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Relatório 2 - PICME

Projeto: Álgebra

Autor: André Boscariol Rasera


Orientador: Profº Plamen Koshlukov

Piracicaba, SP
23/07/2021
Conteúdo
1 Introdução 1

2 Terceira Seção 1

3 Quarta Seção 3

4 Quinta Seção 6

5 Sexta Seção 9

6 Sétima Seção 11

7 Conclusão 13

8 Bibliografia 13

1 Introdução
O relatório aqui apresentado se refere às atividades do programa PICME, desenvolvi-
das por André Boscariol Rasera, estudante de gradução na Unicamp, orientado pelo
professor Plamen Koshlukov, a partir de março de 2021 até a metade de julho de 2021.
As seções do texto estão de acordo com a divisão de conteúdos da literatura empregada,
assim como a numeração dos exercı́cios [?]. O estudo e o aprendizado de novos tópicos
foram acompanhados e complementados pelo orientador, ora corrigindo e sugerindo
melhores soluções para os problemas do livro, ora propondo e desenvolvendo exercı́cios
diferentes.

2 Terceira Seção
Na continuidade do estudo de homomorfismos, foram introduzidos os homomorfismos
propriamente ditos de grupos, espaços vetoriais (transformações lineares) e álgebras.
Propriedades essenciais foram observadas e demonstradas: foram definidos o kernel e a
imagem, foi apresentado o grupo de automorfismos e provadas certas identidades úteis
que envolvem tais funções. A injetividade e sobrejetividade dos homomorfismos foi ra-
pidamente comentada. Suas consequências foram exploradas em capı́tulos posteriores.
Logo em seguida, foram introduzidos variados exemplos de homomorfismos, inici-
almente de grupos, como por exemplo σ 7→ sgn (σ), um homomorfismo sobrejetor
(epimorfismo) de grupos, de Sn para ({1, −1}, · ), cujo kernel é o grupo alternante
An , e os automorfismos internos, da forma ϕ : G → G, ϕ(x) = axa−1 , em que
a ∈ G. Homomorfismos de anéis também foram considerados, como o epimorfismo
f (X) 7→ f (x), de R[X] em R, o “homomorfismo de avaliação” no elemento x, cujo

1
kernel são os polinômios em que x é raiz. Foi discutida a álgebra de endomorfismos de
um espaço vetorial V sobre um corpo F , de dimensão finita n, EndF (V ), e provado
que EndF (V ) ∼ = Mn (F ), a álgebra de matrizes n × n sobre F .
No próximo capı́tulo, foi provado o Teorema de Cayley e resultados semelhantes para
outras estruturas: “Todo grupo G pode ser imerso (existe um homomorfismo injetor, ou
um monomorfismo, partindo de G) em um grupo simétrico”. Foi brevemente explorada
a relação entre o teorema e ações de grupos. Resultado análogo é verdadeiro para
anéis: “Todo anel R pode ser imerso no anel de endomorfismos de um grupo aditivo”.
Também foi explorada de forma introdutória a relação entre módulos sobre anéis e a
imersão descrita no teorema acima. O mesmo procedimento foi repetido para álgebras.
No final da seção, foi estudada a construção do corpo de frações de um domı́nio integral,
explorando as classes de equivalência e generalizando o conceito de fração. Após esse
simples, porém importante desenvolvimento, os corpos foram explorados com um pouco
mais de profundidade: foram introduzidos os conceitos de caracterı́stica de um corpo
e subcorpo primo. Um teorema relevante foi demonstrado: “Se a caracterı́stica de um
corpo F é 0, então seu subcorpo primo F0 é isomórfico a Q. Se a caracterı́stica de um
corpo F é um primo p, então seu subcorpo primo F0 é isomórfico a Zp ”.
Segue abaixo um dos exercı́cios realizados.

Resultado mencionado:

Corolário 3.109. Toda álgebra A de dimensão finita sobre um corpo F pode ser
imersa na álgebra de matrizes Mn (F ) para algum n ∈ N.

Exercı́cio 3.117. Seja s um elemento invertı́vel de uma álgebra real A de dimensão


finita. Prove que sts−1 6= t + 1 para todo t ∈ A.

Demonstração. Seja n ∈ N a dimensão da álgebra A sobre R. Observe o lema seguinte.

