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Lactâncio, por exemplo, ridicularizou os mitos de Apolo e dos demais deuses como uma

impossibilidade óbvia - haviam nascido de uniões sexuais, o que via como inconciliável
com a natureza divina, e dizia que se tratavam de simples mortais magnificados. Quanto
a Apolo propriamente dito, Aristides analisou seu caráter e o acusou de estuprador,
assassino e embusteiro, invejoso e iracundo, dizendo ainda ser um absurdo que alguém
que não deveria reinar nem entre os mortais fosse considerado uma das potestades
celestes. Entretanto, antes do ocaso final do Paganismo autores como Celso atacaram o
cristianismo em bases semelhantes às que usaram os cristãos para destruir o Panteão
pagão, perguntando como uma virgem poderia ter concebido, e se ela o pôde fazer, por
que os deuses pagãos não poderiam amar mulheres mortais da mesma forma e gerar
descendência; além disso, o deus que figurava nas Escrituras judaico-cristãs,
frequentemente irado, assassino e vingativo, também não podia ser considerado um
exemplo de virtude.[46] É de lembrar que mesmo entre toda a condenação do Paganismo,
a teologia paleocristã foi largamente devedora da filosofia e da metafísica clássicas,
especialmente dos neoplatônicos, como se prova na leitura da literatura patrística e na
própria Bíblia, onde o Evangelho de João abre com as frases: "No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com
Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele
estava a vida, e a vida era a luz dos homens". Se diz que Cristo é a encarnação do
Verbo, o que imediatamente remete à identificação grega de Apolo com a Palavra
Divina através da profecia. A rigor Apolo não reivindica a profecia como sua; ele é um
deus poderoso, mas subordinado a seu pai, Zeus, o deus supremo, e necessariamente se
coloca muito próximo dele em sua função de seu porta-voz. Homero, em seu Hino a
Apolo, faz Apolo dizer: "Possa a lira me ser cara, e também o arco encurvado, e para
os homens eu proclamarei em oráculos o infalível conselho de Zeus", e no Hino a Apolo
órfico o deus é descrito como "a luz da vida", de modo que as similaridades entre as
teologias cristã e pagã são evidentes.[6][47][48][49][50][51]

. Evidências de antiguidade
* O título “servo de Deus” aplicado a Jesus.
* A simplicidade litúrgica e das orações.
* As orações eucarísticas apontam para um período em que a Ceia do Senhor era
ainda uma ceia.
* O batismo em água corrente.
* Preocupação em distinguir as práticas cristãs dos rituais judaicos (8.1).
* Ausência de preocupação com um credo universal.
* Nenhuma referência aos livros do Novo Testamento.
* Nenhuma referência ao episcopado monárquico.
* Ênfase aos ofícios carismáticos e itinerantes: apóstolos e profetas.
* Dupla estrutura de bispos e diáconos (ver Fp 1.1).
* Outros temas ausentes: virgindade, tendências gnósticas e antignósticas.

8. Composição
C. Richardson entende que o “didaquista” foi mais um compilador do que um autor. Ou
seja, ele não escreveu a Didaquê, mas reuniu dois documentos pré-existentes, fazendo
algumas adaptações. Ele provavelmente compôs o capítulo final (16).

Os Dois Caminhos (caps. 1-5) representariam uma forma tardia de um catecismo


original no qual o didaquista inseriu em bloco alguns ensinos tipicamente cristãos. Tais
ensinos revelam um conhecimento de Mateus e Lucas, e também do Pastor de Hermas
(1.5 = Man. 2.4-6) e da Epístola de Barnabé (16.2 = Barn. 4.9).

O manual de ordem eclesiástica (caps. 6-15) refletiria o período sub-apostólico nas


igrejas rurais da Síria. Evidências: (a) é claramente dependente do evangelho de Mateus,
que provavelmente se originou na Síria; (b) as orações eucarísticas refletem uma região
em que o trigo é semeado nas colinas (9.4); (c) a seção batismal pressupõe uma região
em que existem termas (7.2); (d) os profetas e mestres lembram a situação de Antioquia
(Atos 13.1). A imagem que se obtém dessa fonte é de comunidades rurais que recebem
periodicamente a visita dos líderes de algum centro cristão.

A Didaquê propriamente dita deve ter sido composta em Alexandria. Evidências: (a) os
Dois Caminhos circulavam ali, pois a Epístola de Barnabé e a Ordem Eclesiástica
Apostólica procedem daquela localidade; (b) é possível que Clemente de Alexandria
conhecesse a Didaquê; (c) o documento revela uma atitude liberal em relação ao cânon
do NT, aparentemente incluindo Barnabé e Hermas, o que aponta para Alexandria; (d)
até o quarto século a Didaquê era altamente valorizada no Egito, sendo quase
considerada canônica, e foi mencionada por Atanásio como adequada para a instrução
catequética.

Os padres da Igreja apoderavam-se de todas as magnificências de Platão e criavam


uma filosofia nova fundada sobre a realidade viva do verbo divino (Eliphas Levi) –
basta dizer que eles beberam da filosofia para criar a sua.

Marcião de Sínope (em grego: Μαρκίων Σινώπης, ca. 85 - 160 d.C.) foi um dos mais
proeminentes heresiarcas durante o Cristianismo primitivo [1]. Sua teologia (chamada
marcionismo), que propunha dois deuses distintos, um no Antigo Testamento e outro no
Novo Testamento, foi denunciada pelos Pais da Igreja e ele foi excomungado. Sua
rejeição de muitos livros que seus contemporâneos consideravam como parte das
escrituras mostrou à Igreja antiga a urgência do desenvolvimento de um cânon bíblico.
Wikpédia – ver que a igreja católica, ao se oficializar, viu nessa escolha de livros uma
forma de podar o gnosticismo Marcião figura entre os primeiros heréticos de renome na
história da igreja nascente. Sua interpretação alternativa da vida e ministério de Jesus
Cristo ajudou a inspirar a noção de que certas teologias deveriam ser sancionadas como
"ortodoxas" e outras, como "heréticas" – um conceito até então desconhecido nos
círculos eclesiásticos. Reagindo à popularidade da seita recém-fundada de Marcião, a
igreja começou então a sistematizar um conjunto de crenças que seriam consideradas
ortodoxas por todo o Cristianismo. Marcião foi o primeiro líder cristão a propor e
delinear um cânon bíblico. Ao fazê-lo, ele estabeleceu uma maneira particular de avaliar
os textos religiosos que persiste no pensamento cristão até hoje. Após Marcião, os
cristãos passaram a dividir os textos entre os que se alinhavam bem com um "régua de
medida" (em grego: kanōn) de pensamento teológico aceito, e os que promovem a
heresia. Esta bifurcação essencial teve um papel essencial na finalização da estrutura da
coleção de obras chamada "Bíblia", uma vez que o ímpeto inicial para finalizar o cânon
surgiu justamente da oposição à proposta de Marcião.

A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ

Porém, existe um lado interno na tradição cristã, que são os


ensinamentos reservados e as práticas estabelecidas por Jesus,
preservadas e desenvolvidas por seus discípulos e grandes
praticantes. Pelo fato de lidarem com os aspectos ocultos da
natureza e do homem, são geralmente preservados pela tradição
oral ou apresentados de forma alegórica. Esses ensinamentos visam
identificar o objetivo último da vida do homem no mundo e orientar
os praticantes como alcançá-lo o mais rápido possível. O lado
interno, portanto, é equivalente ao lado esotérico ou oculto da
tradição.

(A Igreja resolveu ficar só com a 1ª esfera.)Ver que são três esferas de ensinamento. Para as
massas eram ministradas instruções simples, voltadas para as
necessidades prementes de orientação moral, de consolação e de
esperança para os aflitos. Assim, as parábolas e outros ditados de Jesus
contêm, numa primeira leitura, uma "moral da estória", um ensinamento
prático, geralmente apresentado com imagens da vida diária de seus
ouvintes. Porém, para as pessoas mais instruídas e já despertas
espiritualmente, as mesmas parábolas, devidamente interpretadas,
ofereciam outra camada de ensinamentos mais profundos que haviam sido
velados pela alegoria. Finalmente, para seus discípulos mais chegados,
foram ministrados ensinamentos secretos conservados pela tradição oral e
só mais tarde confiados à linguagem escrita, ainda que de forma altamente
simbólica.

"Quando ficaram sozinhos, os que estavam junto dele com os


Doze o interrogaram sobre as parábolas. Dizia-lhes: "A vós foi
dado o mistério do Reino de Deus; aos de fora, porém, tudo
acontece em parábolas" (Mc 4:10-11).

