxaustos desenhos em blcmálicos que
Assim, a manetra mesma pela qual os fiéis o explicam dei suaveme �lc a mflo sobre os s acores. Diz-se que esse iegesdas to
xa transpar�cer as razôcs profundas das quais procede. cobrem as costas dos doidep o começa a sér
Ma:. ha casos em que esse as pecto das cerimônias é agrada ã cobra-preta. Só s. ois diss
imediatamente apa remc. ccrimônias com em ora tiva
106 IS FOR.iLIS FIEJ//l.\TARES nA 11nr1
RHJGIO::..·I O /'/\/.\(,/PAI!> A1Tfl DES RIT/!AIS -i07
nça. de1es
' 'l'uclo, portamo, .-... 1.1hclece1 que se trata de ricos ela mesma naLUreza. Es-
- esp -m. to dos
ao cha ma a lembra
1un tam-se com
a s sis 1 1 1 1 1 os ,pois, autorizados a compará-lo.'> e a serv i r-nos de
frcq üênc · cant
entes. AIem
1 1 1 1 1 pa ra nos ajudar a me lh o r compreender o outro.
. . t ' dISSO
. a os mos .
ces t 1"<1 is '> 5,,
manu
.s narrati'� os que narram os feit s ais
o, an-
•
,.
Ora, o que têm ele particular as cerimônias warra-
_ .
nstâncias. C, e11.am
. , ente, para
e na
exmidão ' ele não
· um
dizer
o 1a
repres , enta' o p cl'.sonagem ancesrral com um grupo é o conjunto das crenças comuns a esse gru po .
e
·
smo. 0 iato
ator· ele é esse como O que exprimem as tradições cuja lembrança ela perpe
tua, é a maneira pela qual a sociedade concebe o h omem
, pers onagem me .
sent ido ' é o 1ie . . .
·
que, n u m certo é
., 1 01 que ocup a a
q ue o cara, ter
reprcsentariv do
',1 cend., IJa -
1.·1to se ��en t ue,
e o mundo; trata-se de uma moral e ele uma cosmologia,
��
Do fato de essas
,
du :i s spec 1.es - . de força e ele confiança: as pessoas ficam mais seguras em
d as di feren ças que as e •
de cen môn i a.s a p
.
1
se. deva m a unn ras ass
' niesnia r
· obstante acredita-se que ela age sobre as coisas, que ela
·
. ."1
mos de most
rar, nenhu m;:i .
natureza entre o
s 1 ·s1e1n •1 diferença dt .1 > idênticas à q uelas que os membros dos outros
•l l 1 1'> . 1 ned it a m manter com os fundadores de seus rcs-
Warram u nga e o
as põe ma i s 'I .
· rn u,i dos 111 '
A runra . Um apen
�� 1��
n t e em evi dê
do,,
11\ ns dàs. No tempo elo Alcheringa 1 <>, a Wol l u nq u a
�
que já havíamo 1 :1
s conjeturado ncia o
1 1 11 1 1 .1 a terra cm todos os sentidos. Nas difercnres lo-
d
1
sta ausente. N
representa-se o
rass, 1 o com 0 . 'las• 1111il ares. imaginou-se que todos eram deri vados de um
1111· smo e único tote m: só que foi n eces á io atribuir-lhe
unico ob'1ct1vo
senr<l-lo, de grav
a'-lo mais rroFli
. de repre-
s r
lc 11 mas giga n tescas a fim de que, por se u aspecto mesmo,
nda m • me' nos
sem q ue se esp e
re cio ri o nenh u m '. �
<
bre a n a tu reza ·
t . a a çao dete
es píritos ,
esp · d e ,serpente
conce- sucedera m de ele julho a de agosto, encadeando-se
, e ' c1e
nho é t.al c ue' qt1 co1 assai cujo
1..o, sua cabeça
1 ando se . ergue so rama - umas nas outras segundo uma ordem determ inada, ele
se perde nas
nuve ns. Resid e' , : . b. '
a c1c d1ta-se
·e o rau
manei ra a fom1ar um verdadeiro ciclo111• Pelo detalhe dos
ritos que a consti t u em , essa longa festa não se distingue
cha mado Thap , num remoinho
auerlu
' ale sol i l<l rio . Mas em
)
f�
.'
1 ue �e
se di erenc1e
�t
co c c n o fund n �
o ele un � do lntichiuma ordinário dos Warra munga, conforme reco
tos dos lotem;
tinlivos del '"
d
or i ná rio.s''"ªposs
. sob cercos aspec
nhecem os a utores que a descreveram 19. Ma s. por outro
e�
Serve de nome
u i todos os cara
col ·1 i· vo e de e
cteres d is- lado, trara-se ele um lntichiuma que não poderia ter por
gru po c.l e inclivícl e
uo·s qt1e vee m ne a se u a n
mblema a u m objeto assegurar a fLcundidacle de uma espécie animal o u
d
•
. l -
vegeta l, já que a Wo l l u nqu a é, po r si só, sua própria espé
mum, e as rela çô tepassa o co-
es que esres � .
man tem co m
esse a n ima l
cie e não se reproduz. Ela é. E os indígenas não parecem
AS FORMAS Elli.111:'\TARF� DA 1?
D A RE/J(,10I.\.· 1 \ 1'/U,\c./PAI.\ AT/TlDES R/Tl AIS
�sório� L conti
i �la
\ crJ r �1�1s<.:u ser. �as cenmo _
�
nras nào somente não têm 1q11l'I.� d1càc1a f1s1ca, sao ell!me mos a ce n
_
a f c c1a do lntichiu rna clássico, como n�lo
�� � parecem ter w 11 l''o, já
l que pode m faltar sem qu e ? � 1t� scp alterado
qua não (•
as cemnonras da Woll un
ef1cac1�1 material de espécie alguma . A Wollun 111 1 que tem de essencial. Assim,
põen'. � nu, por
uma d vindad e enca rregada de uma ordem
� determinada l l " 1, melho r ainda que as precedentes,
de fenomenos natura is, por isso mio se es 1 .1111 dizer a função fundamema
l do culto pos1uvo.
Aliás, e insistimos especial m ente nessas
pera dela cm
! roca do culto, algum favor definido. É dito
� � solenidades,
que, se as presc riç ões rituais são mal observ M.as há �)LJ-
claram nte
, por ca usa de sua excep ci onal imro rtânc ia.
l u n q ��: �e za1�g�1, sai d e eu escond erijo e
adas a Wol
, ex iste
dos. f1c1s
. . : �
vem s vingar 1 1 .is que têm exatamente o mesm o cará t e r . Assim
"
rapaz que ri . O c lã
t!º.
por sut1s negl i genci. as . l nvcrsa 11 1e111c, quando lu 1 1 1 l rc os Warra mung a um totem "do
Spcn cer e G i l l en , .t em a mcs-
A
s e cumpre regularmente, acredita-se que , dizem
tot cm 1cos . Como
da ficará sa • 11 1v leva esse nome
trsf
c�1a e qu e..· algum acontecimento feliz :-.<.: produz
ira. Mas 1 1 1 1 nrgan iza1;a o que os dema is grupo
s
, onde
o•lvs, tem seus l oca is sa grados ( m u ngai)
_ .
a 1de1i'. d�s�as s a ções p ssívcis evid en tem en te só
� surgiu
� a ntc ras-
?
d po 1 s, p.irt1 explica r o nto . Uma vez instituí dor celeb rou cc r i m ô n i as nos tempos fa bulosos,
� da a cerimô rdo funda
ram
nra, pare eL natura l que ela servisse a algo
e, portan to 1111dc deixou, atrás de si, spiril-children que se torna
� �
que a 0 11ssao das observâncias prescritas expuse ' '· homens do clã; e os
ritos associados a esse t otem são
sse a a i �
gu 11_1 peng > Mas ela não foi instituída parn preven
� aos totens anim ais
� : ir esses 111tl isccrníveis dos que se relac ionam
. evide nte que eles não pode-
peng� m1 1cos ou para obter vantagens particu
� � lares. Es 1 111 vegetais?• No entanto, é
tas alias, ao representadas nos espíritos de maneir cia física . Cons istem numa série de quatr o
: � a mui 1 1 .1111 ter eficá
to 1mprec 1sa. Por exempl o. quando tudo está 1 l· rim ô n ias que se repetem
mais ou meno s umas às ou
terminado,
� . , mente a divertir, a pro.'·o-
, a manter a alcgr� a �
os el 1os anunci am que a Wollun qua, se está t r rs mas que se destinam unica
� satisfeita,
enviam chuva. Mas não é para obter chuva que rr o riso pelo riso, ou seja, em suma
o bom humor no grupo que possu
se celebra
a festa�º. Ela é celebrada porque os antepassados i como que a cspeualr
a cele
b:a:am, Porque todos estão ligados a ela como dade dessas disrosições mora iszz .
a uma tra
.
d1çao mu1to respeitada e porque saem dela co r
Enco ntram os entre os p óp ri os Arun
ta mais de um
Já rivemos a oponun i dadc ele mosrrar que das são pa 1 1 1 1 todos podem indiferentemente participar Talvez
até
rentes próxima :. da.� n::presen tações dra1rn111c asis. Esse e atual-
1 l�11mas dessas representacoes, CUJO objeuvo único
de quah-
parentesco revela-se com maior evidência a i nda nas últi 1 1 wnte distrair, sejam antigos rit0s que mudara m
mas cerimônias que acabamos ele mencionar Com efeito Na verdade , as fronteir as entre esses dois tipos de
111 .1ç;io.
quais é
elas não somente cmrrega m os mesmos rr�cedim ento� , "' imônias são tão flutuantes que há algumas e.las
que o drama propriamente dito, como também perseouem precisão a q u a l dos dois gêneros
1 1 1 1 possível dizer com
um objetivo similar: estra nhas a todo fim utilitário , f zem � 1 11 ncncem29. . . .
homens esquecerem o mundo real, transronando-os a um É um fato con hec id o que os jogos e as pnnc1pa1s for-
nser
outro cm que sua i maginaçã o está mais à vontade. Elas da arte parecem ter nascido da religião e que co
distraem. Têm in clusi ve o aspeno exterior ele uma recrea
111.1s
Per-
' .11.1111. d u ra nte muito tempo, um caráter rclig ioso:l\l.
çao: os assistentes riem e se cll\ enem abcnamentei". 1 l'i'IC-se qual a razào: é que o culto, embora ' 1sanc.lo d 1 re-
Os ritos rcrn:scntat hos l' as n.:uea çoes coleuvas sao para os homLns
não c e
1,11 11cnte outros fins, foi ao mesmo tempo
inclusive coisas tão próximas que os pa rtici pa ntes passam 1 1 1 1 1 a espécie de recreação. Esse papel, a reli�iào
�
,1 mpenhou por acaso, graças
de um gê n e ro a outro sem solução de cont i n u i d a d e. O _ circuns tancia,
liz A
a uma fe
que as cerimônias r rop ri amcnte re l i gi osa s têm de caracte uma necessi dade c.le sua naturez a. De fa t o , em
· t' t r compia . zem-se em espé- ' l 1sicos, mas se l i m i t e del iberadamente a agi r sobre os
cies de brin G1 (/ c 1·1 ·,·1 s .. Ale'm c1 1· sso' n a m d ' I
� · •
sentid o qu e não
. e ic a e m gue são 1 11 1 11os, sua ação se exerce num outro
r
'
1 1 1 1 1 .1 pura obra de
imag i nários, os seres aos q u.us .·: · . - . s t çõ e que ele tem por
ão i mage ns va z ias
se e1mge 0 cull:ío sao a te . As repre en a s
em ós
- . 1m-
,to
:
prop nos a con ter e 1.eg ular essa e
ria a pressão de re l 1 da d es tang1_ve1s e
x�1ber â n c ia
res1s1e
.·
: é n cessá -
e
ntes para
Ji1m d esp erta r e mante r
' ! ' " .1 na da corre s pon de m na realid ade,
n nã o s
q ue evoca mos
submeter a a tivid <t dc a' adaptaçoes - . exaras e econo m1cas. la mera satisfação de vê-las se manifestar
- ·
, 1 1 1 objetivo, p e
A ss1m, · neces-
, n>mbinar diante de nossos olhos. Elas são tão
corre 0 risco de com et.er enga
Pl ll�tr
.
nos quem, , para ex-
, tn.1)U1r
·
.
.
os para o s u s te n to n o s sa vic.la física, pois
,1
que não servem para nada ' c0rresponde se manté m - e sa-
· m sunplesmeme 1l 1 o l \éS delas que o grupo se afirma e
à necessid ade de agir, de se el ao in d i vídu o. Um
. -. mover' de gcst"icu l a 1. que os 111 111os a que ponto este é i nd is p en sáv
sente m. Vemo ·s estes . l tarem , r oei opia é
fie1s · sa
•
amos i da
>
1 < •ssos deveres rituais . retorn
1
�� ente um orna não some nte porque nos pusemos
1 1 1.11s co ragem e a rdor,
mento exterior com q ue o culto
om u ma fonte su perior de energ ia , mas tam
.
d1ss1 mula ria o que pode
ter ele demasi ado auste10 e clemas1ac lo ruc1 e: por si mes-
1·in contato c
. raram ao viver, por al
. i>l'm porque nossas forças se revigo
" ? . Por causa d a s relações �\lll1S i n s ta ntes , uma vida menos lensa,
mo, o culto tem algo de estét ic mais agrad ável e
.
com a po esia,
bcm conh ecid as que a in·r _ . canto que n ã o é
. .
1 o l og1a m a ntem 111:tis livre. Por isso, a religião tem u m e n
pret ende u-se às ve zes hcoJ ' occ11., . .i
, pnm e1ra fora ela reli- 1 1 rn de seus menores
giào5 1 ,. a verd i
É por isso que a idé ia mesma de uma ce ri mónia reli
atrat i v os .
- de e
•
· .-, inere
' q ue a uma •n· ? cs1<1 · nte a toda re-
que ac? bam ?� s er
ligiào . As ceri mo- n1 as representativas e a idéia
giosa ele certa imp ortân cia despe rta naturalment
. pe�to el a vida re l igi osa ;
estudadas tornam sensível esse as e, toda festa, mesm o que puram ente
dL' festa. Inversament
k ri
mas praticamente não há ritos traços da cerimônia reli
que nao o apresentem em
·
1ga por sua:; o gens, tem certos
algum grau . indivíduos,
�1osa. pois sempre tem por efeito aproximar os
Por certo, cometeríamos o ma is grave ento as massa s e suscita r. assim, um estado
erro se so vis- pôr cm movim
, �
. ig i oso. O home m é
o u m nto serve ape- de ter paren tesco com o estado re l
.
nas para distrair ' não é mais suas ocu p a çõ es e
um nto As fo r ç as mo1a1s
. . que s
t ra n p o rtado fora de si, distra ído de
.
·
.tiS'FOR.114s· E/.E.i
1 18
1 19
fF\T;t RES n.1 1 7/)A Rl:/J(./
0\11 " /'/(/.\UPA!.\ 1171Tl m:.s RJT(,,.l/S
prcocupaçôes ord
. os
. ç-'M lll'nsJ> t>e<;s<.> ponto de vista. o lntichiuma aparece sob
iná ria s. Por. iss
1 >:> . li
' o, 01) s.e
.
bos , 1.va , 1 11 -se cm 1 · m
. s llll:snws ma nif
1
t •
cstarócs g
�
.
' os, lJntos,
s1ca, movimentos ·
violento�· .d n<:a;-• • . m mu . 1 1 1 1 1 nmu aspecco . Nao é ma is um mecanismo ritual <lis11n
l i ' repo u sa nd o sobre princípios q u e lhe são p róp rios.
que elevem 0 nh· )�S ca ele esl imu lan .
ef vital' etc. o1 tes
ass. 111,
1
ci<1 que as fes. tas t fado com frcqüên
uma apl icaçüo particular de cerimônias mais ge rais.
· .
po 111
C) 1 11nn e que
pu lart:s ev am ao 1s
• 1 11l· podem ser utilizadas para fins muito d ife remcs . Por
1-icno
.
s excessos, fa ze
. ·
rcrcler de vi"< ta
'
m
tam bé m h:í c er i m
s ep a r,
ôn ia s i.ef i"g1. osas
1 o elo i lícit o32;
. 1 'º· em sua nova obra, antes de falar do l ntichiuma e da
1111t iaç;ào, eles dedicam um capítulo especial às cerimónias
.
q u e de ter mi nam
· nam
q u e uma ncccss _ como
. 1 111a
· · id·'1 cl c d e v10, ar as
rcgns
ao, e- e1 aro que
e )1(
.
para d1fen ..•nciar e<;sas du as
simples regozijo,
o corrobon_ pro
� '
tiorm, de alt\tda
�
. n·
ck· pública. O
'l lll' el as podem assumir con form e os fins para os quais
� 111 e m prega dasli>.
rio' ao P''.
l ,",,C> c1ue. cm seu
.1 no n.10 ' t.�a n.1d
conI·u nro uma cenm
a clt: se- Essa 1 11de1erm inacao tn tnn seca das cenmônias to1l:-
•U 11mas so h;n ta s i do 1 11dicacla por Spencer e G ilk n , t: de
. · vo grave \lh
ôn1a ritual
. ,·
sem pre tem um
OI) J' C
s •• .
q u e talvez. n '· i o fnJ· · i ' · e pi euso observar
.l sena
.. 11111<1 maneira basrnnte indireta, mas acaba de ser confir
n 1 ia alg um eco. No
.1 1.,,
�goz110 no qu •·tl
,
' •
eon F11.m,IJ
. . .
U m fato mais l .1 zer prosperar o totem corresponcleme. ".F É, porta n to , a
geral vem . "
CL'dcm . .1s ideias que pre
.
·
têm ica , dan do a Entre os Arunta, ainda, esses dois tipos de cerimônia
c n t('ne.l c
se distinguem um do ou tro por alguns caracteres secun
, 1. q ue devern
fora dessa/ '�u nçao
perder todo sentido : . c(cssa
n . . . . name ntc
tbem 'fribes of Central
..
unica . Mas em No
. r dários. Embora a contextura d o rito seja a mesma nos
A usI ra ICI, os mesm
. r 111guagem
\'C7 sem .se elarem os autores C<tl-
conta usam �n�a • dois casos, sabemos que as efusões de sangue e. de ma
nie ' diferente.
.
Reconhecem ciu
nr )(fe m ·tnd"fi
neira mais geral, as oblaçõcs características elo lntich iu ma
!"
e as "n .
'' as cen monns
1 1 1 u ma prop n·111
lc.!mente ter lug;ir .
• ·
1 eren . runta esc:io ausentes das cerimônias d e i n iciação Além
1
no s n tt(. 1
' ','t<>3 , · J> 01t
' 1ente . <
• c1nt
nos mos 1 ·
nos
•
ou
.
1
de disso, enquanto, nesse mesmo povo, o Intichiuma realiza
-;e num loca l que a trad ição fixa regulamentarmente e pa
.
i n i c hç
a·n ·
, o • ela·s ·se rvem
da ,s. � c.1· c !Otc
·
. tanto par;i
•
fazer reproduzir ,
Am1ca,
1ma1s e p ant·1 s
qua mo pa ra conferir . . '. ' � 1x rJ o qu al se é obrigado , ir em peregrinação, o cenário no
pa rn que se torne
aos novi
e
m m mbro. ��� a
s
g u ,ares da sociedade
:
� ua l 1dades �ecessá rias
_
qual se realizam as cerimônias da iniciação é puramente
dos convenciona f39. Mas quando, como aco n ce ce entre os
\ AS FORMAS Hf.
.&l//INTr1RES DA VIDA REUG!OSA 1 l'RISCIPAIS A71Tl.DES l</Tlr,-W, 121
a 0 Innc
· p1es repre·
Warra mung
sentaçao dramátic 10 rL 1
· 1 de u m rico não
_ •
· h IUm. a consiste numa s1m
.
,
co nsi ste
a . . d 1st a o e co mpleta en tr
l 1 1 11 L· n os efei tos pa rticula-
� ��� c.le firnc.los que ele parece vb,ar e pelos quab costuma
. •
ôn ia se rv e' p on anc
• c• rt
cm e fere n tes . Uma me -
. �
s
111.1 11ecendo sempre e em toda ra ne semelhante a si mes-
111.1. é capa z de assumi r formas diferences conforme as cir
o , conforme as cir-
cunstâncias a u . ' unstâncias . O ra , é p recisa mente o que s u põe a teoria
' · ' L1 "� "' fL1nço - es Cl IS . llnl<IS 10
Eh1 pode in clu sive
ter vfl rios ou t1:os e
s
q11v p ro pusemo . Se o verdadeiro papel do culLo é des
mos que , sendo 0 . mp1eg . os. Sahe l ll'rtar nos fiéis um ce rto estado de alma, fciLo de fo rça
1 1 1oral e de confiança , e se o s efe itos d iv e rsos at ri buíd os
san u: .co . isa sagrada , as m
devcm vê-lo correr
J as s uccc '.
, e qu e uma
ulheres não
b i.·1ga
.
. ulte nu m;.i e(usiio
·
em presença d e, la.s . irromp.1 11 >:-. ritos devem-se apenas a uma cleterrnina\·ào secundá-
inf·iaça o ntu;ll e assim . s
. . e res
' ' O l··d , en t1e
· de . ang u t: . Uma , 1 1.1 e variável desse ...:stado rundamental, não é su rp reen -
homem cujo sangue foi os Arun w , o
cometich .
. 11 nll: que u m mesmo rito, embora conservanc.lo a mesma
o p11 me Jr > ª.. c? rr
·
panu su;:1 fa lt·' 1 • "celef) 1·a r. uma 1
� er deve, para re , nmposiçào e a mesma estrutura, pareça produzir múlti
-
cerimonia q ue se re
_ , s ua mà
ou ao totem de seu · aci.one plos efeiros. Pois as disrosiçôcs mentais que ele tem por
p,·i 1 , ou ao ue
rua tem um nome e" 11 . Essa cenm
·
.es. e
·
1e nto unerano •l
tam 1)ém pode fazer , . orna totem .. ica pdos meios empregados. Se se cometeu alguma falta que
11u 1)ert e M·'1 uss
'
·1s ez
· v
· qu er apagar, o mesmo estado de segurança moral im-
á a ssm
·
•t'
" J.' a Ja m uma a m
ciona l do mesm . bigüiclade fun-
caso do san
rn
. . rTreio e, mais es
..
o genero no
·
. 111 i mi rá aos mesmos gestos rituais virtudes expiatórias. As
'1rn, a efidcia aparente parecerá mudar, enquanto a cficá
. ··r· .
pe cia lme nte e.lo sa
r
• i a rea l permanece invariável, e o ri to pa recerá cumprir
-
c ifíc 1·o h in
. u
al ' 0 sac 1"f'
' . d , M ostrn ram com
1J.
crr rc10 comunr - o o sa-
, n. o 0 sac Trc . r!·
·
..
1 1c10 e xp 1. a to
messa, o sacrifício-c n 1?- o- l11n�·ôes d iversas, quando, n a verdade , tem apenas uma e
ontrato. era m a pen '
nico P• 1ec·<1n1smo
• •
J <1s simple
. s vanaçoes
e
'>1•mpre a mesma.
, ·
de um mesmo e ú
to e bem mais pri mit
, Ve mos a' gota que o ia- lnversamente, assim como u m único rito pode servir
ivo e que de ;,, a ner.
mita à instiLuicão sac
rificr""' l Ta 1vez não -
ra nen hum a se li- 1 vários fins, vários ritos podem produzir o m esmo efeito e
apreseme semelh ant · exi sta n·ro que nao
. ·
à
1a, mas e
.
pmva mais uma vez, da mesma forma qu e sua plasticida-
,
re me1 usr.-
co mun 1ao· ele confe
..
