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Revista Brasileira de Ensino de Física, vol.

44, e20220064 (2022) Artigos Gerais


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DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0064 Licença Creative Commons

Mecânica Clássica Conformável: uma revisão pedagógica


Conformable Classical Mechanics: a pedagogical review

Ronni Amorim1,2 , Vinicius Rispoli*2 , Leandro Xavier Cardoso2 , Alexandre Russi Junior1
1
Universidade de Brasília, Instituto de Física, Brasília, DF, Brasil.
2
Universidade de Brasília, Faculdade Gama, Brasília, DF, Brasil.

Recebido em 20 de fevereiro de 2022. Revisado em 29 de abril de 2022. Aceito em 20 de junho de 2022.


Neste trabalho descrevemos um formalismo para descrever a Mecânica Clássica fracionária segundo o cálculo
fracionário conformável. Assim, uma breve revisão sobre cálculo diferencial e integral conformável foi feita. Na
sequência, as versões conformáveis dos formalismos Lagrangiano e Hamiltoniano são apresentadas. Como exemplo,
o oscilador harmônico conformável e a equação de onda conformável são discutidos. Em todas as situações
consideradas, os resultados usuais são obtidos se a ordem da derivada (α) for igual a 1. Um resultado interessante
é que se considerarmos 1 − α  1, o oscilador harmônico conformável torna-se análogo aos oscilador usual com
massa variável e termo de dissipação.
Palavras-chaves: Cálculo Fracionário Conformável, Derivada Fracionária Conformável, Mecânica Clássica
Fracionária.

In this work we present a formalism to describe the fractional Newtonian mechanics based in conformable
fractional calculus. In this sense, a brief revision about integral and differential conformable calculus is
implemented. In sequence, the conformable version to Lagrangian and Hamiltonian formalism are presented.
As examples, the conformable harmonic oscillator and conformable wave equation are discussed. In all situations,
usual results are obtained when we consider α = 1. An interesting result is that in the case 1 − α  1 the
conformable harmonic oscillator behaves like usual harmonic oscillator with time dependent and dissipation
term.
Keywords: Fractional Calculus, Conformable Fractional Derivative, Fractional Classical Mechanics.

1. Introdução e integral até então para chegar às suas conclusões.


Naturalmente, o conhecimento matemático evoluiu com
Podemos considerar que a mecânica clássica, também o passar do tempo, o que tornou possível a elaboração de
denominada por muitos autores como mecânica new- outras formulações para a mecânica clássica [1]. Dentre
toniana, corresponde à descrição do estado mecânico os principais desenvolvimentos matemáticos, destacam-
de um sistema físico com o uso de constructos teórico- se os estudos sobre equações diferenciais, cálculo va-
filosóficos que não abordam movimentos a velocidades riacional e álgebras de Lie. No entanto, de todas a
relativísticas, bem como em espaços-tempo curvos [1]. formulação da mecânica clássica, a mais concisa tem
Desde a sua sistematização que se deu fundamental- a forma de um princípio variacional. Conforme ideias
mente nos volumes do Philosophiae Naturalis Principia típicas do século XVIII, das quais Maupertuis foi um dos
Mathematica (1687), obras escritas por Isaac Newton pioneiros, dentre todas as alternativas à sua disposição
no século XVII, a mecânica newtoniana vem passando a natureza segue o curso mais econômico de acordo
por sucessivos aprimoramentos em decorrência da evo- com algum critério de comparação entre as diversas
lução dos conceitos matemáticos, a partir dos quais possibilidades. O princípio diferencial de d’Alembert, do
diversas interpretações físicas tornaram-se possíveis [1]. qual se deduzem as equações de Lagrange, exprime a lei
De um ponto de vista histórico, podemos inferir que fundamental do movimento em termos da configuração
na elaboração dos fundamentos da mecânica clássica, instantânea do sistema e de desvios infinitesimais da
Newton se inspirou nas ideias de Descartes, o qual referida configuração. Assim, é possível reformular a lei
estabeleceu um método universal inspirado no rigor da dinâmica fundamental como um princípio integral,
matemático e nas suas cadeias de razão. Descartes que leva em conta o movimento completo do sistema
propôs o método dedutivo como uma forma de obter durante um intervalo de tempo finito. Nesse bojo, dentre
ideias claras e distintas [2]. Nesse caminho, além da as novas representações, os formalismos Lagrangiano e
experimentação, Newton utilizou a geometria euclidiana Hamiltoniano ocuparam mais holofotes. O arcabouço
e o que havia desenvolvido sobre cálculo diferencial Lagrangiano foi introduzido em 1788 pelo matemático
francês Joseph-Louis Lagrange na sua obra intitulada
* Endereço de correspondência: vrispoli@unb.br “Méchanique Analytique” [1]. Por meio do formalismo

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e20220064-2 Mecânica Clássica Conformável: uma revisão pedagógica