Se aceitamos o teor dessa passagem, que é confirmado em outras partes dos evangelhos[Mt
13:10-13; 13:17; Mc 4:34; Lc 8:9-15; Lc 24:27; Jo 20:30; Jo 21:25] e em
documentos apócrifos,[5] podemos assumir que a tradição cristã, pelo menos em seus
primórdios, teve um lado interno, estabelecido diretamente por Jesus. Paulo confirma esse
fato em suas epístolas quando fala de verdades veladas, reservadas aos perfeitos,[6] ou seja,
aos que tinham sido iniciados nos mistérios de Jesus: "Ensinamos a sabedoria de Deus,
misteriosa e oculta, que Deus, antes dos séculos, de antemão destinou para a nossa glória" (1
Co 2:7). E, referindo-se aos dons da graça de Deus, o apóstolo diz: "Desses dons não falamos
segundo a linguagem ensinada pela sabedoria humana, mas segundo aquela que o Espírito
ensina, exprimindo realidades espirituais em termos espirituais" (1 Co 2:13). Na Epístola aos
Hebreus é mencionado que, mesmo com o passar do tempo, a maior parte dos membros das
comunidades cristãs primitivas ainda não estava apta a receber os ensinamentos internos:
"Muitas coisas teríamos a dizer sobre isso, e a sua explicação é difícil, porque vos tornastes
lentos à compreensão. Pois, uma vez que com o tempo vós deveríeis ter-vos tornado mestres,
necessitais novamente que se vos ensinem os primeiros rudimentos dos oráculos de Deus, e
precisais de leite, e não de alimento sólido. De fato, aquele que ainda se amamenta não pode
degustar a doutrina da justiça, pois é uma criancinha! Os adultos, porém, que pelo hábito
possuem o senso moral exercitado para discernir o bem e o mal, recebem o alimento sólido."
(Hb 5:11-14)

prática de diferenciar os níveis de ensinamento conforme a preparação dos


ouvintes era comum entre os judeus, tanto da tradição rabínica como dos
essênios, que transmitiam dois tipos de ensinamentos, um externo para o
povo e os neófitos, e outro interno, para os estudantes avançados.

O bispo Leadbeater afirma categoricamente que existe um lado esotérico


do cristianismo, apesar dos protestos em contrário das correntes
ortodoxas dominantes. Em suas pungentes palavras:
"Originalmente, o cristianismo era uma doutrina de magnífica elaboração -
- aquela doutrina que repousa nos fundamentos de todas as religiões.
Quando a história do Evangelho, que tinha significação alegórica, foi
degradada a uma pseudonarrativa histórica da vida de um homem, a
religião tornou-se confusa. Por essa razão, todos os textos relativos às
coisas elevadas foram distorcidos e, portanto, não mais correspondem à
verdade subjacente. Por ter o cristianismo esquecido muito de seu
ensinamento original, é costume atualmente negar que algum dia tenha
tido qualquer instrução esotérica." [A Gnose Cristã, op.cit., pg. 89]

Os dogmas tradicionais da Igreja que chegaram a nós ao longo dos séculos


são materializações grosseiras do verdadeiro ensinamento sobre a
natureza e origem espiritual do homem contido na gnosis. Esses dogmas
são o resultado do historicismo literal das narrativas -- alguns casos,
porém, tendo uma base semi-histórica -- que tinham a intenção original de
servir como alegorias cobrindo profundas verdades espirituais.
A verdade, portanto, não é que o gnosticismo seja uma "heresia", um
afastamento do verdadeiro cristianismo, mas precisamente o oposto, isso
é, que o cristianismo em seu desenvolvimento dogmático e eclesiástico é
uma caricatura dos ensinamentos gnósticos originais." [William Kingsland,
The Gnosis or Ancient Wisdom in the Christian Scriptures (Dorset, G.B.:
Solos Press, 1993), pg. 16-17]
Ao contrário, as autoridades eclesiásticas, depois de Clemente de
Alexandria e Orígenes, sempre negaram que houvesse um lado esotérico
da tradição cristã. Um dos principais fatores para essa atitude remonta à
aliança da incipiente igreja com o Imperador romano Constantino no início
do século IV. O cristianismo popular, introduzido por Constantino como
religião oficial do Império Romano não podia se dar ao luxo de aceitar uma
visão interna e esotérica, fora do controle da hierarquia. A nova religião
tinha que servir como instrumento de garantia do reino terrestre. (como
manteriam o poder se dissessem que Deus está dentro de cada um? A
verdade foi ditada pela Igreja ortodoxa e as demais taxadas de heresias e
combatidas literalmente a ferro e fogo)

A palavra "bíblia" (biblia) em grego significa "livros". A Bíblia,


portanto, era a expressão coloquial usada para referir-se aos
"livros" que haviam sido escolhidos pela Igreja, dentre os muitos
evangelhos e documentos existentes, para representar o Cânon,1[1]
ou seja, a expressão oficial da "Boa Nova," como referendada pela
Igreja. Se houve uma escolha entre diversos documentos, isso
significa que alguns ou mesmo muitos documentos foram preteridos
pelas autoridades eclesiásticas, apesar de muitos deles terem sido
escritos ou compilados por autoridades tão competentes quanto às
dos "evangelhos canônicos." Essa escolha, ou melhor dito, esse
veto, deve-se ao fato desses documentos conterem informações ou
ensinamentos que divergiam das doutrinas preconizadas pelos
bispos mais influentes da época. [Uma das primeiras listas de
documentos "canônicos," algo parecido com o Novo Testamento
atual, foi proposta pelo Bispo Irineu, de Lion, com o beneplácito de
alguns colegas, por volta de 180 d.C. Dois séculos mais tarde, o
Bispo Athanasius preparou uma lista semelhante, ratificada pelos
concílios de Hippo e de Cartago]

O Novo Testamento, no entanto, é composto de vinte e sete documentos,


dentre os quais os quatro evangelhos ocupam posição de destaque.

Os evangelhos de Mateus, Marcos, e Lucas são conhecidos como Evangelhos


Sinópticos devido a conterem uma grande quantidade de histórias em comum, na
mesma sequencia, e algumas vezes, utilizando exatamente a mesma estrutura de
palavras. O que é tradição tripla? A tradição tripla refere-se ao material que é comum a
todos os três sinóticos. Quase todo o conteúdo em Marcos é encontrado em Mateus, e
cerca de dois terços de Marcos é encontrado em Lucas. A tradição tripla consiste, em
grande parte, de material narrativo ( milagres, curas e a paixão) mas também contem
algum material de doutrinação.
Quanto ao quarto evangelho canônico, o evangelho de João, relata a história de Jesus de
um modo substancialmente diferente, pelo que não se enquadra nos sinópticos. Desta
maneira, temos 4 evangelhos canônicos, dos quais três são sinópticos. A autoria dos
evangelhos nem sempre é bem explicada aos leigos. Cada evangelho não é
o produto monolítico de um único autor. Na verdade, sabemos hoje em dia
que eles são o fruto da contribuição de vários autores, ao longo de muitos
anos, tendo passado por diferentes versões até chegar ao formato atual. A
autoria, no entanto, é atribuída ao autor que, de acordo com a tradição,
teria fornecido a primeira camada ou versão da parte principal da obra.
Esses fatos são admitidos até mesmo pelas autoridades eclesiásticas.

Os estudiosos bíblicos concordam que a redação dos


evangelhos como os conhecemos hoje, pelo menos os de Mateus,
Lucas e João, resultaram da estruturação dos ensinamentos de
Jesus na sua tradicional forma de logia e parábolas, dentro de um
arcabouço do que seria a história da vida de Jesus. Foi
essencialmente essa combinação que criou toda uma série de
problemas de interpretação bíblica, que perdura até hoje. Tanto as
logia como os relatos da história do Cristo tinham uma grande
importância simbólica e, certamente, foram escritos originalmente
sob inspiração. Infelizmente, mesmo assim, as autoridades
eclesiásticas querem a todo custo que o texto bíblico seja
interpretado como um relato da história de Jesus, devendo ser
aceito literalmente.