.
ve vmudes positivas 1 k, a extrema general idade da ação útil que exercem. O
. Essa ambigüida cl e demonstra que a • ·s,,cncial é que os indivíduos estejam reunidos, que senti-
122 AS FOIWAS EU!ME.Vl/I NFS f)A 1 'IJ)A NEl!G'/O.\A 1 li'//\< 11' l/S A T/'11 '/Jli.\ Nf'l{IAJ::i 'Í23
Propomos cha mar piac ular 1 1 w 1 1po de atores e espectatlorcs deixava o kx..il consa
1 1d11 q uan do, de repente, um grito agudo se elcvo�1 e.lo
es as cerimónias e.lesse gi·
nero. O lermo piacu/11111 tem,
com efeito, mio só a vania
gcm de sugerir a ic.léia de 1 1 1 1 1 pamento: um homem estava morrendo. lmediata-
1111 1 1 1 1 todos se puseram a correr o mais rápido po�s!vel �
expiação, mas tam bém de
mais amp la . Toda infelicid
ler uma sign ificação bem cem
ludo o que é de mau aug adt·. 1 111,11or pane. enquanto corria, j:í começava a emitir gn-
úrio , Ludo o que inspira
menro.'> de ang ústia ou d sen 11 111., Entre nós e a aldeia, contam os dois observadores,
e remor necessita um piac
e, em c:onseqüência. é cham u/11111 l i 1, 1 , 1 um riacho profundo à beira e.lo qual vários home�s
ado piac ular 1 . Portanto, a
lavra parece própria para pa 1 l,I\ ,11n sentados; espalhados aqui e ali, a cabeça penc.11-
desi gn.ir ritos qut.' .,<.: cele
na inqu iet ude ou n.1 triste bram 1 1 1 1111e os 1oel hos, eles choravam e gemiam . Atrm essan
'" 1 1 na cho . encontramos, conforme o costume, a aldc1<1
za.
í3 l
/Tl A I�
130 AS FO/ll/AS EU�Hf!.\"/ARH OA 1 1/),-1 Rlil./(;/1 1 I /\l fl',I/\ ,HJTLnl� R
ia C.:: em o.;egui-
candescentes não tocaram). O sangue que corre vem 1111' •s tnb-.uo.;, J quem
. . preciosa relíqu
visório a:-.sim ela
Lurar-'L' ª" cinzas que cobrem sua:-. ch<1g<1:-. e, conunuamlo
. 1 o pro
'
. s·empre 1 a utu
•
l
·
1 mes·mo t Jrincí
nç·1s
1 , 1 , 1 llll as sen1elha
�
pio' c.lc que a
'
pana onde os pa ren tes se reúnem. " Lá . estendidos no
P
·
\nu 1 as roced e m to
ch�o, eles lamentam sua sorte, di zendo, por exemplo: 1h·1 1 nça e que,
1 1 1 , • 1 lv reque,r e
,. A única difere
-fusões <le sangue 1os.
no outro estra nl
•
con-
- S. i·urídic-is· mas
•
1
morreu, ou
c.l·1s .
t nS lltlll
•
t te.lo
'
1 1 l 1t ionada
ao cs '
ritos to
a mac, meufilho morreu.Cada um dos presentes repete o . se vincu la aos
de que .m an .' :"tr,� ela
\ 1 1 1.1 mostra r
1eda t es,
mahawks, eles se batem e se dilaceram até que sua� ca �m cenas
l
.
soc .·
'. ·
• o
• •
lx:ças e seus corpos estejam jorrando sangue. Os choros e 111 1111:.1 cuja cfen·esce au ourais . Entre os
ilcbi-
s 1
· n
U1pm
. o · n·1a
encer �ac:ienro é
ao tlas .. cenm
· -
cm horu,, t d e u m
. a
d e uma
ho mem, o outro,
'
mente vem jun ta r-se a ela. Os parentes têm como que 1· 1.1 celebrado últimoiz.
que nos. demm e.lo
r orn '
. a desc ri,"
.. ío
. por manu1•atura
11111ll1er. E· 1s de um gene-
•
·i rnc n tos
: diz-se que é um
1111• • io então recolhidos e, c'?m e_xceçào
me io de aliv iar sua
dor. Separa-se um . de um úmero, e
pôe na cabeça por alg unsCh imurilia
desses
1, I
.
no .mt c' n· or um ton111g ue110. O ú mero é n
e a mãe da falecid
o " •�1t.1c.los de
•
a
ins
cado no fJilchi que os ou tro nta tes ; a seg uir ele num es tOJ O
. · cle -casca ,
. o•
de - v a1 ·e o1·naclo.
s homens ape rta m, cada u m ,
é rec olo 1 '' ' ido ele cliferen-
1
.
po r sua vez, concra o peito. Enf 111. incrras. cstO JO cva o .io a
.
e d campamento me io cm
im, o irmão coloc
·
O
mu rilia na cabeça a o Chi I> i i• .ntos e gem.idos das m� 11:_er�s. Nos dias que seguem,
·
das du as irmãs ma
b velhas e todos
1 , ld 11.1 se uma s c-, 1-1·e • de o.:nmonias tote � n11·c'·
•
do . A cada vez,
n ca 1 I• lon naram o da. . .- qu.m
E . d o todas essas ccrimônias ter
111111,1111 que se proce( . 1 �, '·i n rito de encerra menta.
am e pa recem pre
mu lheres a levant as outras
que ela se fira. C
ocupadas em impedir 1 lma vala, com li mt.i . c.en
, lí 1�lelros de profu nd idade e
hega ndo ao túm
.
ulo , ela se precip
bre o moniíc:ulo de ita so 1 1 1 1 , 1 1 ro metros e me •io de compnmento, e.- aben·'i no terre-
terra, procur<1
. 1 · Antes · executou-se
destruí-lo com as
•
ficando completam
ente o e c b rto de sangue. Ao cabo _ ç -
um certo tempo, de ' I • > e m fila e, com as m·1os cruza • da s atr'1s ,. , da cabeça e as
s
são retiradas da li. ' .
As irm: h mais velhas - c1m ,· a da vala A um da
ahrl'lll encao um
bur..1co na terra cio
túm ulo , onde dep
1 1 rnas Jfasla(1,1s,. . colocam ' se por
. -
tam os Ch imu rili a previa
mente despedaça
osi d11 .....ina1 . a!> mulheres entram na a Ideia no mais profundo
mais, as m:1es trib dos. Uma vez .111'"
.
. ncio; aproximai ldo -sc poem-se . em fit-1 indiana a u ' I n-.
_
o
·
midos elas
grnu c.le excmu lheres
i1açào. aoa red
g
or pareci�1111 l
corria po r
n u e , qu e
evá- l a s
ao Cr l t imo a c >
11 i s e nos j oe l h os , � a s_sa�n' ��ç 1 n >o ( h v-Jla entre <IS per-
bcno de argila, co corpo � :O r
o a' u 1;1 gra de estado
O
seu
11.is abenas dos homens._ c a l
.s
dava-lhes uma apa rência . n
dl' excitação sexual. Ass 1117 q u e u' ltima mulher passou,
final, a velha mãe de espectros. No
foi a
única a permanec ;
wtlfam-lhe o estojo, que e leva o P•a ra a cova junco da
o túm ulo , comp er deitada sobre
letamente exaust
a e gemendo de
ce" . As outras ent bilm en qual permanece um ve, lho· - ' este com u m ' golpe �eco que-
ão a levantarame ret iraram a arg ila
cobna 1 1.1 o osso sao '. ados
J
fun ela cerimônia e ,
que
•
li
1 1 r:1m u m .lf sorridente e conversem com a maior natu-
1 1 hdacle cio muncJo.!V. O luto nào é um mo\ imcnto natuml
1 l.1 sensibilidade privada, machucada por uma perda cruel,
�sses ritos são de u m
t i p o m u i to d i ferente cios
a ntenonnente exa min que
amo s. Isso não que r dize r
se possa encontra r entr que não i 1 1o1s um dever imposto pelo grupo. As pessoas se lamen-
e aqu eles e estes semelha
nças im 1 . 1 1 n . não simplesmente porque e� tejam tristes, i�1as por
q11c são obrigadas a se lamentar. E uma atitude ntual que
portan tes que . teremos
ele assinalar; mas as dife
.
vez seiam mai s evidente renç as tal
s. Em vez de danças ;:ifeg
res, ele deve adorar por respeito ao costume, mas que em lar
e a cal l-1· ' m ed i da é
cantos, ele represe nta çõe ,1•
man ifest�ç�Jes mai s var pala vra, as duos. Essa obri gaç ão, aliás, é sancionada por castigos mi
iada s da tristeza ang uMi
uma cspecie de piedade acla e de i 1cos ou sociais. Acredita-se, por exemplo, que, quando
_
n�. F verdade que dur
mú tua que ocupam ago
ante os lntic hium a tam
ra a ce 11111 parente nào cum pre o luto como comém. a alma cio
bém há efu 1 1 1orlü segue seus passos e o mata�º . Noutros casos, so
1cdad e não confia às forÇ' a S religiosa s a tarefa de punir os
soes de sa ng ue ; mas são ª.
ob lações feit�1s num mo
de � i ed oso ent usia smo . Se vi me n t o <
precisamente ele sa 1 e
se imeirame alidade que proc
me dessa preo
cupação Sobre
ederia qu.1 -r de onde lhe::. \cio c::.sa
que um tal senti li• I'� .10. Ao tnves
. J
-
verossúnil . tudo, parece in .
, ele poder ser v1sLa com0 um Lruísmo,
• .
A inte rpretaç<i .
o clássica reve c �v��:cio que pôe a serviço
stentá\ d
la-se mais insu
·•·us o� poderes n tJC o l
ainda qua
ndo se sabe o .
.
não é feitu que cons titui o 1 n�va condiçüo:H Do-
luto prim itivo .
simplesmente de Ell' 1 1 11,. é visto como um gen10 � . l�orn sempre pronto a as-
1 1 1 1 os que 1 ia, pouco atormem,1va.
das àq uele piedosas lam ent
que não mais ações dirigi·
existe , mas ele duras . 'como explicar essas
crifícios. O rito
e cruéis sa absti nências . . , .
não exige apen " 11 i vo lta s sucessivas? S e �s maus sentimentos que s e
pense m as que as pess
mel ancol icam oas l l 1 lli1tl'm a , a 1 ma viessem un1camerite do fato de ela não
peiem, q ue ente no defu mo,
mas que se gol . .
d' .
se mortifiquem, 1 1 1 i1 l'star em v da eles dever"iam .permanecer invanavc1s
, .
alma do morto 1 '"1 t.inlo que a expltcaç�- · _ o dos ritos alegres seja suscet1vc1
rito n1au? seja necessa riamente ,
Enq uanto o hom um espí 1, .1pl icar-se aos ritos tnstes, cor ' condição de que seus
em vive, ele ama . n 'l
a geral , p o rém,
u 1l·smos efeiLos que a c1ie�ad·a de u m acomecimemo 1e
conserva a p
-
pl i c ita mente . - · .
as pessoa s se abraçam, se en
. .
,
438 AS FONMAS lli.EJl1ENf'A Nl'5 DA VIDA REUC!W t 439
l 'NIW'/PAIS li 71TUJES R171IAJS
parent e ou a um
delas seria romper os vínculos que o unem _
à coletividade o, não
seria renun ciar a querê-la e contra 1.rdos a um vizinh
dizer-se. Se o cristão' e clestruuvos que
ll'd iace e neutralize os senLimcntos maus
É
nas �·estas comemorativas da Páscoa, sem dúvida, qu� a
se o judeu , no ani� pela mesm a razão,
versa n o ela queda c.le Jerus além, jejuam 1 monc despertou.
e se mortificam m, serve de obie-
1 1 1ulher, com mais freqüência que o home
10 passivo aos ritos mais cruéis do luto;
não é parJ manifestar uma tristeza espon con:o ela te� �m
taneamente sen�
tida. Nessas circunstâ ncias, o estado interio
r do crente na social , é mais direta mente designada para o
rncno r valor
da tem a ver com as du ras abstinências
a que se submete. papel de bode expiatório.
Se está triste, é sobretudo porque se obriga _
absu·açao com
a ficar triste, e Vê-se que essa explicação elo luto faz
obriga-se a isso para afirma r sua fé. A ú n icas forças
atitude cio australia noção de alma ou de espíri lO. As
no duran te o luto explic a-se ela mesm pleta da
a mane ira. Se ele menLe impessoa l :
I L'almente em jogo são de naLureza inteira
chora, se ele geme, não é simplesmente pela morte d� um
para traduzir uma rtadas n o grupo
s;ro a s emoçôcs despe
de
tristeza indivi dual, é para cump rir um o meca nismo
dever que a socie memb ros. Mas o primit ivo igno�a
seus .
dade cm volta não deixa ele lembrar-lhe
na ocasião. pratic a�. Portan to�
psíquico de que res�!.ta,m tod,as essas
Sabe-se, por outro lado, como os sentim _ do ª, fori�r uma �x
en tos huma quand o procura justifrca-��s, e obnga
nos se intens ificam quand o se afirmam
coletivamente. A ele sabe e q�e deve
tristeza, e.la mesma forma que a a legria, p l icação muito diferente. l udo o que _
se exalta. se ampli nte. Como toda obnga çao des-
se mortificar dolorosame
fica ao reperc utir de consciência em consc , ele busca a se�
iência, por isso erta a icléia de uma vontade que obriga
acaba se exprimindo exterionnence na
tos eÀ""llberames e violemos. Não é mais
fonna de movimen
a agitação alegre
� cdor de onde pode provir a coerção
rea lidade lhe parece
que sofre. Ora, ha
certa e perfe1t�
.
uma força mor-ai cuja
que observávamos há pouco: são gritos, que a morte pos
urros de dor. Cada mcnte indicada para esse papel: a alma
um é an-astado por todos; produz-se algo .
como um pânico que ela pode se rme-
em l i berdade. Pois, quem mais cio
......
AS FONl! IS FU!.
lfE.\TARfü DA 1 m11
440
REU(,'/t � 1 /11,1/\ 111'/VDF.S R/'II,11./S
· � ,s que sua I )ropna
ressar pelas ren
· · mone podl· r
,,erc· uss; ;.,
sobre.: o.� ' i vos?
Ima ina-s . e' po . , . mi 1 •mcntos cm que ela passa por um:i provação
se infligem um
marem as ,
exigências dela '
;
Lrat mento anuna
� tnto, que , se e:.tes últin1
tural , e p ra se •
� confor-
1 1t 1t 1 1 'l11110de energia apaga ameia mais LOmpleta-
111 e i s deitos do desamparo produzido na origem, clis-
.
�. ��
. o1 a . ssim. .. _
F
.
.
ue•·nc ra
" ·
·1·ra (1 uz a mu da n(' ª
<J ue ocorreu no
q · dek ,i .
.
1
'
I '' 1sc.:gutr os homens. Mas agor.1, quando to<lus
·· . ,,
po: nao pra n teiam s t·
c.:
o monº porqu e gru se scn
é tc.:-
11
mido porque o ele e remido; ele
pranteiam . lo 111 dl· novo confiantes e seguros, deve-se admitir que ela
do esrad . ' o .a liet1vo .
Mas essa muda nça sua natureza primeira e seus primeiros sentimen-
po rá ri n , pois élS c e rimô 1
1 1 t • 11 1 1ou
ni a s. do luw, ao mesm
tem de ser tem-
, , k· ternura e solidariedade. Assim é possível explicar a
o · pouco a pouc
res u ham dela po o L<.:mpo que
' • -",.m - l he um term 1 1 . 1 1 1v1ra muito diferente como ela é con ceb ida nos dife-
ncutra li7..am as pr o elas 1• momentos de sua existência35.
. óprias ' _caus�s que ocasionara
1111·s
. o 1 ut0 e a 1mpr
dan ca . O que ,, m essa mu� Os ritos do luto não somente determinam alguns dos
t
a
< n" , .
t , 1 1 Kt cres secundários atribuídos à alma, como também
• s
'-• ' a ongem d
que se n t� o gru �
fraq uecimemo ess< lo de en-
seus me mbros l\,f· o q u a ndo perde um de
' · ' '· 1s " "ssa impressa 11 111 sao estranhos, talvez, à idéia de que ela sobrevive ao
. . o tem "ºr ef
. tios ou u os
m<ir os indivíduos ! eito aprox i- , , ,, po. Para poder compreender as práticas às quais se
1 i l1111L'te na monc de um parente, o homem é obrigado a
uns
'a sSOCJ;J
.
menlL' l'lll conta to' coloca -lo'i· mais ·
mtJm · <i
•
1o de ai-
·
. poem
mantclada. C h , r o q u"" nesse , nrpo, que manifestamente está imóvel e se d eco mp õe, só
m um cmocôcs d
momento .só .�e -
' t n· s. teza e
em co- po e ser a alma . Cenamente, é impossível dizer com exali
('> ' , ai. nda
tristes·, mas. co
com ungn r' e toda h -
mun o ·ir n·t
liorma que for,
dao qual foi a parte dessas considerações na gênese <la
1déia
comun ao d as
cle,-a a v1· rªl'd
consci ê ncias
1 socn
· , sep · sob <i
c1ona1 e.las man ife
.
v10 de sobrevivência. Mas é provável que a influência do
•
· 1 ac.e ·
1 ·..
' l A " Iencw
qL iars · se
, · " excen n1lto tenha sido aqui o que é alhures. Os ritos são mais fa-
cc.:ss..í ria e obrig
staç- oes , atraves da<;
ex rime nc.:-
co ium, :nest a
1 i lmente explicáveis quando se imagina que eles se d iri
i ncl usive
atoria mente a d�r r_
quc a socied ade � gem a seres pesso<iis; os homens foram induzidos, porta n-
nesse momento,
do que nunca f) .e f;. 10, a ampliar a in fluência das personalidades míticas na vi
esta mllis \'iva e
· aro quando o s atuan re
ente, e1 e reage
' e11111ne1110 social
·
chucado c.lolorosam é ma- da religiosa . Para pockr explicar o luto, eles prolongaram
de ordin :írio·. jama com mais força
' 'i·s nos apega do que a existência da alma além do túmulo. É mais um exemplo
mos ramo à noss
a famíli a da maneira como os ritos reagem sobre as crenças.
lí42 AS FOR.IM\ il.E.111:..\TARl:S
n.1 1 7{),I RI':UCd0'\.1
. 1 li\( m4/.\ .1Jm UF.\ RrnAJS 13
pu1l:111 1
Ili
1s
s
re li g ios ao; ou sobre as forças da natureza,
Mas a morte não é 0 - 1 1 1 • • 111.1\es de solrimemo que os indi\íduos infligem ..1 si
n·
pertu rbar uma comu
nida d . � ;�� a�oncecimemo capaz ·
' para os horm
dt 1 1 1 1111JS. �OS territórios e.lo
,
Ol1e, é também í>Or tonuras,
1 111 01110 jeju n s prolongados, vigílias, danças continuadas
ent 1"1s tc.:cerem 0u d
"
outras ocasiões de "e :n.s, muiw.,
1 - de-se e .�e angus tiare m 1 1 1 n l'sgota mcnto <los dançarinos, dores físicas de todo
·
. , prever que La nl
-. os australiano1>
r><>r isso no
nhecem e p ratica m o u ' )cm ·
.
de ch u ri nga : é
1111ponan1es ·1 �ua
��i�. .' �� qt1l ncia um<1 e:;cassez geral. Para remediar o mal, recorre-
•
sone da coletividade
so ! ia 1os meios \'iolentos. llm deles costuma ser a extração
d1 11111 de n te. Entre os Kaitish, ror exemrlo, arranca-se de
. · � n�o i� 1?1 1g< s ou brancos
co nse gu em rou ha r um �
1 1 1 1 1 i ndiv íd uo u m i ncis ivo que é suspenso n u ma árvore " .
dess.es. lesou 1 os
rel1g1 osos, Pssa
· 1 ·
i1ca.
perda é cons· ide 1·acJ•1·
infonúnio dá ensejo a u l 1 11rc os Oicri, a idéia d a chuva é mais estreitamente asso-
u ma ca, e·1 1111dade pu)
que tem todas as
L Ora, esse
1 1.1da à de incisões sangrentas praticadas na pele do tór..i x
.
m �llo
ricas de um luto·. os �o Gtr..i cterís-
, dos braços 1z . Nesse mesmo povo, q ua ndo a seca é mui
rpos sao _ cob
. . ; 1�
enos de •,1 1g1
f1 1 eia dum me duas
e os Arunta permanece . ·1 a 1Jranca
.
•
n d ente de toda
riamente dito '1m voz aguda o estado miserável da terra e pedem aos
rito ou de gênio n�alé�c� n0(,.'<1o de espí- l /11m-11111ra (antepassados míticos) que lhes dêem o po
d
��
Uma o u t ra circu i l l'r de fazer cair uma chu va abun<lame1:1. Nos casos, m u i -
mesma natureza é o est
nstân cia e i . motn· I�� . a cerun . ônias
ªdº de a � o em que � da 1 1 1 raros aliás, de haver excesso de umidade, uma cerimô-
111.1 análoga se realiza para deter a chuva. Os velhos cn-
1
•
a sociedade a nós � se encomra
que 1ia b 1. tam os a rredore
msu f1c1en tes "Os. i· n d'
1 ram ent;1o num verdadeiro estado de frenesi " e os grit os
..
igena s
colhe 1
·r as
. h'go E 1c,
·
s do
cam ig u a l me mc con1·u y " drz Eylmann, bus- '.' que a multi dão emite chegam a ferir os ouvidos•\
ra r a msu fJCien i.
ua do.� re('ursos ali" '>penccr e G il len nos descrevem . sob o nome de lnti
e t·•1s.
menta res por meio de .
cJas práticas rit · •t as muita s
•
·
i ' 't nrei JOrmcnre vi. nwsmo objeto e a mesma das rreccdentes: uma
de dan cas simbo·1·icas, . . stas • n ao e através
·
tortura física é rraticda para fazer uma espécie a nimal
.
orm1 me ntacões
de movunemos. m1m
des lu n1l)ran tes que
.
et1cos. -
nem de multi pl ica r . Entre os Urabanna, há um clà que tem por
totem uma esp écie de cobra chamada wadmmgadn i. Eis
· se
se procura agir . sobre
AS FO/ll1AS l!l/!,lfENlillU!S IJ1I 1 lf)A
, , /'f(/.\'G1PA/S ti nn '/)fiS NfnJA/S 1'15
'Í'Í4
/UiUG/OS1I
. .s
estreitamente sol idá rios 1· t 1 se reúne,
1
como por ocasi ao de um luto. e é natural-
·m;ropomorfica:-; . Se o fiel se m
- d
i poe · , prl\ . .s 111•'1\ll' uma impressão de i n qu i et ude e de angusti a que
concepçó�� i · ,.a<.Ol
s
· '
se para não ser gol pca " 111 um gr a u de violência que se traduz pela violt:ncia
do por eles. Parece Portan t
.
'
o que ess·1s l Xát"1cas so- J')Udl'
.
' 1 1 11 cs po nde n te dos gestos que os expri mcm. Como na
ra m s urg i r a pa rt ir do m
m�n.t� �11 1 q u� d euses e es pír ito1- 1 1 1111 lc de um parente próximo, as pessoas l�111c;arn gritos
•
" ..
