Você está na página 1de 15

Revista Física no Campus, vol. 3 N. 3, p.

19-33 (2023)
http://novo.revista.uepb.edu.br/fisicanocampus
Seção: Artigos Gerais
ISSN: 2764-5924
urlurlfromblack1

O Grupo de Lorentz na perspectiva da Álgebra


Abstrata
Sabrina Kato de Paiva1* e Prof. Me. João Raimundo Silva Ferreira2
1,2 Universidade Federal do Amazonas, Itacoatiara, AM, Brasil
1,2 Instituto
de Ciências Exatas e Tecnologia, Itacoatiara, AM, Brasil
1 Estudante do curso de Licenciatura em Ciências: Matemática e Fı́sica, ICET/UFAM, Itacoatiara, AM, Brasil

*E-mail do autor principal: sabrina.kato17@gmail.com

Resumo: Neste artigo, realizamos um estudo abrangente do Grupo de Lorentz, um


conceito essencial na Teoria da Relatividade Restrita (TRR), sob uma abordagem da
Álgebra Abstrata. Começamos por contextualizar os fundamentos históricos da ma-
temática e da fı́sica, seguidos pelos conceitos básicos da Teoria de Grupos, enfatizando
a sua relevância na descrição das simetrias na fı́sica. Em seguida, exploramos as
caracterı́sticas do Grupo de Lorentz, incluindo suas transformações e propriedades
algébricas, sob a perspectiva da Teoria de Grupos e da álgebra linear, a fim de derivar
as transformações de Lorentz. Além de fornecer um recurso valioso para estudantes
de graduação interessados em compreender o Grupo de Lorentz por meio da Álgebra
Abstrata, este artigo estabelece uma base sólida para a exploração dos princı́pios
fundamentais da Relatividade Restrita e da matemática subjacente que a sustenta.
Palavras-chave: Matemática; Fı́sica, Álgebra Abstrata

Abstract: In this article, we carry out a comprehensive study of the Lorentz Group, an
essential concept in the Special Theory of Relativity (RRT), under an Abstract Algebra
approach. We begin by contextualizing the historical foundations of mathematics and
physics, followed by the basic concepts of Group Theory, emphasizing its relevance
in the description of symmetries in physics. We then explore the characteristics
of the Lorentz Group, including its transformations and algebraic properties, from
the perspective of group theory and linear algebra, in order to derive the Lorentz
transformations. In addition to providing a valuable resource for undergraduate students
interested in understanding the Lorentz Group through Abstract Algebra, this article
lays a solid foundation for exploring the fundamental principles of Special Relativity
and the underlying mathematics that underpin it.
Keywords: Math, Physics, Abstract Algebra
1 Introdução Lie1 são notáveis, pois combinam uma estru-
tura de grupo com diferenciação suave. Eles
A Teoria dos Grupos na Matemática e na são essenciais na análise de variedades e su-
Álgebra Abstrata estuda estruturas chamadas perfı́cies diferenciáveis na topologia diferen-
grupos. Um grupo, formalmente denotado por cial. Em resumo, a Teoria dos Grupos tem uma
G, é um conjunto com uma operação binária influência ampla e profunda em diversas áreas
∗ : G × G → G definida. Essa operação da matemática.
associa a cada par de elementos x e y em G
A Teoria de Grupos, originária da ma-
um elemento em G, representado como x ∗ y
temática, desempenha um papel relevante na
que satisfaz os axiomas da associatividade, do
fı́sica, especificamente na Fı́sica de Partı́culas,
elemento neutro e do elemento inverso ou po-
onde é usada para modelar equações de ondas
demos definir forma mais poética[1] “Teoria
e resolver equações diferenciais. Os Grupos
dos Grupos é o ramo da matemática que res-
de Lie são particularmente importantes tanto
ponde à questão “O que é simetria?””.
na matemática quanto na Mecânica Quântica.
O conceito de grupo é fundamental na Eles auxiliam na compreensão do comporta-
matemática, incluindo a Álgebra Abstrata. mento das partı́culas e na associação de sime-
Muitas estruturas algébricas, como anéis, cor- trias aos objetos fı́sicos, um conceito forma-
pos e espaços vetoriais, podem ser represen- lizado por Emmy Noether, uma figura proe-
tadas como grupos com operações e axiomas minente na matemática e na álgebra comu-
extras. Isso revela que, no nı́vel fundamental, tativa. O Teorema de Noether estabelece
todas as estruturas algébricas têm um grupo que “Toda grandeza fı́sica conservativa cor-
subjacente. Além disso, a Teoria dos Gru- responde a um grupo contı́nuo de simetrias
pos influencia profundamente várias discipli- das equações”[2], associando a noção de
nas matemáticas. conservação a noção de simetria. O grupo
Os grupos são fundamentais na ma- de Lorentz2 que é o Grupo de todas as
temática, especialmente em áreas como a to- transformações de Lorentz3 , quando se de-
pologia algébrica e a topologia diferencial. seja determinar quais transformações preser-
Eles desempenham um papel crucial na to- vam a invariância de equações em fenômenos
pologia algébrica ao descrever invariantes fı́sicos não gravitacionais ao mudar de referen-
de espaços topológicos que não mudam sob cial, as transformações de Lorentz formam um
transformações. Em particular, os Grupos de grupo. Este grupo foi posteriormente generali-

