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Coleção Debates

Dirigid a por J . Gui nsburg


Conselho Editorial: Anatol Rosenfeld (1912·1973) , Anil' No-
vinsky, Ar acy Amara l, Augusto de C ampos, B6ri s Schn akler-
man , C ertos Guilher me Mo ta, Ce lso Lnfet, D ante More ira Leite,
G ita K. Gu insburg , Harold o de Ca mpos, Leyla Perrone-Moisés,
Lúcio G om es Mach ado, Maria de Lourdes San tos M3Ch3do,
Modesto Carone Netto , P. E. Salles Gomes, Regina Schimi-
derman, Robert N. V. C. Nicol, Rosa R. Krausz, Sâbato Ma-
galdi, Ser gio Miceli, WilJi Ba ile e Zulmira Ri beiro T avares.

mario bunge
TEORIA E REALIDADE
J

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~ ~ EDITORA PERSPECTIV A
~/I\~
Equipe de realização - T rad ução: G ita K. Gu insbu rg: Re-
visão: A. R. Pa utln o Neto; Produção: Lúcio Gom es Ma ch ado;
C apa: Mcysés Baum stcin.
c ~r:uio Btln ~

SUMÁRIO

PREFÁCIO . 9
I. OS CONCEITOS DE MODELO . 11
Introdu ção _ . 11
I . Começa-se por Esq uematizar . 13
2. Depois se Traça lima Imagem Teórica
Detalhada do Modelo . 16
3. Da Caixa Negra ao Mecanismo . 18
4 . Análise das Noções de Objeto-Mode lo e
de Modelo Teórico . 22
5 . Modelos, Desenhos, Análogos . 25
6 . Modelo Científico e Modelo Semântico . 27
7 . Sínt ese Final . 29
2 . MODELOS NA CI~NCIA TEÓRICA . 31
D ireitos em língua portuguesa reservados à Introdução _ . 31
ED ITO RA PE RSPECTI VA S.A. 1 . Ob ietos Concretos e Obietos-Modelo . . 32
Av. Br igadeiro Luís Antônio, 3025
Te lefone: 288-8388 2 . A R elação de Modelagem . 33
0 1401 São Paulo Brasil 3 . Modelos Teôrlcos _ . 34
1974
5
4 . Gerando Modelos Te ôricos . 35 4 . Da Caixa N egra ao Mecanismo . . . . . . . 98
5 . Mod elos e Com probabilidade . 36 5 . Da Sub sun ç ão à Explicação Interpretativa 101
6. M odelos, M ecanismos, Allálogos, Qua - 6 . Do Esb oço ao Sistema de Axiomas . . . . 103
dros . 37 7 . O Filósofo e a Maturação da Ci ência . . 105
7 . M odelos T eóricos e M odelos Semânticos 38 Discussão 108
8 . Período de Pergunt as . 39 l. R esposta a W!lyte 113
3 . MODELOS E M SOCIOLOGIA . . 41 II . Resposta a Popper 114
1. Tran spondo o A bism o entre as "Natur- J II . R éplica a Hutten 115
wissenschot ten" e as "Ge istewissen: 7 . SIMPLICIDADE NO TRABALHO TEú-
schajt en' . 41 RI CO .. .. .. .. . .. . .. .. .. .. .. .. .... .. 119
2 . O Problema . 43 Int roduç ão 119
3 . Modelos Não-teóricos de Migração Hu- 1 . Espécies de Sim plicidade e SIlO R elev ãn-
'Hano . 43 cio para a Sist ematicidad e, Precisão e
4 . T eorias Qualitativas da Migração Hu- Comprobabilidade 120
Inana . 44 1 . I . Tip os de simplicidad e 120
5 . Uma Hi p ôtese E xptanntôria . 47 1 . 2. R elevância da simplicidade l ôgica
6 . Prim eiro Modelo Determintstico . 47 à sistematicidade 124
7 . Segundo Modelo Determin ístico . 49 1 . 3 . R elevância da simplicidade lógica
8. Prim eiro Mod elo Estocástico . 50 para a precisão e a comprobobiii-
9 . Segundo Modelo Estocástico . 51 dade 126
10 . Observações Filiais . 52 I .4. Simplicidade, verossimilhança e
4 . COMO E POR Q UE DEVERIAM SE R verdade 129
AXIOMATI ZAD AS AS T EORIAS CIE N- 2 . Desideratos da T eoria Científica ou Sill-
T IFICAS? . 55 tomas de Ve rdade t 31
5 . TEORIAS F ENOM ENOLOGICAS . 67 2 .1 . R equisitos sint âticos . . . . . . . . . . . 13 1
I . T eorias Científicas enquanto Caixas . . 68 2 . 2 . R equisitos semânticos 132
2 . Alguns Mol-ent endidos . 70 2. 3 . R equisitos epistemológicos . . . . . . t 34
3 . Estrutura das T eorias da Caixa N egra 72 2 .4 . R equisitos metodol ágicos . . . . . . . t 39
4. Algumas Limitações das Teorias da Cai- 2 .5 . Exi gências filosóficas 142
xa Negra . 74 2 .6 . Outros critérios 143
5 . T eorias Semiienomenol âgicas 110 Eletro- 3. A A ceitação de T eorias Científicas: Cin -
magnetismo . 75 co Casos 144
6 . T eorias Semiienomenol âgtcas na M ecâ- 3.1 . T eoria do Sistema Planetário 144
nica Quântica . 78 3 . 2 . T eoria da Gravitação . . . . .. . . .. 146
7 . Uma Te oria Semi ienomenot ágicn 11 0 3 . 3. T eoria do Decaim ento-Beta 148
Domínio das Partlcuias Elementares .. 81 3 .4. T eoria da Evolução 150
8 . Escopo da A bordagem pela Caixa N egra 82 3 .5 . T eoria Genética .. .. .. .. .. .. .. 152
9 . Expla nação e Interpretação . 83 3 .6 . Prova das Provas ... . .. .. . .. .. 153
10 . Coixa-negrismo . 85 4 . Conclusão: A L eveza das Simplicidades 153
Conclusão . 88 4 . I . A simplicidade não é lIem necessá-
6. MATURAÇÃO DA CIBNCIA . 91 ria lIem suiiciente 153
1 . Crescim ento: N ewtoniano e Baconiano 91 4 .2 . O papel das simplicidades na pes-
2. Con ceitos: Em píricos e Transem piricos . 93 quisa 156
3 . Dos Pacot es de Inform ações às Hip ôteses 96 4 .3. Conclusão 157

6 7
8. T EORIA E REALIDAD E . 159
l. Introd uç ão . 159
2. R eferência . 160
3. Rei erência Di reta e Indireta . 162
4. lnterprctaçõ cs: Objetiv a e Operacional 165
5. Unidade Conceitttal - e com o Trans -
gredi-!a na Mecânica Q u ântica . . 169
6 . R eferência e e vidência . 174
7 . Regras de Interpretação . 178
8. Observaç ões Finais . 181
9. A NALOG IA, SIMULAÇÃO, REPRESEN-
TAÇÃO . 185
1. Introduç ão . 185
2. A nalogia .. . .. . • • .. . . . . • • • . • . . •. . 186
3. Simulação . 190
4. R epresentação .. 191
5. Combinando as T rês R elações . 194
6 . O Papel da A nalogia na Ciência . 196
7. Os Papéis do Simulação e R epresenta ção
na Ciência . 199
8 . Ob servações Finais . 202
10 . A VERIFICAÇÃO DAS TEOR IAS CIEN -
TIFICAS . 205
I. Introdução . 205
2. A s A nálises Não-Empíricas . 206
3. A Preparação Para a Prom Empírica . . 207
4. A Produ ção de N ovos Dados . 209
5. O E ncontro da T eoria e da Experiência 210
6. Conseqiiên cias Filoso iicas . . 212
11 . O PAPEL DA PREV ISÃO NO PLANEJA-
MENTO . 213
12. FILOSOFIA DA INVESTIGAÇÃO CIEN - PREFÁCIO
TlFlCA NOS PAISES EM DESENVOLVI-
MENTO . 225 A natureza continua funcionando se m a ajuda das teo-
1. Desen volvimento Ci entífico: Parte do rias científicas. Do mesmo modo as sociedades pré -indus-
Desen volvim ento Int egral . 225 triais : crença, opinião e conhecimento especializado mas
2 . Filosofia e Política da I nvestigação Cien- pré-teorético bastam -lhes. Mas um homem moderno não
tífica . 226 dispensa as teorias cie ntíficas a fim de avançar, seja em
conhecimento, seja em ação. Suprimam toda teoria cientí-
3. A Filosofia Popular do Desenvolvim ento fica e a própr ia possibilidade de progredir ou mesmo de
Científico . 228 manter boa parte do que foi conseguido desaparecerá. Mas
4. A Filosofia Integral da In vestigação Ci en- também: apliquem mal as teori as científicas e a pr6pria
tífi ca e a Política Cons eqiient e . 232 humanidade pode chegar a um fim. Nosso futuro depende ,
5 . RI/mo a lima Planificação Liberal da In- poi s, de nossas teorias tanto quanto da maneira de apli-
vestigação Científica . 236 cá-Ias.

8 9
H oje cm dia teori zamos acerca de tudo: não apenas
acerca de objetos físicos, mas também de fatos biológicos,
sociais c psíquico s. Alg uns ramos da psicologia matem ática
tornaram-se m ais sofisticados do que certos capítulos da
química. Mede-se ritualmente o progresso científico por
graus de avanço da ciência teor ética melh or do que pelo
volum e de dados empí ricos. A ciência contemp orânea não
é apenas expe riência, porém teoria mais expe riência p lani-
f icada, executada e entendida à luz de teorias. Ta is teo rias
apresentam-se muitas vezes envoltas em linguagem mate-
mática: toda teoria. especí fica é, na verdade, um modelo
matem ático de um ped aço de realidad e. E ste sim ples fato
coloca numero sos problem as fil osófi cos. Por exemplo: o
que é um mod elo teó rico? qu ais são as relações entre um
modelo teórico e urna teoria geral? corno são comprovadas
as teori as? que pap el d esempenha a teoria na ação plane-
jada? qu e função p ode o trabalho teó rico exercer no de -
senvolvimento econ ômico , so cial e cultural de uma nação?
Tai s são alguns dos problemas abordados neste livro. Os
que estiverem interessados em problem as mais específi cos
da filos ofia da física pod em valer-se do volume que fará
par com este, F/SICA E FILOSOFIA . E os qu e estivere m
interessados na filo sofi a e metodol ogia da ciência como
um todo podem recorrer ao s livros S cíentí]íc R escarch
(New York , Springer-Vcrlag, 1967) e Myth 01 Símplícíty
(Englewood C lii fs, N. J., Prentice-H all, 1963 .)

D epartrnent of Philosophy, McOill University

1. OS CONCEITOS DE MODELO

Intr odução

A Segunda Guerra Mundial teve um efeito imprevisto


e salutar na metod ologia das ciência s não-Ifsicas: subver-
teu o modo tradicional de pesquisa nestes domínios, ao
ressaltar o valor de teorias, em particular de teorias for-
muladns com o auxílio da matemática. Ante s se observava,
se classifica va e se especulava: agora se acrescenta a cons-
trução de sistemas hipotético-dedutivos e se procura pô-los
à pro va experimental, até em psicologia e em sociologia,
outrora bastilhas do vago. Outrora se utilizava apenas a.

lI) 11
lingua gem com u m pnra exprimir idéia s, resultando semp re thematícal Models iII lhe Social Sciences de 1.G. KEMENY
falt a de pre cisão, na verd ade f al ta de clareza . A m ate rn â- e 1. L. SNELL.
ti ca só inte rvinh a no fin al para co mprimir e analisar os Pod emo s situar esta re volução científica nas cerca nias
result ados de pesqui sas empíricas na rnnioria da s vezes su - de 1950. Nã o foi simplesmente a substituição d e uma teo -
pe rficia is por Ia lta de teorias: (azia-se uso quase que exclu- ria c lcn tffica por outrn: foi o esforço de teorização em
sivame nte da estatística, cujo aparato podia dis farçar a po- cam pos até ent ão não -teóricos. Foi um a metodologia no va,
br eza con ceitu aI. Agora se usam cada vez m ais várias teo- uma nov a man eira de traba lhar qu e nasceu por volta de
r ias matemáticas para a próp ria construção das teorias, 1950 nas ciências não-físicas . Começa-se por colocar pro -
Começa-se a compreender qu e o obj etivo da pesquisa não b lemas bem circunscritos e isto é feito com clareza, se
é a acumulação do s falos mas a su a compreensã o, e que possível em lingu agem m atemática; adiantam -se, para re-
esta só se obtém a venturando e desen vol vendo h ipóteses solvê-los, hipóteses pr ecisa s; procuram- se suas conseqüên-
precisas . cias; pr od uzem -se d ados empíricos a fim de verifi cá -los;
O que se p assa em ciên cia pura também ocorre em examina-se o peso de tais dados e o gr au em que estes
tecn ologia: esta torna-se cada vez mai s um sistema feito confirmam ou refutam as hipóte ses; finalmente, discutem-se
de ciên cia aplicada e de teori as tip icam e nte tecn ológic as, que stõe s met od ológicas e às vezes, mesmo , filo sóficas co -
tais como a teoria dos ser vom ecani sm os, a teoria da infor- locadas por estes procedimentos.
mação e a teoria da decisão. Por tod a a parte verifica -se Em suma, faz-se ciência, em quase toda pa rte, tal co-
o surto da teoria geral e do modelo teóri co espe cífico : a mo os físicos a têm feito desde Galileu, a saber, formu-
vitó ria da especulação exata e submetida ao controle expe- lando questões claras, imaginando modelos con ceituais das
rirne ntal sobre a cega acumulação de dados mu itas vezes coisa s, às vezes teori as ger ais e tentando justificar o que
se m int ere sse. Até a med icin a está em vias de ser conquis- se pen sa c o que se faz, seja através da lógic a, seja através
tad a pelo espírito da geom etri a : co meça-se a aplica r a ló ~ de outras teorias, seja através de experiências, aclaradas
gica ao di agn óstico clínico, e mp rega -se o cálcul o de pr o- por teori as. Es ta revolução nas ciên cias não -físicas , Dão é
bab ilidades em gené tica hum an a, por toda a parte apli ca -se pois senão a adoção do método científico, outrora monopo-
a bioquímica. Es tá pr óx imo o dia em que sa be remos por liza do pela fisica. Atu almen te existem apenas diferenças de
qu e ficamos doentes e co mo nos cu ra mos. objeto, de técnicas especializadas e de estágios de evo lu-
E sta revolução cie ntífica, a mais grandiosa ap ós O nas- ção entre as dif erentes ciênci as positivas: desde 1950 elas
cime nto da teoria at ôm ica contemporânea, foi possível pela são metodo logic ame nte u niformes. N ão se trata de uma
ap roxima ção física e a colabo ração p rofi ssiona l de milha- "Iisicalização" das ciências: não se trata de renunciar ao
res de biólo gos e engenhe iros, psicó logos e mate máticos, estudo dos processos não-físicos ou de te ntar reduzi-los a
soci ólogos e físicos, em alguns se rviços de gu erra dos EUA processos físicos, mas de estudá -los cie ntifica men te e em
e em esca la menor, na Orã-Bretanha, no último conflito profundidade. A revo lução iniciad a por volta de 1950 versa
mundial. Tã o logo a guerra term ino u, desabou lima ava - sobre a maneira de aborda r o estudo dos objetos não-fí-
lan che de novas abordagen s, novas teorias e no vas discipli- sico s.
nas or iunda s destes contatos: a teoria geral dos sistema s. Tentarem os aqui exp or uma da s ca ra cterísticas dessa
a cibernética, a teoria da info rmação, a teoria dos jO!!O~, nova me todologia, n saber : a construção de objetos-mo -
a soc iologia mate má tica c até a lingUística matem ática . Ao delo c de modelos teóri cos.
mesmo tempo consolidavam-se a biologia matemática c a
psicologia matemáti ca. N ão se trata ma is de en saios tími-
do s mas de campos respeitáveis servidos por revista s de alto 1. Começa-se por Esquematizar
ní vel, ta is como o I ournal ot Tli eoretical Biology, o l ournal
of Matbematical Psychol ogy e Operations R esearcb e inú- A conquista con ceituaI da realidade começa, o que
meros trat ad os e coletâneas de tex tos já clássicos , tais como parece paradoxal, por idealizações. Extraem-se os traços
o Math ematícal Biophysics de N _ RASHEVSKY, o Hand - com uns de indi víduos ostensivamente diferentes, agrupan-
book of Marhema/iealPsyehology, em t rês volumes, de do-os em espécies (classes de equi valência). Fala-se assim
R .D . LUCE, R .R . BUSCH e E. GALANTER, a lntrodu c- do cobre e do homo sapiens. E. o nascimento do obieto-mo-
tion /0 Mathemat ícat Sociology de 1.S. COLEMAN e Ma - dela ou mod elo conceituaI de uma coisa ou de u m fato.

12 13
Mas isto não basta : se se quer inserir este objcto mod elo cialmente O cálculo d a função de pa rtição ou font e das
cm uma teoria , cumpre atribuir-lhe propriedades suscetí - ~ iversa.or; pr opr iedades do sistema). De que serve pois inves-
veis de serem tr atadas po r teorias. ~ p reciso, em suma , tir tant os esforços em um modelo que, sabe-se, é f isica-
imaginar um objeto dotado de certas pr opriedades qu e, mente demasiado simples e ma tematicamente demasiado
amiúde, nã o serão sensíveis. Sabe-se mui to bem que pro- complicado? Simplesmente porque não se pod eria prece-
cede ndo desta m an eira há o risco de inventar quimera s, u:r de ou tro .modo,: Quer se diminua ou se multiplique o
mas não existe ou tro meio, por que a maior ia da s coisa s numero d as d!mcn soes de um espaço, q uer se simplifique o
e d as propriedades ocultam- se aos nossos sentidos . Sabe-se dado o~ c.o njelura das entidades e das propriedades su-
lambém que o mode lo co nceituai negligenciará numerosos pra-sensrveis (no entanto, supostas como rea is), constroem.
tra ços da co isa e a fastará as caract eríslicas que indi vidu ali- se modelos conceituais que por si sós nos poderão dar
zam os objeto s : ma s, desde A rist óteles, convencionou-se um a imagem simbólica do real. Os outros caminhos _
que nã o há ciênci a a não ser do geral. E, se um dado a razão pura, a intuição e a observação - malograram.
mod elo não oferece todos os d-et alh es que interessam . po - Som ente model os con struídos por meio da intuição e da
der-se-à em p ri ncípio complicá -lo . A formação de cada razão e submetidos à pr ova da expe riência foram bem
modelo começa por simplificações, mas a sucessão históri ca sucedidos, e sobretudo são suscetíveis de ser corrigidos
dos modelos é um progre sso de complexidade . segu ndo a necessidade .
Basta pensar nos modelos mais audaciosos : os que Lan cem os um golpe de vista sobre uma obra recente
representam um sistema trid imensional em duas dime nsões intei ram ente dedic ada a modelos hipersimpIificados de sis-
Oll mesmo cm uma só, tal como o modelo de Ising da ma - t~m as rísico~ : Math emati cal Physics in One Dlm ension por
téri a nos estad os condensados. Aventa-se a hip ótese de qu e Lieb e Mattls2 • En contramos aí tr abalhos que se torn aram
as molécu las são linearmente ordenadas, e qu e cad a uma clá ssicos tais como os de Kac, U hlenbeck e Hernrner so-
delas só atua sobre as vizinhas. Este mod elo hipersimplifi- bre um modelo linear de um gás capaz de imitar o pro-
cndo dos líquidos e dos sólidos foi proposto em 1920 por cesso de condensações; o artigo de Dyso n sobre a dinâ-
W. Lc nz, que apresentou a seu aluno E . Ising o problema mi ca de uma cadeia caótica; os t rabalhos de Kronig e
de cons truir o modelo teórico corresp ondente, i.é, a teo- Pen ney acerca do mov imento dos e1étrons nas redes li -
ria que descreve este obieto-modelo>. Neste ca so a tarefa nea res, e muitos outros. Não se t rat a de exercícios acadê-
con sistia em inserir o ref erido objeto-modelo na mec ânica micos de matemática ap licada mas de modelos teó ricos de
esta tística clássica. Esta é uma teoria muito ge ral que não objctos reais : são teor ias que especificam represen tações
se pronuncia sobre a na tureza dos indivíduos que formam esque máticas de obje tos Iísicos. Assim, a cadeia desordena -
co njun tos estatístico s e, por conseguinte, pode ap lica r-se da tra tada por Dyson é um modelo grosseiro da estru tura
tan to ao modelo de Ising quanto a u m mode lo de popu- do ferro. Tais fant asias têm po is uma intenção : a de apreen-
lação animal. Ising forneceu a solução exnta (1925), mas de r o real. Como? Escu temos os autores d este volume extra -
esta mo stro u-se incapaz de exp lica r tra nsições qualitativas or dinário: a solução dos problem as a uma dimensão "cons-
típicas, tais como aquela que leva ao estágio fer romagné - titui um a co ntr ibuição à exp licação da realidade : edu can-
tico. Diagnóstico: o modelo é fa lso. Prognóstico : co mplicai do-nos na necessidade da análise rigor osa e exa ta eles nos
o modelo, pelo men os expandindo-o pa ra duas d imensões. cond uzem a uma abordagem mais crítica e matemática e
Ising desanimou e abandonou a física . A tare fa foi reto- finalmente a uma melhor definição da realidade'v . ~ ver-
mada por L. On sager, que obteve excelent es resultados . dade que traba lhando sobre mode los a urna dime nsão (em
Resultados tão bon s, com efeito, que se aguard a com espe- geral , , ? bre objetos-mode lo) se negligenc iam complexida -
rança e imp aciên cia a solu ção do problema ma is realista des rear s, mas cm compensação se obtêm soluções exatas,
do mode lo de Ising a trê s d im ensões, problema ain da q~e são mais fáeeis de interpretar que as soluções apro-
aber to. xirnada s de pr oblema s ma is complexos, e assim se abre
Sem dú vida , este modelo da maté ria consti tui lima re - camin ho p nra abord ar estes problemas mais complicados.
present~ção excessivamente simplista d as coisas ma s, mes- Ce rtam ente , de ver-se-â esperar o fracasso de qualquer um
mo assim, coloca p robl emas matemáticos terrí veis (essen- destes modelos hipersimplificad os, mas todo o fracasso de
( I) A histór ia dramática deste modelo acaba de ser relatada po r (2 ) E. H . U EO e D. C. MAITIS . (E ds.), lttalhrmat k ol Ph),slcs l n
S. G. BR USH , I-listo ry c f the Lenl.+ls inl Mc del, R ~.' i(' '''$ 01 M o dern One Dlm ~fUion . ( New Yor Jc:, Ac. drmlc Pr ess, 1%6.)
Ph)'slc.r. 39, 883 (1967) . (l) UEO &. MATTI S, op . cít., p. VI.

14 I 15
uma idéin p ode ser instruti vo ..cm d~nci.n , porqt!c po~c su-
ger ir as m odi ficnçõc s qu e sera pr eciso introd uzir a Iim de ração cl étron -rede é represe ntada por um po tencial pe rió-
dico no esp aço, ma s consta nte no te mpo (ap roximaç ão ).
obter modelo s ma is reali stas".
Em resumo , para apreend er o real começa -se por Este mode lo é, a seguir, inserid o no vasto arcabouço da
afa star-se da inform açã o. Dep ois, se lhe adi cionam el~ men ­ mecâni ca quâ ntica. N o curso dos cálcu los será amiúde ne-
tos imagin ári os ( ou antes hipotét icos) ma s com uma l ~ ten­ cessário fazer ap roxim ações matem áticas adi cion ais. Toda-
çâo reali sta. Constitui-se assim um !'?jeto -modcl o mais ou via. o result ado apresenta-se freq üentern ente de acord o com
men os esquem ático e que, para frutific ar deverá ser enxer - as informa ções empíri cas, O que sugere que se fez uma
tado sob re uma teoria suscetív el de ser confron tad a com imag em quase ve rdadei ra do real ( uma ima gem não-visual,
é claro ) . Em bora, inicialm ente, nã o fossem postula das
os fatos.
diferen ças entre conduto res, semico ndutore s e isolante s,
o bté m -se esta partiçã o analisa ndo a distribu ição dos níveis
2. Depois se Traça li//la Imagem Te ôrica Detalhada (ou melh or das ba ndas) de e nerg ia. T ais band as são se-
paradas po r regiões ch amadas pr oibidas (não são estados) .
do Modelo
Se todas as bandas de energia estão ocupad as pelo s el é-
trons, nã o há corrent e elétrica : eis o isolante . Este mo-
Não ba sta esquem atiz ar u m líquido como um~ ~ede delo teór ico explica nu merosas prop riedade s macrofís icas
de molé culas ou um cé reb ro com o uma red e de neuromos : da mai or ia dos cri stais puros: as condut ividades térmica
é preciso descrev er tudo isso em detalhe e de acordo c0J.TI e elétrica , a suscetib ilidade magn ética, as p ropried ades ópti-
as leis gerai s conhecidas. Em outros term os, é ne cess ário ca s etc. Outras p ropri edades, como a luminescência,
constru ir uma teoria do objeto-rnod elo - em suma, um encon tra m exp licação, com plicand o-se o modelo de Bloch:
modelo teórico. A t.eoria cinética dos gases é um modelo ad iciona ndo- lhe impu rezas, sup ond o desorde ns na rede etc.
assim, ao pa sso qu e nem a mecâni ca e~tatísli ca geral . nem Qu ant o mai s se exige fidelidade ao real, tanto mais será
a termod inâmica o são, poi s não especif icam as particu la- preciso co mp licar os model os teóric os.
ridades dos gases. A teoria geral dos gráfico s tampou co
o é, ao passo que sua apli cação a organiz açõ es hu~an.as, E m o utras ciên cias, procede -se de modo análogo . To-
tais como a empresa o é. Daí se depreend e uma pnmeir a mem os, por exempl o, o modelo de cérebro propost o por
caracte rização da noção de mod elo teórico : um modelo McCull och e Pitts, há um qu arto de séc ulo. Es te modelo
te6rico é um sistema hipo tético-d eduti vo que con cerne a fica apenas nas fibr as nervosa s e não penetra no meca-
um objeto- modelo , que é, por sua .vez, um a represc:n laç~o nismo da conduç ão nervosa: trata-se de u m modelo se-
conceit ual esqu em ática de uma COJsa ou de uma sttuaçã o rnlfen cmen ol ôgico que será mister comple tar com outros
real ou suposta como tal. Voltare mos a este assunto na modelos, levando em con ta pr ocessos eletro líticos. D espre-
secção 4. Por ora, lembre mos alguns exemplos. za tam bém o temp o de cond ução no longo dos eixos e
A teoria contem porâne a do estado sólido foi instituí- supõe que o ret ard o sináp tico é con stante e igual para to-
da por Bloch bá quaren ta ao os. A idéia matriz de Bloch dos os neurôn ios. F ormul a, a seguir, a hip ótese central do
foi a de aplic ar a mecâni ca ondulat ória, uma teori a gené- mod elo teó rico, a saber, que um neu rônio só descarr ega
rica a um modelo simples do corpo cristalino. Os consti- se os neurônios anterio res descarr egaram no mo me nto ante-
tui ntes deste modelo são um conjun to de ce ntros fixos que rior. Este enunc iado é imediat am ent e tr adu zido em fór mu -
represe ntam os átomo s, e um conjun to de elétro ns (ou me- las, u ma para cada tipo de conexã o. U ma vez de posse
lhor de elétrous-modclo) que pa sseiam entre os centros destas I órmul as, tenta aplicar- lhes um cá lculo matem ático
fixos . A rede de centros fixos é suposta rígid a (fi cçã o), a já existen te (confor me o caso, dever-s e- á inventa r uma no-
int er ação entre os elétro ns é supos ta nula (ficção) e a inte- va teoria m atem át ica ) . Neste caso é a álgebra de Boole.
Co nstró i-se assim u ma teori a que co nsegue expli car alguns
(4) o exemplo cláss ico das m odifi cações sugeri das pelo processos ncu rofisioló gico s, Se se quer ir além , de ver-se-á
expe rimental de um modelo t eóri co 6 o das eqwaçocs fr acass o
gases, Par a discu ssões instrutivas, a prop ósito de modelos de estado dos co mplica r este modelo - por exemplo, introdu zindo um
psico logia contempo rân ea, d . R. R. BUSH e F . MOSTEL LER teô rtccs em elemen to de acaso. Se se supõe que os canta tas sinâpti-
MotU b for L ~ar "jn~ ( New Y or k, wüer, 1955) e S. , S Ioc h as rlc
Stcchnsuc Leamlni Th ecry em R. O. LUCE, R.
STE RND BRG. cos se pro du zem ao acaso, pode-se colocar e resolver a
T ER , ( Eds.>. ll nnd book ot M nt h l'm atlcal l's)'c110 1R. BUSH e E . GALAN ·
0 gy. (Ncw York , wíter, qu estã o de p robabilidad e de formaç ão ao acaso de certos
1963) v. 11. cir cuit os ne rvosos, o que poder á explica r a ap arição de

16
17
pen samen tos qu e parecem vir do nad a. Foi o que fize ram t rata de imitar os epici clos de Ptolomeu: cumpre con side-
Rap oport e seus co laboradores: dese nvolver modelos esto- rar se riam ente os mecanismos hip otéticos, como represen-
cás ticos do sistema nervoso ce ntra l. tan do as entran has d a co isa, e cumpre dar prova desta
Os modelos estocásticos estão em mod a na psicologia. convicção rea lista (m as ao mesmo tempo falí vel) imagi -
desde qu e se compreendeu q ue a co ndu ta ani ma l está longe "a ndo expe riências qu e possam pôr em evidência a reali-
de ser sistem ática e coerente. F or am constru ídos, em espe- da de dos mecanismos imaginados. De ou tro modo fare-
cia l, mu itos modelos estocásticos da apr endi zagem . O que mos literatur a Ia nt âstica , o u melh or , praticar-sc-â filosofia
é co mum a tod os estes mod elos é o segui nte: primeiro co nvenciona lista , ma s em todo caso não se participará na
ignoram as diferenças de espécie, assim como as de nível pesqui sa da verdade.
dos processos em apreço. E m segu ndo lugar, descartam Seja um sistema qualquer, máq uina ou organismo , mo-
todas as variáve is biológicas co nce ntra ndo-se nos estímu- lécula ou instituição. e suponhamo s qu e alguém que ira
los, respostas e efeitos dos últimos (em par ticular, grati - descreve r e p red izer seu co mporta mento sem se ocupar,
ficação e punição ). E m ter ceiro lugar, a hip ótese centra l no moment o, de sua compos ição interna nem do s proces-
de cada modelo é um a fó rmula q ue dá a probabi lidade de sos que podem oco rre r em seu interior . Co nstruir-se-â
resposta de u m assu nto em função do número de te ntati- então um modelo do tipo caixa negra, q ue constituirá uma
vas e da seq üênc ia de even tos anteriores. E sta função va- rep resen taçã o do fu ncion amento global do sistem a, exata-
ria de m odelo para modelo. Em todo caso , o qu e se cha ma ment e como a idéia qu e a cria nça faz do carro, do rádio
" mo delo estocástico de apre nd izagem" é, na realid ade, a ou da televisão. Su ponhamos aind a que se elimin em todos
hipótese ce ntr al de uma teo ria especí fica (modelo teórico ) os fato res qu e ntua m sobre a ca ixa exceto um. cha mado
que entra no q uad ro ge ral da teoria da apre ndizagem. Na- a entrada E, e que se considere como importante uma
turalmen te, um a hip ótese n50 é central senão po r estar ún ica p ropriedade influenciada pela entrada ; denomina-
rod ead a de h ipóteses subsidiárias relati vas, seja à estrutu- mo-la, saída S. A representação mais simples dos aconte-
ra ma tem ática dos símbo los, seja à signific ação destes. cime ntos que en volvem a caixa será um qu adro que osten-
Em sum a, lima vez concebido um modelo da coisa, Ia os di verso. pares ( E,S ) dos valor es da entrada e da
n gente a descr eve em ter mos teóricos, serv indo -se para saída. Cada aco nteci mento será, pois, represent ado por um
tant o de conceitos matem át icos (tais co mo o de con junto destes pares que será o seu modelo. Mas esta descrição do
c pr obabilidad e) e pr ocu rand o enquad ra r o todo em um modelo é dema siado primitiva e pouco económica. Será
esq uema teóri co co mpreensivo - o que m al é possível vantajo so substituir o qu adro por um a fórmula geral que
nas ciências novas, por mais ricas que sej am cm visões ligue os dois co njuntos de valore s E e S. Poderá ser, por
de con ju ntos e con cep ções grandiosas. mas pura me nte exe mplo. um a fórm ula que dê a taxa de mu dança tempo-
verba is. ra l de S em função dos valores instantâneos de E. E sta
fó rmul a ex primirá de maneira suci nta e geral a form a do
co mpor ta me nto do sistem a-mo delo, sem no entanto nad a
3. Da Caixa Negra ao Mecanismo dizer so bre as transformações int ern as sofridas pelo sis-
tema real. Se ligarmos esta fórm ula gera l a out ras, e par-
ticu larm ente, se conseguirmos inseri-Ia em u m sistema te ó-
Há mu itas espécies de ob jeto-mo dclo c. por co nseqüê n- rico gera l, ter -sc-á um modelo teóri co do siste ma, conc e-
ci a, de modelo teóri co. Numa extremida de do espectro, bid o com o um a caixa negra, i. é, de um a m an eira sim-
enco ntr a-se a ca ixa negra do tada some nte de entrad a c plista , mas que poderá satisfazer temporariame nte nossas
saída; no utr a ext remidade Se e nco ntra a caixa cheia d e necess idades, sobretudo se estas forem de ordem pr át ica .
mecanismos m ais ou menos escondidos q ue servem para Por pouco que se desen volva a pesqui sa, seremos le-
explicar o co mporta me nto exterio r da caixa. O p rocedi - vad os a int roduzir, prim eir am ente, outras vari áveis do mes-
ment o natural - que não é, entreta nto, o curso histó- mo tipo (e ntradas e saídas) assim como vari áveis de um
rico - é o de começa r pelo obje to-rnode lo mais simples. terceiro tipo, a saber, va riáveis I que espec ifica m o estado
desprovido de est rutura . depo is acrescenta r-lhe lima estru- intern o do sistema. A lei do sistema, ou melhor , a repre-
tu ra simp les (por exemp lo, dividi ndo a caixa original em scn tação esquemática da lei. será entã o u ma fórmula a
dua s) e p rosseguir neste p rocesso de co mplicação até co n- ligar 3S três vari áveis E , 1 e S - ou antes, será tod o um
segu ir explicar t udo o que se qu er . É claro que não se co njunto de Fórmulas que Jigam estas var iáveis. O sistem a

18 19
pode não só rea gir de u ma dada m an eira, i.é, de co n- fu nção f q ue liga as ent rada s E às saídas S, há uma infi-
formidade a uma certa le i, como po de t ambé m passar a nid adc de pares d e fu nções 9 e la tais que g aplica o con-
lima o utra forma de co nd uta (lei) , quer esp ontaneamente, ju nto E de entradas em um conjunto I de intermediários,
quer so b o efeito de um agente externo. N este ca so, de - e h ap lica este Último no conjunto S de saídas, c fina l-
ver-se-fi co m plica r o m odelo, ju ntando-lhe Iels de stas mu - ment e tai s que a co m posição de 9 c la seja igual à função
danças de fo rm a de conduta. Pen sem os em um re lógio dad a, Se inter pr etam os estes diver sos int ermedi ários cm
e mp rega do como projétil , ou um indivíduo que toma lima termos fís ico s, biol ógicos o u psicol ógicos, temos um con-
do se de LSD. Neste c aso cump rir á juntar um conjunto de jun to in finito de me canismos para cada caixa negra -
f órmulas que ligam as nov as vari áveis às anti gas. Em su- com a co nd iç ão de não exigir que tais hip óteses concor-
ma, um modelo te órico da conduta de um siste ma é um dem co m o que se aprendeu noutra parte. Os empiristas
grupo de enunciados ( pr eferencialment e de forma mat e- co nsidera m esta ambigüidade uma falha dos m odel os que
mática) que ligam as variâveis exó genas E e S c ns va- vão além d a con duta exte rn a. E m compe nsação , os rea-
riáv eis e ndó genas 1 do sistema, sen do estas últ im as co n- listas acha m qu e isto é uma virtude da s co nce pções mais
cebidas co mo va riáveis int ermedi árias, dotadas de um Va- ricas. porque, se tem os a possibilidade de ach ar (in vent ar)
lor de cálculo, mais do que como represent ant es dos de- o mecani smo real, e ntão a conduta aparente fica unica-
talhes int ernos do siste ma>. mente determinada por este mecanismo enquanto que a
Um tal m od elo , por assim dizer, be hav iorista de um recíproca é falsa. Em ou t ra s palavr as, se se supõe um me -
sistema sati sf ará as e xigên cias da filosofia empirista (po- ca nismo, deri vam os dele o funci on am ent o, enquanto que,
sitivismo , pragm atism o, ope rac ionalismo, fen om eni smo) se se forne ce este último não é possivel adi vinh ar o pri-
porquanto, sem ultrapassar dema siado o obser vá vel. per - meiro. Uma hip ótese acerca dos mecanismos escondidos
mite condensar um grande número de dados empíricos e só poderá ser considerada como confirmada Se satisfizer
predizer a evolução do sistema. M as nã o conseguirá expli- as seguintes condições: explicar o funcionamento obs erva-
car a sua conduta e permanecerá bastante isol ado do rest o do, prever fato s novos além dos previsíveis por mod elos
do saber. A fim de obter uma tal expli cação e para est a- de caixa negra e co ncorda r com a massa das leis conhe-
belecer cantatas com outras teorias e, com m ais forte ra- c idas". Tais exig ênci as reduzem o conjunto do s modelos de
zão, com outras disciplinas, será preciso demonstrar O me- me canism os c permitem submetê-los a testes empíricos.
canismo. (Que haja ai se mpre um meca nismo interno, é Jj, passivei, pois, propor uma grande variedade de mo-
uma hipótese metafísica muito ousada, mas que sempre de la s de um sistema dado : caixas negras sem estados inter-
encorajou a pesquisa, enquanto que a filosofia da caixa no s, ca ixas negras (o u melhor, cinzentas) com estados
negra como ideal da ciência apen as en corajou a superficia- internos, e ca ixas co m me canismo (mecânico ou outro
lidade.) Tal desm ontagem não é difícil no caso de um qu alquer) ; caixas det erminista s e caixas estocásticas; caixas
re16gio, mas em geral, em se tratando da emi ssão da luz a um só nível (por exemplo , físico) ou a muitos (por
ou da emissão do pen samento, é uma tarefa muito árdua. exemplo, físico e biológico), e assim por diante. A escolha
A razão disso é que a maioria dos mec ani smos respon sá - entre e stes div er sos objetos-rnodelo e os modelos te6ricos
veis pelas apa rê ncias estão escondidos. Então, em lugar d e corres po ndentes dependerá do objeti vo do invest igador. Se
fazer o po ssivel pa ra vê-los, é preciso imagin á-los; mesmo se tr ata ape nas de manejar um sistem a, então uma caixa
quando se consegue, afin al, ob ser var uma parte destes me- negra poderá bastar; mas se se quer compreender o seu
cani smos, não é possível fazê-lo sem a ajuda de hipóteses funcion amento, seja por curiosidade, seja porque se quer
prévias. dominá-lo ou modificá-lo, então não se poderá deixar de
~ fácil ver que o funcionamento de uma caixa ne- imaginar modelos mais ou menos profundos, gozando do
gra pode ser explicado por um a infinidade de hipóteses ap oio de te or ias ge rai s bem como do apoio de experiências
relativas aos mecanism os subjac entes. De fato, para cada novas. Como o disse o biólogo Pringle? falando dos mo-
delos de mú sculo, poder-se- à dispensar modelos se o obje-
(5) Parti. uma rtcn cotccão de cajus negro s, cí. W . R. ASHBY,
tnooâucuon lo C)'b e rnetJc~ , ( Lon dres , Ch apma n and Hall, 1956) , (tradu-
ção br asüelrn, Edito ra Perspecti va, 1910) . Para. uma. teoria. geral , ver M. (6) Para uma discussão de vário! crltérlos em Ieee na avaliação das
BUNOe, A rje neeet O1nck BOI Theory, PIIi/o!Joplly o/ Scll!nce. 30, 346 teorta s ctem trtces. ver M . DUNGE. Scl ent l/le Reuarch (Berllm .Heldelberg.
(1963) . P ara. uma ;m5lise epistemológica de teorias deste gêner o, ver New York . Spri nger-Ver lag. 1967) . v. II.
M . DUNOE, "Pbenomenotcetcat Theorl es", em M_ BUNG E, ( Ed .), tt« ( 1) PR1NGLE, í , W. S. Models of Muscle. ln: S)'mposfa D/ lhe
Crll/eal Appron('h (N ew Yo rk, F ree Prese, 1964) . SOde l) ' f or E :fJurlmen to l Bí olol)'. 1960, 14. 41.

20 21
tivo for purament e a síntese d e um conjun to de dados embora. ns ci rcunstâ ncias das colisões sejam bem dife rentes.
em píricos: ne ste caso, bastar ão o quadro num érico e a- Ele poderá pois supo r, em seu trabalh o, q ue todo fato f
curva empí rica . M as se o objetivo for a análi se ult eri or deste gênero é re presentá vel por um ta l par: poderá escre-
do s da dos O ll en tão a co nstru ção de um gu ia para uma ve r "<a.b> A [ " onde "_1._" designa a relação de modelo
expl ora ção experim ental mai s apro fundada, neste caso cum - ao fato (ou coisa) . Enquanto f nomeia algo de concreto
p rirá imag inar modelos teóric os que, por si sós, poderão e ind ivid ual, seu modelo lU = <a,b> é u m conceito. Ocor-
justifica r a ad oção de uma curva empírica de preferência rer á o mesmo com qua lquer ou tro objeto-modelo : ter-se-á
a o utras c urv as que satisfazem os mesmos dados. Em su - sem pre "m • r, qu e poderá ser lido "m representa (ou
ma, cabe a nós d ecid ir aonde queremos ch egar ao tom ar o modela ) 1". Assim, o quím ico representará uma molécula
ca minho d a pesqu isa : a opção é entr e o con he cimento su- de u ma dad a espécie por um certo operador h ami ltonia no,
perficial (d escr ição e p re visão da cond uta) e o co nhec i- o sociólogo pod er á rep resent ar a mobilidade social em uma
mento ap rofundad o (expli cação c cap acidade de pre ver co mun idade por uma matriz de probabilidade de transição,
efeitos inauditos) . M as nos do is casos t rat a-se da constru- c assim por diante.
ção de objetos-m odelo e de modelos teóricos. De um lado, o obje to-modelo 111 representa toda u ma
classe de co isas (ou de fat os) en carados como equivalen-
tes se bem qu e difiram entre si. A relação ..A. entre model o
4. Análise das Noções de Objeto-Modelo e de Modelo c objeto concreto é, pois, um a relação rnultívoca. Se se
Teórico preferir, IJI nã o representa um indi víd uo con creto (coisa ou
falo) mas a ntes toda uma cla sse (de equivalência) R de
No se u. admirá vel trat ad o de cibernética , Ashby nos ob jctos co ncretos: m A. R. De outro lado, um indi víduo
pre vine co ntra a identifi caçã o de um mod elo cib erné tico co ncre to q ualquer poderá ser represent ado de muitas ma -
(que ele denomina "sistema" ) co m O ob jeto rea l qu e se neir as, segundo os me ios de que se disponha e os ob je-
qu er que ele represent e. Um sistema cibe rné tico é tã o-so- tivos da represent açã o. E m princípio, dado um indivíduo
mente a ideali zaçã o de um sistema real ou reali zável e h á real r, é possível dar dele todo um conjunto M de mode-
tantas idea lizações qu antos são os dad os, os objetlvos, os los : M _A_ r. E m suma, a relação A não é biunívoca mas
lip os de imagi na ção teórica. D est arte, um a máq uin a pare - de ve ser conceb ida como uma relação entre o conjunto
ce rá determinada a um observado r que pode examin á-la de M de objetos-modelo e o conjunto R de seus referentes:
perto, enquanto qu e pare cerá esto cástica a outro que igno- M A R.
rc que o aca so estava conc entrado na s en trad as. Por con- Esta relaçã o ~ de imagem conceituaI da coisa repre-
seguinte, os do is investigadores con struirão mod elos dife- sentada é a relação satisfeita pelos con ceitos teóricos e
ren tes do me smo sistema. Ai nd a q ue ten ha m acesso ti mcs- se us referen tes con c reto s. E la aparecerá, pois, explicita -
m a inform ação, só chega rão por aca so ao mesmo modelo, mente em toda form ulação c uidadosa de u ma teoria cien -
pois a construção de objetos-rnode lo e de model os teó ri- tfficn. Assim, por exemplo, ao dar os axiomas de um a
cos é uma atividade criadora que põe em jogo os conhe- teoria dos campos eletromagnéticos , deve r-se-à lemb rar qu e
cimentos, as preferências e até a paixão inte lectu al do o tens or ca mpo repr esen ta o campo (se bem que haja au to-
construtor. res que afi rmam que o tens or é o campo) . Em su ma, a
Um obj eto -mod elo, po rtan to , é lima representação de fo rmul ação explícita das regras e hip óteses semân ticas de
um objeto: ora perceptível, ora imperceptível, sem pre esqu c- lima teor ia científica exige a relação A de representação
mático e, ao menos em parte, convencional. O objet o re- por um modelo' .
presen tad o pode ser uma co isa ou um fato . N este últim o Um obj eto-rnod elo, mesmo engenhoso, servirá para
cas o, teremos even tos-modelo. Por exemplo, o ch oque de pou ca co isa, a menos que seja encaixado em Um corpo de
um número a de autom óveis tendo por resultado um nú - idéias no seio do qual se possam estab elecer relações de-
m ero b de feridos, poderá ser represent ado pelo p ar o rde - dut ivas. :e. preciso po is, como já dissem os, tecer uma rede
nado <a.b>. D o p ont o de vista do engenheiro de tráf ego de fórmul as em torno de cada objeto-modelo. Se este cor-
interessado na organ ização do trá fego (o q ue é possível
at é em Paris), lod os os choq ues de aut om óveis caracte ri- (8 ) BUN OE. M. PhysJcal Axlomatics, Revt ews 01 M odem Physlcs,
39, 463 ( 967) e FOlltl daUons o/ PlI ysln (Beellrn-He ldelbeeg-New York) .
zados pe lo mesmo par de valores a e b são equ ivalentes , Sfltl nse r.Vtr la8. 1961.

22 23
po de idéias for coere nte, constit uirá um model o teór ico Em resumo, deve-se d ist inguir as seguintes constru-
de individu as concret os r do tip o R . E m outros termos , ções: o objeto- modelo m re presentando os traços-c have (ou
u m modelo teó rico de um objct o r suposto rea l é um a supostos- chave) de u m ob jeto concreto r (ou suposto con-
teoria espe cífica T. co m respeit o a r, e esta teori a é cons- creta) ; o modelo teórico 1'8 especifica ndo o compo rta me n-
titulda por u nta teoria, gera l 1'0 enrique cida de 11m obje- (o eyou O(ili) mccanl smo fs ) interno ( s) de r por meio de
to-mod elo III ~ r. Ou ainda: u m mod elo teó rico 1'. 6 um a se u modelo 111; c a teoria geral 1"0 acolh endo 1',. (e mu itas
teo ria geral mu nida de 11m objct o-mo dclo Hl ~ ~ r : T. = outr as ] c qu e deri va seu valor de verd ade bem como sua
= < Ta.III > . Q uan do a gen te enrique ce um siste ma teórico utilidade de diversos modelos teóricos que podemos cons-
de um objeto-modelo que delineia alguns por menores do trui r co m o seu auxílio -
objeto concre to em qu est ão, estreita-se a ex tensão do do- ma s jam ais sem suposições e
dados que a extravasam e recolhidos pelo objeto-rnodc-
mí nio d e aplicaç ão d a teoria geral, m as cm co mpe nsação 10 Ul .
torn am o-la ve rificável.
Se o modelo teórico T s n ão concor da com os fatos
e se for possível esta r razoave lmen te seguro que isto n ão 5 _ Modelos, Desenhos, An álogos
se deve ao err o dos dados expe rimen ta is, será preciso mo -
dificar as idéias teóricas. Isto é mais rá p ido de se d izer
do qu e fazer , pois h á diversa s possib ilidad es: pode-se quer U ma co isa pode ser represe ntada, de mod o mais ou
variar o objet o-m odelo III . quer guardá-lo e adota r uma menos esquemá tico, por um desenho ou 1.Im desenho a ni-
ou t ra teoria geral T fI ' p ois tod a teo ria especia l é cons tituí- mado qu e sorâ então urn mod elo co ncre to da coisa. T al
d a, em princíp io, de um 111 e de uma. T a qu e não se de i- represe ntação será liter al o u simbó lica, fig ura tiva ou int ei-
xa m deter min ar recipro cam ente. Assim, se certos cálc ulos ra me nte conve ncio nal. Em todo caso será parcial, pois ela
ace rca da propag ação da luz na vizinha nça do sol não dão há de supor q ue ce rtas p rop riedades das cois as não mere-
cer to, pode-se ten tar, qu er co m plica r o mod elo do sol ( por ce m ser rep rese ntadas. quer porque são tida s com o secun-
exem plo. elipsóide giratório , em vez de massa pon t ual). dári as, q uer porque as uva s estão ainda muito verdes. D e-
q uer mod ifica r a teoria geral da gravita ção e/ou da luz. mais, toda rep resentação. mesm o visual , é co nvencio nal em
O tip o de mu dança preconi zada depend erá dos serv iços algum grau: há sempre um cód igo famili ar e tácito, ou
pres tados no passado pe lo objeto-rnode lo e pelas teo rias espec ial e ex plícito q ue nos permiti rá int erpreta r o dese-
gerais en vol vidas. Se estas últ imas foram bem suce- nh o co mo sen do um modelo de um cert o objeto con cre -
didas antes, será pruden te te nt ar um nOVO ob jcto -mo delo; to - de ou t ro m odo nã o seria um model o ma s uma pura
invençã o. Dem ais, um a mesma coisa pod er á ser rep resen-
para isso, ter -sc-á talvez necessidade de novos dados em pí-
tada de m uitas maneir as qu e não serão necessa riamen te
ricos. M as se a teoria geral malogrou po r várias vezes, ou
isom orfas ( por exe mplo, top ologicam ente equivalentes entre
melh or , se ela é ainda nova e por co nsegui nte tem um va-
si), e a varieda de das represe nta ções s6 será limitada por
lor de verdade ince rto, en tão será co nvenien te tenta r o u-
nossa imaginação. Tal não é o caso dos objetos-modeTo
t ros sistemas teóricos gera is. Em tod o caso, o p rocesso de
verific ação de um esque ma genérico pode d ispensar a cons- que fazem p arte das teo rias cien tífi cas: estes, mesmo quan -
do podem ser rep resent ad os visualm ente, pr endem-se à evo-
tru ção de mu itos ob jetos-rno dclo e o processo de veri fica-
ção de um modelo teóri co pode torn ar -se tã o co mplica do lução de nosso con hecime nto. N ão pod em os, port anto, va-
q uant o se qu eira". Tão com plica do m esmo qu e atualm ente riá -Ias a rb itrari ament e.
n ão sabemos qu al dentre os diversos mod elos estocá stic os Ora, as teorias especí ficas ou mod elos teórico s encer-
ram objetos-modelo do tip o conceitu aI mais do que repre-
de apre ndizage m é o m ais verdad eiro, se bem que sejam
sentações visu ais literai s ou figu rati vas. Sem dúvida, é pos-
muito difer entes un s dos ou tros !".
sível sempre descr ever o mod elo com o auxílio de um dia-
(9) Ve r M. DU NG E, S cielltlfic Res earch ( D~ rllm-Heidelbeta·N grama e mesm o, às vezes , com a ajuda de um model o
ew
Yor k, 1967) e "Thec ry rneets Bxr erfence' ', em M. K . M UNITZ material - tais corno os mo delos esférico s das molécu las:
K IEFER. (Eds .). The Uses 01 Phl1osoph y ( Albany, New York, e H.
State U ntver!lily P ress }. New York este aux ilia a compreender as idéias difíceis e alguma s ve-
(10) ver S. STE RN DERG, op. clt . e B. F . R IT CHIE., " Concem zes a invent á-las. Não obs tante, nem d iagr am as nem aná-
Bn Incuroble v esueness in Psychotc glcnl Th eories", lna
e E . NAGEL . (Ed! .). Srient i/ic Psr rllolog)' (New em
Yo
B. B. WQLMA N
rk, logos materiai s pod em represent ar o objeto de um a ma-
196.5 ) . Basic BooJes,
neira tão precisa e com pleta como o faz um con jun to d e

24
25
erumc indo s. A fo rça de UIlI o bjeto-mo dclo do tip o con cci- de nom inava escola inglesa de física por seu ap ego a re -
tua1 não é de n atu reza psicológica (heurís tica ou p edagó- presen tações vi-mais e nos me cani sm os mecânicos. Recen -
gica): ela res ide no ralo de ser uma idéia teó rica e, po r tem e nte. este de bate fo i reaber to : está de novo cm mod a
consegu inte, 'uma idéia que se pode enxertar em urna má- fazer o elogio do s mode los visua is e mesmo de análogos c
qui na teóri ca a fim de pô -Ia a fu ncion ar e p rodu zir ou tras m ct áfo ra v' ". Algu ns co nsider am as represent ações visuais
idéias inte ressa ntes. não apenas como m uletas psicológ icas, mas tamb ém com o
O desen ho, mesmo quando é possíve l ( não é o caso dese mpe nh ando uma fu nção 16gica t 2 • Ora, isto não é assim.
dos elétrons e das idéias) não substi tu i o objcto-modelo. E As teor ias m uitos gerais. tais como a mecân ica dos fluido s c
q uan do é possível e útil fornece r u ma repr esentação visual a teoria da evolução podem dispe nsa r d iagram as figura tivos,
do c bjeto -rnodelo, amiú de este (1 Iti010 pre cede o desen ho c posto que não se referem a co isas específicas. Quanto às
este é semp re menos rico q ue a idéia repr esen tada. ( N ote-se tco i ias cspecfficns ou modelos teóricos, algu ns podem ser
q ue temos aí três o bjctos, dois dos quais concretos, serv indo ilust rados por d iagramas figurativos, ao passo qu e outros
um para fixa r a idéia do ou tro.) Assim, \101 esquema de uma não o podem . M as nen hu m nem ou Iro são necessa riam ent e
rede elétrica nos mostrará a n atu reza e a d isposição dos di- aco m panhados de diagram as deste tipo. J; útil tr açar dia-
versos elementos. desde que apreendamos as idéias existen- gramas figurativos quan do se trata de neu rologia, po is te-
tes por trás dos sim bolos que ele co ntém ; assim mesm o, po- mos q ue lidar com co isas visíveis, mas quand o se trat a de
de rá nos dizer m u ito pouca coisa acerca do processo que teor ia da aprendizage m ou de teo ria da u tilidade não é
ocorre no interior e no exterio r da rede. processo que será possível desen har tais diagramas, porque os pro cessos co m
descrito, cm compensação, por um siste ma de equações .
os q uais lidamos não são perceptíveis, se bem que sejam
e. verdade qu e um diagrama complexo pode conter ma is
inte ligíveis. E m resumo, os di agram as possuem um a utili-
inform ações e ser ma is intu itivo qu e uma descrição verba l
ou mesmo um a tabela de números. Mas não se poderia dade psicol ógica mas não fazem parte das teorias, que
inse ri-lo e m um a teo ria, porque os co mpo ne ntes das teo- são siste mas de proposições. Co ntente mo- nos com sua aju-
r ias são idéias e não imagens. da , mas descon fie mos de les, pois pode m ser apenas metá-
Toda teori a, me smo ab strata, pode ser acompan hada foras sugestivas mais do qu e descrições liter ais de uma rea -
de di agr am as mais ou me nos rep resent ati vos dos objc tos lidad c que, sendo mais esco ndi da que ap are nte, não se deixa
de que tr ata a teo ria. (Excepcio na lme nte, e m mat em ática sempre re prese nta r de modo fami liar.
p ur a. os pr6p rios diagr am as poderão ser ob jetos da teor ia.)
A ssim, na lógica tem os árvores deduti vas, na teoria alô-
mic a tem os dia gram as de densid ade de pr ob abilid ade e na 6. Modelo Cientiiico e Modelo Semântico
biol ogia-m atem áti ca encontr am -se gr áficos o rie ntados qu e
ligam di versas funções biológicas. Ma s cum pre distinguir A ar itmé tica pode ser co nce bida como um a rea lização
Os dia grarn as simbó licos como estes, dos dia gr am as rep re- ali modelo de muitas teor ias ab stratas, tal como a teori a
senta tivos co mo os da mecâni ca clássica e da estereoquí- dos co rpos . A qu i O qu e vale é a noç ão semân tica de mo-
mica ou d a genética. Os dois são repr esen tações m ais ou delo - conhec er o mod elo com o interpretaçã o verdadeira
men os hip ot ética s de ob jetos (coisas, fat os ) su pos tos con- de uma teoria abs tra ta ou co mo teori a "concret a" (e specí-
cre tos , m as enquan to os p rime iros são essencia lme nte lem- fica) que sat isfaz as co nd ições (axiomas) de um sistema
bretes e, port ant o, subst ituíveis por fórm ulas ma temáticas.
Iorm al!", Sustent a-se às vezes que esta noção não difere de
os últimos são figur ações de es tados de co isas dot ad as, su-
post am ente, de Iorrnas espacia is bem determin ad as. E m tod o ( It) HESSE, M. B. Modtb and Ana1og1u ln Science, (Notre-Dame,
caso , os desenhos, por úte is qu e sejam e m ciê ncia expe ri- l nd ., U nlvenlty of Notre-Dame Pr ese, 1966. )
ment al e por razões psicológ icas. n ão são, em geral. cons- ( 12) HU TTEN, E. T he Lan,ua't 01 Atodrrn Pbysics, ( Lond res,
Allen and U nwin, t 956.) Em co mpensação M . BLACK , M odeb Qtfl
tituintes das teori as. Mtlaphors {It haca, New York Comeu U niversily Press, 1962). encara
Iodas as espécle s de model os como auxiliares beur tst tcos. 1010, como
Basta lemb ra r dos deb ates do fim d o séc ulo sobre o meios que uma teoria bem íett a pode dispensar. Ele as encara tam-
papel dos dia gra mas e dos análogos m ecâ nicos : M ach cen- b ém como 30:.I ocl35 ou merâroras .
sura va D alt on por dese nhar átomos q ue ele considerava (lJ) Ver A. TARS Kf, Contributlons to the Th eory of Model s. Inda-
,aliones MatfltnttJtictle. 57, sn (195.), 58, 56 (19'55) e M. BUNG E,
pur as ficções, ao passo que D uhem desprezava O que ele SrI, nti/k Reuttrrh . v. t.

26
modo algum da noção rnctac ientffica de modelo" Lê. da
noção de modelo te órico!". Vejamo s: ções possíveis, entre inú meras outras. do form alismo pre-
cedente :
Seja o siste ma nbstrat o resumid o nos seguintes ax io -
mas : l nterpretaç õo física Interpretação sociot ôgica

A, S '" !Õ Ln t[s} = ponto sobre um TlI/ (.r) _ país


A. (a )F :S ~ R . (b ) G :S X S ~ R . (c)H:S cir cu ito d e co rren te co n- T/lI [F( s)J = atra ção ofere-
XS ~ R. tín ua
A, s, s' E S :? H (s, r') = !t E R. recida por s (por exem-
• lnt [F ( s)] = pote ncial elé- plo, nível de vida)
A. (a) O : R X R ~ R · (b) O : R X R ~ R. trico em s l nt [G (s,s' )J = pressão mi-
As s, s' E S :? G (s, s') = TI O [F(s') O F(s)J . / 11/ [G( s,s') 1 = intensidade gratória de s para s'
de co rre nte entre s e s' l nt [H(s,s')J = permeabili-
Este sistema de fó rmu las é não -siguifica tivo. Podem os / 11/ [H(s,s') J _ condut ivi- dade da fro ntei ra entre
atribu ir-lhe mu itas signific ações adicion ando-lhe cód igos d e dade en tre s e s' s e s'
inte rpretaç ão , F açamo-lo em duas etapas. Na p rimeira
interp retarem os as maiúsc ulas quer como co nju ntos q uer H á inúme ras outras interpre tações concret as do mes-
como funções, conform e o con texto; dem ais, interpr eta re- mo form alismo. Po r exemplo, se se interpre ta S como o
mo s "R" como a reta numéri ca . "o.. como o produ to conjunto dos corpos físicos. F como a tempe rat ura, G co-
111 0 a quantid ade de calor por u nida de de ma
ar itmét ico e O " como a su bt raç ão; aos símbolos res -
U ssa e li como
tantes será at ribuída sua interpre tação padron izada (d e o calor específi co, obtemo s o núcleo da termolo gia. E se
outro modo nosso modelo seria não-pad ronizad o ) . De sta. Se interpr eta S como o corpo acadêm ico, F como o nú-
maneir a se obtém o sistema interpre tado que segue: mero de publica ções, G como o ódio e H como a anti-
patia natural, obtemo s um modelo teórico de um aspecto
do mundo uni versitár io. T em os. pois. mod elos semâ nticos
F, S é u m con junto não-vazio . de lima estrutu ra ab stra ta, que ao mesmo tempo parecem
F, (a ) F é uma fu nção com valores reais sobre
ser modelos teó ricos de pr ocessos reais.
S. (b) G é uma função de valores reais sobre
Ma s isto é tão-som ente um a primeir a aproxim ação.
o conjunto dos pares de elemen tos de S.
Sabemo s. com efeito, que o primeir o modelo é ina dequa-
F, H é a função constan te, com valor real h, sobre
do ( falso) para temperaturas baixas. E o segundo parece
s« S. não ter sido submet ido à prova experimental, de modo
F.4 Para cad a s e cada s' pertencen tes a S, que não lhe podemos atribuir um valor de verdade. Esta
G (s, s' ) = !t [F(s') - F(s) J situação é muito geral : mod elos teóricos que for am pos-
tos i\ prova estão mai s ou menos longe da verdad e total :
Es te é um formali smo interpret ado na matemá tica mas são e poderia m ser comple tamente verdade iros uma vez
que , por ora, não tem sentido fora dela. Em particu lar, que contêm simplificações. Por conseqü ência tod o mod elo
nã o é um modelo teóric o, pois não envolve nenhum a espé- teór ico é, no me lhor dos casos. um quase-m odelo no sen-
cie de co isa: o conjun to de base S é um conj un to arbi- tido que suas fórmu las são aproxi mada men te satisfeita s
trário c por con seguinte P, G e H não podem represe n- pelo real. N ão há, pois, identidade entre modelo teórico
tar propriedade s conc retas. e modelo no sentido semâ ntico. D aí por que conviri a
Para transfo rmar o form alismo precede nte em um mo- substitu ir a expressão " modelo teórico" (e também " mo-
delo teórico de uma coisa concret a é necessár io e suficie n- delo matem ático" ) por " teoria específi ca" .
te qu e os símbolos pr imit ivos S. F . G e H sejam interpre-
tad os de tal man eir a que a teoria daí resultan te en volva
obje tos conc retos e seja verd ade ira . E is duas interpre ta- 7. Sintese FiliaI
( 14) SU PPES, P. "A Compar ison or lhe Mcan lng and Uses of
Modeb ln M alh em 3li c~
T HA L. II . (Bd .) Th ~
and lh e Em plrical Scicnces" . l n : F REU D E N~ o termo " modelo " designa uma variedade de con-
concein an â th ~ R ol e 01 the M od ei in Mo the- ceit os que é pr eciso distingu ir. Na s ciência s teóricas da
",mies Qml Noturo í (md Social Sci ences (Dord recht. Re ldel, 1961) .
nat ureza e do hom em parece haver dois sentidos pri nci-
28
29
pais : o modelo enquan to rep resenta ção esq uemática de um
objeto conc reto e o modelo enquanto teoria rel ativa a esta
idealização. O pri meiro é um conceito do qual certos tr a-
ços p odem às vezes ser representados graficamente, no
p:lSSO q ue o segund o é um sistema hipotético-dedu tivo par-
ticular C , po rtanto, im possível de figu rar, salvo como árvo-
re dedu tiva .
T od o m odelo te ôrico é parcial e ap roxi ma tivo: nã o
apree nde senão um a par cel a d as p articularidades do objeto
rep resen tad o. E is po r qu e malogrará cedo ou ta rde. 1-.13S
na ciênci a, mesm o a mo rte é fecu nda: o malogro de um
mo delo teórico o le var á à construção, quer de no vos obje -
tos-modelo, q ue r de novas teorias gerais - pois cada mo-
delo teórico é constituído de um esquema genérico no
qual se enxertou um obje to-rnodelo. N em semp re estamos
ce rtos do que é prec iso modificar, mas pe lo m enos sabe-
mos que é preciso sempre p rocurar aper feiçoa r as idéias
e qu e, se o fizerm os passo n pa sso acaba re mos por lograr
êxito - até novo aviso .
Converter coisas' conc re tas cm im agens con ceituais
(obi etos-rnodelo) cada vez mais ricas e ex pa ndi-las cm mo-
de los teó ricos p rog ressivament e com plexos e ca da vez m nis
fiéis 3 0 5 fato s, é o ún ico método efetivo para ap reende r a
real idade pelo pe nsamento . ~ o mé todo inaugurado por
Arq uimedes e m física e que em nossos d ias tri unfa por
toda parte on de é tes tado, mesmo nas ciê ncias do h omem .
A observação é apenas uma fon te (não a ún ica) de p ro-
blemas e um test e (não o (mico tam pouco ) de n ossos 010- •
dele s teó ricos. A in tuição - ou melh or, os d ive rsos tipos
de intuição 15 - é um a fonte de idéias que devem ser for-
mul adas expli citam ente e sub metida s à c rítica d a ra zão c
dos fatos para ser em fecu ndadas. A razão, e nfim. é o instru-
ment a qu e nos permite con stru ir sistema s co m a pobr e m a-
té ria-prima dos sentidos e da intui ção. N enhuma destas
co m po ne ntes do trab alh o cie ntífico - ob servação c intui-
ção e razão - pode, por si só. nos da r a conhecer o real. 2 . MODELOS NA Cm NCIA TEó RICA
Elas não passa m de aspect os diversos d a atividndc típica
da pesquisa cien tífica contemporânea: a construção de Introdução
modelos teó ricos e sua co mpr ovação.
o nosso propósito neste cap ítu lo é elucid ar as noções
d e obje to- rnodelo e modelo te6 rico na ciência Iat ual (na-
tura l ou social). Tal escla reci me nto é n ecessário em vista
d a amb igüida de do term o " mo delo" e da di vertida con-
fu são q ue pr evalece na co rr ente literatura filosófica e
cie ntífica ent re os vár ios se ntidos da palavra.
Preocupar -nos-ernos co m ob jctos-mo delo c modelos
( 15) PM3 uma an ãllse de d iverso s tipos de intulç âo e ,~ '" (lallél 'l teóricos como esboços h ipotéti cos de coisas e fatos supos-
no tr abalho ctemt nco, ver "" 1. DU N GE . íntuítíon fllld S c íen re (Engle.
wood CliHs, New Yerk . r'renuce-I t ou, 1962) , lame nte rea is. Ass im um fluido pode ser modelado como

30 31
u m contínuo dotado de cer tas prop riedades e semelha nte lações entre os aspec tos qu e ele incorpora. E m parti cular,
obieto-niodelo pode se r enxertado cm u ma das várias teo- a maioria da s variações individuai s são delibe radam ente
rins gera is, d igamos a mecânica clássi ca ou a mecânica ignorad as e a maior parte dos pormenores dos eventos re-
rclati vística ger al. D o mesmo modo é possível modela r um lativ os a estes indiv íd uos é igualment e desca rtada. Por
organismo de nprcndi zngcur co m o uma cai x a negra cq u l- exem plo, pode-se tom ar todos os indivíduos de uma deter-
padn co m det ermi nad os te r mi nais de en trada c saída c ml nada Inmllia de ra tos como in discern lveis e p ress upor
pod e-se desenvolver este objcto -rnodclo cm um sistema de- que todos os modos de pressionar um a barra para ob ter
d utivo-hipotético. Em qua lquer dos casos produz-se u ma bolinhas de alimen to são igualmente eq uivalent es. Em ou-
teoria específica ou modelo teórico de um objeto concreto . tros termos, a pop ulação rea l, composta de ind ivíduos di-
O que se pode su bmete r a provas emp írica s são tais mo- ferentes, é modelada co mo um a classe homogênea (equi-
delos teó ricos : as teorias gerais despreocupadas com pa r- valênc ia ) , e igua lmente o co nju nto de tod os os possíveis
ticula res per manecem incomprov áveis, a menos que sejam eventos é rep artid o em classes hom ogêneas (equ ivalência )!.
en riqueci das co m modelos de seus referen tes, E os objc -
tos-m odelo mant êm-se estéreis a não ser qu e sejam int ro-
du zid os ou desen volvid os em a lguma teori a. 2. A R elação de M odelagem
Além de oferecer explicações dos co nce itos de obje-
to-modelo e modelo teó rico, examin arem os suas relações Co meça mos a modelar, pre tendendo que o(s) domí-
co ru vários o utros co nceitos , com os qu ais estão amiúde nio (s) R de indivíduos possa ser repartido em subco njun-
con fundidos, par ticular me nte o sentido estético (represen- tos hom ogêneos S, i. é, em subco nju ntos nos qu ais todos
tação pictórica ) , o sentido beur ístico (análogo de um objc- -r: os elementos são idênt icos em um dado sentido. Atribuí-
to fam iliar ) , e o sentido ôd'etl>j'~c~ (concepção ou ') /\J...-6~", mos, então , a cada membro s de cada um a destas classes
interpretação verdadeira d e um sistema form al). Mo stra- de equivalência S alguns predicados cha ves P h P2 , •• • , P n.l'
remos que q ualquer relação com estes outros caracteres é Tais pred icados significam propried ades e relações que são,
aciden tal, e que obje tos-modelo e modelos teóri cos não são cz:n grande parte, nã o-observáveis; c, enq uan to estão defi-
importantes apenas pelo que sugerem como tam bém pelo nidos sob re S, serão apenas aproxi madame nte satisfeitos, se
q ue rea lizam, a sabe r, uma represen tação parcial de rea- o forem de qualque r modo pe lo refe rente R de S. F orm a-
lidade. mos assim um sistema relacional M = ( S, PI , Pt, .. . ,
p n.l ) co m a pr etensão de ser um modelo conceituai do
referen te co nc reto R. E m resum o, M model a R ou , abre-
1. Objetos Concretos e Objetos-Modelo viadamente, M ~ R. O ob jeto-modelo M é um con structo
mais ou men os elabor ado : um conjunto soma do a umas
poucas funções, um anel de ope radores em um espaço de
Qu alquer representação esquemá tica de u m objeto Hil bert ou aquilo que você tiver . Não precisa ser e, em
po de ser den om inad a obicto-modelo. Se o objcto rcpresen -
ge ral, não é int uível; m as semp re possui um referent e fatual.
tado for co ncreto, então seu modelo é lima idealização dele.
A repr ese ntação pode ser pictórica, como é no caso de A re lação A de modelagem deveria oco rrer explicita-
um dese nho, ou co nceitual, como no caso de u ma fó rmul a mente em qu alq uer form ulação de um a teo ria científica que
matem ática. Pod e ser figurativa como o modelo radial com cuidasse do significado f'at ual (físico, psicol ógico ) de seus
esferas de uma molécul a, ou serni-simbô lica , como no caso símbolos". Assim, na bio logia teórica pode-se pressupor
do map a das curvas de nível d a mesma molécula, ou sim- que uma cé lula r é repr esentada por, ou mode lada como,
bólica, como o operador harn iltcn iano para este objcto. E um subconjunto s de uma varie dade diferenciável na qual
o objeto-rnodel o pode ser int rateórico, como no caso do são d adas certas funções de valor rea l (densida de, tempera-
modelo em rede casua l do cérebro; ou extrnte órico, como tura etc.l , Podemos então escrever "s A r" e fó rmula s si-
o modelo do Pseudo-Arcopagita da hie rarquia celeste.
(I) Como exemplos de acontecimen tos de modelos pslco l6alcoll. veja
A represen tação é sempre pa rcia l e mais ou menos S. STER NDERG, " Stochastic Le ar nlng Thecry", em R . D . LUCB. R. R .
DUSC H, E . G A LANTE R (Eds.}, H enâ boosc 01 MQ '" ~mQ'fcQl PsychololY
convencio na l. O objeto-r nodclo deixará escapar cer tos tra- ( New York, W ilcy, 1963) v. n.
ços de: seus referen tes, ten der á a incluir eleme ntos Iruagi- (1) Veia M . DUN G E. Formdari on 01 Ptwstcs (Berlim· Hel delber a.
nários, e há de reca pturar ape nas aprox imada me nte as Te- New Yor k, Springer -Verlag, 1967) .

