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J.E.

Cesário

A Vida de Jesus
O Evangelho Segundo o Cordel
Copyright©: 2022 - Todos os direitos reservados (João Evódio Silva
Cesário – J.E. Cesário). Proibido cópia, alteração, venda,
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A Vida de Jesus
O Evangelho Segundo o Cordel
Índice
A Vida de Jesus
A Vida de Jesus
Começo este cordel
Fazendo uma oração.
Peço ao Papai do céu
Que me dê inspiração,
Pois a vida de Jesus,
O que é do mundo a luz,
Narro em forma de canção.

Nosso Senhor ensinou


Como devemos orar,
Falando aos seus discípulos,
Em um monte junto ao mar.
Essa prece conhecida,
Por "Pai Nosso" é referida
E aqui vamos recitar:

"Pai nosso que estais nos Céus,


Venha a nós o vosso reino.
Vossa vontade se cumpra,
Neste universo inteiro.
Santificai vosso nome
E o pão, pra quem tem fome,
Dai de janeiro a janeiro.
Somos todos pecadores.
Perdoai nosso malfeito,
Como também perdoamos
A quem o mal nos tem feito.
Da tentação do excluído, Do tal do anjo caído,
Livrai-nos de todo jeito.

O poder é todo vosso


E a majestade também.
Habitai em nossa vida
E nos guiai para o bem.
Santo Espírito, nos alente.
Honra e glória, eternamente,
E os anjos digam amém."
(Mateus 6:9)
Antes de formado o mundo, Jesus já estava lá.
Ele é o que sempre foi E eternamente será.
Como homem veio à terra, Sua palavra não erra E é certo que
voltará.
Desde o Velho Testamento,
Profetas anunciavam
A vinda do Salvador
Que os Judeus esperavam.
Prepararam o Seu caminho;
Nenhum se sentiu sozinho,
Pois com fé acreditavam.

O que mais se antecipou


Foi o Profeta Isaías,
Quando ele avisou
Da chegada do Messias:
“Um menino nos nasceu
E um filho se nos deu”
Para alegrar nossos dias.
(Isaías 9:6)

O seu nome é Emanuel,


Conosco Deus Poderoso,
Jesus Cristo, Conselheiro,
Príncipe Maravilhoso.
O Pai da eternidade,
Vida, caminho, a verdade,
O Juiz justo e bondoso.
Também foi anunciado
Por Zacarias, profeta,
Que disse: – Jerusalém,
Exulta, grita, faz festa!
Pois, pro seu contentamento,
O Rei vem, sobre um jumento,
Mandar na Terra completa.
(Zacarias 9:9-10)

Outro profeta, Miqueias,


Setecentos anos antes,
Apontou para Belém
Com detalhes relevantes.
Mencionou o nascimento,
Sendo Jesus o rebento.
Cito agora dois restantes:
(Miqueias 5:2)

O profeta Jeremias
Falou em justo Renovo,
Descendente de Davi,
Traria justiça ao povo.
Com ciência reinaria,
Sabiamente agiria,
Criando um mundo novo.
(Jeremias 23.5)
Por último, Daniel
Profetizou, em mistério,
Sobre um período de tempo,
Para que o ministério
De Jesus, que é o Messias,
Cumpridos aqueles dias,
Firmasse o seu império.
(Daniel 9:25)

Profecias se cumpriram.
Nasceu em Belém, Judeia.
Os registros do evangelho
Nos transmitem a ideia
De como Ele viveu
E até depois que morreu:
Narro aqui a epopeia.

O evangelho de Mateus
Traça a genealogia.
De Abraão até Jesus,
As gerações que havia
Quarenta e duas somaram,
Das famílias que geraram,
Conforme a Bíblia historia.
Encontrava-se Maria
Desposada com José.
Antes de viverem juntos
Como marido e mulher,
Estava embarrigada:
A história era embolada
E o noivo quis dar no pé.

Ocorreu que em um sonho


Um anjo apareceu,
Confirmando a José
Que o filho não era seu,
Mas aceitasse Maria
(E ali logo saberia
Que foi Deus quem concebeu).

José despertou do sono


E em tudo acreditou.
Recebeu sua mulher
Como o anjo ordenou,
Cumprindo-se a profecia,
Já referida em Isaías:
“A virgem um filho gerou”.
(Mateus 1)
Até que Jesus nascesse,
Com ela não se deitou.
José, sempre paciente,
Cumpriu o que Deus mandou.
Deles, filho primogênito,
Do Senhor, o Unigênito,
No tempo certo chegou.

Na época em que Herodes


Governava a Judeia,
Foi quando Jesus nasceu,
Em Belém da Galileia.
De longe, vieram magos
Para prestar seus afagos
Numa feliz assembleia.

Um dos magos perguntou:


– Onde é que está o Rei?
Seguimos a sua estrela;
A ele adorarei.
Herodes ficou irado,
Traçou um plano malvado
Que logo mais contarei.
Mais tarde, em sua jornada,
Encontraram o menino.
Os magos lhe ofertaram
Mirra, incenso e ouro fino.
Prostrando-se ao Senhor,
Adoraram o Salvador
E seguiram o seu destino.

Herodes tinha receio


De outro rei tomar o trono.
Planejou matar Jesus,
Mas José, durante o sono,
De tudo foi sabedor,
Pois um anjo do Senhor
Alertou do desabono.

Logo a Sagrada Família


Para o Egito rumou.
Herodes ficou de cá
E seu plano executou.
Mandou matar as crianças:
De Belém às vizinhanças
Nenhum menino escapou.
Passados uns poucos anos,
O rei Herodes morreu
E mais uma vez em sonho
Outro anjo apareceu,
Revelando a José
Que fossem pra Nazaré
(Foi onde Jesus cresceu).
(Mateus 2)

Após um tempo, surgiu


O profeta João Batista.
Era um primo de Jesus,
Tinha uma vida purista.
Pregava a todo momento
Para o arrependimento,
Com uma fé jamais vista.

Considerado um rabino,
Anunciou o Messias.
Preparou o seu trajeto,
Conforme disse Isaías:
“Voz que clama no deserto,
Deixai o caminho certo;
Já são chegados os dias.”
João era humilde, simples
E dos prazeres liberto.
Usava vestes de couro
E vivia no deserto.
Aos princípios foi fiel
E, após cumprir seu papel,
Jesus foi vê-lo de perto.

Acerca de João Batista,


O Senhor Jesus dizia:
“Entre os nascidos na terra
Nenhum outro haveria
Maior do que tal profeta,
Com uma vida tão reta
Que nada o deprecia.”

O Senhor foi batizado


Nas águas do Rio Jordão
E quem fez esse serviço
Foi justamente o João:
No início, resistiu.
Jesus então insistiu
E houve a aceitação.
Logo após esse evento,
Todos viram ali descer
A pomba do Santo Espírito
E uma voz assim dizer:
– Este é o meu filho amado,
É nele em quem me comprazo
(o próprio Deus fez saber).

João batizava era gente,


Nas águas do Rio Jordão.
Fosse Judeu ou gentio,
Sem ter discriminação,
Se confessassem o pecado
E aceitassem o chamado
Recebiam a salvação.

A pregação de João
Era forte e direta.
Anunciava a Jesus
Na certeza mais concreta
De um batismo prescrito
Com o fogo do Espírito,
Pra Justiça e vida reta.
(Mateus 3)
Depois que saiu dali,
Jesus foi para o deserto,
Conduzido pelo Espírito
Pra ser tentado de perto
Por Satanás, o Diabo,
Sendo que ao fim e ao cabo,
Da provação foi liberto.

Leitores, eu contarei
Como tudo aconteceu.
Passados quarenta dias
A fome apareceu
E, chegando o tentador,
Provocou nosso Senhor
E a proposta ofereceu:

– Se tu és Filho de Deus,
A estas pedras dê ordem,
Que se transformem em pães
E, se os anjos te acodem,
Lança-te da cobertura
Do templo, de toda altura.
Eles farão ou não podem?
Jesus assim respondeu
À primeira tentação:
Usando as Escrituras,
Disse que nem só de pão
O homem vive na terra.
A boca de Deus encerra
Pra alma a nutrição.

Cristo ainda completou,


Dizendo que estava escrito:
– Não tentarás o Senhor!
Mas, querendo outro atrito,
O diabo o transportou,
Muitos reinos lhe mostrou,
O espírito proscrito.

O capeta assim falou,


Numa oferta indecente:
– Tudo isto te darei,
Toda glória à tua frente,
Se agora te prostrares
E também se me adorares.
Eu posso e fique ciente.
Então, disse-lhe Jesus:
– Vade retro, Satanás,
Pois está escrito assim:
Ao Senhor adorarás.
Servirás somente a Ele;
Toda glória é só dEle;
Tinhoso, me deixe em paz!

O diabo o deixou
E eis que anjos de luz
Ampararam o Senhor
E alimentaram Jesus.
Logo após a tentação,
Deu-se início à missão
Até se entregar na cruz.

Jesus teve a ciência


Da notícia que João,
Por Herodes, o Antipas,
Foi mandado pra prisão.
Pra Galileia voltou,
Em Cafarnaum morou:
Começou a pregação.
O povo que estava em trevas
Viu agora a grande luz,
Que afasta a sombra da morte
E o seu nome é Jesus.
– O reino dos céus chegou,
Arrependam-se! – falou.
Para a vida Ele conduz.

Em seguida, narrarei
Como Jesus recrutou
A equipe de discípulos
E o jeito com que chamou:
André e Pedro (Simão),
Tiago e João, seu irmão,
Cada um deles pescador.

Junto ao mar da Galileia,


Jesus viu os dois irmãos.
Lançavam redes à água,
Pescavam por profissão.
Disse-lhes: – Venham comigo
E desde agora lhes digo:
Homens vocês pescarão.
Deixaram logo as redes;
Não olharam para trás.
Seguiram o mestre Jesus,
Mostraram como se faz:
Quem põe a mão no arado,
No Senhor está firmado
E encontra eterna paz.

Zebedeu, com os seus filhos,


Umas redes consertavam.
Num barco, junto à praia,
Perto de Jesus estavam.
Os filhos largaram tudo,
Sem porém, mas ou contudo,
Pois no Mestre confiavam.

Também foram convocados


Filipe e Judas Tadeu
(em seu total eram doze),
Tiago, filho de Alfeu,
Tomé, Mateus e Simão,
Judas, o da traição,
E, por fim, Bartolomeu.
E Jesus, na Galileia,
Percorria todo canto,
Curava enfermidades
E causava grande espanto.
Na sinagoga ensinava;
O evangelho pregava,
Com o poder sacrossanto.

A sua fama correu


E até a Síria chegou.
Todos os que padeciam,
Prontamente os curou:
Lunáticos, paralíticos,
Atormentados, feridos,
Com seu amor os tocou.

A multidão o seguia
Vinda de todo lugar,
Até pra lá do Jordão,
Para o Senhor encontrar:
Decápolis, Galileia,
Jerusalém e Judeia,
Podemos relacionar.
(Mateus 4)
Em um daqueles encontros
Jesus, vendo a multidão,
Assentou-se em um monte
E proferiu um sermão
Sobre a bem-aventurança,
Que nos enche de esperança,
De amor e satisfação:

Feliz o pobre de espírito:


O reino dos céus é dele;
Feliz também o que chora,
Que o consolo vem pra ele.
O manso herdará a terra.
Quem busca paz e não guerra,
A aventurança está nele.

E se forem maltratados,
Com injúria e injustiça,
Pela causa do Senhor,
Lembrem-se desta premissa:
Bem-aventurados são
Os que a perseguição
Sofrem em razão da justiça.
Aos limpos de coração
Fez a seguinte promessa:
Que eles verão a Deus
E não há nada que impeça.
Toda palavra Ele cumpre,
Sua verdade nos supre
E sua ordem é expressa.

“Vocês são o sal da terra” –


Aos discípulos falou –
“Não há o que se fazer,
Se o sal perder o sabor,
Exceto pra ser jogado
E pelos homens pisado,
Pois não tem nenhum valor.”

“Vocês são a luz do mundo” –


Continuou a dizer –
“A cidade sobre o monte
Não se pode esconder,
Pois ninguém acende a vela
E depois esconde ela:
Clarear é seu dever.”
A lição serve pra nós.
Assim seja o cristão:
Brilhe diante dos homens,
Em qualquer ocasião.
Testemunhe de Jesus;
Faça acender essa luz
Onde houver escuridão.

E por toda boa obra


Que na estrada é construída,
Deus Pai é glorificado,
A mensagem é repartida.
Sem precisar de falar
Já está a anunciar
A novidade de vida.

Na sequência do sermão,
O Senhor continuou.
Sobre a lei e os profetas,
Aos ouvintes relatou:
– Não vim para abolir
Mas sim a tudo cumprir,
Como a palavra citou.
Aos mandamentos da Lei,
Todos devem obedecer.
Praticar e ensinar
Seja a nós como um dever.
Assim, no Reino do céu,
A quem for sempre fiel
Será grande o seu prazer.

E a justiça de vocês
Seja bem superior
Àquela do fariseu,
Do mestre e do doutor,
Pois, sem essa condição,
De modo algum entrarão
No céu do nosso Senhor.

Lembrou do “não matarás”


(Dos dez é um mandamento).
A todo que descumprisse
Caberia um julgamento.
Jesus veio a acrescentar:
Contra o irmão, quem se irar,
Sofre o mesmo regramento.
E se alguém pretender
Uma oferta apresentar
Ante o altar do templo
E no momento lembrar
De queixa contra o irmão,
Resolva logo a questão,
Para depois ofertar.

O Mestre também ensina


Sobre a conciliação:
Chame seu adversário
E faça composição,
Antes que vá ao juiz
E, num desfecho infeliz,
Bote você na prisão.

Acerca do adultério,
A lei Ele incrementou,
Porque também o pratica
Quem na mulher nem tocou
Mas, valendo a intenção,
Desejou no coração
E com isso já pecou.
E se seu olho direito
Acaso o fizer pecar
Ou até mesmo a mão
Da mesma forma incitar,
Corte o membro e lance fora:
Melhor perder parte agora
E o corpo se salvar.

Falando sobre o divórcio,


Jesus trouxe essa lição:
Quem abandona a mulher,
Exceto por traição,
Uma adúltera faz dela,
Também quem casar com ela
Comete corrupção.

Acerca de juramento,
Trouxe a recomendação,
Que não se jure por nada
E seja sim, sim; não, não,
A palavra em compromisso,
Pois tudo que passar disso
Certamente é maldição.
Sobre a lei de talião,
Fez a cada um ciente,
Não será olho por olho,
Nem também dente por dente.
Se o inimigo o ferir,
Não deverá resistir:
Entregue a Deus somente.

Já se alguém o forçar
A caminhar uma milha,
Não reclame e aceite,
Ande o dobro da trilha.
Empreste a quem pedir,
Sem se esconder ou fugir,
Que se opera maravilha.

Antigamente ensinaram
“Odeiem seu inimigo,”
Mas de forma diferente
Aqui e agora lhes digo,
Que deem somente amor,
Orem por ele em favor:
Façam dele um amigo.
Pois que agindo dessa forma,
Venham a ser filhos de Deus,
Cujo sol brilha pra todos,
Aos gentios e judeus.
Sobre justos e injustos,
As bençãos descem sem custos,
Conforme os desejos Seus.

