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Brasília, 20 a 24 de abril de 1998 - Nº 107

Data (páginas internas): 30 de abril de 1998.

Este Informativo, elaborado a partir de


notas tomadas nas sessões de julgamento das
Turmas e do Plenário, contém resumos não-
oficiais de decisões proferidas pelo Tribunal. A
fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo
das decisões, embora seja uma das metas
perseguidas neste trabalho, somente poderá
ser aferida após a sua publicação no Diário da
Justiça.

ÍNDICE DE ASSUNTOS
ADIn: Ilegitimidade ativa
ADIn: Perda de Objeto
Alíquota do ICMS e Resolução do Senado
Apelação de Alcance Limitado
Contribuição Devida ao IAA
Farmácia e Horário de Funcionamento
ICMS e Não-Cumulatividade
Imposto de Renda e Aposentadoria
Inconstitucionalidade Formal
Juizados Especiais: Inconstitucionalidade
Liberdade de Criação de Partidos Políticos
Ministério Público e Remuneração
Ministério Público e Tribunal de Contas
Nomeação de Desembargador
Programa BEFIEX e Regime de Draw-Back
Pronúncia e Liberdade Provisória
Proporcionalidade nas Eleições e Isonomia
Punição de Servidor Público: Ne Bis in Idem
RE: Prequestionamento
Tribunal de Contas Estadual: Modelo Federal
Vinculação de Remuneração ao Salário Mínimo

PLENÁRIO
Punição de Servidor Público: Ne Bis in Idem
Não implica bis in idem a cassação, pelo
Presidente da República, de aposentadoria de servidor
público com base nos mesmos fatos que ocasionaram a
aplicação de multa pelo TCU, tendo em vista a
independência entre a responsabilização administrativa dos
servidores públicos e o controle externo das contas públicas.
Com esse entendimento, o Tribunal indeferiu mandado de
segurança, afastando a pretendida incidência da Súmula 19
(“É inadmissível segunda punição de servidor público,
baseada no mesmo processo em que se fundou a primeira.”),
por ser necessário que as duas punições sucessivas sejam
impostas no mesmo processo administrativo. Precedentes
citados: RMS 8.084-SP (DJU de 25.4.62); RE 120.570-BA
(RTJ 138/658).
MS 22.728-PR, rel. Min. Moreira Alves, 22.4.98.

Inconstitucionalidade Formal - 1
Por ofensa ao art. 61, § 1º, II, a e c, da CF — que
atribui com exclusividade ao Chefe do Poder Executivo a
iniciativa de leis que disponham sobre regime jurídico dos
servidores e aumento de sua remuneração —, o Tribunal
julgou procedente a ação direta ajuizada pelo Governador do
Estado de Pernambuco e declarou a inconstitucionalidade
formal de dispositivos da Constituição do referido Estado
(incisos I, VI, XII e XVII, do § 2º, do art. 98, e do inciso IV
e parágrafo único, do art. 99), que conferiam aos servidores
públicos direitos como, por exemplo, estabilidade financeira
e conversão de férias e licenças em dinheiro.
ADIn 199-PE, rel. Min. Maurício Corrêa, 22.4.98.

Inconstitucionalidade Formal - 2
Deferida medida cautelar em ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada pelo Governador do Estado de
Santa Catarina para suspender a eficácia da Lei 10.640/98,
do mesmo Estado, resultante de iniciativa parlamentar que,
dando nova redação ao art. 1º da Lei catarinense 7.975/90,
garante ao servidor público estadual o direito ao vale-
transporte, independentemente da distância de seu
deslocamento. Considerou-se juridicamente relevante a
argüição de inconstitucionalidade formal, por ofensa ao art.
61, § 1º, II, a e c , da CF, que reservam ao Chefe do Poder
Executivo a iniciativa privativa de leis que tratam sobre o
regime jurídico dos servidores públicos e o aumento de sua
remuneração. Precedentes citados: ADInMC 1.701-SC (DJU
de 12.12.97) e ADInMC 766-RS (RTJ 157/460). ADInMC
1.809-SC, rel. Min. Carlos Velloso, 23.4.98.

Ministério Público e Remuneração - 1


Tendo em vista que o Ministério Público, embora
funcionalmente independente, está vinculado ao Poder
Executivo, o Tribunal deferiu medida cautelar em ação direta
requerida pelo Procurador-Geral da República para
suspender a eficácia do art. 106, caput, da LC nº 13/91, do
Estado do Maranhão (redação dada pela LC 21/94), que
prevê como limite máximo da remuneração dos membros do
Ministério Público estadual, os valores percebidos como
remuneração pelos membros do Poder Judiciário, por
aparente afronta ao inciso XI, do art. 37, da CF — que
estabelece como teto para os membros do Poder Executivo
estadual o valor percebido, como remuneração, pelos
Secretários de Estado.

Ministério Público e Remuneração - 2


Ainda no julgamento acima referido, o Tribunal
entendendo juridicamente relevante a tese de
inconstitucionalidade por ofensa à vedação de vinculação de
vencimentos prevista no art. 37, XIII, da CF, suspendeu
também a eficácia dos arts. 107, caput (“Os vencimentos do
Procurador-Geral, para efeito do disposto no § 1 º do art.
39 da Constituição Federal, guardarão equivalência com os
vencimentos dos Desembargadores do Tribunal de
Justiça.”), 108 (“Os níveis de vencimentos do Ministério
Público serão atualizados por ato do Procurador-Geral de
Justiça, nos mesmos índices concedidos pelo Poder
Judiciário, com indispensável publicidade do ato”), e 109
(“A remuneração do Cargo de Procurador de Justiça não
poderá ser inferior, a qualquer título, à do cargo de
Secretário de Estado, observado o limite constante do art.
37, XI , da Constituição Federal.”), todos da LC nº 13/91,
sendo os dois primeiros na redação dada pela LC nº 21/94,
ambas do Estado do Maranhão. Precedentes citados: RMS
21.946-AL (157/898); SS (AgRg) 578-SC (DJU de 17.9.93);
ADIn 464-GO (RTJ 154/739); ADInMC 1.756-MA, rel.
Min. Moreira Alves, 23.4.98.