1 Em homenagem a Sophus Lie.


2 O grupo Lorentz recebeu o nome do matemático e fı́sico holandês Hendrik Antoon Lorentz (1853 – 1928).
3 As transformações de Lorentz, em homenagem ao fı́sico neerlandês Hendrik Lorentz, descrevem como, de acordo com a TRR, as
medidas de espaço e tempo de dois observadores se alteram em cada sistema de referência. Elas refletem o fato de que observadores se
movendo com velocidades diferentes medem diferentes valores de distância, tempo e, em alguns casos, a ordenação de eventos.
4 O espaço de Minkowski, em homenagem ao matemático alemão Hermann Minkowski, também tratada de métrica de Minkowski, é
a configuração matemática na qual a TRR de Einstein é mais comumente formulada. Nessa configuração as três dimensões usuais
do espaço são combinadas com uma única dimensão do tempo para formar uma variedade quadrimensional para representar um
espaço-tempo.

2
zado para o Espaço-Tempo de Minkowski4 [3] • Execução de pesquisa bibliográfica, sele-
que define uma série de transformações que cionando as principais literaturas relativo
ditam os objetos que são invariantes por es- à problemática em questão, elegendo os
sas transformações. Matematicamente é um tópicos que foram estudados e explora-
subgrupo do grupo linear GL R4 [4] e pode

dos;
ser dotado da estrutura de grupo topológico.
O grupo de Lorentz expressa a simetria fun- • Estudo de tópicos de fı́sica básica;
damental de muitas leis naturais, mantendo
• Estudo da teoria dos principais resultados
invariantes equações essenciais, como as da
em Álgebra Abstrata, relacionados com a
Relatividade Especial, do eletromagnetismo e
pesquisa;
da teoria do elétron. Suas aplicações se esten-
dem por diversas áreas do conhecimento, indo • Estudo da teoria dos principais resultados
além do escopo deste artigo. em Fı́sica Teórica, relacionados com a
Este artigo visa mostrar os grupos de Lo- pesquisa.
rentz sob a perspectiva da Álgebra Abstrata,
investigando princı́pios fundamentais da teo-
Desenvolvimentos e Resultados
ria, e desenvolvendo um formalismo para sua
dedução e análise. Uma breve história da fı́sica
Desde Newton, sempre se buscou relacionar
como observadores em referenciais distintos des-
Metodologia ou Procedimento Expe- creveriam um mesmo fenômeno, o que era re-
lativo para cada referencial e o que permanecia
rimental/Prática o mesmo. Para Newton, tempo e espaço eram
independentes e as transformações usuais para re-
Para o desenvolvimento do artigo, foi re- lacionar dois referenciais, inerciais ou não, eram
alizada uma revisão bibliográfica de tópicos dadas pela Transformação de Galileu, na qual
o tempo era um observável que não se alterava
especı́ficos de fı́sica básica preenchendo para sistemas distintos.[5]
possı́veis lacunas de conhecimento, além de
estudos dirigidos em Álgebra Abstrata desde A transformação de Galileu é a
corpo, passando por grupos que deram bases transformação de coordenadas de posição e
matemáticas sólidas para o pleno desenvolvi- das componentes da velocidade do referencial
mento de todas as etapas e tiveram aprofunda- S o referencial S′ , e é expressa pelas equações:
mento de tópico selecionados de Fı́sica Teórica, 
que é o estado da arte do estudo em questão, 

x = (x′ + vt ′ ),

é o ambiente para onde convergiram todas as 
y = y′ ,

etapas anteriores, reforçando o rigor e a lingua- (1)

z = z′ ,
gem cientı́fica formal escrita e falada. 


t = t ′ .

Este artigo foi desenvolvido por meio
das seguintes diretrizes: E a inversa, as coordenadas vista do re-

3
ferencial S′ ondas eletromagnéticas levou a experimentos
 entre 1881 e 1887 por Michelson6 e Morley7 ,

x′ = (x − vt),


 que tentaram detectar variações na velocidade
y′ = y,

(2) da luz de acordo com o movimento da Terra.


z′ = z, No entanto, os resultados mostraram que a


t ′ = t.
 velocidade da luz permanecia constante, in-
dependente do movimento da fonte emissora.
Por volta de 1890, James Clerk Maxwell Isso validou as equações de Maxwell e levou
resumiu as leis do eletromagnetismo em um à reformulação do princı́pio da Relatividade
sistema de quatro equações, conhecidas como Newtoniana, uma vez que as Transformações
equações de Maxwell de Galileu não eram adequadas para explicar o
ρ eletromagnetismo de Maxwell.
⃗∇ · ⃗E = ,
ε0 Em 1905, Albert Einstein propôs o
⃗∇ · ⃗B = 0,
princı́pio da Relatividade Restrita, que se apli-
⃗ (3)
⃗∇ × ⃗E = − ∂ B , cava tanto às leis da mecânica quanto às leis
∂t
⃗ da eletrodinâmica. A TRR baseia-se em dois
⃗∇ × ⃗B = µ0 (J⃗ + ε0 ∂ E ).
∂t postulados:

