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impossibilidade óbvia - haviam nascido de uniões sexuais, o que via como inconciliável
com a natureza divina, e dizia que se tratavam de simples mortais magnificados. Quanto
a Apolo propriamente dito, Aristides analisou seu caráter e o acusou de estuprador,
assassino e embusteiro, invejoso e iracundo, dizendo ainda ser um absurdo que alguém
que não deveria reinar nem entre os mortais fosse considerado uma das potestades
celestes. Entretanto, antes do ocaso final do Paganismo autores como Celso atacaram o
cristianismo em bases semelhantes às que usaram os cristãos para destruir o Panteão
pagão, perguntando como uma virgem poderia ter concebido, e se ela o pôde fazer, por
que os deuses pagãos não poderiam amar mulheres mortais da mesma forma e gerar
descendência; além disso, o deus que figurava nas Escrituras judaico-cristãs,
frequentemente irado, assassino e vingativo, também não podia ser considerado um
exemplo de virtude.[46] É de lembrar que mesmo entre toda a condenação do Paganismo,
a teologia paleocristã foi largamente devedora da filosofia e da metafísica clássicas,
especialmente dos neoplatônicos, como se prova na leitura da literatura patrística e na
própria Bíblia, onde o Evangelho de João abre com as frases: "No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com
Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele
estava a vida, e a vida era a luz dos homens". Se diz que Cristo é a encarnação do
Verbo, o que imediatamente remete à identificação grega de Apolo com a Palavra
Divina através da profecia. A rigor Apolo não reivindica a profecia como sua; ele é um
deus poderoso, mas subordinado a seu pai, Zeus, o deus supremo, e necessariamente se
coloca muito próximo dele em sua função de seu porta-voz. Homero, em seu Hino a
Apolo, faz Apolo dizer: "Possa a lira me ser cara, e também o arco encurvado, e para
os homens eu proclamarei em oráculos o infalível conselho de Zeus", e no Hino a Apolo
órfico o deus é descrito como "a luz da vida", de modo que as similaridades entre as
teologias cristã e pagã são evidentes.[6][47][48][49][50][51]
. Evidências de antiguidade
* O título “servo de Deus” aplicado a Jesus.
* A simplicidade litúrgica e das orações.
* As orações eucarísticas apontam para um período em que a Ceia do Senhor era
ainda uma ceia.
* O batismo em água corrente.
* Preocupação em distinguir as práticas cristãs dos rituais judaicos (8.1).
* Ausência de preocupação com um credo universal.
* Nenhuma referência aos livros do Novo Testamento.
* Nenhuma referência ao episcopado monárquico.
* Ênfase aos ofícios carismáticos e itinerantes: apóstolos e profetas.
* Dupla estrutura de bispos e diáconos (ver Fp 1.1).
* Outros temas ausentes: virgindade, tendências gnósticas e antignósticas.
8. Composição
C. Richardson entende que o “didaquista” foi mais um compilador do que um autor. Ou
seja, ele não escreveu a Didaquê, mas reuniu dois documentos pré-existentes, fazendo
algumas adaptações. Ele provavelmente compôs o capítulo final (16).
A Didaquê propriamente dita deve ter sido composta em Alexandria. Evidências: (a) os
Dois Caminhos circulavam ali, pois a Epístola de Barnabé e a Ordem Eclesiástica
Apostólica procedem daquela localidade; (b) é possível que Clemente de Alexandria
conhecesse a Didaquê; (c) o documento revela uma atitude liberal em relação ao cânon
do NT, aparentemente incluindo Barnabé e Hermas, o que aponta para Alexandria; (d)
até o quarto século a Didaquê era altamente valorizada no Egito, sendo quase
considerada canônica, e foi mencionada por Atanásio como adequada para a instrução
catequética.
Marcião de Sínope (em grego: Μαρκίων Σινώπης, ca. 85 - 160 d.C.) foi um dos mais
proeminentes heresiarcas durante o Cristianismo primitivo [1]. Sua teologia (chamada
marcionismo), que propunha dois deuses distintos, um no Antigo Testamento e outro no
Novo Testamento, foi denunciada pelos Pais da Igreja e ele foi excomungado. Sua
rejeição de muitos livros que seus contemporâneos consideravam como parte das
escrituras mostrou à Igreja antiga a urgência do desenvolvimento de um cânon bíblico.