Juizados Especiais: Inconstitucionalidade


Deferida medida cautelar em ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada pelo Governador do Estado
do Mato Grosso para suspender a eficácia dos arts. 9º e 60 da
Lei 6.176/93, do referido Estado, que estabelecem,
respectivamente, as hipóteses de competência dos juizados
especiais cíveis e criminais no âmbito do Poder Judiciário
local. Sendo privativa da União Federal a competência para
legislar sobre direito processual (CF, art. 22, I), o Tribunal
entendeu juridicamente relevante, à primeira vista, a
argüição de inconstitucionalidade da norma estadual atacada,
de caráter instrumental, editada antes do advento da
legislação federal pertinente (L. 9.099/95). Precedente
citado: HC 71.713-PB (julgado em 26.10.94, acórdão
pendente de publicação); HC 75.390-SP (DJU de 5.9.97) e
HC 75.308-MT (julgado em 18.12.97, acórdão pendente de
publicação). ADInMC 1.807-MT, rel. Min. Sepúlveda
Pertence, 23.4.98.

Liberdade de Criação de Partidos Políticos


Rejeitando a alegação de ofensa à liberdade de
criação de partidos (CF, art. 17), o Tribunal indeferiu medida
liminar em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo
Partido Liberal - PL, contra o art. 4º da Lei 9.504/97
(“Poderá participar das eleições o partido que, até um ano
antes do pleito, tenha registrado seu estatuto no Tribunal
Superior Eleitoral, conforme o disposto em Lei e tenha, até
a data da convenção, órgão de direção constituído na
circunscrição, de acordo com o respectivo estatuto.”). À
vista do princípio da razoabilidade, considerou-se
insuficiente ao deferimento da cautelar a relevância da tese
de inconstitucionalidade sustentada pelo autor, uma vez que,
para um cidadão ser candidato a qualquer cargo eletivo, teria
ele que estar filiado a um partido há pelo menos um ano das
eleições — como exige o art. 18 da Lei 9.096/95 (Lei
Orgânica dos Partidos Políticos). ADInMC 1.817-DF, rel.
Min. Sepúlveda Pertence, 23.4.98.

Ministério Público e Tribunal de Contas-1


O Tribunal deferiu medida liminar em ação direta
de inconstitucionalidade requerida pelo Procurador-Geral da
República para suspender a eficácia do art. 75, da Lei nº
11.435/97, do Estado de Pernambuco [“A Procuradoria-
Geral (do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas
estadual) é integrada por um Procurador-Geral, de
provimento em comissão, nomeado pelo Presidente do
Tribunal dentre brasileiros portadores de diploma de
Bacharel em Ciências Jurídicas, emitido pelo
estabelecimento de ensino oficial ou reconhecido, mediante
aprovação de pelo menos dois terços dos Conselheiros, de
um Procurador-Geral Adjunto e de cinco Procuradores, que
sejam portadores de idêntico diploma”]. Considerou-se
relevante a argüição de inconstitucionalidade da norma
impugnada por aparente afronta ao art. 128, § 3º, que trata da
forma de escolha e nomeação dos Procuradores-Gerais dos
Ministérios Públicos dos Estados, e ao art. 129, §§ 2º e 3º,
que tratam, respectivamente, do exercício e ingresso da
mencionada carreira, combinados com o art. 130, que
garante aos membros do Ministério Público junto aos
Tribunais de Contas os mesmos direitos, vedações e a forma
de investidura dos membros do Ministério Público comum.
Precedente citado: ADInMC 1.748-RJ (v. Informativo 97).
ADInMC 1.791-PE, rel. Min. Sydney Sanches, 23.4.98.

Ministério Público e Tribunal de Contas - 2


Declarada a inconstitucionalidade da expressão
constante do § 5º, do art. 35, da Constituição do Estado de
Tocantins, que aplicava ao Ministério Público junto ao
Tribunal de Contas estadual “as mesmas disposições que
regem o Ministério Público relativas à autonomia funcional
e administrativa”. Entendeu-se que o art. 130 da CF [“Aos
membros do Ministério Público junto aos Tribunais de
Contas aplicam-se as disposições desta Seção (do Ministério
Público) pertinentes a direitos, vedações e forma de
investidura.”] não assegura a autonomia funcional ou
administrativa ao Ministério Público que oficia junto aos
tribunais de contas, mas apenas o submete ao mesmo
estatuto jurídico dos membros do Ministério Público comum.
Vencidos os Ministros Sepúlveda Pertence e Néri da Silveira,
que declaravam a inconstitucionalidade apenas da expressão
“e administrativa” do dispositivo impugnado, e, em maior
extensão, o Min. Marco Aurélio, que julgava, nessa parte,
improcedente a ação. ADIn 160-TO, rel. Min. Octavio
Gallotti, 23.4.98.

