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ESCOLA DE VETERINÁRIA
Colegiado do Programa de Pós-Graduação
Belo Horizonte
Escola de Veterinária – UFMG
2013
1
Guimarães, Esperança Lourenço Alberto Mabandane, 1986-
G963c Conhecimento sobre leishmaniose visceral e prática das medidas de prevenção e
controle por proprietários de cães em Belo Horizonte, 2010/2011 / Esperança
Lourenço Alberto Mabandane Guimarães – 2013.
79 p. : il.
CDD – 636.708 96
2
Dissertação defendida e aprovada em 04 de fevereiro de 2013, pela Comissão
Examinadora constituída por:
3
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, por tudo, meramente pela saúde e iluminação em todas as minhas trilhas.
Aos meus pais, Adélia João e Lourenço Guimarães (in memorian), pelo amor, apoio
incondicional, confiança e exemplo de bondade, sabedoria e determinação, digo um obrigado
imenso.
Ao meu pequeno Binilson e aos maninhos Lina, Lourino e Kátia, de coração agradeço pelo
carinho, amizade e apoio moral.
Ao Cláudio David Dimande, pelo carinho, amizade, atenção e pela iniciativa e incentivo para a
realização deste sonho de me tornar mestre.
À minha querida orientadora, professora Drª. Danielle pela delicadeza, atenção, apoio e
incentivo, inclusive nos momentos mais difíceis desta longa caminhada.
Aos professores José Ailton, Pedro Light, João Paulo, Marcos Xavier e Paulo pela atenção e
pelas sugestões desde a elaboração do projeto até ao desenvolvimento da dissertação.
Aos amigos e colegas brasileiros, especialmente a Marcelle, a Stefanne, a Camila, a Ana Liz, a
Ana Cláudia, a Maria Aparecida, a Olga, o Gustavo, o Lucas, pela ajuda, amizade, companhia e
amparo.
5
SUMÁRIO
RESUMO ....................................................................................................................... 11
ABSTRACT ................................................................................................................... 11
1 - INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 12
2 – LITERATURA CONSULTADA ............................................................................. 13
2.1 – Distribuição da leishmaniose visceral ................................................................... 13
2.2 - Aspetos gerais da leishmaniose visceral ................................................................ 17
2.2.1 - Agente etiológico ................................................................................................ 17
2.2.2 - Vetor/ transmissão ............................................................................................... 17
2.2.3 - Reservatórios ....................................................................................................... 18
2.2.4 - Aspectos clínicos da leishmaniose visceral em humanos e cães ......................... 19
2.2.5 – Diagnóstico da leishmaniose visceral em humanos e em cães ........................... 20
2.3 - O Programa de Vigilância e Controle da leishmaniose visceral (PVCLV) ........... 21
2.3.1 - Medidas de prevenção e controle da leishmaniose visceral direcionadas à
população humana .......................................................................................................... 22
2.3.2 - Medidas de prevenção e controle da leishmaniose visceral direcionadas ao vetor
........................................................................................................................................ 22
2.2.3 - Medidas de prevenção e controle da leishmaniose visceral direcionadas ao
reservatório urbano ......................................................................................................... 24
2.3.4 - Educação em saúde/ conhecimento sobre a leishmaniose visceral ..................... 28
3 - MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 32
3.1 – Tipo de estudo ....................................................................................................... 32
3.2 - Descrição da área de estudo ................................................................................... 32
3.3 - Delineamento do estudo ......................................................................................... 33
3.3.1 - Fonte de dados ..................................................................................................... 33
3.3.2 - Definição da amostra ........................................................................................... 34
3.3.3 − Instrumento de coleta de dados .......................................................................... 34
3.3.4 - Trabalho de campo .............................................................................................. 35
3.4 - Considerações éticas .............................................................................................. 36
3.5 - Armazenamento e análise de dados ....................................................................... 36
4 – RESUTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 36
4.1 - Características da população estudada ................................................................... 36
4.2 - Conhecimentos em relação à leishmaniose visceral .............................................. 38
4.2.1 - Conhecimentos sobre o vetor da L. infantum ...................................................... 38
4.2.2 - Conhecimentos sobre as espécies susceptíveis à leishmaniose visceral ............. 39
4.2.3 - Conhecimentos sobre os sintomas e sinais clínicos da leishmaniose visceral em
humanos .......................................................................................................................... 40
4.2.4 - Conhecimentos sobre os sinais clínicos da leishmaniose visceral em cães ........ 41
4.3 - Conhecimentos sobre as medidas de prevenção e controle ........................... 43
4.3.1- Conhecimentos sobre as medidas de prevenção e controle direcionadas à
população humana .......................................................................................................... 43
4.3.2- Conhecimentos sobre as medidas de prevenção e controle direcionadas ao vetor
........................................................................................................................................ 44
4.3.3- Conhecimentos sobre as medidas de prevenção e controle direcionadas à
população canina ............................................................................................................ 44
6
4.3.4 - Opiniões dos entrevistados sobre mudanças nos serviço público, no que diz
respeito à prevenção e ao controle da leishmaniose visceral.......................................... 46
4.4 - Origem dos conhecimentos sobre a leishmaniose visceral .................................... 47
4.5 - Práticas dos entrevistados frente às medidas de prevenção e/ou controle da
leishmaniose visceral ...................................................................................................... 48
4.5.1 – Práticas dos entrevistados frente às medidas de prevenção e controle
direcionadas ao vetor ...................................................................................................... 48
4.5.2 – Práticas dos entrevistados frente às medidas de prevenção e controle
direcionadas ao reservatório canino ............................................................................... 50
4.6 - Importância do cão para o proprietário .................................................................. 54
4.7 - Práticas dos proprietários de cães frente ao resultado soropositivo do animal ...... 55
4.8 - Atitude do proprietário do cão soronegativo se o cão apresentasse resultado
soropositivo para leishmaniose visceral ......................................................................... 61
5 - CONCLUSÕES ......................................................................................................... 62
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 63
7 - ANEXO 1: Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, para a realização da
pesquisa .......................................................................................................................... 71
8 - APÊNDICE 1: Questionário sobre a leishmaniose visceral aplicado aos
proprietários de cães. 72
9 - APÊNDICE 2: Termo de consentimento Livre e Esclarecido .................................. 78
7
LISTA DE TABELAS
Tabela1 Distribuição dos proprietários de cães diagnosticados para a
leishmaniose visceral, na EV-UFMG, segundo o gênero, Belo
Horizonte, 2010 – 2011............................................................................. 37
Tabela 2 Distribuição dos proprietários de cães diagnosticados para a
leishmaniose visceral, na EV-UFMG, segundo a, Belo Horizonte/MG,
2010 – 2011........................................................................................... 38
Tabela 3 Conhecimento dos proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG,
sobre a forma de transmissão da leishmaniose visceral, Belo
Horizonte/MG, 2010 – 2011...................................................................... 38
Tabela 4 Conhecimento dos proprietários de cães diagnosticados para
leishmaniose visceral na EV – UFMG, sobre as medidas de prevenção e
controle da leishmaniose visceral, direcionadas à população humana,
Belo Horizonte/MG, 2010 – 2011............................................................ 43
Tabela 5 Conhecimento dos proprietários de cães diagnosticados para
leishmaniose visceral na EV – UFMG, sobre as medidas de prevenção e
controle da leishmaniose visceral, direcionadas ao vetor, Belo
Horizonte/MG, 2010 – 2011....................................................................... 44
Tabela 6 Conhecimento dos proprietários de cães diagnosticados para
leishmaniose visceral na EV-UFMG, sobre as medidas de prevenção e
controle da leishmaniose visceral, direcionadas à população canina, Belo
Horizonte/MG, 2010 – 2011....................................................................... 45
Tabela 7 Opinião dos proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG, sobre o
que deveria mudar no serviço público no que tange às medidas de
prevenção e controle da LV, Belo Horizonte/MG, 2010 – 2011................ 46
Tabela 8 Informações sobre o controle químico vetorial e mudanças no domicilio,
após a obtenção do resultado de exames de cães diagnosticados na EV –
UFMG, Belo Horizonte/MG, 2010 – 2011 .............................................. 49
Tabela 9 Histórico dos exames de LVC, realizados em cães diagnosticados na
EV-UFMG, Belo Horizonte/MG, 2010 – 2011 ........................................ 50
Tabela 10 Práticas dos proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG, para
prevenção da LV nos outros cães do domicílio, Belo Horizonte/MG,
2010 – 2011................................................................................................ 52
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Série cronológica de casos e óbitos de leishmaniose visceral humana no
município de Belo Horizonte, 1994 a 2012 ................................................ 16
Figura 2 Série cronológica de soropositividade canina para leishmaniose visceral,
Belo Horizonte, 1994 a 2012 ..................................................................... 16
Figura 3 Série cronológica de imóveis borrifados em Belo Horizonte, 1994 a
2012............................................................................................................. 23
Figura 4 Percentual de cães soropositivos para leishmaniose visceral, eutanasiados
em Belo Horizonte de 1996 a 2011 ............................................................ 27
Figura 5 Divisão do município de Belo Horizonte segundo as nove Regionais
Administrativas, 2012 ................................................................................. 33
Figura 6 Fluxograma da distribuição das variáveis entre os proprietários de cães
8
soropositivos e soronegativos, para LV....................................................... 35
Figura 7 Distribuição dos proprietários de cães diagnosticados para a leishmaniose
visceral, na EV-UFMG, segundo a escolaridade, Belo Horizonte, 2010 -
2011............................................................................................................. 37
Figura 8 Distribuição dos proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG, em
relação ao conhecimento sobre a susceptibilidade para leishmaniose
visceral, Belo Horizonte/ MG, 2010 – 2011 ............................................... 40
Figura 9 Conhecimentos dos proprietários de cães diagnosticados na Escola de
Veterinária da UFMG, sobre os sinais clínicos da leishmaniose visceral
em humanos, Belo Horizonte/ MG, 2010 - 2011........................................ 41
Figura 10 Conhecimentos dos proprietários de cães diagnosticados na Escola de
Veterinária da UFMG, sobre os sinais clínicos da leishmaniose visceral
em cães, Belo Horizonte/ MG, 2010 - 2011................................................ 42
Figura 11 Distribuição dos proprietários de cães diagnosticados na Escola de
Veterinária da UFMG, segundo a origem das informações sobre a LV,
2010 - 2011.................................................................................................. 48
Figura 12 Práticas dos proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG para
evitar a transmissão da LV do cão soropositivo para pessoas e outros
cães, BH/MG, 2010-2011 ........................................................................... 53
Figura 13 Significado do cão diagnosticado para os respectivos proprietários LV na
EV - UFMG, Belo Horizonte/ MG, 2010 – 2011........................................ 55
Figura 14 Práticas dos proprietários de cães frente ao resultado soropositivo do
animal, para a leishmaniose visceral, Belo Horizonte/ MG, 2010 – 2011.. 56
Figura 15 Razões para os proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG
solicitarem a eutanásia do cão soropositivo para leishmaniose visceral,
Belo Horizonte/ MG, 2010 – 2011.............................................................. 56
Figura 16 Razões para os proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG não
solicitarem a eutanásia do cão soropositivo para leishmaniose visceral,
Belo Horizonte/ MG, 2010 – 2011.............................................................. 57
Figura 17 Razões para os proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG
solicitarem o tratamento do cão soropositivo para leishmaniose visceral,
Belo Horizonte/ MG, 2010 – 2011.............................................................. 58
Figura 18 Razões para os proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG não
solicitarem o tratamento do cão soropositivo para leishmaniose visceral,
Belo Horizonte/ MG, 2010 – 2011.............................................................. 58
Figura 19 Razões para os proprietários de cães solicitarem a eutanásia de cães
soropositivos para leishmaniose visceral em clínicas privadas, Belo
Horizonte/ MG, 2010 – 2011....................................................................... 59
Figura 20 Tempo decorrido entre o diagnóstico soropositivo do cão e a eutanásia
do mesmo, segundo o proprietário do animal, Belo Horizonte/ MG, 2010
– 2011.......................................................................................................... 60
Figura 21 Tempo decorrido entre o diagnóstico soropositivo do cão e o provável
tratamento do mesmo, segundo o proprietário do animal, Belo Horizonte/
MG, 2010 – 2011......................................................................................... 61
Figura 22 Razões para a realização da eutanásia por proprietários de cães
9
soronegativos caso os respectivos cães apresentassem resultado
soropositivo para leishmaniose visceral, Belo Horizonte/MG, 2010 -
2011................................................................................................. 62
Figura 23 Razões para a realização do tratamento por proprietários de cães
soronegativos caso os respectivos cães apresentassem resultado
soropositivo para leishmaniose visceral, Belo Horizonte/MG, 2010 -
2011 ....................................................................................................... 63
10
RESUMO
ABSTRACT
Was aimed to verify the knowledge about VL by owners of seronegative (PCsN) and
seropositive (PCsP) dogs and their attitudes/practices concerning disease prevention and
control. A cross-sectional epidemiologic study was made through interviews with 50
PCsP and 50 PCsN. Data were analyzed through univariate statistic - Epi Info 6.0.
