Você está na página 1de 10

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Num. Processo : 0176934-09.2011.8.05.0001


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : DISAL ADMINISTRADORA DE CONSORCIOS LTDA
:
Recorrido(s) : EVANILDO DOS SANTOS
Origem : JUIZADO MODELO CÍVEL - FEDERAÇÃO - MATUTINO
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONSÓRCIO. CONTRATO


POSTERIOR A VIGÊNCIA DA LEI Nº 11.795/2008 (06.02.09).
SENTENÇA QUE DETERMINOU A DEVOLUÇÃO DOS
VALORES PAGOS APÓS O TRIGÈSIMO DIA DO
ENCERRAMENTO DO GRUPO. TRÃNSITO EM JULGADO
NO TOCANTE AO MOMENTO DA DEVOLUÇÃO.
ABATIMENTO APENAS DA TAXA DE ADMINISTRAÇÃO E
DO SEGURO. JUROS DE MORA A INCIDIR A PARTIR DO
TRIGÈSIMO DIA A PARTIR DO ENCERRAMENTO DO
GRUPO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.
ACÓRDÃO
Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, MARIA AUXILIADORA
SOBRAL LEITE - Relatora, CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ, ISABELA
KRUSCHEWSKY PEDREIRA DA SILVA, , em proferir a seguinte decisão: RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO, de acordo com a ata do julgamento.. Sem
condenação em honorários advocatícios ante o êxito da parte no recurso..
Salvador, Sala das Sessões, 04 de fevereiro de 2016.

Bela ISABELA KRUSCHEWSKY PEDREIRA DA SILVA


Juíza PRESIDENTE
Bela. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Num. Processo : 0176934-09.2011.8.05.0001


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : DISAL ADMINISTRADORA DE CONSORCIOS LTDA
:
Recorrido(s) : EVANILDO DOS SANTOS
Origem : JUIZADO MODELO CÍVEL - FEDERAÇÃO - MATUTINO
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONSÓRCIO. CONTRATO


POSTERIOR A VIGÊNCIA DA LEI Nº 11.795/2008 (06.02.09).
SENTENÇA QUE DETERMINOU A DEVOLUÇÃO DOS
VALORES PAGOS APÓS O TRIGÈSIMO DIA DO
ENCERRAMENTO DO GRUPO. TRÃNSITO EM JULGADO
NO TOCANTE AO MOMENTO DA DEVOLUÇÃO.
ABATIMENTO APENAS DA TAXA DE ADMINISTRAÇÃO E
DO SEGURO. JUROS DE MORA A INCIDIR A PARTIR DO
TRIGÈSIMO DIA A PARTIR DO ENCERRAMENTO DO
GRUPO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.

RELATÓRIO

Trata-se de recurso Inominado interposto pela parte ré na ação de origem,


DISAL ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA, contra sentença que julgou parcialmente
procedente o pedido da exordial , nestes termos: “ Ante ao exposto, julgo procedente em parte
a presente ação, para condenar a parte Ré a restituir as prestações pagas pela parte Autora, titular da
cota 270.0 do grupo 2297, no prazo de 30 (trinta) dias, após o encerramento do grupo de consórcio,
cujo valor total é de R$ 1.232,00 (hum mil duzentos e trinta e dois reais), abatido o percentual relativo
à taxa de administração, tudo corrigido monetariamente a partir da inicial e acrescido de juros legais
de 1% (um por cento) ao mês, a partir da data da citação, até a data seu efetivo pagamento, ficando
modificadas as cláusulas contratuais em disposição contrária. ”.

Na origem, trata-se de ação na qual a parte autora buscou a tutela jurídica


para obter a devolução imediata dos valores pagos a título de prestação de consórcio,
requerendo a restituição da quantia de R$ 1.232,00 (hum mil duzentos e trinta e dois
reais)., em virtude da negativa da empresa administradora do consórcio em assim
proceder.

O autor recorrente busca a reforma da sentença, alegando, em síntese, que


faz jus à devolução imediata dos valores pagos, bem como que em virtude da negativa do
réu sofrera danos morais .