Nomeação de Desembargador
Ainda no mesmo julgamento, o Tribunal declarou,
por maioria, a inconstitucionalidade do art. 47 e seus incisos
(“Art. 47 - Os desembargadores do Tribunal de Justiça
serão nomeados pelo Governador do Estado, sendo: I -
quatro quintos, mediante acesso apurado por antigüidade e
merecimento, alternadamente, na última entrância; II - um
quinto dentre membros do Ministério Público e de
advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada
de efetiva atividade profissional, indicados em listas
sêxtuplas pelos órgãos de representação das respectivas
classes”), da Constituição do Estado do Tocantins, tendo em
vista que a atribuição do governador para a nomeação de
desembargadores é restrita àqueles oriundos do quinto
constitucional, não compreendendo os integrantes da
magistratura. Considerou-se, também, que a referida norma
silenciara acerca da exigência de mais de dez anos de
carreira para os membros do Ministério Público, e de mais
de dez anos de efetiva atividade profissional para os
advogados (CF, art. 94). Vencido, nesse ponto, o Min.
Nelson Jobim. Precedentes citados: ADIn 789-DF (RTJ
145/140); ADIn 314-PE (julgada em 4.9.91, acórdão
pendente de publicação). ADIn 160-TO, rel. Min. Octavio
Gallotti, 23.4.98.

Tribunal de Contas Estadual: Modelo Federal


Deferida liminar em ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada pelo Procurador-Geral da
República para suspender dispositivos da Constituição do
Estado de Pernambuco, que atribuem à Assembléia
Legislativa estadual poderes para julgar suas próprias contas,
e ainda as contas do Tribunal de Justiça e do Tribunal de
Contas do Estado (incisos VI e VII, do art. 14), bem como a
eficácia das expressões que conferem, às mesas diretoras das
câmaras municipais, poderes para julgar suas próprias contas
(insertas no art. 86, § 1º, III, e § 2º). Entendeu-se configurada
a aparente afronta ao art. 75 da CF, que estende aos tribunais
de contas dos Estados e dos Municípios o modelo de
organização, composição e fiscalização do Tribunal de
Contas da União, de observância obrigatória. Considerou-se
ainda que aos tribunais de contas é conferida atuação
meramente opinativa em relação às contas prestadas pelo
Chefe do Poder Executivo (CF, art. 71, I). Precedente citado:
ADInMC 849-MT (RTJ 152/73). ADInMC 1.779-PE, rel.
Min. Ilmar Galvão, 23.4.98.

Proporcionalidade nas Eleições e Isonomia


Indeferida medida cautelar em ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada pelo Partido da Mobilização
Nacional - PMN contra o § 2º do art. 10 da Lei 9.504/97
(“Art. 10 - Cada partido poderá registrar candidatos para a
Câmara dos Deputados, Câmara Legislativa, Assembléias
Legislativas e Câmaras Municipais, até cento e cinqüenta
por cento do número de lugares a preencher ... § 2º - Nas
unidades da Federação em que o número de lugares a
preencher para a Câmara dos Deputados não exceder de
vinte, cada partido poderá registrar candidatos a Deputado
Federal e a Deputado Estadual ou Distrital até o dobro das
respectivas vagas; havendo coligação, estes números
poderão ser acrescidos de até mais cinqüenta por cento...”).
O Tribunal entendeu que a tese de ofensa ao princípio da
isonomia, sustentada pelo autor da ação, não ostentava a
plausibilidade necessária ao deferimento da medida cautelar
em face dos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade. Considerou-se, ao primeiro exame, que a
norma impugnada atende ao disposto no § 1º, do art. 45, da
CF (“O número total de Deputados, bem como a
representação por Estado e pelo Distrito Federal, será
estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à
população...”). ADInMC 1.813-DF, rel. Min. Marco Aurélio,
23.4.98.

ADIn: Perda de Objeto


Em face da revogação do ato normativo atacado, o
Tribunal, resolvendo questão de ordem, julgou prejudicada
ação direta de inconstitucionalidade requerida pelo Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, em que
foi suspensa liminarmente (v. Informativo 89) a eficácia do
art. 2º da Resolução 3/97, do Tribunal de Justiça do Estado
da Bahia, que disciplinava concurso de provas e títulos para
ingresso na carreira da magistratura no cargo inicial de juiz
substituto. ADIn 1.684-BA, rel. Min. Moreira Alves,
23.4.98.

ADIn: Ilegitimidade ativa


Por falta de legitimidade ativa ad causam, o
Tribunal não conheceu de ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada pela Associação Brasileira da
Indústria de Máquinas e Equipamentos - ABIMAQ, tendo
em vista que não se trata de entidade de classe de âmbito
nacional para efeito do art. 103, IX, 2ª parte, da CF (“Podem
propor a ação de inconstitucionalidade: ... IX -
confederação sindical ou entidade de classe de âmbito
nacional”), mas sim de associação de natureza híbrida.
Precedente citado: ADIn (QO) 108-DF (RTJ 141/3).
ADInMC 1.804-RS, rel. Min. Ilmar Galvão, 23.4.98.

PRIMEIRA TURMA
RE: Prequestionamento
Considera-se prequestionado o tema discutido no
recurso extraordinário pela interposição dos embargos
declaratórios, ainda que sejam rejeitados pelo tribunal de
origem, como decorre, a contrario sensu, da Súmula 356
(“O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram
opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de
recurso extraordinário, por faltar o requisito do
prequestionamento.”). Com esse entendimento, a Turma
rejeitou preliminar de nulidade do acórdão recorrido — que
se recusara a manifestar-se sobre as questões suscitadas nos
embargos de declaração — pela falta de prejuízo ao
recorrente uma vez que se tem por prequestionada a matéria
constitucional. RE 210.638-SP, rel. Min. Sepúlveda Pertence,
22.4.98.

Farmácia e Horário de Funcionamento


É competente o Município para fixar o horário de
funcionamento de estabelecimento comercial, à vista do
disposto no art. 30, I, da CF, que diz ser da sua competência
legislar sobre assuntos de interesse local. Com esse
fundamento, a Turma manteve decisão do Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, que entendera legítima a
regulamentação pelo Município de São Paulo (Decreto
28.050/89) do horário de funcionamento das farmácias.
Precedente citado: RE (AgRg) 203.358-SP (DJU de 29.8.97)
e RE 218.749-SP (DJU de 27.3.98). RE (AgRg) 169.043-SP,
rel. Min. Octavio Gallotti, 24.4.98.