Lema. Se existem s, t ∈ A, s invertı́vel, tais que sts−1 = t + 1, então existem matrizes


S, T ∈ Mn (R), S invertı́vel, de forma que ST S −1 = T + In . (O que interessa é
precisamente a contrapositiva dessa proposição, no entanto, é mais direto prová-la no
formato em que está aqui).
Prova. Suponha a hipótese verdadeira. De acordo com o Corolário 3.109, existe um
monomorfismo de álgebras ϕ : A → Mn (R).
Naturalmente, ϕ(s) é invertı́vel, pois In = ϕ(1) = ϕ(ss−1 ) = ϕ(s−1 s). Como ϕ é um
homomorfismo, ϕ(ss−1 ) = ϕ(s) ϕ(s−1 ) e ϕ(s−1 s) = ϕ(s−1 ) ϕ(s). Portanto,

In = ϕ(s) ϕ(s−1 ) = ϕ(s−1 ) ϕ(s),

2
de forma que ϕ(s) é uma matriz invertı́vel e [ϕ(s)]−1 = ϕ(s−1 ). Portanto, faça S = ϕ(s)
e T = ϕ(t). Daı́,

ST S −1 = ϕ(s) ϕ(t) ϕ(s−1 ) = ϕ(sts−1 ) = ϕ(t + 1) = ϕ(t) + ϕ(1) = T + In ,

como desejado.

Agora basta mostrar que não existem matrizes S, T ∈ Mn (R) que satisfazem ST S −1 =
T + In e usar a contrapositiva do lema acima.
Usando a função traço, obtém-se

tr(ST S −1 ) = tr(S −1 ST ) = tr(T ), tr(ST S −1 ) = tr(T + I) = tr(T ) + tr(I).

Portanto, tr(T ) = tr(T ) + tr(I) ⇔ tr(I) = 0. No entanto, tr(I) 6= 0 quando a matriz


possui entradas reais. Portanto, S e T não existem e, de acordo com o argumento
anterior, a demonstração está concluı́da.

3 Quarta Seção
Mergulhando em conceitos mais abstratos, o tema central da quarta seção foram as es-
truturas quociente. A princı́pio, foram apresentadas as classes laterais de um subgrupo
H de um grupo G e assim construı́do o ı́ndice de um subgrupo [G : H]. O Teorema de
Lagrange, a pedra angular da teoria de grupos finitos, foi então derivado: “Se H é um
subgrupo de um grupo finito G, então |G| = [G : H] · |H|”.
No próximo capı́tulo, foi elaborado o grupo quociente G/N = {aN | a ∈ G} de
forma bastante intuitiva, demostrando inicialmente qual propriedade deve o subgrupo
N satisfazer para que G/N seja, de fato, um grupo. O resultado obtido, é claro, foi
que N deve ser um subgrupo normal de G. Foi mencionado o conceito de grupos
simples. As equivalências entre condições para a normalidade de um subgrupo foram
exploradas, assim como a intersecção e o produto de subgrupos e subgrupos normais.
Foi introduzido o epimorfismo canônico e a relação entre subgrupos normais e o kernel
de homomorfismos foi provada. Tais desenvolvimentos foram rapidamente estendidos
para espaços vetoriais. Por fim, foi demonstrado o Teorema da Correspondência: “Todo
subgrupo (subgrupo normal) de G/N é da forma H/N , em que H é um subgrupo
(subgrupo normal) de G que contém N ”.
Em seguida, a construção intuitiva foi repetida para anéis, com o objetivo de que
R/I = {a + I | a ∈ R}, em que I é agora um subgrupo aditivo de R (e a + I representa
uma classe lateral de I mediante a operação aditiva), seja um anel. O conceito de ideal
foi abordado, com enfoque à noção de ideal principal. Foram discutidos o produto e a
soma de ideais, assim como os ideais laterais. A noção de anel simples foi mencionada
e um teorema interessante demonstrado: “Um anel não nulo R é um anel de divisão