Qualquer curioso pode obter prova insofismável de que existem


muitos ensinamentos perdidos de Jesus, alguns certamente de
caráter oculto, a partir de um estudo atento do Novo Testamento.
[Por exemplo, as seguintes passagens indicam que Jesus ensinava
sem, no entanto, mencionar o que ele dizia: Mt 9:35, Mt 15:34, Mt
16:21, Mc 1:21, Mc 1:39, Mc 2:2, Mc 2:13, Mc 6:2, Mc 6:6, Mc 8:31, Lc
2:46-47, Lc 4:15, Lc 4:31, Lc 4:44, Lc 5:17, Lc 5:3, Lc 6:6, Jo 4:40-
42. Outras passagens registram umas poucas palavras, porém não
todo o ensinamento de Jesus: Mt 4:17, Mt 4:23-25, Mt 10:27, Mt
21:23-46, Mc 1:14-15, Mc 4:33-34, Mc 10:1-52, Lc 13:10-21, Lc
13:22-35, Lc 20:1-47, Jo 7:14-53, Jo 8:2-59.] Um autor declara: "Em
comparação com o número de vezes em que afirmam que Jesus
lecionou, uma quantidade surpreendentemente pequena de
versículos menciona que lições foram essas. Alguns escritores
relatam que Jesus ensinou durante várias horas, mas não incluem
uma só palavra sobre o que foi dito."2[8] Um exemplo flagrante é a
passagem da multiplicação dos pães, em que Jesus ensinou à
multidão por grande parte do dia, mas nada é relatado sobre o que
foi dito, além do lacônico comentário de Lucas no sentido de que
Jesus "falou-lhes do Reino de Deus" (Lc 9:11).
"Sabendo que o Salvador não ensina nada de uma maneira
meramente humana, não devemos ouvir seus pronunciamentos
de forma carnal; mas com a devida investigação e inteligência,
devemos buscar e aprender o significado oculto neles."
[Clemente de Alexandria, On the Salvation of the Rich Man]

Os evangelhos, particularmente os sinóticos e S. João, são muito mais


documentos místicos do que históricos. Essa é a idéia que falta em todas
as exposições da estória evangélica.(fazer Jorge pensar isso enquanto vê o
sermão do pastor)

A segunda grande fonte da tradição interna são os documentos


chamados apócrifos pela ortodoxia, os escritos que não foram
aceitos no cânon bíblico, mas que tratavam dos mesmos assuntos do
Antigo e do Novo Testamento. Existe uma grande variedade de
documentos classificados nessa categoria genérica. Alguns, como os
relatos da infância de Jesus, eram muito populares entre as classes
mais humildes; outros apresentavam relatos ou doutrinas
disparatadas; mas um grande número era de escritos oriundos dos
grupos denominados gnósticos, que desde o primeiro século
representaram um espinho na carne das doutrinas ortodoxas. O
termo apócrifo em grego (apokrufo) significava aquilo que estava
escondido ou velado. Portanto, o fato de um texto estar escrito em
linguagem velada ou oculta era, naquela época, indicação de
idoneidade e profundidade. Tais eram os escritos esotéricos
gnósticos que, com freqüência, usavam criptogramas e símbolos
para velar suas doutrinas. No entanto, os padres da Igreja, após
selecionar aqueles livros que fariam parte do cânon, com suas
repetidas referências depreciativas aos documentos rejeitados,
conseguiram mudar a conotação desse termo, fazendo com que os
documentos velados, ou apócrifos, fossem tidos como inidôneos ou
de autenticidade não comprovada. Durante os séculos II e III de
nossa era esses documentos eram simplesmente rejeitados pela
Igreja como espúrios e disseminadores de uma falsa fé. Porém, a
partir do século IV, com a aliança da Igreja com o Imperador
Constantino, os bispos passaram a exercer poder temporal em
assuntos religiosos e, com isso, procuraram abolir os documentos
apócrifos, principalmente aqueles de origem gnóstica. Milhares de
manuscritos preciosos foram queimados ou seqüestrados. Em
muitos casos, só temos conhecimento de alguns desses manuscritos
devido a citações em obras literárias de seus detratores, como
Irineu e Tertuliano, por exemplo, que escreveram contra os
"hereges," como eram chamados os autores dos documentos
apócrifos. A atitude intolerante da incipiente Igreja nos primeiros
séculos de nossa era pode ser compreendida em face da decisão
tomada de popularizar a vida de Jesus como narrada nos
evangelhos, como sendo a verdadeira mensagem divina, a "Boa
Nova", estabelecendo uma série de conceitos que resumiriam o que
os "fieis" deveriam crer para alcançar o céu. Como os escritos e
ensinamentos mais esotéricos da corrente mais pura do cristianismo
primitivo eram uma constante fonte de contradição com esse
enfoque distorcido da verdade, a solução encontrada foi anatemizá-
los e destruí-los, o que passou a ser feito com grande zelo pelo clero
da corrente dominante. O pomo de discórdia era o papel de Jesus e
de seu ministério. A ortodoxia apresentava, como apresenta hoje,
Jesus como um dos aspectos da Divindade, a segunda pessoa da
Trindade, o Verbo feito carne que habitou entre nós, tendo vindo à
Terra para expiar os pecados do mundo. Esse dogma da expiação
vicária, em evidente contradição com as palavras de Jesus, como
registradas nos evangelhos canônicos, levou a Igreja, por absurdo
que pareça, a relegar os ensinamentos de Jesus a um segundo
plano. A mensagem de Jesus foi praticamente esquecida; para a
Igreja o que importava era o mensageiro. Alguns teólogos, até hoje,
assumem abertamente esta posição.

Querigma : 1-cerne da mensagem cristã 2 transmissão dessa mensagem a quem


não é cristão, visando convertê-lo 3 no Novo Testamento, cada um dos trechos
da tradição oral que reproduzem uma forma de proclamação religiosa

Docetismo (do grego δοκέω [dokeō], "para parecer") é o nome dado a uma doutrina
cristã do século II, considerada herética pela Igreja primitiva. Antecedente do
Gnosticismo, defendia que o corpo de Jesus Cristo era uma ilusão, e que sua
crucificação teria sido apenas aparente. Não existiam "docetas" enquanto seita ou
religião específica, mas como uma corrente de pensamento que atravessou diversos
estratos da Igreja. Esta doutrina é refutada pela Igreja Católica e pelos protestantes com
base no Evangelho de São João, onde no primeiro capítulo se afirma que "o Verbo se
fez carne". Autores cristãos posteriores, como Inácio de Antioquia e Ireneu de Lião
deram os contributos teológicos mais importantes para a erradicação deste pensamento,
em especial o último que, na sua obra Adversus Haereses defendeu as ideias principais
que contrariavam o docetismo, ou seja, a teologia do Cristocentrismo, a recapitulação
em Cristo do Homem caído em pecado e a união entre a Criação, o pecado e a
Redenção. A origem do docetismo é geralmente atribuída a correntes gnósticas para
quem o mundo material era mau e corrompido e que tentavam aliar, de forma racional, a
Revelação disposta nas escrituras à filosofia grega. Esta doutrina viria a ser condenada
como heresia no Concílio Ecumênico de Calcedônia.

Em meados de nosso século, mais precisamente em 1945, foi descoberto


no Alto Egito, numa caverna perto da localidade de Nag Hammadi, um
grande vaso com uma coleção de livros, provavelmente escondidos por
monges do mosteiro de São Pacômio, localizado próximo à caverna. Esses
monges procuraram salvar sua preciosa biblioteca, contendo vários textos
gnósticos, antes da chegada de observadores enviados pelo arcebispo
Athanasius, com um destacamento de tropas romanas, para certificar-se
de que suas ordens dadas em carta, no ano 367 de nossa era, tinham sido
obedecidas. Esse édito condenava os gnósticos e determinava que seus
livros fossem destruídos.

