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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
DISCIPLINA: TEORIA SOCIOLÓGICA

Julyana Ketlen Silva Machado1

GIDDENS, Anthony. Elementos da teoria da estruturação. In: A constituição da sociedade;


tradução Álvaro Cabral.- 3ª edição.- São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. p. 1 - 46.

Sociólogo e teórico político britânico nascido em 1938, Anthony Giddens é conhecido


por sua Teoria da Estruturação e por tentar refundar os fundamentos da sociologia, trazendo
os pilares dessa disciplina (indivíduo e sociedade) pro seu campo teórico, furtando-se “ao
dualismo associado com o objetivismo e o subjetivismo” (GIDDENS, 2009, p. XXX). O autor
estuda o impacto do desenvolvimento econômico, científico e tecnológico sobre a vida
humana no século XX tentando explorar as características da forma global emergente na
modernidade e suas consequências para a vida cotidiana, abordando também o declínio das
tradições.
Um tema muito abordado por diversos sociólogos, dando ênfase ao pensamento
durkheimiano, é o de que as sociedades exercem limitações sociais sobre as ações dos
indivíduos, entretanto a sociologia contemporânea busca superar a dicotomia indivíduo-
sociedade ou a primazia do indivíduo ou a primazia da estrutura social da sociedade sobre o
indivíduo. Assim como outros autores contemporâneos, Giddens tenta assimilar toda teoria da
análise e abordagem da sociedade feita pelos sociólogos clássicos, Karl Marx, Emile
Durkheim e Max Weber, trazendo as novas realidades encontradas na modernidade e como
consequência, a relação indivíduo-sociedade, definindo como um de seus objetivos, o
estabelecimento de uma abordagem das ciências sociais que se afaste de maneira substancial
das tradições existentes do pensamento social.
Nessa nova abordagem, Giddens substitui a dicotomia indivíduo-sociedade pela
dinâmica agência-estrutura. Quando se propõe à análise da Teoria da Estruturação e
consequentemente da “Teoria Social”, o autor reflete sobre questões que envolvem a
“natureza da ação humana e do self atuante; com o modo como a interação deve ser
conceituada e sua relação com as instituições; e com a apreensão das conotações práticas da
análise social” (Idem, p. XVII) e que julga fazer parte do interesse das ciências sociais.

1
Discente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão.
No livro A constituição da sociedade, Giddens apresenta a Teoria da Estruturação
como uma teoria de abordagem de caráter crítico, objetivando analisar as práticas sociais
ordenadas no espaço e no tempo e com isso entender como se mantem estáveis as relações
sociais e a reprodução das práticas sociais, rompendo com a “discussão de um imperialismo
do objeto social” (Idem, p. 2). Trazendo a estruturação como um termo que, segundo o autor,
ajuda a analisar o processo de criação e recriação da estrutura, afirma que a “estrutura” e a
“ação” estão necessariamente relacionadas entre si, do mesmo modo em que “a constituição
de agentes e estruturas não são dois conjuntos de fenômenos dados independentemente- um
dualismo-, mas representam uma dualidade” (Idem, p. 30). Por outro lado, essa “ação”
somente é possível de ser realizada porque o indivíduo possui uma enorme bagagem de
conhecimento que é socialmente estruturado. Um conceito imprescindível da Teoria da
Estruturação, e que é fundamental parra explicar as ações humanas é o de rotinização:
A rotina (tudo que é feito habitualmente) constitui um elemento básico da
atividade social cotidiana [...]. A natureza repetitiva de atividades
empreendidas de maneira idêntica dia após dia é a base material do que eu
chamo de “caráter recursivo” da vida social. [...] A rotinização é vital para os
mecanismos psicológicos por meio dos quais um senso de confiança ou
segurança ontológica é sustentado nas atividades cotidianas da vida social.
Contida primordialmente na consciência prática, a rotina introduz uma cunha
entre o conteúdo potencialmente explosivo do inconsciente e a monitoração
reflexiva da ação que os agentes exigem (IDEM, p. XXV-XXVI).