A descoberta das equações de Maxwell • As leis da fı́sica são as mesmas em todos


teve implicações importantes, incluindo a pre- os referenciais inercias.
visão da existência de ondas eletromagnéticas
com uma velocidade especı́fica, c ≈ 3 × 108 • A velocidade da luz no vácuo tem o
m/s (a velocidade da luz). A concordância en- mesmo valor c ≈ 3 × 108 m/s, indepen-
tre esse valor e as observações experimentais dente do movimento da fonte.
da luz e as propriedades de polarização previs-
Os postulados da TRR, que incluem
tas fortaleceram a ideia de que a luz era, de fato,
a invariabilidade da velocidade da luz para
uma onda eletromagnética que se propagava à
observadores em diferentes estados de mo-
velocidade c.
vimento, resultaram em contradições com
Como as ondas necessitavam de um as transformações de Galileu. Essas
meio para se propagar, foi postulado então que transformações não eram compatı́veis com
as ondas eletromagnéticas também propaga- as equações de Maxwell. Portanto, era ne-
riam em algum meio chamado éter5 , onde este cessária uma nova transformação que aten-
meio estaria presente em todo o universo. A desse às exigências da teoria.
busca pelo éter como meio de propagação das
No ano de 1904, Hendrik Antoon Lo-
5 Na fı́sica, as teorias do éter propõem a existência de um meio, uma substância ou campo que preenche o espaço, considerado necessário
como meio de transmissão para a propagação de forças eletromagnéticas ou gravitacionais.
6 Albert Abraham Michelson (1852 —1931) foi um fı́sico norte-americano, mais conhecido por seus trabalhos com a medição da
velocidade da luz e pelo Experimento de Michelson-Morley.
7 Edward Williams Morley 1838 — 1923) foi um fı́sico estadunidense famoso pela experiência de Michelson-Morley.

4
rentz fez uma descoberta notável e surpreen- 
dente ao encontrar uma transformação que 

x = γ(x′ + vt),

y = y′ ,

mantém inalteradas as caracterı́sticas das 
equações de Maxwell, contanto que sejam efe- (5)


z = z′ ,
tuadas alterações nas propriedades dos campos. ′
t = γ(t ′ + vx ).



Lorentz não compreendeu completamente as c2
implicações significativas da TRR, uma vez
que ainda sustentava a convicção na existência
do éter e empreendia esforços consideráveis Uma breve história da Teoria de Grupos
O conceito de grupos é uma das ferramentas mais
para ajustar suas transformações de acordo utilizadas na Matemática Moderna. Dentre as di-
com essa perspectiva. Essa transformação foi versas áreas da Ciência nas quais este conceito
é fundamental estão incluı́das a teoria quântica
denominada Transformação de Lorentz, em de campos, as estruturas atômica e molecular, e a
honra ao cientista que a identificou. cristalografia, além do próprio estudo da Álgebra
Abstrata, onde tal conceito é utilizado para a
As equações corretas para um referen- construção de outras estruturas algébricas, como
cial inercial S′ (com linha) que se desloca com anéis, corpos, e espaços vetoriais, uma vez que
estes podem ser vistos como grupos dotados de
módulo da velocidade v no eixo x em relação a operações e axiomas adicionais.[6]
um outro referencial inercial S (sem linha) são
dadas por
 Durante os anos de 1500 e 1515, Scipi-


 x′ = γ(x − vt), one Del Ferro (1465 - 1526) foi um professor

y′ = y,

 matemático italiano que descobriu um método
(4) para resolver a equação cúbica reduzida. Tal


 z′ = z,
solução gerou a seguinte questão “será que
t ′ = γ(t − vx ),



c2 toda equação algébrica é resolúvel por radi-
onde γ é o fator de Lorentz cais?”.
Em meados de 1832, o matemático
1
γ=r . francês Évariste Galois começou a abordar a
v2
1− 2 questão da solubilidade de equações polinomi-
c
ais por meio de radicais, introduzindo o con-
A transformação inversa, a partir do re- ceito de grupo solúvel. Ele procurava respon-
ferencial S, pode ser encontrada quando troca- der a uma pergunta levantada por Del Ferro.
mos o sinal da velocidade, ficando da seguinte No entanto, seu trabalho não recebeu reconhe-
forma: cimento imediato, e suas descobertas foram
publicadas em vários periódicos e revistas pos-
teriormente. A Teoria de Galois desenvolveu
um domı́nio novo da Álgebra Abstrata, ele deu
origem à Teoria dos Grupos.