32 33
mila res para os p red icad os. Toda fórm ula que con ten ha o de lo, que é apenas uma lista de ca racterísticas do obj eto
símbolo .. ~ ~ . . da re lação m od elante pode de nom ina r-se conc reto. Assim se um planeta é mod elad o com o uma
pressuposiç ão semálltica 3. Se escrita ln-extenso qua lq uer ma ssa po nt ual, ou mesm o co mo uma bola , não se diz
afirmação teó rica e m ciência Iatu al co nte rá pelo m en os lima m uita co isa . Som ente pela assunção posterior segundo a
dessas press uposições semânticas. Ass im a fórmula para a qual um tal modelo satisfaz cer tas leis, em particula r leis
m assa total de u ma cél ula r será: "Se s _A_ r, e ntão ""(r) = de mov imento, que conseguimos uma porção de conheci-
= âi, a integral de Lebesgue da de nsid ade de m assa sobre mento cie ntífico. Exami ne mos outros exemplos :
o conj un to r" , Se não for to m ad a tal preca ução, um a ex-
pr essão seman ticamente m al formul ad a co rno fia m assa-tot al Coisa 0 1/ fat o Objeto-Modelo Modelo Te árico
do conj unto s" pode ser aprese ntada.
D êut cron P oço de po ten- Mecânica quântica
cia i p róton- do poço de po -
3. M od elos T e ôricos nê ul ron ten cial
SOIUIO em solu- Gás per feit o T eori a ciné tica dos
lução diluída gases
N em todos os objetos-modelo são con cei tua is e ne - Tráfego na h o- F luxo con tínuo Teoria m atem áti ca
nhum m odelo co nceituai de um objeto concre to é um m o- ra do rnsh do flux o de trá-
delo teó rico, em bo ra possa constituir base p ara este. Um fego
co tar de co ntas mu ltico lori das pode re presenta r um a cadeia O rga nism o de Caixa neg ra. M ode io de opera-
polím era, e um sociograrna representa a lgumas das re lações aprend izagem ma rkovian a do r linear de
entre os ind ivíduos em um grupo, mas o p rimeiro é um Bush e Mostel-
modelo físico ou análogo e o outro é apenas uma apre- ler
se ntação de dados. A fim de consegu ir um m odelo teóri - o canto das cl- Co leção de os- Mecânica estatísti-
co. o objc to- mo dc lo tem de ser expandido e cngns ta do cm ga rras cilado res aco- ca de osc ilado-
uma moldu ra teórica. Ao se r a bsorvido po r um a teoria, plados res aco plados
o objcto-modelo herda as peculiaridades desta e, em par ti-
cular, suas leis. Assim uma célula-modelo, se juntada a
u ma teoria ger al da difusão, satisfará a equação de di - 4. Geran do Mod elos Teôr icos
fu são des ta úl ti ma; de ou tro modo não es tará h abilit ada a
re fle tir um processo in trace lu lar de di fusão.
Seja M = (S. Pio P" ... , Po_I ) um m odelo de um Em alguns campos, o mod elo teórico é constru ído em
objero concre to do tipo R, i. é, seio M Jo_ R. Além disso, torno do objcto -modclo. Nos campos mais avan çados, o
presuma que as várias coordenadas da H-pia seja m logica- objeto-modclo pode ami úde ser vincu lado a lim a teoria ge-
m enle ind ep end en tes u mas d as outras ( i. é., nâo-i nterde finí - rol ex iste nte, Assim , n a teori a da ap re ndiz agem dificil-
veis). E nt ão , qualquer co nj un to co erente de condi ções me nte há um a teoria ge nérica : cada m odelo de ap rendi-
(postulados ) que espe cifique a estrutura ( na tureza mate- zagem é tuna esquernatização de um certo tipo de experi-
má tica) dos 11 conceitos primitivos, bem co mo seu signi fi- mento, e os modelos ad equados nos d ife re ntes casos p a-
ca do fatu al, será um modelo teórico de R . E m o utros ter - rece m não nda ptn r-se a um a ú nica teori a co mpreensiv a. D e
m os, um m odelo teórico de R é um a teo ria co m base p ri- ou tro Indo, na física atô mica e m olecula r a co nstrução de
miti va ,,1. A R . (A co ndição de axiomat ização é su ficiente mod elos teó ricos cons iste usua lme nte na aplicação de uma
teoria ge né rica ( mecânica quân tica. na m aior parte) aos
m as não é necessária para obter um m odelo teórico, mas
modelos das coisas e m causa. Assim, se quise rm os gerar
é necessária pa ra proporcionar u ma definição rápida e exa- modelos teóricos do átomo de carbono, ten tarem os esta be-
la do co ncei to. )
lecer mod elos simbólicos dele ( i. é, ope rado res harnilto-
Um modelo teó rico de u m ob jcto co nc reto certa me nte
nian os que reú nam propri ed ad es primeira s tais co mo o n ú-
não co rrespo nde à complexi da de de se u re fere nte, m as em
mero de elétrons e suas intenções) e inseri-los na teo ria
qu alque r caso é m uito m ais rico que o despido objeto -rno -
geral.
() nUNGE, M. Ph ysic:\l axlomatlcs. Rel'1ews 01 Modern Ph,'slcs. Qualquer objcto-modelo dado po de, den tro de Iimi les,
39. 463 (1967). ser vincula do a certo número de teorias gerais a fim de

34 35
produz ir m od elos teóri cos diferen t es (teorias específi cas)
do objeto real c m causa. Exem plo : o m od elo de u m gás m nlogro : a teoria gera l, o objeto- rnodelo , ou ambos -
co rno um a mu ltidão de par tíc ulas ligadas pel as forç as de m esmo na h ipót ese que os p róp rios dad os seja m isentos de
va n der Wa nls pode ser inserido q uer n a m ecân ica da par- c ulpa", Em q ualquer event o, sem mod elo , não há. prova
tícul a cl ássica quer nn me câni ca da p artícula relati vist lca empí rica.
par a fornecer de is di ferentes modelo s do gá~ . In ver sament e .
certo número d e objetos -m odelo pode assoc iar-se a qu al-
qu er teor ia ge ra l dad a desde q ue seja m en u nciados n a lin - 6. Modelos, Mecanismos, Análogos, Quadros
guagem desta última. Exemplo: suponh a dif erentes form as
de partículas e leis de força diferen tes, ma s mantenh a a T odo m ecani sm o hipot ético de um pr ocesso é um
mecân ica clássica d o p rincípio no fim e ob terá dife rent es ob jeto -mo de lo, m as o inverso não é verdade iro : nem todo
m odelos teórico s do gás. Sempre qu e há teo rias gerais d is- mode lo co nceitua l delin eia um mecanismo. Assim , urna
poní veis, os modelos teóri cos podem , então, ser gerados de caixa neg ra é 11m m odelo qu e ignora o me cani smo interno
da co isa en vol vida. Al ém disso, os mod elos de mecani smo
dois m odos: que r engastand o um dado objeto-rno delo em
não precisa m ser mecâni cos. ou mecani cist as, Assim, os
dif erentes teorias gera is, qu e r enx ertando ob jetos-mo de lo
mecani smos da prop agação eletromagnétiea das reações
diferentes numa dada moldur a genérica. Em qualquer dos
qu ímicas co m plexas , e da evoluçã o biológic a são não-mecâ-
ca sos, o mod elo teóri co é uma teori a genéric a jun ta mente
co m um obje to-mo delo. Isto não se mantém nas áreas dns nico s, i. é, são mod elad os em modos estranh os à mecâni ca .
ciê ncias em desen volvim ento, onde a co nstrução atun cen- Seja co mo for. a ide ntifica ção freqü ente do objeto-rnodelo
COIH mecani sm o - um a identifi cação he rd ada do período
trf íu garnent e, f ora do s ob je tos -rnode lo, na maior part e do
tempo. me canicist a da física - estâ erra da.
T am pouco os objetos -mo delo necessi tam ser determi -
nísticos: po de m ser prob abilístic os. E m outros termos, al-
gun s ou m esm o tod os os pr edicado s que oc orrem em um
5. Modelos e Compr obabilidode ob jcto -mo dc to pod em ser vari áveis casuais . Destart e, cada
mod elo especí fico de a prend izagem esto cásti ca está cen-
P roblem as particu lares, i. é, probl em as co ncernen tes tr ad o cm algu ma fórmula que d á. a pr ob abilidad e de re s-
a situações específicas, po de m se r apresen tados e resolvid os posta na » - éslma tentativa como função does) eventof s)
soment e dentro de teorias específi cas (ou m icr ot eor ias} . qu e precede (m) a tentativa. E qu alquer fórmula seme-
Pela mesm a razão, apenas teo ria s gerais n ão fornecem co n- lhante pode ser tomada co mo seu valor nomin al ou como
c1usões particul ares e, port anto, rig orosam ente compro vá- represe ntante de um p rocesso cas ual definid o. No último
veis. A ssim, no caso da mecân ica, se qui sermos determi n ar , C:l SO dir-sc- á que incorpo ra um modelo es tocástic
digam os, os modos de osci lação de lima estru tura pa rti-
J o, ou um
mccani srno prová vel do processo.
cul ar , por exempl o, uma con cha, deve remos espec ifica r as Igualm ente, enquant o alguns m odel os são literais e
forças ext ern as, a massa e as co nd ições inici ais e de co n- não-fam ilia res, outros são analógicos ou conceb idos em
torno - em re sumo, de vem os enr iq uece r a teori a geral imitação de situaçõ es famili ares. Assim , uma pes soa que não
com um mod elo definid o da co ncha. merece co nfiança pode ser en carada como uma máquin a
Primeir a con clu são : tant o a habilid ad e p ara resolver pa ra ve nda automá tica, qu ebrada, que libe ra as mercad o-
problem as parti cul ares , qu ant o a co m proba bilidade empírica rias ap e nas em u ma fra ção do tempo qu e gasta p ara en -
de um a teoria, são in versam ente pr oporcio nais a sua Ior - golir uma moeda. E ste é um ex emplo de um an âlogo ou
ça lógica. Segund a: a com pro vaç ão de teorias gerais de- simulac ro: a coisa re al (o indi vídu o indigno de confian -
m and a a pr odução de teori as es pecífic as; por si me sm as. as ça) é modelad a segundo um sistema de uma espécie conhe-
teorias extrem amente gerais como a teori a da inf ormaçã o, eida (uma máquin a quebra da) e o objeto -modelo resultante
a teoria geral das máquin as, a mecâni ca clássica e a me - podc se r e nges ta do numa teoria genéric a, ou seja, a te o-
cân ica quântica são incomp ro vá veis; o que se pode testar ria m arkovia na da s m áquinas . Os aná logos conceitu ais po -
é um a teoria geral equipad a de um objeto-mod elo - em dem. fo ra de dú vida , ser tão respeitá veis quanto os si-
sum a, um m odelo teórico . Tercei ra : ao co mp rova r um a mul acros ou análogo s materia is. ma s constitu em somente
teo ria específ ica (model o teórico ) e m um campo ava nça-
do , nem sem pre é claro o que se de ve culpa r cm ca so de ( 4) DUNG E, M . "Thecry meeu exnerfenc e".
e KI EF'ER , H. ( Bdll. ) , T1I e Uses 01 !'"ifosoph y ln: 1tlUN1TZ, M, K:.
(Albany. New York,
N YSU PICSS. no prelo) .
36
37
um subco njunto do co njunto de objctos-rnodclo, Numero - " modelo" significa uma inte rpretação de uma teoria abstra-
sos, talvez a maior par le dos ob jetos-rnodelo, são literai s c ta sob a qual ( inter pre ta ção ) todas as afirmaçõe s da teoria
mais aLI menos mister iosos mai s do que ana lógicos e fa- são satisfeitas (verdade). Qual é a relação entre este con-
miliares. Assim , não há modelos an alógicos adeq uados de ceito semântico de mod elo e o conce ito metacientífico de
el étron s, de siste runs de eco e de me rca dos. Além disso, a m odelo teó rico ? Evidentemente, toda teoria científica, seja
insistência sob re m odelos an alógicos, c princip nlmcntc as nna, genérica a li específi ca, é uma teor ia interpretad a no sen-
log ias de partíc ulas c de o ndas, são res ponsáveis por um tido de que, se devidamente formulada , contém regr as e su-
bocado de confusão na física qu ân tica", Seja como for, ~ n posições q ue do tam o form alismo de um significado fatual .
car acteriza ção de objeto-rnodelo como uma m etáfo ra, rccen - Além d isso, se uma teoria assim interpretada revelar-se in-
temente revivida" é errónea. teiramente verdadeira , seria um modelo, no sentido semân-
Vale o mesm o, a [ ortiori, para d ingrarn ns, os quais - tico, do form alismo abstrato subjacente. Mas as coisas não
exceto em alguns ra mos da matem ática pu ra - podem são positi vame nte tão simples.
ser encar ados co mo uma espécie de aná logo , N a ciência E m pr ime iro lugar, nem tod os os modelos teóricos fo-
Iatual, um diag ram a é uma repres entação visual e esboçad a ram submetidos a provas de veraci da de: co nseqüen temen-
de um objcto-rnodelo : retrata o últ imo, não o substitui. te, não se lhes podem atribuir um valor de ver da de. Em
Send o ma is ou menos convencional, não é um a represen- segundo lugar, todo modelo testado é, no melh or dos casos,
tação (mica e é, por conseguinte , ininteligível a me nos que parcial mente verdadeiro no sentido de que, com sorte, al-
venha acompanhado de algum c6digo de inter pretação. Os g umas de suas co nseq üências comprováveis se mostram
vári os retratos de um objeto-rnode lo não necessitam ser iso- aprox imadamente verdade iras. Port anto, nenh um modelo
morfos entre si c co nseq üentemente não podem substitu ir teórico é, [nland o estritamen te, um modelo no sentido se-
O obje to que retrat am , em bora possam ajuda r a entend ê-lo. mâ ntico, pois isto ex ige qu e tod as as fórmulas da teoria
Por exe mplo, as represent ações do movimen to de um co n- sejam exatamente satisfeitas. Ta mpouco é verdade que to-
junt o de oscilad or es acoplados, em coorden ad as usuais c em dos os modelos semânticos sejam modelos teóricos no sen-
coo rde nadas (li vres de interação ) " normais", são teor ica- tido melacientífico. Assim, mod elos ad lroc e mod elos ma-
mente equivalentes, e mbora os diagramas simbólicos corres- temáticos ( interpretações dentr o da matemát ica) não re-
pond entes não o sejam : en qua nto qu e no prim eir o caso os fletem sistemas reais. Co mo a flecha não apo nta nenhuma
vários pont os estão ligados por molas, no segu ndo, se apre- das dua s dir eç ões, os conceitos de modelo semântico e me-
sentam desvincu lad os. De q ualqu er m ane ira , d iagram as n50 taci entífico não co incide m". O que se poderia dizer é que
são partes e parcel as de teorias fatuais, embo ra possam um mod elo teórico que recebeu um passe con stitui um qua w

ilustrar partes delas de m an eira inequívoca. se-m odelo de seu form alismo subjacente. Mas este conceito
Em resumo, há muit as espécies de objetos- mo delo : me- semântico de qu ase-modelo ainda está para ser elucidado.
cân icos e não-me cân icos, determinísticos e estoc ásticos, li -
terais e anal ógicos, figurativos c simbólicos e assim por
diant e. Nenhuma destas propri edade s é desejável em si, pois 8. Período de Perguntas
o qu e fez um objct o-modelc fun cion ar é algo difer ente, i.
é, o fato de se r lima idéia co ncernente a uma coisa ou a
um fato e, co mo tal, algo que pode ser incru stad o num P : A discussão precedente não segue de per to o uso
sistema hipoté tico-deduti vo. do termo "m odele ". Pois, os físicos difi cilmente emp re-
gam-no. Por que hão de Se preocupar com esta análise? R :
Os fil6sofos preocupam-se mais com idéias do que com
7. Modelos Teóricos e Modelos Semânticos palavr as. O que importa é que os conceitos de objeto-mo-
delo e modelo te6r ico são empregados em tod a ciência dig-
N a semâ ntica e, particul arm ent e na teoria do modelo, na do nome.
P : Não deverá o modelo ap resentar uma semelhança
(5 ) B UNGE, M, An atogy in quantu m Iheory : tre m Inslghl to
nonsense. British loumol f or ' hl! Ph lf osophy 01 Science , 18, 265 (1 967) . form al co m o seu refer ente ? R: Nã o, se não por outro mo -
(6) H UlTEN, E , T h l! Langu agl! 01 Mo dem Phys'cs. (Lond res,
Allen a: Ucwtn, 1956 ) ; BLA CK . M, M oâ els al/ d M ef aph ors , ( lth:'lca . (8) P 3r:1:1 tese contrãria, vej:J. P . SU PPES , " A comp arison of the
N ew Yo rk, Ccm ett U nlversity Prese, 1962 ) ; H ESSE . M , Atodeb an ã mea ning and uses or mod el5 ln mat hemau cs an d lhe empt rtcej sctences'', em
Ânal ogiu ín Sclence (N otre-Da me, Ind. U niversity er Not re -Da me Press, H. FREUD ENTH AL, {Ed .} , T1I e Conup , and the Role 01 th e M odel ln
1966) • M OIhf matlcr all d Na tural and Socia l Sdfncfr (Dord rech l, Reldel, 1961) .

38 39
tivo, pelo menos devido ao fato de q ue um e mesmo
objeto concreto pode ser representado por um certo nú-
me ro de o bjetos-rnodelo e modelos teó ricos que deixam de
ser isomorfos um em relação ao outro,
P : De que serve construir idealiza ções cxtrcrnns de
coisas tais co mo um modelo unidimensional de líquidos? R :
Não há teorização sem modelagem e um primeiro modelo
está condenado a ser ingên uo, i. é. ignorante . Depo is qu e
nos familiarizamos com uma representação grosseira e ob-
servamos o seu fracasso, podemos alimentar a esperança de
complicá-lo em nossa busca de crescente adequação",
P: Se os modelos são inevitavelmente vagos esboços ,
por que não abandoná-los de vez e recorrer a dispositivos
com dados já acondicionados, tais como tabelas e curvas
empíricas? R: Porque desejamos leis e explicações em ter-
mos de leis e nenhum depósito de dados, por enorme qu e
seja, constitui um pacote de leis e um dispositivo expla-
natório. E porque a própria busca de informação interes-
sante 6 guiada teoricamente. Por estas razões preocupamo-
nos com obj etos-rnode lo e modelos te óricos. Por estas ra-
zões o cientista moderno é essencialmente um animal co ns-
trut or e testador de modelos.
P: Acei tando que os modelos são inevitáveis, por que
pretender que representam a realidade? Sendo idea lizações,
não co nstitue m recuos da realidade? R : Objetos-modclo e
modelos teóricos versam supostamente sobre obje tos reais.
Cabe ao experimento co mprovar semelha nte suposição de
re alidade. De qualquer mod o, nenhum outro métod o, ex-
ceto o de modelagem e com provação, mostrou-se bem su-
cedido na apreensão da realidade.
P : U ma vez que tantas explicações co rriqueiras são
feitas em termos de analogias, modelos pict6ricos e aná-
logos tangíveis, por que não admitir que a genuína expla-
nação é metaf6rica? R : Só confundindo o conceito psico-
lógico de entendimento e o conceito he urístico de constru-
ção de teoria com o conceito metacient lfico de explanação 3. MODELOS EM SOCIOLOGIA
é que se pode argumentar que as analogias são explanat ô-
rias e, inversamente, que a ex planação é analógica. I. Transpo ndo o A bismo entre as " Naturwtssenschai-
P : Visto que nas ciê ncias avançadas qualquer de- teu" e as "Geistewissenschaiten"
ficiência de um modelo teórico pode ser atribuída tanto ao
objeto-modelo qu anto à teoria compree nsiva que o abriga, A té há poucas décadas, as estruturas e os processos so-
como há de ser detectado o culpado? R : Esta é uma ex- ciais eram em geral considerados inexpressáveis em termos
celente pergunta.
matemáticos. Esta atitude negativa em relação à possibili-
P : Seria possível subsumir o conceito qualitativo de dade da sociologia matemática traía um entendimento defi -
qu ase-mod elo a um conceito comparativo ou até quantita- ciente, qucr da matemática, quer da sociologia. De fato,
tivo? R: Es te tamb ém é um ótimo problem a cm aberto, pressupunha que a matemática, quando aplicada, se aplica
aos objetos ou referentes do discurso, e pressupunha que o
(1) BUNGE, M. Les cc ncepts de mod êle. L'4ft de la screece, 1, 16.5
(196.). método da ciência consiste no conjunto de técnicas empre-

40 41
godas n as ciênci as físicas. Assim, a fam osa , Oll ant es in - 2. O Problema
fa me, dicotomia entr e ns N otnrwissenscho ítc n (ciê ncias da
natureza) e as G cístewissenschai ten (ci ênci as do espírito ) A fim de verificar como a gente se movimenta no reino
er a reforçada por u ma filoso fia e rrônea da matem ática e da sociologi a m atemáti ca, selccion arernos um processo so-
d a ciência. cia l bem conhecido, relativ am ente simpl es e, no entanto,
Agora, sa bem os melh or. Aprendemos qu e a matem áti- pouco estud ado : a migra ção humana. N osso problema con -
ca pura é neutra c. qu ando ap licada, é ap licad a 3S nossas sisti rá cm explica r, não ap ena s descrever, as correntes de
idé ias sobr e juízos ace rca de fat o e nã o sobre os próp rios mi gração human a obse rvad as. E m outras pal avras , deseja-
fat os : o que é maternatizad o não é u m naco de rea lidade Ill OS con hec er o que imp ele as pessoas a abandonarem suas
mas algu mas de nossas idéias a seu respeito. Esta mud ança ca sas e que padrões globais de migração daí decorrem.
na filosofia d a ma tem át ica teve um im pac lo revoluci onário Co meça remos por apresenta r modelos não -te órico s das
sob re a metod olog ia da ciência e, ultimamente, sobr e a pró- aluais ten dências migrat ór ias. Isto servirá ao prop6sito me-
pria ciência. N a verd ad e, ab riu a possibili dade de aborda r tod ológico de e nfatiza r as ca rac te rísticas de mod elos in-
fen ôm en os não-físicos co m os mesmos instru mentos con- crusta dos em teor ias, i. é, de modelos teóricos. A seguir,
ceitua is (l ógicos e matem ático s) e o me smo método geral exploraremos a poss ibilida de de constru ir teori as não-quan-
(o método científico) que obte ve tanto êxit o na s ciên cias titativas de m igr ação hum ano . Verificar-se- á que elas são
físicas. Em particular, os so ció logos com eçaram a ap ren- t riviais porque restrit as mais aos dados atuais do que abran-
der a linguagem d a matem ática , não ap enas como um dis- gcnd o pass iveis processos de mi gração. Proporemos, então,
positiv o útil para comprimi r e agitar dados empíricos, mas urna hipótese relativa à din âmi ca da migração humana que
como ferramenta para a construçã o teóric a . pode se r for mulad a em termos quantitativos e desenvolvida
Sejam ou nã o aco lhidas as considerações filosófi cas an- cm vári as teoria s matem áticas. Duas delas são dete rminísti-
teriores! devem os en fre nta r um novo fato que arr uína o cas enquanto as outras duas são estocásticas, i.é, impli-
prin cíp io segundo o qual nã o pod e haver outra ciênci a ca m o co nceito de probabilidade. F inalm ente , tentaremos
mat cmâticn (empírica] cxc cto a física c a química : d e extrair algumas lições met odol ógicas gerais de nosso exer-
fato, a biol ogi a mat emática ! a psicologia matemática e a cíc io.
soci ologia matemática são hoje empreitadas florescent es. Manteremos um nível muito modesto de refinamento
(A história está a ponto de seguir o mesmo caminho.) Em m atem átic o. E nã o tentaremos confrontar os nossos mo-
tod os estes campos as teori as se exp ressam cm certo nú- dela s com dado s empíricos, pois a motivação para o nosso
mero de linguagen s mat emáticas. E algumas de suas afirma- estudo é explora r o lado conceituaI mais do que o emp í-
ções em nível inferi or estão sujeitas a provas emp íricas. A rico da soci ologia contemporânea . Contentar-nos-ernos em
biologia, a psicologia e a socio logia cessa ram de ser me- verifi car que os nossa s modelos são suscetíveis de prova
tod ologicam ente dif erentes da fí sica e da química : na ver- empírica.
dade, seus objetos são diferent es e como con seqüência
estas disciplinas pr ecisam inventar técnicas (m étodos espe-
ciai s) próprias! mas sua meta é a mesma , isto é, descobrir 3. Modelos Nã o-teóricos de Migração Humana
leis (naturais ou socia is) objctivas c sistema tiza r tais leis
em teori as (sistem as hip ot ético-deduti vos} . Qualquer representação dos traços salientes de um
Por esta razão, nOS paí ses anglo -sax ônícos , fi palavra pr ocesso po de denomin ar-se modelo do processo. Qualquer
"ci ência' designa agora a famíli a inteira das ciências fa - represent ação gr áfica dos p rincip ais traços de um processo
tu ais, sejam elas natur ais ou culturais. Por esta mesma ra- é um modelo visual deste. Diagramas de flu xos e retratos
zão, a filo sofia geral da ciên cia - i. é, a filo sofia preo- anal ógicos são duas espécies de mod elos visuai s ou grá-
cupa da com tudo o que é comum a todas as ciênci as ficos. A F ig. I exibe dois modelos gráfi cos de migração.
especiais - é agora tã o respeitáv el quan to as filosofi as E nqua nto (a) represent a as características qualit ativas das
region ais da ciê ncia. Os deb at es para saber se são possíveis prin cipais corr entes d e esco amento de cérebros no pr esente
empresas tais com o a soc iologia matemática e a filosofia mom ent o, (b) pinta o tr ansporte humano através de uma
geral da ciên cia estã o agora tã o mo rtos q uanto a contro- front eira em analogia com a difu são de um líquido através
vérsia sob re a possibilid ade do movimento. de membrana semiper meável.

42 43
fossem poss íve is teorias relacionais, algébricas e topológi-
cas de migr açã o, que p udessem ex plica r os flu xos migra-
tórios. Esta espera nça é, infelizmente, irre alizada : apenas
teo rias tri viais deste tipo pare cem su rgir, como será 0105-
t rado ago ra.
F .U.A. Part am os de lima abordagem relaciona l. Ao nível indi-
vid ual , o conceito de migraç ão é u ma relação ternária : uma
pessoa x emigra de uma região y para outra região z -
cm suma, Exyz . (Se o tempo for int rodu zido, resulta uma
(ai relação q uatcm ária.) Ev identeme nte, a relação E é irre-
flexiva, an ti-sim ôtrica e t ran sitiva, na s dua s últimas variá-
veis. Con seq üentemente, o co njunto G da s regiões geográ-
ficas é orde nado por E para cad a indi víduo fixad o. Ma s
isto n50 no s diz nada acer ca das correntes de migração.
Pois se nos alça rmos acima do ní vel dos indivíduo s. o con-
junto G de regiões geográficas deixa de ser ordenado pela
Fi g. 1. ({I ) D iagram a do fluxo da migração de cérebros. (b) relação E de emigração de pessoas. Com e feito, temos agora
An álogo físico da migração. Transporte de moléculas da região a rela ção di ádica do fluxo de migração, isto é, a migração
1 para a região 2 através de uma membrana semipermeável. (de pessoas) da região x para a região y - em suma
Fx y, E est a relaçã o não é anti-siruétrica, pois muitas ve-
o análogo físico (b) da migr ação hum ana é inútil , zes acontece qu e um país perde emigrantes ao mesm o tem-
exceto talvez co mo chave he urística para a con stru ção de po que ganh a imigrant es. Por F nã o ser anti-sirn étrica ,
teorias m at emáticas da mig raçã o. Sem dú vid a, a ana logia de ixa de orde na r o co njunto G . E se G não é seque r um
membrana-fr onteira é tent ad ora , mas qu alqu er exp licação conjunto parcialmente ord en ad o. e ntão ele é, do ponto de
da migraçã o em term os de u rn a diferenç a de concentraçã o, vista algébrico, carente.
ou pressã o os mó tica é metafóri ca e supe rficial: o qu e de - Sem dúvida, poderíamos facilmente manufaturnr um
manda u ma expli ca ção é pr ecisam ent e a exi stência de uma conjunto ord enado a partir de G, i. é, tomando qu alquer
pressão de migr açã o. famíli a de subco njuntos de G : qu alquer coletânea assim
Por contraste, o diagrama de fluxo ( o ) na Fi g. I é útil será ord ena da pel a relaçã o de inclusão. Al ém disso, se se
co mo apresentação visual de lim a massa de dad os. Ma s ne- tom a a co lc ção de tod os estes subco njuntos. então resulta
nhum dos dois mod elos con stitui um a teoria ou sistema nada menos do que uma treliça (Ve,.balld, treillis}, Mas por
hip ot ético-deduti vo; logo, nenhum dos do is p roporci ona ex- si só não sug ere agrupamento natural: não há [nndamen-
plicaçõe s e previsões dos flux os migrat ó rio s. Se qui sermos tlim divisionis sociológico para obt er uma tal subdivisão.
dedu zir fat os p ossíveis Oll reais de vem os con struir teorias, E m outras palavras, a famíli a de subconjuntos de G nã o
i. é, sistemas de afir mações a pa rtir das qu ais pod eremos pa rece refletir qu alquer fato socia l. Ou ainda: nã o parece
inferir af irma ções ult eri ores com a ajud a d a lógica e d a haver em nosso cas o uma relaçã o de equivalênci a com um
m atem ática . Esta s teo rias, pr eocu padas co m u m ob jeto es- significado sociológico - e a menos que um a relaç ão desse
pecífico - i. é, n mi gração human a - hã o de co nte r idea - tipo seja e nco nt rada co m um produto do p ensam ento acer ca
lizaç ões ou modelos teóricos do processo de migração. (S o- do fenômeno empírico em que stão. nenhuma partição na-
mente as teoria s genéricas que não especificam qu aisquer tur al de G estará disponível. Todas elas confirmam, di-
detalhes deixarão de conter modelos te óricos.) ga-se de p assagem, que em ciência fatual estamos interessa-
dos em classes n atura is mai s do que em conjuntos a rbi-
trá rios. De q ualquer mod o, o result ado das con sider açõe s
4. T eorias Qualitativas da Migração Hu mana aci ma é o seguinte: embora qualquer pessoa p ossa ficar
bri nca ndo co m as estruturas algébri cas, ninguém pode pro-
Poder- se-ia pe nsar qu e as características qu alitati vas va r que elas são, no caso, recon struções con ceituais fiéis
das co rrentes migratórias são descritiv eis em termos exatos (ou mesmo gro sseiras) dos fatos em qu estão.
e, no e nta nto, qu alitativos . E m out ras palavras , é co mo se

44 45
Te ndo. cm nosso caso, falhado cm levar ii ca bo am- 5. Um a Hip ôtese Explanat ôria
bos os programas , o relacio nal e o algé br ico , volt am os ao
topológico. A primeira coisa a fazer é co nstruir um es- Come çaremos com a hipótese segundo a qual o que
paço to po lógico desde que seja definida lima viz inhança impele as pessoas para longe de suas casas são dife renças
parn cada ele mento do co njunto. U ma defi nição possível é nas opo rtun idades ou possib ilidades de alcançar ce rtos ob-
a seg uinte : a viz inhanç a U (x ) de uma reg ião x em G é jctl vos básicos pessoais. A força deste impuls o será de-
constituída pelo próp rio x e por tod as M regiões J' em G nomi nada pressão m igrat ória. Em o utras palavras, admi-
que env iam emigrantes para x - i. é, por tod os os f'- timos ( a) que há lima função , pressão migratória, sobre o
pare ntes de x. Assim, na Fi g. 1 (a ) a vizinhança do Ca nadá conjunto G de regiões geográfic as e (b) que o valor desta
co nsistirá do Cana dá, da In glat err a e da Eu ropa. pressão de uma região a outra depende da atração propor-
O que mais? A p arentem en te n ão m uit o m ais, porque cionada pela co nsecuç ão mais fácil de certos objetivos si-
estamos incapaci tados a faze r algo inter essante do po nto tu ados além da fro nlei ra. A fim de am pliar esta hipótese,
de vista sociológico com e ste espaço top ol ógico . Em parti- em lim a ou mais teorias, devemos refiná-Ia: uma afirma-
c ula r, parece não haver se ntido em intro duzir mapeamen - ção verbal é demasiado vaga para co nstituir um postulado,
tos q ue são o cerne da top ologia. Cert amente podemos embora possa ser um efetivo detonador da teo ria.
achar sub conjun tos de G entre os quais se o bte riam certos Po is bem , o refin ame nto de um a hipótese cie ntífic a
m ape amentos, me smo contínuos. (Por exemplo. tanto o não é apenas uma questão de an álise lingüíslica : uma afir-
Canadá, quanto a Alem anha O cidental e ncontram-se no m ação cie ntífic a to rna-se acu rada quando engastad a em
ce ntro de gráficos topologic ame nte idên tico s, - i. é, es- um a teoria e não q uan do reformulad a com ajuda de um
treIas de cinco pon tas.) Ma s isto, n a melhor das hipóteses, dici onári o. Uma vez que há muit as teorias que poderiam
con stitui um exercício de top ol ogia eleme ntar: não teria co mpreensivelmente abrigar nossa hip ótese, haverá inúme-
qualquer conseqüê nc ia soc iológica. Pod eria ajuda r a ar- ras versões refi nadas dela . Tentaremos quatro teorias, ten-
rum ar os dados, mas não propo rciona qualq uer compree n- do tal hipótese como centro . Em tod as elas o mundo será
são deles . E o ob jet ivo da c iê ncia teó rica é precisam ent e en carado corno dividido em regiõe s, e nossa atenção será
o de co nsegu ir com preensão dos fa tos - lim a comp reen- focalizada e m pares de regiões que não imp orta quão dis-
são negada àqueles que se rec usam a ir alé m da intuição. tantes possam ser, são socialmente adjacentes, no sentido de
Em co nclu são , a abordagem qualitativa que exploramos que pessoas podem ir em busca de alime nto de uma região
- e que deve ria sempre ser tentada antes - ~arecc falh ar a o utra. A s nossas teorias não se rão limi tadas ao noss o
neste caso. A razão da falh a pa rece dever-se ao fato de a planeta nem à nossa época. A pe nas os valores numéricos
abordagem aci ma estar ama rrada à realidade ; é apenas dos coe ficien tes que aparece m nas eq uações se rão limitados
uma tent ativa de ordenar um conjunto de iten s de inf orma- pela terr a e pelo perí odo.
ção: procura desc rever qual é o caso, não o que pod e ser, Partiremo s. e sboçando duas teo rias det erminístic as:
e é por con seguinte incapaz de ex plica r o que é e prever o log o dep o is, delinearem os doi s mod elos estoc ástlcos. Deixa-
qu e será. E m compe nsaçã o, lima teoria c ientífica lid a com remos no leitor inte ressado a tot al formul ação destas teo -
possibilidades (me smo que n50 faça uso de cálculo de pro- rias.
babilidades) c é portanto ge ral e possui algum poder de
previsão .
Mostraremos mais ad iante que a abordagem qu alitativa 6. Primeiro Modelo Deterministico
do no sso probl ema torna possíveis teorias científicas da m i-
gração humana. E. como cada ramo da ma temáti ca quan-
titativa pressupõe teorias q ualitat ivas (m as ex atas) , como a Seja PIj a pressão m igrató ria da região i para a regiã o
teoria dos conjuntos. a álgebra e a to pol ogia, obter emos i c su ponha qu e um (mico fat or - digamo s a diferença de
padrõe s de vida entre i e j - esclarece a variável PiJ. Isto
características qualitativas na troca. Entã o , a m oral 1150 é
é, admitamos que Pt) seja uma fun çã o ape nas da diferen-
que a abo rdag em qualitativa é sempre esté ril na ciê ncia
Iatu al e por isso de veria ser afas tada, mas antes que é al- ça ErE" onde E. é o [ator airação oferecido pela região k ,
gu mas vezes insuficie nte para gerar teorias e não deveria Mais especific ament e, admita mos que p.! seja um a função
pois ser supe res timada. D e qualquer form a, se que remos uma line ar desta diferença. A fim de supera r o probl ema de
teo ria devemos partir de alguma hipótese ex pla n at ór ia. defi nir uma unid ade comum para tod os os fatores de atra-

46 47
çân relevan tes. dividirem os a dife renç a pela som a: Isto nos ções iniciais ( a) um maço de hip óteses relativas à natureza
dnrá uma expressão livre de unidad e. m atem ática dos vá rios con ceitos envolvidos e (b) um con-
Em resumo, nos sa hipóte se exp lanatória assum e a junto de pressuposições semânticas e esboços de regras, em
forma um mod o mai s preciso do qu e fizemos, apre sentando-se o
se ntido sociológico dos símbolos nas afirmações b ásicas da
Ej - CI
P,} = K, + K, (I ) teoria. 1\ mes ma obse rva ção vale para os mod eJos que se rão
s, + c, apresenta dos nas sec ções subseqüentes. Voltar-nos-ernos
agora para um reparo metodológico.
onde K t e K 2 são números reais n serem ca lculados a par- As variáveis men surá veis cm no ssa teoria são as den-
tir dos dados relativ os ao par (i ,i ) . Uma possível intcrprc- sidades de popul ação S, e SJ c os fluxos migratórios parciais
tnção destes coeficientes é : enqua nto K , rep resenta n. per- l}'iJ. Po r ou tro lado , as pressões migrató rias Pu são cons-
m issibilidade ou a perme abilidade da fron te ira ( na dircção truc to s hipotéticos cujo s valores de vem ser inferidos das
i ~ j) , K , é uma represent ação global de tod as as res- den sidad es e dos fluxos, na fórmula (2) . Um a vez dis-
tante s variáveis de atração, Se uma ali outra das regiões poní vel P,}, voltaremos ao fator atração E, variável supos-
en vol vidas proíbe trocas pessoai s, K, = O para este par ; tamente men surável, a f im de determinar, com a ajuda de
se a migração não for irrestr ita entre as regiões em questão, (I ) tan to a permissividade K, quanto o -efeito total K. dos
tom am os K 1 =1; na rea lidad e K I será alguma fr ação en- fato res de atra ção desprezados. Mas estas ob servações di-
tre O e I . N o tocante a K 2 , será nulo, se E fo r O único fat or ze m respeit o no teste e ao uso da teoria: elas não per-
a op erar para o dado par (i,i>; se rá positi vo se hou ver ou- tencem à teoria.
tros fatores fav orecendo a passagem de i para j e será nega -
tivo se este s outros fatores op erarem em sentido inverso .
i. é. mantendo as pessoa s dentro dos limites da região i. 7. Segundo Modelo Deterministico
V amos aditar ago ra uma seg unda pressuposição, ou
seja, que o fl uxo migrató rio em q ual que r instante dado t é
A fím de expli car o parâmetro K. nas fórmulas (1) e
prop orcional tanto à pressão migr atóri a Pu com o à densida-
( 4), devemos engodar todos os fat ores de aIração despre-
de S, de população da reg ião expedídora naquele in stante,
zados no modelo anterior. Chamemos E~ o valor do n-ési-
relativa à densídad e de população S) da região recept ora no
111 0 fal a r de atraç ão na região i e , similarmente, para a
mesmo instante. Em símbo los
reg ião co ntíg ua. Po stulam os que
<I>'J ( I) = Pu . M I) /M I) (2)
Pi} = ~ K . ( E j - E~) / ( Ej + E:) (5)
~ cl aro que o fluxo migratório total para a região i equa- .. A
liza a soma de (2) sobre todas as regiões socialmente ad-
j8ccn'« , í. é, cnde 3 somat éria se esten de sobre h'(k' (\ conjunto ...f de'
{atc:'e5 de atração (CC'n he-:idC's L
1;, .- 1 "'" (3) Esta fórmula é evident emente ma is gt~rnl e ll1:li!: fte -
1=1
x ível do que a (I ). Primeíro, íncluí (I) , o que se vê "?
se chama r K 'l a soma de todos os termo s exceto o prr-
A expressão explícita para o fluxo mi grntório total é ob- melro . E m segundo lugar, as várias diferenças podem co~­
tida introduzindo cm (I), (2) c (3): preen sivelmente can.=clar..se u~~ a , ~utfa de modo a nao
produzir uma pre ssa o mlgrat ória nítida. (De outr,o modo
8,( 1) ce, - E,) raramente haveria dúvida s nas mentes dos candidatos à
<I>j(l) = ~ K, ------- + K. (4) migraçã o.) H averá emigração de i para i apenas DO caso
i .. j
MI) (Ej c,) + P,} > O, e a co rrente f1ui ~á ~a direção. op os"ta se vale~ ..a
desigualdade inver sa. No pnmetro caso, dir-se-â que a regrao
Este é, em poucas palavras , nos so ~r~meiro ~ odel? mate- i "atrai" imigrantes de i; no últ~mo caso, trocam,-s~ os pa-
mático. Trata-se de um simples exerClCIO de axiornâtlca para péis das dua s reg iões. Em ter ceiro lugar , o ~oeflclente K a
pro var qu e (4) é apenas a afir mação -núcleo de um SIstema pode ago ra ser interp retado quer como propneda?es da. r~­
inteiro hip otético-dedutivo , sendo as remanescentes assun- gíão i - e.g., a líberalidade ou o opo sto das leis de um-

49
48
gra ção de j - q uer como relativas tan to a j quant o aos A nossa segunda hipótese é que as várias probabilida-
vários fatores de at ração. A escolha da interpretação nã o é des individuais sã o mut uam ente independent es - o que é
caso de convenção mas de experiência: se se ob tém a me- verda de apen as em primeira ap roximação, pois ela deixa de
lhor ade quação equacionando tod os os K rt (i. é, to man do lad o fa mília, laços de amiza de e p rofissionais. Sob esta hi-
K a = K para lodo a cm A ), en tão adotar -se- á a p rime ira p ótesc simplifica do ra, o fluxo parci al líquido at ravés da
inte rpretaç ão; do con trá rio a segunda . Moral metodológica: fron teira ( i ,i) torna -se
forma e conteúdo não são sub meti dos sepa radamente ao les-
te empí rico. • cI>IJ = N 1 ~II P H" (7)
As fó rmul as (2) e (3) são ma ntidas no modelo p re-
sen te. D eixar em os para o leitor as sínteses d e (2) , (3) e onde N, é a popul ação total d a região i.
( 5 ). Co mo an tes, esta síntese é ape nas o núcleo da teori a. Não restará nenhuma constante fenom enol ógica se as
Na p resen te teo ria as cons tan tes K a permanecem in ex- utilidades Van forem co nsideradas sem dim ensão . Co ntudo,
plicáve is, embora seja m interpret ad as c, felizm ente, pod em este ganh o metodológico é efeti vamente equilibrado peja
tam bém ser estimadas a partir dos dados emp íricos. É pre- grande dificuldade em estimar, de uma maneira objetiva, as
ferí vel sempre co nstru ir teo rias co m um mínimo de cons- utilidades subjetivas, No ssa vitória pode, sem dú vida, ser de
tant es fenomenológicas ou in explicad as como os K a • se nã o, Pir ro. M as esta não é abs olut am ente , em ciên cia , uma si-
por out ro moti vo. ao m enos pelo fato de que qu anto mai or tu ação exce pcio nal: difici lment e há casos nos quais esco-
o número d e tais parâmetr os, tanto mais fácil será aju s- lhas cla ram ente definidas podem ser feitas ent re teorias
tar os d ados, i. é, tant o ruai s fácil se torn a o jogo e tanto co ncorrentes. E m part icular, lima teoria fen omenológica em
menos co mpree nsã o proporciona. Em nosso caso, co mo em sociologia - um a qu e não envolva variáveis psicológicas -
inúme ros outro s, os parâmet ros pode ria m ser expli cad os talvez deva ser co nserva da junt amente com todo um maço
pela co nstrução de uma teo ria mais profu nda, um a te oria de teori as m ais pen etrantes, i. é, de teori as que visam expli-
preocupada com traços psíquicos «('.g., imaginação, dina- car rnacrovariáveis em term os de variáveis psíqui cas. Em
miemo c audá cia) e co m o st ntus socia l dos sujeitos. U ma tal resumo, a mac rossociologia e a microssoc iologia (o u socio-
teori a mais aprofu nd ada poderia ser q uer de ter mi nística q uer logia psicológica, a ser d istinguida d a psico logia social) nã o
estocástica. Por razões did ática s e estéticas, esco lhemos neces sitam ser mutu amente exclusivas ma s podem am iúde
para desen vol ver duas teo rias estoc ásticas q ue ult rapassam comp leta r um a a out ra.
de leve aqu ela exp osta nesta secção.

9. Segundo Mod elo Estocástico


8. Primeiro M odelo Estocástico
o nosso primeiro mod elo estocástico não d á conta dos
Pa ssemos agora ao nível do indi vidu al , int rod uzindo o diferent es gr aus de co nsec ução dos vários objetivos a em A.
co nce ito psicológico de ut ilidade ou va lor subjetivo , Es pe- P or ou tro lad o, o segundo modelo det erminístico pode ser
ra mos deste modo exp licar m acr ovariúveis em term os de ada ptado, a fim de dar co nta destas diferen ças, interpre-
rnicr ovari áveis, reso lvendo assim um dos problemas de tan do K a co mo a facilid ade co m que o a-ésimo objetivo
"a gregação" co locado pelo p rob lema da migração humana. pode ser alcan çado na região j . Es ta facilidad e de desem-
Admitiremos que o »-ésímo indi vídu o atri bula um va- pe nho deve ser co nceb ida de urn a man eira objeti va. Isto nã o
lor Vali ao a ·és imo fa tor de atração, e m ais, q ue cad a in- será fácil - mns se re velar á possível.
divíduo possua uma propensão ou disposição migr ató ria - Uma mane ira óbvia de refin ar o con ceito de facilidad e
q ue na maior parte dos casos pod e ser nula. Cornumen te, de con secução de um objet ivo é a de elu cidá-lo co mo a
q uan tificam os esta p ropensão como uma probabilidade. E, probabilidade objetiva de atingir o fim em questão. (Pro-
na linha de no ssos modelos ante riores, assumimos que a babilidades objetivas podem am iúde ser estim adas pelas cor-
p robabilidad e de que o u- ésimo ind ivíduo saltará a front ei- respondent es frequên cia s observadas, o que não significa
ra i-i é: q ue probabilida des sejam freqüências.) E ntretanto, co-
mo esta probabilidade difer e segundo a região e o sujei-
p ij n = ~ Van ' (E : - E':l / IEj + E';l (6) to, não estarem os habilitado s a fat or á-las: ter em os de
a< A su bstit uir .E; - E~ por p ; IIE j - P ~nE~ . D este modo, uma

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alta p robabili dad e pode compensar um baix o resultado e, possíve l - apenas estava na trilha certa: ela co nstruíra
inversamente. Ass im, para um dado fato r a e um dado in- para si mesma o método correto. Este método, que se tor-
divíduo 11, poderí amos ter : nou eventualmente o método da ciência, é o adotado peta
sociologia mat emática con tempo rânea: mistura a audácia
p:. = J, E~ =J IJ O, p ~. = l IJ O, Ej = 1 espe cula tiva co m a exigente comprovaç ão empírica.

donde resu lta uma con lribuição nula deste fato r par ticular A seguinte lista bibliográfica po de ser útil :
E para O em pux o migratório sob re este indi víduo parti-
cular 11. ALK ER J R., H . R. M athernatics and Polit ícs. New York ,
De qualquer maneira, nossa primeira hipótese torna-se : Macmi l1an , 1965.
BER G E R, l .; CO HEN, B. P.; SNELL, J. L. Typ es o/ For-
PI}" = ~ Ver"(PJn E j - p1"E: ) (8 ) nuili zatío n, Bosto n, H ou gh ton M ifflin , 1962.
•e"
BUNG E, M. Scien tí]ic R esearclt. Berlim-Heidelberg-N ew
mantém -se as fórmulas (2) e (5) para os fluxos. Deíxam os Yor k, Sprin ger-Ve rlag, 1967, 2 v.
ao Jeitor a tarefa de encontrar o fluxo migratório tot al CHA RLES WO RT H, J. C. (Ed.) . Mathe matí cs and lhe So-
líquido na região j . cia l Scíences. F iladél fia. Am er ican A cadem y of Pcliti -
cnl and Socia l Sc iences, s.d.
10. Observações Finais COLEMAN, J. S. l nt roduct íon lo Matben iatica í Socíalogy .
New York, F ree Pre ss, 1964.
DO~ lI NGO , C. Buííding D'ynamic Models [rom Hlstorical
Esboçamos quatro teorias diferentes ace rca de um Dala. Cambridge, Mass., M. I.T., 1968.
único processo social. Essas não são , de maneira nenh u-
ma, as únicas pos síveis: mes mo conservando nossa hipó - GRANGER , G. Pens ée [ormel!e et scíences de Eltom me,
tese explanatória básica, poderíamos apresen tar muitas ou- Pari s, Aubicr-Montaigne, 1967.
tras teorias, tomando simplesmen te funções não-lineares das RAS H EVSKY, N. Matliematira l Hio!ogy o/ Soeial Beha-
dife renças nos va lores dos fatores de atração co nsiderados. vior, Ed . rev., Chicago, The Un iversity C hicago P ress,
Sem dúvida, incumbe aos dados empí ricos e fctuar uma 1959.
escol ha en tre as várias teori as co ncorrentes. En tretanto, SI MON, H. A. Models o/ Ma il. N ew Yo rk, Wiley, 1957.
e sta escolha está longe de ser trivial, se as teorias em ca usa SOLO MON, H. (Ed.). M athematical Thin king iII lhe M ea-
co ntivere m dif erentes espécies de variáveis , e m particular surcnunu o] Beha vlor, G lencoe , 1II., Th e Free Press,
mi crovari âveis e ma cro vnr iâvel s, pois um ga nho c m profun- 1960.
did ade e cl areza pode perder-se por um prejuí zo c m cx a-
tidão e até em com pr obnbllidad e objctiva. Aqu i, assim co mo
nas ciê ncias físic as, devemo s c om eçar declarando que nosso
propós ito primário é: se for ape nas poder de previsão. cn-
tão um a m acrotcor ia pode rá bastar; ma.. se qu isermos aden-
trar nosso e ntendimento dos ratos. precisarem os estar pre-
parados, pe lo menos no co meço. para ced er alguma pre-
cisão, pelo menos até que con heçam os mais o fun ciona-
mento das m icro variáveis. N o fim de contas, é o que acon -
teceu na física : as pri meira s teorias microfísic as eram me-
nos exatas que certas teorias macrofisi cas, mas a profun-
didade levou eventualmen te a padrões ma is elev ados de
pre cisão .
Uma vez mais, o so ció logo que desespera de jamais
co nseg uir apresen tar teori as comparáveis e m exatidão co m
as teo rias físicas, rec ebe rá co nsolo e estí mulo se pensar
que no tem po de Ga lileu , a física era tão imp recisa qu anto

52 53
4. COMO E POR QUE DEVERIAM SER
AXIOMATlZADAS AS TEO RIAS CIENTIFICAS?
Creio que tudo quanto pode ser ob jeto do pensamento
científico, em geral, está destinado a cai r tão logo esteja
maduro para a constiluição de uma teoria, no método axiomá-
tico, e com isto indiretamente, na matemática. Penetrando em
camadas cada vez mais profundas de axiomas . .. ganhamos
também co mpreensões cada vez; mais profundas da essência do
pensamento científico, tornando-nos cada vez mais cônscios da
unidade de nosso saber. HrLB ERT, D avid. Mot íu ma tische A II~
nolen, v. 78, pp. 405·415 ( 1918) .

A me lho r maneira de apresentar uma teoria científica


é formulá-la axiomaticamente, i. é, especific ando explici-

55
tamente todas as assunções e distinguind o claramente os ve rdadeira} , co mo lia r ad iação cósm ica p rod uz mutações".
conceitos bá sicos e h ipóteses d os que são seus derivados. Portanto, a axioma tização de uma teo ria con siste em uma
Isto foi compreendido desde q ue E uclides axio matizou a a presentação orde nada tanto dos conceitos principa is como
geom etria eleme nta r. Entreta nto, isto não foi un ivcrsalm cn - da'i afirm ações pr incip ais desta . Ma s o que se pr etende
te pe rcebido; inúmer os mal-ente ndidos ai nda hloqu cinm o dizer com idéia " principal' ou "fundamental"? Simples-
ava nço da axiom ática na ciê ncia fatu aI - não, tod avia m en te, lima idéia que se rve para con stru ir outras idéias : um
na ma temática, on de co nstit ui o formato p:uadigmáti co de conceito usad o par a def inir ou tros co nceitos, ou um a afir-
teorias. mação empregada para derivar outras afirmações. Os con-
Um primeiro erro popular é o de equ iparar "axi omá- ceitos básicos de uma teo ria são chamados seus con ceit os
tico" com "auto-evide nte". Isto é evidentemente e rrado pa ra primitivos ou não-de finidos, enqua nto as p rop osições b â-
Os prin cípi os so fisticados da ci ên cia teór ica, pou cos dos sicns de um a teoria são cha ma das axiumas ou postulados
quais são fá ceis de ent ende r c indu bit áveis. U m segundo da teoria.
e rro é cre r qu e ape nas a lógica c ri. mate mática pod em tcr Assim, o conceito de fo rça é um conceito primiti vo e m
ax iomas , porqu e um axioma deve ser form al, i. é, despr eo- mecâ nica e o conceito de reação o é, em psicologia. E a
°
cupa do com m u nd o externo. M as isto con trad iz o uso téc- Lei de N e wto n, do m oviment o , é um axio ma da mecânica
nico modern o, segu ndo o qual "a x ioma" significa just a- clássica , enquanto a lei psicofí sica (na sua ver são m od ern a)
mente um a assunção inicia l ou uma p rop osição não-de- é um axioma d a psico física . Entretanto, o status de bá sico
monstr ad a de uma teori a. Se uma tal hip ót ese inicia l é abs- ( primitivo ali ax ioma ) nã o é absoluto : em teorias altern a-
trata, com o no caso d as tcorins algébri cas, ou possui 11m tivas pod em os esco lher diferentes ped ras par a construir e
conte údo Iatual, d efinido co mo no ca so de teori as biológi- deri va r (d efinir ou deduzir) as idéias básicas da teor ia dad a.
ca s, n ão afet ar á se u status lógico. N em o fat o de ser pro- Assim, na mecân ica h arnilt oniana , o con ceito de força
vável, mais do que verdade ira , a tra nsfo rma cm um nã o- pod e ser defin ido em ter mos do con ceito de potencial e a
axiom a. Ig ualmen te, u m teorem a em psicologia m atem ática lei newt on iana, do moviment o, fica subs umida às equa-
não deixa de ser um teorem a se fo r considerado inadeq ua- çõcs ca nônicas. Do mesmo modo, no futuro, a neurofi siolo-
do p ara retratar fat os psicológicos. A distinção e ntre axio - gia pod eria dedu zir a lei psicoíisica de leis neurof isiol ôgicas
ma s e teoremas é simplesme nte a seguinte: os primeiros mais b ásicas e definir o con ceito de rea ção em termos neu-
têm como con seqüên cia os segu ndos , ma s nã o inversa me n- rofi siológic os. Em suma , as distinções entre indefinido e
te - e não importa qu e sejam a bstra tos o u co ncretos, ve r- definido, entre postul ado e provado são relati vas à teoria:
dadei ro s ou fa lsos, simples ou com plexos. em ciência n ão h á ind efiníveis mas indefinido; não há
Qualquer te ori a cie ntífica p od e, em princípi o, ser for- nã o-prováveis ma s não-provad o. M as em cada teoria a ló-
mul ada de fo rma axiom ática, e nenhum a te oria axiomati- gica recom enda a ado ção de um conjunto de con ceitos pri-
zada deve ser enca rada como fin al ou perfeit a. F oi isto que m itivos e ax iomas, se qui sermos evitar as circul aridades. Pois
o grande matemático, lógico e físico teóri co David Hilbert bem , toda teoria cientifica é erigida com a ajuda de outras
nos en sinou há meio séc ulo. T oda via, a lição de Hilbert nã o teori as : some nte a l ôgica parte do princípio, i. é, sem
foi aprendida por todos : algun s desgostam d a axiomá tica, pressupor outras teorias. Assim , as teorias físicas utilizam
porq ue pouco se importam co m a cla reza e a coerência; a lógica e a matem áti ca e as teor ias biol ógicas p ressupõem
outros, porque ela pa rece difícil ; e outros, fin almente, por- a física e, por ta nto, tam bém a lógica e a matem ática . A
que temem qu e ela. possa sustar o pr ogresso. Não tent a rei lógica e a ma temática são, e m ger al, admit idas como cer -
co nve rter os amigos d as so mbras, ma s procurarei pr ova r tas, mas na axiomática é pr eciso pelo menos a rrolar as teo-
que a axiom átic a nã o é nem abstrusa, nem rígida mas, rias lógicas e matemáticas pre ssupostas, pois do contrário
ao contrário, mais simples do que o caos e favo ráve l ao pod em ser cometidos erros elementares. D estarte, a assim
progresso . Para este fim , devem os começa r por descob rir as ch amada lógica qu ânti ca br ot a par cialm ente do m alogr o
característic as ger ais da axiomá tica. em co mpreender q ue a teor ia quân tica possui um formalis-
A idé ia da ax iomá tica é bastant e sim ples : axi omatizar mo matemático ord inár io o qu al contém lógica com um.
um corpo de con heci me ntos ( um co njunto de afir mações) A lógica e a mat em ática não são as úni cas pressuposí-
é ap en as exibir S fl(1S idéias principais de um a maneira or- çõcs de lima teori a científica . H á também pressup osições.
denada . Ora, uma. idéia pod e ser qu er um co nceito, como filo sófi cas e é melh or compreende r isto do que se indi gnar
"mutação", qu er uma afirmação (um a fórm ula falsa ou com O fato. Para co meçar, tod a teori a cie ntífica inclui os

56 57
conceitos de refe rên cia e re present ação . Por ex emplo, na nsslm . pa ra projeta r um teste de qu alqu er teo ria mecânica,
mec ân ica do pon to ma terial se ndml tc q ue, pa ra ca da par- U O:; :'U110C;; a óp tica. Mas isto é o ut ra história: estam os preo -
tícula (u ma coi sa real) há U I11 pon to m ássico (U 1113 idéia ) cu pados aqui co m as relações lóg ica s e ntre teorias.
que representa a pa rtl cul n. E m psico logia adm ite-se ami úde U ma vez deli nea do o background de uma teoria ou ao
qu e um orga nismo é representado por , O ll modelado co mo . me nos m encio nad o, pode -se assentar seus fundam entos axio-
lim a c aixa n egr a dot ad a de te rmin ai s de entrada e de sa ída. m áti cos. A gente co me ça por apanhar os con ceit os bási cos
Desse modo, ligam os idé ias c coisas, c n o! p revenim os ou ind efinidos de um a teoria e prossegue colando-os uns
con tra sua identificaç ão. Sem dú vid a, as assunções se mân- aos out ros (com a ajuda de conceitos lógicos e matemáti-
ticas num a teo ria tan to co ntr ibu em para consigna r-lhe um cos) nas proposições básicas da teoria. Isto é tudo com
con teúdo, qu a nto pa ra nos lem br ar que as teorias cien tíficas que a ax iomá tica se oc upa. U m exem plo esclarecerá o
são represen tações esque má ticas dc coisas mais do que sis- as un to.
t ernns abstratos ou retratos fidedign os. E m qualqu er caso, Axio mntizcmos uma das m ais simp les teorias físicas.
urn a vez que o co nceito de represe ntação é um a noção se- ou seja, a teori a de Kir chh oH das redes elêtricas. As pres -
m â ntica, e como a semântica é um ca pít ulo da filosofi a suposições gen éri cas desta teori a são as seguintes: lógica
co ntemporân ea, vem os qu e h á um bocad o de filosofia so b ele me nta r (a teoria da infe rên cia) ; semâ ntica elementar (a
toda teoria científica . teoria dos conceit os de den otação, refe rência, representação
Realmente, há mai s do qu e um boc adinho de filosofi a c ve rda de) ; teoria elem entar dos conjuntos (a teoria ma-
na base das teorias cle ntlftcaa : na análise pode-se descobr ir tem ática básica ) ; álgebr a abstrata elementar e topologia
grande número de p ressuposições filosófica s. T alvez ns eleme ntar ( incluindo a teoria dos gráfico s) ; teoria dos nú-
m ais imp ort ant es sejam q ue existe um m un do exter no, q ue me ro s rea is e a teoria elementa r das funç ões reais (in-
este mund o é regido por leis e qu e o h om em pod e co nhe- cl uindo o cálculo infin ites ima l). A s pre ssup osições genéricas
ce r estas leis. T a mp ouco ta is h ipót eses met afísicas e episte- nâo -Iorrna is são, sem dúvida , a m ereologia e a teoria do
m cl ôgicns ( e"k emllllislheoreti.fehe) são as ú nicas p rcssu- tempo. Esta últim a p ode se r dispensada se apena s forem
postas pelas teori as científicas. H á tod o um conjunto de co nside rados cir cu itos de co rr ente co ntínua.
teori as com pa rtilha do tant o pela filosofi a co mo pela ci ên- Os co nce itos técnicos ou espe cíficos bás icos (primi -
cin, qu e lida com conceit os muit o gerais, taJ com o a re la- ti vos) desta teori a são as oito no çõe s arroladas na Tab, 1.
ção parte-tod o. Q uer o todo seja um átomo, um organismo, N ot ar -se-á qu e o conceito de gerador (o.g., bat eria) não apa-
ou um a co mu nida de, a re lação para co m suas pa rtes possui rece em nossa lista : a teoria das redes toma como dado que
certas propri edad es gera is estu dadas pela m ereologia, 11m há fontes exte rna s de diferença de potencial e não está
ram o da m et afí sica que se prest a ao t rat amento m atem át i- in te ressad a em su a estrutura, que é o tema de out ras teo-
co. Do mesmo modo as teori as de temp o e de probabilidade rias (eletrodinâ mic a e e letroquím ica ). Tampou co conceitos
física (enquanto distinta tant o da prob abilid ade matemática métricos oc orre m entre no ssos co nceitos primitivos: sem
co mo da probabilidade psicológica) constituem os pressu- dúvid a, nem me smo devem os postu lar que os nossos cir-
postos de um certo núm ero de teori as científica s e el as cuitos estã o no espaço co m um. Será ne cessária uma mé-
são tão gerais que nenhum ramo da eiência pode re ivindi- tr ica ape nas para a introdução de equações constitutivas
ca r sua posse exclu siva . com o a que re laci ona a resistên cia ôhm ica total ao com-
E m sum a, ca da teoria cien tífic a possui um nú mero de primento da secçã o tr ansversal do cabo.
pressuposições genéricas. Algu ma s são formais ( lógica e
matem ática) , o utr as são filosó fica s (sem ântic a, epi stemoló- T ab. 1. Conceitos Primitivos
gica ou metafísica) e outras, afin al, são meio-rnetaffsicas, Sfmb olo N atureza Mat emática Significado i ísíco
m eio-científicas (e.g., a teoria da part e-todo e a t eori ãdo
temp o) . T Segmento da rela real Duração
E m aditamento a tais pr essup osições genéricas, pode N Rede topológica Circuito elétrico
have r outras específi cas. Assim a m ecâ nica esta tís tica pres- V Fun ção de valor real Potencial elétrico
i F unção de valor real Inten sidade de corrente
supõe a din âmi ca, m as nã o in ver samente, enquant o a te r- R F unção de valor real Resistência ôhmica
mod inâ mica não pressupõe ne nhu ma outra t eoria física. e:. C Função de valor real Capacitância
verdade qu e, a fim de pôr q ualq uer teoria à pr ova da ex- L F unção de valor real Aut o-indutâ ncia
pe riê ncia, emprega mos m uitas vezes d iver sas outras teori as; M Fun ção de valor real Ind utância Mútua

58 59
Po r mei o de stes co nceit os, p odemos defi nir vár ios ou -
t ros, por exem plo, o de fo rça eletro mo triz. 3. Potencia! e Co rrente 4. Parâm ctros
D eltuíçõo: Se a e b são vértices de urn a rede topoló- 3n. JI e ; têm valores reais e 4a . R, C e L têm valores
gica. en tão c = "I II ( a) - V ( b) . são fun ções limitadas so- reais e são funções limi-
De 11111 po nto de vista rna tcm áü co , isto co nstitu i npc- bre o conjunto de pares tadas em N, e M ~ urn a
n a!' 11111 3 abrevia ção cómo da . Sentim o-n os inclinad os a in· (bor do, t) e são conti- m atri z quadrad a simétri-
troduz i-la nã o só porque no s econom iza ti nt a, m as tnm nu as com respeito a t . ca, sendo cada elemento
[AMJ dela uma função de valor
bém po rqu e o conce ito definid o poss ui um sign ificado ~a ·
tua l cla ro e entra em um a da s leis incluíd as na teoria. real e limitada sobre o
conjunto de pares (bor-
P assemo s ago ra a ex por os ax iomas da teoria, Inclui- do, bordo) . [AMl
rem os a lguns axiomas par a T (tempo ) porq ue é um co n- 3b. Se 11 Ior um bordo de um 4b . Se m e Il forem os bordos
ceito específ ico ( físico , nest e caso); es tes axio mas bas tarão gráfico N que represen ta de um grá fico N que re-
para dotar o símbolo " T ' ta nto de lima estru t ura m ate- um circu ito, então V ..( t) present a um circuito e lé-
m áti ca, quan to de um sign ificado físico. m as são m uito representa o potencial trico, então R. representa
elétrtco, enqu anto i,,(t ) a resistência, C., a ca pa-
m a is po bres do q ue os axi omas da s te orias disponíveis do represen ta a intensidade
tempo. O con ju nto intei ro de axio mas a pa rece na Tab. 2. citância e L", a auto-in-
da corre nte elétrica no dutância do li-ésimo ra-
N ão a pa rece m a í CO I11 todos os detal hes, m as estã o es- n-ésirno ramo do circuito . mo do circuito , enquanto
boçados. E o modelo que inclue m surge na Fi g . l . [A S] Af"p representa a indu-
tância mútua entre o n-
ésimo e o p-ésimo ramos
Fig. I dele. [A S]
Diagram a simbólico Modelo grá fico-teórico
de um circuito RL C de um circuito

a
5. Juízos de Lei

d~ Se o ci rcu ito represe ntado pelo gráfico N esti ver em


equilíbr io (estad o estacion á rio) , ent ão:

Ta b. 2. A x iom as da T eoria das R edes 5 . 1 . A ca da vé rtice de N , a so ma das int en sid ades


de co rr ente ao longo dos ra mos represe ntad os p elos bordos
I. T empo 2. R ede q ue se cor tam em cada vé rtice é zero. [A P]
l a . T é um interval o de nú- 2a. {N f é uma família não-
meros reais. [ A M] 5 .2 . Para qu alquer cam inh o fec ha do em N, a soma
vazia de gráficos orienta- dos potenci ais do s ram os re present ados por este ca min ho
dos. [AM] se anula. [AP]
l b . Cada instante de tempo é 2b . Para cada circuito elétrt-
representado por um co, há um membro N de 5 . 3 . P a ra um bordo ar bit rár io n de N ent re dois vér-
membro t de T, e a reta- ~ N }- que representa o pri - tices quai sque r a e b
ção ~ que ord ena T re - Oleiro, de tal modo que a
presenta a relação de ser cada termina l ou junção
anterior a ou simultâ- está referido um vértice, di di
nea a. [ AS]. e n cada elemento está re-
ferido um bordo do grá -
L. - - /I + R . i. + - l- f dl i. + ~ M •• - p=
fico. (AS]
di c. • dí
- V(a) - V (b) . (A P]
60
61
Ta b. 3. Código de interpremção ções, como estabelecemos, mas as caracterizarão frouxamen-
te , quer como var iáveis, quer como números.
Esse descuido pode obscurecer a interpretação Iatual
ldlins fb icas ldéias Motem âtícns dos símbolos en volvidos, ao passo que se alguém d eclarar
expli cit amente q ue R, digamos, é uma função sobre o con -
Rede G ráfico dirigido junto de gráficos que representam circuitos, então fic ará
Bordo cla ro que R não é apenas um número mas um representan-
Elemento
v érttce te de uma propriedade concreta d e circuitos elétricos. Não
Jun ção ou terminal result aria err o sério no caso presente, ma s em outros po -
Propr iedade Função der iam sur gir gra ves confusões. Por exemplo, nas teorias
Lei F6rmul a rclati vfsticas , as coo rden adas geométricas (o s Indices dos
pontos na varied ade espaço-tempo ) estão muitas vezes mis-
tura das co m as coord enadas físicas, ou coordenadas de pon-
Di stint am ente das formu lações da teo ri a de Kir ehhoff, tos e m um siste ma físico, e esta confusão resulta da falta
co rre ntes nos compênd ios on de a parecem ap ena s os Axio- de atenção à semân tica das teorias. E nas apresentações
mas de 5. J até Axioma 5.3 ( i. é, as três célebres leis de não-axiom áticas da s teo rias q uânti cas, rara mente estamos se-
cir cuit o ), o nosso sistema poss u i oito axio mas adicionais. A guros de que o auto r serviu-se da teoria para alu dir a um
fun çã o destes axio mas adici onais é. sem dú vida, preparar o ú nico sistema qu a ntomc cân ico ou a uma assemb léia inteira
palco par a os ju ízos de lei, os quais nã o teriam sentido , a de tais entidades. O utr as vezes, dificilmente ficamos sabendo
men os qu e alg o fosse dit o acerca dos sím bo los qu e n eles se as fórmulas dizem respeito a entidades microfí sicas , ou
ap ar ecem . E m outras pa lavras, os A xiom as de 1 até 4 espc- outros observ ado res, ou finalmente entidades microfi sicas
cííicam a natureza dos carl ceitas básicos a rrolados na T ab. acopladas a instrumentos de medida. Uma afirmação cuid a-
1. Tal especific aç ão é tanto formal co mo fatu a1. As ass un- dosa da s assunç ões sem ânti cas evitaria tais confusões.
ções matemáticas, ch ama das AA1 na T nb, 2 , de te rm ina m Como atribuir significado s fatuai s aos símbolos de uma
a natureza matem átic a dos conceitos primitivos; dizem de teo ria cientifica? Antes de tudo, é óbvio que somente aos
cada conceito primiti vo se é um conjunto, a li uma função, símbolos primitivos é preciso atribuir um significado ia-
ou outra coisa. E as assunções sem ânticas esboçam o sen- tual, poi s as definições hão de cuidar da transfusão de
tido Iatual do s mesmos símbolos ; são chamadas AS na significado dos sím bolos primitivos para os definidos. Em
Tab, 2. A T ab , 3 resume o código de interpretação dad o segundo lugar, se o nosso sistema axiomático é adequado,
pelo s axiomas semânticos. então não deixará a interpretaçã o à fantasia do leitor, mas
O que dissem os acima ilustra uma característica de to- incluirá um código. E ste código, como vimos, consiste de
da s ns te ori as nxiomáticas na ciência fatuaI; toda s ela s co n- um conjunto de assunções semânticas. Cada assunção se-
sistem de axiomas de três espécie s : matenuit ícos, [tün üis c mântica atribui uma coisa ou uma propriedade de uma
!;cmôlft;cos . N os co ntextos nã o-axi omáticos, usualme nte é co isa a um símbo lo. Pou co importa se a coisa ou a pro-
men cionado ape nas o segundo grupo de axi om as. Oh vln- priedade result e se r nã o-existente, como tão freqüentemen-
mente, por ém . ist o é insufici ent e : uma fórmula nã o (cm te tem sido o ca so na ciência: tanto pior. então, para toda
sentido matemático a não ser qu e esteja delinead a fi. na - a teoria . Em out ras palavras, as entidades e propriedades
tureza de seus símbolos, e não aprese nta sentido Iatual a referidas pelos axioma s semânticos podem ser hipotéticas.
não ser qu e esteja explicit am ent e declar ad o o qu e se supõe Se acontecer de se re m reais , tanto melhor.
qu e os vári os símbolos representam . Que luga r ocupam as definições operacionais nas axio -
E mb ora pOllCOS cie ntista s h ão de discu tir a necessidade mát ica s cie ntíficas? Lugar algum, porque não há definições
de es pec ifica r fi natu reza mat em át ica dos co nce itos b ásicos, op erac ionais : O que tem os são pr op osições que unem símbo-
poucos esta rão dispostos a Iazê-lo de maneira explícit a e com los a co isas o u pr op riedade s de coisas, mas nem as coisas
e m prego de adeq uadas fe rram e ntas con temporâ neas . Dcs- nem as prcp ricd ades necessitam estar sob controle exp er i-
ta rte, m uit os fís icos não d irão q ue R C L e A1 são ftm- m ental d ircto . Assim, no C3 S0 d a teori a do circ uito el étrico,

62 63
não int rod uzimos nmpc rimet ros e vo ltímctros, em bora ta is T nb. 4. Dt:'t. vantagens do M itodo Axiom ático
inst rumentos sejam necessários para testar a teo ria. T eri a 1. As pressupos ições são reco nhecidas, mantidas na mente
sido er ro gr osseiro de finir corr entes co mo aq uilo qu e os e mantidas sob controle.
amperímetros medem, porque (a ) as intensidades podem ser 2. Os reíerentes são fixados e nenhum pseudo-referente (e .g.,
igua lme nte mensur adas por ou tros instrumen tos ( b ) a teo - o sujeito em física) entra de contrabando.
ria é tom ada como válid a me smo na au sência de m ensu- 3. Os s ígni[ icado s são atri buídos mais numa form a sistemá-
ração ( e.g., para correntes nas estrelas), e ( c) a própria tica e literal do que errática e metaf6rica.
medida de correntes utiliza a teoria. A dependência da 4. Os raciocínios nulos são reduzidos ao mínimo,
med ida em. rel ação às teorias, tanto clássica qu ant o q uân- 5. Os teorema s genuínos são multiplicados.
tica, é ainda mais pron unciada na tísica n uclea r e atôrmca, 6. A coerência é facilitada.
onde as tentativas de in terpret ar teorias qu ânt icas em -te r- 7. Os dcmônios do deiin ícíonísmo ('iudo tem de ser defi-
m os ope racronais são mesmo m ais mad cquauns do que o nido") e do detno nstmcíon ísrno ("Tudo tem de ser de-
monstra do" ) são mantidos em xeque.
CS.LOCÇO ue cousrgnar um a m terp reui çao opcrucion ut a teo-
O isom orfismo enlre teorias de conteúdos diferentes 6
fia o e K-1f(;hnOH. AS medidas séc ieauza ca s co m nto ° 8.
melhor reconhecido.
ue aume ntar e pro var teori as, na u t.:OIU o LHO ue oesco- 9. A an álise e a comparação de teorias 6 grandemente fa-
onr seu srgn m cuuo : um a teona tem que se r ames HIl C f - cilitada.
p i cra cu, pela men os em esoo ço, para ser apucuuu c tes- 10 . A "(!1I0l'tlftio de teorias 6 facilitada.
caua, l' ob a rmerpreraçao 011; p recrsumemc a qu e upo uc
corsas ela se r etere. Sétima vantage m : torn a-se manifesto que nem todo
l 'U:>SCIll OS agora em revrsia arguma s das vant agens do
co nceito pode se r def inido e nem toda afirmação prova-
da . Ques tões de definibilidad e e co mprobabilidade tornam-se
m e .c u o aXIOI Ualll.:O p or co uu usre LUlU U IUC l UU O hl.:UII Sl !I,.;U.
significativas, ao passo que cm um co ntexto aberto difi-
t:JI1 ge nu, cmpr eguuc no eUSUIIJ CJCIHemar. l \.S va .uu gcns cilmcnte é possível estabelecer o que pode ser defin ido c O
CSlUu suu rauuuus IIU L au. 4 . L IIl PUIll I.:lIlO rug ui , ut .nncu ius que pode se r p rovad o. Oit ava vant agem : a ap resent ação
em ruem e as p ress uposiçoes. i sto e p ur ucui unu eruc 111I1'0 . · exp lícita e plena d a est ru tura matem ática torn a ma is fácil
uuue q uanu u mgu mus del as sa o e n oucas, ou no 11111111 1llJ lIlI- enco ntrar similaridades formais entre teo rias com co nteúdos
vrdosas . Um a cond ição para o sac ro dc se n vorvuncmo lia Intua is d iferentes. Isto nos perm ite exporta r a nossa ex-
ciencra é reexaminar as pressuposiçoes d e vez em q uando, periência de um cam po a o utro. Nona va ntage m: o exame
para assegurar q ue são veru aceiras ou, pelo me nos, ndo- crítico de teorias é facilitado porque focaliza elemen tos es-
pcm icrosus. Segu nda vantagem: em um co ntex to axiom á- scnc iais (co nceitos p rimitivos e axiomas ) . D écim a vanta -
lI CO , a gent e sa be sobre o q ue está fa lando. D esta rte , urna
gem: a reforma de teori as fica facilit ad a, porq ue a gente
sabe melh or o nde o sapa to aperta e a gente se torna mais
mecânic a esta tística devidam ente axaomntizada mo strará crítico.
clar am ent e que os au mentos da entro p ia não são idênt icos
Podem os ago ra avaliar as obje ções usuais à axio má tica .
às perdas de inf orm ação acerca do sistema físico. e isto
P rim eira objeção: a rigide z de um sistema de ax iomas to rn a
simplesmente porque o hom cm não é um referente da teo- impo ssível aper feiçoá-lo; portan to. a axiomática é hostil ao
ria. Terceira va nta gem : os significados não são at ribuídos pr ogre sso da ciência. Répl ica : a proposta de um sistema
e rr ônea mas sistema tica me nte, e as me táforas são evitadas. de axio mas não excl ui outros; antes de wna teoria ser subs-
Qu arta vantagem : provas in válid as são min imizadas, por - tiluída por outra melhor ela deve ser criticada e a axioma-
qu e as premissas são sempre mantidas em mira . Quinta tização facilit a a crítica, Jogo promove o p rogresso cien-
vantagem : é possível descobrir um núm ero m aior de teo- tffico, Segunda obj eção : um a vez que os con ceit os básicos
re mas qu and o as premissas estã o or dena da me nte disposta s. de um sistema de axiomas não são definidos, eles pe rma -
Sexta va ntagem : evitam -se as incoerên cias e as pr ovas de nece m obscuros. Répli ca : esta crític a baseia-se na fa lsa
coerência (be m co mo de ind epend ência ) torn am-se amiú- suposição segu ndo a qual a de finição constit ui a única es-
de possíveis, ao passo que é imp ossível prova r a coerência pécie de análise; mas a defi niçã o leva-nos sempre de volta
nos contextos heurí sticos usu ais. a term os não-defin idos, e o ú nico modo de esclarecê-los é

64 65
exibir no; co nd ições (axio mas ) qu e de vem sat isf nzcr. Ter-
ceira o bjc ção : a axi om atiza çã o é um procedimento pura-
mente fo rmal, incapaz d e d ar co nta d o sentido Iat nal da
teori a. Réplica: e sta o bje ção pode ser a plicad a à axiom ática
mntcm ática c não à física (ou bio l ógica, o u psic ológica) ;
de fat o, nas axio má tica s do úl tim o tipo há a xiomas qu e e s-
boçam a significad o Iatual cios termos bá sicos. Em resu-
mo , as objeções usuais às axi omáti ca s de ri vam da ínsufi-
cie nte familia ridade com e las . Sã o meros preconceitos C J
COm o qualquer outro preconceito e m ciência, dificult am o
esclarecimento e o desenv ol vim ento dos princípi os da
ciênc ia.
B. óbvi o que a axiom ática nã o su bs titui a in ven çã o.
ma s nOS capaci ta a fazer o m áximo fora da c ria ção ori gin al.
T ampou co há siste mas p erfeit os de a xio ma s - nem me sm o
na matemática. M as as imperfei ções sã o melho r pe rcebidas
cm um sis tema ordenad o do que e m um am on toado caó-
tico . Se, como pen sava Francis Baco n, é mai s pr ovável qu e
a verdade surja d o e rro d o que da co n fus ão , en tão fi
axiom ática é uma part e ira efi cient e da verdade cie ntífi ca,
pois um sistema de axi om as é uma gai ol a de cri stal o nde
cada co m po ne nte é clar am ente exibido c pod e, po rtant o ,
se r co rrigido a ti snbs tltuído. O s mat em áticos sabem disso há
rnai s de 2000 anos. O s c ien tistas soci a is c da natu reza de-
veriam levar menos qu e o utr os 2000 anos parn co m pree n-
der que a axiomática, ao int roduzir a cla reza, facilita a o b-
rcnç ão de maior profundidade e po rtanto de m aturidade.