Lagrangiano é possível a obtenção dos mesmos re- das teorias físicas trazem consequências interessantes, às
sultados obtidos por meio da abordagem de Newton; quais muitas vezes respondem bem alguns fenômenos
porém, dentre suas vantagens destaca-se a possibilidade da natureza, tais como a possibilidade de se analisar
de se analisar mais claramente as dos sistemas físicos, sistemas dissipativos ou sistemas de massa variável
bem como permite a generalização das ideias da me- sem a necessidade de se introduzir novos termos na
cânica clássica a outros aspectos, tais como a teoria Lagrangiana do sistema livre [4, 8].
de campos. Já o formalismo Hamiltoniano, proposto Esse é o objetivo deste trabalho, apresentar o cálculo
pelo matemático irlandês William Rowan Hamilton conformável e aplicá-lo na construção da mecânica New-
(1805–1865) [1], estendeu as concepções do formalismo toniana conformável. Sendo assim, a apresentação deste
Lagrangiano, trabalhando com uma coordenada extra trabalho se baseará nos seguintes tópicos: na seção 2
denominada momentum canonicamente conjugado, a apresentamos o cálculo diferencial e integral conformá-
qual se obtém a partir da Lagrangiana. Nesse arcabouço, vel; na seção 3 o formalismo Lagrangiano conformável
o formalismo proposto por Hamilton apresenta algumas é discutido; o formalismo Hamiltoniano conformável é
vantagens, quais sejam: a possibilidade de se trabalhar abordado na seção 4; na seção 5 trazemos a versão
com equações diferenciais de primeira ordem, apesar conformável do oscilador harmônico como exemplo; na
da duplicação na quantidade de equações; a introdução seção 6 a equação de onda conformável é apresen-
das transformações canônicas; a concepção do espaço tada; por fim, a seção 7 traz as considerações finais e
de fase e da variedade simplética. Além das vantagens perspectivas.
já mencionadas, com os formalismos Lagrangiano e
Hamiltoniano torna-se mais simples a análise de siste- 2. O cálculo diferencial e integral
mas físicos particulares, os quais quando estudados no
conformável
contexto Newtoniano são demasiadamente complicados.
O ponto principal neste texto é que o conhecimento
Nesta seção desenvolveremos a ferramenta matemática
matemático mais aprofundado permite a obtenção de
que nos guiará na formulação de uma versão fracionária
novas vertentes teóricas, e isso ocorre sobretudo na física.
da mecânica Newtoniana. De forma mais específica,
O cálculo conformável, considerado por alguns autores
abordaremos o cálculo conformável, donde apresenta-
como uma vertente do cálculo de ordem fracionária, é um
remos as principais definições e propriedades acerca
exemplo de abordagem matemática diferente do cálculo
dessa modalidade da derivada de ordem fracionária.
diferencial e integral usual que pode trazer consequências
As demonstrações serão discutidas de forma detalhada,
às teorias físicas. O conceito de derivada conformável foi
com a perspectiva de preparar o leitor para as seções
recentemente apresentado por Khalil et al. [3]. Coube a
posteriores. O conteúdo apesentado nesta seção tomou
Abdeljawad [4] aprofundar os estudos desse novo tipo de
como base as referências [5, 6]
derivada, e desenvolver alguns conceitos e deduzir algu-
mas propriedades, fundando assim o cálculo diferencial
2.1. A derivada conformável
e integral conformável. A definição e as propriedades da
derivada conformável satisfaz as propiedades da derivada Definição 1: Considere uma função f : [0, ∞) → R, a
usual quando se toma o limite da ordem da derivada derivada conformável de ordem α de f é definida por
tendendo à unidade. É importante que o leitor não con-
funda a palavra conformável, atribuída a essa definição f (t + ht1−α ) − f (t)
Dtα f (t) = lim , (1)
de derivada fracionária, ao nome conforme, que é usu- h→0 h
almente utilizado em teorias físicas (como por exemplo
para todo t > 0 e α ∈ (0, 1). O sobrescrito t na
na teoria de campos conforme) e que tem relação com
notação Dtα f (t) representa a variável em relação à qual
um tipo de transformação no bojo da variável complexa.
estamos derivando. Se a derivada conformável de ordem
Não se conhece a motivação de Khalil ao denominar tal
α exisitir, dizemos que a função f é α-diferenciável.
modalidade de derivada fracionária como conformável,
Note que se f é uma função derivável no sentido usual,
mas sabe-se que ele pretendia obter um tipo de derivada
então podemos usar a regra de L’Hôpital na Equação (5)
fracionária que apresentasse propriedades mais próximas
e com isso obtemos o seguinte resultado
com a derivada usual.
Para alguns autores, a derivada conformável não é Dtα f (t) = f 0 (t)t1−α . (2)
considerada uma legítiva derivada fracionária, pois não
satisfaz algumas propriedades que definem as deriva- O leitor deve se lembrar que a interpretação geométrica
das fracionárias previamente definidas, como Riemann- da derivada usual tem relação com a inclinação da reta
Liouville e Caputo [5–7]. A derivada conformável é local tangente à função num dado ponto, e a interpretação
e, portanto, não apresenta efeitos de memória. Além física é ligada a velocidade da partícula. Além disso,
disso, a derivada conformável satisfaz algumas regras na derivada usual, enquanto a variável independente
que as derivadas fracionárias tradicionais não satisfazem, muda h, o valor da função varia de acordo com tam
como veremos em diante. Contudo, o seu estudo no bojo mudança.Assim, o limite dado reflete a intensidade

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e direção da velocidade. Enquanto isso, no caso da = lim g(t + ht1−α )


h→0
derivada conformável, quando a variável independente
sofre uma variação h, a função varia de acordo com t1−α . f (t + ht1−α ) − f (t)
× lim
A consequência disso é que a interpretação física da de- h→0 h
rivada conformável pode ser vista como uma velocidade
g(t + ht1−α ) − g(t)
especial, na qual sua intensidade e direção dependem de + f (t) lim
t1−α . As consequências disso serão apresentadas ao longo h→0 h
do trabalho. = g(t)Dtα f (t) + f (t)Dtα g(t).
Ademais, a derivada conformável satisfaz as seguintes
propriedades: Além disso, a partir das mesmas propriedades do
Sejam α ∈ (0, 1), f e g funções α-diferenciáveis para limite é possível mostrar a regra do quociente, portanto
t > 0, então:
1 f (t + ht1−α )
 