Se amarem os que os amam,


Que grandeza há nesse ato?
Se saudarem só irmãos,
Tal gesto é muito barato:
Publicanos e pagãos
Mesmo sem serem cristãos
Assim fazem, igual e exato.

Como perfeito é o Pai


Portanto, seja perfeito,
Mesmo que seja difícil
Mesmo que tenha defeito.
Todo humano da terra
Comete pecado e erra,
Mas por Jesus é aceito.
Aquele sermão do monte
É rico em sabedoria,
Nos traz mensagens eternas
E nos enche de alegria.
Ensina a fazer o bem,
Com os cuidados que convém,
Pra não ser hipocrisia.

Quando fizer boas obras,


Não tente se amostrar
Exibindo o que foi feito,
Pra outro se admirar.
Não há nisso recompensa
A vaidade, o Pai dispensa,
Isso é algo a se evitar.

Portanto, se der esmola,


Seja humilde e discreto.
Não anuncie a ninguém.
Ajude, mas fique quieto.
Se a mão direita fizer
E a esquerda não souber,
O proceder foi correto.
Não seja como um hipócrita,
Quando fizer oração,
Ficando em evidência
Ou querendo exibição.
Em seu quarto, em segredo,
A sós com Deus e bem cedo
Receba a sua bênção.

Da mesma forma, não aja


Conforme faz o pagão:
Não é por muito falar
Nem por vã repetição
Que a prece é ouvida:
Pelo Pai é recebida
Na correta ocasião.

E quando fizer jejum,


Ninguém precisa saber
Lave o rosto, fique alegre,
Não deixe alguém perceber.
Os propósitos são seus:
Somente você e Deus
Saberão isso entender.
Onde estiver seu tesouro
Estará seu coração.
As fortunas deste mundo
Se sujeitam ao ladrão,
À ferrugem e à traça,
Mas, no céu, a eterna graça
É a riqueza do cristão.

O seu corpo terá luz


Se seus olhos forem bons,
Pois são lâmpadas do ser
Para ver cores e tons.
Mas se tem olho perverso,
Em trevas está imerso,
Rejeita o bem e os dons.

Um servo com dois senhores


A nenhum servirá bem.
Entre Deus e o Dinheiro,
Escolha o que lhe convém.
A um se dedicará
E o outro desprezará:
Isso é certo, sem porém.
O amanhã não nos pertence;
Deus é quem guarda você.
Não tenha preocupação
Quanto a vestir ou comer.
Mais importante é a vida
Que roupa, teto ou comida,
Pela fé nos faz saber.

Observe os passarinhos:
Não armazenam em celeiro,
Mas têm alimentação
Pra passar o ano inteiro.
Você tem bem mais valor
E Deus é seu cuidador,
Verdadeiro dispenseiro.

Veja o lírio no campo,


Em todo seu esplendor.
Neste mundo não há roupa
Comparável em valor.
Nem mesmo o rei Salomão,
Com toda ostentação,
Cobriu-se igual à flor.
Se Deus veste assim a erva,
Que só dura um instante,
Bem mais cuida de você
Que pra Ele é relevante:
Sua fé hoje é pequena?
Um dia se fará plena,
Seja mais perseverante.

Busque em primeiro lugar


O Reino Celestial.
A nossa necessidade
Deus supre em seu total.
Basta hoje O receber.
O agora é pra viver:
“Cada dia tem seu mal”.

Pra que não seja julgado,


Tente também não julgar.
O metro que mede o irmão
Em seu corpo irá parar.
Repara um cisco no olho,
Mas no seu tem um trambolho,
Como pode enxergar?
Tira a trave do seu olho,
Isso em primeiro lugar,
Assim, vendo claramente,
Poderá auxiliar.
Do olho do seu irmão
Soprará o cisco, então,
Com amor vai ajudar.

E não entregue aos cães


Aquilo que é sagrado.
Também não lance aos porcos
Pérolas que tem levado.
Nos tesouros pisarão,
Contra você agirão,
Por isso tome cuidado.

Peça e lhe será dado,


Busque e encontrará.
Bata a porta, acredite,
Que ela se abrirá.
O que se procura vem,
Quem prova a fé obtém
As bênçãos de Jeová.
Se seu filho pedir pão,
Uma pedra lhe dará?
Ou se lhe pedir um peixe,
Uma cobra ofertará?
Até quem é mal faz bem,
Muito mais o Pai também
Coisas boas lhe fará.

Cuide das outras pessoas


Com a consideração,
Do mesmo jeito que quer
Ser tratado, em boa ação,
Conforme a Lei e os Profetas,
Nas trilhas justas e retas,
Com amor no coração.

Busque entrar na porta estreita,


Que conduz à salvação.
O portão largo é o caminho
Que leva à perdição.
Muitos penetram por ele,
Já o apertado é aquele
De difícil vocação.
Cuidado com alguns profetas
Que se portam em falsidade.
Vêm vestidos de ovelhas,
Mas escondem a verdade.
São lobos devoradores,
Seus enganos geram dores
E neles não há bondade.

Mas como reconhecer


Quem é do mal ou do bem?
Basta ver o resultado
Que da árvore provém,
Pois, se a planta é ruim
O seu produto é afim,
Dela bom fruto não vem.

Nem todo aquele que clama,


Dizendo: ‘Senhor, Senhor!’
Verá o Reino do Céu,
Ao lado do Criador.
Mas o que faz a vontade
Do nosso Pai, de verdade,
É bem mais que vencedor.
Naquele dia, uns dirão:
“Por ti nós profetizamos
E no poder do teu nome
Os demônios expulsamos.”
Mas Jesus explicará:
– São estranhos, vão pra lá,
Nós nunca juntos andamos.

Jesus trouxe uma parábola,


Já no final do sermão,
Comparando a sua palavra
A uma firme fundação.
Quem a ouve e pratica
Sobre a rocha edifica:
Resistente é a construção.

Mas quem despreza a palavra


É como o homem insensato,
Que construiu sobre a areia
Sem cuidar do aparato.
A chuva forte caiu,
Logo transbordou o rio
E a casa ruiu de fato.
Quando Jesus acabou
De concluir o ensino
O povo, maravilhado
Com o Supremo Rabino,
Via nele autoridade,
Não mera formalidade
De algum mestre palestino.

Logo mais desceu do monte


E a multidão o seguiu.
Um leproso aproximou-se
E ajoelhado pediu
Para ser purificado.
Jesus disse: – Ordenado!
E a doença sumiu.

Recomendou ao rapaz:
– Não conte isso a ninguém,
Mas mostre ao sacerdote
Em testemunho do bem.
No templo faça uma oferta,
Da forma prescrita e certa:
É isso que lhe convém.
Entrando em Cafarnaum,
Chegou um centurião
Rogando a cura de um servo
Entrevado, em sofridão.
Jesus disse: – Irei curá-lo.
– Basta uma palavra em regalo –
Respondeu o cidadão.

Tamanha era a fé do homem,


Que Jesus se admirou.
Ninguém ali em Israel
Com essa força confiou.
– Você creu, agora vá!
Assim lhe acontecerá –
Nesse instante o servo andou.

Jesus fez muitos milagres


E alguns são relacionados:
Curou a sogra de Pedro,
Livrou endemoninhados.
Sarou todos os doentes,
Casos sérios e urgentes
Vindos de todos os lados.
A multidão o apertava
E o Senhor ordenou
Que atravessassem o mar.
Foi quando um escriba chegou,
Dizendo que o seguiria.
O lugar não importaria.
Jesus então replicou:

– As aves do céu têm ninhos,


A raposa sua toca,
Mas quanto ao Filho do Homem,
Não tem casa, tenda ou oca
Pra repousar a cabeça.
Lembre disso e não esqueça
Vir após mim isso evoca.

Outro discípulo disse:


– Meu Senhor, deixa-me antes
Ir sepultar o meu pai
E volto em dois instantes.
Mas Jesus lhe respondeu:
– Morto enterre quem morreu:
Sigam-me meus ajudantes.
Pegaram o barco e partiram.
De repente, sobre o mar,
Caiu forte tempestade
E água veio a entrar.
Jesus dormia tranquilo.
Sem acreditar naquilo,
Todos vieram a gritar:

– Senhor, faça alguma coisa,


Senão nós vamos morrer!
– Esse medo é a pouca fé –
Apressou-se a responder.
Ao mar e ao vento ordenou;
A tempestade cessou
E pararam de temer.

– Quem é este poderoso


Que o vento e o mar lhe obedecem?
(Ficaram muito espantados;
Tais coisas não acontecem).
Chegaram ao outro lado
O barco foi aportado
E na praia eles descem.
Gadarenos era o povo
Que vivia na cidade
Junto ao Mar da Galileia
(Que era um lago, na verdade).
Dois rapazes, muito aflitos,
Vieram a Jesus, aos gritos,
Escravos de uma entidade.

Assim disseram a Jesus,


Esses endemoninhados:
– Senhor, que queres conosco?
O seu tempo não é chegado.
Mas se vai nos expulsar
Nos porcos nos mande entrar,
Imploramos esse agrado.

(A certa distância deles,


Pastava uma manada)
Jesus disse: – Podem ir!
E entraram, numa levada.
Abaixo, no precipício,
Pularam como em suplício:
Morreu toda a porcalhada.
Os que cuidavam dos porcos
Detestaram a novidade.
Contaram todo o ocorrido,
Testemunharam a verdade.
O povo se incomodou
E a Jesus suplicou
Que saísse da cidade.

O Senhor entrou num barco


E a Cafarnaum voltou.
Trouxeram-lhe um paralítico.
Vendo a fé, Jesus falou:
– Meu filho, fique animado,
Pois perdoo o seu pecado:
A sua fé o salvou!

– Jesus está blasfemando –


Começaram a sussurrar,
Alguns mestres, o julgando,
Com intenção de maldar,
Mas perguntou, o Senhor:
– Qual é o mais fácil favor:
Perdão ou mandar andar?
Pra que ficassem cientes
Da sua autoridade
Para perdoar pecados,
Conforme a sua vontade,
Disse ao rapaz: – Levante!
Pegue a maca, adiante!
Assim fez, com agilidade.

Vendo isso, a multidão


Ficou cheia de temor.
Alegre, maravilhada,
Glorificou ao Senhor.
O aleijado foi pra casa,
Com o coração em brasa
Transbordando de amor.

Estando Jesus em casa,


Já na hora do jantar,
Publicanos, pecadores,
Com ele foram cear.
Vendo isso, os fariseus,
Que era um grupo de judeus,
Se puseram a questionar:
– Por que o mestre de vocês
Se ajunta com essa gente?
Jesus então respondeu:
– Não pode ser diferente.
Quem tem saúde está bem,
Se o médico ajuda alguém,
É justamente o doente.

“Não vim a chamar os justos


Mas os que são pecadores.
Desejo misericórdias,
Não sacrifícios em dores.
Aprende isso de mim
E testemunha assim
Em qualquer lugar que fores.”

Perguntaram a Jesus,
Os alunos de João:
– Por que a gente jejua
E seus discípulos não?
– Estou com eles na festa,
Após a era funesta
Em luto jejuarão.
“Ninguém põe remendo novo
Em roupa velha e rota.
Em odres que são antigos
Vinho novo não se bota.
Se o odre é novo, o vinho
Conserva-se bem fresquinho,
Protegido da derrota.”

Enquanto ainda falava,


Um gestor da sinagoga
Ajoelha-se aos seus pés.
Com firme fé clama e roga:
– Minha filha morta está,
Mas sei que ela viverá:
A morte, tua mão revoga.

Jesus, também os discípulos,


Seguiram com o cidadão.
Na metade do caminho,
Em meio à multidão,
Uma mulher que sofria
Há tempos, com hemorragia,
Procurava solução.
Ela dizia a si mesma:
“Se eu tão somente tocar
Na barra de seu vestido
É certeza eu me curar.”
Jesus viu e afirmou:
– A sua fé a sarou.
E o sangue pôs-se a estancar.

Voltando agora à cena


Da menina que era morta,
Jesus chegando à casa
Aproximou-se da porta.
Tomando-a pela mão
Ela levantou-se, então,
Conforme a Bíblia reporta.

A notícia se espalhou
Por todo aquele lugar.
Jesus, ao sair dali,
Viu dois cegos a clamar:
– Senhor, Filho de Davi,
Nossa prece agora ouvi
E nos faça enxergar!
Entrando ele em casa,
Os cegos vieram atrás.
Jesus então perguntou:
– Vocês creem que sou capaz?
– Sim, meu Senhor! – responderam.
Foram curados, pois creram.
Seguiram a vida em paz.

Trouxeram um homem a Jesus,


Logo que se retiravam,
Mudo, endemoninhado.
Enquanto se aproximavam
O demônio, ele expulsou.
O jovem então falou.
Pasmaram, os que ali estavam.

Mas os fariseus diziam:


– É pelo poder do mal
Que ele expulsa os demônios,
Pois isso não é normal.
Jesus não se importava:
As multidões amparava,
Cumprindo seu ideal.
Então disse aos discípulos:
– A seara é muito grande;
Poucos os trabalhadores.
Peçam ao Senhor que mande
Quem nela possa servir,
Que a colheita está por vir
No Reino que se expande.

Chamando os seus ajudantes,


Deu-lhes toda autoridade
Para expulsar demônios
E curar enfermidade.
– O Reino dos céus tá próximo;
A mensagem e o propósito
Divulguem pela cidade.

– O que recebem de graça


Assim também devem dar.
Pelas curas que fizerem,
Ninguém lhes deve pagar.
Vão com a roupa do corpo
Para cumprir o escopo,
Que Deus vai lhes sustentar.
– Na cidade em que entrarem,
Procurem se hospedar.
Gente boa a recebê-los
Certamente vão achar.
Saúdem com a minha paz
E somente voltem atrás
Se o hospedeiro recusar.

– Se a casa não for digna,


A paz volte com vocês.
Ao deixarem a cidade
De quem não lhes foi cortês,
Dos pés sacudam a poeira.
Façam assim, dessa maneira
E saiam com rapidez.

– Vocês serão enviados


Como ovelhas entre os lobos.
Tenham bastante cuidado.
Não se portem como bobos,
Mas sejam sempre prudentes,
Assim como as serpentes
E singelos, sem arroubos.
– Perante os tribunais
Homens os entregarão
E nas sinagogas deles
A vocês açoitarão.
No sofrimento e no “ai”
O Espírito do Pai
Lhes dará consolação.

– Por amor à minha causa


Quem me segue é odiado.
Quando forem perseguidos,
Fujam desse povoado.
Para quem perseverar,
A salvação vai chegar
E vai morar ao meu lado.

– Portanto, não tenham medo.


Tudo que está escondido
Virá a ser revelado.
Também farei conhecido
O que é dito em segredo:
Vem à tona, tarde ou cedo,
O sussurrado no ouvido.
– Não temam quem mata o corpo
Mas que na alma não toca.
Só tenham medo daquele
Que alma e corpo sufoca
E os destroem no inferno,
Onde o suplício é eterno,
Onde a tristeza se aloca.

– Repito, não tenham medo


Porque vocês têm valor.
Quem cuida da sua vida
É nosso Deus, o Senhor
É dele o consentimento
E todo acontecimento
Reverterá em favor.

