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Ação e estrutura na sociologia

Para trabalharmos os conceitos de “ação” e “estrutura” na sociologia, retomaremos


alguns fragmentos das contribuições do clássico Weber e do contemporâneo Giddens à teoria
sociológica. Evidentemente, compreendemos que referida escolha implica em renunciar a
vasta produção teórica de muitos outros autores da sociologia ou de outras áreas correlatas
(antropologia, psicologia, filosofia, etc.), que também propuseram seus próprios modelos.
Dessa maneira, reforçamos que o presente texto representa um limitado esboço sobre o tema.
Weber, considerado um dos primeiros representantes do que veio a ser denominado
como individualismo metodológico (SCHLUCHTER, 2016, p. 20) e fundador da sociologia
compreensiva, define Sociologia como “uma ciência que pretende compreender
interpretativamente a ação social e assim explicá-la causalmente em seu curso e em seus
efeitos” (WEBER, 2000, p. 3). Dessa maneira, para Weber, a Sociologia constitui uma das
ciências ocupadas com a ação, sendo a ação do indivíduo o princípio da análise sociológica.
A ação social é uma modalidade específica de ação (ou seja, nem toda ação é ação
social), que consiste em um comportamento praticado pelo agente imbuído de um sentido
(WEBER, 2000, p. 14-15). Trata-se de uma ação orientada pelo outro (ou outros). Para
elucidar o conceito, é necessário observar o que Weber entende por “sentido”. O sentido o
qual Weber se ocupa é o sentido subjetivamente visado (WEBER, 2000, p. 4), aquele “que se
manifesta em ações concretas e que envolve um motivo sustentado pelo agente como
fundamento da sua ação” (COHN, 2003, p. 27). Contudo, é relevante destacar que, ao discutir
o conceito de sentido em sua interpretação mais fundamental para a análise, não estamos
considerando a origem da ação, mas sim o objetivo visado; em resumo, seu propósito final
(COHN, 2003, p. 27).
Ainda, a ação social é dividida, por Weber, em quatro categorias: a) racional referente
a fins; b) racional referente a valores; c) afetiva; d) tradicional. A ação social racional
referente a fins é pautada na racionalidade em que se utiliza os meios necessários para atingir
um fim pré-fixado. A ação social racional referente a valores é orientada pela convicção do
agente, mas ainda assim possui objetivos coerentes pré-estabelecidos, sendo importante para a
análise os meios empregados. A ação social afetiva é orientada pelas emoções, não estabelece
o objetivo final da ação e não pode ser considerada racional. Por fim, a ação social tradicional
é orientada pelos costumes e hábitos, agindo-se por repetição. Contudo, ao analisar os
comportamentos dos agentes é preciso notar que dificilmente observaremos uma ação social
orientada única e exclusivamente por uma dessas quatro categorias/modos. As ações
raramente são “puras” e podem ser analisadas a partir da combinação desses diferentes modos
(WEBER, 2000, p. 15-16).
Além disso, um importante conceito do esquema analítico de Weber é a relação social.
Ela consiste no comportamento de múltiplos agentes (dois ou mais agentes) orientado
reciprocamente por um específico conteúdo de sentido compartilhado, a título de exemplo,
podemos citar o namoro, briga, amizade, entre outras relações sociais. Evidentemente, não há
como garantir que a relação social se estabeleça e é por isso que a concretização de uma
relação social apenas pode ser pensada a partir da sua probabilidade, que se refere ao nível de
aceitação do conteúdo do sentido da ação pelos demais agentes envolvidos (WEBER, 2000, p.
16; COHN, 2003, p. 30).
Assim, feito um esboço de alguns dos pontos introdutórios do esquema analítico do
autor, abordaremos o dilema entre ação humana e estrutura social presente na obra de Weber a
partir de um diálogo com Anthony Giddens. Segundo Leme (2006, p. 10), há um embate entre
ação e estrutura nas diferentes perspectivas teóricas na Sociologia, o que tem marcado os
trabalhos científicos dos autores clássicos, como Weber, que em sua proposta teórica se
apoiou na teoria da ação. Entretanto, esse embate ainda persiste, influenciando o pensamento
de autores contemporâneos, que a título de exemplo citamos Giddens.
Dessa maneira, como vimos anteriormente, a sociologia compreensiva apresentada por
Weber “visa compreender quais as motivações que orientam as ações dos indivíduos, tendo
como um dos principais recursos metodológicos para tal realização, a classificação já exposta
neste texto e as tipologias criadas” (LEME, 2006, p. 21). Sobre a questão, Giddens entende
que há uma dicotomia estabelecida entre as abordagens que sobre-enfatizam a dimensão
estrutural e as que acentuam de maneira desproporcional a agência humana (TAVOLARO,
2007, p. 112-113).
Para a superação dessa lacuna entre as teorias que se apoiam na ação ou estrutura,
Giddens entende ser imprescindível o reconhecimento do papel ativo dos agentes na
construção e na reconstrução da estrutura social. Ou seja, o reconhecimento do fato de que os
agentes (nós) fazem escolhas e não apenas respondem passivamente aos eventos da vida.
Ainda nessa questão, Giddens introduz o conceito da estruturação. A partir da estruturação,
entende-se que há uma relação necessária entre ação e estrutura, o que o autor denomina de
dualidade da estrutura, em outras palavras, significa que toda ação presume a existência de
uma estrutura e vice-versa (GIDDENS, 2005, p. 531-532).
Bibliografia

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GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. 600 p. Disponível em:
https://damas20162.files.wordpress.com/2016/08/giddens-anthony-sociologia.pdf. Acesso em:
08 set. 2023.

LEME, Alessandro André. Estrutura e ação nas ciências sociais: um debate preliminar em
Marx, Weber, Durkheim, Bourdieu, Giddens, Anselm Strauss e Norbert Elias. Tempo da
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SCHLUCHTER, Wolfgang. A Dualidade entre Ação e Estrutura: esboços de um programa de


pesquisa weberiano. Tradução de Carlos Sell. Política & Sociedade, Florianópolis, v. 15, n.
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TAVOLARO, Sergio B. F. Variações no interior de um discurso hegemônico? Sobre a tensão


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WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. 4. ed.


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