Imposto de Renda e Aposentadoria


Não sendo auto-aplicável o art. 153, § 2º, II, da
CF/88 — que afasta a incidência do imposto sobre renda e
proventos de qualquer natureza, nos termos e limites fixados
em lei, sobre rendimentos provenientes de aposentadoria e
pensão, pagos pela previdência social da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios a pessoa com idade
superior a sessenta e cinco anos, cuja renda total seja
constituída, exclusivamente, de rendimentos do trabalho —,
à falta de lei regulamentadora, deve-se observar os limites e
restrições fixados na Lei 7.713/88, com suas posteriores
alterações. Precedente citado: MS 22.584-MG (acórdão
pendente de publicação, v. Informativo 67). RE 225.082-
MG, rel. Min. Ilmar Galvão, 24.4.98.

Programa BEFIEX e Regime de Draw-Back


Tendo em vista que o Regime de Draw-Back e o
Programa BEFIEX são regimes aduaneiros distintos,
descabendo a extensão dos benefícios de um regime para o
outro, a Turma confirmou acórdão do TRF da 3ª Região que
negara a empresa beneficiada pelo Programa BEFIEX a
pretendida equivalência de ambos os regimes para, a título
de isonomia, ser-lhe estendida a isenção do Adicional de
Frete para Renovação da Marinha Mercante - AFFRM,
assegurada no regime de Draw-Back. RE 199.700-SP, rel.
Min. Ilmar Galvão, 24.4.98.

ICMS e Não-Cumulatividade
Tendo em vista que o fato de a legislação estadual
não autorizar a correção monetária de créditos escriturais do
ICMS não ofende o princípio da não-cumulatividade (CF,
art. 155, § 2º, I), a Turma manteve acórdão do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio Grande do Sul que negara a
empresa contribuinte a correção do saldo credor do ICMS.
Precedente citado: AG (AgRg) 181.138-SP (DJU de
18.4.97). RE 195.643-RS, rel. Min. Ilmar Galvão, 24.4.98.

Contribuição Devida ao IAA


Afastando a tese de que a contribuição devida ao
extinto IAA - Instituto do Açúcar e do Álcool (DL 308/67)
teria a mesma base de cálculo do IPI e do ICM, a Turma
confirmou acórdão do TRF da 2ª Região que dera pela
constitucionalidade da referida contribuição uma vez que
não se aplica às contribuições de intervenção no domínio
econômico o art. 154, I, da CF (“Art. 154. A União poderá
instituir: I – mediante lei complementar, impostos não
previstos no artigo anterior, desde que sejam não
cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo
próprios dos discriminados nesta Constituição;”). RE
182.120-RJ, rel. Min. Ilmar Galvão, 24.4.98.

Vinculação de Remuneração ao Salário Mínimo


Por ofensa ao art. 37, XIII, da CF, que veda a
vinculação ou equiparação de vencimentos para o efeito de
remuneração de pessoal do serviço público, a Turma
reformou acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do
Espírito Santo que — em face do escalonamento vertical dos
vencimentos dos servidores da Polícia Civil local em índices
variáveis de acordo com o respectivo cargo (Lei estadual
4.652/92), tendo por base categoria cujo vencimento é
inferior ao salário mínimo —, determinara que os
percentuais relativos à remuneração dos mencionados
servidores fossem calculados sobre o valor do salário
mínimo. Considerou-se que a CF, embora garanta a
percepção de salário nunca inferior ao mínimo, não permite
que os vencimentos dos servidores públicos possam ser
fixados em múltiplos do mesmo. Reconheceu-se, ainda, a
violação ao princípio da autonomia dos Estados. RE
210.682-ES, rel. Min. Ilmar Galvão, 24.4.98.

Alíquota do ICMS e Resolução do Senado


À vista do disposto no § 5º do art. 34 do ADCT
(“Vigente o novo sistema tributário nacional, fica
assegurada a aplicação da legislação anterior, no que não
seja incompatível com ele”), a Turma entendeu válida a
fixação de alíquota para a cobrança de ICMS na operação de
exportação pelo Estado de São Paulo (Lei 6.374/89), com
base na Resolução 129/79, do Senado Federal — vigente ao
tempo da CF/69, que estabelecia as alíquotas máximas para
as operações do ICM — até a edição da Resolução 22/89,
também do Senado Federal, que fixa as alíquotas aplicáveis
às operações de exportação, nos termos do art. 155, § 2º, IV,
da CF/88 ("resolução do Senado Federal, de iniciativa do
Presidente da República ou de um terço dos Senadores,
aprovada pela maioria absoluta de seus membros,
estabelecerá as alíquotas aplicáveis às operações e
prestações, interestaduais e de exportação;"). Rejeitou-se a
tese mediante a qual a empresa contribuinte pretendia a não
incidência do ICMS sobre produtos remetidos ao exterior no
período de 1º.3.89 até 31.5.89, quando então editada a
referida Resolução 22/89. Matéria semelhante foi julgada
pela 2ª Turma no RE 145.491-SP (DJU de 20.2.98). RE
161.352-SP, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 24.4.98.