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se, e somente se, {0} e R são seus únicos ideais pela esquerda”. De forma análoga,
foi definido o epimorfismo canônico para anéis quociente. Rapidamente foi tratada
a extensão desse desenvolvimento para álgebras. O Teorema da Correspondência foi
demonstrado para ideais e foram discutidos os ideais maximais. Importante resultado
(cuja versão análoga para grupos foi elaborada nos exercı́cios do capı́tulo anterior) foi
demonstrado: “Um ideal I de um anel R é maximal se, e somente se, o anel quociente
R/I é simples”.
Adiante, o fundamental Primeiro Teorema do Isomorfismo foi demonstrado (inicial-
mente para grupos e, logo em seguida, para as outras estruturas): “Dado um homo-
morfismo ϕ : A → A0 , segue que A/ ker ϕ ∼= Im ϕ”. Os outros dois teoremas do isomor-
fismo foram separadamente mencionados. Com essa poderosa ferramenta, exemplos de
subgrupos normais e grupos quociente foram estudados, tais como o subgrupo normal
An de Sn e o isomorfismo Sn /An ∼
= Z2 , e o subgrupo normal Z(G) (centro) de um grupo
G arbitrário e o isomorfismo G/Z(G) ∼
= Inn (G), sendo este o grupo dos automorfismos
internos de G. O mesmo foi feito para ideais e anéis quociente. Estruturas livres foram
brevemente comentadas.
Para finalizar a seção, os produtos diretos foram novamente estudados com o amparo da
teoria desenvolvida. O conceito de produto direto interno foi introduzido, empregando
os subgrupos normais, em contraposição ao conceito de produto direto externo exposto
na primeira seção, e foi demonstrado o seguinte resultado: “Se um grupo G é o produto
direto interno de subgrupos normais N1 , . . . , Ns , então G é isomórfico a N1 × · · · × Ns ,
o produto direto externo de N1 , . . . , Ns ”. Este teorema sela a equivalência entre os
produtos diretos com relação a grupos. A discussão foi ampliada para espaços vetoriais
e em seguida para ideais de anéis, elaborando teorema análogo após introduzir as noções
de ortogonalidade em anéis (elementos e, f tais que ef = f e = 0) e de idempotentes
centrais (um elemento idempotente no centro de um anel). Segue abaixo um dos
exercı́cios realizados.

Resultado mencionado:

Corolário 4.82. Um ideal I de um anel R é maximal se, e somente se, o anel


quociente R/I é simples.

Exercı́cio 4.139. Seja c o anel de todas as sequências reais convergentes e seja c0 o


conjunto de todas as sequências cujo limite é 0. Mostre que c0 é um ideal maximal de
c e que c/c0 ∼
= R.

Demonstração. Tome (an )n≥0 , (bn )n≥0 ∈ c0 . Logo,

(an )n≥0 − (bn )n≥0 = (an − bn )n≥0 ∈ c0 ,

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pois lim an − bn = lim an − lim bn = 0 − 0 = 0. Agora tome (dn )n≥0 ∈ c, sequência
n→∞ n→∞ n→∞
que converge para d, e então,

(dn )n≥0 · (an )n≥0 = (dn an )n≥0 ∈ c0 ,

pois lim dn an = lim dn · lim an = d · 0 = 0. Como c é um anel comutativo, conclui-se


n→∞ n→∞ n→∞
que c0 é um ideal.
Agora construa ϕ : c → R,

ϕ ((an )n≥0 ) = lim an .


n→∞

ϕ é um epimorfismo. Dados (an )n≥0 , (bn )n≥0 ∈ c, observe que

ϕ ((an )n≥0 + (bn )n≥0 ) = ϕ ((an + bn )n≥0 ) = lim an + bn = lim an + lim bn


n→∞ n→∞ n→∞

= ϕ ((an )n≥0 ) + ϕ ((bn )n≥0 ) .

ϕ ((an )n≥0 · (bn )n≥0 ) = ϕ ((an bn )n≥0 ) = lim an bn = lim an · lim bn


n→∞ n→∞ n→∞

= ϕ ((an )n≥0 ) · ϕ ((bn )n≥0 ) .