Se alguém diante os homens


Professa o amor a Jesus,
Ele, diante do Pai,
Também confessa e conduz,
Rumo à presença de Deus,
Que acolhe e abraça os seus
Filhos que escolhem a luz.
– Mas quem perante os homens
Me negar e rejeitar,
Eu também o negarei
Ante o Pai em seu altar.
Pois Ele e eu somos um
E sem vir a mim nenhum
Pode a graça alcançar.

“Quem não pega a sua cruz


Para a Jesus seguir,
Dele também não é digno
E sem Ele irá cair,
Mas quem aceita o Senhor
Como mestre e Salvador
Tem a vida no porvir.”

“Aquele que acha a vida


Certamente a perderá,
Mas todo aquele que a perde
Por minha causa a achará.
Quem a vocês acolher
É o mesmo que receber
A mim e ao Pai Jeová.”
“Quem ajuda um profeta
Em razão do ministério,
Receberá recompensa
E, em semelhante critério,
Também quem aceita o justo
Ou cuida dele sem custo
Tem pra alma o refrigério.”

Após toda a instrução


Que aos discípulos deu,
Jesus foi à Galileia
Pregar o ensino seu.
Da notícia soube João,
Mesmo estando na prisão,
Sobre o que aconteceu.

Falo de João Batista,


Que mandou amigos seus
Perguntarem a Jesus,
Por amor do nosso Deus,
Se Ele era o enviado
Ou outro era esperado
Pra libertar os Judeus.
Jesus assim respondeu:
– Voltem e falem a João
O que viram e ouviram.
Relatem com exatidão:
Cegos e mancos curados,
Leprosos purificados
E até ressurreição.

Os discípulos saíam
E o Senhor, pra multidão,
Começou a discursar
A respeito de João,
Confirmando a profecia,
Que um mensageiro viria
À frente em preparação.

“Se quiserem aceitar,


João Batista é o Elias
Que haveria de vir
E anunciar, nesses dias,
A chegada desta hora,
Que está cumprida agora
Pois sou Cristo, o Messias.”
“Observem que João
Não bebe vinho e jejua,
Ainda assim falam dele;
Seu nome anda na rua.
Veio o Filho do homem
E os fariseus o consomem
Criticando-o quando atua.

‘Comilão e Beberrão!’
Assim acusam o Senhor,
Por sentar com pecadores
Como se fosse um horror.
Mas provam sabedoria,
As obras na companhia
De todo ato de amor.”

“O meu jugo é suave;


Sou manso de coração.
A minha carga é leve,
Humildade é meu refrão.
Se desejam amor e calma
Descanso e paz para a alma.
Em mim sempre encontrarão”.
“Tudo meu Pai me entregou
E sou dele conhecido.
Também conheço o Pai
E estendo a quem for ungido.
Todos os que estão cansados
E tão sobrecarregados
De mim descanso é obtido”.

Nesse momento, Jesus


Fez uma lamentação
Pelo povo das cidades
Que fecharam o coração,
Pois, mesmo vendo os milagres,
Rejeitaram as verdades,
Deram as costas ao perdão.

Jesus passou por lavouras,


Na mesma ocasião.
Seus discípulos, com fome,
Colheram uma porção.
Era um sábado esse dia
E os fariseus, de vigia,
Fizeram reclamação.
Assim disseram a Jesus:
– Teus discípulos erraram.
O sábado é pra descanso
Mas o cereal segaram.
Descumpriram o mandamento.
Ao colherem o alimento
Aos gentios se assemelharam.

“Não leram o que fez Davi,


Quando esteve faminto?
Junto com seus companheiros
Foram ao santo recinto;
Comeram o pão consagrado
(Pela lei isso era errado):
Da mesma forma eu consinto.”

Jesus disse ainda mais:


“Nada eu tenho a opor.
Eu sou maior que o templo
Do sábado, sou Senhor.
Sacrifícios não desejo
Mas piedade almejo
De quem for meu seguidor.
Jesus, ao sair dali,
Dirigiu-se à sinagoga.
Fariseus acusadores,
Mais chatos que uma droga,
Viram um homem encostado
Com um membro atrofiado
E um deles interroga:

– E pode curar no Sábado?


Jesus passa a responder:
– Me diga, se nesse dia
Sua ovelha perecer
E num buraco cair,
Prontamente vai agir
Ou vai deixá-la morrer?

“Um homem é valioso


Muito mais que uma ovelha,
Então pra fazer o bem
Basta apenas dar na telha”.
E após dado o recado
Curou a mão do aleijado
Que agradecido ajoelha.
Os fariseus, revoltados,
Pelo que Jesus falou
E também porque no sábado
O aleijado curou,
Começaram a conspirar
Uma forma de o matar,
Só que o Senhor escapou.

Muitas curas ele fez


E o povo ficou bestinha.
– Esse é o Filho de Davi
Que nas profecias tinha?
Mas os fariseus, ao cabo,
Diziam ser do diabo
Que o poder de Jesus vinha.

Mas Jesus, sabiamente,


Conhecendo o pensamento
Disse: “um reino dividido
Não se mantém em sustento:
Se Satanás se expulsar
Seu reino vai se danar:
Repare nesse argumento.”
“Dizem que expulso demônios
A mando de Satanás.
Quando seus filhos expulsam
Não fazem nada demais?
Digo que expulso por Deus
Seu Reino chegou aos seus
E não duvidem jamais.”

“O que não está comigo


Certamente é contra mim.
Quem comigo não ajunta,
Procede de modo ruim,
Pois espalha e não ajuda.
Se esse proceder não muda,
Não será bom o seu fim.”

“Por isso mesmo lhes digo:


Aos homens são perdoados
Os pecados e as blasfêmias,
Mas estarão condenados
Se o Espírito ofenderem.
Nem se por tempos viverem
Serão bem-aventurados.”
“Pelos frutos se conhece
Se a árvore é boa ou não.
Na má planta o fruto é ruim
Na boa o fruto é são.
Do mal não vem bendizer.
A boca só fala o que
Transborda do coração.”

“Do tesouro do homem bom


Só coisas boas provém.
No tesouro do homem mal
Nada bom ali contém.
Você é servo do ditado,
Seja livre ou condenado,
De sua palavra é refém.”

Então, alguns fariseus


Ao Senhor disseram assim:
– Mestre, nos dá um sinal,
Pode ser grande ou mirim.
Jesus os repreendeu,
Pois quem não se arrependeu
Pra si não chama um bom fim.
Jesus deu prosseguimento,
Ensinando a multidão,
Quando do lado de fora
Chegaram mãe e irmão.
Alguém veio avisar:
“Contigo querem falar”
Jesus perguntou: – Quem são?

Antes de qualquer resposta,


Ele mesmo respondeu.
Apontou para os discípulos
E a sua mão estendeu:
“Minha mãe, irmã, irmão
São estes que aqui estão:
Os que obedecem ao Pai meu.”

Ainda no mesmo dia,


Jesus foi à beira-mar.
A multidão o seguia.
Num barco teve que entrar.
Na praia o povo ficou,
Do mar Ele começou
A parábolas contar.
Jesus, o maior dos mestres,
Era um contador de história.
Suas parábolas ficam
Resguardadas na memória.
Esse método de ensino
Instrui o adulto e o menino
Para uma vida de glória.

Entre aquelas mais famosas


Está a do semeador,
Que fala sobre a mensagem
Do Reino do Deus de Amor.
É sempre boa a palavra,
Mas conforme a terra e a lavra
Morre cedo ou brota em flor.

“O semeador saiu
Ao campo a semear.
Quando jogou a semente,
Parte caiu num lugar
Bem à beira do caminho,
Então veio um passarinho
Pra dela se alimentar.”
“Caiu no meio das pedras
Outra parte da semente.
Logo brotou mas morreu.
A planta ficou doente
Porque, sem terra bastante,
Sob o sol escaldante
Secou-se rapidamente.”

“Outra porção foi lançada,


Mas ficou entre os espinhos.
Estes, uma vez crescidos,
Tornaram-se bem daninhos,
Pois sufocaram as plantas
E mataram outras tantas,
Em seu perigoso ninho.”

“Mas quando na terra boa


A semente é plantada,
O esforço é compensado,
A colheita confirmada.
O bem é multiplicado
Sessenta, cem, um bocado,
Na lavoura abençoada.”
Jesus passou a explicar
O sentido da história,
Sobre o semeador
E a sua trajetória:
A mensagem é o grão
E a terra o coração:
A relação é notória.

“Quando alguém ouve a mensagem


Mas não se torna um crente
O Maligno vem e arranca
Do coração a semente
(Este é o grão que foi lançado
e pela ave levado):
Na explicação atente.”

“Quanto ao que foi semeado


Em terreno pedregoso,
Este é o que ouve a palavra
E a recebe com gozo,
Mas sem raiz ou bom chão,
Quando vem perseguição
Deixa de ser fervoroso.”
“O que cresceu com os espinhos,
A mensagem até o toca,
Mas a ocupação da vida
Ou a riqueza a sufoca.
A árvore atrofiada
Não dá fruto, é maculada,
Seu destino é a derroca.”

“E, finalmente, a semente


Que em boa terra ficou
É o que ouve, entende
E no coração guardou.
Sua colheita é segura,
Com abundância, fartura,
Pois no Senhor confiou.”

Seguindo com o mesmo tema,


Jesus contou outra história.
Quando o Reino é atacado
Por uma ação fraudatória,
Em que a semente plantada
Com joio é misturada.
Que situação inglória!
O semeador sabia
Que a semente era boa,
Mas enquanto ele dormia
Veio o inimigo à toa
E o joio semeou.
Quando o trigo brotou
Surpreendeu a pessoa.

Então, os trabalhadores
Questionaram ao seu senhor:
– De onde veio esse joio?
– Um inimigo, sem pudor,
Enquanto a gente dormia
Plantou essa porcaria
E fez esse desfavor.

Os servos lhe perguntaram:


– Quer que nós o arranquemos?
O Senhor disse que não:
– Por certo não poderemos.
Se o joio formos tirar,
O trigo vai se estragar
E a lavoura perderemos.
“Até o dia da colheita
Os dois cresçam juntos, deixe.
Direi aos encarregados
Que do joio façam um feixe,
Separem pra ser queimado,
Mas o trigo, preservado,
Levem ao celeiro e feche.”

Vem agora a explicação:


Quem semeou foi Jesus;
O campo é o mundo todo;
Os grãos são filhos da luz;
O joio, os filhos do Mal,
Semeado por Baal.
A colheita, “o fim” traduz.

Os encarregados são
Anjos do nosso Senhor.
Sabem identificar
Quem é justo ou malfeitor.
Eles farão a limpeza,
Retirando a impureza
Que no Reino se infiltrou.
Jesus, com suas parábolas,
Nos traz muito ensinamento.
Pegou um grão de mostarda,
Aquele que é condimento,
E usou como um exemplo,
Tão belo que eu contemplo
E lembro neste momento.

Sendo semente pequena,


Praticamente a menor,
O seu Reino é como ela:
Se expande em algo maior.
Na árvore, os passarinhos
Descansam e fazem ninhos,
Protegidos do pior.

Sem mudar muito o assunto,


Pois fala de crescimento,
Nos trouxe outra parábola,
Agora sobre o fermento,
Já que um pouco na farinha
Fermenta a massa todinha
(Como o Reino e seu aumento).
“O Reino é como um tesouro
Que certo homem achou
E o escondeu de novo
Num buraco que cavou.
Então, cheio de alegria,
Vendeu o que possuía
E aquele campo comprou.”

“Ou como um negociante


Que uma joia encontrou.
Uma pérola perfeita;
Nunca outra dessa achou.
Também vendeu o que tinha,
Da forma que lhe convinha
E assim a conquistou.”

Comparou o Reino à rede,


Em outra ilustração,
Que é lançada ao mar,
E vem peixe de montão.
Chegando à praia é assim:
Pega o bom, solta o ruim,
Que não vale um tostão.
Acontecerá no fim,
De semelhante maneira.
Os anjos separarão
Os justos dos da zoeira.
Então na fornalha ardente,
Com choro e ranger de dente
O perverso faz fileira.

– Entenderam o que eu disse?


Jesus então perguntou:
Eles responderam, “sim”
E o Senhor completou:
– Por isso um mestre da lei
Se assemelha ao que direi –
Dessa forma ele falou:

“Todo mestre instruído


Sobre o Reino do céu
É como um dono de casa
Que tira do seu troféu
Coisa que serve de prova,
Tanto velha quanto nova,
Mantendo-se em Deus fiel.”
Ao final dessas parábolas,
Jesus mudou de lugar.
Partiu pra sua cidade,
Para o povo ensinar.
Na sinagoga, pasmados,
Surpresos, admirados,
Se puseram a perguntar:

“Que sabedoria é essa?


De onde esses milagres vêm?
Não é o filho de José
Que morava aqui também?
Vivia de carpinteiro,
Como é que tão ligeiro
Tanto poder obtém?”

Para os escandalizados,
Jesus assim afirmou:
– Só em sua própria terra,
Na casa em que habitou,
Um profeta não tem honra
(Por conta dessa desonra
Pouco ali realizou).
Naquele tempo, Herodes
Ouviu falar de Jesus
E disse aos que o serviam:
– Esse é João, eu supus,
Pois ressuscitou da morte,
Voltou encantado, forte
E tais milagres produz.

Herodes era um tetrarca,


Tipo um governador.
Na morte de João Batista,
Um caso triste de horror,
Ele foi o responsável
E, de forma miserável,
Desse drama foi autor.

Vivia com Herodias,


A mulher de seu irmão.
João Batista apontou,
Em certa ocasião,
Que aquilo não era certo
E o governador, decerto,
O colocou na prisão.
Queria mesmo matá-lo,
Só que o povo amava João,
Esse profeta querido
Que pregava a salvação.
Herodias, revoltada,
Sabia que estava errada
Mas procurou solução.

Na data do aniversário,
Herodes deu uma festa.
A filha de Herodias
Dançava com a mão na testa.
Herodes, sem se aguentar,
Lhe prometeu tudo dar
Conforme a Bíblia atesta.

Nesse momento, Herodias


Achou oportunidade,
Porque a palavra dada
Deve cumprir de verdade.
Ordenou que sua filha
Botasse nele uma pilha
Para executar maldade.
Poderia pedir tudo:
Terra, dinheiro ou ouro.
Até metade do reino,
Mas anunciou agouro.
Pediu de João, a cabeça,
Por loucura que pareça,
No lugar de outro tesouro.

O rei ficou muito aflito


Com aquele requerimento,
Mas em frente aos convidados
Foi feito um juramento.
João foi executado,
Com seu pescoço cortado
Ao final daquele evento.

Os alunos de João
Foram o corpo sepultar.
Depois contaram a Jesus,
Que se retirou pra o mar,
Indo a um lugar deserto
Para refletir, decerto,
De forma particular.
Acompanhando da terra,
Muita gente o seguia.
Quando Ele saiu do barco
Viu os doentes que havia.
Por tão grande multidão
Jesus teve compaixão
E os curou com alegria.

Logo ao cair da tarde,


Discípulos se achegaram.
Pareciam preocupados;
Para Jesus afirmaram:
“Manda todos irem embora,
Que muito passou da hora
E ainda não jantaram.”