SEGUNDA TURMA
Pronúncia e Liberdade Provisória
Iniciado o julgamento de habeas corpus em que se
discute a possibilidade de o réu, pronunciado por tentativa de
homicídio qualificado, aguardar em liberdade o julgamento
perante o tribunal do júri. O Min. Marco Aurélio, relator,
considerando que a Lei dos Crimes Hediondos admite que o
réu, em caso de sentença condenatória, possa recorrer em
liberdade (§ 2º, do art. 2º), proferiu voto no sentido do
deferimento do writ para conceder ao paciente, primário e de
bons antecedentes, a liberdade provisória. Após, o
julgamento foi adiado em virtude do pedido de vista do Min.
Carlos Velloso. HC 76.853-RJ, rel. Min. Marco Aurélio,
14.4.98.

Apelação de Alcance Limitado


Entendendo que a apelação contra decisão
proferida pelo Tribunal do Júri não devolve ao tribunal ad
quem senão a matéria nela veiculada, a Turma não conheceu
de habeas corpus que suscitava tema estranho ao recurso
julgado pelo órgão apontado como coator, determinando sua
remessa ao Tribunal de Justiça do Estado. HC 76.355-RJ, rel.
Min. Néri da Silveira, 17.4.98.

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos

Pleno 22.4.98 23.4.98 36


1ª Turma --------- 24.4.98 272
2ª Turma --------- --------- -----

* À vista do feriado de 21.4.98, não houve sessão ordinária das


Turmas. O Presidente da 2ª Turma, Min. Néri da Silveira, convocou
sessão extraordinária para o dia 27.4.98.

CLIPPING DO DJ
24 de abril de 1998

ADIn N. 1.803-0
Relator : MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade de lei municipal
proposta, perante este Supremo Tribunal Federal, por Mesa de
Câmara Municipal.
- Dois são os óbices para o conhecimento da presente ação
direta de inconstitucionalidade: o de que a Mesa de Câmara
Municipal não tem legitimidade ativa para propor ação dessa
natureza por não estar arrolada no "caput" do artigo 103 da
Constituição Federal, e o de que há impossibilidade jurídica do
pedido, uma vez que, em face do disposto no artigo 102, I, "a", da
Carta Magna, só cabe ação direta de inconstitucionalidade perante
esta Corte quando se tratar de lei ou ato normativo federal ou
estadual, e não de lei ou ato normativo municipal.
Ação direta de inconstitucionalidade não conhecida
HC 76.208-1
Relator: MINISTRO CARLOS VELLOSO
Ementa: PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS.
AGRAVO.LEI DE EXECUÇÃO PENAL (LEI 7.210, DE 11.06.84).
PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO. IMPETRAÇÃO
SUBSTITUTIVA DE RECURSO ORDINÁRIO.
I. - Aplicam-se ao agravo previsto no art. 197 da Lei de Execução
Penal (Lei 7.210/84) as disposições do CPP referentes ao recurso
em sentido estrito. Dessa forma, o prazo para a interposição do
referido recurso é de 5 (cinco) dias (CPP, art. 586) e não de 10 (dez)
dias, conforme previsto na Lei 9.139/95, que alterou o Código de
Processo Civil.
II. - Impetração de habeas corpus perante o STF, em substituição a
recurso ordinário contra acórdão indeferitório de habeas corpus:
competência do STJ.
III. - HC indeferido na parte conhecida.

HC 76.258-9
Relator : MINISTRO SEPULVEDA PERTENCE
EMENTA: Processo penal de competência originária dos Tribunais
(LL 8.038/90 e 8.658/93): exigência de fundamentação e sua
nulidade no caso: HC deferido de ofício.
1. Transferida do relator para o colegiado a competência para
receber ou rejeitar a denúncia ou, se for o caso, para absolver
liminarmente o denunciado (L. 8.038/90, art. 6º c/c L. 8.658/93, art.
1º), a motivação do acórdão tomado a respeito, seja qual for o seu
sentido, é indeclinável, ainda que, na hipótese de recebimento da
denúncia, haja de conter-se nos limites da discrição imposta pelo
juízo de delibação em que se funda.
2. Dizer o acórdão que recebe a denúncia, após elaboradas respostas
da defesa, porque “inocorrente a hipótese do art. 559 do Código
de Processo Penal” é não dizer rigorosamente nada: a melhor prova
da ausência de motivação de um julgado é que a frase enunciada, a
pretexto de fundamentá-lo, sirva, por sua vaguidão, para a decisão
de qualquer outro caso.

MS 22. 970-2
Relator: MINISTRO MOREIRA ALVES
EMENTA: Mandado de segurança. Questão de ordem.
Incompetência.
- Já se firmou a jurisprudência desta Corte no sentido de que a
errônea indicação da autoridade coatora pelo impetrante impede que
o Juiz, agindo de ofício, venha a substituí-la por outra, alterando,
desse modo, sem dispor de poder para tanto, os sujeitos que
compõem a relação processual, especialmente se houver de declinar
de sua competência, em favor do Supremo Tribunal Federal, em
virtude da mutação subjetiva operada no polo passivo do “writ”
mandamental.
- A mesma orientação, por identidade de razão, se aplica ao caso
presente, em que o mandado de segurança não foi impetrado contra
ato do Presidente do Tribunal de Contas da União, mas, sim, contra
ato do Secretário-Geral desse Tribunal, não podendo os impetrantes,
depois de prestadas as informações e já decorrido o prazo de
decadência para a sua impetração, emendar ou alterar, de forma
direta ou indireta, a indicação da autoridade coatora. Questão de
ordem que se resolve no sentido de não se conhecer do mandado de
segurança, determinando-se a devolução dos autos ao Juízo de
origem

AG (AgRg) 196.379-9
Relator: MINISTRO MARCO AURELIO
INDENIZAÇÃO - DANO MORAL - EXTRAVIO DE MALA EM
VIAGEM AÉREA - CONVENÇÃO DE VARSÓVIA. Longe fica de
vulnerar o artigo 5º, inciso II, e § 2º decisão mediante a qual, a
partir do disposto nos incisos 5º e 10 nele contidos, é reconhecido o
direito à indenização por dano moral decorrente de atraso em vôo e
perda de conexão. Precedente: Recurso Extraordinário nº 172.720-9,
Segunda Turma, Diário da Justiça de 21 de fevereiro de 1997.