5
Grupos Teoria da Relatividade Restrita e a Métrica
Definição 1. Dado um sistema matemático de Minkowski
constituı́do de um conjunto não vazio G e mu- O grupo de Lorentz desempenha um pa-
nido de uma operação pel central na criação de equações de onda
relativı́sticas para descrever partı́culas em te-
∗ : G×G → G orias tanto clássicas quanto quânticas, garan-
tindo que essas equações sejam covariantes. A
(x, y) 7→ x ∗ y
TRR tem como objetivo explicar o comporta-
sobre G é chamado de grupo se essa operação mento de objetos de grande escala, excluindo
cumprir os seguintes axiomas: fenômenos quânticos, quando se aproximam
da velocidade da luz. Ela se torna necessária
• Associatividade: quando a Mecânica Clássica tradicional não
(x ∗ y) ∗ z = x ∗ (y ∗ z) quaisquer que sejam é mais eficaz e é aplicada em cenários sem
x, y, z ∈ G; influência significativa de campos gravitacio-
nais, dispensando a consideração dos efeitos
• Existência de um elemento neutro:
da Teoria da Relatividade Geral (TRG).
Existe um elemento e ∈ G tal que x ∗ e =
e ∗ x = x, qualquer que seja x ∈ G; Geralmente, a TRR é abordada em um
contexto tridimensional, representado como
• Existência de um elemento simétrico: 3 + 1 dimensões (sendo 3 dimensões espaciais
Para todo x ∈ G existe um elemento x′ ∈ e 1 dimensão temporal). Porém estudaremos
G tal que x ∗ x′ = x′ ∗ x = e. com algum detalhe em 1 + 1 dimensões, pois
leitura deste servirá para a compreensão do
Se além disso, ainda se cumprir o axioma Grupo de Lorentz em 3 + 1 dimensões.
da comutatividade
É essencial na natureza que eventos ins-
x∗y = y∗x, para quaisquer que sejam x, y ∈ G, tantâneos possam ser representados usando
quatro valores que definem sua localização es-
o grupo recebe o nome de Grupo Comutativo pacial e momento temporal em um sistema
ou Abeliano 8 . de referência. Esse conjunto de eventos ins-
tantâneos forma o espaço-tempo, um conceito
Proposição 1. Uma estrutura algébrica (G, ∗)
introduzido por Minkowski9 . Cada evento
tem no máximo um elemento neutro. Isto é, se
pode ser especificado por um sistema de re-
∗ tem elemento neutro, então ele é único.
ferência que adote coordenadas espaciais car-
Proposição 2. Seja ∗ uma operação sobre G tesianas no R4 , por uma quadrupla ordenada
que é associativa e com elemento neutro e. Se (x0 , x1 , x2 , x3 ).
x ∈ G é invertı́vel, então seu inverso é único.
8 Em homenagem ao jovem matemático norueguês N. H. Abel (1802 - 1829)
9 Hermann Minkowski (1864-1909). A expressão “espaço-tempo” provém do Alemão “Raumzeit”.

6
Que na forma matricial será eventos são separados por um intervalo
  do tipo espaço, não pode haver um sinal
x0
  fı́sico conectando ambos, já que o mesmo
x1 
x≡x  .
 se propagaria com velocidade maior que
 2 a da luz.
x3

Por simplicidade, vamos trabalhar no


R2 ,
definimos um evento no espaço-tempo na Na TRR, nenhum sinal pode se propagar
forma matricial como sendo um elemento a uma velocidade superior à velocidade da luz.
Portanto, quando se trata de eventos do tipo
!
x0 espaço, nenhum sinal emitido a partir de um
x= ∈ R2 . (6)
x1 evento x pode alcançar um evento y. Como
resultado, qualquer ocorrência em x não pode
aqui, x0 é dado por ct, com c representando a
exercer influência sobre os eventos em y, o que
velocidade da luz e t indicando o momento em
significa que x e y não possuem uma conexão
que o evento ocorreu, enquanto x1 corresponde
causal. No entanto, no caso de eventos do tipo
à posição espacial do evento.
tempo, uma conexão causal entre os dois even-
Agora tomaremos como pressuposto a
tos é possı́vel.
existência de intervalos do tipo luz, tempo e
Note que estas questões de causalidade
espaço por meio da busca por um conjunto
são traduzidas no estudo de sinal da quantidade
de transformações lineares que conservem a
causalidade no espaço de Minkowski.
∆s2 = ∆x2 − c2 ∆t 2 . (7)
Dado dois eventos x, y ∈ R2 e escrevendo
∆x = y1 − x1 , c∆t = y0 − x0 , há três possibili- Perceba que pode ser estudado através
dades: de função de intervalo entre sistemas de re-
ferências
• Tipo luz: ∆x2 − c2 ∆t 2 = 0. Se dois even-
tos sãos separados por um intervalo do s(x, y) := (x1 − y1 )2 − (x0 − y0 )2 , (8)
tipo luz, pode haver um sinal fı́sico co-
e que na forma matricial será
nectando ambos e que se propagaria com
a velocidade da luz.
! !
−1 0 x0 − y0
s(x, y) = (x0 − y0 x1 − y1 ) .
0 1 x1 − y1
• Tipo tempo: ∆x2 − c2 ∆t 2
< 0; Se dois (9)
eventos são separados por um intervalo
A matriz
do tipo tempo, pode haver sinal fı́sico co- !
nectando ambos e que se propagaria com −1 0
η := , (10)
velocidade menor que a da luz. 0 1

• Tipo espaço: ∆x2 − c2 ∆t 2 > 0; Se dois é conhecida como métrica de Minkowski.