�
'
pe.sso:.is 111 ora1s . ' ca1 11 1 1 1ver.'> . se cnfurecclll , sen te m a necessidade de rasgar e
fo e
�
y'
>
1zes
- , t 1, .
r a m con cebi d os · co m
xo s an a l oga.., ;i<; cio.'<
e par-
, ,· . r'º1'.· p�>r esse m ot l' .o l J d1 ,1 ruir, é para satisfazer essa necessidade que e las se ha
Ul·
- •
hum ·mos
Robertson Smit h acr'-"d1'tou po
l er. re. errr a u a d
�lla rc1 at r. 11•111. se ferem , fazem correr sangue. Mas, quando
nicr.d
as emo
va mente recente os .sa c T . m
e
os. e xp1:1 1ono
oblaçôe.-, 'sacrific1 ·"• 1�s S gun o
s bem co m o as � rn·s tt:m essa vivacidad e, por mais sejam
•
que
esta
.• dolorosas
e l e as e•fl�so - e� de sa n� ue 1 1 1 da rêm de deprimente; ao contrário, denotam um
que ca racteriza m esses ricos _ .
do de efervescência que impl
·
, un
pies procedimentos de co mun
.10.. o ,iomem teria dcrra d.1., as forças ativas e inclusive u m aflu.xo de e nerg ia s ex-
, e o a l ta r f Y l r 1 cst rcrtar os vrnc
mado seu s·mg ul' sol�r · -
11 nores . Pouco importa que essa ex a l tação tenha sido
'
: '· .' ul os
· ·
�
- .
.
•l' r real e não difere especificamente da que se observa
esquecida e quJn do a
.
ados pcm1 itiu atribuir-lh,
�
\ a 1de1. 1 que se l in h a d< >s. seit:s
foi
. .., . 11.1s festas alegres. Inclusi\'e ela se manifesra as veze por s
. urna outra fun çao� 1 110\ imL·ntos da mesma naturc1.a: é o mesmo frenesi que
sagr -
\f· . .co 1n s
t:s
� ��
e if a m rit Sl' arodera dos fiéis, a mesma tendência às orgias
_ t>i. pr aculares já nas sodc
.,exuais,
· t rr·1) u ·r r-l h,
dade "'� tr:
··s: ''. : ic
1 l1"'1< > 1
n •· e 1m possrvel ª
... 111al certo de uma grande excitação nen·osa. Robcrtson
• .
cão tardia AI',. ��
1;��.,�" l< 1 º s. os que aca bamos de
es uma ongern
·
observa r, com -.mith já havia assinalado essa curiosa iníl ut:ncia dos ritos
exceção e u d '
' "'1 c > 1ndepen(l entes de q ua Jquer conc
cp- t r i stes nos cultos semíticos: "Nos tempos difíceis, diz ele
,
s rmene i·as
tos. E por el:1s
-
mesmas. e cl u' .e 't·arnentc tiue '·1s ab · • :-.omhrios , el es recorriam à.� cxcitaçõe.s físicas da religião,
· "
e as efusões de sangu e imp .
.1ssim como agora se refugiam no vinho. Em regra geral,
:�10�
cdcm ' sse·z e cura m as
� .
·r esc-1
doenças. Ent re 0 riro e s e
·
e
q ue ele deve p rodu zi r, quando, entre os semitas, o culto começava por choros
nenh um ser esp iri t ua l v m 11.sc � · nr sua ação . ' Porra mo as l a m e n t ações - como no luto d e A dôn is o u como nos
e��m.,�� :11s
·
.rdc L m.1
persona lidad e-; mític as só . ta ;
n
i terv i . gr.rndes ritos expiatórios que se tornaram frcqi.icntes nos
mo ritu,i , e as servira m para
vez stabcl ec 1do o mec anis
: u ltimos tempos -. uma brusca revolução fazia suceder. ao
serviço fúnebre pelo qual se iniciam a cerimêm i a , uma ex
coma -l o mais -- . faci lmen te repr
esenta\·d às inte ligên cias
. . cond . -
plosao de a l egria e v i\· acidade . " 56 E m uma pa l a\r t , ainda
mas elas nao sao . s de s • n o.a . Esse
. u.� c . e .
·
, x.1·.'>l
nismo foi insti tu íd o por outr
·
1çoe
mcca-
as razoes, deve sua eficácia que as ccrimôni as religiosas tenham por ponto de partida
uma outra causa . a
um faro inquietante ou doloroso, elas conservam, sobre o
AS FORMAS IIL/!,lfEN7ilR
F<; DA VIDA Rl!IJGJ<l\A
448
INl\c 111 11� A77TlD
.. fil Rm AI\'
esrado afccivo do gr
u o estranho r.las em ambos os caso1> o mecanis-
upo e dos ind ivíduos
mu lan cc. Pelo sim ple , seu poder esc 1 1111 1t•1
s fato de <;erem col
va � a ene gia vital. etivas eb, cl . Jh1quu.:o e essencialmente o mesmov.
Ora, quando as pessoa ' 11111
�
a vida - se1a sob a for
ma de irritação pen
s sencem em �1
���siasmo -, elas não crêem m1 mo
gre e _ osa, seja de all'
Lran qut l1za m, volram ne; portan to, Slº IV
a ter coragem e, sub
jetivamente cu
� o riLo tivesse rcalmeme a fa s
0
do aconLece como s
d t m dos maiores serviços que RoberLson SmiLh pres-
E dessa m aneira que
pen_�o que se tem ia. ta o
movunemos de que ele é se atribuem aos 1• • l i.1 ciência das religiôes foi Ler posto e m evidência a
feit o, aos grit os em itid os
sangue d�r rnm ;ido , aos fer ao 1111' iigüidade da noção do sagrado.
imentos infl igidos cm si ou _ ,
0�1.tros, v 1 n ud�s cu rativas 'nos Ai> for�«1s religiosas são de dois t ipos Umas :;ao hcne
l h ,1:;, guare.lias e.la orden1 física e moral, d ispensadoras da
.
rep_a rador que lhe atri ente efeito dos cac.liiveres, do sangue da menstruação, as desencad��
das por toda profanação das coisas <>antas, etc o; :sp�1-
buem. No fundo, o
_
esta na raiz dos ritos sen timento que
propriamente expiaLó
em n turez daq uel rios não difere tos e.los monos e os gênios malignos de toda espec1e sao
� � e que encontramos
tros mos p1acu arcs:� na base dos ou
é um a esp éci e de dor
irritada que
formas personificadas dessas forças.
tcn e ,ª se ma nifesta
? Entre essas duas "alegorias de forças e de seres, o
r por ato s de destrui
_ rn
ahv ção. Ora ela se contraste é o mais completo possível. chegando inclusive
a custa daquele mesm
o que a seme, ora à
custa de ao antagonismo mais radical. As potências boa:, e saluta-
451
AS FORMAS Fll:'!\IFVTARI�'> DA l'ff)A REU<;J 1 1 f/ '.\I.\ ·l7Tfl f)Jf..\ RfllAIS
ne-.ma ol)se
. •i"\,3,. 30 pode se aplicar
,. ,
a u m gra n
1
11111 11l ru l 1e inter0·ições
\
res repelem para longe delas as que as negam e as conrra
alime ntares.
Por isso . .:is primeiras sao mtcrc.l1tas às segunda cia que uma
•
li 111 e
di7em
• , acont
1.isso ece com mui'ta frec1üên
ne sem mu-
1 1 1 1n pur.a ou uma
toe.lo c.:o ntato entre elas é considerado a pior das profana . m alc ' a se tor
É esse o
•fic
, s111ip les modifica
•
pote ncia
1
•
• • ·
1 11 d• n at u re za , ·
<:ões. tipo por excelência de interdição entre rn1 . çao das
' ><
- . mas por uma
n·ores un1a (.01s, ·
.
•
'
1 1 1 1 1 1 v 1 .ir, e vice
l amos anteriormcnte�9. As mulheres d u rante a menstru;1 '
•
al
,
,1
-v e rsa •· v ·imos
1
com o
e um pnnc1p1
ção, sobretudo ao primeiro aparecimento do mênstruo,
•
. .' .0 temido rransforma-se
o 1 uLo te nn ina. Do
.
, ·
a
.
1
1111 pi 1 m ntc
•
m ei r e mesmo
11 l'l"l\IO · prote·toi· •·1·ss11n que
1 0 impuras; assim, nesse momento, elas são rigorosa
sf
mente iso ladas; os homens não devem ter nenhuma rela
, 1 , que começa .
terror e
1111 ., 11 1 o cac.Iavc, .
por .ins.p 1· rar apenas
ção com elas<>0. Os bu/1-roarers, os churinga, jamais en
tram cm contato com o monon a . O sacrílego 0 cxduíc.lo e.la 11 1 . 1 n n amen ll>,
i .
. . a antro1 '.
e ll"l tJ <lo mais
· "
. tare.!e com o um a reh
L pra
qu1a
.
tt 1
1 1u.s
. . tt:m Cnt
\
üen
souec.lade e.los fiéis, o acesso ao culto lhe é interdito. Oc'
1n.1
r, , fre q .
• dessa
.
ia func
.. . 1 1es .'1usu
10 tio • •
.
clcncta;
•
"era l , o
sacnlc-
p10
na maneira o
l \Ili \ pn. nc1 ·
entre o puro e o impuro. o santo e o sacrílego, o divino e
\\
-
u.: um � rora n o
de do po r
I\'' e si m pl csm e n
o c.liabólico. qu e foi c o nt a g i a
,
· ·
"lll' q ue prove m cJ
'
''i o é muitas
forte parentesco. Em primeiro lugar, ambos mantêm a _ · tais
· da 111u
0s órgaos geni
•
) cc )n t
" '
·
•
doença<>�. A 1
\
1
... 1
• ies empre
ga<.1o com<) um
com as coisas mais santas . As primeiras não são menos in ó acu sad a de
' i t un a imo lad a no
i s é
s sacrifíc.:ios exp
at rio
e
terditas que as segundas; sào igualmente retiradas de cir nel·1 os pecados qu
que concentrou
' ·
1
'. u i c.lo-
os sentimentos que umas e outras inspiram não são idên
mp
. ados
eg nos co st m es mais p e
, i nbora a com
e c
e
ticc}S: uma coisa é o respeito, outra, a aversào e o horror. 1· seu sangu ope ra-
s·10
· a um a
. Lin\1' ,. 0 sei
• •
1
,
·
Entretanto, para que os gestos sejam os mesmos nos dois -,os<�'. Ao. contrJno, po r fun ção con sagrar,
. . norm' ·ilmente tem
casos, cumpre que os sentimentos expressos nao difiram
cm natureza. De fato, há horror no respeito religioso, so
do rehg1osa que
produ z às vezes os m�sm �
os. ·fc1·tos que um
sacrilégio. ln-
os, obriga
0 cm cert os
�
cas
' esteados . Dir-se-ia qu e se
a
brerudo quando ele é muito intenso, e o temor que as po divíclu�)S � 1 ue com u ngM
J cão mútua · o
u tro mo
dos a fu gi r um e.lo ?
t Hn aram
têndas malignas n
i spiram geralmente é acompanhado de
fonte e contamina
tem po os separa.
uma pengo sa
1 o qt e os
algum caráter reverencial . As nua nces pelas quais �e dife ao mesn10
· une
·
renciam essas e.luas atitudes sao às vezes tao fugazes, que dnculo sagr-Jt
Fxcmplos desse t 1 P '? , . .
'. de c m ,u nh � ão são nu me rosos na
is •1p1cos e o q
nem sempre é fácil dizer em que estado de espírito se en ue . e s obser va entre os
- 1·1a . U m dos· ma . inl as Quando uma criança vem
�: s v1 z .
con tmm, a.o certo, os fiéis. Entre certos povos semíticos, a Austra .
1
carne de porco era interdita; mas nem sempre se sabia Nan-inyeri e nas tn o seu cordão
pais c o nse rv am com cuidad
ao mundo, seus
•
que trocam seu cordão assun conservado comungam jun ou .sua � .a · E .'1 1
e
, .
e
geme i.' de, infligir-se
.11a angusua fer ime nto s ou
tos pelo fato mesmo dessa troca, pois é como se trocas
dl'ver <le chora r, de ·e , taç col etivas, e a
sem sua alma. Mas, ao mesmo tempo, não podem se to prn·s essas ma nues õcs .
11 111igi-los a outrem,
'
reforçam, restt-
. 1 s testemu nJ1am e
car, se falar, nem mesmo se ver. Tudo se passa como se
i 11munhao - mo1a qu e ela
ecime ntos ameaça�
ia ue os acont
fossem, um para o outro, um objeto de horro�7. ao grupo a ener�
c.lo ass·11.. " ele se recupere. E
t \11 .:m
O puro e o impuro não são, portanto, dois gêneros � q
ml tln .,.. qu e
ner
,,
\',lm subtra·tr-lhe,
.
g1-
.
. cu·a hostil
ida a
• .
· que
· •
esses se r es . nao
·
to,
_
. ·in1 .1m1al ment...". ·intensas e conta
•
parentesco que todas apresentam , a despeito dos contras natu reza, sci o-
: 1
uma mesma
, i· t:•rditas e sagra
c
'
as.
·
tle senudo .
• ·
ra se tornar um p
rotetor )enevolen .� te As ou tra s tra nsm u
especial. Só que, quan do últim a e lhe imrrimirá u 1111 •lllO tempo, a uni. dade e ,1. diversidade dos seres e
' 1 ' • • 1s. 1s sagradas .
isso acon Lecc , ele s e m carár t•r
�
cado por uma tara. -�ªºestá como que manchado e mar ubsl{tuir-.se mutuamente .
11111:-. trnmos que ntu.s cJe '.-'1 ) I·aL.ão e de comun11.10,
·
causa o mes mo esta do pb.st ante , essa mancha tem por - n'tos ..
.f co inemor:mvos, c u i111xem com fri:q: üênc1a.
•
ra que, alivia da, el<t cess eii:a por um rito expia tório, pa ' • , pelo menos, e • te separac.lo do culto pos1-·
e; o sent imento ofen dido 1 1 \ o· no entanto, vimos C fL1e o p n. eiro é capaz de pro<.1 u-
zigua e volta a seu .
uma vez, corno agia estad o inici al. Ele age por se ara
.
�
11 �feitos positivos, iclê nt1cos aos l uc produz o segundo .
·
tanto, mais
e l ltn jejuns. a 1)Sttne
no
santifica. Como cont inuaprin cípio; ao invés de contamin · netas ' a uwmut ·1açõcs ' �btêm-se os
• 1..
1
ar,
ligou , este não poderia a cont agiar o obje to ao qu<d se . . .
',s e os sacnºf'1c1os
ll ll''imos resu uKlos que com comunhões ablações, come- •
giosa m ente indi fere torn ar-s e ele novo prof i1 1oraçõcs . lnversainente as 01e1 e .en, cl't tm-.
que parece ocupá-lonte. Mas o senti do da forçaano e reli p li<:am privações e renun , ' cia · . d . toda espécie. Enlre os n-
, transformou-se religiosa . . � \ a �s a continuidade é ainda
umento de purificaçã o. : de impuro, tomou- _P 'ªf��os de sofrime ntos, aceiLos ou
.se puro e instr tos ascéticos e os ntos
Em resum o, os dois pólo mais evidente: ambos �ao
pondem aos dois estad s da vida relig iosa corr .suponados, aos quais e atn·1)Ut' d-1 uma eficácia análoga. As
os opos tos por que passa coda vida es
soci al. Há entre o sagr sim, tanto as prn, ticas como as cre nças n-1,o se classificam
em gêneros separados. por n:1ais complexas que se1am
'
ado fast o e o sag rado
. as
· s, ela v1da, re1 tg
mesmo contraste que
. 1· os·1 ela é no fundo,
entre os estados de eufo nefa sto o
feria coletiva. ria e de dis manifestações cxrenore
eorresponde em loela pane
Mas, como ambos são igual una e simp 1 es.
• • • •
o un1co'
• . . •
,1 s urpreender
cien tista ch eo ' num cas
• re
,., asse •
•d o e 1 a vida ,
caso fiosse o'-do ser
0 scg dil t renças pouco importam. Em todos os casos, as re-
mesmo que esse .
i 1 • <'llU<;ôes, as crenças é que ernm considemdas como o
, , dess
protop lásmico maia
· e conce.,er ·is
simples que se nu
das seria m anlic� ' · ver 1 es assim ohll I• 1 1 1 1 11 to essencial da religião . Quanto aos ritos, eles se
1, ,e, s
· a lodos os se
, da(
· r�s· · Vl\'OS,
• •
1• •
, . humil
ma1.s l'fevados. Se '
•
·inclus ive 1l1r111.1\am apenas, desse ponto d e vista, como uma tra-
. .. h porr
. .soc1ed·ades qut'
.tc<1
amo, n.is
am de ser estud
011
des 1 1 1 1 ,10 cxrerior, contingente e material desses est ados in-
.
1 Jcr a1guns dos · h 1 1 11 1� que seriam os ún icos a Ler u m valor intrínseco. Es-
ad·.is, con . seg u i. mos re·tl
··
. .
mente peH"c
sao IL'ita s a s noç - ,
•
elen
oes reli·
, nto.s. de que
•
l<:
1 l'l
•
1 , r·1z·1o p;1ra
g1os,1s mais ft1t Khni 1 l • HKepdio é tão dilllndida que, na maior parte e.lo tem
,. .
..
' ·.,
•
v n·ao
•
" ntai
0� res �-0\,��� '.�<Ili-.
. •1t<
.
'-
nao estend t•r
•
P< ·1<.1
- ' e expn. mir aqui
· .
·
•
.
1deia não
'
• 1.ca 1 1c . 1 acc
•
·
- .
mesm os ca ra cte r
ai-. mesmas icf e
·
c:s s
' " · 1s s ve
·· . . 1 '. e rifi q u e m c om os \ o ·mos u
ü ci ê ncia representações de uma o tra origem e de
1· r1ant o, qut:
•
es e ncia1s. S
, upond o no
nao estqamo.s engana
.f.e 1� menos .ilgu
11111 outro caráter, mas sim nos fazer agir, nos ajudar a \'i
· ·
mas ele nossas O ficl q u e se pôi-. cm contato com seu deus n.1 0 (·
dos ·
conclusões pode l g .
m ·ser � i im 1m g 'r.
_- ente enera lizada s. Che- 1p e nasum homem que percebe verdades novas q u e o
, i· n d uçao
gou o momen t o d,,
·1 s· F un 1ª
1 lt·screntc ignora, é um homem que pode mais. Ele sente
'- a n
,. resenta - l '· - dessa
natureza, rendo ,, no r base uma e'
,
>em e1efin icia
xpe n
-
· enc · 1
e menos temer 'ª 1·m si mais força, seja para suportar as dificuldades da
ária do que tantas
i_:-a<:�>- t·s sumár ias
'
gencr , .'-11·· ' \istência, seja para vencê-las. Está como que elevado
atingir de u m s,:1 1to
que, ao Lenta rem
.i essenc a
sem se apoia rem 1 da religião •lima das misérias humanas porque está <::levado acima
' rc1 ig1ao · · - em par-
na a na
· 1 ar, de. nenhu m·1
·
·1 ise
llcu muito se arrisc . a m a se perder
de sua cone.lição de homem; acredita-se salvo do mal, seja
no vazio. ' l ual for a forma, al iás, que conceba o mal. O primeiro ar
t igo de toda fé é a crença na salvação pela fé. Ora, não se
pcrcehc como uma simples idéia poderia ter essa eficácia.
l ma idéia, com efeito, nao é senão um elememo de nós
l que nos col oqu emos em 11 1 1:· e 1 ue os homens experimentam corrcspon der:1 a uma
sua esfera de a<;<io, que nos
voltemos para o lado em que t 111sa o11 .JCOv - .� ersso não irá concluir que esta seia tal co
melhor possamos sentir sua . i
preciso que ajamos e repitam
influência; em uma palavra,
(' 1111 i '1 p � r:c � �� � se��t \· c1 s Assim também, embora não
ioda vez que isso for ütil par
os os atos assim necessários, 1 ·11c 1 o 1m , ,g1 n ' i s "
: n�
, , essõ es sentidas , pelos fiéis n o
�
ponto de vista, percebe-se
a renova r seus efeitos. Desst: nnstiruem imuições �rivilegiaclas; �1 - o 11a �e � 1 ma razao 1�
., ª
portância ess e conjunto de
como adquire toda a sua im 1 •.11a pens.ir qu e nos informa m me1 11or so . r narure;a
atos reg ula rmente repetidos 1 .• 1 ·e ro que as sensaçocs . 1gares sobre a narure-
v
u
. De fato, que m quer que tenha pra ' ,l,' t�e o� �)�!pos e ele suas propriedades. Portanto, para cle·s-
-
que con stit ui o cul to
·
os pelos quais a fé se traduz \ Ora foi precisamente isso que Lentamos faz , 1 .,_'_ e vi-
exteriormente, é o conjunto e
dos meios pelos quais ela se i11os que essa realicia cle, que as mitologias conce1Jeram
cria e se recria periodicament
•
e.
b as 1rn1teriais ou em operaç Quer consista em mano 'ºb tantas formas diferentes, mas que e, a causa . objetiva
. •
crentes de todos os tempos l iesp:na_ esse sent memo de apoio, c.le plroteçâo , . ' de de-
não pode ser puramente ilus 1
um recente apologista ela fé
ório. Da mesma forma que pendencia tute 1'.tr que 1ig. · ·1 o fiel a seu culto. E a sociedade
1, adm itim os, portanto, que , o eleva ·1c1ma ele s1 mesmo, e,· e1a, inclusive, que o
crenças religiosas 5e baseiam as 1e .
num a experiência específica 1' ·'1Lz Pois o qu'e faz o homem é esse conjunto_ de �en;; rnte
cujo valor demonsrrativo, num
certo sentido, não é inferior lecruais que constitui a c1v1 · · 1 rzaçao,- e a c1vilizaçao e ob ra
, -·
' Em nosso p
'
"' .,
t
Uma, que resul
· e rcu rs·o, esta 1
o bra
1 1 1 1 uma fo nte de e nergia religiosa, assim como, acual-
' nt,us . e1o pens·i
que as cmegorias Jelccemo.,
. , 1ogo a ciên
fundamc
. 1 1 1 1 1 11:, pa r a aquecer ou e le t ri za r um corpo, ele é posto
· rc l i gi os·1s v·imos c1uc
•
. ' mento
0 .. 1 1 1 1 1 ·o nta lo com uma fonte de calor ou de eletricidade; os
c:1a, tem origens
n' . . 1 . mo ;1comen·
mcs
1 •1 11 • l ' d ime ntos empregados num caso e no o utro n ão são
com a m a <>h e,
• · .
por consegumte
'
.
.til,' u m momcmo
que de la cle rivar· nica,
lado h·' . 11ualmeme diferentes. Assim entendida, a técnica reli
" nH1110
lt 1s,1 parece ser um..1 especie de mecânica místint. l\las
se sahe que l
r-·
"' lat
' 1· \...1meme av·inc·
.10 u
rt•gras ela mo ral • e u
'
ão as
·
.1ir · u.to nao S l' · ·
ll•tnohras m.ttcnais não sào mais que o invólucro
. .
d
. tstmgu 1 ra m das pres- ·
. ·s aspectos da v ida
.
c1p,11
.
letiva LenJiam co
<1 a \1da rel igiosa
. me co-
1 1 111sciência.-;, tonificá-las, discipliná-las. Foi dito às vezes
apcn"·is a .sp . ectos cll\·e
é preciso . ev1d . rsos rel igiões inferiores que elas eram materialistas. A ex-
l
1'" ssào é inexata . Todas as rel ig iõe s , mesmo as mais
enrcm
•
1
ente q ue a vida
•
a emineme � reli-
resu mida da vicia . como q ue uma
expressão
coletiva 1 nte 1 ra
� 1 1 os.'ie11-as, são, num certo se nt ido , espiritualistas, pois as
1 11 >tências que elas põem em jogo são, antes de tudo, es-
e a re lig iao en
de essen c·'ª1 na
tudo o que há
,.
gendrou
.
.