A recorrente busca a reforma da sentença, alegando, em síntese, que faz


jus ao desconto da taxa de seguro de vida, bem como requer o desconto de multa e juros
por atraso no adimplemento das prestações. Impugna, de igual forma, o termo a quo dos
juros de mora fixado pelo magistrado sentenciante, sustentando que deverá incidir a
partir do trigésimo dia a contar do encerramento do consórcio.

Sem contrarrazões, vieram os autos conclusos.

Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,


apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos demais
membros desta Egrégia Turma.

VOTO
Preliminarmente, em que pese a ausência de recurso da parte autora,
tendo portanto transitado em julgado a sentença que determinou a devolução dos
valores pagos após o trigésimo dia após o encerramento do grupo de consórcio,
cumpre-me registrar, vez que já houve pronunciamento dessa magistrada de forma
diversa da aqui exarada, que após reuniões entre os membros das Turmas
Recursais da Bahia objetivando uniformizar o entendimento sobre a matéria dos
consórcios, particularmente sobre o momento da devolução das parcelas pagas ao
consorciado desistente, ao final de estudo e debates, foi firmado o entendimento da
forma que se segue:

Com efeito, considerando o entendimento das Turmas Recursais reunidas


da Bahia, que ao analisarem as razões do veto dos §§ (1º, 2º e 3º do art. 30 da Lei
11.795/2008, os quais previa que a devolução das parcelas pagas pelo desistente se
daria de duas formas 1. contemplação em assembléia e 2 - restituição após 60 dias da
data da última assembléia e ao ponderar referidos dispositivos, constataram que com o
veto a lei nada prevê sobre o momento da devolução,já que no projeto da referida lei onde
havia os parágrafo vetados pela Presidência da República na mensagem 762 de
08/10/2008 justamente sobre tal veto, foi considerado que os parágrafos importavam em
afronta direta aos art. 51, IV c/c art. 51, incisos II e II, todos do CDC, que prevê regra
proibitória da utilização de cláusula abusiva nos contratos de consumo sem falar na
ofensa ao princípio da boa-fé que deve prevalecer nas relações contratuais dessa
natureza, finalmente concluiu-se que o referido dispositivo ser absolutamente antijurídico,
pois ofende ao direito do consumidor, razão pela qual ditos parágrafos do art. 30 da nova
lei dos consórcios foram vetados.

Sendo assim, aos contratos anteriores a Lei 11.795/2008, aplica-se o


posicionamento da Reclamação Constitucional nº 3752-GO, que inicialmente determinou
em liminar à suspensão de todos os feitos que versassem sobre o pedido de restituição
de parcelas de consórcio, como o caso dos autos, foi julgada no último da 26/05/2010,
cujo pronunciamento final da relatora Min. Nancy Andrighi se deu no sentido de: “ em
caso de desistência do plano de consórcio, a restituição das parcelas pagas pelo
participante desistente ocorrerá em trinta dias a contar do prazo previsto no
contrato para o encerramento do grupo correspondente e de forma corrigida”.

Enquanto que aos contratos posteriores a apontada legislação, aplicam-se


as disposições do Código de Defesa do Consumidor, ante a falta de regulamentação
específica sobre a matéria já que houve o veto aos parágrafos do art. 30, consoante
acima examinado.

Aliás, a jurisprudência assim tem se manifestado:

