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sional do corpo humano, sendo um o modelo.

Entretanto, para outras condi- ilustra alguns exemplos de representações


bom modelo para um alfaiate. Já o ma- ções que não estas, os efeitos acima podem- feitas em física.
caco é fisiologicamente semelhante ao se tornar relevantes. No artigo em que dis- A fim de que se possa avaliar a aplica-
ser humano e deve ser o modelo pre- cutem a aerodinâmica da bola de futebol, bilidade dos diversos conceitos associados
ferido por um biólogo. [12, p. 44] Aguiar e Rubini [13] concluem que a traje- à modelagem, trataremos de exemplificar
tória descrita pela bola que Pelé chutou o modo como eles podem ser inseridos no
O exemplo acima ilustra também no jogo de futebol Brasil x Tchecoslová- contexto de sala-de-aula.
uma outra idéia muito importante quan- quia pela Copa de 1970 no México, pró-
do se trabalha com modelagem: a de que ximo à linha do meio-campo, em direção A discussã o em sala-de-aula
não existem modelos corretos, mas sim à meta adversária - jogada que ficou co- Nosso objetivo aqui é apresentar uma
adequados. Alguns modelos conceituais nhecida como “o gol que Pelé não fez” - discussão baseada nas idéias da modela-
são mais adequados só pode ser entendida gem sobre dois problemas típicos de livros
do que outros por O computador, visto como uma ao levarmos em con- de texto de física, em nível médio, com a
enfatizarem certos as- ferramenta didática no auxílio ta os efeitos de resis- expectativa de que possam servir de exem-
pectos negligenciados da aprendizagem, pode fornecer tência do ar, incluindo plos para outras discussões nas demais
pelos demais. Para oportunidades ímpares para a a crise do arrasto, e o áreas da física. Vejamos o primeiro exem-
tanto, analisemos um contextualização, visualização e Efeito Magnus devido plo: 1
exemplo de interesse apresentações das mais diversas à rotação da bola em
Um caminhão com 20,0 m de com-
da física: o movimen- situações físicas que possam dar torno do seu centro.
primento atravessa uma ponte com
to real de um projétil. sentido ao conceito físico que Apesar de não ser
80 m de extensão com velocidade cons-
Até que ponto esta esteja sendo trabalhado pelo o foco do presente tra-
tante de 72,0 km/h (20,0 m/s), como
situação pode ser re- professor balho, destacamos
ilustra a Fig. 2.
presentada por um que uma das formas
modelo de partícula em movimento para- mais promissoras para a integração de O fenômeno físico de interesse refere-
bólico sob a ação da força da gravidade? discussões sobre modelagem científica em se ao movimento dos corpos. Seu enun-
Em outros termos, faz sentido comparar sala de aula possa dar-se por meio da ciado contextualiza este fenômeno ao des-
os resultados de um modelo que despreza modelagem computacional aplicada ao crever a situação de um caminhão atra-
a resistência do ar, a variação da aceleração ensino de física. O computador, visto neste vessando uma ponte. A partir dessa con-
gravitacional, o empuxo, o raio de cur- processo como uma ferramenta didática textualização é possível formular algumas
vatura da Terra e a sua velocidade de rota- no auxílio da aprendizagem, pode fornecer questões: qual o peso máximo do cami-
ção, com os dados experimentais (para o oportunidades ímpares para a contextua- nhão que a ponte pode suportar? Qual o
alcance, a altura máxima, o tempo de vôo, lização, visualização e apresentações das valor do coeficiente de atrito entre os
etc.)? E a resposta poderia ser: faz sentido mais diversas situações físicas que possam pneus do caminhão e a ponte? Qual deve
dependendo do tipo de projétil, das condi- dar sentido ao conceito físico que esteja ser a velocidade do caminhão para atra-
ções iniciais de lançamento (posição e sendo trabalhado pelo professor. Para sa- vessar a ponte em um certo intervalo de
velocidades de translação e rotação) e do ber um pouco mais sobre este assunto, tempo? Qual o intervalo de tempo gasto
grau de precisão que se deseja. Ou seja, sugerimos a leitura dos trabalhos de Me- pelo caminhão para atravessar a ponte
todas essas hipóteses simplificadoras, ou deiros e Medeiros [14], Araujo et al. [15] com certa velocidade? As duas primeiras
melhor, idealizações, são válidas para e Dorneles et al. [16]. questões pressupõem o estudo das forças
condições muito específicas. Assim, um Em suma, o processo de modelagem envolvidas na situação real, enquanto nas
objeto de área “pequena”, densidade “mui- reside no fato de que teorias gerais, que duas ú ltimas o foco está nas variáveis que
to maior” do que a do ar, velocidade li- em princípio não se pronunciam direta- descrevem o comportamento observável
near “baixa” e que gire “pouco” pode ser mente sobre a realidade, ao serem enxer- do caminhão ao atravessar a ponte, a sa-
descrito com boa aproximação por um tadas por modelos conceituais, produzem ber: o tempo, o comprimento e a veloci-
modelo baseado nas hipóteses acima. As representações de parte da realidade, isto dade do caminhão, e a extensão da ponte.
expressões entre aspas podem adquirir é, modelos teóricos que fornecem soluções Ou seja, enquanto as duas primeiras per-
diferentes interpretações, dependendo do a situações-problema particulares. A Ta- guntas envolvem a dinâmica do sistema,
grau de precisão que se deseja obter com bela 1, inspirada em Bunge [17, p. 35], as duas ú ltimas são típicas de uma descri-

Tabela 1. Alguns exemplos de situações-problema que são modeladas pela física.


Situação-problema Modelo Teoria Modelo
a ser modelada conceitual geral teórico
Escoamento da água no Fluido contínuo sem viscosidade Mecânica dos fluidos Modelo de fluido ideal
interior de uma tubulação Fluido contínuo com viscosidade Modelo de fluido viscoso
Certa quantidade de gás contida Sistema de partículas, termicamente Mecânica estatística e Modelo de gás ideal clássico
num recipiente fechado isolado, que interagem via colisões mecânica clássica
perfeitamente elásticas Mecânica estatística e Modelo de gás ideal quântico
mecânica quântica
Comportamento da matéria Mecânica clássica e Modelo atômico de
em nível microscópico eletromagnetismo Rutherford
Sistema planetário
Movimento dos planetas do Mecânica clássica Modelo gravitacional de
Sistema Solar Newton

12 Modelagem e ensino de física Física na Escola, v. 9, n. 1, 2008

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