Dado x ∈ R, tome (xn )n≥0 = (x, x, . . . ) ∈ c e faça

ϕ ((xn )n≥0 ) = lim xn = x.


n→∞

Isso demonstra que ϕ é, de fato, um epimorfismo. Observe, também, que o kernel de
ϕ é o conjunto das sequências que convergem para 0, isto é, ker ϕ = c0 .
Segue do Primeiro Teorema do Isomorfismo que c/ ker ϕ ∼
= Im ϕ ⇒ c/c0 ∼
= R.
Para mostrar que c0 é um ideal maximal, considere o seguinte resultado preliminar:

Lema. Se I é um ideal de um anel R e f : R → R0 é um isomorfismo de anéis, então


f (I) = {f (x) ∈ R0 | x ∈ I} é um ideal de R0 .

Prova. Escolha f (y), f (z) ∈ f (I). Aı́,

f (y) − f (z) = f (y − z).

Como I é um ideal e y, z ∈ I, y − z ∈ I, de forma que f (y) − f (z) = f (y − z) ∈ f (I).


Dado f (x) ∈ R0 , note que
f (x) · f (y) = f (xy);
f (y) · f (x) = f (yx).

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Novamente, sendo I um ideal, x ∈ R e y ∈ I implica que xy, yx ∈ R, e, por conseguinte,
f (x) · f (y), f (y) · f (x) ∈ f (I), donde se conclui que f (I) é um ideal de R0 .

O desenvolvimento agora é imediato. Se existe um ideal I de c/c0 tal que I 6= c0 ,


então ψ(I) é um ideal de R, sendo ψ o isomorfismo correspondente. Naturalmente,
ψ(I) 6= {0}, pois existe (an )n≥0 + c0 ∈ I tal que (an )n≥0 + c0 6= c0 , visto que I 6= c0 , e
aı́ ψ ((an )n≥0 + c0 ) 6= ψ(c0 ) = 0, pois ψ é injetora.
Como R é simples, resta que ψ(I) = R e I = ψ −1 (R) = c/c0 . Portanto, c/c0 também é
simples e, segundo o Corolário 4.82, c0 é maximal, como se queria demonstrar.

4 Quinta Seção
Esta seção trata de anéis comutativos, fazendo uso das poderosas ferramentas desen-
volvidas nas seções anteriores. No primeiro capı́tulo, é comentada a divisibilidade de
polinômios, considerando o algoritmo de divisão e a irredutibilidade de um polinômio
em F [X] sobre F , um corpo dado. É demonstrado que os únicos polinômios irre-
dutı́veis em C[X] são de primeiro grau e os únicos polinômios irredutı́veis em R[X] são
de primeiro grau ou de segundo grau sem raı́zes reais (equivalentemente, com discrimi-
nante negativo). Foi apresentada a irredutibilidade em Q, introduzindo o conceito de
polinômio primitivo e o Lema de Gauss: “O produto de dois polinômios primitivos é
primitivo”. Por fim, foi discutido o Critério de Eisenstein para irredutibilidade em Q
e brevemente mencionados os polinômios ciclotômicos.
No capı́tulo seguinte, a ideia de divisibilidade foi estendida para anéis comutativos
em geral, apresentando os elementos associados (elementos p, q tais que p = aq, em
que a é invertı́vel), generalizando as noções de máximo divisor comum e distinguindo
elementos primos de elementos irredutı́veis. Os ideais principais foram retomados como
peça chave nesse estudo, intimamente relacionados com os elementos irredutı́veis: “Seja
p um elemento não nulo de um domı́nio integral R. p é irredutı́vel se, e somente se,
o ideal principal (p) é maximal entre ideais principais ((p) 6= R e para todo a ∈ R,
(p) ⊆ (a) ( R implica que (a) = (p))”. Os ideais finitamente gerados foram abordados
assim como a existência do máximo divisor comum.
Após essa contextualização e extensão do conceito de divisibilidade, foram introduzi-
dos os PIDs, ou domı́nios principais. Como exemplo, foram estudados os domı́nios
euclidianos, estruturas nas quais é possı́vel desenvolver um procedimento análogo ao
algoritmo de Euclides para encontrar o máximo divisor comum (sempre existente em
PIDs). Logo então, foi provado que em domı́nios integrais, todo elemento primo é
irredutı́vel e, em domı́nios principais, os conceitos são equivalentes. Brevemente foram
mencionados os anéis noetherianos e sua importância para a teoria de anéis comutati-
vos. Foi provado que todo PID é um anel noetheriano. Por fim, foram apresentados