CIVIL. CONSUMIDOR. CONTRATO DE ADESÃO EM GRUPO DE


CONSÓRCIO DE BENS IMÓVEIS. DESISTÊNCIA DO CONSORCIADO
EM SITUAÇÃO NÃO CONTEMPLADA NA RECLAMAÇÃO 3752/GO -
STJ (CONTRATOS ATIVADOS ATÉ 05.2.2009 - ANTES DA VIGÊNCIA DA
LEI 11.795 /08), A LEGITIMAR, NO PRESENTE CASO, A RESTITUIÇÃO
IMEDIATA, E NÃO APÓS O ENCERRAMENTO DO GRUPO OU À
REALIZAÇÃO DO SORTEIO. INEXISTÊNCIA DE DECISÃO ULTRA
PETITA. I. COMO OS CONTRATOS DE ADESÃO A GRUPO
CONSORCIAL SE DERAM EM 22.6.2009 (FLS. 68 E 78), OU SEJA, EM
PLENA VIGÊNCIA DA LEI 11.795 /08, QUE, POR SUA VEZ NÃO
CONTEMPLA A RESTITUIÇÃO DOS VALORES AO CONSORCIADO
DESISTENTE AO TÉRMINO DO GRUPO, NEM FOI OBJETO DA
ALUDIDA RECLAMAÇÃO NO STJ, URGE A DEVOLUÇÃO IMEDIATA
DAS QUANTIAS JUSTAS. II. A TAXA DE ADMINISTRAÇÃO VISA A
REMUNERAR OS SERVIÇOS EFETIVAMENTE PRESTADOS, DE SORTE
QUE A MAIS VALIA À SUA FIXAÇÃO PELAS EMPRESAS (ENTRE 10% E
19%) SITUA-SE NO CAMPO DA LIVRE CONCORRÊNCIA ( CF , ART.
170 , IV ), O QUE PERMITE AO CONSUMIDOR A OPÇÃO PELA
ADMINISTRADORA QUE MAIS ATENDA A SEUS INTERESSES
(CONFIABILIDADE, SEGURANÇA, HISTÓRICO). III. A
INTERFERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO PARA FINS DE DECOTE
DO ALUDIDO PERCENTUAL PARA EFEITO DE ESTACIONÁ-LO EM
10% SOMENTE SE LEGITIMARIA SE EVIDENCIADO O EXCESSO
FRENTE AOS VETORES COBRADOS NO MERCADO OU PARA SE
EVITAR PERCENTUAL ÚNICO QUE ACARRETASSE ONEROSIDADE
EXCESSIVA AO CONSUMIDOR, O QUE NÃO OCORRE NO CASO
CONCRETO. NESSE SENTIDO: "EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA.
CONSÓRCIO DE BENS MÓVEIS. TAXA DE ADMINISTRAÇÃO.
FIXAÇÃO. LIMITE SUPERIOR A 10%. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE
ILEGALIDADE E ABUSIVIDADE. 1 - O CERNE DA CONTROVÉRSIA
CINGE-SE À POSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO DA TAXA DE
ADMINISTRAÇÃO DE CONSÓRCIO DE BENS MÓVEIS, PREVISTA NO
DECRETO N. 70.951 /72. CONSOANTE RECENTE ENTENDIMENTO
CONSIGNADO PELA EG. 4ª TURMA, AS ADMINISTRADORAS DE
CONSÓRCIO POSSUEM TOTAL LIBERDADE PARA FIXAR A
RESPECTIVA TAXA DE ADMINISTRAÇÃO, NOS TERMOS DO ART. 33
DA LEI 8.177 /91 E DA CIRCULAR N. 2.766 /97 DO BACEN, NÃO
SENDO CONSIDERADA ILEGAL... (ACJ 1807187120108070001 DF
0180718-71.2010.807.0001, Rel. FERNANDO ANTONIO TAVERNARD
LIMA, , 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do
DF, Publ. 31/05/20111, DJ-e , pág. 218)
O exame dos autos revela que a parte recorrente aderiu em junho de 2010
ao consórcio identificado pelo Grupo N.º 579733, grupo 2297, cota 270, pelo prazo de 60
(sessenta) meses, tendo desembolsado o valor total de R$ 1.232,00 ( hum mil, duzentos e
trinta e dois reais). Que solicitou o cancelamento da cota, sendo que o acionado
condicionou a restituição do valor ao final do grupo.