RE 141.002-7
Relator: MINISTRO MOREIRA ALVES
EMENTA: Competência. Litígio entre sindicato de trabalhadores e
empregador que tem origem no cumprimento de convenção coletiva
de trabalho.
- Pela jurisprudência desta Corte (assim se decidiu no RE
130.555), não havendo lei que atribua competência à Justiça
Trabalhista para julgar relações jurídicas como a em causa, é
competente para julgá-la a Justiça Comum.
Sucede, porém, que, depois da interposição do presente recurso
extraordinário, foi editada a Lei 8.984, de 07.02.95, que afastou a
premissa de que partiu o entendimento deste Tribunal ao julgar o
RE 130.555, porquanto o artigo 1º da referida lei dispõe que
“compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios que
tenham origem no cumprimento de convenções coletivas de
trabalho e acordos coletivos de trabalho, mesmo quando ocorram
entre sindicatos ou entre sindicato de trabalhadores e empregador”.
E, em se tratando de recurso extraordinário interposto contra
acórdão que julgou conflito de competência, não tem sentido que se
deixe de aplicar a lei superveniente à interposição desse recurso,
para dar-se como competente Juízo que o era antes da citada lei,
mas que deixou de sê-lo com o advento dela.
- Precedente desta Corte nesse sentido: RE 131.096.
Recurso extraordinário não conhecido.

RE 179.768-1
Relator: MINISTRO CARLOS VELLOSO
EMENTA: - CONSTITUCIONAL. BEM DE FAMÍLIA. IMÓVEL
RESIDENCIAL DO CASAL OU DE ENTIDADE FAMILIAR:
IMPENHORABILIDADE. Lei nº 8.009, de 29.03.90, artigo 1º.
PENHORA ANTERIOR À LEI 8.009, de 29.03.90:
APLICABILIDADE.
I. - Aplicabilidade da Lei 8.009, de 29.03.90, às execuções
pendentes: inocorrência de ofensa a ato jurídico perfeito ou a direito
adquirido. C.F., art. 5º, XXXVI. II. - R.E. não conhecido.
* noticiado no Informativo 18

RE 208.046-2
Relator: MINISTRO OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: Dispensa imotivada de empregado de sociedade de
economia mista, admitido sob o regime do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço. Estabilidade outorgada por lei municipal, no
período proscrito pelo art. 18 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias de 1988. Não se aplica, aos empregados
de sociedades de economia mista e empresas públicas, a
estabilidade excepcional outorgada pelo art. 19, também do ADCT.
Recurso extraordinário provido, para julgar improcedente a
reclamação trabalhista.
* noticiado no Informativo 98

RMS 21.106-7
Relator: MINISTRO SEPULVEDA PERTENCE
E M E N T A: 1) Mandado de segurança: recurso ordinário
constitucional: o prazo.
Já antes da L. 8.038/90, era de quinze dias o prazo para a
interposição do recurso ordinário constitucional em mandado de
segurança, contado em dobro quando recorrente a Fazenda Pública:
os arts. 508 e 188 C.Pr.Civil prejudicam a Súm. 319 do Supremo
Tribunal.
2. Mandado de segurança: recurso ordinário constitucional:
cabimento.
Para o efeito de cabimento do recurso ordinário constitucional,
é denegatória de mandado de segurança a decisão que não o
concede, seja por julgar improcedente o pedido, seja por reputar
descabido o remédio processual, à falta de condições da ação.
3. Mandado de segurança: perda do interesse processual pela
superveniência de ato da autoridade superior.
Prejudica o pedido de mandado de segurança contra ato de
Ministro de Estado a superveniência de ato equivalente do
Presidente da República, que faz desaparecer para o impetrante a
utilidade do deferimento da ordem contra a decisão ministerial,
dado que seria inoponível ao despacho presidencial subseqüente.
4. Condições da ação (mandado de segurança): declaração
de ofício em qualquer grau de jurisdição ordinária.
A inexistência originária ou o desaparecimento das condições
da ação por fato superveniente podem ser declaradas de ofício em
qualquer grau de jurisdição ordinária, incluída do recurso ordinário
constitucional em mandado de segurança.

Acórdãos publicados: 168

T R A N S C R I Ç Õ E
S

Com a finalidade de proporcionar aos leitores


do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de modo
especial o interesse da comunidade jurídica.

Exame de DNA
(v. Informativo 106)

HC 76.060-SC*

Ministro Sepúlveda Pertence (relator)


Relatório: Para deferir a liminar, assim resumi o caso (v.2/f.587):
“Pai presumido de menor nascido na constância de
seu casamento, o paciente responde a “ação ordinária de
reconhecimento de filiação c/c. retificação de registro”,
movida por terceiro, que se pretende pai biológico do
infante.
Ordenada a submissão do paciente ao exame DNA, em
seu favor se impetra habeas corpus, com pedido liminar,
para livrar-se do constrangimento.
À vista do decidido pelo plenário do Tribunal no HC
71.373, 10.11.94, M. Aurélio - posto que por maioria, contra
quatro votos vencidos, incluído o meu, e não por
unanimidade, como equivocadamente assevera a impetração
-, não posso negar a plausibilidade da resistência do
paciente, no caso, em situação aparentemente mais favorável
que a do interessado no precedente.
Defiro, pois, a liminar para que, até a decisão deste
habeas corpus, não seja o paciente constrangido a submeter-
se ao exame DNA: comunique-se ao relator do Ag. 12406, do
Tribunal de Justiça de Santa Catarina, e ao Juiz da 1ª Vara
de Família da Comarca de Florianópolis”.