• Propriedade 1: f é contínua para todo t > 0. f (t) 1 f (t)
Dtα = lim −
• Propriedade 2: A derivada conformável é g(t) h→0 h g(t + ht 1−α ) h g(t)
linear, i.e.,
f (t + ht1−α )g(t) − f (t)g(t)
Dtα (af (t) + bg(t)) = aDtα (f (t)) + bDtα (g(t)).
1 −f (t)g(t + ht1−α ) + f (t)g(t)
• Propriedade 3: = lim
h→0 h g(t + ht1−α )g(t)
Dtα (k) = 0,
g(t)[f (t + ht1−α ) − f (t)]
em que k é uma constante real. −f (t)[g(t + ht1−α ) − g(t)]
1
• Propriedade 4: A derivada conformável satisfaz = lim
h→0 h g(t + ht1−α )g(t)
a regra do produto, i.e.,
1−α
Dtα (f (t)g(t)) = Dtα (f (t))g(t) + f (t)Dα (g(t)). g(t) limh→0 [ f (t+ht h
)−f (t)
]
1−α
• Propriedade 5: A derivada conformável satisfaz −f (t) limh→0 [ g(t+ht h )−g(t) ]
a regra da cadeia, i.e., =
g(t) limh→0 [g(t + ht1−α )]
Dtα (f (g(t))) = [Dg(t)
α
(f (g(t)))][Dtα (g(t))](g(t))α−1 , Dtα (f (t))g(t) − f (t)Dtα (g(t))
= .
supondo que a derivada conforme α
Dg(t) (f (g(t))) g(t)2
exista.
Agora, para a regra da cadeia, considere h(t) = f (g(t))
Todas as propriedades dadas seguem da definição
e pela definição temos
e são imediatadas de serem mostradas. Na sequência,
como forma de exemplificar os cálculos, iremos mostrar
as Propriedades 4 e 5 enunciadas acima. Antes disso, f (g(t + ht1−α )) − f (g(t))
Dtα (f (g(t))) = lim . (3)
notemos que essas propridades são idênticas aquelas h→0 h
satisfeitas pela derivada ordinária, incluindo a quarta,
também conhecida como regra de Leibniz. Em geral, as Fazendo a mudança de variáveis w = t + ht1−α , temos
derivadas de ordem fracionária, como Riemann-Liouville que h = (w − t) tα−1 e portanto o limite dado pela
e Caputo, não satisfazem as propriedades 4 e 5; por isso Equação (3) pode ser reescrito como
a derivada conformável recebe destaque.
Primeiramente, para mostrarmos a regra do produto, f (g(w)) − f (g(t)) 1−α
Dtα (f (g(t))) = lim t
vamos usar as propriedades usuais do limite e a definição w→t (w − t)
da derivada conformável, assim
f (g(w)) − f (g(t))
f (t + ht1−α )g(t + ht1−α ) − f (t)g(t) = lim
Dtα (f (t)g(t)) = lim w→t g(w) − g(t)
h→0 h
g(w) − g(t) 1−α
f (t + ht1−α )g(t + ht1−α ) × lim t
w→t w−t
−f (t)g(t + ht1−α )
+f (t)g(t + ht1−α ) − f (t)g(t) f (g(w)) − f (g(t)) g(t)α−1
= lim = lim
h→0 h w→t g(w) − g(t) g(t)α−1

f (t + ht1−α )g(t + ht1−α ) g(t + ht1−α ) − g(t)


× lim ,
−f (t)g(t + ht1−α ) h→0 h
= lim
h→0 h
observando que foi usado o fato que as funções f
f (t)g(t + ht1−α ) − f (t)g(t) e g são contínuas, por serem α-diferenciáveis. Cha-
+ lim
h→0 h mando agora ∆u = (g(w) − g(t)) g(t)α−1 , temos que

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g(w) = g(t) + ∆ug(t)1−α e, portanto, Teorema 1: Sejam x = x(t) e y = y(t) diferenciáveis


em t, e seja z = f (x, y) diferenciável em (x(t), y(t)).
f (g(w)) − f (g(t)) g(t)α−1 Então, z = f (x(t), y(t)) é diferenciável em t e
Dtα (f (g(t))) = lim
w→t g(w) − g(t) g(t)α−1
∂f α ∂f α
g(t + ht1−α ) − g(t) Dtα z(t) = Dt x(t) + D y(t). (4)
× lim ∂x ∂y t
h→0 h
= g(t)α−1 A Equação (4) pode ser desenvolvida a partir da
ideia que a função z(t) = f (x(t), y(t)) é diferenciável
f (g(t) + ∆ug(t)1−α ) − f (g(t)) no sentido usual e com isso vale a propriedade da
× lim
∆u→0 ∆u Equação (2)
g(t + ht1−α ) − g(t) dz
× lim Dtα z(t) = t1−α
h→0 h dt
h i
α α−1
f (g(t)) [Dtα g(t)] (g(t))
 
= Dg(t) . 1−α ∂z ∂x ∂z ∂y
= t +
∂x ∂t ∂y ∂t
Como consequência imediata da Equação (2), traze-  
∂z 1−α ∂x ∂z 1−α ∂y
mos a derivada fracionária conforme de algumas funções = t + t
deriváveis no sentido usual e que merecem destaque, ∂x ∂t ∂y ∂t
quais sejam: ∂f α ∂f α
= D x(t) + D y(t),
1. ∂x t ∂y t

que é o resultado esperado.