o sentido histórico do termo gnóstico designa o nome auto-atribuído por um grupo de


cristãos antigos, os gnõstikoi. gnose (substantivo do verbo gignósko que significa
conhecer). Gnose (gnôsis) significava o conhecimento, o contrário da ignorância. Seria
um estado de consciência superior, como “discernimento”.
Embora alguns gnósticos refutassem a autoridade das escrituras reconhecidas como de
origem judaica e pretendessem substituí-las, tanto a Bíblia Hebraica quanto a literatura
neo-testamentária eram produtoras de sentido para esse grupo. A ausência de lideranças
instituídas para coordenar os primeiros cristãos provavelmente possibilitou que não
houvesse uniformidade na maneira de interpretar e seguir os ensinos de Jesus. Embora a
literatura gnóstica não faça parte do cânon oficial da igreja cristã podia ser encontrada
com certa facilidade nas comunidades cristãs, por volta do II e III séculos ainda. É
provável que entre Roma, Egito e Alexandria, as diversas escrituras e tradições a cerca
de Jesus e seus ensinos circulassem de modo espontâneo. Após a morte de Jesus,
discípulos e seguidores do movimento se guiavam pelas memórias dos apóstolos.
Quando essas testemunhas oculares começaram a morrer foram substituídas, nas
liturgias das reuniões cristãs, pela leitura de escritos e das cartas paulinas
Provavelmente a expressão “grande apóstolo” presente na Realidade dos Governantes
seja referência a Paulo (Cf. Col 1,13; Ef 6,12). Essa passagem denuncia que entre os
gnósticos, Paulo era uma liderança respeitada. Já foi sugerido que os escritos gnósticos
possuem similaridades com a literatura paulina. O emprego de termos como “filhos da
luz”, “filhos das trevas”, “hostes espirituais”, “carne”, “corpo”, “alma”, “guerra”,
universo material e universo espiritual demonstram isso. Mas, além disso, a lembrança
do “grande apóstolo” evocada no princípio do mito demonstra a relação estabelecida
entre gnosticismo, judaísmo e cristianismo dos séculos I e II. Apesar de ter sido alvo da
interferência de algum editor cristão, o mito gnóstico interpretou o Gênesis da Bíblia
Hebraica, fundiu elementos do ascetismo de Qumran e invocou a autoridade dos ensinos
de Paulo. A incursão por essas literaturas, ao nosso ver, demonstra que o mestre
gnóstico e sua audiência implícita não se opunham ao judaísmo e tampouco ao
cristianismo. Ao contrário, é mais provável que eles viviam essa tradição, todavia,
representavam uma expressão religiosa que se relacionava de modo diferente como os
textos fundantes do judaísmo e do cristianismo. Ao passo que entre judeus e cristãos, a
serpente simbolizava o desvio, os gnósticos consideravam sua atuação instrutora e o
fruto da árvore, revelador. Para eles, o caminho que os conduziria ao encontro com
Deus era o conhecimento obtido por meio de um estado de consciência superior.

Alguns acadêmicos afirmam que a seleção de livros do Novo Testamento foi bastante
arbitrária e que o surgimento do Cristianismo ortodoxo ou “tradicional” foi baseado não
apenas em seu mérito, mas na política do lado vencedor.

Os documentos revelam a diversidade das visões cristãs primitivas.

da edição original de Beyond Beliefexiste unia importante afir-mação sobre a origem do


Cristianismo ortodoxo. A ortodoxia é chamada de "emergente" em seus primeiros anos
porque não estava claro que ela era a fé cristã. Desse modo, B(yond Bebei' defende que
essa fé "emergente" saiu-se melhor que seus opo-nentes: "para estabilizar a emergente
Igreja cristã em tempos de devastadora perseguição, os Pais da Igreja construíram o câ-
non, o credo e a hierarquia e, nesse processo, suprimiram mui-tos de seus recursos
espirituais". Desse modo, o Cristianismo ortodoxo seria na verdade o produto de Irineu,
um pai da igreja posterior, do século II, e daqueles que o seguiam. Em 2005, Marvin
Meyer, professor de Bíblia e estudos cristãos na Universidade Chapman, da California,
publicou a obra lhe Gnostic Gospeh ofjesus: lhe defini tive collection ofinys-tical
gospels and secret books abou t Jesus of Nazaretb IA coleção definitiva de evangelhos
místicos e livros secretos sobre Jesus de Nazaré]. No catálogo de janeiro/abril de 2005,
podia-se ler o seguinte: "Esses textos, especialmente quando reunidos, apre-sentam uma
imagem de Jesus como o derradeiro professor de sabedoria, uni tipo misterioso de
mestre zen judaico que escandalizou os ouvintes com seu igualitarismo radical, con-
siderando mulheres, escravos, pobres e marginalizados como pessoas com situação
idêntica, assim como por sua insistência em verdadeiramente viver a mensagem".
Meyer é apresentado como "o especialista que a própria Dra. Elaine Pagels con-sidera
como o mestre dos textos originaiC. A nova visão de