Results indicate little knowledge about VL clinical signs and prevention/control
measures directed towards humans and vector and the preventive practices done were
little expressive. Veterinarians and radio/television were the main mediators of
information on VL. Variables that had positive association with canine visceral
leishmaniasis (CVL) were: knowing that dog may contract CVL and that emaciation is
a clinical sign of CVL, have performed only one previous test on dog and have done
changes at home after CVL test. Variables that had a negative association to the CVL
were: to know about hepatosplenomegaly, have radio/TV as a source of knowledge on
disease and to consider dog as family. The percentage of PCsP who decided to
euthanize their dogs was the same as those chose to treat. Time elapsed between
diagnosis and euthanasia was up to 21 days (65%) and it was held mostly in private
11
clinics (80%). Only 48% wore collar with the insecticide in dogs that were not
euthanized, to prevent infectivity to the vector. Most of PCsN reported that if dogs were
seropositive, they would treat them (58%) instead of euthanizing (40%). There is need
to intensify actions of health education about VL. Despite the prohibition for VCL
treatment in Brazil many PCsP are doing it motivated by affection towards the dog and
under veterinarian recommendation.
12
O conhecimento sobre as doenças Diante do exposto, esta pesquisa teve
presentes e sua epidemiologia entre as como objetivo geral verificar o
populações é importante para a conhecimento dos proprietários de cães
qualidade de vida e a ocorrência ou não diagnosticados como soropositivos
de tais doenças. Assim, os indivíduos (PCsP) e soronegativos (PCsN) para a
podem perceber a presença ou não de LV, respectivamente, no Laboratório de
fatores de risco associados ao Leishmaniose da Escola de Veterinária
surgimento de eventos relacionados à da Universidade Federal de Minas
saúde. No entanto, nem todos os Gerais (EV-UFMG), sobre a DOENÇA,
indivíduos brasileiros têm o privilégio bem como as atitudes e práticas desses
de obter informações precisas sobre o proprietários no que tange à prevenção e
assunto, principalmente devido à falta controle da LVC. Os objetivos
de acesso ao sistema de ensino e ou específicos foram:
educação para a saúde (Gama et al.,
1998; Fonseca, 2011). 1. Verificar o conhecimento dos
proprietários de cães diagnosticados na
A partir do diagnóstico do grau de EV-UFMG sobre a LV, no que tange à
conhecimento das coletividades, sobre a transmissão, aos sinais clínicos no ser
LV e o PVCLV e das atitudes e práticas humano e no cão e às medidas de
direcionadas à doença, podem ser prevenção e controle;
geradas proposições que sirvam de 2. Investigar a fonte de informação
subsídios para o planejamento de ações que levou aos entrevistados os saberes
de prevenção e controle da doença, além inerentes a LV;
da sensibilização da população, que 3. Descrever a conduta prática dos
influencia no comportamento e no nível individuos frente as medidas de
de precaução diante de situações de prevenção e controle da doença,
risco para a saúde (Borges et al., 2008). voltados ao vetor e ao cão;
4. Descrever as atitudes dos PCsN
Pouco se conhece a respeito das atitudes caso o cão apresentasse resultado
e práticas dos proprietários de cães após soropositivo para LV.
um resultado para a LV. Freitas et al.
(2010) avaliaram as atitudes dos 2. LITERATURA CONSULTADA
proprietários de cães soronegativos, mas
a conduta de proprietários de cães 2.1 – Distribuição da leishmaniose
soropositivos ainda é pouco estudada visceral
(Coura-Vital, 2011). Tal conduta pode
manter no ambiente um potencial A LV se encontra largamente expandida
reservatório para a doença. Entender as por 98 países do mundo, ocorrendo
razões que levam os proprietários a principalmente em países em
aderir ou não às ações de controle, desenvolvimento. Estima-se a existência
especialmente a eutanásia, que é tão de cerca de 12 milhões de pessoas
polêmica, pode servir de suporte e infectadas e a incidência de cerca de
conduzir às reflexões sobre o PVCLV. 500.000 casos humanos e 50.000 óbitos,
anualmente, sendo superada apenas pela
a malária, dentre as doenças
13
parasitárias. Cerca de 90% destes casos 2010, do total de 3.526 casos o
ocorrem em Bangladesh, Índia, Nepal, Nordeste foi responsável por 47,1%,
Sudão, Etiópia e Brasil (Control..., seguido pelo Norte com 18,0%, Sudeste
2010). No continente americano a com 17,8%, Centro Oeste com 8,5% e
doença incide em muitos países, onde o Sul com 0,1% (Leishmaniose..., 2006).
Brasil responde por cerca de 90% dos A ampliação de focos deveu-se
casos que ocorrem na América Latina inicialmente aos movimentos
(Gontijo & Mello, 2004). migratórios de áreas rurais endêmicas
para regiões urbanas, carreando consigo
Em 1913 foi descrito por Mignone o o vetor e o reservatório infectado; à
primeiro caso de LV no Brasil em um ocupação do espaço urbano de forma
indivíduo italiano, que provavelmente não organizada, gerando áreas sem
contraiu a doença no estado de Mato infraestrutura básica de saneamento,
Grosso (MT) (Manual..., 2006). além de desequilíbrios ambientais
oriundos de desmatamentos e às
Posteriormente foram desenvolvidas, na mudanças climáticas (Control..., 2010).
região Nordeste, pesquisas que Somam-se ainda os fatores associados à
indicaram o flebótomo como principal adaptação do vetor a diferentes
vetor (Chagas et al., 1937). ambientes sua variabilidade alimentar
(Barata et al., 2005) e às inúmeras
Foi Deane (1956) que percebeu durante limitações inerentes ao PVCLV (Braga
o desenvolvimento de estudos no estado et al., 1998).
do Ceará, que a LV possuía caráter
tanto rural quanto urbano e que os cães Atualmente, no Brasil, a doença
domésticos estavam envolvidos na encontra-se disseminada em 22 das 27
cadeia de transmissão da doença na área unidades federativas. Entre os anos de
urbana, alertando sobre a possível 2005 a 2010 foi registrada a média de
expansão da doença para outras regiões 3.654 casos anuais de LV em humanos
do país. A partir da década de 1980, a (LVH), que representa o coeficiente de
doença que antes era esporádica, restrita incidência médio de 1,9 casos por
às áreas rurais e associada às condições 100.000 habitantes (Leishmaniose...,
precárias de vida teve expansão, 2006). No que tange a taxa de letalidade
passando a apresentar processos observou-se 3,2% em 2000, com
epidêmicos em áreas periurbanas e aumento para 6,2%, em 2010,
urbanas das grandes capitais, com representando o incremento de 93,7%.
ocorrência no Centro-Oeste, no Sudeste Entre as principais causas do aumento
e no Norte do Brasil. Houve da letalidade encontram-se a coinfecção
agravamento do quadro epidemiológico com outras doenças, que leva a queda
e a ampliação notável de focos em acentuada da imunidade e as
regiões urbanas como Campo Grande dificuldades no diagnóstico, com
(MS), Palmas (TO) Rio de Janeiro (RJ) consequente tratamento tardio (Brasil,
e Belo Horizonte (MG) (Brasil, 2010). 2011).
14
registrado a média de 457 casos de 2005 acordo com o Índice de Vulnerabilidade
a 2010, o correspondente a 12,5% de à Saúde (IVS) observou distribuição
todos os casos do país, no período aleatória de casos caninos e humanos da
(Leishmaniose..., 2006). doença, concluindo, então, que não
havia associação entre as condições
No município de BH já havia suspeita sócio econômicas da população e a
da ocorrência da LV desde a década de ocorrência da doença no município.
60, porém, apenas em 1989, deu-se Para este autor, os fatores climáticos, a
início a epidemia em humanos no densidade canina, a distribuição da
município de Sabará, onde foi Lutzomyia longipalpis (L. longipalpis),
constatada prevalência considerável da associados aos entraves de ordem
doença em cães (2,8%) e a presença de econômica, cultural, técnica, científica,
vetores, principalmente próximos ao burocrática e administrativa são
foco epidêmico. A partir de então a relevantes para a atual situação
doença foi introduzida no município, epidemiológica da doença na área
provavelmente pelos Distritos urbana.
Sanitários Nordeste e Leste, que fazem
fronteira com Sabará. Araújo (2011) verificou associação
positiva do risco de LVH com alguns
Em 1994, foram notificados os dos indicadores do IVS, tais como,
primeiros casos humanos de LV em percentual de pessoas analfabetas, chefe
BH. Inicialmente com 29 casos, todos de família com menos de quatro anos de
registrados nas duas Regionais estudo, chefe de família com renda de
(Nordeste e Leste), a doença se até dois salários mínimos e renda média
espalhou rapidamente por toda a capital, (invertida) do chefe de família. E
atingindo cinco das nove Regionais, associação negativa com os indicadores:
onde foi registrado em 1995 quase o abastecimento de água inadequado ou
dobro dos casos iniciais (45 casos). Em ausente, esgotamento sanitário
1996 constatou-se a presença da doença inadequado ou ausente, destino do lixo
em todas as Regionais administrativas inadequado ou ausente, chefe de família
do município (Bevilacqua et al., 2001). com idade entre 10-19 anos e razão de
moradores por domicílio.