Wikpédia – ver que a igreja católica, ao se oficializar, viu nessa escolha de livros uma
forma de podar o gnosticismo Marcião figura entre os primeiros heréticos de renome na
história da igreja nascente. Sua interpretação alternativa da vida e ministério de Jesus
Cristo ajudou a inspirar a noção de que certas teologias deveriam ser sancionadas como
"ortodoxas" e outras, como "heréticas" – um conceito até então desconhecido nos
círculos eclesiásticos. Reagindo à popularidade da seita recém-fundada de Marcião, a
igreja começou então a sistematizar um conjunto de crenças que seriam consideradas
ortodoxas por todo o Cristianismo. Marcião foi o primeiro líder cristão a propor e
delinear um cânon bíblico. Ao fazê-lo, ele estabeleceu uma maneira particular de avaliar
os textos religiosos que persiste no pensamento cristão até hoje. Após Marcião, os
cristãos passaram a dividir os textos entre os que se alinhavam bem com um "régua de
medida" (em grego: kanōn) de pensamento teológico aceito, e os que promovem a
heresia. Esta bifurcação essencial teve um papel essencial na finalização da estrutura da
coleção de obras chamada "Bíblia", uma vez que o ímpeto inicial para finalizar o cânon
surgiu justamente da oposição à proposta de Marcião.
(A Igreja resolveu ficar só com a 1ª esfera.)Ver que são três esferas de ensinamento. Para as
massas eram ministradas instruções simples, voltadas para as
necessidades prementes de orientação moral, de consolação e de
esperança para os aflitos. Assim, as parábolas e outros ditados de Jesus
contêm, numa primeira leitura, uma "moral da estória", um ensinamento
prático, geralmente apresentado com imagens da vida diária de seus
ouvintes. Porém, para as pessoas mais instruídas e já despertas
espiritualmente, as mesmas parábolas, devidamente interpretadas,
ofereciam outra camada de ensinamentos mais profundos que haviam sido
velados pela alegoria. Finalmente, para seus discípulos mais chegados,
foram ministrados ensinamentos secretos conservados pela tradição oral e
só mais tarde confiados à linguagem escrita, ainda que de forma altamente
simbólica.
Se aceitamos o teor dessa passagem, que é confirmado em outras partes dos evangelhos[Mt
13:10-13; 13:17; Mc 4:34; Lc 8:9-15; Lc 24:27; Jo 20:30; Jo 21:25] e em
documentos apócrifos,[5] podemos assumir que a tradição cristã, pelo menos em seus
primórdios, teve um lado interno, estabelecido diretamente por Jesus. Paulo confirma esse
fato em suas epístolas quando fala de verdades veladas, reservadas aos perfeitos,[6] ou seja,
aos que tinham sido iniciados nos mistérios de Jesus: "Ensinamos a sabedoria de Deus,
misteriosa e oculta, que Deus, antes dos séculos, de antemão destinou para a nossa glória" (1
Co 2:7). E, referindo-se aos dons da graça de Deus, o apóstolo diz: "Desses dons não falamos
segundo a linguagem ensinada pela sabedoria humana, mas segundo aquela que o Espírito
ensina, exprimindo realidades espirituais em termos espirituais" (1 Co 2:13). Na Epístola aos
Hebreus é mencionado que, mesmo com o passar do tempo, a maior parte dos membros das
comunidades cristãs primitivas ainda não estava apta a receber os ensinamentos internos:
"Muitas coisas teríamos a dizer sobre isso, e a sua explicação é difícil, porque vos tornastes
lentos à compreensão. Pois, uma vez que com o tempo vós deveríeis ter-vos tornado mestres,
necessitais novamente que se vos ensinem os primeiros rudimentos dos oráculos de Deus, e
precisais de leite, e não de alimento sólido. De fato, aquele que ainda se amamenta não pode
degustar a doutrina da justiça, pois é uma criancinha! Os adultos, porém, que pelo hábito
possuem o senso moral exercitado para discernir o bem e o mal, recebem o alimento sólido."
