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MODERNIDADE E A REPRESENTAÇÃO DO EU
Rio de Janeiro
2022
Modernidade e a representação do eu
Na obra em questão, Giddens vai apontar que a modernidade possui como uma de
suas principais características descontinuidades da ordem tradicional que já existiu no
passado. O advento da modernidade proporcionou transformações profundas no que se
referem a sua extensão (as conexões sociais se ampliaram globalmente) e sua intenção (a
modernidade alterou profundamente algumas características pessoais e íntimas da
existência cotidiana). O autor, a partir destas observações, estabelece uma tentativa de
construção de uma teoria que vai apontar certas generalizações no processo histórico.
Como ele mesmo vai dizer: “Há episódios precisos de transição histórica, por exemplo,
cujo caráter pode ser identificado e sobre os quais podem ser feitas generalizações.”
(Ibid., p. 12). Sua análise se enquadra dentro do que ele denomina teoria da estruturação,
que vai apresentar como domínio básico “... as práticas sociais ordenadas no espaço e no
tempo.” (Giddens, 2003, p. 2)
Prosseguindo em sua análise sobre a modernidade, o autor vai defender que esta
é um fenômeno de dois gumes: segurança versus perigo e confiança versus risco. As
instituições modernas e sua difusão global criaram condições para que os seres humanos
tivessem uma vida mais segura e com mais confiança nos acontecimentos cotidianos,
coisas não tão presentes em sistemas anteriores ao moderno. Apesar disso, o autor
argumenta que a modernidade também trouxe consigo um lado sombrio nunca antes visto
e não tão enfatizado pelo que se convencionou chamar de autores clássicos (Marx, Weber
e Durkheim). Estes autores até conseguiram perceber, como argumenta Giddens, que o
trabalho industrial moderno teria consequências compreendidas como degradantes, mas
não chegaram a refletir sobre os impactos ambientais, ecológicos causados pelas
mudanças no mundo do trabalho. Além disso, os clássicos não refletiram sobre a ascensão
de totalitarismos, que Giddens compreende como sendo parte constituinte dos parâmetros
da modernidade. “O governo totalitário combina poder político, militar e ideológico de
forma mais concentrada do que jamais foi possível antes da emergência dos estados-nação
modernos.” (Giddens, 1991, p. 14). É esse poder militar que o autor também vai
identificar como mais um exemplo do lado sombrio da modernidade, já que ele dá origem
ao chamado fenômeno da “industrialização” da guerra e ao surgimento das armas
nucleares. Como o autor defende: “O século XX é o século da guerra, com um número
de conflitos militares sérios envolvendo perdas substanciais de vidas, consideravelmente
mais alto do que em qualquer um dos dois séculos precedentes.” (Ibid., p. 15). Portanto,
o mundo moderno é acompanhado, além dos fatores positivos, de perigos e riscos, ou
seja, ele é acompanhado também de sua faceta sombria.
No que se refere ao papel social assumido por um ator, Goffman aponta que
sempre existirá uma fachada já estabelecida socialmente para cada papel representado
e que, muitas vezes, elementos encontrados em determinada fachada social podem ser
os mesmos encontratos em outra. Portanto, o autor esclare que é preciso ter em mente
que “... em ocasiões de grande cerimônia, o cenário, a maneira e a aparência podem ser
únicos e específicos, usados somente para representações de um único tipo de prática,
mas este uso exclusivo do equipamento de sinais é a exceção, não a regra.” (Ibid., p.
36).
Essa idealização também ocorre quando atores defendem possuir motivos ideais
para seguir sua representação, que possuem qualificações e que, portanto, não precisam
passar por qualquer tipo de humilhação ou coisa parecida para que continuem a assumir
o papel que estão a encenar. Há envolvido neste processo o que o autor chama de
“retórica do treinamento”, que vai exigir que algumas funções ou atividades somente
sejam realizadas depois de um longo período de treino, o que faz com que ocorra a
manutenção do monopólio dessas atividades e seja alimentada “... a impressão de que
o profissional licenciado é alguém que foi reconstituído pela experiência da
aprendizagem e acha-se agora colocado à parte dos outros homens.” (Ibid., p. 50). O
contrário também pode ocorrer, que é quando um ator assume que sempre teve
determinadas habilidades e que nunca precisou de treinamento apropriado para seu
cumprimento.
Essa tentativa de controle constante também abre espaço para que o ator possa,
se quiser, fazer uma representação falsa, enganar sua plateia. Os membros da plateia,
naturalmente, apresentam dúvidas sobre se o papel representado é verdadeiro ou falso.
Assim, Goffman afirma que a plateia está sempre disposta a se precipitar sobre o que
considera incoerente na representação dos atores. Para o autor, o que se quer saber é se
há autorização ou não para que o ator represente o papel que está a encenar. Mesmo que
isso ocorra, a representação de um mentiroso e de um verdadeiro ator possui um ponto
de semelhança: ambas têm o cuidado de manter a impressão que geraram na plateia
durante a interação:
Referências Bibliográfias