'" • c
. a da
.
.
o
ças religiosas po
·
•
A<; for 1 111 por principal função agir. Compreende-se, assim, que
. n<1nto, sao forças
çai. morais . Certa hu m<1 nas, for-
mc�t� o " que frn feito em nome da religiào não poderia ter sido
� l 10 ?
n � s sen imentos
pcxlem tomar co
nsc iê t colet ivos só
n ta e e s1 ao s e
· ' r""''n em Ouj
1!•110 em vão, pois foi necessariamente a sociedade dos
· pnas · . nao '- etos
.
- puderam s .
extenores elas fix·1
pro 111 1mens, foi a humanidade que recolheu seus fnitos .
onst 1tuir sem to-
· ·
• 1c1u1n
g as ele su.is car.1(tens!
.
"sp c �ci" · de, natureza r1 . Mas , qucstionam, que sociedade exa tamente {: essa
. .. 1, uma
.
<1ss111 '"'
"'' '- ra1n '
·
s1c
pode
., 1 , �'ob esse aspc\:,to
vida d� '.nJL�ndo . vie- •l .1 qual se faz o su bstrato da vida religiosa? Será a soci e
ma tena l e foi
.se P'ass
que se acreditou d.1de real, ta l como existe e fu nciona dia nte de nossos
u . no
através delas
. a
r exp 1car o que
mas, mundo. • > l hos, com a organização moral e jurídica que laboriosa-
nas fX >r esse_ 1ado
quando as cons·d i eram os. ape
ente o que. el as. .
papel , vemos som e nes.<;e 111l'nte se moldou ao longo da hiMória? Mas esta é cheia
Em rL'ali d.ic.lc e
.ua t f, taras e de imperfeicôes . Nela, o mal vai de par com o
.
tem ele ma is '>up
cia que fio1 m
rfi cial ·
•
1.. consc1en .
e
- . l tuem . E com u m
•
mentos essenciais y tomados os ele- l it'm, a injustiça com freqüência reina soberan a , a verd ade
.1 rnda instante é obscu recida pelo erro. Como é q ue um
que as . consti
cssas forças só tê acha r <1ue
1n L1111 carater
1uma no quando
· '
humana'·' mas
.
. q ue senu.menr
anonimas · n;1o são outra pessoais e
•
coisa
o_., obje tivados. • k· a bnegação que todas as re ligiões exigem ele seus fiéis?
AS FORMAS éZ�IH/17/
464
IRt;S OA VID1I RDH1H 1 ;o 165
Os seres pcrfeic
. dem rcr 1
os que são os d
.1 unu. n.:•
. cusc
. s nao Pº
rhúad<:. l'ao mcu
macio seu<; rraços
· -
·' rocn.: , :i s
111ic nào poderia ser de outro modo na reali dade .
• •.
. na · ex 1J. rp aúo?
mal sob rodas Nc , e ntanto, embora vejamos clarameme transparecer
•
·
as suas , '
Náo
• · •
.
ão tn 1.rn!a ·
comesta que ela
•
esce1a em relaç 1li d.1de acrnvés das miLologias e das Leologias, é hem
r e i 1dt que aquela só se m a nifesca nesLas a ume m ada ,
r
to religioso, com o scnti lllllll
rclig iôes. Só que
pois, dizem é .
cssc1 sociedad e n
pa
'. ra r eal iza-la que ten dem a
,
. , 1 1 1 1 1 l c 1 1 1 1 1ada, i d ea l i za d a . Sob esse aspccto , a s rcl igiôes
à'.º e um ,uado
•
defin ido e obse empírico i 11 pr i m itivas não diferem das ma is recentes e refi nadas.
era, u m son 110
rvável , e
por exemplo, como os Anmta coloca m na origem
:. uma q u i m
que os home ns 1111
acal � "nta� oc l m suas n,
. m.isé nas,
u ma .s imnl
.
.. . mas que
,. es- ic · 1 era
'
· · que rraduz
\ i\eram na .
reali da cle. E jam.1 1 1 t 11 1pos u ma souel.l.tde mítica cuja organiza1,<1o n:pro
p iraço x.u.1111cnll' a que cxisre ainda hoje ela compreende
es
, m.us
con.�<. iC.:n<.:ia r 1oss
as as n
•
· · . ou
-
' ·
• •
·
raizes dentro de
•
.
" iraço es tem su·L•
•
'
. � mes mas
no ' s vem das
11 o \l�L'i os personagens que a compõem são :;eres ideais,
•
•
• e
�
Ja d� 1 u u ia
ve d euses do
x · e da guerra ,
roul)o e d.a asLuc Respondem que o homem tem u m a faculdade nalll-
da doença e .'
da m one O r ' . . � 1,tl de idealizar, isLo é, de substituir o mundo da realidade
� i�kl� 1 • 11 um mundo diferente ao qual se transporta em pensa-
elevada a idéia cn su� nis 1i:ic> ,
que fa� da por mais
, d o rnªl um l ugar
<tele, foi ohrrga do
.
cede r ao espíri to
· 1og1:1.
a con- 11 wnto. Mas isto é muda r os Lermos do problema, nào é
e uma pc ' ''. <1 esscJ 1c1·,.1
em sua mrto
cr"rs e<to. '" 0ra, mesm o
. ·
Satã " .� olvê- lo nem sequer fazê-l o avanç::ir. Essa idealização
· ·
., d o s istema
do um ser i
p rofrano. O
sen .1�1l'mátie<1 é uma caracLcrísLica essencial das religiões. Ex
·
e um deus , inferi
•
r so )re
pocên c·Jas. da luz
sobre a morte, as 1 , o mal, a
vida
sobre as potê ncias
das tes de fazer disso um falo primeiro, uma virLude misterio-
AS FORMA<; l!Lli.\flf.VfARH n.1 1 1nA f<EIJG/OSA
sa que escapa à ciência, convém esrar seguro de que dt' t.trLfas cotidianas da exi
stência Uma <;Ociec.h-
i ' • .1 s
n:lo dependL dl com.liçoes empmcameme detem1ináv1.:is. se recr iar sem, ao mesmo cem-
1' 1 1 11 1 ()Ode se criar nem
ec 'e de ·1to
1 ' ' i 1.1r o idea l. Essa
•
.
samente a vantagem de dar uma resposta a essa questão, de se com plet aria , urna
socieda
1 1 1 •l1· 1 11c.:ntar pelo qua l a �_ pe
e se r� az
pois o que define o sagrado é que de é acrescentado ao
\ 1 / lnrm ac.Ja . mas
0 ato pelo qua l ela se faz , :
_ _ .
real . Ora, o ideal corresponde à mesma definição: não se Ass im, qua ndo se opo e a soe 1ed. _ 1de ide �l a
l 1P.l1 1 unente. rn
istas que nos arrastana
"" "'
pode, portamo, explicar um sem explicar o outro. Vimos,
'" "'ll 'ic.Je real como dois antagon
se º ·
1 :- - '
ios, o que se faz e o que
sa _o
com efeito, que, se a vida coletiva, quando atinge um cer
1 1 1 1 ,l:ntidos contrár d�
to grau de intensidade, desperta o pens<i mento religioso. s A soc ieda de idea l não está fora_ c�a soc'.e:la
il ..1 1 .1çüe . _ os entr e
li d l1z
é porque determina um estado de efervescência que mu de esta rmo s d 1 \ id1d
a. Lon ge
- 1 os que� .se i·epelem nao l'odemos
• · par te del
l
c
i m p ressões muito particulares que sente, ele atribui às
1 1 1c. 1ite ' às , vezes ela hesita sob Mas
coisas com as quais está mais d i retamente cm concato em sen u.d os ive rgen tes .' . ,. .
' •1\Leber, sente-se puxada
-
_ sao entre . e
�
o ide, \ �
propriedades que elas não cêm, poderes excepcionais e mpem, nao
�cs conflitos, quando irro
virtudes que os objetos da experiência vulg�1r não possuem.
i 11·alidad
m
Assim, a formação de um ideal não constitui um fato sei que pod er inat o c�o incl 1v1d uo,
mm e dever-se a nao
coletiva que � tnd1v1duo
l!ll
_ - apren
irredurívcl, que escapa à ciência; depende de condições antes na escola da ,·ida
orad o� pela .
que a observação pode alcançar; é um produto natural da mila r os idea is elab
dl·u a idealizar. Foi ao assi i de a l.
ou cap az de conceb er º ,
vida social. Para que a sociedade possa tomar consciência
-.oóedade que ele se torn ra d e.: _ _ o,
aça
de si e manter, no grau de intensidade necessário, o senti . stando-o em sua esfe
1 :Ot a ·sociedade que ' arra
e de se a 1 7ar acim a do
,u�cítou lhe a necessic.lad
·
mu ndo
mento que cem de si mesma, é preciso que ela se reúna e
e os . me1o ,. s
u-lh
mesmo tempo, fornece
<l
se conc<.:ntre. Ora, essa concentraçao determina uma exal
'· 1·'1 experiência e' ao r .
e.lc conceber outr
o no vo 101 el a
·
esse m u n
taçào da vida moral que se craduz por um conjunto de o mundo. Pois .
stn11r, lª qu e é e l a que e
• ·•
l e expn-
concepçôes ideais nas quais se exprime a vida nova que que o conslm iu ao :;e. con a f�cu• ld �
acabou de despenar; elas correspondem a esse afluxo de víduo como no grup�.
me. Assim , canto no indi _ e um l espe-
forças psíqu icas que se sobrepõem àquelas de que dispo- de mist erio so. Nao .
de de idealizar nada tem
469
168 AS FOR.lf,IS E.l.E.l/F\T.1RES OA 1 'IDA Rl;VGIV.'iA li\( ' ' '"º
ic. pe l <�
, 1 i1 l'.liv o, -.vm util i<la de di..: nl!n hum a espé<
c i e d� luxo que o homem poderia dispensar, m.ts um.a 11,
Mo stra 1 s pre ci �am enr e que e
cond1ç·ao de sua l!xbrência. Ele nao seria um ser social is 111, 1 . , prazer de se
afirmar. �� pen-
o caso da auvidadi..: rnu al e do
t? é, não seria um homem, se não a tin:ssc ad quirid o. n>m freqüência, -
Claro que, ao se encarnar nos indivíduos, os ideais coleti "" 1110 mitológico .
vos tendem a se individualizar. Cada um os entende a seu to de causas soci�is, co-
modo e imprime neles a sua marca; alguns elementos são Mas, se a religião é um produ . de
e o caráter universalista
pac1dade, aparentemente tào singular, de vi\·er fora do real tkl inidas e individualiwc.las.
comum e.la hu.ma n_idade. .
,,, . -.cr concebida como o bem
.
o
En contramos ao l ong
basta conectá-la com as nmdiçõc.:s sociais das quais de nossa i nvesugaçao
os pn-
tr1sm�>
de .
pende.
111.. 110s germes e.la reli
pol
Não .�e deve, pois, ver nes ta teoria da relig i ã o um
cos mo
gião ind ivid ual e do
; possu 1
1 , Jigioso e vim os
de q ue ma nei ra se formaram que po-
elementos mais ge ra is e.la res
-
.
simples reiuvenescimento do materialismo histórico: seria pos ta
equivocar-se singularmente acerca de nosso pensamento. 1 1 1ns, assim, os
seja.
fun�a�1enta'.s da vi cI_a reli� i '?sa. Se permaneceu até Í1ojc
ável que
eira se fom1ou es
ceoncas que jamais se realizam t' Ora, pudemos mostrar de que man
.
.1 1 1 in cepção
no est, 1 � 0 de asp1raçoes
m li:án. .
ror ser 1 :a · I L:ma filosofia pode muito bem ser e a i .
.ivilizaçao n..1 0 podun
:
l i:Jda no s1Icnuo . da meditação 1mcnor, mas náo uma f(· 1 ribO!;; vizin has e de idêntica <.
rda� «>L's c.:ons t..1ntc s uma s com as ou
1 1r dL estar cm
f �1s csr·1 e lntts de tudo, talor, nda, L'ntusiasmo, cx.iha
11 1.., Circunstâncias de todo tipo lhes
dão essa oponuni
�
·
e :�s1111 que elas nascem, nem assim que se adquirem; é rtdra i n d e pe nde nLe, eles de vi
a m necessariamente tender
. 1 se conf undi r uns com
s. É prová vel, a l iás, que
n�csmo duvidoso a
. os outro
que possam conserv r-s e ncssas condi ebidos em asscmbléias
1cnh am sido prim itivam ente conc
çoes. Na verdade, o hom�1 que tem uma verdadeira fé
1ntertriba is. Pois eles são, antes de rudo, deuses da inicia
� ão e, nas cerim ônia
se nte a nccessidade i nvencível de espalhá-la; para isso.
de inici ação , tribos diferences en
sai. d: seu .1solamento, aproxima-se dos outros, busca con s
vence-los,_ e é o a rdor das convicções que suscita quL
e
<'Ontram-c;c gera l ment e rep res n ta das
. Portanto, se seres
qual quer socie dade gcografi
vem reconfortar a sua. Ela rapidament e se estiolaria se ;.agrados independentes de
ada se form aram , não é porq ue tenham
l'amcnte determin
uma origem extra-soei.ti . É porque,
permanecesse sozinha. acim a dess es grupa
!
Com º un v ersalismo religioso acontece o mesmo
em já outro s cujos cont ornos são
.
que com o 1nd1v1dualismo. . Longe de ser um atributo ex mentos geográficos, exist
. s: não poss uem fron teira s prec isas, mas
mais inde ciso
clusivo de algumas grandes religiões, vimos que ele está,
472 AS FONMAS /!'/Eilll!NTA NF\'
/JA l'l/)A NHI !GIOS. I
r 1 1W.LUSA<> 473
compn.: ndem ribo
das. J\ vrda sonal mu , ulos. n .1o diferem em nalllreza das cerim ônias propria-
� � s mais ou menos viz
inhas e aparenta
ito particular que da
ponamo, a se espalh r resulta, tcndL,
ar numa área de ext 111l·me reltg1osJs. Que diferen<,;a essencial há entre un1<1 Js
te� d fi idos. De ma ensão sem lim i
mbléia de cristãos que celebram as principais daws da
, id.t de Cristo, ou de judeus que festejam a sa
� � neira mu ito nat ura 1
rnrtologrcos que cor
respondem a ela têm
l, os p<::rsonagens
0 mesmo cará
��
a do E?ilo
ter; sua esfe de infl
1:.tda ; eles pairam
. , 11 ..ipromulgação do decálogo, e uma reu111ao de c1 a �
d.ios qu<.! comemoram a instituição de u � novo_ cod�go
� uência não é del irni
acr. ma das trib os par _
ticu l a res e de seu
gmndes deuses inte esp aço . São os
?
1110r..i l ou algum grande acontecimento da �1 a nacional.
º':1· não há nada nessa situa(ã
rnacionais.
Se, hoje, talvez tenhamos alguma dificuldade �a �a
o que seja específico
das sociedades austral l • 1m:eber em que poderào consistir essas festas e ccn
� o-
11 1.., no futuro, é qu<.! atr..iv<.!ssamos uma fase de tmns1<;ao
ianas. áo há povo
nao estep envolvido nem Estado qul
, mais ou nK
l de meJiocndade mornl.
numa outra sociedade
no:. ilim itada, que abr A:. grn.nd<.!s coisas do passado,
Jus Lom os qua is o JUt Lntusiasmi.I\ ..im nossos pais. nJo mais dcspcrt�1m
ange todos os povos
rod os os Esr 1
em contatc ; não há
�
primeiro está d ireta
vida nacional que não
ou ind iretam ente
seja dominada
,.111 nós 0 mesmo ardor, seja por terem se transformado
. . mos uc es
t 1. . tu da r e uma daqu
el:1s
1 .
rd1).;1ao - que, a ab
10. istoé, de conservar sua lembrança por meio de fest.1�
, 11o1os empr egacos . -·o
s,1 os m· u
' s desco ncer-
t 1
arem Ue ser
-
l t • 1e ro eneos.
sem deix
• , t\Ue ·se mu 1 t . p \"ca1
n
'
, frag111cntam
nos quais se inspirava. Se a inslituicào logo periclitou. a
l' g uírem parecem,
e c.11· e-
d 'ini
1 · n
n
q ue a fé revo l u cio ári a durou pouco, é q ue as decepçÕ L's """ que se
sem se
.
i ra f
vi· s a 11e
ntlo ntei me nt
t , te
· r ncer a um m u
. ,
.
e o desâ ni mo rapidamente sucederam a o primeiro mo . . que
" llll ' daque1,
1 1111l'1 ra
1eis
a dizer
1 mos; chegou-·se ·né
, '
•
e em ciue vive .
•
t ment
.
•
mento de entusiasmo. Mas, embora a obra tenha abona
1
as
1
to e
1 1 l nsam
a l
sido 1 1 1 c>rava
e.lo, ela nos permite conce ber o que poderia ter ll' e n to ue ea 1oro u · on
1,,
' razão e
a e
o ut as cone.lições; e tudo faz pen sa
< -
entre a
cm
há
u m
r .
c n e1 d·,1c1e ti •
nto,
deve ria o r
· pona
ma is tarde ela será retomada. N�lo s b es
evangelhos que
,
.
se I• ,1 mais
hc rog
·
·
elas
te
·
a
1t1�1ona em qu e• ,''.
-
, O ra ' contrariamente as
. t�nci
jam imonais e n ão há razão pari :icr<.:diur quL ,1 h u m.m i· .
e.
c.lade !-i<.:Ja do avr ante incapaz c.le conceber no vos. Quanto c om evK e ' foi hem ess .
às quais se
.
" , ll . a-
se
manas de precisão e que, aliás, não chega a :;er e sse ncial . . 1 as e. • co 11 \ r
1 p e ame nte
su perfi chl e
i re rar o v e u
ti
Mas as festas os ritos, o culto, enfim, não são toda a
. •,
,
·
. . - a · s apro
LO m i
ao
. m
1 1 1 1 1 a obse rv,1< � . que se
l { • til que a 11n ag.1n.
. 'I Ç'' toI ' og1· ca as '' cobriu para
dv estaI)C1C(er
de dass
• es internas ·.
Vu.
·'
. ,
xam de ser muito diferen1es. Um está voltado para a ação,
�te essenciais
·
, qu e as nocôes
ele solicita ' · -l '· ro que
nos
1 g·1os;1 C 1
sistematizá- las. '·
que e regula; o outro, para o pensamento, q ue
- a
-
l Is · • de
específicos, quando se crê que ele tem por funç-.lo cxpri preconceitos e to--
mir, atra vés ue métodos próp ios, todo um asp cto e.lo real 1ura mant er ' �·
M· s sses ape
s ·1 ixões os
r e a �1 c s anc
. ·,
�a �-, � rfeiçoam en s to
das as i níl u cnc1as sub1et tvas f: i_ .ª
.
àO .S'.IO Sll 1C1e n
la e.la
· para di fere nciá-
. ·
que escapa ao conhecimento vulgar e também à ciência,
mero do1o g e os °' . b s per se guem o mesmo
tes
ra lme nte t
1. · -
·
nat u
esse
há u m a recusa cm admitir que a religião
1e 1g1ao Sc>h . c
asp e to, a m a
same nto c1en tt'
possa vir a pe rder seu papel especulativo. Mas a análise
. f ico é tã o-. ó umas form. ·1
v
• ·
sivamente dian
1 11 1,1dcra d a ta 1 po �· s mesmo expnmmdo a vida não a
•
ce do primeiro, à me
did a que esce se com
desempenhar a tare e ma is apco ;i • •
•
fa.
-
1 1 .1, l 1 a pode • perfeitamente procurar explicar a fé, mas,
nha , lradidil mu nd
ime nto dela a u ma
dis cip lina estra � _. � b
um ho min um dispw 1 1 , 1 1 1 conhece a 51 i:icsma. Nao a e d e u e el a é feita ,
�_ L �
ationi Foi assim
q ua is necessidades
que as ciências da .
nat ureza puderam
- •A •
se esta belecer e fa rcspon e on g de poder d itar
1 11·1 a c1encia, e la P rópria é ob1eto • i E como
iw111 a
zer rec onh ece r sua . de c1encia.
auc ori dad e sem dif ·A
icu lda des mu ito
grandes. Mas ele não
podia abrir má o tão
fac ilm v1cc do p 11 1 out ro lado, forn c o rea l a ue se pl 1'ca a reflexão oen-
J . '
0b'eto
J
mu ndo das almas. - . _ � a
pois é sobre as alm 11111 1, nao existe
· propno sob re o qual incida a es-
as que o deus dos
pn ulaçao re I'1giosa, é evidente que esta na
crisl.àos aspira ant
es de rud o a rei nar
. Eis por que , por
- . .
-0 poderia de-
.
mu ito tempo, a idé
ia de submeter a vid
a psíq uica à ciên
,
1 mpenJ1ar no futuro o mesmo papel que no passado.
t
, o1)i igac. ' ·1 ·se 1
tar cie ntificam ent e os q ue..: se Lenta tra · •
.
fenômenos religiosos
ora . IL'nLe e " ' '
· 1) 01a1. n a5 d fe ent . c1cnc1as, a
.
't r cs .A •
· A c·as socia is
e m . 1·1
p<1rllr do momento m e 1 uc elas ex is em c1en
a despeito das opo
sições, as ten tati vas
is Mas, 11
.
t : . 1 . .'
, · m pnme1 ro 1ugar ra
se rep etem e essa
� que a 1e
persistência mesma . .
permite prever que .
1 1. 1 sociedade; p . ·ico 1og ·a 1·5 que a o ee.Jade �
e- 1e J'gi
1 ·osa tem suas origens
.� uma sínte-
ra acabaní por ceder essa últi ma barrei-
.
•
comum fazer-se um
fl ito da ciê nci a e da
religião. É 1.1 que < hornem
� .
a sacie
. dade sao '
- funça -o do un iverso e
a idéia inexata a re:; _
,,11 Jrt1fic1,dmente � r><>c.J cm ser abstraídos. Contudo. por
peito. Diz-se que
lll<llS rmportan�es que seiam os empres
•
a ciência nega a reli . . .
gião em princípio.
Mas a religião exis · os tomado:-, das um
' iC:ncias const1tu1das, e 1es não poderiam ser suficientes,
-
te, é um sistema de -
fatos dados; em um
realidade. Como pod a palavra, é uma
eria a ciê nci a negar .
uma rea lidade? pois a fé é, antes de tudo, um rmpulso a agir e a ciência,
nA 1 71),i RELtr;u J.
178
AS FO!ll!A.�
/ I \.1()
F!h
;llFN/'AR!��·
179
permaneci:' â di.�1.1n
por mais longe que
da d;1 ·1çào \ ciênc
se la nce, semprt'
i a l fragmenia na
mcomrleta, ;!\ ;tfl\ III
apen as lenta mente
e jama is est<í acaba
Teori as dest in a fll;1s. se as no{·ocs fu n c.J-
não pode esperar. d:1; a vic.h1 , porém
-
das a fazer vi ver,
zer agir, são obrig a 1�1
emais da ciência são de
adas, pona nto, a
.�e adia ntar <1 1 t 1 1 1 rel igiosa , como ª rehgiao . �i:i pôdc engenclrú-las? Não
que reiaçoe ,,ntxJc haver enLre
a compl etá-la pre ciênc ia e .
maturamente. Elas · ·
d ist i n w m en te , faze
mo as sentimos rn
sem concebê-las
çar, rara a lém do q111•0,t.10 poc.le ·ser coloca " d a nos s·eguintcs Lermos que• i.e-
rensa menr o a v a n m o
perm ite afirm ar.
,
que a cié:•n cia
' l 1 1 1 1 mel h or a m
e.l LO.