O Cristianismo primitivo teve seu início como um movimento judaico que apelava para
a promessa de Deus nas Escrituras de Israel. No início, havia Jesus e os apóstolos,
afirmando que Jesus Cristo cumprira a promessa de Deus. Todos os textos que temos,
de obras que vão do século 1 até as obras dos apologisras, mostram uma preocupação
intensa, seja positiva ou negativa, com questões levantadas pelas Escritunas dos judeus
(Mitros 1968, 448-50). Os apologistas eram defensores do Cristianismo contra a religião
greco-romana, o Judaísmo e os movimentos ameaçadores que também citavam o nome
de Cristo. A obra deles surgiu em meados do século II e continuou a discutir de que
maneira Jesus havia cumprido a promessa judaica original. Os académicos discutem
quando a promessa foi pronun-dada pela primeira vez. Seria ela encontrada em Génesis
3.15, quando Deus disse que a semente do homem esmagaria a ca-beça da serpente? Ou
será em Gênesis 12.1-3, na promessa divina de que a semente de Abraão seria fonte de
bênção para todo o mundo? Estaria ela em textos como Isaías 9, onde é descrita uma
figura messiânica e libertadora? Estaria em Da-niel 71 3-14, onde o Filho do homem
cavalga as nuvens com autoridade divina? Ou estaria numa composição de todos es-ses
textos? Havia no Judaísmo do século I uma expectativa unificada ou havia uma
promessa descrita de diversas manei-ras com diversas formas de expectativa? Para nós,
o fator-chave é que, no primeiro século, a maio-ria dos judeus tinha algum tipo de
esperança de que, uni dia, Deus enviaria um libertador para o seu povo e para o mundo,
muito embora esses judeus vissem o cumprimento dessa pro-messa em diferentes
detalhes ou destacados em textos diferen-tes. O fato de muitos aspectos da fé de Israel
no século I serem dominados por tal promessa é uma das poucas coisas sobre as quais
todo acadêmico concorda. Essa raiz na esperança escri-turística é a semente da fé cristã.
Um dia Deus enviaria uni li-bertador, de acordo com a promessa das Escrituras
hebraicas. A maior parte do Cristianismo do primeiro século afirma que Jesus era e é o
cumprimento dessa promessa. Essa raiz na Escritura de Israel — sua promessa e sua
descrição de Deus — é parte daquilo que se tornou uma fonte de contenda quando
Marcião, no século II, rejeitou o Deus de Israel como sendo o Deus que os cristãos
adoravam. Também se tornou um ponto de discussão quando outros que chamavam a si
mesmos de cristãos — mas que muitos acadêmicos de hoje chamam de gnósticos —
sugeriram que o Deus que criou a Terra e o ver-dadeiro Deus transcendente não eram a
mesma personagem. Mas estamos colocando o carro adiante dos bois. Corno veremos
no capítulo 4, hoje em dia alguns argu-mentam que as raízes do Cristianismo não são
encontradas nessa promessa de libertação porque Jesus tratava simples-mente de
sabedoria e apontava para um modo de vida que agradava a Deus. Foi a Igreja posterior
— e não Jesus, dizem alguns — que transformou esse mestre de sabedoria numa Fi-gura
de adoração, promessa e divindade. Já é suficientemente estranho notar, de muitas
maneiras, que o debate moderno sobre o Cristianismo se concentre na teologia judaica
— as promessas de Deus, o retrato que Israel fazia de Deus — e o quanto essa teologia
está ligada ao Cristianismo primitivo. Vamos manter os olhos nesta ligação – parte
central de nosso quebra-cabeças.
OS PERÍODOS DO CRISTIANISMO PRIMITIVO: COLOCANDO NO CONTeXTO
OS EVANGELHOS ReCÉM-DeSCOBERTOS
Esses períodos são padrão na história da Igreja Primitiva, mas a nova escola afirma que
essas categorias obscurecem a ver-dadeira diversidade das formas primitivas do
Cristianismo. A afirmação é que, se você faz as regras e define as categorias da maneira
conto você mesmo quiser, então você vai ganhar o jogo antes que ele se inicie. E, conto
as raízes do Cristianismo são o ponto em debate, deve-se notar que as descrições apre-
sentadas aqui não são afirmações de que essas divisões refle-tem o quadro completo cio
que estava acontecendo nos dois primeiros séculos do Cristianismo. Estas descrições
podem obscurecer a diversidade daquilo que havia nos primeiros sé-culos do
Cristianismo. As divisões usadas aqui simplesmente fornecem unta estrutura temporal
para localizar aqueles per-sonagens e movimentos menos conhecidos da história primi-
tiva do Cristianismo, mostrando onde e quando as pessoas se encaixam em nossa
viagem histórica.
Período 1: Jesus e o período apostólico O primeiro período cobre basicamente os
últimos 70 anos do século I. De maneira geral, reconhece-se que Jesus ministrou do
final dos anos 20 até o começo dos anos 30 do século I. Aqueles que estavam mais
perro dele, os apóstolos, ministraram durante rodo o primeiro século. Esse período é
chamado de era apostólica. Embora os acadêmicos discutam as datas exatas da
composição dos quatro evangelhos e desses evangelhos recém-descobertos, existe uma
ampla aceitação de que os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João se encai-xam
nesse período, sendo que João, escrito nos anos 90, foi o último dos quatro. Temos
poucas provas explícitas da existência de grupos alternativos nesse período inicial.
Carecemos de materiais diretamente ligados a esses grupos, com a possível exceção do
Evangelho de 1b77/é, mas temos traços de oposição e dis-cordância dos materiais
tradicionais do primeiro século. Para reconstruir essas discordâncias, vamos tecer alguns
breves co-mentários sobre esses textos tradicionais. Um suposto líder de movimento
alternativo desse período é Simão, o Mago. Os Pais da Igreja que mencionarei rapida-
mente tendem a lançar sobre ele roda a culpa pelos movimen-tos que eles contestam.
Simão é destacado em Atos 8, onde é descrito como um mágico. O livro de Atos não
traz qualquer comentário sobre o fato de ele fundar um movimento herético. A fonte
dessa afirmação é desconhecida, e a credibilidade da declaração de que a heresia se
iniciou com Simão é muito problemática (Yamauchi 1983, 60). O detalhado escudo de
Beyschlag (1974, 218) coloca o surgimento dessa tradição sobre Simão como o pai da
heresia na primeira metade do século II. Outro conjunto de oponentes surge em 1
Timóteo 1.20. Nessa passagem, Himeneu e Alexandre "arruinaram" sua fé. Em 1
Timóteo 1.3-7 eles são incluídos numa discussão de pessoas ensinando unia doutrina
diferente que incluía mitos e genealogias infindáveis, promovendo especulação em vez
de fé. A passagem de I Timóteo 4.1-3 adverte contra aqueles que, nos últimos dias,
criticarão o casamento. Alguns movimentos gnóscicos posteriores realmente
condenaram o casamento, mas movimentos tradicionais fizeram o mesmo, refletindo
uma preocupação de alguns com os interesses espirituais sobre a sexualidade. Em 2
Timóteo 2.17-18 Himeneu é menciona-do mais unia vez, juntamente com Filem,
ensinando que a decisiva ressurreição dos cristãos já havia ocorrido. O con-teúdo do que
essas epístolas descrevem como uma doutrina diferente é considerado por muitos como
potencialmente si-milar ao que surge em detalhes ainda maiores em algumas das recém-
descobertas obras que tem sido chamadas de gnósticas. Isso é tudo o que podemos dizer
do material primitivo, o que não é muito (1 lenge! 1997, 190-92); em outras palavras,
esses comentários não evidenciam a presença do gnosticismo, mas a presença de
elementos que, mais tarde, apareceram no gnos-ticismo. Na melhor das hipóteses, eles
refletem o que tem sido chamado de gnosticismo incipiente. O que realmente aparece
em nossas fontes mais antigas são idéias que os autores das epístolas atacaram em vez
de citar. O texto de 1 Coríntios 15, por exemplo (escrito em meados da década de 50),
indica que alguns negavam a ressurreição dos mortos para o corpo. Os acadêmicos
debatem se as visões às quais Paulo se opôs eram uni reflexo de algum tipo de ne-gação
gnómica da ressurreição da carne ou simplesmente um reflexo da crença geral greco-
romana que negava uma vida física depois da morte. A carta de 1 João (escrita no início
da década de 90) mostra que alguns não criam que Jesus viera em carne. As pessoas que
faziam uma divisão entre um Cristo enviado e um Jesus físico eram chamados de
docetistas porque acreditavam que Jesus apenas "parecia" estar em carne. Passagens
como essas nos ensinam que havia diversida-de na crença primitiva. Entre as questões
que elas levantam podemos citar as seguintes: de que maneira essa diversidade era
percebida? A diversidade refletia ortodoxias concorrentes, simples alternativas ou a
citação da presença de uma visão herética? E com base em que esse julgamento era
feito? Eram pontos de vista que competiam politicamente, sendo que uni deles ganhou?
Ou havia apelos a ensinamentos que podiam afirmar de maneira crível que tinham
associação com Jesus ou os apóstolos? Essas questões vão conduzir a nossa viagem.

