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"Qual a natureza e o que consiste a modernidade".

Segundo Giddens em “As consequências da Modernidade”, modernidade refere-


se ao estilo de vida ou organização social que emergiu na Europa a partir do século
XVII e que se tornando mundial em sua influência. Porém, esse conceito é restrito no
tempo e no espaço. No final do século XX, aponta-se para um novo sistema social no
qual os desafios vão para além da modernidade, a pós-modernidade, que se caracteriza
pela pluralidade do conhecimento, sem a primazia da ciência. Antes de se criar novos
termos, é necessário fazer uma análise da natureza da modernidade.

Giddens sugere que o processo de modernização influiu em quatro grandes


grupos de “complexos institucionais da modernidade”. Estes quatro que formam a base
do processo de modernização: Poder administrativo, poder militar, capitalismo e
industrialização.

O poder administrativo diz respeito ao crescimento e ao desenvolvimento da


nação-estado secular, esta nova forma de estado é baseado em formas burocráticas e
racionais de administração de sua população, lei e ordem. Tal “Racionalização
administrativa” permite, como diria Giddens, o desenvolvimento de um estado
envolvido na sua sobrevivência e na de outros, populações até então desconhecidas.

A sociedade capitalista conta com características institucionais específicas:


competitividade, expansionismo, isolamento de outros setores sociais, propriedade
privada dos meios de produção, autonomia do estado que é condicionada pela
acumulação do capital. A sociedade capitalista está circunscrita ao estado-nação, que é
interpretado pelo controle que ele consegue sobre territórios delimitados

O capitalismo e a industrialização representam as novas formas de produção


baseadas e centradas na produção fabrico-industrial. Igualmente às novas formas de
cálculo econômico como o lucro, ela se tornou dominante na economia moderna,
substituindo as formas tradicionais de produção baseadas primariamente na agricultura.

A força de trabalho constitui um ponto de conexão entre capitalismo,


industrialismo e a natureza do controle dos meios de violência. O capitalismo aliado ao
sistema de estado-nação foram os elementos institucionais promovem a aceleração e a
expansão das instituições modernas. A separação da modernidade das ordens
tradicionais se acelerou e intensificou graças às dimensões institucionais da
modernidade.

Por fim, o militarismo baseado na tecnologia e exércitos profissionais das


sociedades modernas. Esta estrutura bélica permitiu aos estados modernos a encontrar e
conquistar as sociedades tribais e impérios absolutistas.

Giddens salienta que para compreendermos de forma adequada a natureza da


modernidade, precisamos romper com as perspectivas sociológicas que existem sobre
cada um dos pontos mencionados, precisamos dar conta do dinamismo extremo e do
escopo globalizante das instituições modernas e explicar a natureza de suas
descontinuidades em relação às culturas tradicionais. Ele introduz na discussão o
conceito de desencaixe, o qual, segundo ele, é um fenômeno que está intimamente
ligado aos fatores envolvidos na separação tempo-espaço, como se pode notar na
seguinte passagem:
 
“O dinamismo da modernidade deriva da separação do tempoe do espaço e de sua
recombinação em formas que permitem o “zoneamento” tempo-espacial preciso da vida
social: do desencaixe dos sistemas sociais (um fenômeno intimamente ligado vinculado
aos fatores envolvidos na separação tempo-espaço); e da ordenação e reordenação
reflexiva das relações sociais à luz das contínuas entradas (inputs) de conhecimento
afetando as ações de indivíduos e grupos”. (GIDDENS, 1991, p. 25).

A teoria de Giddens é tanto dinâmica quanto é histórica. Giddens usa a ideia de


uma dialética com a qual expressa esse dinamismo. Para a maior parte da sua
aproximação dialética está centrada sobre o seu conceito de “Desencaixe do espaço-
tempo”. Esse é o conceito central o qual Giddens usa para explicar tanto o movimento
histórico de sociedades tradicionais a modernas e o papel desempenhado pela
globalização na aceleração do movimento começado com o processo de modernização.