Dtα ekt = kt1−α ekt ,
Finalmente, podemos estender a Definição 1 para
números reais α > 1 através da próxima definição.
2. Definição 2: Seja α ∈ (n, n + 1), com n ∈ N. Uma
função f : [0, ∞) → R que é n-vezes diferenciável em
Dtα cos(kt) = −kt1−α sin(kt),
t > 0 tem derivada conformável de ordem α se o seguinte
limite existe
3.
f (dαe−1) (t + htdαe−α ) − f (dαe−1) (t)
Dtα sin(kt) = kt1−α cos(kt), Dtα f (t) = lim ,
h→0 h
(5)
4. em que dαe é a função menor inteiro.
1 α 1 α
Dtα e α t = e α t ,
2.2. A integral conformável

5. Definição 3: Para f contínua, a Integral Conformável


    é definida por
1 α 1 α
Dtα cos t = − sin t , Z t
α α
Iaα f (t) = (ξ − a)α−1 f (ξ)dξ, (6)
a
6.
    para α ∈ (0, 1). A Equação (6) também pode ser
1 α 1 α reescrita como
Dtα sin t t = cos t ,
α α
Z t
Iaα f (t) = f (ξ)dα
a ξ. (7)
Mostraremos a α-derivada número 4, as demais deixa- a
mos como exercício para o leitor.
Além disso, para o caso de a = 0, segue que
1 α 1 α
Dtα e α t = t1−α (e α t )0 Z t Z t
1−α 1 α
αt
1 α−1 I α f (t) = ξ α−1 f (ξ)dξ = f (ξ)dα ξ. (8)
= t e αt 0 0
α
1 α
= eαt . Nesse percurso, se f é diferenciável e a = 0, a seguinte
propriedade é satisfeita
Em decorrência deste resultado, denominaremos a fun-
1 α
ção f (t) = e α t como função exponencial fracionária. I α Dtα f (t) = f (t) − f (0), (9)

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Amorim et al. e20220064-5

pois repetida da derivada conformável em f no ponto t0


Z t
sempre existe. Nesse sentido, desejamos escrever uma
I α (Dtα f (t)) = ξ α−1 Dξα f (ξ)dξ série de potências para f (t) em torno de t0 dada por
0
Z t
f (t) = c0 + c1 (t − t0 )α + c2 (t − t0 )2α
= ξ α−1 ξ 1−α f 0 (ξ)dξ +c3 (t − t0 )3α + · · ·
0

X
t
ck (t − t0 )kα .
Z
= (11)
= f 0 (ξ)dξ
k=0
0

= f (t) − f (0). Nossa tarefa agora é, supondo que a representação


exista, encontrar os coeficientes ck ’s dados na Equação
Como um exemplo da integral conformável considere- (11). Isso pode ser facilmente feito da forma como segue.
mos a integração da função f (t) = ntn−α , com n ∈ N, Primeiramente, a partir da Equação (11) calculemos
isto é, f (t0 ). Fazendo isso, facilmente concluímos que c0 =
Z t f (t0 ). Em seguida, a fim de determinarmos c1 , calcu-
I α (ntn−α ) = ξ α−1 nξ n−α dξ lemos a derivada conformável de ordem α da Equação
0 (11), ou seja,
Z t
= n ξ n−1 dξ Dtα f (t) = αc1 (t−t0 )+2αc2 (t−t0 )α +3αc3 (t−t0 )2α +· · ·
0
Se calcularmos Dtα f (t0 ) obtemos que c1 = α1 Dtα f (t0 ).
t
ξn Agora, com o objetivo de determinarmos c2 , calcule-
= n = tn .
n 0 mos a segunda derivada conformável sucessiva de ordem
α da Equação (11), ou seja,
Este resultado era esperado, pois já sabíamos que ntn−α
é a derivada conformável de tn . (Dtα )2 f (t) = 2α2 c2 +3·2α2 c3 (t−t0 )α +4·3α2 c4 (t−t0 )2α +· · ·
No bojo da integração conformável ainda é possível
Se calcularmos (Dtα )2 f (t0 ) obtemos que c3 =
se calcular a integração por partes. Esse procedimento é 1 α 2
realizado de acordo com a equação dada a seguir 2·1·α2 (Dt ) f (t0 ).
Na continuidade, para determinarmos o coeficiente c3 ,
Z b
b
Z b calculemos a terceira derivada conformável sucessiva de
α α
[f (t)Dt g(t)]d t = f (t)g(t)|a − [g(t)Dtα f (t)]dα t, ordem α da Equação (11), ou seja,
a a
(10)
(Dtα )3 f (t) = 3 · 2α3 + 4 · 3 · 2α3 c4 (t − t0 )α + · · ·
supondo que f, g : [a, b] → R sejam funções deriváveis.
Essa relação é imediata, uma vez que Se calcularmos (Dtα )3 f (t0 ) obtemos que c3 =
1 α 3
Z b Z b 3·2·1·α3 (Dt ) f (t0 ). Se fizermos esse procedimento su-
[f (t)Dtα g(t)]dα t = f (t) t1−α g 0 (t) tα−1 dt cessivamente, obteremos após a k-ésima vez cn =
 