7
!
Mudanças de referenciais inerciais x0
Demonstração. Dado x = ∈ R2 , defi-
Para obtermos as equações de x1
nimos
transformações entre referenciais inerciais,
empregaremos os postulados da TRR, aliados
I(x) := xT ηx,
à suposição de homogeneidade do espaço e do ! !
−1 0 x0
tempo. Essa premissa assegura a linearidade I(x) = (x0 x1 ) ,
0 1 x1
das referidas equações, ou seja,
I(x) = x12 − x02 . (15)

Qual o argumento? x′ = Λ x + Λ x
0 00 0 01 1
x′ = Λ x + Λ x . Assim, dispomos
1 10 0 11 1

J(x) := xT ΛT ηΛx,
Que na forma matricial, esse sistema de ! !
L00 L01 x0
equação poderá ser representado como J(x) = (x0 x1 ), ,
L10 L11 x1
! ! !
x0′ Λ00 Λ01 x0 J(x) = L00 x02 + 2L01 x0 x1 + L11 x12 , (16)
= . (11)
x1′ Λ10 Λ11 x1
| {z } onde L ≡ ΛT ηΛ. Note que LT = ΛT η T Λ = L.
Λ
Primeiramente consideramos o caso em
Para que a causalidade seja preservada que L00 = 0. Como Λ preserva os intervalos
por uma mudança de referencial Λ, basta que do tipo luz, teremos então que
os sinais de ∆s sejam mantidos inalterados, isto
é, s(x, y) = 0 ⇐⇒ s(Λx, Λy) = 0. (17)

sinal[s(Λx , Λy)] = sinal[s(x, y)]. (12) Perceba, no entanto, que I(x) =


s(x, 0), ∀x ∈ R2 . De maneira semelhante,
Para estudar as possı́veis mudanças de J(x) = s(Λx, 0), ∀x ∈ R2 . Assim, a eq.(17) im-
referencial, partiremos do seguinte teorema. plica que I(x) = 0 ⇐⇒ J(x) = 0.
Dado I(x) = x12 − x02 , concluı́mos que
Teorema 1. Seja Λ uma matriz inversı́vel 2 × 2
I(x) = 0 ⇐⇒ x1 = ±x0 . De maneira análoga,
com coeficientes reais. Se Λ representa uma
considerando que L00 = 0, podemos afirmar
transformação entre sistemas de referenciais
que J(x) = 0 se, e somente se,
inerciais que preserva a estrutura causal do
espaço-tempo e não envolve dilatações, então L00 x02 + 2L01 x0 x1 + L11 x12 = 0,
vale que ±2L01 x12 + L11 x12 = 0,
T
Λ ηΛ = η. (13)
±2L01 + L11 = 0. (18)
Por consequência, vale que
Somando as duas equações, podemos
s(Λx, Λy) = s(x, y), ∀x, y ∈ R2 . (14)

8
concluir que L01 = L11 = 0. Como LT = L,
isto implica que L10 = 0. Dado que L00 = 0,
concluı́mos que J(x) = L00 (x0 − x1 )(x0 + x1 ) = −L00 I(x).
! (21)
0 0 Segue então que, ∀x ∈ R2 ,
L= . (19)
0 0
xT ΛT ηΛx = −L00 xT ηx,
Por consequência, vemos que
xT (ΛT ηΛ + L00
T
η)x = 0,
det(ΛT ηΛ) = −1 det(Λ)2 = 0. Logo, det Λ =
ΛT ηΛ = −L00
T
η,
0 e descobrimos que Λ não é inversı́vel. Oras,
mas partimos do pressuposto que Λ era in- ηΛT ηΛ = −L00
T
1,
2
versı́vel! Já que chegamos no absurdo, pode- det(ηΛT ηΛ) = L00 ,
mos inferir que a hipótese tomada (L00 = 0) det(Λ)2 = L00
2
,
era absurda em primeiro lugar e podemos con- | det Λ| = ±L00 ,
cluir que ela é falsa, isto é, sempre vale que
xT ΛT ηΛx = ±| det Λ|xT ηx. (22)
L00 ̸= 0.
Suponha que L00 ̸= 0 (como sabemos se Note que, para que Λ preserve a estrutura
o caso). Temos que J é um polinômio de se- causal, é necessário que o sinal escolhido seja
gundo grau na variável x0 e podemos escrever positivo e que xT ΛT ηΛx = | det Λ|xT ηx, ∀x ∈
R2 .
J(x) = L00 (x0 − y1 )(x0 − y2 ), (20)
Seja L := {Λ0 é a matriz 2 × 2 com co- \Lambda_0
onde y1 e y2 satisfazem eficientes reais; ηΛT0 ηΛ = 1}. Se Λ satisfaz
 xT ΛT ηΛx = | det Λ|xT ηx, então Λ = λ Λ0 para
−L (y + y ) = 2L x ,
00 1 2 01 1 algum λ ∈ R∗+ e para algum Λ0 ∈ L . De fato,
L y y = L x2 . se Λ ̸= 0 satisfaz tal relação, então teremos
00 1 2 11 1
que, ∀λ > 0,
Contudo, não é preciso considerar tais
equações para obter y1 e y2 . Note que eq.(20) η(λ −1 Λ)T η(λ 1 Λ) = λ −1 | det Λ|1. (23)
garante que y1 e y2 são raı́zes de J enquanto p
polinômio em x0 . Tomando λ = | det Λ|, concluı́mos que
λ −1 Λ ∈ L .
Sabemos que, assumindo que Λ preserva
intervalos do tipo luz, J(x) = 0 ⇐⇒ I(x) = 0. Assim, Λ é o produto de um elemento
Portanto, como ambos I e J são polinômios de de L com uma dilatação λ 1. Se Λ não inclui
segundo grau em x0 que se anulam nos mes- dilatações, então Λ ∈ L e, consequentemente
mos pontos, vemos que y1 e y2 são raı́zes de
ηΛT ηΛ = 1 ⇒ ΛT ηΛ = η. (24)
I(x) = x12 − x02 . Logo, concluı́mos que y1 = x1
e y2 = −x1 . Sendo assim Em termos mais simples, essa relação está asso-