Assim . as re lig iões, no�
que - q ue
e
.
a d a a s. ua c1·nculdade:
i 0
1 a v1c1a sona l uma fon ce La
e •-ortante de vi
mesmo .is mais racic
• k 1tzer
•
nai:; e laicizadas. .
pode rao ja nu 1s \l
mio podem e n :1 o ·
- o im n
1
a precleMinava a esse ra-
pri\·ar de uma espéc
ie muito r a rti c u l 1 l• 11\1ca? !\ada. aparentemcnle,
_ a ,,.c·1tbfazer a neLes:,iJa
la r d e e�rt'cu lac. ,
l
c e e.
do de re ligiosas,
�
·
. -
' . . er r0 l u r é inaclm1ss1-
' d que o pensamemo
·
. 1og1co
- ' se caracterize exclusivamen-
...... ... --�---- ... ... - ... , . ....,
de n:ligijo, os
'>ao md1v1duos
distincos uns dos deuses 11 1 materna expnme, po1s . . cada .P alavra traduz um con-
outros; no enta nto,
são con cebidos,
não percebidos eles , 1 •1to. Ora, .ª 1,mgu.i e '• fixa ' modif1ca-se lentameme e, por
. Cada povo rcpn.: .
de uma cerca senta 1 so ' o mesmo .1
•
sua fisionomi a ,
dos traços distin
seu temperamento civos de 1 1 sponde. CI aro c1 ue ele pode 10ovar mas suas inovações
físico e moral : essas
noções são verda
dl'i ros con ceito s . , . · e1e violência praticada contra
•
çôes ou im<igens -
·A
las prop ried a des cstrit nmen te
•
pe 1 k· n
que enu meramos s en de o1. an .s o e ele minha pcr-
de me u
1' g 1 rn
. ,0naliclade e nao P�de ser separad a de le s Tu do o q u e
<i eguir.
As representaçõe
s sensíveis cnco
-
dem-se urnas às o m
l sso fazer é a se colo car diante do
con v 1 da 1 o u tre m ·
outras como as .
um rio e, mesmo ondas de mesmo o1)jeto que , ·u e a se a xu a sua ação . Ao contrá-
1
enquanto dura m ,
,
os seguros d e reen
•
cl
ccpçào tal com o comrar uma per
a experimencamo
s uma prim eira
representaçao essencialmente impe ss . al' é9 através dele �
pois, se a coisa
perce bida não mudo vez, <(UC as imchgenc1as
. hu 1nanas se comurucam .
mos m<iis os mes u, nós é que não
so
. •
mos. O conceito, ao .
A nature za do conccao, .
ass111; definido revela suas
contrário, está com .
o ongens. Se ele é comum a todos, e que e , obra da comu-
AS FOJWAS ELEHE.\TRfi
A l DA l'TDA RELIGIO!.A f tJ,\CLL"SÀO 183
�uc ela traduz, é o produto de uma elabor c u lares, é que as características singulares e variáveis dos
O q�e ela exprui1c e a maneira como a socied .1 rL's só raramente interessam à sociedade;
ação colétiva.
_ em razão mes-
ade em seu
ente só pode ser afetada
pdas propriedades gerais e pem1anentes desses seres. As-
coniunto representa os objetos da experiência. 1110 de sua cx'tensão, ela praticam
As noções
�11
tem po q u e apreender
seus demencos essencia me lho r
is, siLuá-la num conjum mundo ocidental, foi com os grandes pensadores d a
o, pois ca
da civi liza ção tem seu
sisL ema org aniz ado de �
t ; récia que ela tomou, pela primc r� vez, um�a cl ar� con� �
nl:ncia ele si mesma e das consequenc1as que tmph�a,
que a caracLeriza Diante .
. desse sistema de noções
conceitos
, o esp í
.
�
descoberta provocou um marav ilha mento, qu� ) latao u a -
'
riLo indi vidu al csLá na
mesma siLu ação que o
voüç ele Pla ' f' .
�
duziu numa lingu agem magrn ica. Mas se foi somen te
tão diante do m undo
f.
elas idéias. Ele se esforça
por assim i
nessa época que a idéia se exprimiu em formulas 1l osof�
lá-la s, pois tem necess ', , .
idade delas para poder
tratar com
c.1s, el a necessariamente preexistia n<:' estado de se�t1-
seus semelhantes; mas
a assimilação é sempre
imperfeita .
bus�aram
Cada um de nós as vê _
a seu mo do. Há a lgum mento obscuro. Esse sentimento, os ftlosofos
·I uc1··c1a--1o, não o criaram. Para que pudessem pensa-lo e
as que nos
que permanecem fora
escapam complecamence,
círculo de visao; out r
.malisá-lo, era preciso que ele lhes fosse dado, e a qucs-
t
de nosso
ns, das qua is só perceb
l.10 e saber <lc onde 'vinha, isto é, �m _qu�l :�pcnen c1a es
. ,
aspectos. J\.f oita s, incl usiv emos alguns ..
e, sao desnaturadas qua
pensamos, pois, sendo ndo as _ _
colelivas por natureza lava fundado. Pois bem, na expenencia coleuva. Foi sob L'•
, não
forma de pensamento coletivo que o pensamemo Lmp:s
se ind ivid uali zar sem pod em
ser retocadas, modifica
das e, conse
soal pe l a primeira vez se revelou à h u ma n i lacle, e n
qlie nte mente , faiscadas
nos en tend er; daí, mui
. Daí termos tant a c l ificulcl a cle em � ��
tas vezes até, mentirm
os, sem q u e vemos que outra ma neira pocl � n_ � ter ocº'.. ' .'�º essa
ele _ ie
velação. Pelo simples fato de existir a soc1cd.ide, �x1st
re r, uns aos ou1 ros: é .
que empregamos tod . � �
também fora das sensações e elas mugens md1v1dua1s, �o
os as mesmas
pala vras sem lhes darmo
s todos o mesmo scm
ido.
Pode-se agor.a emreve
r qual o papel da socieda ;
do um istema ele representações que gozam ele propne-
....
llad"S.. maravilhosas. Graças a elas, os homens se compreen-
gênese cio pensamemo de na
lógico. Este só é possíve
do mom emo em que , l a par tir
acim a das represemaç
ões fugazes <lcm as inteligências se interpenetram. Elas possuem uma
.
devidas à experiência
ber todo um mu ndo ele
sensh·e l, o homem che
ga a conce
�
t•sp cie de força, de ascendência moral, em vlflude ?ª
ideais estáveis, pomo
com um das qu ai se impõem aos espíritos particulares. Por consegum
imc ligências. Pensar log
icamcme, com efei to, te, O 1lld"!VI'duo se da' conta ao menos obscuramente, ele
é sempre,
· • '
idade , esta
aetemilalis. Impessoal
' · , . ele percebe lodo um remo mteJectL1al do qual 1")a1-
bi lida de: são essas as dua
.
s características ela verd
· ·
1. <.I e1as,
a vid a lógica sup õe c ade. Ora,
v i clememc n te que o hom ticipa, mas que o excede. E , uma pnme1ra
. . · - do rei-
·mlu1çao
no ela verdade. Ce1tamente, a paru : do mom�nlo em que
a o men os con fusa men em saib a,
te, que h á uma ver dad
das aparências sensíve e, d istima
is. Mas como pôde ele tomou consciência dessa mais alta mtelecl� 1ahdade, ele se
chegar a essa
concepção? Argumema-
ela deve<>se ter sé apr
se, na maioria elas vez empenhou em investigar sua natureza; quis saber de �ue
es, como se
esentado espontaneame essas representações eminentes tiravam suas prerrogat.tvas
sim que abr iu os olhos nte a ele as
para o mun do. No enta
nto, não há e na medida em que acreditou ter descoberto as causas,
nada na experiência ime
�
r solveu ele próprio aplicar essas caus� s p�ra obter, P?r
�
diata capaz de sugeri-l
a; tud o in
suas próprias forças, <'S efeitos que elas imphc� m; ou S�J ,
clus ive a contradiz. Por
isso, a cria nça e o anim
suspeitam dela . A história al sequer
mostra, a l iás, que essa concedeu-se o direito ele fazer conceitos. Assim, a facu -
concep-
dade de conceber se individualizou. Mas, para comp reen-
AS FO!lll I S FILlfl
\TARf-
S IJA \7/)11
486
RE/./(,'Jú.'>,J cri.\·CloAO 487
der bem a.s orige
i das " . cJ . t cr .s.o rela nona
ns da função é p . .
cond ições soua s r, , - la ü s
..,uar da de s mholos imperfeitos. mas os próprios s1mbolos
s
, 1cntíhcos nunca sao mais q u e aproxi mad os. É
. epe nc.11:
' os. o concerto
.
.
Obietar-se-á q u e prcLis<1
'· 1 mente esse princípio que está na base do méloclo que se
mostram
um de se u ·s a s ,, ·
ap en as por
.
1 unç·ào asseg urar
n e ctos que e e não .tem
_u_n rca mc ntc po r
· •
, · raza
eiro isto é' o1))Clrv • . o, e que sua
· • · .
. .. . - . • de sua objcr
i- tlos de acordo com toe.las as regras da ciência, estão longe
•
�: qu a n
as
Lo possível , que a dc�fLra da men1e
os . . de derivar sua auto ridade unicamente c.le seu valor objcti
. lu sc cre ia nc
gamos qu e a evo <.:n<11 11 com ungar.
· �·ào (.Onci.:nual
Não nc vo. Nao basta que seiam verdadeiros para que
.
· · · , ..
ocoir.i i.:111 nane nesse
(crto que J n m r t
sen tidcJ O con ) , li.:s. ::ie nàu esmer<:m cm hannoma com as outras cren�·as,
rvame nte e consi
·
1
verda deiro por .ser derado
•
convém nao perd � <; , hoje é suficiente, cm geral, que eles tragam o selo ela ciên
maioria dos conce
er de vis ta
1'to·s qL1e ut1�1·1z ·1
e , mes mo :hoie, a gran de
mos-_ n··
cia para obterem uma espécie de crédito privilegia<lo, é
mente constituído
experiC:nc:ia co mu
s; são extr. , 1
m, sem q
��e �� ·•
ao sao
dª 1 m�uag(.'111, isco
- metodica-
é, da
porque temos fé na ciência. Mas essa fé não d ifere essen
cialmente ela fé religiosa. O valor que arrihuímos à ciência
e�ha m srdo subm
ne nh um a crític<1 _ etido s a depende, em suma, da icléia que temos colet ivamente de
pre lim ina r Os c
ados são � ,
elaborados c critic
ncc'._ tos c1cnlifica
:
c mcme sua natureza e de seu p<ipel na vicia; vale dizcr que ela
exprime u m estado c.le opinião �
Í que tudo na vida social,
Além disso, entre
·
ei;tcs e a q L��n:
u�1'. 1 PL'quena mino
·
ria.
·
que lrram roda a
r, t 0 d e ser 1
e 11 co 1etr vos, há
Loridade do .srm ,n. le sua au- inclusive a ciência, repousa na opiniao. Claro que se pode
·
s 1<1
uma representar" Lomar a opinião como objeto de estudo e del a fazer ciên
fercn ças de grau .
letiva ' 1-.'1 ap rcsenta
garantias de ol
.
''
( co
·
0
. 1et1· va, por ser-
tão-só di-
c:o- cia; é nisso principalmente que consiste a sociologia. Mas
JJellv
, . ·c1·
foi caJ) <12 ' de. se gcne
r '. ide, pors
.
. . nao é
• .
com a na tureza c
bs ,co is'a , na� l � err a podi do adqu
deste modo, pode fazê-la mudar; mas a ciência continua a
,
domínio am plo e irir um depene.ler da opinião no momento em que parece lhe di
c1o, o quc faz a c
prolonga do SO l)re
os esp rrrto .'. · .
' . s; No fun-
tar a lei, pois, como mostramos, é da opinião que da tira
onfia nça q uc os c:o
piram é que eles _nc <.:itos c:ientrficos ins- a forç<i necessária para agir sobre a opiniâo1i.
podem <;er ��t�di
. Dizer que os conceitos exprimem a maneira como a
Ora, u m a repres �a�ente contr olado
ent açã o c / �-t'� s.
submetida a um com
mens que aderem
rore m e �' amcn
a ela a ',e n-' r1cam
J esra neces saria
te repetido: os ho
mente
-
sociedade representa as coisas é dizer também que o pen
samento conceituai é conte mporâneo da humanidade. Rc
.
pn a. Ela não pode
ria' ponanto' ser
por expe ne · A nci•a pró- cusamo-nos, porta nto, ver nele o produ to de uma cultu
. ,1
qua da a seu objet .. . completamente made- ra mais ou menos tardia. Um homem que não pensasse
o. Podera, exp1
rmr-lo, certam ente,
com a por conceitos não seria um homem, pois não seri a um ser
488 AS FO/ll/A.\ EIJl/l;,RES
,\7A IJA l //).I REUG!OS.� t P\C/.l \.ÀO 189
1.tl � e com . _
uma idei
�_ e foi identificado com �1
idéia ge- ,. sua impessoalidade são ta isque com freq üência foram
a geral clar ame nte deli mita
cu n_scn1a ·• .
·
da Ja cm nossa introduçào 1 ca dso que tenham se formado sobre uma realidade de igual
� e que ficou como que
_
tendida em toda a scqüên sub en .unplitude.
cia desta obra. Vimos que
menos algu mas categorias pelo Cercamente, as relações que elas exprimem existem.
sâo coisas sociais. Trata-se
de de maneira implícita, nas consciências individuais. O indi
no tempo e possui, como dissemos, um certo
saber de onde lhes vem esse
cará ter. ' íduo vive
Certamente, como elas p
róp r ias são conceitos com sentido daorientação tempora l . Está situado num ponto
preende-se sem dificulda
de que sejam um produto
a co- d determinado cio espaço e foi possível afirmar, com boas
7;IRES D.-1 1 1/)A RL/J(d
·i90
<J.\A
IS FOR.11..IS l:l.E.llE.\
1 1 1\0ISAO '!91
razôes, que 1od�1s
as suas sen sações t<'.:m algo de esp . -
Possui t•m Sl'ncim
Lações sim ilares se
ento c.la.s M.:melhan<,.
atraem, se aprox ima
as; nd , as repres
c
acial i"
en
t
11 1
ti
'
que conccm to a
��
.to em ,rc la ç > a
1�11!n 1�:��odcri'l
as ex�e
ser o l'<ipa�·o to-
parti�ulares e no qual ,
m, e a nova reprl' �
semação, fonnac.
la por essa aprox 1 1 , 111 c.l.isso,
. • .t. das. em relação a pontos
� tas cslao coordcn
imação, wm já alg
e
, i. rl' .tere A ncia
genérico Temos o dl·
. 1. n1pcssoa1s
· ·
. igualmente a sen .
com u ns. a todos os indivíduos.
-
sa�·ao de uma cen _
m<K1 o,
'.
gularidade na ord a re
· ·
• h ' d e esper,1
Seria preciso ter ão.
pri me iram cnc e a
idé ia de grupo, que
_
.
- oder·1·1
ser confundido com a
1 em umve . • 1 de sucessão que se
simples espetácul o . ' rsa
· •
0 0
Como u rnver
na base das classif
caçôes que aprese . i
' 1.io
1.
a. cm
, e. 1
que _ f)Cnsac. · o e con 10 só é pensado totalmeme
. ·
cs É uma
lei.
sociedade. Esta só é
p1 ntos e de �odos os aconte cimentos pa n icular . incap a7. de tradu 7.ir em
t i . i s vezes seria
lei de valor 1 1 n pcss oa l . Mostramos que é Acontece de outro modo com a
s qu� a co m p.õcm �ão
exat a mente as
sim que ela parcc<.: Ler se originado possível se os indivíduos e as coisa
.
1 vpa rridos
.
Uma ou t ra razão expl ica por que os elemen entre d i fere n t es g r u p o s, ou seia , class1 f1ca dos� e
tos cons
'l' esses própri os grupos são clas
. .
.
.
ll tu ll �os das categorias tiveram de ser tornados da vida so sif i ca dos uns em rela �ao
cial: e que as relações que elas exprimem <;ó is outros. A socie dade supô e, p ortan to, um a orga n iza
nada mais é que uma classi fica
podiam tor
nar-M� c:o�.-.ucnces na e por meio da soc iedade � 10 consciente de si que
. Se, num
\ 10. Essa organização da sociedade
comunica-se naniral
�e rco sen r ido, das são imanemes ao indivíduo, este não
tmha razao _ alguma nem meio algum de apreen o que Lia ocup a. Para evita r q �alquer con
dê-las de ml'nte ao espaç .
_ particular se1a destmad�
pensa- las, de explicitá-las e de erigi-las em noções
tas. Para orientar-se pessoalmente na extens
�
di tin llito, é preciso que a cada grupo
o; em outros termos, e
ão, para sa be r 11ma porç-Jo determinada de espaç
AS FORMAS ElE.llENTARES DA �llJA RHLIGIO.IA
'-l95
494
l'nis este só
Assim, longe de haver entre a ciência, de um lado a rupam enlo do� indiví
indiv1duos, e os ind1v1d uos,
a é possív el atravé s do �
n_:ioral e a rel igiã o, do outro, a espéci e de antinom . _
�
ia q c i l u os; portanto, ele supõe os
t.ido, e 0 da
.
este sep um traço comum a todas as formas su pe ri ores do de ouuo, a distância é Lào
parece só ter p od id o. s: so
razão e da moral ,
.
pensamento e da ação. Só que o kantism o não ex
p l ica de , () nsiderável, que o segu ndo
onde vem a espécie de contradiçã o que o homem Mas atnbtu r a so
� de nos�� · 1131 -
l irL'f)Or ao pri meiro por u m ato criado r.
assim realizar . Por q ue é ele constrangido a se
se vê
violenta r ' iL· dadc esse parei preponderante na gênes
i u n:za não é negar essa criaçã o, po
para surera r sua natureza de indivíduo e, inversa i s a socied ade d1spoe
mente
por que a lei impessoal é obr igada a descer e
a se enca r� prl'cisamente de uma potên cia c :i a� ora que ne � hum ser
nar em ind ivíduos? Acaso dirão que há dois mundo o, com ef<:•t� ,� a me-
1en c1� e
s anta , >hserv ável pode iguala r . To d a cnaça
11, >:-. que seja uma ope ração mística
gôn icos dos quais p arti ci pam os igualmence o mundo que escape a
Ora.
c
p
da
matéria e dos sentido s. de um lado. o mu do � ela razão 111ce l igência , é o r du to de uma s ín tese . se as sin
matéria especificidade; ou
relacion{i-fas a al gum a rea lidade supra-experimental pos
-
t<xlo
diz.er que o luxo e:.lt:)J tie
apresenta inconvenientes.
forcas atua n tes, uma nova maneira de exp li car o homem
1,.1 111ina r <;ua signilka(ào, não
J I�'>< > certamen
-· te n<10 quer
cm toda
· ·
se torna rossívcl. Para conservar-lhe seus acnbutos distin m.�, que
.es<l� '.
s. Vere mos, ao con�_ra
ças e práticas que nao visam
i 11�me do:-. cultos primitivo
fin::. . . " -
tivos, não é mais necess{irio colocá-los fora da experiên l
cia. Pe lo menos, anLes de ch egar a esse extremo, convém IV , AI . . . ,
wl 1giào se encontram cren
. § 2) Mas esse luxo e m L S-
1.11111.:nte uulitario:-. ( 1." ro 1 1 1• cap
saber se aq u i lo que, no indivíduo, ul trapassa o ind ivíduo
· ·
1 ><:nsá
.
•
nas oum1s, e
ia:s, t le
.
essenaa mesm.1
A
·-
/'11 1111ée sociologiqueJ _'. �., cain
'i i'i o Entre a c1cn-
11111 . 1 n·e
ps d a n s la religion
,
dn si· mais escru puI os·a mente a e1e do que a rel g
· • •
.
"
1 1.1 1· a rc1•1g1ao, n esse
(Paris, Alca n )
• outros aspectos, há rão-
' ·
.. como em mu itos
. ..
nHxlo ioda a d iferenç
a que exiMe en trt• , d1ferenç:is ele grau; mas, em1)().r:a não devamos exagera- • 1 as, e
6. Percebe-:.e de.\te
o c:omrk-xo de .sensaçc>e
.
serve p:ir:.1 nos orie u1 1ponamc assma 1a • -1•
•
·
s e de imagens que
• .
.
sigmficauv,1s. .
r.ir na du rar;io e a n Jois
Jª havia sK , ,0 1rnulalh' ' pc.:los fundadores
são
.. 1li'pótcse
categoria de tempo.
As rrimeiras silo o 1 4 . 1-:ssa ''"'.! ,. 1o r
e vá l idas par :1 o ind 1 1 1'<l /ke11J.1yc� olo11ic . I· . . 1a
rno ele ex periências resu
duo <Jlll' as rrocfuz iu ; �� ��;,; � ��
·:
ind ivid uai s -'<>m ent
·
rticultrmcnll'
!\o C<>ntr.írio, O lJlle
1.
n t l a clo ..n it• Frkl·nnr �is'
111d1cac.
111 " c:uno M
ivi '
l �\ ��;(:: ·
.
de tem po é u m tempo C'\j>ríml' a C.ategon ll�o dt:
a
assim é poss ível diz
com um ao gn1 po,
é o tempo social, st· i. h re unter d e m V ol in
ccmpo é da própria
.. k psy�
' <'tlsch f VõU•e1psvcholof{1e, V l l pp . !66 ss. Cf. u ma nota de
. holo ischen Gesichtspunkte
F
•
er. A categoria de
social. Por isso, é
verdade ira in.�c irui çào
. '.,1·1 . INTI IAL •sob re o mesmo assunto, tbid" pp. 1 78 ss.
um a ,
la s
l , vist o que :i s difere
mesmas, são de fa
r o i nd i fe rentes . Aliá
na natureza das coi sas.
e na,-0 dcfin::imos 0 apriorismo
ntes regiões, por e
s, as div isôes do csp q
. u
1 6 . ·r·alvcz c:1 w.c surpresa
iedades. É a prova � � 1·
mu dam c:om as soc a<;o '
pela hip<'Jtese das q u a l i dadcs inat s · · M·1s em rca ic.l ·•1de' �"ss
l'oncepçao 1 e e
· . ·1
de q ue n:ío e.:.rao fun
·
'
.
das exclusivameme na da
l s n�,--
9. Ver DURKHEIM e
natureza congc'.:nita do n1• nha na doutnn,1 a pe�� um papel secundú-
. I 'isc� 1 , re resenta r a irredutibihda
•
É
,
homem.
ve1. de das.�ifkmio
u ma manem1 s1111!)
i
. de
n", in A n née socio/. , VI, dos con heci men tos 1do s empíricos. Dizer cios
MAUSS, "De quelqu rio.
cs formes primiti
pp . 47 ss.
10. lbid. pp. 34 ss. 1,
racionais ',10,e s
'
1 1 . "Zu ri1 Cr ea t i on My
primeiros que sao 111ªto.
s é apcna� uma � ' positiva
o rm·1 de dizer
,
• · ·
thÇ
, in o/ tbe B11rea11 o/
Amer Clhnolugy. pp 367
12. Ver lIERTZ, "la 17 Pelo meno... . na med'd•
. ss. mente c:oncebic.la.
a in cimice. Étude
préeminencc de la m 1 '1 en1 que h{I reprc.-.cntaçôes i nd i -
fe1ça c•ip'•
t/. dc crescer
•li•' que unita
-0
uma pe r
a natureza com
d tei�po
18. Comem nao entender, aliás. C.'>sa irrcduuhihdadc
\,;10 qucrcmo;, d11.cr qut' nao hap nada nas rt: tego
num
na base da ca ri a e v
v ida col<.:tt a ,
1111111tadamcntc
)',. Por e em
.�l·ntido absol uto. lo, o que est , á
. . - 1 , 1 e.
da n· t1a s.oei.
p
md t\ K u.1
pn.:.�cntalcX::. empiric-.u. que anuncie as reprc.�entaç(x:s racionais. -- x i um a r tmo d
nada no indivíduo que possa ser ' i...to como o • v a
· ·11·• mas se 11ª, -
s 0e, que , , .
rilmo
anúncio da ,·ida so cia l . Se a experiência fosse l·omp lctamc nll' O ri m
, id
iro
um outf<) n-1
l '' "kmos
ou que n.lo haja
d o unive so.