De 1994 a 2012 foram confirmados
1.568 casos da doença, onde dentre A enfermidade incide de forma
todas as Regionais, a Nordeste, com 311 endêmica em BH, que é um dos
(19,8%) casos foi a de maior frequência. municípios com maior incidência de LV
Observou-se o aumento de casos em no Brasil (Saraiva et al., 2011). Embora
humanos, ao longo dos anos, visto que tenha se observado um decréscimo no
de 2000 a 2005 houve incidência média número de casos confirmados entre
de 51 casos anuais, que subiram para 2008 e 2012, a taxa de letalidade é
116 de 2006 a 2010 (Informações..., preocupante, tendo variado de 12,4% a
2012), aumento de mais de 100%. 26,8%, respectivamente, conforme a
Fig. 1, um dos maiores índices do país
Marcelino (2007) após avaliar a (Araújo et al., 2012).
distribuição espacial da LV em BH de
15
180 30
160
25
140
120 20
100
Letalidade %
15
80
60 10
40
5
20
0 0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Casos novos 29 46 48 47 25 33 44 57 77 103 134 111 128 110 161 148 134 93 41
Óbitos 6 4 3 4 4 3 8 9 9 10 25 10 12 9 20 34 21 13 11
Letalidade(%) 20,7 8,7 6,2 8,5 16,0 9,1 18,2 15,7 11,7 8,7 18,1 9,0 9,4 8,1 12,4 22,9 12,0 15,7 26,8
Fonte: PBH/SMSA/GEEPI/GECOZ/SINAN
Figura 2 – Série cronológica de soropositividade canina para LV, Belo Horizonte, 1994
a 2012.
*Dados parciais -10/12/2012
Fonte: PBH/SMSA
16
2.2 - Aspetos gerais da leishmaniose 2.2.2 - Vetor/ transmissão
visceral
No Brasil aponta-se como principal
A LV, também conhecida como vetor a fêmea do inseto da família
Calazar, é a terceira doença parasitária Phlebotominae e espécie Lutzomyia
mais importante, depois da malária e da longipalpis (L. longipalpis), conhecido
filariose. No Brasil, o ciclo popularmente como mosquito palha,
epidemiológico da doença envolve o tatuquira, birigui, entre outros, porém a
agente etiológico, o vetor, espécie Lutzomyia cruzi também pode
especialmente o L. longipalpis, o cão transmitir a doença. O mecanismo
como reservatório urbano e o ser ocorre por meio da picada do flebótomo
humano, como hospedeiro acidental e inoculação do parasita no hospedeiro
(Control..., 2010). (Manual..., 2006). Hematófago, o vetor
é eclético quanto à preferência alimentar
2.2.1 - Agente etiológico que vai desde o homem ao cão e todos
os outros animais domésticos,
A LV é causada por protozoários do sinantrópicos e selvagens (Saraiva et
complexo Donovani, de ordem al., 2011).
Kinetoplastida, família
Trypanosomatidae e gênero Leishmania Borges et al. (2009) apontaram a
(Control, 2010). No Brasil o agente presença de criatórios de aves como
causal da LV denomina-se Leishmania importante fator determinante da
infantum (syn. L. chagasi, Lukes et al., incidência da LV, pois estes animais
2007). Este protozoário tem predileção atraem as fêmeas do inseto L.
maior pelas células do sistema longipalpis sobretudo as galinhas,
fagocítico mononuclear de vísceras, se devido à sua maior frequência em
alojando, sobretudo, no baço, fígado, domicílios, se tornando fonte alimentar
medula óssea, linfonodos e outros prontamente disponível. Tal fato eleva a
tecidos linfóides (Manual..., 2006). concentração de flebotomíneos nesses
ambientes, aumentando assim a
As espécies do gênero Leishmania transmissão da LV.
possuem formas distintas durante seu
ciclo de vida: formas promastigotas, que Camargo-Neves et al. (2007) realizaram
se desenvolvem no trato digestivo dos em São Paulo, um estudo para avaliar o
hospedeiros invertebrados (vetores) e hábito alimentar do vetor. Constataram
formas amastigotas, que vivem e se a variabilidade alimentar deste, que
multiplicam no interior de células do apesar de ter tido maior preferência pelo
sistema fagocítico mononuclear dos sangue canino, também procurou outras
hospedeiros vertebrados, sendo fontes alimentares, tais como, aves e
promastigotas metacíclicas as formas humanos.
infectantes (Maüel, 1990).
As formas imaturas do vetor se
desenvolvem em solo úmido e matéria
orgânica com pouca luminosidade. O
inseto adulto possui hábitos
17
preferencialmente crepusculares e 2.2.3 - Reservatórios
noturnos (Souza et al., 1981; Manual...,
2006). Moreno et al. (2005) No meio silvestre brasileiro,
constataram em estudo feito em Sabará desempenham o papel de reservatórios
(MG) que um dos fatores de risco as raposas de espécies Dusicyon vetulos
envolvidos na transmissão da LV é a e Cerdocyon thous e os marsupiais
exposição ao vetor em horários entre 18 Didelphis albiventris. O principal
e 22h. O L. longipalpis adapta-se a reservatório urbano da LV no país é o
variadas temperaturas, por isso é cão (Canis familiaris) (Manual..., 2006;
encontrado em todas as estações do ano Control..., 2010).
no Brasil, e ao ambiente peridomiciliar,
podendo ser encontrado no interior dos Bevilaqua et al. (2001), em estudo
domicílios e em abrigos de animais epidemiológico descritivo realizado nos
domésticos, o que permite sua Distritos Sanitários Leste e Nordeste de
manutenção e disseminação no BH, identificaram a alta incidência de
ambiente urbano (Ferreira et al., 1938; LVH em áreas de elevada
Saraiva et al., 2011). soropositividade canina, o que levou os
autores à hipótese de que havia
Moreno et al. (2005) e Borges et al. associação entre a ocorrência da LV em
(2009) afirmaram que a presença de lixo cães e em humanos.
em vias públicas ou em domicílios e de
plantas frutíferas ou criatórios de aves e Oliveira et al. (2001), desenvolveram
outros animais, devido à geração de uma pesquisa, que demonstrou
resíduos orgânicos, tornam o ambiente correlação positiva entre a prevalência
propício para o desenvolvimento do de cães soropositivos para a LV e a
vetor, o que pode culminar com o incidência de casos humanos da doença,
aumento da incidência da doença em no município de BH.
cães e humanos.
Borges et al. (2009), ao avaliarem em
Saraiva et al. (2011) em estudo BH a associação entre a presença de
realizado em BH para avaliar a fauna de animais e o risco de transmissão da LV
flebotomíneos, verificaram que 10,9% em humanos constataram que a
dos flebótomos coletados eram da presença de um cão no domicilio
espécie L. longipalpis, dos quais 94% aumentou o risco de contrair a doença
provinham de áreas urbanas e apenas em 1,8 vezes, com um incremento do
6,0% de áreas verdes, indicando a risco em função do número de cães,
adaptabilidade deste ao ambiente sendo de 3,36 vezes quando há presença
urbano. Ainda no mesmo estudo, de dois cães. O hábito da entrada dos
observou-se que este vetor foi o único cães no interior dos domicílios, também
que se fez presente em todos os meses representou risco para o homem,
do ano de estudo (junho de 2006 a julho aumentando as chances de contrair a
de 2007), com maior concentração na doença em 1,63 mais vezes do que os
época chuvosa. indivíduos que os mantêm no
peridomicílio.
18
Araújo (2011), em estudo realizado em A infecção pela L. infantum leva a
BH, constatou associação positiva entre exacerbada reação celular do organismo
o risco relativo da LVH e a ao parasita, que resulta usualmente em
soropositividade canina. disfunção imunológica e lesões graves
que desencadeiam uma série de
Coura –Vital et al. (2011), ao avaliar a síndromes complexas que podem levar
incidência e a prevalência da LVC e os a óbito mais de 90% dos indivíduos
fatores de risco associados à doença em humanos não tratados (Manual..., 2006).
BH, verificaram que a permanência do
cão, no quintal, por tempo prolongado, No homem a doença é comumente
o fato de o cão não ter sido submetido crônica, mas também pode ocorrer de
ao exame de LVC e o proprietário do forma aguda. Após a infecção pode
animal ter renda familiar inferior a um suceder a cura natural da infecção bem
salário mínimo, constituíam fatores de como seguir para o aparecimento dos
associação à infecção canina por LV. sinais clínicos, cujo surgimento depende
de fatores relacionados ao parasita
A doença no cão é tida como de grande (espécie e dose infectante) e ao
importância do ponto de vista hospedeiro (estado imunológico e
epidemiológico, devido ao papel de nutricional). O período de incubação
reservatório, função atribuída à estreita varia em média, de 2 a 6 meses após a
convivência deste com o homem, à infecção. Indivíduos assintomáticos são
prevalência da LV claramente maior na muito frequentes, porém, quando
espécie canina em relação à humana, ao presentes, os sinais clínicos podem
elevado parasitismo cutâneo em animais apresentar um amplo espectro que pode
infectados, além da predileção alimentar variar de moderado a grave (Manual...,
dos flebotomíneos. Tais circunstâncias 2006; Control..., 2010). Inicialmente a
fazem com que o animal parasitado se sintomatologia é expressa por períodos
constitua em fonte de contaminação febris, palidez muco-cutânea e
potencial para o inseto transmissor e, hepatoesplenomegalia, evoluindo para
consequentemente, para outros cães e tosse seca, diarreia, vômitos,
pessoas (Marzochi et al., 1985; sonolência, emagrecimento progressivo,
Bevilacqua et al., 2001; Coura-Vital, anemia, desnutrição, cabelos
2011). quebradiços, hemorragias, icterícia,
ascite e anasarca (Xavier-Gomes et al.,
2.2.4 - Aspectos clínicos da 2009; Brasil, 2010).
leishmaniose visceral em humanos e
cães Nos cães, distintamente do que ocorre
em humanos, o parasita se encontra
Na espécie humana a LV acomete, em inicialmente no local da inoculação do
áreas endêmicas, maioritariamente vetor e se distribui entre as vísceras e
crianças com idade inferior a 10 anos e posteriormente na derme, o que os
idosos devido à baixa imunidade confere parasitismo cutâneo elevado,
fisiológica e adultos em decorrência de ainda que aparentemente saudáveis.
doenças imunossupressoras (Control..., Estudos constataram que 36,2%
2010). (Marzochi et al., 1985) e 18,5% (Da
19
Costa –Val et al., 2007) dos animais Para o diagnóstico da LVH no Brasil
soropositivos eram assintomáticos, no são usados testes sorológicos, tais
entanto, os achados clínicos podem se como, ELISA e RIFI. Este último é o
tornar evidentes, em média, de 2 a 6 mais usado no Brasil e é expresso em
meses ou anos. A infecção no cão, é diluições, sendo considerado o
comumente caracterizada por individuo soropositivo quando tiver
emagrecimento, lesões de pele, espelho título igual ou superior a 1:80
nasal, focinho e orelhas, com ou sem (Manual..., 2006; Ikeda – Garcia et al.,
descamação e úlceras, onicogrifose, 2010). Em 2010 foi introduzida nos
lesões oculares e alopecia (Coura-Vital, serviços de saúde pública uma nova
2011). Também são comuns: ferramenta para a detecção da LVH, o
linfoadenomegalia, teste rápido imunocromatográfico
hepatoesplenomegalia, hiperqueratose, Kalazar Detect® (InBios), que
despigmentação, lesões articulares apresenta desempenho superior a RIFI.
(poliartrite), diarreia e vômitos, Por isso, o MS recomenda o uso deste
paraplegia, febre, epistaxe e lesões em concomitância com outros testes
renais (Manual..., 2006; Ikeda-Garcia et disponíveis, para a finalidade em causa
al., 2010). (MS, 2010).