Onde se encaixam os evangelhos recém-descobertos. A data-ção é uma questão-chave


com relação aos evangelhos recém-descobertos. A maioria dos evangelhos encontrados
nos úl-timos tempos são datados como sendo dos séculos 11 ou 111 (veja as datas
sugeridas nas seguintes obras: Rebell 1992; Ehrman 2003; Klauck 2003; Lapham 2003;
White 2004). Alguns, porém, como o Evangelho de Tomé, são às vezes da-tados como
de um período anterior, do período apostóli-co ou com raízes que podem apontar para
aquele período. É por isso que alguns têm defendido a importância desse evangelho.
White (2004,304), por exemplo, argumenta que as camadas mais iniciais de Tomé
datam de 60 a 70, com raízes em algum material que aponta para Jesus, enquanto as
camadas posteriores são do final do século I ou do co-meço do século H. Ehrman (2003,
xii) o coloca no início do século II, mas com partes que podem remontar a Jesus. Por
outro lado, Klauck (2003, 108) dara a obra fora desse período, entre 120 e 140.
Snodgrass (1989-90) defende que existem fortes evidências de que ibmé baseou-se em
Lucas e na tradição sinóptica, pois vários dizeres de Tomé apelam para palavras de uso
raro e as mesmas tendências editoriais empregadas nessas outras obras (dizeres 10, 16,
31, 33, 39, 47. 53, 65-66, 72, 76b, 79, 104). Perrin (2002) vê uma associação entre lbmé
e Dimessaron, de "flteiano, datado por volta de 170 d.C.. o que sugere que o evangelho
cem raízes numa Tradição posterior, não na anterior. tledrick (1 989- 90) demonstrou
que é provável que algum material de lómé venha de outras fontes que não os
evangelhos sinópticos, o que gera a necessidade de avaliar cada um dos dizeres por vez.
Em resumo, é possível que uma porção do material de Tomé reflita a tradição circulante
entre as igrejas que pode-riam pertencer a esse período mais antigo, mas isso deve ser
examinado comando-se cada um dos dizeres separadamente (Klauck 2003, 108).
Todavia. é mais provável que o evange-lho em si seja mais posterior do que anterior. Os
dizeres paralelos a Mateus, Marcos e Lucas ajudam-nos a ver a data posterior de Tomé.
Klauck (2003, 108) destaca que cerca de cinqüenta por cento de T <ralé não tem ligação
com nada expresso no Novo Testamento. Em sua visão, a outra me-tade está dividida
entre textos que relembram coisas em Mateus. Marcos e Lucas e dizeres independentes
que se dizem revela-tõrios e têm um "caráter mais fortemente gnóstico" (Klauck 2003,
108). O debate sobre Tomé envolve a questão de quanto e qual material remonta a Jesus
e quanto dele é um reflexo de preocupações gnõsticas posteriores. A maior parte de
Tomé não remonta a Jesus, mas algumas partes poderiam fazê-lo. O debate tem ainda
outras poucas questões. Por isso, cobriremos a era do gnosticismo no capítulo 3. Tiniu;
e a tradição de Jesus recebem atenção no capítulo 4. Antes de continuar tratando desses
tópicos precisamos abordar outra questão: o método histórico e o julgamento, ambos
conside-rados no capítulo 4. Uma revisão do material recém-descoberto, incluindo os
evangelhos perdidos, indica que a maior parte dele vem dos séculos II e III. A maioria
dos académicos concorda com isso. Três corolários ligados a esse fato são bastante
importantes: 1. Muitas dessas obras refletem o período no qual foram escritas e não
possuem elos coerentes com o período para o qual aponta seu título. As questões que
essas obras discutem aparecem posteriormente na história da Igreja, e não no período
um is inicial. Essa é uma das razóes pelas quais podemos con-siderar que essas obras
são posteriores em vez de pertencerem 30 período inicial. O Evangelho de Pedro, por
exemplo, não é de Pedro nem fornece ensinamento preservado por aqueles que estavam
familiarizados com seus ensinos; é simplesmente um nome dado para conceder
autoridade a uma obra escrita mu iro depois. Praticamente todos os acadêmicos
concordam com essa visão desse evangelho. Essa situação se coloca em contraste com
Marcos ou com Lucas, na questão de que ne-nhum dos autores desses evangelhos foi
apóstolo, mas muitos aceitam que Marcos e Lucas tiveram acesso aos apóstolos e
tinham ciência do que eles ensinaram. Em relação a Marcos, o ponto de contato foi
Pedro (Taylor, 1996, 1-8, 26), enquanto Lucas provavelmente teve contato com vários
dos apóstolos e viajou com Paulo (Fitztuyer 1981, 40). Raízes de porções de outros
evangelhos, ral como Tomé, sjio mais debatidas e difí-ceis de avaliar. Ainda persiste a
quescáo se Tomé possui raízes primitivas.
Obras recém-descobertas mas posteriores ainda assim são valiosas para nós corno
documentos históricos. Elas descrevem aquilo em que acreditavam algumas pessoas que
se associaram ao Cristianismo na época em que esses documentos circula-vam, muito
embora esses textos tenham pouco valor para o esclarecimento do Cristianismo
primitivo. Nag H anunadi é um importante achado mesmo se contiver documentos cuia
data de composição seja posterior ao século l. Aprendemos o que estava acontecendo
naquele período posterior a partir do relato das pessoas que tiveram essas visões
alternativas. Havia diversidade de visões entre os grupos que se associaram ao
Cristianismo no período apostólico, conforme demonstram as discussões ji destacadas
em I c 2 Timóteo. O debate é sobre O que eram aquelas visões, o quão disseminadas
elas estavam e Se essas alternativas eram consideradas ortodoxas ou não. 2. Possuímos
apenas uma porção dos escritos que existiam no século I. A natureza de todos os
registros históricos é que a coleção sobrevivente é parcial e isso é especialmente verda-
deiro em relação à história antiga. O problema é o que fazer Com essa falta de provas.
Esse vácuo cria espaço para O debate e contribui para a existência de várias visões
modernas sobre a questão. 3. Isso leva 'a sutileza de um terceiro corolário às vezes pro-
posto como prova para a natureza posterior desses materiais nos registros manuscritos
existentes: as afirmações de que es-ses textos foram suprimidos efou destruídos. Não
temos esses textos porque o outro lado os tirou de cena há muito tempo, de modo que as
provas que temos não refletem O que real-mente acontecia. Agora sabemos que ral
supressão e destrui-ção aconteceu no século III e depois dele. 'Iàmbém sabemos que
isso aconteceu com todo ripo de textos cristãos durante a perseguição aos crentes nos
primeiros séculos. Todavia, essa posição é realmente um argumento do silêncio. A
afirmação é que, se tivéssemos um registro plenamente documentado, certamente os
materiais primitivos e outros como esses evan-gelhos alternativos também existiriam.
Não há como avaliar tal declaração hipotética. Os oponentes desse cenário susten-tam
que é notável que qualquer coisa semelhante a TOM/ te-nha sobrevivido, enquanto eles
também reconhecem que é improvável que essa obra venha do apóstolo lbmé. Mas o
que dizer de algumas outras opções? Será que não temos esse material porque eles
foram simplesmente perdidos — como acontece com a maioria das obras antigas — em
vez de suprimidos? Ou será que não temos um registro primiti-vo claro de tais
movimentos porque eles simplesmente não existiram? O problema é que qualquer um
desses três cená-rios (perda por supressão, perda simples ou ausência pela não
existência desses movimentos) pode explicar a evidencia que temos. A presença de
várias opções potencialmente plausíveis também leva ao debate. Uma abordagem dessas
questões em torno dos evangelhos perdidos é necessária antes de olharmos para os
evangelhos em si, para que possamos entender onde eles se encaixam e por que existe
tanta controvérsia cru relação a eles.

Período 2: Os pais apostólicos e o swgimento de obras alternativas Este período abrange


algumas gerações depois dos após-tolos. Os pais apostólicos foram homens que tiveram
contato com os apóstolos ou se colocam no período imediatamente posterior a eles.
Falando de maneira geral, suas obras perten-cem ã primeira metade do século II
(Holmes 1999). Entre eles, temos a Carta de Clemente de Roma, conhecida corno
clemente, escrita no final do século I; 2 Clemente (um sermão, escrito não pelo mesmo
Clemente, mas por um pregador desconhecido); as sete cartas de Inácio> bispo de
Anrioquia, Síria (Elésios, Magnésios, (Tatiana', Romanos, Filadelfienses, Ennirnianos e
A Mit-arpo); uma carta de Policarpo, bispo de Esmirna, na Ásia Menor, aos Filipenses;
o Martírio de Po-licinpo; um tratado ético conhecido conto Didaqué; a carta de Rarnabé
(não o apóstolo do Novo Testamento; também chamado Pseudo Barnabé); o Pastor de
(Termas, uma coleção de parábolas de visões; a Epistola de Diógenes; e Fragnuwtos
l'apias, em sua maior parte preservado até nós por Eusébio, historiador da Igreta do
século IV. Daremos cuidadosa aten-ção a essas obras porque elas nos dizem em que
acreditavam muitos cristãos no inicio do século II. Juntamente com o material dos pais
apostólicos surgem outras obras neste periodo. Muitas refletem visões alternati-vas. Em
sua Inação mais tardia. Ibmé pertence ao período que vai do início a meados do século
11. Entre as mais di-fundidas formas alternativas de Cristianismo pertencentes às
evidõncias textuais explícitas desse período esta aquilo que os acadêmicos modernos
chamam de gnosticismo, que 355(1111h' uma variedade de formas, como veremos no
capitulo 3. Ao gnosticismo estão ligados nomes como Carpócrates (aparece em cerca de
120), Saturnino (cerca de 120), Basílides (cerca de 120) e Valentino (cerca de 140).
Turibém havia alternativas como o movimento fundado por Marciáo (cerca de 140), que
morreu em 160. Seu movimento foi diferente daqueles vistos como gnósticos. Temos
como chaves desse período as obras Evangelho de Pedro, Evangelho dos Hebreus,
Evangelho dos Ebionitas, Evangelho dos Egípcios, Evangelho dos Nazarenos.
Evangelho da infinda do Senhor Jesus, escrito por Tomé e Papyrus Egertan 2 (Ehrman
2003, Os capítulos 6 a 13 nos darão urna visão mais detalhada em relação aos ensina-
mentos dessas fontes e onde elas se encaixam.