5. TEORIAS FENOMENOLÓGICAS

Sempre que a necessidade de uma nova teoria é sen-


tida e m algum c am po da ciência Iatual, tanto o construtor
de teoria quanto o mct acientista se defrontam co m o pro-
blema de e scolher a espécie de teoria a ser tentada em se-
g uida. D everá o próximo esforço c fet ua r-se na direção do
c resc ente detalhe e profundidade (aumento da população
d as ent idades teoréti ca s)? Ou deverá evitar especulação
so bre o que acontece no re ces so mais íntimo da realidade
e focali zar, por outro lado, O aju stamento dos dados , ape-
nas com a ajuda de variáveis observáveis de man eira ra-
zoavelmente di reta? Em outras palavras, deverá a teoria

66 67
futura se r represen tacion al ali Icnomc uológ icn, deve rá se r neg ra ~ 50 tamb ém cha m adas fe no meno lógic as; e as teorias
concebida com o um qua dr o fic l d a real idad e o u apenas d a caixa tr an slúcid a pod em de no m ina r-se renresentacionois.
como u ma fer ra men ta ma is c fe tivn pa ra su maria r e p re- São representan tes eminentes da cl asse da s teorias da
ve r obse rva ções? Am bas as tend ências n re prcsentacio na l e caixa negra:
a realis ta de 11111 lad o, a. fen o me nológica e a instr um enta- ( ') Cine mático, ou estudo do movimento sem levar
lista de ou tro - tive ram sempre seus defen sores desde cm co nta as forças envo lvidas - estudo que fica a cargo
D em ócr ito e Pla tã o . da din âm ica , uma te oria típ ica da caixa translúcida .
T eori as feno menológicas - como a termodinâmica ê a ( II ) Óptica Geométrica, ou a teoria dos raios lumi-
psicologia E -R - são, ami úde, elogiad as d evido à sua nosos, q ue não faz supos ição acerca da natu reza e estrutura.
conhecid a gene ralidade, e em o utr as épocas d evido à s ua da luz, um p roblema abordado pela óptica física, uma teoria
p retensa virt ude f ilosó fica de nã o ult rapassar a descri ção rcp rescntacio nal.
dos fenô menos, absten do-se de int rodu zir entida des ocult as (I II) Te rmodinâmi ca, qu e nã o faz suposição sobre a
dúbia s, tais como os áto mos o u a vo nta de . Infeli zmente, n natu reza c o mo vimento dos constituintes do sistem a, um
recomendação nã o 6 necessariamente sá bia. e me smo qu e prob lema tratad o pela Me câ nica E stat ística, que é uma
fo sse se ria difícil na prática, devido à am big üida de do ter- teoria da caixa translúcida.
mo " feno me no lógico". No q ue segue, as caracte ríst ica s (LV) T eoria do Circuito El étrico, na qual cada ele-
dist inti va s de teorias Ienomenolôgicas t ou d a caixa negra ou mento cm um circuito é tratado como un idade despida de
be havioris ta) serão in vesti gnd as, c SC lIS méritos e dem éritos es trut ur a interna ; tal estrutura é o objeto da teoria dos cam-
se rão ap on tados. O resu lt ado líq uid o será qu e caixas negras pos c da te oria do elétron .
são necessári as, ma s nã o s ufic iente s, e o caixa-ncg rismo ( V) T eoria da Matri z de Espalham ento, na física nu-
tende a impedir o progresso do conhecimento. clea r e atôrnica que enfoca as características me nsu ráve is
do s fl uxo s de p artícu las que entram e que saem; a cor-
respondente teoria da cai xa translúcida é a usu al teoria
1. T eorias Cie ntiíicos enq uanto Caixas quântica hamiltoniana, cujos postulados defi nem as intera-
çõc s ent re as partículas .
(VI ) Cin ética Química Clássica, que lida com veloci-
Com freqU ên cia, tant o as teorias cie ntí ficas, como se us dad es de reação e evi ta a q uest ão dos mecanismos d e
referentes têm sido compa rad os a disp ositi vos em forma de reação .
caixas co m m ost rad ores externos man ipul áveis". O s m ostra- (Vll) Teoria da Informação, que ignora a espécie e a
dores corresp ondem ri va riáve is "exte rnas" que representam estru tura dos elementos implicados (transm issor, canal
propried ad es obse rváve is, tais co mo o tamanh o e a di - ct c.) , bem co rn o o sig nifica do das mensagens tra nsmitidas.
rcç ão do m o vim ento de cor pos visíve is; as pe ças no in- (VllL) Teoria da A prendizagem na psicologia behavio-
terio r da caix a co r respo nde m a variá ve is " intern as" ou h i- rista que evita qualque r referência a mecanismos fisioló-
potéticas, ta is co mo a ten são elá stica c o peso atômico. gicos c estad os ment ais.
Se, a fim de pôr a ca ixa e m fun cion ament o, devem os mani -
As teori as da cai xa neg ra são, portanto, aquelas cujas
pul ar a penas os mostrad or es, temos um a te o ria da caixa
variáve is são tod as exte rnas e glo bais, quer diretamente ob-
negra - um nom e cô modo c unha do por e ngenhe iros el e-
serváveis (como a forma e a cor de corpos perceptíveis)
tr icistas para descreve r o m anejo de cer tos siste m as, tais
qu er indiretamente men su rávei s ( co mo a diferença de po-
como tran sformad o res o u cav idad es de resson ân cia , como
tcn ci al e temperatura). As teorias da caixa t ranslúci da , de
se fo ssem unid ad es destituídas de es trutura. Se, a lém do outro lado, contêm além do mais, referênci as a pro cessos
m an ejo d os m ostr ad ores que re p rese nta m as variá veis ex - internos de scritos po r meio de variá ve is indireta me nte con-
te rnas, t ivermos de nos ocupar com um hi pot ético meca- trol áveis, que não ocorre m na de scrição da expe riência co-
nism o interno descrito por m eio de var iá veis "in ternas" mum: exemplos de se melha ntes constructos hipo téticos são
(conslructos hipotéti co s) est amos d iante do que se pode a posição do elétro n , a o nda , a fa se , o gene e a utilidade
c ha ma r uma teo ria da caixa transl úrida. As te or ias da ca ixa subjetiva. Nenhum destes co nce itos pode ser m anipulado
da mesm a maneira qu e as var iá veis ex te rn as, embora sejam
(I ) v ej a, e. s -, J . L. SYN G E. Sciencr: Sense and N onseme (Lcn-
dres, Cap . I, 1951), Cap. 2, e WA RR E N WEAVER, "The t mper tect ton s fr eq ücntcrnentc objetiv áveis de um a m aneira mais o u m e-
or s erenee ' ln : Proc. Ame". Plli1osoph iC'al soc.; v. 104 (l 960) , p , 419. nos tortu osa q ue , em ge ral , implica alguma teoria sofistica-

68 69
dn . 1 ~1I1 s umn. as tcor ius da cnixn ne gra cnfocam o co mpo r- abo rda r uma c a mes ma entidade macroscoprca alternad a-
101l 1l!1ll 0 dos siste m as e, cm pa r ticul a r, suas entradas c men te co rn o unidade o u um siste ma de partes indepen-
$nidaí:; observáve is. As tco ríns da caixa tran sl úcida não co n- dent es 011 inter de pe ndentes; enquanto siste mas mi croscópi -
sidcrt un O co m po rta me nto co mo fim último, mas tent am cos, com o pa rt ícu las nu cleares, pod em ser tratados quer
é':'t p lh:!i-Io cm term os da constitu ição c estrutura do s sistc- co mo cnixus ne gras Oll co mo sistemas com.plexos.
ma s co nc ret os e nvolv idos : pa ra tal fim introdu zem co ns- Segundo, teori as de ca ixas negras não contêm todas
rr uctos hipot éti cos q ue estab elecem liames detalhad os e ntre apenas va riá veis "ex te rn as" ou ob serváveis. Corrente e vol-
as entradas e sa ídas obse r váveis. tag ern , as variáve is principais da teori a do circuito elétrico,
não são diretarnente ob ser váveis; seu s valo re s são inferidos
das leituras de ponteiros com a ajuda da teo ria. Tam-
2. AlgIIIIS Ma l-entendidos po uc o o m o vim en to de uma partícula ou a função de estado
- as va riá veis principais da teoria da matriz S - são di -
Os termos "c aixa negra", " exte rno" e "nã o-repre senta- ret am ente o bserváve is. O que é esse ncial na abordagem da
cional", qu e são todo s eq uivale ntes , pa recem pre ferí veis fi ca ixa negr a 11 50 é tanto a rest rição a obse rváveis - uma
p ala vra "Icnomcnol ógico" , qu alificador altam ente equí- restri ção q ue torn aria im possível a teori zação - como a
voco, De fato, " fe no menoló gic o" suge re descriçã o de fenô- intcrpretaçiío de todas as vari áve is não-observáveis, quer
m en os (falos da expe riênc ia ) mais do qu e de fot os objetl- co mo au xiliares me ramente co m p utacionais despidas de re-
"os; sugere mesmo lim a teo ri a mold ad a em lingu ag em fen o- ferên ci a co ncre ta", q ue r co mo característica do sistema co-
m cnalista - a linguagem não-exi stente dos SCflsa ima ginada m o um todo. Assim , a e ntropia, que na. mecânica estatística
por algun s filósof os . Mas nenhum a teo ria científica é sim- é na mai oria dos c asos u ma medida de de sordem micros-
plesm ente um sum á rio de fenôm enos, o u mesm o de fatos cópica, é trat ad a pela te rmodinâmica como uma abreviatura
objetivos: e ne nh uma teoria cie ntífica di spensa comp le- con ve niente para ce r ta rel ação entre o conteúdo de cator
tnmente termo s diafenomennis o u tran scendente s, i. é, term os c :1 temperatura do sistem a. Utilizando uma terminologia
ta is COmo " m assa" c " nação", que represe nta m ent idades e fam iliar aos psic ólogo s", podemos afi rm ar qu e as teo rias da s
propricdndcs não dadas na exper iê ncia comum. A termod i- ca ixas neg ras não pod em deixar de co nter variáv eis ínter-
nâm ica, de sta r te, - o paradigma da te oria fen om enológi ca venientes, i. é, variáveis que medeiam entre a entrada e
- não está preo cupada em descrever fen ômenos de calo r, a saída ; te orias da ca ix a tran slúcida, por outro lado, con-
mas propriedades m uit o gerais c leis, co m a ajuda de con s- têm a mai s constructos hipotéticos, i. é, variáveis que se
t ructos de a lto n ível, tais co mo energia e entropia. A [ortiori, ref er em a entid ades nã o-ob se rvadas, eventos e propried ade s.
nenhuma te oria científica nun ca fo i lançada e m termos pu -
rnmenre fen omena is tai s como qualidades secu nd á rias (s cn- Um a ter ceira a sserção cornumente enganadora é que
slveis ) : difici lm ente alguém es tá intere ssado c m minhas tod as as teo rias f enomeno lógic as são não-fundamentais ou
se ns ações par ticulares. Esta tarefa é antes de tudo uma deri vat ivas. verdade qu e teor ias mac roscópicas da caixa
É

exp licação do mundo - incluindo aque la p arte do mundo neg ra não a pe la m às pr opried ad es do s co nsti tuintes "fun-
qu e den ominamos no ssas expe r iên cias particu la res - por dament ais". D estarte, a teoria clássica da ela sticidade abor-
mei o de te orias objetivas. da os só lidos co mo m eio contínuo, se m considerar sua es-
Outros possíveis rnal -cutcndid os ligad os às teori as da tru tura at ômicn . Mas teor ias fen omenológicas de partícu las
cai xa negra se rã o escla rec idos antes de entrarmos cm um a " fund amentais" ta l como aquela do pa râmetro de " estra-
a n álise ma is detalhada . Primeiro, " caixa negra" se refere nh eza " de sempenham um papel-ch ave - são co ntr a-exem-
a uma espéc ie de abordagem m ais do que a um tema ; su - plos da equação.
gere qu e a gen te está lidando mais co m o co m po rta men to
glob al d o qu e com a e strutura intern a - sem implicações (3) Assim, e. g., ERNEST W. ADAM S. " Survey of Bernoulll an
rel ativas à não-exi stência de urn a estru tura . Portan to, ab or- UJility T heory ", cm HERBERT SOLOMON. (Ed .). Ma them at ícní T1Iitlkin g
in ttre Mce mr rmcnt o/ Beha vícr ( Oten coe , 111 ., Th e Free Pr ese, 1960), p .
da gen s do tipo "ca ix a negra" ou " fenom eno ló gica " nã o de- ISR: " Do pon to de vista beb avtor tsta. a an álise dos pr ocessos mcntal s
veri am ser igu al ad as a, di gam os, "macroscóp ica'" . Pod e-se envolve fun ções slmp tcs co mo um guia heuri stico pa ra a construç ão de
tcort as cujos liii!nificad os ctentt ücos jazem Inteir am ent e nas suas conse -
(2) Consulte, po r outro Indo, a ctõeslea explic ação de A. d'ADRO , qü ên ctas ohs cr v ãvcls ".
110 T1I e Decline o/ Mechonism (N e w York , Van Nostrand , 1939 ) , p. 91 : (4 ) Me CORQ UODA LE, Kenn cth &: MEEHL, Pa ul E ., Hypothetl-
" Nas tcorl.a s tenomenct õaícas, nossa atenção se restrin ge às propried ades cal Con structs nnd lnt et venin g v artabtes, Psychoíogí cal Re l'/ew, v. SS
macr osc ôpícns que aparecem no ni vcl lugar-comum da exner têncta". (194 8). n. 95.

70 71
F enomen ológ ico = N ão-Iund arnc ntn l, q ue deve por-
d a ca ixa - em suma, "M" rep rese ntará o mec anismo res-
ta nto ser rejeit ad a . pons ável pe lo compo rtam ent o abert o da ca ixa.
Quarto, as teorias da cai xa ne gra não são pu ros di s- P ode-se levant ar trê s cla sses de qu estões e m re lação
p ositivos descriti vos. N enhum a con str ução ce ntiüc a é lcgi- ~ e quaç ão ( 1) :
tima mcn tc denom inada teori a se não propo rciona explica- (I ) O problema da previsão : dada a e ntra da I e a
ções no sen tido l ôgico da palavra , i. é, ' subsu n çõcs de afir - espécie de ca ixa ( i . é, i\1) dete rmine a saída O .
m ações sin gula res a afi rm açõ es gerais. O q ue é ver dad e é ( II) O problem a inve rso da previsão : d ad a a saída O,
que as teo rias da cai xa negra fo rnecem ap ena s ex plana ções o tipo de ca ixa (i. é, M ) , d etermin e a e ntra da I .
superfic iais, no se ntido de q ue propor ciona m inte rp ret a ções ( /II) O problem a da ex plono ç õo : dada a entrada I
cm termos de evento s e p rocesso s dentro do sistem a e nvo l- e a saída O, determi ne o tipo de ca ixa, i. é, determi ne M :
vido . ( Re to rna re mos ao assun to no § 9 .) O contras te entre teorias rcprese ntac ionai s e nã o-rep te-
Q uinto e ú ltimo , as teo rias d a ca ixa negr a não são scn taclonn is nã o oc orr e tão ag uda men te com os dois pri-
incom patí veis co m a causali da de . Assim . a teo ria q ue en- m eiros pr oble ma s qu anto com o te rceiro . Se for d ispon ível
ca ra o rganismos co mo unidade s imp elida s de um lado par a O ll necessá ria ape nas uma teori a da caixa negra,
o p ro ble-
out ro p or estímu los exte rn os é t anto ca us al como fen o- m a de ex pla nação ( 111) fic ará resolvido pelo cá lculo do
rne nológic a". Além disso, qu e estas teor ias b eh aviorist as in ver so, I -I , d a en trada desde qu e, de aco rdo com ( 1),
devam ter um ingredi e nte causa l decorr e da dcfi nição de te nh am os :
causa e fici ent e e d a defin içã o de com por ta me n to COl1l0 O
co nju nto de respost as às m udança s 11 0 a mb iente . Q ue um (2 ) M = O l -I
conheci m ento das c ausas nã o supre o mecanismo é ilus-
t rad o dra m aticamen te pe la p atolog ia present e, um a etiologia A co nclusã o desta t arefa co incid irá com a cons trução da
ra zoave lme nte ava nça da do câ nce r é coe rente co m uma ig- teo ria d a ca ixa negra ; ora, se a última está à m ão, então a
norânc ia perti naz dos meca nismos desencad ead os pelas ca u- questã o pnrti cul nr será respond ida. Ma s isto co nstitui ape -
535 agentes. C onseq üen tem ent e, caixa negra
nas o prim eiro estágio na co nstr ução da teoria, e nas apli-
;>'! não-causal. cações d a teo ria se fo r ndo tada a aprox imaç ão ca ixa tr an s-
U m o lhar mni e acura do so bre o papel das variáve is
" inte rnas" de veria cor robo rar as alegaçõ es aci ma . lúci da, na qu al Se quer a tnt ernrem ç ão de 1\1 em ter mos des-
critivos . T al Inte rp retaçã o en volve a hip otetiza ção de cn-
tl dndcs que perf azem AI, c a co nsignaç ão dc sig nificado s
cspecííi cos (físic os, biológic os ctc.) para todos os par â -
3. Estrutura. das Teorias da Caixa Ne gra met ros, de ou tro modo não-int e rpretad os, qu e u sualm ent e
( lagc lam as teori as fen om enológi cas.
Qu alqu er teo ria científica quanti tativa que e nvolva as E m ou tras pa la vra s. procura -se um " meca nism o" que
t ransiçõ es de um siste ma co m o seu am bie nte pode se r ligue I a O na abo rdagem da ca ixa tran slúci da, P ois b em ,
e ng lobada na. seg ui nte rel aç ão sim bó lica: nen hu ma d upla co lu na de dado s de en tra da e dados de
saída jam ais apont a de ma nei ra inambíg ua para o m eca-
(I) 0 = M I nism o simbo liza do por UM " . Se es tive r a lém d e nossos sen-
o nde " I" designa. qu er o estado inicial do siste ma em causa t idos, que não é o caso de nosso relógio , mas qu e é ce r-
ou o co njunto de estímu los (e ntra da ), " O" sig nifica o es- ta men te o do no sso equ ipa me nto genét ico, tal m ecani smo
tndo fin al ou o co njunto de re spostas (saidaj c " M" re sum e tcr â de ser inven ta do e se melhan te in vent o nã o re qu er m ais
as prop riedad es da ca ixa . N as teori as da caix a negra o " me- ou men os melh or observação, por ém um esforço da ima -
canis mo" qu e liga I e O pe rmanec erá não-es peci ficado ; i. ginnção " - e esta foi mu itas vezes a fonte da dcsconf ian -
é, ..M " se rá ap enas um símbo lo ( e.c ., um ope rador ) q ue ça para com as teoria s rep rese ntacion ais. Um a vez inve n-
realiza a ligação sintátic a en tre os dad os de e nt ra da I e os tado o me cani sm o, test ado e jul gado satisfató rio ( i. é, po r
o ra não re fu tado} , a teo ria d a cai xa tran slúcid a é consi-
dad os de saíd a O. N as teorias da ca ixa tr an slú cida, por
der ada co mo "estab elecida " - a té nova inform ação. ~ inú-
outro lad o, " " 1" dirá respeito à co nstit uição e estrutu ra
t il d izer que o " mec anismo" "1 não precisa se r m ecâ nico ou
( ~) Ve r M AR IO BUN GE. Ch an ce, Cause. and La w. Amertcan
Scíentists , v. 49 (19 61), p . 432 e T1Ie ~f}"" 01 Sim (6) Veja KA R L R . POPPER , Th e L or fc 01 ScientiJlc
plicit)', ( Englewoc d ( 1935; Lon dres, H utehlnscn , 1 9~ 9 ) , pp. 31-32 e BU NG D IJCOl·t TY
C llffs . N . J ., P rentice-H nlt 1953) Ca p. 11. E, Int vttíon and
Scírnce ( Etla1ewoo d CliH3. N . J ., Pr ent lce-H alf 1962. C:lp. 3.
72
73
visu al iz ável; pode se r um c ampo Otl lim a cadeia de rc aç õcs dade c n exte nsão de teoria", enq uan to ao mes mo tem po
q ubui cas ou um sistema d e rel ações sociais. O q ue ca ra cte- a umenta O risco de re futação - o q ual, seg undo P op pe r",
riza as teor ias rep resentacionais não são os mod elo s visua- equ iva le a real ça r seu co nteú do e a testabilidade.
lizáveis. ma s. a p ressuposiçã o de que a pr ópria teoria é um l\ história da ciência Iatual pode ser const ruída como
mod elo do sistem a tudo , re fe rido pela teoria , inc lusive 0 <;; uma scq üênc!n de tran sições de teorias da caixa negra pa ra
conte údos do sistema . calxn tmn d úcida. nã o obstante algumas inversões ocasio-
nai s da tendê ncia principa l. A rev olução copernicana equi-
va le fi. intr od uçã o de variáveis "i nternas" que de screvem,
4. A lgumas Limitações das Teorias da Caixa Negra não o movimen to aparen te, mas a tr ajet ória real dos cor-
pos celestes. A física dos campos que substitui teori as de
A ta re fa de an alisar e interpretar o símbolo AI q ue a ção à distância envolve tensões de campo inobserváveis c,
me deia ent re as entrada s e saídas, nem sem pre é co mpleta- o qu e é pio r de um po nto de vista Ien orn en alista, envolve
d a . A fo rm a da relação ( I) po de ser a miúde ve rific ada, potenc iais de ca mpo. A m ecâni ca estatística , que expõe lei s
m as ri na tureza do me canismo pode perman ecer descoube- fe nomen ológicas co mo a de Bo yle . e mprega alguns dos pre-
tida; d izemos en tão qu e pode mos explica r o co mporta me n- di cados transcendentes, ca racterísticos da física atômica . A
teo ria quântica lida co m não -ob serváveis t ais co mo pos ição
to m as não a e stru tura d e no ssa caixa, Q uando nos dete mos
a me io ca m inho , deixando 1\" não-especificado em ter mo s e m o me nto da par tícu la (e nca rados or igina lme nte na m e-
d esc ritivos ( e.g., físico!') te m os uma teor ia da caixa negra . cânica mntricinl como meros aux iliares computacionais),
De aco rdo COI11 a explicação acima , e ntão, as teo rias em adiçã o às propri edades essencia lme nte não-mensuráveis
fe no men ol óglcas oco rr em primordia l, em bo ra não ex clu - como Fases de o nda e estados virtuais. E tent at iva s re ce ntes
sivamente , nos prim eiros es tági os da co nst ruç ão da te oria rela tivas a um ní vel mecânico-subquân tico envolvem a in-
científica , ou se ja , na re aliza ção d a tarefa da adequa çõo dos tr oduçã o de variáv eis em nível m ais profundo, no momen to
[atos . Um entendim ent o m ais co m pleto e ntre I e O será ocult as, q ue e xplicam o 'Compor tamento fo r tuito de siste-
m as mi crosc ópicos". Finalmente, a genética nos capacita a
co nseguido tão -somente pelo preen chimento do esqueleto
" O -= 1\11" co m um " mec an ismo" definido . Isto não é apc- deduzir as leis fenome nológicas de Mendcl, ta nto C0ll10 a
n:tlli um requ isito psicol ógico, uma necessid ade de satisfaz e r neu rol ogia tenta pro ver o mecan ismo que liga estímulo e
a exigência de en tender o q ue foi acurada mc nte descrito. resposta . Tant o a epi stem ologia quant o a his tória refutam ,
e. um requi sito ci entífico: as teori as da caixa neg ra são
poi s, a pretensão de qu e as teo rias fe no menológicas co ns-
titue m o mai s alio tipo de siste matização cie ntífica .
incompletos, um a vez; qu e deixam os con teúdos da caixa no
esc uro . Um de siderat o da a bo rda gem rcprcsentacional (ren- At é agora lidamos co m ca ixas negras. caixas tran slú-
listn, não-con ven c io nalista ) é derivar '" ela s assunçõ cs rc- cidas e a tran sição en tre as dua s. N ã o h á espécies inter me -
Iat ivas à. co nsti tuição c e str utura da caixa e ta l deri vação d iárias - te o rias da ca ixa sernitra nslúcida? As trê s sec ções
leva costumc ira men tc à co mp ree nsão d e inad cq ua çõcs ou seg uintes prova rão que h á lugar pa ra. um co nce ito co mpa -
pelo me nos de lim ita ções, na abordage m fcno mc nol ógica - rat ivo da neg ritude das te ori as, i. é, qu e se podem or de na r
COIllO no caso dn desco be rt a da s Flutuaç ões es ta tístic as dn teor ias, po r assim dize r, de acordo com o grau de luz qu e
te rmodi nâmic a c d:l" va ri ávei s dos c irc uitos clétricos. derrama m sobre a estrutura de seus re feren tes.
A derivaçã o de 1\1 de le is fundamen tais C'. pnrticn lnr-
mente. a express ão dos coe ficientes que oco rrem cm "1. em
termos de co nsta ntes Iund nmcntais, implica a introdução 5. Teorias Scmi íenomenoi âgicas 110 Eletromagnetismo
de va riá veis " internas" e à s vezes até "ocultas" . De fato, de
um pon to de vista lógico o " mec anismo" ap resenta do por 1\1 A teo ria de Maxwell do cam po e letrornagn ético foi
con siste de lima red e de re lações e ntre variá veis inter veni en - mu ita s vez es denominada de Ienomenológ lcaê, presumivel-
tes c osten sivas. Pois bem, seg undo o po sit ivism o, o opera- mente co m ba se no fato de que, inte rpretada propriamen-
c io na lismo, o fen om enalism o e o co nve ncio nalismo, var iá-
vci e " intern a s", são pa ra sitas e dev em . con seqüen tem en te. (7 ) Vej:\ POPPER . op. d t., C:aP. IV .
se r eliminadas . A ind a, até o nde a análise acima se adequa, ( 8) vet e DAV ID BOHM, CDusali ty Dlld ChaJlu ln Mod~rn PI,y,rfc:.r
( Londres, lt ou tfed ge and Kegl1n Paul, 1951) .
n..t; var iáveis internas não são apena s instru men ta l psicológi-
(9) E .R., O IAN ANTONIO MAGO I, Th eorta f~n omt'"oloRlca dei
co e heurísti co, m as sua int rod ução au me nta a profu ndi- romp o r íetromagnettco ( Mil ão, H oeptl, 1931) .

74 75
te, d ispensa modelos IIH."ccUlr co s do ca mpo. Neste ca so. o
partícu las (Tetrod e, Fokker, e Wheeler e Feynm an) são
term o " feno me nológic o" foi u tilizado C0111 o senti do de
"não-m ecânico ". E, u ma vez que no tempo de K elvin era teorias da caixa negra, na medi da em que não pe squisam
o " meca n ismo" d a interação ele trodi nâmica . N ão postul am
am plamente acei to qu e apenas modelo s mecânicos p ode-
riam prod uzir ex planaçõ es satisfat órias , concluiu-se qu e a variáveis Intervenientes (inten sid ades de ca mpo e po te n-
teoria de ~1 a xw c ll era antes desc ritiva d o q ue cxpl an ar éria ciai!') liga nd o, digamo s, o movi me nto ob ser vável de dois
- por isso constitu iu um t riu nfo da linh a desc ritiva, a nti- corpos ca rreg ados. O qu e elas visa m é ao cômputo dos
expla nat ória do positivismo 10. efeitos líqu idos obse rváve is de um corp o sobre outro. Co m-
pa rado co m este conjun to de teori as no espír ito newton ia-
Pois bem , é verdade q ue a teo ria de M axwell é não- no (o u antes, am periano ) a de M axwell é um paradigma
mecâ nica. Não lida p rimaria me nte com o movim ent o de de teori a de caixa tr an slúcid a.
pa rtícu las m as co m a estru tura e o mov imen to de u ma
espécie de ma téria não-obs ervável e impo nderá vel, i. é, o E qua nto à figuraç ão do campo eletrom agnético pro-
posta pe la teoria quâ ntica dos cam pos? E m um sentido tra-
ca mpo e1etrom ag nético . .Mas tal teoria está longe de expli-
ta -se de uma teoria d a caixa t ran slú cida, também , e mesmo
ca r o cam po ab extrinseco, e ncara ndo- o com o u ma caixa
mais tr an sl úcid a do qu e a teoria clássica , já que expli ca a
negra onde apenas os ter minais são observáveis. Longe
estrutu ra de granula ção f ina do campo. U ma co nside ra-
disso, as eq uações de Ma xwell são as leis cláss icas da es-
ção do ca m po eletrost ático basta rá p ara mostr ar as di feren-
trut ura d o ca mpo cletrom agn ético ( tal co mo é determ inad a
çns entre as três aborda gens em foco. A clássica teori a de
pelo rotacio nal e divc rgência das inten sidades do C"IllPO cm
nçâo -à-distâ ucin descreve este cam po eom ajuda exclusiva
cada pon to ) . Cada eve nto relati vo a ca m pos macroscó picos
d a Lei de Coulo mb . A teo ria clássica do ca mpo o explica
no vác uo - exccto efeitos tipi cam ente qu ânti cos co mo a
co m :t ajuda da Eq uação de Poisson , a qu al subsum e a Lei
"criaçã o" de p ares d e p artícul as for a do campo - pode
de Co ulomb e nos capacit a a desenh ar o qua dro das linhas
ser explicad o com base na estr u tura de campo. O compo rta -
de força e das super fícies eqüipotenciais. Finalm ente, a ele-
mento do campo, C0 l110 se m anifesta através do movim ent o
de corpos ca rregado s e magneti zad os, é determ inado pela
trost ática qu ântica suge re o segui nte qu ad ro: as partícul as
carrega das estão cercada s por fót ons virtua is não-obser vá-
estrut ura do ca mpo, e não é isto precisam ente o que carac-
teriza teo rias behavio ristas O ll teori as de ca ixa negra . veis e a inte raç ão elelrostá tica é o resulta do da e missão e
da reab sorç ão destes qu anta virtua is do cam po!" , Qualqu er
D em ais, embora as e q ua ções de M ax well não ex ija m qu e seja a nossa cr ença na realida de dos Có lon s virtuais. o
nenh um a das com plicad as maq uinari as do éter q ue foram problem a é qu e, quando com parada à figuraç ão dinâmica
imagin adas pe lo próprio Ma xwell e por outros fí sicos da int c ra ção elet ro st ática , a ex plicaçã o est ática de Maxwell
ingleses, por vo lta do fim do séc ulo passado , elas nos pro- parece scmife no mcno lógica aind a que , com o vimos, lide
por~i on am um m odelo niío-mc c ãníco, o u seja, os com a estrutu ra de ca mpo e propo rcio ne u ma figuraçã o de
pad rõ es
de linh as de força q ue cercam c int er con ec tnm corpos car- espécies. E m troca, a teoria elctrom agnéti ca qu ânti ca não
regados e m agn e tizados . Assim, pod em os figurar o u vi- focaliza a p rodu ção c pr opagação de campos de onda. Sua
sua liza r o ca m po eletrostá tico e ntre as placas de u m con- questão cc nt rnl não é "Como se origi na m e se propag am
den sador, ou o campo de radiaçã o em to rn o de uma a ntena, este e aque le ca mpo?" mas antes "Q uantos q ua nta de ca m-
e m te rm os d e Iiuh as o rien ta das . E m resum o . a teoria de po com um dado mom ent o c direçã o de pol arizaçã o há cm
Mnxwcll Ii da com a cvtru l nrn de se us nbjctos e forn ece t11113 um dado vo lume do espaço -te mpo?" A este respei to, a
inte rpretaç ão dos process os cletrom agné ticos. Por que , en - corrent e teoria q uân tica dos ca mpos aproxi ma-se da visão
tão, deveri am ser den omin ados fen om enológicos? explica tiva d a natu reza, prevalecente na term odin âm ica. D e
Compa re ago ra a teoria do campo de Maxwell co m qualq uer mod o, a m or al pa rece ser a seguin te : algumas
as teorias de a ção à distânc ia . Ta nto as teo rias eletrod inâ- caixas são m ais tra nslúcid as do q ue outras qua ndo olha -
rnicas p ré- Maxwe ll ise ntas de ca mpo ( Ampe re, Gauss e das a pa rtir de cer tos â ngulos. Ou, an tes, o gra u d e " Ie-
Weber) como as teo rias pós -Maxw ell de aç ão d ireta e ntre norncnologicid ade" ou negritu de de teoria s va ria segu ndo
( 10) Incident ntmente, o tra balho de KE LVIN sobre crrcuu
n antes, dentro do quad ro da teoria fenomeno lógica cs rtSSO- ( I I) Estes quanta virt u31s nã o são livres; estão ligados aos
corpo s
tituiu o liam e h istórico entre a previ.'láo de MA X WELdos ct rcuttos. cons- carr egados "n us". Qu and o um elétron ~ dettdo , ele "lívra-ee"
ondas eretrome mêucas e n cc nü rmacâc emptríca destas L da extstêncía de dos quant a v\rtu:li, q ue o cercam - E um a descrição m ilito m de alguns
po r HERTZ. do llre", !stra1l1""t do qlle :'I expl anação ciâsetca. veja, e.R., \V.313 plcl{lriclt
Isto E o que há de rn ats Intere ssante na c pc stçâ c de KE LVIN
(( N ca mpos. a t eorta Th e Qltmlt /lm T h t'or)' 01 Rad iatio" , 3. ed . (Oxf ord , ClarendHE lTlER.
1954), p . 146. on pr ese,

76
77
o aspecto que e~l~ send o co nside ra do . Conseqlic ntc mc ntc, que seria norma lment e e nca ra do como as soluções da s
ningu ém poderia dizer "x é m ais fe nomenológ ico qu e y" CqU3ÇÕCS de cam po sã o te ntadas ao aca so. Em resum o, o
m as, an tes. "c é mais fe nom enológico que y com re speit o objet ivo todo desta abo rdagem é e nco nt rar funçõe s de for-
II z", ça ade quadas aos dados em píricos - um a lvo que pode
semp re ser a tingido pela man ipulação de um número su-
ficie ntem ente gra nde de parâm etros.
6. T eorias Semi íenomenol ágicas na Mecânica Quân- Mas a fim de co mpara r as assunções co m a evidên-
cia empírica , de vem os introd uzir os pot enci ais hipotetiza-
tica dos nu ma equaçã o de onda; i. é, cumpre enx ert ar as assun-
ções fen om en ológi cas num a teoria basicam e nte não-feno-
Sustenta- se mu itas veze s qu e a m eca nrca quâ nti ca é m en ológica. lal co rno a mecân ica qu ântica o rdiná ria. ~ por
um a te oria fenome nológ ica, embora nã o fique claro por qu e isso qu e esta teo ria das forç as nuclea res m erece m ais se r
se pre tenda isto . 1\ co nte nda parece fal sa : a m ecân ica cha m ada se mifeno me no lógica do que fenomenológica. So-
quânti ca não contém ape nas va riáveis inter ven ient es m as, men te as hipóteses singula res, rela tivas às várias fo rças de
ex ata men te co mo no caso d a te oria de Maxwel l, todas as lei possíveis, m erecem a denomina ção de fen omenológicas.
suas variáveis bá sicas sã o inte rven ient es no sentido de qu e I ncideutalrncn te, a co m probabilid ade da teoria semifeno-
a penas qua nt idades der ivati vas ( tais co rno nutova lo rcs c m é- mcnol égicn da ligação nucl ear é lame ntavel men te baixa,
dias) podem se r con t rastados co m os res ultados das e x- lim a vez qu e suas conseqüênc ias testáveis são , na prática ,
peri ência s atu ais : a o mesm o tempo, são construc tos hipo- insen síve is a a mplas vari ações nesta s hip ót eses, tanto n a
tét icos no senti do de q ue se us refer entes são e ntida des e (a rm a d as funções de fo rça com o nos va lores numéricos
p ropri ed ad es hipotet izad as . Assim , se desejarmos obter as dos par âm etros. Este ba ixo pod er crí tico é ca rac te rístico
f rcq üên cias da luz emi tida p o r cer tos á to mos . ou a proba- da abordagem da caixa negr a.
bilida de de coli são de d uns partlculas de lim a certa espécie, U m segundo exem plo de urn a abo rda gem fen om eno-
não as obtere mo s por p roc essam e nto de info rm a çâ o acerca lógicn dent ro do esq ue ma rc prcwntnciona l ( m as ape nas
de leitu ras de inst nuu cn tus, m ns pnrti rc m os p rop ondo um parc inlmc mc figu rad o ) da mccâ nicn q uânt ica é a teoria
modelo mi c roscópi co descr ito p or fórmulas b ásica s. tais da m atriz de espalha mento. T al abordage m foi origina l-
co mo as h amil toni nnas, as c ql1~ÇÕCS de o nda . as relações mente p rop osta em 1 9~ 3 , so b o fundam ent o filosó fico de
de co m utação, as "condições de causalidade" e assim por q ue a mecânica quânt ica é supc rde scritiva, pois a firma ma is
dia nte. Tais equaçõ es ligam va riáve is m uito a fas tadas dos do qu e é possível verifica r expe rime nta lme nte ( e. g., fala
dad os em píricos re lati vos nos fen ôm en os p ar a sere m ern ace rca da veloc ida de méd ia de um único elétron dentro
últ imn instân cia respons áve is po r eles. Na re alidade, co nté m, de um át om o) 12. N o quad ro da ab orda gem da m atriz S,
dig am os, o número , a carg a, a massa, o co mp rime nto de o probl ema da int er aç ão e ntre partículas, ta l como uma
on da e a fase da s partlc ulas que co lidem - e t ais da dos rcação nuclear , nã o se solucio na h ipot etizan do inter ações
nun ca são co let ad os po r me ra obser va ção ma s de ve m se r, e postu la ndo movime ntos det alhados de p ar tícu las, mas
quer in feri dos, qu er h ipot etizados. T od avia, há caso s onde e nca ra ndo a região de esp alhamen to como uma caixa ne -
um a ab ordagem Ien orucuo l ógica pode se r enxe rtada nest a gra, dentro da qua l ce rtas par tículas colide m ao longo de
teoria da caixa esse ncialme nte tra nsl úcida ; desta união nas- ce rtos ca na is e fora dos qu a is as m esmas ou outras parti-
ce ram teorias m ic rofísicas u mifeno mc no lógicas. Lembre- c ulas em e rgem de modo ind eterminado, ma s segundo uma
mos alguns c aso s recentes importantes. lc i' 3. O pr oblema da força (ou, a ntes , da interação) é su -
O problema d as fo r ças nucle ar es pod e se r ab ordad o perad o ncsta aborda ge m porq ue se ref ormulou o problema
quer po r via d a teoria dos cam pos ( teoria rnesônica de o rigina l do segu inte m od o: u m co njun to de partí culas
for ças nucleare s) ou pe la hi potet izaçã o d iret a de po te n- am pla me nte sepa ra das ( port anto, p rati came nt e livre s) é
ciais núcleon-núc1eon qu e se adeq ua m à evidência - que dado no início do pr ocesso (es quema tica men te. nu m pas-
é o ponto esse ncial da ass im cha mada teori a em pír ica ou sa do in finita me nte rem oto ), e um outro co njunto de par -
fen omenológ ica de forç as nu cleares. E ste nom e se justi- tíc ulas igua lme nte sepa radas ( logo, praticam ente livre s) é
fica na m edida e m qu e a teoria m ant é m silênc io acerca
( 12) II EISEN BE RG. w emer. Zd/,r. / . Ph}'Sik . ,-. 120 ( 1943), p p-
da na tureza do s campos q ue se supõe m descrit os pe las res- 513, 673; ZdU. t. Na tnr io rchnng, V. 1 (1946 ) , p . 608.
pectivas funçõ es de fo rça; cm outras pala vra s, nenhum a (1 3) V el:a JOHN M. BLAIT e V ICT O R F . WE ISSK DPF, T he oreti-
eq uação de campo é postu lada nesta nbo rdn gcm , m as o cril Nuclrnr PIr )'sfc.Y (Ne w Yo rk , wtley , 1952), p p. 313, 517 eu.

78 79
dad o no fin al tio processo (nu
m fu tu ro infi nita men te dis -
rante ) , N ad a se per gu nta acer 7. Um a Teo ria Sernlienomenot ágica
c a do m ovim en to da p..:1rt!- Domfnio das
cu la e do mec an ism o d e in tcrn Partkl/ las Elemen tares
110
çã o . Ape na s os flux os 1Tlt:1·
dent es e eme rgen tes estã o en volv
idos neste t ra ta men to, jun ,
lam e nte COI11 requ isitos mul to N osso te rceiro e ú ltim o exe mpl
gerais t ais com o n con scr - o de teoria .rem ifen o-
vnç ão d o fl uxo c a prio rida de mcn ot óglca se rá o esqu ema d e
no tem po d a ent rada sob re Ge ll-Ma nn e Ni shij ima para
a saíd a l ' - um postul ado em gemi c er ro pa rtícu las "ele men ta res" ( 195 3·54
mad o co ndi ção de ca usalida de nea me nte cha - ). E sta teoria ca ract eri-
. za-sc p ela h ipótese ad Troe mas
A abo rd ag em p ela mat riz S surp reen den tem ente fértil.
~. fenom.c!l~l ógic â c. a de qu e cert as part ículas , tais co
primei ra vista , aq uies ce com o mo os rnés ons K e h íper ons,
!CqUISlto ~Osllt,vl st a d~ cc:n· po ssue m um a p ropr ieda de nov
f orm ar-se ao qu e p ode ser med a e não -visualizâvel cha ma-
ido . Ma s Isto e uma ilus ão. da " estr anh eza" . A hipó tese é
A teoria da m a triz S (c :1 técn ad hoc , pois o pa râ met ro
ica asso ciad a dos relaçõ es de estr an heza n50 po ssui inte rpre
de disp ersã o) não é lim a teor taçã o física e oco rre em
ia indepen den te ; nâ o s ll ?sti ~ um juízo de lei sing ular , i. é.
t ui a mec ânic a quâ n tic a. m as a hipót ese pos terio r ad !toe
an tes a sup lcm c nta. Ain da da co nse rvaç ão de estra nhe za
que , apó s ter sido form u lada nas int era ções qu e, seg undo
a teor ia, fossem. deli nead as se supõ em, gera ram certas me
técn icas inde pen de ntes para com tam orfo ses, co mo a t rans -
puta r a m atri z de espa - form ação de um hípe ron lam
Ihamen tc '" os co nceitos bá sico bda -zer o em um p r ôton e
s de mom entu m ang ular e u m mé son -pi. Por ou tro lado,
line ar , de 'fu nç50 de esta do, as propri edades famili ar es
qu das part íc ulas "ele men tare s", se
insignifi can tes ant e o con tex to e . oc orre m na teor.i a são parcialm ente . A. massa relac ion
entendidas , o são ape na s
ma is larg o da próp ria teo - a-se co m a. in érci a e a qua n-
ria quân tica . A teori a da ma tida de de subs tânc ia, a ca rga ao
tr iz ~ , ent~o , é .u!" sis~ e m a aco plam ento co m o ca m-
sem ifen ome noló gico , aind a q ue po elct rom agn ético, o spin a uma
a in ten çã o ong.ma l, I . é, cert a espécie de ro taçã o
a abo rdagem, fosse com plet ame inte rna e o spin isob áric o (ou isot
n te fe no men ológ ica. 6pic o) ao tipo de núcleo.
Do me smo m od o, po dem os ap N enh um a dest as vari áveis oco
lica r o mét od o da ma - rre casu alme nte ou em se-
tr iz de esp al ham en to aos circui para do, T oda s elas apar ecem e
tos . de gu ia.!i; ,de on~aI O. um m mais de um ju ízo de Jei
proc edime nto que para o eng enh rela tivo à es tru tu ra da m atéria,
para o físic o) tc m a van tage m eiro e l~tflclsta. ~nao tan to tram assaz firm eme nte en t rinc
de m odo q ue se enco n-
de pou pa-lo do cá lculo cfe- heir adas na teor ia física. A
tivo do ca mpo CO I11 cav idades. hipó tese de estr anh eza, de outr
Tod avia , esta ab orda gem o lad o, é, por ora, ap en as
e mpr ega a estr utur a con ce itua um a assun ção ade qua da aos fato
i da t~oria , d~ Max well, se s qu e explica m a ex istên-
não po r ou tra ra zão ap ena s porq cia c o com port ame nto - não
ue sao exig idas as .expr,:s- a estr utur a - de pa rtí-
sões gera is (não especi fic adas ) cu las "e lemen ta res" .
para o cam po nas junç ocs
das guia s de ond as. De pa ssag Seri a, tod avia , falso afir mar que
e m, a aborda.se m peja .ma - a teor ia de Ge ll-M an n
tr iz S pod e se r gen erali zad a de e Ni sh ijim a é inte iram ente feno
m odo a n~h car- se a siste- me no lógica. N o fim de co n-
m as de q ualq uer espé cie!", que tas, rela cion a o novo parâ
prov a m ais uma vez. que met ro ao antigo, i. é, n a
teor ias fe nom enol ógic as não ex pres são da lei de co nser vaçã o
são cara cterizn dns po r um da estran hez a; e nesta me-
te ma mas por uma ab orda gem dida faz sent ido , se é que o faz,
, e m re laçã o à teo ria gerai
da m ecân ica qu â nt ica. Po der-se-ia
de ou tro m odo dizer que
( 14) A equ aç ão cen tral a hipó tese da est ran hez a é um
o nde ' Ih(-a o ) desig na a da
'!JJ( 00) a. amplitude do sru esta
teo rln da matr iz S é i.lI (00)
ampm ude do esta do inici al =
do
S i.lI (- 00 ),
c que a teor ia co mo um todo
a assu n ção fen omen ológ ica,
de esp3 lhmll ento . A m a t riz S do ü nnt, enq ua nto " S" desig na C?slstem a e é semi feno men o lógica. E
co rrespo nde nte fo rn ece 35 nm oper ado r alguém pod e espe rar (ou tem er,
\'6w:ls das possí veis transições
.
ptltu des pr o.
losofi a ) que a teo ria esta rá segu ndo a sua pr óp ria fi-
(15) O rigi n31me nte. o cá lc eve ntua lm ent e sub me tida a
tísrno qonnt crnec ântcc {h nmltt ulo da ma tri z S ~ r n b asead o 110 ror~~. lima teor ia m ais p rof un da da
exa tame nte na recu sa de tnror c nia no ) usual, razac pela qual co!'s lSlIa ca ixa tran slúcida, qu e deri-
ma ções acerca de pro cesso s Intcr vará toda s as cara cte rísticas do
Levou seis a nos para qu e med tõrfos . at ual esqu e ma de Gell-M a nn
elab orad o sem utiliz ar este um métod o pa rn o câ tcuto
form alism o. Ver, ~ .R .• N . N.dn matr iz S fosse
c Ni shi jima das sup osiç ões bás
e O . V. SHIR KOV . l nlrod uctio BOG icas rela tiva s à es trut ura
York , jnt erscten ce, 1959 ) . pp. n lo tlie Tlrrory o/ Quant/:.rd Fl tl~s (N ew
OLt UB OV com plexa dos cam pos e part ícul
198 e ss. e J_. H IL GEV QOR D, as em cau sa'" . Uma tal
Rdm ions lJJld Caus al Desc D ísper síon
rtntton (A mstc ld n, Nort h-Ho llnnd (18) UnJa tenta ti va des
( IG) PAN NEN DOR G , A.
E . 1'hili ps R ~st!ordl Rep orts
, 1960 ) . P. HlLL lON e J. P. V IG IER,te tipo ~ a teor ia extre mam ente ab str aia de
" pp. 131. 169, '210. ( 1952 ), v. of Ele me ntnry Particle~, N IIOI'ONew tso to plc Spi n Space a nd Classi ficatlo n
Cime nto, v. J8 (1960 ) , p.
tro d uli do s velar es de estado
(17) DUN GE , M ari o. A gene
ral Blnc k Ilo x de paru cutns elem entar es de diferInter no co rres pond ente i\ estru209. S50 In-
01 Scf l"IIU. v. 30 (1963) T hec ry. P11i1o Jo pllr tura in terna
p . 343 . e s pi n o rd in ârlo s ão tod os expli ent es espé cíes: estra nhez a, Spl'l Isot óp ico
tempo c rdinâ rlo. cados po r cer tos movi ment os
no esp aço--
80
81
teo ria int erpretarâ prcsumivclmcn te o parâmetro da ost ra - perm ane ce verdade ira, dent ro de se u domínio, a de spei to
nheza, ou o seu sucesso r, em te rmos descriti vos, exata rncn- das vá rias m uda nças na t eori a do elétro n.
te como a hip ótese do sp in propor cio na u rna inte rpre tação Os tr aços acima consti tue m, ao me smo tempo, vanta-
do no vo nú me ro quân t ico q ue origina lme nte Io ra introd u- gens e de bilidades da abordagem pela caixa negra. De fato,
zid o c m u m ca mi nho ad lro c 0 11 Icn omcu ol ógjco para cx pli - um nlt c grau de ge nc rnlldndc, o u falta de espe cificidade,
car a di visão "nn ômaln ' das linh as esp ectra is de Zcc rnan . revela qu e a espécie do siste ma nã o é levad a em conta;
A nossa alegaçã o de que ex iste m teori as .te mifenOl)lC- o ca ráter não- local pro va que a p rovável e stru tu ra com-
no lógicas ou da ca ixa semi tran slúc idn entre os extre mos plexa do siste ma foi relan ceada, ou no mí nimo integ rad a ;
ideais das teori as da ca ixa neg ra e da ca ixa tran slúc ida pa- a sim plicidade é ma rca d a super ficialida dew; finalmente, a
rece confirmada. Exa mi na remos ag ora o esco po d a abor- ex celê ncia na adequação desacompanhad a de profundida de,
da gem pela caixa negra. de segura nç a e de certeza, aproxim am peri gosamente as
teoria s fen om enológicas da irr efutabilid ade - qu e, segun-
do Pop per , é o selo da não-ciê nciat' .
8. Escopo da A bordagem pela Caixa Negra T odas estas virtu des co nde náveis das teori as da ca ixa
negra , se m dúvida , de rivam da tentat iva de ev ita r a po s-
tu lação de variáv e is "internas" . Co mo co nseqüê ncia de
A ab ordagem pe la ca ixa negra tem os segui ntes tr a-
um a tal restrição, cer tas pe rg untas não pod em ser respon-
ços p eculi are s:
didas porque p rop ositadamente nã o foram feitas. Pergun-
(I) Alto grau de generalidade, Cada teoria dc cai xa tas tais co mo "Como são o ca mpo e as partícul as no inte-
negra é coe re nte co m UIU n úmero ilimitad o de me cani sm os rio r de uma es fera de fe rro?" "Qual é o ci rcuit o nervo-e-
co ncebíve is. A gener alid ade das teo rias da ca ixa neg ra po- m úsc ulo respon sá vel por um arco-reflexo?" e " Quais as
de se r leva da ao ext remo de teorias quase abstraias, i. é, fo rças sociais qu e estão por tr ás da ú ltima revolução la-
siste mas qu e qu ase não con tinha m var iá veis especlficas tino-am eri can a?" simplesme nte não ocorr em dentro da
(interpretadas). pod end o , portand o se r a plica das ri urn a mold ura de teorias da caixa neg ra. T ais questões exigem
ampla cla sse de sistemas. teorias repre sent aclonai s mai s pr ofundas, capazes de for-
(lI) Global ou caráte r tot al. As teo rlas da caixa nc- necer int erpret aç ões ad eq uad as de fatos .
gra s50 n o mín imo pa rc ia lme nte não- loc ais no se ntido de
que en caram os siste mas ma is co mo unid ad es do q ue co-
mo co m plexos de pa rtes intera tua ntes localizadas. 9. Ex planação e Interpretação
(lll ) Simplici dade. A band onando pormen ores de est ru-
tura que requereriam a int rodução de co nstr uc tos hip otéti- o fat o de cer tos problem as nã o poder em ser enun-
cos c deixando sem int erpret ar a m ai oria d os parâm etros, ciados 110 qu adro da s teorias fenomen ológicas não signifi ca
ne; teori as da ca ixa negra são as m ais sim ples possíveis do qu e teori as da ca ixa ne gra nã o forneçam expla nação, co-
pont o de vista formal, se mâ ntico e epi stern ol ógico' ". A m o se diz a m iúde. Sempre qu e um a pr oposição é deduzid a
simp licidade torna m ais fácil construi r e apli car teo rias de proposições sobre leis e ci rcunstân cias, há expl an aç ão
fenom enológicas. cie ntí fica . As teorias fenomenológicas proporcionam, e ntão,
(IV) Precisão. Pod em os co nstrui r teo rias Icn om cn ol é- ex plicaçõ es científicas (veja § II ) . Mas as explanações po-
gicas para satisfazer qualq uer co njunto de dados por um d em se r mai s ali menos profundas. Se as leis invocad as na
aumento ad equado ou pela manipul ação de um certo nú- expli cação sã o ap enas leis de co existência e sucessão , a
m ero de p arâmetros. ex plicação será superficial. ~ o caso da explanação quanto ·
(V) Segu rança. As teorias da ca ixa negra são as m ais ao feito de um indi vídu o so b o fund am ento de que ele
firmement e a ncora da s na experiência, po rtan to. as melho- sem pre faz t ais co isas, ou a ex plicaç ão d a co mpressão de
res prot egid as co ntra refutação. Assim , a teo ria do circ uito U111 gás devid o a um au me nto da pressão em termos da

( 19) Es tes: tipos de simplicid ade (econ omia de ro nnns, eco nomia. de (20 ) Ve r MÁRIO BU NG E, Th e Welght of Simpll city In lh e CO M-
prcs'Il1 poslções e eco nomia de co nceitos traoscen dcrucs ) . bem como a sim- t m ctlc n nnd Ass :\ylng of Scten uüc 'Ih ecr tes, P1lI1QJo p/l} ' D/ Sd ence, • •
plicid ade pragm ática, são cxa minadns na ses uln tc ob ra do autor : T1Ir 18 (1 961), p . 120. e The M)'t" o/ SlmlJficlt y (E nilewood CllHs, N . J.,
/.( )"/ o/ Si mpUc/t)' (Englewcod CIUfs, N . J.• Prent tce-trnu, 1963), Cn r,. Pren ttce-H nü, 1963) . C np. 7.
4 e S. (21) Ver noln S .fI/pra .

82 83
l ei de Boyle . Necessi tamos mui
tas veze s de tais expl ana -
ções sup erfici ais, m as nece ssita teorias rcpr escn taci ona is mai s
mo s tam b ém de out ras m ais prof und as é coer ente com
prof u nda s, tais co mo as im agin qua lq uer teoria fen ome noló gica
ada s cm te rmo s da cons- dad a.
titu ição in tern a e est rutu ra do O cen tr ast e entr e teor ias cine
sis tem a em ca usa - a estr u- mát icas e dinâ mic as
tum dinâ mic a de lIlll g ús, os ilustra de m odo cla ro os co nce
traç os de person alid ad e de itos de prof und eza teór ica
u m ind ivídu o e as sim por di ante e nível exp lana tório. Qua lque r
. conjunt o dad o de mud an-
Um a teori a da c aixa neg ra pod ças pode ser estu dad o, que r
ex plan ação e u ma pre visã o logi e prop or cion ar um a de um pon to de vista cin e-
cam en te satisf atóri as de um m ático, que r dinâ m ico , segu ndo
conj un to de dad os, no sent ido seja po ssível ou exig ida
de sua deri vaç ão da teori a urna exp la naç ão supe rfic ial ou pr
e info rma ção espe cific a. Mas of und a. Assim , por exe m-
deix ará de prover o q ue o plo. a'\ rcaç õcs quím icas pod em
c ientis ta cm geral dcn orni nn de ser estu dad as com resp ei-
ínt rrp remçõo do s m C'\I11 Os lo ns velocida des da rcaç â o
d ad os. Um a tal int erp reta ção (quí mic a ciné tica ) ou com
cm term os de scri ti vos é obti - respe ito aos meca nism os de rcaç
ão
li .... q uand o um. " mec anism o'
é los qua is um dad o siste ma fica (i . é, os processos pe-
râm et ros são atri buíd os a prop postul ad o e tod os os pa- sistc mn) . Exa tnm cn tc com o
tran sfor mad o em outr o
ried ades do " me ca nismo" no c aso da mec ânic a, a se-
(vej a §§ lU e IV acima ). O g und n abo rda gem subs ume a
" me ca n ism o" será o ince s- prim eira ; se o me cani smo de
sa nte mo ver e co lid ir de m oléc tenç ão for co nh ecido ou pre ssup
ulas no caso da te rm odi - osto , então se pod e de-
nâmi ca, as o ndas qu e inte r fere d uzi r a cin ética do pr oces so.
m, no caso da óptica, a Mas esta ma ior prof und i-
rede cris ta lina e o gás de elét dad e das teo rias di nâm icas qua
rons no ca so d a física do n do co mpa ra das às teor ias
esta do sóli do, os circui tos ner ci nem átic as nã o torn a supé rflu
voso s e as assoc inçõcs no a a ab ord agem cine mát ica.
caso da teori a do co mpo r ta me E. som en te com ba se e m algu m co
nto, a a ção recíp roca de nheci me nt o prévio de
gru pos so ciai s e int eresses no ce rtos tipo s de mov ime nto que
ca so d a soci ologia c da h is- foi possível tom ar por hi-
tó ria c assim p or dian te. pót ese ce rtas leis de forç a e só
um co nheci me nto porm eno -
O bse rve -se, no ent ant o, qu e emb riza do da cin ét ica quím ica poss
o ra as teor ias da ca ixa ibili tou suge rir mec anis mos
neg ra nã o p retend am m ooo rcío com patí veis com este. Ou seja,
nar inte rpret açõ es, elas nã o a inda que a teor ia dinâ mic a
as exc luem ; i. é, te orias d a cai não -fen om eno lóg ica env olva
xa neg ra pod em ser sup lc- cm gera l n corr espo nde nte
mcn tadn s por hip ót eses rcprcscn teoria cinc má ticn, esta última
t acionni s. Isto foi co m- é sem pre Í1ti1 com o acesso
pr eend ido já nos inícios do ?1 prim ei ra . Além disso, teor ias
séc ulo XIX . co m resp eit o da caix a neg ra são ami úde
às di sput as ent re os def en sore su ficie ntes para certos fins; assi
s da teor ia do cal óric o c os m , a mai oria do s tr abal hos
da teori a a tô m ica , Dest art e, F de e nge nh ar ia, por exe mplo, pod
ouri er deri vou sua equ açã o mec ân ica esta tísti ca.
em desenvolver-se sem a
da tran sm issã o do calo r em preg
a ndo a hipó tese mol ecul a r
co m um a ferr am ent a heu rísti ca, E m suma, as teo rias da caix
d ad e de stas equ ações Lquc er
m as ele viu qu e " A. ver- ciai s, s50 ne cess árias . Sati sfaz em a neg ra, emb ora supe rfi-
am fen om en ológicas] não se a um gen uíno desíderatum
baseia num a ex plan ação física rientí fico, ou seja , o de ser em
[int erp ret aç ão] dos ef eitos retr atos gera is e glob ais de
do cal or. Qua lque r que seja siste mas reai s. Alé m do ma is,
o cam inho em que algu ém as teor ias feno men ológ ica s
deseja co nce ber a nat urez a dest são útei s porq ue co nstitue m lima
e elem ento , qucr o enc are pon te entr e as teor ias re-
co mo lima coisa mat eri al defi pres enta cion nis mai s prof und as
nida que pa ssa de uma par- e os dad os emp ír icos. Infe -
te a outra do espaç o li . é. lizm ent e, há outr a e ilegítim a
co m o o fluid o ca l ôrico ], ali mot ivação da con stru ção da
com o a pe nas lima tran smi ssã o teori a feno men ológ ica , i. é, R
de movim ento, ch ega rá se m- exig ênci a filos ófica de re -
pre às me sm as equ açõ es, p orqu nun ci a r a con ceit os tr an scb ser
e as hip óteses que form am os veci onni s ou dia feno men ais,
dev em represen tar os fato s gera ou seja , não ape nas o aba ndo
is e sim ples a parti r dos no met odo lógico da s entr a-
qua i s as leis m at emá tica s são nha s do siste ma, ma s a recu sa
deri vad as" 22. Fala ndo cm ge - ontológi ca de reco nhe cer
rai, ca da teor ia feno men ológ ica a exi stên cia de tais entr anh as.
mer o de hip óteses alte rnat i vas
é coer ente com um nú - filos ofia obsc uran tista.
Vol to-me, ago ra, para esta
con cern ente s ao "me can is-
m o" e m cau sa. E m ou tros term
os, um cert o núm ero de
(22) F OU RJER, Cha 10 .
ln: Oe lll"rf!$, Ed. por G . rles . "Théoríe annlJ" ique de Caixa-negrismo
.5 38. Vej a tam b ém M. n UNGDar bo ux (Par is. G eutht er-vtlan ehaleur", ( 1822) .
ars, 1888 ), I, p .
elpIe ln Modern Sclence, 2. edE, Cau.~ a litr : TIIe Place 01 me Caus al I'r ín-
17 c ss. , (N e w Vor t . Mertdtan Boo ks,
1963 ) , pp . C ha me mos d e caix a-negris mo
a con cep ção em que a
co nversã o de ca ixas neg ras em
t ran slú cid as, pelo pre en chi -
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ou lras teo rias, mas de ce rto modo logicam ente exigida por
men to da primei ra COIll "meca nis mos" de finidos. n ão 6 e las.
necessá ria nem desejável. Não seria nece ssá rio. nesta co n- (LV ) Falando em te rmos pr agm át icos, em bo ra as teo-
cepção. porque teorias d a caixa negra nos fo rnec em tu do rins da caixa negra lenh am uma larga co ber tu ra, po ssuem
q ue pod ería mos exigir lcgiti marnc nt e, 0 11 seja , fe rra me ntas baixo fertilidade, no sen tido de que não no s ajuda m a
para t ran sfcrma r co njuntos de juízos de o bserv ações reais explo rar 0'\ asp ectos ainda oc ultos da realid ad e. ~ t ão -s ó-
(evidê ncias) em con juntos de ju ízos de obse rvações poten- ment e sus pe ita ndo primeir o e depois pr essup ondo de qu e
cia is (p rediçõe s); e nã o se ria d esejáve l ir além das teo rias possa h aver algo além dos fen ôm enos, qu e logram os
even-
fen om enol ógicas, pois a int rod ução de en tidades OC ll 1t~ S' e tu alm ente descobr i r de fal o este algo invisíve l. A hipote-
proprie dad es é inju stificad a pela experiê ncia sensori al. q ue tização de entidad es e pro priedades oc ultas não é má em
é a mais alta co rte da verdad e. Como é be m con hecido, si mesm a, uma vez que a maior pa rte da realid ade está
esta deliber ad a rec usa de especu lar sob re O " m ecan ismo" oculta à percepç ão sensorial di reta. C omo H ertz ve-
escond ido na ca ixa, o u mesm o e m conced er a sua ex is- rificou, é prcc ísnmcn tc o êxi to lim itado da tentativ a de
tên cia , tem sido ex pre ssa por e mi nen tes filósofo s da t ra - est abelece r relacion am ent os diret os en tre fenô menos obser-
dição positivista. be m como po r emi nen tes cientistas. Alguns vá veis que nos conduz a co mpree nde r "q ue a multipl icida -
deles são fam osos por sua con tribuiç ão às tcori ns da ca ixa de do un iverso real deve se r mai or q ue a multipl icidade do
translúcid a23 • Que a co ncepçã o é inadequ ada , e mesm o pe- uni ver so qu e nos é re velado d iretame nte por nossos sen-
rigosa para o progresso d o co nhecim ento, fica rá claro a tidos'"" , O q ue é pe rn icioso à ciê ncia é tan to a postula -
partir das seguintes co nsider ações : ção dc en tidades inerente mente inescru t áveis como a con-
(I ) H istori cam ente, teor ias da caixa negra apare ce- denaçã o d a espec ulação co ntro lad a.
ram em ger al como primei ros passos na con stru ção da Do po nto de vista lóg ico, o caixa-n egrisrno é afim ao
teoria ; via de regra, fo ra m re lega das a li suplernentadas por totalism o e 30 gesta ltismo, n a m edid a e m que estas esco-
teori as rep resenta cion ais q ue sub sumiam a primeir a e nos las tam bém desejam det er a análise, i. é, limitar a ra-
capacitav am a respo nder por m ais fal os do que a prim eir a . zão . Epi stcmolcgi carnen te, pode-se con side ra r O caix a-ne -
( II ) Ep istemo logiea men te, as teo rias da caixa negra grismo como lim a fo rm a suave do Ienorn enalism o, a filo-
ão menos co m pletas do qu e as co rres po nde ntes teorias d a sofia qu e tenta reduzir tud o a elemen tos experie nciais, tais
ca ixa tran slú cid a, se nã o por outro m oti vo pelo me nos p or co mo 3S se nsações . 1\1a5 o paren tesco não deve ser exage-
en fa tizar O co m porta men to às custas da estrutu ra. (Com rado. O ca ixa-ncgri smo se limit a a ped ir-nos, por exempl o,
Ireqilência, as teorias fen om enológicas Iocalizarn o curso não postul ar m ovime nt os de p artícul as dentro dos nú-
tempor al do p roce sso, i . é, sã o cinemá ticas e n50 co nsi- cleos ntôrnico s par a explicar rea ções nucl ea res e recomen-
deram as carnc te rfsticns espacia is do sistema , quc são nc - da-nos: fazê-lo exclusi vament e co m inf orma ções concer-
cess árias, embora não su ficie ntes, para ex p licar o m eca- ncntes à en tra da e saída de flu xos de part ículas. O Ien o-
nism o.j As teori as repre sent acionai s têm um co nte údo mcn alismo rad ical, de outro lad o, gostaria que aband onás-
m ais rico e se pr est am , com o co nseqüê ncia, a lima gr ande semos de vez os núcl eos atómicos, sob a alegaçã o de que
são essenci alme nte ficções não-sen síveis. Par a o fen ome-
varieda de e q ualidade de tes te e mpírico .
na lismo, o co njunto da microfísica é um co nto de fad as.
( II I) Lo gicam ente, as teori as da ca ixa negra penll (l- Con traria me nte ao caixa- neg rismo, o fen omenalismo
" ccem algo tl parte do resto da ciência ; em con seqüên cia. radical nu nca at raiu cientistas teó ricos, po rqu e nem mes -
não goza m do a poio de áreas co ntíguas , ma s quase ex clu- mo a mai s simp les das teor ias da ca ixa neg ra é ex pressa
sivame nte com amparo "i ndu ti vo" ( i. é, o am paro da em term os de dad os se nso ria is. T od as as teorias científi -
ev idê ncia ernpíríca) . Pois be m, a teori a ga nha em con fir- cas, fenom en ológica s ou represe ntacion ais, são sistema s de
m ação se se compro var q ue é não ape nas co mpa tíve l com afi rmações de objetos físicos ( propos ições fisiealistas). To-
d as tr at am co m o que o cientist a e nte nde por " fenôme nos",
n ão co m os fen ôm en os do filósofo, i. é, aquilo que se
ener-
(23) A híst ór!n da gue rra no calxn -ncgrts roc (pnrucuta rrnente, m o e
,el lelsmo) co ntra o cutxa-tr nnsfucüusmc (pa rflculnrm ente, mccantcís
IWmlsmo ) já foi vârl ns vezes relat ad a. Vejo PI E RRE DUH EM, La TlIlo- apresen ta imediat amente ao sujeito . Além disso, as teorias
" r ph, ·s/qllf'. 2. ed. (Paris, Riviêre, 1914); AB
re im, 2.
EL REY , La tM orie dc
ed. (P ari s, Atcan . 1923) da caixa neg ra não imp lica m nec essariame nte a negaç ão
1/1 " '/).flq ue ene e /t'S pl' Nici clls contempo Yor k, Dever,
e l'RN ST CASSIRE R, Sub stan ce muí FlIlIctlon 0 910 ; Newvista de caixa-
1 9 ~ .l ) . Para mantresmcões rnats recentes do
pont o de
v. 180, ( 1942). (24) HERTZ. Heln rlch. Th e Príncípíes o/ M echon ícs (1 894; New
lIt ,r1'\Ino. veja P . A . M. DI RAC. Proc . Roral Socíety (A) .
Yor k. Dever, 1956 ) . p . 25.
r . I. e HE ISEN DER G. otr: ci to
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da existên cia , indepen den te da s caixas qu e descrevem e
não encerra m qu alq uer re fe rênci a ao sujeito cogniti vo . observá veis. A h istória da ciência suge re qu e se tr ata
M uito ao con trá rio, um a d as m oti vaç ões d o be h avior ismo a pen as de um desider ato imed iato.
consiste e m evitar var iáveis in tern as , tais co mo sensaçõ es O objetivo a longo prazo da teor izaçã o cientí fica não
Oll sentime ntos par ticu la res. é stunnrtn r a exper iê ncia , m as interpretar a realidade c,
Em suma, ncm as te oria s fen om en ológica s, nem o C Il1 pa rt icul a r. explica r a parte da realidad
e acoplad a no
ca íxa-neg rismo apó iam a epistemo logia fcnom en alista. O con he cedo r, i. é, o cam po dos fen ôm en os (no sentido
fato de o íenome na lismo , como filoso fia, ler h istoricam en- do filósofo ) . A. teori zação científi ca pod e ser inicialm ente
te gera do a lguns dese nvolvim ent os nas teori as da cai xa 'ne - moti vada pe lo desejo de entende r o que é observado e é,
gra (sobret udo na ter mod inâ mic a) e de o fenome nalism o por certo, com provaria po r fat os desta espécie ; mas nã o
ter mu itas vezes recom e nd ad o teorias fen omen ológic as, o logra re ali zar a sua ta re fa a men os que leve em conta fat os
fa to pode tal vez explica r-se pelo malogr o na co m pr eensão inohscr vávcls ( mas inferíve is). O progr am a mais ambicio -
de q ue ne m seque r o tempo, a me nos co mprome tida de so c co mpen sado r da ciê nci a Iatunl, desde qu e formula da
tod as as va riáve is, é dirct am entc obse rv áve l, e de que a por Dem ócr ito. tem sido não a vin cula ção d ireta entre
m ais epid érm ica das teor ias é co m pos ta de co nstruc tos e aspecto s observ áveis. m as lima expli cação do inobser vável
nã o de p ercep tos. e lima int e rpreta ção do ob servável cm termos do inobser -
vá vel. A co m pree nsão des te fato histórico aju da a aba n-
don a r a busca d a certeza fin al - uma das moti vaçõ es do
Conclu são cnixa-n cgrismo - e es posa uma vari ed ade crítica de re a-
lismo .
A co nstruçã o de caixas neg ras prossegu irá, presum i- Todavia, abo m inar o caixa -negrisrno nã o en volve ne-
vc1 mcn lc, en quan to teori as gerais e globais fo rem aprecia - ccssnria mcnte ii su pre ssão de caixas neg ras, Pel o contrá rio,
da s c cu qnan to teorias represcnt aci on nis d isponí veis for em um ctitico re alist a há de con ced er qu e o mundo ainda está
reconhe cid as co mo inadequ ad as. E teo rias da caixa tr nns- e co ntinu ará sempre cheio de ca ixas negras c que a pes-
lúcida se rão const ruídas enq uan to hou ver ne cessidad e dc qui sa [tuu ais co nseguir á conver ter a todas, inteiram ente,
explica r ca ixas neg ras e enqu anto se julgar que as ca ixas cm trnuslúcid ns. Banir iIS caixas negr as seria tão ob scuran-
possuem interi or es dignos de se rem observa do s. Ban ir as tista q uan to co nde na r as ca ixas tra~l sl úci d as . Pois, cm pri-
caixas tra nsl úcid as como e xig ia o positi vism o trad icional é mei ro lugar, as c aixas negra s são in evit áveis nos primei ros
encara r o co m po rta me nto co rno limite inexpli cável, re nun- es tág ios da teo rização e úteis se mpre qu e se possam ne-
ci ar a sua ex p lan aç ão cm te rm os ele co nstituiç ão c estrutu ra gligcnc iar det alh es ou qua nd o so men te e feitos globa is são
e substitu ir a met afí sica da substâ nci a inalterá vcl por uma est uda dos ; assirn, qualqu er qu e seja o tip o de radia ção (fó-
m etaf isica de fun ç ão sem nad a fu ncionan do. Em pa rti - ton s, elétro ns, nêutron s etc .) e O m ecanism o de abso rção,
cu lar , o caixa-n egrismo proíbe a co nstr ução de m od elos n lei da absorçã o de ra diação será expone ncial porque em
visua lizáve is - execro a próp ria c a ixa negr a, o m ais po- todos os casos o qu e impor ta é a quantid ade de radi ação
br e dos modelo s. P ois bem , se mod elos m an ejados corn o rem anescent e em d ada p rofundi dade. E m segundo lugar,
repre sentaçõ es (signos ic ônicos) ou co mo anál ogos (s ig- cum pre se mpre ex perime ntar teorias de c aixa negra quan -
no s nlcg éri cos ) fo re m rejeit ad os, estar em os im pe didos do do falh a o sorti mento dispo níve l de teori as da caixa tr ans-
ex plorar seu poder heurísti co . E staremo s, ade m ais, impedi - lúc ida - co mo foi o caso d a psicolo gia behavio rista ao
dos de ter um vislumb re - lit eral ou simbóli co - dos co nfro nta r-se co m a es terilida de do introsp eccioni smo c das
fun cionam entos do mundo. Uma met aciên cia bem funda- rela ções de dispers ão e teori as aliadas ao confron tar em-se
da exigir á qu e não seja ev ita d a qualqu er espéci e de mo- co m os malogr os da s t eori as h amilton ian as. Em terceiro
del o mas tã o-som ente mod el os inteiram ente infunda dos e lugar, as teorias da ca ixa negra propo rcionam explicações
incomp rov âve is.
globais e gerais c, como tais, são útei s, ainda muito tempo
O fim último da teorizaç ão cientíí lca é edifi car teo- depois de sub me tidas a teoria s rep resenta cio na is. E m quar-
rias rep resenta cionais que abar que m e expli quem as cor -
to lu gar, as teorias da caixa negra proporc ionam um te ste
re sponden tes teo rias fen om e nológic as. O ca ixa -neg rism o, de
para as co rres po ndentes tcori as da caix a translúc ida; assim ,
o utro lad o, faz a falsa suposiç ão de que a única meta d a
teori zação científi ca é sistema tiza r diret am ente fen ômen os uma psicolog ia "profun da" a trat ar co m pr ocessos psíquic os
sublim inares c m oti vaç ões int eri ores não pode estabel ecer-se
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co mo ciência, a não SCr q ue satisfaça a condição -limite
de explicar tudo q ue a a bo rdagem behav ioris ta explica.
O que a trapalha o prog resso do co nhecim ento nã o é
n m ultiplicação das teorias d a ca ixa negra, m as a Iiloso-
fin qu e enal tece n teoria Icu om cn ol ógic a como o m ais al to
tip o de sistc uuu ízaç ão cic nt ffic n c inju rln a teori a rcprc-
scntac ionnl. O mal causado por esta filosofia à Física c à
p icologia é d em asiado gra nde para que seja pe rm itido
perm anecer in dife rente co m respe ito a ele. O que se deve
tole ra r ou, melhor aind a, enco rajar, é a prolifera ção de
teori as com pr ov áveis de tod a espécie , fe nom enológicas o u
rcpresentacionais, cin em áti cas ali di nâm icas, p recav idas O ll
a trevidas - mas sempr e conservando cm me nte que as
teo rias nã o-fenom enológic as e a epistemo logia realista qu e
esti mula a sua co nstru ção deve m ser, e m última an álise,
p refe ridas , pois apresentam maior con teúdo , assu mem o
maio r risco e são as mais fé rteis: em sum a, as teorias rc-
pre se ntaclo na ls sa tisfaze m m elh o r os câ no nes de Pop per
q uanto à bo a ciência'":

6 . MATURAÇÃO DA CIl:lNCIA

1. Crescimento : Newtoniano e Baconiano


o co nhecimento cie ntífico pode cresce r em superfí-
cie ou e m p ro fu ndidade, i . é. pod e expandir-se por acumu-
lação, gener alizaç ão e sistematização da inform aç ão, ou
pela int rodu ção de mod o radi cal de novas idéias qu e re-
cobrem a informaçã o disponível e a interpret am . O pri-
mei ro tip o de crescim ent o, característico tanto da pesqui-
(25 ) Sou grato à discussão qu e uve com o Prof. JUAN JOSf! sa inicial como da rotin a da pesq uisa, pode ser denomi-
O 'A M Dt AG I, (De partament o de F ísica , Un iversidade de Buenos Aires) . nado de baconi ano po rque foi advo gado pelos dois Ba-
sobre O escoco da teoria das relações de d ispersão (uma teoria feno-
menct ôaícaj . co ns, e mbo ra o c resci me nto em profundidade possa ser