20
desses anticorpos, com titulação maior Campanhas de Saúde Pública
ou igual a 1:40. Somente os cães (SUCAM) a Campanha Contra a LV
soropositivos na triagem são submetidos (CCLV), que foi interrompida nos anos
ao teste confirmatório, pois, considera- 1960 e retomada nos anos 1980
se este mais específico (Manual..., (Lacerda, 1994). A campanha foi
2006). No entanto resultados remanejada em 2003, pelo MS.
indeterminados podem ocorrer, como Atualmente o PVCLV usa como
observou Menezes (2011) ao analisar o estratégias de combate à doença, a
Sistema de Informação de LVC em BH detecção e tratamento precoce dos casos
de 2006 a 2010. Foram considerados humanos, o diagnóstico e a eutanásia de
“indeterminados” os resultados de RIFI reservatórios domésticos soropositivos,
indeterminado e ELISA positivo ou o uso de inseticida de ação residual para
indeterminado. Do total de 753.843 o combate ao vetor e a educação em
amostras registradas, 20.277 (2,7%) saúde (Brasil, 2010). Estas ações
foram indeterminadas. somente alcançam êxito quando
trabalhadas de forma integrada
O surgimento do novo teste (Manual..., 2006).
imunocromatográfico para cães, como
triagem, que já está sendo usado no Morais (2011) afirma a necessidade da
Brasil, pode trazer resultados intensificação das ações de controle,
promissores ao programa de controle da visto que, em estudo para avaliar a
doença, em virtude da elevada acurácia efetividade das ações de controle da LV
e reprodutibilidade, facilidade na Regional Noroeste de BH observou-
execução, rapidez na obtenção dos se em uma área onde houve ações
resultados e possibilidade de ser usado contínuas, redução importante na
em condições de campo (SES-MG, incidência da LVC, de 32% entre os
2012), o que pode reduzir o tempo para anos de 2006 e 2010, o que se mostrou
a remoção de cães soropositivos do associado à redução na prevalência de
ambiente, apesar de apresentar menor casos da doença em crianças.
sensibilidade em cães assintomáticos e
oligossintomáticos (Schubach, 2011). Apesar do empenho dispensado ao
controle da LV, ainda são pequenos os
2.3 - O Programa de Vigilância e resultados favoráveis para o controle da
Controle da leishmaniose visceral doença. Há dificuldades associadas ao
(PVCLV) diagnóstico tardio, principalmente
devido à pequena suspeição por parte
As ações de controle da LV vêm sendo dos médicos, provavelmente devido ao
executadas dede 1956, quando Deane escasso conhecimento sobre a doença, à
(1956) estabeleceu o diagnóstico e variedade de sinais clínicos e de
tratamento dos casos humanos, a doenças infectocontagiosas que se
eliminação de cães e raposas infectados assemelham à LV, coinfecção com
e de todos os cães errantes e o combate outras doenças e a toxicidade das drogas
ao vetor, como métodos profiláticos usadas para o tratamento (Araújo et al.,
para a doença. Inicialmente, foi criada 2012). A elevada taxa de infecções
nos anos 1950 pela Superintendência de assintomáticas em cães e a sensibilidade
21
e especificidade a baixo do desejado das de 5 a 15%, em forma de spray ou
técnicas sorológicas comumente usadas loção, contra a picada de mosquitos é
para o diagnóstico canino, dificultam a apenas de 20 a 30 minutos (Tawatsin et
identificação e retirada desses animais al., 2001) e de 20 minutos a uma hora
do ambiente. Além disso, há demora na de 5 a 100% de concentração. Em forma
liberação dos resultados dos testes, de incenso e velas a exposição a este
rapidez na reposição canina e relutância repelente deve ser continua (Fradin e
de proprietários de cães em permitir a Day, 2002). Óleos essenciais extraídos
eutanásia (Ashford et al., 1998; Braga et da planta usados na vela, também tem
al., 1998). baixa efetividade contra flebótomos,
com taxa de proteção de 24,7% com
2.3.1 - Medidas de prevenção e citronela a 5% (Tawatsin et al. (2001).
controle da leishmaniose visceral
direcionadas à população humana O controle da doença em humanos
baseia-se no diagnóstico e tratamento
A prevenção da LV em humanos dá-se precoces de indivíduos enfermos. O
pela utilização de medidas de proteção diagnóstico precoce é necessário, pois
individual, como uso de redes se trata de uma doença que pode ser
mosqueteiras, telagem de portas e fatal para o ser humano e por ser
janelas, uso de repelentes e não necessária a adoção precoce de medidas
exposição ao vetor em horários de controle específicas sobre o vetor e
crepusculares, em áreas endêmicas reservatório doméstico da doença (Luz
(Manual..., 2006). et al., 2009).
22
O controle vetorial é recomendado pelo anexos (Fig. 3). A seleção dos
MS em áreas com registro do primeiro domicílios a serem tratados é baseada
caso autóctone de LVH, com em diversos critérios, especialmente a
transmissão moderada e intensa e com soropositividade canina, o IVS, os casos
surto da doença, após a realização de humanos e as características ambientais
investigação entomológica. O controle é de risco para a doença (Morais, 2011).
feito por meio da borrifação, no âmbito Tem se observado, nos últimos anos,
da proteção coletiva, com inseticidas de decréscimo na execução do controle
ação residual (piretróides), das paredes químico em áreas selecionadas,
internas e externas das residências e provavelmente, em decorrência de
seus anexos, a fim de evitar o contato recusas por residentes em permitir o
do vetor com a população humana procedimento, o que pode conduzir ao
(Manual..., 2006). maior número de residências em risco
(Santana-Filho et al., 2012; Morais,
Em BH, de 1994 a 2010, foram 2011).
borrifados 1.372.499 domicílios e
*Dados parciais-10/12/12
Fonte: PBH/SMSA
23
Oliveira e Araújo (2003), em estudo recusa da população em permitir a
para avaliar ações de controle da LV em borrifação.
Feira de Santana, verificaram redução
na incidência da doença em humanos, 2.2.3 - Medidas de prevenção e
em virtude do número de ciclos de controle da leishmaniose visceral
borrifação de imóveis para o controle direcionadas ao reservatório urbano
vetorial. No entanto, Costa et al. (2007)
não observaram êxito quando avaliaram As medidas de prevenção da LV em
o efeito da borrifação em Teresina cães incluem o uso de telas em canis
(Piauí), o que os levou a concluir que individuais ou coletivos, o controle de
outras medidas devem ser realizadas cães errantes, a realização prévia de um
concomitantemente, e afirmaram, ainda, teste para detectar a doença antes da
que apenas ações de controle químico doação de cães, o uso de coleiras
são insustentáveis devido à necessidade impregnados com deltametrina a 4,0%
de utilização extensiva de recursos (Brasil, 2010) e o uso de vacinas anti-
humanos e financeiros, o que limita sua LVC, segundo WHO (2010).
aplicabilidade e cobertura.
A utilização de coleiras impregnadas
Silva et al. (2007) indicaram a com deltametrina (4,0%) tem se
borrifação como uma das medidas de mostrado eficiente na prevenção da
controle que deve ser usada em áreas de LVC, por reduzir a chance de picadas
maior concentração do L. longipalpis. por L. longipalpis (Killick- Kendrick et
Os autores encontraram correlação al., 1997; David et al., 2001). Killick-
positiva entre o uso da borrifação com Kendrick et al. (1997) testaram a
alfacipermetrina e a redução dos índices eficácia dessas coleiras e observaram
do vetor nas áreas tratadas, quando que ao fim de 34 semanas, cães tratados
comparado às áreas não submetidas ao tiveram proteção contra 96,0% das
procedimento, onde a concentração picadas do vetor. David et al. (2001),
vetorial aumentou. também obtiveram resultados
satisfatórios com o uso desta ferramenta
Santana-Filho et al. (2012), conduziram em cães, tendo obtido 94,0% de eficácia
na Regional Noroeste de BH, um estudo anti-picada, com diferença
para avaliar a relação entre as recusas de estatisticamente significante em relação
borrifação de imóveis e a ocorrência de aos animais não submetidos ao
LV. Observaram que 31,6% dos procedimento. O efeito protetor esteve
domiciliados selecionados permitiram a presente por mais de oito meses. As
borrifação no intra e no peridomicílio e coleiras causaram mortalidade de 96,0%
a principal razão para a não efetivação nas primeiras quatro semanas e 35,0%
do controle químico vetorial foram dos flebótomos até 22 semanas de
recusas que ocorreram em 70,3% dos observação, o que foi decrescendo ao
imóveis não tratados internamente. Este longo do tempo.
fato surge como empecilho para o
PVCLV, quando considerado que o Camargo-Neves et al. (2004),
maior número de casos de LVH analisaram, a eficácia do uso das
coincidiu com áreas onde ocorreu maior referidas coleiras associado à
24
eliminação de cães soropositivos em exame de LVC em 75 cães, por meio do
determinada área urbana do estado de ELISA, 22 (29,0%) apresentaram
SP. Estes verificaram redução da resultado soropositivo, enquanto na
prevalência da doença em cães e RIFI 73 (97,3%) tiveram esse resultado.
humanos. Segundo os autores, a Quando conjugados os dois métodos, 19
redução observada ocorreu (25,3%) do primeiro teste e apenas 21
provavelmente devido à diminuição da (28,0%) do segundo, foram
força de infecção sobre os cães, o que confirmados. Com a realização do teste
resultou em menor chance da infecção parasitológico, somente 35 (46,7%) do
do vetor por causa da barreira imposta total tiveram soropositividade
pelo constante uso da coleira com confirmada, o que pode ser uma razão
inseticida. Concluíram que a coleira para reflexão quando pensado que
pode tornar mais eficaz o controle da poderia se manter no ambiente animais
doença, se empregado nos programas soropositivos ou eutanasiar animais
vigentes, mas deverá ser aplicado de soronegativos.
forma completa e por longo prazo.
Resultados falso negativos causados por
Entre as medidas de controle da LVC, baixa sensibilidade do ELISA em
são recomendados o diagnóstico animais assintomáticos também foram
precoce e a eutanásia de cães observados por Coura-Vital (2011) em
soropositivos (Manual..., 2006). BH. Houve subestimação da
prevalência da LVC, quando realizada a
São realizados inquéritos sorológicos, sorologia (15,9%) em relação a técnica
objetivando estimar a prevalência da de PCR-RFLP (Restriction Fragment
LVC e planificar a eutanásia de cães Length Polymorphism) (24,7%),
soropositivos (Manual..., 2006). diferença de 8,8%, considerada
Inúmeras dificuldades estão associadas significativa para a caracterização da
ao controle da LVC, entre elas a real situação epidemiológica da doença
presença de cães assintomáticos, como e a determinação das ações de controle.
constatou, Marzochi et al. (1985) em O autor enfatizou a necessidade de
63,0% dos cães examinados no RJ e implementação de técnicas mais
Assis et al. (2010), em 12,5% em SP. eficazes, principalmente na detecção de
Soma-se a isso a existência de variedade animais em fase subclínica.
de sinais clínicos da doença, que se
assemelha às diversas doenças A eutanásia canina em casos de
infectocontagiosas, a sensibilidade e a soropositividade é sem dúvidas a
especificidade dos testes de diagnóstico, medida mais questionada do PVCLV
abaixo do desejado, e a alta taxa de (Lopes et al., 2010) e variados estudos
reposição canina (Ashford et al., 1998). tem sido realizados para comprovar ou
não sua efetividade no combate à
Em 2009, Marcondes, avaliou dados doença.