9
ciada à preservação do produto escalar (ou in-
tervalo espaço-temporal) entre eventos quando !
1 Λ11 −Λ01
se realiza uma transformação de Lorentz. Λ−1 = . (27)
det Λ −Λ10 Λ00
Por fim, pela eq. (24), temos que
Calculando o produto ηΛT η em termos
T T
s(Λx, Λy) = x Λ ηΛy,
das componentes de Λ, obtemos
T
s(Λx, Λy) = x ηy, !
Λ00 −Λ 10
s(Λx, Λy) = s(x, y). (25) ηΛT η = . (28)
−Λ01 Λ11
Isto conclui a demonstração.
Assim, a equação ηΛT η = Λ−1 se torna
(após impormos que det Λ = 1)

O conjunto L é comumente chamado


! !
Λ00 −Λ10 Λ11 −Λ01
= ,
de grupo de Lorentz em 1 + 1 dimensões. O −Λ01 Λ11 −Λ10 Λ00
termo grupo será explicado a seguir.
ou seja, Λ00 = Λ11 , Λ01 = Λ10 .
A condição det Λ = 1 ainda nos ensina
A álgebra por trás das Transformações de que
Lorentz
Agora que conhecemos o conjunto de to- Λ00 Λ11 − Λ01 Λ10 = 1,
das as transformações conhecidas, queremos Λ200 = 1 + Λ201 ,
q
obter sua forma explı́cita. Λ00 = ± 1 + Λ201 .
Comecemos notando que, como Λ ∈ L
sempre satisfaz ΛT ηΛ = η, vale que Logo Λ00 ̸= 0. Por ora, assumiremos que
Λ00 > 0.
det(ΛT ηΛ) = det η,
Concluı́mos então que Λ ∈ L , se vale-
−(det Λ)2 = −1, rem det Λ = +1 e Λ00 > 0, é da forma
det Λ = ±1. (26) q 
1 + Λ201 Λ01
Λ= q . (29)
Até o momento, assumiremos que Λ01 1 + Λ012

det Λ = +1. Tal condição será discutida mais


adiante. Agora vamos obter Λ01 . Suponha um
Como η −1 = η, ΛT ηΛ = η ⇒ ηΛT η = evento que ocorre no referencial S. Por exem-
Λ−1 . plo, um fóton no referencial S é emitido pela
partı́cula numa certa posição x e num certo
Dada uma matriz 2 × 2 qualquer, a sua
instante de tempo t. Queremos descobrir qual
inversa é dada em termos de suas componentes
a posição x′ e qual o instante do tempo t ′ em
por

10
que um observador no referencial S′ observa o sinal negativo
mesmo evento.
1
Λ01 = −β (v) p . (35)
Como a partı́cula está sempre na origem 1 − β (v)2
do seu sistema de coordenadas, a emissão de
q
fóton para o referencial S′ se dá em algum Como Λ00 = + 1 − Λ201 , obtemos
instante de tempo t ′ e posição x′ = 0. No re-
ferencial S, sabemos que a partı́cula se move Λ00 = γ(v). (36)
com velocidade v, então se o evento ocorreu
no instante t, ele se deu na posição x = vt. Logo, se Λ ∈ L , det Λ = +1, Λ00 > 0,
teremos
Dessa forma, apresentamos o seguinte !
sistema de equações γ(v) −β (v)γ(v)
Λ= . (37)
 q −β (v)γ(v) γ(v)
ct ′ = 1 + Λ2 ct + Λ01 vt
01
q (30)
0 = Λ ct + 1 + Λ2 vt, Substituindo o expressão (37) em (11), e
01 01
assumindo x0 = ct e x1 = x
que escrito na forma matricial ficará 
ct ′ = γ(v)(ct − β (v)x),
! q (38)
 !
′ 1 + 2 x′ = γ(v)(x − β (v)ct).
ct Λ01 Λ 01 ct
= q  .
0 Λ01 1 + Λ012 vt
(31) Estas são as chamadas Transformações
Desenvolvendo apenas a segunda linha de Lorentz. A simetria entre x e ct é a razão de
do sistema de equação(30) termos escolhido trabalhar com ct ao invés de
q simplesmente t.
0 = Λ01 ct + 1 + Λ201 vt, Observe que, ao assumirmos que v ≪ c,
v
v podemos inferir que ≪ 1 e, consequente-
q
Λ01 = − 1 + Λ201 , (32) c
c mente, γ(v) ≈ 1. Nesse contexto, alcançamos
de onde podemos concluir que o regime não-relativı́stico

1 ct ′ = ct,
Λ01 = ±β (v) p , (33)
1 − β (v)2 (39)
x′ = x − vt,
onde definimos
que são as transformações de Galileu da
v 1
β (v) := , γ(v) := p . (34) Mecânica Clássica.
c 1 − β (v)2
Para v = 0, obtemos
Devido ao fato de que a eq.(32) implica 
ct ′ = ct,
que Λ01 < 0, a eq.(33) ficará apenas com o (40)
x′ = x.