– Eles não precisam ir


(Jesus fez assim saber).
Vocês consigam alimento,
Que todos possam comer.
– Pães são cinco, peixes dois.
O que faremos, apois?
– Tragam que vocês vão ver.
Ordenou que a multidão
Se assentasse na grama.
Tomando o alimento,
Mostrou o poder de quem ama
Deu graças, olhando o céu,
Serviu todo o mundaréu
E sobrou uma grande gama.

Encheram uns doze cestos


Com os pedaços que restaram.
As pessoas, satisfeitas,
De comer não aguentaram.
Cinco mil encheram a pança
Sem contar mulher e criança
Que também se alimentaram.

Em seguida, com os discípulos,


Navegou pro outro lado.
Chegando, subiu ao monte,
Onde orou um bocado.
Anoiteceu e sozinho,
Ao voltar pelo caminho,
Houve um fato inusitado.
O barco estava distante,
Com um vento forte a soprar.
Jesus foi até os discípulos,
Caminhando sobre o mar.
Eles então se espantaram
“É um fantasma!” – gritaram.
Só faltaram se mijar.

– Tenham coragem! Sou eu.


Não tenham medo de mim.
Disse-lhe Pedro: – Senhor,
Manda-me ir, se é assim,
Te encontrar por sobre a água
Do contrário é pé na tábua;
Se é verdade diga sim.

Disse Jesus: – Pode vir!


Pedro então andou no mar.
Logo após sair do barco,
O vento veio a soprar.
Vendo o tempo, ele afundou,
Ficou com medo e gritou:
– Senhor, venha me salvar!
No mesmo instante, Jesus
Estendeu a sua mão.
Agarrou Pedro com força:
– Que pequena fé, Simão!
Porque você duvidou?
Não sabe que aqui estou?
(Pra ele foi um sermão).

Quando voltaram pro barco,


Ele fez cessar o vento,
Então todos O adoraram
Naquele mesmo momento:
“Tu és o filho de Deus,
Até os ventos são teus.
Contigo não há tormento.”

Atravessaram de novo;
Chegaram a Genesaré.
Lá lhe trouxeram uns doentes
De carro, cavalo e a pé.
Todos que nEle tocaram
Prontamente se curaram,
Cada um conforme a fé.
Daí, alguns fariseus
E também mestres da lei
Vindos de Jerusalém
Foram e perguntaram ao Rei:
“Por que os que contigo estão
Comem sem lavar a mão?”
(um pensou: “eu o peguei!”)

Jesus, então, respondeu:


– Por que fazem transgressão
Ao mandamento de Deus
Por causa da tradição?
Deus disse: “Honrem seus pais”
E quem diferente faz
Merece condenação.

“Vocês anulam a palavra


Com ensinos diferentes,
Arranjando várias formas
De desprezar os parentes.
Quando recusam a dar honra,
Trazem pra si a desonra,
Pois agem como indecentes.”
“Seu grupo é mesmo hipócrita,
Bem avisou Isaías:
Honra somente de boca;
Com o coração repudia.
Em vão, essa adoração
É uma falsificação,
Não passa de porcaria.”

Conclamou a multidão
E disse, o Filho do Homem:
“Prestem atenção, entendam,
Não é impuro o que comem,
Mas o que sai de suas bocas
Maldições, palavras loucas,
Sujam vocês e os consomem.”

“Comer sem lavar as mãos...


Explico para vocês:
O que entrou pela boca
Digerido, se desfez,
E o que não foi consumido
Do corpo é expelido:
De novo puro se fez.”
“Mas tudo que sai da boca,
Que provém do coração:
Mal pensamento, homicídio
Adultério, perversão,
Falso testemunho, roubo,
Calúnia dita em arroubo,
Tornam impuro o cidadão.”

Os discípulos vieram
E perguntaram ao Senhor:
– Sabia que os fariseus
Se encheram de rancor?
Essas palavras que disse,
Pra que todo mundo ouvisse,
Atiçaram seu furor.

– Toda planta que meu Pai


Não foi o semeador
Será arrancada em breve:
Assim falou o Senhor.
“Esqueçam os fariseus:
São cegos guiando os seus
Seu destino é um horror.”
Saindo desse lugar,
Pra Sidom se retirou.
Uma mulher cananeia
Veio a ele e gritou:
“Senhor, Filho de Davi,
Tem piedade de mim;
Minha filha, o Cão pegou!”

Jesus não lhe respondeu


E a mulher seguia atrás.
Os discípulos pediram
Que a deixasse para trás:
– É melhor ficarmos sós:
Vem gritando atrás de nós.
Isso incomoda demais!

Respondendo aos discípulos,


Jesus assim afirmou.
“Foi aos filhos de Israel
Que o meu Pai me enviou.
Tirar o pão dos filhinhos
E lançar aos cachorrinhos
Certamente eu não vou.”
Jogada aos pés de Jesus,
Adorando-o de joelho,
Sabiamente ela falou:
“A eles me assemelho:
Cachorro come a migalha,
Qualquer coisa que o valha.
Da sua luz quero um centelho”.

Admirado com a fala,


Cristo completou: “Mulher
Seja conforme deseja.
Como é grande a sua fé!”
A filha endemoninhada
No instante foi curada
Por Jesus de Nazaré.

Partindo também dali,


Foi ao Mar da Galileia
Subiu a um monte, sentou
E a multidão, da plateia,
Trazia tanto doente.
Jesus curou essa gente
Vinda de toda Judeia.
Ao verem um mudo falando,
Ficaram admirados.
Os mancos todos andando,
Os aleijados curados.
O cego enxergou o Céu,
Louvou o Deus de Israel
Pelo milagre operado.

Jesus disse aos discípulos:


– Tenho muita compaixão
Ao ver a necessidade
Desta grande multidão.
Já são três dias comigo
E hoje nada tem comido:
Quero dar uma refeição.

Perguntaram, os discípulos:
“Como vamos encontrar?
É gente que não se acaba
Pra poder alimentar.
Este lugar é deserto
Não tem comércio por perto,
Nem que fosse pra comprar.”
Interrogou-lhes, Jesus:
– E quantos pães vocês têm?
Eles responderam: “Sete,
E alguns peixinhos também.”
Ordenou à multidão
Que se assentasse no chão.
Deu graças; disse “Amém”.

Pegou os pães e os peixes


E entregou pra repartir,
Começando com os discípulos
E à multidão a seguir.
Comeram até se fartar.
Ninguém pôde reclamar:
Homem, mulher e guri.

Encheram-se sete cestos


Com os restos que sobraram.
Só de homens, quatro mil
Foram os que se alimentaram.
Despediu a multidão,
Entrou na embarcação:
Pra Magadã navegaram.
Fariseus e Saduceus
Aproximaram-se dEle
Puseram o Senhor à prova,
Pediram um sinal a Ele.
Algo que fosse do céu
Bem explicado, sem véu
(Buscavam achar falha nEle):

– Vocês preveem o bom tempo,


Logo que a tarde vem.
Quando o céu está vermelho
Tudo lhes parece bem.
Mas, se a manhã é nublada,
Tempestade é esperada.
Isso conhecem também.

– Sabem interpretar o céu


E os sinais dos tempos não?
Essas gerações perversas
Pedem sinais: não terão!
Se buscam outro recado,
O de Jonas já foi dado:
Recebam dele a lição.
Outra vez voltaram ao mar,
Mas não lembraram do pão.
Jesus disse: – Com o fermento,
Prestem bastante atenção:
Saduceus e Fariseus,
Se andarem com os meus,
Levam à contaminação.

Debatiam, os discípulos,
Naquele exato momento:
– Porque não trouxemos pão,
Ele fala de fermento!
Percebendo a discussão,
Jesus fez repreensão:
– Mas que grupo desatento!

– Ainda não compreendem?


Nada tem a ver com pão!
Não lembram que há poucos dias
Fiz a multiplicação?
Não só uma vez, mas duas.
“Fé” e “confiança” suas
Me causam decepção.
Souberam então que o ensino
É como a fermentação,
Já que um pouco contamina
Toda uma geração.
Fariseus e Saduceus
Diziam temer a Deus
Mas eram enganação.

Depois foram à Cesareia;


Aos discípulos falou:
– Sobre o Filho do Homem
Quem todos acham que sou?
– João Batista, Jeremias,
Um dos profetas, Elias.
– Você, Pedro, concordou?

Simão Pedro respondeu,


Sem vacilar um segundo:
– És Cristo, Filho de Deus.
És o Salvador do mundo
– Feliz é você, Simão,
Pois essa revelação
Tem um sentido profundo.
– E sobre esta palavra
Construirei minha Igreja.
Minha fundação é rocha
Que a fará benfazeja.
O inferno e seu portão
Jamais prevalecerão,
Pois Eu estou na peleja.

– Sabe das chaves do Reino?


As darei em suas mãos.
Coisas que ligar na terra,
Também no céu o serão.
E não revelem a ninguém
Que sou o Cristo e também
Resguardem seu coração.

E, desde aquele momento,


Jesus passou a explicar
Tudo que em Jerusalém
Deveria suportar:
O sofrimento, a tortura,
A morte, a sepultura,
Pra depois ressuscitar.
Então, Pedro, ouvindo isso
Chamou Jesus pra acolá.
Assim falou ao Senhor:
– Jamais acontecerá!
Disse Jesus: – É demais!
Pra trás de mim, Satanás!
Saia pro lado de lá.

Disse mais aos seus discípulos:


– Quem quiser me acompanhar
Deve negar a si mesmo
E a própria cruz carregar.
Me siga no meu caminho:
Nunca o deixarei sozinho
Basta com fé me aceitar.

“Pois quem quer salvar a vida,


Certamente a perderá.
Quem por minha causa a perde,
Feliz a encontrará.
Perde a alma, ganha o mundo,
Tudo se vai num segundo.
Do que adiantará?”
“Um dia, o Filho do Homem
Na glória do pai virá,
Acompanhado de anjos,
Quando recompensará
Conforme fez cada um
E aqui mesmo tem algum
Que isso presenciará.”

Daí, passados seis dias,


Jesus, em particular,
Com João, Pedro e Tiago
Foram a um monte orar.
Ali foi transfigurado.
Ficou todo iluminado,
Como um sol a brilhar.

A eles apareceram
Moisés e o profeta Elias,
Naquele mesmo momento,
Conversando com o Messias.
Pedro disse a Jesus:
– Que lugar bom, quanta luz!
Ficar aqui tu querias?
– Farei agora três tendas,
Sendo uma para ti,
A segunda pra Moisés.
A de Elias ponho ali.
Enquanto estava falando,
Uma nuvem foi passando
E uma voz saiu dali.

Os discípulos temeram
Aquela voz de trovão.
Todos eles se prostraram,
Botando o rosto no chão:
“Ouçam o meu filho amado
É nele em quem me agrado”
Assim dizia o refrão.

Jesus se aproximou.
Tocou neles, disse assim:
“Não tenham medo, levantem,
Ergam-se, olhem pra mim.”
E não viram mais ninguém.
Os outros foram pro além
E se acalmaram, enfim.
Ao descerem da montanha,
Jesus assim ordenou:
“Não contem nada a ninguém.
O que viram, aqui ficou.
Só depois podem falar,
Quando eu ressuscitar.”
Após isso, um perguntou:

– Por que os mestres da lei


Dizem que é necessário
Que Elias venha primeiro?
É assim ou o contrário?
– De fato Elias virá
E tudo restaurará.
Já antes foi emissário.

– Mas na época em que veio,


Não foi bem reconhecido.
Fizeram foi maltratá-lo,
Sem nunca ter merecido.
Comigo também farão
Como agiram com João.
Para o plano ser cumprido.
Ao final da caminhada,
Tinha uma multidão.
Um homem, chegando, disse:
– Senhor, tenha compaixão!
Ouça a prece de um pai:
Um filho meu ajudai,
Pois sofre há um tempão.

“Costuma ter uns ataques.


Na água ou no fogo cai.
Mostrei ele aos discípulos,
Mas parece que não vai.”
Estava endemoninhado.
Pelo Senhor foi curado
Saiu feliz, sem um ai.

Indagaram, os discípulos:
– Por que nós não conseguimos?
– A sua fé é pequena
E esse demônio que vimos
Só com jejum e oração,
Dessa forma expulsarão.
Desse poder nos munimos.
– Eu ainda asseguro:
Basta que a fé tamanha
Seja um grão de mostarda,
Que ordenará à montanha
Saia daqui para lá:
Prontamente ela irá
Ou qualquer outra façanha.

Quando Jesus e os discípulos


Chegaram a Cafarnaum,
O coletor de tributos
Fez pergunta para um:
– Seu mestre paga o imposto
Que no templo é proposto?
Respondeu: – Sim, é comum.

Quando Pedro entrou em casa,


Jesus veio lhe falar:
– Simão, o que você acha
Sobre o imposto a pagar?
De quem se cobra o dinheiro,
Do filho ou do estrangeiro
E quem vai se isentar?
Do estrangeiro: – Disse Pedro.
– Os filhos são isentados.
Dessa forma, quanto ao imposto,
Não se sintam obrigados,
Mas pra não escandalizar
Vá, jogue o anzol ao mar
E traga um dos pescados.

Abra a boca do peixe;


Uma moeda achará,
No valor de quatro dracmas.
O meu e o seu pagará.
Entregue-a ao cobrador.
Faça-me esse favor:
Ele não mais voltará.

Naquele momento, os discípulos


Perguntaram ao Senhor,
Quem é o maior no Reino:
O sacerdote, o doutor?
Jesus trouxe uma criança:
– Tenham essa semelhança
Pra do céu ser morador.
“Portanto, quem é humilde
Igual a esta criança,
Esse é o maior no Reino,
Aí está a esperança.
Lá no céu não há gigante:
Pra ser grande, seja infante
E alcançará a bonança.”

“Se a um dos meus pequeninos


Alguém fizer tropeçar,
A esse melhor seria
Morrer lançado ao mar.
Escândalo é inevitável
Mas ai desse miserável
Que o mal patrocinar.”

“Se a sua mão, olho ou pé


O fizerem tropeçar,
Melhor seria não tê-los
Ou quem sabe os arrancar.
Na vida, entrar mutilado,
Até mesmo aleijado,
É melhor que se danar.”
“Cuidado, não dê desprezo
A um destes pequeninos,
Pois afirmo que seus anjos
Os guardam desde meninos.
O Filho do homem veio
Pro perdido ser esteio.
Preste atenção nos ensinos:”

“Se alguém possui cem ovelhas


E uma delas se perder,
Deixará as noventa e nove
Para aquela defender.
Se a conseguir encontrar
Muito mais se alegrará:
É fácil compreender.”

“Da mesma forma, o Pai


Nosso que está no céu
Não quer ver nenhum perdido.
Cada um é um troféu.
Para sua própria glória
Ele nos dá a vitória
E permanece fiel.”
“Quando o seu irmão pecar,
Fazendo a você um mal,
Vá a ele e mostre o erro,
De um jeito informal
E se ele o ouvir,
Só tem motivo a sorrir:
Ficará tudo normal.”

“Mas se ele não o ouvir,


Leve consigo mais dois
Que sirvam de testemunha
E que confirmem depois.
Se ainda recusar,
Outra coisa irá tentar:
Fique atento agora, pois”

“Deverá fazer assim:


Conte o assunto à Igreja
E se ele recusar,
Sustentando a peleja,
Aí se acaba a razão:
Trate-o como um pagão.
Esqueça e não mais o veja.”
“Digo e repito a verdade:
Tudo que ligar na terra
Será ligado no céu.
Essa palavra não erra.
É um poder que é dado
E o que aqui for desligado,
Também no céu se encerra.”