Período 3: Os apologistas e demais alternativas Este período se estende além do


quadro temporal de nos-sa viagem, iniciando-se em meados do século II e abrangen-do
o período da formação dos credos da Igreja, como o de Nicéia em 325, e mais além.
Este período tem sido analisado de maneira adequada há muito tempo em obras conto o
estu-do clássico de Hilgenfeld sobre a história da heresia no Cris-tianismo primitivo.
Hilgenfeld traça a evidência que temos dos Pais da Igreja, especialmente de Justino o
Mártir, Irineu e Nipónico com seus contemporáneos,Terniliano e Clemente de
Alexandria (Hilgenfeld 1884). Paramos conta menção de Epifãnio no século IV porque
ele escreveu uma obra enciclo-pédica sobre a heresia, conhecida como -CaiXtl de
Remédios» (Ptinarion). Contudo, unia figura-chave é anterior a lrineu e se coloca no
limite entre os períodos II e III. Ele é Justino o Mártir, o primeiro autor da Igreja
Primiriva a assumir ex-plicitamente unia ampla defesa da fé. Nós o colocamos aqui
porque sua obra surgiu nesse período. Justino escreveu o que é chamado de sua 1.'
Apologia em cerca de 155, uma das duas apologias (ou defesas da (é) de sua autoria, e
também debai eu o Judaísmo na obra Cortou •rifi). Uma ohra de defesa da fé escrita eia
grego é chamada de apologia, de autoria de um apologista. Isso explica parte do nome
desse agrupamento. Os apologistas defendiam a superio-ridade do Cristianismo com
relação ao paganismo, ao Judaísmo ou á filosofia grega, também desafiando as
declaraçoes de al-guns que se associavam ao Cristianismo dizendo-se cristãos genuínos
ou ortodoxos. A nova escola freqüentemente chama esse grupo de autores de
beresiólogos porque eles procuravam identificar e refutar heresias. A presença de
alternativas surgindo claramente já no pe-ríodo dos pais apostólicos preocupava os
apologistas. Con-tudo, existiram outros movimentos durante esse período: o ebionistno
(uni movimento judaico-cristão), o encratismo (movimento ascético que defendia a
castidade e o celibato) e o montanismo (movimento do grupo que afirmava ter uma
nova revelação). Essa proliferação de alternativas fez com que os apologistas
escrevessem avaliaçóes detalhadas desses movimentos, mostran-do que o nome
betó/ogo reflete a força de suas obras. Esses textos desenvolveram a argumentação
completa que formou aquilo que se tornou o detalhamento da fé ortodoxa. Outros
apologistas famosos se seguiram a Justino o Mártir. Entre os mais destacados, temos
Irineu (que escreveu na segunda me-tade do século II) e Terculiano (final do século II e
inicio do século 111), seguidos em importãncia pelo grupo de Clemente de Alexandria
(último terço do século 11), Origenes (inicio do século 111) e Hipólito (final do século
LI e inicio do século III). Entre os apologistas posteriores mais significativos destacam-
se Eusébio (séculos III e 1V) e Epifãnio (século IV). A questão aqui é se a "ortodoxia"
surgiu nesses textos posteriores ou se já estava presente antes em forma de raiz. Teria
sido Irineu e seus colegas que produziram a ortodoxia, como afirma a nova escola, ou
foi a ortodoxia que produziu Irineu e os apologistas?
Essa visão panorâmica mostra que algumas declarações significativas da nova escola
realmente refletem a história. En-tre das vemos (I) a evidência de unta diversidade de
visões que se assumiam cristãs nos primeiros séculos, (2) o faro de que nossas fontes
refletem apenas parcialmente o que estava disponível no período primitivo e (3) a
sugestão de que as novas descobertas rêm nos ajudado :1 sermos mais cuidadosos sobre
nossa visão da época. Mas as principais declarações da nova escola são realmente
históricas? Vários fatores antigos contribuem para o debate moderno: (I) a diferença
entre a data de composição dc uma obra e a idade das visões que essa obra reflete
(poderia ela incorporar a tradição mais antiga e, se for esse o caso, de onde ela vem?),
(2) a impou:meia da natureza incompleta de nossa coleção de fontes. assim como (3) a
natureza do conteúdo das obras em si e o que elas ensinam, incluindo o alcance desse
ensino. Mais importante: quais são as provas de existência de conexões entre o
ensinamento de qualquer unta dessas obras e a era primitiva? Antes de deixarmos essa
abordagem do contexto antigo, devemos discutir as principais alternativas presentes eni
mui-tas de nossas novas fontes, a saber, o gnosticismo.
PERGUNTAS PARA ESTUDO
1. O que defende a nova escola? 2. Que papel Irineu desempenha de acordo com a nova
es-cola, e por que concentrar-se CM textos anteriores a Iriam para estudar essa questão
histórica? 3. Que papel desempenhou a promessa de Israel no desen-volvimento do
Cristianismo? 4. Quais são os crés períodos da história cristã primitiva e o que permite
que eles se diferenciem uns dos outros? 5. Quais afirmações da nova escola têm mérito
e glIC fatores antigos transformam a discussão ntu» debate?

Gnosticismo
O surgimento e a difusão de formas heterodoxas de gnosticismo consti-tuem um dos
capítulos mais interessantes e discutidos da patrologia; nós, po-rém, vamos considerar
brevemente apenas o gnosticismo ortodoxo. Segundo L. Bouyer, o gnosticismo não foi,
originalmente, um movimento heterodoxo nem do judaísmo nem no cristianismo. Até
mesmo em Clemente — o teólogo mais interessado na filosofia grega — a gnose era
entendida como "conheci-mento do Nome e compreensão do Evangelho". 12 1. Dupont
sustenta que o conceito de gnose, em Paulo, não tem relação com a filosofia grega, e
que no período da influência helenista sobre a teologia a gnose se referia ao conheci-
mento de Deus somente como conseqüência da Bíblia grega. O gnosticismo cristão foi
incorporado à espiritualidade cristã pela escola de Alexandria. sob o impulso dc
Clemente de Alexandria (150•217) e Orígenes (185-254). Segundo Clemente, a gnose
está intimamente ligada à oração e não é apenas um conhecimento especulativo de
Deus. O ápice da gnose é a con-templação. e seu último grau é a aputheia (o controle
completo das próprias paixões e dos próprios desejos). Orígenes trata mais
explicitamente da parti-cipação no mistério de Cristo e da conclusão da evolução
mística na Trindade mediante um matrimónio místico.

Como o gnosticisrno surgiu e como compreende-10 do modo mais ade-quado? Durante


muito tempo, a resposta normativa e predominante a essas perguntas foi dada pelos
Padres da Igreja heresiologos dos seculos II a IV d.C. Essas fontes, compostas por
autores absolutamente hostis aos gnósti-tais (trinco, Hipõlito. Tertuliano, Epifania) e
alguns moderadamente anta-gônicos (Clemente e Origenes). difundiram a ideia de que
o gnosticismo era urna heresia crista, ou seja. um corpo cie ensinamentos que
represen-tava unia forma divergente e corrompida do cristianismo "autentico' ou
preponderante. Entretanto, essa posição foi vigorosamente atacada, se não totalmente
aniquilada, por estudiosos renomados do sectdo XIX. principal-mente de nacionalidade
alemã. Começando com as obras de E C. ii. Baur, da escola de Tübingen. c ampliada
com as pesquisas de Adolf von Harnack, de Richard Reiizenstain e de muitos outros,
essa tendência especializada afirmava que o gnosticismo ruo podia ser considerado
unia heresia por-que naquela epoca não havia nada que se pudesse caracterizar como
uma ortodoxia normativa, mas tão-somente inúmeras interpretações da religião crista
simultâneas e as vezes concorrentes entre si. O que mais tarde passou a ser conhecido
como escolas gnómicas eram simplesmente algumas dessas antigas variantes. Outra
explicação oferecida, decorrente das tendências "paganizames" de alguns estudiosos,
dizia que o gnosticismo era uma lorma de paganismo envolta em roupagens cristas.
Para provar essa tese, foram apresentadas algumas evidencias internas um tanto
superficiais: o gnosticismo era muito me m's 11101101eisla do que o judaísmo on, mais
tarde, do que a vertente pre-dominante do crisiianismo: e a enfase feminina em muitos
ensinamentos gnósticas talvez tivesse relação com o culto a deusa egmcia ou grega. Do
mesma modo, o grande destaque do gnosticismo a unia quase-divindade secundaria.
criadora do mundo. chamada Demiurgo. teve um antecedente nos ensinamentos de
Planto e de seus discípulos. Entretanto, sabemos mui-to bem cole filOSOíos pagaos
emiTICRies. e iii It eleS o neoplatônico Plonno. não pouparam criticas aos gruticos.
Mem disso, unia variante pagã do gnosticismo, o hermetismo, existiu paralelamente ao
gnosticismo cristão. Essas circunstancias contradizem a ideia de que os ginasticas
eram sim-plesmente pagãos disfarçados em simulacros quase-cristãos. Certamente o
pensamento religioso das culturas pagãs mediu:mancas não estava excluido do ideario
gmistico, mas estava longe de constituir a sua essência. No entanto, outra tendência,
solidamente presente nos estudos do sé-culo XIX e inicios do seeU10 XX. procurou
situar as origens do gnosiiehálto MIS culturas fora da matriz mediterrAnea. Persia,
índia. o sudeste e o nom-este da Asia lorain considerados como lumes possiveis da
tradição gnóstica. Grande destaque foi dado â atitude "dualista- comum aos gnosticos
e aos zoroasirianos. O que esses estudiosos negligenciaram foi o fato de que dife-
renças importantes separam o dualismo zoroastriano da variante gnostica. O primeiro
pode ser considerado um dualismo radical, ao passo que o se-gundo parece apresentar
características mais moderadas. Não se pode negar que existem semelhanças em re o
gnosticismo e o hindutsmo, e cambem o budismo. Essas duas grandes tradições
orientais têm tun genero de gnose, denominadofitamt em sanserito, considerado como
uma forma salvdica de conhecimento iluifflibitio. Entretanto, não foi descoberta
nenhuma irajeio-ria hismrica que pudesse apontar a Asia coino berço da tradição
gnostica. Na segunda metade do sectilo XX. os estudiosos começaram a ver o fenómeno
religioso gnostico como sendo em grande parte de procedência historica judaica. As
pesquisas de Gershom Scholem e especialmente os maieriais da biblioteca gnOstica de
Nag Ha adi contribuiram substan-cialmente para essa visão. Seholem relacionou o
goostiosino com o "mis-ticismo do carro celeste" ( Mercaba) judaico e com as origens
da Cabala. As escrituras que compõem a coiceais de Nag Hammadi sugerem tuna liga-
cito com eorremes secretas, ocultas, no judaismo que parecem ter exislido durante um
período relativamcmc longo, ein oposição i ortodoxia oficial do culto sacerdotal de
Jerusalém. Os grupos essênios que compuseram os Manuscritos do Mar Morto, como
tatnbcm outros grupos hereticos judeus, podem de fato ter sido responsáveis por grande
parte da adesão não so-mente as escolas cristas gnosticas mas lambem a todo o
movimento cristão. Precursores desse glIOSileisiO0 judaico podem sem duvida Ser
percebidos na literatura sapiencial do Antigo Testamento, onde a ligura feminina di-
vinizada da Sofia gnóstica aparece numa forma antiga como a majestosa Chokinah de
Provérbios, Eclesiastes, Eclesiastico e do Livro da Sabedoria de Salomão. Em resumo,
o contexto histórico indica que o gnosticismo (corno pas-sou a ser chamado algumas
centenas dc anos mais tanle) era originaria-mente urna espiritualidade esoterica
judaica que assumiu uma forma cristã depois da chegada da dispensação crista. Ele foi
posteriormente reprimido por urna ortodoxia autodeclarada que na origem era apenas
unia das inú-meras variantes dentro da diversidade de seguidores do grande Mestre de
Nazaré. A maioria das fontes originais da tradição gnostica informa que essa tradição
sempre esteve no mundo e que seus principais instrutores e hierofames foram certos
profetas e patriarcas do Antigo Testamento, a co-meçar com Adão e seu filho Set.
Embora obviamente de natureza mitológi-ca. essas afirmativas nos revelam verdades
muitas vezes mais profundas do que Os assim chamados dados objetivos da história A
gnose e o gnosticismo sempre estiveram presentes no mundo c assumiram formas
diferentes em diferentes culturas. A tradição gnómica relacionada com o cristianismo e
com a cultura ocidental cmii geral originou-se na região do Mediterraneo e mais
especificamente na esfera da matriz semitica, mas. como o proprio cristianismo, não
era estranha a espiritualidade analoga da Grécia. de Roma e do Egito. No resumo a
seguir, procurarei expressar em prosa o que os mitos gnós-ticos exprimem em
linguagem poética e imagetica.