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os domı́nios de fatoração única (UFDs) e esclarecida a relação: conjunto dos domı́nios
euclidianos ⊆ conjunto dos PIDs ⊆ conjunto dos UFDs.
Em seguida, os módulos sobre anéis foram retomados. Foram colocados os conceitos de
homomorfismo de módulos e módulos quociente, generalizando as discussões anteriores.
A soma direta de módulos também foi introduzida e os módulos finitamente gerados
foram abordados, em especial os cı́clicos. Foi mencionado o relevante ideal annR (u) =
{a ∈ R | au = 0}, o aniquilador de u, em que u é um elemento do módulo M sobre
R. Os módulos com base (módulos livres) e módulos de torsão foram apresentados ao
final.
O próximo assunto trata do teorema da estrutura de módulos sobre domı́nios principais.
É inicialmente descrito o conceito de ordem de elementos num módulo e em seguida
desenvolvido o excepcional Teorema Fundamental dos Módulos de Torsão Finitamente
Gerados sobre PIDs, cuja demonstração envolve várias etapas: “Seja M um módulo
de torsão não nulo finitamente gerado sobre um domı́nio principal R. Então, M é uma
soma direta dos submódulos cı́clicos: M = Rw1 ⊕ · · · ⊕ Rwt para certos wi ∈ M . Além
disso, os elementos wi podem ser escolhidos de forma que suas ordens sejam potências de
elementos primos”. Deste teorema, seguiu a classificação dos grupos finitos abelianos:
“Um grupo abeliano finito não trivial é a soma direta de subgrupos cı́clicos cuja ordem
é uma potência de um primo”.
O teorema sobre os módulos permite, na finalização dessa seção, elaborar de maneira
imediata o Teorema da Forma Normal de Jordan para operadores lineares, como é feito
no último capı́tulo. Segue abaixo um dos exercı́cios realizados.

Exercı́cio 5.163. Seja R um anel. Prove:

(a) Se |R| = p para algum primo p, então R é isomórfico ao anel Zp .

(b) Se o grupo aditivo (R, +) é cı́clico, então R é comutativo.

(c) Se |R| = p2 para algum primo p, então R é comutativo.

Conclua dessas afirmações que todos os anéis que possuem menos que 8 elementos são
comutativos. Encontre um anel não comutativo com 8 elementos.

Demonstração. (a) R é isomórfico a Zp enquanto grupo aditivo, segundo a classificação


dos grupos abelianos, de forma que R é gerado por 1R .
Considere a função ϕ : Z → R, ϕ(a) = a · 1R . Como R é cı́clico enquanto grupo aditivo
e gerado por 1R , é fácil ver que ϕ é sobrejetora. Além disso, dados a, b ∈ Z,
ϕ(a + b) = (a + b) · 1R = a · 1R + b · 1R = ϕ(a) + ϕ(b),

ϕ(ab) = (ab) · 1R = (a · 1R )(b · 1R ) = ϕ(a) ϕ(b).

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Obviamente, ϕ(1) = 1R . Dessa forma, ϕ é um epimorfismo cujo kernel é pZ. Segundo
o Primeiro Teorema do Isomorfismo para anéis,

Zp = Z/pZ ∼
= R.

(b) Se o grupo aditivo (R, +) é cı́clico, então cada elemento de R é da forma n · r, em


que n ∈ Z e hri = R. Portanto, dados r1 , r2 ∈ R,

r1 r2 = (n1 · r)(n2 · r) = n1 n2 · r2 = n2 n1 · r2 = (n2 · r)(n1 · r) = r2 r1 .

Assim, se conclui que R é comutativo.

(c) Seja CR (a) o centralizador do elemento a, dado a ∈ R. Supondo a 6= 0R , é certo


que 0R ∈ CR (a) e a ∈ CR (a), de forma que |CR (a)| > 1.
Como CR (a) é um subgrupo aditivo de R, segue do Teorema de Lagrange que
|CR (a)| divide |R| = p2 . Logo, |CR (a)| = p ou |CR (a)| = p2 . Se vale a segunda, não há
nada mais a fazer. Dessa forma, suponha que vale a primeira.
Segundo a letra (a), CR (a) ∼= Zp e então CR (a) é cı́clico. Logo, a = b · 1R , com b ∈ Z.
Isso implica que todos os elementos de R comutam com a, uma contradição, pois aı́
|CR (a)| = p2 6= p. Por conseguinte, R deve ser comutativo.