“Se em tema concordarem


E pedirem em meu nome,
Será feito pelo Pai,
Que responde e diz: “tome!”
Reunidos, dois ou três,
Estou junto com vocês:
Sou o pão pra quem tem fome.”

Mudando um pouco de assunto,


Jesus falou do perdão,
Quando Pedro perguntou:
Sete vezes bastarão,
Quando um irmão me ofender?
O Senhor o fez saber
De uma multiplicação:
“São setenta vezes sete,
Não sete vezes apenas.
Por isso o Reino dos Céus
Eu comparo a essas cenas
Da parábola contada,
Sobre uma dívida cobrada.
Escutem, que vale a pena.”

“Certa vez havia um rei


Que fez cobranças, num dia.
Quando começou o acerto,
Veio um que lhe devia
Um grande peso em prata,
Dívida de longa data
(não sabia o que faria).”

“Como não tinha dinheiro,


Levou-se à execução
Ele, a mulher e os filhos
Se venderiam em leilão,
Mas o servo implorou,
Ajoelhado clamou,
Pedindo pelo perdão.”
“O senhor daquele servo
Moveu-se em compaixão.
Cancelou a sua dívida
E concedeu quitação,
Mas quando ele saiu
Adiante logo viu
Quem lhe devia um quinhão.”

“Agarrou-o pelo pescoço;


Sacudiu o cidadão.
Aquele pobre coitado
Também clamou por perdão.
Eras dívidas pequenas
De cem denários, apenas,
Mas não houve comoção.”

“Dizia, o pobre conservo:


‘Tenha alguma paciência.
Um dia lhe pagarei,
Hoje estou quase em falência.’
O credor não aceitou.
Para a prisão o mandou,
Agindo com violência.”
“Outros servos do senhor
Viram todo o acontecido.
Contaram aquilo ao mestre,
Que ficou aborrecido.
Então chamou o primeiro,
E que viesse ligeiro
Justificar o ocorrido.”

“O senhor lhe disse assim:


‘Mas, rapaz, você é mal!
Cancelei a sua dívida,
Dispensei até o aval,
Porque você me implorou,
Mas agora se lascou
Só porque não vez igual.

Não teve misericórdia


Daquele pobre conservo,
Como eu tive de você.
Da ira não me reservo:
Vou mandá-lo pra prisão.
Não dispenso um tostão,
Pois meu direito preservo.’”
Nosso Pai celestial,
Quando trata do perdão,
Nos ensina a concedê-lo
Do fundo do coração.
Como Ele faz com a gente,
Passe adiante, atente:
Decida amar seu irmão.

Depois de dizer tais coisas,


Saíram da Galileia.
Do outro lado do Jordão,
Foram parar na Judeia.
As multidões O seguiam.
Curou os que ali haviam
E esperavam na plateia.

Os fariseus, outra vez,


Sem dar uma folga sequer,
Querendo pegar Jesus
Em uma falha qualquer,
Perguntaram: “O divórcio,
Se dá por qualquer negócio,
Do homem com a mulher?”
– Vocês não leram que o Pai
Os fez como macho e fêmea?
Que juntos são uma só carne?
(Eu não disse alma gêmea)
Já não são dois, mais um só
Foi Deus quem fez esse nó
Separar é uma blasfêmia.

Insistindo, eles disseram:


– Explique porque Moisés
Instituiu o divórcio,
Quando ocorresse revés?
A mulher mandava embora
Não se atentando à hora
Pouco importando o viés.

– Moisés assim permitiu,


Foi por causa da dureza
Do coração de vocês.
Podem ter toda certeza,
Não era assim no início:
Isso leva ao precipício;
Não se vê nisso nobreza.
– Eu lhes digo ainda mais:
Quem da mulher se separa,
Não sendo por safadeza,
E pra outra se prepara.
Ele, com a outra pessoa,
Adultera, vive à toa:
Essa lição é bem clara.

Lhe disseram, os discípulos:


“Se a situação é esta
É bem melhor não casar”
Jesus responde e contesta:
“Isso que tenho falado
Somente a alguns é dado.
Nem para todos se presta.”

– Alguns nasceram eunucos,


Outro grupo assim foi feito,
Mas há os que escolheram
Servir a Deus desse jeito.
Quem pode aceitar, aceite,
Quem não suporta, rejeite,
Conforme pense o sujeito.
Depois, trouxeram crianças
Pra Jesus abençoar,
Por meio da oração,
Mas alguém foi reclamar.
Jesus então disse assim:
“Deixem elas virem a mim.
Ninguém as deve barrar!”

Ainda sobre as crianças,


Jesus completou dizendo
Que o Reino dos céus é delas
E todos vão aprendendo
Aos pequenos imitar,
Se a glória querem alcançar,
Se querem viver crescendo.

Partiu dali, logo após


Eis que alguém se aproximou.
Interrogando ao Mestre,
Desse jeito perguntou:
“Para a vida eterna eu ter
Que de bom devo fazer?”
Jesus então replicou:
– Por que você me pergunta
Acerca desse assunto?
Há somente um bom que é Deus,
Mas se ligue no conjunto
Que está nos mandamentos.
Todos devem ser atentos:
São da vida um adjunto.

– Quais? – o jovem perguntou.


– Escuta: não matarás,
Nem cometas adultério.
Também nunca furtarás.
Honra tua mãe e teu pai;
Do mal testemunho sai
E o teu próximo amarás.

– A tudo isso obedeço,


Desde a minha mocidade.
O que ainda me falta?
– Siga-me, ouça a verdade:
Pra ser perfeito, convém
Vender e dar tudo que tem
E no céu terá herdade!
Ouvindo isso, o jovem
Sentiu um mal infinito,
Porque tinha muitas coisas.
Não esperava o dito.
– Entrar no reino é difícil,
Quando a riqueza é um vício.
Por isso afirmo e repito:

“Pelo fundo de uma agulha


É bem mais fácil passar
Um dromedário, um camelo,
Do que um rico entrar
No Reino que é de Deus,
Que é preparado pros seus”.
Vieram, então, perguntar:

– Quem poderá se salvar?


Jesus olhou, respondeu:
“Para o homem é impossível,
Mas nunca é para Deus,
Que detém todo poder,
Mais do que sonham em saber,
Conforme os planos seus.
– E de nós, o que será?
Pedro indagou, preocupado.
Jesus disse: “fique calmo,
O de vocês tá guardado.
Este meu grupo fiel
Julgará até Israel,
Em tronos, no meu reinado.

“Quem deixou tudo por mim


E não olhou para trás
Herdará a vida eterna,
Ganhará cem vezes mais.
Quem chegou só ao final
Será o primeiro, afinal,
A escolha é Deus quem faz.”

“Comparo o Reino dos céus


À roça de um fazendeiro
Que saiu pela manhã
E assim foi o dia inteiro
A buscar trabalhadores,
Que encarassem os labores
Por um denário em dinheiro.”
Alguns vieram bem cedo
Para trabalhar na vinha.
Outros só chegaram às nove,
Conforme ao senhor convinha.
Ao meio dia, às três horas,
Outros chamou, sem demoras,
Pois trabalho ainda tinha.

Lá pelas cinco da tarde,


Encontrou desocupados.
Perguntou a esses cabras:
– Por que estão aí parados?
– Nós queremos trabalhar,
Mas ninguém veio ofertar
E ficamos encostados.

– Podem trabalhar pra mim –


Afirmou o fazendeiro –
Que o justo eu pagarei.
Se apressem e vão ligeiro.
Quando chegou a tardinha
Disse ao gerente da vinha:
– Pague aos últimos primeiro.
Os que chegaram às cinco
Receberam um denário.
Os que vieram às três
Tiveram o mesmo salário.
Assim foi com os demais,
Nem um centavo a mais
Viram os do primeiro horário.

Os que chegaram mais cedo


Foram ao dono se queixar.
Cada um, com seu denário,
Começou a reclamar:
“Os que chegaram no fim
Só trabalharam um tiquim
E o senhor fez igualar?”

“Nós ficamos no trabalho


Durante o calor do dia,
Suportamos todo o peso,
Sol, cansaço e agonia.
Os outros chegaram às cinco.
Não se compara o afinco:
Queremos outra quantia.”
Mas o senhor respondeu:
“Dei o valor contratado.
Amigo, não sou injusto,
Cumpri todo o combinado.
Foi um dia, um denário,
Nosso acerto pro salário:
Deixe esse assunto de lado.”

“O mesmo que eu lhe dei


Eu quero dar aos demais.
Se governo o dinheiro,
Eu decido o que se faz.
Ou porque sou generoso
Você vem como invejoso
Me forçando a pagar mais?”

Após contar essa história,


Foram pra Jerusalém.
Jesus disse aos discípulos:
– Quero que saibam, também,
Que o chefe do sacerdote
Me condenará à morte:
Está escrito e convém.
“Também os mestres da lei
Aos gentios me entregarão.
Serei zombado por eles,
Sofrerei perseguição.
Morrerei crucificado,
Mas ao fim, ressuscitado,
Ao céu farei ascensão.”

Chegando-se a Jesus,
A mãe de Tiago e João
Prostrou-se aos pés de Cristo
E o Senhor disse: “Pois não?”
Querendo ajudar os filhos,
Meio que saiu dos trilhos
E fez uma petição:

– Declara que no teu reino


Dará honra aos filhos meus,
Para que sejam assentados
Perto de ti e de Deus:
Que um fique à direita
E o outro à esquerda,
Do trono, junto com os seus.
– Não sabem o que estão pedindo:
Será que podem beber
Do cálice que hei de tomar?
– Podemos, é pra valer!
– Será certamente assim
Mas digo, não cabe a mim
Conceder o seu querer.

“Se à esquerda ou à direita,


Essa posição de assento
Caberá só ao meu Pai,
Que cuidará, no momento,
Conforme a sua vontade.
Então, não tenham vaidade
Se ocupando desse intento.”

O grupo dos outros dez


Ficou muito indignado
A respeito dos irmãos,
Que buscavam aquele agrado.
Jesus disse: – Entre vocês
Cada um tem voz e vez
E ninguém é mais amado.
“E muito pelo contrário:
Quem quiser ser importante,
Se transformará em servo.
Quem se coloca adiante,
Deverá ser um escravo
E aceitar esse agravo,
Pra deixar de ser pedante.”

“Vejam o Filho do homem:


Não veio pra ser servido,
Mas pra dar a sua vida
E resgatar o perdido.
Por sua própria servidão
Muitos terão o perdão:
Ouça quem tiver ouvido.”

Estavam em Jericó
E, ao saírem dali,
O povo seguiu o Mestre
Jesus, Filho de Davi.
Viram à beira dos caminhos
Dois cegos tristes, sozinhos
Que padeciam ali.
Gritavam, desesperados,
E o povo os repreendeu.
Então gritaram mais alto,
Nenhum dos dois se rendeu.
Clamaram assim a Jesus:
– Queremos ver tua luz!
E o Senhor percebeu.

Parando, então, perguntou:


– O que querem que eu faça?
– Que se abram os nossos olhos.
Jesus com amor os abraça.
Movido de compaixão,
Tocou seus olhos com a mão:
Curados, viram a graça.

Perto de Jerusalém,
Chegaram a Betfagé.
Ao monte das Oliveiras
Enviou Pedro e Tomé.
Disse: “Ao povoado vão,
Logo ali encontrarão
Uma jumenta em pé.
“Com ela, um jumentinho:
Soltem os dois; tragam pra mim.
Se alguém perguntar algo,
Digam exatamente assim:
‘O Senhor precisa deles
Logo devolverá eles’:
O dono dirá que sim.”

Aconteceu dessa forma,


Pra cumprir as profecias
Sobre a humildade do Rei,
Falada por Zacarias,
No Antigo Testamento,
Que, montado num jumento,
Chegaria o Messias.

Fizeram do exato jeito,


Como Jesus ordenou.
Trouxeram a mãe e a cria.
Entregaram ao Senhor.
Foram escolhidos, santos,
E, após cobertos com mantos,
Sobre os animais montou.
Esperava no caminho,
Uma grande multidão.
Pessoas pegavam mantos
E os estendiam no chão.
Ramos de plantas cortavam,
Na estrada espalhavam,
Na linda celebração.

Aquele agrupamento
Caminhava e gritava:
“Filho de Davi, Hosana!”
De lá, outro completava:
“Seja bendito o que vem
Em nome de Deus, amém!”
E a festa continuava.

Passando pelo portão,


Em Jerusalém entrou.
A cidade perguntava:
“Quem é este que chegou?”
A multidão respondia
“Este é Jesus, o Messias,
Que o povo tanto esperou.”
Dali, Jesus foi ao templo
E expulsou os vendedores.
Os cambistas enxotou:
“Bando de exploradores!
Minha casa de oração
Virou covil de ladrão,
Um lugar de malfeitores!”

Estava ainda no templo


E cegos se aproximaram.
Também vieram os mancos;
Curou os que necessitaram.
Os mestres e os sacerdotes
Só faltaram dar pinotes,
Do tanto que se irritaram.

Crianças gritavam: – Hosana,


Salve o Filho de Davi!
Escribas e sacerdotes
Começaram a dar piti,
Achando aquilo um horror,
Mas o mais puro louvor
Era o que se ouvia ali.
Deixando Jerusalém,
Passou a noite em Betânia.
De manhã, quando voltava,
Sentiu uma fome tamanha.
Tinha uma planta, na via,
Mas nenhum fruto havia:
Era improdutiva, estranha.

Embora cheia de folhas,


Fruto nenhum se encontrou.
Jesus lançou uma palavra
E a árvore secou.
O grupo olhou, espantado,
Pelo poder demonstrado,
Em como a planta murchou.

Jesus explicou assim:


– Quem não duvida e tem fé,
Eu asseguro a vocês,
Faz maior milagre até.
Ao pedirem em oração,
Se crerem, receberão,
Pelo poder de Javé.
“O que foi feito à figueira
É difícil de aceitar,
Mas se disser a este monte:
‘Daqui se lance ao mar’,
Será feito dessa forma.
A fé rompe toda norma,
Basta em mim acreditar.”

Outra vez voltou ao templo


E, enquanto ensinava,
Um chefe religioso,
Presunçoso, perguntava:
“Quem lhe deu autoridade
Para operar na cidade?”
(a Jesus ele afrontava).

Respondeu-lhe, o Senhor:
– Também tenho uma questão.
Se responderem à minha
Pra sua dou solução:
Era do homem ou do céu,
Com fundamento ou ao léu,
O batismo de João?
Os mestres e os sacerdotes
Conversaram entre si:
– Se dissermos que é do céu,
Ele nos dirá assim:
“E por que não creram nele?”
Não vamos cair na dele,
Pois isso vai dar ruim.

Mas se dissermos “dos homens”,


Isso também nos afeta,
Porque João era querido,
Considerado um profeta,
E como o povo tememos,
Melhor dizer: “não sabemos”
E escapar da indireta.

Desse jeito eles fizeram.


Jesus então respondeu:
– Então também não revelo
De onde vem o poder meu.
Daí, contou uma história
Que não é nada simplória.
Vou narrar como se deu.
Havia um pai com dois filhos
E ao primeiro ordenou:
– Hoje vá cuidar da vinha.
Ele respondeu: “não vou!”
Mas depois se arrependeu
Da resposta que ele deu.
Foi à vinha e trabalhou.