Acrescento que a decisão questionada é o acórdão do Tribunal


de Justiça de Santa Catarina (f. 247) que, improvendo agravo contra
o despacho saneador, repeliu as preliminares de carência da ação,
invocando para tanto decisão do STJ, da lavra do em. Ministro
Sálvio de Figueiredo (f. 251 ss) — que, de sua vez recorda, a do
STF, no RE 80.805, Xavier, RTJ 78/534 — e manteve o deferimento
de ordem de submeter-se o paciente, então agravante, ao exame do
DNA (v.1/f. 247), cassada, em conseqüência, a liminar que o
suspendera (v. 1/f. 135).
Das informações da presidência do Tribunal a quo — que
vieram instruídas com numerosas peças do processo principal já
trazidas pela impetrante — colhe-se mais, primeiro, que já foram
rejeitados os embargos de declaração opostos pelo paciente ao
acórdão que julgou o agravo e, segundo, que, efetivamente, a
determinação do Juiz de primeiro grau para que fosse ele submetido
ao exame só foi sustada em cumprimento de liminar de habeas-
corpus por mim deferida (v.3/f. 603).
Pelo Ministério Público Federal, opinou o il. Subprocurador-
Geral Mardem Costa Pinto pelo deferimento da ordem, anotando (v.
4/f. 903):
2. Tem razão a impetração, eis que diante das
garantias constitucionais da preservação da intimidade e da
intangibilidade do corpo humano, o paciente não pode ser
compelido a submeter-se ao exame hematológico de DNA,
devendo a recusa ser interpretada e avaliada no contexto da
prova segundo as balizas ditadas pela doutrina e pela
jurisprudência sobre o tema.
3. A questão, aliás, já foi objeto de apreciação pelo
Plenário do Supremo Tribunal Federal, que decidiu no
sentido da tese da impetração em acórdão assim ementado:

"EMENTA: INVESTIGAÇÃO DE
PATERNIDADE - EXAME DNA - CONDUÇÃO DO
RÉU "DEBAIXO DE VARA". Discrepa, a mais não
poder, de garantias constitucionais implícitas e
explícitas - preservação da dignidade humana, da
intimidade, da intangibilidade do corpo humano, do
império da lei e da inexecução específica e direta de
obrigação de fazer - provimento judicial que, em
ação civil de investigação de paternidade, implique
determinação no sentido de o réu ser conduzido ao
laboratório, "debaixo de vara", para coleta do
material indispensável à feitura do exame DNA. A
recusa resolve-se no plano jurídico-instrumental,
consideradas a dogmática, a doutrina e a
jurisprudência, no que voltadas ao deslinde das
questões ligadas à prova dos fatos. (H.C. 71.373/RS
- Rel. Min. FRANCISCO REZEK - DJ 10/11/1994 -
PP-45.686)”

É relatório.