1 1
certo ha e apcn.1s
e
estar
· Do mesmo mod . v -
p e
estranha a tudo o q ue é racio nal , a razào n:10 poderi a ap l ic:ar·Sl'
na r
e <.:VI·t1 te q e
1 1 , man <.:ira m: s i gcni l ,
o 1 1u-
1 o
de grup .
a ela; do mesmo modo, se a natureza psíqui ca do indivíduo fos
os <> ulros
111.11.., • · 1c e u
nt ado en u
-. · ro formou-se s
·
. -ol)í e a
a ais, po de- s .
e
. , <> m smo tempo
" u ms que grupos natur
�
1 1111.:1n os gen<.:rc>s
nwi-..
�· s . uir uma origem
1i ,gos e dikre
impos.o;ível atrib
·· ci cs.
ar<.:
. ...
ui cspm ms p :cc o, e
Se
to em nossa conrlus:lo. Tudo o que queremos estal>clen:r aqui
e que, entre e:;.-;e;, gcrmes indistintos ck· r:1zoú> l' ;1 r1zào propn.1 , i1 rcurar-lh
es. to<.lo valor
·1 m 1 s o espec ulauv
· ··
e
n
11 � ' · ' :
.
r
" cntc
.-
.
· ·s
frequ
. cl·,1 t:·. li· d·a muno
0 e se c:onc1ui
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d es que
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sen O
o
1 t so c i qu" e 11 rc t t
1 " . � i
,1 , . , pr tne m
atrihu1os car:1cterí:-.ticos d:1 vida, uma vez constitL11da.
19. Obs<.:rw>u-se com frcqüência que os dbtúrhios so ciais ti �) _rnnc:_1p10.
nada; expn
que vale
' .1lc senã o
i
orias a instru men-
nham por <.:feito mu l tip lirn r os d ist(1 rb ios mentais. É ma is urna 1' arar as categ
24 . Por isso e lcg1 u mo co 1 um u
o
� ial � c
prma de que a disciplina lógic-a é um asp<.:cto particular da disci por e�
l mat<.:r
tegoria e
::ido é c a ta
pi
ocs t
nt<!,
o s o instrumc
p i � cnto, de ca
- .
" '"·
. le strum
pl ina social. A primeim se rela xa quando a segunda enfraquece. entre as t <.:s r ncx-� �
.20. Há a nalogia entre essa nt-cessidade lóRiC:.t e a obrigação
1•11 o • Aliás'.
l
.i,• institui�-ao
,
um 1·0rte p rentesco
a
ha
moral, mas nao ha ident id ade. ao menos atualmcllle. l loj<.:, a so
dedadl! trata os niminosos diferentemente dos indi\ íduos cuja
intel igência ap<.:nas é anorma l ; é a prova de que a autoridade li
gada às normas l <">g ica s e a que é in<.:rcnte :1s normas morais,
1 J \ RO 1
e npíl11lo I
apesar dc importa ntes sim i l itud es , náo siio da mesma natureza.
fenf>mcn<> rel i g io
Sào d uas <.:spéc:ics diferentes de um m<.:smo géner o Seria inte jú
hav iamos
1.
tent;�do e.� :
,f' · r o
( l . Ili, PP· 1 ss . ) . A
:.c > num
1 1:e como se
"·�e
cado em
L_'.l"d
ho publi verá, da propo qu<.:
dd mi� :I o que 507'
1 1 .1bal
· cntao
·E xprte '
de os razôe s que
.'
rença, que, ao que tudo indica, não é primitiva, pois durant<.: m as
muito te1111x> a consciência pública mal distin gu iu o a l ienado do
. n·., 68
p. d:t
mos na not.i
t teacõc s que
IT
· · ·11i ás ne-
11111s ho1e. não imp1 icam . •
delinqí.i<.:111<.: . Limitamo-nrn; a indicar a questao . Por es.se exem faws.
i .
çâ
. m. �c
on p
ram :1 ess a s
ind sobre a nc
nos !<.:va dos
plo, vê-se a quantidade de probl e mas que a análise d<.:ssas no
� nu.,•1remos insist
ce o
esse1c1al n c ces-
uhuma mudança
? Ver P- Vll l .
� o
ao contt
· .
ddimcoe.'> pr
ções leva nta, noções tidas geralmente como elementares t· 'im e métod o a se-
- d<.:s.
sobr
ples, mas qu<: sao, em realidade, de uma extrema complexid:1dc.
o
elimmares nem .
id sas - ,
exp�> s1çao . pode ser ' 1sta
em
fr p 3S-39
e
.
(Pan s,
P· 17 cr. On�llW,
(Paris, Alcan). .
3 . PrC!lll iers p n 1 1c_1t>eSsc1en
conheci mento é. porta nto, intermediário entre o ern pi nsmo e o
u:ar;t , d
•
p.
- iOllS,
·' . /1
a priorismo clás,.,ico. Para o primeiro, as categorias s;io constru ce es elig
r
21
n a la
·
1trod uc1io
ções pur.:imente artificiais: para o segundo, sáo dados naturais: '1
para nós, elas são, num certo sentido, obras de arte, mas de uma 1,1 dél'eloppement
de la reli81011• • . p
504 AS FOR.lú!S l'IEll/�\?"l}(fl'
D.1 l 7DA RT:Li(,lOS.1 l\OlilS "iOS
5. O mesmo t·.spíri1
col:íst ica, corno teM
0 enc1on
· tr,1. - . • igu . 1 menic na e. poc:i e.s-
. ' ,1 l� c.:
' " ·om 111 ,1 peh
Ie1 me
. t
.
rei, de tal modo que o culto não é mab que a ex
sàu tia perpetu ida de dessa vida comum essa ideia é com
, • uno meMrl'
·. Fi
cm unh a
es quaere11s tnlelllec um
. ciu·•
L'
i l se
.
.so1"1 de.s.se penodo . a fi ilo-
•
l ddb1�111e i11-
.\ O l ' l
p· 16-i · 11 u• 1t1ma pane;• flfl 103 e p. 190.
t
h c· ,
die11• 2• ed .
• ' 7b,
ºr • •n c
l'l . BAHTJ l !le!IRIOllS of!11da,
. .
llO .
,
3 1 . BARTl l, in é'11cyc/opédie des scie11ces relig ie11ses, V I ,
15· OLDE:\ BEHG. !e
. t
i p.
1 (trad fr., P:1ri1.,
- , . 'l-18.
depois
Bo11ddha• p. )
P.l/ .F.) , Alcan, 32. le Bouddba, p. 5 1 .
16. O LD EN BERG, ihid 33. 1, Sam., 21, 6.
., pp. 21 1 ' 3 J 8. Cf. . . .
/e. l• pp. 389
. 31
.. . lev., XII .
bo11ddbLm1 edans /'flu KEH N, l l1S1 01re t/11
"Tenho a · nv · .
.. .i� o rnt1111a.
37. lbid., p. 133.
me me B u mou f. -. " U �.
nao l11 es ·se 'iak1a-M um encom
. (O icç, .. . di7 igua l -
·
" ,·
38. "1\Jenhum texto. diz Bergaigne. testemunha melhor a
. 1 • 1nsciê ncia de uma ação mágica do homem sobre
mdo a seu
1 c1 o.s no -
redor um pameio
J)<>,·oado com, os águas do
lid o a mcnor ncn .�s.s l(1 ali<: de u que o verso X, 32, 7. onde essa crença se exprime em 1er-
as
deus
•
. · es de • que e
mes, de nao lena
•
'�'-tIli b01u/dhis111 111m> gernis, aplicáveis ramo ao homem atual quan1<> a seus ante
e i11die11, p. J 1 9).
a /'h · 1 11 1enr•·1 -1 o" (/nlr.
;º· Bll l{NO IJF, op. cil . p.
J l7.
- 1 . KFRN, O/J. cil.
passados reais ou mitológicos: 'O ignorante interrogou o sáb io;
, p. 289. rnstruido pe lo sábio, ele age, e eis o proveito da i ns tr ução : ele
.
22. " /\ crença u n ive 1 1l>1ém o escoamento das corredeiras'" (p. 137).
, · . 1 na l ncl i.a de < J
:39. !biri. (p. 139).
r:;a lm en te '•1c.e1t, •
,in
· 1M • e 1 a 1( L' lacu kla
gra nde san tida dt l ll' um a
1ei. sobren·1turn
t
· é ll�"C'�.
• •
1.im e n 1c acomi)
1 1"·
•0 q u e ele (S·
,·s·
, •
• "k ia-M
M ·
uni ) havc-
is 40. Outros exempl os se encontrarão em HUBEHT, a rt. "Ma
in Diclicm 11c1ire des A llliquilés, VI, p. 1509.
• • era <> u111 co-:i po1
· de enc
(Ilurn ou f' p. l t9).
'
·
na ontrar nos espíritos"
'l i . Sem falar do sábio e do santo que prnticam essas verd a
gia ,
23. BURNOUF, p. 120
2'1. !/Jitf. , p. !07.
.
dvs. que. por essa ra:do, são s;1gradas.
25. !hid. . p. �02 42. O q ue nào significa que essas relações não possam ad-
É o que Kem exprime nos - • 1 11mr um GH<íter rel ig io�. l\las das não o possuem necessaria
�� 1nres.
26.
fX't'tO, ele é um homem; sob cen
. 1<.:m_io.: ·sob ceno as
.. • não •. nem uma cois 43. SCI I ULTZE, Felicb smus,
i p. 129.
o ' ix:cro, nao e um ll ll'nte.
.
a nem outra'' (o cü
homem: sob
'fJ.
ce110 aspectu
J
e
' ...'
da <'..omu 111.dade mio
-7· ·• p. 290>.
A ideia de que o c 4 1. Encontrar-se-à,> exemplos desses costumes em l'RA
. seu
. .s• mas pem1anece rea
hefe divmo
·
ausente de en tre está
os /.1· R, Go/de11 8011gb, 21 ed., 1 , pp. 81 ss.
45. /\ concepçào segundo a qua l o profano se opõe ao sa-
lmente entre ele.s
'i06 AS FONJf!I\ f:'IJ'.lfFl\"T,!RF\ /),-1
l l/J.I /U!L/(,l(J.\A 'i07
grndo as.s im como
o racional ao irracio .
nal o i111d igivd '·10 . t•
" º'º· t• apcn;1s um "i9. i'ln Atenas. os dl't1Sl'S aos quais se dirige o c:ullO do-
:1 das formas sob
mr,J
.1s qu..rrs. "l c>.p
orosinio . u m.1 . vez , con slll u1d .
. r 11nc ess a 111< '"u' s<i o 1.tlH>(lllll'nte forma� cspcoalizadas dos dcu't'S da ( 1-
:1. a ci{·ncia ad u •
d.11 il <Zeúç rm1crroç. Zeúç i:1p1Ctiç). Do mesmo modo, na Idade Mé
.
1. . .
·
� d.1s re 1g1ocs
.
cn s11 s · cc>nseque
mcn rc, pareceu que
ela n<i o pod·' ap . . · . • ,· ·"
, 1l
· ntc- d1.1 os padroeiro:; <las coníraria:; :;áo samos do calendário.
·
.
.1r-s t .rs. corsa� sagradas.
ª 60. Pois o nome igreja nào co:;lu1m1 ser aplicado senào a
.
-i6. Ver FIV\ . m
· R "O ere oni . s of the
> � � �1 1· Cc111ral Aus· 11111 grupo cujas uerwas comuns relacionem a um círculo de
ZE
irnlian Tribe.s", in A 11;tra/�1�
As.w
'. >ew "111 for the .-ld1 •a11cc•111e
�
Science' 1 90 1 ' J)p. 2 1 .
se
menos e.,pct1ab.
�) -', s s. A conCCJ)Ç'J() .,,.. .
' · r.r· s. c '.. cJe uma ex 61. HLBl'lff e \Li\t;ss, /ex: cil. . p. 18.
111 r!f l i '"·'"
. 1 .
. . pe cres d l' co1,,,1s s·•,..
· :; e. ntre as Trcms. a Proc. No1•. Soe. of l 'iclona.
• lh
. . . ron 63 CODl{I GTO:\', rn
quais ha mcompar
ibilidade se exdu .
sagrad;> e�du'. º pro
� nl'sma form.r que XVI p. 136.
fano < l iv�o 1 1 , ca .n;, � � ;; 6-1. l\EGIUOLI, D'!i Genii presso i Romani.
o
"9· E 0 c.is . o dl' · .
certos ricos nu pu • ,11s 65. E a condu:;ao a que chega Spencer em Eccleswslical
exemplo.
· . ou íuneranos. por
/l/\lit11tio11s (cap. X\ D. 1:: também a <le SAJ3ATIER, em lisq111�ç_çe
• .
11J;1rmcn1e.
> · \c
5-. . XII ·
. r Hl mHr . ' · rn · M.rgw " . n ·
6� E
- ;sa constalação de faw não resolve, aliás, a qucswo de
1
�R
•
1
.
(CODHINGTON
e · ..•1·1 ico
.· . er;i
r ll' gen · .. ou se, ao contnírio, a segunda niio seria o prolongamento d<r
. le de I·" magre
. ..
'i'i . p .
• • ·,
da e não pela d;r��'., '"'malar que o culto individual apresema-s<: ao observador co-
.i-sc::
. . "
. f\
e,
impon:1ncia de s<:u .1·11 caráter obrigatório; ma:. essa obrigação advém evidenremen-
· p·rp
' '-
, I soua i t.'\ a a exe
drrewra sobre a vid .' · rcer um,1 . m 11 uen cia
·
11 nm10 mosirávamos, do faw de que essas crenças pertencem
. " osa (por ex<:mp
a relior
lo m c
·
c . é ai'nda mu r·ro (]uruante. 111 1nanto, sobrcpôem-se em parte. Se j u lgamos dever propor
·
Capít11fo IT
l í> Cf. SPENCER e G I LLEN, The Native Trif1es <1( Ce11trctf
111,1 1<1/ia, pp. 123-127; STREHLO W, Die Aranda 1111d Loril)a-
i11 Lentraf A 11stra/ie11, li, pp. 5.l ss.
1 Deixamos dt• belo. aqui, .1s rcorias qt11.:
, na tot.1ladadc 011
cntais. É o caso s<>· P 7be Mela11esians, pp. 2,19-250.
1,11111m•
cm pa11e, fazem intervir dados supm-experim
USENE R, cm Got1enu1111e11,
�
·• · rcs sagrados ( Die Aranda und Lonlja-Stammo, 1 , P: :- ) .
com
1 1. 1 portanto o 1110111ento em que o hon�e.m est{1 e n� co nt to
mes mo rejeitando certas h i pótese�
tie "'.1ªx Müller que scr�io exposta/> mais adiante a
, admite os prin l l . Andrew LANG, que também se recusa a ad1mt1r que
�
.
c1pa1s posculados do naturismo.
L f,a cil'ilsialion p1imitiL•e, rnp. Xl-XVH I.
1t11•1.1 <le alma foi sugerida pela experiência do sonho,
julgou
111 1, que il
no primeiro plano.
atribu ímos agora rel igi ào (Pbys ic. Nel., p. l20).
2. No trecho incitul::tdo Compamtiue ll�11tbo/ogy ( pp. 47 ss.l.
16. Phvsíc. Nel., p. 1 28.
1 7 . \er 711e Science of Tho11,C!,hl, p.
Uma t ra d ução francesa foi publicada com o título Essai de . 30.
1ce of 7 11011g h t. p.
t 9. Pb)'sic. Rei. , p. 1 33 ; 7/Je Se1e1
3. /lera bk1111ft des Feuers 111ul G'õllertranks, Berl i m , 1859 e .
.•
_ 1 9.
i , PP· l :-,.
• •
}
(uma nm·a edição foi publicada por Ermt Kuhn em 1886). Cf.
" Der Schuss des Wilden Jiigers auf den Sonnenhirsch", Zeitscbr!f� Ç
,,.11 1·elles 1e m1s
f d. Phil. , 1 , 1869, pp. 89-169; E11twicke/11 11gsst11.fe11 eles Jllytb11.\
327; Physic Nel.. PP 12') s.�
20. The Science of Tho11ght, p. 272.
Abbhandl d &:ri A kad 11 TheScience <!f7bw1ght, 1, p
187.3
de 1e p H.
-1 /J<.'r l ·rspnmg cle1· \(rtho/ogie, lkrlim, 1860.
•
et i
li11,C1,11stiq1
22 .\Jékm,fles de 111y1/wl<>,C!,Í<'
.!.� 1111hmpolo,e.ical NdW011, pp.
1 28-130.
��-
L 1 . J\ expli caçao , a l i ú s , nao é melh
'). Em seu l ivro llerc11/e e/ Gc1c11s f1· 11de de mytho/oJ:ic> com or que a dt: lylor.
pc1rr!e. O ensa io de mitologia comparada de Max Müller é apon
�.·1111c1() • ·
t ,IX .
ter adm111do que <_1 v1-
tado aí como uma obra "que marca uma nova época na h iMória ' Jo qut• existem
Mi.ille r• o homem nüo pode ria
1v
pre citar lrnNAN. Ver seus Nouve//es études d'bistoire re/(� ie11se, Nel., PP· 3 5 1 ss.
, , 1rp< , está em plena decomposiç
:·10.
25. Ver sobre esse ponto /\111b rop.
..
1 884, p . .3 1 .
..
não impede que M ' 1x Mul
26. A ntb rop. !?e/., p. 130. O que
de rodo :s. -;e desen �·olv1mento.
ki \eja no cristianismo 0 apogeu
.
8. Além da Compa mtil•e ll�ytbolog
y, os trabalhos de Max
;S78 . . .
o tírul o OriRine e/ dé11e/oppeme111 de ltt re/igion; - Nat11ml Reli
i um, Londres, 1898; - A11tbro
o , pp
ho num·,1 concc
l ll'inamento de Crist ( 1/Jid.
qul' 1a1 • e.
1e est�
gio11, Londres, 1889; - Physica/ Nelg pçào que faz do c ns nan ismo o
a
• x M ü l l c r cm G rie
ssao
•
1893; - 1\"01we//es t!t11des de mytbolo,C!,ie, Paris. Alcan. 1898 Em
_ _
� �
1 ,
ira no ll1Lsm : c g1�1u
<.:<>n<.:erxao la<> msusientável, que. na n:rdaclc 1;1m:1í' loi sus1<·n 1.l o "" atrl'dt1.1v.1 d.1 mcsnu mane .
� �
1, ..ao,
1 K > r l''>.Sa r.u
A l111h1. dt: d .
t:' d1fíc � I
n<io unham ara ter rehg10 :.o.
.. .
"8. Por sinal.
religio,,os que demonstram Ler, ao mesmo tempo, uma utilidatlt•
ha na linguagem de Max Ml'l .. l.ER ,·crdade1ros
sl'nsível. diz ele . impl '. ca, ao
1(·<·n1ca, mas de:. :.e confundem com os demai., t•, mu ita� vezt•,
os ser\'1co.s que prestam têm uma compt•nsa�·ao. 'ic ha uma pro 1h11,11s de palJ\'ías. A e'fX'riên<'ia _
l'lll l'el1o:. casos. "que parJ além do conhecido hara a(�o
t
líl. 1>.1a religiosa, ha uma 1mund1cíe religiosa que deriva dos nws 1111 110,
1110., prínup1os ;\ regra que urt.lt:na afa-,1.1r o mono tia aldl·1.1
a per1111s,;âo de cbt1111m· 111)1111/11
desconhecido nao e 1�ece�
1t 1111/•l'ddo, t1f�o q11e peço
porque ele é habitado por um espírito temido e praticamente \uluml Rei., p. 195. Cf p. 218>. O
sa-
necl·.s�a �a1�1cntt'
0 infinito. <·omo tampouco o infinito é
1
l l , cap. J I).
cf'idc ia, veremos de
ilusões (ver livro
ll ll'ntos mito lógi cos, o nome ela Divindade.: suprema" (Scie11ce c/11
gos, "í'.l'us era e continuou sendo, apesar ele todos os obscureci· mane ira se
, 11,,. explic am essas
p.
.36. Cenamenre, fora dos mitos propriamente ditos, sempw
hmn e fá bulas cm que não se acreditava, ou. pelo menos, em l1 1s1mlia, ll, 228.
516 AS FOllllAS H/J!il/FNIANfü ()A \ll)A NFIJ(;/OSA
517
'/7}(! i\'o1:�hip uf A n imais mui Planl.� 'fol<'lll.\ mui Tote �1 11. .1 1 1 do·
Wuaramongo (Warramunga de Spencer e Gillen>. jü
mism ( !8<19. 1870).
1.
MI 1!(the Alllhropologica/ /11slitllle (daqui por diante }.A ./.), pp. 41-
111 18H8, cm "Further '\otl's on the Australian Classes" in }01ir.
5. J\ idéia já se encontrn claramente expre.,sa num estudo
tle GALLATJ.N inlitulado ..S}'nopsis of the fndian Tribes" (Ar j , Os Arunta já haviam i.ido sumaria
mente estudad os por
<.!lll<'<Jlogta Ame1ica11a. li, pp. 109 S.
'>.) e numa urcular de MOR
'-' l ll LZE ("The Ahongines of the Upper and Middle Finkc Hi
\ai Tr.
·
.
expltc:.1r:io do totemismo, sobre a qual falaremos adiante, mas 1 8 . Londres, 190·t; doravante N011bem Tribes ou North. Tr.
19 Escrt:vt·mo.s os Arunta, os Anula, os Tjingilli, etc., sem
sn.:nta r a csi.cs nomes o s ca racte rí st i co do plural. Parece-
que nao reproduzimos aqui; pois, reduzindo o t<>l<.'mismo a um
11 1 1
caso particul:ir do culto dos antepassados, ela desconhece tota l
menl<: sua importância. Apenas mencionamos ne:-.tc ta pítu lo ª' 11ouco lógit·o incorporar, a pal a\'r..IS de outra língua, um
sig
g1 . 1 1 natical que s() tem sentido na nossa. Só faremos exccçáo
11!
real i za r r rogressos im porta ntes. 1 • "" r<:gra quando o nome da tribo estiver claramente incorpo
l 1 . ':-i11sbip ª'.1d Marriage in Ear(v Arabia, Ca mbridge, 1881.
' 1111 1 .1 0 francC:s (os huronia nos, por exemplo).
.W. Strehlow está na A us lr{tl ia desde 1892; pr i m ei ro viveu
1 2 . lbe Re!tg1011 oftbe Semites, l" <:d., 1 889. Tr:ita-s<: da rt•
• 1 11 11 · os Dieri, dep ois entre os Arunta.
cln�·ào de um c u rso proreri do na Universid:1de de Aberdt:en cm
l-1. !\a mesma di reção, convém <:itar a importante obra dr li• '" 1 1 1 1 tos e das lendas, o te rce iro, do culto. Ao nome de Strch
publicada.