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chan mdo de ne wto nia no , po rq
ue New ton inve ntou o p ri-
m eiro siste ma c ien tí fico profu ndo ciai s (ind ispensáveis e tipo -fon
c cm larg a esca la. Cres- te) . E esta s são as idéias
cime nto em volu me requ e r ta nto ma is prof und as no siste ma : ape
cres cim en to cm sup erfície nas idéias logicam e nte for-
C0 l110 e m prof undidad
e; crescim ento ape nas em sup erfí les pod em explicar, e fenô men
ceg o c obr iga do a p ar ar por fulta cie é os (eve ntos perc eptí veis )
de id éias. enq uant o cr es- pod em ser exp lica dos tão- som
cim ento excl usivo e m prof und ente colo cando h ipóteses
idad e corre o ri sco de ter- imper cept ívei s, com o são ilus trad
min ar em espe c ulaç ão nã o-co ntro as pe las teor ias atô m icas.
lada . O proc esso de mat uraç ão idea
os três mov ime n tos em dire ção l é o que env olve todo s
C ontu do, cert os pe ríod os na hi aos fund ame ntos acim a re-
na s50 cara c teri zad os pelo pred stór ia de cad a d iscipli- fe ridos, i . é, a inve nção de teor
omí nio de uma da s d uns ias que 1) emp rega m não -
espé cies de cre scim ento : rup tura obse rváv eis, que 2) ama rra m
s são usua lme nte prec edi- na form a de mec anis mo hi-
d as c seg u idas por est ágio s de pót eses que , por sua vez, 3)
c res ci men to vege tativ o. O são orga niza das axio mat ica-
desen volvimen to m ais Irc qll cruc men te. Exa min emo s tais m ovim
é, sem dúv ida , c rcsc imc n- ent os.
to c m sup erfície, alca nç ado qua
ndo a aten ção foca liza a
desc riçã o. a sis tem atizaç ão c a
pred ição à cust a da teor i za -
ção o usa da. Es te é aind a o cas
o da mai oria da s ciên cias 2. Con ceitos: Empíricos e Transempiri
não -físicas e d e am plos scto res cos
da física , e. g . , a físic a
das part ícul as eleme nta res. Ain
da que haja atividnde te ó- Um con ceit o pod e ser cha mad o
rica nest es ca m pos, ela é, prin de teór ico se pert en-
cipa lme nte, do tip o fen o- ce a algu ma teor ia cien tífic a;
mcn ológico O tl siste mat iza dor fatu al teóri co, se oco rre nu-
de fat os, que r porq ue Se sa - ma teor ia cientifica fatu a l. Exe
be a inda dem asiado pou co p ara mpl os de con ceit os fatu ai s
se co njet u rare m m ec ani sm os teóri co s : "e nerg ia" (físi ca) e
porm en o riz ad os o u porq ue a pró "uti lidad e subj eti va" (teo ria
pria hip ot eti zaçã o dos me - da utilida de ) . Con ceit os teór icos
ca nismos é desen cor ajad a por fatu ais pod em ser gen é-
lima filos ofia sup erficial. rico s~ espe cíficos: os
O c resc ime nto cm supe rfíci e prim eiro s oco rrem em cer to nú
é nece ssár io, rnns in su- m er o ~<: disc iplin as cien tíficas, -
fici cnt e para alcan ça r mat urid ad enq uan to os ú ltim os são
e, e a ciência mad ura de ve típic os de teor ias indi vidu ais.
se r a met a de noss o esf or ço, mes Os con ceit os gen éric os, tais
m o se a mat urid ade COIl1 · co rno "le r ' e "teo rem a" não nos
pletn for (p rcm i ssom mcut c) con cern em no mom ento :
iuat ingl vcl . Pod e-se espe rar eles pod em oc orre r em qua lque
qu e a ciên cia am adu reç a qua ndo r corp o de idéi as cien tificas,
a am plit ude , a p rof'u ndl- qu er supe rfici ais, que r prof und
d ade e a irr efut abil idad e são as. Os traços típ icos de uma
proc urad as, i. é, qua ndo a teoria, em part icu lar a pr ofun dida
pesq uisa nã o ape nas ala rga o cam de, sã o dete rmin ado s pe-
po ma s a torn a mai s pr o- los se us co nc eitos espe cífi cos .
[lin da e melh or orga niza da. T
odo mun do sabe o que se Co nce itos teór icos esp ecífi cos
que r dizer com "org aniza çã o na ciên cia fatua l pod em
lógica" , mas o que sign ific a ser obse rvac iona is ou não -obser
"p ro fund idad e" ? A prof und idad vaci ona is, segu ndo se refi -
e é muls fá cil de reco nhe cer ram a objc tos ob serv ávei s a li
do que de eluc ida r; tod a via, deix em de se refe rir a eles .
nã o é inan alisá vel. Pode ser Os não -ob serv ávei s pod em ser
real çada esse ncialm ente de dua den omi n ad os con stru ctos;
s man eira s : 1 ) pela intr o- são típic os da ciên cia em opo
duç â o de hipó teses qu e envo lvam siçã o ao con heci men to co -
nflo -ob ser vávcis, cm co n- mum . Exe m plos de con ceit os teór
tr aste com sup os içõe s re lati vas icos obse rvacio nais : " cor-
a c arac tcr lsric ns obse rv ávei s po" , " mo vim e nto" e "nú mer o
ou de su pc rftc ic, e 2) pela inve de refo rços"; exem plos de
nçã o de mec anism os su- co nstru ctos (c on ceit os teór icos
post nmcnt c resp on s ávei s pelo s não -obs erva cionai s) : "m o-
fat os cm con sidc m çâo. Em m ont o", " m utação" c " a pren diza
am bos os casos , esper a-se qu e gem ". Ca be obse rvar que
a prof und idad e cp istcmol ó- a dic otom ia obse rvac iona l /não
gica espe lhe pro fund idad e onto -obs erva cion al nã o é estr ita,
lógica : pret end e-se que as mas dá luga r a espé cies de
idéi as mai s p rofu ndas refi ram tran siçã o, e que não coin -
ní veis d e real idad es situ ado s c ide com a pa rtiçã o com um/ cien
m ais prof und ame nte - m as esta tí fica. Alé m do mais, na
esp eran ça pod e natu ra l- ciên cia ava nçad a, os rela tóri os
men te não vir a re aliz a r-se . de ob serv ação con têm con s-
tru ctos,
A pro fun dida de é melh or exp lora Tod a teoria con tém con stru ctos
nh ada pe la org anização lógica d a qu and o aco mpa - mes mo se seus refe -
. A razã o pela qual a me- rent es são tid os com o se ndo
lho ria na orga niza ção dev eria no mín imo parc ialm ente
con trib uir para a mat urid a- obse rváv e is, com o no caso de
de é cla ra: ao fo rma li zar ou corp os sóltdos e líqu idos, os
apen as ao axiom ati zar u m refe ren tes da me cân ica do con
co rpo de id éias , reco nhe cem tínu o. Na real idad e, os con -
os Suas co mpo nen tes cssc n- ce ito s de ma ssa, tens ão e visc
osid ade qu e oco rrem neste
con junt o de teo rias , são todo
s não -observacion ais : rep re-
92
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sen ta m pro pr iedades que não podem ser ap ontadas com o são logicament e incom patí veis co m a teoria na qual a de-
dedo. Tal fato não to rna estas teo rias em piricamente não- claração d ada Inz sentido.
testáveis: leva os testes emp íricos ma is lon ge do que o Ve r-sc -á, ma is ad iante , a pa rtir de suas defin ições
toc ar e o c heira r. usua is que os "observá veis" das teori as qu ânü cns não re-
Algumas teo rias não t êm absol ut am en te conceitos p rcsc nt ruu t rnços dircrnmcntc obse rváve is. Elas rezam:
observacionais: e .g ., Iod as as teor ias de ca mpos puros c " U ma va riáve l dinâm ica é um o bservável se seus autov a-
teo rias de e n tes atômicos e subatôm icos. D e fato. as .va- lares fo rem rea is e suas auto funções formarem um conjun-
riáve is q ue represent am , digam os. a po siçã o de u m clétro n to completo" . Algumas propriedades matem áticas não a
e a inten sid ade de um campo eletrom agn ético, são algu - o bservab ilidade, co nst itue m a difere nça específica que sepa-
mas vezes de nomi nados observáveis: mas isto é um a piada. ra os "observá veis" quan tom ecân icos das outras va riáveis
e ne m me sm o boa. Sem dúv ida . nenhum do s re ferentes d inâm ica s. Simi lar m ente, na re lativi dade gera l, os "obser-
de ta is var iá veis pode ser obse rvad o no se ntido epi stcm ot é- \·.á veis" n ão são d efi nidos em termos de ope rações emp í-
gico do termo: a medida de tais variáveis req ue r nã o ape- rtcas ma s como as grandezas que pe rmanecem inva ria ntes
nas co mplexos ace ssórios de lnbo rat ório, ma s também te o- para transfor mações arbi trárias de coorde nadas. Em qu al-
rias ad icio nais (rnac rof isicas) para projeta r as peç as dos quer dos ca sos, a noção de "obse rvável" é h ipo té tica e
aparatos c interpre tar suas le ituras . As variáve is que ocor- o nome é um n ome inadeq uad o cujo efe ito é criar a ilusã o
re m nesta s teor ias podem o u não ser tod as obje tiva mc ntc de q ue as teo rias quânticas e a relat ividade ge ra l possuem
significati vas : se as teorias c m conjunto forem inteira - um co nteúdo e mpírico direto , Os "obse rváveis" destas teo-
m ent e falsas, tais va riáveis pod em deixar de ter um rcf c - rias supõe m-se, rep rese nta m, na realidade, de um modo
ren te ob jetivo embora houvesse a pretensã o de que fo ssem simbó lico, propriedades objetivas (operado r independente)
fatualme ntc sign ificati vas. M as em qualque r ca so, qu e r se de SIste mas fí SICOS ; são con ceitos não-observaciona is mas
refiram a en tidades rea is OLl a obj etos imagi nári os, não co nstruc tos de alto ní vel, re presentando alguns deles indi-
têm con teúdo empírico : não se referem a nenhuma expe- retamcn te traç os mensuráveis. Um observáve l ca racte risti-
riên cia c fctiv n co mo urna pe rce pção 0 11 lima a ção e el:1'\ cu - um conce ito q ue participa, digam os, da descriç ão de
nem me sm o se refer em à ex periência c icnti ficn ( me di da ou um lampejo em um co ntado r de ci ntilação - é um a f un-
ex pe rime nto), se não por ou tro moti vo pelo men os por - ção m ais ou m en os co mplica da (ou antes, fun cion al) de
que ev entos ex pe ricnciaís são m ul tilate ra is e devem por - dois con jun tos de variá veis: "observáveis" que se referem
tant o se r ex plica dos por todo um aglom e rad o de teori as. a rnicr ossistcru as e rnacrovari âveis que se referem a p eças
do apa rel ho.
T om emos, por e xem plo, a sentença " O va lor da ene r-
gia do elé tro n (l na posiç ão b no instant e c é EH. Es ta . E m q ualqu er caso, as teorias m a is profundas ca rac te-
fr ase é (Fatualment e } significa tiva o tempo tod o, qu er nzam -se por co nce itos nã o-ob serv acion ais ou co nstructos
ex presse lima declnr nção ver da de ira ou nã o, qu er seja feit a se jam eles mi cr ov ari áveis ou m acrovnri âveis. Os conceito~
ou não urna tentati va pa ra ave rigua r po r m eios em Píricos obse rvac ionais vão ap ar ecer nas apli cações de teori as bá-
qu al é o se u verd ad eir o va lor. m od a decla ra r, no e nta nto , sicas a situações empíric as - e mbora não a exclus ão dos
co nstruc tos.
É

q ue unt a se nte nça co mo esta é isent a de se ntido enq uant o


tal operação em pírica não ror feita ; ma s, se m dúvi da, algum D uas espécies de co nstructos dist ingu em- se usu almen -
co nce ito não-técn ico de significa do d eve esta r e nvo lvido te na filosofi a das c iênc ias co mpo rta me nta is: variáveis inter-
nesta conden açã o . E e m q ua lque r caso, mesm o q uan do é ven ientes e constructos hip ot ét icos. As primei ras medeiam
ou int ervêm entre co nce itos observacio na is enquanto os
realizada um a seqüência de operações empíricas ( ilum ina-
últi mo s sã o hi poteti zad os p ara se referirem a entidades
das por um conj un to de teorias) que em pres ta m su por te
não-observáveis e prop riedades, t ais como ní veis de ener-
à frase, isto conti nua empirica men te se m sen tido, e mbora gia de átomos. " O ce ntro de ma ssa" na m ac rofísica e a
fa tu alm ente co m signi ficado. U ma m ed id a da ene rgia do "força de h ábito" n a psicologia behaviorista seria m variá-
elétro n pe rrnitir- nos- á a tribu ir-lhe um valo r num éri co, ou veis int er venient es, en quan to a " inte nsida de do ca mpo gra -
an tes um inte rvalo nu mérico : não se destina a dotar a vitaciona l" e o "ClIStO de produção " se ria m co nstructos hi -
exp ressão dc sign ificado. E u ma tal med ida, repi tamos, potéticos.
está longe de se r direta : exige a co laboração de teorias A diferença fu nd ament al e ntre var iáveis int erven ien -
ulte riores, a lgumas das qua is (como a mecâ nica clássica) tes e con struc tos hipot éticos pa rece re sid ir no referen te a

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eles atrib uído c é. por co nseguinte, de term inada p elos pos- m aio r par te da real idad e está o cult a e d eve, por isso,
tulado s de inte rp re tação da teoria n a qua l aparecem - ser conj c turada . N ão é de se adm irar, portan to, que as
pos tu lados que a té cer to po nto pod em ser mudados sem a"~Llll ç õ::S inicia is (axiomas) d as teori as cie ntíficas seja m
mod ificar o Ionn nlism o. Assim , um e o me smo constructo, (od.a s hipóteses não-o bservaciona is e, em particu lar, ope-
com o a "i n tensida de do ca mpo " Oll o " imp ulso" se rá enca- ra cionalmente se m sentido (e mbora testáveis ). Ain da que
rad o C('IIllO um construc to h ipot ético nu ma inte rp ret ação se refira m, cm ú ltim a análi se, a objetos empiricamente
de lima teoria e como uma var iáve l interve niente nout ra. acessíveis, tai s como co rpos do tama nho do hom em lidam
A distinção pode, port an to, ser estab elecida cm termos se- imediatamente COm esqucrnatizações ideais de tais 'objctos
m ân tico s, independen teme nte de considerações me todológi- e pre stam pouca ou nenh um a aten ção às propr ied ad es fe-
cas : as var iáve is interve nientes re fere m-se às par tes ou tra- nomen a is. A ssim, na m ecâni ca do corpo sólido são estuda-
ços de ob je tos indi viduais sup osta mente reais . Em ou tr os d as de preferência distribuições de m assa e moviment os
ter mo s, os predicad os inter ve nie nte s são totalistas enq ua n- possíve is a apa rições. Aparições, co mo as apresentad as ao
to os const ructos hipo téticos são ato mls tlcos. Assim, na astrôn omo observacio nal, são objctos co mpletos não-expli-
teoria do ca mpo eletrom agn ético , os potenciais c fi en ergia cáveis ape nas pela física m as pela ó ptica fisiológica e pela
total podem ser con sid er ad os co mo va ri âvcis int erv enien - psicologia fisiológi ca , tod as e las base adas em hipóteses
tes, enq ua nto as int ensidad es de ca m po e as vá rias den - não-observac ionnís.
sidades são con structos hi potéti cos. E visto sob esta luz, Ora, hip óteses n ão-ob servacion ais podem ser m odes-
o bcbnviori smo está se mâ n tica, embora n ão metodologi- tas ou amb iciosas: p odem rest rin gir-se a desc rever um sis-
camen te, na mesm a categor ia qu e o ges ta ltisrno. tema cio lado de fo ra, co mo um todo, ou podem esco nde r-
B claro, cons tru ctos h ipotéticos ou ato míslicos são se no s detal hes de composição e nos fun cion a mentos inter-
m ais p ro fundos qu e variáveis inte rven ien tes o u tot alista'). nos do sistema ao qual se referem . A s p rime iras podem se r
Ver em os agora q ue os primeiros no s per m item construir hi- ~ h~ T11 a d as .fc!'ome nológicas O~l hipóteses da ca ixa negra. As
r <",teo:: ('s mai s pr ofundas. últim as, hip óteses de mecnmsmo, embora não no sen tido
es trito de reco rrer a um jogo de partes m ecâ nicas. As h i-
pó teses fen ome nológicas podem co nter va riáveis int erve-
3. Dos Pacotes de l niortnoç ões c1s Htp õteses nientes mas não eonstructos hipotéticos, e nqua nto as h i-
póteses de mecanismo contê m constr uctos h ipotéticos (e
eve ntualmen te tam bém predicados interveni ent es ) ; e ambas
U ma fórm ul a de nom inar-se-á h ipótese fatua l se J ) se podem se r es tocásticas aLI não-estocãsticas.
referir a fatos por ora nâo -expcrienciados ou nâo-experien-
ciáve is em p rincípio c 2 ) se for corri gível em vist a de co- As hip óteses fe nom en ológicas sã o bem m ais p rofun-
nh ecimentos novos. Do pon to de vista de sua ostc nsivida- das q ue os juí zos dos p acotes de inform açã o , mas nã o tão
de ou im cdl at idnde emp írica, as hip óteses podem class ifi- p rofun d as q ua n to ?s hip ót eses de me cani sm o. T om e-se, por
ca r-se c m obse rvac iona is o u não-ob ser vacionai s, segundo exemplo, a eco log ia populacion al. Podemos discernir aqui
co ntenha m apenas con ceit os observacio nais ou no mín imo três tip os de h ipóteses : 1) as relaçõe s fun cionais (ou cur-
tl lll co nce ito não-ob servacional. "As cria nças afeiçoam -se vas) qu e sumaria m e gen er alizam os dados que re lacio nam
ao s seus pa is" é uma h ip ótese observaciona l, porqu e se re - os parâmetro s obse rváveis, 2) as eq uações diferen ciais que
fere e m termos ob servacionais a um a clas se que inu nda o expressam a taxa de m udança da popul açã o, e 3 ) os juízos
co njunto acessíve l à exp eriência in dividual. D e ou tro lado, mai s complexos que explica m o tam a nh o da populaçã o em
"O mo mento angu lar de lima ma ssa po ntua l em um cam- termos ge néticos e ecológicos. Se esta mos interessados em
po ce ntral é con ser vado" é claramente lima hi pótese n ão- condensar, extrapolar e interpolar dados empíricos, fica re-
ob servável. Não impo rta o quan to a primeira é ex ten sa- m os satisfe itos co m o ajustamento de curvas. Só qu an do
mente hipotética, a úlrim n é ta nto extensa co mo intensiva - nlltri ~l1 Os a ambição de ex plicar em vez de sumariar e ge-
mcn te h ipot é tica. ncralizar, procuramos co locar h ipóteses de nível m ais alto,
O que aconte ce COIll os conceitos, acon tece com as e.g., equações d iferen ciais c uja integ ração deveria fornecer
hipóteses: quanto m ais pr ofu ndo um corpo do conheci- curvas empíricas Oll hipóteses observacionais.
m ento, mais idéias não-obse rvacionais e le con terá. Um ser . As sim, o cresci men to de um a pop ulação de um a espé-
o niscie nte n ão ter ia, prova velm en te, o que fazer co m co n- cie pode ser repr esentad o po r qu alq uer conjunt o in finito
ce itos nã o-observáveis c hi póteses; m as p ara o ho mem , a de cu rvas, enqua nto se manti verem razoavelmente pr óxi-

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mas dos da dos e mpí ricos . M as há os; q ue prefer em o nssi m la s iniciai s serão p urame nte fo r ma is (e . g. , a determinação
chama do modele logístico. i. é. d N ldT = rN (K - N ) lia estru tur a m atem át ica de um conceito), outras serão se-
ainda q ue não possa conter possive lmen te ca da bit de info r- m ânt icas - hão de re prese ntar símbolos em seus referen-
mação rele va nte. po is info rma al go so bre o p ro cesso de tes inte ncionais - ou tras serão hipóteses tatu ais p rop ria-
c resci men to - o u seja, que a m ud anç a de popul a ção é men te c, o utras, por fim , serã o suposições subs idiárias, t ais
proporcio na l ao tamanho N d a própria população c à di- como ap roxi mações o u mesmo dad os.
fere nç a en tre o va lor de saturação K e o va lor instant ân eo Por exem plo, na teo ria cl ássica da gr avitaç ã o, a su-
N . Mas mesmo esta hipótese, embor a logicame nte ma is posição de que o potencial é um camp o escalar real é
forte e sema nticamen te mais profu nda do que qualquer forma l; a suposição de qu e este ca mpo matem ático re-
das curvas e mpíricas, é insuficiente : sa be mos que o cr esci- p resen ta ou se refere a um meio exten so. O ca m po físico,
men to da pop ula ção é controlado po r variáve is adi cionais, é se mâ ntica ; a equação do campo e as eq uações de mo-
alg umas int er nas, como a freqüê nci a de m ut aç ão e ou t ~as vimento s50 hipót eses propriame nte e, na verdade, as su-
ext ernas, como a intensidade de com peti ção com espécies pos ições pr incipais da teo ria ; e a expressã o do va lor nu-
intern tuan tes . O e cologista tenta rá co nseqüen te me nte inven- mérico da consta nte gravitacional, be m co mo qu alqu er su-
tar h ipót eses m ais profu ndas q ue ab ran ja m estes fator es e posição especial tal co mo a de q ue o campo em causa está
even tua lmen te anali se m a variável fen omen ológica (ou ac oplado a uma esfera m aterial, sã o suposições su bsidiá.
interve nien te) r (a taxa de c rescimento): elas serão hip ó- rias. Outras p arte s da teo ria sã o, q uer de finições: (e .g., a
teses de mecan ismos. de finição de de nsidade ) o u teo rem as (e.g ., um a f6rmul a
Ê possíve l disce rn ir uma ten dê ncia simi lar em q ~H\) ­ que represen te a trnjet ôri a de uma p artícula de teste no
quer ciência Iatual : tio e mpacotamen to de dados até h ip ó- campo) . Ê inút il dizer q ue a teoria não co nté m "de fin i-
teses fenomenológicas c até h ipót eses de meca nismo . À çã o" ope rac iona l, e mbora seja fisica me nte sig nifica tiva e
medida que a ciência amadure~e, .to~na.se m ais p r.o- com provávcl,
fun da, i . é. in tro du z cada vez mais hipô te scs de mcca ms- As teo rias Intu ais con figu ram. su põe-se, sistemas
mo - so b a (mica condição de q ue não sejam nem dispa- reais: ca mpos, corpos, orga nis mos, sociedades. A co nfigu -
ra ta das, nem inteirame nte íncom pro vévci s. As razões para ração pode ser global ou por menorizada: pode modelar o
tonto são m últipl as : I ) as hi póteses m ai s p ro fu ndas pode m sistema e se u mei o co mo blocos ou a na lisá-los e m vá rios
alcança r n íveis m ais p ro fundos de real idad e (s ig ni (ica~ão níveis. Em ambos os casos, o siste m a de int er esse (o refe-
onto lógica); 2) as hipót eses mais profun das são logica- ren te) pod e se r encarado co mo uma ca ixa; só na aborda-
me nte m ai s fortes de sde qu e im pliquem ( even tu alm ent e em gem exte rna o u globa l não será de composta e m unid ad es
conju nção co m hipóteses po ster io res) hipó teses de cmpa- men ore s enqua nto que na abordage m inte rn a ou atornísti-
cotamento de informações (s ignificação lógica ); 3) as hi- ca será a na lisa da co m res pe ito a seus co mpo ne ntes e tra-
pót eses de m ecan ism o são melhor testá vei s do qu e as de balh o int ern o. A primeira ab o rdagem pode receb er O no-
ca ixa negra - em bo ra m en os di ret amente co mp rováve is - m e de fen om en ológica ou glo bal e a segunda, de mecanis-
po is são m ais se nsíve is a m ai s po rmen or es imedi at os e a ta o u a to mís tica.
mais ev idê ncia va riada: se ndo mais fortes. dizem m ai s, e
po rt ant o empe nha m-se e se expõe m muito mai s do qu e E m a mbos os casos, a vizinhança do siste ma é pa ssível
as hipóteses fen om en ológicas m ais sim ples e m ais seguras de cs q nc ma tlza çãc, num a p rim eira aproximação, de um
(s ignific aç5 0 m etodológica ). Nã o é de adm irar qu e c ~­ m od o globa l p or um co njunto de va riáv eis de entrada e
da br ech a teó rica seja um ga nho em pr ofu ndidad e c seja o utro co nju nto de variáv eis de saída , qu e pod em ma s não
seg uida de um crescime nto em supe rf'lcie sem p reced ent e . prec isa m se r tod as acessíveis empi ricam ente. Qu alquer te o ria
cuja hipótese fund ament al é um a relação fixa (lei) entre
en tradas e sa ídas é lim a teo ria fen omen ológica, e qu alquer
teori a q ue assu me o risco de hipot eti zar algo qu e med eia
4. Da Caixa Negra ao M ecanismo e ntre entradas e sa ídas, i. é, um m ec ani sm o disparad o pe-
las entrad as e qu e d isp õe das saí das nec essári as, é um a teo-
Recorde mos q ue um a te oria pro pri amen te d ita é u m ria mccan ista , N os dois casos, pod e-se sim bo lizar a hipót ese
co njunto infin ito de fórm ul as, fech ado por ded uçõe s. Se cen lral da seguinte ma neira: O = M I, onde M pod e ser
tais fór mulas têm um re fere nte re al intenci on al, a teoria conside rado um operado r q ue converte ent radas e m saídas .
pode de no m inar-se Ia tual , Neste caso, algumas das fórmu- Se M fo r lim a variável interveniente, e ntão a teo ria é Ie-

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nomen ol óglca o u de caixa negra ; mas se (a r p ressupo sto
q ue 'AI represen ta um mecani smo não -visto, respon sável calcula r a probab ilidad e de decaiment o sem explica r em
peJa trans for mação das ent radas cm saídas, neste caso a pormenor por que o processo deveri a ocorre r, poder iam
teoria é mecan ista a li rc prese ntacio nal, Assim , en qua nto a ser inclu ídas numa teor ia m ais p rofu nda qu e hipotetizasse
ter mo-elasticidade clássica relacio na parâmet ros globais co- alguns mecani smos de decaim ent o, mesmo se esta teori a
mo condu tividade c mód ulos de elasti cidade, a teo ria quân- con tinu asse a ser estocástica e, port ant o, incap az de prever
tica dos sólidos ana lisa tais parâme tros cm term os at ômico s. o tem po exa to de decaim ento de um a partí cula indi vidua1.
Sem dúvida , em bora ambas as teorias sejam necessári as, a Mas tais mecanismos ou teor ias de caixa tra nslúcida não
qu ântica é ma is p rofun da : penetra mais na estru tura da se rão seq uer tentad as fi me nos que filosofi as que as desa-
mat éria e. ao men os em princíp io, exp lica a teoria feno- p rovam sejam abando nadas: a pesqu isa científica não cres-
ce em profun didad e se necessit a presta r atenção a um a fi-
m enológica .
losofi a supcrCi cialista.
Veremos ago ra o que to rn a as teorias pro fund as : 1) a
oco rrência de con struct os de alto nível, 2 ) as assunçõ cs
de mecani sm o, e 3) um alt o pode r explana tório . A re-
la ção entre estas t rês prop riedade s de u ma teo ria profu nd a
5. Da Su bsunç ão à E xplicação Interpretativa
é clara : co ncei tos transem píricos (con struc tos) são neces-
sários para descrever meca nismos hipotéti cos, qu e po r sua A explicação também pode ser superficial ou profun-
vez são necessá rios para explica r o comp or ta mento do sis- da. L ogica men te faland o, cada explica ção é uma subordi-
tema e, even tua lmen te, o aspecto que apre senta para o nação a um con ju nto de pr emissas ; no caso da ciê ncia teó-
observa do r. rica, algumas destas premissas são fórmu las teór icas (e m
Podem os dar um pa sso mais e introd uzir a seg uinte partic ular algun s juízos de lei), outras são assunções espe-
definição do conce ito relacion al de prof undidade de teo- cia is q ue pe rm item a aplicaç ão da teori a ao esta do de coi-
ria : Se T e T são teorias Iatuais, então l' é ma is profun - sas da do. Se, além de ser u ma implicação desta espéci e,
da que T' se ,I ) T inclu i mais níveis ou níveis mais altos urna exp lanação mostra r como algo aco ntece, i. é, se ao
de constructos ( não-observáve is) do que T (aspe cto epis- menos lima das p remissas for uma hip ótese de mecani smo,
temológico); 2) tais constructos ocorrem na descrição de teremos então aquilo que algumas vezes é cham ad o uma
mecanismos hipotéticos subjace ntes aos fatos referidos por interpre tação do fato em causa e que será denominado
T' (aspecto ontológico ou semânt ico); 3) T implica uma explanação interpretat iva. Reconh ecemos, então, duas espé-
grande parte de T, mas não inversamente (aspecto lógi- cies de explanação científica : a subsumida e a interpret a-
co). Em particular, se T implica a totalidade de 1", então tiva.
pode-se dizer que T' está redu zid o a T . A física do esta do Quand o o desvio de um raio lumino so é explica do em
sólido prop or ciona vários exemplos de redução de teori a. termos da Lei de Snell e do valor pa rticular do índice de
M as mesmo se, com o no caso da relação da mecâni ca esta- re fraç ão do meio, estamos em face de u ma expl anação
tíst ica com a term odin âmi ca, a reduçã o ai nda é incompl eta subs umid a. Quando o processo é explica do com a ajuda
( L ê, a intersecção das du as teorias é não-vazia ) , a teoria de ondas de luz que satisfazem o Principio de Huygens,
ma is pr ofund a é a mais apura da, e a menos p rofu nda, a ganhamos em profun didade. E quando se admite que a
mai s gro sseira. luz é um gru po de onda s eletro mag néticas e se faz uma
As vantage ns das teori as mais p ro fund as ou d a caixa hi pótese sobre a estrutu ra do me io, temos uma expl an a-
tr an slúcida sobre teori as ma is supe rficiais ou da caixa ne- ção ain da mais profu nda do mesmo fato : tant o ao mei o,
gra deveri am ser ó bvias. A co mp reensão de tais va ntagens co mo ao raio de luz, são atribuídos um a estrutu ra descri-
deveri a ter imp ortant es conse qüê ncias tant o na ciê ncia tível ape nas em term os de constructos.
qu anto na filosofi a: dever ia estimu lar cien tistas a inventa r O que sucede aos fatos, sucede às leis. Se um juízo de
m ais teori as do tipo pro fun do e ousa do mesmo qu e fosse lei é submetido a hipóteses de nível mais alto, dizemos
mais provável que falhassem, e deveria persuadir filósofos que ex plica mos a lei. M as podemo s desejar ir mai s longe
de que um a ad erên cia dogm ática e teorias m ais gro sseir as ou e inquirir como é O modelo real refe rido pelo juízo de
de caixa negra - favorec id as pelo empiris mo e conven - lei. Isto é, podem os q uere r descob rir o mecani smo de emer-
cion alismo - constit ui p ur o obscu rantism o. Por exemplo,
gência de uma dada lei fora de outras leis. Estas outras
leis pe rtencem a nívei s diferen tes (usualm ente mais bai-
as teori as disponí veis pa ra partícul as instáv eis, capazes de
xos) daquele ao qual pertence a lei. Estes out ros níveis

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pode m ser coexistentes ou tempc rar iam c nt e suc essivos . é de tcrm inado não apenas po r sua extensão e precisã o m as
Assim, u ma taref a da q uímica quân tica é a de expli ca r as lam bém por sua profund idade.
leiv de quí m ica em termos de leis q uân ticas de siste mas de Se fosse poss ível estabelecer um a medida inteira men-
pa rtíc ulas clctr icamc nre carregadas; n a m edi da em q ue é te quantit ativa do vo lu me teórico ou poder explan atório,
bem suce d ida em 1 ca liznr esta tarefa, a qu ímica quânti ca pode ríamos med ir o crescimento do con heciment o de um
fornece uma ex pla nação inte rpretat iva de UI11 sistema de modo muito mais exato do q ue pe la con tagem do nú me-
lei" cm ter mos de leis q ue caracterizam um níve l cocxi s- ro de artigos publicados nu m dado campo. Na verdade,
tente m ais ba ixo de organização. E um a ta refa da psico- pode ríamos seguir a variação de E (1') no tem po, à medi-
logia ser ia a de desvenda r como os pad rões de aprend iza- da qu e no vos teoremas são derivados e po stos à prova e
gem e mergira m no c urso da evol ução d as leis b iológicas poderíamos me smo calc ular a taxa de cresci me nto médio
- um a explanação inte rp ret ati va em termos de leis que de l' sobre um intervalo de tempo I1t, defin ido como
caracterizam um níve l evo lucionário p rio rit ár io . r = 6.E/ d t. Poderíamos, ademais, determ inar O cr esci-
As teori as mais p ro fu ndas forn ecem expla nações m ais m enta do con heci men to teóric o num campo int eiro, assim,
profun das, L é, expla nações de tipo int erp ret ati vo ou expl a- n saber: I) tom e tod as as teori as não-ri vais TI em u m da do
Ilações em p ro fun didad e, e mbora amb as seja m de subo rdi- campo e forme sua uni ão lógica T = U 1',; 2) calcule o
nação ou de cobe rtu ra, no se ntido de q ue ar gumentam a poder explanatór io de l' em dois instantes d iferentes; 3)
partir de leis gerais. 1\ razão pela q ual explanações inte r- calc ule a taxa de cresci mento r de T. D est a m anei ra, po-
prct ativas são m ais profundas do qu e as de subordina ção é deríamos seg u ir as vicissitudes de teorias e de áreas intei-
clara : a lgu mas de suas pre missas rea lizam um a aná lise ra s de ciência teó rica, tornando-nos m ais cô nscio s dos pe-
m ais p ro funda cm sen tido ontológico: ati ngem n íveis mais rí odo s de estagnação, algumas vezes disfarçados sob pil has
profundos d a realid ade. A explanação p rof unda, co nseqüe n- de matér ia impressa. M as isto é Zukunfnnusik, E de qual-
temente, corre pa ralelame nte com a profun didad e teórica . q uer modo, a expli cação do crescimento do con hec imento
O pode r expl anatóri o de uma teoria deve então de- se ria pu ramente do t ipo ca ixa negra : necessitamos, além
pender não apenas da ex tensão e da precisão da teoria, disso, de uma explanação cm profundidade que envolva o
m as tam bém de sua profundidade. Os dois primeiros fa- problema de situação, as ferra me ntas conceituais e empí-
tore!' co mpõem o alcan ce de uma teo ria. O conceito d e ricas d isponíveis, c os fator es extracientíficos - e m especial
alcance de um a teo ria pode se r elucidado de um modo os sociais e filosóficos - que codeterminam a evo lução do
qua ntita tivo em le rm os do conceito de verdade parcial. conhecime nto . Necessitam os, em suma, de um a explan a-
Moo; não impor ta a fó rm ul a que se adote pa ra o alca nce ção interpreta tiva do cresci me nto - e da estag naç ão -
A ( 7') de um a teori a 7', fica-se tentado a esc rever: E do co nhecimen to.
(7') = A (7') . P ( 7') para o pod er expl an at6rio de 1',
on de P (1 ') é a profun didade da teori a. Infelizmente, não
sabemos co mo atri buir lima m edid a a p rop ria da ao con cei- 6. Do Esboço ao Sistema de Axiomas
lo de profundidad e de urna teoria. Um a sugestão 6bvia é
a tribuir a P ( T) lima medida or d ina l co nfor me o núme ro Um a teori a, se discreta ou abelhuda, pod e enco ntra r-se
n de níveis (ou de subníveisj atravessados pe la teori a - cm q ualq uer dos estág ios de dese nvolvimento: pode ser
um nú me ro qu e é an tes arb itrário. A ssim , a um a teo ria embriônico e nã o-organizado - co mo é sempre O caso no
da aprend izage m que analisa os o rga nis mos em te rm os de início - ou razoavelm ent e elaborada ma s ainda não-orga-
variáveis físicas, químicas, biológicas, psicológicas e eco- n izada (como a m aioria das teorias em uso) , ou n ão -expa n-
lógicas, poder-sé-ia atribui r a profundidade P ( T) = 5. dida mas bem organizada (como algumas novas teorias
Mas, em virtude da natureza algo arb itrá ria desta medida ma temáticas) o u quer be m elaborada, quer bem organi-
d a profu ndida de teó rica, o índice 11 deve se r enca ra do m ais zada (como algumas teorias lógicas e ma temáticas). Se
como comparativo do que quanti tativo. Todavia, não se lima teoria é pobre ou no núm er o de teoremas efe tivamen-
conhece a razão por que a p rofun didade de teoria não pos- te provados (e m co ntraste com a in finitu de po tencia l de
sa se r q ua nt ificada em um sen tido estrito. Em qua lque r teoremas desc onhecid os) a li na orga nização lógica , então
caso, o índice E (1') pode ser to mado como um a q uase- é ima tura , não importa quão profun da po ssa ser.
med ida do poder exp lanatório ou volume de teori as : no Neste últi mo caso, en cont ra-se a teor ia da gravitaç ão
m ínimo sumaria a idéia d e q ue o tam anh o de uma teoria de E instei n. Uma das dificuld ad es co m esta teoria, das mai s

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admiráveis e profundas, é que ainda não foi o rganizada de: lares (c onceitos pn m ui vos e axiomas) de uma teoria, as
um modo satisfatório . Como conseqüê nc ia, princípios de discussões sobre problemas fundamentais são provavel-
construção de teoria ou heurísticos como a co va rl ância gCM mente confusas, por isso imaturas.
rol, são amiúde tom ados como princípios constitutivos o u A mecânica quântica fornece um exemplo deste tipo
axio mas apropriados; algumas vezes, lança -se ao crédito de imaturidade. S ua interpretação antropocêntrica ou sub-
da teoria proposições que e le não pode possivelmen te con- jetivista ter-se- la tornado impossível se a teoria houvesse
ter, tal como a igualdade da massa ine rc ial e gravitacio nal sido devidamente axiorn ati zada , pois desta maneira tor-
- uma igualda de que ela não po de estabe lece r porqu e a nar-se-ia evidente que nem os dispositivos experime ntais,
distinção entre as duas massas não ocorre na teoria. Por- nem os observadores desemp enham papel na teoria, pois
tanto, inúmeras discussões sobre o significado físico e o os conce itos co rresponde ntes não podem oco rrer nela quer
valor da teo ria quando co mparada co m teo rias rivais são como conceitos primitivos ou defini dos, se não por outro
perturbadas e destorcidas por princípios filo sóficos grossei- motivo, pelo meno s porque ambos, instrumentos de m e-
ros tais co mo o operaciona lismo. Felizmente, as idéias prin- dida e operadores, são macrossistemas a serem eve ntual-
cipais da teoria lá se enco ntram e elas são profundas, de me nte analisados com a ajuda da mecânica quântica.
modo que sua maturaçã o é p roblema de trabalho árduo e Julgou-se algumas vezes que a axiomatização de uma
discussão crítica. teoria leva a enrijecê-Ia mortalmente , inibindo a crítica e,
Poucas teorias fatuais são, quer razoavelmente expan- portanto, bloqueando o progresso. De um ponto de vista
didas, quer logica mente organizadas. A mecânica clássica pu ramen te lógico, i. é, falso : a avaliação de uma peça
corpuscular e a mecânica do co ntínuo estão entre as pou- de pesquisa cientí fica é tanto mais fácil quanto mais bem
cas exceções, mas mesmo neste caso , as axiomatizações organizada é a peça : a análise conce ituai, a crítica e a
mais acessíveis - as devidas a McKinsey e Supp es e a ava liação são facilit adas por uma clara indicação do que
Noll - podem ser me lho radas pa rticular me nte no aspec to são as principais assu nções e as co nseqüê ncias fu ndamen-
semântico. N este sentido, todas as outras teorias apresen- tais de uma teoria. Em resumo, a axio matização pode pro-
tam-se em fo rma bem pior. Considera ndo a organização mover o aumento do conhecimento, embora dific ilmente
lógica, então, a ciência Iatual está no todo ainda imatura. con stit ua uma ruptura por si mesma. Mas é psicologica-
A intuição do cientista usualmente compensa este defeit o ; mente verdadeiro que sistemas de axiomas produzam oca-
pode em geral reconhecer os pressupos tos essenciais ou do- sionalmente um sentimento de temor que leva ao dogrnati s-
minantes da teoria, embo ra possa até de ixar de cons tatar mo . Tal foi, ao que parece, o caso da axio matização de
exp licitamente todos os pressupostos que cercam estas hi- Carathéodory da terrnost âtica e da axiomatização de von
pó teses fundamentais. Neurnann da primeira quantização . Este indesejável efeito
D e outro lado, a intuição é muito menos e ficaz para lateral da reconstrução lógica, deriva de um mal-entendido
detectar o essencial Oll os co nce itos inde finidos de uma quanto à nature za da axiomática e é possível e vitá-lo Ia-
teoria Iatu al . Exclui ndo L evi Civita que, sem axiomatizar rnilia rizand o-se com ele. D esta maneira, pod e-se ver que
a mecânica newtoniana, co ncebe u que massa e força são a axiomatização de um corpo de idéias fatuais vem post
conceitos primitivos da teoria, mutuamente independentes, [a estum e não é único e que sua virtude fundamental é
hã milhares de físicos que pretendem haver definido tais que, ao assentar os alicerces desguarnecidos, facilita a crí-
co nceitos por um ou outro caminho (se m exc lui r o que tica Iund nmental e os reparos. F ocalizan do o essencial, a
passa pela segunda Lei de N ewton ) apenas porque con- pesquisa de fundamento contribui para a maturação da
fund em definições com eq uações e mesmo co m medid as. ciência.
Os conceitos primitivos ou essenciais de uma teoria não
pode m ser discern idos com cla reza e cer teza a menos que
a teoria seja axiomatizada, pois esta espécie de fo rmaliz a- 7. O Filósofo e a Mat uração da Ciência
ção ( incompleta) co nsiste precisamente em tom ar um con-
junto de co nceitos primitivos específicos e ligá-tos com a A pesquisa científica pode passar por inúm eras fases
ajuda de conceitos empres tado s da lógica, da m atem ática de mat uração, depend end o o gra u de mat urid ade atingido
e event ualmente também de outras teorias fatu ais, para da profundidade e da organização lógica das idéias en vol-
con stitu ir os pressupostos básicos (axiomas) da teoria . E, vidas. A comp utação e as operações empíricas, embora in-
na med ida em q ue não hã cla reza relativa às pedras angu- dispensáveis e não importando quão completas e acuradas,

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são independen tes da p ro fun didade c da talai força lógica Iundidad c. E les reagem contra o obscurantismo recomen-
c po rta nto nã o são indícios de matu ridade, Conseqüente- dan do m áxima superficialidade e simplicidade conceituais ·
mente, n a maior ia das peças da pesqu isa científica não su r- c, ocasionalmente, nenh uma teorização. Deixaram de com-
gcm q uestões de pro fun di dad e e orga nização lógi ca. Po r- pr eender q ue essa gen uína pr ofundidade estav a à mã o pela
tanto. os própr ios traços d e matu ridade ten dem a ser des- prim eir a vez, ou seja, na mod ern a teoria científica. Destar-
percebidos. Mesm o a pesquisa em cam pos p rof und os, co mo ' te , colocnrnrn-sc ao lado dos inimi gos da ciência - para-
a rísica do es tado sólido , a biologia evolucionária ou a doxal me nte, num esfo rço ingênuo de furtar-se à anticiên-
teoria da ap ren dizage m, pode ser su perficia l se tra nsforma- cia , E , qua ndo colocados em fa ce de bem sucedidas e
da em rotina , i. é, se proc u ra resp on der q uestõe s isoladas pr ofundas teorias, tent am explicá -las como meras pontes
c de rotina em vez de pr oblemas fundam entais e interco- en tre su postas ob serva ções livres, isentas de teori a, ou co-
nexos. E a cla reza lógica e semântica rela tiva a Iundamen- mo fe rram entas n ão-representacion ais p ara o cálculo de pos-
los não é adquiri da po r saltos de um p roblema a out ro. síveis observações .
m as primeiro por análise, d epois p or crítica e e vcntualmen- Uma tentati va típi ca desta espécie utili za o assim cha-
te por reconstrução de um co rpo tod o de idéias desen vol-' mad o teor ema de Craig, que é efetivamente uma técnica
vldo de um modo espontâneo e usua lmente desordenado. imp ossível para a teoria da demolição. De um modo gros-
D e qualquer modo, a maturidade científica é uma questão seiro. a técni ca prescreve deri var e coletar todos os teo-
de qu alidade, nã o de núm ero : é dominada por hip óte ses rem as de nível inferior de lim a teoria fatual T, teoremas
sofi st icadas e bem a marradas referentes às raizes das coi- que contêm, segundo se alega, ap ena s con ceitos ob serva-
sns, mais do que e normes pilh as de iten s isolados e super - cion ais e, Finalmente, tomar sua conjunção com o a base
ficiais e é, port ant o, de se espe rar qu e ve nh a mai s do tra- ax iomática de uma teoria filo soficamente expurgada 1'· .
balh o nrtesan al do q ue da p rodu ção de ma ssa. Em resum o , Este co njun to a mor fo q ue não contém, supos tame nte, ter-
a di fer en ça e nt re ciên cia im atura e mad ur a é co mo a d ife- mos teóricos ou "auxiliares", é con sid er ado superior a T,
rença entre uma esponj a e o cérebro . precisa me nte neste sentido. Mas a técnica não fun ciona .
Su ponha que se escolha o cér ebro cm vez de uma Primeiro, a pr óp ria teo ria deve esta r lá antes que possa
espo nja , o que devem os espera r do filósofo com res peito à ser dem olida . Segund o. é imp ossível deri var tod os os teo-
matu ração da ciên cia? Salvo a disseminada indiferença em rem as, qu e são infinit os: pode -se falar deles antes de de-
relação à ciência, o filósofo pod e aLI se op or ao processo d e rivá-los, mas não se pod e manipul á-los ef etivamente. Ter-
maturação ou promovê-la, conform e a maturação de sua ceiro, e mais importante, a técnica baseia-se na pr essuposi-
pr óp ria Iilosofia. At é agora, os filósof os que têm pen sado ção de qu e, levand o-se a dedução muito longe, pod emos
na ciência não desemp enharam papel significa tivo em sua livrar-n os de con ceitos não -observacionais, i. é, construo-
maturação. No melhor do s casos, têm sido simpáticos para tos. M as isto seria pura mágica : a dedução n50 pode
com a melhoria da organização lógica, ma s mais recente- eliminar co nceitos essenciais; e não é pos sível introduzir
mente A. maioria deles têm sido tímidos para com a pro- validarnentc conceitos ob servacion ais na teoria, a não ser
fundidade . Todavia, o filósofo pode fazer mais do qu e mediante definições em term os dos conceitos primitivos.
apl audir o increment o na fo rça lógic a e na clareza semân- Em suma, a "teoria" T· expurgada não existe , de modo que ,
tica: ele pr óprio pod e co nt ribuir para este aspecto da ma- não é possível reduzir a ela a genuína teoria T. Assim , pela
tur a çã . desde qu e domine tant o o assunto com o as ferra- inte graçã o d as equações de movimento de uma teoria dinâ-
ment as para a recon st rução lógica . Como a mai or ia d as mica, nã o elimi namos os próprios referentes de tais juízos,
teori as científica s encontram -se, por hora, mais em form a a LI seja, um modelo ideal tal como o ponto-partícula. Não
n atu ral do qu e axiom ática, O filósofo possui aq ui u m am- há receitas para desteori zar um sistema dedutivo-hipoté-
plo campo que deve rá mostr ar-se mai s recompensad or do tico, exceto igno ra ndo-o inteira mente e permanecendo
q ue ladrand o pa ra os co legas . aquém do aum ento de conhecimento.
As co isas nã o parecem tã o luminosas no outr o lad o A ciê ncia teóri ca prestou pou ca atenção à guerra an -
d a maturidade, ou seja, a p rofundidade. F ilósofos de ten- tiprofundid ad e travada pelos empiristas radicais e conven-
d ência em pirista sempre sus pe itara m da pr ofundidade em cio na listas, e mbora alguns dos m elhores teóricos tivessem
pa rte porque: a ob scu rida de e a especulação desordenada sido su ficie ntemente incoerentes para esposar uma filo-
t'lll sido com demasiad a frcq üência tomadas com o pro- so fia anliteó rica. O filó sofo deve, pois, faz er sua escolha :

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Otl ele imita os escolásticos que zombava m de Ga lileu. ricado ra q ue tr a nscend a os aju sta me ntos da vrsao clássica
aferrando-se aos seus d ogmas c recusando -se a ver o cres- do século XJX, produzida pela teoria da relatividade e da
cimento na p rofundidade; aLI ele ap rende a moderna ciên cia mecânica quântica. Assim sendo, te mos agora lima opor-
teór ica e modi fica. con seqüentemen te, sua filosofia c. cven- tunidade excepcional para todos os espíritos de orientação
tua lmcntc . ajuda o cient ista n livrar -se dos alca ides Iilo s ó- Iilosô ficn c profun dame nte inte ressados na fisicn a par tir
fica s sub sisten tes de u m período anterior ao nascimento da de J9 00 para faze r uma co ntribuição ao ava nço do co -
modern a ciência teó rica. nhecime nto cie ntífico. Um reajustam en to filosófi co de ati-
Se a matur ação d a ciên cia for adotad a como o deside- t ude, o u talvez m uitas tentati vas neste sentido podem tor-
m tul1l definitivo da pesqui sa, as b aix as filosóficas não d e- na r-se necessá rias co mo passo prelimina r ao pr óximo avan-
veriam imp ortar, especi alm en te porq ue as carg as de pr o- ço a utê ntico na teoria básica.
fundidad e em pregadas pe los filósofos eram manufatura - 2. Se e u o entend i correta rnente, Bun ge co nsidera qu e
das par a com bater u m inimigo q ue não mais existe - a o maior ava nço no esco po da teori a fundamenta l envolve
escolástica m edie val. Se fo r esco lh ido o ca min ho não-dog- necessariamente um alto grau de abstração nos conceitos
mático e se for adora da u ma atitude antes const ru tiva do bási cos, princípios ou métodos matemáticos. E instei n de-
que destru tiva. será p reciso cons tru ir novas filo sof ias em fen deu este ponto de vista e viu-se amparado, certamente,
lugar da nova escolástica, devo tada ao cu lto dos dados (d a- pe la histó ria da fís ica a partir de, diga mos, 1800. M as pode
taisrno ) c ao cu lto da simplicidade (dadaísmo). E ste falo nem semp re ser assim. De fa to. eu sugeriria que agora n ão
apresent a um segu ndo de safio ao filósofo : a construção de é mais necessá rio u ma a bstração ulteri or, i. é. fundamen-
teorias filosóficas maduras pa ra e nfre nta r a matu ração d a tos aind a mais ab st ra tos do qu e os da teoria da relat ivi-
ciência. T ais teorias dever iam nã o some nte m anter o p asso dad e geral e da mecânica qu ânti ca, mas a reinte rpr et açã o
co m o pr ocesso de mat ur ação da ciê ncia m as tam bém de- d as relações tempor ais e espaciais im ediatam ente dad as dos
veri am estimu lá-lo : desta man eira, a filosofia a uxilia ria o mod elos tri dim en sion ais qu e vari am no curso do tempo.
ente ndimen to do cresci men to científico, bem co mo d ari a Isto im plica rem ont ar os recent es pa ssos de abstração,
conta da explosão da in for mação. Em ambos os ca m pos , volta r a simples idéias qu ase clássicas de espa ço e
ciê nci a e filosofia, a d ivisa ainda é: R um o aos [undamen- tem po, e reint erpret á-Ias em termos de algum novo
toSl . mod elo de relações espaciais cambian tes. Isto, como eu o
vejo, é bem possível, embora, neste estág io, sem dúvida , se-
ja a penas uma conjetura. Mas se é possível e m princípio,
Discussão é fácil ver quão arrisca do é cons trui r uma filosofia da ciên-
cia com base na expe riência de um pe ríodo histó rico p ar -
L. L. WH YTE: Ciência c [ilosolia da ciência ticul ar. A filosofi a d a ciência, p a ra qu e faça jus ao seu
pr etensioso nome, deve se r tão ca utelosa, sutil e imagina-
I . A s observaçõe s do P rofessor Bun ge sobre o F iló- tiva co mo a pr ópria ciê ncia.
sofo e a Maturação d a C iência toc a um ponto dos m ais
int eressant es e oportunos. Alg uns físicos teóricos co nsi-
der am qu e a solução de ce rtos p robl em as pend ent es pode K. R. POPPER: Profundidade não-aparente, profundi-
le var a uma nova co ncepção de m undo real, i. é a um a dade e pseudoproiundidade
idéia tr an sformad a de ex istênci a. Acredi to que isto seja
co rreto e, o que é preciso agora, é uma nova visão uni- Eu sou, sem dú vid a, a favor da profund idade e da
matutação na ciência e, na me dida em que com preendi
(I) P a.ra um a d i5Cussão mais de tal had a da caixa negr a versus cbor- o que Bunge disse a respeito disso, esto u basicam ente de
da~em rep resentactonet, veja do pr óp rio autor A gen era l bteck bcx The otY.
Ph,' osoph y 01 S cíence, 30 (19 6) , p. 343 e " P be nom eno logicat Tb ecrtes" aco rdo com ele. Mas ape nas em um po nto não concordo
no The C riticaI Approtlc1t ' 0 Sci cnce and Ph f1osophy, ed . M. Bunge in teira mente. Bunge, co mo eu próp rio, está preocupado com
ln Hono r of K . R. Po pp er , The Free P rese, New Yotk , M ecmtu a n,
Londres, 1964. P ara uma d iscu ssão dos co nceitos de nlve l e simplicld:Hle, a exp losão de p ublicações, N o cas o, a p ro fundid ade pare ce
veja T he M }·th 01 Slmplici ,y , Pr entl ce-Hall, Enslewood Clif h , N . J " 196) . esta r sacr ificada ao volume: um a insistência na profundi-
Par a uma dtscussão da sem ântica das teori as {[slcn. s, veja !oIeftl scf('ll tl lic
Q uer/e.f. Charles C. 'thomas. Sp rlngfie1d III., 1959, e Ph yslcs nnd renu- dade eliminaria a maior parte das publicaçõ es, de modo que
Iy. D ltlTutlctl, 19 ( 1965), p. 195. Par a diversos exem plo s de axtomâuces tal insistênci a pod eria ser usada co mo uma espéc ie de anti -
da It stca, vete Foundattons 01 PII)'.dC.f, New York. Sprlnger-VerlõtS. 1961.
Oe conceitos de alcance de teo ria , poder de pr e vl ~ão e ou tros retauvos conce ptivo con tra publie açõcs não-desejadas. M as se insis-
s!lia examinados em po rmenor no Sd enti/ic Reseor ch, Ncw Yo rk , Springcr tíssemos na profu nd id ade com o lim a espécie de crité rio de
Verlag. 1961, v. I. Caos. 9 e lO.

108 109
controle. matarfamc s o crescimento da ciência. Pois teorias fato melh or que qualquer ou tra teoria . Mas dep ende muito
pro fundas têm algu mas vezes um estág io cmbriônico na do que en tendemos por "mad uro". Uma definição pura-
q ual sua profundidade est á longe de ser apa rente. A emer- mente lógica de maturidade a qual ele pretende chegar,
gênci a de uma teoria como profunda é um resultado de se é que o entendi corretamente, parece-me inte iramente
mu ito partcjnmento socrático, ou seja, discussão críti ca imp ossível c mesm o insensata .
entr e cie ntistas. Insistir sobre a pr ofundidade desde o lní- Maturi dad e é um termo que procede originariamente
cio seria fat al ao desenvol viment o da ciência. do d iscurso da psicol ogia. Há um ponto importante a levan-
Bunge cr itica o positi vism o p orqu e, ao excluir a metafí- tar aqui. ~ que a an álise pu ramente lógica de uma teoria
sica, exclui as teo rias mais profunda s da ciê ncia em fa vor te m int eresse mas valor limitado para a sua compreen são .
de teo rias fenomenológicas menos profun das . O interes - T em os semp re de introdu zir os mais variados raciocínios
sa nte é qu e o p rópri o positivismo se ba seia numa ob soleta psicológicos e históricos se é que desejamos julgar correta-
tcnt ntivn, feita por Mach, para introduzir p rofundidade cfc- mente as nossas teorias. O Princípio de Corres.pondência
Uva na teo ria da matéria. Os positivistas , po r exemplo, na física demonstra que a nova e a velha teoria são [or-
Philipp Frank, disseram muitas vezes que a metafísica nad a çadas a rel acionar-se entre si a tra vés do acordo assintó-
maio; é do q ue ciência obsol e ta . Ma ch viveu numa época tico de uma fórmula básica. O Princí pio de Correspondên-
e m qu e a teor ia da matéria esta va en volvida naquilo qu e cia regu la o desen volvimento histórico da ciência ( ex post
o Professor Yo urgrau pôde chamar paradoxos. Havia. de facto naluralmente) de du as maneiras. Das inúmeras teo-
fato, sérias d ificuldades na teoria da matéria, de vido ao ria s que podem ser (e muitas vezes foram) imaginadas, o
choque entre a teoria do contínuo e a teoria atômica . Ma ch princípio sclcc iona aquela que se relaciona às teorias mais
fez uma proposta das mais interessantes para introduzir velhas e firmadas na devida maneira. Além do mais, a
no va profundidade na teoria física da matéria d ispen sando nova teoria corrige a velha restringindo seu âmbito de
a matéria . Era uma p rop osta séria e ext remam ente audaz. aplicabilidade. A mecânica quântica e a reJativística ficam
Assim com o aprendem os a d ispen sar a substa ncia calor assim relacio nad as à mecânica newtoniana, como todo mun-
na teoria do calor, do me smo modo, dizia M ach , devería- do sabe. O Princípio de Correspondência governa o desen-
mos dispensar a matéria na teoria da matéria. E esta in- vol vimenlo da ciência e demonstra o método autocorretor
tcrcssantissima proposta foi então, qua se uma geração de- e a abertura que caracterizam o raciocínio científico.
pois. incorporada numa teoria filosófica, o positi vism o. De A ciên cia é uma atividade humana e, como tudo que
mod o que. o positivismo nã o passa, na realidade, de \1m3 o ser humano faz, deve ser expli cada cientificamente por
ob soleta teoria física. meio de um a teori a ade quada.
Em conclusão , eu gosta ria de acre scentar apenas uma A ciência ou o con he cime nto é um fenômeno natural
palavra . O nom e de Mário Bung c chego u aos meus ouv ido s e port ant o sujeito ao processo de evolução com o tudo o que
há alguns an os atrás, quando eu pert encia ao con selho ocorre na vida humana. A ciência é o produto da evo-
editorial do British l oumoí f or lhe Phllosophy of Science lução mental-emocional-social da humanidade que é parte
C recebi um manuscrito seu chamado "Polêmica acer ca da e parcela do processo biogen ético de evolução. Assim. de-
complement arid ade". Quando li este original , tive um SlIS- vemos in vestigar como os con ceitos científicos básicos cvol-
p~ro de alí vio, pois aqu i, afina l, estava algué m que ousa va veram . Se é que desejamos e nte ndê- los. Isto me leva ao
dize r algo realm ente incisivo e d iret o co ntra a irrupção do co nce ito de "p ro fundida de" qu e é, de fato, muito impor-
sujeito na física c con tra ii co mp lementar idade. E m bora isto tant e, 1.:01110 Uunge assin alou.
seja co nside ra do por muita gente uma da s mais profundas Entre tanto, o que pretend emos dizer quando declara-
idéias da física moderna, Bunge c cu tal vez possamos con- mos que a teoria at ômica, por exemplo, é mais profunda
cordar que se trata de um par adigma de pscud oprofundi- que a me câni ca? A analogia ingênua que salta à mente,
dad e. i. é, que cavamos bem abaixo da superfície, e depois
encontramos átomos, não é suficie nte; pela me sm a razão,
E. H . HUITEN: Maturidade. pro iundida âe e obietivl- poderíamos dizer que as concepções da teori a geral da rela-
dode em ci ência tividade e da cosmol ogia são ma is profundas, em bora nos
lan cemos nesse ca so bem acima da superfície, no céu . So-
D e algum modo, é ób vio que a gente tcm de con - mente a psicologia pode n05 ajudar aqui a entender o
corda r com o Professor Bunge: lima teoria madura é de sentido que damos à palavra " profundo". Cumpre lern-

1/0 III
bra r q ue todo o conhecimento começa com experiê nc ias
corpó reas, sim ples - i . é, am plamen te demo nstra do pelo
r. R esposta a Wltyte
desenvolvimento q uer do indivíduo, quer da humanidade
como um todo. A ciê ncia co meça com as especul ações Eu não poderia deixar de concordar com as sugestões
do D r. Whyte, de q ue a física te órica básica se enco nt ra
j ônicas sobre as substâncias simples. Gradualmente, o co
- ntua lmente em um beco sem saída e que o próximo avanço
nhecimento expande-se e cobre lim a ra ia mais ampla do
fen ômeno; e, correspondentemente , os nossos conceitos têm
genuíno neste campo há de requerer profunda mudança na
a titu de filosófi ca. Penso também que é dever do fil 6sofo
de tornar-se mais "a bstrato s", ou seja, afastados das con-
lemb rar ao cientis ta q ue a maioria de suas realizaç õe s está
cepções simples e comuns que se podem usar na vida co-
destina da a ser provisó ria e qu e é privil égio do fil ósofo
tidiana. A mecânica quântica e a teoria da relatividade são
especul ar sob re possíve is so luções de problem as que ainda
mais "abstra tas" neste sentido . A abst ração é o critério para
a pro fundidade de uma teo ria; c conquanto aco mpnn hadas não fo ram resolvidos de maneira satisfatória ou que não
pelo crescente poder lógico dos conceito s utilizados em foram sequer percebidos pelos cientistas - na medida em
uma teoria mais "abstra ta", as explicações psicológicas com- que o especulador procede com conheci mento e imaginação
parecem necessariamente. Eu desejaria, entretanto, expres- e que está disposto a atentar à critica científica.
sar aqui meu acordo com Bunge, quanto ao fato de que as De outro lado, estamos aparentemente em desacordo
teorias mais profund as se caracterizam pela ocorrência de com respeito ao modo de remediar as nossas atuais inquie-
co nceitos ou variáveis que não são d iretame n te observáveis. rações. N ão creio que um ú nico re médio h á de cu rá -Ias por-
Isto não siguific n que a o bjctivid ndc nn ciência consiste que são muitas e variadas - e precisamente por esta ra-
em banir o ser humano de sua participação no processo zão sou favorável à livre e arrojada especulação no mo-
de mensuração. Tal coisa me parece ser um padrão com- mento . Em especial, não acredito que a salvação provirá do
pleta men te fa lso de objet ividade q ue surgiu apenas através retorno a relaçõe s temporais e espacia is imediatamente da-
das idealizações acolhidas na física clássica . Dificilme nte das e da tentativa de interpre tá-las em formas sernicl âssicas
posso ac redi tar q ue B unge queira tal espécie de obje tiv ida- como o Dr. Whyte sugere . Os pri ncipais motivos para a
de, embora pareça argumentar a favor dela, se eu não o minha descrença são Os seguintes :
int erpreto m al. O obse rvador n ão desemp enha papel essen- Primei ro, toda brecha na física envolve alguma mu-
cial na mecâ nica quântic a - uma teoria m ais avançada dança em nossas idéias de espaço e tempo, e cada uma
e mais "abs trata' que a mecânica newton iana - ainda que dessas mudanças distanciou mais, segundo parece, o homem
isto não torne a mecânica quântic a "subjel ivista", Pelo con- de suas intuições originais. Além disso, todas as tentativas
trá rio, ela é mais "objetiv a" que a mecânica n ewt on ia na, de base ar nossas re fin ad as idéias de rel ações es paço-te m po-
porque inclu i todas as variáve is necessárias a uma descri- ra is no " dado" - e. g., o mét od o de abs tração de Whi-
ção com pleta. ~ ver dade que os detalhe s biog ráficos do tchead - Ia Iharam precisamente porque se aferram às apa-
observador são irrelevantes : o que importa é o experimen- rências e rejeitam o caminho tradicio nal da ciência, que im-
tador co mo criador da informação. Isto introduz o Prin- plica sa ltos atrev idos além da intuição . Segund o, há alguns
cípio da Incerteza que, na realidade, fornece uma base indícios de que, em nosso quadro atuaI da natureza, o que
mais realista e, portanto, mais objetiva para a nossa in- m ais carecemos é da visão clássica do espaço-tempo como
formação. um co ntínuo descritível por variáve is não ao acaso tais co-
Permitam-me terminar observando o quanto co ncor- mo 3 S coo rdenadas que oco rrem na mecânica ondulatória
do com Bunge quando ele co ndena a nova esco lástica - e na relatividade. De um ponto de vista relacional (não-a b-
o cu lto dos dados e da simplic idade . E u incl uir ia o exa ge- soluto) , o espaç o-tempo não existe por si mesmo , mas é
rado alcance a tri bu ído p elos fi lósofos à análise lógica d a uma rede de re lações en tre even tos ( mudanç as de e stado e
ciência , ou logicismo, na condenação. Tal escolás tica é a de entes físicos) . E, se não houver seqüências contínuas de
princip al razão por que as ciências da vida - psicolo gia eventos por toda a parte, o espaço-te mpo não será contínuo.
- são tão m al julgada s e subesti madas, m esm o po r al- D e q u alqu er modo, a conti n uidade es paço-te m po ral pressu -
guns de seus praticantes. post a até agora, tem de se r abando na da. As co njeturas ou -
sadas sobre a natureza do espaço- tempo devem ser sau-
MA RIO DUNG E : Resposta dadas, enquanto admitirem como caso-limite a concepção
ora dominante.

112
113
11 . Resposta a Popper plemen taridade, como a dial ética, é urna desculpa pa ra a
falta de cla rez a. A tal ponto que, qu and o pergu ntado o
q ue é comp lemen tar à verdade, dizem que Bohr teria, re~­
Concordo com Pop per em q ue ~ p rofun didade não dev e
pondido : nA clareza". (De onde se segue que a propna
Ser usad a p ara refrea r o c resci men to da ciência. Ap enas
co m plementaridade é ou verdade m as não clara ou clara
pretendo q ue a pro fund ida de é descjáve l c cump re pois e n-
corajá-I", Nã o pretendo tampouco que o desenvolvime nto m as fal sa e, em am bos os casos, inútil.) Não hã cha ve-
alua i do conhecimento venha semp re acompan hado de um mestra para tod os os problem as: h á a penas chav es heurí~­
aumento em pro fun didad e. Na verda de, apôs uma teoria ticas e princíp ios unificadores - mas a complementari-
da de não é nem um a coisa nem o utra. De fa to, não te m
profunda mas falsa Otl este ril surge a necessidade m uitas ~e­
valor h curistico : não suge riu nad a de novo , exceto t ática s
7..cS de o utra superficia l, po rém ver dade ira - co mo fica
exem plificado pela voga pr esente das relações de disper- par a disfarçar incoerências e cala r a crítica. E não é um
são e das consideraçõe s gru po-teóricas no domíni o das altas princípio unificad or poi s apenas entroniza e generaliza a
energ ias. (Espero que alguma teoria mai s pro fun da - assim cha ma da du alid ade p artícul a-campo, que, como se
prcsumível mcn tc uma teoria de campo - seja even tua l- pode mostra r, é um a asso mbração da física clá ssica .
men te pr oduzida, mas entrementes os físicos precisam va-
le r-se de uma abord age m feno menológica, não po rq ue seja
melhor , mas porque onda há de melhor no mornento .) Pre- ln . R éplica a Hutt en
tendo ap enas (n ) que a ma tu ração d a ciê ncia envolva tant o
a umento cm p rof un di dade q ua nto a ume nto cm co nstri ção Co ncordo com o Dr. Hutten em que um pleno ent endi-
lógica , e (h) q ue a p ro fundi dad e é um desíderatum en- men to da ciência é uma qu estão não apenas de lógica mas
q uan to for coerente co m a co mprobabilidade, também de hist6ri a, socio logia e psicologia - n a m edid a
Concordo em que a tentativa de Mach de p ôr de lado o em q ue esta últ ima não está mist urad a co m a pseudociência
con ceito de mat éria foi arrojada, mas não cr eio que te nh a da psican álise. T odavia, parece inegável que as ciê ncias da
sido pro fun da . O inten to de explicar a realid ade em term os ciênc ia são desn ecessári as para apreender uma peça de
de sensações é tão velho q uant o o animismo e é superfi- co nhecime nto científico . Felizmente, o aprendizado indi -
cial porque deixa a sensação, um processo altamente co m- vidua l não é u ma sinopse da h ist ória do conheci mento.
plexo , co mo um bloco de con str ução do uni verso não-una- Assim com o fit o de apr ende r bio log ia molecul ar , não pre-
lisado. Se M ach tivesse pr oposto que se explica sse a ma- cisamos co meçar por Tales. U ma vez qu e a maioria das
téria po r cam pos ou po r algu ma ou tr a entidade fís ica, te- tentati vas que conduzira m ao co nhecimento at ual foram
ria sido u m re volu cio ná rio . Ma s M ach m al men cion ou fí- fracassos, seria preciso um a p esq uisa psico -hist órica muito
sica de campo e - como O p rópr io Popper mo strou - extensa a fim de ent end er a psicogênese e a soc iogê nese de
suas co nce pções e ra m cm gr a nde parte um retrocesso a Ber - qualquer acontecimento mai or na ciência. Além....disso, a
keley. Co ntudo . isto é a pe nas um detalhe : con co rdo com a psicologia da ciê nc ia pr ati camente inexiste como ciencr a e a
tese ce ntra l de Popper de q ue o positi vism o é uma ciência históri a da ciê ncia fo i com dem asiad a freqü ência dcstorcida
obso leta - algo tom ado obsoleto pela "descoberta" (con- pelo p reco nceito filosófi co - co mo ilustra a ex plicação da
[etums corroboradas) de e ntid ades não-observáveis tais co- rela tividade c dos qu ant a co mo filh os do positivismo. A
mo cam pos e átom os. E penso que Popp er conco rdaria cm história e a psico logia da ciê ncia são válid as po r si mesmas
que é lim a taref a ur gent e descobrir co mo foi possível para
e como meios para ava lia r realizações, defi ciênci as e ten-
lim a ciê ncia antipositivlsta ser permeada por uma filosofia
dênci as atuais, mas não sub stitu em o ent endimento de um
positivista.
co rpo de co nheci me nto cie ntífico.
Po r fim , subscrevo plenam ent e as observa ções de Pop- Não concordo co m a pretensão de Hutten de qu e " ma-
per acerca d a pse ud opro fun did ade do "princípio" de co m- tur idade" "p rofund idade" seja m term os to mados da psico -
plementa rid ade - não co nfundir com as relações de dis- logia e que co nsti tua contra-sen so extrapolá -las ~esta: . no
pe rsão de H eisen berg, tidas como u ma exata ilust ração do fim de con ta s, hou ve frut os maduros a ntes da psicologia e
"pri ncípi o" . E: espa ntoso q ue cie ntistas pudessem ter assu- águ as pr ofundas antes dos lamaçais de Freud. Não há nada
mid o a atitud e do s mai s co n fusos filósofos, enc arando co- de psicológico na alegação de qu e a teori a sinté tica da evo-
mo p ro fund ida de o qu e é me ram ent e obsc u ro. P ois a co m- lução é mais pr ofunda qu e a de D a rwin e que um a expli-

11 4 115
caçã o dinâm ica (ou melh or , ca mpo-t eó rico ) das vicissitudes vida no fa to de serem os arra njos experim ent ais con stituí-
das "p artícul as elemen tares" seri a mais profu nda do que a d os por sistemas qu e satis fazem a mecânica quânti ca. O
at ua l exp licação pu ramen te est ru tural, taxo nôm ica e ci- pap el do obse rvado r é observa r - planejar e interpretar
nemática. Es tes exemplos caem por certo sob a carac teri- obse rvações - e não torn ar-se o sujeito da teoria física.
zação de profu ndidade teórica pro posta em meu ar tigo. Na da d isso p rete nde desp reza r a defesa de H utt en com
Reclam o o d ireito d e prop or elucidações dos sentidos me- respeito n psicologia da ciên cia . Ma s a física pr ecisa m an -
tacient ííicos, não os psico lógicos dos termo! " p ro fundida- ter-se estrita men te física, enquant o a psicologia, tr atando
de" e "maturidade", co mo tr ata de sistemas alta me nte complexos, que são ba-
No tocante à part icipação do observador na mecân ica .camcnte físicos, não pode se dar ao luxo de ignorar a
quân tica, disco rdo do ponto de vista de H uUen que é essen- d sica. Além do mais, existe a espe ranç a de que a química
cial mente a concepção tra diciona l con heci da co mo a d outr i- quân tica aju dará even t ualmen te a exp lica r e at é a ler al-
na de Co pen hague. Algumas das razões para discor da r de gumas f unções cerebrais, enquan to a psico logia é incapaz de
sua interpre tação e pensamento de que é nec essár ia uma explicar o comportamento dos átomos pela simples razão
inter pretação alternativa do mesmo for malismo m atemático, de que os cé rebros são constituídos de átomos e não o
são as seguin tes: invers o. O fisica lismo é, por cer to, exagerado, mas não
P rimeiro, uma teoria física relacicna-se por defin ição tan to q uanto o psicologismo; e de qua lquer ma neira, o fi-
com sistemas c even tos físicos e não com pessoa s. Por- sicalismo tem sido fecundo, ao passo que o psico logismo
tanto, qualq uer apresentação da mecânica quântica qu e con - nos leva de volta ao antr opomorfismo . Invertendo a reco-
tenh a pre dicados não-Iísicos, tais como "observador", "ob- me ndação de Hut ten, cu diria que a física já teve psique su-
serváve l", " tornar con heci men to da posição do medidor" ficiente, enquanto a psicologia nunca teve suficie nte p1Jysir.
e coisas seme lhantes, não é física. Na verda de, estes term os
ca bem na física experimen tal, mas sucede q ue a mecâ nica
quântica é um ramo da física teó rica e o objetivo da fí-
sica teóri ca é construir modelos de realid ade, indep en-
dentes-do-observador, livres-do-sujeito.
Segun do, a interpret ação das teorias qu ânti cas em ter -
mos psicol ógicos é ad hoc como most ra qualqu er aná lise d e
seus con ceitos básicos. Assim , supõe-se qu e a maiori a dos
"observáveis" seja m pro prieda des impe rce ptíveis de entes
físicos e que os opera do res a representá -los sejam auto -
morfi smos de um a fu nção espaci al infinitament e dim ensio-
nal. Tanto os operad ores qu ant o a função -estado são "de -
finidos" sobre o con junto de sistemas físicos ( ou melh or ,
sob re o co njunto de pares microssisterna -ambi cnt e ) , não so-
bre O co nju nto dos sujeitos cog nitivos. E m par te alguma das
fórmul as da mecânica qu ânt ica oco rrem coorde nadas do ob-
servado r e nenhu m postulado da teori a cara cteri za o ob-
servndor qu e é ape nas um transgressor filosófic o da obje-
tividade da ciência.
T erceiro, não se deve usar a teoria q uânt ica da men-
suração ao expor as hipóteses básicas das teorias do quan-
tum ( a ) porque até agora não existe nenhuma teoria quân-
tica da med ida capaz de p rodu zir p revisões de fin idas a
respeito do processo rea l de me nsuração: a teoria o ra exis-
tente é por dem ais esqu em át ica e dem asiad o genér ica para
tant o; (b) porque uma razoável teoria qu ânti ca da medid a (2) P ara uma for mulaçlo estr ttameate ü slea (e m p art tcut er, n ão-
deveria ser lima aplicação de mecânica quântica básica e psicológica) das teorias Hsicas bãstc es, inclusive a mecânl ca quân tica,
ver M. DUNGE, Founâo ttons 01 Physics. Springer·Ve rlaa. New Yor k,
não o inve rso - se não por ou tro mot ivo , pelo m enos de- 1961.

lJ 6 lJ7

7. SIMPLICIDADE NO TRABALHO TEóRICO

Introdução

Um dos mais dif íceis e interessantes problemas da


decisão racional é a escolh a entre posslveis caminhos di-
vergentes na construção da teoria e entre teorias cientí-
fic as rivais - i. é) sistemas de hipóteses acuradamente com-
prováveis. Esta tarefa implic a muitas crenç as - algumas
justificadas e outras não - e assinala encruzilhad as deci-
sivas. Basta lembrar o conflito corrente entre a teoria geral
da relatividade e as teorias alternativas da gravitação ( e.g.,
a de Whitehend) que explica a mesma evidência empíri ca.