epidemiológicos de LVC em Dourados,
Mato Grosso, onde demonstrou Alguns autores não têm dúvidas sobre a
claramente os problemas no efetividade da eutanásia na contenção
diagnóstico. Quando foi realizado da doença. Braga et al. (1998)
25
avaliaram o impacto da eliminação O momento da busca do cão para a
precoce (no máximo 7 dias) de cães eliminação é envolvido por forte
infectados pela L. infantum, detectados componente emocional. Este sentimento
por ELISA, comparada às ações da faz com que muitos proprietários de
Fundação Nacional de Saúde cães aceitem cada vez menos esta
(FUNASA) que eliminava, em média, estratégia de controle em prol da
em 80 dias os cães soropositivos preservação do animal infectado e do
examinados pela técnica de RIFI, após possível tratamento anti-LVC, ainda
estimação da prevalência da LV antes e que seja ilegal, no Brasil. Morais, em
depois do procedimento. Constou que a 2011, verificou na Regional Noroeste de
primeira estratégia foi BH de 2006 a 2010, recusa média de
significativamente mais efetiva, pois entrega do cão soropositivo para
reduziu a prevalência da doença em eutanásia de 2,2% entre 2006 e 2007 e
27,0% contra 9,0% da segunda. Isso foi 10,4% em 2010; 8,4% de cães foram
explicado, pela baixa sensibilidade e a dados como mortos e 1,8% em processo
eliminação tardia de animais de tratamento.
soropositivos pela FUNASA, o que
pode ser considerado uma das causas O cão assume um papel importante no
para o insucesso da viabilidade da contexto familiar e social, com valor
eutanásia, juntamente com a falta de afetivo e ou executando diversas
sensibilidade diagnóstica. funções como: zooterapia, guarda,
salvamento, guia para deficientes
Também encontraram resultados visuais, práticas esportivas, repressão à
favoráveis a eutanásia, Borges et al. criminalidade e ao tráfico de drogas
(2009), que constataram a redução do (Macpherson et al., 2000).
risco de contágio, em função da retirada
dos animais soropositivos. No Brasil a eliminação de cães
soropositivos para a LV é praticada há
Entre os autores que não observaram várias décadas. Alencar (1961) cita em
associação entre a medida em causa e a um dos seus estudos a prática da
redução na incidência da doença em eutanásia canina advinda da
humanos, estão, Dietze et al. (1997), confirmação ou suspeita clínica da
que realizaram outros estudos no Vale soropositividade para LV, que ocorreu
do Panca (ES), e Paula (2005), com de 1953 a 1960 em 78.929 (28%) dos
estudo em Guaratiba (RJ). cães examinados no Ceará, sendo que
apenas 3.712 (4,7%) destes eram
Apesar de a Organização Mundial da soropositivos.
Saúde considerar a eutanásia de cães
soropositivos como um dos pilares para Desde 1996 até 2011 foram
o controle da LV, a mesma entidade eutanasiados pelo Centro de Controle de
reconhece que essa medida também Zoonoses de BH um total de 527.707
pode ser dificultada devido à existência cães soropositivos (Fig. 4).
de cães de grande valor afetivo,
econômico e prático, por isso deve ser
uma prática cautelosa (Control..., 1990).
26
120
100
Cães eutanasiados %
80
60
40
20
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012*
eutanasias % 77,11 95,61 58,49 70,16 94,99 94,71 70,53 71,45 92,37 77,28 96,93 74,18 82,62 94,25 74,49 83,54 87,03
Fonte: PBH/SMSA
27
No que diz respeito ao tratamento MPL-SE observaram cura clínica em
canino, o MS proibiu, por meio da 75,0%, 64,0% e 50,0% dos cães tratados
Portaria Interministerial nº 1.426, de 11 respectivamente.
de julho de 2008, em todo o território
nacional, o tratamento da LV em cães lkeda–Garcia et al. (2010), realizaram
infectados ou doentes, com produtos de um estudo para avaliar a efetividade do
uso humano ou produtos não registrados tratamento de animais soropositivos,
no Ministério da Agricultura, Pecuária e com antimoniato de meglumina
Abastecimento (Brasil, 2008). Isso se combinado com aluporinol e
deve à não existência de estudos constataram que 60 dias após o
conclusivos sobre a segurança do procedimento todos os animais tiveram
tratamento, no âmbito da saúde pública. cura clínica, mas 28% dos animais
Além da cura clínica, o procedimento apresentaram formas amastigotas do
deveria prevenir recidivas e parasito nos rins e no fígado, o que
infectividade vetorial (Manual..., 2006). manteve ainda que de forma reduzida a
capacidade de infecção ao vetor. Além
Em 1985, Marzochi et al., testaram no disso, há o agravante da possibilidade
RJ a eficácia do uso de antimoniais da ocorrência de recidivas, após o
(Glucantime®) no tratamento da LVC. tratamento, o que confere ao animal o
A medicação foi administrada por 20 papel de reservatório potencial para a
dias. Os cães tiveram discreta melhora transmissão da doença, como foi
clínica, mas apresentavam elevados constatado por Amaral (2009).
níveis parasitários na pele e
continuavam soropositivos à RIFI, 2.3.4 - Educação em saúde/
comprovando a ineficácia do conhecimento sobre a leishmaniose
procedimento para este fim. visceral
28
da mesma nos programas de controle Os médicos veterinários possuem papel
(Cesar e Tanaka, 1996; Fonseca, 2011). diferenciado na educação em saúde,
principalmente no que tange à
A educação em saúde consiste na promoção de ações de prevenção e
divulgação, junto à população, das controle direcionadas ao reservatório
doenças presentes em determinada área, canino. Estes profissionais possuem
os fatores de risco associados e as proximidade com os proprietários ou
respectivas formas de combate, bem responsáveis de cães, aos quais
como a postura prática dessa população transmitem segurança sobre
em relação à prevenção e controle da procedimentos para manter o animal
doença (Alves, 2005). saudável. Daí a facilidade destes
médicos em influenciar grandemente na
A difusão de informações sobre a adoção de medidas como o uso da
doença é de responsabilidade da coleira com inseticida, da vacina anti-
população em geral e dos profissionais LVC e a prática da eutanásia canina em
de saúde, como agentes de controle de caso de soropositividade para LV
endemias, agentes comunitários de (Ribeiro, 2010).
saúde, médicos veterinários, por meio
da comunicação direta, de palestras e de O manejo e a guarda responsável de
folhetos informativos, entre outros. cães e gatos, que inclui atitudes como,
Informações e orientações também cuidados com o meio ambiente e o bem
podem ser repassadas por conviventes estar animal, são considerados como
(familiares, vizinhos e amigos) ou por ferramentas importantes para a
meios de comunicação, tais como TV, prevenção de doenças, como a LV, e
rádio e internet (Gama et al., 1998; agravos à saúde humana e animal. O
Ribeiro, 2010). Porém, deve se desenvolvimento de ações educativas
considerar que parte dos indivíduos que pode contribuir para limitar a intensa
recebem material informativo impresso renovação de animais domésticos
o lê e nem todo o material informativo é (Manual..., 2006) e colaborar para o
eficiente para ações de educação em controle populacional de cães em áreas
saúde (Luz et al., 2005; Pimenta et al., endêmicas, minimizando, assim a
2007). Além disso, nem todos os dispersão da LV. Durante a convivência
indivíduos brasileiros têm o privilégio do ser humano com os cães, alguns
de obter informações precisas sobre o cuidados devem ser dispensados e estes,
assunto, principalmente devido à falta para garantir condições de saúde aos
de acesso ao sistema de ensino e ou próprios animais, aos proprietários e
educação para a saúde (Borges et al., vizinhos, assim como à comunidade em
2008). Atenção especial deve se geral (Silvando et al., 2010).
dispensar aos profissionais da área, no
que diz respeito à capacitação e A educação em saúde aplicada ao
incorporação das ações de combate à controle da LV vem sendo trabalhada
LV na rotina dos mesmos, a fim de por alguns autores, que avaliaram a
viabilizar a prevenção da doença e aquisição de conhecimento, a qualidade
promoção da saúde. da informação disponível para a
29
população e as melhorias alcançadas sintomas relacionados à dengue. Após a
após intervenções no campo da saúde. leitura do panfleto, houve melhora
importante no percentual de acertos da
Gama et al. (1998) por meio de um maioria das questões.
estudo do conhecimento sobre a LV em
três áreas endêmicas do estado do Ao avaliar o nível de conhecimento e
Maranhão, constataram que a maioria atitudes preventivas sobre a LV em BH
da população (em média 93,9%), já em dois grupos de indivíduos
tinha ouvido falar sobre a LV. Apenas caracterizados como casos (soropositivo
32,3%, em média, souberam informar para LV) e controle (soronegativos para
como a doença pode ser transmitida, LV), Borges et al. (2008), constataram
mas o nome do vetor foi citado por que 50,0% dos casos e 30,5 % dos
apenas 0,3% dos indivíduos, em média. controles não conheciam a doença.
A média de 10,1% dos indivíduos, teria Somente 1,2% dos casos e 3,0% dos
afirmado que a transmissão se daria por controles tinham algum conhecimento
meio do cão contaminado. Dentre os sobre o vetor e sintomas da doença,
animais que podem adquirir a LV o cão respectivamente. Esse estudo também
foi o mais citado (87,2% em média) revelou que a probabilidade de infecção
contra 0,6% para raposa. No que diz por LV é oito vezes maior em
respeito às medidas de prevenção, indivíduos classificados como
77,8% as desconheciam. As principais analfabetos em relação aos
fontes de informação sobre a alfabetizados. Revelou ainda, que o
enfermidade foram: televisão, agentes conhecimento sobre a LV pode
de saúde, folhetos informativos, minimizar o risco da doença em 2,24
palestras e amigos. vezes, e o conhecimento e prática de
ações preventivas, reduz em 1,94 vezes
Luz et al. (2005) avaliaram, em BH, o do risco da mesma.
potencial do uso de panfletos na
disseminação de informações sobre LV Luz et al. (2009) realizaram um estudo
entre profissionais da área da saúde, que visava promover o diagnóstico e o
professores, estudantes e usuários dos tratamento precoces de indivíduos
serviços de saúde. A avaliação infectados com L. infantum em
constituiu-se do preenchimento de um municípios da região metropolitana de
formulário para verificar o BH. Investindo na capacitação de
conhecimento, antes e depois da leitura profissionais de saúde, observou-se que
do panfleto que continha informações o grupo de municípios que tiveram
sobre a LV. Alguns entrevistados representantes da saúde participando da
confundiram o vetor e a forma de capacitação, após implementação das
transmissão da doença ao afirmar que o atividades na rotina do seu trabalho,
cão é o vetor e a transmissão se dá por teve queda significativa na letalidade
meio do contato com a urina de ratos. por LV de 84,5%, em relação aos
Em todos os grupos os sinais clínicos municípios que não participaram,
apresentaram, dentre todas as questões, incluindo BH que teve aumento de 10%
o menor índice de acertos. Elevado no coeficiente.
percentual de respostas indicavam
30
Magalhães et al. (2009) demonstraram repelente e recolhiam o lixo ou matéria
por meio de pesquisa ação, realizada no orgânica do ambiente, respectivamente.
município de Caeté, MG, a importância
da educação em saúde nas ações de Ribeiro (2010) ao avaliar o
prevenção e controle da LV. Os autores conhecimento de professoras, sobre a
submeteram professores à capacitação LV e outras zoonoses, na Regional
sobre LV, para que estes ministrassem Noroeste de BH, constatou que as
uma aula sobre a enfermidade, aos seus pessoas que mais conheciam sobre a
alunos. Estes, por sua vez, deveriam, doença eram as que tinham tido cães
como tarefa de casa, levar o conteúdo soropositivos e principalmente os que
aprendido aos familiares. Após tinham os eutanasiado em função do
avaliação por meio de questionários e resultado laboratorial. Dentre as
um formulário de avaliação de medidas de prevenção e controle
condições higiênicas do peridomicílio, indicadas, a proteção individual em
antes e depois da intervenção, humanos e os inquéritos, sorológico
constatou-se melhoria estatisticamente canino e entomológico não foram
significativa no conhecimento assim mencionados. Quanto às medidas
como nas práticas de higiene voltadas ao reservatório canino, 50,0%
peridomiciliar entre as famílias que demonstraram concordar com a
foram abordadas. Assim constatou-se eutanásia, quase 25,0% contestaram o
que os alunos são importantes tratamento e 7,5% foram a favor deste.