Segundo a letra (a), anéis com 2, 3, 5 ou 7 elementos são todos comutativos. Um grupo
aditivo com 6 elementos é cı́clico, segundo a classificação dos grupos abelianos, visto
que todo grupo abeliano é isomórfico a Z2 ⊕ Z3 ∼ = Z6 . Segundo a letra (b), anéis com
6 elementos são também comutativos, como desejado. Segundo a letra (c), por fim,
anéis com 4 elementos são comutativos. Considere o anel das matrizes triangulares
superiores de M2 (Z2 ) a seguir, com 8 elementos:
(               )
0 0 1 0 1 0 0 1 0 0 0 1 1 1 1 1
, , , , , , , .
0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1

Observe que
         
1 0 0 1 0 1 0 1 1 0 0 0
= e = ,
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

de forma que tal subanel é um exemplo de anel não comutativo com 8 elementos.

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5 Sexta Seção
A sexta parte trata de grupos finitos. Inicialmente, o Teorema de Lagrange é explorado
de maneira mais profunda, estudando vários de seus corolários, como por exemplo, o
Pequeno Teorema de Fermat, e o fato de que um grupo abeliano é simples se, e somente
se, é um grupo cı́clico de ordem prima.
São discutidas as classes de conjugação no próximo capı́tulo, resultando na fórmula de
classes para grupos finitos: “Se G é um grupo finito
Pm com centro Z(G), então existem
x1 , . . . , xm ∈ G \ Z(G) tais que |G| = |Z(G)| + j=1 [G : CG (xj )], em que CG (xj ) é o
centralizador do elemento xj ”. Da fórmula de classes e do Teorema de Lagrange, foi
derivado o importante Teorema de Cauchy: “Seja G um grupo finito. Se um primo p
divide |G|, então G contém um elemento de ordem p”.
Em seguida, foi retomada e aprofundada a ideia de ação de grupo. A órbita e o estabi-
lizador foram introduzidos e o Teorema da Órbita e do Estabilizador foi demonstrado.
Com esses resultado, foi também generalizada a fórmula de classe para ações de gru-
pos. Com essa generalização em mãos, foi possı́vel desenvolver os teoremas centrais da
teoria de grupos finitos. O conceito de normalizador foi apresentado, assim como os
p-subgrupos e os p-subgrupos de Sylow. Com as definições em mão, foram provados os
Teoremas de Sylow.
Os Teoremas de Sylow revelaram informações relevantes a respeito da estrutura dos
grupos finitos. No mesmo sentido desse desenvolvimento, foram estudados os grupos
solúveis e o subgrupo de comutadores (e os subsequentes subgrupos derivados). Im-
portante teorema a respeito da relação entre esses conceitos foi provado: “Um grupo
G é solúvel se, e somente se, G(m) = {1} para algum m ∈ N, em que G(m) é o m-ésimo
subgrupo derivado de G”.
O último tópico do estudo de grupos finitos foram os grupos simples, reunindo toda a
teoria desenvolvida até aqui. Foram apresentadas as séries de composição e mencionado
o Teorema de Jordan-Hölder a respeito da unicidade dos grupos simples relativos às
séries de composição de um grupo. O grupo A5 foi provado simples e, em sequência,
Sn foi demonstrado não solúvel para n ≥ 5. Os grupos lineares especiais projetivos
foram brevemente discutidos como outros exemplos de grupos simples. Seguem abaixo
alguns dos exercı́cios realizados.

Resultados mencionados:

Exercı́cio 6.22. Sejam H e K subgrupos finitos de um grupo G. Então,

|H||K|
|HK| = .
|H ∩ K|

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Exercı́cio 4.59. Seja N / G. N é um subgrupo normal maximal de G se, e somente
se, o grupo G/N é simples.

Exercı́cio 6.127. Seja n ≥ 5. Usando o fato de que An é simples, prove que os


únicos subgrupos normais de Sn são {1}, An e Sn .