(Hb 5:11-14)
Docetismo (do grego δοκέω [dokeō], "para parecer") é o nome dado a uma doutrina
cristã do século II, considerada herética pela Igreja primitiva. Antecedente do
Gnosticismo, defendia que o corpo de Jesus Cristo era uma ilusão, e que sua
crucificação teria sido apenas aparente. Não existiam "docetas" enquanto seita ou
religião específica, mas como uma corrente de pensamento que atravessou diversos
estratos da Igreja. Esta doutrina é refutada pela Igreja Católica e pelos protestantes com
base no Evangelho de São João, onde no primeiro capítulo se afirma que "o Verbo se
fez carne". Autores cristãos posteriores, como Inácio de Antioquia e Ireneu de Lião
deram os contributos teológicos mais importantes para a erradicação deste pensamento,
em especial o último que, na sua obra Adversus Haereses defendeu as ideias principais
que contrariavam o docetismo, ou seja, a teologia do Cristocentrismo, a recapitulação
em Cristo do Homem caído em pecado e a união entre a Criação, o pecado e a
Redenção. A origem do docetismo é geralmente atribuída a correntes gnósticas para
quem o mundo material era mau e corrompido e que tentavam aliar, de forma racional, a
Revelação disposta nas escrituras à filosofia grega. Esta doutrina viria a ser condenada
como heresia no Concílio Ecumênico de Calcedônia.
Alguns acadêmicos afirmam que a seleção de livros do Novo Testamento foi bastante
arbitrária e que o surgimento do Cristianismo ortodoxo ou “tradicional” foi baseado não
apenas em seu mérito, mas na política do lado vencedor.
O Cristianismo primitivo teve seu início como um movimento judaico que apelava para
a promessa de Deus nas Escrituras de Israel. No início, havia Jesus e os apóstolos,
afirmando que Jesus Cristo cumprira a promessa de Deus. Todos os textos que temos,
de obras que vão do século 1 até as obras dos apologisras, mostram uma preocupação
intensa, seja positiva ou negativa, com questões levantadas pelas Escritunas dos judeus
(Mitros 1968, 448-50). Os apologistas eram defensores do Cristianismo contra a religião
greco-romana, o Judaísmo e os movimentos ameaçadores que também citavam o nome
de Cristo. A obra deles surgiu em meados do século II e continuou a discutir de que
maneira Jesus havia cumprido a promessa judaica original. Os académicos discutem
quando a promessa foi pronun-dada pela primeira vez. Seria ela encontrada em Génesis
3.15, quando Deus disse que a semente do homem esmagaria a ca-beça da serpente? Ou
será em Gênesis 12.1-3, na promessa divina de que a semente de Abraão seria fonte de
bênção para todo o mundo? Estaria ela em textos como Isaías 9, onde é descrita uma
figura messiânica e libertadora? Estaria em Da-niel 71 3-14, onde o Filho do homem
cavalga as nuvens com autoridade divina? Ou estaria numa composição de todos es-ses
textos? Havia no Judaísmo do século I uma expectativa unificada ou havia uma
promessa descrita de diversas manei-ras com diversas formas de expectativa? Para nós,
o fator-chave é que, no primeiro século, a maio-ria dos judeus tinha algum tipo de
esperança de que, uni dia, Deus enviaria um libertador para o seu povo e para o mundo,
muito embora esses judeus vissem o cumprimento dessa pro-messa em diferentes
detalhes ou destacados em textos diferen-tes. O fato de muitos aspectos da fé de Israel
no século I serem dominados por tal promessa é uma das poucas coisas sobre as quais
todo acadêmico concorda. Essa raiz na esperança escri-turística é a semente da fé cristã.
Um dia Deus enviaria uni li-bertador, de acordo com a promessa das Escrituras
hebraicas. A maior parte do Cristianismo do primeiro século afirma que Jesus era e é o
cumprimento dessa promessa. Essa raiz na Escritura de Israel — sua promessa e sua
descrição de Deus — é parte daquilo que se tornou uma fonte de contenda quando
Marcião, no século II, rejeitou o Deus de Israel como sendo o Deus que os cristãos
adoravam. Também se tornou um ponto de discussão quando outros que chamavam a si
mesmos de cristãos — mas que muitos acadêmicos de hoje chamam de gnósticos —
sugeriram que o Deus que criou a Terra e o ver-dadeiro Deus transcendente não eram a
mesma personagem. Mas estamos colocando o carro adiante dos bois. Corno veremos
no capítulo 4, hoje em dia alguns argu-mentam que as raízes do Cristianismo não são
encontradas nessa promessa de libertação porque Jesus tratava simples-mente de
sabedoria e apontava para um modo de vida que agradava a Deus. Foi a Igreja posterior
— e não Jesus, dizem alguns — que transformou esse mestre de sabedoria numa Fi-gura
de adoração, promessa e divindade. Já é suficientemente estranho notar, de muitas
maneiras, que o debate moderno sobre o Cristianismo se concentre na teologia judaica
— as promessas de Deus, o retrato que Israel fazia de Deus — e o quanto essa teologia
está ligada ao Cristianismo primitivo. Vamos manter os olhos nesta ligação – parte
central de nosso quebra-cabeças.