multiplicadores de informações sobre as
leishmanioses e outras doenças. Tome et al. (2010) avaliaram o
conhecimento sobre algumas zoonoses,
Freitas et al. (2010) avaliaram no incluindo a LV, em proprietários de
Distrito Sanitário Noroeste de BH, o cães em Botucatu (SP). Descobriu-se
conhecimento sobre a LV por que 80,8% dos respondentes já tinham
proprietários de cães cujo resultado para ouvido falar sobre a LV e 30,9% sabiam
a LV foi soronegativo. Resultados que é transmitida pelo mosquito
demonstraram que a maioria dos “palha”, mas 1,5% achavam que a
entrevistados (86,68%) conhecia o transmissão fosse por meio da saliva
vetor, porém, os demais confundiram a contaminada. Sobre a prevenção
forma de transmissão citando a urina de apontaram para a eliminação de matéria
roedores e mordeduras caninas. Apenas orgânica (23,7%), o tratamento de cães
17,11% não tinham dúvidas sobre as doentes (0,9%), o uso de telas nas
medidas de prevenção e controle da janelas e repelentes de insetos (0,3%) e
doença, no entanto a maioria mencionou a eutanásia de cães infectados (0,3%).
ações inespecíficas. Além disso, outros Porém medidas de prevenção
citaram medidas ineficazes, como evitar direcionadas ao cão e de proteção
água parada (70,91%), por acreditarem individual (uso de repelente na pele)
ser este o local de postura do vetor, e não foram abordadas. A maioria não
evitar contato com água da chuva conhecia os sinais clínicos da LVC. A
(47,91%). Observou-se que 23,95%, queda de pelos foi citada
20,34% e 98,1%, usavam em seus cães maioritariamente (9,6%), seguida do
a coleira repelente, aplicavam spray
31
emagrecimento, feridas na pele e por 3 - MATERIAL E MÉTODOS
fim a onicogrifose.
3.1 – Tipo de estudo
Coura–Vital (2011), durante um estudo
transversal em BH entrevistou 918 Realizou-se um estudo epidemiológico
proprietários de cães, sendo 296 observacional transversal, com o uso de
infectados pela LV e 917 sadios. questionários semiestruturados
Observou que a maioria das pessoas aplicados por meio de entrevistas, junto
(98,4%) já tinha ouvido falar de LV, e a proprietários ou responsáveis de cães
59,0% sabiam que a transmissão ocorria diagnosticados como soronegativos e
por meio de um inseto vetor. Apenas soropositivos no Laboratório de
21,9% dos indivíduos conheciam os Leishmaniose da EV-UFMG, entre
sintomas da doença, sendo os mais 2010 e 2011.
conhecidos, febre (65,2%), dor no corpo
(36,8%) e emagrecimento e fraqueza 3.2 - Descrição da área de estudo
(18,4%). Menos que a metade dos
entrevistados (35,7%) sabia da O estudo foi realizado no município de
importância do cão na transmissão da Belo Horizonte, capital do estado de
LV e citaram sinais clínicos como Minas Gerais localizado no sudeste do
onicogrifose, feridas no corpo, Brasil, entre os meridianos 43° e 45°,
inapetência. Observou-se, ainda, que a latitudes 19º 46' 35"e 20º 03' 34” sul e
maioria (77,0%) dos entrevistados que longitudes 43º 51' 27"e 44º 03' 47”
tinham tido cães soropositivos optaram oeste de Greenwich. Possui 2.385.639
pela eutanásia e somente 17,7% os habitantes e população canina de
trataram. Dentre os que não tinham cães 276.091 animais (PBH, 2011). A área
soropositivos, 59,1% afirmaram que territorial de 331 km² é dividida em
realizariam o procedimento no serviço nove regiões administrativas, a saber,
público (CCZ/PBH) e 16% em clínicas Barreiro, Oeste, Centro-sul, Leste,
particulares. Cerca de 69,0% dos Noroeste, Nordeste, Pampulha, Norte e
domicílios dos entrevistados já tinham Venda Nova (IBGE, 2011) (Fig. 5).
recebido tratamento químico para o
controle vetorial. A maioria dos animais
já havia sido testada para a LVC,
principalmente pela prefeitura.
32
Figura 5 - Divisão do município de Belo Horizonte segundo as nove Regionais
Administrativas.
33
cães testados, 449 (34%) foram 4. Conhecimento sobre o PVCLV:
soropositivos. Já entre agosto de 2010 e medidas direcionadas ao Homem, ao
agosto de 2011, do total de 1.072 vetor e ao reservatório canino.
animais de BH testados, 429 (40%) 5. Origem dos conhecimentos
soronegativos e 390 (36,4%) eram sobre a LV e o PVCLV;
soropositivos. Os demais (253) foram 6. Práticas frente as medidas de
considerados indeterminados na RIFI. prevenção e controle da doença,
voltados ao vetor e ao cão;
3.3.2 - Definição da amostra 7. Atitudes dos PCsN caso o cão
apresentasse resultado soropositivo para
Utilizou-se a amostra de conveniência a LV.
de 100 proprietários ou responsáveis de
cães diagnosticados no Laboratório de O questionário foi elaborado tendo
Leishmaniose da EV-UFMG, baseado como base o Manual de Vigilância e
no valor mínimo para o cálculo do Qui- Controle da Leishmaniose Visceral
Quadrado (Sampaio, 2002), sendo 50 (Manual..., 2006). Primeiramente, em
proprietários de cães com resultado um estudo piloto, o questionário foi
soropositivo e outros 50 proprietários de aplicado em 10 indivíduos que tinham
cães diagnosticados como cães soronegativos e outros 10 que
soronegativos, entre agosto de 2010 e tiveram cães soropositivos para a LV,
agosto de 2011. O processo de em dois momentos distintos, com
amostragem foi realizado de forma intervalo de 15 dias. A concordância no
aleatória simples, por meio da Tabela de entendimento das questões deste
números aleatórios (Medronho, 2009). instrumento foi avaliada por meio do
teste Kappa, segundo Landis e Koch
3.3.3 − Instrumento de coleta de (1997) citado por Medronho (2009),
dados onde se observou que as questões
apresentaram consistência e
Foi construído um questionário reprodutibilidade boas, visto que o
semiestruturado (Apêndice 1), contendo Kappa variou predominantemente de
45 questões relacionadas às seguintes bom a perfeito. As questões que
variáveis: apresentaram o Kappa inferior a 0,60
foram refeitas ou eliminadas. A
1. Demográficas: nome, idade e distribuição das variáveis entre
sexo do entrevistado; proprietários de cães soropositivos e
2. Socioeconômicas: grau de soronegativos, respectivamente, está
escolaridade e profissão/ocupação; descrita na Fig. 6.
3. Conhecimento sobre a LV:
forma de transmissão, nomes do vetor e
hospedeiros;
34
Figura 6 – Fluxograma da distribuição das variáveis entre os proprietários de cães
soropositivos e soronegativos.
35
3.4 - Considerações éticas estabelecer diferenças (p<0,05) entre os
dois grupos de responsáveis ou
O estudo foi elaborado e realizado proprietários de cães e detectar possível
segundo as diretrizes e normas que associação das mesmas à possibilidade
regem as pesquisas envolvendo seres de se obter um cão soropositivo para a
humanos (Resolução nº. 196/1996 do LV.
Conselho Nacional de Saúde) e
aprovado pelo Comitê de Ética em 4 – RESUTADOS E DISCUSSÃO
Pesquisa da UFMG, por meio do
parecer CAAE 0533/11 − (Anexo 1). Foram visitados 100 domicílios, (50
PCsP e 50 PCsN) distribuídos nas nove
3.5 - Armazenamento e análise de Regionais Administrativas de BH. No
dados período estudado, 17 (34,0%) PCsP
inicialmente selecionados foram
As informações coletadas por meio dos excluídos, 10 (58,8%) devido a ausência
questionários foram codificadas e de contato telefônico correto e 7
armazenadas com o auxílio da planilha (41,2%) devido a indisponibilidade do
eletrônica EXCEL, versão 2007. Foi indivíduo em participar da pesquisa.
feita a análise descritiva e estatística dos Dos PCsN, houve 23 (46,0%),
dados. Segundo Sampaio (2002) e reposições, das quais 8 (34,8%) por
Medronho (2009), a análise descritiva ausência de contato telefônico correto e
se refere à distribuição de frequências 15 (65,2%) por indisponibilidade do
de todas as variáveis. Essa análise próprio individuo. Porém, como a
caracterizou a população segundo suas seleção foi feita com reposição, estes
características demográficas, foram substituídos até a obtenção dos
socioeconômicas e variáveis 100 entrevistados. As visitas
relacionadas ao conhecimento sobre a domiciliares foram bem aceitas pelos
LV e os métodos preconizados pelo MS participantes do estudo, que permitiram
para a prevenção e controle desta, a entrada dos pesquisadores em seus
práticas dos entrevistados frente à domicílios para a realização das
prevenção e controle da LV, práticas entrevistas, o que pode estar relacionado
dos PCsP frente ao resultado de LVC ao agendamento prévio da entrevista.
positivo e atitudes dos PCsN caso o cão Apesar do êxito nas visitas, dois (0,5%)
apresentasse resultado soropositivo para dos entrevistados não estavam na
a doença. residência na data e horário agendados,
tendo sido necessário um novo
A análise estatística univariada foi feita, agendamento e retorno ao domicílio.
por meio do programa estatístico Epi
Info 6.0, comparando os dois grupos, 4.1 - Características da população
em relação às variáveis estudadas. A estudada
existência de associação entre os grupos
foi analisada pelo teste do Qui- A população estudada foi caracterizada
Quadrado e a sua força pela Odds Ratio como adulta, com idade média de 45
(OR), com intervalo de confiança (IC) anos, variando entre 18 e 76 anos. Em
de 95,0%, com a finalidade de se ambos os grupos houve maior
36
predomínio do gênero feminino, 56,0% diferença estatística (p<0,05) segundo a
(PCsP) e 68,0% (PCsN), não havendo Tab. 1.
Tabela 1 − Distribuição dos proprietários de cães diagnosticados para a LV, na EV-
UFMG, segundo o gênero, Belo Horizonte, 2010 - 2011.
37
diferença estatística entre os grupos para esta variável (Tab. 2).
Tabela 2 − Distribuição dos proprietários de cães diagnosticados para a LV, na EV-
UFMG, segundo a profissão, Belo Horizonte/MG, 2010 - 2011.
Formas de transmissão da
LV
Picada do mosquito 45 97,8 41 89,1 1,97 0,249
Outras1 3 7,7 7 15,2 1,61 0,182
38
Conhece nomes do vetor
Sim 14 30,4 13 31,7 1,10 0,821
Não 32 69,5 28 68,2 1,40 0,414
1
Secreções, contato com água, contato com o cão doente, fezes, urina de rato e saliva.
39
Figura 8 – Distribuição dos proprietários de cães diagnosticados na EV-FMG em
relação ao conhecimento sobre a susceptibilidade para LV, Belo Horizonte/MG, 2010 -
2011.
40
Figura 9 - Conhecimentos dos proprietários de cães diagnosticados na Escola de
Veterinária da UFMG, sobre os sinais clínicos da LV em humanos, 2010/2011.