Demonstração. Seja N 6= {1} um subgrupo normal de Sn . Como An e N são subgrupos


normais de Sn , segue que N ∩ An também o é. Já que N ∩ An ⊆ An , então N ∩ An / An .
Como An é simples para n ≥ 5, N ∩ An = {1} ou N ∩ An = An .
Suponha que vale a primeira. Do Exercı́cio 6.22, |N An | = |N ||An | = |N |·n!/2. Visto
que N An ⊆ Sn , |N An | ≤ n!. Portanto, |N | ≤ 2. Como N 6= {1} por hipótese, então
|N | = 2, ou seja, N = {1, σ}. Dessa forma, para toda permutação π ∈ Sn , πσπ −1 ∈ N .
πσπ −1 = 1 ⇔ πσ = π ⇔ σ = 1 não é possı́vel, e aı́ πσπ −1 = σ ⇔ πσ = σπ para
todo π ∈ Sn . Isso significa que σ ∈ Z(Sn ) = {1}, um absurdo. Por conseguinte,
N ∩ An 6= {1}.
Resta que N ∩ An = An . Logo, N é um subgrupo normal tal que An ⊆ N ⊆ Sn . Como
Sn /An ∼
= Z2 , um grupo simples, segue do Exercı́cio 4.59 que An é um subgrupo
normal maximal de Sn e N = An ou N = Sn , como se queria demonstrar.

Resultados mencionados:

Exemplo 6.68. Se G é um grupo finito tal que |G| = pq, em que p < q são primos
e p - q − 1, então G é cı́clico.

Corolário 6.105. Seja N / G. Então, G é solúvel e, e somente se, ambos N e G/N


são solúveis.

Lema 6.1(c). Seja a um elemento de um grupo G. Se a possui ordem n e N / G,


então a ordem de aN divide n.

Exercı́cio proposto pelo orientador. Seja G um grupo tal que |G| = 255. Prove
inicialmente que G é solúvel e, em seguida, prove que G é cı́clico.

Demonstração. Comece observando que 255 = 3 · 5 · 17. Considere, em seguida, n17 , o


número de 17-subgrupos de Sylow. Dos Teoremas de Sylow, é certo que n17 | 3 · 5 · 17
e n17 ≡ 1 (mod 17). A única possibilidade é que n17 = 1. Assim, há apenas um 17-
subgrupo de Sylow que é, portanto, normal. Além disso, tal subgrupo (chame-o N ) é
cı́clico, visto que 17 é primo, e então solúvel.
Escreva N = hgi. Sendo N um subgrupo normal, segue do Teorema de Lagrange
que |G/N | = |G|/|N | = 15. Como 15 é da forma pq, em que p = 3 e q = 5 são primos,

10
e p - q − 1, então G/N é cı́clico, segundo o Exemplo 6.68 e, por conseguinte, solúvel.
Do Corolário 6.105, G é solúvel.
Para mostrar que G é cı́clico, escreva G/N = hhN i. Como a ordem de hN é 15, então
de acordo com o Lema 6.1(c) 15 divide n, a ordem de h. Como h ∈ G, n | 255.
Portanto, n = 255 ou n = 15. Se n = 255, não há mais nada a fazer. Então, suponha
que n = 15.
Tome o elemento hgh−1 . Como N é um subgrupo normal, hgh−1 ∈ N ⇔ hgh−1 = g i
2
para certo i natural. Em seguida, faça h2 gh−2 = hg i h−1 = (hgh−1 )i = g i . Iterativa-
15
mente, g = h15 gh−15 = g i . Portanto, i15 − 1 ≡ 0 (mod 17). Segundo o Pequeno
Teorema de Fermat, i16 ≡ 1 (mod 17). Assim, i16 ≡ i · i15 ≡ i ≡ 1 (mod 17). Em
sequência, note que

hgh−1 = g i = g 17q+1 = g ⇔ hg = gh.

Afinal, observe que (gh)m = 1 ⇔ g m hm = 1 ⇔ g m = h−m . Assim, (g m )17 = 1 e


(g m )15 = (h−m )15 = 1. Logo, a ordem de g m é um divisor comum de 15 e 17, isto é, a
ordem de g m é 1 e g m = 1. Consequentemente, hm = 1. Então, 15 | m e 17 | m, o que
implica que 255 | m e a ordem de gh é 255, concluindo a demonstração.