Voto: Nota-se de logo que o acórdão plenário evocado pelo parecer


da Procuradoria-Geral — HC 71.373, 10.11.94, DJ 22.11.96 — ,
não é da lavra do em. Ministro Rezek — relator originário, mas
vencido — e sim do em. Ministro Marco Aurélio.
Com o notável voto vencido do Ministro Rezek, alinhamo-nos
os ems. Ministros Ilmar Galvão e Carlos Velloso e eu próprio, no
sentido da possibilidade da condução do investigado à colheita
hemática para a pesquisa do DNA — malgrado decorrente da
reduzidíssima invasão à sua integridade física —, em atenção à
prevalência que emprestamos ao “direito elementar que tem a
pessoa de conhecer sua origem genética” ou seja, “à sua real (e
não presumida) identidade” (Rezek).
O caso propiciou-me a ocasião de colher informações, posto
que apressado, sobre o estado da questão no direito comparado.
Abstraídas as conotações específicas do problema no processo
penal (v.g., Ángel Gil Hernandez, Intervenciones Corporales y
Derechos Fundamentales, Madrid, ed. Colex 1995, Michel Taruffo,
Le prove scientifiche nella recente esperienza statunitense, Riv.
It. Dir. Proc., Civile, 1996, n. 1/219); Daniela Vigoni, Corte
Costituzionale, prelievo ematico e test del DNA, Riv. It. Dir. Proc.
Penale, 1996, 4/1.022), é de reconhecer que, no campo da
investigação da paternidade, nos ordenamentos europeus de maior
trânsito entre nós — com a exceção da Alemanha — prevalece a tese
que, no Tribunal, reuniu a maioria.
“A França, a Itália e a Espanha” — sintetiza Rainer Frank
(L’Examen Biologique sous Contrainte dans le Cadre de
l’Etablissement en Droit Allemand, na Révue internat. dr. comparé,
1995, n. 4/905, 908) — “se identificam em que a recusa de
submeter-se ao exame biológico não tem conseqüências senão na
apreciação das provas pelo juiz, ao passo que o direito inglês
considera que a recusa a sujeitar-se à ordem judicial que ordena o
exame corporal vale por obstruir a busca da prova e deve conduzir
necessariamente à perda do processo”.
“Esta diferença de valoração de comportamentos
semelhantes entre os sistemas jurídicos de influência romanista, de
uma parte, e o sistema jurídico inglês , de outra parte,” —
prossegue aquele professor de Friburg — “encontra sua verdadeira
explicação no fato de que a França, a Itália e a Espanha obedecem
aos princípios concernentes ao estado da pessoa: um julgamento
sobre a filiação produz efeitos erga omnes e deve, por essa razão,
ter em conta a verdade biológica, ao passo que na Inglaterra as
questões atinentes ao direito da filiação são sempre examinadas
enquanto questões prejudiciais autônomas, incidentes, no âmbito de
processos de alimentos ou relativos à sucessão”.
Dá conta o autor (ib., p. 909) de que no mesmo grupo se
situam, mutatis mutandis, o direito suíço e o austríaco.
A exceção mais notável na Europa ocidental é assim a
Alemanha, onde vige, desde a reforma de 1938, a regra da
submissão coativa das partes e das testemunhas à colheita do sangue,
“desde que essa medida seja necessária ao exame da filiação de
uma criança”.
A inovação data do auge do nacional socialismo quando, por
força da política racial do regime totalitário — nota Frank (ib., p.
910) “as pesquisas sobre as origens raciais e genéticas
conheceram importância crescente”, excedente do domínio do
direito da infância (tanto assim, informa, que a regra da lei
processual civil foi estendida, em 1943, aos procedimentos
administrativos de apuração somente de pertinência a uma raça ou a
um clã).
O interessante, no entanto, segundo atesta o jurista germânico,
é que a regra da compulsoriedade do exame, não foi estigmatizada,
no após-guerra, como vinculada ao pensamento nazista; ao
contrário, subsistiu à democratização e até à reforma processual de
1950, justificada como decorrência do princípio inquisitório que
domina, no direito alemão, os procedimentos relativos à filiação;
finalmente, a legitimidade do sistema veio a reforçar-se com a
afirmação pelo Tribunal Constitucional Federal, entre os direitos
gerais da personalidade, do “direito ao conhecimento da origem
genética” (BverG 79.256; NSW 1989, 881), do qual extraiu o
imperativo constitucional da criação de uma ação autônoma
declaratória da filiação genética, não sujeita à limitações da
contestação da legitimidade presumida; contra o que — informa o
autor — não se pôde antepor o direito à integridade corporal, em
relação ao qual, já na década de 50 (BVerG 5,13), a Corte assentara
que manifestamente não a agride a colheita de uma pequena
quantidade de sangue (Frank, ib., p. 911).
Similar, no ponto, ao alemão é o direito norte-americano e o
dos países nórdicos (Frank, ob. loc. cit., p. 920; Marcelo Stalteri,
Genetica e processo: la prova del “dna fingerprint”, Riv.
Trimestr. Dir. e Proc., Civile, Ano XLVII, n. 1 (3.93), p. 189); nos
Estados Unidos, informa Stalteri (ib., p. 220), os ordenamentos
estaduais têm adotado a regra do Uniforme Parentage Act, de
1973, s. II, a, a teor da qual “the Court may, and upon the request
of a party shall require the child, mother or alleged father to
submit to blood tests”, sob pena de contempt of Cort e, pois, de
sujeição compulsória ao exame.
De minha parte, não obstante o respeito à maioria formada no
HC 71.313 e o domínio do seu entendimento no direito comparado,
ainda não me animo a abandonar a corrente minoritária no sentido
— explícito no meu voto vencido — de que não se pode opor o
mínimo ou — para usar da expressão do eminente Ministro Relator
— o risível sacrifício à inviolabilidade corporal (decorrente da
“simples espetadela”, a que alude o voto condutor do em. Ministro
Marco Aurélio) — “à eminência dos interesses
constitucionalmente tutelados à investigação da própria
paternidade”.
A digressão, entretanto — e com as minhas escusas — vale
apenas o título de reserva do eventual e oportuno reexame da tese do
precedente lembrado.
Na espécie, por certo, não estão presentes as circunstâncias —
que, atinentes ao direito fundamental à própria e real identidade
genética — me induzem a insistir na ressalva prudente.
Cuida-se aqui, como visto, de hipótese atípica, em que o
processo tem por objeto a pretensão de um terceiro de ver-se
declarado pai da criança gerada na constância do casamento do
paciente, que assim tem por si a presunção legal da paternidade e
contra quem, por isso, se dirige a ação.
Não discuto aqui a questão civil da admissibilidade da
demanda.
O que, entretanto, não parece resistir, que mais não seja, ao
confronto do princípio da razoabilidade ou da proporcionalidade —
de fundamental importância para o deslinde constitucional da
colisão de direitos fundamentais — é que se pretenda constranger
fisicamente o pai presumido ao fornecimento de uma prova de
reforço contra a presunção de que é titular.
É de sublinhar que efetivamente se cuidaria de simples prova
de reforço de um fato que, de outro modo, se pode comprovar.
Com efeito. A revolução, na área da investigação da
paternidade, da descoberta do código genético individual, em
relação ao velho cotejo dos tipos sangüíneos dos envolvidos, está em
que o resultado deste, se prestava apenas e eventualmente à exclusão
da filiação questionada, ao passo que o DNA leva sabidamente a
resultados positivos de índices probabilísticos tendentes à certeza.
Segue-se daí a prescindibilidade, em regra, de ordenada
coação do paciente ao exame hematológico, à busca de exclusão da
sua paternidade presumida, quando a evidência positiva da alegada
paternidade genética do autor da demanda pode ser investigada sem
a participação do réu (é expressivo, aliás, que os autos já contenham
laudo particular de análise do DNA do autor, do menor e de sua mãe
— v. 4/f.853).
Esse o quadro, o primeiro e mais alto obstáculo constitucional
à subjugação do paciente a tornar-se objeto da prova do DNA não é
certamente a ofensa da colheita de material, minimamente invasiva,
à sua integridade física, mas sim a afronta à sua dignidade pessoal,
que, nas circunstâncias, a participação na perícia substantivaria.
De tudo, defiro a ordem para vedar definitivamente a
produção da prova questionada: é o meu voto.

* acórdão ainda não publicado

Assessora responsável pelo Informativo


Maria Ângela Santa Cruz Oliveira
informativo@stf.gov.br

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