No debate da modernidade, as contraposições da segurança versus perigo e da


confiança versus risco é um fenômeno ambíguo. Se, por um lado, a segurança na
modernidade é maior que no período anterior, por outro, foi uma era turbulenta que
gerou trabalho industrial moderno, totalitarismo e desenvolveu o poder militar. Há três
concepções que inibem uma análise satisfatória das instituições modernas: diagnóstico
institucional da modernidade (o capitalismo para Marx, posição critica por Durkheim e
Weber), a análise da “sociedade” e as conexões entre conhecimento sociológico e as
características da modernidade.  A compreensão da modernidade deve contemplar seu
extremo dinamismo, caráter globalizante das instituições modernas e compreender as
descontinuidades das culturas tradicionais.

Giddens passa, então, a analisar a problemática Modernidade, Tempo e Espaço.


Para ele, a compreensão das íntimas conexões entre a modernidade e a transformação do
tempo e do espaço passa pelo estabelecimento de contrastes com a relação Tempo-
Espaço no mundo pré-moderno.
Ele afirma que todas as culturas pré-modernas possuíam formas de calcular o tempo, e
ele ressalta que o calendário teve tanta distinção nos estados agrários como a invenção
da escrita, contudo, o cálculo do tempo, o qual constituía o fundamento da vida
cotidiana, sempre vinculou tempo e lugar e era afetado de forma imprecisa e variável.
Naqueles estados, o tempo ainda possuía conexão com o espaço (e o lugar) até o
advento da uniformidade da mensuração do tempo por meio do relógio mecânico que
veio a corresponder à uniformidade na organização do tempo.
 

A separação entre tempo e espaço é importante na modernidade como condição


do processo de desencaixe (aumento da distância entre o espaço e o tempo); por
proporcionar engrenagens para o traço distintivo da vida social moderna, a organização
racionalizada; e na formação de uma estrutura histórico-mundial. O desenvolvimento de
mecanismos de desencaixe retira a atividade social dos contextos localizados,
reorganizando as relações sociais através de grandes distâncias tempo-espaciais. Há dois
tipos de mecanismos de desencaixe nas instituições sociais modernas: as fichas
simbólicas (p. ex. o dinheiro) e os sistemas peritos. Esses mecanismos dependem da
confiança que implica em um estado contínuo da ação dos indivíduos, sendo um tipo
específico de crença.

Na modernidade, a reflexividade é introduzida na base da reprodução do


sistema, de forma que o pensamento e a ação se relacionam entre si. As práticas sociais
são examinadas e reformuladas a partir da informação auto-revelada conduzindo à sua
alteração. O conhecimento, em ciências naturais e sociais, não é mais saber, o que é o
certo. A reflexividade abrange as ciências naturais, a economia e a vida social moderna
(estatísticas oficiais). A reflexividade da modernidade, que está diretamente envolvida
com a contínua geração de autoconhecimento sistemático, não estabiliza a relação entre
conhecimento perito e conhecimento aplicado em ações leigas. O conhecimento
reivindicado por observadores peritos reúne-se a seu objeto, deste modo alterando-o.

A modernidade é inerentemente globalizante, esse processo de alongamento


ocorre por conexão entre diferentes regiões ou contextos sociais se enredaram
envolvendo todo planeta. A globalização promove a transformação local por meio de
conexões sociais através do tempo e do espaço. As discussões da globalização tendem a
aparecer em dois corpos de literatura: a das relações internacionais e a teoria do
"sistema mundial". Para os teóricos das relações internacionais os estados-nação são
atores, envolvem-se na arena internacional em conjunto com organizações
transnacionais.

A pós-modernidade significa que a trajetória do desenvolvimento social se afasta


das instituições da modernidade em direção uma nova ordem social. O pós-
modernismo, se é que ele existe de forma válida, pode exprimir uma consciência de tal
transição.

BIBLIOGRAFIA:

GIDDENS, A. As Consequências da Modernidade. São Paulo: Editora UNESP, 1991.

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