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Discente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão.
No livro A constituição da sociedade, Giddens apresenta a Teoria da Estruturação
como uma teoria de abordagem de caráter crítico, objetivando analisar as práticas sociais
ordenadas no espaço e no tempo e com isso entender como se mantem estáveis as relações
sociais e a reprodução das práticas sociais, rompendo com a “discussão de um imperialismo
do objeto social” (Idem, p. 2). Trazendo a estruturação como um termo que, segundo o autor,
ajuda a analisar o processo de criação e recriação da estrutura, afirma que a “estrutura” e a
“ação” estão necessariamente relacionadas entre si, do mesmo modo em que “a constituição
de agentes e estruturas não são dois conjuntos de fenômenos dados independentemente- um
dualismo-, mas representam uma dualidade” (Idem, p. 30). Por outro lado, essa “ação”
somente é possível de ser realizada porque o indivíduo possui uma enorme bagagem de
conhecimento que é socialmente estruturado. Um conceito imprescindível da Teoria da
Estruturação, e que é fundamental parra explicar as ações humanas é o de rotinização:
A rotina (tudo que é feito habitualmente) constitui um elemento básico da
atividade social cotidiana [...]. A natureza repetitiva de atividades
empreendidas de maneira idêntica dia após dia é a base material do que eu
chamo de “caráter recursivo” da vida social. [...] A rotinização é vital para os
mecanismos psicológicos por meio dos quais um senso de confiança ou
segurança ontológica é sustentado nas atividades cotidianas da vida social.
Contida primordialmente na consciência prática, a rotina introduz uma cunha
entre o conteúdo potencialmente explosivo do inconsciente e a monitoração
reflexiva da ação que os agentes exigem (IDEM, p. XXV-XXVI).
Embora traga essa discussão sobre o uso de determinadas palavras, Giddens faz
também a descrição de sua teoria enfatizando que o domínio básico de estudo das ciências
sociais está nas práticas sociais ordenadas no espaço e tempo. De “natureza recursiva”, estão
todas as atividades humanas não criadas pelos atores sociais, mas continuamente recriadas por
eles através dos próprios meios pelos quais estão se expressando e em suas atividades e
através destas, reproduzem condições que tornam possíveis essas mesmas atividades. É desta
forma, que reforçam a “condição reflexiva” da atividade humana e é neste sentido que o autor
considera a ação como “um fluxo contínuo da vida social” (Idem, p.3) e não um agregado de
intenções, razões e motivos isolados. Giddens também considera o agente como um ser
dotado da capacidade de discorrer sobre estas atividades, o enxergando como um “agente
intencional, que tem razões para suas atividades e também está apto, se solicitado, a elaborar
discursivamente essas razões (inclusive mentindo a respeito delas) (Idem, p. 3), ou seja, tem,
em maior ou menor grau, ciência do que está fazendo. O termo que utiliza para aludir a tal
ideia é “caráter monitorado do fluxo contínuo” em que a ação humana ocorre como uma
durée.
No que tange às interações, o autor dá um destaque para a incorporação onde ocorre
essa interação, além do conhecimento mútuo entre os interagentes que leem o cenário que
estão inseridos se valendo de signos comuns para que a interação aconteça.
Pensar as relações e ações humanas é também tentar situa-se enquanto sujeitos e
objetos da própria pesquisa. Desta forma, em situações de interação, Giddens caracteriza a
consciência discursiva que é capacidade de discorrer sobre o que está sendo feito, e a
consciência prática que é quando o agente apenas partilha e reproduz ações consideradas
automáticas, sendo que a “linha entre consciência discursiva e consciência prática é flutuante
e permeável, tanto na experiência do agente individual quanto no que se refere a comparações
entre atores em diferentes contextos da atividade social” (Idem, 5), não havendo barreiras
entre elas.
No tópico “O agente, a agência”, Giddens apresenta um esquema de ação humana que
interdependem. A motivação da ação leva à racionalização que infere na monitoração
reflexiva da ação que gerará consequências impremeditadas que requer uma nova
interferência do agente, ou seja:
Os atores não só controlam e regulam continuamente o fluxo de suas
atividades e esperam que outros façam o mesmo por sua conta própria, mas
também monitoram rotineiramente aspectos sociais, físicos, dos contextos
em que se movem. Por racionalização da ação entendo que os atores-também
rotineiramente e, na maioria dos casos, sem qualquer alarde- mantêm um
contínuo “entendimento teórico” das bases de sua atividade. (IDEM, p. 6)