119
a rivalidade entre difere ntes interpretações da m ecânica
quântica (e.g., a de Bohr-H eise nbe rg , a de D e Broglic -Bohm , vez, simples ou não seja gen uína na ontolog ia e na ci -
a de Lnndé ) e a var iedade de teorias cos mológic as ( e.g.• ê ncia - com o pode ser certificado por qualquer pes-
modelo cíclico de To lrna n e a teoria do estado estaciona rio
q nisador em microfí sica - int er essa -nos aqui a simplicidade
). das teorias acerca de partes da re alidade , de modo que pode-
Todas elas ex plicam os mesmos fatos observados. embora
possam predizer d ife rent es espécie s de fatos por ora des - mos não cons iderar o problem a ontológ ico da complex idade
conhec idos : são conseq üe n temente , até o presente, teo rias da realidade. Estado s de coisa co mplexos podem se r explica-
equivatentes do palito de vista empíric o, embora sejam dif e- dos po r teor ias com uma base co mparativamen te simples
(r.g., mecâni ca clássica ) e por ou tro lado haverá sempre
rentes do po nto de vista con ceit ua! e possam até envolver
lugar para peda ntes capazes de exprim ir situaçõe s simples
concep ções filosóficas dife rentes - i. é, são não-cquivalen-
(ou, antes, situaçõ es que exigem descrições simples ) de uma
tes do palito de vista cOllceitua l.
forma desnece ssariame nte co mplexa: co mo indica a p iada
Co m efe ito, as teorias empiric amen te equivalentes po- vie nense: fl ~Var ll m denn einíach, wem, es auch. k omplit iert
dem dife rir em muitos aspectos , na espécie de entes e pro- gelzt?"·
priedad es que postu lam; na organiz ação lógica , e em seu
poder de previsão e de ex planaçã o; e m sua co m prob a- Ora. um sistema de signos ta! com o uma teoria pode
ser co mplexo (ou simples ) de várias maneiras' : sintática,
bilidade emp írica, e e m sua co nfo rm idade com a massa do
semânt ica, epistemol ógica ou pra gmaticam ente . Qu and o fa-
conhecim ento cie ntífico e co m certos princí pios filosó -
lamos da simplicidade dos sistemas de signos devemo s, por-
ficos. Estas e ou tras carac terísticas são tra tadas co m ce r-
tos c ritérios rnetacie ntíí icos que serão pesquis ados no que tanto. especificar a espécie de simpli cidade que temos em
segue. me ntc . N ão bastará - salvo como indicaç ão grosseira -
dizer que estamos falando de simplicidade global por quan-
O co njunto de critérios mctacientíficos que lida co m
to, de vido à extrema hete rogeneid ade de seus vários co m-
os vários traços das teorias cientificas acei táveis é o que
po nentes, pode resu ltar muito bem que 05 graus de c om-
guia a escolha entre rumos concorre ntes' na c onstruç ão da
plexidade nos vários aspec tos não sejam aditivos; pensem
teo ria e en tre os produto s de sua atividad e.
apenas na co mplexidade sintática de uma proposi ção que
Ora, a simplici dade é amiúde arrolada entre as exigê n-
depende, e ntre outras co isas, do número de lugares dos pre-
cias que as teo rias ci entíficas devem , supõe-se , sat isf'a-
dicados que nela oco rrem e de sua comple xidade ep iste-
zer e é corres pondentemente ofe reci da co mo um e às vezes
mológica ou grau de abstraç ão (no senti do epistemológico )
co mo o c ritério para adora r uma dec isão raciona l de escolha
que é uma noção tão confusa . Mesmo que houvesse à
entre teorias emp iricame nte equivalentes .
disposiç ão medida s de simplicidade co rre ta, o problema da
T odavia, a simplic idade não é de espécie singular mas,
met ricizaçã o de sua simplicidade global teria de ser re-
ao con trário, é um compos to complexo; ade ma is, a simpli-
solvido. D istinguim os c uidadosamente os vários modos no
cidade não é uma caracte rística isolada de ou tras prop rie-
qual um sistema de signos significa tivos ( ta! com o uma teo-
dades de sistemas cientí ficos e amiúde com pete com desi-
ria cie ntífica) pod e ser co nsiderado simples .
deratos ulteriores, tais co mo a precisão. Portant o, a fim de
avaliar o peso da simplic ida de na co nstru ção e acol hida A simplicidade sintâtica (econom ia de form as ) depen-
da teoria científi ca , incumb e-nos discutir as es pécies de sim- de : 1) do núm ero e da estrutu ra i e.g., do grau) dos con-
plicidade e sua relevância para as princip ais caracte rísticas ceitos primitivos especí ficos (p redicados básicos extr alógi-
da teoria cie ntífica (sec. 1 ) , bem co mo, sua importância cos); 2 ) do número e estru tu ra dos postula dos indepen den-
para a verdade da teoria cic ntífic a (sec . 2) e a ace itação tes e 3) das regras de transforma ção dos juízos. A sim-
das teorias cie ntíficas na prática real (s ec . 3) . plicidade sintática é desejável porq ue é um fator de coesão
c, em ce rto se ntido (ma s não em outro), de compro babi-
Iidade - como será resumid amente verific ado. A simpli-
cidade semântica (econo mia de pressup osições) depend e
1. Espéci es de Simpli cidade e slta R elev ância para a do n úmero de especif icadores de significado dos predi cado s
Sistemo ticidade, Precisão e Co m probabilidade básicos . A simplicidade semân tica é avaliad a dent ro de li-
mit es po rqu e fac ilita tanto a interpretação de signos qu an-
1. 1. Tipos de simplicidade
P) Por que hã de ser simples quando també m serve o complica do?
Embo ra a questão de sabe r se a realidade é, por sua (I) Cf. MARt O BUNGE, The Camplexity ot Stmpl
ícit y . rour. Phil.
LlX, 113 (1962).
'
120
121
lo nov os inícios. A sim plicidade epistemológica (eco no m ia um a d r il~t ica redução do número de con ceitos primitivos e
de ter m os tra nscendent es ) dep ende da proximidade co m p rincí pios ) pode acarretar ta nt o dificu ldade de interpre-
respe ito aos dados d os sen tidos. A simplicidade epistern o- t ação q ua nto longas ded uções . Uma supe rs implifica çâo se-
l ógica nã o é desejá vel e m e po r si me sma, porque co o- m ân tica pod e implica r o corte da teoria dad a com o cor po
flila co m a s im plicidade l óg ic n e co m a prof un dida de. Por re man escente de con heci me nto, i. é, uma perda de sis-
fim. a símpíicí drui e pmgmâs íra (e conomia de trabalho) po- tcmatic ida de na soma tot al da ciên cia . Uma simplificação
de ser analisa da cm: I ) simp licida de psicológica (i nteli - epistemológica, tal como a eliminação de term os tra nscen-
gibilidade), 2) simplicida de not aci on al (e conomia e po - den tes (tra nsemp iricos ) não co nstitui apenas um a garantia
der sugesti vo dos símbolos), 3) simplicidade algorítmica de su perficia lida de m as também de uma complicação inf i-
( facilidade d e computa ção) , 4) simplicidade experimen tal nit a das ba ses postu lad asê. Finalmente, uma supe rsimp1ifi-
( Iac tibilida de de proj eto c interp retação de testes empíri- caç ão p ragm ática pode en volver uma perda de íntrovisão.
cos), e 5 ) sim plicid ade técni ca (facilidade de aplica ção n Co nseqüe nteme nte, se ria insensato recomendar simplicida-
problem as práticos). A sim plicidad e pragmática é, por cer- de global mesmo se tivéssemos um co nce ito acurado de
to, estimada por razões prá ticas. simplicida de global.
Ne nhu ma medida depe nde nte de qu alqu er das qu a tro A ve rdade, por difícil que seja sua elucidação filosó-
espé cies acima me ncionadas, da simp licidade de siste m a de fica , é o alvo da pe squi sa cien tifica; em conseqüência ,
signos , é conhecid a presentemente. Me sm o os estalões da quaisqu er out ros desideratos - incluindo algumas sirnpli-
simplicida de sint ática de bases prcdica tivas até agora propos- cidades - de vem ser subordinados à ver dade. Ora, a ver-
tos" n50 fazem justiça aos predicados métri cos , tais como dad e nã o está rel acionada obviamen te à simplicidade. mas
"id ade" e "di stância ", qu e e m certo se ntido são "Infin ita - à co m plexida de. A co mplexidade slnt âtica, semâ ntica, epis-
men te' mais complexo s q ue con ceit os classifica t ôrios (pre- temológica e pragmática de teorias científicas c resce usual-
dicad os prese nça -ausê nci a ) tais como "líquido" . E a propos- mente co m se u escop o, precisã o e profundidade, até al-
ln de men surar a co mplexida de estrutu ral das equações pelo ca nça r um ponto onde algu ma espéci e de co mp lexidade tor -
número de parâmet ros aju stáveis qu e co ntenha m" é insu- n a-se incontrolável e ob struidora ao pr ogre sso ulterior e se
ficiente, uma vez que outr as propried ad es formais sã o igu al- bu sca a simp lificação em alguns aspe ctos e dentro de li-
mente re levantes c p orque envolve u ma confusão de com- mit es.
plexida de form al co m d ificuldade de testar com gen er ali - Mas somente serão admitidas na ciên cia aquelas simpli-
dad e e co m deri vati vid ad e (enquanto opos ta à Iundarnen- Iicaç ões qu e tornam a teoria mais ma nejável, mais coeren-
lalid ade)'. De qualquer m aneira, nenh um a desla s propos- te, ou m elhor, comprovável; nen hum a simp lificação será
tns lida com sistemas de proposiç ões e ne nh um a explica aceitável se esta corta r severamente qua lque r destas carne-
os vá rias espécies de simplicidade, sendo, portan to, inade- te rísticas ou a profundidade, o poder explanatório ou o
quadas para enf renta r o n osso problem a. poder predicativo da teoria. A comp lexidade da tarefa de
A lém d isso, as várias espécies de simplicidade não são simp lificações p reservadoras da verdade - que é po ssível
todas com patíveis entre si e com certos desideratos da ci ên- apenas c m estágios ava nça dos de con strução teórica 6 -
d a . Assim, uma supersimplificaç ão sintáti ca d a base ( e.g., pode ser avaliada se se lembra r que o que se requer é a
econ omia e não a pobreza. Isto é, não desejamos me ra pa r-
(2 ) L INDENDAUM, Adolphe . Sur ln slmpllclt6 formelle du no- cimônia - que alcançamos melhor ab stendo-nos de teo-
Ilon ' . fn : A clt'S du Con,r~s Internatí on aí de PhllOSQph11! Sdentl/lqlll! (Pe-
ris, Itermsnn, 1936 ) , VII, 28 ; G OOD MAN . Nelson . The S'ruc"'re of rizar - porém minimização das razões meios/fins", Não se
A pp t' t11'l!nce (Cambr idge, Mass ., Harvard U nlverslt)' Pr ess, 195 1) , Cap . requer uma sim ples eliminação de complexidades, mas uma
III , e A xiomatlc Mensure of Slmpllclt y, tovr . Phtl., ' 2. 709 (19 .56 ) ;
K.EM ENY. I ohn G. Two Measures of Co mplexlty. l our , Ph".. $2. 722 redução cautelosa de redundâncias, uma simplificação em
( 19.55); KtESOW, Horst . An wendung etnes E:infachh eiu prlnup a uf die
W R1lfsdn:lnlichkel tsth eoJie. ln : Ar chl v I. Math . Lo ,fk u. Gnmdla't'rl-
l o,schun tt. 4, 27 ( 1958) . (S ) C RA IO, Willi am. Replacement of Auxiliar}' E:xpreulons .
(3) WR IN CH , Dorothy .t: IEFFREYS, Harold. On CeJlaln Funda· PI. II. Rt'I·., 6', 38, (19.56) .
men lnl Prin cipi es of Scientific Inq ulry, PhIl. Mar., 41, 369 (192 1) ; JEF- ( 6) Cf. WILHELM OsrWALD. Grrlfldrb s der N atllrphlloso phe ( Lei p-
F IUJYS. Ih rold. T he ory 01 Pro bnb ilit ),. 2. ed . (Oxford , CJarendon Pr ese, zig. Rectam, 1908 ), p . 121: fórmu las si mples par a expr imir leis da
1948). p . 100; POPP ER , Karl R. T he L or ic 01 Scftntil fc Díscovery natureza pode m ser enco ntr adas apenas quando a análise concellua l do
( 19J5; Lon dres, Hutchlnson , 1959 ) , secções 44 n 46, e · A p~ n d ice V1tl ; fenômeno est ã posit iva mente avançada.
KP.MBNY , J nhn G . Th c Use of Sim plicily in Indu ct ion . Phil . Rt'l' ., (7) cr. E RNST C ASSIR ER, Determíntsmus Ilfld ín âetermtnt smus
61, J9 1 ( 1953 ). ln der modemen Phvsí c (G ote borg , Blandera, 1937) , p . 88, est an do n o
( ti ) DUN GE . Mar te . Rcfc r ~ndl\ 1. n.O 3, v. X LII, do GiJlebor,s /l õ, .t ko/as ~rsskrllt (9 36) .

122 123
alguns aspecto s so fisticada , sob a con dição de não dimi-
nuir a verda de. até Cu oco rre em mais de um axioma . Um sistema ligeira-
men te mais organiz ado seria
Pergu ntemo s q ual a con tribuição, se hou ver algum a.
que a simplicidade lógica fo rnece à coerência, à precisã o e C, - C2 • C. - C, . C. - C.. (2)
à comp ro bab ilidade de lima tco ria cientí fica. desde qu e onde signi fi ca em termos com uns e lógicos palavra s
H _O,

estas são três condições necessá rias para que algo seja um a q ue ligam os co nceitos Iógico s. Um sistema aind a melhor
teoria científi ca, mesmo antes de ser encarad a como ap re - or ganiza do seria o conjunt o tipo cadeia
xima dameote verd adeira . C , - C2• C2 -C. , C. - C,. C,-C•• C. -C•. (3)
Um a conectivida de eq uivalen te ser ia proporcionada pelo
1.2 . Relevân cia da simplicidade lógica à sístema ticídade postula do único

As teorias são sistemas de hipóte ses (propos içõe s corr i- C, - C2 - C. - C, - C, - C.;


(4 )
gíveis) q ue contêm co nceitos ext ral égicos qu e vão alé m de
m as, sem d úvida , um a tal unificaç ão no nível propos icional
um uni verso especí fico, i. é. que se refe rem a u m assu nto
nã o é sempre possível : pode não corresp onder a fato rea l.
definido. Sistem as são, de fa to, co nju ntos de unida des inter -
relacion ad as, e a coes ão das teo rias cientí ficas - em con - Nos quatro casos, os axioma s são mutuam ente inde-
pende ntes sob a co ndição de que os próp rios predicados
t raste com a frou xidão de pilha s de conjeturas e d ados q ue
encontr am os am iúde na nã o-ciência e na ciência subd c- básicos sejam mutuam ente independ entes (como comprov a-
do, por exemplo, pelo método de Pad oa j ". M as no primeir o
scnvc lvida - é assegur ada pe la: 1) formulação cxata , 2)
distri buiç ão de conceitos básicos entre as várias p roposições caso tem os um agregad o frouxo de postul ados, não im-
por ta quão precisam en te formu lado s e, no segundo caso,
básicas (axiom as) e 3) pela econ omia de conceitos bási-
tem os um a co nec tivid ade parci al de conceit os primitivos.
cos . Sejam os ma is explícit os :
enq uan to nos últimos dois casos a firm eza da conexão con-
I ) PI/reza l ágica 0 1/ [ormnt açõo ex ata de postulados - ceitu ai é óbvia.
Pr opo sições estabe lecidas fro uxa mente só frouxam ente po- Obser vem que o aume nto da co nectivid ade conc eituai
dem ser at adas em co njunto. N ão são possíve is qu aisqu er não resulta em simplificaçã o da base Ilostula cion al : (3) e
dedu çõe s de finidas a partir de assunç ões básicas re digida s (4) são igualme nte coe rentes ao nível co nceitua i; some nte
vagam ent e; nenhuma distinçã o nítida entre ax iomas e con- há ganho em (4) de eco nom ia postula cional, Em geral , a
seqüências observáveis pod e então ser realizad a. desde qu e simplif icação pos tulaciona l, se preser va a base predicat iva,
nenhum dado empíric o ser á estritam ente relevante a qu al- é suf iciente mas não necessár ia para alca nçar a coesão
q uer de les. Preci são sintâ tica, um pr é-requi sito do signifi- conceit ual que é, por su a vez, necessá ria para termos sis-
cado empír ico e da co mproba bilida de , é co nseg uida auto- tema . Ma s a simplificação postul acional não é um proce-
m aticament e pel a for mulaçã o mat em át ica (sendo esta a ra- dim ento mecâni co: sua factibil idade dep enda da naturez a
zão maior e ra ramente percebid a pela qual se p rocuram do caso, i . é, se há de fato uma ligaçã o direta entre tod as
mod elos m atemáti cos) ; e a exatidão semântica é ape rfei- as prop rieda des denotad as pelos pred icad os en volvidos.
çoad a - embo ra pr ovavelm ente nunca assegur ada de uma 3) Simplicidade da base predica tivo. Quanto menor o
m aneir a co mp leta - pelos juízos explícit os e acurados das núme ro de con ceit os primiti vos da te oria, maior dever' ser
regras de signific ação. Onde re ina a am bigüid ad e e a im - o nú mero de pon tes entre eles e os conceit os derivad os
pr ecisão . um exército de cscoliastas é co nvida do a iniciar (d efini çõcs e teorema s ) : co mo conseqti êncle, maior será a
um m ovimen to escolástico e emerge uma varieda de de teo- conectividade co ncei tua i e pr oposici onal da teoria . ( Esta é
rias em vez de um ún ico sistema . um a razão para ad otar um pri ncípio variacio nal como pos-
2 ) Conectividade conceituai ou participação de concei- tulado ún ico de muitas teoria s físicas : ele realiza m áxima
tos básicos entre postulados. Um exemplo de um conjunt o un ificação conceitual, emb ora sua inte rp retaçã o e status es-
extrem amen te não-sist em ático de postula dos mutuam ente in- teja long e de ser simples .) E m resumo . a eco nomia de ba se
dep endente s seria predic ati va melhor a a sistema ticidade ",
. . . C , . . .•. . . C• . ..• . . . , . . . C• . . . , (1 ) ( 8 ) Cf. PATRIC K SUPPES , lníroânctton to Logíc, (Prln ceton
N ostrand, 19.57) , fi . 169. , V l'l n
no qual nenhum dos predicados primitivos ou básicos C, ( 9) NELSON G OODMA N, Refer ência 2. argUiu m al! persuasiv
amen-
te a fa vor desta tese,

124
125
Observem, tod avia, que a sim plicid ade for mal da base çã o l égicn - co mo no easo da psi can ~1i seJ O - a ex-
é a penas 'III'
do s três meios para alca nçar o d esiderat o da periência pode no m áximo co nfo rmar alg um a da s conje-
sistem aticidade. Em segundo lugar, a simplif icação da base tu ras frou xam ente re lacio na das da p seudoteoria, m as ne-
pre di ca tiva etc teo rias In tua is tem um limit e enraizado na. nhum a evidência jam ais refutará co nclude ntemente O co n-
rede rea l de p ropriedades; assim, e. g ., atua lmcnte, no me- jun to lodo de hi póteses ad hoc vagamente estabeleci das _
nos as seguin tes propriedades das partícu las f unda men ta is sob retudo se ela! se escudarem mutuam ente . E um a teoria
são consideradas co mo mutuamen te irr edu tíveis (embora que permanece, não obs tan te o que a experiência possa di-
ligada s). portanto, corno não-interdefin iveis: localização no zer, não é uma teori a empírica.
espaç o-te mpo, m assa, carga el étrica, spin e paridade. Em A nitidez l6gica e a conectivida de co ncei tua I não são
te rceiro lugar, muit os conceitos básicos não evitam um poi s, luxos, porém, me ios de garantir a com probabilidade
tra ta mento exa lo , uma vez que técn icas matcmâti- que, por seu turno, é um pré-requisito necessário - mas
ca s nos capaci tam n lida r com 11111 número Ião grande de nã o p or certo suficiente - de alca nçar a ver da de aproxi-
variáveis quanto desejarmos; ademais. é am iúde desejá vel ~ ad a . Cumpre notar que a simplicidade da base predica-
aum entar o núm ero de va riá veis até o in fin ito, a fim de tiva é favo rave lme nte importa nte para a co mprobabilidade
atingir um nível m a is profundo de análise (por manipula- n.a medida em que é propícia à sisternaticidade; mas é pre-
ção . • .g ., d as transformadas de F our ier das variáveis ori - C!S? le m brar que esta espécie de simplicida de, embora su-
gina is, como é fei to na s teorias de campo). O que é im- ficien te, não ~ n.ecessária para atingir a sistema ticidade, pois
portante é não minimiza r o número de predicados - co- O mesmo objetivo pode ser alc ançado por m eio da co-
mo o Ienomcnalismo ex ige desde Kirchhoff - m as ",m'- nec tividade conceit ual,
tê-los sob comrole. Ma is uma vez, a sistematicidade é necessária mas não
Em resu mo. simplicidade da ba se predi cativo é snfí-
ri su ficiente para ga rantir a comprohabilidade : são necessâ -
ciente mas não é necess ária para a sisternat ic idade ; ade mais , rio~ também a precisão e a escntmbilidade dos p redicad os
n simplificação da ba se predicativa de teorias Intuais é Ji- báSICO'). Q ua nto mais exato u m juízo, tant o ma is fáci l dis-
rnituda pela riqueza da reali dade e pelas considerações prag- po r dele ; li. vaguidão e li. ambigü idade - o seg redo do êxito
máticas (c.g ., me todológica s). dos led or es da sorte e dos po líticos - constitue m as me-
lho res protcções co ntra n re futação. Pois bem , a precisão
exige complexidade, q uer formal, q uer semâ ntica: basta
1. 3 . R elev/i" Ôa da simplicidade 16Rica para a precis ão ~ co mparar a simp licidade do discurso científico; compare
fi com probabilidade "peq ue no" com "da o rde m de um diâm etro atô rnico" e

A co mprobab ilidade, um segu ndo tr aço no tá vel da


"< > .a" co m "x = a", De ve-se p refe rir não apen as os
m ais Simples, porém , os m ais simples ent re p rop osições c
teoria cie ntífica, de pe nde d a sistcruaticidade . Com efeito, sistemas igualme nte precisos, tant o porque a precisão é um
esta última n50 é apen as questão de eco no mia e ele- des ide rato indepe nden te da ciênci a qu anl o porque favorece
gância: um a teori a, form al ou fat ual, tem de ser um con- a eom pro babilidade.
ju nto de p roposições estrei ta men te amarra das se é que dese- A escru tabilidade dos pr edicados básieos é u ma co n-
ja mos que seja comprovável como tal, i . é, co mo u nida - diç ão ulteri or e óbvia pa ra a com probabilida de , 0 , p red i-
de. Uma m assa de vaga s p ressuposições, todas colo cadas no cados básicos da teoria cie ntífica não precisam ser ob -
mesmo nível lógico , sem que for tes re lações lógicas de de- serváveis ou mensuráve is de um mod o di reto (poucos o
du tibi lidade ocorram cm seu corpo. não pode ser co mp ro- são) . a mister apenas que esteja m abe rtos à escruta ção
vada da m an eira como as teo rias ge nuínas o são: uma vez públi ca pelo método da ciência e, para tant o. é necessário
que todas as proposições da pseu doteoria se vin culam frou - e su ficiente que a teoria estabeleça relações exatas entre
xame nte lim as às outras. cada u ma delas te rá de enfren- seus predicados bási cos e predicados observáveis. T ermos
tar cm sepa rado as pro vas da lógica e /ou da experiência . Como "clã vita l", "sexualidade infantil", "espaço absoluto"
orno podemos co m prova r os axiomas de lima teoria Ia-
(lO ) cc. H . J . EYSEN CK . UUJ a nâ A blts~s 01 Psyc1Jol oV' (Lon-
tual se nã o pod em os reconhecer suas conseqüências lógicas? ~r t"5. Pen guin, 19.5 3) , Cap. 12 e E RN ST NAG EL., " Metho dol0 licai Issues
Não é possível subme te r 30 teste da experiência como 11m ln PsYChOan 31ylic Th ecry", em S. H ook (Ed .), Ps)'cho-analysis, S c1~ntlf1c
M et hod . Im d I'h"oJOplly ( New Yo rk New York Un lversity Pre sa 19' 9)
todo uma caótic a m assa de conjetu ras ca rentes de organiza- e np.2. • • •

126 127
e simila res não co mpõem sentenç as compro váveis, razão
ria do méson das forças nuclear es que envolve um meca-
pela qual devem ser aband onad os. nismo definido.
Se se desejar , esta no rma da esc rutabilid ade pode ser
denomi nada o pr incípio da simpl icidade metod ológica A exigência de comprobabilidade leva a longo prazo
com a condição de qu e se com preenda que ela não se tant o a eJimina r as hipótes es mutuam ente escudad as como a
relaci ona necessar iament.e com outrns espécies de simplici- um início inteiram ente novo. No primeir o ca so realiza- se
dade, tais co mo a eco nomia formal da ba se pred icativa . Uma uma simplifi caçã o, mas então poucos exempl os confirm a-
teoria que contenh a numero sos predi cado s esc rutâvei s será dores podem remane scer. No segund o, a teoria dec orrente
preferí vel a ou tra q ue contenh a men os predica dos, mas de uma nova visão pode ser mais simples ou mais com -
todos ou parte deles sejam ine scrutáveis, se não p or outro plexa , mas de qu alquer maneir a será mai s pormen orizada e,
motivo pelo menos porqu e a primeir a teoria será compro- p or co nseguin te, mais ou sada do que a temero sa teoria
vável, ;0 co ntr ário da segund a. O status metodológico da fen omenológica (a qual, se validad a empiric amente, será
útil como um control ador de teorias nova s e mais pro-
base pr cdicati va é bem mais importa nte qu e sua estrutu ra
lógica e número . Assim , "elctr ica men te carr egado " é tanto Iund as) . De qualquer modo, a falsidade de teorias simples
sint ática quando sema n tica me nte ma is co mp lexo que "pr?vi- é habitualmente mais fácil de expor do que a falsidade
dencial ", no entanto , é escrutá vel e po de por con seguin te de teorias mais complexa s, desde que sejam falsificáveis em
ocorrer na teoria científi ca , enquan to a outra não pode. geral. A parcirn ônia no número de parâme tros empírica -
Em suma , a pr ecisão e a escruta bilidad e podem ser coe- m ente aju stá veis não é o selo da verdade , mas o aborto
rentes com a ccmpíe xidad e lógica. Quando for este o ca so, da falsidade.
estamos prontos a sacrifi car a sim plicidad e.
D e outro lado, um a exc essiva comp lexida de lóg ica 1.4 . Simpli cidade, verossh nilhança e verdade
pod e ob str uir a com p rob ab ilidade c, em particul ar , a reíu -
tabilida de!', sendo esta a razão pela qu al a simplicidade As teorias m ais simpl es são mais fa cilment e testadas
lóg ica é desejável enqua nto nã o e nvolve pe rda de p recisão, tanto pela experiê ncia qua nto por teori a. ulteriore s, i. é,
escopo e profundidade. Ê possível alcança r a irrefuta bilida- pela inclu são cm ou ada p tação a sistema s contíguos. Então,
de median te a prote ção mútua das hip óte ses co ntc nedoras de simplificaçõ es sintátic as ou semânt icas são suficien tes para
predica dos in escrut áveis , Isto pode ser reali zado seg undo o aperfeiç oar a compro babilid ade me smo quando nã o são es-
se nso comum ou de uma maneir a técnica . Um exempl o do tritame nte necessá rias para assegur á-Ia. Contud o, há uma
primeir o ca so é a teoria da percepç ão extra-sensorial em que grande distânc ia entre testâvel e testado , como há entre
cada exempl o desfavo rável à hipót ese da tr an smissão tele- uma promessa e o seu cumpri mento. As simplic idades sin-
pr ática p od e ser encarad o como fa vo rável à hip ótese da pr c- tática e semânt ica são relevan tes para a verossi milhanç a
cogniçã o ou à hip ótese de q ue o sujeito ficou can sad o exer- de teorias científi cas, na medida em que constitu em fatores
cendo se us poderes sobre nat ura is. Um exemplo de conse- tanto da sisterna ticidade como da comprobabilidadc. Mas a
c ução da irrefut a bilid ade co m meios mais OLl menos im- avaliaç ão do grau de vero ssimilh ança de uma teoria é uma
pr essiona ntes é qu alqu er teo ria fen ome nológ ica que co nte- coisa e a estimat iva de seu grau de corroboração é outra;
nha certo número de parâm etros aju stá veis e destin ada a esta últ ima é feit a a posteriori, ap ós a realizaç ão de alguns
expli car fen ômen os ex post jacto sem aventur ar qualqu er testes - c estes incluem corrobo ração empíric a, verifi ca-
suposiçã o sobre o mecani smo implica do. As sim, e.g., à teo- çã o de com pa tib ilida de co m a ma ssa de conhec imento rele-
ria fenome nol ógica d as forças nucl eares é permiti do int ro- vant e e verifica ção do poder explana tório. e soment e na
estimat i va prévia da verossi rnilhan ça de lima teoria que
duzir certo número de parâme tros que não são mensu-
ráveis independentemente e que podem ser livremente va- podem surgir legitimamente considerações de simplicidade
riados dentro de limites generos os; além disso, as conse- e isto de um modo indireto , ou seja, através da contrib ui-
qüência s ob serváveis da teoria são e m grande parte insen- ção da simplicidade para a sisternaticidade e a cornproba-
síveis às variaçõ es qualitat ivas nas formas e nas profun- bilidade .
dezas das font es de potencial. Esta é uma das razõ es pelas Uma vez aceita uma teoria como a mais certa, disponí-
quais devemo s preferir como descrição da realidade a teo- vel, não nos preocup amos muito com a sua sim plicidade.
Não adianta argume ntar que isto se deve ao fato de a sim-
(11) POPPER Karl R . T1Ie Los tc 01 Scie ntillc Dtscoverv plicidad e já ter sido inserida na teoria durante sua cons-
Lo ndres . H utch l nso~. 19S9) , secções 44 a 46, e *Aphdic e . (1935;
VIII . trução: como vimos, a simplicida de epistem ológica é in-

128
129
coere nt e com a p rof undi dad e c a sim plicid ade formal e,
est ~ é incoere n!e co m a p ~ecisão qu e não é a penas U I11 ve rdade ap rox imada das teorias . Di zer que uma teoria fa -
deside rat o em SI, I11 ;J. S lamb em uma co ndição p ara í.l com- tual é verdade ira se e some nte se suas con seqüências ob-
p robabilidade. serváve is for em verda deiras, tod as e nenhuma falsa é inade-
. N C~l n pr~b~bili dnd e salvarâ a tese de qu e a simpli- qu ado não s6 por qu e a teori a pode conte r suposições in-
CIda de e ncccssan a à ve rdade, como sus tenta a teori a, se- comprováveis e no en tanto ser coere nte com fatos ob -
gun do a qu al as teo rias mai s simples são as m ais p rováveis se rváveis, m as t ambém porque não há m eios de comprovar
porq ue; a base de c.ada teor ia co nsist e numa conjunção de exa ust ivamen te a infinid ade de co nseqüê ncias ( teo remas )
um numero de axiomas e, qu an to m en or o n úm ero de de teorias científicas qu a ntit ati vas e porque nelas está en-
m er:t~ ros qu e oco~re m na co njunç ão, m aior se rá sua pro- vo lvida a noção de ver dade aproxima da.
ba bilid ade lolal (Igu al ao p rodu to d as prob a bilid ad es dos Além d isso, deve ría mos sabe r agora que, fal ando estri -
axiomas isolados) . A inadequa ção desta teoria é pote nte : la men te, todas as teo rias Intuais são falsas : que são aprox i-
1) nã o se apJica a teo rias qu e conte nh a m. ao men os. u ma ma dame nte mais ou me nos verdade iras. Não dispom os de
declaração de lei estritam ente u nive rsa l, uma vez q ue a nen hum processo de decisão para reconh ecer n verdade
probabilida de d e Jeis u n iver sa is é exatamen re ze ro : ~) n50 a proximad» de teoria s Intuais. mns há sintontns de verd ad e
são as m ais simples porém as hipó teses mais complexas qu e e (l prritn c mp reg:t estes signos na ava llnção de teor ins.
são as m ais fáceis de se adap tarem 3('S dados empíricos: Cum pre-nos passnr c m revista es tes sintomas de ve rda de c
pensem n um a lin ha ondulada que pnesc por ou pr óximo de lks:ct'brir q ue s:il1ll' lil" ; d :llk~. se ho uver. $iill imp o rtantes pnrn
tcdoe os po ntos q ue re present am da du s cm pírico« CIH 111ll r-las.
plano coorde nado. em contraste com a c ur va sintá ticn T11 ai ~
simples, tal co m o a linh a ret a; é improvável que um gr nn-
de núme ro de "pon tos" empíricos se encon tre sobre lima 2. Desideratos da Teoria Cientiiica 0 /1 Sintomas de
curva simp les. São as h ipóteses m ais com plexas - espec ia l-
m ente se e ncara das ex post fa cto e ad I/Oe - q ue são a Ve rdade
pt/v ri as m ais pro v ávei s' >, E m r e SUIn O, a simplicida de é in-
co m pa tí vel co m um a a lta p roba bilidad e a priori. Pod emos disti nguir , no numm o, cinco gru pos de sin-
Em res umo, as simp licidades sintática e semâ ntica são . tom as de verdade de teorias Iatua is. D en ominemo-los de
dent ro de limit es favoravelmente rele vantes p ara a sistema - sintá tico, semâ ntico , ep istemo lógic o, me tod ológico e filo-
ticid ad c c a co mpro bab ilidade - ma s nã o par a a pre cisão só fico. Ca da sinto ma dá origem a um cr itér io ou norma,
e a ve rda de. T od a via, não são co nd ições necessária s da oco rre ndo na pr áti ca real de pon derar teori as fatu ais a ntes
slstcma t icidade c da co m pro ba bilida de. c de pois de seus testes. empíricos . a fim de apura r se cons -
P ois bem , p ode -se inventar qu alqu er núm ero de siste- titu ern urn ape rfeiçoa me nto e nt re teorias competitivas, ca so
ma s co mp ro vá veis p ara se defron tarem com um ce rto co n- h aja . C hr uué -Ios-cmos critérios de co ntraste. São os vinte
junto de dad os empír icos ; o problema é acerta r no m ais seguintes.
ve rda de iro - um p rob lem a científico - e reco nhecer os
sign os da ve rda de a proxi ma da - um p roblem a m etacicnti- 2, I . R cquisuos sintátlco s
fico . Pois, de fnto. J ver dade não é o dcsvclam cnt o do que
estava ocult o corno os pré-socráticos c H eidegger p rct cn - 1) Co,.,.eçc;o .rintática. As prop osições da teo ria devem
der am : a ve rda de é Icit a e não encon trada, c diagn osticar a ser bem formadas e mutuamente coe rentes se é qu e devem
verda de é tão d ifícil C0 l110 diagnos tica r a virt ude. T em os ser p rocessadas co m a ajuda da lógi ca, se é qu e a teoria
um a teori a opera tiva d a ve rda de co mp leta (n ão da ver- deve se r signi ficativa e se é que de ve referir-se a um do -
dad e a proxima da) de sentenças q ue e nvolvem ape nas p red i- m íni o defi nido de fat os. Co njuntos de sina is sinta tica mente
cados obse rvaciona is!", mas nã o tem os teo ria sat isfa tória da m uril ndos, po r outro lad o, não podem ser logicam ente m a-
nipulados; tampou co pode m se r int e rpretad os sem ambi-
(12) Cf. H ER MAN N WBY L, PlIiloJo pl'J' o/ Motls emnt ícs nn d Na- gü idade e, se con tive re m co ntra dições internas, pod em con-
lIIral Science (1 927; Prtnceton, Pr tnce ton U ni,'cr silY PrCS5, 1949). p . 156
e PO PP ER , gererên cta 11. d uzi r a lim a m ultiplicida de esté ril de prop osições irrele-
( 13) T AR SK Y, Alf red . The Sc ma ntlc Con cepuon er Truth . P1lil. van tes. Co ntudo , ca da teori a é, no s se us est ágios pr elimina-
tJnd Phenom, Ru" 4, 341 (1944). res, algo embara lhada; port an to, correção sintá tica grosseira

130 131
e possibit idade defi nida de ape rfeiço ame nto , são critéri os
mais realistas do qu e pu reza fo rm al fin al - qu e de qual- info rm ações específi ca s - pr opo siçoes que pod eriam ser
q uer forma pode ser nã o-ating ível, co mpa radas às p roposições ob serv acion ais. de modo a de-
Obviamen te, a sim plicidade nã o é um fator de cor re- cid ir a conform idade d a teoria com o fat o.
ção sint âtica; po r out ro lado. a simplicida de facilita o teste A simp licida de é, sem dú vida , desfavo ravelme nte rele-
de co rrc ção sintétic a. ven te para este d esider ato, uma vez qu e um a teori a abstr a-
2) Ststenu uícidad e ou unidad e co rrcdtlln l . A teoria ta é mais simp les q ue um sistema interpretad o.
deve ser um sistema con ceitu ai u nifi cado (i. é. se us conce i-
5) R epresentatividade. l? desejável que a teoria re-
tos devem "perman ecer uni dos") se é que se pretend e cha- presente, ou melhor , reconstrua eventos reai s e processos e
m á-la de teo ria em ger aJ; e se é q ue de ve e nfre nta r com o não os descrev a simples me nte e p reveja seus efe itos macros -
um todo tes tes empíricos e teó ricos - i. é, se é qu e o cópicos obser váveis. A fim de ser represe ntacion al - em
teste de qualqu er de suas part es de ve se r rel evante p ara oposição no fenome nológic o - uma teori a não necessita
o resto da teo ria. de tal m aneira que Se possa even tua lme n- ser pictórica , vis ualizâve l ou intuível (emb or a tais ca racte-
te firmar um juízo sob re a corrobora ção ou falsifica ção da
te oria como u m todo.
rísticas garant am a represent atividad e). e suficiente que al-
gun s dos símbolos que ocorrem nos postulad os da teoria
Co mo vimos an tes (sec. 1.2) a simplificação da base tenham um sen tido literal ao serem correla cionados com
predicati va da teoria é su ficie nte pa ra melhor ar a siste matl- propri edades (di afen ômenos ) reais ou essenciais do refe-
cida de, m as não é ind isp ensável pa ra atingi-Ia e não pod e rente da teoria. Em outros termos, para que uma teoria seja
Ser forçad a além de ce rtos lim ite s q ue são cm parte esta- repr esent acion al, é suficien te assum ir que alguns de seus
belecidos pelo re fere nte da teoria (e.g., um aspecto da na- p redicad os básicos re presenta m tr aços de e ntidades efeti-
t ureza ) . Al ém do mais, a tend ência hi st érica da ciê ncia va s reais ou fundam entais - não meram ente externo s.
nã o tem sido a rest rição m as sim a expansão das bases
p red icativas , junto co m o estabe lecime nto de m ais e mais No curso do desen volvime nto da ciência , teorias fe-
conexões, p rincipalm ent e por meio de proposições de leis nom enológicas ou n ão-representacionais for am substitu ídas
- entre os vários pr edi cad os. O enriqueci me nto con ceituai ou no mínimo supl ementa das por teori as represe ntacion ais,
progressivo a defr ont ar -se com um a c resce nte coesão ou in- as qu ais pr ocuram oferece r descriçõ es e expl anações de
teg raç ão lóg ica é a tendênci a d a ciênci a e nã o uma un i- aco rdo com a reali dade (R ealbesclrreibun g de Ein stein) .
ficação pelo empob rec irnento '", Assim , teorias de aç ão à distânc ia foram sub stituída s por
teor ias de campo, a termod inâm ica foi suple me ntada pela
me cân ica esta tística, a teoria do circ uito pela teoria do elé-
2.2 . R equisitos setnãnt icos tr on , a met eorologia dinâmi ca pela sinóptica. teorias da
3) Exatidã o íing íiistíca, A a rnbigiiida de, imp recisão evolu çã o sim ples por teorias de evoluç ão atra vés da se-
e obscu rida de dos termos esp ecíficos têm de ser mínimas, le ção nat ural.
a fim de assegur ar a int erpr et ab ilidade em píric a e a apli - H á vá rias razões para pr eferi r as teorias represe nta-
cabilida de da teori a. Es te requi sito desqu alifi ca teori as em clonais às fen omenol ógicas : (a) um objetivo maior dos
que te rm os tais como " grande ". "que nte", "e ner gia psíqui- invest igadore s não reside apen as em "s alvar apa rê ncias" de
ca" ou " necessida de histó rica", ocorre m essenci alm ente. man eir a econ ôrn ica (co nvencio nalismo , fenomenalismo,
Pois bem, a elirn ina ção de tais inde sejáveis tcm pouco prngrnntismo) , ma s em atingir um a profun da compre ensão
a ver co m a simplifi cação. A clari fica ção é com Ireq üência dos fatos, tant o obse rvado s co mo não-ob ser vados - e tal
acompa nha da pela co mplicaç ão ou, ao menos , pela apre- propós ito é melhor servido pelas teorias represent acion ais
sentaç ão de u ma complex idade real sob aparent e simp li- do qu e petas fen omenol ógicas; (b) as teorias represe ntaclo-
cidade. Portant o, a simplic ida de é desfavo ravelmente rele- nais satisfazem melhor o requisit o de coerênc ia externa ,
va nte pa ra a exatidã o Iingü ística ou irreleva nte ao máxim o en qua nto as teorias fenom enológicas são ad Troe; ( c) as
para esta. teori as represe ntacion ais, não sendo limitad as aos dados
4) lnterpretabilid ade empírica. Deve ser possível deri - empíricos à mão, estão mais aptas a predize r fato s de
var das assun ções da teor ia - em con ju nção com bits de uma espécie descon heci da, e de ou tro modo inesper ada;
(d) as teori as represe ntacion ais assume m mais riscos que
(14 ) BU NG E. M :\f lo , COlfSour,. . (Cambridge, M ass.• Har vard U nt- as te or ias fen omenol ógicas: pois dizendo mais elas cedem
re . 290-1.
vet'!ity r' ress. 19.59 ).
melhor ao requi sito da refut abilid ade .
132
133
Or a, uma ade rência est rita às reg ra s d a lóg ica c da d rn- tra r a poio cm algo mais do qu e apenas seus exe mplos, se
plicidad e ep istemológica ex igiria a di spe nsa de teorias rc- é que de ve se r co nsidera da com o um acréscimo ao conhe-
present acion ais. po is es tas envolvem usual men te não ape- cimen to c não co mo um corp o estranho. A s teorias rev o-
nas O~ predicad os dos sistemas Icno mcnol ógicos corrcspon- luc ion ári as - cm co ntra posiç ão às teorias divergentes ou
de ntes, ma s o u tros pre dic ad os m nis abo::tr:l to o:: dcl ns p nlpri ao;, . th, id ns - sflo incoe rentes com apenas pa rt e d o conheci-
Te ría mos de aban don ar cen tenas de teo rias qu e fun cio nam , mente cie nt ífico , pois a pr ópria cr ítica das velhas teorias
ent re el as o model o shell (ca ma da ) d o núc leo at ômico, a e a co nstruç ão de outras no vas se re aliza com base em
teo ri a do spin do Ierrorn agnetisrno e a teoria cro rnossô mica co nheci me nto defi nido e à luz de normas m ais ou menos
da he reditariedade. Aqui , de novo, a simplici da de nã o é expl ici tamente estab elecid as. As heterodoxias isoladas não
bem -vind a. põem em peri go a m assa do conheci me nto esta belecido
(no en tan to, provisóri o ) ; mu ito ao cont rári o, questionamos
6) Simplicidade semântica. I? desejável, a té cer to pon-
as teo rias isoladas à luz de conhe cimento aceito e regras
to, econom iza r pressuposiçõe s; neste se ntid o. juízos em pí-
de proced iment o .
ricos podem se r feitos e testados sem p ressu por a totali -
A coe rência exte rna foi o a rgu me nto m ais forte que
dade da ciência . Esta exigência é imposta de maneira m o- Copérnico ap rese ntou em defesa de sua teori a dos mo vi-
derada cm bases an tes pragmát icas do que teóricas, pois m entes planetários; ele sa lientou que, ao co nt rár io da teori a
con t a co m a possibilid ad e de aborda r o novo sem ter de do- de Pt ol om eu, a sua teoria con co rd ava co m os axiomas da
min ar o ve lho em sua inteir eza. Mas a coerência ex terna teor ia Ifsica prevalecent e (a de Aristót eles) qu e determinava
qu e é até m esm o mai s ponde rável compete co m a sim- qu e os cor pos celestes se m oviam em ór bitas circulares'". A
plicida de se mâ nt ica. Assim , a biol ogia co nve nciona l qu e é notável contrad ição da ESP e outras teorias sobrenaturais
met od ologicamente "m ec an icista" , aquiesce com a coe rê n- com ri ma ssa da c iência constitui também - ao lado de
cia exte rna e, pe la m esm a razão, é se ma ntic ame nte co m - razões met odológicas - um fundamento mai or para rej ei-
ptc xa, já qu e pressupõe a física e a quím ica ; de o utro tá-las I 7 .
Indo, a biologia vita lista é scma nricnrncn tc m ais simples, A simpl icida de é cla ra me nte desf avor ável à coerência
porém , ralha no que d iz respei to à sua con tinui dade co m exter na , tuna vez que a última impõe lim a crescente multi-
a Císic:'l c a química. plicidade de co nexões en tre os vários capítul os da ciê ncia.
O va lor te ór ico da sim plicid ade semân tica reside no S) Poder expkmatório. A teoria deve resol ver os pro-
fal o de es ta suge rir a existênci a de níveis objetivos de o rgan i-
blemas propostos pela ex plicação dos falos e pelas gene -
rali zações em pí ricas, se ex istirem , de um d ad o domínio e
zação da re alid ad e. Assim , a mera possibilid ad e de fal ar
pre cisa fazê-lo d a m ane ira m ais exat a possíve1. Para for-
signi ficativame nte ace rca de algu ns aspe ctos da vida da rnul á-lo em term os suc intos : Poder expíanat ôrío = Alcan-
psique e da c ult ura, se m tratar de m an eira expressa de ce X Precisão. Mas o alcan ce de uma teori a não pode au-
suas ba ses materiais, den ota que os ní veis são, em c erta m enta r além de todo limite: uma teoria científica não
medida, aut ôn omos. Mas o requisito da profundidade sem- pod e pretender solucionar todo e qualquer problema, sob
pre a cabará forç ando-n os a descobrir os liames de eventos pen a de tornar-se irreíutâ vel' ê. E m particul ar , uma teoria
em um nível co m eve ntos em niv eis co ntíguos e sobretudo cien tífica tem de ser unil ater al, i. é, não deve ser capaz
nos níveis infcri or es". de a mparar hip ót eses ou propostas contrá rias (e .g., contra-
A sim plicidade semâ ntica é, cm su ma , um a regra nm-
big ua : pode fornecer o m anejo (e .g., o teste ) d a tco ria pa s- ( 16) A comrntibllidade da astronomIa com a rh lca era Uo essen-
cta t para Copé ml cc quanto "salvar tIS aparências", como E. RQSEN
sive i, m as também pod e se r sintoma de super ficia lida de . observ ou correta mente a sua Intr odução aos Three Copemican Treattser.
2, ed. (Ne w Vork, De ver, 1959) , p . 29 : " O que Ccpérnlco desejava do
era II'" sistema mnis simples, com o pensa va Burtt, mas um mais ra-
zc âvel' (lo c. cit. ). A unif icação da astro nomia e a mecân ica terrestre
2 .3. R equi sitos epistemo lógicos foi t amb ém um son ho não-reanacdo de A verr ces e o Impulso principal
PM:l Galile u e New ton,
( 17) Co nsune. ~ ., ., GEO RG E R. PRtCE, Sctence and the Supernatu-
7) Coerência externa. A teori a dev e se r coe rente r al. Selrl/rr, 122, 359 (1955). De outro lado C. D. BROAD , Th e netevance
co m a ma ssa de conhecimento ac eito, se é que deve c ncon- of psychtcal R esenrch to Phil osophy . r"l/oJoplly . 24, 29 1 ( 1949) aceit a o
ES l', embo ra reconh ecendo que este requereria urna rev travcí ta rad ical
na r etcct oatn. na btctoat n, na írstca e M filosofia .
(IS ) C f. MAR IO BUNG E. Le vets : A Sem nnttcnl prelimlnary . n~ J' . (18 ) Vej l' F . C . S. SC H ILLE R, "Hypoth esls", em C . Slnger (ed.) ,
M rtnpll )'s.• l .t. 396 (1960) , e O n lhe Ccnnecttcns A moll8 Leveis, em Stlfllln l n fht! tt tn orv tmd Ai f't/lod 01 Sdrnl'e ( Od ord, Clar cndon Presa,
Pr ol' . Xllfh . 1n''''" _ Cong ro PM I•• V I. 63 ( 1960) . 1921) , fi , p . 442.

134 135
dit órias}, ncm deve ser coe re n te co m elemen tos de cvi -
dênc ia co n trá rios. ( U m a hipót ese, se for autocoe rentc c gul nres de leis ger ais associad as co m informa ções es pecífi-
exa ta men te form ula da, nã o pode se r compat ível com ele- cas - o po der explana tório não é o mesmo que o poder
mentos de evidên cia co ntr ários; um a pseudo teori a o pode, de previsão. A pseudoc iência é prolífica em explanação
desde que suas hi póteses se a p óiem mu ruamcn te.) Tan to a post [actunt mas infecun da na previsã o. As teorias da física
teoria da predest inação qu anto a psicaná lise, que ofe recem nu clear, ntôrnica c m olecula r podem expli car fen ômenos
ex p lica ções pa ra tudo q ue é human o e nunca se cmbara - singula res - ou classes de possíveis fenôme n os singula res
ça rn com a evidênc ia contrá ria , viola m esta condiçã o . C om - mas podem prever apen as fen ômenos coletivo s reais -
ou, altern ativame nte, podem apenas pre ver as probabilida-
respeito ao alcance , o pode r explana tório das teorias cien-
tíficas é intermediário ent re o poder explanatório das teo- des de fatos sin gulares. As teorias históricas - tais como
rias pseudoci entíficas e as teo rias do senso comum . a da geologi a, evolu ção e socieda de hum ana - po ssuem um
alto poder expla na tório mas um pequen o poder de previsã o,
Ê cla ro que a simplicidade é desfa vo rável ao poder
ex plan at ório, porq ue um a m plo alcance é lima classe de nu - me sm o le vando em conta retrov isões. Além disso, as previ-
mercsas subclas ses, cada q ual intencio nalmen te caracte ri- sõcs são usualm ente de fatos e muito raram ente de leis, en -
zada por um conju nto de proprie dades, e porque a preci- qu anto as explana ções podem ser, quer de fatos , quer de
são, o segund o fator do poder explanatório, exige também leis . Finalm ente, as pr evisões são feitas com o auxílio do
co mplicaç ão (cf . 13) . D estart e, as desigualdades são mai s mais baixo ní vel de teorem as de uma teoria - os mais
simp les que as igualda des : são mais simples de definir, de próxim os da experiê ncia - enquan to as explana ções podem
estabelecer e de testar. C ontudo. estamo s amiúde prepara - ocorrer em qu alquer nível. Estas são algum as das razões
dos para sac rific ar n sim plicida de pela preci são, como de- p ara cons idera r o podcr de previsã o separad amente do po-
der de cxplana ção'".
nota o fato de as equaçõ es num éricas e funci onais se-
rem tanto mai s abunda ntes quanto maior se torna a seve- A simplicidade é desfa vorá vel ao poder de previsão
rida de dos padrões de pre cisão e co mprobabilidade. Em pela mesma razão por que é incomp ativel com o poder
resumo , a dem a nd a da simplicid ade é incomp atível com a explana tório.
demand a de poder explana tório. 10) Profun didade. ~ desejável, mas de modo algum
9) Poder de previsão. A teoria deve, no mínimo , pre- ne cessário , qu e as teorias expliquem coi sas es senciais e
ver aqueles fat os que ela pode explic ar após o evento. Mas, cheguem fund o na estrutu ra de nível da realidad e, Ne-
se possível, a teoria de veria também pre ver fatos e relações nhum a teoria científi ca é apenas um sumário de obser-
novos e in suspeito s: de outro modo, será escorad a apenas va çõ es, se não por outro motivo , pelo menos devido ao fato
pelo passado . Em outros termos, o poder de previ são pode de qu e cada generalização implica uma aposta sobre fatos
ser analisa do Da soma da capacid ade de prever um a clas se afins não-ob ser vados. Mas. enquan to alguma s teorias ex-
conhec ida de fatos, e o poder de progno sticar "efeitos" pli cam apenas as aparênc ias, outras introdu zem entidad es
nov os, i. é, fat os de uma espé cie não esperad a cm teorias d iafen omenais (mas cscrutá veis) e proprie dades pelas quais
altern ati vas. O primeiro pode ser chamad o de poder de ela s expli cam o obse rvável em termos do não-ob servâve l: ~
progn osticar. o segund o, de poder serendi pico'", Coloca n- neste sentido que a 6 ptica ondulat 6ria é mai s profund a que
do-o em poucas palavr as , Poder de previsão = (v elho al- a óptica fenomenológica (geomé trica) e a reflexologia mais
cance + novo alcarrce ) X Precisão = Poder de Prognôs- profund a do que o behaviori smo.
tíco + Pod er Serendí píco. (S em dúvida . o poder serendí- A exigênc ia de profund idade não elimina i por certo,
pico de um a teoria não pode por seu turno ser predito . as teorias m enos profund as : elas podem perfeita mente fi -
mesmo depois de comple tada a sua c onstruç ão, pois nunca ca r retid as com as m ais pr ofunda s se contive rem conceit os
sabemo s de antemã o tod as as conseqüências lógicas dos úteis que, de algum modo, corresp ondam a entidad es reai s
axioma s da teoria. nem o alcance dos fatos descon hecidos .) ou pr oprieda des. A óptica ondulat ó ria n ão elimina o con-
Embor a a estrutu ra l ógica da previsã o seja a mesma ce ito de raio lumino so mas elucida -o em termos de inter-
que a da explan ação - ou seja , deduçã o de sentenç as sin-
fer ência , e da neurofi siologia se espera que elucide os pa-
(19) o term o serend rptcc (aci dente feliz ) foi cunhado
drões do compo rtamento e não que os explique. A exi-
Wal pole e revlvldo por WALTE R CANND N. The Way 01 an por Horace gência de funções profund as é um estímul o na constru -
(N ew York, Norton, 194'), Cap. IV e por ROB / nve!õt/,alor,
So cial The ory an d Sodal Str ucture (Gteneoe, Ill., ERT
Free
K . MERTO N,
Press,
ed. rev., Cap. 11. 1951), (20) Razões ulteri ores s30 dadas em MARrO BUNGB.
14, Cap . 12. Refer~ncla

136
137
ç50 d a teori a ( t'.g ., o prese nte sentime nto de insatisfa ção ca lor e dal\ teorias do éter ) , qu er porque trazem à tona
com a su pe rficialid ade d as relaçõ es de di spersão c o ut ras no vas teo rias c experim entos dest inados para refut á-las. Por
teoria s fe nom e nológicas n a física) , e na reco nstr uç ão cie n- outro lado, teo ria s virtuosas pod em se r esté reis porque nin -
rffica de teor ias pré-cien tificas p ro fun das ( r .g ., soc iologia gué m se inte ressa po r e las - c-g ., porque elas são supe r-
m ar xista e psican âlise, ambas ricas em co nce itos profun dos ficia is, co mo é o caso d aqu elas teori as que são pou co m ais
c suges tões , m as a rruinad as por um a lógic a emba ra lha da e do qu e sumá rios de dad os emp íricos . Daí p or qu e a fep.
uma me todolog ia complacen te ) . líIid ade d ever ia va ler po r si.
Co mo a p rofundi dad e en volve so fistic aç ão episternol ó- Aqu i, ma is lim a vez, a simp licida de é tanto irreleva nte
gica, e la é inc ompatível com a simplicidade p rag má tica e qu an to dcsfa vot avelm ente re leva nte.
ep istemo lógica. 13 ) Originalidade. J; desejá vel que a teori a seja nova
cru rel ação a siste ma s rivais. T eorias feitas de porções de
11 ) Ext ensibilidade ou possibilida de d e expan sã o para teorias existe ntes, ou fortem e nte se melhantes a sistem as dis-
abra nger no vos dom ín iosw . Assim . a form ulação de H amil - poníve is ali c a rentes de novos con ceitos são ine vit áveis e
ton da d inâmi ca é p refer ível à de Newton, porque pod e a r- pod em ser segur as a po nto de sere m desinter essantes. As
ca r co m u ma classe m ais a mp la de prob lemas d inâm icos e teori as m a is infl uentes não são as mai s segu ras mas aque-
porq ue pode ser estend ida além da din âm ica ( e.g., den tro las qu e são ma is p rovocantes ao pen sam ento e, p arti cul ar-
da teori a de ca mp o} ; co ntudo . é lógica e e pistem ol ógica- men te, aqu elas que inauguram novos meios de pen samen-
men te m ais co m plexa do que a versão de New ton d a m e- to; e todas estas são teorias p rofundas, representacion ais e
câ nica : co nté m duas vezes o nú me ro de eq uaç ões de mo vi- cx tc nslvc is, com o a mecâ nica ncwton ian a, a teori a dos cam-
me nto c os con ceit os de coorde nadas gene ra liza da s c m o- pos, a teoria q uânt ica e o evolucionismo. C omo um re-
ment os. O mesmo é ve rda de para a teoria de M axwell do no ma dot? físico observo u, " P a ra qu alquer espe cul ação, que
c am po e letro m ngné tico q ue fo i possíve l est end er à óptic a não pa reça à p rim ei ra vista louca, n ão há espe ra nça" .
cm relação co m suas ri vais. Al ém disso, as regr as da sim plicidade proíbem eviden-
A c a pac idade de ligar ou unifi car. por e nqua nto , do- tem en te a li no mínim o desen cor aj am o enquadramento dos
mlnios n ão-rel aci on ad os vincula-se tanto com a co erência construc tos audaciosos e novos : o caminho banal é o m ais
ex ter na qu ant o com o poder se ren di pico e depe nde da sim ples . Ê o qu e ocorre es pecialmente quando as teorias
pro fund idade dos con ce itos e leis peeuli ar es à teor ia . Por- disponíveis Ioram e mpirica me nte confi rm ad as, mas são por
tant o, a simp licida de qu e é desfavoravelm ent e rele vante a lgum m otivo insati sfat órias - e.g., porque são fenome-
pa ra es tas ca ra cte rística s. é também de sfa vor avelm ent e re- nológica s. A. linha da simplicida de , ne sse caso, desaprovará
levant e para a extensibilidad e. De outro lad o, a real ex- nov as abordagens e susta rá, portanto. o progresso da
p nnsão de uma teoria produ z uma unificaçã o m et od ológic a ciên cia .
TlO se ntido de qu e um único m étodo pod e ser emp regad o
pnrn atac ar problemas pertencentes a conjuntos ant er ior-
mente disjuntos. M as antes é preciso qu e uma consider ável 2 .4. R equisitos metodológicos
co m plexid ade sintáti ca, se mâ ntic a e epi stemológica se ja
co nsumida: a sim plificnção metod ológi ca nã o é um pré- 14) Escrutob ilidade. Não só os predieados que apa-
requi sito mas um a recom pen sa à boa vo ntade cm aceita r recem na teori a dev em ser abert os à inve stigação empírica
c ertas complexid ad es. pelo púb lico e ao m éto do aut ocorretivo da ciência (sec.
12) Fertilidade. A teo ria de ve ter poder expl an at óri o : 1.3) , m as é preci so também que os pressupostos metodoló-
deve esta r h abilitad a p ara gu iar nov a pesquisa e suge rir n0 4 gicos da te oria seja m co nt roláve is. T ais exigênci as tornam
vas idéias, experim ent os e probl em as n o m esmo ca m po ou suspe itos (a) e vidên cias de um tipo que apen as uma dada
em ca m pos aliados, N o caso de teo rias ad equadas, a Ier - teoria acei ta ria e ( b) técni cas. testes e pretensos modos de
tilid ad e ju stap õe -se à ex tensib ilidade e ao po de r serendí- co nheci me nto que - co mo ent endimento sim pá t ico e in-
pico. Ma s teorias int ei rament e inadequ adas pod em se r est i- tuição es sencia l - n ão podem ser controlad os p or meios
mulant es, qu er po rq ue co ntenha m alguns co nceitos utili zá- alt ern ati vos e não levam a co nc1usõe s válidas inte rs ubjeti-
veis c hipót ese s (como foi o caso da teoria do cal órico do va rne ntc, ou no m ínimo a con cl usões argüívels.

(21) MARGENAU. Henry. The Nature 01 Pl'1Jfcol Rt ollt,•. ( Nt w (22 ) DYSON'. Fr eeman J . InvenUon in Pbysics. Sei. Amtricon. 199,
VOlt:. McGraw-H iI1 , 1950) , p . 90. n. 3, n. 80 ( 1958) .

138 139
Mais uma vez, este requisito está cm conflito com cer - fim, nenhu ma das conseq üências de baixo nível da teoría
tos tipo s de simplicidade, pois as teori as logicam e nte mais
deveria ser indif erente à experiê ncia. E m pa rt icular, ne-
simples são aque les sistema s especul ativos q ue não se p reo-
ocupa m 'com lestes. Se algué m insisti r e m introdu zir o term o
nhum dado segu ro, in corri gível que "resista à influência
"s im plicidad e" nes ta con exão, permita m-lhe: denom inar isto solve nte da reflexã o crítica" (Russel l) deve entrar na ciên-
de requisito d a simplic id ade me todo lógica, mas lembre m- cia, q ue é essencialmen te con heci mento corrigível.
no que tal f rase n ão d eve ser constru ída co mo se impusesse E elmo, a simplicidade semâ ntica, ep istemo lógica e ex-
uma simp lificaçã o na método no sentido de um relax ame per imental são favor áveis à refu tnbilidade. Mas a sim-
n- plicida de sintá tica é ambigu amente relevan te para ela: de
to do pa drão de rigor, o u de u ma red ução na varieda de
de testes, m as como uma sim plificaç ão da ta refa de com - um lado, a refut abiJidad e exige precisã o q ue, por sua vez,
p rovação r igorosa da teo ria e dos testes. De ou tro mo do, e nvo lve co mplexid ade (veja sec , 1.3) , de o utro, qu anto
a teoria m etod ologicam en te mais simp les seria aqu ela vá- menor o número de pr ed icados envolvidos e qua nto mais
lida pe lo "métod o" de con templaç ão um bilical. M as, de simples forem as relaçõe s pressup ostame nte vá lidas e ntre
fato, ne nh uma regra de simplic idade nos escla rece se u m elas , mais fác il será refuta r sua teori a. Mas o qu e aco n-
dado constru c to (e .g., um operad or quantornecânico) pode tecerá se os fa tos, indife rentes co mo são aos nossos esfor-
ser conside rado como represe ntante ou não de u ma pro- ços, teimosa men te se recusam a prestar-se à sim plificação
pr iedade ob servável. C ritérios de escr utab ilidadc de p red i- lógica? A simpli ficação forçada conduz irá à refut ação efe-
cados não são simples e são, amiúde , díscutíve íst". tiva ma is do que ap enas à com probab ilidade assegura dora.
Em suma, a simplic idade é ambigu amente releva nte 16 ) Conltrm obilida de. A teoria deve te r conseqüências
an te a escruta bilidad e (veja sec. 1.3 ) . particu lares qu e podem co nco rdar com a observa ção (den-
15) R ejutabi lídade. Deve ser possíve l imagina r casos t ro de lim ites tecnicam ent e ra zoáveis ). E, po r certo, a
ou circuns tâncias que pudesse m re futar a te oria 24 • Do con- confirm ação efetiva numa a mpla extensã o deve rá ser exi-
gida para a ace itação de toda teo ria. A insistên cia na con-
trá rio, não ser ia possível planeja r testes genuí nos e po de r-
se-ia conside rar a teoria como log icamen te verdade ira, i. é, fir mação co mo único c ritér io tent ad o (i ndu tivisrno) ab re a
como verdade ira, h aja o q ue houve r - po rtan to, como em- poria a teorias repletas de pre dicados vagos e inescru táveis
pirica me nte vaz ia. ( teorias ciganas ). A abundâ ncia de confirm ação n ão é ga-
r anti a de verdade , um a vez qu e no fim de con tas as evi-
U ma teoria. cien tlf ica pode conter com ce rteza u ma
premissa irrefutá vel en tre seus postula dos, tal como uma dências podem ser todas selecio nadas ou conven ienteme nte
hip ót ese ex iste ncial da form a. " Há ao me nos um x ta ) q ue .t interpre tadas, ou en tão a teoria pod e nu nca ter sido sujeita
é um F" (sem especifica r li ma localiza ção precisa n em no a testes seve ros . Mas, sem dú vida , mesm o se insufi ciente, a
espaço nem no tempo) ou uma lei estatíst ica da forma "a con firmaçã o é necessá ria par a a aceitaçã o de teorias26 •
longo prazo, f se aprox ima de p", A teoria pode m esm o Ora, uma teoria pode ser com plica da ex-prof esso de
pressup o r pr incípios metacie ntíficos ir-refutáveis, como fiA modo a aume nta r seu gra u de co nfirmaç ão; portan to, a
lon go ter mo cada fato é explicá vet"25. Mas tod os estes irr e- simplicidade é desfavor avelm ent e relevant e pa ra a co nfir-
Iut âveis juízos deveriam ser confirm áveis e, de algu m m o- mação.
do, escorados pela m assa de con hecime n to; mais ainda, to - 17) Simplic idade M etodol ógica. Í! preciso qu e seja
das as pre missas rest an tes deve riam ser refu táveis e ne- tecn icam ente possível submete r a teor ia a provas em píricas.
nh uma de las dever ia estar isenta d e ser indicada pela evi- A teoria pode levar à form ulaçã o de p revisões qu e são mu i-
dência at ravés da inter posição de hi pót eses prot eto ras; p or to difíceis, ou mesmo impossíveis de testar em pir icame nte
no mom ento ; co ntudo, po de haver uma teori a vali osa ca-
(23) Algumas variáveis ccnsldera das como
observáveis na rnecânlca paz de estimular o aperfe içoame nto de meios técni cos. Pas-
quântica não-reíauvtsuca não mais o do na teoria retatletsuca e ccn-
diçôes de cbservabilldade, co mo li realidade (herm iticidade) sará um nú mer o im pre visível de an os antes q ue apareça
à critica. P ode-se demonst rar que um operador não- hermítí estão abertas uma única p rova empíri ca de qu alqu er das teori as qu ânti-
prese ntar, num certo nümero de caso" um par de obaerv ano pode re--
ANDReS 1. KALNA Y, "Sobre los observeb tes cuântícos y âveís. Cf, cas do campo gravitacio nal, mas a simples prolifer ação de
de la hermitlci dad". et requisito
(24) POPPER , Karl R. T he lOl le 01 Scfentl!fe D lsco very
teorias desta espécie pode est imu lar o p rojeto de testes
Londres, H utchln sc n, 19.59). Cnp, I V. . ( 1935; em píricos.
(25) A leghlmld ade de stas declaraçõ es ind ut áveis. rejeit
POPPER , 6 dd en dida por MAR IO BUNGE no Klnd , and adas por
Sclentl.l'lc Laws, Ph ll osopll )· 01 Science. Crlterla er (26) BUNG E, Mario. The Place of Induclion ln Sctence. Phil.
s« .. 17, 262 (1%0) .

140
141
Em re sumo, deve-se cx rgrr numa ex tensão m odera da, tc rvérn na ava liação da teoria c, é m elh or fazer isto do que
sim plicidade me tod ológica, par tic ular me nte de teorias de- ser in adve rtid am ente dominad o em nossa avaliação das teo -
sign ad as pa ra ev ita r ou pospor sine die o ju lgamento da r ias, através de alguma co smovisã o não-científica, As co n-
exper iência ; se requerida de modo mu ito severo, pode ser cepções do mun do e as teo rias científicas deveriam co ntro-
inopo rtu na . lar e enri quece r urn as às o utra s.
A sim plici dade é. po r certo , tão incoere nte com a
2,5, Exigências iitos õticas compatibilidade de cos movlsão, qu ant o co m a co er ência
externa.
18) Nível de Parcimô nia. A teor ia t em d e se r par ei-
mo niosa e m suas re ferê ncias a out ros seto res da real idade,
a fora os d iretarne nte e nvo lvidos. Não se deve reco rrer nos 2 .6. Outros critérios
níveis mais altos (rea is ou imngin ários) se os rua is baixos
forem su ficie ntes c não se de ve introdu zir níve is distan tes F az-se necessário propor de tempos e m tem pos c rité-
se m os int e rm edi ári os. E sta exi gê ncia é, por ce rto, violada rios alternativos, tais como inteligib ilida de (si mplicidade
pelas teorias anim ist as da matéria e pelas teorias rnecani - psico lógica ) , e legâ ncia, uti lidade práti ca, ca ráte r operacio-
cistas d a me nt e, nal ("definibilida de" de tod os os co nce itos em termos de
A re gr a d a simplicidade é, nesta conexão, ambígua . ope rações efetivas) , alta pro babili dad e e causalida de , N a
assim como O é em ou tras. Com efe ito, é possível con si- realidade. tais c ritér ios muitas vezes influencia m nossa va-
de ra r o nív el de pa rcirnônia co mo u m exe m plo da regra; lorização da s teorias, mas é possível mostr a r as suas ina-
toda via, o qu e h á de m ais sim ples que o rc d ucionismo - dcquaçõcs.
par a bai xo , co mo no caso do mecanicism o, ou p ara ci ma Co m efe ito, a int eligi bilid ad e ou a int uitibilidade está
com o no caso idea lismo - que tran sgride a reg ra do ní vel fora da ques tão por se r, em gra nde parte, um a cara cterística
de pa rc im ôn ia? sub jetiva inteira mente indepen den te da ver da de 28 , A ele-
19 ) Justeza Metac íentifica. A teo ria tem de ser co m- gân cia ali a be leza nã o é uma característica independ ent e,
pa tíve l co m fé rteis princípios m ctacie ntí ficos, ta is co mo os mas derivada de algumas teo rias : uma teo ria susci ta em nós
postul ad os da legalid ade e raciona lida de c as a firm ações um sen time nto est ét ico se for logicam ent e bem o rga nizada,
mc tan omo l ôgica s rele vantcst ? (t al corno a cov ariânc ia acu ra da, profunda, ampl a e origina l - e se e stiv ermos pr o-
ge ral ), f und am ent e int eressados no assu nto . A apli ca bilid ad e pr á -
A sim plicida de é, no melh or dos casos, irr elevan te par a tica é re leva nte par a a ver da de, co mo pr ova o amo nloa do
n jus teza metacicntífica - n m enos q ue seja arb itrariamente de pseudociências que serve a u m propósito p roveitoso par a
inclu íd a entre os sintomas de uma tal justeza, a despei to de seu s empresários e até ocasionalme nte pa ra as suas víti mas.
sua amb ígua import ân cia pa ra os dem a is desidera tos da te o- O caráter operacio na l não pod e se r sa tis feito se Cor em
ria científica. permitidos predi cad os ( teó ricos ) tr an scendentes e/ ou métri-
20 ) Compa tibilidade de Cosmovísão. desejável qu e
Ê cos~o - co mo devem ser se a teoria fo r exata. Uma ali a
a teo ria se ja coeren te com o núcleo com um das JVelt ans- probabilidade a priori não é coerente co m a precisão e
chauungen predominantes nos círcu los científicos - cos - a un iver sa lidade. E a causalidade, a menos qu e seja e nte n-
rnovisõcs que, de q ualquer mod o . mol dam a pr ópria co ns- d ida num sentido m uito libera l - como determi nis mo ge-
tru ção C a colhida das te orias c ientí ficas . Este requisit o fun - ra i, co mp ro met ido ape nas co m o pos tulado "tud o é deter-
ci on a co m o est abili zad or : d e um lad o leva-n os - ao lado min ad o de aco rdo co m leis por a lgo dife rente" - seri a
d a coe rê ncia exte rna da qua l é ex te nsão - a reje ita r teo- tão m util ad ora p ara a ciê ncia co mo a simplicidade em
rias m alu cas; de outro, po de re ta rda r, ou até evitar, re vo- ge ra l'",
luções em nos sa cosmo visãc , se esta não dá lugar à sua
própria m ud ança (basta le mbra r a fria recepção d ispen - (28) Cf. MAR iO BU NG E, l ntllition and s ctence, (Prentíce-Hau
1962). •
sada à teori a do campo e à teoria d arw inis ta n a Fra nç a, ( 2~) II,EMP EL, Carl G. The Concept ot Cogníttve Significance; A
há um séc ulo). Cu mpre, po is, u sar co m cu ida do o critério Reconstde muon. l n : Proc. Amer. A cad. A,t.r tlI l d sct ences, 80, 61 (t ~1 ) ;
PA P, Art hur , "A re Pbyslcat M agnitu des. Oper atio nal ly Deüna bter" . ln:
da com patibilidade de costu ovisão . De q ualquer fo rm a, in- Measurcmeiu: Deltutüons ond Theor íes. C. wes t C hurchman and P.
Ratoosh (eds .) (New York, wüer, 1959 ) , Cap. 9.
(30) DUN<..iE, Marte. COIlSQtit},. (C am bridge, Mass., H arvard Uni.
(27) BUNG E, Mario . M ~f(If(' fto",ific
k, T homas. (1959) , ce e. 4.
Q I(~,it'S. (SI'dngfi eld, III.; Ch er- versjty "I
cu, 1959) .

142 143
O utras exigê ncias legítima s podem naturalmente apa- teo ria cosrnogonica implica a hip ótese de que a terra foi
recer co mo progresso da meta ciência e o avanço da pr ó- form ada há: alguns bilhões de anos , em conjunto com os
pria ciência . T o rnam-se nossos padrões de rigor cad a vez outros planetas e sem nenhum privilégio espe cial (em ou-
mais ex igentes? M3S os vinte crité rios acima arr olad os co ns- tras palavr as, o sistema geocêntrico não é coerente com
titue m um con junto assaz complexo, sobre tu do para apurar a teo ria da evolução estelar). Os eixos ter restres são tão
o peso da simplicidade. bons co.mo o sistema cope rnicano de referên cia de um pon-
to de vista ap ena s geom étrico - i. é, com respeito ao for.
mat o das órbitas - mas são definitivamente inad equados
3. A Aceitação de T eorias Cientificas: Cinco Casos de um ponto de vista din âmi co e cinemático entre outros
motivos porq ue as velocidades aparentes dos corp os celes-
Ilustremos o funcioname nto dos crité rios de ava liação tes podem tom ar qu alquer valor (p ois são pro po rcionais à
acima arrolad os co m algu ns casos renornados. Admitirem os distân cia da Terra) , mesmo além da velocidad e da Luz e
que todas as teo rias a serem exa minadas em seguida são porqu e sendo os. eixo s de Ptol omeu não-in erciais, não é
logicam ente coe rentes e, em certa medida, compatíveis possível aplicar a eles o prin cípio da relatividade (n ão há
com a inform ação empírica. eq uivalente relativístico de uma transfo rmação de Lo-
renlz)"; (b) poderes ex planat ôrios e de previsão: o siste-
3. 1 . T eoria do Sistem a Planet ário ma heliocêntrico explica as fases dos planeta s (preditas e
descobertas por Galileu, no caso de Vênus) , a refraçã o
Os modelos geocêntrico e heliocêntrico de nosso siste- da luz (que nos po ssibilita determinar tanto a velocidade
ma planetário surgem aos olhos dos co nvencionalistas com o da terr a como a distân cia terra-sol ) , o desvio Doppler dos
empiricamente eq uivalentes e m esmo com o modos de falar e~ pectros das es tre las (q ue leva à determinação da velo-
eq uivalen tes; e foi dit o e rep isado que a ún ica razão para Cida de de recessão da nebul osa) e de diver sos outr os fe-
pr eferi r o sistema heliocênt rico é sua simplicida de relati va nôm enos que o sistema geocêntrico não "salva" ; ( c) repre-
em face da imagem geoc êntri ca, urna vez que - tal é a sentat ivid ade : o siste ma heliocêntrico não é simpl esmente
alegaç ão - não há efetiva me nte nenh uma raz ão em pr efe- um expediente convencional de cál culo , mas uma recons -
rir um sistema de refe rên cia (o co pernica no) a ou tro (o tru ção conceitua I de fatos, como acreditavam G alileu e C0-
ptolom aico) , Ambas as afirmações são falsas: o sistema p érnico, e com o deve ser agora aceito à vista dos fat os
de Co pé rnico-Ke pler expli ca um conjunto de fen ômenos acima men cion ado s; (d ) é fértil: promoveram novas desco-
bem ma ior que o de Pt olomeu. E ele não foi adotado por bcrt as astron ômicas (t ais como as Leis de Kepler) , novo s
causa de sua maior simplicida de - q ue aliás não po ssui desenvolvimen tos em mecâni ca, (e .g., as vári as teor ias da
em todos os sentidos - mas porque ap resent a, supõe-se, gravitação c dc marés) e em óptica (tal como a medida de
imagem mais verda de ira dos fat os, co mo é sugerido, entre Roerner da velocida de da luz) bem co mo a conjetura _
outras razõ es, por sua adequação a teorias contíguas, ao agora positivamente bem estabelecid a - de que há uma
passo q ue o sistema geo cêntrico é lim a teoria isolada ad / IOC. multipli cidade de siste mas solares (sugerid o primeiro por
Espe cificamente, o sistema de Copérn ico-Ke pler sa- Brun o c reiterado por G alileu em sua descobert a dos satéli-
tisfaz os segui ntes critérios de ava liação (c f. sec, 2), em tes de J úpiter) ; ( e) rcfutabilidade: é melhor refutável pela
lima exte nsão que seu rival jamais poderia sonhar: (a) evidência empírica do que por qualquer sistema co nvencio-
coerência externa: compatibilidade com a dinâmica, a
teori a da gr avitação e a cosmologia. Nenhum sistema de possa ser vista como eetncíon ãrta e o Sol como glrnndo em torno dela .
Os cam pos gravitacional! são eq uivalentes ls aceler ações e estas podem
dinâmica em prega os eixos não-inerciais de Pt olomeu (o s se r u an stormad es por melo de tra nsform aç6es de coorden ad ns ad equ adas
ún icos capazes de produ zir as órbi tas de P tolomeu) ; as no Intertce de a penas volumes esoe ço-tempce aís diferenciais; e.r., o e~
vador de ~ in ste i n precisa partir de um lugar den tro do campo d a
traje t ôrias dos plan et as, tanto na teoria einsteiniana qu anto T erra e. finalmente, estatela-se. Par a. um a crtu ca da cre nça errê eee
newt oniana são determi nad as em essência pelo so131; e toda de que a rer euvíd ade ger al permite t ransform ar tod a a aceleração ver
V. A. F OCK. " Le .s)' s t~ me de Ptolom ée et lo systêrne de Co per nlc' à ln
tumt êre de la théor te g6néra le de ln rélativlt 6", em : Q II~.rtlo n.r sctenttíí-
(J 1) Segu ndo a rete tlvtd ade ger al. as t rôl.jet 6ri ns dos corpos são de- qlln ( Pnr is, Ed . de la Nc uveüe C ritique. 19' 2) , I , 149.
ter min adas pelo Côl. mpo gr avita cional e est e, po r su a vez. t determinado
pela dist ribuição da massa. Se ndo o Cn mpo de for ça proporcion al 1 . (3 2) Com respeit o à não-equivalência ci n e m ~Uca e dinâmlca dos
qu an tid ade de ma téria (ta l com e dada por exem plo pelas pa rtfculas e ixos de rererêncta geocên trico e cc nemtcono. segundo a teoria gera l
nucleares ). n ão é posalvel achar um sistem a coordenado em qu e o cam po da relatividade, co nsulte G . O IORG I e A. CA BRAS, Qu csUonJ ret att-
do Sol venh a a ser rnats fra co que o da T erra, de m odo que esta vlstlchc suüe pro ve delln rot ezlon e terr estre, Rend íc Accod. N ot,. Ltncet,
IX, .5 13, 1929.

144 145
nulistn. porquan to não admi te uma adiç ão in term iná vel de esp ant oso aco rdo com o valor pr evisto com a ajuda da teo-
hip óteses auxiliares que vise salvar assunçõ es cen trais; ade- riaM. Todavia , li. situação não é tão boa com respeito a
mais, o mod elo simples de Copérnico-Kepler foi refutad o outros te stes empíricos da re latividade gera l: (a ) a de-
o u, antes, ap erfeiç oado d uran te mu ito tempo com a des co- flexão dos rai os de luz n a vizin ha nça dos corpos celestes
be rta de qu e as ó rbitas reais são muito mai s co mplexas tem sido co nfirmada apenas de nt ro de 10-15 % de rigor;
do que as elip ses o riginais, dev ido às p er turbações de ou - (b) o avanço do periélio de planetas tem sido bas tante
tros pla net as e à velo cidade fini ta de propagação do cam - confirm ado apen as no ca so de Merc úrio (satélites artificiais
go gravitacional; (/) compatibilidade de cosmo vis ão: a p od em oferecer outras provas) ; o deslo camento do periélio,
nova astronomi a e ra compatível não apen as com a nova fí- devido à rotação do sol (outro efe ito p revisto pela teoria)
sica mas també m co m a nova antropologia e a nova éti- não foi medido; (d) ondas gravitacionais, também previs-
ca, segundo a qu al a ter ra não era o luga r mais vil do tas pela teoria, não fo ram detectadas.
un ive rso e a n atureza não fo ra feita para servir o hom em . Por que , então, a maior ia dos físicos prefere a teoria
Qual o papel desemp enhad o pela simplicidade na es- da gravitação de Ein stein , que é, obviamente, tão com-
colha entre esta s du as teorias rivais - m as de fo rm a al- p lexo de um pon to de vista sintático e epislemológico que
guma empiricamente equi valentes? Copé rnico, referindo-se a maioria dos astrô nom os se recusa a empregá-Ia? Segun -
ao aspecto geom étrico de sua teoria, usou o argumento da do parece, as: razões são que a teoria da gravitação de
simpli cidade; mas , ao mesmo tempo, ad mitiu que a sua Ein stein , ao contrário de suas rivais, (a) tem um alto poder
teoria era "quase contrá ria ao senso co mu m" ou, em nossa serendipico : prevê fen ômenos que nun ca foram antes ob-
terminologia, qu e e ra epistemo logicam ent e mai s complexa servados nem predit os por teorias preval ecentes por oca-
que a teoria segundo a qual os mo vim ent os ce lestes são sião do nascimento da relatividade geral - tal como a
tais como parecem ser. Mas como é ingenuamente simples deflex ão do s raio s luminosos e o desvio gravitacional para o
a curva mais complexa qu e Ptolomeu podia imaginar com- vermelh o ; por outro lado, su as rivais foram ace rtadas para
parada às órbitas reai s dos planetas com o as cal culadas se ad equarem aos fenô menos ex post facto: seu grau de ca -
com a mecân ica newtoniann e a teoria da perturbação! Em ráte r induti vo, ali de teor ad hoc é co nsiderável, enquanto
resumo, 6 fa lso afirmar qu e re tem os o sistema heliocêntrico a teoria de Ein stein é nula neste aspecto ; (b) é extensível :
porque ele é o mai s simples: pr eferimo-lo, a desp eito de proporciona uma estrutura que pode ser expandida num a
sua m aior complexidade, porque é o mai s verdadeiro . E fi
teoria unifi cada de ca mpo; ( c) é representaciona l : atribui
simp licidade não intervém em nosso ju lgamento de seu
valor de verd ade . rea lidade ao campo grav itaciona l (ou espaço) e as suas
fonte s, e nã o contém p arâmetros ajus táveis despro vidos de
sig nificado fisico ( como é o caso da feno meno lógica teoria
3 .2. Teoria da Gravitação da gravitação linea r ) ; (d) é prolunda : é relevan te para as
nossas co ncepções de espaç o, temp o, ca mpo, força e massa ;
Várias teo rias da gravitação explica m grosseira me nte as equações básicas pode m mesmo ser enca rada s, confor-
os mesm os fa tos observados que os d a teoria de E instein, me Shroedi nger sugeriu, co mo uma defin ição de ma téria;
e todas elas são mais simples do q ue esta: a teoria de Whi- ( e) é altamente origina l: é an tiint uitiva e suf icien temente
tehead (1922) a de Birk hoff (1945) a de Belinfa nte-Swi- não-causal pa ra merecer at enção ; (f) é fértil : sug eriu no-
h art ( 1957) e outros. Assim, por exemplo, a teoria de vas ob servações, algumas das quais ain da a serem fe itas .
Whi te head , co nveniente me nte modificada, proporcio na a
mesma fórmula (não simplesmente o mesmo va lor nu mérico N em os fatos observados, nem a simplicidade, desem-
para algum ca so p articu la r) para a deflexão gravitacion al penharam um papel proemi nente na construção da rela-
dos raio s de luz qu e a teoria de Einstein 33 • ~ verda de qu e tivid ade ge ral (não obs tante as próprias declarações de
a mensuração recent e do desvio gr avita cional para o ver - Einste in sob re o valor da simplicidade) . M ais ainda, a com-
melho da s linh as espec t rais (devido à ene rgia perdida pe- plcxid ade da teoria tcm sido um ob stáculo à sua acei tação
los Iôtons ao esc apa r dos campos gr nvita cion ais, e.g., no por rnuit os'", c um estímulo maio r pa ra a invenção de teo -
movim en to pa ra cima na vizin hança da ter ra ) ap rese nta ( 34) POUNO, O . V, &; REDKA Jr. G . A . App arent We ight of Pho-
tons, PIJ-y .R ~ ,' . Leners, 4, 337 (1960).
(33 ) SYNGE, J . L. Orb it! and R:JYs in lh e Orev tteu o nat F ield o f ( 35 ) Como um pr o testo contra as eorn ptextdedes da. r~l atl vldadc
a Fini te Sphere A coord ing lo lhe Theory o r A . N . Whil~hC: 3d . ln : Proc, geral , vej3 P . W. BRIDGMAN, The Na t"r e 01 PhJ'slcal Th t or,. (New
Roy Soe. L ond , A , 211. 303 ( 1952 ). Vo r k", Dever, 1936 ) , pp . 89 e 55.