1
Dor de cabeça, diarreia, vômito, dor abdominal, acometimento dos rins, manchas na pele.
41
dos PCsN. Fizeram parte das respostas, significativa sobre a maioria dos sinais
inclusive, outros sintomas que não os da apresentados por cães infectados, mas
LVC tais como fotofobia, polidipsía, isso foi verificado apenas com o
neuropatias e cardiopatias (2,2,%, PCsP conhecimento da onicogrifose.
e 10,3%, PCsN). Esperava-se que os
PCsP, por terem contato recente com
animal soropositivo, tivessem diferença
¹Anemia, palidez muco-cutânea, hemorragia, inapetência, prostração, diarreia, vomito, acometimento dos
rins.
42
cães também foi constatado por Gama direcionadas à população humana.
et al. (1998), que relacionaram este Grande maioria dos entrevistados não as
conhecimento ao contato dos conhecia, salvo 18% (9) dos PCsP e
respondentes com a doença, no entanto, 14% (7) dos PCsN. As respostas mais
Tome et al. (2010) obtiveram resultados citadas foram a proteção individual (uso
contrários ao presente estudo, visto que do repelente e janelas teladas), em
a maioria dos indivíduos não os 55,6% por PCsP e 42,9% por PCsN, e o
conhecia. diagnóstico e tratamento precoce de
indivíduos infectados, citado apenas por
4.3 - Conhecimentos sobre as PCsN (42,9%). Apesar de ser medida
medidas de prevenção e controle não eficaz, os proprietários abordaram,
ainda, evitar contato com animais
4.3.1- Conhecimentos sobre as doentes para se prevenir contra a doença
medidas de prevenção e controle (33,3% PCsP e 28,6%PCsN). Não
direcionadas à população humana houve diferença significativa para as
variáveis, entre os grupos, nem
A Tab. 4 indica as respostas relativas às associação das mesmas com a
medidas de prevenção e controle da LV possibilidade de ocorrência de LVC.
Tabela 4. Conhecimento dos proprietários de cães diagnosticados para LV na EV-
UFMG, sobre as medidas de prevenção e controle da LV, direcionadas à população
humana, Belo Horizonte/MG, 2010 - 2011.
43
4.3.2- Conhecimentos sobre as sua importância no combate ao vetor. A
medidas de prevenção e controle borrifação realizada pelo serviço de
direcionadas ao vetor zoonoses de BH e o uso de produtos à
base de citronela no ambiente também
Quando questionados sobre o foram citados. Apesar de não constituir
conhecimento das medidas de medida de prevenção e/ou controle do
prevenção e controle direcionadas ao vetor, os entrevistados narraram evitar
vetor, 64,0% (32) dos PCsP e 60,0% água parada, como uma das formas de
(30) dos PCsN afirmaram conhecer as evitar a proliferação de L. longipalps.
ações relacionadas. A limpeza do Não houve diferença significativa entre
ambiente domiciliar foi citada com os proprietários de cães no que diz
maior frequência (75,0% por PCsP e respeito à existência ou não de saberes
7% por PCsN), porém, assim como foi relativos ao combate do vetor, assim,
observado por Ribeiro (2010), foi não houve associação entre as variáveis
indicada aparentemente de forma e a ocorrência de soropositividade
aleatória, não tendo sido especificada canina para LV (Tab. 5).
Tabela 5 - Conhecimento dos proprietários de cães diagnosticados para LV na EV –
UFMG, sobre as medidas de prevenção e controle da LV direcionadas ao vetor, Belo
Horizonte/MG, 2010 - 2011.
44
95% 0,10 – 0,97), o que também foi Outras respostas, menos frequentes,
verificado por Borges et al (2009). Para foram o uso de repelentes em cães e no
ambos os grupos sobressaiu a ambiente, evitar a exposição do cão em
identificação e eutanásia de cães horários crepusculares, o telamento de
soropositivos (64,9%, PCsP; 47,7%, canis, os cuidados com a higiene do
PCsN), com maior destaque para os animal e a dedetização. O controle de
PCsP. Em seguida vieram a vacinação cães errantes e o teste para a detecção
anti-LVC (32,4% PCsP; 45,5%, PCsN) da infecção por L. infantum antes da
e o uso de coleira impregnada com adoção, não foram abordados. Não
deltametrina na concentração de 4%, houve diferença estatisticamente
(40,9%, PCsN; 51,3%, PCsP). Também significativa entre os grupos no que diz
foi importante a frequência de relatos respeito às variáveis (Tab. 6).
sobre o inquérito sorológico canino.
Tabela 6 - Conhecimento dos proprietários de cães diagnosticados para LV na EV-
UFMG, sobre as medidas de prevenção e controle da leishmaniose visceral direcionadas
à população canina, Belo Horizonte/MG, 2010 – 2011.
45
inviabilidade da realização do como forma de minimizar a incidência
tratamento canino. de doenças, neste caso da LV, como
também foi verificado por Fonseca
4.3.4 - Opiniões dos entrevistados (2011). Seguiu-se a permissão do
sobre mudanças nos serviço público, tratamento de cães soropositivos,
no que diz respeito à prevenção e ao interrompendo, desta forma, a eutanásia
controle da leishmaniose visceral destes animais (33,3%, PCsP e 24,4%,
PCsN). Outras sugestões foram pouco
Quando foi questionado se o indivíduo expressivas (Tab. 7). Houve diferença
julgava que algo relacionado à significativa apenas na percepção dos
prevenção e ao controle da LV deveria entrevistados quanto a variável
mudar nos serviços da PBH, a maioria, “disponibilizar gratuitamente a vacina
78% (39) dos PCsP e 82,0% (41) dos anti – LVC” (p=0,027), sendo a maioria
PCsN afirmaram que sim. A melhoria afirmada por PCsP. Isso pode ser
das ações de educação em saúde, devido ao conhecimento desta
especificamente o aumento da ferramenta como preventiva para a
divulgação de informações relativas à LVC, bem como para o tratamento da
doença, foi a mais citada (56,4%, PCsP infecção, como é feito por alguns
e 51,2%, PCsN), demonstrando que os proprietários neste mesmo estudo,
participantes do estudo reconhecem a apesar de a mesma ser recomendada
importância da educação em saúde apenas para fins preventivos (Control...,
2010).
Tabela 7 - Opinião dos proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG, sobre o que
deveria mudar no serviço público no que tange às medidas de prevenção e controle da
LV , Belo Horizonte/MG, 2010 – 2011.
46
Recolher animais de rua¹ 1 2,6 0 0,0 - 0,315
Ter um veterinário em cada posto de saúde* 1 2,6 0 0,0 - 0,315
Fiscalização² 2 5,1 0 0,0 - 0,153
¹
Variáveis para as quais não foi possível gerar a OR.
²
Fiscalização de residências onde existem cães e fazer exames rigorosos em todos eles.
47
internet (14,0%, PCsP e 8,0%, PCsN) (Fig. 11).
48
Estas observações são contrárias às peridomicílio, como manter o mato
obtidas por Coura-Vital (2011), que baixo, após o conhecimento da
observou que, a maioria dos domicílios soronegatividade do teste. Em
dos entrevistados já tinham sido contrapartida, dentre os PCsP este
borrifados. Isto pode ser explicado pela percentual se incrementa para 18,0%, os
diferença entre as populações estudadas indivíduos citaram a remoção de
e o local de residência dos entrevistados entulhos e lixo, a redução de plantas
nestes dois estudos, pois segundo Brasil frutíferas, a redução de capim e o
(2006) o procedimento é realizado após plantio de citronela próximo ao canil e
a constatação de risco eminente para a às janelas do imóvel. Estas observações
LV na área. estão em conformidade com o
recomendado por Brasil (2006) para
Do total de PCsN apenas 2,0% inviabilizar e controlar o
revelaram ter feito mudanças no desenvolvimento vetorial.
Tabela 8 - Informações sobre o controle químico vetorial e mudanças no domicilio, após
a obtenção do resultado de exames de cães diagnosticados na EV – UFMG, Belo
Horizonte/MG, 2010 – 2011.
49
verificado por Saraiva et al. (2011), que Grande parte dos resultados do exame
concorda com a influência do ambiente anterior foi soronegativa (88,2%, PCsP
no desenvolvimento vetorial. e 72,4%, PCsN). A frequência da
realização desses exames foi
4.5.2 – Práticas dos entrevistados maioritariamente realizada em
frente às medidas de prevenção e intervalos de um ano (58,8%, PCsP e
controle direcionadas ao reservatório 65,5%, PCsN). Houve diferença
canino estatisticamente significativa entre os
grupos para a variável “ter realizado
Minoria dos cães pertencentes aos PCsP exames para LVC anteriormente”
(34,0% - 17) já havia sido submetida a (p=0,017), observando-se associação
outro exame para LVC, ao contrário dos negativa entre variável e a possibilidade
animais dos PCsN (58,0% - 29), de se obter um cão infectado por L.
corroborando com Coura-Vital (2011). infantum no estudo (OR=0,38; IC95%
A maioria dos proprietários que tinham 0,17 - 0,84) (Tab. 9). Este resultado
conhecimento sobre o local da pode ser indicativo da importância do
realização do teste, afirmou que o médico veterinário na detecção de casos
anterior foi feito pelo serviço privado de LVC e também de que os PCsN tem
(29,4%, PCsP e 37,9%, PCsN), maior cuidado sobre o monitoramento
discordando das observações de Coura- da ocorrência da doença em seus cães.
Vital (2011), que constatou que a Isso pode ser devido ao conhecimento
maioria dos entrevistados tinha optado amplo sobre a gravidade da doença e/ou
pelo serviço público para o teste da ao fato de já ter tido cães soropositivos
LVC. e por isso perceber a importância do
diagnóstico precoce.
Tabela 9 – Histórico dos exames de LVC, realizados em cães diagnosticados na EV-
UFMG , Belo Horizonte/MG, 2010 - 2011.
50
Público (PBH) 3 17,6 5 17,2 0,57 0,461
Não sabe 9 52,9 13 44.8 0,62 0,334
¹
Variáveis para as quais não foi possível gerar a OR.
51
deltametrina 0,2%, indicados para longipalps, além de desinfetantes para
outros fins que não o combate ao L. combatê-lo.
Tabela 10 – Práticas dos proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG, para
prevenção da LV nos outros cães do domicílio, Belo Horizonte/MG, 2010 - 2011.
52
a picada do vetor. segundo Tawatsin et percentual de respostas, com 94,0%
al. (2001) o uso de produtos que contêm (47). O uso da coleira com inseticida no
na composição o princípio ativo da cão infectado (48,0%) e uso de produtos
citronela não tem eficácia prolongada à base de citronela tanto no ambiente
para repelir o L. Longipalpis. Além quanto no animal (44,0%), também
disso, o uso de plantas, como a foram notavelmente citados, seguindo-
citronela, apesar de ser considerada se o uso da vacina anti-LVC (24,0%).
como repelente natural, pode ser As medidas menos abordadas foram: a
questionada, quando levado em consulta regular ao médico veterinário
consideração que a presença de plantas (6,0%), o uso de repelentes (6,0%) e do
pode servir de alimento e abrigo para o aluporinol (4,0%), o uso de canil telado
vetor (Werneck et al., 2002). (2,0%) e outras medidas pouco eficazes,
como a higiene animal e o uso de
produtos não reconhecidos como
eficientes para repelir ou combater o
Foi questionado sobre o que os PCsP vetor (3,0%) (Fig. 12). Ressalta-se que a
faziam para evitar a transmissão da LV maioria (74,0%) dos respondentes
de seus cães para pessoas e outros realizavam essas ações antes do
animais. A limpeza domiciliar liderou o resultado de LV soropositivo.