6 Sétima Seção
O último assunto do projeto foi teoria de corpos. Num primeiro momento, foi feita
uma introdução histórica a respeito da construção dos conjuntos numéricos,
√ da solução
de equações polinomiais e da irracionalidade de certas constantes, como 2, π e e.
Logo em seguida, foram introduzidos os conceitos de algebricidade e transcendenta-
lidade sobre um corpo F como extensão da ideia de irracionalidade. Foi introdu-
zido o polinômio mı́nimo de um elemento e demonstrada a equivalência desse conceito
com a irredutibilidade polinomial. Uma breve discussão se deu a respeito de números
algébricos e transcendentais.
No próximo capı́tulo, a teoria de extensões finitas foi introduzida, construindo um
teorema de importância semelhante ao Teorema de Lagrange na teoria de grupos finitos:
“Seja L uma extensão finita de F e K uma extensão finita de L. Então, K é uma
extensão finita de F e [K : F ] = [K : L] · [L : F ]”. Foi demonstrado que toda
extensão finita é algébrica e foram apresentadas as importantes extensões finitas obtidas
agregando um elemento a (denotadas por F (a)) e em seguida por um número finito de
elementos a1 , . . . , an (denotadas por F (a1 , . . . , an )).
Então, a teoria de extensões finitas desenvolvida até aqui foi utilizada para destrinchar
antigos três problemas da geometria euclidiana. O resultado a seguir foi demonstrado:
“Seja P um conjunto de pontos no plano e F um subcorpo de R tal que P ⊆ F ×F . Se

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um ponto Z = (a, b) é construı́do de P, então a e b são algébricos sobre F e o grau de
cada um é uma potência de 2”. Empregando esse resultado, foi possı́vel inferir que os
problemas a seguir não possuem solução: duplicação do cubo, trissecção de ângulos em
geral e, utilizando o fato de que π é transcendental, a quadratura do cı́rculo (usando
um compasso e uma régua sem medidas).
Para finalizar o projeto, resta estudar os corpos de decomposição, corpos finitos e de
caracterı́stica zero, Teoria de Galois e solubilidade de equações polinomiais por radicais.
Segue abaixo um dos exercı́cios realizados:

Resultado mencionado:

Exercı́cio 7.53. Dados um corpo F e uma extensão finita K de F , tome a ∈ K.


Segue que F (ak , al ) = F (ad ), em que k, l são inteiros e d = mdc (k, l).

√ √
Exercı́cio 7.56. Determine [Q( 2 + 4 2) : Q].
√ √ √
Demonstração. Chame α = 2+ 4
2. Portanto, (α − 2)4 = 2, ou seja,
√ √
α4 − 4 2α3 + 12α2 − 8 2α + 4 = 2.

Isolando 2,
√ √ √
α4 + 12α2 + 2 = 4 2α3 + 8 2α = 2(4α3 + 8α).
√ √
Note que α2 + 2 = 4 + 2 4 8 + 2 6= 0, de forma que 4α3 + 8α = 4α(α2 + 2) 6= 0. Assim,
segue que

α4 + 12α2 + 2 √
= 2.
4α3 + 8α
3
Como α ∈ Q(α) e 4α √ + 8α é diferente de 0, √
a expressão
√ à esquerda também
√ √ é um
4 4
elemento do corpo e 2 ∈ Q(α). Dessa
√ √ forma, 2 = α − 2 ∈ Q(α) e aı́ Q( 2,
√ √ 2) ⊆
4 4
Q(α).
√  que Q(α) ⊆ Q( 2, 2), logo, se conclui que Q(α) = Q( 2, 2) =
 √ É2evidente
4 4
Q 2 , 2 .
√ √ √
Do Exercı́cio 7.53, [Q( 2 + 4 2) : Q] = [Q( 4 2)] = 4.

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7 Conclusão
O projeto ofereceu uma excelente introdução aos interessantes e extensos tópicos da
álgebra moderna. A bibliografia utilizada congregou intuição, exemplos e formalidade,
possibilitando aprendizado gradual e consistente. A orientação do profº Plamen am-
pliou os horizontes de possibilidades para o conhecimento matemático, conectando os
estudos de graduação à pesquisa matemática. As noções e interpretações desenvolvidas
significaram, para mim, grande progresso profissional e pessoal.

8 Bibliografia
[1] BREŠAR, Matej. Undergraduate algebra: a unified approach. Springer,
2019.

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