1
a a
k!·αk
(Dtα )k f (t0 ).
Z b Dessa forma, a Equação (11) pode ser escrita como
= f (t)g 0 (t)dt ∞
a X (Dα )k f (t0 )
t
f (t) = (t − t0 )kα , (12)
b
Z b k! · αk
0 k=0
= f (t)g(t)|a − g(t)f (t)dt
a a qual representa a série de Taylor conformável da função
b f (t) em torno de t = t0 . Se t0 = 0, a série será
= f (t)g(t)|a
Z b denominada série de MacLaurin conformável.
A seguir apresentamos a série de Maclauren confor-
g(t) t1−α f 0 (t) tα−1 dt
 

a mável de algumas funções. O leitor pode desenvolvê-las
Z b
como exercício.
b
= f (t)g(t)|a − [g(t)Dtα f (t)]dα t. •
a

A integração por partes será bastante útil na continui- 1 α
X tkα
eαt = .
dade deste trabalho. k! · αk
k=0


2.3. A série de Taylor conformável ∞
t(2k+1)α
 
1 α X
Consideremos uma função função f (t) que seja infini- sin t = (−1)k .
α (2k + 1)! · α2k+1
tamente α-diferenciável no ponto t0 , i.e., a aplicação k=0

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• Calculando por partes a integral da segunda parcela do


∞ integrando da expressão anterior e usando a condição de
t(2k)α
 
1 α X
fronteira, obtemos
cos t = (−1)k .
α (2k)! · α2k
k=0
Dα S[α ] = I α [((DX
α
L)X α−1
Usando os resultados anteriores e desenvolvendo a
i α
−Dtα (DD
α
α
t X
L)(Dtα X α−1 ))η(t)].
série de Maclaurin conformável da função f (t) = e α t ,
é fácil identificar o resultado Finalmente, a condição de mínimo, Equação (17) nos
    fornece
i α
t 1 α 1 α
e α = cos t + i sin t . (13)
α α (Dxα L)xα−1 = Dtα (DD
α
t x
α α−1
α L(Dt x) ). (18)

Na próxima seção utilizaremos as ferramentas Considerando a Equação (2), podemos escrever


apresentadas neste espaço para construir o formalismo
Lagrangiano conformável. (Dxα L)xα−1 = ∂x L
α α α−1
DD α L(Dt x)
t x
= ∂Dtα x L. (19)
3. Formalismo lagrangiano conformável Com isso, obtemos a versão fracionária conformável das
Equações de Euler-Lagrange, isto é,
Nesta seção apresentaremos a versão conformável do  
formalismo Lagrangiano. O exposto nesta seção e nas ∂L α ∂L
próximas seguiu de perto as referências [9–12]. Para = Dt . (20)
∂x ∂(Dtα x)
esse fim considere a ação S escrita a partir do seguinte
funcional A Equação (20) será fundamental na formulação con-
formável da mecânica Newtoniana. Os cálculos aqui
S = Iaα L(x(t), Dtα x(t)), (14) apresentados podem ser generalizados para um número
Rb qualquer de coordenadas, isso foi feito na referência [12].
em que Iaα f (t) = a (ξ − a)α−1 f (ξ)dξ e L(x(t), Dtα x(t))
é denominada Lagrangiana conformável. Assim, o nosso 3.1. As equações de movimento da mecânica
objetivo é encontrar as condições para que o funcional Newtoniana conformável
dado na Equação (14) tenha um mínimo local. Conside-
remos que x(t) e Dtα x(t) se transformem como Consideremos a Lagrangiana dada pela equação
m α 2
X(t, α ) = x(t) + α η(t) (15) L= (Dt x) − V (x), (21)
2
Dtα X(t, α ) = Dtα x(t) + α Dtα η(t), em que m representa a massa e V (x) a energia potencial
do sistema físico. Utilizando a Equação (20), usando a
em que a condição na fronteira é dada por η(0) = η(t0 ) = Lagrangiana dada na Equação (21) podemos calcular os
0 e  é um parâmetro pequeno. Com tais transformações, seguintes valores
passaremos a representar o funcional como
∂L ∂V
α α α =− ,
S[ ] = I L(X(t,  ), Dtα X(t, α )). (16) ∂x ∂x
∂L
E a condição de extremo para a Equação (16) é obtida = mDtα x,
∂(Dtα x)
a partir da derivada fracionária em relação a α , isto é,  
α ∂L
Dt = m(Dtα x)2 .
(Dεα S[α ])α = 0. (17) ∂(Dtα x)

Calcularemos essa derivada com o uso da Propriedade Com isso, obtemos a versão conformável das equações
5 a qual estabelece a regra da cadeia da derivada de movimento da mecânica Newtoniana, isto é,
conformável. Procedendo assim, temos ∂V
m(Dtα x)2 = − (22)
∂x
Dα S[α ] = I α α
[(DX L)(Dα X)X α−1
α
Podemos definir a velovidade conformável da seguinte
+(DD α
t X
L)Dα (Dtα X)(Dtα X)α−1 ]. forma
A Equação (15) nos dizem que Dα X = η e Dα (Dtα X) = v = Dtα x.
Dtα η. Com isso, obtemos
Nessa mesma perspectiva, a aceleração conformável fica
Dα S[α ] = αI α [(DX
α
L)X α−1 η dada por
α
+(DD α
t X
L)(Dtα X)α−1 Dtα η]. a = (Dtα x)2 .

Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 44, e20220064, 2022 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0064
Amorim et al. e20220064-7

Assim, a versão conformável da segunda Lei de Newton É interessante notar a partir do resultado dado na
pode ser escrita como Equação (31) que a velocidade da partícula pode ser
calculada a partir da derivada em relação à variável τ ,
F = m(Dtα x)2 . (23) isto é, v = dx
dτ .
O comportamento da solução dada na Equação (30)
Um resultado interessante é obtido a partir da Equação
para diferentes valores de α podem ser visto na Figura.
(22) no caso em que 1 − α = δ é suficiente pequeno. A
seguir apresentaremos dois exemplos simples para ilus-
trar os resultados desta seção, num primeiro momento 3.1.2. Movimento com aceleração constante
analisaremos a versão conformável do movimento de Nesta subseção avançaremos em relação ao aspecto
uma partícula com velocidade constante e na sequência, analisado na precendente, pois trataremos agora de uma
trataremos a abordagem conformável para o movimento partícula que se move com aceleração constante. Para
de uma partícula com aceleração constante. esse fim, consideremos a seguinte equação diferencial
conformável
3.1.1. Movimento com velocidade constante
Dtα v = a, (32)
Consideremos uma partícula se movendo com velocidade
cosntante de módulo v. Dessa forma, podemos escrever em que a é a aceleração constante. Essa equação pode ser
a equação de movimento como resolvida de forma análoga à Equação (25), fornecendo

Dtα x(t) = v. (24) v(t) = v(0) + a . (33)
α
Aplicando o operador integral conformável em ambos os Se usarmos
lados da Equação (25), temos
a = Dtα v,
α
I Dtα x(t) α
= I v. (25)
podemos aplicar o operador integral conformável,
Usando a Equação (8), obtemos Equação (8), em ambos os lados da Equação (33),

Z t  
x(t) − x(0) = α−1 vd I α v(t) = I α v(0) + a . (34)
0
α
α t Fazendo os cálculos obtemos
= v |
α 0 tα t2α
x(t) = x(0) + v(0) + a 2. (35)
tα α 2α
= v . (26)
α A partir da Equação (35) podemos obter um resultado
Considerando δ = 1 − α pequeno o suficiente, podemos interessante se admitirmos novamente que δ = 1 − α é
α
t−δ pequeno o suficiente. Assim, usaremos a expansão
expandir a expressão tα = t 1−δ até os termos de pri-
meira ordem em δ. Para esse fim, considere as seguintes t1−δ
expansões ≈ t + tδ − tδ ln t, (36)
1−δ
1 já demonstrada na subseção precedente. Necessitamos
= 1 + δ + δ2 + · · · (27)
1−δ mostrar a expansão para o termo
e, fazendo a série de MacLaurin de f (δ) = t−δ em torno t2(1−δ)
de δ = 1, podemos escrever .
(1 − δ)2
t−δ = 1 − δ ln t + · · · (28) É conhecido que
Dessa forma, com os resultados dados nas Eqs.(27)–(28), 1
= 1 + 2δ + · · · (37)
obtemos que (1 − δ)2
t−δ t1−δ e, se desenvolvermos a série de McLaurin para f (δ) =
t = ≈ t + tδ − tδ ln t. (29)
1−δ 1−δ t2(1−δ) em torno de δ = 1, obtemos
E assim, chegamos à aproximação t2(1−δ) ≈ 1 + 2 ln t − (2 ln t)δ. (38)

x(t) = x(0) + vt[1 + δ(1 − ln t)]. (30) Assim, com os resultados dados nas Eqs.(37-38), chega-
mos à aproximação
Denotando τ = t[1 + δ(1 − ln t)], podemos escrever
t2(1−δ)
x(t) = x(0) + vτ. (31) = 1 + 2 ln t + 2δ[1 + ln t]. (39)
(1 − δ)2

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e20220064-8 Mecânica Clássica Conformável: uma revisão pedagógica

Se substituirmos as Eqs.(36)-(39) na Equação (35), ob- É relevante notar que as equações de Hamilton usuais
temos, finalmente, a aproximação para a função posição são obtidas se tomarmos α = 1 na Equação (47).
τ2 Note que as Eqs.(47) podem ser escrita da seguinte
x(t) = x(0) + v(0)τ + a, (40) forma
2
dx ∂H
em que τ = t[1 + δ(1 − ln t)]. Note que dessa forma, a = tα−1
aceleração pode ser obtida a partir da segunda derivada dt ∂p
2
da Equação (40) em relação a τ , isto é, a = ddτx2 . dp ∂H
= −tα−1 . (48)
dt ∂x
4. Formalismo Hamiltoniano Em termos do parêntese de Poisson, definido por {a, b} =
conformável ∂a ∂b ∂a ∂b
∂x ∂p − ∂p ∂x , a Equação (48) pode ser escrita na forma

Nesta seção abordaremos prenúncios do formalismo Ha- dx


= tα−1 {x, H}
miltoniano conformável. O nosso ponto de partida serão dt
as equações de Euler-Lagrange conformável, Equação dp
(20), a partir da qual podemos definir o momentum = −tα−1 {p, H}. (49)
dt
canonicamente conjungado, isto é,
Em geral, se tivermos uma variável dinâmica u = u(x, p)
∂L que não depende explicitamente do tempo, podemos
p= . (41)
∂(Dtα x) escrever
Neste caso, o Hamiltoniano conformável, denotado por du
H, pode ser definido a partir de = tα−1 {u, H},
dt
H(x, p) = −L + pDtα x. (42) a partir dessa expressão percebemos que u representa
uma constante de movimento se {u, H} = 0. O que
Substituindo Equação (42) na Equação (14) e exigindo
foi discutido nesta seção pode ser generalizado para
que δL = 0, obtemos
um número qualquer de coordenadas do espaço de fase
0 = I α δ(pDtα x − H) (xi , pi ), o que pode ser visto na referência [12].
0 = I α [δpDtα x + pδ(Dtα x) − δH]
 