No capítulo 1, Anthony Giddens apresenta inicialmente sua teoria a partir de uma


explanação preliminar das correntes teóricas às quais tem como referência, sendo elas o
Funcionalismo e o Estruturalismo. Para dar fundamento ao seu pensamento, Giddens em a
Teoria da Estruturação procede a uma reavaliação e uma relativização da separação básica
(indivíduo/sociedade) presentes nessas teorias sociológicas tradicionais, denominando de
“consenso ortodoxo”.
Ao contrapor o funcionalismo e o estruturalismo, o autor se propõe a descrever os
“elementos da teoria da estruturação” a partir da apropriação e crítica dessas duas correntes.
Trazendo a hermenêutica para sua análise, o autor discute sobre a primazia da ação na
explicação da conduta humana, em que o sujeito é concebido como elemento externo ao meio
e essa experiência que o sujeito adquire sobre a natureza, cuja subjetividade destaca é que é o
interesse das ciências sociais e por outro viés o “estruturalismo e o funcionalismo enfatizam
fortemente a preeminência do todo social sobre suas partes individuais (isto é, seus atores
constituintes, sujeitos humanos) ” (Idem, p. 1) onde a estrutura tem primazia sobre a ação.
Ao discorrer, ainda que breve, sobre essas duas vertentes, Giddens enfatiza que o que
as difere não é somente de caráter epistemológico, como vêm sendo afirmado, mas também
ontológico, mas destaca a importância é analisar sobre como os “conceitos de ação,
significado e subjetividade” (Idem, p. 2) precisam e podem se relacionar com as noções de
estrutura e coerção. Há, neste sentido, uma busca recorrente em que o autor está fazendo para
explanar acerca do significado de determinadas palavras que são determinantes para a
compressão da Teoria da Estruturação. Inclusive sobre o próprio nome dado à sua teoria, vai
afirmar:
“Estruturação” é, na melhor das hipóteses, um termo detestável, embora seja
menos deselegante no contexto gálico donde provém. Não fui capaz de
pensar numa palavra mais cativante para as ideias que desejo transmitir. Ao
elaborar os conceitos da teoria da estruturação, não pretendo apresentar uma
ortodoxia potencialmente nova para substituir a antiga. Mas a teoria da
estruturação é sensível às deficiências do consenso ortodoxo e à significação
dos desenvolvimentos convergentes. No caso de haver qualquer dúvida
acerca da terminologia aqui usada, permito-me sublinhar que emprego a
expressão “teoria social”. (IDEM, p. XVII)

Embora traga essa discussão sobre o uso de determinadas palavras, Giddens faz
também a descrição de sua teoria enfatizando que o domínio básico de estudo das ciências
sociais está nas práticas sociais ordenadas no espaço e tempo. De “natureza recursiva”, estão
todas as atividades humanas não criadas pelos atores sociais, mas continuamente recriadas por
eles através dos próprios meios pelos quais estão se expressando e em suas atividades e
através destas, reproduzem condições que tornam possíveis essas mesmas atividades. É desta
forma, que reforçam a “condição reflexiva” da atividade humana e é neste sentido que o autor
considera a ação como “um fluxo contínuo da vida social” (Idem, p.3) e não um agregado de
intenções, razões e motivos isolados. Giddens também considera o agente como um ser
dotado da capacidade de discorrer sobre estas atividades, o enxergando como um “agente
intencional, que tem razões para suas atividades e também está apto, se solicitado, a elaborar
discursivamente essas razões (inclusive mentindo a respeito delas) (Idem, p. 3), ou seja, tem,
em maior ou menor grau, ciência do que está fazendo. O termo que utiliza para aludir a tal
ideia é “caráter monitorado do fluxo contínuo” em que a ação humana ocorre como uma
durée.
No que tange às interações, o autor dá um destaque para a incorporação onde ocorre
essa interação, além do conhecimento mútuo entre os interagentes que leem o cenário que
estão inseridos se valendo de signos comuns para que a interação aconteça.
Pensar as relações e ações humanas é também tentar situa-se enquanto sujeitos e
objetos da própria pesquisa. Desta forma, em situações de interação, Giddens caracteriza a
consciência discursiva que é capacidade de discorrer sobre o que está sendo feito, e a
consciência prática que é quando o agente apenas partilha e reproduz ações consideradas
automáticas, sendo que a “linha entre consciência discursiva e consciência prática é flutuante
e permeável, tanto na experiência do agente individual quanto no que se refere a comparações
entre atores em diferentes contextos da atividade social” (Idem, 5), não havendo barreiras
entre elas.
No tópico “O agente, a agência”, Giddens apresenta um esquema de ação humana que
interdependem. A motivação da ação leva à racionalização que infere na monitoração
reflexiva da ação que gerará consequências impremeditadas que requer uma nova
interferência do agente, ou seja:
Os atores não só controlam e regulam continuamente o fluxo de suas
atividades e esperam que outros façam o mesmo por sua conta própria, mas
também monitoram rotineiramente aspectos sociais, físicos, dos contextos
em que se movem. Por racionalização da ação entendo que os atores-também
rotineiramente e, na maioria dos casos, sem qualquer alarde- mantêm um
contínuo “entendimento teórico” das bases de sua atividade. (IDEM, p. 6)