Glolms e on<le se encontrarão sim dl" non�trJm uma niptura com os velhos métodos
da esco
l 1 1111ropológica.
numerosos trechos de sua corres n
cap. I l i :
cl. so
.2·1
de EYLJ\!.\ '\N, Die E1 ngeborene11 cler lw/011 1 e Süda11�1ra/ien, o l 111• esse ponlO SPEl\ C...EH e GILLEI\, Northem Tnbes,
til· .J ohn \IATHFW Tu•o Represe11/a1i1·e Tnhes nf Q11ee11s/mul, 1 11 , ITT. .\a/11e 7i'ibe, r 1 12.
\·iaçào 1Yat Ti·., mas fazendo sempre preceder o nome de Ho h.1 rq.(ra de método que se aplique automalicamente a
1odos os
witt, a fim de dislingui-lo do primeiro li\ro de Spencer e Gillen < l .os possíveis.
a
38. Assim, o totemismo individual da América nos ajudará
and E'>cogamy. 'f vol . . Londres, 1910. A ohra 1 , •111preender o papel e a importância do da Austrália. Como es
cujo título abreviamos da mesma maneira.
27. Totem sm
i
des
começa com uma reedição do opúsculo Totemism, reproduzido ' ' 1 1lumo é muito nidimcntar, provavelmente teria passado
3. !\uma certa medida, esses laços de solidariedade se es 11 RAZER ( Totemi.m1, pp 10 e 1 '\) cita ca�os bastante nu
cendem mesmo além das fronteira� da tnho. Quando indivíduo� "" 1 0M>s e indu�ive foz ddcs um gênero à parte que ele chama
de tribos diferences têm o mesmo totem, possuem deveres parti· /•lit totems. Mas esses exemplos são tomados de tribos em qu e
, 1 •temismo está bastante alterado, como em Samoa
.
culares uns em relação aos oucros. O faro nos é expres.samentl' e nas mbos
afümado acerca de certas tribos da América do Norte (\. l'RA l k ' llengala.
HOWlTT, 1\'at. Tr. , p. 107.
11nd
ZER, Totemism and Exogamy, UI, pp. 57, 81, 299, 356-357). Os
Ver os qua dros feitos por STREHLOW, Die Aranda
15.
textos relativos à Austrália são menos explícitos. No entanto, l' 16.
/ 1 1r1tja-Stiimme, II, pp. 61-72 (cf. Ili, pp. xiii-xviD
provável que a proibição de casamento encre membros de um . Chama a acen-
ond�
5. Na Austrália, as palavras cmprcg<idas variam conforml
L8. Por exem plo , um desses totens é uma cavidad e
mepas:,aJo Jo totem do C.. ato Se lvage m repousou, outro e
as trib�s. N as rq�iôes observadas por Grcy, dizia-se Kobo11g; o.s
.
D1en dizem M11rd11 ( HO\\'iTIT, Vai Tr nf 'i .P Amt p 9 n o� 11
'\arrinyeri, Mgai�)'e (TAPLI:\, in CuRR, li, p. 2<1..i), os Warrnmun galeria subterrânea que um antepassado do clã do Rato es
l ·"ou, etc. (ibid., p. 72).
111na
ga, Mungai ou M1111gaii (J\'ortb. Tr., p. 754), etc.
6. fl1dia11 Tribes o/ lhe U11ited States, IV, p. 86. 19. Nat., Tr. , pp. 561 ss . STREHLOW, 1 1 , p. 7 1 ,
n° 2. HO
\\ 1rr, Nat. Tr., pp. 246 ss.; -on Austral ian Medicine Men",
7. No entanto, essa fortuna da palavra é ainda mais lamen· J.A.I.,
\ f. p. 53; "furthe rn Notes on the Australi an
Class System ".
grafa. Un.s escrevem lotam, outros toodaim, ou dodaim, ou odo
tável por nào sabermos sequer com exatidão como ela se orto
1 11.. xvm, PP· 63 ss.
dam (v. FllAZEH, Totemism, p. 1). O sentido mesmo do termo 20. Th;iballa significa rapaz q1te li, conforme a tradução
de
não é exatamente determinado. Se nos referirmos <I linguagem � 1 ' 1'.r'\CER e G!LLEN . membro s do clã que têm s e u nome
pob es1as i.en cm de princípios àquela. Por l!-íSO era neccss;i rio r. J \L\THFW 7im Repr(!sentalil'e Tribes of
Q11C!e11slm1d.
estudar o totL'm1smo como religião, ames de eMudar 0 t:la totê p. 139.
dadas outras
m1co como agrupamento familiar. 38. Em apoio a essa hipótese, poderiam ser
_ 25. \er TAPU!\J, The Narrinyen· Tribe. Cl..i RR, T I , pp . 2 1-1- mas seria preciso fa zer intervir conside rações relativas à
r•1zões,
r os dois estudos. A
organizaç-jo familiar. e insistimos cm separa
qul!l>tào. aliás, só diz respeito secundariamente
24::>; HOWITI, 1\a/. T1:. p. 131.
26 i\011/J Tr . PP· 163, 169, 170, 172. Convém notar, po- a nosso tema
, Mukwa ra, que design a uma fratria entre
rem. que em todas essas tribos, com exceção dos 1'1ara e dos 39 Por exemp lo,
. segundo Brough
�nula, a transmis.s; i o do torem em linha paterna seria apenas 0 >s Barkinji. os Paruinji e os Mtlpulko, significa
eendidos nessa fra
fato mais geral, mas componaria exceções. smyth. agwa-falcâo. Ora. entre os clàs compr
Mas, aqui, esse
. 27. Segundo SPENCER e GILLE"' ( i\'at Tr pp. 123 ss.>. a tria, há u m que tem por totem a águia-falcão.
•:- e •
_
caso" do mesmo
gênero são citados por L.Al\G, op. cit ., p. 162.
.in1mal é dcsiAnado pela pal.1\ ra Bilyara . Vários
alma do antepassado reencarnaria no corpo da m1e
ª ª1 ma ca 1 cnan�·a. �egundo STREHLO\Xi (II . PP 5 I ss . . J. a con-
·µ tcimana
·
. o 110\\ITf
• ,,
.
cq,çao, embur,1 sendo obra do antepassado, nao implKaria uma !U. Sl'L:\LER e lJILU:.'\, .\ai fr . p. 115. Segund
'· ' 0
< op. cil , pp. 121 e '15'1), entre os Wotjob aluk, o clã do Pelit:ano
· -
reencarnaçao. l\las, tanto numa quanto nou1ra interprciaç· ' 10
totem �ropno da
O faro nos parc
· seria igualmente representado nas duas fratrias.
U! du,idoso. É bem possí,el que
c riança nao depende nccessariamente cio de
• · ·
!MATII E\\ , 7im Representat1LY! Tribes, p. 150>, das tribos ohser 18 (..e m exct>çào dos índios Puehlo do <;udoeste ondt'
eles
, 111 A111e-
vatlas peb sra B.\TES ("The �larriage wws and Cu:.1011� of tht: -;;Io m::11s numerosos. 'ver HODGE, "Pueblo Indian Clans
1icc111 Anth ropoloRist, ia série, t. IX, pp. 345 ss. Pode-se
W. Austral. Aborigines , i n Victo1ía11 Gc>0grapbical}o11111al, XXUl
..
perguncar,
subclàs.
XXIV, p. '-17) e, talvez, de duas tribos observadas por Palmer. porém, se os grupos que têm esses cotens são clãs ou
Mas esses fotos sào muito raros, e sua significaçào, mal eswbele 19. Ver os quadros apresentados por tvtORGA,"l em Ancient
cida. Aliás, não é surpreendente que as classes, as.sim como os Vxie�J'. pp. 153-185. .
grupos sexuais, tenham adotado às vezes nomes de animais. Es 50. KRAUSE, Die 71i11kit-fll{fianer. p. 112; SWANTO!X, Social
Condition, IJd iefs anel Linguistic Relationship of lhe
sa extensão excepcional das denominações tmêmicas não modi Tiingit lndians,
fica em nada nossa concepção do tote mismo. i11 XXVI tb Rep., p. 398.
46. A mesma explicação talvez se aplique a alguma.s outras 51. SWl\NTON, Co11trib111ions to the Ethnolo�y of the lfai-
tribos cio Sudeste e do Leste, onde, a 1ulgar pelas informaçõe� da. p 62
de l lowiu, iambt:m haveria totens especialmente associados a '>2 "The dis1inction between the two clans is ahsolute in
t.atla das.se matrimonial. Seria o caso tios Wirad1un, dos Wakel every respect", diz Swanton, p. 68. Ele denomina clàs
o que cl a �
bura, dos Bunta-Murra cio rio Bulloo (HOWITJ', Nat. Tr., pp. As duas fratrias, diz ele em outra pane, estao
mamos fratrias.
210, 221, 226). Contudo, os testemunhos que recolheu süo, co uma para a outra como dois povos estrangeiros.
mo ele próprio confessa, suspeitos. De fato , nas próprias listas 53. O totem dos clàs propriamente ditos, pelo menos entre
De faco,
que escabeleceu há vários totens que se acham igualmente nas os Haida, é inclusive mais alterado que o das fratrias.
duas classes da mesma fratria. pcrmi1e a um clã dar ou vender o direito de
como o costume
pluralidade
A explicação que propomos baseados em Fl{AZER ( Tote usar seu totem, disso resulta que cada clã tem uma
clàs (ver
m sm
i and E:1:ogamy, pp. 531 ss.) levanta, aliás, uma dificuldade. de totens. alguns dos quais em comum com outros
as fratrias de
Em princípio, cada clã e, conseqüentemente, cada totem são re S\X A;-.TO"l . pp. 107 e 268). Como Swanton chama
clàs propri�
presentado:-. indiferentemente nas duas classes de uma mesma clàs, ele é obrigado a dar o nome de família aos
Mas o senu
fra1ria, uma vez que uma dess:is classes é a dos filhos e a outra a mente ditos, e ele ho11sebold às famílias verdadeiras.
61. Em1innie A SMIIB. "\lvths of the Jroquoi�" in 'lecmu/ "' .ft"LLER . Ge.çchichte der Amerika1111ische11 l rreliR
iO
TON, op. cit.. pr. IX. CL TYLOR, "To1<:· rn Post or the 1 faida Villa 86. HOWITI, Nat . li-., flP· 744-746; cf. p. 129.
67. Ver uma rmografia de uma aldeia Haida em SWAN·
ge of Masset", .J.11 .J., nova série, J, p. 133. 87. Kamilaroi cmd K11rncii, p. 66, nota. É verdade que
o ra-
: caso.
:\este ulttmo caso, o totem é repre�t::ntado combado. em sin,.I de
luto. Costume!> .similares ocorrem entre O!. C reek (C. S\VA.'\, in
duas regiões etnográfi cas que estudam os de ma-
ll tl•io aliái. às
nos animais
1w11;1 mais especial. es:;as tatuagens são praticadas
' Illl' pertencem ao clã. Os Bechuana do Sul da África
SCHOOLCRAFT, !11dia11 Tribes o/ tbe únited States. V, p. 265> e
entre os Delaware (HECKE\VELDER, A11 A cco1 111t o/ the Histori'.
esc:io di\·idi
.1 pague espontaneamente . ..
Warramunga, o totem transmite-se do pai
aos filhos; conseqüen
temente, cada localidade tem o seu. .
s of Bnu_sh Colu_m-
94. SPENCER e GILLEN, Na/. Tr., pp. 215, 24 1, 376
97. BOAS, "General Report on the lnd1an
· •· . 1·n British Associalionfior lhe Advan
oftbe Dom1111on ,rJ c.a-
cemellf of Sc1e11ce, Fiflb
.V. .
\f' l
Tri JeS O
. 1lia .
95. Lembra-se o leitor (ver p. 101) que. nessa tribo,
·
que entre os
dos para as cerimô munga, mas em menor nú mero
nias da iniciação Por conseguinte, como que ocupem um certo lug,11
um homem, em princí
ram nas cerimônias totêmicas, ainda
nos mitos (North. Tr., p. 163).
:
.
p1�, �6 tem qual idade de operador ou ele
oficiame para as ceri
monias de seu totem, resulta que, em cenos outras tribos. ?ª
casos, os ritos aos 99, Outros nomes são empregados em
quais a criança é iniciada estão obrigatoriamen Arunta, porque nessa tnbo
te relacionados a mos um sentido genérico ao tern10
um tmem que não é o seu. Eis aí de que foram melhor estudados.
os churinga têm mais importância e
100. STREHLOW. ll, p. 81.
maneira as pinturas
executadas no corpo do noviço não represe
ntam necessaria
meme o totem deste último; encon trar-se-ã pequeno numero,
•
.
e n111ga
.• . · 0. " , , , ..
, pode1oso, sag1ado (KE/V�
A mesma perturbação teve uma outra conseq que nesse assunt o, tem mais autoridade
üência. De p1op 1 1 M·is Kemp e
Range, s _,
maneira geral, ela tem por efeito afrouxa
que unem cada tot em a um grupo determ
r um pouco os laços que Strchlow, traduz tj11 por grande _
t. XIII) . No
1tmg Macdo nnell
R.
PE "Vocabulary of the Tribes inhab
?
inado, uma vez que
ca a tot<:m pode contar com membros
afasta tanto da precedente
em todos os grupos lo s of lhe Society of l'ictori a.
s.v: 7ju. in Transaction
ca.is poss1ve1s, e mesmo nas duas fratrias
indistintamente. A idéia fundo a tradução de Strehlow não se
de �ue a_s cerimônias de um totem podiam ra vista, pois sec�eto é o que se
ser celebradas por quant� se poder ia supor ã primei
un _
� 111d1v1duo ?e um totem diferente - idéia nos, ou sep. o :;agra do.
contrára i ao.s princí subtra i ao conhe cimen lO dos profa
pios do totem1smo, como veremos melhor à palavr a runga , ela nos parece
a seguir - pôde, as Quant o à si g nificaç ão atribuí da
sun, se estabelecer sem provocar Ema dizem respe1to a todos
maiores res istências. Adrniti u bastante duvidosa. As cerirnô nias da
se que um homem a quem um espírito revelav _
a a fórmula ele memb ros do clà da Ema; todos podem part1c1par; portanto
os
u�a cerimônia estava qualificado para m deles.
com o priv ilégi '.> que gozam os animais, e nos perg un tamos se 0
de nasce r, a mae ind ica ao
dele.
o
�er atrihuíclo a um afrouxamento <lo tabu que protegia prlrrntiva lugar e
de algun
s õe
pai, acom panh ado
mente o ertna tu l u nga. -se. cleLxou cair
nga que o antep assad o, u p
109. Nat. Tr., p. 2-18. procura aí o churi
o colocou aí (a hipótese é
encontrado, ê que algum an
1 10. lbt d.. pp. 5'15-546. STREllLOW, li, p. 79. Por exemplo, no momento de reencarnar Se for
_ cotêm ico. certa ment e.
a poerra obuda :ro se raspar um churinga de pedra e dissolvida não elo grupo
ário. faz-se u m nO\O churinga
em água con.sutui uma poção que devoln! a saúde aos enfermos. de Spencer e Gillen). Caso contr
o com uma técni ca deter mina da (Nat. 7i·., p. 132. Cf.
1 1 1 . Aat. Tr., pp. 5·6-546. STREllLOW (ll, p. 79) contesta o de acord
STR.EHLOW, f l , p. 80).
127. É o caso dos Warramunga,
fato.
dos Urabunna. dos Wor
1 1 2. Por exemplo. um churinga do cotem do Inhame de
dos Tjing illi, dos Gnan ji (Nortb Tr.. pp. 258.
positado no solo. faz crescer os inhames (\'ortb Tr., p. 275). Ele gaia, dos L,mbaia.
N, "They were regar
: �
em o me:.m poder sobre os anrmais CSTREHLOW, ll, pp. 76, 275-276) Então. dizem SPE:"\CER
ial rnluc hern use
e
of
GllLE
their assoc iation with a to
decl as of spec
tem" ( ibid., p. 276). Há exemplos
8: Ili. pp. 3. )
1 13. Xat. Tr., p. 135; �TREHLOW, 11, p. '9.
elo mesm o fato entre os Arun
(lll p. 23 n. 2) o
:�'.:s! � ��� =
auaua
nt e º nurtunja do totem do
am Spencer e Gillen . • , k de que fa-
1•11<.anravam seus sentidos, do que para traduzir materialmente
I
. to de
•
'
. •
Gato Selvagem. Com "'li pensamento (cf. SCHOOLCRAFf, Jndian Tribes, 1, p 405,
oh1e
.1· 0 a �eu nurrunja ser com
explicar-se-ia o faro de a um culto tribal.
veneraç; 1 >ORSEY. Sioua 11 Cults, pp. 394 ss.).
toe.los os clãs. um a
134 . North. Tr., p. 342; Nat
135. Nat. Ti-., p. 255. 1 't1pít11/o li
. Tr., p. 309.
2. �
Í o que acontece entr e os Warramunga (Norlh. Tr., p.
•
o mesmo.
- Nat. Tr., pp. 232, 308,
168).
313 , 334, etc.; North. Tr., pp.
186, t 182 ,
l iO. lbid., P· 3"16. Diz-
se é verda d, .
e, que o nurtun1a repre-
3. Por exemplo. emn: os \Varramunga, os Urabunna. os
sado q . ue. no tempo do Alch ·
-
sema a lança do antepas \\'ongh1bon, os Yuin, os Wotjobaluk, os Buandik. os :\geumba.
fja\'a cada cl-i . Mas e1e �
•
ennga, che-
·
EHT.OW. I I,
se a expulsá-lo (STR
por ele · deve limitar-
I' 'IH. Cf. TAPLIN, p. 63). , .
ram se não tivessem se recusado a ver no mtemismo uma rl'li 11, xladíl
ào e. por consegu inte, ::.e nao nvessem desconhecido o carát,·1 Tr. p . 1 60) .
�
gi
!':
os Unm ajte ra (Nortl��
sagrado do totem . 17. Ent re os Kai tish ,
1 1 . T�LIN, Tbe Na rri11yeri. p. 64: HO\V!Tf, Nat. Tr.. pp
1ao de a um
que um anc
uringa para permitir
m certos casos.
,, nntece inclusive, e
- e 147; SPENCER e G!LLEN, Nat. Tr., p. 202; GREY, toe. cit . rente um de seus ch
i a l que serve de
_
o tal sacrilégio".
59. 6 1 .
19. STREHLOW, II, pp. 58.
outros membros dessa fratria que são de um rotem diferente. ·• .1 pós ter cometid
13. North. Tr., p. 167. Pode-se explicar mel hor agora po1
gy, 1Jlrcl Nep., PP· 22)
a interdição não é observada, é a outra fratria qu<·
, 231 .
�
os Bmbmga ( North. Tr., pp. 166, 171, 173). Pode-se comê-lo entre .17inhavre, o carvão de
os Warramunga e
er co-
de outr os inrerdiç õe.'> que mencmna F�� :
os Walpari, mas somente se for oferecido por Não falamos ta. pois e ameia
r um anim al ou uma plan
1110 as de nomear ou olha
menos certo q ue seja
um membro da outra fratria. SPENCER e GILLEN assinalam (p. salvo talv�z. no que
hua n: ( lotem1sm,
167, n. 1 ) que, soh esse aspecto, os totens parerno e marerno são m de origem totêmica,
submetidos a uma regu lamentaçã o que parece ser diferente. Sem
obs erva dos entr e os Bec
concerne a certos fatos cntao - e nesse
dúvida, tanto num caso como no outro, o oferecimento deve vir PP· 12- 13). Fraz
faci lme nte,
er admitia demasiado
ição de come� o� to
res -, que toda interd
da outra fratria. �las. quando s e trma do rotem do pai ou mrem ponto ele teve imitado cren a_s totem1cas.
ente de
que a v 1sao do totem
e necessa riam �
caso, na Austráli a, cm
propriamente dito, essa fratria é aquela à qual o rotem não diz car um anim al depend
comrá rio no caso do totem ela mãe. A ruzào, um �
respeito; oc rre o No entanto, há
o STREHLOW (IT, p.
59), en_tre os Arun a
ce�ta n:iente, e qL'.e o princípio foi inicialmente estabelecido para o
'?
parece proibida. Segund Lua nao d:ve olhá
que tem por tote m a
pnme1ro e depois estendido mecanicamente ao segundo, embora e os Loritja. um homem
rer p �la mao de :1 m
a situaç-Jo fosse diferente.
pois se arris cari a a mor
Uma vez instilllída, a regra em virtude la por muito rempo, case: umco. Convem
ast rono m1 cos prov ve
mos tratar-ele d e u m
da qual não se podia desrespeitar a interdição que protege o to inimigo. Mas acredira �
tem a nao
l
alguém da aliá s, que os tote ns
_ ser quando a proposta pa1tisse de outra fra não perder de vista, o, essa pro1b1çao
s na Aus trali a; por tanr
tria, foi aplicada sem modi ficações ao caso do torem materno. mente não são primitivo
de uma elaboração �omp
lexa
:
? que con
15. Por exemplo, enrre os Warrdmunga (No1th. Tr., p. 166). poderia ser o produto rerd1çao de olhar
entre os Wotjoba luk, os Buandik, os Kurnai (HO\VITT , pp. 146-
e os Eua hlay 1, a
que, entr �
firma essa hipótese é er
147) e os Narrinyeri (TAPLTN, Tbe Narrinyeri, p. 63).
as as cnanç=s, quaisqu
hlay1, p. )3).
todas dS mães e a tod
ARK Tbe
a Lua aplica-se a
(L. P E R , Eua
que sejam seus rotens
23. Ver l ivro 11, cap. 11, §
16. E, mesmo assim, não em todos os casos. o Arunta do
2.
totem dos Mosquitos não deve matar esse inseto. ainda que in-
IJ\7'::tpep!Sl\JA!U •
. -· .. ,.. _ ,1.____ .... ... . ,1� f
AS FORMAS ELIWE
,\TARES DA l7DA REUGIOSA \'()TAS 537
r><
_>
panicipam ao nw,mo tcm
� �
1 t.lll t.omer outrJ t.oha senao ahmt.ntos c.rus. Lntào fm:c:aona
b.3- b-I).
d.i natu e:w an1 al. E o caso de ccnos
Unmat,era Uhid., pp. ram-no com ervas mágicas e gradualmente ele retomou sua for
_
Sao m:inc1ras de pensar cuja confus
áo nos desconcer ma primitiva Posteriormente, em momentos de necessidade, ele
ta, mas que de,emos aceitar como tais.
Seria desnaturá-las que
lhes é esLranha Ccf. Nat. Tr.,
t.hamava seus amigos ursos para ajudá-lo. Construiu uma casa e
rer mtroduzir nelas uma clareza que
pmtou na entrada principal um urso. Para a dança, sua innà fez
p 1 19).
29. Entre alguns Aruma (Nat. Tr., pp. 338
um manto no qual um urso estava desenhado. Por isso, os des
. p. <160 ntrc os
j7. Jbid., p. 179.
'il f\f1t. ·rr. W1TI, p. 116; 1..
ura, s , u11tlo HO
cg.
38. \'er livro Ili, cap. li. CL Sl'r.Nl.ER e UILLEN. Sal . 1r Bas u to , P· 221 ·
akdb
) Entre os \'\
o s
ihid. ); entre os
"
Ili ' h11ana, '>egu
-,_,
ndo CASALIS
pp. 18-i t: 201. C:. . Kumai (HO\VITI,
39. Na!. 7i-., pp. 20-i. 262, 28-1
Buand1k . os
'i3 Entre os
\V, li, P· :iSJ.
'
e
r. prot
S
' " �e expo pro\ e'
. estã
de cobra
IJ /bit/., pp. 1-H, 561:!. que tem, por
tote m e:: . espe
uma • - c1e .
_ for regu lannente feita. Nat Tr..
41. /\'ai Tr., pp. <H2, 'l.6-1. O mito, al iás, é gernl na Austrália. 64·' HOWI T , f ·P
in\ ocaçao
11 1orthdas, se es.-;a .