Saliento que o contrato discutido foi celebrado após a edição da Lei nº


11.795/08, que trouxe nova regulamentação para o sistema de consórcio, vigente
desde 06.02.2009, razão pela qual o processo em análise não se submete aos
termos do julgamento da Reclamação Constitucional nº 3.752-GO (2009/0208182-
3), relatado pela Ministra Nancy Andrighi1, tornando, portanto, livre a apreciação de
1 RECLAMAÇÃO Nº 3.752 - GO (2009/0208182-3)
RECLAMAÇÃO. DIVERGÊNCIA ENTRE ACÓRDÃO PROLATADO POR TURMA RECURSAL ESTADUAL E A
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. CONSÓRCIO. CONTRATOS ANTERIORES À VIGÊNCIA DA LEI 11.795/08.
CONSORCIADO EXCLUÍDO. PARCELAS PAGAS. DEVOLUÇÃO. CONDIÇÕES.
- Esta reclamação deriva de recente entendimento, no âmbito dos EDcl no RE 571.572-8/BA, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de
14.09.2009, do Pleno do STF, o qual consignou que "enquanto não for criada a turma de uniformização para os juizados especiais
estaduais, poderemos ter a manutenção de decisões divergentes a respeito da interpretação da legislação infraconstitucional federal",
tendo, por conseguinte, determinado que, até a criação de órgão que possa estender e fazer prevalecer a aplicação da jurisprudência
do STJ aos Juizados
todos os aspectos do litígio.

Embora regidos por lei específica (Lei nº 11.795/08) e sigam


orientações do Banco Central, os contratos de consórcio não estão imunes aos
princípios e normas contidos do CDC, porque integram a categoria dos contratos
de consumo.

Com origem constitucional, trazendo regras de ordem pública e de


interesse social (arts. 5º, XXXII2, e 170, V3, da Constituição Federal, e art. 48. de suas
Disposições Transitórias4), o Código de Defesa do Consumidor foi promulgado com
objetivo precípuo de garantir o equilíbrio de direitos e deveres entre o consumidor e o
fornecedor nas relações de consumo, pautado nos princípios da boa-fé e lealdade, que,
assim, não admite a prevalência de disposições, mesmo legislativas ordinárias, que
estejam em desarmonia com o sistema de defesa do consumidor, o que permite ao juiz
atenuar o princípio da força obrigatória do pacto (pacta sunt servanda).

O tema em discussão já se encontra pacificado no sistema de


juizados especiais, consoante informa o Enunciado 109 do FONAJE, que assim
reza: “É abusiva a cláusula que prevê a devolução das parcelas pagas à
administradora de consórcio somente após o encerramento do grupo. A devolução
deve ser imediata, os valores atualizados desde os respectivos desembolsos e os
juros de mora computados desde a citação” (aprovado no XIX Encontro – Aracaju/SE).

Especiais Estaduais, "a lógica do sistema judiciário nacional recomenda se dê à reclamação prevista no art. 105, I, f, da CF,
amplitude suficiente à solução deste impasse".
- Em caso de desistência do plano de consórcio, a restituição das parcelas pagas pelo participante far-se-á de forma
corrigida. Porém, não ocorrerá de imediato e sim em até trinta dias a contar do prazo previsto no contrato para o encerramento do
grupo correspondente.
- A orientação firmada nesta reclamação alcança tão-somente os contratos anteriores à Lei nº 11.795/08, ou seja, aqueles
celebrados até 05.02.2009. Para os contratos firmados a partir de 06.02.2009, não abrangidos nesse julgamento, caberá ao STJ,
oportunamente, verificar se o entendimento aqui fixado permanece hígido, ou se, diante da nova regulamentação conferida ao sistema
de consórcio, haverá margem para sua revisão.
Reclamação parcialmente provida.
- Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, votação por unanimidade, Relatora Ministra Nancy Andrighi, em 26 de
maio de 2010 (Data do Julgamento)
2 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
...
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
3 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
...
V - defesa do consumidor;
4 Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do
consumidor.
|Em sua redação original, o Projeto de Lei n o 533, que resultou na
promulgação da Lei nº 11.795/08, estabelecia de forma expressa duas possibilidades para
a restituição ao consorciado excluído das quantias ele pagou: ser contemplado em
assembléia através de sorteio ou ser restituído 60 dias após a data da realização da
última assembléia (§§ 1o, 2o e 3o do art. 30 e os incisos II e III do art. 31 da proposição 5).