11
Os limites indicam que estamos no ca- Teremos que
minho certo, pois a TRR consegue reproduzir
com sucesso os resultados da Mecânica a bai- ΛT ηΛ = (PTA)T η(PTA),
xas velocidades, que são uma representação ⇒ ΛT ηΛ = AT TT PT ηPTA,
precisa do Universo. É fundamental que nossa ⇒ ΛT ηΛ = AT TT ηTA,
nova teoria também os reproduza para evitar ⇒ ΛT ηΛ = AT ηA,
uma explicação inadequada ao expandir nosso
⇒ ΛT ηΛ = η.
conhecimento. Por simplicidade introduzimos
a seguinte notações que são componentes co- Logo, Λ ∈ L . Vale que det Λ = +1, já
nexas do grupo de Lorentz: que

L+↑ = {Λ ∈ L ; det Λ = +1, Λ00 > 0}, det Λ = det(PTA),


L+↓ = {Λ ∈ L ; det Λ = +1, Λ00 < 0}, ⇒ det Λ = det P det T det A,
L−↑ = {Λ ∈ L ; det Λ = −1, Λ00 > 0}, ⇒ det Λ = +1.
L−↓ = {Λ ∈ L ; det Λ = −1, Λ00 < 0}.
Além do mais Λ00 > 0, pois
Teorema 2. Sejam as matrizes P e T dadas por ! ! !
1 0 −1 0 A00 A01
Λ = ,
! !
+1 0 −1 0 0 −1 0 1 A10 A11
P= ,T = . (41)
0 −1 0 +1 !
−A00 −A01
Λ = (42)
Então vale que −A10 −A11

e A00 < 0. Isto garante o teorema para todos


L+↓ = {TPΛ; L+↑ },
elementos de L+↓ .
L−↑ = {PΛ; L+↑ },
L−↓ = {TΛ; L+↑ }.
Grupo de Lorentz
Uma das propriedades interessantes de
Demonstração. Note que P2 = T2 = 1, PT = L é sua estrutura de grupo. Como L é um
P e TT = T . conjunto de matrizes e nós sabemos como cal-
Temos também que PT = TP, Pη = cular o produto de duas matrizes, podemos
ηP e ηT = Tη. estudar como L se comporta em relação ao
produto usual de matrizes.
Seja A ∈ L+↓ . Tomando Λ = PTA.
Teorema 3. O conjunto L munido do produto
usual de matrizes é um grupo.

Demonstração. Sejam Λ, M ∈ L . Então sabe-

12
mos que  Teorema 4. O conjunto L+↑ munido do pro-
ΛT ηΛ = η, duto usual de matrizes é um grupo, que
MT ηM = η. denominamos de grupo de Lorentz próprio
ortócrono em 1 + 1 dimensões.
Dessa forma, teremos

(ΛM)T η(ΛM) = MT ΛT ηΛM, Os demais componentes de L −


= MT ηM, L+↓ , L−↑e L−↓ não são grupos, o que pode ser
visto imediatamente pelo fato de não conterem
= η,
a identidade.
e portanto ΛM ∈ L . A primeira implicação que o teorema nos
Como o produto de matrizes é associa- fornece é que a composição de boosts10 de Lo-
tivo para quaisquer três matrizes com coefici- rentz é também um boost de Lorentz. Com um
entes complexos, ele é associativo para matriz pouco de álgebra, pode-se mostrar que
de L .   
γ(v) −β (v)γ(v) γ(u) −β (u)γ(u)
Note que 1 ∈ L . De fato, −β (v)γ(v) γ(v) −β (u)γ(u) γ(u)
 
1T η1 = 1η1 = η. =
γ(α) −β (α)γ(α)
,
β (α)γ(α) γ(α)
Como Λ1 = 1Λ = Λ, vemos que L admite ⇒ Λ(v)Λ(u) = Λ(α) (44)
uma identidade. !
u+v
Por fim, dado Λ ∈ L , queremos mostrar considerando α = .
1 + uv
c2
que Λ−1 ∈ L . Veja que
Quando examinamos os boosts de Lo-
ΛT ηΛ = η, rentz em quatro dimensões (ou seja, 3 + 1 di-
mensões), esse resultado deixa de ser válido,
(Λ−1 )T ΛT ηΛΛ−1 = (Λ−1 )T ηΛ−1 ,
e a combinação de boosts de Lorentz não é
(ΛΛ−1 )T η(ΛΛ−1 ) = (Λ−1 )T ηΛ−1 ,
mais necessariamente um boost. A forma mais
η = (Λ−1 )T ηΛ−1 ,(43) geral de um elemento pertencente ao grupo
de Lorentz em 3 + 1 dimensões consiste em
e portanto Λ−1 ∈ L .
uma sequência de uma rotação, seguida por
Assim, concluı́mos que L munido com
um boost, e em seguida, outra rotação. A abor-
o produto usual de matrizes é, de fato, um
dagem da Álgebra Abstrata nos proporcionou
grupo.
a confiança de que poderı́amos derivar a lei de
composição de velocidade na TRR, conforme a
O seguinte teorema será enunciado sem eq.(44), antes de precisarmos realizar cálculos
prova. complexos sem uma direção clara.
10 Do inglês to boost: impulsionar, propelir, impelir, empurrar. Esse vocábulo é geralmente usado em Fı́sica para denominar transformações
entre sistemas de coordenadas inerciais que envolvam apenas mudanças de velocidades.