OS PERÍODOS DO CRISTIANISMO PRIMITIVO: COLOCANDO NO CONTeXTO
OS EVANGELHOS ReCÉM-DeSCOBERTOS
Esses períodos são padrão na história da Igreja Primitiva, mas a nova escola afirma que
essas categorias obscurecem a ver-dadeira diversidade das formas primitivas do
Cristianismo. A afirmação é que, se você faz as regras e define as categorias da maneira
conto você mesmo quiser, então você vai ganhar o jogo antes que ele se inicie. E, conto
as raízes do Cristianismo são o ponto em debate, deve-se notar que as descrições apre-
sentadas aqui não são afirmações de que essas divisões refle-tem o quadro completo cio
que estava acontecendo nos dois primeiros séculos do Cristianismo. Estas descrições
podem obscurecer a diversidade daquilo que havia nos primeiros sé-culos do
Cristianismo. As divisões usadas aqui simplesmente fornecem unta estrutura temporal
para localizar aqueles per-sonagens e movimentos menos conhecidos da história primi-
tiva do Cristianismo, mostrando onde e quando as pessoas se encaixam em nossa
viagem histórica.
Período 1: Jesus e o período apostólico O primeiro período cobre basicamente os
últimos 70 anos do século I. De maneira geral, reconhece-se que Jesus ministrou do
final dos anos 20 até o começo dos anos 30 do século I. Aqueles que estavam mais
perro dele, os apóstolos, ministraram durante rodo o primeiro século. Esse período é
chamado de era apostólica. Embora os acadêmicos discutam as datas exatas da
composição dos quatro evangelhos e desses evangelhos recém-descobertos, existe uma
ampla aceitação de que os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João se encai-xam
nesse período, sendo que João, escrito nos anos 90, foi o último dos quatro. Temos
poucas provas explícitas da existência de grupos alternativos nesse período inicial.
Carecemos de materiais diretamente ligados a esses grupos, com a possível exceção do
Evangelho de 1b77/é, mas temos traços de oposição e dis-cordância dos materiais
tradicionais do primeiro século. Para reconstruir essas discordâncias, vamos tecer alguns
breves co-mentários sobre esses textos tradicionais. Um suposto líder de movimento
alternativo desse período é Simão, o Mago. Os Pais da Igreja que mencionarei rapida-
mente tendem a lançar sobre ele roda a culpa pelos movimen-tos que eles contestam.
Simão é destacado em Atos 8, onde é descrito como um mágico. O livro de Atos não
traz qualquer comentário sobre o fato de ele fundar um movimento herético. A fonte
dessa afirmação é desconhecida, e a credibilidade da declaração de que a heresia se
iniciou com Simão é muito problemática (Yamauchi 1983, 60). O detalhado escudo de
Beyschlag (1974, 218) coloca o surgimento dessa tradição sobre Simão como o pai da
heresia na primeira metade do século II. Outro conjunto de oponentes surge em 1
Timóteo 1.20. Nessa passagem, Himeneu e Alexandre "arruinaram" sua fé. Em 1
Timóteo 1.3-7 eles são incluídos numa discussão de pessoas ensinando unia doutrina
diferente que incluía mitos e genealogias infindáveis, promovendo especulação em vez
de fé. A passagem de I Timóteo 4.1-3 adverte contra aqueles que, nos últimos dias,
criticarão o casamento. Alguns movimentos gnóscicos posteriores realmente
condenaram o casamento, mas movimentos tradicionais fizeram o mesmo, refletindo
uma preocupação de alguns com os interesses espirituais sobre a sexualidade. Em 2
Timóteo 2.17-18 Himeneu é menciona-do mais unia vez, juntamente com Filem,
ensinando que a decisiva ressurreição dos cristãos já havia ocorrido. O con-teúdo do que
essas epístolas descrevem como uma doutrina diferente é considerado por muitos como
potencialmente si-milar ao que surge em detalhes ainda maiores em algumas das recém-
descobertas obras que tem sido chamadas de gnósticas. Isso é tudo o que podemos dizer
do material primitivo, o que não é muito (1 lenge! 1997, 190-92); em outras palavras,
esses comentários não evidenciam a presença do gnosticismo, mas a presença de
elementos que, mais tarde, apareceram no gnos-ticismo. Na melhor das hipóteses, eles
refletem o que tem sido chamado de gnosticismo incipiente. O que realmente aparece
em nossas fontes mais antigas são idéias que os autores das epístolas atacaram em vez
de citar. O texto de 1 Coríntios 15, por exemplo (escrito em meados da década de 50),
indica que alguns negavam a ressurreição dos mortos para o corpo. Os acadêmicos
debatem se as visões às quais Paulo se opôs eram uni reflexo de algum tipo de ne-gação
gnómica da ressurreição da carne ou simplesmente um reflexo da crença geral greco-
romana que negava uma vida física depois da morte. A carta de 1 João (escrita no início
da década de 90) mostra que alguns não criam que Jesus viera em carne. As pessoas que
faziam uma divisão entre um Cristo enviado e um Jesus físico eram chamados de
docetistas porque acreditavam que Jesus apenas "parecia" estar em carne. Passagens
como essas nos ensinam que havia diversida-de na crença primitiva. Entre as questões
que elas levantam podemos citar as seguintes: de que maneira essa diversidade era
percebida? A diversidade refletia ortodoxias concorrentes, simples alternativas ou a
citação da presença de uma visão herética? E com base em que esse julgamento era
feito? Eram pontos de vista que competiam politicamente, sendo que uni deles ganhou?