146 147
rias mais simples. Na realidad e, n teoria contém prc-
dl cndo s cpistcm ologica mcnte complexos , tal como "curva- sn, é notaveh nentc esquivo - a ponto de m uitos fís icos
tura do espaço- tempo " e "po te ncial gravita cional" , inacci- te rem desa credita do de sua exi stên cia durante anos, espe-
t âveis para as Iilosofi as empirista s; c as equaçõ es da teo - cialm ente depois de várias tentativ as indepen dentes e de-
ria, em bora em busteira men te "s im ples" se escritas na com- ta lhada s para detectá-lo. Ai nda assim, H . 2 não é bast ante
pacta notação tensori al, s50 sufi cie ntemen te comple xas p ara comple xa: é coerent e com o espec t ro de energia contí-
obstru ir c me smo frust rar a próp ria formul ação de pro- nuo mas inco erente com a h ipótese de conserv ação do
blemas, que torna a teo ria não-prá tica. Daí por que muitos spin, tida po r correta em outros campos . E sta ú ltima hipó -
físicos , mesmo admitin do qu e fi teoria de Einstei n é de tese é respeitada com a introdu ção de uma entidade teórica
longe a m ais verdade ira, freqüen temente empreg am ou ten - ulterio r, ou seja , o antineu trino:
tam teorias alternat i vas que são pragmá tica, epistem ológica
e sintatic amente mais simples; mas as teorias futuras d a m éson-rnu -+ elétron + neu trino + antine utrino H 3
gravitaç ão terão de ser mais inclusiv as e profund as que a
Tal hipótese é coerent e com a con servaçã o de carga, de
de Einstein (entre outras coisas, terão de ser contígu as
com a mecâni ca qu ântica) - portanto, serão provav elmen- energia c de spin ; mas isto en volve uma entid ade empiric a-
te ainda mai s compli cadas que ela. mente indistin guível do neutrin o. O esquem a do decaim ento
tornou-se ma is e mais comple xo sintá tica, epis temológica
e metod ologica mente.
3 .3 . Teoria do Decaim ento-Be ta De falo, H 3 não é a única h ipótese coerent e com
os Catos con hecidos : podemo s enquad rar um punhad o de
A teoria atu al do decaim ento-be ta de nêutron s, m ê- co njctura s altern ativas, admitin do apenas que um número
sons, híperon s, e outras assim chamad as partícu las funda- arbitrár io 11 de neut rinos e a ntineut rinos particip a no de -
men tais, contém du as h ipótese s que se ju lgou ne cessário caimen to-beta. Ma s de nada vale adota r uma dessas hip ó-
compli car DO cu rso do tempo, a fim de enquad ra r a teo-
teses ma is complic adas, enquan to não se p ude r distingu ir
ria com os dados empíric os. Uma das hipótes es se refere
experim ent almente entre sua s con seqüênc ias e enquan to
à existên cia do neutrin o, a outra. a certas proprie dades de
elas nã o lançare m nova luz sobre a explica ção do Ienô -
simetri a das equaçõ es básicas.
meno. ~ aqui que ape lamos para a regra da simplicidade.
A hipótese do neu trino pode ser conven ienteme nte M as nã o esc olhemo s apena s <l a hipótese mais simples com-
explica da com referên cia ao deca imento do m éson-m u. Se patível com os fato s obs ervados ", como a metodo logia indu-
for levada em con ta apenas a conserv ação de carga, a h i-
tivista o Caria: selecionarnos a h ipólese mais simples de um
pó tese
conjunt o de assunç ões igualm ente precisas, todas compat í-
veis com os fat os conhecido s e com o conjunt o de iuizas
mé son -mu ~ clétron /l I de lei que conside ramos relevan te e válido. E isto dista
será su ficiente . Mas verificou- se que el étrons são emitido s muito da simplic idade não -qualifi cada: surge após enorm e
com um espe ctro de energia contínu o (na medida em que a sofistic ação e quando nenhum a compli cação ulterior prome-
observa ção pode sugerir ou testar continu idade!) , que é te ser CrutíCer a. A regra realmen te utilizad a na pesquis a
incoere nte com a Assunçã o de que apenas 2 corpos estão científi ca não é apenas "Escolha o ma is simples ", mas
envolvi dos (se assumi mos, além disso, a con servaçã o do "Tente o ma is sim ples primeir o c, se fal har - como deve
momen to). H . I , a hip óte se mais simples era portant o f al- no rmalme nte - introdu za gradual mente complic ações com-
sa: uma mais comple xa tinha de ser inventa da . A pr6xi ma patíveis com a massa de con hecime nto".
conjetu ra mais simples envolve a inve nção de uma ent i- Uma segund a h ipótese da teoria é que as leis "que
dade não-ob servada , o neutrin o: govern am " este tipo de desinte gração não são in variante s
para a inversã o d as coorden adas de posição (i. é, para a
m éson-rnu ~ clétron + ne utrino H 2 t ransfor mação de paridad e x ~ - x). Até o trabalho de
Lee e Yang ( 1956), a hipótes e mais simples co nsiderava
E sta hipótes e é ep istemoJ ogicamente comple xa; é também
esta transfo rmação , ou seja, que todas as leis físicas são
metodo logicam ente complic ada, po rquanto o neutrin o, co n-
sideran do sua falta de carga e SUA pequen a (ou zero) mas- in variante s para a paridad e (i . é, não m udam sob a troca
esquerd a e direita) . A rejeição desta proposição metano mo-
148
149
16gica :t6 to rn a po ssível ide ntifica r d uas espec tes de parti- explanat ório pos t /actum); não possuía base indutiva mas
culas (os m êsons teta e ta u ) - q ue en volvem u ma simp li- era , ao con trá rio, urn a arr ojad a inve nção que continha alto
ficação taxo nôm ica - e leva a p rev er fa tos ant es insus - ní vel de inobser v âveis, E, nã o fossem esses pecados su-
peitos, ta is co mo a não-simetria da d istribui ção angular dos ficientes pa ra condenar a teori a, o sistema de D arwin se-
p rodu tos do decaimen to. ria bem m ais co mplexo do que os de se us riva is: compa-
A teo ria. lal co mo retificnd a nos ca min hos acima . (a) rem o postu lado singula r qu e enuncia a cri ação especial
possuía um pod er sercndiptco, ( b ) era o rigi na l, c hega ndo de cada espécie , a li os t rês pos t ulados de La ma rck ( afir-
à " louc ura" co mo a hipó tese do neu tr ino e a da nâo-con - mando a te ndên cia iman ente à perfeição , a lei do uso e
se rvaç ão da p ar id ade pa receu a m uit os c ( e ) e ra p rofu nd a , desus o e a heran ça dos cara cteres adquiridos). com o sis-
a pont o de destronar a la boriosa cre nça adq ui rida de que tema de Darwin q ue inclui e ntre outros os seguintes axio-
na natureza jam ais se pode ria en co ntrar d ifere nças intrfn- m as : " A alta tax a de aume nto popul acion al co nduz à pr es-
secas entre a direita e a esqu erda . são populaciona l", " A pr essão po pu lac ional leva à luta pel a
Ela não servir á p a ra colocar a identificação dos tn é- vida ", "Na luta pela vida, o ina ta rnen te ma is ap to sobrevi-
sons ta u c teta em fav o r do pr incípio da simp licidade: vc", "As d iferenças favorá veis são herd áveis e c um ulativas "
esta pequena simplifica ção in trod uzida na sist em ática de e " As características des favoráveis leva m à extin ção",
partícu las fu ndament ais não envolvia uma simplifica ção na As ca racterísticas q ue asseguram a sobrevivência d a
teoria básica ma s era lim a indi cação da p róp ria sim plicida- teoria darwi niana, a despeito de sua complexida de e de suas
de da nut ur cza. Além disso, estava s u pcrcom pc nsada pela várias e genuínos deficiências , fo ram aparen teme nte as se-
int rodu çã o de term os no vos, m enos famil ia res (contribu i- guin tcs: (a) coerência externa: a teori a era compatível
Ç[1CS pscudo-cscn lar c pscu dovctor tal no operador energ ia), CO Il1 a geo logia evo luci o nã ria e co m a teoria evoluc ioná ria
que corresponde ntemen te co mp lica ra m os teorem as deles do sistema solar ; (b) ext ensibílidade e fertilidad e : a teoria
dep end ent es. foi rápi da, at rev ida e fecundamente desenvolvida para a
N ão a fide lida de à simplicidade m as as au dazes inven- ant ropolog ia física, psicolog ia e histór ia e extrapola da injus-
çõe s ele hipóteses no vas, co mp licadas, fo ra m decisivas na tificadamen te para a sociolog ia (da rwinismo social) e a
construção, aper feiçoamen to e aceitação da teor ia do de cai - on tologia ( p rogressivism o spence riano); ( c ) originalidade :
mento be ta . embora a idéia de evo lução fosse velha, o mecani smo pr o-
po sto por D arwi n era novo e su geria novos e atrevidos
3,4 . T eoria da Evolução pontos de partida em tod os os cam pos relacion ad os, bem
co rno o pró prio re lacionamento e nt re domínios até então
o qu e deu a vitória da teori a de Da rwin da evoluç ão des conexos ; (d ) escrutabilldode : a teoria de Dar win não
através da seleção na t ura l sob re suas v árias riva is, espe cia l- envolve pre dicados inescrut âveis co mo "criação", "propô -
m ont o o cri acio nis mo e o larm ar ckism o? A teori a de Dar - sito", "perfe ição im an ente" c coisa sem elh ant e e não impli -
win, a legav a-se, era logicam ent e def eituosa ( lem bre mos da ca m od os de conhecimento tidos por não-científicos (tais
suspe ita de qu e a "sobreviv ência do m ais a pto" é um cir- COnto a revelação) ; (e) rei utab ííidade em pírica : ao con-
cul o vicioso ); continha muit as asserções falsas a li, no mí - t rári o de suas r ivais, tod o el emento de ev idênci a impor-
nimo, não-p rovadas ( toda va riação é boa. par a o ind ivíd uo, la nt e era co nce bivelme nte favorá vel ou desfa vorável; ( f)
"caracteres adquiridos, se favorávei s, são he rdados" ) ; não nivel d e parc imõnia : ne nh um a en tida de espirit ual era in-
foi co mp rova da pela ob ser vação e muito m en os p ela ex- vacada para explicar fe nô me nos de níve l in ferio r e, tam -
periên cia com espécies vivas sob condições controladas (o pou co, ne nhu m mecanismo físico-q uímico era emprega do;
desenvo lvimen to de estirpes de bacté rias resi stente s a an- (g) juste za metacientíitca : em p art icul a r. a co mpatibilidade
tib ióticos, o melani sm o industrial em bo rbo leta s e alguns com os postulados da leg alid ad e, violada pela h ipót ese da
outros processos que apóia m a teori a, for am observados criaç ão - m as de ou tro lad o a teoria e ra incoerente com
décadas a pós o apa reci mento de A origem das esp écies) ; a met odologi a indutivista então dominant e, e par ecia sus-
seu pod er e xp lan ató rio er a visivelme nte m en or do qu e o de peit a para alguns neste ponto; (II) co mpatibílidade de cos-
suas riva is ( as teorias irref ut áveis têm o m áxim o poder m ovis ão: coerên cia definida com a pers pecti va natu ra -
lista, ag nóstica, dinam icista, progressivista e individualista
(36) P ara uma en âtlse do status 16&lco da lel de co nservac ãc da da int elligentsia sobre a qu al as recentes mud anças culturais
paridade e outras proposições met anomo16gicas, veja MAR tO DUNGE.
"Ln wa a f Physlcal Laws" . 29, 518 (1961) . e soci ais ( nom ead am ente 1789 , o Ca rtismo, em 194 8) h a-

150 151
viam cau sado prof und a imp ress
ão . Essa s virt ude s do dar-
winismo superco mpe nsavam as talistn é apenas con fi rmável, urna
suas defi ciên cias e fize ram vez que fala acerca de
com q ue va lesse a pen a corr igi-I vagas infl uên cias amb ient ais; e)
as em vários pon tos, até é compatí vel com con -
que veio a fund ir-se (ap enas na cepções filos óficas bem fund ada
d écad a de 193 0) com a s e larg ame nte acolh idas,
gen étic a. C0l11 0 o natu ralis mo (bas
es mate riais de traç os biológicos)
Em sum a, a sim plicida de nã c o atomi smo (exi stênci a de
gên ese e desen volvimento da teor o foi leva da em co nta na unid
espécie em cad a nível de orga niza ades disc reta s de toda
ia de evolu ção de Dar win . ção ). Por fim , seu prin -
cip al inimi go, o lyse nkismo ,
3.5 . Teo ria Gen ética foi arru inado pela frau de,
dogm atismo e asso ciaç ão desagrad
ável com os cerc eam en-
A t.eor ia men deli ana da here dita tos da libe rdade acad êmi ca. Con
tudo , que m neg aria que
o ataq ue do am bient alismo ou neo ried ade en con tra-se sob atitude s injustas e não -aca dêm
icas man ifestavam -se em
larn arqu isrno d esde o seu amb os os cam pos há algun s ano
iníc io. A teori a da onipotên cia s. prec isam ente porq ue a
do me io amb iente é seduto- co ntrové rsia toda cm enc arad a
ra p ara mui ta gen te, por es ta com o part e de um a guer ra
r mui to m ais pr óxima do sant a?
sens o com um, po r ser causal,
por que (ox alá fosse verd a- D e q ualqu er mod o, a sim plicida
de!) nos cap acitaria a co nt rola de - diga -se de pas-
r a
de form a planejad a e last , bit' not evolu ção rapida~ c.nte sage m - que estava ao lad o
de Lysenko não desempe-
mente com patível co m lima visã least por ser su perf icial- nh ou papel algu m no debate qu
and o com para da com as
o prog ress iva e otim ista da co nside rações ideológica s e polí
vida h um ana , em que a nutr ição ti cas.
ficiên cia da natu reza . De outr o pode supe rar toda de-
lad o, a genétic a m end elia- 3.6 . Pro va das Provas
na é do po nto de vista form al,
sem ântico e epistemo lógico,
mui to ma is com plexa; en volve
te rmos te óric os tais com o Rel em bram os e analisam os cin
"gen e"; exige o uso de esta tística; co casos hist óric os, a
não perm ite po~ ora um fi m de com pro var as pro vas exp
con trol e preciso da evol ução ; suge ostas na sec. 2 (não há
re ante s perspecti vas som- met aciê ncia científica se ela não
b rias e - ao men os na versão com prova as suas hipó-
wei srna nnin na da teor ia - tese s) . Não eram ape nas casos
refo rça o anacr ônico prin cípi o elem enta res de polinômios
onto lógi co d a exis tênc ia de ade quad os a con junt os isol ado
um a subs tânc ia imu t ável (o germ s de dad os obse rvacio nais
e-pl - o ex empl o favo rito dos trata
a teoria gen ética não explica satis asm a) . A lém do mais , men
fa tori ame nte a here dita - plicid ad e. Os cin co casos sele cion tos indutivistas da sim-
riedade no caso dos orga nism os ados para exa me consi s-
supe rior es e mui tos gene - tiam cm siste mas de hipó teses
ticistas com eçam a adm itir uma com
inte rven ção para lela, em- tant e imp ort antes para afet ar em pro váveis e eram bas-
bora mais fra ca, do cito plas ma cert a med ida a cosmo-
na tran smi ssão dos ca- visão mod erna . Em nen hum dele
ra cteres. plicid ad e fosse um fato r ma ior s verificou-se que a sim-
Por que , entã o, é a gen ética da con stru ção ou aval iaçã o
men deli ana acei ta peja da teor ia; mui to ao con trár io,
mai oria dos biólogos? As prin cipa as teor ias fina lme nte esco-
is razões são, 80 que tudo lhidas eram em mui tos aspe ctos
indica, as seguintes: a) el a é nota velm ente mai s com -
representacional : localiza plex as de que suas rivais derr otad
prec isam ente cad a fato r here ditá suge re a objetiva com plexidade as. O que simplesmente
rio num a porç ão de ma- da realidade .
téria (gen e ou com plex o de gen
es) e forn ece um mec a-
nismo de acaso (b aral har d e gene
tado final, ao pass o que o amb s) que exp lica o resul-
ientaJismo é uma teor ia fe- 4. Conclusão: A Leveza das Simplic
nom eno lógi ca; b) é coe rent e idad es
com a teor ia da evo luçã o
por sele ção natu ral (com o foi
mod ific ada para sati sfaz er
prec isam ente esta exig ênci a) e 4 .1 . A simplicidade não é nem nec essá
com a bioq uím ica (um me- ria nem suficiente
can ism o plausível e prec iso de
tran smis são de info rma ção Enq uan to o aco rdo com os fato
gen étic a e de dup lica ção de gene s tais com o testados
tad o); c ) tem pod er de previsão foi rece ntem ente inve n- pela exp eriê ncia foi con side rado
pelos metacientistas com o
: as prev isões esta tísti cas a únic a prov a de uma verd ade
(não as indi vidu ais) são ami úde ira teori a'", só a simplici -
possí veis de uma form a dad e pare cia forn ecer o crité rio
acu rada por mei o de suas leis; d) decisivo de esco lha entr e
é reju tâvel e con jirm ávei
por exp erim ento (e .g ., mut açã
o por ação física díre ta de (37) Veja e. I. , w. SfAN LEY
JEVO NS, The PrincipIes
raios -x sob re crom osso mos ) , ao 2. ed. (1817 : New York , Dever, 1958) 01 Sclen~.
passo que a teor ia amb ien- thlor Je phys iqlfe, 2. ed. (Pa p . 510; PIER RE DUH EM,
La
p. 2:59. onde ele ad mite ris. Rívíêre, 1914 ) . p . 26; veja,
que a simplicida de não é um ent eetamo,
sin al de certez a.
152
ISJ
teori as co ncor re n tes. O que ma is poderi a di sting uir um a cm co nten ta r algu m as d as ex igên cia s acima - salvo a
te o ri a d e ou tra en qu an to - de ac o rdo com o ind utivisrn o sis tc rnatic idad e, a e xatidão e a comprobabllida de qu e são
- a atenção foc alizava a confir ma ção e m pír ica, negli- ob rigató rias - nã o dev eri a levar a rejeita r inteiramente
ge nciando to do s os de mais fa lares que na r ea lidade . co ns- urn a teo ri a. A ssim , e . g " a co rreção sint ática e a exat ídão
cien te o u in conscien tem en te in ter vêm na avaliação d as tco- Iingillsti ca são se m pre escassas nos in ícios. Se uma. teoria
r i a~ cie ntí ficas? fo r rica de co nce itos profundamente tran scendentes e escru-
São idos os dias da sone ta simplivitus : comp re en de-se t ávci s e se prome te r unifi car largos domínios de conheci-
cada vez mais clara me n te que o g rau de verdade, OII g rau m ent o o u ser in strumental na expl oração d e novos terri -
d e a mparo das teori as cie n tífic as nu nca fo i igual ad o ao tó rios , seria mi opi a recusá -la totalmente por causa de algu-
se u grau de co nf irmação. Um nú me ro bem m aior de rc- ma s d eficiê ncia s formais; o caminho ma is sábio a escolher
q uisitos foi sem p re imp osto de f acto pe los ci entist as e fo i se rá el abo ra r a teori a e submetê -la a p rov a : a nitidez se -
ocasio nal mente reconh ecido'", Vin te ex igê ncias - Iun cio- m ânti ca e sintática será eventualmente atingida no curso
nan d o ao ní vel pragm át ico , co m o o u tro s ta ntos critér ios d este pro cesso. Só as te orias maduras pr een chem todos os
d e ava lia ção - foram iden t ifica d os na sec. 2 , e a sim - r eq u isitos de forma ex cele nte . Mas, as teorias fatuais ma -
pl icidade ge r al n ã o figuro u e ntre eles pela m era razão d e du ra s, co mo as pe ssoas m aduras, são aq uela s que estão
que uma te oria pod e ser s im ples e falsa o u complexa c em vias d e se re m s ubstituída s,
ap roximadamente verdadeira - i , é, p ela simples r azão Qu al O papel da simplicidade no corpo dos critérios
d e qu e a sim plicidade não r 11m signo necessário nem ,fll- qu e guiam a nossa a va lia ção das teorias cien tí fic as? A fim
[icient e da verdade. d e estim á-lo , deveríamos recordar, c m pr imeiro lugar , que
Não ser ia realísti co co nsid era r q ualquer do s vinte re - há uma vari ed ade de simplicidades (sec. 1.1) e, em segun -
qui si tos, exce to a s iste m at icid ade , a pr ecisão c a co mp ro - do lugar , que simplicidade de alguma espécie é favorá vel
bab ilidude c omo es tr ita m en te necessários p ar a cham a r um par a alg uns po ucos s intom as d e ve rdade, e mesmo assim
co nju n to de hipót eses d e teoria cienú lica a ind a qu e em co n- dent ro de limites. C omo foi visto na s secs, 1 .2 e 2 .2 que
junto sejam sufi cientes p ar a ch am á-lo de teoria científica a simp licida de sintá tica é fa voravelmente rel evante para a
aproximadam ent e verdadeira. (Os cr ité rios de av alia çã o são, sistem aticid ade - embora não ne cessária para atingi -Ia; d a
por conseguinte, út eis pa r a di stinguir sistemas não-cienti- m esma form a , a simplicidade semântica m oderad a e meto-
fico s de científicos e, cm parti cul a r, para elim ina r teorias dológica foram pr opo stas co mo crit ério s de avaliação, prin-
pseudocientífica s.) O s vin te r equisit os co nstituem ant es cip alm ent e por ra zões práticas. De outro lad o, a comple-
desideratos da co nstrução d a teoria, mei o s pa ra alc ançar a xid ade de certa espécie está associ ad a a onze outros re-
verdade e sinto mas d a verdade; e co mo out ros desid er at os qui sit o s : coerê ncia e xterna, exatidão lingüistica , interpre-
nã o são todos mutu ament e compatívei s de modo que é tabilidade empíric a, representatividade, poder explanató-
m ist er p rocu rar se m pre u m co m p ro m isso. rio, pod er d e previsão. p rofundeza , exten sibilidade, origina-
O ra, todo de siderat o - aq ui com o alhu res - pode lid ade , confirmabilidade e com patibilida d e de co smovisão.
se r sa tisfe ito em vá rio s graus e o m alogro d e uma teoria Por fim , a regra d a sim pli cidade é ambígua com respeito
à com probabilidade e ao nível de parcimônia e, no melhor
(8 ) Um precoce reconh ecime nto d:l mult iplicidade d o, eX! lên cla, en- d os casos , é neutra r elati vamente à!l re st antes quatro exi-
ccn tm -se em II E INI UCII ll BRTZ. The l'r ille/p tn 0 1 /tf u1ulll fc.1. (1894;
New York, Dever, 19.5 6) , Intr oduction. H ER TZ ar rolou a' seguintes : 1 ) gênci as - correção sin t ática, fertilid ad e, c scrutabiBdade e
possibilida de lóe lcn, ou com patlbllldnde co m 0' "leis do pensame nto"; 2) jus teza metacientifica .
poder de previsão : 3 ) n úmer o m ãxfmo de " rerações essenci al, do
obj eto'' (o que eu chamei de prof undida de ); 4 ) " o menor núm er o pas- Não parece possível atri bu ir pe so num éri co à maioria
sivei de relações supérfluas ou vazlaa'", Decor re u melo século ant e' qu e
o utro filóso fo da ciência ou sasse adi clcnar requisitos nã o-em ptrícos: dos requ isitos e não parece promissor tentar quantificar
H EN RY MARGE NAU, The Nature 01 Phy.s!cftl R eall!}', ( Ne w Yo rk, a con trib uiçã o , positiva, negati va ou nula da simplicidade
M c Gr n w~HiII, 19.50) , Cnp. .5 . a rrolou os seguintes " requisitos met aüstcos
acerca de constructos": 1) Iertitídade tõ gtc n, 2) co nexões mólti pl nl , 3) desses vá rios sinto mas. Se cumpre mencion a r números nes-
I'l cr manê neln ou estab ilidade. 4) extensíbíudade. S ) caus alidade, 6) sim- se co ntex to, contentemo-nos em dizer que a simplicidade
plic idade e eleg âncln. Cf. tamb ém MA RIO DU NG E, M ctascten tt]tc
Q rlluies, (Spr ingfield, J. I t , Charles Thomas, 19S9) , p. 79 e $S ., e não contribui posit ivamente para dezesset e dos vinte maio-
KARL R. POPP ER " l he Idca of Tr uth and the E mplrlcal Char acter o f res sint omas da verdade . No tocante à maiori a dos sinto-
Sclcnti flc T heorJes" npre sentndo no Co ngresso l nt emacton oí de Lógica,
M et odologia e Pttosoita da e U ll cltt (St:mford, 1960) . N este arti go, rop· m as da verd a de , então, a sim plici d ade assemelha-se ao Ilo-
PER concorda que uma d as exigências p ar a urna boa teoria ~ qu e esta glstico : é vaga, esquiva e tem peso negati vo sem pre que
" deva ser bem sucedida ao menos com algumas de suas nov as previs ões"
L é, qu e seja confir mada , não é impond er ável.

154 155
4.2 . O pap el das sim plid dadc.s IUl pesquisa
nas inex atam en te aos refe rent es
O pap el das sim plic idad es n reais destes qu ad ros; quan-
a pesq uisa cien tífic a to ma is sim ples o mod e lo teór
disti nta de seus prod utos : dad ico, mai s gros seiro e não -
os e teorias - é, em suma , real ístic o ele será . Não nece ssita
o segu inte : as sim p licid ades são mo s espe ra r pelo s testes
inde sejá veis no está gio da emp írico s, a fim de desc obri r
in ven ção do prob lem a, pois a que todas as nos sas teor ias
sim ples desc obert a ou inve n- são, estri tam en te fala ndo , fa lsas
ção de p robl ema s aum enta a (cf. 1 . 4 ) . Sab emo s disso
com plex ida de ex isten te . As de ante mão não s6 porq ue toda
sim plicidades de vári as espéci s env olvem demasiadas sim-
es. por ou tro lado , são de- pí íf ícaçõ cs, com o com prov am
sejáveis na f orm ulação de prob a análise da con stru ção e
lem as, e m uito men os na ap lica ção de teor ias fatu ais e a
solução de pr obl em as que exigem exper iência históric a. A eco-
algu mas vezes lima com - nom ia co nceitual é, conseq üe
pl ica çã o do prob lem a dad o (o. ntemente , um sinal e um a
g., amp liaç ão de sua colo - prov a de tr a nsito ried ade, i. é,
caçã o) o u a inve nção de con de falsida de - a ser su-
ceitos , hip óteses ou técn icas plan tada por uma men os fals a.
novas. co mp le xas. En tão, alg uma Sim ples sigilltnn t n/s/.
s espé cies de simp licid ade
- es peci alme nte fi econ om ia sint
á tica e sem â ntic a - estão 4.3. Conclus ão
nolens volens envo lvid as na con
strução da teoria, qu e r de-
vido à pob reza forçada de cad
a início, que r por que uma A exig ênci a não -qua lific ada de
com plic ação int ratá vel em um econ omi a em todo
está gio po ster ior dem and ou aspe cto, ou mes mo em cer to
sim plificaçã o cm ce rto aspe cto aspe cto é defi niti vam ente
(com ume nte sintâ tico ) ; to- inco mpa tíve l com um núm ero
dav ia, nen hum a teor ia sing ular de imp orta ntes desi dera tos
, se prof und a e prom isso ra , da con s!ru ção de teor ias - tais
dev eria se r sa cr ifica da à sim plic com o, c . g ., de prec isão ,
idad e. F inal men te, as sim - prof u ndid ade e coe rênc ia exte
plic idad es sint âticas e prag mát rna
ica s são, den tro de limi tes,
fa vorá veis ao teste de teorias. cida de tout cOllrt nun ca deveria - enq uan to a simpli-
Mas , en tão, a sim p licid ade ser en ca rada com o obri -
em algu ns aspe ctos é usua lme ga tór ia nem conside ra da co mo
nte com pen sada pela com - um crité rio inde pen den te
plex idad e em algu m outro aspe ao Jado de outr os - mui to men
cto : bast a lem bra r a infi- os acim a de outr os. As
nita com plex idad e sint âtic a q ue regr a s de sim plic idad e caem sob
é preci so pag a r pe lo em po- a
ten ha cren ças arbi trár ias (inf und norm a gera l " Não man -
bre cim ento epis tem ológ ico de teor ada s) ",
tu ição de exp ressões t ra nsce ias prov oca do pe la substi- Se enq uad rada com toda a de vida
nde n tes ("au xilia res" ) por prec auçã o, a fim de
ob ser vaci ona isê". evit ar a mu tilaç ão da teo ria cien
A fun çã o das sim plic idades na cida de se eva pora rá na no rma tí fica , a regr a da simpli-
inve stig ação cien tífic a que nos ma nda min imizar
nã o é, em nen h um grau , tão os supé rtíu os. .M as esta regr a,
imp ort ante com o os con ven - natu ralm ente com o toda
cion alis tas e e mpiris tas ima gina ou tra injun ção neg ati va, é insu
ram . A razã o prin cipa l da ficie nte enq ua nto linh a de
perd a de peso na sim plicidad e co nstr ução de teor ia ; além diss
é a segu inte : a t aref a do o, de nad a nos va le reco-
teór ico nã o é ape nas descr e ver nhe cer qua is eleme ntos de uma
a exp eriê ncia da m ane ira teor ia são redu nda ntes ,
mai s econ ô rnica , ma s constru ir i . é, qua is deles não dese mpe n ham
mode los teór icos (n ão ne - nem funç ão lógi ca nem
cess a riam ente m ecân icos!) de emp írica . A prod uçã o não é asse
porç ões da real id ad e e ve ri- gura da pela especi fica ção
fica r tais im agens por mei o da do que nã o deve ser feito .
lógi ca, ult erio res con stru -
ções cien tífica s, dad os emp íric A sim plicidad e é amb ígua com
os e regr as m ctacie nt íf icas. um term o e tem dois
Um tal trab alho const ruti vo gum es com o pres criç ão e dev
elll'oh:c cert ame nte a negli - e ser con trol ada m ais pelos
gên cia de com plexid ad es m as sinto mas da verd ade do que en
nã o visa descon side rá-la s; cara da com o um Intor de
ant es p or ém , um desidera to de ve rdad e. Par afra sean do Balt asa
ca da nova teor ia é exp lica r r G raci â n - "Lo bueno,
algo que foi desc uida do em ob si breve, dos veces bueno" - dev
serv açõe s ante rior es. em os dize r que uma teo-
e. por esta ra zão que não se p ode
mai s cre r n a m á-
ria que func io na, se sim ples,
- mas isto é tr ivial. Se é dese
f uncion a du as vezes mel hor
xim a escol ástic a Sim plex sigillnm jado um conselh o prát ico
veri : pois sabe mos qu e com o coro lário , seja ele o segu
tod as as no ssas con st ruçõ es são inte : a nav alha de Ock ham
dam ent e ou nã o, en volvem o despdefeit uo sas poi s, deli bera - - com o toda s as nav alhas -
dev e ser ma nipu lada com
rezo de um des con heci do cuid ado pa ra evit ar q ue deca
núm ero de fa tor es. Teo rias fatu pite a ciên cia na tent ativ a
ais se apli cam exa tam ente de cor tar algu mas de suas pilo
a mod elos ou ima gens esqu em sida
átic os, e mpo brec idos , e ape- na barb eari a , ante s vivo e ba rbud des. N a ciência, co mo
barb ead o. o do que m orto e bem
(39) C RAIG , Willi am. Referên ctn S.

156
157
8. TEORIA E REALlDAD El

I . Introdução

Toda ciência versa sobre um a ou outra classe de obje-


tos . E m particular, a física tr ata de conju ntos de obietos
físicos: considera-se qu e a física teór ica represent a cer tas
características de objetos de uma espécie - i . é, sistemas
físicos - e q ue a física expe rimental assu me a tarefa de
comprovar tais representações teóricas. Esses objetos que
(J) Leia no colóquio acerca de "Objetivft! et r! alltE dans 1e,
dirtér r nlrs setences' patrocinado pela Académie l ntt r nallon ale de Phrtc-
soph ie de! Sctences. Drux(! as. 1-9. setembro 1964.

159
co nstit ucru o iurcrcssc 0 11 c 01110 dissem os - O, re le-
rentes prete ndidos - da f ísica teó rica são ex- lvypothesi ccitunl trata ndo por con seguint e com estes deputad os mais
existen tes por si: não depend em da me nte. ê. verdad e que do q ue com seus eleitorados. Assim, o que é em geral foca-
alguns deles, tais co mo os tran su ra ni anos talvez não vies- lizado no represe ntante matemático de um a variável ffsíca,
sem a existir sem a nção h um ana guiada pela. física teóri- não é o conceito todo, mas apenas a fs) parte( s) nurn éri-
C :l~ (s ) desta. T omemos, ma is um a vez, o conceit
ca ; out ros, tais como os mon op ólos m agnét icos, tal vez não o de tem-
p assem de ficções . E toda idéia relativa a objet os físicos peratura : o que foi inserid o em um enuncia do de lei ter-
dc uma espécie, seja Oll não lima idéia adequa da , não é modinâ mica não é todo conceito de temper atura mas a
mais nem menos do que urna idéia. Além disso, nenhum a variáve l numérica {} que ocorre na função proporc ional
" t ( <T, s) = 1~" , qu e é o resum o para "a temper atura de
idéia assim jamais é lima descrição fotográfica de seu re-
ferente pretendido , mas uma represe ntação hip otética um sistema o calcula da no sistema de escala-cnm -unidade
incom pleta c simbólica deste. Tod avia , o problema cm dis- s é igual a ê " , A razã o para fixar s, deixand o de lado o
cussão é qu e a Iísica teó rica preten de aplicar-se, em últ i- objeto variáve l CT e pr ender-se à componente numéri ca {} é
ma an álise, a objetos reais e, ademais, da maneira m ais clara: só conceitos matemá ticos podem ser sujeitos à com-
ob jetiva ( i. é, separa do do sujeito o u invarian te co m res- putação numér ica e {} é. do co nceito todo de temp eratura ,
peito ao operado r ) c verdadeira (a dequa da) possível. preci samente aque le ingrediente capaz de colocar-se sob
O que segue explica as precede ntes banal idades e ten- o domínio da aritmética. Mas a fo calizaçã o momen tânea
tati vas de analisa r alguns traços das teori as físicas que Ire- de um dos ingred ientes do con ceito de temper atura não
qíientem e nte obscurec em sua pr etend ida re ferê ncia real, deveri a levar-n os a esquece r que a temperatura não é uma
objetividade e verdad e parcial. variável numérica, porém, uma função que mapeia um
ce rto conjunto construí do em parte fora do conjunto de
sistemas físicos e dentro de um conjun to de número s. (Em
suma : seja ~ o conjunto de sistema s físicos, S o conjun-
2. R eferência' to de sistemas de esca las cum-un idade, e ec R um sub-
conju nto dos númer os reais. Então T mapeia o pr oduto
Qu and o fal amos de temper aturas, pretendem os cara c- ca rtesiano de ~ e S em 0 , i. é, T : ~ X S .... 0 . Con si-
teriz ar os estados térmicos de algum sistema físico, tal co- der ando que cada (J,~ está por suposiç ão no mundo ex-
m o um co rpo ou um ca mpo de rad iação. N este caso, O tern o, S e 0 são co nstructos.)
referen te de nossas asserções é um sistema físico ou tal vez (Algo similar vale para qualque r das variáveis Iísicas
uma classe de sistemas físicos. Esta refer ência é mais tá- mais compl exas. Por exemplo, a representação quantome-
cita do que explícit a : é dada co mo ce rta um a vez qu e é câ nica completa do momen to linear não deveria ser escri-
suge rida pelo co ntexto. No entan to, dei<ando de assina- ta " pu ou mesmo " Pop" mas antes " ppo (e I" - é o que de
lar a referên cia objetiva , pod emos esquece r que os co n- fato fazemos sempre que pretend emos nos referir aos mo-
ceitos físicos visam a prop riedade s repre sentativ as de sis- ment os das componentes individuais de uma assembléia real
tem as físicos. O mesmo vale para tod a relação constant e de sistema s qu ant omecânicos. No caso presente, a proprie.
( não-aci de ntal) ent re variáveis tisicas, i. é. para tod a lei dade física não é rep resenta da por urna função ordinár ia,
da física. Assim, quando escreve mos um a equação de esta- mas isto está fora do assunto: o pretendido referen te obje-
do, pretend emos que esta I ôrrnula se refi ra a algum siste- tivo, Indi cad o aqui por "0''' , é usualm ente esclarecido pelo
ma físico ou, ant es, que verse sobre um membr o ar bitrário co ntexto e daí por que, sempr e que consistir de um único
de um a certa classe de sistemas físicos . O me smo vale, a sistema, pode ser elimina do dur ante os cálculos. Ma s é
[ ortiori , para sistem as de enuncia dos de leis, i . é, teori preciso tê-lo em mente para não correr o risco de perder
as.
É possível torn ar m ais preci sa a referênci a objetiv a a visão dos sentid os físicos e, con seqüentemente, de tornar
atr avés da matem atizaçã o; tod avia, este processo de re fi- os testes físicos sem signif icado. )
nam ent o, se mal ínterp re tado, obscure cerá, ao m esmo tem- O filósofo e, algum as vezes, mesmo o físico, pode des-
po, a ref erência. De fato, o alvo da matcmatização na físi- prezar o re ferente físico objetivo que as variáveis Iísicas
ca é repr esent ar coisas c suas proprie dades cm plan o co n- tencion am apontar tend endo a pensar na temper atura ou
(2) Cf. do mesmo au tor S ;lentl/lc Ru eorcll .
em qu alquer outro conceito físico, como um símbolo em
New York , Spri ngcr-Verl :lg, 1967), 2 v. cnauo ( Ber lim, Heldelber c -
no que segue como si e do mesmo modo em um conjunt o de equ ações como
SR - secs. 2.2. 2.3. 3.5 e 3.6. ca pazes de esgotar urna teoria física . Um a análise das va-

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161
ri áveis fís icas restaura su a pretend ida refe rência objetiva, às out ras para a maioria dos propósitos, (1) porque inde-
ao distinguir o objeto variável (s) fJ das dema is variáveis pende do comportamento peculiar de qualquer substância
envolvidas na represent ação conceitual de urna proprieda- termo métrica e (II) porque se aju sta melhor às interpre-
de físi ca. Ê bastante es tranho que , emb ora uma pequena tações estatísti cas da te rmodinâmica. Ou seja, a convenção
análise possa nfugcn tnr o realismo, umn dose mnis forte pela qual a e scala e unidade de Kelvin são hoje preferi-
nos a pro ximarâ do po nto de vista de que a Ilsi ca deseja das é fundamentada mais do que caprichosa. A razão pela
explicar alguns aspecto s d a realidade: de que a física está qu al os valores da temperatura absoluta independem de
antes relacio nada co m o bjetos físic os do que com estrutu- qualquer substância real e de qualquer operador humano
ras matemáticas Oll com nos sas percepções. é que o conceito foi moldado para especificar os estados
térmicos de qualquer gás ideal. Tais estados são irreais,
porque o próprio gás ideal é um constructo. Todavia, este
3. R eferência Direta e Indiretoê constructo não é uma ficção: considera-se que o gás ideal
é uma esquern atização ou modelo teórico de um gás real.
A referência objetiva que , segundo se supõe, uma va - As várias equações de estado do gás ideal que foram até
agora propostas referem-se imediatamenle a este modelo
riável possui, de ve ser distinguida de uma represent ação co nceitual mais do que a qualquer gás real.
diret a - e. g . , pictó rica - dos obj etos físicos. Tomemos
a temperat ur a mais urna vez: como Mach reconheceu, o A física não é uma disputa : um modelo físico, por
conceito de temperatura é um produto mental nosso, ainda menos intuitivo que seja, é sempre um esboço conceituai de
que fosse introduzi do para simbolizar e stados térmicos algum objeto que se pressupõe estar fora daU. Que esta hi-
obje tivos , Além disso, uma vez que podem exi stir escalas pótese de existência pos sa vir a ser falsa foge do assunto .
e unidades em número infinito, há certa arbitrariedade em O ponto em discussão, na controvérsia entre realismo e ob-
nossa escolha de qualquer deles. (Em ou tras palavras, há jetivisrno, é que o 'fí sico inventa alguns conceitos-chave (e.g.,
umu co rres pondê nc ia número -a-co rpo, uma vez que exi ste "temperatura") que de algum modo ele consigna a objetos
pelo menos um sistema físico possível ao qua l se pode físicos (e (/ ., estados térmicos de corpos) . Esta correlação
atribuir qualque r valor dado de temperatura {} E e.Mas ob jcto físico-conceito é em parte enunciada nas regras de
O inverso não se dá c a correspo ndênci a (função) corpo-
interpretação que consignam um significado Ilsico aos sím-
a-número, a menos que um sistema escala-rum-unidade bolos dados (ver sec. 4 e 7). Supõe-se que os mod elos
seja especificado , poi s só entã o pod emos atribuir um único teóricos ou ideais represent am, de uma maneira mais ou
número a ao menos um sistema físico. Em suma, como meno s simbólica - i. é, convencional e iodireta - e
tínhamos antes, '1': ~ X S 4 El.) O realist a ingênuo su- com certa aproximação, algun s traços da constituição e
blinhará a referên cia de todo co nce ito de temperatura pos- comportamento de sistemas físicos. Todo modelo assim é
sível ao conjunto de todo s os sistemas físicos possíveis, ao parte de pelo menos uma teoria física. (Podemos con si-
passo que o con ven cion alista acentuará a arbit rnriedade da derar que o me smo modelo em essência serve ocasional-
esc olha de escala e unid ade e, a partir desta arbitrarieda- mente a diferentes teori as : assim, todas as teori as do cam-
de, concluir á pela au sência de referência objetiva. po eletrornagn ético, usem ou não potenciais e sejam ou
não lineares, partilh am e ssencialmente do mesmo modelo
Devem os co nceder a cada conteúdo um ponto. Como de campo ainda que difiram nas pr opriedades que lhe
o valor numé rico dn tem pe ratu ra de um dado sistema n50
atribuem tal com o todas as teorias da ação dir eta entre
é (mico , uma representa ção Iotogrãfica de estados térmicos
partícula s participam do modelo da caixa negra.)
está fora de questão. Mas lima vez es colhida um a escalo,
a funçã o de temp eratura preferida representará, à sua pró- Pode-se reescrever o que foi dito acima da seguinte
pria manei ra, o conjunto de estados térmico s po ssíveis de maneira negativa : nenhuma teoria física pinta ou retrata
sistemas físicos. Ao fim de contas, nem mesmo aos fotó- diretam ente um sistema fís ico. Em primeiro lug ar, porque
grafos é exi gido qu e ío to gr aíem seus temas sempre do ~ oda teoria é constituída por meio de conceitos, não de
mesm o ângulo. Além do mais, embora a escolha de um Imagens, e estes conceitos longe de serem empíricos (e.g. ,
dado sistema escala -cum -unid ade seja convencion al nã o é ob servacionais) são con structos plenamente desenvolvidos.
totalmente arbitrária. Assim , a escala absoluta é preferívc1 i. é, conceitos transobservacicnais, tais como Umassa" ,
"carga", "temperatura", "campo de força". Em segundo
(3 ) Cf. SR, sccs. 7.1, 8.1 e 8.4 . lug ar, porque tais conceitos-chave são relativamente pou ·

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c ós em cada teoria c, por conseguinte , refere m-se, se é que Assim, o referent e me diato d a termod inâmi ca clássi-
o fazem, a apen as uns po ucos aspectos escolhidos dos obje- ca (t ermo st âtica ) é qua lquer sistema físico ra zoavelme nte
tos físicos, "os que são co nsiderados impo rtantes" mais do insulado, que é representado como um fluido em um re-
que ao sistema físico real em todos os porm enores, i . é, cipienle perfeitamente fecha do (sendo o fluido -cum-pare-
tal como seria co nhecido por u m observa dor sup rema mc nte dcs o modelo da teori a) . Sem dúvida, não existem tais
at en to e agudo". Em suma, toda teo ria física deve ser, co - sistemas na natureza, à exceção do universo com o um
mo notou Duhcm , tan to sim bó lica quanto in co mpl eta - lodo. Mns qualquer siste ma en cerrado num calorímetro,
de onde não se segue qu e ca reça de significação ex isten- que satisfaça ap roxim adamente a condição de fech amento,
cial ou ref erência objetiva . pod e ser con siderado um ref eren te mediato da termos-
D e fato. toda teori a física pretende r eprese nta r u m tá tica.
membro a rbitrário de um a classe de siste mas físicos . E le E m pa lavras simples : a física p rete nd e represent ar a
o faz, por certo, de m an eira sim bólica e simplificada, mais realid ade ma s o faz de uma maneira hip otética , perifrás-
do que de um modo icôn ico e co mpleto ; nã o obstante, tica e parcial. (M ais detalh adame nte: um a teoria física T
visa re pre senta r semelha n te real existe nte . D o co nt rári o, versa sobre um a classe conceitual definida U - o univer-
O pro blem a de co nstr uir u ma teoria não seria colocado.
so do discur so de T . U corresponde a - mas não é -
E sempr e q ue u ma ta l tent ati va m alogra red ond am ent e, a uma pa rle de ~ da realidade. A frase "T refere- se ime-
teori a é modifi cad a ou aba ndona da : surge o reconheci- diat ame nte a U" significa q ue as fórmulas de T valem ,
menta de qu e o retra to por ela p roporcionad o é o u infiel por esti pulação, par a qu alquer elemento de U . i. é. para
( falso) ou dependente do opera dor ( subjetivo). o modelo. E a expressão "T refere-se medialamente a ~
Quando falamos da refe rência de uma idéia física (va- significa que U é tomado como correspondente a ~ quer
riável, enu nciado , teori a) cumpr e-nos d ist inguir, port anto, as fórmulas de T sejam ou não verdadeiras qu ando os
a refer ê ncia d ireta da indireta . T odo constructo físico re- membros de U que neles aparecem são substituídos pelos
fe re-se diretam ente a um ou o ut ro model o teórico, i. é, memb ros co rrespo ndentes de ~. Se a teoria não se refere
a a lguma esque matizaç ão ideal co rpori ficad a em uma teo - ape nas a fato s ma s além disso o faz de maneira vero ssi-
ria p ressupostam ente cap az de expli car, aind a qu e mod es- milhant e, ta nto melh or . U é uma classe definida, uma vez
tam ente, um sistema físico de uma espécie. O mesm o eons- que é determin ada pelos predicados e pre ssupostos da teo-
tructo refere-se pois indir etam ente a alguns aspectos de se- ria . De ou t ro lado, o re fere nte mediato ~ é uma classe
melhante objelo físico. não-definida: como sua especificação é incompleta , qu al-
quer nú mero de casos front eiriços pode surgir.) Isto nos
forçar á a distingui r d uas espéci es de reg ras significa ntes
Modelo na secção 7. M as a ntes de fazê-lo, que entre em cena o
o Teoria
operado r.

4. Interpretações: Objetiva e Operactonoê»


Ref erencia
M cdiat n Rcrrcscnlação
U m símbo lo que ocorre em uma teoria física é tanto
purament e form al (lógico ou matemát ico ) ou é possível
atribuir-lhe algum significado não-form al (fatual). Em
compensação, a um signo fatualmente significativo que
Sistema ocorre na linguagem de uma teoria física pode-se consig-
físico nar um objetivo e/ou um a interpretação operacional. Assim
"j" pode simbo lizar a inte nsidade de urna corrente elétrica

F ig. l . Referência Obietívo: um a correspondência entre um mo- talvez desconh ecida, embor a nenhum amperíme tro a esteja
delo co nceituai e um obleto real.
(5) Cf. S R, Se<=S. 3.5, 3.6, 3.7 e 7.5.
(4 ) C r. do aut or , The AI)'tI, 01 Sim pllcUy , ( Eng!ewood Clifb, N ew (6) Cf. do autor, M~tas citntiflc Q u~rlu, (Sprl nefle ld, IlT., Charles
Yor1r::, Pr en tíce-H cu t nc., 1% 3) , Parte ti . C . Th omas, 1959), Cap. 8.

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med indo; mas o me smo signo pode . em uma ocasião dife- exigrr símbolos objetivamente signi ficati vos. Somente o
rente, representar o valor med ido de "a m esma" corrente teste dos enu nciad os teóricos relativos a esse sistema mais
- depois de to mad a cm co nside ração a I raç ão de corrcn - amplo há de requerer a inter pr etação de alguns dos ler-
te diss ipada no dispo siti vo medidor. Em suma, " i '' pode mos que aparecem neles em termos de operações de la-
ser lido de mnne ira objetiva e/ o u operacional. (O s valores boratório.
individuais não precisam co incid ir necessariamente em am- O que acaba mos de dizer vale para a física quântica.
bos os casos: pois, de um lado. os valo res med idos serão bem como para a física clássica. A dife re nça fundamen-
sempre afe tados po r algum erro experimental ausen te dos tal é que na tís ica clássica as teorias da med ida estão su-
cálculos le óricos. Por ou tro lado, pode-se atri buir a grano ficienteme-n te dese nvo lvidas para nos permitir calcu lar
dezas básicas como ca mpos potenciais. lagrangianos ou (p rever) os distúr bios introduzidos pela s operações empí-
funções-'J.f, um sig nificado objetivo, mas não operacionn l.) ricas específicas, ao passo que não existem teorias ma-
Só alguns dos conc e itos con struídos com se u auxílio ndmi- duras desta natureza para os domínios atômicos e sub atô-
tem uma interpretação op eracional ( e.g. , p =-= iJ r I aq no mico s. Em outras palavras, na física cl ássic a, podem os
caso de uma partícula carregada em um campo m agné- exp licar a diferença objetiva en tre um sistema natural e
tico ) . outro obje to da mesma espécie a interagir com os nossos
Em geral, di remos que é dado a um símb olo uma meio s físicos de observação . A intera ção é incorporada
interpretação obieti va quando é es tabelecida uma regra que aos enunciados da lei e o result ado do cálcul o pode ser
atribui a e sse signo um obje to físico (coisa, propriedade, empir icamente verificad o para o sistema so b mensuração .
evento, processo), esteja ou não o objeto so b observação Se a previsão calcu lada por meio da teori a da medid a f or
e seja ou não a relação de refe rên cia efe tivarnente sa tis- corroborada peta med ida, a teoria relativa ao objeto na-
feita pe lo par signo-objeto. D iremos que um signo é do ta - t ura l é tida co mo confirmada ( não como ver ificada). De
to de uma interpretação o peracional (não-defin ição!) se outro lado, a teoria quantomecânica da medida não é
uma correspondên c ia for e stipulada en tre o símbolo e o ainda cap az de pr oduzir resultados simila res. (Não con-
resultado das operaçõe s reais o u fnctíveis destinadas a sideraremos aqui as pretensões mutuam ente incompatíveis
observar ou medir a "mesma" prop riedade de "o mesmo" de que a teoria disponível dá con ta plenamente do reca-
ohje to. (Os sinais de citação pretendem sugerir q ue o obje- do, e de que nenhuma teoria assim é concebível porque
to pode m udar em conseqüência de tais operações empíri- a inte ração suje ito-objeto é, em última instância, não-ana-
cas.j Não há mal em atribuir in terpretações desses dois lisável, i. é. irracional. ) De qualque r for ma, existem dife-
tipos a um me smo símbo lo , enquanto a distinção não for renças epi stemológicas e físicas entre um sistema natural e
oblite rada. um outro, mensurado, e correspondentemente en tre a inter-
'Ij, possíve l, poi s, interpretar de maneir a objetiva todo pretação operac ional e objetiv a de um símbolo físico .
símbolo ope racionalmen te significativo. O inverso não é N ossa distinção semântica é despida de sentido no
verdad eiro: significados objetivos não são m ais universais contexto da filosofia opcracionalista da física . Tan to pior
e fund amentais que os operacionais. Assi m. admite-se que para esta filo sof ia, uma vez que essa distinção é, na rea-
os p redicados "p artícula livre", "intensidade de uma onda lidade, empregada na física, não obstante os grandes esfor-
lumin osa no vácuo" e "estado estacionário de um átomo" ços efetuados a fim de reduzir Ioda idéia a percepções e
te nham todos re fe re ntes obj etivo s, e mbora não seja pos- operações ocorrentes cm um vácuo con ceitual. Conside-
síve l co nsignar·]hes . interpretações operacionais. A razão rem a teoria quântica tida às vezes como produto do ope -
des ta impossibilidade é clara: as mensuraçõe s e, em parti- racionalismo. E m geral, se começa por estabelecer algum
cular . as men surações atômicas envolvem um acoplamento prob lema con cernente que se admite ser um obje to exis-
entre o men surandum e alguns aspectos de um dispositivo tente autonomamente como um átomo de hélio arbitrário.
cxperirnental, mediante o qual algumas das propriedades Este átom o pode se r considerado como estando no seu
do obje to inicia lme nte livre são alte ra da s. E o motivo para estado fundamental, mas seremo s incapazes de pôr isto
co nsiderar os significados objetivos como mais básicos do em evidê ncia a menos que primeiro o exci temos a algum
que os operacionais é o seguinte: tudo o que é co mposto ou tro nível de energia. Ta l p roblema não concerne ao teó-
de um objeto físico a interaluar com uma peça de apa- rico; por outro lado, o experimentalista vê -se forçado a
relho constitui um terceiro e mais abrangente sistema fí- utilizar alguma teoria relativa a estados estacionários não-
sico apto a se r es tudado como tal t, por con seguinte, a observáveis e às possíveis transições enlre eles : a fim de

166 167
pr od uzir tais tra nsições , ele deve possui r algu ma id éia ace r-
ca da energia requerid a. Adema is, nen hu ma experiê ncia os resultad os possíveis de medidas da energi a - medid as
propria men te dila deve ser feita a f im de conferi r neste q ue e nvolver iam p erturba ções que não fora m pressup os-
caso os cálc ulos teórico s, po is a na tureza nos proporc io na tas de início, i. é, qu ando se escr eveu a equação de
aqu ilo q ue hi potetizarn os como sendo Álamos de hélio cm Scbrc dinger para o áto mo de héli o. Es ta equaçã o não con -
vá rios estad os exc ita dos, decaind o no acaso para estados té m var i ável relati va. à estr utura e comport ament o do apa-
ma is ba ixos. As medi das corresp onden tes não alte ra rã o ne- relho de medida d uvidoso , e é ape nas para anuir com a
nh um a das proprie d ad es de nossos átomos , desde que as filosofi a ace ita de antemão qu e os teo remas são interpre-
medida s consista m e m colecio nar e analisa r a luz espon- tados de u m mod o injust ificado pel as supos içõe s iniciais .
taneam ente emitida pe los ála mos. Acima disto, os pró pr ios E m suma, a so lução do problem a o rig ina l é de alguma for-
átomos podem perf eitamen te estar localiza dos além do ma interpretad a como a soluç ão de um problem a inteira-
alca nce d o labo rató rio : podem res idir, d igam os, e m algum men te divers o - um desvio dest inado a int roduzir o Ope-
lugar da neb ulosa C rab, Em resumo , não é verda de q ue rado r nos recesso s mai s íntimos da natureza. Nosso filó-
tod o cá lcul o qu anto mecâ nico se refira a um siste ma aco- so fo fís ico q uântico utiliza-se destarte de um privilégio
pIad o a um a med ida es tabeleci da e mu ito m en os à me nt e ou trora reservad o aos teólogo s: i. é, o de "concluir" de
do observa do r; e tampou co é verdade que cada medida um e nunciado para o outro enunciado, referind o-se a um
rel evante p ara a teor ia quântic a produz a dis túrbios e m ui- uni ve rso de discur so disjunto . Lancem os um olb ar mais
to m enos as inteiram e nte im predizíveis. de perto para esta estratég ia co mume nte pratic ada, entre-
tant o mal estudad a .
O fato de que cm cada teoria física fu nd am ent al li-
damos co m um ou o utro objeto natural em vez de sistema s
su jeitos a severas co nd ições de p rov a, é tacitam ent e reco-
nh ecid o quan do se co loca um problem a típ ico em rísica 5. Unidade Conceituai - E Como Transgredi-Ia na
teó rica. Co m efeito, em tal problema oco rrerá ord inaria- Mecânica Quântica
mente ape nas variáve is que se reCerem ao sistema e m estu-
do . (Assim , quando se usa u ma teoria h amilt oni ana, co- o la nce qu e aca ba mos de discutir exe mp lifica um: des-
meçam os po r escreve r, i. é, p or colocar h ipóteses , a ha- vio ilegítim o do signific ado pe lo qu al símbo los que atri-
miltoni an a corresp ondente ao nosso sistema físico, ou a ntes buem inicialm ente um significa do objetivo são de repent e
n u m m od elo esque má tico dele, e p rossegu imos procu ran - inter pre tados de maneir a operaci onal. Es ta m anob ra é exe-
do um a aut o-solução da h amilt oni an a . E m p art icular , esta cu ta da sem a menor preocu pação de saber se tal reint e r-
so luç ão pode ser indepe nde nte do tem po, re prese ntando pretaçã o é, em gera l, poss ível. Se uma ta l rein terpr etação
assim um estado estacio ná rio que é não-obse rvável. Cornu- se justifica , as "conclusões" daí deri vad as perman ecem
mente, nenhum a perturb ação que represe nte a in teraç ão igualmen te inqu estioná veis. T ais de svios de significa do ca-
não-hip ot etiz ada de nosso siste ma com um dispositivo ex- ra cter izam as cos tu mei ras ( fenome n alista, operaci on alista e
perime nta i duvido so ocorre rá na hamilto nian a : esta última id ealista) interpre tações tant o d a teoria quânt ica das "p ar-
conterá just am ente as coorden adas d a p osição, do temp o e tículas" co mo da teoria q uânt ica do cam po, as quais se
do momen to do suposto siste ma aut ôn om o exist ent e - ou torna m, destarte , o que cha ma mos de semant icamente in-
antes de u m esboço dele , t al com o u m oscila do r.) coerente. Vist o que o conceito trivi al e, todavia . impor-
N ão ob stan te , m uitos físicos, seduzidos po r aqu ilo que ta nte de coerênc ia semân tica ou de u nida de conceit ua i
costum ava ser um a filoso fia de moda, con tra ba nde iam para não foi a pa rentem ent e analisa do, convé m efetua r um bre-
os teor em as algo que estava falt and o nas assu nções iniciais ve exc urso ne ste ponto. Alhure s, o assunto é tratado com
- ou seja, um aparato de medida e even tualmen te m es- mais pormen orest.
mo se u ope ra dor com seus pensam ent os e suas inten ções to des ide rato de toda a teo ria possuir un idade qu er
impred izíve is. Isto é, como as rel ações de H eisenbe rg são formal, qu er sem ântica. A primeir a con siste na conjuga ção
freqUentem ente inter pr et adas, e mbora nenhum símbolo que (t ogetlrerness) lógica do siste ma, i. é, em ser um siste-
represente operaçõ es de medida - isto sem falar de eve n- m a h ipot ético-de dutivo em vez de um amonto ado arbitrá-
tos mentai s - ocorra nos axio mas dos qu ais são derivad os. rio de fó rmulas. A coerência semântica ou unidade con-
Outro exempl o: os es ta dos de energia pa ssiveis do átom o ceituai de uma teori a fat ual reduz-se a isso: o sistema deve
de hélio livre são, no m esm o e sp ír ito , interpre tados como
(1) Cf. SR. eec. 7.2.

168
169
versar sobre alguma classe (não-vazia) que, long e de ser hipóteses relativas aos constituintes dos sistemas, suas inte-
lim a cole ção arbitrária. se car acteriza por certas proprie- rações e a lei que lJ1 obedecc.)
da des m utu amente relacionadas. Perrnitam -nos fornecer Um universo comum de discurso U , e uma família
lima c ara cterização mai s precisa da coerência semântica. p semanti camente homogénea de predicados são necessá-
Para co meça r, a unidade co nceituai de uma teori a rios, runs ain da assim insuficientes para garantir a unida-
exige lima referência comum de suas fó rm ulas a alg uma de conceitual de uma teoria. S preci so. além disso, a proi-
cole ção de objetos, No caso de uma teoria física, esta co- bição de contrabandear para a teoria p redicados alheios
leção nã o é u m conj unt o arbi trár io mas uma classe na - ao c ampo coberto pela te oria. Esta terceira condição que
tural ( não- arb itrár ia) de ob jetos físicos. A cla sse de obje- se pode chamar o requisito do fechamento semãntico, pode
los a que a teoria se refer e é O universo de discurso desta . ser enunciada nos seguintes termos: os predicados da teo-
Assim , o uni verso de d iscurso da mecân ica dos fluidos é ria serão apenas aqueles que ocorrem no predicado básico
a classe de tod os os fluidos: a teoria atr ibu i a esta cer tas e nas defini ções da teo ria. Não fosse por esta exigênci a
pro pr ieda des cada uma d as quais ela rep resenta por um semâ ntica, a lógica formal consagr aria o sujo truque da
cert o predicado. Admite-se co mo ce rto qu e o un iverso do valida de semântica, deduzindo teoremas contenedores de
d iscu rso ou O co njunto -referência não é vazio e é tomado conceito s que não ocorrem entre os que se encontram na
como hip ótese qu e os se us mem br os podem ser pareados a ba se da teoria. De fato, a regra da ad ição - "t implica
obje tos exte rnos de um modo tal que a teoria vale ao me- t ou II" - nos permitiria acrescentar sub-repticiamente, a
nos ap roxima da men te. Urna tal refe rên cia a objctos exter- qualquer teorema t de uma dada teoria, um enunciado li
nos pode ser indiretn e mesmo falsa ( veja sec, 3), ma s que viola a condição da homogene idade semântica, em vir-
alguma referência a objetos Iísicos é sempre pressu posta tude de conter algum conceito não-pertinente ao predicado
em lima teoria física e esta é a razão por que ela é cha - bá sico, inicialmente considerado. Esta expansão da base
mada física em vez de, digam os, psico16g ica . As teori as inicial pod eria ir tã o longe. a ponto de modificar o uni-
port am os nomes de seus referentes últimos, aind a que se verso original do discurs o de um modo arbitrário; pode-
venha a ver ifica r su a inexistên cia: assim , uma teoria que ríam os co meçar fal ando de átomos como objetos Iísicos
se refira a hypcrons será chamada teoria do hyp eron. De c terminar falando de nosso comportamento, estivesse ou
outro lado, uma (mel a}proposição como "As proposições nã o cm conexão com átomos.
da mecâ nica quântica nã o versam sobre sistemas Iísic os (Além disso, o intruso II poderia ser uma proposição
aut ônomos, ma s acerca de nos so conhecimento" é não só cabalmente intestável, e .g , uma hipótese ad hoc, desti-
incompleta - pois deixa de indicar o obj eto de tal co - nada a salvar a teoria da refutação empírica. Como se isto
nhecimento - como é uma pretensão tácita de que a não bastasse, "t ou n" é logicamente mais fraco do que
teoria quântica não é uma teoria física. o genuíno teorema I, portanto mais fácil de confirmar -
A unidade de referên cia é neces sária, embora não su- tão fácil quanto queiramos. Por fim, dado que todo teo-
ficiente para uma teoria atingir unidade con ceituaI com- rema da teoria pode mostrar-se carente em um aspecto ou
pleta. Um segundo fato r de coerência semântica é que outro, sua negação no, permitirá destacar o indesejado II,
os predicados da teoria pertençam a uma única famflia i. é, manter o estrangeiro como o único sobrevivente da
- em suma, que sejam semanticamente homogéneos. criti ca científi ca. Mesmo que u fos se testável e, ademais,
Assim. lima teoria física conte rá apenas predicados que de - fora de dúvida prática, o truque derrotaria o prop6sito do
signam objctos físicos (sistemas, propriedades, eventos e teórico que se preocupa cm explicar os referentes de seu
processes). De outro lado, um enunciado como "A Iun- teorema t e não os de u. A regra do fechamento semânti-
ção de onda propag a-se no e spaço (configuração) e su - co visa prevenir semelhante manobra. Pode -se mostrar
m ar ia a informação expe rime ntal do observador" mistura que a supramencionada exigência de homogeneidade se-
predicados físicos e teóri cos informacionais, tur vando assim
mântica não é suficiente para eliminar o truque.
a di stinção entre um sím bolo '1.', o estado do sistema físico
que por hipótese representa (de uma maneira tortuosa de Um a quarla condição de coerência semântica é que
fato) e os bits de informação empírica que tal vez tenham Os conceitos-ch ave (predicados básicos da teoria) se com-
sido usados na hipoteti zaçã o de sua forma precisa. (Por bin em mediante a d istribuição razoável entre as suposições
cima disto o en uncia do suge re a falsa idéia de qu e é possível iniciai s da teoria. Isto pod e ser chamado a cond ição de
construir 'I' diret am ente a partir dos dados, sem construir conectude conceituai. ~ possível afirmar de maneira mais

170 171
prec isa e pode-se mostrnr'' q ue a un idad e de referê ncia c co lógica ou uma de pesquisa de operações e ( II) seria
a conect ude co nceitua i silo necessá rias pa ra atingir unida- inap licável a objetos que podemos, como os áto mos em
de ío rrna l, pois as relações de dedu tibilidade só po dem ser A ndrômeda, nos permitir deixar a sós, sem assistência
estabeleci das en tre fórmu las qu e pontil ham ce rtos p redica- do Operador .
dos-chave, en tre os quai s se salienta U . Em suma, fa lta -II os lima teoria quântica sema nticamen-
Toda teoria Iatual de veria possuir unida de tan to for- te coerente, seja em termos operacionalistas , idea listas e
mai quanto conceitual , se não po r outro motivo, pe lo me - rea listas" , E gosta ríamos que fosse formulada u ma teoria
nos por razões metodológicas, tal como evitar confirma - quântica caba lmente física e seman ticamen te coerente que
ção bar at a. In felizmente, algu mas teori as físicas, embora pu desse cm princípio aplicar-se a um objeto autônomo ou
forma lme nte (lóg ica e mat em aticam ent e ) coe rentes, são do ll111tatis nnttnndis a um siste ma sob controle ex perime ntal
po nto de vista semântico inc oeren tes , po is t ran sgr idem c além disso de tal ordem que este último pu desse ser
alguns ou tod os os três p rimeiros req uisitos da u nidade tratado apenas como um sistema físico de tipo especial:
co nceituai, i. é, un idade de referência, homogeneidade se- mais do que um com pos ít um mente-corpo, O fisica1ismo é
mântica e fe ch amen to semântico. Como foi an tecipado na uma ontologia estreita: de acordo; mas f uncio na para o
secção an ter ior , é o que ac ontece com as costu meiras in te r- un iverso físico e toda re tira da do fisica lismo no reino da
pre tações da teoria quâ ntica : por vezes a ans ieda de e m física é uma volta ao a ntropocent rismo pré-científico. Por
asseg urar a com proba bilid ade e outras vezes o desejo de que colocar ma l a me nte huma na : não é ela um sistema
evitar u m compromisso ontológico e ou tras ainda a espe - de fun ções de cert os corpos co mpostos de átomos e não
rança de reviver filosofias subjetivistas ge ram tent ativas de bas ta cred itar à men te hum ana O invento de teorias, o pla-
co nt rabandear, para começar , o Op er ad or p ar a dentro d o nejarnento de pro vas e a interpretação dos resultados destas?
dom ín io ao qu al não pe rte nce; por fim , o Op erad or toma (Deve mos not ar , de passagem : que um a int erpr etação
o co mando e o ob jeto físico se foi - da física! realist a da teoria quântica não exige a renúncia de seu
Todavia não dispom os de nen huma interp reta ção se- atua l caráter fundamen tal estocástico . Em ou tros termos,
ma nticarne nte coe re nte da mecâni ca q uâ ntica em termos não é nece ssá rio introduz ir outras variáveis ocultas, a fim
puramente ope racionais (preparação, medida, expe rime n- de restau rar a objetividade no domínio quântico: as vari á-
to). E u outras palavras, não exis te uma formu lação coe - veis ocultas já estão aí. Apenas recebem o Dome impróprio
rente de Copenhague da mecân ica quântica : a interpre- de observáveis, embora ninguém seriamente possa preten-
tação física proposta por essa escola não dá co nta de to- der qu e qua lque r das variáveis fundamen tais das teo rias
das as f órm ulas bás icas da teoria (sec. 4) . Além d isso,
quân ticas seja estri tamen te, i. é, direta mente observável ou
o at ua l fo rmali smo da mecâ nica quâ ntica não parece per-
miti-lo, pois um a tal teori a ter ia de incluir desde o início men surável. V ariáveis ocultas, no sentido de gra ndezas
a con sider ação de d ispositivos de med ida, dispensan do tod o nã o-estoc âsticas - n ão-flutuant es, menos dispersas - são
term o a que, como "par tícuJa livre" se possa atribui r um sufi cientes, e mbo ra não nec essári as - par a pr odu zir um a
sign ificado ob jetivo mas não um significado operacio nal. teor ia não-estoc ástica seme lha nte à dinâmica clássica. Ma s
(Visto qu e a teoria fun da mental teria de re fer ir-se ape nas tais co nceitos neoclássicos são mu ito provavelmente insu-
a obj etos em mensuração ou experiências, (T) não have- ficientes e po r certo dispensáveis para constr ui r a(s) tão
ria se ntido distinguir n a bamiltoniana, na lagra ngiana ou necessár ia(s) inter pretação(ções) do fo rmalismo quanto-
em qualque r outra expressão-Ionte, a parte livre daquela me cânico, semanlicamente coerente(s) e cabalmente fí-
que representa a interação do sistema com um dispo sitivo sica(s). Não se deve m isturar problemas de rea lidade e de
macroscópico e (II) seríamo s privados da orientação da objeti vidade com o problema do determin ismo tO; um rea-
mecânica clá ssica ao conjecturar a hamiltoniana qu an to rne- lista pode sustentar coerentemente um a posição indeter-
câni ca adequad a - lima tare fa difíci l no ponto em que mi nista até cer to p onto , assim como um sub jetivista pode
as co isas estã o.j Ainda que u ma inter p retação se ma ntica- ser tanto qu anto q ueira um determi nista. P ara o rea lismo,
ment e coe rente da mecâni ca quântica no espír ito do ope-
racionalismo fosse even tua lmen te fo rmu lada , (J) não se~ (9) Depois que escrevemos este tr abalho. houve uma tentativa de
preencher esta lacuna nos Founda tíon 1.
ria um a teo ria estritame nte física mas sim u ma teoria psi- (tO) c r. do aut or Ca usoUt}': Tb e Píace 01 lhe Cau sal Priru:iple ln
M od ern s ctence, 2 ed . (Cleveland e New York, Merid ia n Doou, 1963),
(8) cr, SR , sec. 7.2. Apênd ice.

172 173
o co mpor tamento cxato dos objetos flsicos é irr elevante, te observáveis - a evidência ernpmca possí vel e dispo-
enqua nto podem ca min har a s ós.) nível (v er Fig. 2). N ão é just o que uma teoria física diga
A fim de resta ura r o realism o na física. tu do qu a nto mais do qu e t udo o q ue seja expre sso pelo conjunto de
necessitamos é reinterpret ar 0 5 atua is fo rmalismos da teo- infor mações em pírica s reais qu e desencad eia e comprova a
ria quânti ca obrigados pela!' reg ras da co erência semâ n- teoria, pois do co ntrá rio ela seria apenas um sum ári o de
tica e ter em men te o objetivo de p rodu zir uma teoria mais in for mações sob re o nível desta : supõe-se que uma teori a
física do que psicológica do mundo microfísica. Isto é ago- física d iga coisas inteirame nte difere ntes dos rel ato s obser-
ra pos sível sem mo dificar os atuais form alismos - q ue vacionais de import ân cia para ela (favor ável ou desfavo-
necessit am reparos para dife rentes propósitos. E. po uco pro - ravelmente ) . Assim , teori as at ômicas não versam sobre ob-
váve l q ue uma ta l interpretação realista das estr uturas dis- serváve is espectroscôp icos, embora participem (j untame nte
po níveis nos leve de volta à física pré-quântica . Por exe m- co m o utras teo rias ) da explica ção de tais dados.
plo, nã o poder á pretender que um elétro n tenh a, ao mes-
TtOl'lJ
mo tem po, u ma posiçã o e u m momento preciso. Pois, ape -
nas as relações de H eisenbe rg nos dizem q ue não podemos
medi-los, i , é, conhecê-los empiricame nte com toda a eX3- o Modelo
tidã o. N a ve rdade, se a pressuposição for q ue as relações
de Heisenberg va lem para todo o sistema mecâni co, sob
observação o u não, u m rea lista não pode. por for ça d a
Rdulncia
teoria co stu mei ra , atr ibuir ao elétro n u ma pos ição e UI11 M(diatl
mom ento simu ltanea me nte precisos. Isto é, não pod e COn -
side rá-Ia como um clássico pon to-partícula, o que tam -
bém sabe mos a parti r de experimentos de d ifração co m /"
--... ....
Evld!Dda

feixes de partícul as extre ma me nte fra cos.


Es tamos agora em co ndições de abord ar o pr oblema
d a int erpretação física de um modo ma is co mpleto e pre -
i\
\
ciso do qu e fo i feit o na sec ção 4. \
" '....
6. Referência e Evidência')
...... _--_ "" ....
;;

Fig. 2 . R eferência e evidência díjerentes.


De vemos sab er nã o só o que a teori a física suposta- Por exemplo, o referente imediato da teoria cinética
mente representa , corn o aquilo que mantém a preten são n dos gases é qualquer membro de um certo conjunto de
tal r eferência, i. é, qual é a sua evidênci a. Se nos co n- assembléias idealizadas de partículas pressupostamente do-
centrarmos na refer ên cia. poderemos acab ar cm um rea- tad as de certas caracterlsticas enquanto que um dos refe-
lism o acríti co , en qu anto, se ignorarmos a referência, ge- rentes med iatos desta teoria é uma nebulosa. Dados rela-
remos compelidos ao subjetivismo. tivos à cinemática nebular constituem parte da evidência.
Co nsiderada do ponto de vista da rel erência (sernân- pr ó a li co ntra a teoria cinética e/ o u a hipótese que se
tica j uma teoria física sugere um ca minho imedi ato pnrn aplica aproxim adamente a tais sistemas - um a suposição
um modelo con ceitua! que po r sua vez se supõe slmboli- m etate órica , diga -se de passagem . Qualquer informação fu-
za r um sistema real de alguma esp écie (veja sec. 3 ). Assim tura da mesma natu reza será uma evidência ult erior de
co mo o ref erent e im edi ato é um co nstruc to, do mesmo igual espécie. N o caso pre sente, o referente visado da teo-
mod o o referent e mediat o pode ser de fat o não-existente ria é observável po r meio de instrumentos construídos e
e de qu alquer mod o não precisa se r necessari am ente obser- inte rp retad os com a aju da de outras teorias, mormente
váve l. E co nsiderado do po nto de vista da evidência (da mecâ nicas e ópticas que desempenham aqui um papel mai s
metodologia ) , a mesm a teoria indi ca por um caminho di- instrum ent al do que explanatório ou substantivo. Outro
vergente um conjunto de fatos obse rvados e potencialrnen- exemplo: qualque r teoria de " partíc ulas" "e leme nta res" re-
fer e-se imediat amente a certo s ínobserv âveis suspe itos (hi-
( 11) CI . SR, sec. 8.4 .