100%
90%
80%
% respostas
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Figura 12. Práticas dos proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG para evitar a
transmissão da LV do cão soropositivo para pessoas e outros cães, Belo Horizonte/ MG,
2010-2011.
53
Chama atenção o fato de quase todos os dinâmica da transmissão da doença para
respondentes terem citado a limpeza outros seres.
domiciliar como forma de evitar a
transmissão e interromper o ciclo da 4.6 - Importância do cão para o
LV. No entanto tratava-se de uma proprietário
limpeza de rotina, não direcionada ao
combate ao vetor. Quando questionados sobre o
significado destes cães, para suas vidas
O uso da coleira impregnada com pessoais, os significados de família e
inseticida deveria ser feito por 100% companhia foram mais citados, com
dos cães infectados, pois é considerada 48% (24) por PCsP e 68% (34) por
importante ferramenta para a prevenção PCsN e 52% (26) por PCsP e 44% (22)
de picadas por L. longipalps em cães por PCsN, respectivamente, ilustrando
(Killick-Kendrick et al., 1997; David et claramente a inserção destes animais no
al., 2001). A baixa aderência ao uso da ambiente familiar. A função de guarda
coleira, associado à falta de prática de foi a menos citada, tanto por PCsP
outras ações preventivas, pode propiciar (18%) quanto por PCsN (10%) (Fig.
a transmissão da doença para pessoas 13). Diferença significativa foi
bem como para cães suscetíveis. observada entre os grupos de
entrevistados, no que diz respeito a
O uso da vacina anti-LVC para evitar a considerar seus cães como membros da
transmissibilidade do cão infectado foi família (p= 0,043). Houve associação
feito em 24% dos casos neste estudo. negativa entre o fato de o animal ser
Nogueira et al. (2005) comprovou a considerado membro da família e a
efetividade deste tratamento na cura da possibilidade deste poder contrair a LV,
LVC, porém a vacinação só é (OR: 0,43; IC95% 0,19 - 0,98). Este
recomendada para fins de prevenção da resultado é, provavelmente, devido a
doença (Trigo, 2010; Control..., 2010). possível antropomorfização que leva
aos proprietários a dispensarem maiores
As consultas ao médico veterinário cuidados aos seus pets, inclusive na
podem ser vistas como importantes se proteção contra doenças, visto que 29%
uma das finalidades for acompanhar os (10) dos PCsP e 41% (10) dos PCsN,
níveis de infecção e recomendar ao que consideravam seus cães como
proprietário do cão sobre o uso da membros da família faziam o uso da
coleira com inseticida e advertir sobre a coleira com inseticida nos respectivos
importância do animal infectado na animais.
54
Figura 13 - Significado do cão diagnosticado para os respectivos proprietários LV na
EV - UFMG, Belo Horizonte/ MG, 2010 – 2011.
55
Figura 14 - Práticas dos proprietários de cães frente ao resultado soropositivo do animal,
para a leishmaniose visceral, 2010-2011.
56
Estes resultados demonstram a o tratamento ser dispendioso
importância dos médicos veterinários na demonstrou que a opção foi feita sem a
influência da tomada de decisões por pretensão de participar do controle da
parte de proprietários ou responsáveis doença, como também observou Ribeiro
por cães soropositivos para LV. Por isso (2010).
considera-se que estes são um elo
importante entre o PVCLV e a Os 40,0% (20) dos entrevistados que
população e podem, pelo repasse de não solicitaram a eutanásia dos seus
informações inerentes a LV, cães justificaram em 45,0% dos casos, o
condicionar a mudança de atitudes da afeto pelo animal, em 40,0%, a
população perante a doença, recomendação dos médicos veterinários
principalmente quanto às medidas para a realização do tratamento, em
preventivas, especificamente o uso da 25,0% a não credibilidade da eutanásia
coleira, neste estudo. como medida eficaz no controle da
endemia, em 5,0% a morte do animal
A solicitação da eutanásia devido ao sem que o proprietário tivesse tido
prognóstico ruim do animal e o fato de conhecimento do resultado (Fig. 16).
57
Figura 17 – Razões para os proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG
solicitarem o tratamento do cão soropositivo para leishmaniose visceral, Belo
Horizonte/ MG, 2010 – 2011.
58
Figura 18 - Razões para os proprietários de cães diagnosticados na EV-UFMG não
solicitarem o tratamento do cão soropositivo para leishmaniose visceral, Belo
Horizonte/ MG, 2010 – 2011.
Ações educativas sobre a importância prestados pelo CCZ, bem como a sua
da retirada imediata de cães gratuidade. Isso possivelmente
soropositivos do ambiente são influenciaria no direcionamento da
importantes para permitir a interrupção população diante de um caso ou
do ciclo de transmissão da LV para suspeita da LV, para este
outros cães e pessoas. Segundo Luz et estabelecimento.
al. (2005), a educação funciona como
controle cultural para a LV, por tornar Quanto ao tempo decorrido entre o
participantes diversas camadas da diagnóstico e a eutanásia canina, a
população e por democratizar atitudes maioria dos proprietários decidiu pela
capazes de beneficiar as práticas de eutanásia em até três semanas após o
controle. A sensibilização deve resultado (65%). Verificou-se que
abranger o que diz respeito aos serviços alguns proprietários esperaram mais de
59
oito semanas para a tomada dessa decisão (Fig. 20).
20%
15%
65%
5% 5%
10%
80%
60
Figura 21 - Tempo decorrido entre o diagnóstico soropositivo do cão e o provável
tratamento do mesmo, segundo o proprietário do animal, Belo Horizonte/ MG, 2010 –
2011.
50%
40%
% respostas
30%
20%
10%
0%
Preservar Evitar o Preservar A O tratamento Não tem cura
saúde das sofrimento do saúde de PBH/MISAU é caro
Pessoas animal outros cães recomenda
Figura 22 – Razões para a realização da eutanásia por PCsN caso os respectivos cães
apresentassem resultado soropositivo para LV, Belo Horizonte/MG, 2010 - 2011.
Do total de PCsN, 58,0% optariam pelo é eficiente no controle da LV, 7,0% por
tratamento. A maioria (66%) o faria por possuírem condições financeiras para tal
afeto, o que demonstra que o animal e 3,0% por saberem que o resultado
ocupa um lugar especial na vida desses pode ser falso positivo e 3,0%
indivíduos. Outros (14%) o escolheriam dependeriam da opinião do médico
por acreditar na eficácia do tratamento, veterinário para tomar alguma decisão
7,0% por pensarem que a eutanásia não (Fig. 23).
61
Figura 23 – Razões para a realização do tratamento por PCsN caso os respectivos cães
apresentassem resultado soropositivo para LV, Belo Horizonte/MG, 2010 - 2011.
62
hábitos e comportamentos relacionados from Visceral Leishmaniasis. PLoS.
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Características clínicas e 2009.
70
7 - ANEXO 1: Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, para a realização da
pesquisa
71
8 - APÊNDICE 1: Questionário sobre a leishmaniose visceral aplicado aos
proprietários de cães.
1. Dados pessoais
Nome
Sexo:
2. Caracterização do cão
Nome:
3. Conhecimentos sobre a LV
3.1 – O sr. (a) já ouviu falar sobre a LV? 3.3. Como a LV é transmitida ao ser humano e ao
cão?
[ ] sim [ ] não
[ ] Sim
[ ] Não
3.2 - Sabe que pode ter a LV?
3.3.1 – Como a LV é transmitida?
[ ] sim [ ] não
[ ] Picada por mosquito
72
4.1 – O sr. (a) sabe quais são os sintomas da LV 4.2 - O sr. (a) sabe quais são os sintomas da LV em
cães?
em humanos?
[ ] Sim
[ ] Sim
[ ] Não
[ ] Não
4.2.1 - Se sim, quais são?
[ ] Emagrecimento [ ] Onicogrifose
[ ] Febre [ ] Emagrecimento
[ ] Hepatoesplenomegalia [ ] Ceratoconjutivite
[ ] Hemorragia [ ] Hepatoesplenomegalia
[ ] Outros_____________________________ [ ] Outros_____________________________
5.1. Sabe quais são as medidas de prevenção e controle da LV indicadas pelo MS?
[ ] Sim [ ] Não
5.1.1 Sabe quais são as medidas de prevenção e 5.1.3 - Sabe quais são as medidas de prevenção e
controle recomendadas das pelo MS, dirigidas à controle recomendadas das pelo MS, dirigidas ao
população canina? [ ] Sim [ ] Não mosquito da LV? [ ] Sim [ ] Não
73
[ ] Uso de coleiras impregnadas com deltametrina [ ] Medidas de proteção individual
4%
[ ] Educação em saúde
7. Acha que algo devia mudar nos serviços da PBH, relacionado ao controle da LV?
[ ] Não
8.1. É a 1ª vez que faz o teste de LV no/a (nome do cão diagnosticado)? [ ] Sim [ ]Não [ ]Não sabe
8.1.1 - Se não, com que frequência 8.1.3. Qual foi o resultado do teste anterior a este?
tem feito?
[ ] Positivo
[ ] Semestral
[ ] Negativo
[ ] Anual
[ ]Indeterminado
[ ] Mais que 1 ano
[ ]Não sabe
8.1.2 - Em laboratório público?
[ ] Sim [ ]Não
8.2 - Tem outros cães além do/a (nome do cão diagnosticado)? [ ] Sim [ ]Não
74
8.2.1 - Se sim, tem feito algo para evitar a doença neles? [ ] Sim [ ]Não
[ ] Uso coleira
[ ] Tela no canil
[ ] Controle vetorial
Outros_________________________________________________________________
8.3 – O que tem feito para evitar a transmissão da LV do/a (nome do cão soropositivo) para outros cães e
pessoas? (ler as opções)
[ ]Não sabe
9.1 - Seu imóvel já foi borrifado/dedetizado contra o mosquito da LV? [ ] Sim [ ] Não [ ] Não sabe
9.2 - Se sim:
75
9.3 - A borrifação/ dedetização foi antes ou depois do último exame?
9.4 - Após o resultado, fez mudança/s no quintal ou intradomicílio, na tentativa de evitar o mosquito da
LV? [ ] Sim [ ]Não
Outros_________________________________________________________________
10.1 - Porquê?______________________________________________________________
10.5 - Porquê?_______________________________________________________________
76
Se não tiver sacrificado:
12. O que este cão significa para vida pessoal do sr. (a)?
[ ] Companhia
[ ] Guarda
[ ] Família
Outros __________________________________________________________________
13. O sr. (a) tem mais alguma informação que gostaria de incluir nesta entrevista?
[ ] Sim _________________________________________________________________
[ ] Não
77
Hora de término_________
Eu,________________________________________________________________,
abaixo assinado, concordo em participar do projeto, respondendo a(s) entrevista(s). Fui
devidamente informado e esclarecido pelo pesquisador
_______________________________________ sobre a pesquisa e os procedimentos
nela envolvidos. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer
momento, sem que isto leve a qualquer penalidade.
78
Assinatura: ___________________________________________________
Endereço: Av. Carlos Luz, 6627 – Unidade Administrativa II, 2º andar, SL 2005. CEP:
31270-901. BH/MG.
Endereço: Escola de Veterinária - Av. Antônio Carlos, 6.627, CP 567. CEP 30161-970.
BH/MG- Campus Pampulha: (31) 3409-2084.
79