No entanto, tais disposições foram vetadas pela Presidência da


República, com a aquiescência final do Congresso Nacional, por
“inconstitucionalidade e contrariedade ao interesse público”, constando nas
justificativas para os vetos que tais disposições afrontavam “diretamente o artigo
51, IV, c/c art. 51, § 1o, III, do Código de Defesa do Consumidor, que estabelecem
regra geral proibitória da utilização de cláusula abusiva nos contratos de consumo”,
salientando-se, ainda, que, “embora o consumidor deva arcar com os prejuízos
que trouxer ao grupo de consorciados, conforme § 2 o do artigo 53 do Código de
Defesa do Consumidor, mantê-lo privado de receber os valores vertidos até o final
do grupo ou até sua contemplação é absolutamente antijurídico e ofende o
princípio da boa-fé, que deve prevalecer em qualquer relação contratual”,
mencionando, por fim, que “a inteligência do Código de Defesa do Consumidor é
de coibir a quebra de equivalência contratual e considerar abusivas as cláusulas
que colocam o consumidor em ‘desvantagem exagerada’, tal como ocorre no caso
presente”, razão pela qual “a devolução das prestações deve ser imediata, sob
pena de impor ao consumidor uma longa e injusta espera”6.
5 Art. 30. .....................................................................................
...........................................................................................................
§ 1o A restituição de que trata o caput será efetuada somente mediante contemplação por sorteio nas assembléias,
observadas as mesmas condições, entre os excluídos e os demais consorciados do grupo.

§ 2o O consorciado excluído somente fará jus à restituição de que trata o caput se desistir após o pagamento de sua quinta
parcela de contribuição ao grupo, inclusive.

§ 3o Caso o consorciado excluído não atenda ao requisito do § 2o, será restituído do valor a que tem direito na forma do art.
31.
Art. 31. ............................................................................................
.........................................................................................................
II – aos participantes excluídos, que o saldo relativo às quantias por eles pagas, ainda não restituídas na forma do art. 30, se
encontra à disposição para devolução em espécie;
III – aos demais consorciados e participantes excluídos, que os saldos remanescentes no fundo comum e, se for o caso, no
fundo de reserva estão à disposição para devolução em espécie proporcionalmente ao valor das respectivas prestações pagas.”

6 Fonte: :www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-010/2008/Msg/VEP-762-08.htm
Ou seja, respeitando a força hierárquica normativa do CDC, a Presidência
da República não permitiu que seus ditames fossem contrariados, ressaltando que os
vetos foram lançados “por inconstitucionalidade e contrariedade ao interesse público”
existentes nas disposições excluídas.

Assim, mostra-se de todo equivocado, data vênia, o entendimento de que


a Lei nº 11.795/08 determina a devolução por intermédio de contemplação por sorteio.
As regras que foram extirpadas pelos vetos presidenciais não podem ser
ressuscitadas somente porque o texto remanescente não foi corrigido na inteireza.

Ademais, a contemplação por sorteio, prevista no art. 22, da Lei nº


11.795/087, não pode ser aplicada ao consorciado excluído porque ficou carente de
completo na medida em que houve alteração, em decorrência dos vetos presidenciais, do
art. 30, que ela faz expressa menção.

Inobstante as observações supra, observa-se que o autor não recorreu


da sentença que determinara a devolução dos valores pagos apenas ao final do
encerramento do consórcio, no prazo de 30 dias, pelo quê restara transitado em
julgado o dispositivo que assim disciplinou a matéria, sendo mantido portanto tal
posicionamento, em virtude do princípio da vedação da reformatio in pejus,

Em relação ao valor a ser restituído em face dos valores pagos, devem ser
abatidos à taxa de administração no percentual contratado e o valor relativo ao seguro,
caso existente.