174 175
potetizad os ) de serem entidade. (existen te. re ais ) mas Voltemos às diferenças ent re o referente hipotético e
propor ciona ape nas um modelo hipotético e provavelmen- a evid ência observacional de uma teoria física. No caso,
te bastan te grosse iro de las. E a evidência impo rta nte para admi te-se q ue o ref erente med iato pretend ido de uma teo-
uma teo ria assim - e.g . • um co njunto de traços em uma fia ex iste independ entemente da teoria - cuja assunção
chap a nu clear - d ifere cm natu reza do referente dn teo- pode se r f alsa . De outro lado, não pode haver evidência
ria : os traços não s ão de m nnci m algu ma referidos pela sem uma ou o utra teo ria, por mais incompleta que seja,
teori a e tais dad os tornam-se uma evidên cia imp ort ante lima vez que a própria teoria vai determi-nar se um certo
para a teo ria desde q ue sejam inte rp retados à luz de out ro dado é importante para ela . (O que a. teorias que desem-
pe nh am papel in strumental fazem é ajudar a reunir e inter-
co rpo da teo ria (nomead amen te a mecânica clá ssica e algu -
pretar tais dados, mas a relevância dos dados paraa teo-
ma teori a co ncern ente à passagem de partículas eletri ca-
ria em comprovação é determinada por esta.) Assim, uma
ment e ca rrega da s através da mat éri a) .
teori a quâ ntica de espa lbamento de "partículas" terá uma
Ne ste sentid o, a tarefa do físico não é diferente. da base para aceitar valore s medid os de feixes direcionais e
do paleo ntologista, do historiado r ou mesmo do dc tetivc: se os projéteis forem, por hipót ese, eletricamente carrega-
em todos estes casos fatos não-vis tos são hip otetizad os e tais dos, a curvatura men surável dos traços visíveis que dei-
hipóte ses e sistemas de hipóteses são testados através dos xa m na sua esteira será também considerad a importante,
traços observáveis deixados pelo presu mido cri minoso (ani- apenas porq ue a teoria em conjunção com a eíetrodinâ-
mai extinto, herói ou prô ton) , cu jos traços torn am -se evi- m ica clássica assim o diz. D e outra p arte, milhares de
dência s apenas à luz de hip óteses instrumentais o u a Ux' IM o utras peça s de informação relativas ao mesmo dispositi-
lia res e/o u teor ias relativas a po ssíveis m ecanism os o nde vo exp erimental será inteiramente irrelevante para a teo-
quer qu e os traços pude ssem ter sido produzidos; é claro, ria em comp ro vação, o que é uma bênção. Relatório. de
a teoria sob teste pod e ocorrer em tal explan ação , i . é, o bser vações (dados) devem ser interpretad o. por meio de
pod e contr ibu ir para produ zir a sua própri a evid ência. ao menos uma teoria a fim de se con verterem em evidên -
(Na medid a em que ev ita mos propositalment e falar cia. Se se preferir, o suporte empírico que desfruta uma
de fenôm enos co mo dad os, muito menos co mo evidência dad a teori a substan tiva é determinado comparando-se as
im porta nte pa ra teo rias físicas. Eis a razão. O que os fi - previsões da última com a evidência fornecida por opera-
lósof os ch amam de fenômeno é um even to q ue ocorre cm ções empí rica s pr ojet adas e interpretadas com a ajuda de
co nexão com algum sujeito cognitivo: fen ômeno s são aqui- pe lo menos uma teoria (ver Fig. 3) . Outra maneira de
lo q ue aparece para nós, humanos, enqua nto nã o-hurna- co locar o assunto é a seguinte. N enhuma teoria fundamen-
oos, não-fen ômenos. Fenotnenalism o é a doutrina segundo tal isolada pode explicar diretamente observações. i. é,
a qual o mundo é um conjunto de aparências; cm parti- po de fazê-lo sem a assistência de outras teorias, (O que
cular, a realid ade física seria o conjunto de observações lima teoria isolada pode explicar são experimentos mentais,
conduzidas pelo físico. O programa do fenomenali smo, par-
tilhado em larga extensão pelo operacion alisrno, é n co ns-
tru ção de objetos físicos como sistemas de ap arên cias. Este
progr ama falh ou e é infactíve1. Há várias razões para rejeitar
o fenom enalismo, entre o utras a seguinte : primeiro, a física
não está interessada no que aparece para mim , ou no que
parece para mim ser o caso: a física é lima tentativa de Teoti :l. 1 Da do 1 T eoria 2. Dado Z
tran scender a subje tivida de, de ir além do perspectivismo. .(subsl:lOlí\',,) (e. t ., nlor dll. carl:l.) ( instrumental) (e. I ., tuço em curvatura)

~~
Em segundo lugar , a m aioria dos fenômenos en volve even-
tos m acroscópicos que, e m princípio. podem ser explicados
em conjunto pela física e pela psicologia . Em terceiro lu-
gar , o prog rama do fenomenalismo falhou , enquanto o pro -
grama do re alismo de explicar a ap arên cia pela re alidade
(hipotetizadaj funci ona. Em qu arto lugar, fen ôm eno s são
despro vidos de leis: apena s fat os objetivos (largamente
•••ce Y-,
não-perceptí veis) são sup ostamente regidos' por leis, e não
há ciên cia qu e não seja um con junto de juízos de leis.) F ig. 3. Teorias (substoltlillO e experimental }, dados e evidência.

176 177
tais com o a "e xper iência" das dun s fen das, cuja realiza-
çõo e fctiva requ er. no caso das "partículas" o emprego
de crista is reais e conseqüentemente alguma teoria sobre Símbolo teórico
a estru tura crista lina e outra teo ria sobre o mecanismo da
interação particula-tela qu e produz franjas obse rváveis.)
Surua rian dc: ( I) as teo rias físicas fu ndamentais não
têm co nteúdo observaciona l, i . é, não en cer ram afir ma-
ções puramente de o bser vaçã o e, por conseguinte, não é
possível red uzi-las n conjuntos de dados, ou mesmo n dis-
pos itivos p rocessado res de dados; (II) nã o há evidên cia
isent a de teori a na física. Se tud o isso for aceito, não pre-
cisa mos confu ndi r referência com evidên cia .
Referente real Experiência

7. R egras de Int erpretaç ão'> Fi g. 4. Regras de interpretação íísíco.

Se a an álise p recedente for aco lhida , cumpre reco -


nhecer que na física nos depar amos co m mais d o que uma
esp écie de regra de interpret ação (regra semântica). As
fórmul as mat emáticas da física podem ser lidas com o As regras de interpretação refe renci al são necessárias ,
auxílio de regras de inte rpr et açã o de du as espécies: refe- embora insuficientes para delinear o significado de uma
renciai e evidencial. Uma regra rejerenclal de int erpreta- teoria: ind icam o que Se pode denominar o significado
feiO (RRI) estabelece urna correspo ndência entre algu ns essencia l do sistema simb ólico. (Uma plena determinação
dos símbolos não -fo rmais da teoria e seu referente. Por de seu significado requereria desent errar tod as as pressu-
co nsegu inte, um a regra desta espécie contribui para o sig- posições da teoria , bem com o o deduzir efeti vo das infi -
nificado (es sencial) da teori a ; no caso ideal de urna teo - nitas co nseqüências de suas suposições iniciais, operações
ria muito simples, o co njunto de suas regras de interpre- das quais nenhuma é realmente possíveltê.) Com o fito
tação referencial compõe o pleno significado Iísico da teo - de dete rminar a comprobabilidade da teori a e, a [ortiori,
ria. De outro lado , uma regra de int erpretaçã o evidenciai com o rito de levar a cabo provas empíricas reais dela,
(Ri E) liga um term o teor ético de baixo nível a alguma devem os ac rescenta r um conju nto de regras de interpreta-
entidade ou traço obser vável, tal co mo um relógio visível. ção evidencial . Us ualmente porém , tais RIEs não figuram
Corno toda teoria física possui tanto um referente ime- entre as fórmulas da teoria porque toda evidência depen-
diato quanto um medi ato ou pretendido (ver Sec. 3), cabe de não só de lima dada teoria mas também de outras teo-
distinguir dois tipos de regra s de int erpretação referencial : rias e também do equipamento disponível. Assim, medidas
(1) tip o i RRis, estabelecendo co rrespon dê ncias entre tra- precisas de compriment o pod em exigir interferômetros e
ços e conceit os não-form ais do mod elo ideal (que são con - circuitos eletrôn icos, be m como vários fragmentos de teo-
ceitos ulterior es mai s do que co isas reais ou pr opri edades) ria neles inserid os e que nOS capacitem a op erá -los e a
e. tipo 11 RRls estabelecend o co rre spondê ncias ent re traços lê-los.
do modelo teórico e feições do re ferente real deste último, (A teoria quânti ca fundamental inclui RRTs mas não
hipotetizad o. Exe mplo de RRis : o co nce ito geomé trico do inclui c não de veria conter R1Es: a teori a não é capaz de
quadro de referência é interpretado como um triedro rígido ser interp retada operacionalment e, uma vez que se aplica
( tiro i RRi) , cujo ob jet o ideal é, por seu turn o, interpre- sobretudo a objetos físicos inobser v âveis : recorram a sec.
tado co mo um mod elo aproxima do de um corpo real se- 5. De o utra parte, algu ma de suas aplicações . e .g., a se-
rul-rigido (tipo li RRi) . Exemplo de um Ri E : um pico rnin ascida teoria qu ântica da medida e a teoria do estado
cm um grá fico d o osciloscópi o é mui tas vezes int erp retad o sólido encerram algun s R!Es, pois tais teorias co nstituem
corno efeito de lima d escarga elétr ica ( ver Fig. 4 ) . cadeias entre um microni vel hip otcti zado c um macroni vel.)

(1 '2) cr. S R, src . 8.4. (13 ) Cf. do autor: lll tll Ufon anel Sc íence ( ElIgle \\'oo d Currs. N. J••
Prenuce-tt eu, J962). pp. 12 e 55.

178 179
Se as distinções an teriores forem ignoradas, é possível
pa ssar por cim a do ca rât er complexo da relação da física
com a realidade ou então de su a relação indireta com a
experiênci a. A pretendi da refe rên cia objetiva é ins ufic ien-
te para assegurar a eo mp robabili dade p ar a não Calar da
verdade . Assim , n ume rosas teo rias de "pa rt ículas" "elemen-
tares" contin uarão a se r propost as, as qu ais se en con tr am
ou demasiad o lon ge dos testes correntem ente possíveis o u
colidem front almente com os dados disp oní veis. Infeli zmen-
Experiência I FIs CA
l
te não h á gar anti a absoluta mente seguras a priori da obje-
tividad e tal co mo a in variância sob cer ta s tran sformações; Fa tos reais
mes mo a invariân cia das equações bás icas com respeito às
mud anças do o bservador é necessária mas insuficiente par a
ating ir objet ivid ade t". A adequação da referência objctiva
de uma teoria deve ser avaliada com a ajuda da exp er iên- Fig. 5 . A Física cobre alguns falos, entre eles, falos observáveis,
cia e outras teorias: aq uela s logicam ente pressuposta s pela e se estende sobre fatos não-existentes [assumidos falsamente
com o falos).
teo ria d ada e as utili zad as em su a p rov a empír ica !".
Foc alizando a pr ova de um a teori a, não e limina mos
a qu estã o de sua refe rên cia objet iva (todavia h ipotéti ca) .
De fato, test ar pr essu põe a realidad e objctiva p elo menos
dos instrumentos manejad os pelo Operador - um a sup o-
sição que a pr óp ria teori a não pode fazer, por mais des- 8. Observações Filiais
p reocupada qu e esteja de qualq uer o pe ração empírica .
Assim, uma teoria acerca do cam po ger ad o po r um a note-
na u nid ime nsional t rab alha co m um refere nte imed iato qu e T oda teori a versa sobre objetos de alguma espéc ie -
é um modelo grosseiram ent e sim plificado de u ma antena qu e ela identifica como memb ros de um uni verso de dis-
real em h aste. N ão supomos a existên cia física do mod elo curso U - aos q uais atribui ce rta s propriedades PI de-
descrito pela teoria, m as a comprovaç ão da teoria exigirá finidas e bás icas qu e con stitu em o predicado-base da teo-
o fa brico e a ope raç ão de um ce rto número de instru- ria . Es tes co nceitos básicos - U e os Pi - são ampla-
m ent os supost am ente rea is, não men os do qu e de uma ment e ou totalmente não-observacionais, i. é, falham em
a nte na ef etiva em ha ste - o referente pretend ido da teo- ter co ntrapa rtes experimentais - como exe mplificados por
ria . Um teste que nã o en volva nem o referente re al p re- "ponto de ma ssa", " massa", "carga elétrica" e "spin iso-
tendido, nem peças do aparelho efetivo não é um real tes te tópico". U e os P, são os b locos cons trutores de assunções
emp írico, mas um experimen to mental ( e ' 8", uma simula- ini ciais (postul ados) que se referem ao próprio U, o refe-
ção em um com putado r ), E m suma, a e xperi ência cientí- rente imediato da teoria. D e tais hipóteses iniciais, em con-
fica pressupõe a realidade do s objetos qu e manipula , me s- junção com premissas au xiliares (c omo os dado s), tiram-se
mo que não se comprometa com a hip ót ese d e que o re- co nseqüê nc ias lógic as com o auxílio das subjacentes teorias
fer ent e p retend ido de uma d ad a teori a é real : no fim de
lógica s e/ o u matem áti cas. At é este ponto, uma bem- orga-
contas, a prova visa comprovar seme lha nte hip óte se.
nizada (semi-axiom atizada) teoria física não difere de uma
Uma vez que est amos nisto, p odemos dar um pas so adian-
te e p ret ender qu e a experiência é um subc onj un to próprio teo ria matemática .
e mesmo ap equenado d a totalidade do conj unto dos fatos As diferenças essenciais entre uma teoria matemática
e que a física lida com alguns del es - b em como com e um a teoria física são duas: uma é semâ ntica e a outra
alguns inte ira mente imaginários ( veja Fig. 5) . Isto pode é metodológica. A primeira consi ste no fato de qu e, embo-
ser encarado como o n úcleo do realismo crítico . ra nem U nem os PI de uma teori a física sejam instan-
tâ neos de objetos físico s, pretendem simbolizá-los : espe-
(14) Ct. do autor: }.(~I asdt'" tllic Qltt'r ln (Srrl Jlgfl~ld. 111 ., Char les
C. Th om as. )959). C ap. 8, ra-se que os membros de U imitem objetos reais e se
(I S) CC. SR , sec. 8.4, 12.4. 105 .6 e 105 .1. espe ra que a teoria como um todo represente o compor-

180 181
tnm cu to elou a estrutu ra 10 destes alvos bá sicos lia teo riza - (I II) sua re ferência n tai s objetos reai s é incompleta, extre-
ção f ísica. E m resumo. es pera-se que as teo rias físicas. di - m am ent e ind ireta e no melh or dos cas os par cialm ent e ver -
versamente das formais. lenha m um re ferente real (a ind a dadeira ; e ( IV) sua comprobação envolve te orias ulte rio-
q ue m edi ato ) cm ad ição ao refe rente co ncc itual ( ime d iato ) . res c pressu põ e a ex istê ncia física de certo s objctos . Qu al-
A d ifer en ça metodológica consis te no fat o de qu e que r siste ma h ipotético-ded uti vo p ossui a pri meira das pro-
algumas das co nseq üênci as lóg icas d as hipóteses in iciais de pried ades precede ntes. m as se não possu ir todas as quatro
um a teoria física d ever iam se r susc etíveis de comprovação cntão não é um a teoria física.
empírica . Cada uma dest as comprovações envolve não ape- Estes traços de toda teoria fís ica - c, sem d úvida,
nas o co n tro le diret o de certas ca racterísticas obser váveis de toda teor ia Iat ual - torna obsoleto o realismo acrítico,
m as tam bém ( 1) o con tro le Ire qiient ernente indi re to do m as tamb ém torn a insu sten tá vel o subjetivismo ( idea lismo,
pret endi do ref eren te (mediat o) d a te or ia c ( 11 ) hip étc- co nve ncion alismo, ficcion alism o, fen omenalismo, ope rado-
ses de exis tência relativas a um O tl ma is liam es na ca de ia na lismo etc.}. Es tas últimas concepções não-I ísicas da fí -
q ue va i at é os refe ren tes reais h ipotétic os d a teor ia. Um a sica fizeram -se p ossíveis devido ao malogro dos re alista s
evidência e mpírica impo rta nt e pa ra uma teoria pod e di fer ir ingên uos em re conhecer o cará te r simbólico da t eoria físi -
do refe rente pretendido desta no mesm o m odo q ue 11111 ca, o ca r áter hipotético, ind ireto, incomple to. e glob al (mais
síndro me clínico po de difer ir da doenç a cor res po nde nte . O!' do que isomórfico) de sua referê ncia a sistem as físicos, a
result ados dos testes e mpíricos. ao lado de con sid er a ções par cial ad equação de um a tal ref erê ncia e a b ase física das
te óricas ( e .g . , co mpa t ibilidade com teorias contíguas ace i- ope raçõe s empíricas por cu jo intermédio t ais ex igências d e
taC\) e co nside rações m crncicnti ficns (e .g., co erên cia co m adeq ua ção são postas à prov a. Um a vez rec on hecid os estes
os dog mas filosófi cos pre domi nan tes) proporci on am alg u- tra ços da física , suas apresen ta ções pe lo realismo acrítico
ma ev idê ncia que nos h abilita a argume nta r acerca do gra u e pe los vá rios m ati zes do subjetivi smo são deixadas pa ra
de ver dade de um a teo ria, i . é. a ex te nsão cm qu e sua trás como outros tant os pont os de vista parciais - visões
referê ncia med iara se adequada!". simplistas - de nos sa ciência. O bservem que t ais concep-
A pretendida ref erên cia obje tiva e os testes empíricos çõcs não são a qui de scartadas pe la força dos dogmas e
de uma teoria física são dist int os m as se co njugam : se não argumen tos filosófi cos de um a espécie tradicional m as com
hou ver refer ente real (embora h ipotético ) não ha verá se n- a ajuda da lógica matemática , da semântica e da metod olo-
tido tant o na teorização quan to na co m provação ; se não gia, as próprias fe rramen tas ou trora tid as como apoios das
h ouver teste, não h ave rá nen hu ma possibilida de de esti - filosof ias subjetivistas da físic a.
m ar o gra u de verd ade da hip ótese ref e ren te real. N ão se O vác uo deixad o pe lo de sa pareci mento (lógico) das
pod e espe ra r que tal adequação seja completa, se nã o for filosofias da física sup ra me ncio na das deveri a ser pree nchi-
por ou tro m oti vo pe lo men os porq ue lima teoria física é do pe la co nstru ção de u ma teoria do conhecim ento que
co nstru ída pela in ven ç ão de um m odelo sim plific ado e int ei- subs uma c amplie as seme ntes d a verd ad e co ntidas nas
rame nte hipo tétic o do ref er ent e pre te nd ido . (A té uma ca i- doutrinas ante rio res bem co mo as hip óteses re alistas pres-
xa negra é um m od elo nssirn. ) A co mpree nsão desta inc- supo stas e suge rida s pe la ciê ncia 19 ,20. Um tal realismo cr í-
vit úvcl im perfeição mo tiva a inven ção de teo rias m ais r i- tico ou cie ntffico poder ia auxi lia r (e por sua vez ser com-
cas , usualmente m ais complexas) algum as d as qua is con- pr ovad o por) a construção de um a int erpre tação cabalme n-
seg ue m chegar ma is per to do re fere nte objetivo, e nqu a nto te física (m ais do que psicológica ) dos form alismos mate-
ou tras e rra m o alvo pi or ain da ' 8 • m áticos da teor ia quânt ica.
Em resumo. tod a teoria física (I ) é con struída com O novo ep istemó logo re alista deveria esti car o pes-
unid ades sim bó licas (não-ic ônicas) e parcialmen te co nve n- coço para fora e esta r prep ar ad o pa ra a event ualidade de
cio nais, ( II) e, supõe -se (amiúde erronea me nte) qu e se re- qu e o mesm o fosse cortado. Deve ria adianta r suposições
fere em última an álise a objetos reais (s istemas físicos); at revidas (a ind a que fu nda mentadas) , sem considerar quais-

(16) Para os estil os de teortzac ãc fenom enológico e renresent eeíc- ( 19) CC. SR, sec . 5.9.
nnl, er. SR , 5.4 e 8.5 e "Phencmenolc gicnl 'rheortes", no Th e Critico ! (20) Vej a as seluinle5 dereses recentes do reali!lrno crftlco: A
A,'pr oac!1 to Sclenct onâ Pllilo JO phJ , ed. po r M . BU NG E, em homen a- contrlbulção de P . BER NAV à dtscussãc sobre mecânica qulntlca n a
aem :l. K ARL R. POPPER (New York, The P ree Pr ess: Lon dres, Re VI/ e de Mlrnp/lyslque et .d e Morale; abril-Junho 1962; H. FE TGL. Meuer
CC'llIitr-Mac M.iII :m. 1964 ) . Still t.::a rlely M atcr tal, Pht fosophy 01 Sclence, 29, 39 (1962): K. R.
(17 ) cr. re ter ênc!a 3, Cnp . 1 e SR , !lCCS. 15.6 e 15.1. PO PPE R, Conleclures and R eJ/ltnl loru (L ond res. Rcutledge and Kegan
Paul; Ne w Vo rk, Basic Books, 1963) ; e 1. J . C. 5 MA RT, Phltojop hy
(18) CC. SR, sece. 8.1. 8.4 e 8.5. an â Sclen ll/lc RMlisrn (L ondres, Rc utledge and Kegan Pa ul, 1963).

182 183
Quer d elas co rno incontroversíveis. Assim, embora o real ista
ingê nuo po ssa to mar como dado a realidade d os elétrons,
o realista cr ílico dirá que a física dos dias presentes supõe
que os elétron s são coisas reais, i. é. ele hi poletiza o fato
de o co nceito elétron ter uma co ntra par tc concreta, mas
conc omitantemente não ficar ia sur preso se esta assunç ão
se mostrasse falsa e os elé tro ns fossem substitu ídos por algo
diferente.
l'! ínútil dizer, seja qual for a forma qu e a nova epis-
tem ologia realista crít ica possa assumir, ela deixari a de ir
de e ncont ro aos pad rões da pesq uisa cie ntífica e, conse-
qüentemen te, não con seguir ia aju dar esta e m pre itada, se
fosse concebida como u m ismo a m ais, i. é, com o urn
co njunto de dogmas situa dos além da críti ca e acima da
ciência. Procura-se um nom e para esta nas cente episte-
mologia, um nome qu e nã o termine em ismo po is tu do o
q ue termina em ism o tende a p ôr u m fim à busca da Ver-
dade .

9. ANALOGI A, SIM ULAÇÃO ,


REPR ESENTAÇÃO*

1. Introduç ão

A im por tância da ana logia na pesquisa científica de-


veria ser inegável. M as, sem dú vida, tem sido tanto nega-
da qu ant o exa gerada: negada por aqueles que vêem a ana-
logia com o tendo ap enas valor heurístico - e superesti-
m ada pelos que encar am a anal ogia com o tendo nada me·
( ') Ensaio pa trocinado pelo Canada Coun dJ Rese:uch, perm.lJslo
69-0300.

184 185
nos do q ue uma fu nção de orien tação d e pesq uisa. Infeliz- re pre sentado p or) um conjunto dot ad o de uma certa estru-
mente, nem am igos nem in im igos d a analogia parecem tê-Ia turo, n bu sca de an alogias formais entre ob jetos concre-
le vad o bastan te a sério p ara caracte rizá- Ia de mod o ade- tos pode ser referida a seus conjuntos rep rese nta tivos. Se
quado. N este estu d o int rod utó rio, te nlaremos expli car a do is con juntos repr esentativos desta natureza mo strarem-se
an alogia de um m odo eleme nta r e m ostrar seu pare ntesco análogos, seus re specti vos referentes serão decl arados for-
com do is antros con ce itos d e impcrtân cla filosófi ca, i . malm en te anâl cg os.
é, o de simulação e o de represen taç ão . Se x c y forem por acaso con juntos, pod er-se-é espe -
N osso un ive rso do d iscurs o será o con jun to in teiro O ci ficar q ue a corre spondência. envolvid a na condição (b)
de objeto s co ncre tos 0 11 co nce it uais. P artilharemos O cm acima forneça vá rios graus de analogia formal. O mais fra-
tr ês co njun tos : o conjun to N d e ob jclos natu rais Ott socia is co de les qu e pod emos den omin ar an alogia formal simples
( e .g ., el étrons e soc ieda des filosófi cas ), o co njunto A de ( ou algum-algu m ) é obtido quando algun s elementos de
a rtcfntos concretos (l' . g. , d ent adur as e aut ôma tosj e o .r são pa read os a alguns ele men tos de y. Se este pareá -
conju nto C de objet os conce ituais ( e . g . , conce itos e teo- m ent e fo r a rbitrá rio , considera r-se-á a analogia superficial;
rias). Assim N , A e C se rão mutuamen te d isju nt os e co- se o aco plame nto base ar-se em algu ma considera ção re-
brirão exa usti vamente o uni verso inteiro do discu rso. Isto Icrcn te tanto à estr utura qu an to à composiçã o do con jun -
não no s imped irá de pensa r em sistemas compostos de to, dir-se-á q ue a a nalogia é m a is ou me nos pro funda. Um a
pa rtes pert en centes e cla sses diferen tes . acen tua da sim ila rida de é ob tida qu ando ca da elemento de
x tem u m par em y: nes te ca so, podemos falar de uma
anal ogia injecti va o u (t od o-algum ) . Um a a nalogia formal
2. A lia/agia aind a mais ac entuada é obtida quand o a relação anterior
vale c m ambos os sentidos : pode -se den omin á-Ia de analo-
P odem os d izer q ue o mem br o x do conjunto uni ve rso gia biiectiva ( ou tod o-tod o) .
O é análogo a se u m em b ro compa nheiro Y. ap en as no caso A an alogia inje cti va (ou tod o-algum) a pa rece co m
Cm que dua s forças: f ra ca e hom om órfica, H á um hom omorfismo
(a) :c e y p nrfilh nrn de vá rias p ropriedades objeti vas do conjun to x no conju nto y ape nas no caso em que existe
(sã o iguais em alguns as pec to s) Oll lim a correspo ndência qu e refe re cada eleme nto de x a
(b) existe uma correspo ndência entre as pa rtes de x algum eleme nto de y e além disso, preserva as relações e
ou as p rop ried ades de :c e as de y . operaçõ es em x , P ode-se descr ever o h om om orfismo eom o
Se x e y for em a ná logo s, esc re vemos .t" ez! ) ' e cha- u ma analogi a todo-algum ( injectiva ) pr eser vadora da
marem os cada p ar cei ro da re laçã o de análogo do outro . est rutura. Se há um hom om orfismo de x em y e também
Se x e y satisfiz erem a condi ção (a) aci m a, poder-se- à um de y cm x, (i sto é, se nenhum elem ento solteiro re -
dizer que são subs mncíolmente análogos. Dois áto m os m ane scer cm x ou y) e além di sso os dois m orfi smos com-
qu aisqu e r s50 substa ncialmente an álogos. Se a co nd ição pensa rem um ao outro, diz-se que a analog ia é um isom or-
(h) acima pr evale cer, poderem os cha m ar os análogos de fism o. O isom orfismo é, se m dú vida , um a p erfeita analogia
formalmen te aná logos , inde pe nde nte de suas con stituições. form al : tud o o que está ernr e aco ntece e m x tem sua ima -
A m igra çã o de íon é form alm ente anál oga à migraç ão hu- gem isom órfica em y e in versamente. O isomorfismo im-
m an a. E se a c b valer em . será possível cha ma r a a nalogia plica tanto o homomorfismo qu ant o a ana logia bijectiva
de hom ologia. O hom em e o ro bô são hom ólog os. A h o- (t od o-tod o ) ; esta última impli ca an alogia inject iva (t odo-
mol ogia implica uma ana logia tan to subs ta ncial quanto algum ) que, por sua vez, implica a analogia form al sim-
formal e, um a ana logia substan cia l implica uma ana logia ples ( algum-algum) .
form al, m as o in ve rso n ão é ver da de iro . A re lação - de analogia é uma rel ação binária sobre
A anal ogia formal é melhor analisad a quand o os obje- O. M as uma vez que nem sempre dois objetos em O são
tos em qu estã o são conjuntos. Poi s a teoria do s conjun- a nálogos - não está ligada a O. A relação de analogia
tos não espe cifi ca a nature za do s elementos de um con- é sim étrica : se x - y então y .. x; é também reflexiva :
junto. Isto não signif ica que um a anal ogia formal s6 é x - )', isto é, qualquer coisa é a náloga a si pr 6p ria. Ma s
clara quand o di z respeito a obje to s matemáticos - dado ~ não é tra nsit iva, nem intransiti va: x ~ y e y ~ z não
qu e Se pod e mod ela r qualqu er obj eto con creto como (o impl icam co nj unta me nte x ~ z, logo não implicam que x

186 187
e z sejam dissimil ares tampouco . (Pensem na sem elhança outro lado, pode ser numerosa, pois os iguais são distintos
Ia cíal.) Em outras palavras, algu mas vezes a similaridade pelo menos em um aspecto: pense em uma coleção de pró -
é p ro pagada : na m aioria das vezes é de curto alcance, ton s. Ma is uma vez, pois, visto que os equiva lentes (e.g. ,
oc asiona lmente é de lo ngo alca nce . Q uan do acon tece que a indivíduos da mesma espécie) são os mesmos pelo menos
similar ida de é tra nsit iva. cha m amo-ln de anntogin dr cont á- cm um sentido. as cla sses de equival ência são forçosamente
gio {es} . 1\ slm itar ld ndc simples é lima relação muito frou- bem populosas, embora meno s do que as classes de si-
xa no sentido de difi cilm en te induzi r qualquer estrutura milar idade, as mais abrangentes de todas.
so bre um conjun to. D e outro lad o, a sim ilaridade de co n- Finalment e, dada a tr ipartição de O em N , A e C in-
tágio é uma relação de equi valê nci a. troduzida na sec. 1. podemos distinguir as espécies de ana-
Não se ndo t ran siti va. ex não é urna relação de cqui- logias que aparecem na Tab, I.
valênci a, i . é, não leva à par ti çã o de O em classes rnu -
tuamen le disjuntas : não gera co njuntos hom ogênc os Oll cs- Tabela I
espécies . Entretanto, se todos os objetos de um c erto sub-
conjunto de O fo rem sim ilares aos pares. isto é. se acon- Tip os de Analogia
tecer que ~ estiver co nec tada naquele subconjunt o, então
seus membros se rão equi valente s e constitu irão uma cla sse Símb olo Descrição Exemplo
de equi valên cia ( espécie ). Este teorema é importante do
pont o de vista metod ológ ico. pois se lima relação de ana - "'. (N X N similaridade coisa-coisa organismo-
sociedade
logia vale numa amo stra observada de pop ulação, podem os
pressup or conjeturalmente que a popu lação tota l é uma
elasse de equi valên cia ou espécie. Se apenas uns pou co s
"'. (N X A similaridade coisa-arte fato organismo-
automação
indivíd uos forem ex aminad os e se a similaridade dele s for
verificada - como é amiúde o caso quando se acredita "'. (N X C similaridade coisa-constructo organismo-
teoria
haver descoberto uma nova espécie biológica - o risco des-
ta inferê nci a é grande: diferentes pe squisadores trabal hando "'. (A X N idêntico a ~ 'I carro -
caminhão
so bre diferentes amo stras podem obter diferentes agrupa-
mentos taxonômicos. E alguns, sem compreender que toda
operação de classificação é hipotética', concluirão que o
"". (A X A similaridade artefato-artetato computador-
teoria dos
própr io con ceito de espécie é inúti l. autôm atos

Compreende-se melhor a frouxidão da relação de ana- "'. ( A X C similaridade arteí ato-ccn strucrc
logia. contra stando-a com outras relações que lhe são si-
mi lares. por partilharem com ela das propr iedades de sime- "', (C X N idêntico a e:! a
tria e re flexi vidade . São, na mai or parte. as relações de iden -
tidade, (c omo , em " I m i" ) , de igualdade (como em
"'. (C X A idêntico a ~ •

"2 + 3 = 5") e equi valência (como na simultaneidade de "'. (C X C similaridade constructo-constructo duas teorias
quaisquer
tempo) , Identidade implica igualdade; igualdade implica
eq uiva lência e equivalência imp lica simi lar idade. (A s im-
plicações invers as não valem .) Nos símbolos es ( = es
N o conjunto, levando tud o em conta, devido à sime-
( ~. onde o símbolo " (" representa o conceito de sub-
tria da relação de analog ia, temos seis espécies de ana-
relação. logias se se prestar atenção à natureza dos relata. N ão se
Obse rvem que , quanto mais fraca a relação, menos presta semelhante atenção, quando Se trata de analogia
discrim in atória ela é. Uma classe de indivíduos idênticos formal que , no caso dos conjuntos, vem a ser de outras
é um conjunto-unid ade singleton. Uma class e de iguais, de se is espécies ( simples, de contágio. injectiva , bijectiva, ho-
momórfica e isomórfi ca) . Se forem co ntados ambos os as-
(J) REIO. O. A. L os conce mos d~ ESPUi~ ~II la mo logfa (Cara cas. pectos, substância e for ma, resultam 6 2 = 36 espécies
Ediciones de la Biblioteca de la U nlversidad Central de Venezuela.
1968). de an alogias.

188 189
Tab.2
3. Simulação
Espécies de Simula ção
U m simulac ro de um dado sistema é um objeto
Símbolo Descrição Exem plo
q ue co pia e ste úuirno cm algum aspecto , tal co mo lorrn nto
ou fu nção. Q uan do a t tific ia is ou co nce ituais. 0 5 simulacros ~ t (A X N a rte fnto simula ohjcto modelo de molécula ra-
são m uit as vezes cha ma dos análogos o u m od elos d o siste ma natural dia I com esferas
orig inalê. O p rojeto de um simulacro concreto ou modelo ~ 2 (A X A artefato simula artcfato modelo em pequena
m at erial de um da do siste m a b asei a-se em a lgu m m od elo escala de navio
co nceituai, às vezes, toda lima teo ria do me ncionad o sis- s: 3 ( A X C arte fnto simula coes - gráfi co de uma função
truc to
terna", Po r exe mp lo, u m a ná logo o u m od elo clétrico de ~ 4 ( C X N constructo simula objet o teori a cientifica
um circui to ne ura l será pr ojetado com base c m algu m mo- natural
dele conceituai deste ci rcuito neural , mas tam bém co m s: 5 ( C X A constructo simula arte- teoria tecnológ ica
base na teoria dos circ uitos. E m compen sação, o estudo do fat o
co mpor ta me nto do simulac ro pod e aju da r a compree nde r ~ 6 ( C X C constru cto simula cone- círculo simula esfera
o or iginal, Mas cu mpre não exagerar os pr oveitos deste in- tructo
vestimen to: nada pode substitu ir o es tudo da coisa real.
T ant o mais qu e, dado q ualquer obje to natu ral ou socia l, h á Admiti mos que os simulacros são ora artefatos or a
cm princípio q ua lque r número de mo delos concei tuai s des- objetos conceituais: nossa idéia de simulação não se apli-
te objeto c, portanto, muitos simulacros possíveis do si~ ­ ca ao m imetismo an imal e ao comport amento imitati vo, es-
lem a dado. pont âneos ou induzidos por ade stramento, Estes casos são
Mais precisamente, dir emos q ue um objeto .r pe rten- abrang idos pela ampli açã o do domínio de .s: a todo
cente a A ou C· sim ula (im ita, mimetiza, cop ia, arremed a, co njunto O. Este forn ece três outras espécies de simulação:
macaqueia) um objeto y em O se ~7 (N X N. ~8 (N X A, e ~ ~ (N X C. A primeira
(a) x é contagiosa mente aná logo a y (x "" y ) c ou a simula ção NN é exemplificada pela representaç ão
(b) esta analogia é válida para o própri o x ou para teatral; a feitura de gestos e ruídos sugestivos do vôo a
UI11 terceiro partido z em N , qu e domina ou co ntrola x.
jato exemplifica a simulação NA ; a terceira ou simul ação
Se x simula y, escrevemo s: x ~ y, Estipulamos que NC é exemplificada peJo existencialismo.
..!.. é um a rel ação binária sobre O, com dom ínio A V C e
codom lnio O. Além disso, a relação de simulação é sitn é-
nica, rct ícxivo e transitiva. Isto é, o original imita scu (s) 4. Representação
simulacro t s) ; qualquer objet o é um simulacro de si me smo
(de fato, n melhor imitação); e a imitação é contagiosa Alguns nrteíatos, tais como palavras signifi cativas e
durant e todo o tempo : assim a fotocópia de um plano si- de senh os representativos. notas de dinheiro e maquetes re-
mula um plan o qu e, por seu turno, imita um p ássar o que presentam certos objctos ou os significam : podem ser ch a-
é vicariamentc imitado pela foto cópia. Send o reflexiva, si- mados obietos representantes ou procuradores. De out ro
métri ca e transitiva, a ~ é uma rela ção de equ ivalência, lado, a algaravia, as ferramentas e a maioria das máquinas
e portant o mnis fort e do qu e um a anal ogia. O con junto são objctos não-representantes. Faremos a partição do con-
l.'] = lz I z ~ x} de todos os simulac ros de x é uma junto A de arte fatos no sub conjunto R de artefatos repre -
classe de equivalênci a co m respeito à rel ação de simulação . sentantes e seu complemento, o conjunto R de artefatos
não -representantes. Do m esmo modo, algun s constructos -
(2) H ARMON , L. D. &. L EWIS, E . R . Neural Modelin g, r 1ln lolog1-
rol R ~l'/~",,' . 46, 5 13 (1966 ) : " Nós usamos o tenno modelo corno sín ô- co mo os co nceitos c teorias da ciência - fazem as vezes
nlmo de tmtllogo, pa ra Indtcnr aquilo q ue ~ similar em (un ç lio, mas di - de ce rtos out ros objcto s, i. é, membros de N, mais do
tere cm estr utura e ori gem d nquí to que ~ modelado",
(3) 0 5 co ncei tos de mode lo concenu at e mat eri al s50 discutidos em
que são por si próprios. De outra parte, os conceitos da
M . BU NG E, s ctennttc Ruearch ( Beetírn-Heldejbe rg-New Yor k, Sprinaer- lógica e mat emáti ca puras são objetos não-representantes.
vertas, 1967), v. t, C ap. 7. Os conce rtos de c bjetc- modetc c mode lo (A ssim, a unidade, repre sentável pelo n rte íato UI ", nad a
teór ico (ambos subsu midos no conce ito de modelo co nceitua i) s ão elu -
c: indQs em M. DUNG E. Les eoncep ts de mod ele, L'4,e d. la sci~nct. I . repr esent a exceto a si mesma ; de outro lado, o numeral " 1"
165 (1968) e Moéets in urec rett cat sctence, Pro ~edln" 01 l he X iV rh represent a ou designa também 212, -3/ -3, log, . \0, etc.).
h"*" ,,,ntloll(ll COtlfTt:Sl 01 Phi loso phr (v tena , tt erder, 1969 ) , T . III.

190 191
o conjunto C pode sofrer uma partiçã o no subco njunt o S do isom orfismo. Ma s um e o mesmo sistema po de ser
de co nstructos shnbo ííradores (ou p rocuradores con cei- representado por um nú mero de modos não -equivalentes,
t uais) e o conj unto S de constru ct os não-simbolizadores. conforme a informação disponível e as ferrame ntas ana-
Consider em ago ra o con junto de todos os objetos que lít icas à nossa disposição e conforme Q nosso objetivo ime-
são representan tes ou simbolizadores, i. 6, que fazem as diato . Assim um corpo, q uer físico ou socia l, pode ser mo-
vezes de algo dife rente do que eles próp rios : i. é, o con- delado como um conjunto de pontos ou, talvez, como um
junto R V S de pr ocurado res co ncretos c conceituai s. Po- gráfico (componentes ligad os por relações); pode também
demos dizer que um objeto x em R v S (i. é, um pro - se r m ode lado corno um co nju nto de pontos com um certo
curad or) represen ta (espe lha, modela, esboça, simboliza, núm ero de funções sobre ele ou mesmo co mo um con-
faz as vezes de) o objeto y em O se x for um simu lacr o de jun to de mapeamentos (a s en tradas e as saídas das várias
y. O nde que r que esta relação valha, escrevemos: x ~ A _: y. componentes ) e assim po r dia nte. Conseqüentemente, nós
A rep resentação é uma su b-rclação de simulação : i. é, nos depa ramos, de vez em quando, com a escolha da re-
para qua lquer x e qualquer y em O, se x representa y, pr esent ação mais adequada - que não é sempre tampouco
então x simula y. Em outras p alavra s, ~A_ (~ Ma is p re· a mais verda deira ou a mais fác il de aplícar",
cisamente, a relação de rep rese nta ção é a restrição da re - D e qualquer modo , a procura e avaliação de represen-
lação de simulação para o subco njunto R v S de Av c: tações de objetos con cretos na ciência suscita um número
de fato, A é idêntico a _"- n ((RUS) X O) . As relações de probl emas, em particula r os seguintes : (a) encontra r
semâ uticas de designação e referência, são de outra parte a melh or espéci e de rep resentação para u m dado fim (gros-
super-re lações da re lação de representação: t udo que re- seira ou detalhada, caixa negra ou mecani smo , detcrrn inls-
presenta a f orti m'; tanto de signa co mo refere. Co mo a si- tica ou estoc ástica etc. ) ~ (b) dada uma ma ssa de dados e
mu lação, a representação é não-simétrica, reflexiva e tran- generalizações empíricas relati vas ao sistema. decidir q ual
sitiva: o objet o representad o o u simbolizado pode não re- deve ser descartada, i . é, qua l não deve ser incorporada à
pr esent ar, na maior ia das vezes não o faz , sua co ntraparte ; represent ação; ( c) dada uma espécie de representação e a
o objeto representante pode ser encarado como a melho r ma ssa de dados e de generalizações empíricas a sere m
represen tação de si mesmo; e se x represe nta y que por sua consideradas, co nstru ir o modelo m ais verdade iro; (d ) da-
vez rep resenta z, en tão x representa z. A represen ta ção das du as represe ntações do mesmo sistema, co mpará-las às
então é uma relação preordenadora . estruturas, i. é, estabelecer o mape amento que leva u ma à
Sempre que a relação de represent açã o é válida entre ou tra ; (e) em part icu lar, dadas duas representações do
conjuntos, pod emos aplica r a distinçã o feita na sec . 2 com mesmo sistema, determinar se são eq uivalentes; (f) dadas
resp eito à an alogia. N este caso, cabe distinguir as rcpr e- dua s representaçõ es de espécies iguais ou diferentes, equi -
sentnções das mesmas forças men cion adas anteriormente , valentes ou não, determinar se representam o mes mo sis-
simples (mas de co ntágio), injectiva, bijectiva , hom omórfi- tema. Eis u ma amo stra de qu estões que podem ser res-
ca e isom órfica. E nq uanto bijecção e iso morfismo são amiú - pondidas em relaçã o a qualquer conju nto de simulacros
de exemplific ados na mat em ática, as relações m ais frouxas conceitua is de um sistema concreto .
de representação simples ( algum-algum) , a representação A T ab. 3 leva em conta d iferenças na natureza ent re
injecti va (t odo-algum) e a injecção pre servadora de estru- objetos representados e represent antes.
tura (representação homomórfica) pa recem constituir a
regra na arte e na ciência, puras ou aplicadas. Fora a ma- D e toda s estas sub -rel a ções de A , a primeira é típica
temática, a representação isomórfica é apa ren temente u m do estágio observacional (e mbora não peculiar a ele) d a
ideal inatingível: um alvo q ue a gente se esforça po r sal- ciência fatual; a segunda e a qui nta são , por cer to, ca-
tar a fim de ch egar cada vez mais perto dele, sabendo-se ract erísticas da tecnologia e da Jingüí stica se os signos
muito bem que não é possí vel alcançá-lo. são tidos como ferramentas ; a terceira e a sexta são pe-
O objetivo da teorizaçã o na ciência é, de fato, da r a culiares à matemática; a quart a, à ciência teórica pura e
melhor representação conceituai do siste ma dado (objeto a quinta, à ciência teó rica ap licada.
represen tado)! - e a melho r po ssível é a mais próxima
(5) Para alguns do! dilemas encontrados na avallaçSo de teorias
clemrücas, veja M . DUNG E, S cíentli íc Reuarch ( Berlim-Heldelberg-
(4) P ara n defesa desta tese reali sta, veja M. BUNGE , Scltmtll tc N ew Vork, Spdnger-VerJag, 1967) , v. II , Cap . IS e o M yth 01 Slm -
R~J~arC'h ( ReC. 3), ptm'm. pUcity {Engfewood cnH!!, N , i ., Prentt ce-Han , 1963) , Caps. 6 e 7.

192 193
T.b. 3 conceitual. A Fi g. I mo stra o grá fico deste entrosamento
de relações . Exemplo : tan to a nossa lu. e qua lquer d os
Tipos de Representação
sa t élites de J úpiter são simu lad os por um saté lite artif icial
Sím bolo Exem plo e rep resentados po r uma teo ria lunar:

. ». 1 CR X N nrtcfn to re present a ob]c- desenho de uma ár vor e


lo nat ur a l
~2 CR X A ar te fato representa a rte- diagrnma de fl uxo de
- Iruo u ma fábr ica
~ C R X C nrtefa to rep resenta cons - diagrama em árvo re de
tmct o arg umento
A4 ( S N consrructo
X rep resenta teoria da evolução
objeto natu ra l
A. r, C S X A constructo repr esent a teoria dos autô matos
arte fatc
#to O C s X C constructo representa coordenada de um pcn -
construct o to F ig. 1. Quarto caso : os objetos natura is 1l e 1l' são represen-
tados pelo modelo conceituai c e simulados pelo arteíato Q.

5. Comb inando as Três Relações

o con ceito de anál ogo, simul acro c rep resentação ocor-


re co njuntamente em várias ocasiões. Examinemos algu - Voltamo-nos agora para um típico diagrama aber to.
ma s poucas com binaçõ es típ icas de inte resse para a filoso- A seguinte afirmação desempenhará um papel na sua dis-
lia da ciência e a tecn ologia . c ussão. T eorema: Se c ~ n e c' A. 11' forem análogos,
Primeiro caso : Dois objet os an álogos naturais ou ar- então ti e n' serão também análogos e inversamente.
tificiais são represen tados por um úni co modelo conceituaI.
Exemplo: a difusão cpidê mica e cultural são abrangidas
em seus traços salie ntes pelo me smo modelo matemático.
Segundo caso: um sistema conceituai cobre tanto um

],~_
objc to natural quanto um do s se us simulacros concretos,
Exemplo: teo rias de au tômnt os ap licadas (parcialm en te) fi
co m putadores d igitais c a cé rebros,
Terce iro caso : Do is obj etos aná logos naturais são si- ..._ ........E,
m ulados por uma úni ca máquina . Exemplo: sirnulnção por
computador da evolução molecu lar e biol ógica".
J ustapondo os padrões bá sicos acima, será possível en -
frentar qualquer número de situações mais co mplexas qu e
en volvam as trê s relações, Por exemplo : Fi g. 2. Constrnctos similares
Quarto caso : Dois objetos análogos con cr etos são si-
mu lados por um artefato e representados p or um mod elo
(6 ) L . C H IA RAV IG LlO (G~org i a , In stlt ute o r Te ~h nol o gy ), comu-
nicnção pesso al. Pod e-se simular em um co mputador a reprod uç ão e Quinto caso : Dois modelos concei tuais de outras ta n-
reco mbi nação de mol éc ulas - que leva de uma ,e ração à seguinte. Pro- tns coisas concretas an álogas (Fig. 2). Problema I : Serão
ar nnltl5 de peegunt ns tnsoe cto ncm cad a gcraç3 0 e vertrtcam qu an do certa
sec üê ncla prede ter min ada aparece, medi ndo St"U comprimento e outras os própr ios modelos con ceituais análogos? Resposta : Sim,
pro prie dades. ~ nosstvet impo r uma a uma a PTe S5?\O setettva e a mu-
tação, de mo do a dete rmin ar a S1l3 co ntribui ção à seteção. Para um a por causa do teorema anterior. Precaução : dada a extre-
e xcelente Introduç ão ao problema da sim ulaç ão , ver . H. GUETZKOW , Ed ., ma fraqueza da relação de ana logia, o resu ltado preceden-
s nn utouo n 111 Sodal S cience [En glewoe d cmrs, N. J " Prenuce-It cn,
1962) . QU::Illlo i\ di scu ssã o sobre o valo r du vidoso de pr ova da simulll.ç!'io te nã o diz m uit o. Problema 2: Sob que condições repre -
I' N comput ad or, c t . M , nU NO E, Sdrll tl!Ic Rt'$ttlrC'II, v, 11, Cnp . 14. sen tarã o os modelos a mesma coisa? Res posta : Sob condi-

194 195
Todos nós sabe mos d as limitações da analogia e dos
ções antes res triti vas". Obser vação: e mbo ra 3 natureza pre- argum entos da anal ogia, m as qu ando chega o momento -
cisa destas condi ções seja de inte resse para a matemática i . é, quando tropeçamos no que parece ser uma analo-
ap licad a, o semiólogo deverá interessar-se em saber que o gia profunda e pr omi ssora - ela nos ofu sca tão freqüen-
pro blema de determinar se os dois con structos têm o mes- tem ente quanto ilumin a n situação. Recordemos uns poucos
mo refere nte pode ser colo cado e soluci onado de uma ma- casos cm que a analogia ou antes o seu uso negligente 'foi
neira exat a, aind a que algo abstru sn, desencaminhador. Exemplo 1: os energeticistas e antiato-
Mais um a vez é possível ab ran ger q ualq uer nú mero de mistas da passagem do séc ulo acentuaram a similaridade
situações justapon do-se os padr ões básicos ante rio res. Mas entre o resfr iament o e a queda de um corpo , a ponto de
ainda está para ser tentado um estudo sistemático e exa- pretender que os dois processos deviam satisfazer às mes-
to dos problemas que envolva m analogia, simu lação e re- mas leis. Coube a Planck' mostrar que tais processos dife-
presentaçã o. rem tanto quanto a segunda lei da termodinâmica difere da
primeira. Exemplo 2: a mecânica quântica contém algu-
ma s fórmulas que lembram, por sua form a, a mecânica clás-
6. O Papel da Analogia na Ciência sica das partícula s e outras form almente análogas a afir-
m ações nas teor ias clássicas do camp o. A partir destas ana-
Sem an alogia não poderia haver conhecimento de log ias fo rmai s, surge a costumeira inferência de que a me-
qualquer espécie: a perc epção de an alog ias é o primeiro cânica qu ântica descre ve tanto um aspecto corpuscular
passo para a classificaçã o e a generalizaçã o. O primeiro qu anto outro ondulat6rio de mícrossistemas de dispositivos
pa sso apenas, pois uma cla sse natural (enquanto oposta a experimentais. :B preciso axiomatizar a teoria para mostrar
um conjunto arbit rári o) é uma classe de equivalência, i . que est as analogias são superficiais e levam a incoerên-
é, um a cl asse dotad a de um a estrutura bem mais fort e do cias". Exemplo 3: a entropia e a quantidade de informa-
que u ma cla sse de simila ridad e (veja sec. 2 ). O primeiro ção são dadas por fórmulas form almente análogas, de onde
papel d a anal ogia é sugerir a equivalên cia, sem contudo se infere freqüentemente que elas são iguais e, além disso,
estabelecê-la. que a mecânica estatística e a teoria da informação são a
A incapacidade de distin guir a analogia da equiva- mesma coisa ou qu ase. Basta rel embrar o que os referentes
lência deu ori gem à crença clássica, todavia errada de que das dua s magnitudes são e qu ais suas relações com outras
a analogia é a font e da indução, por seu turn o erroneamen- magnitudes para compreender que se encontra em jogo uma
te con siderada o mét odo da ciên cia. Uma crença afim e an alogia puramente formal e extremamente restrita. Exem-
ainda mais enganosa é que o estabelecimento de analo- plo 4: as inegáveis analogias ent re organismos e socieda-
gias entre os mem br os de um dad o co njunto substancia a des gerar am o danvinismo socia l, uma filosofia social es-
indução. Na realidade, as coisas são mais com plicadas : (a) téril e co nservadora. Só recentemente é que estas analogias
a similaridade pode sugerir equivalência; (b) a equivalên- sugeriram o modo certo de agir, i. é, tentar construir am-
cia justifica a cla ssificação; ( c) a cla ssificação é nec essária plas teorias que cubram tanto organismos quanto comu-
(não sufi cient e) para aventurar generalizações induti vas; nldad es!t.
( d) as generaliza ções ind uti vas são ape nas um pequeno E xemplo 5 : as ana logias entre individuas e grupos so-
sub co njunto de hip óteses clcn tificns e nun ca são formadas ci ais sugeriram à psicanálise social out ra doutrina estéril e
de maneira concl usivas. conser vadora que "explicará", dizem, a inquietação estudan-
(7) ROSEN , R. A repr esent acã c de ststerncs btctõ atcos do po nto de til como um fruto da tendência parricida gerada pelo com-
vista da teoria das categorias. ln : B III/ct ln o/ M ath em oflcal Dloplry;siC3,
20, 317 (1958), T eor ema 6, 1'. 33'. Seja AI um di:l.grama de bloco abstre-
to que repr esente um siste ma concreto, e.g., um organi smo . Os objetos (9 ) PLANCK , M . Vortri1g~ rmd Erínn ernngen (StuUgart, S. Hlrzel,
e o m apeam ent o de M per tencerão a um a cer ta cat egori a A . Consi de- 1949), pp . 11-12.
re-se agora outr a cat egor ia B e um I unctcr T de A em B . Cha me-se T (M )
n imag em do diagrama de bloco orii:i n~ l sob o Iunct or T. Q ucs Hio: sob ( 10 ) BUNG E. M . F ou ndotion 3 o/ Ph )'sl c$. ( Berlim-Heidelbcrg-New
que co ndições é est a Imnger u T ( M ) de novo u m dlug r nmn de bloco do York, Sp ringer-Verll\l. 1967) e An alogy ln quantum tcory: fro m imlabt
siste ma concr eto dndo1 Respost a : Qu.:a ndo T for um funetor fiel, 1C:lulaU" o to ncesence. Brlrlsh l ournnl i or the Ph l1o soph p 01 Sdence, IR, 265
e m ult lpllcat ivo . (1961) .
(8) POPPER. K. R. The L Ol i e D/ Sclenlll lc Dísco very (Londres, ( 11) Um a teor te deste tipo E uma extendo da teo ria matemAtIca de
Huteh inson s, 19.59) , apr esen ta a ma ts conclusiva rdut:lç iio do Indu U"15mo s enét ka popu lacio nal pre posta por R. W . GERARD, C . KLUCKHOHN e
com rererêncta li. constr ução de tccr ta. M as a Induç ão desempenha um A . RAPOr O~T, Biolcgtc nl and cultural evctu uon , Behavtor al Sclence. I, 6
pape) decisivo na evattação da s teori as cíe ntt üces à luz do s dad os em- (1956) . Uma outra é a teoria de conjuntos organ fsmJco!t proposta por
nt rtcos. Ver M . DUNGE , TI/e M)'l1l 01 Simpllctly (Enalewood Cllffli, N . RASHEVSKY. Bullttln 01 M(lI'r emat1cat Biophysfcs, 29, 139 (1967) .
N . J ., P rent lce-J-1 all, 1963) , Cap. 9.

197
196
plexo de fll il' 0. .E assim po r diante. Uma h istóri n negati va entend id o o nov o, fi men os que o tenha incorporado em
da ciência, uma hist ória que recordasse mai s os mal og ros algum co rpo ace ito de idéias. M as tal corpo pode ter sido
do qu e os êxitos. pode ria e vide nciar q ue as analogias s50 rec ém-construido, a f im de abri gar um fa to previamente
tão fr eqüen tem cnte deso rienta do ras q uan to fecundas. desgarrado. Tam bém , apó s alguma pr ática, ficaremos acos-
Outro a lçapã o con tra o q ual devemos no s preca ver é o tum ad os ao nov o m odo de pen sar e sentir -nos-emos em
ponto d e vista co rren te e em m oda da teori zaç ã o cien ti- terren o familiar : exp lan açã o c ent endimento tendem a tor -
fica e exp lanação co mo sen do basicamente an aló gica ali nar -se coext ensivos,
metafórica 12. Sob cste po nto de vista, o "modelo" hip otético- Mas estão longe de ser cointensivo : o conceito psicoló-
de d utivo de teorias cientí ficas estaria errado : o nú cleo ex- gico de entendimento é de fato diferente do conceito me-
pl anatório de cada teor ia se ria uma me táfora, um mod elo lacien tífico de expla nação. T anto mais quanto pode haver
mai s ou men os pictó rico de se u refer ent e que cump re não expla nação de sacompan hada de entendimento intuitivo; e,
apenas uma fu nç ão heu rtsticn , m as tam bém lógica . A ex- in ver sam ent e, bo a part e das "explanações" inteligívei s ao
pla naçã o cient ífic a co nsistiria en tão de uma redução o u leigo são nã c -cientiíicas, precisamente porque confiam m ais
qu ase iden tificação do no vo e não-famili ar no velho c em analogias do que nas próp rias teorias.
familiar - que con stitu i de fato a t ese fa mil ia r de Mc yer - E m resum o, a ana logia é indubita velmente fecund a,
son. O " mode lo" m etaf óri co de t eorizaçã o c ic ntl ü ca c ex- m as d á n asci mento t an to a mon st ros como a beb ês sa-
plan aç ão torn ou-se popu la r nos últ imos a nos, junta mente d ios . E , e m q ual quer dos casos, seus p rodut os, assim com o
co m o ut ras renções tan to cont ra o ind uti vism o c omo con - os da int uição, são apen as isto : re cém-nascidos que preci-
t ra o dcd utivi sm o, e mbo ra nu nca ti vesse sido susten tad o sa m ser criad os, se é que o precisam, m ais do que cultua-
po r um a an álise p orm e no rizada da forma c do co nteúdo dos. Em ou tros te rmos, e nco ntra r um a a nalogia ou propor
de lim a (mica teo ria cien tí fica - o qu e prova q ue os Iil ó- um arg um ento basea do num a a na logia (i. é, con struir um
safos da ciência podem ser tão espec ulativos co rno os m C 4
ar gume nto q ue co nten ha juízos de an alogia) é ap en as um
tafísicos tradi cion ais. começo. Corno Gerard, Kluckhohn e Rapoport dizem" em
A visã o metafó rica da natu reza das teori as c ie ntificas se u incitante arti go sobre analogias entre evolução cultural
é impotent e par a da r co nta dos se guintes fat os : ( o) n m aio- c bio lógica , " O pen sam ent o a na lóg ico [ . . . ] é segundo nosso
ria d as teori as c ie ntí ficas, e specialme nte na física co ntem - pont o de vista não tant o um a fonte de respostas sobre a
p orânea, são não-pict óricas e usualmente explicam fatos fa- natureza dos fenôm en os co mo um a fonte de questões de-
m iliares em termos incomp reen síveis ao leigal :! ; ( b) e n- sa fia doras".
qua nto algumas teorias contêm ou pod em absorver modelos
mais ou m en os visua lizáv eis de seus refer ent es, são tod os
sistemas hipot ético-d eduti vos na m edida e m qu e intere ssa 7. Os Papéis da Simulação e R epresentaç ão /la Ciência
à sua forma!" . Seria miracul oso se as explana çõe s cientí-
ficas fossem pouco m ais do que parábolas, pois então a
ciência seria incap az de explicar algo de novo: sem dú vida , o conce ito de simulação, ta l como foi recon struído na
o no vo fa lha cm se assem elh ar ao velho em algum aspe ct o sec , 3, dep ende do con ce ito de va iar : verdade, simulação é
deci sivo - de o ut ro m od o n ão se ria tom ado com o novi- analogia vali osa - e por tanto, mu itas vezes, deliberada (do
d ad e. O qu e suce de é que a ge nte nã o " sente" qu e e le tenh a mesm o m odo o disfarce, co mplemento da simulação, é dissi -
mil arid ad e valiosa ) . D aí ser o con ceito de sim ulação tão
(12 ) P ar a o pont o de vist a segundo o qu nl nnnlogtaa, em par- pragmático quanto o co nceito de valor - em um a axio lo-
ucutar modelos vlsunll.t!\\·cb, s50 cc nsuun tvoa m.,ls do que sim ples com- gia não-pl at ônica , i . é, em uma ax iologia segundo a qual
ponent es heu rtsucos de tecrf ns cten ttücns, veja E. 11. HUTTEN. The
L Ofl guo ge 01 M od er n Phvs ícs ( Londres, All en &. Un win , 1956) ; M. não h á valores, m as a ntes objetos va liosos e, seg undo a qual,
BLACK . M od e/.f alia Afrtrrpl lOfS ( tt haca, New Yo rk. Comeu University a ava liaçã o é e xecuta da por orga nismos .
Presa, 1962), e M. n ESSE, M odeb an d Anrrl ogi n ln Scíence ( N ot re-Dame,
In d., Notre-Dame U nh' ersil y Press, J966) . D o mesm o mod o, o co nceito de representação, tal como
(1 3) P ar a um a disc\lu 1'ío dAS "5oo ,,s noçõe s de Irttultibilidade, et. definido na sec , 4 - on de foi con struído co mo sob-relação
M , UUNG E, I ntuttton o rld Scí ence (Englewood c lUrs, N . l ., Pren üce- da relação de simu lação - é um conceito pr agmáti co.
u eu, 1962) .
(1 4) Isto E assim por deHnição : uma Id~1:I. que fal h a em ser um M as, di ferentem ent e do co ncei to de simulação , o de re-
sist ema hlp otétlco-d edu ti vo não pod e se r chamada de t('orln na de nd a present ação pode ser construído de uma forma livre de
e mete mâttca cc ntempcr âne es. Veja M. BU NGE. Scl entl/lc Restarch
(B erllm·Jteldelber s· N e w Yor k, Sp rin ger·Ve·t1ag. 1967). v. I. CJlp. 7. pa ra
um a en âtlse element a r d a estru tura de uma teo ria eíen ttüce. (IS ) Veja p . 197. n . 11.

198 199
sujeito. Na verdade , podemo s pret end er qu e a rep resenta-
ção é uma relação purament e semân tica en tre o retra io e ma nat ureza que o objcto por elas representado : a analo-
seu re feren te, partic ularm ent e se a pin tura é fiel ou verda- gia de contágio, substa ncial ou form al, é necessária e su-
deira . (As palavras "retrato" e "pintu ra" não constitu em ficiente para quali ficá-Ia com o represe ntação. Assim, pode
aqui escolha s felizes, pois as re presentações podem ser sim- acon tecer q ue o objeto e seu m odelo, embora não sejam
bólicas mais do que ic ônicas' v.j Além disso, poderia pare- sim ilares co mo po ntos, são anál ogos em geral, no sentido
ccr possível intr od uzir o concei to de represe nt ação indcpen- de que , corno todo s, partilham de certa s propriedades. Co-
dentcm ente do conceito de sim ulação, talvez em term os mo Bolzano t'' observou há m ais de um século, "Cada todo
dos co nceitos semânticos de refer ência e verdad e. (Um a tem e deve ter propriedades faltante s em suas partes se-
elucida ção de carâter simples em term os semâ nticos pod e. pa radas. Um autôma to tem a proprie dade de mimetizar
ria ser a seguinte: se x for uma afirmação e y um objeto qua se eng anosam ente os movim entos de uma pessoa viva,
concret o, então x re presenta y ap enas no caso cm que 1: se enquant o suas partes sepa radas, suas molas, suas rodinha s e
referir a )' e x fo r verdade iro.) Não obstante, nossa defin i- coisa parecida não possuem qua lque r proprie dade seme-
ção pra gmática de repre sentaçã o po de ser útil par a nos lem- lhnnte", A similar idade do tipo ponto , em parti cular o iso-
brar de vez em qu and o que as represen tações servem a mo rfismo, é antes a exceção do que a regra. Somente em
um propósito. (N a realidade , é um a car acter ização, não casos especia is, como em certos análogo s me cânic os ou
uma definição, po is é circ ular.) hidráulicos de circu itos e!étri cos é que se pode produzir
uma ilusão de perfeita anal ogia formal (isomorfismo) -
Os con vencio nalistas e idealist as subjetivos, se houver
digo lima ilusão po rque o campo eletromagnético à volta
algum ainda vivo, nã o têm o qu e fazer com o co nceito de
do circ uito, que é o que impele a corrente , permanece
simulaç ão e represent ação. Na verdad e, O mero uso de tais
fora da analogia. (Um lembret e oporluno é que o grau de
conceit os pres supõe (a): a hipótese metafísica de que
similarid ade é depend ente de teoria: o que parece similar
existe um mundo e (b): a hipótese epistem ológica
em uma certa teori a vem a ser dissimilar em outra.) A
de que este mtindo é digno de ser simu lado, tanto em
analogia eletro ruecâni ca, há pouco mencio nada , tem uma
pensam ento quan to em artefato, para fins de ent endim en-
importâ ncia históric a e pr ática tão grande e é tão inspi-
to e controle. (Mas entã o pode-se argument ar qu e a ciên-
rad ora que me rece um exame m ais de perto.
cia, embora cheia de convenções, não tem o qu e faz er com
o conven cionalismo ou o idealism o subjetivo, ambos de- Conside rem O mais simp les circuito el êtri co , ou seja,
fensáveis co m referên cia à rnate rn âtica.) Assim, pode -se um circuito de corrent e contínu a A c seu an álogo hidráu-
dizer que uma teoria científi ca, para contar como tal, deve lico B. Cad a sistema consiste de duas partes distintas: um
simular entidad es de urna certa espécie (sua c1asse de re- gerador (bateria ou bomba , conform e o caso) e um elemen -
ferê ncia) , pois do contrário não se poderia con siderá-la co- to condut or (fi o ou cano) . O circuito elétrico possui um
mo sendo rele vante para elas, isto indepen dentem ente do ter ceiro comp one nte, o campo circund ante, que deixare -
fato de ser verdade ira a respeit o delas. 11 possível também mos propositadame nte de lado. Em cada caso, o sistema
argume ntar que qualqu er prova empíric a de uma teoria pode ser descrito como um certo conju nto de pontos, em
científi ca põe à prova, entre outras coisas, as assunç ões que cert as funções são definidas. Tais funções rep resen-
existenciais da teoria que - mesmo se falsas - constitu em tam as proprie dades caracte rísticas do sistema : a diferença
um seu ingred iente indi spensável'". de potencial (pressã o) e ao longo dos termina is (pontas
de cano ), a intensidade de corrent e (regime de fluxo) i no
J! inútil dizer que o artcfato represent ativo ou a idéia fio (cano) e a resistência (fricção ) R . Estas trê s funçõe s
simbolizante não preci sa, e amiúde não pode, ser da mes-
são relacion adas pela lei e = Ri.
(16) P ara uma c1assiflcaç! o de modelos clenUfico em mode Introdu zamos um terceiro sistema F, desta vez, um
nícos, anãl oaos e sim bólicos. ct. R. L . ACKOFF sScltnfillc los Jc6- sistema purame nte con ceituai que capta a estrutu ra comum
Opt lmit/nr A pptird Rrstarch Dectstons (N ew Yort, , John Aftthod:
Wil
Inc. 1% 2) . Um modelo lcênl co E, se m dúvid a, uma represent &. Sonsey dos d ois sistema s con cretos A e B. O sistema fo rma! F
suaUzA,,'e l de algum as pecto de um sistema . Um mode aç50 vi·
é um sistema relacion al ou estrutu ra, i. é, a quádru pla
um conjunto de propri ed ades para repr esen tar al gulom aná logo emp resa
outro
de propr ied ades. E um mod elo simbó lico E uma teoria matemáconjunto ordena da F = < G, e, i, R >, ond e G é um conjun to de
objeto em estud o. tica do
gráfi cos orienta dos com dois vértices e e, i, R são fun-
(17 ) Esta asserção pode ser Justificad a pe la apresenta
pos tulados existencia is em uma recon struç ão nxfom âu ca da ção dO!
respeito à axlomatiz açlo de Inúmeras teorias físicas. ct . t eor ia , Com (1 8) .nOLZAN O, B. Paradoxes 01 the lnt íntte, Traduçlio para
o ln-
Fo undotío ns (lI Ph}'sics ( Ne w Y ork, Spr lnger-Verl aF, 1967) M . BUNGE, @l ~s de D. A. STEELE (L ondres, Rcutledge 4: Kegan Paul, 19S0),
, 128. p.

200
201
çõcs de valores reais so bre G . Pod em os fingir esquecer co- lanç amen to pa ra análises mais profundas c mais detalha-
mo F foi cons truido c cncará-Io como uma idéia plató- d as, quer para ev itar algum absurdo .
nica: partimos da estrutura fo rmal F e vamos "descendo" En tre os er ros flagrantes que é possível ev itar facil -
para 3 S co isas concretas. Isto nos permite considerar A e n men te, le van do e m consideração a nossa moldur a, cabe
co mo ape nas du as (ent re infini tas) rea lizações ou mod elos menci onar os segu intes: (a ) co nfundir analogia co m a rela-
físicos do sistema rorm al (todavia não -abs tra to) F . Além do ção " cm m a is forte ( tr ansi tiva ) de equivalência; ( h ) fal ar
mais, dizemos que todos 05 m odelos concretos de F desta de isomo rfis mo (ou d e perfeita a nalogia form al) qu ando
orde m sã o fo rm almente aná logos um ao ou tro, num sen - está cm cá usa uma relação bem mai s fraca de similaridade
tido fo rte e com respeit o a F : de fato, tod os sã o isomórfi - (usualm ente de analogia simples); ( c) ac reditar que um
cos. Po r f im, podem os generalizar es te procediment o para modelo co nce itual ou a nálogo (em pa rticular um modelo
sistemas de qualquer es pécie. teórico) , para ser verdadeiro , tem de ser uma imagem es-
O que precede sugere a seg uinte defin içã o do iso- pccul ar (cor respondência bijectiva) de seu referente; (d)
morfismo de sistema em le rmos de modelo teórico : do is c rer que m odelo s fotográficos ou visualizá veis são essen-
sistem as ( con cretos ou co nce ituais ) A e B são isom órficos ciai s para n ciênci a teórica, mesmo quando os referentes
co m respeito a um terceiro siste ma, o sistema relacional F , são imperceptí veis, como no ca so dos elétrons e das nações.
apena s no caso cm que A e 8 sejam modelo s de F. Com O presente estudo não passa de uma expl oração pre-
esta defin ição , a f im de veri ficar se dois sistem as são aná- limin ar de três con ceit os de intere sse para cientistas, 16-
log os cm um sentido [arte, precisamos primeiro nprcscnta r gicos ap licados. filósof os da ciênci a e tecnol ogia, metafi-
s uas teoria s, ainda que seja de um a forma ape nas deli - sicos c se miólogos . A maio r parte do trabalho sobre este
neada. Co nseqüent eme nte , o iso mor fis mo e m questão é re- problem a ainda es tá para se r realizada.
lati vo às teori as em pregadas em construir o sistema rela- Agradeço ao meu alun o Ch arl es C ast onguay por sua
cio nai F. Assim, no sistema acima, se a teoria de Maxwell proveitosa cr ítica ao esboço deste t rab alho.
foi adorada de preferência à teoria fenome nológica dali
red es elétr icas, o isomorfismo rui por co mpleto e pe rma-
nece uma analogia consideravelmente m ais fraca. Em su-
ma , no ssos juízos de analogia são dep endentes da teoria.

8. Observações Filiais

Desenvolvemos uma moldura elementa r e ampl a para


elucidar as relações de analogia, simulação c re-
present ação. Tais relações foram analisadas, ex emplificadas
e inter-relacionadas com a njuda de algum as pou cas por -
ções da teoria dos conjuntos e da teoria dos modelos. En -
tretanto, não foi apresentada nenhuma te oria propriamcn-
te dit a . Além disso , é de se d uvidar da possibilidad e de
uma teoria não -trivial de analogia (enqu anto distinta da
simulação e da represent ação ), dada a fraqueza desta re-
lação. Do me smo modo, argumen tos da analogia, emb ora
ind ividu almente analisáve is, não parecem passíveis de sis-
tematizaçã o teórica, e isto por duas razões. Primeiro, por-
qu e são tod os nã o-válidos, de modo qu e n ão p od e ha ver p a-
drões de validade fo rm al ; segu ndo, porque sua fecundidade
depende da natureza do caso. Em resum o, nenhuma lógica
da analogia parece possível. Seja como for , a m oldura pre-
cede nte pode se r de algum a util idade quer co m o b ase de

202 203
10. A VERIFICAÇÃO DAS TEORIAS CIENTIFICAS

I. Int roduç ão

Toda teoria científica de alto nível passa por quatro


baterias de testes: empíricos, interte óricos, metate6ricos e
filosóficos. ~ certo que comumente só a necessidade dos
primeiros é admitida, e mesmo a natureza de tais provas
não foi bem esclarecida: com efe ito, em geral são apre-
sentadas como simples confron to das previsões teóricas com
dados empíricos, sem haver a com preensão de que estes
depend em por sua vez de outras teorias. Quanto aos testes
intcrteórico s, con sistem no exame da compat ibilidade da

205
teoria em jogo com o re sto do saber científico, com o obj eti- mntern âtica . Em segundo lugar, devido à preocupação com
vo de assegurar sua coerência global. Q ue esta coerência ex- a co erênci a glob al, que multiplica o número e a variedade
terna seja tão impo rtan te quanto a coerência int erna e d os sustentáculos de todo espécie. Assim o psicólogo que es-
quanto ao amparo da nova experiência , é uma coisa bem tuda fi memória como um processo orgânico confia na bio-
conhecida dos físicos, q ue utilizam vários "princípios de logia molecular, que por sua vez é baseada na química,
correspondência". Ent ret anto, ela quase não figura no s tra- que se a pó ia na física , que emprega a matemática, que in-
tamentos da verific açã o, que de hábito é tida como sendo c1ui a lógica. In troduzam a contradição em alguma parte
p ur amente empír ica . O terceiro exame, o da natureza me - desta cadeia e terão a fragment ação assim como a falta
tat e ôrica , ve rsa sobr e muitos ca racteres formais, tais como de amparo m útuo e de profundidade . h o mesmo cuidado
a ausência de contradição , e sem ântic os, tais como a po ssi- co m a coerência global que no s impele a procurar a com-
bilidade de uma in terpretação em termos empíricos (ha- patibilidade com a nos sa filo sofia, assim como a reformar
bitualmente por m eio de outras teorias) . P or fim , o cuida - a Iilosofin a fim de pô -Ia de acordo com a ciência .
do com a respeitabilidade I ilosôfica não é menor: cm par- Sem dúvid a, este s exames nã o-empíricos nem sempre
ticular, suspeitar- se-à de toda teoria qu e nã o seja conform e são efetuados de uma forma ex plícita, detalhada e consis-
à metafísica domin ante nos cír culos científi cos; por ex em- ten te. Assim mesmo , nenhuma teoria pode dispensá-los e
plo , rejeitar-se- é uma psicologia q ue nã o der lugar aos nenh um a de veria dispen sá-los, porque indicam Se vale a
processos orgâ nicos. O bservemos tudo isto ma is de perto, pen a levar a ca bo as provas empíricas e porque poderão
deixando de lado, todavia, pormeno res e aplicações que me sm o sugerir (particularmente as análises interte6ricas)
são tratad os alhures •. pr ova s empí rica s. Se nem sempre são mencionadas, é por
pudor filosófico: porque a filo sofia declarada dos cientis-
tas é o empirismo, ainda que a traiam desde que começam
2. As Análises Não-em píricas a co nstruir teori as e a apli cá-las à planificação das ex-
periên cias, visto que tod a teoria é um conjunto infinito (e
o rdenado) de pr opo sições que ultrapassam a experiência.
Muito antes de traçar o plano de um teste empírico,
perguntamo-nos se a teoria é "razo ável" e "vcrosstrntl " :
se ela está bem co nstruída, se não contradiz tudo quanto 3. A Preparação Para a Prova Emplrica
julgamos saber (coerência externa) e se não po stula enti-
d ad es met afi sicamcnte ind esejáv eis, tai s com o o élan vital,
A ssim, urna teo ria dos nêu tr on s postul ando que estes são ao Acredita-se saber como se submete uma teoria cientí-
me smo tempo pontuais e ex tensos de ver á ser rejeitada por fica à experiência: destacam-se algumas conseqüências das
ca us a de sua incoerência; se ela postul ar que os nêutrons hipóte ses de ba se e planificam-se e executam-se observa-
têm a faculdade da livre deci são, cumprirá re cusá-Ia como çõcs pertinentes ti tais teoremas. Mas isto é demasiado
incompatível com a psicologia ; e se ela supuse r que os nêu- simples pora ser verdadeiro . A dedução de conseqüências
trons não po ssuem existên cia aut ônoma, ma s que são re - verificáveis comporta sempre a adição de hipóteses su-
sumos práticos de ce rtos dad os experimenlais, a teoria será plementares que vão além da teoria em questão e, por
abandonada p orque não é co m pa tíve l co m a filosofia rea - co nseguinte, a colocam em perigo, embora salvando-a do
lista subjacente a pesqui sa científica (embora os pr óprios isolamento com re speito à experiência. Tais suposições se
pesquisadores lhe escapem por vezes ) ", rep ortam cm parte às particularidades do objcto concreto
Por que esses exames não-empíricos ant es me smo do ao qual se refere a teoria: elas esboçam um modelo teó-
inquérito empírico? Primelrarnente, devido à preocupação rico dele compatível com a teoria, construído com os con-
de c1areza e de sistema: qu eremos di spor de um edifício ceitos de ba se da teoria, mas que não faz parte dos pos-
bem ordenado (um siste ma hip otéti co-d edutivo) mais do tulados ger ais da teoriaê, Assim, em teoria eletromagnética,
que de um amontoado caótico de fórm ula s, porquanto se p a ra calc ula r a forma e a potência das ondas emitidas por
pretende compreender e se pretende explorar a l ógica e a um posto emi ssor, dever-se-à começar por imaginar um
modelo teórico de antenas. A esta simplificação poderão
(I) BUNGE. M . Scl~ ,.,tilir R (J('(trch (Ne" vorj; Sprinrrr. 1967).
em r 1u11c'ular J. J"f'. 4 99--~(\4 e tt. 1"1". ~~ 6-3~ 7.
(2) CC. M . BU~TGE. Ed.. (Ju" " m.., nrr"n' a-rtf Rt' a/irr (Se_ 1"ort
(3) cr. M. .Blr."lGE:. FoundalfDnJ 01 Ph,.rfu (New York" Sprtnetr,
~rtT'. 1C\Ç7l. 19f1) ~ 494 e B..
5 rin fl{ic Rrr:r..m. J. PI'.