A Realidade dos Governantes ou Hipóstase dos Arcontes


Segundo Pagels (1979, p.66), o que ocorria era que, quando alguém se iniciava, por
exemplo, na seita dos valentinianos, aprendia a rejeitar a autoridade do criador e a
considerar as suas exigências tolices. Ainda de acordo com a autora:
“Antes da gnose, o candidato adorava o demiurgo, confundindo-o com o verdadeiro
Deus: agora, através do sacramento da redenção, o candidato indica que libertou-se do
seu poder. Nesse ritual ele enfrenta o demiurgo, declarando a sua independência e
anunciando que não mais pertence a sua esfera de autoridade e juízo, e sim aquilo que
transcende. (PAGELS, 1979, p.66).”
Pagels (1979) observa que, ao renunciar ao demiurgo, o candidato necessariamente
recusava a autoridade do bispo que era o representante deste, ou seja, a gnose oferecia
justificação teológica para as pessoas se recusarem a obedecer aos bispos e padres.
Irineu deixa a entender que muitos gnósticos se infiltravam dentro da igreja para atrair
mais seguidores para os seus círculos, fazendo assim um trabalho de convencimento,
para que os fieis da igreja freqüentassem os seus círculos.

Dedica-se de modo especial as mulheres, e, entre elas, especialmente as mais nobres,


intelectuais e ricas, cujas vestes são enfeitadas de púrpura, que lisonjeia (…) Prepara-te
como esposa que espera pelo esposo para seres o que eu sou e eu seja o que tu és (…) A
partir desse momento ela julga ser profetiza e agradece a Marcos por torná-la
participante de sua graça e procura recompensá-lo não somente doando-lhe os seus bens
( é daqui que vem as grandes riquezas deste homem) mas também o seu corpo
desejando unir-se em tudo a ele para formar com ele o Uno. ( Adv haer II, 13,3, p.71).
A principal acusação era a de que, os lideres gnósticos se reuniam com as mulheres para
promover orgias, pois o caráter dessas reuniões era secreto, então abria possibilidades
para as mais diversas acusações contra os membros desses grupos. Um ponto que Irineu
destacou, era o fato dos lideres gnósticos abrirem espaço para mulheres ricas, acusando-
os de um suposto interesse nessa prática. (a mesma modalidade de crítica que recebiam
dosgentios, faziam conta os gnósticos) Marcos seduz as mulheres ‘’dizendo-lhes que
profetizem’’- algo que lhes era proibido na igreja ortodoxa. Quando iniciava uma
mulher, Marcos concluía a oração de iniciação com as palavras: ‘’Eis que a Graça
desceu sobre você, abra a boca e profetize’’. Em seguida, descreve indignamente o
bispo, ‘’a vitima iludida profere impudentemente alguma bobagem’’! O pior de tudo, do
ponto de vista de Irineu, era que Marcos permitia que as mulheres atuassem como
padres na celebração da eucaristia ao seu lado; ele ‘’entrega o cálice as mulheres’’ ao
oferecer a oração da eucaristia e ao proferir as palavras de consagração. (PAGELS,
1979, p. 86).

Atualmente, a maioria dos estudiosos aceita a tese que defende que o Evangelho de
Marcos é o mais antigo dos Evangelhos Canônicos. Em contrapartida, o evangelho de
Mateus foi o primeiro dos evangelhos a ser lido publicamente nas comunidades cristãs
(o que era sinal de sua aceitação como "literatura sagrada" entre os primeiros cristãos).

Dentre os grupos mais ativos nos dois primeiros séculos de nossa era
destacam-se os naasenos (palavra aramaica com o mesmo significado de
ofitas, de origem grega), perates, sethianos (gnósticos de orientação
judaica), docéticos (propunham que a natureza exterior do Cristo era
ilusória), carpocráticos, basilidianos e valentinianos.
O grupo de maior repercussão no cenário ocidental e no oriente
médio foi provavelmente o dos chamados maniqueus. Isso se deve
ao impacto das idéias e do trabalho de seu fundador Mani, que no
século III revolucionou a vida de muitas centenas de milhares de
buscadores com suas revelações. Como não poderia deixar de ser,
esse grupo foi imediatamente alvo de críticas por parte da então
nascente Igreja Católica, sendo seu fundador perseguido e
finalmente morto sob intensa tortura por parte das autoridades civis
e religiosas, em circunstâncias que lembram o martírio do próprio
Jesus. Mani deixou uma extensa obra literária e, apesar da
constante perseguição a seus seguidores ao longo dos séculos,
inúmeros grupos locais foram estabelecidos em diferentes países,
geralmente com nomes diferentes para tentar escapar da
perseguição sistemática a que eram submetidos. Mani, Preso e
condenado como herege, teria sido, segundo a tradição, esfolado vivo e sua carne
atirada ao fogo, enquanto que sua pele, crucificada em praça pública na cidade de
Gundeshapur.

Metanóia é uma palavra de origem grega (μετάνοια , metanoia) e significa


arrependimento, conversão (tanto espiritual, bem como intelectual), mudança de direção
e mudança de mente; mudança de atitudes, temperamentos; caráter trabalhado e
evoluído. "a ortodoxia chamou de ‘arrependimento’, mas que no original grego era
metanoia, que tinha um significado bem mais amplo, que era o de mudança dos estados
mentais que levam à mudança de consciência pela superação dos condicionamentos e da
ignorância anterior. Esse conceito é basicamente psicológico e oferece um paralelo com
o enfoque da tradição budista de transformação da mente." (Raul Branco) A quinta parte
aborda o método para alcançar o Reino dos Céus, que foi descrito por Jesus como a porta
estreita e o caminho apertado. Em sua essência, o método poderia ser resumido no que a
ortodoxia chamou de ‘arrependimento’, mas que no original grego era metanoia – Com o nome
de metanóia o Evangelho designa uma total mudança interior, uma conversão radical,
uma transformação profunda da mente e do coração.

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