A monitoração é um processo de competência do agente humano e que ocorre


continuamente no seu cotidiano. Portanto, o agente, a partir do seu conhecimento,
subjetividade e intencionalidade e consciência prática, atua e monitora o ambiente social e sua
atuação, assim, a agência é a capacidade de realizar uma ação, considerando os indivíduos
como agentes capazes de executar uma ação. Longe de conceitos outrora significativos na
sociologia clássica, como coerção e força da estrutura sobre o indivíduo, o autor percebe a
ação conformando e confirmando as estruturas. Assim sendo, para Giddens a estrutura só
existe na medida em que a ação do agente se realiza, pois é na agência que a estrutura ganha
vida, considerando a estrutura como um conjunto de regras e recursos implicados de modo
recursivo, na reprodução social pois,
A ação é um processo contínuo, um fluxo, em que a monitoração reflexiva
que o indivíduo mantém é fundamental para o controle do corpo que os
atores ordinariamente sustentam até o fim de suas vidas no dia-a-dia. Sou o
autor de muitas de coisas que não tenho a intenção de fazer e que posso não
querer realizar, mas que, não obstante faço. Inversamente, pode haver
circunstâncias em que pretendo realizar alguma coisa, e a realizo, embora
não diretamente através de minha “agência”. (IDEM, p. 11)

Agência, afirma o autor, não faz referência às intenções do agente em realizar


determinada atividade, mas à escolha de certa conduta dentre inúmeras possibilidades de
ações que se encontram disponíveis no cenário. O autor alega que mesmo em situações que
em não aja escolha, há agência ativa.
Giddens traz nesse capítulo questões mencionadas com o trabalho de Merton, onde
aponta para os “efeitos perversos” (Idem, p. 16) das ações. Os efeitos perversos, considerando
um contexto grupal, são compreendidos como um conjunto de ações individuais racionais
executadas separadamente tornando-se irracionais para o agrupamento em sua totalidade.
No tópico “Agência e Poder”, Giddens começa afirmando que ambas estão impostas
sobre uma base comum. Sendo o agente um indivíduo capaz de exibir uma gama de poderes
causais ao intervir sobre o fluxo das coisas, o poder é concebido como inerente à ação em si e
neste sentido que o autor relaciona o estudo de Bachrach e Baratz em seu conceito de “duas
faces do poder” (Idem, p. 18).
A Teoria da Estruturação propõe o que Giddens chama de “dualidade da estrutura”,
cujas regras e recursos esboçados na produção e reprodução da ação social são os meios de
reprodução do sistema, portanto, o caráter recursivo da ação se evidencia novamente.
Posteriormente, o autor procura responder de que maneira a conduta individual dos atores
reproduz as propriedades estruturais de coletividades maiores, onde a relação do indivíduo
para com a sociedade a qual pertence é retomada em um nível de dependência.
Giddens em sua Teoria da Estruturação, afirma que a ação dos indivíduos é
condicionada por determinantes e características pré existentes na sociedade, mas ao agir e ao
pensar sobre sua ação, o indivíduo que agora é agente, é capaz de modificar a própria a
estrutura social.
Embora nossas ações sejam pré determinadas e pré condicionadas, existe uma
possibilidade transformacional dessa estrutura social pela própria ação do indivíduo, desde
que essa seja reflexiva e é desta forma que a sociedade cria uma estrutura dinâmica na
sociedade concluindo e observando as relações espaço-tempo como fundamentais para
produção e reprodução da vida social.

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