I
. . •

206 207
soma r-se sim plificaçõ es nn solução c mesmo na s eq ua-
çõ es de base. ção com 1"1 e 11, nos permiti rão deduzir um conjunto T*
d e p ropos içõe s particu lares, pertenc ent es a uma lingu agem
Em suma. o que esco lhemos para submet e r à com - sern ite ôrica, semi-em pírica, que pode rão ser submetidas ao
p rovação empíric a. não é a te or ia in te ira e pura, m as u m
co ntrole da experiência. Em sum a, o processo fo i O se-
pe queno con jun to de teorem as ob tidos po r meio da teo ria,
en riquec ido com algum as hip ó teses suple men ta res e em - guinte:
pob recido por alguma s simplif icações. O conjun to das fó r-
m ulas assim obti da s não é ape nas finito, mas é ta mbém cm Dedução de teoremas TI, S, l- T' l
parte estranh o à teori a, pois en volve hipótes es supleme nta- Tradução dos dados A, T.. E, l- E ' l
res. D enomi nando Ti a teoria em apr eço e SI o con junto
de hi póteses e simp lificaçõ es introd uzidas 00 curso do tra-
Construção dos indices A, T I l- /,
balho de deduçã o, tem os: T " SI f- T' l. D o desemp enho Conse qiiênctas verificáveis r b E*l, 11 J- T·
de 1"1 é que tirarem os "concl usões" sob re o va lor de 1'1. SI
pode arr uinar T I m as, sem S I, não h á T ' l e po r conseguiu- Só agora é que nossa teori a está p ronta a sofrer as
te não h á test es emp iricos. provas da exper iência.
E is-nos diante de T' II o q ue se denomina ínco rre ta me n-
te as co nseqüê ncias observá veis de T. E stã o elas pr ont ns
a enf rentar a ex periência? A inda não: 1" 1 con te rá co n- 4. A Produção de N ovos Dados
ceitos sem contra par tida empí rica, por exem plo, "tem-
pe ratu ra" a ti e ntão conceit os que, embo ra sendo emplric os, Queremos plan ejar , exec utar e inte rp reta r expene n-
co mo "sede", não são dircta rue ntc co ntroláve is. Cu mp rirú cias (observações, med idas, exp erim entaçõe s) destinad as a
pois " trad uzir" T' I em linguag em semi-em pírica, scmitcô - pô r 1'· à pr ova. Não se tr at a de observa r o que quer que
rica. Por exemplo, será preciso " tra duzir" as te mpera turas seja, mas de p rod uzir u m co njunto E· de infor mações com-
c m co mpri me nto s c a sede cm quantid ade de água bebida. paráveis a T· , i. é, express as na linguagem de T. Isto
Es ta t rad ução ou interpre tação dos co nce itos e das hipó- impõe um trab alh o teórico p révio da mesma amplitu de que
teses teóricas é u ma questão cien tífi ca, não apenas uma aq uele que res ulto u em T· .
qu estão Iingüística . Trata-se co m efeito de int roduzir novas Co meça remos por fazer o plan o dos tes tes, por exem-
hipóteses que liguem alguns dos inobser váveis de T' I a ob- plo ex periências de difu são de "partíc ulas" carregadas por
ser váve is objetivos. Exe mp los: as eq uações que vinc ulam a um alvo de compos ição e estrutu ra conhec idas. Uma qu al-
di ferença de potenci al à temper atu ra de um term o-par, e q uer dessas experiê ncias basear-se-â em T I assim como
a memór ia ao dese mpenho de cert as tarefas sabidas , Estas no saber antece de nte A, em part icul ar conhec imento s con -
hipótes es ob jctivant es ou índices não são pos tas em ques- ce rnen tes aos mod os de aceleraçã o e detecçã o dos pro-
tão du rante a prova de 1") . E las pod erão ser int rod uz idas j éteis (por exempl o. teori as do cíc1otro n e do contador de
po r meio de T h m as não vão além de T I' Comu me nte tais ci ntilação ) . Teremo s, quase como no caso ante rior, um
índices II são conceb idos co mo a ajud a de TI e do corpo A corpo T. de conhec imen tos teóricos (um amontoado de
do saber antece den te. fr agm ent os de diversa s teorias) , inclusi ve uma parte de
M esmo co m o acrésci mo das hipóteses suplemen tares 1". Te remos também um conjun to S. de hip óteses espe-
SI e pon tes l i entre a teor ia e a experiê ncia, TI não está cí ficas relativas ao plano expe rimental, o que nos per-
milirá depreen der co nseqüê ncias T 2 sobr e o Iuncionamen-
pron ta a enfren tar a exper iência. Será necessár io ju ntar
to da ap ar elhagem . Em seguida , te remos um coojunt o /.
aind a infor mnções empíric as ("dado s" ) relati vas ao ob jeto
de hip óteses-p ontes, que poderá ence rrar I I, Soment e agor a
da te oria. Não serão dados br utos inteiramen te estranh os a
podere mos começa r as mani pul ações de laborat óri o.
TI: result arão de man ipu lações teór icas de um co njunto de
da dos empíric os; por exe mplo, a exp ressão de observações Uma Vez executa d as e interpre t ada s as experiências,
astro mét ricas em coorde na das coperni ca nas . D enomin emos disporem os de um co njunto E. de dados qu e será pre ciso
ler em termos das teori as TI e T 2 • De nomine mos E· este
El os dad os pr op riamen te di tos e E *I sua " traduçã o" cm
resul tado final (conqu anto não definiti vo ) . E m suma , te -
linguagem da teoria T I' Estes da dos refinad os em co njun-
mos o segui nte andame nto:

208
209
Dois casos podem ocorrer: ou TI tem prestígio ou
1'2. S2, f- 1"2
entã o não prestou ainda bons ser viços. N o primeiro caso,
A, 1', I- I, suspe itaremos quer das supos ições S, que constituem o mo-
E2, 12 • TI. T 2' I- E* delo da coisa por nós estudada, quer das leis-pontes 1..
quer dos d ados E I . Examin â-los-ernos criticamente, às ve-
~ est e conjunto E I) de dados refinados que dever emos zes submetendo-os a provas empíricas independentes. Em
confrontar com 1'·. seguida modificarem os ou sub stitu iremos os componentes
qu e não fun cionam, até obter um acordo razoável, embora
temp orário , entr e um novo 1" compatível com T, e E'.
5, O Encontro da Teoria e da Experiência Em caso de necessidade declararemos T, falso no domínio
qu e acaba de ser explorado, embora possa ser aproximada-
mente verdad eiro em o utros dom íniosê.
Nos sa tarefa é agora por E * fr ente a frent e com T* Se, ao contrário , 7'1 for novo, então todas as pre-
a fim de avaliar T, . Caberá lemb rar que T' é uma am os- missas qu e acarre tam T * deverão ser cr iticadas passo a
tr a finita , deform ada e inte rp ret ada de TI e que, da me sma pas so. Costumeirame n te as premissas menos seguras são os
maneira, E* é lima am ostra , elaborada po r meio de co- axiom as de T 1 e as hipóteses suplementares Slo o que não
nh ecimentos te óricos, de todo conjunto das experiências excl ui as pr essuposições genéricas de Til tais como a teo-
possívei s. Não dever emos nos surpreender se a determina-
ção do val or de verdade de TI n ão for um assunto sim- ria do tempo que TI pressupõe. Para reconhecer melhor as
partes responsáveis pelo malogro, convirá axiomatizar a
ples.
Evidentemente, nã o há se não do is casos possíveis: teoria". Esta axiomatização, ao mostrar as pr essuposições
ou E* é pertinente a T *, o u não é. Suponhamos que o genéricas e as hip ót eses especí ficas de Tt, facilitará a in-
seja, porque de o utro mod o seria p reciso replanej ar o tes- vcs tiga ção c impedirá a fuga dos culpados.
te . Se E* for pe rtine nte a T *, então os dois concor- O primeiro p asso nesta perseguição será o de tentar
dam ra zoav elmente bem" ou não se ha rmonizam . No pri- isolar as premissas mais suspeitas, qu e serão as mais es-
meiro caso concluiremos que E · confirma TI no domínio pecífi cas, separando os membros de T* que dependem dos
expl orado, sem toda via verificá-lo definitivamente. Cumpri - que são independentes dele, e relacionando as conseqüên-
rá esperar que u m novo conjunto de dados, quer no me s- cias das hip óteses suspeitas com os lidado s" empíricos.
mo domínio, quer em um outro, possa refutar TI ' Se conseguirmos capturar os culpados, o segundo . passo
1\1 as se E * estiver em desacordo com T+ , i , é, se será o de substituí-los ou até de abandoná -los, formulando
E " contiver um subconjunto E'* de ca sos negativos, ha verá uma nova teoria que não difira demais da anterior. Proce-
duas possibilidades, rejeitar TI ou rejeitar E'*. A decisão deremos desta maneira até logr ar um acordo razoável com
dependerá do apoi o qu e 1'1 e E' * pod erão e nco ntra r em E*, Se for o c aso , aband onaremos 1'1 por completo, sal-
outra parte, i. é, para além dos no vos dados. Se as pro- va ndo talvez alguns fr agm entos; mas poderemos mesmo nos
vas empírica s negati vas E'* não são firmes - qu er por e ntrega r a urn a alteração de ponto de vista .
ca usa da fraqu eza da teori a auxiliar 1'2, quer por causa d a O pro cesso de verificação - ou melhor, de compro-
presença provável de erros sistemá ticos na experiência - vaçã o - é, poi s, gradual. A confirmação ou a refutação
ent ão ser á preciso re pla nejar ou pelo menos rep etir as de uma. teoria não é tã o direta com o no ca so de uma
ope rações e m píricas. Em todo ca so, dever-se-à suspender hipóte se isolada. Acumularemos provas favoráveis e/ou des-
O julgam ento sobre TI'
fa voráveis à teoria, sem que ch eguem a ser definitivas, seja
Som ent e se as pro vas negativas E' * for em firm em ente para ace ita r ou para rejeitar a teoria em seu conjunto: ne-
sustenta das pelo plano de fundo teórico 1'2, dever-se- à re- nhurna teoria q ue tenha vencido os exames nã o-empiricos é
jeita r T * . Ma s a neg ação de 1' * n ão aca rr eta a neg ação de inteiramente falsa e nenhuma outra que tenha vencido todos
T, posto que 1" foi obtido com a ajuda de T, e de muitas
os exames p ode ser tampouco inteiramente verdadeira.
outras pr emi ssas, em p articular SI, 11 e E I • Trata-se por -
tania de en contrar os culpad os. Esta bu sca é difícil ma s (5) P ara urna teoria axiomática da verdade parcial. Cr. M. BUNGB.
possível. TIS#! M y rll ot Simp/{cft y ( Englewood cnrn, N. J., prentlce-Hall, 1963) .
(6 ) Cf. M. BUNGB, plI)'$Icat Axfomar rcs, Rtvfews ot Modtrn Phy·
sícs, 39, 463, (1961 ).
(4) cr. Selel/ tllie R eseor ch, 11, p , 301.

210 211
]510 deveria bastar, porquanto a ciência não tem necessi -
dade de certeza defi niti va, mas apenas de co rrigibilida de",

6. Conseq iiências Filosóficas

Na med ida em que a metodologia que acaba de ser es-


boçada est á de acordo com a prática da pesquisa científi ca,
as diversas Filosofi as das ciência s são inadequ adas. O em-
pirismo , por men osprezar o papel das teorias na produç ão
de "dados" em píricos, ao mesmo tempo que exagera o
peso da co nfi rmação o u amparo indutivo à c usta dos
apoios não-em p íricos. O rcfut ncionism o é tampouco
adequado, porque tam b ém supõe que o único teste das tco-
rias é de naturez a empíric a, porque menospre za o valor da
con firmaçã o e porque supõe a possibilida de da refutação
concludente, o que vale para hipóteses isolada s, mas nã o
para sistemas hip otéti co-dedu tivos que vence ram os exa mes
não-emp íricos. Enfi m o co nvencio nalismo também fracassa,
porque admite rem an ejam ent os ad libitum , não satisfazendo
nem a co ndição de co ntrole empí rico nern as condi ções de
coerência.
Precisamos pois de uma nova filoso fia das ciências,
aliada a uma metodologia realista da. pesqu isa e que re-
con heça o valor da so lidariedade do sabe r inteiro .

II. O PAPEL DA PR EVISÃO NO


PLANEJAM ENTO
A aç ão racion al baseia- se em planos ou programas
inspirados, por sua vez, cm diretrizes e baseados em pre -
visões . E todos os q uatro iten s - pr evisão, di relriz, plan o
e ação - são component es de um processo comple xo . A
natureza de um processo deste tipo depend erá sem dúvid a
do obje tivo visado. Assim , um a ex pedição para col etar da-
dos cm V ênu s mobiliz ará recursos e habilid ades algo di-
versas das requeridas para um assalto a banco. Entretanto,
(1) Cf. M. BUNGE, íntuttton tJnd SC'lrnce (Englewood Ctlff" N . parece haver urn a forma geral ou estrutura que se ajusta
J ., Preetlce-H all, 1962) .
a lodos os p rocessos de ação planejad a, de campan has de

212
213
alfabetiza ção a campanha s p residenciais por meio de ins-
peçâo da agricu ltura e do sa neamento de u ma cidad e. U ma
fo rma Ião comum se rá me lho r ex posta pe lo estudo dos ma-
pas de fluxo de u m nú mero de exem plos típicos dc açã o
planejada q ue difiram nos objetivos. Exami nemos do is des-
tes exe mplos: uma operação para socorrer víti mas da
fo me (Fig. I ) e uma investigação dos efe itos das drogas
alucinógenas no desempenho uni versitário (Fig. 2). O lei-
T
tor está con vidad o a introdu zir h istórias de casos à sua es-
colha.
Os dois esque mas parecem muito semelhantes. Execro
numa coisa : enq uan to no Es quema 1 a pesq uisa aparece
como u ma com ponente , o Esq uema 2 diz respe ito inteira -
men te à pesqu isa. Saltemos para uma concl usão geral: em-
bo ra a co ndução da pes qu isa possua uma semelhança for-
Ti
m al co m a a ção plan ificada em busca de objetivos não-cog-
niti vos, o último possu i u m liam e q ue falta, cama passo
separado, no p rimeiro, o u seja, um a peça de pesq uisa q ue
deve ser ad icion ada ao con heci men to básic o a fim de for -
mu lar um plano razo ável. Conce ntra r-nos-ernos aqui na
ação planifi cada com objet ivos não-cognitivos, tais corno
a felicidade geral (ou m iséria ) da espécie hum ana, a co n- ~
:
servação da natureza, e assim por diante . T od os estes
exemplos d a ação planificada pa rece m se ajusta r no cs-
quem a geral apresentado no Esquema 3. Exa minemo-lo.
Notemos, de início, que a ação racion al pressupõe al-
gum co rpo de co nhec imen to: se ignorássemos t udo ace rca
do sistem a co m o qu al devemos m exer não co nsegu iríamos
sequ er iden tificá-lo. E ste co nheci me nto básico, co ncerne nte
TL
ao siste ma de inte resses, co nsiste essencialmente de t rês
iten s : um a descri ção de alguns de seus t raços, um modelo
co nceit uai (de pr eferência teórico ) do sistema c um pu -
nhado de pre visões formul adas à base tant o do modelo
quan to da descrição. O segundo qu ad rado simb oliza a di-
ret riz geral adotada. A linh a int err ompi da que sa i do pri- l' :
meiro qu ad rado não indica que lim a diret riz é um a consc- -1-
q üência lógica do excl usivo con heci me nto ace rca do s is- "
E
tema : destina -se a sugerir q ue toda dire tr iz realista deve .B
algo a um co nhecimento do sistema e suas circunstâncias. "
-e
O bloco seguinte à direita simboliza a decisão ger al re - o
lati va ao curso da ação co mo um todo. U ma decisão pode :E
ser considerada co mo um a esco lha de lim a pr evisão, quer <l
no sentido de impô-Ia ou de tent ar evitá-ta juntament e com "
-e
uma escolha da espécie d e meios que, se espera , seja m o
,~

efic ien tes para tal pr opósito. Uma d ecisão racion al pode
ser entã o const ruí da co rno u m par: pr evisão-mei os. Aban-
'"
~
~
.g
8- sC h

donad o qualq uer destes compone ntes , não resta nenh um a O


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decisão racion al.
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u Desloquemo- nos para n direita no Esquema 3. Um a
3~ c
o"
~
..J . 0
vez alcan çada um a decisão da maneira m ais r acional pos-
~O . S-
'3, e O
..,00~-~ 1 '" sível, prossegu iremos completa ndo -o. Mas amiúde a infor -
_d C:u
~ .§ tK .g~.g
mação dispo nível acerca dos sistemas e meios é insuficiente
~~ 8 E 'ü~~~~ e talvez deva ser suplemen tada: é onde en tra o estágio de
pesq uisa . Assim o pla nejador u rbano pode necessi tar de
:
J, pesqu isa sobre as pro priedades de algum m aterial novo ou
u
dos efeitos psicológicos de cerlos tipos de habitação. Qual-
O q uer pesqui sa assim, se caba l, te rminará em um novo co n-
u o : ; lE" o
e jun to dc previsões que podem ser importantes pa ra o pla-
"

"'0-8 011 o c
.:i ~~ ... ~ ~ ~ nejado r.
.S"O"c"CE
'3- -ã"'O~11 ~~~ Em seguid a, vem o pr6p rio planejamen to, i. é, o pro-
<-8 8~~E~
"' ,
[etc de um comp lexo homem-coisa que melhor pode rea-
:
.;.
lizar ou evita r os eventos p revistos inicialmente. Quant o
ma is o plano se aferra a um a pre visão fundam ent ada , tanto
mais rac iona l pode ser cons iderado : qu anto mais afastar-se
:~ da previsão. menos realista será e po rtanto m aior será o
Ci risco. U ma vez feito um plano, exami nado e corrigido. o
~ tempo de ação terá chegado - desde que a decisão origi-
.'o"
u
u
nai seja mant ida de modo que os meios necessários estejam
<:> dispon íveis.
:
J-
Mas um plano é e deveria sempre ser um simples es-
boça , pois do contrário. ta lvez não fosse flexível e destar te
II
...i;
~ .e ~
g aberto aos imprevisíveis. Po rta nto, nenhum plano pode
• • "'0 . ... ~.c u
ser co mpletado a men os que se tom e certo número de de>
gou :5!!~ cisões de porm enor : 6 o nde entra o bloco seguinte. As de-
fil~ . ~ ~ II ,~
a."!! " u ~ cisões diárias con tro lam as atividades de cada dia que acar-
8.. fi ~~E '- a
'0:: reta m o result ado fina l. Se as previsões fo rem corretas, o
K,ee..!!g ,,8 ü
~ c 2 -o =5
:i 0u ' 8.- plan o realista e as decisões u nificadas razoáveis, algo pró-
c ~ ..
u
.g u ~ 8.g =g 08 .~ ximo do objetivo pré-colocado deve ser alca nçado. U ma rea-
.E. oO&. U~ ~rll~
.frf. lizaçã o plena desta met a 6 inalJingível: h á semp re muito

'.."
U
c -o .g ~:gs pouco co nhecime nto pa ra prever tudo e periei a insuficien te
';;; 2 8 re u ] &
ül8.co"C"C"c e·;:; pa ra imped ir que eventos imp revistos afe tem de mod o ad-
TI E
verso o resu ltado líquido. A fim de minimizar tais desvios
da meta, é necessá rio u m plan ejam ent o elástico. T odavia,
o o. talvez seja precisa retorn ar à posição três e mudar os pr6-
rll'3, "'-c prios obje tivos ou os p r ópri os tip os de meios. Assim, é
~.5~8g~i possível que 1IIn teat ro de ópera tenh a de ser rep rojeta d'o
' ~ J] j:f~f
'o~ _ como sala de concertos, u ma vitóri a de guerr a como recu o
·:2"15
u, organ izado e, assi m po r diante. Em resumo, deve haver
~ rs-8 ·g';-::i
u u
<:><:> realim entação ao longo de toda a linha : é o que repre-

/ '\
sentam as linh as quebradas orie ntadas para tr ás nos nossos
esquemas.
Co nce ntre mo -nos a partir de agora na pre visão. E m
o
nosso prime iro exemplo (oper ação pa ra socorrer vitimas da

~
.
000
O u
00
~-
o
'O

oo
'O
o
o
.e "8
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fome) o tipo de co nhecimento envolvido, tanto no ponto de
par tida (conhecimen to básico) co mo na pesquisa adicio nal,
;;

~.;; ~
.2,êi o
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E"
.
-2i: ..
o~
0-8 E
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era uma m istu ra de con heci mento ordinário ou co mum e

~- .~ ~ s§
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217
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i.ii Q e &~ e Et êSt; c3 ~ ~ .~
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..~ .uc
~:Eli~ ~
'Q"'=' ::l O~ o
- conhecimento espc ciallzado re lat ivo à ci dade sitiada, sua !
condições de desn ut rição, suas fontes de al imento, suas pos -
0°0 '0+], sibilidades de t ransporte etc . As prev isões eram con seqüen -
~l~ 8 o 8-
1'" •t:l ... E .§ .::: '"
] E S'E ·ij
O::~ ' i:iP'.g1::
te mente prognoses semi-ordi n árias, sem i-especia lizadas e•
cm qualquer caso, ab aixo dos pad rões de predição cientí-
Iica. De ou tro lado a be m sucedida alunissagern do pri-
TJ me iro homem exigia uma espécie diferen te de co nhecimen-
to - partes de, praticamente, todos os ca mpos da ciência
pura e tecnologia. E nvolvi a não apenas prognósticos espe-

-e
cializados m as também predições cientificas (e .g., previsões
o
." ...
g- ,~ astron ôm lcas) , prognósticos especializados e previ sões tec-
,~
~
~ ~~ nol ógicas ( e. g., relat ivas às condições de saúde dos astro-
nautas c à ordem e a o horário de suas operações) .
T -I. O problema é que diferen tes espécies de decisões ge-
J, • ruis exi gem diferentes t ipos de previsão, tanto no estágio
III § ti g inicial (c onhecimento bá sico) quanto no estágio de pesqui-
" ",-0,2
~ .1!. ~.g B sa. Se qu isermos ap enas escapar do anzol, a me ra adiv i-
l~ g~ :g,gg
ii: 8 § ~ Q,
nhação do futuro pode servir. Se de sejarmos enganar ou
impressionar, um po uco de grande profecia será indicado .
"" I
J.,
Se po ssuímos um fu ndo de conheci mento especial (téc-
o . nico) tod avia não-científico, podemos dar-nos ao luxo de
o .
~E cfetua r prognósticos especializados. Se tivermos teorias
õ. " o cie ntí ficas e dados à no ssa d isposição e, se nossa meta fo r
~ &e.g
•~ u .. .-
~ ~ ~
JS 'õ ~!"~
-e '{ v-e
incrementar no sso co nhecime nto, então devere mos expe-
dir previsões cien tíficas. E se, tendo um con hec imen to bá-
.~ o 5 ~g sico simila r à nossa disposição, bem co mo facil idades de
• 1 e ~ .!!. increme ntá-lo, quisermos modificar o comportamento de
""-ú],gJJ[
coisas ou povos de uma maneira bastan te precisa, devere-
i mo s então tent ar previ sões tecnológicas enga sta da s num
processo de a ção planificada. Exami nemos ago ra estas vá -
.g .~
o ·~ e e fias espécies de previsão.
-0"''':::1
O'É ~ o Conie turar é u ma ten tativa consciente mas não racio-
.~ :ª 3o _~::E nai de sabe r o que não está à vista , em particular o fu turo.
• .':2
e.
l g.~~=;
-c I::
E ';;
aventurosa, intuitiva, vaga e não possui ba se explícita,
logo, não pode ser criticada, exce to por seu resultado. As
T ; decisões e planos baseados na con jetura são tão nebu losos

~
é • o 'õZ]
. quanto fi própria co nje tura, A aç ão subseq iicn te, se houver
a lguma, será do tipo acerte o u er re. Todavia, ape sar de
-o a. 'S ·~ '''~:= todas as sua s fa lha s con hecidas, parecemos incapazes de dis-
.g ~ ujf'tl;;
<1<'llP~§.e pen sar in teiramen te a co njetura, talvez porque a apenas
,~ .~
:ao.fJu .= ~ um pequeno setor de nosso cérebro fo i dada um a previsão
.§ ~

-.
Il!". °CoS S ~
>~ .:!-o <li cie ntífica .
"
7
Profet izar ou expe dir conjeturas em larga escala rela -
tivas no futuro dif ere da mera conjetura ap enas e m grau,
não em espécie. E nquanto predizer no jogo de d ados é
mera adivinhação, predizer crises e con ôrnicas, gue rras ou
3.'2 rev oluções se m maior base do quc acredi ta r naquilo que
~ 'ü
~c g se deseja (l";s"I,,1 t"illk illlJ) ou teme é profetizar, ou seja,
~ ~o,
o o·.
~
- e; u·a
o§ ••o o o ..
~ ~ ,~
~ o ....... 0 ,''' 219
,~ 8.~ s=-=
~ .~ ~r~ ~ .~ i ·_.o
.!t, ::l
\3;g õ ·;l ~J: 13 ~~:2~
"
fazer co njcturn desca bid a. A estrutura l õgica de uma pro fe- qu ais podem se r todos controlad os. Mais precisamente, o
cia é a m esm a que a de lima ad ivinha ção re lativa ao Iu- meca nism o para produzir uma predição científica é o se-
turo . E m am bos os ca sos, trata-se de um juizo in condicio - guinte :
nal da Iorrnn " P aco ntece rá" sem qualquer indicação das
cond ições neces sárias ou su ficientes para q ue P ocorra . Co njunto de hipóteses Conjunto de dados
ci cnttücas (preferivel- científicos
Da í o fra casso ou êxito de lim a conjctura en sinar-nos P OlI-
me nte teoria)
CO, se é que ensina algu ma co isa . pois não põe à pro va
qualq ue r elo hipoteti zado e nt re o evento e Sll3S condições .
Em suma , nad a podemos aprender observan do o dcscm -
penho d as conjet uras , exceto que nã o vale a pena perd er
nosso tempo fazendo-as. Conjunto de predições científicas
Uma conietura educada é uma coisa int eiramente d i- Se as hipóteses que tomam parle no argumento per-
ferent e: tem a forma condi cional "se C acontecer então P lcn eem a um corpo de teoria ( ou sistema hipotético-de-
há de (ou poder á) aco ntecer", Tra ta -se apenas de um duti vo ) c passaram em certa medid a pelo teste da expe-
e xe m plo de um a ge ne ra lização empírica do ti po "sempre ri ên cia cient ífica (ob ser vaçã o, mensuração, experimento) ,
que C fo i o caso, P seguiu-se" . C on seq üent emente é possí- podem os denominá-Ias leis. Neste caso, a predição científi-
vel ap render de nrnhos os êx itos e os malogros d a con] e- ca é nomol óglca ou legal. Do contrário, é tentativa, No
tum educada . p rim eiro ca so pode servir a propósitos outros que os pura-
Há duas espécies de con jcturas educadas : previs ões d e .m entc co gnit ivos : pode se r usada na tecnologia. De outro
SC'lI.fO com um ou o rdinárias e prognoscs especiatim âns. Uma lad o, é possível que não tenham os amparo moral para
pre visão de senso com um é uma pr evisão expedida com em prega r uma previsão científica, tentati va com propó-
ba se em uma generalização empírica de senso co mu m. sitos prát icos : as predições científicas tentativas servem
qu e nõo requer conhecimento especi alizado. ~ intuiti- principalmente ao propósito de subme ter as premissas (hipó-
tiva c vaga , porém menos do que uma purn conjcturn . Um teses e dad os) à prova ernpírica. Na verdade, uma previsão
pr ogn óstico especi alizado pode não ser mais preciso que bem sucedid a vale como evidência confirmadora, ao passo
urna previsão de senso comum, mas baseia-se em conheci- que outra mal su cedida vale como evidência negativa . Se a
menta especializado, encapsulado em generalizn çõcs em- m aior parte da evidênci a reunida através da previsão é des-
píricas e cm juízos tendenci osos. A previsão do tempo do fa vo r ável, c um pre-nos concluir que pelo men os algumas das
lavr ndor experimentad o c per ceptivo dos velho s tempos. as pre m issas são fal sas e que dev em os tentar individualizar as
pre visões da bolsa do corretor e xperime ntado c pre ca vid o respon sáveis pelo mal ogro. E se a e vidên cia fo r largamente
e o pr ogn ósti co médico do cura ndeiro cm geral de tempos fa vor ável, deveremos falar de supo rte indutivo. Entretanto,
pa ssad os, en contram-se todos ne sta clas se. Graus variáveis nã o imp orta quão grande sup ort e indutivo pos sa lima teoria
de perícia hão de acarretar prognósticos especializados de desfrut ar , a operação de extrair predições de teorias en-
gr au s de verdade variáveis. riqu ccidas co m dad os é puramente dedutiva. Em suma, a
Uma predição científica é racional ao máximo (intui· pred ição é deduti va, mas nos permite consignar pesos indu-
tiva ao mínimo) poi s é um a co nclus ão de premissas expli - ti vos ( positivos a li negati ves}.
cit am cnte afirma das. Tais pr emissas nã o são meras gen e- As h ip óte ses ou juízos de lei que ocorrem entre as
rali za ções empíricas co mo as que con stitui o fundam ent o pr emi ssas de uma predição científica são axiomas mais em
da s conj eturas ed ucad as: as premissas de lima predição cien- nível baixo do que alto, país cabe-lhes fornecer proposições
tífi ca são hip óteses científicas e porções de informação cien - singulares . Além disso, antes que possamos aplicá-las, de-
tífic a . As hip óteses já foram co rro boradas ou estão para vem os co nstruir um obieto-modelo, i. é, um modelo
sê-lo a travé s da própria predição. E os dad os foram reu- con ceituai do sistem a e m causa e não um modelo qualquer
n idos - ou ant es, apr esentados - co m a ajuda de meios m as um modelo con struído com conceitos encontrados nas
m ais ou menos d igno s de confian ça e criticáv eis. tanto con - pr óprias hip óteses. Por exemplo, se nos incumbe prever as
ceituais quanto empíricos. Em outr as palavras, a predição Futur as popul ações de du as esp écies interatuantes, pode-
científica é um juízo de [a rma co ndiciona l como uma con - m os usar as equações diferenciais de Volterra ou antes as
jetura ed ucada, ma s dife rentemente desta , é uma clara con - soluções desta s. Estabelec em os por este meio um esquema
seq üênc ia l ógica de um punhado de itens científicos os ideali zado ou m odelo teórico de no sso sistem a, um esque-

220 221
ma que descarta to das as va riáveis, exceto as cif ra s de po- típic a possu i a forma : "se a meta y deve ser alcançada no
pul ação . O m esmo é ver da de para qu alq uer o utra p redi - tempo I' com p roba bilida de p, então x deverá ser Ieíro no
ção cie ntífi ca : se não há modelo teórico, nã o há predição tempo r". O estado fin al é aqui um objetivo que foi pre-
científica. O m od elo pode se r determi nísti co ou esto cást ico, fer ido a todos os ou tros. E a consecução desta m eta ou o
fen omen ológico ou mecâ nico, grosseiro ou so fistic ado. ma s fra casso cm atingi-Ia afeta rá ·a vida de todo mund o nele
nunca é mais nem men os d o q ue um a re presen taç ão idca- e nvo lvido. Além do m ais, a simples pr evisã o pode alterar a
lizad a, aprox ima da. em ter mos teór icos, das feições sa lien- p róp ria p robabilidade do evento que foi previsto. De fato ,
tes do siste ma em causa . se fo r previsto um evento em cuja produção podemos ter
A últim a esp écie de previsão a se r co nside rada aq ui é um a parti cipaçã o, e se estamos interessa dos na sua ocor-
a prev isão tecn ol6gica, tal co mo aparece na engen ha ria. rência , de veríam os fazer algo neste sentido. Igu almente, se
na q u.ímiea Ind ustrial, na farm acologia e nas opera ções de quisermos p re ven ir ou ad iar o eve nlo. Isto é, de vem os ten -
pesquisa . N ão há di ferença lóg ica en t re prev isã o tecnol ó- ta r f orçar as coisas de mod o a to rn ar verda de ira ou falsa a
gica e predição científi ca: em a mbos os casos, o juÍ70 pre- previsão , conforme o caso. O bte rem os e ntão um a co nfirma-
d ica tivo é um a co nseqüência ló gica de hi póteses e af ir ma - ção ou p red ição conv incen tes, nen hu ma das q uais tem
çõe s singu lares (d ad os) de níve l baixo , As diferenças são m uito valor de p rova para a teo ria em ca usa , na m ed ida cm
m etodológicas, semâ nticas e pr át icas. que podem ter sido suscitadas mediant e mob ilização de fa-
A1l'I Odo16,lic(1,f : adm ite-se sem pre q ue a pre visão tec- tores não co nsiderados pela teoria, Estas sã o as assim cha -
nológica é no rno l ógica e nunca tent at iva. Isto é. con fiamos m ad as previsões auto-rea lizadoras ou a utodes tru idoras, c
são bem co nhecidas de eco nomis tas e finan cistas, sendo o
~ l1e ela em prega a pe nas hipót eses bem cor robora da ", alo-
se u exe mp lo c1 ássico o rumo r de um co lapso com ercial
ja das cm corpos co nce ituais ( teo rias) bem a rt icula do s: cm
suma, admite- se qu e se co nfia e m leis mais do qu e cm ca n-
qu e desenc adeia um colapso rea l.
did atos no status d e lei. F inalmente, um a pa lav ra ace rca da segura nça de p re-
Semânticas: os m od elos te óricos em pregados na p re- visões respo nsá veis, sejam elas pr ognósticos especi alizad os,
visão tecnológica são usualmente m ais rudes e m ais su per- pre dições cie ntíficas ou p revisões tecn ológicas. Só pr evisões
ficiai s que os mod elos surgi dos na pred ição cie ntifica. H :1 trivia is pod em se r tot alm ent e seguras: se predissermos eve n-
pel o men os du as ra zões pa ra isto . Primeiro, c m tecn ologia tos out ros qu e n ão inevitáveis, co rre remos riscos. Uma previ-
estam os m ais int er essad os em resultados líquidos ou ge ra is são pode vir a se r errô nea por força de qualquer ou todas as
qu e em mecan ism os int er veni ent es, de m odo qu e as te o- razões seguintes: (a) qu alquer das hipóteses (generaliza-
rias da ca ixa n egra são m ais fa vorecidas que as teori as me- çõe s empíric os, linh as de tendência ou leis) pod e ser fal sa
câ nicas: a tal pont o q ue o dispo siti vo tecn ológico ideal é ou nã o suficienteme nte próxima da verdade; (b) qualquer
aqu ele qu e pod e ser reali zad o de múltiplas m an ei mo;, i . é. dos dad os (btts de informação empírica relativos a deta-
um dispositi vo qu e preserve ns relações cntrada-sntd n n des- lhe s do sistem a c m ca usa) pod e ser inexato ; ( c) mesmo
peit o das mudan ças na física e quími ca da ca ixa. Segund o , que as hip ót eses e os dad os sejam verdadeiros, eles são in-
as ferram ent as con ce itua is a se re m usad as na tecn ologia suficientes : há outros fatores ( variáveis) envolvido s n a si-
devem se r sim ples ao m áximo p ara o perar; a tal pont o tu açã o real, qu e nã o estão contidos e m seu modelo teó-
qu e n Icrrnm cntn co nceit ua i ideal pa ra a tecn ologia é ric o. Uma a nálise cuidadosa de um a pre visão gorada pode
aquela cujas o perações pod em se r cabalm ent e m ecani zad as assim result ar cm co nheci me nto adici onal : somente con-
( e.g., computndorí zadas) , d and o o menor espaço possivel jcturas dcsbragad as co nstit uem uma perd a total m esmo
par a o esmít de [inesse que ca ra cteri za a ciência b ásica . qu and o be m suce didas .
Práticas : E nqua nto as predições científicas são ncu- Em co nclusão, a ação raci on al enc ontra-se ao fim de
tr as, as previsões tecnológic as são car reg adas de va lor e uma linh a que com eça com um corpo de conhecimento
a lém disso, pod em exe rcer efe ito sobre aque les qu e as co- básico e uma diretriz ger al (ou "filosofia" ) . Es te po nto
nh cçam . O fa to de qu e as previsões tecnológicas po dem ser de partida deve conter pr evisões definidas para qu e o resto
vali osas (ou desvaJiosas) com respei to a out ra s p re visões do pr ocesso corra eficie nteme nte. O mesmo ac ontece com
a lém das cog nit ivas, to rna- se óbv io à vista de suas formav a p esqui sa supleme nta r necessári a para um pl an o de ação
típ icas. E nqua nto urn a p red ição cie ntí fica te m tipicamente realista e porme no rizado. T e rá de desembocar em um co n-
a fo rma : "se x acon tece r ao tempo I , en tão y oco rre rá ao jun to de pre visões definidas. A p revisão, portanto, a se-
te mp o t' com prob abilidade p", urna previsão tecnológica gur ança dest as pr evisões dependerá d o est ado das discipli-

222 223
nas nela envo lvidas c, em ce rto grau, também da natu-
reza da meta. Enquanto, em alguns casos, o prognóstico
espec ializado é o u o melhor que se pode co nsegu ir ou tudo
de que precisamos, cm outros serão necessárias previsões
tecnol ógicas computadas por m eio de teo rias relativam ente
sofisticadas. De outro lado, a pura co njetura e m pequen a
ou larga escala, c mesmo a conjetura educada mas não
especializada, são bases insufi cie ntes para o bom planeja-
menta . Em ep itome : diga-me q ue esp écie de prev isões você
está usando e eu lhe direi qual poder á ser a catego ria de
seu plnncjamcn to .

Bibliografia
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T", ,1I ( New Yor k, Spr inger-Ve rlag , 1967 ), Cnps. \ 0
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(New Yo rk, H ar per & Row , 1960.)

I.

12 . F ILOSOFIA DA INVESTIGAÇÃO
C IENTIFICA NOS PAISES EM
DESENVOLVIMENTO ·

I. Desenvol vimento Cientilico ; Parle do Desenvolvi-


mento Int egral
o desenvolvimento integra1 de uma nação moderna
envo lve o desenvo1vimento de sua ciência. Primeiro, por-
que a eco nomia do país dele necessita se aspira a ser múl-
tipla, dinâmica c independente. Segundo, porque não há
( . ) Trabalho apresentado na 18.- Convcnci6n Anual de la Aso-
clacl6n veeezotnna para e.l Avance de 11\ Ctencía. Caracas, maio de 1968.

224 225
t'
cultura modern a sem uma ciência vigo rosa cm di a : a ciên- mente dita (lógica, gnosiologia e metaflsiea) e 'clUlras sig-
cia ocup a hoje o cen tro da cultura e tanto seu métod o nifica critério c pl ano de ação (policy). F. óbVIO que os
qua nto seus resultados se irr adiam a outros. campos da dois conceitos denotados pela mesma palavra são muito dis-
cultura bem como no do mín io da açã o. Terceiro, por que a tintos : a filosofia da biologia difere do conjunto de normas
ciê ncin ' pod e contribui r pa ra cnf? rm ar ~Ima. id c~l ogi a ade- e planos que uma instituição pode elaborar para promover
quada ao desenvolvimen to : u ma lde,?l.ogla. dJn~~l ca em vez o de senvol vimento da ciência biológica. Contudo, ambos O!
de estática crítica em vez de dogmah ca , Iluminista cm vez co nceitos estão relacionados. Em minha opinião, a relação
de obscura ntista, e r ealista em vez de utópi ca, é a seguinte : Ioda política pressupõe uma filosofia . Em par-
Uma economia sem base tecnológica e cie nlífica pró- ticular, Ioda política de desenv olvimento cientE/ico pressu-
pria é rotineira e dep endent e. Uma cultura sem ciência é põe lima filosofia da ciência.
erudição fóssil incapaz de compreender o mundo moderno Pensemos, por exemplo, numa filosofia obscurantista
e de ajudá-lo a ir ava nte : é antes incultura. E uma Ideo - tal como o exi stencialismo, inimigo da l ógica e da ciência.
logia sem miolo científico é anacr ônica c irracional : se r:' Evidentemente, não sendo favorável à ciência, não poderá
ca paz de acende r o entusiasmo mas não de a~u d a r a c ~ l e n ­ fund amentar uma pol ítica do d esenvolvimento científico: no
der; poderá ajud ar a co nse rva r ou a destrui r mas nao a máximo tolerará a tecnologia, sem notar q ue não há tec-
renovar, pois para con st ruir é necessário saber. nologia inovadora sem ciência pura. Ou tomemos a feno-
Certamente, pod e-se importar conhecimento . Fazem-n o menologia e a filo sofia lingüística de Oxford, obscura a
tod os os países quand o subscreve m publicações estrangei- primeira e trivial a segunda, mas igualmente desinteressa-
ras . Mas isto é consumo, nã o produção, na medida cm que das da ciência e carentes dos equipamentos lóg ico e meto-
a inve stigação científica é pr odutora . Além disso , o co nsumo dológico necessários para analisá-la : é claro que esta. filo -
de co nheci mento requer con hecime nto prévio . P a ra poder so fias, sendo ignorantes da ciência, não pode~ão aj.udar sc!J
compreender um art igo científico é preciso receber treina- desenvolvimento. Em compensação, uma filosofia ernpi-
m.cnto adequado. Não basta pois importar publicaç ões, nem rista tal como o positivismo, promoverá a recompilação d e
sequer especialista s : é mi ster . possuir conhccimcnt .o c. d ís- dados e o e ntusiasmo pela exatidão, facilitando assim o
c rimina ção para poder ap roveitar uns c outros. M ais ninda, na scimento da ciência. Mas, po sto que o empirismo des-
a ré ceg a no mod elo estra ngeiro e no perito import ado pod e co nfia d a teoria, freará o desenvolvimento teórico e por-
ser desastrosa, porque o que serve para uma naçã o ..p o.de tanto, a longo prazo, freará o desenvolvimento científico
não servir para outra. Cada na ção deve formar seus proprr os em profundidade. Uma filo sofia pragmatista, por sua vez,
especialista s, tanto nas ciências básicas como na s apli ca - estimulará a ciência aplicada e levará a descurar da ciência
das. Só assim p ode rá saber o que deve desejar e o que pura com o que acab ará por frear ~ pró!'ri? d~senvol­
necessita para alcançar se us fin s. vime nto tecnol ógico. Finalmente, uma filo sofia idealista, ao
Não há dú vida, portanto, de que o desenvolvimento de desprezar o Irabalho de verificação experimental, opor-se-á
uma nação mod erna é necessariamente integral, não unll~ate­ ao desenvolvimento das ciências experimentais e, em par·
ral, e qu e o pr óp rio n úcleo de um plano racional c fa ctí vel ticular ao desenvolvimento aut ônomo das disciplinas que
de desen volvimento int egr al deve ser um plano de desen - considera de sua propriedade : a psicologia e a sociologia.
vol vimento d a invest igação cie ntífica. Trata-se, pois, de ela-
Ac abamos de p assar em rápid a revista as principais fi-
borar uma política reali sta da in vestigação científica: uma
losofias da atualidade em relação com a ciência. A con-
políti ca viável com os r ~cllrsos di ~po~í~ei s e, ao ."l.esmo tem - clu são obtida é negativa: as filosofias em moda são inca-
po, lIIn3 políti ca que de frutos científicos c SOCI.:'15 . No qu.c pazes de estimular o desenvolvim ento cienú [ico integral,
segue, examina rei algun s aspectos desta. quc stao_ e t.e~n~l ­ entendendo-se por talo desenvolvimento da ci~ncia pura e
nar ei pr op ond o qu e se a~ ot e um pla~o lab.eral_ (não-diri gis- apli cada, teórica e experimental, natural e .soclal. Algumas
la) de desenvolviment o int egral da investigação cientifica.
filosofias se opõem a toda ciência ou a Ignoram; outras
exageram a importância das operações empíricas ou então
d a especulação ; outras vêem apenas a ciência aplicada, ou
2. Filosofia e Política da In vestigação Cientiiica e ntão apenas a pura; outras, enfim, excl.uem da investiga-
ção cie ntífica precisamente os temas. mMS urgentes ~ pro-
Dentro do context o que nos ocupa, a palavra " filo- missores : tudo o que concerne à pSique e à comunidade.
sofia" é ambígu a. Umas vezes significa filo sofia pr opria- Par eceria, pois, que a filosofia, longe de ser o pressuposto

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de um a p olítica do desenv ol vimento científi co, d everia ~cr tl ílca não é uma proposição isolada e sim urna f6 rmu la
deixa da de lad o se há qu e empreender o fomento d a 10- per tencente a uma teoria, po r ma is subdesenvolvida qu e
vestig açâo científica. F ato q ue con t radiz nossa tese inicia l esta seja . Uma generalização empírica é superficial e ca-
de que toda poli tica pressupõ e um a filosofi a. rece dos múltiplos apo ios e con troles de que goza um enun-
Não há tal co ntr ad ição . Não disse q ue toda boa polí - cindo cnzasta do em um reticulado teórico. A segunda razão
tica pressupõe u ma Iilosofia qua lquer , mas que to da polí- pcln q ual não há ciência m od erna sem teoria é que tod o
tica p ressupõ e algu ma filosofi a. Se a filosofia for ~l.á , tam- dado de interes se cientifico é o btido com a ajuda de al-
bé m o será a p olíti ca . Se a filosofia for sã, a pol ítica po - guma hip ótese, amiúde com ajuda de teorias. e e~ todo
d erá ser utópi ca , mas ao menos estar á bem inspirad a. E m caso sua busca está relacion ada com alguma t~ona. ,Isto
todo caso não há evasão da filo so fia, visto que a levamos vale, em particular, para os d ados de laborat ório obtidos
pa ra de ntro. O que dissem os ~té agora sugere que as f i- com ajuda de instrume ntos cujo desen ho se baseia em teo-
losofia s de escola, os ismos, nao pod em rnspirar o dcsen- rio, físicos e químicas. O dad o isolado carece de val~r
vol vim ento científico integral. Isto não deve surpreend er, cie ntífico : um dado adquire interesse quando pod e encar-
po rq ue um a filosofia de ~scol a é, por ~e~ni~ão, fixa ~ xar-se em um a teoria , seja par a pô-Ia à pr ova, seja para
parcial, port ant o incompatível com algo d inâm ico e multi - dedu zir explicações e previsões. Em suma, uma d~ c~­
Iacetado co mo é a investigaç ão científica. ract erísticas da ciência moderna é a síntese de expenencra
O desenvo lvime nto cientí fico inte gral requer uma filo- e teo ria. Ti re-se a exper iência e restará a espec ulação pura.
sofia dí niimíca e integral da in vestigação científica, que faça T ire-se a teori a e restará o conhecimento vulgar , no m ã-
justiça tanto à obse rvação co mo à teoria, ta~nt? à co nstru- ximo proto científi co. Sem teori a obter-se-á. informação su-
ção com o à critica, tant o ao aspect o cos mológico co mo ao perfici al e descon exa : s6 dentro da teoria se alcança a
pr ofundidade e a totalidade.
soci al, tant o ao asp ect o básico co mo ao aplica do, tanto à
estrutu ra lóg ica como à dinâm ica met odológica da inves- A segund a tese popula~ é a de qu.e a ciência de u~ pa~s
tigaçã o. Infelizmente, esta filosofi a não existe ou, ao me- cm desen volvimento deveria ser regiona l: que deveria 11-
nos, não é pop ular. mit ar -se a estudar os fatos típicos, as curiosidades regionais
A rilosofi a da ciência mai s difundida nos círcul os cien- qu e não se en contram cm out ras parte s. Isto é óbvio do
tíficos de todo o mund o - o p rimeir o, o segundo c o pon to de vista empirista : fa zer ciência é observar, s~ se
te rceir o - é um positi vismo já morto en tr e os filóso fos, in - pode observar o q ue está à mão, e estuda r o que existe
clu sive os positi vista s. Es te positi vismo antiquado .é o que em q ualqu er ou tra parte é dupli car de snec ~ss ari amente as
in form a as idéias co rrentes acerca do qu e deveri a ser a observações. Assim, po r exemplo, segun do Isto, a astrono-
ciê ncia nos países em desen volvimen to. Posto qu e é um mia ar gentina deveria limitar-se a catalogar as estre~as do
o bstácul o ao desen volvim ent o, com ecem os por criticá-lo. cé u austral, a botânic a venez uelana a fazer herbános de
plantas tr opicais c a sociologia me xican a a o?s crvar a. co-
munidade indígcna do altiplano centro-arnenc ano. Ainda
3. A Filosofia Popular do Desenvolvime nto Cientiítco que pareço paradoxo esta tese é sustentada tanto p.or na-
cion alistas extrem ados quanto por aqueles que con sideram
nossos paí ses como provedores de matéria-prima, seja petró-
A idéia mai s di vulgada acerca do que deveria se r a leo ou dados científicos. Evidentemente, é um a tese falsa,
c iênc ia nos países em desen volvimento pare ce ser a seguin- já que a ciên cia é uni versal ou nã o é ~iênci~ , mas folclore .
te : deve ria se r em pírica mais d o q ue teóri ca, regional m ais O erro pr ovém do falso pressuposto fil os ófico de que co-
do que u niversa l, aplicada mais do que pura, natural mai s
nhecer é obs ervar. Esta supos ição é tam bém a que está sub-
q ue social e, em todo caso, fiío solícamente neutra . Pro cura-
jacente ao tem or das dup1ic aç~es. S u~ t~":,o r ln...Cundad?
rei mo str ar que esta é um a política nefa sta baseada em um a p recisamente porque o conhecim ento cientifico nao se li-
falsa fil osofia da ciência.
mit a a observar: a observação é feita em um co ntexto con -
Primeiramente, na época contemporânea não exi ste
ce itual, descri la com a ajuda de idéias teóricas e põe à
algo como ciên cia empírica pri vada de teoria, e isto por
duas razões. A primeira razão é que a finalidade da inves- prova ou enriquece estas. ~lti mas . Tratand~-s: de ~m pro-
tig ação cient ífica de sde Galileu e Descartes não é. acumular cesso tão rico, a probabilidade de q ue dOIS tnves h~a dores
dados mas descobrir leis, e uma lei é um enunciado rele- obt enh am exatamente os mesm os result ad os é muito pe-
rente a uma pauta suposta real: mais ainda, um a lei cien - quena . E mesmo que a dupli cação fosse Ireq üente, não se-

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ria r edunda nte, j á que n ve ri ficação independ en te é indi s- jacente à quarta tese popu lar é de natu reza histórica: as
pensável. En :. tod o caso , a exigência de limi tar a investiga- cíê ncias do h omem se desenvolveram tar diam ente e em
ção ao autóctone tem por efeito b aixa r t ragicamente o ní · im itaçã o da s ciências da natureza. e assim deve continuar
vel d a invest igaçã o, j á que a f inalida de da ciên cia é en con - sendo . O primeiro é cer to, o segundo não; o desenvolvi-
trar pau tas gerais. c não descreve r ldiossln craslns. ment e científico de um. país não tem por que percorrer
A tercei ra tese popu la r é a de que cm nossos pa iscs de novo todas as etapas do desenvolvimento da ciência uni-
a ciência pura é um luxo e qu e, por co nsegui nte, dever-se- vcrsal , Podemos poupar-nos a astrologia. a alqui mia, a
ia começa r pela tecn ologia, pos tergand o todo esforço cm acupuntura c a psicanálise, abordando diretamente as fro n-
ciências b ásicas. Es ta tese pragm ati sta ignora que a tecno- teiras da investigação contemporânea, ao menos na medida
logia moderna é ciên cia apli cada. Ignora que a pr odu çã o em que requeiram re cursos fabulosos. T udo é questão de
de grã o, é melh or ada selec lona ndo-ve seme ntes por mcio dispor de recursos humanos e de adota r uma atitude cientí-
da gcn êticn e da ecolo gia. Ignora que não h â side rurgia fic a, nã o pré-científica ou pseudocientífica, ao abordar os
competitiva se m mcl alografia, e que esta é um cap ítulo d a problemas das ciên cia s do homem.
cris talografia; q ue a cr istal ografia teórica é me cânica quâ n- Um país capaz de fa zer matemática e física também o
tica apli cada e q ue a expe rime nta l reque r a téc nica dos é de Iazer psicolog ia experimental e psicologia matemática,
ra ios-X, que por sua vez supõe a ópt ica e a análise de co ntanto q ue nã o tenha preconceitos contra estas. Hoje em
F ourier. A tese p ragmatis ta ign ora igu alm e nte que a crimi- dia as diferenças metod ológicas entre as ciências de fat os
nulidade e outros problem as sociais não são res olvidos au - não existem: ns dif erenças são dc obje to e de técnicas,
men tando-se a fo rça policial mas efe tuando-se ref orma s não de método nem de finalidade. A finalidade de todas
econômicas, sociais e educacionais, e que tod as estas rc for - as ciências é a me sm a : encontrar leis . O mét odo é unifor-
mas , para se re m efi cazes, devem ser pl anejadas c executa - me: pre ssupor a l ógica e a matemática, formular problemas,
das à luz d e estudos econômicos, soc iológicos e psico l ógi- en sa iar h ipó leses p ara resol vê-los, pôr à prova as hip óteses,
coso Em suma , a tese pr agmatista é pou co prática: no pre- e fin almente avaliá-las. Isto vale tanto para a química
conizar o predomínio da pr axis so bre a teoria assegura o quant o para a sociologia. Em ambos os casos se form ulam
fracasso da nção e o triunfo da improvisação que apo nt a modelos teóricos, na medida do possível em linguagen ma -
fins sem ex aminar meios e que, deslumbrada pelas coisas. te mática . Em ambos os ca sos se comparam as novas i f 'i"s
esqu ece os homens. Scm dú vida , se ria igua lm ente absurdo às velhas assim como aos dados. tanto os já dispo» ' is
p rop or o inverso. ou seja, que se postergue o d esenv olvi - quanto os dad os procurados por incitação da teo rin mes-
mento da ciência aplicada até alcançar-se um bom níve l ma . Certamente , o químico e o psicó logo se ocupam d e
em ciência básica . A sociedade exig e medidas rápidas e h á assuntos diferentes e os tratam com técnicas (métodos par-
mais pessoas at raídas pela ação do que pelo estudo. Mas ticulares) di stintas, mas o método geral e a finalidade
quem preconiza a subordinação da ciê nc ia pura à apli cada de suas investigações são idênticos. Esta unidade de m é-
desconhece a natureza da tecnologia moderna. A solução todo e de finalidade explica a mobilidade de um número
não está em desenvolver uma às expensas da outra, nã o crescen te de cien tistas, que passam com desenvolt ura de
está em postergar uma delas, mas sim desenvolver ambas um campo a out ro da ciên cia, com desenvoltura tant o maior
ao mesmo tempo. quanto mais desenvolvidas as teorias.
A quarta tese popular é a de que as ciên cia s nnturnis UI11 desen volvimen to u nilateral das ciências da nat u-
devem ter preeminência sobre as ciências do homem . Estn reza às expensas da s ciências do homem seria artificial
crença parece fundar-se em duas opiniões fal sas. A primei- porque romperia a un idade da ciência. Seria antieconômicn,
ra é que o urgen te é a tecnologia, e que est a se limita à porque desperdiçaria recursos humanos: de fato, deixaria
produção, qu er diz er , às engenharias fí sicas e bi ológicas. de aproveitar numerosos talentos fascinados por proble-
Isto não é verdade: as desordens psíquicas e as soc iais são m as psicológicos e sociais. Seria não-político, porque há ur-
m atéria das ciência s p sicossoci ais a plica das, e não está pr o . gentes probl em as s ôcio-econômicos cuja solução exige in-
vado qu e estes p roblemas são rncn os importantes qu e O~ vestigação científica original. Seria anti cultural, porque
probl em as d a produçã o . A Única coisa ce rt a é qu e as J1a - aband onari a o campo da s ciências do homem aos charlatães
çõcs d esen volvidas enfr enta m p avorosos problemas psicos- e aos tradi cionalistas que ignoram ou temem a re volução
soci ais precisam ent e por ha ver em descuid ado de les cm bc- ef'ctu ada na psicologia e na sociologia no s últimos vinte
ncfíeio da produçã o. 1\ segu nda opinião fa lsa q ue está sub- anos. T od as as ciê ncias são importantes : não há ciên cias

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de pri mei ra e ciências de segu nda , mas ciências avançadas quanto resultad os de im por tância filosó fica . Est as cinco te-
e ciências subd ese nvolvidas. ses parecem ó bvias e no entanto são impop ula res, parti-
A quin ta e últ ima tese da filosofia popular q ue esta- cularrnente entre os responsáveis pela plani ficação do de-
mos co nsiderando é a de que a ciên cia nos pa íses em de- senvolvi men to científico.
senvolvimen to tem tnntos problemas u rgentes q ue não dis- Se se ace itam estas teses sobre o caráter integral e
põe de tempo pa ra perder em aná lises filosóf icas. Isto pr es- unitário da ciência, então se adotará uma política integral
supõe ou que j á se está de posse da filosofia verdadeira do desenvol vimento científico. Es ta política se resu me nas
e definitiva, ou que se po de prescind ir d a filosofia. O pri - cinco no rmas seguin tes:
m eiro é um dogma indig no de um cientis ta, para quem
nenhum princípio deve ria ser incorr igível, em particular I. Fomentar a investigação teórica e seus contatos
nenhum princípio filosó fico. Quanto à op inião de que a com a invest igação empírica. A inve stigação de ca mpo ou
filoso fia é u m luxo , ela não é ce rta: toda investigação de labo ratório ra ras vezes requ er estímul o: os investiga-
cien tífica p ressupõe uma lógica, uma gnosiologia e urna do res co m inclinações teóricas são sempre minor ia. Em tro-
metafísica. Sem lógica não há controle das inferências; ca, a investigaç ão teórica é amiúde desestimu lada, às Ave~es
sem deter minadas suposições sob re o con hecime nto não h á por excessivo amor ao prático c outras vezes por ignorancra.
busca livre da verdade nem cri tério de verdade; sem su- Por exemplo, poucos sabem da existência da biologia te6-
pos ições me tafísicas acerca da existência de caracteres es- rica , da sociologia matemática e da Iingüística matemática :
senciais e pa utas objc tivas não há procura de umas e de a maioria esboça um so rriso ante a simples menção destes
ou tras . Não existe maneira de livrar-se da filosofia, que é nomes. ~ preciso est imula r o jovem com incli~aç~s t:ó-
Ião ubí qua co mo Deus. O que cabe fazer é notar tais pres- ricas, lem brando-lhe ao mesmo tem po que, por rrnagmatíva
supostos, exami ná-los criticamente, reformá-los de tem po que seja, uma teoria científica deve ser aprovad~ pelos exa-
em te mpo e desenvolver sistemas filosóficos concordes co m mes emp íricos e deveria est imu lar novas investigações em -
a l ógica c a ciência, c favoráve is à inves tigação ulterior. píricas. Cumpre estimulá-lo ade mais a que ajude aos expe-
A filosofia ent regue a si mesma, sem co ntrole lógico nem ri mentadores a reso lve r os seus p roblem as, fome ntando-se
empírico, pode converter-se cm fcr n q ue ataque a ciência assim a inlcgrnção da teoria com a expe riência, ao modo
e a des trua, como procedeu a filoso fia obscurantis ta alemã co mo se rea liza no Instituto de F ísica da Un iversidad e
há apenas tr inta anos. Ou que tor pedeie o desenvolvimen- Nacional Autônoma do México. Es te fome nto das rela-
to das ciências do homem, como vem fazendo a filosofia ções d a teoria co m a experiência científica não deve levar
obsc ura ntista latino-a mericana. ao extremo de hostilizar a in vestigação teó rica d esconecta-
Em suma, as ci nco teses da filosofi a popular do de- da de tra bal hos experi mentais reg ionais mas de possível
senvolvimento científico nos países cm desen vol vimento relevância para t rabal hos expe rime nta is em outros países.
são nefastas : se ap licadas, dcstorceriam e retarda ria m o Ne m sequer deve levar a desa lenta r investigações qu e no
avanço da ciê ncia . Estas cinco normas nefas tas se alicerçam momento parecem ca rece r de imp ortância em pírica : as re-
em uma falsa filosofia dn ciência; devemos subs tit uir esta lações co m a experiência não são co nhec idas de entrada e,
filosofia fragmen tár ia por uma filosofia integral da inves- embora não seja m vistas em dete rm inado moment o, po-
tigação. dem ser vistas mais adia nte. N este pon to,' co mo nos de-
mais, não se tra ta de fecha r cam inhos ~as de ap laoar os
caminhos mais co nvenientes, sob retudo, nao se tr ata de for-
4. A Filoso fia Integral da Investigaç ão Cientifica e a çar , mas de alen tar.
Política Co nseqüente a . Estim ular a escolha de problemas de interesse na-
ciona l mas insistir em que sejam tratados em nível int er-
nacional. Seria absurdo não aprovei tar a oportunida de de
Uma adeq uada filosof ia da investigação cie ntífica de- me dir raios cós micos em Chaca1taia, de fazer biologia do
verá recon hece r que esta é uma emp resa multifac etada : que trópico na Amazônia ou de estu da r os índios motil ões na
tem urn lado teó rico e o utro em pírico; que é universa l Venezuela. As pecu liaridades naciona is devem receber ate n-
quanto ao seu método e a sua fin alidad e, ainda que em ção especial, tant o para o enri quecimento do saber uni -
cada região poss ua objctos ou te mas típicos; que tenha um versa l como para a sua eventua l utilização. Ma s tod o obje -
lado p uro e outro aplicado; que se ocupa tan to da natu reza to ou problema típi co deve rá ser tr atado com o método
como do home m; e q ue tem press upostos filosó ficos tant o e o fim u niversa is da ciência . Biologia do trópico, certo;

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biolog ia tropical, não. Além d isso , os lentas aut óctones nã o a sua constitui çã o em ciências p rop riamente ditas. Por isto,
deve m desloca r os de ma is. U ma coisa é p reconi zar o le- a menos que se renove tol almente o espírito das fa culdades
vantamen to geológ ico da zona andl na e ou tra é exigir que d e humanidad es pela via da filosofia científica, as ciências
tod a geo logia de u m país an di no se d edique a esta tare- do homem dever iam ser c ultivadas nas fa culdades de ciên -
fa . com descu ido da geologia teó rica e de Inbo ra t ón o. Uma cia s 0 11 e m facu ldades indep end entes.
coisa é f omentar o est udo da fa un a regional c ou tra é V. Es tim ular a f ilosofia cientifica. Uma falsa filo -
limitar-se a colecion a r, descr ever e classifica r espécimes nu- so fia da ciênci a p ode descar rilar a política cientifica e le-
t óctou es. N ão há geologia mod erna sem Iísica e quími ca , va r no esbanjamento de fortunas. Os pr óprios cie ntistas de -
ncm h á taxon om ia biológica sem genética , filogen ia c eco- veriam, po rta nto, intere ssar-se pelo desenvolvim ento de uma
logia . Qu em precon iza limita r a .ativid ade ccntifica de filosofia cie ntífica da ciê ncia. Note-se bem : nã o se trata de
u ma zon a no estudo do típico co m esq ueci me nto do u ni- ndota r um a filosofia já feit a ma s de constr uí-la. Á difere n-
versnl, pr eco niza na realidade o ret o rno a séc ulos ant erio- ça da matemática ou da genéti ca, no ca mpo filosófi co não
res, q uan do ha via disc iplinas a ut ônomav c capítu los au tôn o- h á au to res, textos nem teorias ca nônicos: tud o ou qu ase
mos den tro de cada ciência. Este p rov incianismo é coisa do tu do está po r fazer, tudo é matéria de debate e de in-
passado: a investigação, se m deixar de d iferenciar -se. inte- vestigaçã o . M as isto não de veri a abrir as portas à impro-
grou-se graç as às teorias e técnicas ab range nte s. Em su- visação e ao qu e nós, argentin os, ch amamos macall eo. Ne ste
ma : ciê ncia com tra ços nacion ais, sim; ciência na cio na- ca m po, a inve stigaçã o responsável está limitada pela lógica
lista , não . c pe la ciên cia . Q uem ignore as du as não poderá contribuir
111 . Fomentar a ciência básico tanto quant o a aplica- CO Ill nada. Qu em co nheça um a delas poderá colocar p ro-
(ln . B preciso levar e m conta q ue a ciência básica é valio - blemas e cr iticar soluções. Som ente quem está familiarizado
sa p or si mesma, porque nos pe rmite co mpreender o mu ndo, co m am bas pode rá fazer con tri bu ições originais à fito-
e não s6 po rqu e nos permit e tran sfo rm á-lo. A ciê ncia ap li- so fia da ciê nc ia.
cad a, em tr oca, não ex iste se m a. pura . A agron omia é biolo- Se os cientistas desejam que se co nstitua uma filo so-
gia apli cado, a farm acologi a é bioquímica apli cad a, a psi- [; <\ realista e integra l da ciê ncia , que dê conta da inve sti-
quiatria científica é psicologi a e farmacologia apli cadas, e gaçã o tal como é praticada ao nl vel mais avançado em
assim su cessivam ente. Po r ce rto é pa ssivei exe rce r uma todos os ca mpos, e que a ajude a adi antá-la e amadurecê-
profissão técnica sem ef'etuar pesqui sa. M as este exercício, la e m vez de obsc urecê-la ou fr eá-Ia, deverão eles próprios
para ser eficaz, de ver á basear -se em in vestig ações pu ras e pôr mãos à obr a . Mas nã o sem auxilio : deverão recorrer
a plicadas realizadas po r outros. O bom méd ico est á inf or- . à lógica e à históri a das idéias filosóficas e cientifi cas,
mado sobre as recent es aqu isições da pesqu isa biológica sob pena de incorrer, no caso co ntrário, em inexatidões e
aplicad a, a q ual por su a vez se ba seia na investigação b á- obsc uridades e de inventar o guarda -ch uva. Em suma, pode-
sica cm biologia e bioquímica. Algo similar vale para o rã o ignorar os filósofos anticientíficos mas deverão aliar-se
engenheiro, o agrôn omo e O trabalhador social. Antes de aos filósofos amigos da ciência. Poderão ignorar Hegel,
atuar é preciso informar-se e p ensar; antes de apli car é Husserl c H eid egger, mas não pod erão ignorar Rus sell,
preciso ter o que apli car; c, se se quer inovar respon sa- Carnap e Popper. Ma s não ba sta inf ormar-se, nem comen-
velme nte na ação, é preciso fazê-lo com ba se em conhe- tar e c riticar este ou aquele aut or; é preciso abordar os
cimento científico: o utra co isa é rotina ou improvisação. p roblem as epistemol ógicos do mesmo modo que se abor-
IV. Estimular as ciências do homem, O primeiro passo dam os pr obl ema s cie ntífi cos, ou seja, não apenas com
nesta direção é perc eber o que as modernas ciê nci as d o co nhec imentos ade quados dos antecedentes, mas também
hom em, por serem ao mesm o tempo empíricas e te6ri cas , co m espírito crítico e co m o propósito de trazer mais luz.
tanto de lab oratóri o e campo como de lingu agem m atemáti- Como para o cientist a, o filó sofo da ciência se propõe
ca, c por se propo rem o encontro de pautas gerais com mé- obter conhecim ento original. A diferença está em que o
tod o com um a Ioda a ciên cia, são irmãs das ,ciên cias da na - cientista averigua algo acerca do mundo, enquanto o fi-
tureza e portanto independentes da s humanidade s ent en- lósofo da ciência averigu a algo acerca da ciência.
didas no sentido tr adi cional. Manter as ciências do h omem A con stituição de um grupo nacional de lógica e epis-
sob o cont role d as humanid ades, lá o nde esta s continuam tem ologia, dentro ou for a da sociedade cientlfica nacional
dominadas por espírito tra dici onalista e anticientífico, é m as em todo caso com fort e parti cipação de cientistas com
co ndená -las ao at ras o : é imp edi r ou pejo menos retarda r inquietaç ões Iilos ôficas e de filósofos amigos da ciência.

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deveria co ntr ibuir para mo derni zar a cultu ra hum a nística tranhos ao desenvolvimento da pr ópria ciência, e exija re-
do país, be m como para de bater sob re o s fins do desen- sulta dos práticos a curtos prazos e torça as vocações.
volvimen to científi co . Devemos pen sar em um plano liberal: um plano que
se proponh a fins ímracieruíílcos, que vise em primeiro lu-
gar ao cre scimento e ao amadurecimento da própria ciên-
5. Rumo a lima Ptantiicaçõo Liberal da ln vestignçiio cia . Um plano liberal será compatível com a liberdade da
Cientl]ica investigação, d o mesmo modo que com a liberdade e o
enriquecimento da cultura . Um plan ejam ento liberal da
o estímulo e o fomen to de certas ativid ades nã o deve investigação científica propor-se-à conseguir um desenvol-
ser confundido com o dirigismo. A investigação cien tíf ica vimento harmoni oso dos distintos aspectos da ciência: o
básica nã o tole ra o dirigism o, posto que ela co nsiste em experim ental e o teórico, o puro e o aplicado, o natural
colocar e resolver pro blemas co m liberdad e, el egend o li- e o humano. Não obrigará a trabalhar neste ou naquele
vremen te os mei os e torna nd o pú blicos os result ados. Só tem a, nem deste ou daquele modo: propor-se- â apenas [nci-
as tar ef as de rotina e, c m esca la bem men or , a invest igaçã o tir ar Iodo pr ojeto de pesqui sa razoável, quer dizer, que pro-
a plicada pode m fu ncion a r cm resposta 3 so licitaç ões ex- meta e nriquece r o co nhecimento e pareça re alizável.
lernas. O d irigismo deform a a investigaç ão ao exager nr o Para ser eficaz, uma planificação liberal não deve ser
peso do e mpí rico: pode-se enco menda r a co lcta e a elabo - humilde nem paranóica: deve ser ambiciosa mas realista;
rnção de d ad os sobr e qu alquer coisa, maC\ as teor ias não i . 6, deve prop or-se às finalidades mais elevadas que é
se fazcm po r encomend a. O diri gism o deform a a c iência p ossível alcançar com os meios disponíveis. Assim, por
ao exagera r o peso das ap licaçõe s : pode-se encomend ar a exempl o, seria tolo dedicar um laboratório para medir o
a plicação de um cor po de co nh ec ime ntos à solução de um índi ce de refra ção em todas as substâncias transparentes
problem a p rát ico. ma s não se pod e enco me nda r a form ação por mero gosto de empilh ar dad os, sem fins ulteriores:
d e lima ci ênc ia no va . Fin alm ente. o dirigi sm o deform a n co- esta seria mod éstia excessiva . De outra parte seria uma
munid ade cien tífica ao d ar demasiad a au tor ida de à nd mi- lou cura instalar um acelerador de partículas em um deser-
uistr aç ão cie ntífica , q ue pode a busar de seu pod er c fru strar to, sem um plan o conc reto de investigação, nem pessoal
as Iidirn as aspirações d os in vestigad ore s. O dir igism o, cm compe tente para levá-lo a cabo. Em compensação, seria
su ma , é incompatí vel co m o desen vol vimento int egr al e factí vcl e úlil estudar, por exemplo, as pr opriedades Teo-
aulônom o da in vestigação. lógicas do petróleo e seus derivados, posto que o Teologia
Isto n ão impli ca qu e a ati vidade cie ntífica deve ficar está ainda em seus começos e oferece tantos en igmas expe-
entregue à mão de D eus. É verdade que o liber alismo é rim cntais e matemático s quantos se queira. Os projetas de
pr eferível ao di rigism o pois, embora não alente a potência inv estigaç ão devem ser modestos mas não pedestres, ori -
c riadora, ao menos não a en carcera e a escraviza. Mas o ginais mas não utópicos.
liberalismo, eventualmente adequado a nações de senvolvi- Deixemos aos gigantes industriais a física experimen-
da s, é inadequado às nossas nações, já que se opõe a toda tal das altas energias. Deixemos a engenharia nuclear aos
planificação, ao pa sso qu e, se quisermos ir ad iante, necessi- paí ses com grave deficit energético e capazes de construir
tarem os de um mín imo de planificação. Com efeito, quem reatares industriais sem hipotecar a sua economia. Deixe-
se prop onha foment ar esta o u aquela ntividadc para prcen· mos a física esp acial aos paí ses ricos, cujos governos ne-
cher este ou aq uele claro no campo da ciência está suge- cessitem criar sensações mundia is. Ponhamo-nos, em troca,
rindo um plano de ação : está pr op ond o que se invertam re- a estudar, por exemplo, a enigmática estrutura dos líqui-
cursos humanos e mat eri ais em ce rto seto r, e ventualmente dos e dos cristai s líquidos ( e .g. , 8 S soluções saponâceas)
à cus ta de outros setores. e dos cristais gasosos (e .g. , a parafina). Estes são pro-
Não há nada de mal em planificar, desde que os obje- blem as abertos que requerem instrumental acessível e ma-
tivos sejam nobres e os meios escr upulosos. Todo cientista téria cinzenta. Não podemos competir em instalações custo-
que se dá o respeito planifica o seu próprio trabalho e, sos, mas sim e m cérebros, desde que atraiamos para o
em alguma med ida, o de seus colaboradores. A planifica- camp o da ciência os talentos que até agora são absorvidos
ção em si não é má. O que é nocivo para a ciência e, pel a jurisprudência e outras profissões liberais.
por conseguinte, para a naçã o, é um plano dirigista, um Não podem os estar em dia com tudo, nem cevemos
plano que sub meta a in vestigação científica a interesses es- copi ar : devemos estar em dia em alguns temas, devemos

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tu de governa n tes vaidosos , mas um gr upo de p essoas em
aprende r e devemo s p ropor-n os a faz er contrib ui ções or i- busca da verda de .
ginais, já que a investig ação. para sê-lo, deve se r o rigin al. T é rmi no e resum o. Um a boa polític a de desen volvi-
N ão importa se es ta mos na m oda: m elh or, porq ue se guir mento inclu i uma p olítica de desenvo lviment o cientifico .
a moda é custoso , é servilis mo c envolve descura r linh as E uma política de de senvolvimen to cie ntíf ico supõe uma
de in vestigação even tua lmen te mais im portant es ou intc - filosofi a da ciê ncia. Pois bem, há filosofi as das ciência s
ressan tes . Isto n ão impli ca fica r at rás, m as tão-som e nte não de várias mar cas, mas nenh um a é cap az de estimul ar a
particip ar de cert as cor ridas. O invest igado r ma d uro tem in vestigaç ão científi ca, que r po r sere m fr agme nt árias , quer
um progra ma de t rabal ho de lo ngo alca nce. E le não se por serem rígidas. Ist o exp lica, em part e, por que é tão
deixa di str air p ela m oda m as tampou co deixa de ap rovei- d ifícil fo rm ula r lima boa política do desenvolvimento cien -
tar par a o seu trab alh o tod a novidad e q ue possa se rvir-lhe. tífico.
O investigado r origina l tam pouco é um a pê ndice de A filosofi a d a ciê ncia e a política da ciência são doi s
u ma ins ta la ção cu stosa, mas u m indi vídu o com idé ias o ri- m endig os q ue passa m fom e se anda m separa dos, ma s
gina is e com engen ho capaz de co mpensa r algu ma s defi- prosper a m se se junlam ; o pa ralítico vai montad o sobre os
ciê ncias de m a terial. Ce rta men te , às vezes, o e nge nho co n- om bros do cego e lhe assinala o ca minho. C ada qual re-
siste em dese nh ar u m equipam ento cus toso q ue pod e abrir so lve assim o pr oblem a do ou tro e deste m odo o seu pró-
novas perspecti vas. N este caso , se O custo é e xcessivo. pr io. Se carecem os de uma filoso fia adequ ada não con se-
im põe -se o exílio para um país ma is rico, jam ais o sacri- guire mo s um a política ade quada. Se carecemo s de uma e
fício dos demais ra mo s da ciência o u de ref ormas sociais outra, deverem os dese nvolve r am bas ao mesmo tempo. No
urge nt es. Hoje em dia não é tragé dia o u vergo nha ex ilar-se
t ra nscur so deste p rocesso co mete remo s e rros, mas pode-
co m o fito de co n tribu ir para o progres so d a ciê nc ia. O
remos apren de r co m eles e cor rigir o rumo f uturo. Em
qu e é trágico , o u m elh or tragic ôm ico, é exig ir de um a na-
troca, se co piamos o alhei o e ped imos a outros que nos
ção po bre que lance u m progra ma espacia l ou um pro -
d igam o que devería mos desejar , continuaremos atados e
grama de fí sica de altas en er gias , qu ando aind a não d eli
às esc u ras. Vam os re pensar, po is, tanto nossa filo sofia da
os p rim eiros passos em pesquis as m odestas po rém férteis.
ciência qua nto nossa política d a ciên cia. Disto depend e
O mérit o de um pr ojeto de investi gaçã o nã o se mede pelo
IIOSSO desen vol viment o.
dinhei ro invert ido nem pela publici da de ob tida , m as por
sua co ntribuição or igina l para O avanço do co nheci me nto.
H oje em d ia q uase tod o país q ue se p rop onha fa-
zê-Ia, pode alca n çar, ao term o de u m a ge ração, um posto
honroso na ciência int ern acion al. Para qu e os nossos paí-
ses Jatin o-am etican os o alca nce m. devemo s fazer o se-
guinte :
1 . Co mec emos por reconhe ce r o nosso atraso e m lu-
gar de nos drogarr nos co m aut o -exaltaç ões. m as ao m esm o
tempo propo nh am o-nos se riame nte superá-lo.
2 . P rop onham o-n os nossos p róprios fins, sem por isso
despe rd içar a e xp eriên cia alhe ia.
3 . Façam os um cálculo de rec ursos human os e natu-
rais.
4 . F orm ulem os planos liber ais e real istns pa ra o de-
se nvolvimento int egral da in vestigaç ão cie ntí fica.
S . Este nda mos a m ão fr atern a em lu ga r de m ão men-
dicante : tr at em os de t rab alhar em escala latino-a merican a,
dividin do entre nós O traba lho e cooper ando co m to das as
nações lati no-am eri can as: procu remos erigir urn a Coorde-
n adaria Cie ntífica Lati no-A me rican a .
6 . Ponham o s m ãos à obra lembra ndo que a ciên-
cia não é um co njun to de instalaç ões para o e nvai de cirnen-
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