Chegou pro segundo filho,


Do mesmo jeito falou.
Ele respondeu: “agora!
Deixa comigo, que eu vou”
Mas lá os não pisou os pés.
Prometeu, mas fez o invés.
O trabalhou desprezou.

Jesus perguntou a um mestre:


– Qual foi o obediente?
– O primeiro – respondeu.
Se tu és disso ciente,
Digo a verdade, escuta:
Publicano e prostituta
Passaram na tua frente.
“Explicarei o que disse:
João veio com a verdade,
No caminho da justiça.
Os filhos da iniquidade
Aceitaram e acreditaram,
Enquanto vocês rejeitaram,
Deram lugar a maldade.”

Escutem outra parábola:


“Existia uma bela vinha,
De um certo fazendeiro,
Que equipou ela todinha.
Depois disso a arrendou;
Deu um tempo e se ausentou
Para uma terra vizinha.”

“Já na fase da colheita,


Enviou representantes
Para receber os frutos
Do acerto feito antes,
Mas os lavradores maus
Mataram a pedra e paus
Um daqueles viajantes.”
“Feriram ainda outros dois
E o senhor mandou mais,
Pois em maior quantidade
Não ousariam jamais:
Fizeram do mesmo jeito,
Sem terem qualquer respeito
Agiram como animais.”

“O senhor era tão bom


Que enviou o seu filho,
Dizendo: – Terão respeito!
Dessa vez entram no trilho.
Quando o filho chegou lá,
Não teve colher de chá
E sofreu todo empecilho.”

“Os lavradores disseram:


‘Este que veio é o herdeiro.
Vamos acabar com ele;
O enterramos no terreiro.
Tomaremos a fazenda;
Ficaremos com a renda:
Ninguém mais será meeiro.”
“Fizeram assim dessa forma
E mataram o rapaz.
Pergunto agora a vocês:
Do que o senhor é capaz?”
Os que escutavam disseram:
– É horrível o que fizeram,
Só a vingança satisfaz.

‘Deverá matar os maus


De maneira afrontosa
E arrendar a plantação
Pra uma turma amistosa,
Que no tempo da colheita
Não façam igual desfeita,
Mas seja honesta e honrosa.’

Jesus lhes disse o seguinte:


– Nunca leram a Escritura?
‘A pedra ora enjeitada
Se tornou a mais segura,
Angular na construção,
Necessária à salvação
Para toda criatura.”
“Isso é maravilhoso,
Vem do Senhor para nós.
Portanto, digo que a vinha
Será tirada de vós
E entregue em atributo
A um povo que dê fruto,
No Reino agora e após.”

“Quem cair sobre esta pedra


Despedaçado será.
Sobre quem ela cair
A mesma sorte terá.”
Fariseus e sacerdote
Entenderam que o mote
Era sobre eles cá.

Desse dia em diante,


Começaram a planejar,
De uma forma ou de outra,
Prender Jesus ou matar,
Mas tudo feito em segredo,
Pois do povo tinham medo
E resolveram esperar.
E tome-lhe mais parábola!
Jesus tornou a falar:
“O Reino do céu parece
Com um rei a celebrar
O casamento do filho,
Com convites, festa, brilho,
Que ninguém foi lá honrar.”

“Pra reforçar o convite,


O rei mandou empregados
Que insistissem um pouco mais
E dissessem aos convidados:
‘O jantar já está pronto
Os bois cevados no ponto:
Venham todos, meus amados!’

Os convidados fugiram,
Fazendo bem pouco caso.
Um disse: ‘tenho um negócio
E já estou com atraso’.
Outro disse: ‘vou pra roça,
Consertar uma carroça,
Não pense que é descaso’.
Não bastasse o acontecido,
Outros também convidados
Agarraram os mensageiros
E mataram os empregados.
O rei então disse assim:
‘Esse meu dedo ruim,
Só convidei desgraçados!’.

“O rei sentiu muito ódio


Por causa daquele evento.
Enviou o seu exército
Ao serviço violento
De acabar com os assassinos
E selar os seus destinos,
Sem ter arrependimento.”

Chamou outra vez os servos.


Disse: ‘vão pelos caminhos,
Chamem todos que encontrarem,
Sejam estranhos ou vizinhos.
Tanto faz se bom ou mal,
Na festa nupcial
Eu não ficarei sozinho’.
A festa se encheu da gente
Que chegou do povoado.
Muito satisfeito, o rei
Saudou cada convidado,
Quando encontrou coisa errônea:
Sem roupa da cerimônia
Viu um cidadão parado.

Perguntou assim: ‘amigo,


Como conseguiu entrar?
Sem traje nupcial
Não é possível ficar.’
O homem ficou calado.
Sabia que estava errado
E nem quis argumentar.

Então o rei disse aos servos:


‘Amarrem-lhe pés e mão
E joguem-no para fora.
Aqui só fique irmão.
Com choro e ranger de dente
Pras trevas vai esse ente
Que invadiu o salão.
“Porque muitos são chamados
Mas poucos são escolhidos”.
Ao final dessa parábola,
Alguns fariseus bandidos
Começaram a planejar
Como a Jesus enquadrar,
Por todos os ocorridos.

Enviaram seus discípulos


E mais uns herodianos
Pra testar Jesus, dizendo:
‘Mestre, nesses todos anos
Ensinas o verdadeiro
E o caminho do Reino,
Sem desvios ou enganos.’

‘Ninguém te influencia,
Nem ligas para aparência.
Mas responda aqui pra nós,
Pra que tenhamos ciência:
Qual a tua opinião
Sobre a tributação
Que hoje está em vigência?’
‘Dize a nós o que parece:
Quanto a César e seu tributo
É certo pagar ou não?’
Jesus, muito mais astuto,
Percebeu a intenção:
– Hipócritas, vocês são,
Mas respondo num minuto.

“Me mostrem uma moeda,


Com a qual se paga o imposto
(Eles trouxeram um denário).
Nela, de quem é o rosto?”
“De Cesár”, eles disseram.
Após isso, só fizeram
Esperar Jesus exposto.

“Deem a César o que é de César


E a Deus o que é de Deus!”
Ao ouvirem a resposta,
Saíram e deram adeus,
Pois ficaram admirados,
Ao serem embaraçados
Os planos que eram seus.
E naquele mesmo dia,
Sem crer na ressurreição,
Chegaram os saduceus
Com a seguinte questão:
“De Moisés se aprendeu
Que se algum homem morreu
Deve haver a sucessão.”

“Se o morto não deixar filhos,


Seu irmão deve casar
Com a viúva do primeiro
E filhos nela gerar.
Para a sua descendência
Se manter em evidência
E a família prosperar.”

“Um total de sete irmãos,


Havia em nosso meio.
O primeiro se casou
Mas a morte sobreveio.
Como não deixou herdeiro,
Seguindo aquele roteiro,
A esposa teve um norteio.”
“Ela casou com outro irmão,
Que também veio a morrer.
Assim foi com os demais,
Sem nenhum sobreviver.
Com os sete conviveu.
Ao final, ela morreu.
O que vai acontecer?”

Quando da ressurreição,
De quem será a esposa?
De qual dos sete irmãos?
Responder isso, quem ousa?
Mas Jesus disse: “Coitados,
Vocês estão enganados
Imaginando tal cousa.”

“Não conhecem a Palavra


E nem de Deus o poder.
Na vida além ninguém casa
E como anjos vão ser.
Quanto à ressurreição,
Lembrem que o Deus de Abraão
É dos que buscam viver.”
O povo se admirava,
Enquanto ouvia o ensino.
Fariseus e saduceus
Seguiam outro destino:
Foram a Jesus outra vez
Buscando um erro, talvez,
E perguntaram ao Rabino:

“Dos regramentos da Lei


Nos diz qual é o maior?”
– Ame o Senhor seu Deus,
Que não há nada melhor.
De todo o seu coração
Com toda a alma e razão:
Este é o mandamento mor.”

“Semelhante ao primeiro,
Outro grande mandamento
É dar amor ao teu próximo,
Como a ti mesmo é atento.
Toda a Lei e os profetas
Dependem das duas metas:
São o Novo Testamento.”
A um grupo de fariseus
O Senhor fez um quesito,
Procurando saber deles
Quem seria o pai do Cristo.
"É de Davi que é filho!":
Disseram, sem empecilho,
Conforme era previsto.

Jesus logo replicou:


"Então, por que é que Davi
Falando pelo Espírito
Chama Cristo de Eloí?
Reconhece a condição
Que é de subordinação:
Entendam o que prescrevi"

"Cristo é Senhor de Davi


Por isso não é seu filho."
Ninguém pôde treplicar
E nem fazer trocadilho.
A partir daquele dia,
Não houve quem lhe faria
Pergunta com tropecilho.
Jesus disse aos seguidores,
Naquela oportunidade:
"Os mestres e os fariseus
Se apoiam em falsidade.
Façam tudo o que eles dizem,
Porém jamais realizem
Suas ações de maldade."

"Eles põem cargas pesadas


Sobre os ombros da pessoa,
Mas os próprios não ajudam
A mover um peso à toa.
Ou fazem pra exibição
Sem piedade na ação,
Pra mostrar que é gente boa."

"Também usam uma caixinha


Que as escrituras contém
Mas as fazem muito largas
Pra exibir o que não têm,
Como uma demonstração
De uma falsa devoção,
Buscando enganar alguém."
"Usam roupas bem compridas,
Buscam ocupar espaço.
Gostam de honra em banquete,
Serem saudados no paço.
Quando vão à sinagoga,
Querem estar sempre em voga:
Não confiem em seu abraço.

"Adoram que chamem eles


Pelo nome de 'rabi',
Mas há um único mestre,
Jesus, Filho de Davi.
Já vocês, sejam irmãos,
Pelo Pai da Criação,
O Deus de amor, Eloí."

"O maior entre vocês


Deverá ser como um servo.
O que a si mesmo humilha
Eu lhe dou honra e conservo.
Quem a si próprio exalta
A humildade lhe faz falta
E essa conduta observo."
“Ai de vocês, fariseus,
Fingidos mestres da lei:
Fecham o Reino dos céus
Aos homens que buscam o Rei.
Nem entram nem deixam entrar
Os que desejam esse lar
Que aos filhos preparei."

“Ai de vocês, seus hipócritas,


Escribas e fariseus!
Vão às casas das viúvas
Minar os mantimentos seus.
Pra disfarçar as ações,
Fazem longas orações,
Desagradando a Deus.”

“Ai dos fariseus, hipócritas,


Farsantes mestres das leis,
Que percorrem terra e mar
Pra converter um às greis,
Mas quando encontram alguém,
Corrompem esse também
O dobro a mais que vocês.”
Ai de vocês, guias cegos,
Que se importam mais com o ouro
Que com o próprio santuário.
Veem no primeiro um tesouro
E desprezam o importante:
Acham a riqueza o bastante
E esquecem o duradouro.”

“Escribas e fariseus,
Deixem essa vida incerta.
Santuário é mais que o ouro,
O altar é mais que a oferta.
Quem jura pelo altar
Jura por tudo que há:
Sua jura está coberta.”

“Ai de vocês, seus hipócritas!


Dão oferta da hortelã,
Do endro e do cominho
Mas sua justiça é vã,
Pois têm deixado de lado
O que é de mais sagrado,
Em sua vida charlatã.”
“Justiça, misericórdia,
Fidelidade e amor.
Tudo é negligenciado,
Mas aprendam a dar valor:
Pratiquem esses preceitos,
Também aqueles já feitos,
Para a honra do Senhor.”

“Cegos, coam um mosquito


Mas engolem um camelo.
Limpam o copo por fora,
Mas por dentro falta zelo.
Fariseu, limpe em primor
Primeiro o interior,
Pra o exterior também sê-lo.”

(Por fora, bela viola


Por dentro, pão bolorento)
“Ai de vocês, seus hipócritas,
Que aparentam bom intento,
Mas são como sepultura:
Na fachada, a belezura
E o interior fedorento.”
"Parecem justos ao povo,
Mas por dentro é só maldade.
Deus procura adoradores
Que o adorem em verdade.
Aos profetas fazem túmulos,
Com enfeite em acúmulo
E dizem em leviandade:

'Se houvéssemos vivido


Naquele tempo passado,
Com o suplício dos profetas
Não tínhamos concordado.'
Descendem dos assassinos,
Com seus instintos caninos:
Completem, pois, seu pecado."

"São uma raça de víboras!


Como, pois, escaparão
Da estrada do inferno
E sua condenação?
Por isso envio profetas,
Mestres das rotas corretas,
A quem vocês matarão."
"Sendo assim, contra vocês
Cairá o sangue justo
Derramado pela terra,
Desde o primeiro injusto
Que foi feito contra Abel
E a Zacarias, fiel,
Sob todo e qualquer custo."

"Isso sim, sobrevirá


A esta mesma geração.
Ah, você, Jerusalém
Que impõe perseguição
Aos profetas enviados;
Os mata apedrejados
Sem nenhuma compaixão."

"Eu tanto quis reunir


Seus filhos em minha casa,
Como a galinha protege
Os pintos em sua asa,
Mas como disseram não,
Em um deserto estarão,
Onde a esperança é rasa."
"Pois eu falo que vocês
Não me verão desde agora
Até que digam Hosana,
Quando for chegada a hora:
'Bendito é o que vem
Em nome de Deus, amém,
No qual a salvação mora!"

Jesus, ao sair do templo,


Os discípulos achou.
Um mostrou o prédio ao mestre
E para ele apontou.
– Estão vendo tudo isto?
Tudo cairá, registro –
Jesus assim afirmou.

No Monte das Oliveiras,


Eles foram se assentar.
Os discípulos falaram
A Ele, em particular:
– Diga a nós quando serão
E como acontecerão
Os sinais do que virá.
Jesus assim respondeu,
Quanto ao tempo final:
– Tomem bastante cuidado
Com enganos, afinal
Muitos irão dizer isto:
Venham cá, eu sou o Cristo,
Mas nada será real.

“Ouvirão falar em guerras,


Mas nem por isso estremeçam,
Pois digo que é necessário
Que tais coisas aconteçam.
Mesmo com esses rumores
É só o início das dores;
Digo pra que reconheçam.”

“Será reino contra reino


E nação contra nação.
Terremoto em muitas partes,
Fome e desolação.
Para serem condenados,
Perseguidos, massacrados,
A vocês entregarão.”
“Também serão odiados
Por amor a minha causa.
Escândalos, traição
E ódio não terão pausa.
O Amor esfriará.
Ao fim, quem perseverar
Morará em minha casa.”

“Este evangelho do Reino


Será dado a todo o mundo,
Em testemunho às nações,
Com seu recado profundo.
Quando ocorrer assim,
Só então virá o fim
(Do poço será o fundo).”

"Assim, quando acontecer


‘o sacrilégio terrível’
Do qual falou Daniel,
Que a todos será visível,
Vocês fujam para os montes.
Façam isso o quanto antes,
Nesse dia imprevisível."
"Quem estiver no telhado,
De lá mesmo vá embora.
Não entre, não pegue nada,
Pois a coisa só piora.
E quem estiver no campo,
Não volte atrás do manto:
Só escape, caia fora."