Narr1 11ye1"i, p.
56. TAPUN' T/Je
1 1 .. ROTH, /uc.
lf5. Jhid., p. 627
46. Ibid., p. 'l.66. cil.
<17. lbid. Se todas essas formalidades n:lo forem rigorosa ,
110\\ IL p. 58.
58. JIOW ITf, p.
mente observadas, acredita-se que gr.t\es calamidades resulta
57. STRD-
1�8.
l
rão para o indivíduo. PP· ">9-160
59. .Vo11. Tr ,
<18. /\'ai. Tr., p. 358: No11b. Tr., p. 604.
'"-ª'· T1 .
60 Jbid.
19. O prepúcio, uma \·ez separado pela drcuncis:1o. às ve
- . 202-203. " .
6 1 . Jbid. , p. 2:>5;
62. A L. p C
AME R ?, !'6�
N ., Two Q ueensla
nd
\ ll ,
Tribes ' in
.
zes também é ocultado dos olhares. como o sangue. Ele tem vir ccil}u1mia l. 190·1,
.r'\Ja
\tUniC<! U
;
llldes especiais; por exemplo. assegurJ a fecundidade de certas n s
A11 sw11 A 11thropologi
trala
lH. co\. 1 .
•
fana. '\ios mitos, pelo meno:. entre os Arunta, ela dt:se mpenha som
la-
H,
lTI K m
'�is6 :>� J-IQW ,
·
. . . . a
20. Por exemplo, entre os Osage (ver DORSEY, "Siouan So
8. A forma feminina dos nomes dados por J\lathew
s é: Gu u11logy", in X\/tb Rep., pp. 233 ss.).
.
r�>g1kurk e Gamacykurk. São essas fom1as que
1 lowitt reprodu 21. Em Mabuiag, ilha do estreito de Torres (HADDON, /lead
z1t� com uma ortogi fia ligeiramente diferen
te. Esses dois no 1/1111/ers,p. 132). Alias, a mesma oposição verifica-se entre as
:a
_ equival d11;1s fratrias dos Anmta: urna compreende as pessoas da água, a
1 11llra, as pessoas da terra (STREHLOW, I, p. 6).
mes, aliás, ao entes aos que são usados na tribo do
�
Mont-Gamb1er (Kumita e Kroki).
9. O nome indígena desse clã é Dyàlup, que 22. Entre os lroqueses, há duas espécies de torneios envol-
Mathews não os
traduz. M:1s el>:>a palavra parece idênrida a Jallup, 1.-ndo as duas fratrias ( Morgan, Ancient Society. p. 94). Entre
pela qual Ho
\\ lll designa um suhclã da mesma
tribo e que ele traduz por
l l .1ida, diz Swanton, os membros das duas fratrias da Aguia e do
' mscar
1 orvo ·são com lrequência considerados inimigos declarados.
lantlos e mulhcn.:s (qlll. sJo obrigatoriamente t.k fratrias
11111.<;:,e/, marisco. mexilhão. Por isso acredita mos roder a .
tlifL
c.�sa tr..tdu�Jo
1 0. É a traduçã o de Howitt. Mathew s traduc 1.-ntes) não hesitam cm trair-se mutuamente" ( 7be Haida, p. 62).
a palavra :mi-
( Wartwur) por calor do Sol ao meio-<lia. a Austrália, essa hostilidade se traduz nos mitos. Os dois
1 1 - A tabela de Mathews e a de Howitt estão em 111.iis que servem de totem às duas fratrias costumam ser apre
�n� rn�i'> . desacordo
•l'ntados como perpetuamente em guerra um contra o outro
11 cr]. tvlATHEW, Eaglebau•k and Crow, a Study o/ Australia
de um po to m i portante. Parece inclusive que º" clãs
'. �
�
�
n
11
,1 nbu1d s por How1tt _ fratria Kr<;>ki são contados por �l::llhews
pp. ss.). Nos jogos, cada fratria é a rival natural
dJ outra (HOWT1T, Nat. Tr., p. 770).
�,1 f�tr:a Garnutch e vice-versa. E urna prova tbortgines,
�
das grandes difi
. . os ' - vistos
e• pp. 1 2 ss.
.
l3
n10
1atos serao
l t. CUtm, Ili, p. 27. Cf. HOWTTf, Nat . ·
mais adiante.
, ,., p 1 1 2 L.1 m1· ta
.. . . porém, que se deva reduzir essa oposição àquela entre profano
•-
mo-�os a � .1tar s � t s mais característicos . Para os detalhes, ver e sagrado (ver IJ E RTZ, "La prééminence de la
main droite", in
? � �
r
· As coisas
no.;•s.i d issenaçao ia citada sobre as classiíic.:ações
. Nevue pbil., 1909, dezembro, p. 559). de uma fratria
z uni,
- · na Am�
sim, entre os Wori'ob
entre as diferente
giões do espaço da
mesma
;
�
na qu os elas. Ora,
s rt
� Disso n:io !.e de1·e concluir, porém, que esses animais sejam
s comc1u.em (n�r De
l?l !. u fi
regional das coi a..� a repartiçao
e a . c1ºa- .
1 1 1nsiderados profanos. Observar-se-á, com efeito, que o indi\·í-
. tio11
do �
ll '.1,1
55 s.s.).
S"� iil.,_ pp.
'
l i<..tona, J, p. 9 J .
27. BH IDG MA NN ,
in BH O l H 'i.\n ��
1 11 . 'fle ,1horigi11es
ill que estamos em presenÇ..11 de coisas que têm urna natureza re-
,,. :-a �ó que.. a rd1gios1tladc c:om que C.'>ÜO marG
28. FISO'\ e HOW
1 uj
. j.:<'111 a uma obrigação positiva, e não a essa obrigação negalirn
t ua� dcu nri
1TI' !(,am1·1.am1 anti
\\'!TI. "Fun ler 1 • l\ott:s q 1t é uma interdição. Ta lvez até não seja impossível perceher de
Aurnai• p. 168· HO
XVIJI, p. 60. }.11.J.,
. on the .
A U.'>tra
•
.
1 ian
· Clas.s. Syste ms",
29. CL H H, Ili, p. 'l6l 1 �·l l que todo indivíduo teria uma espécie de direito de proprie
que maneira pôde ocorrer esse desvio. Vimos mais acima (ver p.
. Trarn-se eI·'1 tn,,o . ._ (1o
Mont-G ambier.
• '
bes of i\ '\ w
33. MATITEWS' .. Ethn
1 1es
'
olog ., otcs on the \bo
and Victori a"· in · }°11111
> ica. I "
-• or
l riuina
:t 1\· s IVª�es, '
wa " l Tli·
"
vv "' 43. A sra. Parkcr utiliza a expressão 11111/tiplex lotems.
poderia alimentar-se das coisas que lhe dissessem respeito.
�•
.
·
'IIJ, p. 294.
·
·
cieti · cmd Pmc. oftbe R. So-
�-1 Cf. CLRR, Ili. p. 461, e HO\\ 4'1. Ver como exemplos a tribo dos Euahlayi no livro da
ITT .\at T!. p. 1·16. As ex-
\\ingo ªP1 .rc:am-se a
.
ambos"
pressocs Tooman e
.35 . llOWJTT, Nat. Tr.,
·
123
p. pp. 121 ss.; cf. o anigo de Mathews já citado).
36. SPENCEH e G H .
, LEN' N.at. í . r., pp. 147 ss.; 45. Ver exemplos em HOWJTI, Nat. Tr., J1. 122.
I l i , pp. xii ss. STHEJ-!LO\X', 46. Ver De quelquesfonnes primiliues de classificalio11. p .
. 28. n . 2.
K.an11/aro1. a11dK11r11a
37. FfSON e H0\\7JTI
38. elJHR , JJJ, p. 462. i' p. 169.
·
1 1 , <ap. !Xl.
so tardiamente foram promovidos à dignidade de 1otens e de.'
que os totens principais foram primitivamente tomados de pre
ferência do reino animal.
5 1 . Segundo o mito, os totens associados reriam, durante os
11/11/11/0 IV
i_n ?
1
1e p s fabulosos, servido para alimentar as pessoas do colem
da está
l . Os totens são bens da tribo
principal, ou, em se tratando ele árvores, oferecido a elas sua no sentido de que
'
sombra (STREllLOW, llf, p. xii· SPENCER e G LLLEN' Mal· -r 1 r' ., )). que cada clã deve a seu
totem.
402) , 11vol vida por inteiro no culto
l.. fRAZEH fez uma lista basw
· O ' r 1to de que o rotem associado fosse consumido não im- s relati -
"lorte ( Totemism
.
� nte com pleta dos tl!xto
d d l
.
pl��ª· alias, qu� o considerassem como rrofono, pois, na época rica do
c in i vi ua na Amé
1 , " ,10 totcmbmo
. s. Assim, entre os Aruma há um animal, 0 gato sel\'a· 1 1 . Hill TOGT, toe. cil., p. 15-i.
12. BOAS. Kicakiutl, p. 323.
nbai
totens t
? � � 13. 5rta. FLETCHER, "The
em. q c s rve de totem a um clã particular, mas que é interdito y
Imporr of the Totem. a Stud
l'TDA REUGJO\A
549
548 AS FOJlllAS E.LEllE.VTARES DA 1rtS
e uma ar
40. Encontramos, porém, alguns exemplos. É em sonho
de uma criança, planta-s
54. Assim, no nascimento dita- se que sua
acre
\'<>re que é cercada
ele muitos cuidados, pois
( f-IOW in- . Na t. Tr. , p . 387; "On Australian Medicine l\len , in • irte e a da criança são solid
que os feiticeiros Kurnai têm a revelaç<io de seus totens pessoais no seu Gold e11 Bo11gh,
ZER ,
remc_:�eme a
ária s. FRA
, U, PP· 1-))).
crenças que traduzem dife
Perseus
r i·lata vários costumes e
llll..'Sma idéia (cf. HARTLA
Leg
}.A.!., XVI, p. 3'i). Os habitantes do cabo Bedford crêem que.
ND, e nd of
coisa é o totem pessoal da primeira pessoa que ele encont;ar na
quando um velho sonha com alguma coisa durante a noite essa W11T, �a
pp. 148 ss.; FTSON e HO
55. HOWITT, Nat. Tr.,
manh<i seguime (\l(f. E. ROTH , S11perstilio11, Magic and Medicine
ON , A11s tra/ian
bém
lll ilaroi and Kumai,
pp. 194 , 201 ss.; DA WS
p. 19). Mas é provável que, por esse método, só se obtenhar �
nala -o t a m no Que ens lancl
RlE assi
ces ofEarly Que
1/Jor igines, p. 52. PET .
ensland, pp. 62 e 118)
. of the R. Society ofN. S. Wal
t�tens pessoais complementares e acessórios. pois, nessa mesma < rom Petries Remi11iscen es,
56. journal and Proceed
\XXV!U, p. 339. Os War
tnlx>, um outro procedimento é empregado no momento da ini uint e cos tum e: ante s
ramunga têm o seg
?
'i l . Em certas tribos de que fala ROTH Ubid.); em certas ui .i.... s epultar o morto, reti
ciaçiio, como afirmamos no texto. do braç o; se for uma
r a-se -lhe um oss
o plu mas de
lucro em que e guardad
mulher junta-se ao invó
42. Entre os Wiradjuri (HOW !TT, Na!. Tr. , p. 406; "On Aus-
bos vizinhas ele Maryborough ( HOWITT, Nat. Tr., p. 147). Tr. , p. 169).
i·ma· s� for um homem,
rth.
plumas de mocho (No
l )cv�-se ver nele um traç
o de tote mism o sexu al? .
43. ROTI!, toe. cit.
[ralian Medicine Men", i n j.A.J., XVI, p. 50). seJ1.'Ual tena
caso em que cada grupo
57. Cita-se inclusive um ariam os t� tens
m, os Wurunjerri acumul
44. HADDON, Head H1mters, pp. 193 ss. dois totens sexuais; assi tjoba
Kurn ai (em a-ga rriça e toutinegra) e os dos Wo
45. Entre os Wirndjuri (mesmas referências anteriores, no -.cxuais dos , Nat . Tr., p. 1 50.
nigh tja1') . Ver HOW ITT
ta 2). luk (morcego e coruja
58. Totemism, p. 51.
59. Kamilaroi and Kur
16. Em geral. parece que essas transmissões de pai parn fi
lho só se produzem quando o pai é um xam<i ou um feiticeiro. É
por MATHEWS , toe. cit.,
nai, p. 215 .
p. 339.
o caso i�ua lmente entre os inclios Thompso n (TEIT, 77Je 7bomp 60. THRELLDKE, citado
148, 1 5 1 .
6 1 . HOWITT, Nat. Tr., pp.
'17. Hill TOlIT (/.A .!., XXXV, pp. 146-147). O rito essencial
so11 f11d1ans, p. 320) e entre os Wiradjuri, há pouco mencionados. , Nat. Tr.,
ai, pp. 200-203; HOW1TT
62. Kamilaroi and Kurn essa s luta s san-
. p. 62. Entre os Kurn ai,
é o que consiste em soprar a pele: se não fosse corretamerne p. 149 : PETRlE, op. cit.
A RELI6/IJ SA 551
510 AS" FOR.llASEi.E.llE.\TARB DA 1W
JT,IS
Ca/)Í/11/0 \'
111.11,, donde conclui que são mais primitivos. Mas nos é impossí
\ l'I perceber o que pode justificar essa asser�ào, cm apoio d 1
q11.1I o autor nào •lpresema nenhum fato. Das listas de totens foi'.
1 Cil'llsatfo11 pnmitive, 1 , p. 165, li,
: 1 ,1 , 'eJa na Austrália, :.•·ia na Amérit.1, nada indita que uma espt.-
10 1em1sm \\ i!h special refer
•. i
p. 305; "Remarks on
3. TYT.OR, Ciuilsatio
lo onginal dos totens fosse tão estreitamente limitado, não se
11 primifive, JI. p. 8.
1 . lhid., pp. 8-2 1 .
i pncebe como o t0temismo teria podido satisfazer ao princípio
là
5 . G . McCall 1HEAL, Recoreis 111l·sma tribo elevem ter dois totens diferentes.
l 1 1 ndamen1al em virtude do qual dois clãs ou su bc s de uma
of South-t:astem A/rica, VII
�onh :
cemos esse trabalho somente
através de um artigo dr 13. "Adoram-se às vezes certos animais, diz Tylor, porque
f l{AZ l: R. "South African Totemism :>.10 vistos como a encarnação da alma divina dos antepassados;
". publ icado em Ma11 1901
n" 1 1 1 '
6. CODRl'\"GTO;o.. . 7be Jlela nesia
t'"'ª crença constitui uma espécie de traço-de-união entre o culto
ma i s conwstáveis; a enas o
p
Ma' oh i m m
su õ preferir. .. a espécie que pos u sse o maior poder" (p. 101).
devia
tote m , o qual so a dquire plen
cssu concepçà� é das
clã p e o s í
18. S egu nda ed., III, pp. 416 ss.; ver particularmente p. 419 ,
o sentido no e através do clã.
9. No mesmo sentido, ver A. LA
G, Social OriRins, p. 150.
1•1. �
AS FOIWAS FLE.llEATARES D1I l7D
A REJc,J
'" A
. " 11 nao
ss1 - há • entre esses
animais proretores
·
K re
547
e )s fc i-
clitou poder est.1-
�
�
1
rca�·ao que rRAZER
por Lausa <lo e"cado de servidão em que ele ,·ive (l lill TUl rha de dema . do o ser pro-
•· quan
e l fetichismo começana .
toe. cit ., p. 153). 11 ' ' segu ndo _ (Totemism, p.
'.n . v1Clua! , e não uma cl asse
d1
e
o
º
1
W
tá em seu Yunbeai (totem indi\ idual) e seu Yunbcai está nch:"
' p 3-1). A ver lade e . .
17. Langloh PARKER, op. cit., p. 20. O mesmo acontece t'll 1 • 1 1 .JA ·• l · def 111do.
1 em ' nad a de 1
Ilil i-
· mo não correspon(
XVI
trc certos Salish (Hill TOUT, "Ethn. Rep. on Lhe Stseclis and I• '' 11c111s edings of the Amer.
11
a ·
Skaulits Tribes" ,}.A./., XXXIV. p. 324). O fato é geral entre os 111 '' BRINTON,
Nap,11 a sm. "Proce
:iety", XXXlll, P ·
32 ·
d ios da América Central (BRlNTON, Nag ualism, " A Study in Na ' '' �.>t
VI, p.
tive American Folklore and Jl istory" , in Proceedings of the A1111• .!K. CHAR LEVOT X , thc Srn tlum h of Bri
U on t 1c Ethnol . of
6;-, -
18 P \RKFR ihid · HO\X'ITT, \ai Tr , p 11-. DOJN. \ i h ( :,1�nbi:.t" ./ 1 'V t�,1 aulib
"Siouan Cults", Xlth Rep., p. 443. FrJzcr, por sinal, fez o levanta 50. llill TOUT , "
/ ' '"!'
Ethn o . ep. on
VVV l\f PP • 3 1 1 ss.
the Stseelis and Sk
1
l 1 lhl'S,. ' ·/· A·I. , AfV'.J '
mento dos caso!> americanos e estabeleceu a generalidade da in
terdi(,·ao ( 'fotem sm and Ewgamy, Hl, p. 450). Vimos. é verdadt'. 11 HOW!TT. Na/.
1 h
Tr., p. 1�3.
R op. c1t., p. 20.
\
U. Lang o AR ism , m
i
·
-a View of Totem
que na América o indivíduo devia começar por matar o animal '
1
E
me
K
: 1
P
, A
• .
1
co-remédio (sac-médecine). 1\las esse costume só foi observado
•
Social Ongms, PP · .
1 1( \ZER. recons1dcrando sua · coletivos e
e tardia da instituiç-.lo.
a re la ao entre os totens
,1, que se con
l'eÇ' l mell ior .ç 1 erente ,..,
19. HOWITT, Na!. Tr., pp. 135, 147, 387; "Austrrtl. Meclicim• , á-los por
'
d'f
spirils, convem
des
• '
nomes
Men", j.A.I., XVI, p. 34; TEJT, The Sbuswap, p. 607.
li�, P · �
cl���·� n 1
.\ai Tr . p.
" l•11ard ic111
20. :.. JEYER, Manners and Customs o/ the Ahori� 111es o/ tbl! < ; ·mism .
a11d Exogc1111y. .
os ' u 1 (HO\X'l'IT
Auscr a lia
3-1. E o c�so', na
·
LAF!TAU, Moeurs des Sauvage11S a 111érica i11s, 1, p. 370; CHARLE "L' U totem p 291). r.tas é ev1-
of ". 5· \ q/ a 'v, ·
m
VOLX. /lisloire de la .Vo1welle France, \li, p. 68. Acontece o mes s�a família tivesse
XXXVl ll
uma m e
dos os ltlhos dees,
/'roc. of tbe R. Society
mo com o atai e o tamaniu, na ilha de Mota CCODRL GTO!\ . dent e que, se
em sua mãe tenam,
·
o de sua mae, n
to
·
21 · 7.be Kwc1kiutl
rtfor
hid·ra11.s, pp 323 ss., ,11 1;il, longm dias po<lem ler tran,,corrido desde o momento em
- "The Deve 1 o
.
.
336-338, 393
•111c o animal foi morto. Durante esse tempo, em que se lrans
il11tbroip.. n..s. 190
21
l p men c of t h e C l a n .
4' V ' pP.
Sys tem ", i n A mer
• 477-864 .
lnrmou a alma que esta,·a sob sua guarda e o indivíduo do qual
23. f.11 .J, XXXV. p.
.
142. ''"ª alma é o princípio de ' ida? Mas é inútil insistir sobre tudo o
2" lbid . p. 1 50.
cr. ·v11i Rep. on the
t1cs of the N ·.-W T
. que há de inconcebível nessa explicação.
1 s of Canad 31. PARKER, op. cil., p. 20; HOWlTT, "Australian Medicine
. · Phys1c;:il Characteris-
r1Je
acima um miio des j.A.l.,
se .
a" B A A S p. 24. Men
·
mos mais .
ciona- \len", in }.A./., XVl, pp. 34, 49-50; H i l l TOUT, XXXV,
· · · ·
p. 146.
·•
147.
.
llpo.
26. Pmc. a. Traii.sac
etc., VJJ, 2� seçúo, p. 32. Segundo o próprio Hill TOUT. ''A doação ou a 1rans-
27. Ver n )n� "ro
' ic.
' e n Bougb lll
pp. J)
12.
.z - 1 ·"'�· WTL1"
111íssão (de um lotem pessoal) só podem ser eíetuadas por çenas
EN JÜ havia
••
I
assin al:1clo ' ,
fatos a n á l o pessoas como xamã ::. l u homens que possuem um grande po
t!�os c", i n Dt G id."
•
18. or ' l
.
1 887.
p
-
ANN em Die E111g
exemplo, EYlM ríes", Folk-lore, XI, pp. 59 ��.
<!IJOrcm•11 der Ko-
eii, p. 199 34. Com cxceç;.1o talvez dos Kumai. Mesmo assim, existem
. .
lo11ie S1/dcms1ra/i
29. Se o Yunbea i d
•
iz�
e sra. PA IUCER
nessa tribo, além dos lotem> pessoais, cotens sexuais.
35. Entre os Wotjobaluk, os Buandik, os Wiradjuri. os Yuin
layi, ··confere um a ?ropósito dos Euah
a for' -a xce _
excepcionais, pois
pc1 on,, 1I , Lambem exp
� que fere o an11
. õe a perigos
11al fere o homem" (Eu
tudoç a s tribos vizinhas de Maryborough (Queensland). Ver HO
layi, p. 29). \VIIT, /\'ai. Tr , pp. 1 1 4-147; l'vlATHEWS, ]. of R. Soe. ofN. S. \Yla
l'
ab-
30. Num trabal ho Po
en. r ( 1,hc
"
. /es. XXXV III, p. 291. Cf. THOMAS, "Further Notes on M. H i ll
Tbe Fort11igh1!�· R >ie . r:. � Touc's Views of Totemism", in Man, 1904, p. 85.
. .
, Ongm of
Tme mi�m-. in
FHJ\ZER levan ta a obj e ào·
e1 c r
o caso dos Euahlayi e dos exemplos de totemismo
e 899 pp 814-8·1
�e '.º ! É
1
. . 5), o próprio
. Se• d11: ele, guarde 36.
corpo de uma lebre i minha alma no
e eu irmao John membro
.
pessoal assinalados por 1 10\VITT em "Australian Medicine \len"',
est rnngeiro) m ata ( de um clã
essa leb�e, assa in .f.A ./., XVI, pp. 34, 45 e 49-50.
37. Sna. FLETCHER, "A Study oí the Omaha Tribe", in
com minha alma�· -a e come-a, o que
Par acontece
"' evuar esse
Smilbsonian Repor/ fo r 1897, p. 586; DOAS, 7b<! Kwaki11tl,
perigo• é nccessa' no
"
irmão John conhe" que meu
· hª �1ma e que
,.'
1
,
· ·
1
mente, quand o , posterior-
p. 322; do mesmo autor, "Vth Rep. of Lhe Commitree... of lhe N.
u i ª a mim ·m
cssa alma e de resli de extrair dela
uma
l w. Tribes of lhe Dominion of Canada"', B.A.A.S., p. 25; llill
• TOUTJA .1., XXXV, p. 148.
tes {le assa
Ceer JU 1 ga
dele seu jantar. " r o animal e fazer
' encontrar essa prá tica
·
Ora Fraz . • ·
i n terpretação do
ter con .1a �
a esses arnma1s. Mas
?
, além dessa
tão seguramente quanto o totem observa-se igualmente entre os