Quanto ao pleito de desconto dos valores pagos a título de seguro, não há que
se falar em ilicitude, ou prática abusiva, desde que haja previsão contratual expressa,
como ocorre no caso sub judice. Nesse sentido:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE COBRANÇA. CONSÓRCIO.


DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA DO CONSORCIADO. RESTITUIÇÃO
DAS PARCELAS PAGAS COM DESCONTO. TAXA DE
ADMINISTRAÇÃO, FUNDO RESERVA E SEGURO. PREVISÃO
CONTRATUAL. APLICAÇÃO DA SÚMULA N. 15 DESTAS TURMAS
7 Art. 22. A contemplação é a atribuição ao consorciado do crédito para a aquisição de bem ou serviço, bem como para a restituição
das parcelas pagas, no caso dos consorciados excluídos, nos termos do art. 30.
§ 1º A contemplação ocorre por meio de sorteio ou de lance, na forma prevista no contrato de participação em grupo de
consórcio, por adesão.
§ 2º Somente concorrerá à contemplação o consorciado ativo, de que trata o art. 21, e os excluídos, para efeito de
restituição dos valores pagos, na forma do art. 30.
RECURSAIS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. Conforme
entendimento firmado e consolidado na Súmula 15 destas Turmas Recursais
Cíveis, cabíveis as retenções a título de taxa de administração, fundo reserva
e seguro. Situação em que a administradora efetuou o pagamento à autora,
descontando os valores previstos contratualmente. RECURSO
DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71005344536, Segunda Turma Recursal
Cível, Turmas Recursais, Relator: Ana Cláudia Cachapuz Silva Raabe,
Julgado em 18/03/2015).

No concernente à fixação do termo a quo dos juros de mora, a sentença


merece reforma , tendo em vista serem os juros devidos a partir do trigésimo dia a
contar do encerramento do consórcio, quando se inicia a mora no pagamento dos
valores a serem devolvidos. Nesse sentido:

CONSUMIDOR. APELAÇÕES CÍVEIS. CONSÓRCIO. DESISTÊNCIA.


DEVOLUÇÃO. CLÁUSULA PENAL. NÃO RETENÇÃO. CORREÇÃO
MONETÁRIA E JUROS DE MORA. 1. Ausente a comprovação sobre os
danos experimentados pelo consórcio em razão da retirada de um de seus
membros, mostra-se inviável a aplicação do instituto da cláusula penal
compensatória, pois o consumidor desistente só se torna obrigado diante
dessa prova, não havendo espaço para a prefixação de prejuízos. 2. O marco
inicial para a incidência da correção monetária é a data de desembolso de
cada prestação. Precedentes. 3. Os juros de mora são devidos a partir do
trigésimo dia após o término do consórcio, porquanto somente incorre em
atraso caso ultrapassado o termo final de pagamento. 4. Recurso da ré
parcialmente provido. Apelo da autora provido.

Em relação ao pleito recursal relativo ao desconto dos valores a título de multa


e juros por atraso no pagamento, observo que o réu suscita tal pedido de modo inédito
nesta instância recursal, sem que o tenha feito em sede de defesa, constituindo-se
matéria já albergada pelo manto da coisa julgada material, haja vista não ter sido
levantada na instância ordinária, pelo quê resta vedada a sua apreciação.

Ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER e DAR PARCIAL


PROVIMENTO ao recurso interposto pelo Recorrente DISAL ADMINISTRADORA DE
CONSORCIOS LTDA, tão somente para determinar o abatimento dos valores pagos a
título de seguro , bem como para fixar como termo inicial dos juros de mora o trigésimo
dia após o término do consórcio. Sem custas processuais e honorários advocatícios, pelo
êxito parcial da parte no recurso.

Salvador, sala de sessões, 04 de Fevereiro de 2016.


Bela. Maria Auxiliadora Sobral Leite

JUIZA DE DIREITO – Relatora

Você também pode gostar