"Terríveis serão tais dias,


Para todas as gestantes.
Difíceis também serão
Para as amamentantes.
Que os livre, o Pai Eterno,
Serem em sábado ou inverno
Esses fatos alarmantes.”

“Como nunca houve antes,


Nem depois existirão,
Tais dias serão chamados
De grande tribulação.
Se não fosse abreviado
Esse tempo mencionado
Não havia salvação.”
“Falsos cristos e profetas
Certamente surgirão.
Com sinais e maravilhas
A muitos enganarão.
Até mesmo os eleitos,
Se possível, com tais feitos,
Cairiam na ilusão.”

“Assim, se alguém disser:


‘Vejam, aqui está o Cristo!'
Ou 'Ele está no deserto'
Eu os aviso e insisto:
Não acreditem, não saiam,
Nessa armadilha não caiam,
Pois será o anticristo.”

“Porque como o relâmpago,


Que parte do Oriente
E em um piscar de olho
Já se mostra no ocidente,
Virá o Filho do homem:
Hoje a salvação proclame
E sempre seja prudente.”
“Onde houver um cadáver,
Se ajuntarão urubus.
Após a tribulação
A Lua não dará luz.
O sol escurecerá.
O céu se abalará
Com a volta de Jesus.”

"Então se virá no céu


O Filho do homem em glória,
Entre as nuvens, com poder,
Proclamando a vitória.
As nações lamentarão
E todos povos verão.
O cumprimento da história.”

“Com grande som de trombeta,


Seus anjos enviará.
Dos quatro cantos da terra,
Seus santos reunirá.
Dos quatro ventos do céu,
O grupo eleito e fiel
Em seus braços tomará.”
"Aprendam com a figueira,
Que nos traz essa lição:
Quando seus ramos renovam
E começa a brotação,
Eis que está anunciada
E em pouco tempo é chegada
A estação do verão."

“Da mesma forma será,


Quando estes fatos surgirem.
Será chegado o final,
Agora é hora de agirem.
Nesta mesma geração,
Tais eventos mostrarão
Profecias se cumprirem.”

“O mundo pode passar:


Céu, terras, mares irão,
Mas essas minhas palavras,
Elas jamais passarão.
Saber quando, ninguém vai,
Nem o filho, só o Pai,
Sobre as coisas que virão.”
“Qual no tempo de Noé
Será na vinda do Cristo,
Pois já perto do dilúvio
Todos duvidavam disto.
Viviam a vida normal
Comiam, casavam e tal
E Noé era malvisto.”

“Até o dia em que ele


Entrou na arca com os seus.
Depois, com a porta trancada
Por um arcanjo de Deus,
Veio o dilúvio e levou
O povo que duvidou
E partiu sem dar adeus.”

“O Filho do homem vem


De um jeito bem parecido,
Tipo dois homens no campo:
Um é salvo outro é perdido;
Com mulheres na moenda,
No moinho da fazenda
O mesmo é acontecido.”
"Portanto, digo, vigiem,
Pois não sabem em que dia
Voltará o seu Senhor.
Mas entendam a alegoria:
Se na casa, um cidadão
Soubesse que vem ladrão
O roubo não se daria.”

“Por isso, você precisa


Estar sempre preparado.
O Filho do homem vem
Em momento inesperado.
Mordomo bom e fiel
Do Senhor ganha troféu
Por cumpriu o seu mandado.”

“Mas suponham que esse servo


Seja mau e atrevido.
Na demora do senhor,
Se torne um pervertido:
Maltrate seu companheiro
Coma e beba o dia inteiro,
Vivendo como um perdido.”
“O senhor daquele servo
Surgirá em qualquer dia,
De surpresa, sem espera,
E o mordomo, em agonia,
Sofrerá a punição,
Num lugar de sofridão,
Onde não há alegria.”

“Semelhante a dez virgens,


O Reino dos céus será:
Pegaram seus candeeiros
Para o noivo encontrar.
Cinco eram insensatas
E a outras eram sensatas,
Na história que irei contar.”

“As imprudentes pegaram


Cada uma um candeeiro
Mas não levaram o óleo.
As prudentes, bem ligeiro,
Levaram óleo em vasilhas
E seguiram suas trilhas
À espera do cavalheiro.”
“O noivo se demorou;
Todas com sono ficaram
E logo adormeceram.
À meia noite gritaram:
'O noivo se aproxima;
Venham todas para cima!'
Nesse momento acordaram.”

“Prepararam os candeeiros
E as insensatas disseram:
'Nos deem um pouco do óleo
Que as nossas chamas já eram'.
Mas as prudentes negaram:
Se para as outras faltaram
Por elas mesmas temeram.”

“'Vão comprar para vocês!':


As prudentes responderam.
As outras foram ao mercado
E quando compareceram
A festa estava animada,
Mas a porta foi fechada
E o banquete elas perderam.”
“Ainda tentaram entrar,
Dizendo: 'abra pra nós!'
Mas o senhor respondeu:
'Não conheço quem sois vós.'
Portanto sempre vigiem,
Perseverem e confiem
Pra não acabarem sós.”

“O dia do advento
Também compara a um senhor
Que, ao sair de viagem,
Seus servos ele chamou.
A cada um deu um bem:
'Os talentos que aqui têm,
Cuidem deles que já vou'.”

“A um deu cinco talentos,


Conforme a capacidade.
Ao outro apenas dois
E ao terceiro a metade.
Cada um fez uma ação
Quanto à aplicação,
Com a sua quantidade.”
“O que foi mais diligente,
Decerto foi o primeiro.
Negociou com um banco
E duplicou o dinheiro.
O segundo fez o mesmo,
Não permaneceu a esmo
(Veremos o derradeiro).”

“O que ganhou um talento


Cavou buraco no chão
E ali botou o dinheiro,
Com medo do seu patrão.
Com o tempo o senhor voltou
E aos três servos tomou
Das contas, a prestação.”

“O que recebera cinco


Trouxe mais cinco e falou:
‘Tome aqui o seu dinheiro:
Fiz negócio e ele dobrou'.
O senhor, bem satisfeito,
Elogiou esse feito
E ao servo abençoou.”
“O que recebera dois
Também se apresentou.
De servos bons e fiéis
O senhor os nomeou:
'Por serem fiéis no pouco
Nem fraquejarem tampouco,
Honra e alegria lhes dou’.”

“Por último veio aquele


Que recebera um talento.
Disse ao senhor que sabia
Que ele era avarento.
Que colhe sem ter plantado,
Junta sem ter semeado:
'Não quis aborrecimento'.”

“'Tive medo e escondi


O seu talento no chão,
Tome aqui o que é seu,
Cumpri minha obrigação.'
O senhor disse, zangado;
'É servo mal, desleixado,
Preguiçoso e sem noção’.”
'Se sabe que colho e junto,
Sem plantar nem semear,
Devia ter calculado
Que eu queria ganhar.
Se o talento aplicasse
No banco, quando eu voltasse,
Teria mais pra me dar’.

‘Tirem o talento dele


E entreguem ao que tem mais,
Pois a quem tem mais é dado
E quem não tem, tem demais:
O pouco lhe é tirado.
Pra fora será lançado,
Onde não haverá paz’.

"Quando o Filho do homem


Retornar em sua glória,
Com todos os anjos seus,
Em seu trono de vitória,
As nações reunirá
E o povo separará
Com a palavra decisória."
“Do jeito que um pastor
Separa bodes e ovelhas,
Colocará os eleitos
À direita, em parelhas.
Os bodes à sua esquerda
Sofrerão terrível perda
Que a nada se assemelha.”

"Aos que estiverem à direita,


O Rei falará assim:
‘Venham, benditos do Pai, Recebam a herança de mim!
Um Reino eterno criado,
No Gênesis preparado
Para o seu prazer sem fim.

Porque quando tive fome


Me deram o de comer.
Também quando tive sede
Me deram o de beber.
Estrangeiro, me aceitaram,
Doente, de mim cuidaram.
Fui preso e foram me ver’."
"E os justos responderão:
‘Senhor, quando nós te vimos
Passando necessidade
E quando nós intervimos,
Fazendo alguma bondade?'
O Rei dirá: 'em verdade,
Fizeram aos pequeninos

E quando desses cuidaram,


Ajudaram a mim também’.
Mas os que estão à esquerda
A mesma sorte não têm:
Malditos, longe de mim,
Será terrível o seu fim,
Às trevas do mundo além.”

“Estes também perguntaram:


'Senhor, quando lhe negamos
Qualquer ajuda ou cuidado?
Espantados nós estamos,
Disso não lembramos nada:
Há alguma coisa errada,
Por isso nós imploramos.'
Negaram aos meus pequeninos;
Recusaram a mim também.
Perderam a oportunidade
De tentar fazer o bem.
Vão ao castigo eterno,
Condenados ao inferno
De onde não sai ninguém.”

Tendo dito essas coisas,


Aos discípulos falou:
"Faltam dois dias pra Páscoa
E o meu tempo chegou.
Quando eu serei levado
Para ser crucificado,
Como o profeta explicou."

Os chefes dos sacerdotes,


Naquela ocasião,
Juntos com os religiosos
Fizeram reunião.
De um maioral foram atrás,
Cujo nome é Caifás,
Pra pôr Jesus na prisão.
Também queriam matá-lo,
Mas quando a Páscoa passasse.
Para evitar um tumulto
Falaram que se esperasse,
Pois essa combinação
Desenhada à traição
Era pra fazer com "classe."

Jesus, estando em Betânia,


Na casa de um leproso,
Aproximou-se uma mulher
Com um perfume valioso.
Em um frasco de alabastro
E na cabeça do Astro
Derramou de jeito honroso.

Os discípulos, ao verem,
Começaram a reclamar.
"Por que este desperdício?"
Se puseram a perguntar.
"Este perfume, vendido,
Poderia ser vertido
Aos pobres, para ajudar."
Percebendo o que disseram,
Jesus assim arguiu:
"Por que estão perturbando
A mulher que me ungiu?
Ela fez uma boa ação.
Pobres sempre haverão.
Mas a mim, for ver: "sumiu!""

"O perfume me prepara


Para o sepultamento
E o que ela fez será
Lembrado a todo momento.
Onde for anunciado
O evangelho ora dado
Se falará desse evento."

Então, veio um dos Doze,


O Judas Iscariotes,
E ofertou uma proposta
Aos chefes dos sacerdotes:
"O que vocês vão me dar
Se Jesus eu entregar?
Negociemos os dotes."
Assim, combinaram o preço:
Trinta moedas de prata.
Desse momento em diante
Judas andava à cata
De uma oportunidade
Pra executar a maldade,
Conforme a Bíblia relata.

No festival dos pães asmos


(que quer dizer 'sem fermento'),
Os discípulos pediram
A Jesus ordenamento:
"A Páscoa está chegando
E estamos nos preparando:
Onde será o evento?"

Ele respondeu, dizendo


Que entrassem na cidade
E após achar certo homem,
Falassem com autoridade:
"O Mestre mandou dizer
Que seu tempo vai vencer:
Faça a hospitalidade."
"Juntamente com os discípulos,
A Páscoa irá celebrar.
Por isso é necessário
Que nos conceda seu lar."
Do jeito que ele ordenou,
A festa se preparou
Com um excelente jantar.

Ao anoitecer, com os Doze,


Jesus reclinou-se à mesa.
Enquanto estavam comendo,
Disse com toda franqueza:
"Certamente um de vocês
Me trairá, e já fez"
(Ali reinou a tristeza).

Um a um foram dizendo:
"Porventura serei eu?"
Jesus falou: "é aquele
Que no meu prato comeu.
Havia de me trair
Pra profecia cumprir,
Mas esse aí mal se deu.”
"Melhor seria se ele
Não tivesse nem nascido."
Quando Jesus falou isso,
Judas, aquele fingido,
Perguntou: – Senhor, sou eu?
– Sim, você reconheceu:
Disse o Senhor ao perdido.

Enquanto eles comiam,


Jesus segurou o pão,
Deu graças e repartiu
E disse, na ocasião:
"É meu corpo; tomem, comam"
E o vinho: peguem, bebam,
Que é o sangue da expiação".

"É derramado por muitos,


Para perdão do pecado.
É o sangue da aliança
E escutem este recado:
De agora em diante
Só devem beber perante
O Senhor em seu Reinado."
Depois de terem cantado
Um hino de adoração,
Ao Monte das Oliveiras
Seguiram em procissão.
Foi quando Jesus falou:
"Nesta noite que chegou
Vocês me abandonarão."

"Pois está escrito assim:


‘Ferirei o bom pastor
E as ovelhas do rebanho
Se espalharão por temor.'
Mas eu ressuscitarei
E a vocês revelarei
Minha glória e esplendor."

Pedro logo respondeu:


"Mesmo que alguém te abandone,
Nunca te abandonarei!'
Disse Jesus: "se impressione:
Me negará num instante
Antes que o galo cante,
Embora isso mencione."
"E lhe digo ainda mais:
Três vezes me negará."
Pedro declarou: "Senhor
Podem até me matar.
Não te negarei jamais!"
Concordaram os demais.
Depois Jesus foi orar.

No Jardim do Getsêmani,
Ele escolheu um lugar.
Acomodou os discípulos
E os mandou esperar.
Levou Pedro e mais dois
Quando retornou, depois,
Estavam a cochilar.

Jesus os repreendeu:
"Não puderam esperar
Nem mesmo por uma hora?
Devem orar e vigiar,
Pra não caírem em pecado:
O espírito está formado,
Mas da carne é o fraquejar."
Ali naquele lugar,
Jesus se angustiou.
Numa tristeza mortal
Sua alma se afundou,
Pois na sua humanidade
Teve medo, de verdade,
E assim a Deus orou:
"Afasta de mim o cálice,
Meu Papai, se for possível,
Mas não seja como eu quero
Teu desejo é o preferível."
Se o devo, então, beber
Seja teu o meu querer,
Pois teu plano é infalível."

Quando voltou, outra vez,


Não viu olho se abrindo.
De novo Jesus orou,
As palavras repetindo.
Em seguida reclamou:
"A hora agora chegou
E vocês aí dormindo?"
"Eis que o Filho do homem
Está entregue nas mãos
De pecadores e ainda
De um do meio dos irmãos.
Levante o grupo, vai!
Aí vem o que me trai,
Que é pior que os pagãos!"

Enquanto ainda falava,


Judas veio e deu as caras.
Com ele, uma multidão
Trazendo espadas e varas.
Os chefes dos sacerdotes
Ajudaram Escariotes
E a trama veio às claras.

Pra identificar Jesus,


O traidor planejou
Saudar o Senhor com um beijo
E assim executou.
"Salve, Mestre!": Judas disse.
Beijou pra que o povo visse.
Jesus então perguntou:
“Amigo, o que o traz?”
Os homens se aproximaram,
Naquele exato momento
E o Senhor agarraram.
Dos Onze, um reagiu,
Puxou a espada e feriu
Um daqueles que os cercaram.

O servo do sacerdote
Teve a orelha decepada.
Jesus disse: "Nada disso!
Guarde agora essa espada.
Os que vivem nessa ação,
Pela espada morrerão:
A violência é errada.”

“Você acha que eu não posso


Agora ao meu Pai pedir
Doze legiões de anjos
Para virem me acudir?
O que há neste momento
É sagrado mandamento,
Escritura a se cumprir.”
Naquela hora, Jesus
Se voltou à multidão.
Disse: "estou chefiando
Alguma rebelião?
Vêm a mim com paus, espadas,
Mas nas semanas passadas
No templo eu dava lição"

"E lá ninguém me prendeu!