5. Oscilador harmônico conformável
α α α ∂H ∂H
0 = I δpDt x + pδ(Dt x) − δx − δp . Nesta seção abordaremos a versão conformável de um
∂x ∂p
(43) dos sistemas mais importantes da física: o oscilador
harmônico. Iniciemos a nossa análise definindo a Lagran-
Uma vez que δ(Dtα x) = Dtα (δ(x)), podemos escrever giana do oscilador harmônico a partir de
 
∂H ∂H 1 1
I α (δpDtα x + pdαt (δx) − δx − D α
(δ(x)) = 0. L= m(Dtα x)2 − mω 2 x2 , (50)
∂x ∂Dtα x t 2 2
(44)
em que x = x(t). Se usarmos a Equação (20), podemos
Calculando a integral por partes da segunda parcela da
escrever a partir da Lagrangiana dada na Equação (50)
integral conformável dada na Equação (55), e usando a
condição de fronteira, isto é, x(a) = x(b) = 0, obtemos ∂L
= −mω 2 x, (51)
o seguinte resultado ∂x
∂L
    
∂H ∂H
I α α
Dt x − α
δp + −Dt p − δx = 0. = mDtα x, (52)
∂p ∂x ∂(Dtα x)
(45)  
∂L
Com isso, obtemos as equações de Hamilton conformá- Dtα = m(Dtα x)2 . (53)
veis, as quais são dadas por ∂(Dtα x)

∂H Assim, a equação de movimento que descreve o oscilador


= Dtα x harmônico conformável fica dada por
∂p
∂H m(Dtα x)2 + mω 2 x = 0. (54)
= −Dtα p. (46)
∂x Nosso objetivo neste momento é resolver a Equação (57)
podem ser escritas como 
∂H
∂H dx I δ(p)Dtα x + pδ(Dtα x) −
α
δ(x)
= t1−α ∂x
∂p dt 
∂H α
∂H dp − D (δ(x)) = 0. (55)
= −t1−α . (47) ∂Dtα x t
∂x dt

Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 44, e20220064, 2022 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0064
Amorim et al. e20220064-9

com as condições iniciais dadas por x(0) = X e Dtα (0) = Se substituirmos as aproximações nas Equação (63) e
0. Para esse fim, consideraremos que a solução seja Equação (64) na Equação (62), chegamos a
dada por
d2 x dx
1 α
rα t
m(1 + 2δ ln t) + mδ(1 − ln t) + mω 2 x = 0.
x(t) = e , (56) dt2 dt
(65)
em que r é uma constante. Agora, derivaremos a
Equação (56) e substituíremos na Equação (57). Sabe- Se definirmos m(t) = m(1+2δ ln t) e γ(t) = mδ(1−ln t),
mos que a Equação (66) fica escrita da seguinte forma
1 α ω α d2 x dx
(Dtα x)2 (er α t ) = r2 er α t . m(t) + γ(t) + mω 2 x = 0, (66)
dt2 dt
Com isso, a Equação (57) fica dada por a qual corresponde a equação de um oscilador com massa
e coeficiente de amortecimento dependentes do tempo
r2 + ω 2 = 0, (57) e com termo de dissipação. A presença do termo de
dissipação, isto é, o termo de derivada primeira, mesmo
que é a equação característica associada a Equação (57).
no problema do oscilador harmônico simples é um resul-
Condiderando ω uma constante positiva, temos duas
tado compartilhado pela oscilador harmônico fracionário
raízes para r, quais sejam: r1 = iω e r2 = −iω. A solução
segundo Caputo, por exemplo. Ou seja, o resultado para
do problema ficada dada por
o oscilador harmônico conformável para o caso em que
ω α
x(t) = C1 ei α t + C2 e−i α t ,
ω α
(58) 1 − α pode ser considerado suficientemente pequeno é
comparável ao caso do oscilador harmônico fracionário.
em que C1 e C2 são constantes. Podemos escrever as
exponencias conformáveis em termos das funções das 6. Equação de onda conformável
funções trigonométricas conformáveis e definir A = C1 +
C2 e B = i(C1 −C2 ). Dessa forma, a solução fica dada por Nesta seção trataremos de outra aplicação física muito
ω  ω  relevante: o caso conformável da equação da onda. Nessa
x(t) = A cos tα + B sin tα . (59) situação, a equação de onda conformável em (1+1)-
α α dimensão pode ser escrita como [13]
As condições iniciais nos levam a concluir que B = 0 e 1
A = X, assim (Dxα )2 ψ(x, t) − (Dα )2 ψ(x, t) = 0, (67)
v 2α t
em que v = ωk . Vamos mostrar que uma solução possível
ω 
x(t) = X cos tα . (60)
α para esta equação é dada por
 α
k α ωα α

Essa solução é bem similar a usual, com a ressalva de que
a variável t no argumento da função cosseno está elevado ψ(x, t) = A sin x − t , (68)
α α
ao expoente de grau igual a ordem da conformalidade. α α
É interessante a análise da Equação (57) quando δ = em que A é a amplitude da onda e kα xα − ωα tα é a fase
1 − α  1. Note antes disso que a Equação (57) pode da onda.
ser escrita na seguinte forma Para mostrar que a função dada na Equação (68) é de
fato a solução da Equação (67), calculemos a partir da
dx d2 x Equação (68) as derivadas
(1 − α)t1−2α + t2−2α 2 , (61)
dt dt  α
k α ωα α

