U MA INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS DINÂMICOS :
E TEMPO DISCRETO
Bolsista: André Boscariol Rasera Orientador: Ricardo Miranda Martins
Departamento de Matemática - IMECC Agência Financiadora: CNPq
Introdução
Um sistema dinâmico pode ser descrito como uma ação de grupo ψ : G ×
X → X, em que G é um grupo e X uma variedade diferenciável. Neste
projeto, os estudos foram desenvolvidos em duas frentes:
• “Sistema dinâmico de tempo contínuo”, em que G = R, X = Rn e ψ é a
solução da EDO autônoma ẋ = X(x), isto é, {ψt(x0) : t ∈ I ⊆ R} é a
solução da equação com condição inicial x(0) = x0;
• “Sistema dinâmico de tempo discreto”, em que G = Z, X = Rn, e ψ é
descrita por ψ(n, x) = T n(x), e T é um difeomorfismo. O caso mais geral,
em que X é um espaço métrico e T é uma função contínua, também foi
explorado.
Metodologia
A metodologia deste projeto consistiu em estudar e consultar referências
variadas, tais como livros e notas de aula, reescrevendo e completando as
demonstrações e argumentos e fazendo diversos exercícios. Foram reali-
zadas reuniões semanais com o orientador para discutir os resultados, tirar
dúvidas e planejar os próximos passos.
Sistemas dinâmicos contínuos
Para iniciar os estudos de sistemas dinâmicos de tempo contínuo, foram
explorados os sistemas de equações diferenciais lineares e suas soluções
analíticas utilizando a Forma Canônica de Jordan e a exponencial de matri-
zes. Em particular, é possível classificar os sistemas planares a menos de
isomorfismos lineares, como sumarizado na figura abaixo.
Classificação dos sistemas de EDOs lineares planares. Adaptado de [2].
Passando ao contexto de sistemas não lineares, a seguinte definição assume
papel importante.
Definição 1. Considere f : Ω × Rm → Rn, em que Ω é um aberto, e o
sistema associado ẋ = f (x, α). A aparição de sistemas não localmente
topologicamente equivalentes numa vizinhança de um certo ponto ao variar
o parâmetro é chamada bifurcação.
Duas bifurcações importantes foram destrinchadas, a bifurcação sela-nó
(unidimensional) e a bifurcação de Hopf (bidimensional) [3].
Referências
[1] RL Devaney. A First Course in Chaotic Dynamical Systems: Theory and Experiment. Westview Press, 1992.
[2] gernot. Drawing the trace determinant diagram, 2017. Disponível em: <https://tex.stackexchange.com/a/347401/253698>. Acesso em: 4 de outubro de 2021.
[3] Yuri A Kuznetsov. Elements of Applied Bifurcation Theory, volume 112. Springer Science & Business Media, 2013.
[4] Jorge Sotomayor. Lições de equações diferenciais ordinárias, volume 11. Instituto de Matemática Pura e Aplicada, CNPq, 1979.
TEMPO CONTÍNUO
No tópico seguinte, foi explorado um contexto mais geral: o estudo de
EDOs autônomas n-dimensionais e o fluxo por elas induzido; o resultado
central dessa etapa foi Teorema do Fluxo Tubular.
Para concluir os estudos em dinâmica contínua, as noções de ômega e alfa
limite foram introduzidas e foi estudado o clássico Teorema de Poincaré-
Bendixson, enunciado a seguir [4].
2 2 1
Teorema 2. Seja Ω ⊆ R um conjunto aberto e f : Ω → R de classe C .
Dado x ∈ Ω, denote Γ para a órbita correspondente. Suponha que ω(x)
está definido, a semi-órbita positiva Γ+ = {ϕ(t, x) : t ≥ 0} está contida
em um compacto X ⊂ Ω e ω(Γ) não possui singularidades. Então, ω(Γ) é
uma órbita periódica do sistema.
Sistemas Dinâmicos Discretos
Os estudos dessa segunda parte foram iniciados investigando as diferentes
formas de se definir o conjunto dos terços médios de Cantor. Suas proprie-
dades topológicas motivam a seguinte definição.
Definição 3. S é denominado um conjunto de Cantor se S é totalmente
desconexo, perfeito e compacto.
O próximo objeto de estudo foi a dinâmica da função quadrática Qc : R →
2
R, Qc(x) = x + c, variando c em R. Surpreendentemente, para c < −2, o
n
conjunto Λc = {x ∈ R : Qc (x) 6→ −∞ quando n → ∞} é um conjunto de
Cantor.
Para aprofundar o difícil estudo analítico de Qc, foram introduzidas as
ideias fundamentais da dinâmica simbólica. O shift map e a função iti-
nerária permitem destrinchar informações antes inacessíveis a respeito da
função quadrática. As características do shift map no espaço de sequências
levam à definição de caos.
Definição 4. Seja (X, d) um espaço métrico e f : X → X. Um sistema
dinâmico (f, X) é chamado caótico se o conjunto dos pontos periódicos
de f é denso em X, se f é transitiva e se f exibe dependência sensível das
condições iniciais.
A função quadrática para o caso c = −2 exibe comportamento caótico no
intervalo [−2, 2]. Por fim, foi examinado o importante Teorema de Sarkovs-
kii, que revela parte substancial da dinâmica das funções na reta real [1].
Teorema 5. Considere a ordenação de Sarkovskii dos naturais:
3 ≺ 5 ≺ 7 ≺ 9 ≺ · · · ≺ (2n + 1) · 20 ≺ · · ·
≺ 3 · 2 ≺ 5 · 2 ≺ 7 · 2 ≺ 9 · 2 ≺ · · · ≺ (2n + 1) · 21 ≺ · · ·
≺ 3 · 22 ≺ 5 · 22 ≺ 7 · 22 ≺ 9 · 22 ≺ · · · ≺ (2n + 1) · 22 ≺ · · ·
·· ·· ·· ·· ·· ·· ··
· · · · · · ·
n 3 2
≺ ··· ≺ 2 ≺ ··· ≺ 2 ≺ 2 ≺ 2 ≺ 1
Seja f : R → R. uma função contínua. Se f possui um ponto periódico
de período fundamental n e n ≺ k na ordenação de Sarkovskii, então f
possui um ponto periódico de período fundamental k.
Conclusão
Este projeto permitiu ao aluno ter contato com vários métodos e resultados
relevantes a respeito de sistemas dinâmicos, em ambas as frentes, desen-
volvendo boa intuição e interesse por essa importante área da matemática.