Tais coisas aconteceram
Conforme as Escrituras
Que profetas escreveram."
Os discípulos, na hora,
Fugiram, foram embora,
E de Jesus se perderam.

Os que prenderam Jesus


O levaram a Caifás,
Que era sumo sacerdote
Da parte de Satanás.
Na casa desse chefão
Fizeram reunião
Com outras pessoas más.
Mas Pedro seguiu de longe,
Ao pátio do sacerdote.
Entrou, sentou com os guardas,
Pra saber qual era a sorte:
Um falso contra Jesus,
Buscaram quem o produz
Para condená-lo à morte.

Apesar das testemunhas


Que estavam no lugar,
Pra depoimento falso
Nada puderam encontrar.
Por fim, se apresentaram
Duas que assim declararam:
"Vimos Jesus blasfemar!".

"Ele afirmou: ‘Sou capaz


De acabar com o santuário
E o refaço em três dias’."
– É verdade ou o contrário?
Responda à acusação:
Disse o chefe ancião,
Que era um adversário.
Jesus estava em silêncio
E assim permaneceu.
O sacerdote lhe disse:
"Exijo que jure por Deus:
Diga se você é o Cristo,
Confesse agora, insisto."
Ao que Jesus respondeu:
"Tu mesmo que o disseste.
Mas vós todos escutai,
Que um dia me vereis
À direita de Deus Pai.
Sobre as nuvens descerei,
Com o poder de grande Rei,
Honra, glória e tudo mais."

Quando o sumo sacerdote


As palavras escutou,
Rasgou as roupas e disse:
– É certo que blasfemou!
Para que mais testemunha?
Conforme eu pressupunha,
É réu de morte e provou!
Alguns cuspiram em Jesus
E outro lhe deu um tapa.
No rosto lhe deram murros.
– Ele agora não escapa!
Mais diziam, em gozação:
"Profetize, Cristo, então,
Diz quem te bateu de lapa!"

Pedro estava assentado


E alguém o reconheceu,
Dizendo: "sei que você
Anda com o Galileu!"
Mas ele negou, gritando:
"Não sei do que está falando!"
Depois saiu, se escondeu.

Enquanto ele saía,


Uma criada espiava
E disse aos homens dali:
"Com Jesus este estava!"
Pedro jurou de pé junto:
"Não sei nada desse assunto"
E em fuga se apressava.
Alguns instantes depois,
Os homens chegaram perto.
Olharam ele e afirmaram:
"É um deles, isso é certo,
Pois seu jeito de falar
Basta pra o denunciar"
(Pedro então foi descoberto).

Daí ele começou


A se amaldiçoar:
"Não conheço esse homem!"
Voltou de novo a jurar.
Foi quando um galo cantou.
De Jesus Pedro lembrou
E desatou a chorar.

No outro dia, bem cedo,


Deixaram ele amarrado,
Pois tomaram a decisão
De Jesus ser condenado.
O chefe do sacerdote
Desejava a sua morte
E ao prefeito foi levado.
Perante Pôncio Pilatos,
Que era o governador,
Jesus foi apresentado.
Perguntou ele ao Senhor:
"Você é o rei dos judeus?"
"Tu o dizes e não eu":
Afirmou, o Salvador.

Apesar da imputação,
Ele nada respondeu.
Pilatos disse outra vez:
“Qual o argumento seu?
Não escuta a acusação
Que fazendo agora estão?
Defenda-se, Galileu!”

Jesus não respondeu nada.


Do mesmo jeito ficou.
O governador Pilatos
Com ele se impressionou:
Não estava habituado
Em ver alguém tão honrado,
Por isso se admirou.
Nesse mesmo dia, Judas,
Que o havia traído,
Se contorceu de remorso,
Parecia arrependido.
Foi devolver o dinheiro
Trinta pratas, por inteiro
De quem fora recebido.

Disse: "pequei, pois traí


O sangue do inocente."
Responderam: "e daí?
Não é problema da gente."
Judas jogou as moedas
Que se espalharam na queda
E se enforcou mais à frente.

Os chefes dos sacerdotes Recolheram o tesouro


E disseram: "É contra a lei
Receber prata ou ouro,
Visto que é preço de sangue.
Que isso não se alongue,
Não queremos mal agouro.
Então, decidiram usar
Esse maldito dinheiro
Para comprar um terreno,
Que era o campo do Oleiro
E conforme o seu critério,
Servia de cemitério
Aos mortos do estrangeiro.

O que disse Jeremias


Outra vez foi confirmado:
"Tomaram trinta moedas
E assim foi avaliado.
Para o campo do Oleiro
Serviu aquele dinheiro,
Conforme fora ordenado."

Enquanto isso, Pilatos


Pensava em Jesus soltar
E confiou no costume
De um preso se libertar.
No dia do festival
O povo escolhe o tal:
Tem tudo pra funcionar.
Pois o outro prisioneiro
Era muito conhecido,
Chamado de Barrabás,
Perigoso e temido.
Perguntou à multidão:
"Quem eu solto da prisão:
Jesus Cristo ou o bandido?"

De que tudo foi inveja,


Pilatos tinha certeza.
Jesus era inocente
E ao final da peleja
Iria ser libertado
“Já Barrabás, o safado,
Que o povo não o proteja.”

Pilatos estava pronto, No lugar da decisão, Foi quando a sua mulher


Mandou uma anotação: “Não mexa com este inocente, Passei a
noite doente Sonhando com o cidadão.”
Mas os sacerdotes chefes,
Juntos com os religiosos,
Convenceram a multidão.
Gritavam, bem fervorosos:
“Barrabás, é pra soltar
Jesus, pra crucificar!”:
E nisso foram exitosos.

Escolheram Barrabás,
Pra que fosse libertado.
– E o que farei com Jesus?
– Deve ser crucificado!
– Mas que crime cometeu?
Sem resposta, conheceu
Que tudo estava acabado.

Quando Pilatos notou


Que não houve resultado.
Pelo contrário, um tumulto
Parecia iniciado
Resolveu lavar as mãos
Diante da multidão
E soltou esse recado:
“Pelo sangue deste homem
Me considero inocente:
A responsabilidade
É de toda a sua gente”
O povo assim respondeu:
“O sangue dele é meu
E de nossos descendentes!”

Então soltou Barrabás.


Mandou açoitar Jesus.
Logo mais o entregou
Para uma morte de cruz:
Os soldados o pegaram
Da forma que o levaram
Nem animal se conduz.

Com a tropa ao seu redor,


Deu-se início à tortura.
Arrancaram as suas roupas
E mudaram a vestidura.
Puseram um manto vermelho,
Se abaixaram de joelho
E zombaram da figura.
Uma coroa de espinhos
Em sua cabeça puseram.
Na mão botaram uma vara,
Que como cetro lhe deram.
Atentaram contra Deus:
"Salve o rei dos judeus!"
Caçoando, eles disseram.

Depois tomaram a vara;


Com ela batiam nele.
Repuseram suas roupas;
Cuspiam no rosto dele.
Após aquele tormento
Se aproximava o momento
De crucificarem ele.
Ao saírem no caminho,
Encontraram um tal Simão,
Que forçaram a carregar
O madeiro da Paixão.
E no Lugar da Caveira
Bebida amarga e sujeira
Lhe deram na ocasião.
Continha vinho com fel
E quando Jesus provou
Amargou em sua boca
E a beber se recusou.
Só parte do sofrimento
Foi descrita no momento,
Ante a tudo que passou.

Depois de o crucificarem,
Suas roupas dividiram.
Em sorteio entre eles,
Quem ia ganhar decidiram.
Sentados, o vigiavam,
Em seu corpo se mostravam
Feridas que lhe infligiram.

Logo acima da cabeça,


Colocaram uma escrita.
A acusação contra ele
Em três línguas foi inscrita:
“JESUS, O REI DOS JUDEUS.”
Morria o Filho de Deus
Na forma em que foi prescrita.
Crucificados com Cristo
Foram também dois ladrões,
À direita e à esquerda.
Em certas ocasiões,
Começaram a conversar:
Um deles para zombar
E outro a tomar lições.

Os que passavam na praça


Insultavam o Senhor,
Balançavam a cabeça,
Diziam: “o Salvador!?
Desça agora dessa cruz.
É o Filho de Deus, Jesus?
Mostre a nós o seu valor!”

"Você que destrói o templo


e o refaz em três dias,
Salve-se! Desça da cruz,
Acabe essa agonia.”
O grupo dos sacerdotes,
Repetindo esses motes,
A mesma coisa dizia:
"Queria salvar os outros,
Mas a si não é capaz!
Se diz o rei de Israel?
Desça daí, meu rapaz!
Se acaso isso fizer
Em você teremos fé.
Será que faz ou não faz?

Igualmente, o insultava
O ladrão que era covarde.
Houve trevas sobre a terra
Até três horas da tarde.
Jesus bradou: “Eloí!
Lamá Sabactâni?”
Gritando com todo alarde.

Quando disse essas palavras,


Sentia um grande desgaste.
Na tradução quer dizer:
“Por que me abandonaste?”
Expressava a tristeza,
A angústia, a vileza:
“Que a dor cesse e baste!”
Quando os que estavam ali
Ouviram Jesus falar
Disseram: "Está chamando
Elias pra o ajudar".
No mesmo instante, um deles
Entregou uma esponja a Ele
Com vinagre pra tomar.

Outros ainda disseram:


"Vejamos, já que chamou,
Se Elias vem salvá-lo".
O Espírito entregou,
Soltou seu último brado
Disse: “está consumado!”
E morto, então, expirou.

Naquele momento, o véu


Do santuário rasgou-se
De cima até embaixo,
Em duas partes tornou-se.
A terra estremeceu,
O rochedo se fendeu
E o universo calou-se.
Os sepulcros se abriram
E os corpos de muitos santos
Que já haviam morrido
Surgiram em vários cantos,
Pois foram ressuscitados
E por muitos avistados,
Causando grandes espantos.

Quando o centurião
E os que Jesus vigiavam
Viram aquele terremoto
E os fatos que se passavam,
Ficaram aterrorizados,
Surpresos, maravilhados
E o Senhor professavam.

Mulheres que observavam


Todo acontecimento
Tinham seguido Jesus
Para o servir, no momento,
A Madalena Maria
E outras que ali havia,
Tomadas de sentimento.
Logo ao cair da tarde
O José de Arimateia,
Que era um homem rico,
Teve a seguinte ideia:
Pedir ao governador
O corpo do Salvador
E o sepultar na Judeia.

José levou o cadáver,


Pois Pilatos concordou,
A um sepulcro novinho
Que pra Jesus reservou.
Na rocha foi escavado
Com uma pedra fechado.
O corpo ali sepultou.

Sentaram perto do túmulo,


Madalena e outra Maria.
Depois da Preparação
Ou seja, no outro dia,
Um grupo com fariseus
Com outros planos dos seus
Ao governador dizia:

Senhor, estamos lembrados


Que Jesus, quando era vivo,
Dizia pra os quatro cantos
Algo que é muito nocivo:
Que depois de sepultado
Com três dias de matado,
Voltaria redivivo.

Ordena, pois, que o sepulcro


Seja bastante guardado.
Até o terceiro dia
Por soldados, vigiado,
Para que o corpo não furtem
E também que não insuflem
Que ele está ressuscitado.

Pilatos disse o seguinte:


"Levem um destacamento.
Façam toda segurança
E cuidem do fechamento.
Montem guarda até o fim
Lacrem a pedra, enfim,
Pra evitar aquele intento.
Depois que passou o sábado,
Madalena e outra Maria
Visitaram o sepulcro
Para verem o que havia.
Eis que a terra estremeceu,
Do céu um anjo desceu,
Onde antes Jesus se via.

Seus vestidos eram brancos.


Houve um clarão, na chegada.
Parecido com um relâmpago,
Rolou a pedra da entrada
E fez dela uma cadeira.
Os guardas, com tremedeira,
Desmaiaram na calçada.

O anjo disse às mulheres:


"Não se assustem nem se assombrem!
Sei que estão procurando
Jesus, o Filho do homem:
Ele foi crucificado
Mas já é ressuscitado:
Não está entre os que dormem."
"Vão e contem aos discípulos:
O Senhor ressuscitou
E está vindo ver vocês!
Ouçam o recado que dou:
Esperem na Galileia,
Essa é a melhor ideia,
Conforme ele mandou.

As mulheres foram rápido.


Com medo e com alegria,
Correram pra anunciar
O milagre que ocorria.
Jesus surgiu, de repente,
Falou: Salve, minha gente!
E o adoraram, as Marias.

Jesus então disse assim:


“Vão dizer a meus irmãos
Que aguardem na Galileia;
É certo que me verão.
Não tenham medo de mim
Foi para isso que vim:
Trago ao mundo a salvação.
Enquanto as mulheres iam
Na estrada com o recado,
Aqueles guardas do túmulo
Levaram o fato narrado
Aos chefes dos sacerdotes,
Que com dinheiro aos lotes
Corromperam os soldados.

O plano foi desse jeito:


“A história a ser contada
É que vieram os discípulos
Durante a madrugada.
Quando vocês cochilaram,
O corpo eles furtaram,
De forma dissimulada.”

“Se Pilatos souber disso,


Não precisam se avexar.
Nós explicaremos tudo.
Não vão se preocupar:
Está feito o esquema
E qualquer outro problema
Podemos solucionar.”
Assim fizeram os soldados:
Receberam o dinheiro
E cumpriram o combinado
Desse plano traiçoeiro.
Essa versão mentirosa
Se tornou muito famosa
Aos Judeus do mundo inteiro.

Daí, os onze discípulos


Ficaram na Galileia,
Onde Jesus indicou
Que faria a assembleia.
Quando o viram o adoraram.
Alguns até duvidaram,
Espantados com a ideia.

Então Jesus afirmou,


De forma clara e sem véu:
"Foi-me dada a autoridade
Em toda terra e no céu
Portanto, agora vão,
Percorram toda nação
E não fiquem aqui ao léu.”
“Vão e façam mais discípulos,
Conforme eu instruí tanto.
Os batizem em meu nome
Do Pai, do Espírito Santo.
Os ensinem a obedecer
E a cumprir o meu querer,
Que no mais tudo garanto.”

“Sempre estarei com vocês.


Nada irá nos separar.
Em todo instante da vida,
Comigo podem contar:
A partir deste momento
E até o final do tempo,
No dia em que eu voltar.”

Mateus encerra o seu livro


Com as palavras do Senhor,
Que veio a nós feito homem
Para ensinar o amor
E através da doação,
Morte em crucificação,
Se fez nosso redentor.
Leitores, este é o fim
Do que o evangelho conta,
Mas também é o começo
Da história que aponta
Para nós a direção,
No rumo da salvação
Que Jesus já deixou pronta.

Faça essa prece comigo:


“Jesus Cristo, meu Senhor,
Recebo na minha vida
Sua mensagem de amor.
Habite em meu coração
E me dê o seu perdão,
Por sua graça e favor.”

Ao recebermos Jesus,
A nova vida se cria.
As coisas velhas se passam,
Temos paz e alegria!
Hoje é o melhor momento
De aceitar o salvamento
Pra encontrá-lo em breve dia.
Petrolina, 14 de janeiro de 2022.

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