α α
Ou, em termos de δ, Dx ψ(x, t) = k A sin x − t . (69)
α α
dx d2 x Aplicando novamente o operador Dxα na Equação (69),
δt2δ−1 + t2δ 2 . (62)
dt dt temos
 α
k α ωα α

Expandindo t2δ−1 numa série de Taylor em torno de δ = (Dxα )2 ψ(x, t) = −k 2α A sin x − t . (70)
1 até primeira ordem em δ, obtemos a aproximação α α
  De forma análoga encontramos
1
t2δ−1 ≈ 1 + 2 ln t δ − . (63)  α
k α ωα α

2 α 2 2α
(Dt ) ψ(x, t) = −ω A sin x − t . (71)
α α

Por outro lado, a expansão de t numa série de Maclau-
rin nos fornece Substituindo a Equação (70) e a Equação (71) na
Equação (67), obtemos a identidade, mostrando assim
t2δ ≈ 1 + 2 ln tδ. (64) que a Equação (68) é solução da equação da onda.

DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0064 Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 44, e20220064, 2022
e20220064-10 Mecânica Clássica Conformável: uma revisão pedagógica

Figura 2: Solução da equação de onda Equação (68), em t = 0,


Figura 1: Solução da equação de onda Equação (68), em t = 0,
para α = 0, 5.
para diferentes valores de α (α = 0, 25; 0, 5; 0, 75; 1).

propriedades foram deduzidas de forma detalhada. Na


Ainda no bojo da equação de onda conformável,
sequência, os formalismo Lagrangiano e Hamiltoniano
podemos definir o α-comprimento de onda λα e o α-
foram cuidadosamente apresentados, sempre trazendo
período Tα por meio das equações
exemplos. Nessa última parte, discutimos as principais
2πα modificações nas equações de Hamilton, e demonstramos
λα = , que a formulação usual é obtida quando tomamos α igual

a 1. O oscilador harmônico conformável é resolvido, no
e
qual é observado que quando 1 − α é pequeno, obtém-se
2πα um oscilador com massa dependente do tempo e termo
Tα = ,
ωα dissipativo. Por fim, a equação de onda conformável
é apresentada. Pretendemos extrapolar as ideias aqui
respectivamente.
apresentadas para outras áreas da física, tais como o ele-
Uma análise interessante pode ser feita se observarmos
tromagnetismo e a mecânica quântica. O nosso objetivo
a Figura 1, na qual foram esboçados gráficos para a
nestas análises que virão é averiguar se a dissipação ou
solução dada na Equação (68), em t = 0, para diferentes
os sistemas de massas variáveis aparecerão naturalmente
valores de α. Notamos assim que para α = 1, temos
a partir da introdução da derivada conformável, além de
o comportamento usual da função de onda. Enquanto o
investigar se outras consequências físicas podem emergir.
valor de α diminui o gráfico oscila com menor frequência.
À medida que o valor α diminui, perdemos a noção de
comprimento de onda, pois a distância entre duas cristas Referências
consecutivas, por exemplo, não permanece a mesma ao
longo da evolução do gráfico. Isso pode ser visualizado [1] R. Dugas e J.R. Maddox, A Hystory of Mechanics
na Figura 2, na qual temos o gráfico da solução dada (Dover, New York, 1988).
na Equação (68), em t = 0, para α = 0, 5. Note que [2] A. Koyré, Estudos de História do Pensameno Científico
a distância entre as duas primeiras cristas consecutivas (Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2011).
é aproximadamente 16π, enquanto a distância entre a [3] R. Khalil, M.A. Horami, A. Yuosef e M. Sababheh, J.
Comput. Appl. Math. 264, 65 (2014).
segunda e a terceira crista é aproximadamente 48π.
[4] T.J. Abdeljawad, Comp. Appl. Math. 279, 57 (2015).
[5] M.D. Ortigueira e J.A.T. Machado, J. Comput. Phys.
7. Considerações finais e perspectivas 293, 4 (2015)
[6] A.A. Abdelhakim, Fract. Calc. Appl. Anal. 22, 242
Neste trabalho foi apresentada uma revisão sucinta (2019).
sobre a mecânica clássica conformável. Este é um tópico [7] A.A. Abdelhakim e J.A.T. Machado, Nonlinear Dyn 95,
recente, tendo sido introduzido por Khalil et al. em 3063 (2019).
2014 [3]. Nesse caminho, o cálculo diferencial e integral [8] D. Zhao e M. Luo, Calcolo 53, 903 (2017).
conformável foi apresentado com cuidado, e as principais [9] W.S. Chung, J. Comput. Appl. Math. 290, 150 (2015).

Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 44, e20220064, 2022 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0064
Amorim et al. e20220064-11

[10] M. Eslami e H. Rezazedeh, Calcolo 53, 475 (2016).


[11] A. Hammad e R. Khalil, Am. J. Comput. and Applied
Math. 4, 187 (2014).
[12] M.J. Lazo e D.F.M. Torres, IEEE/CAA J. Autom. Sin.
4, 340 (2007).
[13] W.S. Chung, S. Zare, H. Hassanabadi e E. Maghsoodi,
Math. Meth. Appl. Sci. 43, 6950 (2020).

DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0064 Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 44, e20220064, 2022

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