13
A seguir, veremos que a Teoria de Gru- nossa adesão ao princı́pio da Relatividade, uma
pos também nos garante a unicidade boost vez que as leis de transformação de S para S′
igual à identidade. O Teorema 3 garante de são idênticas às de S′ para S (se S′ se move a
1 ∈ L , e a proposição (1) garantem a unici- uma velocidade v em relação a S, então S se
dade desta identidade. move a uma velocidade −v em relação a S′ ).
Observe que a identidade é representada
por Λ(0), que é a transformação de Lorentz Considerações Finais
com velocidade v = 0, sem inversões de pa-
Neste artigo enfatizamos a relevância da
ridade ou inversões temporais. A veracidade
Teoria de Grupos para a fı́sica, destacando
de que esse elemento é, de fato, a identidade
como essa abordagem é essencial para assegu-
pode ser confirmada por meio da aplicação da
rar a validade do princı́pio da Relatividade em
regra de composição de velocidade, conforme
diferentes referenciais, tanto clássicos quanto
a eq.(44), juntamente com o Teorema 2.
relativı́sticos.
De modo análogo, também podemos as-
A análise das transformações de Lorentz
segurar que cada boost possui um boost in-
usando a Álgebra Abstrata revela a elegância e
verso. Além disso, podemos ter confiança de
profundidade na descrição da TRR. Ela nos
que esse boost inverso é único, pela proposição
permite compreender as interações, propri-
2 demonstrada.
edades e grupos matemáticos subjacentes a
De acordo com a regra de composição de essas transformações. A Teoria de Grupos
velocidade, é evidente que o inverso de qual- é essencial para caracterizar e classificar as
quer elemento pertencente ao grupo de Lorentz transformações de Lorentz, garantindo a in-
próprio e ortócrono, representado como Λ(v), variância da velocidade da luz e a coerência das
é representado por Λ(−v). A validade deste re- leis da fı́sica em diferentes referenciais inerci-
sultado assegura-nos que este inverso é único. ais. Isso fortalece a confiança na TRR como
Para obter os inversos dos outros elementos do um arcabouço sólido na fı́sica moderna. Além
grupo de Lorentz, podemos aplicar a regra de disso, essa abordagem enriquece nossa com-
composição de velocidade em conjunto com o preensão das implicações e da estrutura ma-
Teorema 2. temática da Relatividade Restrita, destacando
A relevância fı́sica desse resultado reside a importância da matemática abstrata na Fı́sica
na ideia de que toda transformação de referen- Teórica.
cial é passı́vel de reversão. Se conseguimos
compreender como realizar a transição do re- Agradecimentos
ferencial S para S′ ,
isso automaticamente nos
Agradecemos a Fundação de Amparo à
confere a habilidade de efetuar a transição de
Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM)
S′ para S, e essa inversão acontece de forma sin-
pelo apoio financeiro.
gular. Além disso, essa observação confirma

14
Referências sileira de História da Matemática 12.24
(2012), pp. 71–81.
[1] Nathan Carter. Visual group theory.
Vol. 32. American Mathematical Soc., [7] Herch Moysés Nussenzveig. Curso de
2021. fı́sica básica: Ótica, relatividade, fı́sica
quântica (vol. 4). Editora Blucher, 2014.
[2] Emmy Noether. “Invariante variations
[8] Paul Allen Tipler e Ralph A Llewellyn.
probleme”. Em: Transport Theory and
Fı́sica Moderna. 6ª ed. LTC, 2017.
Statistical Physics 2 (1918), pp. 235–
257. [9] Vandenberg Lopes Vieira. Álgebra abs-
trata básica: Textuniversitários 8. 1ª ed.
[3] Jesrrael Fonseca Santos et al. “Grupos Vol. 1. Editora Livraria da Fı́sica, 2021.
de Lie, simetrias e suas aplicações em
[10] Gelson Iezzi e Hygino Domingues.
Fı́sica”. Em: (2020).
Álgebra moderna. 5ª ed. Saraiva Uni,
[4] João Carlos Alves Barata. Notas para 2018.
um Curso de Fı́sica-Matemática. Ed. por [11] Arthur Beiser. Conceito de Fı́sica Mo-
João Carlos Alves Barata. Departamento derna. Polı́gono, 1969.
de Fı́sica Matemática - USP, 2022.
[12] Nı́ckolas Alves. “O Grupo de Lorentz:
[5] Pedro Contino da Silva Costa. Relatividade Restrita aos olhos de um
“Transformações de Lorentz e seus inva- matemático”. Em: (2020).
riantes”. Em: (2011).
[13] Gabriel de Azevedo Miranda Alboccino
[6] Josiney Alves de Souza. “Uma nota so- Fernandes. “Representações Spinorais
bre a teoria dos grupos: da teoria de ga- do Grupo de Lorentz e Equações de
lois à teoria de gauge”. Em: Revista Bra- Onda Relativı́siticas”. Em: (2012).

15

Você também pode gostar