Ou havia apelos a ensinamentos que podiam afirmar de maneira crível que tinham
associação com Jesus ou os apóstolos? Essas questões vão conduzir a nossa viagem.
Gnosticismo
O surgimento e a difusão de formas heterodoxas de gnosticismo consti-tuem um dos
capítulos mais interessantes e discutidos da patrologia; nós, po-rém, vamos considerar
brevemente apenas o gnosticismo ortodoxo. Segundo L. Bouyer, o gnosticismo não foi,
originalmente, um movimento heterodoxo nem do judaísmo nem no cristianismo. Até
mesmo em Clemente — o teólogo mais interessado na filosofia grega — a gnose era
entendida como "conheci-mento do Nome e compreensão do Evangelho". 12 1. Dupont
sustenta que o conceito de gnose, em Paulo, não tem relação com a filosofia grega, e
que no período da influência helenista sobre a teologia a gnose se referia ao conheci-
mento de Deus somente como conseqüência da Bíblia grega. O gnosticismo cristão foi
incorporado à espiritualidade cristã pela escola de Alexandria. sob o impulso dc
Clemente de Alexandria (150•217) e Orígenes (185-254). Segundo Clemente, a gnose
está intimamente ligada à oração e não é apenas um conhecimento especulativo de
Deus. O ápice da gnose é a con-templação. e seu último grau é a aputheia (o controle
completo das próprias paixões e dos próprios desejos). Orígenes trata mais
explicitamente da parti-cipação no mistério de Cristo e da conclusão da evolução
mística na Trindade mediante um matrimónio místico.
Atualmente, a maioria dos estudiosos aceita a tese que defende que o Evangelho de
Marcos é o mais antigo dos Evangelhos Canônicos. Em contrapartida, o evangelho de
Mateus foi o primeiro dos evangelhos a ser lido publicamente nas comunidades cristãs
(o que era sinal de sua aceitação como "literatura sagrada" entre os primeiros cristãos).
Dentre os grupos mais ativos nos dois primeiros séculos de nossa era
destacam-se os naasenos (palavra aramaica com o mesmo significado de
ofitas, de origem grega), perates, sethianos (gnósticos de orientação
judaica), docéticos (propunham que a natureza exterior do Cristo era
ilusória), carpocráticos, basilidianos e valentinianos.
O grupo de maior repercussão no cenário ocidental e no oriente
médio foi provavelmente o dos chamados maniqueus. Isso se deve
ao impacto das idéias e do trabalho de seu fundador Mani, que no
século III revolucionou a vida de muitas centenas de milhares de
buscadores com suas revelações. Como não poderia deixar de ser,
esse grupo foi imediatamente alvo de críticas por parte da então
nascente Igreja Católica, sendo seu fundador perseguido e
finalmente morto sob intensa tortura por parte das autoridades civis
e religiosas, em circunstâncias que lembram o martírio do próprio
Jesus. Mani deixou uma extensa obra literária e, apesar da
constante perseguição a seus seguidores ao longo dos séculos,
inúmeros grupos locais foram estabelecidos em diferentes países,
geralmente com nomes diferentes para tentar escapar da
perseguição sistemática a que eram submetidos. Mani, Preso e
condenado como herege, teria sido, segundo a tradição, esfolado vivo e sua carne
atirada ao fogo, enquanto que sua pele, crucificada em praça pública na cidade de
Gundeshapur.